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Trabalho Completo

1. eu concordo humilhante Mas talvez seja um bom ponto para come ar de novo Talvez seja isso que eu tenha de aprender a aceitar Come ar do nada Com nada N o com nada mas Com nada Sem cartas sem armas sem propriedade sem direitos sem dignidade Feito um cachorro E feito um cachorro COETZEE 2011 p 239 186 Esses carneiros diz n o acha que podiam ficar amarrados em algum lugar onde possam pastar Sao para a festa Petrus diz S bado vou matar os dois para a festa Voc e Lucy v m tamb m Obrigado Mas mesmo sendo para a festa n o acha que os carneiros podiam pastar COETZEE 2011 p 145 146 187 destinados desde o nascimento faca do a ougueiro Bom nada de mais nisso Ha quanto tempo os carneiros n o morrem de velhice Carneiros n o s o donos de si mesmos n o s o donos da pr pria vida Existem para ser usados at a ltima gota a carne comida os ossos moidos e dados s galinhas N o sobra nada a n o ser talvez a ves cula biliar que ningu m come Descartes devia ter pensado nisso A alma 113 Assim como um dia ele reafirmara a si pr prio a respeito de Melanie justificando sua atitude para com ela She does not own herself Beauty does not own herself 1999 p 16 Lurie procura desembara ar se da compaix o que o destino dos carneiros lhe inspira repetindo que eles n o existem para si pr prios Mas a partir do momento
2. 1999 p 146 Na tentativa de explicar a Lucy porque n o pode nem quer mudar Lurie relembra o caso de um c o pertencente a vizinhos da fam lia anos atr s O animal ficava inquieto quando havia uma f mea na vizinhan a e era surrado por causa disso resultando em que ele pr prio se punia a cada vez que sentia o cheiro de uma cadela There was something s 22 Ent o diz Isaacs suavemente e as palavras saem de sua boca como um suspiro assim que caem os poderosos Cair sem d vida houve uma queda Mas poderosos Ser que poderoso se aplica a ele Ele se considera obscuro cada vez mais obscuro COETZEE 2011 p 197 222 institui o de ensino transformada e em sua opini o emasculada COETZEE 2011 p 11 223 A verdade que queriam me castrar COETZEE 2011 p 81 224 Contanto que n o tenha que me transformar numa pessoa melhor COETZEE 2011 p 94 225 Ele preserva a honra de cad veres porque nenhum outro idiota se disp e a fazer isso Isso o que est virando idiota maluco miolo mole COETZEE 2011 p 204 N E 121 ignoble in the spectacle that I despaired No animal will accept the justice of being punished for following its instincts 2 28 1999 p 90 No conflito entre manter se fiel ao que considera ser sua natureza e a necessidade de adaptar se ou ser reduzido a um p ria Lurie entrega se a uma sucess o de atos de contri o
3. A mulher arrasta o bode doente porta afora enquanto Bev chorosa explica a Lurie It s their animal they like to slaughter in their way 1999 p 82 83 Quando Bev menciona a droga utilizada para a eutan sia lethal Lurie n o resiste a buscar uma compara o no mito Sudden darkness from the waters of Lethe 2 1999 p 83 E diante da tristeza da amiga por n o ter conseguido pelo menos abreviar a agonia do bode argumenta This is Africa after all There have been goats here since the beginning of the time They don t have to be told what steel is for and fire They know how death comes to a goat 1999 p 83 84 A morte mais que a vida o tema da cl nica logo percebe Lurie Os c es abandonados sem lugar no mundo ou chance de recome o s o eutanasiados por Bev uma vez por semana que encontra consolo em tornar lhes a passagem mais suave cercada de carinho Ap s observar os animais que devem morrer numa poss vel associa o de ideias Lurie pergunta Do you know why my daughter sent me to you 1999 p 85 Ao final do dia Lurie est impressionado Por m traduz sua admira o em termos pouco lisonjeiros Bev Shaw not a veterinarian but a priestess full of New Age mumbo 158 O senhor transmite algo positivo D para perceber que gosta de animais Eu gosto de animais Eu como animais logo devo gostar deles sim de algumas partes deles COETZEE 2011 p 99 159 Moeda corren
4. COETZEE 2011 p 205 122 roupas e todas as suas fitas e discos foram levados o que o faz imaginar Who is at this moment wearing his shoes Have Beethoven and Jan cek found homes for themselves or have they been tossed out on the rubbish heap Mas sobretudo um achado inesperado remete s met foras animais arquet picas e estabelece perfeito contraponto com atmosfera inicial da narrativa From the bathroom comes a bad smell A pidgeon trapped in the house has spired in the basin Gingerly he lifts the mess of bones and feathers into a plastic and ties it shut 2 1999 p 176 A met fora do pombo morto representa a morte do lirismo no universo de Lurie fato a que ele se referiria diretamente de volta ao campo divide seu tempo entre os animais e a composi o de uma pera sobre a vida de Byron e sua amante Teresa obra que acalentava como uma reviravolta triunfante da sua trajet ria decadente mas que n o evolui e ele constata que the lyric impulse in him may not be dead but after decades of starvation it can crawl forth from its cave only pinched stunted deformed 1999 p 214 Novamente a met fora do p ssaro como cone n o apenas po tico mas da pr pria po tica evocada quando desistindo de mais essa ilus o ele afirma His hopes must be more temperate that somewhere from amidst the welter of sound there will dart up like a bird a single authentic note of immortal longing 1999 p
5. cintilam aqui e ali no texto do hor rio pol tico das novelas da Globo nos notici rios de m dia hegem nica O descompasso acontece quando percebemos que esse vira lata desejado do grande p blico n o se refere ao vira lata real ao bicho abandonado que vaga pelas ruas mas a um vira lata estere tipo companheiro ideal de crian as meigas num universo de sess o da tarde Assim vai se recuperando a imagem rom ntica do vira lata idealizado do vira lata padr o do vira lata de Chaplin no filme O Vagabundo onde ali s a presen a do vira lata o 20 elemento que confere ao personagem t tulo sua vincula o com o universo dos exclu dos do vira lata da Disney no desenho animado 4 Dama e o Vagabundo novamente a cadelinha de ra a comparada ao vira latas configurando uma narrativa onde a estratifica o social representada enfim do vira lata com um valor agregado Ele referencial para quem o possui num processo em tudo an logo posse do c o de ra a ainda que ligado a diferentes valores Esse vira lata n o magro nem doente Ele independente carism tico um indiv duo proativo e assertivo que se fosse humano venceria no mundo das corpora es Ele quase uma met fora do neoliberalismo Quem tem um c o de ra a ainda sente se poderoso e ou sofisticado mas quem tem um vira lata hoje poderia ser associado a algu m irreverente levemente blas p s moderno pois despreza a configura o de eli
6. da forma como eu entendia bichinho muita coisa estava faltando Ele n o se movia n o manifestava vontade e autonomia como os gatos de rua cujas aten es eu perseguia Era na verdade uma representa o manifestando por assim dizer uma intertextualidade perversa entre o que fora o animal vivo e sua explora o simb lica viva a raposa era uma raposa morta e forrada de pano despersonalizada ilustrava a forma como nossa civiliza o se relaciona com os animais n o humanos Sua reconstitui o num objeto que aludia realisticamente ao que ela fora em vida rabo e focinho patas e olhos tinha algo de totem algo de trof u tinha algo de delimita o e reafirma o da identidade de quem a porta enrolada no pesco o Poucos param para pensar que a pele de seus sapatos novos de couro talvez h apenas um m s integrava um organismo que tinha desejos expectativas sensa es O couro do sapato j transmitiu o calor do sol e a brisa da manh ele sentiu o toque amistoso de um companheiro de boiada sentiu a agulhada do arame farpado Sentiu a marreta do carrasco no matadouro Mas a mat ria morta dos sapatos n o uma representa o realista do ser senciente que um dia integrou e f cil abstrair Bem diferente da raposa empalhada Essa tem uma fun o metaf rica em tudo descolada de sua fun o aparente pretenso agasalho contra o frio Por essa raz o entendo que a met fora animal seus usos e a pr pr
7. esp cie humana Cada esp cie animal tem os h bitos de higiene relativos s suas necessidades morfologia e habitat No caso do porco indo al m not rio que a predile o humana por sua domestica o vem do fato de que poss vel aliment lo com restos e mant lo em espa os restritos com pouca ou nenhuma higieniza o mas essa circunst ncia nada tem a ver com os h bitos da pr pria esp cie que como a maioria dos mam feros prefere espa os distintos para realizar atividades de alimenta o repouso e excre o O porco sujo uma constru o da esp cie humana que o utiliza simbolicamente para designar sujeira O mesmo acontece com rela o aos atributos morais Gato tornou se sin nimo de ladr o Mas propriedade privada e consequentemente roubo s o conceitos que inexistem na natureza muito menos na esp cie felina Referem se exclusivamente sociedade humana 12 Ja Paul Ricoeur nos diz que aos olhos de Arist teles a aus ncia do termo de compara o na met fora n o implica que a met fora seja uma compara o abreviada como se dir a partir de Quintiliano mas ao contr rio que a compara o uma met fora desenvolvida 2000 p 46 25 Esta constata o pode n o ser t o evidente em outros casos a esperteza do macaco a coragem do tigre a meiguice do coelho mas ainda poss vel Certamente o uso da met fora animal confere intensidade a uma afirma o Qualquer u
8. novo hamster em qualquer pet shop por uns U 3 FRANCIONE 2013 p 282 Ela pode esperar pelo doutor Oosthuizen na quinta feira mas o coitado vai ficar est ril de qualquer jeito e ser que ela vai querer isso E tem a quest o do antibi tico Ser que tem condi es de gastar com antibi tico COETZEE 2011 p 100 262 Eu enterro os cachorros se me disser onde ele oferece O que vai dizer para os donos Vou dizer a verdade O seguro cobre isso N o sei N o sei se existe cobertura de seguro para massacre COETZEE 2011 p 131 263 Conversar com Petrus como socar um saco cheio de areia COETZEE 2011 p 180 264 Mas o seguro vai dar um carro novo para voc COETZEE 2011 p 162 26 137 dos animais vale menos do que a de seres humanos que sustenta a frui o de algumas das tiras de 4 gata Figura 3 12 A gata publicada em 02 07 2013 LAERTE 2013 p 7 Nessa tira uma leitura poss vel que o texto produz comicidade ao transpor um crime menor o assassinato de um animal para um contexto institucional que denota a gravidade que seria atribu da um crime maior o atentado vida humana O mesmo vale para a cena do reconhecimento dos suspeitos que estabelece uma intertextualidade com a dramaturgia cinematogr fica do g nero policial Protegidos por uma parede espelhada a v tima e seu tutor tentam identificar os criminosos
9. o enquanto animais de estima o Em nossa opini o o conto ilustra o momento de transi o paradigm tica nas representa es das rela es entre animais humanos e n o humanos Se por um lado h como j mencionamos uma verdadeira intera o afetiva emp tica entre a narradora e a sagui Lisette o outro animal representado alvo de completo descaso quanto s suas necessidades enquanto ser senciente e fragilizado pela inser o for ada na sociedade humana O primeiro macaco descartado sem considera es quanto ao seu bem estar ou seguran a n o sem um esfor o admitido pela autora por sublimar seu senso de responsabilidade A inconsci ncia feliz e imunda do macac o pequeno tornava me respons vel pelo seu destino j que ele pr prio n o aceitava culpas Uma amiga entendeu de que amargura era feita a minha aceita o de que crimes se alimentava meu ar sonhador e rudemente me salvou meninos do morro apareceram numa zoada feliz levaram o homem que ria e no desvitalizado Ano Novo eu pelo menos ganhei uma casa sem macaco 1977 p 45 39 As qualidades contradit rias que emanam dos textos citados reproduzem segundo entendemos a mesma inquieta o que caracteriza neste est gio da p s modernidade a percep o sobre a alteridade animal e as implica es pr ticas morais e ticas da quest o A manifesta o dessa inquieta o atrav s da investiga o na rea das ci ncias humanas vem sendo den
10. 20 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1993 BARTHES R The pleasure of the text New York Hill amp Wang 1975 O rumor da lingua 2 ed S o Paulo Martins Fontes 2004 La aventura semiol gica 2 ed Barcelona Buenos Aires M xico PAIDOS 1993 BEAUCHAMP Tom L CHILDRESS James F Princ pios de tica biom dica S o Paulo Loyola 2002 BENTHAM J An introduction to the principles of morals and legislation S 1 White Dog Publishing 2010 BERGER J About looking London Bloomsbury 2009 BLANCO R A A metafora em Paul Ricoeur Tresando 2011 s p Disponivel em http tresando com 201 1 02 24 a metafora em paul ricouer 150 BORGES J L Arte po tica Barcelona Editorial Cr tica 2001a Historia da eternidade Sao Paulo Globo 2001b CANDIDO A Literatura e sociedade 5 ed S o Paulo Editora Nacional 1976 CARDOSO C F Hist ria e paradigmas rivais Dominios da hist ria ensaios de teoria e me todologia Rio de Janeiro Campus 1997 CARNEIRO L Da S RODRIGUES M F Tenta o o reflexo do eu na diferen a do ou tro Revista do Gelne s d Dispon vel em lt http www gelne org br Site arquivostrab 366 ARTIGO GELNE 2012 pdf gt Acesso em 11 mar 2014 CASTRO A Teorias do jornalismo universidade e profissionaliza o Biblioteca Online de Ci ncias da Comunica o 2013 Dispon vel em lt http www bocc ubi pt pag castro alexan dre 2013 teorias jornalis
11. 214 Uma va tentativa de amarrar esses dois mundos o olimpo l rico que ele desejaria habitar e o breathing world o mundo dos seres respirantes onde ele sabe agora de fato habita delineia se quando apega se a um dos c es It is a young male with a withered left hindquarter which it drags behind it Whether it was born like that he does not know No visitor has shown an interest in adopting it Its period of grace is almost over soon it will have to submit to hte needle Sometimes while he is reading or writing he releases it from the pen and lets it frisk in its grotesque way around the yard or snooze at his feet It is not his in any sense he has been careful not to give it a name though Bev Shaw refers to it as Driepoot nevertheless he is sensible of a generous affection streaming out toward him from the dog Arbitrarily unconditionally he has been adopted the dog would die for him he knows The dog is fascinated by the sound of the banjo When 234 Wearing other person s shoes uma express o metaf rica da l ngua inglesa que expressa a ideia de empatia de colocar se no lugar do outro 235 Quem estar neste momento cal ando seus sapatos Ser que Beethoven e Jan cek encontraram um lar ou ter o sido jogados no monte de lixo COETZEE 2011 p 207 236 Do banheiro vem um mau cheiro Um pombo preso na casa morreu dentro da pia Cuidadosamente ele levanta a massa de ossos e penas
12. 22 07 2013 p 9 PRIMEIRA caca QUE EU ENTRECAR JOGO 01 08 2013 Dispon vel em http manualdominotauro blogspot com br search label gata S p 160 Anexo B Autoriza o de Laerte Coutinho para reprodu o das tiras o Da Li ge Copstein lt liegecopstein gmail com gt autoriza o 1 mensagem Laerte Coutinho lt laert uol com br gt 29 de agosto de 2014 21 45 Para liegecopstein gmail com Autorizo a reprodu o da s rie de tiras A gata originalmente publicada no jornal Folha de S o Paulo como objeto de an lise da disserta o O avesso da met fora uma perspectiva antiespecista sobre A gata de Laerte Coutinho e Disgrace de J M Coetzee produzida por Li ge Copstein para o Mestrado em Letras Literatura Comparada da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Miss es URI FW Laerte Coutinho 161 Anexo C Reprodu es das ilustra es de The Oatmeal How see my Friendbeast vy The Dog Primary occupation Secondary occupation When excited jump up and head utt TN the Friendbeast in the skull The FRiendbeast speaks mostly givverish Minot concussions love W You must listen carefully to decipher his two Word vocaioulary C BlookitysloaKolaptlahwoop His nose is for decorative TREATS vleeksplapvoowfds purposes only it can t actually vlag gloo POTTY OUTSIDE vlergityvoopthptulehgrmpt You can telepathically communicate with the Frienddeast vy x s
13. Lucy Por ter sido um dos dois mortais encarregados de trazer voc ao mundo e por n o ter sido um guia melhor Mar eu vou ajudar Bev Shaw sim COETZEE 2011 p 96 157 Pense em coisas tranquilas em coisas fortes Eles farejam o que a gente pensa Eles farejam o que a gente pensa que besteira COETZEE 2011 p 98 99 106 dizendo You have a good presence I sense that you like animals ele retruca Do I like animals I eat them so I suppose I must like them some parts of them 1999 p 81 A inutilidade dos esfor os da protetora diante do peso da cultura local e do direito de propriedade sobre os animais por m remetem a uma l gica antropoc ntrica Um bode ferido por c es nos test culos trazido consulta e v rias considera es se sobrep em aos esfor os para cur lo nenhuma delas se referindo aos seus interesses enquanto sujeito um efeito colateral do tratamento ser a esterilidade do animal que n o servir mais como reprodutor o pre o dos antibi ticos n o vale a pena para a propriet ria que decide ent o lev lo e abat lo ela pr pria recusando a morte indolor que Bev oferece O di logo entre as duas como uma conversa de surdos d conta da impermeabilidade entre os discursos You should have brought him in long ago she says to the woman Yes says the woman Every night the dogs come It is too too bad Five rand you pay for a man like him
14. O olhar antiespecista mais ing nuo desejaria ler no romance uma f bula de justi a e reden o ao deixar para tr s seu universo iluminista ao ser exposto s alteridades extremas dos seres n o humanos o protagonista sofreria um processo de sensibiliza o emp tica e cessaria sua queda Mas essa seria uma solu o decepcionante Na verdade ao denunciar o relativismo da p s modernidade que a trama de fato promove o giro animal definido por Yelin como a desconstru o das met foras institu das 2012 p 1 E a emerg ncia de uma tica universal como nica possibilidade de civiliza es ou civiliza es esta sim uma coloca o que se alinha aos pressupostos do antiespecismo Se quisermos 147 Por m a literatura est nos olhos de quem l As tentativas de dissecar o corpus liter rio no af de desvend lo revelaram se insuficientes t o insuficientes quanto sua contrapartida dial tica a abordagem estritamente sociol gica nossa convic o de que o fen meno da produ o da literariedade acontece de fato apenas em sua dimens o hermen utica produz se apenas no ntimo do leitor Assim tamb m a leitura da met fora o primordial signo mim tico de Arist teles tamb m est nos olhos nos olhos da alma que met fora de quem a l Poder amos dizer que os c es em Disgrace desempenham fun o meramente anal gica dentro da narrativa objeto das proje es de Lurie a respeito de suas pr prias
15. ao afirmar Enfim o que seria mesmo a Humanidade sem os significados que ela erigiu O que mesmo o g nero humano sem as rela es que construiu e o diferenciam da animalidade pura ou do ente gen rico Natureza O que mesmo o homem sem a Raz o que possibilitou a emo o os sentimentos as paix es a no o mesmo de exist ncia KARAM 1997 p 93 42 Notar aqui a exclus o da possibilidade da senci ncia nos animais n o humanos 71 O potencial cr tico e autocr tico est presente no jornal mas n o t o estrutural nem t o prevalente como quer se supor O jornal obedece a condicionamentos de agenda que engessam aqui e ali seu fluxo informativo e portanto n o devemos procur lo apenas no espa o mais bvio das not cias tradicionais Se para Sousa not cia o produto da intera o hist rica e presente sincr tica de for as pessoais sociais organizacionais e extraorganizacionais ideol gicas culturais hist ricas dos meios f sicos e dos dispositivos tecnol gicos que interv m na sua produ o e atrav s dos quais difundidas 2005 p 76 ser que esse conceito n o aplic vel num sentido absolutamente amplo a qualquer narrativa N o seria a tira capaz de trazer not cias do que se est pensando do que se est fazendo do que est acontecendo na sociedade inclusive contemplando a factualidade que um dos atributos da pr pria not cia e quem sabe adiantando se aos mod
16. coloca dentro de um saco pl stico e amarra a boca COETZEE 2011 p 207 He stood a stranger in this breathing world Primeira estrofe do poema narrativa de Byron lido por Lurie numa de suas aulas 238 Sua esperan a deve ser mais moderada de que de algum lugar em meio quela massa de som brote como um p ssaro uma nica nota aut ntica de desejo imortal COETZEE 2011 p 250 239 mundo respirante COETZEE 2011 p 42 240 Sempre o uso do pronome pessoal it utilizado para animais como coisas 23 123 he hums Teresa s line and the humming begins to swell with feeling it is as though his larynx thickens he can feel the hammer of blood in his throat the dog smacks its lips and seems on the point of singing too or howling Would he dare to do that bring a dog into the piece allow it to loose its own lament to the heavens between the strophes of lovelorn Teresa s Why not Surely in a work that will never be performed all things are permitted 1999 p 215 Lurie retoma o papel de psicopompo com verdadeira entrega Se de inicio nao acreditava que animais tivessem algum tipo de intelig ncia pudessem ser donos da propria vida ou lamentar sua sorte agora cr at mesmo na exist ncia de suas almas e imagina como eles antecipam e temem o desenlace da mat ria Something happens in this room something unmentionable here the soul is yanked out of the body briefly it hangs about
17. delusional and incoherent way I am certainly not saying that those who suffer from clinical schizophrenia are immoral 122 N s humanos realmente sofremos de esquizofrenia moral na forma com pensamos sobre os n o humanos Tratamos alguns n o humanos como pessoas como membros da nossa fam lia tratamos alguns como coisas que n s comemos ou usamos de outras formas Tradu o minha 99 a filha ela trabalha e produz no campo como os antigos coloniais uma boervrouw Ela fuma maconha e mant m rela es homoafetivas t o diferente de uma boervrou J com rela o ao c es como vimos a categoriza o evidente Mas se a maioria dos h spedes de Lucy s o watchdogs c es de guarda e portanto c es de trabalho h espa o ali tamb m para um olhar mais sens vel sobre alguns deles Como que contaminado por aquele novo contexto o pr prio Lurie embora levado por uma certa condescend ncia bem humorada que oportuniza o relato sobre o drama uma cadela Katy que em gritante contraste com os animais figura dos cap tulos anteriores tem um nome uma hist ria e at sentimentos Ele pergunta Don t the dogs get bored He points to one a tan coloured bulldog bitch with a cage to herself who head on paws watches them morosely not even bothering to get up Katy She s abandoned The owners have done a bunk Account unpaid for months I don t know what I m going to do about
18. duos do status de sujeitos de direito evidencia que na pr tica a esp cie e n o a racionalidade o crit rio discriminat rio Apenas no in cio do s culo XIX como um desdobramento dos movimentos contra a escravatura e sufragista feminismo surgiram tamb m as primeiras organiza es de prote o aos animais Elas baseavam se no princ pio da compaix o e n o da igualdade de direitos e inspiravam se na obra Principles of Morals and Legislation 1780 do fil sofo ingl s Jeremy Bentham um dos precursores do utilitarismo doutrina tica que postula basear nosso comportamento social na maximiza o do bem comum Esse pensamento propiciou a consolida o da tica bem estarista no trato aos animais que na vis o dos cr ticos contempor neos do especismo n o contribui para avan ar a quest o dos seus direitos O bem estarismo prop e diminuir o sofrimento dos animais escravizados sem reconhec los necessariamente como sujeitos da pr pria vida Por exemplo desde que vivam uma exist ncia confort vel e sejam abatidos sem dor ou estresse os bem estaristas admitem a produ o de animais para consumo alimentar humano Em meados da d cada de 1970 a quest o dos direitos animais ganhou relev ncia acad mica evento marcado pela publica o de Liberta o Animal pelo fil sofo australiano Peter Singer Ele sistematizou pela primeira vez a ideologia da causa animal partindo das justificativas ticas inserindo levantamentos emp
19. ent o acontece quando um texto liter rio de alguma forma apresenta o chamado mundo s avessas ou seja uma invers o cr tica e ou sat rica das formas tradicionais do poder estabelecido e da organiza o sociopol tica da sociedade BAKTIN apud SILVA M C 2009 p 83 75 Indeed there is little that is funny about this comic book More encompassing carnivalesque yet still gallows humor comes from the scandalous premise of presenting Auschwitz and its aftermath in the comic book genre thus in some sense bringing what is imposingly high to the level of the putatively low genre without implying disrespect 1998 p 143 Poder se ia argumentar que tal aprofundamento reflexivo ainda que em quadrinhos s poss vel numa obra de grande extens o como Maus dois volumes de 300 paginas no total e que o espa o da tira de jornal seria insuficiente para resultado equivalente em termos de literariedade As tiras s o compostas em geral por n o mais que quatro quadrinhos de desenhos sequenciados muitas delas atualmente por apenas um descrevendo uma narrativa linear Conjuntos de tiras do mesmo tema e personagem podem produzir uma narrativa maior como o caso do pr prio objeto de nossa pesquisa mas condi o essencial para cada tira caracterizar se como tal que ela possa produzir sentido aut nomo independente de narrativa maior em que se insira ou n o Ora relacionar em propor o direta o poten
20. guas em linha reta e atravessara quatro rios a nado o pr prio pai dele tivera um c ozinho que ao fim de doze anos de aus ncia lhe saltara bruscamente s costas certa noite na rua quando ele ia jantar FLAUBERT 1971 p 64 128 pessoas ainda que tratam os delas mal Nos Estados Unidos a maioria dos cachorros n o vive sequer dois anos em um lar e j largada em um abrigo ou passada para outro dono mais de 70 das pessoas que adotam animais acabam dando os para algu m levando os para abrigos ou abandonando os Pode ser que voc trate seu companheiro animal como um membro de sua fam lia e efetivamente lhe atribua valor inerente ou o direito b sico de n o ser tratado como recurso Mas esse tratamento que voc lhe d significa na realidade que voc considera que sua propriedade animal tem um valor mais alto do que o valor de mercado e se voc mudar de ideia e espancar seu cachorro diariamente com o prop sito de disciplin lo ou se n o alimentar seu gato para que ele fique mais motivado a ca ar os ratos do por o da sua loja ou se matar seu animal porque n o quer mais ter despesa com ele sua decis o ser protegida pela lei 2013 p 281 Se a inven o do animal de estima o est ligada ao fen meno da urbaniza o a tira e todas as diversifica es do comics que vieram a partir dela tamb m teve seu surgimento ligado ao contexto da industrializa o da consolida o do modo de vida urbano co
21. he she and who to refer to animals instead of the outdated and CEPE 6 aye 1l inaccurate it and which Won t you consider making this transition as well HOORAY s d Esse fato demonstra a apreens o por parte dos movimentos antiespecistas do conceito descrito por Roland Barthes ao afirmar que uma lingua se define n o pelo que permite dizer mas pelo que obriga a dizer da mesma forma todo socioleto comporta rubricas obrigat rias grandes formas estereotipadas fora das quais a clientela do socioleto n o pode falar n o pode pensar 2004 p 131 A pr tica da ret rica mat ria prima de todos os discursos sejam eles encr ticos ou hegem nicos ou acr ticos fora do poder O pensamento antiespecista como afirma Barthes sobre a linguagem acr tica utiliza se de linguagens que se elaboram se buscam se armam fora do Poder e ou contra ele Da o esfor o ativo pela desconstru o de f rmulas consagradas na linguagem hegem nica J o pensamento especista o que reproduz a ideologia do poder da esp cie humana sobre as demais a pr pria linguagem encr tica tendo estado desde sempre sombra do poder Sobre esta afirma Barthes A linguagem encr tica sustentada pelo Estado est por toda a parte um discurso difuso disseminado e por assim dizer osm tico que impregna as trocas os ritos sociais os lazeres o campo s cio s
22. n o J o Argumento da Expans o de fundo pragm tico pleiteia que se principiarmos por incluir mais e mais categorias de seres na comunidade moral isso resultaria na impossibilidade da sobreviv ncia humana visto que n o poder amos nos alimentar sequer de vegetais e no fim nem mesmo remover as pedras do caminho De fato quanto mais se amplia o c rculo dos sujeitos de direito mais concess es nos vemos obrigados a fazer com rela o ao nosso bem estar individual ou como coletividade Mas pode se propor neste caso a aplica o da regra utilitarista do mal menor Visto que vegetais at os ltimos resultados amplamente aceitos pela ci ncia carecem de c rtex cerebral e sistema neurol gico razo vel supor que sejam incapazes do mesmo potencial de senci ncia dos animais 29 bastante improv vel que os escravos gregos como os exclu dos da contemporaneidade tivessem oportunidades ou incentivos para desenvolver suas capacidades cognitivas e por outro lado h testemunhos pontuais de escravos de grande saber que atuavam como preceptores dos filhos dos senhores ainda muito curioso comparar essa vis o determinista aristot lica com uma declara o do pr prio Singer Quando pagamos um sal rio alto a uma pessoa para programar um computador e um sal rio baixo a outra pessoa para limpar um escrit rio na pr tica estamos pagando mais para quem tem o QI maior Isso significa que pagamos as pessoas por algo determin
23. na comunidade moral passando pela impossibilidade de penetrar se que ela existe a subjetividade dos animais como justificativa moral para seu assujeitamento e reifica o at a controversa no o de alma Antes de mais nada preciso concordar que a divis o da narrativa de Disgrace para fins de an lise em antes e depois da queda de Lurie e situando o marco dessa queda em sua demiss o do meio acad mico e seu ingresso em outro universo que lhe oferece experi ncias desestabilizantes uma proposta nossa e restringe se ao mbito deste estudo Outros podem entender que a queda de Lurie s se efetiva no final quando ele volta se de forma inapel vel para a morte Ou que toda a narrativa reproduz do in cio ao fim um processo de queda constante Para este estudo repetimos propomos situar a queda na transi o de cen rio o momento em que Lurie desalojado a contragosto de um universo que embora em muta o ainda lhe oferecia uma sensa o de seguran a e arremessado a outro onde j n o domina o c digo de seus referenciais De queda em queda Lurie for ado a negociar com alteridades quando ingressa no universo multifacetado da segunda fase do romance Se ao final ele se tornar como tanto teme uma pessoa melhor n o o mais relevante Na verdade ali n o h pessoas melhores ou piores e sim o embate de muitas verdades e individualidades que representam n o um estado ut pico de toler nci
24. p 152 A express o boy tradicionalmente usada de forma pejorativa pelo colonial para inferiorizar o colonizado tamb m aparece no discurso de outro vizinho de Lucy o conservador Ettinger um velho fazendeiro Num momento de emerg ncia em que Petrus n o aparece ele comenta Not one of them you can trust He will send a boy he says to fix the kombi 1999 p 109 Os embates verbais entre Petrus e Lurie pontuam a trama como um bord o que se repete numa espiral ascendente de tens o encontram se sempre no mesmo cen rio no limite entre as propriedades o limite entre seus dom nios e um Lurie cada vez mais exasperado procura estabelecer com Petrus uma comunica o imposs vel Isto fica evidente por exemplo no di logo acerca do assalto e estupro de Lucy enquanto Lurie argumenta que uma repara o moral necess ria Petrus responde apenas com pondera es a respeito da restitui o dos preju zos materiais Os jogos ret ricos entre Lurie e Petrus d o a este a certeza de que It is a new world they live in he and Lucy and Petrus Petrus knows it and he knows it and Petrus knows he knows it 1999 p 117 Nesse novo mundo contudo persiste a ret rica especista Quando surpreende o cunhado de Petrus espionando Lucy Lurie perde o controle esbofeteia o rapaz e o destrata You swine He shouts and strikes him a second time so that he staggers You filthy swine The word still rings in t
25. 2004 p 135 explica porque mesmo o pensamento mais sofisticado impregnado pela doxa de sua poca Ali s vencer a barreira da doxa tarefa do pensador No decorrer da hist ria da filosofia ao tratar de quest es ticas referentes a minorias sociol gicas como mulheres ou escravos grandes te ricos furtaram se a aprofundar a an lise afirma Midgley E ainda nas raras ocasi es em que esses te ricos n o fogem mas consideram tais assuntos mais detalhadamente suas discuss es muitas vezes parecem como se eles pr prios n o as tivessem escrito 1983 p 74 O mesmo percebido novamente por Derrida em rela o aos animais e referindo se a Descartes Kant Heidegger Lacan e Levinas Seus discursos s o fortes e profundos mas neles tudo se passa como se eles nunca tivessem sido vistos sobretudo nus por um animal que se dirigisse a eles A experi ncia do animal que v do animal que os observa n o a tomaram em considera o na arquitetura te rica ou filos fica de seus discursos 2002 p 33 Portanto n o de espantar que a argumenta o paradoxal do antiespecismo force seu caminho servindo se do discurso acr tico aquele que consciente e proposital e mais que deva servir se retoricamente de dilemas ticos originados de inquieta es oportunizadas pela dimens o concreta para validar seus pressupostos Mesmo porque nessa dimens o do concreto de forma emp rica que o pensamento especi
26. 296 Afirmar que animais n o pensam e portanto tem se direito de explor los do ponto de vista antiespecista uma falsa infer ncia Poder ter a possibilidade de praticar uma a o n o significa que essa a o tenha validade moral A n o ser numa abordagem teol gica e dogm tica inferindo que se Deus deu ao homem o poder de dominar os animais porque Ele deseja que isso seja feito Isso leva quest o da alma imortal e forma como a quest o religiosa foi utilizada atrav s dos tempos para justificar a discrimina o e o uso predat rio n o apenas de animais mas de comunidades humanas notadamente nas pr ticas colonialistas Se a ndios americanos negros africanos abor genes e povos do Oriente M dio era imputada a pecha de irracionais no sentido de aproxim los categoricamente dos animais e assim validar sua explora o tamb m a eles como aos animais era atribu da a aus ncia de uma alma imortal Um racioc nio singelo coloca em cheque esta infer ncia Se animais n o s o possuidores de uma alma imortal ou seja se n o lhes ser dada a possibilidade de reden o e transcend ncia al m da mat ria atrav s do contato com o divino n o se torna sua vida para eles ainda mais preciosa e inestim vel Aqui alma imortal pode referir se ao sentido de anima da centelha que no entender de Plat o era a um tempo raz o emo o e instinto Supor que animais n o possuem esse tipo d
27. Brasil receberia o nome de Paf ncio e Marocas As narrativas desenvolviam se em torno do cotidiano do casal Jiggs e Maggie ele um imigrante irland s que enriqueceu da noite para o dia ao receber um grande pr mio nas corridas de cavalos ela o equivalente da poca contempor nea alpinista social sempre preocupada em ser aceita no seio da alta sociedade apesar da origem prolet ria Vale mencionar tamb m Krazy Kat como a primeira a instituir protagonistas animais embora essa fosse apenas uma estrat gia de representa o figurada para abordar uma quest o bastante humana e que permanece em pauta desde sempre a dos afetos perversos Desenhada por George Herriman para o New York Evening Journal a partir de 1913 e transformada em desenho animado mais tarde Krazy uma gata ou gato a indefini o a respeito do g nero outro dado interessante da obra perdidamente apaixonada pelo rato Ignatz que n o retribui o sentimento Pelo contr rio Ignatz dedica seu tempo a frustrar os avan os de Krazy arremessando tijolos contra sua cabe a ao que ela sempre retruca com o bord o que encerra cada aventura Meu querido In cio 35 Conting ncias da quest o animal eram frequentemente abordadas como na figura 3 1 a ca a ao coelho 63 Figura 2 2 Krazy Kat HERRIMAN s d s p s vezes publicadas como calhau express o que no jarg o jornal stico designa material de menor interesse e conte
28. Fabiano botou os arreios na gua alaz e entrou a amans la N o era propriamente ideia era o desejo vago de realizar qualquer a o not vel que espantasse o irm o e a cachorra Baleia 1994 p 47 Mas os animais n o humanos da fam lia retirante est o longe do status de sujeitos de direito O papagaio que n o falava e assim tinha pouca serventia foi morto e comido num momento de desespero Baleia foi morta por Fabiano tamb m quando apareceu doente como chefe de fam lia Fabiano reveste se do poder de um pater familias e executa a cadelinha sob a justificativa de defender os filhos de um poss vel cont gio de raiva ou sarna Essa uma justificativa pr tica plaus vel naquela realidade mas percebe se no subtexto tamb m o desejo de Fabiano em revestir se da autoridade poss vel para o exclu do relegado quase marginalidade exercer o poder dentro de seu n cleo familiar A valida o vem na forma da pondera o interior da mulher Sinh Vit ria A decis o de Fabiano era necess ria e justa Pobre da Baleia 1994 p 86 32 Em About Looking o cr tico cultural brit nico John Berger 2009 reflete sobre um crescente desaparecimento dos animais n o o desaparecimento concreto mas o desaparecimento de nossas vistas relativo como a supress o do nico c rculo relacional fora da esp cie humana Ele o associa ao desenvolvimento da sociedade industrial a partir do s culo XIX e ao florescimento do cap
29. Formiga mas novamente n o se trata aqui de um verdadeiro olhar sobre o animal e sim sobre estere tipos generaliza es que se destinam a elucidar inquieta es do pr prio homem Excessivamente direcionadas para sua conclus o dispensando refinamento est tico o fato de que nelas a li o moral direciona sua hermen utica NEVES 2013 p 140 excluiria as f bulas tais como Esopo as concebeu da percep o como g nero verdadeiramente liter rio at que no s culo XVII La Fontaine viesse revestir esse tipo de narrativa de uma estil stica po tica de fato embora mantendo seu car ter de prega o Sobre a f bula finalmente diz Jacques Derrida que preciso evit la se buscamos trocar um olhar com o animal n o humano A fabula o conhecemos sua hist ria permanece um amansamento antropom rfico um assujeitamento moralizador uma domestica o Sempre um discurso do homem sobre o homem efetivamente sobre a animalidade do homem mas para o homem e no homem 2002 p 70 Se na f bula cl ssica o animal era figurado para produzir a mimesis por analogia comportamental outra forma de utiliza o da figura animal opera produzindo sentido atrav s da reafirma o da identidade humana em oposi o a uma natureza irracional Quando se trata da utiliza o do estere tipo animal como delimitador identit rio no c lebre poema de Manuel Bandeira O bicho que vamos encontrar um exemplo eloquente Ele descreve
30. Unity and Reconciliation acts e cujo integrante mais not vel foi o arcebispo Desmond Tutu deu lugar em 2000 ao Institute for Justice and Reconciliation nm o m Ww 96 gosto inarredavel pela cultura cl ssica concorrem para defini lo como um indiv duo alinhado ordem do paradigma iluminista Derrida nos fala de uma limitrofia no que concerne delimita o da alteridade animal Limitrofia no sentido de tudo que se nutre e viceja a partir desse limite Ressalvando reconhecer sim uma diferen a fundamental que nos aparta dos outros animais recusando a perspectiva excessivamente hol stica de um todo continuado entre os homens e os outros animais ainda assim denuncia sua express o maior que a constru o simb lica dos animais como coletivo como um todo homog neo como O Animal que ele nos apresenta Ecce animot E alerta Tra os comuns ou an logos tanto mais dominantes que sua formaliza o a qual n s nos entregamos aqui permitir o fazer aparecer em todo o discurso sobre o animal notadamente no discurso filos fico ocidental a mesma dominante a mesma recorr ncia de um esquema na verdade invariante Qual Este o pr prio do homem sua superioridade assujeitante sobre o animal seu tornar se sujeito mesmo sua historicidade sua sa da da natureza sua sociabilidade seu acesso ao saber e t cnica tudo isto e tudo o que constitui em n mero n o finito de predicados o pr prio do homem consistir
31. a 31 imagem de um animal em busca de restos de comida no lixo revelando ao final que esse animal um humano Vi ontem um bicho Na imundicie do p tio Catando comida entre os detritos Quando achava alguma coisa N o examinava nem cheirava Engolia com voracidade O bicho n o era um c o N o era um gato N o era um rato O bicho meu Deus era um homem 1993 p 222 Conforme notado por Ferreira 2005 p 119 134 o principal recurso discursivo dessa poesia a pressuposi o de que nada h de moralmente perturbador no fato de que um animal vague faminto pela cidade e seja obrigado a alimentar se de detritos mas que quando um ser humano v se em tal situa o denuncia a falta de solidariedade e injusti a social e isso torna se moralmente inaceit vel Ou seja o homem que age de forma animalesca degrada se Nesse sentido n o podemos deixar de contemplar analiticamente a personagem da cadela Baleia uma das protagonistas do romance Vidas Secas de Graciliano Ramos T o importante na trama quanto os personagens humanos Baleia respons vel pela sobreviv ncia do grupo em meio jornada retirante por ca ar as pre s que alimentar o a fam lia contentando se mesmo assim em apenas roer os restos de sua pr pria presa Na hierarquia familiar Baleia vista pelos meninos como uma igual comovente a passagem em que o filho menor planeja uma travessura para impression la A ideia surgiu lhe na tarde em que
32. a algo que vai muito al m do argumento visual ou liter rio contido na foto ou no conto CORTAZAR 1993 p 151 152 exatamente o que faz o desenhista da tira ao escolher representar um recorte bastante restrito da realidade na medida que possa caber na extens o dos poucos quadrinhos e que ainda assim projete esse recorte para muito al m daquela acanhada por o espa o tempo Essa proje o se refere diretamente no o de frui o que na tira poder amos dizer que acontece de forma bem semelhante por exemplo do miniconto 52 Para fins deste estudo tomaremos o conceito de frui o liter ria como compreendido por Roland Barthes para ele o texto de frui o aquele que nos coloca em estado de perda aquele que nos desconforta que faz vacilar as bases hist ricas culturais e psicol gicas do leitor 1975 p 25 77 Minicontos sao narrativas hiperconcisas O mais famoso deles composto por sete palavras Quando acordou o dinossauro ainda estava l do escritor hondurenho Augusto Monterroso SPALDING s d pode ser lido talvez em um segundo Por m abre possibilidades infinitas de interpreta o e produz como efeito nico e potente a sensa o do ins lito e do fant stico A possibilidade do fant stico que a tira t o bem aproveita pois em seu universo como no do conto literalmente tudo poss vel inclusive que animais e coisas falem outra das cara
33. a ret rica que n o se ocupa de proposi es imanentes de uma moral universal mas de proposi es s tornadas poss veis pelo pressuposto de que h enfim muitas formas de ver o mesmo fato ARIST TELES 2003 p 78 O termo floreio ali s remete como lembra Wolfgang Kayser 1963 p 168 concep o de figuras de linguagem elaborada no s culo 95 d C pelo professor de orat ria romano Marco F bio Quintiliano em seu tratado Institutio Oratoria 2010 Eles as designa como flores rheoricales no sentido de enfeite e mesmo de excesso A desvaloriza o da ret rica enfeitada caracter stica dos sofistas aliada a uma taxonomia das figuras de linguagem organizada por Quintiliano representa a mudan a paradigm tica dessa poca como afirma F bio Ulhoa Coelho no pref cio edi o brasileira do Tratado de Argumenta o A nova ret rica de Chaim Perelman Inicialmente o desprezo vem com o cristianismo que n o poderia em suas formula es iniciais conviver com a ideia de multiplicidade de premissas igualmente aproveit veis como ponto de partida para a argumenta o Com efeito se a verdade fundamental do conhecimento humano nos revelada por Deus n o h como atribuir igual import ncia a um racioc nio fundado em meras opini es de homens que por mais s bios not veis e ilustres que sejam est o contaminados pelo pecado original COELHO in PERELMAN 2005 p xii Se o humanismo crist o contribu
34. afirma ainda que a tr ade po esis mimesis k tharsis capaz de descrever de maneira exclusiva o mundo da poesia sem confundir se com outra tr ade ret rica prova persuas o Seria falha inaceit vel que ignor ssemos aquilo que Ricoeur qualifica como o poder heur stico desdobrado pela fic o 2000 p 13 atrav s do uso da met fora Ou mesmo enxergar em cada met fora animal um mero aparato ret rico destinado a reproduzir a doxa e ignorar lhe a virtude de redescrever poeticamente a realidade estabelecendo a mimesis Para exorcizar desde j essa impress o vamos buscar a an lise de uma met fora animal empregada por Machado de Assis 13 Essa concep o de literariedade corresponde idealizada por Arist teles ao prescrever mudar a fisionomia dos termos correntes para mobilizar a aten o do audit rio ARIST TELES 2011 p 78 14 Vale lembrar que Assis cuja escrita para muitos antecipava o alvorecer do p s modernismo na literatura brasileira manifestou seu interesse pela quest o animal em mais de um artigo o mais conhecido deles 27 No conto 4 parasita azul o escritor assim descreve o peso do olhar de um amante preterido sobre seu rival Soares olhava para Camilo com a mesma ternura com que um gavi o espreita uma pomba ASSIS s d p 11 Esta met fora ainda que evoque a imagem de predador que do ponto de vista ecol gico e biol gico o gavi o de fato parece nos n o con
35. aten o no animal que est o matando dando lhe o que n o tem mais nenhuma dificuldade de chamar pelo nome correto amor COETZEE 2011 p 255 245 Carneiro como uma oferenda sacrificial 246 Levando o no colo como um carneiro entra na sala de opera es Achei que ia deixar esse para a semana que vem diz Bev Shaw Vai desistir dele E Vou desistir COETZEE 2011 p 219 124 Podemos ler de duas formas a constru o metaf rica que encerra a narrativa de Disgrace A mais bvia de que a morte do c o pelas m os de Lurie representa sua pr pria morte metaf rica sua pr pria desist ncia da vida Mas outra leitura poss vel Ao condenar morte o animal que despertara sua empatia de forma extraordin ria para algu m como ele Lurie reafirma se como her i deca do como um estranho nesse mundo respirante do qual os outros homens e animais fazem parte Firme em seu prop sito de n o tornar se uma pessoa melhor de n o ser castrado encarna com orgulho o L cifer de Byron com o qual j se identificara no in cio o bem ele far mas apenas por some strange perversity of thought Esse seu statement final He stood a stranger in this breathing world An erring spirit from another hurled A thing of dark imaginings that shaped By choice the perils he by chance escaped He could At times resign is own for others good But not in pity not because he ought But in some strange perver
36. como n o humanos aponta para uma similaridade de capacidades de sofrer Esta constata o sugere um triunfo da doxa sobre a an lise cient fica desapaixonada A inadequa o da abordagem puramente cartesiana no que se refere aplica o da tica para com animais pode ser ilustrada pela seguinte afirma o de Souza A tica exige por assim dizer uma outra l gica que a l gica da intelig ncia e com isso se quer indicar que o tico expresso no encontro real exige uma outra racionalidade diferente daquela que eu uso normalmente para lidar com as coisas e os conceitos a saber uma racionalidade tica ou em termos mais simples uma racionalidade do encontro com o outro Se o mundo n o primordialmente concebido e pensado desde princ pios l gicos abstratos ou desde a articula o pura e simples de interesses de poder e sim de encontros humanos reais em sua infinita variedade isso significa que poss vel a concep o de uma outra racionalidade em meio s j existentes a racionalidade tica muito real sua absoluta necessidade se n o entendermos o ser humano como uma engrenagem de uma m quina e n o pretendermos a substitui o do sentido do humano seja ele qual for pelo sentido instrumental da aliena o do humano em coisas poderes e viol ncias 2004 p 58 J os pressupostos com rela o aos animais de Immanuel Kant al m de lan arem m o do Argumento da Subjetivida
37. conduz automaticamente a uma conclus o maniqueista de que os velhos preconceitos que representa morrem com ele para dar lugar a um novo mundo de toler ncia e fraternidade A quest o animal colocada como uma das ltimas fronteiras da consci ncia moral est representada na trama de forma v vida o cotidiano dos protetores de animais os aspectos pr ticos de sua atua o s o representa es raras quase in ditas at o momento no mundo liter rio Os animais que motivam os avan os e os recuos de Lurie em rela o a sua alteridade n o podem ser tomados apenas por sua dimens o simb lica Bev n o uma louca dos gatos nem uma criatura angelical que ama os animaizinhos t o comuns na literatura e na dramaturgia Ela integra sim a coletividade das vozes sobre as quais Derrida afirma que se levantam minorit rias fracas marginais pouco confiantes em seu discurso em seu direito ao discurso e na efetiva o de seu discurso em um direito dentro de uma declara o de direitos para protestar para apelar voltaremos a isso ao que se apresenta de maneira t o problem tica ainda como os direitos do animal para nos acordar para nossas responsabilidades e nossas obriga es em rela o ao vivente em geral e precisamente a essa compaix o fundamental que se fosse tomada a s rio deveria mudar at os alicerces e destes alicerces que eu quereria me ocupar hoje da problem tica filos fica do animal DERRIDA 2002 p 53
38. consciousness Non human animals including all mammalsand birds and many other creatures including octopuses also possess these neurological substrates Declaramos o seguinte A aus ncia de um neocortex n o parece impedir um organismo de experimentar estados afetivos Evid ncias convergentes indicam que os animais n o humanos t m os substratos neuroanat micos neuroqu micos e neurofisiol gicos de estados de consci ncia juntamente com a capacidade de exibir comportamentos intencionais Por conseguinte evid ncias indicam que os humanos n o s o os nicos que possuem os substratos neurol gicos que geram consci ncia Os animais n o humanos incluindo todos os mam feros e aves e muitas outras criaturas incluindo polvos tamb m possuem estes substratos neurol gicos Francis Crick Memorial Conference 2012 Consciousness in Animals s d Tradu o minha 53 Este argumento valida a preda o para alimenta o e deriva para a legitima o do uso de animais como for a de trabalho estoque e mat ria prima e apresenta uma contradi o b sica Ele busca uma valida o de ordem moral para um comportamento humano num comportamento amoral por parte dos animais al m de supor que poder fazer significa ter direito de fazer 2006 p 88 Sua falha que ou bem se justifica a superioridade humana por nossa capacidade de julgamento moral assumindo tanto seu b nus como seu nus ou bem nos igualamos aos ou
39. da alteridade animal Podemos apenas esperar que o leitor como n s exclame Como verdade 149 Refer ncias ADAMS C J DONOVAN J Beyound animal rights a feminist caring ethic for the treat ment of animals New York Columbia U P 2008 ADAMS C J GRUEN L Ecofeminism feminist intersections with other animals and the earth London Bloomsbury 2014 ADORNO T HORKHEIMER M A ind stria cultural o esclarecimento como mistifica o das massas Dial tica do esclarecimento Rio de Janeiro Jorge Zahar 1985 ALEXANDRE J NIOR M Introdu o In ARIST TELES Arte po tica S o Paulo Martin Claret 2003 ALSINA M R La construcci n de la noticia Barcelona Paid s 1996 ANGELO V Um banheiro para laerte sonia Blogay S 1 8 fev 2012 Dispon vel em lt http blogay folha blog uol com br arch2012 02 05 2012 02 11 html gt Acesso em 20 jan 2014 A pol tica sexual da carne Blogueiras feministas S 1 10 jul 2012 blog Dispon vel em lt http blogueirasfeministas com 2012 07 a politica sexual da carne gt Acesso em 15 set 2014 ARAG O A MEGALE B Crime em nome do amor VEJA S o Paulo edi o 2345 p 89 91 out 2013 ARIST TELES Arte po tica S o Paulo Martin Claret 2003 Ret rica 2 ed Lisboa Imprensa Nacional Casa da Moeda 2005 ASSIS Machado de Hist rias da meia noite S o Paulo LEL s d BANDEIRA M O bicho Estrela da vida inteira
40. de direitos dos animais que utilizaremos neste trabalho sempre que n o conflitarem com quest es de clareza ou flu ncia fazem parte da revis o lingu stica que a cr tica antiespecista vem propondo paulatinamente como forma de desconstruir o discurso especista Por exemplo ao referirmo nos a direitos dos animais estar amos admitindo tacitamente que existem dois conjuntos de direitos diversos para humanos e n o humanos O pensamento antiespecista n o aceita essa proposi o Oferece a f rmula direitos animais como mais correta pois todos os animais humanos ou n o s o portadores dos mesmos direitos segundo sua concep o Esse reajuste lingu stico n o muito diferente em termos operacionais da proposta da Novil ngua a que nos referimos de in cio e que busca atrav s da reconfigura o da linguagem suprimir as possibilidades expressivas da ideologia advers ria O movimento antiespecista tem se preocupado em marcar espa o em todos os campos e o pr prio Peter Singer demonstraria estar atento ao processo O h bito esta a barreira final que o movimento pela liberta o animal enfrenta H bitos n o apenas alimentares mas tamb m de pensamento e de linguagem precisam ser contestados e alterados O ingl s como o portugu s e qualquer outro idioma reflete os preconceitos daqueles que o utilizam Portanto o autor que deseja questionar esses preconceitos depara se com uma dificuldade be
41. desenrolavam as tramas como principalmente pela linguagem marcada pela g ria e l xico associado classe trabalhadora da poca O enredo em geral retratava a vida cotidiana sob o vi s c mico e vale notar que a personagem se fazia frequentemente acompanhar por um cachorro um gato um bode e um papagaio Em 1899 a tira deixaria de ser publicada em jornal continuando por mais algum tempo como revista independente Outras tiras seguiram se Yellow Kid notadamente Katzenjammer Kids ou Captain and the kids desenhada por Rudolph Dirks para o New York Journal a partir de 1897 a qual no Brasil ficou conhecida como Os sobrinhos do Capit o Alguns autores creditam a Dirks o uso pioneiro do bal o para texto o que daria a Katzenjammer Kids preced ncia sobre Yellow Kid como primeira tira da hist ria se forem consideradas as publica es em ve culos n o jornal sticos Ao contr rio da exist ncia ef mera daquela Katzenjammer Kids que narrava as aventuras de dois meninos endiabrados Hans e Fritz continuou sendo desenhada at 1979 Os personagens Hans e Fritz foram inspirados nas hist rias infantis ilustradas Max und Moritz Eine Bubengeschichte in sieben Streichen publicadas por Wilhelm Busch em 1865 e que receberiam vers o em portugu s por ningu m menos que Olavo Bilac aqui chamavam se Juca e Chico Hist ria de dois meninos em sete travessuras J Bringing up father desenhada a partir de 1913 por George McManus no
42. deste estudo justificou se em grande parte pelo g nero em si Constru o textual h brida imag tica e verbal a trajet ria da hist ria em quadrinhos enquanto g nero ilustra o pr prio processo de reconfigura o da pr tica art stica diante do paradigma inaugurado pelos meios de comunica o de massa favorecendo formatos narrativos alinhados est tica da p s modernidade Por m mais ainda a tira como embri o de todo o formato quadrinhos interessa nos particularmente por sua inser o no campo do jornalismo A primeira tira ou comic strip caracterizada como tal arte pict rica sequencial impressa dotada de caracter sticas formais espec ficas como os quadrinhos e o bal o que abriga o texto foi publicada inicialmente em 1894 no jornal New York World logo conquistando espa o fixo Ela narrava as aventuras do Yellow Kid personagem principal do universo criado pelo desenhista Richard Felton Outcault SEE d per tdos 1 E NEW YORK JOURNAL SUNDAY JANUARY 24 1897 am 4 CONE Gs Ann PLAY ROIs Figura 2 1 The Yellow Kid goes hunting becomes a dead game sport OUTCAULT San Francisco Academy of Comic Art Collection The Ohio State Univeristy Cartoon Research Library s d S p 62 O protagonista circulava pela comunidade fict cia de Hogan s Alley caracterizada enquanto bairro prolet rio tanto pela apar ncia dos personagens e o contexto em que se
43. do efeito produzido por Maus a intertextualidade ou seja a utiliza o de elementos signos de narrativas anteriores poder amos considerar Tom amp Jerry como um c none do desenho animado estruturados de forma a utiliz los como significantes na presente narrativa produzindo outro sentido que dialoga com o anterior Barthes explicaria o processo da seguinte forma Sabe se que toda mensagem e a obra liter ria uma delas compreende pelo menos um plano da express o ou plano dos significantes e um plano do conte do ou plano dos significados a jun o desses dois plano forma o signo ou o conjunto dos signos Entretanto uma mensagem constitu da segundo essa ordem elementar pode por uma opera o de desengate ou de amplifica o tornar se o simples plano de express o de uma segunda mensagem que lhe assim extensiva em suma o signo da primeira mensagem passa a ser o significante da segunda 2004 p 141 Em Maus como uma bazuca constru da com marshmallows o contraste entre os signos associados ao universo infantil ressignificados numa tem tica adulta e o subsequente choque que isso provoca potencializam a produ o do sentido mais profundo Esta percep o partilhada por Hillary Chute em seu artigo sobre Maus institulado The Shadow of a past time s d Paul Buhle for instance claims More than a few readers have described Maus as the most compelling of any Holocaust depiction perhap
44. dos animais Petrus prende novamente os carneiros mingua para tristeza de Lurie Country ways that is what Lucy calls this kind of thing He has other words indifference hardheartedness 1999 p 125 Segue se uma longa reflex o em busca de uma alternativa que possa salvar a vida dos animais Pensa em compr los mas isso resultaria apenas em que Petrus trouxesse mais dois no dia seguinte Al m disso percebe que fora do contexto em que aqueles animais existem apenas como coisas e com o abate como destino selado que ele pr prio j percebera n o saberia o que fazer com eles n o pode cri los como suspensa na bile escura amarga escondida COETZEE 2011 p 146 188 Ela n o dona de si mesma A beleza n o dona de si mesma COETZEE 2011 p 24 189 Acho que n o gosto do jeito dele fazer as coisas essa hist ria de trazer os bichos para casa essa proximidade com as pessoas que v o comer a carne deles depois O que voc queria que o abate fosse feito num matadouro assim voc n o precisava pensar nisso COETZEE 2011 p 146 147 190 Afinal estamos na frica COETZEE 2011 p 101 191 Coisas do campo foi como Lucy chamou esse tipo de coisa Ele tem outros nomes indiferen a falta de cora o COETZEE 2011 p 149 o 114 c es no canil nem abandon los pr pria sorte Ainda assim espanta se com seus sentimentos A bond seems to have come
45. em que sua filha Lucy fora igualmente privada de seu status de sujeito reduzida a objeto e moeda de troca no Jogo da reconfigura o social em andamento naquele tempo e lugar uma nova percep o para as alteridades parece inevitavelmente aflorada nele e n o consegue acomod la satisfatoriamente Mesmo Lucy que ap s o estupro desenvolve repugn ncia carne parece mais vontade com o destino dos carneiros do que o pai Quando Lurie comenta que n o gostaria de ir festa cuja realiza o marcar a morte dos animais Tm not sure I like the way he does things bringing the slaughter beasts home to acquaint them with the people who are going 33 to eat them ela retruca desafiadora What would you prefer That the slaughtering be done in an abattoir so that you needn t think about it Wake up David This is the country This is Africa 1999 p 124 Essas palavras que remetem ao argumento antropocentrista relativista que defende respeitar pr ticas culturais mesmo quando estas desrespeitam os direitos animais s o as mesmas que o pr prio Lurie empregara um pouco antes para consolar a amiga Bev com rela o ao bode que seria morto por sua dona This is Africa after all 1999 p 83 84 Mas o argumento desta vez no discurso de Lucy de que assim que as coisas s o e sempre foram de que costumes devem ser respeitados n o suficiente para acalmar a inquieta o pela sorte
46. estudos p s coloniais da teoria da met fora ao questionamento filos fico do antropocentrismo H sim um fio que amarra todas essas ideias Esse fio mais uma vez o desejo de demonstrar a troca de paradigmas observando como ela p e em cheque algumas das certezas cartesianas que v m a ser a pr pria base do pensamento especista levando conclus o de que h tamb m uma consider vel revolu o em andamento no mbito liter rio na forma como representamos nosso olhar sobre os animais n o humanos e ainda que essa revolu o n o um capricho de estilo pontual e fadado ao kitch 1 Segundo Terry Eagleton A palavra p s modernismo geralmente refere se a uma forma de cultura contempor nea enquanto que o termo p s modernidade alude a um per odo hist rico espec fico 1997 p vil J para David Harvey o p s modernismo mostra ser um campo minado de no es conflitantes 2001 p 9 Essa suposta inconsist ncia e mesmo transitoriedade do p s modernismo denunciada pelo conceito de hipermodernidade trabalhado por Gilles Lipovetsky 2004 e n o escapou a nossas considera es por m nosso trabalho objetiva apenas analisar de que forma as obras objeto representam determinados aspectos da p s modernidade especificamente a nfase na percep o da alteridade e o modelo de pensamento p s moderno o que as insere em maior ou menor grau no rol de obras representativas do p s modernismo 12 1 Me
47. from the Crypt foi uma revista de hist rias em quadrinhos de terror publicada entre 1950 1955 nos Estados Unidos Deixou de ser impressa na poca em que o comics ficou sob ataque das institui es hegem nicas percebido como prejudicial forma o dos jovens 253 Criaturas amacacadas com gigantescos l bios de minstrel estere tipos furtando galinhas furtando melancias jogando dados s cantar amp dan ar exatamente a oferta cotidiana de racismo herdada de nossos desenhos animados Tradu o minha minstre foi mantindo no original pois aqui n o designa seu sentido literal menestrel mas o minstrel ou minstrel show show de variedades art sticas comuns no in cio do s culo XIX nos Estados Unidos onde brancos com o rosto pintado de preto caricaturavam negros de forma preconceituosa 129 animados da mesma poca que representavam animais brincando no campo em flagrante analogia associativa culminando com a c lebre sequ ncia que deu origem ao Mickey Mouse de Disney o cartoon Steamboat Willie onde na opini o de Spiegelman o ratinho parodiava outra representa o do negro o personagem de Al Jolson em The Jazz Singer Spiegelman decidiu se a desenhar quadrinhos sobre a experi ncia do negro americano J could draw Ku Klux Kats 2011 p 112 mas finalmente resolveu deter se numa experi ncia mais pr xima de sua pr pria hist ria pessoal o holocausto judeu Em Maus a antropomorfiza o de
48. go and help Bev Shaw 1999 p 78 Mais curioso do que engajado Lurie comparece a seu primeiro dia de trabalho volunt rio na cl nica O lugar extremamente pobre n o h recursos para ajudar a todos e o m dico veterin rio aparece apenas uma vez por semana Procedimentos mais simples ficam a cargo da pr pria Bev que surpreende Lurie ao estabelecer uma esp cie de comunica o espiritual com os animais acalmando os nos momentos mais dolorosos Ela pede a ele Think comforting thoughts think strong thoughts They can smell what you are thinking Ao que ele pensa They can smell what you are thinking what nonsense Lurie permanece resistente e recha a as tentativas de aproxima o de Bev Quando ela elogia sua atua o 153 Eles n o v o me ajudar a levar uma vida mais elevada e sabe por qu Porque n o existe nenhuma vida mais elevada A nica vida que existe esta aqui Que a gente reparte com os animais COETZEE 2011 p 90 154 Quanto aos animais claro vamos ser bons com eles Mas n o vamos perder a propor o das coisas Na cria o s somos de uma ordem diferente do s animais N o necessariamente superior mas diferente COETZEE 2011 p 90 155 n o o que ele esperava COETZEE 2011 p 92 156 Uma sombra de tristeza passa por ele por Katy sozinha em seu compartimento por ele pr prio por todo mundo D um profundo suspiro sem se controlar Me desculpe
49. her Try to find her a home I suppose She s sulking but otherwise she s right She gets taken out every day for exercise By me or by Petrus It s part of the package COETZEE 1999 p 61 99126 Katy abandonada pelos owners donos no jarg o do antiespecismo o termo preferencial tutores chama a aten o de Lurie por sua tristeza evidente Como o pr prio Lurie ela perdeu seu lugar no mundo ele quando caiu em desgra a ela quando foi abandonada Katy por m ainda guarda sua fun o como watchdog e em v rios momentos exercer seu antagonismo contra outros agentes da trama alinhando se a Lurie e Lucy De qualquer forma o futuro de ambos uma inc gnita Em certo momento Lurie junta se a ela no canil He squats down tickles her behind the ears Abandoned are we he murmurs He stretches out beside her on the bare concrete Above is the pale sky His limbs relax 27 p 78 A filha Lucy o surpreende adormecido ao lado de Katy e comenta Poor old Katy she s in mourning No one wants her and she knows it The irony is she must have offspring all over the district who would be happy to share their homes with her But it s not in their power to invite her They are part of the 123 Engra ado que ele e a m e dela urbanos intelectuais tivessem produzido esse retrocesso essa s lida colona COETZEE 2011 p 75 124 Express o em afrikaner que designa camponesa de origem bo
50. humanidade foi relacionada por Derrida ao mito b blico de Caim e Abel Para ele a queda de Caim o segundo pecado original do homem depois do epis dio da serpente tamb m mediado pela imposi o de um limite intranspon vel entre humano e animal Caim mata Abel por ci mes ap s Deus ter preterido sua oferta de frutos da terra preferindo aceitar o sacrif cio de novilhos que Abel lhe oferecia Depois Deus havia exortado um Caim desencorajado a n o perder a dignidade em suma a cuidar de n o ceder ao pecado Ele o encoraja a evitar a armadilha da tenta o e uma vez mais a domar dominar governar DERRIDA 2002 p 81 Fica claro desde o in cio da narrativa que Lurie considera o render se nova ordem e o abdicar dos privil gios de domar dominar governar de que desfrutava como queda e castra o Refere se universidade em que trabalha como transformed and to his mind emaculated institution of learning 1999 p 4 e quando conversando com Lucy recorda se dos desdobramentos do caso com Melanie pensa The truth is they wanted me castrated 1999 p 66 Quando concorda em ajudar com os animais faz uma nica exig ncia as long as I don t have to become a better person 1999 p 77 E depois de levar os corpos do c es ao incinerador reflete He saves the honour of corpses because there is no one else stupid enough to do it That is what he is becoming stupid daft wrongheaded
51. in the air twisting and contorting then it is sucked away and is gone 1999 p 219 Aos domingos dia em que Bev pratica a eutan sia ele que lhe traz os animais the old the blind the halt the crippled the maimed but also the young the sound all those whose term has come 1999 p 218 E admite que he has learned by now from her to concentrate all is attention on the animal they are killing giving it what he no longer has difficulty in calling by its proper name love 1999 p 219 E num desses domingos chega a hora de Driepoot o c o a quem se afei oara Ele se v diante de uma escolha Pode salv lo por pelo menos mais uma semana Mas decide que n o Bering him in his arms like a lamb he re enters the surgery I thought you would save him for another week says Bev Shaw Are you giving him up Yes I am giving him up 1999 p 256 241 um jovem macho que tem um quarto traseiro murcho que arrasta pelo ch o Ele n o sabe se nasceu assim Nenhum visitante mostrou interesse em adot lo Seu per odo de gra a est quase no fim logo ter de ser submetido agulha As vezes quando est lendo ou escrevendo solta o do compartimento e deixa que passeie com seu jeito grotesco pelo quintal ou que cochile aos seus p s N o dele de jeito nenhum teve o cuidado de n o lhe dar um nome embora Bev Shaw refira se a ele como Driepoot tr s patas mesmo as
52. inquieta es como os ratos em Dion lio Machado que n o s o representa es de leg timas alteridades visto que imposs vel que animais salvo no jogo da f bula constituam alteridades Poder amos Est nos olhos de quem l Assim a doxa especista orientaria a leitura dessas representa es E podemos tamb m arriscar nos compara o com o b bado da anedota expor nos ao rid culo sofrer a vergonha de ter vergonha sentida por Derrida quando envergonha se de envergonhar se de sua nudez diante da gata O pr prio Lurie viu se diante desse impasse ousaria adicionar uma personagem c o sua pera Uma das formas de perceber as representa es das rela es entre humanos e animais na segunda parte de Disgrace exatamente como f bula e n o estabelece um verdadeiro rompimento um giro em rela o s met foras animais arquet picas da primeira parte Enquanto meras proje es da subjetividade humana os animais continuariam chapados como objetos Perceber como polif nicas as representa es das rela es entre humanos e animais na segunda parte da an lise de Disgrace implica uma ades o ou pelo menos compreens o pr via do pensamento antiespecista S atrav s da reorganiza o cognitiva e afetiva da categoriza o dos seres oferecida pelos argumentos antiespecistas poss vel identificar nas representa es do romance que envolvem animais n o arqu tipos n o constru es metaf ricas do
53. into existence between himself and the two Persians he does not know how The bond is not one of affection It is not even a bond with these two in particular whom he could not pick out from a mob in a field Nevertheless suddenly and without reason their lot has become important to him He remembers Bev Shaw nuzzling the old billy goat with the ravaged testicles stroking him comforting him entering into his life How does she get it right this communion with animals One has to be a certain kind of person perhaps with fewer complications Do I have to change he thinks Do I have to become like Bev Shaw 1999 p 126 Assim como no caso com Melanie recusou a oportunidade de retrata o mudar o modo de perceber os animais tamb m significaria deixar se derrotar como afirmou a Lucy quando ela lhe pediu que trabalhasse no abrigo All right I ll do it But only as long as I don t have to become a better person 1999 p 77 Portanto quando Lucy lhe pergunta se por causa dos carneiros que n o deseja comparecer festa de Petrus demonstra confus o Yes No I haven t change my ideas if that is what you mean I still don t believe that animals have properly individual lives Nevertheless in this case I am disturbed I can t say why Mais tarde ao perceber que j fora aceso o fogo na casa de Petrus e os animais ja deviam estar mortos pergunta se Js it proper to mourn the death of beings wh
54. levou escolha do romance Disgrace de J M Coetzee 1940 como nosso objeto de an lise O escritor nasceu na Cidade do Cabo Africa do Sul poucos anos antes da instaura o do regime conhecido como apartheid em seu pa s Viveu na Inglaterra e EUA onde lecionou obtendo doutorado em lingu stica das l nguas germ nicas pela Universidade do Texas em 1968 Em 2002 emigrou para a Austr lia e em 2003 recebeu o pr mio Nobel de Literatura Atualmente leciona na Universidade de Adelaide Sua carreira no campo da fic o come ou em 1969 mas o primeiro livro Dusklands s foi publicado na frica do Sul em 1974 Coetzee recebeu ainda o Bookers Prize UK por duas vezes primeiro por Life amp Times of Michael K em 1983 e o segundo por Disgrace em 1999 Em seu pr prio pa s recebeu por tr s ocasi es o mais alto reconhecimento liter rio atrav s do pr mio CNA por In the Heart of the Country 1977 Waiting for the Barbarians 1980 e Life amp Times of Michael K 1983 O olhar sobre o animal frequente na obra de Coetzee The lives of animals por exemplo um conjunto de ensaios entremeado pela narrativa da experi ncia da personagem Elisabeth Costello ao vivenciar a solid o intelectual decorrente da m acolhida do pensamento antiespecista pela comunidade acad mica a quem se dirige Esse sentimento de rejei o adquire uma nota ainda mais pessoal quando experimentado por Costello a partir do pr prio filho e da nora ambos
55. meio que n o capaz de apreender e controlar como o da urbe O Argumento da Subjetividade pode parecer plaus vel apenas para aqueles que nunca estiveram pr ximos a animais Fil sofos ou cientistas podem negar a consci ncia em animais mas ao chegarem em casa eles ir o se comportar como seu animal de companhia fosse de fato consciente Ambos por exemplo ir o repreender verbalmente seu c o por ter feito uma travessura Isso seria absurdo se eles j n o admitissem a consci ncia subjetividade desse animal Os animais de estima o possuem uma personalidade pr pria tendo gostos e opini es sobre as coisas e as pessoas com as quais interagem Essa rela o socioafetiva entre os humanos e seus animais de estima o sugere que enxergamos neles personalidades e sentimentos muito semelhantes aos nossos NACONECY 2006 p 107 sintom tico que na narrativa de Disgrace o indiv duo urbano representado por Lurie tenha sido mantido distante e tenha mantido seus olhos distantes tanto do momento do abate dos animais dos carneiros e do bode como do estupro de Lucy e que durante seu cativeiro enquanto Lucy era violentada tenha pensado So it has come the day of testing 1999 p 94 Evidentemente ele se referia ao imenso trauma que se originaria daquela viol ncia mas tamb m podemos interpretar como a constata o de ser arremessado a uma dimens o da realidade que preferiria n o perceber 248 Na seg
56. n o passam mais uma vez de animais figura de animots destinados proje o de emo es estritamente humanas Este um dilema que envolveria para sua resolu o a aplica o n o s da teoria da est tica da recep o de Jauss como das teses sociol gicas da compreens o do g nero romance O leitor firmemente alinhado com a l gica antropoc ntrica e com os argumentos racionalistas esse leitor n o pode perceber os animais representados em Disgrace sen o como met foras de conting ncias humanas J o leitor que tem seu horizonte de expectativa alargado pelo pensamento antiespecista pode efetuar outras frui es E ambas as abordagens s o aceit veis Mas uma vez que nosso intuito promover a vis o antiespecista vamos buscar uma valida o emp rica para nossa proposta Essa foi a raz o de nossa defesa da tira como literatura por m muito mais essa foi a raz o de nossa defesa da tira tamb m como not cia e o motivo da escolha para compara o do conjunto de dezoito tiras 4 gata anexo A publicadas por Laerte Coutinho no jornal Folha de S o Paulo em julho de 2013 Se para Marques de Souza not cia o relato integral de um fato que j eclodiu no organismo social 2003 vamos encontrar em 4 gata um relato noticioso e liter rio que refor a nossa percep o de que as representa es animais em Disgrace tamb m podem ser tomadas como relatos liter rios de um fato social que envolve os direitos animais e n o
57. nsecos a cada um O pr prio Francione assumiria diretamente o papel de principal cr tico de Singer Unlike most other authors in this field I maintain that we ought to abolish animal use altogether and not seek to regulate our exploitation of animals to make it more humane In this sense my analysis differs from that of Peter Singer who in Animal Liberation maintains that our use of nonhumans may be morally acceptable if we ensure that animals have reasonably pleasant lives and relatively painless deaths I maintain that we have no moral justification for treating animals as replaceable resources as our property however humanely we may treat them or kill them 2008 s p 20 Ao contr rio da maioria dos autores neste campo mantenho que temos que abolir o uso de animais de uma vez por todas e n o investir na regulamenta o da nossa explora o dos animais para torn la mais humana Neste sentido minha an lise difere da de Peter Singer que em Liberta o Animal mant m que 45 A diferen a fundamental entre o pensamento de Singer e o de Francione no que diz respeito ao tratamento igualit rio de indiv duos humanos e n o humanos repousa exatamente no valor atribu do s capacidades cognitivas remetendo nos uma vez mais validade dos pressupostos cartesiano com refer ncia tica animal Francione expl cito I link the moral significance of nonhumans with sentience alone and I explicitly re
58. o animal participou do projeto de pesquisa em parceria com o f sico Stephen Hawking em busca de novas tecnologias que propiciem a Hawking paral tico e incapaz de vocalizar h quarenta anos em fun o de uma doen a generativa a express o integral de suas capacidades cognitivas que continuam ilesas Inesperadamente como achado colateral foram encontradas evid ncias de que todos os mamiferos aves e outras criaturas incluindo polvos t m consci ncia A metodologia incluiu mapeamento e estudo detalhado de rea es cerebrais em animais resultando em descobertas cient ficas que derrubam os j combalidos pressupostos cartesianos sobre animais n o humanos N o podemos mais afirmar que n o sab amos declarou Low 2012 s p que abandonou o uso de cobaias em experimentos O caso do manifesto de Cambridge institui o que abriga atualmente um polo acad mico multidisciplinar sobre a quest o animal poderia levar nos a crer que na p s modernidade est se estabelecendo uma nova vontade de verdade com rela o forma como contemplamos os animais n o humanos razo vel supor que sim E tamb m que as vontades de verdade guardam rela o com a doxa o senso comum Nas sociedades atuais a divis o mais simples da linguagem diz respeito sua rela o com o Poder H linguagens que se enunciam se desenvolvem se marcam sob a luz ou a sombra do Poder Dos seus m ltiplos aparelhos estatais instituc
59. onde ser como significa ser e n o ser 2000 p 458 No caso espec fico da met fora animal a figura arquet pica e o estere tipo consagrado pela doxa refor a essa tens o Sobre temas de met foras o escritor Jorge Luis Borges indaga por que sendo a quantidade de met foras poss veis quase infinita los poetas de todo el mundo y todos los tiempos habrian de recurrir a la misma colecci n de met foras cuando existen tantas combinaciones posibles 2001a p 37 Para ele existem algumas f rmulas metaf ricas que se repetem desde sempre sem contudo produzir o mesmo tipo de efeito podem ser ora tristes ora ternas ora aterrorizantes dependendo do tratamento que o autor d a elas Algumas delas olhos estrelas o passar do tempo o correr de um rio morte sono vida sonho publicado em 1877 na revista carioca Ilustra o Brasileira declarando se contra a realiza o de touradas e simpatizante das sociedades de prote o aos animais 15 0S poetas de todo o mundo e de todos os tempos haveriam de recorrer mesma cole o de met foras quando existem tantas combina es poss veis Tradu o minha 28 Ora a met fora animal um dos recursos po ticos mais popularizados possivelmente na maioria dos idiomas Borges nos fala tamb m das kenningar constru es lingu sticas e metaf ricas que caracterizam a literatura oral pica n rdica mais especificamente da Isl ndia produzida at em torn
60. que ele de forma divertida denomina animal estar admite que h um olhar do animal em nossa dire o e que preciso vencer a nossa pr pria cegueira a nossa nega o desse olhar Pois se podemos sentir o olhar do animal sobre n s porque podemos num n vel instintivo perceb lo ao animal como pessoa como ser vivente Indo al m Derrida apercebe se de que h uma vergonha de ter vergonha sob o olhar do animal vergonha que torna se mais intensa quando se est na presen a de outro ser humano e que desta sensa o pode se inferir in meras rela es com a forma como a humanidade lida com a alteridade no caso espec fico da quest o animal Refere se muito a prop sito pr pria forma como animais s o reduzidos a um outro homog neo que continua por negar lhes individualidade a um outro que serve apenas como referencial para nossa pr pria humanidade e ainda percebe tamb m a forma como as representa es de animais servem se predominantemente de estere tipos ou arqu tipos N o e n o meu gato o gato que me olha no quarto ou no banheiro esse gato que n o talvez meu gato nem minha gata ele n o vem aqui representar como embaixador a imensa responsabilidade simb lica de que nossa cultura desde sempre encarregou a ra a felina Se digo um gato real que me v nu para assinalar sua insubstitu vel singularidade Quando ele responde ao seu nome seja l o que que
61. que me resta com isto que tenho de me acostumar isto e at menos que isto COETZEE 2011 p 177 183 Isso tudo j passou sumiu com o vento COETZEE 2011 p 157 184 Gone with the wind Romance de Margareth Mitchell que retrata o apogeu e a decad ncia da sociedade cultura e economia escravagistas no sul dos Estados Unidos publicado no Brasil sob o t tulo E o vento levou put Ww 112 s o passados por debaixo das portas dos quartos incapazes de encarar uma o outro Quando Lucy capitula completamente gr vida de seus agressores concorda em aliar se a Petrus entregando a ele o dom nio da propriedade em troca de prote o Lurie fica desolado How humiliating he says finally Such high hopes and to end like this Yes I agree it is humiliating But perhaps that is a good point to start from again Perhaps that is what I must learn to accept To start at ground level With nothing Not with nothing bu With nothing No cards no weapons no property no rights no dignity Like a dog Yes like a dog 1999 p 205 O choque produz uma sensibiliza o na capacidade de empatia de Lurie Ele que repetia com certo orgulho os preceitos mais conservadores do pensamento antropoc ntrico os mais corriqueiros como os argumentos de que animais n o t m alma de que n o raciocinam de que as coisas devem continuar como s o pois esta uma ordem natural inclusive a preda o
62. representaram mais uma vez a reafirma o dos jornais populares diante da imprensa partid ria e elitista e resultaram na percep o da pr tica do jornalismo como intensamente cr tica Essa percep o deve se representa o do jornalismo inclusive e principalmente por autorreferencia o como uma atividade intrinsecamente combativa igualit ria e questionadora do jornalismo como pilar e indicativo da pr tica democr tica defensor dos princ pios de direito e do livre arb trio O modelo ocidental de jornalismo cujas ra zes radicam no modelo brit nico de jornalismo edificado a partir do final do s culo XVII alicer ado nos princ pios da liberdade de express o e de imprensa preconiza que a imprensa deve ser independente do estado e dos poderes tendo direito a reportar comentar interpretar e criticar as actividades dos agentes do poder inclusivamente dos agentes institucionais sem repress o ou amea a de repress o Teoricamente os jornalistas s o apenas limitados pela lei tida por justa pela tica e pela deontologia O campo jornal stico configura se assim como uma esp cie de espa o p blico um mercado livre de ideias onde se ouvem e por vezes se digladiam as diferentes correntes de opini o SOUSA 2008 p 196 Mas se quisermos lan ar um olhar sobre as pr prias origens do jornalismo notaremos que elas s o por assim dizer ideologicamente h bridas Fic o informa o propaganda e dis
63. se da forma como Lucy e Bev parecem negar se a sequer comentar o assunto com ele e pergunta filha Are you trying to remind me of something Am I trying to remind you of what Of what women undergo at the hands of men 1999 p 111 E quando Bev lhe diz que ele nao tem como alcangar a gravidade do fato ofende se e pensa You weren t there You don t know what happened He is baffled Where according to Bev Shaw according to Lucy he is not In the room where the intruders were commiting their outrages Do they think he does not know what rape is Do they think he has not suffered with his daughter What moter could he have witnessed than he is capable of imagining Or do they think that where rape is concerned no man can be where the woman is 1999 p 140 141 196 Dar desculpa Quando No Juizo Final COETZEE 2011 p 99 197 Vou comer isto aqui ele diz para si mesmo Vou comer isto aqui e pedir perd o depois COETZEE 2011 p 154 198 Ou cortado nossos pr prios pesco os COETZEE 2011 p 157 199 The rape of sabine women refere se ao epis dio hist rico mitol gico do rapto das mulheres dos sabinos pelos romanos A pintura mencionada pode ser de autoria de Nicolas Poussin pintada no s culo XVII e atualmente no Museu do Louvre Al m de mais uma vez representar na narrativa a oposi o de cones cl ssicos crueza da realidade a refer ncia tamb m estabelece um pa
64. sob pena de degredo O jornalismo portanto sempre teve uma agenda e o esfor o por desnudar essa agenda resultou na evolu o de sua teoriza o de base metodol gica marcadamente p s estruturalista A principal quest o que a teoria do jornalismo busca responder O que s o not cias CASTRO 2013 p 4 S quase cem anos depois da Teoria do Espelho surgiu Teoria do Gatekeeper Ela postula que o jornal n o pode ser o perfeito espelho da sociedade simplesmente porque imposs vel noticiar tudo que acontece a todos e a todo tempo Deve existir um filtro para determinar o que ser noticiado e esse filtro unicamente o poder de decis o do jornalista baseado em crit rios pessoais subjetivos e arbitr rios O problema que essa hip tese atribui exagerado poder decis rio ao jornalista ignorando outras for as em a o no processo de edi o A partir da seguiram se v rias outras teorias Organizacional Agenda Setting etc cada uma deslocando o poder decis rio sobre a quest o fundamental o que not cia e portanto o que noticiar para diversos agentes do campo jornal stico mas sempre dentro dos limites do jornal ora o editor ora o rep rter ora a ideologia corporativa da empresa jornal stica seriam os nicos detentores dessa prerrogativa A percep o de que v rias for as mesmo discordantes poderiam atuar ao mesmo tempo nesse processo s vem com Teoria do Newsmaking j no fina
65. sua vez de refer ncias exclusivamente metaf ricas no in cio o olhar de Lurie sobre os animais passa a perceb los como indiv duos no decorrer da narrativa O pice desse reajuste de foco acontece quando Lurie decide trabalhar como volunt rio no abrigo de animais local Ele toma a si a terr vel tarefa de dispor dos cad veres dos animais eutanasiados imprimindo a ela um reconhecimento da dignidade p stuma daqueles seres recusa se o que seria logisticamente mais f cil a descart los como lixo e disp e se trabalhosa viagem at um centro de incinera o para que os restos daqueles a quem foi negada a chance de existir recebam pelo menos a homenagem tardia da individualidade do status de pessoa Tomar Disgrace como objeto desta pesquisa apenas por sua ambienta o eventual num cen rio familiar ao movimento globalizado da prote o aos animais que de resto apenas uma ramifica o da causa abolicionista seria justificativa muito superficial Na verdade vamos buscar nossa fundamenta o bem antes na j citada inser o de Coetzee como autor significativo da literatura p s colonial e na movimenta o evidenciada em sua obra entre os paradigmas rivais da contemporaneidade conforme afirma Silva His texts interrogate and enact issues related to poststructuralist postmodern and postcolonial theory to such an extent that Teresa Dovey conceives them as criticism as fiction or fiction as criticism 2011 p 1
66. to an extent womanizer 1999 p 16 2 7 O posicionamento de Lurie em rela o s mulheres an logo quele identificado por Derrida com rela o forma como a humanidade percebe ou antes deixa de perceber os animais Para ele preciso conceder aos animais status de seres viventes e diferenci los do grande territ rio do bicho do todo homog neo designado pelo termo animal Indo al m Derrida prop e que quando se tratar de animais figura animais cone s mbolo arqu tipo ou mat ria de met fora arquet pica se utilize do neologismo animo trocadilho fon tico com as palavras francesas animaux que designa o plural de animal e mot que designa palavra j que estaremos nos referindo n o a seres aut nomos mas ao singular gen rico que a humanidade denomina O Animal 2002 p 61 A respeito de sua pr pria gata Derrida afirma que ela n o uma figura do gato e que n o entra silenciosamente no quarto para alegorizar todos os gatos do mundo os felinos que atravessam as mitologias e as religi es a literatura e as f bulas 2002 p 18 Afirma ainda que nada poder tirar de mim nunca a certeza de que se trata de uma exist ncia rebelde a todo conceito 2002 p 26 J Lurie n o consegue ir al m das figuras tantos das mulheres figura como dos animais figura que constituem suas met foras Ele n o capaz de perceb las como
67. 1 os caes amp Itemid 22 gt Acesso em 30 set 2014 HAJDU D The ten cent plague the great comic book scare and how it changed amer S 1 Macmillan 2008 HARDY T Jude the obscure Londres UK Penguin Books 1995 Judas o Obscuro S o Paulo Abril Cultural 1971 HERRIMAN G Krazy Kat Comic Book Religion Dispon vel em http www comicbookre ligion com c 22807 amp Krazy Kat Acesso em 07out 2014 Hooray for the grammar police PETA S 1 s d Dispon vel em lt http www peta org blog hooray grammar police gt Acesso em 19 fev 2014 KARAM F J C Jornalismo tica e liberdade S o Paulo Summus 1997 KAVANAGH B Blather the alan moore interview northampton graphic novel Bla ther net S 1 17 out 2000 Dispon vel em lt http www blather net articles amoore nor thampton html gt Acesso em 18 nov 2012 KAYSER W An lise e interpreta o da obra liter ria introdu o ci ncia da literatura 3 ed Coimbra Arm nio Amado 1963 V I LACAPRA D History and memory after auschwitz Ithaca NY Cornell University Press 1998 LACLOS C De As rela es perigosas Rio de Janeiro S o Paulo Ediouro Publifolha 1998 LAERTE A gata Ilustrada Folha de S o Paulo S rie de dezoito tiras publicada de forma intermitente entre 01 31 de julho de 2013 TRIPTranformadores S 1 s d Dispon vel em lt http revistatrip uol com br transformadores site homenage
68. 11 p 117 179 Ele olha nos olhos dela Minha filha diz e se engasga num s bito ataque de choro Ela n o mexe um dedo para acalm lo COETZEE 2011 p 118 17 17 o 111 As consequ ncias do ataque s o devastadoras Lurie desconfia da facilita o de Petrus pois o agregado estava convenientemente ausente quando tudo aconteceu e a suspeita torna se certeza quando descobre que um dos assaltantes seu cunhado Insiste com Lucy para que venda tudo e deixe o local mas para seu desgosto ela opta por resistir negando se a prestar queixa do estupro apegando se a uma explica o pragm tica e hist rica para o evento sua viola o era vista por aqueles homens como uma forma de repara o pela opress o do passado e como um tributo que ela deveria pagar dali para a frente para continuar onde estava Mais do que isso o estupro funciona como uma tomada de posse equivalente ocupa o colonial para que continue a viver ali Lucy ser obrigada a aceitar o pedido de casamento de Petrus Em troca do dom nio da terra ele a colocar sob sua prote o Na tentativa de recuperar algum sentido para seu universo Lurie se entregar ao esfor o de desvendar os posicionamentos de cada um dos envolvidos As rela es com Petrus deterioram se completamente pois ele agora o percebe como um inimigo poderoso Isso ficar claro quando o vizinho lhe diz a respeito de um dos agressores de Lucy finalmente instituindo s
69. 2011 p 151 102 quando isso n o mais necess rio Now today the man does not pay for the woman I pay He floats a hand above his wife s head modestily she drops her eyes I pay But that is old fashion 1999 p 130 A pr pria Lucy reproduz com naturalidade o tom dessa rela o ao descrev lo para o pai listando as mulheres de uma forma que as equivale a propriedades junto com os animais He got a Land Affairs grant earlier this year enough to buy a hectare and a bit from me I didn t tell you The boundary line goes through the dam We share the dam Everything from the fence is his He has a cow that will calve in the spring He has two wives or a wife and a girlfriend If he has played his cards right he could get a second grant to put up a house then he can move out of the stable By Eastern Cape standards he is man of substance 1999 p 77 No dia em que comemora com festa a formaliza o da posse da terra adquirida de Lucy Petrus recebe Lurie e a filha embu do de uma nova atitude mais confiante e proclama No more dogs I am not any more the dog man Mas ressalva Lucy is our benefactor 99142 1999 p 129 Ao que Lurie pondera A distasteful word it seems to him double edged souring the moment Yet can Petrus be blamed The language he draws on with such aplomb is if he only knew it tired friable eaten from the inside as if by termites Only the monosyll
70. 3 Encontramos ainda nos prim rdios das circunst ncias p s coloniais que provavelmente condicionam a mundivis o por identifica o ou rejei o dos personagens 25 Seus textos indagam e consolidam quest es relacionadas teoria p s estruturalista p s moderna e p s colonial a tal ponto que Teresa Dovey os qualifica de cr tica enquanto fic o ou fic o enquanto 999 cr tica 50 propostos por Coetzee elementos que interessam por analogia s pr ticas da domina o especista Silva se refere s pr ticas da exclus o implementadas pelo afrikaner na frica do Sul e que tiveram sua valida o m xima durante o per odo do Apartheid a segrega o racial institucionalizada naquele pa s a partir de 1948 Segundo a autora a justifica o da imposi o colonial veio inicialmente atrav s do ideal de homem como medida de todas as coisas que caracteriza o humanismo iluminista Evidentemente que as popula es nativas quando comparadas a esse par metro eram consideradas menos humanas e consequentemente de forma bastante conveniente para os planos de ocupa o colonial menos inscritas no status de sujeitos de direito Por fim a ret rica do poder foi segundo Silva um poderoso instrumento em a o no desenrolar p s colonial da frica do Sul Control over language has been one of the main features of imperial oppression Being an opaque medium language possesses the ability both to expr
71. 4 mar 2014 Five points neighborhood in new york city About com 19th Century History S 1 s d Dispon vel em lt http history1800s about com od urbanconditions p fivepointsnyc htm gt Acesso em 13 fev 2014 FLAUBERT G Madame Bovary 2 ed Sao Paulo Abril Cultural 1971 FOUCAULT M As palavras e as coisas 8 ed Sao Paulo Martins Fontes 2000 A ordem do discurso 23 ed S o Paulo Loyola 2013 FRANCIONE G L Animals property and the law Philadelphia Temple University Press 1995 Rain without thunder the ideology of the animal rights movement S 1 Temple Univ Pr 1996 Introduction to animal rights your child or the dog Philadelphia Temple Univer sity Press 2000 Animals as persons essays on the abolition of animal exploitation New York Co lumbia University Press 2008 Kindle edition Eight animals Animal rights the abolitionist approach S 1 2010 Dispon vel em http www abolitionistapproach com eight animals VDHH2leleb8 Acesso em 22 mar 2014 152 Introdu o aos direitos animais Campinas Unicamp 2013 Francis crick memorial conference 2012 consciousness in animals S 1 s d Dispon vel em lt http femconference org gt Acesso em 17 fev 2014 GEYER C 1 abandonado Clovis Geyer S 1 s d Dispon vel em lt http www clovis geyer com br index php option com content amp view article amp id 54 1 abandonado amp catid 2
72. 93 Chega de cachorro N o sou mais o cachorreiro COETZEE 2011 p 152 Lucy a nossa benfeitora COETZEE 2011 p 152 Uma palavra infeliz ele acha de duplo sentido que estraga o momento Mas como censurar Petrus A l ngua que ele usa com tanto garbo esta se ele soubesse cansada fr gil roida por dentro como se tivesse cupins S os monossilabos merecem confian a e assim mesmo nem todos Que fazer Nada que ele um antigo professor de comunica es possa imaginar A n o ser come ar tudo de novo a partir do a b c E quando as grandes palavras retornarem reconstru das purificadas merecedoras de confian a de novo ele j estar morto h muito COETZEE 2011 p 152 153 103 escapa a Lurie Quando lhe prop e que cuide das terras de Lucy na aus ncia dela o vizinho preocupa se em como sua fun o ser designada T must be the farm manager He pronounces the words as if he has never heard them before as if they have popped up before him like a rabbit out of a hat Yes we could call you the farm manager if you like 1999 p 152 E quando Petrus bem humorado diz que n o tem habilidade para construir sozinho sua casa mas apenas fazer o trabalho de um boy que cavar as valas ele pensa Petrus speaks the word with real amusement Once he was a boy now he is no longer Now he can play at being one as Marie Antoinette could play at being a milkmaid 1999
73. EE 2011 p 171 Enegrecido e com os dentes mostra cheirando a pelo queimado a cobertura de pl stico incinerada COETZEE 2011 p 170 Por ele mesmo ent o Por sua vis o de mundo por um mundo em que homens n o usam p s para reduzir corpos a uma forma mais conveniente de eliminar COETZEE 2011 p 171 Curioso que um homem t o ego sta como ele possa estar se oferecendo para servir a cachorros mortos COETZEE 2011 p 170 N w N ra N tn N a 119 anteriormente para justificar suas conquistas que pode estar por tr s dessa atitude como podemos supor pela men o figura do psicopompo The dogs are brought to the clinic because thet are unwanted because we are too menny That is where he enters their lives He may not be their saviour the one for whom they are not too many but he is prepared to take care of them once they are unable utterly unable to take care o themselves once even Bev Shaw has washed her hands of them A dog man Petrus once called himself Well now he has become a dog man a dog undertaker a dog psychopomp a harijan 7 1999 p 146 A ideia de queda de disgrace esta sempre presente Ele se compara a um harijan um intoc vel E na express o because we are too menny reproduz o bilhete de despedida do filho suicida de Jude Fawley no romance Jude the obscure done because we are too menny HARDY 1995 p 401 Na narrativa de T
74. FEDE PRA ELES EMPUNHAREM ESPINGARDAS Pp ENNE SO ENNE VA Figura 3 14 A gata publicada em 15 07 2013 LAERTE 2013 p 9 Ambas as tiras apontam para a leitura proporcionada pela doxa especista aquela que atribui vida dos animais n o humanos um valor relativo aos padr es antropocentristas Mesmo te ricos tradicionais do antiespecismo como Peter Singer partilham dessa vis o a rejei o do especismo n o implica que todas as vidas tenham igual valor Embora a autoconsci ncia a capacidade de pensar o futuro e de ter esperan as e aspira es bem como a de estabelecer rela es significativas com os outros e assim por diante n o sejam relevantes para a quest o de infligir dor uma vez que dor dor sejam quais forem as demais capacidades que o ser tenha al m daquela de sofre essas capacidades s o relevantes para a quest o de tirar a vida N o uma 138 arbitrariedade afirmar que a vida de um ser autoconsciente capaz de pensamento abstrato de planejar o futuro de a es complexas de comunica o e assim por diante mais valiosa do que a vida de um ser que n o possua essas capacidades 2009 p 32 Mas sob o olhar antiespecista quando a personagem gata afirma que voc s s o todos muito parecidos transp e para o discurso do animal n o humano uma f rmula ret rica familiar que se aplica tanto ao discurso especista como a v rios outros discursos discriminat rios o recurso
75. HUDNOVSKY s d p 26 Outra met fora animal aparece quando nesse Lurie blas e civilizado que se surpreende em qu o bem atendeu ao chamado dos seus instintos surge um tra o comum a v rios animais o comportamento predat rio Numa tarde qualquer andando pela cidade Lurie avista Soraya fazendo compras na companhia de duas crian as que adivinha serem 70 Suas necessidades acabaram se revelando bem leves afinal leves e fugazes como as de uma borboleta COETZEE 2011 p 12 71 grande reengenharia COETZEE 2011 p 10 72 nunca foi um grande professor nessa institui o de ensino transformada e em sua opini o emasculada ele est mais deslocado do que nunca Mas seus colegas de antigamente tamb m est o na mesma curvados pela forma o inadequada para as tarefas que se meteram a cumprir sacerdotes em uma era p s religiosa COETZEE 2011 p 11 89 filhos dela At ent o nada sabia da vida da amante fora do universo restrito ao quarto alugado das suas tardes amorosas e n o resiste a segui la de longe Em determinado momento ela o v ignora o ele se afasta mas o mal est feito algo se quebrou entre os dois Logo depois ela cancela os encontros alegando uma fr gil desculpa Inconformado ele a procura poder amos dizer que a ca a vai ao extremo de contratar um detetive Descobre o n mero do seu telefone liga e para certo espanto seu repelido But then what should a predator expe
76. Lurie pela cultura erudita e o desprezo que v rias vezes demonstra por manifesta es culturais que percebe como menores serve para situar a personagem como um homem de luzes um iluminista cioso de hierarquia em artes e saberes E as figuras de linguagem como a bela imagem do deserto de que t o frequentemente se vale podem tamb m ser interpretadas como uma propens o ao lirismo que serve bem como ref gio contra a desorganiza o que amea a seu universo Que Soraya seja associada a um o sis faz sentido por mais de uma raz o pois ela mu ulmana foi escolhida por Lurie a partir de um cat logo oferecido pela ag ncia de encontros sob a categoria ex ticas aludindo iconografia orientalista evocada pelo deserto Se Soraya combina com deserto e palmeira de o sis com uma imagem padronizada e idealizada de ex tico poder amos dizer at com um ex tico que j n o t o familiar nos parece Soraya o deserto e o o sis v m harmonizar se perfeitamente com a primeira met fora animal que surge na leitura Were he to choose a totem it would be the snake Intercourse between Soraya and himself must be he imagines rather like the copulation of snakes lengthy absorbed but rather abstract rather dry even at its hottest COETZEE 1999 p 2 3 63 A narrativa se desenrola atrav s de discurso indireto livre com a voz do narrador onisciente fundindo se de forma muito entrosada com a do personagem Po
77. Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Miss es C mpus de Frederico Westphalen Programa de P s gradua o em Letras Mestrado em Letras rea de concentra o em Literatura Comparada O AVESSO DA MET FORA UMA PERSPECTIVA ANTIESPECISTA SOBRE DISGRACE DE J M COETZEE E 4 GATA DE LAERTE COUTINHO Mestranda Li ge Copstein Orientadora Prof Dr Denise Almeida Silva Frederico Westphalen 24 de outubro de 2014 O AVESSO DA MET FORA UMA PERSPECTIVA ANTIESPECISTA SOBRE DISGRACE DE J M COETZEE E A GATA DE LAERTE COUTINHO Li ge Copstein Disserta o de Mestrado apresentada ao Programa de P s gradua o em Letras Mestrado em Letras rea de concentra o em Literatura Comparada sob a orienta o da Prof Dr Denise Almeida Silva Frederico Westphalen 24 de outubro de 2014 Ao meu marido Agradecimentos minha amiga Rose que nem sempre concorda com minhas ideias mas defende at o fim meu direito de diz las Jeanete por comemorar meus sucessos Ao F bio por ter me desafiado minha orientadora Prof Denise Almeida Silva pela coragem de investir num tema n o hegem nico A todas as colegas da turma do mestrado 2012 que tornaram esta jornada muito mais divertida A todos os professores e colaboradores do mestrado em Letras da URI por sua imensa paci ncia e generosidade A minha m e por ter tantos livros the question is not Can they reason nor can
78. a o Sindical contendo mil ilustra es quadrinhos e caricaturas para uso gratuito pelos sindicatos em todo o pa s Simultaneamente aos trabalhos em ve culos de resist ncia Laerte tamb m publicaria na imprensa hegem nica ainda no in cio da d cada de 70 Ele esteve nas revistas Banas e Placar nos jornais Gazeta Mercantil O Estado de S o Paulo e Folha de S o Paulo inclusive atuando nas coberturas da Copa do Mundo para estes dois ltimos Seu interesse musical chegou a cursar um semestre da faculdade de m sica na USP assim como de jornalismo em 1969 levaram no a participar da funda o em 1976 do Clube do Choro em S o Paulo Em 1985 viria o primeiro livro a colet nea de charges O Tamanho da Coisa A d cada de 80 foi ali s intensamente produtiva com publica es nas revistas Chiclete com Banana Gerald o e Circo ao lado novamente de Angeli e Glauco A parceria renderia ainda a s rie Los Tr s Amigos em cria o conjunta Foi tamb m nessa d cada que surgiu sua pr pria revista Piratas do Tiet nome emprestado dos personagens que marcariam a partir de 1991 sua publica o regular na se o de quadrinhos do jornal Folha de S o Paulo A visibilidade oferecida por esse ve culo de grande alcance e referencial no jornalismo brasileiro foi definitiva para sua consolida o entre os maiores artistas do quadrinho no pa s Em 2009 Laerte surpreendeu o p blico ao assumir sua homossexualidade e a op o pelo
79. a o produzida pela turva o do limite humano animal atrav s da antropomorfiza o da personagem representada de diversas formas A personagem gata anda sobre duas pernas usa roupas e fala surpreendentemente racionalizando seus pr prios instintos Mas a irrever ncia com que ela se dirige ao homem que denota a aus ncia da hierarquia comumente existente nas rela es entre humanos e outros animais 258 A nica vida que existe esta aqui Que a gente reparte com os animais COETZEE 2011 p 90 134 be E ATE hx wee o LE Aver EN Figura 3 8 A gata publicada em 18 07 2013 LAERTE 2013 p 9 O cotidiano de quem convive com um animal de companhia est retratado tamb m na tira em que o homem procura diversas estrat gias para iludir a gata e for la a engolir um comprimido c lebre no ambiente da web o texto humor stico Como dar um comprimido a um gato Como dar comprimidos a um gato s d desdobrado em muitas vers es cuja autoria se perde no emaranhado de reprodutividade que caracteriza o universo virtual No texto a dificuldade em administrar a medica o ao animal retratada em linguagem de manual de instru es gerando efeito c mico medida que a cada tentativa fracassada os esfor os do tutor v o se tornando mais desesperados e a situa o mais absurda sem jamais abandonar o tom de bula da narrativa J na tira a voz da gata tamb m ouvida Figura 3 9 A g
80. a m dia e redes sociais O tratamento dispensado pela m dia ao evento espec fico da invas o do Instituto Royal e quest o da moralidade da experimenta o em animais ali s nos interessa especialmente j que um dos objetos a tira ser investigado como poss vel espa o de maior aprofundamento reflexivo dentro do jornal O tratamento jornal stico do assunto refletiu o alinhamento da m dia com o pensamento conservador hegem nico ainda que revestido da est tica democr tica que caracteriza a imprensa neoliberal Exemplos logo ap s o evento o jornal Folha de S o Paulo em seu espa o Opini o prop s a quest o certo usar animais em pesquisas cient ficas Para argumentar a favor dos testes elegeu o m dico nefrologista e coordenador do Comit de tica em Pesquisa da Universidade Federal de S o Paulo Jos Medina Pestana Mas para argumentar contra em lugar de outro cientista convidou o rabino Nilton Bonder criando assim n o uma oposi o entre o sim e o n o mas entre o pensamento cient fico e o filos fico como se incompat veis J a revista Veja em mat ria de capa sobre a invas o forneceu uma descri o generalizante e redutora sobre os ativistas Como as sufragistas inglesas do s culo XX na Inglaterra que queimavam igrejas e vitrines de lojas as mulheres brasileiras defensoras de animais recorreram a gestos de alta dramaticidade O perfil mais comum da defensora intran
81. a met fora animal t o prevalente e disseminada por prestar se sobremaneira a produzir a verdade metaf rica de que nos fala Ricoeur atrav s de uma intersec o de discursos sendo o discurso inicial a doxa encr tica Com rela o a transposi es que v o al m da substitui o de palavras a utiliza o metaf rica dos animais encontra nas f bulas um modelo cl ssico Sobre elas afirma Kayser Fala se de par bolas quando todos os elementos de uma ac o exposta ao leitor se referem ao mesmo tempo a uma outra s rie de objectos e processos A clara compreens o da ac o do primeiro plano elucida por compara o sobre a maneira de ser da outra No fundo a f bula uma forma especial de par bola KAYSER 1963 p 188 189 A f bula foi contemplada inicialmente por Arist teles n o como g nero liter rio mas como um dos tipos de prova ou meio de persuas o da ret rica o exemplo este funcionava por induzir o audit rio ao entendimento de uma proposi o mais ampla geral atrav s da aprecia o de um caso particular fict cio no caso da f bula Credita se a Esopo que viveu na Gr cia aproximadamente entre os s culos VI e V a C um s culo antes de Arist teles portanto a cria o desse tipo de narrativa Por meio de hist rias fant sticas Esopo manifestava suas cr ticas e aplausos s virtudes do homem principalmente do homem do povo o qual era n o apenas seu princi
82. a qual s a racionalidade capaz de conferir direitos a um sujeito deixando em segundo plano atributos como a senci ncia ou a capacidade de preferir o prazer e evitar a dor Senci ncia um termo chave para a compreens o das teorias que fundamentam o pensamento antiespecista e devemos nos deter em compreend lo N o se deve medir a senci ncia pelas capacidades cognitivas muito menos pela habilidade de desenvolver linguagem simb lica este seria um atalho que conduziria legitima o dos pressupostos cartesianos A senci ncia um grau de consci ncia partilhado por todos os animais inclusive humanos que n o se refere cogni o nos par metros da esp cie humana Tamb m n o se refere exclusivamente capacidade de sentir mas sim a de preferir uma sensa o outra o que pressup e registro de mem ria capacidade de discernimento e exerc cio de individualidade Naconecy assim a define Dizer que um animal senciente significa dizer que esse animal a tem a capacidade de sentir e b que ele se importa com o que sente 26 Importar se com implica a capacidade de experimentar satisfa o ou frustra o subjetiva 2006 p 117 Por m parte sua fun o de refor o do discurso antropoc ntrico parte a carga ideol gica que lhe atribu mos a met fora animal atravessa a literatura todas as literaturas desde o mais remoto passado que conseguimos ainda divisar e tal fato n o pode ser reduzi
83. a ao gesto de puxar do bolso um cachimbo de tampa de prata gesto que al m de protelar a resposta parece conceder lhe uma sensa o de autoridade Talking to Petrus is like punching a bag filled with sand 1999 p 153 queixa se Lurie A rela o de Petrus com a l ngua colonial de estranhamento cautela desconfian a Sua desconfian a n o infundada pois Lurie embora manifeste a princ pio certa simpatia deixa clara sua consci ncia de classe em v rias ocasi es Quando Lucy lhe prop e que trabalhe para Petrus comenta ir nico J like that I like the historical piquancy E quando ela sugere que fique vivendo no campo ele replica Why Do you need a new dog man 1999 p 87 88 No dia em que ouve o nome do cunhado de Petrus Pollux exclama Not Mncedisi Not Ngabayakhe Nothing unpronounceable just Pollux 1999 p 200 E quando visita a moradia de Petrus repara que shaded lamps and pictures on the walls Van Gogh s sunflowers a Tretchikoff lady in blue Jane Fonda in her Barbarella outfit Doctor Khumalo scoring a goal soften the bleakness 1999 p 128 A sele o iconogr fica que decora a casa de Petrus une um pintor can nico tornado pop Van Gogh e seus girass is uma imagem intensamente associada contracultura dos anos 60 Jane Fonda como a personagem oriunda das hist rias em quadrinho Barbarella um astro do futebol sul africano Doctor Khumalo e outro p
84. a fez parte de um animal que pastou a relva e bebeu a gua dos rios que se banhou na lama morna e se serviu desse marfim para combater um rival ou para se preparar contra o ataque do homem e que farejou com a tromba a f mea com a qual se acasalou O artista que trabalhou essa mat ria n o soube fazer sen o um banal objeto religioso de luxo 1985 p 32 O olhar compassivo de Yourcenar sobre os animais n o se restringe queles que como os elefantes s o comumente tomados como representa o metaf rica da pureza primitiva perdida com o advento da civiliza o Tamb m os animais domesticados tornados em coisas merecem suas considera es O leite acalma os gritos da menina O alimento rico prov m de um animal nutritivo s mbolo da terra fecunda que d aos homens n o somente seu leite mas mais tarde quando seus beres estiverem definitivamente secos sua carne magra e finalmente seu couro seus tend es e os ossos de que se far cola Morrer de uma morte quase sempre atroz arrancado os prados habituais depois de longa viagem no vag o que destinado a animais ir atir lo no abatedouro algumas vezes ferido privado de gua assustado pelo balan o e pelos ru dos que lhe s o novos Ou ent o ser tocado ao longo das estradas em pleno sol por homens que o aguilhoam e maltratam quando empaca Chegar ofegante ao lugar da execu o com a corda no pesco o algumas vezes com os olhos vazados entregue s m
85. a floresta e tinha visto o acasalamento dos rinocerontes Na frica existe um cuco que canta no meio dos dias mais quentes no seio da floresta como as sonoras batidas do cora o do mundo Nunca tive a sorte de v lo nem tampouco o havia visto qualquer pessoa das minhas rela es pois ningu m soube dizer me qual era seu aspecto Mas poss vel que Lulu tenha caminhado numa estreita trilha de veados justamente debaixo do galho onde o cuco estava pousado Se verdade que conhe o uma can o sobre a frica pensei na girafa e na lua nova africana assentada em suas costas nos arados dos campos e nos rostos suados dos colhedores de caf ser que de seu lado a frica conhece alguma can o minha Estremecer o ar sobre os plainos com uma cor que uma vez usei ou inventar o as crian as um brinquedo em que meu nome seja mencionado ou lan ar a lua cheia uma sombra sobre o cascalho do caminho impregnado de mim ou estar o as guias de Ngong me procurando nas montanhas s d p 71 74 interessante perceber que sendo ela pr pria uma colonial europeia na frica a escrita de Dinesen alterna momentos em que ora aventura se numa percep o da alteridade que remete aos pressupostos conceituais da p s modernidade como no trecho acima ora reproduz o pensamento colonial em tudo com que este se alinha ao paradigma iluminista racionalista j descrito Negros e animais s o descritos frequentemente como personagens d
86. a m tua imerso num mar de empatia como alguns podem perceber a reconfigura o social p s moderna mas um estado de hipermodernidade que nos conduz de volta ao arsenal cr tico do materialismo hist rico e sua grande narrativa A representa o das rela es entre humanos e outros animais em Disgrace relata que se a demanda social pela percep o dos animais como minoria oprimida contempor nea an loga e mesmo entrela ada com os primeiros movimentos sociais por direitos de outras minorias como mulheres e negros e mais tarde pelo direito diversidade 279 S porque ele usa barba fuma cachimbo e anda com um cajado voc acha que Petrus um cafre da velha guarda Mas n o nada disso Petrus n o nenhum cafre da velha guarda e muito menos um bom sujeito COETZEE 2011 p 165 146 sexual da n o se pode inferir automaticamente que o ambiente da p s modernidade amig vel multiplicidade de olhares e relatos seja t o integralmente favor vel a essa luta O relativismo quando se arroga o direito de suplantar uma tica essencial e universal apenas instaura um novo discurso encr tico e verdades que decretam a si pr prias Ainda assim nossa hip tese inicial de que o trajeto de Lurie em Disgrace representa uma met fora da transi o dos paradigmas rivais comprova se em grande parte Mas n o pelas raz es mais bvias A desgra a de Lurie que ao final so obra pela incapacidade de adaptar se n o
87. a mesma esfera irmanando os ainda que de forma simp tica numa suposta infantilidade primitiva e intranspon vel que os separa do branco colonizador A hist ria da gazela Lulu por exemplo pontuada com refer ncias ao cozinheiro Kamante ele tamb m uma crian a fr gil que surgiu em certo momento ante os olhos da narradora um dos muitos filhos dos agregados padecia em menino de uma doen a debilitante e s sobreviveu at a idade adulta gra as interven o da fazendeira A pr pria hist ria de Lulu segue se de Kamante com a seguinte introdu o Lulu chegou minha casa vinda da floresta assim como Kamante veio das plan cies s d p 61 E encerra se assim N o tive not cias de Lulu desde que deixei a frica mas tive not cias de Kamante e dos outros meninos da casa s d p 74 Digno de nota tamb m o tratamento dispensado pela fazendeira a outros animais em epis dios da narrativa que reproduzem um pensamento cartesiano contemplam animais n o humanos como objetos propriedade e nunca sujeitos de direito Na imin ncia de sua volta Europa Dinesen cogita simplesmente executar a tiros de espingarda seus c es e cavalos j que n o pode lev los com ela Eu tamb m tive de cuidar do destino dos meus cavalos e cachorros Desde o come o minha inten o era abat los mas muitos de meus amigos escreveram me pedindo para ficar com eles s d p 317 Outra passagem 35 signi
88. a no Blogay LAERTE in ANGELO 2012 O movimento da nfase tem tica nos quadrinhos de Laerte entre os campos pol tico e filos fico foi mapeado por Santos Padovani e Costa SANTOS PADOVANI COSTA 2010 evidenciando tr s momentos distintos mas n o excludentes nem estanques conte dos pol ticos de s tira social e de reflex o filos fica e comportamental interessante perceber como a trajet ria de Laerte tanto profissional como pessoal reproduz a percep o do fil sofo trotskista Alex Callinicos resumida por Cardoso em sua cr tica marxista ao p s modernismo visto de certo ngulo o p s modernismo revela se como resultado da trajet ria pessoal de intelectuais que podem ser considerados da gera o de 1968 no 61 Considerando que este estudo toma a hist ria em quadrinhos como g nero liter rio h brido consideramos essencial a cita o textual inserida no contexto pict rico que constitui a obra em an lise 62 O pensamento marxista tende a alinhar o conceito do p s modernismo ao neoliberalismo capitalista considerando os processos sociais e intelectuais a ele associados como manifesta es de uma nova ordem econ mica perversa N o partilhamos dessa vis o por m optamos por reproduzir os pressupostos de Callinicos por tom los isoladamente como uma contribui o v lida ao trabalho desde que ignorados os Ju zos de valor oferecidos pelo autor 85 decorrer da d cada de 1970 de portadores de
89. a no fato de que ju zos morais n o podem ser uma mera quest o de escolha pessoal ou cultural Eles devem apoiar se sobre princ pios ou axiomas universalmente v lidos t o simples como a observa o de um pressuposto comum a todos os seres vivos o sofrimento mau por exemplo Sobre as ressalvas que a aceita o de um c digo tico universal pode levantar neste momento Naconecy afirma 60 algumas correntes do pensamento contempor neo as chamadas p s modernas acusam essa pretens o universalista de representar um modelo ocidental de pensamento moderno totalizante unificador e sistem tico Mas n o preciso conceber a universalidade da tica no sentido forte dessa express o a qual sugere certezas metafisicas a priori Seria suficiente supor aqui um universalismo moral m nimo 2006 p 80 Concluindo os argumentos especistas listados por Carlos Naconecy inserem se neste estudo em raz o de que mesmo tomando a cr tica antiespecista como pressuposto e ferramenta principal de nossa an lise o tema ainda por demais inexplorado para que n o seja oferecida uma certa contrapartida s ideias que a ela se op em Por m como j mencionamos na aus ncia de obras espec ficas de defesa do especismo tornou se necess rio ir buscar a express o desse pensamento no bojo de uma obra que se prop e a question lo 61 2 Atira 2 1 Atira enquanto not cia A escolha da tira 4 gata como um dos objetos de an lise
90. a palestrante fict cia a escritora Elisabeth Costelo ela marca tamb m a obra de Laerte de forma cada vez mais frequente Por exemplo a op o e divulga o de sua prefer ncia pelo crossdressing foi de certa forma anunciada antecipadamente atrav s do personagem Hugo declarado alter ego do autor ao qual por vezes se refere como alter hugo Em certo momento Hugo passa a vestir se como mulher circunst ncia que passa a dominar muitas das tiras que protagoniza No entanto ele segundo seu criador apenas um exemplar da ra a humana n o muito exemplar Os grandes 84 temas como vida morte sexo o enchem de d vidas os pequenos como vida morte e sexo tamb m COUTINHO s d Al m da clara representa o autorreferencial manifestada atrav s de Hugo outros exemplos confirmam essa proposta est tica Em 2012 ap s sua ades o ao crossdressing Laerte foi v tima de comportamento discriminat rio no banheiro de uma pizzaria em S o Paulo O caso ganhou destaque na m dia e oportunizou discuss es sobre a reavalia o das pr ticas cotidianas e institu das que dizem respeito s delimita es de g nero O epis dio foi referenciado pelo desenhista em v rias tiras como a seguinte publicada no Blogay blog vinculado ao espa o online do jornal Folha de S o Paulo onde se autorretrata T MCONFUTO Com o SEXO BIOL GICO o MACHO F MEA COM QUE NASCERAMI Figura 2 4 Tira de Laerte publicad
91. a vida por exemplo tenho sempre dito que capacidades diferentes s o relevantes para a condena o do ato de matar Tradu o minha 46 qualidade que confere a seus portadores supremacia sobre os interesses de outros indiv duos em detrimento da qualidade de senci ncia No limite mais uma vez nos deparamos com o embate entre paradigmas rivais iluminista e p s moderno Isto evidencia tamb m que a mudan a de paradigma ideol gico quanto ao relacionamento homem animal encontra se em pleno andamento Ela alinha se entre as transforma es sociais representativas do paradigma p s moderno e sua representa o nas narrativas contempor neas inscreve se entre os interesses dos estudos que contemplam a intera o literatura sociedade de forma equivalente quela que se ocupa da inclus o de outras minorias Nesse sentido extremamente significativa a contribui o do fil sofo franc s Jacques Derrida atrav s do texto O animal que logo sou originalmente publicado em 1997 como integrante das atas do col quio L animal autobiographique realizado em Paris Sem jamais utilizar o jarg o do antiespecismo sem referir sequer as express es especismo ou raramente a direitos animais Derrida produziu uma das mais sens veis e abrangentes reflex es sobre a quest o animal em sua dimens o filos fica Tudo parte do desconforto experimentado ao sentir se observado nu por sua gata Ao refletir sobre esse desconforto esse mal estar
92. abes can still be relied on and not even all of them What is to be done Nothing that he the one time teacher of communications can see Nothing short of starting all over again with the ABC By the time the bigs words come back reconstructed purified fit to be trusted once more he will belong dead 1999 p 129 Reputado como uma das principais diferen as entre animais humanos e n o humanos o dom nio da linguagem tamb m foi usado em circunst ncias p s coloniais para marcar posi es hier rquicas Petrus tem consci ncia das sutilezas da ret rica e isso n o 138 139 140 141 142 143 Hoje em dia o homem nao paga mais para a mulher Eu pago Ele passa a mao por cima da cabega da esposa reservada ela baixa os olhos Eu pago Mas antigo COETZEE 2011 p 153 Land Affairs grant subs dio de at ZAR 16mil por fam lia carente concedido pelo governo sul africano para compra ou beneficiamento de propriedades rurais Acabou de ganhar uma verba do Departamento de Terra o suficiente para comprar de mim um pouco mais de um hectare Eu nao contei O limite a represa A gente reparte a represa Dali at a cerca tudo dele Ele tem uma vaca que vai parir na primavera Tem duas mulheres ou uma mulher e uma namorada Se fizer as coisas direito consegue mais uma verba para construir uma casa dai vai poder mudar do estabulo Pelos padr es de Cabo Leste um homem de posses COETZEE 2011 p
93. adiantamos expl cito e foi uma das raz es que motivaram sua elei o como objeto de an lise 1 3 O especismo como doxa Ordenar categorizar e hierarquizar s o parte da metodologia cient fica e regra de ouro do pensamento cartesiano que se alinha perfeitamente ao paradigma iluminista Classificar sempre implica a elei o de crit rios de marcos regulat rios Esses crit rios parecem bvios naturais concretos mas s o conven es s o constru es na maioria das vezes O marco regulat rio entre animais humanos e n o humanos se assim desejamos classificar os seres sencientes costuma ser a capacidade cognitiva Mas j Darwin em sua teoria da evolu o alertava que os animais n o humanos reproduzem em sua estrutura org nica e suas respostas sensoriais exatamente todos os mesmos comportamentos observados nos humanos N o h garantias para a hegemonia do homo sapiens baseada apenas na exclusividade de sua capacidade cognitiva este um evento fr gil e circunstancial Foucault 40 credita a inspira o para escrever seu As palavras e as coisas a um texto de Jorge Luis Borges onde a fragilidade dos nossos crit rios classificat rios denunciada pela descri o de uma divertida taxonomia dos animais Este livro nasceu de um texto de Borges Do riso que com sua leitura perturba todas as familiaridades do pensamento do nosso daquele que tem a nossa idade e a nossa geografia abalando todas as super
94. ado em parte antes de elas nascerem 2013 p 430 Singer parece acreditar que humanos restritos a trabalhos bra ais o fazem em geral n o por falta de oportunidade de desenvolvimento intelectual mas porque s o naturalmente geneticamente menos dotados de capacidades cognitivas Deslizes argumentativos como esse que n o invalidam sua imensa contribui o aos estudos antiespecistas s o o alvo da maioria das cr ticas por parte de seu principal questionador Gary Francione 30 defesa dos vegetais tem sido atribu da a denomina o aned tica no c rculo informal do antiespecismo de alfacismo visto que raramente s o evocados os potenciais direitos das couves ou das ervilhas mas sempre das alfaces num flagrante botano especismo 55 Do ponto de vista evolucion rio n o necess rio que um vegetal experimente sofrimento pois ao contr rio dos animais esse sofrimento de pouco ou nada valeria no sentido de preservar a pr pria vida Vegetais n o possem reflexo de fuga diante de amea as sua integridade nem aparentemente manifestam sinais de inconformidade ou sofrimento por serem colhidos ali s a estrutura da maioria dos vegetais comporta que sofram mutila es de extens o impens vel para a vida animal e continuem vivos Ainda assim a mesma l gica de inclus o moral que norteia a causa animal e que prioriza a vida j que uma das poss veis defini es de senci ncia a capacidade de perce
95. ados depoimentos de todos os envolvidos em casos de viola es dos direitos humanos O objetivo era promover uma justi a restaurativa que compreendesse mais que apenas a aplica o de pena mas o resgate da dignidade das v timas e uma oportunidade de reintegra o para os culpados Ao recusar se a defender se ou discorrer sobre o acontecido declarando se culpado desde o in cio Lurie atrai uma atmosfera de linchamento ideol gico Ao final for ado a demitir se da universidade e acuado em todas as frentes ele decide deixar a cidade Antes de passarmos pr xima esta o do percurso de Lurie conveniente aprofundar a compreens o dos dados que nos levam a concluir que nesta fase da narrativa a preval ncia de met foras animais associadas a uma disposi o l rica da personagem e seu 109 Ela nunca gostou dele considera o um resto do passado que quanto mais cedo for descartado melhor COETZEE 2011 p 51 Falar mais sobre a situa o da frica do Sul N o espere nenhum apoio de mim David e de ningu m Nem apoio nem considera o n o nos dias de hoje Vai estar todo mundo contra voc COETZEE 2011 p 55 112 longa hist ria de explora o de que isso tudo faz parte COETZEE 2011 p 65 digno de nota que ao transpor Disgrace para filme em 2008 o diretor Steve Jacobs viu se privado desse recurso narrativo 114 A Truth e Reconciliation Comission TRC criada a partir dos Promotion of National
96. ados index php cod 92 gt Aces so em 20 jan 2014 LAGE N Ideologia e t cnica da noticia Petr polis Vozes 1992 LEAHY M Against Liberation putting animals in perspective New York Taylor amp Fran cis 2005 LINARES L B Apuntes para una teoria del cuento Del cuento e sua alrededores aproxi maciones a una teoria del cuento 2 ed Caracas Monte Avila Editores 1997 LISPECTOR C A legi o estrangeira S o Paulo tica 1977 153 LOW P N o mais poss vel dizer que n o sab amos diz philip low Dispon vel em lt http veja abril com br noticia ciencia nao e mais possivel dizer que nao sabiamos diz phi lip low gt Acesso em 11 mar 2014 MARQUES DE MELO J Jornalismo opinativo g neros opinativos no jornalismo brasilei ro 3 ed Campos do Jord o Mantiqueira 2003 MCLUHAN M Os meios de comunica o como extens es do homem 3 ed S o Paulo Cul trix 1971 My dog the paradox the oatmeal S 1 s d Dispon vel em lt http theoatmeal com co mics dog paradox gt Acesso em 30 set 2014 NACONECY C M tica amp animais um guia de argumenta o filos fica Porto Alegre Edipucrs 2006 NEVES M S F bulas na agora de Arist teles ao s culo das luzes Matraga jul dez 2013 v 20 n 33 Dispon vel em http www pgletras uerj br matraga matraga33 arqs matra ga33a06 pdf Acesso em 16 jun 2014 OLIVEIRA M P N Pornografia impressa uma an
97. al que logo sou S o Paulo Unesp 2002 DICKENS C American notes for general circulation S 1 Buki Editions 2009 151 DIMITRI Deo gratias S o Paulo Brasiliense 1988 DINESEN I 4 fazenda africana S o Paulo C rculo do Livro s d DORFMAN A MATTELART A Para ler o pato donald comunica o de massa e colo nialismo 6 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2010 EAGLETON T The illusions of postmodernism Oxford Malden MA Blackwell 1997 ECO U Apocal pticos e integrados 6 ed S o Paulo Perspectiva 2001 EISNER W Keynote address from the 2002 will eisner symposium ImageTxT Interdisci plinary Comics Studies 2002 Disponivel em lt http www english ufl edu imagetext archi ves vl 1 eisner gt Euthanasia PETA S 1 s d Dispon vel em http www peta org issues companion ani mal issues overpopulation euthanasia Acesso em 10 set 2014 FARENCENA G S F bulas de esopo e mill r fernandes uma an lise contextual s d Dis ponivel em lt http jararaca ufsm br websites l amp c download Artigos 1 1 gesselda pdf pdf gt FERREIRA A B de H Novo dicion rio b sico da lingua portuguesa folha aur lio 1988 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira s d FERREIRA E Met fora animal a representa o do outra na literatura Estudos de literatu ra brasileira contempor nea 2005 n 26 Dispon vel em lt http Awww gelbc com br pdf re vista 2607 pdf gt Acesso em
98. an aram as bases do conceito de objetividade que nortearia a 36 Segundo o te rico Stuart McCloud o termo comics refere se a toda arte pict rica sequencial desde as pin turas rupestres As tiras s o designadas em ingl s como comic strips as hist rias em quadrinhos comic bo oks e assim por diante 64 experi ncia jornal stica norte americana fundadora dos pressupostos que marcam fortemente ainda hoje a despeito de todas as teorias p s estruturalistas a pr tica jornal stica contempor nea A miss o do jornalista de antem o imposs vel buscar a imparcialidade e a verdade absolutas sabendo contudo que estas n o existem O s culo XIX na virada do qual surge a tira abriga eventos hist ricos e socioculturais que explicam e condicionam o que Jorge Pedro Sousa define como o jornalismo na maioridade 2008 p 100 103 Entre eles o autor lista a expans o e consolida o do capitalismo e a Revolu o Industrial Ao crescimento geogr fico e populacional dos centros urbanos associados industrializa o seguiram se a necessidade oportunidade de ascens o social e educacional dessas popula es De posse de mais conhecimento elas for am a democratiza o da vida pol tica e sua inser o nos processos decis rios da coletividade atrav s do sucesso por exemplo dos movimentos sufragistas universais Todos esses fatores influenciaram a transfigura o da imprensa e das rela es entre jornalismo
99. ando onde e a quem N o posso dizer tudo o que quero nem em qualquer lugar nem a qualquer hora e nem a qualquer um pois ou o objeto assunto tabu falar de sexo com crian as ou h um ritual de circunst ncia perguntar o pre o de um presente deselegante ou referir esse objeto privil gio do sujeito que fala falar sobre uma disciplina para a qual n o se tem qualifica o formal por exemplo Esses tr s interditos frequentemente combinam se entre si O segundo procedimento de exclus o a partilha a oposi o entre raz o e loucura Ao louco nada permitido dizer ou pelo menos nada do que diz ser levado em considera o pode tamb m ocorrer que ao louco tudo permitido dizer pois sendo inimput vel pela aus ncia de raz o ganha imunidade o caso do bobo da corte que constrange o rei com sua ironia e na literatura dos animais falantes das f bulas O terceiro e principal procedimento de exclus o a vontade de verdade Foucault assim como Barthes veio destacar que est o vigentes em nossa civiliza o mecanismos an logos ret rica do poder do per odo cl ssico mesmo que ela por vezes se disfarce em ret rica da raz o quando o discurso hegem nico pratica sua vontade de verdade excluindo discursos contr rios Segundo Michel Foucault As grandes muta es cient ficas podem talvez ler se por vezes enquanto consequ ncia de uma descoberta mas podem ler se tamb m como ap
100. animais pode ser lida em seu reverso como a animaliza o de seres humanos e do ponto de vista antiespecista remete a preceitos cartesianos que t m como fundo a ideia de que animalizar se degradar se Embora a met fora em Maus atinja evidente pot ncia heur stica o processo pode ser entendido de duas formas Uma antropocentrista apoia se na degrada o impl cita em agir como animal Outra mais sofisticada aquela proposta por Rothberg By situating nonficctional story in a highly mediated unreal comic space Spiegelman captures the hyperintensity of Auschwitz p pleg p VP WE WATCHED cad DISAPPEARED FROM OUR EYES T_T m at a TIM IT WAS THE LAST TIME EVER WE SAN 4 wed ue BUT TART WE COULDN T KNOW i 3 DE NS a AA PRE dai Figura 3 1 Maus a survivor s tale SPIEGELMAN 2011 p 110 Embora Maus n o seja nosso objeto a compara o serve para diferenciar 4 gata e outras obras que como essa se ocupam das rela es entre humanos e outros animais do 254 The Jazz Singer no Brasil O cantor de jazz primeiro longa metragem sonoro feito em 1927 onde o ator Al Jolton interpreta um jovem judeu em conflito com a fam lia pois deseja tornar se artista A cena mais marcante quando ele se apresenta com o rosto pintado como negro 255 Eu poderia desenhar Ku Klux Gatos Tradu o minha 256 Situando o enredo n o ficcional em um ambiente altamente mediado irreal como o dos quadrinhos Spieg
101. antropocentrismo e situa o pensamento religioso como uma inven o destinada a refor ar o especismo Mais uma vez nos deparamos com a no o de alma como um pressuposto que valida o dom nio do homem sobre as outras esp cies Tom Regan afirma que a justificativa da aus ncia da alma imortal como valida o da explora o de animais pode ser questionada em tr s pontos 1 Nem todas as religi es concordam no fato de que animais n o possuem alma 2 Mesmo tomando como verdadeira a asser o de que animais n o possuam alma n o h uma rela o l gica entre esse fato e o direito humano de explor los 3 Tomar como par metro um dogma religioso e aplic lo a uma quest o de direito n o um argumento aceit vel na contemporaneidade quando prevalece a no o de que estado e igreja devem ser mantidos em dom nios separados REGAN 1993 p 194 205 131 FARA ELE TUDO E BOM NAO SEI ELE TEM ALMA 05 OUTROS ARA FACILITAR SEU TRA ESQUECER Que ELE EO PLIG N O 1EM 83 A QUESTA ARA ent OA ato 53 ALMAS MEAE A Er NOES CM NEL t VEVE VAR UNS VOD QUILOS E MEIO FOBRE BICHINHO FELIZMENTE ELE N O TEM ALMA B Figura 3 3 O misantropo DIMITRI 1988 p 44 Os quadrinhos de Dimitri se alinham a uma abordagem mais radical descolada do bem estarismo que caracterizou o primeiro momento dos movimentos pelos animais surgidos em meados do s culo XIX na esteira de outras reivindica es por direitos de minorias tais c
102. apenas como licen as po ticas Em Disgrace a quest o animal emerge no ambiente rural Como vimos a primeira fase do romance marcada em rela o segunda pela aus ncia de representa es de animais e se desenvolve na cidade como padr o de civiliza o em oposi o ao campo como padr o do inculto Enquanto o protagonista esteve na cidade animais s surgiram atrav s de met foras que os reduzem a arqu tipos em oposi o ao cen rio do campo onde eles s o 126 introduzidos como personagens contextualizados por uma hist ria pessoal Esta aus ncia de animais na cidade pelos menos do ponto de vista de Lurie merece considera o Se para Berger os animais est o desaparecendo de sob nossos olhos 2009 para Yelin a migra o em massa das popula es rurais rumo s grandes urbes o desaparecimento do animal dom stico til e o surgimento do animal de estima o o desenvolvimento da ind stria de alimenta o e a redu o do animal a mera mat ria prima s d p 1 s o os fatores que determinaram o in cio da reconfigura o das rela es entre humanos e outros animais em v rias reas denominada giro animal Podemos inferir que o animal desaparecido a que Berger se refere o animal na plenitude de sua natureza e dignidade em oposi o ao animal de estima o de que fala Yelin um indiv duo desprovido de autonomia infantilizado pelas circunst ncias e conting ncias de sua inser o num
103. arecimentos de novas formas de vontade de verdade 2013 p 15 Podemos entender essa proposi o ao contemplar dois fatos referentes investiga o cient fica sobre o grau de consci ncia dos animais e como eles foram apresentados cientificamente de acordo com as configura es de vontade de verdade de suas respectivas 18 pocas Para Descartes adepto da vivissec o o fato da fisiologia dos animais reproduzir os mesmos sistemas que nos humanos garante a capacidade de sentir era irrelevante Para ele era desprez vel o dado de que os animais que dissecava manifestassem as mesmas rea es dor que os seres humanos e que seus corpos apresentassem os mesmos tipos de constru es nervosas que permitem a experi ncia da dor tamb m em humanos Sua vontade de verdade de produzir um discurso que respaldasse convic es preexistentes estruturava se de forma a n o reconhecer a analogia do sistema neurol gico entre animais humanos e animais n o humanos uma vontade de verdade em tudo similar ao conceito de discurso verdadeiro dos antigos embora apresentada pela ret rica cient fica ou racionalista Caminho inverso fizeram recentemente os cientistas signat rios da Declara o de Cambridge documento publicado em 2012 pelo neurocientista canadense Philip Low pesquisador das universidades de Stanford e do Massachussetts Institute of Technology MIT Low at ent o desvinculado da quest
104. artaria O mundo est incrivelmente cheio de ret rica antiga Tradu o minha Para Paul Ricoeur a ret rica t o antiga quanto a filosofia Por esta raz o ela sua mais velha inimiga e sua mais antiga aliada Sua mais velha inimiga sempre poss vel que a arte de bem falar libere se do cuidado de dizer a verdade 2000 p 19 15 irrevogavelmente do discurso liter rio onde a verdade entra em perspectiva Segundo Alexandre J nior o que define a ret rica aristot lica a oposi o entre estes dois sistemas t o claramente demarcados um ret rico e outro po tico Os que a partir dele reconhecem e aceitam tal oposi o enquadram se na ret rica aristot lica Os que sustentam a fus o da ret rica com a po tica e consequentemente aceitam a transforma o da ret rica numa arte po tica de cria o liter ria mediante a literaturiza o da pr pria ret rica enquadram se no movimento que com a Segunda Sofistica se viria a designar neo ret rica 2005 p 33 esta ltima conceitua o que pressup e a exist ncia de uma ret rica da po tica e uma po tica da ret rica a que mais se harmoniza com nossa proposta de an lise dos usos metaf ricos da figuras de linguagem das flores ret ricas Enfim mesmo na Po tica prescrevia Arist teles que para expressar a verdade melhor que se evite o excesso de enfeites os floreios que caracterizam a ret rica sofista
105. asas que lhe eram familiares Se de in cio o uso das met foras animais serviu para definir um Lurie l rico 97 autoabsorvido um idealista ainda que beira da queda o novo momento vai sendo delineado por representa es onde os animais j n o mais metaf ricos assumem fun o narrativa importante Na propriedade de Lucy h est bulos somos avisados logo de chegada H patos e gansos no a ude Lurie recebido pela mo a e espanta se ao perceber que ela se tornou uma verdadeira fazendeira Now here she is flowered dress bare feet and all in a house full of the smell of baking no longer a child playing at farming but a solid countrywoman a boervrou 1999 p 60 introdu o de Lucy na trama segue se a apresenta o de um novo conjunto de interlocutores e esse conjunto embora heterog neo guarda uma diferen a marcante em rela o s personagens da fase inicial Na esta o inicial do percurso de Lurie as personagens com quem se relaciona s o indiv duos em tudo medianos convencionais integrados sem muito atrito s normas sociais e poder amos dizer em paz com a doxa Mesmo Soraya a prostituta revelava uma mentalidade surpreendentemente conservadora Naquele contexto Lurie parecia ser a nica nota realmente dissonante Daqui por diante vamos nos deparar com personagens sempre caracterizadas por um certo grau de antagonismo Muitas for as discordantes muitas mundivis es chocam se para pr
106. ata publicada em 23 07 2013 LAERTE 2013 p 7 No decorrer da narrativa a personagem felina vitimada por tiros de chumbinho A intensidade dram tica do evento e a forma como cada personagem reage a ela desafiam a convic o de que o dano causado integridade f sica ou emocional de um animal n o t o 135 grave quanto seria se se tratasse de um humano Al m disso mais uma vez o limite entre humano e animal tomando como par metro a racionalidade subvertido atrav s de uma invers o de pap is a gata acalma o homem quando este incapaz de controlar suas emo es VOC A ae ex ees Am be i Gx SH Ee yx VA Figura 3 11 A gata publicada em 08 07 2013 LAERTE 2013 p 9 Parapl gica em fun o da agress o ela fica permanentemente restrita a uma cadeira de rodas A hist ria baseada num acontecimento ver dico ocorrido com a gata do pr prio Laerte Celina conforme relatado por ele Revista Piau piau 79 quest es de g nero Laerte em tr nsito s d reproduz um fato rotineiro nas grandes cidades onde a popula o de animais de companhia em especial c es e gatos protegida de maus tratos apenas por leis pouco claras que determinam puni es muito brandas A raz o da pouca efic cia das leis contra maus tratos o status dos animais como propriedade Segundo Gary Francione at o s culo XIX os animais n o humanos eram indistingu veis perante a lei de obj
107. ato os porquinhos Numa de suas muitas palestras a respeito de Maus travou se entre Art Spiegelman e um jornalista o seguinte di logo jornalista Voc n o acha de mau gosto usar hist ria em quadrinhos para retratar o Holocausto Spiegelman N o eu acho que o Holocausto que foi de mau gosto SPIEGELMAN 2011 Subverter a candura infantil dos bichinhos que falam ainda que a viol ncia subjacente nas hist rias e desenhos animados infantis seja j tema insistentemente questionado mesmo em n vel acad mico foi talvez o recurso narrativo e est tico mais importante de Maus Porque t o mais terr vel ver um gato esmagar a cabe a de um rato em Maus do que ver Tom martelar a cabe a de Jerry 45 O problema que graphic novel passou a significar apenas hist ria em quadrinhos cara 46 Umberto Eco refere se ao uso no quadrinho de signo gr fico usado em fun o sonora como uma das principais caracter sticas dessa linguagem salientando Em muitos casos trata se de verdadeiras onomatopeias j dotadas de significado em ingl s e que se transferem para outros pa ses com pura fun o evocativa perdendo a imediata conex o com o significado transformando se de signo lingu stico que eram em equivalente visivo de ru do e voltando a funcionar como signo no mbito das conven es sem nticas da est ria em quadrinhos 2001 p 145 74 Uma das chaves para o entendimento
108. ber se no mundo estende j seu olhar causa vegetal e novos problemas ticos se colocar o no futuro Em s ntese a possibilidade de senci ncia nos vegetais e o dilema tico que da decorreria n o nos autoriza a agir de forma imoral com rela o aos animais Como afirma Naconecy nao precisamos debater ou esperar para descobrir se outras coisas da natureza como vegetais e ecossistemas t m um status moral antes de pararmos de aprisionar e matar aqueles animais que j sabemos que t m esse status Esses animais j s o eticamente importantes agora 2006 p 137 J os argumentos da Subjetividade e do Sofrimento nos remetem a Descartes e sua bem conhecida convic o de que os animais n o passam de m quinas vivas cujas manifesta es de sofrimento seriam apenas rea es mec nicas uma vez que seriam desprovidos de uma alma imortal al m claro de raz o O Argumento da Subjetividade declara que n o cab vel aplicar tica ao tratamento dispensado aos animais porque nada podemos saber a respeito das experi ncias mentais ou estados subjetivos dos animais se que existem NACONECY 2006 p 100 Diz ainda que supor que animais experimentam sensa es ou sentimentos similares aos humanos uma antropomorfiza o indevida uma proje o de experi ncias exclusivamente humanas e que como os animais n o possuem mente ou linguagem simb lica s o incapazes de experimentar 31 Na d cada d
109. bre o suficiente para veicular assuntos adultos norteia a pr pria g nese da denomina o graphic novel De uma forma geral considera se graphic novel uma narrativa pict rica sequenciada e de enredo aut nomo abordando temas complexos com certo grau de sofistica o e aprofundamento reflexivo e frequentemente apresentadas em volumes de qualidade editorial superior capa dura impress o de alta resolu o papel dur vel etc Essa suposta qualidade editorial superior levaria outro autor can nico dos quadrinhos o roteirista Alan Moore a afirmar 44 Estou aqui para dizer que acredito fortemente que este meio literatura uma forma de literatura e est atingindo sua maturidade agora A palavra comics claro ainda a utilizamos mas um equ voco N o podemos livrar nos dela como Kleenex Ela n o cabe aqui e em parte culpa nossa porque quadrinhos originalmente foram projetados para ser hist rias engra adas Eles foram originalmente chamados de engra ados e de piadas e mais tarde os c micos O futuro do meio agora depende do mundo acad mico porque para que cres a e amadure a como est acontecendo necess ria a aten o e o interesse de pessoas que no mundo acad mico s o capazes de dissec lo discuti lo reconhec lo e avali lo o que ir estabelecer um padr o ao qual jovens artistas de quadrinhos iniciantes ir o aspirar 73 ironicament
110. ca ador como um animal lover algu m que value animals at a very elementary unreflective level visto que os observa e embosca por horas e por fim ap s mat los tem prazer em sua carne Esse argumenta um amor maior mais vido de comunh o do que aquele demonstrado pelos defensores dos direitos animais a maioria dos quais vive distanciado da realidade concreta da vida dos animais COETZEE et al 1999 p 64 Outra leitura sobre a mesma associa o entre sexo e preda o feita pela escritora ecofeminista Carol J Adams no livro The sexual politics of meat onde pleiteia que h uma analogia fundamental na forma como animais e mulheres s o oprimidos na sociedades patriarcal sendo as mulheres frequentemente percebidas como menos humanas em rela o a um ideal androc ntrico de humanidade e portando pass veis de explora o como objetos Para Adams a posi o da mulher na sociedade tem de ser desafiada num contexto que reconhe a o que est acontecendo com os outros animais Muitas vezes as feministas dizem n o somos animais N s somos como os homens Mas eu estou tentando mostrar como isso perigoso permitir que animais existam como a nega o ou o oposto de seres humanos para em seguida serem identificados com o masculino Espero que as feministas reconhe am que a inst vel posi o das mulheres num mundo patriarcal sempre vai nos aproximar dos outros animais Simplesmente dissociar a sit
111. ca at pela designa o de totem N o se trata de um Outro nem sequer de uma esp cie por mais que tomar a esp cie pelo indiv duo j seja suficiente generaliza o A figura de linguagem que abre o rol das met foras animais na primeira parte de Disgrace fornece a chave para esta an lise Ela se baseia na constata o de que a preval ncia desse tipo de met fora na fase inicial da narrativa concorre para caracterizar o percurso filos fico e existencial da personagem principal moda de um her i tr gico a servant of Eros 1999 p 52 como se define em dado momento o professor Lurie ser arremessado de um universo humanista e cl ssico ao qual ainda se agarra a um outro universo p s moderno p s colonialista fragmentado e descentralizado onde todas as suas certezas se esvaem A representa o de percurso estabelece se em mais de um sentido dentro da narrativa pois o movimento de Lurie entre dois mundos d se tamb m numa dimens o geogr fica e territorial sua fuga em desgra a grifo meu da Cidade do Cabo para o campo da metr pole para prov ncia do mais civilizado para o menos civilizado numa perspectiva iluminista Esse deslocamento divide a obra em dois momentos Um inicial em que Lurie ainda est em seu lugar no mundo embora pressinta e sofra os efeitos da mudan a E outro em que j n o h lugar no mundo para ele De in cio somos informados de que for a man of his age fifty tw
112. cebe a especial concess o de montar anualmente um curso de sua escolha onde percebe se pode voltar ao seu ber o cl ssico naquele ano escolheu como tema os poetas rom nticos O narrador onisciente nos revela que Lurie n o tem respeito pelas outras mat rias que ensina raz o pela qual desprezado pelos alunos e tamb m que ele has never been much of a teacher in the transformed and to his mind emasculated institution of learning he is more out of place than ever But then so are other of his colleagues from the old days burdened with upbringings inappropriate to the tasks they are set to perform clerks in a post religious age COETZEE 1999 p 4 Podemos perceber a representa o do contexto da frica do Sul p s apartheid reestruturando se em todas as reas econ mica cultural educacional numa nova ordem n o euroc ntrica e a sensa o de inadequa o de Lurie diante dessa nova ordem Por exemplo great rationalization refere se ao processo iniciado a partir de 1994 de desmantelamento do sistema educacional caracter stico do per odo da segrega o racial um dos principais aparelhos de manuten o do regime era o apartheid educacional Professores das escolas caracterizadas pela hegemonia branca passaram por processos de reciclagem foram realocados para atender s necessidades de distribui o mais equilibrada em reas carentes ou estimulados a aderir a programas de demiss es volunt rias C
113. cial de literariedade de uma obra com sua extens o equivaleria a desqualificar v rios g neros liter rios j consagrados ainda que atendo nos s prosa nem mencionaremos a poesia Conto e seu subg nero miniconto estariam exclu dos enquanto meio expressivo pleno de possibilidades de frui o Em nossa opini o a necess ria concis o e a concentra o espacial e temporal dos recursos textuais e est ticos dispon veis na tira a tornam em nossa opini o um g nero narrativo an logo s narrativas curtas onde como postulava Edgar Allan Poe todo o efeito deve ser produzido de uma s assentada 1847 A primeira caracter stica do conto identificada por seus te ricos diz respeito rela o entre extens o e intensidade do efeito Para Poe o conto deve ser curto o suficiente para que possa ser lido de uma s vez no per odo de tempo que em sua opini o pode se manter um certo estado de interesse do leitor Al m desse prazo que no caso do conto n o 50 De fato h pouco de engra ado nesta hist ria em quadrinhos O humor mais disseminado carnavalesco embora ainda negro vem da premissa escandalosa de apresentar Auschwitz e suas consequ ncias no g nero de quadrinhos assim em certo sentido trazendo o que seria inating vel para um n vel supostamente mais baixo sem implicar desrespeito Tradu o minha 51 A teoria de Poe foi mencionada tamb m por Umberto Eco em sua an lise do g nero HQ Ec
114. cializa seus produtos There is a smell of burning meat A cold mist hangs over the town people rub their hands stamp their feet curse There is a show of bonhomie from which Lucy to his relief holds herself apart 1999 p 71 116 Agora ali esta ela de vestido florido p s descal os e tudo numa casa cheirando a assado n o mais uma menina brincando de fazendeira mas uma s lida camponesa uma boervrou COETZEE 2011 p 74 117 Dela Lurie diria Suas opini es s o surpreendentemente moralistas Ele n o pergunta como ela consegue coadunar essas opini es com o tipo de trabalho que faz COETZEE 2011 pg 8 118 Faz se um sil ncio enquanto os dois ponderam de seus respectivos pontos de vista a hist ria da vida dele COETZEE 2011 p 222 98 estes aparece nos cachorros usados como dispositivos de prote o da propriedade There are the dogs Dogs still mean something The more dogs the more deterrence p 60 informa Lucy quando o pai questiona sobre a seguran a do local Desse uso dos animais deriva uma das principais fontes de renda de Lucy o hotel para c es cujos h spedes ela descreve como Watchdogs all of them Working dogs on short contracts two weeks one week sometimes just a weekend The pets tend to come in during the summer holidays p 61 A divis o dos animais em categorias segundo sua fun o para os humanos watchdogs e p
115. como par dia No entanto ele denuncia um uso metaf rico do animal como refor o do preconceito colonialista e de qualquer forma a atribui o de qualidades humanas a animais valores familiares por exemplo vem a ser uma forma ret rica de especismo visto que n o a analogia comportamental com valores restritos ao contexto da sociedade humana que confere de acordo com o pensamento antiespecista direitos iguais aos animais n o humanos e sim sua capacidade de senci ncia A respeito de elefantes vamos encontrar um olhar mais sens vel poder se ia dizer talvez polif nico em Marguerite Yourcenar Em seu relato autobiogr fico Recorda es de Familia a autora nascida em 1903 descreve em min cias a ideologia e o estilo de vida das duas fam lias burguesas a que pertence francesa por parte de pai e belga por parte de m e A estagna o a decad ncia a perda dos privil gios de seus familiares acompanha o ritmo das evolu es socioculturais e econ micas que caracterizam a primeira metade do s culo XX e mesmo em se tratando de um memorial afetivo percebe se a disposi o cr tica de Yourcenar ao avaliar as idiossincrasias de uma elite em decomposi o Em certo momento ao descrever 17 Personagens africanos t m que ser coloridos ex ticos maiores que a vida mas vazios sem di logo conflitos ou resolu es em suas hist rias sem profundidade ou contradi es que desviem o foco Animais por outro lado
116. comportamento crossdresser passou a vestir se permanentemente de acordo com o 58 Essa publica o tomava emprestado o nome de outra revista Ovelha Negra publicada durante a d cada de 60 em Minas Gerais que igualmente desafiou o regime militar 59 A express o bunker como abrigo no sentido b lico conferia ao nome da revista seu sentido de resist ncia ao regime de exce o 60 Crossdresser refere se pessoa que veste se ao contr rio ao contr rio das expectativas e conven es associadas a seu g nero 83 c digo de indument ria feminina Em entrevista revista TRIP afirmou Eu sou militante Eu fa o parte de uma associa o da Abrat Associa o Brasileira de Transg neros e a gente t a pra isso pra discutir e estimular o debate Justamente pra que as pessoas percam o medo de se reconhecer como transg neras como transexuais como homossexuais ou o que for Para as pessoas n o se sentirem rid culas erradas bizarras como o ponto de vista conservador faz quest o que elas se sintam Laerte s d Essa postura que desafia os conceitos de g nero e outros crit rios classificat rios como ndices identit rios ra a credo classe foi representada de forma intensa na hist ria em quadrinhos 4 Insustent vel Leveza do Ser onde o protagonista ingressa numa atmosfera on rica e surreal onde nada o que parece ser sucessivamente sendo despojado de todos os seus referenciais ma
117. constitui u ma not cia por si O tema maci o da imprensa s pode ser examinado por contato direto com as estruturas formais do meio em quest o E necess rio declarar de vez que o interesse humano um termo t cnico que designa o que que acontece quando as muitas p ginas de um livro ou os m ltiplos itens informacionais s o dispostos em mosaico numa p gina O livro uma forma privada e confessional que induz ao ponto de vista O jornal uma forma confessional de grupo que induz participa o comunit ria O homem ligado ao livro tem a ilus o de que a imprensa seria melhor sem os an ncios e sem a press o dos anunciantes As pesquisas t m espantado at os diretores de jornais ao revelarem que os olhos err ticos dos leitores de jornais se deliciam por igual com os an ncios e os textos noticiosos An ncios s o noticias 1971 p 231 233 72 autor com seu pai Vladek Spiegelman judeu polon s sobrevivente do campo de concentra o nazista de Auschwitz e o relato do pr prio Vladek sobre os eventos vivenciados por ele durante a Segunda Guerra Mundial na Europa A premia o adicionou mais uma dimens o ao debate sobre a poss vel profundidade reflexiva oportunizada por textos veiculados no formato comic book e tamb m consolidaria o subg nero graphic novel sobre o qual cabe uma contextualiza o Ao entregar editora os originais de sua obra 4 Contract with God and Other Tenement S
118. ct when he intrudes into the vixens s nest into the home of her cubs 1999 p 10 Descri es desses encontros tamb m estabelecem met foras animais Lurie assombrado pela imagem dos filhos de Soraya playing quiet as shadows in a corner of the room where their mother and the strange man couple na r pida escapada com a colega de trabalho Dawn ressente se de que durante o sexo ela reage bucking and clawing e por fim no nico momento dessa primeira parte da obra em que n o se refere metaforicamente aos animais afora cit los enquanto comida e n o seres viventes como shrimp 9977 anchovies 1999 p 6 9 8 14 ainda assim estabelece uma analogia entre a pr pria sexualidade que lhe causa problemas e a dos animais He ought to give up retire from the game At what age he wonders did Origen castrate himself Not the most graceful of solutions but then ageing is not a graceful business A clearing of the decks at least so that one can turn one s mind to the proper business of the old preparing to die Might one approach a doctor and ask for it A simple enough operation surely they do it to animals every day and animals survive well enough if one ignores a certain residue of sadness COETZEE 1999 p 9 O r pido encontro com Dawn ali s parece ter sido o gatilho para o estado deprimido que a passagem sobre a castra o reflete Durante um almo o ela come
119. cter sticas mencionadas por Cortazar J para Piglia todo conto deve contar duas hist rias Em nossa opini o a pr pria caracter stica h brida da tira que utiliza a linguagem visual e verbal de forma sincr tica favorece essa proposta narrativa que apresenta dois enredos aut nomos ainda que interligados e cuja jun o produz o estado de tens o capaz de prender o leitor tal como explica o autor O conto uma narrativa que encerra uma hist ria secreta N o se trata de um sentido oculto que depende de interpreta o o enigma n o sen o uma hist ria que se conta de modo enigm tico A estrat gia da narrativa est posta a servi o dessa narrativa cifrada Como contar uma hist ria enquanto se est contando outra Essa pergunta sintetiza os problemas t cnicos do conto PIGLIA s d p 39 Poder amos ilustrar o pressuposto de Piglia a respeito do conto por exemplo com uma das tiras que integra o conjunto 4 gata Nela observamos que h uma narrativa oculta A gata pensa que seu amigo est dormindo e n o consegue acordar o homem percebe que o outro animal est morto Em nenhum momento essa informa o declarada ela segue impl cita at o final O contraste entre a ingenuidade da gata e a lucidez do homem que produz a unidade de efeito dessa tira se quisermos abord la como um conto o ins lito da morte de um animal ser retratada como um caso de pol cia visto que em nossa sociedade a
120. curso jur dico pois ela representa o pressuposto de que qualquer ato ou demanda defens vel e por todos os meios legais poss veis Mas essa estrat gia de argumenta o era percebida pelos fil sofos idealistas como menor menos tica menos verdadeira Esses fil sofos acreditavam no ideal da objetividade e que assim tamb m poderia existir uma ret rica impoluta pelas sutilezas do afeto Em outras palavras Plat o estaria na origem de uma quest o fundamental da compreens o da ret rica que repousa na ideia de que a organiza o dos argumentos na orat ria deve ser precedida pelo mesmo processo de uma organiza o do pensamento uma ret rica filos fica comprometida com a episteme a produ o do conhecimento verdadeiro J Arist teles dando continuidade ao pensamento de Plat o organizou dois tratados sobre o discurso a Ret rica e a Po tica Quando afirmamos que a organiza o desses dois tratados diversos reflete o pensamento plat nico isso decorre da constata o de que para Arist teles era necess rio categorizar de forma diversa os discursos segundo seus objetivos ltimos a ret rica que visava persuas o a po tica que visava atrav s da m mesis a k tharsis ou seja seus fins eram liter rios Assim n o apenas diferenciaria sua ret rica daquela sofistica por eleger o argumento l gico como elemento central na arte da persuas o ALEXANDRE JUNIOR in ARIST TELES 2005 p 34 como a ap
121. curso pol tico dispensavam contornos definidos nos panfletos que circulavam pelas ruas das principais capitais da Europa desde o s culo XV tidos como os prim rdios da imprensa moderna na Fran a pr revolucion ria intelectuais como Diderot prestavam se a redigir longas cartas aos nobres entediados retidos em suas propriedades rurais prestando contas de tudo que acontecia na corte Esse tudo evidentemente referia se ao tudo 39 Senhores um romance um espelho que levado por uma grande estrada Umas vezes ele reflete para os nossos olhos o azul dos c us e outras a lama da estrada E ao homem que carrega o espelho nas costas v s acusareis de imoral O espelho reflete a lama e v s acusais o espelho Acusai antes a estrada em que est o loda al e mais ainda o inspetor das estradas que deixa a gua estagnar se e formar se o charco STENDHAL 1971 p 345 346 68 compreendido pelo horizonte de expectativas da nobreza mortes casamentos fofocas da sociedade neg cios pol tica A censura imprensa ou a implanta o de uma imprensa hegem nica estritamente institucional caracterizada como aparelho do estado tamb m costuma estar associada vig ncia de regimes autocr ticos Nem preciso recorrer ao cl ssico exemplo da Uni o Sovi tica na segunda metade do s culo XX ou ao Brasil do per odo da ditadura militar aconteceu aqui tamb m no long nquo ano de 1747 quando a Carta R gia proibia impress o de livros e jornais
122. de sustentam tamb m o Argumento da Racionalidade que exposto por Naconecy como a convic o primeiro de que animais n o pensam e de que em decorr ncia disso temos o direito de explorar animais Kant afirma que n o temos deveres diretos com rela o aos animais Eles n o possuem autoconsci ncia e existem meramente como meios para um fim Esse fim o homem KANT apud NACONECY 2006 p 85 Foi a esta espec fica coloca o de Kant que Jeremy Bentham se referia quando afirmou no mesmo ano em que o fil sofo alem o externou sua posi o aos direitos animais 1780 A quest o n o Eles s o capazes de raciocinar nem Sao capazes de falar mas 32 As proposi es do autor n o se referem especificamente s rela es entre animais humanos e n o humanos Apesar e justamente por isso julgamos valioso para este estudo propor a transposi o de contexto aos pressupostos do antiespecismo 33 Kant afirmava tamb m que o respeito s pode referir se s pessoas nunca s coisas Podem estas fazer surgir em n s a inclina o e se n o animais como por exemplo cavalos c es etc tamb m infundir amor ou terror como o mar um vulc o uma fera mas nunca respeito O respeito est t o longe de ser um sentimento de prazer que s contrafeitos a ele nos atemos em rela o a um outro homem 1959 p 156 157 58 sim Eles s o capazes de sofrer BENTHAM apud SINGER 2013 p
123. de alguma forma eles sabem que vai lhes fazer um mal terr vel COETZEE 2011 p 169 210 N o gostou nunca de ser lambido e seu primeiro impulso tirar a m o Por que fingir ser camarada quando na verdade um assassino Mas ele acaba cedendo Por que a criatura que est sob a sombra da morte teria de sentir que ele recua como se seu contato fosse repulsivo COETZEE 2011 p 169 211 Ele n o tem coragem de impor essa desonra aos cachorros COETZEE 2011 p 170 118 idealista intocado pela banalidade e pelas mis rias dos outros mortais Da fornalha diz ele It operates six days of the week Monday to Saturday On the seventh day it rests 1999 p 145 Como uma divindade plantada em solo sagrado espera de adora o e sacrif cios o incinerador o centro de uma pequena comunidade de indigentes que revira os detritos em busca de restos aproveit veis syringes pins washable bandages anything for which there is a market 1999 p 145 Guardi es desse inferno os funcion rios do hospital contemplam com estranheza o homem que todas as semanas silenciosamente entrega se tarefa sinistra de colocar um a um os corpos dos c es no carrinho que os conduz s chamas N o sabem seu nome e ele nunca perguntou os seus Apenas uma vez a primeira permitiu que tocassem em sua carga de c es mortos mas o resultado foi desastroso As pernas dos c es com o rigor mortis prendiam se s grades do ca
124. de bordo decide se finalmente pela dieta vegetariana sendo hostilizado por este e pelos outros passageiros Imediatamente me fizeram perguntas das mesas entre as quais eu estava espremido Por que eu era vegetariano Era por causa da sa de Por recomenda o m dica Era devido religi o Os homens pareciam ofendidos porque eu introduzira uma esp cie de controv rsia nas suas vidas Tinham vindo para se divertir n o filosofar sobre a ang stia dos animais e peixes SINGER 2007 p 255 Bem mais adiante ao final da viagem Singer v se agraciado com um tratamento mais gentil e tolerante em rela o s suas convic es morais e op es diet ticas o que lhe traz menos al vio do que d vida remetendo mesma hesita o de Costello Abri a porta da cabine acendi a l mpada e encontrei uma surpresa Sobre minha mesa uma enorme salada de frutas e uma garrafa de vinho Ou o sombrio gar om se arrependera ou algu m notara que eu estava sendo maltratado Ou talvez meu ressentimento em rela o ao gar om fosse resultado de uma s rie de alucina es Tudo era poss vel 2007 p 269 Por m de Disgrace que se ocupa nosso estudo e existem raz es para tal O romance narra a trajet ria do professor universit rio David Lurie sua derrocada de uma posi o confort vel na universidade de Cape Town para um limbo existencial e afetivo 24 Pare o circular facilmente entre as pessoas relacionando me perfeitamen
125. de imaginar Ou ser que acham que quando se trata de estupro um homem nunca est na posi o da mulher COETZEE 2011 p 165 166 202 O termo livestock denunciador do status de objeto dos animais de produ o estoque vivo 203 Os animais de que cuidam na cl nica s o principalmente cachorros com menor frequ ncia gatos para o gado a Aldeia D parece ter seus pr prios conhecimentos veterin rios sua pr pria farmacopeia seus pr prios curandeiros Os cachorros que aparecem sofrem de diarreia fraturas mordidas infeccionadas sarna neglig ncia benigna ou maligna velhice desnutri o parasitas intestinais mas principalmente da pr pria fertilidade S o simplesmente demasiados Quando as pessoas trazem um cachorro n o dizem Trouxe este cachorro para sacrificar mas isso que esperam que tomem conta dele que o fa am desaparecer que o despachem para o nada COETZEE 2011 p 167 204 c es sup rfluos da semana COETZEE 2011 p 168 205 dif cil me interessar pelo assunto COETZEE 2011 p 89 206 Se na maior parte das vezes os cachorros n o se deixam encantar por causa de sua presen a ele emana o odor errado eles farejam os nossos pensamentos o cheiro da vergonha COETZEE 2011 p 168 117 He had thought he would get used to it But that is not what happens The more killings he assists in the more jittery he gets One Sunday evening driving home i
126. de situar o outro no bojo de um todo gen rico e homog neo no caso do especismo os animots de Derrida privando os assim de ser percebidos como individualidades E isto nos remete s observa es de Lurie em Disgrace a respeito dos carneiros abatidos por Petrus por quem sente compaix o sem contudo conseguir perceb los como indiv duos Admite que a bond seems to have come into existence between himself and the two Persians he does not know how It is not even a bond with these two in particular whom he could not pick out from a mob in a field por m logo ap s diz a Lucy J still don t believe that animals have properly individual lives COETZEE 1999 p 126 Se em Coetzee a dificuldade do protagonista em sequer questionar os limites especistas que conduz a representa o das rela es entre animais humanos e n o humanos ao reproduzir no discurso da gata uma express o da limitrofia que um construto humano na rela o com os outros animais o texto da tira denuncia a relatividade deste limite J no ltimo quadrinho o desfecho surpreendente que mais uma vez vai alinhar a obra com os pressupostos da teoria do conto produzido frustrando a expectativa do leitor quanto ao reconhecimento do suspeito se antes de portar a espingarda todos pareciam iguais abrigados sob um todo gen rico intitulado humanos ao portar a espingarda todos continuam igualados sob outro todo gen rico que se refere f
127. de sua individualidade A ideia de que animais com doen as graves ou sequelas definitivas sejam simplesmente descartados visto que as limita es f sicas impostas pela doen a quele indiv duo o tornam incapaz de desempenhar o papel de animal idealizado era inquestion vel at poucas d cadas Ele se tornava in til enquanto figura de animal da mesma forma que o bode em Disgrace se tornava in til enquanto mercadoria ao resultar est ril ou como os cavalos de incont veis narrativas filmicas eram sacrificados ao quebrar a perna e tornarem se in teis para os fins humanos N o se concebia que um animal pudesse existir para si pr prio A mudan a de comportamento essa manifesta o do giro animal identificado por Yelin recebe tratamento espec fico em uma das tiras que mostra o tutor reagindo de forma intempestiva animal diante da sugest o de que deveria eutanasiar a gata em fun o da limita o f sica Figura 3 15 A gata publicada em 17 07 2013 LAERTE 2013 p 13 Quando nos referimos morte assistida ou praticada de animais duas express es s o comumente utilizadas ambas deslocadas de seu sentido original sacrif cio e eutan sia Esse deslocamento faz parte do amaciamento sem ntico promovido pela linguagem acr tica no sentido de evitar o efeito impactante da express o que de fato designaria o tirar intencional e em proveito pr prio da vida de um ser senciente e relativamente saud vel Em ing
128. dela Sua l ngua vibrava Ambos se olhavam Que foi que disseram N o se sabe Sabe se apenas que se comunicaram rapidamente pois n o havia tempo Eles se fitavam profundos entregues ausentes do Graja Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria cedendo talvez gravidade com que se pediam 1977 p 59 A possibilidade de perceber se um na contempla o do outro veio para a menina da cal ada n o a partir da presen a de outro ser humano no caso o narrador Olhamo nos sem palavras desalento contra desalento mas do ser n o humano o nico capaz de promover identifica o naquele momento Ela com sua inf ncia imposs vel Ele com sua natureza aprisionada Para Carneiro e Rodrigues essa uma constante na obra clariceana o outro que serve para que o eu se encontre consigo mesmo e se torne vis vel s d p 6 Em Tenta o este outro na figura do c o n o apenas um objeto mas um sujeito que exerce autonomia ele foi mais forte que ela Nem uma s vez olhou para tr s e ainda agraciado pela narradora com uma descri o t o preciosa e precisa t o atenta ao modo de ser canino que se constitui num pequeno poema Desprevenido acostumado cachorro 1977 p 59 J o conto Macacos 1977 narra a breve e intensa troca afetiva com a sagui Lisette oportunizando tamb m uma reflex o sobre a realidade do tr fico de animais silvestres e sua inadequa
129. deria sugerir Mas a percep o da tira como conte do recreativo superficial marcaria por muitos anos todos os subg neros das hist rias em quadrinhos at o advento das graphic novels muitas d cadas depois Isto porque a tira surge no momento em que o jornal passa a ser abordado como produto mercadoria que deve agradar ao novo p blico composto pelas classes populares Esse novo modelo opunha se a outro o do jornal de elite o jornal do mundo tido como culto Sendo a tira uma inven o do jornal popular cria se ent o a infer ncia equivocada de que ela pertence ao campo do inculto do popularesco do superficial Esses jornais populares assumem um compromisso com a informa o enquanto reflexo fidedigno de toda a sociedade conceito que fundamenta a primeira teoria do jornalismo surgida de autores diversos em meados da d cada de 1950 a Teoria do Espelho Segundo Castro ela prop e que o jornalista seria um mediador desinteressado um observador isento imparcial que descreveria objetivamente os fatos O princ pio b sico seria a separa o de fatos e opini es Pregava se que a palavra poderia refletir a realidade assim como a 38 Pobreza mis ria e v cio s o bem abundantes l para onde estamos indo agora Que lugar este para o qual a rua esqu lida nos conduz Uma esp cie de quarteir o de casas leprosas algumas das quais n o se atinge sen o por insanas escadas de madeira O que est por tr s deste lance cambal
130. devem ser tratados como personagens bastante redondos e complexos Eles falam ou grunem enquanto balan am orgulhosamente suas crinas e t m nomes ambi es e desejos Eles tamb m t m valores familiares v como os le es educam seus filhos Elefantes s o atenciosos e bons feministas ou dignos patriarcas Assim como os gorilas Nunca jamais diga qualquer coisa negativa sobre um elefante ou um gorila Elefantes podem atacar as propriedades das pessoas destruir suas planta es e at mesmo mat las Sempre fique do lado do elefante Grandes felinos t m sotaque de escolas p blicas Hienas s o vulner veis e possuem um vago sotaque do Oriente M dio Qualquer africano de baixa estatura que viva na selva ou no deserto pode ser retratado com bom humor a menos que esteja em conflito com um elefante ou chimpanz ou gorila caso no qual ser o simplesmente maus Tradu o minha 37 a cruz de marfim que decorava seu quarto quando beb ela denuncia a insensibilidade extrativista de uma na o colonialista O objeto banal um bibel piedoso colocado ali entre os la os de fita quase rituais que provavelmente Fernande teria mandado benzer O marfim veio de um elefante morto na floresta congolesa e suas presas foram vendidas pelos ind genas a algum traficante belga por baixo pre o Aquela grande massa de vida inteligente proveniente de uma dinastia que remonta pelo menos ao come o do Plistoceno terminou assim Essa bugigang
131. do a mero argumento de uma discuss o ideol gica 1 2 Met fora animal a dimens o po tica Na Arte Po tica quando se refere s formas do nome Arist teles afirma que a elocu o mant m se nobre e evita a vulgaridade 2003 p 77 na medida em que se utiliza da met fora para a produ o da mimesis afastando se da linguagem corrente e dos nomes ou termos pr prios V se portanto que o fil sofo recomendava a respeito da elocu o a aplica o de um conceito similar ao de literariedade Literariedade o termo forjado no in cio do s culo XX pelos te ricos formalistas russos para designar a caracter stica que difere um texto liter rio de outro que n o o Desde ent o o conceito tem sido revisitado por todas as escolas da teoria liter ria e permanece como a indaga o maior desta disciplina A respeito da perspectiva formalista de literariedade pode se afirmar que ela se manifesta por uma oposi o da linguagem liter ria linguagem comum sendo a literatura uma forma textual que coloca em primeiro plano a pr pria linguagem ou seja h nfase na fun o po tica dessa linguagem ZAPPONE WIELEWICKI 2009 p 22 Paul Ricoeur afirma sobre a concep o aristot lica da met fora que ela se situa no cruzamento duas dimens es ou disciplinas e enfatiza seus objetivos distintos a persuas o no discurso oral e a mimesis das a es humanas na poesia tr gica 2000 p 10 Ele
132. do atemporal do qual se lan a m o para preencher espa os que restam vagos ap s a diagrama o das not cias e an ncios RABA A BARBOSA 1978 p 68 as tiras conquistaram imediatamente o p blico infantil ou a ele foram dirigidas j que eram preferencialmente publicadas nos cadernos infantis e acabaram migrando para um ve culo espec fico os comic books ou revistas de hist rias em quadrinhos Essa r pida diversifica o de ve culo do jornal para publica o espec fica parece ter resultado numa nfase do estudo do comics dissociado de seu ve culo de origem Para entender a fun o da tira no jornal preciso entender o que jornalismo ou a t cnica de produzir e divulgar not cias Sua pr tica remonta antiguidade como a pr pria ret rica como o pr prio discurso como a pr pria linguagem que n o podem ser descolados da condi o humana tamb m existem os fen menos pr jornal sticos que se confundem a todo momento com a pr tica da literatura e remontam ao in cio da civiliza o mesmo s inscri es rupestres O bin mio objetividade subjetividade tem sido o principal referencial na tentativa de diferenciar essas linguagens referencial esse que o pensamento contempor neo tem colocado em cheque O jornalismo moderno come ou a delinear se ainda no s culo XVII com modelos diversos na Fran a e na Inglaterra e a partir do s culo seguinte o evento do Iluminismo e do humanismo racional l
133. e The problem is that graphic novel just came to mean expensive comic book KAVANAGH 2000 A necessidade de criar uma express o que diferenciasse as hist rias em quadrinhos s rias dos outros representantes do g nero parece reproduzir a mesma convic o observada desde sua origem no jornal popular os quadrinhos n o se prestariam a oportunizar reflex o ou informar de forma efetiva sobre o que est acontecendo na sociedade mesmo que um olhar mais interessado pudesse provar o contr rio Se seus pr prios editores por vezes duvidavam de que as hist rias em quadrinhos pudessem constituir um suporte eficiente para a abordagem de temas s rios e seu aprofundamento reflexivo o que dizer ent o de um comic book que se prop e a relatar nada menos do que a tr gica mem ria de um sobrevivente do Holocausto H poucos anos o cineasta italiano Roberto Benigni ganhou um Oscar pelo filme 4 Vida Bela onde a rotina de pai e filho em um campo de concentra o narrado em tom de com dia N o foram poucas as discuss es levantadas sobre a validade de tal g nero com dia como ve culo dessa tem tica O mesmo pode se aventar sobre o Maus de Art Spiegelman Nele o tra o despojado e sem inten o de representa o realista utilizam se recursos associados a hist rias infantis como onomatopeias e os personagens s o os bichinhos que povoaram os livrinhos e desenhos animados de nossa inf ncia o gato o r
134. e alma imortal equivale a dizer que s o inanimados meras m quinas vivas e leva novamente aos pressupostos cartesianos j expostos Existe ainda a ideia defendida igualmente por Santo Tom s Aquino e Kant de que tratar bem os animais com o m ximo de benevol ncia que n o comprometa nosso usufruto deles ben fico ao pr prio homem O homem que se entregasse ao tratamento perverso dos animais facilmente da evoluiria para a desconsidera o moral para com os da sua pr pria esp cie Essa ideia pode ser estendida abrang ncia do Argumento da Prud ncia delimitado por Naconecy devemos cuidar dos animais n o com vistas aos animais por si pr prios ou 34 Esta observa o de Bentham contida originalmente em The principles of morals and legislation 1988 p 310 311 bastante reproduzida na argumenta o antiespecista Menos disseminado o contexto que a envolve e que relevante para os prop sitos deste estudo O autor relaciona a opress o aos animais s justificativas escravagistas europeias e afirma The day may come when the rest of the animal creation may acquire those rights which never could have been withholden from them but by the hand of tyranny The French have already discovered that the blackness of the skin is no reason why a human being should be abandoned without redress to the caprice of a tormentor It may come one day to be recognized that the number of the legs the villosity of the
135. e 1970 vertentes de pensamento hol stico de inspira o orientalista associadas ao movimento da contracultura e sua perspectiva ecol gica disseminaram obras pseudocient ficas como 4 Vida Secreta das Plantas TOMPKINS P BIRD C 1973 que difundiu a hip tese por exemplo de que agrad vel para as plantas ouvir m sica ou palavras de encorajamento Presentemente estudos acad micos ocupam se da investiga o da senci ncia e mesmo de uma intelig ncia vegetal propondo a institui o da disciplina da neurobiologia vegetal a atribui o de um aparelho neurol gico aos vegetais o principal alvo de contesta o da proposta Publica es cient ficas como Trends in Plant Science 2006 e Plant Signaling amp Behaviour 2006 e os encontros da Sociedade de Neurobiologia Vegetal da Universidade de Floren a na It lia onde pesquisadores como o fisiologista vegetal Stefano Mancuso desenvolvem pesquisas sobre temas como Plant Communication and Kin Recognition in Sagebrush 2013 evidenciam essa preocupa o acad mica 56 sofrimento Essa a proposi o tamb m do Argumento do Sofrimento n o podemos saber com certeza se os animais sofrem Esses argumentos escolhem ignorar o fato de que tamb m n o se pode saber com certeza quase nada a respeito das experi ncias mentais ou estados subjetivos de outros seres humanos da nossa pr pria esp cie podendo apenas adivinh los atrav s da analogia com nossos pr prios
136. e depara com a insubmiss o de Petrus ao ideal do bom selvagem irrita se Because Petrus has a beard and smokes a pipe and carries a stick you think Petrus is an old style kaffir But it is not like that at all Petrus is not an 277 talvez seja melhor deixar um v u sobre o olhar para conservar viva a forma arquet pica divina da amada COETZEE 2011 p 30 278 A express o kaffir ou cafre em portugu s adquiriu uma conota o altamente pejorativa na frica do Sul p s apartheid Ela deriva do rabe para infiel e era usada originalmente por exploradores portugueses nas rotas comerciais para designar negros n o mu ulmanos No ambiente da linguagem afrikaans pr apartheid era usual para designar qualquer indiv duo sul africano da ra a negra 145 old style kaffir much less a good old chap 1999 p 140 Quanto a si pr prio tamb m entrega se autocontempla o narc sica imagina se a um tempo servo e enviado dos deuses a servant of Eros e anjo deca do enfim recusa se o tempo todo inclus o na massa dos seres viventes Sua ades o ao pensamento cartesiano especificamente no que diz respeito aos animais outra das caracter sticas que nos levam a situ lo como representante do paradigma iluminista Em seu discurso Lurie reproduz os principais argumentos especistas tanto quanto o pensamento colonialista do elogio da racionalidade como crit rio preferencial para inclus o
137. e n o existiam considera es morais Simplesmente essas considera es estendiam se apenas a determinados indiv duos romanos cidad os livres n o crist os igualando outros homens e animais em sua desumanidade As carnificinas que aconteciam no Coliseu onde milhares de homens e animais chegavam a ser mortos em um s dia espelham esse posicionamento O cristianismo numa manobra de certa forma ret rica elegeu o limite entre humano e outros animais para promover a inclus o de toda a esp cie humana sem exce o dentro da comunidade moral remetendo novamente tradi o do Antigo Testamento que colocava o homem como senhor da cria o e nico ser criado imagem do divino A partir de Cristo todo o animal humano estava inclu do como devedor e benefici rio de considera es morais e automaticamente como um referencial identit rio todo animal n o humano ficava fora do alcance destas Isso n o significou por m um abandono definitivo dos padr es aristot licos de abordagem da quest o Visto que o que distinguia os homens dos animais dentro dos novos par metros era sua natureza divina e a presen a da alma imortal dali para a frente no desenrolar da civiliza o esse argumento foi repetidamente usado para garantir os interesses de grupos hegem nicos com rela o a outras comunidades fossem elas humanas ou n o humanas notadamente em situa es p s coloniais Sobre Descartes revela Singer que a divul
138. e pol tica SOUSA 2008 p 103 que se deu entre as metades do s culo XIX e sobre a qual cabe um olhar mais detalhado Nas d cadas que antecederam essa transfigura o o campo jornal stico podia ainda ser comparado aos clubes de cavalheiros dos s culos anteriores palco de debate de ideias e ideologias direcionado aos segmentos pensantes da sociedade e seus partidos Era afirma Sousa um espa o das elites cultas com alto poder econ mico alfabetizadas e envolvidas na vida pol tica e econ mica 2008 p 103 Por m a partir de meados daquele s culo a nova classe trabalhadora foi gradualmente conquistando sua participa o no espa o p blico que inclu a a imprensa Os cidad os consumidores contribuintes e votantes necessitavam de uma imprensa que ecoasse os seus problemas e desejos reflectisse os seus modos de vida e desse resposta s suas necessidades informativas SOUSA 2008 p 103 nesse momento que surge nos Estados Unidos a imprensa de massas a penny press o nome se refere ao baixo pre o dos exemplares e opdem se party press a imprensa partid ria e elitista jornais de grande apelo popular e nenhum constrangimento em assumir se como produto idealizados por empreendedores como William Randolph Hearst The New York Journal e Joseph Pulitzer New York World A rivalidade entre os ve culos de Pulitzer e Hearst e suas respectivas estrat gias empresariais interligam se pr pr
139. e procurar por pig e n o pork pois pig o bicho e pork a comida Algumas fontes colocam pig e pork ambos como sin nimos de bacon ham e outras designa es de cortes de carne animal processados para alimenta o humana o que por si significativo Ainda assim tanto em porco como em pork e mesmo em pig a maioria das imagens encontradas n o representa o animal como ser ntegro e aut nomo mas como comida Emerge principalmente aqui e ali a ic nica imagem da cabe a do porco ou do 22 pequeno leit o inteiro numa bandeja o que por si valeria investiga o mais extensa muito tem sido dito sobre o consumo de carne desvinculado de considera es morais e ticas porque ela oferecida nas bandejas do supermercado j totalmente dissociada do animal que um dia integrou ou seja a vers o concreta do amaciamento sem ntico referido por Naconecy Mas no caso citado por que persiste o fetiche da representa o realista do porco assado inteiro do porco com a ma na boca Essa representa o que se refere diretamente ao processo de destitui o de direitos de coisifica o de imposi o do poder do animal humano sobre o animal n o humano Representa um refor o iconogr fico da doxa especista Vale salientar que os pr prios termos animal humano e animal n o humano e a prefer ncia pela express o direitos animais em lugar
140. e wrongness of taking life for example I ve always said that different capacities are relevant to the wrongness of killing SINGER in COETZEE et al 1999 p 86 87 Fica evidente portanto que a diferen a irreconcili vel entre os pressupostos de Singer e Francione repousa sobre a valida o da capacidade cognitiva a raz o como nosso uso de n o humanos pode ser moralmente aceit vel se nos certificarmos de que eles ter o vidas razoavelmente agrad veis e morte indolor Mantenho que n s n o temos justificativa moral para tratar animais como recursos renov veis como nossa propriedade n o importa qu o humanitariamente possamos trat los ou mat los Tradu o minha 21 Relaciono a signific ncia moral dos n o humanos apenas senci ncia e rejeito explicitamente a no o de que caracter sticas cognitivas similares s humanas s o requisito b sico para inclus o na comunidade moral Tradu o minha 22 Existe mais igualitarismo radical em a o na palestra dela de Costello do que eu estaria preparado para defender De qualquer forma quando digo que todos os animais todas as criaturas sencientes s o iguais quero dizer que todos devem receber igual considera o sobre seus interesses sejam quais forem esses interesses Mas n o afirmo que todos os animais t m os mesmos interesses Diferen as entre esp cies podem ser moralmente significantes Com rela o condena o do ato de tirar
141. eante de degraus que range sob nossos p s Um quarto miser vel iluminado por uma vela fraca e destitu do de todo o conforto a n o ser aquele que pode ocultar uma cama miser vel Ao lado dela senta se um homem os cotovelos sobre os joelhos a testa escondida em suas m os O que lhe aflige pergunta o oficial em comando Febre ele responde de mau humor sem levantar o olhar Imaginem os del rios de um c rebro febril em um lugar como este Onde c es uivariam antes de deitar mulheres e homens e meninos escondem se para dormir for ando ratos incomodados a afastarem se em busca de melhores alojamentos Tradu o minha 67 fotografia rec m inventada O Jornalismo usaria m todos cient ficos que evitariam a subjetividade 2013 p 5 A Teoria do Espelho no jornalismo guarda grande analogia com trecho do romance O vermelho e o negro de Stendhal onde o narrador afirma que o romance nada mais do que uma narrativa que espelha a sociedade e seus mecanismos tais como s o no devir da trama Tal tamb m seria a posi o dial tica materialista de Lukacs expressa pela ideia do reflexo est tico na literatura Luk cs considera as rela es sociais como o substrato da mimese fazendo da leitura portanto uma ilumina o da posi o do homem na sociedade OLIVEIRA 2003 p 183 Retomando a valoriza o da abrang ncia isen o e objetividade expressa pela teoria jornal stica do Espelho
142. ear She does not stir a finger to soothe him 1999 p 98 172 Ele fala italiano fala franc s mas italiano e franc s de nada lhe valem na Africa negra Est desamparado um alvo facil um personagem de cartoon um mission rio de batina e capacete esperando de m os juntas e olhos virados para o c u enquanto os selvagens combinam l na l ngua deles como jog lo dentro do caldeir o fervendo O trabalho mission rio que heran a deixou esse imenso empreendimento enaltecedor Nada vis vel COETZEE 2011 p 114 173 Como cachorros em bando COETZEE 2011 p 187 174 Purring express o equivalente ao ronronar dos gatos em portugu s Em geral refere se a uma sensa o de plenitude e satisfa o 175 Pensa nos tr s visitantes indo embora no Toyota n o t o velho o banco de tr s cheio de objetos dom sticos os p nis suas armas acomodados quentes e satisfeitos entre as pernas ronronando a palavra que lhe vem mente COETZEE 2011 p 188 176 Voc homem deve saber Quando faz sexo com uma estranha quando encurrala prende submete coloca todo o seu peso em cima dela n o um pouco como assassinar COETZEE 2011 p 187 Por fim aben oadamente a chave gira na fechadura Quando consegue abrir a porta Lucy j est de costas para ele COETZEE 2011 p 116 Entra atr s dela e tenta abra la Delicada mas decidida ela se liberta do abra o COETZEE 20
143. ec m nascidos comatosos etc Para Arist teles dentro da pr pria comunidade humana existem indiv duos normais com capacidade cognitiva reduzida 54 era assim que via os escravos os quais entendia como naturalmente fadados escravid o Segundo nos conta Peter Singer em Liberta o Animal Arist teles n o nega que o homem um animal de fato ele define o homem como um animal racional Compartilhar uma natureza animal comum contudo n o o bastante para justificar uma considera o igual Para o fil sofo o homem que escravo por natureza um ser humano t o capaz de sentir prazer e dor como qualquer outro No entanto como considerado inferior ao homem livre quanto a seu poder de racioc nio Arist teles o considera um instrumento vivo 2013 p 275 O Argumento Ecol gico sup e ainda que algo correto e desej vel simplesmente por ser natural uma linha de racioc nio que levada ao extremo resultaria por exemplo na suspens o de toda atividade m dica terap utica visto que natural que as doen as sigam seus cursos ou que tendo homens naturalmente biologicamente maior massa muscular do que mulheres leg timo que exer am sua for a f sica para coagi las Poder praticar uma a o n o significa que devemos ou que temos direito de praticar essa a o quando h alternativas A cadeia alimentar do ponto de vista da esp cie humana flex vel do ponto de vista dos outros animais
144. ecri 1978 154 RAMOS G Vidas secas 66 ed S o Paulo Record 1994 REGAN T Ill gotten gains Jn CAVALIERI P SINGER P Org The great ape project New York St Martin s Griffin 1993 p 194 205 RICOEUR P 4 met fora viva S o Paulo Loyola 2000 SILVA D A Interrogando o humanismo cartesiano a l gica do corpo na fic o de j m co etzee Literatura cr tica comparada Pelotas PREC UFPel 2011 SILVA M C Critica sociol gica In BONNICI T ZOLIN L O Org Teoria Liter ria Abordagens Hist ricas e Tend ncias Contempor neas 3 ed S 1 Maring 2009 SINGER I B Amor e ex lio mem rias 2 ed Porto Alegre L amp PM 2007 SINGER P Liberta o animal S o Paulo wmf Martins Fontes 2013 SOUSA J P Uma teoria multifactorial da not cia Biblioteca Online de Ci ncias da Comuni ca o 2005 Dispon vel em lt http www bocc ubi pt pag sousa jorge teoria multifacto rial noticia pdf gt Acesso em 12 fev 2014 Uma hist ria breve do jornalismo no ocidente Biblioteca Online de Ci ncias da Co munica o 2008 Dispon vel em lt http www bocc ubi pt pag sousa jorge pedro uma histo ria breve do jornalismo no ocidente pdf gt Acesso em 12 fev 2014 SOUZA R T de Uma introdu o tica contempor nea S o Leopoldo Nova Harmonia 2004 SPALDING M O dinossauro de augusto monterroso Digestivo Cultural S 1 s d Dispo nivel em lt
145. ela irrever ncia ao comparar a fun o de inicia o sexual dos livretos de Z firo inicia o religiosa cat lica 80 brinquedo cl ssico do in cio do s culo XIX o livrinho contendo imagens sequenciais que quando manuseadas com certa velocidade forjam a ilus o de movimento Adorno e Horkheimer afirmam que os filmes de anima o eram outrora expoentes da fantasia contra o racionalismo Eles faziam justi a aos animais e coisas eletrizados por sua t cnica dando aos mutilados uma segunda vida 1985 p 114 Os autores ressentem se daquilo que observam em sua poca como uma intensifica o artificial do ritmo da narrativa pontuado apenas por representa es de experi ncias sensoriais referentes ao plano concreto quedas impactos correrias movimentos rotat rios onde a banaliza o da viol ncia remete aceita o da viol ncia capitalista Assim como o Pato Donald nos cartoons assim tamb m os desgra ados na vida real recebem a sua sova para que os espectadores possam se acostumar com a que eles pr prios recebem 1985 p 114 A nova perspectiva sobre a ind stria cultural proposta pelo p s estruturalismo notadamente a partir da d cada de 1960 por m percebe potencialidades criativas menos est ticas e mais instigantes no g nero quadrinhos como veremos em Umberto Eco 2001 O autor analisa ponto a ponto os elementos textuais e constru es pict ricas dos quadrinhos reconhecendo os como lingua
146. eligiosas e que se expressam tanto por prefer ncias pessoais como em eventos como as touradas a farra do boi as festas de pe o de boiadeiro os sacrif cios rituais etc Esta quest o contemplada pelo Argumento Relativista que se refere diretamente abordagem do conceito de alteridade na p s modernidade O pensamento p s moderno institui o relativismo em muitas frentes como oposi o hierarquia cultural de fundo euroc ntrico privilegiada pelo paradigma iluminista Embora tomemos como hip tese inicial que o contexto da p s modernidade que oportuniza o avan o do pensamento antiespecista seria um contrassenso ignorar a cr tica a uma relativiza o que ao extremo viria abolir os princ pios da pr pria tica mergulhando nos num pesadelo de incertezas e caos moral ROBINSON 2013 p 3 Segundo Naconecy o Argumento Relativista prescreve que a forma como devemos tratar os animais uma i quest o de escolha pessoal ou ii uma quest o cultural Certo e errado bom e mau variam subjetivamente de pessoa para pessoa ou antropologicamente de sociedade para sociedade 2006 p 78 Sob esse prisma ser amos arremessados constata o de n o h uma concep o universalista de tica e de que cada pessoa ou sociedade pode prover sua pr pria tica a que lhe pare a mais conveniente O autor defende que sim deve existir uma concep o universalista de tica e que esta se basei
147. elman capta a hiperintensidade de Auschwitz Tradu o minha 130 universo dos animais antropomorfizados dos demais comics Quando se trata de contemplar a alteridade animal evidente que a antropomorfiza o como recurso narrativo n o pode apoiar se numa hierarquia da racionalidade como nico par metro entre seres viventes Um exemplo a hist ria em quadrinhos Depois de amanh de Dimitri onde um porco fazendeiro abate humanos para fazer salsichas e narra a seus sobrinhos como em determinado momento e n o se sabe por que a humanidade entrou em decad ncia intelectual e os animais tomaram o poder N o propriamente uma carnavaliza o pois a invers o de pap is denunciada e seu relato constitui parte da f bula de qualquer forma o realismo do tra o e o naturalismo que marca a narrativa s o contundentes Nele entendemos que justamente a hyperintensity do especismo que est para ser representada pela SEGURANDO FIRME A V TIMA QUE LOM UMA TOCHA DE PALHA ELI N O TEVE NENHUMA Rea AD AINDA ESTRESL CHAVA O TiO LHE CHAM MOSTON CUIDADOSAMENT EM TRINCHAZLO E ESPETOUL A GARGANTA COM PELO ES a UMA FACA COMPRIDA N E EU VOU JUNTAR CEBOLAS ANTES pene rave HE BANGLE COALHE TINHA gans TORRESMO H antropomorfiza o dos personagens animais e n o uma animaliza o do humano Figura 3 2 Depois de amanh DIMITRI 1988 p 8 Em O misantropo ainda Dimitri questiona de forma direta o
148. elos tradicionais de noticiar A descoberta dos quadrinhos como literatura por m j est consolidada 2 2 Atira enquanto literatura Se o aparecimento da tira no final do s culo XX marcou o nascimento de uma nova linguagem a premia o com o Pulitzer em 1992 da hist ria em quadrinhos Maus a Survivor s Tale de Art Spiegelman instituiu um novo marco na evolu o desse g nero curioso notar que a HQ surgiu como visto no jornal New York World de propriedade do mesmo Joseph Pulitzer que instauraria a premia o pouco antes de morrer em 1911 com objetivo de estimular a produ o no campo da literatura m sica e jornalismo Pulitzer certificou se de que os estatutos da premia o gerida pela Universidade de Columbia permitissem a altera o inclus o ou extin o de categorias de indica o demonstrando sensibilidade e vis o ao perceber que o conceito de g neros narrativos can nicos n o poderia ser est tico Foi essa medida que permitiu a Maus ser o primeiro comics agraciado na hist ria do pr mio o que definitivamente validaria essa forma de express o como arte Lan ada inicialmente em sua vers o integral em 1986 a obra conta na verdade duas hist rias sobre dois panos de fundo diversos ambas autobiogr ficas a tumultuada rela o do 43 Marshall McLuhan esbo aria tese an loga ao observar que o jornal n o s o que tradicionalmente se considera not cia mas que o mosaico de informa es que o
149. em a noite juntos Ela pergunta por qu Ele responde Because you ought to Why I ought to Why Because a woman s beauty does not belong to her alone It is part of the bounty she brings into the world She has a duty to share it 1999 p 16 19 79 Para voc s era mais facil Quer dizer apesar dos pr s e contras da situa o voc s pelo menos sabiam onde estavam pisando Voc s ele pergunta Voc s quem A sua gera o Agora as pessoas simplesmente escolhem as leis que querem obedecer Virou anarquia Como d para criar filhos com anarquia por todos os lados COETZEE 2011 p 16 80 plenitude moderada uma plenitude moderada Na vers o para o portugu s o tradutor optou por repetir a express o plenitude moderada provavelmente na impossibilidade de uma solu o que reproduzisse o sentido do texto em ingl s onde a moderate bliss a moderated bliss refere se na primeira ora o ao alcance do sentimento de plenitude e na segunda ora o a uma imposi o da vontade sobre este sentimento no sentido de restringi lo Talvez uma solu o paliativa fosse a tradu o para uma plenitude moderada uma plenitude contida COETZEE 2011 p 13 81 Ele est com boa sa de com a cabe a clara Por profiss o ele ou foi um acad mico e a vida acad mica ainda ocupa intermitentemente o seu ntimo Gosta de viver dentro dos seus rendimentos dentro de seu temperame
150. em podemos associar a um modelo plat nico e aristot lico de temperan a He is in good health his mind is clear By profession he is or has been a scholar and scholarship still engages intermittently the core of him He lives within his income within his temperament within his emotional means Is he happy By most measurements yes he believes he is However he has not forgotten the last chorus of Oedipus Call no man happy until he is dead COETZEE 1999 p 2 Mas essa declara o de apaziguamento n o sen o superficial As atribula es com Soraya e mesmo com Dawn s o apenas o pren ncio da grande crise Ela chega na figura de Melanie uma jovem aluna cuja beleza o atrai embora tal encantamento n o seja especial ou novidade It is no great matter barely a term passes when he does not fall for one or other of his charges Ao encontr la ao acaso pelas ruas do campus a forma como descrita sua aproxima o nos traz uma sensa o de emboscada e mais uma vez de preda o She is dawdling he soon catches up with her Hello he says COETZEE 1999 p ii 11 12 A corte a Melanie acontece ent o de forma sinuosa premeditada com smooth words e argumentos que parecem sustentar se exatamente sobre imagens daquele universo classico tragico no 2 sentido de que tudo est nas m os dos deuses e do destino onde este confesso servant of Eros fantasia viver Ele a convida a passar
151. entre o lixo at que na segunda feira os empregados do hospital chegassem mas he is not prepared to inflict such dishonour 9211 upon them 1999 p 144 Prefere lev los para casa aguardar at a manh e ent o pessoalmente dirigir at o hospital e deposit los ele mesmo no incinerador O gesto de Lurie indica o desejo da personagem de revestir se a si pr prio e ao mundo de uma altivez de uma eleva o de esp rito s poss vel no universo do pico Longamente descrita em seus detalhes brutais ainda assim a visita semanal de Lurie ao incinerador toma ares de uma tarefa imposta pelos deuses e levada a cabo por um her i 207 Achou que ia acabar se acostumando Mas n o isso que acontece Quanto mais mortes ajuda mais nervoso fica Numa noite de domingo ao voltar para casa dirigindo a kombi de Lucy chega a ter de parar no acostamento para se recuperar As l grimas lhe correm pelo rosto sem que possa controlar as m os tremem N o entende o que est lhe acontecendo At agora havia sido sempre mais ou menos indiferente a animais Embora abstratamente reprove a crueldade incapaz de dizer se cruel o bondoso por natureza COETZEE 2011 p 168 208 que os animais n o t m vidas exatamente individuais Qual deles vai viver qual vai morrer na minha opini o n o assunto para ningu m se atormentar a respeito COETZEE 2011 p 149 209 nenhum olha para a agulha na m o de Bev que
152. er 125 Os cachorros n o ficam entediados Aponta um deles uma cadela buldogue bege com uma divis o s para ela a cabe a pousada nas patas olhando morosamente para eles sem se dar ao trabalho nem de levantar Katy Ela foi abandonada Os donos sumiram Meses de contas sem pagar N o sei o que vou fazer com ela Achar algu m que queira talvez Ela est triste mas est bem Levo para passear todo dia fazer exerc cio Eu ou o Petrus Faz parte do trabalho COETZEE 2011 p 76 126 O abandono uma realidade bem conhecida dos ativistas e protetores de animais 127 Ele se abaixa agrada lhe atr s das orelhas Abandonada 62 murmura Deita se ao lado dela no concreto nu do ch o O c u est azul p lido Seus membros relaxam COETZEE 2011 p 95 Note se que na vers o em portugu s perde se o duplo sentido para a frase em ingl s Abandoned are we que no original pode se referir s a Katy ou a ambos 100 furniture part of the alarm system They do us the honour of treating us like gods and we respond by treating them like things 3 COETZEE 1999 p 78 Do discurso de Lucy podemos extrair duas observa es A primeira mais bvia a analogia entre a situa o de Lurie que privilegiado por pelo menos poder ser recebido por sua filha e a sorte pior de Katy que mesmo com tantos filhos n o pode pedir lhes abrigo A segunda constata o de que a ades o de Lucy ao pensa
153. erminado c digo ECO 2001 p 145 81 Se em Eco a linguagem do comics recebe aten o em seus elementos narrativos dentro do campo lingu stico e semi tico outra obra cl ssica da poca ocupou se novamente das poss veis mensagens subliminares e ideol gicas contidas em um dos mais populares personagens de quadrinhos do s culo XX Para ler o Pato Donald DORFMAN MATTELART 2010 obra de encomenda da esquerda chilena da d cada de 1970 para denunciar o imperialismo norte americano retoma as preocupa es de Adorno e Horkheimer com rela o fun o alienadora do g nero desta vez por m concedendo lhe intensidade ideol gica insuspeita at ent o Esses estudos principiaram lan ar um olhar mais interessado sobre o g nero que vinha de estar relegado alternadamente ou inocuidade de uma proposta est tica superficial ou demoniza o de ideologia desestabilizadora da nova ordem mundial p s guerra ou Guerra Fria O j referido cen rio de reconfigura o dos estudos culturais inaugurado na d cada de 1960 que veio lan ar os primeiros olhares realmente interessados sobre a arte do quadrinho o mesmo que fermentou a forma o do segundo autor de que nos ocuparemos nesta pesquisa Laerte Coutinho ou apenas Laerte como assina Ele iniciou sua carreira em pleno per odo da ditadura militar brasileira em 1970 Era tamb m o per odo em que a contracultura fen meno de inspira o p s moderna que atingiu seu auge n
154. ersonagem central sua nova percep o da alteridade Na terceira se o vamos comparar elementos tem ticos de Disgrace e de 4 gata no sentido de estabelecer coincid ncias e analogias Com base na proposta de que a tira seja percebida como not cia como um relato integral de um fato que j eclodiu no organismo social vamos investigar a hip tese de que a analogia tem tica refor a a percep o dos animais personagens de Disgrace como personagens de fato sujeitos liter rios e n o constru es metaf ricas visando a uma mimese estritamente antropoc ntrica 86 3 Met fora animal em Disgrace e A gata 3 1 Lurie na cidade A primeira met fora com que nos deparamos na leitura de Disgrace n o animal Diz ela In the desert of the week Thursday has become an oasis of luxe et volupt COETZEE 1999 p 8 N o uma figura especialmente original poder amos dizer que ela se inscreve entre aquelas preferenciais recorrentes tal como observou Borges perigosamente arriscando se a perder sua for a metaf rica mas bela Do deserto ao o sis do t dio ao prazer Refere se aos encontros semanais que o protagonista David Lurie homem de meia idade acad mico j um tanto entediado solit rio e divorciado mant m com a garota de programa Soraya A met fora que alude ao verso de Baudelaire e tela de Matisse apenas uma de muitas refer ncias a personagens e obras cl ssicas presentes no texto A predile o de
155. es de fornecer essas prote nas e ferro e tamb m o c lcio que o discurso hegem nico m dico proclama ser essencial absorver a partir do leite produzido por f meas de outras esp cies como a bovina ali s numa contradi o do pr prio discurso natural pois n o h na natureza nenhuma outra esp cie que se alimente do leite de outra a n o ser a humana Poder amos entrar numa argumenta o de base bioqu mica e n o faltariam fontes para isso por m entendemos que 1 este um trabalho da rea de humanas e assim deve ser estruturado 2 Tratar como cient ficas no sentido de ci ncias duras estritamente emp ricas afirma es que na verdade n o o s o seria cair numa armadilha argumentativa extremamente relevante evocar por m por seu ineditismo e credibilidade a Declara o de Cambridge onde neurocientistas e outros pesquisadores liderados por Philip Low declararam se em 2012 convencidos da evid ncia de consci ncia em v rias esp cies animais pesquisadas We declare the following The absence of a neocortex does not appear to preclude an organism from experiencing affective states Convergent evidence indicates that non human animals have the neuroanatomical neurochemical and neurophysiological substrates of conscious states along with the capacity to exhibit intentional behaviors Consequently the weight of evidence indicates that humans are not unique in possessing the neurological substrates that generate
156. esperan as revolucion rias desiludidas muitos deles passaram ao abandono da cren a na possibilidade de uma transforma o global da ao apoio entusi stico a movimentos parcializados de luta ou reivindica o feminismo regionalismo movimento gay ecologismo movimento negro etc CARDOSO 1997 p 17 Callinicos deixa de citar outra causa que ocupa intensamente os movimentos independentes civis que a dos direitos animais talvez por associ la ao ecologismo a que refere No entanto o movimento ecologista nem sempre coincide com os interesses da causa animal que tem uma agenda aut noma e espec fica A confus o entre as duas propostas comum tamb m na m dia hegem nica e aqui na nossa opini o reside a relev ncia de identificar na se o de quadrinhos de um grande jornal o espa o reflexivo que a not cia puramente jornal stica ou que pelo menos assim se assume falha em oferecer Dessa forma nossa an lise est estruturada da seguinte forma na primeira se o vamos investigar as met foras animais que s o frequentemente utilizadas nos discursos da narrativa Essas met foras remetem sempre a s mbolos a estere tipos ou arqu tipos e funcionam como caracteriza o da personagem Lurie enquanto um indiv duo iluminista Na segunda se o vamos observar que as met foras animais deixam de aparecer e os animais ganham status de personagens Sua fun o na narrativa caracterizar a metamorfose da p
157. ess and to obscure SILVA 2000 p 7 Assim entendemos que observar a representa o do mesmo mecanismo ret rico aplicado a diferentes agentes dentro do mesmo contexto pode oportunizar um aprofundamento da percep o da manifesta o da doxa atrav s do discurso liter rio Como diria Robert Cada conto cada novela cont m um sim e um mas pronunciados com igual intensidade um sim que aquiesc ncia do pensamento comum e um mas que sem neg lo submete o pensamento comum a uma prova decisiva da qual jamais sair imune ROBERT apud YELIN 1969 p 9 1 4 Os argumentos especistas A maioria dos fil sofos fundadores ocupa se pelo menos tangencialmente da quest o tica no tratamento dispensado aos animais Mas como afirma Derrida com exce o da mais imediata contemporaneidade s o autores que jamais contemplaram a alteridade do animal Essa categoria de discursos de textos de signat rios os que jamais ser viram vistos por um animal que se dirigia a eles de longe a mais abundante ela sem d vida que re ne todos os fil sofos e todos os te ricos enquanto tais 2002 p 32 Por si isso revela que o tema inquieta a humanidade desde sempre mas torna digna de nota a aus ncia de obras dedicadas exclusivamente ao assunto mesmo sob o prisma antropoc ntrico As considera es que existem inseridas no bojo de outras discuss es onde a quest o animal n o tema central s
158. etos inanimados Although we might have a legal obligation that concerned animals such as an obligation not to injure our neighbor s cow this was an obligation that we owed to our neighbor not to damage her property 2008 p 2 A forma como medido o valor da vida de um animal exemplificada por Francione a 259 Embora pud ssemos ter uma obriga o legal com rela o aos animais como a obriga o de n o ferir a vaca de nosso vizinho essa era uma obriga o que dev amos ao vizinho de n o danificar sua propriedade Tradu o minha 136 partir de uma experi ncia pessoal ao procurar atendimento veterin rio para um hamster The veterinarian said that the minimum amount for an emergency visit was 850 and asked me why I would want to spend that amount when I could get a new hamster from any pet shop for about 83 2000 p 170 Em Disgrace isto fica evidenciado em v rios momentos Um deles acontece quando s o explicitadas por Bev as considera es sobre por que o bode que teve os test culos destru dos por um ataque de c es n o receber atendimento de custeado por sua propriet ria She can wait for Dr Oosthuizen on Thursday but the old fellow will come out sterile anyway and does she want that And then there is the question of antibiotics Is she prepared to spend money on antibiotics 1999 p 82 Novamente no di logo entre Lurie e Lucy ap s o assalto fazenda a res
159. ets que em portugu s fica ainda mais evidente de trabalho e de estima o faz parte de um comportamento que Gary Francione ce denomina esquizofrenia moral 2 we humans really do suffer from moral schizophrenia in the way we think about nonhumans We treat some nonhumans as persons as members of our families we treat some as things that we eat or use in other ways 2008 s p Portanto ja se percebe que as representa es de animais assumem um tom sociol gico referem se a quest es concretas da quest o humano animal A filha de Lurie vive h anos no campo para onde rumou inicialmente integrando uma comunidade de neo hippies que vivia da produ o de artesanato e como acrescenta o narrador plantava dagga maconha Com o fracasso da vida comunit ria tornar se fazendeira Vive ali sozinha depois do rompimento com uma namorada Ao contempl la Lurie pensa Curious that he and her mother cityfolk intellectuals should have produced this throwback this sturdy young settler 1999 p 61 Ele busca sem sucesso categorizar 119 Tem os cachorros Os cachorros j s o alguma coisa Quanto mais cachorros mais prote o COETZEE 2011 p 75 120 C es de trabalho estadias curtas duas semanas uma semana as vezes s um fim de semana Os de estima o v m mais durante as f rias de ver o COETZEE 2011 p 76 121 Este uso metaf rico que Francione faz do te
160. exist ncia rebelde a todo conceito Assim ap s o primeiro encontro onde a conquista n o se concretiza de fato Lurie continua em sua escalada predat ria That is where he ought to end it But he does not opina o narrador Vasculha arquivos da universidade descobre o telefone de Melanie e a convida para um almo o Sente que ela hesita que tudo vai por mau caminho mas n o para pois est in the grip of something Repete She does not own herself perhaps he does 87 Ela n o dona de si mesma A beleza n o dona de si mesma COETZEE 2011 p 24 88 de certa forma s o donos de Soraya tamb m dessa parte dela dessa fun o COETZEE 2011 p 8 89 A companhia das mulheres fez dele um apreciador de mulheres e at certo ponto um mulherengo COETZEE 2011 p 14 90 Ele devia parar por a Mas n o para COETZEE 2011 p 26 91 nas garras de alguma coisa COETZEE 2011 p 18 92 not own himself either Finalmente o encontro sexual acontece com uma Melanie que mais se deixa desfrutar do que adere COETZEE 1999 p 18 Toda a passagem do cerco e capitula o de Melanie fundamentada na caracteriza o de Lurie como lover of women poderia ser comparada ideia exposta a certa altura em The lives of animals durante o debate que se segue palestra antiespecista proferida pela escritora Elizabeth Costello Nela um dos presentes evoca a imagem do
161. f cies ordenadas e todos os planos que tornam sensata para n s a profus o dos seres fazendo vacilar e inquietando por muito tempo nossa pr tica milenar do Mesmo e do Outro Este texto cita uma certa enciclop dia chinesa onde ser escrito que os animais se dividem em a pertencentes ao imperador b embalsamados c domesticados d leit es e sereias f fabulosos g c es em liberdade h inclu dos na presente classifica o 1 que se agitam como loucos j inumer veis k desenhados com um pincel muito fino de p lo de camelo 1 et cetera m que acabam de quebrar a bilha n que de longe parecem moscas FOUCAULT 2000 p x Essa classifica o que nos parece ris vel por pouco cient fica n o t o diferente da que utilizamos para diferir animais humanos e n o humanos Cada um dos seus itens estrutura se sobre referenciais que dizem respeito exclusivamente esp cie humana de quem s o os animais como eles nos parecem que preju zos nos trouxeram que acabam de quebrar a bilha Mas seriam eles assim t o pouco cient ficos se tolerarmos um certo empirismo Qualquer um que j conviveu com um gato ou cachorro travesso sabe perfeitamente que logo ap s quebrar a bilha h uma qualidade comum a todos eles um certo ar de culpa receio de puni o desejo de turvar a percep o do acontecido provocando outros eventos que distraiam nossa aten o que serviria como referencial para agru
162. feminists or dignified patriarchs So are gorillas Never ever say anything negative about an elephant or a gorilla Elephants may attack people s property destroy their crops and even kill them Always take the side of the elephant Big cats have public school accents Hyenas are fair game and have vaguely Middle Eastern accents Any short Africans who live in the jungle or desert may be portrayed with good humour unless they are 36 in conflict with an elephant or chimpanzee or gorilla in which case they are pure evil s d s p Wainaina ressente se do fato de que na literatura hegem nica quando se trata da frica animais s o humanizados e humanos s o estandardizados despidos de subjetividade o que equivale a dizer igualmente animalizados j que o consenso em nossa cultura ainda o tratamento de animais como coisas Essa aproxima o categ rica entre popula es colonizadas e animais um tra o do discurso do colonizador mas cabe notar que o pr prio autor acaba por reproduzir o modelo de pensamento colonialista ao perceber como aviltante a humaniza o dos personagens animais ele pressup e uma hierarquiza o de interesses entre os seres sencientes nos quais as necessidades humanas se sobrep em s das outras esp cies Ali s para o autor numa f rmula bastante aristot lica de abordar a realidade existe apenas um lado certo em cada quest o e contemplar o lado do elefante s pode soar
163. ficativa refere se a seu encontro com os lagartos iguana seguido de uma associa o entre o negro e o animal n o humano opondo os narradora Uma vez abati a tiros um iguana Pensei que seria capaz de fazer coisas bonitas com sua pele Aconteceu ent o uma coisa estranha que jamais esqueci Ao aproximar me dele na pedra em que estava ca do morto e mesmo enquanto eu caminhava os poucos passos que me separavam dele desbotou se e ficou p lido tendo toda a cor abandonado seu corpo como um longo suspiro Quando cheguei a toc lo estava cinzento e inexpressivo como um peda o de concreto Era o vivo e impetuoso sangue pulsando dentro do animal que havia irradiado todo aquele brilho e esplendor Agora que a chama se havia apagado e a alma se evolara o iguana estava t o morto quanto um saco de areia Desde ent o ainda cheguei com alguma frequ ncia a atirar em iguanas sempre com a lembran a daquele da reserva Em Meru vi uma mo a nativa com uma pulseira de couro de alguns cent metros adornada com pequenas contas coloridas que variavam na cor do verde ao azul claro e azul marinho Era um objeto extraordinariamente vivo Parece que respirava em contato com o bra o da mo a Como eu o quisesse para mim pedi a Farah que o comprasse da mo a T o logo entretanto transferiu se para meu bra o perdeu a alma N o era mais nada apenas um pequeno e barato objeto de bijuteria s d p 226 Poder amos sugerir uma analogia en
164. foi declarada ilegal em centros municipais de zoonoses com ressalva para animais em sofrimento intenso e incur vel ou que ofere am perigo para a popula o humana A experi ncia comprova a inefic cia do m todo na resolu o do problema durante d cadas o contingente de animais abandonados s aumentou mesmo com os exterm nios em massa em compara o a pol ticas de conscientiza o pela posse respons vel e esteriliza o veterin ria Entretanto entidades internacionais alinhadas com a pol tica bem estarista da quest o animal como a PETA People for the ethical treatment of animals ainda promovem essa pr tica O fato de que o sacrif cio de animais se d para atender a interesses humanos fica claro quando Bev afirma que the trouble is there are just too many of them Too many by our standards not by theirs 1999 p 85 Na verdade o exterm nio que ainda promovido por alguns segmentos de protetores de animais baseia se na no o de que uma 267 Voc nunca sacrifica um animal COETZEE 2011 p 96 268 Os que ningu m quiser A gente sacrifica COETZEE 2011 p 103 269 Eutan sia a morte que contempla os interesses dos seres humanos ou n o humanos eutanasiados Eutan sia nunca do interesse de um ser saud vel Tradu o minha 270 Em Princ pios de tica biom dica Childress e Beauchamp reproduzem o relato do m dico americano Leo Alexande
165. ga o e ades o aos seus pressupostos sobre os direitos animais na verdade a inexist ncia destes resultou numa f ria vivisseccionista em toda Europa e podemos imaginar o grau de sofrimento infringido aos animais numa poca onde mesmo para humanos a analgesia era praticamente inexistente A pr tica da vivissec o parecia funcionar parte a investiga o cient fica que propiciavam como o pr prio rito de passagem do acad mico para o mundo da produ o de conhecimento Singer cita o depoimento de um desses pesquisadores Batiam nos animais com perfeita indiferen a e tro avam daqueles que se apiedavam das criaturas como se elas sentissem dor Diziam que os animais eram rel gios que os gritos que emitiam quando golpeados era o ru do de uma pequena mola que tinha sido acionada mas o corpo n o tinha sensibilidade Pregavam as quatro patas dos 43 pobres animais a t buas para os dissecar e observar a circula o do sangue que constitu a o tema da conversa 2013 p 293 A experimenta o ali s um dos aspectos da quest o animal cujas implica es ticas s o alvo de maior debate desde sempre Basta referir o recente epis dio da invas o do centro de pesquisas do Instituto Royal em S o Paulo em outubro de 2013 Na a o ativistas libertaram quase 200 c es da ra a beagle que eram utilizados para testes de medicamentos produtos de limpeza e cosm ticos dividindo opini es e suscitando grande debate atrav s d
166. gar seu potencial como not cia de acordo com o conceito mais amplo proposto pela evolu o recente da teoria do jornalismo A decorr ncia tomar as hist rias em quadrinhos e em especial o comics n o como entretenimento in cuo desprovido de um verdadeiro discurso mas como capazes de oportunizar representa es instigantes percebidas pelas for as unificadoras tanto do poder hegem nico como do esfor o dial tico da doxa acr tica 2 3 Atirae a doxa Poucas d cadas ap s seu surgimento o fen meno dos comic books havia alcan ado tal signific ncia nos Estados Unidos em meados da d cada de 1940 que entre 80 e 100 milh es de exemplares de revistas eram vendidos semanalmente Como a cultura da leitura do comic book inclui a troca ou empr stimo de exemplares a estimativa era de que cada exemplar vendido atingia de 6 a 10 leitores o que tornava seu p blico superior ao do cinema r dio e demais publica es Segundo Hadju 2008 no in cio da d cada de 1950 650 t tulos eram publicados de forma regular mensalmente Se o Yellow Kid havia sido criado para atingir as camadas prolet rias iletradas mas vidas pelo status de consumidores de informa o e reproduzia seu universo o of cio de desenhar quadrinhos seduzia artistas origin rios dessas mesmas classes populares notadamente imigrantes que viam nessa forma de express o um canal poss vel para sua 79 concep o da realidade uma mundivis o tomada a partir da
167. gelar a figura do gavi o num estere tipo Isso porque ele acrescenta uma dimens o circunstancial ao evento o gavi o n o olha sempre e a todos da mesma forma ele olha a pomba daquela forma e naquele momento A figura do gavi o eleva se um tanto a personagem redondo produz se um esbo o uma inten o de narrativa a met fora se d sobre aquele momento do gavi o n o sobre toda a exist ncia sobre o ser do gavi o Uma met fora animal ou qualquer outra met fora n o em termos funcionais heur sticos igual a outra mesmo que trabalhe com as mesmas figuras e conceitos Em A met fora viva Ricoeur constr i sua an lise do fen meno metaf rico partindo da no o aristot lica de nome passando pela inser o sem ntica a seguir discursiva at tom la no contexto da hermen utica Ele afirma que a met fora n o se sustenta se pensada unicamente como um desvio nominal ainda que a defini o de met fora como transfer ncia do nome permita identific la e classific la entre os tropos 2000 p 11 Portanto nossa hip tese que a doxa tem um papel a desempenhar na concretiza o ou n o da met fora enquanto verdadeira met fora enquanto produ o de sentido por via heur stica A doxa seria parte integrante da intersec o das esferas de discurso a que se refere Ricoeur 2000 p 453 Essa intersec o de discursos indo al m da transposi o de nomes o que estabelece a tens o do ser n o ser
168. gem como sem ntica pr pria ainda que h brida de potenciais criadores restritos apenas pelas limita es de seu suporte Eco aplicaria pressupostos similares aos de Roland Barthes quanto ressignifica o ao identificar no comics Steve Canyon elementos de uma iconografia que mesmo quando nos reporta a estere tipos j realizados em outros ambientes o cinema por exemplo usa de instrumentos gr ficos pr prios do g nero Para o autor esses elementos iconogr ficos comp em se numa trama de conven es mais ampla que passa a constituir um verdadeiro repert rio simb lico e de tal forma que se pode falar numa sem ntica da est ria em quadrinhos ECO 2001 p 144 145 O elemento fundamental dessa sem ntica identificada por Eco e por todos os estudiosos do comics depois dele o bal o o espa o gr fico dentro do quadrinho que abriga o texto e designa atrav s de uma extens o afilada apontada em dire o ao personagem desejado quem est falando Esta extens o do bal o assume outras configura es conforme se quer representar tipos de elocu o uma fileira de bolinhas quando se trata de pensamento ou di logo interior bordas em forma de serra para representar f ria ou outra emo o extrema e assim por diante Estas s o conven es gr ficas evidentemente partilhadas por todos os leitores habituais de quadrinhos e incorporadas nossa cultura de massa como refer ncia a um det
169. gu m narrasse com mais empatia suas aventuras de ca ada Ou questionasse a partilha da carne da presa Houve tempo em que ret rica e o discurso que ela produz eram a pr pria verdade pois segundo nos conta Foucault para os poetas gregos do s culo VI a C O discurso verdadeiro pelo qual se tinha respeito e terror ao qual era necess rio submeter se porque reinava era o discurso pronunciado por quem de direito e segundo o ritual requerido era o discurso que dizia a justi a e atribu a a cada um a sua parte era o discurso que profetizando o futuro n o apenas anunciava o que haveria de passar se mas contribuia para sua realiza o obtinha ades o dos homens e desse modo se entretecia com o destino 2013 p 14 Esse discurso que prov sua pr pria veracidade aparece na obra 1984 de George Orwell que retrata uma sociedade totalit ria altamente repressora na qual o poder do estado exercido com aux lio de vigil ncia tecnol gica mas principalmente atrav s de uma campanha de desconstru o e reconfigura o lingu stica que inviabiliza todo posicionamento cr tico Sua 2 Diz Paul Ricoeur Antes portanto da taxionomia das figuras existia a grande ret rica de Arist teles mas antes desta existia o uso selvagem da palavra e a ambi o de apreender por meio de uma t cnica especial sua perigosa pot ncia 2000 p 19 13 principal ferramenta a implanta o da Novil ngua um conjunto de
170. gu stica que encontrou para definir sua fun o Petrus det m se sobre ela pois percebe que ao mesmo tempo denuncia sua posi o hier rquica naquele contexto ou pelo menos no contexto da velha ordem do apartheid mais pr ximo dos animais n o 128 Coitada da Katy est de luto Ningu m quer saber dela e ela sabe disso O ir nico que deve ter filhotes pelo distrito inteiro todos dispostos a repartir suas casas com ela S que n o t m o poder de fazer o convite Fazem parte da mob lia parte s sistema de alarme Eles nos d o a honra de nos tratar como deuses e n s correspondemos tratando os bichos como coisas COETZEE 2011 p 95 129 Os Pais da Igreja 130 Um homem para na porta um homem alto de macac o azul botas de borracha e gorro de l COETZEE 2011 p 78 Voc cuida dos cachorros diz para quebrar o sil ncio Cuido dos cachorros e trabalho no jardim Petrus abre um grande sorriso Sou jardineiro e cachorreiro Pensa um pouco Cachorreiro repete saboreando a palavra COETZEE 2011 p 79 A vers o para o portugu s cachorreiro dissipa a ambiguidade de inten o do termo embora persista uma conota o pejorativa No 13 13 N 101 humanos Quando se dirige a Lurie ali s a fala de Petrus sempre consciente estudada Ele mede com cuidado suas palavras usa frases curtas desvia de interpela es diretas e recorre com frequ nci
171. guns de seus lbuns musicais 57 Ato Institucional n 5 conjunto de medidas restritivas institucionalizado pelo governo militar em 1968 que autorizava diversas a es repressivas como a censura aos meios de comunica o e a cassa o de direitos pol ticos Sua justificativa era deter os elementos subversivos que comprometiam o andamento da Revolu o de 64 tal como os militares denominavam o golpe pelo poder realizado naquele ano 82 campanha eleitoral do MDB Movimento Democr tico Brasileiro o partido nico de oposi o ao regime militar e no ano seguinte coordenou a produ o de cart es de solidariedade a o em aux lio a presos pol ticos Em 1976 iniciou a colabora o na revista de quadrinhos Ovelha Negra de Geandr alvo constante da censura por seu conte do de cr tica social Dois anos depois criou o personagem Jo o Ferrador para a publica o do sindicato dos metal rgicos de S o Bernardo do Campo liderado ent o por Lu s In cio Lula da Silva Acompanhado de outros nomes das artes gr ficas nacionais como Henfil Angeli Glauco Petch Fausto e Nilson participou do grupo de trabalho Bunker que produziu pe as de campanha para a oposi o pol tica a partir de 1979 Em 1982 colaborou com o legend rio jornal O Pasquim e em 1985 criaria a editora Obor exclusivamente dedicada a disponibilizar material de divulga o para entidades de classe Atrav s dela lan aria o livro Ilustr
172. he air Swine Never has he felt such elemental rage He would like to give the boy what he deserves a sound thrashing Phrases 144 Eu sendo o administrador da fazenda Ele pronuncia as palavras como se nunca as tivesse ouvido antes como se tivessem surgido como um coelho de dentro de uma cartola voc pode usar esse nome administrador se quiser COETZEE 2011 p 180 145 Petrus diz a palavra com gosto real Ele uma vez foi menino agora n o mais Agora ele pode brincar de ser como Maria Antonieta brincava de ser ordenhadeira COETZEE 2011 p 179 N o se pode confiar em nenhum Vai mandar um menino diz para consertar a kombi COETZEE 2011 p 130 147 Vivem em um mundo novo ele Lucy e Petrus Petrus sabe disso ele sabe disso e Petrus sabe que ele sabe disso COETZEE 2011 p 138 139 148 P lux o cunhado de Petrus seria descrito como tendo olhos de porco 2011 p 111 e qualificado como um menino chacal em diversos momentos da narrativa dali para a frente COETZEE 2011 p 236 14 a 104 that all his life he has avoided seem suddenly just and right Teach him a lesson Show him his place 1999 p 206 Dias depois de sua chegada durante a feira de produtores rurais Lurie apresentado a Bev Shaw uma amiga de Lucy outra personagem que introduz dados desestabilizantes mundivis o do protagonista Ela uma mulher sem atrativos que se dedica a
173. homas Hardy o filho mais velho do protagonista tamb m chamado Jude tira a pr pria vida e a dos irm os quando percebe que a exist ncia das crian as torna ainda mais dif cil a luta dos pais mergulhados na mis ria e na falta de perspectivas por conta de sua uni o irregular e dos preconceitos de classe da sociedade vitoriana A trajet ria de Jude e de sua companheira Sue como a de Lurie uma sucess o de vicissitudes e quedas no caso daqueles causadas em sua maioria pelo idealismo e incapacidade do protagonista de lidar com as demandas da vida concreta de forma pragm tica e pela impossibilidade de conciliar o desejo sexual com as conveni ncias da sociedade digno de nota que no romance de Hardy a inadequa o de Jude diante da vida pr tica representada em mais de um momento por sua compaix o para com os animais especialmente na passagem j citada anteriormente p 27 em que ele desprezado por sua esposa Arabella por n o ser capaz de abater um porco Uma pista sutil da identifica o de Lurie com Jude pode ser percebida novamente mais adiante na conversa que mant m com o pai de Melanie 217 Psicopompo tem origem no grego psychopomp s jun o de psych alma e pomp s guia designa um ente cuja fun o guiar ou conduzir a percep o de um ser humano entre dois ou mais eventos significantes Segundo o Dicion rio Cr tico de An lise Junguiana A figura que guia a alma em ocasi es de inicia o e trans
174. http www digestivocultural com colunistas coluna asp codigo 2228 amp titulo O dinossauro de Augusto Monterroso gt Acesso em 18 fev 2013 SPIEGELMAN A Metamaus a look inside a modern classic maus New York Pantheon Books 2011 The complete Maus New York Pantheon Books 2011 TREVISAN D Cemit rio de elefantes Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1964 WAINAINA B Page 1 how to write about africa granta 92 the view from africa archive granta magazine Granta S 1 s d Dispon vel em lt http www granta com Archive 92 How to Write about A frica Page 1 gt Acesso em 27 fev 2014 YELIN J O giro animal na literatura de wilson bueno s d Dispon vel em lt http conexo esitaucultural org br wp content uploads 2012 03 0 giro animal na literatura de Wil son Bueno Julieta Y elin portugu C3 AAs pdf gt Acesso em 12 mar 2014 YOURCENAR M Recorda es de fam lia Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 ZILBERMAN R Teoria da literatura uma introdu o 4 ed S o Paulo Martins Fontes 2001 155 EE 58 m T Anexo A Conjunto de tiras A gata publicado em entre 01 07 e 31 07 de julho no caderno Ilustrada do jornal Folha de S o Paulo 01 07 2013 p 9 02 07 2013 p 7 _ Sei 03 07 2013 p 11 04 07 2013 p 9 16 07 2013 p 9 157 A EU VOC GRITAVA PRECISA TE ELE GRITAVA FISIO Jragava a py 1 i
175. i o uma fun o tradicionalmente atribu da a Hermes no mito grego pois ele al m de mensageiro dos deuses era o deus que acompanhava as almas dos mortos sendo capaz de transitar entre as polaridades n o somente a morte e a vida mas tamb m a noite e o dia o c u e a terra 218 Harijan referente casta indiana dos intoc veis dalits a quem s o atribu das tarefas consideradas impuras 219 Os cachorros s o levados cl nica porque s o indesejados porque s o demasiados a que ele entra em suas vidas Pode n o ser seu salvador aquele para quem n o s o excessivos mas est preparado para cuidar deles uma vez que s o incapazes totalmente incapazes de cuidar de si mesmos uma vez que at Bev Shaw lavou as m os do destino deles Um cachorreiro Petrus se intitulou certa vez Bom ele agora se transformou em cachorreiro um agente funer rio canino um psicopompo um harijan COETZEE 2011 p 172 220 Feito porque ramos muitos demais HARDY 1971 p 376 120 So says Isaacs softly and the word leaves his lips like a sigh how are the might fallen Fallen Yes there has been a fall no doubt about that But mighty Does mighty describe him He thinks of himself as obscure and growing obscurer 21 1999 p 167 A ideia de que a sujei o de animais e a recusa deliberada em perceber sua alteridade um dado constitutivo do pr prio do homem sem o qual n o se constr i sua no o de
176. ia hist ria da tira A primeira coisa que Hearst fez para tornar o jornal competitivo foi recrutar um vasto n mero de colaboradores do World de Pulitzer incluindo R F Outcault o c lebre criador do Yellow Kid a primeira hist ria em quadrinhos do mundo que 65 come ou a publicar se no World em tiras di rias em 1896 de onde adv m ali s a alcunha imprensa amarela com que foi brindada a segunda gera o da imprensa popular SOUSA 2008 p 149 O fen meno da tira portanto coincide com marcos evolutivos do pr prio jornalismo definidos pelo contexto hist rico E o momento hist rico estava representado em suas narrativas o personagem protagonista do Yellow Kid que tamb m atendia pelo nome de Michael Dugan vagava pelas ruas de um bairro oper rio expressando se em linguagem de gueto repleta de g ria e express es idiom ticas e vestindo apenas uma camisola esfarrapada descal o com os cabelos raspados como se observam alguns autores tivesse acabado de passar por um surto de piolhos os piolhos transmissores de tifo eram causa constante de epidemias nas zonas pobres dos grandes centros urbanos assim como c lera difteria e tuberculose cuja gravidade numa poca anterior ao desenvolvimento dos antibi ticos bem se pode imaginar Embora aparentemente se trate de um menino a fam lia de Dugan Yellow Kid nunca aparece Essa era a realidade da maioria das crian as dos bairros oper rios deixadas pr
177. ia neste efeito origin rio em verdade neste defeito de propriedade e ao preciso que encontra a seu impulso e seu ela 2002 p 83 O pr prio do homem um construto que se sustenta em rela o ao pr prio dos animais ainda que n o exista tal coisa como os animais ou O Animal o que nos lembra Derrida Ora o fortalecimento do conceito do pr prio do homem constitui se no objetivo ltimo do pensamento iluminista e suas vertentes humanistas e sua apreens o hier rquica do concreto por via de racionalismo Eis porque Lurie cioso de sua humanidade concede apenas que adentrem seu universo animais figura idealiza es arquet picas que visam a lan ar um olhar apenas e novamente sobre o pr prio homem ou analogias p fias de fundo sintagm tico que promovem bem ao seu gosto uma frui o moderada 3 2 Lurie no campo Ao deixar Cape Town e seguir para o campo rumo ch cara onde vive sua filha Lucy Lurie adentra um novo universo cuja ordem ser desafiado a compreender Demitido da universidade em raz o do envolvimento com Melanie desertado por amigos e colegas a sensa o de inadequa o finalmente toma conta dele Mas a mudan a de cen rio longe de oferecer conforto instiga outras inquieta es diante de cuja urg ncia n o lhe permitido reagir com a mesma postura filos fica e c tica de antes Nesse novo universo coisas e pessoas assumem status diferente das categoriza es estanques e r
178. ia ren ncia ao seu uso constitui uma das principais chaves do entendimento dos discursos e do pensamento subjacentes nas representa es da rela o homem animal Entendo ainda que esse tema que remonta ao per odo pr hist rico o que s o as inscri es rupestres retratando ca adas sen o 10 narrativas envolvendo personagens humanos e n o humanos inscreve se entre as quest es que mais interessam contemporaneidade poder alteridade identidade A inquieta o que move este estudo a mesma que perturbou a crian a de d cadas atr s Porque tratamos animais como se fossem objetos Porque isso parece t o natural Mas em lugar de o que isso hoje a pergunta como a literatura representa a rela o humano animal e como ela espelha se h uma mudan a no paradigma desse relacionamento ou perpetua o que j existe Ao sugerir que contemplemos um avesso da met fora o pr prio t tulo prop e novos problemas Pois um avesso da met fora animal seria a rigor e sob uma l gica da desconstru o uma met fora idealizada por um animal n o humano acerca da figura de um humano Tal coisa neste momento da evolu o das esp cies imposs vel Esta constata o levou a outras de que se como querem os adeptos do pensamento antiespecista aquele que denuncia preconceitos de esp cie os animais forem tomados como minoria sociol gica esta ser uma minoria desprovida de voz pr pria em qua
179. id Lurie como indiv duo iluminista e da analogia que vislumbramos em sua trajet ria de um universo a outro de uma ordem a outra como representa o dessa transi o de paradigmas Como elementos mais superficiais por m n o menos importantes dessa caracteriza o surgem de in cio as refer ncias predile o de Lurie pela cultura cl ssica e seu esc ndalo diante das manifesta es de linguagens culturas e artes perif ricas n o can nicas O desgosto com que contempla nos p s da amada que desejaria elevar a musa e ainda assim degradar derrotar como carne as pantufas em forma de cachorro de desenhos animados especialmente interessante para este estudo onde um dos objetos expressa se pela linguagem do comics produto emblem tico da ind stria cultural por um lado e cone da contracultura por outro e onde a elei o da figura do animal tamb m levanta a d vida sobre sua utiliza o como mera alegoria Para al m das prefer ncias est ticas de Lurie evidenciou se sua disposi o filos fica idealista Quando afirma que It may be in your better interest to throw a veil over the gaze s as to keep her alive in her archetypal goddesslike form 1999 p 22 revela um modelo de pensamento e de apreens o da realidade que lhe usual e que n s relacionamos a como percebe ou deixa de perceber todas as alteridades As mulheres devem ser musas e deusas os animais arqu tipos e f bulas e quando s
180. idade animal Ele percebe que a professora encarregada do protocolo de apresenta o do encontro makes no attempt to link his mother s novels to the subject of the lecture 1999 p 17 curioso notar que a apresenta o da edi o brasileira de O animal que logo sou 2002 igualmente n o faz nenhuma men o quest o dos direitos animais ou seus desdobramentos nas problem ticas concretas contempor neas e situa o texto na esfera da investiga o filos fica da mito po tica da no o de animal Exatamente o tipo de abordagem redutora do ponto de vista antiespecista que Derrida denuncia na obra 144 c Derrida fala tamb m de uma transforma o em curso uma altera o ao mesmo tempo mais grave e irreconhec vel que uma reviravolta hist rica na rela o ao animal nesse estar com que partilham o homem e o que o homem chama animal 2002 p 50 Essa transforma o na literatura o que Julieta Yelin qualifica como a a queda da met fora animal como constru o simb lica primordial do humano 2013 p 1 ou o giro animal Uma de nossas hip teses de que o fen meno liter rio do giro animal uma nova abordagem da figura animal na produ o da met fora an logo pr pria transi o dos paradigmas rivais que resulta em nossa leitura antiespecista de Disgrace Assim o primeiro ind cio de que nos encontr vamos no caminho certo veio da caracteriza o do protagonista de Disgrace Dav
181. ido derrotado busca um eco de humanidade onde n o h nenhum A personagem de uma cadela que sofre com o abandono serve apenas como met fora da situa o de isolamento e desola o do protagonista visto que os conceitos de sofrimento emocional e abandono seriam inaplic veis a animais n o humanos N o poucas vezes no decorrer deste estudo nos vimos constrangidos pela vergonha de ter vergonha de que nos fala Derrida a vergonha de diante do olhar dos outros humanos admitir que sentimos o olhar do animal E este foi o peso da doxa especista O temor de inadvertidamente ingressar no imperdo vel dom nio do piegas do ing nuo e mesmo do rid culo estava presente E sempre que esse sentimento principiava por minar qualquer certeza sobre a qual pudesse se construir este trabalho fomos buscar socorro em Derrida quando afirma sobre o assujeitamento do animal n o humano pelo homem Ningu m mais pode negar seriamente a nega o Ningu m mais pode negar seriamente e por muito tempo que os homens fazem de tudo o que podem para dissimular ou para se dissimular essa crueldade para organizar em escala mundial o esquecimento ou o desconhecimento dessa viol ncia que alguns poderiam comparar aos piores genocidios 2011 p 52 276 A nega o Em The lives of animals de Coetzee ela retratada pelo constrangimento do filho da escritora Elizabeth Costelo quando a m e palestrando na universidade onde ele leciona escolhe o tema da alter
182. imb lico sobretudo evidentemente nas sociedades de comunica o de massa N o s o discurso encr tico nunca se d por sistem tico mas constitui se sempre como uma oposi o ao sistema os libis de natureza universalidade bom senso clareza as resist ncias antiintelectuais tornam se as figuras t citas do discurso encr tico 2004 p 128 explora o animal vigente em lugar de demandar a imediata suspens o de toda e qualquer explora o animal 11 Em nome dos mais de 1 6 milh o de membros e apoiadores do PETA em todo o mundo estou escrevendo para pedir que o Sr revise o Manual de Reda o e Estilo do The Associated Press de modo que suas regras gramaticais reflitam o fato de que os animais s o seres vivos e n o objetos inanimados Em artigos de revistas literatura popular e campanhas publicit rias redatores j est o usando ele ela e quem para se referir aos animais n o humanos ao inv s do ultrapassado e inadequado it e isto O Sr n o considera fazer tamb m esta transi o Tradu o minha 24 Identificar e pensar sobre essas rubricas obrigat rias grandes formas estereotipadas no discurso liter rio especificamente no que se refere representa o das rela es entre animais humanos e n o humanos tendo em mente a certeza de que nenhum discurso inocente nossa proposta ao nos ocuparmos da mais disseminada familiar e portanto poderosa das figura
183. inda n o e a compaix o diante da inoc ncia ultrajada Figura 2 3 A gata Folha de S o Paulo 02 07 2013 78 Finalmente na teoria do conto de Linares poder amos eleger como tese aplic vel tamb m tira seu pressuposto de que preciso que tanto contista como p blico concordem na percep o daquele texto conto ou tira como sendo o que uma narrativa curta que n o se prop e a uma representa o panor mica mas sim focada da realidade Como tal se utiliza no conto de uma determinada organiza o textual e na tira de uma linguagem bastante espec fica que potencializa sua expressividade no espa o limitado dos tr s quadrinhos e em ambos tolera a inser o do fant stico para a obten o de sua produ o de sentido se impone la participaci n del contexto s cio cultural em la producci n y percepci n del texto asumido como cuento la competencia literaria de cuentistas y lectores acepta tanto individual como socialmente la clasificaci n de tal texto como cuento ambos poseen esquemas previos de conocimiento en relaci n con la manera como se organizan habitualmente los cuentos y utilizan estos esquemas no s lo para elaborarlos sino tambi n para comprendelos y procesarlos LINARES 1997 p 34 Esse breve exerc cio de aprecia o da tira sob a teoria do conto objetiva evidenciar nossa percep o desse g nero textual como portador de literariedade da mesma forma como nos dedicamos a investi
184. insatisfat rios e in teis Num evento ins lito procura o pai de Melanie Mr Isaacs e pede You have heard Melanie s side of the story T would like to give you mine if you are prepared to hear it 1999 p 165 Surpreendentemente Isaacs convida o a jantar com sua fam lia esposa e a filha mais jovem Desir e Incorrig vel ao comparar a menina com Melanie Lurie pensa The two of them in the same bed an experience fit for a king 1999 p 164 Depois de finalmente desculpar se sem muita convic o retira se encenando um pat tico pedido de perd o que em sua excessiva dramaticidade s pode constituir um ato de extrema ironia diante das perplexas m e e irm de Melanie ajoelha se e toca o ch o com a testa Is that enough He thinks Will that do If not what more Mas tal qual o c o punido por seus instintos sua natureza fala mais forte He raises his head The two of them are still sitting there frozen He meets the mother s eyes then the daughter s and again the current leaps the current of desire 1999 p 173 Na malsucedida tentativa de estabelecer se novamente em Cape Town depois que a conviv ncia com Lucy torna se insuportavel Lurie descobre que ali tamb m ja nao seu lugar J na chegada a contempla o de um fato banal leva o premoni o de que seu mundo jamais voltar a ser o mesmo The stream of cars has to slow down while a child with a stick herds a stray cow off the
185. intelectuais ele acad mico Em seu desabafo final a caminho do aeroporto com o filho ap s as palestras e o debate subsequente onde suas proposi es enfrentaram forte questionamento a personagem rende se incerteza 48 I seem to move around perfectly easily among people to have perfectly normal relations with them Is it possible I ask myself that all of them are participants in a crime of stupefying proportions Am I fantasizing it all I must be mad Yet every day I see the evidences The very people I suspect produce the evidence exhibit it offer it to me Corpses Fragments of corpses that they have bought for money COETZEE 1999 p 70 Percebemos uma similaridade entre essa representa o da sensa o de isolamento intelectual e afetivo e o tratamento dado ao mesmo tema pelo autor Isaac Bashevis Singer em suas mem rias Amor e Ex lio 2007 relato autobiogr fico que cobre desde a inf ncia do escritor na Pol nia do in cio do s culo XX at sua ida como imigrante para os Estados Unidos pouco antes da Segunda Guerra Mundial As indaga es de Singer ele pr prio um vegetariano por obje es de consci ncia sobre a dimens o tica do tratamento dispensado aos animais desembocam em certo momento da trama num estado de ex lio f sico e espiritual do narrador Esta circunst ncia fica evidenciada no relato do trajeto de navio entre a Europa e a Am rica quando Singer ao dirigir se ao gar om do refeit rio
186. intor russo radicado na frica do Sul cuja obra lhe rendeu o t tulo de rei do kitch Vladimir Tretchikoff Pode se apenas imaginar que sentimentos esse leque heterog neo de produtos da ind stria cultural t o representativo da p s modernidade despertaram no cultivado Lurie A aproxima o categ rica de Petrus com os animais estabelecida em v rios momentos ele vive no velho est bulo com uma de suas duas mulheres Seu projeto acalentado de construir uma casa no terreno cont guo e mudar se dali espelha o desejo de um upgrade em seu status do est bulo para a casa de dog man para homem A forma desp tica como trata os animais a prop sito reflete seu desejo de diferenciar se deles como veremos mais adiante e n o muito diferente da forma como se relaciona com as esposas atrav s de um senso de propriedade Gaba se por exemplo de sustentar sua mulher mesmo 133 Conversar com Petrus como socar um saco cheio de areia COETZEE 2011 p 180 134 Gostei disso Tem um tempero hist rico COETZEE 2011 p 93 135 Por qu Est precisando de um novo cachorreiro COETZEE 2011 p 107 136 N o Mncedisi Nem Nqabayakhe Nada impronunci vel s Pollux COETZEE 2011 p 233 137 Abajures e quadros nas paredes os girass is de Van Gogh a dama de azul de Tretchikoff Jane Fonda com o figurino de Barbarella Doctor Khumalo marcando um gol abrandam a desola o COETZEE
187. ionais ideol gicos chama las ei de linguagens ou discursos encr ticos E no outro lado h linguagens que se elaboram se buscam se armam fora do Poder e ou contra ele cham las ei de linguagens ou discursos acr ticos Essas duas grandes formas de discurso n o t m o mesmo car ter A linguagem encr tica vaga difusa aparentemente natural e consequentemente pouco reconhec vel a linguagem da 19 cultura de massa grande imprensa r dio televis o e tamb m em certo sentido a linguagem da conversa o da opini o corrente da doxa toda essa linguagem encr tica ao mesmo contradi o que lhe d for a clandestina n o se pode facilmente reconhec la e triunfante n o se pode escapar dela direi que ela pegajenta A linguagem acr tica esta separada cortante destacada da doxa portanto paradoxal sua for a de ruptura prov m de ser ela sistem tica constru da sobre um pensamento n o sobre uma ideologia Os exemplos mais imediatos dessa linguagem acr tica seriam hoje o discurso marxista o discurso psicanal tico e permitam me acrescentar em menor grau mas estatutariamente not vel o discurso estruturalista BARTHES 2004 p 135 Para Barthes o discurso encr tico a linguagem do poder hegem nico tamb m a linguagem da cultura de massa grande imprensa r dio televis o Fen menos ligados lingu stica e sua express o nos meios de comunica o de massa ta
188. ip up an interest in the subject It s admirable what you do what she does but to me animal welfare people are a bit like Christians of a certain kind Everyone is so cheerful and well intentioned that after a while you itch to go off and do some raping and pillaging Or to kick a cat 2 1999 p 73 149 Seu porco grita e bate uma segunda vez de forma que ele cambaleia Seu porco imundo A palavra ainda est vibrando no ar Porco Nunca sentiu uma raiva t o visceral Gostaria de dar ao rapaz o que ele merece uma boa surra Frases que evitou a vida inteira parecem de repente justas corretas Ensinar uma li o Colocar no seu devido lugar COETZEE 2011 p 241 150 Sua cabe a se transformou em um ref gio de pensamentos velhos pregui osos indigentes que n o t m mais para onde ir COETZEE 2011 p 88 151 A casa exatamente como ele havia imaginado mob lia caindo aos peda os um monte de enfeites pastoras de porcelana cincerros de vaca um abanador de mosca de pluma de avestruz o grasnar do r dio o canto dos p ssaros engaiolados gatos no ch o por toda a parte COETZEE 2011 p 88 152 Deve ser uma subcultura espec fica claro Desculpe filha mas acho dif cil me interessar pelo assunto admir vel o que voc faz o que ela faz mas para mim quem cuida do bem estar de animais um pouco como um certo tipo de crist o todo mundo t o alegre e bem intencionado que de
189. ira dizer responder e esta ser pois nossa quest o ele n o o faz como um exemplar da esp cie gato ainda menos de um g nero ou de um reino 23 d animals ance no original DERRIDA Jacques L animal que donc je suis Paris Galilee 1999 47 animal verdade que eu o identifico como um gato ou uma gata Por m antes mesmo dessa identifica o ele vem a mim como este vivente insubstitu vel que entra um dia no meu espa o nesse lugar onde ele p de me encontrar me ver at me ver nu Nada poder tirar de mim nunca a certeza de que se trata de uma exist ncia rebelde a todo conceito 2002 p 26 Derrida prop e uma opera o de desarmamento que consistiria em vencer a denega o hist rica da alteridade animal processo esse que considera j iniciado desde os ltimos dois s culos atrav s dos j citados movimentos pela prote o aos animais que vieram no bojo de uma tend ncia global pela contempla o dos direitos das minorias O pensamento de Derrida alinha se no campo liter rio com a ideia do giro animal j descrita por Yelin que ele qualifica como um movimento que deveria obrigar nos a inquietar todos estes conceitos a fazer mais do que problematiz los 2002 p 48 49 Assim o desejo de explorar na narrativa contempor nea p s moderna e p s colonialista a forma como representado esse novo olhar sobre a alteridade que desafia a fronteira entre esp cies
190. is arraigados o pai mulher a m e homem e a irm n o passa de uma atriz contratada para esse papel sua pele branca n o passava de uma superf cie artificial recobrindo a pele negra verdadeira e por fim o mundo que parecia pleno de horizontes simplesmente um cen rio falso Poder amos perfeitamente associar a narrativa acima resumida com os pressupostos de Terry Eagleton a respeito do p s modernismo e da p s modernidade P s modernidade um estilo de pensamento que duvida das no es cl ssicas de verdade raz o identidade e objetividade da ideia de progresso e emancipa o universais de estruturas nicas grandes narrativas ou fundamentos definitivos de explica o P s modernismo um estilo de cultura que reflete alguma coisa dessa mudan a de uma poca numa arte pluralista superficial descentralizada infundada autoreflexiva divertida derivativa ecl tica que torna indistintas as fronteiras entre cultura alta e popular bem como entre arte e experi ncia cotidiana EAGLETON 1997 p vii Ora a tend ncia metaficcional e metatextual mais uma das formas narrativas p s modernas que torna indistintas as fronteiras desta vez entre realidade e fic o cr nica e fic o depoimento e fic o e inter g neros Observada em Coetzee notadamente em The lives of animals 1999 onde as palestras proferidas pelo pr prio autor s o transferidas para o enredo protagonizado por um
191. is de uma tica do cuidado que se op e a todos os sistemas relacionados sociedade patriarcalista Simplificadamente o ecofeminismo prop e que uma sociedade erigida sobre par metros femininos ofereceria o contraponto necess rio ao racionalismo e pragmatismo que caracterizam a civiliza o patriarcal erigida a partir da emerg ncia da imposi o do ego masculino em oposi o natureza e tendo como consequ ncias o capitalismo selvagem a l gica da produ o a opress o de minorias o desequil brio ecol gico etc A teoria do ecofeminismo incorpora a causa animal como uma luta correlata visto considerar que a opress o machista tem a mesma origem da opress o especista Adams afirma que ecofeminism addresses the various ways that sexism heteronormativity racism colonialism and ableism are informed by and support speciesism and how analizing the way these forces intersect can produce less violent more just practices A autora tece cr ticas a teoria dos direitos animais por consider la fundamentada nos mesmos preceitos patriarcais que originaram toda a teoria do direito e prop e que em seu lugar seja implementada uma tica que possibilite delibera o caso a caso em lugar de um esquema r gido de preceitos universais e que privilegie care as well as justice emotion as well as rationality 2014 s p Essas cr ticas foram respondidas por Gary Francione em resenha ao livro Beyound animal rights a femini
192. italismo corporativista Para Ferreira ali s esse desaparecimento do animal do conv vio humano manifesta em contrapartida uma desusada e vertiginosa prolifera o de met foras animais 2005 p 126 De fato pode se at mesmo tra ar uma analogia entre a forma industrial como os animais s o criados e abatidos hoje e a forma artesanal como isso era feito antigamente e os modos de produ o capitalistas em rela o a outros tempos As popula es urbanas n o conhecem os animais que lhes fornecem carne leite ovos couro A morte e a carne est o dissociadas de uma forma que n o acontecia no passado onde o porco abatido para a festa era nascido e criado ciscando no quintal No romance Jude the obscure de Thomas Hardy a descri o dram tica e minuciosa do abate de um porco serve de forma muito especial para a caracteriza o das diferen as entre o protagonista Jude e sua mulher Arabella A esposa uma mulher pr tica criada nas lides rurais para quem os animais t m apenas status de objeto e como tal devem ser tratados Jude ressente se dessa objetividade pois sente empatia para com o animal Mas para que atenda a sua interpela o como homem como marido e como propriet rio faz se necess rio que presida o assassinato Segue se um embate entre raz o e emo o no qual a sensibilidade de Jude leva a melhor resultando no esc rnio de Arabella incapaz de compreender o que considera falta de virilidade d
193. iu para relegar a ret rica po tica ao plano da artificialidade cosm tica da l ngua o Renascimento e mais al m o imp rio do racionalismo cartesiano ambos apoiados no iluminismo humanista mantiveram essa posi o Os devaneios po ticos da est tica rom ntica que se seguiu nem por isso significaram uma altera o nesse 16 modo de pensar a ret rica O pr prio termo florear uma met fora refere se ainda a um artificialismo do estilo como ilustra Kayser s flores rhetoricales foi buscar o nome o estilo florido da Idade M dia mas ainda as investiga es estil sticas do s culo XIX costumam fazer as suas observa es segundo a lista das figuras O rom ntico Coleridge via no uso consciente das figuras como ornato um perigo para toda a poesia pura figures and methaphors converted into mere artifices of conection and ornament constitute the characteristic falsity in the poetic style of the moderns 1963 p 168 O uso da ret rica associado a um valor moral negativo fica bem representado no romance epistolar As rela es perigosas de Choderlos de Laclos Nele uma dupla de fidalgos na Fran a pr revolucion ria o Visconde de Valmont e a Marquesa de Merteuil tramam estrat gias de sedu o amorosa que t m acima de tudo o objetivo de afirma o de seu poder persuasivo pelo uso da linguagem Utilizando se das pr prias convic es morais de suas v timas como via de acesso eles encont
194. ividade mas tamb m capaz de promover reflex o o que observamos tanto em produ es nov ssimas como as tiras do personagem Armandinho que t m como ve culo de origem a rede social do Facebook como no c none do quadrinho brasileiro representado pelas tiras de Maur cio de Souza e o cachorro Bidu 257 Se descrever algu m como recorda o envolve a compreens o de um extenso jogo de linguagem e n o simplesmente o nomear uma imagem lembrada a presen a de dor deve ser prop cia mesma an lise Tradu o minha ABSURDO UR E COMO VOC TRATA UM BicHO Figura 3 6 tira de Maur cio de Souza coletada no Facebook SOUZA s d s p Assim vemos que a presen a dos animais de estima o no ambiente urbano se por um lado opera a mesma reifica o do animal de produ o quando cria o conceito do pet por outro tamb m tem oportunizado pela proximidade um desejo de apreens o da alteridade animal E esta primeira constata o ao comparar Disgrace e A gata no romance de Coetzee as reflex es se constroem em torno da constata o de um limite intranspon vel entre homem e os outros animais salvo pelo fato de que como afirma Lucy this is the only life there is Which we share with animals 1999 p 73 Na tira de Laerte diferente Se nos utilizarmos da proposta de analisar a tira 4 gata a partir da teoria do conto podemos identificar um efeito nico que emana da obra a inquiet
195. ject the notion that humanlike cognitive characteristics are required for full membership in the moral community 2008 s p Para ilustrar a posi o de Singer nada melhor que sua participa o no livro The Lives of Animals 1999 de J M Coetzee Nele o autor reproduz suas falas durante as Tanner Lectures na Universidade de Princeton em 1997 por m atrav s de uma solu o metaficcional a personagem Elisabeth Costello escritora convidada a pronunciar se num fict cio Appleton College que desenvolve os temas abordados por Coetzee na vida real Os fil sofos e os animais e Os poetas e os animais Seguem se quatro ensaios de autoria de te ricos da quest o animal em diversas reas o cap tulo assinado por Singer sob o t tulo apenas de Peter Singer reproduz um suposto di logo entre o fil sofo e sua filha Naomi onde ele explica em que seu pensamento difere daquele postulado pela personagem protagonista da obra a escritora Elisabeth Costello There s a more radical egaliatarism about humans and animals running through her de Costello lecture than I would be prepared to defend Anyway when I say that all animals all sentient creatures are equal I mean that they are entitled to equal consideration of their interests whatever those interests may be But I don t say that all animals have the same interests Species membership may point to things that are morally significant When it comes to th
196. k o cronista do submundo de Londres quis ver por si mesmo Tradu o minha 66 Poverty wretchedness and vice are rife enough where we are going now What place is this to which the squalid street conducts us A kind of square of leprous houses some of which are attainable only by crazy wooden stairs without What lies beyond this tottering flight of steps that creak beneath our tread A miserable room lighted by one dim candle and destitute of all comfort save that which may be hidden in a wretched bed Beside it sits a man his elbows on his knees his forehead hidden in his hands What ails that man asks the foremost officer Fever he sullenly replies without looking up Conceive the fancies of a feverish brain in such a place as this Where dogs would howl to lie women and men and boys slink off to sleep forcing the dislodged rats to move away in quest of better lodgings DICKENS 2009 Todo esse cen rio extremamente violento retratado tamb m no ensaio The gangs of New York an informal history of the underworld publicado em 1928 por Herbert Asbury 2008 que inspirou o filme Gangs of New York 2002 do cineasta americano Martin Scorsese V se portanto que a tira n o apenas teve papel determinante na caracteriza o do jornalismo moderno como oferecia conte do informativo e cr tico mais abrangente e instigante do que sua qualifica o como narrativa ligeira de entretenimento pueril po
197. l s comumente utilizado o eufemismo metaf rico to put to sleep colocar para dormir e a express o to put down equivalente ao abater em portugu s Essa express o escolhida 266 Antropomorfizar simplesmente conferir apar ncia ou qualidade humana animais que falam vestem se andam sobre duas pernas quando isso n o pr prio de sua esp cie etc 140 por Lurie quando pergunta a Lucy Don t you ever put animals down COETZEE 1999 p 78 e tamb m por Bev quando explica a Lurie o destino dos c es Those that no one wants We ll put them down 2 COETZEE 1999 p 85 Gary Francione afirma que euthanasia is death that is in the interest of the human or nonhuman euthanized Euthanasia is never in the interests of a healthy being 2010 s p A ideia subvertida de eutan sia foi aplicada por exemplo aos projetos eug nicos nazistas sob a justificativa de que certas vidas n o valem a pena serem vividas Em Disgrace a personagem de Bev Shaw promove em seu abrigo a morte de animais para os quais n o consegue outra destina o O exterm nio uma pr tica que j foi padr o no manejo das popula es de animais abandonados tanto por parte de organiza es volunt rias como do poder p blico a tem vel carrocinha e que atualmente caiu em desacordo com a opini o p blica que a percebe como cruel e injusta Nas principais capitais brasileiras ela
198. l do s culo XX O jornalista nem tem o n vel de poder individual que lhe atribu do pela Teoria do Gatekeeper nem t o subjugado dentro da reda o quanto entende a Teoria Organizacional A not cia em seu estado final seria resultado da negocia o entre v rios de certa forma gatekeepers que a despeito de suas inevit veis subjetividades individuais atuariam com base em crit rios profissionais de noticiabilidade CASTRO 2013 p 8 40 Gatekeeper porteiro 69 A institui o desses crit rios aponta para uma rotiniza o da pr tica jornal stica que confirma as observa es de Umberto Eco acerca do jornalismo contempor neo colocando em perspectiva o mito da objetividade e clareza da verdade acima de tudo A percep o do campo jornal stico como espa o da verdade e da liberdade abalado pela percep o do jornal como mercadoria cultural O que um jornal se n o um produto formado por um n mero fixo de p ginas obrigado a sair uma vez por dia e no qual as coisas ditas n o ser o mais unicamente determinadas pelas coisas a dizer segundo uma necessidade absolutamente interior mas pelo fato de que uma vez por dia se dever dizer o tanto necess rio para preencher tantas p ginas ECO 2001 p 14 Apenas na ltima d cada surgiu a Teoria Multifatorial da Not cia uma proposta de contempla o de todas as teorias anteriores como parciais e constituintes daquele que seria o primeiro verdadeiro
199. lemento espec fico que de minha parte chamarei de ret rica de maneira que evite qualquer restri o da po tica poesia e indique bem que se trata de um plano geral da linguagem comum a todos os g neros tanto prosa quanto ao verso 2004 p 140 14 Como sistematiza o e instrumentaliza o do bem falar vamos encontrar as ra zes da ret rica no s culo IV a C Foram os sofistas gregos e sua orat ria n made e assalariada vagando pela Sic lia de cidade em cidade e vendendo pelo melhor pre o sua arte do discurso para resolver quest es de direito de propriedade que primeiro associaram ret rica a poder E assim deram margem s considera es morais sobre seu uso Plat o condenaria o uso sofista da ret rica dando continuidade cr tica iniciada por S crates no di logo que leva o nome do mais famoso orador sofista G rgias 2011 Para Plat o os usos da ret rica diferenciavam se enquanto mero instrumento de persuas o o ato de conseguir ades o para uma ideia mobilizando o plano afetivo do audit rio em lugar do racional e uma ret rica do racional Num certo sentido a ret rica sofista surpreendentemente se alinhava ao contempor neo paradigma p s moderno pois propunha v rios centros v rios lugares v rias percep es do estar no mundo o que leva Barthes a afirmar el mundo est increiblemente lleno de retorica antigua BARTHES 1993 p 85 N o por acaso essa ret rica tamb m o ber o do dis
200. lise dos catecismos de carlos z firo Anagrama 30 dez 2010 v 4 n 3 Dispon vel em lt http Awww revistas usp br anagrama ar ticle view 35521 gt Acesso em 16 fev 2014 ORWELL G Nineteen eighty four Boston Houghton Mifflin Harcourt 2008 1984 5 ed S o Paulo Nacional 1971 OUTCAULT R F The Yellow Kid goes hunting becomes a dead game sport San Francisco Academy of Comic Art Collection The Ohio State Univeristy Cartoon Research Library s d s p Dispon vel em http cartoons osu edu digital albums yellowkid HoganAlley Enlarge D 1635 jpg Acesso em 04 out 2014 PERELMAN C Tratado da argumenta o a nova ret rica 2 ed S o Paulo Martins Fon tes 2005 Piau 79 quest es de g nero laerte em tr nsito revista piau S 1 s d Dispon vel em lt http revistapiaui estadao com br edicao 79 questoes de genero laerte em transito gt Acesso em 30 set 2014 PIGLIA R Teses sobre o conto O laborat rio do escritor S o Paulo Iuminuras s d PLATO ZEYL D J Gorgias translated amp annotated Translated By Donald Zeyl edition ed S 1 Hackett Publishing Co 2011 POE E A Tale writing Godey s Lady Book 1847 Dispon vel em lt http search atomz com search sp q poe amp sp a 00090d5c sp00000000 gt Acesso em 17 fev 2013 QUINTILIAN Institutes of oratory S 1 Lee Honeycutt 2010 RABACA C A BARBOSA G G Dicion rio de comunica o Rio de Janeiro Cod
201. literatura mas finalmente em admitir que literatura um conceito relativo 41 Embora Candido n o utilize a express o sistema liter rio afirma ele Terminando desejo voltar rela o inextric vel do ponto de vista sociol gico entre a obra o autor e o p blico cuja posi o respectiva foi apontada Na medida em que a arte como foi apresentada aqui um sistema simb lico de comunica o inter humana ela pressup e o jogo permanente de rela es entre os tr s que formam uma tr ade indissol vel CANDIDO 1976 p 38 70 Para Candido obra liter ria que dada nossa proposta anal gica poderia ser o jornal ou cada um de seus elementos informativos autor que poderia ser o jornalista editor e sociedade interagem de tal forma que a pr pria quest o de autoria se problematiza o autor produto da sociedade que o gerou e essa mesma sociedade recria a obra pela forma como a recebe O pr prio autor modificado pela obra que engendrou Portanto fica claro que o conceito do que not cia e de que efeitos ela causa as grandes quest es da teoria jornal stica depende em grande parte n o s de como os jornalistas mas tamb m a pr pria sociedade percebem a si pr prios e ao fazer jornal stico e que essas percep es n o poderiam deixar de ser tingidas por causas sociais culturais hist ricas ideol gicas etc Compreender o campo jornal stico como sistema com
202. ll but that is what is expected that they will dispose of it make it disappear dispatch it to oblivion 7 1999 p 142 A sombria tarefa de desembara ar dos la os da exist ncia esses animais que n o encontram lugar no mundo dos humanos recebe especial aten o Uma vez por semana aos domingos ele e Bev executam as eutan sias dos animais que ele chama week s superfluous canines 1999 p 142 E a ideia de que animais tamb m possuam algo que se pode chamar de alma j n o lhe parece t o estranha nem a cren a de Bev de que pensamentos possam ter cheiro para algu m que achava hard to whip up an interest in the subject 1999 p 73 desempenha com surpreendente seriedade suas fun es Cabe a Lurie trazer nos bra os um por um os animais que ser o mortos pela inje o letal Confortados por Bev ainda assim alguns deles demonstram p nico e ele acredita ser por sua culpa it is because of his presence he gives off the wrong smell They can smell your thoughts the smell of shame 1999 p 142 Tomar parte na matan a semanal torna se rotina mas n o um h bito 201 Voc n o estava l N o sabe o que aconteceu Ele fica perplexo Onde segundo Bev Shaw segundo Lucy ele n o estava No quarto onde os intrusos estavam cometendo suas barbaridades Elas acham que ele n o sabe o que estupro Acham que ele n o sofreu com sua filha O que mais poderia ter visto que n o seja capaz
203. lquer horizonte temporal divis vel Animais at onde se sabe n o produzem cultura Toda a discuss o da legitimidade do discurso como definiria Dalcastagne o poder de falar com legitimidade ou de legitimar aquele que fala 2012 p 7 se esvazia j que n o podemos sequer ousar querer dar num sentido literal voz aos animais podemos apenas dar voz a nossa inquieta o diante de sua alteridade e sobre essa inquieta o que se constr i todo o debate da tica aplicada quest o animal Dar voz ao animal pode ser tamb m uma pretens o como se nas palavras de Derrida eu lhe emprestasse as palavras de que ele n o recisa Mas continua Derrida 3 em me proibindo de emprestar interpretar ou projetar assim devo ceder por isso a uma outra viol ncia ou a uma outra besteira A que consistiria em suspender a compaix o e em privar o animal de todo poder de me manifestar o que quer que seja e mesmo de me manifestar de alguma maneira sua experi ncia de minha linguagem de minhas palavras e de minha nudez 2002 p 40 Tudo considerado optei por manter a express o o avesso da met fora tomando a n o como o reverso de um processo metaf rico mas por um dos sentidos o ltimo e figurado verdade oferecidos pelo dicion rio 4 Aquilo que est oculto no car ter ou na indole das pessoas 5 O lado mau 6 Erro incorre o defeito FERREIRA s d p 76 Este sentido vem ao enc
204. m conhecida ou usa a linguagem que refor a os pr prios preconceitos que quer questionar ou n o consegue comunicar se com o p blico 2013 p 438 439 A prop sito em 2007 a diretora de comunica es da entidade internacional People for the Ethical Treatment of Animals PETA Anna West escreveu ao editor da ag ncia 9 O termo desconstruir aqui empregado no sentido que lhe atribu do pelo fil sofo Jacques Derrida 10 A PETA uma organiza o de caridade internacional sem fins lucrativos fundada em 1980 em defesa dos direitos animais Ao lado da WSPA World Society for Animal Protection insere se entre as maiores e mais influentes entidades desse campo embora seja considerada bem estarista pelos movimentos antiespecistas de vanguarda por investir em a es de regula o das condi es cru is do sistema de 23 jornal stica Associated Press pedindo que fossem alteradas as regras do seu manual de reda o Este recomenda o uso do pronome ingl s if normalmente associado a objetos para designar animais como ainda comum naquela l ngua Em sua carta West justifica On behalf of PETA s more than 1 6 million members and supporters worldwide I am writing to request that you revise The Associated Press Stylebook so that its grammatical rules reflect the fact that animals are living beings rather than inanimate objects In magazine articles popular literature and advertising writers are using
205. m j ficou uma fera ou admirou a for a de algu m dizendo um touro Inevitavelmente um homem bonito um gato e uma mulher desagrad vel uma vaca se n o for uma galinha Leitores habituais s o tra as e um bom nadador um peixe Os ignorantes ai deles s o burros Met foras enquanto figuras ret ricas s o constru es lingu sticas que produzem uma m gica s poss vel no universo das ci ncias humanas somar 2 2 chegando a 5 Pois se digo a algu m voc um verme isso soa muito muito mais indignado do que se dissesse 1 voc desonesto Tal a for a enf tica dessas met foras que elas ficam reservadas aos piores inimigos e mesmo assim em momentos de extremo emocionalismo Mas porque ser um verme t o pior do que ser desonesto Ali s o que pode haver de desonesto baixo ou execr vel em um verme considerando que o pr prio conceito de perversidade inexiste entre os animais n o humanos A execrabilidade de um verme um atributo que humanos associam a ele Emana inteiramente de sua subjetividade refere se tamb m a suas constru es relacionais e mais do que isso refere se delimita o dos referenciais identit rios caros esp cie humana Afirmar se como n o bicho importante visto que o ser bicho tem sido sistematicamente associado ideia de degrada o Esse posicionamento apoia se na l gica cartesiana segundo
206. maior pragmatismo masculino Por m ainda conforme o autor a respeito da proposta da tica do cuidado grande parte da vida tica tem uma dimens o emocional e n o apenas racional O fen meno moral envolve sentimentos al m da cogni o A no o de justi a nesta perspectiva considerada como muito estreita e mesmo insuficiente j que pode entrar em choque com a ideia de compaix o ou generosidade 2006 p 191 165 Bev Shaw n o uma veterin ria mas uma sacerdotisa cheia de tolices new age tentando absurdamente aliviar o sofrimento dos bichos da frica COETZEE 2011 p 102 166 Ela se ajoelha ao lado do bode agrada seu pesco o esfregando para cima com o pr prio cabelo O bode estremece mas fica quieto Ela est sussurrando O que voc acha meu amigo ele escuta ela dizer O que voc acha J basta O bode fica absolutamente im vel como se estivesse hipnotizado Bev Shaw continua agrad lo com a cabe a Parece ter entrado numa esp cie de transe COETZEE 2011 p 101 108 Por esse motivo tanto Bev como Lucy remetem tamb m ao ecofeminismo um conjunto de pressupostos te ricos multidisciplinar idealizado em meados dos anos 1970 nos Estados Unidos que prop e a valoriza o e empoderamento das mulheres enquanto minoria oprimida a partir de uma suposta conex o instintiva do g nero feminino com os processos e ciclos da natureza o que as qualifica como praticantes preferencia
207. mb m apontam para uma vontade de verdade para a doxa que expressa a ideologia referente rela o entre homens e animais Na recente novela Amor Vida 2013 2014 da Rede Globo a personagem de uma menina tinha um cachorrinho da ra a Jack Russel O bichinho ganhou notoriedade sendo tema de reportagem espec fica no programa de variedades televisivas VideoShow Uma das qualidades do c ozinho explicitada no programa foi justamente o fato de que os Jack Russels parecem vira latas Essa proposi o merece uma reflex o At recentemente as pessoas compravam um c o de ra a justamente porque elas n o queriam que ele parecesse um vira lata As pessoas compravam um c o de ra a porque qualquer um ao olhar para o bicho e quanto mais ex tico melhor saberia que ele um produto caro indicativo do bom gosto e da sofistica o do seu possuidor Possuir animais de ra a um referencial de elite objeto de desejo equivale a dizer Eu n o sou vira lata desde o tempo em que s senhores feudais podiam ir ca a acompanhados de suas matilhas de hounds pure breed Ent o o que poderia indicar essa nova percep o do vira lata como desej vel n o de forma concreta mas enquanto representa o Os movimentos de prote o e pelos direitos animais alcan aram grande avan o nas ltimas d cadas Part culas do discurso da causa animal as mais diger veis para o grande p blico as mais assimil veis pela doxa
208. mento e discurso antiespecista contribui para situ la como pertencente vontade nesse novo mundo sem fronteiras ou categorias r gidas de onde Lurie se sente repelido e cujos c digos n o compreende Ao coment rio de Lucy ele rebate The Church Fathers had long debate about them and decided they don t have proper souls he observes Their souls are tied to their bodies and die with them 1999 p 78 introdu o da personagem de Katy segue se a de Petrus o agregado negro de Lucy Pode se sentir certa dramaticidade em sua entrada em cena interrompendo repentinamente a conversa ntima entre pai e filha um prel dio da fun o disruptiva que ele desempenhar no decorrer da trama A man is standing in the doorway a tall man in blue overalls and rubber boots and a woollen cap 1999 p 63 64 Enigm tico um tanto amea ador certo constrangimento se instala entre os dois homens ap s a apresenta o que Lurie tenta dissipar You look after the dogs he says to break the silence I look after the dogs and I work in the garden Yes Petrus gives a broad smile I am the gardener and the dog man He reflects for a moment The dog man he repeats savouring te phrase 1999 p 64 H um sentido oculto na dubia express o dog man que pode designar tanto o cuidador de cachorros como um homem cachorro uma besta Ao apresentar se como dog man solu o lin
209. mo hegem nico que caracterizou as mudan as hist ricas e sociais do in cio do s culo XX um g nero como j vimos onde a tem tica urbana e a problematiza o dessa nova sociedade definida pelo conceito de metr pole s o constantes N o surpreende portanto que personagens animais tenham desde sempre habitado seu universo A antropomorfiza o dos animais para uso aleg rico ou carnavalizante t o antiga na linguagem do comics como na pr pria literatura e est ligada tamb m consolida o do g nero graphic novel O embri o do que viria a ser Maus tr s p ginas publicadas na revista Funny Aminals em 1971 surgiu a partir da proposta inicial da publica o de abordar atrav s dos quadrinhos a quest o dos direitos animais Art Spiegelman relata que pretendia desenhar algo no tra o hiper realista de horror g tico t pico de Tales from the Crypt onde personagens com faces de animais evoluiriam para um desfecho onde o protagonista esmagado por uma gigantesca ratoeira Essa ideia foi abandonada depois que ele assistiu uma exposi o de antigos desenhos animados da poca do cinema mudo onde negros eram desenhados como monkeylike creatures with giant minstrel lips stereotypes stealing chickens stealing watermelons playing dice all singin amp dancin just the daily stock in trade of our racist cartoon heritage SPIEGELMAN 2011 p 112 Essas imagens foram contrapostas aos desenhos 252 Tales
210. mo pdf gt Acesso em 13 fev 2014 CHUDNOVSKY D Africafiles the big bungle teacher re deployment in south africa S 1 s d Dispon vel em lt http www africafiles org article asp ID 3812 gt Acesso em 11 set 2014 CHUTE H The shadow of a past time history and graphic representation in maus Twenti eth Century Literature S 1 Hofstra University s d V 52 COELHO F U Pref cio edi o brasileira In PERELMAN C Tratado da argumenta o a nova ret rica 2 ed S o Paulo Martins Fontes 2005 COETZEE J M et al The lives of animals Princeton Princeton University Press 1999 Disgrace London Secker amp Warburg 1999 Desonra 4 ed S o Paulo Companhia das Letras 2011 Como dar comprimidos a um gato S 1 s d Dispon vel em lt http www pedagogiaemfo co pro br recomp htm gt Acesso em 3 out 2014 COPSTEIN L Quando n o quer dizer sim Observat rio da Imprensa 2013 n 771 Dispon vel em lt http www observatoriodaimprensa com br news view ed771 quando nao quer dizer si m gt Acesso em 4 mar 2014 CORTAZAR J Valise de cron pio S o Paulo Perspectiva 1993 COUTINHO L Hugo S 1 s d Dispon vel em lt http www2 uol com br laerte persona gens hugo gt Acesso em 20 jan 2014 DALCASTAGNE R Literatura brasileira contempor nea um territ rio contestado Rio de Janeiro Horizonte UERJ 2012 DERRIDA J O anim
211. n Lucy s kombi he actually has to stop at the roadside to recover himself Tears flow down his face that he cannot stop his hands shake He does not understand what is happening to him Until now he has been morer or less indifferent to animals Althought in an abstract way he disapproves of cruelty he cannot tell whether by nature he is cruel or kind 1999 p 143 Lurie que antes n o acreditava that animals have properly individual lives e que which among them get to live which get to die Jis not worth agonizing over 1999 p 126 127 agora espanta se de que os c es percebam o que acontece no ambulat rio de que lutem e tentem protelar o desfecho inevit vel Nota que none will look straight at the needle 99209 in Bev s hand which they somehow know is going to harm them terribly e emociona se com aqueles que no ultimo momento tentam acarici lo farejando e lambendo sua m o He has never liked being licked and his first impulse is to pull away Why to pretend to be a chum when in fact one is a murderer But then he relents Why should a creature with the shadow of death upon it feel him frinch away as if its touch were abhorrent 1999 p 143 Cada animal morto colocado em sacos pl sticos e na manh do dia seguinte cabe a Lurie lev los na kombi at o incinerador de um hospital pr ximo Ele poderia fazer isso imediatamente e deix los l pelo resto do domingo jazendo
212. neologismos e normas de linguagem que condiciona a pr pria forma de pensar simplesmente por excluir a possibilidade de express o de certos conceitos ou modelos de pensamento Isso a torna muito mais eficaz do que seria uma simples censura O personagem Syme um fil logo entusiasta da nova l ngua assim descreve sua fun o Don t you see that the whole aim of Newspeak is to narrow the range of thought In the end we shall make thoughtcrime literally impossible because there will be no words in which to express it 2008 p 124 Na sociedade imaginada por Orwell o poder tamb m decreta a verdade pela supress o ou altera o de todos os registros de mem ria seja produzindo falsos arquivos para a media o da mem ria coletiva seja simplesmente impossibilitando o pensamento transgressor ou em Novil ngua a crimideia A imposi o da verdade aparece brutal nos pr prios lemas do partido que governa essa sociedade fict cia War is Peace Slavery is Freedom Ignorance is Strength 2008 p 24 Por m nem sempre o poder imp e se atrav s da linguagem pela supress o ou deturpa o de conceitos antes pode impor se pela reprodu o de figuras f rmulas fixas que assimiladas e disseminadas servem para perpetuar a ideologia de forma t o subliminar como a pr pria Novil ngua de Orwell Um exemplo seria o que Roland Barthes descreve como formas parciais de discurso destinadas a fechar o sistema a pr
213. niffing his cRotch or using it as a headrest VE the eyes are the gateway to the soul The FRiendbeast appears to ve the c otch is the slip n slide to the heart harvesting my poop into wags This Reaffiems my velief that all poop is pRetious and must ve closely examined The Friendbeast likes to marinate these chew toys in foot stink all day so they are tasty and Ripe wy evening The Oatmeal http theoatmeal com 162 How I see my dog By The Oatmeal Latin name Common names Primary occupation Secondary occupation Note My dog is not actually effective at policing squirrels He s more lke a mall cop with severe ADHD My dog s tail has two functions L Indicating to me when he s happy Drinks water by dipping his entire face a Getting stuck full of leaves insects and poop into the bowl usually eyes first It s lke one of those E dream catcher things IFs okay to sit on my ass and except instead of dreams it watch Netflix all day as long as catches crickets and feces I do it while frequently telling my dog how handsome he is The speed at which he eats food indicates to me that his taste buds are located in his bowels I can t seem to avoid making l eye contact with his gross butthole His legs can conveniently leap onto It is ever watchful like the eye of Sauron forbidden objects such as couches and coffee tables but tremble in fear when faced with a staircase In a few million years dog
214. nta sobre os problemas da nova sociedade sul africana e uma observa o em especial fere o protagonista You people had it easier I mean whatever the rights of the situation at least you knew where you were You people he says What people I mean your generation Now 73 Por m o que pode esperar o predador quando se mete na toca da raposa na toca onde ela guarda os filhotes COETZEE 2011 p 17 74 brincando tranquilos num canto da sala enquanto a m e e o estranho se acasalam COETZEE 2011 p 6 75 ela lhe d unhadas COETZEE 2011 p 16 76 camar o COETZEE 2011 p 16 77 anchovas COETZEE 2011 p 21 78 Ele devia desistir sair de cena Com que idade imagina Origen se castrou Solu o nada graciosa mas envelhecer n o mesmo uma coisa das mais graciosas Uma limpeza geral para poder ao menos por se a pensar no que um velho tem de pensar mesmo preparar se para morte poss vel procurar um m dico e pedir isso Interven o simples sem d vida fazem com animais todo dia e os animais sobrevivem bem se n o se levar em conta uma certa tristeza que fica COETZEE 2011 p 17 90 people just pick and choose which laws to obey It s anarchy COETZEE 1999 p 8 9 Apesar de tudo Lurie acredita se bem resolvido aplacado O invent rio existencial que fornece confirma essa sensa o de moderate bliss a moderated bliss COETZEE 1999 p 6 que b
215. nto dentro de seus meios emocionais feliz Em termos gerais acha que sim Por m n o se esquece da ltima fala do coro de dipo Nenhum homem feliz at morrer COETZEE 2011 p 9 82 Este trecho cont m refer ncia s palavras finais da trag dia dipo Rei de S focles 83 n o h semestre em que n o se apaixone por uma ou outra de suas crias COETZEE 2011 p 19 84 Ela est andando devagar ele logo a alcan a COETZEE 2011 p 19 85 palavras macias COETZEE 2011 p 24 86 Por que eu devo Por qu Porque a beleza de uma mulher n o s dela parte do dote que ela traz ao mundo Ela tem o dever de repartir com os outros COETZEE 2011 p 24 91 Por este discurso podemos perceber que para Lurie Melanie A Mulher o ideal de mulher um arqu tipo uma Afrodite a beleza corporificada She does not own herself 87 Embora justificada por uma inten o po tica a afirma o revela que Beauty not own itself negar a Melanie a condi o de pertencer se de emancipada apenas natural para algu m que ja aceitava com igual naturalidade que a trabalhadora do sexo Soraya fosse propriedade de seus agenciadores in a sense they own Soraya too this part of her this function E a percep o das mulheres como um todo homog neo abrigado sob um conceito generalizante expressa quando o narrador afirma The company of women made of him a lover of women and
216. o objetivando poupar os animais de maior sofrimento mas sem tecer considera es mais profundas sobre a moralidade de priv los da pr pria vida Bev adota uma postura que abdica de partilhar das no es universais de direito vida e liberdade que fundamentam a teoria do direito e dos direitos animais em particular em prol de um paliativo que busque minimizar o sofrimento de cada animal caso a caso embora naquele contexto todos os casos conduzam ao mesmo desfecho Eis porque Lurie percebe a proximidade de Bev como amea adora e mesmo revestida de uma aura sobrenatural ele um humanista um racionalista a associa com os transes da castra o e da morte ainda que uma morte simb lica a morte do mundo que conhecia e suspeita de que foi enviado a ela com esse objetivo talvez para que ele tamb m beba das guas do rio Lethe Mais tarde conversando com Lucy lamenta se brincalh o having said farewell to the city what do I find myself doing in the wilderness Doctoring 999170 dogs Playing right hand man to a woman who specializes in sterilization and euthanasia 1999 p 91 3 3 A queda Se as exist ncias de Lucy Bev Petrus e mesmo da cadela Katy vinham desafiando Lurie como leg timas alteridades at este momento ele ainda alcan ava certo sucesso em manter se encastelado em sua l gica conservadora Mas um evento violento e traum tico vem acentuar o tom dos conflitos na narrativa o assalto prop
217. o divorced he has to his mind solved the problem of sex rather well Isto porque Lurie contenta se com a ra o semanal que lhe proporcionada pelos encontros com Soraya e surpreende se inclusive por equacionar t o tranquilamente seu desejo com suas outras conveni ncias O narrador as 66 um tanto abstrata seca mesmo no ponto mais quente COETZEE 2011 p 9 67 Como definido por Arist teles a respeito da constru o do personagem na trag dia homem que n o se distinguindo por sua superioridade e justi a n o obstante n o mau nem perverso mas cai no infort nio em consequ ncia de qualquer falta 2011 p 52 68 um escravo de Eros COETZEE 2011 p 65 69 para um homem de sua idade cinquenta e dois divorciado ele tinha em sua opini o resolvido muito bem o problema de sexo COETZEE 2011 p 7 88 descreve utilizando a segunda met fora animal do texto His needs turn out to be quite light after all light and fleeting like those of a butterfly COETZEE 1999 p 5 A frugalidade caracteriza tamb m outros dom nios de sua vida interior Autor de tr s livros sobre cultura cl ssica apaixonado por Wordsworth e Byron sobre o qual sonha em compor uma pera ele lecionava l nguas modernas numa certa Cape Technical University que sofreu a great rationalization 1999 p 3 Como resultado ministra naquele momento disciplinas denominadas communications e re
218. o arena dial tica de v rios agentes algo de que em seu pr prio campo a teoria liter ria j se ocupou admitindo a instabilidade e relatividade do que literatura o que possibilitaria uma abordagem da tira como not cia E como unidade informativa que traz ao espa o do jornal segundo algumas defini es um relato integral de um fato que j eclodiu no organismo social MARQUES DE MELO 2003 um peda o do social que volta ao social VOYERNE in LAGE 1992 p 35 36 uma representa o social da realidade cotidiana produzida institucionalmente e que se manifesta na constru o de um mundo poss vel ALSINA 1996 p 185 Essa abordagem sist mica do jornalismo ainda n o hegem nica e podemos identificar fortemente vigentes na contemporaneidade ind cios do pensamento racionalista que fundamentou a autoimagem do jornalismo moderno em seu compromisso com a verdade e a objetividade Em Jornalismo tica e liberdade Francisco Jos Karam ocupa se extensamente do aspecto tico e moral da not cia afirmando que conveniente que conceitos como particularidade e universalidade sejam discutidos junto com o conte do normativo dos c digos jornal sticos KARAM 1997 p 93 como forma de contemplar diversas mundivis es no universo da informa o institucionalizada Por m logo a seguir o autor revela professar uma perspectiva essencialmente racionalista em sua justifica o filos fica da tica jornal stica
219. o bicho exercer o poder sobre os animais Esse poder tem sido desde sempre absoluto e inquestion vel tendo a humanidade utilizado os animais n o humanos como objeto estoque recurso material Por m foi preciso desenvolver rituais que representem esse dom nio da a origem das touradas da farra do boi das castra es coletivas dos rebanhos que se transformam em eventos de socializa o da uni o em torno do espeto de churrasco que nas comunidades rurais j come a antes com a morte quase ritual stica do animal como foi ali s retratado por Dalton Trevisan no conto Dia de matar o porco 1964 p 75 78 dos rodeios pescarias e ca adas que congregam grupos de amigos No passado e ainda atualmente em muitas e diversas comunidades essas eram consideradas atividades viris e vedadas s mulheres atuando assim tamb m como delimitadoras da identidade masculina reafirma o de g nero N o raro ali s que em culturas primitivas o ingresso do menino no c rculo dos homens feitos seja marcado pela morte do primeiro animal abatido por ele simbolizando o adeus sensibilidade infantil e a ades o ao pragmatismo essencial sobreviv ncia no mundo adulto Mesmo quando esses rituais se travestem em homenagem como nas sociedades primitivas em que se pretende incorporar qualidades desej veis atribu das aos animais coragem do le o for a do b falo agilidade do tigre na verdade subjaz uma generaliza o do animal enq
220. o companheiro Upon my soul I would sooner have gone without the pig than had this to do said Jude A creature I have fed with my own hands Don t be such a tender hearted fool There s the sticking knife the one with the point Now whatever you do don t stick un too deep TIl stick him effectually so as to make short work of it That s the chief thing You must not she cried The meat must be well bled and to do that he must die slow Every good butcher keeps un bleeding long He ought to be eight or ten minutes dying at least He shall not be a half minute if I can help it however the meat may look said Jude determinedly 1995 p 75 16 Pela minha salva o teria preferido renunciar ao porco a ser obrigado a fazer isso disse Judas Uma criatura que nutri com as minhas pr prias m os Vamos deixar de sentimentalismos Apanhe a faca mais pontiaguda Esta aqui E agora sobretudo n o enterre profundamente demais Darei um golpe s para que acabe logo o que interessa mais N o Gritou Arabella A carne deve ficar bem sangrada e para isso preciso que ele morra lentamente Um bom carniceiro leva muito tempo sangrando preciso que o animal leve de uns oito a dez minutos morrendo Nem um meio minuto no que dependa de mim A carne ficar como tiver que ficar disse Judas num tom decidido HARDY 1971 p 73 33 Uma das formas de afirmar se como n
221. o do ano 100 d C O interessante das kenningar que elas instituiam met foras que passavam a integrar o l xico daquela poesia como um todo de certa forma anulando o poder figurativo o poder de promover literariedade Justamente por sua institui o como substituto permanente do nome pr prio e n o mais como solu o metaf rica original Por essa raz o Borges as qualifica de frias aberra es 2001b p 35 A met fora animal ou antes uma inten o de met fora dominava a maioria das kenningar Nas descri es de batalhas os corpos dos mortos eram referidos sempre como alimento de corvos As naus recebiam denomina es tais como bis o da pradaria da gaivota falc o da margem e cavalo que corre por recifes note se como refere Borges que bis o da pradaria da gaivota j vai um passo al m ao combinar numa s express o dois usos metaf ricos pois pradaria da gaivota designa mar Ele cita os versos de Egil Skalagrimsson Os que tingem os dentes do lobo Esbanjaram a carne do cisne vermelho O falc o do orvalho da espada Alimentou se de her is nas plan cies Serpentes da lua dos piratas Cumpriram a vontade dos Ferros BORGES 2001b p 37 Os que tingem os dentes do lobo s o os guerreiros vencedores a carne do cisne vermelho s o os mortos o falc o do orvalho da espada designa novamente uma constru o dupla sendo o orvalho da espada o sang
222. o do not practise mourning among themselves 1999 p 127 Ja na festa Lurie v se diante do prato que cont m partes assadas dos carneiros confrontado com a obriga o social de honrar a oferta do anfitri o O sentimento de culpa que experimenta em rela o aos animais contrasta com a atitude demonstrada por ele apenas pouco tempo antes antes principalmente do ataque a Lucy Na cl nica com Bev Shaw ela observara que ele parecia gostar de animais Lurie respondera irreverente Do I like animals I eat them so I suppose I must like them some parts of them Sem acusar o golpe Bev retrucara Yes we eat a lot of animals in this country Im not sure how we will 19 N Parece ter nascido um v nculo entre ele e os dois persas sem ele saber como Um v nculo n o de afei o Um v nculo que n o nem com aqueles dois em particular que ele n o seria capaz de identificar no meio de um rebanho no campo Mesmo assim repentinamente e sem raz o a sorte dos dois passou a ser importante para ele COETZEE 2011 p 148 149 193 Tudo bem eu vou Contanto que n o tenha que me transformar numa pessoa melhor COETZEE 2011 p 94 194 Sim N o N o mudei de ideia se o que voc quer dizer Continuo achando que os animais n o tem vidas exatamente individuais Mesmo assim neste caso me incomodou N o sei porqu COETZEE 2011 p 149 195 Ser apropriado lamenta
223. o ocupa se n o de tiras narrativas aut nomas curt ssimas que se concluem no espa o de uma nica edi o do jornal mas sim de um modelo de publica o de quadrinhos segmentado em v rias edi es do peri dico equivalendo a cap tulos que era comum ainda na poca dos estudos desse autor na d cada de 1960 E por isso compara os ao folhetim Esse formato sequenciado s encontrado atualmente em reedi es de comics cl ssicos como por exemplo Dick Tracy ou o Steve Canyon que objeto de Eco Nesse caso a ideia de assentada nica de Poe evidentemente n o se aplica Mas ele afirma comumente as est rias em quadrinhos em que se reconhece maior validade e maturidade est tica e ideol gica n o s o as que se desenvolvem em cap tulos mas aquelas que no mbito de uma s tira ou mesmo de um s agregado de enquadramentos exaurem sua hist ria 2001 p 157 76 deveria exceder uma ou duas horas n o seria poss vel evitar a interfer ncia de influ ncias externas ou o t dio O conto deveria ainda cativar o leitor desde as primeiras linhas sem alongar se em detalhes a n o ser aqueles necess rios a estabelecer de entrada a atmosfera desejada para a produ o daquilo que ele denominava unidade de efeito Ou seja o espa o limitado do conto n o comporta ao contr rio de narrativas longas como o romance modula es de clima o conto ser ou uniformemente melanc lico ou alegre
224. o orientadas principalmente atrav s dos paradigmas do pensamento cl ssico e seus desdobramentos como por exemplo a abordagem cartesiana 26 Afrikaner o termo adotado para designar a si pr prios pela popula o Boer formada por colonos holandeses e franceses na frica do Sul A cultura e linguagem decorrentes s o denominadas afrikaans 27 Controle sobre a linguagem tem sido uma das principais caracter sticas da opress o imperialista Sendo um meio opaco a linguagem possui a habilidade tanto de expressar como de obscurecer Tradu o minha 51 Quando apreciados sob o olhar do antiespecismo a esses pressupostos s o geralmente contrapostas argumenta es baseadas na aprecia o de dilemas da tica aplicada Portanto a oposi o e o embate entre os argumentos especistas e antiespecistas serve bem como exemplo da caracteriza o de doxa formulada por Roland Barthes a partir de conceitos aristot licos o pensamento antropoc ntrico iluminista tomado como doxa e seu questionamento conforme diria Barthes como discurso paradoxal 2004 p 135 grifo do autor Fica evidente porque ao pensamento antiespecista parece restar digamos assim o nus da prova Como afirma Naconecy a tarefa da filosofia pensar at o fim p 13 2006 Por m o pr prio conceito de doxa como constitui o do senso comum hegem nica disseminada e aceita sem questionamento de forma pegajenta como qualifica Barthes
225. o privil gio de nomear de dar nome um dos mecanismos de exerc cio do dom nio humano sobre outras esp cies est presente no pensamento de Derrida quando afirma Ao se encontrar privado de linguagem perde se o poder de nomear de se nomear em verdade de responder em seu nome Como se o homem n o recebesse tamb m seu nome e seus nomes 2002 p 41 O uso da linguagem de tal forma valorizado para fins da limitrofia entre humano e outros animais que grande parte da defesa antropocentrista se faz baseada na peculiaridade de que animais n o humanos n o desenvolveram ainda linguagem verbal ou seja o poder de dar nome Leahy em Against Liberation evoca o conceito de jogos de linguagem de Wittgenstein para concluir que n o sendo capazes de expressar verbalmente a dor os animais n o s o igualmente capazes de senti la If describing someone as remembering involves the grasp of a fairly extensive language game and is not simply naming a memory image then presence of pain ought to be amenable to the same analysis LEAHY 2005 p 124 Se o conceito de jogos de linguagem evocado pelo pensamento antropoc ntrico problematiza es lingu sticas e de uso ret rico tamb m recebem vi s abolicionista atraindo o foco para a manifesta o do especismo como doxa expressa na linguagem encr tica e de certa forma promovendo a reden o do quadrinho enquanto linguagem afeita aos meios de comunica o de massa e reprodut
226. o trabalho volunt rio no ref gio de animais local e ao contempl la Lurie s consegue sentir se incomodado pela falta de vaidade da amiga da filha Mulheres e animais j n o s o mais figuras j n o podem ser reduzidas a meras idealiza es e o protagonista ressente se disso Mesmo assim envergonha se do que considera um preconceito e lamenta His mind has become a refuge for old thoughts idle indigent with nowhere else to go 1999 p 72 Uma visita ao abrigo resid ncia de Bev oportuniza novos julgamentos o lugar cheira mal e como ele esperava A descri o mental semelhante aquela produzida a respeito da casa de Petrus The house is just as he had imagined it would be rubbishy furniture a clutter of ornaments porcelain shepherdesses cowbells an ostrich feather flywhisk the yammer of a radio the cheeping of birds in cages cats everywhere underfoot 1999 p 73 Do ponto de vista antiespecista a cole o de enfeites da casa de Bev uma clara manifesta o daquela esquizofrenia moral referida por Gary Francione Desde os bibel s de pastoras e cincerros sinos que se penduram nos pesco os das vacas at o abanador feito de penas de avestruz tudo remete explora o de animais como objetos em contraste com os c es e gatos abrigados Quando Lucy lhe pergunta o que achou responde It s a subculture of its own I m sure JI m sorry my child I just find it hard to wh
227. oat stands stock still as if hypnotized Bev Shaw continues to stroke him with her head She seems to have lapsed into a trance of her own 1999 p 83 A personagem de Bev remete ao movimento de prote o de animais fen meno sociol gico com especifica es muito claras que o destaca do conjunto de pr ticas e pressupostos compreendidos pela causa animal Assunto controverso entre os ativistas dos direitos animais a prote o percebida por estes como a manifesta o contempor nea do pensamento bem estarista e utilitarista que deu origem pr pria causa no s culo XIX e n o encontra acolhida entre os nichos mais intelectualizados e ou politizados desta luta na atualidade As raz es podem ser v rias as praticantes da prote o em geral cuja maioria absoluta de mulheres s o percebidas como principalmente intuitivas desorganizadas e desinformadas do acervo cr tico sobre o tema N o desprez vel a hip tese de que a predomin ncia do g nero feminino tomada de forma preconceituosa um dos motivos para a rejei o desse segmento por parte dos setores mais articulados do ativismo da causa animal Como afirma Naconecy frequentemente os defensores dos animais s o acusados de serem pessoas particularmente emotivas ou que inadequadamente tratam o tema de modo emotivo 2006 p 191 fato sabido que a emotividade costuma ser associada ao conjunto de caracter sticas marcadamente femininas em oposi o a um
228. oduzir a narrativa dolorosamente bela a passagem onde ap s discutir com sua ex mulher Rosalind Lurie e ela quedam se calados estabelecendo uma esp cie de polifonia do mutismo There is a silence while they contemplate from their respective angles the story of his life 1999 p 189 Quanto aos animais relevante perceber que ao passo em que na primeira parte do romance n o havia deles uma efetiva representa o enquanto sujeitos mas apenas de arqu tipos ou alegorias atrav s das met foras na segunda parte s o com maior ou menor profundidade representa es de indiv duos e sujeitos S o personagens A primeira men o a 115 A sensa o de acolhimento que o aroma da comida assando no forno proporciona merece uma considera o Se no original em ingl s a express o baking pode referir se a bolo ou biscoitos na vers o em portugu s aparece assado que remete mais a came O aroma dos alimentos e a mem ria olfato afetiva que ele dispara t o bem representado por Proust em Em busca do tempo perdido no epis dio das madeleines merece considera es tamb m ponto de vista antiespecista H uma clara contradi o no fato de que uma sensa o de bem estar e conforto possa ser alcan ada a partir de um evento violento como a morte de um animal e seu uso como alimento Esse mesmo descompasso desnudado mais adiante quando termos mais concretos descrevem o ambiente da feira livre onde Lucy comer
229. ominada giro como explica Yelin No mbito dos estudos liter rios a ideia de giro diz respeito fundamentalmente aos modos simb licos que permitem pensar o humano e o animal como duas faces da mesma moeda pois toda express o simb lica se baseia em uma rela o que mediante a aproxima o verbal de duas ordens de coisas diferentes e mesmo opostas revela uma analogia O giro animal poderia ser entendido ent o entre outras interpreta es poss veis como uma transforma o da rela o entre esses dois termos como uma mudan a nos modos de funcionamento do simbolismo animal Essa hip tese est relacionada com o giro de pensamento levado adiante nas ltimas d cadas pela filosofia o questionamento da exist ncia de uma linha divis ria nica e definitiva entre o territ rio do humano e o do animal e da ideia de simetria entre ambos os termos duas quest es intimamente ligadas entre si e cruciais para a constru o de uma rela o metaf rica s d p 1 Este evidentemente o agente catalisador de todo o desenvolvimento do pensamento cr tico antiespecista no mbito de muitas disciplinas e portanto julgamos essencial tra ar um roteiro hist rico e oferecer um panorama contempor neo da configura o desse pensamento atrav s dos pressupostos de dois dos mais consagrados te ricos do tema os fil sofos Peter Singer e Gary Francione O di logo da obra de John Coetzee com os pressupostos de Singer
230. omo a aboli o da escravatura negra e o sufr gio feminino No entanto a heran a desses primeiros grupos de prote o aos animais ainda marca todo o fen meno sociol gico da prote o que tem na personagem de Bev Shaw em Disgrace sua representa o Esse movimento o respons vel pela conscientiza o crescente nas ltimas d cadas sobre as quest es da superpopula o neglig ncia e maus tratos a animais de estima o As tiras do desenhista Clovis Geyer por exemplo ocupam se do tema do abandono e o autor relata Come o uma s rie de tiras com animais abandonados mas com aqueles que tiveram uma casa um dia e depois foram jogados pr pria sorte pra divertir mas fazer refletir tamb m GEYER s d Ta bom j posso sair Vamos voltar pra Casa T com fome passear de Carro Figura 3 4 Abandonado GEYER s d s p 132 Se tiras como a de Geyer assumem um tom pedag gico e mesmo pol tico outras voltam se subjetividade o caso das cria es do desenhista americano Matthew Inman para o website The Oatmeal anexo C que constroem relatos imagin rios sobre o mundo e a humanidade a partir do ponto de vista dos animais e vice versa Em My dog the paradox Inman tra a um perfil c mico e comovente das aparentes idiossincrasias de seu c o concluindo He is my best friend and I am his but he will go to his grave having never known my name My Dog s d A ideia de que
231. onsolidating analytical tool in the postmodern context of the artistic and intellectual field The notion of speciesism is studied based primarily on Gary Francione s assumptions on animal rights and on Carlos Naconecy s reflections on animal ethics The review of the Aristotelian concept of doxa in definitions of the notions of acratic and encratic languages is based on Roland Barthes thought and related with Michel Foucault s assumptions on power and discourse Jorge Pedro Sousa s multifactorial theory and Umberto Eco s post structuralist approach underlie the proposal to consider the strip and the news as literary genres a strategy that guided the comparative analysis in the assessment of whether the metaphorical representations in Disgrace constitute a new look at otherness or refer only to the symbolic use of the animal figure We conclude that under anti speciesist bias both Disgrace and A gata reproduce narrative procedures aligned with the notion of the animal giro and with the deconstruction of the animal metaphor as used in the fable these works mirror rather social demands on the subject Disgrace which reproduces through the trajectory of its protagonist the clash between rival paradigms promotes a clarification on the issue of relativism as a postmodern contingency which also applies to animal issues Keywords Animal metaphor Coetzee Laerte Speciesism Discourse Sum rio INTROQU O coe suis does vcs svcd cuts da
232. ontro de um dos objetivos deste trabalho que demonstrar a forma como a met fora animal descuidadamente disseminada desde sempre no discurso coloquial e reproduzida literariamente oculta um car ter uma ndole expressa numa inten o que a de 11 perpetuar o dom nio do homem sobre os outros animais Tamb m o efeito est tico confesso foi contemplado na escolha do t tulo sendo animal e n o m quina um pouco de prazer tinha que ser adicionado tarefa de maquinar este texto Dois aspectos deste trabalho pedem uma justificativa preliminar O primeiro deles diz respeito sua estrutura come ando pelos prim rdios dos estudos da ret rica e po tica at chegar ao contexto que oportunizou o surgimento das obras objeto O formato aproximado a uma linha de tempo tem a inten o de associar estas proposi es ao movimento de transi o entre os paradigmas rivais iluminista e p s moderno pois acredito ser esse contexto de transi o an logo aquele que caracteriza a mudan a do paradigma nas pr prias rela es entre humanos e animais e suas representa es e essa analogia referida sempre que necess rio ao desenvolvimento das ideias tamb m essa aten o ao contexto de transi o dos paradigmas que explica esta extensa ramifica o das reas de interesse que primeira vista pode parecer excessivamente panor mico vagando da an lise do discurso teoria do jornalismo da hist ria do comics aos
233. orma como est o configuradas as rela es entre humanos e outros animais a disposi o hostil A express o corporal da gata promove uma composi o h brida entre humano e n o humano os ombros ca dos as m os crispadas nos bra os da cadeira e o corpo curvado sobre si denotam respectivamente medo estado de alerta e inseguran a da mesma forma que as orelhas inclinadas para tr s nos gatos referem se s mesmas emo es 265 Parece ter nascido um v nculo entre ele e os dois persas sem ele saber como Um v nculo que n o nem com aqueles dois em particular que ele n o seria capaz de identificar no meio de um rebanho no campo Continuo achando que os animais n o t m vidas exatamente individuais COETZEE 2011 p 148 149 139 O uso da cadeira de rodas que poderia parecer um dado antropomorfizante para o leitor menos informado traz na verdade uma representa o realista crescente o n mero de animais sequelados que utiliza esse recurso A pr pria pr tica de disponibilizar uma pr tese mec nica a cadeira que possibilite ao animal dar seguimento sua vida uma realidade relativamente nova que se alinha com a tend ncia de perceber os animais como indiv duos um gato danificado parapl gico n o pode ser substitu do por outro gato mais funcional N o a condi o da esp cie felina que caracteriza aquele indiv duo primordialmente mas sim caracter sticas espec ficas
234. os EUA na d cada de 60 chegava ao Brasil e era metabolizado em movimentos como a Tropic lia e o desbunde Pacifismo ecologia liberdade sexual e de express o experimenta es em reas t o variadas como a viv ncia em comunidades alternativas e as viagens lis rgicas buscando autoconhecimento atrav s de percep es alteradas da realidade o novo orientalismo enaltecido do qual os Beatles foram precursores em suas viagens ndia a literatura marginal a imprensa alternativa os festivais de rock ao ar livre e os pr prios quadrinhos underground atrav s do trabalho por exemplo do americano Robert Crumb eram algumas das ideias e tend ncias atreladas ao fen meno Desde o in cio portanto a trajet ria de Laerte esteve marcada por um momento e cen rio cultural que reproduzia as propostas da est tica e do pensamento p s modernos Essa inser o confirmou se no decorrer de sua carreira Os primeiros anos est o marcados pela atua o na resist ncia repress o pol tica a d cada p s AI 5 Laerte trabalhou em 1974 na 56 Robert Crumb tornou se c lebre a partir do final dos anos 1960 por veicular em sua obra uma cr tica feroz ao modo de vida norte americano Seu trabalho fortemente identificado com a cultura hippie conquistou novos espa os para a hist ria em quadrinhos tornando se ic nico da contracultura A cantora Janis Joplin era grande f de seu trabalho e convidou o para ilustrar a capa de al
235. os dos matadores que brutalizam sua miser vel profiss o e que come ar o talvez a esquartej lo antes que esteja completamente morto Seu pr prio nome que deveria ser sagrado para os homens que ele alimenta rid culo em franc s e alguns leitores deste livro Julgar o sem d vida igualmente rid culas estas observa es e as precedentes 1985 p 34 Na literatura brasileira contempor nea Clarice Lispector not vel por sua aproxima o sens vel e interativa dos animais Ferreira diria que a obra de Clarice contempla os animais raramente na forma metaf rica e sim na tentativa de apreender as outras esp cies em suas pr prias verdades 2005 p 130 O conto Tenta o 1977 por exemplo narra uma hist ria de amor amor imposs vel Ele descreve a comunh o instant nea entre um c o basset avermelhado e uma menina ruiva no instante em que ele passa por ela sentada solit ria nos degraus de casa O c o acompanhava sua dona a passeio encoleirado e a menina devia permanecer onde estava assim apesar da grande atra o identifica o entre ambos todo o universo daquela rela o limitou se um olhar E em torno desse breve mas intenso olhar que 38 Clarice constr i toda a narrativa Solit ria entediada a menina ruiva espanta se ao visualizar o c o A possibilidade de comunica o surgiu no ngulo quente da esquina A menina abriu os olhos pasmada Suavemente avisado o cachorro estacou diante
236. oteg lo e a excluir dele irremediavelmente o advers rio 2004 p 136 137 o caso citado por ele do discurso psicanal tico Se o prov vel paciente recusa a psicoterapia sua recusa qualificada na tecnicalidade da psican lise como resist ncia e a motiva o n o importa qual percebida como sintoma Essa constru o exclui a possibilidade de um outro olhar ao advers rio s resta legitimar a ideologia em quest o por ades o ou oposi o A dissemina o das figuras de linguagem entre elas o uso metaf rico dos animais reproduz e decreta verdades Grande parte do trabalho que pretendemos devolver baseia se em avaliar a perman ncia manifesta o e compreens o da ret rica do poder na p s modernidade e visto que para Roland Barthes ret rica e literariedade podem ser a mesma coisa nos ocuparemos tamb m do poder da e na literatura 3 Newspeak no original 1971 p 52 N o v s que todo o objetivo da Novil ngua estreitar a gama do pensamento No fim tornaremos a crimid ia totalmente imposs vel porque haver palavras para express la 1971 p 52 Guerra Paz Liberdade Escravid o Ignor ncia For a 1971 p 19 Para Barthes a literatura possui um elemento que a define especificamente a sua linguagem esse elemento espec fico a escola formalista russa j havia buscado isolar e tratar sob o nome de Literaturnost de literariedade esse e
237. ou aterrorizante sem nuances que distraiam de sua escalada rumo ao ep logo E o ep logo deve ser o ponto maximo de sensibiliza o do leitor para aquela emo o ou estado de esp rito que se desejava aludir Podemos identificar essas caracter sticas na tira ao atentar que numa tira padr o de tr s ou quatro quadrinhos o primeiro em geral estabelece o ambiente o segundo prop e a desestabiliza o a crise que detona a narrativa e o terceiro fornece o epilogo A tira s funciona lida de uma s vez uma assentada embora algumas possam apresentar tanta efici ncia narrativa que ofere am tamb m enredos aut nomos contidos no espa o ex guo de um s quadrinho sem preju zo de sua fun o no conjunto Mas em geral seu enredo costuma centrar se num efeito nico concentrado tal como prescrevia Poe a respeito do conto J na teoria de Cortazar 1993 sua percep o de uma analogia formal e discursiva do conto com a fotografia serve tamb m tira Para ele os contos s o aglutinantes de uma realidade infinitamente mais vasta que a do seu mero argumento 1993 p 155 Afirma o autor tamb m o fot grafo ou o contista sentem necessidade de escolher e limitar uma imagem ou um acontecimento que sejam significativos que n o s valham por si mesmos mas tamb m sejam capazes de atuar no espectador ou no leitor como uma esp cie de abertura de fermento que projete a intelig ncia e a sensibilidade em dire o
238. p los de forma classificat ria O problema desse crit rio sua efemeridade logo depois de decorrido algum tempo o animal j n o mais acabou de quebrar a bilha j n o mais se comporta como algu m que acabou de quebrar a bilha Em s ntese a mudan a de paradigma com rela o aos direitos animais que vemos espelhada nas obras analisadas associa se g nese do pr prio conceito de especismo um modelo de pensamento como j vimos baseado na cren a de que uma esp cie det m o direito de utilizar outras como objetos excluindo as da comunidade moral apenas pelo fato de ser outra esp cie A base te rica do especismo sustenta se exatamente no imp rio da l gica cartesiana Animais n o humanos seriam pass veis de coisifica o simplesmente porque n o apresentam as mesmas qualidades de racioc nio e capacidades cognitivas dos animais humanos A cr tica ao especismo se faz principalmente com base na inconsist ncia desse argumento quando comparado a uma situa o an loga se certo dispor de animais como 41 objetos simplesmente porque eles t m menos capacidade de racionalizar automaticamente seria moralmente l cito dispor da mesma forma de indiv duos humanos que por algum motivo tamb m estivessem abaixo da capacidade cognitiva m dia da esp cie crian as muito pequenas doentes mentais pacientes comatosos idosos com Alzheimer A recusa do sociedade pelo menos moral e institucionalmente em privar esses indiv
239. pal ouvinte como tamb m sua principal fonte de inspira o Da observa o de comportamentos e atitudes o fabulista buscava ensinar valores ao povo e moraliz lo FARENCENA s d p 13 30 Na Ret rica Arist teles refere se diretamente a Esopo quando narra a interven o deste num julgamento em que se propunha a pena capital para o r u Ele ilustrou seu argumento contra a execu o atrav s da hist ria de uma raposa que jazia coberta de carrapatos Quando um ouri o ofereceu se para arrancar os parasitas ela recusou justificando estas j est o fartas de mim e sugam me pouco o sangue se mas tiras outras vir o esfomeadas e sugar me o o sangue que me resta A moral que seguia a narrativa e que pleiteava pela vida do acusado era a seguinte este homem o r u n o vos prejudicar mais porque j rico mas se o matais outros vir o pobres que vos h o de roubar e esbanjar o o que vos resta 2005 p 207 Segundo Neves a f bula revelava se deste modo especialmente apta para servir a ret rica e os seus tr s tipos de discurso o deliberativo ou pol tico o judicial ou forense e epid ctico ou demonstrativo 2013 p 137 As f bulas de Esopo perpetuaram se na contemporaneidade oportunizaram incont veis releituras intertextuais e guardam not veis analogias com processos hist ricos e sociais como por exemplo a ideologia calvinista pr capitalista contida na narrativa A Cigarra e a
240. paradigma da teoria jornal stica Elaborada pelo pesquisador portugu s Jorge Pedro Sousa ela questiona a efici ncia das teorias anteriores como inseridas numa tend ncia divisionista que seria a de compartimentar excessivamente as unidades de influ ncia sobre o processo de produ o da not cia e alinha se com a tend ncia unionista que prop e um conjunto de explica es para o fen meno not cia As not cias s o um produto da hist ria durante a qual agiram as restantes for as que enformam as not cias que existem no presente A hist ria proporciona os formatos as maneiras de narrar e descrever os meios de produ o e difus o etc o presente fornece o referente que sustenta o conte do e as circunst ncias actuais de produ o Ao ser simultaneamente hist rica e presente a not cia sincr tica SOUSA 2004 p 18 Similarmente a Sousa Henn afirma que o jornalismo comporta se como sistema j que possui elementos suficientes que evidenciam essa condi o 2002 p 15 Imposs vel n o ceder tenta o de comparar a formula o te rica de um sistema jornal stico com a ideia de um sistema integrado atuando no campo liter rio desenvolvida entre outros por Antonio Candido 1976 p 38 e que serve por analogia aos nossos prop sitos de sugerir uma defini o mais ampla do que not cia A teoria liter ria tem se ocupado atrav s dos tempos n o apenas em definir o que
241. peito do assassinato dos c es I will bury the dogs if you show me where he offers What are you going to tell the owners T U tell them the truth Will your insurance cover it I don t know I don t know whether insurance policies cover massacres 1999 p 110 E essa despersonaliza o ser tamb m aplicada a Lucy por Petrus Em mais uma de suas tentativas de estabelecer comunica o com o vizinho e onde novamente sentir que talking to Petrus is like punching a bag filled with sand 1999 p 153 Lurie insiste em que preciso haver uma repara o moral para o mal que foi causado a ele e filha pelos assaltantes ao que Petrus responde repetidamente em termos de que haver uma repara o material But the insurance will give you a new car 1999 p 137 Portanto embora atualmente as leis proibam a infli o de sofrimento desnecess rio aos animais elas ainda n o proporcionam nenhum n vel significativo de prote o 2013 p 122 e isso acontece porque o valor de suas vidas ainda est vinculado no o de que s o apenas meios para fins sendo o fim o interesse humano e que suas mortes n o resultam em perda irrepar vel E o desafio dessa convic o respaldada pelo senso comum de que a vida 260 O veterin rio disse que o pre o m nimo de uma consulta de emerg ncia era U 50 e me perguntou por que eu quereria gastar isso quando podia comprar um
242. pois de algum tempo voc fica com vontade de sair por a estuprando e pilhando um pouco Ou chutando gatos COETZEE 2011 p 89 105 Na discuss o que se segue Lucy acusa o pai de menosprezar o trabalho de prote o aos animais como uma atividade menor que n o conduz a uma verdadeira eleva o a uma higher life e proclama que n o acredita em uma hierarquiza o de prop sitos existenciais They are not going to lead me to a higher life and the reason is there is no higher life This is the only life there is Which we share with the animals Conciliador Lurie interv m As for the animals by all means let us be kind to them But let us not lose perspective We are of a different order of creation from the animals Not higher necessarily just different 1999 p 74 Logo ap s um detalhe nos diz que de fato Lurie considera a filha algu m pouco cultivado para seus padr es cl ssicos Ao surpreend la lendo um romance de Charles Dickens The Mystery of Edwin Drood observa not what he would have expected 1999 p 76 Finalmente ele capitula insist ncia de Lucy para que ajude no abrigo n o sem certa dramaticidade A shadow of grief falls over him for Katy alone in her cage for himself for everyone He sighs deeply not stifling the sigh Forgive me Lucy For being one of the two mortals assigned to usher you into the world and for not turning out to be a better guide But I ll
243. predador mais poderoso temos o direito de explorar as outras criaturas 2006 p 88 28 Carlos Naconecy afirma que a tica n o deve ser inaplic vel no mundo concreto 2006 p 33 No entanto a tica imp e dilemas e alguns deles podem ser insol veis neste momento Por exemplo os povos nativos do Polo Norte impossibilitados de praticar a agricultura podiam apenas servir se de animais como fonte de alimenta o e v rios outros recursos Isso torna morais as atividades da ca a Naconecy relata tamb m que povos primitivos dedicados ca a frequentemente demonstram obje es de consci ncia a essa pr tica prestando homenagens p stumas e sacralizando os animais que predam e tal acontece entre os inuit esquim s A intui o da imoralidade permanece mesmo diante da impraticabilidade da tica Ainda assim ao responder filosoficamente aos argumentos naturais apoiados no que consideram se evid ncias concretas isto feito porque esses argumentos v o buscar justificativa numa certa doxa cient fica ou seja um discurso pseudocient fico cuja vontade de verdade num sentido foucaltiano escolhe ignorar evid ncias contr rias ainda que cient ficas Por exemplo diz a doxa cient fica que s a carne vermelha pode fornecer certas prote nas e o ferro necess rios nutri o humana Uma infinidade de estudos acad micos comprova o contr rio que feij es e vegetais de folhas escuras s o capaz
244. pria sorte enquanto seus pais trabalhavam nas f bricas ou relegadas orfandade quando estes sucumbiam viol ncia urbana ou aderiam s muitas gangues compostas principalmente por imigrantes irlandeses italianos e asi ticos assim como afro americanos Esses segmentos de exclu dos condenados mis ria e marginalidade acabavam recrutados para a criminalidade Na Nova York da virada do s culo XIX tornou se c lebre pela viol ncia a favela Five Points na regi o da ilha de Manhattan hoje conhecida como Little Italy O historiador Robert McNamara afirma It was said to be the roost of gang members and criminals of all types and was particularly known as the home turf of flamboyant gangs of Irish immigrants The reputation of the Five Points was so widespread that when the famous author Charles Dickens visited New York the chronicler of London s underside wanted to see it for himself FIVE POINTS s d De fato Charles Dickens dedicaria a Five Points um capitulo inteiro de seu relato da viagem American Notes for General Circulation onde reproduz a visita tendo como cicerones e seguran as dois policiais Assim ele descreve o local 37 Dizia se ser o esconderijo de membros de gangues e criminosos de todos os tipos e foi particularmente conhecida como a terra natal de flamejantes gangues de imigrantes irlandeses A reputa o de Five Points era t o difundida que quando o famoso escritor Charles Dickens visitou Nova Yor
245. processos mentais ntimos e dos sinais boa parte deles n o verbais e at mesmo indici rios que nos s o enviados Esses sinais nos s o dirigidos tamb m a partir dos animais em fun o deles que mantemos animais de estima o nos quais reconhecemos personalidades pr prias e com quem interagimos tamb m em fun o desse fato que escolhemos mantermo nos afetivamente afastados dos animais de carga animais de corte ou cobaias pois as trocas afetivas oportunizadas por uma proximidade maior inviabilizariam os usos que pretendemos fazer deles Animais n o humanos s o t o outros em sua impenetrabilidade para um humano como outros seres humanos se tomarmos a defini o de outro proposta por Souza em Uma introdu o Etica contempor nea O Outro por n s compreendido como aquele que chega de fora fora do mbito do meu poder intelectual de minha intelig ncia que v e avalia o mundo Se o pensamento funciona normalmente em termos de s nteses ou seja pelo processo de redu o do Outro ao Mesmo atrav s das classifica es que fazemos constantemente esta l gica aqui rompida porque o pensar o Eu que pensa encontrou algu m que pode dizer n o ao meu sim algu m que se nega a algum tipo de explica o de sua exist ncia de sua presen a por alguma via l gica ou classificat ria Assim o que o Outro representa originalmente frente a mim um p
246. r prio toma forma no ntimo de Lurie quando ele percebe que o estupro da filha sua redu o a objeto nas m os daqueles homens n o t o diferente da forma como ele tratou Melanie Lucy compara os estupradores a dogs in a pack e Lurie os imagina driving away in the not too old Toyota the back seat piled with household goods their penises their weapons tucked warm and satisfied between their legs purring is the word that comes to him 1999 p 159 Fica chocado quando a filha lhe diz You are a man you ought to know When you have sex with someone strange when you trap her hold her down get her under you put all your weight on her isn t a bit like killing 1999 p 158 Em diversos momentos desde o primeiro instante ap s o estupro a filha o repele como se associasse o pai ao todo gen rico dos homens que agora ela despreza Isso percebido desde o momento em que ela o liberto da cativeiro em que ficara durante o assalto At last blessedly the key turns in the lock By the time he has the door open Lucy has turned her back on him Sem nem mesmo lan ar um olhar para certificar se que o pai est bem ela vira lhe as costas Logo depois he follows her into the cage and tries to take her in his arms Gently decisively she wriggles loose 1999 p 97 E ainda mais adiante He looks into her eyes My dearest dearest he says and chokes on a sudden surge of t
247. r que participou dos julgamentos de Nuremberg a respeito da no o de eutan sia nazista Come ou com a aceita o da opini o b sica no movimento da eutan sia de que existe uma vida que n o vale a pena ser vivida Essa opini o em seus primeiros est gios referia se apenas aos doentes graves e incur veis Gradualmente a esfera dos que inclu am nessa categoria foi ampliada de modo a abarcar os socialmente improdutivos os ideologicamente importunos os racialmente indesejados e finalmente todos os n o alem es 2002 p 258 271 Gary Francione atuou ativamente na implanta o da PETA durante os anos 1970 ao lado de sua fundadora Ingrid Newkirk Posteriormente afastou se e tornou se um de seus maiores cr ticos justamente por n o concordar com sua vis o bem estarista em quest es como a da eutan sia e da produ o industrial de animais 272 O problema que s o demais Demais para os nossos padr es n o para os deles COETZEE 2011 p 103 141 morte r pida e indolor mesmo para um animal s o prefer vel morte lenta e sofrida que experimentar abandonado nas ruas Tomando se como v lido esse pressuposto seria de fato uma eutan sia uma morte no interesse do ser eutanasiado Em Disgrace ao conduzir morte o c o a quem se afei oara no qual percebera at ind cios de uma sensibilidade similar humana ele apreciava o som da m sica a personagem de David Lurie fa
248. r a morte de seres que n o lamentam entre si COETZEE 2011 p 150 tn 115 justify it to them E zombeteiro Lurie pensara Justify it When At the Great Reckoning 1999 p 81 82 Por m no momento em que obrigado a consumir a carne dos animais aos quais se afei oara e cuja vida pensara em preservar repete a si pr prio como para ganhar coragem J am going to eat this he says to himself I am going to eat it and ask forgiveness afterwards 27 1999 p 131 Mais tarde numa nova discuss o com Lucy a respeito da insist ncia dela em permanecer merc da viol ncia dos vizinhos uma observa o revela associa o posi o dos animais abatidos Pergunta filha se ficar n o seria o mesmo que cut our own throats 1999 p 133 A brutalidade do ataque a Lucy e a ele pr prio o marco divis rio numa revis o por parte de Lurie da forma como percebe a alteridade Por diversas vezes por exemplo ele indaga se seria poss vel para um homem compreender em toda a extens o o trauma do estupro para uma mulher e lembra se de como em crian a contemplava uma reprodu o da tela The 199 cc rape of the sabine women men on horseback in skimpy Roman armour women in gauze veils flinging their arms in the air and wailing What had all this attitudinizing to do with what he suspected rape to be the man lying on top of the woman and pushing himself into her 1999 p 160 Ressente
249. r essa raz o optamos por trabalhar a an lise tomando ambos como um s discurso 64 No deserto da semana a quinta feira passou a ser um o sis de luxe et volupt COETZEE 2011 p 8 A express o em franc s luxe et volupt faz refer ncia ao poema de Charles Baudelaire que principia descrevendo o cen rio de um encontro amoroso L Invitation au voyage contido na obra Les Fleurs du mal La tout n est qu ordre et beaut Luxe calme et volupt L tudo ordem e beleza Luxo calma e vol pia Tradu o minha A mesma express o d nome a tela de Henri Matisse pintada em 1904 65 Se tivesse que escolher um animal totem seria a cobra A rela o sexual entre Soraya e ele deve ser imagina como uma c pula de cobras prolongada absorvente mas um tanto abstrata seca mesmo no ponto mais quente COETZEE 2011 p 9 87 O uso arquet pico da imagem da cobra a serpente do G nesis bem conhecido Sua associa o com o mal e com o conceito judaico crist o de sexo pecaminoso seguido de queda tudo funciona sem surpresas nesta met fora que salienta a atmosfera dos encontros sexuais relativamente transgressores entre o professor Lurie e sua amante Ele a descreve a c pula como rather abstract rather dry even at its hottest COETZEE 1999 p 3 tal como a rela o comercial de presta o de servi os que de fato Fica evidente que aqui o animal tomado apenas em sua dimens o simb li
250. ra Yanada atikan sasaa 147 Anexo A Conjunto de tiras A gata publicado em entre 01 07 e 31 07 de julho no caderno Ilustrada do jornal Folha de S o Paulo 153 Anexo B Autoriza o de Laerte Coutinho para reprodu o das tiras 158 Anexo C Reprodu es das ilustra es de The Oatmeal 159 Introdu o Quando tinha sete anos recebemos a visita de uma parente distante Lembro me dela como uma nuvem de perfume e batom mas principalmente lembro que trazia um animal enrolado no pesco o Poderia ser uma raposa uma lontra qualquer outro desses bichos cuja pele e pelo permanecem no repert rio da indument ria contempor nea apenas porque foram preservados no imagin rio coletivo como indicativo de sofistica o Animais de ca a privil gios feudais Minha parente ostentava suas peles peles de quem mesmo com orgulho E certamente colheu a admira o que esperava Mas em mim s gerou uma inquieta o sem nome e o despertar daquele senso cr tico em estado bruto que leva as crian as a apontar algo fora do lugar Sem outras ferramentas anal ticas numa esp cie de vers o do conto A roupa nova do rei pude apenas perguntar O que isso Ela sorriu e disse Um bichinho De fato a forma era de um bichinho Tinha cauda tinha pelos macios patinhas focinho e incr veis olhos de vidro Por m para que fosse um bichinho
251. ralelo interessante com o nome de um dos estupradores de Lucy P lux Na mitologia greco romana P lux e seu irm o g meo Castor intentam o rapto das filhas de Leucipo epis dio retratado por Peter Paul Rubens tamb m no s culo XVII e que atualmente se encontra no Metropolitan Museum Est tentando me fazer lembrar de alguma coisa Fazer voc lembrar do qu Do que as mulheres sofrem nas m os dos homens COETZEE 2011 p 132 SN No 20 116 partir desse novo momento que o trabalho volunt rio no abrigo de Bev se reveste de uma in dita solenidade Se antes sua ades o era superficial e desinteressada uma mera concess o de boa conviv ncia agora Lurie passa a frequentar quase diariamente o local aceitando qualquer tarefa por mais despretensiosa C es e gatos s o levados at l padecendo de diversos males mas ele percebe que o verdadeiro objetivo n o a cura The animals they care for at the clinic are mainly dogs less frequently cats for livestock D Village appears to have its own veterinary lore its own pharmacopoeia its own healers The dogs that are brought in suffer from distempers from broken limbs from infected bites from mange from neglect benign and malign from old age from malnutrition from intestinal parasites but most of all from their own fertility There are simply too many of them When people bring a dog in they do not say straight out I have brought this dog to ki
252. ram prazer no exerc cio de produzir conflito entre os afetos e a raz o provando a supremacia dos primeiros como verdadeira motiva o de todas as a es humanas tal qual revela Valmont em carta a Merteuil referindo se a seu pr ximo alvo de conquista a puritana Presidenta de Tourvel Possuirei aquela mulher arrebata la ei ao marido que a profana ousarei toma la ao pr prio Deus que ela adora Que del cia ser alternadamente o causador e o vencedor dos seus remorsos Longe de mim a ideia de destruir os preconceitos que a assaltam Eles aumentar o minha felicidade e minha gl ria Que ela acredite na virtude mas para sacrific la a meus p s que suas faltas a amedrontem sem poder det la e agitada por mil terrores n o possa esquec los e domin los sen o em meus bra os 1998 p 29 A percep o da ret rica como um falso conhecimento como um instrumento de deturpa o da verdade que se sup e absoluta permaneceu majorit rio at meados do s culo XX quando o olhar indagador da p s modernidade questionou um a um os mitos da objetividade Diria Barthes Nenhuma linguagem inocente 2004 p 5 O discurso liter rio de que se ocupam os p s estruturalistas aquele que induz sem nomear que persuade sem argumentar em jogo aberto falando metaforicamente mais ao cora o que raz o e pressupondo al m do mais que tudo relativo e toda causa digna de uma defesa Tal descri o n o se aplica mais apena
253. ricos coloridos por depoimentos dram ticos cap tulo 3 visita a um criador industrial 2013 p 139 e concluindo ap s contextualizar em roteiro hist rico os diversos par metros do comportamento humano para com os animais n o humanos com a apresenta o do conceito do especismo Singer afirma que no Ocidente a atitude para com os animais baseia se inicialmente nas tradi es judaica e da Gr cia cl ssica delineando o que denomina pensamento pr crist o em s ntese aquele apoiado na bem conhecida prescri o do G nesis Sede fecundos multiplicai vos enchei e submetei a terra dominai os peixes do mar as aves do c u e todos os seres vivos que rastejam sobre a terra J a vertente grega parte do pensamento de Arist teles e de sua justifica o moral para a escravatura o homem escravo inferior ao homem livre em sua capacidade de racioc nio Sobre Arist teles conclui Singer A natureza 18 G nesis 1 24 28 42 defendia ele essencialmente uma hierarquia na qual os que t m menor capacidade de racioc nio existem para servir aqueles que a possuem em maior grau 2013 p 275 Note se que essa hierarquia n o tinha o ser ou n o ser animal como maior par metro para inclus o na comunidade moral tanto que humanos estavam sujeitos igualmente a tratamento desumanizante Singer dedica especial aten o ao mundo romano que se seguiria no qual de forma alguma podemos inferir qu
254. riedade de Lucy quando tr s homens negros invadem imobilizando e ferindo Lurie enquanto violentam a filha pilham a casa e matam quase todos os c es s a buldogue Katy escapa numa sequ ncia de alto apelo simb lico ao executar friamente os animais nos canis os agressores marcam sua posi o diante do colonizador agora subjugado Contemptible yet exhilarating probably in 95171 a country where dogs are bred to snarl at the mere smell of a black man reflete Lurie 1999 p 110 Ainda em poder dos assaltantes ele pensa 170 depois de dizer adeus a cidade o que que eu estou fazendo no meio do nada Cuidando de cachorros Brincando de bra o direito de uma mulher especializada em esteriliza o e eutan sia COETZEE 2011 p 110 171 Indigno mas hilariante num pa s em que os c es s o criados para rosnar ao menor cheiro de um negro COETZEE 2011 p 131 110 He speaks Italian he speaks Frech but Italian and French will not save him here in darkest Africa He is helpless an Aunt Sally a figure from a cartoon a missionary in cassock and topi waiting with clasped hands and upcast eye while the savages jaw away in their own lingo preparatory to plunging him into their boiling cauldron Mission work what has it left behind that huge enterprise of upliftment Nothing that he can see 1999 p 95 A ideia de animalidade de uma natureza animal comum a todos os viventes inclusive ele p
255. rmo esquizofrenia foi tomado como supostamente incorreto ou preconceituoso por alguns setores e lhe valeu cr ticas a que ele respondeu em artigo publicado no site www abolitionistapproach com When I talk about moral schizophrenia I am seeking to describe the delusional and confused way that we think about animals as a social moral matter That confusion can of course include conflicting or inconsistent ways of looking at animals some are family members others are dinner but that does not mean that I am describing a classic split or multiple personality Our moral schizophrenia which involves our deluding ourselves about animal sentience and the similarities between humans and other animals and an enormous amount of confusion about the moral status of nonhumans is a phenomenon that is quite complicated and has many different aspects Some people think that by using the term I am stigmatizing those who have clinical schizophrenia because it implies that they are immoral people I am sincerely sorry and I mean that if anyone has interpreted the term in that way and that is certainly not what I intended Schizophrenia is a recognized condition that is characterized by confused and delusional thinking To say that we are delusional and confused when it comes to moral issues is not to say that those who suffer from clinical schizophrenia are immoral It is only to say that many of us think about important moral matters in a completely confused
256. road Inexorably he thinks the country is coming to the city Soon there will be cattle again on Rondenbosh Common soon history will have come full circle 2 1999 p 175 imagem do campo retomando a cidade como que derrotando a civiliza o que ele preza soma se a cena com que se depara no interior de sua casa saqueada por ladr es Suas 226 Uso do pronome its que designa coisas em lugar de their para pessoas 227 Os animais e a no o de justi a humana 228 Era uma coisa t o ign bil que eu ficava desesperado Nenhum animal aceita uma justi a que castiga porque voc obedeceu seus instintos COETZEE 2011 p 108 229 O senhor ouviu o lado de Melanie nessa hist ria Gostaria que ouvisse o meu se estiver disposto COETZEE 2011 p 195 230 As duas na mesma cama experi ncia digna de um rei COETZEE 2011 p 194 231 Ser que basta pensa Ser que isso basta Se n o o que mais COETZEE 2011 p 204 232 Levanta a cabe a As duas ainda est o sentadas congeladas Ele encontra os olhos da m e depois os da filha e outra vez tomado pela corrente a corrente do desejo COETZEE 2011 p 204 233 O fluxo de carros tem de diminuir a marcha enquanto uma crian a toca com uma vara uma vaca desgarrada para fora da estrada Inexoravelmente ele pensa o campo vem para a cidade Logo haver gado em Rondebosch Common de novo logo a hist ria completar o c rculo
257. roblema n o apenas te rico mas um acontecimento concreto que desestabiliza as certezas da minha intelig ncia Eu n o posso de forma alguma determinar aquilo que o Outro enquanto tal dizer o que ele realmente posso apenas dizer o que eu consigo captar dele dele perceber e classificar 2004 p 56 57 Quanto a adotar uma perspectiva behaviorista que qualifica comportamentos aparentemente racionais o rato que aprende a acionar um bot o para ganhar comida n o como escolhas oportunizadas por cogni o mas uma rea o mec nica ou ainda comportamentos afetivos de animais n o humanos como demonstrar amor materno como pura emula o de sentimentos que seriam exclusivamente humanos atribuindo os nos animais a a es instintivas que visam apenas a preserva o da esp cie um observador externo esp cie humana poderia dizer o mesmo Dizer que humanos apaixonam se apenas por a o de detonadores hormonais que visam a procria o e que amam seus filhos apenas para garantir que sobrevivam at possuir autonomia e que manifestam empatia oportunizada por 57 rea es bioqu micas apenas para garantir uma necess ria intera o entre indiv duos com vistas perpetua o da esp cie Descartes que comprovou a analogia estrutural entre os sistemas neurol gicos dos animais que dissecava e os dos humanos negava a analogia funcional o fato de que a simples exist ncia desses sistemas tanto em animais humanos
258. roga Lurie pressente a intoler ncia de sua chefe de departamento Elaine She has never liked him she regards him as a hangover from the past the sooner cleared away the better Da ex mulher Rosalind que parece nutrir por ele grandes ressentimentos que remontam poca do casamento escuta Don t expect sympathy from me David and don t expect sympathy from anyone else either No sympathy no mercy not in this day and age COETZEE 1999 p 40 44 Lurie tratado duramente tamb m pela colega Farodia que exige sua expuls o Quando ela se refere ao problema como a case with overtones like this ele n o resiste a ironizar com um trocadilho There are no overtones in this case 1999 p 50 Este um dos poucos momentos da narrativa alias onde ha uma refer ncia ainda que indireta a identidade racial de Melanie Podemos inferir que ela negra quando Farodia refere se long history of exploitation of which this is part 2 1999 p 53 mas poderia ser uma alus o igualmente explora o das mulheres enquanto g nero Deixar a cargo do leitor esse dado da identidade da personagem possibilita uma multiplicidade de leituras Em que momento conclu mos que Melanie negra com base em que referenciais Todo o processo da apura o do caso de Lurie remete s comiss es da verdade instauradas na frica do Sul a partir de 1995 audi ncias p blicas compostas por longos e detalh
259. rrinho e quando este retornava de dentro da fornalha muitas vezes trazia ainda preso um cad ver blackened and grinning smelling of singed fur its plastic covering burnt away 1999 p 144 Lurie presenciou ultrajado que os trabalhadores quebravam os membros dos animais mortos a golpes de p para que isso n o acontecesse e desde ent o n o mais permitiu que manuseassem os sacos Por que tomou a si essa tarefa pergunta se N o pelos c es que j est o mortos nem por Bev a quem bastaria largar os sacos com o resto do lixo For himself then For his idea of the world a world in which men do not use shovels to beat corpses into a more convenient shape for processing 1999 p 146 com grandiosidade tr gica que Lurie presta suas homenagens p stumas aos c es Lucy certa vez o acusara de desprezar o trabalho de ajudar animais por n o ser suficientemente importante por n o conduzir a uma higher life Agora ele pr prio se surpreende Curious that a man as selfish as he should be offering himself to the service of dead dogs 1999 p 146 O af de incorporar o mito de ver se como uma ferramenta dos deuses talvez n o muito diferente da posi o de servant of Eros que ele assumia N N Opera seis dias por semana de segunda a s bado No s timo dia descansa COETZEE 2011 p 170 seringas alfinetes bandagens lav veis qualquer coisa que d para fazer dinheiro COETZ
260. rta o Animal 2013 Especismo designa o tratamento diferenciado de seres de esp cies n o humanas Seu maior argumento a aus ncia de racionalidade nos animais considerado suficiente para autorizar seu uso como meios para os fins que sirvam aos interesses humanos como alimenta o for a de trabalho divertimento experimentos cient ficos vestu rio e tantos outros A aus ncia da racionalidade ou a constata o de capacidades cognitivas inferiores ou 21 diferentes das do homem justificaria a exclus o dos animais da comunidade moral e da posse dos direitos de sujeito Assim como o desenrolar da p s modernidade vem desnudando discursos ao explicitar as constru es ret ricas que validam o preconceito tnico o sexismo e a exclus o de minorias do sistema liter rio a cr tica antiespecista uma ferramenta anal tica em consolida o em todo o mundo No Brasil ela encontra respaldo em refer ncias como tica amp Animais um guia de argumenta o filos fica de Carlos Naconecy ao qual n o escapa a fun o da linguagem na perpetua o do especismo Nossa cultura antropoc ntrica e especista opera tamb m com um outro recurso muito poderoso Estamos cercados por toda uma estrat gia de amaciamento sem ntico no que tange ao reino animal A ret rica de eufemismos consiste em substituir certos termos por outras palavras eticamente neutras como abater em lugar de matar ou assassinar Assim em
261. s ret rica dos antigos sofistas mas a toda e qualquer ret rica toda e qualquer linguagem Umas das principais cr ticas dos fil sofos idealistas em rela o ret rica sofista com j vimos a de que para persuadir ela se vale de argumentos irracionais afetivos e que 17 esses argumentos se apoiariam na doxa ou seja no senso comum na moral hegem nica e n o na verdade e na moral absoluta O conceito de doxa interessa especialmente a este estudo portanto reproduzimos a forma como Barthes o apresenta uma velha no o aristot lica a de doxa opini o corrente geral prov vel mas n o verdadeira cient fica diremos que a doxa que a media o cultural ou discursiva atrav s da qual o poder ou o n o poder fala 2004 p 117 O sofista pode tamb m sistematicamente ignorar alguns dados objetivos para promover seu argumento e eleger outros que representem a doxa na inten o de forjar aquilo que Perelman denomina o contato de esp ritos 2005 p 17 ou seja uma identifica o afetiva com o audit rio Essa sele o de dados similar que acontece no recurso discursivo denominado por Foucault de vontade de verdade sobre o qual cabe discorrer rapidamente Para Foucault existem em nossa sociedade tr s procedimentos b sicos de exclus o que regem o discurso O primeiro e mais evidente deles o interdito a norma social que nos ensina o que podemos dizer qu
262. s are My dogs torso contains an artificial going to evolve to have a pair of gravity well that can make him nards directly in their mouths heavier when I try to pick him up for easier cleaning access S Unlike a cat you can actually pet his fluffy underbelly without needing a first aid kit afterwards
263. s because only the caricatured quality of comic art is equal to the seeming unreality of an experience beyond reason Where Michael Rothberg contends By situating nonficctional story in a highly mediated unreal comic space Spiegelman captures the hyperintensity of Auschwitz J Dominick LaCapra em History and Memory after Auschwitz evidencia a subvers o perpetrada pelo autor de Maus ao utilizar a linguagem dos quadrinhos com toda ainda persistente associa o ao universo infantil notadamente a antropomorfiza o de gatos e 9949 ratos qualificando a como carnavalesca e remetendo diretamente ao conceito liter rio de E carnavaliza o proposto por Bakhtin 47 Professora assistente do Departamento de L ngua Inglesa e Literatura da University of Chicago 48 Paule Buhle por exemplo afirma V rios leitores t m descrito Maus como a mais interessante representa o do Holocausto talvez porque s s qualidade caricatural de arte dos quadrinhos igual aparente irrealidade dessa experi ncia al m do racional Onde Michael Rothberg afirma Situando o enredo n o ficcional em um ambiente altamente mediado irreal como o dos quadrinhos Spiegelman capta a hiperintensidade de Auschwitz 49 Bakhtin afirma que carnavaliza o o g nero por excel ncia da mistura do simbolismo elevado das reflex es sobre as quest es ltimas e do naturalismo mais grosseiro E ainda A carnavaliza o
264. s na contemporaneidade O que emergiu dessa observa o foi um efeito nico t o concentrado como deve ser A turva o do limite a recusa da limitrofia a representa o de uma demanda contempor nea por um novo olhar um verdadeiro olhar sobre os animais Em A gata h tamb m como em Disgrace a representa o de fatos sociais relacionados ao giro animal A figura do pet ganha profundidade suas rela es com o tutor perspectiva h pela carnavaliza o n o uma den ncia de mis rias humanas de ordem naturalista como em Maus mas da conting ncia e das incongru ncias das rela es humano animais dentro do ambiente urbano dando not cia delas No entanto podemos estar agindo novamente como o b bado de Zilberman vendo sentido onde h nonsense e assim nossa compara o nada prova do que pretendiamos provar a met fora animal em A gata seria t o pass vel de m ltiplas leituras como em Disgrace Vemo nos ent o diante novamente da conting ncia relativista na p s modernidade preciso portanto recorrer a uma bula um guia para leitura Essa bula n s a fornecemos de in cio Uma perspectiva antiespecista o que propomos para a leitura das obras objeto deste estudo E ao final podemos apenas esperar que como n s o leitor concorde que sim que as obras objeto deste estudo desconstroem o uso metaf rico de fundo arquet pico dos animais que representam demandas sociais contempor neas que prop e a apreens o
265. s que sentimos algo Essa sensibilidade n o pode ser desenvolvida somente em um plano abstrato e racional Ela deve fluir do nosso envolvimento direto com o mundo da tentativa de experimentarmos emocionalmente o impacto de nossas decis es morais 2006 p 192 Quando se refere aos animais reificados como de abate a l gica especista da cidade completamente diferente daquela do campo O indiv duo urbano desvincula a carne que come do animal a quem ela pertence e elege para seus afetos um animal produto criado artificialmente inclusive mediante especifica es de tamanho cor etc as ra as e o pedigree O refugo da ind stria do pet t o reificante quanto a ind stria do abate o animal abandonado e este est relacionado s grandes cidades Sobre o pet Naconecy afirma que fil sofos ou cientistas podem negar a consci ncia em animais mas ao chegarem em casa eles ir o se comportar como seu animal de companhia fosse de fato consciente Ambos por exemplo ir o repreender verbalmente seu c o por ter feito uma travessura Isso seria absurdo se eles j n o admitissem a consci ncia subjetividade desse animal Os animais de estima o possuem uma personalidade pr pria tendo gostos e opini es sobre as coisas e as pessoas com as quais interagem Justamente por isso que nos afei oamos a eles 2006 p 107 Ainda que a vis o antiespecista admita a vig ncia de uma leg tima troca afetiva entre tutores e
266. s ret ricas que medeiam essas representa es a met fora Met foras segundo Kayser diferem de simples compara es pela supress o das formas gramaticais de compara o em vez de dizer ele bravo como um le o digo apenas ele um le o Essa caracter stica a bravura que atribu mos igualmente ao le o e pessoa a que queremos nos referir o tertium comparationis 1963 p 188 express o que remete aos estudos pioneiros Quintiliano reunidos no seu tratado Institutio Oratoria por m no caso da met fora animal nossa percep o de que esta constitui por assim dizer um falso tertium comparationis Quando queremos dizer que algu m tem p ssimos h bitos de higiene dizemos Fulano um porco Usando a teoria dos conjuntos para exemplificar o mecanismo da met fora e evidenciar o tertium comparationis poder amos eleger um grupo de caracter sticas para cada elemento desta met fora Digamos que fulano homem b pede e tem p ssimos h bitos de higiene A seguir estipulamos que o porco su no quadr pede e tem p ssimos h bitos de higiene A intersec o desses dois conjuntos os p ssimos h bitos de higiene representa o tertium comparationis ou seja a caracter stica que queremos salientar no homem ao compar lo ao porco Por m p ssimos h bitos de higiene um atributo que n o se aplica ao porco nem a nenhum outro animal genericamente a n o ser referenciado
267. s trincheiras das classes exclu das eles eram members of racial ethnic and social minorities who turned to comics because they thought of themselves or their ideas as unwelcome in more reputable spheres of publishing and entertainment HAJDU 2008 Aconteceu por m que n o apenas os exclu dos mas tamb m os jovens da classe m dia americana do momento p s guerra viram na est tica do comics a forma de posicionar se dialeticamente em rela o velha ordem Para Hadju foram os quadrinhos e n o o rock n roll a forma de express o art stica que representou se n o fomentou toda a contracultura da segunda metade do s culo XX A tem tica do comics a partir da d cada de 1950 longe de restringir se ao universo pueril come ou a ocupar se da science fiction do humor negro do terror da criminalidade e da viol ncia como est tica de contesta o e veio a rea o A ofensiva da cultura hegem nica contra os quadrinhos foi representada notadamente pela publica o em 1954 do ensaio Seduction of the Innocent 2004 pelo psiquiatra Fredric Werthan Denunciando uma influ ncia nociva e desestabilizadora das HQ sobre todo o status quo a partir da ades o dos jovens Werthan afirmaria J think Hitler was a beginner compared to the comic book industry WERTHAN apud HAJDU 2008 No Brasil tamb m as tiras no jornal e as primeiras hist rias em quadrinhos foram associadas inicialmente recrea o infantil e num
268. segundo momento aos contos de terror e pornografia Nas d cadas de 1950 e 1960 os famosos catecismos de Carlos Z firo pequenos livretos representando encontros sexuais produzidos e distribu dos de forma independente e marginal tornaram se c lebres Hoje s o tema de pesquisa acad mica dadas a forma como representam e transgridem a moral sexual de sua poca e as proposi es est ticas que inauguraram OLIVEIRA 2010 Vamos encontrar o comics contemplado ainda que de forma tangencial em textos fundadores do pensamento contempor neo como A Ind stria Cultural o Esclarecimento como Mistifica o das Massas de Theodor Adorno e Max Horkheimer Os autores ocupam se principalmente da produ o cinematogr fica americana como forma de reprodu o massiva de produtos culturais de baixa oportuniza o reflexiva categoria em que incluem os desenhos animados arte cuja evolu o vamos encontrar exatamente a partir da sofistica o tecnol gica no manejo da imagem que propiciou uma nova configura o das representa es pict ricas quadro a quadro que constituem a hist ria em quadrinhos Basta lembrar um 53 membros de minorias raciais tnicas ou sociais que se voltaram para o comics porque percebiam a si pr prios ou a suas ideias como indesej veis em esferas editoriais e do entretenimento mais conceituadas 54 Acho que Hitler era um principiante comparado ind stria das hist rias em quadrinhos 55 A express o rev
269. seus animais de estima o existe um outro aspecto da manuten o desses animais no ambiente urbano que lhes hostil circunst ncia que os mant m infantilizados e novamente reduzidos a objetos Francione salienta que animais de estima o s o comercializados exatamente como as outras mercadorias Embora algumas pessoas possam tratar bem seus companheiros animais h mais 251 A presen a dos pets na literatura n o recente Em Madame Bovary a protagonista possui uma mascote a cadelinha Djali Chamava Djali punha a ao colo passava lhe os dedos pela cabe a fina e longa dizendo lhe Vamos d um beijo sua dona voc que n o tem afli es Depois contemplando a cabe a melanc lica do esbelto animal que bocejava com lentid o enternecia se dele e comparando o consigo dirigia lhe a fala como a algu m que estivesse aflito e ela desejasse consolar FLAUBERT 1971 p 40 Mais tarde Djali seria perdida durante uma viagem a galga da Sra Bovary fugira atrav s dos campos e tinham andado durante um quarto de hora assobiando para ver se ela aparecia Ema chorara se desesperara e acusou Carlos daquela desgra a O Sr L Heureux negociante de fazendas que se achava com ela na carruagem procurou consol la citando lhe muitos exemplos de c es perdidos que tinham reconhecido os donos ao fim de muitos anos Contava se de um dizia ele que voltara de Constantinopla a Paris Outro percorrera 50 l
270. sidade Article 3 deals with victimization or harassment on grounds of race ethnic group religion gender sexual preference or physical disability Article 3 1 adresses victimization or harassment of students by teachers COETZEE 1999 p 39 100 No original o rapaz o interpela chamando o a real ladies man COETZEE 1999 p 30 que corresponde a conquistador por m na vers o em portugu s lemos garanh o COETZEE 2011 p 40 Ent o ele pensa vai mesmo ter de pagar o pre o Eu devia saber uma menina dessas n o vem sem um pre o COETZEE 2011 p 40 102 Pobre passarinho pensa que eu apertei no meu peito COETZEE 2011 p 41 103 Meu amorzinho COETZEE 2011 p 44 104 H muito deixou de se surpreender com o grau de ignor ncia dos alunos P s crist o p s hist ricos p s alfabetizados eles podiam ter surgido de ovos ontem mesmo COETZEE 2011 p 42 105 o bicho da ma COETZEE 2011 p 48 106 Nunca pensamos que est vamos mandando nossa filha para um ninho de cobras COETZEE 2011 p 49 107 Uma cobra como negar COETZEE 2011 p 49 108 O artigo 3 trata da vitimiza o ou ass dio com base em ra a grupo tnico religi o g nero prefer ncia sexual ou defici ncia f sica O artigo 3 1 trata da vitimiza o ou ass dio de estudantes por professores COETZEE 2011 p 49 10 95 Diante da comiss o disciplinar que o inter
271. sigente dos animais a mulher de classe alta entre 30 e 50 anos sem filhos sempre pronta a adotar um bicho abandonado ARAG O MEGALE 2013 p 90 91 Enfim se a Peter Singer creditado o m rito de ter popularizado o debate intelectual sobre o pensamento especista merecem destaque as contribui es do PhD em filosofia Tom Regan cujo texto mais conhecido Empty Cages Facing the Challenge of Animal Rights 2004 e do fil sofo e PhD em Direito Gary Francione ambos americanos Embora Regan tenha avan ado o debate iniciado por Singer foram as posi es de Francione que 19 Uma escolha bvia teria sido o bi logo Sergio Greif coautor do livro 4 Verdadeira Face da Experimenta o Animal A sua sa de em perigo e que tomou parte nas investiga es sobre o instituto a pedido do Minist rio P blico 44 estabeleceram uma rela o dial tica com as proposi es do fil sofo australiano e portanto desej vel contextualiz las At o final do s culo XX havia consenso sobre a supremacia da contribui o cr tica de Peter Singer sobre os conceitos de especismo e abolicionismo mas a publica o por Gary Francione do livro Animals property and the law 1995 veio aprofundar o debate Nele Francione prop e que a raiz do tratamento discriminat rio dispensado aos animais sua compreens o como propriedade privada e que da deriva sua exclus o da comunidade moral Seguiram se as publica es de Rain without th
272. sim ele sens vel generosa afei o que o cachorro lhe dedica De forma arbitr ria incondicional foi adotado o cachorro capaz de morrer por sua causa ele sabe disso O animal fica fascinado com o som do banjo Quando dedilha as cordas o cachorro se senta inclina a cabe a escuta Quando cantarola um verso de Teresa e o cantarolar come a a se encher de sentimento como se a sua laringe engrossasse d para sentir o sangue pulsando a garganta o cachorro estala os bei os e parece a ponto de cantar tamb m ou de uivar Ser que teria coragem de fazer uma coisa dessas colocar um cachorro na pe a permitir que o animal solte o seu lamento aos c us entre as estrofes do sofrimento amoroso de Teresa Por que n o Sem d vida tudo permitido num trabalho que nunca ser representado COETZEE 2011 p 251 242 O que o cachorro n o entender nunca nem num m s inteiro de domingos ele pensa o que seu focinho nunca lhe dir que se pode entrar em uma sala absolutamente comum e nunca mais sair Algo acontece naquela sala algo n o mencion vel ali a alma arrancada do corpo paira brevemente no ar se torcendo e contorcendo depois sugada para longe e desaparece COETZEE 2011 p 172 243 Os velhos os cegos os mancos os aleijados os mutilados mas tamb m os jovens os s os todos os que chegaram ao fim de seu per odo COETZEE 2011 p 255 244 Ele j aprendeu com ela a concentrar toda a
273. sist ncia de Melanie aos seus avan os descrita em novas met foras animais Ela enfia se debaixo do 6 e se deixa usar like a rabbit cobertor like a mole burrowing and turns her back on him when the jaws of the fox close on its neck Depois foge dali desgostoso E culpado COETZEE 1999 p 24 25 Logo ap s por raz es obscuras uma Melanie aflita lhe pede para passar alguns dias em sua casa o que ele aceita com relut ncia Debate se entre a conveni ncia de ter a mo a disposi o para satisfazer seu desejo sexual e o inc modo de uma conviv ncia mais pr xima inc modo esse que fica evidente quando observa as interven es daquela presen a em seu espa o por exemplo que Melanie ap s tomar o desjejum carries her cup and plate to the sink but does not wash them 1999 p 28 s ent o uma rela o sexual evidentemente consentida tem lugar ap s a qual ele observa She gets up strolls around the room picking up her clothes as little bashful as if she were alone COETZEE 1999 p 30 curioso comparar o desconforto de Lurie diante da naturalidade com que a mo a ostenta sua nudez perante ele as if she were alone ou como se ele n o existisse com a inquieta o relatada por Derrida como dando origem a toda sua reflex o sobre a alteridade animal Para Derrida foi o desconforto experimentado ao ser observado por sua gata nu que lhe deu a certeza de reconhec la como um Outro L
274. sity of thought That swayed him onward with a secret pride To what few or none would do beside And this same impulse would in tempting time Mislead his spirit equally to crime 1999 p 33 247 Era um estranho neste mundo respirante de outro mundo ca do esp rito errante coisa de escuros sonhares que moldava com a vontade os riscos que o acaso lhe poupava Por outrem podia s vezes renunciar ao pr prio bem mas n o por piedade nem por obriga o mas por uma estranha maldade de inten o que como o secreto orgulho o impulsionava a fazer o que pouco ou nenhum ousava e esse mesmo esp rito talvez o anime na hora da tenta o a ceder ao crime COETZEE 2011 p 43 125 3 4 Disgrace e A gata O olhar antiespecista sobre a literatura trata de investigar como se d na narrativa o posicionamento do sujeito em rela o ao limite entre humano e outros animais e como os dados lim trofes s o incorporados delimita o identit ria da personagem A mobilidade em rela o a esse limite pode ser um dado constitutivo da pr pria narrativa como observamos em Disgrace na progress o da trajet ria da personagem de Lurie Por m existe uma particularidade da cr tica antiespecista que precisa ser contemplada a contento o problema de como as met foras animais ser o avaliadas enquanto signos mim ticos Em termos rasos h representa o de conflito de direitos animais em Disgrace ou os animais ali representados
275. skin or the termination of the os sacrum ae equally insufficient for abandoning a sensitive being to the same fate Chegar o dia em que o resto da cria o animal conquistara aqueles direitos que nunca poderiam ter sido negados a eles a n o ser por tirania Os franceses j descobriram que a cor preta da pele n o raz o para que um ser humano seja abandonado sem esperan a ao capricho de um algoz Chegar o dia em que reconheceremos que o n mero de pernas a vilosidade da pele ou a termina o do osso sacro s o igualmente insuficientes para abandonar um ser sens vel ao mesmo destino Tradu o minha 59 seus interesses espec ficos mas porque isso condi o do bem estar e da sobreviv ncia da humanidade Se a proposi o defendida por esse argumento na pr tica um tratamento mais ameno aos animais por outro lado firma se fortemente sobre a l gica antropocentrista do homem como fim de todos os meios validando todos os argumentos especistas anteriores al m de revestir o pensamento especista em geral de uma necess ria humanidade no sentido de concess o emp tica Finalmente outro argumento especista interage diretamente com a dimens o antropol gica Ele se refere a conceitos caros contemporaneidade como a liberdade de opini o de express o e de cren a e a costumes aceitos sob a chancela do livre arb trio ou da tradi o e da cultura mesmo do folclore frequentemente amparados por pr ticas r
276. st caring ethic for the treatment of animals Ele afirma que a promessa do t tulo n o cumprida pois a obra limita se a questionar a teoria dos direitos animais como androc ntrica sem de fato oferecer uma alternativa O maior problema da tica do cuidado proposta pelo ecofeminismo segundo ele evitar posicionar se radicalmente sobre a moralidade de usar animais como coisas que ele ilustra com uma compara o It would be absurd to say in the face of human slavery that the ethic of care could have supplanted rights and that we could have decided how to deal with slaves on a 167 Ableism ableismo tratamento discriminat rio voltado a indiv duos portadores de defici ncias f sicas Do ingl s able capaz 168 Ecofeminismo aborda as v rias maneiras pelas quais o sexismo a heteronormatividade racismo colonialismo e o ableismo s o informados pelo e apoiam o especismo e como analisar a forma como essas for as se cruzam pode produzir pr ticas menos violentas e mais justas Tradu o Profa Dra Denise Almeida Silva 169 Cuidado tanto quanto justi a emo o tanto quanto raz o Tradu o minha 109 case by case basis eschewing general notions and relying instead on the relational ontology that enphasizes contextual relations and the particulars of a given situation over general standards FRANCIONE 2008 p 187 188 Ao praticar a eutan sia indiscriminada como melhor solu o naquele context
277. sta vai comumente buscar embasamento quando confrontado pelo discurso abolicionista Tanto assim que Carlos Naconecy estruturou sua obra tica amp Animais sob o subt tulo um guia de argumenta o filos fica enumerando em t picos os argumentos mais comuns dos quais lan a m o o pensamento antropoc ntrico e respondendo a eles objetivamente um a um Salientamos que todas as argumenta es que se seguir o tanto 52 aquelas que representam o pensamento especista como as contra argumenta es antiespecistas t m por base esse texto Na maioria desses argumentos a doxa se apresenta abertamente autorreferenciada justo fazer isso porque todos agem assim ou porque sempre foi assim ou porque uma lei da natureza ou porque n o h outro jeito Muitos se valem tamb m de afirma es vagamente respaldadas pela doxa cient fica e disseminadas atrav s dos anos por exemplo pelos meios de comunica o de massa n o por acaso apontados por Roland Barthes como ve culos preferenciais da doxa Entre os argumentos que poder amos chamar de base natural ressaltamos o Ecol gico e o da Expans o Segundo o autor o Argumento Ecol gico baseia se na seguinte suposi o Na natureza os mais fracos s o eliminados Um animal n o respeita o outro Pelo contr rio eles se matam O mundo constitu do de predadores e de presas e n s como mais um predador estamos no topo da cadeia alimentar Sendo o
278. t fora animal e o especismo 1 1 Ret rica e poder Antes de falarmos sobre a met fora e seus usos preciso entender um pouco sobre a ret rica Ret rica poderia ser definida simplesmente como jeito de falar S o as palavras que escolhemos porque umas e n o outras as formas como as combinamos os argumentos que elegemos para validar nossas ideias Esse processo pode ser plenamente consciente eis porque a ret rica percebida como arte ci ncia e t cnica o que acontece quando se redige um discurso uma carta ou quando simplesmente ensaiamos mentalmente a forma como conduziremos uma conversa o importante Gostamos de pensar que nossas ideias definem nossa linguagem sem dar nos conta de que o arsenal lingu stico dispon vel tamb m pode vir a definir nossas ideias F rmulas repetidas desde sempre lugares comuns jarg es disseminam sentidos insuspeitos para quem se serve deles quando a ret rica se torna discurso material da propaganda de verdades que se decretam por si Nossas ideias j n o s o nossas ideias desde que Michel Foucault entre c tantos estudiosos do p s estruturalismo perguntou o que h enfim de t o perigoso no fato de as pessoas falarem e de seus discursos proliferarem indefinidamente Onde afinal est o perigo 2013 p 6 Para Roland Barthes ret rica e linguagem s o insepar veis Certamente a ret rica serviu para que em torno da fogueira na noite das cavernas al
279. te com elas poss vel eu me pergunto que todas elas sejam participantes de um crime de propor es espantosas Estou fantasiando tudo isso Eu devo estar louca No entanto todos os dias vejo as evid ncias Os pr prios suspeitos as apresentam a mim as exibem as oferecem Cad veres Fragmentos de corpos que eles compraram por dinheiro 49 provocado pelo esc ndalo de seu envolvimento sexual com uma jovem aluna C tico egoc ntrico hedonista Lurie v se repentinamente arremessado a realidades que preferia ignorar t o distantes do universo metropolitano do mundo acad mico de Cape Town como a longa quilometragem por estradas ridas que conduz ao ambiente rural onde vive sua filha Lucy Ela uma neo hippie que luta sozinha para manter se em sua pequena propriedade agr cola n o por acaso erigida sobre os despojos de uma comunidade alternativa fracassada Ah Lurie toma contato com uma din mica de intera o interpessoal onde os par metros civilizat rios que lhe eram caros encontram se deslocados a supremacia conferida pela capacidade de adapta o e n o a raz o o diferencial hier rquico na comunidade moral Tanto assim que o r stico e iletrado Petrus vizinho e agregado de Lucy tra a durante a narrativa sua ascens o ao poder poder esse que didaticamente maquiavelicamente demonstrado tamb m no trato com os animais novamente a reafirma o do n o ser animal servindo como referencial identit rio Por
280. te sul africana Zuid Afrikaan Rand ZAR equivale atualmente a U 0 01 160 Devia ter trazido antes diz para a mulher E diz a mulher Toda noite os cachorros aparecem Muito ruim muito Quinhentos rands custa um macho assim COETZEE 2011 p 100 Lethe ou Lete significa esquecimento em grego moderno e tamb m o nome de um dos rios do Hades na mitologia grega Quem bebesse de suas guas receberia a gra a de esquecer 162 De repente a escurid o das guas do Lethe COETZEE 2011 p 101 163 Afinal estamos na frica Aqui sempre existiu bode desde o come o do mundo N o precisa dizer para eles para que serve o ferro e o fogo Eles sabem como que morre um bode J nascem preparados COETZEE 2011 p 101 164 Sabe por que minha filha me mandou vir aqui COETZEE 2011 p 103 16 hah N 107 jumbo trying absurdly to lighten the load of Africa s suffering beasts A associa o da personagem de Bev com um certo New Age mumbo jumbo que se op e ao gosto cl ssico de Lurie fica especialmente marcada pelo momento em que ela exerceu um poder tranquilizador quase sobrenatural sobre o bode moda de uma sacerdotisa She kneels down again beside the goat nuzzles his throat stroking the throat upward with her own hair The goat trembles but it is still She is whispering What do you say my friend he hears her say What do you say Is it enough The g
281. tes e insere se em movimentos altru stas como a prote o animal Essa reconfigura o por m ainda implica sempre a possibilidade de n o ser compreendido de o fato de possuir um vira lata ser lido n o como ades o ao pensamento p s moderno naquilo que o conceito evoca em termos de desconstru o de hierarquias socioculturais mas sim como um indesej vel sintoma da origem social de quem ret m o c o Assim como importante afirmar se como n o animal para deter os privil gios da esp cie humana importante n o identificar se demais com o vira lata para deter os privil gios de classe Qual a solu o A solu o o Jack Russel um c ozinho que evoca o cone do vira lata de f bula mas cuja posse n o alimenta a suspeita de uma origem suburbana A ades o ao ide rio da prote o da responsabilidade social ante os animais abandonados passa ent o bem longe acontece num terreno puramente plat nico num fen meno puramente est tico em forma de homenagem Este fen meno em nossa opini o representa a doxa no que se refere ao relacionamento entre animais humanos e animais n o humanos ao refletir a redu o do animal a objeto e referencial de status social Do ponto de vista da causa animal essa doxa representada pelo conceito de especismo O termo foi usado pela primeira vez pelo psic logo brit nico Richard Ryder em 1973 e popularizado em 1975 pelo fil sofo australiano Peter Singer em seu livro Libe
282. they talk but can they suffer Jeremy Bentham Resumo Esta pesquisa centra se no romance Disgrace de J M Coetzee e nas tiras A gata de Laerte Coutinho com o objetivo de avaliar a forma pela qual as met foras usadas para representar a rela o entre humanos e outros animais espelha o conceito de giro animal na literatura e na filosofia uma reconfigura o dos modos simb licos que permitem pensar o humano e o animal elegendo para tanto as contribui es te ricas de Julieta Yelin e Jacques Derrida A met fora animal e suas fun es tanto ret rica como po tica relacionam se perpetua o ou den ncia do pensamento especista aquele que exclui animais n o humanos da comunidade moral A cr tica antiespecista uma ferramenta anal tica em consolida o no contexto p s moderno do campo art stico e intelectual Para fundamentar a no o de especismo utilizamos principalmente os pressupostos sobre direitos animais de Gary Francione e tica animal de Carlos Naconecy De Roland Barthes utilizamos sua revis o do conceito aristot lico de doxa para a delimita o das no es de linguagem acr tica e encr tica relacionando as com os pressupostos de Michel Foucault a respeito de discurso e poder A Teoria Multifatorial de Jorge Pedro Sousa e a abordagem p s estruturalista de Umberto Eco fundamentaram a proposta de tomar o g nero tira igualmente como literatura e como not cia estrat gia que oriento
283. ths They would be forced to live in cramped cages or kennels for years lonely and stressed and other animals would have to be turned away because there would be no room for them Trying to build enough animal shelters to keep up with the endless stream of homeless animals is like putting a bandage on a gunshot wound Turning unwanted animals loose to roam the streets is not a humane option either If they don t starve freeze get hit by a car or die of disease they may be tormented and possibly killed by cruel juveniles or picked up by dealers who sell animals to laboratories Euthanasia literally means good death and true euthanasia delivered by an intravenous injection of sodium pentobarbital is painless quick and dignified Because of the high number of unwanted companion animals and the lack of good homes sometimes the most humane thing that a shelter worker can do is give an animal a peaceful release from a world in which dogs and cats are often considered surplus PETA s 1 s d 274 no fundo acredito que ele ia preferir ser morto COETZEE 2011 p 109 142 Resumindo e comparando as formas como a met fora animal se d em cada uma das obras observamos que em Disgrace a met fora presta se constru o da personagem e da trama e o limite humano animal um de seus temas centrais A met fora animal cl ssica arquet pica desconstru da nesse processo Em 4 gata a met fora animal a pr pria
284. tipo f bula n o estrat gias f ceis de indu o por analogia e sim um olhar mais sens vel e interessado nesse ponto que entra nossa estrat gia comparativista A proposta te rica de perceber a tira como not cia dentro do corpo do jornal amparada pelo pressuposto de que not cia o relato de um fato que eclodiu no organismo social e propondo uma vis o mais 280 Regina Zilberman questiona o argumento da estranheza caro aos formalistas para a compreens o da pergunta essencial o que literatura da seguinte forma Veja se uma afirma o prosaica perfeitamente clara como a que se encontra por vezes no metr Cachorros devem ser carregados na escada rolante Isso talvez n o seja t o claro quanto pode parecer primeira vista significar que n s temos de carregar um cachorro na escada rolante Seremos impedidos de us la se n o encontrarmos algum vira lata para tomarmos nos bra os antes de subirmos ou descermos Imaginemos um b bedo tarde da noite segurando se no corrim o da escada rolante e que l o aviso com dificultosa aten o durante v rios minutos para depois dizer a si mesmo Como verdade 2001 p 9 10 148 sist mica e menos corporativista do fazer jornal stico levou nos a observar como as tiras que comp em nosso objeto reproduzem a quest o primordial do pensamento antiespecista ao representarem situa es concretas do relacionamento entre humanos e outros animai
285. tories em 1978 o renomado quadrinista Will Eisner a apresentou sob a denomina o graphic novel no Brasil romance gr fico ou novela gr fica por julgar que o conceito ligado ao g nero comic book n o era capaz de abranger toda a proposta e que n o haveria interesse do editor por uma simples hist ria em quadrinhos Em sua palestra durante o Will Eisner Symposium The 2002 University of Florida Conference on Comics and Graphic Novels Eisner afirmou I m here to tell you that I believe strongly that this medium is literature It s a form of literature and it s reaching its maturity now The word comics of course we re still living with is a misnomer We can t get rid of the thing We can t get rid of it it s like Kleenex It doesn t belong here and it s partly our fault because comics originally were designed to be funny stories They were originally called the funnies and called the jokes and later on the comicals The future of the medium now hinges hangs on the support of the academic world because in order for the medium to grow and mature as it has been it needs the attention and the interest of people who in the acade mic world are able to dissect it to discuss it to recognize it and to evaluate it which will establish a standard that young comic artists coming into the field will aspire to EISNER 2002 A suposi o de que os comic books n o s o um formato no
286. trama e a desconstru o se d pela elei o dos temas Dotar a gata de linguagem id ntica dos homens e esmaecer os tons da racionalidade na personagem humana a estrat gia dessa narrativa para dizer o mesmo que Lucy afirma a Lurie em certo momento this is the only life there is Which we share with animals 2 1999 p 73 275 A nica vida que existe esta aqui Que a gente reparte com os animais COETZEE 2011 p 90 143 Considera es finais Analisar o uso metaf rico dos animais na literatura contempor nea sob o ponto de vista antiespecista levou nos a uma indaga o fundamental perceber as representa es de animais ou como met foras de fato ou como representa es diretas Um olhar estritamente antropoc ntrico tende a perceber qualquer representa o de animal como metaf rica num sentido ortodoxo Visto que a doxa especista prescreve a cren a na aus ncia de subjetividade dos animais essas representa es estariam fadadas a jamais ultrapassar uma fun o anal gica como ferramenta narrativa e como vimos no mais das vezes baseadas na fun o simb lica das figuras animais Num paradigma de reifica o dos animais n o humanos s o met foras que animizam A personagem de um c o que aprecia m sica por exemplo jamais poderia ser entendida como a representa o direta de um c o que aprecia m sica e sim como uma proje o constru da pela mente do personagem humano que degradado deprim
287. tranha analogia com a prova o que logo enfrentar Seu olhar por m cai sobre uma Melanie fragilizada e acuada e penaliza se mas ainda valendo se de um discurso por demais constru do de met foras bvias Poor little bird he thinks whom I have held against my breast Mais tarde ele a designaria My little dove COETZEE 1999 p 32 34 Esp rito errante L cifer n o poss vel deixar de associar as imagens que v o surgindo durante a aula a partir do poema de Byron com um Lurie que j n o tanto o her i tr gico o escravo de Eros e cada vez mais um her i deca do demon aco Ele pr prio assim se percebe enquanto observa numa clara alus o ao desconforto e mesmo desprezo com que contempla os novos tempos He has long ceased to be surprised at the range of ignorance of his students Post Christian posthistorical postliterate they might as well have been hatched from eggs yesterday COETZEE 1999 p 32 Finalmente estoura o esc ndalo Procurado pelo indignado pai de Melanie o professor sente se the worm S A humilha o atinge o pice quando o homem o interpela publicamente gritando We never thought we were sending our daughter into a nest of vipers Ao que Lurie silenciosamente consente A viper how can he deny it COETZEE 1999 p 37 38 E por fim entra em cena a censura institucional com a chegada de uma notifica o de queixa com base no c digo de conduta da univer
288. tre o tratamento dispensado ao iguana abatido com um tiro que lhe rouba a vivacidade e o tratamento dispensado nativa alvejada pela cobi a da colonizadora que mais uma vez acaba frustrada por n o ser capaz de incorporar o vigor sensorial que percebe tanto em nativos como nos animais Esse uso da representa o de animais como media o do discurso p s colonial foi abordado recentemente sob outra perspectiva justamente por um escritor queniano contempor neo Binyavanga Wainaina em seu artigo How to write about Africa Ele discorre sobre os clich s que a literatura hegem nica aplica caracteriza o daquele continente entre eles a nfase na representa o e no uso metaf rico de figuras animais Para Wainaina os animais s o seguidamente representados atrav s de personagens complexos redondos antropomorfizados em suas rela es sociais e afetivas enquanto os personagens africanos da esp cie humana aparecem excessivamente rasos e estereotipados African characters should be colourful exotic larger than life but empty inside with no dialogue no conflicts or resolutions in their stories no depth or quirks to confuse the cause Animals on the other hand must be treated as well rounded complex characters They speak or grunt while tossing their manes proudly and have names ambitions and desires They also have family values see how lions teach their children Elephants are caring and are good
289. tros animais em sua incapacidade de discernimento moral o que destr i a proposi o inicial de superioridade e portanto do direito de dispor dos animais arremessando nos numa fal cia de c rculo vicioso Uma das defini es de natural caracterizar um fato ou a o que acontece sem concorr ncia ou interfer ncia da racionalidade Essa defini o derruba as justificativas de analogia natural de comportamentos j que o especismo quer atribuir um valor n o relativo racionalidade A posi o humana no topo da cadeia alimentar n o natural pois decorre do uso instrumental da raz o Animais n o humanos n o t m a oportunidade de optar por outro comportamento no momento presente da evolu o das esp cies Muitos seres humanos tamb m carecendo de faculdades mentais s o incapazes de discernimento e nem por isso s o exclu dos da comunidade moral Animais e seres humanos diferenciados s o pacientes morais beneficiam se de considera es ticas mas n o s o agentes morais seu n vel reduzido de discernimento os torna inimput veis Uma percep o que permeia toda a argumenta o abolicionista a de que n o h nenhuma caracter stica ou qualidade comum a todos os membros da esp cie humana sem exce o e ao mesmo tempo ausente em todos os membros de esp cies n o humanas sem exce o que pudesse justificar sua exclus o da comunidade moral Nem mesmo a racionalidade da qual carecem r
290. u nossa an lise comparativa no sentido de avaliar se as representa es metaf ricas em Disgrace constituem um novo olhar sobre a alteridade ou remetem apenas ao uso simb lico da figura animal Nossas conclus es sob o vi s antiespecista tanto Disgrace como A gata reproduzem os procedimentos narrativos alinhados com a no o do giro animal ou a desconstru o da met fora animal utilizada na f bula al m de espelharam demandas sociais sobre o tema Disgrace ao reproduzir na trajet ria do protagonista o embate entre os paradigmas rivais promove um esclarecimento sobre a quest o do relativismo como conting ncia da p s modernidade que se aplica igualmente quest o animal Palavras chave Met fora animal Coetzee Laerte Especismo Discurso Abstract This research focuses on J M Coetzee s novel Disgrace on Laerte s comic strip A Gata and aims to assess how the metaphors that represent the relationship between humans and other animals deployed by each or these authors mirror the concept of giro animal a reconfiguration of the symbolic modes that allow the thinking of human and animal in literature and philosophy This study relies on the theoretical contributions of Julieta Yelin and Jacques Derrida Animal metaphors and their functions both poetic and rhetoric relate to the perpetuation or termination of speciesist thinking one that excludes non human animals from moral community The anti speciesist critique is a c
291. ua o das mulheres dos animais n o vai desfazer essa instabilidade A Pol tica Sexual da Carne 2012 A altern ncia da figura da mulher entre objeto de preda o e de venera o uma constante do discurso de Lurie Na aula seguinte diante de Melanie ele discorre sobre Wordsworth e o poema que descreve a frustra o que assalta um viajante ao deparar se com a vis o concreta da montanha o Mont Blanc que tanto idealizara durante a jornada Na tentativa de explicar classe o que pensa ser a ess ncia do texto a ideia de que mais prazeroso venerar uma imagem idealizada do que negociar afetivamente com a realidade pergunta But now do you truly wish to see the beloved in the cold clarity of the visual 92 Ela n o dona de si mesma talvez ele n o seja dono de si mesmo tamb m COETZEE 2011 p 25 93 apparatus It may be in your better interest to throw a veil over the gaze s as to keep her alive in her archetypal godesslike form COETZEE 1999 p 22 J no dia seguinte ele irrompe sem aviso na casa da mo a e sente se vagamente chocado em seu refinamento est tico com o que considera bobo e de mau gosto ela usa chinelos in the shape of comic book gophers which he finds silly tasteless Mais uma vez for a a amante reticente enquanto reflete num arroubo l rico Strange love Yet from the quiver of Aphrodite goddess of the foaming waves no doubt about that A re
292. uanto s mbolo e uma nega o de sua exist ncia enquanto indiv duo sujeito de direito e portador de suas pr prias prefer ncias a mais evidente delas a prefer ncia pela vida em detrimento da morte A mesma ideia valida por exemplo a utiliza o de animais para pesquisas cient ficas pelo bem da humanidade Essa hierarquiza o que coloca os direitos dos animais n o humanos como menos importantes do que os direitos dos animais humanos chegando at a neg los completamente transparece desde sempre em todas as leituras poss veis da maioria das representa es animais na literatura como um todo Sempre existiram por m outras interpreta es outras formas e propostas de representa o onde nem sempre est subentendida hierarquiza o mas frequentemente equival ncia Uma das passagens mais belas do livro A fazenda africana de Isak Dinesen pseud nimo da escritora dinamarquesa Karen Blixen diz respeito ao olhar da autora sobre a gazela Lulu um filhote rf o que encontrado nas proximidades de sua propriedade agr cola no Qu nia e criado pela fazendeira at a idade adulta quando ent o gradualmente retoma a vida selvagem 34 Lulu vinha do mundo selvagem que nos circundava para provar que as nossas rela es eram boas fazendo com que a minha casa se fundisse com o cen rio africano a tal ponto que ningu m saberia dizer onde come ava uma e o outro terminava Lulu conhecia o ref gio do grande javali d
293. uas posi es em campos opostos He is my family my people 1999 p 201 Com Bev ele experimenta relacionar se da forma como sempre abordou as mulheres sexualmente Mas o encontro frio e constrangedor s produz em Lurie uma nova sensa o de derrota Ao contemplar a amante que ele j qualificara como remarkably unattractive 1999 p 82 o sentimento de desgosto Let me not forget this day he tells himself lying beside her when they are spent After the sweet young flesh of Melanie Isaacs this is what I have come to This is what I will have to get used to this and even less than this 1999 p 150 O relacionamento com Lucy tamb m chega a um impasse pois ele n o pode aceitar que a filha insista em continuar no lugar e expor se a novas viol ncias Ela por sua vez impacienta se com o pai com o que considera sua teimosia em n o adaptar se nova realidade Sobre o passado ela lhe diz That s all gone gone with the wind 1999 p 133 O abismo que se abre entre os dois fica bem caracterizado pelo di logo epistolar que mant m em certo momento cada um defendendo seu ponto de vista atrav s de bilhetes que 180 da minha fam lia meu povo COETZEE 2011 p 235 181 incrivelmente feia COETZEE 2011 p 99 182 Que eu n o me esque a deste dia ele diz a si mesmo deitado ao lado dela quando terminam Depois da carne doce e jovem de Melanie Isaacs isto o
294. ue e seu falc o o corvo Que seja necess rio decifrar essas met foras aos que n o s o familiares s kenningar denuncia seu fracasso enquanto met foras sua condi o de meras conven es lingu sticas ou no m ximo met foras mortas cujo sentido de transposi o se perdeu Como diria Borges reduzir cada 29 kenning a uma palavra n o esclarecer inc gnitas anular o poema 2001b p 38 As kenningar demonstram uma predile o pelo uso metaf rico das figuras animais ainda que acabem por fracassar enquanto realiza o metaf rica por tornar se parcela da l ngua corrente por conta do processo descrito por Blanco A met fora cria uma rede de intera es e faz emergir uma nova significa o que pass vel de repeti o ao longo do tempo Nesse sentido a met fora como j ressaltamos um acontecimento sem ntico uma institui o que atribui sentido num determinado contexto Se os usos p blicos do novo escopo sem ntico for sic adotado por uma comunidade lingu stica ele pode se sedimentar e tornar uma parcela da linguagem corrente Por isso a distin o de Ricoeur entre met foras j sedimentadas na l ngua e a met fora viva que cria acontecimento e sentido e ainda n o se transformou em linguagem usual 2011 s p Portanto pergunta ret rica que Borges lan a em seu ensaio anterior por que algumas met foras s o t o prevalentes respondemos com uma hip tese Propomos que
295. unda fase do romance no campo o olhar de Lurie torna se extremamente sens vel presen a dos animais e Katy recebe status de personagem Em diversos momentos em que h descri o pr via do cen rio onde se desenrolar uma a o a presen a da cadela constatada como por exemplo Of Petrus there is no sign nor of his wife or the jackal boy who runs with them But Lucy is at work among the flowers and as he picks his way down the hillside he can see the bulldog too a patch of fawn on the path beside her COETZEE 1999 p 217 Nem sinal de Petrus nem de sua mulher nem do menino chacal que vive com eles Mas Lucy esta trabalhando entre as flores e enquanto ele desce pela encosta enxerga tamb m a a buldogue uma mancha fulva no caminho ao lado dela COETZEE 2011 p 252 253 249 Segundo Carlos Naconecy o homem cria animais com o nico prop sito de com los ou vestir sua pele h mais de 6 mil anos A cria o de animais em confinamento iniciou a menos de 100 anos 2006 p 105 250 Ent o chegou o dia da prova COETZEE 2011 p 113 127 N o por acaso sua inser o num processo regido pela tica do cuidado que desperta em Lurie a empatia pelos animais A experi ncia direta o ver que media a emo o e oportuniza que um conceito abstrato de justi a fa a sentido origem do pensamento tico Segundo Naconecy n o podemos nem mesmo come ar a falar sobre tica a menos que admitamo
296. under the ideology of the animal rights movement 1996 e Introduction to animal rights your child or the dog 2000 A posi o de Francione alinha se especialmente com a filosofia e a pr tica do veganismo Veganismo ou veganism termo criado pelo brit nico Donald Watson em 1944 designa uma postura de boicote explora o de animais como meios para fins e vai muito al m da dieta vegetariana restrita Ele compreende a recusa em consumir qualquer produto que contenha componentes de origem animal como couro l ou seda no vestu rio que tenha sido produzido a partir da for a de trabalho ou testado em animais ou mesmo por corpora es que tenham em seu mix outros produtos com essas caracter sticas Logo configurou se uma polariza o dentro do pensamento abolicionista aquele que questiona qualquer tipo de uso de animais opondo Singer e Francione Singer desde ent o tem sido caracterizado como bem estarista ou seja alinhado aos tradicionais pressupostos de Benjamin Benthan e Francione como abolicionista de fato Tal configura o pode ser tomada como v lida se atentarmos para algumas peculiaridades do pensamento de c Singer como quando afirma a rejei o do especismo n o implica que todas as vidas tenham igual valor 2013 p 32 Para Singer resumidamente um animal perde menos ao perder a pr pria vida do que um ser humano ao perder a sua devido diferen a de potenciais de realiza o intr
297. urie sente se um mero objeto perante Melanie naquele momento porque ela n o se preocupa em ocultar lhe sua nudez 93 Voc quer mesmo ver a amada com a fria claridade do aparelho visual Talvez seja melhor deixar um v u sobre o olhar para conservar viva a forma arquet pica divina da amada COETZEE 2011 p 30 94 com a forma de esquilo de hist ria em quadrinhos COETZEE 2011 p 24 95 Estranho amor Mas da aljava de Afrodite deusa da espuma do mar sem d vida nenhuma COETZEE 2011 p 33 96 como uma toupeira que se enterra COETZEE 2011 p 33 97 como um coelho quando a boca da raposa se fecha em seu pesco o COETZEE 2011 p 33 98 leva a x cara e o prato para a pia mas n o lava nada COETZEE 2011 p 36 99 Ela se levanta passeia pelo quarto pegando as roupas com a desenvoltura de quem est sozinha COETZEE 1999 p 39 94 A s bita e amea adora visita do namorado de Melanie transforma em alarme o que era apenas temor e agora a narrativa corre rapidamente rumo inexor vel queda do protagonista a qual ele aceita filosoficamente So he thinks the chickens come home to roost I should have guessed it a girl like that would not come unencumbered Segue se a tensa descri o da aula seguinte qual o namorado de Melanie comparece O tema Byron e Lurie fala sobre a no o de esc ndalo que sempre acompanhou o poeta e sua obra Percebe a es
298. vai encontrar se presa de um dilema moral envolvendo a vida de animais n o humanos Poucos dias ap s o ataque Petrus retorna em seu caminh o trazendo dois carneiros para abate Os balidos dos animais amarrados sem gua ou comida perturbam Lurie que pede a Petrus que os liberte Segue se um di logo onde mais uma vez se percebe a impossibilidade de entendimento m tuo Lurie interpela Petrus Those sheep he says don t you think we could tie them where they can graze They are for the party says Petrus On Saturday I will slaughter them for the party You and Lucy must come Thank you But even if the sheep are for the party don t you think they could graze 1999 p 123 Petrus nao atende o pedido de Lurie que irritado na aus ncia deste desamarra os animais e os conduz a um pasto pr ximo do a ude Observando os carneiros pondera que eles s o destined since birth for the butcher s knife Well nothing remarkable in that When did a sheep last die ofold age Sheep do not own themselves do not own their lives They exist to be used every last ouonce of them their flesh to be eaten their bones to be crusched and fed to poultry Nothing escapes except perhaps the gall bladder which no one will eat Descartes should have thought of that The soul suspended in the dark bitter gall hiding 1999 p 123 124 185 Que humilha o ele diz afinal Tantos projetos para terminar assim
299. vez de um peda o processado de um cad ver de um animal chamamos bife Em vez de comer um m sculo amputado das costas de um boi morto chamamos provar um fil mignon 2006 p 74 Parece haver de fato um processo de amaciamento sem ntico em a o quando se trata de referir especialidades culin rias dentro da norma culta da linguagem das elites Por m basta uma r pida pesquisa no universo web para perceber a exist ncia de outro fen meno lingu stico Se os nomes gastron micos sofisticados promovem um distanciamento entre o animal e o que feito dele a repeti o banal dessa a o que se deseja ocultar leva a uma dessensibiliza o generalizada que se revela em retorno na pr pria sem ntica Experimentemos digitar no mecanismo de busca do Google imagens as palavras galinha ou chicken Fora alguns poucos animais de ra a matrizes de procria o ou seja animais objeto o que se encontra s o ilustra es de peda os de carne A explica o bvia a despersonaliza o a coisifica o das galinhas tamanha sua identifica o com a funcionalidade que lhe atribu mos a de alimento t o avassaladora que logo galinha n o mais o nome de um animal de um ser vivo de um sujeito aut nomo e sim de um tipo espec fico de alimento Com rela o aos porcos a situa o ligeiramente diferente mas igualmente ins lita Na pesquisa em ingl s deve s
300. yne NES ARDE Sa A RSS RED suas AESA E ETT 9 1 Met fora animal e o eSpeciSMo sssssssssssnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn nnen 12 1 1 Ret rica O podet a sina a Sonnet vedo Datta heed eee dee 12 1 2 Met fora animal a dimens o po tica cece cece nea e ee neeeeteeesenaeeeeseaeeseseaneeesees 26 1 3 Qespecismo como doxa nae ema cette ald tinea LEU a aa pa iets adeeb ate ees 39 1 4 Os argumentos ESPeCIstas sair unas soros snsanUl no abas Toda de pio as ese 2 ASPAS nad nba a 50 DPA T NR RR gaszcesesnassenraservetscwctenciseacaestensechevegechecineduuccescataesezasareevauereeteasesenevades SRS 60 2 1 A tira enguanto noticia sores ien aaea e iala aeaea arar aaae Aer Er ERK 60 2 2 A tira enquanto literatura a a a ae a O a Aaa A aA e a AEEY 70 CESTO A DONA a a a aA e uta OA a ae dat fee 77 3 Met fora animal em Disgrace e A gata ss sseranassemaanos 85 BET EUG Na fe 10 LERE dans ani ai dra e da a A E beats bade ded ME ARCA AEDES ESA Dad 85 3 2AUO NO CAMPO serras dare ano Pace srta O Lain AT E aan Poe eR eas eae a ires 95 SE SA QUEDA sto nei hide coud dora dates daha abe nacaesnate DAN Tas bo aan Gu AGR Clin dd Dean TRES ea RSA E 108 BADISQTACE BA g lar uirae oar aa bnew da en AAE AEEA ieee ned and 123 Considera es finais soisessa Sees ncaa na RG ANA aAa a REAA REG dE es susnaaaetseucess 141 FRETS IG MG IAS assasiss asas iauna odentia saa avi aerer asa naedit asaid agra
301. z a afirma o final de seu idealismo e de que vidas que n o mimetizem um ideal n o valem a pena serem vividas J antes comparando se a um c o a quem negada a express o de seus instintos naturais Lurie afirmara que at the deepest level I think it might have preferred being shot 1999 p 90 A desist ncia a rendi o de Lurie contrasta com a ang stia do homem inconformado com o desaparecimento da gata representada em tom po tico Figura 3 16 A gata publicada em 26 07 2013 LAERTE 2013 p 11 Assim vemos que se em 4 gata a turva o do limite humano outros animais representativa da descentraliza o t pica da p s modernidade em Disgrace a met fora animal pode ser lida como uma analogia da degrada o do protagonista cada vez mais pr ximo da degrada o representada sob o olhar antropoc ntrico pela comunh o com os animais n o humanos Essa sensa o de degrada o pode ser relacionada desestrutura o da hierarquia de culturas e saberes iluminista engolfada pelo caos relativista e nos conduz novamente figura do her i degradado e individualista central no romance moderno 273 A PETA declara que Approximately 6 to 8 million animals are handled by animal shelters in the U S each year Even though some are reclaimed or adopted nearly 4 million unwanted dogs and cats are left with nowhere to go Animal shelters cannot humanely house and support all these animals until their natural dea

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