Esse ar pelo qual vocês lutaram tanto lembra-me a
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1. es para uso que o coloque sob a posi o mais f cil de ser lido e compreen dido pelo mais vasto p blico algo que sinto e lamento n o ter conse guido fazer Na medida em que avancei na leitura de Esse ar pelo qual voc s lutaram tanto penetrei em uma esp cie de funil de lembran as de sentimentos de inquieta es e por que n o dizer de medos que me levou do largo ao estreito do presente ao passado do leitor geral ao leitor particular Confesso que terminei lendo o livro apenas para mim e para ningu m mais Estranhamente me senti mais uma vez talvez a ltima sentado em torno de uma mesa contigo e outros tantos procurando te convencer e sobretudo me convencer que realizaste sens vel e multifacetada reporta gem fotogr fica desses ltimos anos j definitivamente encerrados com o terr vel naufr gio desse mundo j n o mais pr spero onde as cores se emba ciam e as luzes fenecem devido ao vendaval que nos amea a e nos engole se n o superarmos as contradi es que n o cess vamos de enfatizar Mario Maestri 12 Todos os textos deste volume ja foram publicados antes separadamente como artigos ou colunas dos jornais Opg o e ou Via Politica Alguns h mais de vinte anos Embora aqui estejam em sequ ncia cronoldgica nao se deve consider la rigorosamente A ordem de um ou outro pode ter sido alterada em fung o de outras determinac es Quanto a forma e algumas vezes at mesmo quanto ao con2. define e sente como semi irreal e m tica Ao contr rio com os p s atolados no presente declara sem d dos seus leitores a vit ria dos bandidos a morte da revolu o a metamorfose da arte em decora o o tac o da brutalidade do consumo esmagando qualquer forma de sensibilidade Anuncia sem pena o pr prio fim da hist ria engolida pelas del cias do mundo que ironicamente define como 11 pr spero nascido da reifica o plena das rela es humanas na produ o e no consumo do objeto mercadoria Descreve em forma obsessiva seja no coment rio despreocupado de cena de filme visto de passagem de romance lido de sucesso quotidiano maior ou menor vivido o eterno banquete em que o capital com sua fome pantagru lica devora os pr prios criadores de riqueza regurgitando os como simples pegas do maldito carrossel da atualidade que agora gira e gira sem parar com luzes e cores deslumbrantes sempre sobre o mesmo eixo em eterna imobilidade Os trabalhadores que acusamos consciente ou inconscientemente de nos terem abandonado ou talvez tra do ao n o cumprirem com a vocag o que anunci vamos prometeica O proletariado esse estranho personagem que j fecundou obsessivamente o imagin rio que foi nosso e que em Esse ar pelo qual voc s lutaram tanto n o citado sequer uma vez a n o ser travestido nas vestes pobres do cidad o e do consumidor Apresentar um livro delinear uma esp cie de manual de instru
3. pela aura de mist rio e ilus o que esconde suas entranhas p tridas Curiosamente a mesma Kate quem no in cio da terceira parte do filme afirma ter mais medo de Michael agora quando se tornou um big boss com neg cios e negociatas como qualquer outro que antes e diz preferi lo quando era um simples gangster Como pano de fundo das rea es de Kate h uma longa hist ria Certas formas genuinamente familiais seculares constitu das em regi es onde o tempo a fortuna e as leis s o contadas sem a presen a do Estado reguladas portanto pela legisla o da palavra oral e dos la os de sangue emigradas da quase que para outro planeta onde os fatos jur dicos formais se impuseram a ferro e fogo para a garantia da gera o e preserva o de for tunas em escalas fenomenais s o for adas a se situar nas bordas externas do sistema de acumula o dominante e a prosperar apenas a partir dali Aprisionadas na margem e carregando uma ancestral ideia de hono rabilidade despencando dessa beira para fora do modelo de prosperidade 1 E das leis n o escritas da fam lia em nome das quais Ant gona afronta os decretos do tio Creonte para dar sepultura a seu irm o nas palavras da psicanalista e historiadora Elizabeth Roudinesco no belo livreto Jacques Lacan passado e presente 21
4. Esse ar pelo qual voc s lutaram tanto lembra me a estranha obra de aranha embriagada que constr i entretanto poderosa teia de fios aparentemente desconexos envolvendo sua presa por todos os lados sem deixar lhe qualquer saida A mais de meia centena de cr nicas reunidas no presente volume teriam comegado a ser escritas ha uns vinte anos no contexto geral da queda do Muro de Berlim ano zero da nova civiliza o globali zada Nos filmes nas leituras nos quadros nos sucessos quotidianos que Halley seleciona e comenta com acidez ferina verdadeiramente singular registra a dolorosa perplexidade nao apenas da nossa pequena gerag o de entao diante do terrivel mundo novo que se construiu ante nossos olhos nesses ltimos trinta anos Em Esse ar pelo qual voc s lutaram tanto verdadeiramente surpreso voltei a reencontrar o jovem Halley que conheci nos anos 1980 e com ele as inquietac es e os sentimentos que compartilhamos no passado pratica mente em cada texto em cada cr nica em cada frase escrita sugerida ou silenciada Mesmo n o tendo visto boa parte dos filmes analisados nem lido a maior parte dos livros discutidos Passados j mais de trinta anos nos aproxima ainda o doloroso dilaceramento por n o se terem materiali zado os desejos e as esperangas que foram nossos Entretanto aqui Halley n o rel o vivido em forma saudosa ou prof tica a partir das esperan as de passado que se esfuma na imaterialidade de uma era que j
5. nte bons cumpridores da ordem constitucional vigente Aquela que a todos n s d ber o e guarida n o importa o pre o a ser pago ao final Uma curiosidade nas fotografias semelhantes citada em nenhuma delas aparece um nico manifestante discursando N o h tribuna nem rosto nem nome nem fala como se n o existisse um discurso um sentido no gesto retratado No entanto existe uma clara manifesta o e como essa tem havido v rias Sempre num evento de grandes executivos politi cos chefes de Estado banqueiros dirigentes de corpora es industriais com ramifica es extranacionais f runs de com rcio mundial encontros esportivos planet rios Os protestos aparentemente s o contra o modo de vida estabelecido que esses senhores e senhoras ainda poucas mas em n mero crescente representam e no qual seus interesses s o dominantes o modelo civilizat rio que como deuses constru ram pr pria imagem e semelhan a e contra a pol tica que o representa Mas neles parece n o existir uma pol tica Essa aus ncia revela o qu o profundamente aqueles manifestantes e n o apenas eles foram derrotados e o qu o profunda mente a mercadoria Deus se apossou da alma da cidade Basta por exemplo comparar essas fotografias com os registros das mani festa es que em maio de 1968 ocorreram em praticamente todos os conti nentes L estavam nos nomes e rostos e tribunas e discursos pol ticas que antagonizavam um mundo
6. te do foram bastante alterados revistos cortados ampliados etc O melhor portanto consider los como uma reconstrug o cujo prop sito compor ou deixar mais evidente uma uni dade de pensamento que se espera est desde a origem subjacente Por outro lado importante destacar que o autor n o tem a pretens o de emparelh los a qualquer outra coleg o de artigos e ou ensaios dispo nivel nas estantes das livrarias S o apenas um punhado de insights rabis cos rascunhos arranjados sob a forma de textos para jornais de opini o onde o que talvez mais chame a ateng o seja um radical desconforto com o grande consenso em torno do mundo submetido ao capital e forma mercadoria e sua incontestada vit ria pol tica sobre as alternativas at aqui vislumbradas Numa palavra sim o mundo pr spero venceu abso lutamente hegem nico mas o que nos resta lamentar H M 13 UMA FOTOGRAFIA Fotografia publicada no jornal mostra um manifestante atirando uma lata de lixo contra a barreira distante de policiais numa rua de Nice na Riviera Francesa Fotos como essa sempre encimadas por titulos que anunciam batalhas de rua e protestos contra o que os jornais chamam de globaliza c o t m sido constantes de alguns meses para c Se jornais existem certamente n o para revelarem o que quer que seja que n o breves esc ndalos do cotidiano do Estado e da economia Nada h de estranho que reproduzam o sentimento m dio da ci
7. tremendamente poderoso mas distante ainda do poder que alcan aria menos de tr s d cadas depois Porque n o avassa lava as almas e os desejos esse poder n o ocupava todo o campo pol tico Agora o que queremos n s que n o fazer uns pequenos acertos nesse capitalismo t o desleixadamente batizado de mundo globalizado e que nem mais interesses parece ter j que se tornou o mercado totalidade fantasm tica inatac vel invulner vel Que desejo teria restado que n o o do acesso de todos mercadoria sob a divina m scara do seu fascinante fetiche 16 Agora essas tao curiosas fotografias e essas manifestac es nos foruns dos donos deste novo mundo E nelas e nos titulos e subtitulos que as enci mam uma outra curiosidade os jornalistas talvez contaminados pela febre de liberalidade que lhes permite chamar especuladores de o mercado nao conseguiram ainda lhes impingir uma etiqueta mais palpavel que mani festantes algo mais perigoso e ameagador como comunistas que o comu nismo j foi enterrado anarquistas cujo fim vem de mais longe ainda terroristas j que quando muito carregam nas m os apenas pedras ou paus enfim quando j n o existe mais oposig o pol tica como marc los para que provoquem medo De mais a mais qual a necessidade disso Sob o espectro dos instant neos a insistente recorr ncia de que existe certo grau de parentesco entre essas manifestac es e o pat tico persona gem que durante anos atormento
8. u a m dia e a pol cia secreta americana popularizado como Unabomber no que ele ainda que apenas simbolica mente poderia ter de afirmativo um furioso e provavelmente tresloucado sentimento anticapitalista A loucura e a f ria sempre ridicularizadas pelos donos do poder n o s o resultado da aus ncia de um mundo plaus vel que seja tamb m dese j vel Ou inversamente um mundo apetec vel que seja ao mesmo tempo viavel Nichos onde se escondem os estilha os de um sentimento que n o consegue mais se fazer politica At quando Ser o eternamente apenas isto nichos do impossivel desejavel Porque na pol tica o maximo a esquerda que se concede agora inteira mente no campo do mercado e mesmo ferrenhos esquerdistas se veem for ados a se agarrar com unhas e dentes ao mais basal keynesianismo 17 FIDELIDADES DILACERADAS FILMES A M FIA DE COPPOLA O que primeiro me vem cabe a o desencantamento de Kate com Michael Um desencanto que cresce na exata medida em que ele deixa de lado a farda do ex rcito do seu pa s para combater nas fileiras da fam lia a M fia A mo a rica americana n o suporta a viol ncia nem a natureza da fortuna mafiosa Ela n o pode tolerar o apelo dos la os sangu neos na defi ni o do caminho do marido Kate nada tem contra a fortuna mas s con segue aceit la se gerada e embalada pelo puritanismo sob a legitimidade da tica religiosa e a legalidade do Estado embalada
9. vilizag o ao redor chafurdando na mesma mix rdia que alimenta os apetites toscos do gosto dominante Por isso n o se pode exigir deles que tentem des vendar o mundo para al m da sua superf cie rasa ou revelar o sentido dos fatos com os quais trabalham Se muitas vezes exibem essa pretens o um problema mais de ego que propriamente de fun o E h claro uma civiliza o que se tornou hegem nica n o apenas num ramo da ativi dade econ mica mas tamb m na pol tica em todas as poss veis pol ticas Os rep rteres ou as empresas que os empregam batizaram na de mundo globalizado as suas a es de globaliza o e aos seus agentes de mercado que assim dissimulados s o dissolvidos na n voa deixam de ser gente e agrupamento social espec fico para se tornar coisa intang vel o mercado ao inv s de por exemplo os mercadores ou mais simples ainda os donos do capital informag o bem mais precisa e de acordo com os manuais t c nicos das redag es que aqui naturalmente s o desprezados Nada h de muito novo nessas categorias exceto o pr prio r tulo al m claro do tamanho do seu poder sobre a vida no planeta O fato que n o se pode acusar aos profissionais da midia por n o desvendarem os segredos da civiliza o que os cerca ela apenas a civi liza o eles s o apenas bons profissionais assim como os policiais que formam a barreira frente do manifestante na foto s o tamb m eles t o 15 some
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