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000810811 - Repositório Institucional UNESP

1. Introdu o an lise estrutural da narrativa In BARTHES R et al An lise estrutural da narrativa Pesquisas semiol gicas 3 ed Petr polis Vozes 1973 BARUS MICHEL J O sujeito social Belo Horizonte Editora PUC Minas 2004 288 BATISTA A S CODO W O trabalho e o tempo In CODO W JACQUES M G Orgs Sa de mental amp trabalho leituras 3 ed Petr polis Vozes 2007 BECK GERNSHEIM E La reinvenci n de la fam lia En busca de nuevas formas de convivencia Barcelona Paid s Contextos 2011 BENJAMIN W Obras escolhidas I Magia e t cnica arte e pol tica S o Paulo Brasiliense 1994 Obras escolhidas II Charles Baudelaire um l rico no auge do capitalismo 3 ed S o Paulo Brasiliense 1994b A modernidade e os modernos 2 ed Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2000 Obras escolhidas II Rua de M o nica S o Paulo Brasiliense 2011 BERTAUX D Narrativas de vida a pesquisa e seus m todos Natal EDUFRN S o Paulo Paulus 2010 BIRMAN J Arquivos do mal estar e da resist ncia Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2006 Mal estar na atualidade a psican lise e as novas formas de subjetiva o 3 ed Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2001 La os e desenlaces na contemporaneidade Jornal de Psican lise v 40 n 72 p 47 62 2007 BLEICHER J Hermen utica contempor nea Lisboa Edi es 70 1992 BLUMENBERSG H Naufr gio com espect
2. Com Gaulejac 2006 vemos que contar sua pr pria vida refaz la poder revolver suas tramas e dispor novos arranjos A narra o permite remanejar na temporalidade a experi ncia em uma perspectiva de historicidade o que confere um meio de o indiv duo encontrar novas urdiduras poss veis e assim assumir outros rumos Nas tramas da exist ncia o passado acess vel atrav s do olhar de hoje do anseio pela busca de sentido que n o encontra fim mas permanece em constante reconstru o Por situarmos o manejo da experi ncia na temporalidade sob um prisma hist rico consideramos fundamental ir um pouco mais adiante e estabelecer uma liga o com o conceito de hist ria em Benjamin 1994 2000 autor que realiza uma vigorosa an lise ao vincular hist ria narrativa e experi ncia Com esse fil sofo alem o vemos uma acep o de narrativa que comunica algo e propicia o interc mbio de experi ncias 1994 Uma narra o capaz de transformar o presente Nesse intento o passado retomado mesmo que de forma prec ria e imersa em esquecimentos Diante disso o narrador nessa condi o pode compartilhar com o outro mais do que conselhos sua incerteza desamparo e sofrimento mas tamb m esperan a desejo e ardor Uma narrativa que continua a se tecer em um coletivo Com Benjamin 1994 como visto em suas teses sobre o conceito da hist ria subsiste a ruptura de uma linearidade hist rica pois se entende o tempo que se conta em sa
3. N o sabia responder bem mas percebia algumas transforma es dentro e fora de casa como o fato de o assunto dos sindicatos n o aparecer mais com tanta frequ ncia nas prosas familiares e com conhecidos Lembro me com nitidez de meus colegas com quem estudava contarem para mim que seus pais foram demitidos o que me deixava pasma e aborrecida Esse era o in cio dos anos 1990 quando comecei a viver o neoliberalismo na mesa de casa ao brincar de bets na rua com a crian ada e no caminho da escola mesmo sem saber seus preceitos ideol gicos A partir desse per odo de demiss es em s rie eu j n o morava mais nas vilas N o havia mais clubes nem confraterniza es entre colegas de trabalho dos meus pais e a vizinhan a As casas j haviam sido vendidas assim como pousadas escolas ambulat rios e estabelecimentos diversos da empresa Papai alguns anos depois foi despedido e vivenciamos outro contexto o desemprego e posteriormente um novo trabalho em uma empresa privada A instabilidade era a palavra da vez Continu vamos a mudar de cidade dessa vez n o era pelo fato de papai ser transferido pela mesma empresa Os anos avan aram o novo mil nio havia chegado Ap s trabalhar em diversos empreendimentos trocar de empresas papai se aposentou e retornamos pela primeira vez a um lugar em que hav amos morado porque havia 14 anos nos encantamos com ele Mas as nossas lembran as como familiares de barrageiro continuam a cintilar
4. O conhecimento e aquilo a se conhecer n o est o originalmente rotulados dentro de campos te ricos delimitados ou compet ncias disciplinares exclusivas J apontamos que o objeto n o reconhece fronteiras entre disciplinas isso uma arbitrariedade que gerou in meros especialismos desvinculados De modo similar o texto n o est descolado da biografia de seu autor Nessa perspectiva reconhecemos a psicossociologia a narrativa e a hermen utica como capazes de darem conta conjuntamente desse intento Elas s o saberes fundados no di logo entre distintos campos te rico conceituais e concordantes com a transdisciplinaridade Continuemos a tratar um pouco mais sobre isso no t pico subsequente 2 1 3 Por outro discurso da ci ncia o desafiador trabalho de tradu o Como visto at aqui conforme Santos 2006 vivenciamos um momento de transi o de revolu o cient fica Uma sociedade de amplos e difusos canais de comunica o Interativa e que obteve avan os mas sofre com perguntas ainda n o respondidas e se depara com outras a serem feitas Sente as inseguran as perante o temor iminente de cat strofes e a incerteza das promessas de liberdade emancipa o e avan o ensejados no bojo da modernidade E para per odos de transi o o autor 56 aponta que necess rio retornar s coisas simples Poder formular perguntas elementares rumo a possibilidades de vida resistentes opress o e domina o Concordan
5. a assun o da economia enquanto valor m ximo da vida social Em termos hist ricos o nome expoente e defensor desses princ pios na atualidade foi o economista austr aco Hayek 1990 em meados do s culo XX Tido como o maior inspirador da doutrina liberal contempor nea sua formula o econ mica e social prov m do liberalismo cl ssico ao defender limites para o poder do Estado tendo como par metros primeiros os interesses do indiv duo que se efetivar o no mbito pol tico e ideol gico e o direito da propriedade privada individual inst ncia econ mica Na vertente liberal anglo sax nica entende se que o Estado t o mais liberal quanto mais reduzido forem os seus poderes Nessa perspectiva a positividade residiria na liberdade em fun o da restri o do poder estatal Portanto nesta tica o Estado m nimo um mal necess rio a ser conservado de maneira a enxugar seu poder ao m ximo e servir apenas de instrumento perspectiva liberal Por isso a forte oposi o ao estado do bem estar social e sua apologia da 26 Para termos uma ideia dessa diferen a abismal Gaulejac 2007 p 170 nos aponta essa realidade com uma quest o denunciadora O que vale uma sociedade na qual as 80 maiores fortunas representam ganhos m dios de mais de um bilh o de pessoas Um mundo no qual 1 dos mais ricos tem um ganho igual a 57 dos mais pobres no qual as tr s pessoas mais ricas possuem uma fortuna superior ao PIB de
6. es de trabalho deflagrado no contexto profissional na vig ncia do ide rio neoliberal e dos manejos relacionais de seus grupos afetivos e familiares que se rearranjam Esse quadro conceitual suscitou uma quest o fundamental acerca do nosso objeto de estudo quais s o as produ es de subjetividades manejos e sa das que as fam lias encontram para resistir frente s condi es de vida impostas pelo trabalho do barrageiro logo dos delineamentos produzidos pelo labor sobre a configura o familiar e suas rela es comunit rias e afetivas Pistas disso puderam ser encontradas na perspectiva certeauniana que nos fez debru ar sobre os elementos que comp em a manuten o da vida di ria e seu conjunto de estrat gias para sobreviver moradia trabalho cuidados com a sa de educa o sociabilidades deslocamentos etc A partir desse conjunto os arranjos familiares forjam tanto possibilidades quanto restri es para lidar com as necessidades singulares individuais e coletivas frente aos imperativos que para al m do trabalho s o tamb m econ micos sociais e afetivos Trataremos a seguir separadamente de algo que compreendemos entrela ado trabalho e fam lia 69 3 1 Trabalho Nos t picos subsequentes discutiremos o trabalho em termos gerais a fim de explicitar a conjuntura s cio hist rica do modo de produ o capitalista vigente Essa discuss o ser o substrato para debat lo em suas especificidades no cap
7. o das narrativas Eu gostaria que me falasse como voc percebe a influ ncia do trabalho do barrageiro sobre o contexto familiar ou seja como voc vivenciou esse contexto 63 SEGUNDO MOMENTO Entrevista narrativa coletiva realiza o de modo coletivo das entrevistas narrativas com os integrantes da fam lia Pergunta disparadora para a constru o das narrativas Eu gostaria que voc s me falassem sobre os lugares que moraram as cidades que chegaram tiveram que se adaptar e depois mudar e o que significou para voc s essa experi ncia de ser fam lia de barrageiro EIXO II VALIDA O DAS NARRATIVAS TERCEIRO MOMENTO Trabalho de interpreta o texto narrativo gt identifica o dos principais n cleos argumentais gt organiza o tem tica dos n cleos argumentais gt discuss o do material emp rico luz do quadro te rico referencial desta pesquisa A proposta inicial foi realizar entrevistas narrativas com tr s grupos familiares distintos n o importando o n mero de membros mas a possibilidade de estes concederem tanto a entrevista narrativa individual quanto a coletiva Sendo assim o total de participantes esteve condicionado quantidade de pessoas que aceitaram compor o estudo mediante a concess o da entrevista narrativa e conforme o n mero de membros de cada fam lia O acesso s fam lias deu se por meio de pessoas conhecidas ou indica
8. o de um desenho esquem tico daquilo a que nos propusemos inicialmente para a coleta das narrativas por meio da t cnica das entrevistas narrativas de Bertaux 2010 operacionalizadas em dois eixos centrais o da coleta e o da valida o da narrativa que se desdobram em tr s momentos O eixo I da coleta das narrativas diz respeito s entrevistas narrativas individuais primeiro momento que consiste em uma narra o individualizada em que o participante pode trazer sua hist ria de vida e a de sua fam lia atravessadas pelo contexto laboral dos barrageiros a partir de seu olhar e significa es Visamos neste momento estabelecer um v nculo entre pesquisador e participante de modo que este traga sua hist ria narrada sem a presen a dos familiares partindo da hip tese de que essa modalidade permite maior desenvoltura para expressar conte dos vivenciais que na presen a de seus familiares pode n o ser poss vel ou autorizada Justificamos essa escolha porque entendemos que poss vel existir nas fam lias a influ ncia de rela es de poder segredos ou interditos que barrem a emerg ncia de certos conte dos singulares na presen a do grupo familiar 62 O segundo momento da coleta de dados consiste na entrevista narrativa coletiva Convidamos os membros do grupo familiar que estavam reunidos e dispostos a falar da sua hist ria familiar na conjuntura do trabalho em barragens a narrar as mudan as de cidades e dos lugares de
9. o do Estado moderno impulsionador do avan o do processo civilizat rio transformador da conduta e dos sentimentos humanos Soma se a isso o privilegiamento do indiv duo em rela o comunidade A fam lia passa a isolar se pois a privacidade valorizada e oposta ao mundo social e exterior D INCAO 1996 Segundo Giddens 2000 na Idade Moderna o amor e a sexualidade vinculam se O que denotou outras formas de rela es aproxima es e exerc cios de poder Esses componentes se articulam com outros fen menos da exist ncia humana e passam a corresponder a valores eleitos e tidos como apropriados a uma poca como assinala Chaui 2000 p 437 Nossos sentimentos nossas condutas nossas a es e nossos comportamentos s o modelados pelas condi es em que vivemos fam lia classe e grupo social escola religi o trabalho circunst ncias pol ticas etc Dessa maneira valores e maneiras parecem existir por si e em si mesmos parecem ser naturais e intemporais fatos ou dados com os quais nos relacionamos desde o nosso nascimento somos recompensados quando os seguimos punidos quando os transgredimos As transforma es nas rela es de g nero atreladas s transforma es sociais econ micas e culturais na busca por rela es mais libert rias democr ticas e igualit rias geraram profusas transforma es na fam lia A inova o tecnol gica e sua dissipa o social propiciaram o aceleramento dess
10. para se referir aos fen menos que se constituem no entrecruzamento social e ps quico Em face disso a fam lia resplandece como um grupo social din mico repleto de vivacidade haja vista que as experi ncias concernentes aos referidos cen rios est o sendo elaboradas psiquicamente de modo singular e grupal A fam lia Top zio vive agora uma recomposi o familiar com o retorno do pai aposentado e com miss o cumprida construir a sua casa pr pria Por m a fam lia encontrada por ele n o a mesma fam lia anterior Os pap is est o sendo 193 profundamente rearranjados No momento a filha procura abdicar da posi o de respons vel para que seu pai assuma a de chefe de fam lia ou provedor Imersa a um estranhamento a figura materna por sua vez experimenta o tr plice retorno do c njuge o marido que trabalhava distante o pai que estava fora e o esposo aposentado Um tempo e um lugar a ser recompostos para se constituir uma nova rela o Demonstraremos por meio das migra es ocasionadas por transfer ncias pela mesma empresa por nova contrata o e por desemprego os modos de ser trabalhar viver que a fam lia construiu e teve desconstru dos Apontaremos nessas as principais transi es que a fam lia sofreu o que interferiu de modo direto em sua exist ncia social e subjetiva Observamos que em cada lugar onde o lar foi constru do uma simboliza o diferenciada p de ascender o qu
11. 1990 Sennett 2008 Flexibiliza o Perda e restri o dos direitos trabalhistas Agudelo 2000 viv ncia de constrangimentos e Antunes 2001 2007 inseguran as do mercado de trabalho 2008 Enriquez desigual incerto e imprevis vel 1999a 1999b culpabiliza o do indiv duo de modo 2006 Gaulejac unilateral por seu sucesso e fracasso 2007 Mattoso 1995 Pochmann 2000 2001 Evolu o tecnol gica e automatiza es informatiza o e implementa o digital Aumento do trabalho morto perda do sentido do trabalho necessidade do capital do trabalho vivo Alves 2011 2013 Antunes 2001 2007 2008 Mattoso 1995 Pochmann 2000 2001 Sennett 2008 Singer 2001 Flutua o e exclus o da m o de obra Ex rcito de reserva exclus o permanente perda da cidadania e empobrecimento Alves 2011 2013 Antunes 2001 2007 2008 Franco Druck Seligmann Silva 2010 Mattoso 1995 Pochmann 2000 2001 Singer 2001 Recorrentes crises financeiras Aus ncia de pleno desenvolvimento econ mico social falhas do ide rio neoliberal na promessa de amadurecimento do sistema econ mico imprevisibilidade das crises e do mercado Antunes 2001 2007 2008 Enriquez 1999a 1999b 2006 Gaulejac 2007 Mattoso 1995 Pochmann 2000 2001 Singer 2001 A consequ ncia disso a crescente especula o e rentabiliza
12. a mulher ruas e pra as Assim foi entretecendo entre ela e Sevilha fios de mem ria para t las num s e amb guo tecido foi se injetando a presen a a seu lado numa casa seu ntimo numa viela sua face numa fachada Mas desconvivendo delas longe da vida e do corpo viu que a tela da lembran a se foi puindo pouco a pouco j n o lembrava do que se injetou em tal esquina que fonte o lembrava dela que gesto dela qual rima A lembran a foi perdendo a trama exata tecida at um s pia dilu do de fotografia antiga Mas o que perdeu de exato de outra forma recupera que hoje qualquer coisa de um traz da outra sua atmosfera Jo o Cabral de Melo Neto 2009 DUARTE D A Desencontros trabalho fam lia narrativas de familiares de trabalhadores migrantes do setor de produ o de energia hidrel trica 2014 304 f Tese Doutorado em Psicologia Faculdade de Ci ncias e Letras Universidade Estadual Paulista J lio de Mesquita Filho Assis 2014 RESUMO Fundamentados em um trip te rico conceitual composto pela psicossociologia narrativa e hermen utica buscamos compreender os modos de ser trabalhar viver dos barrageiros e seus familiares Atrav s de entrevistas narrativas com tr s fam lias distintas obtivemos um material narrativo capaz de fulgurar os des encontros trabalho fam lia mediante a elucida o dos n s sociops quicos em suas hist rias de vida Identificamos uma div
13. barrageiro O contato com cada grupo familiar deu se por meio de conhecidos e indica o de pessoas do ramo de barragens Todas as entrevistas narrativas aconteceram na cidade de Maring PR escolha dos participantes Com a fam lia Top zio o local foi a resid ncia da pr pria fam lia exceto a entrevista concedida por uma das filhas que foi na resid ncia da pesquisadora por solicita o da pr pria entrevistada que disse se sentir mais vontade para falar fora de sua resid ncia familiar A da fam lia Citrino deu se na resid ncia da esposa pois seu c njuge trabalha em uma UHE no Estado de Santa Catarina onde mora a maior parte do m s e vem geralmente uma vez por m s aos finais de semana A fam lia Safira concedeu entrevista na resid ncia do filho mas originalmente reside em outra cidade do Estado do Paran Para garantir o anonimato dos participantes atribu mos lhes nomes fict cios e denominamos como Cipreste uma companhia de grande porte estatal localizada no Estado de S o Paulo Como Bambu outra companhia de grande porte binacional sociedade de economia mista localizada no Estado do Paran 192 5 2 Narrativas das fam lias Top zio Citrino e Safira 5 2 1 FAM LIA TOP ZIO Notas iniciais Atualmente a fam lia Top zio vive junta mas isso n o foi sempre assim Moram hoje na mesma casa Jonas Sara e Raquel As outras duas filhas casaram se e foram residir em estados nas regi es Su
14. com isso vivia e trabalhava Passava o tempo Embora tenha participado do processo de constru o de seis barragens identifica se ora com a imagem do barrageiro ora n o se identifica por n o estar envolvido diretamente com a instala o de turbinas e equipamentos afins bem como com a opera o e a manuten o das UHEs Sua fun o enquanto mec nico de m quinas pesadas e no servi o de terraplanagem concentra se nas etapas de edifica o inicial que requerem o manejo e reparos de m quinas que prepararam o terreno e o come o da obra Nesses termos no seu discurso transparece um car ter identificat rio colado ao barrageiro pela via migrat ria ou seja o trabalhador de barragens que prepara o terreno finaliza sua fun o e parte para outro empreendimento dessa natureza sucessivamente 196 De barragem em barragem de casa em casa Os Top zio reunidos na entrevista narrativa coletiva assinalam que fam lia de barrageiro aprende a n o ser muito apegada com o lugar e as coisas Esp cie de um senso pr tico que parece se desenvolver para evitar o desencadear de maiores sofrimentos se tem que fazer vamos fazer logo afirma Raquel ao recordar uma situa o de mudan a iminente A primeira migra o conjunta dessa fam lia consistiu na sa da da hidrel trica do Norte do Paran para outra do Centro sul desse estado acontecimento marcante porque foi a primeira cidade em que n o havia ningu m da fam lia mat
15. pois aqueles que coincidem plenamente consideram as constata es bvias uma vez que o presente passa a ser refer ncia nica primeira e ltima para tratar um assunto preciso historicizar para ampliar o campo temporal e interpretativo condi o para identificar os elementos que coproduzem o fen meno Isso consiste em fazer frente aos modismos intelectuais com seus m todos e t cnicas que prometem solu es imediatas e sucesso garantido com pouco investimento material e imaterial Em seus princ pios h uma presun o cient fica que se considera capaz de esgotar um problema submetido tanto investiga o quanto interven o L vy 2001a discute isso de maneira contundente ao explicitar o compromisso da psicossociologia em persistir em suas pretens es originais o que a tornou alvo de cr ticas que insinuavam sofrer uma crise e desatualiza o em compara o aos m todos modernos eficazes e geradores de respostas mediante um receitu rio pragm tico e veloz Contudo o autor afirma ser essa conjuntura um momento de renova o para a psicossociologia pois a sua recusa em aderir a essas rela es instrumentais e tecnicistas o motivo de se manter tica e politicamente resistente a toda forma de submiss o e domina o Para descobertas envidadas por outros olhares e quest es constantes a suscitar o exame do presente se faz insuficiente preciso recorrer a distintos campos de saber logo mem ria ao p
16. talo alem bem Essa express o originariamente utilizada por Batista e Codo 2007 ao debaterem as novas l gicas de trabalho e tempo que geram distintos processos de subjetiva o Esses trabalhadores do setor de produ o de energia hidrel trica tamb m s o conhecidos pelo termo barrageiros pois est o envolvidos direta e indiretamente com a constru o de barragens que servem para formar o reservat rio de gua necess rio para a produ o de energia el trica A quassa o consiste em procedimentos que visam reduzir as cascas e as ra zes a fragmentos para extrair lhes os princ pios ativos 18 como a influ ncia ind gena e afrodescendente que constituem as hist rias dos Brasis Vi quase no quintal da minha casa o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra MST aquecer se no pontal do Paranapanema Topei com a diferen a gritante da agricultura familiar com a da monocultura e o latif ndio Experimentei a escola particular do centro da cidade at a escola p blica de periferia em uma localidade sem pavimenta o asf ltica Nesses lugares com pessoas e coisas inomin veis tive de aprender a apegar me e a desapegar me Diversas vezes me emocionei ao chegar e ao partir por n o querer morar no novo lugar tampouco por n o desejar sair dele Algo curioso na hist ria da minha fam lia era como mud vamos de casa de modo reincidente N o sei o que acontecia mas ao alugarmos uma nova casa na cidade
17. 189 pesquisadora lan ava a quest o solicitando o contar da hist ria e o narrador n o avan ava Foi preciso aguardar o seu sil ncio mas intervir neste ao convid lo a falar a partir de algum ponto mencionado por ele mesmo Dessa forma as perguntas da pesquisadora tinham o car ter de buscar entender o que o narrador dizia ou visava retomar algo dito para convid lo a continuar sua fala entretanto era a singularidade do participante quem ditava o ritmo seus meios e termos Sendo assim todas as entrevistas narrativas come aram com a mesma pergunta para o primeiro e o segundo momento do Eixo I respectivamente e foram terminadas ao perguntar se o narrador gostaria de dizer algo mais N o tendo nada mais a dizer a entrevista narrativa era encerrada Por fim a sexta dificuldade a n o valida o das narrativas por escolha dos pr prios participantes Em princ pio como primeiro esbo o do m todo hav amos situado no eixo II o momento de valida o das entrevistas narrativas Esse momento trataria de um encontro coletivo entre pesquisador e pesquisado para a valida o do material quando o narrador n o somente definiria o que seria o texto final mas o que desejaria alterar em sua vers o original ap s a leitura do material transcrito Momento de tirar suprimir acrescer e explicar sua fala Ao entrar em contato com o universo por ele narrado fixado pela escrita legitimaria a vers o final da narrativa Todavia n o houve
18. Com os referidos autores reconhecemos o sujeito dotado de originalidade e autonomia haja vista que os processos sociais n o podem regular de modo absoluto a conduta individual o que permitiu figurar em nosso material anal tico as resist ncias paradoxos e cria es Ao comportar o que prosaico ordin rio e 283 rotineiro o sujeito em seu cotidiano percebe oportunizado um espa o para a es criadoras e avista o inesperado constituintes da arte da exist ncia como uma obra in statu nascendi TODOROV 1999 p 178 Nessa dimens o a hist ria adquire concretude e materializa o especialmente ao requisitar a mem ria mediante o trabalho narrativo capaz de evocar as tramas da historicidade A hist ria de uma for a disforme e distante passa pelo crivo da singularidade e da rotina Ali onde o sujeito pode manipular as coisas e n o somente ser manipulado p e em a o seus saberes e desejos Conferimos relevo ao territ rio enquanto quadro de vida como nos diz Santos M 2002 ao integrarmos uma leitura sociossubjetiva articulada tr ade tempo espa o rela o cujo cerne foi o cotidiano Isso nos reporta a Simmel 2005 em seu texto O estrangeiro ao circunstanciar de modo similar esse campo de an lise sobre o qual nos detemos as rela es concernentes ao espa o s o por um lado apenas a condi o e por outro o s mbolo das rela es entre os seres humanos SIMMEL 2005 p 265 Ay
19. Conjuntura que refletia a crescente desprote o social e laboral ao assumir as formas de inseguran a vividas no mercado de trabalho no emprego na renda na modalidade contratual na representatividade na moradia etc como j nos apontavam Mattoso 1995 e demais autores que avaliaram o impacto da negatividade produzida pelas transforma es na produ o e na gest o do trabalho na virada do s culo XX para o XXI Quadro 3 224 Transforma es emblem ticas e perenes que reverberaram para quem saiu ou para quem permaneceu nas UHESs Davi ap s a venda do Cipreste atuou nessa nova empresa doravante privada por mais quatro anos at ser mandado embora A veio a privatiza o em cima o governo vendeu Veio mais press o ainda E depois eu fiquei sabendo depois que eu sa do pr prio pessoal que ficou que veio press o em cima de press o Porque essas firmas s querem dinheiro e querem cortar custos Davi A narrativa do casal nos permite conferir com visibilidade essas rupturas assinaladas bem como atentar para as escolhas que realizaram diante dos espa os incertos vivenciados na inst ncia institucional do trabalho e da fam lia Respostas essas que lograram ao apostarem em vias que pudessem fazer face contradi o e ambiguidade que experimentavam entorno esse que a sociologia cl nica nos auxilia elucidar pois se debru a especialmente sobre per odos chave a fim de apreender a hist ria de homens
20. N o toa que a ela se aplica o termo disciplina charneira ou em movimento como t o bem definem Barus Michel et al 2005 p IX grifo dos autores De que forma essa nomea o nos seria interessante para pensar a especificidade dessa disciplina para aquilo a que ela se prop e A charneira tal qual uma dobradi a possibilita ligar conectar pontos e superf cies distintas O encontro entre elementos n o implica a perda do movimento Pelo contr rio garante a mobilidade de ideias trocas Amplia o campo de vis o de maneira din mica um deslizar sem perder se em suas distin es e originalidades e uma conex o entre diferen as Da seu uso ser m ltiplo para leitura da realidade e sua transforma o A charneira como ponto de jun o e articula o est tamb m com os filatelistas para fixar o selo nos lbuns Est nos culos garantindo a acomoda o no rosto H ainda a charneira das conchas que possibilita uma abertura de modo a conectar o dentro e o fora Segundo o Houaiss 2001 um termo que se refere a um dispositivo apto para unir em um eixo comum pe as capazes de abrir fechar sobrepor baixar e levantar Nisso encontramos o movimento que a charneira possibilita pessoa ou coisa que serve de ponto de uni o ou de apoio entre dois ou mais elementos que se encontram HOUAISS 2001 Atemo nos a essa caracter stica para clarear o que a psicossociologia nos possibilita pensar em sua proposta te ric
21. Porque j n o preciso de ti N o importa ao tempo o minuto que passa mas o minuto que vem O minuto que vem forte jucundo sup e trazer em si a eternidade e traz a morte e perece como o outro mas o tempo subsiste Ego smo dizes tu Sim ego smo n o tenho outra lei Ego smo conserva o A on a mata o novilho porque o raciocinio da on a que ela deve viver e se o novilho tenro tanto melhor eis o estatuto universal Sobe e olha ASSIS 1994 p 11 Poderia ser essa on a o capital Podemos pensar que sim se verificarmos mais de perto como essa l gica operada quando Enriquez 1999a demonstra os modos de controle social principiados pela engrenagem organizacional que move o modo de produ o capitalista Entre as distintas modalidades de controle do social constata se que a maioria est assente na opress o dissimulada ou n o que assume as formas de explora o e repress o Juntas elas enunciam o discurso da viol ncia imediata e total capturando os processos de subjetiva o Explora o dos indiv duos e dos grupos totalmente submissos s leis do capitalismo selvagem que fazem dobrar os corpos e cora es repress o que se exprime em todos os casos de questionamento ou mesmo quando uma amea a dessa ordem percebida aos olhos dos dirigentes ENRIQUEZ 1999a p 284 grifo do autor Essa sinaliza o realizada por Enriquez 1999b visualiz vel no material narrativo em que os barra
22. Tal como os narradores desta pesquisa que se recordam de suas casas lugares e vizinhan a tamb m rememoro minha viv ncia Em especial das vilas onde pod amos brincar livremente pelas ruas Percorrer casas e gramados vizinhos Escalar rvores pegar v rias frutas cuidar de animais e chupar o melzinho das flores Eu e minha irm sempre tivemos apre o por animais Ao longo dos lugares em que mor vamos adotamos e acolhemos in meros bichos gatos e cachorros Estes aprendiam a se mudar conosco e a conviver uns com os outros Outro aspecto que me faz rememorar esse contexto s o as rvores e as plantas Eu e meu pai costum vamos Jogo de rua tamb m conhecido como taco tacobol betcha ou casinha Esse jogo nas vilas onde cresci era muito comum O material suficiente para dar in cio partida podia ser encontrado por n s mesmos na lixeira mais pr xima latas de leo cabo de vassoura latinhas em geral e peda os de madeira que servissem como taco 22 plantar rvores praticamente em todas as casas em que mor vamos Em especial lembro me de quando eu plantei um girassol Consegui pegar com muito custo um p na ltima rua da vila em que eu morava pus na cestinha da minha bicicleta e pedalei at chegar a casa e com cuidado tirar a planta Infelizmente o talo quebrou perto de casa Mesmo assim plantei Entre esse girassol e as outras plantas o que acontecia era n o os vermos crescer e se tornarem frondosos mas me
23. ao mesmo tempo em que se faz coletiva capaz de resistir aos regimes de verdade que a 12 Quem nos presenteou com a primeira tradu o direta e integral dos manuscritos rabes do Livro das mil e uma noites para o portugu s ap s 13 anos de trabalho de tradu o curioso notar como menciona Jarouche 2006 que as pessoas que contavam essas hist rias especificamente os narradores de rua realizavam atua es encena es imita o de vozes falas dialetos cantos etc rompendo com uma narrativa fria e l nguida Isso traz tona a express o de vida que a narrativa cont m e o corpo como pot ncia para viv la ou torn la performance 35 torcem distorcem e constroem outras verdades No narrar o sujeito comparece com a sua verdade uma vez que apresenta a sua vers o por ser capaz de produzir narrativas das narrativas Enfim se recorremos de modo mais detido ao Livro das mil e uma noites foi tanto para nos inspirarmos nele como para apreender de maneira mais clara a pot ncia do narrar contida em nossa metodologia capaz de situar o sujeito e a hist ria visto que na narrativa o sujeito n o objeto mas autor Outras verdades s o ditas e a descoberta para o ins lito aberta O recurso da narrativa na pesquisa o que Jarouche 2006 p 21 diz a voz que lhes d voz pois n o se preocupa com a literalidade do que se viveu mas em compreender o que ficou registrado pelo para o sujeito e fez
24. arrumar Sempre que ele arrumasse uma outra obra logo Gra as a Deus ele sempre arrumou Raquel O lugar que Raquel assume ao viverem o processo de sa da de Bambu e a amea a de despejo o de encabe amento das decis es da fam lia na aus ncia de seu pai quem fora trabalhar Sua m e para ela apavorava se diante do problema centrando as decis es na figura paterna Na falta desta com 21 anos Raquel ocupava esse lugar paterno e lidava com negocia es relativas fam lia tais como solicitar para os coordenadores de Bambu um prazo maior para mudan a medida para prorrogar o 212 prazo de perman ncia na casa da vila procurar um local para a fam lia residir em uma nova cidade administrar a constru o da casa as despesas e o dinheiro enviado por Jonas para manter a fam lia Nesse per odo Raquel se deparou com um n cleo familiar reduzido s mulheres m e e irm s fazendo a sentir se desamparada por n o haver uma presen a masculina fosse o pai ou um poss vel irm o Essa reconfigura o reporta sa da de um pai provedor homem que conferia seguran a e prote o lan ando as mulheres em uma nova condi o dos arranjos familiares Vemos Raquel questionar esse papel assumido por ela em um passado o qual imprimiu marcas indel veis em sua vida pessoal profissional e afetiva A parte negativa a carga que eu sinto dessa coisa do barrageiro de todo esse contexto que estamos conversando que um
25. bem como instaurar outros processos de subjetiva o condizentes a esse intento inclusive na viv ncia do trabalhador migrante que continuamente tem de rearranjar dist ncias afetivo relacionais 3 2 Fam lia Os olhares das institui es educacionais de sa de sociais culturais pol ticas econ micas jur dicas e religiosas est o voltados em distintos ngulos de modo a penetrar nos poros da institui o familiar H um aparato normativo discursivo e institucional pronto a defend la culp la adestr la ou normatiz la O peso sobre essa inst ncia exaustivamente insistente em discursos e a es pode ser visto numa acep o corrente a fam lia como a c lula mater da sociedade FAUSTO NETO 1982 p 13 Verificamos duas concep es sociol gicas influentes que buscam explicar a institui o fam lia a partir de dois eixos 1 a sociologia tradicional que a defende e a tem como ref gio e ordem social 2 a sociologia que a ataca por entend la como institui o repressiva e burguesa A primeira posi o est calcada na fun o que a fam lia possui para a sociedade enquanto organizadora e mantenedora ela quem vincula o indiv duo ao socius ao fornecer os pap is e valores sociais a partir de um sistema sociocultural estabelecido Desse modo ela possibilita a inser o do indiv duo na sociedade A fam lia nesse 106 prospecto um subsistema societ rio que garante a reprodu o da vida
26. certos elementos e descartar outros 2 N o cabe discorrer de modo aprofundado sobre essa discuss o aqui mas n o podemos deixar de fazer men o contribui o de Foucault 1979 que em outro campo te rico e epist mico possibilitou avan ar esse debate de modo consistente 51 simetria o ponto de refer ncia tanto de partida quanto de chegada em sentido nico acerca da hist ria Nesse prisma produz se uma hist ria que possui uma vers o e voz oficial Seus vencedores e perdedores Ela faz emergir uma ideia de composi o e funcionalidade que se de um lado inviabilizam invisibilizam possibilidades diferentes de verdades compreens es e exist ncias por outro lado tecem um imagin rio do que seria algo como bom adequado verdadeiro correto e justo O desdobramento tico e pol tico disso ocultar as rela es injustas e predat rias afirmando se o que n o existe e o que existe Em outras palavras h uma pr defini o do que ficou estanque no passado e o que se faz presente e daquilo que tido como superado e ultrapassado Essas s o as caracter sticas da monocultura que linear em sua temporalidade e no saber e na racionalidade que reducionista e uniformizadora SANTOS 2002 2004 interessante lembrar que Benjamin 1994 j combatia essa linearidade hist rica em 1940 ao escrever suas 18 teses sobre o conceito de hist ria Dialogamos a sua tese 142 com a monocultura linear de San
27. dispon veis na luta contra os valores patriarcais Em particular na luta pelo direito de escolha afetiva e pessoal do c njuge contra as raz es do grupo familiar Neste registro os m dicos aderiam sem restri es ao amor rom ntico Esse modelo potencializa o padr o da fam lia nuclear e burguesa individualizando a responsabilidade por problemas sociais e formatando concep es de sa de higiene normalidade e seguran a Nesse bojo firmam se pr ticas institucionais e exerc cios de poder baseados nas rela es de filantropia clientelismo paternalismo e autoritarismo Como consequ ncia h uma crescente despolitiza o culpabiliza o dos pobres e das fam lias que fogem ao modelo nuclear burgu s um incremento da cultura submissa e desagregadora que operam individualmente e que buscam conter o movimento social al m da crescente falta de autonomia e depreda o de pr ticas e a es coletivas Como isso se operacionalizou na exist ncia dos barrageiros Essa quest o foi elementar para que nos atent ssemos n o para uma classifica o de modelos familiares da conjuntura dos barrageiros mas para circunstanciar sua trajet ria social e seu enredo familiar tecidos no campo da migra o laboral econ mico e pol tico ideol gico Diante desse complexo quadro Scheinvar 2006 assinala que preciso sair de uma produ o naturalizada generalizada e un voca de fam lia para que esta possa vir a protagonizar e intervir
28. e todo mundo junto nosso Ana Exp e que foi uma escolha mista e imersa na contradi o que se polariza entre o f cil e o dif cil O f cil terem podido construir juntos a casa pr pria onde moram hoje Tiveram a possibilidade de se visitarem pois n o moravam em cidades muitos distantes podendo tanto ele vir quanto ela ir com as crian as por exemplo as visitas surpresa que fazia com seus filhos Entretanto a parte dif cil ela nomeia como estar 251 sozinha Sensa o que a tomava quando se percebia solit ria noite ao ficar longe e assumir primordialmente a educa o cuidados e problemas do lar Afirma ter sido pai e m e sendo para ela embara oso ter de deixar os filhos com funcion rias que cometeram atos de neglig ncia com eles Com sua narrativa percebemos que fosse a mulher trabalhando fora ou permanecendo em casa ela se encarregou sozinha dos cuidados e educa o di rios centrando nela as responsabilidades e decis es pouco ou nada compartilhadas com o marido Nessa configura o vemos o marido no trabalho inst ncia do fora que n o podia receber o trabalho dom stico inst ncia do dentro ou seja de casa familiar Era a mulher exercendo esse duplo trabalho ao conjugar o labor dentro e fora Nas palavras de Ana isso pode ser sintetizado da seguinte forma Ent o tem umas partes dif ceis para a gente arcar com tudo e nem ligar para o pai e n o falar
29. em que sua exatid o seus c lculos e quantifica es n o produzem um estilo generoso na condu o da vida SIMMELL 1998 p 14 Qu o atual se faz essa an lise de Simmel 1998 ao vivenciarmos um per odo hist rico em que a l gica do dinheiro radicalizou se em um capitalismo financeirizado Para estimar isso basta verificar a leitura do ge grafo Santos M 2011 atento em observar os impactos humanos origin rios da globaliza o econ mica neoliberal Sua reflex o concebe o dinheiro em estado puro instalado em um sistema de perversidade viol ncia e totalitarismos que o autor prefere denominar de globalitarismo ao inv s de globaliza o Essa no o imp e um novo ide rio de riqueza prosperidade e equil brio macroecon mico Vemos os pa ses integrantes desse sistema mundializado se reformularem ao aderirem aos planos pol tico econ micos internacionais das ag ncias multilaterais o que resulta d vidas exponenciais S o ainda o dinheiro e o consumo os grandes reguladores da vida individual e coletiva como Simmel 1998 denunciava desde o s culo XIX Afinal se ele est Fundado numa ideologia esse dinheiro sem medida se torna a medida geral SANTOS M 2011 p 56 N o esque amos que estamos sob as marcas da economia do tempo em que o uso de um nico rel gio impulsiona um mesmo uso do tempo Como dito impera um 98 rel gio universal cujos ponteiros s o movidos pela mais valia univers
30. est na narrativa por meio de suas express es ontol gicas e est nos princ pios hermen uticos que auxiliam a interpreta o do caminho e o caminho da interpreta o ao fazer ci ncia A transdisciplinaridade faz se na historicidade e no di logo Essa combina o o que nos possibilita conhecer a exist ncia singular e coletiva do nosso objeto de estudo nas intersec es do trip te rico metodol gico constitu do pela psicossociologia narrativa e hermen utica 49 Vivemos uma contemporaneidade que tem um presente esvaziado de hist ria e de mem ria Vivemos um desguarnecer da categoria tempo o qual por sua vez gera n o somente processos de subjetiva o decorrentes dessa perda mas tamb m outras formas de mal estar que refletem essa conjuntura BIRMAN 2006 L VY 2001a Com Gagnebin 2006 verificamos que qualquer rela o entre passado e presente hist rica Ao fazer isso nos depararemos com uma problem tica especificamente a que se refere ao passado hist rico tido como verdadeiro leg timo e factual que o paradigma positivista conclama para si Tanto em Benjamin 1994 em suas teses sobre a hist ria destaque para as teses 6 7 e 14 quanto em Gagnebin 2006 ao analis las vemos uma posi o de recusa ao tomar o passado na ci ncia hist rica como uma mera descri o condizente com o que de fato aconteceu N o h plena correspond ncia entre o discurso cient fi
31. estavam l depois que o Bambu acabou de ser constru do e os que estavam l a m goa eterna Porque eles sabiam que as casas iam ser comercializadas um dia e eles n o tiveram esse bom senso de falar assim n o esses caras ajudaram a gente construir isso aqui ent o vamos legalizar a venda dessas casas Ou enquanto n o foi legalizada a venda a gente n o vai perder e nem ganhar nada com as casas l Porque enquanto n o fossem vendidas eles n o podiam alugar fazer nada com as casas Ent o que diferen a fazia o funcion rio para dentro ou para fora da casa Foi o que eu falei para voc Eu fui n vezes para a cidade do Paran depois que a gente mudou de l ainda vou muitas vezes Agora mesmo nas f rias era para eu ter ido para l e tal mas eu n o tenho coragem de passar na minha rua Depois que eu mudei de l eu nunca mais voltei na minha rua J tive oportunidade j tive vontade Mas eu nunca mais voltei na minha rua Raquel inser o nossa 215 O mito do Bambu enquanto projeto grandioso na hist ria brasileira e o orgulho de Raquel e D bora de seu pai fazer parte disso n o puderam ser compensados pela decep o ocasionada por Bambu acerca da venda da casa Um desencontro vivido dentro e fora do trabalho Das constru es de barragens para as estradas de ferro A conjuntura de barrageiro apresentada na contradi o e nela busca se viver Foi o que eu falei essa vida de barrageiro n o t
32. expressaram contradi es marcantes nas rela es afetivas dessas fam lias O distanciamento masculino se perfez n o apenas na dist ncia f sica do trabalho mas tamb m em sua participa o nas quest es familiares como cuidados com os filhos e outras atividades de casa Os arranjos familiares expressaram com clareza os pap is assumidos em uma rela o de interdepend ncia subalterna e desigual tanto pelos homens envolvidos prioritariamente com seu labor quanto pelas mulheres ao se desdobrarem para poup los de preocupa es de casa situadas em segundo plano Por outro lado indispens vel constar nessa discuss o a participa o das mulheres no cen rio social para al m das esferas reprodutiva dom stica que nossas 272 narradoras trouxeram Na narrativa da fam lia Citrino vimos em torno da figura feminina uma a o fulgurante na contraposi o das for as devastadoras do capital perante as formas de vida constru das pelo trabalho e pelo seio dom stico familiar e comunit rio Protagonizaram lutas pela dignidade e pela vida no espa o p blico as mulheres adolescentes e crian as ao organizarem uma ocupa o coletiva de locais estrat gicos do Bambu no n cleo habitacional Foi uma forma exemplar de luta e resist ncia que se deu na aus ncia dos maridos fosse por esses estarem desempregados trabalhando fora ou buscando uma coloca o no mercado de trabalho A bandeira que as reunia era conseguir o
33. gua para lavar roupa a vestimenta no varal que endurecia e a lagoa que congelava A fam lia descreveu com min cias sua primeira aventura em um lugar distante uma casa de madeira tran ada pequenina e sem muros em uma vila onde havia muitas casas coloridas Nas palavras de Jonas muitos pe es moravam l 197 um lugar simples e r stico por m repleto de lembran as acolhedoras que iam do algod o doce ao aconchego do cobertor e do calor familiar que aqueciam os dias frios conforme relata Sara quando chegavam em casa aconchegava todo mundo Todo mundo dormia se cobria e n o passava frio Nesse momento os coment rios da fam lia dispararam como um turbilh o de lembran as Rememoraram as brincadeiras realizadas a descoberta de uma nova paisagem e a tessitura de outro cotidiano A perman ncia da fam lia Top zio foi interrompida no Centro sul do Paran quando Jonas foi demitido e procurou um novo trabalho que os levaria para al m do territ rio brasileiro Mudaram se para o Paraguai ao integrar a empreiteira prestadora de servi os para o Bambu Morar no Paraguai foi uma perman ncia que se manifestou em partes Parte do tempo parte do espa o parte da rela o parte da liberdade parte dos investimentos afetivo relacional e financeiro Residiam l mas n o viviam a cidade em seus recursos al m do da moradia De modo literal moravam apenas na casa paraguaia pois as suas vidas estavam organizadas para serem vi
34. hoje que s o paraguaios que eu conheci no col gio S que hoje meu espanhol apesar de eu morar na fronteira n o foi muito bom por qu Porque quando a gente morava l e tinha contato com o idioma a gente entendia muito bem o espanhol mas por ter amigos paraguaios ainda eu entendia muito bem o espanhol por ouvir ter aquela familiaridade com a sonoridade do idioma s que eu n o falava o espanhol Eu respondia em portugu s porque eles estavam no meu pa s A nossa aula era em portugu s e tudo mais No recreio elas perguntavam em espanhol e eu respondia em portugu s Ent o a gente interagia dessa maneira Desde crian a era desse jeito Hoje eu falo espanhol O fato de ter morado na fronteira me ajudou muito com o meu espanhol mas eu tive que aprender a falar espanhol depois Voc vai ao Paraguai fala em portugu s As pessoas te entendem por ser fronteira Ent o no Brasil a gente entedia mas n o falava Raquel inser o nossa Vemos isso se estender nos espa os laborais constitu dos na empresa de fronteira binacional quando Jonas trabalhou com paraguaios e com quem tamb m se comunicava somente em portugu s No servi o tinha amizade com eles paraguaios Mas eles falavam com a gente em portugu s Entre eles falavam em guarani Eu nunca pude aprender o guarani Eu nunca consegui Trabalhei uns dez anos juntos no Paraguai e nunca consegui aprender o guarani O mais dif cil era isso Ao se
35. lise e interven o Assim torna se essencial fazermos a distin o entre os determinismos socioecon micos e suas consequ ncias psicol gicas Ao queremos responder no plano psicol gico a problemas de g nese social corremos o risco de aprisionarmos os indiv duos na impot ncia e culpabilidade Mas inversamente ao esquecermos os efeitos ps quicos das situa es sociais e econ micas deixamos de compreender por que e como os indiv duos se mobilizam ou se desmobilizam para produzir a sociedade GAULEJAC 2001 p 39 Podemos verificar essa afirmativa no que Pag s 2001 p 258 denomina como ensinamentos sobre uma metodologia de a o da mudan a Ao circunstanciar o fazer psicossociol gico fundamenta o em uma perspectiva dial tica e complexa de maneira a reconhecer os limites dessas reas se fossem utilizadas separadamente Isto a psicologia sozinha n o poderia ser uma alavancadora de transforma o social De modo similar a sociologia n o faria o mesmo preciso que essas inst ncias se encontrem e reconhe am as reverbera es sociais no ps quico e o ps quico no social Elementos interligados que se manifestam um no outro Essa categoria anal tica vai contram o das divis es estabelecidas entre as reas de conhecimento as quais remetem s in meras especialidades os estilha os de saber Entendemos que se percorremos essa esteira fragment ria n s nos depararemos apenas com lascas peda os
36. mas tamb m de explora o do barrageiro Nessa an lise os autores mencionam a administra o do trabalho em hidrel tricas sobrepondo se do munic pio podendo a vila oper ria nessa nova cidade exceder o processo de urbaniza o existente ou mesmo encolh lo desindustrializa o haja vista a exist ncia de uma acentuada vincula o das pessoas barrageiros com as obras da usina e n o necessariamente com a cidade munic pio Essa constata o nos permite visualizar outro fator componente desse universo a despeito da diferencia o da m o de obra de quem est de passagem constru o e de quem fica opera o O discurso de Davi traz uma divis o t cita entre constru o e opera o dois grupos distintos envolvidos em etapas diferentes da hidrel trica O primeiro tempor rio de modo costumaz integra empreiteiras uma m o de obra marcada por intensa migra o pois ao se finalizar a constru o parte se para outra barragem O segundo a opera o o grupo que demanda um efetivo menor uma vez que passa a residir por longo prazo na regi o da hidrel trica o grupo de barrageiros que opera a usina e acompanha o funcionamento de gera o de energia 238 Nesse contexto h duas especificidades A especificidade primeira o setor da constru o concentrar h longa data uma m o de obra majoritariamente masculina Apenas recentemente o n mero de mulheres trabalhando em barragens tem aumentado vindo
37. ncia da entrevistadas x para o Z falta de rela o i S pesquisador planejamento entre a quanto para o da condu o das pesquisador e A O Raso E sujeito saber em grava es sujeito o a s participa o Es pesquisado lt transcri o e hist ri d QU st ncia dl hist ria contada confer ncia do f da maneira depoimento pa adia pr pria do sujeito inexist ncia da reocupa o ponte entre o p individual e o com o v nculo q social Como visto essas modalidades tamb m se distinguem em seus objetivos e por requererem procedimentos condizentes conforme o lugar ocupado pelo pesquisador e pelo sujeito Observemos algumas delas a biogr fica autobiogr fica e interativo dial gico com Pineau 2006 para esclarecer melhor os conte dos do quadro anterior A tipologia biogr fica se constitui em uma epistemologia calcada na separa o e no distanciamento entre sujeito e pesquisado a fim de produzir um conhecimento objetivo O papel do sujeito o de fornecedor de informa es O saber disciplinado e o pesquisador um sujeito racional e objetivista Por sua vez no modelo autobiogr fico esse distanciamento busca ser superado O sujeito o construtor de sentido por excel ncia e o pesquisador um ouvinte que ocupa o papel de auditor ou leitor A interlocu o eliminada para protagonizar o sujeito em si mesmo E por fim a terceira categoria a do modelo intera
38. ncia financeira mas aos meios efetivos de auxiliar na educa o dos filhos com o marido A decis o foi mais minha mesmo Da ele pegou Voc que sabe Se voc quiser E eu quis Por ele eu teria ido Eu sempre pensava no dia de amanh Sempre pensava me aposentar ter a minha vida ter o meu dinheiro pensar no futuro dos meus filhos Tanto que eu acho que ajudou muito porque sen o Ele fala talvez sem voc se n o tivesse trabalhando sem o ganho de voc seria mais dif cil para manter um filho hoje na faculdade mesmo que n o pague Ana Outro aspecto da sua escolha de se manter no trabalho e na cidade de origem foi o sentimento de realiza o pessoal Uma escolha que envolveu coragem Eu me sinto realizada hoje Porque se eu n o tivesse se eu tivesse desistido n o tivesse o trabalho e n o tivesse aposentado eu ia me sentir muito in til na vida porque dependia tudo do meu marido Ana A realiza o de Ana tamb m se constitui por ver sua contribui o financeira no sustento e educa o de seus filhos projeto esse que vinculou o seu trabalho e o de seu c njuge Ao mesmo tempo em que gozava de independ ncia financeira fez a escolha de compartilhar a conta e as despesas O casal definia junto os gastos e investimentos sendo a prioridade voltada para o futuro dos filhos que eram os estudos quando afirmava para eles Filho n s estamos tudo juntos ali n o tem aquilo que o dinheiro da m
39. o ao texto isto o pesquisador torna se leitor e abre se para a tarefa da interpreta o no mundo do texto Isso nos levar a discorrer em breve sobre o distanciamento como condi o da interpreta o Leitura horizontal e exaustiva do texto tecer uma rela o interrogativa para estranhar o familiar e tornar familiar o estranho Trabalhar as primeiras impress es o que salta aos nossos olhos e retornar para buscar o que passou despercebido Momento de identificar os principais n cleos argumentais os sentidos e significados relevantes lan ados pelo narrador Buscar a coer ncia interna das informa es palavras frases adjetivos concatena o de ideias o sentido geral do texto e a express o de suas partes Para isso buscamos identificar suas ideias centrais momentos chave per odos cr ticos e suas posturas pessoais diante dos eventos Essa a situa o de expor nos ao texto para receber o que ele nos traz e por ele ser interpelado Poder com ele estabelecer um di logo saber quais s o as atitudes e desejos dos sujeitos em face dos valores da comunidade e do universo social a que pertencem Como compreendem as transforma es da sociedade do mundo do trabalho da fam lia Como percebem as institui es e suas for as que moldam seu projeto individual e coletivo de vida Encontrar a rela o temporal que expressa passado presente e futuro O momento do di logo a abertura para a proposi o do mundo do texto q
40. o de cl nica n o est reduzida e alocada a uma teoria particular pelo contr rio o pr prio projeto disciplinar psicossociol gico em seu car ter plural e din mico possibilita a integra o com outros campos de saber para compor uma an lise te rica condizente com seu intento isto com aquilo que se pretende saber sobre seu objeto de estudo Ao constatar isso foi preciso que ampli ssemos a pr pria concep o de cl nica na psicossociologia L vy 2001b em especial nos trouxe importantes contribui es para repensarmos o desenvolvimento da perspectiva cl nica a partir de sua obra Ci ncias Cl nicas e Organiza es Sociais Ao ultrapassar a leitura de cl nica como pr ticas fundadas na ajuda e no tratamento convencional o referido autor p de deslindar os processos que ocorrem nas organiza es sociais especialmente ao articular as no es de organiza o crise e sentido Nesses termos deparou se com o incessante processo de constru o e desconstru o do sentido mediante um trabalho coletivo e singular Em decorr ncia disso tramamos nosso intento em um trip constitu do pela psicossociologia narrativa e hermen utica H uma conson ncia entre essas abordagens com a perspectiva da cl nica como desvio da gide verticalizada de saber e verdade na cl ssica concep o de ci ncia Para romper esse v rtice distanciador que se perfaz na posi o vertical instaurada entre pesquisador pesquisado int rprete in
41. o do capital mediante um jogo desterritorializado de investimentos financeiros em detrimento do trabalhador Dito de outro modo forjado um processo crescente de degrada o do valor humano do trabalho em fun o da oscila o de empregos e ocupa es conforme a demanda por produ o Esse cen rio est presente no contexto das hidrel tricas brasileiras onde h uma expressiva flutua o de m o de obra o que acaba por intensificar a migra o desprotegida e errante em busca de novas coloca es no 80 mercado de trabalho conforme identificado em pesquisas anteriores 2009 2010 e na narrativa dos barrageiros Como dito anteriormente trata se de um processo que abrange tanto o mbito interno quanto externo do espa o de trabalho indiferente para o capital que est dentro de uma organiza o ou fora dessa quem est assalariado ou desempenha uma ocupa o uma vez que a fun o do ex rcito de reserva fazer a manuten o da desvaloriza o da m o de obra Contudo uma transforma o externa no mbito do mercado de trabalho implica uma transforma o interna pois est o integradas na mesma l gica de deprecia o Isso se faz acompanhado por modelos de gest o que realizam a manuten o dessas transforma es em que a captura da subjetividade o elemento chave e premente para garantir a perpetua o dessa din mica na atualidade PAGES 1990 Assinalaremos daqui em diante os principa
42. o equivalentes tampouco dissoci veis como aponta Gaulejac 2001 2009 O substrato fundante do sujeito singular e de sua subjetividade est inscrito em uma poca lugar cultura classe social em grupos e institui es o que o faz sujeito social tamb m pode determinar a hist ria Como visto at aqui o corpus dessa disciplina assume se justamente na busca de uma coer ncia interna baseada na pluralidade te rica que o constitui Por isso a transdisciplinaridade faz se n o somente um requisito mas designa um car ter intr nseco por ser o meio de tanger a complexidade do objeto Isso n o significa transposi o e sobreposi o de campos de saber mas encontrar os pontos charneiros para efetivar o di logo n o ignorando as diferen as mas usufruindo dessas naquilo em que se fazem dialog veis para encontrar o objeto que a um s tempo complexo multifacetado e multidimensional Como nos diz S vigny 2001 a abordagem cl nica e psicossociol gica em sua complexidade demanda da pr pria realidade Sendo assim a no o de transdisciplinaridade por si s j uma indisciplina e traz em si o confronto com a ordem estanque da produ o de conhecimento 145 Ap s esse percurso pudemos designar os componentes que compareceram em nossa leitura psicossociol gica depois de situ los de modo breve Sua vincula o com a hermen utica e a narrativa faz se fecunda pois ambas optaram por trilhar uma produ
43. recobrar das experi ncias desperdi adas para se dirigir em busca de pr ticas sociais transformadoras Nesse exposto visualizamos um comprometimento e responsabilidade do cientista e sua institui o sobre o saber cient fico Em decorr ncia disso a narrativa nos custa caro e remete a um campo emp rico frut fero pois ao entendermos a produ o de conhecimento a v rias vozes e com m ltiplas aberturas tencionamos uma a o afirmativa que abra novos espa os para o campo social e o reconhecimento da subjetividade busque valores a compartilhar expresse o comum em sua originalidade e pretenda encontrar novos sentidos para a comunidade e a democracia O que temos como desafio em uma sociedade desencantada buscar em meio crise das institui es e das identifica es o reencantamento n o apenas da universidade como nos prop e Santos 1999 mas tamb m o da vida coletiva em que a constru o do futuro o resgate da mem ria e o desbravar do presente sejam realidades em que todos possam participar com seus saberes viv ncias e singularidades Encontros esses em que o cotidiano cintile a tessitura da vida a v rios fios fomentada pelo trabalho de tradu o do pesquisador ao adentrar na realidade sociops quica de determinados atores sociais formando uma trama atravessada pela utopia ativa 60 Se pensarmos aqui que a utopia para a qual nos voltamos n o unicamente a do pesquisador avan amos para a legitimidade d
44. rio e estabilidade empregat cia permitindo lhe usufrutos como a vida de solteiro e as festas Para ele a assun o de um compromisso o casamento o que o fez estabelecer outras escolhas de maior import ncia na vida Escolhas essas que precisaram ser conjugadas com as de sua companheira Ademais com a narrativa dos Safira vemos um encontro de mundos distintos quando eles se deparam em suas diferen as nos modos de ser trabalhar viver e se 248 disp em a criar mediante constantes negocia es pontos de acordo Thiago evidencia que Ana n o conhecia o universo do barrageiro e o motivo do estranhamento dela no que diz respeito a essa realidade vista como mais abastada dava se em compara o s pequenas firmas e sal rios locais menores que faziam a vida ser mais simples e austera A viv ncia do trabalho de Thiago no Cipreste entendida por ele como um per odo em que era poss vel usufruir de regalias que a empresa concedia particularmente quando esteve na ltima cidade de trabalho gozando seguran a no emprego e moradia No entanto aponta que durante o per odo de privatiza o quando a obra foi finalizada houve uma dr stica redu o de funcion rios Momento de transi o na gest o e rela es de trabalho havendo a instiga o para que os trabalhadores se demitissem e se aposentassem contexto da sua aposentadoria que al m de ser especial por trabalhar em reas de periculosidade e insalubridade ac
45. 2000 O emprego na globaliza o a nova divis o internacional do trabalho e os caminhos que o Brasil escolheu S o Paulo Boitempo 2001 RAMOS L M MEIMES Rizoma Dispon vel em lt http www ufrgs br e psico subjetivacao espaco rizoma html gt Acesso em julho de 2014 RIBEIRO M F B Mem rias de concreto vozes na constru o de Itaipu Cascavel Edunioeste 2002 RICOEUR P Hermen utica e ideologias Editora Vozes 2008 296 Tempo e narrativa Tomo I S o Paulo Editora WMF Martins Fontes 2010 ROSA J G Jo o Por m o criador de perus In ROSA J G Tutameia terceiras est rias Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 ROTH P Ap ndice Philiph Roth entrevista Primo Levi In LEVI P A tabela peri dica Rio de Janeiro Relume Dumar 1994 ROUDINESCO E A fam lia em desordem Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 2003 SABINO F T O Encontro marcado 32 ed Rio de Janeiro Record 1981 SAMARA E M O que mudou na fam lia brasileira Da col nia atualidade Psicologia USP v 13 n 2 p 27 48 2002 SANTOS B S Um discurso sobre as ci ncias na transi o para uma ci ncia p s moderna Estudos Avan ados v 2 n 2 p 46 71 1988 Introdu o a uma Ci ncia P s Moderna 6 ed Porto Afrontamento 1989 Pela m o de Alice o social e o pol tico na p s modernidade 6 ed S o Paulo Cortez 1999 Para uma sociologia das aus ncias e das emerg ncias Revista Cr
46. Bambu vemos a rela o classista nitidamente instaurada nas condi es de urbaniza o e 205 habita o de suas vilas Ainda crian as sem compreender com nitidez D bora e Raquel se recordam do car ter segment rio que ordenava os espa os e as rela es n o apenas de trabalho mas tamb m de moradia e estudo o Bambu separava trabalhadores D bora A vila II na narrativa dos Top zio era para quem estava destinado limpeza e conserva o eram casas simples e um col gio parte de porte menor J a vila II preparada para os engenheiros possu a estrito controle da entrada e sa da Havia uma guarita para selecionar quem era autorizado a integrar aquele espa o o qual era planejado no estilo americano A vila I por sua vez onde morou a fam lia Top zio reunia uma diversidade maior e tinha casas mais comuns embora tamb m se diferenciasse em categorias e n veis de conforto conforme o cargo exercido Os moradores das vilas I e II estudavam no mesmo col gio D bora embora tenha estudado com pessoas da vila II afirma nunca ter ido a essa localidade pois n o tinha nenhuma amiga mais pr xima que pudesse visitar sendo uma conviv ncia restrita ao col gio J a vila III p de conhecer por meio de amigos de sua m e que frequentavam a mesma igreja Quando ia vila II chamava lhe a aten o as condi es diferenciadas das casas que pareciam aos seus olhos serem de isopor um material similar ao amianto fo
47. Ele foi rebaixado a uma quantit n gligeable a um gr o de areia em uma organiza o monstruosa de coisas e pot ncias que gradualmente lhe subtraiu todos os progressos espiritualidades e valores e os transladou da forma da vida subjetiva forma da vida puramente objetiva talvez de modo menos consciente do que na pr tica e nos obscuros sentimentos que dela se originam SIMMEL 2005 p 588 Barthes 2003 afirma que a utopia do viver junto idiorr tmico n o faz parte de uma utopia social especialmente a marcada pelo cunho neoliberal Um dos desafios primordiais do viver junto seria encontrar e regular uma dist ncia cr tica seja para al m ou aqu m do que produz a crise e gere possibilidades de um conviver que abarque a singularidade desejos e vontades Sendo assim uma prec pua dist ncia a operar diante do tempo do espa o e das rela es que ultrapassem o ide rio do grande mercador Posicionados em determinada dist ncia poder amos ponderar melhor a realidade e seus efeitos logo obter espa os de manobra para garantir a vida em suas express es singulares Isso significa experimentar uma dist ncia que n o quebre o afeto e recaia em uma vis o ego sta impeditiva do conviver mas que venha garanti lo Seria no pathos das dist ncias que poder amos usufruir da ternura N o um distanciamento da ordem da mesquinharia higienismo e individualismo que na sociedade de consumo torna os espa os mais amplos um artigo de lux
48. Estado se endivida e o rebaixamento dos direitos tido como ganho pois se acredita desonerar o pre o do trabalho com o enfraquecimento deste Nas palavras de Enriquez 1999b o que ocorre s o perdas salariais que quando repassadas aos capitalistas um ganho extraordin rio Pensar que os pa ses t m se desenvolvido de maneira vigorosa mesmo estando em ascens o um engano pois o ganho de poucos e para poucos mais a expuls o do mercado de trabalho de forma maci a faz se mesmo quando as empresas est o em crescimento Nesse nterim vemos desenrolar um neoliberalismo que possui um poder an nimo e d spar de mercado em detrimento do poder dos cidad os e dos trabalhadores 84 das organiza es os quais se encontram ultrajados Isso constitui o ide rio neoliberal em um modelo hegem nico por duas raz es 1 na hist ria do capitalismo nenhum movimento havia assumido essa magnitude principalmente com a abrang ncia alcan ada que desde o s culo passado o tornou mundializado 2 mesmo tendo inumer veis opositores em que pessoas desacreditam no e a ele resiste sua for a vem tomar conta dos Estados suas pol ticas e cidad os O que podemos verificar nessa exposi o que o trabalho continua a sofrer a velha hist ria escrita em novos cap tulos de explora o aviltado em seu valor social e arrefecido em sua significa o para o homem Com a determina o do dinheiro pelo dinheiro em todas as inst
49. Foram elas que dispararam acordos e negocia es no mbito afetivo familiar designando que quem vai e quem fica geralmente fixa a fam lia para correr atr s do trabalho E ficar sem o trabalho j que esse dificilmente se torna algo fixo ficar sem a fam lia Isso n o isentou o risco e nem apaziguou os paradoxos da dist ncia familiar e sua possibilidade de dissolu o A reside uma das principais contradi es geradoras de des encontros trabalho fam lia em que distintos recursos materiais e imateriais s o acionados para lidar com a elabora o de perdas e repara o dos v nculos persistindo seus efeitos mesmo depois do retorno do trabalhador para seu n cleo dom stico familiar A partir das referidas considera es afirmarmos ter sido um ponto de an lise fundamental para averiguar os n s sociops quicos da intersec o da macro com a micro hist ria do coletivo e individual do social e subjetivo a focaliza o do cotidiano Essa inst ncia da exist ncia um cruzamento dessas dimens es da vida humana sobre a qual se voltam os estudos da psicossociologia na vida cotidiana que as transforma es ocorrem na rela o e pela rela o e que n o se pode dissociar mudan a individual e coletiva CARRETEIRO 2001 p 107 Conforme Castro e Ara jo 2001 buscamos superar an lises cindidas que se voltam de modo reducionista s for as prepotentes das estruturas e dos grandes processos sociais
50. Interessante observar que o discurso dominante insinua o trabalho ocupar apenas um reduto per odo de vida que geralmente vigora 8 h di rias Todavia com os diferentes te ricos referenciados pudemos sinalizar como se deu a constitui o desse imagin rio n o apenas em virtude das transforma es nas modalidades de trabalhar Antecipamos aqui um termo intimamente vinculado psicossociologia que discutiremos de modo mais detido no cap tulo 4 100 sejam elas dentro ou fora de casa mas do que se vive na inst ncia dom stica e produtiva Com Dejours 2008 a partir da concep o da Psicodin mica do Trabalho ao focar os elementos intersubjetivos e intrassubjetivos que vigoram no contexto singular laboral v se uma contraposi o tradicional afirmativa ao discordar da separa o entre dentro do trabalho e fora do trabalho A rela o subjetiva com o trabalho leva seus tent culos para al m do espa o da f brica ou do escrit rio da oficina ou da empresa e coloniza profundamente o espa o fora do trabalho ela radicalmente contraditada a partir do instante em que nos referimos din mica dos processos ps quicos e sociais O funcionamento ps quico n o divis vel DEJOURS 2008 p 103 grifo do autor O autor ainda assinala que a economia familiar evocada pelo trabalhador que no trabalho se engaja com o corpo afeto e pensamento e que na luta contra o sofrimento e as contrariedades a serem
51. Lia tanto levanta a pergunta como lan a a resposta ao mencionar que tanto Davi quanto ela est o em condi es semelhantes porque os dois est o sozinhos Devem ser respeitosos um para com o outro estando perto ou longe Ademais v a fam lia a neta e a idade que avan a sua e de Davi como aspectos que n o encorajariam uma trai o Por m Lia n o deixa de examinar sua situa o e das mulheres que t m companheiros em barragens Para exemplificar isso recorre a uma express o interessante para se referir a si mesma e a in meras amigas suas esposas de barrageiros mulher vi va de marido vivo Essa express o designa de modo resumido a aus ncia do c njuge o trabalhador de UHE que est em um local distante e pouco retorna para a sua casa e fam lia Participa o social e afetiva muitas vezes restrita e superficial Lia fala da sua condi o em que seu marido retorna apenas uma vez por m s geralmente para passar um final de semana e cujas colegas que a veem sozinha em suas atividades rotineiras pensam que ela separada ou vi va Um vazio deixado na 235 conviv ncia di ria a manifesta o da aus ncia de Davi e o desejo de Lia poder preencher com o seu retorno Ser barrageiro no Cipreste paradoxos laborais Davi enquanto esteve no Cipreste p de experimentar a fase urea dessa empresa at as instabilidades transforma es produtivas crise econ mica e automatiza o e sua venda proces
52. Nesse vi s debru ar se sobre o social sem dispensar a subjetividade e toda a experi ncia humana atrelada ao afeto podermos reencontrar modos de n o perder a singularidade ao mesmo tempo em que podemos nos ligar ao outro Reaver a experi ncia comunic vel do narrador benjaminiano capaz de qualificar as rela es humanas e dimensionar o que bom ou ruim o que evitar e do que n o abrir m o Olhar para n s mesmos sem dispensar a a o coletiva Seja no espa o familiar no campo social e no trabalho Urge uma necessidade de refundarmos processos democr ticos e sociais na contemporaneidade para resgatarmos dispositivos de coletividade e participa o que t m sido massacrados e deslegitimados pelo mercador Resgatar a experi ncia de uma dist ncia que n o quebre o afeto e nem recaia em uma vis o ensimesmada restritiva da pot ncia do viver junto que Barthes 2003 nos convidava a pensar Poder usufruir da ternura em termos ticos e pol ticos Aprender a pensar os n s sociops quicos como vias a serem percorridas com a finalidade de reconhecer os afetos e as subjetividades n o apenas na dimens o da brandura e da 285 felicita o mas tamb m da tristeza e do sofrer da condi o humana Seria poder viv los nome los e negoci los de modo leg timo no campo social inclusive do trabalho e da fam lia Um viver junto no trabalho e na fam lia a ser constru do e experimentado em rela es capazes de conju
53. Neto 1982 com o advento do capitalismo mais a intensifica o do processo de urbaniza o a sociedade passou a ser composta por duas unidades b sicas a f brica unidade produtiva e a casa unidade dom stica n o produtiva O capitalismo e a urbaniza o s o os coeficientes que geraram nas sociedades contempor neas a especializa o das atividades e da economia em larga escala Para tanto os empreendimentos dom sticos e os tradicionais modos de trabalhar foram desaparecendo para dar lugar f brica empresa escrit rio com rcio etc os locais por excel ncia de concentra o do trabalho produtivo e vinculado prioritariamente ao g nero masculino O lar enquanto unidade reprodutiva passou a se restringir esfera dom stica ao g nero feminino tornando se recluso e privatizado Essa cis o entre unidade produtiva e reprodutiva p de se manifestar de modo alusivo para dimensionar os des encontros trabalho fam lia dos barrageiros especialmente por essa categoria 99 profissional reiterar em suas rela es esse rompimento o que trouxe diversos desdobramentos Sennett 2008 assinala uma grande transforma o datada do s culo XVIII quando casa e trabalho sofrem uma disjun o At esse per odo a fam lia era o centro f sico da economia produzindo e consumindo o que produzia Os of cios eram exercidos no pr prio lugar de moradia A f brica tornou se um lugar distante da moradia o topos do exerc cio do tr
54. O longo prazo da fam lia foca esse intento ao se planejar para a garantia da educa o dos filhos Nessa conjuntura os projetos humanos assentados na intersec o trabalho fam lia sofrem as reverbera es das transi es do mundo do trabalho implodindo o liame do dentro e fora do labor Suas resson ncias na vida familiar e dom stica fizeram se percept veis por meio da viv ncia dos conflitos mal estar anseios desamparos e im possibilidades manifestados em formas de ser trabalhar viver dos barrageiros 282 O mundo aberto por essas narrativas embora se refira a uma categoria profissional espec fica a do barrageiro n o deixou de conferir espessura social e hist rica aos modos de existir contempor neos uma vez que exp e formas de habitar experienciar o tempo e se relacionar t picos da atualidade Observamos aproxima es e distanciamentos acerca dos modos de ser trabalhar viver anunciados por nossos narradores As especificidades de ser familiar de barrageiro foram engendradas mediante a experi ncia de constru o de recursos e de estrat gias que permitissem lidar com as vicissitudes dos contextos s cio hist rico e pol tico econ mico desencadeados pelas demandas do trabalho e da migra o Deparamo nos com a t pica fam lia nuclear por m a vimos tal qual um caleidosc pio a volver com o movimentar das pe as gerando distintos arranjos cuja principal for a a gerar impulso foram as exig ncias do trabalho
55. Psicologia rea de Conhecimento Psicologia e Sociedade Data da Aprova o 30 06 2014 COMISS O EXAMINADORA Presidente PROFA DRA CRIS A AM LIA LUZIO UNESP Assis PPan Yoi NN UVAS Membros PROF DR RAFAEL SI EIRA DE GUIMAR ES UNICENTRO Irati a Gr PROFA DRA CATARINA SATIKO TANAKA UEM Maring PROF DR FRANCISCO HA DTO UNESP Assis LA ma E ae PROF DR MATHE JS FERNANDES DE CASTRO UNESP Assis Aos barrageiros e seus familiares ao ensinarem que hidrel tricas n o se constroem apenas com pedra areia cimento e vergalh o tampouco com guas comportas e turbinas mas com afetos ganhos e perdas vividas apenas por aqueles que experimentaram a i mobilidade e os des Jencontros trabalho fam lia AGRADECIMENTOS Sou grata a todos que fizeram parte do meu horizonte na constru o dessa pesquisa e que me permitiram fazer parte do seu Com cada um de voc s pude estender e aprofundar minha aprecia o do mundo ansiando n o apenas por compreend lo mas fazer da compreens o uma possibilidade de mudan a Descobri a pot ncia da fus o de horizontes ao vivenciar encontros genu nos de abertura e acolhimento junto ao outro e as suas diferen as Agrade o Cristina Am lia minha orientadora por suas potentes narrativas e escuta que promoveram aconchego quando a aridez da leitura da escrita e das institui es duras tomavam conta Uma pessoa que me convidou de modo generoso a ouvir outras
56. a do conflito trabalho versus capital Isto tratava se de um cen rio de trabalho que embora propiciasse a amplia o da rede de contatos limitava igualmente o aprofundamento dessa confian a informal pois a rotatividade de empresas pessoas e a curta perman ncia local tornavam se empecilhos para o seu favorecimento Essa dimens o tamb m se desdobrava sobre seus locais de origem de comunidade e de familiares o que gerou rompimentos de v nculos que conferiam refer ncias em termos de espa o tempo e de afeto O indiv duo que planeja e pleiteia uma carreira profissional no percurso de sua vida confunde se e sintetiza no mbito do trabalho parte significativa da trajet ria totalizadora de sua exist ncia No campo sociol gico Sennett 2008 aponta os efeitos na subjetividade ao relacionar as transi es profissionais com as etapas da vida ou seja os acontecimentos marcantes da hist ria de um indiv duo remetem frequentemente ao labor Interferem nos v nculos reais e simb licos nos significados do trabalho nas rela es sociais familiares e afetivas Para aprofundamento da literatura vinculada a esse tema acerca das quest es referidas citamos alguns pesquisadores de diferentes reas que verificaram esses impactos no contexto do setor hidrel trico Alves Justo 2011 Detoni 2010 Jesus 2009 Manarin 2008 Ribeiro 2002 Froelich 2001 Nova 2000 38 Pode se notar a respeito disso nas palavras de
57. a e Inglaterra por ex com o surgimento das biografias autobiografias somente no s culo XX na segunda metade que surgem de modo mais profuso os relatos e as hist rias de vida As fontes biogr ficas s o diversas hist rias de vida relatos orais di rios fotos autobiografias cartas entrevistas escritos pessoais etc o que denota a amplitude do termo bios Um indicador lingu stico que passa a integrar diferentes terminologias para abordar um campo sem ntico de complexifica o da vida em seu ineditismo enquanto diversidade adversidade e desconhecido Em que consiste a pot ncia da narrativa ao reportar s hist rias de vida Fazer alus o trajet ria biogr fica e retomar os fatos vividos possibilitando a re des constru o de sentidos Ademais como assinala Arfuch 2010 as narrativas enquanto relatos de vida possuem car ter especular n o s o apenas um relato de si mas a possibilidade desejada ou n o de ser um relato de todos Nas hist rias singulares de pequenos grupos recolhemos os gr os que d o espessura ao social Afinal elas est o inclusas na hist ria da humanidade mesmo que de maneira desconhecida e ultrajada Pineau 2006 menciona a narrativa como um curvar autorreflexivo fechamento que se desdobra no ato narrativo abertura Esse ato expressa o vivido Em sua oralidade vemos a liberta o da palavra e ou do texto escrito o que propiciou a revolu o da coleta de dados da infor
58. algo comunic vel A transmiss o de experi ncia acumulada cont m um saber Isso se faz pela transmiss o que ocorre por meio da repeti o criadora Essa repeti o se perfaz por meio de estruturas semelhantes que se reproduzem dentro de um quadro narrativo o qual integra hist rias exemplares Hist rias exemplares vinculam se com a concretude da vida em seus atos e em sua pr xis Elas servem para advertir por meio de um sistema de met foras e analogias para algu m fazer ou n o fazer algo um discurso de autoridade que visa alertar o interlocutor Sua especificidade d se ao constituir se como um espelho em rela o ao seu contexto de enuncia o 163 Todavia se a mem ria minguada e o narrar que comunica algo fruto dessa experi ncia tamb m se esvai com ela a for a para resistir fragiliza se Assim verificamos a estreita rela o entre hist ria e narra o em Benjamin 1994 Tal como a hist ria a narra o pode ser pensada como um passado que articulado historicamente para se apropriar de uma reminisc ncia e n o para saber como ele foi exatamente um meio de salvaguardar a tradi o do conformismo que da exist ncia quer tomar conta Nessa exposi o uma das contribui es de Benjamin 1994 sobre a narrativa podermos perceber que a narra o al m de ser uma das formas mais antigas de comunica o diferencia se da simples transmiss o de uma informa o que apenas repassa algo do acontecido e
59. ao mundo social do ponto de vista de seus atores sociais Podemos adentrar por interm dio das narra es no seu universo de escolhas preocupa es e percep es das situa es Como Por meio da protagoniza o da palavra daqueles que foram esquecidos ou exclu dos da hist ria Os narradores podem percorrer sua exist ncia no movimento de vai e vem evocado pelas lembran as acontecimentos sonhos desejos medos alegrias a es sofrimentos lutas cren as etc CARRETEIRO 2003 2009 De modo resumido seria dizer que A narrativa faz parte da hist ria o sentido que o sujeito d aos acontecimentos de que se lembra trabalhado pelo tempo e as prova es dele uma dimens o essencial L VY 2001b p 95 Com essa no o tra amos as refer ncias de narrativa de vida em uma perspectiva plural e dial gica posto que esse recurso faz se necess rio por conferir uma via prof cua de acesso s pluralidades de experi ncias constitu das em trajet rias de vida que se singularizaram em hist rias individuais S o um instrumento rico capaz de alcan ar experi ncias aprendizagens afetos que indiv duos ou grupos sociais espec ficos incorporaram biograficamente em seu percurso existencial Em suma adotamos para esta pesquisa a seguinte orienta o os elementos da hist ria de vida contidos nas narrativas s o captados por uma forma espec fica de entrevista a 152 entrevista narrativa capaz de articular
60. aparelho ps quico 3 1 3 1 Por outros contornos tempo espa o relacional Como se inscreveram no real essas transforma es rompantes no tempo espa o e rela o operadas prioritariamente pelo trabalho no modo de produ o capitalista neoliberal Para arguir come aremos pelo mecanismo do rel gio representando o capital pois ele toma conta do tempo dentro e fora da f brica conforme Thompson 1998 Em seguida traremos o tempo cronometrado como l gica do dinheiro e respons vel pela dissolu o das rela es sociais pautando nos em Simmel 1998 2005 e Santos M 2011 Por conseguinte para conferir um pano de fundo em que duelam essas for as aut matas com as idiorr tmicas recorreremos a Barthes 2003 Por ltimo prosseguiremos para as formas de controle social de Enriquez 1999a a fim de explicitar como est disposto todo esse dispositivo Nesse percurso outros autores comparecer o para nos respaldar nessa proposi o anal tica Tal qual o dispositivo de um rel gio vemos um maquin rio gigantesco sendo regimentado para a produ o da mais valia Thompson 1998 historiador ingl s de concep o marxista atenta n o apenas s consequ ncias econ micas sobre a classe dos trabalhadores mas tamb m sobre a experi ncia e sua constitui o hist rica que forjam rela es imersas em recorrentes conflitos Nessa perspectiva contextualiza que a aten o despendida no capitalismo moderno para controlar o tempo no
61. as pr prias fam lias produzem outros arranjos com essas pe as logo outras formas de viver podem ser encontradas e ressignificadas por meio de suas experi ncias sociais e subjetivas mediante as artes de viver A cada movimento nesse confronto do sujeito social com a realidade configuram se n o somente impedimentos e obst culos mas reinven o e cria o da fam lia e do social Entendemos que importantes pesquisadores como os citados at aqui trouxeram contribui es cient ficas relevantes sobre o tema da fam lia brasileira ao se reportarem ao horizonte discursivo da met fora da colcha de retalhos ARANTES et al 1993 Esses n o apenas realizaram um resgate hist rico da diversidade da organiza o familiar para al m dos modelos hegem nicos refutando os como tamb m apontaram seu car ter s cio hist rico e pol tico econ mico que uma an lise desse tema deve conter para haver uma devida contextualiza o Contudo optamos pela terminologia caleidosc pio para ampliar a problematiza o existente nesse campo de estudo e por ela comportar de maneira mais contundente o car ter din mico dial tico e poliss mico do insistente re inventar dessa institui o Nesses termos pudemos debater ao longo deste cap tulo dois eixos dominantes que se apresentam como opostos na literatura cient fica sobre os arranjos familiares o modelo da fam lia patriarcal e extensa a fam lia de ontem e o modelo da fam lia burguesa nu
62. aus ncia dos maridos Essa fam lia que teve seus filhos criados em vilas de barragens do Cipreste experimentou tanto a migra o e seus efeitos quanto testemunhou o nascer de uma cidade em fun o de empreendimentos hidrel tricos Viram essa cidade surgir desenvolver se e transformar se com a venda das casas da vila com a transi o das rela es de trabalho e com a partida de pessoas pr ximas inclusive a deles mesmos 219 Davi p de experienciar as transforma es sociais pol ticas e econ micas brasileiras no setor hidrel trico e em sua profiss o ao atravessar processos de automatiza o e privatiza o Aposentou se de modo antecipado nesse contexto e no momento atual est ciente de uma demiss o pr xima porque mais um processo de automatiza o chegou UHE em que trabalha O horizonte familiar dos Citrino constitui se por proeminentes reconfigura es em seus arranjos na expectativa do retorno de Davi Em um tempo iminente lidar o com um cen rio de vida cuja novidade estarem reunidos enquanto grupo familiar na mesma cidade Esse porvir est manifesto em suas narrativas ao expressarem uma temporalidade que denota o tr plice presente Conforme narram sua hist ria passada marcada por distanciamentos e aproxima es expressam em um tempo presente o processo de envelhecimento e o desejo futuro de estar com os familiares filhos netos e enquanto casal Do presente reveem suas hist rias cujas marcas de
63. ci ncia e a humanidade t m como desafio lidar com as transforma es intensificadas na d cada 101 de 1990 a come ar pela expans o do entendimento do conceito fam lia que deve aprender a integrar a complexidade suportar a ambiguidade e compreender os conflitos que reverberam os campos socioecon mico e pol tico ideol gico A nova ordem mundial mergulhou a organiza o familiar em outros par metros Temos de investigar e discutir esse cen rio ao integrar outras esferas que interferem e constituem essa organiza o social para poder repensar decis es impasses e possibilidades que envolvam escolhas e a es individuais e coletivas referentes sa de educa o moradia bem estar e qualidade de vida Ao estudarmos a categoria socioprofissional dos barrageiros pudemos dar visibilidade a esses processos e identificar generalidades e especificidades que retratam essa acep o Em suma deparamo nos com a necessidade de integrar um arcabou o investigativo te rico conceitual em que seja reconhecida uma viv ncia do tempo que n o se submeta totalmente l gica do mercador e do marcador mas que refrata a experi ncia humana nas t nues fronteiras do dentro e fora do trabalho em sua constitui o e em seus processos de subjetiva o Dito de outro modo poder explicitar os efeitos do tempo de trabalho que contrap e o tempo de vida 3 1 3 2 Por outros processos de subjetiva o O resultado disso em um mundo onde
64. concretizar uma vez que mesmo se exigindo a correspond ncia com um padr o ideol gico social n o se pode excluir a singularidade que o ser fam lia comporta Diante disso para o que dela se espera podemos ver propalar tanto aspectos de conforma o quanto de resist ncia nesse jogo do deve ser e do ser que visualizamos um modelo posto como idealiza o vindo a gerar tanto seu esfacelamento singular quanto sua reinven o ao serem criados outros arranjos Esse aspecto n s demonstraremos de modo mais detalhado ao apresentar as tr s fam lias Top zio Citrino e Safira dos narradores 108 participantes dessa pesquisa que em sua trajet ria social e seu enredo familiar vivenciaram distintas re configura es vinculares e afetivas Para acompanhar esse percurso preciso reconhecer seu movimento suas respostas ast cias e i mobiliza es alavancadas nos contextos sociocultural econ mico e subjetivo vivenciados nesse campo conflituoso que os grupos familiares constroem meios e termos para viver como o caso dos trabalhadores migrantes que podem engendrar diferentes composi es familiais ao buscar recursos materiais e imateriais para lidar com as demandas do trabalho com as mudan as de cidade e com seu pr prio seio afetivo relacional A fam lia ora encontra se reunida em uma cidade ora apenas parte de seus membros Elegem se lugares de refer ncia geogr fica e afetiva distintas pois em meio
65. de trabalho Quem trabalhava a uma temperatura inferior a 10 C tinha direito a uma dose de chocolate quente A cada per odo de tr s horas eram servidas barras de chocolate Se a temperatura elevasse excessivamente o funcion rio recebia pastilha de sal para evitar a desidrata o Tudo estava previsto O ritmo da obra era cont nuo 24 horas por dia todos os dias do m s sem queda de ritmo RIBEIRO 2002 p 64 Indo um pouco mais adiante poss vel localizar outra contiguidade entre obra e vila A vigil ncia e policiamento pr prios ao Bambu O policiamento era timo Tinha muitos funcion rios na seguran a na poca que o Bambu estava sendo constru do A gente tinha viaturas 261 passando na frente da nossa casa v rias vezes por dia Sempre acompanhando As sa das das vilas eram sempre bem vistoriadas A gente n o ouvia falar de assalto porque era bem complicado se o ladr o resolvesse entrar na vila para depois sair porque o policiamento era bem severo Raquel A usina era um territ rio fechado com regulamentos e vigias O regulamento impunha uma s rie de normas que tinham que ser cumpridas pelos trabalhadores A estas caracter sticas h de se acrescentar que a corpora o montou seu pr prio aparelho policial respons vel pela vigil ncia e seguran a dos trabalhadores O controle disciplinar era destinado garantia do aumento gradual da produtividade RIBEIRO 2002 p 66 Com esses p
66. de Janeiro Record 2008 S VIGNY Abordagem cl nica nas ci ncias humanas In ARA J O J N G CARRETEIRO T C Orgs Cen rios sociais e abordagem cl nica S o Paulo Escuta Belo Horizonte Fumec 2001 SIMMEL G 1903 As grandes cidades e a vida do esp rito Man v 11 n 2 p 577 591 2005 1896 O dinheiro na cultura moderna In SOUZA J ELZE B Simmel e a modernidade Bras lia UNB 1998 p 23 40 SINGER P Globaliza o e desemprego diagn stico e alternativas 5 ed S o Paulo Contexto 2001 SORJ A nova sociedade brasileira 2 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 SOUSA FILHO A Michel de De Certeau Fundamentos de uma sociologia do cotidiano Sociabilidades v 2 p 129 134 2002 SOUZA M A Geografias da desigualdade globaliza o e fragmenta o In SANTOS M SOUZA M A A SILVEIRA M L Org Territ rio globaliza o e fragmenta o 5 ed S o Paulo Hucitec Annablume ANPUR 2002 THOMPSON E P Costumes em comum Estudos sobre a cultura popular tradicional S o Paulo Companhia das Letras 1998 TODOROV S O homem desenraizado Rio de Janeiro Record 1999 As estruturas narrativas S o Paulo Perspectiva 2006 TRIGO M H B Amor e casamento no s culo XX In Amor e fam lia no Brasil S o Paulo Contexto 1989 VAINER C B Reflex es sobre o poder de mobilizar e imobilizar na contemporaneidade In NETO POLVOA H FERREIRA A P Orgs C
67. de desdobramento dos significantes tal como um dossi a ser aberto e explorado Ademais nas palavras humoradas de Lebrun 1998 p 12 Nunca se perde tempo exercitando um pouco a etimologia 3 Gostar amos de especificar que Castro 1998 discute essas duas terminologias opus e poiesis relacionando as quest o da po tica e da interpreta o 74 Com a amplia o do campo sem ntico podemos nos movimentar por meio da dial tica que constitui o labor fonte de prazer e sofrimento alegria e tristeza sa de e doen a liberta o e escravid o aliena o e emancipa o heteronomia e autonomia Em s ntese vivemos o trabalho capaz de humanizar e desumanizar Gu rin 1995 tamb m apresenta esse paradoxo em torno do labor ao debat lo no contexto do que constitui uma obra Situa o na cultura grega como maldi o condena o e tortura Com a ideia moderna de progresso o labor ascende ao plano da exalta o e da essencialidade Ao visualizar isso o fil sofo afirma que a oposi o que caracteriza os campos heur stico e ideol gico do termo trabalho insuprim vel O pice se daria ao se verificar o conflito que acomete o homem pois ao trabalhar para sobreviver e reproduzir uma forma de manter a vida e lutar contra morte confrontar se ia com seu avesso Entrementes o trabalho que no in cio afasta a morte nos bastidores a faz entrar no jogo GU RIN 1995 p 17 Encontraremos desde Marx 1996 at ator
68. de rela es que se originam num sistema tridimensional sociedade espa o tempo BECKER 1993 apud ALBAGLI 2004 p 30 o que vem configurar formas de afetos e rela es simb licas fundamentais para a subjetividade 20 diversas que conferiram rumos e sentidos nicos ao curso de suas vidas o encontro da subjetividade com o socius que remeteu a um fen meno recorrente no Brasil o setor hidrel trico que empregou e desempregou in meras pessoas E ao conferir ou n o trabalho a elas o percurso de suas vidas foi delineado por condi es sociais econ micas culturais e pol ticas espec ficas ao per odo hist rico do Brasil vivenciado Barrageiro muda de cidade Barrageiro busca felicidade Barrageiro confronta a realidade Faz isso ao desbravar lugares gentes hist rias outras o estranho que chegou aonde muitas pessoas n o saber o de onde ele era e nem para que veio Talvez possa ser algu m que venha a se familiarizar apegar se temporariamente quele povo e local mas que possivelmente ter de partir mais uma vez com ou sem a fam lia Eu enquanto filha de barrageiro constitui me no movimento N o h apego terra natal onde morei somente meus seis primeiros anos de vida Tamb m n o tenho amigos com quem possa compartilhar minha hist ria de inf ncia e adolesc ncia em um nico lugar Meus av s eram de Minas Gerais e do Rio de Janeiro gostavam da fam lia ao redor Nunca morei l mas mesmo assim eles
69. de transi o e reestrutura o marcado por um expressivo n mero de exonera es e modifica es na gest o e rela es de trabalho ao longo desse recorte temporal Embora sua narrativa seja individual ela n o deixa de manifestar de modo ativo o contexto social mais amplo referente a essa categoria profissional fazendo resplandecer o sistema social por meio da produ o singular essas considera es s o demarcadas por Carreteiro e Mattar 2004 2005 sobre a pertin ncia da narrativa de vida para investigar o fen meno social a partir do campo psicossociol gico Nessa fase de transforma es cravadas por rupturas e descontinuidades vemos constratar os modos de ser trabalhar viver delineados pela pol tica estatal direcionada ao trabalhador e seus familiares especialmente em termos de estabilidade assist ncia e 222 benef cios diversos e pela iniciativa privada orientada estritamente pelo mercado o que implicou a perda de garantias seguran a e estabilidade com a flexibiliza o das leis trabalhistas e com a precariza o das condi es e rela es de trabalho entre estes destacam se o rebaixamento dos direitos e assist ncias conquistados seja para o trabalhador como para a sua fam lia Nesse per odo de transi o Davi nos conta ter existido um constrangimento constante advindo da empresa sobre si e seus companheiros de profiss o para que os trabalhadores pedissem demiss o mediante a concess o de u
70. de um lugar no trabalho e no espa o familiar produziu paradoxos existenciais Isso n o disse respeito apenas ao g nero masculino mas tamb m mulher Buscar um lugar no trabalho e no espa o familiar seja pela atividade 270 remunerada ou n o est longe de alcan ar solu es quando persiste uma r gida divis o entre trabalho dom stico e profissional centrando na mulher os maiores encargos pelos cuidados com a fam lia Observamos nas tr s fam lias uma contradi o manifestada nos arranjos familiares constituidores de pap is em que a postura do g nero feminino de n o levar problemas para a figura masculina paterna se d tanto no intuito de preserv lo de preocupa es por estar distante distanciado quanto por esse homem n o ocupar uma posi o mais atuante no n cleo familiar Elemento destac vel na narrativa dos Top zio Citrino e Safira foi a incumb ncia das mulheres nos cuidados de casa e dos filhos estando os maridos presentes ou n o bem como a mulher exercendo uma atividade remunerada ou n o Vimos assim uma n tida cis o entre o trabalho remunerado centrado no homem e o trabalho dom stico centrado na mulher Tal aspecto pode ser mais bem compreendido com discuss es realizadas por Cyrino 2009 pesquisadora que se debru ou para compreender a rela o entre trabalho dom stico e assalariado ao abranger de modo articulado as categorias de an lise trabalho temporalidade e g nero Essa discuss
71. despencou e atingiu v rios trabalhadores gerando mortes Tamb m se recorda de cabos de a os rompidos produzindo acidentes e outros bitos O que vemos como algo curioso de Jonas n o ter se lembrado de seu pr prio acidente e sim a sua filha Raquel Raquel nos conta esse acidente imersa em reminisc ncias da inf ncia que situam o pai como o trabalhador surreal Percebia desde crian a que a profiss o dos barrageiros exigia muito para que as hidrel tricas pudessem ser constru das e os prazos sempre enxutos fossem cumpridos Nesse cen rio esse trabalhador surreal era aquele que n o falhava na sua atividade e que ela nunca via faltar no trabalho mesmo estando com problemas de sa de e com dor A contrapartida disso era o seu pai n o poder estar presente em eventos familiares datas comemorativas e atividades da escola Al m disso a falibilidade p de ser percebida na nica vez em que ele faltou quando Jonas foi v tima de um acidente de trabalho que lhe quebrou o nariz e demandou uma cirurgia 264 Raquel nos diz que uma pe a havia escapado e acertou seu pai durante a manuten o de uma m quina Ela n o somente explica como aconteceu o acidente mas dimensiona a gravidade que poderia ter sido fatal ou mesmo gerado uma les o permanente Fora isso nas mem rias de sua inf ncia tinha a impress o de que seu pai trabalhava mais do que os pais de outras crian as que exerciam outras profiss es Com esse relat
72. direito de compra da casa na qual residiram durante anos ao tornarem poss vel o sonho brasileiro de construir uma das maiores hidrel tricas do mundo Mulheres que do espa o dom stico participaram de modo indireto e invisibilizado na constru o dessa obra convivendo com a monocultura temporal atravessada na esfera da intimidade e dos afetos Testemunharam do espa o dom stico a rotina extenuante da for a de trabalho despendida a qual mais que imprimir reconhecimento e orgulho de pertencer a esse monumento nacional trouxe dor e sofrimento no corpo e na subjetividade daqueles que integraram esse empreendimento Nas palavras de Carreteiro 2003 p 293 o sofrimento social marca profundamente as constru es subjetivas levando o corpo a expressar o mal estar Essas mulheres ao darem voz e indignarem se conjuntamente contra essa realidade devastadora recusaram que esse sofrimento tico pol tico persistisse apenas no registro do corpo e da subjetividade deram lhe nome e vez no campo social para mostrar o lado invisibilizado e silenciado para que pudesse ser entendido que barragem n o se constr i apenas por m os de homens no canteiro de obras Foram elas em sua maioria com seus filhos e vizinhan a a protestar e acampar nos dispositivos do Bambu a fim de resistir ao despejo e requerer o direito de compra das casas Mais do que isso puderam conferir visibilidade ao manifestar nessa a o o desejo de reconh
73. disso preciso atentar para a interfer ncia da economia mundial que tanto redesenhou as a es do governo ao incentivar o processo de privatiza o a fim de corresponder ao programa neoliberal quanto alterou as condi es e rela es de trabalho das empresas que at ent o eram estatais Esse 201 conjunto afetou a vida desses trabalhadores de sorte a tornar a migra o uma sa da para se manterem empregados e enfrentarem as novas condi es de trabalho DUARTE 2009 p 77 Os Top zio e seu entorno social encontraram na migra o um recurso em busca de novos contratos de trabalho Contudo essa partida n o foi vivida apenas pelo chefe de fam lia mas por seus membros e seu contexto social fosse para quem ia ou para quem ficava Como Jonas e seus familiares viveram isso Eram vizinhos que chegavam e partiam de modo mais r pido denotando o car ter tempor rio e de provisoriedade da perman ncia e das rela es Esse cen rio expresso em um tom melanc lico ao se lembrarem de que partir do a e produzia falta Come aram a ver o caminh o de mudan a encostar nos arredores e os colegas irem embora o que conferia materialidade separa o da pessoa com quem desejavam at ent o dividir a vida Nesse nterim a fam lia Top zio embora se identifique como familiares de barrageiro menciona ter mudado pouco em rela o a outras fam lias que conheceram Todavia n o deixa de trazer com vivacidade os desdobr
74. dist ncia est o por ser elaboradas ao retomarem o conviver face a face O relato do casal reflete um futuro sinalizado por anseios e incertezas que poder o ser dimensionados com a volta de Davi Um reconhecimento a ser feito de Davi e por Davi no papel de marido pai e av na condi o de aposentado e fixo em um lugar Um cotidiano a ser delineado a partir da coexist ncia dom stica e familiar na presen a de Davi com seus entes familiares Os filhos formados buscando seu pr prio rumo e Lia residindo no Paran abrem novas possibilidades para essa fam lia se assentar em uma localidade a fim de expandir suas rela es e lan ar ra zes Entretanto as dire es singulares a serem assumidas ser o conhecidas por esse grupo quando esse pai chefe de familiar regressar Cabe dizer que a volta de Davi se d em uma condi o em que os filhos est o crescidos e formados ou seja com um projeto cumprido para essa fam lia mediante o trabalho do progenitor Abre se agora para esse n cleo familiar um momento de redescobertas e reinven es para seus pr prios projetos e desejos Um conv vio a ser firmado e significado com a cria o de planos que n o estejam centrados de modo exclusivo no trabalho nem nos filhos Percebemos um desabrochar dos Citrino 77 O processo de automatiza o consiste na instala o de equipamentos eletroeletr nicos que permitem controlar dispositivos eletromec nicos da UHE atrav s do recurso tecnol gico c
75. do fen meno e do objeto de estudo Tal como a esteira de Ford que faz chegar at nosso posto de trabalho um peda o de um produto final desconhecido o pesquisador tamb m estaria instalado na imobilidade de um nico campo conceitual Os 135 efeitos dessa clivagem s o conhecidos e debatidos entre eles o empobrecimento do fazer e do pensar Pag s 2001 exemplifica isso ao citar que as l gicas econ micas n o est o apenas no discurso do lucro da efici ncia e efic cia do trabalhador de uma empresa Igualmente a l gica ps quica n o se restringe a uma cl nica a um hospital e a uma escuta do sofrimento Elas atravessam lugares cotidianos pessoas fun es momentos grupos e institui es de modo incessante Se aparecem divisas acabam por ser compreendidas desarticuladas isoladas uma das outras e tornam se assuntos de especialistas e disciplinas Passamos tamb m a desconhecer seus efeitos ao atuarem juntas sobre a realidade Em consequ ncia dessa desagrega o h a manuten o da ideologia dominante para efetivar a aliena o segundo Chau 2000 O que fazer A psicossociologia disp e se a rearticul las a fim de atravessar esses fossos e abrir espa os para a coexist ncia Explicitar o ato confrontador Seria encontrar n o apenas rela es e determina es mas correspond ncias intera es e equival ncias simb licas Deparar se com o car ter contradit rio inst vel e conflituoso da realidade e do disc
76. e eu fiquei em outra mudou em um aspecto e no outro n o Mas nem por isso ele n o Vou falar ele timo marido ele um timo esposo Por outro lado Thiago se viu com duas fam lias a fam lia do casamento e a sua m e Ao residir com a sua m e por quem afirma ser respons vel desde jovem permanecia durante a semana Dividia seus cuidados com a m e no estado paulista e com a sua esposa e filhos no estado paranaense permanecendo junto destes ltimos apenas os finais de semana uma viv ncia de fam lia que se dava em peda os de tempo de rela o e de conviv ncia Quando se aposentou Thiago mudou se para o Paran e levou consigo a m e para quem comprou uma casa parte com a venda da resid ncia da vila Continuou com as duas fam lias dizendo ent o estar mais vontade e contente por estarem na mesma cidade Interessante notar a narrativa de Thiago quando a dist ncia situada com certa relatividade Isto ao manterem seus respectivos empregos o dele e o de sua companheira em cidades diferentes e conviverem separados alguns dias da semana pois se viam apenas aos finais de semana ocasionalmente se viam em quinzenas ou um per odo maior quando realizava o trabalho em localidades mais distantes afirmam esse distanciamento n o ter sido uma situa o insustent vel porque estavam pr ximos e por terem bons empregos Isso possibilitava meios de se verem com certa frequ ncia Para ele o limite anunciado
77. e uma nova esperan a entrou em meu cora o Naqueles dias eu era muito crian a e por muito tempo n o tornei a pensar no benef cio daquela comida deliciosa Quando mais tarde mandei procur la por todo o reino n o se achou nem a velha nem qualquer outra pessoa que soubesse preparar a omelete de amoras Se cumprires agora este meu ltimo desejo farei de ti meu genro e herdeiro de meu reino Mas se n o me contentares ent o dever s morrer Ent o o cozinheiro disse Majestade podeis chamar logo o carrasco pois na verdade conhe o o segredo da omelete de amoras e todos os ingredientes desde o trivial agri o at o nobre tomilho Sem d vida conhe o o verso que se deve recitar ao bater os ovos e sei que o batedor feito de madeira de bucho deve ser sempre girado para direita de modo que n o nos tire por fim a recompensa de todo o esfor o Contudo rei terei de morrer Pois apesar disso minha omelete n o vos agradar ao paladar Pois como haveria eu de temper la contudo aquilo que naquela poca nela desfrutastes o perigo da batalha e a vigil ncia do perseguido o calor do fogo e a do ura do descanso o presente ex tico e o futuro obscuro Assim falou o cozinheiro O rei por m calou um momento e n o muito tempo depois deve t lo destitu do de seu servi o rico e carregado de presentes
78. em 1974 sendo considerada a terceira maior usina hidrel trica do Brasil 16 1 PALAVRAS INICIAIS a abertura da pesquisa De tudo ficaram tr s coisas a certeza de que ele estava sempre come ando a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar Fazer da interrup o um caminho novo Fazer da queda um passo de dan a do medo uma escada do sono uma ponte da procura um encontro SABINO 1981 p 154 Falar como se originou esta pesquisa requer em primeiro lugar tra ar uma breve trajet ria a despeito dos aspectos te ricos e metodol gicos que tivemos de enfrentar Circunstanciaremos o percurso da constru o desse texto e seus pressupostos para al m da reda o como fixa o da escrita O texto como um todo foi constru do em seis cap tulos cujos respectivos t tulos e subt tulos fazem men o tem tica abordada por cada um formando uma trama incons til a respeito do objeto de estudo desta tese de doutorado Os referidos cap tulos possuem como t tulos gerais 1 Palavras iniciais a abertura da pesquisa 2 Delineamento da pesquisa 3 Trabalho fam lia 4 Fus o de horizontes caminhos te rico metodol gicos 5 Narrativas 6 Palavras finais o fechamento aberto da pesquisa Esperamos situar neste cap tulo como se processou a abertura dos horizontes e onde nos localizamos nele Convidamos o leitor a percorrer conosco o caminho que trilhamos as vias abertas e
79. em contato com o seu mundo e sua verdade relacionar se com Entretanto n o gostar amos de ficar apenas com essa defini o visto que existe uma discuss o mais cr tica e problematizadora desse termo que trouxe contribui es significativas para distintos campos de conhecimento que se reportam terminologia cl nica Essa discuss o diz respeito ao conceito de cl nica do campo da Sa de Coletiva 5 A origem dessa palavra nos remete ao tolerar ao suportar e compartir do p thos do outro consigo mesmo afetar e ser afetado No o que repudia a neutralidade da pesquisa e do pesquisador para abrir se tanto ao exerc cio cr tico e engajado da realidade quanto ao que a no o hermen utica nos diz sobre a fus o de horizontes poder encontrar e ser encontrado pelo mundo do outro Isso n o implica anular a subjetividade do pesquisador mas t la como recurso para a pesquisa e a produ o de conhecimento 138 especificamente no campo da sa de mental que possibilitou avan ar de modo mais potente essa quest o Com Costa Rosa Luzio e Yasui 2003 vemos no modelo da aten o psicossocial um arguir mais contundente acerca da cl nica e seus aspectos ticos demandados pelas pr ticas em sa de mental no contexto da reforma psiqui trica Com esses autores avan amos quando ultrapassamos a no o de inclina o e leito para redimensionar o lugar ocupado pelo terapeuta paciente pelo pesquisador pesquisado Rebatem se essas
80. individual e social mediante o processo de socializa o e controle Essa no o prop e o fortalecimento da fam lia para que se possa garantir a manuten o da pr pria sociedade A segunda posi o uma rea o contra a anterior A fam lia entendida como uma institui o repressiva e burguesa com as finalidades de alienar e subjugar seus membros especialmente as mulheres jovens e crian as Enquanto institui o sua fun o seria manter o status quo Quanto ao termo burgu s entende se a coaduna o que se fez entre fam lia e forma o social no modo de produ o capitalista com vistas a garantir a propriedade privada e a perpetua o da sociedade de classes Essa perspectiva advoga uma dissolu o dessa institui o enquanto amea a para a liberdade e autonomia do indiv duo Nessas duas posi es a fam lia reduzida a explica es ideol gicas e culturais de base econ mica e social que a circunscrevem no mbito privado tornando a sem valor para o contexto mais abrangente De qualquer forma observamos que ambas as concep es s o redutoras e simplistas Para ir al m e encontr la em sua complexidade devemos nos voltar aos modos de vida delineados na conjuga o dos la os familiares com a realidade hist rico social da sociedade atual Os autores a que recorremos nos abrem possibilidades compreensivas da fam lia para irmos adiante do entendimento desta como unidade produtiva reprodutiva e poder avist la
81. lia deparamo nos com uma diversidade de bibliografias e campos de saber que lan am olhares diversos e muitas vezes antag nicos Usufruiremos desse sortimento Com efeito n o partiremos de um consenso de autores e conceitos mas buscaremos expor nos pr ximos t picos os seminais dissensos das produ es cient ficas sobre a fam lia debates que possibilitem interrogar e vislumbrar sua dinamicidade Perante isso podemos problematizar o que promove a diversidade resist ncias cria es e reinven es que desafiam a ordem vigente Ao buscar tanger isso esperamos encontrar n o somente as for as conformadoras e reprodutoras mas redescobrir o novo e o reinventar que h nessa institui o Como Para fomentar a discuss o de fam lia em sua historicidade dentro da nossa proposi o te rico metodol gica buscamos o conceito da sociologia das aus ncias em Santos 2002 2004 o qual introduzimos no cap tulo 2 Ao situar a temporalidade nesse aporte conceitual podemos nos deparar com quest es fatos e exist ncias que nos escapariam enquanto pesquisadores e atores sociais A linearidade temporal que se faz em ju zos de valores e em regimes de verdade na ci ncia e na sociedade produz uma temporalidade e uma simetria em sentido nico Uma hist ria que possui uma vers o e voz oficial Ela faz por exemplo emergir uma ideia de composi o e funcionalidade de fam lia que se de um lado invisibilizam possibilidades diferentes de fam
82. lias de outro tecem um imagin rio do que seria a boa e adequada S o as duas faces da mesma moeda da monocultura temporal linear 48 A simetria a que Santos 2004 faz men o s o os caminhos hist rico anal ticos que expressam uma refer ncia explicativa para o ponto de partida e o de chegada entendidos como nicos e verdadeiros Como visto interessante lembrar que Benjamin 1994 j combatia essa linearidade hist rica em 1940 ao escrever suas 18 teses sobre o conceito de hist ria Dialogamos as teses 14 e 15 transcritas na se o dos anexos com a monocultura linear de Santos 2002 2004 ao contestar o ide rio de hist ria como fatos dispostos em um continuum Para Benjamin 1994 o tempo hist rico objeto de constru o e est 113 O que queremos dizer com isso Nessa linearidade hist rica delimita se para cada momento uma fam lia a de ontem seria a patriarcal por exemplo e a de hoje a nuclear ou recomposta Nessas redutas demarca es s o ignoradas outras possibilidades que se refiram n o apenas aos seus novos arranjos e composi es mas pr pria perspectiva hist rica em que diferentes formas e temporalidades podem coexistir Nesses preceitos podemos tecer uma an lise que busque recuperar as m ltiplas experi ncias e modos de exist ncias por meio das constantes reinven es da fam lia ao longo da Hist ria Ao apreciar a coexist ncia de tempos que se efetivam na instit
83. m da situa o de pesquisa O que eu me lembro isso Depois que eu vou falar vou lembrar deveria ter falado aquilo risos D bora D bora sabia que ter amos mais um encontro a entrevista narrativa coletiva e diante disso nos evidencia que essa metodologia amplia o reencontro n o somente com a sua pr pria hist ria mas com a historicidade familiar coletiva e social em que um fio de hist ria puxa outro pois falar lembrar e lembrar poder narrar Em seu relato seria Se eu tiver algo a acrescentar eu vou falando Porque quando a gente vai falando a gente lembra minha irm lembra outra coisa A devia estar gravando Lembrar das brigas tamb m que a gente tinha D bora Quando encontramos D bora novamente com a fam lia para a entrevista narrativa coletiva ela menciona ao longo das narra es j em grava o como a 254 primeira entrevista narrativa a mobilizou despertando nostalgia em rela o ao modo de vida outrora experimentado um desejo de rever o lugar de exist ncia Esse neg cio de ficar falando da vila I me deu uma nostalgia Esse dia eu baixei o Google Earth entrei l Passeei pela vila I inteira n o achei a minha casa porque n o deu para passar na rua l Casa X quadra Y D bora Ao reportarmo nos a Le Grand 2005 veremos que a hist ria de vida est vinculada de modo frequente a um trabalho de luto luto de uma situa o vivida de uma juventude de um modo de s
84. m de n s que tamb m se ativeram narrativa Al m dos citados h os estudos de De Certeau 2012 na sociologia do cotidiano ao constatar as ast cias dos homens para lidar com a realidade e o poder hegem nico ou seja as manobras efetuadas no cotidiano para confrontar as imposi es e as amea as vida o que possibilita investigar as artes de fazer Para conhec las a mat ria narrativa indispens vel por trazer luz essa realidade Desse modo Sousa Filho 2002 cita tamb m o Livro das mil e uma noites em uma concep o certeauniana o que vem ao encontro da nossa proposta de narrativa apreciada at aqui 34 chegar ao formato em que hoje conhecido Foi a partir do s culo XIII que seus fragmentos e manuscritos puderam ser reunidos no idioma rabe fazendo o livro assumir sua materialidade enquanto tal At a foi conservado por acaso e disperso ao longo do tempo interessante notar que suas bases estiveram entremeadas por hist rias orais em que diferentes pessoas letradas e n o letradas vieram enriquecer seu conte do Hist rias que n o morreram porque mediante a memoriza o e a cita o constantes puderam atravessar gera es at serem registradas de modo concreto Trata se de hist rias de fontes diversas que posteriormente vieram se fixar na escrita Quanto proced ncia dessa obra houve v rias especula es sobre a sua origem Uma delas que o livro possui uma matriz iraquiana uma re
85. material coletado ou da constru o te rico conceitual do objeto Temos que reconhecer que o texto cient fico adv m de saberes e viv ncias que s o as narrativas do pesquisador e do pesquisado que se entrela aram enquanto linguagem e compareceram como express o de um mundo e uma forma de es 27 conhecimento deste mediante a escrita Isso se faz porque o texto ao formar se do 7 Com Brandim 2010 p 135 136 em sua an lise ricoeuriana desse termo vemos isso de modo mais claro ao expor que A escrita o contato mais imediato com aquilo que se disse ou diz desta forma longe de ser um artif cio que apreende a realidade da maneira como aconteceu ou que exprime o mundo da forma como produz significados sobre realidades e expressa o vivido como texto entendido aqui como toda forma de discurso fixado pela escrita 28 conjunto de palavras e ideias em dado tempo e lugar por quem o escreveu e para algu m que o ler j n o pode mais corresponder de modo exato em suas inten es e sentidos primeiros Isso quer dizer que a fixa o do discurso na escrita abre o mundo do texto que por sua vez explode o mundo do autor RICOEUR 2008 Gera se um distanciamento em que o ato de ler nessa n o coincid ncia com o que o autor escreveu ou quis dizer torna poss vel o exerc cio hermen utico Instaura se um c rculo hermen utico para compreend lo uma fus o de horizontes que propicia novos encontros uma escuta de outr
86. material empirico como um corpus Por conseguinte elencamos dimens es da narrativa que nortearam nossa compreens o do horizonte dos narradores 177 o buscar diferen as e semelhan as entre os contextos dos participantes o explorar como os narradores definem as situa es vividas como o texto e a linguagem as revelam por meio das condi es que o sujeito cria vive e valoriza bem como determinadas situa es e rela es experienciadas para lidar com o real Encontrar na fala dos sujeitos o sentido e suas l gicas internas o que se projeta deseja anseia e suas interpreta es acerca disso o a interpreta o comporta dimens es de an lise a serem constru das conforme se familiariza e se estranha o material isto busca se encontrar e elaborar linhas de sentido como menciona Onocko Campos 2008 Em uma tradi o recoeuriana a autora busca encontrar o sentido narrativo que comporta o tempo e a a o humana N o se trata de perseguir uma ordena o cronol gica e linear mas avistar a experi ncia subjetiva que o tempo gera mediante um arranjo expressivo pr prio que disp e de modo singular o encadeamento l gico dos fatos o identificar o mundo da cotidianidade Para os hermeneutas onde se produz o discurso o que o torna par metro de an lise pois nele que se constituem o consenso o dissenso a compreens o o estranhamento a intersubjetividade e o mundo
87. meio de ser realizada essa modalidade de valida o pois n o encontramos ecos com os narradores de maneira que esse processo produzisse sentido ao se mostrarem dispon veis para efetiv lo Por ser a proposta metodol gica inicial um aspecto norteador da produ o de conhecimento cient fico entendemos que a n o valida o das narrativas nesses moldes n o invalidou a narra o tampouco o m todo Pelo contr rio ao partir da metodologia como diretriz podemos inferir que o m todo em sua formula o primeira e a forma como foi manejado n o apenas serviu para orientar as escolhas vividas no calor do momento emp rico mas tamb m constituiu especificidades ao ser finalizado o trabalho de campo e da pesquisa vindo a atingir seu formato final Nesse sentido pudemos considerar validada a narrativa quando esta foi concedida enunciada integrando um percurso discursivo com come o meio e fim em que o pr prio narrador anunciou nos o seu in cio e t rmino N o podemos deixar de considerar que o processo de valida o em si isto quando a narrativa transcrita pudesse ser lida pela pesquisadora ou pelo pr prio participante permitiria mais um revisitar da hist ria e ao seu conte do expresso o 190 mundo do texto ensejando um aprofundamento Entretanto os participantes n o manifestaram interesse e nem desejo de aprofundar ou rever aquilo que foi dito Esclarecidos tais aspectos pudemos expor os contornos impressos a partir
88. menos subjetivos a uma perspectiva hist rica articulada ao modo de produ o o trabalho configura se como o representante da for a dos impulsos que o homem emprega para execut lo para poder ou n o consumir o que foi por ele produzido abrindo possibilidades de constitui o de subjetividades correspondentes a cada poca hist rica que tem por dom nio uma forma de produ o O trabalho como regulador social fundamental para a subjetividade humana e essa condi o mant m a vida do sujeito CAPIT O HELOANI 2003 p 104 106 Por essas raz es ao conjugarmos trabalho fam lia de barrageiros como norte investigativo podemos compreender determinados modos de ser trabalhar viver engendrados no contempor neo entendendo que as condi es de vida geradas n o s o fruto de um tempo estanque mas conjugado repleto de reas de luz e sombras o que est para ser compreendido de modo incessante 1 3 Abrindo o horizonte do olhar do pesquisador At aqui tecemos considera es sobre a teoria o m todo e o porqu do tema Expusemos a narrativa para falar do pesquisador e do pesquisado Entretanto para finalizar este cap tulo gostar amos de entrela ar esses aportes a uma trama que perpassa todo este estudo para al m da escuta o olhar Ele se desdobra sobre o objeto de estudo o narrador e o mundo que o cerca 42 O olhar n o desinteressado por isso devemos problematizar o que se v e o
89. mudarem para a vila no Paran ao ter liberada a casa depois de dois anos de morada no Paraguai juntaram se aos outros trabalhadores e seus familiares brasileiros A vida foi percebida em sua plenitude sendo um per odo tido como tranquilo e regozijante para os Top zio Um estado de contentamento expresso no morar no trabalhar e no viver Um aspecto que favoreceu isso foi a modalidade de habita o promovida pelo Bambu as vilas dos trabalhadores capazes de promover sociabilidades expressas em uma conviv ncia pr xima que estabeleciam com a vizinhan a Os amigos os vizinhos em especial eram vistos como a fam lia mais perto posto que muitas pessoas tinham familiares longe e estavam experienciando uma situa o similar o trabalho em hidrel tricas que os levara a um lugar desconhecido Essa condi o favorecia a abertura ao outro numa rela o de troca e ajuda m tua uma solidariedade estabelecida principalmente entre as mulheres e seus filhos haja vista que os homens trabalhavam na 199 obra e geralmente faziam turnos e contraturnos para atender aos exigentes prazos da constru o da UHE A chegada foi apresentada como um dos per odos mais dif ceis da adapta o Momento de se deparar com o desconhecido e o incerto cartografar o territ rio Lidar com a perda de v nculos sociais de perscrutar e ser perscrutado pelo outro Era o desafio de tornar algo hostil e alheio em algo que lhes fosse familiar e afeito Poder construi
90. n o repercutiu apenas no espa o da f brica mas na totalidade da sociedade e da vida humana indo do consumo educa o da vida pol tica relacional do espa o da f brica fam lia Ao resgatar sua constitui o hist rico social verificaremos que com isso sua minuciosidade fez se mediante demarca es temporais do que viria a ser compreendido como os tra os definidores das etapas do desenvolvimento humano instaurados nas rela es e nas institui es com o surgimento da concep o de inf ncia adolesc ncia idade adulta e terceira idade Disso decorre o imagin rio do tempo como o de ser solteiro e ser casado tempo de ter e n o ter filho s tempo para escolher uma profiss o e para ingressar no mercado de trabalho entre outros S o delimitadas fronteiras do tempo espa o e rela es constru das ideologicamente especificamente do que convergiria para o dentro e o fora do trabalho Passa se a combater o cio ao mesmo tempo em que se instiga o lazer ao menos enquanto elemento rent vel para o mercado Nesse jogo extenuante comparecem na linguagem cotidiana as express es denunciadoras dessa conjuntura n o perder tempo ganhar tempo correr atr s do tempo perdido n o esperar o tempo passar tempo dinheiro H um voltar se para si acerca do uso produtivo do tempo um poder exercido pelo capital que sobrepuja a experi ncia temporal singular do homem a partir de uma conc
91. ncias a financeiriza o em seu poder cada vez mais m ope e restritiva por m vigorosa por ultrapassar suas ltimas capitaliza es monet rias O ser humano ao ser avaliado nessa unidade de medida calculista em filigranas descartado sem a paga da inj ria Resultado disso segundo o referido psicossoci logo s o tempos em que se vivem a pervers o social e a psicologiza o do problema Fundam se em torno do individualismo a responsabiliza o do sujeito para o assujeitar e sua despotencializa o mediante as marcas da culpabiliza o seja por seu sucesso ou pelo fracasso de qualquer maneira ganhando ou perdendo ser insuficiente porque o capital insaci vel Em uma leitura habermasiana o dom nio da l gica instrumental sobre a pr tica esta ltima capaz de fomentar o la o social Vivemos numa vis o da l gica t cnica e por isso tudo o que seria a l gica pr tica que permite estabelecer la os entre os seres humanos tudo o que est ligado s l gicas emancipat rias permitindo reduzir o sofrimento dos que mais padecem isso est sendo progressivamente abandonado ENRIQUEZ 1999b p 73 Confluente a esse debate veremos com Castoriadis 2004 uma fecunda investiga o do neoliberalismo mediante a an lise da racionalidade do capitalismo a partir da qual tece uma primorosa cr tica sobre esse modo de produ o ao utilizar a pr pria l gica do capitalismo para confront lo Bourdie
92. nessa l gica de modo a afastar gradativamente c rculos familiares e de proximidade que poderiam constituir rela es mais duradouras e aprofundadas Essa afirmativa analisada em um contexto em que o dinheiro amplia de modo inigual vel v nculos entre diferentes homens comunidades cidades estados e pa ses por meio do novo modo de 97 produ o e comercializa o em larga escala Modos de produ o anteriores ao capitalismo como o feudalismo n o haviam propiciado uma viv ncia dessa amplitude SIMMEL 1998 N o obstante nessa tessitura social monetarizada h bil para se aproximar no mesmo instante em que afasta faz brotar o individualismo de modo mais vigoroso Apontamento que o autor faz diante da propaga o das rela es an nimas distanciadas e desinteressadas do outro Esses v nculos reproduzem as condi es sine qua non do mundo conduzido pelo dinheiro Quanto a isso Elias 1994 tamb m partilha essa concep o ao identificar nas cidades um tr nsito de pessoas que perseguem seus pr prios interesses e metas e que mesmo estando pr ximas fazem se plenos desconhecidos Percebemos que ao mesmo passo que o dinheiro conferiu liberdade e amplia o do espa o de circula o para oportunizar novas rela es tamb m imp s restri es aos la os sociais afrouxamento e cortes em prol do valor dinheiro O rigor e a austeridade imposta pela l gica econ mica afetam a vida em suas distintas express es e dimens es
93. nicas da vida oper ria de Jatob 2006 Nela o cen rio o das f bricas do ABC paulista onde o universo subjetivo dos trabalhadores expresso em seus medos sofrimentos e inseguran as trazido tona a partir do cotidiano social de trabalho e moradia A rela o trabalho e sociedade encontra se intimamente vinculada o que reverbera as den ncias de Pagu 1994 at a atualidade 78 A flexibilidade interna traduz se por profundas transforma es da organiza o do trabalho que concorrem para a sua precariza o A flexibilidade externa traduz se por uma redu o dos efectivos pelo desenvolvimento da subcontrata o e pela precariza o do emprego Paradoxalmente enquanto as exig ncias de produtividade aumentam observa se uma tend ncia geral para a desqualifica o A fragmenta o da experi ncia profissional numa enorme quantidade de miss es sucessivas ou paralelas a promo o de uma polival ncia que dissolve a refer ncia aos corpos de saberes e de saber fazer que definem profiss es a degrada o das condi es de aprendizagem pela intensifica o do trabalho e da precariedade de perten as s o outros tantos factores que pelos seus efeitos cumulativos desenham uma margem sempre maior de subproletariado LHULIER 2005 p 217 218 A autora francesa reitera o que outros pesquisadores tamb m avaliam em diferentes contextos e vertentes te ricas acerca do impacto da negatividade produzida pelas trans
94. nos deparamos ao propor um di logo em um trip fundado a partir da psicossociologia da narrativa e da hermen utica de modo a produzir uma fus o de horizontes 4 1 No horizonte da psicossociologia A psicossociologia pr xima da sociologia cl nica e vinculada psicologia social um corpo te rico relativamente recente Elementos que consubstanciaram suas origens situam se nos anos 1930 Nela h uma estreita vincula o entre pesquisa e interven o Sua marca a transdisciplinaridade que a situa em permanente di logo com reas de conhecimento e na multiplicidade de temas campos e interven es sobre os quais se desdobra A produ o recente tem se referido a uma perspectiva cl nica nas vertentes sociol gica e psicossocial A psican lise uma de suas teorias inspiradoras mas n o se 5 A sociologia cl nica uma importante vertente da psicossociologia Segundo Gaulejac 2001 pesquisador eminente dessa rea diz respeito abrang ncia do campo psicossociol gico e diversidade que se abre N o se trata de uma oposi o mas de propelir rumo ao campo da sociologia as prerrogativas psicossociol gicas Essa filia o da sociologia cl nica reconhecida desde 1950 132 restringe a ela e se apropria de outras reas te ricas e de conceitos advindos de distintos campos disciplinares Disciplina de fronteira porque a sua dimens o plural possibilita vis es estendidas no mbito te rico e interventivo
95. o da ordem vigente De que forma O ser humano ao conseguir reconhecer sua pobreza oriunda da subtra o da experi ncia pode fazer da sua pen ria o artif cio propulsor para reconstruir a si e o mundo Parte se do que se tem da escassa frui o do que est incipiente para poder transformar sua condi o H uma crise no entender de Benjamin 1994 que em meio s distintas transforma es da modernidade tem sido gerada por um paulatino empobrecimento de vidas pelo apagar de seus rastros pelas dificuldades de se criar e encontrar espa os em que os vest gios da experi ncia possam se arraigar Para chegar a isso dois elementos sobressaem se 1 a pobreza de experi ncias alinhavada com o escopo do capital a mercadoria e o seu consumo se estabelecendo custa da destrui o trata se de um contexto que Benjamin 1994 denomina devorador Blumenberg 1990 afirma que o que pode ser salvo no naufr gio da exist ncia humana a posse de si mesmo que se torna fact vel nos processos de autodescoberta e autoapropria o A narrativa seria uma dessas boias salva vidas 162 de tudo da cultura e dos homens O homem fica exausto e sonha com milagres para compensar a sua tristeza e fadiga Disso adv m outra consequ ncia desse empobrecimento 2 a complexifica o da vida di ria oriunda do modo de produ o capitalista de suas crises econ micas e das guerras imanentes que leva o homem ilus o como rota de f
96. o de conhecimento fazendo jus s vozes de seu objeto al m de estarem abertas a um constante di logo Parafraseando S vigny 2001 o social encontra se em toda parte assim como a subjetividade Pelo fato de o sujeito estar em intera o indispens vel operarmos nos n veis da a o social e da subjetividade que se efetivam nos mbitos individual organizacional e institucional Ao nos propormos a compreender os des encontros entre trabalho e fam lia n o basta nos debru armos sobre o sujeito ou o labor preciso verificar como estes se coproduzem como as rela es entre essas dimens es tensionam se e quais s o os seus efeitos sociais e subjetivos Para isso a abordagem cl nica na psicossociologia vem ao nosso aux lio Ao buscar os v nculos entre indiv duo sociedade privilegia os meios intermedi rios do socius como os grupos de pertencimento por ser uma porta aberta para as investiga es macro e microsc pica Desse modo consideramos prof cuo atentar para a rela o que os sujeitos apresentam acerca de sua fam lia e de seu trabalho de seu entorno social como a vizinhan a profiss o e grupos diversos que lhes s o refer ncia Aqui est o as charneiras que vinculam indiv duo e sociedade que perfazem no cotidiano 4 2 No horizonte da narrativa ATEN O DEGRAUS O trabalho em uma boa prosa tem tr s graus um musical em que ela composta um arquitet nico em que ela constru da e enfim um t x
97. os cruzamentos que demandaram determinadas escolhas para construirmos uma via anal tica coerente com a nossa proposta de trabalho de pesquisa e com o pr prio objeto de estudo 1 1 Abrindo o horizonte te rico metodol gico a constru o da pesquisadora da pesquisa e da narrativa 1 1 1 A narradora pesquisadora ou a pesquisadora narradora Essa uma quest o que n o deve ser vista separadamente Versemos sobre ela de modo breve para entrevermos que ao se construir uma modalidade de pesquisa tamb m se produz o pesquisador Diante disso o universo narrativo n o reporta apenas aos participantes h que se narrar tanto a pesquisa quanto a n s mesmos por isso o uso da primeira pessoa do singular combinada a primeira pessoa do plural nessa se o 17 Algo se torna objeto de pesquisa um problema sujeito investiga o por diversos motivos No nosso caso compreender as formas de ser trabalhar viver de barrageiros tem a ver diretamente com a minha hist ria de vida preciso situar o leitor acerca das tramas aqui entrela adas S o as hist rias dos familiares de barrageiros que de certo modo fazem reverberar as minhas as da narradora pesquisadora Esse tema fez se interesse de pesquisa por remeter minha implica o direta nesse universo Por reconhecer isso e ser pesquisadora que trabalha com narrativas tive de narrar a minha pesquisa e seus contornos te rico conceituais nos pr ximos t picos deste cap
98. papel enquanto figura maternal a mulher passou a ter incrementada a sua fun o mediante o cuidado e a gest o do espa o dom stico e de seus infantes por m com diversas sujei es ao p trio poder familiar Essas transforma es irromperam com a fam lia extensa gerando outros modos de ser relacionar trabalhar e viver D INCAO 1989 DONZELOT 1986 Na atualidade especificamente o cen rio familiar brasileiro reverberando o internacional segundo Birman 2007 Machado 2001 e Sarti 2010 houve uma profunda transforma o a partir de 1950 e 60 com a assun o de outras posi es sociais da mulher na sociedade As for as propulsoras foi o movimento feminista em que a rela o da mulher perante o homem requisitava igualdade buscava reconhecimento e conquista de outros pap is inclusive sua inser o no mercado de trabalho Essa condi o al ou maiores propor es com o controle da natalidade por meio da inova o dos m todos anticoncepcionais concedendo mulher a escolha de ser ou n o m e e a viv ncia do desejo e da sexualidade desprendidos da reprodu o Com a profiss o e a educa o acess veis e priorizadas pela mulher sua independ ncia financeira possibilitou o desejo de realiza o enquanto sujeito singular e a desatou da 116 maternagem deixando de ser o papel materno a forma que lhe conferisse reconhecimento e valor Isso pode ser percebido de maneira mais clara a partir do per odo da consolida
99. pesquisador deve se posicionar por meio de uma postura tica est tica e pol tica que possibilite a redescoberta das formas de existir para poder apreci las Desse modo tal qual o artefato tico do caleidosc pio que possibilita arranjos m ltiplos se formarem conforme o movimento somos convidados a rever o percurso da produ o cient fica e do real a fim de reconhecer o car ter din mico da vida e as distintas possibilidades de exist ncia ao longo da hist ria 119 fam lia patriarcal A partir disso podemos inferir dois aspectos Primeiro a fam lia patriarcal no que se refere s rela es de g nero subjuga o da mulher pelo homem e o poder e divis o de trabalho assim trico no espa o dom stico e laboral n o foi suplantada na atualidade H um passado recente que apresenta ainda hoje seus reflexos e imprime conforma es familiares Segundo tanto no per odo do Brasil col nia quanto na atualidade existiram e existem modelos distintos do patriarcal preciso assinalar isso referente ao passado para situar o presente A ideia de essa monocultura temporal persistir faz com que se acredite em uma poca do Brasil colonial desprovida de outras formas familiares que n o fossem as patriarcais e que na atualidade o p trio poder familiar o qual exerce subjuga o da mulher pelo casamento conjugalidade ou por seu companheiro tenha desaparecido Historiadores soci logos e antrop logos brasileiros j destacaram
100. por exemplo nessa poca do ano no outono era mais no outono no outono tinha uma casa na esquina que tinha um p gigantesco de noz Noz assim Antes de chegar escola eu ia catando comendo E era assim Forrava descia Os carros esmagavam tudo Era muito N o dava conta de consumir E na minha casa tinha p de ameixa vermelha amarela Abacate laranja Goiaba vermelha branca Na outra casa tinha amora Laranja lima Nas casas sempre tinham essas frutas Eu vivia em rvore com os amiguinhos Comendo as frutas L perto da escola tinha uma coisa que era rara de ver que chamava uva japonesa Eu n o sei como era o nome daquilo Parece uma raizinha Voc mastiga essa raizinha Ela bem docinha Ent o tinha essas coisas l risos 203 Em suas viv ncias localizamos gostos que buscam esquecer e outros que desejam sentir novamente Um sabor ansiado que o tempo n o traz mais pois o gosto reporta a um contexto que permitiu apreciar um modo de vida espec fico tal como o rei expressa na narrativa do Omelete de Amoras de Benjamin 2011 A resson ncia dessas lembran as no presente n s pudemos observar em dois momentos No primeiro as rvores frut feras que Jonas plantou ao redor da casa atual e defronte a rua a fam lia nos apresenta os nomes dessas rvores em distintos momentos quando vamos a sua casa realizar a entrevista narrativa tornando compreens vel a conjuntura desses frutos em suas vidas localiza
101. pouco dif cil mas passa A gente leva tamb m Thiago 249 Sua exposi o contundente ao demonstrar a contradi o vivida na dif cil tentativa de compatibilizar trabalho e fam lia por m assinala que foi o trabalho que lhe possibilitou cuidar da fam lia De certa forma pensamos que a fam lia tamb m possibilitou o trabalho desse barrageiro ao conferir a ele apoio e complac ncia para assegurar os v nculos mesmo a dist ncia como observamos no posicionamento das mulheres nessa rela o singular Um rastro disso parece emergir no discurso de Thiago ao reconhecer que o trabalho propicia a fam lia e que a fam lia afirmadora de sua condi o de homem provedor precisa ser cuidada mediante seu labor Sem o trabalho e sem a fam lia onde mora a moral da hist ria dif cil voc adaptar algumas coisas A gente tem trabalho e tem fam lia Mas para cuidar da fam lia voc tem que ter trabalho Thiago Isso compreens vel ao visualizarmos que os n s sociops quicos s o tecidos em uma conjuntura em que a sociedade centrada no trabalho e as rela es gravitam em seu entorno A fam lia foi sendo manejada e muitas vezes colocada em segundo plano at que um contexto distinto da realidade de trabalho oportunizada e das cidades diferenciadas que produziram vidas momentaneamente separadas pudesse proporcionar outra conviv ncia Dito de outro modo o mesmo trabalho que propiciou sustento fam lia estan
102. quando est o encaixotadas Certas coisas se extraviaram e nunca mais as encontramos bem como o contr rio Penso que uma das sensa es mais desconfort veis ao chegar a um novo lugar era poder me assentar nele Torn lo familiar seguro e receptivo para mim mesma N o me refiro a uma casa luxuosa ou ostensiva mas a um canto no mundo em que voc 19 possa cham lo de seu e permita ser minimamente acolhedor Um lugar onde voc possa criar sentimento de pertencimento e identifica o Diferentemente da minha cachorra eu n o poderia levar uma casinha e apenas ter o trabalho de posicion la diante de uma vista apraz vel e protegida embora at os c es necessitem farejar cantos e frestas para torn los seus A rotina desarranjada Voc n o sabe mais os atalhos e nem faz o tradicional trajeto de volta para casa seja para desviar do tr nsito ou dos buracos e cachorros brabos que est o no meio do caminho Trata se de uma rede de rela es materiais e imateriais que voc tem de reconstituir praticamente do zero e que atravessa todo o seu cotidiano que dia passa o coletor de lixo A que horas vem o carteiro Quem ser o o professor ou o aluno Quais s o meus colegas de trabalho Quem a minha vizinhan a Qual padaria e supermercado s o bons Qual m dico ou hospital confi vel Onde podemos nos divertir com lazer e arte Qual lugar seguro ou perigoso As pessoas s o receptivas ou fechadas Em princ pio as pergu
103. que o melhor acesso poss vel hist ria de uma 156 sociedade consiste em explorar a de um indiv duo distinto que a viveu a sua pr pria maneira LEVY 2001b p 117 Nessa intersec o a hist ria coletiva se conjuga com a de homens e mulheres jovens e adultos a envelhecer comuns no tocante ao seu cotidiano pois at mesmo nos momentos mais ntimos e aparentemente irrelevantes eles n o apenas encarnam como agentes e produtos da hist ria mas tamb m trazem as marcas da hist ria social na qual est o inclusos fundamental em uma leitura psicossociol gica debru armo nos sobre as charneiras dessas hist rias singulares expressas nas narrativas a fim de apreender as significa es e os sentidos atribu dos aos lugares momentos acontecimentos encontros impasses em rela o aos quais suas exist ncias se desdobram L VY 2001b 4 2 3 O potencial interventivo do narrar versus a pen ria da experi ncia Por que consideramos uma pesquisa que fa a uso das narrativas de vida com potencial interventivo Porque como aponta Pineau 2006 mais do que um m todo ela pode ser uma potente arte de ressignifica o da exist ncia de reapropria o da vida pelo narrar Isso se d por meio da reflex o que confere passagem para processos de produ o de subjetividades emancipadoras Desse modo o pesquisador inquirido a fazer de seu interesse cient fico uma oportunidade de deflagrar uma arte poderosa de
104. que perdeu de exato de outra forma recupera que hoje qualquer coisa de um traz da outra sua atmosfera MELO NETO 2009 p 111 Esse conceito na Filosofia da Diferen a foi inspirada na terminologia provinda da bot nica Distinguindo se da no o de raiz que possui uma estrutura central o rizoma possui multiplicidade e heterogeneidade fazendo com que seja capaz de produzir raiz talo ou ramo independente de sua localiza o na planta Isso se d porque o rizoma pode conectar um ponto a qualquer outro Nesses termos a bifurca o a imprevisibilidade e o ineditismo da produ o de vida e do pensamento n o se at m a um ponto de origem primordial ou essencial Tal conceito propicia a experimenta o advinda das incessantes possibilidades de conex o e dimens es mesmo com as rupturas pois estas geram outras vias mediante as linhas rizom ticas RAMOS MEIMES s d 23 Das pessoas s paisagens aprendi o que estar em terra estranha sem deixar de criar um pertencimento mesmo que passageiro Isso me fez sentir cedo que partir d i perder falta e que com o vazio a gente convive Sendo assim tornei me uma cart grafa amadora sem temer o movimento mas apreciando o que ele dava e tirava me S sabe disso quem estiver andando pois diante do n o saber da possibilidade de um retorno aprende se a apreciar a paisagem e os encontros de modo nico E por gostar de hist rias e fazer delas objeto de pesquisa foi int
105. realiza o da topografia e das medi es para definir onde seria constru da a vila para os barrageiros Reconhece que poder testemunhar o nascimento de uma cidade povoado um evento 245 que poucos podem presenciar ent o eu vi nascer Thiago A origem urbana dessa cidade est arraigada hidrel trica do Cipreste tendo por exemplo uma de suas vias denominada Avenida dos Barrageiros expoente de sua hist ria e organiza o Thiago mudou se do Paran para o estado paulista Nesse per odo estava casado e com filhos Dividiu sua vida em duas localidades e fam lias a de seu c njuge e a da sua m e Por mais de uma d cada realizou viagens semanais de idas e vindas de casa para a barragem e da barragem para a casa Durante alguns momentos de sua vida profissional permanecia mais tempo fora de casa por estar envolvido em projetos de constru es mais distantes retornando em per odos de tempo mais espa ados A casa que Thiago comprou da vila do Cipreste segundo seu relato teve como um dos fatores colaborativos as d vidas acerca de leis trabalhistas que o Cipreste tinha pendentes com seus funcion rios Por meio do abatimento das parcelas da casa como forma de quitar a d vida para com seu quadro efetivo Thiago viabilizou a quita o e aquisi o definitiva da casa Funcion rios de empreiteiras que tamb m estavam na poca da venda das resid ncias puderam compra as suas O casal Safira apresenta uma quest o acer
106. reconhe am seu car ter diverso e plural para tanto algumas releituras devem ser elaboradas acerca dessa institui o como aponta Beck Gernsheim 2011 Quanto a isso h in meras publica es que este texto n o poderia comportar em que a fam lia ora exaltada tida como salvadora da sociedade e o rec ndito do ser humano ora desconjurada maldita e um entrave liberdade e sociedade S o duelos que pendem para o familismo ou individualismo para a institui o Pesquisadores de diferentes reas que buscaram tanger a polissemia em torno da concep o de fam lia refratam no t tulo de suas obras esse aspecto A fam lia em desordem ROUDINESCO 2003 Colcha de retalhos ARANTES et al 1993 Fam lia em movimento CERVENY et al 2007 La reinvenci n de la familia BECK GERNSHEIM 2011 entre outros 112 sagrada ou a institui o maldita um ref gio ou uma amea a exist ncia esperan a e decep o Segundo Machado 2001 h pesquisadores que buscam encontrar o modelo geral e padronizado do que seria a fam lia brasileira e aqueles que persistem em encontrar a diversidade de modelos e composi es familiais N o cabe aqui fazer uma an lise exaustiva dessas tradi es te ricas mas assinalaremos algumas refer ncias como pontos norteadores de nossa investiga o e como justificativa de nossa escolha conceitual O primeiro passo conceber que ao investigar a fam
107. rela es dos agentes produtivos iniciativa privada neoliberal com a sociedade Percurso necess rio para desvelarmos os efeitos nefastos da destitui o do cidad o para ascens o do consumidor dominado pelo poder gerencialista Gaulejac 2007 categ rico em sua minuciosa an lise do perverso poder gerencialista que culmina na fragmenta o social e no sofrimento ps quico ao demonstrar o confronto instaurado entre o tempo do capital versus o tempo da vida O que isso significa A sociedade ocidental que mede o tempo em fun o do mercador o coeficiente do capital representado pelo dinheiro tornou a viv ncia temporal abstrata e aprisionadora Calcula se o tempo em fun o dos prazos das metas e dos planejamentos do capital que almejam apenas o lucro Tempo esse descolado do tempo de vida propriamente humano Por vivermos em uma sociedade centrada no trabalho e modelada pela racionalidade capitalista a temporalidade imposta humanidade se fez heterorr tmica porque infligiu uma cad ncia de ritmos destoantes da vida humana da natureza e do biol gico A principal consequ ncia disso produzir rupturas e desligamentos das necessidades fisiol gicas e sociops quicas da dimens o existencial desde o tempo de repouso de alimenta o de envelhecer e lazer at o tempo de elaborar um luto de construir sustentar v nculos e manter um cen rio de vida preciso rememorar que a rela o e a significa o estabelecidas do s
108. resid ncia Buscamos nesse encontro produzir uma narrativa familiar que possa trazer tona seus olhares suas viv ncias e significa es acerca desse contexto laboral Almejamos nesse momento de maneira cuidadosa apreender os conflitos os consensos e dissensos de suas hist rias de mudan as e perman ncias nos locais de resid ncia como operam as negocia es os acordos e suas estrat gias para lidar com rupturas e perman ncias de la os afetivos dentro e fora do mbito familiar O eixo II remete valida o das entrevistas narrativas O terceiro momento contido nesse eixo reporta tarefa interpretativa do pesquisador acerca do material narrado que o momento da constru o do caminho interpretativo luz do quadro te rico norteador desta pesquisa Situamos o trajeto a ser percorrido para o trabalho hermen utico da interpreta o luz da abordagem psicossociol gica do material narrado A seguir dispomos em um quadro esquem tico de modo conciso os aspectos assinalados acima no intuito de facilitar a visualiza o da coleta da entrevista narrativa sua produ o e transforma o em narrativa final Quadro 1 Eixo I e Eixo II da coleta e valida o das narrativas EIXO I COLETA DAS NARRATIVAS PRIMEIRO MOMENTO Entrevista narrativa individual realiza o de modo individualizado e separadamente das entrevistas narrativas com cada integrante da fam lia Pergunta disparadora para a constru
109. rural para a urbana quando as cidades cresceram de forma acentuada e ca tica 2 a inser o da mulher no mercado de trabalho 115 Iniciam se outras composi es divergentes da fam lia extensa e pr moderna Burguesa porque h um incremento do poder social e econ mico assumido pela burguesia no Ocidente durante o recrudescimento do capitalismo Sua for a e ascens o passam a pautar as rela es sociais e culturais daquela poca em diante Vemos com a historiadora Perrot 1991 o percurso que constituiu essa unidade social nuclearizada em torno da ideia de lar O processo de individualiza o d se por meio das rela es de intimidade e de espa o privado pois ocorre um distanciamento cada vez maior da fam lia em rela o sociedade circundante isto a ordem familial encontra se circunscrita esfera dom stica em oposi o rea p blica visto que esta tida como hostil e estranha n o digna de confian a Forjam se normas de conduta e valores moral matrimonial de higiene e de relacionamento tidas como adequadas O reduto familiar o ninho gravitava em torno da figura paterna Ao redor dele estavam os filhos e a esposa A figura do chefe de fam lia remete ao provedor se n o nico o principal respons vel pelo bem estar e pela educa o dos filhos mulher como um ser especial cabia o cuidado com a casa e os filhos Estava reduzida reprodu o e ao trabalho dom stico Contudo por meio de seu
110. ser cliente mais importante do que ser cidad o a acumula o de capital para uma minoria custa de um endividamento exorbitante para a maioria Quanto subjetividade v se a reprodu o um c rculo vicioso permeado pelo medo e desamparo Um alimenta o outro pois a busca desenfreada do dinheiro tanto causa como consequ ncia deles BIRMAN 2001 2006 Um sistema perverso que deflagrou n o somente uma guerra econ mica mas sobretudo entre os pr prios seres humanos como bem coloca Simmel 2005 ao ilustrar esse cen rio O decisivo que a vida citadina metamorfoseou a luta com a natureza por obten o de alimento em uma luta entre os homens de sorte que o ganho que se disputa n o concedido pela natureza mas sim pelos homens Pois nisso atua n o somente a fonte mencionada da especializa o mas tamb m uma mais profunda aquele que oferece precisa tratar de criar necessidades sempre novas naqueles que corteja SIMMEL 2005 p 587 102 A psicossociologia evidencia esse aspecto na discuss o que faz do cen rio atual do trabalho Vinculado l gica neoliberal e individualizante n o apenas o trabalhador que est reduzido a si na responsabiliza o por seu sucesso e fracasso mas tamb m exposto aos efeitos da compress o espa o tempo rela o advindos da exterioridade manifestada em urg ncias impostas pelas novas formas de gest o e labor Com o anteparo da tecnologia que a um s tempo libera e
111. sociais de um grupo como tamb m demonstra singularidades ao expor lutas desejos conflitos e Mais adiante situaremos o homem narrativa de Todorov 2006 por enquanto fiquemos com essa terminologia para aludir intrincada rela o que narrativa e experi ncia demarcam acerca da condi o humana que ao ser narrada expressa a hist ria vivida e o sentido que os sujeitos atribuem aos seus modos de ser 29 sonhos a intrincada experi ncia subjetiva e social contida no narrar que pode ser alcan ada por esse vi s te rico metodol gico CARRETEIRO 2003 L VY 2001b A psicossociologia comporta a narrativa porque permite colocar em perspectiva o contexto social e hist rico a partir do narrador e sua subjetividade segundo o psicossoci logo L vy 2001b Sendo assim para a narrativa vir ao mundo necess rio que tenha havido um endere amento ao pesquisador uma rela o estabelecida entre pesquisador e pesquisado sujeito que escuta e sujeito que narra condi o para que algu m conte a hist ria de sua vida Contar a hist ria de sua vida n o algo neutro tampouco uma situa o inc lume mas requer coragem para reaver e manejar os afetos que v m tona com as lembran as rela es representa es e experi ncias desagrad veis e apraz veis que matizam a exist ncia necess ria uma dose generosa de complac ncia do pesquisador na posi o de escuta interessada para receber o narrador e aquilo que
112. sua intui o prof tica escreveu Qui Le croirait on dit qu irrit s contre heure De nouveaux Josu s au pied de chague tour Tiraient sur l s cadrans poru arr ter le jour 304 ANEXO 3 Omelete de amoras BENJAMIN 2011 p 207 208 Esta velha hist ria conto a queles que agora gostariam de experimentar figos ou Falerno o borscht ou uma comida camponesa de Capri Era uma vez um rei que chamava de seu todo poder e todos os tesouros da Terra mas apesar disso n o se sentia feliz e se tornava mais melanc lico de ano em ano Ent o um dia mandou chamar seu cozinheiro particular Por muito tempo tens trabalhado para mim com fidelidade e me tens servido mesa os pratos mais espl ndidos e tenho por ti afei o Por m desejo agora uma ltima prova de teu talento Deves me fazer uma omelete de amoras tal qual saboreei h 50 anos em minha mais tenra inf ncia Naquela poca meu pai travava guerra contra seu perverso vizinho a oriente Este acabou vencendo e tivemos de fugir E fugimos pois noite e dia meu pai e eu at chegarmos a uma floresta escura Nela vagamos e est vamos quase a morrer de fome e fadiga quando por fim topamos com uma choupana A morava uma vovozinha que amigavelmente nos convidou a descansar tendo ela pr pria por m ido se ocupar do fog o e n o muito tempo depois estava nossa frente a omelete de amoras Mal tinha levado boca o primeiro bocado senti me maravilhosamente consolado
113. sujeito da vis o Um olhar a ser descolonizado que aprenda a enxergar e pensar melhor os horizontes seus jogos de luzes e sombras e a diversidade da experi ncia temporal Para nos auxiliar vamos at Peixoto 1995 no campo sociol gico e filos fico quem distingue o olhar como uma a o proeminente que na nsia por descobrir algo capaz de buscar significados sentidos singularidades express es fortuitas em meio ao fen meno geral e indiferente Isso requer demorar se um pouco mais sobre as produ es subjetivas e sociais tecidas nas paisagens nas rela es e nos afetos o que reitera o que discutimos at aqui nas se es anteriores referentes atividade de estranhamento e indaga o que nos impele a uma concep o de ci ncia fundada na historicidade e transdisciplinaridade Em O olhar do estrangeiro PEIXOTO 1995 somos convidados a refletir sobre a nossa experi ncia e maneira de ver Nosso olhar tem sofrido profundas transforma es provenientes da revolu o na velocidade informa o e informatiza o Esse incessante movimento que caracteriza a vida e acomete o ser humano atual remete a um inexor vel movimento que tem se intensificado sem precedentes 1 8 2005 fil sofo e soci logo Elementos j apontados sensivelmente por Simme alem o ainda no final do s culo XIX e in cio do s culo XX ao se referir s transforma es das grandes cidades em suas bruscas mudan as que modificaram a percep o d
114. tica de Ci ncias Sociais n 63 p 237 280 2002 O f rum social mundial manual de uso Madison 2004 Dispon vel em lt http www ces uc pt bss documentos fsm pdf gt Acesso em mar o de 2013 Os processos da globaliza o In SANTOS B S Org A globaliza o e as ci ncias sociais 3 ed S o Paulo Cortez 2005 Um discurso sobre as ci ncias 4 ed S o Paulo Cortez 2006 A gram tica do tempo para uma nova cultura pol tica 2 ed S o Paulo Cortez 2008 SANTOS M Por uma outra globaliza o do pensamento nico consci ncia universal 20 ed Rio de Janeiro Record 2011 SANTOS M SOUZA M A A SILVEIRA M L Org Territ rio globaliza o e fragmenta o 5 ed S o Paulo Hucitec Annablume ANPUR 2002 SARTI C A Fam lias enredadas In ACOSTA A R VITALE M A F Orgs Fam lia redes la os e pol ticas p blicas 5 ed S o Paulo PUC SP CEDEP CORTEZ EDITORA 2010 297 SAWAIA B B Fam lia e afetividade a configura o de uma pr xis tico pol tica perigos e oportunidades In ACOSTA A R VITALE M A F Orgs Fam lia redes la os e pol ticas p blicas 5 ed S o Paulo PUC SP CEDEP Cortez 2010 SCHEINVAR E A fam lia como dispositivo de privatiza o do social Arquivos Brasileiros de Psicologia v 58 n 1 p 18 57 2006 SENNETT R A corros o do car ter as consequ ncias pessoais do trabalho no novo capitalismo 13 ed Rio
115. tica que continuaria a repercutir em suas rela es Uma guinada ocorreu durante a constru o da casa da fam lia Seu pai em localidades distantes e as mulheres especialmente Raquel assumindo a casa come aram a 213 designar outros lugares para si Foi preciso primeiro erguer as paredes e reboc las Depois assentar o ch o e colocar os pisos Epis dios marcados por tens es e conflitos que se encaminharam ao verem a miss o cumprida a constru o da casa pr pria abrigo e dignidade para a fam lia que n o p de ser garantida anteriormente mais a volta do pai aposentado e podendo desfrutar descanso e repouso Momento de os membros poderem estar reunidos novamente no cotidiano dom stico e ensaiar seus novos sonhos Isso percept vel na narrativa de Raquel ao verificarmos que ela n o rejuntou apenas o piso com as argamassas e tirou os res duos destes mas se deparou com as fissuras os hiatos e os rastros da sua exist ncia ao tentar prover os de sua fam lia O seu desejo de obter aprecia o de seu pai e reconhecimento dos familiares Somente quando se confrontou com esses aspectos ela viu que era preciso refazer mais do que as juntas do piso a limpeza e o servi o bem feito era preciso dar outros contornos a sua pr pria vida Na coloca o do rejunte podia estragar o porcelanato Se deixasse res duo em cima do porcelanato depois que secasse n o ia sair nunca mais E o que eu fiz no dia que era para assenta
116. trabalho mediante in meros artif cios que se sofisticaram conforme o capitalismo avan ava no tempo no espa o e nas rela es tornou indispens vel esse mecanismo de dom nio temporal para lograr seu funcionamento Ele a for a motriz capaz de sincronizar o universo laboral com as exig ncias do capital visto que a for a de trabalho humano conjugada entre trabalho vivo e trabalho morto que ser distribu da em uma divis o social em escala local e planet ria Para se garantir a produ o e o lucro que n o conhecem limites estabeleceram se padr es reguladores dos gestos e dos movimentos dos corpos ao talante das m quinas 96 Isso gerou profundas transforma es nos modos de ordenar a vida dentro e fora do trabalho ao coordenar por que n o condenar o uso do tempo conforme a l gica do mercador Nesses termos o marcador do rel gio um mero recurso do grande mercador que aqui denominaremos de capital O que queremos dizer com isso Que o marcador dos ponteiros do rel gio na realidade reflete os prazos as metas e todo o corpo infind vel de exig ncias de produ o Sendo marcador do grande mercador est em jogo o valor de troca a mais valia produzida pela for a de trabalho consoante o mercado O mercado como vimos obedece aos ditames neoliberais e proliferam inova es e ocultamentos para sofisticar a explora o do labor Isso se torna claro quando passamos a associar de modo corrente te
117. trabalho Em meio s constantes crises fruto da hegemonia do capital financeiro neoliberal visualizam se nas ltimas tr s d cadas a partir de 1980 os denominados trinta anos perversos ALVES 2013 p 115 Dizem respeito ao aumento assombroso da degrada o do trabalho de modo extenso e intenso que promoveu fragiliza o sindical e da pol tica do trabalho organizado flexibiliza o e redu o dos direitos do trabalhador diminui o das despesas p blicas crise estrutural avan o da ordem burguesa na reestrutura o capitalista ao restaurar a hegemonia pol tica mediante os ditames do neoliberalismo desmonte do estado de bem estar social ALVES 2013 ANTUNES 2008 Em suma vive se uma crescente desprote o do trabalho que assume as formas de inseguran a vivenciadas no mercado de trabalho no emprego na renda na contrata o e na representatividade MATTOSO 1995 Elementos esses que pudemos verificar de modo n tido nas narrativas dos barrageiros A grande contradi o do capital permanece intoc vel reduzem se paulatinamente os direitos sociais ao mesmo tempo em que crescem a produ o e acumula o de riqueza Tem se a expans o da concentra o de renda e da desigualdade social para al m dos pa ses em desenvolvimento ou subdesenvolvidos Nessa opera o em que o projeto neoliberal n o comporta todos para angariar possibilidades dignas de exist ncia s o exigidos cortes e dedu o de direitos hist r
118. treinamento iniciais cerca de seis meses de est gio e curso em uma das maiores UHEs em constru o na poca A partir disso come ou a atuar em outras obras sendo transferido para localidades que possu am empreendimentos em constru o Sua atua o profissional estava voltada para o acompanhamento e montagem de turbina servi o de galerias rochas e barragem al m de assessorar na constru o de pontes Aposentou se mediante a aposentadoria incentivada ap s 23 anos e oito meses de trabalho Por conseguinte retornou para o Paran para a fam lia e abriu seu pr prio neg cio Em 1979 assumiu um posto de trabalho em uma hidrel trica no estado paulista mas residiu em uma cidade que fazia fronteira com o Paran at 1982 Ap s essa data mudou se para o estado de S o Paulo nas vilas dos trabalhadores localidades mais pr ximas da UHE No per odo em que esteve no Paran conheceu Ana Casaram se em 1983 Na poca em que se conheceram Ana trabalhava em uma empresa de correios O relacionamento por eles iniciado apresenta uma narrativa que revela horizontes de vida d spares em seus valores e ideais que persistem ainda hoje Thiago estava afeito migra o mudava de cidade conforme o trabalho em hidrel tricas exigia Ana era uma mulher com enraizamento profundo vivendo no local onde crescera Ela era proveniente de uma fam lia humilde e ao se deparar com a conjuntura do barrageiro desgarrado construiu uma represen
119. tulo sem deixar de circunstanciar parte da minha hist ria tive de me tornar pesquisadora narradora Comecei ainda em tenra idade contando s pessoas com quem convivi sobre as minhas andan as Muitos esquecem que mudar de cidade n o apenas deixar sua antiga casa para ocupar outra at ent o desconhecida preciso rearranjar os m veis os objetos os novos espa os e as rela es Necessitamos encontrar outra disposi o para nossos afetos porque nessas idas e vindas estamos intensamente conjugando perdas e ganhos esquecimentos e lembran as pois sofremos o processo de quassa o e de enraizamento Mudar de cidade mais que mudar de casa Trocamos de escolas amigos sotaques arquiteturas paisagens altitudes e longitudes cheiros hist rias mitos ritos rvores insetos animais comidas costumes g rias t tulo de eleitor n mero de telefone voltagem comprovante de resid ncia de roupa h lugares mais frios ou quentes O gosto da gua n o o mesmo e j tive dores de barriga por comer e beber coisas cujos nomes nem sabia O odor do ar a cor do c u e o tom da terra tamb m diferem incrivelmente Eu n o tinha dimens o de como este Brasil era grande e como sua gente era diversa at passar por diferentes estados e localidades Isso me fez enxergar um horizonte mais amplo que o meu Passei a entender o que era o cerrado para al m dos livros da geografia o que era uma coloniza o ucraniano polonesa
120. tulo 5 Narrativas em que colocaremos em cena a partir do material narrativo os modos de ser trabalhar viver dos barrageiros Feito isso obteremos recursos te ricos para analisar os processos hegem nicos e contra hegem nicos corporificados por nossos atores sociais Para iniciar esse assunto esbo aremos o cen rio do setor de produ o de energia hidrel trica e a migra o laboral que integram o contexto de vida dos barrageiros A primeira hidrel trica no Brasil come ou a operar em 1883 no munic pio de Diamantina MG no reinado de D Pedro II De pequeno porte sua finalidade era abastecer uma mineradora de diamantes Desde ent o do s culo XIX em diante diversas usinas passaram a ser constru das pr ximas s regi es de maior densidade industrial e populacional para atender s necessidades do pa s fazendo com que em pouco mais de 100 anos se tornassem uma de suas principais fontes energ ticas Segundo a Aneel 2002 2008 ag ncia criada em 1996 respons vel pela regula o e fiscaliza o do processo de gera o transmiss o distribui o e comercializa o da energia el trica o Brasil possui um territ rio continental com cerca de 8 5 milh es de km e mais de 7 mil km de extens o litor nea o que propicia condi es favor veis para a explora o de seu potencial energ tico sendo um dos pa ses com maior potencial hidrel trico do planeta Aproximadamente 90 do suprimento de energia el trica b
121. vozes mediante o encontro entre saberes narradores e cen rios diversos de vida Aprendi com voc ao longo desses seis anos n o apenas a percorrer o infind vel caminho como pesquisadora mas que poss vel construir um percurso humano tico e competente sem perder a sensibilidade o engajamento e o desejo Ao grupo de pesquisa Figuras e modos de subjetiva o no contempor neo colegas de trecho acad mico e de estrada Estendemos juntos horizontes ao coletivizarmos temas m todos teorias bem como quest es desafios e possibilidades Constru mos um trabalho pautado no respeito e na solidariedade com a presen a de dissensos e adversidades que moviam um caloroso debate Aos professores do exame de qualifica o Rafael e Francisco que aceitaram gentilmente participar dessa banca encorajando me de modo cuidadoso e criterioso a caminhar mais adiante nos horizontes abertos no campo te rico e humano Suas prof cuas contribui es respaldaram me n o apenas no campo cient fico mas fizeram me mais sens vel arte da escuta e da constru o das narrativas para que eu pudesse encontrar os narradores e por eles ser encontrada Aos narradores que de modo generoso receberam me e compartilharam suas hist rias de vidas marcadas n o apenas por lutas des encontros trabalho fam lia mas por sonhos desejos e esperan as Ensinaram me de modo vigoroso sobre a dimens o e a espessura do viver nas inst ncias social e subjetiva Aos me
122. 00 que a desterritorializa o principiada por esses projetos integram um ide rio desenvolvimentista e de progresso que acabava por ocultar o avesso dessa hist ria trabalhadores e familiares constrangidos a se mudar ou permanecer em uma localidade por exig ncia do trabalho e do n o trabalho viv ncia do desemprego e da amea a deste nos per odos de reestrutura o e p s privatiza o acrescida a uma r gida disciplina laboral Com o material narrativo dos participantes desta pesquisa pudemos ter acesso a uma vers o da hist ria pouco falada e at mesmo encoberta por uma vers o oficial voltada para a exalta o dessas obras tidas como s mbolos portentosos da modernidade Isso fez com que essa realidade fosse mais bem compreendida em sua complexidade e paradoxos contudo demanda novos estudos e pesquisas que envolvam outras reas de conhecimento a fim de ponderar sobre as diferentes repercuss es socioambiental pol tico ideol gica subjetiva e cultural Ao debru armo nos sobre o nosso tema de pesquisa pudemos verificar no material narrativo e bibliogr fico a diversidade dos modos de ser trabalhar viver dos 276 barrageiros e seus familiares Compreender sua realidade material e imaterial exigiu considerar a diversidade das condi es de trabalho de moradia de rela es sociais e subjetivas Em seus respectivos enredo familiar e trajet ria social delinearam se hist rias de vida cujos n s sociops quicos perm
123. 06 sobre os homens narrativas In til procurar a origem das 166 narrativas no tempo o tempo que se origina nas narrativas TODOROV 2006 p 132 Destarte a mat ria narrada a da experi ncia que comporta significa o subjetiva conferida pelo indiv duo sem desprender se da express o social Nela apreciamos o tempo idiorr tmico relevar o heterorr tmico pois se trata de uma dimens o n o linear biograf vel e diacr nica do grego di atrav s de e khr nos tempo HOUAISS 2001 nesse atrav s do tempo que temos nosso material biogr fico por excel ncia conforme o narrador apresenta cria e recria os sentidos do vivido que constru mos parte expressiva da nossa pesquisa As narrativas enquanto pr ticas em situa o cont m fen menos pertencentes sem ntica coletiva da vida social BERTAUX 2010 p 17 Tais narrativas s o materiais que cont m rela es e processos sociais estruturais que podem ser percebidos por meio das pr ticas recorrentes Demandam olhar para as condi es materiais e sociais em que est o circunstanciados seus atores um conhecimento objetivo baseado em testemunhos de natureza subjetiva vivido em sua singularidade e permeado de afetos Aspectos do conte do anal tico da narrativa se referem s suas inst ncias constitutivas preciso ver como nela se delineia a hist ria reconhecer seus compassos cortes e encadeamentos Encontrar o fio
124. 2009 CARRETEIRO T C BARROS V A Cl nicas do trabalho contribui es da psicossociologia no Brasil In BENDASSOLLI P F SOBOLL L A Orgs Cl nicas do trabalho Novas perspectivas para compreens o do trabalho na atualidade S o Paulo Atlas 2011 CARRETEIRO T C MATTAR C M Hist ria de vida subjetividade e viol ncia conjugal Cronos Natal RN v 5 6 n 1 2 p 103 117 2004 2005 CASTORIADIS C Figuras do pens vel As encruzilhadas do labirinto Vol VI Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2004 CASTRO E M ARA JO J N G An lise social e subjetividade In L VY A et al Psicossociologia an lise social e interven o Belo Horizonte Aut ntica 2001 CASTRO M A Po tica e poiesis a quest o da interpreta o Concurso para professor titular de po tica do departamento de ci ncia e literatura da faculdade de letras da UFRJ Junho de 1998 Disponivel em lt acd ufrj br travessiapoetic livros livro4 doc gt Acesso em mar o de 2013 CHAU M Convite filosofia S o Paulo tica 2000 A filosofia como voca o para a liberdade Estudos Avan ados v 17 n 49 2003 CRUZ NETO O O trabalho de campo como descoberta e cria o In MINAYO M C S Org Pesquisa Social Teoria M todo e Criatividade 23 ed Petr polis RJ Vozes 1994 CERVENY C M O Org Fam lia em movimento S o Paulo Casa do Psic logo 2007 CYRINO R Trabalho temporalidade
125. 58 pa ses mais pobres N o h nessas cifras algo de insensato 82 desigualdade econ mica e social enquanto valor positivo Nas palavras de Anderson 1995 p 11 isso pode ser dito da seguinte maneira O rem dio ent o era claro manter um Estado forte sim em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro mas parco em todos os gastos sociais e nas interven es econ micas Como isso se operacionalizaria Por meio das seguintes a es a serem desenvolvidas pelos governos neoliberais eleva o das taxas de juros redu o dr stica dos impostos em rela o aos rendimentos mais altos aboli o do controle dos fluxos financeiros corte de gastos sociais privatiza o incentivo da livre concorr ncia controle inflacion rio abertura do mercado nacional para o mundial garantia dos direitos de propriedade privada tomada de decis o privada apoiada por pre os est veis mobilidade dos recursos dos investimentos e dos lucros regula o estatal m nima da economia redu o das pol ticas sociais no or amento do Estado ANDERSON 1995 SANTOS 2005 Com Enriquez 1999b remontamos perspectiva filos fica e ideol gica que perpassa essa conjuntura neoliberal ao apontar Locke quem afirma ser o trabalho libertador quando o homem capaz de empreender A Smith ao entender que do trabalho que adv m a riqueza das na es E a Montesquieu quem atrela s trocas comerciais mediant
126. A O EM CONSTRU O 1998 e 2008 A INICIAR SUA CONSTRU O Tipo Quantidade Tipo Quantidade Tipo Quantidade Central 227 Central l Central 74 geradora geradora geradora hidrel trica hidrel trica hidrel trica Central 17 Central 22 Central l geradora geradora geradora undi eoliel trica eoliel trica el trica Pequena central 320 Pequena 67 Central 50 hidrel trica central geradora hidrel trica eoliel trica Central l Usina 21 Pequena central 166 geradora solar hidrel trica de hidrel trica fotovoltaica energia Usina 159 Usina 19 Usina 15 hidrel trica de termel trica de hidrel trica de energia energia energia Usina 1042 Central l termel trica de Geradora energia hidrel trica Usina 2 termonuclear Com essas informa es vemos o setor hidrel trico em franco desenvolvimento contudo outras fontes de energia tamb m t m integrado esse cen rio de modo crescente alternativas ao h drico Mesmo assim verificamos nos ltimos 36 anos a oferta de energia hidrel trica aumentar especialmente em dois locais do mundo na sia China e na Am rica Latina Brasil Em 2006 a 2007 os pa ses que mais consumiram energia hidrel trica em ordem descendente de consumo foram China Brasil Canad Estados Unidos R ssia Noruega ndia Venezuela J ap o e Su cia 71 Se somarmos o n mero de empreendimentos em opera o em 2008 de UHE PCH e CGH teremos 716 em atividade o que explicita a quanti
127. Chaui 2000 que as transforma es veiculadas pelo tempo e pelo espa o imprimem matizes variados sobre os tons subjetivos e tamb m sobre a esfera social integrando distintos elementos que conferem espessura a exist ncia humana Se quisermos ponderar melhor seus desdobramentos imprescind vel nos debru armos sobre o labor e suas correla es constituidoras da hist ria de vida micro e macrosc pica Os seres humanos porque s o seres culturais trabalham O trabalho uma a o pela qual modificamos as coisas e a realidade de modo a conseguir nossa preserva o na exist ncia Constroem casas fabricam vestu rio e utens lios produzem objetos t cnicos e de consumo inventam meios de transporte de comunica o e de informa o Atrav s da pr tica ou do trabalho e da t cnica os seres humanos organizam se social e politicamente criam institui es sociais fam lia escola agricultura com rcio ind stria rela es entre grupos e classes etc e institui es pol ticas o Estado o poder executivo legislativo e judici rio as for as militares profissionais os tribunais e as leis CHAUI 2000 p 116 Perante isso trabalho e fam lia de barrageiros inseparavelmente eram as ncoras que serviam para nortear e se perder Fixar se e mover se Fontes de ang stia e de realiza es Ganhos e perdas N o pudemos nos aprofundar nesses des encontros no mestrado porque o problema a dar conta no momento era outro Con
128. DANIELE ALMEIDA DUARTE DESJENCONTROS TRABALHO FAM LIA narrativas de familiares de trabalhadores migrantes do setor de produ o de energia hidrel trica ASSIS 2014 DANIELE ALMEIDA DUARTE DESJENCONTROS TRABALHO FAM LIA narrativas de familiares de trabalhadores migrantes do setor de produ o de energia hidrel trica Tese apresentada Faculdade de Ci ncias e Letras de Assis UNESP Universidade Estadual Paulista para a obten o do t tulo de Doutora em Psicologia rea de conhecimento Psicologia e Sociedade Orientadora Prof Dr Cristina Am lia Luzio ASSIS 2014 Dados Internacionais de Cataloga o na Publica o CIP Biblioteca da F C L Assis UNESP Duarte Daniele Almeida D812d Des encontros trabalho fam lia narrativas de familiares de trabalhadores migrantes do setor de produ o de energia hidrel trica Daniele Almeida Duarte Assis 2014 304 f il Tese de Doutorado Faculdade de Ci ncias e Letras de Assis Universidade Estadual Paulista Orientadora Prof Dr Cristina Am lia Luzio 1 Trabalho 2 Fam lia 3 Usinas hidrel tricas 4 Psicolo gia social I T tulo CDD 158 2 301 1 DANIELE ALMEIDA DUARTE DES ENCONTROS TRABALHO FAM LIA narrativas de familiares de trabalhadores migrantes do setor de produ o de energia hidrel trica Tese apresentada Faculdade de Ci ncias e Letras UNESP Assis para obten o do t tulo de Doutora em
129. ELIGMANNSSILVA E As novas rela es de trabalho o desgaste mental do trabalhador e os transtornos mentais no trabalho precarizado Revista Brasileira de Sa de Ocupacional v 35 n 122 p 229 248 2010 FREUD S 1914 Recordar repetir e elaborar In Edi o Standard das Obras Psicol gicas Completas de Sigmund Freud v XII Rio de Janeiro Imago 1996 FREYRE G Casa grande amp senzala Bras lia Ed da UNB 1963 292 FROELICH G M Ilha Solteira uma hist ria de riqueza e poder 1952 1992 S o Paulo EDUC 2001 GADAMER H G Verdade e m todo 12 ed Petr polis RJ Vozes 2012 GAGNEBIN J M Lembrar escrever esquecer S o Paulo Ed 34 2006 Pref cio Walter Benjamin ou a hist ria aberta In Obras escolhidas T Magia e t cnica arte e pol tica S o Paulo Brasiliense 1994 GALV O P PAGU Parque industrial 3 ed Porto Alegre Mercado Aberto S o Paulo EDFSCar 1994 GAULEJAC V Psicossociologia e sociologia cl nica In ARA JO J N G CARRETEIRO T C Orgs Cen rios sociais e abordagem cl nica S o Paulo Escuta Belo Horizonte Fumec 2001 O mago da discuss o da sociologia do indiv duo sociologia do sujeito Cronos Natal RN v 5 6 n 1 2 p 59 77 2004 2005 As origens da vergonha S o Paulo Via Lettera Editora e Livraria 2006 Gest o como doen a social ideologia poder gerencialista e fragmenta o social Aparecida SP Ideias amp Letr
130. Isso coerente concep o de Simmel 2005 ao afirmar que o sujeito aquele que resiste ao ser nivelado e consumido engolido pelo mecanismo t cnico e social Que 144 luta em favor da peculiaridade e do que n o esquem tico e universalizado a fim de determinar para si a forma de vida tamb m o sujeito em situa o por n o se encontrar apartado do individual e do coletivo do afetivo e do institucional dos processos que s o inconscientes mas tamb m sociais Isso implica uma trama incons til entre indiv duo e sociedade O campo de an lise e interven o o entre que vincula o social habitado pelas dimens es subjetivas afetivas e inconscientes e o ps quico habitado pelas dimens es culturais discursivas sociais hist ricas e pol ticas Essa vincula o proposta por Gaulejac 2001 p 37 leva s seguintes consequ ncias ao mesmo tempo que se trata de introduzir um questionamento mais fenomenol gico sobre o sujeito e a sua historicidade isto sobre as capacidades e as resist ncias que conduzem os indiv duos e os grupos a produzirem a sua hist ria a quererem mudar o mundo e a operarem mudan as neles pr prios Verificamos essa indissociabilidade pelo pressuposto da multidetermina o que caracteriza o sujeito e seu objeto Estes s o produtos de uma hist ria complexa em dimens es macro e micro da realidade social que remetem sua exist ncia singular Determina es n
131. O 1994 p 18 Nesse mesmo caminho Lhuilier 2005 investiga as mudan as perversas que na contemporaneidade acometem o universo laboral e social A autora avan a nessa discuss o para explicitar as engrenagens que movem a vida m quina de produzir S o empresas que n o cessam de aumentar as exig ncias laborais ao passo que os meios e as possibilidades dos trabalhadores responderem a essas imposi es tornam se cada vez mais ex guos Um descompasso heterorr tmico em que o trabalhador desde a largada se encontra em abissal desvantagem O progressivo aumento de constrangimentos do no trabalho mais a fragiliza o das rela es de pertencimento individual e coletiva dentro e fora do trabalho provocaram um processo de marginaliza o para quem adentra suas portas ou permanece afora destas Elegendo temas distintos para deslindar a degrada o do valor do trabalho Lhuilier 2005 discute importantes aspectos ao considerar o dentro e o fora do trabalho como as duas faces da mesma moeda cuja refer ncia se faz em prol da rentabiliza o do capital por meio do jogo financeiro que desmonta o ato laborativo em sua positividade e fragiliza o trabalhador 32 Ritmo imposto por outrem fazendo alus o ao termo evocado por Barthes 2003 para debater nosso objeto em que a singularidade negada pela imposi o produtiva do capital Outra narrativa das experi ncias oper rias do trabalho precarizado no Brasil se refere s Cr
132. O Cipreste tido como uma empresa que fornecia estabilidade no emprego por ser a propriet ria das barragens e quem administrava as constru es Todavia n o trabalhava sozinha com ela foram contratadas distintas empreiteiras Diante disso Thiago presenciou a rotatividade de m o de obra em barragens pois havia nas empreiteiras um contingente flutuante conforme a demanda da constru o e a gest o adotada Estava ciente do fac o que acontecia de modo recorrente e em larga escala Thiago tamb m testemunhou o momento de privatiza o do Cipreste a mudan a da realidade da empresa quando esta se tornou enxuta e reestruturada Ao retomarmos a narrativa de Thiago que exp e sua trajet ria no Cipreste de trabalho e migra o verificamos que as primeiras mudan as de cidade UHE se davam segundo as necessidades da obra e as etapas desta Posteriormente conforme Thiago crescia na empresa vemos que a sua ida para uma UHE se deu por meio de um comunicado de transfer ncia pela empresa Quem aceitasse obteria na poca 20 de aumento pois mais um empreendimento se iniciava e necessitava se de trabalhadores com qualifica es como a dele Thiago solteiro na poca n o via o que perder pois afirma ter lhe sido oportunizado um ganho salarial al m da possibilidade de conhecer um lugar diferente Como os narradores Davi e Lia Thiago viu uma cidade surgir em fun o do Cipreste Assistiu ao marco zero da funda o desse n cleo urbano na
133. O capitalismo passou a se explicar por si mesmo por meio de uma racionalidade econ mica expressa em termos quantitativos demonstr veis em distintos c lculos e ndices num ricos como uma f rmula m gica capaz de maximizar um produto ao mesmo tempo em que minimiza seus custos E quais s o as consequ ncias disso Os apologistas da racionalidade do capital n o ocultam apenas suas mazelas mas insistem em acreditar em leis econ micas taxas equa es e gr ficos de um equil brio econ mico que Castoriadis 2004 demonstra ser desprovido de sentido pois al m de possuir falta de rigor imposs vel mensurar nesses termos uma realidade que determinada para al m do aspecto quantitativo uma vez que transborda a inst ncia da economia O que se tem uma racionalidade instrumental carecida de validade e infundada mesmo em suas contas e matematiza es que na verdade s o descabidas e irreais porque n o conferem pleno reconhecimento imprevisibilidade do sistema de seus desequil brios e suas sucessivas crises al m disso a possibilidade de o homem intervir na hist ria especialmente ao recorrer solidariedade e contrapor ordem existente motores do conflito social e da contesta o da realidade Nessa racionalidade temos a atividade humana subordinada aos ide rios econ micos logo a vida humana est exposta constante des valoriza o que se d em termos monet rios Essa racionalidade impl
134. S a dor que nos seria dada imediatamente a satisfa o e o prazer poder amos conhecer s mediatamente pela recorda o do sofrimento e das priva es passadas A recorda o de afli es ultrapassadas seria precisamente o nico meio de gozar os bens presentes BLUMENBERS 1990 p 83 grifo do autor Diante dessa assertiva verificamos que o pre o do esmorecer da mem ria e da hist ria individual e coletiva n o aguarda um futuro breve ou long nquo para estabelecer suas perdas mas se faz sentir no pr prio presente Este carregado de dor e de sofrimento que ao inv s de ser ponte subst ncia para outras sa das e cria es encerra se em si mesmo inaugurando um ciclo de repeti es incessantes e 8 No jogo de palavras entre apostasia ato de ren ncia e renega o e hipostasia atribuir de modo abusivo uma realidade absoluta a algo relativo vemos n o apenas um futuro enquanto desejo projeto e longo prazo fragilizados por advirem de um passado que sofre insistente esquecimento apagamento mas tamb m uma ideia de futuro supervalorizada enquanto revela o ou progresso que tamb m desconsidera a hist ria passada e a pr pria viv ncia do presente 95 despotencializadoras como se certificaram Birman 2001 2006 e Santos 2008 N o se elabora aquilo que se n o puder recordar Apenas se repete Freud 1996 j nos advertia acerca disso tanto em seus estudos sobre o mal estar na civiliza o quanto do
135. Trigo 1989 a ordem patriarcal convergiu para uma pol tica de manuten o e transmiss o do patrim nio N o havia no casamento espa o para os interesses pessoais pois a finalidade principal da alian a matrimonial era de ordem econ mico social a contiguidade do status preserva o da heran a fortalecimento de grupos de parentescos e do poder do capital Nesse quadro essa forma o familiar correspondeu manuten o de um sistema de domina o pol tica e econ mica atrelado ao modo de produ o capitalista conforme Engels 2010 De modo correlato Chaui 2000 menciona isso em sua obra ao afirmar que o patriarca era n o somente o chefe de fam lia como detinha a vontade absoluta O poder era exercido por um chefe de fam lia ou de fam lias cl tribo aldeia cuja autoridade era pessoal e arbitr ria decidindo sobre a vida e a morte de todos os membros do grupo sobre a posse e a distribui o das riquezas a guerra e a paz as alian as em geral sob a forma de casamentos o proibido e o permitido CHAUI 2000 p 480 Do s culo XVIII em diante delineia se a vida familiar moderna Atrav s de outros espa os f sicos e simb licos come a a surgir a fam lia burguesa e nuclear 5l Especificamente no cen rio brasileiro Outeiral 2003 demarca esse per odo de transi o da fam lia patriarcal para a nuclear com dois fatos sociais 1 o per odo de 1940 1950 com o intenso fluxo migrat rio advindo da zona
136. Um movimento hermen utico a instaurar conforme Onocko Campos 2008 2008b pois o mundo do texto refrata o vivido que se tornou discurso e fixou se em escrita Momento de tanger o mundo do texto que foi aberto por meio das narrativas que se formaram o O narrador entraria em contato com sua pr pria narrativa com sua produ o de vida ali registrada O pesquisador ao ler esse material para os participantes inauguraria um momento de escuta em que o sujeito pesquisado acessaria as suas pr prias narrativas e de di logo em que o mote seria o texto narrado e seria delineada uma rela o interventiva pois se devolveria o que foi dado Seria a fala em forma de texto a ser reavida 176 Aqui a pretens o seria forjar um enredo narrativo um texto final em que a tessitura estivesse mais bem atada Em suma com os pr prios autores da narrativa poder amos verificar aspectos que desejariam mudar suprimir acrescentar esclarecer ou substituir Aquilo que fosse acrescido ou suprimido do texto seria destacado na transcri o da narrativa pelo pesquisador m Esse seria um momento em que pesquisador e pesquisado se encontrariam no movimento compassado pelo c rculo hermen utico Indagados pelo presente e seus interesses pesquisadores e sujeitos de pesquisa destacaram seu objeto e passaram duas vezes pelo mesmo lugar mas o fizeram em altitudes diversas compreendendo de maneira sempre ampliada Por essa raz o denomin
137. VAS crseererremnsenracarocreseorstrsnacrbro on Toer aro on nenosas Dae an o 183 dd OS parr dOrESssssasssssssnssssscosisonseosssstsssasansivastssssssossonssasni sios 190 5 2 Narrativas das fam lias Top zio Citrino e Safira 192 5 2 1 Fam lia COp ZIO sssssrsssissovssssssssossssscsso csssessssssesss sssssss 192 5 2 2 Fam lia Citin PESO SR RR RR SS 217 Siza Familia SATA sissssssssssossssosssssoissssssussssasshsssoasssossop issis 239 5 3 As narrativas em di logo generalidades e singularidades 252 Cap tulo 6 PALAVRAS FINAIS o fechamento aberto da pesquisa 274 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS nsssssssssssssscecoesssssssssssssseses 286 ANEXOS aapaacniniacoiiiiaanari cegas deita adia en deives cass soti vessoissa iaia 299 Anexo l TOLE esssssoescssssossesdoestosisnoe tese sraeasis ssa ssa eostet oteo saate on teias 299 Anexo 2 Sobre o conceito da Hist ria 14 e 15 ssesssssssoosoessessssosoo 303 Anexo 3 Omelete de amoras ssssssssssesssesssesssesssssssessessssssosssosssosssse 304 15 CAP TULO 1 PALAVRAS INICIAIS a abertura da pesquisa Figura 1 Constru o dos vertedouros da usina hidrel trica Eng Souza Dias Jupi localizada no rio Paran na intersec o com o rio Sucuri no ponto denominado Jupi entre as cidades de Castilho SP e Tr s Lagoas MS Integra o complexo Urubupung formado pelas usinas de Jupi Ilha Solteira e Tr s Irm os Sua constru o iniciou se na d cada de 1960 e foi conclu da
138. a aplica o edificante SANTOS 1999 p 224 que implica uma preponder ncia tica sobre a t cnica Com a revaloriza o dos saberes para al m do discurso cient fico redesenhamos nosso campo te rico metodol gico Isto ao conjugarmos nesta pesquisa a narrativa de sujeitos que vivenciarem a realidade a ser investigada como elemento indispens vel para construir um conhecimento acerca desse tema no mbito da ci ncia entendemos que a ci ncia sozinha n o poderia expressar de modo suficiente esse saber recorrendo apenas a sua al ada Com efeito n o menosprezamos o saber cient fico mas o perseguimos em sua redescoberta em seu apre o e aprofundamento cujas marcas trazem a cria o e a implica o em conjun o com outros modos de pensar sentir e existir Desejamos 57 avan ar na produ o de conhecimento cient fico compondo com conhecimentos distintos de modo n o excludente tampouco includente de forma subalterna ou desenraizada como nos alertam Bosi E 2000 e Weil 1996 2001 A democratiza o da universidade n o se faz apenas custa do acesso e perman ncia nessa mas por meio de uma abertura ao outro comunidade e ao social Isso desdobrar se sobre a complexidade e difus o tanto de saberes quanto de exist ncias que transbordam a sociedade Logo o constante questionar o motor que n o apenas move a universidade a produ o de conhecimento mas a pr pria exist ncia fun o dissid
139. a o e manuten o de modo mais acentuado ao canteiro de obras de hidrel tricas at a sua administra o monitoramento em fase de gera o hidroenerg tica Uma atua o profissional espec fica em que caso se deseja sair corre se o risco de ficar aprisionado pela particularidade do saber fazer do processo de constru o e manuten o das hidrel tricas Froelich 2001 traz informa es sobre isso ao situar que os barrageiros possuem uma m o de obra treinada que foi se qualificando ao longo do processo de constru o das hidrel tricas os dois lados dessa moeda s o o quantum flutuante dessa for a de trabalho falta ou excesso de efetivo conforme o local da barragem e da etapa da constru o Se isso ocorre uma das consequ ncias a disparidade salarial uma vez que conforme a exig ncia de especializa o incluindo profissionais do n vel t cnico ao 2 Trabalhador que realiza a montagem da estrutura met lica arma o de vergalh o a ser concretada S o colocados os vergalh es que possuem amarra es de arame e ou soldas para fazer as paredes e os pilares de concreto da barragem e da estrutura civil 239 universit rio vemos os sal rios se diferenciarem radicalmente principalmente se contrastarmos a esse rol os baixos sal rios de trabalhadores de empreiteiras com reduzida qualifica o e escolariza o Como vimos com esses narradores o universo do barrageiro remete a uma profunda disparidade que
140. a a amea a mais tem vel para o aluno era a escola comunicar diretamente o pai na UHE no local de trabalho podemos verificar a aproxima o n tida entre os dispositivos escolares com o canteiro de obras Ribeiro 2002 quem nos fornece material para subsidiar nossa constata o A autora ao estudar uma corpora o no Paran anuncia que o controle alimentar e nutricional possu a a finalidade de garantir a produtividade similar a uma m quina a ser ajustada para bem funcionar As calorias minuciosamente calculadas eram servidas conforme a categoria social e profissional tais quais as divis es expressas nas moradias e nos locais de trabalho Manter o trabalho na obra de certa forma era tamb m mant lo fora do espa o de trabalho no cuidar dos filhos desses barrageiros Vejamos essas reverbera es soarem na escola e no canteiro da obra O Bambu dava tamb m diariamente leite de soja De sala em sala para todas as crian as que queriam leite Eles davam o leite de soja para justamente naquela poca eles j sabiam que era mais saud vel e nutritivo para os alunos Ent o eles davam o leite quentinho achocolatado todos os dias O aluno que quisesse era s levar o copo As inspetoras passavam com aqueles caldeir es de leite quentinho e de manh e a tarde eles davam o leite Raquel Tudo era minuciosamente calculado Para os funcion rios que n o podiam abandonar seus postos as refei es eram servidas no local
141. a import ncia da fam lia patriarcal tal como caracterizada por Gilberto Freire 1980 1933 em Casa grande e Senzala e em Sobrados e Mocambos 1951 1936 para a constru o social de um tipo de modelo familiar que fez efeito em toda a sociedade colonial mas tamb m no per odo da Independ ncia da Rep blica at a contemporaneidade sen o para impor uma mesma forma de fam lia mas para instaur la como modelo referencial MACHADO 2001 p 15 Destaca se na exposi o da autora que apesar de esse modelo se impor e legitimar se do per odo colonial atualidade ainda nos s culos XIX e XX se fazia presente embora invisibilizado desqualificado e negado como situa Santos 2004 sobre a rela o da temporalidade dominante sobre a dominada a presen a constante e expressiva de fam lias monoparentais com menor n mero de integrantes concubinagens e rearranjos distintos especificamente as das classes populares Essa evid ncia pode ser confirmada nos estudos de Samara 2002 que ao analisar os recensceamentos da popula o no Brasil nos ltimos 150 anos identificou que as fam lias extensas patriarcais n o foram as composi es predominantes na dogs Fem a Sad 454 hist ria da fam lia brasileira a partir do per odo colonial A mesma autora destaca que 54 Importante notar o predom nio que o modelo patriarcal da obra de Freyre 1963 Casa grande e senzala atingiu na literatura cient f
142. a inscrita n o somente no campo da psicologia e da sociologia mas tamb m integrativa de reas afins que possibilitem de modo conjunto analisar o sujeito e suas pr ticas sociais em conjuntura H tamb m a dinamicidade que a distingue Desde a sua funda o sofreu in meras transforma es tanto em associa es distintas que foram criadas quanto gera es de pesquisadores que a constitu ram Isso propiciou influ ncias te ricas abrangentes quanto aos temas e objetos de estudo sendo a diversidade um de suas principais legados preciso dizer que a psicossociologia por ser din mica comporta a criatividade do pesquisador e atenta para a singularidade do objeto Isso quer dizer que mediante um ir e vir entre as dimens es subjetivas e objetivas ps quicas e sociais tece se o percurso de an lise na psicossociologia que por sua vez refere se ao seu desenvolvimento LIMA 2010 Esse car ter din mico se estabeleceu tanto pela especificidade da pr pria realidade que mut vel quanto pela interven o e questionamento que a an lise do real requer Isso provoca o pesquisador de modo a instig lo a reconhecer o alcance te rico das ferramentas de que disp e Esses recursos podem ser dispensados ou mesmo recriados Nas palavras de S vigny 2001 p 24 Essa posi o n o sup e a recusa da teoria todavia prop e um uso diferente dela quer dizer uma maneira particular de teorizar baseando se em um problema ou em uma si
143. a dinamicidade familiar e da coexist ncia de temporalidades sinalizaremos as distintas temporalidades familiares de forma a romper com os marcos hist ricos que empreendem uma leitura est tica de simples sucess o e ou supera o de modelos familiares Nossa tese a da coexist ncia desses modelos especificamente o da fam lia extensa patriarcal e da fam lia nuclear burguesa ao longo da Hist ria e sua constante reinven o o que faz as modalidades do ontem e do hoje coexistirem no presente Ou seja um passado que se faz presente e um presente que se faz futuro pois falar de fam lia se deparar com a sua multiplicidade tais como as pe as do caleidosc pio que revolvem e se combinam de diferentes formas a cada movimento Ademais nesse caleidosc pio em movimento que conseguiremos compreender os distintos arranjos das fam lias dos barrageiros especialmente por carregarem consigo as marcas da migra o laboral oportunizadoras de enlaces e desenlaces dentro e fora do espa o dom stico e do laboral A fam lia brasileira de ontem se faz ainda presente e remete a um futuro n o long nquo ao pensarmos nas constata es da pesquisa de Machado 2001 sobre o grande modelo referencial na literatura cient fica e na sociedade brasileira colonial a 5 A etimologia caleidosc pio vem do grego e formada pela conjun o das palavras belo forma olhar Essa raiz nos sugere um significante em que o olhar do
144. a elite dominante estatal e de grupos hegem nicos privados como grandes empreiteiras que se associavam a essas obras com o Estado funcionando por meio de mecanismos de press o e corrup o estendidos tamb m ao setor hidrel trico brasileiro FROELICH 2001 RIBEIRO 2002 A busca de um lugar no trabalho e no espa o familiar paradoxos da exist ncia Vimos at aqui que a migra o laboral e barrageiro s o vincula es praticamente indissoci veis Ser barrageiro remete itiner ncia e a mudan as de cen rio de trabalho de cidade e nas rela es familiares o movimento que atravessa a subjetividade e constitui suas hist rias de vida Contudo preciso ponderar com cautela a liga o estabelecida com o trabalho a cidade a fam lia e com a pr pria dist ncia seja para quem vai ou para quem fica As raz es das mudan as remeteram a fatores distintos podendo ser por transfer ncia solicitada pelo trabalhador ou compuls ria por partir da pr pria empresa t rmino de contrato finaliza o da obra da fun o novo contrato pela mesma empresa ou outro empreendimento podendo exercer fun o profissional similar ou n o 267 Essa mobilidade foi pronunciada pela fragiliza o do v nculo de trabalho dando origem ao desemprego demiss o e aposentadoria antecipada como visto at aqui Tal processo acentua se ao remontar ao contexto de reestrutura o e s empreiteiras construtoras Jonas demonstrou com clare
145. a exist ncia oriunda da linguagem oral ou escrita da imagem fixa ou m vel do gesto do corpo e suas express es produ es e movimentos da conjuga o de todos esses elementos Ela est no mito nas hist rias lendas f bulas contos etc Vemo la na arte na pintura no cinema nas hist rias em quadrinhos Na conversa Ela comporta a diversidade hist rica pol tica cultural geogr fica e existencial Resplandece a hist ria de uma vida e a vida de uma hist ria Todo o imp rio do narrativo se desenrola aqui virtualmente desde mais simples poema at a hist ria universal passando pela hist ria de uma vida inteira RICOEUR 2010 p 40 A narrativa vive um momento de franco desenvolvimento enquanto pr tica cient fica e aprimoramento metodol gico Pineau 2006 aponta isso por meio de distintas associa es e grupos de pesquisadores que se debru aram sobre esse m todo H uma diversidade de pesquisas que utilizam o m todo narrativo e a hist ria de vida com uma disparidade de abordagens contudo aquelas que se pretendem biogr ficas possuem uma dimens o comum voltar se para o contar e o narrar BARROS SILVA 2010 O termo espec fico narrativa de vida teve como pioneiro na Fran a h 30 anos Bertaux BERTAUX 2010 CARRETEIRO 2003 PINEAU 2006 At ent o o termo consagrado nas ci ncias sociais era hist ria de vida No que este ltimo se Interessante notar a envergadura da narrativa e da
146. a integrar a for a de trabalho da rea da constru o civil at a de armador por m em n mero expressivamente menor Por sua vez a segunda especificidade desse nicho profissional a peculiaridade dessa m o de obra Ser carpinteiro armador e construtor na barragem muito distinto da atua o desse mesmo of cio na cidade em constru es de pequeno porte por exemplo Davi explica isso A constru o acabou fica a opera o e um grupo bem reduzido Quando uma constru o o Cipreste chegou a ter mais de oito mil homens trabalhando l N o tinha mulher As barragens antigamente eram dif ceis aceitar mulheres trabalhando mas hoje elas est o presentes junto aos homens por exemplo na rea de pedreiro e armador Mas quando termina a barragem aquele pessoal que trabalha em constru o tem que ca ar o rumo outra barragem a diferen a das barragens assim carpinteiro armador de barragem uma coisa E armador e pedreiro de cidade outra O carpinteiro de coisa barragem s sabe fazer forma o armador s sabe amarrar arame N o que nem fazer um pr dio S o terrenos Por isso que eles s vezes n o conseguem ir para cidade porque chegam cidade e s vezes n o conseguem nem passar no teste Acaba que eles s sabem fazer aquilo na carteira est registrado aquilo Isso traz desdobramentos que fazem vincular o exerc cio profissional do barrageiro seja o da constru o at o da oper
147. a narrativa lhe provocou A vida do indiv duo do qual se trata de pegar a hist ria atrav s de uma narrativa em primeira pessoa s pode se apreender a partir de um encontro nico entre um pesquisador e a pessoa que aceita se confiar a ele encontro que tamb m ele tem sua hist ria pr pria LEVY 2001b p 93 94 grifo do autor Nesses princ pios a narrativa n o pode ser imposta acontece por meio de um convite feito a um interlocutor que n o objeto mas sujeito O pesquisador o estrangeiro pessoa pr xima e distante daquele que fala narrador situado na posi o de escuta atenta diante do abrir se de um mundo revelado pelo narrar Com efeito devemos nos responsabilizar pelo conhecimento produzido pela ci ncia e por aquilo que nos foi confiado pelo participante o narrador por excel ncia nesse estudo Para dimensionar isso gostar amos de destacar um desses homens narrativas que conjuga literatura e hist ria de vida Primo Levi Ap s viver no campo de concentra o que o fez testemunha viva do horror da guerra do autoritarismo da viol ncia e da morte legitimadas por Estados partidos e na es suas palavras L vy 2001b para explicitar a pesquisa e interven o do m todo psicossociol gico apresenta a entrevista cl nica de pesquisa e suas diferen as e conson ncias com a abordagem autobiogr fica e com a narrativa de vida 10 Trataremos mais adiante sobre o olhar do estrangeiro a p
148. a realidade e do tempo logo os novos processos de subjetiva o e sociabilidades que emplacavam Uma das principais consequ ncias desse processo que transforma o olhar o car ter blas Ele se expressa por meio de um embotamento e da incapacidade de se reagir diante das coisas das pessoas e dos acontecimentos N o se faz distin o de valores e significados Os fen menos s o percebidos de forma indiferente e muitas vezes de modo nulo Ao trazer isso mais perto de n s Peixoto 1995 nos chama a aten o para aquilo que almejamos mirar A met fora do autor para expor a transforma o nos 18 Gostar amos de sinalizar que Simmel um importante pensador para os psicossoci logos Al m de ter sido um pesquisador que denominar amos hoje como genuinamente transdisciplinar produziu uma obra heterog nea capaz de conjugar conhecimentos da sociologia filosofia economia hist ria e psicologia Debru ou se sobre temas ignorados e desprez veis por intelectuais de sua poca voltando se para o estudo de fen menos microsc picos que n o deixavam de expressar sintomas sociais e subjetivos de uma sociedade din mica e hist rica ENRIQUEZ 2005 1 Simmel 1998 2005 tamb m afirma que a intelectualidade afetada por essa atitude sendo consequ ncia da l gica monet ria e financeira do capital que tem regido a compreens o dos fen menos e a constru o do saber 43 modos de ver o mundo consiste em imaginarmos estar dentro
149. a se desgarrar de modo desnecess rio e dispendioso de suas refer ncias materiais e imateriais em rela o fam lia extensa e ao contexto conhecido No tocante a isso a escolha predominante dos Citrino foi manter o cen rio de vida conhecido por fornecer garantias e seguran as suficientes para Lia e o filhos permanecerem fixos e Davi poder migrar sozinho rumo s demandas laborais Essa realidade de aproxima es e distanciamentos em sua trajet ria refratam uma dist ncia f sica e geogr fica com as quais os Citrino buscaram formas de lidar desde que os filhos eram crian as produzindo diferentes arranjos familiais Em diversos momentos de suas vidas Davi trabalhou fora e Lia ficou com os filhos em outra cidade cuidando e assumindo responsabilidades dentro e fora de casa O contexto laboral de hidrel tricas e migra o est presente de modo n tido nesse grupo social da fam lia nuclear extensa Lia filha de barrageiros conviveu com essa conjuntura enquanto filha e irm depois na condi o de esposa e m e Nesse cen rio existencial os Citrino assinalam como as rela es de vizinhan a e amizade estiveram centradas em torno dessa categoria profissional conferindo destaque ao papel assumido pelo g nero feminino nas fam lias em que in meras mulheres de barrageiros conviviam entre si e com seus filhos compartilhando possibilidades e dificuldades dos encargos que assumiram ao tomarem frente nas rela es dom sticas na
150. abalho Este ltimo cada vez mais dividido e especializado Nesse per odo avistamos a constru o das cl ssicas separa es entre o p blico e o privado a fam lia recolhida esfera pessoal e o trabalho ao espa o produtivo a divis o social do trabalho e as rela es de g nero Podemos averiguar de modo mais detido a g nese desse processo e suas implica es nos estudos de diferentes autores e reas de conhecimento como Perrot 1991 Sennett 2008 e Thompson 1998 Com base nessas discuss es tencionamos instaurar di logos que permitam situar as charneiras entre o dentro e fora do trabalho entre o p blico e privado Isto tendo em vista nossos objetivos norteadores buscamos compreender os la os que unem e apartam o trabalho e a fam lia os locais de resid ncia e profissional que juntos conformam modos de vida e dizem de um ser humano que n o diviso mas que ideologicamente foi dividido Trata se de avistar os lugares de produ o e reprodu o Buscar encontrar as rela es de interdepend ncia entre o espa o social e o econ mico o do trabalho e o da fam lia dos barrageiros para colocar em evid ncia as eventuais contradi es seus hiatos e ambiguidades Diante das mudan as das cidades fruto da migra o laboral e das rela es contempor neas de trabalho pretendemos compreender as trajet rias existenciais que se combinaram entre empresas profiss es rela es familiares e territ rios de vida
151. abalho e fam lia para al m do trabalhador Isso nos reporta ao achado de Froelich 2001 economista que realizou uma an lise hist rica pol tica e social sobre uma das barragens mais famosas do Brasil Tamb m encontramos reverbera es desses dados na pesquisa do soci logo Nova 2000 que pesquisou a cultura e gest o de trabalho dessas corpora es e da historiadora Ribeiro 2002 quem investigou a conjuntura pol tico ideol gica e discutiu o impacto social especialmente sobre os trabalhadores da maior hidrel trica brasileira 227 Esses autores verificaram uma rela o semelhante encontrada por n s acerca dos barrageiros e os citadinos isto h uma proeminente vincula o do barrageiro com seu grupo social um elo identificat rio que gera aproxima o entre membros dessa categoria profissional e n o necessariamente com a cidade Tal constata o se d desde os acampamentos e alojamentos criados para o trabalho de constru o da UHE at as vilas piloto e sua estrutura alimenta o lazer educa o sa de etc destinadas a atender s necessidades de seus trabalhadores e familiares A liga o mais forte da popula o era com a obra com a usina com o acampamento n o com a futura cidade porque a perspectiva do barrageiro completar sua atividade numa obra e dirigir se a outras ao inv s de fixar se no local atual de trabalho FROELICH 2001 p 156 Todavia com a venda das casas da vila c
152. abalho na mesma empresa onde Davi p de se aposentar Uma refer ncia que propiciava vivenciar o desenraizamento ao menos em parte Teve uns contratempos porque n o era f cil voc sair de um lugar e ir para outro Voc nunca criava raiz num lugar Para n s tem at que agradecer a Deus come ou e aposentou na mesma empresa Nunca ficou desempregado A firma era muito boa Porque eu vejo o pessoal de cidade eles criam ra zes Aqui mesmo no Paran tem gente que nasceu criou aqui est o os filhos os netos E a gente n o a gente nunca teve um paradeiro Lia Um andar desencadeado pela migra o laboral que n o avistava possibilidade de retorno em sua proced ncia onde sua hist ria de vida se iniciou a gente nunca retorna para a terra natal Nunca retorna Davi Por m a hist ria do barrageiro ao inv s de ficar demarcada em seu in cio o car ter de proced ncia perfaz se na continuidade na dinamicidade do movimento capaz de des vincular lugares e pessoas A marca identit ria de barrageiro associada mobilidade est entranhada na subjetividade e na representa o de si mesmo e de seus familiares como demonstra Lia tem gente que fala assim Meu Deus Mas ele vem l de t o longe Mas eu falo assim barragem Barrageiro risos Perante isso barrageiro aquele que se desloca sucessivamente est imerso em um reincidente mover se Migra o que consiste em acompanhar o trabalh
153. abou por faz lo aceitar o incentivo financeiro para se desligar da empresa Embora aposentado novo afirma ter sido bom pois conseguiu um benef cio que o ajudou a abrir seu pr prio neg cio Thiago ao contemplar sua hist ria de vida tece uma narrativa cujo enredo resplandece uma realidade costumaz do barrageiro o desencontro entre trabalho e fam lia N s que somos barrageiros a fam lia n o acompanha a gente em todos os sentidos assim Thiago Uma fala capaz de anunciar a recorrente demanda de mobilidade laboral quanto impossibilidade de participar de modo pr ximo e presencial dos acontecimentos e decis es familiares cotidianos Os deslocamentos realizados podiam ser dist ncias e per odos de tempos curtos ou mesmo maiores Quando ficou fora seis meses a trabalho em fun o de obras a empresa concedia transporte quinzenal para retornar a sua casa o que o auxiliava a conviver com essa situa o Mas um ar de resigna o comparece em sua fala acerca da dif cil concilia o entre fam lia e trabalho especialmente ao falar sobre as viagens e a dist ncia tendo que prioriz los de modos diferentes e em tempos distintos A gente fica um pouco preocupado de uma maneira assim mas normal A gente sabe que tem que passar por isso Ent o a minha resposta no caso seria essa A gente sabe que tem que passar E dif cil voc Trabalho trabalho Fam lia fam lia A gente comenta que quer incluir os dois fica um
154. acional de Energia El trica Atlas de Energia El trica do Brasil 3 ed Bras lia ANEEL 2008 Dispon vel em lt http www aneel gov br arquivos PDF atlas3ed pdf gt Acesso em fevereiro e maio de 2014 Boletim Energia n 112 19 a 24 fev 2004 Dispon vel em lt http www aneel gov br arquivos PDF boletim 112 htm gt Acesso em fevereiro de 2014 Atlas de Energia El trica do Brasil 1 ed Bras lia ANEEL 2002 Dispon vel em lt http www aneel gov br arquivos pdf livro atlas pdf gt Acesso em maio de 2014 AN NIMO Livro das mil e uma noites ramo s rio 3 ed S o Paulo Globo 2006 ANTUNES R Os sentidos do trabalho Ensaios sobre a afirma o e a nega o do trabalho 4 ed S o Paulo Boitempo 2001 Dez teses sobre o trabalho do presente e uma hip tese sobre o futuro do trabalho 31 Encontro Anual da ANPOCS de 22 a 26 de outubro de 2007 Caxambu 287 MG Semin rio Tem tico n 34 Trabalho e Sindicato na Sociedade Contempor nea 2007 Mesa 1 O trabalho como s mbolo da transforma o e da dignidade In MENEGAT M BEHRING E R FONTES V Org Dilemas da humanidade di logos entre civiliza es MST UFRJ FSS UERJ Rio de Janeiro Contraponto 2008 ARANTES A A et al Colcha de retalhos estudos sobre a fam lia no Brasil 2 ed Campinas Editora da Unicamp 1993 ARA JO J N G CARRETEIRO T C Orgs Cen rios sociais e abordagem cl nica S o Paulo Es
155. ada ignorado ou normatizado pelos dispositivos de controle do Estado e do capital 5 Em S o Paulo em 1836 os censos apontavam que predominavam as fam lias nucleares sendo o n mero m dio de habitantes por domic lio de uma a quatro pessoas SAMARA 2002 121 Contudo como tratamos de uma institui o que n o cessa de se reinventar em que o indiv duo e o social se encontram e a realidade macro e microssocial se tocam temos de buscar recursos te ricos e metodol gicos que legitimem essas coexist ncias hist ricas nos termos dessa l gica que a modernidade ocidental produz a n o contemporaneidade do contempor neo e que a ideia de simultaneidade esconde as assimetrias dos tempos hist ricos que nela convergem SANTOS 2004 p 15 Entendemos que a atualidade traz as marcas de produ es e processos que coexistem fazendo com que composi es e l gicas das fam lias de ontem como os resqu cios da fam lia patriarcal cujo c digo hier rquico de poder e de g nero s o bastante divisos e desiguais ainda se fa am presentes De modo similar o presente se faz futuro quando avistamos transforma es n o livres de tens es e de conflitos oriundos das transi es sociais econ micas culturais tecnol gicas e dos processos de subjetiva o Desse confronto podemos avistar tr s possibilidades as fam lias que se reinventam gerando rupturas e transforma es dos modelos ide rios as que se reinvent
156. ado percept veis curioso notar as modifica es desse per odo denominado como poca das revolu es por aqueles que ainda no s culo XIX registravam os efeitos de seu presente em transi o como Benjamin 1994 e Simmel 1998 2005 Al m desses autores tamb m faremos men o a pensadores do s culo XX que se desdobraram sobre esse tema como Blumenberg 1990 que em sua obra resgata o historiador su o Burckhardt do s culo XIX e Thompson 1998 ambos os autores tecem an lises sobre as transforma es do trabalho e seus atravessamentos no mbito social abrangendo desde fen meno macro at os costumes e a intimidade Resgataremos de modo breve esse per odo de virada hist rica pois isso nos permite visualizar o delineamento do projeto de modernidade que temos discutido at aqui e tamb m por se tratar de um processo aberto que trouxe com mpeto modifica es Burckhardt a que Blumenberg 1990 faz refer ncia interessante para n s porque foi um historiador pioneiro ao incluir os aspectos sociais e culturais no estudo do passado Sua peculiar vis o de hist ria produziu resson ncias em importantes pensadores como Friedrich Nietzsche Sigmund Freud Carl Gustav Jung Theodor Adorno e Norbert Elias Para saber mais sobre esse historiador ver o artigo de Vermeersch 2003 90 sociossubjetivas que continuam a reverberar nos dias de hoje inclusive no contexto dos barrageiros Os supracitados autores d
157. ador Paradigma de uma met fora da exist ncia Lisboa Vega 1990 BOBBIO N Liberalismo e democracia S o Paulo Brasiliense 2000 BOURDIE P 4 ess ncia do neoliberalismo Le monde diplomatique 1998 Dispon vel em lt http infoalternativa org teoria teo007 htm gt Acesso em maio de 2013 BOSI A Plural mas n o ca tico In BOSI A Org Cultura brasileira temas e situa es 4 ed S o Paulo tica 2000 BOSI E Cultura e desenraizamento In BOSI A Org Cultura brasileira temas e situa es 4 ed S o Paulo tica 2000 BRANDIM A C M S Paul Ricoeur e Michel De De Certeau a hermen utica da falta como produ o de sentidos ou a hermen utica dos rastros do Outro Teoria da Hist ria ano 2 n 4 p 134 146 2010 CAPIT O C G HELOANI J R Sa de mental e psicologia do trabalho S o Paulo 289 em Perspectiva S o Paulo v 17 n 2 p 102 108 2003 CARVALHO M C B A fam lia contempor nea em debate 4 ed S o Paulo EDUC Cortez 2002 CARRETEIRO T C Psicossociologia em exame In LEVY A et al Psicossociologia an lise social e interven o Belo Horizonte Aut ntica 2001 Hist ria de vida da genealogia a um estudo Psico Porto Alegre v 34 n 2 p 281 295 2003 Fazer de uma coletividade uma hist ria coletiva In TAKEUTI N M NIEWIADOMSKI C Orgs Reinven es do sujeito social teorias e pr ticas biogr ficas Porto Alegre Sulina
158. agoras Assim a Roma antiga era para Robespierre um passado carregado de agoras que ele fez explodir do continuum da hist ria A Revolu o Francesa se via como uma Roma ressurreta Ela citava a Roma antiga como a moda cita um vestu rio antigo A moda tem um faro para o atual onde quer que ele esteja na folhagem do antigamente Ela um salto de tigre em dire o ao passado Somente ele se d numa arena comandada pela classe dominante O mesmo salto sob o livre c u da hist ria o salto dial tico da Revolu o como o concebeu Marx 15 A consci ncia de fazer explodir o continuum da hist ria pr pria s classes revolucion rias no momento da a o A Grande Revolu o introduziu um novo calend rio O dia com o qual come a um novo calend rio funciona como um acelerador hist rico No fundo o mesmo dia que retorna sempre sob a forma dos dias feriados que s o os dias da reminisc ncia Assim os calend rios n o marcam o tempo do mesmo modo que os rel gios Eles s o monumentos de uma consci ncia hist rica da qual n o parece mais haver na Europa h 100 anos o m nimo vest gio A Revolu o de julho registrou ainda um incidente em que essa consci ncia se manifestou Terminado o primeiro dia de combate verificou se que em v rios bairros de Paris independentes uns dos outros e na mesma hora foram disparados tiros contra os rel gios localizados nas torres Uma testemunha ocular que talvez deva rima a
159. al no capitalismo financeiro Suas engrenagens movem as atividades que constituem a vida cotidiana encerrando exist ncias A tirania do tempo se faz pela tirania do dinheiro pois se vivem cada vez mais a monetariza o do cotidiano e a presentifica o do dinheiro pelo fato de essas se tornarem tamb m valor de troca O dinheiro move a economia e a deforma assim como capaz de levar seus tent culos para todos os quadrantes da vida Quem nos mostra isso sensivelmente materializando se no dia a dia Jatob 2006 na literatura ao explicitar o cotidiano do oper rio que volta para casa exaurido do trabalho Um tempo imposto pelo grande mercador que muitas vezes esquecido e invisibilizado quando ultrapassa os port es da f brica por m n o deixa de ser denunci vel ao se expressar no corpo e nos afetos daquele que foi subjugado a essa l gica N o se nota muito pois o caminho de volta N o tem hor rio a cumprir A hora da volta a hora de se chegar em casa n o marcada num cart o de ponto O cansa o do dia tira a vontade reclamar Alguns dentro do vag o cheio em grupos mesmo sem poderem bulir encostados porta cantam Modinhas que o r dio e a televis o toca Outros ainda conseguem tirar algum sorriso da boca Poucos Her is acho JATOB 2006 p 55 O dentro e fora do trabalho podem ser entendidos a partir de v rias perspectivas em suas considera es contudo uma delas destac vel Segundo Fausto
160. alhador de barragem torna se morador ausente em rela o localidade em que a fam lia reside para ser morador efetivo em alojamentos ou rep blicas estabelecidos outros lugares em decorr ncia da demanda da m o de obra em outros projetos hidrel tricos Fato que os tr s barrageiros da nossa pesquisa vivenciaram em algum momento de suas vidas Isso reflete a itiner ncia que Jonas o narrador que em mais localidades morou demonstrou em seu relato barrageiro come ou n o para mais de uma barragem para a outra A vila que Lia nos situou em sua narrativa remeteu nitidamente a esse morador ausente que Froelich 2001 denomina a respeito do esvaziamento do n cleo urbano com a partida dos barrageiros chefes de fam lia Lia nos contou como essas vilas passaram a ser habitadas expressivamente por mulheres e seus filhos Para se referir ao contexto dessa vila em que morou pelo menos dez anos de sua vida utilizou a express o mulher vi va de marido vivo Fez men o aos barrageiros que se ausentaram de casa por longos per odos inclusive o seu marido Eram trabalhadores que partiam em busca de novos v nculos de trabalho em outras obras e localidades Vimos profundas transforma es nas rela es afetivas mas tamb m na pr pria cidade que conferiram relevo ao impacto social que um empreendimento desse porte traz n o somente durante a constru o transformando a rea urbana existente ou nascendi mas t
161. alidade infantil e materna ou mesmo a morte da esposa ou do marido fatos pass veis de dissolver a fam lia 123 forma de explicitar esse aspecto haja vista que se trata de uma premissa anal tica da coexist ncia de temporalidades Por sua vez quanto ao termo nomeado como presente futuro devemos reconhecer a conota o de possibilidades que se delineiam na atualidade Dito de outro modo seriam os tra os esbo ados pelas transforma es familiares em curso que sugeririam formas e express es de seu car ter din mico e criador contudo ainda a se definir de modo mais preciso e aprofundado mas sem deixar de manifestar sua exist ncia Para isso Machado 2001 e Giddens 1993 apontam algumas tend ncias A primeira diz respeito composi o familiar que possibilita rela es de g nero fun es pap is v nculos e provedores de fam lia podendo ser vividos de modo mais igualit rio A segunda as fam lias recompostas permite outros la os a serem feitos entre padrastos madrastas filhos de outros relacionamentos etc Outra tend ncia a se difundir s o os espa os e a es mais individualizados que comportam negocia es e escolhas que n o necessariamente venham a envolver ou incluir o parceiro isso percept vel em v rias dimens es como moradia projeto profissional cria o dos filhos etc Nesse prospecto a autora tamb m identifica rela es entre av s e netos que tendem diminui o e distanciamento p
162. am na esteira da reprodu o e repeti o e as que por meio de novos arranjos geradores de rela es poderes afetos e la os est o por ser conhecidas e compreendidas em seus efeitos Constatar esses aspectos fundamental para podermos problematizar o contexto dos barrageiros se o c njuge deste ao escolher manter uma atividade produtiva remunerada fora de casa consegue romper a l gica centrada no g nero masculino que ressoa o patriarcalismo Poder indagar como as pe as desse caleidosc pio se movem a fim de apreendermos como os sentidos e configura es familiares dos barrageiros conseguem romper ou manter as temporalidades do ontem e do hoje Outro aspecto a destacar acerca da combina o do ontem e do hoje que nos faz chamar o passado presente e o presente futuro com a finalidade de situar as Machado 2001 desenvolveu pesquisas sobre esse tema o qual denomina patriarcado contempor neo ao mencionar as rela es de g nero ainda desiguais e com marcas da viol ncia do homem sobre a mulher 57 Se f ssemos mais longe nessa discuss o acerca da temporalidade capaz de conjugar passado e presente retomar amos as an lises de Giddens 2000 que contestam a exist ncia da fam lia nuclear apenas na modernidade O autor afirma que a partir do s culo XVII j se podiam encontrar na Europa Ocidental fam lias n o extensas cujo tamanho m dio era de 3 04 Reino Unido e 4 75 Inglaterra pessoas Al m disso
163. am se diante do texto para compreender e interpretar a proposi o de mundo ali anunciada existe uma multiplicidade infind vel de interpreta o e compreens o Ricoeur 2008 nos lembra que a interpreta o n o um saber absoluto pois ao buscar desvendar o texto deparamo nos com um mundo a ser continuamente aberto e descoberto Dessa forma n o se trata de operar no texto uma tarefa compreensivo interpretativa como algo mec nico e fechado dentro de um protocolo pois interpretar n o se d de uma vez e nem de uma vez por todas Ayres 2008 Onocko Campos 2008 2008b e Weller 2007 assinalam que n o h um m todo hermen utico que seja reconhecido de modo rigoroso e que estabele a de maneira estrita um percurso a ser seguido Contudo o que se reconhece sua ado o como modalidade de estudo em que o trilhar metodol gico do pesquisador dever ser exposto a fim de evidenciar como se procedeu a constru o discursiva e interpretativa do texto cient fico Perante isso concebemos a filosofia hermen utica de modo leg timo fecundo e problematizador no campo da ci ncia uma vez que o car ter de interpela o n o se dirige somente ao participante da pesquisa e realidade do objeto mas tamb m ao pr prio pesquisador este deve tornar se leitor de si mesmo Disso 75 Castro 1998 p 2 evidencia essa concep o Se j soub ssemos o que desejamos na interpreta o n o questionar amos E o di logo com o
164. amb m com a sua finaliza o Ribeiro 2002 e Froelich 2001 trazem de modo claro essa explos o populacional principiada pela constru o de uma UHE Os desdobramentos desse contingente que se desloca em busca de trabalho engendram efeitos para quem permanece e para quem sai da cidade Um dos problemas mais recorrentes n o haver o que Froelich 2001 p 172 denomina de uma pol tica global de desvincula o por parte dessas empresas o que fez com que parte expressiva dessa popula o vivesse de modo abrupto o desemprego decorrente da impossibilidade de a estrutura urbana local 269 absorver essa m o de obra como tamb m o recrudescimento da viol ncia local Elemento este que nos chamou a aten o quanto necessidade de ponderar e debater em canais mais ampliados as distintas inst ncias que um projeto hidrel trico comporta em seus efeitos sociops quicos e pol ticos culturais Tal fato nos levou a considerar que a busca de um lugar no trabalho pode significar uma perda parcial de lugar na fam lia Observamos nas tr s fam lias um retorno ao seio familiar que ainda est se constituindo em vias de elabora o ap s longo per odo do barrageiro fora o dos Citrino est por se concretizar com maior vigor com a volta efetiva de Davi contudo n o deixa de produzir efeitos com a expectativa de seu retorno Percebemos no enredo familiar e na trajet ria social dos tr s grupos um papel de pai e de marido sendo reconfi
165. amentos As principais formas identificadas desse processo paradoxal de ganhos e perdas de encontros e desencontros viver a migra o como algo bom e ruim expresso em seus relatos Ao mesmo tempo em que a mobilidade permite explorar e descobrir novos modos de vida traz desagrega o e perdas Uma sa da criativa que os nossos narradores constru ram foi fazer uso da pr pria polissemia do trabalho geradora de contradi es que faz o labor ser vivido em sua positividade e negatividade humaniza e desumaniza Ou seja os membros familiares concentraram um projeto de vida comum em torno do trabalho do barrageiro uma via estrat gica de os manter reunidos mesmo estando imersos na dist ncia f sico geogr fica Nessa premissa a fam lia adquiriu uma fun o enraizadora para seus membros e o sentido do trabalho em sua negatividade p de gerar rastros de positividade quando os 277 narradores puderam fazer uso do labor como uma atividade que futuramente viria lhes proporcionar a realiza o de projetos inclusive os que remetessem ao seio familiar Esse projeto permitiu elaborar dois recursos para vivenciar essa conjuntura No primeiro a fam lia torna se um lugar existencial e simb lico de refer ncia logo de territorializa o Assume um locus existencial para se contrapor a despeda amento dos sentidos perda das refer ncias geogr ficas e afetivo sociais No segundo enquanto fun o enraizadora permite ao ser h
166. amentos das mudan as deflagradas tanto por seu n cleo familiar quanto por essa categoria profissional Os desenlaces da partida deixaram saudade do tempo vivido do viver junto e das ra zes lan adas em um tempo espa o e rela o Experimentaram proximidades demonstradas por meio de generosidades e trocas afetivas expressas nas rela es de vizinhan a Tinha um pastelzinho que eu fazia e ela vizinha um bolinho de polvilho Era s mostrar na janela para mim Sara Vem c Ela vizinha trazia Uma coisa para a outra Sara Nas palavras de Sara foram amizades que beiravam fraternidade trocas intersubjetivas a partir de um contexto de vida marcado pela migra o em que a cumplicidade e o cuidado m tuo especialmente na rede estabelecida entre as mulheres e os filhos dos barrageiros podiam reaver a perda e o desamparo em um lugar desconhecido e estranho A narrativa da fam lia Top zio expressa o valor de amizades que perduraram o per odo de constru o de UHE atravessando tempo e lugar cujo sabor anseiam novamente sentir 202 As duas faces da mesma moeda Bambu dentro do trabalho e dentro de casa versus Bambu fora do trabalho e fora de casa Raquel percebe que durante o per odo em que seu pai trabalhou no Bambu havia apenas uma preocupa o instaurada nas rela es sociais e afetivas o trabalho Os funcion rios s precisavam se preocupar em trabalhar e manter os mantimentos da casa O restante
167. amiliares no tocante aos des enlaces sociais e subjetivos manifestados em seus modos de ser trabalhar viver Podemos encontrar no cen rio dos barrageiros a reitera o dessa racionalidade capaz de sujeitar o trabalho e a vida humana Contudo para avistar mais de perto as engrenagens que comp em e movimentam esse cen rio preciso discorrer sobre os processos de subjetiva o que o integram Faremos isso na pr xima se o que se desdobra em dois subitens ao nos referirmos sobre a relatividade do dentro e fora da tr ade espa o tempo rela o promovida pelo trabalho no modo de produ o capitalista neoliberal 3 1 3 Trabalho e processos de subjetiva o o dentro e fora nos t nues contornos do tempo espa o e rela o No mundo atual toda t cnica de diminuir a velocidade tem algo de progressista BARTHES 2003 p 35 Era de bom tom levar tartarugas para passear pelas galerias BENJAMIN 1994b p 50 51 As frases de Barthes 2003 e Benjamin 1994b acima colocam em evid ncia uma das principais problem ticas dos ditames do modo de produ o capitalista neoliberal a imposi o da moldura temporal do capitalismo SANTOS 2008 p 51 sobre a vida cuja ins gnia o curto prazo O tempo monetarizado que se tornou enxuto encolhido apertado insuficiente e imediatizado extrapola o campo dos avan os tecnol gicos e da telem tica Forja produ es de subjetividades que persistem no campo das inst
168. amilies we got a narrative material able to highlight the mismatches between work and family upon the elucidation of socio psychological knots in their life stories We identified a diversity in family structures that have acquired new arrangements according to the family plot and the socio professional trajectory attached to different working and housing conditions social and subjective relationships The existential scenario of dam builders and the experience of labor migration was dramatically transformed with the implementation of neoliberal capitalism by the Brazilian government in the hydropower sector generating the embrittlement of working conditions and relations and its social and subjective environment The work life conflict is present inside and outside the labor field capable of both inhibiting life in its creative power and to resist transforming the singular existence and family life in a persistent reinvention Keywords work family hydroelectric power Social Psychology 10 LISTA DE ILUSTRA ES Figura 1 usina hidrel trica Eng Souza Dias Jupi fotografia Dispon vel em lt http www 3lagoas com br turismo arquitetonico usina hidreletrica de Jupiaf prettyPhoto pp gal 35 gt Acesso em fevereiro de 2014 Figura 2 usina hidrel trica Jos Erm rio de Moraes gua Vermelha fotografia Dispon vel em lt http www agenciajp com br noticia 448 usina agua vermelha completa 35 anos U2gxUoFdXDV gt Aces
169. amor para exorcizar o dio ou a indiferen a Com essas mudan as os la os afetivos passam a se sustentar enquanto houver o desejo de estar junto e de investir na rela o seja esta h tero ou homoafetiva Abrem se possibilidades de se nutrir uma rela o amorosa n o restrita ao prazer er tico mas que envolva a expans o e potencializa o do ser e da exist ncia como teorizam e apreciam com distintos olhares Birman 2007 e Enriquez 2003 Outra variante a inova o da composi o familiar as fam lias recompostas Frutos de novas conjugalidades e rela es as fam lias diferem se da tradicional fam lia nuclear pois nessas novas rela es os filhos dos respectivos c njuges passam a compor uma nova e atual fam lia Os filhos passam a integrar tanto a nova rela o de um de seus progenitores como a de outra figura parental ampliando as possibilidades de viv ncias familiares e de conviv ncia com novos membros Mas n o se trata apenas de amplia o h um deslocamento vigoroso que passa da import ncia do grupo para a de seus membros como assinalam Machado 2001 e Beck Gernsheim 2011 H tamb m o aumento das fam lias monoparentais integradas pela figura paterna ou materna em que o n mero de membros reduto A monoparentalidade tem se incumbido do sustento financeiro dos cuidados e das responsabilidades na cria o do s filho s que at ent o eram partilhadas por meio da conjugalidade O que se constata ne
170. amos a segunda rodada de grupos hermen uticos A flexibilidade do uso da t cnica acordada s necessidades da pesquisa levou nos a refletir que o caminho do trabalho investigativo embora parta de um ponto identific vel acaba por fazer se caminhando Pesquisa e pesquisador s o construidos simultaneamente de modo que uma rede de sentidos produzida e mantida viva ONOCKO CAMPOS 2008 p 270 Entretanto n o realizamos a valida o nessa perspectiva Dispensamos esse processo nesse formato pois ao darmos inicio ao trabalho de campo com os narradores entendemos que o material narrativo a ser considerado seria aquele que nos fora enunciado n o sendo necess rios mais um encontro e nem um di logo vis vis al m do realizado no contexto das entrevistas narrativas Assim sendo o texto final da narrativa tido como objeto por excel ncia do trabalho interpretativo do pesquisador seria aquele que o narrador nos enunciou no ato das entrevistas narrativas n o inviabilizando o conte do narrado tampouco o desenho metodol gico Sobre essa via percorrida esclareceremos de modo mais detalhado no cap tulo 5 Narrativas em que situamos ao leitor o contexto da coleta do material em suas dificuldades e possibilidades bem como o material narrativo obtido 4 3 3 As dimens es interpretativas da hermen utica no texto para o que atentar De modo sint tico sinalizamos os aspectos sobre os quais nos debru amos a fim de trabalhar o
171. apaz de operar e monitorar uma hidrel trica a dist ncia O uso dessa tecnologia dispensa a m o de obra humana uma vez que a implanta o desse processo implica a demiss o de in meros trabalhadores de seus postos de trabalho 220 acontecendo cujos rebentos e frutos est o se constituindo em outro espa o tempo rela o nos mbitos social e subjetivo Enredo familiar e trajet ria social da constru o de barragem edifica o da fam lia Davi inicia sua vida de barrageiro solteiro e jovem ao trabalhar em 1974 em uma UHE que faz divisa entre os estado de S o Paulo e Minas Gerais Em 1976 entra no Cipreste e assume atividades na rea de constru o de outra hidrel trica localizada no Estado de S o Paulo no rio Grande Em 1979 casa se com Lia e mora no Estado paulista Os filhos nascem Per odo de constru o n o apenas da barragem mas tamb m da fam lia O labor propicia sentidos convergentes em termos afetivos pois em torno da profiss o e por meio desta torna se poss vel constituir la os familiares e conferir provis o eu acho que um trabalho muito edificante porque sempre est a fam lia tudo criada sempre em barragem e desde que eu comecei Davi Profiss o essa que Davi e Lia relembram ser repleta de exig ncias e constantes turnos chegando a trabalhar 16 h consecutivas Esse era o ritmo de barragem Davi que imprimia cad ncia em sua vida dentro e fora do trabalho Conforme o relato d
172. apital neoliberal podemos em curto prazo fomentar uma democracia emancipat ria Termos para lutar por uma exist ncia humana mais digna e emancipada mediante o redimensionar das rela es de poder e o desconstruir da heterogest o para De acordo com Baremblitt 1994 esse termo usado no movimento institucionalista faz men o s metas e aos objetivos nobres que orientam os processos desejantes e revolucion rios com suas for as instituintes A riqueza do termo ut pico est em uma temporalidade e localiza o que se fazem no aqui e agora em sua indissoci vel vincula o entre meio e fim individual e social que se tece no dia a dia 58 forjar rela es de autoridade partilhada Incitar meios em que as bases pensem e tamb m sugiram sobre os destinos da humanidade por meio da constru o e do fortalecimento de espa os coletivos capazes de promover o interc mbio de experi ncias e de pontos de vista A partir disso Santos 2004 2008 reitera a necessidade de um aprofundamento e alargamento da democracia e da viv ncia democr tica Entrementes em longo prazo podemos recorrer ao trabalho de tradu o que contrasta com a ideia de uma teoria geral ao conferir como alternativa a essa concep o a articula o de conhecimentos e pr ticas a partir de suas converg ncias conson ncias Esse compartilhar poss vel quando se reconhecem o limite insufici ncia e incompletude dos saberes sejam os da ci ncia sejam os da
173. apresentar um imagin rio que ronda algumas pessoas e suas cidades principalmente se for do setor da constru o da hidrel trica onde a rotatividade da m o de obra maior a amea a de desemprego tamb m e a precariza o das condi es e rela es de trabalho mais acentuadas rea que concentra o maior n mero de empreiteiras as quais possuem car ter volante na presta o de servi os Os r tulos que os Citrino apresentam s o daqueles barrageiros olhados com desconfian a e mal vistos desgarrados at mesmo de seus familiares Mas essa parte de constru o a constru o rotativa Ent o se o empreiteiro n o gostou dele amanh ele est na rua Dali ele j vai para outro lugar Se ele tem uma fam lia ele larga para tr s Davi Nesse nterim localizam a chegada do trabalhador cidade como a etapa mais dif cil de adapta o especificamente se integrar s primeiras equipes que fazem parte da constru o Podemos ver isso no discurso de Davi ao manifestar o imagin rio social constru do em torno do barrageiro como aquele de forasteiro quem invade a paisagem local Contrasta com esse imagin rio a vila o n cleo que ele denomina em sua fala como importante refer ncia para se estabelecer e ser acolhido no lugar seja pelo trabalho seja por sua fam lia condi o que n o se estende para todos os barrageiros Pegou esse r tulo Onde tem barragem perto de cidade n o gostam A cidade p
174. aralelos podemos perceber que os encontros entre trabalho e fam lia eram n tidos ao ressoar uma pol tica de controle para al m dos cercos do canteiro de obras Era o controle do aluno na escola cuja principal amea a no caso de indisciplina era chamar o pai na obra o controle alimentar e nutricional para bem produzir o lazer disponibilizado em seus estabelecimentos e o aparelho de policiamento Tudo gravitava ao redor do Bambu Nova 2000 tamb m aponta essa dilui o entre as fronteiras da vida pessoal e do trabalho Vincula o essa que expressa conjuntamente a intensa jornada de trabalho Tanto o Bambu quanto o Cipreste promoviam uma coes o grupal para aqueles que integravam a empresa e faziam parte dos dispositivos de moradia e lazer desta A internaliza o da cultura e pol tica organizacionais era extrema sendo o grupo de trabalho tamb m denominado fam lia como aponta Nova 2000 ao estudar a cultura organizacional desses empreendimentos Isso gerava tanto um corporativismo quanto uma naturaliza o das rela es de poder expressas entre chefias e subordinados N o livre de conflitos e tens es pois eram reiterados os elementos classistas que demarcavam desde os espa os de trabalho prest gio remunera o e poder decis rio e fora dele casas clubes e escolas distintas conforme o cargo na empresa Froelich 2001 corrobora os achados desse autor ao expor o relacionamento acentuadamente paternalista entre base e
175. arem fora cidade vizinha que era de maior porte O Cipreste conferia suporte para as mudan as de cidades provendo meios para a fam lia acompanhar o trabalhador fosse via aux lio financeiro e transporte como tamb m um n cleo residencial dispon vel para receb los Circunstanciam esse per odo de estabilidade e abastan a como aquele em que muitos trabalhadores gostavam de ser barrageiros especialmente pelas mordomias Davi e Lia poca em que a empresa pagava luz gua e fornecia casa para morar O sal rio nesses termos era livre 236 A estabilidade no trabalho proporcionava outra rela o com o tempo Um projeto e um plano em longo prazo podiam ser visibilizados fato distinto da realidade de outras empresas cuja amea a de demiss o era iminente Davi ao dar voz a sua categoria profissional reconhece a dr stica diferencia o da pol tica estatal que conferia garantias e a iniciativa privada que estava restrita l gica de mercado inst vel visando ao lucro em detrimento do trabalhador Podia fazer um plano N o que nem uma empresa privada que nem a gente estava falando essas empreiteiras Voc n o pode fazer um plano a longo prazo No Cipreste voc podia fazer Isso a n o s eu que falo A turma os mais velhos que aposentaram tudo falam Davi Outro ponto sinalizado enquanto integrante do Cipreste remete a uma fase dif cil em suas vidas a ida para uma cidade que n o existia send
176. arragem e do pr prio barrageiro Isso se torna ilustrativo ao apresentarem as dificuldades vivenciadas em seu cotidiano e o modo de vida desarranjado pelo processo migrat rio Eles elucidam essa viv ncia ao atravessarem empecilhos para conseguir cr dito por n o aceitarem cheque de fora nos obst culos para ter acesso moradia e os diferentes costumes e tra os culturais distintos dos seus o que gerava ainda mais estranhamento nesse processo de adapta o a ser desbravado Era o primeiro processo de automatiza o que ao avan ar fez o Cipreste disponibilizar uma vaga para Davi em outra localidade Nesse evento ele foi comunicado pela empresa que embora houvesse o processo de automatiza o em vig ncia ele n o seria demitido mas realocado em sua fun o Esse era o cen rio da terceira mudan a de cidade em que a fam lia o acompanhou os filhos eram crian as o Gostar amos de apontar ao leitor de que entendemos o conceito de enraizamento em uma perspectiva filos fica situada por Weil 1996 2001 para compreender qu o significativa a rela o do homem com o espa o principalmente em sua dimens o simb lica por conter atributos afetivos e por conjugar a um s tempo a hist ria individual e a coletiva Desse modo o processo migrat rio a territorializa o e as transforma es hist rico sociais adquirem import ncia anal tica para apreendemos como se constitui essa viv ncia psicossocial pois os referidos proc
177. artir de Simmel 1998 2005 e Peixoto 1995 para complementar o ato da escuta uma vez que entendemos tanto o olhar quanto o escutar como ferramentas fundamentais para delimitar nosso lugar enquanto pesquisador na produ o de conhecimento cient fico 30 proferidas acerca do vivido s o vigorosas e lan am declaradamente uma tica e uma pol tica manifestadas no narrar Jamais parei de registrar o mundo e os homens ao meu redor esfor ando me por explicar aos outros e a mim mesmo os fatos em que fora envolvido LEVI 1994 p 238 239 Assim sendo a narrativa comporta dupla reflexividade Reflete o vivido refratando o mas tamb m o pensa interrogando o Para si mesmo e para o outro Narrar traz impresso um cunho auto biogr fico Revive e revisita a hist ria vivida Ricoeur 2010 ao retomar Arist teles e Agostinho consolida sua proposi o de que a narrativa significativa ao esbo ar os tra os da experi ncia humana do tempo Isso nos leva a explorar de modo mais aprofundado por meio dos fundamentos da psicossociologia da narrativa e da hermen utica a historicidade da experi ncia humana e seus processos de subjetiva o Nesse caminho s o as hist rias vividas de trabalhadores barrageiros e seus familiares que se busca conhecer ao convid los a produzir uma narrativa sobre esse tema Ao vislumbrar suas experi ncias narradas adentramos nas hist rias ainda n o contadas a fim de coletar fra es de hi
178. as 2007 O sujeito face sua hist ria a d marche romance familiar e trajet ria social In TAKEUTI N M NIEWIADOMSKI C Orgs Reinven es do sujeito social teorias e pr ticas biogr ficas Porto Alegre Sulina 2009 GAY P Freud uma vida para nosso tempo S o Paulo Companhia das Letras 1989 GIDDENS A 4 transforma o da intimidade sexualidade amor amp erotismo nas sociedades modernas S o Paulo Ediotra da Universidade Estadual Paulista 1993 Manuales Ciencias Sociales El libro universitario 3 ed Madrid Alianza Editorial 2000 GU RIN M O que uma obra Rio de Janeiro Paz e Terra 1995 GULLAR F Corpo a corpo com a linguagem Ponta Grossa PR UEPG Museu Arquivo da poesia manuscrita 1997 HAYEK F A O caminho da servid o 5 ed Rio de Janeiro Instituto Liberal 1990 HOUAISS Dicion rio eletr nico Houaiss da l ngua portuguesa 2001 IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica Sinopse do censo demogr fico 2010 Brasil Dispon vel em 293 lt http www censo2010 ibge gov br sinopse index php dados 8 gt Acesso em agosto de 2013 ITAIPU Binacional Nossa hist ria Desafio Humano Dispon vel em lt https www itaipu gov br nossa historia gt Acesso em maio de 2014 JAROUCHE M M Tribula es do terceiro xeique Duas vers es de um conto das Mil e Uma Noites Revista USP v 31 p 142 149 1996 Nota editorial Livro das mil e uma no
179. as hist rias enquanto fam lia e trabalho iniciaram se 5 2 2 FAM LIA CITRINO Notas iniciais Do casal Davi e Lia nasceram os tr s filhos Mateus Lucas e Janine A trajet ria familiar foi din mica em seus arranjos uma vez que puderam morar juntos e separados ao longo de sua hist ria no contexto laboral de barragens Atualmente seus tr s filhos residem no Paran sendo o mais velho casado e com filhos netos de Davi e Lia Os dois filhos mais novos moram com Lia Davi aposentado e em exerc cio profissional operador de UHE reside em Santa Catarina Os modos de ser trabalhar viver est o engendrados em torno do trabalho em barragens que assume um sentido inscrito em um projeto do grupo familiar O labor de 218 Davi o artif cio capaz de viabilizar melhores condi es de vida para os membros familiares em curto e em longo prazos especificamente por fornecer recursos financeiros para a educa o dos filhos no ensino superior Por m esse trabalho que realiza o sonho de ver os filhos formados outrora fez os Citrino viverem em cidades separadas pois enquanto Davi trabalhava em determinados locais seus familiares residiam em cidades diferentes pois as localidades pr ximas ao trabalho eram consideradas inadequadas para a fam lia se deslocar e morar junto A fam lia n o o acompanhou em momentos espec ficos porque percebia a nova cidade insuficiente na oferta de recursos e infraestrutura ou por obrig la
180. as tamb m da virtualidade conferida pelas redes Diante dessas radicalidades o fil sofo alem o viu se intrigado para compreender o sujeito da Hist ria o esp rito da humanidade que parece construir para si uma nova habita o BLUMENBERS 1990 p 89 grifo do autor Essa nova habita o deflagrada no projeto da modernidade ainda persiste em seus efeitos e transi es Mediante essas transforma es uma das mais patentes a rela o com o tempo que figurava como um sentimento dominante de provisoriedade instabilidade e incerteza vindo a lan ar todos na tempestade hist rica irrompida por S o os esbo os do que viria a ser segundo Pochmann 2001 os pa ses do centro semiperif ricos e perif ricos Barthes 2003 lembra que nesse per odo viveram 27 anos contemporaneamente Marx Mallarm Nietzsche e Freud sendo poss vel reuni los em alguma cidade da Su a em 1876 Se isso tivesse sido poss vel nesse encontro Freud teria 20 anos Nietzsche 32 Mallarm 34 e Marx 56 anos 91 aquelas revolu es que tinham tanto a capacidade de mover e impulsionar quanto de destruir e naufragar Foi nesse mago social econ mico que o tempo monetarizou se incrementando a racionalidade econ mica do capitalismo apontado por Castoriadis 2004 Essa domina o voltou se para al m dos espa os externos e internos Externo enquanto um sistema que alcan ou abrang ncia mundial mas tamb m interior porque
181. as vozes e novos olhares que permitem rever o mundo compreender o outro e a si mesmo Essas s o as consequ ncias hermen uticas e os efeitos da palavra no mundo que o ato da linguagem no exerc cio compreensivo interpretativo realizado dia a dia seja no mbito acad mico ou no cotidiano faz suscitar a vida 1 1 3 A narrativa Ao considerar a narrativa como integrante primordial do m todo deparamo nos com a urg ncia de mergulhar nelas Sua pot ncia toca nos pela viabilidade de n o somente permitir que algo seja contado mas por ser uma forma de testemunhar o mundo o vivido e a exist ncia As narrativas s o capazes de tecer um depoimento e um enredo em que a realidade em suas dimens es subjetiva social hist rica econ mica pol tica cultural e tica pode ser desvelada naquilo que causa dor e nega o ser humano ou no que felicita e afirma a humanidade Os participantes da pesquisa tornam se narradores por meio da coleta de material informa es da entrevista narrativa por trazerem a partir de sua singularidade ind cios reveladores do mundo que assumiu forma e concretude ao expressarem o vivido desse grupo social A for a desses homens narrativa ultrapassa o campo das letras e atinge o real Vale lembrar que conforme Ricoeur 2010 a linguagem articula experi ncia e a o Essa perspectiva faz se consonante vertente psicossociol gica uma vez que a narrativa ao conter parte da hist ria de vida exprime pr ticas
182. asileiras UFMG UFF Funrei UFSJ Outro aspecto a observar a pr pria terminologia que designa o campo psicossociol gico Sua emerg ncia e ascendente desenvolvimento adv m da insufici ncia de a sociologia ou de a psicologia sozinhas explicarem a complexidade humana e suas intera es que implicam processos em n vel individual e n vel coletivo como nos diz Maisonneuve 1977 Sendo assim dos termos provenientes da jun o entre psicologia e sociologia psicossociologia significa recusar a clivagem a separa o 134 e apartamento entre ps quico e social Essa fragmenta o e disjun o s o concebidas como algo que n o apenas reduz a compreens o do fen meno e do objeto mas torna se tamb m pass vel de manipula o e falseamento da realidade Dessa postura te rica desdobra se uma tica e pol tica diferente daquelas que optam por explica es tecidas em dois polos antag nicos V se de um lado a unidetermina o da estrutura do modo de produ o que engole o indiv duo e a ele n o confere chances de escapes Do outro lado a unidetermina o do indiv duo poderoso que se basta e depende unicamente de si para transformar a realidade Vemos um imperativo sociol gico e econ mico no primeiro polo e no segundo um ps quico calcado em um individualismo onipotente Pelo fato de a psicossociologia articular essas pontas pelo tr nsito dial tico tal situa o sofre uma tor o que gera outros par metros de an
183. assado bem como aos projetos e prospectos futuros A hist ria em suas temporalidades distintas requisitada e indispens vel tanto a do sujeito quanto a das disciplinas e institui es Isso n o implica abandonar o presente mas pens lo de outro modo em um car ter tr plice Com Ricoeur 2010 ao retornar a Agostinho o passado e o futuro s o qualidades temporais que existem no presente E o presente do futuro o presente do passado e o presente do presente RICOEUR 2010 p 39 Esse trio temporal faz se presente no enredo da narrativa que traz lembran as e expectativas Evoca aten o e 41 mem ria No tr plice presente a narrativa se desenrola Da hist ria universal hist ria de uma vida Por essa via o contempor neo conhecido e a ser conhecer tempo em que vivemos e o qual conjuga distintas temporalidades n o aventa o tema des encontros trabalho fam lia de barrageiros como algo distante ou reduto mas nos faz retornar ao espectro mais amplo da conjuntura hist rico social sem descartar os processos de subjetiva o Por sua vez travar uma a o investigativa que vincule as produ es no mbito subjetivo ao s cio hist rico implica considerar a composi o da institui o familiar de um grupo profissional espec fico haja vista que o trabalho possui fun o socializadora e de subjetiva o Podemos verificar isso na afirmativa de Capit o e Heloani 2003 que tecem uma an lise integradora dos fen
184. aulista do Cipreste que 12 km eles n o gostavam N o gostavam de jeito nenhum Principalmente se for preciso morar em cidades pr ximas disse que foi um sufoco Eu n o peguei esse in cio De mudar para esse lugar Quando eu fui o n cleo j estava com bastante casa Davi inser o nossa Itaipu por exemplo com uma de suas maiores empreiteiras prestadoras de servi o chegou a cadastrar 100 mil trabalhadores ao longo de toda a obra devido rotatividade No per odo entre 1978 e 1981 5 mil pessoas foram contratadas por m s Podemos ver com esses dados o expressivo n mero de pessoas mobilizadas que integraram esse empreendimento e o fluxo oscilante do contingente empreg vel ITAIPU 2014 232 O paradoxo das reincidentes mudan as marcas migrat rias constituidoras de suas subjetividades aparece como algo que tem o lado bom e o lado ruim nas palavras de Lia Por sua vez Davi diante da situa o peculiar do trabalho e da dist ncia a que est submetido em rela o fam lia resigna se e afirma A gente sujeitava a ficar longe Para lidar com esse acontecimento paradoxal percebemos que os Citrino buscavam construir refer ncias para al m do trabalho ao tentar instituir uma vincula o com o lugar embora fosse processual e condensada a um estranhamento Criar um v nculo dependia tamb m dos elementos que os sujeitos pudessem encontrar na localidade para se sentirem acolhidos Lia por exemplo quan
185. autoforma o da exist ncia ou ao contr rio de submiss o conforme permite ou n o aos sujeitos apropriarem se do poder de refletir sobre suas vidas e desse modo ajud los a fazer delas uma obra pessoal PINEAU 2006 p 329 Por sua vez Faye 1996 nos aponta a pot ncia do narrar como uma busca da liberdade e da cria o que pulsa no sujeito que avalia aprecia revisita e ressignifica a vida ao declarar a sua pr pria hist ria Ademais como seres imersos na experi ncia da subjetividade sociabilidade e historicidade o contar n o neutro e tampouco insignificante O ato narrativo mobilizador e implica um trabalho de reescritura capaz de modificar a hist ria do pr prio narrador Traz a possibilidade de rever sua vida e reconstruir o vivido capaz de transformar sua rela o com a sua hist ria e recri la BARROS SILVA 2010 157 Nesse des gnio a arte do narrar reinventar incansavelmente o que se conheceu viveu experimentou desejou e sentiu Podemos complementar isso com Arfuch 2010 ao mencionar a cria o narrativa similar da vida isto um passar a limpo da pr pria hist ria que n o cessa de ser contada processo que outorga sentidos Em suas palavras a narra o de uma vida longe de vir a representar algo j existente imp e sua forma e seu sentido vida mesma ARFUCH 2010 p 33 grifo da autora A pot ncia da narratividade e seus efeitos s o cla
186. avam esse suporte para as fam lias Raquel Uma redoma que se desfez de modo brusco com os t rminos de contratos e demiss es A viv ncia do desemprego a retomada da casa por parte do Bambu a n o libera o para venda mais a partida do pai chefe de fam lia para lugares long nquos e incertos afetaram profundamente a vida dos Top zio As condi es e rela es de trabalho foram alteradas de modo proeminente depois de Bambu tornando se prec rias e desprotegidas flexibilizadas em termos trabalhistas e fr geis em quest es assistenciais Al m de Jonas trabalhar apenas em mais uma hidrel trica em Santa Catarina depois de Bambu ele e sua categoria profissional j n o dispunham de vilas para os trabalhadores e nem eram empresas estatais para quem prestava servi o Ele passou a integrar frentes de trabalho tempor rias e volantes em empreendimentos envolvidos na constru o de estradas de ferro deixou de residir em vilas com a fam lia e passou a morar em alojamentos e rep blicas pr ximas aos canteiros de obras Todavia desde a poca de finaliza o da constru o de Bambu enquanto adolescentes D bora e Raquel percebiam transforma es surgirem em seus modos de vida advindos da terceiriza o e da demiss o que se instauravam nesses empreendimentos Come aram a ver amigos partir Essa mudan a come ou a alterar a vida dentro e fora do Bambu logo dentro e fora da fam lia O meio social e a subjetividade explicita
187. azia parte de um contexto que exagerava nas festas comidas e bebidas Ana relata que seu companheiro mudou nesses termos ao longo do casamento Constru ram um relacionamento em que Thiago principalmente teve que rever a concep o temporal e incluir em seus planos o longo prazo Ana pondera isso como uma conquista que n o esteve livre de tens es ao dizer que se ela tivesse entrado na l gica esbanjadora restrita imediaticidade de seu companheiro nesse grupo social talvez hoje n o tivessem uma casa pr pria onde morar pois estariam centrados apenas no bem estar do presente sem envolver sacrif cios que focassem um projeto futuro e de cunho familiar A fala do casal Safira avan a e passa a divisar um modo de exist ncia que ultrapassa a categoria trabalho para se referir ao enlace afetivo casamento Thiago afirma que ser solteiro independente de ser barrageiro possibilitou um per odo de sua vida livre de preocupa o cujo foco era pensava em viver uma vida boa tranquila festando Thiago Resgata seu sonho de juventude ser m sico de banda chegando a participar de concursos e eventos Epoca em que pensou em deixar o trabalho em hidrel tricas para seguir essa carreira Ao rememorar esse per odo afirma ter sentido essa perda mas ficou feliz por ter encontrado meios mais seguros de angariar a vida Isso se deu quando ele recobrou o trabalho de barrageiro integrando o Cipreste empresa estatal que lhe oportunizou um bom sal
188. bilitaram um corpus coerente e s lido Falemos um pouco sobre cada um deles O primeiro a ntima vincula o da psicossociologia com a interven o uma transdisciplina simultaneamente te rica e pr tica MACHADO et al 2001 p 9 Seu car ter para al m de emp rico e pragm tico da ordem da pr xis Em sua pretens o pol tica h o anseio por transforma es sociais Disso depreende se um importante aspecto que leva aos posteriores assinalamentos o status da produ o de saber n o se faz apenas na atividade abstrata N o descolado da realidade dos atores sociais e suas conjunturas o saber tampouco pode se constituir apenas na dimens o te rico filos fica Disp e se tamb m do saber do sujeito e do campo sobre o qual se debru a Alimenta a hip tese de que o saber pode ser produzido pela experi ncia direta dos diversos atores que participam da interven o tanto os profissionais quanto os demais atores No entanto afirma que as compet ncias de cada um s o diferentes Em s ntese enfatiza que n o se deve minimizar o saber dos indiv duos e coletivos que vivem as situa es concretas DUBOST L VY 2005 CARRETEIRO BARROS 2011 p 209 O saber nessa concep o inacab vel N o se faz sozinho isolado de outras disciplinas e da concretude da vida Do vivido preciso aprender a trabalhar com a contradi o com os conflitos e as situa es em intersec o No tocante a isso poder amos p
189. c njuge e de si mesmas Entretanto por outro lado podemos deslindar a faceta dessas vilas enquanto dispositivo de controle Com Ribeiro 2002 Froelich 2001 e Nova 2000 identificamos a fus o entre trabalho e lazer entre labor e vida privada n s sociops quicos Para entendermos melhor esse cen rio preciso correlacionar a intensa e extensa jornada de trabalho vinculando o labor s outras esferas da vida de modo direto e indireto 24 h por dia Essa conjun o podia ocorrer pelos turnos de trabalho pelo sobreaviso mediante escalas e plant es e tamb m pela estrutura o do lazer em torno do trabalho As vilas e seus estabelecimentos bem como as festas e confraterniza es promovidas pela empresa davam se entre seus trabalhadores e familiares em seus locais de viv ncia fora do espa o de trabalho Sendo assim havia uma ntima conex o entre o fora e o dentro do trabalho que gravitava ao redor da UHE fosse o Bambu fossem o Cipreste e suas principais empreiteiras 260 Para evidenciar a dilui o das fronteiras do dentro e fora do trabalho precisamos conceder destaque pol tica da empresa que sobrepujava o espa o de trabalho conferindo uma heterorritmia Isto a sutileza do poder econ mico ao perpassar a idiorritmia desejos e vontades imprimindo suas marcas nas singularidades Quando nossa narradora Raquel fala do controle odontol gico na escola da regula o alimentar e da disciplina em sala de aul
190. ca de sua conviv ncia marcada pela dist ncia geogr fica presente 14 anos em fun o dos respectivos trabalhos em cidades distintas Em especial Ana aponta uma perda relacional afetiva porque percebe uma vida independente e desapegada que seu marido construiu Segundo ela trata se de uma rotina parte que persiste ainda hoje complicado porque ele tinha a vida dele l livre Ana A narradora compreende seu papel na rela o conjugal como algu m que est para segurar um pouquinho o marido Ana Esse posicionamento refletido em seu discurso um reclamar do estar junto do viver compartilhado em uma rotina dom stica que est por ser reavida e reparada em decorr ncia da dist ncia experimentada principalmente por Ana se dizer uma pessoa que n o afeita a programas fora de casa como seu companheiro O caminho de casa para o trabalho e do trabalho para casa refrata as marcas migrat rias por meio de um estranhamento vivido que se remete ao c njuge como aquele que se acostumou a estar fora da fam lia descolado da rotina do lar e que envolve quest es dom sticas esposa e filhos A narrativa de Ana des gua esses afetos outrora represados 246 Acho que um pouco de desamor com o pr ximo Eu sou dessa maneira mas ele n o desse jeito O meu pensar assim o meu jeito Ent o eu acho que tudo isso foi a falta do relacionamento de conviver junto quando nos casamos A quando ele ficou numa cidade
191. can ar aquilo que influencia o enredo existencial seja por seus afetos seja por suas reminisc ncias que atravessam do passado ao presente e esbo am um futuro Essa vis o de narrador afigura a sua import ncia porque traz algo diante do n o saber do pesquisador e do limite de seu olhar em que os conceitos n o podem mais traduzir a experi ncia vivida e nomear o real a narrativa assume um locus privilegiado na pesquisa por poder alcan ar isso e expressar outros contornos tico est tico e pol tico Dito de outra maneira conforme Santos 1999 pleiteamos a transforma o profunda nos modos de conhecer para que sejam identificadas vias que possam levar a uma transforma o nos modos de organizar a sociedade e de viver Por isso precis vamos mencionar a nossa compreens o de olhar e como a escolha te rica interfere diretamente nisso Todavia como buscar elaborar cientificamente isso Discutindo vias epist micas assentadas na concep o de um discurso sobre a ci ncia fundado no paradigma emergente SANTOS 2006 1989 Nela encontramos crit rios balizadores para construir um conhecimento acad mico cient fico sem perder o olhar do estrangeiro Compomos um estudo baseado na diversidade de campos de saber de disciplinas e de vozes Foram as refer ncias m ltiplas em di logo sem dispensar os afetos tal como nos convida Barthes 1981 a pensar em Fragmentos de um discurso amoroso Reconhecemos com o referido autor que este texto
192. cesso que tamb m seu pai e familiares tiveram de confrontar especialmente para as figuras paterna e materna ao retomar a vida na fam lia na dire o geral da casa na tomada de decis es na administra o do dinheiro e no pagamento das contas S o marcas subjetivas profundas de que os Top zio buscam encontrar al vio fazendo um movimento de quem continua n o apenas a descobrir a vida em suas possibilidades mas na reinven o de arranjos amadureci mais um pouco eu aprendi a n o culpar Raquel Outro aspecto que a fam lia reitera concedendo relevo aos des encontros trabalho familia diz respeito sa da do Bambu Mais uma vez essa quest o emblem tica foi retomada como lugar de lembran as c lidas e de frustra o A primeira entrevista narrativa despertou um desejo de retornar para esse lugar s suas hist rias de vida que D bora explicitou no segundo encontro com a pesquisadora para a entrevista narrativa coletiva Ela comentou que desejou rever o lugar de morada na vila e faz isso atrav s de imagens de sat lite na internet Por sua vez Raquel insiste em n o retornar para esse lugar pois lhe traz lembran as de sofrimento e mal estar diante do que foi vivido e cravado na lembran a a amea a de despejo a luta pela aquisi o do direito de compra do im vel e o desejo de reconhecimento n o correspondido Um disparate que jamais foi aceito Eu acho que n o s a gente mas todos os funcion rios do Bambu que
193. che et Intervention Psychosociologique CGH Centrais Geradoras Hidrel tricas CIRFIP Centre Internacional de Recherche de Formation et d Intervention Psychosociologiques CNS Conselho Nacional de Sa de Funrei UFSJ Universidade Federal de S o Jo o del Rei LCS Laboratoire de Changement Social MST Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra MW Megawatt OTT Organiza o Internacional do Trabalho PCH Pequena Central Hidrel trica TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UFF Universidade Federal Fluminense UFMG Universidade Federal de Minas Gerais UHE Usina Hidrel trica SUM RIO Cap tulo 1 Cap tulo 2 Cap tulo 3 PALAVRAS INICIAIS a abertura da pesquisa 1 1 Abrindo o horizonte te rico metodol gico a constru o da pesquisadora da pesquisa e da narrativa ceseeses 1 1 1 A narradora pesquisadora ou a pesquisadora DARFADDEA PAAA a AN 1 1 2 A constru o da pesquisa cena ensensataaseca disc 1 Anartativa qe NS E a 1 2 Abrindo o horizonte do tema de pesquisa sua escolha e a rela o com o contempor neo e seessessessoessessossooesessossooesesso 1 3 Abrindo o horizonte do olhar do pesquisador DELINEAMENTO DA PESQUISA eesecccceesssserrererese 2 1 Conversando sobre o conhecimento cient fico 2 1 1 A hist ria e a verdade no fazer do cientista 2 1 2 O pa
194. chefia Isso se dava por meio de autoritarismos e arbitrariedades que se efetivavam mediante a intensa disciplina do regime de trabalho das transfer ncias compuls rias at o silenciamento e abafamento de manifesta es e reivindica es por melhores condi es de trabalho Al m disso tamb m se percebia na pol tica de gest o desses empreendimentos uma rela o de 262 d vida do subordinado aos seus chefes que tanto podiam ser tir nicos quanto compreensivos e bondosos Ribeiro 2002 discute em seu estudo sobre uma das maiores corpora es do ramo hidrel trico brasileiro a jornada esmagadora expressa em uma carga hor ria extenuante em um ritmo ininterrupto e com puni es desp ticas que n o somente poderiam levar suspens o do trabalhador como tamb m demiss o daqueles que ousassem reivindicar ou questionar a ordem imposta pela empresa o que gerava o silenciar e o conformar com a realidade por medo de retalia es O espa o da UHE era um territ rio fechado submetido a regulamentos pr prios e estritamente vigiado fosse de seu p blico interno trabalhadores ou da regula o do mbito externo quem estava autorizado a entrar e a sair Para manter o trabalhador d cil e disciplinado havia um fundamento idol gico que subsidiava esse dispositivo de controle de modo que o funcion rio viesse a ter orgulho de integrar essas empresas tanto pela compet ncia t cnica requerida nesses empreendimen
195. cia es ou seja permite achar novos caminhos para a pesquisa ENRIQUEZ 2004 p 133 grifo do autor Contudo no trabalho com o diverso e adverso que somos impelidos pelas quest es que emanam do objeto e impulsionam o pesquisador a trilhar caminhos at ent o descartados ou desconsiderados Nesse movimento poss vel criar e inventar sem perder de vista o rigor da investiga o Como vemos nessa produ o n o h neutralidade e nem objetividade pura que coordena o processo de conhecimento mas um cotejar ancorado na subjetividade e intencionalidade Constantes conflituosas que j comparecem na p gina em branco A ang stia vincula se ao fato que a p gina em branco remete ao sentimento de estar diante de sua pr pria aus ncia e falta quero dizer com isso que se trata de lidar com as pr prias dificuldades em conceitualizar e avan ar e assim se perguntar se o que vai ser dito ser fiel ao que pensamos ou se n o vai trair o que pensamos ou al m do que pensamos e de certa forma de irmos t o longe e n o chegarmos a formular de maneira adequada o que pensamos E mais 27 se dizemos que as palavras tem sentido em si mesmas a escolha de uma rela o outra n o inocente quer dizer que a escolha pode nos levar a modos de pensamentos ou formas de constru o novas ENRIQUEZ 2004 p 133 A for a das palavras como nos diz Enriquez 2004 o que alvoro a o pesquisador e o texto pois mediante
196. cia e amizades tecidas tornavam o lugar apraz vel onde as crian as podiam brincar nas ruas e a fam lia acompanhar o crescimento destas de modo achegado Espa o onde as rvores abrigavam sob a sombra as pessoas com suas cadeiras e prosas A porta de casa e a rua eram espa os de sociabilidades cont guos s casas e s institui es que frequentavam Lugar de aproxima o e trocas Reminisc ncias c lidas que Lia e sua amiga lembram com vigor at hoje A escola era pertinho de casa ali Eu ia levar lanche para os meninos naquela cerca da escola Tem uma mulher que eu conhe o a D Maria Ei Voc lembra quando a gente ia levar lanche para os meninos na cerca da escola Lembro D Maria risos Lia Por sua vez Davi aponta o cotidiano da vila como um espa o adjacente ao local do trabalho pois a fam lia e a vila eram seu ponto de partida e chegada do labor Os trabalhadores saiam ao nascer do dia de suas casas na vila para pegar o pegar o nibus 226 que os levava para a obra do Cipreste Um conv vio pr ximo podia ser estabelecido tanto pelo local comum de moradia mesmo sendo de setores e fun es diferentes quanto pelo destino semelhante O dia de trabalho na barragem e o lugar de repouso e conv vio familiar os juntavam pois ambos eram territ rios demarcados pelo Cipreste Esses sujeitos sociais t m a vila como um elo de aproxima o e de constru o de la os A produ o subjetiva e social desses espa
197. cient fico tamb m surgiu de encontros oriundos de leituras planejadas e n o planejadas De conversas com a orientadora professores alunos amigos grupos de pesquisa desconhecidos e com os nossos narradores De viv ncias pessoais e coletivas Desejamos registrar esses encontros lembrando que foram estes que possibilitaram a vinda do texto ao mundo pois de alguma forma eles nos 46 seduziu convenceu o que deu por um instante a satisfa o de compreender de ser compreendido Deixou se portanto esses lembretes de leituras de escuta no estado quase sempre incerto inacabado que conv m a um discurso cuja inst ncia n o outra sen o a mem ria de lugares livros encontros onde tal coisa foi lida dita ouvida BARTHES 1981 p 5 Pronto A pesquisa foi aberta Prosseguiremos nas trilhas dessa discuss o nos pr ximos cap tulos considerando tais aspectos e procurando aprofund los 47 CAP TULO 2 DELINEAMENTO DA PESQUISA Figura 2 Usina hidrel trica Jos Erm rio de Moraes conhecida como gua Vermelha Localizada no rio Grande entre S o Paulo e Minas Gerais teve sua obra iniciada em 1973 e terminada em 1979 O nome Agua Vermelha faz men o aos afluentes cujos c rregos ao desaguarem nesse rio trazem uma gua barrenta proveniente da terra vermelha e de eros es 48 2 DELINEAMENTO DA PESQUISA 2 1 Conversando sobre o conhecimento cient fico Fiquei boquiaberta e deslumbrada co
198. circunstanciam o acesso ao material oriundo desse campo que envolve a hist ria de vida entrada pelo pessoal entrada pela temporalidade e entrada pela vida A primeira a t pica literatura e os escritos ntimos do eu S o as confiss es di rios ntimos cartas livros de pensamento etc que fornecem os principais materiais informativos A segunda a entrada temporal remete retrata o marcada pelo tempo como genealogias mem rias di rios anais etc E a terceira a termos epist micos e ontol gicos o que vem redimensionar a rela o pesquisador pesquisado tendo a hermen utica como aliada na efetiva o desse intento 2 Para conhecer a hist ria de vida enquanto objeto de pesquisa sugerimos o texto de Carreteiro 2003 Hist ria de vida da genealogia a um estudo autora que empregou largamente a metodologia da hist ria de vida em suas pesquisas e interven es no campo psicossociol gico amp Arfuch 2010 acresce que a apari o do eu biogr fico est indissoci vel da consolida o do capitalismo da burguesia e da modernidade Trata se de um per odo de express o e afirma o da interioridade e da no o de si Inaugura se nesse momento sob certo consenso o surgimento das Confiss es de Rousseau no s culo XVIII enquanto g nero autobiogr fico que remete tens o vivida na poca entre a esfera privada e a social 149 entrada pela pr pria vida deu se a partir do s culo XVIII Fran
199. citadas 94 diferentes conjunturas hist rico sociais que propiciaram diversas rela es do ser humano com o tempo tanto em sua percep o quanto nos distintos dispositivos de medi o e significa o temporal Nesses termos como experienciamos o tempo no capitalismo neoliberal e quais s o os seus efeitos Para falar disso precisamos delimitar o que Birman 2001 2006 Santos 2008 e Sennett 2008 identificam a partir de diferentes campos de conhecimento o colapso do longo prazo para ascender ao curto prazo Isso faz o passado e o futuro serem canibalizados pelo presente o que oblitera o passado e apostasia o futuro Em fun o disso os custos do presente s o desmedidos Os efeitos disso foram expressos na discuss o de sintomas que assumem as formas de mal estar atuais e caracterizam as subjetividades contempor neas aspectos cuidadosamente apreciados por Birman 2001 2006 De modo similar essas no es tamb m s o verificadas no campo social por Sennett 2008 e Santos 2008 ao encontrar os processos de esvaziamento de sentido do presente o do passado mostrar se indispon vel e mesmo desconhecido e o do futuro ser algo amea ador e temido Complementar a isso Blumenberg 1990 em sua obra Naufr gio com espectador ao partir de Lucr cio para pensar o naufr gio como met fora da exist ncia e ao passar por Schopenhauer para apontar o aspecto vinculado mem ria expressa essa realidade que buscamos nomear
200. clear a fam lia de hoje Essas leituras quando entendidas como modelo est tico e linear na perspectiva da monocultura temporal impedem de reconhecer a coexist ncia complexidade e diversidade familiar presentes ao longo de toda a hist ria brasileira 127 Diante disso poder amos perguntar se de fato essas modalidades foram superadas na atualidade ou mesmo se est o em vias de desaparecer Ao chegarmos conclus o de que a fam lia constantemente reinventada mesmo dentro desses tradicionais arranjos podemos passar da pergunta quais s o os modelos de fam lia existentes para a seguinte quais s o as formas de se viver a fam lia Logo quais s o os sentidos e significados atribu dos pelos sujeitos barrageiros quilo que denominam de fam lia A partir desse olhar podemos avistar a singularidade que nela reside uma vez que para sobreviver preciso rearranjar a norma reinventar o modelo preconizado pelo ide rio dominante pois estes s o insuficientes e distantes da realidade vivida Insuficientes porque n o bastam n o servem como recurso e possibilidade diante das reais condi es existenciais em sua diversidade e adversidade Insuficientes porque os sujeitos sociais em suas diferen as e experi ncias produzem um conjunto de conhecimentos perspectivas desejos e anseios que por meio da ast cia e da inventividade podem encontrar outros subterf gios e sa das diante de suas necessidades e dos imperativos da rea
201. co e o evento hist rico localizado no pret rito Para os referidos autores o que h uma articula o do passado em um presente e n o uma reprodu o de conhecimento do modo como ele realmente se sucedeu Evocar o passado apropriar se de uma lembran a uma reminisc ncia uma imagem que relampeja irreversivelmente no momento em que reconhecido BENJAMIN 1994 p 224 Para n s isso importante caracterizar tanto no mbito epist mico quanto do estatuto de verdade do material emp rico colhido da fala dos participantes nas entrevistas narrativas Gadamer 2012 Ricoeur 2008 2010 e Bleicher 1992 no campo hermen utico levantam quest es similares ao questionarem de modo an logo os elementos que comp em a produ o da verdade em correla o ao int rprete e ao interpretado Na cr tica ao paradigma positivista Gagnebin 2006 ao retomar Benjamin 1994 deixa claro que na inten o de se promover um discurso universal tido como verdadeiro e que pretende ser linear homog neo e veraz sob a roupagem dos jarg es cient ficos funda se uma vers o hegem nica de hist ria narra o e verdade que possui interesses espec ficos delimitados e nada neutros Nessa pretens o desaparecem Birman 2006 debate esse aspecto de modo mais pormenorizado no cap tulo Subjetividades contempor neas Al m de nomear as formas de mal estar predominantes que se evidenciam em um excesso que acometem na atualidad
202. com o retorno do barrageiro para casa Independente da sua volta efetivada ou iminente percebemos nessas fam lias um processo de reaproxima o de uma rela o face a face que busca lidar com o estranhamento provocado pela dist ncia em seus modos de ser trabalhar viver Seus membros vivenciam uma atividade de elabora o muitas vezes marcada por crises relacionais Contudo estas podem ser entendidas como uma oportunidade de se redescobrir e reinventar em seus v nculos afetivos em seus pap is e fun es quem sabe modos mais compartilhados e igualados em suas demandas singulares a serem expostas e negociadas Em nosso trip te rico conceitual apreciamos a categoria dos barrageiros e suas fam lias imersa em uma trajet ria s cio profissional com in meras situa es de enlaces e desenlaces Percebemos que a fragiliza o dos v nculos dentro e fora do labor deu se prioritariamente pelas transforma es no contexto de trabalho neoliberal como apontamos ao longo da pesquisa Assim sendo a monocultura temporal expressa pelo tempo do mercador imprimiu uma heterorritmia cadenciando vidas ao tom das cifras calculistas do lucro 280 Disso decorre a necessidade de debatermos a privatiza o para al m de sua natureza jur dico econ mica a fim de ponderarmos sobre os impactos humanos em termos psicossociais pol ticos e ideol gicos em andamento Examinarmos de modo mais abrangente e aprofundado a transforma o ensejada nas
203. como recurso uma rede de rela es pessoais e afetivas diversificadas que podem ser acionadas ou n o para lidar com quest es de sobreviv ncia e de projeto de vida em sua abrang ncia individual e social Especialmente para explicitar os arranjos promovidos no grupo familiar dos barrageiros trabalhadores migrantes que ao vivenciar distintas realidades de trabalho em territ rios diversos acabam por ter dinamizadas suas rela es mediante um deslocamento de pap is fun es e g neros Nessa perspectiva a fam lia se define fundamentalmente como um conjunto de sociabilidades e singularidades que se organiza desorganiza e reorganiza expressando distintos arranjos relacionais Pode ser acionada ou n o pode ser solid ria ou rival expressar conflitos ou solu es conforme as situa es vividas inclusive as de trabalho Quanto a isso ser o os nossos narradores no cap tulo 5 que conferir o vida ao nos apresentarem seus modos de ser trabalhar viver envoltos nos des arranjos familiares 107 Entretanto antes de chegarmos l precisamos falar um pouco mais sobre fam lia Vejamos os t picos seguintes 3 2 1 Fam lia Estado e pol ticas p blicas Neste t pico objetivamos discutir aspectos conjunturais da fam lia no Brasil Para tanto recorremos a debates que reportam ao Estado e s pol ticas p blicas conferindo destaque a alguns elementos a fim de situar a urdidura dessa institui o e especificar nosso obj
204. condi es de sua produ o Sua for a motriz o inconformismo do sujeito na insufici ncia do seu saber de sua pr tica e do limite de seus conhecimentos o que confere abertura para a aprendizagem e descobrimento do outro 59 Santos 2004 2008 cuidadosamente adverte que o trabalho de tradu o fundado na conjuga o de saberes e pr ticas atrav s das zonas de contato n o deve cair na canibaliza o de um pelo outro para n o invalidar tal intento Para isso as zonas de contato devem propiciar auto reflex o avan ar para al m dos territ rios familiares e demandar incessante capacidade de argumenta o Aqui est o os rduos passos a trilhar rumo ao encontro de lugares comuns Caminho aberto somente para quem se atreveu a percorrer na busca de palavras conceitos lutas objetivos reivindica es aspira es opress es descrimina es etc elementos que em suas diferen as possam unir e gerar um compartilhar O trabalho de tradu o nos impulsiona para conferir coer ncias e gerar coliga es entre a diversidade de lutas contra a globaliza o neoliberal um trabalho de imagina o epistemol gica e democr tica que tenciona construir novas e plurais concep es de emancipa o social Uma possibilidade de um mundo melhor imaginado a partir do presente por isso seu car ter de uma utopia ativa que pulsa no ordin rio e reluz uma narrativa permeada pelo tr plice presente Sua tica comp e se de um
205. conjugamos em uma perspectiva dial gica Esse foi o caminho de pesquisa que permitiu estabelecer pontes entre o contexto sociossubjetivo e a pluralidade familiar a fim de superar dicotomias o externo e interno p blico e privado objetivo e subjetivo material e imaterial Uma an lise dial tica e persistente que n o negou suas contradi es e polissemias mas se atreveu a trabalhar com elas Finalmente diante do mal estar dos riscos e incertezas que acometem a sociedade suas institui es e processos identificat rios como hav amos mencionado no in cio deste texto deparamo nos com o ressurgimento da fam lia como inst ncia capaz de constituir outra ordem simb lica social e de legitima o para o sujeito seja para a tirania do capital neoliberal seja contra as crises das inst ncias referenciais Estado partido Igreja na o trabalho etc Esse insurgimento de acordo com Roudinesco 2003 poss vel se a fam lia promover uma condi o um lugar social e de subjetiva o capazes de conjugar o eu e o n s a diversidade e a alteridade para o sujeito constituir se ser uma superf cie enraizadora Contudo ser preciso que o passado presente e o presente futuro n o deixem de ser reinventados Fagulhas de possibilidades acerca disso Beck Gernshein 2011 nos apontam como o pr prio t tulo de sua obra sugere em La reinvencion de la familia 130 CAP TULO 4 FUS O DE HORIZONTES caminhos te rico metod
206. cursos que garantiam a moradia conferiam estabilidade no emprego dispunham assist ncias e benef cios que ultrapassavam a esfera salarial como a viv ncia nas vilas capazes de contrapor a desagrega o ao conferir uma rede promotora de sociabilidades e aproxima es Com a iniciativa privada esse cen rio de vida modificou se drasticamente O longo prazo cedeu lugar ao curto prazo O processo de gest o e configura o do trabalho produziu v nculos fr geis e prec rios dispensando tudo o que n o correspondesse com a l gica financeira preconizada pelo mercado e sua sede insaci vel de lucro A partir disso vimos uma diversifica o de vida acentuar se nos modos de ser trabalhar viver dos barrageiros e seus familiares Para sobreviver a esse cen rio os arranjos familiares buscavam responder s oportunidades de trabalho do pai provedor quem se deslocava para atender fam lia que de modo geral permanecia fixada em uma localidade que de alguma maneira lhe oferecesse seguran a Contudo ao observarmos os arranjos das tr s fam lias participantes deste estudo percebemos que esses adquiriram outra disposi o conforme uma viv ncia migrat ria laboral fosse ocasionada 256 A fam lia Top zio acompanhava Jonas em seus novos locais de trabalho quando este tinha dispon vel um n cleo residencial promovido pela empresa empregadora mesmo que indiretamente via empreiteira quem prestava servi o estatal ou propriet ria da
207. cuta Belo Horizonte Fumec 2001 ARFUCH L O espa o biogr fico dilemas da subjetividade contempor nea Rio de Janeiro EdUERJ 2010 ASSIS M Mem rias P stumas de Br s Cubas Obra Completa Machado de Assis Rio de Janeiro Editora Nova Aguilar 1994 AYRES J R C M Hermen utica conhecimento e pr ticas de sa de a prop sito da avalia o In CAMPOS R O et al Pesquisa avaliativa em sa de mental desenho participativo e efeitos da narratividade S o Paulo Aderaldo amp Rothschild 2008 Hermen utica e humaniza o das pr ticas de sa de Ci ncia amp Sa de Coletiva v 10 n 3 p 549 560 2005 Uma concep o hermen utica de sa de Physis Rev Sa de Coletiva v 17 n 1 p 43 62 2007 BAREMBLITT G F Comp ndio de an lise institucional e outras correntes teoria e pr tica Rio de Janeiro 2 ed Rosa dos Tempos 1994 BARROS V A SILVA L R A pesquisa em hist ria de vida In Psicologia organizacional e do trabalho teoria pesquisa e temas correlatos 3 ed S o Paulo Casa do Psic logo 2010 BARROS V A et al Conte me sua hist ria reflex es sobre o m todo de hist ria de vida Mosaico v 1 n 1 p 25 35 2007 BARTHES R Como viver junto Simula es romanescas de alguns espa os cotidianos cursos e semin rios no Coll ge de France 1976 1977 S o Paulo Martins Fontes 2003 Fragmentos de um discurso amoroso 2 ed Rio de Janeiro F Alves 1981
208. d los ao participante da pesquisa e reconhecer no pesquisador um lugar que n o apenas o de escritor e autor mas tamb m de seu pr prio leitor o que nos leva a realizar um di logo com o mundo do texto Isso significa que na produ o de conhecimento s o conjugados saber e n o saber Perante isso n o podemos deixar de lembrar que do campo Ayres 2008 afirma que o car ter dial gico da linguagem possui consequ ncias hermen uticas pois traz consigo o compreender e o interpretar em uma totalidade din mica A hermen utica reconhece de modo aut ntico o outro como interlocutor Nesse vi s tanto sua pergunta digna de resposta quanto poss vel nessa rela o acrescer algo ou por ele ser acrescentado Isso nos faz inferir acerca do car ter dial gico que se faz entre pesquisador e pesquisado mediante a narrativa Nela uma pergunta disparadora endere ada ao narrador e uma enormidade de di logo aberta por envolver n o somente o pesquisador mas trazer a rela o com o mundo e o vivido Admitimos esse efeito hermen utico em termos de desenvolvimento da pesquisa por ser esse di logo condi o de avan o do conhecimento uma vez que se considera a necessidade do outro seja ele sujeito seja ele saber 172 psicossociol gico Enriquez 2001 afirma que o desconhecimento elemento estrutural tanto da vida social quanto do pensamento O n o saber condi o fundante do ser humano inclusive para ascender ao conh
209. da o independente do rabe que faz refer ncia a uma vers o persa remota Isso remete a um per odo anterior ao s culo XIII que mencionava apenas partes do Livro das mil e uma noites e n o a da obra como um todo o que n o corresponderia com a que conhecemos hoje Em suma s o inumer veis e inesgot veis as teoriza es sobre esse livro o que remete n o apenas a uma dimens o interpretativa atual como ao pr prio material que a comp e a diversidade da narrativa e a narrativa da diversidade Essa diversidade proveniente tamb m da transforma o das narrativas ao longo das m ltiplas tradu es que sofreu Segundo Todorov 2006 p 130 131 os tradutores sofreram o poder da m quina de contar da m quina narrativa Jarouche 2006 p 35 diria m quina de dizer e n o se contentaram com uma tradu o direta e fiel mas transformaram seu conte do Ao tirar e acrescentar acabaram por criar narrativas das narrativas Partindo dessa no o de narrativa plural e din mica caracter stica dessa obra primorosa que ao atravessar a Hist ria sofreu in meras transforma es conforme o povo a cultura e os momentos hist rico sociais podemos inferir de maneira an loga que as narrativas de vida tamb m expressam de modo proeminente as transforma es humanas no tempo espa o e rela es Expressam a hist ria humana em sua singularidade e coletividade A hist ria do social narrada comporta autoria nica e
210. da da identidade In NABUCO M R CARVALHO NETO A M Orgs Rela es de trabalho contempor neas Belo Horizonte Instituto de Rela es do Trabalho IRT PUC Minas 1999b Institui es poder e desconhecimento In ARA JO J N G CARRETEIRO T C Orgs Cen rios sociais e abordagem cl nica S o Paulo Escuta Belo Horizonte Fumec 2001 A constru o amorosa Psicologia em Revista v 9 n 13 p 13 25 2003 O ato de escrever In CARRETEIRO T C ARA JO J N Entrevista com o professor Eug ne Enriquez o ato de escrever Revista do Dep Psicol UFF v 16 n 1 p 133 144 2004 SIMMEL Georg In BARUS MICHEL J et al Dicion rio de Psicossociologia Lisboa CLIMEPSI 2005 O homem do s culo XXI sujeito aut nomo ou indiv duo descart vel RAE eletr nica v 5 n 1 Art 10 2006 FAUSTO NETO Fam lia oper ria e reprodu o da for a de trabalho Petr polis Vozes 1982 FAYE J P A raz o narrativa a filosofia heideggeriana e o nacional socialismo S o Paulo Ed 34 1996 FONSECA C Concep es de fam lia e pr ticas de interven o uma contribui o antropol gica Sa de e Sociedade v 14 n 2 p 50 59 2005 FOUCAULT M Est tica literatura e pintura m sica e cinema Cole o Ditos e Escritos vol II 2 ed Rio de Janeiro Forense Universit ria 2009 Microf sica do poder 22 ed Rio de Janeiro Edi es Graal 1979 FRANCO T DRUCK G S
211. dade de campos de trabalho abertos e finalizados para os barrageiros ao longo desse periodo no territ rio brasileiro onde nossos narradores vivenciaram sua trajet ria socioprofissional Compondo de modo diversificado as cinco macrorregi es do nosso pa s os empreendimentos hidrel tricos fizeram com que parte significativa dos trabalhadores envolvidos na constru o e manuten o os barrageiros experienciassem a migra o Para tornar esses projetos realiz veis foi necess rio que esses trabalhadores se deslocassem at as reas das obras especialmente para a execu o do processo de constru o civil pesada determinante nesses projetos pois ao aproveitar o fluxo das guas do rio necess rio construir o desvio deste e formar reservat rios as famosas barragens Com diferentes frentes de trabalhos e fun es esses empreendimentos tiveram de lidar com um grande contingente de m o de obra dividido em empreiteiras propriet rios e firmas diversas o que remete a diferentes contratos de trabalho e viv ncia migrat ria Em vista disso circunstanciaremos brevemente o labor do barrageiro como o trabalho migrante Em pesquisas anteriores DUARTE 2009 DUARTE LUZIO 2010 pudemos evidenciar que a migra o bem como o migrante refere se a um processo multifacetado e imerso em contradi es Mediante a dial tica territorializa o e desterritorializa o bem como a do enraizamento e desenraizamento debatemos a necessidad
212. dar de nossos horizontes com o outro ENRIQUEZ 2001 2 2 Objetivos norteadores Geral compreender por meio das narrativas os des encontros trabalho fam lia a partir do contexto laboral dos trabalhadores migrantes do setor de produ o de energia hidrel trica e de seus familiares Espec ficos conhecer as estrat gias de conviv ncia constru das pelas fam lias de barrageiros 61 o identificar seus recursos materiais e imateriais e os meios de que disp em para vivenciar essa conjuntura o entender como a migra o laboral constr i os modos de ser trabalhar viver e seus arranjos familiares 2 3 Desenho esquem tico da pesquisa Nossa pesquisa est fundada em um trip te rico metodol gico constitu do pela psicossociologia a narrativa e a hermen utica Sobre seus aportes e campo conceitual discorreremos de modo pormenorizado no cap tulo 4 Fus o de horizontes caminhos te rico metodol gicos Como o objetivo do cap tulo 2 apresentar o delineamento da pesquisa e a concep o de ci ncia que sustenta esse estudo optamos por expor ao leitor de modo introdut rio como obtivemos as narrativas constitutivas do material emp rico quem poderiam ser os narradores participantes como elaboramos o trabalho interpretativo e o atendimento s resolu es do Comit de tica em Pesquisa com Seres Humanos Nesse intento esperamos conferir uma vis o geral mediante a apresenta
213. das em um passado n o muito distante E o segundo momento na narrativa transcrita aqui em que Raquel coincidentemente remete um interesse especial pelo sabor da amora Tinha rea de muitas rvores frut feras P de ameixa de amora de lim o de laranja pela vila Quando as rvores davam frutas as crian as ficavam por ali Eu mesmo era uma apaixonada pelos p s de amora Vivia roxa pelos p s de amora Raquel Essas narrativas ilustram esse tempo passado que assume uma met fora do tempo perdido no qual n o se pode retornar pelos meios reais mas pelas vias abertas do que se faz memor vel instante em que o tempo torna se humano por assumir a forma narrativa A dimens o temporal em que podemos nos ver e nos sentir expondo a es e afetos torna se exprim vel por meio da linguagem capaz de revelar a experi ncia do mundo e do compreender que um modo do ser um tempo cheio e heterog neo repleto de agoras que constituem a exist ncia Um trabalho de historicidade Vemos nas narrativas dos Top zio a recupera o do vivido pela via narrativa em que conflitam o tempo do capital e o da singularidade humana Tempo recuperado que p e novamente em curso o cen rio social e material dos sujeitos em que os processos de subjetiva o se instauraram confrontando e sendo sorvidos Passemos para mais um trecho da narrativa de Raquel capaz de explicitar tal aspecto E o sabor que eu tinha mais saudade era a faro
214. das por terceiros O local onde aconteceu a entrevista narrativa foi combinado entre pesquisadora e participante podendo ser a resid ncia do entrevistado ou outro local em que este se sentisse dispon vel para falar de modo confidencial e seguro Foi considerado participante dessa pesquisa o indiv duo que aceitou nos termos preconizados pelo Conselho Nacional de Sa de CNS na Resolu o 466 12 de tica em Pesquisa com Seres Humanos conceder entrevista narrativa se tivesse vivenciado em sua hist ria de vida os seguintes aspectos 28 Comunicamos que esta pesquisa foi submetida ao Comit de tica em Pesquisa e recebeu aceite tendo protocolo aprovado conforme delibera o no dia 22 de maio de 2013 CAAE 15139813 2 0000 5401 e n mero do parecer 294462 via Plataforma Brasil e Faculdade de Ci ncias e Letras Unesp Campus de Assis Essas informa es podem ser consultadas no s tio eletr nico da Plataforma Brasil http aplicacao saude gov br plataformabrasil login jsf 64 ser membro da fam lia de barrageiro podendo ser o pr prio trabalhador o c njuge e o a s filho a s o por se referir migra o laboral considera se que o trabalhador de hidrel trica tenha de ter mudado de cidade no m nimo duas vezes podendo os membros familiares acompanh lo nessas mudan as ou permanecer em um local distinto do trabalhador importante destacar que buscamos conhecer como os arranjos familiares se cons
215. de de realizar as entrevistas narrativas em si especialmente as que envolvessem todos os membros da fam lia do barrageiro Os participantes ao receberem o convite da pesquisadora aceitaram integrar em princ pio o estudo contudo ao efetivarmos um encontro para a realiza o da entrevista narrativa houve alguns empecilhos dos quais pudemos identificar os seguintes 1 dificuldade de reunir toda a fam lia pois tanto o trabalhador como alguns membros familiares residiam em cidades diferentes e retornavam aos seus lares de modo espor dico esporadicamente 2 receio quanto ao conte do a ser tratado pela pesquisadora e o que se poderia dizer a respeito de sua pr pria hist ria de vida tanto pesquisadora quanto ao pr prio grupo familiar 3 apreens o ao expor aspectos pessoais e familiares que fariam vir tona conflitos e conte dos que constituem suas hist rias e muitas vezes buscava se evitar 4 recusa posterior de participa o 5 o desejo de n o avan ar na narrativa 6 dispensa por escolha dos pr prios participantes da valida o da narrativa contida na proposta inicial da metodologia e tamb m por iniciativa dos narradores realizar apenas a entrevista narrativa coletiva excluindo a possibilidade da individual Para lidar com essas especificidades constituidoras do processo de pesquisa mais do que manejo te rico t cnico foram necess rios tato e sensibilidade conceitos que nos fizeram reportar ao campo hermen utic
216. de em um anacronismo hist rico ou de uma leitura empobrecida dela 52 Finalmente para atestar a seriedade disso mediante um exemplo corrente entre tantos outros em curso mencionamos Gagnebin 1994 quem exp e sobre a escrita da hist ria um debate recente que explicitou uma interroga o e uma perda de confian a endere ada ci ncia e raz o A partir da Segunda Guerra Mundial a experi ncia mort fera b lica e dos campos de exterm nio e concentra o a shoah e todo terror que marcaram exist ncias nesse per odo tr gico da hist ria humana teve sua exist ncia posta em d vida por meio de correntes te ricas negacionistas Essa seria apenas uma das quest es abertas a serem ponderadas na contemporaneidade e no narrar da hist ria no mbito da ci ncia que compromete n o apenas historiadores mas qualquer pesquisador que ao produzir conhecimento remeta se categoria temporal 2 1 2 O paradigma emergente contrapondo o dominante Segundo Santos 2006 p 9 todo o conhecimento cient fico socialmente constru do Nessa assertiva est a ideia da rigorosidade da rela o entre sujeito e objeto entre natureza e cultura que se depara com seus limites balizados pelas conjunturas s cio hist rica e subjetiva e at mesmo a almejada objetividade apregoada pela epistemologia positivista n o capaz de garantir e nem prover a id lica neutralidade no fazer cient fico Em vista disso reservamos um breve e
217. de um ve culo veloz de maneira a achatar o que vemos do lado de fora nesse feito acabamos por ter uma vis o menos profunda e consistente da realidade N o s o apenas pr dios pontes e sem foros que borram mas tamb m as pessoas e o mundo ao derredor que passam a ser percebidos de modo fugaz e superficial Impercept veis e destoantes porque se tornaram blas Como resgatar o olhar do estrangeiro em meio a essa fugacidade instaurada no bojo da modernidade ou como Simmel 1998 p 8 afirmava no fluxo fugaz das apar ncias Como construir bases te rico metodol gicas que ampliem a capacidade de ver em meio quilo que possa aparentar n o ter nada a dizer e nem a mostrar Como se amparar nos processos capazes de produzir conhecimento de modo que as coisas o objeto a deslindar possa ser re descoberto Como os participantes da pesquisa poderiam protagonizar em com suas hist rias sendo elas reconhecidas em sua originalidade detalhes vers es e verdades que expressem o modo como veem sentem vivem e experenciam o mundo Observamos que essas quest es n o se restringiam apenas preocupa o psicossociol gica indicada por L vy 2001a 2001b outros pensadores tamb m se detinham a isso desde o s culo retrasado como vemos com Simmel 1998 Em face disso o olhar do estrangeiro mais a escuta do estrangeiro que seria o pesquisador pr ximo e distante que recebe as narrativas de vida a ele confiadas sendo este produto d
218. desconexos e heterog neos Isso nos abre portas para percorrer leituras e an lises no movimento de ir e vir contudo sempre retornando ao conte do narrado em busca do que pode ser respondido interpretado naquilo que afirmado no cen rio de vida apresentado Conhecer a realidade n o a partir de uma sequ ncia natural das a es mas da l gica do que exposto Fundamentos hermen uticos para operar esse intento fizeram se grandes aliados Sobre isso discutiremos a seguir 4 3 No horizonte da hermen utica a interpreta o do caminho e o caminho da interpreta o Neste t pico situaremos alguns pressupostos hermen uticos que foram norteadores para melhor pensar nosso objeto de estudo na proposta te rica e metodol gica pautada na psicossociologia e na narrativa O objeto nos conclamou a perseguir esse caminho pois atrav s da incurs o no campo hermen utico pudemos encontrar recursos que nos possibilitaram avan ar em nossa investiga o e nos deparar com quest es fundamentais que at ent o outro constructo te rico n o nos havia subsidiado Isto a tenacidade interpretativa que nos impulsiona a conhecer algo p de ser acolhida e potencializada com os fundamentos da hermen utica Por que o objeto passou a nos dizer o caminho de pesquisa Como j mencionamos al m das narrativas referendamo nos em outro discurso sobre a ci ncia SANTOS 1988 1989 2008 avistamos a transdisciplinaridade MORIN 2000 e nas via
219. deste e Sul O trabalho em barragens ao mesmo tempo em que os aproximou distanciou os Ser barrageiro lhes trouxe condi es de fundar uma fam lia constituir um casamento e ter tr s filhas Por m tamb m propiciou afastamento e vidas momentaneamente separadas em cidades distintas o que trouxe marcas indel veis na conviv ncia atual cujas express es afetivo relacionais ainda exalam perdas rancores e fragilidades A de re Jcomposi o nos arranjos familiares ao longo de sua hist ria e trajet ria permitiu a assun o de outros pap is para al m da centralidade da figura paterna A fun o do pai provedor fulgurado de autoridade e centro das decis es desse grupo tem partilha proeminente com a segunda filha Raquel quem assume as responsabilidades de administrar a renda construir a casa e deliberar os destinos do grupo perante as situa es experienciadas em meio s mudan as de cidade de trabalho e do pr prio seio familiar Nas narrativas da fam lia Top zio percebemos como se operaram os v nculos sociops quicos os des encontros gerados entre trabalho e fam lia e como estes puderam se organizar material e imaterialmente para lidar com esses cen rios Tratam se dos denominados n s interprocessuais constitu dos no estreito encontro entre as viv ncias pessoal familiar e social PAGES 1986 apud CARRETEIRO 2003 Conceito da psicossociologia que de modo semelhante Gaulejac 2006 denomina n sociops quico
220. dia eu tive que assumir o lugar do meu pai na minha casa Depois que meu pai saiu eu ajudava a minha m e nessa coisa da administra o inclusive eu vivia muito essa coisa do medo de repente ter que sair da casa de uma hora para a outra Porque depois que o meu pai saiu de Bambu ainda n s ficamos uns dois anos morando na casa at o Bambu conseguir mover uma a o e a o chegar at n s Virar uma a o de despejo em si E eu tinha muito medo disso acontecer E isso um dia chegou Essa a o chegou um dia Eu lembro que n s recebemos a not cia e a minha m e ficou desesperada O que n s vamos fazer Onde n s vamos morar Por causa disso A gente n o tinha um plano B O Bambu deu um prazo para n s Se eu n o me engano foi um prazo de 30 dias alguma coisa assim Raquel Raquel n o indaga apenas aquilo que lhe era depositado por sua fam lia e o que ela assumiu nesse grupo Perscruta as rela es familiares instauradas em um contexto hist rico e social antes mesmo de seu pai partir para lugares long nquos Um longo prazo que n o foi avistado no horizonte de suas vidas passava a exigir respostas r pidas em um presente Nesse contexto Raquel n o deixou de ser filha mas ressignificou sua filia o nesses rearranjos A narrativa de Raquel em que apresenta os Top zio sofrendo transforma es em seus modos de ser trabalhar viver expressos nas intensas reconfigura es familiares explicita uma situa o emblem
221. diversidade do campo hist rico social e cultural Tal proposi o um desafio pois visa romper com a tradicional concep o dentro e fora do campo cient fico focada nas diverg ncias fac es e diferen as que engendram a parcelariza o dos saberes e seu isolamento Ao dar lugar s correspond ncias quilo que une e comum aos saberes e suas pr ticas usufru mos de uma seminal rela o fundada na solidariedade e no compartilhar A pot ncia do trabalho de tradu o que podemos operar de determinado lugar no nosso caso como pesquisadores de uma institui o universit ria consiste em ultrapassar a l gica do modo de produ o capitalista que visa redu o dos saberes e das pr ticas l gica mercantil para uma rela o transdisciplinar e de trocas que permita reaver outras concep es de vida e modos de exist ncia na atualidade Essa ultrapassagem d se pela zona de contato como chave para abrir um espa o prof cuo para o di logo a compreens o e o conhecimento m tuos gerando o cruzamento das motiva es convergentes a partir das diferen as O desafiador trabalho de tradu o tem por objetivo criar inteligibilidade coer ncia e articula o em um mundo enriquecido pela diversidade e multiplicidade Aspecto esse que reitera nossa proposi o de hist ria verdade e ci ncia apreciada at aqui uma vez que o exerc cio de tradu o ultrapassa o mbito t cnico por assumir um vi s pol tico e tico como
222. diz respeito s distintas especificidades que comp em tanto as etapas constituintes da edifica o de uma UHE como a opera o desta Isso gera viv ncias distintas que comportam singularidades e generalidades conforme o trabalhador integra essa conjuntura logo diferentes formas de contrato de trabalho e de exerc cio profissional salarial de g nero de viv ncia da migra o de moradia de perman ncia entre outras 5 2 3 FAM LIA SAFIRA Notas iniciais A fam lia Safira composta por Thiago e Ana mais seus tr s filhos Alfredo Alberto e J nior O casal e o filho mais novo residem no estado paranaense em cidades distintas Um filho reside no Par e o outro em Santa Catarina Thiago o barrageiro trabalhou e aposentou se na mesma empresa o Cipreste Desde a juventude esteve vinculado a esse setor por m antes de trabalhar em hidrel tricas foi piloteiro de barco e ap s a aposentadoria abriu uma empresa de refrigera o e instala o de ar condicionado Ana aposentada de uma empresa de correios O casal se conheceu em uma das cidades pr ximas UHE para a qual Thiago dirigiu se a trabalho e onde momentaneamente residiu Ao casarem se optaram por manter as cidades de moradia separadas pois Ana continuou no exerc cio de sua profiss o enquanto Thiago em outra cidade no de barrageiro Durante 14 anos mantiveram resid ncias diferentes para que Ana 83 No sentido formal HOUAISS 2001 pi
223. do encontro entre pesquisador e pesquisado sujeitos por excel ncia em nosso campo de pesquisa Isso permitiu que realiz ssemos com tr s fam lias diferentes o total de nove entrevistas narrativas seis entrevistas narrativas individuais e tr s coletivas cuja an lise foi realizada luz da proposi o explicitada no cap tulo 4 Obtivemos um material significativo que gerou 133 p ginas de transcri o do conte do narrado Isso resultou em 7 h 19 min e 21 seg de grava o Um material que comportou expressividade do campo de estudo e explicitou mais do que generalidades a diversidade heterogeneidade e singularidade que caracterizam o contexto dos des encontros trabalho fam lia Sobre isso falaremos nas se es conseguintes 5 1 Os narradores Apresentamos abaixo o quadro das tr s fam lias que integraram o estudo e informa es gerais para que o leitor possa conhec las situando a composi o familiar as cidades de trabalho do barrageiro bem como quem participou e quais etapas integrou das entrevistas narrativas Quadro 5 Apresenta o dos narradores FAM LIA TOP ZIO Membros familiares Jonas barrageiro aposentado casado com Sara pais de 3 filhas Flor Raquel e D bora Narradores Jonas barrageiro Sara esposa Raquel filha D bora filha Entrevista narrativa Jonas barrageiro individual Sara esposa Raquel filha D bora filha Entrevista nar
224. do ela separada foi o que permitiu que um dia ela estivesse reunida ao se aposentar Entrementes foi preciso esperar 14 anos uma aposentadoria para que essa rela o pudesse se dar face a face durante uma semana inteira e n o mais em finais de semanas ou quinzenas Momento esse propiciador de uma viv ncia mais abrangente e aprofundada dos sentidos da fam lia A s ntese de Thiago para a isso a seguinte A gente tem que trabalhar e a fam lia vai esperando a gente at chegar a uma conclus o N s estamos juntos hoje Estamos aposentados os dois hoje n s estamos vivendo a fam lia Ajudando todo mundo e tocando o barco Vejamos a partir daqui o que Ana considera acerca desses encontros e desencontros trabalho fam lia Quando se casaram seu c njuge residia e trabalhava em outro estado Afirma que se manter no trabalho foi uma decis o sua uma vez que o marido desejava que ela deixasse a profiss o para ficar junto dele na cidade em que trabalhava e residia durante 250 a semana Ela assinala que seria uma dona de casa sem o seu exerc cio profissional e ao optar por n o sair do seu emprego inviabilizou a mudan a de cidade e a moradia conjunta uma decis o em que a dist ncia foi produzida tanto pela defini o de Thiago quanto pela de Ana A principal raz o para essa escolha foi o car ter temporal em longo prazo que ela demarca desde o in cio da sua fala Um posicionamento que visou n o apenas a sua independ
225. do ser humano ao nascer e por ser esse o primeiro grupo a pertencer o qual se convencionou denominar de fam lia Contudo enquanto institui o da forma como a conhecemos na contemporaneidade recente tanto por sua atual composi o quanto por suas fun es o que entendemos por fam lia pai m e filhos esposa marido irm os uma institui o social recent ssima data do s culo XV e pr pria da Europa ocidental n o existindo na Antiguidade nem nas sociedades africanas asi ticas e americanas pr colombianas Mostram tamb m que n o um fato natural mas uma cria o sociocultural exigida por condi es hist ricas determinadas Na Antiguidade fam lia n o era o que hoje para n s pai m e e filhos mas era uma unidade econ mica constitu da pelos antepassados e descendentes pai m e filhos genros noras tios e sobrinhos escravos animais terras edifica es planta es bens m veis e im veis pessoas e coisas eram propriedades do patriarca despotes ou pater familias CHAUI 2000 p 315 566 Verificamos a historicidade em torno dessa institui o principalmente ao atravessar intensas modifica es a partir da modernidade Todavia preciso avan ar para conhecer o sujeito social e seus processos de subjetiva o em rela o a esse grupo Reclamamos concep es que n o venham prescindir as in meras composi es e possibilidades que a fam lia admite mas que
226. do seu marido mudou se para o Mato Grosso paisagem longe e desconhecida relutava em ir mas foi adiante A primeira vista do territ rio narrado apresentada como um lugar feio sujo hostil e muito quente Contudo a cad ncia da narra o se desenvolve e esse lugar e seu derredor passam a ser desvendados uma cidade pr xima onde seu marido estava residindo Outro panorama passa a ser contemplado Dessa localidade avessa descobrem se um com rcio bom um lugarejo organizado e limpo As pessoas nativas passaram a ser percebidas como amistosas fazendo com que Lia tecesse uma profunda amizade a ponto de sua amiga t la como filha Ela passou a integrar o circuito de outra fam lia na qual se sentia inclu da e alvo de afeto Uma poca que a faz rememorar imersa em lembran as acalentadoras Embora ela soubesse que n o ficaria nessa cidade por passar apenas um curto per odo de tempo com seu c njuge o car ter provis rio da sua perman ncia n o a impediu de construir v nculos com o lugar e sua gente Essa localidade se referia especialmente ao marido pois era o lugar de trabalho deste N o era o locus eleito para ser a resid ncia da fam lia que continuava em uma cidade paulista o espa o de territorializa o por excel ncia Ao finalizar esse tema da entrevista narrativa os Citrino hesitam e fazem uma ressalva ao insistirem nas partes boas e ruins constituidoras da vida Acreditam que os dissabores puderam ser compensados pelo
227. dosc pio familiar 15 16 16 24 28 36 41 47 48 48 52 55 60 61 65 69 72 75 87 95 101 105 107 111 114 118 126 13 Cap tulo 4 FUS O DE HORIZONTES caminhos te rico metodol gicos ccas cerco cenrrcorreroranrceopren aca n raca nona is nn a eira pa 130 4 1 No horizonte da psicossociologia cccceeeceeserereresereraea 131 4 2 No horizonte da narrativa pesso basais nniste isenta iai dade ga 145 4 2 1 A diversidade das narrativas e ssssesessossesessossesessesse 146 4 2 2 A narrativa das diversidades c cecsceerecereserermesaoe 152 4 2 3 O potencial interventivo do narrar versus a pen ria da Experientia eqeapidai e ionr irao pets uid anais 156 4 2 4 A temporalidade na narrativa da coleta ao conte do analitico sssssisssssssssssssessssssssnssssicesssossssassssscss 163 4 3 No horizonte da hermen utica a interpreta o do caminho e o caminho da interpreta o e ssessessessessooeseesoso 167 4 3 1 Organiza o dos dados aproxima o e apropria o do material emp rico cesseeseessesssess 172 4 3 2 O processo de valida o do material emp rico um di logo vis vis com o narrador cceeeeessereseesaee 175 4 3 3 As dimens es interpretativas da hermen utica no texto para o que atentar se ssesssesssooessosssosssoesssoessossso 177 4 3 4 An lise o caminho da interpreta o e eessessessossoosse 179 Cap tulo 5 NARRA TI
228. du o de conhecimento que n o compactuam com tais ide rios Esse efeito faz se principalmente sobre as ci ncias humanas e sociais embora essas tamb m possam ter assumido um car ter t o restritivo e positivista quanto o das ci ncias naturais Almejamos demarcar essa quest o hist rica Justamente para demonstrar que a produ o cient fica din mica insere se em uma perspectiva temporal e em um ins lito jogo de for as e interesses conformados a diferentes institui es Ademais importante n o perder de vista que resist ncias e cria es marginais tamb m surgem perante os feudos cient ficos como pondera Pineau 2006 A diretriz positivista possui fronteiras praticamente intransit veis com disciplinas bem circunscritas Nela o senso comum abjurado e desqualificado em seu saber pr prio pois impera a ideia de verdade aquilo pertencente a seu corpus cient fico A l gica investigativa regida pela matem tica Para conhecer preciso quantificar controlar de modo rigoroso medir categorizar dividir classificar e estabelecer leis Se o rigor auferido nesses moldes o que foge disso irrelevante e descartado Por exemplo se as qualidades que caracterizam determinado objeto n o puderem ser traduzidas em ndices e n meros estas devem ser descartadas ou abandonadas pois n o possuem precis o cient fica SANTOS 2006 Interessante resgatar o que o soci logo Sorj 2001 acresce a essa vis o Para el
229. e mais do que uma limitada relev ncia explicativa da monocausalidade que empobrece a ci ncia e o mundo social a ilus o de vivermos em um mundo plenamente racional coerente e gen rico que funciona a partir de uma nica l gica explicativa Conforme se enfatiza um nico princ pio culmina se em uma legitima o de vis o intolerante esterilizadora e uniformizadora da realidade O conhecimento m nimo do paradigma dominante preconizado pelas ci ncias duras possui uma reflex o epistemol gica fechada e restrita para com os outros conhecimentos Est cerrado para o di logo e volta se para a produ o de um saber diminuto Isso se d a ponto de Santos 2006 nomear o conhecimento cient fico 54 moderno como desencantado e triste por transformar a natureza viva din mica mut vel em um simples aut mato Buscamos recursos transdisciplinares MORIN 2000 2003 SANTOS 2006 para apreciar o car ter hist rico imprevis vel complexo desordenado criativo e mut vel do nosso objeto Diferente do conhecimento reducionista causalista monol tico e voltado para a forma convocamos outros saberes sobre o mundo sobre o tema Dialogados e interdependentes fronteiras que os objetos n o delimitam O que cogitamos com o encontro entre saberes Em sua capacidade dial gica tal como uma rede a se formar por meio do trabalho de enleamento n s buscamos palavras conceitos ideias e tecemos um a um para formar uma trama inco
230. e Davi em sua poca havia menos rigor quanto s leis trabalhistas por isso eram feitas escalas exaustivas Os hor rios malucos Lia dos turnos s o apontados como ruins e extenuantes Aos olhos de Lia Davi era um trabalhador inveterado Tinha receio de faltar um nico dia de servi o apresentando se dispon vel para trabalhar de modo concedente A trajet ria profissional de Davi permitiu lhe atuar em tr s frentes distintas da UHE Na parte da constru o foi fiscal de campo realizando medi o e apropria o no setor de distribui o trabalhou na subesta o e posteriormente seu fazer situou se na rea de opera o da aposentadoria em 1998 at o momento atual O casal vivencia o contexto em barragens ainda solteiro e sem se conhecer Davi por ser trabalhador de hidrel tricas desde jovem e Lia por ser filha de barrageiro al m de ter outros parentes pr ximos integrando essa categoria profissional A hist ria de vida dos Citrino exemplar ao vincular de modo direto o barrageiro migra o e s transforma es s cio hist ricas e pol tico econ micas sem perder de vista a inst ncia subjetiva os n s sociops quicos 221 Podemos nos ater a isso ao verificarmos como Davi enfrentou o processo de duas automatiza es mais uma privatiza o Ele diz n o se assustar com a terceira automatiza o que est em processo de implanta o na atual hidrel trica onde exerce sua profiss o Contudo s
231. e lado a vila permitia acolher esses trabalhadores migrantes e suas fam lias fornecendo condi es de conviv ncia territorializa o e enraizamento na experi ncia de deslocamento Com o processo de desmonte mediante a privatiza o do setor hidrel trico brasileiro as casas dessas vilas foram vendidas e esses espa os de acolhimento tornaram a viv ncia da migra o mais vulner vel com a precariza o laboral Os relatos dos narradores tornaram isso mais vis vel n o somente por apresentarem o paradoxo residente nesse dispositivo capaz de aproximar e controlar mas tamb m do que ele era capaz de promover ao reunir por meio de um elo identificat rio os trabalhadores migrantes e seus familiares Geralmente as casas seguiam um padr o arquitet nico diferindo se em tamanho e qualidade do material conforme as classes econ micas e sociais dos trabalhadores nas UHE N o possu am port es e eram integradas a clubes escolas hospitais centros comunit rios e parques conforme o projeto diretor determinava Lugares capazes de abrigar pessoas de diferentes proced ncias regi es costumes culturas e fun es Suas ruas costumavam ser espa o para brincadeiras mas havia algumas restri es do ir e vir Seu car ter seletivo estava voltado para a segmenta o socioecon mica dos diferentes 259 cargos e fun es que os trabalhadores ocupavam na empresa logo repercutia em suas condi es de moradia e sociabilidade Esses n cleos
232. e subjetiva o Por meio do trabalho o ser humano e sua vida cotidiana e social se reproduzem O trabalho n o findou contudo transformou se em suas formas e modos de gest o hist rico por isso comporta mudan as em virtude das transi es econ micas sociais e pol ticas O trabalho transforma o homem mas o homem tamb m transforma o trabalho A a o laboral n o se reduz rela o de compra e venda da for a de trabalho ou do 13 sujeito que desempenha uma ocupa o De modo similar a vida humana tamb m n o se resume exclusivamente a ele Trata se de um vigoroso encontro entre a hist ria singular e o contexto s cio hist rico Ambos possuem complexidade e geram efeitos singulares e sociais a serem compreendidos ANTUNES 2008 LHUILIER 2005 Nesses termos referenciamo nos a perspectivas de autores do materialismo hist rico at as abordagens que o debatam em uma perspectiva dial tica e produtora de subjetiva o Especialmente aquelas que venham a dialogar com a vincula o entre o social e o subjetivo proposta na psicossociologia Com Antunes 2008 e Lhuilier 2005 encontramos na origem etimol gica de trabalho um campo sem ntico evocativo de seu car ter d bio Do latim tripalium h o instrumento de tortura da Antiguidade formado por tr s estacas de madeira o que remete ao supl cio dor puni o sofrimento e tormento Os romanos segundo Enriquez 1999b utilizavam esse instrumento logo herda
233. e ainda buscam dar e receber not cias O modo de vida delineado pelas condi es de trabalho e moradia estabelecido no estado paranaense vila do Bambu come ou a ser desfeito quando a obra foi sendo terminada e os colegas e vizinhos come aram a ir embora A fam lia expressa os primeiros desencantamentos antes mesmo de sua partida ao terem de se despedir de seus conhecidos e ao perceberem as modifica es dos contratos de trabalho e fun o logo nas transi es das formas de trabalhar relacionar se e viver em torno do Bambu O car ter tempor rio de algumas profiss es como a do barrageiro mais o processo de terceiriza o das UHEs ampliaram esse universo de mudan as rotatividade e precariedade de vida dos trabalhadores e seus familiares Como hav amos identificado em pesquisa anterior DUARTE 2009 o barrageiro uma parcela expressiva de trabalhadores brasileiros que atravessou a privatiza o terceiriza o e desestatiza o frutos do modelo econ mico neoliberal que o Brasil adotou para esse setor produtivo Essa categoria profissional submeteu se intensifica o da migra o em que o impacto do neoliberalismo n o se deu apenas no remodelamento de sua atividade profissional mas tamb m em suas rela es sociais subjetivas e afetivas importante lembrar que a migra o est impulsionada igualmente pela influ ncia do mercado de trabalho e pelas pol ticas adotadas pelas inst ncias governamentais Al m
234. e da garantia quanto ao sigilo das minhas informa es pessoais e ao meu anonimato Assinatura do participante Eu Daniele Almeida Duarte pesquisadora respons vel pelo estudo obtive de forma volunt ria o Consentimento Livre e Esclarecido do sujeito representante legal para a participa o na pesquisa Assinatura da pesquisadora 302 CONSENTIMENTO Eu j RG abaixo assinado respons vel por autorizo sua participa o no estudo DES ENCONTROS TRABALHO FAM LIA narrativas de familiares de trabalhadores migrantes do setor de produ o de energia hidrel trica como participante Fui devidamente informado a e esclarecido a pela pesquisadora Daniele Almeida Duarte sobre a pesquisa os procedimentos nela envolvidos assim como os poss veis riscos e benef cios decorrentes de sua participa o Foi me garantido ainda que posso retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isto leve a qualquer penalidade ao sujeito pesquisado Declaro ainda que concordo n o concordo com a publica o dos resultados desta pesquisa ciente da garantia quanto ao sigilo das informa es pessoais e do anonimato Assinatura do participante Assinatura do seu representante legal 303 ANEXO 2 Sobre o conceito da Hist ria 14 e 15 BENJAMIN 1994 p 229 230 14 A hist ria objeto de uma constru o cujo lugar n o o tempo homog neo e vazio mas um tempo saturado de
235. e de situar tanto o migrante quanto a migra o que estamos pondo em cena As condi es da mobilidade variam conforme a classe socioecon mica se houve uma escolha ou se foi compuls ria bem como as distintas motiva es que levaram o sujeito a se fixar ou deslocar se Logo o exame cuidadoso do contexto migrat rio pode revelar a imposi o de poder e viol ncia seja para quem vai ou para quem fica Sendo assim a migra o n o consiste em um simples desarranjar da paisagem f sico geogr fica e material mas a perda de uma forma de vida Remete a uma experi ncia paradoxal pois decomp e o espa o habitual sua temporalidade e rela es mas tamb m enseja novas configura es existenciais e constitui es de refer ncias Sendo um processo demanda uma atividade de elabora o cujos recursos materiais e imateriais reportam a estrat gias distintas para lidar com essa viv ncia logo sua conjuntura deve sempre ser ponderada 72 preciso atentar para a experi ncia de perda e seus desdobramentos sobre a dimens o sociossubjetiva Geralmente os trabalhadores de grandes empreendimentos como o setor hidrel trico s o pouco percebidos pela empresa pelo Estado e pela sociedade como sujeitos que tamb m tiveram de refazer suas vidas na viv ncia migrat ria especialmente no contexto do processo de precariza o das condi es e rela es de trabalho que fragilizaram v nculos est veis de contrato e interditaram suportes socia
236. e depois que o meu pai saiu do Bambu Eu fui saber o que era pagar um col gio no meu ltimo ano Meus pais simplesmente n o se preocupavam com isso Raguel Todavia isso gerou consequ ncias pois uma contradi o instalada nesse per odo manifestou se posteriormente fazendo os ponderar que o tempo vivido na dimens o do aqui e agora ocultou o tempo em longo prazo Um Bambu que estava por descartar seus cuidados quando o trabalhador e sua fam lia n o lhe dissessem mais respeito posto que n o haveria mais um contrato de trabalho que a ela se vinculassem Isso nem foi muito bom Porque o que acontece Algumas fam lias tinham essa vis o de que um dia eu vou sair do Bambu e eu vou precisar de grana para pagar essas coisas E na minha casa n o aconteceu muito isso Meu pai deixava a minha m e tomar conta do dinheiro da fam lia E ela n o pensava muito nisso N o pensava 207 Vamos aproveitar enquanto a gente n o paga aluguel guardar dinheiro para quando a gente sair do Bambu a gente tem o dinheiro guardado para ter a nossa casa Ent o assim o lado ruim da minha vida no Bambu da nossa fam lia no Bambu foi esse desligamento de todo conforto que a gente tinha Porque foi a ltima usina que o meu pai trabalhou que dava esse tipo de conforto para o funcion rio Essas usinas que vieram depois n o eram mais hidrel tricas Ele trabalhou em uma hidrel trica e depois firmas que n o eram mais usinas Eles n o d
237. e figura uma moldura existencial expressa nas particularidades tempo espa o relacionais Cada localidade onde a fam lia morou junta trouxe reminisc ncias e afetos diversos Contudo na cidade em que mais tempo moraram localizada no Paran durante 18 anos que est a fonte de sabores e dissabores que os fez renunciar desejos e projetos de vida at ent o almejados Essa sa da os faz lembrar com prazer e pesar a aurora da vida em fam lia na inf ncia e juventude das filhas propiciadas por meio do trabalho de seu pai no Bambu Revivem se a decad ncia dos planos e a sensa o de um lugar que at ent o parecia pr ximo a um para so perdido Essa partida trouxe n o somente novos deslocamentos espaciais e relacionais mas tamb m o avistar de outras possibilidades de vida Momento de recobrar o desejo e rearranjar os v nculos familiais Percebem n o sem conflitos e tens es que a fam lia continua a ser constru da para al m da casa pr pria do trabalho e das barragens Enredo familiar e trajet ria social da constru o de barragem edifica o da fam lia Em 1963 com 18 anos de idade e solteiro Jonas come a a trabalhar em um dos maiores empreendimentos de UHE do estado de S o Paulo Mec nico de m quinas pesadas tratores carregadeiras motorniveladoras e caminh es envolvidas na constru o de hidrel tricas passa a integrar a equipe de empreiteiras contratadas para o in cio da obra Posteriormen
238. e mulheres GAULEJAC 2004 2005 Tal aposta empreendida pelos Citrino diante de um horizonte desconhecido na esfera do trabalho e da fam lia deu se ap s o epis dio de aposentadoria e demiss o intervalo de 4 anos que atravessaram intensa press o e amea as veladas que os fez procurar uma coloca o profissional em novos contratos de trabalho em outras empresas e cidades Isso os levou para localidades distintas Enquanto Davi se dirigia para os Estados de S o Paulo Mato Grosso e depois Santa Catarina ao assumir novos postos de trabalho seu grupo familiar permanecia no Estado de S o Paulo e posteriormente no Paran Temos vista um encadeamento sociops quico que os Citrino nos demonstram ao contar sua hist ria de vida em uma moldura t mporo espacial e relacional Por meio disso podemos dimensionar que um projeto neoliberal ao imprimir transforma es na gest o e rela es de trabalho assim como nos meios produtivos tamb m gera efeitos intensos nos processos de subjetiva o e na viv ncia de um sofrimento que n o apenas de natureza ps quica mas tamb m social pois possui dimens o tico pol tica Ao nos determos no momento atual dessa fam lia verificamos que diferente das automatiza es anteriores que Davi sofreu enquanto n o era aposentado per odo rememorado pelo casal enquanto incerto e tem vel o horizonte do desconhecido que se anuncia com essa mudan a no tempo presente n o deixa de trazer am
239. e n o temos tal como a posse de algo ou a submiss o de algu m mas podemos estar nela por meio do alinhamento dos horizontes do encontro entre singularidades Isso n o implica apagar diferen as discord ncias e dissensos Pelo contr rio diz de uma abertura ao diverso em que podemos viver em comum compartilhar a exist ncia Nosso horizonte torna se maior e ultrapassa fronteiras quando toca o do outro Nessa trajet ria s o reveladas outras formas de exist ncia Para isso necess rio reconhecer o eu e o outro podemos nos apropriar da singularidade da situa o e de cada sujeito por meio daquilo que possa nos unir Nesse horizonte como afirma Gadamer 2012 vivemos uma experi ncia aut ntica do compreender porque nele figura algo que se imp e como verdade Na medida em que compreendemos estamos inclu dos num acontecer da verdade GADAMER 2012 p 631 assim o processo da linguagem vincula se ao de jogo linguagem capaz de nos interpelar porque pergunta e responde prop e e retira Ela expressa o modo como se pondera pesa despreza escolhe abandona e decide pelas coisas ela a forma de compreens o e dos modos de seguir a vida Nesse sentido a fus o de horizontes um elemento hermen utico de dupla import ncia em primeiro lugar um procedimento um movimento de participa o ativa em um di logo como acima apontado E ao mesmo tempo tamb m um ndice da verdade hermen utica Isto quant
240. e o corpo a a o e o sentimento n o deixa de conjug las com as transforma es hist ricas nos mbitos pol tico econ mico e social Sua investiga o constata os efeitos do esvaziamento do tempo e a pregn ncia da categoria espa o assumida no psiquismo o que afeta o processo de simboliza o logo as formas de exist ncia ao experienciar a dor e o sofrimento 50 o historiador sua hist ria e seu presente o que Gagnebin 2006 adverte como a elimina o da historicidade no pr prio discurso hist rico O presente do historiador int rprete dissipa se assim como a rela o particular que o presente mant m com um passado Esse ponto crucial demarcar uma vez que na hermen utica Bleicher 1992 e Gadamer 2012 afirmam categoricamente a limita o de qualquer busca pela objetividade Isso se faz pelo pr prio caminho que estrutura a compreens o pois est cravado em uma realidade advinda de uma situa o hist rica em que a influ ncia da tradi o se faz presente e interferente Tamb m a elucida o dessa situa o isto a reflex o da hist ria efeitual n o pode ser realizada plenamente Essa impossibilidade por m n o defeito da reflex o mas faz parte da pr pria ess ncia do ser hist rico que somos Ser hist rico quer dizer n o se esgotar nunca no saber se GADAMER 2012 p 399 grifo do autor Nesse sentido a reflex o hermen utica abre a necess ria interroga o em que a ci
241. e o labor a possibilidade de instituir rela es entre os homens com o despontar da sociedade moderna e industrial que a no o de liberdade pelo trabalho surge com o modo de produ o capitalista Nesse prisma o processo de subjetiva o instaurado est vinculado acep o de liberdade conquistada mediante a venda da m o de obra A moral e o discurso a imperar nessa civiliza o da qual somos filhos s o os do trabalho e do trabalhador Neles n o h espa o para os desocupados ociosos e n o trabalhadores a sociedade do trabalho que se ergue Nela os que compram e os que vendem a for a laboral t m interesses distintos entretanto o labor n o confere apenas meios materiais para sobreviver mas tamb m propicia realiza o reconhecimento e identidade Para al m das ferramentas de trabalho e do homem que v m a se imiscuir h a sua hist ria profissional seus recursos discursos e projetos que se encontram amalgamados 83 Na civiliza o do trabalho assalariada e explorada em que o neoliberalismo vem galgar nas ltimas d cadas o trabalhador passa a ter seus direitos reduzidos O que isso implica N o se trata de lograr apenas o sal rio daquele que labora mas tamb m de gozar mediante o labor de seus direitos pol ticos civis sociais e de cidadania capazes de fortalecer os la os sociais e integrar a sociedade Quando esses s o usurpados um desmonte do car ter afirmativo do trabalho acontece e uma fra
242. e para encaminhar uma produ o de conhecimento receptiva a alteridade Os preconceitos n o percebidos nos tornam surdos e cegos para o mundo outro que em nossa pesquisa se expressa por meio do texto narrativo Por isso uma consci ncia formada hermeneuticamente deve desde o princ pio mostrar se receptiva alteridade do texto Mas essa receptividade n o pressup e nem uma neutralidade com rela o coisa nem tampouco um anulamento de si mesma implica antes uma destacada apropria o das opini es pr vias e preconceitos pessoais O que importa dar se conta dos pr prios pressupostos a fim de que o pr prio texto possa apresentar se em sua alteridade podendo assim confrontar sua verdade com as opini es pr vias pessoais GADAMER 2012 p 358 Somente ao percorrer essa via ao longo da constru o da pesquisa foi poss vel abrir se para o mundo do outro encontrar e ser encontrado por sua verdade Primeiro foi necess rio abrir m o da nossa pr pria verdade e reconhecer que nosso horizonte n o suficiente e nem o nico a ser alcan ado O segundo retorno diz respeito ao participante da pesquisa quem viabilizou o campo emp rico desta tese por meio do recurso das entrevistas narrativas Ao optarmos por uma modalidade de coleta de dados que gerasse a possibilidade de uma interven o protagonizada pelo pr prio participante na condi o de sujeito e n o assujeitado est vamos redimensionando o campo epist
243. e processo de transi o A descend ncia desprende se dos la os de consanguinidade e surgem possibilidades de fertiliza o reprodu o assistida banco de s men e barriga de aluguel oriundos das novas tecnologias reprodutivas disseminadas a partir de 1980 Isso mudou n o apenas os modos de se conceber mas tamb m de constituir novas formas de paternidade e de maternidade de rela es de g nero e de composi o familiar como especificam Sarti 2010 e Beck Gernsheim 2011 Isso vai desde a dissocia o da gravidez como fruto da rela o sexual entre homem e mulher at os impactos do exame de DNA que permite identificar a paternidade e responsabiliz la transformando tamb m o lugar masculino garantido at ent o pelo patriarcalismo S o 117 os direitos da crian a e da mulher logo os da fam lia que passam a ser reformulados tamb m no plano jur dico A conjugalidade passa a ser vivida em outros par metros mesmo em meio crise das identifica es do mal estar na contemporaneidade e da fragilidade dos la os sociais e afetivos Se outrora o casamento era um neg cio haja vista que amor e o matrim nio n o se vinculavam e o desejo n o tinha vez com as transi es deflagradas por meio da constru o da fam lia burguesa os sentimentos modernos fazem reluzir a protagoniza o de um sujeito de desejos S o acionados outros modos de amar e se relacionar Como exp e Enriquez 2003 p 14 proclama se o
244. e representa es sociais de g nero uma an lise da articula o entre trabalho dom stico e assalariado Sociologias Porto Alegre ano 11 n 21 p 66 92 2009 290 CORR A M Apresenta o In ARANTES A A etal Colcha de retalhos estudos sobre a fam lia no Brasil 2 ed Campinas Editora da Unicamp 1993 COSTA J F Ordem m dica e norma familiar Rio de Janeiro Graal 1979 COSTA L F BRAND O S N Abordagem cl nica no contexto comunit rio uma perspectiva integradora Psicologia amp Sociedade v 17 n 2 p 33 41 2005 COSTA ROSA A LUZIO C A YASUI S Aten o psicossocial rumo a um novo paradigma na Sa de Mental Coletiva In SCLIAR M et al Archivos de sa de mental e aten o psicossocial Eng Paulo de Frontin RJ NAU Editora 2003 DE CERTEAU M A inven o do cotidiano 1 Artes de fazer 18 ed Petr polis RJ Vozes 2012 A inven o do cotidiano 2 Morar cozinhar 10 ed Petr polis RJ Vozes 2011 DEJOURS C Addendum Da psicopatologia psicodin mica do trabalho In LANCMAN S SZNELWAR L I Orgs Christophe Dejours Da psicopatologia psicodin mica do trabalho 2 ed Rio de Janeiro Editora Fiocruz Bras lia Paralelo 15 2008 DESLAURIERS J P K RISIT M O delineamento de pesquisa qualitativa POUPART J et al A pesquisa qualitativa Enfoques epistemol gicos e metodol gicos 2 ed Petr polis RJ Vozes 2010 DETONI P P Seg
245. e uma rela o L VY 2001b nos propicia pistas para a abertura de uma vereda epist mica aquele que retorna PEIXOTO 1995 p 363 Fazendo alus o a isso tratamos de dois retornos primordiais que consistem em dois sujeitos o pesquisador e o participante da pesquisa O primeiro o pesquisador retorna ao voltar se para si para o que quer entender e para o outro Dirige se para o que foi produzido sobre o tema investigando suas pr prias tradi es isto aquilo que de antem o fala e diz algo em uma perspectiva gadameriana Isso vai desde uma teoria um conceito at suas impress es e suas pr prias verdades Inclui seus preconceitos ideias e pr vis es N o os nega mas trabalha com eles para poder reconhecer o que traz consigo e assim identificar o que precisa deixar e aquilo que deve buscar Fizemos isso ao debater uma metodologia e tamb m ao explicitar a nossa implica o na pesquisa ao produzir uma narrativa pessoal acerca desse tema Feito isso abriram se outros olhares mundos e horizontes nos termos hermen uticos mediante a busca imersa no estranhamento e na indaga o do que est 44 dito e daquilo que se quer saber Gadamer 2012 nos advertiu sobre isso com o conceito de preconceito e tradi o que cada um leva consigo por sermos seres hist ricos e para fazermos jus historicidade da compreens o Ensinou nos que ambos s o vozes que ecoam e n o devem ser ignorados mas submetidos an lis
246. ea a ao modo 225 de vida constitu do no trabalho e na fam lia A inseguran a e o receio s o revividos ao n o se restringir apenas imin ncia do desemprego mas ao dizer respeito a um futuro que implica o retorno para casa dessa vez como aposentado na condi o de quem n o est ao menos momentaneamente exercendo uma profiss o remunerada Mudan as que entrela am passado presente e futuro o tr plice presente ricoeuriano cujos efeitos est o por ser conhecidos e experimentados haja vista que o sonho de os filhos terem se formado est concretizado Edifica o da fam lia a ser feita a partir da perman ncia desta em um mesmo local de modo provis rio ou permanente das rela es a se firmarem face a face e da cria o de novos projetos De barragem em barragem de casa em casa No in cio da carreira de Davi o Cipreste fornecia casas nas vilas para seus trabalhadores Eram domic lios padronizados sem muro cujas cores n o poderiam ser mudadas pelo morador nem poderia ser alterada a estrutura arquitet nica O padr o deveria ser mantido independente do gosto do residente Contudo esse lugar uniformizado na arquitetura adquiria singularidade diferencia o e vida nas rela es estabelecidas entre seus habitantes Esse aspecto percept vel ao observarmos na narrativa do casal os elementos destac veis acerca da vila dos trabalhadores de barragens as rela es de vizinhan a face a face A conviv n
247. ecida entre pesquisador e pesquisado entre int rprete e interpretado entre sujeito e objeto Nessa proposi o define se uma posi o vis vis a partir do encontro entre obra e leitor BLEICHER 1992 RICOUER 2008 Sendo assim a verdade na hermen utica diz de uma experi ncia em curso e aberta s ressignifica es Isso se afirma porque tanto o pesquisador quanto o pesquisado pertencem tradi o logo h uma pr via compreens o do objeto abordado como tamb m a exist ncia da possibilidade de rever os sentidos deste Gadamer 2012 afirma que a tradi o algo que nos fala sendo a linguagem e a tradi o insepar veis do fen meno hermen utico com essas considera es referentes ao trabalho da interpreta o Castro 1998 afirma que aquilo que importa para a interpreta o como verdadeiro o caminho que possibilita ir em dire o ideia expressa Sendo a interpreta o do caminho insepar vel do caminho da interpreta o avistamos o m todo como meio de chegar a essa verdade um real sens vel que pelo trabalho da r compreens o e interpreta o proposto chega ao intelig vel O autor acresce E 181 descobrir no significante sens vel o significado intelig vel no literal o simb lico no denotativo o conotativo CASTRO 1998 p 5 6 atingimos a verdade com a fus o de horizontes s o necess rios di logo e reconhecimento do outro para essa realiza o Ayres 2008 afirma que verdad
248. ecimento e legitimar o inesgot vel di logo S o esses achados que possibilitar o um exerc cio interpretativo prof cuo do texto da realidade que com seus limites diferen as e singularidades reconhece a necessidade do outro e cria a possibilidade de avan o do saber Na composi o cada posi o reconhece de antem o o limite do seu saber Cada saber se afirma como diferen a No di logo das diferen as a identidade n o nem a soma do saber de todos nem a sua m dia nem o poder de argumenta o do mais arguto mas o n o saber O n o saber n o a indiferen a mas o vigor e possibilidade de toda diversidade de todo novo saber da composi o de todos os saberes Di o prefixo da palavra di logo diz originariamente dualidade de onde surge a separa o o limite Por isso di logo implica diferen a cuja oposi o n o fundada pelo eu e o outro mas pelo Logos do real Pelo Logos cada homem constitutivamente dialogante CASTRO 1998 p 13 Feitas essas sinaliza es obtemos as condi es necess rias para apresentar a seguir o processo de constru o da an lise do material emp rico ou seja a organiza o das informa es o processo de valida o do material as dimens es interpretativas e o caminho da interpreta o a an lise propriamente dita No Quadro 1 do desenho esquem tico da pesquisa no cap tulo 2 expusemos os dois eixos dispostos em tr s momentos constituintes do proce
249. ecimento por terem integrado essa hist ria Esse acontecimento tamb m demonstrou que a institui o familiar n o apenas uma unidade social reprodutiva da for a de trabalho comandada pelo capital mas tamb m uma institui o capaz de contrap lo e resistir s suas investidas tal como fizeram essas mulheres e seus familiares 273 Finalmente o delineamento dessas rela es de g nero acabou por gerar recorrentes situa es de conflito de poder e tens o que pudemos ver nas narrativas de cada familia especialmente aquelas expressas pelas companheiras dos barrageiros Todavia ao buscarmos compreender como se davam as negocia es da partilha desses cuidados e do exerc cio profissional da mulher n o obtivemos muitas informa es e nem aprofundamentos que trouxessem com maior clareza como se fiavam essas rela es o que demandaria uma investiga o mais detalhada 274 CAP TULO 6 PALAVRAS FINAIS o fechamento aberto da pesquisa Figura 6 sequ ncia da montagem de turbina na Usina Hidrel trica de Capivara em 1975 Essa UHE situa se no rio Paranapanema e faz divisa entre munic pios do Estado do Paran e o de S o Paulo Constru da entre 1971 a 1978 tornou se a maior hidrel trica desse rio O grande contingente de trabalhadores que integrou essa obra fez com que no auge houvesse 7 800 pessoas trabalhando de modo ininterrupto O modelo de habita o para seus funcion rios deu se de modo distinto de projetos an
250. edo de faltar um nico dia de trabalho Como visto esse trabalhador surreal com hor rios malucos que consente e n o ousa faltar um dia de trabalho tem a ver com o trabalhador de ferro que Ribeiro 2002 discute ao p r em cena um termo utilizado pelo pr prio oper rio barrageiro do canteiro de obras Um trabalhador a ser forjado e moldado sob uma r gida disciplina e controle impostos pela gest o laboral Para dar conta dessa realidade era preciso ser duro como ferro n o tendo direito a fraquejar tampouco amolecer 265 Por outro lado uma imagem que denuncia a precariedade da situa o dos barrageiros o sofrimento e a inseguran a o tratamento dispensado aos acidentados e a morte dos companheiros de trabalho O trabalho era perigoso e podia provocar acidentes graves que eram comuns Ferimentos nos bra os nas pernas e unhas das m os e dos p s Os fatais n o eram divulgados mas muitos trabalhadores guardam na mem ria relatos deles N o fazem parte da hist ria oficial da obra do s culo RIBEIRO 2002 p 67 As rela es de poder e de acidentes de trabalho n o devem ser vistas desvinculadas Froelich 2001 nos chama a aten o para o fato de que muitos dos empreendimentos de UHE nasceram no per odo de plena ditadura brasileira A gest o dessas obras bem como as condi es e rela es de trabalho incorporaram esse regime pol tico cuja principal express o dava se no bin mio desenvolvimentism
251. eiro possui m ltiplas facetas e paradoxos Uma viv ncia cujas marcas migrat rias imprimiram enlaces e desenlaces sentimentos sobre os quais parece ser dif cil expressar mas que n o deixam de invadir o conjunto da exist ncia da experi ncia de si e com o outro 255 Vamos encontrar nesse grupo social a partir de suas hist rias singulares ecos do modo de produ o capitalista e da ado o do programa neoliberal pelo governo brasileiro que trouxe impactos n tidos no setor de produ o de energia el trica S o as privatiza es e demiss es que se de um lado geraram outras modalidades de contrato e gest o de trabalho mais fr geis e incertas por outro produziram modos de ser trabalhar viver em um horizonte marcado pelo curto prazo pela inseguran a e desenlace social e familiar poss vel observar as transforma es encetadas pelo mbito econ mico e sociopol tico ao adentrarem nas casas e nos espa os dom stico e de intimidade onde a hist ria geral vivida e re inventada no cotidiano por pessoas at ent o desconhecidas e invisibilizadas Em face disso pudemos ver o processo de desmonte do fr gil Estado de bem estar social com suas empresas estatais ao sofrerem profusas transi es oriundas do processo de privatiza o Ficaram alocados em um passado cada vez mais distante os suportes fornecidos aos trabalhadores que integravam direta ou indiretamente essas empresas os quais permitiam o usufruto de re
252. eis narradores foi necess rio vivenciar uma negocia o em que o nosso interesse de pesquisa pudesse assumir para eles um desejo e um sentido de compartilhar confiar a n s sua vida por meio de suas hist rias vividas Reluzir mediante o discurso narrado seus medos conflitos frustra es fracassos assim como suas vit rias desejos sonhos e realiza es Aprendemos com Gadamer 2012 que o pesquisador ao utilizar o tato n o dispensa o m todo cient fico mas faz um manejo deste ao conjugar afetos e sensa es que lhe foram endere ados em situa es singulares Por tato entendemos uma determinada sensibilidade e capacidade de percep o de situa es assim como o comportamento que temos nessas situa es quando n o possu mos nenhum saber baseado em princ pios universais Por isso o tato essencialmente inexpresso e inexprim vel Pode se dizer alguma coisa com tato Mas isso sempre ir significar que com tato contornamos algo e n o o dizemos e que n o temos tato quando buscamos exprimir o que s pode ser contornado Contornar por m n o significa desviar a vista de algo mas atentar para n o esbarrar nele e poder passar ao lado por isso que o tato ajuda a manter dist ncia Evita o impacto a proximidade demasiada e a invas o da esfera ntima da pessoa GADAMER 2012 p 52 53 O autor continua afirmando que o tato portanto uma forma de conhecimento e uma forma de ser extrapolando o fen me
253. ela es de vizinhan a tudo no circuito instaurado por Bambu Trabalho e fam lia se sobrepunham nos moldes dessa empresa Por sua vez Jonas mora e trabalha nessa cidade do Paran durante 12 anos e meio especialmente enquanto seu contrato via empreiteira perdura com o Bambu Findado seu of cio na obra de Bambu desligado Tenta trabalho local sem sucesso e passa a atuar na constru o de estrada de ferro per odo que principia in meras mudan as conforme a dura o dos empreendimentos Aposenta se em 1995 por m continua a trabalhar para construir a casa pr pria A poca que permanece trabalhando fora distante do grupo familiar n o sofr vel apenas para as mulheres de sua fam lia mas tamb m para Jonas Seu retorno para casa pontual e espa ado regressa apenas uma vez por m s e em um final de semana Diversas vezes fica mais de um m s sem voltar para seu n cleo familiar Sobre isso nos diz com um tom de resigna o ao ponderar sobre esse contexto vivenciado pelo qual n o via outra possibilidade a n o ser esperar o tempo passar assim como essa situa o Aspecto esse que encontramos tamb m na disserta o DUARTE 2009 quando os trabalhadores diziam ser um mal necess rio uma circunst ncia a ser superada Nas palavras de Jonas o per odo distante da fam lia por causa do trabalho aquele em que a gente precisa fazer isso at acostuma ruim mas acostuma A vida essa a gente acostumava
254. ela podemos por meio de sua veem ncia evocativa descrever pensar e interpretar a realidade a partir de determinado prisma Tal qual um ato de amor gerador de vida podemos originar novas ideias e pensamentos Criar Por meio da linguagem e seus artefatos podemos encontrar rumos novos ideias surpreendentes e quest es avassaladoras pois a ponte entre o pesquisador e o universo pesquisado adv m da ligadura da palavra com o mundo o que gera efeitos ins litos Isso n o se faz fruto do acaso tampouco para atender aos caprichos do pesquisador mas s o leituras releituras e interpreta es incessantes que consubstanciar o um corpo argumentativo e reflexivo em que julgamos em dado momento e lugar poder nomear melhor contornos do nosso objeto a infinitude da interpreta o de si do outro e do mundo que temos de confrontar Esse era um exerc cio hermen utico que faz amos sem nos darmos conta Foi por meio do trabalho de fundamenta o do objeto a partir da psicossociologia e da defini o da narrativa que pudemos avistar pressupostos da hermen utica e aterrissar nela Di logo linguagem discurso pergunta tradi o desejo vido de saber algo compreens o e interpreta o s o elementos hermen uticos Est vamos indagando e fomos interpelados pelo objeto Ele estava nos ensinando antes de o expormos a nossas pretens es Postura compat vel com a abordagem qualitativa que se constitui a partir da intera o com o campo seja do
255. elecida entre pesquisador pesquisado um olhar de dentro de seu horizonte como nos apontam Barros e Silva 2010 ao utilizarem o recurso da hist ria de vida e em nossa pesquisa a narrativa acaba por incorporar fragmentos dessa hist ria ao ser narrada 164 Ao recolhermos uma hist ria de vida o lugar central o do sujeito que se conta ele que fornece a mat ria primeira sobre a qual trabalharemos Encontra se a uma grande riqueza pois certos acontecimentos s nos s o compreens veis se vistos de seu interior se conseguimos apreend los por interm dio dos sujeitos que deles participam ou seja encarnados em uma experi ncia individual L vi Strauss 1991 BARROS SILVA 2010 p 137 grifo das autoras A entrevista em si um recurso fecundo por possibilitar registrar atrav s da fala e da linguagem o vivido Atrav s dela adentramos no campo da subjetividade nos afetos nas min cias e grandezas que comp em o cotidiano Podemos visualizar as posi es e os lugares que o sujeito real e encarnado ocupa no mbito social a porta de entrada para as condutas lingu sticas que as pessoas efetivam em seus contextos sociais MACHADO et al 2001 p 9 Colocamo nos enquanto pesquisadores pr ximos voz do corpo e da linguagem em uma postura de disponibilidade e interesse por escutar e olhar o sujeito que nos confia a palavra e parte de sua vida ARFUCH 2010 O protagonista do di logo o narrador
256. em sua narra o o tempo insuport vel para viver a dist ncia seria o de um ano Doze meses sem ver seus familiares poderia incorrer a perda da r dea da fam lia Thiago Desse modo percebemos um arranjo com rela o a dist ncia pois embora Thiago n o estivesse presente semanalmente somente aos finais de semana seu lugar de pai autoridade e chefe de fam lia manteve se preservado mesmo a alguns quil metros e com a sua aus ncia no cotidiano dom stico acerca dos desdobramentos disso sobre o enredo familiar discorreremos no t pico conseguinte Des encontros trabalho fam lia da gua represada s comportas abertas Ana come a a sua narra o no momento coletivo da entrevista narrativa com uma coloca o emblem tica Situa a temporalidade do barrageiro centrada no aqui e 247 agora vivia o hoje e amanh era outro dia Ana Aponta serem pessoas diferentes de seu universo especialmente por ela vir de um lar humilde Para explicar essa afirma o menciona o desperd cio com sup rfluos presente nesse grupo social o que contribuia com uma percep o de se ter tudo quando n o se tinha nada sendo uma ilus o a ideia de uma vida abastada Tendo esse argumento em vista verificamos a rela o do casal constru da a partir de dissensos nesse quesito Como sinalizamos Ana era a pessoa econ mica que pesava os gastos com pondera o e a partir de um plano em longo prazo enquanto Thiago aos seus olhos f
257. em uma perspectiva tica e social que se alimenta tamb m da fonte de saber do senso comum A psicossociologia e a sociologia cl nica ao recorrer s hist rias de vida entendem o indiv duo como produto de uma hist ria na qual ele procura tornar se 155 sujeito Isso denota que a hist ria de vida atravessada por m ltiplas determina es que agem em diferentes n veis sociol gico psicol gico econ mico pol tico e cultural As hist rias possuem singularidades mas n o deixam de ilustrar acontecimentos e processos exemplares capazes de ilustrar o fen meno estudado GAULEJAC 2006 2009 Nessa linha a tradi o psicossociol gica fecunda e fundamental para abordarmos as narrativas que remetem hist ria de vida Primeiro por superar a cis o entre saber cient fico e o senso comum mais seus saberes sociais Segundo al m de conjugar essas produ es de saberes nos traz um questionamento tico e pol tico sobre o uso e condi es da produ o da hist ria de vida problematizando o papel do pesquisador e o seu compromisso com a autonomia e emancipa o social Terceiro por conter um campo te rico que integra uma perspectiva tica a uma metodol gico conceitual auxilia nos a conjugar o fen meno social e o subjetivo LE GRAND 2005 A hist ria e a narrativa de vida permitem perceber a espessura da experi ncia subjetiva sem ofuscar a dimens o social como nos aponta Carreteiro 2003 p 288 ao citar Gaule
258. emol gico a fim de encontrar instrumentos te rico metodol gicos que permitissem isso Nesses termos o olhar do estrangeiro n o apenas o do pesquisador mas se estende ao participante ao ser convidado a retornar a sua pr pria hist ria de vida na condi o de narrador o que lhe garante outra posi o na produ o de conhecimento Ao contar nos algo o sujeito apropria se n o apenas da palavra e do discurso mas da autoria de si e do vivido reintroduz imagina o e linguagem onde tudo era vazio e mutismo PEIXOTO 1995 p 363 20 Com Brandim 2010 em sua leitura ricoeuriana vemos elementos afins proposta gadameriana ao conceber o mundo como algo que precede a nossa exist ncia e que n o podemos apreender de forma totalizadora Para avan ar na compreens o preciso compreender a si e o mundo outro sem deixar de lado os signos as obras e a heran a cultural da humanidade 45 poder reassumir a sua hist ria e retomar pessoas lugares e experi ncias que lhe foram significativos O narrador tal como o estrangeiro volta para resgatar as figuras e paisagens balizadas do nosso imagin rio para tirar dele uma identidade e um lugar PEIXOTO 1995 p 363 Isso consiste em poder falar da decep o e da perda assim como da realiza o e da conquista condi es da for a desejante e do ser sujeito de sua hist ria de que nos fala Gaulejac 2006 2009 Um recobrar do vivido mediante a narrativa capaz de al
259. emontamos etimologia de narrativa e encontramos que narrar fazer conhecer como situa Castro 1998 E a hermen utica por sua vez um caminho que busca conhecer o que se conhece logo conhecer se tamb m Vejamos melhor isso para n o cairmos em uma vis o demasiado simplista A hermen utica possui uma rela o seminal com a linguagem Isso quer dizer que ela cont m uma quest o ontol gica fundamental posto que compreender ultrapassa o fato de conhecer sendo primeiramente uma maneira de ser de relacionar se com o ser e o mundo RICOUER 2008 Com Bleicher 1992 vemos a hermen utica moderna figurar no s culo XIX podendo ser definida de modo geral como teoria ou filosofia da interpreta o do sentido Gadamer 2012 a apresenta como a arte da compreens o e interpreta o Ricoeur 2008 a define como teoria das opera es da compreens o com rela o interpreta o dos textos N o h uma hermen utica geral mas teorias hermen uticas distintas Ela se desenvolveu historicamente nos mbitos teol gico filol gico e jur dico Foi tematizada 170 nas ci ncias sociais na arte na linguagem e na cr tica liter ria Na contemporaneidade possui tr s tend ncias que segundo Bleicher 1992 s o teoria hermen utica filosofia hermen utica e hermen utica cr tica Ater nos emos filosofia hermen utica como hav amos sinalizado no in cio desta se o Verificamos que interpretar e compreender est o inter
260. enfrentadas no trabalho por isso necessita de seu c rculo de rela es mais ntimas para manter seu funcionamento ps quico Ao encontro dessa perspectiva Lasch 1991 afirma que a fam lia para a classe trabalhadora pode ser um importante recurso em sua luta pela sobreviv ncia Essa men o tamb m se reporta discuss o realizada por Franco Druck Seligmann Silva 2010 ao exporem a situa o do trabalhador precarizado O estreitamento do mercado de trabalho e o desmonte das alternativas institucionais de prote o social alimentam esse processo No caso de trabalhadores migrantes que vivem sozinhos tamb m faltam geralmente os suportes afetivos o que favorece a desestabiliza o ps quica especialmente para aqueles que est o submetidos discrimina o e ao isolamento social nos locais de trabalho ou na situa o de desemprego Deve ser considerado tamb m o valor na prote o contra a desestabiliza o da sa de mental dos apoios sociais e afetivos providos pelas fam lias e no caso brasileiro muitas vezes pelas comunidades de conterr neos que oferecem casa e aux lio alimentar aos desempregados FRANCO DRUCK SELIGMANNSSILVA 2010 p 241 grifo do autor As transforma es decorrentes dos desdobramentos da globaliza o econ mica al m de atingirem o mundo laboral trouxeram consequ ncias tamb m sobre as fam lias como afirma Oliveira 2007 A referida autora menciona que na atualidade a
261. ensar o pesquisador como aquele que se posiciona no encruzamento Isso n o facilita o trabalho mas o leva a fazer escolhas te rico metodol gicas que lhe propiciem apreender as distintas dimens es em jogo imprescind vel percorrer caminhos te ricos experimentar conceitos avistar horizontes para assim definir onde o pesquisador melhor se posicionar para contemplar o fen meno a ser cotejado Ao escolher um lugar reconhece que os caminhos continuam em distintas dire es mas que de onde se posicionou poss vel perceber n o somente dire es mas determinar encontros indispens veis ao seu intento Nesses par metros que se visa apreender a rela o sujeito conjuntura Dessa forma v se que um saber sozinho n o suficiente para trazer tona aspectos reveladores do objeto mas que conjugados podem apresentar uma sufici ncia 137 A psicossociologia vincula se ao olhar cl nico preciso dizer neste primeiro momento que por cl nica se entende estende a busca de sentido Dela surgem duas deriva es etimol gicas para n o restringir sua compreens o ao tradicional fazer profissional que procura sintomas e adoecimentos Menos ainda a restri o a uma rela o dual entre paciente e terapeuta em um consult rio Como L vy 2001b nos sinaliza a pr pria no o de cl nica transformou se nos ltimos anos enriquecendo se ao se ampliar e transformar seu sentido original associado medicina e s
262. enso ouvir as narra es e registr las Enquanto estive com esses narradores que a mim confiaram suas vidas pude perceber a hist ria do Brasil se desenrolando e tomando corpo por meio de suas singularidades Dei me conta de que as usinas hidrel tricas n o foram constru das apenas por m os de homens mas indiretamente por mulheres crian as rela es de vizinhan a galinhas cachorros e afetos Entendi que a narrativa enquanto m todo mais do que registrar e analisar cientificamente essa produ o social e desejante tamb m afetar e ser afetado interpretar e ser interpretado Enquanto narradora na abertura desta pesquisa posso fazer an lise de implica o e registrar que muitos narradores receberam me quando n o somente me interessei por suas hist rias mas tamb m quando compartilhei a minha Quando ao perguntar acerca da sua hist ria eles puderam interpelar a minha e ao fazerem isso um bom in cio de conversa confirmou o que nos identificava ser barrageiro A produ o narrativa contida neste estudo para mim foi densa n o foi f cil produzi la e nem abra la Foi preciso me defrontar com o desejo de n o saber e de n o conhecer Ter de lidar com os afetos que pulsam com dor e paix o ao rever a hist ria vivida e a desejada Por isso fiz me narradora com esses narradores Continuo a interpretar a minha hist ria junto a deles Todavia entrego este enredo pesquisado ao leitor para tamb m continuar a interp
263. ente que pode resplandecer a capacidade de inova o e resist ncia ao mirar a diversidade de pr ticas imagin rios sociais e processos de subjetiva o que florescem n a realidade humana Consequ ncia disso seria buscar um alinhamento entre saberes respeitando suas diferencia es e especificidades Do uso do saber hegem nico que a institui o cient fica ocupa poder recuperar legitimar e desenvolver de modo aut nomo os saberes n o hegem nicos E como isso se processaria Santos 2002 2004 2008 ao discutir a sociologia das aus ncias e das emerg ncias no contexto do F rum Social Mundial em que se busca alargar a experi ncia social e dissemin la na perspectiva de uma luta coligada no bojo da globaliza o contra hegem nica apresenta nos o conceito de tradu o Uma utopia ativa que implica desafiar as formas hegem nicas e homogeneizadoras da globaliza o econ mica neoliberal que insiste em desapreciar futuros alternativos em rela o ao seu projeto Ao ultrapassarmos essa l gica reduta do neoliberalismo outras narratividades s o poss veis de maneira a evidenciar lutas conhecimentos e pr ticas at ent o considerados ausentes ou mesmo irreais Esse soci logo portugu s anuncia que para trazermos ao campo social e suas institui es os ideais que insistem em mudar o mundo de modo a confrontar o cen rio perverso opressor e destrutivo que permeia as rela es macro e microssocias subjugadas ao c
264. ep o marxista Sennett 2008 afirma que o trabalho sem o controle do trabalhador transforma o tempo em produto Seria a viv ncia temporal esva da e esvaziada que nas palavras de Blumenberg 1990 p 114 significa dar tudo por tudo para utilizar o tempo que lhe resta e n o dar tempo a mais ningu m Assim vemos como essa moldura temporal do capital voltada para a produ o toma conta da moldura territorial e existencial que abarca o mundo social e dos afetos o quadro de vida que Santos M 2002 nos ensina Passam a ser delineados na monocultura capitalista sofrimentos prazeres morte e vida condizentes com essa l gica Podemos verificar isso tamb m na acep o de Blumenberg 1990 quando resgata a fala perplexa de Goethe em sua juventude que denunciava a transforma o do 92 mundo em in meras exig ncias dantes podiam perder se anos agora nem um dia BLUMENBERG 1990 p 32 Da perda de dias hoje se exaspera por minutos e segundos Dizem por a n o posso perder nem mais um segundo Afinal que tempo confuso esse Quais s o os c lculos que operam racionalidades definidoras do que seriam ganhos e perdas Com quem ficam o cr dito e o d bito dessa matem tica tresloucada capaz de trazer a vida e a morte tal como Pandora que em sua bolsa carregava o bem e o mal Pandora suscet vel de ser amiga e inimiga dos homens ao dialogar com Br s Cubas ASSIS 1994 afirmava de modo incisivo
265. eportamos de modo espec fico para dialogar com o seu conceito de contempor neo A partir das indaga es que o autor tece que para n s s o esclarecedoras porque auxiliam a situar nosso tema de pesquisa nessa temporalidade somos estimulados a olhar n o somente para as luzes capazes tamb m de cegar mas aprendemos a vislumbrar as zonas escuras as reas de sombra para que Corr a 1993 havia alertado Contempor neo justamente aquele que sabe ver essa obscuridade que capaz de escrever mergulhando a pena nas trevas do presente AGAMBEN 2009 p 63 Esse racioc nio coerente com as proposi es da psicossociologia quando L vy 2001b analisa um caminho de produ o de conhecimento que seja capaz de construir uma linguagem que permita tanger o objeto e sua verdade que n o seja meramente objetivante Ser claro s vezes condenar se obscuridade em todo caso passar ao lado de seu objeto Se ci ncia e consci ncia est o ligadas como traduzir aquilo que lhes escapa L VY 2001b p 10 nesse movimento de estranhamento de colocar em xeque o que seria familiar na hist ria e no conhecimento acerca desse tema de pesquisa que optamos por teorias e metodologias em di logo que provocassem o deslocamento tanto do conhecido quanto das zonas disciplinares Basear nos tamb m no que fosse inatual diacr nico e aparentemente dissociado o que favoreceria a transdisciplinaridade a que nos propomo
266. er humano com o tempo possuem dimens o hist rica N o se reporta a algo dado mas socialmente constitu do ao longo do curso da Hist ria portanto mut vel como Elias 1998 demonstra em sua obra importante atentarmos para esse aspecto pois se produzimos uma rela o tir nica no com o tempo podemos nos rever nesse processo considerando o tempo de vida e constituir outras possibilidades mais humanas e idiorr tmicas de modo a forjar outros processos civilizat rios e subjetivantes que contraponham aquele que est institu do Todavia para mudar necess rio examinar o tempo im posto e seus efeitos Vimos um tempo hegem nico de dire o nica pois impositivo e desagregador ao fixar o tempo do trabalho do mercador sobre todas as outras 281 necessidades humanas A adaptabilidade e flexibilidade s o exigidas em m o nica cabe ao homem adaptar se ao tempo da empresa e n o o inverso preciso que o tempo seja til produtivo e portanto ocupado GAULEJAC 2007 p 78 79 Nessa l gica instrumental e produtivista o indiv duo compungido a estar disposto a abandonar seu horizonte de vida seu trabalho seus lugares suas rela es e seus afetos para se manter empreg vel Essa a disritmia nos modos de vida estabelecida pela racionalidade do capitalismo neoliberal Poder voltar se para a dimens o de perdas e ganhos humanos que ultrapassem a l gica financeira est cada vez mais distanciad
267. er viver tal como D bora nos sinaliza e nossos demais narradores Volver a esse passado que pulsa no presente mediante a narrativa uma maneira de se re viver simbolicamente Poder procurar outras vias para dar continuidade exist ncia logo uma dimens o de busca sociops quica pois de maneira indissoci vel vemos que procurar a si mesmo tamb m localizar o outro N o se trata apenas de uma nostalgia do que ficou para tr s mas de um redimensionamento da historicidade que possibilita passar a outra coisa encarar projectos fazer com que a vida continue noutro local de outro modo num tempo novo numa gera o nova LE GRAND 2005 p 276 Por isso temos afirmado de modo insistente ao longo deste estudo a narrativa vinculada ao potencial interventivo uma vez que oportuniza um trabalho de historicidade enquanto arte da exist ncia de reinven o de si Nas palavras de Le Grand 2005 p 277 uma pr tica autopoi tica do grego autos si e de poien produzir que visa produzir se a si mesma No material narrativo das tr s fam lias pudemos encontrar esses elementos como tamb m apreciar de modo n tido o cruzamento da inst ncia individual com a social hist rica Verificamos nas charneiras do espa o tempo individual sua inscri o nos campos social hist rico e pol tico Aspectos que explicitaremos adiante A diversidade do universo dos barrageiros e seus familiares Ser barrageiro e fam lia de barrag
268. erna era s a gente Raquel N o foi apenas a mudan a em rela o ao n cleo extenso da fam lia que trouxe estranhamento mas tamb m o clima local bastante distinto do de origem Essa cena em suas vidas permitiu um revigorar de lembran as que deixou rastros capazes de serem reavidos ao compartilharem esse per odo de suas vidas Superf cie sobre a qual puderam deixar as marcas de sua passagem por meio de recorda es da casa que os reunia do Natal que passavam juntos das guloseimas que saboreavam e dos fazeres di rios no mbito dom stico Uma regi o muito fria geada bem forte chegava a nevar Eu lembro do ch o bem branquinho quando minha irm ia para a escola que ficava marcada as pegadas dela no gelo Raquel Esse horizonte continua a ser revelado a minha recorda o do centro sul do Paran O centro sul do Paran era a casa sem muro era o gelo no ch o o pres pio que se movimentava O vendedor de algod o doce que passava nas casas fazendo o algod o doce na hora Eu sempre pedia para minha m e comprar e tinha que ficar guardado o da minha irm para quando ela voltasse da escola risos E eu ficava dando voltas ao redor do arm rio olhando o algod o doce dela que n o podia comer Ent o as minhas lembran as do centro sul do Paran foram essas Raquel inser o nossa Juntos foram capazes de lembrar com detalhes o cotidiano o extraordin rio frio a torneira que congelava a
269. ersidade nos arranjos familiares que adquiriram novas disposi es conforme a tessitura do enredo familiar e da trajet ria s cio profissional se enleava por diferentes condi es de trabalho de moradia de rela es sociais e subjetivas O cen rio existencial dos barrageiros e a viv ncia da migra o laboral foi acentuadamente transformado com a implementa o do capitalismo neoliberal pelo governo brasileiro no setor de produ o hidrel trico gerando fragiliza es nas condi es e rela es de trabalho e seu entorno social e subjetivo Na relatividade do dentro e fora do trabalho verificamos o tempo de trabalho e o tempo de vida des encontrados capazes tanto de interditar a vida em sua pot ncia criadora quanto de resistir transformando a exist ncia singular e a viv ncia familiar em uma insistente reinven o Palavras chave trabalho fam lia usinas hidrel tricas Psicologia Social DUARTE D A Mismatches between work and family family members narratives of migrant workers from the production sector of hydroelectric energy 2014 304 f Thesis Doctoral degree in Psychology Faculdade de Ci ncias e Letras Universidade Estadual Paulista J lio de Mesquita Filho Assis 2014 ABSTRACT Based on a theoretical and conceptual tripod composed of psychosociology narrative and hermeneutics we seek to understand the lifestyle of dam builders and their relatives Through narrative interviews with three distinct f
270. erspectiva Bertaux 2010 p 11 especifica que no m todo narrativo a proemin ncia reside no car ter nitidamente humano dos materiais recolhidos documentos humanos Nele h uma vivacidade e dinamicidade hist rica porque no momento de coleta seu conte do est in vivo Trata se da a o em seu curso inscrita em uma dura o Ao visualizar nosso tema de pesquisa pudemos verificar na narrativa a diversidade de experi ncias dos familiares de barrageiros que em suas hist rias de vida vivenciaram distintas temporalidades espa os e rela es tais quais os lugares de moradia atual que por sua vez remetem aos passados e se projetam em um futuro o trabalho que se teve o vivido e o desejado as mudan as de cidades da chegada estadia at a partida as intera es familiares com a comunidade e a categoria profissional bem como seus v nculos e desenlaces os diferentes arranjos familiares com suas pot ncias e fragilidades a din mica da des re constru o de um lar e sua rela o com os entornos hist rico social e laboral os projetos centrados na intersec o trabalho fam lia as transi es do mundo do trabalho e suas resson ncias na vida familiar e dom stica e os conflitos anseios desamparos im possibilidades manifestados em formas de ser trabalhar viver Diante disso Bertaux 2010 vinculado perspectiva etnossociol gica trouxe importantes elementos para chegarmos concep o de narrativa a se o
271. es atuais do materialismo hist rico dial tico como Antunes 2008 e Alves 2013 o trabalho fundado nessa contradi o que simultaneamente afirma e nega a vida necessidade para manter a sobreviv ncia mas aliena o ser social Possui car ter pendular impulsionado pela for a da positividade e pela da negatividade que assolam o mundo laboral e o do ser humano Com esses autores compreendemos que na conjuntura do capital o universo da mercadoria o que transforma degrada avilta e fragiliza a vida e o pr prio trabalho naquilo que ele cont m de pot ncia de vida Essa dualidade nos lan a nesse campo de embate Nela encontramos a dupla val ncia do trabalho como nos diz Lhuilier 2005 sendo essa val ncia tanto de constrangimentos e explora o quanto de constru o do sujeito N o podemos deixar desvanecer em meio a esse torvelinho a capacidade do labor de contribuir para a vida comum e ser meio de acesso realiza o pessoal no campo social Isso significa constatar que a mesma for a que tem para desagregar tamb m o tem para socializar e incitar o viver comum Como nos adverte Lhuilier 2005 n o devemos desviar o olhar do trabalho como cria o sua possibilidade de ultrapassar os constrangimentos e o devastar dos sentidos Uma concep o de trabalho em que tripalium n o possa ocultar e tomar para si o que h nele de opus e poiesis Isso n o significa recusar a negatividade mas poder subvert la e transp la a
272. es termos a 228 migra o ao oportunizar experi ncias de enraizamento e desenraizamento propicia uma viv ncia que gera paradoxos existenciais at que um tempo espa o rela o torne se conhecido e uma rela o de pertencimento possa adquirir uma tessitura capaz de abrigar o sujeito em um canto do mundo Circunstanciar isso no contexto de vida do barrageiro para n s importante pois essa categoria profissional e seu grupo familiar est o sujeitos a in meros deslocamentos de diferentes motiva es e g nese que devem ter suas significa es conhecidas e seu contexto socioecon mico elucidado Vejamos os n s interprocessuais dos Citrino a respeito disso ao retomar sua hist ria profissional e familiar A primeira mudan a do casal enquanto fam lia constitu da foi motivo de estranhamento que esse grupo social experimentou mediante o estandarte do ser barrageiro Os Citrino em sua narrativa mencionam o processo de estranheza o forasteiro que n o apenas sentiram em rela o ao lugar mas tamb m diante das pessoas oriundas deste os aut ctones Experi ncia similar de um estrangeiro o al ctone mesmo sob a mesma bandeira de seu Estado na o o que denuncia as diferentes experi ncias de Brasis e de ser brasileiro neste pa s de dimens es continentais e intensas disparidades O relato dos Citrino acompanhado de um sentimento de inquieta o ao circunstanciar lugares cujas pessoas desconhecem o contexto de b
273. esclarecidas no telefone 18 3302 5607 ou pelo e mail cep Dassis unesp br ou diretamente com a pesquisadora no telefone 44 9710 6611 ou e mail daduarte DQuem br I A pesquisa Esta pesquisa tem por objetivo compreender a interface trabalho fam lia a partir do contexto laboral dos trabalhadores migrantes do setor de produ o de energia hidrel trica e os desdobramentos do processo migrat rio desta categoria profissional sobre as rela es familiares As informa es recebidas ser o de grande import ncia para conhecer como as novas formas de organiza o do trabalho interferem na constitui o e din mica familiar e como esta por sua vez se desdobra sobre o mbito laboral do trabalhador migrante do setor de produ o de energia hidrel trica II Procedimentos Os procedimentos dos quais voc participar s o os seguintes Atrav s de uma entrevista narrativa em um local a combinar e que voc esteja de acordo voc ser solicitado a falar sobre a sua experi ncia a partir da sua hist ria de vida nesse contexto podendo responder e cont la como quiser usando suas palavras e conhecimentos O tempo de dura o foi estimado no m ximo duas horas Para facilitar a an lise dos dados a entrevista narrativa ser gravada e transcrita literalmente ou seja passaremos para o papel tudo o que foi dito exatamente da forma como voc falou III Riscos Desconfortos e Benef cios Poss veis riscos ou d
274. esconfortos Poss veis Riscos ou desconfortos ser o evitados mas caso aconte am todos os cuidados ser o tomados para adequar o procedimento s suas necessidades ou interromper a pesquisa para atend lo Os pesquisadores o ajudar o no que for necess rio sendo respons veis pelo acompanhamento e assist ncia No decorrer da pesquisa todos os procedimentos ser o esclarecidos antes de serem realizados 300 Benef cios esperados Os benef cios esperados s o poder compreender melhor os efeitos da rela o trabalho fam lia no contexto da migra o laboral dos trabalhadores do setor de produ o de energia hidrel trica Al m disso construir conhecimento no campo da Psicologia e reas afins a respeito da tem tica da pesquisa para contribuir com pol ticas e servi os vinculados sa de do trabalhador da fam lia e da comunidade IV Liberdades Garantias Voc possui total liberdade para recusar se a participar desta pesquisa ou de retirar o seu consentimento a qualquer momento sem penaliza o ou preju zo ao seu cuidado Voc possui total liberdade de n o responder s perguntas ou n o participar de momentos que possam causar lhe constrangimento de qualquer natureza sem que isto acarrete qualquer nus ou preju zo sua pessoa V Sigilo Anonimato A sua participa o sigilosa ou seja as informa es prestadas s o confidenciais e em hip tese alguma ser o motivo de divulga
275. escraviza como tamb m gera possibilidades e traz cerceamentos n o s o flexibilizadas as rela es do trabalhador com os prazos lim trofes para um quantum infind vel de atividades mas s o incrementadas carga de trabalho para al m do espa o organizacional Trabalha se cada vez mais para al m do escrit rio e da f brica Aprisionado na imediaticidade do real e dos prazos o curto prazo propaga se na corrida contra o tempo exigindo dedica o e qualifica o ininterruptas a fim de extrair efic cia m xima e ultrapassar marcas dos prazos e metas a serem batidas antes mesmo de atingidas A urg ncia do isso era para ontem a for a propulsora que tem tolhido vidas dentro e fora do trabalho pois nessa proposta Perder ou ganhar um minuto pode se refletir em grandes perdas ou ganhos financeiros CARRETEIRO BARROS 2011 p 218 De fato nessa conta uma propor o certa menos tempo est para mais trabalho Uma equa o impiedosa em que a medida a ser alcan ada a financeira em detrimento de quaisquer outras refer ncias Nessa ordem n o se extrai apenas a mais valia mas realiza se um rapto da pr pria vida dos indiv duos submetidos a ela O comportamento maquinal se instala custa dos desejos sonhos e projetos existenciais Viv ncias essas que os nossos narradores puderam refletir ao apontar a invas o do dentro do trabalho espa o das hidrel tricas sobre o fora do trabalho o espa o dom stico Isso se e
276. essos s o capazes de propiciar v nculos como tamb m desagrega o Nesses termos o enraizamento permite refletir as refer ncias do ser humano a trajet ria biogr fica e a participa o de um grupo em um meio afetivo e social Vide Duarte 2009 229 que fez essa transfer ncia gerar outras mudan as Nesse per odo os Citrino procuravam ficar juntos nas novas cidades contudo pelo alto custo de vida na localidade mais pr xima do trabalho para o qual Davi fora transferido e por n o conseguir um lugar que considerasse adequado e seguro para sua fam lia principalmente por fazer recorrentes turnos noite decidiram que Davi ficaria viajando de carro ou nibus para o trabalho e a fam lia continuaria na cidade em que estava Per odo dif cil para os Citrino fazendo com que Davi buscasse negociar com a empresa seu retorno para uma das cidades em que havia morado Para conseguir isso ele pleiteiou um ganho salarial e uma nova fun o no Cipreste o setor de opera o onde permaneceria desde ent o Por se tratar de uma obra e uma cidade que estava em constru o e por ser afastada de um polo regional com maior infraestrutura urbana Davi estava ciente de que muitos barrageiros n o se interessariam ir para essa localidade fazendo disso sua principal moeda de negocia o O Cipreste deu anu ncia e a fam lia mudou se para a casa que futuramente comprariam do Cipreste ao ser liberado o processo de venda Dessa vez a cidade de t
277. estigativa reside um intento de reflex o e compreens o acerca da linguagem em suas diversas manifesta es formas e dimens es Entendemos o filosofar como aquilo que busca a compreens o da 169 multiplicidade das linguagens e visa superar a fragmenta o que a acomete tal qual o mundo do trabalho que se encontra fragmentado desarticulado e cindido Um dos problemas fundamentais da nossa cultura o da fragmenta o das linguagens linguagem do cientista do t cnico da vida quotidiana do artista etc E colaborar decididamente para salvar a unidade da linguagem a responsabilidade do fil sofo JAPIASSU 1977 p 15 Nesse prisma encontramos rastros que nos indicam dire es para a condu o da pesquisa Construir um trabalho cient fico em que as distintas linguagens componham juntas o conhecimento sobre algo n o cabe apenas ao fil sofo mas tamb m a qualquer pesquisador e ator social que reconhe am as insufici ncias dos estilha os de pensamento e saber que mitigam o di logo Precisamos reunir a linguagem do trabalhador do familiar do pesquisador e de saberes distintos que em polifonia venham nos dizer sobre o objeto de pesquisa Combin las cuidadosamente em uma unidade diversa um trabalho em que a narrativa e a hermen utica sinalizam rumos com o anteparo da psicossociologia formar uma trama nica com fios distintos Verificamos essa promissora vincula o entre hermen utica e narrativa quando r
278. estudo em suas particularidades e generalidades Com Gaulejac 2006 aprendemos a refinar nossa capacidade de escuta ao lan ar uma pergunta disparadora de modo a trabalhar com o discurso que p de emergir com o material que t nhamos e n o um idealizado Em vez de pedir para as pessoas falarem escutamos o que elas diziam sobre si mesmas em diferentes situa es tentando marcar o que podia ter rela o com o universo do barrageiro Basta ali s ter um ouvido atento para que por um acaso feliz as pessoas evoquem justamente o que voc espera Mas tamb m preciso dizer que ao desenvolver sua capacidade de escuta do universo do barrageiro se abre um espa o de fala GAULEJAC 2006 p 21 inser o nossa Tendo isso em vista circunstanciaremos um pouco melhor as dificuldades sinalizadas anteriormente Acerca da primeira dificuldade a impossibilidade de reunir todos os membros da fam lia conseguimos realizar as entrevistas narrativas coletivas com todas as tr s fam lias em que compareceram o barrageiro e seu c njuge Contudo com a participa o dos filhos somente com os Top zio As fam lias Citrino e Safira tiveram tamb m seus respectivos filhos convidados a integrar as entrevistas narrativas por m eles n o formalizaram o encontro com a pesquisadora para a realiza o das mesmas Um fator contributivo entre outros que apontaremos mais adiante foi alguns deles morarem em outra cidade e ou lugar distinto da
279. et al Dicion rio de Psicossociologia Lisboa CLIMEPSI 2005 LIMA M E A A quest o do m todo em psicologia do trabalho In Psicologia organizacional e do trabalho teoria pesquisa e temas correlatos 3 ed S o Paulo Casa do Psic logo 2010 294 MACHADO M N M et al Pref cio segunda edi o In LEVY A et al Psicossociologia an lise social e interven o Belo Horizonte Aut ntica 2001 MACHADO M N M Pr ticas psicossociais pesquisando e intervindo Belo Horizonte Edi es do Campo Social 2004 MACHADO L Z M Fam lias e individualismo tend ncias contempor neas no Brasil Revista Interface Comunica o Sa de Educa o v 5 n 8 p 11 26 2001 MANARIN O Pe es da barragem Mem rias e rela es de trabalho dos oper rios da constru o da Hidrel trica de Bambu 1975 a 1991 Disserta o mestrado Universidade Estadual do Oeste do Paran Campus Marechal C ndido Rondon 2008 MAISONNEUVE J Introdu o psicossociologia S o Paulo Ed Nacional Ed da Universidade de S o Paulo 1977 MARX K O capital Cr tica da economia pol tica V I tomo I S o Paulo Nova cultural 1996 MATTOSO J E L A desordem do trabalho S o Paulo Scritta 1995 MELO NETO J C Museu de tudo Rio de Janeiro Objetiva 2009 MELLO S L Fam lia perspectiva te rica e observa o factual In CARVALHO M C B A fam lia contempor nea em debate 4 ed S o Paul
280. etamente desse acontecido na hist ria do pa s e n o somente por testemunhar esse fato em suas vidas la gente atr s do caminh o A viagem um pouco parava at o caminh o passar um trecho N o sei se eles desviavam n o sei o que acontecia que o tr nsito n o andava Parava literalmente porque o caminh o quase n o andava e era muito grande Cada uma das pe as das turbinas foi transportada assim imagina Nem sei de onde que vinha De onde vinha Onde era constru do aquilo Eu sei que a gente ficava assim sabe muito grande muito grande a gente viu Chegava cidade Pai chegou chegou Ia aquela galera ver transportar A eles iam ver faziam o maior estudo para ver por onde era melhor passar para n o interromper o fluxo de carros da cidade Era o maior acontecimento a chegada das pe as Tanto que os funcion rios mesmo ficavam super ansiosos ao chegar Raquel Todo esse per odo memor vel com saudosismo A narrativa da fam lia expressa uma fase confiante de suas vidas que lhes permitiu vivenciar as rela es e os afetos de modo mais protegido seguros uns dos outros Sem preocupa o com moradia escola sa de desemprego e contas para pagar Dava todo o suporte que a gente precisava O Bambu supria A melhor poca da nossa vida como fam lia eu acho Principalmente nessa quest o financeira de n o se preocupar com essas coisas Porque a gente foi conhecer o que era ter um plano de sa d
281. eto Conforme Carvalho 2002 um modelo hist rico e ideol gico foi constru do e persiste com vistas a conformar a multiplicidade familiar a um padr o simb lico e idealizador o nuclear Esse molde habita o imagin rio social e as pol ticas p blicas em seus consensos e dissensos Nesse modelo espera se que a fam lia seja garantidora da produ o de cuidados de prote o de constru o de identidades de viv ncia afetiva de v nculos de pertencimento e origem promotora de qualidade de vida a seus membros e introdutora do ser individual no mbito societal Verificamos que a fam lia contempor nea comporta uma pluralidade de fun es captando desde a prote o socializa o forma o at o papel de empreendedora Nesse panorama ela se converge como refer ncia para o indiv duo desde o nascer bem como para o Estado e o capital Por conseguinte torna se cada vez mais requisitada pelas organiza es e pelas pol ticas p blicas de acordo com Cervency 2007 essa institui o tem sido alvo recorrente de a es do judici rio da assist ncia social da sa de e da educa o bem como alvo de controle do trabalho Contudo o que a autora nos chama a aten o para percebermos essa constru o acerca da formata o da fam lia enquanto expectativa e n o como garantia plena do cumprimento de todos esses requisitos Isso se faz porque aquilo que lhe demandado gera tanto possibilidades quanto impossibilidades de se
282. eu paciente acamado Por isso gostar amos de nos demorar um pouco mais para falar do olhar cl nico pois entendemos que al m de ele ser sustentado por proposi es te ricas distintas diz respeito a vis es de homem e sua rela o com o mundo assim como uma no o espec fica de ci ncia que o consubstancia Diante disso temos a cl nica que abrange a esfera social uma abordagem como partilhamos com Costa e Brand o 2005 e uma metodologia segundo S vigny 2001 Para al m do sofrimento ela indaga sobre o sujeito e o social articula o registro ps quico e societ rio busca conhecer os sentidos atribu dos pelo sujeito ao real seus processos criativos sua possibilidade de mobilizar contrapor agir e resistir Anseia por compreender a conjuga o dos processos de subjetiva o e do social Nesse sentido segundo o dicion rio Houaiss 2001 h do grego klinik s n relativo ao leito e tamb m kl n inclinar se deitar se Isso faz do pesquisador int rprete um cl nico em ci ncias humanas que segundo S vigny 2001 p 15 coloca se junto ao leito Nessa vis o consoante aos referidos autores o leito aqui entendido amplo e possui dimens o social sendo os grupos as organiza es as institui es e as comunidades s quais o sujeito se vincula A segunda deriva o diz do estar junto como compadecer do sofrimento do outro de suas alegrias conquistas e derrotas entrar
283. fa do Bambu Pensa na farofa boa de soja Por causa dos nutrientes da soja com carne tinha eu n o sei te dizer se era carne de boi ou se era carne de soja Eu s sei 76 O texto Omelete de Amoras de Benjamin 2011 encontra se na integra na se o dos anexos anexo 3 204 que tinha um neg cio muito bom l dentro Era farofa de soja Eu sei que nunca mais na minha vida eu vou comer com aquele gosto vou sentir aquele sabor E at quando eu sa do col gio depois voltei para visitar o Paran j tinha mudado de l eu tentei entrar no col gio na sexta feira para comer a farofa de novo Porque assim eu morria de vontade de comer porque era muito boa O leite eu dispensava n o gostava do leito de soja Mas a farofa quando eu n o levava o copinho eles distribu am a farofa at uma certa idade At o gin sio se eu n o me engano ou at o prim rio e eu n o tinha mais direito farofa eu sabia que pavilh o era o prim rio por exemplo Eu ia l com papel de caderno feito um cone com uma cara de coitadinha para a inspetora para ela poder me dar porque eu n o era mais da turma que recebia farofa Mas eles davam sempre tinha Sempre que voc aparecia l com o papel elas j sabiam que era crian a e elas davam para a gente Uma del cia Raquel inser o nossa Vemos essa lembran a ressoar com nitidez no tempo presente Mas um olhar cuidadoso tamb m permite visualizar o controle e inser o capilar que
284. familia fosse para quem partiu ou quem ficou Os paradoxos da busca por esses lugares de vida no trabalho e na fam lia se manifestaram em cis es na viv ncia de g nero no estranhamento provocado pela dist ncia capaz de fragilizar vinculos no deslocamento de pap is assumidos no seio familiar e no desamparo diante de um futuro desconhecido e incerto Todavia como mencionamos para contrapor essa realidade as fam lias de barrageiros acionaram recursos no pr prio trabalho rastros da positividade ultrapassando essa categoria como simples meio de se manter financeiramente Vemos desse modo a polissemia do trabalho e os processos de subjetiva o por ele veiculados ao construir ao seu redor significa es do projeto familiar dos arranjos familiais a fim de suprir a aus ncia do chefe de fam lia e dos v nculos sociais outrora estabelecidos nas rela es de vizinhan a e de comunidade no per odo dos n cleos residenciais de barrageiros Cada fam lia buscou elaborar seus quadros de vida em constante transforma o de maneira que novos encontros entre trabalho e fam lia pudessem ser forjados para superar os desencontros sofridos Isso denota uma singular capacidade dessa unidade social de engendrar diferentes arranjos familiares tais como as pe as de um caleidosc pio em movimento Entretanto tais arranjos se reportaram muitas vezes a mudan as que tenderam a conservar os mesmos pap is e fun es como o trabalho reprodut
285. fato de Davi nunca ter ficado desempregado pois come ou e se aposentou na mesma firma por m insistem que ficar longe continua sendo algo dif cil e ruim mesmo convivendo com essa realidade h pelo menos 35 anos como fam lia Citrino 233 Des encontros trabalho fam lia da gua represada s comportas abertas Como vimos at aqui o trabalho em barragens constituiu a vida dos Citrino e seus membros familiares Seus tr s filhos foram criados em localidades vinculadas s hidrel tricas especificamente nas vilas que representam o locus identificat rio dessa categoria profissional capaz de sintetizar a especificidade de vida e labor s vezes o barrageiro cria a fam lia todinha dentro da barragem Mudando de um lugar para outro depois que sai talvez vai criar fam lia Mas tem aqueles filhos que seguem barragem Davi Percebemos aqui que o trabalho em barragens pode de alguma maneira integrar a fam lia ao mesmo tempo em que pode desintegr la seja esgar ando as rela es rompendo as ou ao espalhar seus entes pelos lugares de passagem A aposentadoria de Davi n o significou um retorno para casa mas a retirada para longe Embora os filhos estivessem adultos quando isso principiou uma lembran a dessa perda de conviv ncia desde a inf ncia de seus filhos resgata por Lia quando Davi partiu para uma cidade distante e os deixou at haver uma oportunidade que acertasse a ida de todos os entes familiares Lia
286. fetivou tanto pelo trabalhador exausto que chegava em casa e n o participava de atividades familiares pois tinha que cumprir os prazos enxutos e sucessivos turnos laborais quanto o campo de domina o da empresa sobre a casa escola fam lia e cen rio de moradia Nessa perspectiva a subjetividade torna se anquilosada em seu movimento como anunciaram Capit o e Heloani 2003 ao analisar as condi es e exig ncias do mercado de trabalho na atualidade O amortecimento do sentido da vida se expressa em formas de evita o do sofrimento e nas diversas doen as ocupacionais N o deixam impunes as marcas do sofrimento infligidas ao corpo e subjetividade ao serem cerceados em seu movimento cria o e indaga o 103 Nesse ponto cabe nos recorrer ao conceito seminal de idiorritmia de Barthes 2003 p 21 para dimensionarmos esse debate Evocada por esse autor essa terminologia possui origem na aprecia o dos modelos religiosos contudo relevante para n s sua releitura por ser um recurso para pensar a hist ria do nosso mundo Olharemos um pouco mais de perto essa reflex o para ponderar a cad ncia r tmica do grande mercador sobre os processos de subjetiva o Com a imposi o de distintas formas de controle social sobre a vida fere se aquilo que pretenda resistir romper e desviar das normas do capital Por isso ao pensarmos a idiorritmia em seu campo sem ntico podemos encontrar significados que se condensa
287. forma es na produ o e na gest o do trabalho na virada do s culo XX para o XXI Destacamos de modo pontual alguns desses efeitos e autores que discutem essa conjuntura na atualidade Quadro 3 Principais transforma es na produ o e gest o do trabalho no final do s culo XX e in cio do s culo XXI TRANSFORMA ES EFEITOS AUTORES Acirramento da concorr ncia interna e externa Banaliza o da injusti a nega o do Alves 2011 2013 sofrimento viol ncia fragiliza o dos Antunes 2001 2007 pertencimentos degrada o da sa de do 2008 Capit o e trabalhador Heloani 2003 Dejours 2008 Franco Druck Seligmann Silva 2010 Enriquez Acentua o das aquisi es fus es e privatiza es perversas 1999a 1999b 2006 Gaulejac 2007 Pag s 1990 Sennett 2008 Quebra dos la os sociais e afetivos perda Antunes 2001 2007 do sentido do trabalho sentimento de 2008 Dejours deriva dentro e fora do trabalho 2008 Enriquez 1999a 1999b 34 Estamos cientes de que esses autores possuem diversas outras produ es e publica es nessa rea assim como outros nomes poderiam ser mencionados contudo assinalamos apenas algumas refer ncias para destacar ao leitor literaturas que t m contribu do para essa discuss o inclusive as que foram utilizadas para a nossa pesquisa 19 2006 Gaulejac 2007 Pag s
288. gar singularidades Compor com distintas idiorritmias um ritmo coletivo que n o mais sobrepuje de modo degradante o tempo da vida Avistando isso poder amos viver junto o tempo espa o e as rela es em um tr plice presente a ser narrado em outra l gica que n o fosse exclusivamente a do dinheiro nem a da monocultura do capital Enfim se nos delongamos at aqui foi porque tivemos de lidar com o infind vel trabalho de interpreta o do mundo do texto logo da exist ncia humana Sendo assim n o esgotamos perguntas e respostas tampouco o tema de pesquisa As quest es abriram se assim como nosso horizonte que apenas ao ser percorrido p de ser avistado em sua amplitude Tal como Ricoeur 2008 deparamo nos com a interpreta o que n o um saber absoluto pois ao desvendarmos o texto avistamos um mundo a ser continuamente aberto e re descoberto Esperamos assim neste fechamento aberto da pesquisa expandir o convite para que outras narrativas desse tema possam continuar a ser constru das e compreendidas nos campos da ci ncia e do vivido Continuar narrando tal como Xahraz de seria um meio prof cuo de manter a vida sobreviver perversidade lan ada no universo laboral nos moldes neoliberal e de ponderar sobre os des encontros trabalho fam lia Meio esse de recusar o aviltar da vida humana Para tanto insistimos preciso continuar a narrar seja a pesquisa seja a vida H muitas hist rias ainda n o narradas a
289. geiros enquanto trabalhadores migrantes com seus familiares s o in conformados a essa l gica e o tempo do trabalho sobrepuja o tempo da vida em que a dist ncia requerida pela atividade produtiva n o permite conjugar a do n cleo familiar e a de sua rede social Dobrar os corpos e os cora es engendrar 93 um processo de resigna o que produz no trabalhador um silenciamento sofrente ao tentar adaptar se ao tempo espa o rela o laboral em detrimento de outras viv ncias Isso pode se agravar mediante dois modos de controle destac veis na atualidade o controle dos resultados pela competi o econ mica e o controle organizacional pela m quina burocr tica Esses prevalecem no universo das grandes organiza es industriais administrativas e prestadoras de servi o remetem ao controle do trabalho e do rendimento que os indiv duos realizam como dever O controle dos resultados um dos mais sutis e modernos porque apela iniciativa e inventividade de cada trabalhador em seu dia a dia O importante para os grupos organiza es ou indiv duos o sucesso nos neg cios e na vida sucesso reconhecido e invejado pelos outros indispens vel de qualquer forma para se manter na corrida e n o se tornar desacreditado pelo sistema A competi o se estende a todos os dom nios competi o entre empresas concorr ncia interna entre departamentos rivalidade entre os indiv duos entre universidades Todo mund
290. giliza o imersa na negatividade disparada Trabalho trabalhador e sociedade passam a ser enfraquecidos em seus la os provenientes do labor A singularidade e a coletividade passam a sinalizar seus efeitos desalentadores engendrando o processo de sa de adoecimento vinculado ao trabalho e manifestando os desdobramentos disso em curto e longo prazos como apontamos no Quadro 3 e poderemos perceber de modo claro nas narrativas de vida de nossos barrageiros Na propuls o do consumo sem precedentes a financeiriza o do capital mais as transforma es tecnol gicas no contexto da mundializa o modificam esse cen rio com maior intensidade Institui se um nivelamento das rela es sociossubjetivas mediante a l gica do cassino financeiro termo cunhado pelo ganhador do pr mio Nobel de economia Allais citado por Enriquez 1999b Esse cassino financeiro e mundial especulativo blefa e institui uma desenfreada guerra econ mica por interm dio da concorr ncia o dinheiro pelo dinheiro e o consumo pelo consumo a extrapola o do capital financeiro que est substituindo o capital industrial Trabalha se cada vez mais com um n mero menor de trabalhadores quando a cobertura social e salarial decresce assustadoramente em propor o ao acr scimo da riqueza dos detentores do capital N o s o apenas trabalhadores que s o lan ados aos exorbitantes n veis de desemprego e expostos mis ria material e imaterial mas o
291. gurado no cotidiano dom stico e na intimidade Momento de reconstru o relacional ao regressar para casa Uma temporalidade a ser desenhada com moldes que n o sejam o tradicional tempo de trabalho o que propicia um duplo retorno o do marido e pai que estava geogr fica e afetivamente afastado devido s horas a serem destinadas ao trabalho Lugar a se ocupar a ser compreendido e significado por seus pr prios membros Raquel da fam lia Top zio dispara essa quest o ao mencionar esse per odo do pai aposentado em casa com a fam lia como o usufruto do finalmente n o fazer nada diferente de sua m e que se angustia diante desse tempo do n o trabalho Acerca disso a fam lia Citrino ainda est por vivenciar Davi continua trabalhando e retorna para casa em m dia uma vez por m s nos finais de semana Contudo sua volta est prestes a acontecer assim que o contrato for encerrado Lia expressa uma temporalidade desejante que venha propiciar enfim ao casal envelhecer juntos na presen a dos netos e demais familiares Poder sair da condi o de mulher vi va de marido vivo e ter junto de si um cotidiano compartilhado face a face Os Safira est o recobrando essa viv ncia conjunta em uma rotina ainda a ser constru da e ressignificada dos anos passados a dist ncia Pela primeira vez ap s 14 anos casados est o residindo na mesma cidade tempo lugar e rela o de reconhecer um ao outro Diante disso a busca
292. hecer esse ato n o podia cessar A narrativa de Shehrazade o avesso encarni ado do assass nio o esfor o de todas as noites para conseguir manter a morte fora do ciclo da exist ncia FOUCAULT 2009 p 268 Nas palavras de Gu rin 1995 p 18 ao fazer tamb m alus o a essa obra a fun o do narrar assume uma estrat gia de sobreviv ncia singular em que entre a vida a querer e a morte a fugir existem mil e uma formas de levar a vida GU RIN 1995 p 18 Encontramos essa mesma constata o em Todorov 2006 p 126 129 pensador de origem b lgara acerca de sua an lise sobre o Livro das mil e uma noites Se todas as personagens n o cessam de contar hist rias que esse ato recebeu uma suprema consagra o contar igual a viver O exemplo mais evidente o de Sherazade ela pr pria que vive unicamente na 32 medida em que pode continuar a contar A narrativa igual vida a aus ncia de narrativa morte O homem apenas uma narrativa o grito das Mil e Uma Noites n o A bolsa ou a vida mas Uma narrativa ou a vida Nesses assinalamentos deparamo nos com a narrativa enquanto pot ncia de vida Ela remete ao viver pois meio de lutar contra a morte e um constante reinventar Podemos extravazar o mbito liter rio que afirma a liga o indefect vel entre personagem e a o para visualizar a dimens o que a narrativa de vida assume nessa pesqu
293. hegando a envolver o Ex rcito para a resolu o do conflito Exemplo disso foi o epis dio de um grupo ao exprimir sua insatisfa o com a comida servida pelas empreiteiras conforme Froelich 2001 apresenta em seu estudo que 266 incorreu em viol ncia e repress o Imerso a tudo isso continuava a imperar o ritmo fren tico de labor durante toda a constru o da barragem O par desenvolvimentista e autorit rio estava entrela ado pois era regido por uma ideologia pol tica econ mica cujos objetivos eram estritamente monet rios e financeiros Durante o per odo da ditadura militar 1964 1985 o pa s sob o autoritarismo veiculava uma ideologia desenvolvimentista em que o governo apresentava sociedade uma pol tica social e de desenvolvimento econ mico com o intuito de acelerar a acumula o de capital mediante uma r pida industrializa o Foi o per odo das grandes obras quando v rias hidrel tricas foram constru das por serem tidas como s mbolo do progresso e condi o para o pa s crescer mediante a gera o de energia Contudo esse ide rio desenvolvimentista era movido pelo autoritarismo O aspecto ideol gico era subsidiado por uma pol tica social geradora de um imagin rio de seguran a combatendo os inimigos externos e internos Esse modelo de comando estendeu se para os canteiros de obras onde a autoridade n o podia ser contestada sendo entendida como efici ncia no trabalho Posto isso havia a cl ssic
294. heres Esse fato se fazia expressivo j em meados de 1800 Tudo indica portanto ao menos na primeira metade do s culo XIX os domic lios de pessoas pobres eram geralmente chefiados por mulheres que contavam com o trabalho da fam lia para sobreviv ncia Em todos esses lares era comum a lideran a feminina organizando as tarefas gerenciando os pequenos neg cios e exercendo o controle da fam lia o que sem d vida fugia regra do modelo patriarcal as evid ncias hist ricas examinadas s o enriquecedoras para repensarmos o perfil da nossa fam lia na atualidade e a complexidade de padr es que existiram nos s culos XVIII e XIX nas diferentes regi es etnias e grupos s cio econ micos o que comprova que ao menos numericamente a fam lia brasileira n o era sin nimo de fam lia extensa SAMARA 2002 p 37 Temos que reconhecer que o modelo patriarcal prevalecia no imagin rio social e por que n o cient fico por se apresentar ideologicamente como ideal e necess rio para a manuten o da divis o de classes e manuten o do status quo Conferia prest gio moral e reconhecimento social Percebemos essa l gica sendo reiterada no atual modelo adotado que concebe como ideal a fam lia nuclear burguesa pois s o a sua forma e a composi o que determinam o que fam lia completa funcional e estruturada O que fugir desse par metro se n o for taxada como incompleta e desestrutur
295. hidrel trica Os familiares acompanhavam o chefe de fam lia por haver a garantia de moradia e um contrato firmado em prazo maior Jonas ia adiante para acertar a moradia e posteriormente traz los em seguran a Entretanto seus familiares deixaram de acompanh lo em seus novos locais de trabalho pelos seguintes motivos 1 contratos tempor rios de trabalho 2 lugares long nquos e sem estrutura que permitissem receber a fam lia fosse por n o haver um n cleo residencial fosse por Jonas morar temporariamente em alojamentos e ou rep blicas 3 recorrente migra o dispersas em diferentes frentes de trabalho Os n s sociops quicos aqui denotam as transforma es nas condi es e rela es de trabalho o mercado laboral que se tornou incerto e lan ou Jonas em uma via migrat ria marcada pela err ncia pois esse barrageiro seguia as oportunidades de trabalho conforme conseguia um novo contrato de trabalho ou assumia um novo projeto em outra localidade O que mudou na viv ncia afetiva e relacional foram os pap is designados at ent o ao pai de fam lia como visto A fam lia Citrino acompanhou Davi quando havia uma refer ncia local de moradia fosse do n cleo residencial promovido pela empresa estatal ou selecionado pela fam lia compat veis com seus recursos materiais e imateriais Nas primeiras mudan as os membros familiares o acompanhavam Passaram a n o residir juntos quando n o dispunham de uma localidade que n o ofe
296. i logo se originou na Fran a Sua formaliza o deu se em 1959 com a ARIP Association pour la Recherche et l Intervention Psychosociologique Sua inten o era irradiar os trabalhos de grupo e de interven o em psicossociologia Os principais representantes s o Andr Levy Eug ne Enriquez Jean Claude Rouchy Max Pag s Guy Palmade e Jean Dubost No Canad destacam se Fernand Dumont Milhiot e Robert S vigny Em 1969 Max Pag s rompe com a ARIP e funda o LCS Laboratoire de Changement Social Vincent de Gaulejac que chegou a compor o LCS far parte da segunda gera o ao se juntar com S vigny e Enriquez passando a difundir a sociologia cl nica A ARIP manteve suas atividades at a sa da de todos os seus membros restando Rouchy quem manteve pesquisas e forma es nessa associa o Em 1992 houve uma nova mudan a pois o grupo que havia deixado a ARIP migrou e fundou com outros psicossoci logos o Cirfip Centre Internacional de Recherche de Formation et d Intervention Psychosociologiques S o representantes dessa segunda gera o com Cirfip Jacqueline Barus Michel e Gilles Amado Necess rio acentuar que nesse momento do Cirfip h uma ampla internacionaliza o que gera novas parcerias pesquisas e difus es da Fran a para a Europa Am rica do Norte Brasil M xico e Uruguai Desse per odo surge a terceira gera o no Brasil damos destaque a alguns acordos e coopera es entre universidades francesas e br
297. ial do campo pois elas cont m e expressam rela es sentidos e significados espec ficos do grupo e dos sujeitos em quest o apresentam o mundo do autor que estamos por conhecer Constru o dos temas delimitadas as categorias emp ricas e anal ticas partiremos para a constru o de temas quando reuniremos o material de campo em torno de classifica es que versem sobre quest es chaves acerca do mundo do narrador e dos temas centrais a serem debatidos na pesquisa as viv ncias dos participantes acerca dos des encontros trabalho fam lia no contexto do barrageiro Este o segundo levantamento de temas que reunir essas categorias de modo a afirm los Leitura transversal percorremos o conjunto e subconjunto do texto em sua totalidade Buscamos localizar os n cleos argumentais expressos em categorias e temas vinculados s quest es levantadas seja pelo pesquisador seja aquele emergido do material coletado a fim de validar os temas Este o momento de confirm los Isso nos levar a discorrer em breve sobre o c rculo hermen utico An lise final discutimos de modo greg rio o corpus do material luz dos r fundamentos te rico conceituais que pautam a pesquisa E o encontro do 74 Importante situar que entendemos os argumentos como constituidores de um tema 175 material emp rico com o te rico por excel ncia O racioc nio visa alinhavar os passos anteriores de modo a discutir os n cleos arg
298. ica es geralmente constru es prec rias de madeira e com estrutura deficit ria que persistiram 237 Al m disso problemas posteriores como o risco de transformar se em uma cidade dormit rio por n o promover um desenvolvimento regional outrora idealizado ideologia desenvolvimentista e conflitos referentes municipaliza o remetem a diferentes experi ncias por que o Cipreste passou ao empreender hidrel tricas e prot tipos de cidades colados quelas Contudo com viv ncias acumuladas em hidrel tricas anteriores vemos o Cipreste construindo UHEs e formando acampamentos que se tornariam cidades ou se incorporariam a elas como algumas de suas obras no rio Paranapanema entre outras Isso acontecia porque ao se erguer usinas em lugares ermos nem sempre podendo contar com a infraestrutura de cidades pr ximas criavam se acampamentos que eventualmente se transformavam em n cleos urbanos pois um n mero expressivo de trabalhadores era remanejado de obras anteriores ou integrado atual barragem em constru o por meio das empreiteiras contratadas Um modelo t pico de f brica vila oper ria LOPES 1988 apud FROELICH 2001 que mant m centrado no capitalista a propriedade da terra e do capital no caso do Cipreste empresa outrora estatal e da principal empreiteira envolvida na constru o da usina empresa privada Cen rio que reuniu ao redor da hidrel trica do Cipreste um imagin rio paternalista
299. ica Essa obra que data do in cio do s culo XX e refere se s reas de lavoura canavieira do Nordeste fez dessa modalidade familiar o par metro de an lise para investiga es das fam lias brasileiras generalizando de modo equivocado ao ignorar outras temporalidades etnias grupos sociais regionalidades contextos econ micos e culturais rela es de g neros e migra o que geraram outras composi es familiares SAMARA 2002 120 no meio urbano no s culo XVIII embora n o reconhecidos oficialmente e nem valorizados havia uma multiplicidade de modelos e formas familiares que transformaram os comportamentos vigentes acerca do papel restrito de g nero da rigidez na divis o de tarefas e de trabalho Essa conjuntura estava atrelada s novas rela es mercantis que o Brasil col nia vivenciava o que desmistifica o sistema patriarcal como nico modelo poss vel de fam lia nessa poca Disso podemos depreender que um passado presente pouco re conhecido faz se percept vel ainda hoje Isto n o novidade e nem exclusivo da atualidade um arranjo familiar ao menos quanto ao n mero m dio de integrantes mais simples e reduto com poucos componentes por fam lia Essa composi o j se fazia presente na maior parte do per odo do Brasil col nia conforme registrado em censos do s culo XIX SAMARA 2002 Outro dado importante da pesquisadora sobre o chefiamento e a manuten o econ mica de fam lias por mul
300. ica Outra gest o pol tica do mbito social passa a ser demandada e a fam lia nesse panorama mais as redes de solidariedade e sociabilidades come am a adquirir maior import ncia nessas pol ticas de prote o sociais Inicia se uma partilha de responsabilidades entre o p blico e o privado Como no Brasil o Estado do bem estar social constituiu se de modo fr gil as sociabilidades familiares as redes sociais e os la os de solidariedades n o chegaram a ser descartados fen meno que diferentemente ocorreu na Europa e que h pouco assinalamos Pelo contr rio esse conjunto foi fundamental para a garantia de vida sobreviv ncia e resist ncia al m de possibilitar inclus o social e assegurar prote o Principalmente para as camadas mais pobres que constitu ram a esfera familiar como suporte para rendimentos solidariedades e apoios m tuos expressos na partilha de cuidados moradias e afetos No olhar antropol gico de Fonseca 2005 e no campo da Psicologia Social com Mello 2002 encontramos distintas concep es e viv ncias familiares que reafirmam esses dados e especificam de modo esclarecedor como as estrat gias de ajuda m tua tecidas no seio familiar e para al m dele configuram se atrav s do espa o e do tempo gerando modos de vida distintos entre as situa es de classe Essa base argumentativa nos chama a aten o para evidenciarmos como a categoria profissional dos barrageiros teve arranjado e se arranjou a
301. ica a apropria o sob a gide do capitalismo de todas as esferas da vida social e individual Para a institui o capitalista o homem e a mulher s o o homo oeconomicus Uma mudan a antropol gica em que o tempo do capital ditado pelo tempo do trabalho sobrepuja o da vida ignorando tudo o 86 que vai contra a l gica produtivista Este homem econ mico um homem nica e perfeitamente calculador CASTORIADIS 2004 p 105 Calcula se monetariza se avalia se o custo benef cio o que se ganha e se perde tra os do processo de subjetiva o instaurados nessa l gica e caracterizadores das rela es de trabalho e do profissional cuja vis o m ope enxerga apenas o curto prazo de seu lucro Tem se institu da uma racionalidade capitalista que n o a do livre mercado como t o apregoada mas a do compl entre oligop lios e monop lios especialmente aqueles firmados entre bancos e ind strias beneficiadores de si mesmos mantendo grupos dirigentes muitas vezes an nimos e recrudescendo a desigualdade Com Froelich 2001 pudemos visualizar que essas coaliz es corporativistas tamb m foram t picas do setor hidrel trico brasileiro fazendo com que se produzisse por detr s de um imagin rio desenvolvimentista mediante a constru o de grandes obras um ide rio estritamente autorit rio monet rio e financeiro que beneficiava um circuito restrito composto por um tri ngulo institucional estabelecido entre
302. icava sabendo Davi Esse per odo de transi o ocorreu no final da d cada de 1990 no governo do ent o Presidente da Rep blica Fernando Henrique Cardoso FHC quem tamb m implementou o fator previdenci rio que alterava o c lculo para o pedido de aposentadoria com o intuito de desestimular aposentadorias precoces Um cen rio em 78 Sobre o processo de internacionaliza o e desestatiza o que levou o governo FHC a privatizar o setor produtivo incluindo as empresas de gera o de energia hidrel trica ver DUARTE 2009 Nessa conjuntura verificamos o processo da globaliza o neoliberal adentrar ao Brasil com a discuss o da quebra de monop lio do Estado no setor de infraestrutura onde este com a iniciativa privada deixa de ser investidor para ser regulador 223 que o trabalhador se viu encurralado em meio s mudan as governamentais nacionais e da globaliza o econ mica neoliberal Para lidar com essa realidade vimos barrageiros se aposentarem mais cedo com receio de serem demitidos ou ser enquadrados na nova legisla o previdenci ria Uma exonera o paulatina que come ou com a aposentadoria antecipada depois com a press o sobre os aposentados e n o aposentados em exerc cio na empresa j privatizada com a demiss o incentivada at finalmente culminar na sa da de in meros trabalhadores pela pr pria empresa Essa tr plice sa da Davi testemunha sobre sua categoria profissional cujo horizonte avi
303. icos conquistados pela classe trabalhadora N o poss vel absorver toda a for a de trabalho dispon vel principalmente ao atravessar recorrentes crises financeiras as quais se encontram indissoci veis desse modo de produ o nessa conjuntura que se delineia de modo atroz a incompatibilidade entre trabalho humano e o capital O tempo de trabalho ditado pelo do capital por meio do modo de produ o instaurado Com as m quinas e os prazos em desespero e se esgoelando o trabalhador Dados complementares acerca dessa discuss o e estudos espec ficos dessa popula o foram feitos por Pochmann 2000 em A batalha pelo primeiro emprego 77 no disp ndio do trabalho vivo engolfado por essa imposi o r tmica a heterorritmia de Barthes 20032 Mais uma vez na literatura Pagu 1994 em 1933 j denunciava em sua narrativa o desprezo pelo trabalhador da parafern lia capitalista O grito possante da chamin envolve o bairro Os retardat rios voam beirando a parede da f brica granulada longa coroada de bicos Resfolegam como c es cansados para n o perder o dia Uma chinelinha vermelha largada sem contraforte na sarjeta Um p descal o se fere nos cacos de uma garrafa de leite Uma garota parda vai pulando e chorando alcan ar a porta negra O apito acaba num sopor As m quinas se movimentam com desespero Na grande penitenci ria social os teares se elevam e marcham esgoelando GALV
304. idas em suas hist rias de vidas pretendemos acionar efeitos da coletividade e da narratividade o que permite tornar conhecidas suas hist rias e colocar em cena Com essa denomina o pretendemos nos aproximar do que Gaulejac 2009 prop e na d marche Romance familiar e trajet ria social ao construir espa os de fala e reflex o a partir da hist ria pessoal para que o sujeito possa obter uma melhor compreens o das determina es s cio hist ricas sobre sua vida Isto o sujeito poder perceber os elos existentes entre os problemas de sua exist ncia seus conflitos atrelados s hist rias pessoal familiar de trabalho e social com a conjuntura vivenciada Tendo 158 confronta es do vivido que se d entre pap is e fun es entre o subjetivo e o socioecon mico as rivalidades entre pares e os afetos impasses e possibilidades experimentados Em suma poder agir sobre a sua hist ria a partir de sua pr pria hist ria Igualmente o olhar cl nico da psicossociologia ao voltar se para o outro mediante a entrevista narrativa aproxima nos da enquete cl nica que L vy 2001b discute no contexto da pesquisa e interven o Achegamo nos a essa perspectiva ao fazermos uma pergunta disparadora que n o visa uma resposta a ponto de fechar a quest o tem tica solicitada mas sim que pode desloc la e repens la por meio da elabora o da narrativa do participante Esse o papel do pesquisador interventor que L
305. ios no mesmo dia A fa anha s foi alcan ada devido ao uso de sete cabos a reos para o lan amento de concreto ITAIPU 2014 Durante o auge da constru o foram reunidos aproximadamente 40 mil trabalhadores 24 mil brasileiros e 16 mil paraguaios abrigando parte destes em vilas resid ncias divididas em tr s categorias 184 5 NARRATIVAS viver um rasgar se e remendar se ROSA 1985 p 88 Neste cap tulo apresentaremos e discutiremos o material oriundo das entrevistas narrativas tanto o coletado como o percurso de coleta Para nos aproximarmos do horizonte dos narradores os dois subt tulos seguintes est o organizados de maneira a contemplar a narrativa em suas singularidades e generalidades A se o Narrativas da fam lia Top zio Citrino e Safira teve como objetivo a discuss o da produ o narrativa das respectivas fam lias e seus principais temas de an lise identificados Na ltima se o As narrativas em di logo generalidades e singularidades realizamos conversa es entre os diferentes horizontes narrativos para que pud ssemos ponderar sobre os aspectos heterog neos e homog neos que comp em o universo sociops quico do nosso tema de pesquisa Nesses termos visamos explicitar as diversidades as singularidades e os aspectos gerais que se destacaram no material de campo Na pesquisa qualitativa o trabalho de campo al m de propiciar descobertas e explora o do objeto de estudo e
306. is O barrageiro ao migrar de uma hidrel trica a outra busca uma nova oportunidade de emprego como tamb m se manter empregado Em meio s recorrentes migra es laborais alguns deles para se manter no trabalho renunciam vida familiar ou adaptam na para lidar com as exig ncias laborais o que traz distintos efeitos para esse n cleo Sinalizados esses elementos podemos partir para os t picos ulteriores mais atentos domina o econ mica e pol tico ideol gica que n o somente penetra no processo migrat rio do barrageiro e suas rela es de trabalho mas tamb m figura em seus v nculos sociais e afetivos como a fam lia e seu entorno sociocomunit rio 3 1 1 A contradi o do trabalho em busca dos rastros da positividade O trabalho enquanto objeto de estudo e categoria de an lise comporta uma pluralidade de debates campos te ricos e reas de saber Em suas concep es epistemol gicas e ontol gicas deparamo nos com seminais discursos em que o dissenso marcado por diferentes perspectivas a sua marca expressiva O trabalho na esfera social hist rica e subjetiva admite posicionamentos distintos conforme o foco em quest o como delimita Lhuilier 2005 do campo da psicossociologia Aqui compreendemos o trabalho enquanto centralidade Possui papel humanizador e socializante Ao ultrapassar a esfera da media o entre homem e natureza o trabalho confere sentido e significado ao ser humano Deflagra processos d
307. is aspectos do neoliberalismo para apreendermos melhor essa conjuntura de trabalho que tamb m brasileira e presente na ind stria energ tica para delimitarmos de modo mais pormenorizado os rastros da negatividade e de seus desdobramentos sobre o tecido social os processos de subjetiva o e as pol ticas para o Estado aspectos esses presentes em nosso objeto de estudo uma vez que o setor de produ o de energia hidrel trica no Brasil sofreu dr sticas transforma es a partir de 1990 nas eras Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso com processos de privatiza o e desestatiza o DUARTE 2009 DUARTE LUZIO 2010 Diante desse cen rio podemos elencar as arestas conceituais que balizaram nosso olhar e apontar algumas consequ ncias do ide rio neoliberal Em primeiro lugar compartilhamos com o economista franc s Salama vide ANDERSON et al 1995 que o termo neoliberalismo um conceito escorregadio e difuso Dif cil de precis lo um movimento em andamento portanto inacabado Contudo poss vel localizar suas origens e pressupostos Mais do que isso conhecemos suficientemente bem seus efeitos Depois de pelo menos 50 anos de controle estatal o setor hidrel trico passa por uma intensa reestrutura o ao ser privatizado As companhias operadoras desse ramo que antes eram controladas no n vel estadual e no federal passam a fazer parte da iniciativa privada Isso gera divis es nas atividades
308. is distantes at as rela es comunit rias n o possu am fronteiras delimitadas que as separassem uma das outras mas se constitu am de forma complementar Embora a conjuntura hist rica e social se diferenciasse e aqui n o pretendemos fazer justaposi es atemporais queremos situar que em momentos hist ricos distintos as fam lias puderam se re de compor e vivenciar rela es pr ximas entre o p blico e o privado entre a fam lia e a comunidade tal como Fonseca 2005 Machado 2001 e Sarti 2010 nos apresentam com os resultados de suas pesquisas recentes Essa constata o exemplar para apreendermos a dinamicidade de seus arranjos ao longo da hist ria dessa institui o Nesse nterim a cis o entre fam lia extensa e fam lia nuclear n o se deu para todas as formas familiares a partir da instaura o da modernidade e da constitui o da fam lia nuclear burguesa Pelo contr rio os dados atuais das mencionadas autoras nos sugere que essas rela es n o ficaram em um passado remoto e que nem tendem ao desaparecimento mas foram ressignificadas e reinventadas em novos contextos sociais familiares e subjetivos Disso adv m nossa terminologia passado presente como esses mesmos fatores atuam em fun o do predom nio maior de div rcios Contudo o que se referia aos prim rdios da modernidade e pr modernidade e o que interferia na continuidade dos v nculos familiares por exemplo eram as elevadas taxas de mort
309. isa isto como aquela em que n o h personagens fora da a o nem a o independente de personagens TODOROV 2006 p 118 Vemos a radicalidade disso quando Todorov 2006 debate a narrativa e a produ o liter ria ao apresentar os homens narrativas como uma vincula o que conjuga personagem a o e intriga a qual exprime a coliga o entre narrativa e experi ncia a personagem uma hist ria virtual que a hist ria de sua vida Toda nova personagem significa uma nova intriga Estamos no reino dos homens narrativas TODOROV 2006 p 122 Esse achado nos importante para antever o movimento existencial em que a narrativa veicula a experi ncia vivida e a desejada Nesse vi s a o e vida podem ser criadas transformadas e refeitas pela narra o tanto do que se viveu quanto daquilo que se busca viver Capaz de colocar em curso tanto o desejo quanto o sofrer Narramos para viver para lutar resistir e driblar Nela expressamos a experi ncia de vit ria e fracasso de modo a nome la Mediante a narra o reconhecemos a vida e a morte Barthes 1973 pontua isso ao mencionar que o narrar est presente desde os prim rdios da humanidade Miranda 1990 por sua vez reitera esse aspecto ao dizer que para a narra o da morte do ser humano h tamb m a narra o como anteparo contra a morte Nesse racioc nio podemos pensar algo a mais do Livro das mil e uma noites em sua rela o com a narrat
310. istido ao longo da Hist ria a essas for as que buscam homogeneiz la e domin la poss vel encontrar ind cios disso na afirma o de Sawaia 2010 de que se a fam lia permaneceu na hist ria da humanidade foi em raz o de sua principal for a o valor do afeto Ela uma institui o que afora suas for as coercivas possui a capacidade de promover aos indiv duos um protagonismo social experimentar a sensibilidade e v nculos que permitem viver o comum al m de poder ser um recurso material e imaterial para a manuten o da pr pria sobreviv ncia Essa afirmativa deslindada pela autora sem romances tampouco a ideais e estere tipos que costumam rondar a fam lia Longe desse engano a autora n o nega os conflitos e sofrimentos que s o sua condi o e empreende uma releitura em que h um ponto de convers o das imposi es que ela sofre uma manobra feita fazer outro uso daquilo que lhe designado Isso possibilita emergir as artes de viver que De Certeau 2012 afirma ao empreender uma leitura da sociologia do cotidiano no lugar de disciplina e normatividade poder viver a liberdade Experimentar a autonomia e criar outros modos de exist ncia Ao tratarmos dos des encontros trabalho fam lia veremos nas narrativas como essas contraposi es produtoras de paradoxos v m tona ao nos debru armos sobre os dispositivos da empresa que ao mesmo tempo em que promovem controle tamb m podem gerar aproxima o c
311. ites vol I ramo s rio 2 ed S o Paulo Globo 2006 JATOB R Cr nicas da vida oper ria S o Paulo Lazuli 2006 JESUS R P De Vila Oper ria a bairro dos trabalhadores processo de constitui o do bairro Vila C 1977 a 2008 Disserta o mestrado Universidade Estadual do Oeste do Paran Campus Marechal C ndido Rondon 2009 KUNDERA M A imortalidade Rio de Janeiro Nova Fronteira 1990 LASCH C Ref gio num mundo sem cora o A fam lia santu rio ou institui o sitiada Rio de Janeiro Paz e Terra 1991 LEBRUN J Introdu o In LE GOFF J Por amor s cidades conversa es com Jean Lebrun S o Paulo Funda o Editora da UNESP 1998 A cidade inovadora palco de igualdade e festa da troca In LE GOFF J Por amor s cidades conversa es com Jean Lebrun S o Paulo Funda o Editora da UNESP 1998 LE GRAND J L Hist rias de vida In BARUS MICHEL J et al Dicion rio de Psicossociologia Lisboa CLIMEPSI 2005 LEVI P A chave estrela S o Paulo Companhia das Letras 2009 A tabela peri dica Rio de Janeiro Relume Dumar 1994 LEVY A A psicossociologia crise ou renova o In L VY A et al Psicossociologia an lise social e interven o Belo Horizonte Aut ntica 200la Ci ncias cl nicas e organiza es sociais sentido e crise do sentido Belo Horizonte Aut ntica FUMEC 2001b LHUILIER D Trabalho In BARUS MICHEL J
312. itiram conceder visibilidade s distintas temporalidades espa os e rela es que imprimiram diferentes matizes de significados aos desencontros trabalho fam lia Estes possu am variabilidade conforme a modalidade de v nculo estabelecida com o trabalho os membros familiares o local de moradia os lugares de proced ncia os sentidos da dist ncia e os projetos de vida A temporalidade das narrativas expressou o tr plice presente da exist ncia do tempo que se torna humano ao ser narrado O trabalho de historicidade contido no ato narrativo permitiu resgatar um passado que traz marcas no presente e examinar o tempo atual que incute sonhos em um futuro n o distanciado mas almejado ao propiciar elabora es e no qual possa haver lugar para o desejo ser concretizado O olhar e a escuta cl nica que dispensamos ao processo narrativo permitiram apreendermos seu papel interventivo ao conferir aos nossos narradores um reapoderamento da hist ria pelo narrar logo novas formas de assumir o presente e antecipar o futuro sem dispensar a aprecia o do passado As recorrentes migra es laborais que mobilizaram e imobilizaram essas fam lias tiveram como principal momentos de crise a partida e a chegada Tanto uma quanto outra fizeram os sujeitos sociais encararem o cen rio de vida perdido posicionando os em um horizonte a ser conhecido ampliado e reconstru do Viv ncias singulares capazes de desenraizar como tamb m promover novos enraiz
313. itos da narratividade S o Paulo Aderaldo amp Rothschild 2008b Narrativas no estudo das pr ticas em sa de mental contribui es das perspectivas de Paul Ricoeur Walter Benjamim e da antropologia m dica Ci ncia amp Sa de Coletiva v 18 n 10 p 2847 2857 2013 OUTERIAL J Adolescer Estudos Revisados sobre adolesc ncia 2 ed Rio de Janeiro Revinter 2003 PAGES M et al O poder das organiza es 3 ed S o Paulo Atlas 1990 O sistema sociomental hospitalar ARA JO J N G CARRETEIRO T C Orgs Cen rios sociais e abordagem cl nica S o Paulo Escuta Belo Horizonte Fumec 2001 PAULA V Os piloteiros e a pescaria Disponivel em lt http www guiasdepesca com br cms index php option com content amp view article amp i d 23 piloteiros amp catid 5 dicas e tecnicas gerais amp Itemid 8 gt Acesso em abril de 2014 PEIXOTO N B O olhar do estrangeiro In NOVAES A Org O olhar S o Paulo Companhia das Letras 1995 PERROT M Org Hist ria da vida privada da revolu o francesa primeira guerra v 4 S o Paulo Companhia das Letras 1991 PINEAU G As hist rias de vida em forma o g nese de uma corrente de pesquisa a o forma o existencial Educa o e Pesquisa S o Paulo v 32 n 2 p 329 343 2006 POCHMANN M A batalha pelo primeiro emprego as perspectivas e a situa o atual do jovem no mercado de trabalho brasileiro S o Paulo Publisher Brasil
314. itui es como o da fam lia e o do trabalho Com o avan ar dos anos o fen meno da compress o temporal e espacial trouxe uma nova percep o da realidade a qual tem reconfigurado o modo de ser e estar no mundo Na contemporaneidade o processo de moderniza o e desenvolvimento tecnol gico acelerou esse processo As rela es de produ o t m fornecido par metros de tempo e movimentos em que h uma intensa des constru o 39 Eoi f Como dito traremos ao leitor essas narrativas no cap tulo 5 em que discutiremos o material de campo desta pesquisa luz das referidas considera es te rico conceituais 88 de v nculos objetivos subjetivos que at ent o regravam o cotidiano individual e o coletivo Reconhecer se em meio a essa movimenta o fren tica construir rela es de aproxima es e distanciamentos para muitos apresenta se como uma inc gnita S o mudan as vividas mas muitas vezes incompreens veis pois o desejo os projetos singulares a rotina e os afetos ficaram remanejados pelas demandas econ micas produtivas e laborais A produ o e suas necessidades socioecon micas supridas em parte pelo controle dos corpos e das vontades nas organiza es destinadas produ o de bens e ou servi os estabeleceu tempos impostos cronometrados aloucados BATISTA CODO 2007 p 403 Os referidos autores afirmam que a identidade profissional tamb m produto de uma trajet ria realizada a parti
315. iva Concordante com Lebrun 1998 ao se reportar supracitada obra o ato narrativo al m das venturas e desventuras registradas destaca tamb m o subterr neo o tr fico e a fuga na vers o do desnudo do n o oficial do clandestino e daquilo que marginalizado que comparecem as hist rias e as vidas em luta Dito de outra maneira no conte do existencial da narrativa presente nessa obra para al m do extraordin rio encontramos na experi ncia humana prosaica as marcas 33 dos sabores e dissabores expressos na luta di ria da vida em que se manifestam dor viol ncia e sofrimento bem como as formas de confronto e trapa as para resistir Em Levi 1994 2009 tamb m h men o a esse livro tornando pertinente a rela o dessa obra com o mundo do trabalho Roth 1994 p 239 ao entrevistar Levi 1994 chama o protagonista de A chave estrela LEVI 2009 Faussone de o Sherazade oper rio Isso porque as narra es de Levi 2009 nesse livro d o a conhecer por meio do personagem Faussone como o ser humano transformado desagregado e modelado pelo trabalho Trata se de um oper rio italiano especializado em montar grandes estruturas de a o e que viaja pelo mundo por causa de sua atividade profissional Repleto de hist rias para contar decorrentes de seus in meros trabalhos exercidos e dos diferentes lugares e pessoas que p de conhecer nesse contexto deixa sua marca mesmo que an nima n o apenas na cons
316. ivo focado na mulher e o produtivo no homem O desafio de cada uma dessas fam lias seria poder reinventar 279 uma nova disposi o com seus entes onde uma horizontalidade partilhada e mais igualit ria pudesse ser experimentada entre os seus membros O que queremos dizer com isso A dinamicidade dos arranjos familiares deu se no movimento dos pap is e das fun es ora mantendo a tradicional figura patriarcal ora afastando se dela Contudo mesmo que esses deslocamentos fossem feitos n o identificamos uma ruptura capaz de sobrepor o car ter centralizador na figura masculina enquanto definidora dos rumos e da provis o familiar Isso porque os espa os do compartilhar das decis es dos cuidados da educa o e da gest o dom stica embora se concentrassem na mulher mantinham ao redor do g nero masculino a posi o decis ria principal mesmo estando esse c njuge pai a dist ncia Tal saida permite inferir que essa configura o familiar centrada no homem foi um meio encontrado para n o romper com essa tradicional divis o de g nero e correr o risco de uma cis o familiar em alguns momentos mais fragilizada por sofrer o processo migrat rio Todavia a inst ncia familiar din mica pois se trata de uma institui o possui car ter hist rico e vincula se a distintos jogos de poder pass vel de ressignifica o e de um constante rearranjar Vimos nas fam lias Top zio Citrino e Safira essa reconfigura o em andamento
317. jac s se pode apreender o sentido e a fun o de um fato social atrav s de uma experi ncia vivida por sua repercuss o na consci ncia individual e por fim pela palavra que permite o acesso pr pria experi ncia O que queremos dizer com isso Embora distintas a hist ria individual e a hist ria social possuem correspond ncias e resson ncias entre si A narrativa da diversidade em um vi s psicossociol gico especialmente com a narrativa de vida que empreendemos nesta pesquisa faz se ao buscarmos compreender as rela es entre a hist ria das pessoas e das coletividades s quais pertencem no caso a dos barrageiros Trata de explorarmos as contradi es e complementaridades entre esses fen menos que nos levam dimens o existencial das rela es sociais e subjetivas Nesse caso vemos a hist ria social figurar por meio desses indiv duos os trabalhadores e seus familiares Os acontecimentos mais marcantes de sua exist ncia os mais carregados de sentido em rela o ao passado e os de maiores consequ ncias para o futuro nascimento de uma crian a entrada na escola ou na vida profissional casamento ou div rcio batismo falecimento ou enterro de um ser querido participa o em um conflito social maior guerra greve constituem tamb m acontecimentos sociais marcados pelos ritos e cerimoniais que d o ritmo vida coletiva Este o fundamento das metodologias da narrativa de vida que admitem
318. jugar um tr plice presente em que passado presente e futuro entrela am se de modo n tido para anunciar uma tentativa de reaproxima o familiar e dos afetos O labor de ambos na viv ncia do g nero feminino e do masculino proferido numa rela o de independ ncia e interdepend ncia quando o projeto comum garantir o estudo dos filhos e auxiliar na constru o da autonomia financeira destes em andamento O olhar de realiza o de Ana e Thiago para o momento atual quando desfrutam do investimento feito em longo prazo para propiciar melhores condi es de vida aos seus filhos percebido como compensat rio em prol do esfor o feito durante anos de uma viv ncia familiar mantida a dist ncia Contudo reminisc ncias dessa viv ncia passada lan am no presente o estranhamento Al m disso o processo de constru o conjunto de um cotidiano expressa um futuro pr ximo marcado pelo desejo de pertencimento comum mediante o estreitamento dos la os afetivos A partir das narra es do casal podemos conhecer os modos de ser trabalhar viver encontrados para suportar a rela o constitu da no afastamento geogr fico vislumbrar os efeitos dessa escolha sobre a fam lia e o entorno social bem como tanger o imagin rio de barrageiro que forjou representa es de um homem desgarrado e desregrado aos olhos de Ana Uma exist ncia s cio familiar que se centrou n o apenas no trabalho do chefe de fam lia o barrageiro mas tamb
319. lica estabelecer encontros entre diferen as sentidos singulares que se abram para a cria o e o reinventar da vida singular e coletiva Foi com a narrativa respaldada pela hermen utica que conseguimos enredar um anteparo psicossociol gico que pudesse avistar e ser avistado por este outro os narradores que est o desvelando a si mesmos enquanto revelam um grupo social e hist rico vinculado a uma categoria profissional Uma escuta e um olhar atentos diversidade e adversidade a serem descobertos em seus sentidos e significados bem como reinventados Para tanto foi preciso complexificar a nossa composi o te rico metodol gica articul la e ampli la em um trip para serem abertos caminhos de ressignifica es tal como a sa de mental coletiva nos convida com sua discuss o ampliada de cl nica e com a pr pria deixa que a psicossociologia enseja ao redefinir a no o de cl nica no campo das ci ncias humanas 142 Avancemos para o componente conseguinte que integra o campo psicossociol gico seu car ter plural transdisciplinar e interprofissional Verificamos isso desde os seus criadores ao fundarem a ARIP que reuniu profissionais e pesquisadores da psican lise sociologia hist ria direito antropologia filosofia e etnologia Al m de desenvolverem a psicossociologia possibilitaram a articula o entre distintas reas de conhecimento Por essa caracter stica ela tamb m conhecida como disciplina de fronteir
320. lidade que dentro do padr o predominante e dual de fam lia n o seriam vi veis ou nem mesmo poss veis de conferir resposta Percebemos que as atuais transforma es acerca das rela es de poder e de g nero delimitaram novas configura es para o que era tradicional no modelo familiar principalmente para possibilidades que ensejam o avan o da desconstitui o ou questionamento do patriarcalismo Consoante a Giddens 1993 2000 seria arriscar a dizer que as mudan as experimentadas acerca da fam lia em seus arranjos matrim nios composi es formas de amar e conviver suas rela es de g nero entre outros fazem se irrevers veis Isso porque foram transformadas n o apenas as possibilidades de se constituir fam lia mas tamb m o indiv duo e a sociedade Entretanto n o podemos omitir que a fam lia enquanto um entre na rela o indiv duo e sociedade um topos estrat gico para exerc cio de poder controle e domina o Somado isso s perversas formas neoliberais que t m solapado os la os sociais vivenciamos uma contemporaneidade cravada pela crise das institui es do individualismo narcisista do Estado reduzido da cidadania fr gil e negada Esse o cen rio prop cio para que a import ncia da fam lia seja reativada e ao mesmo tempo sobrecarregada o que vem torn la alvo tanto das pol ticas libert rias quanto das reacion rias SAWAIA 2010 128 De que modo ent o a fam lia teria subs
321. ligados e n o separados Entre eles h uma rela o complementar e n o um dualismo exig ncia da atual hermen utica essa vincula o como afirmam Gadamer 2012 e Ricoeur 2008 Dessa forma avistamos que a hermen utica n o se mostra distante do cotidiano do senso comum e da ci ncia A despeito disso Gadamer 2012 deixa claro que buscar entender e interpretar o texto n o tarefa reservada apenas ao cientista mas pertence experi ncia do homem no mundo Ricoeur 2008 corrobora essa assertiva ao resgatar as marcas fundadoras da hermen utica a rom ntica e cr tica d bitas de Schleiermacher apud Ricoeur 2008 ao mencionar que a tarefa hermen utica se faz presente quando n o houver compreens o Se tal como Castro 1998 nos diz que estamos interpretando durante toda nossa exist ncia e no cotidiano porque nossas escolhas e decis es requerem respostas e perguntas para pautar rumos e a base desse processo a interpreta o ent o estamos realizando um exerc cio hermen utico sem mesmo nos darmos conta disso algo corriqueiro Estamos constantemente questionando a exist ncia pensando em nossas vidas e nos relacionando com o outro Estamos imersos nos di logos nas trocas de opini es nos valores e posicionamentos Estamos negociando buscando solu es e alternativas de modo recorrente Logo essa condi o nos faz confrontar com o n o saber o n o querer assim como com os seus contr rios Conseque
322. linguagem na vida do ser humano que leva Barthes 1973 a conjeturar sua origem ao dizer que a partir do momento em que a crian a vivencia o Edipo e aprende a formar frases tamb m pode narrar 147 diferencia da narrativa de n o distinguir a hist ria vivida por uma pessoa ou grupo da narrativa que a pessoa ou grupo faz de sua vida Para a narrativa fundamental o narrar que a pessoa faz de sua hist ria de vida Em virtude disso veremos alguns aspectos hist ricos aproxima es e diferencia es conceituais para situar nossa proposta metodol gica Concordamos com Pineau 2006 a necessidade de n o perder o tra ado hist rico para circunstanciar as pr ticas multiformes contempor neas que abarquem a hist ria de vida Pineau 2006 resgata um per odo de 25 anos de usos e concep es da hist ria de vida eclos o funda o e desenvolvimento com vistas de evidenciar quais os desdobramentos que essa metodologia pode assumir bem como fazer de suas pr ticas uma arte poderosa de autoforma o da exist ncia ou ao contr rio de submiss o conforme permite ou n o aos sujeitos apropriarem se do poder de refletir sobre suas vidas e desse modo ajud los a fazer delas uma obra pessoal PINEAU 2006 p 329 Interessante visualizar que o autor tamb m situa em uma transi o de paradigma o retorno do sujeito Um objeto falante que ousou tomar a palavra em um contexto epist mico dominante que pretendia c
323. linha nos quintais e em suas vidas compartilhadas possibilitou firmar la os S o as molduras existenciais muitas vezes desprezadas que Gullar 1997 recupera como o locus do desenrolar da hist ria humana e cujos narradores dessa pesquisa conferem a ele espessura e densidade D bora A vizinha do lado plantava mandioca milho Tinha gente que criava galinha Da o meu pai matava Ganhei v rias galinhas Raquel Ganhava um pitinho crescia e virava aquele galo gordo Aquela galinha gorda D bora Bem criada Meu pai matava Olha que sofrimento Eu n o comia 200 Raquel Estava dentro da panela Essa viv ncia psicossocial parece ter se perdido nas mudan as posteriores da fam lia Top zio uma vez que as condi es de trabalho n o se referiam mais s vilas de barrageiros e nem ao deslocamento familiar conjunto Raquel aponta isso da seguinte forma isso que eu falo eu n o sei se isso acontece com a gente depois de voc n o se apegar mais com vizinho ou se a coisa da obra que coloca esse sentimento na gente As mudan as posteriores dos Top zio al m de se darem em condi es distintas das anteriores geraram uma perman ncia mais curta nas cidades conseguintes o que os faz lembrar com saudosismo dos anos passados da proximidade entre a vizinhan a e dos la os afetivos formados Cen rio de vida distinto dos atuais Suas narrativas nesse contexto resgatam as amizades que permaneceram as qu
324. loteiro ou o piloto da embarca o est vinculado ao termo pr tico ou seja um indiv duo conhecedor dos acidentes hidrogr ficos e topogr ficos de reas restritas fluviais ou lacustres aonde conduz embarca es Em geral os piloteiros s o profissionais da pr pria regi o nascidos nas barrancas do rio podendo viver da pesca ou da agricultura local Costumam ser experientes nesse of cio e levam pescadores aos pontos de pesca mais promissores ou aos locais onde se praticam determinados tipos de pesca uma vez que sabem localizar habilmente o lugar onde o cardume est se alimentando PAULA s d 240 continuasse seu trabalho e cuidasse dos filhos Thiago cerca de 50 km do n cleo familiar morou com a sua m e na cidade de trabalho Safira uma fam lia que iniciou seu n cleo familiar a dist ncia e assim permaneceu at o retorno de Thiago o barrageiro na condi o de aposentado A cidade e a casa comum de moradia e de um novo trabalho p s aposentadoria aconteceram pela primeira vez em suas hist rias ap s a mudan a de Thiago do Estado de S o Paulo para o Paran Avistamos a fam lia Safira em um processo de significa o de seus novos arranjos em que os filhos crescidos e morando fora oportunizam a re constru o dos la os afetivos face a face de um casal que convivia apenas nos finais de semana Ana aposentada e Thiago participante da rotina dom stica permitem a imers o de narrativas capazes de con
325. ltos N o se trata de um tempo cronol gico mas repleto de agoras em que o passado surge no presente Esse o tempo a contrapelo das hist rias oficiais como dizem Onocko Campos et al 2013 expressa uma hist ria a contrapelo porque das ru nas dos resqu cios do vivido que podemos resgatar a hist ria n o contada dos vencidos E justamente no 160 reaver do esquecimento da perda que o passado arrancado como trapos a serem dispostos e rearranjados no presente Nessa premissa a narra o que comunica algo no contexto da experi ncia n o implica fatos apresentados de modo sequencial como uma sequ ncia cronol gica de acontecimentos mas implode essa linearidade ao fazer emergir momentos privilegiados do que p de ser recuperado no ato narrativo A n s isso o que importa trazer dos cacos do vivido o conte do que insiste a cintilar no presente da vida Para Benjamin 1994 a narra o uma condi o de potencialidade humana Pode ser fonte para resistir e criar ao passo que pode ser fragilizada e capturada Seu vigor est na capacidade de transmitir comunicar e fazer perdurar Isso poss vel quando as a es da experi ncia a preenchem alimentam na e a enriquecem Essa experi ncia entendida como algo que perfaz sentido e significado resgata a humanidade e confere dignidade N o uma experi ncia que amorda a e embarga a vida haja vista que ela requisita a mem ria e a hist ria para reaver
326. m a m o do meu pai nisso aqui Imagina o tanto de grana que gera isso aqui Imagina tudo vem muita gente estrangeira para a cidade do Paran s para visitar Bambu Muita gente estrangeira vai para a cidade do Paran s para O primeiro interesse n o as cataratas o primeiro o Bambu para quem trabalha nessa rea Raquel inser o nossa Um ran o desse gosto deixado pelo Bambu persiste aquele lugar que conferiu uma exist ncia rememorada com alegria prote o e seguran a ao mesmo passo que gerou tristeza desamparo e incerteza Um paradoxo que habita as lembran as dessa fam lia Por m os Top zio continuam a elaborar no presente essa conjuntura passada em suas vidas Est o desvendando outros sentidos dessa viv ncia e experimentando outras formas de exist ncia em um futuro pr ximo 211 Des encontros trabalho fam lia da gua represada s comportas abertas Na entrevista narrativa coletiva a narra o estava cadenciada por reminisc ncias que transcorriam dos lugares vividos dos trabalhos provados das rela es estabelecidas do cotidiano encadeado e dos afetos despertados No imbricar dessas dimens es visualizamos o entrela ar psicossocial em que pudemos notar o sofrimento social atravessar o contexto de vida dos membros da fam lia Top zio Em princ pio essa fam lia n o se assustava em demasia quando havia a possibilidade de mudan a de cidades enquanto podia ir toda a fam lia e um v nc
327. m e expressam a resist ncia ante o c digo imposto A idiorritmia possibilita reconhecer um ritmo pr prio atentar para a singularidade e subjetividade humana na viv ncia t mporo espacial e relacional Avista a exist ncia de possibilidades de o sujeito modular a cad ncia heterorr tmica imposi o de um ritmo por outrem de maneira a inserir se em outra posi o no c digo social Com seu ritmo reavido o indiv duo pode conjugar seu desejo tempo de vida com a estrutura social imposta tempo de trabalho Barthes 2003 situa que idiorritmia seria um pleonasmo se n o fosse a transi o do significado de ritmo como algo sem fixidez fluido e modific vel para algo que passou posteriormente a ser entendido como fixo regular e demarcado Remete s formas sutis do g nero da vida os humores as configura es n o est veis as passagens depressivas ou exaltadas em suma o exato contr rio de uma cad ncia cortante implac vel de regularidade porque o ritmo tomou um sentido repressivo veja se o ritmo de vida de um cenobita ou de um falansteriano que deve agir de maneira regulada de perto pelo rel gio que foi preciso acrescentar idios BARTHES 2003 p 16 r E essa contradi o cerrada no termo que nos interessante explorar A subjetividade em sua for a desejante e transformadora capaz de interferir na hist ria Contudo vive se uma constitui o de vida cerceadora com a l gica do grande mercador como sinali
328. m essas transi es sociais econ micas e pol ticas O que era seguro e protegido come ava a se desfazer o policiamento e as rondas da vila foram cortados os servi os de limpeza e conserva o cessaram gramas aparadas e veneno contra dengue e mosquitos n o aconteciam mais A vila come ou a ficar abandonada marginalizada e depredada inclusive seus antigos moradores Seria essa uma estrat gia do Bambu para que seus moradores indesej veis n o permanecessem mais ali Hist rias de viol ncia e assalto come aram a ser vividas o que at aquele momento n o fazia parte de suas vidas 208 O discurso da fam lia reverbera que n o estava por se perder apenas o mundo do trabalho mas tamb m seu modo de vida uma amea a a suas exist ncias Passaram a viver a inseguran a e a perda iminente da casa Um desamparo em diversas dimens es da exist ncia social e subjetiva foi vivido a perda do trabalho da moradia da escola do cuidado sa de do lazer dos passeios das assist ncias at ent o conferidas pelo Bambu A cad ncia narrativa da fam lia muda e dificuldades de pessoas pr ximas conseguirem trabalho s o relatadas Um testemunho de quem p de viver o auge e a decad ncia da vida desenhada pelo Bambu a gente viu o processo do come o at entender o que era uma crise D bora Era a face do Bambu que deu e tirou Contradi es vividas nos espa os de moradia e trabalho do Bambu emprego desemprego moradia despejo
329. m incentivo financeiro que aos seus olhos acerca do que esse valor propiciava era irris rio Ele e seus colegas eram assediados ao sofrerem in meras press es muitas delas se constitu am de modo velado e dissimulado de maneira a coagi los nas decis es que a empresa almejava a sa da do trabalho Esta poderia acontecer por meio da aposentadoria muitas delas antecipadas pelo incentivo financeiro quantia paga pela empresa ao trabalhador que solicitou seu pr prio desligamento e mediante a demiss o em si p s privatiza o e sa da do trabalhador por iniciativa da organiza o Foi aquele per odo que eles come aram a pressionar por causa desse tal fator previdenci rio Porque ali aposentou muita gente nova que n o era para ter sido aposentada que aguentava muito tempo ainda para trabalhar Isso a j foi uma boa parte do governo acho que foi at do Fernando Henrique Esse fator previdenci rio foi criado no governo dele Muita gente com medo de sair se aposentou muito cedo L na UHE do Cipreste teve gente que se aposentou com 40 anos Eu aposentei com 45 anos isso a j foi uma press o para n o ficar dentro da empresa Uma press o do governo A depois voc estava aposentado vem a empresa tamb m pressionando para voc sair Porque voc era aposentado Ent o a press o era assim se voc n o sair voc vai ser mandado embora S faltava falar isso N o falava mas nas entrelinhas voc f
330. m no da mulher quem escolheu n o abandonar o of cio nem acompanhar o c njuge nas mudan as de cidades Identificamos um momento v vido na trajet ria dos Safira uma tessitura em que os processos de subjetiva o entremeiam se aos fios sociais para realizar um caminho de 241 elabora o capaz de reinventar os sentidos familiares criar novos projetos e produzir uma reaproxima o do casal com base na redescoberta do outro na aus ncia dos filhos Enredo familiar e trajet ria social da constru o de barragem edifica o da fam lia Thiago antes de ser barrageiro foi piloteiro de barco Era de fam lia pobre que vivia da ro a e da pesca na rea pr xima s margens do rio Grande Rio este que possibilitou a Thiago n o somente come ar sua vida mas recome la quando foi recrutado diretamente pelo Cipreste que tinha uma UHE em constru o pr ximo s margens do rio onde Thiago crescera Come ou a aventurar se no universo das barragens ainda jovem com 18 anos Esse contexto de inser o de Thiago no trabalho em barragens n o foi um caso isolado A equipe que deu in cio ao empreendimento de barragens se deparava com a popula o local que residia nas regi es que seriam atingidas de modo direto ou indireto por essas obras Desse modo a contrata o assumia uma veia estrat gica de captar n o somente as pessoas que possivelmente sofreriam o impacto do empreendimento como a retirada da popula o ribeirinha ma
331. m o fato de que o pensamento era capaz de pensar sobre si mesmo que a linguagem podia falar de si mesma que perceber e conhecer poderiam n o ser o mesmo CHAUI 2003 p 9 10 Neste cap tulo apresentaremos como se operacionalizaram a pesquisa e seus fins Debateremos aspectos que permeiam a constru o do conhecimento e a concep o de ci ncia que muitas vezes acaba por passar como algo esquecido ou considerado um entendimento t cito Aqui nomearemos nossa trajet ria te rica e conceitual que a um s tempo tamb m pol tica ideol gica e tica 2 1 1 A hist ria e a verdade no fazer do cientista Nosso objeto de estudo hist rico Est na hist ria Faz hist ria A hist ria o fez Em outras palavras produto e produtor da hist ria Dessa afirmativa precisamos situar o que estamos compreendendo por hist ria seu mbito n o apenas epistemol gico mas tamb m tico e pol tico Daqui tra aremos os elementos transversais na nossa pesquisa di logo e historicidade visto serem categorias fundamentais para apreender o fen meno em sua faceta social e subjetiva Isso se faz presente ao longo do texto ao buscarmos a instaura o dial gica que permite convergir campos afins quando nos deparamos com a historicidade do objeto A hist ria est no paradigma emergente da ci ncia p s moderna exposta por Santos 1988 1989 2006 2008 est na psicossociologia enquanto eixo te rico em di logo constante
332. m si mesmo pois est incorporada vida do narrador que mediante o ato narrativo capaz de compartilhar a experi ncia de algo queles que o escutam no narrado fica a marca do narrador como a impress o da m o do oleiro sobre o pote de argila BENJAMIN 2000 p 37 Posto isso as narrativas das diversidades de vida possibilitariam contrapor o sofrimento tico pol tico verificar os matizes das experi ncias significativas o lugar da tradi o e a rela o do narrador com sua hist ria de vida com seu grupo familiar e de trabalho al m de sua conjuntura social Assim poder amos reaver com o uso da narrativa a experi ncia Verificar o que se comunica adverte se e se expressa como hist ria exemplar por para esses grupos Logo oportunizar o protagonizar do almej vel narrador benjaminiano 4 2 4 A temporalidade na narrativa da coleta ao conte do anal tico A coleta da narrativa se faz por meio de um modo particular de entrevista que denominamos conforme Bertaux 2010 de entrevista narrativa No encontro o pesquisador faz uma pergunta disparadora a fim de dar in cio a todo o processo narrativo que consiste em solicitar ao pesquisado o contar de sua experi ncia vivida Possibilitar em determinado espa o tempo rela o que participante possa falar da forma que quiser sobre a sua hist ria de maneira que ocupe o lugar de narrador O que isso desencadearia Podermos avistar na horizontalidade da rela o estab
333. ma o mais a impuls o do avan o t cnico das multim dias que abriram um campo ainda maior para a narrativa no cinema v deo artes e tamb m na pr pria ci ncia Existe um vasto campo biogr fico e como assinala Pineau 2006 h distin es a serem estabelecidas conforme a designa o terminol gica das abordagens centradas na vida biografia autobiografia relato de vida aqui Bertaux situado pelo autor em sua concep o narrativa e hist ria de vida Cada uma delas possibilita explorar diferentes dimens es conforme o interesse do pesquisador global singular plural educativa formativa profissional familiar institucional etc Para esclarec las transcrevemos o quadro dessas abordagens biogr ficas segundo Barros et al 2007 Nele as autoras apresentam as principais caracter sticas das modalidades que cont m a hist ria de vida e suas diferencia es 150 Quadro 4 Abordagens biogr ficas e suas caracter sticas metodol gicas METODOLOGIA ABORDAGENS BIOGR FICAS M TODOS HIST RIA BIOGRAFIA AUTOBIOGRAFIA HIST RIA DE ORAL VIDA elabora o de utiliza o de discurso preocupa o um projeto diversas fontes direcionado ao leitor com o v nculo defini o recolhimento preocupa o com a Eno pesquisador ae s e pesquisado pr via de um enviesado dos sequ ncia temporal lt Epa de dadog intencionalidade Pi produ o pessoas a serem e de sentido tanto Irrelev
334. ma temporalidade homogeneizadora hegem nica e esvaziada Se esse continuum da hist ria n o puder ser explodido como nos aponta Benjamin 1994 ao menos pode sofrer uma disritmia a experi ncia singular da narrativa sendo usada como t tica criadora e como resist ncia vindo a resplandecer mediante o conte do expresso no narrar Isso nos leva a dialogar com De Certeau 2012 uma vez que podemos encontrar no narrar um agir no tempo mesmo que ele n o obtenha lugar nos grandes poderes decis rios Tal agir joga com os acontecimentos para transform los em ocasi es que lhe sejam prop cias S o as maneiras de fazer sentir e falar que propiciam pequenos sucessos do mais fraco sobre o mais forte Elas dependem de seus saberes experi ncias afetos e mem rias S o respostas que v o sendo elaboradas e criadas para lidar com os desafios do dia a dia Eis aqui ind cios do que Benjamin 1994 p 231 chama de uma oportunidade revolucion ria de lutar por um passado oprimido Nessa linha de pensamento vemos conson ncias entre De Certeau 2012 e Benjamin 1994 entre narra o e experi ncia quando De Certeau 2012 p 61 diz a experi ncia produtora de texto O enfoque da cultura come a quando o homem ordin rio se torna o narrador quando define o lugar comum do discurso e o espa o an nimo de seu desenvolvimento Para rumar ao fechamento dessa discuss o sobre a temporalidade reportemo nos a Todorov 20
335. melhor em suas palavras 5 3 As narrativas em di logo generalidades e singularidades Nesta se o agrupamos ao redor de temas os principais n cleos argumentais localizados a partir do di logo entre as narrativas de vida dos tr s grupos familiares Esperamos desse modo tanger seus aspectos gerais sem dispensar as especificidades do material narrativo Poder avan ar na discuss o e aprofundar o mundo que esses narradores nos revelaram meio esse de produzirmos ecos do trabalho de tradu o que Santos 2004 2008 havia nos instigado De que forma far amos isso Ao apreciarmos o conte do narrativo n o somente em sua captura pela hegemonia neoliberal mas que se contraponha a esse ideal Isso vi vel ao evidenciarmos as lutas a es conflitos e paradoxos invisibilizados ou mesmo menosprezados Poder emergir das bases isto dos horizontes de vida dos narradores os saberes e desejos como as subst ncias capazes de ampliar os espa os coletivos mediante as trocas de experi ncias Colocar as narrativas em di logo em suas generalidades e singularidades poder estabelecer zonas de contatos a partir de suas diferen as que convergem e divergem Colocar em destaque a multiplicidade que mais que compor esse universo do barrageiro refrata a pr pria vida Quem sabe assim podemos recobrar as experi ncias 253 desperdi adas que o narrador benjaminiano insiste em recuperar a fim de recolhermos elementos que fomentem pr tica
336. mento Os narradores expressaram essa condi o vinculando seu ideal de vida ao labor na expectativa de manter a fam lia adquirir a casa pr pria educar os filhos sustentar um patamar financeiro que gerasse maior qualidade de vida Quanto ao barrageiro e sua rela o trabalho fam lia nas tr s fam lias verificamos o barrageiro pai chefe de fam lia morando em outra cidade em algum per odo de sua vida distanciado do grupo familiar e por demanda do trabalho A viv ncia em cidades separadas do mesmo modo que oportunizou um v nculo empregat cio e ou uma ascens o profissional em outros fragilizou as rela es familiares ao ter o barrageiro de lidar com a dist ncia f sica e afetiva al m das recorrentes viagens para visitar esporadicamente seu n cleo familiar Ao apreciarmos as dimens es macro dessa viv ncia com Froelich 2001 p 152 vislumbramos problemas de car ter social associados migra o da m o de obra dessa 268 categoria profissional em fun o da imposi o de um ideal desenvolvimentista denominado pelo autor como obreirismo Este se caracteriza enquanto aus ncia do trabalhador de sua casa por pelo menos um m s Est relacionada ao obreirismo a dissolu o familiar em fun o da aus ncia do chefe fam lia gerando separa es a constitui o de novas fam lias em outras regi es de trabalho e a inseguran a do n cleo familiar Em face disso comum encontrar uma situa o em que o trab
337. mor despu s se centra tambi n en la crianza de los hijos si los hay y termina a menudo ocup ndose de las propiedades cuando ya el amor no existe y es s lo un recuerdo distante Diante disso Giddens 2000 aponta que a fam lia na contemporaneidade tem sido atravessada pelo consumo as novas rela es de trabalho e do capital que geram possibilidades e ao mesmo tempo produzem limita es As rela es de propriedade n o desapareceram at porque o sistema de produ o permaneceu mas o que se v s o atua es das for as do capital no ide rio neoliberal se sobrepondo fam lia casa s rela es intimidade e aos afetos o tempo de trabalho colonizando o tempo de vida como hav amos discutido em t picos anteriores Acerca disso os estudos de Scheinvar 2006 s o seminais A autora verificou que ao se estabelecer a institucionaliza o de um modelo hegem nico de fam lia fortalecem se as for as que fazem dela um espa o de privatiza o do social em um sistema controlado pela l gica individualista e privada Isso se constitui porque a fam lia enquanto elo entre o p blico e o privado tem sido posicionada como alvo estrat gico para a efetua o de cobran as e interven es do controle social E de que maneira essa privatiza o do social na fam lia se efetivaria Scheinvar 2006 apresenta alguns elementos O primeiro situado do final do XIX em diante no Brasil menciona os efeitos da ado o do m
338. mperativo para si pois casar significava estar junto inclusive geograficamente Esse sentimento reiterado quando Jonas n o integra mais a empreiteira em que prestava servi o na obra do Centro sul do Paran e desempregado por seis meses busca outro trabalho o que o leva a outra regi o do estado paranaense em princ pio O casal vivencia a dist ncia pela primeira vez Sara gr vida e as duas filhas crian as retornam para o Estado de S o Paulo a cidade de origem de Sara nesse per odo enquanto Jonas busca uma nova coloca o profissional Essa primeira separa o provoca tristeza Nossa Eu chorava de saudade Tinha um lado que a gente n o podia ser separado n Sara Jonas inicia um novo contrato em uma empreiteira que prestava servi o para o Bambu Ao acertar uma casa destinada aos funcion rios desse empreendimento traz a fam lia do estado paulista e deslocam se para o Paraguai porque no Brasil especificamente na vila residencial destinada aos trabalhadores de Bambu n o havia casa dispon vel uma vez que a vila estava em constru o Durante dois anos moram no Paraguai at se deslocarem para a cidade do Paran na vila I 195 No Paran nessa vila moram 18 anos Sara e as filhas Para os membros familiares em un ssono foi o tempo ureo de suas vidas pois enquanto houve contrato de trabalho com Bambu tiveram dispon veis moradia escola assist ncia sa de eventos esportes lazer e r
339. mpo a dinheiro o correto uso e emprego do tempo e toda a moral a ele associada nitidamente apreciados por Thompson 1998 em seu texto Tempo disciplina de trabalho e capitalismo industrial O tempo na precis o dos rel gios que adentraram nas f bricas no in cio da Revolu o Industrial conforme Thompson 1998 mais a l gica do dinheiro anunciada por Simmel 2005 explicitam o poderio do capital na reorganiza o temporal logo sua abrang ncia dos registros social e subjetivo que passam a ser calculados por meio do rel gio que ultrapassa o espa o da f brica e adentra nos lares e no cotidiano Simmel 2005 ilustra esses efeitos sociais por exemplo ao demonstrar o tempo de espera e a ocasi o de uma viagem perdida Para ambos os acontecimentos essas viv ncias al m de serem percebidos como perda de tempo irrevers vel beiram insuportabilidade o ordenamento tecnicista que invade todas as esferas da vida efetuado principalmente nas grandes cidades pautado pelo tempo fixo cronometrado regulado e sincronizado As rela es come am a ser pulverizadas na exatid o e na precis o de minutos da forma de vida correm em conjunto rumo a uma forma o da mais alta impessoalidade atuam por outro lado de um modo altamente pessoal SIMMEL 2005 p 581 A exist ncia humana encontra se em suas min cias amarradas a uma rede de interesses monet rios Estes s o os pontos nodais que delinearam rela es inscritas
340. mudada apenas a rela o de trabalho e funcion rio mas tamb m as suas refer ncias afetivas s cio familiares geogr ficas e simb licas dimens es enraizadoras da vida Aspectos esses que continuaremos a desdobrar nas se es seguintes 258 As vilas de trabalhadores de barragens um dispositivo de aproxima o e controle As fam lias Top zio Citrino e Safira viveram parte significativa de suas hist rias nas vilas de trabalhadores de barragens Residiram pelos menos dez anos nesses locais e atravessaram o processo de venda dessas casas Todas exceto a fam lia Top zio tiveram oportunidade de comprar a casa de moradia nessas vilas A fam lia de Jonas foi quem morou e n o conseguiu libera o de compra fato que n o trouxe apenas ressentimentos mas suscitou a produ o de um sentimento de n o obten o de reconhecimento por seu trabalho e anos de vida dedicados ao Bambu como observamos em suas hist rias Ao lan armos um olhar mais atento s vilas podemos perceb las como um dispositivo que se de um lado propicia a constitui o de sociabilidades e agrega o por outro possibilita o esquadrinhamento e controle por parte da empresa sobre o trabalhador e sua fam lia Identificamos nelas um dispositivo gerador de paradoxos naquilo que promovia e subtra a Como visto as vilas conferiam ancoragem em meio ao movimento migrat rio um locus de aproxima o e seguran a para quem chegava terra estranha Por ess
341. n o deixaram de sonhar que um dia ficar amos por ali A nica coisa em que eu pensava quando meus av s pediam para meus pais residirem mais perto era h barragem aqui Entendia de modo pueril que barragem estava para trabalho assim como trabalho estava para barragem Na fala dos narradores vi que eles tamb m compreendiam isso ao rememorarem sua inf ncia e temerem o desemprego de seus pais No in cio dos anos 1980 eu n o tinha idade e nem clareza suficientes do que era uma empresa estatal mas sabia dizer desde crian a o que era morar em uma vila de barrageiros e onde papai trabalhava sempre visit vamos as novas usinas onde ele atuaria al m de ouvir suas detalhadas explica es de como gerar energia hidrel trica Sabia tamb m deslocar me sozinha pelas ruas da cidade desde os tr s anos de idade mam e ficava de cabelos em p Compreendia que papai o barrageiro chefe de fam lia fazia parte do sindicato e integrava a luta dessa classe hoje entendo melhor isso Os anos se passaram eu tornava me adolescente passei a estranhar e temer uma coisa at ent o inimagin vel o que suceder com os meus amigos comigo e meus familiares com essa tal de privatiza o O que querem esses estadunidenses que aqui vieram para se tornarem propriet rios de nosso rio gua fauna e flora como tamb m de 21 n s mesmos de homens e mulheres que vendem sua for a de trabalho a eles bem como da energia gerada pelos rios tupiniquins
342. nada n o dar trabalho para ele n o passar aqueles problemas Ent o a gente tem que arcar com todos os problemas Eram os m dicos Embora quando era para ir ao m dico fora ele vinha mas escola tudo Ent o trabalha desde a parte do lanchinho da doen a Era uma dorzinha noite mamadeira de manh Tudo a gente sozinha Ent o era complicado a gente sozinha com os filhos como eu ficava Desde pequenininho os tr s Quando ele Thiago veio o meu filho mais novo o Junior j tinha cinco anos essa a parte dif cil A fam lia encontra se centrada na mulher ao que diz respeito aos cuidados dom sticos por m a figura de provedor estatuto do pai quem det m a principal fun o de autoridade Isso significa que embora a mulher encabece as decis es acerca dos cuidados dom sticos e com os filhos o lugar do marido mantido como o primordial ou nico provedor Contudo sua responsabilidade centra se fora do reduto do lar seu trabalho externo A ele o pai se recorre somente em casos pontuais ou emergentes Podemos entender essa produ o como um arranjo que confere suporte para esse pai c njuge se manter a dist ncia sem perder as r deas da fam lia como aponta Thiago Mesmo que essa figura masculina mantenha essas r deas percebemos a mulheres conferindo a dire o ao ter de lidar no cotidiano com in meros problemas e quest es que demandam cuidados assist ncia educa o afeto e gest o da ro
343. narrativo Devemos escut la como diz Barthes 1973 Isso n o passar de uma palavra outra mas de um n vel a outro isto poder lan ar outros olhares que ultrapassem o mundo do pesquisador para mergulhar no do narrador tendo como pressuposto que a significa o n o se encontra em um nico eixo linear tra ado do come o ao fim mas de um atravessamento que se faz em todo o discurso o enredo Como vimos a narrativa possui uma marca pr pria fundada em uma rela o com o outro e consigo mesmo Nela operam uma distor o e irradia o que n o a degeneram ou a invalidam pelo contr rio caracterizam na e possibilitam reconstruir significa es e criar outro encadeamento disposi o daquilo que foi vivido substitui sem cessar a significa o da c pia pura e simples dos acontecimentos relatados segundo a vida pouco prov vel que em um encontro o fato de se sentar n o siga a imediatamente o convite para tomar um lugar BARTHES 1973 p 55 Essa concep o se aproxima da hermen utica gadameriana de fus o de horizontes 167 Na narrativa opera um tempo l gico pr prio que ultrapassa o tempo real pois passa a viger outra l gica a da sequ ncia que une os n cleos mais significativos daquilo que est sendo narrado A narrativa possui uma complexidade cuja caracter stica de integra o nesse todo possibilita orientar a compreens o de seus elementos descont nuos cont guos
344. ncia e seus m todos passam a ser questionados em sua edifica o e em seus limites Afirma a impossibilidade de os m todos cient ficos garantirem toda a verdade defendendo apenas graus de certeza A ci ncia perde assim seu status de detentora da verdade universal Outra contribui o para essa discuss o nos leva a resgatar o conceito da sociologia das aus ncias de Santos 2002 2004 pois o entendemos como um recurso heur stico que auxilia o esclarecimento desse quesito Esse autor ao situar a no o de temporalidade como algo estanque demarcado pelo regime de poder e saber que se expressa em verdade faz com que dominem vers es monol ticas de hist ria e temporalidade Isso afeta a realidade n o apenas acad mica e de seus pesquisadores mas se estende dos atores sociais A linearidade temporal conforma ju zos de valores e regimes de verdade na ci ncia e na sociedade Produzem se uma temporalidade e uma 22 Relacionamos a isso as contribui es de Gagnebin 2006 sobre a escrita da hist ria que reconhecem os liames da produ o da mem ria hist rica em que a mem ria do historiador e de sua conjuntura vincula se com o esquecimento e a denega o Gadamer 1999 e Bleicher 1992 correlacionados a isso assinalam que na produ o do conhecimento cient fico mediante a tradi o a influ ncia hist rica e o m todo s o concedidas prefer ncias a determinados rumos de investiga o o que permite abordar
345. ncia vasta e fina qual falta apenas a palavra Tantos dados fazem do passado presentes adormecidos que presen a os animar GU RIN 1995 p 16 grifo do autor Em Tempo e Narrativa RICOEUR 2010 como assinala Villela Petit 2007 pondera se sobre o tempo humano o qual constitui a inst ncia em que nos vemos e nos sentimos Em que se delineia o tempo do agir do afetar e ser afetado Essas experi ncias vividas no tempo somente podem ser ditas na forma narrativa Lembrando que a experi ncia do mundo remete linguagem e compreender um modo do ser O modo do ser que existe compreendendo GADAMER 2012 RICOEUR 2008 Para avan ar um pouco mais nessa perspectiva recorremos a uma assertiva de Foucault 2009 que ao investigar a rela o do texto com o autor faz men o a um aspecto da narrativa que pin aremos para pensar a figura do narrador e a fun o que o ato narrativo pode assumir referente ao que ele capaz de recuperar e de p r em curso na exist ncia individual e coletiva Para os gregos em suas epopeias a narrativa podia fazer da morte a imortalidade do jovem her i que aceitou morrer Assim tornava se memor vel e consagrado seu intento heroico caso isso lhe tivesse custado a vida Outra propriedade da narra o tem a ver com a narrativa rabe do Livro das mil e uma noites AN NIMO 2006 Nessa obra o ato narrativo tinha como finalidade afastar a morte Enquanto se narrava podia se viver At o aman
346. nda da 284 racionalidade econ mica do capital sobre sujeitos que ocupam posi es sociais espec ficas No caso do barrageiro na l gica neoliberal vemos uma imposi o de um tempo de trabalho sobre o de vida gerador de esfacelamento social preconceito injusti a e falta de dignidade Esse panorama se agrava ao restringir o campo da experi ncia comunic vel a pot ncia criadora e o apoderamento da realidade Logo a subjuga o de pessoas ao torn las impotentes para resistir gozar da liberdade e da felicita o social Isso n o significa isentar os afetos como a alegria e a tristeza mas fazer de ambos um caminho de contraposi o e exame da realidade na g nese do seu sofrimento n o se reduzindo ao mbito relacional familiar ou individualista Tampouco significa abolir todas as formas de incerteza e inseguran a dimens es do existir mas poder lidar com estas ao entretecer la os sociais e firmar v nculos de pertencimento sem autoritarismo e subjuga o tal qual faz o tempo da monocultura do capital sobre o tempo da vida A desconstitui o dos espa os de sociabilidade de reciprocidade e de solidariedade fragilizou essa categoria s cio profissional O grande receio desses familiares de barrageiros n o garantir meios de sustento financeiro ao lar e ter impossibilitada a prote o de seus filhos Portanto de n o conseguirem angariar recursos para educa o e inclus o social e profissional de seus descendentes
347. no tico e o trato com o outro O tato integrando a produ o de conhecimento cient fico deve elaborar um sentimento est tico e hist rico pois n o diz de um atributo natural Nesses princ pios procedemos a uma reelabora o metodol gica conjunta compat vel ao nosso trip te rico conceitual e a nossa compreens o de ci ncia Ao concordarmos com os contornos do m todo deferidos pelos participantes como a dispensa da valida o da narrativa e a n o realiza o da entrevista individual em um grupo familiar pudemos manter um campo de manobra que n o abriu m o da diretriz metodol gica adotada e nem prescindiu os termos postos pelos sujeitos mas os manejou 187 ao integrar os sujeitos da pesquisa a saber pesquisador e pesquisado Buscamos n o esbarrar nos limites assinalados por eles o meio de fazer isso foi balizar a situa o sem perder de vista que a narrativa poderia ser garantida fosse esta concedida na modalidade individual e ou na coletiva Percebermos nesse vi s que a tessitura da narrativa d se em uma rela o singular em que os fios concedidos pelo pesquisado na condi o de narrador s o os fios a serem trabalhados enleados e arrematados pelo pesquisador nas tramas formadas tal qual um artefato t xtil benjaminiano que nos debru amos neste cap tulo Um material que expressou tanto a singularidade e suas express es subjetivas quanto o fen meno social facetas capazes de ilustrar nosso objeto de
348. nos processos a que est submetida Nega se uma nica defini o de fam lia que redunde na homogeneiza o desta para se afirmar uma concep o que abarque a sua diversidade que n o oculte os efeitos das estruturas pol ticas sociais e econ micas do modo de produ o capitalista neoliberal Disso depreendemos que a fam lia n o apenas transformada por essas for as mas que tamb m pode agir em sua transforma o Por fim a partir desse percurso culminamos na afirmativa a fam lia ainda como era e a fam lia n o mais a mesma OLIVEIRA 2007 p 10 A autora dessa afirma o diz que podemos comprovar no Brasil a exist ncia de diversos arranjos familiares a diversidade de modelos coexistindo com formas que ao entrela ar um 126 passado e um presente projetam um futuro Essas temporalidades n o est o em vias de extinguir sua ambiguidade e nem sua contradi o o que reafirma nossa tese de que a coexist ncia de diferentes temporalidades familiares forja a pluralidade familiar for a capaz de perdur la e transmut la simultaneamente 3 2 5 Considera es sobre o caleidosc pio familiar Ao nos referirmos aos caleidosc pios remontamos ao movimento paradoxal e tensionado que as transforma es hist ricas sociais culturais e econ micas expressam acerca da exist ncia humana e de seus processos de subjetiva o Contudo n o devemos esquecer que nessas for as os indiv duos os grupos sociais e
349. ns til reconhecendo suas aberturas suas diferen as e seus aspectos intermin veis posto que essa urdidura n o se fecha em si mesma e nem se esgota em suas pretens es Trama essa que possibilita o exerc cio interpretativo daquilo que ela p de amarrar aquilo que ela foi capaz de conter dispor e integrar em dado momento Esclarecemos que n o ignoramos os fios que constituem esse enredo em suas especificidades e contextos mas propomos um encontro entrela ado para recepcionar algo que pretendemos apreender Entendemos que essa trama est sempre a ser tecida em v rias m os em distintas temporalidades espa os e rela es Com v rios olhares e inten es tal qual o enredo do Livro das mil e uma noites cuja trama integra distintas hist rias e mostra que por interm dio de Xahraz de Sahraz d poss vel elaborar hist rias e hist rias das hist rias como aponta Jarouche 1996 Essa a conjuntura hist rica da revolu o cient fica que alcan a a sociedade e que em sua proposi o tica e pol tica almeja fazer do paradigma cient fico conhecimento prudente um paradigma social vida decente SANTOS 2006 Nele est gestado o paradigma emergente que tende a superar o conhecimento dualista calcado nas tradicionais dicotomias natureza cultura natural artificial vivo inanimado mente mat ria sujeito objeto observador observado subjetivo objetivo coletivo individual Visa sair do reduto conhecimento esot ric
350. ns desses caminhos podem ser afeitos mas haver trilhas desconhecidas conforme o movimentar de seu objeto N o h um percurso a priori embora possa haver em nossa cartografia gerada pelo m todo 25 pontos cardeais ao menos para sabermos de onde viemos Contudo se necess rio for voltar por determinados caminhos esse retorno n o ser da forma como partimos pois cada vereda possibilita avistar horizontes diferentes respostas distintas visto que a cada passo somos interpelados distintamente A trajet ria percorrida nesse vai e vem na circularidade hermen utica n o tempo perdido mas vias e travessias em busca de pistas interpretativas como nos dizem Deslauriers e K risit 2010 Os autores ao considerarem o delineamento da pesquisa qualitativa nas ci ncias humanas especialmente a que se faz no campo interdisciplinar afirmam a dinamicidade que o objeto possui por n o ser ente inerte e nem atemporal O que isso implica Que o contorno do objeto da pesquisa definido progressivamente medida que se avan a Ele n o vem pronto O vasculhar do campo mediante estudo bibliogr fico acesso ao material emp rico e seus dados faz nos retornar teoria e metodologia E do ponto te rico metodol gico volvemos mais uma vez ao campo de pesquisa esse percorrer que permite emergir as interroga es acerca do objeto de estudo A cronologia n o linear pois ritmada pelo vai e vem que caracteriza o corpus da
351. nser o de seus membros em um sistema produtivo logo de classes Essa uma perspectiva que Fausto Neto 1982 nos prop e pensar ao pesquisar a fam lia oper ria e a reprodu o da for a de trabalho Essa pesquisadora de tradi o antropol gica buscou identificar em seus estudos como a fam lia oper ria materializava se enquanto institui o considerando as rela es produtivas e de classe em que seus membros a partir da sua configura o familiar relacional e de a es buscavam condi es de sobreviv ncia e de reprodu o da for a de trabalho em termos materiais e ideol gicos Desse modo o que significaria a fam lia enquanto unidade social de reprodu o da for a de trabalho Um grupo produtivo inserido no capital e por ele modelado uma 67 unidade social de consumo que produz e reproduz o trabalhador uma vez que no seio familiar se d a reposi o da for a de trabalho mas tamb m uma institui o capaz de realizar movimentos de resist ncia e contrapor essas for as Destacamos a partir da referida autora que olhamos a fam lia n o restrita consanguinidade reduzida mera rela o de parentesco que a faz viver unida ou por ter afinidade mas como uma dimens o de reciprocidades de a o de d vidas e de obriga es e de transmiss o de legitimidade social entre indiv duos de um determinado contexto social FAUSTO NETO 1982 p 11 A autora menciona que s o escassos os estudos que inves
352. nt o garantidos pela empresa e ou pelo Estado 4 o campo de negocia o do trabalhador em rela o empresa tornou se excepcionalmente fr gil pois a possibilidade de deliberar conjuntamente sobre quando como e quem mudar n o mais relevante 5 a fam lia passa a n o integrar mais esse projeto de viv ncia cotidiana conjunta tanto para a empresa como para o trabalhador pois acompanh lo tornou se algo dispendioso e at mesmo invi vel quando condi es de trabalho e perman ncia fosse na empresa ou na cidade de moradia reduziram se a um curto prazo e tornaram se desconhecidas 278 Como visto as transforma es no mundo do trabalho rastros da negatividade pronunciadas pela racionalidade econ mica neoliberal desarraigaram de modo abrupto o cen rio existencial dessa unidade s cio profissional conferindo parcos espa os de sociabilidade de constru o de vinculos e tempo de elabora o do luto pois o curto prazo passou a ser infligido extens o da vida humana Tempo esse que se tornou comprimido nos prazos a serem cumpridos e incertos em suas possibilidades garantidoras de manuten o da atividade produtiva mesmo estando aposentado o que interferiu diretamente no atributo narrativo capaz de comunicar experi ncias e de elaborar um modo de vida conhecido para dar espa o a um novo a ser ponderado e reinventado Dificuldades experimentadas concomitantemente no universo do trabalho e na busca de um lugar na
353. ntas s o maiores que as respostas mas eram elas que de modo t cito organizavam nosso lugar a ser ocupado naquele pedacinho do cosmos A territorialidade constru da assim aos poucos e com o tempo N o h como antecip la e ningu m pode faz la plenamente por n s Todavia esse processo est permeado de novas descobertas de aprendizagens e revela es Descobrimos n o apenas nosso pa s com suas pessoas e lugares mas a n s mesmos Disso surgiu meu interesse singular por ouvir hist rias especialmente as de outros barrageiros Como eles viviam e significavam essa conjectura marcada pela mobilidade Isso fez com que no contexto de pesquisa a minha hist ria sa sse de cena ela vai para os bastidores para se deixar protagonizar a dos trabalhadores e seus familiares de barragem N o se trata de hist rias similares a minha e a dos participantes da pesquisa pois a significa o da exist ncia singular mas de narradores com produ es narrativas distintas que anunciam de posi es diferentes lugares outros e dire es Parte espec fica da dimens o espacial onde ocorre a intera o entre os seres humanos um registro mediado pelo espa o e pelo tempo Para cada tipo de territorialidade haver um correspondente espec fico de temporalidade a qual poder coexistir e se expressar por meio das diferen as das desigualdades das rela es e exerc cios de poder a territorialidade pode ser definida como conjunto
354. ntemente existir interpretar como pontua o autor Ayres 2005 2008 declara que os recursos da hermen utica para a ci ncia s o uma importante abordagem quando se trata de compreender e interpretar um fato humano suas obras e realidades Bleicher 1992 anuncia que ela se volta para 7l H que deixar claro que essa oposi o em que compreens o e interpreta o se separaram esteve fundada na obra de Dilthey que ao buscar legitimidade para as ci ncias do esp rito atrelou explica o natureza e a compreens o hist ria o que trouxe grandes consequ ncias que a hermen utica contempor nea buscou superar ao rearticular essas duas dimens es RICOUER 2008 72 Castro 1998 assinala que a experi ncia se constitui por meio do di logo com o real com o outro consigo mesmo e com o vivido que resulta em um saber advindo das vicissitudes da vida e de conhecimentos espec ficos acerca disso Esse circuito gera uma dimens o tica e de sabedoria pertencente aquele que possui experi ncia de sobre algo Nesse ponto como n o se lembrar de Benjamin 1994 quando essa posi o seria o avesso da pen ria da experi ncia 171 compreender as express es humanas e da vida dotadas de elementos significativos Esse fato e seus desdobramentos podem se manifestar de modo textual discursivo depoente institucional cultural em um evento ou personagem Diz do mundo vivido E se diz sobre este linguagem pois forma e meio de
355. ntido tida como inacabada tal como nos mostra L vy 2001b p 9 sempre no tear incessantemente tecido na linguagem que os sujeitos produzem presas de suas emo es de seus desejos de suas lembran as e de seus projetos Nesses princ pios a abordagem cl nica no campo psicossociol gico ao fazer interface com a cl nica ampliada da sa de coletiva confere nos subs dios para atuar com uma cl nica cr tica que se move do social ao subjetivo e do subjetivo ao social ao operar desvios diante daquilo que busca captur la Dito de outro modo seria realizarmos deslocamentos do que vier impedir encontrar novos sentidos para que possamos tanger a dimens o criativa e transformadora da humanidade em seu reinventar tanto da hist ria como de si mesmo e de suas institui es Para tanto preciso aprender a olhar para os lados para al m dos nossos horizontes Entrever as diverg ncias as encruzilhadas e suas retic ncias Encontrar e ser encontrado pelo outro e seus horizontes De modo geral ao nos referenciarmos a essa cl nica clin men pudemos nos compreender e compreender o outro por meio de uma concep o de ci ncia cuja verdade est ligada experi ncia individual e coletiva e n o a uma objetividade externa universal e distanciada N o obstante procuramos o sujeito e o sentido em sua pr pria hist ria narrada L vy 2001b reconhece que a psican lise freudiana produziu uma 141 revolu o nessa esc
356. o e de seu uso que se generalizou de modo recente A palavra rela o se difundiu com maior vigor a partir de 1960 remetendo ideia de esfera privada em termos de intimidade e compromisso com algu m n o se vinculando apenas sexualidade mas se estendendo aos pais c njuges parceiros filhos amigos e conhecidos O autor delimita o uso prosaico e corrente que essa acep o assumiu na atualidade com a seguinte pergunta como vai a sua rela o com 2 114 3 2 3 Temporalidades para as fam lias caleidosc pios em suspens o Apresentaremos de forma sucinta como que em uma suspens o temporal os principais marcos hist ricos que distintos autores retomam para investigar a fam lia seja para situar sua dinamicidade ou para fazer mera oposi o entre modelos Birman 2007 destaca duas mudan as fundamentais apontadas pela literatura sociol gica e antropol gica para discutir as reinven es da fam lia da modernidade para a atualidade discuss o essa que parte da fam lia extensa patriarcal e da fam lia nuclear burguesa para apontar suas transforma es A fam lia extensa remetia a um espa o onde conviviam distintas gera es al m do casal parental central e seus descendentes Junto a esse cerne havia os agregados e extens es em que propriedades coisas e pessoas condensavam se em uma rela o de pertencimento e submiss o autoridade absoluta e incontest vel da figura do pai o patriarca Para
357. o importante para n s porque p e em realce o universo dos narradores que ultrapassa o universo privado pois est o integrados a uma constru o hist rica e social inclusive de g nero Cyrino 2009 assinala que a no o de cuidado naturalizada e socialmente constru da como atributo feminino tanto onera as mulheres que de modo costumaz acabam por ter de conciliar o papel familiar e o profissional como reverberam o modelo patriarcal que delega a elas uma posi o secund ria no mercado de trabalho ou at mesmo as impedem de ingressar neste Em conjunto esses argumentos revelam uma divis o de trabalho desigual dentro e fora do mercado A autora exp e que s o parcas as mudan as dos tradicionais modelos de fam lia que permitem um redimensionamento mais igualit rio e partilhado acerca da divis o dom stica de trabalho como o cuidado com os filhos e as pr ticas sociais cotidianas referentes a essa esfera da vida Interessante observar como Todorov 1999 debru ou se sensivelmente sobre esse aspecto Ao articular cultura e vida cotidiana atentou para o prosaico enquanto constituinte da arte da exist ncia esfera da vida que n o consiste em uma repeti o mec nica dos gestos garantidores da sobreviv ncia mas algo dotado de riqueza e desafios conjugadores de n s sociops quicos 271 Quem diz criar as crian as diz tamb m na verdade jamais esquecer o material a alimenta o a temperatura a higiene nem o indiv d
358. o autoritarismo O autor tamb m aponta existir um grande n mero desconhecido por falta de registro de barrageiros v timas de acidentes de trabalho Trata se de uma profiss o repleta de riscos e agravos sa de do trabalhador Um acidente grave era pass vel ocorrer no cotidiano do canteiro de obras o que fazia esses trabalhadores conviverem com essa realidade de maneira pr xima e di ria O desconhecimento desse n mero que n o existe oficialmente entre outros motivos d se tamb m pelas empreiteiras n o prestarem contas e nem responderem a respeito disso nesse per odo Isso Ribeiro 2002 tamb m corrobora ao afirmar que foram poucos os informativos publica es e documentos que traziam dados dos acidentes e riscos existentes nas obras Mesmo pesquisas recentes trazem de modo fragmentado e disperso informa es sobre esse tema A aus ncia desses n meros torna se compreens vel ao nos depararmos com as duras rela es de trabalho que reiteravam o autoritarismo por que o pa s atravessava Os supracitados autores s o un nimes ao apresentar uma disciplina r gida com duras ordens sem qualquer espa o para di logo e com parcas negocia es A representatividade dos trabalhadores veio a surgir apenas em 1976 quando sindicatos emergiram at ent o estes n o existiam ou era inoperantes Qualquer manifesta o ou insatisfa o n o apenas traziam amea a de demiss o mas tamb m um tratamento de seguran a nacional c
359. o EDUC Cortez 2002 MINAYO M C S O desafio do conhecimento pesquisa qualitativa em sa de 9 ed S o Paulo Hucitec 2006 MIRANDA J A B Pref cio In BLUMENBERSG H Naufr gio com espectador Paradigma de uma met fora da exist ncia Lisboa Vega 1990 MORIN E 4 cabe a bem feita repensar a reforma reformar o pensamento 8 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003 Complexidade e transdisciplinaridade a reforma da universidade e do ensino fundamental Natal Ed Da UFRN 2000 NOVA A C B Percep es da cultura da CESP S o Paulo Escrituras Editora 2000 OIT Organiza o Internacional do Trabalho Mais de 70 por cento dos trabalhadores n o t m prote o contra o desemprego 2012 Dispon vel em lt http w ww oitbrasil org br content mais de 70 por cento dos trabalhadores nao tem protecao contra o desemprego gt Acesso em maio de 2013 OLIVEIRA C M Apresenta o Palavras introdut rias In CERVENY C O Org Fam lia em movimento S o Paulo Casa do Psic logo 2007 295 ONOCKO CAMPOS R O Narrativas apontando alguns caminhos para sua utiliza na pesquisa qualitativa em sa de In CAMPOS R O et al Pesquisa avaliativa em sa de mental desenho participativo e efeitos da narratividade S o Paulo Aderaldo amp Rothschild 2008 ONOCKO CAMPOS R O O exerc cio interpretativo In CAMPOS R O et al Pesquisa avaliativa em sa de mental desenho participativo e efe
360. o de obra em obra Nessa trajet ria pode vivenciar tanto o desemprego ao ser finalizada uma constru o fun o quanto uma nova oportunidade de coloca o outra obra que se inicia o que o leva de um lugar a outro sem parada Nas palavras de Lia muita andan a Porque o barrageiro ele anda muita andan a N o igual pessoa de cidade que voc arruma um servi o e s vezes voc fica ali Ele vai porque come ou a obra Acabou eles mandam embora Ou manda embora ou manda para outra obra Ent o n o para assim Vive migrando risos Nas palavras de Davi o que caracteriza a mobilidade do barrageiro a for a de atra o tal qual a for a exercida por um m A obra especialmente em per odo de constru o exerce o vetor atrativo sobre esse profissional por se caracterizar como 80 Outro termo utilizado pelos barrageiros no canteiro de obras para se referir amea a de demiss o recorrente no contrato com as empreiteiras a express o o jacar est pegando al m do tradicional fac o 231 oportunidade de trabalho mesmo que de car ter passageiro Uma duplicidade que pode ser apreendida nas significa es interpretativas que a senten a do narrador anuncia em um constante ir e vir O barrageiro que eles falam levantam a cabe a olham tal barragem quando voc v j est indo risos Davi Apreendemos nas narrativas um estere tipo de barrageiro que eles evidenciam ao
361. o pensando ter uma chance de fazer parte dos vencedores e tendo interiorizado o modelo da luta aceita mais ou menos bem essa regra que d vida p blica e privada seu car ter de espet culo e teatralidade ENRIQUEZ 1999a p 285 grifo do autor Essa exposi o se vincula de Batista e Codo 2007 ao afirmarem que as recentes din micas de inclus o e exclus o instalam se entre os trabalhadores nos restritos e seletivos espa os de trabalho dispon veis Os indiv duos t m seus interesses projetos e sonhos dispersos ou circunscritos aos ide rios das organiza es S culos de luta e milit ncia para tornar o trabalho mais seguro e pautado em leis de prote o ao trabalhador esva ram se em poucas d cadas O que persiste a inseguran a a incerteza e a negocia o permanente das condi es de continuidade no emprego e por sua vez o prolongamento dessas consequ ncias sobre o seu entorno social familiar afetivo e pessoal Tendo isso em vista podemos avan ar e apontar que a demarca o conceitual que faz prosseguir esse argumento considerar o tempo s mbolo social e cultural constru do historicamente o que refrata um processo de aprendizagem instaurado nas rela es sociais e nos processos de subjetiva o conforme o contexto em cena Al m de gerar experi ncias temporais distintas trata se de um processo civilizador como afirma Elias 1998 em sua minuciosa an lise Sobre o tempo Nessa obra s o expli
362. o vemos como o trabalho torna se presente dentro de casa percept vel tanto na aus ncia do trabalhador quem ficava longas horas fora de casa como em sua presen a ao manifestar cansa o e sinais de exaust o A rotina de trabalho enquanto tempo forjado pelo grande mercador reiterada na vida privada ao compassar o tempo dom stico e familiar Por sua vez o acidente de trabalho de Davi rememorado pelo pr prio casal s v speras de uma mudan a para uma nova cidade O epis dio sucedeu se quando Davi estava em tr nsito a servi o do Cipreste em um transporte com outros colegas de trabalho rumo ao canteiro da obra No percurso uma tampa de esgoto explodiu acertou a roda do ve culo e com esse impacto Davi bateu a cabe a cortando a Foi socorrido pelo pr prio motorista que o levou ao hospital onde recebeu sutura na cabe a Lia lembra quando se assustou ao ver o marido chegar a casa ferido Ele estava chegando da cidade com a cabe a raspada a camisa cheia de sangue em casa Ai Minha Nossa Senhora risos Juntos rememoram Davi como um trabalhador que n o faltava sendo esse acidente um dos poucos atestados de sa de que teve ao longo de sua trajet ria profissional Sobre isso vimos tamb m o relato de Lia quem citou extensas horas de trabalho de seu marido ao se referir aos hor rios malucos dos turnos apontados como ruins e intensos pela esposa Um trabalhador que aos olhos de sua companheira tinha m
363. o Bambu dava tudo Voc n o pagava aluguel sua moradia N o pagava col gio para os filhos e o col gio era excelente O atendimento m dico era excelente Raquel Vemos esse universo se constituir centrado no Bambu dentro e fora de casa quando os Top zio mudaram se para o Brasil na vila do Bambu que para eles proporcionava seguran a e prote o liberdade para brincar e se divertir nas ruas com outras crian as A inf ncia de Raquel e D bora retratada por atividades l dicas como esconde esconde andar de bicicleta de patins de carrinho de rolim realizar passeios por parquinhos e contato com a natureza ao explorar sabores de diferentes frutos da vila Esse gosto expresso pelas irm s ao dizerem n o se sentir amea adas por nenhuma forma de viol ncia naquele momento Nem elas e nem seus pais Falar das singularidades dessa fam lia situar seus gostos e desgostos experimentados no contexto trabalho fam lia nomear os encontros e desencontros promovidos por essas inst ncias que geram distintos modos de ser e viver Imagens passadas que marcam suas hist rias presentes e esbo am um futuro o car ter do tr plice presente ricoeuriano manifestado nessas narrativas Isso pode ser avistado no discurso de D bora que lembra ainda hoje o gosto da inf ncia e juventude na cidade paranaense O gostoso de l era era muito cheio muito arborizado Tinha muitas rvores frut feras Eu para ir para a escola
364. o Bambu tinha sobre as fam lias Dentro e fora de casa Isso se constitu a em uma teia bem articulada nos espa os de sociabilidade geridos por ela casa clube escola trabalho eventos etc No espa o escolar vemos a regula o alimentar a boa nutri o da poca como podemos assinalar com a soja no leite e na farofa distribu dos para os alunos Havia tamb m o acompanhamento dent rio do fl or aos agendamentos com dentistas que atendiam nos espa os da escola podendo a crian a ir sozinha ou acompanhada de seus pais Al m da concep o de ser a melhor escola da cidade particular e custeada pelo Bambu o disciplinamento dos alunos imiscu a se nos espa os sociais gerenciados pelo Bambu Podia se acionar diretamente o pai trabalhador no Bambu da escola Um imagin rio que amedrontava os alunos Ainda sobre o col gio a gente n o tinha somente o ensino bom no sentido de contratar bons professores e tal e at controlar bem a vida dos estudantes porque eles podiam chamar falar com o pai na obra Esse era o grande medo de todo mundo O terror dos alunos era algu m comunicar com o pai no Bambu Isso s vezes em casos extremos acontecia Tipo o aluno n o entrava na linha tinha como ter comunica o direta com o pai na obra Isso era uma vergonha para qualquer pai Ent o o aluno tratava de entrar na linha se n o isso podia acontecer Raquel Mais adiante sobre os processos de subjetiva o instaurados pelo
365. o autor menciona que a recomposi o familiar e a dissolu o de fam lias se faziam presentes de modo intenso nos per odos pr moderno e moderno n o t o diferente da atualidade em que 122 temporalidades que coexistem diz respeito s pesquisas de Fonseca 2005 Machado 2001 e Sarti 2010 As referidas autoras em estudos respectivos constatam que a fam lia estendida n o desapareceu nem tende ao desaparecimento iminente frente fam lia nuclear principalmente no que diz respeito s classes populares investigadas em suas pesquisas Ali s mesmo as fam lias monoparentais podem se encontrar vinculadas s fam lias extensas independente de classe social pois podem estar em rela o de n o oposi o mas de complementaridade de rede de parentela de circula o de sociabilidade de solidariedade de reciprocidade de ajuda e cuidado m tuos Essa caracter stica um arranjo inventivo e criativo Um recurso frente s necessidades de luta pela sobreviv ncia Vemos nesse contexto as rela es de g nero tamb m se diversificando os cuidados com os filhos n o se restringindo apenas figura parental paterna e ou materna al m do pr prio redimensionamento do que privado e p blico nas rela es de vizinhan a e comunidade Sobre esse aspecto Giddens 2000 identifica modalidades de fam lia europeia entre os s culos XVI e XIX que se assemelhavam fam lia nuclear Essas rela es podendo incluir desde parentes ma
366. o bom mas tem muitas partes boas Eu acho Risos Sara Barrageiro na trajet ria dessa fam lia aquele que faz e desfaz amigos colegas de trabalho rela es de vizinhan a e os pr prios v nculos familiares Uma situa o capaz de ilustrar de modo exemplar o significado da sa da de Jonas do Bambu iniciando uma trajet ria com rastros de err ncia pode ser percebida no redimensionamento das rela es familiares das mulheres que permaneceram fixas m e e filhas O epis dio referente a isso diz respeito ao primeiro Dia do Pai sem Jonas Uma lembran a que acompanhou a juventude at a idade adulta de D bora quem tinha esperan a de que o pai comparecesse n o apenas nas datas comemorativas mas em momentos significativos de suas vidas como a gesta o Meu pai sempre passou o dia dos pais comigo Como que ele n o ia estar naquele Ent o eu achei que ele ia que estava vindo Ent o no primeiro dia dos pais que eu achei que ele estava chegando de surpresa de madrugada quando eu ouvi um barulho na porta n o era Tem algu m tentando entrar Ent o a minha m e no instinto de prote o enfiou tudo a gente no quarto dela e conversou como se meu pai estivesse em casa N o lembro o que ela pediu para ele e a pessoa ficou assustada e foi embora Mas eu iria abrir a porta porque eu achei que o meu pai estava chegando para o dia dos pais Depois quando ele foi para muito longe a gente vivia em ora o p
367. o constru da do zero pelo Cipreste Viram na surgir rodeada por obras juntamente com a usina hidrel trica em constru o A cidade ao se mudaram n o dispunha de infraestrutura Tinham de se locomover com botas em meio lama por n o haver cal amento rede de esgoto e gua A cidade estava envolta por mata e a cidade mais pr xima distava 15 km O Cipreste abriu um mercado provis rio estabelecimento mantido por ele mesmo onde as pessoas iam comprar mantimentos N o havia hospital pois estava em constru o nessa poca os Citrino tinham apenas o filho mais velho Nesse per odo a empresa disponibilizava nibus semanais em dias espec ficos para cuidados com a sa de em cidades pr ximas regi o Em car ter tempor rio foram constru dos diferentes estabelecimentos sendo essas resid ncias e outras edifica es que demoraram quase 20 anos para sa rem do estado provis rio e ter sua constru o finalizada Eles perceberam a cidade surgindo e estagnando pois seu pice concentrou se no per odo de constru o da UHE Froelich 2001 assinala que o Cipreste em experi ncias anteriores de vilas piloto criadas para alocar a m o de obra das barragens fosse dos acampamentos e alojamentos aos n cleos residenciais enfrentou diversos reveses pois se tratava de uma empresa especializada em construir usinas e n o cidades poss vel verificar em epis dios dessa natureza a passagem do provis rio ao definitivo em suas edif
368. o e uma nova mercadoria a ser consumida N o O 46 Gostar amos de pensar a ternura em termos ticos reconhecedora dos afetos e das subjetividades uma vez que o substantivo n o remete apenas brandura do carinho mas tamb m da tristeza e do sofrer da condi o humana Seria viver esses afetos nome los e negoci los de modo leg timo no campo social inclusive do trabalho e da fam lia 105 autor situa a em uma categoria valorativa tica e pol tica habitada pela delicadeza e as necess rias diferen as existenciais Delicadeza seria dist ncia e cuidado aus ncia de peso na rela o e entretanto calor intenso dessa rela o O princ pio seria lidar com o outro os outros n o manipul los renunciar ativamente s imagens de uns de outros evitar tudo o que pode alimentar o imagin rio da rela o Utopia propriamente dita porque forma do Soberano Bem BARTHES 2003 p 260 Com efeito o viver junto est para ser constru do nas rela es capazes de conjugar singularidades podendo ser ent o aprendido experimentado e vivido Compor com distintas idiorritmias um ritmo coletivo entre tempo de trabalho e tempo de vida Avistando isso poder amos viver junto o tempo o espa o e as rela es de outro modo que n o o seja da l gica do dinheiro proposta na monocultura temporal do capital Por consequ ncia ter amos que redimensionar de modo conjunto no campo social o trabalho tornando o mais humanizador
369. o filos fico uma vez que tivemos de nos rever enquanto seres humanos em situa o de pesquisa lidando com outros seres humanos Desse encontro em que almej vamos compreender algo n o ramos os nicos capazes de interpreta o ou compreens o Os sujeitos envolvidos nesse processo integravam o campo tamb m e eram capazes de interferir na proposi o metodol gica Sobre isso Gadamer 2012 j havia nos alertado que a hermen utica n o uma doutrina o de m todos das ci ncias do esp rito mas uma tentativa de entender n o somente essas ci ncias que ultrapassam a consci ncia metodol gica mas o que as conecta com a nossa experi ncia de mundo O autor busca superar um formalismo do saber artificial fincado em uma superioridade falsa e arrogante para demonstrar que a interpreta o e a compreens o do mundo que experimentamos nos encontros de uns com os outros a saber do pesquisador com o participante da pesquisa com a teoria e 186 consigo pr prio permitem nos vivenciar acontecimentos da nossa exist ncia e do mundo Revivemos tradi es que revelam o universo hermen utico Uma trajet ria em que n o estamos fechados em barreiras intranspon veis pelo contr rio podemos avist las e signific las como constituidoras do caminho logo de nos colocarmos em posi o de abertura para o mundo e para o outro E o que isso tem a ver com o tato e sensibilidade Ao lidar com os participantes na condi o de poss v
370. o mais nos percebemos em contato com o outro n o necessariamente concordando com ele ou coincidindo com ele mas efetivamente entendendo nos com ele sobre algo mais pr ximos estamos da verdade desse encontro AYRES 2008 p 48 49 Ap s esse percurso temos as balizas para fazer a leitura psicossociol gica do material emp rico a fim de nomear os fen menos social e subjetivo a partir do recurso da narrativa amparados pelo trabalho interpretativo catalisado pela hermen utica que chegamos ao trip te rico metodol gico desta pesquisa Um di logo im pertinente com a finalidade de promover a fus o de horizontes entre as perspectivas 182 te ricas e conceituais abertas em suas semelhan as e diferen as rumo ao mundo do texto disposto pelo narrador 183 CAP TULO 5 NARRATIVAS Figura 5 trabalhadores envolvidos no processo de instala o de dutos para posterior coloca o das turbinas da usina hidrel trica de Itaipu cujo nome faz men o a um trecho do rio que em tupi significa a pedra que canta Essa UHE binacional est localizada no rio Paran fazendo fronteira com o Brasil e o Paraguai Ambos os pa ses a constru ram no per odo de 1973 a 1982 A concretagem da barragem foi uma das etapas mais densas de trabalho em um nico dia 14 de novembro de 1978 s o lan ados na obra 7 207 m de concreto um recorde sul americano o equivalente a um pr dio de dez andares a cada hora Ou 24 edif c
371. o metodol gica Para caracteriz la preciso um pouco de hist ria Sem a pretens o de tra ar sua genealogia destacamos aquilo que concerne ao nosso escopo delinear aspectos epistemol gicos ontol gicos e conceituais que constitu ram seu corpus cient fico na vertente francesa que a psicossociologia assume novos rumos ao se constituir enquanto disciplina e se firmar no meio acad mico Embora no s culo XX especificamente na d cada de 1950 possua como fontes nascentes para seu projeto de disciplina influ ncia dos trabalhos de grupos e pesquisa a o de Lewin nos Estados Unidos da Am rica do psicodrama e sociodrama de Moreno na Europa das pesquisas em situa es reais de vida por psic logos e soci logos da Escola de Chicago de membros do Instituto Tavistock na Inglaterra especificamente a terapia de grupo de Bion e das experi ncias de grupo operativo de Pichon Rivi re na Argentina ARA JO 133 CARRETEIRO 2001 MACHADO 2004 suas inspira es iniciais s o tamb m oriundas de autores herdeiros da teoria freudiana e marxista os quais buscavam canais de di logo mais abrangentes para tecer encadeamentos GAULEJAC 2001 Nesse panorama podemos alocar de modo geral tr s gera es conforme a proposta de mem ria hist rica de Ara jo e Carreteiro 2001 que situam os principais autores da psicossociologia e da sociologia cl nica desde 1950 a partir das associa es fundadas A primeira gera o de psicossoc
372. o na m dia Garantimos o sigilo das informa es coletadas e o seu anonimato Respeitamos a sua privacidade mantendo em segredo as suas informa es pessoais no decorrer da pesquisa e ap s a conclus o desta de modo a assumir o compromisso tico de manter sua identidade preservada VI Despesas indeniza o Esta pesquisa n o resultar em despesas ou nus para voc No caso de eventual despesa ou dano assumiremos a responsabilidade de ressarcimento e ou indeniza o VII Publica o Informamos que o resultado final da pesquisa poder ser publicado em revistas da rea colaborando assim na constru o do conhecimento te rico cient fico e na melhoria na viabiliza o de atendimentos tratamentos atua o desta natureza 301 CONSENTIMENTO Eu RG abaixo assinado concordo em participar como sujeito da pesquisa DES ENCONTROS TRABALHO FAM LIA narrativas de familiares de trabalhadores migrantes do setor de produ o de energia hidrel trica Fui devidamente informado a e esclarecido a pela pesquisadora Daniele Almeida Duarte sobre a pesquisa os procedimentos nela envolvidos assim como os poss veis riscos e benef cios decorrentes de minha participa o Foi me garantido ainda que posso retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isto leve a qualquer penalidade Declaro ainda que concordo n o concordo com a publica o dos resultados desta pesquisa cient
373. o nessa monocultura Logo as discuss es e a es que incluam o debate da conquista de garantias direitos suportes e redes de apoio est o ausentes da pauta do capital e seu poder gerencialista A contemporaneidade segundo Gaulejac 2007 de uma guerra econ mica cuja obsess o o rendimento financeiro Um poder gerencialista que captura a subjetividade e enreda consigo a trama existencial Gerencia se para al m dos espa os da f brica e do escrit rio Diante da press o e das amea as constantes em um contexto com elevados n veis de desemprego e de um mundo beira de um colapso a fam lia tamb m gerenciada bem como as rela es afetivas e sociais Assumir um lugar no trabalho e na fam lia nessa l gica do capitalismo financeiro segue essa mesma esteira a fam lia torna se uma pequena empresa que consiste em produzir indiv duos empreg veis Gaulejac 2007 assinala que o casal disp e seus recursos econ micos cognitivos afetivos e relacionais para garantir a ascens o do filho no mercado A filia o alvo de maci os investimentos e a atividade produtiva dos c njuges tem por finalidade garantir o futuro trabalho de seus descendentes A educa o e desenvolvimento de atividades voltam se para esse fim De certa forma vemos essa realidade repercutir no horizonte dos nossos narradores uma vez que o projeto de trabalho amalgamado ao da fam lia garantir o sucesso do filho na luta por um lugar no mercado de trabalho
374. o nosso objeto de conhecimento dos sujeitos que assumem a voz e a vez para narrar suas vidas e revelar em seu discurso suas pr prias utopias ao viver condi es espec ficas de trabalho moradia e de grupo s cio familiar onde a migra o laboral faz se recorrente e rearranja suas rela es materiais e imateriais Essa dimens o ganha express o quando entendemos que a utopia se enra za em determinado cotidiano e que quanto mais influente este mais a utopia forte como nos diz Barthes 2003 Decorre disso nosso interesse em conhecer como esse cotidiano narrado vivido sentido material por excel ncia para construir outras utopias e fazer ci ncia Em s ntese neste cap tulo pudemos expor fundamentos que reverberam as pretens es da psicossociologia no fazer cient fico o conhecimento enquanto ato de amor e n o de dom nio uma vez que este pode ser uma obra pessoal e coletiva que obt m prazer ao compartilhar com os outros seu n o saber consonante tamb m com os princ pios hermen uticos que avistamos ser nossa tarefa a produ o de conhecimento como algo infindo marcado pela falta e a nossa finitude fazendo disso n o um obst culo mas um recurso em que a aventura do conhecer possui um grande triunfo quando usufrui da vigorosa capacidade de questionar e voltar se para nosso vazio e falta os motores da interroga o que nos impulsionam a novas descobertas s escaladas de nossos limites e ao constante deslin
375. o para adentrar no exot rico Ao sobrepor essas cis es ci ncias que tiveram seu objeto estilha ado para que fosse adaptado imposi o positivista como a psicologia e outras reas das ci ncias 26 Mais adiante veremos a complementaridade dessa acep o ao expor o conceito de tradu o de Santos 2004 2008 55 humanas descobrem no sentido de descortinar o que estava impedido pelo v u do dogma cient fico uma magnitude a ser explorada Encontramo nos em um per odo hist rico em que se faz um esfor o para continuar a legitimar e desenvolver o curso da ci ncia especialmente o que implique superar a dicotomia entre ci ncias naturais e ci ncias sociais para revalorizar o estudo das humanidades Por fim o di logo entre saberes promove uma dimens o local e global do conhecer Possui dimens o individual e coletiva posto que a v rias vozes encontram se implicados pesquisador e pesquisado Autor e ator social Intertextualidades organizadas em dire o ao objeto Nessa situa o confluem sentidos e constela es de sentido vindos tal qual rios das nascentes das nossas pr ticas locais e arrastando consigo as areias dos nossos percursos moleculares individuais comunit rios sociais e planet rios N o se trata de uma am lgama de sentido que n o seria sentido mas ru do mas antes de interac es e intertextualidades organizadas em torno de projectos locais de conhecimento indiviso SANTOS 2006 p 83
376. o que est dividido juntar e dar sentido a elementos e eventos intern veis de trajetos err ticos ca ticos PINEAU 2006 p 334 No campo das ci ncias humanas e recentemente no da sa de tanto a narrativa quanto a hist ria de vida t m sido utilizadas como objeto de investiga o transversal aplicadas em diversas reas de conhecimentos interessadas em desvendar as rela es com territ rios tempos formas de ser sentir e agir Recurso fecundo para se compreender formas de pertencimento resist ncia domina o distanciamentos desamparos sofrimentos e realiza es isto os processos de subjetiva o Caminharemos por esse vi s nos pr ximos t picos 4 2 2 A narrativa das diversidades E bom contar as dores passadas LEVI 1994 p 8 Para iniciar um ponto de partida conceitual existe narrativa de vida desde que haja descri o sob forma narrativa de um fragmento da experi ncia vivida BERTAUX 2010 p 18 grifo do autor A hist ria de vida que a narrativa cont m uma produ o de conhecimento assentada no discurso do sujeito acerca de sua situa o concreta de vida N o um saber a priori e constr i se na experi ncia cotidiana e na interlocu o BARROS SILVA 2010 O encontro dessa mat ria prima isto da narrativa vinda ao mundo como hist rias ainda n o narradas constitui se na rela o entre interlocutores no caso entre pesquisador e pesquisado Isso anunciad
377. o questionar a ordem vigente Implica colocar em an lise pela 15 interpela o e compreens o o processo de aviltamento do trabalho e de sua destitui o enquanto positividade Seguindo esses rastros poder amos reaver lastros daquilo que no trabalho capaz de conferir sentido dignidade e humaniza o 3 1 2 O processo de precariza o das condi es e rela es de trabalho no neoliberalismo os rastros da negatividade preciso estar ciente de que no modo de produ o capitalista operado pela expropria o exclus o e explora o n o sofrem apenas aqueles que est o fora do mundo do trabalho desempregados ou inseridos precariamente nesse universo mas tamb m os que est o no mercado laboral Em ambos os casos o tecido social n o permanece ileso o que vem colocar em xeque o trabalho enquanto positividade Segundo Antunes 2008 o mundo do n o trabalho e do desemprego descarta aproximadamente um ter o da humanidade O Brasil especificamente est entre os pa ses com maior n mero de desempregados no mundo sem se referir ampla condi o de informalidade que diz respeito a 60 da for a de trabalho Isso remete a dados mundiais em que perder o trabalho significa malograr os direitos e a prote o social o que por sua vez amea a exist ncias e cidadanias Essa realidade produz fragiliza o nos modos de vida que ultrapassam o campo do trabalho tal qual o do trabalhador migrante de barragens que ao vi
378. o tanto por Ricoeur 2010 na hermen utica quanto por L vy 2001b na psicossociologia Qual uso ser feito da narrativa pensando se as fun es que elas podem assumir Resgatando Jarouche 2006 n o a utilizaremos como entretenimento e nem a admitiremos em um sentido ornamental e meramente est tico Importa nos encontrar nas narrativas de vida dos participantes desta pesquisa quais saberes por meio da experi ncia de vida acumulada s o comunic veis Quais s o as hist rias exemplares e seus paradigmas existenciais que conjugam o singular ao coletivo como nelas figuram o individual e o social os des encontros entre trabalho e fam lia Al m de esse caminho Falaremos de modo pormenorizado sobre o recurso da entrevista narrativa na se o A temporalidade na narrativa da coleta ao conte do anal tico 6 A narrativa tanto no aporte hermen utico como em outros referenciais tamb m tem sido utilizada no campo da sa de Entre esses estudos citamos a de Onocko Campos et al 2008 2013 153 ser compat vel com a psicossociologia disciplina que incorporou o uso de hist rias de vida e narrativas a partir dos autores referidos tamb m possui como postulado a inseparabilidade das dimens es sociais e subjetivas constituintes da exist ncia CARRETEIRO 2003 LE GRAND 2005 Na busca por esclarecer o trabalho a ser realizado com esse material narrativo discorreremos nos par grafos seguintes os conceitos que sustentam essa p
379. o vivenciar um estreitamente entre trabalho fam lia nos 110 dispositivos de moradia fornecidos pelas empresas as vilas dos barrageiros e demais institui es por elas controladas Demonstraremos as reciprocidades estabelecidas nesses espa os sociais de vizinhan a e comunidade especialmente para as mulheres e seus filhos que permaneciam em casa enquanto o chefe de fam lia o barrageiro dirigia se ao canteiro de obras Ademais visualizaremos o desmonte desse cen rio com o processo de privatiza o e a precariza o das condi es e rela es de trabalho Nesse conjunto debateremos como as suas realidades foram constru das e as t ticas m ltiplas elaboradas capazes de desafiar o olhar colonizador do t cnico da interven o homogeneizadora das pol ticas p blicas e do pesquisador catalogador Percebemos uma revaloriza o da fam lia e da comunidade na atualidade como subterf gios para se lidar com as crises econ micas e a fragiliza o dos direitos sociais Elas constam nas agendas p blicas e suas pol ticas A fam lia conclamada para educar seus filhos para ser suporte na garantia dos cuidados e da prote o de suas crian as jovens e idosos tamb m alvo para empreendimentos e neg cios Com o descr dito e a crise das institui es p blicas a estrat gia foi se voltar para a fam lia e a comunidade por meio de projetos programas e servi os p blicos provenientes de dispositivos de institui es escolares
380. objetivo o trazer tona os fios narrativos que se teceram em argumentos e formaram uma trama acerca das quest es disparadas pelo pesquisador e pelo pr prio narrador na constru o do enredo Isso receber a vinda do texto ao mundo como menciona Onocko Campos 2008 no mundo do texto que podemos encontrar os embates travados as descobertas as nomea es do real medos amea as resist ncias dribles capturas e cria es entrar em contato com o que foi dito aquilo que nele est presente GADAMER 2012 Esse o mundo aberto pelo texto que Ricoeur 2008 nos sinaliza Reiteramos que buscamos entender os textos neles mesmos A compreens o segundo Onocko Campos 2008 em uma tradi o gadameriana participar de um sentido comum pois a proposta hermen utica entender algo que n o se compreendeu ou que foi alterado N o define a priori o conte do a que se volta a tarefa compreensiva mas se esclarece quais s o as condi es e os elementos que possibilitam compreender 178 algo O caminho compreensivo constru do ao percorr lo produtivo e n o reprodutivo pois o ato de compreensivo al m de ser infind vel possibilita compreender algo de modo diferente Na hermen utica como caminho da interpreta o e interpreta o do caminho uma via iniciada s se torna caminho durante o caminhar com o transcorrer da investiga o Isso nos ensina Castro 1998 Nesse pressuposto o caminho inte
381. odelo higienista calcado no poder do m dico Instrumentaliza se um ordenamento social por meio da articula o entre fam lia moderna e os aparelhos do Estado S o lan adas bases do conhecimento cient fico que enquanto dispositivo de captura abrange a esfera social e subjetiva por meio do esquadrinhar das dimens es espacial arquitet nica biol gica educacional afetiva etc Um aspecto que vem reafirmar essa discuss o e avan ar na an lise dessa conjuntura em que as vias de captura se operacionalizam n o somente mediante o aparelho do Estado mas a partir do ordenamento dos afetos e do amor apontado na obra de Costa 1979 p 23 O ponto culminante da uni o conjugal era o amor Mas ao contr rio do amor rom ntico o amor higi nico era pragm tico Reclamava seus v nculos com a sexualidade e procria o Caberia portanto perguntar o que levou o pensamento m dico a recorrer ao amor quando do ponto de vista da higiene ele estava perigosamente 125 contaminado pela no o do amor rom ntico Tanto mais quanto primeira vista o simples controle da sexualidade no casamento parecia poder cumprir a contento a miss o disciplinar m dico estatal junto ao casal Estas quest es encontram algumas de suas respostas quando se analisa o enfoque t tico dado pela higiene simbiose entre sexo e amor Num primeiro n vel observa se que o amor tornou se necess rio higiene porque era um dos poucos estandartes morais
382. ois as filia es dos pais adultos restringem se ao seu n cleo e se desprendem da sobreposi o ascendente Devemos admitir que essas s o express es de algumas transforma es identificadas Parte delas remete s rela es de g nero de filia o e concep o que possibilitam o reinventar e rearranjar em outros par metros a fam lia algumas delas apontando para a diversidade e igualdade Elas n o s o nicas nem lineares Tampouco definidoras dessas transi es Precisamos conhecer melhor seus desdobramentos suas temporalidades e como esse presente articula o passado e se projeta em um futuro Giddens 2000 nos convida a problematizar essa quest o que vai ao encontro da nossa perspectiva de temporalidade quando ontem e hoje se mostram convergir Vejamos o que o soci logo brit nico nos diz ao retomar Boswell 1995 apud GIDDENS 2000 p 192 193 En la Europa premoderna el matrimonio sol a comenzar como un contrato de propiedad se centraba posteriormente en la crianza de los hijos y terminaba convirti ndose en amor En realidad pocas parejas se casaban por amor pero con el paso del tiempo muchas llegaban a quererse a medida que organizaban su casa criaban a los nifios y compart an las experiencias de la vida Casi todos los epitafios 124 dedicados a esposas o esposos que se conservan ponen de manifiesto un afecto profundo Por el contrario en la sociedad occidental actual el matrimonio casi siempre empieza con a
383. ol gicos Figura 4 Ponte sobre o rio Paranapanema que permite avistar a usina hidrel trica Canoas II Essa UHE faz parte do complexo Canoas tendo a usina Canoas I e a II sua margem esquerda est situado um munic pio do Estado do Paran e direita um do Estado de S o Paulo A constru o teve in cio em 1992 e conclus o em 1999 131 4 FUS O DE HORIZONTES caminhos te rico metodol gicos S o tamb m jogos de linguagem os que nos permitem chegar compreens o do mundo na qualidade de aprendizes e quando deixamos de ser aprendizes GADAMER 2072 p 630 No cap tulo 1 pudemos abrir o tema de pesquisa de maneira a situar o leitor nos horizontes constituintes deste estudo e onde nos localiz vamos nessa perspectiva Demonstramos a origem do nosso interesse por essa tem tica qual era a nossa implica o com esse universo e a concep o de ci ncia em que nos respaldamos Para complementar esse intento hav amos situado nosso objeto de estudo no contempor neo e como o olhar do pesquisador poderia problematizar e ser problematizado Feita essa introdu o e percorrido o campo te rico da categoria trabalho e fam lia nos cap tulos anteriores podemos agora nos aprofundar nos aspectos te rico metodol gicos que subsidiaram todo o nosso campo anal tico que abrangeu da pesquisa te rico bibliogr fica ao campo de coleta do material Convidamos o leitor a percorrer conosco as vias abertas e os cruzamentos com que
384. om o processo de privatiza o e com a demiss o de Davi os Citrino vivenciaram um cen rio n o mais resguardado pelo universo da vila e suas institui es afins por exemplo escolas ambulat rios e clubes da empresa Modifica es dessa natureza come aram a ser principiadas nos la os afetivos dessa fam lia quando Lia residiu no Estado de S o Paulo e seus filhos crescidos estudavam em cidades diferentes Nesse momento seu c njuge trabalhava no Mato Grosso aposentado mas em exerc cio profissional e Lia se viu sozinha em um lugar que outrora lhe fora familiar Para lidar com essas m ltiplas dist ncias agora em rela o ao marido e aos filhos ela costumava passar at quatro meses com Davi na cidade onde ele trabalhava retornando para casa no estado paulista quando os filhos regressavam Essa mobilidade dos Citrino enquanto sujeitos sociais agora delineada em novas condi es de trabalho permite avistar situa es de vida semelhantes s de outros membros dessa categoria profissional Nas mudan as de cidades que geralmente acompanham os barrageiros e seus familiares poss vel identificar tanto rupturas de la os sociais quanto novas rela es de amizades ao longo do Brasil e at mesmo fora dele Percurso que permite tanto se ligar quanto se desprender pessoas e lugares ao longo das veredas percorridas ou seja de onde vieram onde est o e para onde v o Isso se d em c rculo social dentro e fora dos barrageiros Ness
385. omo a coloniza o do tempo de trabalho sobre o de vida pode produzir projetos familiares articulados ao registro laboral como o individualismo constitu do no neoliberalismo pode produzir solidariedades e ajuda m tua entre essa categoria profissional como migrar pode depredar refer ncias e pertencimentos enquanto forja novos v nculos rela es e redescoberta de si e do outro Nessas circunst ncias em que pudemos conjugar trabalho e fam lia deparamo nos com a pluralidade e contradi o que existem em torno da institui o familiar Isso exigiu um constante indagar integrado ao percurso investigativo como nos sugere Machado 2001 tra ar caminhos norteadores para uma an lise elucidativa aqueles que fizessem men o s diferen as estas sim seriam a nata das an lises MACHADO 2001 p 18 poder superar modelos ideais ideol gicos que n o somente limitam o campo de an lise mas tamb m ignoram a interlocu o entre as diferen as familiares as temporalidades e as reas de conhecimento Tamb m compartilhamos com a concep o de Corr a 1993 em que outra forma de captar as temporalidades familiares dos barrageiros seria a abertura para o 129 estudo contextualizado de grupos familiares investiga es que se aproximassem da riqueza do cotidiano e de suas especificidades aspectos que contemplamos no cap tulo 5 ao construirmos narrativas individualizadas com as tr s fam lias e posteriormente as
386. onstruir um saber objetivo sem esse sujeito A crise paradigm tica vigorosa para transpor fronteiras institucionais e do saber com a finalidade de gerar novas interlocu es interlocutores e escrita Por m a passagem paradigm tica n o tranquila nem simples O conservadorismo positivista havia reservado o ato reflexivo para uma minoria e para uma elite digna de ter sua hist ria contada Uma cis o constru da historicamente entre o saber erudito e os saberes profanos ou do senso comum LE GRAND 2005 SANTOS 2006 Nessa conjuntura de transi o o sujeito toma o lugar do objeto Ator e autor reflexivo O m todo torna se um recurso e compromisso em legitimar a reapropria o reflexiva do sujeito individual e coletivo sobre a sua vida pois confere voz e escuta aos seus testemunhos Uma via que posiciona o pesquisador como algu m que se conjuga na horizontalidade com o pesquisado dotado de saber sem este n o seria 9 Aqui reafirmamos a posi o de olhar para os lados e n o de cima para baixo segundo a perspectiva cl nica que a sa de mental coletiva nos ensina a pensar tanto para avan ar no campo dessa terminologia empregada na psicossociologia quanto para convergir essa concep o no manejo da narrativa em seus 148 poss vel situar a complexidade expressa na arte existencial ARFUCH 2010 PINEAU 2006 Pineau 2006 aponta que s o distintas as correntes que recorrem hist ria de vida a autobiog
387. orque n o sabia o que que estava acontecendo durante a semana com o meu pai s vezes tocava o telefone e voc ficava pensando ai meu Deus Ser que not cia ruim A ele vinha de vez enquanto mas era sempre muito corrido ele foi a ltima pessoa com quem eu tirei foto gr vida Eu tirei uma foto r pida noite tirei com ele No outro dia de manh eu tive a minha filha Ent o quase n o participava Foi uma fase meio complicada D bora 216 Observamos n o somente a figura do pai como provedor da fam lia em termos financeiros mas algu m que conferia cuidado prote o e seguran a Mas esse mesmo pai tamb m era alvo de cuidado e prote o dessa fam lia J aposentado trabalhando para obter recursos para a constru o da casa no Paran onde a fam lia estava residindo enviava quase todo o sal rio para a constru o tendo uma escassa quantia para passar a semana A fam lia especificamente Raquel que administrava o dinheiro da constru o e da subsist ncia preocupava se se esse pai estava se alimentando descansando morando em boas condi es e com boas pessoas Se sua sa de estava boa uma vez que seu trabalho gerava desgastes e demandava concentra o tendo ele muitas vezes que virar noites em turnos Uma ang stia para quem n o podia mais cuidar pessoalmente e nem ser cuidado As mulheres dessa fam lia buscavam encontrar meios para conviver com a falta da figura paterna Desde o momento em
388. os atrelados UHE eram vividos de tal maneira que a cidade em si era percebida como um espa o externo e alheio distinto do entorno microssocial constitu do pelo e no trabalho do Cipreste Vejamos como Lia demonstra isso por meio de sua narrativa r J na cidade n o assim E barragem assim sempre que a gente morou sempre teve boa vizinhan a A molecada tudo crescia junto Naquela poca estudava junto na mesma escola Estava ali era diferente Eu mesmo nunca morei em cidade assim Mas os meninos mesmo acho que foi toda a vida criado tudo em barragem Ent o foi gostoso Lia Interessante perceber no depoimento de Lia a vila como o locus identificat rio entre os barrageiros e suas familias inclusive em sua condi o demarcada pela mobilidade Nesse espa o s cio geogr fico foram oportunizados meios de se recepcionarem fazendo da cidade o espa o urbano fora da vila um lugar remoto Essa considera o feita por Lia ao continuar seu racioc nio e afirmar que na cidade encontravam se as pessoas com ra zes sendo os citadinos desconhecidos distantes e indiferentes para muitos barrageiros que centravam suas vidas no microuniverso da vila Na e a partir da vila as crian as cresciam juntas estudavam na mesma escola tinham dispon veis os mesmos cuidados assistenciais e de sa de o que refor a a figura do barrageiro entrela ada ao Cipreste a partir da estrita vincula o enredada entre tr
389. os campos da hist ria e da filosofia identificaram profusas reviravoltas que se fazem ainda representativas Vejamos quais foram essas transforma o da ci ncia pretens o cient fica de uma fria objetividade em detrimento dos conceitos de felicidade e infelicidade pois os desejos dos povos e dos indiv duos n o tinham mais lugar e nem credibilidade para o observador distante paz ilus ria e guerras iminentes formas pol ticas e suas for as econ micas dominadoras das na es mais poderosas sobre as subjugadas modus operandi do capital que dividiu o mundo avan os acerca da compreens o e do cuidado do sofrimento humano lembramos que nesse per odo viveram Freud e outros importantes estudiosos desse tema al m de pensadores destac veis que referenciam a ci ncia at hoje GAY 1989 Um per odo anunciado h dois s culos e que ainda se faz repleto de inc gnitas Esse tempo constitui uma pe a nica em conjunto com a hist ria dos nossos dias e as suas for as destrutivas e construtivas actuam ainda hoje BURCKHARDT apud BLUMENBERS 1990 p 90 grifo do autor Podemos verificar na referida temporalidade a impaci ncia e a pressa advindas das novas formas de locomo o que aproximaram dist ncias superaram velocidades e coligaram lugares pessoas e culturas jamais vividas Essa foi a era que deu in cio revolu o dos meios de transporte a ponto de chegarmos hoje sociedade n o apenas do autom vel m
390. os propriet rios resolviam vend la em menos de um ano de moradia A t tulo de exemplo em um ano e meio em uma nica cidade morei em quatro casas diferentes Como se n o bastasse mudar de cidade mudava de casas em uma mesma cidade Nossa casa possu a decora o vari vel e multicolorida al m de m veis quebrados e riscados a cada nova mudan a Isso porque havia casas com m veis embutidos em outras n o dessa forma cada m vel tinha uma hist ria e uma proced ncia diferente Contarei para voc onde nasci e por onde passei at chegar aqui a Maring de onde escrevo Com meu pai barrageiro nasci e morei em Ilha Solteira SP nessa poca esta cidade era distrito de Pereira Barreto SP depois em Birigui SP Teodoro Sampaio SP Maring PR Porecatu PR Ourinhos SP Xanxer SC Catal o GO Cassil ndia MS Sem a minha fam lia fui para Assis SP fui morar sozinha e foi o nico lugar em que eu sabia que ficaria ao menos 5 anos por causa da universidade Irati PR e Maring PR nica cidade para onde retornei e onde pude reencontrar parte da minha fam lia Quando crian a em meio s mudan as lembro me de algo estrat gico elaborado por meus pais Uma coisa apenas em meio s bagun as n o poderia desaparecer a caixa de brinquedos S o v rias as recorda es em meio s outras caixas das brincadeiras que faz amos eu e minha irm Engra ado tamb m como as coisas podem sumir e se multiplicar em fragmentos infind veis
391. osteriores nas eras Collor e FHC e com a implementa o neoliberal ao culminar em extensas privatiza es do setor hidrel trico como apontado em nossa discuss o te rica e por nossos narradores o que nos leva a prosseguir para o item posterior referente ao contexto de trabalho e seus agravos Os barrageiros e os acidentes de trabalho Na fam lia Citrino e Top zio fez se claramente men o longa jornada de trabalho Sobre isso Froelich 2001 traz informa es de que embora haja diferencia o da jornada conforme a atividade exercida no geral o trabalho na UHE principalmente no per odo de constru o dava se durante 24 h sete dias da semana incluindo feriados e datas comemorativas O barrageiro estava ligado direta ou indiretamente obra 24 h Disso temos alguns desdobramentos que a literatura dispon vel nesse tema ainda pouco explora acidentes de trabalho vincula o trabalho e lazer e rela es de poder Quanto aos acidentes de trabalho dois dos nossos narradores mencionaram ter sofrido acidente de trabalho o barrageiro da fam lia Top zio e o da fam lia Citrino Quanto fam lia Top zio interessante observar como compareceu na narra o esse relato De modo indireto Jonas rememora em sua narrativa o cen rio do canteiro de obras marcado por recorrentes acidentes Afirma ter ouvido falar de in meros acidentes durante a constru o Lembra se de um epis dio em que um guindaste que carregava concreto
392. outrora concentradas no Estado isto passam a atuar de modo independente companhias respons veis pela gera o transmiss o e distribui o al m de surgirem novas entidades para controlar e fiscalizar esse setor como a Aneel em 1996 Aneel 2008 81 Segundo falar do ide rio neoliberal enquanto um projeto pol tico econ mico e ideol gico remeter ao trip institucional do capitalismo empresa mercado e Estado Verifica se um consenso entre autores ANDERSON et al 1995 GAULEJAC 1999b CASTORIADIS 2004 GAULEJAC 2007 de que nesse ide rio houve um retrocesso social amplo e disseminado principalmente por gerar pronunciadas desigualdades sociais e econ micas nos pa ses onde foi implantado Seu xito parco e parcial ao que se refere ao controle inflacion rio e das restri es fiscais algo que sempre foi destacado em sua proposta A variabilidade de seus efeitos e a modalidade de ades o diferenciam se conforme o pa s em quest o pois para cada um deles haver um pacote a ser adotado conforme as exig ncias das ag ncias multilaterais que no fim remetem a uma classe dominante global Terceiro com o pensador italiano Bobbio 2000 verificamos uma doutrina econ mica que defende de modo intransigente a liberdade econ mica e o desmantelamento do Estado na oferta de servi os Sendo assim a liberdade individual adv m da econ mica Isso porque segundo Castoriadis 2004 o tra o marcante do capitalismo
393. participar do real de compartilhar este mundo seja para o regular e reproduzir seja para transform lo e recri lo Sendo linguagem h que entender a incapacidade de um signo corresponder de modo un voco com o significado Est imerso em um campo de significantes em movimento Outro aspecto a linguagem enquanto discurso aquilo que visa s coisas est aplicado na realidade e exprime o mundo que est incorporada no di logo uma dial tica de pergunta e resposta A linguagem nasce j como diferenciadora constituinte de sujeitos ao produzir se como comunica o ao ser sempre entre sujeitos di logo AYRES 2008 p 44 Castro 1998 em rela o a isso afirma que al m de o di logo ser a dimens o fundamental da interpreta o ele permeia o acontecer e o ser Gadamer 2012 assinala que o fen meno hermen utico est insepar vel da conversa o logo da pergunta e resposta Quando algo se torna alvo de interpreta o uma pergunta foi lan ada ao int rprete Bleicher 1992 reitera isso ao dizer que o texto se torna objeto da interpreta o ao confrontar o int rprete com uma pergunta caminho este que possibilita a constitui o de novos sentidos A tarefa hermen utica portanto entrar em di logo ser interpelado por algo ou algu m Mediante essas constata es da atividade dial gica avistamos o mbito te rico transdisciplinar que consiste em p r diferentes saberes em di logo esten
394. peracionalizar neste estudo especificamente com a sua t cnica de entrevista narrativa Contudo por se vincular ao campo sociol gico esse autor considerou prioritariamente as narrativas de vida como pr ticas sociais Embora visualize as rela es pessoais e interpessoais em sua concep o n o h um foco no sujeito individual e em sua subjetividade mesmo concebendo o indiv duo inserido em um grupo social Por isso avan amos para al m de suas contribui es aos termos a psicossociologia como teoria central de refer ncia a qual n o se det m apenas ao mbito s cius mas realiza a articula o com a subjetividade Superar essa oposi o 154 poder perceber a complexidade dos fatores implicados na exist ncia humana Diante dessa premissa buscamos tecer ao longo de todo o nosso estudo o movimento macro microssocial o dentro fora o objetivo subjetivo o individual coletivo categorias n o dicotomizadas mas fundadas reciprocamente umas s outras apesar de suas diferencia es Em s ntese recorrendo s palavras de Arfuch 2010 seria partir da narrativa dos sujeitos sociais para conseguir os meios de cartografar uma trajet ria individual em busca de suas express es concomitantemente singulares e coletivas Ao biografar aspectos do vivido por meio das narrativas de vida buscamos conhecer o que acontece como e por qu Na mat ria narrada poder encontrar a narrativa das diversidades Apreender sua dinamicidade p
395. pesquisa qualitativa Essa uma de suas principais caracter sticas algo que lhe pr prio e que confere encaminhamentos que se tornam tang veis se reconhecermos a natureza de seus dados Estamos lidando com fen menos que n o se rendem codifica o de tratamentos estat sticos e num ricos mas que demandam uma constru o compreensiva e interpretativa por se referir s experi ncias vivido situa es opini es cren as palavras representa es sentidos da a o e seus significados Sendo assim a padroniza o e o standard pr estabelecidos n o podem abranger com profundidade o fen meno que trata a nossa pesquisa Por isso delimitar a via de acesso at esse problema de pesquisa e as veredas percorridas fundamental para explicitar como o alcan amos Essa peculiaridade qualitativa nos cara pois aporta nas expressividades da vida social e da subjetividade Negligenci la privar se de um conhecimento essencial DESLAURIERS K RISIT 2010 Essas balizas fizeram nos colocar em perspectiva um tema social circunscrito que foi submetido investiga o ou seja os modos de ser trabalhar viver de barrageiros e seus familiares Aproximamo nos dessa realidade enquanto pesquisadores mediante o recurso da entrevista narrativa com o intuito de conhecer e compreender esse universo a partir de atores sociais que ao viv lo em suas vidas cotidianas 26 manifestadas em lugares tempos e rela es geraram concret
396. pesquisado quem trar tona sua verdade Opera se no narrador um trabalho de racioc nio da mem ria e dos afetos para modular o conte do vivencial Por isso o cuidado de promover um espa o idiorr tmico ao discurso do narrador Ele quem ditar o compasso da fala quem ordenar a seu modo desejo e possibilidades o conte do narrativo Bertaux 2010 nos auxilia por sistematizar um campo conceitual e metodol gico capaz de visualizar e apreender um fragmento particular da realidade social e hist rica Isso nos importante porque fornece subs dios te ricos e conceituais para compreender e captar sem capturar a subjetividade O ato narrativo como meio de enriquecer a experi ncia e se alimentar das reminisc ncias fortalece se com um compasso temporal que tal como nomeou S8 Desejamos explicitar de modo insistente a quest o pol tica e tica que perseguimos captar a subjetividade sem captur la Esse um exerc cio te rico e interventivo que ultrapassa o campo de coleta e an lise do material visto que a produ o cient fica endere a lugares e valorativas que n o est o isentos de inten es Assumir lugares e compromissos enquanto pesquisador explicitar quem o sujeito pesquisado e ter como objeto de estudo a subjetividade inserir se em um campo de for as em que o liame entre captura e captar est muito pr ximo Basta observarmos a pr pria etimologia Captar est fundado em duas significa es e
397. pria Afirma que os barrageiros que souberam controlar os rendimentos e as finan as adquiriram um im vel caso contr rio encontraram dificuldades para adquirir uma casa pr pria ou mesmo n o alcan aram isso Essa diferencia o nos modos de conceber como se deveriam administrar os ganhos salariais mais os recursos e assist ncias que a empresa fornecia de ambos os trabalhos especialmente o de Thiago foi motivo de intensos dissensos entre o casal Safira Ana poupadora e Thiago m o aberta ao constru rem um casamento e uma fam lia com os filhos nascidos foram buscando meios de negociar e compartilhar uma concep o temporal social econ mica e afetiva para gerir a vida familiar Uma rela o que constituiu modos de ser trabalhar viver espec ficos desses arranjos familiais e que produziu diversos des encontros das interfaces trabalho e fam lia Da casa para a barragem e da barragem para a casa Thiago em sua hist ria laboral ilustra considera es que Froelich 2001 fez em pesquisas sobre barragens do Cipreste que envolviam grandes projetos no Estado de S o Paulo A empresa coadunada com grandes empreiteiras oferecia alojamentos para os solteiros no pr prio canteiro de obra de car ter provis rio Por sua vez os casados eram acomodados com suas respectivas fam lias em resid ncias previamente constru das para esse fim Importante resgatar que um empreendimento desse porte demanda um volumoso con
398. propriet rio consultor e empreiteira principal As ideologias desenvolvimentista e autorit ria podem inclusive ter sido professadas pela mesma fra o da classe dominante mas a liga o foi certamente sutil realizando se por meio da representa o dos grandes grupos que comandam a economia do pa s nas esferas legislativa executiva e judici ria utilizando mecanismos de press o e corrup o FROELICH 2001 p 18 No dentro e no fora dos t nues contornos do espa o tempo rela o vemos atingido o cen rio de vida dos barrageiros com a destrui o do ambiente e seus ecossistemas o aviltamento da vida humana a deteriora o das cidades e a fragiliza o dos la os sociais Isso n o se faz sem depredar os sentidos do trabalho no registro social e singular ao eliminar o ser humano na produ o ao reter informa o ao manipular os consumidores ao fragilizar a autonomia individual e coletiva ao sufocar as for as de contraposi o por meio de lutas pol ticas sociais e ideol gicas e ao cometer viol ncia e repress o contra os trabalhadores Nessa exposi o com os mencionados autores e Castoriadis 2004 p 122 observamos o neoliberalismo desalentar de modo intenso as for as sociais propiciando um retorno ao liberalismo brutal e cego 87 Isso nos impele para a urg ncia de avistarmos essa realidade de trabalho assolada pelo modelo neoliberal mediante as narrativas dos trabalhadores e seus f
399. quase 15 anos de suas vidas Thiago realizava viagens e trabalhos fora de modo recorrente por m tinha um retorno certo ao seu local de trabalho e de moradia originais Os arranjos dessa fam lia que se disp s a conviver a dist ncia foi uma via alternativa que permitiu n o abandonar projetos singulares mas conjug los ao grupo familiar isto o trabalho que conferiria independ ncia e reconhecimento financeiro e pessoal na esfera singular tamb m auxiliou no projeto familiar o amparo futuro dos filhos em seus estudos e in cio profissional Os Safira teceram negocia es passadas quanto a essa decis o que demandou novos acordos a serem firmados em uma rela o face a face que o presente d ocasi o como pudemos acompanhar em suas hist rias Tendo isso em vista nas tr s fam lias percebemos diferencia es nos arranjos nas negocia es e pap is familiares desempenhados na aus ncia e presen a do chefe de fam lia o que motivou disposi es que pudessem atender as suas necessidades em termos materiais e afetivos Contudo os pontos de converg ncia nessas tr s hist rias referentes aos n s sociops quicos foi a import ncia que os contratos de trabalho em longo prazo promoveram com os dispositivos de moradia dispon veis a esses trabalhadores migrantes e seus familiares pois serviam de ncora que permitia a viv ncia da mobilidade em termos mais seguros e negoci veis Com o desmonte dessas institui es n o foi
400. que houve tentativa de assalto na casa dos Top zio elas passaram a dormir juntas no mesmo quarto Embora o pai tivesse colocado trancas e travas nas portas e janelas a tranquilidade experimentada anteriormente se esvaiu At mesmo bichos como gamb e r que costumeiramente entravam na casa geravam um grande alvoro o reportando desprote o Em um momento posterior D bora resolveu romper com esse medo e passou a dormir em outro aposento da casa eu j dormia fora N o queria mais virar ref m de ficar num quarto s Eu j dormia sozinha e ela irm dormia com a minha m e D bora A sa da de Jonas para trabalhar fora especialmente depois de Bambu foi uma situa o em que n o havia muitas possibilidades de escolhas pois n o havia uma forma de a fam lia acompanh lo devido s recorrentes mudan as e s condi es de estadias em alojamentos Sara nessa conjuntura afirma ter se visto como m e e pai das tr s filhas Quando Jonas partiu para as estradas de ferro sem destino espec fico Sara se viu em volta da primeira indaga o dirigida a Jonas Ele que falou eu vou ter que ir E eu falei E eu Mas como que voc vai E as meninas A cada 30 dias eu venho Ele trabalhou em Santa Catarina tamb m V rios lugares ele trabalhou e eu fiquei Eu s morei no centro sul do Paran no estado de S o Paulo Paraguai cidade do Paran e no centro sul do Paran Esses tr s lugares Sara inse
401. que tamb m sabe e pergunta pesquisado Essa proposi o se abre para a terminologia de clinos como clin mem isto como ato que diverge e bifurca podendo horizontalizar lugares e saberes produzindo encontros inclusive com o sujeito participante da pesquisa e com conhecimentos advindos de outros campos disciplinares Essa a busca de uma cl nica mais complexa ampliada e aberta a ressignifica es que o campo da sa de mental coletiva nos anuncia Nesses termos sim continuamos a nos afinar com a cl nica da psicossociologia ao t la como uma metodologia aplic vel a contextos diversos por ser uma forma de 139 abordagem e um caminho interpretativo que dialogam incessantemente com seu objeto de estudo As considera es precedentes indicam bem que a abordagem cl nica n o poderia se limitar a um setor particular sobretudo ao setor m dico ou terap utico uma metodologia utiliz vel em quase todos os setores que se possa imaginar da fam lia ao trabalho da religi o s artes dos neg cios sociais aos neg cios pol ticos das associa es de sa de s organiza es de trabalho E mesmo se certas teorias se mostram s vezes mais teis que outras para a an lise cl nica a no o de cl nica n o decorre uma teoria particular mas antes um m todo uma via de conhecimento e de a o uma abordagem particular S VIGNY 2001 p 17 A partir desse prisma observarmos com S vigny 2001 que a no
402. r o nossa 217 Foram aproximadamente dez anos nessas idas e vindas ap s Bambu uma vida que no in cio gerava estranhamento mas posteriormente se acostumaram a conviver com essa condi o Por m persistiam nesse epis dio alguns fatores que nos chamam a aten o o estranhamento do marido a situa o de ele estar longe e sua breve chegada a r pida estadia e sua ligeira partida do reduto familiar Depois vem Jonas vem como visita Sara Uma passagem breve que fazia as filhas ansiarem pelo retorno do pai para casa tanto pela dist ncia quanto pela idade dele que avan ava Contudo Sara assinala uma contradi o que persistiu mesmo com o retorno de Jonas para casa Eu falei seu pai n o vai acostumar porque ele sempre est mexendo com a coisa outra coisa e outra Ele est parado N o gosta Ele n o est com sa de n o est Mas n o est bem estar parado Ele fala queria ter uma oficina um s tio queria ter uma coisinha para eu mexer Mas quem sabe um dia a gente tenha condi es Sara O tempo sem o trabalho formal e o tempo em fam lia s o aspectos a serem ressignificados e redescobertos Como viv los ocup los para al m do ritmo ditado pelo trabalho Isso algo que fica em aberto para a singularidade Finalmente Sara encerra sua narrativa fazendo men o foto de casamento que ela queria mostrar para a pesquisadora em que tudo come ou quando Sara conheceu Jonas um barrageiro e su
403. r amos que se assemelharia a um novelo embara ado que foi arremessado repleto de n s e em movimento Buscamos encontrar suas pontas para come ar o trabalho de desembara ar Mas ao tom lo em nossas m os n o sabemos onde come ou e nem onde terminar Diante de in meros fios acabamos por pegar alguns deles para dar in cio ao intento Do emaranhado n s os puxaremos aos poucos um a um Alguns com maior dificuldade do que outros at constatarmos que n o ser poss vel puxar v rios desses fios Haveremos de escolher alguns isso implica picot los para poder pegar uma fibra mais firme que nos permita seguir alguns caminhos com esse novelo e peda os de seus fios que teceremos algo Tramaremos Para isso precisaremos de outras m os Os fios s o infindos e as nossas m os insuficientes Compondo com o outro descobriremos as in meras possibilidades de criar com essas fibras e com esse novelo Dessa forma passaremos a executar movimentos com menos embara o Nosso artefato come ar a ser produzido N o nos esqueceremos de que durante o movimento dos fios haver perdas des encontros d vidas e inesperados que apenas se vive quem se atreveu a desenovelar Essa seria a nossa met fora para expor o processo de constru o da pesquisa Pudemos experimentar e sermos experimentados Experienciamos juntos Aprendemos que para onde o pesquisador se movimentar assumir dire es e responsabilidades Foi preciso escolher Algu
404. r de um plano institu do e institucionalizado Conformam se a ela o tempo passado e o presente mais as expectativas que se des re fazem continuamente diante de um futuro iminente Mas afinal quais sentidos assumiriam a viv ncia desse tempo Conforme Batista e Codo 2007 o tempo objetiva o subjetiva o que orienta e dirige a vida humana Nessa perspectiva a rotina cumpre um papel orientador no dia a dia do indiv duo e pode ser um recurso para se enfrentar os desafios que se presentificam na vida cotidiana A rotina cumpre a fun o de poupar energia e direciona esta para outras reas da vida quando necess rio como a capacidade do homem de adaptar se a distintas situa es construir v nculos materiais e simb licos e enfrentar o desconhecido Est o inseridos nos procedimentos habituais as a es referentes aos cuidados com o corpo higiene nutri o etc a leitura as atividades laborais e as de lazer os gestos sutis e muitas vezes impercept veis como um beijo de despedida antes de partir rumo ao trabalho o ato de conferir a caixa de correspond ncias entre outros Essas sucess es de fatos conhecidos e esperados remetem no o temporal e a espacial constituintes do territ rio e da territorialidade e convergem para a constru o de elementos componentes da identidade tais como a proced ncia do indiv duo seu s lugar es de origem seus v nculos afetivos familiares companheiros as amigos etc e o q
405. r o porcelanato Eu coloquei uma roupa velha e fui assentar junto com os pedreiros Ali eu literalmente rejuntei os porcelanatos na minha casa Eles iam colocando a massa e eu fazia quest o de limpar para n o ficar nenhum res duo Eu lembro que eu fiquei em casa at umas horas da noite Durante o dia a tarde inteira e algumas horas da noite Passando v rias vezes o pano para garantir que n o ia ficar nenhum que eles n o iam fazer o trabalho de qualquer jeito como tinham feito na casa inteira E da foi assim At o dia da gente estar dentro Raquel A partir desse momento ela conseguiu renunciar a esse lugar ocupado na aus ncia do pai e estabeleceu outra posi o para si na fam lia Depois que est vamos dentro da casa do meu pai eu falei para a minha fam lia que eu n o queria mais aquele papel Eu achei que a miss o j estava cumprida Marcou a minha vida de repente eu ter esquecido um pouco de mim e ter ficado cuidando da minha fam lia pensando que eu podia substituir o meu pai eu sabia que n o podia substituir o meu pai nunca mas A minha m e precisava disso minha irm precisa disso Raquel 214 Contudo esse an ncio para acomodar as rela es e os processos de subjetiva o vivenciados demanda tempo para elabora o de ambos os lados A pr pria Raquel nomeia isso ao dizer que tem de lidar com seu mpeto de querer resolver quest es familiares que n o s o mais problemas seus Um pro
406. r um sentimento de perten a e aceita o tanto por parte do outro quanto de si mesmo Encontrar meios de tecer um canto seu no mundo Nesse sentido o contexto das vilas de barrageiros foi revivido por meio das narrativas como um elo importante para favorecer o processo de adapta o tal como a chegada vila no Centro sul do Paran como assinala Sara Sua origem remontava a estadias em cidades pequenas e ao se deparar com uma cidade maior assustou se No dia a dia ela n o podia contar com o marido para auxili la nessa inser o pois ele trabalhava o dia inteiro Quem a ajudou a se locomover na cidade grande em busca de autonomia e resolu o das atividades dom sticas e familiares foi a sua vizinha Sueli como que eu vou aprender a andar aqui nessa cidade Essa cidade grande Uma vez sa mos n s duas e ela falou para voc aprender a andar aqui Sara Ademais a vila representava um lugar seguro para criar os filhos Sabia onde podiam estar e para cham los ao longo da vila bastava gritar o nome do quintal de casa As crian as retornavam pulando os muros das casas para cortar caminho e dar menos voltas Era um lugar conhecido que n o representava perigo e avers o As vilas concediam liberdade e movimento uma inf ncia que Raquel e D bora afirmam ter vivido com intensa liberdade O modo de vida retratado em meio s rvores frut feras na planta o de mandioca e milho na cria o de ga
407. ra recepcionar o pai Depois disso poder dormir acordar cedo e ir escola Um evento que marcava a rotina dom stica e familiar representando o todo mundo ali D bora junto 209 D bora confere espessura a esse momento ao sentir a sa da do pai de casa quando ele n o trabalhava mais no Bambu e passou a fazer in meras viagens ao atuar na constru o de ferrovias A rotina foi marcada por um estranhamento uma perda que assumia concretude na aus ncia do pai nesse cotidiano Momento de rupturas dos v nculos sociais como a escola Sair de uma escola particular para uma p blica causou dificuldades D bora tanto por ser um contexto novo quanto por dar in cio sa da do espa o protegido da vila o col gio custeado pelo Bambu at ent o localizava se nessas media es Uma quebra de v nculos gradativa Quando a pesquisadora pergunta o que era o Bambu D bora reponde com eloqu ncia ter sido uma m e quem conferia toda assist ncia Preocupava se com o funcion rio e a sua fam lia isentando os do pagamento do aluguel gua luz e col gio Proporcionava seguran a e cuidado Um contexto em que o pai podia trabalhar tranquilamente sabendo que a fam lia estava segura e confort vel Embora a viv ncia que tiveram em Bambu e o que ela proporcionou em termos de qualidade e padr o de vida fossem nicos em sua trajet ria estavam cientes de que ao sa rem de l as coisas mudariam drasticamente o que gerou um inten
408. rabalho e a de moradia passaram a ser a mesma O n cleo familiar reuniu se novamente Sobre a migra o laboral ao examinarem essa viv ncia nitidamente constituidora de suas vidas na dimens o familiar e de trabalho como da categoria profissional da qual fazem parte p em em evid ncia essa realidade ao nomearem a condi o de mobilidade reincidente do barrageiro como itinerante imersa em contratempos e em um constante adaptar se a um novo lugar e sua cultura cada lugar tem seu costume nos conta Lia A viv ncia do barrageiro percebida com a experi ncia migrat ria que traz a sensa o de determinados lugares serem o fim de mundo Lia Percep o que se destaca principalmente na chegada momento mais tenso de crise e ruptura do modo de vida conhecido para o alheio perigoso e hostil afetos t picos do desenraizamento Um fim de mundo que experimentaram in meras vezes para aprenderem a fazer dele um recome o de mundo naquela localidade Lugar a reaver na fam lia no trabalho na cidade na paisagem nos costumes nas rela es na hist ria A partir do enredo familiar e da trajet ria s cio profissional dos Citrino presentes na narrativa pudemos ver que um suporte oferecido pelo trabalho no Cipreste a estabilidade conferia uma ncora para atravessarem a instabilidade de lugares desconhecidos Em s ntese o car ter transit rio dos lugares de moradia era compensado 230 pela seguran a no tr
409. radigma emergente contrapondo o dominante 2 1 3 Por outro discurso da ci ncia o desafiador trabalho de Tradu o secs eee ciente acata cas 2 2 Objetivos norteadores ssesseesesssssooesesssesoossossossoossosssesoossoe 2 3 Desenho esquem tico da pesquisa sessessossooesessossoossossoeso TRABALHO FAMA 3 1 Trabalho sarados nai adia cod ae ta iai ssdos nisso 3 1 1 A contradi o do trabalho em busca dos rastros da positividade saudita operante ni renda err ia 3 1 2 O processo de precariza o das condi es e rela es de trabalho no neoliberalismo os rastros da n gatividad sssssssossssesssossssssosiessscotsseososssssdsovsssossssss sisa 3 1 3 Trabalho e processos de subjetiva o o dentro e fora nos t nues contornos do tempo espa o e rela o 3 1 3 1 Por outros contornos tempo espa o relacional essssosssosssasoctassasaiosisesaasiss assonans ssai 3 1 3 2 Por outros processos de subjetiva o 3 2 Famili anne db at dr aaa 3 2 1 Fam lia Estado e pol ticas p blicas 3 2 2 Recuperando as temporalidades da fam lia na sociologia das aus ncias eesseeseessesoossossoesoossosesesooseoe 3 2 3 Temporalidades para as fam lias caleidosc pios em suspens o sssssssssisssseccesssssoosiseesissssoccssissesisissesses toss 3 2 4 Temporalidades das fam lias caleidosc pios em MOVIMENTO sssssssssisssssasssoisoatssassns ssa isasi nisi doi 3 2 5 Considera es sobre o calei
410. rafia biografia relato de vida etc Est o na encruzilhada e nas fronteiras onde se entrecruzam outras abordagens e saberes buscando captar mediante reflex o a re constru o do mundo vivido Com Le Grand 2005 verificamos que as hist rias de vida s o contempor neas se a considerarmos enquanto um m todo de pesquisa das ci ncias humanas Contudo antes de ser uma abordagem cient fica possuem fundamento antropol gico por estar presentes em distintas civiliza es em diversos per odos hist ricos e por possuir diferentes formas orais escritas art sticas etc Nesses termos dizem respeito vida do ser humano em sua dura o e sua produ o de sentido Elas vinculam se com a no o de individualidade intimidade subjetividade e do sujeito da modernidade que se percebe sente experimenta e busca o sentido de para si aspectos retratados de maneira not vel por Perrot et al 1991 na constitui o da hist ria moderna e privada expressas nas transforma es das formas de morar trabalhar relacionar se consigo mesmo e com o outro Esses autores PERROT et al 1991 nos concedem um vislumbre hist rico rico em detalhes do pano de fundo que estamos trazendo aqui do que seriam os prim rdios que deram origem hist ria de vida seja enquanto metodologia para a ci ncia seja como sociabilidades e processos de subjetiva o claramente demarcados pelas institui es desse per odo Tr s correntes basicamente
411. ram tamb m dos gregos o rep dio ao labor Al m de o desvalorizar inseriam no no reino da necessidade e obriga o por compreend lo como limitador do homem em suas faculdades e liberdade Com a modernidade o sentido do labor modificou se ao se associar ideia de transformar a natureza as coisas e a pr pria sociedade Entretanto seus rastros continuam a retroceder ideia de tortura o que n o deixa de conotar ainda hoje a dimens o de constrangimento esfor o e tens o Faz retornar a um objeto de conflito vivido no contexto atual do trabalhador alienado explorado e restritivo da liberdade que impera no universo do capitalismo neoliberal A partir dessas concep es podemos avan ar e opor ao trabalho enquanto tripalium a palavra obra no intuito de explicitar a contradi o que se faz tamb m no campo etimol gico Do latim obra remete a opus que reporta ao trabalho em of cio artesanal uma atividade produtiva tal como o trabalho de uma abelha de uma obra de arte de uma obra liter ria at o trabalho do agricultor Nessa linha podemos nos aproximar de poiesis uma obra po tica que do grego direciona nos acep o de ANE 30 cria o e arte Esclarecemos que ao longo do texto recorreremos etimologia por entend la como um importante recurso interpretativo No resgate das palavras reavemos suas origens e o manifestar de novas zonas de sentido que conforme Barthes 2003 promovem uma opera o fecunda
412. ramente demonstrados por Ricoeur 2010 p 129 a prioridade dada hist ria ainda n o contada pode servir de inst ncia cr tica ante qualquer nfase no car ter artificial da arte de narrar Contamos hist rias porque afinal as vidas humanas precisam e merecem ser contadas Essa observa o ganha toda a sua for a quando evocamos a necessidade de salvar a hist ria dos vencidos e dos perdedores Toda a hist ria do sofrimento clama por vingan a e pede narra o Esse ato enunciador capaz de entretecer novos afetos esperan as ganhos triunfos transgress es e cria es Isso possibilitaria encontrar outros movimentos e tra los com os fios da trama viva o enredo existencial permitindo uma nova composi o Quem sabe mais alinhada ao desejo e ao reconhecimento da dor da perda e do sofrer que na atualidade t m sido ignorados da condi o humana A entrevista narrativa enquanto t cnica e m todo visa deflagrar o uso e apropria o da palavra pelos sujeitos Embora em pequena escala por se referir ao encontro pontual com tr s grupos familiares que vivenciaram um contexto profissional espec fico barrageiros em uma conjuntura de trabalho global e local neoliberal as rela es subjetivas tecidas com a dimens o social s o linguagens que manifestam sua posi o enquanto sujeito social em um contexto espec fico Ao convidarmos os participantes da pesquisa para narrarem suas experi ncias cont
413. rasileira adv m da hidreletricidade Embora haja outras fontes energ ticas capazes de gerar energia el trica como a solar g s natural biomassa nuclear termoel trica c lica entre outras a hidroeletricidade continua crescendo em n meros de projetos e import ncia para suprir a demanda nacional H diversos projetos em constru o em amplia o concedidos e autorizados o que denota intensas mudan as ao longo dos anos em termos legal tecnol gico e pol tico ideol gico fazendo com que a ind stria de energia setor de petr leo g s natural e energia el trica se tornasse um setor de interesse nacional e internacional O que determina o porte da usina se este grande m dio ou pequeno a pot ncia instalada Conforme a classifica o da Aneel 2008 a hidrel trica pode ser 70 centrais geradoras hidrel tricas CGH possuem at 1 MW megawatt de pot ncia instalada pequenas centrais hidrel tricas PCH possuem entre 1 1 MW e 30 MW de pot ncia instalada e usina hidrel trica de energia UHE possui mais de 30 MW de pot ncia instalada Para avistar a expressividade desse ramo apresentamos os empreendimentos existentes e previstos segundo o tipo de energia produzida e os n meros dessas modalidades existentes conforme o banco de dados da Aneel 2008 Quadro 2 Empreendimentos em opera o constru o e outorgados EMPREENDIMENTOS EMPREENDIMENTOS EMPREENDIMENTOS OUTORGADOS ENTRE EM OPER
414. rativa Jonas barrageiro coletiva Sara esposa Raquel filha D bora filha Estados hidrel tricas Morou nos Estados de S o Paulo Mato Grosso do Sul Mato Grosso de trabalho do Santa Catarina Paran e Rio de Janeiro Trabalhou em pelo menos 6 barrageiro hidrel tricas e posteriormente em constru o de ferrovias 191 FAM LIA CITRINO Membros familiares Davi barrageiro aposentado que continua a trabalhar no mesmo ramo casado com Lia pais de 3 filhos Mateus Lucas e Janine Narradores Davi barrageiro Lia esposa Entrevista narrativa individual N o aconteceu a pedido dos pr prios narradores Entrevista narrativa coletiva Davi barrageiro Lia esposa Estados hidrel tricas Morou nos Estados de S o Paulo Mato Grosso Paran e Santa de trabalho do barrageiro Catarina Trabalhou em pelo menos 6 hidrel tricas FAM LIA SAFIRA Membros familiares Thiago barrageiro aposentado que trabalha em outro ramo casado com Ana pais de 3 filhos Alberto Alfredo e J nior Narradores Thiago barrageiro Ana esposa Entrevista narrativa Thiago barrageiro individual Ana esposa Entrevista narrativa Thiago barrageiro coletiva Ana esposa Estados hidrel tricas Morou nos Estados de Minas Gerais S o Paulo e Paran Trabalhou de trabalho do em pelo menos 4 hidrel tricas
415. recesse seguran a material e afetiva Conviveram em cidades de trabalho e fam lia separadas em dist ncias menores que permitiram a Davi se deslocar diariamente no in cio de suas vidas familiares Davi por fazer parte de uma grande estatal conseguiu requerer uma transfer ncia que oportunizou a reuni o familiar em um nico local Nessa localidade moraram at Davi aposentar se e posteriormente ser demitido p s privatiza o Os arranjos familiares transformaram se com maior radicalidade quando esse chefe de fam lia seguiu para outros estados em busca de contratos de trabalho para assegurar o estudo dos filhos A fam lia n o o acompanhava por motivos similares aos da fam lia Top zio Ademais percebemos uma vincula o mais enraizada dos familiares de Davi na cidade vila em que residiram o que nos leva a conjeturar que se Jonas tivesse conseguido adquirir o direito de compra da casa na vila em que moraram 257 tamb m teria promovido o enraizamento em um cen rio de vida conhecido al m da almejada casa pr pria Como vimos os Citrino passaram a viver em cidades separadas desde a demiss o de Davi at o momento atual quando uma demiss o iminente oportunizou o retorno dele Momento esse em que os filhos conclu ram os estudos ensejando um permanecer junto ao n cleo familiar Por sua vez os Safira conviveram com a migra o de maneira diferenciada em uma dist ncia conhecida e n o t o long nqua por m presente
416. res 2008 nas trilhas da hermen utica reconhece o cotidiano como esfera de a o e da pr xis Das experi ncias concretas do vivido em que se estabelecem rela es e intera es entre sujeitos grupos comunidades e institui es o locus existencial em que s o concatenados interesses valores decis es e saberes nas experi ncias cotidianas que encontramos mediante a linguagem a sabedoria pr tica phronesis outra esfera de saber Abrir se para elas conhecer como se processam escolhas decis es compreens es perante as vicissitudes e demandas postas para a exist ncia Diante disso vimos que a narrativa enquanto linguagem ato pois manifestou a singularidade de cada ser social em sua condi o e realidade uma vez que a exist ncia se expressa em palavras Com Lebrun 1998 buscamos n o apenas levantar novas quest es mas estarmos abertos a outras respostas vers es da verdade e do vivido Sob a Hist ria com H mai sculo existem as hist rias sob as venturas ou desventuras existem narrativas individuais LEBRUN 1998 p 50 Para finalizar faremos duas ltimas considera es Sobre o sofrimento tico pol tico e o fechamento aberto desta pesquisa Com Sawaia 2010 debatemos que o sofrimento tico pol tico al m de se referir ao sofrer existencial em suas dimens es f sicas e afetivas evit vel do ponto de vista social e hist rico posto que se trata de uma imposi o social oriu
417. resid ncia dos pais o que dificultou o encontro Perante a impossibilidade de reunir todos os membros da fam lia constatamos que n o foi inviabilizada a express o desse grupo como um todo ao comparecerem apenas dois representantes deste por exemplo o trabalhador e seu c njuge A fala de 188 todos os participantes em diversos momentos da narra o trouxe seus entes familiares estando eles presentes ou n o Em decorr ncia disso realizamos a entrevista coletiva sem a modalidade da entrevista individual somente com os Citrino O casal manifestou o desejo de falar apenas na presen a do outro c njuge e n o de maneira individualizada sublinhando n o haver segredos entre eles e fatos a serem omitidos em suas hist rias de vida Acontecimento interessante durante a narra o foi um de seus filhos estar presente em parte da entrevista narrativa coletiva estando no mesmo recinto por m na condi o de ouvinte ele foi requisitado pela m e apenas em poucos momentos para ajudar a lembrar algo de suas hist rias Embora lhe tenha sido feito um convite para ser um narrador ele n o chegou a se disponibilizar para tal A segunda e terceira dificuldades elencadas ou seja a apreens o dos narradores exporem ao seu pr prio olhar sua hist ria vivida de maneira a nome la e resgatar acontecimentos espec ficos assim como dos conflitos e crises inerentes do vivido podem ter alimentado a recusa de alguns participantes fo
418. residenciais eram sin nimos de barragem e isso p de ser evidenciado nas fam lias Top zio e Citrino ao dizerem que seus filhos foram criados nessas imedia es isto cresceram em vilas de trabalhadores de empreendimentos hidrel tricos Jonas nos diz As meninas a foram criadas tudo em barragem O que ser criado em barragem viver parte significativa de suas vidas em vilas e dispositivos da empresa respons vel pela UHE o que confere relevo ntima vincula o entre trabalho e fam lia N o devemos nos esquecer de que foi amplamente destacado o ambiente da vila na fala das m es Sara e Lia e na dos filhos D bora e Raquel esse espa o de conviv ncia que permita muitas perip cias infantis como as crian as que pulavam muros colhiam frutos e os saboreavam e brincadeiras em diferentes pontos da vila conferindo liberdade para divers o at o anoitecer Havia tamb m um ar de aventura no relato dessas m es levar o lanche para os filhos no intervalo da escola poder colocar cadeiras debaixo das rvores em uma roda de conversa Sentarem se beira da cal ada regada a uma boa prosa Realizar trocas n o somente de receitas Mais que anunciar guloseimas a serem partilhadas na janela prontas para serem degustadas era um compartilhar da vida na divis o dos problemas e no solidarizar das dificuldades Um lugar em que nas lembran as dessas fam lias havia um c lido sentimento de seguran a Seguran a dos filhos do
419. retar comigo os des encontros trabalho fam lia a partir das narrativas de familiares de trabalhadores migrantes do setor de produ o de energia hidrel trica Finalmente compartilho com voc minha atual situa o Como docente de uma institui o p blica de ensino superior na condi o de funcion ria concursada jamais havia avistado um longo prazo em minha vida tanto de contrato de trabalho como de moradia em uma cidade um misto de estranhamento com alvoro o Percebi que eu era o tipo de pessoa que n o conseguia mais parar e que assumidamente gosto de andar a fim de conhecer incansavelmente pessoas hist rias e lugares Constitu me 24 subjetivamente no movimento e n o tenho pretens o de abandonar essa condi o A nica diferen a agora que tenho para onde voltar e dosar quando ir e vir sem correr o risco de perder meu lugar no canto do mundo E nesse meu lugar h coisas preciosas para mim trabalho fam lia amigos casa cachorros e plantas Feito isso sinto me autorizada a compartilhar com voc leitor n o apenas parte do meu universo aqui narrado mas tamb m o de pessoas desconhecidas que desbravaram Brasil afora e adentro na constru o tanto de barragens como de suas vidas 1 1 2 A constru o da pesquisa Se pud ssemos representar mediante uma imagem o percurso da constru o de uma pesquisa desde o surgimento do tema at as considera es finais com tudo o que ela nos suscitou di
420. rizonte pensar a rela o estabelecida a partir de um encontro na perspectiva da horizontalidade como mencionamos anteriormente Ademais poder enxergar que nesse horizonte vive a vida humana e que muito h por se conhecer 4 3 4 An lise o caminho da interpreta o Retomaremos alguns aspectos citados nos t picos anteriores com o intuito de integr los e desenvolv los um pouco mais Partilhando a vis o de Onocko Campos 2008 a pesquisa com narrativas remete a um exerc cio interpretativo a ser constru do 179 e trabalhado conforme se avan a no trato do material de campo Sendo assim assumimos os seguintes desdobramentos hermen uticos para esta pesquisa KSA KSA 2 KS KSA n o se busca compreender atrav s do que o autor tinha a inten o de dizer pois o que se disse e se escreveu diz mais do que aquele que disse quis dizer Isso faz o mundo do texto explodir o mundo do autor RICOUER 2008 A interpreta o vai al m de quem proferiu escreveu o texto pois o autor ao elabor lo n o tinha consci ncia de tudo o que poderia ser lido no texto Desse modo ele torna se seu pr prio leitor experimentando os efeitos de narratividade Logo o texto torna se relativamente aut nomo acerca do que o autor tencionou o que nos impele a buscar o sentido no texto e n o necessariamente em seu autor para isso preciso o distanciamento como condi o do interpretar Leitor e escritor posicion
421. rmando um galp o arredondado Eram casas mais simples e de menor valor comparadas ao padr o do restante da vila Bambu definia os espa os de lazer e festividades Havia clubes que promoviam confraterniza es e eventos diversos dando cestas de Natal e presentes promovendo col nias de f rias e viagens Os centros comunit rios localizados nas vilas eram instala es que forneciam aulas de pintura argila gin stica ol mpica m sica etc Al m disso a estrutura da vila continha parques escorregadores balan os quadras de basquete v lei t nis e campo de areia para usufruto de seus moradores Os encontros entre trabalho e fam lia tamb m se refletiam na sobreposi o de outros espa os como acontecimentos que marcavam esses grupos sociais e a pr pria cidade Bambu tornou se um mito em sua poca especialmente no per odo da constru o por ser considerada a maior usina hidrel trica do mundo O porte de suas instala es a contrata o de m o de obra e de equipamentos eram presenciados com admira o e grandiosidade por exemplo com a chegada da turbina A chegada de uma primeira turbina parava o tr nsito da cidade tanto pelo avantajado tamanho quanto pelo o que ela representava no imagin rio brasileiro era gigante como diz D bora Um 206 caminh o que se locomovia a 20km h por n o haver outra maneira de transportar uma pe a daquela magnitude A fam lia nos conta com orgulho o fato de participarem dir
422. rocessos gerais singulares e paradoxais que se constituem no contexto profissional dos barrageiros e de seus grupos familiares Com efeito ao escolhermos realizar entrevistas narrativas com pelo menos tr s fam lias diferentes que continham um momento individual e um coletivo procuramos obter um material suficiente capaz de confrontar as narrativas entre si em suas converg ncias e diverg ncias poder aproximar se de um ponto de satura o CARRETEIRO 2009 Por ponto de satura o queremos situar dois aspectos O primeiro se refere fase anal tica que se encerra quando as entrevistas narrativas n o agregam mais conhecimento para al m daquilo que p de ser percebido as denominadas recorr ncias emp ricas Esse momento traz confirma es para as informa es obtidas e respalda hip teses suscitadas processo que para ser aprofundado demanda tempo e um trabalho de equipe maior O segundo aspecto remete via longa por invocar o desafio de apreender as significa es de maneira a express las em termos justos nos campos te rico e interpretativo e implica despender aten o a tudo que o material possa despertar da indiferen a ao estranhamento BERTAUX 2010 Nesse panorama biografar explorar conhecer e desvelar a vida cotidiana extra ordin ria e in comum que constituem a exist ncia Aproximar se dessa concep o conferir outro estatuto ao conhecimento cient fico a legitimidade do saber implicado delineado
423. rpretativo n o se deu na busca de um sentido do texto como algo oculto e subterr neo Buscamos encontrar quem fala sobre o que e para quem Aquilo que se manifestou na linguagem e formulou o discurso Como a realidade apresentada Em resumo aquele que se expressa no texto e o vivido que nele se exprime RICOUER 2008 Sendo assim s o as perguntas que nos movem quem fala O que fala Como fala Dessas quest es transcorrem outras Portanto interpretar subir cada vez mais uma montanha Somente ascendendo a ela que poderemos avistar algo e encarar um horizonte que se estende mais largo e profundo do que na posi o anterior A abertura do horizonte a abertura para o vivido para a singularidade para a diferen a CASTRO 1998 O conceito de horizonte torna se interessante aqui porque expressa essa vis o superior e mais ampla que deve ter aquele que compreende Ganhar um horizonte quer dizer sempre aprender a ver para al m do que est pr ximo e muito pr ximo n o para abstrair dele mas precisamente para v lo melhor em um todo mais amplo e com crit rios mais justos GADAMER 2012 p 403 Essa premissa nos levar mais adiante para o que Gadamer 2012 denomina fus o de horizontes isso quer dizer estar aberto para conhecer outros modos como s o pensados sentidos argumentados nomeados e posicionados os narradores no mundo Como dialogam com a realidade como passado e presente convivem e se deslocam Falar do ho
424. ruzando fronteiras disciplinares um panorama dos estudos migrat rios Rio de Janeiro Revan 2005 VERMEERSCH P Jacob Burckhardt e suas reflex es sobre a hist ria Hist ria Social Campinas n 10 p 215 238 2003 298 VILLELA PETIT M P Perspectiva tica e busca do sentido em Paul Ricoeur S ntese Rev de Filosofia v 34 n 108 p 5 22 2007 WEIL S A condi o oper ria e outros estudos sobre a opress o 2 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1996 O Enraizamento Bauru EDUSC 2001 WELLER W A hermen utica como m todo emp rico de investiga o In 30 Reuni o Anual da ANPEd Caxambu p 1 16 2007 299 ANEXO 1 TCLE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO TCLE Cap tulo IV itens 1 a 3 da Resolu o 196 96 Conselho Nacional de Sa de Voc est sendo convidado a a participar da pesquisa DES ENCONTROS TRABALHO FAM LIA narrativas de familiares de trabalhadores migrantes do setor de produ o de energia hidrel trica sob a responsabilidade da pesquisadora Daniele Almeida Duarte RG 33 976 263 9 CRP 08 18953 Este termo foi elaborado em duas vias Depois de lido rubricado e assinado uma via ficar em poder do participante ou de seu representante legal e a outra via em poder da pesquisadora respons vel Esta pesquisa foi aprovada pelo Comit de tica da Faculdade de Ci ncias e Letras UNESP Campus de Assis Qualquer d vida quanto aos aspectos ticos poder o ser
425. s Vamos s vias de Agamben 2009 nesse aspecto ao dizer que ser verdadeiramente contempor neo n o coincidir plenamente com este tempo com as suas pretens es hist ricas A n o ader ncia plena a este tempo faz nos tomar uma a 17 F devida dist ncia justamente para poder ver o que nele se desdobra Por isso n o 17 Vale lembrar que a dist ncia na hermen utica condi o para interpreta o N o se trata de uma apatia ou rep dio distin o de lugares feita entre autor e leitor mas de uma autonomia que o mundo do texto goza gra as fixa o da escrita Assim o discurso transcende suas pr prias condi es sociais hist ricas culturais e subjetivas de produ o e est aberto para uma incont vel possibilidade de interpreta es Diz respeito a um momento de leitura que consiste na descontextualiza o para encaminhar a recontextualiza o RICOUER 2008 40 sermos plenamente atuais ou sincr nicos tampouco ajustados aos m todos e discuss es que venham a abordar a conjuntura de modo atemporal apol tico ou reduto a uma cronologia estanque e linear Logo nossa an lise n o realizada a partir de um nico campo de saber e nem fora do processo hist rico O filosofo alem o Blumenberg 1990 com sua veia hist rica obstinada em compreender o mundo moderno e a exist ncia humana marcada por riscos e incertezas vai ao encontro dessas premissas ao afirmar que preciso suspender o tempo presente
426. s filhos cidad os Nessa via o indiv duo poderia depender apenas do Estado e do trabalho dispensando a fam lia e a comunidade Com esse imagin rio a promessa de desenvolvimento progresso realiza o individual e sociabilidades como as alavancadas pela revolu o tecnol gica e dos meios de comunica o parecia bastar 109 Eram o Estado e o trabalho comprometendo se a garantir o gozo de direitos plenos A vertente neoliberal come a a se endossar nessa conjuntura e lan a tamb m suas promessas de na fam lia promover liberdade autonomia e acesso a objetos incont veis de consumo Embora o Brasil n o tenha vivido na mesma intensidade o Welfare State resqu cios ideol gicos deste puderam se reverberar durante o Milagre Econ mico e posteriormente serem desmantelados com o avultamento neoliberal Carvalho 2002 aponta que com a crise do Estado e do mercado de trabalho de 1990 em diante a conjuntura socioecon mica transforma de modo profuso as sociabilidades familiar e laboral Isso podemos verificar tamb m nos achados de Sorj 2001 ao avaliar o cen rio brasileiro quem afirma nesse per odo haver uma complexifica o da sociedade o aumento da press o pol tico econ mica global na mesma propor o dos d ficits p blicos a transforma o do setor produtivo a ocorr ncia de sucessivas privatiza es a precariza o ascendente das condi es e rela es no mesmo compasso da desigualdade social e econ m
427. s psicossociol gicas pudemos ultrapassar o dialeto e mon logo do pesquisador e do seu campo de saber para aprender outras l nguas perceber outras linguagens e 7 Na hermen utica vemos no di logo um de seus princ pios fundantes e indispens veis para o exerc cio interpretativo Uma condi o do ser humano e da exist ncia sendo assim permanecer na posi o do mon logo enquanto pesquisador como nico detentor da verdade e do saber praticamente imposs vel uma vez que No di logo somos sempre com os outros O mon logo a mais radical afirma o do outro como aus ncia CASTRO 1998 p 13 168 coloc las em comunica o Instaurar o di logo Encontrar o outro e por ele ser encontrado Em suma pelas vias po ticas esse percurso j havia sido sugerido por Barthes 1991 p 50 em sua obra Fragmentos de um discurso amoroso quem nos ensinou que O que quero conhecer o amor exatamente a mat ria que uso para falar o discurso amoroso Dessa assertiva elaboramos a nossa e prosseguimos para a subsequente O que quero conhecer Des encontros trabalho fam lia exatamente a mat ria que uso para falar o discurso dos Des encontros trabalho fam lia Nesse pressuposto pudemos utilizar distintos discursos para realizar este estudo o da literatura cient fica dispon vel na rea e afins o de pesquisas correlatas e o do pr prio sujeito dessa realidade vivenciada Situados nos
428. s que tamb m poderiam fornecer resist ncias aos objetivos do Cipreste Um subterf gio analisado por Froelich 2001 quem assinala o Cipreste ter contratado uma parcela de m o de obra regional em geral homens oriundos do setor agr cola Estes trabalhavam por dia e eram conhecidos como candangos e boias frias do setor el trico pois parte expressiva desse contingente possu a baixa qualifica o e escolaridade al m de a maioria n o ser sindicalizada Igualmente por Thiago ser piloteiro de barco e pescar no rio em que a hidrel trica projetaria sua constru o era importante seu saber para a empresa porque ele possu a conhecimentos e informa es que serviriam para o desenvolvimento da UHE Thiago revela isso em sua narrativa Como a gente era de uma fam lia pobre uma fam lia que vivia na ro a a o pessoal das barragens chegou Os engenheiros e turma assim viu o pessoal e achou que a gente servia para trabalhar com eles Falaram Olha voc poderia trabalhar com n s na barragem aqui Eu era piloteiro de barco N s pesc vamos no rio A minha fam lia era de pescador no rio Grande Eles falaram Voc poderia trabalhar com a gente ser piloteiro nosso porque voc 242 conhece todo o rio o local aqui onde n s precisamos ir E foi assim que eu consegui entrar na barragem Thiago Thiago ao ser contratado n o conhecia o trabalho em hidrel tricas para tanto recebeu capacita o e
429. s recorrentes migra es quem tende a verificar se o novo lugar de moradia seguro e correspondente a um padr o m nimo de habita o o trabalhador Os entes familiares podem acompanh lo ou n o Em estudos anteriores pudemos verificar que com a instaura o do processo de privatiza o de companhias energ ticas outrora estatais passou se a vivenciar a migra o em outra condi o Al m de esta tornar se mais recorrente em fun o dos v nculos tempor rios de trabalho e do surgimento de outros projetos o papel que o Estado fornecia enquanto amparo em termos de moradia dispositivos de conviv ncia como as vilas de barrageiros e ambulat rios de sa de por exemplo desapareceram DUARTE 2009 DUARTE LUZIO 2010 Com isso podemos nos ater discuss o que Carvalho 2002 e Sawaia 2010 tecem ao localizarem bases explicativas para as distintas concep es de fam lia a partir da an lise da rela o entre Estado capital e pol tica que se produzem de modo cont guo Com o Estado do bem estar social e a universaliza o das pol ticas p blicas a fam lia assumiu um vi s de descartabilidade principalmente na Europa onde essa modalidade de estado p de ser vivida de modo mais vigoroso Ao Estado muitas vezes de car ter paternalista cabia proteger e garantir a reprodu o social com o desenvolvimento dos indiv duos ao propiciar acesso ao cuidado assist ncia educa o emprego e aos direitos que zelassem por seu
430. s sociais transformadoras O trabalho de tradu o oportuniza a abertura e o alargamento de horizontes para que no campo social a subjetividade tamb m seja reconhecida e leg tima ao expressar o comum em sua originalidade ao acionar o processo de ressignifica o para a comunidade e a democracia sem ignorar a singularidade Traduzir consiste em debru armo nos sobre as narrativas dos barrageiros e seus familiares que assumiram a voz e a vez para narrar as suas vidas e revelar em seu discurso suas pr prias utopias ao viver condi es espec ficas de trabalho moradia e de rela es afetivas e s cio familiares em que a migra o laboral faz se atuante ao delinear seus modos de ser trabalhar viver Essa dimens o ganha express o quando entendemos que a utopia se enra za em determinado cotidiano e a partir dele podemos encontrar os elementos a serem traduzidos com o aux lio da hermen utica e da psicossociologia mediante a composi o de temas que enredamos nos itens subsequentes O car ter interventivo da narrativa enquanto arte da exist ncia uma a o autopoi tica Para dar in cio a este t pico gostar amos de demonstrar o car ter interventivo que a narrativa possui ao mobilizar lembran as afetos e rever o vivido ao retomar retornar as hist rias de vida Pudemos ver com uma de nossas narradoras no momento da finaliza o da entrevista narrativa individual o teor provocativo das reminisc ncias que persiste para al
431. sa conferir visibilidade s realidades de barrageiros e de seus familiares de modo a operar um retorno hist rico ao apresentar hist rias de vidas para outras pessoas por meio deste estudo entre elas as que tamb m vivenciaram conflitos parecidos Isso permite uma confronta o com a alteridade que oportuniza um desprendimento de si e a conscientiza o de que o outro tamb m seu semelhante que embora haja singularidades tamb m pode ter sido submetido a contextos similares em suas determina es m ltiplas Sendo o leitor parte desse contexto ou n o o que nos importa vislumbrar cen rios de vida que em suas especificidades e generalidades comp em a hist ria humana 159 ou seja de seu enredo existencial realizar outras tessituras a partir de uma nova disposi o dos fios narrativos ao conjugar passado presente futuro uma conex o que insistimos em estabelecer com o conceito hermen utico do tr plice presente Al m do mais o desencadeamento da exist ncia conduz a reescrever a reconstruir a elaborar diferentemente o que foi antes vivido portanto a viver de outra maneira Nesse sentido poder amos dizer que o presente modifica o passado De fato n o o passado que muda mas a rela o que um sujeito entret m com sua hist ria Contar sua hist ria um meio de jogar com o tempo da vida de reconstruir o passado de suportar o presente e de embelezar o futuro GAULEJAC 2009 p 65
432. se significativo E tal qual Jarouche 2006 aponta que a vers o que conhecemos do livro refrata a circunst ncia hist rica que a produziu uma manobra astuta produzida a enuncia o se d na periferia de um poderoso imp rio s margens do que o centro produtor de verdades universais e absolutas A n s tamb m cabe apropriar nos dessa prerrogativa Por um lado por possibilitar que a narrativa seja uma enuncia o que ao mesmo tempo em que se comp e na macro hist ria dominante homogeneizadora ou mesmo distante n o deixa de express la em sua dimens o geral e singular As narrativas permitem que busquemos no original e no ordin rio constitutivos da cotidianidade que se conjuga nas inst ncias subjetiva e social que a psicossociologia n o despreza mas se atreve a religar e conferir visibilidade Por outro como integrante do m todo a narrativa permite compreender do interior da hist ria o vivido de uma sociedade de uma classe socioprofissional e de uma comunidade ao pedirmos gentilmente que os barrageiros e seus familiares narrem sua pr pria hist ria Isso nos d a conhecer como esse grupo social pensa e vive seu mundo ao mesmo tempo em que confere palavra queles que n o ousam tom la e contribuir assim para quebrar em peda os as representa es e as ideias recebidas que confirmam o statu quo social A esp cie de esc ndalo provocado por esta 14 A t tulo de esclarecimen
433. se lembra de que nesse epis dio o filho pequeno adoeceu e teve febre uma express o da falta do pai ao compreender a partida deste Nessa conjuntura os modos de ser trabalhar viver s o rearranjados em que a m e passa a assumir o papel antes desempenhado pelo pai Vemos o g nero feminino centrando a responsabilidade em si por m preservando a figura do pai principalmente ao poup lo de problemas dom sticos Lia buscava dar conta da incumb ncia de casa e dos filhos sem repassar dificuldades e quest es familiares para o pai envolto no trabalho e longe de casa Identificamos que a separa o trabalho e fam lia foi mantida n o somente na dist ncia geogr fica mas tamb m no mbito relacional Lia tentava resolver os problemas de casa centrando os na figura materna Situa o que procurou sustentar o que lhe gerou sofrimento ang stias e inseguran as por pouco compartilhar com o c njuge que estava fora Suas palavras reconhecem a sobrecarga proveniente de um cotidiano que demandava constantes cuidados e decis es com os filhos N o f cil uma m e criar o filho sozinha sem o apoio do pai Porque l gico o pai est l trabalhando mas quem tem que aguentar a barra igual essa daqui As vezes ele Davi reclama Ai Eu estou aqui 234 sozinho e n o sei o que Voc est sozinho Tudo bem Voc tem que trabalhar tem o hor rio do seu trabalho mas voc deita Muito dif cil eu passar problema Porque o q
434. sentia consolada ao pensar que algo importante eu havia deixado naquela terra e que outras coisas poderiam continuar germinando Certa vez ao conhecer pessoas que h pouco tinham mudado de cidade e queriam saber quem eu era e de onde eu vim que quase sempre confundiam proced ncia com local de nascen a e n o consideravam o ltimo lugar de moradia senti me constrangida por n o poder dar uma resposta que permitisse conhecer quem era a minha fam lia ou mesmo identificar um nico lugar do qual advim Essa pergunta fez me entender que n o tinha refer ncias lugar ou ra zes visto que uma tradicional quest o costuma ser feita em algumas cidades para identific lo de que fam lia voc Mas foram essas repetidas indaga es que me fizeram perceber que eu n o era desprovida de refer ncias lugar ou ra zes N o era o nome de uma ilustre fam lia daquela localidade que me conferia dignidade ou notoriedade na dimens o do existir mas a multiplicidade e os rizomas que se espalhavam pelas trajet rias e travessias que me identificavam sendo capaz a um s tempo de me situarem e nomearem Dei me conta de que podia falar de muitas cidades pessoas costumes sotaques rvores comidas bebidas e tradi es das mais diversas poss veis Era capaz de localizar pessoas e espa os em um recorte de tempo suficiente para torn los parte significativa da minha vida seja ela rememorada ou com quem convivi Nas palavras do poeta seria mas o
435. setor de constru es de usinas hidrel tricas e pequenas centrais hidrel tricas nos ltimos anos e consequentemente um aumento do n mero de trabalhador migrante 37 trabalhando no setor e estabeleceram redes de contato e ajuda m tua mediante a organiza o de cooperativas Os modos de perceber sentir e viver o territ rio contexto da territorialidade variava conforme as experi ncias passadas os projetos futuros e os desejos neles imbricados no tempo presente Portanto em cada entrevista avistamos distintos matizes constituintes da hist ria de vida de cada um Tamb m verificamos que no contexto de trabalho e das rela es dos barrageiros estavam interligadas quest es nevr lgicas do cen rio contempor neo as atuais condi es laborais marcadas por rigorosas exig ncias e o processo de precariza o impacto ambiental desapropria o fragiliza o dos la os afetivos e sociais ideologia e modelo desenvolvimentista brasileiro e pol ticas p blicas Todavia o assunto que persistiu foi a fam lia pois se fazia a ele men o recorrente em suas falas Era motivo de inquieta o ang stia afetos e desafetos O trabalho ora os aproximava ora os distanciava em termos geogr ficos e afetivos N o eram apenas quil metros que estavam em jogo mas a oposi o e contradi o vividas em duas grandes refer ncias para suas vidas o trabalho e a fam lia Essa contradi o se fazia ainda mais expressiva por reiterar
436. seus rastros existenciais Entretanto sua envergadura pode ser corro da quando o conte do experienciado gera esvaziamento desmoraliza e fragiliza o ser humano Benjamin 1994 cita que experi ncias dessa ordem s o oriundas das guerras violentam outrem sem deixar de violentar a si mesmo da economia o capitalismo como guerra econ mica e excludente da fome e do governo que alicia e gera servid o importante lembrar que Benjamin 1994 1994b 2000 2011 viveu o pice da moderniza o e seu olhar arguto n o deixou de registrar os impactos dessas transforma es sobre o homem Sua atitude de estranhamento e questionamento pertinente de ser resgatada na atualidade por vivermos o impacto da t cnica da moderniza o do progresso sem questionar os custos humanos Para tanto lan amos m os de conceitos ao longo do texto de autores que continuaram a disparar essa interroga o a fim de superarmos a atitude blas SIMMEL 2005 1903 reaver o olhar do estrangeiro PEIXOTO 1995 resgatar a fun o das ra zes existenciais WEIL 1996 2001 e questionar aonde estamos indo Esses foram autores que n o cessaram de indagar seu tempo e nos auxiliam a perdurar esse exerc cio que se faz urg ncia para os dias de hoje Nisso consiste entender as narrativas de vida como a o em situa o uma vez que o falar n o est desencarnado do vivido O ato narrativo torna se fecundo por 161 problematizar uma dimens o sing
437. so de privatiza o Em 1982 poca em que a Cipreste atravessou uma crise financeira muitos trabalhadores foram transferidos e recolocados Para Davi foi oferecida uma vaga em uma regional do estado paulista e teve a oportunidade de se candidatar a um posto de seu interesse Sua esposa e familiares estavam em outra cidade epis dio que trouxe descontentamento para Lia por n o desejar sair da regi o qual estava adaptada mas mesmo assim ela o acompanhou Em 1985 Davi presenciou o primeiro processo de automatiza o Suas palavras resgatam um passado que enquanto trabalhador n o imaginava que seria poss vel de ser realizado Dois anos depois em 1987 esse cen rio se concretizou quando os t cnicos come aram a passar cabos e providenciar instala es tecnol gicas As amea as de demiss es iniciaram se em tempo posterior Davi viu a empresa se modernizar ao mesmo tempo em que trazia amea a de demiss o Uma realidade do Cipreste at o momento desconhecida pois em suas palavras o Cipreste era como uma m e por ser boa aos seus funcion rios Pagava de modo correto e n o demitia conferia estabilidade no emprego Fornecia plano de sa de cesta b sica vale alimenta o e confraterniza es como festas nos finais de ano em que seus filhos ainda crian as recebiam brinquedos como no Natal Uma firma que prestava aux lio e apoio tanto de moradia como ampla cobertura de sa de al m de nibus para os filhos dos trabalhadores estud
438. so em maio de 2014 Figura 3 usina hidrel trica Eng Souza Dias Jupi fotografia Dispon vel em lt http www panoramio com photo 4585227 gt Acesso em maio de 2014 Figura 4 Ponte sobre o rio Paranapanema que permite avistar a usina hidrel trica Canoas II fotografia Dispon vel em lt http www panoramio com user 196840 tags Usinas 20Geradoras gt Acesso em fevereiro de 2014 Figura 5 Trabalhadores envolvidos no processo de instala o de dutos para posterior coloca o das turbinas da usina hidrel trica de Itaipu fotografia Dispon vel em lt http www oempreiteiro com br Publicacoes 11110 As licoes deixadas pelos canteir os de obras historicas aspx gt Acesso em fevereiro de 2014 Figura 6 Sequ ncia da montagem de turbina na usina hidrel trica de Capivara em 1975 fotografia Dispon vel em lt http www memoriaduke com br Galeria aspx menu O amp tema 5 gt Acesso em fevereiro de 2014 11 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Eixo I e Eixo II da coleta e valida o das narrativas Quadro 2 Empreendimentos em opera o constru o e outorgados Quadro 3 Principais transforma es na produ o e gest o do trabalho no final do s culo XX e in cio do s culo XXI Quadro 4 Abordagens biogr ficas e suas caracter sticas metodol gicas Quadro 5 Apresenta o dos narradores 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Aneel Ag ncia Nacional de Energia El trica ARIP Association pour la Recher
439. so receio de perder esse modo de vida conhecido Esse dia chegou quando Jonas foi demitido e a casa da vila foi solicitada pelo Bambu Contudo por ser um momento de conclus o da UHE os moradores trabalhadores e ex trabalhadores do Bambu dessas localidades estavam cientes de que as casas seriam disponibilizadas em breve para venda direito que muitos deles n o conseguiram alcan ar A pretens o de ficar na casa da vila de Bambu n o deu certo Pleitearam o direito de compra mas n o obtiveram xito Um tempo depois que partiram do Paran as casas foram finalmente liberadas O desejo de ter permanecido l al m de lograr o direito de compra seria manter um porto seguro em meio ao desconhecido que estavam por enfrentar mudan as de trabalho sa da da figura paterna perda dos benef cios e assist ncias proporcionadas pela empresa afastamento do conv vio com amigos e mesmo com os pr prios familiares Ap s sa rem com uma ordem de despejo constantemente renegociada mudaram se para uma cidade do Paran pr xima fam lia de Sara e recome aram suas vidas com base em outras rela es que para al m do labor eram tamb m da ordem dos afetos e desafios novos enquanto indiv duos singulares e enquanto fam lia 210 Esse Bambu de que estiveram t o pr ximos de dentro de casa no espa o das vilas e seu entorno educacional de sa de e assistencial at fora de casa o trabalho tornou se cada vez mais distante A pro
440. sou nos desde a disserta o de mestrado A migra o laboral no setor de produ o de energia hidrel trica efeitos na subjetividade dos trabalhadores na contemporaneidade DUARTE 2009 Nela foram realizadas cinco entrevistas semiestruturadas com trabalhadores migrantes do setor de produ o de energia hidrel trica cuja idade variava entre 26 e 58 anos Suas carreiras profissionais a maior parte delas estiveram vinculadas ao referido setor o que lhes possibilitou residir e trabalhar em diversas cidades e empresas de distintas regi es do Brasil Todos eram chefes de fam lia e se organizaram de v rias maneiras em rela o ao seu n cleo pessoal e familiar A maioria experienciou o processo de privatiza o e vivenciou a demiss o Outros j aposentados continuaram Conforme dados da Ag ncia Nacional de Energia El trica Aneel 2004 2008 o Brasil det m um dos maiores potenciais hidrel tricos do mundo Atualmente sua matriz energ tica composta predominantemente por essa fonte ficando o restante distribu do entre as outras fontes de gera o a c lica a solar e a t rmica Por ser a energia hidrel trica classificada como limpa n o poluente no mercado internacional a demanda por novas constru es est articulada com o crescimento econ mico e impulsionada por ser o Brasil um pa s considerado em desenvolvimento Isso verific vel ao observamos o aumento de projetos e empreendimentos da iniciativa privada no
441. spa o para apreciar o objeto e seus aspectos metodol gicos bem como discutir o que entendemos por ci ncia e produ o de conhecimento Nesse intento resgatamos pontuais fatos hist ricos do desenvolvimento da ci ncia moderna e explicitamos nossa posi o enquanto pesquisadores Estamos cientes da presen a marcante dessa discuss o no mbito acad mico especialmente no da pesquisa qualitativa mas insistimos em retomar de modo conciso alguns matizes desse prisma discursivo visto a possibilidade de obtermos desse espectro colora es e dire es distintas conforme se assume um posicionamento ao fazer ci ncia Conforme Santos 2006 1989 a ci ncia vivencia um momento em que h dois paradigmas vigentes O dominante e o emergente Estes denotam um campo transicional em que se defrontam for as opositoras no modo de compreender e produzir conhecimento Ao nos vincularmos a uma modalidade de pesquisa assentada na perspectiva qualitativa ainda nos deparamos com oposi es que pretendem desqualificar esse modo de produzir ci ncia Referimo nos a um n cleo duro encabe ado por segmentos das 53 ci ncias naturais de uma racionalidade cient fica que dominou o campo da ci ncia desde o s culo XVI No s culo XIX essa modalidade tamb m toma corpo nas ci ncias sociais e deixa fortes vest gios at hoje O que queremos atualizar que domina uma concep o de car ter totalit rio que tem relegado saberes e modalidades de pro
442. ssa conjuntura s o transforma es nas sociabilidades e nos modos de subjetiva o gerando se grandes modifica es na sociedade como a terceiriza o a delega o da educa o e da socializa o prim ria s bab s creches e escolas frente ao relativo esvaziamento das figuras paternas e maternas no cuidado s 2 Devemos atentar para essas mudan as na legisla o especialmente as que puderam contrapor os prim rdios do C digo Civil brasileiro de 1916 que reconhecia e legitimava a supremacia masculina relegando a figura feminina a uma s rie de restri es acerca do acesso ao trabalho propriedade educa o e autonomia SAMARA 2002 118 crian as O estilo adolesc ncia se prolonga tanto nos filhos como nos pr prios pais transformando as rela es de autoridade parentais as quais se diferenciam cada vez menos das de seus filhos BIRMAN 2007 Isso faz com que vivenciemos um per odo singular acerca dessas transforma es Mudan as a serem compreendidas em seus desdobramentos e reverbera es quanto dessacraliza o e desidealiza o da fam lia 3 2 4 Temporalidades das fam lias caleidosc pios em movimento No t pico anterior destacamos algumas das principais classifica es da composi o familiar Apontamos transforma es e inova es tanto no que diz respeito ao mbito social cultural pol tico e econ mico quanto aos processos de subjetiva o Contudo como nos atemos quest o d
443. ssem estes membros das fam lias entrevistadas os filhos ou outros grupos familiares contatados mediante o convite da pesquisadora mas que n o concretizaram o encontro Esse receio tornou se percept vel tamb m durante o ato narrativo ao observarmos o discurso expresso aos seus pares com retic ncias refugos diminui es exalta es discord ncias e mesmo sil ncio Havia alguns momentos de inseguran a do narrador diante do olhar do ente familiar e da pesquisadora como algu m que poderia julgar sua hist ria e suas escolhas como boas ou m s Buscamos lidar com esse contexto antes de iniciar a entrevista narrativa ao apresentar com o TCLE o prop sito da pesquisa sanando d vidas e principiando um di logo Percebemos como fator fundamental para a produ o da narrativa o momento informal antes de ligar o gravador de voz Um per odo indispens vel para preparar o campo da entrevista narrativa e deixar o narrador mais vontade Desse modo em quase todas as entrevistas narrativas depois de iniciadas e rumo ao final da narra o a pesquisadora fez perguntas solicitando que os participantes comentassem aspectos que haviam sido ditos anteriormente e que no momento da grava o n o surgiram uma vez que traziam informa es fundamentais do tema pesquisado A quinta dificuldade o desejo de n o avan ar na narrativa tem a ver com falas curtas e sint ticas diante da pergunta disparadora da entrevista narrativa A
444. sso de coleta e valida o das narrativas Agora exporemos as etapas que constitu ram a an lise mais os pressupostos que as subsidiaram A organiza o dessa exposi o nesses termos visou explicitar o caminho da interpreta o e a interpreta o do caminho que na hermen utica encontram se indissoci veis 4 3 1 Organiza o dos dados aproxima o e apropria o do material emp rico A aproxima o do material emp rico parte da perspectiva de que a interpreta o se constr i de modo processual a partir do constante ir e vir referendado pelo c rculo hermen utico A apropria o por sua vez diz do que se produziu na interpreta o do material Sendo assim deve ser exposto como se chegou at elas visto a interpreta o ser algo infind vel e permeado de possibilidades Para facilitar a vis o geral do nosso 173 trabalho interpretativo elencamos na forma de itens o itiner rio interpretativo a fim de o leitor poder nos acompanhar nesse percurso Subsidiaram nos para a elabora o de nossa proposta os apontamentos de Minayo 2006 e Onocko Campos 2008 autoras que explicitaram propostas de an lise no campo hermen utico Transcri o das entrevistas narrativas pelo pr prio pesquisador Leitura e releitura do material primeiro contato com o mundo do texto o que a escrita fixou Conhecer os narradores mediante o discurso e o mundo que eles trazem Ocupar o imprescind vel distanciamento em rela
445. st marcado por constantes desafios e imprevistos que confrontam o pesquisador segundo Cruz Neto 1994 Deparamo nos com dificuldades no processo de coleta do material como tamb m com o desconhecido que o campo nos reservava Apresentar para o leitor essa trajet ria fundamental para tornar compreens vel o car ter investigativo tra ado aqui no tocante produ o de conhecimento e quanto viv ncia do m todo em seu formato final Consoante a isso o campo psicossociol gico recusa a concep o de um fazer cient fico que consista em uma simples passagem da teoria pr tica uma mera aplica o do m todo de pesquisa como se este fosse uma entidade petrificada Por entendermos o m todo vivo tal como o nosso campo fizemos um exame sistem tico de seu processo de implementa o e as problem ticas encontradas Ao falarmos sobre esse percurso pretendemos dar visibilidade ao racioc nio do pesquisador e da vereda do conhecimento cient fico percorrida e produzida em que O perigo de uma modeliza o geral esp cie de pronto a vestir formativo com o seu corpo de pr ticas e de justifica es te ricas preestabelecidas parece nos ser altamente suspeito e dissimular um 185 d fice de questionamento cr tico Vendo de perto os m todos correspondem frequentemente express o da singularidade dos seus autores nas suas pr prias pr ticas LE GRAND 2005 p 279 Um primeiro aspecto que nos surpreendeu foi a dificulda
446. st rias de vida acerca do trabalho dessa categoria profissional e seus desdobramentos sobre a fam lia na contemporaneidade Conhecer nas interfaces dessas duas grandes institui es como se delineiam exist ncias e seus modos de ser trabalhar viver A pot ncia do fazer narrativo ressignificar o mundo em termos de dimens o temporal e da a o Uma ressignifica o n o apenas individual mas coletiva Como aponta Gagnebin 2006 sobre o campo filos fico ao suscitar o resgate da mem ria e situar os perigos de seu apagamento intencional e perverso imprescind vel o trabalho do historiador e acrescemos aqui o do pesquisador de outras reas para transmitir em seu labor o inenarr vel acalentar as reminisc ncias e conservar o passado para que possam ser tecidas outras produ es existenciais no presente e no futuro de prefer ncia emancipadoras Nesse pressuposto podemos revigorar a mem ria a lembran a do vivido e a hist ria por interm dio da narrativa como m todo e t cnica de pesquisa Por meio da rela o estabelecida entre pesquisador e participante da pesquisa a palavra torna se compartilhada ao provocar o dizer sobre algo e dispor uma escuta Promove o re despertar da vida para quem a profere escuta a ou a l O fil sofo franc s Gu rin 1995 nos chama a aten o para isso 31 O paradoxo deste esquecimento na mem ria que sem d vida j estamos vivendo que fabrica sem descanso uma reminisc
447. stado tinha algo em comum o desemprego iminente de curta ou longa dura o Uma fase de medo e inseguran a para ele os colegas e a pr pria fam lia processo brusco que transformou o cen rio de vida dos barrageiros e que compareceu com nitidez na narra o do casal Nesse per odo os Citrino tinham os filhos em idade escolar e Davi n o tinha condi es de parar de trabalhar e se manter com o valor da aposentadoria Foi preciso continuar o labor para obter condi es financeiras de manter os estudos dos filhos Embora recebesse o valor da sua aposentadoria do INSS e de uma previd ncia privada contribui o exigida para todos os funcion rios do Cipreste a partir do momento que ingressaram na empresa era preciso continuar trabalhando se quisesse ver o sonho realizado os filhos formados no ensino superior A ambiguidade da aposentadoria instaura se nessa fam lia um n sociops quico porque refrata de modo relevante a mudan a no cen rio social e na viv ncia singular uma sensa o de medo Voc se aposentar parar de trabalhar Essas crian as tudo pequena n Lia Aposentaria que teve de pedir de modo antecipado gerando perdas salariais tamb m assumiu a conota o de um lugar social e um papel profissional at ent o desconhecidos Davi e seus familiares n o integravam mais o Cipreste mas uma empresa privada estadunidense que almejava lucro e cortes designando aos seus trabalhadores outro contrato e rela o
448. sua composi o em determinado momento Por ser multifacetado o objeto se constr i nas interfaces disciplinares Logo acess lo dentro de uma perspectiva plural um imperativo Falar do objeto nos faz encaminhar para a concep o de sujeito O sujeito compreendido em situa o social concreta Ancorado no quadro da vida cotidiana est fundado em uma dupla constitui o 1 registro ps quico singular o sujeito do inconsciente 2 registro social o sujeito inscrito e situado no mundo que est em contexto tamb m o sujeito criador da hist ria como afirma Enriquez 1999a 2006 Para acess lo importam sua conjuntura historicidade cultura e mbito sociopol tico sem ignorar excluir e subjugar sua subjetividade desejo prazer e sofrimento N o h incompatibilidade entre inconsciente e sociedade Embora de estatutos distintos vinculam se e coproduzem se O psicossoci logo entende o sujeito como ativo produtor de sentido e de a es que caracterizam sua exist ncia e matizam o vivido O sujeito social Por isso a d marche da psicossociologia n o deve negligenciar as dimens es sociais e subjetivas que constituem tanto sujeito quanto objeto Dessa forma a despeito do sofrimento para ser compreendido n o pode ser visto como algo solipsista posto que possui distintas formas de manifesta o Al m de ser vivenciado subjetivamente tamb m est enraizado no social econ mico pol tico e cultural
449. t picos anteriores os fundamentos da ci ncia o campo te rico do tema a narrativa e a psicossociologia resta nos sinalizar os tra os hermen uticos de maior interesse aos quais recorremos De modo geral partimos de postulados diretamente de Gadamer 2012 e de Ricoeur 2008 2010 para ent o prosseguir ao encontro de autores que referenciaram suas proposi es te rico metodol gicas nos referidos fil sofos Ayres 2008 Onocko Campos et al 2008 2008b 2013 e Minayo 2006 Outros autores que encorparam essa discuss o ser o devidamente mencionados ao longo do texto Quanto hermen utica que filos fica e contempor nea todos esses autores apresentam em seus estudos algumas semelhan as e aproxima es embora em determinados momentos sigam caminhos distintos em suas discuss es e aplicabilidades hermen uticas Ater nos emos mais aos elementos que possuem conson ncia e nos propiciaram chegar a esse desenho de pesquisa e sua fundamenta o te rico metodol gica importante observar com Japiassu 1977 que a pr pria hermen utica reporta a um projeto transdisciplinar o que converge para a forma o do nosso trip psicossociologia narrativa e hermen utica todas abertas a um exerc cio dial gico O campo hermen utico segundo o mencionado autor n o se constituiu a partir de um nico saber mas buscou conjugar distintas perspectivas para chegar sua proposi o colocando as em di logo Nesta vertente inv
450. ta o dessa categoria profissional cujo modo de ser est vinculado ao esbanjamento e desperd cio A sua narrativa cont m um estranhamento ao conhecer o modo de vida desses profissionais no que se refere ao contexto de trabalho itiner ncia suportes e benef cios dispon veis para moradia sa de educa o entre outros estabilidade no emprego coes o social do grupo de barrageiros Ana aproximou se desse universo quando em sua cidade residiram os primeiros trabalhadores envolvidos no in cio do empreendimento da hidrel trica na regi o Momento de entrar em contato com o car ter dessa obra e evento para conhecer seu futuro marido A partir disso Ana reflete sobre esse contexto profissional e se concentra n o no usufruto desses direitos mas no perigo que eles ensejam quando o barrageiro n o 243 consegue avistar um tempo para al m do presente Ela relata isso ao afirmar a relatividade das regalias e das mordomias dos barrageiros o que lhe despertou uma impress o cuja dimens o temporal se reduz ao viver o hoje Ana no tocante amea a de demiss o como algo distante por n o existir uma fiscaliza o r gida que controlasse os recursos materiais e financeiros dispon veis principalmente para as pessoas que ocupavam altos cargos e por dispor de moradia custeada pela empresa Aponta que isso pode ter prejudicado uma vis o em longo prazo desse grupo social como providenciar meios para adquirir uma casa pr
451. tal a tarefa congru ram se como um tom de vida com riqueza de fundo e deveres muito recortados Avante at pr spero Tomara a gosto O p o que faz o cada dia ROSA 1985 p 86 Duas grandes institui es que fornecem refer ncia ao indiv duo trabalho e fam lia Elas s o vigorosas por modularem o compasso da vida escolhas e possibilidades a partir de suas l gicas e demandas Geram tamb m interditos perdas e sofrimentos Nosso cotidiano est delineado pelas atividades rotineiras que tanto mant m a vida quanto possibilitam reinvent la Diante disso buscamos compreender no conceito de trabalho na categoria de centralidade como est o constitu dos na atualidade as rela es laborais as formas de sociabilidades e os processos de subjetiva o no contexto dos trabalhadores barrageiros e de seus familiares premente para n s entender o que se passa nas zonas de contato entre essas institui es para visualizar o que gera integra o e coes o e aquilo que as dissipa e desfaz Poder verificar como essa categoria profissional envolve seus familiares Para essa leitura interpenetrada analisamos a fam lia enquanto institui o e tamb m como unidade social buscando entender como se d o sua inser o e manuten o no contexto capitalista como se estabelecem inter rela es e se afetam reciprocamente Essa unidade social se realiza concretamente pela organiza o de parentesco sangu neo e ou afetivo e pela i
452. te a isso vemos a necess ria revis o epistemol gica e o exame do papel da universidade e do pesquisador Sobre isso Santos 1999 traz apontamentos importantes Compreendendo que vivemos uma transi o paradigm tica da ci ncia moderna para a p s moderna SANTOS 1988 1999 um elemento chave precisa ser explanado para referenciarmos o manejo do objeto de estudo desta pesquisa o conceito de tradu o A ci ncia moderna ao se constituir contra o senso comum fomentou uma racionalidade instrumental e uma verdade cient fica que expropriam a do homem enquanto coparticipante no desenvolvimento da ci ncia no desvendamento e na interroga o do mundo preciso reconhecer que no homem ordin rio que somos todos n s v vido no cotidiano encontramos regras pr ticas para viver sabiamente SANTOS 1999 p 224 Disso deriva a inevitabilidade de romper com a racionalidade positivista para construir um modo de fazer ci ncia capaz de incorporar outros saberes e construir um novo senso comum Nessa coloca o a universidade pode ser um locus estrat gico de encontro entre saberes coligados A universidade deve ser um ponto privilegiado de encontro entre saberes A hegemonia da universidade deixa de residir no car cter nico e exclusivo do saber que produz e transmite para passar a residir no car cter nico e exclusivo da configura o de saberes que proporciona SANTOS 1999 p 224 O lado pr tico da ci ncia seria a su
453. te atua em outra UHE durante oito anos localizada no rio 194 Paranapanema regi o fronteiri a entre o Estado do Paran e o de S o Paulo Reside no estado paulista nesse per odo quando conhece Sara com quem se casa em 1970 transferido para uma UHE no Centro sul do Paran Casado e com duas filhas nascidas mudam se e permanecem dois anos nessa regi o a primeira mudan a que a fam lia experiencia junta sendo tamb m a primeira de Sara quem nunca havia sa do da cidade natal no estado paulista Sua narrativa capaz de nomear um encontro amoroso ocorrido no contexto das barragens onde um baiano Jonas conhece uma paulista Sara tamb m faz reportar a uma vida que o jovem casal estava por desbravar em outros territ rios t pica de um barrageiro Barragem uma vida assim que eles n o ficam sempre em um lugar s Mora um tempo num lugar depois outro tempo em outro Com esse meio de tempo eles conhecem pessoas Sara Embora se casar com um barrageiro em suas palavras tenha sido um privil gio por oportunizar conhecer v rios lugares e pessoas a mudan a para longe de sua fam lia extensa distante da cidade onde viveu e cresceu traz lhe apreens o e sofrimento pois nunca havia se desgarrado desse entorno geogr fico afetivo Eu nunca tinha mudado Longe da fam lia eu sofri bastante mas eu n o podia deixar o marido porque n s ficamos juntos gra as a Deus Sara Acompanhar o marido era i
454. teriores de UHE pois foram constru das 1 047 casas em tr s cidades diferentes dando origem vila de barrageiros e aproveitando a rede urbana existente nessas localidades pr ximas usina 2175 6 PALAVRAS FINAIS o fechamento aberto da pesquisa E a hist ria humana n o se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidenciais Ela se desenrola tamb m nos quintais entre plantas e galinhas nas ruas de sub rbios nas casas de jogo nos prost bulos nos col gios nas ru nas nos namoros de esquina Disso quis eu fazer a minha poesia dessa mat ria humilde e humilhada dessa vida obscura e injusti ada porque o canto n o pode ser uma trai o vida e s justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que n o t m voz GULLAR 1997 p 5 Ao estudarmos o cen rio de vida dos barrageiros e seus familiares visando compreender os encontros e desencontros das institui es trabalho e fam lia em primeiro lugar foi necess rio reconhecer que um empreendimento hidrel trico n o gera apenas impacto social e ambiental seja para a popula o desalojada como a ribeirinha seja para uma rea de um ecossistema atingido Um processo de desenraizamento viol ncia e rupturas socioafetivas sob a gide da racionalidade do capital estende se tamb m aos trabalhadores desses empreendimentos e de seu n cleo familiar Vimos com Duarte 2009 Ribeiro 2002 Froelich 2001 e Nova 20
455. terpretado e terapeuta paciente foi necess rio fazer uma manobra um deslocamento cuja inclina o se faz n o mais de cima para baixo ou vice versa mas para os lados O lugar do pesquisador e do pesquisado p de ser redimensionado nesse trip te rico metodol gico capaz de garantir um encontro genu no em que o saber n o se localizasse apenas no 140 campo cient fico mas para al m dele com o ator social dotado de subjetividade e conhecimento O que isso significa Fazer desvio mover se n o perder seu lugar e sua especificidade mas poder ampliar nossa pr pria vis o e lugar com o outro Um esfor o pessoal como nos diz Gadamer 2012 pois o horizonte m vel justamente por denotar o car ter hist rico e inventivo da vida humana O horizonte antes algo no qual trilhamos nosso caminho e que conosco faz o caminho Os horizontes se deslocam ao passo de quem se move GADAMER 2012 p 402 Mediante essa disposi o horizontalizada de saberes proposta em nossa tr ade tal como a cl nica clin nem pudemos nos debru ar sobre a quest o do sentido que alicer a toda a atividade humana da produ o singular coletiva Os tr s campos de saber que constituem nosso trip al m de colocarem o sujeito em posi o de palavra aquele que sabe e anuncia algo reconhecem que o sentido muda e desaparece cria se e se perde por ele somos apanhados de assalto ou dele nos apropriamos Nessa tr ade a quest o do se
456. texto que nos mover a delineamentos interpretativos a serem efetivados conforme avan amos o O KSA O KSA 2 o 180 decorre o que Gadamer 2012 pontua como necess rio explicitar nesse intento a realiza o da interpreta o dentro da linguagem a fus o de horizontes mergulha se no mundo do autor Nesse conceito gadameriano Ayres 2007 destaca a potencializa o do compartilhar do avistar a diferen a e a singularidade daquilo que at ent o nos era desconhecido no outro essa busca de fus o de horizontes se d com o recurso aparentemente simples mas pouco utilizado de um perguntar efetivamente interessado no outro e a escuta atenta e desarmada frente alteridade encontrada AYRES 2000 p 58 n o se busca uma verdade essencialista objetivista e fundacionalista mas o sentido expresso pelo sujeito Isso poder tornar presentes mediante a interpreta o as raz es do narrador o autor encontrar o que Gadamer 2012 anuncia em que consiste sua verdade O que nela se diz N o h ultima palavra na interpreta o o sentido de uma mensagem e da realidade est aberto para distintas dire es seja para novos achados do contexto seja para novas perguntas a serem formuladas na hermen utica filos fica a verdade n o algo a tomar posse a partir do ideal de racionalidade e neutralidade garantidas pelo m todo cient fico como apregoa o positivismo H uma rela o estabel
457. tigam a fam lia enquanto unidade de produ o e consumo ou que integram o plano econ mico e produtivo ao dom stico cultural e afetivo Por essa via somos convidados a explorar as rela es que a fam lia expressa por meio da sua rede de parentesco e reciprocidades no contexto existencial da classe dos trabalhadores barrageiros Considerar a fam lia dos trabalhadores migrantes do setor de produ o de energia hidrel trica enquanto grupo produtivo e afetivo permite verificar as inst ncias singular e social onde s o operados os des encontros trabalho fam lia Isso ir ao encontro do que Fausto Neto 1982 nos abre conhecer as configura es familiares la os tanto de consanguinidade quanto de afinidade tipos de uni es direitos e deveres estabelecidos acerca do g nero sexualidade parceiro e descendentes modalidades de resid ncia processo de migra o deslocamento e fixa o e principalmente rela es entre o modo de produ o tipos de trabalho e ocupa o e os arranjos familiares dom sticos que predominam Nessa vertente deparamo nos com um trabalho capaz de socializar ao mesmo tempo em que desfaz ou esgar a os la os sociais e afetivos O que possibilita a sobreviv ncia da fam lia ao menos em termos financeiros n o capaz de garantir a constru o de afetos reciprocidades e aprofundamento das rela es Essa realidade foi objeto de an lise na literatura brasileira com a escritora Patr cia Galv o a Pag
458. til em que ela tecida BENJAMIM 2011 p 24 Nesta se o abordaremos o referencial narrativo que assumimos sem deixar de situar a diversidade que ele comporta tanto em termos te rico metodol gicos quanto de capta o das diferen as e das singularidades existenciais Ponderaremos sua potencialidade interventiva ao compreender o ato de narrar como processo de ressignifica o do vivido capaz de conjugar temporalidades distintas da experi ncia humana em sua dimens es social e subjetiva Por conseguinte sinalizaremos o processo de coleta do material emp rico e os seus princ pios anal ticos que convergir o para o 146 pr ximo subt tulo do horizonte hermen utico o que denota a ntima vincula o entre narrativa e hermen utica 4 2 1 A diversidade das narrativas A narrativa algo ordin rio e extraordin rio nova e velha lembrada e esquecida valorizada e subestimada Ela pulsa na a vida do ser humano seja no campo cient fico seja no senso comum Est na grandiosidade da hist ria ou na pequenez do cotidiano Ela est presente onde a vida se delineia Com Barthes 1973 importa nos saber que a narrativa apresenta se ao longo de toda a hist ria da humanidade Nasceu com ela porque n o existe povo sem narrativa Atravessou tempo espa o e rela es Todas as classes todos os grupos todas as sociedades possuem narrativas A mat ria e a subst ncia para o homem compor suas narra es prov m d
459. tina familiar um encargo pouco distribu do o que deixa ran os e ang stias que podem ser pouco compartidas em arranjos mais horizontalizados capazes de envolver com maior participa o a figura paterna no trabalho de dentro o dom stico familiar 252 Finalmente ao se voltar para esse passado recente em suas vidas os Safira relatam que um elemento fundamental para manter a rela o nesses desencontros trabalho fam lia foi a confian a um no outro Mencionam ter sido complicado estar longe mas foi uma escolha que lhes possibilitou perdas e ganhos Reconhecem que viver e morar juntos compartilhando um cotidiano face a face na atualidade tamb m n o algo f cil Perante isso orgulham se ao dizer que conseguiram construir e manter uma rela o nesses termos ao completarem 32 anos de casados Esses s o o tempo espa o e rela o dos Safira a se ressignificar com o retorno para a fam lia de Thiago e de Ana ambos aposentados Thiago tem novo trabalho por m em uma condi o in dita ser na mesma cidade em que seus familiares residem Cap tulo novo a ser escrito ao ser dar continuidade a esse enredo familiar com a fam lia reunida ao menos o casal Uma redescoberta que Thiago se permite realizar ao buscar suprir o lapso do afeto provocado nos interst cios do tempo e do espa o posto que para ele deixar de ficar longe da fam lia um momento de tranquilidade da vida em que pode dar uma assist ncia
460. tingente de trabalhadores na etapa da constru o o que exige um expressivo deslocamento de trabalhadores para o canteiro de obras Os trabalhadores solteiros bra ais como Froelich os denomina 2001 p 119 permaneciam em alojamentos coletivos enquanto durasse a constru o da hidrel trica Por sua vez os solteiros de n vel t cnico eram alocados em casas mais espa osas com quartos individualizados ou com menor n mero de pessoas as denominadas 244 rep blicas Thiago teve a experi ncia de ficar especialmente no in cio de sua carreira como barrageiro em alojamentos coletivos e posteriormente em rep blicas Podemos averiguar que essa pol tica da empresa voltada para os solteiros e os casados n o se restringia apenas moradia mas tamb m ao v nculo empregat cio Por meio da narrativa de Thiago capaz de expressar o cunho social vigente no per odo em que sofreu sua primeira amea a de demiss o poss vel explicitar essa concep o A primeira vez em que ele vivenciou o sinal de desemprego foi no final dos anos de 1970 quando os solteiros eram priorizados para demiss o Thiago estava prestes a ser demitido quando um amigo seu casado solicitou a pr pria sa da por motivos outros sugerindo aos gerentes que Thiago permanecesse no trabalho esse evento ele nomeia como sua sorte porque foi a ocasi o que o fez permanecer na empresa por m n o deixa de reconhecer ter sido um bom funcion rio
461. tituem quando o trabalhador precisa mudar de cidade se a fam lia opta por acompanh lo ou n o o se houver um membro da fam lia menor de 18 anos esse ter de ter no m nimo 12 anos e receber autoriza o dos pais ou respons vel para ser entrevistado se desejar participar e aceitar o convite da pesquisadora A pesquisadora fez o convite para todos os integrantes de cada uma das fam lias para entrevistar o maior n mero poss vel de seus membros Foi crit rio de exclus o aqueles que n o atenderam ao crit rio m nimo de inclus o definido nos itens anteriores 65 CAP TULO 3 TRABALHO FAM LIA Figura 3 A estrutura o da usina hidrel trica Eng Souza Dias Jupi tamb m principiou o projeto residencial denominado vila Piloto foto acima em Tr s Lagoas MS e vila dos Operadores conjunto habitacional de menor porte constru do margem paulista do rio A vila Piloto alojava os trabalhadores envolvidos na constru o UHE e a vila dos Operadores os t cnicos da manuten o e opera o os trabalhadores permanentes respons veis pelo funcionamento dessa usina Em 1964 foram iniciadas as constru es de escola supermercado pomar pousada correio rodovi ria clube e outros estabelecimentos fazendo da vila Piloto uma localidade autossuficiente Passados 30 anos as casas foram liberadas para venda com o processo de privatiza o nos anos 1990 66 3 TRABALHO FAM LIA Qual o homem e
462. tivo dial gico Como seu pr prio nome diz constitui se com base em uma constru o de sentidos conjunta de saber a partir do encontro dialogado entre sujeitos O material produzido n o se reduz ao sentido dos autores nem dos pesquisadores mas conjuga se entre eles 151 Nesses par metros importa atentar para o recorte que se pretende investigar a fim de tra ar um caminho te rico metodol gico que esteja de acordo com o pretendido Para n s cabe destacar o que vem ao encontro da produ o recente da hist ria de vida especialmente a partir do ano 2000 quando esse campo obteve grande desenvolvimento ao buscar novas compreens es conjugadas para os fatos social e subjetivo BARROS SILVA 2010 A produ o cient fica do in cio do s culo XX pleiteou no campo biogr fico um locus de pesquisa qualitativa e transdisciplinar que se fez de modo privilegiado nas ci ncias humanas e sociais Sua origem vincula teoria e pr tica expressa com densidade o mosaico das diferentes rela es sociais v vidas nos indiv duos e suas hist rias de vida Um de seus elementos inovadores poder invocar a partir do ator social o prosaico o cotidiano em que est o as pequenas coisas da vida e os afetos mobilizadores desses acontecimentos Nessa vis o geral a hist ria de vida e a narrativa de vida nos permitem contemplar de modo articulado a hist ria e a singularidade de um grupo social e do indiv duo Seu grande m rito nos conferir acesso
463. to vale atentar que um dos tra os distintos do Livro das mil e uma noites a predomin ncia da narradora feminina por toda a obra e de o ato narrativo desenrolar se durante a noite Nessa poca a mulher era tida como desprovida de intelecto Todavia nessa obra de enuncia o de periferia JAROUCHE 2006 p 25 a narradora caracterizada n o por seus atributos f sicos mas espirituais Descrita por seu intelecto Afinal ser ela a personagem que trar de volta ao rei a sensatez e lutar pela vida JAROUCHE 2006 36 verdade habitualmente proscrita e perturbadora confinada na oralidade de um cotidiano obscuro sa da desta boca de sombra assim entreaberta LEVY 2001b p 93 Narratividade essa em que buscamos trazer da periferia e da ilegitimidade tanto a voz polif nica da hist ria humana para al m da dimens o macrorreal da verdade quanto a mat ria leg tima da narra o na produ o de conhecimento cient fico Para isso precisamos des construir horizontes tradicionais de pesquisa e fundi los aspectos tratados nas se es posteriores e no cap tulo 4 Fus o de horizontes caminhos te rico metodol gicos 1 2 Abrindo o horizonte do tema de pesquisa sua escolha e a rela o com o contempor neo Ser absolutamente moderno ser aliado de seus pr prios coveiros KUNDERA 1990 p 142 A investiga o desse tema n o se iniciou com essa tese de doutorado Interes
464. tos 2002 2004 ao contestar o ide rio de hist ria que entende os fatos dispostos em um continuum Para Benjamin 1994 o tempo hist rico objeto de constru o est saturado de agoras S o temporalidades que se produzem ressignificam se e se des encontram N o livre de tens es mas imersas em jogo de for as e de exerc cios de poder E qual seria a consequ ncia dessa concep o Ao se ignorar a multiplicidade temporal limitam se as possibilidades interpretativas e a descoberta de formas plurais e coexistentes de exist ncia Por isso evocamos esse debate para obtermos recursos te rico conceituais que nos forne am elementos para tecer uma an lise capaz de reconhecer e recuperar as m ltiplas experi ncias os modos de exist ncias e as narrativas de vida imersas em distintos agoras que expressam a diversidade da realidade de trabalhadores e seus familiares no contexto do setor de produ o de energia hidrel trica 2 A tese 14 do texto Sobre o conceito da Hist ria de Benjamin 1994 encontra se na integra na se o dos anexos anexo 2 Mais uma vez recorremos a Brandim 2010 para destacar o aux lio que a hermen utica nos fornece ao considerar o passado como uma possibilidade sempre aberta ao estranhamento para que a d vida o questionamento e a problematiza o como exerc cios que garantem a reflex o n o cessem no trabalho do pesquisador acerca da hist ria Assim evitamos cair nas armadilhas
465. tos quanto pelo ideal nacional de progresso e desenvolvimento que se atrelava a essas obras de grandes propor es Na narrativa dos tr s barrageiros de nossa pesquisa pudemos perceber esse sentimento de honradez por fazerem parte dessas corpora es Na poca a gente trabalhava numa empresa e era uma das maiores empresas do Brasil n vel bem elevado Eu trabalhava no Cipreste As firmas na cidade eram tudo aquelas firminhas sal rio eles n o tinham A gente de estatal conseguia ganhar bem ent o tinha que viver bem Thiago Devemos nos lembrar de que estamos falando de um per odo tido como ureo na hist ria do Brasil o qual se regozijava no Milagre econ mico brasileiro que construiu um ideal de nacionalismo ap s 1964 poca da ditadura brasileira O governo colocou em execu o projetos de grande porte cujo investimento econ mico visava implantar uma ind stria vigorosa de bens de capital RIBEIRO 2002 FROELICH 2001 Contudo vemos esses primeiros tempos desvanecendo se conforme se enfrentavam crises com o avan o da democratiza o com as reestrutura es Para dimensionar esse quantum que sabemos sobrepujar ao se tratar de trabalho vivo a Itaipu em seu s tio eletr nico aponta pelo menos 50 mil horas de trabalho na constru o de sua hidrel trica para que pela primeira vez as 14 comportas do vertedouro pudessem ser levantadas e a gua represada liberada ITAIPU 2014 263 p
466. tradicionais posi es e pergunta se sobre seus desdobramentos Podemos portanto derivar do radical Klin um sentido mais apropriado aos fins da Reforma Psiqui trica como inclina o n o para baixo mas para os lados no sentido de bifurca o divergir de buscar novos sentidos Ter amos assim acep es fundamentais que podem ser dadas s crises alcan ando uma dimens o criativa oportunidades de transforma o de estados e situa es insustent veis Aqui tamb m n o se trata mais de uma cl nica do olhar mas da escuta ou do olhar que v al m do sintoma A cl nica como encontro capaz de produzir senso sentidos produ o de sentidos no lugar de reprodu o como lugar onde as identidades participantes j n o est o predefinidas COSTA ROSA LUZIO YASUI 2003 p 30 Essa no o acresce nossa perspectiva psicossociol gica ao avistarmos uma dimens o crucial que essa disciplina persegue em termos de emancipa o e autonomia do sujeito Ao pleitearmos um avan o da forma como se concebe o tradicional termo cl nica buscamos romper com uma rela o de poder entre m dico que olha de cima e paciente que est deitado visto abaixo que se perfaz entre pesquisador aquele que sabe e pesquisado aquele que n o sabe Ao transpor essas posi es visamos decompor a rela o de poderes e ideologias Questiona se aquele pesquisador que dirigir uma pergunta aquele que quer saber para reconhecer aquele
467. tru o de torres de transmiss o barragens guindastes e pontes espalhados pelo mundo mas tamb m por suas narra es para quem conta suas experi ncias e compartilha sua exist ncia Levi 2009 exp e na hist ria desse personagem como seu corpo sua subjetividade e sua sociabilidade s o atravessados pelo labor Essas viv ncias tornaram se manifestas por meio da narra o de quem as viveu fazendo da hist ria pessoal um partilhar coletivo pelo qual esse oper rio passava Tal aspecto relevante para n s e possui similaridades pois nos faz remeter aos barrageiros e seus familiares que t m sua hist ria de vida atravessada pelas condi es espec ficas de trabalho como por exemplo a recorrente migra o Ao narrarem suas hist rias de vida tornam vis veis sua trajet ria marcada por perdas e novos v nculos Transparecem a incerteza da chegada a um novo lugar e como se organizam material e subjetivamente para dar conta do novo territ rio e afetos assim como dos la os deixados para tr s Suas narra es al m de sa rem do anonimato expressam mil e uma formas de contar como tamb m de viver e significar suas pr prias exist ncias nessa conjectura Jarouche 2006 aponta que o car ter an nimo da autoria do Livro das mil e uma noites faz se por ter atravessado tempos lugares idiomas e m os diversas at 1l N o queremos deixar passar despercebido o quanto o Livro das mil e uma noites influenciou outros pesquisadores al
468. tua o Sobre a especificidade de seu objeto Conforme Barus Michel et al 2005 p IX a psicossociologia est centrada na an lise das rela es indiv duo sociedade em situa es em que as dimens es ps quicas e sociais est o estreitamente intricadas Nessa vis o volta se para o estudo de grupos organiza es e institui es Considera as condutas concretas individuais e tamb m se interessa pelo estudo de grupos e comunidades de modo a vislumbrar a vida cotidiana nelas expressa buscar a ligadura entre o geral e o particular o abstrato e o concreto o subjetivo e o social Apreendemos o objeto ao analisar os elementos que o atravessam como se des encontram a fim de 143 tanger seus meandros reciprocidades e tens es bem como suas correspond ncias e disson ncias Com isso seja no estudo na pesquisa e ou na interven o h um objeto de car ter din mico e multifacetado que comporta singularidade sem desgarrar se do contexto global Nas palavras de Carreteiro e Barros 2011 p 209 210 esse objeto f n o est tico e uno Ele sempre tribut rio dos atores envolvidos do campo pulsional dos grupos das institui es do momento socio hist rico das condi es pol ticas entre outras O conjunto dessas dimens es tem impacto sobre o objeto Assim qualquer objeto s pode ser compreendido se considerado em sua complexidade ou seja na multiplicidade de dimens es que participam de
469. tudo nosso olhar n o p de se desviar Nossa escuta n o cessou e n o conseguimos interromper as indaga es Era preciso saber mais Olhar para esse tema de forma mais aprofundada Apreci lo como possibilidade de estend lo Demorar nos um pouco mais Surge a tese como meio de efetivar esse desejo E o contempor neo nisso Basta ver que a quest o geral trabalho fam lia n o nova por m n o est esgotada nas perguntas e nas respostas Como nos diria Corr a 1993 pesquisadora que se desdobrou sobre o tema da fam lia a partir das ci ncias sociais e da antropologia apesar de ser um tema muito pesquisado em diversas disciplinas e abordagens ainda n o o foi o suficiente por pairarem sobre esse muitas reas de sombra que carecem de compreens es outras Pensar as reas de sombra interessante para n s por remeter ao contempor neo Nosso objeto de estudo est nesse per odo hist rico o que o torna pr ximo e distante intelig vel e desconhecido apreens vel e intoc vel Para trabalhar essa contradi o 39 temos que encaminhar para al m de uma concep o habitual e exercer o estranhamento Perseguir o desconhecido e o inesperado Dito de outro modo partirmos de uma discuss o que possa olhar n o somente aquilo que se aparenta como afeito ou mesmo claro mas nos dirigirmos para os jogos de luzes e sombras que se conectam a ela Esse procedimento nos faz remontar ao fil sofo italiano Agamben 2009 a quem nos r
470. u ao indagar o tempo de vida e de trabalho o ltimo colonizando o primeiro com uma de suas personagens da obra Parque industrial N s n o temos tempo de conhecer os nossos filhos GALV O 1994 p 29 bradava de modo inciso a oper ria imersa no universo exaustivo da f brica Para a autora o nico cord o umbilical que imperava desde o nascimento at a idade adulta era o econ mico e n o o familiar 68 Trabalho fam lia que se des encontram podem ser verificados tamb m nos embates travados em que essas duas dimens es existenciais se engolfam distanciam se e se aproximam Capazes de se produzirem e de se anularem um campo conflituoso de intensos jogos de for as hegem nicos sim mas em que s o efetuadas lutas cotidianas salpicadas de vit rias e de fracassos no dia a dia de seus combatentes Para obtermos acesso a esse terreno a porta de entrada fez se por meio das narrativas Por interm dio delas pudemos verificar que diante de uma l gica hegem nica efetivam se manobras produtoras de diferencia o e resist ncia expressas nas singularidades e diversidades das l gicas dos pequenos grupos internas a eles Reconhecendo isso recorremos a De Certeau 2012 quem concebeu as t ticas e estrat gias de grupos e fam lias como recursos para sobreviver e adaptar se ao novo lugar e contexto s cio econ mico cultural Elas possibilitam perceber como enfrentam o processo de precariza o das condi es e rela
471. u 1998 denomina isso de um discurso forte pois sua for a faz se vigorosa por dispor de pot ncias econ micas pol ticas e de rela es dominantes 38 A amplitude neoliberal que veio tomar conta de governos e Estados deu se a partir de 1970 e em uma d cada alastrou se pelo globo final de 1979 na Inglaterra com Tatcher 1980 nos EUA com Reagan 1982 na Alemanha com Khol 1983 na Dinamarca com Schluter em seguida tomou a maioria dos pa ses ocidentais da Europa exceto Su cia e ustria Na d cada de 1990 no Brasil nos governos Collor e FHC esses ideais encontraram se aplicados com maior rigor pela pol tica nacional ANDERSON 1995 85 Esse pensador franc s de origem grega afirma que a destrutividade do capitalismo n o se faz percept vel apenas na inst ncia da economia mas sensivelmente na viv ncia pol tica e nas rela es sociais Vejamos algumas de suas principais considera es afinadas s nossas pretens es de desnudar o trabalho na atualidade especialmente o do contexto existencial do trabalhador migrante A produ o ideol gica do capitalismo enquanto regime social o primeiro a se autointitular racional Em decorr ncia disso temos uma constru o imagin ria que o fez ser aceito como um sistema leg timo indiscut vel e absolutizado capaz de gerar bem estar Como isso foi engenhado Mediante a constru o de manuais explica es cient ficas e sociais feita na inst ncia da economia
472. ua companheira interv m para dizer que ele est tranquilo agora porque est aposentado diferente dos outros colegas da referida UHE que n o s o aposentados e das automatiza es anteriores que testemunhou Com sua narra o entrela ada de Lia Davi nomeia essa realidade que vivencia de demiss o e mudan a nas condi es e rela es de trabalho com um misto de temor sofrimento e incerteza vividos no registro subjetivo Esses afetos conferem express o s transforma es pol ticas e econ micas no mbito do trabalho e para al m dele o que faz Davi atrelar essa experi ncia singular afetiva ao que ele denomina como o lado social do trabalho especificamente como barrageiro Entende que essas transforma es macro atravessam a realidade microssocial e subjetiva gerando efeitos nas inst ncias pessoal familiar e relacional Ao observarmos o contexto de sua aposentadoria veremos como a transforma o advinda do projeto neoliberal atingiu a institui o trabalho alterando os modos de ser trabalhar viver uma vez que foram promovidas outras formas de inscri o do lugar institucional logo outras produ es nas constru es subjetiva e social A aposentadoria de Davi situada com os processos de privatiza o e demiss o que aconteceram no Cipreste no final dos anos 1990 Davi aposentou se em 1998 e em 1999 viu o Cipreste vendido para uma organiza o dos Estados Unidos da Am rica onde trabalhou at 2003 Per odo
473. ude ao fen meno analisado Pudemos nos aproximar de momentos singulares de suas vidas nesse contexto do qual emergem os sentidos dos fen menos social e subjetivo E escrever seria apenas registrar esse percurso N o Escrever ultrapassa a largo isso mais O ato da escrita refrata o que mencionamos h pouco Um ato polif nico Din mico imprevis vel e vigoroso O texto da pesquisa em status nascendi perpassado por crises conflitos ang stias faltas d vidas e inseguran as Desde o in cio temos de lidar com o inacabado e o insuficiente Todavia essa realidade que legitima o confronto de ideias de autores e de campos de saber Condi o prop cia para avistar diferen as e atuar com dissensos prof cuos o que nos possibilita novas conjuga es de saberes para a produ o de conhecimento Podemos pensar melhor isso ao fazer men o entrevista de Enriquez 2004 acerca do ato de escrever Sua fala desnuda em poucas palavras o que vem a tolher e a liberar o pesquisador comprometido com o ato da escrita Acho que escrever ter ideias ver qual a coer ncia entre ideias diferentes entre os diferentes argumentos que apresentamos testar a pertin ncia da interpreta o da realidade da qual falamos mas acho que escrever tamb m nos permite inventar O que gostaria de dizer que existe uma din mica na escrita e que medida que escrevemos h associa es de palavras que se formam revelam nossas ideias e novas asso
474. ue por sua vez traz uma proposi o de mundo Nesses termos buscamos encontrar n o o que est por tr s do texto mas o que est manifestado nele o qual responde ao sentido do pr prio texto e n o ao do narrador ou ao do pesquisador Ordena o dos dados o material emp rico tratado como um conjunto Para trabalh lo ser o criados subconjuntos que interligam parte todo e todo 174 parte A leitura buscar encontrar homogeneidades e diferencia es por meio de compara es e contrastes dos principais n cleos argumentais localizados Esse o primeiro levantamento de possibilidades de temas os selecionados previamente pelo pesquisador e os emergentes do texto ambos remetem aos objetivos norteadores Composi o dos temas para compor os temas em princ pio s o identificados os n cleos argumentais em suas especificidades os quais cont m elementos de significa o que ser o classificados na forma de categorias Por sua vez as categorias s o elementos de significa o do texto que pretende orden los de modo classificat rio ao redor de temas As categorias possuem duas origens anal ticas e emp ricas As categorias anal ticas s o criadas antes do material emp rico uma vez que existem quest es disparadoras para convidar o participante da pesquisa a narrar e temas centrais que remetem ao arcabou o te rico e ao objeto de estudo As categorias emp ricas s o criadas a partir do contato com o mater
475. ue eu conseguir resolver eu resolvo Porque a gente que fica em casa com os filhos a carga maior tamb m Porque a responsabilidade fica com a m e Porque a m e quem est junto Ent o essa responsabilidade eu acho dif cil Tem hora que nessa parte complicado Voc tem que ficar sozinho e tem que tomar conta de tudo em casa Lia A narrativa de Lia apresenta um descontentamento ao estar longe do marido qualificando como algo ruim principalmente por essa dist ncia geogr fica gerar um afastamento das fun es paternas como apoio nos cuidados com a fam lia Uma a o compartilhada que n o se efetivou nos arranjos familiares estabelecidos Essa realidade a faz reclamar o desejo de estar junto Um anseio tamb m manifestado por seus filhos ficar no trabalho longe assim ruim demais N o bom n o n o Porque tem que ficar sempre junto Porque at a minha filha fala Quem casa tem que estar junto n o pode estar separado Esse contexto em que o casal convive dist ncia comum no modo de vida dos barrageiros traz tona a quest o da trai o conjugal Algo que segundo Lia incomoda mais suas amigas do que a si mesma Com os maridos longe por causa do trabalho um relacionamento extraconjugal pass vel acontecer Nesse rol de amizades observa suas colegas alegarem a impossibilidade de o marido ficar muito tempo sozinho e questionam se ela tem ci me ao deix lo ir e n o acompanh lo
476. ue faz atividade profissional ocupa o 89 Tendo em vista essas considera es podemos dizer de forma sint tica que o tempo uma categoria sociocultural e hist rica que acopla a si a no o de espa o sociabilidades e afetos com vistas a orientar o ser humano Conforme o per odo hist rico e o contexto referido haver transforma es profundas na forma de se organizar a rotina e geri la bem como os v nculos estabelecidos em termos sociais e subjetivos Isso pode ser percebido de forma mais clara ao se retomar os sentidos e percep es da temporalidade humana constru dos historicamente por exemplo na era da Revolu o Industrial na Inglaterra no s culo XVIII poca em que a viv ncia social do tempo foi reconfigurada haja vista que outras formas de rela es e subjetiva o estabeleceram se consoante s mudan as socioecon micas culturais e pol ticas do per odo referido Uma parte significativa de indiv duos teve de refazer e reorganizar suas vidas perante as novas condi es principalmente a partir da rela o com o trabalho no mbito fabril o que os fez abandonar cada vez mais seu passado s cio hist rico para se atirar diante de um futuro desconhecido incerto e din mico que passou a ditar as novas regras cotidianas instauradas nos gestos a es pensamentos e afetos Como relatamos desde os prim rdios instauradores da modernidade a partir da Revolu o Francesa essas transforma es t m se torn
477. uga acreditando que sua vida basta em si mesma Esta tende a ser reduzida a epis dios e comodidades porque Abandonamos uma depois da outra todas as pe as do patrim nio humano tivemos que empenh las muitas vezes a um cent simo do seu valor para recebermos em troca a moeda mi da do atual BENJAMIN 1994 p 119 Esses achados de cunho pol tico sociocultural e econ mico trazem impactos aos processos de subjetiva o Leva nos a vincular a pen ria da experi ncia com um tipo de sofrimento que empobrece isto o sofrimento tico pol tico que Sawaia 2010 denuncia ao situar uma dor evit vel porque de ordem social Diz respeito a um sofrimento imposto pela sociedade a indiv duos de determinadas posi es sociais expondo sua exist ncia injusti a preconceito cidadania negada e uma vida sem dignidade Nessa condi o as pessoas experimentam o sofrer a vergonha o medo a tristeza a nega o de si e da vida As consequ ncias disso reverberam diretamente a concep o benjaminiana desenvolvida at aqui Esse sofrimento empobrece e afunila o campo de experi ncias e percep es bloqueando a imagina o e a reflex o torna as pessoas impotentes para a liberdade e a felicidade quer na forma de submiss o quer na de dio e fanatismo SAWAIA 2010 p 46 Mas afinal de que modo a experi ncia significativa resistiria pen ria Como hav amos dito a perspectiva benjaminiana entende a experi ncia como
478. ui o familiar verificamos que a dimens o ontem e hoje est presente e a subst ncia que possibilita delinear um futuro pr ximo por m sem o apagamento do passado Esse car ter din mico reporta elasticidade familiar contempor nea a que Sarti 2010 se refere para compreend la em seus la os esgar ados e inovadores que contrap em um modelo idealizado e naturalizado Remonta s an lises de Beck Gernsheim 2011 sobre os padr es difusos de relacionamento em que identificar seus contornos est cada vez mais complexo principalmente a partir do s culo XXI tanto para a pol tica e a vida cotidiana quanto para o mbito cient fico s o in meras as quest es que indagam o que e quem constituem a fam lia hoje A fam lia como situa Giddens 2000 e os referidos autores remete s rela es macrossociais mas tamb m s pessoais e singulares uma vez que diz respeito intimidade afetividade e subjetividade Deslind las buscar identificar transforma es fundamentais que nos acometem em meio a uma realidade marcada por inseguran as e incertezas diante de um mundo turbulento dif cil y desconocido GIDDENS 2000 p 189 saturado de agoras S o temporalidades que se produzem se ressignificam e se des encontram n o livre de tens es mas imersas em jogo de for as e de exerc cios de poder 50 Giddens 2000 traz uma curiosa constata o acerca da historicidade do termo rela
479. uir barragem re des constru es das masculinidades num canteiro de obras de uma usina hidrel trica Disserta o de Mestrado em Psicologia Social e Institucional Porto Alegre Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS 2010 D INCAO M A Sentimentos modernos e fam lia S o Paulo Brasiliense 1996 D INCAO M A Org Amor e fam lia no Brasil S o Paulo Contexto 1989 DONZELOT J A pol cia das fam lias 2 ed Rio de Janeiro Edi es Graal 1986 DUARTE D A A migra o laboral no setor de produ o de energia hidrel trica efeitos na subjetividade dos trabalhadores na contemporaneidade Disserta o mestrado em Psicologia e Sociedade Faculdade de Ci ncias e Letras de Assis Universidade Estadual Paulista Assis 2009 DUARTE D A LUZIO C A A migra o laboral de trabalhadores do setor de produ o de energia hidrel trica a viv ncia subjetiva e as suas rela es com o mundo do trabalho contempor neo In HASHIMOTO F Org Psicologia e Trabalho desafios e perspectivas Assis FCL Assis UNESP Publica es 2010 ELIAS N Sobre o tempo Rio de Janeiro Jorge Zahar 1998 A sociedade dos indiv duos Rio de Janeiro Zahar 1994 291 ENGELS F 4 origem da fam lia da propriedade privada e do Estado 2 ed S o Paulo Express o Popular 2010 ENRIQUEZ E Da horda ao Estado Psican lise do v nculo social Rio de Janeiro Jorge Zahar 1999a Perda do trabalho per
480. ular e uma coletiva marcadas pela crise do projeto da modernidade a qual se faz sentida at hoje afinal o anjo da hist ria benjaminiano continua impelido pela tempestade do progresso olhando de modo aterrador para o passado enquanto est de costas para o futuro O olhar benjaminiano denuncia uma nova forma de mis ria humana que se faz justamente neste momento de in meros avan os promovidos pela t cnica em detrimento do homem Mas quais seriam os efeitos dessa pobreza de experi ncias para que autor nos chama a aten o Benjamin 1994 n o nega uma grande contradi o diante do grande valor do patrim nio cultural acumulado pela humanidade a experi ncia que poderia estar agregada a ele encontra se desvinculada como se pud ssemos ter acesso a tudo ao mesmo tempo em que n o podemos obter nada disso Sua afirmativa para a humanidade pois ultrapassa a esfera privada o que nos lan aria diante do que ele chama de uma nova barb rie Para continuarmos a pensar essa barb rie devemos recuperar os apontamentos de Faye 1996 e Pineau 2006 ao discutirem o campo narrativo Esses autores reconhecem as for as que operam no campo das linguagens aquelas que podem ser teis aos servilismos mas tamb m as que podem libertar se destes e serem contribuidoras da afirma o libert ria Destacamos isso para visualizar que Benjamin 1994 trabalha o conceito de barb rie aqui como algo positivo visto ser este pass vel de subvers
481. ulo de trabalho fosse avistado Ensejo para conhecer um lugar diferente a ser descoberto e vivido na companhia uns dos outros Em sua trajet ria o que passou a amedront los nas palavras de Raquel a ponto de gerar pavor e tristeza era o fac o na obra Fac o significa demiss o ter de reduzir a m o de obra e incorrer no desemprego O medo de o pai ficar sem trabalho comparecia nas lembran as desde a tenra inf ncia Assunto presente dentro de casa anunciado para e pela fam lia vindo a mobilizar principalmente as mulheres M e e as filhas buscavam formas de lidar com essa amea a por meio da cren a e do di logo familiar capazes de expressar o desejo e a esperan a de n o passar pelo temido desemprego significado de dificuldades priva es e desamparo A gente n o queria que ele ficasse desempregado minha irm mais velha por exemplo a minha m e falava Ora para Deus aben oar para que o papai fique na obra porque vai ter corte E da a gente orava Nossa eu lembro que eu ficava super apreensiva ansiosa n o pelo fato de mudar de ter de sair da escola Nunca me preocupei com isso Apesar de que eu estudei em um col gio na minha vida Mas assim de largar o lugar que eu morava eu n o Nem a minha irm A nossa preocupa o era meu pai n o ficar desempregado Desde crian a Desde pequenininha Desde tr s quatro anos a nossa preocupa o era essa Ia ter corte a nossa preocupa o era se ele ia
482. umano uma superficie a enraizar sua exist ncia coletiva comunicar suas experi ncias e conservar os tesouros do passado referentes sua hist ria de vida al m de propiciar antecipa es de um futuro Todavia como hav amos sinalizado essa estrat gia n o est livre de paradoxos pois a constru o de sentidos al m de ser permanente n o impediu a imers o em um sofrimento tico pol tico cuja principal dificuldade poder localizar e combater as causas vinculadas s transforma es perversas no universo do trabalho que por sua vez impelem a viv ncias migrat rias que beiram err ncia ao sobrepor o tempo do trabalho sobre o tempo da vida Para compreender melhor isso vejamos algumas condi es promotoras do deslocamento e da perman ncia que sofreram uma paulatina deteriora o em seus recursos materiais e imateriais nos seguintes aspectos 1 o desaparecimento das vilas que garantiam tanto a moradia para o trabalhador e sua fam lia quanto um conv vio oportunizador da tessitura de novas rela es desse grupo social sujeito a constantes mobilidades 2 as condi es de migra o tornaram se prec rias por n o haver recursos ou estes serem nfimos para as mudan as posteriores como tamb m por n o possibilitarem a caracteriza o de um v nculo de trabalho em longo prazo 3 as institui es capazes de integrar os trabalhadores e seus entes familiares foram desmontadas desaparecendo servi os de suporte at e
483. umentais e seus temas que a um s tempo representam o ponto de partida e o ponto de chegada para a compreens o e interpreta o do material o movimento do todo e das partes do emp rico e do te rico do particular e do geral do concreto e do abstrato do subjetivo e do social Uma s ntese integrativa que visa produ o de conhecimento 4 3 2 O processo de valida o do material emp rico um di logo vis vis com o narrador Em nossa proposi o inicial hav amos considerado a realiza o da valida o do material emp rico mediante um di logo vis vis com o narrador efetivando mais um encontro com os participantes depois de finalizadas as entrevistas narrativas Em princ pio hav amos concebido que o processo de interpreta o mediante o di logo entre pesquisador e pesquisado convidaria o interpretado a ser coint rprete vindo a compor o processo de constru o interpretativa entrar em contato com o mundo do texto que implodiu o mundo do autor A intersubjetividade seria o locus da compreens o di logo aberto entre sujeitos em que o participante com o pesquisador ocuparia o lugar de sujeito da pesquisa para assumir o de sujeito na pesquisa Valer nos amos de um di logo vis vis entre pesquisador e pesquisado em que o processo de valida o do texto transcrito se processaria nas seguintes etapas O pesquisador se encontraria com os participantes narradores para a leitura do material transcrito
484. uni o separa o familiar O centro executivo e comunit rio que havia sido o lugar aonde o Papai Noel vinha de helic ptero e distribu a balas e doces para as crian as passou a ser o local de manifesta es e protestos para o direito moradia ou seja a luta para conseguir a libera o da venda das casas Um movimento encabe ado principalmente pelas mulheres que se revezavam 24 h no local para demarcar a defesa do direito de moradia As reminisc ncias desse lugar s o amb guas um dia puderam escorregar de papel o nesse gramado brincadeiras pueris e despreocupadas outro dia compartilharam o medo e a inseguran a de ter a vida escorrendo pelas m os nesse mesmo gramado Cen rio que gerou transforma es fosse para quem partiu para quem chegou e at mesmo para aqueles que permaneceram Bambu e seu entorno n o seriam mais os mesmos em suas promessas amplas de desenvolvimento progresso e prosperidade O universo do Bambu principiava o esmaecer em suas vidas Perdeu o vi o que possu a poca do Bambu que ele estava se desfazendo Foi a parte que eu mais sofri D bora Desfizeram se sonhos desejos moradas fam lias trabalhos amizades etc Durante o tempo de Bambu a fam lia estava organizada ao redor do pai O trabalhador incans vel que chegava tarde muitas vezes mas que era esperado com ternura pela fam lia para fazer a refei o em grupo As crian as recolhidas para casa de banho tomado espera pa
485. unidades de sa de conselhos abrigos etc Condensam se com a fam lia as responsabilidades de diversas institui es respons veis pela socializa o de seus membros de inser o social e outros especialmente na viv ncia persistente do desemprego Todavia resta saber quais s o os efeitos dessas cobran as e concentra o de responsabilidades impostas na vida cotidiana familiar e suas conson ncias com a viv ncia da cidadania e do exerc cio efetivo da democracia Diante de um modelo ideol gico normatizador assinalados at aqui e de toda essa gama de pap is a ela incumbidos tem sido cara a responsabiliza o que a um s tempo pode ser reducionista e culpabilizadora especialmente pelo fracasso moral de seus membros MELLO 2002 Por fim essa discuss o pode assumir dire es distintas por remontar a um debate que est distante de se esgotar Enquanto isso podemos constatar que com o Estado m nimo e seu encolhimento aumentou a demanda sobre a fam lia e a comunidade por serem estas tanto redes de solidariedade e sociabilidade compensat rias quanto alvo para a amplia o e difus o de novas mercadorias Nesses termos as 111 rela es o corpo e o afeto tornam se alvo das estrat gias centrais do capital neoliberal ao mesmo passo que conferem resist ncia a ele SAWAIA 2010 3 2 2 Recuperando as temporalidades da fam lia na sociologia das aus ncias A fam lia n o algo novo se considerarmos a depend ncia
486. uo particular que temos diante de n s in til endere ar lhe um discurso abstrato de inf ncia TODOROV 1999 p 182 Restringir a esfera dom stico familiar ao g nero feminino conservar a tradicional separa o do dentro e fora do trabalho assentado nas diferen as de g neros o trabalho reprodutivo dom stico vinculado mulher e o trabalho produtivo remunerado relacionado ao homem Vimos esse quadro reiterado nas tr s fam lias mesmo a mulher exercendo uma profiss o fora de casa O trabalho produtivo elemento central e estruturante para a figura masculina e familiar enquanto para a mulher o trabalho dom stico e os cuidados com os filhos passam a ser sua principal responsabilidade Para os homens o trabalho reprodutivo pode assumir uma posi o de assess rio portanto desigualmente partilhado Permanece ainda a estrita divis o entre o casal naquilo que concerne ao cuidado com os filhos o que sugere poucas mudan as no modelo tradicional de fam lia e trabalho apesar de seus rearranjos Tamb m fez se claro que as diferentes inser es sociais dos homens e das mulheres nos universos dom stico e do trabalho determinam no es muito distintas do papel de cada um nestes espa os e naturalmente manejos do tempo e do espa o tamb m muito diferenciados CYRINO 2009 p 88 Os diferentes usos do tempo cotidiano e a forma de organizar a vida na esfera tanto do lazer quanto do trabalho dentro e fora de casa
487. urso Apreender e compreender o encadeamento dessas contradi es Fora da esteira de pensamento fordista do pensamento o pesquisador tem de se movimentar e correr riscos a fim de exp los em debates Versar sobre o tr nsito entre as reas H um trabalho desafiador de confrontar l gicas que antagonizam duelam e habitam a realidade PAGES 1990 2001 Reafirmamos que preciso superar uma abordagem positivista e idealista A primeira ing nua e toma ao p da letra o que se diz da realidade e n o considera os valores do indiv duo seu grupo e contexto A segunda solipsista porque tudo remete ao universo subjetivo e individual referenda apenas a l gica interna do discurso do indiv duo fechando se s suas percep es atitudes e imagin rios PAGES 1990 GAULEJAC 2001 2009 Reconhecida a realidade nesse campo epist mico desde seus prim rdios a caracter stica b sica que favoreceu o desenvolvimento da psicossociologia foi a interven o em institui es e as experi ncias e experimenta es de profissionais como Barus Michel Enriquez L vy Pag s Palmade Dubost e Rouchy A partir dessa bagagem tornou se poss vel sua consolida o e originalidade Perante isso alguns desdobramentos foram indel veis para o campo psicossociol gico a vincula o com a interven o o olhar cl nico seu car ter plural 136 sua dinamicidade a especificidade de seu objeto e a concep o de sujeito social Juntos possi
488. us familiares Com voc s al m de eu poder viver diversos arranjos afetivo e relacional experimentei o compartilhar do amor da mem ria da hist ria do pertencer caloroso e af vel Constru face a face parte significativa do meu horizonte e da narrativa de vida Junto a voc s experimentei os des encontros trabalho e fam lia buscando de modo incessante e aventureiro recriar a exist ncia Aos amigos Companheiros de des venturas transbordantes de afetos Rimos e choramos Confidenciamos Alardeamos Festamos Estudamos Trabalhamos Descansamos Por m jamais deixamos de sonhar Faculdade de Ci ncias e Letras UNESP campus Assis Docentes e funcion rios Ao vivenciar o exerc cio cient fico e a possibilidade de construir a partir dessa institui o fatia significativa da minha trajet ria enquanto profissional e pesquisadora pude ser auxiliada por voc s com gentileza e afabilidade em todos os momentos dessa caminhada Enfim manifesto minha gratid o queles que compartilharam generosamente seus horizontes e narrativas Deixo registrada aqui a dimens o coletiva que perpassou essa constru o as v rias vozes e saberes abertos aventura da fus o de horizontes e suas narrativas que insistem em n o finalizar O profissional da mem ria Passeando presente dela pelas ruas de Sevilha imaginou injetar se lembran as como vacina para quando fosse dali poder voltar a habit las uma e outras e duplamente
489. uta relativizando a ideia de cura ao instaurar uma tica em que o que conhecemos n o est dissociado de experi ncia relacional do sujeito da enuncia o Esse conhecimento nega a instrumentaliza o das pessoas e recusa toda posi o de domina o A cl nica vista por esse vi s pode ter redefinida a sua abrang ncia ao captar de modo articulado os fen menos sociais e subjetivos que tanto almeja a psicossociologia Num plano mais geral o ponto de vista cl nico permite apreender o conjunto desses processos como o lugar onde se efetua a conjun o entre a hist ria de grupos e de coletividades e a dos indiv duos que os constituem L VY 2001b p 14 Nesses termos enquanto cl nica do social essa abordagem permite compreender o sujeito ou um conjunto de sujeitos reunidos em um grupo ou organiza o e seus sofrimentos crises paradoxos tens es conflitos e impasses Ao problematizarmos a posi o do pesquisador interventor da abordagem cl nica seja sua escuta ou olhar entendamos que ambos se encontram vinculados estamos buscando explicitar n o apenas um conjunto de m todos e t cnicas a serem manejados mas um posicionamento tico e pol tico em rela o ao outro e seu saber Uma horizontalidade que permita uma fus o de horizontes e n o cortes ou sobreposi es de vis o de mundo e suas verdades A abordagem cl nica ao ser desenvolvida e ampliada tal como a terminologia clinos e clin men nos incita imp
490. venciar o desemprego e a desprote o social encontra se vulner vel ao perder direitos at ent o assegurados pelo Estado ou por empresas prestadoras de servi o a esses empreendimentos estatais Conforme a Organiza o Internacional do Trabalho OIT 2012 70 dos trabalhadores no mundo n o possuem seguro desemprego ou uma forma de assist ncia ao ficar sem o trabalho Esse n mero eleva se para 86 por n o incluir aqueles que n o contribu ram tempo suficiente para usufruir da seguridade social Para uma vis o mais ampla desse panorama dos 198 pa ses que a OIT acompanha e sobre os quais desenvolve estudos e pesquisas somente 72 pa ses sendo estes de m dia e alta renda possuem seguro desemprego Os dados mais pr ximos do Brasil concernem aos n meros da Am rica Latina sinalizando uma cobertura inferior a 40 Ou seja mais da metade desses pa ses est o desprotegidos de seguros sociais contra o desemprego Em n meros de pessoas isso significa que quase 35 milh es de pessoas que perderam o trabalho a partir de 2008 ficaram repentinamente sem a renda regular Os jovens s o dos mais afetados tanto pelo pouco tempo de contribui o 76 quanto pelas transforma es inerentes ao mercado de trabalho onde o acesso ao primeiro trabalho torna se cada vez mais rduo Isso melhor detect vel ao se verificar que dos 198 pa ses apenas 16 possuem seguro desemprego para jovens desempregados que est o em busca do seu primeiro
491. vidas na escola no hospital no supermercado no trabalho e nas demais rela es e institui es que fossem brasileiras A parte negativa essa No Paraguai n o tinha muita liberdade A gente morava ali A nica coisa que eu me lembro era o quintal da minha casa Alguma coisa um lugar tinha uma quadra de esportes a gente ia patinar as vezes quando tinha algu m para cuidar E o quintal da minha casa A gente n o podia brincar na rua com liberdade N o podia n o usava m dico do Paraguai n o usava mercado nada do Paraguai A gente s morava ali O restante a gente morava no Brasil estudava no Brasil Ia ao m dico no Brasil Qualquer coisa que precisava ia ao Paran e n o no Paraguai Raquel inser o nossa Interessante notar que as pr prias crian as paraguaias que estudavam na escola paga pelo Bambu no Paran conversavam prioritariamente em portugu s sendo esta tamb m a l ngua de escolariza o Essa viv ncia em partes fez com que experimentassem tamb m parcelas de proximidade com o idioma a cultura e a sociabilidade desse povo Fronteiras demarcadas pelas institui es que Bambu disp s aos seus trabalhadores e familiares gerando aproxima o e distanciamento E uma parte dessa coisa de ser uma usina na fronteira porque eu fiz muitos amigos paraguaios No meu recreio por exemplo eu fazia 198 muita amizade e passava com alguns paraguaios No segundo grau por exemplo eu tenho amigos at
492. virem e serem recebidas no mundo conferindo voz e desvelando outras vers es da realidade 286 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS AGAMBEN G O que o contempor neo E outros ensaios Chapec SC Argos 2009 AGUDELO H Globaliza o mercado de trabalho e flexibiliza o da legisla o trabalhista no Brasil In PRIORI A Org O mundo do trabalho e a pol tica ensaios interdisciplinares Maring EDUEM 2000 ALBAGLI S Territ rio e territorialidade In LAGES V BRAGA C MORELLI G Org Territ rios em movimento cultura e identidade como estrat gia de inser o competitiva Rio de Janeiro Relume Dumar Bras lia SEBRAE 2004 ALVES A D JUSTO J S Hist rias de Pescadores estudo com ribeirinhos desalojados por uma hidrel trica Psicologia Pol tica v 11 n 22 p 309 328 2011 ALVES G Trabalho e subjetividade o esp rito do toyotismo na era do capitalismo manipulat rio S o Paulo Boitempo 2011 Dimens es da precariza o do trabalho Ensaios de Sociologia do Trabalho Bauru Canal 6 2013 ANDERSON P et al A trama do neoliberalismo Mercado crise e exclus o social In SADER E GENTILI P Orgs P s neoliberalismo as pol ticas sociais e o Estado Rio de Janeiro Paz e Terra 1995 ANDERSON P Balan o do neoliberalismo In SADER E GENTILI P Orgs P s neoliberalismo as pol ticas sociais e o Estado Rio de Janeiro Paz e Terra 1995 ANEEL Ag ncia N
493. vy 2001b apresenta ao posicion lo como o agente instigador da compreens o e n o como um mero pesquisador cuja pretens o centra se no uso utilit rio do material por exemplo o trabalho de classifica o das informa es e publica o para fins pr prios Caminho poss vel com o redimensionar do m todo capaz de viabilizar pesquisa e interven o ao mesmo tempo tanto por aquilo que ele convida quanto por aquilo que provoca no outro Lembremo nos de que a narrativa ao conjugar temporalidades abre se para o c trabalho de historicidade que pode ser entendido como uma atividade ps quica que mobiliza a reflex o sobre o passado criando formas de autonomia sobre o presente e antecipa es do futuro CARRETEIRO 2009 p 139 Isso desemboca na possibilidade de um reapoderamento da hist ria segundo Carreteiro 2009 p 139 De que forma isso acontece Ao retornar s experi ncias vividas mediante lembran as recorda es e reminisc ncias poss vel reviv las de maneira a produzir ressignifica es Ressignificar atribuir novos sentidos e significados exist ncia a partir do passado o qual traz consigo elementos do vivido para assumir de outra forma o presente e poder projetar em outros termos o futuro Essa concep o adv m de Gaulejac 2009 ao apresentar o relato de vida como um instrumento de historicidade O ato narrativo permite ao sujeito trabalhar sua vida isso em vista buscamos nesta pesqui
494. ximidade de outrora se dava atrav s de filmes educativos sobre a obra transmitidos no col gio at os passeios e visitas hidrel trica em constru o Ap s isso Bambu para eles tornou se um ponto tur stico Um cen rio de quem esteve t o pr ximo em suas imedia es passou a ser um lugar estranhado cujo passe de entrada seria um bilhete a ser pago na condi o de visitante Um imponente empreendimento ent o aberto aos olhos do p blico e dos estrangeiros quase estranho para quem um dia fez parte desse lugar Raquel narra esse processo de constru o do qual o pai participou com o de desligamento finaliza o da obra e terceiriza es Do grande contingente de trabalhadores mobilizado para esse empreendimento restou apenas o da manuten o e opera o uma equipe enxuta Aproximando se do final da entrevista narrativa a fala de Raquel exala mais uma vez o paradoxo encerrado nesse universo onde fica uma deixa Mas o Bambu muito bonito para quem gosta de arquitetura e engenharia e tal Fica impressionad ssimo Fica com vontade de chorar porque realmente muito perfeito E para mim legal Quero ir l visitar Eu preciso me libertar disso s rio Preciso me libertar dessa m goa do Bambu Sabe aquela coisa dentro de voc imposs vel em qualquer pessoa qualquer ser humano qualquer filho que teve um pai que trabalhou no Bambu pisar l e n o pensar meu Deus Meu pai ajudou a construir isso aqui Te
495. xpressivas dessa rela o conflitante 1 tentar apreender obter conquistar e 2 tomar pegar apoderar se conter conceber Defini es muito pr ximas de capturar a o de apanhar colher prender Isso nos fez questionar de modo constante nosso lugar enquanto pesquisador buscando fazer um exerc cio de criticidade de nosso intento diante do sujeito participante 165 Barthes 2003 idiorr tmico Considerando o tempo heterorr tmico ritmo imposto por outrem na cad ncia narrativa podemos verificar a explos o do continuum da hist ria e da linearidade temporal para ceder a uma temporalidade que seja significativa Isto encontrar nela o triplo presente que habitamos capaz de tornar o tempo humano por meio da narratividade o tempo torna se humano na medida em que est articulado de modo narrativo e a narrativa alcan a sua significa o plen ria quando se torna uma condi o da exist ncia temporal RICOEUR 2010 p 93 Essas s o as evid ncias do memor vel porque n o se referem a um tempo vazio e homog neo mas a um movimento de retorno a um tempo de agoras estabelecidos e a se estabelecer Partindo disso a narra o expressa um teor insurgente quando emergem dela a voz e a linguagem de um sujeito de conhecimento hist rico carregado de agoras que constituem sua exist ncia Um ato narrativo que visa recuperar a experi ncia o vivido de modo a denunciar a heterorritmia imposta por u
496. za sua condi o de trabalho nessa conjuntura Eu trabalhava na construtora no entorno N o era no Bambu n o Trabalhava na construtora Acabou a obra acabou a empresa tamb m A eu sa Jonas Ao observarmos os picos de m o de obra das empresas fosse a estatal ou das empreiteiras que a ela prestavam servi o vimos um n mero flutuante especialmente as que possu am v nculos de trabalho mais inst veis com as empreiteiras Com isso iniciou se um ciclo de utiliza o da for a de trabalho em etapas espec ficas da edifica o mediante processos de admiss o e demiss o conforme as demandas das frentes de trabalho e das exig ncias deste Com o passar do tempo a especializa o adquirida durante as obras e a forma o de um contingente voltado para a constru o vislumbramos as novas obras como um reservat rio de m o de obra barrageira podendo absorver parte desse pessoal conforme o porte e as firmas contratadoras Froelich 2001 aponta a impossibilidade de absor o de todo o contingente ap s o t rmino da obra Para muitas fun es especialmente as que estavam envolvidas com a constru o restavam a expectativa de integrar novos projetos em outros locais ou a busca de outros postos de trabalho em atividades distintas s de barrageiro Nesses termos a dist ncia torna se in suport vel mediante o projeto pessoal que se constr i por meio do trabalho e daquilo que este pode oferecer em termos materiais e de reconheci
497. zado at aqui Posto isso sagaz a express o de Barthes 2003 4 Barthes 2003 menciona esse termo que pode nos auxiliar a pensar a singularidade e a subjetividade Na etimologia idiorritmia formado a partir do grego e significa ritmo pr prio particular Originalmente faz men o a um aglomerado de monges que viviam um g nero de vida particular Diferenciado do das comunidades cenob ticas onde tudo era feito junto vivia se o pr prio ritmo ao escolher o momento de fazer suas refei es ora es e atividades lit rgicas pass veis de serem realizadas em per odos facultativos al m da exist ncia de celas separadas 104 da heterorritmia entendida aqui como uma sutileza do poder econ mico hegem nico ao perpassar a idiorritmia desejos e vontades e gerar a disritmia Toda uma manobra de controle realizada pois a atividade idiorr tmica considerada uma marginalidade perigosa resistente integra o e compactua o com a estrutura dominante Simmel 2005 continua a nos incitar a pensar nosso objeto nessa perspectiva com a sua categ rica afirmativa acerca do desencontro entre sujeito e trabalho Sua proposi o expressa as consequ ncias da divis o social do trabalho e do desenlace social operados pelo capital a partir do projeto da modernidade o que des gua em uma realiza o ex gua e subjugadora da subjetividade o indiv duo est cada vez mais incapacitado a se sobrepor cultura objetiva

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