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filhas de eva como anjos sobre a terra

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1. BRUNEAU Thomas C Catolicismo Brasileiro em poca de transi o S o Paulo Edi es Loyola 1974 CAMPOS Eduardo As irmandades religiosas do Cear Provincial Fortaleza Secretaria de Cultura e Desporto 1980 CARDOSO Ciro F amp VAINFAS Ronaldo Dom nios da Hist ria Rio de Janeiro Campus 1997 CAVALLO Guglielmo E CHARTIER Roger Org s Hist ria da Leitura no mindo ocidental v 1 Trad F M L Moretto G M Machado e J A M Soares S o Paulo Atica 2002 CHARTIER Roger Org Pr ticas da Leitura Trad Cristiane Nascimento S o Paulo Esta o da Liberdade 1996 A ordem dos livros Trad M Del Pryore Bras lia Ed UnB 1994 As pr ticas da Escrita In Hist ria da Vida Privada 3 da Renascen a ao S culo das Luzes Trad Hildegard Feist S o Paulo Companhia das Letras 1991 Do livro a Leitura In Pr ticas da leitura Trad Cristiane Nascimento S o Paulo Esta o Liberdade 1996 Formas e Sentido Cultura escrita entre distin o e apropria o Trad Maria de Lourdes Meirelles Matencio Campinas Mercado das Letras associa o de Leitura do Brasil ALB 2003 228 Textos impress o leituras In HUNT Lynn A Nova Hist ria Cultural Trad Jefferson Luiz Camargo 2 ed S o Paulo Martins Fontes 1992 CORTEZ Ant nia Otonite de Oliveira A constru o da cidade da cultura Crato 1889 1960 Rio de Janeiro Disserta o de Mestrado UFRJ 2000
2. Jornal O Nordeste Fortaleza 10 jan 1938 p 08 83 irrelevantes pois uma coisa parece certa e comum a qualquer poca se a obra fosse censurada a estava um bom motivo para aumentar sua procura Analisando as resenhas publicadas no jornal O Nordeste durante o per odo estudado pode se perceber que das cento e cinquenta e uma publicadas no peri dico cat lico 75 dos livros analisados se tratavam de obras recomendadas sem restri es leitura do p blico cat lico enquanto que 13 82 das obras resenhadas tiveram sua leitura n o recomendada Resenhas publicadas no Jornal O Nordeste Indica es de Leitura 80 70 60 4 50 4 40 ad 30 13 82 20 8 55 2 63 10 0 Ruins ou Com Reservas N o Recomendado Recomendado Desinteressantes Gr fico 04 Recomenda es de Leituras nas sinopses de livros do Jornal O Nordeste Somente quando um livro n o recomendado pela Igreja estava em evid ncia e por isso tinha uma maior circula o que recebia a cr tica direta do jornal aparecendo nas resenham como obra n o recomendada Deste modo evitava se que livros como os romances da moda chegassem despercebidos s m os das donzelas cat licas As obras classificadas como N o Recomendadas tinham sua leitura vetada aos cat licos pois atacavam a Igreja Cat lica e os bons costumes Livros como o romance Ponta de Rua
3. infeliz entretanto quem n o lhes segue a prud ncia A atra o que os romances exerciam sobre o p blico feminino aparece logo nas primeiras linhas do conto cuja leitora absorta nas p ginas de seu livro n o consegue dele desprender se O mal atribu do ao romance o de trazer id ias falsas sobre a vida com o poder de intoxicar os valores da jovem leitora a fantasia presente nas p ginas do romance incentivava atitudes desviantes Ao longo do conto se vai tra ando o perfil de um mau livro que com sua capa berrante e fama vai se espalhando rapidamente nas m os das jovens cat licas sem que haja um controle efetivo Todos aqueles costumes e 107 03 P gina Feminina O Romance de Lanira Jornal O Nordeste Fortaleza 09 nov 1928 p 79 comportamentos vetados s jovens donzelas descortinavam se nas p ginas dos romances com naturalidade e realismo impressionantes Para os cr ticos do romance como se um nico livro fosse capaz de destruir em poucas p ginas uma inoc ncia constru da e preservada ao longo de uma vida A figura da mulher m e surge no conto como respons vel pela vigil ncia em torno da leitura da filha m e confiada a sele o e a censura dos livros figura materna que se atribui a culpa por qualquer falha nesse processo Esse tipo de pensamento como observa Maria ngela D Incao adv m do aburguesamento da sociedade e da redefini o do papel feminin
4. 167 motivo durante as tr s primeiras d cadas do s culo XX dominar a leitura e a escrita representava para o contingente feminino limoeirense atingir o grau m ximo de instru o uma vez que seus pais mesmo os mais abastados n o podiam ou n o queriam envi las para outras cidades a fim de continuarem os estudos Assim deveriam se conformar com seus diplomas de ler escrever e contar que as escolas particulares conferiam A avalia o final realizada oralmente para conferir um certificado era feita por uma banca formada pelos homens instru dos da cidade quase sempre os que ocupavam os lugares sociais proeminentes o prefeito o juize o vig rio afinal saber poder At a d cada de 1930 a economia do munic pio era pobre baseada na cultura de subsist ncia sem grandes excedentes Os tidos como ricos na cidade eram poucos e mesmo estes n o dispunham de grandes recursos A situa o sofreu uma reviravolta com a supervaloriza o da cera de carna ba que trouxe um significativo enriquecimento para o munic pio Lauro de Oliveira Lima afirma que Antes da explora o da cera de carna ba eram considerados ricos os bodegueiros e propriet rios de bolandeiras e de m quinas a vapor de descaro ar algod o como o Cel Ant nio Joaquim Ferreira Maia personagem de m ltipla atua o como comerciante e pol tico A produ o de rapadura aguardente e farinha era insignificante mal dando para o consum
5. Vimos aqui para o sr N o publicar annuncios no O Cear Porque minha senhora Porque um jornal ex commungado E se eu continuar a publicar Neste caso n s em n mero de mais de 50 trincas fazemos boycottage N o compraremos mais aqui Muito obrigado respondeu gravemente o commerciante N o perco nada com isto A minha Loja de modas as senhorinhas s o prohibidas de comprar de usar modas Temos conversado Logo depois as vitalinas sahiam puxadas pela vitalina m r que tinha o corpo do Mainha e a cara do Agostinho Era um caso teratol gico Rotuladas de beatas e vitalinas associadas fei ra a imagem das Filhas de Maria come ava a ser negativada especialmente pelo sexo oposto Jornal O Cear Fortaleza 19 out 1926 p 08 48 Na d cada de 1930 iniciam com estardalha o os concursos de misses Esses concursos combatidos com veem ncia pela Igreja contrapunham as orienta es cat licas no que se refere ao pudor e recato femininos Vem despertando vivo interesse nas rodas mundanas o concurso de belleza que se promove na cidade americana de Galveston E lament vel que se d tanta atten o a um acontecimento sem importancia e infelizmente t o explorado j Para chegar meta desejada os promotores do concurso incitam a vaidade da mulher procurando faze la entender que a verdadeira belleza reside n o na pureza se sentimentos no recato inh
6. boquiaberto pronunciara aquela frase N o bastasse a livraria ter sido aberta no centro da cidade seu propriet rio buscando uma maior clientela sa a de porta em porta oferecendo as novidades liter rias vindas de fora Era incans vel no seu empenho de estimular o povo a ler a ponto de sair pela rua de casa em casa oferecendo seu precioso produto Os empreendimentos de Z Lucas pareciam manter sempre uma liga o com o universo do impresso visto que na d cada seguinte em 1948 ele fundou tamb m a Tipografia Modelo que colaborava com a impress o de pequenos jornais locais de curta circula o Suas filhas Risete e Risalva Amorim eram Filhas de Maria sendo que a segunda ocupou o cargo de presidente da associa o no in cio da d cada de 1940 As revistas pela variedade pareciam ser bem aceitas na cidade e eram vistas pela Igreja como concorrentes das leituras piedosas por isso n o 2 FREITAS Maria das Dores Vidal amp OLIVEIRA Lenira de Org Limoeiro em Fotos e Fatos Fortaleza Edi es do Autor 1997 p 90 333 Idem Ibdem 201 eram recomendadas Mesmo aquelas que n o eram vistas como m s leituras eram classificadas como in teis visto que tomavam o lugar daquelas que exercitam na educa o domestica e social Essas leituras fr volas roubavam o p blico cat lico que gastava com elas o dinheiro que deveria ser aplicado em livros religiosos como as
7. es eram claras se guardem das m s companhias n o acompanhando voluntariamente com pessoas de m nota ou levianas embora do mesmo sexo ou que digam mal da Congrega o Embora n o devessem censurar o pr ximo deveriam abster se da companhia daqueles que trouxessem riscos ao valioso bouquet das virtudes mariano As flores da virtude tamb m traziam orienta es acerca do campo devocional afinal a Pia Uni o era uma associa o religiosa As Filhas de Maria n o deviam relaxar em seus deveres com a f a devo o e a Igreja visitar imagens ouvir missas perdoar pelo amor de Maria rezar com devo o Fazer o exame de consci ncia e o ato de contri o antes de se deitar emendar se das pr prias faltas agir de conformidade com a vontade de Deus O ltimo mandamento da lista Fazer atos de amor com Jesus tamb m emblem tico do car ter m stico que a atua o das mulheres religiosas assumiu ao longo dos s culos na hist ria da Igreja cat lica Por outro lado a Igreja tamb m via as Filhas de Maria como mission rias em potencial e incentivava lhes a levar os ensinamentos cat licos a outrem por isso convidar algu m a fazer algum ato de religi o pedir a Virgem a convers o dos pecadores dar esmolas edificar o pr ximo com palavras e por obras eram a es estimuladas Uma vez bem disciplinadas restava lhes tornarem se
8. o e a venda de livros procurando inibi las quando necess rio Para a Igreja era uma estrat gia mais eficaz evitar que as obras pecaminosas viessem a p blico preciso pois que os Ordin rios do lugar a quem compete conservar a s doutrina ortodoxa e defender os bons costumes por Si mesmos ou por meio de sacerdotes id neos vigiem sobre os livros que se editam ou est o a venda no pr prio territ rio e profbam aos seus s ditos a aqu les que julgarem merecedores de tal condena o A Revista Eclesi stica Brasileira REB criada em mar o de 1941 pela Editora Vozes se dirigia ao clero brasileiro Em suas edi es v se a participa o de padres de v rias partes do pa s ora como missivistas ora publicando artigos que visavam esclarecer d vidas e orientar os sacerdotes em suas par quias A revista funcionava como uma tribuna impressa onde as discuss es te ricas davam espa o s quest es pr ticas que envolviam o exerc cio do sacerd cio tornando se assim um espa o de discuss o de todos os assuntos relacionados religi o por isso seu lema era revista do clero feita pelo clero para o clero Que riqueza advir pois para todo o clero da permuta de id ias da focaliza o dos interesses eclesi sticos e de sua discuss o nas p ginas duma revista equivalente a uma tribuna donde se tem como ouvinte o padre brasileiro do Amazonas ao Prata E nesta equa o dos valores que possu mos e das
9. Na pesquisa levantou se nos cadernos de controle da Biblioteca da Pia Uni o 303 ata de Reuni o Mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 03 de abril de 1932 183 um total de duzentos e treze t tulos levantamento incompleto j que se disp e apenas de parte dos cadernos de controle Chegar listagem de duzentos e treze t tulos s foi poss vel gra as ao cruzamento dos documentos dispon veis livros de ata cadernos de anota es cadernos de controle da biblioteca Desanimador o fato de que este acervo tenha desaparecido Sobre os mais de duzentos livros desta biblioteca n o h informa o segura da parte dos funcion rios da Diocese de Limoeiro do Norte O mais prov vel que tenham sido incinerados h aproximadamente oito anos atr s por ocasi o de uma reorganiza o da Biblioteca do Semin rio Diocesano de Limoeiro do Norte para onde as obras teriam sido enviadas ap s sua retirada da Igreja Matriz da cidade Embora o n mero de livros possa parecer pouco significativo no contexto local essa Biblioteca tinha um acervo razo vel como se v na Enciclop dia dos Munic pios Brasileiros que sobre as bibliotecas de Limoeiro do Norte informa Contam se as seguintes bibliotecas Biblioteca do Padre Jos Falc o Freire com 1000 volumes Biblioteca do Semin rio Diocesano Cura D Ars estudantil e particular com 950 volumes Biblioteca M rio Augusto Teixeira de Freitas com 450 volumes Ag ncia Mu
10. Para a Igreja a cr tica cat lica deveria julgar as id ias e valores 18 PAIVA Aparecida A Leitura Censurada In Leitura hist ria e hist ria da leitura Op cit p 422 18 DE CERTEAU Michel A Inven o do Cotidiano Artes de Fazer 11 ed Petr polis Vozes 1994 p 269 270 187 MANGUEL Alberto Uma Hist ria da Leitura Op cit p 315 119 difundidos na obra de um autor n o se deixando influenciar pelo vigor da narrativa ou pela perfei o do estilo posto que a qualidade de uma obra deveria estar pautada em seus ensinamentos morais Era preciso ser taxativo e apontar os escritores perigosos veladamente obscenos ou claramente desonestos e imorais Nestes ultimos tempos a critica liter ria tem comettido um grande e pernicioso peccado o peccado da indulgencia excessiva em julgar os livros a critica indulgente julga os escriptores n o pelo conjuncto das obras e pelo fundo das id as mas pelo vigor de algumas paginas ou pela perfei o liter ria do seu estilo quando a justi a permittindo reconhecer a eleg ncia do estilo ou outra boa qualidade liter ria deveria condicionar estas ao bem social e ao interesse moral do individuo da sociedade e da fam lia E preciso ter a coragem de dizer positivamente clamau sic que este tal autor mau que este vedado aos catholicos e que aquelle outro perigoso veladamente obsceno ou claramente deshonesto e immoral Os livros recomendados era
11. a Op cit 115 modelo de mulher Este modelo feminino que j havia intitulado o romance escrito por padres franciscanos chegou s telas do cinema com a pel cula intitulada A filha de Maria Exibido em tr s cinemas de Fortaleza Moderno Majestic e Parochial entre os meses de novembro e dezembro de 1934 contou com uma forte propaganda da imprensa cat lica que anunciava com destaque a pel cula como sendo comovente digno humano elevador e por esse motivo devia ser assistido por todos os cat licos DOMINGO LTANEAMENTE NO Figura 06 An ncios do Filme A Filha de Maria jornal O Nordeste dos dias 22 11 1934 e 01 12 1934 Modelos de mulher de comportamento e postura hero nas de romances e filmes as Filhas de Maria v o agregando valores pap is julgamentos e imagens s suas fitas azuis s mbolo de uma irmandade que nasceu com o intuito de ser uma associa o religiosa mas que extrapolava o viver devocional 116 Com tantas expectativas recaindo sobre o papel da Filha de Maria na sociedade era dif cil para essas mulheres n o se tornarem motivo de muitos cuidados por parte da Igreja Em um artigo intitulado Retrato de uma Filha de Maria Stella Faro alertava para o fato de algumas associadas marianas estarem descuidando dos preceitos da irmandade dedicando mais tempo a si mesmas esquecendo que a vida terrena deveria ser de ren ncia a m xima do sacrif cio da nega o
12. a encaderna o macia ou dura s vezes at mesmo o paladar quando os dedos do leitor s o umedecidos na l ngua Tudo isso muitos leitores n o est o dispostos a compartilhar Tudo isso combinado s sensa es que os enredos e descri es iam despertando fazia com que as associadas da Pia Uni o ao tomarem livros de empr stimo em sua biblioteca se sentissem tentadas a tom los para si adiando a devolu o de algumas obras Assim desejavam prolongar a posse transit ria de um livro cuja leitura lhes propiciou prazer relendo incont veis vezes as partes mais marcantes e que causaram mais emo o Sonhar a cada leitura e guardar para si uma obra que no momento dessa embalou sonhos Conservar em seu poder por mais um dia uma semana ou um m s p ginas que narram perip cias como se a leitora em sua fantasia lesse uma hist ria que ela deseja como sua Dessa forma o desejo da posse do livro crescia medida que a leitura se tornava uma atividade mais constante no grupo e assim os livros discretamente sumiram das estantes da Pia Uni o O acervo da biblioteca da Pia Uni o foi sendo desfalcado aos poucos em virtude da n o devolu o dos livros O controle de empr stimos das Filhas de Maria era ineficiente de modo que no in cio da d cada de 1940 a redu o de obras no acervo da Pia Uni o obrigou a presidente da associa o a tomar medidas en rgicas de controle 335 MANGUEL Alberto Uma Hist
13. do pudor da pureza e da submiss o seu uso assumiu significa es m ltiplas Sob ele escondia se a sensualidade e seus s mbolos de sedu o como os cabelos que atribuem mulher uma sensualidade particular Para Michelle Perrot os cabelos das mulheres s o o s mbolo da feminilidade condensando sensualidade e sedu o e ati ando desejo Com a cabe a coberta por seus brancos e di fanos v us as Filhas de Maria tomavam fei es angelicais Sob o v u a imagem da obedi ncia e da conforma o da condi o submissa da mulher religiosa Entretanto essa Jornal O Nordeste Fortaleza 21 out 1948 p 03 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 04 de dezembro de 1932 amp PERROT Michelle Minha Hist ria das Mulheres Op cit p 51 51 submiss o mostrava se por vezes t o fr gil quanto o fin ssimo fil de seus v us Mas o controle que a Igreja buscava manter em torno das mulheres especialmente das Filhas de Maria seu modelo mais caro numa sociedade em mudan a n o se restringia s roupas A rigidez das normas da Pia Uni o espalhava se pelas m ltiplas pr ticas sociais do seu cotidiano por isso era importante cuidar de suas formas de divers o Os bailes e as dan as modernas estavam em evid ncia neste per odo e por isso tornaram se alvo das cr ticas da Igreja que via neles uma amea a pureza principalmente pelo contato dos corpos 1 3 2 E
14. e como se observa no estudo de Marisa Lajolo e Regina Zilberman o exerc cio do magist rio n o escandalizava as bases machistas da sociedade patriarcal brasileira permanecendo intocada e tamb m idealizada a associa o mulher esposa m e mesmo quando essa estivesse fora de casa ganhando um modest ssimo p o de cada dia O magist rio no discurso dos defensores da chamada feminiza o do magist rio era compat vel com a natureza feminina j que as mulheres tinham por natureza uma inclina o para o trato com as crian as que elas eram as primeiras e naturais educadoras portanto nada mais adequado do que lhes confiar a educa o escolar dos pequenos Se o destino primordial da mulher era a maternidade bastaria pensar que o magist rio representava de certa forma a extens o da maternidade cada aluno ou aluna vistos como um filho ou uma filha espiritual Visto como uma extens o do papel de m e o magist rio nas primeiras d cadas do s culo XX era uma atividade cada vez mais ligada ao g nero feminino e em Limoeiro com o advento da Escola Normal Rural isso n o era diferente Em meio s galerias do rec m constru do pr dio da Escola Normal Limoeirense enquanto buscavam seus diplomas de professoras muitas normalistas exibiam orgulhosamente suas fitas de cetim azul Na primeira turma de normalistas limoeirenses estavam v rias associadas da Pia Uni o
15. institui es e entidades de interesse comunit rio manifestou se at por ocasi o da cria o do bispado ici As iniciativas no campo educacional eram alardeadas na imprensa cearense especialmente no Jornal O Nordeste propagando o alto entusiasmo do meio limoeirense e destacando os gestos benem ritos dos distintos cidad os 7 LIMA Lauro de Oliveira Sistema Escolar de Limoeiro do Norte Op cit p 128 169 Grande o concurso que os limoeirenses est o dando ao problema do ensino pois n uma subscrip o feita entre os homens de b a vontade quando da visita do revmo pe Helder Camara quella cidade foram arrecadados sem dificuldades 24 450 000 somma que prova com evidencia o alto enthusiasmo que domina o meio limoeirense ansioso pela prosperidade daquella terra e pela grandeza de seus filhos Para os eventos da cidade observa se que havia um cuidado em trazer convidados ilustres uma forma de legitimar as a es praticadas Na empreitada da Escola Normal Rural do munic pio o convidado de honra o padre Helder C mara que j desfrutava reconhecimento por seu trabalho em favor da educa o Para alguns dos ilustres era importante destacar se granjeando maior reconhecimento p blico de sua benemer ncia sinal de distin o social No caso de Raimundo Est cio de Souza a doa o do terreno para a constru o da escola e uma quantia em dinheiro dava lhe nas palavras da i
16. mar o junho 1941 Editora Vozes Ltda Petr polis RJ 03 Bra Ata de Reuni o Mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 07 de maio de 1933 p 48 Ve 49F 14 Eliete Saraiva Entrevista concedida autora em Limoeiro do Norte no dia 17 de fevereiro de 2008 189 Embora n o fosse uma regra estabelecida oficialmente visto que n o constava nos regulamentos da irmandade as Filhas de Maria parecem ter entendido que t tulos discretos teriam maior facilidade de aprova o Na tarefa de avaliar as obras doadas o diretor espiritual contava com a ajuda das resenhas publicadas no peri dico cat lico O Nordeste Entretanto recomendava se que os sacerdotes fossem mais intransigentes e atenciosos no julgamento e aprova o de obras Ideal seria que o assistente eclesial da Pia Uni o lesse cada obra doada biblioteca condenando quaisquer excessos conforme os conselhos da REB Eu tenho para mim posso estar enganado que dever amos sobretudo n s sacerdotes ser mais intransigentes em julgar os escritores condenando sempre sem tergivers es sic o excesso de pintura das paix es o depravado gosto da arte liter ria que sacrifica ao art stico o belo moral Considerando que as resenhas publicadas n O Nordeste funcionavam como ferramentas no aux lio fun o censora que o diretor espiritual da Pia Uni o assumia frente a Biblioteca optou se aqui por fazer um cruzamento entre os t tulos presentes no
17. ntica 1997 100 cuidadosamente atrav s de manchetes e pequenas notas louvando as publica es e a es do religioso e seu cuidado com as letras nacionais Frei Pedro Sinzig era respons vel por seu manual do veto e se encarregava de escrever in meras obras cat licas Entre elas poss vel localizar romances contos livros instrutivos e did ticos hagiografias livros religiosos e devocionais tradu es al m de uma vasta produ o musical onde figuram peras pe as missas musicadas entre outros Para al m da produ o como escritor frente da Editora Vozes recrutava escritores e escritoras cat licas fortalecendo sua batalha contra a m leitura O tipo de literatura que Sinzig e outros religiosos produziam tinha grande aceita o entre os cat licos praticantes como os membros de irmandades religiosas dentre as quais as Irmandades das Filhas de Maria espalhadas por muitas cidades cearenses O lan amento de um romance escrito por franciscanos intitulado A Filha de Maria ind cio da assiduidade dessa camada como p blico leitor bem como seu papel modelar de mulher solteira O intuito principal era fornecer uma literatura apropriada para mo as e senhoras e gente de alma limpa para combater os romances realistas e suas cenas fortes Mas junto ao p blico leitor feminino em geral esse tipo de romance n o parecia despertar o mesmo interesse dos romances que n o tinham compromisso com os ensinamentos
18. o alimentadas pela m leitura De que valem todas as policias do mundo si deixamos nossas crian as se empolgarem pelos crimes si a ellas entregamos leitura essas HEROICAS historias de GANGSTERS verdadeiras consagra es do crime Infelizmente esta a situa o dessa multid o de seres pequeninos a quem o descaso dos paes e dos educadores impele para o abismo do materialismo da descren a e n o s n o procuram freiar lhes as paix es mas as alimentam pela m leitura 134 Para os catholicos Instruc es sobre a condemna o das m s leituras Jornal O Nordeste Fortaleza 07 abr 1927 p 02 135 A literatura infantil e a educa o christ Jornal O Nordeste Fortaleza 24 jan 1938 p 01 e 04 138 Antes prevenir que remediar Jornal O Nordeste Fortaleza 01 dez 1936 p 06 92 O esfor o principal da cr tica cat lica era condicionar o leitor infantil a debru ar se sobre obras de conte do moral j que era entre as crian as que os livros pornographicos recrutavam seu maior n mero de v timas Por isso o lan amento da Bibliotheca Infantil da Cia Editora Melhoramentos de S o Paulo foi festejada como uma fonte de leituras expungida de inconvenientes ao gosto simples e puro da inf ncia apontando o que consideravam as obras mestras dos grandes escriptores de aventura Na lista dos indicados contos como A gata Borralheira O Soldadinho de Ch
19. possivelmente criando uma rede de leituras Como ind cio dessas trocas informais entre as Filhas de Maria de Limoeiro o depoimento de uma associada sobre as rela es que mantinham em torno da Igreja e da leitura Aqui Teresinha foi ponta de lan a pois em vista de seu talento e desembara o era muito solicitada para exercer pap is em dramatiza es ensaiadas pela irm mais velha do Vig rio Estabelecendo relacionamento com as suas sobrinhas 2 Quando o diretor da Pia Uni o mencionou a inten o de fundar uma biblioteca para as Filhas de Maria de Limoeiro de imediato foram escolhidas cinco associadas para o papel de bibliotec rias Maria Augusta Vieira Chaves Maria Eunice Chaves Saraiva Maria Consuelo Guedes Maria da Penha Guedes e Maria Elodia Costa Craveiro Ao que parece essas cinco mulheres dominavam a leitura e a escrita de forma satisfat ria sendo por isso reconhecidas perante o grupo Esse reconhecimento evidencia se mais ainda se observarmos o fato de que no momento em que foram nomeadas bibliotec rias da irmandade quatro delas ainda estavam na condi o de aspirantes e s vieram a receber a fita azul um m s ap s serem designadas para cuidar da biblioteca Uma vez em funcionamento a biblioteca as cinco associadas revezavam se no controle de empr stimos de livros 164 Teresinha trazia excelentes livros dele que eram lidos por todos n s Grifos meus Uma vez institu da essa rede de trocas mais do
20. prendendo as mulheres que se portam inconvenientemente ou por actos ou por trajos vem a offender a dignidade das mesmas familias por recair em elementos femininos do seu gremio a puni o que se desejava impor a audaciosas mulheres perdidas Que triste philosophia imp e as nossas reflex es Pois ent o o desbragamento de costumes chegou a tal ponto que n o se distinguem as senhoras das que profissionalmente o n o s o Diante de tantos impasses em torno da forma de trajar feminina os an ncios dos jornais jogavam com as inova es da moda ora exaltando as novidades da moda ora criticando as Estando suscet veis tanto aos ensinamentos cat licos quanto s estrat gias de propaganda das novas modas as Filhas de Maria se viam em meio a um campo de tens o onde o desejo de seguir a moda e a proibi o imposta pela Igreja mediam for as Esse conflito de valores e costumes estava presente nos an ncios veiculados pelos jornais Os an ncios colocavam por vezes o jornal cat lico que tamb m dependia de anunciantes em uma situa o paradoxal Nos an ncios era comum a veicula o de textos e imagens contr rios ao discurso editorial SEMPRE JOVEM E SEMPRE MUITO ADMIRADA Figura 01 An ncios publicit rios veiculados no Jornal O Nordeste Jornal O Nordeste Fortaleza 05 mar 1927 p 04 47 Por isso contradit rio que embora combatesse ferrenhamente as modas indecentes O No
21. que n o hesitava em censurar a decis o daquelas associadas que se recusavam a permanecer ocupando cargos na irmandade O pedido de exonera o deveria ser analisado por ele que comunicaria a aceita o ou n o do pedido enquanto escolhia outra associada apta a ocupar o cargo Usando da palavra o nosso Director disse nos que havendo a Presidente e a Thezoureira na sess o passada pedido exonera es dos seus cargos e havendo marcado a sess o prezente para dicis o do cazo aconteceu que a Thesoureira antecipando a qualquer decis o mandou entregar o livro caixa com o saldo e a bol a da mesma associa o Facto este censur vel e at incurso nas pennas do Regulamento da nossa Pia Uni o sendo assim motivo de suspens o de fita de Filha de Maria mas n o querendo utilizar se dessa faculdade e nem usar deste rigor resolveu censurar este acto indigno de uma Filha de Maria e lan ar na ata esta censura Em seguida disse nos que depois de madura reflex o e haver orado a Deus para deciz o deste cazo poude perfeitamente sem engano saber que a vontade de Deus era que fossem ambas demittidas e assim as demittiu immediatamente e nomeou para substituilas Prezidente Francisca Guimar es Malveira Thesoureira Maria de Freitas Pitombeira 3 Aborrecido com a atitude da tesoureira que antecipou se sua decis o mandando lhe entregar o livro caixa com o saldo e a bol a o diretor da Pia Uni o ordenou que se registrasse na ata a dem
22. rios os colaboradores d O Nordeste dividiam as reas de interesse em leituras masculinas infantis e femininas A partir da segunda d cada do s culo XX acentua se a nfase do jornal cat lico cearense em torno das pr ticas de leitura em especial da feminina tornando se um dos meios mais utilizados para combater o que considerava leitura perniciosa Assim orientava os leitores atrav s de resenhas coment rios e an ncios Nas orienta es a tutela da leitura feminina caberia aos pais e futuramente aos maridos que deveriam afast las dos perigos e da influ ncia de determinadas id ias vigiando o que liam visto que o jornal cat lico cearense apontava a fraqueza feminina e sua incapacidade de escolha j que era fr gil e incapaz de discernir entre o bem e o mal Vasta era a gama de leituras classificadas pela Igreja como perniciosas Os elementos que colaboravam para essa classifica o variavam de acordo com o p blico e a situa o O que era proibido ou visto com ressalvas para o p blico feminino era permitido ao masculino sem maiores restri es Os editores e colaboradores do jornal combatiam as obras que traziam as chamadas novas id ias como o cientificismo os ideais ma nicos e tudo aquilo que questionasse a doutrina e o dogma cat licos Por outro lado uma linha moralizadora direcionada s jovens cat licas combatia as obras de risco inoc ncia e a pureza dirigindo ao p blico leitor feminino
23. sem aberra es tornando os duradouros porque humanos Livro forte livro 73 humano livro para sempre si bem que n o seja para todas as m os Grifo meu O muito humano os dramas reais n o eram para todas as m os como as jovens cat licas E as leituras que n o s o para todas as m os na tica cat lica se dirigiam s m os masculinas que podiam manusear at livros sobre comunismo para melhor conhecer o inimigo e combat lo O leitor podia ler livros com toques realistas livros que falassem de sexo e casamento todos proibidos s mo as cat licas novamente na obra de Jos Am rico de Almeida agora a primeira edi o do romance O Boqueir o que se percebem os diferentes par metros de leitura estabelecidos pela Igreja Ap s in meros elogios obra o jornal cat lico cearense faz a ressalva que em virtude de algumas passagens realistas n o livro para todas as m os Todas estas qualidades fazem de O Boqueir o um dos grandes livros do anno Nelle por m o que mais se admira a maneira peculiarissima de o autor dizer as cousas com uma infinita gra a e propriedade de express o Infelizmente pela these que desenvolve aqui e ali pontilhada de passagens realistas n o livro para todas as m os Grifo meu Quando se tratava de leituras masculinas os crit rios morais eram relativizados Para o jornal cat lico mesmo as leituras sem livre circula o poderiam se
24. 06 de Fevereiro de 1938 p 45 F 154 O poder sobre o livro o poder sobre o poder que exerce o livro Eu evoco a alguma coisa que todos os historiadores lembraram isto o poder extraordin rio que tem o livro quando torna se um modelo de vida Pierre Bourdieu O Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria era entregue a cada 26 Nele encontrariam os associada no dia de seu ingresso na Irmandade ensinamentos e as pr ticas que deveriam observar a todo instante Um modelo que se pretendia ideal como das Filhas de Maria n o podia apresentar m culas Por esta raz o as orienta es deveriam contemplar todas as horas do dia e cuidar dos perigos do mundo moderno e da fr gil natureza feminina Esse livro que deveria ser adquirido ao ingressar na irmandade tinha o intuito de despertar uma esp cie de juiz interno dando instru es e condenando as falhas principalmente aquelas mais ntimas Reeducar os sentidos conter os desejos lapidar se na busca da perfei o moral e espiritual era a verdadeira obriga o de uma Filha de Maria 2 Cada associada deveria comprar seu Manual a fita azul a medalha e o Diploma de Filha de Maria Durante a cerim nia o padre colocava lhe a fita ao pesco o e depois lhes entregava o Manual e o Diploma 155 Figura 09 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria em sua edi o mais simples Capa preta letras douradas e bordas vermelhas O Manual da Pia Uni o deveri
25. 1991 SANTOS M rcia Rita Ara jo Os caminhos da miss o a diocese de Limoeiro do Norte e o discurso social de Dom Aureliano Matos 1940 1967 Monografia de Gradua o em Hist ria FAFIDAM UECE Limoeiro do Norte 1997 SCARANO Julita Devo o e Escravid o a Irmandade de Nossa Senhora do Ros rio dos Pretos do Distrito Diamantino no S culo XVIII S o Paulo companhia Editora Nacional 1975 SCHAPOCHNIK Nelson Distin o Instru o amp Prazer Uma tipologia dos gabinetes de leitura no Brasil Oitocentista In Hist ria da Educa o Vitrais da Mem ria Lugares imagens e pr ticas culturais Fortaleza Edi es UFC 2008 SOUZA Simone de org Uma nova Hist ria do Cear 3 ed Fortaleza Dem crito Rocha 2004 STEIL Carlos Alberto O sert o das romarias Um estudo antropol gico sobre o santu rio de Bom Jesus da Lapa Bahia Petr polis Vozes s d THOMPSON E P Costumes em Comum Estudos sobre a cultura popular tradicional S o Paulo Companhia das Letras 1998 TORRESINI Elisabeth Rochadel Editora Globo Uma aventura editorial nos anos 30 e 40 S o Paulo Editora da Universidade de S o Paulo 1999 232 VASCONCELOS J NIOR Raimundo Elmo de Paula O Limoeiro da educa o A hist ria da cria o da Diocese e a a o educacional de Dom Aureliano Matos em Limoeiro do Norte 1938 1968 Tese de Doutorado Fortaleza UFC 2006 VENANCIO Giselle Martins As Flores Raras do Jardim do Po
26. A leitura Censurada In ABREU M rcia Org Leitura hist ria e hist ria da leitura S o Paulo Fapesp 1999 A Voz do veto a censura cat lica leitura de romances Belo Horizonte Aut ntica 1997 PERROT Michelle As mulheres ou os sil ncios da hist ria Trad Viviane Ribeiro Bauru SP EDUSC 2005 Minha Hist ria das Mulheres Trad ngela M S Corr a S o Paulo Contexto 2007 231 Os exclu dos da Hist ria oper rios mulheres e prisioneiros Trad Denise Bottman Rio de Janeiro Paz e Terra 1988 Pr ticas da Mem ria Feminina In Revista Brasileira de Hist ria S o Paulo ANPUH Marco Zero Vol 9 n 18 P 09 18 Agosto 1989 Setembro 1989 PINHEIRO Francisco Jos O processo de Romaniza o no Cear In SOUZA Simone de org Hist ria do Cear 2 ed Fortaleza Funda o Dem crito Rocha 1994 PONTES Albertina Mirtes de Freitas A cidade dos clubes modernidade de glamour na Fortaleza de 1950 1970 Fortaleza Express o Gr fica 2005 PORTELLI Alessandro O que faz a hist ria oral diferente In Projeto Hist ria n 14 S o Paulo PUC fev 1997 Tentando aprender um pouquinho algumas reflex es sobre a tica na Hist ria Oral In Projeto Hist ria n 15 S o Paulo PUC abr 1997 REIS Jo o Jos As irmandades In REIS Jo o Jos A morte uma festa ritos f nebres e revolta popular no Brasil do s culo XIX S o Paulo Companhia das Letras
27. Aspirante e proposta ao Conselho para esse fim Grifos meus Mesmo havendo alguns crit rios n o oficiais para o ingresso de novas associadas o manual observa a necessidade de indica o de duas Filhas de 84 Maria Menas da Silva 70 anos Entrevista concedida autora em Limoeiro do Norte no dia 08 01 2004 3 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit p 45 62 Maria para o ingresso de aspirante Ao se estabelecer este crit rio se limitava a entrada de novas associadas sen o a uma camada social espec fica ao menos a um c rculo restrito de conviv ncia social Ao tornar se fiadora da nova aspirante a Filha de Maria empenhava sua boa reputa o perante o grupo e consequentemente perante a sociedade Essas rela es estabelecidas no ingresso da congrega o n o estavam livres de influ ncias externas que podiam ser determinantes na filia o e tamb m no per odo probat rio no qual a pretendente a Filha de Maria recebia o nome de Aspirante Segundo Dona N zinha Conrado ex Filha de Maria o per odo como aspirante dependia da Presidente das Filhas de Maria n Eu fui pouco tempo aspirante Por merecimento Azinha a presidente da poca me conhecia e disse pronto ela vai receber a fita azul logo Foi pouco tempo pra eu receber a fita azul Grifos meus Comumente as mo as que n o pertenciam s fam lias privilegiadas da cidade e que desejassem fazer parte da Pia Uni o das Filhas de M
28. COSTA E SILVA Nilze Mulheres de Papel Fortaleza 1987 CUNHA Maria Teresa Santos Armadilhas da Sedu o os romances de M Delly Belo Horizonte Aut nctica 1999 DARNTON Robert Edi o e Sedi o O universo da literatura clandestina no s culo XVIII trad S o Paulo Companhia das Cetras 1992 O Beijo de Lamourette M dia Cultura e Revolu o Trad Denise Bottman S o Paulo Companhia das Letras 1990 Os Best sellers proibidos da Fran a pr revolucion ria Trad Hidelgard Feist S o Paulo Companhia das Letras 1988 O grande Massacre de Gatos e outros epis dios da hist ria cultural francesa Rio de Janeiro Graal 1986 DE CERTEAU Michel A Inven o do Cotidiano 1 artes de fazer Trad Ephraim Ferreira Alves Petr polis RJ Vozes 1994 DEL PRIORE Mary Org Hist ria das mulheres no Brasil 9 ed S o Paulo Contexto 2007 A mulher na Hist ria do Brasil S o Paulo Contexto 1988 DIAS Maria Odila Leite da Silva Quotidiano e Poder em S o Paulo do s culo XIX 22 ed rev S o Paulo Brasiliense 1995 EL FAR Alessandra O Livro e a Leitura no Brasil Rio de Janeiro Jorge Zahar 2006 ENGEL Magali Gouveia Imagens femininas em romances naturalistas brasileiros 1881 1903 In Revista Brasileira de Hist ria S o Paulo ANPUH Marco Zero Vol 9 n 18 P 237 258 Agosto 1989 Setembro 1989 FALCI Miridan Knox Mulheres do sert o Nordestino In Hist ria das mulher
29. Chaves e seus correligion rios e a posi o de prest gio que a Pia Uni o desfrutava dentro da Igreja local podem ser apontados como alguns dos motivos que motivaram essa mudan a de atitude do padre com a irmandade interessante perceber que as associadas da Pia Uni o n o eram meras expectadoras dos conflitos pol ticos que nomeavam e suspendiam os sacerdotes locais A resist ncia dessas mulheres sinalizada com as aus ncias as reuni es mensais pr tica que irritava os diretores tamb m aparecia de forma sutil nos documentos da irmandade Por isso era importante a escolha da secret ria da associa o como forma de garantir um registro adequado dos fatos ocorridos internamente A 3 BRANCO Jo o Ol mpio C O Limoeiro da Igreja Op cit p 115 37 Cf levantamento feito nas Atas de Reuni o da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro Per odo de mar o de 1923 a mar o de 1924 31 seu cargo ficavam as atas da Pia Uni o bem como de todos os registros escritos da irmandade que n o deveriam ser mostrados a outrem sem as ordens do diretor As atas deveriam ser lidas discutidas e aprovadas na reuni o seguinte garantindo tamb m um controle e vigil ncia sobre os registros feitos No entanto isto n o intimidava algumas dessas mulheres que resistiam aos reveses internos da irmandade provocados pelas disputas pol ticas locais em raz o disso que a secret ria Maria Ferreira Sombra cuja fam lia era pol
30. Culin ria Corte e Costura Como forma o religiosa introduziu Apolog tica sic e para polir o comportamento social das alunas matutas a pr tica das Boas Maneiras uma esp cie de Socila Aos s bados muitas vezes com a presen a de convidados da cidade ou de fora funcionava a HORA DA SOCIALIZA O em que todos os tipos de representa o eram estimulados canto poesia recita o dramatiza o etc N o se pode esquecer que ao contr rio de uma conquista feminina a prepara o da mulher para o magist rio era uma estrat gia s cio pol tica que cuidava da instru o feminina com um fim pragm tico suprir a necessidade de m o de obra para o magist rio sem melhorar a remunera o do professor uma vez que a mulher n o deveria ter uma renda equivalente do homem Por outro lado transformava a sala de aula num ap ndice do lar e o exerc cio da doc ncia numa miss o e apostolado feminino Estrat gia ao gosto do Estado que continuava a descumprir a promessa republicana de universaliza o do direito educa o e do magist rio como profiss o espec fica idealizava se a professora cnamando a de m e sugerindo assim que lecionando ela continuava fiel sua natureza maternal Negava 26 LIMA Lauro de Oliveira Sistema Escolar de Limoeiro do Norte Op cit p 136 173 se o elemento profissional da doc ncia porque a sala de aula convertia se num segundo lar Ao tornarem se
31. Desse modo a filha de Maria 347 Arte de Namorar Jornal O Nordeste Fortaleza 29 jun 1937 p 07 348 S o as mulheres que edificam ou arru nam a casa Jornal O Nordeste Fortaleza 29 jun 1937 p 03 9 Idem Ibidem 211 casadoira cumpria seu papel evangelizador o que ocorre com Zelita personagem do conto Os ensinamentos de Z lia iam cavando fundo nos alicerces da minha philosophia Interessei me pela leitura de obras catholicas E meu amigo que jazida inesgot vel de grandezas e magnificiencias doutrinarias encontrei Foi um deslumbramento E desse deslumbramento estou saindo um crente V tu um crente Parece que percorri uma estrada de Damasco como a do Apostolo E por isso que mais amo a Zelita E por isso que mudei completamente a respeito das minhas antigas theorias Cada dia que se passa mais um motivo para eu lhe querer J estou pensando at em transformar o dia do casamento em dia de convers o A A leitura de forma o ensinando mulher o papel que dela se esperava era um fator importante e deveria preencher o tempo que as jovens desperdi avam com os romances Para a Igreja na vida real e no casamento n o havia espa o para romantismo e sonho A paix o e os sentimentos arrebatadores dos romances n o eram apropriados para um noivado e casamento bem sucedidos Isto de nosso amor e um ranchinho e basta me o teu olhar e o teu amor muito bonito
32. Filhas No entanto esta observa o n o era posta em pr tica completamente e nos desvios e percal os das virtudes as Filhas de Maria iam tra ando sua hist ria 15 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit p 448 18 A Igreja sabia que suas estrat gias e ensinamentos podiam apresentar falhas por isso n o deixava de ratificar em seus discursos e pr ticas a obedi ncia aos mandamentos No discurso da Igreja a desobedi ncia transformava a exist ncia da associa o em algo est ril desprovido de sentido mil vezes melhor n o existir uma Pia Uni o de Filhas de Maria do que em lugar dum corpo cheio de vigor e vida espiritual como ela deve ser ver se um frio cad ver estado a que a levou a tibieza A exist ncia de uma Pia Uni o maculada por desvios morais podia acarretar danos imagem de todas as outras associa es e colocar em risco este empreendimento moralizador cat lico visto que a finalidade da Pia Uni o de acordo com seu Manual era construir modelos de mulheres que soubessem refrear suas paix es sem dar largas s suas naturais inclina es enfim mulheres condicionadas a controlar seus impulsos e desejos o fim desta Pia Uni o n o consiste em encher o mundo de freiras como a cada passo dizem os inimigos do bem mas em fazer crescer as jovens na piedade crist na honestidade dos costumes em torna las obedientes e respeitosas para com seus pais afim de que um dia segun
33. Francisco Portela concluiu confiando que onde existir uma verdadeira Filha de Maria existir tambem uma verdadeira Apostola de Jesus Christo O papel da professora catequista pode explicar como o regulamento da Irmandade podia se ajustar uma causa que n o era em princ pio o intuito da Pia Uni o a catequese na escola No livro de atas das Filhas de Maria registra se o ingresso de tr s reconhecidas professoras com destaque Maria Gon alves da Rocha Leal frente da Escola Normal de Limoeiro nos primeiros dez anos de funcionamento Declarou o Revmo Diretor que mais tr s novos membros se alistaram na nossa associa o os quais eram Maria Gon alves R Leal Luiza Feitosa Costa e Fca Cornelia de Miranda Maria Gon alves vinda de Juazeiro do Norte assumiu a dire o da Escola Normal com muita rigidez O fato de n o ser casada impunha a necessidade de fazer se respeitar enquanto jovem educadora solteira e para isso O t tulo de Filha de Maria auxiliaria na constru o de respeitabilidade 2 LIMA Lauro de Oliveira Sistema Escolar de Limoeiro do Norte Op cit p 139 296 Ata da reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 01 de mar o de 1936 26 F Bsr Ata de Reuni o Mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 06 de mar o de 1938 p 45V 178 perante a sociedade limoeirense Para a Igreja uma garantia saber que aquela em cujas m os estava entregue a educa
34. Livro e o cinema Jornal O Nordeste Fortaleza 19 mai 1938 p 06 O Livro e o cinema Jornal O Nordeste Fortaleza 19 mai 1938 p 06 111 companheiro E de quando em quando chegam nos informes semelhantes Os filmes assim como os livros eram perseguidos pela Igreja e ao mesmo tempo utilizados na campanha cat lica que buscava moralizar a sociedade Buscando evitar a audi ncia a filmes impr prios a imprensa cat lica mantinha uma coluna na qual informava sobre as fitas exibidas nas salas de cinema da capital como forma de combater as pel culas tidas como m s Vistos como uma escola os filmes traziam a magia poderosa da imagem e por isso deveriam ser vigiados de perto devido ao seu vasto alcance na sociedade Os cinemat grafos apareciam como poderosos agentes de transforma o das id ias da o seu poder A s sic familias e aos catholicos em geral estamos informando o que passa sobre as peliculas para um severo mas criterioso combate aos filmes maus Precisamos sustentar este combate O cinema uma escola Tem raz o Gustave Le Bon em dizer o cinematographo o mais poderoso agente de educadores e de desmoraliza o que actualmente existe Si eu fosse dono de todos os cinematographos do meu pais transformaria as id as e a cren a dos cidad os Sobre o cinema a imprensa cat lica lan ava um discurso parecido com aquele estabelecido em torno da leitura colocando a mulher como
35. O corpo bem vestido era o s mbolo do recato e da pureza de uma jovem donzela zelosa da moral e dos bons costumes seguindo os preceitos cat licos Tinha que renunciar a muita coisa n o podia andar de vestido de al a n De roupas assim como hoje semi nua N o podia cal a comprida Ave Maria Nessa poca nem existia mulher andar de cal a comprida n Risos A vestimenta tem um car ter ostensivo por isso era dif cil disfar ar diante da sociedade limoeirense quando o padr o recatado de vestimenta de uma Filha de Maria era desrespeitado No entanto o medo de serem apanhadas usando roupas mais ousadas decotadas ou transparentes n o impedia algumas associadas da Pia Uni o de desrespeitar o regulamento O Revmo Diretor Chamou nos ainda aten o sobre a mod stia no trajar pelo fato de ter notado algumas infrac es neste ponto s regras dos Estatutos Essas infra es podem ser vistas como tentativas por parte dessas mulheres de adotar lentamente novos h bitos no trajar Entretanto essas tentativas eram combatidas pelos sacerdotes que temiam o afrouxamento das regras e a consequente desmoraliza o da Congrega o criada para ser modelo de moral e bons costumes 5 N zinha Conrado de Souza 82 anos Entrevista gravada em 16 06 2005 em Limoeiro do Norte Ce A fita azul era o indicativo da Filha de Maria A aspirante usava uma fita verde Estas fitas com medalhas presas elas eram
36. On as Op cit p 321 41 A Pia Uni o das Filhas de Maria nasceu pequena com apenas sete associadas Entretanto nas d cadas seguintes sua funda o teve um crescimento acentuado terminando a d cada de 1920 com um n mero de noventa associadas J durante a d cada de 1930 o n mero de associadas chega ao patamar de trezentas e nove poss vel acompanhar no gr fico 01 o crescimento do n mero de associadas da Pia Uni o Durante mais de dez anos a Pia Uni o das Filhas de Maria em Limoeiro apresentou um crescimento acanhado Por m durante a d cada de 1930 a irmandade mostrou um crescimento elevado tendo seu n mero de associadas aumentado em mais de 350 N mero de Associadas da Pia Uni o das Filhas de Maria 1915 1940 350 323 309 299 300 25 275 258 250 215 219 207 200 179 163 150 44 100 83 E 52 25 30 fo 1915 1916 1917 1918 1919 1920 1921 1924 1926 1928 1929 1930 1931 1932 1933 1934 1935 1936 1937 1938 1939 1940 Gr fico 03 Crescimento do N mero de associadas da Pia Uni o das Filhas de Maria Fonte Livros de Atas da Pia Uni o das Filhas de Maria Por outro lado o crescimento do n mero de associadas tamb m trouxe uma s rie de dificuldades para o clero que vendo as fecundas sementeiras de virtude florindo e se multiplicando na cidade de Limoeiro passou a encontrar mais dificuldades para mant las simples na m
37. Salve me a filhinha doutor supplica a m e angustiada O pae anda l vido quase transtornado E caso serio muito serio O medico consulta dois collegas Tambem elles julgam o caso perdido Para ruborizar as ma s tinham recebido antes por baixo da pellicula uma forte injec o a cujo veneno n o resistira o delicado organismo da crian a 141 PAIVA Aparecida A leitura Censurada In Leitura hist ria e hist ria da leitura Op cit p 420 96 noite Uma pobre m e em desespero debru ava sobre um esquife branco que contem o que ella de mais precioso possu a neste mundo sua nica filhinha Um pae louco de dor parece alheio a tudo que se passa em torno E dizer se que foi elle o comprador do veneno que lhe matou a filha quando podia muito bem na outra casa distante mas conceituada adquirir optimos frutos s os Ah Que miser vel fraqueza Perder o rico thesouro por n o ter mais juizo que a pequena innocente J entraram alguma vez numa dessas grandes livrarias Quaes ma s de faces rosadas em todas ellas se apresentam lindos livros de capas seductoras e t tulos suggestivos Exercem uma quase que irresist vel fascina o Muitas mocinhas que passam j n o podem desprender o olhar da vitrina Pedem ao pae ou irm o que as acompanhe Manuseiam esta ou aquella obra Folheiam esta ou aquella novidade liter ria E n o deixam de escolher a que mais seductora se lhes apresente Horas depois
38. a Igreja acarretaria o inconveniente da circula o da leitura perniciosa Na imprensa cat lica o argumento era repercutido em tom de den ncia e alerta ao p blico leitor pois o mau livro estava por toda parte ao alcance da juventude mal orientada que o encontrava nas prateleiras das livrarias ou junto caixa do engraxador O grau de combate s leituras perniciosas atravessou as primeiras d cadas do s culo XX e em alguns lugares ainda se observou o confisco e o 37 L isto Jornal O Nordeste Fortaleza 01 jan 1929 p 02 219 incentivo fogueira em pra a p blica dos livros condenados pela moral cat lica O que se percebeu que o jornal cat lico valorizava o papel formador da leitura Diante da oferta de livros impr prios a Igreja estimulava a publica o e difus o de obras moralizadoras exemplares e piedosas propagando um discurso que incentivava a leitura de vidas de santos e santas biografias de religiosos e religiosas missais e livros de ora o O estudo revelou no entanto que tais obras pareciam n o mais despertar o interesse do p blico leitor o que tornou poss vel a recomenda o da publica o e da leitura de romances contos e folhetins desde que devidamente moralizados e em sintonia com os preceitos da moral cat lica Ao lado do livro e do incentivo boa leitura a estrat gia de forma o valorizava a linguagem cinematogr fica Aqui tamb m se observou ig
39. agrado e proveito Um grande e grosso volume de mais de 500 paginas Por m um livro que se l com agrado e proveito E digamos uma historia romanceada da vida de Jesus rigorosamente calcada sobre os textos evang licos e deliciosamente escripta em estillo desprentencioso de uma encantadora singeleza Ao classificar a obra como sendo uma hist ria romanceada a cr tica do jornal buscava atribuir lhe o qualificativo de leitura desprentenciosa leve e agrad vel em contraponto ao estigma de obra religiosa longa e enfadonha No entanto quando j gozava de reconhecimento da Igreja cat lica Huberto Rohden passou a propor uma forma diferenciada de interpretar e pregar o evangelho defendendo uma vis o de cristianismo diferente daquela aceita pela maioria do clero brasileiro Assim os livros escritos por Rohden defendendo a vis o de um cristianismo integral desagradavam a cr tica 327 328 Que dizem do livro Jesus Nasareno Jornal O Nordeste Fortaleza 04 dez 1935 p 03 A respeito das pol micas e conflitos envolvendo a atua o do Padre Huberto Rohden ver ALVES Elza Daufenbach Nos bastidores da C ria desobedi ncias e conflitos relacionais no intra clero catarinense 1892 1955 Tese de Doutorado Florian polis UFSC 2005 196 cat lica que os acusava de aprecia es d bias acerca dos ensinamentos b blicos e da Igreja e por isso passaram a ser vistos como n o recomend
40. algo de aux lio material aos doentes mais necessitados 52 51 Jornal O Nordeste Fortaleza 22 mar 1936 p 04 Trechos dos Relat rios de Visita o aos Enfermos da Pia Uni o das Filhas de Maria Estes relat rios eram elaborados pelo grupo de visitadoras Cada grupo era formado por quatro Filhas de Maria A cada m s organizava se um grupo para fazer visitas aos enfermos nas casas da cidade Sobre essas visitas elas deveriam apresentar um relat rio detalhado dos bairros casas e doentes visitados bem como de toda a assist ncia prestada Manteve se a grafia original do documento 40 Praticar caridade e dar esmolas numa cidade onde as jovens eram conhecidas a partir dos nomes de seus pais podia ganhar uma dimens o pol tica e essa assist ncia material podia despertar sentimentos de gratid o nas fam lias assistidas Num contexto onde as elei es chegavam a ser decididas por menos de duas dezenas de votos essa gratid o podia ser revertida em alguns votos importantes A d cada de 1930 em Limoeiro foi marcada por mudan as na economia local Foi nesta d cada que as fortunas constru das base da cera de carna ba se consolidaram e com elas o acirramento das disputas pol ticas Os partidos bipolarizados eram os representantes dos segmentos pol tico sociais nos quais a cidade estava dividida a elite Cartorial e os comerciantes enriquecidos Enquanto seu dinheiro trazia s mbolos do progresso os novos ricos ta
41. catholica tem que lan ar quanto antes um Monteiro Lobato seu sob pena de o criador do Visconde de Sabugosa causar grandes estragos entre os petizes de quem se torna um dolo Para a imprensa cat lica era importante ressaltar ao p blico leitor feminino que n o era permittido nunca sacrificar a moral literatura por isso n o bastava um livro ser literariamente bem feito mais importante que fosse moralmente correto por isso a resenha do livro Pureza de Lins do Rego afirma Literariamente o livro bem feito Moralmente vitando E como s consci ncias christ mente formadas n o permittido nunca sacrificar a moral literatura para as mesmas o romance Pureza deve ser classificado na galeria dos livros condemnaddos Para a Igreja incentivar a leitura de obras que falassem mal da religi o era um crime merecia puni es severas visto que a influ ncia de obras anti religiosas podia trazer s rias consequ ncias s leitoras e suas fam lias o caso da menina que teve sua alma arruinada e o senso moral obscurecido pelas imund cies que o pai lhe dera a ler Desviada pela literatura perniciosa a jovem atentara contra a vida do pr prio pai H pouco o j ri de Anversa condemnou a dez annos de trabalhos for ados uma mocinha que attentara contra a vida do pae Os jurados admittiram duas circumstancias attennuantes a pouca idade da accusada dezeseis annos e o
42. citava os livros de Zola trazendo cena um autor que a Igreja julgava como esquecido Ninguem pode negar o mal que est produzindo a exhibi o do filme Emile Zola que apresenta um escriptor immoral ao ultimo ponto num ambiente de simpathia fazendo ainda uma enorme propaganda dos seus livros cujos nomes s o citados O mal vae ser causado pela leitura dos livros porque o filme n o tem scenas immoraes Mas n o fosse o cinema evocar uma figura esquecida os seus livros n o voltariam a ser lidos Para exemplificar de forma mais contundente o efeito nocivo que o cinema podia provocar na sociedade era tamb m comum a narrativa de casos reais que noticiavam trag dias e desvios de conduta influenciados pelo cinema E novamente eram as crian as que figuravam como v timas mas n o as nicas da mal cia nas fitas projetadas nas telas do cinema A crian a s mbolo maior de pureza e inoc ncia se transformava no maior exemplo de como o ser humano mesmo o mais puro e inocente era suscet vel s tenta es mal ficas fossem nas p ginas de um livro ou na luz m gica do cinema o caso do relato envolvendo o personagem de faroeste Tom Mix muito popular no cinema nas primeiras d cadas do s culo XX a cada passo os factos comprovam o effeito desastroso que essas id as m s v o produzindo H tempos no Rio Grande do Sul uma crean a bancando o Tom Mix matou innocentemente um 168 pas O
43. com as obras pias modelares devido aos efeitos exagerados que esse tipo de literatura podia suscitar Em seu estudo sobre os h bitos de leitura nos claustros dos s culos XVII e XIX Leila Mezan Algranti verificou que as leituras de vidas exemplares eram temidas pelos excessos que podiam suscitar havia certas obras que embora permitidas pelos rg os censores eram temidas justamente pela forma como poderiam ser lidas Nesse caso incluem se as que podiam despertar nos fi is excessos que fugiam ao controle da Igreja como no caso dos livros de m stica ou vidas exemplares que incentivavam o visionismo os autoflagelos e os id ias de santidade Em meio s mudan as sociais n o eram apenas as leituras do acervo da biblioteca que atra fam as associadas A biblioteca da Pia Uni o das Filhas de Maria n o era o nico espa o de leitura que elas podiam dispor na cidade Na d cada de 1930 a cidade de Limoeiro tamb m passou a contar com uma livraria Nas prateleiras da Livraria S o Sebasti o as possibilidades de leitura eram novas L encontravam se os livros direcionados s Filhas de Maria como o Manual da Pia Uni o e os livros doutrin rios e de ora o Mas tamb m outras leituras entre elas livros e revistas que apontavam para os ares modernizadores Novos mundos novas imagens de mulher novas 330 Ata de Reuni o Mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 01 de julho de 1934 331 ALGRANTI Leila Meza
44. como uma das flores a Maria as leituras espirituais o que demonstra que a leitura piedosa tornara se obriga o cotidiana das Filhas de Maria Por outro lado observa se tamb m que ao menos no que diz respeito a essa contabilidade da f a medida que a d cada de 1930 avan ou uma certa neglig ncia por parte das Filhas de Maria come ou a ser apontada pela documenta o Esse descuido das associadas verificado nos planos espiritual e material Paradoxalmente na d cada onde a Pia Uni o das Filhas de Maria vai experenciar o seu maior crescimento as Flores de Virtude tecidas Maria bem como as contribui es financeiras mensais oferecidas congrega o durante as reuni es sofrem um decr scimo A contribui o mensal que as associadas ofereciam irmandade n o tinha um valor estabelecido e por isso variava de acordo com as posses de cada associada 61 Tinha aquela contribui ozinha que a gente dava n Qualquer besteirinha n o era muita coisa n o Todos os m s havia a missa da associa o era no primeiro domingo de cada m s Depois da missa havia aquela sess o a faziam aquela ata e todo mundo dava aquela contribui ozinha n De acordo com as posses da pessoa A quantia arrecadada era utilizada para o pagamento da esp rtula da missa ao diretor e dos pequenos gastos da irmandade A presta o de contas era realizada mensalmente pela tesoureira que apresentava os
45. continuariam a s lo se n o tivesse cedido tenta o mulher V Es tu a nica respons vel pelo crime humano que sejas pois a redemptora que com teu sacrif cio regeneres o homem de hoje pervertido e insens vel Oh Mulher Nasceste para a obedi ncia obedece Al m das preocupa es sobre o que o p blico feminino n o deveria ler a Igreja cuidava do que deveria ser lido Diante da import ncia e da influ ncia que a leitura podia ter na vida de uma mulher ela se transformava numa eficiente ferramenta de forma o e por isso al m das obras piedosas as leituras que orientavam as mulheres sobre o seu papel na sociedade de acordo com as prescri es cat licas eram difundidas e tinham sua leitura incentivada 3 3 2 Formando a mulher esposa m e A Pia Uni o das Filhas de Maria quer formar FILHAS dedicad ssimas a seus pais e ESPOSAS verdadeiramente crist s que fomentem em suas casas o amor a virtude e a piedade e eduquem os seus filhos no santo temor de Deus Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria O foco da educa o moral e religiosa das Filhas de Maria se ligava preserva o da virtude e da pureza mas o casamento era incentivado nos c rculos cat licos que viam no destino das mulheres marido e filhos ou o convento Por isso as jovens associadas da Pia Uni o tamb m sonhavam com o casamento A reputa o e recato das Filhas de Maria eram atrativos que as associadas procuravam exaltar aos jove
46. da Pia Uni o na d cada de 1930 Os cargos da Irmandade traziam para as associadas escolhidas um maior prest gio social Melhor do que ostentar o t tulo de Filha de Maria era ostentar os cargos de presidente secret ria tesoureira ou diretora da Pia Uni o das Filhas de Maria Judite Chaves Saraiva era conhecida por sua lideran a pol tica fato mencionado pela cr nica hist rica do munic pio Dona do cart rio local chegou a ser conhecida como coronel de saias tendo em vista seu poder pol tico na regi o De acordo com Francisco de Assis Pitombeira na pol tica Da Judite foi um Coronel vestido de saia Comandava os chefetes pol ticos com a efici ncia e o autoritarismo de um caporal Judite articulava se com muitos nomes da pol tica e em anos de elei o sua casa transformava se em n cleo de articula o onde ela recebia a todos como uma esp cie de matriarca Seu prest gio pol tico era maior do que o de muitos coron is e caciques pol ticos da regi o A esse respeito Ant nio Pergentino Nunes afirma 3 PITOMBEIRA Francisco de Assis Coment rio apud LIMA Lauro de Oliveira Na Ribeira do Rio das On as Op cit p 329 33 Nos anos em que ocorriam elei es a casa de dona Judite recebia pol ticos dos mais diferentes matizes dependendo claro dos acordos realizados pelo deputado Franklin Chaves Naquela resid ncia estiveram grandes estrelas da pol tica cearense e porque n
47. das Filhas de Maria Observando a lista das primeiras alunas da Escola Normal Rural se verifica que das sessenta alunas de Limoeiro dezoito eram Filhas de Maria Isto representa um percentual de 30 das alunas limoeirenses 20 LIMA Lauro de Oliveira Sistema Escolar de Limoeiro do Norte Op cit p 128 28 AJOLO Marisa amp ZILBERMAN Regina A forma o da leitura no Brasil Op cit p 262 22 LOURO Guacira Lopes Mulheres na sala de aula In Hist ria das mulheres no Brasil 92 ed S o Paulo Contexto 2007 p 450 28 Cf cruzamento do Livro de Registro das Filhas de Maria de Limoeiro com a listagem dos primeiros alunos da Escola Normal publicado em LIMA Lauro de Oliveira Sistema Escolar de Limoeiro do Norte Op cit p 149 151 171 A matr cula de muitas associadas da Pia Uni o na Escola Normal limoeirense fortaleceu a liga o desse grupo de mulheres com o magist rio Uma vez que o sistema escolar do munic pio ia se expandindo oportunidades para ingressar como professoras no ensino p blico e privado iam surgindo para as normalistas limoeirenses e a medida que as alunas da Escola Normal conclufam o curso normal assumiam as salas de aula do munic pio ou dedicavam se ao ensino particular em suas pr prias casas Analisando o corpo docente do Grupo Escolar Pe Joaquim de Menezes percebe se a influ ncia das Filhas de Maria limoeirenses no ensino do munic pio Cinco anos ap s o ingresso da p
48. de Maria e a dar bom exemplo a todos e em tudo e em toda parte de modo que o seu t tulo n o seja s decorativo e por isso toda a culpa que causa esc ndalo s suas companheiras ou a outras pessoas deve ser objeto de aviso repreens o castigo ou at expuls o da Congrega o grifo meu Essa vigil ncia m tua tornava as rela es entre as Filhas de Maria tensas suscet veis a acordos internos e prop cias a disputas O fato de serem orientadas a comunicar os poss veis desvios das companheiras as transformava em potenciais delatoras A cumplicidade advinda do medo de serem denunciadas ao diretor certamente fazia com que estabelecessem pactos de sil ncio e acobertamento rec proco de pequenas transgress es namoricos ap s a missa conversas n o recomendadas leituras mundanas pequenos pecados que se comunicados ao diretor poderiam acarretar advert ncias e at expuls es Entretanto no interior de um grupo que havia iniciado com um n mero reduzido de associadas e que come ava a crescer as rela es de amizade e 79 Jornal O Cear Fortaleza 14 nov 1926 p 02 8 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit p 55 58 cumplicidade certamente tendiam a dividirem se em n cleos de afinidades pessoais o que colaborava para o surgimento de conflitos Sob a capa de uma identidade coletiva a imagem consensual mas deslocando se para as individualidades as fissuras emergem trazendo tona conflitos e
49. de piedade o manual traz leituras significativas no que diz respeito ao campo de doutrina o cat lica Direcionado jovens mulheres perfil da maioria das Filhas de Maria deixa claro a concep o que tem do sexo fr gil como sendo prop cio a todo instante ao pecado Embora traga orienta es de ordem pr tica sobre o funcionamento e regras da Pia Uni o procura deter se nas instru es que giram em torno do cuidado de si A preocupa o que se observa no Manual acerca do pensamento e instintos femininos uma amostra de como esse livro tinha por fim estabelecer normas de autocontrole a serem seguidas pelas associadas 156 z Guardar mod stia nos olhos e mais sentidos uma das Flores da Virtude exigidas de uma Filha de Maria e resume de maneira exemplar o intuito dos ensinamentos moralizantes que visam disciplinar os sentidos Orientadas a n o usarem livremente seus pr prios sentidos essas mulheres eram levadas a se fecharem para o mundo Os olhos o tato e todos os outros sentidos que levam ao contato com o mundo impregnando se dele deveriam ser usados com parcim nia por essas jovens que n o podiam se entregar s sensa es que o mundo oferecia As Flores da Virtude constituem um dos muitos t picos moralizantes que podem ser encontrados no Manual da Pia Uni o A obedi ncia a esses t picos era um exerc cio de toler ncia e educa o do corpo ou melhor de nega o ao pleno usufruto dele O corpo fem
50. do Norte 2004 Por tr s de uma fita colorida o valor de cada um As irmandades leigo religiosas de Limoeiro do Norte Ce In Moanga Revista dos Alunos da P s gradua o em Hist ria Social da UFC v 1 no 1 2006 ANDRADES Marcelo Ferreira de Fidelidade como receita de sucesso um estudo de caso da editora Vozes nas primeiras d cadas do s culo XX In Anais do Semin rio Brasileiro sobre Livro e Hist ria Editorial Rio de Janeiro 2004 ARA JO Erick Assis de Conservadorismo e Desordem na cidade de Fortaleza 1940 1945 Disserta o de Mestrado UFPe Recife 1995 227 ARA JO Pedro de Alc ntara Capital e Santu rio miragens russano nordestinas Fortaleza Imprensa Oficial do Cear 1986 ARY Za ra Masculino e Feminino no Imagin rio cat lico da A o Cat lica Teologia da Liberta o S o Paulo Annablume Fortaleza Secult 2000 BARATIN Marc e JACOB Christian Org s O Poder das Bibliotecas a mem ria dos livros no Ocidente Trad Marcela Mortara Rio de Janeiro Editora UFRJ 2000 BENJAMIN Walter O Narrador In Magia e t cnica arte e pol tica ensaios sobre literatura e hist ria da cultura Obras Escolhidas 7 ed S o Paulo Brasiliense 1994 BOSCHI Caio C sar Os Leigos e o Poder irmandades leigas e pol tica colonizadora em Minas Gerais S o Paulo Atica 1986 BOSI Ecl a Mem ria e Sociedade Lembran as de velhos 32 ed S o Paulo Companhia das Letras 1994
51. dos santos e dos justos constrastava a insol ncia vazia da literata metida a ath a ou antes a at a na opini o humoristica de Candido de Figueiredo a qual ainda com as paginas em branco do livro do merecimento e da valia authentica esfor ava se por firmar credito de illustre mediante vituperios descortesias pedantismos e blasphemias O desfecho moralizante do conto atribui s personagens destinos opostos em consequ ncia de suas personalidades Ao bom e belo o hemisf rio da perfei o Ao feio e extravagante o sombrio hemisf rio da iniquidade Viveram como ant podas no hemispherio da perfei o esse archanjo em forma humana que era o espirito deslumbrante de Alda no da iniquidade essa f ria em que se condensaram as sombras de todos os defeitos e extravagancias a fealdade de Herminia As hero nas cat licas ignorantes das coisas do mundo s o retratadas como seres quase et reos seus sentidos n o se contaminavam com os desejos do corpo ve culo eficaz do pecado Como prega o jornal cat lico preciso ambicionar satistazer mais s exig ncia excellentes da alma do que aos mpetos selvagens e licenciosos do corpo O corpo rebaixa a alma eleva esta voa serena em regi es limpas e higienicas aquelle rasteja no lodo vil e nas torpezas deste mundo S a Igreja cuida de elevar a alma para que ella n o se contamine desgra adamente no contacto permanente com o corpo Essa contamin
52. e beleza de Alda s o atributos de sua bondade mod stia e caridade Sua eleg ncia e fidalguia natural do seu porte caracter sticas de seu lindo perfil de Filha de Maria se opunham aos caprichos da vaidade refletidos nas modas e maquiagem feminina Descri o que contrasta e busca desconstruir a imagem de beata vitalina atribu da quelas que faziam parte de associa es religiosas As Filhas de Maria hero nas apresentavam os atributos da fidalguia aristocracia altivez nobreza dinastia Admiradores n o os tem ao contr rio tem vassallos rendidos sua beleza 205 206 Contraste Jornal O Nordeste Fortaleza 17 ago 1928 Contraste Jornal O Nordeste Fortaleza 17 ago 1928 129 A irm sua ant poda trazia em seu g nio de bruxa pecados mortais para uma donzela cat lica literata e ousadamente ath a Herm nia a anti hero na do conto desafiava os valores morais cat licos e ao ousar dominar a escrita e buscar conhecimento tornava se inevitavelmente uma criatura pedante descort s e blasfema na articula o entre o feio e o mal Herminia era um genio de bruxa na deformidade de horrendo aleij o Contrastava descompassadamente com aquella superior nobreza que irradiava do lindo perfil da Filha de Maria exemplo vivo da mod stia e caridade em cujas ac es m nimas refulgia a inconfund vel altivez da dinastia interna
53. elles odeiam o proletariado justamente como n s o odeiamos Romero respondendo diz Nossas animosidades pessoaes n o t m o minimo valor comparadas aos interesses dos trabalhadores do mundo Tenho absoluta certeza de que chegar o dia em que Moscou dictar a pol tica ao mundo Depois entra em scena uma mulher de nome Zora pretinha nascida nas selvas africanas mas que parece ja entender muito de pol tica tanto que declara Voc pertence classe dos que trabalham e leal para os oper rios de seu pais Mas aquelles fazem parte da classe capitalista O seu governo um governo capitalista de tal modo opposto as nossas cren as que jamais reconheceu o governo sovi tico Al m disso em sua avidez esses porcos est o vendendo a pr pria ra a e mesmo a pr pria p tria por uns miseraveis dollares Eu os odeio Romero enthusiasmado responde Voc uma esplendida vermelha minha querida Zora De tal modo estupefactos com a ast cia dos editores de Tarzan o Invenc vel os cr ticos cat licos perceberam que j n o bastava julgar as obras por suas capas era necess rio l las com aten o 132 O que os paes devem ler Tarzan o invenc vel livro de propaganda communista Jornal O Nordeste Fortaleza 29 dez 1937 p 04 133 Idem Ibdem 91 Novamente figura masculina que se atribui superioridade intelectual para ler e avaliar as obras que deveriam ser lidas em fa
54. em textos escolares e liter rios de 1800 a 1930 Dispon vel no site do Instituto de Estudos de Linguagem da Unicamp http www unicamp br el memoria projetos ensaios ensaio23 html HOLANDA Cristina Rodrigues Museu Hist rico do Cear a mem ria dos objetos na constru o da Hist ria 1932 1942 Fortaleza Museu do Cear Secult 2005 Outras Hist rias v 28 HOORNAERT Eduardo Forma o do Catolicismo Brasileiro 1550 1800 3 ed Petr polis Vozes 1991 HUNT Lynn A nova Hist ria Cultural Trad Jefferson Luiz Camargo 2 ed S o Paulo Martins Fontes 2001 LAJOLO Marisa amp ZILBERMAN Regina A forma o da Leitura no Brasil S o Paulo tica 1996 A leitura rarefeita Leitura e Livro no Brasil S o Paulo tica 2002 LOURO Guacira Lopes Mulheres na sala de aula In Hist ria das mulheres no Brasil 9 ed S o Paulo Contexto 2007 MAGALDI Ana Maria Bandeira de Mello Mulheres no mundo da casa imagens femininas nos romances de Machado de Assis e Alu zio Azevedo In COSTA Albertina de Oliveira amp BRUSCHINI Cristina Org s Entre a virtude e o pecado Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1992 230 MALUF Marina amp MOTT Maria L cia Rec nditos do mundo feminino In SEVCENKO Nicolau org Hist ria da Vida privada no Brasil Vol 3 S o Paulo Companhia das Letras 1998 p 367 422 MALUF Marina Ru dos da Mem ria S o Paulo Siciliano 1995 MANGUEL Alberto Um
55. es H li es de humildade e de ren ncia que deveriam ser introjetadas pelas leitoras cat licas Em sua leitura aprenderiam o que toda boa Filha de Maria deveria saber obedi ncia submiss o fidelidade Igreja ignor ncia do mundo A li o tal como Z lia ensinava era simples devemos trabalhar para sermos santos Embora divulgados pelos jornais cat licos recomendados pelos sacerdotes em suas par quias o tom piedoso que dominava os romances religiosos nem sempre agradavam as leitoras cat licas Mesmo os cr ticos do peri dico cat lico em seu esfor o de orienta o das leituras femininas apontavam os argumentos das leitoras para a n o predile o pelos livros indicados Os livros que nos aconselham como bons n o t m gra a Os livros que nos aconselham como bons n o t m gra a objectar o outros Ou n o alimentam devaneios que depois ninguem quereria assignar com o proprio punho Com a praga das leituras acontece desgra adamente o mesmo que com a praga das modas fala se fala se e tudo continua no mesmo A moda porque moda os livros porque s o bem escriptos 7 5 Certamente era dif cil alimentar devaneios e romantismo com a leitura de obras piedosas e moralistas Obras que elevavam a vida a um est gio de sublima o superior e os atos de seus personagens purifica o Para a Igreja a rela o leitora x leitura em um ambiente privado sob a capa de um bello roma
56. fazia Uma mo a que l romance como este Assim uma nica leitura impr pria era suficiente para macular a inoc ncia da jovem leitora Ella j n o deve ser a mesma como nenhuma jovem cat lica uma vez que mantivesse contato com uma leitura pr pria o seria O que fora lido n o podia ser completamente esquecido e as sensa es despertadas essas n o mais adormeceriam facilmente Para remediar os efeitos do mau livro a solu o encontrada no conto era dr stica atear fogo ao inimigo Uma vez condenado virar cinzas o livro perde seu perigo latente o de ser tomado para leitura mesmo s escondidas dos pais Transformado em cinzas o mau livro n o mais poderia voltar s inocentes m os das leitoras cearenses Esse incentivo queima dos livros tidos pela Igreja como maus encontrava em alguns lugares adeptos calorosos como na cidade cearense do Crato onde havia inclusive a campanha da Queima dos Livros Maus conforme relata Otonite Cortez 81 Condenados a arder no fogo na pra a p blica Pra a da S os livros maus eram coletados numa campanha na qual entravam em disputa por maior arrecada o de livros partidos formados por crian as e adolescentes o Aspirando e Benjaminato da A o Cat lica e pela Juventude Estudantil Cat lica Feminina JECF Se para as jovens cat licas todas as inconveni ncias das leituras deveriam ser censuradas ao p b
57. gastos e o saldo de caixa da congrega o As contribui es feitas em dinheiro passam a apresentar um volume mais significativo somente por ocasi o das duas grandes festas da Pia Uni o durante o ano a festa de Santa In s em janeiro e a festa de Nossa Senhora da Imaculada Concei o em dezembro Ou ainda quando o diretor solicitava ajuda extra para os constantes empreendimentos da par quia O procedimento para ingresso de novas associadas na irmandade era simples por m seletivo e excludente Embora a irmandade das Filhas de Maria fosse uma institui o religiosa com forte influ ncia clerical e que pelos seus princ pios evang licos deveria acolher a todas que nela desejassem figurar n o era exatamente isso que ocorria Para o ingresso de novas associadas ainda que n o houvesse uma determina o expl cita especificando um perfil s cio econ mico para as Filhas de Maria as diretrizes que regulavam a entrada de novas mo as evidenciavam o seu car ter excludente De acordo com o manual da irmandade para que uma jovem pudesse ingressar na Pia Uni o esta garantir perante o diretor o seu procedimento irrepreens vel e a sua piedade sincera com o testemunho de duas Filhas de Maria da plena confian a do Diretor Para isto depois de consultado o diretor s bre as Filhas de Maria que deve apresentar como suas fiadoras apresentar se com estas ao diretor na sede da congrega o pedindo lhe para ser admitida como
58. l ngua vern cula s se deu a partir do Conc lio do Vaticano Il 157 O que o Missal Jornal O Nordeste Fortaleza 07 out 1936 p 03 103 missa centro de toda nossa religi o assim apela aos cat licos cearenses Com enormes sacrif cios para uns e menores para outros certo todavia poderemos possuir todos um missal em l ngua vern cula 8 Empenhada em fazer frente aos romances fossem estes recomendados ou n o a Igreja n o ignorava sua influ ncia e aceita o pelo p blico leitor cearense Por isso os cr ticos cat licos n o se furtavam da estrat gia de referenciar a leitura de obras religiosas com a leitura leve dos romances Com essa estrat gia de propaganda buscavam aumentar a aceita o dessas obras religiosas junto ao p blico dos romances Desde muito nos estava faltando uma edi o do Novo Testamento em linguagem moderna acess vel intelig ncia dos leitores de romances e revistas ilustradas E um verdadeiro prazer ler os livros sacros neste estilo fluente claro simp tico ouvir as eternas e imut veis verdades da revela o numa linguagem nossa bem nossa e isto sem sacrificar um s pensamento do sentido primitivo 5 Partindo do pressuposto que a leitura de obras religiosas era menos atraente e mais dif cil a Igreja e sua imprensa d o mostras de como concebiam a imagem do p blico leitor feminino um p blico de forma o fr gil Despreparadas e com uma e
59. largamente incentivado passara a ser sin nimo de sonho e fantasia Uma esp cie de fuga da realidade das limita es das cidades interioranas e uma alternativa quelas leituras permitidas e que pregavam o sacrif cio e a virtude ao inv s da felicidade e do prazer terreno Era o contato com um mundo maior luxuoso e belo Um mundo de sonhos ou a realidade travestida de elementos de encanto Nesses novos mundos que as p ginas dos romances afrancesados traziam n o preocupavam se com a seca ou com o inverno se a chuva viria ou n o O calor era ameno e as demoiseles andavam paramentadas de longos e volumosos vestidos de tecidos nobres Nos ambientes retratados flores ex ticas enfeites caros e detalhes desconhecidos ou fora do alcance das cearenses Para as associadas da Pia Uni o limoeirense era algo al m dos tantum ergum da Igreja ou do renunciate a ti mesma das leituras piedosas Era sonho um mundo de aromas que n o aquele exalado pelo incens rio ou pelas v rzeas de carnaubais 24 SAINT OGAN Claude O segredo do velho Martin Cole o Menina e Mo a Livraria Jos Olympio Editora 1947 167 p gs Sinopse Capa traseira 2235 Idem Ibdem 136 Outra forma liter ria recomendada eram os folhetins que o jornal O Nordeste publicava em suas p ginas e que a partir da d cada de 1930 tornaram se mais frequentes nas edi es do peri dico A publica o dos Folhetins a contar pela assiduidade com que p
60. mal maior o concubinato Na Pia Uni o das Filhas de Maria por mais de uma vez registraram se os raptos consentidos e a fuga de associadas com seus amados ficava registrada na documenta o da irmandade 244 Ata de Reuni o Mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 05 de Novembro de 1933 p 05 V e 06 F 245 Livro de Registro das Filhas de Maria de Limoeiro p 14F sas FALCI Miridan Knox Mulheres do sert o Nordestino In Hist ria das mulheres no Brasil 2 ed S o Paulo Contexto 1997 p 267 247 Idem p 268 147 Ultimando chamou nos ainda a aten o sobre as Filhas de Maria que fugiam para contra rem o matrimonio fazendo nos algumas considera es relativaz sobre a concordia familiar afim de n o chegar a este ponto para que no Livro de Registro n o seja gravado pela segunda vez ato semelhante O rapto de uma associada n o maculava apenas a reputa o da jovem manchava o nome de sua fam lia e a imagem da Pia Uni o das Filhas de Maria enquanto institui o zeladora da moral e dos bons costumes de suas associadas Por esses motivos o rapto era assunto tratado com discri o e cautela n o s pelas fam lias mas tamb m pelo diretor e associadas da irmandade Buscava se no sil ncio e ocultamento do fato amenizar os efeitos do esc ndalo para que a Congrega o mantivesse sua imagem de basti o da pureza e virtude femininas j que o seu fim espec fico conforme apontam os es
61. mesmo os bons romances sempre perigosos para a juventude O discurso da Igreja condenando os romances caudat rio do discurso corrente no s culo XIX onde os romances mesmo aqueles n o ofensivos moral eram vistos com desconfian a pois tirava os rapazes de atividades proveitosas e exaltava a imagina o das mo as de acordo com Leila Mezan Algranti Para alguns todos os romances independentemente de seus conte dos deveriam ser censurados porque mesmo que alguns possam ser inocentes e sirvam para recreio tais leituras desviam os mancebos das aplica es proveitosas exaltando a imagina o das pessoas mo as do sexo feminino A Revista Eclesi stica Brasileira observava que a leitura era potencialmente perigosa porque tocava as sensibilidades Somente o leitor destitu do de paix es e de sensibilidade n o deveria ser temido de outro modo a leitura se transformava numa amea a em virtude das tend ncias ao pecado que o leitor e especialmente a leitora carregava consigo Se todos os que l em fossem leitores sem sensibilidade e sem paix es a leitura seria destitu da do perigo de que a responsabilizamos e n o haveria nela esse perigo que amea a at o futuro de um povo Infelizmente por m devemos sempre contar com as consequ ncias do primeiro pecado em n s Para a REB o efeito perigoso da leitura estava na imagina o do leitor quando o livro se fechava pois as im
62. modas Conhe o pessoas respeitaveis e catholicas que acompanham os vestu rios da moda actual Ai Quantas Filhas de Maria tenho topado de pernas mostra por essas avenidas Jornal O Nordeste Michelle Perrot afirma que a mem ria feminina vestida A roupa a sua segunda pele a nica de que se ousa falar ou ao menos sonhar A vestimenta bem comportada de acordo com as orienta es da igreja era o primeiro compromisso p blico assumido pelas Filhas de Maria A indument ria era o primeiro fator a ser atentamente vigiado principalmente por ser a roupa uma esp cie de casca entre o corpo e o mundo Na mem ria das Filhas de s4 PERROT Michelle As mulheres ou os sil ncios da hist ria Trad Viviane Ribeiro Bauru EDUSC 2005 p 39 44 Maria as normas da indument ria s o as primeiras reminisc ncias que afloram Tudo de branco nesse tempo se usava v u mantilha a fita azul todo mundo ia de branco Filhas de Maria era de branco fita azul e seu v u branco depois deixaram de usar n v u mantilha Tinha que andar de meia por que era o regime daqui tudo de meia gt Era tamb m a roupa bem comportada e os adere os de uma filha de Maria que deviam comunicar sua identidade o seu grau de respeitabilidade e pureza O corpo ve culo de pecado portador de sentidos e instintos deveria ser zelosamente coberto A exposi o do corpo de partes dele era uma abertura tenta o e ao pecado
63. no pesco o Uma a uma aos pares as mo as se approximavam do arcebispo todo paramentado e recebiam a fita verde ou azul um manual e um diploma o diploma de miss Filha de Maria Miss Filha de Maria um t tulo que pode ser alcan ado por todas as mo as cearenses N o d renome nem faz reclamo como nos concursos mundanos Mas Jornal O Nordeste Fortaleza 19 jan 1929 p 04 49 demonstra pureza virtude mod stia sem que deixe de haver gra a encantos e belleza amp A miss Filha de Maria era na realidade a mulher com quem se devia casar Longe de representar a fei ra elas representavam a seguran a de um lar ajustado com valores crist os s lidos Contrastando a frivolidade das melindrosas para o flir e a seriedade das Filhas de Maria bem compostas em seu papel de guardi s do lar o jornal comparava estere tipos de mulher refor ando o imagin rio da mulher para casar e da mulher para passatempo E agora dize com franqueza Entre a melindrosa que veste maillot para todo um populacho contemplar e uma donzella que p e o v o de Filha de Maria e usa mangas compridas vestidos s rios tem modos comedidos qual dellas merecia a tua escolha para companheira ao lar que sonhas constituir Ah Nem se discute Digam o que disser fa am o que fizer ningu m pode tirar da cabe a do homem que a verdadeira a boa a digna esposa n o pode sair desse meio de frivolidades em que des
64. nos mais um pouco e demos o bom exemplo Como a falta de boas leituras era vista pela Igreja como causa da decad ncia moral da sociedade a Igreja passou a concentrar esfor os para oferecer um maior n mero de publica es de cunho religioso Al m dos livros escritos por padres e religiosas novas edi es da B blia e do Novo Testamento bem como publica es que visavam explicar os dogmas da f e da doutrina passaram a ser anunciados aos leitores d O Nordeste o caso da s rie de artigos incentivando a aquisi o do missal livro que explicava o ritual da missa numa poca em que esta era ainda rezada em latim Procuremos custa mesmo do sacrif cio adquirir um missal em l ngua vern cula pois com este pequenino sacrif cio j come amos a nos preparar para melhor compreender o sacrif cio que vamos oferecer a Deus Mesmo admitindo o custo elevado da obra e a dificuldade de utiliz lo o jornal cat lico se empenhou no incentivo aquisi o e uso do Missal posto ser a colet nea de c nticos hinos e preces do cristianismo desde seus prim rdios e tamb m a chave para a compreens o do sacrif cio da Santa 154 nm Bibliotheca das Mo as Jornal O Nordeste Fortaleza 05 nov 1936 p 08 O Papel da mulher na sociedade e na fam lia Jornal O Nordeste Fortaleza 02 ago 1935 02 158 At meados da d cada de 1960 o ritual cat lico da Missa era realizado em Latim A mudan a para
65. o Exclu da por ter sido raptada Apesar dos in meros alertas em torno das leituras comportamentos desviantes continuavam a ser verificados mesmo entre grupos de car ter piedoso como a Pia Uni o das Filhas de Maria Desobedi ncias fugas e exclus es eram sinais de que os romances continuavam envenenando as almas das donzelas cat licas com seus enredos de amores idealizados ou imposs veis Ao escolher ser raptada pelo pretendente e viver seu amor proibido Maria de Andrade pode ter sido influenciada por romances perniciosos aliado ao fato de que na cultura nordestina o rapto era algo presente no cotidiano conforme Miridan Knox Falci Muitas vezes o namoro n o desejado pelos pais encorajou o rapto da mo a pelo pretendente Mas um rapto consentido pela mulher com a promessa de casamento pelo raptor O rapto ou a sedu o como os parentes julgavam na poca trazia contrariedades para a fam lia Encorajadas pelo romantismo dos romances adocicados que gostavam de ler a id ia de fuga com o amado se tornava uma alternativa rom ntica mesmo trazendo descontentamento s fam lias Miridan Knox Falci alerta para fato de que a fuga ou rapto podia significar id ias de liberdade vontade pr pria uma vez que depois da fuga de uma filha a fam lia para n o ver sua reputa o manchada mesmo n o aprovando o noivo tendia consentir o casamento como forma de evitar um
66. o Revmo Pe Zacharias Ramalho que com palavras repassadas de un o estimulava as jovens filhas de Maria e aspirantes a se elevarem ao apogeo do aperfei oamento moral e religioso que a confraria das Filhas de Maria eram umas das mais bellas institui es dos tempos hodiernos Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 08 de dezembro de 1915 2 A esse respeito ver ANDRADE Maria Lucelia de Nuan as de um ritual de f As prociss es cat licas em Limoeiro do Norte 1940 1980 Monografia de Gradua o em Hist ria FAFIDAM UECE Limoeiro do Norte 2004 2 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 08 de dezembro de 1915 23 O pequeno n mero de associadas colaborou para que a Pia Uni o das Filhas de Maria demorasse a ganhar maior autonomia dentro da par quia de Limoeiro At 1924 as reuni es das Filhas de Maria continuaram acontecendo conjuntamente s reuni es da Confraria da Immaculada Concei o Lentamente a Irmandade das Filhas de Maria como era comumente conhecida no munic pio foi tomando corpo e crescendo em n mero de associadas passando a contar com reuni es exclusivas caixa e documenta es pr prias No entanto na an lise das atas das reuni es realizadas em conjunto algo chama a aten o a capacidade de amealhar donativos que come a a ser demonstrada pelas Filhas de Maria principalmente nas festividades da Padroeira Nossa Senhora da Im
67. o dizer da pol tica nacional Recebia os como se fosse a matriarca de todos eles O regimento da irmandade permitia que mulheres casadas ocupassem o cargo de Diretora Assim tendo frente da congrega o sacerdotes que se relacionavam com sua fam lia Judite Chaves fez parte da Pia Uni o primeiro como vice diretora e posteriormente como diretora No in cio da d cada de 1930 a Igreja Cat lica fundou a Liga Eleitoral Cat lica LEC como estrat gia para se inserir de forma mais direta nas disputas eleitorais com a LEC que a inser o da mulher cat lica na vida pol tica do Estado assumir uma nova dimens o De acordo com Thomas Bruneau a LEC n o era um partido pol tico e objetivava alistar organizar e instruir o eleitorado cat lico e assegurar o voto cat lico para os candidatos que aceitassem o programa da Igreja e concordassem em defend lo afirma o de Bruneau est em sintonia com o discurso da imprensa cat lica que se empenhava afastar da LEC a imagem de partido pol tico A Liga Eleitoral Catholica n o de forma alguma arregimenta o pol tica N o possue qualquer veleidade partid ria E e vae ser com a gra a de Deus a orientadora e a esclarecedora da consciencia catholica brasileira isto da maioria nacional da quase totalidade do nosso povo sobre o direito do voto e o dever de votar bem O fato de n o se declarar como partido desvinculava a Igreja da imagem n
68. o do munic pio e sua proje o entre as cidades cearenses Assim em 1935 alguns dos mais proeminentes comerciantes e donos de carnaubais reuniram se em prol de iniciativas visando a implementa o de um sistema educacional que oferecesse educa o secund ria no munic pio Foi doado um terreno para a constru o da Escola Normal Rural e parte deste foi cedido para constru o do primeiro Grupo Escolar do munic pio o Pe Joaquim de Menezes A campanha em prol da constru o da Escola Normal iniciou com a funda o da Sociedade Pr Educa o Rural de Limoeiro SPERL composta inicialmente por quinze membros O n mero de s cios da SPERL expandiu se a medida que a Escola Normal de Limoeiro ia tomando forma agregando n o apenas limoeirenses mas tamb m de outros munic pios A respeito do modo como se deu a expans o do sistema escolar limoeirense Lauro de Oliveira Lima afirma Acredito que a maneira como foi constitu do o sistema escolar fundamental de LIMOEIRO in dita no Brasil a comunidade os homens ilustres do munic pio financiou mediante aquisi o de a es e mesmo com doa es houve quem contribu sse com material e m o de obra a constru o dos pr dios escolares a partir do Grupo Escolar cujo terreno foi doado ao Governo Estadual pela Sociedade Pr Educa o Rural de Limoeiro Esta disposi o da comunidade enriquecida pela eleva o do pre o da cera de carna ba para financiar obras
69. o que somente isso bastava para condemnar esse livro da autora inglesa Embora um ou outro t tulo recebesse censura os livros da Biblioteca das Mo as e em especial as obras de M Delly traziam uma narrativa compat vel ao conte do moral dos romances cat licos o que os tornava romances honestos Maria Teresa Santos Cunha afirma que para a Igreja eram considerados romances honestos aqueles que colocavam em cena uma boa li o moral e que favorecessem a edifica o da alma e do car ter Entretanto mesmo com ressalvas se um romance era publicado na cole o Biblioteca das Mo as sua leitura se tornava acess vel e podia ser feita sem a interfer ncia dos pais que tendiam a considerar adequados todos os romances que compunham a cole o para mo as A Igreja n o ignorava a aceita o dessa cole o feminina por isso sempre que necess rio alertava aos leitores o perigo trazido por obras impr prias publicadas na Biblioteca das Mo as Dahi o n o recommendarmos a mesma apesar do relamo sic que lhe est o fazendo reclamo este perigos ssimo uma vez que d o o livro como capaz de ser lido por todas as pessoas fazendo parte ainda da Bibliotheca das m as sic 2 As obras dessas cole es traziam nas primeiras p ginas seus fins e seu p blico A apresenta o da cole o Menina e Mo a a define como sendo 20 Livros Novos Jornal O Nordeste Fortaleza 27 nov 1928 p 07 CUNHA
70. piedade destas vossas filhas condenadas a lutar a toda hora contra suas perversas inclina es fazei que por vossa intercess o me santifique V s o podeis e de v s espero Assim seja Mesmo a alegria numa Filha de Maria de acordo com o que Jesus lhe dizia ao cora o deveria ser contida sob pena de danos a sua virtude Evita filha a alegria desmedida porque esta arranca todas as virtudes 2 N o de admirar que mesmo contrariando a orienta o eclesial as jovens cat licas buscassem leituras mais amenas menos graves diferentes dos r gidos ensinamentos morais e religiosos Visando o p blico feminino os romances escritos por franciscanos e outros religiosos come aram a ser fartamente editados no pa s especialmente pela Editora Vozes que se tornou uma esp cie de estandarte da boa leitura do catolicismo Esses romances longe de alimentar a fantasia das donzelas cat licas primavam pelos ensinamentos morais Exemplo desse tipo de leitura o livro Tempestades de Frei Pedro Sinzig um dos romances cat licos mais recomendados nas primeiras d cadas do s culo XX cuja leitura era incentivada pelo exemplo dos personagens modelos perfeitos de abnega o e heroismo Tempestades Em seus dois personagens Iwan e Bascha encontramos dois modelos perfeitos de abnega o e heroismo o que concorre ainda mais para a simpathia que nos merece o admiravel romance em apre o 20 TEPPA Padr
71. que dizem respeito raz o e as ci ncias No dom nio do privado a raz o d lugar sensibilidade Michelle Perrot estudando essa esp cie de divis o de pap is sociais dos g neros resume esse ide rio da seguinte forma 137 Livros amp Letras Jornal O Nordeste Fortaleza 04 nov 1933 p 07 93 Aos homens o c rebro muito mais importante do que o falo a intelig ncia a raz o l cida a capacidade de decis o As mulheres o cora o a sensibilidade os sentimentos Vistas como sentimentais f teis e sonhadoras as jovens mulheres cearenses s o mostradas no peri dico cat lico como leitoras de uma literatura de meia tijela venenosa pelos conceitos e indecente pelos assumptos e que n o condizia com o tipo de leitura aconselhado s donzelas inocentes Era preciso aten o pois a mo a moderna L e quando l de volta dos passeios bailes e theatros o que de mais trivial lhe fica m o romances de Bourget versos de poetas mediocres e revistas mundanas cheias de uma literatura de meia tijela venenosa pelos conceitos e indecente pelos assumptos 3 A leitura de romances trazia o encanto o sonho e a fantasia Com um romance em m os as jovens cat licas visitavam mundos onde belos vestidos farfalhavam e jovens pr ncipes lhes faziam a corte Com este tipo de leitura fugiam do sofrimento e dos sacrif cios presentes nas narrativas de vida das santas e religiosas cat licas
72. que livros circulavam entre elas O empr stimo de livros suscitava trocas de saberes de id ias e de vis es de mundo Percebendo a potencialidade das redes de empr stimo de livros que podiam se formar entre amigos Maria Desid ria em sua coluna semanal incentiva os leitores n o existe apenas a fome material Quantas pessoas conheces tu que t m fome de um pouco de amizade de uma b a palavra uma b a leitura N o poderias tu emprestar um livro a esta ou aquella pessoa A familiaridade com a leitura e a escrita as habilitava a ocuparem na irmandade cargos que exigiam certa habilidade intelectual O saber se constitu a como poder perante o grupo e por isso aquelas que se destacavam no dom nio da escrita e da leitura tomavam a frente de atividades e assumiam a lideran a do grupo Dominando a escrita e a leitura esse grupo de mulheres registrou parte da hist ria de sua associa o Sua trajet ria e seus relatos comp em uma vasta documenta o produzida na irmandade por suas associadas Livros de atas registro de associadas controle da biblioteca e anota es diversas eram cuidadosamente elaborados por estas mulheres Escritas a cada reuni o as atas longe de serem relatos neutros e escassos sinalizam os impasses as tens es e tamb m as formas de auto censura no registro dos conflitos internos do grupo O fato de terem certo dom nio dos elementos da cultura letrada numa cidade onde apenas uma pequ
73. que o jornal aponta ao p blico masculino s mulheres n o cabiam determinados assuntos de car ter mais elevado pois fugiam de seu universo intelectual supostamente limitado e fr gil As resenhas elogiosas ou n o esclareciam os leitores sobre o conte do e os interesses que as obras suscitariam Os contos que envolviam leitura e as resenhas iam estabelecendo um p blico leitor aos homens a leitura s ria da pol tica da economia da sociedade s mulheres os entrechos atraentes e a leveza de estilo como se observa no coment rio sobre o romance de Germaine Acrement Casar bom da cole o Bibliotheca das Mo as com tradu o de Godofredo Rangel Mais um livro destinado leitura feminina acaba de editar a Companhia Editora Nacional de S o Paulo Escripto por uma mulher possue leveza e interesse limitando se a descrever scenas 8 A Cole o Biblioteca das Mo as foi publicada no Brasil pela Companhia Editora Nacional entre as d cadas de 1930 a 1960 e era muito popular entre as jovens de classe m dia A esse respeito ver CUNHA Maria Teresa Santos Armadilhas da Sedu o os romances de M Delly Belo Horizonte Aut nctica 1999 71 burguesas da Fran a O entrecho attraente Uma senhora que tinha a mania de casar todo mundo e acaba afinal casando se tamb m N o vemos inconveniente em ser lido pelas jovens A traduc o est bem feita Definindo a leitura e seu p blico estabelecendo crit
74. recolhidas na moral e nas virtudes encontra eco na vida vivida pelas Filhas de Maria na Pia Uni o Elas eram mulheres Filhas de Eva como a imprensa cat lica denominava o sexo feminino mostrando que no imagin rio cat lico a imagem de Eva n o estava dissociada da imagem da mulher mesmo que esta trouxesse consigo o t tulo de Filha de Maria No entanto a Igreja desejava que elas se comportassem Como se fossem anjos sobre a Terra modelos da pureza das boas a es e da piedade crist Filhas de Eva purificadas pela norma e disciplina cat licas com o intuito de tornarem se modelos angelicais O t tulo de Filha de Maria agregava se identidade da jovem mariana como uma segunda natureza Ser Filha de Maria era sin nimo de respeitabilidade e de distin o social sobretudo em Limoeiro A leitura se fazia presente no cotidiano das associadas marianas desde o ingresso na Irmandade A medalha a fita e o diploma de Filha de Maria se completavam no Manual da Pia Uni o De pequeno formato e extenso quanto ao conte do de ensinamentos morais e religiosos o Manual tornava se o principal s mbolo da Filha de Maria De leitura sistem tica e obrigat ria deveria pautar as pr ticas sociais das marianas indicando os ramalhetes de virtudes a serem cultivados Na pesquisa o Manual adquiriu relevo em sua dimens o de 218 escrita devocional sem descurar do conte do simb lico que cerca o ritual de inicia o As Atas das re
75. relacionando as s pr ticas cotidianas das associadas orientando condutas e repreendendo as falhas observadas Na aus ncia do diretor a presidente da associa o escolhia a leitura que deveria ser feita e discutia com o grupo o que fora lido Ainda que outras refer ncias de leitura fossem usadas nos encontros do grupo a obra mais utilizada era o Manual da Pia Uni o que as associadas tamb m deveriam ler individualmente independente das reuni es mensais A leitura do Manual durante as reuni es enfatizava os cap tulos que discorriam sobre as obriga es e deveres das Filhas de Maria e as consequ ncias do n o cumprimento das normas Um dos textos mais utilizados nas pr dicas das reuni es mensais era o capitulo intitulado Penas e culpas Continuando o Revmo Diretor fez uma leitura espiritual no livro Manual da Pia Uni o no cap tulo Penas e Culpas e deu explica o Explicar repetidamente as penas e culpas ao grupo era uma forma de garantir seu entendimento evitando assim interpreta es distorcidas j que essa era tamb m uma leitura feita individualmente pelas associadas De resto a repeti o de certos trechos do Manual era uma forma de fixar na mente de suas leitoras o que era visto como relevante pela Igreja 3 1 Do Jardim da Piedade um ramalhete das mais belas flores O Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria 20 ata da Reuni o Mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro
76. resenhas cr ticas e conselhos de leituras que versavam em torno dos romances e folhetins consideradas leituras ao gosto feminino Com um discurso prescritivo o jornal O Nordeste assumiu a dianteira no combate s leituras perniciosas e trazia em suas p ginas orienta es de leitura recomend vel enquanto denunciava os males causados pelas leituras impr prias tecendo severas cr ticas este tipo de leitura Publica es Casar Bom Jornal O Nordeste Fortaleza 08 mar 1929 p 02 72 Chama a aten o o fato de que as cr ticas sobre a moralidade da leitura raramente observam o leitor masculino como se a este p blico se devesse permitir todo tipo de literatura necess ria para que solidificasse seu conhecimento do mundo Para o jornal imposs vel ao homem perder se moralmente por causa de suas leituras por meio delas poderia at manchar se mas a m cula era passageira O comportamento masculino mesmo quando em contradi o com as recomenda es morais n o era diretamente recriminado A culpa reca a sobre a falta de pudor feminina j que as mulheres apareciam como respons veis pelos deslizes morais da sociedade moderna e escravas das vis paix es Aos homens cabia o prazer de contemplar o comportamento inadequado das mulheres no mbito das modas e dan as imorais Qu o doloroso constatar que s o as mulheres o instrumento da deprava o o padr o vivo do ve
77. ria da Leitura Op cit p 277 203 Aparentemente as obras iam sendo levadas pelas associadas sem que houvesse um registro preciso Assim depois de um levantamento nominal das obras ausentes do acervo foi listado pela presidente Risalva Cabral de Amorim um montante de setenta e cinco livros faltantes Dos setenta e cinco t tulos desaparecidos a maioria era de Romances pois eram as leituras mais apreciadas pelo grupo Livros desaparecidos Biblioteca da Pia Uni o de Limoeiro Romances Contos 41 33 40 35 30 G nero N o Hagiografias Igreja B blia Classificado Vida de Religiosos Ora es Religi o 17 33 18 67 16 00 25 20 15 7 Especifico para Forma o 10 asFilhasde Maria 4 00 Ja 2 67 5 Gr fico 05 Livros desaparecidos da Biblioteca da Pia Uni o por g nero Fonte Caderno de Anota es da Biblioteca da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro A partir da listagem de livros desaparecidos pode se afirmar que os romances e os contos eram os mais procurados pelas Filhas de Maria Se o encanto na leitura de um romance ou mesmo o fetiche do livro ajudavam a apaziguar o sentimento de culpa por se apossar de um livro da biblioteca do grupo o mesmo n o ocorria com as leituras piedosas O sistema de controle de empr stimo da biblioteca da Pia Uni o era falho e n o havia regras defi
78. ria das mulheres chegando aos historiadores do livro e da leitura procurou se perceber as possibilidades de abordagem deste estudo sobre a Irmandade das Filhas de Maria Para construir esse trabalho tivemos que considerar a observa o de Robert Darnton para quem alguns quais relativos a leitura podem ser respondidos Do mesmo modo muitos dos ondes e quandos Os porques e comos entretanto s o diferentes Assim buscou se responder os ondes quandos comos e porques na medida em que foi poss vel alcan los nesta investiga o hist rica Ao pesquisar o Jornal O Nordeste descobri a preocupa o da imprensa cat lica em disciplinar o comportamento feminino combatendo as influ ncias do tempo as modas as dan as o cinema e as leituras mpias Partindo dessa descoberta foi poss vel observar que a leitura assumia no discurso cat lico uma posi o de destaque como influ ncia no comportamento feminino As orienta es da Igreja e as a es dos padres cearenses eram por vezes motivos de pol mica na imprensa da capital Desse modo rastreou se no jornal O Cear mat rias questionando as orienta es da Igreja e mostrando uma outra imagem da Filha de Maria a da beata vitalina feia e fora de moda contradizendo a imagem de donzela ideal veiculada no peri dico cat lico Pesquisando refer ncias levassem s orienta es recebidas pelo clero acerca da leitura encontr
79. secretaria Maria da Penha Gurgel Guedes e a diretora Maria do Carmo Pitombeira pediram dmiss es dos seus cargos as quais foram aceitas pelo diretor Em seguida o diretor nomeou a Filha de Maria Heloiza Sombra como secretaria Esta n o acceitando t o simples cargo depois da reuni o a ex diretora assumiu o respectivo cargo nomeada pelo diretor N o foi nomeada nenhuma para diretora ficando para ser resolvido depois Outrossim um cargo que parecia estar diretamente atrelado s rela es desfrutadas com o diretor da Pia Uni o era o de diretora da associa o e aquela que o ocupava desfrutava de destaque e poder na irmandade diretora cabia presidir a todas as sess es em que n o compare a o diretor nem vice diretor se houver nomeado Essa incumb ncia do cargo dava aquela que o ocupava superioridade e influ ncia sobre o grupo principalmente quando o diretor em exerc cio costumava faltar s reuni es o caso do C nego Clim rio Chaves que tendo substitu do por quest es pol ticas o primeiro diretor e fundador da Pia Uni o Pe Acelino Vianna Arraes chegava a faltar muitas reuni es seguidas Neste 34 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 02 de junho de 1935 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit p 60 61 30 caso as leituras reflex es e encaminhamentos das reuni es ficavam a cargo da diretora que presidia a reuni o Essa aus ncia do C nego Cl
80. seu dom nio da leitura permite inferir que elas compartilhavam dessa id ia de poder em torno do livro que conforme nos lembra Luciano C nfora embora seja uma concep o arcaica sobrevive at os nosso dias A id ia de que os livros s o investidos de um poder ou de que eles comunicam um certo poder a seus propriet rios uma concep o t pica das sociedades arcaicas mas ela se prolonga at os nossos dias O Manual indicava e prescrevia a leitura como um exerc cio espiritual e como tal deveria ser feito com pausa e medita o por isso as Filhas de Maria deveriam se dedicar no m nimo meia hora de seu dia s leituras piedosas e modelares Sobre o ato de ler o Manual recomendava Come ai ste piedoso exerc cio invocando o aux lio de Deus e a prote o da Sant ssima Virgem para que deles tireis os frutos necess rios e depois com pausa e aten o lede durante uma meia hora um trecho de algum livro pr prio Como indica o de leituras adequadas o manual trazia um ndice de leitura espec fico s associadas da Pia Uni o Entre os t tulos recomendados metades deles eram leituras exemplares livros de imita o IMITA O DE CRISTO IMITA O DO SAGRADO CORA O DE JESUS IMITA O DA SANT SSIMA VIRGEM EXERC CIOS ESPIRITUAIS DE SANTO IN CIO A PAZ D ALMA JESUS FALANDO AO CORA O DAS FILHAS DE MARIAS Para adentrar o universo de leituras das Filhas de Maria optou s
81. seu fundador o Padre Acelino Vianna Arraes p roco do munic pio na poca Foi erigida canonicamente e agregada Prim ria romana no dia 03 de junho de 1915 x Nasceu junto associa o da Immaculada Concei o confraria existente no munic pio desde anos anteriores e que contava com um apreci vel n mero de associadas Durante uma reuni o dessa confraria as primeiras candidatas a Filhas de Maria receberam suas fitas de aspirantes para seis meses depois se tornarem associadas da Pia Uni o A confraria da Immaculada Concei o trazia consigo um acentuado car ter de distin o social e em suas atas s o recorrentes as men es de que em suas reuni es estavam presentes as figuras gradas da elite limoeirense Achavam se presentes as Exmas Snras Zeladora e Subzeladora da Confraria do Sagrado Cora o de Jesus e grande n mero de associadas e muitas pessoas gradas da elite limoeirense Grifo meu 18 Antes de tornar se efetivamente uma Filha de Maria a candidata passava por um per odo probat rio como aspirante Este per odo variava de acordo com o comportamento e influ ncia que a aspirante exercia sobre as integrantes do grupo que reunido decidia sobre a admiss o definitiva A categoria Elite aqui utilizada em seu sentido geral A elite em sua significa o mais geral denota um grupo de pessoas que numa sociedade qualquer ocupa posi es eminentes Mais especificamente designa um grup
82. sic de romances profanos que pervertem o cora o e envenenam a alma A boa leitura deveria ser incentivada e praticada como um verdadeiro exerc cio de perfei o espiritual Ainda que se busque aqui retratar a imagem da Filha de Maria leitora necess rio ressaltar que ser alfabetizada n o era um requisito ao ingresso na Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro embora essa fosse uma caracter stica comum maioria delas Pela posi o social ocupada pela maior parte das associadas essas mulheres tinham acesso educa o Por isso na irmandade e na fala dos sacerdotes o ato de ler parecia algo corriqueiro na vida das associadas marianas embora n o o fosse para a maioria da popula o limoeirense No ritual de ingresso na Pia Uni o a simbologia utilizada remete rela o do grupo com a leitura Juntamente com a fita azul que trazia pendurada uma medalha prateada com a Imagem da Virgem Maria as novas 2 Idem Ibdem 254 Ata da Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 01 de Agosto de 1937 p 38 V 2 ata da Reuni o mensal Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 07 de Maio de 1933 26 De acordo com o Censo Demogr fico do IBGE em 1940 apenas 26 das mulheres maiores de 5 anos do munic pio de Limoeiro sabiam ler O que representa um total de 3 677 mulheres que dominavam a leitura e a escrita Ver Censo Demogr fico Popula o e Habita o Instituto Brasileiro de Geograf
83. timo 353 Noivados e Casamentos Jornal O Nordeste Fortaleza 13 jan 1938 p 03 213 lugar social da mulher em cujas m os eram depositadas as responsabilidades das gera es futuras A mulher que educa um filho educa apenas um homem a mulher que educa uma filha educa uma fam lia A mulher educadora cabem as responsabilidades das gera es futuras porque os destinos de um povo dependem da sua forma o cultural do aperfei oamento do caracter dos seus filhos Essa responsabilidade cabe n o h duvida a mulher educadora Educando tem ela a excelsa miss o civilizadora realizando num halo de idealismo uma obra de moral e de civismo A fun o de educar os filhos transformava se em obra de moral e civismo Como um dique de conten o para as inconveni ncias morais da poca mulher caberia um nobre e decisivo papel reorganizar a fam lia a celular mater da sociedade A mulher m e a mulher educadora s o as nicas for as que podem ser opostas descren a e desordem o nico dique que poder conter a tempestade de certas reinvindica es injustas que conturbam o mundo contempor neo Realizam n o h duvida as mais nobiliantes miss es na terra A primeira reorganizar pelos conselhos e assistencia a celula mater da sociedade que a fam lia esse viveiro mimoso onde as gera es se empluma Na sua imagina o ardente embalada pela can o ideo
84. ultimo ent o engra adissimo Quando se tratava do julgamento de uma obra pequenos detalhes podiam definir a posi o do cr tico cat lico Pequenas passagens uma palavra uma ilustra o podiam tornar um livro pass vel de restri es ou at mesmo conden vel A talentosa escriptora retrata nesse escrinio poetico a sua alma formada crist mente sendo de censurar o motivo pag o da capa que n o condiz com a espiritualidade das estrophes algumas frivolas mesmo levianas mas n o eroticas ou livres No caso do livro Exalta o de Z lia Villas Boas o que tornava sua capa reprov vel era a figura de uma mulher em uma pose sensual vista pela cr tica cat lica como express o de erotismo Figura 05 Capa do livro Exalta o de Z lia Villas Boas 160 Novidades Liter rias Jornal O Nordeste Fortaleza 27 jul 1936 p 02 Exalta o de Z lia Villas Boas Jornal O Nordeste Fortaleza 08 nov 1937 p 04 105 Alberto Manguel lembra como a liga o da mulher com uma literatura considerada menor em diversos tempos e sociedades tamb m foi constru da e cristalizada As mulheres estavam proibidas de ler o que se considerava literatura s ria deviam confinar se ao reino da divers o banal e fr vola havia uma distin o clara entre literatura e linguagem masculina com temas her icos e filos ficos e voz p blica e feminina trivial dom stica e nti
85. um precioso manual onde se encontram bem descriptos os males que corroem a sociedade e os meios para evit los ou cur los Ao p blico feminino ao contr rio pressupunha se que n o saberiam evit los ou cur los Mais importante era n o macular a inoc ncia e a virtude 109 CORTEZ Ant nia Otonite de Oliveira A constru o da cidade da cultura Crato 1889 1960 Disserta o de Mestrado Rio de Janeiro UFRJ 2000 p 187 e Lutas da Mocidade Jornal O Nordeste Fortaleza 03 mar 1929 p 07 Idem Ibdem 2 Idem Ibdem 82 Nesta linha de separa o das obras de seu p blico os cr ticos do jornal O Nordeste julgavam e classificavam as obras resenhadas Contudo quando se tratava da cr tica de livros outros crit rios e interesses tamb m podiam influenciar o veredicto o caso por exemplo da obra de H G Wells Pequena hist ria do Mundo que apesar das cr ticas e erros apontados n o foi classificada como n o recomendada afinal era uma obra traduzida por Gustavo Barroso intelectual reconhecido e militante da A o Integralista Brasileira Cremos que apesar dos defeitos que lhe encontramos do ponto de vista catholico o volume ir dar mesmo um xito Por ser de Wells traduzido por Gustavo Barroso e lan ado em digna fei o material pela Jos Olimpio Pode se perceber que a estrat gia do jornal O Nordeste girava em torno de apontar e recomendar os bons
86. z A Com dia Nupcial uma collectanea de tr s contos de Gui de Chantpleure dos quaes o ultimo deu o nome ao livro Todos muito bem urdidos interessantes e leves s o de leitura pr pria para mo as envoltos num ambiente de romantismo e de peripecias impossiveis A fuga aos modelos pr estabelecidos causava desconforto aos colaboradores do jornal O Nordeste A resist ncia das jovens cearenses s leituras recomendadas resultava na opini o do jornal numa desvirtua o do h bito da leitura Os enredos dos romances gua com a car das colet neas para mo as eram preteridos ao sal de Zola enquanto as crian as desprezavam os contos repletos de fadas bemfazejas Dessa forma o jornal denunciava a precocidade das leituras da inf ncia e o abandono por parte do p blico feminino das leituras para mo as consequ ncias do excesso de liberdade As collectaneas de livros e romances para mo as j n o s o mais lidas pelas mo as Porque todas as senhorinhas se julgam independentes e de caracter formado jactando se de que n o est o l pelo que l em De sorte que todos os livros dessas bibliothecas est o sendo lidos por crian as Duas anomalias as mo as se esquecem das coisas ternas e pr prias sua ndole e as crian as j n o se lembram de fadas bemfazejas De uma parte precocidade e de ambas as partes incoveniencia As mo as pelo menos em grande parte sente
87. 0 Propaganda communista e immoral pelo livro Jornal O Nordeste Fortaleza 06 mai 1936 p 08 1 Livro de Edgar Rice Burroughs traduzido por Paulo de Freitas e publicado pela cole o Terra Mar e Ar da Companhia Editora Nacional de S o Paulo 90 Tarzan o Invenc vel um livro de prepara o s id as communistas Na vis o cat lica o p blico infantil ao qual a obra era dirigida era facilmente sugestion vel aos seus ensinamentos dos livros Isso porque devido a pouca idade ainda n o trazia consigo de forma consistente os valores cat licos disseminados pela imprensa o que o tornava propenso a absorver as id ias que encontrava nos livros Assim as id ias do livro lido por muitas crian as chocaram os cr ticos que surpresos folheavam suas p ginas de conte do aparentemente inocente mas que trazia id ias socialistas Os di logos do livro apontam suas tend ncias comunistas atacando as pr ticas capitalistas enquanto exalta os interesses do proletariado e a pol tica de Moscou cone do comunismo Abrimos o livro Lemos o primeiro capitulo intitulado O PEQUENO NKIMA estamos em plena floresta africana entre ca adores de feras de cujos dialogos vamos reproduzir alguns trechos curiosos Um Romero ca ador mexicano falando de um seu companheiro de expedi o diz textualmente Estou desconfiado desses camaradas que devem tudo o que possuem ao capitalismo De cora o
88. 2 28 Jornal O Nordeste Fortaleza 18 jul 1928 p 08 141 sonhos do al m Jaguaribe vindos da capital que se tornava no imagin rio daquelas que aguardavam ansiosas por novas hist rias e tramas em um jardim de del cias feito base de sonhos papel e tinta 142 CAP TULO 3 DISTINTAS LEITORAS o fiel indiv duo fr gil e sujeito ao pecado deveria ser sempre guiado quer fosse no confession rio ou por meio dos serm es e dos rituais quer fosse nas leituras religiosas empreendidas pois do contrario poderia perder se totalmente Leila Mezan Algranti A imagem de que a mulher no Brasil n o afeita leitura ou mesmo quando l sua leitura desqualificada porque composta de leituras amenas adv m desde o s culo XIX dos relatos de v rios autores e viajantes Apontando como respons veis por esse fato os altos ndices de analfabetismo condi o que marca a hist ria do pa s e a desvaloriza o da cultura Lajolo e Zilberman afirmam que o universo da leitura da mulher brasileira dos mais restritos Como apontam v rios autores a maioria era iletrada situa o que convinha a uma sociedade na qual o livro a leitura e a cultura n o pareciam apresentar maior significado A mulher l folhetins e romances ligeiros que imprensa e editoras lhes oferecem mesmo essa leitura por m desvalorizada seja porque as obras s o consideradas de m qualidade seja porque d
89. Acervo da Biblioteca da Pia uni o das Filhas de Maria A esposa do sol A humilde Virgem Maria A vida da M e de Jesus A vida da Sant ssima Virgem A Vida de Santa Bernadete 39 Revista Eclesi stica Brasileira vol 2 fasc 1 mar o 1942 Editora Vozes Ltda Petr polis Rio de Janeiro p 164 165 197 Gl rias de Maria Sant ssima Margarida Maria Alacoque Maria Goretti 3 Folhetes Maria Magdala Santa Bernadete Santa Izabel da Hungria Santa Margarida de Cortona Santa M nica Santa Tereza do Menino Jesus Vida de Maria M e de Jesus Vida de Santa Inez Vida de Santa Luiza de Marillac A vida de Jesus Jesus Nasareno Jesus Rei do Amor O filho do homem Santo Ant nio Maria Zacarias Santo Antonio de P dua S o Tarcisio Vida de S o Francisco de Assis Tabela 01 Acervo de Hagiografias Biblioteca da Pia Uni o de Limoeiro Os religiosos e religiosas que dedicaram sua vida ao catolicismo mulheres m sticas e ou estigmatizadas tamb m figuravam nas obras dispon veis s Filhas de Maria Exemplos de sacrif cio e fidelidade Igreja Cat lica personagens mais acess veis como modelo uma vez que n o haviam alcan ado a santifica o eleva o espiritual m xima Biografias de Religiosos Religiosas Acervo da Biblioteca da Pia uni o das Filhas de Maria A vida da bem aventurada Maria Cresc ncia Berta D Alemanha Catarina Labour Irene 198 Madre Antonia Madre Maria Cresc
90. Filhas de Maria situavam se no interst cio entre a cultura oral e a cultura escrita No cruzamento de mundos a cultura oral trazia os causos fantasiosos e as hist rias de trancoso transmitidas de pais para filhos enquanto a cultura escrita trazia os sonhos alimentados silenciosa e solitariamente na leitura de romances De todo modo a imagem da leitora no discurso cat lico aparecia como desprovida de senso cr tico e discernimento entre o lido e o vivido Diante dessa incapacidade feminina de distinguir a vida real da vida de papel e tinta 334 Notas margem Jornal O Nordeste Fortaleza 31 mai 1928 p 02 202 a tutela de suas leituras deveria ser cuidadosa evitando os desvios mesmo aqueles ocasionados com a leitura de obras recomendadas Mesmo envolvidas com o medo do pecado e o cuidado com a pureza do corpo e da alma as Filhas de Maria n o estavam imunes tenta o dos pequenos delitos O livro aparece ao grupo como objeto de desejo o mesmo desejo que acomete parte dos leitores que ao manuse lo estabelecem com ele uma rela o ntima que agu a todos os sentidos Alberto Manguel afirma que O ato de ler estabelece uma rela o ntima f sica da qual todos os sentidos participam os olhos colhendo as palavras na p gina os ouvidos ecoando os sons que est o sendo lidos o nariz inalando o cheiro familiar de papel cola tinta papel o ou couro o tato acariciando a p gina spera ou suave
91. HAS DE MARIA analisa se esse modelo de irmandade e a pol tica da Igreja Cat lica para dissemin lo principalmente no Brasil Abordando o contexto local analisa se a Pia Uni o das Filhas de Maria em Limoeiro Cear demonstrando suas formas de atua o enquanto espa o de devo o e de distin o Examina se tamb m as normas da associa o indicando que as pr ticas de suas associadas nem sempre estavam de acordo com as regras de conduta da Irmandade O segundo cap tulo LEITURAS SANS E LEITURAS PERNICIOSAS examina a partir do discurso cat lico do jornal O Nordeste a import ncia atribu da leitura bem como os crit rios estabelecidos para sua classifica o que determinavam a recomenda o e o veto Evidencia se as estrat gias da imprensa cat lica de prescri o de leituras ao p blico feminino visando afast lo dos maus escritos enquanto incentivava a busca por livros edificantes Analisa se ainda no periodismo cat lico o cinema equiparado ao livro em a o influenciando comportamentos e h bitos No terceiro cap tulo DISTINTAS LEITORAS analisa se as pr ticas de leitura das associadas da Pia Uni o das Filhas de Maria enfatizando suas leituras espec ficas especialmente o Manual da Pia Uni o Examina se tamb m a Biblioteca da Pia Uni o perscrutando seu modesto acervo indicando as prefer ncias e pr ticas das Filhas de Maria nesse espa o de leitura o olhar que faz a Hist ria No cora o de q
92. Irene Valente Jornal O Nordeste Fortaleza 21 ago 1936 p 05 198 VAESSEN Guilherme O Pequeno Mission rio Manual de instru es ora es e c nticos 8 ed Petr polis Vozes 1958 p 248 125 da alma era necess rio conter o corpo observando o pudor e a compostura para evitar gestos desmedidos A modestia exterior o guarda necessario do recolhimento e consiste 1 Na vigil ncia dos sentidos para n o os deixar ir curiosidade a uma atividade grande demais s impress es demasiadamente vivas causadas pelos objetos exteriores 2 Na modestia modesta dos olhos que n o afetada nem t mida mas sim uma modestia simples onde se v sem fixar e se olha sem se impressionar 3 Nos movimentos do corpo no gesto no porte E uma modestia grave sem complica o ativa sem agita o descansando o corpo sem moleza conveniente sem familiaridade boa sem afeta o E a linda fl r da pureza da alma Al m dos Manuais de uso geral havia obras espec ficas para as Filhas de Maria que pregavam os valores morais e religiosos cat licos com mais afinco j que dessas mulheres se esperava o cumprimento fiel dos ensinamentos da Igreja Entre esses destaca se o Manual Jesus falando ao cora o das Filhas de Maria de prega es espec ficas sendo sua aquisi o t o necess ria s associadas quanto o Manual da Pia Uni o Nele prevalece um tom ntimo e pessoal de leitura como se o manual falasse dire
93. M rcia Abreu afirma que o perigo desse tipo de leitura residia justamente no fato de n o serem supervisionadas comprometendo assim a interpreta o apropriada do texto Ainda mais grave parecia o fato de a leitura de romances ser feita sem supervis o n o contando com a media o de um padre ou de um ministro como ocorria com a leitura de textos religiosos tampouco com a media o de um professor ou de uma tradi o de interpreta o como se passava com os textos beletr sticos N o havia d vida portanto de que se tratava de leitura perigosa pois estava fora do controle das inst ncias que legitimavam a produ o e a leitura de textos Ao contr rio das leituras permitidas que traziam modelos de virtude os romances mesmo os que se diziam interessados em ensinar a virtude e a moral traziam uma l gica narrativa diferenciada nem sempre aceita pelos cr ticos cat licos pois como afirma M rcia Abreu Os romances tamb m se dizem preocupados com a moral mas a atingem pelo caminho oposto mostrando pessoas que erram que se corrompem que s o fracas diante do v cio Narram essas hist rias do ponto de vista de quem as condena mas ao narr las p em os leitores em contato com o pecado Isso j constitui um grave problema narrar abertamente situa es de imoralidade e pecado permitindo que o leitor se imagine na mesma situa o Qualquer refer ncia ao adult rio ainda que de forma moralizante era tem
94. Magna Peccatrix exemplo do tipo de leitura tolerado pela Igreja ainda que fosse por consider lo um mal menor diante da insist ncia feminina pela leitura de romances Com o subt tulo romance dos tempos de Jesus seu enredo constr i o arqu tipo de um amor fantasiado por m aceit vel Este livro exemplo tamb m das prefer ncias das Filhas de Maria limoeirenses recorrente nas listas de empr stimos da biblioteca Parte dos romances do acervo das Filhas de Maria pertencia cole o Biblioteca das Mo as cujos livros eram aceitos com uma ou outra ressalva como leitura das jovens cat licas Nessa cole o as associadas da Pia Uni o manifestavam prefer ncia por M Delly Dos dez romances da cole o Biblioteca das Mo as presentes no acervo da Pia Uni o seis eram de autoria dos irm os franceses que escreviam sob o pseud nimo M Delly Os livros dos irm os La Rosi re eram marcados por fortes tra os de conservadorismo e suas hero nas andavam s voltas com o fervor religioso o que despertava nas Filhas de Maria limoeirenses certa identifica o com as jovens personagens da fic o De acordo com Maria Teresa Santos Cunha nesses romances n o havia espa o para contatos f sicos ou descri es detalhadas do corpo e a sexualidade feminina ficava restrita aos preceitos do catolicismo Educadas para o casamento ou para a vida religiosa as hero nas de M Delly eram belas e recatadas Talvez por embalarem os
95. Maria Teresa Santos Armadilhas da Sedu o Op cit p 34 222 Livros Novos Jornal O Nordeste Fortaleza 27 nov 1928 p 07 SA Cole o Menina e Mo a composta de livros franceses editados no Brasil pela Livraria Jos Olympio era a tradu o cole o francesa Bibliotheque de Suzette Editada a partir da d cada de 1930 teve reedi es nas d cadas seguintes 135 constitu da por pequenos romances que encantam e prendem pelo enredo oferecendo ao mesmo tempo s suas leitoras oportuna advert ncia moral e ricos ensinamentos pelo que encerram de observa es sobre a vida e a humanidade S o romances atraentes em que palpita a alma simples e sonhadora da juventude envolta nas ciladas a que vive exposta a criatura humana desde o alvorecer da exist ncia Romances edificantes traziam em suas p ginas ricos ensinamentos e advert ncias morais Trist o de Athayde o intelectual cat lico na apresenta o desta cole o argumenta S o raros os bons livros para mo as em portugu s Uma cole o como essa em que a qualidade liter ria n o perturba o n vel moral e vice versa um grande servi o prestado mocidade feminina As cole es para mo as traduzidas do franc s traziam enredos que se desenrolavam numa atmosfera buc lica onde nobres her is e doces hero nas tecem seus romances povoaram a imagina o e as horas vagas das jovens Filhas de Maria Com eles o h bito da leitura
96. Mesmo alardeando os perigos da m leitura os cr ticos reconheciam que a literatura impr pria podia ser atraente e irresist vel E a mulher tal como Eva sucumbe tenta o da curiosidade fraqueza de morder a perigosa ma do conhecimento que mostrando o mundo em novas cores envenenaria a inoc ncia feminina As livrarias se tornavam dessa forma grandes pomares onde os livros ou frutos expostos nas vitrinas se convertem em objetos de sedu o expl cita atraindo almas inocentes e corrompendo as A leitura era uma forma de alimento que podia envenenar a alma Um conto publicado no jornal cat lico equiparava a leitura uma fruta suculenta que despertava o desejo numa jovem menina A atra o do proibido tornava a leitura mais saborosa e desejada Deixando se levar pela beleza do fruto proibido a jovem leitora envenena se ao tomar conhecimento daquilo que n o devia Pare papae Olhe ali Que filhinha A pequena segura o pelo bra o e leva o para a porta de uma grande casa de frutas Compre algumas sim papae L adiante menina l adiante h outra casa melhor Vamos at l N o papae As daqui s o melhores mais saborosas Compre sim O pae accedeu aos desejos da pequena Comprou as ma s que a filha escolhera por signal bem coradinhas Duas horas depois Reina o alvoro o em toda a casa O velho clinico sacode a cabe a Muito serio Pelo amor de Deus
97. N ENRL JEFC LEC REB SPERL Arquivo da Diocese de Limoeiro do Norte Escola Normal Rural de Limoeiro Juventude Estudantil Feminina Cat lica Liga Eleitoral Cat lica Revista Eclesi stica Brasileira Sociedade Pr Educa o Rural de Limoeiro Ser preciso coragem para fazer o que vou fazer dizer E me arriscar enorme surpresa que sentirei com a pobreza da coisa dita Clarice Lispector INTRODU O Os pap is propriamente hist ricos das mulheres podem ser captados nas tens es media es nas rela es propriamente sociais que integram mulheres hist ria processo social e podem ser resgatados das entrelinhas das fissuras e do impl cito nos documentos escritos Maria Odila Leite da Silva Dias Toda pesquisa tem suas hist rias dificuldades sucessos e percal os Aqui apresento em tra os largos a trajet ria deste trabalho e os caminhos que me trouxeram at aqui A possibilidade de estudo da Pia Uni o das Filhas de Maria se apresentou quando desenvolvia minha pesquisa monogr fica no curso de hist ria da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos No estudo abordando as prociss es cat licas em Limoeiro do Norte objeto da monografia era recorrente na fala dos entrevistados men es Irmandade das Filhas de Maria A imagem de jovens trajadas de branco e com vistosas fitas de cetim azul ajudando a organizar as prociss es frente do rito e ao lado dos sacerdotes em lugar de destaque
98. Nordeste Fortaleza 10 abr 1937 p 06 21 Jornal O Nordeste Fortaleza 19 abr 1937 p 03 139 Hoje em dia s se acceita aquillo que cheira a facil e a luxo A loja O Gabriel vende bons livros que ensinar o tudo Embora os an ncios em sua maioria fossem direcionados ao p blico cat lico em geral havia an ncios espec ficos para os membros de associa es religiosas Nestes o alerta para a inconveni ncia de usar uma ins gnia religiosa e n o saber nada de religi o Por este motivo o an ncio aconselhava a aquisi o de livros religiosos cuja leitura deveria ser penitencial Vestir um habito religioso Ter uma medalha religiosa Usar uma insigna religiosa e n o saber nada de religi o uma das maiores inconveniencias que existe Compre na loja O Gabriel um livro religioso e tome por penitencia l r um capitulo por dia De acordo com os an ncios nos livros a senhorinhas deveriam buscar os ensinamentos para que soubessem se portar e assim serem mais valorizadas lembrando que o retraimento a melhor forma de guardar se e valorizar se uma vez que quanto mais bem guardado um objecto se torna mais precioso CONSERVA E DA VALOR A loja O Gabriel vende livros que ensinam uma senhorita como deve ser retrahida aguardando a vida de responsabilidade de Freira ou de casada Para atrair as fam lias e promover a obra de D Macedo Costa O livro da Fam lia a livraria afi
99. Os contos que O Nordeste trazia em suas p ginas refletem as id ias e valores da Igreja sobre a leitura Neste sentido destaca se um conto escrito por uma mulher colaboradora ass dua que assinava com o pseud nimo L que apresenta aspectos relevantes an lise da tica da Igreja sobre a influ ncia da leitura Publicado na P gina Feminina esp cie de caderno quinzenal do jornal cat lico o conto se diriga s leitoras especialmente s m es que deveriam tutelar as leituras de suas filhas Embora longo merece ser citado na ntegra para que se possa analis lo detidamente No gabinete de aspecto elegante a m e costura e a filha l Entra algu m sem se fazer a anunciar surgindo de repente porta Tio Oscar E s o abra os perguntas exclama es de jubilo a conversa vae se prolongando animada entre o tio e a dona de casa por m Lanira como a contra gosto que abandona a sua leitura O Retalhos Emancipadas Jornal O Nordeste Fortaleza 21 dez 1928 p 04 18 ARY Za ra Masculino e feminino no imagin rio cat lico da A o Cat lica Teologia da Liberta o S o Paulo Annablume Fortaleza Secult 2000 p 76 77 livro fica lhe entreaberto sobre os joelhos e de vez em quando os olhos da mocinha se fixam nelle com interesse vivo Tio Oscar velho experiente tudo aquilo percebe respondendo embora s perguntas repetidas da sua sobrinha pedilecta d Od lia Montecal a m e de Lani
100. Os livros s o companheiros e preciso escolhel os como amigos Manual O que uma joven esposa deve sabe O com rcio livreiro nas primeiras d cadas do s culo XX se diversificava e mediante an ncios os livros eram oferecidos pelas lojas e livrarias de Fortaleza aos leitores d O Nordeste Se os livros proibidos eram encontrados em engraxates e vendedoras ambulantes as leituras edificantes tinham lugar pr prio as lojas e livrarias da cidade E entre essas havia algumas especializadas em livros cat licos o caso da livraria Selecta situada na Rua Major Facundo que anunciava diariamente no jornal as listas das obras mais populares e figurava como refer ncia na venda de livros cat licos Nas palavras do jornal O Nordeste esta 2 Manteve se a grafia original 138 livraria preenchia a grande finalidade de disseminar em nosso meio bons livros t o uteis forma o moral e intelectual da sociedade cearense A loja O Gabriel que dispunha de uma se o de livros tamb m buscava se afirmar como livraria cat lica A const ncia no n mero de an ncios dessa loja permite perceber o esfor o para chamar a aten o do p blico leitor cearense Em seus an ncios fazia uso de recursos propagand sticos simples com textos curtos que traziam aprecia es acerca da leitura enquanto incentivava a aquisi o de livros cat licos Esses an ncios embora tenham o objetivo principal de vender obras tidas como
101. S ABREU M rcia Org Leitura hist ria e hist ria da leitura S o Paulo Fapesp 1999 Diferentes formas de ler Dispon vel na Word Wide Web http www unicamp br el memoria projetos ensaios ensaio6 html Os caminhos dos Livros Campinas SP Mercado de Letras ALB S o Paulo Fapesp 20083 ABREU Marta O Imp rio do Divino Festas religiosas e cultura popular no Rio de Janeiro 1830 1900 Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 Acervo Revista do Arquivo Nacional Dossi Leituras e Leitores v 8 no 1 2 jan dez 1995 Rio de Janeiro Arquivo Nacional 1995 ALGRANTI Leila Mezan Honradas e Devotas Mulheres da Col nia Condi o feminina nos conventos e recolhimentos do Sudeste do Brasil 1750 1822 Rio de Janeiro Jos Olympio Bras lia Edunb 1993 Livros de devo o atos de censura Ensaios de Hist ria do Livro e da Leitura na Am rica Portuguesa 1750 1821 S o Paulo Hucitec Fapesp 2004 ALVES Elza Daufenbach Nos bastidores da C ria desobedi ncias e conflitos relacionais no intra clero catarinense 1892 1955 Tese de Doutorado Florian polis UFSC 2005 AMORIM S nia Maria de Em busca de um tempo perdido Edi o de Literatura traduzida pela Editora Globo 1930 1950 S o Paulo Edusp 1999 ANDRADE Maria Luc lia de Nuan as de um ritual de f As prociss es cat licas em Limoeiro do Norte 1940 1980 Monografia de Gradua o em Hist ria FAFIDAM UECE Limoeiro
102. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR CENTRO DE HUMANIDADES DEPARTAMENTO DE HIST RIA MESTRADO EM HIST RIA SOCIAL FILHAS DE EVA COMO ANJOS SOBRE A TERRA A Pia Uni o das Filhas de Maria em Limoeiro CE 1915 1945 Maria Lucelia de Andrade Fortaleza Outubro 2008 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR CENTRO DE HUMANIDADES DEPARTAMENTO DE HIST RIA MESTRADO EM HIST RIA SOCIAL FILHAS DE EVA COMO ANJOS SOBRE A TERRA A Pia Uni o das Filhas de Maria em Limoeiro CE 1915 1945 Maria Lucelia de Andrade Adelaide Maria Gon alves Pereira Orientadora Disserta o apresentada ao Programa de P s Gradua o em Hist ria Social da Universidade Federal do Cear como requisito para a obten o do grau de Mestre em Hist ria Social Fortaleza Outubro 2008 A568f Andrade Maria Luc lia de Filhas de Eva como anjos sobre a Terra a Pia Uni o das Filhas de Maria em Limoeiro 1915 1945 Maria Luc lia de Andrade Adelaide Maria Gon alves Pereira orientadora 2008 232f il 30cm Orientador Profa Dra Adelaide Maria Gon alves Pereira Disserta o Mestrado em Hist ria Social Universidade Federal do Cear Departamento de Hist ria Fortaleza 2008 1 Pia Uni o da Filhas de Maria Limoeiro CE Hist ria 2 Ordem religiosas e mon sticas para mulheres Regras Limoeiro CE Hist ria I Pereira Adelaide Maria Gon alves II Universidade Federal do Cear Departamento de Hist ri
103. Uni o Embora n o constem nas listas do modesto acervo os romances proibidos e as leituras perniciosas maneira de mile Zola e outros t tulos vetados ou censurados poss vel perceber que as Filhas de Maria n o acatavam completamente as recomenda es de leitura veiculadas no periodismo cat lico e reiteradas pelo diretor espiritual Contrariando as orienta es que viam na leitura de romances mesmo aqueles tidos como s os uma leitura fr vola e de perda de tempo elas insistiam em trazer para a biblioteca esse tipo de leitura Essa disserta o apresentou uma possibilidade de abordagem da Pia Uni o das Filhas de Maria Entretanto a documenta o pesquisada em sua riqueza possibilita novas quest es Por outro lado fontes ainda n o pesquisadas suscitam problemas que podem vir a ser objetos de novos estudos o caso das revistas Maria e A Cruz localizadas no setor de peri dicos da Biblioteca Nacional uma rica possibilidade de pesquisa visto a 221 abrang ncia de sua circula o e seu conte do direcionado ao p blico feminino cat lico em especial as Filhas de Maria de todo o pa s Maria revista mensal veicula temas direcionados especificamente s Filhas de Maria Editada em Olinda PE pela Imprensa Industrial seu per odo de circula o inicia se em 1913 e vai at aproximadamente 1977 A revista A Cruz editada no Rio de Janeiro e fundada em 1917 com periodicidade semanal Nesta pesquisa ver
104. Virgem Maria ela quem efetivamente protege a mo a do dem nio pois embora estivesse num espa o de pecado era muito devota de Nossa Senhora Ratificando o poder da prote o de Maria os discursos da Pia Uni o transmitiam s associadas a id ia de que elas BENJAMIN Walter O Narrador In Magia e t cnica arte e pol tica ensaios sobre literatura e hist ria da cultura Obras Escolhidas 7 ed S o Paulo Brasiliense 1994 p 200 54 eram fi is especiais duplamente protegidas pelo fato de pertencerem irmandade Quem pertence a uma Congrega o de Nossa Senhora duas vezes Filho de Maria e como tal tem o duplo direito sua prote o especial na vida e principalmente na morte Os bailes faziam parte do universo do proibido para as Filhas de Maria entretanto isso n o significa que fossem algo distante de sua realidade As festas do munic pio giravam em torno do calend rio religioso assim nos dias de festa da Padroeira era comum as fam lias mais abastadas realizarem bailes em suas casas Na fala de Dona Menas Silva aqui acol aconteciam bailes nas casas de fam lia uma forma de ressaltar que mesmo as festas dan antes aconteciam em lugares respeit veis Naquela poca as festas eram tudo religiosa na Igreja n Tudo era na Igreja a sociedade tudo era da Igreja Aqui acol havia festa dan ante aqui em Limoeiro havia s vez nas casas de fam lia As vez t
105. a o do corpo se dava atrav s dos sentidos Tocar cheirar ver sentir e desejar o caminho da perdi o E o conhecimento dessas sensa es muitas vezes se iniciava com a leitura de um romance proibido 207 Idem Ibdem 208 Idem Ibdem 209 Matadores de almas Jornal O Nordeste Fortaleza 10 dez 1937 p 03 130 sendo necess rio cuidar para que as leituras n o corrompessem seu modelo de virtude as Filhas de Maria Distrair sem macular a inoc ncia era um dos intuitos dos romances cat licos A innocencia a pureza da alma s o flores delicadas flores que podem facilmente ser profanadas e que se fanam muitas vezes ao contacto dos maus livros Voltados forma o do p blico feminino os romances cat licos ensinavam obedi ncia o caso de Z lia cuja vida narrada por seu filho padre revela os valores atribu dos s donzelas cat licas Donzela obediente e de bom comportamento Z lia desistiu da vida no claustro para aceitar o casamento arranjado pelos pais com um rapaz que trazia no sangue a heran a de v rias gera es de denodados campe es da f r2 Romances desse tipo descrevem amores quase religiosos onde tudo sereno pac fico providencial Era um amor envolvido em asceticismo e espiritualidade 2 Seu pretendente a amava n o por ser bela elegante mas principalmente por ser piedosa por isso ao inv s de rosas deu lhe um Ros rio O noivado acontece em meio a ter os missa
106. a o nas campanhas de levantamento de fundos para a Igreja sua proje o social come ou a ser evidenciada na cidade E os momentos mais prop cios proje o eram os 2 BRANCO Jo o Ol mpio C O Limoeiro da Igreja A hist ria de Limoeiro do Norte a partir de seus p rocos Minerva Ind stria Gr fica 1995 p 136 25 rituais da Igreja especialmente aqueles que tinham um car ter p blico mais ostensivo como as prociss es nas quais as Filhas de Maria ganhavam um lugar frente com seus estandartes bordados a fios de ouro o que conferia s suas associadas n o apenas um lugar de destaque mas tamb m uma distin o e um espa o de honra Na Igreja Matriz no ritual da missa os bancos da frente eram a elas reservados E de forma gradual as mais abastadas do munic pio passavam a figurar nas fileiras da Pia Uni o com suas cintilantes fitas azuis O prest gio que as Filhas de Maria come aram a vivenciar na sociedade limoeirense vai ficando evidente tanto nos ritos cat licos como tamb m na aten o que passaram a receber dos ilustres do munic pio Neste sentido as reuni es mensais das Filhas de Maria come aram a se configurar como um lugar concorrido onde os convidados do diretor da Pia Uni o faziam uso da palavra dirigindo se s jovens presentes o caso do advogado Jos Osterne cidad o influente na sociedade limoeirense era tido como Talentoso advogado orador sacro e de admir veis dotes art st
107. a Mestrado em Hist ria Social HIL T tulo CDD 255 97 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR CENTRO DE HUMANIDADES DEPARTAMENTO DE HIST RIA MESTRADO EM HIST RIA SOCIAL FILHAS DE EVA COMO ANJOS SOBRE A TERRA A Pia Uni o das Filhas de Maria em Limoeiro CE 1915 1945 Maria Lucelia de Andrade Esta disserta o foi julgada e aprovada em sua forma final no dia 31 de outubro de 2008 pela orientadora e membros da banca examinadora composta pelos professores Profa Dra Adelaide Maria Gon alves Pereira Orientadora Universidade Federal do Cear UFC Profa Dra Maria Teresa Santos Cunha Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC Profa Dra K nia Sousa Rios Universidade Federal do Cear UFC Fortaleza Outubro 2008 Marcos Companheiro de todas as horas cuja lente do amor que me dedica o faz enxergar minhas tortuosas e imperfeitas linhas como se fossem Letra de Chico em Voz de Beth nia AGRADECIMENTOS chegado o momento de agradecer e seria algo exclusivamente prazeroso n o fosse o medo de esquecer pessoas importantes e cometer injusti as ocasionadas pelas inevit veis falhas da mem ria No entanto como n o mais poss vel adiar vou encarar o desafio de tentar colocar em palavras a gratid o e o sentimento que nutro por cada pessoa aqui mencionada Cada um a seu modo contribuiu e tornou se parte da trajet ria dessa pesquisa Agrade o Deus sempre Ele minha luz m
108. a Hist ria da Leitura Trad Pedro Maia Soares S o Paulo Companhia das Letras 1997 MARQUES Luiz La Donna di Garbo Pintoras e Mulheres de Letras entre os S culos XVII e XIX In Revista Brasileira de Hist ria S o Paulo ANPUH Marco Zero Vol 9 n 18 P 67 81 Agosto 1989 Setembro 1989 MENEZES Eduardo Diatahy B de Gustavo Barroso Um cearense ariano Fortaleza Museu do Cear Secretaria da Cultura do Estado do Cear 2006 MENEZES Maria Jos de Fran a Um mundo que se mostra por dentro e se recria por fora a trajet ria das casas de exibi o de cinema em Limoeiro 1925 1980 Monografia de Gradua o em Hist ria FAFIDAM UECE Limoeiro do Norte 2003 MONTENEGRO Ant nio Torres Hist ria oral caminhos e descaminhos In Revista Brasileira de Hist ria S o Paulo ANPUH Marco Zero v 13 n 25 26 1998 MONTENEGRO Jo o Alfredo de Sousa O Trono e o Altar As vicissitudes do Tradicionalismo no Cear 1817 1978 Fortaleza BNB 1992 MORAIS Mara Arisnete C mara de A Leitura de romances no s culo XIX In Cad CEDES online Jul 1998 vol 19 no 45 p 71 85 Dispon vel na Word Wide Web http www scielo br scielo php script sci arttext amp pid S0101 36621998000200005 amp Ing pt amp nrma iso OLINDA Erc lia Maria Braga de Tinta papel e palmat ria a escola no Cear do s culo XIX Fortaleza Museu do Cear Secult 2004 Outras Hist rias v 24 PAIVA Aparecida
109. a Jesus Sacramentado 22 ed Petr polis Vozes 1923 225 CAULY Monsr Curso de Instruc o Religiosa para uso dos catecismos de perseveran a das casas de educa o e pess as do mundo Tomo l Catecismo Explicado Belo Horizonte Livraria Paulo de Azevedo amp Cia 1924 DRAKE Emma F A O que uma joven esposa deve saber Trad Manoel Victor S o Paulo Livraria Liberdade 1925 KEPPLER Paul W von Mais Alegria Trad Frei Hugo Mense Friburgo em Brisgau Livreiros editores pontif cios 1923 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Trad Ananias Corr a Amaral Rio de Janeiro 1926 MARYAN M O dote de Nicolette Trad Honorina de Oliveira Machado Porto Casa Editora de A Figueirinhas 1927 SAINT OGAN Claude O segredo do velho Martin Cole o Menina e Mo a Livraria Jos Olympio Editora 1947 SCHREINER Georg Horas Catecheticas Trad Uma Catechista 22 ed Petr polis Typographia das Vozes de Petr polis 1930 SERRANO Jonathas Contra a corrente Petr polis Typographia das Vozes de Petr polis 1914 TEPPA Padre Jesus falando ao cora o das Filhas de Maria 62 ed P rto Edi es do Apostolado da Imprensa 1934 VAESSEN Guilherme O Pequeno Mission rio Manual de instru es ora es e c nticos 8 ed Petr polis Vozes 1958 VON KRANE Baroneza Anna Magna Peccatrix Romance do tempo de Jesus Christo 62 ed Petr polis Vozes s d 226 REFER NCIAS BIBLIOGR FICA
110. a Uni o e associadas colaboravam para a forma o da biblioteca Foi ofertada Biblioteca da Pia Uni o um romance intitulado a Jovem Castel de Herriquieta Brey pela associada presidente Francisca Malveira 2 Grifo meu Incentivadas a colaborar na forma o do acervo de sua biblioteca cada doa o ia se constituindo tamb m um ato de liberdade na escolha dos livros Liberdade de escolher e levar s estantes da Pia Uni o o que desejavam ler Embora as escolhas seguissem crit rios representava um avan o no que se refere fuga da leitura piedosa dos livros de ora o presen a quase exclusiva neste tipo de biblioteca Se os assistentes eclesiais tinham claro e respeitavam os ditames sobre o que n o se deveria ler o mesmo n o se pode 302 Ata da Reuni o mensal Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 03 de julho de 1932 182 afirmar das generosas doadoras e no acervo da biblioteca iam surgindo t tulos que embora discretos escapavam s leituras piedosas Ao que parece em princ pio as doa es por parte das associadas n o eram incentivadas e a escolha e aquisi o de livros ficava a cargo dos padres No entanto a necessidade de aumentar o acervo possibilitou uma abertura para que elas colaborassem com a aquisi o de obras para a Biblioteca Assim somente depois de passados dez meses de sua inaugura o que aparecem nos registros da Pia Uni o as primeiras doa es feitas por associa
111. a arma formid vel de apostolado Comparando o cinema ao livro o jornal cat lico aponta ambos como respons veis pelos males sociaes Entretanto no discurso d O Nordeste o cinema era uma ferramenta mais eficaz na propaga o de id ias e influ ncias podendo direcionar leituras e comportamentos Saindo em defesa dos livros a cr nica cat lica acusava o cinema de incentivar leituras impr prias que levavam a atitudes funestas visto que o alcance das salas de exibi o era muito maior que o das livrarias 173 Combatendo os bailes e cinemas m os Jornal O Nordeste Fortaleza 09 dez 1935 p 02 174 Os deveres dos catholicos quanto ao cinema Jornal O Nordeste Fortaleza 03 jul 1933 p 06 113 certo que os livros em parte s o responsaveis pelos males sociaes Mas o cinema n o pode ser exclu do tambem desta responsabilidade Os livros s o conhecidos pela propaganda que delles se fazem E essa propaganda muitas vezes feita pelo cinema ou apresentando a vida dos escriptores ou adaptando os romances tela Anna Karenina que foi citado pelo referido articulista como causa de um suic dio j foi filmado duas vezes Quem sabe si n o foi o filme que levou a mo a ler o livro que a levou a tomar aquella funesta attitude b55 Si os livros podem ser nocivos sociedade o cinema fazendo a propaganda desses livros torna se muito mais nocivo porque o numero de frequentadores das salas de esp
112. a passa a ser alvo de uma campanha para que em sala de aula empreenda uma esp cie de catecismo di rio A Igreja cat lica e sua imprensa sabiam da import ncia das professoras na tarefa de forma o da popula o por isso investiam na prega o essas mulheres apelando sua dedica o aos preceitos de sua religi o A professora cat lica tem obriga o de ensinar catecismo na sua classe O ensino que facultativo pela lei obrigat rio na sua consciencia O catecismo era para a Igreja a solu o mais acertada para formar cat licos em sintonia com os preceitos e dogmas da Igreja Romanizada Neste sentido a professora aparecia como agente de maior alcance visto que a ela era confiada a educa o de in meras crian as e por isso tornava se necess rio incumbi la da miss o simult nea de professora e catequista 21 Jornal O Nordeste Fortaleza 12 jul 1939 p 09 176 Na consciencia de uma professora cat lica o dever profissional n o se separa do dever catequ tico Ela n o pode ser professora sem ser ao mesmo tempo catequista de seus alunos Ciente da efic cia limitada do catecismo semanal nas par quias a Igreja ambicionava um projeto maior um catecismo di rio dotado de pedagogia apropriada realizada pela professora cat lica e como a Igreja requeria Al m disso tendo um ex rcito de professoras catequistas nas salas de aulas o alcance da orienta o cat lica seria ampliado em c
113. a ser o livro de cabeceira de cada associada Com seiscentas e onze p ginas uma compila o de acordo com o autor de diversas obras de piedade e asc tica e se dispunha abranger todo o universo de forma o moral de uma mulher de modo que suas orienta es visavam acompanhar o dia de uma Filha de Maria orientando as nas atividades matinais vespertinas e noturnas observando tamb m as obriga es semanais mensais e anuais apresentando assim instru es para todo o ano Pelo seu acentuado car ter doutrinal moralista e disciplinador a leitura do manual era incentivada e posta em pr tica em todas as reuni es mensais da Pia Uni o como leitura espiritual Sua leitura deveria ser sistem tica e di ria as Filhas de Maria deveriam se dedicar ela durante pelo menos um quarto de hora ao dia O intuito era fazer com que as associadas n o apenas lessem sozinhas mas principalmente escutassem as leituras e alocu es do sacerdote diretor da irmandade a fim de evitar interpreta es distorcidas E era assim em reuni es mensais e com a ajuda do Manual que as instru es eram repassadas regularmente s Filhas de Maria Entre as normas trazidas no Manual encontra se uma listagem chamada de Flores da Virtude Embora aparentemente simpl ria a lista de Flores da Virtude exemplar da ret rica persuasiva que o manual apresenta Visto por seu autor como um ramalhete das mais belas flores do campo das obras
114. acervo da Pia Uni o e a listagem de resenhas publicadas no peri dico A partir desse cruzamento pode se verificar que das obras do acervo da Biblioteca da Pia Uni o somente uma pequena parcela fora resenhada pelo jornal cat lico Essa parcela corresponde aproximadamente 4 69 das obras e estas em sua maioria s o obras de car ter religioso Neste sentido e apoiando se ainda na aus ncia de refer ncia doa o dessas obras pode se inferir que tais obras foram adquiridas pelos pr prios sacerdotes Essa aus ncia dos t tulos resenhados pelo O Nordeste caracteriza se como uma forma de burlar a vigil ncia do diretor da irmandade em torno das leituras que desejavam fazer Neste sentido as obras doadas pelas Filhas de Maria n o figuravam entre aquelas recomendadas pelo Jornal Cat lico leituras edificantes sem grandes atrativos embora tamb m n o estivessem entre as obras que o jornal desaconselhava Na aus ncia de tempo do diretor para ler e analisar com aten o essas obras desconhecidas com t tulos 315 Revista Eclesi stica Brasileira vol 1 mar o junho 1941 Editora Vozes Ltda Petr polis Rio de Janeiro p 98 99 190 insuspeitos e cuja leitura n o fora desaconselhada pelo jornal cat lico as doa es das associadas iam sendo aceitas tidas como obras inofensivas Embora se encontresse no acervo da Biblioteca da Pia Uni o obras religiosas como livros de ora es e exerc cios espirituais estes n o c
115. aculada Concei o que se constitu a na principal festa religiosa da cidade Essa capacidade fazia frente Confraria da Immaculada Concei o que em n mero de associadas era muito maior que a Pia Uni o das Filhas de Maria Festa da Padroeira Porcentagem dos gastos pagos pelas Filhas de Maria 101 25 101 72 100 00 1919 1920 1921 1922 1923 Gr fico 02 Percentual das despesas da festa da Padroeira pago pelas Filhas de Maria Fonte Livros de Atas da Confraria da Immaculada Concei o e da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro Os donativos arrecadados pelas associadas da Pia Uni o eram suficientes para cobrir a maior parte dos gastos feitos para a festa e por vezes chegava a ultrapassar as despesas da festa O gr fico 02 ilustra a participa o financeira da Pia Uni o das Filhas de Maria na Festa da Padroeira do 24 Munic pio Mesmo quando a quantia arrecadada sofria uma diminui o como ocorreu em 1920 as Filhas de Maria ainda conseguiam arcar com a maior parte das despesas Essa capacidade de arrecadar doa es da Pia Uni o das Filhas de Maria n o podia ser ignorado pela Igreja local uma vez que neste per odo havia se iniciado as obras de reforma e amplia o da Igreja Matriz da cidade Como forma de arrecadar donativos o C nego Clim rio Chaves distribu a listas entre as mulheres das confrarias religiosas em especial as Filhas de Maria que sa am pela cidade a reco
116. ada pela Igreja fossem essas personagens mulheres honestas puras e crist s Entretanto isto n o bastava para ser tomado como modelo e influ ncia por uma Filha de Maria Delas exigia se mais Os modelos das hero nas da Igreja eram mais dif ceis de alcan ar exemplos santos modelos de conduta irrepreens vel como a Virgem Maria Santa In s Tereza Neumann e outras almas piedosas Mulheres que encontraram no sofrimento e na ren ncia a eleva o espiritual a verdadeira felicidade Hero nas no papel ao contr rio daquelas dos romances t o humanas hero nas de papel Neste estudo a an lise das leituras recomendadas s Filhas de Maria se concentra em quatro tipos Livros de Ora es e serm es Hagiografias romances de padres e religiosos e romances de cole es e escritores variados Os Livros de Ora es e serm es eram aqueles cuja leitura direcionava se para a eleva o espiritual com o fim espec fico de preencher as perigosas horas de solid o com uma atividade religiosa As Hagiografias narrativas das vidas de Santos e Santas eram recomendadas com o intuito de modelar a conduta crist apresentando personagens que alcan aram os padr es mais elevados de pureza e santidade Em torno desse tipo de leitura havia um grande apelo para a imita o dos exemplos santos Como desfrutavam da prefer ncia das leitoras os romances passaram tamb m a compor o rol de leituras permitidas e at recomendadas Dentre os romance
117. ados A e at perigosos Em Espirito e Verdade de Huberto Rohden um livro cheio de ins dias e dubiedades Desde de Jesus Nazareno que os escritos de P Rohden v m mostrando uma certa tend ncia em distinguir a doutrina do Evangelho da doutrina da Igreja Cat lica Os leitores mais desatentos perceberam que os livros Paulo de Tarso e Problemas do Esp rito continham algo que n o soavam bem aos ouvidos cat licos N o houve que saibamos cr ticas abertas e p blicas a esses livros Mas quasi todos os que os leram sentiam um grande desagrado Mas o ltimo livro do P Huberto Rohden Em esp rito de Verdade francamente perigoso A biblioteca das Filhas de Maria contava com algumas obras de Rohden mas somente aquelas que tiveram a leitura recomendada pela imprensa cat lica Alegorias Esplendores da F Maravilhas do Universo al m da mais conhecida e aclamada Jesus Nasareno faziam do padre Rohden ao lado de Sinzig os autores cat licos mais lidos pelas associadas da Pia Uni o limoeirense A hagiografia formava parte significativa do acervo mariano Ao todo vinte e cinco livros contavam as vidas de santos e santas O n mero de narrativas de vida de mulheres santas era superior s masculinas com dezessete t tulos Cinco delas dedicadas vida de Maria e suas virtudes visando ajudar as leitoras a conhecer e introjetar modelos de virtude e comportamento piedoso Vidas de Santos
118. agens recriadas e revividas ao final da leitura excitavam os sentimentos e comprometiam a moralidade Era a forma como tocava a sensibilidade do leitor despertando lhe paix es e sensa es que determinava se uma leitura era boa ou m 322 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit Estatutos p 53 333 ALGRANTI Leila Mezan Livros de devo o atos de censura Ensaios de Hist ria do Livro e da Leitura na Am rica Portuguesa 1750 1821 S o Paulo Hucitec Fapesp 2004 p 149 34 Revista Eclesi stica Brasileira vol 1 mar o junho 1941 Editora Vozes Ltda Petr polis Rio de Janeiro p 99 194 A impress o final a que resta n o no esp rito mas na imagina o e na sensibilidade quando fechamos o livro ou o pano cai E o estado indeciso por vezes da alma em que pairam todas as imagens todos os sentimentos sucessivamente excitados pelo espet culo ou a leitura Ora desta confus o do primeiro momento desprende se uma disposi o geral efeito dos quadros contemplados e das emo es recebidas mais que dos pensamentos e das teorias esp cie de contagio da atmosfera moral que envolve a obra toda Esta impress o que faz em ultima an lise um livro bom 325 ou mau Embora a Igreja combatesse os romances mesmo os bons por medo das fantasias que podiam despertar os romances escolhidos para a biblioteca da Pia Uni o eram as leituras mais procuradas em suas estantes Livros como o romance
119. al cia e prudentes nas boas obras e assim disciplinar o crescente n mero de mulheres que adentravam Pia Uni o Vigiar as a es de um n mero cada vez maior de associadas era uma tarefa trabalhosa Dif cil tamb m era conseguir reunir o grupo para as reuni es mensais ocasi es onde o padre tratava de repassar preceitos disciplinares s 42 Filhas de Maria centrando se principalmente em suas obriga es Era necess rio que a irmandade crescesse sem no entanto comprometer sua imagem de institui o formada por jovens puras e de comportamento ilibado Contudo medida que a irmandade crescia em n mero de associadas percebe se nas fontes pequenos desvios das normas mostrando que as associadas nem sempre estavam dispostas a cumprir cuidadosamente as regras da irmandade 1 3 Normas Disciplina Dana o O controle da sociedade sobre os indiv duos n o se opera simplesmente pela consci ncia ou pela ideologia mas come a no corpo com o corpo Michel Foucault Numa cidade pequena onde os espa os de sociabilidade estavam relacionados aos ritos da Igreja as Filhas de Maria tornaram se sin nimo de import ncia e destaque social A partir da d cada de 1930 a Pia Uni o das Filhas de Maria se transformou em sin nimo de modelo de jovem cat lica idealizado pela Igreja e se tornou tamb m objeto de desejo para aquelas que vendo a evidente proje o social da irmandade almejavam dela tomar parte Assim q
120. al o que menos impressionava era a vista daquellas cabelleiras t o distinctas a de Alda ondeante de fios d oiro fulgidos abastosos a de Herminia reduzida escassa da c r de azeviche A distin o entre o bem e o mal na imagem feminina inicia se por uma parte da apar ncia a vista daquellas cabelleiras t o distinctas a de Alda ondeante de fios d oiro fulgidos abastosos a de Herminia reduzida escassa da c r de azeviche S mbolo de feminilidade e delicadeza alvo de pol mica entre os cr ticos cat licos que condenavam as novas modas o cabelo a primeira diferen a entre as personagens para diferenciar o bem e o mal a santidade e o pecado a pureza e a m cula Jogando com opostos o conto descreve fisicamente as personagens articulando beleza e bondade como na personagem Alda Alda era a formosura e a bondade na harmonia empecavel das linhas do corpo na eleg ncia e fidalguia natural do seu porte que por onde passava ia multiplicando o numero de vassallos rendidos ao imp rio da belleza espont nea e dominadora estava a express o legitima do equil brio das faculdades de sua nobre alma o reflexo puro e fiel de uma aristocracia muito mais opulenta e prestigiosa porque a da virtude exercitada no imp rio sagrado do cora o O ideal de beleza nas obras rom nticas cujos her is e hero nas tinham ra zes aristocr ticas aparece nas obras cat licas revestido da nobreza da virtude E a eleg ncia
121. amentos uma explica o sobre o inferno t o temido pelos pecadores Ao reafirmar a exist ncia do inferno aponta seu caminho as oito portas que condenam perdi o eterna sendo a impureza a primeira delas um pecado mortal poss vel ao ler livros obscenos olhar gravuras espet culos pessoas indecentes A impureza o amor desregrado dos prazeres da carne Pensar voluntariamente em coisas desonestas desejar praticar ver ouvir coisas escandalosas dizer palavras ter conversas imorais ler livros obscenos olhar gravuras espet culos pessoas indecentes permitir se consigo ou com outras pessoas liberdades criminosas praticar no sacramento do matrim nio o que a moral crist pro be s o pecados contra a pureza pecado mortal Grifos meus Os manuais cat licos al m de ora es traziam ensinamentos morais e visavam orientar suas leitoras Neste sentido outro manual recomendado s Filhas de Maria A Divina Eucaristia dava nfase mod stia exterior buscando disciplinar o olhar e o corpo O controle da curiosidade era a base para o sucesso na vigil ncia dos sentidos uma vez controlada restava Filha de Maria cultivar a mod stia ao olhar para que n o se deixasse impressionar pelas coisas exteriores Por fim para o xito no cultivo da linda flor da pureza 196 04 197 Di rio de uma alma piedosa Impress es Jornal O Nordeste Fortaleza 26 ago 1936 p Di rio de
122. ando come ava a tocar que voc dan ava com outro l vai ele dan ando com as suas colega A eu a mo a disse Aconteceu e eu achei muito ruim mas quando acabava se a m sica e n o via o rapaz Aquele rapaz era o c o Mas voc muito devota de Nossa Senhora quando parava a m sica Nossa Senhora escondia o rapaz e voc n o via Eu vi meu pai contar essa hist ria umas pouca de vez Voc acredita que pode haver isso No conto o sacerdote em sua fun o de confessor intermediador entre Deus e os homens tem o poder de saber aquilo que n o lhe foi dito como se pudesse alcan ar a mente de sua confidente Independente da consci ncia que essa mulher tinha de seus pr prios pecados e faltas ele parecia ter a faculdade de conhec la melhor de que ela pr pria Uma esp cie LIMA Lauro de Oliveira Na Ribeira do Rio das On as Op cit p 494 In cio Mendes Guerreiro 83 anos Entrevista gravada em 06 01 2004 na cidade de Limoeiro do Norte Ce 53 de advert ncia onde fica impl cito que do padre nada se esconde pelo menos n o por muito tempo talvez s at a pr xima confiss o e uma Filha de Maria deveria se confessar com frequ ncia no m nimo uma vez por m s Nesse sentido os contos foram importantes ferramentas de disciplinariza o instrutivos e carregados de valores morais e religiosos Nestes contos as situa es modificavam se um casal desajustado uma mulher vaid
123. anta In s era constantemente relembrado s Filhas de Maria e a imita o de seus valores amor castidade e religi o crist era incentivada Sob o patroc nio de modelos de pureza e obedi ncia a Pia Uni o das Filhas de Maria nasceu sinalizando a partir de suas padroeiras o modelo de mulher desejado em suas fileiras A pureza diretamente relacionada castidade se constitui uma das preocupa es principais dos entusiastas desse modelo de irmandade e transforma suas associadas em anjos de virtude Os ares da liberdade sexual jamais deveriam soprar para as jovens cat licas especialmente as Filhas de Maria A pureza feminina relacionada ao desconhecimento de assuntos e pr ticas sexuais era o principal ponto de vigil ncia em torno das a es destas mulheres e as equiparava a seres angelicais uma vez que uma boa Filha de Maria deveria abjurar todos os prazeres mundanos para conservar se sempre inpolluta sempre pura sempre digna do nome de filha de Maria como se v nesta reuni o mensal da Pia Uni o de Limoeiro quando o Hino de Santa Inez In Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit p 576 16 O Revmo Padre Zacharias Ramalho fez uma bel ssima allocu o an logo ao acto perorando sobre a virtude da pureza virtude por excel ncia que ennobrece um ser collocando o paralello os anjos a jovem que acceita com abnega o o lugar de filha de Maria abjura todos os prazeres mundanos para conserv
124. antes onde iguais se congra avam As furtivas trocas de olhar os sorrisos recatados e o discreto entrela ar de m os poderiam representar perigo e amea a imagem da Pia Uni o Mas a preocupa o envolvendo as rela es homem x mulher n o ficava restrita s rela es extra irmandade O contato do sacerdote com as jovens senhorinhas Filhas de Maria tamb m merecia cuidado e zelo Por isso no manual o diretor advertido e orientado sobre seu comportamento com as associadas Quando tiver necessidade de falar com as associadas fale lhes ou no confession rio o que SEMPRE mais prudente ou diante da diretora ou presidente e NUNCA a s s com uma associada e em lugar que n o seja p blico N o se pode ignorar a n o observ ncia dos votos de celibato Na cidade de Limoeiro os boatos de sedu o e rela es impr prias entre os padres e as fi is eram tamb m recorrentes Por isso esse cuidado merecia ser bem observado especialmente dentro de um projeto t o caro Igreja cat lica a forma o moral e religiosa das jovens donzelas crist s Apesar de todos os cuidados que cercavam a rela o dos sacerdotes com as mulheres cat licas em Limoeiro verificou se um desvio do Padre Godofredo C ndido dos Santos noticiado na imprensa da capital Surprehendido em uma casa de fam lia a fazer proposta indecorosa a uma senhora respeit vel na aus ncia do marido o padre depois de esbofeteado pelo irm o da victima recebeu
125. ao p blico feminino a cr tica cat lica acompanhava com aten o o lan amento de cada volume cuidando para que n o transmitissem s leitoras valores contr rios religi o tratando de alert las sobre os poss veis desvios de conte do dos livros o caso do romance As irm s brancas de Florence Barclay Nele a autora fala da vida no claustro e apesar de n o cometer ofensas moralidade mostra o convento como um viveiro de hipocrisias de mentiras e de fuxico Por outro lado o enredo trata de uma quest o delicada para a Igreja a rela o homem x mulher na hierarquia cat lica retratada no livro de maneira impr pria contrariando os 28 A Livraria Selecta situava se em Fortaleza na Rua Major Facundo 29 CUNHA Maria Teresa Santos Armadilhas da Sedu o os romances de M Delly Belo Horizonte Aut ntica 1999 p 17 134 preceitos cat licos Por esses motivos embora fosse um romance da Biblioteca das Mo as n o deveria ser lido pelas senhorinhas cat licas As irm s brancas apesar de n o possuir excessos de linguagem nem scenas que offendam a moralidade deve ser exclu do da leitura de uma jovem catholica Desconhecendo ainda a religi o catholica a autora se permitte attitudes e phrases entre as irm s e entre um bispo e a superiora de um convento que n o possuem siquer visos de verdade Reduz o convento onde se passa a maioria do romance a um viveiro de hipocrisias de mentiras e de fuxico
126. ao prazer ditando o merecimento de ganhar o t o propagado reino dos c us Idolatra de si pr pria entregue aos prazeres da terra revolta se ante os golpes do infort nio Sem cuidar na sua orienta o n o se lembra que a vida uma passagem e que nada na religi o nos autoriza a esperar na terra a felicidade Grifos meus Quando as expectativas constru das em torno de sua imagem n o se efetivavam era poss vel encontrar nas p ginas do jornal cat lico cearense den ncias de comportamentos dissonantes do modelo feminino pretendido pela Igreja que temia perder suas piedosas filhas para os males da modernidade Como todas as mulheres de seu tempo as Filhas de Maria n o estavam imunes s mudan as e tamb m eram alcan adas pelas teorias do s culo fato que desagradava a Igreja gerando censuras quelas que se atreviam a desafiar o modelo puritano estabelecido Na cr tica da imprensa cat lica essas jovens eram vistas como Filhas de Maria desvirtuadas por sua instru o e pela ousadia de defender o direito de tudo saber ver ler dizer Filha de Maria educada com esmero instru da culta piedosa at em certo tempo deixou se de tal modo embair pelas theorias do s culo ouviu com tal encanto as palavras blandiciosas e elegantes dos pregoeiros do erro leu com tal enlevo periodos burilados de estylistas cuja arte escondia os mais tra oeiros perigos para a f e a virtude que foi pouco a pouco perde
127. apenas com sete associadas contrastando com a Irmandade da Immaculada Concei o que contava com duzentas e sessenta e seis associadas Nos primeiros anos de exist ncia da Pia Uni o o crescimento do n mero de associadas foi pequeno o que nos permite inferir que o novo modelo proposto n o foi aceito de imediato pelas jovens da cidade que permaneciam associadas ao modelo anterior de associa o religiosa representado pela Irmandade da Immaculada Concei o poss vel verificar conforme demonstra o gr fico 01 como o crescimento da Pia Uni o foi lento em seus primeiros anos e o seu n mero de associadas ficava muito abaixo das associadas da Immaculada Concei o Para que se tenha id ia em 1915 o n mero de Filhas de Maria representava menos de 3 do total de associadas da Immaculada Concei o Seis anos depois em 1921 essa porcentagem chegava a 12 percentual que ainda fazia da Pia Uni o uma irmandade pequena em n mero de associadas Uma associa o de poucas e para poucas 21 N mero de Associadas Confraria da Immaculada Concei o x Pia Uni o das Filhas de Maria E Confraria da Immaculada Concei o E Pia Uni o das Filhas de Maria 1915 1917 1918 1919 1920 1921 Gr fico 01 Comparativo do n mero de associadas da Pia Uni o das Filhas de Maria x Confraria da Imaculada Concei o Fonte Livros d
128. ar Muitos n o se contentam com o reclamo dos t tulos Ostentam capas extravagantes com figuras e desenhos inconvenientes Grifos meus O fato de a imprensa cat lica atribuir e divulgar certas caracter sticas como sendo inerentes s obras impr prias podia reservar perigos maiores Presos a estigmas pr estabelecidos pela cr tica cat lica e preocupados muitas vezes em julgar o livro somente pela sua capa ou t tulo os leitores e leitoras cat licas n o estavam totalmente livres da presen a desse tipo de literatura em suas bibliotecas Por vezes os editores de obras condenadas pela imprensa cat lica cientes da vigil ncia em torno da apar ncia dos impressos tamb m lan avam m o de estrat gias para seus livros circularem despercebidos e serem lidos pelo p blico cat lico o caso do livro Tarzan O invenc vel cuja capa de cores vistosas e t tulo insuspeito permitiram uma boa margem de circula o at que os cr ticos cat licos percebessem que na realidade se tratava de um livro de prepara o s id as communistas Essa noticia dever impressionar todos os paes brasileiros que at hoje quasi inconscientemente sorriam satisfeitos vendo seus filhos absorvidos e interessados nas aventuras de seus preferidos heroes Olhavam para as capas dos livros impressas em cores vistosas viam o homem das florestas os le es as flechas os ca adores de feras e n o mais se preocupavam 13
129. ar se sempre inpolluta sempre pura sempre digna do nome de filha de Maria Em seu livro Minha Hist ria das Mulheres Michelle Perrot afirma que a virgindade das mo as cantada cobi ada vigiada at a obsess o A Igreja que a consagra como virtude suprema celebra o modelo de Maria virgem e m e Preservar e proteger a virgindade da jovem solteira uma obsess o familiar e social Por isso para a Igreja Cat lica era prefer vel o mart rio tal como na hist ria de Santa In s do que macular a virtude da castidade Na Pia Uni o de Limoeiro o mandamento era preciso antes morrer que manchar se louvando a pureza a alma intacta e o cora o puro A seguir deu por come ada a Instru o baseando se no 6 e 9 Mandamento da Lei de Deus N o pecar contra a castidade fazendo nos compreender em quantas cousas se mostra o mundo grande apreciador da puresa Para conservar a alma intacta o cora o puro a consci ncia isenta da mais leve sombra da impuresa preciso ter uma vontade apostada a antes quebrar que torcer e uma Constancia inquebrantavel ao firme proposito de antes morrer que manchar se As manifesta es que pudessem colocar essas jovens em contato com um universo do sexo eram combatidas com veem ncia por isso a vigil ncia deveria girar em torno n o s das rela es homem mulher ou dos namoricos inconsequentes Era preciso combater tudo que pudesse trazer s joven
130. ara esta freguesia de que ella era padroeira Leu o programma da prociss o e esplicou a colloca o das Filhas de Maria e aspirantes no trajecto da mesma Quando a Pia Uni o das Filhas de Maria foi fundada logo o p roco da cidade tratou de coloc la em evid ncia dando s associadas um lugar de destaque nos ritos da Igreja especialmente nas prociss es espa os p blicos importantes no munic pio Uma forma de comunicar cidade que ali estava bem mais que um grupo de simples devotas As prociss es cat licas no munic pio de Limoeiro para al m da dimens o devocional do rito eram locais privilegiados de proje o social elas comparecia grande parte da popula o do munic pio o que as tornava um palco singular para os setores mais elitizados da sociedade projetarem se Nas prociss es as pessoas n o iam apenas para rezar tamb m iam para ver e serem vistas Um lugar de destaque nesses eventos rendia o reconhecimento de toda a sociedade local Nos primeiros anos de vida da associa o visando ampliar o n mero de associadas a diretoria da Pia Uni o limoeirense especialmente seu diretor n o seguia rigidamente os ditames do Manual quanto s regras de admiss o na irmandade Por isso em princ pio o tom das cobran as era ameno e os sacerdotes tratavam de exaltar os benef cios morais e espirituais de fazer parte da Pia Uni o umas das mais bellas institui es dos tempos hodiernos Em seguida falou
131. aria deveriam buscar o apadrinhamento de alguma das senhoras da elite local que tradicionalmente mantinham em suas casas jovens pobres Estas jovens por vezes rf s tornavam se um misto de afilhadas e criadas e em troca recebiam prote o e aux lio Ao conviverem nas casas dessas senhoras as jovens afilhadas mantinham contato com mo as da elite local Essa conviv ncia permitia o estabelecimento de la os de amizade que facilitavam o ingresso na congrega o e a obten o do t tulo de Filha de Maria A Pia Uni o das Filhas de Maria especialmente a partir da d cada de 1930 consolidada sua imagem de lugar social privilegiado no munic pio de Limoeiro se tornava modelo e objeto de desejo daquelas que de fora assistiam s performances ritual sticas de suas associadas Eu achava muito bonito quando chegava aquele pessoal que era da irmandade tudo de branco que se ajoelhava A pegava a fita beijava a medalha e era s botar no pesco o Assistia a missa 38 N zinha Conrado de Souza 82 anos Entrevista concedida autora em Limoeiro do Norte no dia 16 06 2005 63 todinha com aquela fita Eu achei que era muito bom Queria ser tamb m Era assim o plano das jovens nesse tempo n Para muitas ser Filha de Maria era bonito e sob a capa da devo o a Pia Uni o se transformava na irmandade qual as jovens da cidade queriam se afiliar apesar da rigidez de suas normas e da exist ncia de outras irmandade
132. as da Sedu o Op cit 319 DARNTON Robert Edi o e Sedi o O universo da literatura clandestina no s culo XVIII trad Myriam Campello S o Paulo Companhia das Cetras 1992 p 16 Notas Margem Romances Hist ricos Jornal O Nordeste Fortaleza 31 mai 1928 p 192 tomar se ia O romance de Laura uma das obras da Biblioteca da Pia Uni o como um livro de exerc cios espirituais A d cada de 1930 no mercado editorial brasileiro marcada pelo aparecimento de grandes cole es de romances que para alguns representam o marco inicial de uma ind stria editorial brasileira De acordo com Jos Paulo Paes s a partir dos anos 30 pode se falar em ind stria editorial brasileira e n o por acaso as d cadas de 30 e 40 assistem ao aparecimento das grandes cole es de literatura de entretenimento Biblioteca das Mo as de romances sentimentais as cole es Terramarear e Paratodos de romances de aventura Compostas s de obras traduzidas principalmente do franc s e do ingl s explorando habilidosamente os fil es da sentimentalidade e da aventura essas cole es conquistaram uma legi o de leitores e assinalaram os prim rdios da invas o do best seller estrangeiro facilitada e estimulada pela aus ncia de similares nacionais Foram esses romances que tamb m alimentaram o gosto de leitura das Filhas de Maria limoeirenses Embora esses livros retirassem sua mat ria do mun
133. as de Maria limoeirenses eram astutas e escolhiam t tulos insuspeitos o que possibilitavam sua aceita o por parte do diretor espiritual que n o examinava as obras escolhidas De modo geral o acervo da Pia Uni o era composto de obras piedosas vidas de santos e religiosos romances e livros de forma o Esses ltimos visavam orientar a Filha de Maria para o papel que se esperava delas no futuro esposa e m e Por outro lado preciso levar em considera o que a leitura uma pr tica criadora e como tal n o se pode afirmar que a leitura de livros recomendados suscitava nas leitoras da Pia Uni o o desejo de imitar os exemplos santos Robert Darnton adverte que a leitura permanece um mist rio Temos dificuldade em compreend la hoje e maior dificuldade ainda 4 Neste trabalho essa dificuldade em nos acercarmos do que era no passado foi atenuada pelos documentos deixados pelas Filhas de Maria de Limoeiro que registraram nas atas das reuni es as leituras feitas mostrando sua liga o com a leitura e a escrita As leituras historiogr ficas realizadas ao longo da pesquisa constitu ram refer ncia primordial para pensar os problemas propostos ao objeto de estudo Perpassando trabalhos de hist ria da Igreja da religiosidade i DARNTON Robert A leitura rousseauista e um leitor comum no s culo XVIII In Pr ticas da Leitura Trad Cristiane Nascimento S o Paulo Esta o Liberdade 1996 p 143 hist
134. as dessas jovens o que tornava sua proibi o um mandamento dif cil de ser obedecido uma vez que para tal momento de sociabilidade a elite limoeirense se preparava com apuro Estes bailes eram sempre animados com muita m sica alegria risos e pequenos prazeres mundanos o que contraditava as regras de comportamento que essas mulheres deveriam seguir pois segundo seu Manual uma Filha de Maria deveria evitar a demasiada alegria as gargalhadas de espavento os gritos o correr ou andar muito depressa pelas ruas ou caminhos o saltar os gestos inconvenientes os bocejos em suma tudo quanto n o fica bem em uma jovem crist modesta e bem educada As rela es homem x mulher mereciam aten o e vigil ncia por parte da Igreja E o baile era o lugar prop cio ao flerte e ao namoro combatidos pelo padre Em seguida a Secret ria abaixo assignada fez a leitura espiritual no Manual da Pia Uni o depois explanadas com varias explica es pelo Rvd Director concitando as Filhas de Maria a observarmos o regulamento do mesmo Manual evitando os namoros por passatempo sempre perigosos e poucas vezes n o pecaminosos Outra m influ ncia dos bailes era a dan a forma de divers o combatida veementemente pela Igreja cat lica e pelo clero local A dan a o uso do corpo na busca de prazeres mundanos era vista como perigoso instrumento do pecado Leu nos depois o Revmo Diretor um t pico sobre as dansas atuaes com a
135. assam a figurar no jornal cat lico tinham aceita o do p blico que acompanhava seus enredos diariamente Os romances em forma de folhetim publicados n O Nordeste estavam em meio a leituras religiosas tradu es do franc s ou do italiano A edi o desses folhetins possibilitava sua encaderna o ao fim da publica o Anunciados pelo jornal cearense com entusiasmo com o intuito de atrair a aten o e a assiduidade do p blico leitor feminino Em sintonia com as recomenda es de leitura cat lica os enredos traziam li es edificantes como no folhetim Mabel Brevemente novo folhetim de O Nordeste MABEL Henry de Forge Lindo e attrahente romance que O Nordeste come ar a publicar no dia 1 de setembro MABEL A esposa her ica cuja dedica o eleva o marido ao apogeu da gloria como musico de talento Li o luminosa de enredo interessant ssimo a demonstrar que sobre a terra s o sacrificio fecundo Mabel como outros folhetins d O Nordeste era uma tradu o Sua tradutora escondia se sob o pseud nimo de L e era uma das mais ass duas nas d cadas de 1920 e 1940 Sabbado 2 de fevereiro iniciaremos a publica o de optimo folhetim STELLA especialmente traduzido do franc s para o O Nordeste por L talentosa e apreciada collaboradora da nossa folha O romance de enredo moderno Scenas vivas palpitantes de actualidade interessant ssimas h o de agradar po
136. atida com o intuito de evitar descobertas impr prias atrav s dos sentidos tamb m que a curiosidade satisfeita Reprimir a vaidade uma das formas eficientes de n o despertar os sentidos especialmente os do outro em particular do sexo masculino A vaidade sens vel s varia es da moda do comportamento e s divers es comportamento perigoso e inaceit vel de uma Filha de Maria Afinal abster se dos divertimentos mesmo os mais inocentes uma forma de n o ousar que os prazeres dos sentidos sejam revelados Por outro lado uma outra combina o de flores da virtude nos leva a observar o prop sito de formar jovens obedientes e resignadas onde obedecer com gosto levar com paci ncia as adversidades sofrer com 159 paci ncia vencer o g nio eram mandamentos que deveriam ser seguidos com orgulho e resigna o pelas jovens associadas Estes mandamentos representavam uma ren ncia de si onde abdicar dos desejos e temperamento era uma forma especial de eleva o espiritual Como o pr prio Manual da Pia Uni o apregoa numa palavra qualquer ato em 268 a nica forma de que renuncieis vossa vontade para cumprir a de Deus alcan ar a perfei o espiritual Neste sentido a mortifica o estimulada e exaltada por esse comp ndio como a nica forma de conservar intacta a pureza da alma As amizades perigosas tamb m mereciam cuidados e vigil ncia Por isso as orienta
137. ava vantagem sobre os livros e por isso os pais deveriam se cercar de cuidados ao permitir que suas crian as e filhas fossem ao cinema Os h bitos de leitura do p blico cearense eram vistos como suscet veis de influ ncias do cinema que tinha a capacidade de influenciar gostos em virtude de seu alcance ser mais amplo z Si os livros podem ser nocivos sociedade o cinema fazendo propaganda desses livros torna se muito mais nocivo porque o 166 Coisas da poca Jornal O Nordeste Fortaleza 13 mar 1936 p 08 Coisas da poca Jornal O Nordeste Fortaleza 13 mar 1936 p 08 110 numero de frequentadores das salas de espectaculos muito maior do que o dos fregueses das livrarias Por seu alcance a propaganda de uma obra ou de um escritor no cinema mostrava seus efeitos nos h bitos de leitura Assim o cinema era apontado como a causa direta da valoriza o da literatura apontada como perniciosa pela moral cat lica Embora o mal estivesse nas p ginas dos livros O cinema pervertia ao divulgar certas obras suscitando curiosidade e interesse acerca de obras imorais visto que para a cr tica cat lica os livros tornavam se conhecidos pela propaganda que delles se fazem o caso da pel cula Emile Zola cuja exibi o causou aumento na procura das obras do escritor nas livrarias da cidade Tido como um dos autores mais perniciosos o fime embora n o trouxesse cenas impr prias
138. ava puni es que iam da advert ncia expuls o daquelas que infringiam os c digos da Irmandade Uma vez verificado um desvio a a o do assistente espiritual era en rgica como salvaguarda reputa o do grupo Com o advento do sufr gio feminino em 1932 as Filhas de Maria de Limoeiro foram incentivadas pela Igreja a fazer seu alistamento eleitoral uma vez que o voto feminino era facultativo para que pudessem apoiar os candidatos da Liga Eleitoral Cat lica LEC A orienta o era categ rica a associada da Pia Uni o que n o votasse nos candidatos apoiados pela LEC seria expulsa da irmandade Com isso combinava se ao discurso moralizador que regia a associa o uma dimens o pol tica Com a an lise das fontes descobriu se uma caracter stica qual deu se nfase nessa pesquisa o fato das associadas da Pia Uni o das Filhas se constitu rem como um grupo de leitoras Nessa associa o a leitura estava presente desde o rito de entrada quando recebiam a fita de cetim azul a medalha e um livro o Manual da Pia Uni o Nesse livro que deveriam ler diariamente elas encontravam orienta es acerca de seu comportamento suas obriga es e sobre o funcionamento da irmandade O Manual tinha caracter stica de guia e orientava as pr ticas das associadas Na irmandade das Filhas de Maria a leitura constitu a uma pr tica devocional um exerc cio de forma o moral e uma atividade de entretenimento A imprensa cat lica apo
139. c o de boletins regulares com a classifica o dos filmes Na vis o da Igreja o cinema tinha estado at ent o a servi o do mal sendo poucas as pel culas de conte do edificante Numa sociedade viciada pelo cinema era mister tomar o controle dessa arma gigantesca Lament vel que os inimigos da Verdade tenham talvez comprenhendido melhor o grande poder do cinema Triste que os filhos da Luz ordinariamente tenham sido mais descuidados e retardados em se utilizar delle Ningu m absolutamente pode ignorar que o cinema at hoje ha servido mais para corromper e transviar do que para instruir e educar A nossa sociedade viciada pelo cinema Outro divertimento n o a satisfaz E o seu paladar de j t o estragado sente apenas sabor nas fitas disseminadoras de indec ncias Com o cinema tal como nas leituras a Igreja combatia os filmes desmoralizantes com aqueles edificantes Visto como arma de apostolado deveria ser redimido em sua miss o de educar moralmente seu p blico e a Igreja n o podia descuidar se deixando o nas m os de seus inimigos que envenenavam a popula o com exibi es impr prias a popula o cath lica em larga escala envenenada por uma mercadoria cinematographica sem escr pulo O cinema tem faltado demais sua miss o de eleva o moral e desenvolvimento intellectual mas n s n o devemos por isto deixar aos inimigos esta nov
140. cat licas traziam uma s rie de valores associados leitura De acordo com a propaganda esse tipo de leitura tinha um poder de convencimento e convers o al m de difundir os principais livros e escritores cat licos como o caso do Padre Julio Maria INIMIGOS N o existe um inimigo da Igreja despido de v cios que estudando a sua doutrina com imparcialidade n o se converta A loja O Gabriel vende livros do pe Julio Maria que destroem todas as heresias De acordo com os an ncios o cat lico deveria exortar sua religi o orgulhar se dela e buscar construir para si uma forma o religiosa s lida atrav s da leitura di ria de bons livros que a livraria O Gabriel dispunha venda O catholico deve estudar a sua religi o O catholico deve vibrar quando diz Creio na santa Igreja Catholica apost lica Romana O catholico n o deve passar um dia sem ler uma pagina de um bom livro A loja O Gabriel vende bons livros Nos an ncios da pequena livraria cat lica os males da modernidade e da educa o deveriam ser combatidos a partir do conhecimento dos assuntos em voga por isso o combate deveria iniciar com a leitura de bons livros que se encarregariam de ensinar tudo A educa o A educa o actual muito imperfeita porque o espirito de sacrificio isto do dever dessapareceu 2 Livraria Selecta Jornal O Nordeste Fortaleza 01 fev 1933 p 01 20 Jornal O
141. cendendo as paix es mais desenfreadas e arrastando o cora o ao lama al de todas as torpezas Grifos Meus A leitura que seduz o prazer do proibido e do imoral seria mais irresist vel aos jovens cujos arroubos da idade tornava lhes fracos diante das tenta es As descri es dos livros imorais expondo sem pudor a vida e o sexo mat ria velada s jovens cat licos podiam despertar sua imagina o 309 As disputas pol ticas no munic pio tamb m envolviam o clero Os p rocos acabavam se identificando com um dos dois grupos pol ticos que disputavam o poder na cidade e esse envolvimento determinava as destitui es e tamb m as escolhas daqueles que ficariam frente da par quia A religiosidade do povo limoeirense era muito forte e segundo o censo de 1940 99 16 da popula o era cat lica por isso a figura do p roco e seu apoio a determinado grupo pol tico tinham um peso muito grande no munic pio Revista Eclesi stica Brasileira vol 4 fasc 2 junho 1944 Pequenos Casos Pastorais Romances imorais e realistas p 427 Em todas as cita es da REB manteve se a grafia do documento original inclusive os erros de ortografia 187 acender paix es e influenciar a es moralmente conden veis Era o medo das horas solit rias em companhia do livro no torpor da noite e das sensa es despertadas pelo enredo de uma obra Os padres e assistentes eclesiais deveriam ser vigilantes acompanhando a edi
142. cendo a dificuldade de condicionar as leituras de romances somente queles escritos por religiosos a Igreja matizou seu discurso sobre este tipo de literatura principalmente no que se refere s cole es para mo as poss vel perceber uma invers o dos julgamentos cat licos em torno da leitura de romances Esta mesmo vista com desconfian a passa a ser permitida e at incentivada desde que n o exagerem nas tintas A cole o Biblioteca das Mo as se tornou sin nimo de leitura permitida as mo as cat licas como um passatempo embora f til n o conden vel No Cear era not ria a aceita o dos livros dessa cole o e seus livros se tornaram best sellers A Livraria Selecta por exemplo anunciava em letras garrafais a cole o completa de M Delly M Delly era o nome mais procurado entre as obras da cole o Biblioteca das Mo as Seus livros despertavam o interesse do p blico feminino e se destacavam mais do que a pr pria cole o na qual estavam inclusos Na d cada de 1930 era comum o pensamento de que M Delly era uma escritora francesa Maria Teresa Santos Cunha afirma que Ainda hoje muitas pessoas se referem a M Delly como Madame Delly Trata se no entanto do pseud nimo de um casal de irm os franceses cat licos fervorosos que se chamavam Fr deric Henri Petitjean de La Rosi re 1870 1949 e Jeanne Marie Henriette Petitjean de La Rosi re 1875 1947 2 Por ser uma cole o dirigida
143. cessariamente a esta regra Os crit rios de merecimento moralidade e obviamente pol tico pessoais estabelecidos pelos sacerdotes definiam as novas diretoras da Pia Uni o 38 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 04 de janeiro de 1928 32 Por vezes at mesmo os cargos que deveriam obrigatoriamente ser votados pelas associadas tais como presidente e secret ria eram nomeados pelo diretor Essas nomea es eram feitas sem discuss o com o grupo sendo apenas mencionadas nas atas O que poss vel observar nas atas das reuni es mensais das Filhas de Maria que a cada novo diretor a diretora em exerc cio come ava a faltar as reuni es da irmandade Logo ap s este s bito e inexplicado afastamento o padre nomeava uma nova diretora sem mencionar a raz o da sa da daquela que ocupava o cargo anteriormente Os cargos de diretora e vice diretora eram os nicos que podiam ser ocupados por senhoras casadas uma vez que a irmandade das Filhas de Maria era constitu da exclusivamente por jovens solteiras e o casamento as exclu a automaticamente da irmandade Por essa especificidade do cargo n o raro ver ocupando o posto de Diretora da Pia Uni o das Filhas de Maria as senhoras esposas de pol ticos ou abastados comerciantes Isto quando elas pr prias n o desfrutavam de um certo poder pol tico dentro do munic pio o caso de Judite Chaves Saraiva que ocupou o cargo de diretora
144. cia para lutar pela causa crist em defesa da Igreja Nas narrativas cat licas as hero nas eram devotadas bondosas e muitas vezes Filhas de Maria Na tentativa de relacionar a bondade beleza os enredos traziam mulheres que personificavam a bondade ou a mal cia Exemplo desse esfor o de caracteriza o da hero na e da vil cat lica o conto publicado n O Nordeste que diferencia em tudo uma her ica filha de Maria de uma literata at ia Conheci as eram irm s Ningu m havia de diz lo si as estudasse apenas pelo lado phisico e moral Duas creaturas inteiramente oppostas uma era a nega o da outra Si a natureza as distanciara no aspecto exterior onde nenhum tra o a mais leve semelhan a deixava entrever um parentesco long nquo indo das ra zes profundas mais remontada verg ntea da arvore geneal gica muito mais flagrante era o antagonismo nos recessos do esp rito e do sentimento da intelligencia e do cora o os quaes de uma para outra se differenciavam em extremos de 204 PAIVA Aparecida A Voz do veto a censura cat lica leitura de romances Belo Horizonte Aut ntica 1997 p 60 128 incompatibilidades irreductiveis de hostilidades inharmonizaveis como as que se verificam entre a luz e as trevas o bem e o mal Alda e Herminia assim e chamavam as duas jovens que nascidas de um mesmo consorcio eram todavia um mist rio de pasmosa e chocante desigualdade na aprecia o da qu
145. cie na vida espiritual Fazendo um invent rio das poss veis leituras de doutrina s lida e acess vel a autora indica as vidas dos santos e as biografias de pessoas virtuosas que por seu car ter edificante eram adequadas para preencher as horas pac ficas e de cio do domingo n o te parecem feitas a calhar as horas pacificas de um domingo para ler as vidas dos santos e as biographias de tantas almas que viveram em o nosso mesmo s culo edificando nos com o brilho de suas virtudes Nas recomenda es de Maria Desid ria encontram se indica es sobre como o h bito de ler deveria ser cultivado Assim para que o efeito dos bons livros se fizesse sentir era necess rio que sua leitura fosse met dica obedecendo hor rios e cultivando h bitos que contribuiriam para um avan o progressivo na virtude Ah irm o irm se cada domingo com o fito de te santificares quisesses fazer uns tr s quartos de horas de uma leitura til e proveitosa Farias uma provis ozinha de for as que aproveitrarias durante a semana E renovando cada domingo as tuas energias e a tua sciencia bem depressa farias algum progresso na virtude Por fim a autora aponta o itiner rio para a escolha da obra correta ao leitor cat lico cat logos de livrarias cat licas a cr tica de livros dos jornais cat licos e por ltimo ouvir as recomenda es de leitores confi veis Somente ap s a ob
146. como livros de ata livros cont beis e demais registros do cotidiano da associa o Entretanto essa desvaloriza o da express o feminina na escrita t o abertamente propagada pela imprensa cat lica n o se efetivava na pr tica Como ilustra o dessa contradi o pode se observar que grande parte da literatura escrita e recomendada s mulheres cat licas era feita por m os femininas As colaboradoras cat licas n o s escreviam como tamb m se encarregavam da tradu o de in meras obras dirigidas ao p blico cat lico Nomes como Ancilla Domini Maria Desideria Am lia Rodrigues entre outras figuravam na lista de autoras e tradutoras das obras que as mo as cat licas deveriam ler com afinco A circula o de livros na capital cearense n o se dava apenas atrav s das livrarias Vendedores ambulantes de livros tamb m circulavam pelas cidades sem levantar suspeitas Alguns desses vendedores traziam consigo n o s obras desaconselh veis como tamb m as obras proibidas o perigo vermelho da literatura comunista 164 Com os casadoiros Jornal O Nordeste Fortaleza 25 nov 1928 p 12 107 Em Fortaleza a den ncia desse tipo de pr tica foi alardeada pelo jornal O Nordeste que de forma recorrente tratou de alertar e denunciar s autoridades algumas vendedoras de livros Essas vendedoras de apar ncia distinta e imagem insuspeita batiam de porta em porta oferecendo entre suas mercadorias livros proibidos
147. congrega o As associadas n o poder o entreter rela es de amizade com as que tiverem sido exclu das sob pena de incorrerem na mesma exclus o apenas poder o sa da las como exige a caridade crist e nada mais Todavia a influ ncia das rela es extra irmandade podem ser observadas mesmo em situa es limites como na expuls o de uma associada Neste sentido encontram se registrados nas atas reingresso de associadas que haviam sido exclu das por desobedi ncia o caso da associada Alba Craveiro que foi readmitida na irmandade depois de ter sido expulsa por n o cumprir as normas Seu reingresso foi registrado sucintamente o que nos permite inferir que as condi es que envolveram o retorno da associada n o deveriam ser explicitadas ao grupo Fa o constar que na noite desse mesmo dia por ocasi o do exerc cio Mariano declarou o nosso digno Director readmetida na Pia Uni o Maria Alba Costa Craveiro Submetidas a muitas regras e cobradas em seus comportamentos as Filhas de Maria de Limoeiro n o se resignaram diante da vigil ncia pelo contr rio resistiram sutilmente de muitas formas Por m a sutileza de suas resist ncias nem sempre as livraram da puni o Uma vez punidas n o desistiam de permanecer na irmandade que havia se constitu do como um espa o privilegiado Essa import ncia conquistada paulatinamente pelas a es do grupo tornava a Pia Uni o um projeto n o s da Igreja mas tamb m des
148. da Igreja Diante disso a Igreja se v obrigada a repensar seu combate aos romances reconhecendo a inefic cia de sua cr tica a esse g nero liter rio visto o interesse das leitoras cearenses Assim a Igreja passa a aceitar a leitura de certos romances desde que passassem por seu crivo A id ia era permitir a leitura de romances que n o trouxessem amea as moral para evitar que se buscassem outras obras como a literatura Zola Neste sentido afirmava uma colunista d O Nordeste Ora phrase corrente que o fogo se cura com o fogo Porque n o se h de curar a leitura com a leitura Mais atenta aos conte dos dos romances sem pitadas exageradas de realidade e que se aproximavam dos contos de fadas a Igreja passou a 151 Cf Livro de Cr nicas do Convento de Petr polis P 19 Apud PAIVA Aparecida A Voz do veto Op cit p 38 192 Semeando Duas Medidas Jornal O Nordeste Fortaleza 08 jan 1929 p 01 e 08 101 aceit los e at recomend los mediante alguns crit rios Deste modo passou a elogiar os romances mais a ucarados que n o continham cenas fortes para fazer frente aos romances que traziam cenas impr prias o caso de A com dia Nupcial traduzida do original franc s de Gui Chantpleure publicada pela cole o Biblioteca das Mo as cujo enredo envolto num ambiente de romantismo e de peripecias impossiveis a tornavam uma leitura pr pria para mo as
149. dade a Pia Uni o se mostrou como um espa o que sofria influ ncias das rela es pol ticas locais Por ser um espa o normatizado a Pia Uni o das Filhas de Maria tinha regras espec ficas e procurava formar suas associadas como modelos de pureza e virtude As normas da Irmandade visavam preservar sua imagem 217 como espa o de donzelas puras e piedosas para isso tratava de combater as influ ncias que pudessem desviar o comportamento das associadas Assim pari passu das orienta es espirituais as fontes examinadas neste estudo apontaram normas de conduta e comportamento como parte da forma o das associadas Buscando combater as dan as os bailes e as novas modas as regras da Irmandade estabeleciam uma tens o entre modelos de comportamento feminino De um lado a mulher mariana virtuosa e de postura irrepreens vel do outro a mulher dita moderna pecadora e inconveniente Diante disso a imagem modelar da Filha de Maria era apresentada no periodismo cat lico enaltecendo as normas da congrega o e produzindo um discurso de cunho doutrin rio e moralizador Assim ampliou se a perspectiva de an lise medida que se adensava na consulta ao Jornal O Nordeste um largo invent rio de artigos resenhas an ncios de livrarias e outros ind cios da influ ncia da leitura no modelo feminino requerido pela Igreja Nesse sentido a palavra dos articulistas do jornal na forma da cr nica inventando contos e fabulando hist rias
150. dades como a compra de um manual luxuoso As Filhas de Maria deveriam escolher esse t tulo por vontade pr pria e para merecer o manual a fita e a medalha deveriam ser eleitoras por isso o jornal cat lico lembrava retoricamente H obriga o de se alistar N o h obriga o de ser Filha de Maria Minhas senhoras si esse pouco dinheiro que se gasta deve ser um motivo para uma senhora catholica n o se alistar digamos ent o que ainda n o compreendeu ella a gravidade da situa o Eu vejo com a maxima admira o Filhas de Maria pauperrimas darem com gosto 10 000 para um manual de Filhas de Maria doirado quando podiam adquirir um mais barato de bordas encarnadas Pois deixae que vos diga o alistamento vale mais perante Deus que o seu manual a sua fita e sua medalha que n o os merece H obriga o de se alistar N o h obriga o de ser Filha de Maria As Filhas de Maria em Limoeiro eram alcan adas pelo discurso do Jornal cat lico cearense leitura obrigat ria do grupo Os ditames contidos no Jornal O Nordeste Fortaleza 28 abr 1933 p 05 47 Jornal O Nordeste Fortaleza 14 fev 1933 p 01 37 Jornal eram ratificados pelos sacerdotes durante as reuni es da irmandade Votar nos candidatos apoiados pela LEC era uma obriga o das Filhas de Maria Essa obriga o ultrapassava o mbito da consci ncia religiosa e sua n o observa o estava sujeita a retalia es severas inclusive a
151. dar ou trabalhar com gosto pelo amor Virgem 23 Abster se de algum divertimento ainda que inocente 24 Edificar o pr ximo com palavras e por obras 25 Sofrer com paci ncia as pess as rudes 26 Vencer o g nio 27 Fazer o exame de consci ncia e o ato de contri o antes de se deitar 28 Caindo em alguma falta fazer prop sito de emendar se 29 Fazer atos de conformidade com a vontade de Deus 30 Fugir de alguma amizade perigosa 31 Fazer atos de amor com Jesus Essas trinta e uma instru es virtuosas que as Filhas de Maria encontravam em seu Manual e que deveriam seguir dizem muito sobre o modelo de jovem cat lica que a Igreja visava construir e como as associadas da Pia Uni o deviam se conter em seu contato com o mundo extra igreja O que se pode observar que as Flores da Virtude est o em sua maioria relacionadas a pr ticas morais e de conduta bem como a pr ticas religiosas E dentro desse universo de ensinamento moral educar os sentidos o mais recorrente Mas n o s Se fizermos uma breve divis o arbitr ria podemos agrupar essas Flores de Virtude em quatro ramalhetes distintos que no entanto se complementam s o eles Moral e Autodisciplina Devocional Mission rio e um grupo relacionado diretamente s Leituras Destes quatro ramalhetes o mais florido o da Moral e Autodisciplina Nele podemos agrupar dezessete das trinta e uma orienta es apontadas O Devocional e o Mis
152. das Livros offericidos Bibliotheca da Pia Uni o das Filhas de Maria Estudos da Semana Social Mariana Offerecido pelo seminarista Mizael Alves de Souza O Bom Soffrimento Oferecido pela Senhora D Adelaide de Castro Aventuras Duma Abelha offerecido pelas senhoritas Ma Consu lho e Maria da Penha Guedes As id as de Agenor Madruga e Dois Amigos e Outros Contos offerecidos pelas senhoritas Maria da Penha e Maria Consu lho Guedes Os livros doados pelas Filhas de Maria Aventuras duma abelha As id ias de Agenor Madruga Dois amigos e outros contos sugerem suas prefer ncias de leitura ampliando o gosto por leituras piedosas para leituras amenas que divertem e distraem Embora permane am os Estudos da Semana Social Mariana e O bom sofrimento de conte do religioso As obras da biblioteca da Pia Uni o eram numeradas em ordem crescente quantificando os livros do acervo A partir do caderno de controle de empr stimos da Biblioteca da Pia Uni o poss vel localizar as doa es citadas Com elas o acervo chegou ao n mero de setenta e uma obras Passados quase dois anos do in cio do projeto da biblioteca da Pia Uni o de Limoeiro as associadas tinham disposi o menos de uma centena de livros em seu acervo Com a ajuda das associadas o n mero de livros foi crescendo aos poucos de modo que a Biblioteca da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro chegou na d cada de 1940 a um acervo de mais de duzentos t tulos
153. das dos ideais rom nticos A literatura realista e sua variante naturalista foram alvos constantes da cr tica cat lica que via nessas obras uma fonte de corrup o moral e por isso as queria bem longe dos leitores cat licos especialmente do g nero feminino que por sua natureza fraca era facilmente influenci vel Esse tipo de literatura combinada curiosidade feminina em descobrir o mundo que lhes era negado transformava os livros em inimigos potenciais que deveriam ser cuidadosamente vigiados sob pena de sua influ ncia criar jovens mulheres que sabiam demais a amea a de um ex rcito de novas Evas Eva ali s era um termo utilizado pelos editores do jornal se referindo ao p blico feminino especialmente aquelas mulheres que desafiavam os ditames da Igreja Cat lica Este termo e suas varia es tais como filhas de Eva ou evinhas traziam consigo um sentido pejorativo que desclassificava a mulher moderna vista como doida Pensando bem nem sei mesmo o que diga sobre as Evas de hoje E t o grande o arrojo dessas frageis creaturas desprezando como o est o fazendo os mais sagrados principios de religi o e de moral domestica que eu a julg las fico de bocca aberta quando me reporto ao que a mulher dos nossos tempos est 104 Matadores de Almas Jornal O Nordeste Fortaleza 10 dez 1937 Mat ria assinada pelo C nego Alfredo Xavier Pedrosa da Academia Pernambucana d
154. de 184 afinal a maior cole o de livros da cidade era de propriedade de um sacerdote e duas das cinco restantes pertenciam ao Semin rio e ao Col gio Diocesano 3 3 1 Exercitando liberdades a forma o do acervo da Biblioteca da Pia Uni o O poder das bibliotecas reside enfim em seu papel crucial na transmiss o da cultura e dos saberes As bibliotecas s o os lugares da continuidade mas tamb m das rupturas da tradi o Christian Jacob Quando se fala de uma biblioteca formada para uma irmandade cat lica feminina seu conte do pode parecer bvio livro de ora es e hagiografias Essa id ia se fortalece se considerarmos o discurso cat lico envolvendo a leitura condenando os romances e outras obras que n o difundissem as id ias de moralidade e dec ncia estabelecidas pela Igreja A dificuldade do clero pouco numeroso para formar com recursos pr prios uma boa cole o de obras cat licas recomendadas ao p blico feminino era evidente Como em todos os empreendimentos da Igreja no munic pio n o tardou que a ajuda dos fi is especialmente das Filhas de Maria fosse necess ria a fim de que se levasse o projeto adiante Entretanto formar uma biblioteca uma tarefa que tem suas particularidades Diferentemente de erguer uma capela um pal cio episcopal ou reformar uma igreja tarefas s quais a popula o limoeirense acorria rapidamente doando tijolos telhas madeira doar livros exigia um cer
155. de e na Igreja limoeirenses Apresentar esse grupo seleto de mulheres bem como analisar sua organiza o funcionamento e influ ncia no munic pio de Limoeiro o intuito principal deste cap tulo A Pia Uni o das Filhas de Maria sob o patroc nio da Virgem Imaculada e de Santa Inez Virgem e M rtir n o teve suas origens no Brasil Este modelo de confraria religiosa direcionada ao apostolado leigo foi criado em Roma na Bas lica de Santa In s extra muros em 30 de setembro de 1864 pelo c nego regular Alberto Pass ri Esta Pia Uni o de Roma foi submetida aprecia o do papa Pio IX e depois de aprovada foi elevada Prim ria o que significa que todas as outras Pias Uni es das Filhas de Maria que viessem a surgir ao redor do mundo deveriam estar subordinadas a ela Para se agregar era necess rio enviar o pedido a Roma e uma vez aprovado a nova associa o se tornava oficialmente uma irmandade reconhecida pela Prim ria de Roma e consequentemente pela Igreja Cat lica Romana A partir da aprova o os 11 benef cios concedidos Prim ria romana estendiam se tamb m nova Pia Uni o rec m agregada N o obstante fosse uma associa o Pia rec m criada a Prim ria romana da Pia Uni o das Filhas de Maria e suas agregadas receberam da S apost lica grande defer ncia Al m de ser rapidamente elevada prim ria o Papa tratou se conceder in meras indulg ncias a esta irmandade Com isso pode se percebe
156. despertava quest es e hip teses que inquietavam minha imagina o hist rica Ao estabelecer contato com ex associadas da Irmandade descobri que registravam as atividades do grupo em atas feitas mensalmente por ocasi o da reuni o da Pia Uni o Come ava a o intricado caminho da pesquisa No Arquivo da Diocese de Limoeiro do Norte ADLNY entre pap is empoeirados documenta o dispersa e n o catalogada me deparei com uma 1 A cidade de Limoeiro s passou a chamar se Limoeiro do Norte em 1943 pelo decreto lei n 1 114 de 30 de dezembro A mudan a se deu para diferenci la da cidade pernambucana de Limoeiro que por ser mais antiga tinha predile o pelo top nimo Portanto para evitar anacronismos nos referiremos cidade das duas formas de acordo com o ano que estiver sendo abordado Denomina se aqui de ADLN uma pequena parte do Pal cio Episcopal de Limoeiro do Norte onde fica arquivado um grande volume de documentos referentes s par quias da Diocese A documenta o deste arquivo no entanto ainda reduzida se levarmos em considera o o n mero de par quias que abrange Infelizmente muito da documenta o referente a Diocese de Limoeiro do Norte se perdeu em meio a enchentes pragas de cupins e extravios vasta documenta o da Pia Uni o livros de atas cadernos de anota es livros de registro de associadas cadernos de controle da Biblioteca cadernos de chamada das associadas entre outros A par
157. do cearense Fran Martins na vis o do jornal trazia potencial destrutivo e por isso n o deveria ser lido S ALGRANTI Leila Mezan Livros de devo o atos de censura ensaios de hist ria do livro e da leitura na Am rica Portuguesa 1750 1821 S o Paulo Hucitec FAPESP 2004 p 157 84 At o capitulo 13 campeia uma sujidade horrenda uma impudicia deslavada um linguajar grotesco uma irrever ncia alarmante como se a immoralidade fosse meio de educa o e norma civilizadora da sociedade Aqui est a maldade desta corrente liter ria aqui est logicamente a maldade perversa do Ponta de Rua Todo chefe de fam lia se precavenha contra esse livro inconvenientissimo a maxima nega o do bom gosto art stico Longe de educar uma obra que poder fazer no espirito de quem quer que seja todas as destrui es poss veis Autores como Jorge Amado Jos Lins do Rego e Monteiro Lobato reconhecidos pela cr tica nacional eram severamente julgados pelo jornal que n o recomendava a leitura de suas obras Sobre Jorge Amado o jornal O Nordeste fazia um cido coment rio qualificando sua obra no rol dos livros sem compostura aqueles que chafurdavam suas personagens na lama dos desregramentos moraes e sexuaes e transforma os seus livros em verdadeiras pedras de esc ndalo J4 Jorge Amado sufficientemente conhecido como um escriptor de pornographias Cacau e Suor s o paradigmas de livr
158. do do sonho e da fantasia dos contos de fada tamb m traziam como pano de fundo os ensinamentos e valores morais recolhidos no proselitismo da Igreja cat lica o que acabava por caracteriz los tamb m como obras moralizantes onde os pecadores s o castigados exemplarmente e os justos recebem a recompensa De acordo com Maria Teresa Santos Cunha esses romances eram do g nero romance folhetim e as est rias narradas privilegiavam o amor como sentimento todo poderoso capaz de vencer barreiras sociais e fazer a hero na em geral rf ou enjeitada casar com o her is aristocrata e rico Afinal um eco da moral dos contos de fadas As est rias sempre terminavam em casamento a puni o dos anti her is o reencontro dos abandonados com os abandonadores o casamento feliz nos moldes da Igreja Cat lica confirmavam o car ter de obras edificantes Mesmo com uma carga de ensinamentos morais e hero nas religiosas os sacerdotes insistiam que mesmo os bons romances n o deveriam servir de passatempo s Filhas de Maria Por esta raz o o Manual da Pia Uni o 320 Gf CUNHA Maria Teresa Santos Armadilhas da Sedu o Op cit p 35 36 321 Idem p 35 193 combatia todos os tipos de romance pelas fantasias que podiam despertar e orientava se abstenham completamente de conversa es maliciosas seja com quem for da leitura de livros maus romances l bricos e profanos evitando o poss vel
159. do o estatuto a que forem chamadas por Deus possam ser ou esposas fi is e timas m es de fam lia no s culo ou esposa do Senhor no claustro ou ainda castas donzelas no meio do mundo no seio das suas fam lias servindo a como flores ilibadas de exemplo a todos na piedade e na virtude Ela deseja se procure conhecer a voca o refreando as paix es e frequentando os sacramentos da Penit ncia e da Eucaristia e n o nos passatempos perigosos no meio dos desv rios sic da juventude dando largas s suas naturais inclina es O apelo devocional em torno da Virgem Maria era forte no munic pio de Limoeiro que tem como padroeira Nossa Senhora da Imaculada Concei o No entanto para al m do mbito religioso a Pia Uni o das Filhas de Maria trazia outros atrativos que faziam dessa associa o um grupo distinto no munic pio 1 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit p 43 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit Cap Fins e Vantagens p 6 7 19 1 2 Entre o poder da devo o e a devo o ao poder A Pia Uni o das Filhas de Maria em Limoeiro Entre as religi es e as mulheres as rela es t m sido sempre e em toda parte ambivalentes e paradoxais Isso porque as religi es s o ao mesmo tempo poder sobre as mulheres e poder das Mulheres Michelle Perrot Em Limoeiro a Pia Uni o das Filhas de Maria surgiu discretamente embora contasse com um grande entusiasmo de
160. duca o intelectual incipiente eram simpatizantes de romances de linguagem mais moderna e acess vel Assim mesmo n o recomendados e at combatidos os romances haviam se tornado refer ncia de leitura prazerosa e f cil Se por um lado a linguagem podia ser refer ncia para a leitura de uma obra por outro era algo que tamb m podia tornar uma obra impr pria Os termos utilizados pelos escritores em suas obras deveriam ser acess veis e n o podiam desviar se dos conte dos moralizantes Caso contr rio suas obras seriam desprestigiadas pela cr tica da Igreja e entrariam no rol dos livros n o recomendados aos cat licos ainda que se admitisse seus m ritos liter rios No esfor o de moralizar as leituras das jovens cearenses a cr tica se cercava de precau es para preservar a inoc ncia ou evitar o despertar da curiosidade feminina o caso da colet nea de contos de Ant nio de Alc ntara Machado Mana Maria cujo enredo apesar de 158 O que o Missal Il Jornal O Nordeste Fortaleza 08 out 1936 p 02 199 Estudos B blicos Jornal O Nordeste Fortaleza 01 out 1938 p 03 104 reconhecidamente interessante se tornavam conden veis pela linguagem utilizada No livro que acaba de ser editado o conto principal Mana Maria O autor por m n o policiou bastante a linguagem havendo mesmo termos da g ria mais baixa e immoral E uma pena Porque os outros contos s o interessantes O
161. e Jesus falando ao cora o das Filhas de Maria 6 ed P rto Edi es do Apostolado da Imprensa 1934 p 132 133 Manteve se a grafia original 20 TEPPA Padre Op cit p 27 28 202 Id Ibidem P 308 203 Tempestades Jornal O Nordeste Fortaleza 03 abr 1933 p 02 127 Os personagens principais combatem o communismo russo que tem seus males descritos em detalhes vivos com o intuito de despertar pavor a tudo quanto transpira id ias communistas Como afirma Aparecida Paiva com as mudan as ocorridas nas primeiras d cadas do s culo XX e diante do crescimento do n mero de obras liter rias dispon veis ao p blico brasileiro a Igreja p de perceber que n o havia mais como sustentar que as nicas leituras necess rias para o crist o sejam as do Evangelho e as das vidas de santos E se o romance tinha uma forte aceita o entre o p blico cat lico especialmente entre as mulheres porque n o fazer dele uma esp cie de arma na persegui o e na censura dos romances perniciosos que despertavam as sensa es Os personagens dos romances permitidos tinham conduta irrepreens vel Moralmente incontest veis as a es dos her is e hero nas dos romances cat licos como ser o chamados A partir de agora os romances escritos por religiosos comungavam com a id ia da ren ncia de si como uma forma superior de nobreza A nobreza desses personagens estava em sua humildade e capacidade de ren n
162. e Atas da Confraria da Immaculada Concei o e Livro de Registro da Pia Uni o das Filhas de Maria Foi da Confraria da Immaculada Concei o que sa ram as primeiras associadas da Pia Uni o das Filhas de Maria e junto a essa confraria a Pia Uni o caminhou durante alguns anos Reuniam se conjuntamente na matriz paroquial compartilhavam as finan as as a es dentro da Igreja e a devo o a Maria Sant ssima Mas se j havia no munic pio uma congrega o religiosa com um evidente prest gio social cujas exig ncias doutrinais n o eram t o r gidas por que as jovens limoeirenses come aram a engrossar as fileiras da Pia Uni o da Filhas de Maria muitas deixando a pr pria Confraria da Immaculada Concei o Era evidente o entusiasmo do p roco de Limoeiro Padre Acelino Vianna Arraes com a implanta o desse modelo ultramontano de confraria feminina Finalmente tomou a palavra o Revmo Pe Acelino um pouco comovido ou emocionado com a grandesa e sublimidade do acto mas com a alma a transbordar de alegria pelo prazer de ver coroado 22 os seus desejos de parocho com a funda o desta bella institui o que a muito era seus sonhos dourados congratulava se com suas digna parochianas que abra avam t o pia obra com um desprendimento stoico de verdadeiras crentes e neste dia t o solenne em que a igreja commemora o dogma da Immaculada Concei o elle como parocho pedia a excelsa rainha dos ceos e da terra as ben os p
163. e Letras p 03 76 praticando s uma phrase grosseira me vem cabe a A mulher moderna doida A rela o da imagem da mulher com a de Eva no imagin rio cat lico permeada de significa o Acusada pela infelicidade humana advinda com a perda do para so sobre a mulher recai a culpa por muitos dos males que atormentam os homens No catolicismo Eva s mbolo da tenta o do pecado e da perdi o est na origem da fr gil natureza feminina A respeito desse imagin rio Za ra Ary afirma Como herdeiras de Eva as mulheres seriam culpadas pela perda do Para so pela incita o ao pecado original e em consequ ncia disso culpadas tamb m de muitos males que aflingem os seres humanos como por exemplo o trabalho duro para os homens e parto doloroso para as mulheres Como sexo fr gil e portanto vulner vel tenta o da serpente dem nio as mulheres tal como Eva e ou Lilith conforme o Talmud seriam igualmente seres sexualmente perigosos e prejudiciais aos homens na medida em que seriam capazes de desvi los de seu destino de perfei o espiritual A Eva moderna tentada pela curiosidade uma vez em contato com a leitura f til dos romances e folhetins dava um passo em dire o perda da inoc ncia pecado imperdo vel pois transformava as jovens cat licas em evinhas levianas v timas da m literatura a leitura do pecado
164. e deveriam manter se ignorantes do mundo uma forma de preservar a inoc ncia e a pureza Afirmando o prop sito de estabelecer crit rios classificar e prescrever os articulistas do peri dico cat lico abordam avaliam e criticam a palavra impressa em suas diversas apresenta es textuais livros cole es brochuras revistas assim como levam na devida conta a observa o minuciosa da forma estilo e autoria Desde a capa as cores o enredo o estilo as ilustra es tudo passa pelo crivo classificat rio favorecendo a recomenda o ou conduzindo ao veto A imprensa cat lica procurava combater leitura com leitura e para isso apresentava de forma entusi stica os livros recomendados que se caracterizavam pela aus ncia do imoral e do pecaminoso apresentando narrativas edificantes A vida dos santos e santas de religiosas e religiosos cat licos figuravam no lugar de honra desta biblioteca prescrita s Filhas de Maria Visto como um g nero que agradava s leitoras o romance tornou se alvo do discurso cat lico Em princ pio condenado sob o argumento de que causariam confus o no esp rito feminino levando as a confundir realidade e fic o influenciando a a imitar as narrativas romanescas em pr ticas nem sempre recomend veis Para combater a propaga o de romances impr prios come aram a surgir no circuito livreiro romances escritos por religiosos Neles o amor rom ntico cedia espa o
165. e em fazer contas baseadas nas quatro opera es fundamentais Os m todos de ensino vigentes apresentavam rudimentos da leitura escrita e aritm tica como princ pios b sicos da instru o formal A leitura ganhava lugar de destaque pois seu aprendizado atribu a graus de instru o aos alunos Saber ler os diversos tipos de caracteres tipogr ficos e manuscritos representava uma esp cie de formatura Quando termin vamos as leituras do ltimo livro da cole o de Erasmo Braga pass vamos aos volumes de Manuscritos livros impresso com letra manuscrita cuja complica o ia crescendo de li o em li o at atingir os garranchos da letra de m dico A leitura do ltimo volume desta cole o correspondia formatura N o se estudava gram tica geografia ci ncias era uma escola de ler escrever e contar Uma vez dominada a leitura a continua o dos estudos s poderia ser feita em outros centros tais como Fortaleza Canind ou Crato Por esse 271 a Escola Normal Rural em Limoeiro Jornal O Nordeste Fortaleza 19 set 1935 p 01 LIMA Lauro de Oliveira Sistema Escolar de Limoeiro do Norte Da col nia escola que revolucionou o munic pio Fortaleza Premius Editora 2002 p 13 In LIMA Lauro de Oliveira Sistema Escolar de Limoeiro do Norte Op cit p 19 274 LIMA Lauro de Oliveira Sistema Escolar de Limoeiro do Norte Op cit p 15
166. e instru da No entanto ninguem mais religiosa e conscienciosamente religiosa Os ensinamentos de Z lia iam cavando fundo nos alicerces da minha 342 As Quartas Jornal O Nordeste Fortaleza 27 mar 1929 p 01 e 03 43 Idem Ibidem 44 Idem Ibidem 209 philosophia Interessei me pela leitura de obras catholicas E meu amigo que jazida inesgot vel de grandezas e magnificiencias doutrinarias encontrei Foi um deslumbramento E desse deslumbramento estou saindo um crente E por isso que mais amo a Zelita Cada dia que se passa mais um motivo para eu lhe querer Ao passo que mostrava a Filha de Maria como mulher ideal para casar a Igreja dirigia se s leitoras de seu jornal procurando orient las acerca do casamento aconselhando sobre como comportar se para conquistar um marido Os conselhos eram os mais variados e a leitura n o sa a do foco sendo apontada como um dos requisitos a serem observados na hora de buscar um pretendente Em uma de suas pequenas notas o jornal cat lico apresentava suas leitoras a receita para achar um bom marido nela recato e preparo para as tarefas dom sticas pareciam ser os principais pontos a serem trabalhados na busca por um bom partido Como aliados nessa prepara o eram apontados a leitura de livros de educa o e o abandono dos romances da moda Ter mais senso commum e menos galanteio Mais occupa es teis e meno
167. e nas jovens donzelas Uma vez tendo suas leituras tuteladas por professores e pelos pais o livro n o lhes repassava os mesmos coment rios vivos que as fitas cinematogr ficas Os filmes sem intermedia es traziam em cenas vivas comportamentos impr prios tais como roubo adult rio assassinato entre outros os resultados colhidos em favor do mal s o muit ssimo mais abundantes que na escola de ordinario temos a ac o preservadora do mestre que salvaguarda a alma tenra da crian a do que contem o livro mal procurando salientar o que h de bom Alem disto o conteudo do livro passa sob a vista da crian a sem commentarios vivos que attraiam de logo a sua curiosidade infantil Ao contrario porem o cinema captando almas ing nuas e algumas vezes innocentes prende as de cheio com os seus quadros de vida repletos de cores impressionantes S o o amor pervertido o odio o assasinamento o roubo a vingan a o adulterio e uma infinita serie de maldades de que o homem capaz que se extampam aos olhos das crian as muitas vezes veladamente mas sempre de effeitos altamente damninhos Enquanto isto e o que peor s o os pr prios paes que sem uma explica o previa acompanham seus innocentes e as suas filhas donzelas aos cinemas onde se desenrolam taes romances A vivacidade das cenas mostradas na tela do cinema trazia detalhes que durante a leitura passavam despercebidos Nesse sentido o cinema lev
168. e por abordar principalmente a Biblioteca da Pia Uni o que funcionava na Igreja Matriz de Limoeiro e oferecia s associadas um acervo de obras edificantes A exist ncia de uma biblioteca pr pria para atender a demanda de leituras do grupo sinaliza a import ncia que a leitura assumia na forma o dessas mulheres caracterizando as como um grupo de distintas e piedosas leitoras As Filhas de Maria praticavam tanto a leitura coletiva e em voz alta como a leitura individual e silenciosa Mensalmente durante as reuni es da Pia Uni o de Limoeiro fazia se uma leitura coletiva em voz alta a cnamada Leitura 27 CANFORA Luciano As bibliotecas antigas e a hist ria dos textos In BARATIN Marc amp JACOB Christian Org O Poder das bibliotecas a mem ria dos livros no Ocidente Trad Marcela Mortara Rio de Janeiro Editora UFRJ 2000 p 234 2 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit Leitura Espiritual p 153 e 154 259 Idem Ibdem 153 Espiritual independente de seu conte do que girava em torno de quest es pol ticas voto nos candidatos da LEC e comportamentais modas dan as bailes al m das quest es religiosas A escolha dessa leitura era feita pelo diretor espiritual que al m do manual trazia textos de revistas e jornais cat licos bem como de livros piedosos diversos Encerrada a leitura espiritual iniciava se a pr dica do sacerdote que explicava ao grupo as passagens que julgava necess rio
169. e romanizada Com esse novo modelo de irmandade buscava se implantar um catolicismo voltado BRUNEAU Thomas C Catolicismo Brasileiro em poca de transi o S o Paulo Edi es Loyola 1974 p 40 10 OLIVEIRA Pedro Ribeiro de Religi o e domina o de classe G nese estrutura e fun o do catolicismo romanizado no Brasil Petr polis Vozes 1985 Apud STEIL Carlos Alberto O sert o das romarias Um estudo antropol gico sobre o santu rio de Bom Jesus da Lapa Bahia Petr polis Vozes 1995 p 231 14 valoriza o dos ritos e sacramentos tirando das ruas os festejos aos santos e levando os para os templos lugar institucional de controle A Pia Uni o das Filhas de Maria exemplo de irmandade romanizada seguia o modelo europeu e era fruto de um projeto moralizador visando disciplinar o sexo feminino dado como mais suscet vel aos apelos da religi o cat lica Este intuito moralizador estava ancorado nas virtudes Pureza castidade Penit ncia obedi ncia e Caridade Para tanto as padroeiras dessa irmandade principais modelos a serem seguidos pelas associadas eram os cones cat licos dessas virtudes Maria modelo inalcan vel de Pureza Obedi ncia e Caridade era o principal modelo a ser imitado Santa In s sob cujo patroc nio foi erigida a Pia Uni o das Filhas de Maria um exemplo de jovem virtuosa que abra ou a morte para n o ter sua pureza maculada e que durante a vida terrena de
170. e ser palco de reuni es pol ticas onde se discutiam os problemas da cidade De 175 176 177 O livro e o cinema Jornal O Nordeste Fortaleza 19 mai 1938 p 06 Cinemas amp Teatros Jornal O Nordeste Fortaleza 11 abr 1939 p 02 Limoeiro j poss e um cinema Jornal O Cear Fortaleza 09 out 1926 p 08 114 acordo com Maria Jos de Fran a Menezes o primeiro cinema da cidade o Cine Moderno foi um cinema pensado pelas e para as elites limoeirenses O fasc nio do cinemat grafo trazia novos dolos e modelos comportamentais uma viagem para os espectadores conforme o depoimento de Lirete Chaves Saraiva o cinema trazia moda costumes novidade imagens de outras cidades uma viagem Como se voc fizesse uma viagem n Mas para as jovens cat licas nem todas as viagens eram permitidas e sua presen a na exibi o de um filme estava condicionada ao consentimento do padre da cidade e s recomenda es do Jornal O Nordeste Lirete Chaves Saraiva recorda que O padre era quem dizia quando o filme prestava A gente s ia ver se o filme fosse aprovado pelo Jornal O Nordeste que era o jornal cat lico que existia na poca A gente s ia se o filme fosse livre O Cine Moderno com seus filmes mudos fechou em 1940 Em maio de 1942 inaugurou se a segunda sala de exibi o da cidade o Cine Brasil que trazia a novidade do cinema falado Nele os limoeirenses recebiam info
171. e sua efic cia vai se tornando falha Em fins da d cada de 1920 come a a aparecer nas atas das reuni es das Filhas de Maria uma nova estrat gia de controle Eram as Flores a Maria ou Tesouro do M s como tamb m era conhecido entre as associadas Tratava se de um formul rio distribu do nas reuni es mensais da Pia Uni o no qual as associadas traziam registrado em n meros o tamanho da sua devo o 81 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 02 de julho de 1927 8 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 02 de agosto de 1936 59 No in cio de cada sess o enquanto se distribu fam os formul rios a serem preenchidos ao longo do m s que se iniciava as reuni es aconteciam sempre nos primeiros dias do m s recolhia se os formul rios devidamente preenchidos com os atos de devo o do m s anterior Somados esses atos religiosos eram registrados no livro de atas da irmandade compondo um bouquet de flores de virtudes Durante a chamada as Filhas de Maria entregaram e receberam os thesouros espirituaes por isso teceram Sant ssima Virgem durante o m s de Dezembro o seguinte bouquet de fl res de virtudes 554 missas 537 communh es 635 vizitas ao Sant ssimo 236 mortifica es 1296 ter os 671 vizitas Maria 110 actos de caridade Essa aritm tica da devo o poderia fornecer ao diretor da Pia Uni o ind cios do comportamento indi
172. egativa das desaven as pol ticas e dava LEC a liberdade de vincular se a qualquer partido conforme seus interesses Entretanto de acordo com Simone de Souza no Cear a LEC se transformou em verdadeiro partido pol tico NUNES Ant nio Pergentino Atua o Pol tica de Dona Judite In FREITAS Maria das Dores Vidal org Judite Centen rio de Nascimento 1906 2006 Fortaleza Premius 2006 p 40 Cf BRUNEAU Thomas C Catolicismo Brasileiro em poca de transi o Op cit p 82 O que e o que quer a Liga Eleitoral Catholica Jornal O Nordeste Fortaleza 04 fev 1933 p 04 Em todas as cita es do Jornal O Nordeste manteve se a grafia original do documento inclusive com seus erros de ortografia 3 SOUZA Simone de Da Revolu o de 30 ao Estado Novo In SOUZA Simone de org Uma nova Hist ria do Cear 3 ed Fortaleza Dem crito Rocha 2004 p 301 34 A liga o da LEC com as mulheres cat licas e principalmente com as Filhas de Maria proporcionou um fortalecimento da Igreja no que se refere s elei es no Estado do Cear e tamb m na Constituinte federal A Igreja que a princ pio n o via com simpatia o sufr gio feminino institu do pelo c digo eleitoral de 1932 encontrou neste um forte ponto de apoio seus ideais pol tico partid rios A mudan a de opini o dos sacerdotes cat licos a respeito do voto feminino despertou cr ticas dos opositores da Igreja que publ
173. ejam sacudir a mulher N o meu amigo as melindrosas s o muito boas para o flirt para o passatempo Mas quando se trata de dar o n serio do casamento ah Tem paci ncia eu prefiro uma miss Filha de Maria Pelo menos h mais probabilidades de acertar O Jornal o Nordeste diante as mudan as do trajar feminino trata de empreender tamb m uma campanha acerca do uso do v u s mbolo de recato feminino nos templos cat licos O v u era um adere o simb lico n o um simples enfeite Seu simbolismo era representado pela cor branca evocativa da pureza pelo seu tecido leve e pelo uso exclusivo nos ritos religiosos o que lhe conferia uma m stica pr pria Em contraposi o ao v u estava o len o trazido pela moda colorido e pr tico podia ser usado tanto na Igreja como na praia A alegria colorida dos len os associada aos outros usos que deles se fazia tornava os s mbolos do mundano e do pag o costume atualmente entre n s vindo do sul o uso pelo elemento feminino de um grande len o tricolor na recep o dos sacramentos Ou por ser novidade ou por ser c modo a nova moda tomou ra zes e o que vemos agora meninas mocinhas senhoras modernamente a carioca aproximarem se de Nosso Senhor Jesus Cristo de len o cabe a Eae O v u caro s serve a Igreja O lencinho bonito e bizarro barato Jornal O Nordeste Fortaleza 25 abr 1929 p 04 Idem Ibdem 50 Tanto se presta para
174. em me disseste Quem essa vitalina E continuou a rir deante da cara desconfiada do collega que procurava seguir com o olhar a direc o do omnibus E vitalina Antonio repetia Aloysio N o te preoccupes Afinal ellas s o assim Incomprehendidas e por isso mesmo bem felizes N o s nesse terreno menos nobre que sabem desarmar Entre ellas tambem h muita gente culta que parece beocia para o mundo Nesses contos por n o se deixarem corromper pelas modas e costumes modernos e tamb m pela firmeza de seu car ter a Filha de Maria acabava por conquistar um bom partido e casar se sem abrir m o dos princ pios morais e religiosos nos quais fora educada e que a faziam uma mo a de grande valor 34 pos Domingos Jornal O Nordeste Fortaleza 03 mar 1929 p 01 e 12 34 Idem Ibidem 208 O que sei que estou apaixonado e de verdade Tamb m a mo a merece Uma joia Linda Sim muito linda Que olhar Doce manso cheio de effluvios pac ficos e quase m sticos As caracter sticas da Filha de Maria na fala masculina dos contos se transformavam em manifesta es de coragem e resist ncia s cobran as est ticas dos tempos modernos Ella possue cabellos compridos Nesta poca da gar onismo avis rara bem sei Mas meu amigo amo a por isso mesmo porque tem a coragem de affrontar todos os dictames da moda e n o corar ante a sociedade que a interroga como alma d
175. ena minoria das mulheres sabia ler e escrever suscita uma indaga o onde e de que forma eram educadas essas mulheres 268 Cf BRANCO Jo o Olimpio Castello O Limoeiro da Igreja A hist ria de Limoeiro do Norte a partir de seus p rocos Minerva Ind stria Gr fica p 153 Semeando Ill Jornal O Nordeste 05 jun 1928 p 01 165 3 2 Piedosas Leitoras professoras e catequistas virtuosas Serei a catequista de meus alunos isso que Deus quer de mim E meu mais grave e imperioso dever Quero cumpri lo Jornal O Nordeste O sistema de ensino limoeirense a exemplo da maioria dos munic pios cearenses no in cio do s culo XX era prec rio Com uma extens o muito 270 vasta no munic pio e seus distritos era evidente a falta de escolas e de recursos para a educa o A situa o do ensino no munic pio em meados da d cada de 1930 era prec ria e a imprensa denunciava o descaso com a educa o na cidade que crescia e come ava a ganhar destaque no Estado sem no entanto contar com um grupo escolar e dispondo de quatro professoras apenas lecionando em escolas p blicas o que evidenciava o atraso na instru o Situada na zona jaguaribana Limoeiro uma cidade bastante populosa e florescente podendo ser enumerada entre as principaes de nosso Estado N o obstante a instruc o ali por demais atrazada facto lament vel e n o apenas condigno com a pr pria vida daquella c
176. encia Hoss Tereza Neumann Vida de Madre Antonia Vida de Margarida Sinclair Z lia Total de Biografias de Religiosas gt 10 EDER RR RN AAA RR T Masculinas ETTA DC Angelino Anselmi Dom Pio de Hemptinne A vida de Pe Anchieta Um grande Brasileiro Total de Biografias de Religiosas gt 04 Tabela 02 Biografias de Religiosos Religiosas Biblioteca da Pia Uni o de Limoeiro Essa leitura das Filhas de Maria agregadas s leituras coletivas nas reuni es mensais que versavam sobre culpas e pecados parecem ter despertado nas associadas da Pia Uni o um excesso de escr pulos e medo do pecado Assim a leitura de obras piedosas mostrava seus efeitos e as influ ncias da leitura religiosa podiam ser verificadas no comportamento de algumas associadas que s voltas com o medo do pecado tamb m despertaram a aten o do diretor espiritual que procurava corrigir os excessos de escr pulos das Filhas de Maria O medo do pecado inculcado no esp rito das Filhas de Maria parecia causar perturba o motivando a sensa o de estarem incorrendo em pecado o que poderia ocasionar inconvenientes O diretor da Pia Uni o buscava atenuar o temor nas prega es A instru o versou sobre os Escrupulos definindo por uma doen a f sica e moral que produz na consciencia uma especia de pertuba o e lhe faz receiar por motivos futeis de ter ofendido a Deus Para melhor conhecermos a sua naturesa explicou nos a sua provenie
177. entre a leitura permitida e a proibida vai abrindo para as mulheres cat licas um espa o maior de possibilidades e uma margem maior de manobras Era no jogo entre as obras permitidas ou proibidas que as leituras das Filhas de Maria iam encontrando brechas para conhecer mais do que deveriam e que lhes era permitido Mas o que fazia uma leitura ser aceita pela Igreja e principalmente ser recomendada pelos seus cr ticos s donzelas cat licas O que afinal caracterizava uma leitura s 2 2 No den das Leituras um pomar de frutos s os O tempo pouco para se aproveitar das b as leituras Para que perd lo com leituras futeis A loja O Gabriel vende o bom livro manda ver o bom livro e propaga o bom livro An ncio publicit rio Jornal O Nordeste 118 A prescri o das leituras pela Igreja principalmente a feminina amb gua ora a leitura pervertia ora instru a e educava seguindo a estrat gia de combater leitura com leitura No embate entre o proibido e o permitido as jovens cat licas se debatiam entre as leituras perniciosas e as leituras sans Para a Igreja a leitura situa se sempre na t nue fronteira de opostos conforme afirma Aparecida Paiva o livro veneno e ant doto atraente e perverso Provoca epidemia mas faz o saneamento lixo mas tamb m n o deixa de se exibir como petisco liter rio A leitura sistem tica incentivada pela Igreja cat l
178. er a fazer valer os seus direitos a civiliza o crist A revista Maria era mensal com artigos e reportagens direcionados especificamente s Filhas de Maria Editada em Olinda PE pela Imprensa Industrial seu per odo de circula o foi de 1913 a aproximadamente 1977 Era lida pelas associadas da Pia Uni o das Filhas de Maria que vez por outra faziam refer ncia a seu conte do nas reuni es onde era utilizada como leitura espiritual Outra revista cat lica lida pelas Filhas de Maria de Limoeiro era A Cruz editada no Rio de Janeiro desde 1917 de periodicidade semanal e tamb m utilizada como leitura espiritual nos encontros mensais O grupo limoeirense de marianas parecia ter maior contato com esta revista uma vez que as refer ncias durante as reuni es mensais eram frequentes A assiduidade das visitas Biblioteca da Pia Uni o variava Embora o grupo tivesse a leitura como atividade recomendada irmandade parte delas n o ia a biblioteca com frequ ncia A partir dos registros de empr stimos da Biblioteca da Pia Uni o pequenos cadernos anotados l pis pelas Filhas de Maria bibliotec rias pode se perceber que parte das associadas n o cultivava o h bito de tomar livros de empr stimo Talvez porque achassem desinteressantes as obras oferecidas na Pia Uni o ou porque consideravam o h bito da leitura enfadonho relacionando o mais com uma obriga o como a leitura do Manual do que com uma di
179. er lugar O fato de n o poder ler na penumbra nem deitado indica que a leitura noturna na intimidade do quarto era considerada prejudicial sa de e ao esp rito Na cultura cearense a rede muitas vezes fazia o papel de cama e por isso tamb m pertencia ao mbito da intimidade 24 MANGUEL Alberto Uma Hist ria da Leitura Op cit p 177 21 Jornal O Nordeste Fortaleza 08 jun 1936 p 03 145 Partindo desse pressuposto Alberto Manguel acredita que essa forma de ler traz algo de especial livre de conven es sociais uma ociosidade que pode suscitar a emo o das coisas proibidas h algo mais do que entretenimento no ato de ler na cama uma qualidade especial de privacidade Ler na cama um ato autocentrado im vel livre das conven es sociais comuns invis vel ao mundo algo que por acontecer entre len is no reino da lux ria e da ociosidade pecaminosa tem algo da emo o das coisas proibidas Nos casar es limoeirenses nos alpendres das casas de morar possivelmente as Filhas de Maria tamb m se entregavam leitura repetindo a imagem do an ncio Na rede repousavam o corpo e a morna brisa acariciava lhes tudo emoldurado pelas extensas planta es de carna bas um livro entre as m os as deliciava Para elas a leitura tamb m era vista como uma forma de entretenimento apesar das recomenda es da leitura de livros piedosos As mulheres eram vistas pela Igreja como despro
180. erente aa sua condi o mas na ostenta o despudorada dos seus ephemeros attractivos fe Desfilando com vestidos justos decotados e por vezes at de mai s as misses passavam a povoar o imagin rio masculino que se deslumbrava com o novo modelo de mulher representado pela figura da Miss Esse novo ideal de beleza que se estabelecia representava o contra ideal das Filhas de Maria A Igreja vendo seu modelo amea ado pelos ideais de beleza dos concursos de Miss empreendeu uma campanha de valoriza o da imagem da Filha de Maria como o tipo de mulher ideal n o s do ponto de vista religioso mas tamb m social V rios s o os artigos veiculados n O Nordeste atribuindo as Filhas de Maria mais do que pureza espiritual conferindo lhes tamb m valores como beleza juventude e bons modos neste sentido e comparando a com um concurso de Miss que o jornal relata uma solenidade de entrega de fitas s Filhas de Maria usando do artif cio da escrita para descrever as mo as lindas e o excelso espet culo da entrega do diploma de miss Filha de Maria Dahi a pouco entravamos no grande templo catholico que estava literalmente cheio N o havia em todo elle logar para uma cabe a O calor era insupportavel Mas ninguem arredava p Ningu m se queixava Todos attentos contemplavam o bello o estranho o excelso espectaculo de centenas de mo as lindas jovens umas com velas accesas nas m os outras com fitas azues
181. ertes agindo como se nada neste mundo tivesse visto de novidade Acho afinal que n o tens raz o no teu modo de pensar das Filhas de Maria S o todas ellas gente muito mais sabia e muito mais prudente do que pensas Olha aquella mo a por exemplo Qual Aquella que vem ali na dire o do omnibus Antonio quedou se attento O seu olhar um instante encontrou se com o outro que passava perto Um instante somente como se f ra num momento de descuido pois a mo a ao verificar que era notada assim immediatamente baixou os olhos indifferente como se nada neste mundo tivesse visto de novidade Antonio desaprumou se contrafeito No modelo de beleza cat lico o roup o branco exalta sua beleza pois ajuda a compor a imagem angelical de recato e pudor Culta e sensata a Filha de Maria n o era para qualquer um seu pretendente devia compreender e respeitar a religi o As armas de sedu o das marianas eram a pureza a mod stia e o apego s coisas do esp rito afinal ela n o era como as outras Rapaz deixa as beatas que n o s o para ti Vejo que bem as queres Ellas por m Mas viste como linda Que diabo e aquelle roup o branco at lhe assenta Onde mora Conheces Sim sim respondeu o outro gaguejando de tanto rir Mas in til dizer te Ella n o como as outras aquella mesma que viste outro dia de costas ao sair da igreja conversando commigo e de qu
182. es no Brasil 2 ed S o Paulo Contexto 1997 FEBVRE Lucien Combates pela Hist ria Lisboa Editorial Presen a 1989 FERREIRA Marieta de Morais amp AMADO Jana na org Usos amp Abusos da Hist ria Oral 5 ed Rio de Janeiro Funda o Get lio Vargas 2002 229 FONSECA Cl udia Solteironas de Fino Trato Reflex es em torno do N o Casamento entre pequeno burguesas no in cio do s culo In Revista Brasileira de Hist ria S o Paulo ANPUH Marco Zero Vol 9 n 18 P 99 120 Agosto 1989 Setembro 1989 FREYRE Gilberto Casa grande amp senzala forma o da fam lia brasileira sob o regime da economia patriarcal 38 tiragem Rio de Janeiro Record 2000 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas Sinais Morfologia e Hist ria Trad Frederico Carotti S o Paulo Companhia das Letras 1989 O queijo e os Vermes o cotidiano e as id ias de um moleiro perseguido pela Inquisi o S o Paulo Companhia das Letras 2006 GOLDSCHMIDT Eliana Maria Rea Virtude e Pecado Sexualidade em S o Paulo Colonial In COSTA Albertina de Oliveira amp BRUSCHINI Cristina Org s Entre a virtude e o pecado Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1992 GOULEMOT Jean Marie As pr ticas liter rias ou a publicidade do privado In Hist ria da Vida Privada vol 3 da Renascen a ao S culo das Luzes Trad Hildegard Feist S o Paulo Companhia das Letras 1991 HELLER B rbara Tuteladas ou letradas Imagens de mulheres
183. esej vel seria que lessem textos mais elevados embora insossos e desestimulantes No entanto ao aceitar a cristaliza o da representa o da mulher com h bitos de leitura limitados ou nulos depaupera se a an lise hist rica tendo em vista que se priva a representa o de uma parcela do contingente feminino que embora diminuto tem na rela o com os livros uma atividade corriqueira Pensando nisso busca se nesse cap tulo demonstrar a imagem de uma outra leitora com cultura e h bitos pr prios em um grupo espec fico de mulheres a irmandade das Filhas de Maria em Limoeiro Cear nas primeiras d cadas do s culo XX Esse grupo de mulheres na contram o da maioria das 29 AJOLO Marisa amp ZILBERMAN Regina A forma o da Leitura no Brasil S o Paulo tica 1996 p 258 143 mulheres do munic pio dominava a leitura e fazia dela uma atividade cotidiana de aprendizado e tamb m de entretenimento Para isso o jornal cat lico O Nordeste a Revista Eclesi stica Brasileira a documenta o produzida por essas mulheres em sua irmandade em especial os cadernos de controle da Biblioteca da Pia Uni o e as atas de reuni o mensal do grupo s o as principais fontes utilizadas neste cap tulo A representa o da mulher leitora no Cear estava presente na imprensa cat lica de forma recorrente Em um an ncio comercial cujo produto oferecido fugia ao universo do livro e da leitura se encontra uma imagem de
184. eta o cat logo da cole o Eurico Fa o Fortaleza Museu do Cear Secult 2006 Outras Hist rias v 34 VILLALTA Luiz Carlos O que se fala e o que se l l ngua instru o e leitura In SOUZA Laura de Mello e Hist ria da Vida privada no Brasil Vol 1 S o Paulo Companhia das Letras 1997 p 331 386 VOVELLE Michel Os intermedi rios culturais In deologias e mentalidades S o Paulo Brasiliense 1991
185. etaculos muito maior do que o dos fregueses das livrarias Diante das evid ncias da popularidade do cinema a imprensa cat lica reconhecia que seria uma ingenuidade criminosa ignorar seu potencial Por isso o jornal O Nordeste passou a publicar uma coluna di ria onde indicava os fimes que deveriam ser vistos pelos cat licos bem como aqueles que eram censurados enquanto lembrava aos leitores que n o deveriam ir ao cinema sem antes consultar a Censura de Filmes QUER IR AO CINEMA N o se esque a de recorrer Censura de FILMES N o se deve assistir a um filme sem ter a certeza de que seja pelo menos ACEITAVEL quest o de consciencia Em Limoeiro as novidades encantos e perigos do cinema tamb m faziam parte das op es de lazer da cidade A primeira sala de exibi o do munic pio foi inaugurada em 1925 fato noticiado pelo Jornal O Cear em sua coluna Dos munic pios Limoeiro 7 Foi inaugurado no dia 30 de setembro o Cinema Limoeirense de propriedade dos srs Oliveira Irm os amp Os rio tendo tido enorme concurrencia O cinema anunciado era o Cine Moderno e os filmes exibidos ainda mudos eram acompanhados pela Banda de M sica da cidade trazendo mais anima o s sess es de cinema O espa o f sico do cinema em Limoeiro tamb m era utilizado para outras atividades s cio culturais entre elas pe as teatrais apresenta es estudantis ensaios da Banda de M sica al m d
186. eu Bezerra A antiga freguesia do Limoeiro Notas para sua hist ria Fortaleza 1998 BRANCO Jo o Ol mpio C O Limoeiro da Igreja A hist ria de Limoeiro do Norte a partir de seus p rocos Minerva Ind stria Gr fica 1995 Enciclop dia dos Munic pios Brasileiros Planejada e Orientada por Jurandyr Pires Ferreira Instituto Brasileiro de Estat stica Rio de Janeiro 1959 Volume XVI FERREIRA NETO Cicinato Estudos de Hist ria Jaguaribana Documentos Notas e Ensaios diversos para a Hist ria do Baixo e M dio Jaguaribe Fortaleza Premius 2008 FREITAS Maria das Dores Vidal OLIVEIRA Maria Lenira org Judite centen rio de nascimento 1906 2006 Fortaleza Premius 2006 Limoeiro em Fotos e Fatos Fortaleza Edi es do Autor 1997 LIMA Lauro de Oliveira Na Ribeira do Rio das On as Fortaleza Assis Almeida 1997 Sistema Escolar de Limoeiro do Norte Da col nia escola que revolucionou o munic pio Fortaleza Premius 2002 MALVEIRA Ant nio Nunes O Limoeiro de Dom Aureliano Matos Rio de Janeiro 1998 SOUSA Eus bio de org lbum do Jaguaribe Bel m Par Empresa Graphica Amaz nia 1922 3 3 Manuais e Romances A divina Eucaristia Extratos dos Escritos e Serm es do Bem aventurado Pedro Juli o Eymard Trad Mariana Nabuco Petr polis Vozes 1934 CASTRO Pe Jeronymo Pedreira de Z lia ou Irm Maria do SS Sacramento vida exemplar de uma M e christ que terminou seus dias junto
187. eu ref gio e minha fortaleza Sustent culo dos meus sonhos e realiza es s minhas entrevistadas e entrevistados que me acolheram em suas casas me contaram suas hist rias e partilharam comigo as lembran as de um tempo que lhes despertam saudades e emo es Adelaide Gon alves pela orienta o criteriosa a leitura cuidadosa e o esfor o em tornar este trabalho poss vel me ensinando muito sobre o feitio de uma pesquisa historiogr fica Professoras K nia Rios e Iren sia Torres que participaram da Banca de Qualifica o apresentando cr ticas e sugest es valiosas para este trabalho Profa Dra Maria Teresa Santos Cunha que sempre se mostrou muito am vel e prestativa nos contatos por e mail e generosamente aceitou participar da banca examinadora Aos professores do Mestrado em Hist ria Social da UFC R gis Lopes Frederico de Castro Neves K nia Rios Almir Leal Ernani Furtado Marilda Santana e Franck Ribard que durante as disciplinas colaboraram com ricas reflex es acerca da hist ria e do of cio do historiador Um agradecimento muito especial Dona Regina Juc Por sua generosidade seus conselhos e sua ajuda constante e diligente S lvia Silvinha secret ria do mestrado pela torcida sincera pelo acolhimento e pela ajuda nos momentos de aperreio Ana Isabel minha g mea univitelina e Ana Sara minha g mea bivitelina Dois seres humanos extraordin rios que me ensinaram com sua inf
188. evangelizadoras e pescadoras de fi is para a Igreja Ins gnia do rito de entrada na associa o o Manual era o passaporte e tamb m a chave para os segredos e mandamentos da constru o modelar de 2 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit p 457 2 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit p 456 160 uma Filha de Maria Entretanto ao Manual uma vez apropriado pelas jovens associadas tamb m se agregava uma s rie de significados Fetichizado para al m de cartilha devocional e disciplinadora transformava se tamb m em objeto simb lico de distin o no grupo Havia muitas edi es do Manual e essas traziam detalhes diversos que valorizavam sua apresenta o dando lhe um toque de sofistica o Diante disso as Filhas de Maria cobi avam aparecer perante o grupo com uma edi o bem trabalhada e luxuosa de seu companheiro de devo o e guia de comportamento Os comerciantes cearenses especialmente os livreiros de Fortaleza que atendiam tamb m as cidades do interior do Estado sabiam desse aspecto material e social que o Manual assumia nos numerosos grupos de Filhas de Maria espalhados pelo Estado e por isso investiam em propagandas direcionadas s associadas da Pia Uni o por vezes anunciando as suas luxuosas e bem trabalhadas edi es dos Manuais No Jornal O Nordeste detalhes como capas brancas ou tons dourados eram mencionados nos an ncios pelas lojas e livrarias da capi
189. expuls o da irmandade Leu nos o diretor a seguir no Nordeste um artigo sobre os deveres do cat lico em votar pela Liga Eleitoral Cat lica ao terminar disse nos que se alguma Filha de Maria n o votasse na Liga seria exclu da As amea as de expuls o que se efetivavam por vezes chegavam a causar pol micas nos meios de comunica o Foi o caso da vizinha cidade de Riacho do Sangue onde o p roco Jos de Alencar Santiago suspendeu duas Filhas de Maria que ousaram n o votar nos candidatos da LEC O exemplo de Riacho do Sangue foi criticado severamente pelo Jornal O Povo A cr tica foi comentada pel O Nordeste que saiu em defesa do padre Santiago apoiando sua decis o uma forma de comunicar s associadas das Pia Uni es que as desviantes eram exemplarmente punidas De acordo com o peri dico cat lico n o havia exagero na decis o do padre ao contr rio tratava se apenas de uma trivial pena disciplinar toda gente v que o padre n o exorbitou da sua coherencia doutrinaria E coisa muito trivial uma pena disciplinar numa associa o religiosa Assim como frequentar bailes acto incompat vel com os estatutos de uma congrega o Mariana do mesmo modo votar em maos candidatos isto em gente reconhecidamente inimiga da Igreja deve ser flagrante inobserv ncia da regra social O vig rio que dirige aquella parochia sabe muito bem naturalmente o que fez Cumpriu o seu dever E
190. facto de que se pervertera pela leitura de m os livros fornecidos pelo pae Este quisera abafar na alma da filha uma voca o religiosa e pusera lhe nas m os livros repletos de calumnias abomin veis contra a vida dos conventos L disse elle e n o mais h s de querer ser freira A menina n o se fez religiosa mas teve a alma arruinada o senso moral obscurecido Aos deseseis annos tentou matar o pae Para corromper os innocentes d o lhes immundicies a ler 122 Monteiro Lobato e a Literatura Infantil Jornal O Nordeste Fortaleza 02 mar 1936 p 04 123 Um Mestre de Literatura Infantil Jornal O Nordeste Fortaleza 20 dez 1935 p 04 124 Livros Novos Jornal O Nordeste Fortaleza 16 abr 1937 p 06 87 Gal s merecem todos aquelles que espalham ou que escrevem m os livros Neste exemplo a leitura apresentada como corruptora da moral podendo levar as jovens cat licas perdi o visto que influenciava comportamentos provocando atitudes reprov veis M rcia Abreu afirma que o poder da leitura de influenciar comportamentos n o era em si uma mal O problema advinha do fato de que os livros n o ensinavam apenas atitudes recomend veis Eles corrompiam a inoc ncia afastavam da virtude favoreciam o crime pois as pessoas desejavam transpor para a vida real aquilo que leram nos livros E a Igreja sabia disso logo se empenhava em colocar nas m os das donzelas cat licas obras co
191. hagiografias e os catecismos explicados REVISTAS FRIVOLAS h tantas e entram em tantas casas E os chefes de familia deixam nas entrar sem reflectir na leviandade que ellas favorecem e sem considerar que da leviandade para o vicio a distancia n o grande E gastam assim o dinheiro que tanto aproveitaria si fosse empregado em vidas de santos catecismos explicados etc Infelizmente ainda h catholicos que n o comprehendem o papel important ssimo que os bons livros e bons jornaes exercitam na educa o domestica e social e por isso preferem lhe folhetos que si n o se podem chamar m os s o pelo menos in teis No acervo da pequena livraria a tens o entre o que a Igreja recomendava e o que a leitora desejava ler Em meio s leituras sans arriscar se com uma leitura n o recomendada como as revistas era resistir ainda que timidamente s indica es da Igreja Dentro da Livraria S o Sebasti o a leitura deixava de ser apenas uma atividade devocional ligada pureza espiritual e podia ser uma atitude de liberdade e resist ncia Certamente ao adquirirem um romance mesmo os n o condenados Ou uma revista mais ousada diferente dos exemplares das revistas Maria e A Cruz cuja leitura na irmandade era habitual essas mulheres n o alardeavam sua aquisi o Mas algo em suas atitudes perante o mundo certamente se modificava E neste momento as resist ncias se insinuavam As pr ticas de leitura das
192. hers and as catechists in the Catholic proselytism Keywords Pious Union of the Daughters of Mary Limoeiro CE History of the reading History of the women SUM RIO INTRODU O oinera a aa dr a a a EE 01 CAP TULO 1 SIMPLES NA MAL CIA E PRUDENTES NAS BOAS OBRAS A PIA UNI O DAS FILHAS DE MARIA csuscausaavos iusasvsosuuncuvco sunadicdcasacio uosauo o vindada dita dada di voc audio dica doca duda dao disadu va duda 10 1 1 Vinde a mim filhas diletas que vos ensinarei o temor de Deus 11 1 2 Entre o poder da devo o e a devo o ao poder A Pia Uni o das Filhas de Maria em Limoeiro cassiiinaiasasisasistrssaiataadice ssa ris aaa esa cantad rasta inadaa 19 1 3 Normas Disciplina Dana o sozuoatagasioneualaaGaauGnnd ana Glad Gac nanena 42 1 3 1 A sedu o das novas modas aussasuassumrsrassimsssaasrscavasanansamasassana canos 43 1 3 2 Entre a virtude e a perdi o nsnnnnnneeeeeennnereeeeeeerernnnrrneseerrrrre nnn 51 CAP TULO 2 LEITURAS SANS E LEITURAS PERNICIOSAS susssnunnnnnnunnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn 67 2 1 As leituras perniciosas szsuma sasarsdaa ss nGan grata SU adoro uia placa 68 2 1 1 Cinema um livro que educa ou degenera 108 2 2 No den das Leituras um pomar de frutos s os eesmerasseriiarn 117 2 2 1 Comprai bons livros sumo fro rasga asso Siad sa aa danca aa into na 137 CAPITULO 3 DISTINTAS LEITORAS auspiisiissssseissiia
193. ia duas faces opostas com posturas e sensa es distintas quando se tratava de obras piedosas deveria ser feita com a gravidade e o recolhimento exigidos o que fazia desse tipo de leitura algo cansativo feita por obriga o Sabendo disso a Igreja se esfor ava para afastar delas o estigma de atividade enfadonha procurando focar seu discurso em torno dos benef cios morais que elas ofereciam Por outro lado quando se tratava de romances contos e revistas a leitura era vista como uma atividade l dica prazerosa que ocupava os momentos de folga Na coluna Semeando escrita por Maria Desid ria publicada semanalmente s ter as feiras no peri dico cat lico cearense a autora dirige se aos leitores d O Nordeste incentivando os para que o domingo dia de descanso e folga passasse a ser visto como o dia em que se cultivava o h bito da leitura Na vis o de Desid ria o cat lico deveria ocupar o tempo de cio com livros de doutrina s lida transformando seu dia de descanso em dia de busca por uma inicia o na vida espiritual 149 N o sei se sabes para que foi feito o domingo irm o Ora para descansar acreditar s logo Tens raz o o domingo foi feito para o descanso Somente irm o o domingo n o foi feito apenas para descansar Em que dia melhor que no domingo cumpridos devotamente os deveres do teu estado poder s ler um livro de doutrina s lida e acessivel que te ini
194. ia Uni o como parte de seu exerc cio de forma o espiritual Assim elas tomavam conhecimento da discuss o acerca da leitura e seus efeitos Al m disso durante as reuni es do grupo o diretor espiritual reiterava as orienta es da folha cat lica As Filhas de Maria em Limoeiro tinham acesso educa o formal Quando a Escola Normal do munic pio foi inaugurada em 1938 v rias das associadas da Pia Uni o ingressaram na primeira turma favorecendo sua liga o com o ensino na cidade Muitas se tornaram professoras Professoras e logo catequistas visto que em sala de aula poderiam empreender uma catequese di ria mais eficaz que aquela semanal oferecida pela par quia Visando oferecer leituras edificantes para as Filhas de Maria fundou se em 1931 a Biblioteca da Pia Uni o de Limoeiro uma tentativa de afastar as associadas das leituras impr prias A forma o do acervo em princ pio era uma fun o do assistente eclesial no entanto devido dificuldade do padre de adquirir um n mero maior de obras o diretor espiritual passou a aceitar doa es de livros por parte das associadas Ao abrir espa o s doa es as associadas da Pia Uni o tiveram uma oportunidade de escolha de livros em sintonia com seus gostos de leitura Desse modo passaram a figurar nas prateleiras da Biblioteca da Pia Uni o romances e contos g neros que o diretor da Pia Uni o desencorajava a leitura Na escolha dos romances as Filh
195. ia Uni o tamb m vai se estabelecendo tamb m como espa o de disputa pol tica onde as rela es firmadas pelo diretor com os caciques pol ticos locais determinavam de quem seriam os conselhos ouvidos por essas jovens mulheres Fundada para se tornar reduto de modelos irretoc veis de comportamento feminino a irmandade das Filhas de Maria foi assumindo caracter sticas multifacetadas onde espa os de disputa e de prest gio foram se instituindo de forma gradual Essas disputas de poder v o se esquadrinhando sutilmente nas atas das reuni es mensais principalmente no que se refere ocupa o de cargos na associa o As disputas pol ticas intra irmandade refletiam discretamente as disputas pol ticas extra irmandade nas quais os sacerdotes do munic pio estavam profundamente envolvidos Isto revela como o modelo de neocristandade como em Thomas Bruneau estava presente no munic pio de Limoeiro e na administra o das confrarias religiosas da cidade Bruneau em seu estudo cl ssico sobre a Igreja Cat lica brasileira chama aten o para o conceito de cristandade como sendo esta rela o de depend ncia entre o Estado e a Igreja fen meno presente na hist ria da Igreja cat lica no Brasil enfraquecido depois da crise desencadeada pela chamada Quest o Religiosa e pelo fim do padroado r gio Este modelo retorna com o fortalecimento da Igreja nas primeiras d cadas do s culo XX apresentando novas nuances e por isso B
196. ia de regra o diretor espiritual da Pia Uni o era tamb m o p roco da cidade e como tal com in meras obriga es Al m de cuidar de sua par quia da coleta para as obras da Igreja andava s voltas com as disputas pol ticas locais Assim restava pouco tempo para ler os livros doados biblioteca A hierarquia da Igreja recomendava e orientava seus padres no combate s leituras perigosas Na Revista Eclesi stica Brasileira os membros do clero debatiam sobre os perigos da leitura bem como da necessidade de vigi la O livro imoral sedutor e nas horas silenciosas e solit rias livros entre as m os o controle dos pensamentos sentimentos e sensa es era limitado nunca ser bastante deplorar o grav ssimo dano como acima ficou dito que para as almas resulta desse dil vio de livros t o imorais qu o sedutores Porque muitos pintam com as c res mais vivas cenas impudicas e com despr zo dos mais elementares deveres de reservas contam ora com palavras veladas ora afrontosa e abundantemente os epis dios mais obscenos descrevem at os seus rec nditos pormenores com todos os rebuscamentos do estilo e todos os refinamentos da arte de maneira a n o deixar intato nada do que toca honestidade dos costumes A qualquer ocorre quanto isto pernicioso sobretudo s pessoas jovens em quem o ardor da idade torna a contin ncia mais dif cil Quem n o sabe que elas excitam temivelmente a imagina o a
197. ia e Estat stica Recenseamento Geral do Brasil S rie Regional parte VI Cear tomo Rio de Janeiro IBGE 1950 151 associadas recebiam tamb m o Diploma de Filha de Maria e um livro Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Parte das obriga es di rias das associadas de leitura sistem tica esse livro tornava se uma refer ncia constante Em uma fotografia do grupo das Filhas de Maria de Limoeiro 1934 poss vel perceber como algumas delas ostentavam com altivez e austeridade os seus manuais pequenos elos que simbolizavam a liga o com a leitura piedosa A posse e manuseio daquele pequeno volume de capa preta e conte do normatizador as tornava diferentes daquelas que n o tinham dom nio da leitura A ostenta o do manual iniciava se com o diretor que ao posar para a foto com o grupo segura o manual numa posi o de destaque De resto as imagens dos santos e da piedade crist trazem constantemente a presen a do livro valorizando seu pertencimento religi o do Livro Figura 08 Grupo de Filhas de Maria limoeirense reunidas em 1934 Fonte Limoeiro em Fotos e Fatos Op cit p 108 A posse de livros bem como seu manuseio s o representa es de poder O poder do conhecimento atribu do queles que l em bem como o poder monet rio daqueles que podem compr los A forma como as associadas da Pia Uni o exibiam seus manuais s mbolos da participa o na 152 irmandade e de
198. ica era pelo menos de um quarto de hora ao dia para obras de piedade livros de ora o e hagiografias leituras de forma o moral e religiosa das jovens donzelas nas irmandades leigas Os olhos habituados a passear por leituras devocionais eram os mesmos olhos que podiam ao olhar para o lado desviar se em outras leituras Para Michel de Certeau o leitor um ca ador que circula pelas p ginas escritas buscando os tesouros que lhes agradam por isso para aqueles que buscam manter o controle o h bito da leitura perigoso pois uma vez dominada a pr tica da leitura pode se ler tudo mesmo as obras impr prias A esse respeito Alberto Manguel afirma quem capaz de ler uma frase capaz de ler todas Mais importante esse leitor tem a possibilidade de refletir sobre a frase de agir sobre ela de lhe dar um significado Solit rio o h bito de ler parece incitar a busca por novidades impondo ao leitor o desafio de descobrir novos mundos outras hist rias Embora a Igreja se preocupasse com a influ ncia da leitura especialmente para o p blico feminino sua estrat gia de combate s m s leituras n o trazia uma f rmula definida sobre o que deveria ser condenado No entanto estabelecia crit rios para o exerc cio da cr tica que deveria condicionar seu julgamento ao bem social e ao interesse moral do individuo da sociedade e da fam lia evitando a indulgencia excessiva em julgar os livros
199. icaram no Jornal A Rua um artigo que o renomado Monsenhor Tabosa Braga escrevera anos antes atacando a busca feminina por direitos pol ticos O Nordeste de orienta o cat lica saiu em defesa do Monsenhor Tabosa e para justific lo argumentou quelle tempo as elei es nada representavam As mulheres n o tinham attribui es eleitoraes Hoje o C digo concedeu lhes esse direito que as senhoras cat licas n o pediram A situa o completamente outra A mulher cat lica concedeu o Governo o direito de voto Esse direito pois agora um dever Um dever dos mais graves e dos mais instantes Mons Tabosa em eloquente discurso na sess o de instala o da L E C disse isso mesmo Tinha combatido o voto feminino no sentido de que a mulher brasileira n o se immiscuisse nas disputas viciadas do partidarismo Mas si hoje estava em suas m os concorrer para livrar o pa s da ru na que o amea a chegara a hora de trabalhar com afinco pelo levantamento moral do Brasil Ao lado do Cardial Leme e do Episcopado brasileiro em peso mons Tabosa chama ao cumprimento dessa imperiosa obriga o c vica a mulher catholica cearense Para a Igreja o voto feminino era a priori um dever com a p tria cat lica por isso a eleitora teria obriga o de fazer uso do direito que n o pediu lutando pela moraliza o do pa s A mulher cat lica que at ent o estava alijada da vida pol tica co
200. icos Fundador e Presidente da Associa o Santo Ant nio dos Pobres de Limoeiro 1900 Jos Osterne costumava participar das reuni es das Filhas de Maria fazendo sempre que poss vel uso da palavra para dirigir se s jovens associadas mesmo que fosse apenas para ratificar as palavras dos sacerdotes O Revmo Director falou encarecendo o fiel cumprimento das prescri es do manual da Pia Uni o das Filhas de Maria e terminou dando a palavra ao Padre Acelino o qual congratulou se com suas ex parochianas pela n tida comprehens o dos deveres inherentes a t o nobre Confraria Usou tamb m a palavra o Sr Advogado Jos Osterne que em breve discurso saudou as Filhas de Maria concitando as a 2 Colaborou com Eus bio de Sousa para confec o do lbum do Jaguaribe obra publicada em 1922 e que fala dos munic pios de Aracaty Limoeiro S o Bernardo das Russas e Uni o Foi ele quem ajudou a levantar as informa es sobre o munic pio de Limoeiro No livro Eus bio de Sousa o chama de progressista luctador e possuidor de uma for a de vontade sempre nova Ver SOUSA Eus bio de org Album do Jaguaribe Bel m Par Empresa Graphica Amaz nia 1922 8 FREITAS Maria das Dores Vidal amp OLIVEIRA Maria Lenira org s Limoeiro em Fotos e Fatos Fortaleza Edi es do Autor 1997 p 69 26 serem perseverantes na pratica das virtudes christans Grifo Meu Este tipo de visita demonstra como a P
201. ida pela Igreja Cat lica Ciente das possibilidades de interpreta o e reinven o que a leitura oferecia melhor seria que os assuntos perigosos namoro adult rio paix o avassaladora fossem evitados Antes evitar o contato e o conhecimento desses assuntos que arriscar uma interpreta o n o desejada 145 Jornal O Nordeste Fortaleza 22 ago 1934 p 01 8 ABREU M rcia Os caminhos dos Livros Campinas Mercado de Letras S o Paulo Fapesp 2008 p 274 147 ABREU M rcia Os caminhos dos Livros Op cit p 270 271 99 Obras publicadas em cole es cujos t tulos j levantavam suspeitas tais como a Bibliotheca da Mulher Moderna passavam por uma an lise mais criteriosa Deste modo o livro de t tulo sugestivo O poder da carne de Raimonde Marchard teve sua leitura n o recomendada at mesmo s senhoras casadas que podiam formular aprecia es err neas em torno da fidelidade conjugal Esse livro embora escripto por uma mulher de uma crueza de expoi o sic e de uma desenvoltura de linguagem que d mais o aspecto de um romance escandaloso N o o aconselhamos nem mesmo s senhoras casadas pois sua leitura nem diverte nem distrae Antes perverte e pode ser motivo para aprecia es err neas em torno da fidelidade conjugal Autores estrangeiros tamb m ca am no gosto do p blico cearense Entretanto alguns eram condenados e se tornavam sin nimos de perdi o Desses escritores
202. idade sei de mo as j n o me refiro s mocinhas inexperientes mo as digo de reputa o illibada gente toda essa que ficaria incommodada se num bonde ou num trem se encontrasse ao lado de uma pessoa de vida duvidosa Entretanto essas mesmas senhoras e essas mesmas mo as atrav s das paginas de um romance bem escripto acotovelam se com toda esp cie de mis rias moraes Senhoras e mo as que se em plena rua fossem espectadoras de certas scenas corariam at a raiz dos cabellos na intimidade de uma sala de leitura num livro ou num jornal l em min cias dessas mesmas scenas com uma naturalidade que eu confesso n o posso comprehender Mo as que se julgariam insultadas se ouvissem proferir ao lado dellas palavras que offendem l em essas mesm ssimas palavras uma vez que venham num romance da moda bem escripto e bem impresso Em resposta indaga o sobre sua dupla moral as leitoras pareciam demonstrar que a moral p blica n o se aplica necessariamente no mbito privado O mundo de papel mesmo que povoado de comportamentos impr prios ganhava sentido nas m os das donzelas cat licas na intimidade de seus lugares de leitura Sonhar com os romances continuava sendo uma forma agrad vel de passar as horas Era poss vel imaginar seu pr ncipe encantado entre uma e 218 Idem Ibdem 217 Idem Ibdem 133 outra missa ou novena onde eram modelos de mulher e suas fitas objeto de cobi a Reconhe
203. idade t o atrahente pelos seus diversos aspectos e t o activa pelos seus constantes progressos Para se dizer do grande descaso por que passa o ensino n aquelle recanto t o prospero de nosso Estado basta lembrar que Limoeiro ainda n o possue sequer um grupo 270 A extens o territorial do munic pio de Limoeiro era muito maior do que a atual Durante as cinco primeiras d cadas do s culo XX o territ rio limoeirense contava com os distritos de Tabuleiro d Areia S o Jo o do Jaguaribe e Alto Santo Esses distritos muito distantes da sede do munic pio sofriam mais ainda com o isolamento e a falta de recursos que escassos concentravam se na sede S em 1957 leis estaduais respectivamente 3 815 3 813 e 3 814 todas do dia 13 de setembro de 1957 que Limoeiro perdeu seus distritos ficando seu territ rio muito reduzido Um manifesto feito nesse mesmo ano por ocasi o do aniversario do munic pio afirma Quando Limoeiro do Norte abriu os olhos o invent rio estava feito Deixaram para a Sede 10 de seu territ rio In FREITAS Maria das Dores Vidal amp OLIVEIRA Lenira de Org Limoeiro em Fotos e Fatos Fortaleza Edi es do Autor 1997 p 180 A atual extens o territorial do munic pio compreende basicamente ao que era tido como a sede do munic pio nas primeiras d cadas do s culo XX Devido s exig ncias impostas pelos estatutos da irmandade era necess rio morar relativamente pr ximo da sede onde ficava a ig
204. ificou se que a irmandade das Filhas de Maria em Limoeiro tinha acesso a essas duas revistas e as utilizavam nas leituras do grupo Se provis rio o estudo historiogr fico ainda h muito que ser feito em torno da pesquisa hist rica acerca das pr ticas de leitura das mulheres cat licas e de seus espa os de leitura Examinar as formas como a Igreja procurava normatizar as leituras do p blico feminino em especial das Filhas de Maria apontou uma hist ria da leitura em constru o no que se refere ao Cear das primeiras d cadas do s culo XX Espero com essa pesquisa participar do esfor o de pesquisa que alarga o acesso s fontes e visita arquivos at ent o pouco conhecidos Espero ainda nesta fase de forma o dos estudos de p s gradua o ter acolhido as contribui es historiogr ficas e participar deste canteiro da hist ria 222 FONTES 1 Fontes Manuscritas Arquivo da Diocese de Limoeiro do Norte ADLN Livros de Ata da Pia Uni o das Filhas de Maria Livro Per odo 08 12 1915 a 04 09 1924 Livro IlI Per odo 02 10 1924 a 10 11 1928 Livro IIl Per odo 12 11 1928 a 04 06 1933 Livro IV Per odo 02 07 1933 a 07 08 1938 Livros de Chamada das Filhas de Maria Livro de Registro das Filhas de Maria Per odo 1915 a 1962 Caderno de Anota es da Biblioteca das Pia Uni o das Filhas de Maria Controle de Livros da Biblioteca das Pia uni o das Filhas de Maria Caderno de Relat rios de Vi
205. igiosas que fizeram de suas exist ncias um itiner rio de sacrif cio e ren ncia em prol do amor divino Retratadas como servas da vontade de Deus traziam consigo os primeiros valores que uma Filha de Maria deveria cultivar a obedi ncia e a resigna o A Pureza e a castidade tamb m eram caracter sticas primordiais nas vidas de santas o que pode explicar a aus ncia nas recomenda es de leitura vida de Maria Madalena que na tradi o cat lica mesmo regenerada conheceu os pecados da carne o que n o a tornava exemplo s associadas da Pia Uni o Caridade e humildade tamb m eram caracter sticas que as Filhas de Maria deveriam aprender com seus santos de devo o sendo os exemplos masculinos de santidade os mais proeminentes nessas virtudes Os livros que contavam a vida de santos propunham uma homologia entre a vida vivida e a vida lida Embora a Igreja n o admitisse oficialmente a imita o das vidas dos santos para evitar os exageros da f por outro lado nas prega es dos sacerdotes incentivava se a busca do exemplo com conselhos do tipo O Director fez a leitura espiritual no Manoal da Pia Uni o depois fez uma ligeira pratica sobre a mesma continuando dizendo que as Filhas de Maria Sant ssima diviam imitar a sua M e celestial assim como na puresa na obidiencia na mudestia virtudes estas que diviam seguir Grifo meu 19 FREYRE Gilberto Casa grande amp senzala forma o da fam lia bra
206. ilhas de Maria Domingo dia 5 deste m s em Limoeiro realizou se a installa o solenne da L E C No sal o do Cinema achavam se as fam lias limoeirenses em peso O padre Edgard Saraiva Le o vig rio da parochia disse da finalidade daquella reuni o convidando emp s os membros da junta social a receberem o cargo que lhes confiara o dever Falaram em seguida os cl rigos Misael Alves e Mac rio Maia a senhorinha Consuelo Guedes em nome do elemento feminino e para finalizar o estudante do Collegio Cearense Sinobilino Pinheiro da Silva Maia A medida que os t tulos eleitorais iam sendo confeccionados o Jornal O Nordeste publicava listagens convocando os eleitores a fim de receberem seus t tulos Nestas listagens a maioria dos convocados era composta de mulheres Pouco afeitas aos assuntos da pol tica essas novas eleitoras seguiam em sua maioria a orienta o sussurrada do confession rio e a eloqu ncia do p lpito Em boa medida a vit ria dos candidatos da LEC no Cear portanto em Limoeiro contou com a participa o do contingente feminino As mulheres cat licas atendendo convoca o da Igreja demonstraram atrav s do alistamento eleitoral da participa o na organiza o da Liga e dos resultados 5 Jornal O Nordeste Fortaleza 14 fev 1933 p 06 39 nas urnas o peso que a participa o e o voto feminino poderiam ter na vida pol tica do Estado Esse reconhecimento da influ ncia do voto fe
207. im rio Chaves sinaliza para um certo desprest gio por parte da Igreja local com a Pia Uni o durante o per odo em que esteve frente da irmandade Isto porque a Pia Uni o era constantemente relacionada como sendo obra do Padre Acelino Viana um declarado inimigo pol tico da fam lia Chaves O conflito pol tico entre o fundador da Pia Uni o e a fam lia Chaves culminou com a substitui o do padre por um sacerdote dessa fam lia De acordo com a narrativa de Jo o Ol mpio Castello Branco O atrito do Pe Acelino com Get lio Chaves na cal ada da Igreja quando chegaram s vias de fato se esbofeteando mutuamente plantava certamente suas ra zes profundas no desafeto pol tico partid rio entre o partido do Padre Acelino e o partido dos Chaves mestre em elei es a bico de pena Ap s a briga com o Padre os Chaves se armaram para tirar desforra Neste affaire pol tico pastoral o arcebispo Dom Manuel da Silva Gomes parece ter dado mais ouvidos Fam lia Chaves Dr Leonel Sindulfo Chaves que ao Pe Acelino Este n o foi ouvido mas substitu do sem mais precisamente por um irm o de Sindulfo e Henrique o C nego Clim rio Chaves Depois de um ano frente da Igreja local per odo em que compareceu a apenas quatro reuni es da irmandade o C nego Clim rio Chaves foi modificando sua postura e passou a presidir as reuni es com mais frequ ncia O ingresso de novas associadas pertencentes fam lia
208. imagem do livro enquanto objeto tamb m era estereotipada quando se tratava das leituras n o recomendadas ou de teor bolchevista Para a cr tica cat lica essas leituras eram escandalosas desde a capa Em vermelho berrante a cor da indec ncia essas capas contrastavam com as cores s brias dos livros crist os na pureza do branco do azul angelical e do verde em diferentes tonalidades al m do s brio preto com letras douradas nos livros de ora es e manuais de catequese Figura 08 Capas de Livros Recomendados A Filha do Director do Circo Mais Alegria e A divina Eucaristia 128 129 Combate aos maus livros Jornal O Nordeste Fortaleza 20 jan 1935 p 04 Matadores de almas Jornal O Nordeste Fortaleza 10 dez 1937 p 03 89 A an lise de uma obra iniciava com o exame de sua apresenta o f sica Impr prio era o livro que trouxesse em sua capa o esc ndalo das cores vivas e vibrantes que atrafam os olhares nas livrarias e bibliotecas cujas prateleiras eram repletas de volumes em cores pardas No Cear cat lico do in cio do s culo XX julgava se o livro tamb m pela extravag ncia da capa os tons berrantes e a iconografia inconveniente Como se v os crit rios de julgamento abarcavam os m nimos detalhes do objeto impresso verdadeiro derrame de livros visivelmente communistas se nota no momento pelas livrarias combatendo os mais sagrados e legitmos princ pios da moral famili
209. imoeirense reunidas em 1934 151 FIGURA 09 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria 154 FIGURA 10 An ncios diversos veiculados n O Nordeste i 160 FIGURA 11 An ncios diversos veiculados n O Nordeste 161 FIGURA 12 Carimbo da Biblioteca da Pia Uni o rea 180 NDICE DE GR FICOS GR FICO 01 Associadas da Pia Uni o das Filhas de Maria e associadas da Confraria da Immaculada Concei o 52225 5s0uodiaadi assada GAS isa 21 GR FICO 02 Despesas da festa da Padroeira e ererereraeaa 23 GR FICO 03 Evolu o do quadro de associadas da Pia Uni o das Filhas de Maria 41 GR FICO 04 Leituras recomendadas nas resenhas do Jornal O Nordeste 83 GR FICO 05 Livros desaparecidos da Biblioteca da Pia Uni o 208 NDICE DE TABELAS E QUADROS TABELA 01 Vidas de Santos na Biblioteca da Pia Uni o de Limoeiro 196 TaBELA 02 Biografias de Religiosos Religiosas na Biblioteca da Pia Uni o de END a E A 197 TABELA 03 Livros de Forma o Feminina Biblioteca da Pia Uni o de Limoeiro 212 QUADRO 01 Ramalhetes das Flores da Virtude no Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria em quatro TAMmaIneies sqsimpaniieasaasinai aaa diem aaa banana add nana canadiana dada danada 157 LISTA DE ABREVIATURAS ADL
210. imoeiro e a quest o foi posta em vota o pela comiss o gestora do estabelecimento visto que alguns membros da Sociedade Pr educa o Rural de Limoeiro SPERL contestavam a 292 O Nosso Dever Jornal O Nordeste Fortaleza 21 set 1938 p 03 293 Idem Ibidem 29 Ata de Reuni o da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 07 de Outubro de 1934 p 13 V 177 obrigatoriedade do ensino religioso no estabelecimento Lauro de Oliveira Lima ap s o exame das atas das sess es e do Livro de Ocorr ncias da Escola Normal montou uma cronologia da E N R L onde registra no ano de 1940 Conflito sobre o ensino obrigat rio de Religi o contestado por Dr Deocl cio Lima Verde Sess o agitada da diretoria em 03 de mar o A diretoria da Sociedade Pr Educa o Rural fez uma vota o para decidir sobre a obrigatoriedade ou n o do ensino religioso na escola assunto que suscitou muita agita o terminando com a vit ria da religi o Visando recuperar espa o para a catequese as associadas da Pia Uni o foram chamadas ao exerc cio da catequese como uma atribui o de seu apostolado fiz a chamadas das Filhas de Maria a qual compareceram 63 Por esta chamada foram disignadas as Filhas de Maria que moram aqui dentro da cidade para exercerem os cargos de catequistas aqui na s de Embora isso exiga sic um pouco de sacrificio mas para o bem de cada um e afinal da coletividade O Revmo Pe
211. incentivados a circular os exemplares entre outros leitores Desse modo era fun o do assinante d O Nordeste difundir sua leitura Que fazeis com os jornais cat licos j lidos Ides inutilizando os ou atirando a um canto Oh N o fa ais isso Emprestae os ou dae os a outras pessoas para ler Mandae os para fam lias conhecidas que moram f ra da cidade nos sitios nas ro as onde talvez raras vezes recebam um jornal bom e que por serem pobres n o podem tomar uma assignatura Deus vo lo pagar Difundir largamente o jornal cat lico no Estado seria uma garantia que seus ensinamentos chegariam aos recantos mais afastados da capital Em Limoeiro O Nordeste era lido com assiduidade principalmente pelas Filhas de Maria visto que na Pia Uni o era leitura constante e apoiava a orienta o do assistente eclesi stico Sua distribui o no munic pio ficava a cargo de Judite Chaves diretora da Pia Uni o O jornal O Nordeste de circula o di ria trazia um conte do que girava em torno da moral e dos costumes da sociedade cearense bem como temas relacionados doutrina da Igreja Nesse sentido o p blico feminino era alvo do peri dico que s voltas com as modas e comportamentos femininos buscava em suas p ginas moralizar e educar as jovens cat licas cearenses Atenta ao comportamento feminino a imprensa cat lica buscava identificar influ ncias perniciosas apontadas como respons veis pelas condutas desviante
212. inha aquelas fam lia que fazia aqueles baile n risos Chamavam baile risos Vai haver um baile na casa de Fulano de Tal Gostavam muito de fazer no dia 08 de dezembro na festa de Nossa Senhora sempre gostavam de fazer noite aquele baile na casa de Fulano de Tal Tinha aqui um advogado que morava aqui as vezes havia o baile era l na casa dele E s vezes era na casa de seu Cust dio Cust dio Saraiva marido de Judite Chaves s vez era na casa de outras pessoas aqui acol havia uma festa dan ante Poucos bailes aconteciam na cidade Entretanto os bailes promovidos pelas fam lias mais abastadas da sociedade limoeirense se transformavam em acontecimentos sociais A presen a nesses bailes era sin nimo de prest gio e reconhecimento Neles os la os de amizade entre as fam lias se estreitavam e se fortaleciam enquanto os mais jovens divertiam se em um ambiente de suntuosidade que fugia ao cotidiano pacato do munic pio Os bailes nos casar es da cidade eram para poucos Mas esta regra n o se aplicava s Filhas de Maria Por pertencerem em sua maioria s camadas da grada elite limoeirense o universo dos bailes estava presente nos h bitos sociais das 7 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit p 22 Maria Menas da Silva 70 anos Entrevista realizada em 08 01 2004 Cust dio Saraiva al m de muito rico e politicamente influente foi prefeito da cidade 55 fam li
213. inino ve culo do pecado deveria ser domado para que seus instintos n o maculassem a pureza das jovens Filhas de Maria Deste modo entre as trinta e uma Flores das Virtudes listadas no Manual a maioria delas diz respeito a alguma forma de educar e conter os 262 desejos do corpo As Flores da Virtude anunciadas no manual s o as seguintes 1 Vencer a pregui a ao levantar se e cumprir com os deveres do pr prio estado 2 Guardar mod stia nos olhos e mais sentidos 3 Ouvir missa pelas almas devotas de Nossa Senhora 4 Fazer leitura espiritual ao menos por um quarto de hora 5 Combater a gula por amor de Maria 6 Dar uma esmola 7 Invocar o socorro de Maria nas tenta es 8 Pedir a ben o Virgem Maria ao come ar qualquer a o 9 Obedecer com gosto por amor da Virgem Sant ssima 10 N o censurar o pr ximo nem em coisas lev ssimas 11 Visitar alguma imagem da virgem 12 N o cometer faltas volunt rias 13 Convidar algu m a fazer algum ato de religi o 14 Perdoar pelo amor de Maria 15 Pedir a Virgem a convers o dos pecadores 16 Levar com paci ncia qualquer adversidade 17 Combater a curiosidade 18 Reprimir a vaidade 19 Rezar com devo o 20 Fazer algum ato de humildade 282 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit p 465 466 157 21 Lan ar fogo em algum retrato perigoso indecente ou livro m u ou n o os tendo dar gra as Virgem 22 Estu
214. inita generosidade o significado do carinho amor e reciprocidade m tua entre amigos Com elas conheci uma nova dimens o de irmandade e por isso tornaram se parte importante da minha vida Obrigada por me acolherem e por me inclu frem na irmandade das Filhas de M inha Aos colegas de mestrado Ana Am lia Ana Paula Virg nia Igor Janote Karoline Luciana e Viviane carregadores de pedras com quem dividi preocupa es alegrias e momentos de performance humor stica Kelly primuxa mineira com quem aprendi muita coisa da vida e do mundo Zilda Menezes Lima Uma amiga amada um grande exemplo de mulher e de profissional Sua torcida e apoio sinceros sempre foram alentadores e primordiais Vera Olivenor Iza e Fabiano mestres do tempo de FAFIDAM que acompanharam este sonho desde o princ pio Valeu a torcida e o incentivo Ana Luzia Maia Saraiva Por mais que eu tente n o encontro palavras sua altura menos ainda que possam exprimir de forma satisfat ria a gratid o e o amor que sinto por ti Amiga irm m e advogada anjo da guarda companheira de pesquisa sem voc e seu apoio certamente n o teria chegado at aqui Minha M e que mesmo n o compreendendo tamanha obstina o em continuar estudando ap ia minhas decis es se alegra com minhas vit rias e reza para que eu seja feliz Pronto m e terminei Agora posso sentar e ouvir suas hist rias sem um computador ligado a me es
215. interfer ncia da imagina o e podiam ensinar mais em menos tempo Leitora ajuizada n o buscava instru o em romances nem se deixava enganar pelas denomina es que esse g nero pudesse adquirir Neste sentido a cr tica cat lica voltava se contra o chamado romance hist rico considerado por muitos como mais educativo visto que os enredos tinham um fundo real ao contr rio do romance comum fruto de imagina es exaltadas Acusava se o romance hist rico de diluir seu 316 Inutilizar o tempo Jornal O Nordeste Fortaleza 07 jun 1928 p 02 191 escasso conte do instrutivo em p ginas puramente imagin rias desvirtuando o conhecimento que poderia ser adquirido de forma mais r pida e s lida em livros s rios Na cr tica feita pelo Padre Antonio Azevedo na coluna Notas Margem os chamados romances hist ricos eram apontados como engodos aos desavisados Os romances communs n o aproveitam nada s o parto de imagina es exaltadas Por isso alguns l em os que se chamam romances hist ricos que t m um fundo real Mas compare se o que nestes livros hist rico com o que puramente imagin rio e achar se que o hist rico em geral t o limitado que se podia reduzir a poucas paginas E ahi est como a denomina o romance hist rico s engana os b bos porque os ajuizados bem sabem que em poucos minutos se podia aprender num livro serio aquillo q
216. intima o para retirar se immediatamente do munic pio sob pena de ser assassinado 77 Jornal O Nordeste Fortaleza 01 jan 1929 p 02 78 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit p 59 57 Amedrontado o desastrado Don Juan abandonou a cidade e vem naturalmente a esta capital confessar se pedir perd o ao sr Arcebispo e continuar em outra localidade o seu fadario N o a primeira vez que esse D Juan de batina abusa da mansid o das suas ovelhas Em Riach o e Aracoyaba elle attentou contra a moralidade das familias locaes e nada soffreu O caso do padre Godofredo Candido chama aten o pelo fato desse sacerdote ser tamb m o diretor da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro Afinal se o padre tinha coragem de investir sobre uma mulher casada o que dizer das jovens associadas O sil ncio nas atas das Filhas de Maria a respeito da sa da de seu diretor indici rio do desejo de silenciar o esc ndalo e evitar poss veis danos imagem da associa o As associadas da Pia Uni o eram estimuladas a vigiarem se mutuamente o que trazia vantagens para a Igreja visto que passava a contar com muitos olhos observando seus modelos de mulher Esse m todo apresentava certa efic cia visto que mesmo encontrando formas de burlar a vigil ncia o medo estava presente nos h bitos as Filhas de Maria As jovens admitidas na Pia Uni o das Filhas de Maria s o obrigadas a portarem se como verdadeiras Filhas
217. iso compreender os crit rios que a Igreja usava para classificar as obras liter rias como permitidas ou proibidas Por isso no presente cap tulo analisam se discursos cat licos sobre os livros e a leitura abordando as estrat gias de controle da leitura feminina A partir do jornal O Nordeste representante da imprensa cat lica no Estado mostra se como a Igreja via a leitura e suas fun es enquanto empreendia uma ca a s leituras tidas como perniciosas 2 1 As leituras perniciosas Sem d vida os efeitos destes livros n o se fazem sentir imediatamente mas por serem tardios eles s o ainda mais terr veis um veneno lento que corre nas veias e r i insensivelmente as entranhas e termina por devor las inteiramente um fogo que se prepara sob as cinzas e que n o tarda a se transformar em um vasto inc ndio cujo furor ningu m poder controlar Massilon 69 No Cear o principal rg o da imprensa cat lica era o jornal O Nordeste Fundado em 1922 pelo primeiro arcebispo de Fortaleza Dom Manoel da Silva Gomes tinha amplo alcance com a distribui o incentivada pelos sacerdotes das cidades do interior do Cear Em todas as paroquias do Cear o vig rio um defensor e um propagandista do NORDESTE orgao oficial da Arquidiocese Quer dizer O NORDESTE sem d vida o jornal mais divulgado no interior Em cada cidade havia respons veis pelas assinaturas do peri dico e seus assinantes eram
218. iss o das associadas Com o recurso simb lico da ret rica ao inv s de admitir que n o lhe restava outra alternativa a n o ser aceitar o pedido das associadas o diretor afirmou 32 ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 02 de julho de 1927 33 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 02 de julho de 1927 29 que depois de ter refletido e orado chegara conclus o que a vontade de Deus era que fossem ambas demittidas Com isso registrava se o fato tirando das exoneradas a autonomia de suas decis es na irmandade deixando ao diretor a palavra final sobre o assunto Esse caso exemplar de como as rela es entre o diretor e as Filhas de Maria nem sempre eram amistosas e aponta para conflitos internos demonstrando tamb m como as associadas da Pia Uni o n o eram meros recept culos de ordens do clero manifestando vez por outra suas opini es e desejos O interessante perceber que os mesmos motivos de sa de que ocasionavam a sa da de uma associada n o a impedia de continuar a frequentar as reuni es regularmente ou at mesmo de vir a aceitar a nomea o imediata para outros cargos Por motivos pol ticos e familiares essas mulheres estabeleciam um limite sua colabora o com o novo diretor A estrat gia principal era continuar participando da irmandade fato que trazia distin o social por m sem auxiliar diretamente o seu administrador A
219. iticamente ligada ao Pe Acelino Viana Arrais por ocasi o da sa da do mesmo decidiu registrar na ata da reuni o mensal uma exalta o ao trabalho do ex diretor Fa o constar na prezente acta que por Ordem Superior foi dmitido sic o Revmo Pe Acelino Vianna Arraes ex director e vig rio desta Freguezia de Limoeiro e nomeado o Revmo Sr C nego Clim rio Chaves prezentemente nosso Director e Vig rio da mesma Freguezia Este veio nos trazer por meio da palavra de Deus o balsamo vivificante e consolador para nossas almas aquelle nos deixou muitos exemplos de que jamais esqueceremos Pois a elle devemos mor parte de nossa adianta o espiritual a elle n s filhas de Maria devemos a ins gnia de nossa Congrega o assim digo porque foi elle que teve a sagrada id a de installar nesta Freguezia de Limoeiro a Pia Uni o das Filhas de Maria a que pertencemos Finalmente por tudo que fez em pr l de nossas almas devemos muita gratid o Grifo meu Essa esp cie de desabafo da secret ria exaltando a gratid o das associadas com o ex diretor e exigindo reconhecimento de seus feitos pode ser visto como uma forma de protesto tendo em vista o modo como o padre foi retirado de Limoeiro por quest es pol ticas No que diz respeito hierarquia interna da irmandade embora o manual orientasse que as ocupantes dos cargos da Pia Uni o deveriam ser escolhidas sob vota o das associadas o cargo de diretora n o obedecia ne
220. jogam para tirar o premio ou a sorte o sucesso no casamento tornava se uma quest o de saber escolher a mo a certa j que como o jornal cat lico alertava s o as mulheres que edificam ou arru fnam a casa A Filha de Maria era a imagem da mulher s ria e digna sem frivolidades Por seu car ter ponderado era a escolha apropriada para o casamento pois ao contr rio das melindrosas as jovens marianas n o eram mulheres para namoros de passatempo e sabiam encantar o sexo oposto com suas qualidades morais A escolha da esposa era decis o s ria e por isso o homem deveria escolher com cautela observando inclusive os h bitos de leituras das pretendentes esposa pois aquelas que descuidavam da sua verdadeira instru o podiam ser a ru na do lar e do marido H mulheres que desvairadas por leituras desmoralizantes e maus conselhos imaginam e proclamam bem alto que o culto do arranjo da economia apanagio dos cerebros deficientes dos esp ritos inferiores Que disparate A miss o de cuidar da casa e os conhecimentos necess rios esta tarefa eram portanto talentos naturais das jovens bem educadas e orientadas por leituras edificantes De facto a mulher nasceu para ser o anjo da guarda do seu lar Da sua direc o depende o bem estar a felicidade e o futuro da familia Para as associadas marianas suas leituras deveriam converter os maridos trazendo os ao seio da religi o
221. jornais figurando nos artigos nas cartas de leitores e nos editoriais dos matutinos da capital cearense Com veicula o tamb m nas cidades interioranas esses jornais tinham um discurso conservador e austero acerca dos novos h bitos de vestimenta feminina Atacando as conquistas das Filhas de Eva no campo profissional acusavam nas de tentarem igualar se aos homens na vestimenta No Brasil tambem as mulheres j est o querendo igualar se na indumentaria aos homens J s o eleitoras medicas advogadas chauffeurs empregadas p blicas guarda livros fumantes Agora desejam mais querem andar tambem de cal as de casemira e paletot la homme Os representantes do sexo forte se tomam de alarme o cumulo Dizem Mas as Filhas de Eva n o recuam Tida como s mbolo da degrada o social e como elemento corruptor da moral dos bons costumes e da fam lia a moda era apontada como sinal de degrada o da sociedade Era a roupa que diferenciava as mulheres respeit veis das audaciosas mulheres perdidas 58 Jornal O Cear Fortaleza 29 out 1926 p 05 Em todas as cita es do Jornal O Cear manteve se a grafia do documento original 5 Jornal O Nordeste Fortaleza 23 jun 1933 p 02 46 A moda tem dessas perversidades nas suas seduc es Obrigada a gente do tom a portar se em seus gestos e vestidos de tal maneira que quando a policia quer defender a honestidade das familias
222. l da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit p 23 e 27 148 penit ncia e castidade Por isso a verifica o de comportamentos impr prios acarretava um cuidado redobrado em torno das leituras que elas faziam A leitura se constitu a importante no universo de forma o das Filhas de Maria Parte das atividades do grupo estava ligada a essa pr tica incentivada como uma sadia ocupa o para as horas de folga quando se recomendava a leitura sistem tica de livros religiosos e de ora es O ato de ler seria uma pr tica de saud vel entretenimento na pequena cidade sem muitos atrativos Por entre p ginas de romances e livros de aventuras era poss vel conhecer outros mundos Mundos que se mostravam mais encantadores e vastos que a simples cidadezinha interiorana Ler se constitu a para elas tamb m como possibilidade de sair dos limites geogr ficos da cidade pequena ilhada entre os rios Banabui e Jaguaribe para novos lugares da imagina o e da fantasia Escapando s leituras piedosas ou de vidas de santos o contato com a imagina o a aventura e o romance de papel dava s jovens associadas da Pia Uni o a possibilidade de imaginar se noutros lugares em novos contextos Descoberto o prazer do contato com as narrativas dos livros novos valores costumes e outros mundos iam povoando a imagina o dessas mulheres a medida que as p ginas eram viradas um exerc cio de liberdade A leitura parecia ter para as Filhas de Mar
223. lares na capacidade de influenciar comportamentos Comparado um livro o filme era visto com maior desconfian a uma vez que as luzes do cinema pareciam ser mais democr ticas ao alcance de um maior n mero de pessoas posto que n o era necess rio saber ler para ir ao cinema Al m disso o cinema trazia o fasc nio da imagem em movimento e n o apelava apenas para a imagina o tal como o livro Como uma escola o cinema era um poderoso instrumento de instru o e esse poder deveria ser controlado pois tal como uma espada de dois gumes poderia trazer preju zos ou benef cios educa o da popula o Sedutor o discurso do cinema era mais eficaz que o da leitura e podia contaminar mesmo certas crian as barbadas Em m os moralizadoras era um poderoso instrumento de normatiza o de comportamentos em m os desonestas poderia representar a dissolu o dos bons costumes Espada de dois gumes o cinema uma verdadeira escola O filme deste modo um livro que educa ou degenera 109 Honesto e moralizado o filme um poderoso mestre que consegue grandes victorias no campo do bem Desonesto e perverso perigoso instrumento de dissolu o que n o raro infecta mesmo a certas crian as barbadas De effeitos impressionantes e sedutores o cinema leva vantagens ao livro no desmoralizar como no educar Para o jornal a influ ncia do cinema podia ser sentida principalmente nas crian as
224. leitora cearense com um livro em m os absorta no prazer da leitura Figura 07 An ncio publicit rio de redes Jornal O Nordeste 17 de abril de 1939 P 05 Na ilustra o do an ncio certamente o livro manuseado pela jovem n o era uma leitura piedosa o que lhe permitia a informalidade da rede para sua pr tica O ato de ler exige esfor o do corpo Quando se entrega a uma leitura por prazer ou distra o tende se tamb m buscar o conforto f sico uma forma de deleite Quando se fala de leitura n o se pode ignorar a rela o que ela assume com a postura do leitor e o lugar onde realizada Existem leituras que parecem exigir uma postura mais austera como as leituras piedosas que devem ser feitas com circunspec o enquanto outras parecem insinuar um relaxamento do corpo como as leituras de romances ou revistas feitas por passatempo De acordo com Alberto Manguel 144 N o somente determinados livros exigem um contraste entre conte do e ambiente h os que parecem exigir determinadas posi es de leitura posturas do corpo do leitor que por sua vez exigem locais de leitura apropriados a essas posturas Com frequ ncia o prazer derivado da leitura depende em larga medida do conforto corporal do leitor O Jornal O Nordeste prescrevia ao p blico cat lico as formas corretas de manusear o livro garantindo a sa de do corpo construindo a postura desej vel no momento da leitura Entre os cuidados com a sa de
225. lgumas considera es interessantes sobre os exageros das r mesmas fazendo nos ver o quanto s o elas prejudiciaes mo a crist sobretudo Filha de Maria O contato corporal que a dan a propiciava era em si um pecado pois o contato entre os corpos despertava os sentidos pecaminosos Durante a dan a a imagem do homem sedutor se transmuta no pr prio dem nio O Jornal O Nordeste enumera algumas das raz es pelas quais um crist o n o deveria dan ar entre elas pode se destacar 74 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit p 123 75 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 03 de dezembro de 1925 7 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 05 de junho de 1932 56 1 Porque pelo contacto familiar com outro sexo nos bailes se despertam e alimentam as m s paix es 2 Porque os attractivos dos sentidos e a inconveniencia dos trajos s o causa de muitos peccados contra a pureza 3 Porque a Igreja Catholica nossa m e condemna a dan a como divertimento immoral e incompat vel com a vida christ 4 Porque at os moralistas antigos chamam a dan a indecente e voluptuosa Nestes bailes proibidos s Filhas de Maria e mal vistos pela Igreja a dan a era tida como divertimento imoral Os namoricos de passatempo outro mal combatido pelos mandamentos da Pia Uni o certamente teriam lugar garantido nas festas dan
226. lher assinaturas e doa es dos mais abastados para as reformas na Igreja Jo o Ol mpio Castello Branco afirma que durante este per odo 1922 1925 o c nego Clim rio Chaves com a ajuda dessa forma de arrecada o empreendeu Grandes melhoramentos na igreja Matriz destacando se o piso de mosaicos modernos e bonitos que substitu ram os tijolos do ladrilho primitivo Foi para tanto que lan ou uma inteligente e feliz campanha muito bem planejada e organizada com listas de trinta 30 contribuintes Estas listas foram confiadas s Associa es Religiosas EA Fazendo um levantamento detalhado das fam lias cujas filhas figuravam nas fileiras da Pia Uni o poss vel inferir que as associadas principalmente a partir da d cada de 1920 eram filhas dos mais abastados do munic pio Esses com o enriquecimento proporcionado pelo algod o e pela cera de carna ba se revestiram como os grandes impulsionadores da cidade principalmente no que diz respeito ao aparelhamento educacional e institucional do munic pio No entanto torna se necess rio ressaltar que essas iniciativas n o eram motivadas por ideais filantr picos afinal o aparelhamento do munic pio financiado por eles beneficiaria principalmente seus filhos e filhas que n o dispunham no munic pio de escolas onde pudessem dar continuidade aos estudos Com o destaque social que come ou a ser atribu do irmandade das Filhas de Maria principalmente devido a sua colabor
227. lico leitor masculino tais assuntos mereciam ser abordados e esclarecidos oferecendo o conhecimento do mundo negado as mulheres As leituras sobre as coisas mundanas mais do que permitidas eram necess rias ao sexo masculino o caso do livro Lutas da Mocidade escrito pelo padre J Cabral esp cie de manual m dico cient fico A partir da resenha da obra poss vel perceber que se tratava de uma leitura recomendada com exclusividade juventude masculina Esta publica o n o podia ser mais opportuna deante da ponta crescente de prazeres que tenta submergir a sociedade presente A sua intelligencia viva aponta aos mo os os perigos que os esperam porta da vida e a sua alma de sacerdote apresenta os meios de preven o de tratamento e de cura A resenha da obra informava o sum rio cujos temas interditavam o acesso ao p blico feminino de quem a inoc ncia deveria ser a todo custo preservada A guarda dos sentimentos No p rtico A Amizade Amores e amor A Escolha de uma esposa As melindrosas Esponsaes Fidelidade Castidade pr matrimonial V cios modernos Alcool ether morphina coca na Exame medico pr nupcial possibilidades de contin ncia Objec es Benef cios da castidade O temor da infec o A syphilis Aos mo os cat licos o conhecimento das coisas do mundo os ajudava a combater os males do mundo afinal a obra se propunha ser
228. livros Neste sentido as resenhas do jornal se concentravam nas obras cuja leitura a Igreja recomendava Quando se tratava de apontar leituras n o recomend veis o jornal oferecia orienta es gerais para que o pr prio leitor situasse os livros pecaminosos ao inv s de sair nomeando as obras Uma forma de evitar dar visibilidade s obras cuja leitura a Igreja recriminava Ao optar por n o atacar diretamente os livros reprov veis concentrando suas orienta es na identifica o das obras pouco recomend veis O Nordeste fornecia a seu p blico as ferramentas de auto censura cada leitor deveria ser capaz de identificar caracter sticas reprov veis nas obras liter rias e assim impedir sua dissemina o Por outro lado tamb m evitava despertar a curiosidade das leitoras em torno de uma ou outra leitura perniciosa Para o jornal cat lico a proibi o expl cita de uma obra poderia torn la mais atrativa Uma forma de reconhecer que uma leitura proibida se tornava mais presente no imagin rio da leitora ati ando sua curiosidade Leila Mezan Algranti em seu estudo sobre a censura de livros comenta que para alguns censores era prefer vel n o censurar certas obras para n o despertar a aten o dos leitores sobre quest es 113 Sobre Gustavo Barroso ver MENEZES Eduardo Diatahy B de Gustavo Barroso Um cearense ariano Fortaleza Museu do Cear Secretaria da Cultura do Estado do Cear 2006 114 Livros Novos
229. logica dos apostolos acastela se a esperan a alvi areira e doirada do porvir Esposas exemplares m es amorosas educadoras cat licas catequistas do cotidiano eram os pap is esperados das Filhas de Maria no momento em que deixavam a associa o para contrair o matrim nio Crescer e multiplicar para que no futuro a fita azul pudesse continuar como nas palavras do Monsenhor Luiz Rocha a pontilhar o mapa do Brasil e como desejava o Cardeal Dom Leme dominar o mundo No universo que a Igreja imaginava para a Filha de Maria o sensual podia macular a forma o feminina Antes de serem mulheres sujeitas s tenta es e prazeres da carne essas jovens casadoiras deveriam conquistar o mundo para a Igreja multiplicando se atrav s dos filhos convertendo os adultos e catequizando os pequeninos Com tal miss o apost lica a felicidade que a Igreja lhes ensinava estava no para so que elas deveriam conquistar A Mulher na civiliza o contempor nea Jornal O Nordeste Fortaleza 18 ago 1939 p 03 214 com sacrif cios e l grimas Perspectiva bem diferente daquela que quem encontravam nas p ginas delicadas dos romances e folhetins que elas tanto apreciavam Neste sentido as obras presentes na biblioteca da Pia Uni o marcaram o processo de forma o das Filhas de Maria em Limoeiro Ora falando lhes de exemplos a seguir ora instruindo as sobre o papel feminino na sociedade as obras que iam le
230. ltima sess o o 3 Mandamento da Lei de Deus Disse da obriga o restrita que t nhamos de o observarmos na integra isto sendo solicitas em comparecermos Missa nos dias santificados abstendo nos tambem de trabalharmos nesses dias entregando nos antes leituras sans e moralistas verdadeiros exerc cios da perfei o espiritual ao emvez de romances profanos que pervertem o cora o e envenenam a alma Grifo meu Embora com t tulos insuspeitos e aprova o do diretor o conte do de certas obras que figuravam no acervo n o estava totalmente em sintonia com as recomenda es cat licas e as pr prias associadas admitiam o car ter mpio de certos livros Tinham uma biblioteca n o era muito grande n o Eram livros mais sobre religi o e romance Li uma vez aquele O Sinal da Cruz um romance E era at pesado esse romance risos Pra poca n risos Os romances formavam uma parte consider vel dos livros da biblioteca da Pia Uni o Essas obras eram em sua maioria escritas por autores desconhecidos do grande p blico e tradu es principalmente do franc s como aquelas da Biblioteca das Mo as Entretanto contrastando com o tom romanceado de seus enredos as obras presentes nas estantes da Pia Uni o n o traziam no t tulo alus o a sentimentos mundanos ou carnais nem referiam diretamente fantasia aos sonhos ao amor ou paix o 312 Revista Eclesi stica Brasileira Vol 1
231. lugar onde se entra e de onde se sai vontade Michel de Certeau A leitura um ato de rebeldia de cria o um momento de intimidade criativa Michel de Certeau afirma que o texto s tem sentido gra as a seus leitores muda com eles ordena se conforme c digos de percep o que lhe escapam Por isso a leitura torna se tamb m perigosa afinal o que faz o leitor da sua leitura Por suas m ltiplas possibilidades de problematiza o a hist ria da leitura tem instigado nas ltimas d cadas a pesquisa historiogr fica apresentando caminhos diversos acerca das rela es que se constroem em torno do livro e da leitura As formas como gera es passadas se relacionaram com o livro e a leitura mostram aspectos culturais importantes e permitem verificar as disputas de poder e tens es sociais A rela o no passado com a leitura era muito diversa daquela que nutrimos no presente e por isso tende se a perder a no o de como as gera es passadas costumavam se relacionar com os livros como estes eram objetos de poder de disputa e de desejo A hist ria da leitura no mbito da Igreja Cat lica ocupa uma posi o complexa por vezes suspeita e desviante tamb m ferramenta eficaz na educa o e forma o dos esp ritos cat licos Narrativas hist ricas como a de Ginzburg que mostram personagens como o moleiro do Friuli que a par da leitura de poucas obras ousou interpret las de forma anti convencional exe
232. m lia Contudo era importante que ao ler obras impr prias ainda que para avali las o chefe da fam lia se resguardasse n o permitindo que sua leitura fosse presenciada Mesmo com uma esp cie de licen a especial o jornal cat lico recomendava aos pais de fam lia evitar o m o exemplo isto l r s escondidas ou prevenir as testemunhas da licen a obtida Alertados quanto a esse perigo cuja semente poderia florescer os censores cat licos vigilantes na tutela espiritual das crean as passaram a ter uma aten o especial literatura infanto juvenil uma vez que na vis o da Igreja z A crian a uma presa f cil e nem sempre bem guardada bem orientada pelos paes e nas escolas Precisamos cuidar com enorme interesse da crian a e fazer para ella uma literatura sadia que venha substituir aquella que o governo est condemnando 5 Assim as obras que se identificassem com o p blico leitor infantil passaram a ser lidas com rigor pelos cr ticos cat licos E deste modo ao menor sinal de id ias desviantes ou exemplos impr prios os livros infantis eram prontamente classificados como perniciosos para o seu inocente p blico Visando um maior controle em torno do que era lido pelas crian as cearenses o jornal O Nordeste passou a atribuir responsabilidades apelar aos pais e educadores no sentido de salvaguardar as leituras dos pequeninos como uma forma de freiar lhes as paix es que s
233. m a institui o do sufr gio feminino passava a figurar como cidad cat lica para quem o voto tornava se imperiosa obriga o c vica Com a institui o da Liga Eleitoral Cat lica no Cear a pol tica assumia novas fei es e os discursos do passado deveriam ser explicados e reinventados No discurso da Igreja a LEC n o era um partido pol tico embora na pr tica funcionasse como tal Na verdade a Liga Cat lica firmava Jornal O Nordeste Fortaleza 16 mar 1933 p 01 35 acordos com candidatos e partidos a fim de ver garantidos nas vota es do legislativo e nas a es do executivo os interesses da Igreja Cat lica Quest es como o ensino laicizado o casamento civil a educa o sexual entre outras figuravam entre as preocupa es da Igreja Os candidatos apoiados pela LEC assumiam o compromisso de defender os interesses da Igreja e votar contra as propostas que n o estivessem em sintonia com a moral cat lica Por isso a Igreja iniciou no Cear uma forte campanha para o alistamento eleitoral feminino Como isso pretendia conseguir o apoio incondicional do contingente feminino do Estado cujo voto era facultativo frente da campanha estava o ve culo cat lico de comunica o de maior circula o no estado o Jornal O Nordeste Em suas p ginas os apelos para o alistamento das mulheres cat licas eram constantes As senhoras catholicas s o convidadas n o s a se alistarem ma
234. m ano ap s seu an ncio sem grande alarde e com um modesto acervo Dessa forma encontra se no livro de atas apenas um curto registro Foi ignaugurado a Bibliotheca da Pia Uni o das Filhas de Maria com uma mudestia instante 301 sic Rr 299 Semeando XX S Jornal o Nora jdn 1929 p 01 e 08 300 Romances e Ro i t licos Jornal O Nordeste Fort jul 1939 p 04 1 Ata da Reuni o Pia Uni o das Eilhas de Maria de Linf eiro OF de junho de 1931 p 30 V Figura 12 Carimbo da Biblioteca da Pia Uni o Embora n o se especifique o n mero de obras o termo modesta estante d a id ia de que o empenho em adquirir livros para a biblioteca da irmandade n o obtivera xito e que durante um ano inteiro o total de livros arrecadados era pequeno O acervo inicial da Biblioteca da Pia Uni o n o parecia despertar muito interesse no grupo Com a maior parte das obras composta por livros piedosos as Filhas de Maria pareciam dar sinais de que n o procuravam por essas obras visto que as reuni es mensais e suas obriga es com a leitura do Manual j lhes provinham de uma quantidade elevada desse tipo de leitura Formar um acervo mostrou se uma tarefa coletiva por isso as doa es eram bem vindas e incentivadas Essas doa es eram feitas por sacerdotes seminaristas e tamb m por algumas mulheres ligadas de algum modo irmandade Senhoras da sociedade que j haviam feito parte da Pi
235. m apresentados de forma entusi stica apelando ao p blico para evitar os males da modernidade O julgamento das leituras s s se baseava na aus ncia do imoral e do pecaminoso A cr tica cat lica era avessa s mudan as das formas liter rias e queria provar que para se manter atualizado com as novidades liter rias n o era necess rio sujar se com obras de narrativas fortes e duvidosas como os romances naturalistas em moda Para acompanhar a vida do desenvolvimento liter rio n s n o precisamos arriscar a higiene do nosso espirito no vicio de um ambiente de lixo e de podrid o Muito menos para proporcionar nossa intelligencia horas alegres de leitura e de passatempo liter rio 1 N o era a realidade exposta na literatura que a Igreja queria para as filhas marianas N o eram os sonhos rom nticos de jovens hero nas das cole es para mo as que elas deveriam alimentar embora como estrat gia de combate as leituras bolchevistas e realistas Zola at aceitasse algumas leituras desse g nero Mas n o era o conto de fadas rom ntico que a Igreja queria ver folheado por suas jovens N o eram Lauras Nicolletes Dionisias os exemplos 188 189 Matadores de almas Jornal O Nordeste Fortaleza 10 dez 1937 p 03 Matadores de almas Jornal O Nordeste Fortaleza 10 dez 1937 p 03 120 que as Filhas de Maria deveriam seguir ainda que como em todos os romances cuja leitura era cautelosamente liber
236. m enredos livres de deslizes morais No discurso da cr tica cat lica as leituras de conte do socialista e comunista eram fortes influ ncias para o descontrole social Esse tipo de literatura levaria leitores ing nuos a atos de barb rie desrespeitando a ordem estabelecida Em editorial O Nordeste chama aten o dos leitores para a sedu o da linguagem que dava vaz o a um dil vio de ruindade e de perfidia por meio do impresso N o h com effeito campo t o prop cio dissemina o das id as absurdas do materialismo marxista como o da intelligencia desprevenida e ing nua dos que l em em forma seductora de linguagem os sophismas e as desvirtua es das verdades basicas para exist ncia da tranquilidade e da ordem em uma nacionalidade S os Estados modernos que fortificarem os seus methodos democraticos de defesa poder o enfrentar victoriosamente o dil vio de ruindade e de perfidia dessa offensiva de caracter alarmante feita por meio do livro do folheto da revista do drama do jornal si n o pela tribuna e pela cathedra para o effeito de demolir nas consciencias as no es do dever e da honestidade no terreno civico como no dominio religioso Sem que se accentue por toda parte essa campanha regeneradora prevalecer o mais tarde nas multid es os postulados irracionaes do bolchevismo Quanto ao comunismo este apresentado na cr tica cat lica como a dissemina o de todos os
237. m quase uma vergonha de dizer que l em livros da bibliotheca de mo as Qual tolices Agua com assucar n o para mim E n o enrubecem de confessar que gostam do sal de Zola e outros que taes Triste consequencia da liberdade dos nossos dias Mal sabem ellas que com isto muito decaem no conceito de todos Mesmo dos pouco escrupulosos que s v em a vida com os olhos 153 Pyublica es Jornal O Nordeste Fortaleza 08 mar 1929 p 02 102 do mundo Que ellas se compenetrem disto e voltem sua bibliotheca Diante dessa inconveni ncia dos h bitos de leitura do p blico feminino cearense a figura da Filha de Maria leitora come ava a aparecer nos artigos do jornal Exemplo de virtude e decoro encarregadas das cousas santas as Filhas de Maria iam transformando se tamb m em modelos de leitoras cat licas numa exorta o cruzada contra a m leitura Trabalhemos unidas e coesas para a moraliza o dos costumes para a forma o dos caracteres e para a regenera o das que se afastam do caminho r ctilineo do bem e do dever Somos catholicas profundamente catholicas na totalidade somos em grande n mero Filhas de Maria portanto encarregadas das cousas santas Procuremos pois sanar os males que pairam sobre a sociedade e a familia Que vemos na poca actual as leituras perniciosas mal ficas e prohibidas penetrando em quase todos os lares Esforcemo
238. ma Entre as almas mais evolu das e com capacidade de discernimento entre a literatura perniciosa e a edificante na vis o da Igreja n o havia almas femininas Principalmente as senhorinhas cat licas que inocentes dos pecados e tenta es do mundo n o saberiam julgar adequadamente as obras de fundo moral duvidoso Este posicionamento da Igreja contradit rio e renega suas pr prias pr ticas e recomenda es uma vez que ser essas mesmas senhorinhas que depois de casadas e transformadas em m es caber a educa o dos filhos e a escolha e julgamento de suas leituras Sobre o papel feminino de educadora e respons vel pelo futuro da catolicidade trato mais adiante A inaptid o feminina para a escolha das boas leituras provinha do seu despreparo para o mundo das letras Para a Igreja e seus adeptos se a mulher n o era uma boa leitora tamb m n o poderia ser uma boa escritora Essa opini o compartilhada at mesmo pelas colaboradoras da imprensa cat lica era manifesta no jornal O Nordeste como se pode ver no artigo onde a autora n o identificada afirma N o me movem veleidades literarias nesses entretenimentos amistosos Porque mesmo no tocante literatura n s mulheres n o somos muito fortes Nesse ponto nos preciso confessar somos de facto a parte fr gil da humanidade Emquanto na historia liter ria de todos os paises do mundo os homens sobresaem se em quantidade permanece o nosso sexo na
239. males e por isso mesmo deveriam ser as primeiras leituras reprovadas em nome do saneamento dos costumes 125 Horr vel Jornal O Nordeste Fortaleza 14 set 1928 12 ABREU M rcia Pref cio percursos da leitura In Leitura hist ria e hist ria da leitura associa o da leitura do Brasil S o Paulo Fapesp 1999 p 12 127 Campanha regeneradora Jornal O Nordeste Fortaleza 08 abr 1937 p 01 88 Perverso berrante e disseminado por toda parte o bolchevismo mal lethargo contra o qual se devem applicar drogas fort ssimas Atac lo nas suas bases pois o dever de quem governa Os maus livros e os seus autores s o destarte os germens que z primeiramente t m de ser destru dos Do contrario in til que se procurem sanear os costumes de um povo A dissemina o da leitura de obras de conte do socialista ou de outro pensamento contr rio aos dogmas da Igreja era repudiada e considerada pecado grav ssimo A prescri o em torno das leituras abarcava todo o circuito do impresso e sua difus o editar propagar reter emprestar conservar Peccado grav ssimo ser tamb m o dos que n o obedecem s legisla es da Igreja que prohibe n o s editar e propagar mas tamb m com todas e a mesma for a da lei ler reter emprestar ou conservar as obras obscenas immoraes her ticas de combate Igreja aos seus dogmas aos seus preceito e institui es 7 A
240. mb m catequistas do cotidiano num sistema escolar onde a Igreja e o catolicismo exerciam fortes influ ncias O acervo da Biblioteca da Pia Uni o aponta suas principais orienta es de leitura O h bito da leitura deveria lapidar seu comportamento e car ter atrav s de hagiografias biografias de religiosos e obras de piedade Para al m 35 Ver THOMPSON E P Costumes em Comum estudos sobre a cultura popular tradicional S o Paulo Cia das Letras 1998 215 desses livros piedosos a documenta o da biblioteca aponta para as obras que realmente as agradavam os romances Nem sempre obedientes aos preceitos da Igreja os pequenos desvios e tens es na irmandade eram solucionados de forma discreta para que os conflitos internos n o viessem macular a imagem da associa o que tornara se refer ncia no munic pio Formadas para o matrim nio para o claustro ou ainda para viverem como castas donzelas no mundo delas cobrava se pudor e retid o moral por isso essas filhas de Eva eram concitadas a viverem como se fossem anjos 356 sobre a Terra educando pelo exemplo Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit p 09 216 CONSIDERA ES FINAIS Pesquisar a Pia Uni o das Filhas de Maria foi um aprendizado constante A cada encontro acad mico onde fragmentos dessa pesquisa foram apresentados pude perceber como o fato de ser uma irmandade religiosa despertava nos ouvintes a id ia de
241. mb m desejavam assumir o poder pol tico do munic pio No entanto de acordo com Lauro de Oliveira Lima esse processo foi lento e os Chaves permaneceram por algum tempo gerindo o poder pol tico na cidade A cera de carna ba rapidamente escorria das palhas cortadas para o com rcio gerando a intensifica o dos transportes e das atividades banc rias processos altamente modernizadores Mas os novos ricos n o tinham tiroc nio pol tico para tomar o poder dos burocratas Teriam que aprender a politicar a duras penas Assim embora constituindo uma nova classe novos ricos n o conseguiram logo assumir o poder que continuava a ser gerido pelos Chaves Na realidade n o se trata de aprender a politicar mas de iniciar um processo de amplia o de poderes especialmente no campo pol tico uma vez que essa pequena parcela de comerciantes detinha o poder econ mico local Para isso as disputas deveriam ocorrer em todos os espa os da vida social limoeirense e neste caso a Igreja era um espa o privilegiado de poder e prest gio junto popula o local Na Pia Uni o das Filhas de Maria a d cada de 1930 tamb m foi determinante para a afirma o da irmandade como um lugar de prest gio social o que conferia status s suas associadas O primeiro indicativo dessa eleva o no prest gio da irmandade a amplia o do n mero de associadas da Pia Uni o 53 LIMA Lauro de Oliveira Na Ribeira do Rio das
242. minino na vida pol tica do Estado veio tona na campanha eleitoral seguinte quando o jornal O Nordeste publicava em letras garrafais Mulher Catolica Eleitora da LEC que asseguraste no pleito memor vel de 14 de outubro a vit ria das nossas aspira es vai votar Em meio s disputas pol tico partid rias o grupo das Filhas de Maria apresentava potencial em termos de votos Por isso o grupo passou tamb m a se envolver nas obras assistenciais t o ao gosto das pr ticas pol ticas clientelistas onde os chefes pol ticos tomavam a frente das institui es de assist ncia social como uma forma de angariar votos e garantir a manuten o do status quo A partir da d cada de 1940 as Filhas de Maria iniciaram um trabalho de visita o de doentes nos bairros mais pobres e afastados da cidade para prestar lhes assist ncia espiritual a es no mbito da caridade incentivada dentro da irmandade A cada m s um grupo de visitadoras era designado para fazer a visita aos doentes carentes da cidade Alguns grupos especialmente aqueles compostos pelas mais abastadas tratavam de ir al m da assist ncia espiritual fazendo doa es aos mais necessitados Consto que nessas visitas al m de conforto espiritual que procur mos fornecer nas medidas de nossas m dicas possibilidades algo de auxilio material prestamos aos doentes visitados Consta se tamb m que estas visitad ras al m do conforto espiritual forneceram
243. minuir as possibilidades de desvios Neste sentido em Limoeiro o diretor da Pia Uni o decide criar uma biblioteca para a irmandade uma forma de garantir leituras edificantes para todo o grupo 3 3 A Biblioteca da Pia Uni o das Filhas de Maria em Limoeiro A hist ria das bibliotecas habitada pelo mito Babel e Alexandria s o dois p los fundamentais desse imagin rio 179 Christian Jacob A forma o de uma biblioteca pr pria para as Filhas de Maria limoeirenses parece n o ter sido tarefa f cil O desejo e a necessidade de criar uma biblioteca direcionada s jovens marianas foi originalmente manifestado na reuni o mensal da Pia Uni o do dia 03 de maio de 1930 presidida pelo Pe Edgard Saraiva Le o que informou ao grupo a medida designando em seguida as bibliotec rias e suas auxiliares Depois disse que ia fundar uma bibliotheca na Matriz para as Filhas de Maria em seguida nomeou para bibliotec rias as filhas de Maria senhorinhas Maria Augusta Vieira Chaves Maria Eunice Chaves Saraiva Maria Consuelo Guedes auxiliares Maria da Penha Guedes Maria Elodia Costa Craveiro A biblioteca como espa o de leitura edificante parecia Igreja local a melhor op o para afastar as jovens Filhas de Maria das m s leituras e se constitu a uma ferramenta a mais no esfor o de forma o moral e religiosa dessas senhorinhas A id ia de partilhar livros na biblioteca seria a forma mais adequada de espalhar leituras piedo
244. mplificam como a leitura poderia afetar a vis es de mundo especialmente sobre a Igreja Mennochio gostava de ler DE CERTEAU Michel A Inven o do Cotidiano 1 artes de fazer Trad Ephraim Ferreira Alves Petr polis RJ Vozes 1994 p 266 3 Ver GINZBURG Carlo O queijo e os Vermes o cotidiano e as id ias de um moleiro perseguido pela Inquisi o S o Paulo Companhia das Letras 2006 68 orgulhava se disso Mais do que ler gostava de trocar id ias confrontar leituras sua leitura do mundo e sua leitura de livros Uma receita perigosa confrontar leituras e traz las vida Essa pr tica incomodava a Igreja Cat lica que chegou ao s culo XX trazendo no imagin rio de sua hierarquia certo temor em torno dos efeitos que a leitura podia trazer O confronto entre o escrito e o vivido originava um perigo potencial questionar criar id ias pr prias por em causa a doutrina e o dogma Sensa es id ias descri es detalhadas de situa es e sentimentos vividos ou imaginados tudo isso em p ginas abertas de livros renovando horizontes com um simples passar de p ginas Como pensar uma pura donzela em contato com tantas possibilidades O despertar para um mundo al m da inoc ncia que a Igreja desejava para elas Isso fazia parte do cotidiano das Filhas de Maria que conviviam com a tens o entre o permitido e o proibido de ser conhecido uma fronteira de leituras Para analisar essa fronteira de leituras prec
245. mprensa um car ter de nobreza N o podemos deixar de registrar sobremodo edificados a nobreza do gesto do distincto cidad o sr Raimundo Est cio de Souza que alem da doa o que fez de 5 hectares de terra no perimetro da cidade subscreveu ainda 5 000 000 Ap s tr s anos do in cio da campanha em 1938 a Escola Normal Rural de Limoeiro foi finalmente inaugurada sob a administra o da Sociedade de Pr educa o Rural de Limoeiro SPERL A Escola Normal limoeirense recebia tamb m jovens de outros munic pios funcionando nos regimes de internato e de externato Com o advento desse estabelecimento de ensino criava se a oportunidade de continuidade dos estudos iniciados nas escolas particulares de ler escrever e contar al m de oferecer a possibilidade de profissionaliza o feminina atrav s do magist rio De acordo com Lauro de Oliveira Lima a Escola Normal Rural influenciou fundamentalmente a popula o fornecendo forma o profissional de magist rio a 278 279 Escola Normal Rural em Limoeiro Jornal O Nordeste Fortaleza 19 set 1935 p 01 Escola Normal Rural em Limoeiro Jornal O Nordeste Fortaleza 19 set 1935 p 01 170 centenas de jovens que de outra forma ficariam vegetando nas fazendas da regi o As normalistas limoeirenses e suas colegas de outros munic pios podiam abra ar o magist rio como profiss o embora isso n o sacrificasse o modelo Mulher Esposa M
246. n Livros de devo o atos de censura Op cit p 218 219 200 formas de pensar o papel dela na sociedade chegavam atrav s dessas p ginas Namoros e amores perturbadores que povoavam as p ginas dos romances mexiam com a vis o que essas mulheres tinham de comportamento ideal e de ser mulher A respeito dessa livraria parece que seu acervo se constitu a de livros que atra am pelas capas e letras douradas e atualidade das publica es vindas do Rio de Janeiro S o Paulo e outras pra as ditas mais desenvolvidas Do acervo se observa uma miscel nea de g neros com destaque s leituras amenas das revistas Tico Tico Noite Ilustrada Sele es o Malho al m de um espec fico Jornal das Mo as indicativo de um p blico feminino na cidade Vista como uma novidade a chegada da Livraria S o Sebasti o na cidade tamb m entrou para o anedot rio local como a sapataria de livros de Z Lucas Jos Celestino Amorim apelidado Z Lucas de esp rito progressista n o hesitara nessa poca em dotar Limoeiro de uma livraria a Livraria S o Sebasti o a 1 instalada na cidade Enriqueciam na muitos livros de capa dura com lombadas douradas al m de jornais da Capital revistas como Tico Tico Noite Ilustrada Sele es o Malho Jornal das Mo as etc Z Lucas agora botou uma sapataria de livros que uma beleza registrara o anedot rio da cidade com a hist ria de um matuto que ao visitar a livraria
247. narrativa de Dona Raimunda Francisca Andrade n o associada da Pia Uni o tornou evidente como ser Filha de Maria despertava a aten o e o desejo daquelas que estavam fora da irmandade Nas obras dos memorialistas e pesquisadores da hist ria de Limoeiro do Norte e nos documentos do IBGE Censo de 1940 e Enciclop dia dos Munic pios Cearenses pude compreender melhor como a cidade se organizava nas primeiras d cadas do s culo XX e o cotidiano de seus moradores Estudando a documenta o da Biblioteca da Pia Uni o chegou se aos livros que as Filhas de Maria liam permitindo perceber como se caracterizavam as obras e os enredos recomendados elas dando a conhecer os ensinamentos propostos pelos impressos O recorte temporal desta pesquisa compreende o per odo entre 1915 e os anos 1940 A escolha deste per odo se justifica em face da forma o da Pia Uni o das Filhas de Maria e de sua trajet ria no munic pio de Limoeiro nestas primeiras d cadas do s culo XX A pesquisa ao ampliar o seu corpus documental acolhendo e dialogando com uma diversa tipologia de fontes estendeu o per odo aos anos 1940 em virtude das mudan as ocorridas no contexto local em face dos novos equipamentos urbanos da implanta o das escolas do novo desenho da Igreja em Limoeiro implantando sua Diocese A escrita da disserta o se apresenta em tr s unidades No primeiro cap tulo SIMPLES NA MAL CIA E PRUDENTES NAS BOAS OBRAS A PIA UNI O DAS FIL
248. nas reuni es mensais da Pia Uni o o sacerdote resolveu mudar seu discurso e passou a oferecer benef cios aquelas que comparecessem as reuni es o que tamb m n o trouxe mudan as significativas no n mero de associadas presentes aos encontros mensais 8 Raimunda Francisca de Andrade 69 anos Entrevista concedida autora em Limoeiro do Norte no dia 22 11 2002 64 Por ltimo pediu que as Filhas de Maria n o faltassem sess o pois ganhariam muitas indulg ncias as que a assiste Achou ele o numero pequeno das que ficam para assistirem a sess o Por outro lado nas missas que antecediam as reuni es o n mero de Filhas de Maria era sempre maior que o n mero das que compareciam s reuni es Numa irmandade onde o potencial de proje o social fazia parte de sua identidade enquanto grupo o comparecimento a ritos p blicos ocupava um lugar maior na prefer ncia das associadas do que os ritos privados A evid ncia do gosto pelo que p blico e ostensivo pode ser vista no empenho da diretora da Pia Uni o Judite Chaves na confec o de um Quadro de Honra fixado em lugar de destaque na matriz contendo o nome de todas as Filhas de Maria de Limoeiro Pela mesma Diretora nos foi oferecido um Quadro de Honra que contendo os nomes de todos os membros desta Associa o foi colocado em lugar patente desta Matriz a Digna Diretora a Pia Uni o sinceramente agradece N o obstante fossem zelosa
249. nce era um campo prop cio inconveni ncias morais N o bastava fechar as portas aos indesej veis era necess rio aboli los tamb m das leituras feitas no recesso da intimidade existe muita gente que fecha hermeticamente todas as portas aos indesejaveis quando esses v m sem grande cerimonia e apparato mas franqueia lhes n o somente a sala mas tambem o recesso da 214 Idem p 115 215 Semeando Duas Medidas Jornal O Nordeste Fortaleza 08 jan 1929 p 01 e 08 132 intimidade quando elles t m a infame lembran a de se apresentarem dentro das paginas de um livro sob a capa de um bello romance No mbito privado a leitura permitia o contato com comportamentos impr prios que na esfera p blica seriam censurados No universo do escrito as sensibilidades modificavam se e as cenas retratadas nos romances gozavam de uma toler ncia maior mesmo que mostrassem mis rias morais e mesmo as palavras tidas como ofensivas eram aceitas sem pudores demasiados Na tens o entre o p blico e o privado as sensibilidades se manifestam de maneira diversa Aquilo que em p blico moralmente vergonhoso nas p ginas de um romance ganha outro tom e seu julgamento feito com outros par metros Assim a leitora estabelecia com um romance em m os uma dupla moral uma para a pratica da vida e outra para as leituras Sei de senhoras escrupulosas a tudo quanto diz respeito honra e moral
250. ncia e seus graos e a distin o entre le e a consciencia delicada O escrupulo provem umas veses d uma causa puramente natural outras d uma interven o sobre natural sobre o aspecto natural muitas veses uma doen a f sica e moral Fisica porque uma especie de depress o nervosa que torna mais dificil a acertada aprecia o das coisas moraes e tende a produzir sem motivo serio o pensamento de que se est em pecado 199 Moral que produz o mesmo resultado um espirito mal esclarecido que se representa ileg vel como um juiz n o somente severo mas implacavel que nos atos humanos confunde a impress o com o consentimento e imagina ter pecado A const ncia das leituras piedosas aliada ao conte do das prega es dos sacerdotes tornava dif cil livrarem se do sentimento de culpa e de pecado Diante de ensinamentos r gidos e exemplos santos era penoso livrar se dos escr pulos e o pecado parecia rondar na consci ncia como um fantasma acusando as por sua natureza fraca O fato de serem mulheres com pensamentos e desejos nem sempre em sintonia com o tom piedoso das hagiografias e carregarem consigo a nsia de conhecer um mundo de sensa es que lhes era negado pela Igreja parecia causar lhes perturba o A leitura n o deveria despertar sonhos e fantasias carnais e mundanas tampouco despertar impress es m sticas e devocionais extremadas Desta forma a biblioteca da Pia Uni o merecia cuidados at mesmo
251. ndo pautavam a opini o e vis o de mundo dessas mulheres A biblioteca da Pia Uni o era um lugar de leitura tutelada entretanto as associadas foram encontrando brechas na forma o do acervo exercendo alguma liberdade na escolha e aquisi o de livros Espa o de vigil ncia e disciplina e tamb m um lugar onde puderam agir escolhendo o que desejavam e n o exatamente o que deveriam ler Conforme E P Thompson podemos ver como um nico grupo pode ser deferente e rebelde ao mesmo tempo A identidade do grupo das Filhas de Maria assim amb gua N o s o deferentes o tempo todo mas tamb m n o se constituem apenas em atos de rebeldia ao contr rio iam interagindo na sociedade limoeirense da poca ocupando espa os acumulando pap is e identidades impossibilitando portanto defini es simplistas de sua identidade enquanto grupo Como modelos de comportamento eram exaltadas pela Igreja e sua imprensa Socialmente ativas nos acontecimentos mais importantes da cidade se faziam representar como grupo distinto Instru das diferenciavam se por sua liga o com a leitura e essa liga o com a cultura escrita alargavam lhes os horizontes ocasionando cuidados por parte da Igreja que se utilizava de sua imprensa para orient las em suas pr ticas de leitura Com o advento de novas escolas no munic pio muitas se ocuparam do magist rio transformando se em mestras das gera es futuras Nas salas de aula tornavam se ta
252. ndo o senso christ o e com elle o senso moral E Filha de Maria e defende a opini o em voga de que a mo a de hoje tudo deve saber ver ler dizer que para ser de seu tempo assiste lhe o direito quasi a necessidade de conhecer as mais revoltantes miserias de que dever corar a humanidade e n o se envergonha de as commentar 183 A Filha de Maria Moderna Jornal O Nordeste Fortaleza 28 jan 1926 p 01 02 184 A Filha de Maria Moderna Jornal O Nordeste Fortaleza 28 jan 1926 p 01 02 117 Defender o direito de escolher suas pr prias leituras era algo que a Igreja n o permitia s pias associadas marianas Como modelos elas n o podiam tomar conhecimento das miserias da humanidade A imagem da Filha de Maria era muito cara Igreja para permitir que essas mulheres se entregassem leitura n o tutelada Mas se havia disposi o do p blico obras e salas de exibi o de filmes cat licos por que as leituras e os filmes tidos como pervertores ainda tinham tanta aceita o O gosto pelo proibido a sensa o de transgress o n o parecem ser as nicas raz es para as jovens cat licas buscarem as leituras n o recomendadas O fato que e os cr ticos cat licos ironicamente admitiam s leituras sans faltava sal o gosto temperado das palavras escritas pelos pregoeiros do erro Mediante o fracasso de muitas estrat gias de censura vamos percebendo que a tens o
253. necessidades que sentimos que reside a raz o de ser e a garantia de continuidade da Revista Eclesi stica Brasileira E ainda nesta equa o que se assenta o seu programa Uma revista para a vida concreta com seus m ltiplos problemas e portanto cient fica e pr tica Tudo quanto haja de permeio entre a exposi o te rica da religi o e sua aplica o pr tica entra no programa E dif cil esquematizar a vida Por isso nossas sec es n o se limitam Teologia Dogm tica Moral Pastoral Direito Can nico Exegese Homil tica Catequ tica Liturgia Asc tica etc mas comportam qualquer assunto desde que se relacione com as coisas de religi o 31 Revista Eclesi stica Brasileira Vol 4 mar o 1944 Editora Vozes Ltda Petr polis RJ p 167 188 A id ia da revista obedeceu ao lema revista do clero feita pelo clero para o clero Se a imprensa cat lica iniciava o julgamento de um livro desde sua capa em Limoeiro a aprova o de um livro para a biblioteca da Pia Uni o parecia girar sobretudo em torno do t tulo da obra As obras incorporadas ao acervo da Pia Uni o traziam t tulos austeros Magna Peccatrix O Sinal da Cruz entre outros tornavam insuspeitos os romances que iam aos poucos povoando as prateleiras da biblioteca mesmo depois das constantes recomenda es do diretor que condenava os romances de forma geral Seguidamente deu in cio a Instru o continuando o tema j exposto na u
254. nicipal de Estat stica Biblioteca Dr Menezes Pimentel com 300 volumes estudantil Biblioteca do Gin sio Diocesano Padre Anchieta com 250 volumes estudantil e a Biblioteca P blica da Associa o Cultural de Limoeiro do Norte com 200 volumes A enciclop dia n o faz men o Biblioteca da Pia Uni o entretanto seu acervo quase duas d cadas antes se aproximava do cat logo do Gin sio Diocesano e da Biblioteca da Associa o Cultural As informa es da Enciclop dia dos Munic pios tamb m chamam a aten o para a posse de livros no munic pio de Limoeiro relacionada Igreja 304 Em virtude por m da parcialidade do levantamento acreditamos ser poss vel afirmar que o n mero de livros dispon veis para as associadas fosse maior j que mesmo na listagem que constru mos conseguimos localizar um livro da Biblioteca da Pia Uni o cujo n mero de controle era 247 Enciclop dia dos Munic pios Brasileiros Planejada e Orientada por Jurandyr Pires Ferreira Instituto Brasileiro de Estat stica Rio de Janeiro 1959 Volume XVI p 355 Inaugurada em 1955 a Associa o Cultural de Limoeiro do Norte era uma esp cie de clube onde as fam lias mais abastadas reuniam se Entre os eventos promovidos pela associa o havia os bailes que contavam com a fina flor da sociedade limoeirense As Filhas de Maria entretanto n o podiam comparecer esses bailes conforme rezava o pr prio regulamento da irmanda
255. nindo prazos de devolu o Nesse sentido o tempo de perman ncia com o livro variava de acordo com os crit rios de leitura de cada associada Uma vez verificado o acentuado desaparecimento de livros o controle de empr stimos passou a ser feito com mais cuidado e foi estabelecido um prazo m ximo de perman ncia com as obras Essa mudan a 204 foi anotada nos cadernos de controle de empr stimo pela presidente da associa o Nota As pessoas que retirarem livros da Biblioteca da Pia Uni o ter o o prazo m ximo de 1 m s para devolv los Risalva C de Amorim Presidente Na biblioteca da Pia Uni o de Limoeiro a presen a hegem nica era de tradu es do franc s e romances de conte do religioso Cl ssicos da literatura exceto uma adapta o O Dom Quixote da Juventude n o aparecem no acervo das Filhas de Maria Da lista de duzentos e treze t tulos n o h nenhuma obra dos autores consagrados da literatura nacional Certamente pelo fato de que esses autores eram vistos com desconfian a em virtude do seu humanismo exagerado e a qualidade de sua prosa era ignorada pois n o condizia com os valores morais esperados das Filhas de Maria Para a Igreja os romancistas brasileiros reconhecidos pela cr tica liter ria escreviam com o intuito de corromper os leitores acusando os cr ticos de reconhecerem como bons apenas aqueles que escreviam romances licenciosos e picantes H
256. no cinema no romance no sonetinho de sal o A realidade outra meninas Com teu olhar e teu amor n o se paga a venda nem a ougue nem a costureira nem o verdureiro Os sacerdotes escreviam no jornal cat lico mostrando s jovens como o casamento era diferente dos contos de fadas e para isso extrapolavam em descri es pouco lisonjeiras do cotidiano do matrim nio um del rio Noivados flores passarinhos e rolas trepadeiras e bananeiras rouxinoes e fadas luar e tardes de abril At um xuxu e um p de couve tecem poesia Casam se Lua de mel Depois a vida se aperta A jararaca mostra o veneno O jaracussu d o primeiro bote E a primeira briga Depois depois o inferno L se foram os amores os derri os as juras eternas L se foi toda a poesia Os amores dos romances eram menores pois se alimentavam do sensual do carnal e de sonhos Os sonhos eram feitos de mat ria pecaminosa suscitavam os prazeres n o recomendados s jovens cat licas 350 As Quartas Jornal O Nordeste Fortaleza 27 mar 1929 p 03 351 Tr s semanas tr s meses e trinta annos Jornal O Nordeste Fortaleza 29 nov 1937 p 08 352 Noivados e Casamentos Jornal O Nordeste Fortaleza 13 jan 1938 p 03 212 Eram amores grosseiros impuros os quais deveriam ser combatidos em nome de um amor cheio de pudor e inoc ncia o verdadeiro amor nobre e cris
257. ns pretendentes como virtudes de uma 338 As Feministas Jornal O Nordeste Fortaleza 17 nov 1928 p 01 e 05 206 boa esposa Isso as diferenciaria das mo as modernas cujo comportamento e cabelos curtos assustava a sociedade conservadora cearense E agora dize com franqueza Entre a melindrosa que veste maillot para todo um populacho contemplar e uma donzella que p e o v o de Filha de Maria e usa mangas compridas vestidos serios tem modos commedidos qual dellas merecia a tua escolha para companheira no lar que sonhas constituir Ah Nem se discute Digam o que disser fa am o que fizer ninguem p de tirar da cabe a do homem que a verdadeira a boa a digna esposa n o p de sair desse meio de frivolidades em que desejam sacudir a mulher N o meu amigo as melindrosas s o muito boas para o flirt para o passatempo Mas quando se trata de dar o n serio do casamento ah Tem paci ncia eu prefiro uma miss Filha de Maria Pelo menos h mais possibilidades de acertar O modelo feminino cat lico das Filhas de Maria n o era o nico em voga e essas mulheres se viam s voltas com modelos dissonantes das pr ticas exigidas pela Igreja Diante dos ventos da modernidade com suas modas ousadas e divertimentos n o recomendados as Filhas de Maria iam se transformando para os adeptos das novidades e dos novos tempos em arqu tipos de obsolesc ncia feminina V timas de uma esp cie de preconceito
258. ntava a influ ncia da leitura orientando o p blico leitor feminino O Jornal O Nordeste rg o da Arquidiocese de Fortaleza com circula o em todo o Estado do Cear lan ava m o de uma s rie de estrat gias de prescri o da leitura advertindo sobre o perigo do livro pernicioso na moral feminina Por outro lado o peri dico cat lico recomendava as leituras edificantes uma forma de eleva o espiritual e forma o moral Desse modo a literatura constava da pauta do peri dico ora como um perigo iminente ora como recurso da boa educa o e da moral s Ao p blico feminino a imprensa cat lica recomendava os livros religiosos de ora o os c nticos os missais as vidas de santos e as biografias de religiosas que se notabilizaram como modelos de pureza e da perfei o espiritual Os romances mesmo aqueles que n o continham narrativas impr prias eram vistos com ressalva No combate s leituras perniciosas O Nordeste estabelecia diferentes crit rios de julgamento quanto ao g nero das publica es e quanto s especificidades do p blico leitor ao p blico leitor masculino quase tudo se permitia As leituras femininas eram prescritas a partir de crit rios morais j as leituras masculinas os crit rios morais eram relativizados mesmo as leituras que n o deveriam ter livre circula o poderiam ser apropriadas pelos homens uma forma de tomar conhecimento do mundo Um conhecimento negado s mulheres qu
259. ntos religiosos pois votando na L E C n o fazeis mais do 4 Jornal O Nordeste Fortaleza 14 fev 1933 p 01 36 que ainda uma vez defend los N o vos deixeis ficar em casa no dia 3 de maio Porque si o fizerdes para evitar o ligeiro sacrif cio de votar lament veis consequ ncias poder o advir da vossa absten o Disciplinadas e destemidas cumpri o dever que vos chama exercendo o direito que vos assiste Na d cada de 1930 o n mero de Filhas de Maria era significativo n o s na cidade de Limoeiro como tamb m em todo o Estado do Cear em especial na capital onde as associa es Pias reuniam centenas de jovens cat licas Por isso esses grupos eram muito visados e suas associadas no novo contexto envolvendo o sufr gio feminino eram pe as importantes Para alistar se os requisitos b sicos eram ser brasileira ter 21 anos completos saber ler e escrever O alistamento era pago e a eleitora precisava tamb m apresentar retratos A exig ncia que as candidatas a eleitora fossem alfabetizadas e tivessem uma certa disponibilidade de recursos financeiros tornava as Filhas de Maria ainda mais visadas como um grupo apto ao alistamento eleitoral E como se os apelos ao alistamento eleitoral n o estivessem alcan ando os resultados esperados O Nordeste errijece o tom de seu discurso dirigido s Filhas de Maria apontando o voto como uma obriga o que deveria ser observada em detrimento a pequenas vai
260. ntre a virtude e a perdi o a dan a um vicio companheiro da gula da embriaguez e da impudicicia dissipa a intelligencia corrompe o cora o e cauteriza a consciencia Jornal O Nordeste O imagin rio em torno do pecado e da perdi o era alimentado pelos discursos cat licos O medo de uma poss vel m cula da irmandade fazia com que as Filhas de Maria fossem proibidas de participar de bailes locais naturalmente prop cios ao pecado no dizer da Igreja Em ato continuo o diretor falou nos sobre a proibi o de audi ncia a Bailes que todo divertimento sendo um meio de ocasionar muitos pecado e quasi sic sempre graves e sendo assim Condenado pela Santa Igreja n o dever amos nunca concorrer para tal esp cie de divers o nem siquer com a nossa presen a Os bailes promovidos no munic pio pelas fam lias mais tradicionais sofriam censuras por parte da Igreja Essa condena o demonstra como a Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 03 de janeiro de 1937 E interessante ressaltar o fato que nessa reuni o encontrava se presente a Diretora da associa o D Judite Chaves uma das senhoras que costumavam nos dias de festa na cidade oferecer bailes em sua casa 52 Igreja n o se permitia perder espa o de doutrina o Em seu livro Na ribeira do Rio das On as Lauro de Oliveira Lima relata que Certa vez o vig rio Mons Santiago saiu rua c
261. o Limoeiro n o se destacava tamb m por grandes fazendas de gado A produ o provinha de um pouco de gado leiteiro muita miun a ovelhas e cabras cereais de subsist ncia das vazantes O excedente da produ o era vendida no s bado na feira A valoriza o da cera de carna ba come a a permitir a acumula o de riqueza dos donos de carnaubais que se tornaram respeit veis coron is A cera de carna ba valorizada trouxe enriquecimento economia do munic pio carente de equipamentos p blicos como escolas e hospitais Assim em meados da d cada de 1930 o patrim nio dos donos de carnaubal e dos comerciantes que cuidavam das transa es envolvendo o com rcio de cera de 8 Lauro de Oliveira Lima afirma Narram os contempor neos que para o exame final eram convocados o Juiz o Prefeito e o Vig rio Pe Acelino que arg iam os formandos oralmente had In LIMA Lauro de Oliveira Sistema Escolar de Limoeiro do Norte Op cit p 63 LIMA Lauro de Oliveira Na ribeira do Rio das On as Fortaleza Assis Almeida 1997 p 320 168 carna ba se encontrava consolidado trazendo tona uma camada de novos ricos A benemer ncia passou a ser para esses homens um fator de distin o social no munic pio e tamb m na regi o e neste sentido a d cada de 1930 foi palco para in meras iniciativas particulares no intuito de dotar Limoeiro de aparelhos p blicos que visavam a moderniza
262. o atribuindo lhe novas fun es no espa o dom stico entre elas a guarda da castidade das filhas Considerada base moral da sociedade a mulher de elite a esposa e m e da fam lia burguesa deveria adotar regras castas no encontro sexual com o marido vigiar a castidade das filhas constituir uma descend ncia saud vel e cuidar do comportamento da prole Na sele o das leituras tarefa da m e tutora a hierarquiza o das leituras surge como um processo natural que deveria acompanhar o desenvolvimento da leitora a grada o e o tipo de leitura deveria se basear no p blico leitor Para as inocentes leitoras o ideal era uma leitura que n o fugisse em demasia dos enredos dos contos da carochinha ou das meninas exemplares al m das leituras religiosas Mais do que a leitura o que estava em julgamento era o leitor ou melhor a leitora O mal das leituras depende das disposi es do leitor da o perigo do livro nas m os femininas Seres de disposi es fracas e tendentes ao pecado a imagem da mulher leitora surge como incapaz de resistir e reagir influ ncia dos enredos fantasiosos Uma vez tentadas pelo perfume do fruto prohibido os cr ticos das m s leituras acreditavam que nem mesmo a r gida instru o moral e religiosa se mostrava eficiente para manter longe as tenta es de mundos desconhecidos No discurso cat lico o mal da leitura estava na disposi o do leitor por i
263. o ada nnna 142 3 1 Do Jardim da Piedade um ramalhete das mais belas flores O Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria eres 153 3 2 Piedosas Leitoras professoras e catequistas virtuosas 164 3 3 A Biblioteca da Pia Uni o das Filhas de Maria em Limoeiro 178 3 3 1 Exercitando liberdades a forma o do acervo da Biblioteca da Da UNO a nao a E EE 183 3 3 2 Formando a mulher esposa m e sassusssuasmepseaarmadisasosanacananagsmands 205 CONSIDERA ES FINAIS sssoaassinroiiioioasiiiadanoidi dotois iria naa aana aaaea aaaea iae aaiae 216 FONTES e e aeee ae E aE a e aaa D aaa ia aaae aa De eaaa a E aaa aa De aaa aa aana SE anaa aaas 222 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS snasnsnnnnnnnnnnnnnunnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnennnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn nnmnnn nna 226 NDICE DE FIGURAS FIGURA 01 An ncios veiculados no Jornal O Nordeste 46 FIGURA 02 Formul rio de Flores Man ssiscassiaassaasensasignaadiisccaaasadsimadia asus ae sds nendiasaagado 60 FIGURA 03 Capas de Livros Recomendados e eeeeeereeeeereeeeenms 88 FIGURA 04 Capa do romance As contas do Ter o de Mario Sette 94 FIGURA 05 Capa do livro Exalta o de Z lia Villas Boas i 104 FIGURA 06 An ncios do Filme A Filha de Maria 115 FIGURA 07 An ncio de PEGO E aa na 143 FIGURA 08 Grupo de Filhas de Maria l
264. o aferro a futeis preconceitos e relut ncia a certas disciplinas da Igreja redundando s vezes em franca hostilidade s autoridades eclesi sticas Com isso o catecismo surgiu tamb m no discurso cat lico como uma terap utica curando as impurezas da moral e do esp rito combatendo o analfabetismo e a ignor ncia religiosa j que o ataque s leituras perniciosas n o alcan ara o sucesso esperado O jornal ressentia se com a falta de gosto pelas leituras recomendadas e pelo analfabetismo elevado incentivando a cria o de escolas noturnas para os trabalhadores rurais a fim de combater a falta de instru o e de escolas dominicais de catecismo para cuidar da forma o religiosa O a b c e o catecismo s o o remedio que dosado sabiamente veria sanar essa enfemidade social Tem se procurado difundir a boa leitura pelas massas porem o resultado tem ficado muito aqu m da espectativa N o ha gosto n o ha interesse grande parte n o sabe ler Tudo se resente das deficiencias supracitadas Pode ser que a gera o nova encontre melhor orienta o para enfrentar problemas magnos da vida A cria o de escolas noturnas rurais para os homens de trabalho e de aulas dominicae sic de catecismo para os que se resentem dessa falta um oportuno meio de combater dois grandes males da nossa gente o analfabetismo e a ignorancia religiosa A mulher no papel de catequista assumia a miss o de ser profess
265. o de in meras jovens do munic pio se regia pela norma disciplina e vigil ncia da Pia Uni o O ingresso das tr s professoras na irmandade das Filhas de Maria n o passou pelo per odo probat rio exigido no regulamento da associa o nem pela avalia o do grupo Ind cios de como a Igreja em Limoeiro ia adequando algumas regras da Pia Uni o com seus projetos entre eles a catequese na sala de aula Educar a mulher e prepar la para cumprir sua miss o de educadora das gera es futuras foi uma estrat gia posta em pr tica pela Igreja e neste sentido as Filhas de Maria eram uma importante ferramenta Confiante na efic cia do condicionamento que aplicava a essas mulheres a Igreja apostou nas Filhas de Maria o sucesso de suas estrat gias em momentos decisivos o voto na LEC o combate modernidade dos trajes e dos costumes o ensino e a catequese Pontos importantes e que encontraram apoio em jovens de vestidos brancos cabe as cobertas com v us e uma cintilante fita azul no pesco o Deste modo a forma o dessas mulheres e as leituras que faziam eram decisivas para que o modelo de mo a cat lica e ponto de apoio de muitas estrat gias da Igreja n o sofresse desvios Mesmo submetidas a um intenso discurso sobre a leitura era necess rio se precaver com rela o aos livros que chegavam s suas m os Quando se tratava das Filhas de Maria al m de prescrever a leitura a Igreja desejava fornec las um meio de tentar di
266. o de pessoas eminentes num determinado campo principalmente a minoria governante e os c rculos onde recrutada Cf Dicion rio de Ci ncias Sociais Funda o Get lio Vargas Instituto de Documenta o Benedicto Silva coordena o geral Ant nio Garcia de Miranda Netto et al Rio de Janeiro Editora da Funda o Get lio Vargas 1986 2 ata de Reuni o da Confraria da Immaculada Concei o de Limoeiro 01 de junho de 1916 Manteve se a grafia do documento original 20 As jovens de Limoeiro dispunham de um lugar de devo o com um elevado prest gio social antes mesmo da funda o da Pia Uni o das Filhas de Maria Ao contr rio das Filhas de Maria as associadas da Confraria da Immaculada Concei o santa padroeira do munic pio n o tinham grandes obriga es morais e religiosas com a associa o E embora o n mero de associadas fosse significativo n o tinham um aparato organizacional que as obrigasse ao cumprimento de regras morais ou obriga es pontuais com a confraria At mesmo as reuni es dessa irmandade que ocorriam esporadicamente n o eram obrigat rias s suas associadas ficando restritas na maioria das vezes ao encontro da diretoria da confraria ocupantes dos cargos proeminentes com o sacerdote local que recebia da confraria um pagamento pela celebra o da missa modelo que lembra as pr ticas das irmandades do s culo XIX Quando a Pia Uni o das Filhas de Maria foi fundada contava
267. o mais combatido pela imprensa cat lica era mile Zola cuja literatura era para a Igreja o cone da degeneresc ncia liter ria ao gosto dos almofadinhas e melindrosas A literatura obscena realista Zola devorada pelos almofadinhas e melindrosas que aspiram com delicia as exhala es do monturo Neste sentido alguns padres da Igreja se incumbindo da tarefa de combate literatura perniciosa come aram a escrever romances cat licos todos pincelados de valores e ensinamentos morais e religiosos Dentre esses um dos mais festejados e ativos era o Frei Pedro Sinzig que se empenhou em organizar um Manual do Veto Atrav s dos romances guia para as consci ncias onde listava autores e obras observando as que deviam e principalmente as que n o deveriam ser lidas Como o pr prio t tulo sugere os romances eram os principais alvos do olhar do frei alem o Esse intelectual cat lico tamb m impulsionou a maior editora cat lica do pa s a Vozes sin nimo de obras permitidas e recomendadas pela Igreja cat lica No jornal O Nordeste a atua o de Frei Pedro Sinzig acompanhada 148 Livros Novos Jornal O Nordeste Fortaleza 20 abr 1937 p 07 14 Rascunhos Jornal O Nordeste Fortaleza 31 mar 1929 p 07 150 Para um maior aprofundamento acerca de Frei Pedro Sinzig e seu Manual do Veto ver PAIVA Aparecida A Voz do veto a censura cat lica leitura de romances Belo Horizonte Aut
268. o na Revista Eclesi stica Brasileira REB uma fonte valiosa Escrita pelo clero e para o clero essa revista funcionava como tribuna impressa onde padres de todas as partes do Brasil discutiam quest es pr ticas do sacerd cio Entre elas as orienta es quanto ao combate s leituras perniciosas a ser empreendido por cada um em suas par quias As mem rias orais trouxeram a riqueza das narrativas daqueles que vivenciaram o per odo em estudo oferecendo m ltiplas vis es da Irmandade das Filhas de Maria O relato de Eliete Saraiva indicou como as normas da associa o podiam ser burladas e trazendo a imagem da Pia Uni o como espa o de liberdade A mem ria de Dona Maria Menas da Silva demonstrou a DARNTON Robert Entrevista In Acervo Revista do Arquivo Nacional Rio de Janeiro Arquivo Nacional v 8 n 1 2 p 13 18 1995 alegria o orgulho e a satisfa o de uma jovem de origem humilde tomando parte na Pia Uni o quando lembra os momentos de distin o nos ritos da Igreja As hist rias de Dona N zinha Conrado evidenciaram as rela es extra irmandade influenciando as rela es internas da Pia Uni o enquanto patentearam como a forma de trajar marca a mem ria feminina de modo significativo A narrativa de seu In cio Mendes Guerreiro relatando os contos da poca evidencia a constru o de um imagin rio em torno do pecado e da perdi o nos bailes e a id ia da salva o na devo o Virgem Maria A
269. o outro mundo Na literatura cat lica as Filhas de Maria s o apontadas como educadas e cultas tendo como atrativos a bondade e a intelig ncia desconstruindo a imagem de que n o sabiam travar interessantes di logos com seus interlocutores Em uma das hist rias publicadas em O Nordeste no mesmo instante em que tenta convencer seu c tico noivo das verdades da f Zelita uma Filha de Maria torna se encantadora e irresist vel retrato avesso aquele que mostrava essas jovens como beatas de roup o branco atrasadas e anti sociais Zelita um anjo Um anjo de bondade E com essa bondade uma cultura vasta e s lida Sim n o te rias Cultura da qual eu mesmo me admiro Discute commigo os maiores philosophos e os mais applaudidos pensadores E possue uma l gica Eu muitas vezes me dou por vencido ante as suas observa es Zelita filha de Maria E por isso tenta com ardor que n o conhecia igual cnamar me da heresia em que vivi para o seio vasto e amigo da sua religi o Conquistar o mundo para a Igreja e dar lhe boas obras a ler Enquanto constr i a imagem da Filha de Maria atraente e instru da culta o suficiente para espantar a imagem de futilidade associada ao g nero feminino a imprensa cat lica vai agregando s a es das associadas marianas deveres com a religi o entre eles o de converter os que se afastavam da Igreja Zelita era uma jovem instru da e at excepcionalment
270. o pode ouvir Que diz o senhor Uma mo a que l romance como este E o velho apresenta sobrinha a capa de cores berrantes da brochura em quest o Meu tio este romance muito afamado Todas as amigas de Lanira Contaminaram se por meio delle Odila que incoherencia a tua N o queres que a tua filha ou a a menor aprecia o sobre factos escandalosos e deixas que inconveni ncias de romances lhe entrem pelos olhos deixas que sua imagina o juvenil melhor as aprofunde em scismares em noites de vig lia e de insomnia Lanira precisa l r Mas examina tu os livros que lhe chegam s m os seleciona os Meu tio n o durante a vida inteira que proporcionam gosto os Contos da Carochinha ou as Meninas Exemplares E quem exige tanto Mas entre os livros que citaste e o romance de Lanira h tantas obras interessantes instructivas Justamente O livro que o sr condemna versa sobre costumes 77 78 Optimos costumes a serem estudados por uma imagina o de donzella Recommendei a Lanira que se interessasse somente pelos caracteres dos personagens desprezando os detalhes levianos Pobre de tua filha se convivesse com o possuidor de um desses caracteres Insensata que s Na pr tica da vida nao queres que ella ou a qualquer palavra menos boa nos livros consentes o que h de peor Meu tio o mal das leituras depende das disposi es do leit
271. o uma amea a ordem Pequenas passagens que pudessem mesmo que isoladamente se associar s id ias comunistas tornavam um livro impr prio aos cat licos Algumas vezes as resenhas enumeravam p gina a p gina os perigos e erros de uma obra o caso de Geographia de Dona Benta de Monteiro Lobato tido como o mestre de todos os que escrevem para crian as por sua maneira encantadora de falar e pela imagina o viv ssima que possue De larga repercuss o aponta se entre muitos outros desvios que na obra Exalta se a R ssia de modo chocante 141 Prev se ou mesmo deseja se a expans o do socialismo 144 Diante da aceita o dos enredos de Lobato que com estilo vivo e interessante imagina o f rtil bom humor conhecimento do gosto infantil 118 Novidades Liter rias Jornal O Nordeste Fortaleza 27 jul 1936 p 02 119 Livros Novos e Novas Edi es Jornal O Nordeste Fortaleza 25 abr 1935 p 06 120 Idem Ibdem 121 Um Mestre de Literatura Infantil Jornal O Nordeste Fortaleza 20 dez 1935 p 04 86 sabe tornar os seus livros agrad veis movimentados e alegres De modo que n122 as crian as o l em com o maior agrado e interesse a imprensa cat lica reconhecia a necessidade de lan ar um escritor de literatura infantil que atra sse essa parcela do p blico leitor para obras em sintonia com os ensinamentos cat licos A literatura
272. o uso a mesa da comunh o como ao sol vivo das praias de banho Nas praias cobre se a cabe a por causa do sol da natureza na comunh o por causa do sol da justi a Acol o mundano aqui o m stico L o profano aqui a sacralidade Confundir esses dois p los confundir se a si mesmo N o Minhas prezadas irm s cearenses N o tragam para a Igreja o perfume das praias mas o perfume da prece e do reconhecimento 55 O V u branco a pureza O v u di fano a gra a O v u leve a m stica O len o policr nico a leviandade O len o moderno a dissipa o O len o pr tico o paganismo Alben oado seja o v u O v u branco da primeira comunh o O v u branco da noiva O v u branco da donzela flor perfumosa dos jardins da Igreja Minhas senhoras Usem o v u O abandono do v u durante as celebra es religiosas em Limoeiro tamb m come ava a ser verificado pelos sacerdotes Por isso na Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro antes mesmo da campanha empreendida pel O Nordeste em prol do uso do v u as associadas j eram orientadas a continuar usando esta pe a da indument ria feminina que dava ares de pureza as jovens cat licas seguir o diretor f z nos um apelo a que conserv ssemos na Igreja as cabe as cobertas pelo menos emquanto sic estivesse o Ssmo Sacramento exposto O v u uma pe a emblem tica do ocultamento das mulheres S mbolo
273. o veneno come a a agir Denuncia se pelas faces coradas que n o sabem occultar a sensa o Quando os paes d o f muitas vezes tarde murchou a flor da innocencia o rubor da face que denuncia um despertar de sentidos e sensa es na jovem leitora envenenada por uma narrativa impr pria ele tamb m que denuncia a m cula no tesouro feminino a inoc ncia As faces coradas sinalizam o despertar do corpo feminino para um mundo de sensa es desconhecidas A diferen a entre as livrarias que vendiam bons frutos e aquelas que ofereciam frutos envenenados aparece na narrativa como uma forma de levar o leitor s livrarias cat licas escapando tenta o do fruto proibido No conto a perda da inoc ncia da jovem associada sua pr pria morte A inoc ncia que lhe d o sopro de vida a beleza e a pureza desejadas Sua perda irrepar vel se constitu a como uma miser vel fraqueza n o s daquela que a perdeu mas tamb m de seus tutores respons veis por proteger o precioso tesouro novamente a figura masculina que aparece como o tutor ideal das leituras femininas No conto s o figuras masculinas pais e irm os os provedores da leitura feminina e por isso respons veis pelos danos que a literatura podia causar uma vez que na vis o da Igreja tendenciosa ao erro e ao pecado a mulher n o tinha ju zo 142 Ma s de faces vermelhas Jornal O Nordeste For
274. oje se escreve o romance a novela no Brasil com o prop sito de depravar a alma dos leitores O escritor que n o escreveu em seus romances p ginas atrevidas licenciosas picantes que n o pintou ao vivo as cenas brutais da vida humana que n o escarpelou sic as chagas mais hediondas da sociedade viciada em que vivemos um escritor destinado ao desprezo da critica liter ria ao esquecimento dos leitores um escritor fora do seu tempo sem express o sem a compreens o do sentido de brasilidade que a literatura do tempo deve possuir A Igreja n o desprezava a colabora o feminina no universo da escrita O que poss vel verificar na biblioteca da Pia Uni o que v rios livros eram escritos ou traduzidos por mulheres A tradu o ali s parecia ser uma tarefa comum ao universo das escritoras cat licas do in cio do s culo Nos folhetins publicados n O Nordeste ou nas obras de origem estrangeira na biblioteca da Pia Uni o era comum encontrar tradu es feitas por mulheres Nas obras dessas escritoras o que prevalece o tom de exorta o aconselhando a mulher cat lica a assumir o papel de redentora da sociedade 338 Caderno de Anota es da Biblioteca da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro p 02 Revista Eclesi stica Brasileira vol 1 mar o junho 1941 p 95 96 205 embora n o deixe de exaltar que seu principal apan gio deveria ser a obedi ncia Foram felizes Ad o e Eva no para so e
275. ola p blica estadual Constru do numa parte do terreno que fora doado para a constru o da Escola Normal Rural esse col gio foi inaugurado um ano antes da Escola Normal em 1937 85 Ata da Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro do dia 06 08 1933 p 2V 172 Ressalte se que nem todas as jovens formadas na Escola Normal Rural de Limoeiro se dedicavam ao magist rio O conte do do ensino normalista dava nfase tamb m s boas maneiras formando jovens piedosas com conhecimentos gerais de m sica pintura literatura e tamb m aptas s prendas dom sticas como costurar cozinhar e bordar O diploma de normalista funcionava tamb m como ins gnia de mo a bem formada candidata ao papel de boa esposa Ao lado das disciplinas gerais o programa acolhia v rias possibilidades de forma o condicionadas ao mbito das boas maneiras socializa o artes pl sticas e conv vio p blico Na Escola Normal de Limoeiro o comportamento social das alunas matutas era polido com aulas de boas maneiras e o resultado desse processo civilizador era apresentado sociedade na hora da socializa o ocasi o em que a escola recebia convidados e as alunas faziam apresenta es art sticas Al m das disciplinas gerais do curso secund rio e dos cursos normais comuns a Escola Normal Rural ministrava Agricultura te rica e pr tica tinha um campo agr cola Pequenas Ind strias rurais Arte
276. olicamente operosa a Filha de Maria deveria livros de catecismo nas m os ganhar o mundo para a Igreja que delas esperava bons frutos e com isso a Igreja procurava enraizar seus valores morais e religiosos O catecismo era visto pela Igreja como estrat gia eficaz no combate s condutas impr prias dos cat licos frutos de uma f de carvoeiro No Cear a Igreja se voltava principalmente para o interior do Estado que em meio s pr ticas de sincretismo vivenciava um catolicismo pouco ortodoxo 287 AJOLO Marisa amp ZILBERMAN Regina A forma o da leitura no Brasil Op cit p 262 288 As Filhas de Maria e o Santo Padre Pio XI Jornal O Nordeste Fortaleza 11 jan 1929 p 02 174 onde o catecismo surgia como uma nova estrat gia de erradica o da ignor ncia religiosa Entretanto oferecer uma cuidada forma o religiosa popula o era uma tarefa dif cil e resvalava na falta de preparo intelectual do povo que mesmo com sua boa ndole por vezes oferecia resist ncia certas disciplinas da Igreja A popula o do interior do Cear reconhecidamente cat lica Povo de sentimentos crist os e de f F na maioria de carvoeiro verdade porem agradavel a Deus A falta de mais cuidada forma o religiosa dificultada ainda mais pela deficiencia de preparo intelectual que faz esse povo de t o boa ndole resvalar ora para o fanatismo religioso ora pel
277. om o Sant ssimo em prociss o para impedir um baile que se anunciava A presen a de uma Filha de Maria num baile da cidade podia acarretar advert ncia ou expuls o da associa o A Igreja n o podia relaxar na vigil ncia em torno dessas mulheres E para isso n o hesitava em lan ar m o do imagin rio sertanejo em torno do medo do dem nio para transmitir sua li o Por isso narrativas permeadas de elementos do fant stico podem ser encontradas n o somente nos jornais cat licos mas principalmente no imagin rio local alimentado pelas hist rias que os pr prios sacerdotes se encarregavam de difundir o caso do conto narrado por In cio Guerreiro Este conto que ele costumava ouvir de seu pai paradigm tico desse tipo de estrat gia moralizadora que manipula o medo e o imagin rio em torno dos bailes da dan a do pecado e da devo o Uma mo a disse a meu pai i seu Pergentino eu fui me confessar confessei a o padre disse voc falta dizer um pecado que voc tem e n o me disse N o senhor Procurei no ju zo n o encontrei Foi o padre disse voc tem um pecado de uma inveja voc foi pra uma festa dan ante mais duas colega sua e viu um rapaz muito bunito e dan ando muito bem e voc queria dan ar com ele e tava dan ando mais outro rapaz e quando a m sica parava voc ia falar com ele pra dan ar mas voc n o via o rapaz Ca ava no sal o e n o via E qu
278. ompara o ao voluntariado do catecismo paroquial O catecismo paroquial uma vez por semana sem as condi es pedag gicas da sala de aula n o pode bastar e de fato n o basta A solu o para o problema est em a professora cat lica cumprir integralmente o seu dever e ser tamb m catequista Ser a professora cat lica em vez de ser cat lica e professora separadamente Em Limoeiro os apelos d O Nordeste encontravam eco nas Filhas de Maria nas salas de aulas Certamente ter uma Filha de Maria que tamb m era professora tornava se uma oportunidade mpar de levar as prega es e os valores cat licos muitas alminhas informes Por isso o assistente eclesial da associa o antes mesmo da funda o da Escola Normal limoeirense j apelava s Filhas de Maria para que se tornassem catequistas apresentando lhes o modelo das catequistas de Fortaleza Falou nos o Revmo Diret r sobre o catecismo que as Filhas de Maria deveriam encarregar se de ensinar a doutrina pois h muita ignor ncia neste ponto especialmente os que moram fora que comungam sempre e n o sabem o catecismo Citou nos diversas mo as em Fortal sa filhas de capitalistas que eram catequistas Na d cada de 1930 o debate sobre a laiciza o do ensino figurava quase diariamente no peri dico cat lico que reinvidicava uma educa o voltada aos valores religiosos Esse debate em torno da obrigatoriedade do ensino religioso tamb m se deu em L
279. onsci ncia e o ato de contri o antes de se deitar 31 Fazer atos de amor com Jesus Devocional 6 Dar uma esmola 10 N o censurar o pr ximo nem em coisas lev ssimas Mission rio 13 Convidar algu m a fazer algum ato de religi o 15 Pedir a Virgem a convers o dos pecadores 24 Edificar o pr ximo com palavras e por obras 4 Fazer leitura espiritual ao menos por um quarto de hora Leituras 21 Lan ar fogo em algum retrato perigoso indecente ou livro m u ou n o os tendo dar gra as Virgem Quadro 01 Divis o das Flores da Virtude do Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria em quatro ramalhetes N o se deixar levar pela pregui a uma forma de garantir que as obriga es de Filha de Maria ser o cumpridas principalmente aquelas atividades relacionadas aos deveres com a Igreja como organiza o de rituais decora o de altares e andores arrecada o de contribui es para as obras da par quia entre outras A mod stia dos sentidos muito importante e juntamente com esta flor de virtude pode se associar outras flores e assim fazer um bouquet voltado autodisciplina do corpo Os sentidos trazem desejos e tenta es por isso ao tentar manter os sentidos controlados importante invocar o socorro de Maria nas tenta es uma forma tamb m de lembrar as prega es sobre o pecado e as orienta es morais da irmandade Se a curiosidade deve ser comb
280. onstitu am a maioria e n o eram as mais tomadas de empr stimo pelas associadas Na cole o liter ria mariana o n mero de romances e contos que despertam a aten o n o obstante sua leitura no discurso do clero e da imprensa cat lica fosse vista sempre como perda de tempo de dinheiro e da inoc ncia uma vez que os romances n o passavam de enredos fantasiosos que instigavam a imagina o nas horas de cio Inutilizar o tempo o que faz aquelle que l romances inutiliza desperdi a o tempo Que vem a ser um romance Vem a ser uma phantasia um castello no ar como essas phantasias esses castellos que um indiv duo qualquer vae engendrando quando deixa correr livremente a sua imagina o Si esse individuo quiser escrever o que a sua imagina o lhe representou num tempo mais ou menos longo eis um romance que vae entreter os ociosos e dar lhes mat ria para elles tamb m escreverem outros romances que poder o dar leitura in til a outros ociosos Para a Igreja qualquer tentativa de classificar a leitura de romances como proveitosa e instrutiva era condenada Mesmo permitindo que algumas obras desse g nero fossem lidas depois de verificada a aus ncia de passagens que atentassem contra a Igreja ou a moral o romance permanecia como s mbolo de leitura in til e potencialmente perigosa Se o intuito era a buscar instru o a leitora deveria procurar livros s rios que contavam a hist ria sem a
281. or Bem o sei A instruc o religiosa e intellectual a experi ncia e o bom senso serve de barreira pervers o entretanto nem podem neutralizar o effeito do veneno As m s leituras minha sobrinha fazem sentir o perfume do fruto prohibido De sentir esse perfume a provar desse fruto N o grande a distancia como pareces julgar Os esp ritos equilibrados sabem reagir Pouco a pouco o veneno os intoxica Familiarizam se com a maldade e depois a confundem com o bem Chegam as horas de t dio de enervamento chegam as tenta es do dem nio Tio Oscar Lanira t o sensatazinha Mas preciso que se guarde e que a saibam guardar Odila desta casa deve sair o veneno e se n o fizeres isso eu o farei Levo este livro Repete Lanira o que eu acabo de dizer Ella que reflicta e h de se convencer que o velho tio tem toda raz o At logo Tio Oscar o caf Hoje n o quero o teu caf J estou excitado demais e vou me acalmar queimando o inimigo da paz e do bem da minha pobre Lanira Ella j n o deve ser a mesma e s por tua culpa m e irreflectida Saiu e contra seu costume elle t o delicado e commedido bateu a porta de entrada D Odila ficou de p no meio da sala sem saber o que dizer ou pensar A c lera de tio Oscar n o a comprehendia absolutamente Um romance t o simples lido e relido por todas as amigas de Lanira Estes velhos de outros tempos
282. ora da religi o e o magist rio visto como uma extens o do papel materno e por isso permitido s mulheres cat licas solteiras ou casadas 289 o Pequena Observa o Jornal O Nordeste Fortaleza 23 ago 1934 p 05 Pequena Observa o Jornal O Nordeste Fortaleza 23 ago 1934 p 05 175 tornava se uma atividade virtuosa imbu da de um car ter de nova cruzada onde as mulheres e as Filhas de Maria em particular deveriam conquistar o mundo para Deus e para a Igreja Cat lica Dessa forma aumentava o incentivo leitura de manuais de catequese e o n mero de obras se multiplicava nas m os das associadas da Pia Uni o T tulos como Horas Catecheticas Catecismo Manual do Catequista al m dos Manuais de Religi o dedicados s s ries do curso ginasial come am a aparecer no jornal cat lico como guias para essa miss o da mulher Para garantir boa orienta o no desafio de catequizar o povo cearense o jornal O Nordeste publicou uma s rie de artigos como um detalhado programa onde figuravam leituras e orienta es necess rias realiza o de um bom curso de catecismo Uma vez que a circula o do Jornal cat lico era vasta essa foi uma forma de atingir e encorajar um n mero cada vez maior de Filhas de Maria e cat licas em geral a assumir a catequese como miss o Cientes de que o catecismo semanal nas Igrejas poderia n o obter o sucesso esperado a professora cat lic
283. orial e seus correligion rios que detiveram por muitos anos o monop lio do poder pol tico local Os padres que ousavam desafiar o poder dos Chaves sofriam fortes repres lias j que a influ ncia dos desse poder alcan ava a alta hierarquia cat lica cearense o que podia ocasionar at suspens o de ordem para os padres inimigos Lauro de Oliveira Lima fala dos conflitos entre padres e os detentores do poder pol tico do munic pio Al m da domina o cartorial os Chaves controlavam muitas vezes atrav s dos vig rios da par quia o poder eclesi stico Quando um vig rio sem liga es sang neas com os Chaves tentava enfrentar seu poderio abriam contra eles guerra de morte como fizeram com Pe Acelino Arraes que terminou sendo suspenso de ordem substitu do por press o dos Chaves pelo C nego Clim rio tio de Franklin e de Judith Outro padre perseguido pelos Chaves foi o Pe Godofredo que teve de sair de Limoeiro quase s carreiras O mesmo aconteceu com Pe Caminha por ocasi o da cria o do bispado O dom nio pol tico agregado ao poder eclesi stico quase sempre a norma quando se refere ao Cear das primeiras d cadas do s culo XX Essa esp cie de con bio entre o Estado e a Igreja era muito valorizado pelos l deres BRANCO Jo o Ol mpio C O Limoeiro da Igreja Op cit p 115 Lauro de Oliveira Lima um limoeirense reconhecido por suas obras no campo da educa o especialmen
284. os Lins do Rego ap s os elogios reservas morais prop em ao autor uma revis o criteriosa o que permitiria a obra circular at como leitura recomendada aos escolares Infelizmente porem embora n o lhe possamos negar em justi a os meritos acima resaltados lamentamos deveras lhe n o dar os nossos applausos integraes Scenas existem no mesmo pintadas t o ao vivo de cores t o carregadas que do ponto de vista da verdadeira moral por que sempre nos batemos n o poder jamais merecer da nossa parte francos e irrestrictos applausos Si o autor com o extraordinario talento que poreja por assim dizer de todas as paginas admiraveis do livro quizesse fazer lhe uma revis o criteriosissima moralmente falando adoptaria Doidinho leitura da juventude escolar Por n o saberem escolher bons livros as mulheres ficavam restritas a baixa literatura tais como romances e folhetins cuja qualidade era alvo de cr tica O conte do desse tipo de literatura menor era por isso tutelado pelos pais e maridos As mulheres podiam macular se facilmente e o fato de manusearem uma literatura impr pria certamente traria uma mancha indel vel sua inoc ncia Nas vias do perigo inoc ncia e pureza femininas era larga a porta que a literatura impr pria abria para esse p blico leitor Na vis o cat lica a inoc ncia era sin nimo de desconhecimento do mundo e dos prazeres mundanos Por isso um artigo do frei Albe
285. os que nem se tem noticia porque ficam l no recinto de lares que mais felizes seriam se mais cuidado houvesse pela innocencia de uma filha e pela forma o moral de um filho A difus o da palavra impressa e a amplia o de seu acesso transformou se em problema para a Igreja uma vez que o controle sobre o que se lia tornava se mais dif cil pois em tese os livros podiam estar em toda parte nas prateleiras das livrarias ou junto caixa do engraxador em livros e revistas em pamphletos e jornaes Por isso a orienta o em torno da leitura se tornava cada vez mais importante principalmente com rela o juventude que se lan ava ansiosa s novidades liter rias Os prazeres dos sentidos despertados pelos livros levavam perdi o Uma vez que a mulher ser fr gil desde Eva despertava para o mundo as 143 A liberdade dos costumes Jornal O Nordeste Fortaleza 15 jan 1937 p 04 144 L isto Jornal O Nordeste Fortaleza 01 jan 1929 p 02 98 consequ ncias eram imprevis veis e desastrosas A frase de Santo Agostinho publicada em destaque na primeira p gina d O Nordeste ilustra o pensamento cat lico acerca dos males da leitura Pela leitura dos m os livros aprendemos a encarar o mal sem horror a falar delle sem pudor e a commett lo sem escr pulo A leitura de romances muitos tidos como maus livros era feita sem interm dio de tutores como padres e professores
286. os sem compostura O autor demasiado talentoso para fazer obra seria Mas prefere chafurdar suas personagens na lama dos desregramentos moraes e sexuaes e transforma os seus livros em verdadeiras pedras de escandalo Mesmo reconhecendo o talento e a for a criativa dos autores citados O Nordeste era taxativo ao desclassificar suas obras como se pode observar na resenha de Usina de Jos Lins do Rego Apontado como um grande romancista a cr tica cat lica lamenta que a habilidade do jovem Lins do Rego seja desperdi ada em obras de tend ncias realistas e n o hesita em classificar seu livro como um verdadeiro compendio de pervers o sexual o que o tornava interdito a todos os cat licos zelosos pela moral crist Jos Lins do Rego incontestavelmente um grande romancista Imp s se desde o primeiro livro que publicou Menino de Engenho Mas desde esse primeiro livro que as tend ncias realistas do autor se fizeram notar E cada vez mais se foram accentuando at chegar a esse Usina que um verdadeiro compendio de pervers o sexual O romancista parahibano desceu no seu ultimo livro mais baixa degrada o do homem O thema n o dava margem explora o dessas miserias moraes Faz pena ver talentos como o desse jovem romancista que tanto podia fazer pelas boas letras nacionaes desca rem na exposi o de scenas e hist rias indignas de uma pena 118 Livros Novos Jornal O Nordes
287. osa uma m e descuidada mas os enredos giravam em torno dos mesmos personagens o dem nio que ronda os cat licos esperando uma pequena brecha para agir um cat lico desajustado que se salva depois de se entregar Igreja ou um cat lico dedicado que em virtude de sua f salvo por sua devo o aos santos cat licos em especial Virgem Maria A hist ria do velho In cio permite pensar como o imagin rio em torno dos bailes das dan as e do pecado era manipulado pela Igreja a ponto de se transformarem em contos e hist rias que povoavam o imagin rio popular e amedrontavam o universo feminino Nele a op o que realmente pode salvar a intensidade da devo o e uma fiel devota n o frequenta os lugares do pecado Para entender a fun o de uma narrativa deste tipo necess rio refletir acerca do papel do narrador e da narrativa em nossa sociedade como prop e Walter Benjamin para quem a narrativa tem sempre em si s vezes de forma latente uma dimens o utilit ria Essa utilidade pode consistir seja num ensinamento moral seja numa sugest o pr tica seja num prov rbio ou numa norma de vida de qualquer maneira o narrador um homem que sabe dar conselhos Os conselhos difundidos pelos padres em suas narrativas sobrenaturais passavam a povoar o universo de narrativas dos habitantes da cidade No conto repassado por In cio Guerreiro poss vel perceber tamb m o esfor o de valida o da devo o
288. penumbra offuscado pelos fulgores da intelligencia masculina que desde o principio das idades vem irradiando as magnificiencias do saber humano 162 MANGUEL Alberto Uma Hist ria da Leitura Trad Pedro Maia Soares S o Paulo Companhia das Letras 1997 p 261 163 Cartas de Mulher Jornal O Nordeste Fortaleza 08 dez 1928 p 06 07 106 No universo liter rio cat lico a mulher que se dedicava s letras era vista com descren a e por vezes at com esc rnio No discurso dos colaboradores d O Nordeste insensato era aquele homem que decidia tomar por esposa uma mulher que se dedicasse s letras ou ci ncia esta fatalmente seria m esposa Uma mulher que sabe demais s para tolos que nada sabem z A mulher literata uma praga nunca d boa esposa ainda que produza bons livros Para ella o marido sempre um pobre diabo cuja func o se limita a pagar as contas no fim do m s e a mandar consertar o cano do gaz quando fura Se a mulher literata uma praga a mulher scientista uma calamidade Quando a mulher sabe demais o marido quase sempre quem n o sabe nada Desencorajadas escrita e desprestigiadas em suas leituras as jovens cat licas deveriam restringir se aos escritos de foro ntimo como as cartas e os di rios No caso das Filhas de Maria a irmandade tamb m era um espa o de exerc cio da escrita embora limitada aos registros da vida da irmandade tais
289. perar ou um nibus prestes a chegar Matemos ent o a saudade Zulmira e Zahra Faheina agrade o a generosa hospitalidade me recebendo em vossa casa e dando suporte em Fortaleza no per odo do mestrado s amigas e amigos de fora da academia Marciana Jasna Pontes Neto Benilde Brilhante Neto JAN Raimundo Baroli Ant nio Ronaldo Lenira Almeida Cibelle Kati cia sempre me dedicando uma torcida sincera e impacientemente me direcionando a angustiante pergunta defende quando minha fam lia Herm nia Luci Henrique Jo o Henrique Rita C lio Eug nio Regina que aprenderam a tolerar minha falta de tempo minha aus ncia e os meus adiamentos Marcos Meu amor que soube pacientemente dividir meu tempo com as Filhas de Maria o vaiv m Fortaleza e os prazos do mestrado compreendendo meus momentos de ang stia e me apoiando incondicionalmente W Esta pesquisa contou com o apoio da CAPES sem ele este trabalho n o teria se concretizado RESUMO A presente pesquisa analisa a Pia Uni o das Filhas de Maria irmandade leigo religiosa de mulheres solteiras cat licas em Limoeiro Cear 1915 1945 Visando formar modelos femininos de conduta moral essa irmandade era lugar de disciplina norma e distin o social O estudo examina as pr ticas de leitura das associadas Pia Uni o articulando dimens es devocional exemplar instrutiva educativa moralizadora e de entretenimento Tais pr
290. professoras as Filhas de Maria assumiam a tarefa de educar escolhendo e indicando as leituras e os conte dos escolares Leitoras tuteladas na irmandade nas salas de aula assumiam a fun o de tutelar as leituras de seus alunos O papel de professora tamb m lhes atribu a certa distin o mesmo no grupo Ao acrescentarem ao t tulo de Filhas de Maria o qualificativo de professora agregavam uma imagem mais culta e participavam do c rculo da cultura letrada que a grande maioria da popula o n o tinha acesso Essas jovens professoras gozavam na cidade do prest gio e do respeito daqueles que por muito tempo ansiaram educar seus filhos no pr prio munic pio Piedosas leitoras professoras virtuosas as associadas da Pia Uni o tra aram a hist ria do ensino limoeirense articulando a hist ria da irmandade das Filhas de Maria Um papel formador que a Igreja atribu a mulher cat lica e com muita insist ncia s Filhas de Maria era o papel de catequista O catecismo se transformou no discurso cat lico a partir da d cada de 1930 uma prioridade para a Igreja Assim poss vel perceber nas fontes estudadas tanto o jornal cat lico como a documenta o da Pia Uni o das Filhas de Maria em Limoeiro uma campanha maci a no sentido da catequese Resumindo o seu pensamento havia lhes dito o Santo Padre que a b a Filha de Maria deveria ser Eucharisticamente piedosa angelicamente pura e apostolicamente operosa Apost
291. que a atividade exigia o jornal orientava 1 Cuida da sua vista Della depende grande parte da sua confian a e xito na vida 2 Mantenha a cabe a erguida quando estiver lendo 3 Tenha o livro a uma distancia de 35 centimetros dos seus olhos 4 N o leia nunca na penumbra num vehiculo em movimento ou deitado 5 Procure que a luz seja clara e b a 6 N o leia quando a luz do sol der directamente no livro 7 N o receba luz de frente quando ler 8 A luz deve vir de tr s ou por cima do hombro esquerdo 9 Evite o uso de livros ou jornaes mal impressos ou dos tipos excessivamente pequenos Entre os conselhos visando o bem estar corporal uma constante preocupa o com a luz A luminosidade prescrita desaconselha de certo modo a leitura ao ar livre uma vez que o excesso de claridade e o sol incidindo sobre o livro eram fatores prejudiciais Nestas condi es a luz deveria ter um direcionamento pr prio vir de tr s ou por cima do ombro esquerdo um controle que n o era poss vel com o sol caracterizando mais ainda esse h bito como uma atividade pr pria de ambientes fechados onde a luz e a leitura podem ser controladas adequadamente Por outro lado a postura ideal do leitor deveria tamb m seguir certos padr es manter a cabe a erguida e o livro a uma determinada dist ncia do rosto s o indica es de que o ato de ler n o deveria ser feito de qualquer forma nem em qualqu
292. que a an lise n o poderia ir al m das pr ticas do grupo dentro dos rituais cat licos A perspectiva de hist ria do livro e da leitura apresentando a irmandade como um grupo de leitoras n o raro causava surpresas e trouxe ao trabalho uma nova dimens o pensar as pr ticas de leitura do grupo como importante ferramenta de forma o A pesquisa partiu da an lise do modelo de Irmandade representado pelas Filhas de Maria buscando perceb la como parte de um projeto moralizador da Igreja Cat lica no Brasil das primeiras d cadas do s culo XX Nesse per odo a Igreja Cat lica passava por um intenso processo de transforma o com a implanta o do chamado catolicismo romanizado que entre outras a es visava purificar as pr ticas devocionais do contingente cat lico no pa s Partindo desse novo modelo de Igreja Cat lica que come ou a se desenhar no Brasil desde fins do s culo XIX a pesquisa centrou sua an lise no arcabou o de normas e disciplina ao qual as associadas da Pia Uni o deviam obedi ncia procurando a partir da perceber poss veis sinais de transgress o No entanto medida que novas fontes se incorporavam ao corpus documental tornou se imperativo um olhar mais acurado Percebendo a Pia Uni o como um espa o de pr ticas diversas articulavam se outras dimens es a sua natureza devocional Em um contexto local permeado por conflitos pol ticos envolvendo os membros do clero e a elite pol tica da ci
293. que as estereotipava como vitalinas cobertas por vestid es brancos que s sabiam falar de religi o as associadas marianas tornavam se figuras desinteressantes para o sexo oposto que diante dos avan os da moda e dos comportamentos parecia preferir as Evas melindrosas Muitas vezes objeto de chala as a Igreja passou a encorajar suas ant podas de Eva a defenderem suas fitas azuis e mostrarem se aptas a despertar o interesse do sexo oposto com ajuda de sua retid o moral e pureza impoluta Como forma de apoiar as jovens marianas e tentar desconstruir a imagem pejorativa que se formava em torno das vitalinas Filhas de Maria o Jornal O Nordeste iniciou a publica o de uma s rie de pequenos artigos e notas onde a Filha de Maria aparecia como uma figura feminina atraente bela que despertava a admira o masculina e arrebatava cora es mesmo com seus figurinos conservadores e seu comportamento recatado A Filha de Maria que o jornal O Nordeste mostrava nos contos era capaz de desarmar o sexo oposto no campo da beleza e tamb m do 339 Miss Filha de Maria Jornal O Nordeste Fortaleza 25 abr 1929 p 04 207 intelecto sem no entanto se deixar abalar pela opini o preconceituosa que se construiu em torno de sua imagem Ela encantava sem se deixar seduzir e se trocava olhares com algum pretendente era de forma incidental pois sua postura deveria ser modesta e indiferente desviando se de fl
294. que falavam mal da Igreja cat lica por serem no caso livros de origem protestante Uma mulher que oferece livros impr prios uma nova Eva com suas ma s feitas de papel e tinta pronta para com jeito pr prio do seu sexo mais uma vez levar a humanidade perdi o Previnimos ao povo catholico de Fortaleza que se precavenha contra os vendedores ambulantes de livros cuja bagagem constitu da quase de leituras perigosas Agora mesmo anda de casa em casa uma senhora estrangeira passando livros de origem protestante onde o clero atacado Com o geito proprio do seu sexo faz cr r que se trata de escriptos inoffensivos e dessa maneira pouco digna vae illudindo a boa f dos nossos conterr neos que se deixam assim facilmente sangrar A Na vis o da imprensa cat lica como se n o bastasse mulher se corromper pelas leituras impr prias ela mesma agora se encarregava de corromper o mundo oferecendo de porta em porta sem medo ou pudor as obras de teor proibido Mas mesmo diante de tantas hist rias amea as e cr ticas e em meio uma campanha t o acirrada em torno da moraliza o da leitura e do combate a seus males como pensar a insist ncia feminina em ler obras que a Igreja condenava As leituras religiosas ensinavam que o sofrimento era bom necess rio para a purifica o do corpo e salva o da alma por outro lado o prazer do corpo era feio sujo e pecaminoso Os enredos cuja leit
295. r ter corporativo reunindo por exemplo todos os sapateiros outras tinham tonalidade racial reunindo s negros Algumas existiam primordialmente para construir igrejas e outras para uma obra social Diante da nova conjuntura as irmandades passaram a representar para a Igreja fortes concorrentes no que diz respeito ao sustento financeiro oferecido pelos fi is O dinheiro arrecadado pelas irmandades ao qual a Igreja n o tinha acesso motivava esta a tecer severas cr ticas s irmandades leigas acusando as de mau uso do dinheiro arrecadado em nome dos santos padroeiros e apontando as como praticantes de um catolicismo impuro que distorcia a f cat lica Com isso a Igreja passou a incentivar a funda o de irmandades em sintonia com o modelo romanizado ao mesmo tempo em que tolerava algumas pr ticas do catolicismo popular evitando assim atritos em um momento em que ainda se encontrava fragilizada pois para sobreviver sem o apoio do Estado era indispens vel ao aparelho religioso reestruturar se restabelecendo a articula o entre o aparelho eclesi stico e as grandes massas Visando substituir o modelo de devo o vigente a Igreja procurava implantar irmandades em sintonia com os preceitos da romaniza o Essas associa es seguiriam ao contr rio das irmandades ent o existentes os ditames da Igreja e teriam frente um sacerdote Grosso modo trata se do que nesta pesquisa se denomina de irmandad
296. r a Maria antes ela vos olhar com horror e indigna o Um tesouro a ser guardado um tesouro constantemente amea ado por todos os sentidos do corpo amea ado pela vontade de saber pela possibilidade de perda da inoc ncia O amor de Maria e o respeito da sociedade segurados apenas por uma t nue linha que separa essas jovens das tenta es do mundo A virtude da obedi ncia tornaria essas mulheres mais d ceis e pass veis de domina o Como uma virtude que deveria ser observada e respeitada trazia para os pais e para a Igreja a sensa o de controle sobre o sexo feminino Uma vez condicionadas a cultivarem a obedi ncia elas deveriam na vis o da Igreja Cat lica tornarem se mais submissas ao controle clerical evitando problemas ou constrangimentos sociais A virtude da penit ncia completava o c rculo do controle do corpo e mente femininas incumbindo cada Filha de Maria de vigiar se cuidadosamente A autovigil ncia eficaz forma de controle trazia consigo a dilig ncia do pensamento e dos atos astuciosos Mesmo aqueles que n o eram descobertos pela Igreja ou pela fam lia estavam ao alcance da vig lia de si Assim ao incentivar a penit ncia a Igreja procurava estabelecer uma rela o de culpa da jovem cat lica com seu corpo e com o mundo onde ela ao penitenciar se p e em relevo a efic cia da vigil ncia de si Uma vez observado este trip virtuoso a Igreja poderia tranquilizar se quanto s pr ticas de suas
297. r certo os nosso numerosos leitores Muito recommendamos a leitura do Stella Mas a colabora o dessa autora cujo pseud nimo n o nos foi poss vel desvendar n o se resumia s tradu es de folhetins Colaboradora ass dua da folha cat lica L escreveu v rios artigos e contos principalmente na P gina feminina publicada quinzenalmente pelo jornal A maioria dos contos escritos por L vinham assinalados com a frase Especial para o Nordeste Os seus 228 Novo folhetim de O Nordeste Mabel Jornal O Nordeste Fortaleza 29 ago 1936 p 03 2 Stella Jornal O Nordeste Fortaleza 30 jan 1935 p 01 137 escritos tinham sempre um cunho moralizante e disciplinador e a figura da Filha de Maria aparecia vez por outra no papel de hero na piedosa capaz de se sacrificar em nome da f cat lica Nas primeiras d cadas do s culo XX o com rcio livreiro cearense era incipiente no entanto Fortaleza j dispunha de algumas livrarias que se encarregavam fornecer livros para os leitores da capital e das cidades interioranas Entre essas livrarias havia aquelas que se classificavam como cat licas e eram anunciantes ass duas no jornal O Nordeste Em seus pequenos an ncios pode se perceber o esfor o para atrair um p blico interessado em bons livros 2 2 1 Comprai bons livros Escolhei com prud ncia suas leituras porque essa uma quest o de muita import ncia
298. r lidas pelo g nero masculino como uma forma de se educar tomar conhecimento do mundo Assim livros como o de Marie Carmichael Stopes doutora em sciencia que tratava da educa o sexual e das quest es ntimas do matrim nio terminantemente proibidos s jovens cat licas tinham sua leitura permitida e at recomendada aos homens A dra Stopes quer agora falar aos homens em nome da mulher e f lo em linguagem desataviada e clara T o clara que priva o livro de ser posto em livre circula o A pr pria autora avisa que a obra se destina aos homens rec m casados e aos que se v o casar por amor E esse aviso deve ser posto em relevo porque no livro Amor e Casamento s o tratadas quest es intimas do matrimonio que o impedem por isso de ser lido por qualquer um Como j foi dito o livro Amor e Casamento n o se 100 mi Livros Novos e Novas Edi es Jornal O Nordeste Fortaleza 26 out 1936 p 03 Livros Revistas amp Jornais Jornal O Nordeste Fortaleza 04 abr 1935 p 07 74 destina a todo mundo A pr pria autora o declara Por isso lhe fazemos as m ximas reservas Grifos meus Para as leituras femininas outros crit rios balizavam o julgamento Combatidas pelos editoriais d O Nordeste as leituras direcionadas s jovens cat licas tinham uma an lise r gida sem concess es Os m nimos detalhes eram cuidadosamente verificados Na cr tica do romance Doidinho de J
299. r que a inten o principal da Igreja Cat lica era incentivar a instala o dessa Associa o Pia feminina nas par quias cat licas ao redor do mundo Este modelo deveria trazer s fileiras cat licas jovens fi is devidamente disciplinadas de acordo com os valores e ensinamentos cat licos De acordo com a pr pria S Romana esse modelo de associa o era uma das formas mais eficazes de cuidar da virtude do sexo fr gil Instruir a juventude do sexo fr gil e muni la desde a mais tenra idade com os aux lios da nossa santa religi o para que crescendo na virtude persevere at a senetude no bom caminho uma vez trilhado Ora entre tantos meios que se conhecem aptos para este fim fora de duvida que se devem contar os pios Sodal cios A institui o cat lica iniciou uma campanha em torno da Pia Uni o das Filhas de Maria visando sua propaga o incentivando o clero nas par quias dos mais rec nditos lugares a fundarem Pias Uni es Estas a es eram incentivadas e elogiadas n o s por parte da hierarquia eclesial mas tamb m pela pr pria sociedade local que via nessa irmandade um modelo sadio de comportamento feminino e tamb m uma ferramenta de controle das jovens cat licas 1 1 Vinde a mim filhas diletas que vos ensinarei o temor de Deus Eis pois a necessidade de uma advogada poderosa para debelar os embates de uma carne rebelde e os atrativos de um mundo 7 Decreto URBI ET ORBI da Sag
300. ra Alguns momentos depois Minha filha vae mandar preparar o caf de tio Oscar Recommenda o bem cozinheira A menina ergue se sae ficando o livro sobre o divan Tio Oscar toma o examina o empalidece Um romance da moda entre as m os da sua innocente Lanira Pobrezinha que t o c do se deixa intoxicar por id as falsas sobre a vida E aquella m e imprudente Vae dar lhe uma li o j e j Com habilidade encaminha a conversa para o ultimo esc ndalo noticiado pelos jornaes E d Od lia encara o com admira o N o estava habituada a taes assumptos com o austero chefe da fam lia Por m muito calmo elle prosegue nos pormenores salienta at circumstancias incovenientes A m e sem comphender agita se em sua cadeira deixa cair a thesoura amarrota a costura Que est pensando tio Oscar E Lanira que n o demora continuar elle a conversa reprov vel Quando no corredor soam os passos da menina a m e n o se contem mais Meu tio desculpe mas mudemos de assumpto por alguns instantes sim A donzella entra procura o livro com os olhos Est nas m os do tio que o folheia em silencio Ella senta se contrafeita demora se alguns minutos ainda e depois sae outra vez sob o pretexto de preparar a mesa para a merenda do tio Ah Mas ent o no gabinete luxuoso h como explodir de granada Porque interrompeste minha conversa Meu tio desculpe Lanira Lanira tud
301. ra cat lica ler era uma forma de conhecer a vida e a preocupa o da Igreja era que depois de satisfeita a curiosidade na leitura essa buscasse ent o a experimenta o na vida Um livro para ensinar a vida deveria trazer exemplos crist os para que sua leitura sedimentasse e frutificasse os valores e princ pios da f Por outro lado n o poderia apresentar a es negativas do ponto de vista moral seu intuito principal deveria ser defender e servir causa da moral crist neste sentido que o padre J Cabral define a forma e o conte do de um romance enquadrado como obra liter ria cat lica Em primeiro lugar n o deve exaltar e engrandecer o vicio e o pecado que devem sempre ser tidos e julgados como tais um mal Em segundo lugar deve evitar pormenores escabrosos c nas lubricas que exaltam a sensualidade e colocam em perigo a paz da consciencia Al m dessas qualidades ou requisitos puramente negativos se assim podemos expressar para um romance ser considerado como obra liter ria catolica necess rio que se inspire em id ias e principios catolicos que os propague e defenda tendo em vista servir causa da moral crist O grau de dificuldade em conciliar as recomenda es cat licas sobre a leitura com o gosto das Filhas de Maria e a escassez de recursos para formar um bom acervo para a Pia Uni o parece ter sido elevado considerando o fato que a Biblioteca da Pia Uni o somente foi inaugurada u
302. rada Congrega o das Indulg ncias In Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Trad Ananias Corr a Amaral Rio de Janeiro 1926 Aprova es p XXV Em todas as cita es do Manual manteve se a grafia original 12 lisonjeiro e mentiroso E o que conseguir o essas almas c ndidas agregando se espontaneamente Pia Uni o das Filhas de Maria Porquanto se ela tem sido chamada de escudo diadema e arrimo da Igreja n o deixar certamente indefesas as suas prediletas filhas Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria No Brasil a expans o das associa es Pias de Filhas de Maria come a a se efetivar em in cios do s culo XX Rapidamente foram sendo fundadas mesmo dentro de um corpo institucional fragilizado como era a Igreja Cat lica Romana no Brasil das primeiras d cadas do s culo XX Nesse per odo a Igreja no pa s ainda estava se reestruturando buscando se firmar como poder sem o apoio do Estado Com o fim do Padroado R gio a Igreja se voltou para as orienta es de Roma buscando se fortalecer no mesmo instante em que enfrentava uma s rie de mudan as propostas pelo Conc lio Vaticano Esse processo de transforma o ficou conhecido como Romaniza o e deu novas fei es Igreja no Brasil uma vez que esta at ent o havia se submetido ao poder do Estado e n o aos ditames do Papa Em termos gerais o processo de Romaniza o pode ser entendido como sendo Um movimento reformador da pr tica ca
303. rdeste trouxesse em suas p ginas an ncios de vestidos e roupas da moda bem como de outros artigos que povoavam o universo da vaidade feminina sempre t o condenada pela Igreja e por esse jornal Os an ncios n o ficavam restritos textos escritos e constantemente se apresentavam em vers es ilustradas onde apareciam imagens de mulheres modernas trajes decotados rostos maquiados e cabelos la gar one outro modismo combatido com veem ncia pelos meios de comunica o cat licos Mulheres sensuais em decotes arrojados e vestidos sem mangas podiam ser vistas figurando nos an ncios veiculados pelo peri dico cat lico Mas essa imagem de mulher e essas modas n o eram admitidas s Filhas de Maria Os decotes os vestidos sem mangas as poses sensuais a maquiagem e a vaidade eram veementemente combatidos pela Igreja Objetos do desejo feminino os artigos da moda n o condiziam com os valores morais exigidos das Filhas de Maria O fato de serem proibidas de adotarem os modismos da suposta vaidade feminina influenciava na forma como essas jovens eram vistas colaborando para o estere tipo de vitalinas feias e fora de moda que os opositores da Igreja atribu am elas Sabbado passado em certo estabelecimento de modas defrontei me com um bando de vitalinas que se inculcavam de Filhas de Maria O grupo de vitalinas entrou no estabelecimento referido e a mais velha falou para o chefe da casa nestes termos
304. reja matriz e onde eram realizadas as atividades da Pia Uni o Por isso as associadas da irmandade moravam na sede ou muito pr ximo dela n o havendo nos registros portanto associadas que morassem nos distritos do munic pio Esse fato privilegiava de certo modo o acesso do grupo a educa o b sica 166 escolar consta seu ensino t o s de pequenas escolas reunidas com quatro professoras apenas Nesse quadro de limita o material eram escassas as condi es para que as jovens da cidade pudessem adquirir algum tipo de instru o A educa o n o estava dispon vel para todos principalmente quando se referia ao contingente feminino Contando com uma escola p blica de vagas limitadas estava nas m os dos mestres particulares a tarefa de alfabetizar a juventude limoeirense Lauro de Oliveira Lima rememorando seu processo de alfabetiza o relata que Aparentemente as fam lias de elite limoeirenses preferiam as escolas particulares como a do Mestre Z Afonso onde fui matriculado para ser alfabetizado Lembro que meus colegas eram todos filhos de boas fam lias 2 2 O fato de pertencerem quase sempre s fam lias mais abastadas do munic pio dava s associadas da Pia Uni o o acesso a certo grau de instru o com a ajuda dos professores particulares da cidade Entretanto a instru o que recebiam desses mestres conforme relata Lauro de Oliveira Lima consistia em dominar razoavelmente a leitura
305. rgonhoso deslise moral em que se engolpha a sociedade hodierna Os homens em nada se prejudicam deante da hediondez da indec ncia reinante em face do descaramento em que se vae deixando arrebatar a pobre Filha de Eva Gozam ao env s contemplando nas esposas e filhas dos outros o espectaculo rid culo e baixo das modas immoraes das dan as livres das felicidades licenciosas e nefastas Para prazer delles a mulher se avilta se degrada e n o tardar a retroceder ao que era antes de reabilitada pela for a imponder vel do Christianismo triste condi o de escrava de vis paix es Seguindo a id ia de que o homem dif cil perder se at algumas leituras conden veis eram permitidas O leitor masculino tido como n o influenci vel saberia julgar os elementos impr prios das obras liter rias e reteria o argumento til e edificante Assim era comum resenhas de livros dados como bons mas n o para todas as m os o caso da obra A Bagaceira de Jos Am rico de Almeida Livro que tem alcan ado um ininterrupto sucesso desde o seu aparecimentoat hoje continua a ser um livro actual justamente considerado dos melhores da nossa literatura JIsso prov m do sentido profundo que o autor conseguiu dar sua obra sua for a de escriptor sua sensibilidade afinad ssima ao seu poder descriptivo sua facilidade em encontrar os motivos estheticos em perceber os dramas reaes fixando os finalmente
306. rimeira turma de normalistas na Escola Normal de Limoeiro atuavam como professoras do Grupo Escolar a maior escola p blica do munic pio treze profissionais Dessas oito eram Filhas de Maria e seis ingressaram no curso normal logo na primeira turma Formadas para educar os modelos de virtude que a Pia Uni o se preocupava em lapidar ganhavam as salas de aula empenhadas em difundir os conte dos da doutrina cat lica Responsabilizadas pela educa o das gera es futuras o diretor da Pia Uni o de Limoeiro esclarecia os pap is esperados de uma mulher mariana reparar o erro da primeira mulher assentando se no pedestal que lhe era destinado m e filha esposa Se a ru na do genero humano originou se pela primeira mulher a repara o procedeu da aceita o embaixada de um anjo Ambas tiveram seu mensageiro uma de trevas outra de luz uma deu nos o fruto da morte a outra nos concede a arvore da vida plantada no Calvario para resgate do Universo E ao catolicismo que se deve o pedestal da tr plice grandeza sobre que assenta a mulher mae filha esposa na miss o educadora no seculo ou no estado religioso A imagem feminina relacionada miss o de educadora oscilava entre as ant podas Eva e Maria Como devotas e seguidoras de Maria sobreas associadas marianas reca a a responsabilidade de reparar a perdi o do g nero feminino 24 O Grupo Escolar Pe Joaquim de Menezes uma esc
307. rma es pol ticas flashes sobre os acontecimentos da poca com a 22 guerra mundial educacionais e outras atrav s da exibi o de jornais noticiosos que precediam o filme Na d cada de 1940 de acordo com Maria Jos Menezes diferentes grupos sociais passaram a frequentar o cinema em Limoeiro apontando para uma populariza o desse tipo de lazer no entanto a audi ncia aos filmes por parte do p blico feminino ainda estava condicionada aprova o do padre e s recomenda es da imprensa cat lica Procurando oferecer bons filmes para combater as pel culas imorais mais uma vez a figura da Filha de Maria surge na imprensa cat lica como 178 MENEZES Maria Jos de Fran a Um mundo que se mostra por dentro e se recria por fora a trajet ria das casas de exibi o de cinema em Limoeiro 1925 1980 Monografia de Gradua o em Hist ria FAFIDAM UECE Limoeiro do Norte 2008 p 23 19 Maria Lirete Chaves Saraiva Entrevista concedida a Maria Jos de Fran a Menezes em 05 10 2002 Apud MENEZES Maria Jos de Fran a Um mundo que se mostra por dentro e se recria por fora Op cit p 26 180 Maria Lirete Chaves Saraiva Entrevista concedida a Maria Jos de Fran a Menezes em 05 10 2002 Apud MENEZES Maria Jos de Fran a Op cit p 22 28 181 FREITAS Maria das Dores Vidal amp OLIVEIRA Lenira de Org Limoeiro em Fotos e Fatos Op cit p 137 138 182 Cf MENEZES Maria Jos de Fran
308. rmava que o mesmo era ferramenta necess ria para uma instru o crist eficaz Livro para fam lia Hoje em dia n o existe uma s fam lia que n o precise de livro que instrua efficazmente para educar christ mente seus filhos A loja O Gabriel recebeu o melhor livro de D Macedo Costa O Livro da Fam lia J a estrat gia de propaganda da Livraria Selecta era mais discreta Ao inv s de chamar aten o dos leitores com apelos s suas consci ncias optavam por destacar as obras evidenciando seu conte do e informando sua aceita o junto aos fi is 232 Jornal O Nordeste Fortaleza 24 abr 1937 p 07 2 Jornal O Nordeste Fortaleza 28 abr 1937 p 08 234 Jornal O Nordeste Fortaleza 26 nov 1936 p 06 2 Jornal O Nordeste Fortaleza 05 jul 1934 p 08 140 O Meu Thesouro E um livro que contem muitas ora es Centenas de pessoas t m obtido gra as por meio dessas ora es simples TEM SIDO Uma cousa estupenda a venda do O MEU THESOURO Fiquem avisados caso n o se encontre mais tenham paciencia que a casa editora far nova edi o A livraria Selecta tamb m publicava breves an ncios evidenciando o tipo de p blico que visava atingir Para a Bibliotheca dos adolescentes A Livraria Selecta recebeu um grande pedido de bons livros Na Livraria Selecta Encontram se bons livros que qualquer senhorinha poder ler Embora se reconhe a que os an ncios n o t m neces
309. rto Xavier Pedrosa insiste na fragilidade e inoc ncia femininas relacionando as imagem da flor por natureza delicada e fr gil carente de cuidados e prote o constantes para n o murchar e perder o vi o e a beleza destacando a pervers o poss vel dos maus livros verdadeiros matadores de almas 102 103 Novidades Liter rias Jornal O Nordeste Fortaleza 26 j 1929 p 02 Livros Novos e Novas edi es Jornal O Nordeste Fortaleza 17 out 1935 p 04 75 Eu insisto sobre a necessidade de guardar o esp rito contra os que o podem perverter pelo mau livro hoje arma poderosa nas m os de todos os a quem n s poder amos chamar de matadores das almas A innocencia a pureza da alma s o flores delicadas flores que podem facilmente ser profanadas e que se fanam muitas vezes ao conttacto dos maus livros A alma feminina delicada como uma flor s mbolo da inoc ncia e pureza diante do mau livro ficava merc da perdi o que os matadores das almas podiam trazer em suas p ginas com as fortes tintas da realidade No in cio do s culo XX encontramos nas p ginas do peri dico cat lico a cr tica influ ncia do romance realista Esse tipo de literatura se destaca pelo enredo pol mico de cr tica aos costumes burgueses e vi s anti clerical Enquanto mostra as incongru ncias entre a pr tica e o discurso cat lico as obras realistas mostravam as rela es humanas despi
310. runeau atribui a essas rela es Estado lgreja no s culo XX como sendo uma Neocristandade As disputas pol ticas envolvendo os sacerdotes no munic pio de Limoeiro das primeiras d cadas do s culo XX eram evidentes e pouco disfar adas As rixas partid rias eram determinantes na nomea o e perman ncia de p rocos no munic pio e consequentemente de diretores da Pia Uni o das Filhas de Maria Jo o Ol mpio em seu livro sobre a hist ria eclesi stica limoeirense fala das disputas envolvendo as fam lias tradicionais 2 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 08 de dezembro de 1928 8 Ver BRUNEAU Thomas Catolicismo Brasileiro em poca de transi o Op cit 27 do munic pio e os sacerdotes da cidade o que reflete sua dimens o e o grau de acirramento A tradi o oral recorda tiroteios entre a casa deste Coronel Jos Nunes Guerreiro e o solar do Pe Acelino Jos Ferreira Sombra Mestre Sombra era amigo e correligion rio pol tico do Pe Acelino Dona Judite Chaves Saraiva relatou que at os partidos Azul e Vermelho dos festejos da Padroeira eram politicamente divididos e aguerridos Nas barracas dos Maloqueiros e dos Cafifins havia sempre pedras amontoadas para serem atiradas nos advers rios Neste sentido as indica es e perman ncias de p rocos estavam ligadas s rela es de poder com as fam lias do munic pio em especial os Chaves detentores do poder cart
311. s cat licas algo que as fizesse perder a inoc ncia tais como imagens leituras bailes e outros apelos profanos De acordo com o Manual da Pia Uni o era a pureza virginal a virtude predileta de Maria e de Jesus Cristo por isso cuidar desse precioso tesouro era de suma import ncia para uma Filha de Maria afinal a pureza era como um tesouro precioso encerrado num fr gil vaso que se quebra ao menor 1 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 08 de dezembro de 1916 Em todas as cita es das atas das Filhas de Maria manteve se a grafia original do documento inclusive com os erros de ortografia 1 3 PERROT Michelle Minha Hist ria das Mulheres Trad ngela M S Corr a S o Paulo Contexto 2007 p 45 14 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 03 de setembro de 1933 17 choque Fazendo o comparativo da virtude casta ao l rio mimoso e ao fino cristal Mas como esta virtude t o bela e preciosa facilmente perde seu brilho Ela como um l rio mimoso que ao menor toque se murcha como o cristal que ao menor h lito embacia como um tesouro precioso encerrado num fr gil vaso que se quebra ao menor choque Um simples olhar um brinquedo uma palavra um pensamento podem manchar essa bela virtude E desgra ada de v s se a perdestes Embora tenhais todas as outras virtudes se n o sois casta n o podereis agrada
312. s a se allistarem na L E C na Liga Eleitoral Catholica O principal alistar se mas j que existe a L E C que tudo facilita o mais simples o mais l gico para os catholicos servir se della Depois de orientar acerca do alistamento eleitoral restava guiar as mulheres sobre a escolha dos candidatos para que n o houvesse desvio das eleitoras cat licas Vistas como uma nova for a no processo eleitoral o jornal cat lico cearense conclamava as cidad s cath licas a irem s urnas imbu das de um sentimento de responsabilidade para com a p tria e a Religi o O voto feminino que era facultativo tornava se no discurso d O Nordeste uma obriga o daquelas que eram a sentinella vigilante da Fam lia e que por isso deveriam disciplinadas apoiar com ardor religioso os candidatos da LEC Ide para as urnas decidida a concorrer com a for a do vosso voto consciente e franco para a victoria dos candidatos da Liga Eleitoral Cat lica V s hoje representaes uma for a e preciso que essa for a n o seja inoperante Cidad catholica vede que grande a vossa responsabilidade para com a p tria e a Religi o Que o vosso civismo v s que sois a sentinella vigilante da Fam lia vos d tamb m o direito ao titulo de sentinella vigilante da felicidade do Brasil Votae com o mesmo ardor com a mesma dedica o com o mesmo enthusiasmo com que sabeis defender os vossos sentime
313. s com a imagem da Irmandade as Filhas de Maria nem sempre obedeciam s normas e esse tipo de desvio por vezes era descoberto Na irmandade tratava se os casos de falhas de comportamento com discri o uma forma de preservar a imagem do grupo no entanto localizam se na documenta o da irmandade registros de pequenas transgress es Na tens o entre as amea as da Igreja e suas pequenas transgress es nem sempre era poss vel s jovens Filhas de Maria escaparem ilesas de suas desobedi ncias s regras Por isso algumas das jovens que se propuseram a fazer parte da Pia Uni o n o conseguiram permanecer na irmandade o caso de Maria Carmelita de Jesus que teve sua expuls o registrada no Livro de atas sem maiores detalhes como era habitual nesses casos 38 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 04 de novembro de 1934 3 As reuni es das Filhas de Maria eram restritas s associadas e aspirantes da Pia Uni o bem como aos seletos convidados do diretor Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 30 de maio de 1937 65 Finalizando o Revmo Director excluiu da associa o por desobedi ncia a associada Maria Carmelita de Jesus anotando no Livro de Registro Uma vez expulsa da irmandade a jovem transgressora tornava se um perigo e para evitar poss veis influ ncias sobre as associadas estas ficavam proibidas de manter amizade com a exclu da da
314. s das mulheres por isso a dan a a moda e a m leitura eram alvos de constantes ataques Jornal O Nordeste Fortaleza 22 abr 1939 p 09 7 Jornal O Nordeste Fortaleza 28 set 1928 p 04 70 A literatura constava da pauta do peri dico ora como um perigo iminente visto que os enredos podiam lev las a conhecer temas impr prios e influenci las a agir como os personagens da fic o ora como recurso da boa educa o e da moral s Orientar a leitura feminina e alertar a sociedade e as fam lias para os perigos da m leitura foi se transformando num dos assuntos recorrentes da folha cat lica Para cercar de cuidados o que deveria ser lido pelas senhorinhas cat licas o jornal criava diversas estrat gias Apresentar novas publica es livros jornais ou revistas relatar contos e hist rias tematizando a leitura nociva constitu am sua estrat gia principal As leituras recomendadas s jovens cat licas giravam em torno da religi o das vidas de santos da ora o Qualquer obra que fugisse a esses temas era pouco recomendada Leitora adequada era a leitora da vida de Santa In s das dores e sofrimentos de Tereza Neumann Os romances at mesmo os da Biblioteca das Mo as eram vistos com ressalvas pela imprensa cat lica As resenhas e os contos de teor educativo veiculados no jornal cat lico cearense apresentam uma divis o entre as leituras femininas e as leituras masculinas Existem determinadas leituras
315. s e leitoras que deixavam suas marcas ao longo dos textos N o por acaso que Dona Maria Menas da Silva ex Filha de Maria entrevistada guardava com muito zelo o seu pr prio manual e com maior cuidado ela conservava como uma preciosa lembran a o Manual de uma 265 As lojas que direcionavam an ncios s Filhas de Maria eram as mais diversas Lojas de tecidos de artigos religiosos livrarias e casas comerciais de artigos diversificados visavam atrair s associadas marianas Entre as que anunciavam para as Filhas de Maria podemos citar as lojas O Gabriel Christmas Rosas dos Alpes Trovador Barateiro A Samaritana D o Casa Venus Bom Pastor Santa Rita todas elas localizadas em Fortaleza 162 velha amiga j falecida O Manual estava diretamente ligado identidade da Filha de Maria e por isso ainda hoje desperta lembran as mem rias de um tempo vivido e que parece s ex associadas da Pia Uni o muito distante Por outro lado quando algum assunto em voga n o estava contemplado no manual se recomendava a leitura dos peri dicos cat licos como o Jornal O Nordeste e as Revistas A Cruz e Maria cujos artigos lidos nas reuni es norteavam as orienta es dadas pelo sacerdote Leu nos a seguir o Revmo Diretor na Cruz do Rio um trecho concernente ao Cristianismo e Feminismo explicando nos o seu verdadeiro sentido sobre o feminismo o qual concita a mulh
316. s e novenas Ao casar torna se a ang lica esposa cuida da casa com esmero e est sempre disposta a fazer todos os gostos do marido Subserviente Z lia dava o exemplo quelas do seu sexo calando se diante dos rompantes de grosseria do esposo Uma vez o Esposo fazia o pagamento aos lavradores e como j era tarde Z lia entendeu de ajuda lo elle por m estando nervoso repelliu a com uma palavra dura dizendo Deixe voc n o entende disto A esposa sorriu lhe abra ou o e sahiu com tanta humildade 65 A protagonista do romance cat lico cuidava da educa o dos filhos com excessivo cuidado evitava contato desses com o mundo que podia estragar lhes a inoc ncia Como boa mulher cat lica n o buscava uma 20 Idem Ibdem 211 CASTRO Pe Jeronymo Pedreira de Z lia ou Irm Maria do SS Sacramento vida exemplar de uma M e christ que terminou seus dias junto a Jesus Sacramentado 2 ed Petr polis Vozes 19283 p 42 cap IV Manteve se a grafia original 212 Idem p 59 213 Idem p 199 200 131 profiss o dedicava se s coisas do lar educa o dos filhos e ao catecismo dos pobres a es adequadas ao esp rito feminino Os romances cat licos escritos por padres narravam a eleva o do amor entre homem e mulher combinado a f Tudo narrado numa atmosfera et rea onde os personagens de pureza e bondade santas vivem em fun o do bem N o h espa o para sensa
317. s musica Aprender melhor os servi os dom sticos e menos a dan a e os cantos de sal o Ler livros de educa o e abandonar as revistas e os romances da moda N o ostentar luxuosos vestidos que espantam as algibeiras dos ajuizados candidatos ao matrim nio Mais cabellos e menos tac o Menos janella e mais costura Menos tagarelice e mais ju zo Grifo meu O jornal apontava a falta de pudor feminino como causa para a aus ncia de relacionamentos s rios e duradouros Por isso cabia mulher tomar a defesa do matrim nio e reparar as falhas que acarretavam a crise dos noivados e casamentos tornando se respeit vel e sendo zelosa com o que lia e via Que que procur veis na leitura de livros que assassinam a l ngua e apunhalam a pureza Tomae queridas mo as a defesa do matrimonio sob as b n os da Igreja e dos paes Defendei o em v s 345 As Quartas Jornal O Nordeste Fortaleza 27 mar 1929 p 01 e 03 346 Receita para achar um bom marido Jornal O Nordeste Fortaleza 08 jul 1933 p 05 210 mesmas guardando religiosamente o vosso mais formoso attractivo o pudor julgae os romances que lerdes as fitas conematographicas a que assistirdes os prazeres que vos seduzem Uma vez orientadas por boas leituras que as ajudaram a bem administrar a casa as Filhas de Maria tornavam se candidatas ideais ao matrim nio Visto como uma loteria em que os noivos
318. s na sala de aula In Hist ria das mulheres no Brasil 9 ed S o Paulo Contexto 2007 220 assumiam o magist rio como profiss o a imprensa cat lica atribu a professora a responsabilidade de catequizar seus alunos A documenta o da Pia Uni o afirmou essa nova obriga o da Filha de Maria em seu apostolado operoso Aquela associada que n o se tornasse professora ou catequista deveria preparar se para o que no futuro deveria ser o seu papel esposa virtuosa e m e crist apta a educar seus filhos no santo temor de Deus Para isso a leitura auxiliava na prepara o para a maternidade e o matrim nio Os cadernos de controle e de anota o da Biblioteca da Pia Uni o deram a conhecer a exist ncia desse espa o de leitura Uma biblioteca desaparecida nas fontes oficiais que adquiriu vida no curso desta pesquisa Diante dos t tulos anotados dos empr stimos das doa es de livros as Filhas de Maria fizeram de sua biblioteca um lugar onde experimentavam o manuseio dos livros brochuras e jornais cultivando a leitura individual ou aprendendo a ler em voz alta Em meio a poucas prateleiras onde mais de duas centenas de livros inscreviam no dorso em letras douradas ou mais simples os t tulos de obras edificantes manuais de catequese livros da doutrina vidas de santos biografias exemplares livros de c nticos e ora es encontrou se tamb m um consider vel n mero de romances doados pelas associadas da Pia
319. s narrativas exemplares cujos protagonistas s o modelos de conduta As cole es direcionadas s mo as como a Biblioteca das Mo as e a Cole o Menina e mo a tamb m passaram a ser toleradas como um mal menor pois embora n o edificassem como as obras religiosas ao menos n o pervertiam as jovens marianas visto que os comportamentos de suas protagonistas estavam de acordo com os preceitos da Igreja salvo exce es logo denunciadas na imprensa cat lica Em sintonia com essa estrat gia de difus o da boa leitura o Jornal O Nordeste veiculava diariamente an ncios das livrarias cat licas de Fortaleza oferecendo bons livros ao p blico leitor da capital Nesses an ncios percebe se o poder atribu do leitura como fonte de forma o e um esfor o de incentivo ao h bito da leitura no p blico cearense Na d cada de 1930 a documenta o pesquisada evidencia o papel do cinema como estrat gia de forma o e educa o moral O cinema passa a ser comparado ao livro no entanto era visto como mais pernicioso que a leitura devido ao maior alcance de p blico e da expressividade das cenas A imagem em movimento causava uma impress o mais viva ao espectador Assim as pel culas tamb m passaram a ser julgadas pela cr tica cat lica e s deveriam ser vistas pelas jovens cat licas depois que fossem devidamente aprovadas pela censura de filmes O Jornal O Nordeste era leitura cotidiana das associadas da P
320. s que tinham Maria como santa padroeira Neste sentido que quando da sagra o do primeiro bispo da Diocese de Limoeiro Dom Aureliano Matos em 1940 ap s in meras e exaustivas campanhas financeiras da Igreja para a forma o do patrim nio do bispado as Filhas de Maria tiveram um dia exclusivo na programa o do novo bispo ao contr rio dos outros segmentos sociais e associa es religiosas do munic pio Afinal figuravam no corpo da Pia Uni o n o somente Filhas de Maria mas Filhas da grada elite limoeirense formada pelos coron is da cera de carna ba do algod o e pelos ricos comerciantes locais Mas medida que a irmandade crescia n o eram apenas os pouquets de virtude e as contribui es mensais que passaram a ser negligenciadas pelas associadas As reuni es quase sempre enfadonhas com discursos disciplinadores passaram a n o ser frequentadas O elevado n mero de absten es irritava os padres que cobravam constantemente o comparecimento das associadas nas reuni es e as amea avam de suspens o Embora as amea as fossem constantes as aus ncias permaneciam s reuni es mensais comparecia aproximadamente um ter o do n mero total de associadas O restante simplesmente faltava aos encontros justificava a aus ncia ou se fazia representar pelas companheiras de irmandade uma demonstra o de cumplicidade entre elas Depois de muita insist ncia e in meras amea as em torno das aus ncias
321. s recomendados havia aqueles que desfrutavam da prefer ncia da Igreja e se enquadravam no terceiro tipo de literatura apontado como edificante os romances escritos por padres e religiosos Com ensinamentos morais e religiosos esses romances combatiam as leituras perniciosas e se aproximavam dos conte dos normatizadores mas com apar ncia l dica de passatempo Entretanto mais do que fantasias e sonhos essas obras traziam li es de conduta um fundo moral a ser seguido Os romances de cole es e escritores variados devidamente analisados recebiam aprova o leitura feminina Mesmo permitidos n o eram vistos como literatura ideal s jovens cat licas sendo liberados como uma esp cie de mal menor no entretenimento do sexo fr gil 121 A leitura de livros que contam vida de santos comum nas associa es religiosas Modelos de condutas e pilares de sustenta o do catolicismo os santos foram acolhidos pelos cat licos brasileiros como se observa na rela o com seus santos de devo o Gilberto Freyre em Casa grande amp Senzala relata que entre os devotos e certos santos chega a haver sem cerim nias obscenas como tal nada mais natural do que conhecer a vida daqueles que figuram em seus altares como se fossem pessoas da fam lia e a quem se dirigem as preces nos momentos de afli o s cat licas era recomendada principalmente a leitura da vida de santas e rel
322. s se lhes offerecem de nossos dias pois nasceu a 12 de mar o de 1878 falleceu a 11 de abril de 1903 Humilde flor occulta na casa paterna entregue somente piedade e a seus deveres quotidianos desprezando as vaidades os prazeres as esperan as do mundo praticando de modo sublime a ora o e todas as virtudes tinha alcan ado aos 25 annos de idade um alto gr o de perfei o e santidade Tornou se assim especialmente um modelo das meninas e jovens nestes tempos que tantas tenta es e perigos se lhes offerecem Nesse sentido tudo o que dissesse respeito aos modelos santos de mulher de inspira o piedosa s jovens cat licas era posto no papel e incentivada a sua leitura Um exemplo desse tipo de pr tica o di rio de Irene Valente cuja publica o anunciada como uma verdadeira obra prima de santifica o interior Iniciaremos na pr xima edi o a publica o de um di rio que uma verdadeira obra prima de santifica o interior A autora o escreveu sem a preocupa o de edit lo Dia a dia incitada pelo amor de Deus e movida pelos soffrimentos lan ava em cadernos ntimos as suas reflex es Ha muito de ingenuidade e de espontaneo nesses sentimentos de uma alma que viveu amou e soffreu Viveu para Deus amou Jesus Christo e sofffeu com resigna o e sobretudo aproveitando o soffrimento para agradar ao Meigo Cordeiro Este di rio publicado no peri dico cat lico buscava como
323. sariamente o poder de induzir a adquirir o produto anunciado ou por outro lado adquiri lo com a finalidade anunciada pode se inferir que esses an ncios com uma vasta circula o no estado tinham certa efic cia N o se pode avaliar a forma como agiam no imagin rio dos leitores do jornal cat lico entretanto pode se inferir que sua efic cia refletia se nas vendas dessas livrarias que durante o per odo em estudo publicaram e renovaram constantemente seus an ncios A const ncia dos an ncios leva a crer que o p blico cat lico cearense em certa medida se identificava ou aceitava as id ias sobre leitura cat lica presentes nesses pequenos an ncios Devido tamb m circula o do jornal O Nordeste nas par quias cearenses pode se perceber como esses an ncios influenciavam a aquisi o de livros por parte do p blico leitor do Estado Prova disto a recorr ncia de t tulos anunciados pelas livrarias da capital na biblioteca das Filhas de Maria em Limoeiro uma vez que somente a partir de meados da d cada de 1930 a cidade passou a contar com uma pequena livraria sobre a qual se tem poucos registros Trazidos pelos pr prios sacerdotes para serem vendidos na sacristia aos membros de irmandades ou por pequenos comerciantes da cidade que os inclu am entre seus artigos os livros eram sin nimo de novidade Not cias e 2 Jornal O Nordeste Fortaleza 07 mar 1933 p 06 237 Jornal O Nordeste Fortaleza 27 out 1933 p 0
324. sas entre as associadas Funcionando na igreja matriz da cidade a biblioteca agregava uma aura de sacralidade As leituras visavam a forma o de jovens puras e castas obedientes aos princ pios e mandamentos da Igreja Espa o de forma o e controle onde o h bito da leitura seria regido pela norma religiosa Preocupados com a disponibilidade de obras impr prias a pr dica de teor normativo sobre os cuidados na escolha dos livros se repete no periodismo cat lico Ensinar a vida nos livros sem os devidos cuidados na escolha podia ser caminho perigoso Sei que n o exagero e as leitoras de romances sabem tambem que eu n o exagero A cantilena sempre a mesma Lemos o que encontramos N o verdade cada um l aquillo que lhe agrada e se n o encontra bons livros porque n o os procura Dizem outros N o tanto assim o que lemos n o t o ruim E a vida e precisamos conhecer a vida poderia eu responder que semelhante sistema pode levar muito 28 Ata da Reuni o da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro do dia 03 05 1930 p 16 V 180 longe com esse andar chegar o dia em que os livros j n o ser o suficientes para ensinar a vida Para Maria Desid ria que assinava a coluna as leitoras cat licas liam apenas o que lhes agradava j que leituras piedosas n o faltavam no mercado livreiro cearense fato comprovado pelos an ncios di rios de livrarias cat licas Para a leito
325. sas jovens mulheres que atuavam com vigor na manuten o de sua associa o Se as vestes brancas de mangas longas as meias grossas e o v u na cabe a supostamente limitavam sua sensualidade feminina essas mesmas 31 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 02 de julho de 1933 9 Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Op cit p 57 3 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 10 de maio de 1935 66 vestes eram s mbolos do acesso s ocasi es importantes da hist ria do munic pio Caracterizadas por suas vestes se fizeram destacar nos meio social limoeirense Entre as caracter sticas que distinguiam as Filhas de Maria das outras mulheres da cidade est a liga o que mantinham com a leitura dispondo inclusive de uma biblioteca pr pria Nas primeiras d cadas do s culo XX verifica se na imprensa cat lica cearense uma constante preocupa o em orientar e prescrever a leitura do p blico feminino Neste sentido para entender o universo de leituras das associadas da Pia Uni o analisam se no cap tulo seguinte as prescri es de leitura que a Igreja Cat lica procurava impor atrav s de seu jornal definindo o que deveria e o que n o poderia ser lido pelas cat licas cearenses especialmente as Filhas de Maria 67 CAP TULO 2 LEITURAS SANS E LEITURAS PERNICIOSAS Ler estar alhures onde n o se est em outro mundo constituir uma cena secreta
326. se grupo de mulheres As experi ncias de leitura no mbito da irmandade das Filhas de Maria ficaram registradas em suas mem rias de forma indel vel Lucimar de Oliveira associada da irmandade ao rememorar sua vida de Filha de Maria destaca a influ ncia marcante da Biblioteca e recorda os t tulos dos jornais e outras publica es dispon veis no acervo da Pia Uni o Padre Edgar Saraiva Le o a influ ncia mais marcante e mais forte Atrav s dele conhecemos toda a Biblioteca das Filhas de Maria os jornais Mensageiro da F e Amigo da Inf ncia O depoimento de Lucimar chama aten o uma vez que diante de tantos aspectos da vida paroquial do sacerdote a biblioteca e as experi ncias em torno da leitura que ela destaca M rcia Abreu afirma que A leitura n o uma pr tica neutra Ela campo de disputa espa o de poder Ao permitir que suas associadas colaborassem na forma o do acerv o se deu s Filhas de Maria limoeirenses 307 In BRANCO Jo o Ol mpio Castello O Limoeiro da Igreja Op cit p 161 8 ABREU M rcia Pref cio percursos da leitura In Leitura hist ria e hist ria da leitura associa o da leitura do Brasil S o Paulo Fapesp 1999 p 15 186 um espa o dentro da irmandade ao qual n o estavam habituadas Tuteladas em suas leituras era necess rio saber usar de forma eficiente este espa o em busca de obras interessantes e desej veis V
327. sendo mais suscet vel aos malef cios das fitas cinematogr ficas E enquanto a Igreja se organizava no sentido de fazer uso dessa poderosa ferramenta a favor dos preceitos cat licos sua cr tica tratava de tecer severos coment rios aos males trazidos pelo cinema buscando educar o gosto do p blico para os filmes edificantes que combatiam a apologia s falsas normas de vida O cinema transformou se numa fonte de immensa pervers o popular porque as fitas se converteram em representa o do peccado e do vicio representa o acclamada e quanto possivel justificada Perante as multid es que frequentam diariamente a exibi o das telas faz se de continuo a apologia de falsas normas de vida Neste sentido a imprensa cat lica lamentava que o potencial educativo do cinema tivesse sido percebido tardiamente pela alta hierarquia cat lica Como uma forma de compensar o atraso o Papa Pio XI lan a em junho de 170 Commentarios Jornal O Nordeste Fortaleza 04 set 1928 p 01 1 Porque iniciamos h muito a sec o di ria de filmes censurados Jornal O Nordeste Fortaleza 07 nov 1936 p 05 172 Cinema corruptor Jornal O Nordeste Fortaleza 20 jul 1936 p 01 112 1969 a carta enc clica Vigilanti Cura onde trata do cinema incentivando a vigil ncia em torno dos filmes a cria o de salas de exibi o voltadas a filmes cat licos e a organiza o de grupos respons veis pela confe
328. serva o de todos esses crit rios que o poder de escolha e a prefer ncia do leitor deveriam ser exercidos 250 Os bons livros n o faltam pede o catalogo de uma livraria cat lica que s ter s a dificuldade da escolha Consulta a sec o bibliographica do teu jornal e pessoas que tenham habito de lidar com livros Bons livros de literatura piedosa ou de ndole piedosa Semeando Il O Domingo Jornal O Nordeste Fortaleza 29 mai 1928 p 01 e 05 21 Idem Ibdem 252 dem Ibdem 150 repito te eu n o faltam meu irm o A quest o saber escolh los que te agradem e sejam de real proveito A recomenda o de aproveitar o tempo livre com leituras piedosas era dirigida s associadas da Pia Uni o como forma de ressaltar o que a imprensa cat lica divulgava E em meio aos assuntos da irmandade discutidos nas reuni es mensais do grupo o diretor espiritual voltava quest o da leitura Continuando fez nos o diretor uma exorta o a b a leitura e explicou nos os meios pelos quaes poder amos desta tirar bons frutos A imagem do livro que envenena a alma era refor ada junto s associadas da Pia Uni o e reca a principalmente sobre os romances suas obras preferidas Visando normatizar o h bito das Filhas de Maria o diretor da irmandade orientava que estas deveriam entregar se antes a leituras sans e moralistas verdadeiros exerc cios da perfei o espiritual ao emvez
329. seus modelos femininos mulheres exemplares que abdicavam dos prazeres da vida terrena por uma vida de priva o dedicada f Os romances lidos pelas jovens cearenses apresentavam um novo tipo de amor o amor entre homem e mulher n o mais o amor bondade pureza e Igreja somente Narravam sensa es e sentimentos mostravam que a felicidade e a plenitude de uma jovem podiam vir de outras formas n o somente atrav s da ren ncia de si e do mundo tal como pregava a Igreja em suas obras e serm es Os romances mesmo os constru dos segundo os par metros de pureza e recato recomendados pela Igreja traziam consigo a abertura dos sentidos a descri o das sensa es do corpo O cora o que acelera diante do amado a respira o ofegante diante de um pedido de casamento enfim abriam as portas de um novo mundo de sensualidade e prazer 138 PERROT Michelle Os exclu dos da Hist ria oper rios mulheres e prisioneiros Trad Denise Bottman Rio de Janeiro Paz e Terra 1988 p 177 139 Cartas de Mulher Jornal O Nordeste Fortaleza 08 dez 1928 p 06 07 94 Os romances mesmo aqueles de cunho conservador e sem as cores vibrantes das obras realistas eram vistos com ressalvas pelo clero de modo que o ideal era evit los ainda que fossem liberados pelos cr ticos cat licos BIBLIOTHECA DAS MO AS COMPANHIA EDITORA NACIONAL eva pos arsubes O jo s pauto Figura 04 Capa do romance As con
330. sileira sob o regime da economia patriarcal 38 tiragem Rio de Janeiro Record 2000 p 225 191 Ata de Reuni o Mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 03 de maio de 1930 p 16 V 122 De acordo com M rcia Abreu Os textos crist os prop em modelos positivos de virtude por meio da narra o de vidas de santos e de fatos b blicos nos quais se pode conhecer a trajet ria de homens e mulheres que n o pecam que cumprem os mandamentos que temem a Deus a partir da imita o do comportamento dessas pessoas que se pode atingir o ideal crist o Para atingir esse ideal crist o estimula se a leitura de vidas exemplares como a hist ria de Teresa Neumman que nas primeiras d cadas do s culo XX personagem de grande repercuss o na catolicidade A hist ria dessa jovem donzela germ nica desafiava c ticos que buscavam explica es para o fato dela se manter durante anos sem comer e sem beber tendo a Eucaristia como alimento espiritual di rio Estigmatizada Teresa Neumman esp cie de santa em vida e seus exemplos de abnega o e humildade s o mat ria prima de livro cat lico sendo sua hist ria modelar um desafio ao ceticismo do tempo Esculapios nada catholicos submeteram a estigmatizada a uma vigil ncia rigorosa por espa o de 15 dias consecutivos Findo este prazo como resultado da sua minuciosa e intransigente observa o o seguinte Durante 15 dias Teresa Neumann expelliu pela tran
331. sion rio ficam com oito e cinco orienta es respectivamente e as Leituras figuram com duas flores bem espec ficas mas destas nos ocuparemos mais tarde Observe no quadro que se segue a divis o das Flores da Virtude em seus referidos ramalhetes Ramalhete Flores da Virtude 1 Vencer a pregui a ao levantar se e cumprir com os deveres do pr prio estado 2 Guardar mod stia nos olhos e mais sentidos 5 Combater a gula por amor de Maria 9 Obedecer com gosto por amor da Virgem Sant ssima 12 N o cometer faltas volunt rias Moral e 16 Levar com paci ncia qualquer adversidade Autodisciplina 17 Combater a curiosidade 18 Reprimir a vaidade 20 Fazer algum ato de humildade 22 Estudar ou trabalhar com gosto pelo amor Virgem 23 Abster se de algum divertimento ainda que inocente 25 Sofrer com paci ncia as pess as rudes 158 26 Vencer o g nio 27 Fazer o exame de consci ncia e o ato de contri o antes de se deitar 28 Caindo em alguma falta fazer prop sito de emendar se 29 Fazer atos de conformidade com a vontade de Deus 30 Fugir de alguma amizade perigosa 3 Ouvir missa pelas almas devotas de Nossa Senhora 7 Invocar o socorro de Maria nas tenta es 8 Pedir a ben o Virgem Maria ao come ar qualquer a o 11 Visitar alguma imagem da virgem 14 Perdoar pelo amor de Maria 19 Rezar com devo o 27 Fazer o exame de c
332. sita es das Filhas de Maria Caderno de Anota es da Pia Uni o das Filhas de Maria 2 Fontes Orais e ELIETE SARAIVA Entrevista concedida autora em Limoeiro do Norte no dia 17 de fevereiro de 2008 e IN cio MENDES GUERREIRO Entrevista concedida autora em 06 01 2004 gravada na cidade de Limoeiro do Norte Ce e MARIA MENAS DA SILVA Entrevista concedida autora em 08 01 2004 gravada na cidade de Limoeiro do Norte Ce 223 e N ZINHA CONRADO DE SOUZA Entrevista concedida autora em 16 06 2005 gravada na cidade de Limoeiro do Norte Ce e RAIMUNDA FRANCISCA ANDRADE Entrevista concedida autora em 22 11 2002 gravada na cidade de Limoeiro do Norte Ce 3 Fontes Impressas 3 1 Peri dicos 3 1 1 Jornais Jornal O Nordeste Fortaleza 1922 1945 Dispon vel no Setor de Peri dicos da Biblioteca Meneses Pimentel Jornal O Cear Fortaleza 1926 1930 Dispon vel no Setor de Peri dicos da Biblioteca Meneses Pimentel 3 1 2 Revistas Revista Eclesi stica Brasileira REB Dispon vel no N cleo de Documenta o Cultural NUDOC Vol 1 mar o junho 1941 Vol 1 fasc 3 setembro 1941 Vol 2 fasc 1 mar o 1942 Vol 2 fasc 2 junho 1942 Vol 2 fasc 3 setembro 1942 Vol 2 fasc 4 dezembro 1942 Vol 4 fasc 1 mar o 1944 Vol 4 fasc 2 junho 1944 3 2 Documentos 224 Recenseamento Geral do Brasil 1 De setembro de 1940 Parte VI Cear Tomo l BESSA Pomp
333. sonhos das jovens marianas limoeirenses para quem o recato era uma obriga o as obras de M 335 Revista Eclesi stica Brasileira vol 1 mar o junho 1941 Editora Vozes Ltda Petr polis Rio de Janeiro p 99 328 Cf CUNHA Maria Teresa Santos Armadilhas da Sedu o Op cit p 98 195 Delly mais do que a Biblioteca das Mo as em si agradavam s leitoras da Pia Uni o Os romances escritos por religiosos tamb m estavam presentes no rol de leituras das Filhas de Maria Nomes como o de frei Sinzig figuravam no dorso de livros rom nticos e de conte do moralizante dentro dos par metros estabelecidos pela Igreja cat lica Dos romances publicados por Sinzig de sua escrita ou tradu o a Biblioteca das Filhas de Maria dispunha de quatro Tempestades Pela m o de uma menina Ai Meu Portugal e A Jovem Castelan Exemplo de obras recomendadas em contraponto as m s obras j que o gosto feminino por esse g nero a Igreja n o conseguiu dissipar O Padre Huberto Rohden era outro religioso cujas obras constavam do acervo da Pia Uni o seus livros giravam em torno de quest es religiosas e vida de santos Aclamados pela imprensa cat lica os livros desse religioso recebiam elogios e eram sin nimo de leitura edificante Cada obra publicada pelo padre Rohden ia sendo aclamada pela imprensa cat lica que se encarregava de publicar coment rios elogiosos o caso do livro Jesus Nasareno um livro que se l com
334. spira o 400 grammas de agua di rias Em 200 dias s o 80 litros ou sejam 80 kilos Normalmente portanto devia ella estar j reduzida ao estado de m mia N o mesmo leitor um caso para lan ar a confus o no seio dos envaidecidos confidentes da Natureza Que diz a sra Sciencia de tudo isso Que segredos s o esses que ella n o decifra A hagiografia g nero recomendado pela Igreja visando a imita o dos valores sacrif cios e virtudes dos Santos e religiosos Contar a hist ria de religiosas parecia trazer uma possibilidade maior de sucesso imita o dessas personagens pelas jovens cat licas Uma vez que parte das biografadas n o eram santas oficialmente o comportamento modelar e o ideal de vida de mulheres que se diferenciavam pelo ardor religioso seria mais facilmente acolhido Nas edi es d O Nordeste pequenas notas contam a hist ria de mulheres que se dedicavam com vigor f Oper rias freiras senhorinhas mulheres algumas j em processo de beatifica o que dedicaram a vida 192 ABREU M rcia Os caminhos dos Livros Op cit p 270 193 Sciencia de joelhos Jornal O Nordeste Fortaleza 31 out 1928 p 01 123 contempla o religiosa vivendo em sofrimento e priva o em nome da f o caso de Gemma Galgani cujas virtudes da humildade perfei o e santidade deveriam impregnar o imagin rio das meninas e jovens nestes tempos que tantas tenta es e perigo
335. ssa dimens o pol tica que a Igreja vai atribuindo Pia Uni o das Filhas de Maria promove tamb m uma reinven o de valores dentro da pr pria associa o A expuls o ou a suspens o de associadas antes relacionadas apenas a fatores de ordem moral assumem agora fei es pol ticas Essa mudan a atribui um novo significado s san es e normas disciplinares na irmandade De espa o disciplinar e moralizador a Pia Uni o das Filhas de 8 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 02 de setembro de 1934 Jornal O Nordeste Fortaleza 20 nov 1934 p 04 38 Maria assume tamb m o papel de base de apoio aos projetos pol tico eleitorais da Igreja Cat lica Em Limoeiro os candidatos apoiados pela Liga Eleitoral Cat lica pertenciam ao grupo dos Chaves detentores do poder cartorial O compromisso da Pia Uni o das Filhas de Maria com a LEC evidenciava se pelo fato de sua diretora Judite Chaves ter sido nomeada por interm dio do padre Manoel Caminha Freire de Andrade para liderar as a es da Liga no munic pio Outras associadas da Pia Uni o tamb m ocupavam cargos na LEC o caso da secret ria Consu lo Guedes que tamb m secretariava a Liga de Limoeiro Por ocasi o da instala o da LEC no munic pio preparou se um evento solene A ele compareceram as pessoas mais proeminentes da sociedade limoeirense comerciantes donos de carnaubais clero e em nome do elemento feminino as F
336. sso a leitura feminina merecia cuidado Propensa tenta o a mulher n o tinha equil brio para reagir diante dos ensinamentos da m leitura 108 D INCAO Maria ngela Mulher e Fam lia Burguesa In Hist ria das Mulheres no Brasil 9 ed S o Paulo Contexto 2007 p 230 80 e no argumento apresentado pelo conto transcrito o temor dos cr ticos revelava se As m s leituras fazem sentir o perfume do fruto prohibido De sentir esse perfume a provar desse fruto N o grande a dist ncia Reagir s tenta es e discernir o mal que se encontrava nos livros era algo poss vel apenas aos esp ritos equilibrados e entre eles n o estavam inclu das as fr geis e influenci veis filhas de Eva sujeitas s fortes tenta es que se manifestavam alimentadas pela imagina o nas horas de t dio e enervamento A m e da leitora que certamente j estivera s voltas com a censura que agora exigia se que impusesse sua filha procurava argumentar embora sem sucesso acerca da necessidade da leitura como uma forma de aprendizado uma forma de tomar conhecimento do mundo sem contaminar se diretamente com ele Mas para a Igreja a leitura permitida s mulheres deveria ser comedida e instructiva repleta de ensinamentos morais e pragm ticos Neste conto a boa ndole da mulher bem como sua aptid o a tomar conhecimento de factos escandalosos determinava se em parte pelas leituras que
337. stra o 26 Ata da Reuni o Mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 06 de Agosto de 1933 p 2 v 163 Mas o fato de n o aparecerem nas listas de empr stimos de livros n o significa que n o cultivassem o h bito de ler Fazendo o cruzamento das atas das reuni es mensais com os registros de livros da biblioteca poss vel localizar associadas que doavam livros para o acervo da Pia Uni o sem no entanto aparecerem com assiduidade tomando livros de empr stimo na biblioteca Rastreando as doa es de livros feitas Pia Uni o encontramos listadas nas atas das reuni es mensais associadas como Maria Consuelo e Maria da Penha Guedes cujo tio era padre e foi diretor da Pia Uni o no per odo de 1926 a 1929 que doaram tr s obras para o acervo da Irmandade Aventuras duma Abelha As id ias de Agenor Madruga Dois Amigos e outros contos N o obstante fizessem parte da primeira equipe de bibliotec rias da Pia Uni o tendo por isso um maior contato com o acervo da irmandade Maria da Penha e Consuelo Guedes aparecem raras vezes nas listas de empr stimos Certamente essas jovens Filhas de Maria viam na biblioteca particular do tio padre qual tinham acesso obras mais atraentes que aquelas do acervo que cuidavam e isso influenciava na frequ ncia com que buscavam livros na biblioteca da Pia Uni o Os livros da biblioteca particular do padre eram por elas repassados s colegas de irmandade mais pr ximas
338. t lica no s culo XIX principalmente na segunda metade que buscava sacralizar os locais de culto moralizar o clero refor ar a estrutura hier rquica da Igreja e diminuir o poder dos leigos organizados em irmandades A Igreja cat lica brasileira via nos sodal cios como a Pia Uni o das Filhas de Maria a possibilidade de arregimentar os membros das irmandades leigas ent o existentes e disciplin los de acordo com seus ensinamentos normas e dogmas trazendo para si o potencial representado por essas confrarias Durante os s culos XVIII e XIX as irmandades religiosas ocupavam um lugar de destaque na vida social e religiosa do pa s As mais diversas associa es formavam se com fei es de rg os classistas assim havia ABREU Marta O Imp rio do Divino Festas religiosas e cultura popular no Rio de Janeiro 1830 1900 Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 p 312 13 irmandades de escravos de libertos de profissionais liberais bem como as irmandades das elites que desfrutavam de elevada distin o social Fundadas com os mais diversos intuitos desde garantir assist ncia f nebre a seus associados at promover caridade para com os mais pobres essas irmandades estavam diretamente ligadas s manifesta es religiosas da maioria da popula o brasileira De acordo com Thomas Bruneau Algumas tinham finalidade puramente religiosas como a celebra o da festa do santo padroeiro Outras tinham um ca
339. t o E a realidade que se ama hoje verdadeiramente muito menos que outrora Este amor sensual grosseiro carnal que respiram a poesia e o romance modernos s o a nega o do amor verdadeiro Este puro e s o delicado nobre e christ o Em sintonia com os valores difundidos na imprensa cat lica um tipo de livroschama a aten o na Biblioteca da Pia Uni o as leituras de ensinamentos e instru es pr ticas Essas leituras visavam a forma o para o casamento e a maternidade instruindo as associadas para tornarem se esposas e m es exemplares aptas a assumir a educa o dos filhos e os cuidados com a fam lia Embora representassem uma pequena parte do acervo essas obras traziam ensinamentos muito espec ficos e apontam os pap is que as Filhas de Maria eram incentivadas a assumir ap s sa rem da associa o Livros de Forma o Feminina Acervo da Biblioteca da Pia Uni o de Limoeiro As portas do Casamento Casa de Pais Escola de Filhos Di rio de uma m e Escola de Maria Imita o de Maria Minha filha no col gio O Livro da Dona de casa O livro da Educadora O Livro da M e Tabela 03 Obras direcionadas Forma o Feminina Biblioteca da Pia Uni o de Limoeiro T tulos como Di rio de uma m e O livro da Dona de Casa O livro da educad ra O livro da M e visavam instruir as jovens Filhas de Maria para assumirem os pap is esperados Esposa M e Educadora enfim o leg
340. tal Figura 10 An ncios direcionados s Filhas de Maria Fonte Jornal O Nordeste Al m dos manuais as lojas anunciavam tamb m uma s rie de artigos direcionados especialmente s Filhas de Maria tecidos e fil s brancos fin ssimos ter os trabalhados e ou brancos santinhos medalhas e fitas da cor oficial da Pia Uni o Um mercado promissor direcionado um grupo que n o economizava no consumo desses artigos religiosos 161 O n mero de an ncios direcionados s Filhas de Maria era elevado e os produtos oferecidos apresentavam detalhes que lhes atribu fam sofistica o modernidade e beleza ind cios de que eram um p blico exigente que gostava de novidades e produtos diferenciados No universo da irmandade mantilhas com bordados sublimes como os anjos do C u Fitas com a tonalidade de azul verdadeira e inalter vel ou ter os de prata madrep rola ou cristal representavam sonhos de consumo e objeto de distin o Figura 11 An ncios direcionados s Filhas de Maria Fonte Jornal O Nordeste Levado s reuni es pelas associadas da Pia Uni o para ser utilizado durante as leituras espirituais o manual lido diariamente tornava se um objeto com o qual as Filhas de Maria desenvolviam uma rela o muito particular Figurando no hall de objetos pessoais das associadas esses manuais agregavam valores de estima e apre o e traziam consigo os tra os de suas propriet ria
341. taleza 24 set 1936 p 06 97 A curiosidade feminina alimentada pelas leituras impr prias surgia nos artigos publicados no peri dico cat lico como o principal perigo porque se constitu a no caminho mais curto para a perda da inoc ncia Evite se a literatura escandalosa e libertina que se torna nefasta pelo conhecimento que d do vicio e pelas curiosidades que vae despertar Curiosidade satisfeita inoc ncia perdida Para os homens que se ocupavam da cr tica cat lica a curiosidade feminina associada leitura de livros perniciosos abria caminho para o dom nio dos instintos Ve culos de prazer e gozo eram o ponto de partida para o decl nio moral da sociedade Na vis o da Igreja com os sentidos em alvoro o a juventude inexperiente e mal formada se entregava s leituras impr prias e levava a sociedade a descer ao mais baixo patamar moral Constatam se diariamente os preju zos que vae fazendo por toda parte a m leitura especialmente na juventude que mal orientada a ella se atira sem peias por encontr la em toda parte nas prateleiras das livrarias ou junto caixa do engraxador em livros e revistas em pamphletos e jornaes N o falta mesmo quem ao jovem inexperiente ou mo a mal formada muitas vezes d a l r livros cujas paginas s parecem ter sido escriptas na vala mais immunda e t m o cheiro nauseante dos alcouces Dahi a serie de factos desagrad veis que se d o constantemente d
342. tamente Filha de Maria Ao longo de suas trezentas e doze p ginas instrui aconselha a partir do modelo da Virgem Maria na hist ria da cristandade e encoraja a leitura de passagens do manual que teriam a fun o de estabelecer um di logo mais ntimo e direto com a Virgem As jaculat rias do manual apontavam para a fragilidade moral da leitora que pedia Virgem Maria for as para vencer a si mesma diante dos obst culos do mundo Vencendo a pr pria natureza torpe e fraca a Filha de Maria pedia para tornar se exemplo de virtude pela imita o da virgem e suscitar devo es Uma ora o que refletia os desejos da Igreja tanto quanto os desejos daquelas que a proferiam Ah querida M i alcan ai me a f r a para me vencer a mim mesma e para vencer todos os obst culos que o mundo ou o dem nio me oponham Fazei que eu imite t o perfeitamente as vossas virtudes 199 A divina Eucaristia Extratos dos Escritos e Serm es do Bem aventurado Pedro Juli o Eymard Trad Mariana Nabuco Petr polis Vozes 1934 p 40 Manteve se a grafia original 126 que quem quer que me veja vos louve e vos aben oe e se sinta docemente atra do a amar vos e imitar vos No manual a associada da Pia Uni o apresentada como uma criatura que deve lutar contra as tenta es de sua natureza feminina cujas inclina es s o de perdi o e pecado por isso apelando m e divina nas horas de tenta o M i dulc ssima tende
343. tas do Ter o de Mario Sette Entretanto como as cr ticas n o fossem suficientemente eficazes para afastar as jovens cat licas do gosto por esse g nero liter rio algumas dessas obras eram lhes permitidas com certo desprezo e alguma ressalva Pequenas passagens ou detalhes podiam trazer reservas cr tica de uma obra Entre tantos exemplos encontrados n O Nordeste podemos citar As contas do Ter o de Mario Sette O livro de Mario Sette ao lado desses flagrantes vividos tem um entrecho leve correntio attraente e simples que empolga e fascina Pode ser posto em qualquer m o Pena que o autor se esteja enamorado das formulas modernistas dando aos periodos precipita es desaconselhadas e destoantes Na realidade o primeiro efeito temido pela Igreja era o que chamavam de perda da inoc ncia A Igreja temia que ler sobre sensa es desconhecidas prazeres n o experimentados e tamb m n o recomendados despertaria nas jovens cat licas uma curiosidade desenfreada tendendo ao 14 Novidades Liter rias Jornal O Nordeste Fortaleza 25 jan 1929 p 04 95 desejo de buscar na vida o que liam nos romances Dependendo da obra em foco isso poderia trazer danos morais s jovens leitoras e sociedade Os contos e cr nicas publicados n O Nordeste tinham o intuito de alertar os pais sobre o perigo que algumas leituras suscitavam por isso suas narrativas eram dram ticas e os desfechos tr gicos
344. tatutos era acolher sob a sua bandeira a juventude para a livrar dos perigos pr prios da sua idade de ilus o E assim evitar o mal e progredir como boas jovens na piedade crist na honestidade dos costumes e na observ ncia dos pr prios deveres Depois de registrado o rapto se a fam lia da jovem permitisse o matrim nio dos jovens transgressores a quest o se resolvia pelo menos no que se refere irmandade Uma vez casada a transgressora se reabilitava de sua falha de conduta perante a sociedade e sa a do dom nio da associa o restrita a jovens solteiras Se a fam lia entretanto insistisse na proibi o era prefer vel que o jovem casal formado revelia permanecesse longe do munic pio facilitando assim o abafamento do caso escandaloso N o se tratava mais somente de quest es morais e religiosas mas acima de tudo da imagem da Igreja local da Pia Uni o das Filhas de Maria e da fam lia da jovem fugitiva Esses desvios de comportamento por parte de algumas associadas eram ind cios de que as jovens estavam sendo desvirtuadas por influ ncias externas e nesse caso as leituras especialmente de romances estavam sob suspeita Delas podiam vir as id ias e a invers o dos valores morais cat licos que faziam as Filhas de Maria contrariarem os ensinamentos da obedi ncia 28 Ata da Reuni o Mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 06 de Agosto de 1933 p 2V e 3F 29 Cf Manua
345. te Fortaleza 03 dez 1937 p 02 117 Novidades Liter rias Jornal O Nordeste Fortaleza 01 set 1936 p 08 85 honesta e que s podem ser applaudidas pela inconsci ncia dos ignorantes ou pela perversidade dos m os As obras classificadas Com Reservas eram aquelas cuja leitura estava condicionada uma revis o criteriosa de algumas passagens vistas como impr prias ou n o eram para todas as m os o caso de Humberto de Campos descrito como um humanissimo escriptor mas que em Sombras que Sofrem fez uso de tintas ass s fortes para estereotipar o seu pensamento Em Sombras que soffrem encontramos esse humanissimo escriptor escrevendo naquelle estilo admir vel coisas admiravelmente pensadas Livro fadado a muito successo esse E pena que n o no possamos recommendar a todos indistinctamente porque Humberto de Campos em tr s dessas chronicas magistraes usou de tintas ass s fortes para estereotipar o seu pensamento As obras apontadas como Ruins ou Desinteressantes eram aquelas consideradas pelos cr ticos do jornal como de baixa qualidade liter ria com enredos fracos e desinteressantes sem no entanto incorrer em falhas que as tornassem moralmente perigosas Para a Igreja perniciosa tamb m era a leitura que pudesse desviar o leitor dos ideais cat licos Obras que tivessem tra os socialistas eram taxadas de comunistas bolchevistas representand
346. te nos m todos piagetianos Em 1996 lan ou um livro sobre a hist ria de Limoeiro do Norte intitulado Na Ribeira do Rio das On as Essa obra resultado de oito anos de pesquisa nas mais diversas entidades e arquivos no Brasil e em Portugal traz alguns documentos e depoimentos valiosos para aqueles que estudam a hist ria do munic pio Ap s a publica o desse primeiro livro Oliveira Lima publicou um segundo intitulado Sistema Escolar de Limoeiro do Norte onde aborda a hist ria da educa o no munic pio 31 LIMA Lauro de Oliveira Na Ribeira do Rio das On as Fortaleza Assis Almeida 1997 p 328 28 pol ticos limoeirenses que controlavam cuidadosamente a indica o dos sacerdotes que ficavam frente da Igreja local As disputas e acordos entre os padres e as fam lias pelo poder pol tico local tamb m podiam ser percebidos nas rela es internas da Pia Uni o Cada troca de diretor mudan as de cargos e pedidos de exonera o aparecem nas atas das reuni es sem motivos aparentes Tendo a Prezidente desta associa o enviado um officio pedindo a sua exonera o deste cargo allegando falta de sa de e conjuntamente a Thesoureira pelo mesmo motivo nosso Director tratando se de um cazo grave n o quis dar as referidas exonera es sen o depois de reflex o e de ter consultado a Vontade de Deus pelo que resolvi decidir o cazo nesta sess o Entretanto esses pedidos nem sempre eram bem recebidos pelo diretor
347. tens es que permeavam as rela es vivenciadas entre estas mulheres Fez nos o diretor sentir que recebeu dinuncia de haver Filhas de Maria uzando vestidos de mangas curtas e transparentes encorrendo em suspens o de fitas por 6 mezes caso reincidam Para a Igreja era conveniente que as associadas vigiassem umas s outras comunicando os desvios diretor Contudo ao incentivar esse comportamento a Igreja criava um campo de tens o entre as associadas onde era t nue a linha que separava um grupo coeso e bem comportado com associadas engajadas no cumprimento dos regulamentos e um grupo dividido permeado de disputas intrigas e conflitos desnecess rios Era preciso que o grupo caminhasse de forma harm nica para que as desaven as internas n o comprometessem a imagem e as atividades da Pia Uni o Em ato continuo falou nos o Revmo Diretor sobre a Uni o perfeita que devia cada vez mais existir entre as Filhas de Maria procurando estas evitar as intrigas e os pequenos fuchicos que s o estes os que em geral fazem nascer as grandes disc rdias fez nos lembrar aquela bela passagem da Sagrada Escritura que nos diz Como belo e agrad vel habitar os irm os em uni o Disse ainda o Remo Diretor que sendo a nossa associa o Pia era indispens vel a Uni o A Igreja buscava controlar as Filhas de Maria de muitas formas Essas estrat gias disciplinadoras surgem e desaparecem das atas das reuni es a medida qu
348. ticas s o prescritas centralmente no periodismo cat lico classificando e distinguindo as leituras entre edificantes e perniciosas A linguagem do cinema tamb m abordada no estudo A Biblioteca da Pia Uni o participa desta pesquisa formando um corpus documental que inclui desde as obras piedosas e exemplares aos romances A pesquisa aborda ainda a atua o das Filhas de Maria no campo pedag gico como professoras e no proselitismo cat lico como catequistas Palavras Chave Pia Uni o das Filhas de Maria Limoeiro CE Hist ria da leitura Hist ria das mulheres ABSTRACT The present research analyzes the Pious Union the Daughters of Mary religious brotherhood of single women catholics in Limoeiro Ceara 1915 1945 Aiming to form feminine models of moral behavior this brotherhood was place of disciplines norm and social distinction The study examines practical of reading of the associates Pious Union articulating dimensions devotional exemplary informative educational entertainment and moralizing Such practices are centrally prescribed in Catholic journalism classifying and distinguishing between the good and the bad readings The language of cinema is also broached in the study The Library of the Pious Union participates of this research forming a documentary corpus that includes pious and exemplary books and novels The research still considers the performance of the Daughters of Mary in the educational field as teac
349. tir da an lise desses documentos iniciou se o estudo da Irmandade que resultou nesta disserta o A Pia Uni o das Filhas de Maria uma Irmandade religiosa formada exclusivamente por mulheres cat licas solteiras sob a orienta o espiritual do p roco local se constitu a em lugar de pr ticas sociais de jovens pacatas virtuosas de comportamento e reputa o ilibados reunidas em torno da devo o Virgem Maria Como modelos de virtude elas deviam mostrar pudor com o pr prio corpo cuidando para n o deix lo exposto Incentivadas a observarem se mutuamente as falhas de comportamento deveriam ser comunicadas ao diretor espiritual da associa o para que esse buscasse corrigi las de imediato visto que uma das preocupa es da Igreja era evitar m culas nesse modelo de irmandade feminina Para ingressar na irmandade era necess rio a indica o de duas associadas que se colocariam perante o grupo como fiadoras das postulantes Durante aproximadamente um ano a aspirante Filha de Maria era observada pelo grupo e pelo diretor espiritual que ao final desse per odo probat rio aprovavam ou n o seu ingresso na congrega o As associadas da Pia Uni o reuniam se mensalmente quando discutiam juntamente com o diretor espiritual quest es relacionadas irmandade planejavam atividades e mostravam resultados das a es empreendidas Exemplos dessas a es eram as visita es feitas aos doentes da cidade quando presta
350. to conhecimento N o bastava o desejo de ajudar era necess rio saber como ajudar Saber escolher a melhor obra avaliar se estava de acordo com os preceitos morais enfim entrar num mundo de conhecimentos e regras que fugia das atividades cotidianas ligadas s planta es de algod o ao cultivo de carnaubais ou cria o de gado 185 Certamente por esta raz o a campanha em prol da forma o de uma biblioteca para as Filhas de Maria ficou restrita aqueles que tinham liga o com a Irmandade o que limitava bastante os colaboradores dessa empreitada Diante destas dificuldades as fontes d o ind cios de certa abertura que a biblioteca veio propiciar dentro da irmandade A dificuldade de ac mulo de obras piedosas para a leitura das associadas da Pia Uni o representou um espa o de manobra e de exerc cio de liberdade para as Filhas de Maria E nesse espa o a possibilidade de por meio de t ticas e ast cias forjar a marca dessas mulheres leitoras Sabe se pouco sobre as pr ticas e os h bitos de leitura dessas mulheres devido s limita es das fontes frente imagina o hist rica Entretanto poss vel supor que o espa o da biblioteca das Filhas de Maria se tornou um referencial de leitura para as jovens cat licas que visitavam o acervo com os olhos atentos aos dorsos das obras que figuravam em suas modestas estantes As obras que l encontravam certamente marcaram as experi ncias de leitura e de vida des
351. u diversos exemplos de caridade e obedi ncia Sua hist ria era ensinada contada e recontada s Filhas de Maria que deveriam aprender e seguir o exemplo da jovem m rtir Por isso o Hino de Santa Inez que contava sua hist ria de virtudes e mart rio era memorizado e cantado em sua gl ria pelas associadas da Pia Uni o Aos treze anos de idade J vencias ao tirano Que te arma embuste e engano Para conquistar te o amor Mas amante da pureza E de Jesus protegida N o deste a menos guarida Aos ard s do tentador Aos mentidos simulacros Recusaste o culto indigno e por isso o algoz maligno Co a nudez te injuriou Mas entre o esplendor e o brilho De uma aur ola celeste Divinal c ndida veste Os teus membros adornou Entre as chamas da fogueira que p ra te queimar se acende Te protege te defende Com seu manto um querubim E logo os fragoas se espalham 15 S bre as turbas violentas E sobre a pira te assentas Como em r seo jardim Como a flor que nas Campinas Desabrocha pura e bela Sem receiar da procela Os tuf es e vendavais Assim tu robusta e c ndida Entre os b rbaros tiranos Sem temor vences seus danos Arrostando os vis punhais Qual rochedo entre os marulhos Foste invicta Virgem forte Abra ando a pr pria morte Como um t lamo nupcial Qual pombinha sobre a terra Adejaste o v o sid reo Foi de luz um raio et reo Tua pureza virginal ll O exemplo de S
352. ual procedimento de classifica o e restri o A escrita do periodismo cat lico compreendia o cinema como o livro em a o que alcan ava o imagin rio e a fantasia femininos influenciando comportamentos e estimulando novos h bitos e atitudes O traje o penteado a pose sensual sa am dos livros para as telas do cinema e assim tornavam se alvo dos dispositivos do veto e da censura Os mecanismos da leitura e da escrita presentes no cotidiano da Pia Uni o das Filhas de Maria em sua dimens o acentuada de forma o dos pap is convencionais atribu dos s mulheres definiram no decorrer da pesquisa a observa o dos lugares de instru o e educa o no contexto limoeirense Nesse sentido abordou se o sistema escolar no munic pio que em fins da d cada de 1930 teve um avan o significativo com o advento de duas escolas o Grupo Escolar Pe Joaquim de Menezes e a Escola Normal Rural At ent o a cidade dispunha de escassas salas de aula quase todas particulares e que se limitavam a ensinar a ler escrever e contar Desde as primeiras turmas a Escola Normal de Limoeiro apresentou um percentual significativo de associadas da Pia Uni o O modelo de ensino proposto pela Escola Normal voltado ao magist rio e s prendas dom sticas se enquadra no processo feminiza o do magist rio como observa Guacira Lopes As fontes indicaram que a par desse processo em que as mulheres 38 Ver LOURO Guacira Lopes Mulhere
353. ualquer relato hist rico h vontade de saber afirma Michelle Perrot A vontade de saber o desejo de contar e de transgredir um mandamento do ap stolo Paulo Que a Mulher conserve seu sil ncio N o hoje N o essas mulheres Que se possa atrav s dessa pesquisa dar a conhecer a irmandade que elas faziam parte assumindo pap is diversos catequistas professoras leitoras atuando como protagonistas da hist ria PERROT Michelle As Mulheres e os sil ncios da Hist ria Tradu o Viviane Ribeiro Bauru Sp EDUSC 2005 p 14 10 CAP TULO 1 SIMPLES NA MAL CIA E PRUDENTES NAS BOAS OBRAS PIA UNI O DAS FILHAS DE MARIA exortamos calorosamente aos revmos P rocos que nos auxiliam no munus de apascentar as ovelhinhas de Cristo a que em suas par quias erijam estas fecundas sementeiras de virtude nas quais as donzelas se formam SIMPLES NA MAL CIA E PRUDENTES NAS BOAS OBRAS Manual da Pia Uni o das Filhas de Maria Nas primeiras d cadas do s culo XX era comum encontrar nas par quias das cidades brasileiras diversas associa es laicas de car ter devocional A Pia Uni o das Filhas de Maria era uma dessas associa es Partindo da devo o Virgem Maria muito popular entre os cat licos esses grupos assumiam fei es diversas nos contextos locais A Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro nas primeiras d cadas do s culo XX desempenhava papel de destaque na socieda
354. uando iam s missas vestidas de branco fita de cetim azul ao pesco o ocupando os bancos da frente da Igreja especialmente reservados para elas as jovens Filhas de Maria despertavam naquelas que as viam o desejo de devo o e de visibilidade social desfrutado por elas e evidenciado nos rituais religiosos Para al m dos conflitos e interesses pol ticos as Filhas de Maria lidavam com as normas e vigil ncia da irmandade Tidas como modelos de pureza perante a sociedade limoeirense essas jovens viviam s voltas com os 43 desejos e tenta es mundanas e as normas e preceitos morais estabelecidos pela Igreja Cat lica A norma que regia as Filhas de Maria era vigilante Na vigil ncia se baseava a garantia de bom funcionamento da Irmandade A Pia Uni o era exemplo de pureza por isso em seu corpo n o poderia haver m culas figuras desviantes que desmerecessem a imagem da associa o N o por acaso as orienta es em torno da vigil ncia de si e das outras eram constantes e a efic cia dessa teia variava de acordo com as ast cias e as posi es sociais daquelas que burlavam as regras Neste sentido o primeiro objeto de cuidado era a indument ria Das Filhas de Maria exigia se que se vestissem adequadamente o que significava n o deixar o corpo mostra Decotes transpar ncias vestidos curtos ou sem mangas eram reprov veis por isso as novas modas eram condenadas pelo discurso cat lico 1 3 1 A sedu o das novas
355. ue no romance hist rico s se pode aprender depois de alguns dias visto estar dilu do em multid o de paginas puramente imaginarias Leitor si quer saber alguma cousa busca livros s rios Os romances seja qual for o nome com que se enfeitem s servem para fazer perder o gosto pela leitura s lida e moral Em virtude do desaparecimento do acervo da Pia Uni o n o foi poss vel ter acesso direto s obras que as Filhas de Maria liam em sua biblioteca Neste sentido para prosseguir com a classifica o das obras quanto ao g nero liter rio buscou se em trabalhos historiogr ficos que tratavam de leituras piedosas e de romances refer ncias s obras do acervo mariano limoeirense Por outro lado a pesquisa em sebos e bibliotecas que permitiu a localiza o de alguns dos t tulos presentes na biblioteca da Pia Uni o e as resenhas e an ncios publicados no peri dico cat lico O Nordeste tamb m nortearam a classifica o das obras Em alguns casos o pr prio t tulo da obra permitiu sua classifica o embora se atente ao problema de determinar g neros a partir dos t tulos Robert Darnton lembra que os t tulos dizem muito sobre um conte do pelo menos em certos casos Ningu m tomaria Venus dans le cloitre ou La Religieuse em chemise por um brevi rio Tampouco 317 02 318 Entre eles podemos citar PAIVA Aparecida A Voz do veto Op cit CUNHA Maria Teresa Santos Armadilh
356. umbo entre outros difficil avaliar de facto a devasta o causada pela praga dos livros pornographicos E se elles a ninguem beneficiam entre a menoridade que recrutam seu maior numero de victimas Por isso de louvar se a orienta o das casas editoras que repellem as obras perigosas para a forma o moral offerecidas infancia e juventude E o caso da Cia Melhoramentos de S Paulo com sua Bibliotheca Infantil S rie de contos populares expungida de inconvenientes ao gosto simples e puro da inf ncia sem desagradar adolesc ncia obras mestras dos grandes A Gata Borralheira o Sargento Verde Ali Bab e os Quarenta Ladr es o Gato de Botas e o Soldadinho de Chumbo Se para o p blico infantil e masculino as leituras onde figuravam gangsters e comunistas eram representantes da m leitura para o feminino outros crit rios balizavam o julgamento A cr tica cat lica partia do pressuposto que as leituras de cunho mais s rio e pol tico tidas como masculinas n o despertavam interesse no p blico leitor feminino de cultura limitada Para esses cr ticos o interesse do p blico leitor feminino se dirigia ao romance ao conto e ao folhetim Por esta raz o os valores morais balizavam os limites entre o proibido e o permitido no campo das leituras Relegada aos bastidores e ao dom nio do privado a figura da mulher apontada como inapta s quest es p blicas e
357. uni es mensais da Pia Uni o de Limoeiro indicam que entre as fun es do diretor espiritual estava a prescri o de leituras s associadas Nas reuni es os exerc cios espirituais inclu am um variado conte do de prega o apoiado no Manual nos livros recomendados e na difus o dos peri dicos cat licos Era tamb m o momento em que o proselitismo em torno da leitura realizava a classifica o entre o bom e o mau livro Nesse ponto a pesquisa se apoiou em grande medida no discurso elaborado pelo jornal O Nordeste Os embates entre leituras recomendadas e leituras perniciosas ganharam espa o neste trabalho compreendendo os par metros morais que determinavam em ltima an lise o veto ou a recomenda o de uma obra Analisando as resenhas e artigos tornou se evidente o conte do classificat rio possibilitando compreender os crit rios que distinguiam a boa e a m leitura demonstrando como por vezes era t nue a fronteira entre uma obra edificante e uma obra dita perniciosa A historiografia que trata do veto e da censura na Igreja Cat lica demonstra as estrat gias de censurar livros e perseguir certos g neros liter rios presentes ao longo da hist ria No entanto no s culo XX essas estrat gias apresentam peculiaridades Devido amplia o do circuito editorial brasileiro a circula o do impresso experimentou um crescimento acentuado principalmente quando comparada ao s culo anterior Essa amplia o segundo
358. ura era estimulada descreviam as chagas a dor e o sofrimento A felicidade aparecia como algo sublime alcan ada depois do mart rio da purifica o dos sentidos do corpo ou da morte Os romances n o Eles ofereciam outras coisas mais agrad veis e m gicas Neles qualquer jovem at a mais simpl ria poderia se transformar durante sua leitura em personagem e viver as emo es trazidas pela narrativa A Igreja n o subestimava o potencial instrutivo da leitura por m estava atenta a outras formas de narrativas que n o a escrita Neste sentido 16 Brado de alerta Jornal O Nordeste Fortaleza 31 jan 1935 p 05 108 com o aumento das salas de cinema no Estado as aten es tamb m se voltaram para as possibilidades de instru o que os filmes traziam Visto como uma esp cie de escola o cinema passou a figurar no discurso do jornal cat lico como similar leitura tanto em seus benef cios como em seus danos 2 1 1 Cinema um livro que educa ou degenera O cinema uma realidade Neg la desconhecer lhe a for a formid vel uma ingenuidade s vezes quasi criminosa Como o livro o teatro ou qualquer das grandes conquistas do Homem pode servir para o Bem ou para o Mal Jornal O Nordeste O cinema a partir da d cada de 1930 passou a figurar e confundir se no discurso do jornal cat lico com as aprecia es acerca da leitura O cinema e a literatura eram constantemente apontados como simi
359. usadas de forma ostensiva em todos os rituais da Igreja 58 Maria Menas da Silva 70 anos Entrevista realizada em 08 01 2004 5 Ata de Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 05 de mar o de 1933 45 O vestido branco com mangas longas acompanhado de meias grossas e a cabe a coberta pela mantilha apontam para o qu o pecaminoso na vis o da Igreja era a simples vis o da pele Por isso n o s os padres em suas par quias mas os rg os da imprensa cat lica debatiam constantemente a indument ria feminina No Cear a discuss o prescritiva do traje feminino ficou principalmente a cargo do Jornal O Nordeste As modas cada vez mais ousadas e indecentes na vis o dos conservadores eram alvos de constantes debates no jornal cat lico bem como em outros jornais da capital cearense onde apareciam como respons veis por uma proje o negativa de mem ria para o historiador do futuro Que dir por exemplo o historiador futuro das mulheres deste s culo XX possu das da estranha mania de exhibir publicamente toda sua plastica das pernas at os hombros do seio aos bra os como nunca se viu em outras eras menos civilizadas A crise se tornou de tal forma aguda que os pr ncipes e outros maiores da Egreja se empenharam em por um paradeiro a falta de pudor de certas elegantes Assim o comprimento das saias os decotes dos vestidos as cal as compridas femininas ocupam constantemente as p ginas dos
360. vam aux lio espiritual e por vezes auxilio material como parte de suas pr ticas caritativas Mesmo sendo uma associa o com evidente controle clerical regida por normas de conduta espec ficas a Pia Uni o era um espa o de socializa o e convivialidade e para algumas as atividades da irmandade representavam um espa o de liberdade concedido pelos pais visto que ao tornarem se associadas podiam tomar parte em passeios e festividades organizados pelas Filhas de Maria As exig ncias e o zelo em rela o ao comportamento das As Filhas de Maria organizavam passeios pelas cidades da regi o visitando as associa es pias das cidades vizinhas Esses eventos eram momentos de lazer e sociabilidade muito apreciados pelas associadas da Pia Uni o associadas visavam afast las dos apelos mundanos no entanto ao contr rio das religiosas enclausuradas elas n o estavam isoladas do mundo e portanto eram alvos de suas influ ncias As normas da Pia Uni o combatiam as modas os bailes e as dan as como forma de afastar as associadas do pecado evitando assim comportamentos impr prios e posturas incompat veis com o modelo de recato A presen a nos bailes as dan as os vestidos transparentes decotados ou sem mangas os namoricos inconsequentes as leituras impr prias formavam um vasto ndice de veto e proibi es em suas vidas Estimuladas obedi ncia por vezes quebravam as regras prescritas o que acarret
361. ver o p blico leitor com o sofrimento e com a resigna o de Irene Valente durante toda a sua enfermidade que a levou morte A repercuss o da publica o foi sentida nas notas de leitores Ao l r o seu DIARIO a gente at parece Sentir que alma descrida a FE se robustece Tal foi a inspira o com que ella escreveu Esse livro immortal t o intimo t o seu Quando a dor a assaltava heroica ella dizia 194 Gemma Galgani Jornal O Nordeste Fortaleza 21 jul 1933 p 03 Di rio de uma alma piedosa Jornal O Nordeste Fortaleza 17 jul 1936 p 01 124 Bem dita seja a dor atroz que me escrucia Irene era exemplo de resigna o Enferma tratava de exortar a f oferecendo seu sofrimento f sico Deus numa atitude santa Dedicada s orienta es da Igreja fazia do cumprimento de suas obriga es de fiel cat lica objeto de suas preces por isso nas p ginas de seu di rio l se Oh Jesus Quanto s bom Como comprehendes bem os meus sentimentos Meu Jesus ajuda me a melhorar um pouco a fim de que no domingo eu possa ter a felicidade de ir commungar Os livros piedosos e de ora o exigiam leitura circunspecta Obras como O Pequeno Mission rio manual popular entre os cat licos cearenses com ora es e c nticos traziam ensinamentos morais e religiosos Levado por muitos missa na falta de um missal um exemplo do livro piedoso de leitura recomendada Entre seus ensin
362. vidas de personalidade independente de moral fr gil e por isso suscet veis m influ ncia as causas dos comportamentos impr prios eram quase sempre externas V rios eram os disseminadores da m influ ncia os bailes as modas o cinema a m imprensa as leituras de romances e revistas Essas ltimas combatidas com cuidado e aten o como inimigos silenciosos cujos efeitos n o podiam ser facilmente percebidos Leu nos O diretor espiritual depois um trecho de um livro sobre a Perfei o Espiritual concitando nos mais uma vez a entregarmo nos a leituras sans e espirituais ao em v s de romances perniciosos envenenadores das almas A ata da reuni o registra algumas passagens da fala do diretor da Pia Uni o Ap s ressaltar a import ncia da obedi ncia aos ditames da Igreja o sacerdote trata da leitura edificante em contraposi o aos males da leitura f til e desviante Finalizando o encontro do grupo o diretor comunica a exclus o de uma das associadas da Pia Uni o sem mencionar o motivo 22 MANGUEL Alberto Uma Hist ria da Leitura Op cit p 180 23 Ata de Reuni o Mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 05 de Novembro de 1933 p 05 Ve 06 F 146 Deu por exclu da da Associa o a associada Maria Andrade Costa anotando esse ato no livro de Registro Buscando o registro de Maria de Andrade Costa no livro da Irmandade encontra se anotado pela secret ria o motivo de sua exclus
363. vidual e funcionava como uma ferramenta de controle Al m de inspecionar cuidadosamente o zelo das associadas com o bouquet de flores de virtudes oferecido a Maria mensalmente o sacerdote inspecionava tamb m o comportamento das Filhas de Maria durante a missa Um exemplo disso era a comunh o obrigat ria a todas nos dias de reuni o da irmandade Para a Igreja Cat lica a comunh o uma demonstra o de pureza e aus ncia de pecados graves uma vez que n o deve comungar aquele que esteja em pecado sob pena de perdi o de sua alma Assim a associada que n o comungasse dava motivos ao diretor para que desconfiasse de seu procedimento fora da Igreja e deduzisse que cometera falta grave Durante a d cada de 1940 o formul rio ainda era utilizado na irmandade entretanto logo nos primeiros anos da d cada de 1930 as atas das reuni es mensais deixaram de contabilizar o bouquet de flores Maria Certamente o n mero cada vez maior de associadas dificultava a contagem mas seria apenas uma mudan a de prioridades sobre o que deveria ser registrado nas atas ou reflexo da inefic cia que este m todo de controle passava a apresentar 8 Ata da Reuni o mensal da Pia Uni o das Filhas de Maria de Limoeiro 03 de dezembro de 1927 60 Figura 02 Formul rio de Flores Maria interessante observar que o formul rio de Flores a Maria sofreu reformula es ao longo da d cada de 1930 sendo acrescentada

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