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Heron Lisboa de Oliveira

1. 243 1 INTRODU O Desde a d cada de 1990 para c tem se percebido atrav s de debates e produ es acad micas importante interesse e da as contribui es para os diferentes aspectos relativos identidade dos segmentos formadores da na o brasileira inseridas numa diversidade tnica e cultural S o grupos sociais representados por conjuntos de seres humanos que interagem de modo sistem tico entre si a valoriza o da diversidade cultural do povo brasileiro representada pela interculturalidade de maneira que nenhum dos grupos deva se encontrar acima de qualquer outro favorecendo assim a integra o e a conviv ncia das pessoas A interculturalidade permeia os dispositivos constitucionais dedicados prote o da cultura Est presente na Nova Carta de 1988 a obriga o do Estado em proteger as manifesta es das culturas populares ind genas e afro brasileiras e as de outros grupos participantes do processo civilizat rio nacional e dar aten o s quest es apresentadas por todos esses grupos No texto constitucional o conceito de patrim nio cultural consagra a ideia de que este abrange os bens culturais referenciadores dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira e particularmente como tema desta pesquisa no tombamento constitucional dos documentos e s tios detentores de reminisc ncias hist ricas dos antigos quilombos a valoriza o da rica sociodiversidade brasi
2. Ibid p 34 Cabe aqui reflex o sobre a compreens o da d diva como refor o a um la o social Ao nos ater s pesquisas realizadas por Mauss 1974 em reas determinadas Polin sia Melan sia e Noroeste norte americano sugere uma an lise cultural de sociedades ditas arcaicas onde essas d divas nominadas de sistemas de presta es totais por Mauss iam desde bens e riquezas ou coisas teis economicamente at amabilidades banquetes ritos servi os militares mulheres crian as dan as festas e feiras j referidas pressupondo estarem numa mesma horizontalidade de valores Ironicamente e n o t o distantes assim quero dizer atualizadas essas trocas obriga es est o na quase que sua totalidade representadas e negociadas na figura masculina chefes de fam lia de tribos e comandantes militares presumindo a figura da mulher crian as e incapazes estar num n vel secund rio nas decis es e ou cumprirem papel de mercadoria de troca Refor a se aqui a natureza dos espa os e obriga es imputados s mulheres crian as incapazes e por que n o s etnias inferiores relegada cultura do patriarcado Assim tamb m explicitada contemporaneamente mas pr tica secularizada o ritual do casamento onde o pai homem leva a filha at o altar e a entrega ao futuro marido homem como agora de sua responsabilidade como que refor ando la os sociais A circula
3. VENANCIO Renato P Ancestrais uma Introdu o Hist ria da frica Atl ntica Ouro Preto UFMG 2008 ZARUR George C L Repensando o Conceito de Matrifocalidade Cadernos de Antropologia n 14 Bras lia Universidade de Bras lia 1976 Dispon vel em http www georgezarur com br artigos 161 repensando o conceito de matrifocalidade Acesso em 6 de jun 2013 WOLF E Sociedades camponesas Rio de Janeiro Zahar 1976 WORTMANN Ellen F Herdeiros parentes e compadres colonos do sul e sitiantes do nordeste S o Paulo Hucitec Bras lia EdiUNB 1995 WOORTMANN Klaas WOORTMANN Ellen F Amor e celibato no universo campon s Campinas Nepo Unicamp 1990 Com parente n o se neguceia o campesinato como ordem moral Anu rio Antropol gico 87 Rio de Janeiro Ed Tempo Brasileiro 1988 ANEXOS A Decreto Presidencial 4 887 2003 Regulamenta o procedimento para identifica o reconhecimento delimita o demarca o e titula o das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art 68 do Ato das Disposi es Constitucionais Transit rias B Instru o Normativa n 20 2005 INCRA Regulamenta o procedimento para identifica o reconhecimento delimita o demarca o desintrus o titula o e registro das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que tratam o Art 68 do Ato das Disposi es Constitucionais Transit rias da
4. JOSSO Marie Cristine Experi ncias de vida e forma o S o Paulo Cortez 2004 LAKATOS Eva M MARCONI Marina de A Fundamentos de metodologia cient fica 3 ed S o Paulo Atlas 1991 LANDES Ruth A cidade das mulheres Rio de Janeiro UFRJ 2002 p 330 381 LEITE ILCA B O legado do testamento a Comunidade de Casca em per cia 2 ed Porto Alegre Editora da UFRGS Florian polis Nuer UFSC 2004 S rie comunidades tradicionais LEITE Matheus M G Luta por reconhecimento dos direitos fundamentais das comunidades remanescentes de quilombos IV Semin rio de Extens o Universit ria PUC Minas Serro MG 2009 L VI STRAUS C Introdu o obra de Marcel Mauss In MAUS M Sociologia e Antropologia S o Paulo EDUSP 1974 v 2 p 9 48 LOPES Dilmar Luiz Rodas de Conversa A educa o quilombola arte do falar saber fazer O Programa Brasil Quilombola em Restinga Seca RS Tese Doutorado em Educa o Programa de P s Gradua o em Educa o Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS Porto Alegre 2012 A trajet ria de estudantes negros velhos dilemas novos desafios In QUEVEDO J lio PY DUTRA Maria R Nas trilhas da negritude consci ncia e afirma o Porto Alegre Ed Martins Livreiro 2012 LUCCAS Luiz H Est ncias e Fazendas do Rio Grande do Sul arquitetura tradicional da pecu ria Disserta o Programa de P s Gradua o em Arquitetura Faculdade de Arqu
5. d diva troca e que se diferencia da troca mercantil na medida em que associa uma moral um valor tico transa o econ mica Ele usa precisamente a express o de moral da d diva troca De fato para Mauss nas d divas n o existe nem troca nem compra A d diva e a contrad diva redescobertas por Mauss pertencem a uma dial tica social e econ mica polarizada pelo prest gio e pela honra uma alus o a constru o social do mundo masculino Essa polaridade por si s pro be de reduzir o sistema d diva contrad diva a uma troca e reduzir o efeito de redobramento da d diva ao interesse do primeiro doador SABOURIN 2006 p 133 Ainda para Eric Sabourin 2006 nas palavras de Mauss qual a regra de direito e de interesse que nas sociedades de tipo atrasado ou arcaico faz que o presente recebido seja obrigatoriamente retribu do que for a existe na coisa dada que faz que o donat rio a retribua 2003 p 188 Mauss chega a uma conclus o mestra as d divas v o e voltam sempre s o rec procas e necessariamente devolvidas ou retribu das Mas a obriga o de retribuir parece desmentir a gratuidade das d divas Ela seria apenas aparente ocultando uma troca interessada Temple amp Chabal 1995 p 73 apud SABOURIN 2006 p 135 ao comentarem a reciprocidade da d diva enfatizam pouco importa seu valor pouco importa sua natureza podem ser id nticas ou n o o importante que recorram
6. e Observa es de atividades realizadas em grupo na sede da associa o participa o do grupo em palestras cursos oficinas e nos movimentos reivindicat rios e Aplica o de question rios e Conversas individuais registradas e entrevistas coletivas e Filmagens grava o de udio e uso de fotografias Durante todo o per odo da pesquisa voc tem o direito de tirar qualquer d vida ou pedir qualquer outro esclarecimento bastando para isso entrar em contato com o respons vel pelo estudo Heron Lisboa de Oliveira Voc tem garantido o seu direito de n o aceitar participar ou de retirar sua permiss o a qualquer momento sem nenhum tipo de preju zo ou retalia o pela sua decis o voluntariedade As informa es desta pesquisa ser o confidenciais e ser o divulgadas apenas em eventos ou publica es cient ficas n o havendo identifica o dos as volunt rios as sendo assegurado o sigilo sobre sua participa o confidencialidade Autoriza o Eu ap s a leitura deste documento e ter tido a oportunidade de conversar com o pesquisador respons vel para esclarecer todas as minhas d vidas acredito estar suficientemente informado a ficando claro para mim que minha participa o volunt ria e que posso retirar este consentimento a qualquer momento sem penalidades ou perda de qualquer benef cio Estou ciente tamb m dos objetivos da pesquisa dos procedimentos aos quais serei submetido a e da garan
7. m tua consolo ato de ensinar e s demais formas de expressar uma amizade 105 emocional a qual se caracteriza pela forte troca afetiva entre os membros al m de trocas materiais comuns na sociedade fechada Nas comunidades rurais brasileiras mesmo distante um morador do outro a reciprocidade nas rela es de vizinhan a ocorre na forma de compadrio onde um vizinho apadrinha o filho do outro e essa trama vai se materializando na forma de amizade presentes oferendas de festas ou troca de servi os Entretanto nessas rela es tamb m ocorre a amizade institucional ou instrumental como aquela que se caracteriza pela possibilidade do indiv duo ascender socialmente atrav s das trocas de recursos materiais e apoios Por sua vez numa situa o de assimetria desigualdade e desequil brio entre os membros o clientelismo pode se tornar uma amizade de patrono cliente geralmente mais comum nos grupos abertos 3 5 D diva e Reciprocidade Cultivadas em Arvinha e Morma a Dentre os diversos encontros de que participamos com os moradores de Arvinha e Morma a no desenvolvimento desta pesquisa um deles mostrou se mais descontra do e democr tico talvez por que outros j haviam ocorrido j est vamos mais conhecidos ou naquela apresenta o como pesquisador as coisas n o flu ssem com tanta naturalidade s vezes fic vamos mais restritos s lideran as ou aos moradores mais antigos Por m me parece que nenhuma d
8. o os diversos graus de parentesco Por outro lado h um profundo respeito e considera o de seus pares ao aben oar essas uni es Os matrim nios indiretamente v o propor a indivisibilidade daquele 213 territ rio as reas apenas se redistribuem n o havendo perdas de espa os ocorre uma nova configura o em seus desenhos J na comunidade Morma a a indivisibilidade da terra como forma de manuten o daqueles territ rios tem sido experimentada a partir de uni es conjugais dentro do pr prio grupo podendo ainda estar ligados por linhas de parentesco ou ainda por rela es pr ximas de compadrio e por uni es com pessoas de fora do grupo neste caso que venham a congregar os mesmos valores Essas rela es que remetem ao per odo escravista facilitaram a forma o de um espa o comum pr tica percebida entre seus moradores Uma cont nua uni o conjugal entre os membros do grupo ao longo dos anos e no desenrolar das gera es conecta a localidade a um nome de fam lia A comunidade estabelecida acabou por criar uma localidade Como fora constitu da pela matriarca Francisca Vieira a Chica Morma a foi denominada at os anos 1999 mais ou menos Vila Morma a e ap s Comunidade Quilombola da Morma a Atualmente h uma preocupa o com a integridade do territ rio o que inclui tanto o espa o f sico como tamb m a rea de uso comum dos recursos naturais que desde os iniciais de 1970 viram esses e
9. Figura 11 Territ rio multifacetado O homem e o menino duas gera es restevando palha de trigo em espa o outrora quilombola Morma a 92 Figura 12 Ambiente natural alterado planta o do ex tico eucalipto em territ rio de amanho quilombola ANINHA sussa asa asas og srs alo 93 Figura 13 Cercamentos impedindo acesso a espa os comuns 97 Figura 14 Dona Teresa ao p do fogo quando trazia lembran as dos puxir es 108 Figura 15 Reciprocidade assim trica agricultor prestando servi o ao morador quilimbolama moagem de Grads ssa ass sa a ss 115 Figura 16 Fam lia na Morma a descendente de Francisca Vieira 119 Figura 17 Uni o matrimonial expressando linhas de parentesco proximal 122 Figura 18 Netas da escrava matriarca Cezarina Jurema No mia Zulmira e Maria filhas de Silvana de Miranda Anivers rio de Zulmira em 2013 86 anos 139 Figura 19 Propriedade do casal parentesco determinando territ rio na Arvinha 142 Figura 20 N cleo de moradores descendentes do tronco Quirino de Miranda na POA EA san tr de E ie So a a E US a 144 Figura 21 Casal morador na Morma a e sua descend ncia 146 Figura 22 Jovens trabalhadores dando a impress o de que estavam a devolver d diva que anteriormente haviam recebido
10. es relativas ao patrim nio cultural material e imaterial contidos no Relat rio T cnico de Identifica o e Delimita o territorial para as provid ncias de destaque e tombamento Art 30 A Superintend ncia Nacional de Desenvolvimento Agr rio manter o MDA a SEPPIR e a Funda o Cultural Palmares informados do andamento dos processos de regulariza o das terras de Remanescentes de Quilombos ROLF HACKBART 243 ANEXO C Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Eu Heron Lisboa de Oliveira aluno do curso de Doutorado do Programa de P s Gradua o em Educa o Unisinos respons vel pela pesquisa TERRIT RIO QUILOMBOLA Engendramentos para manuten o e amplia o em Arvinha e Morma a orientada pela Professora Doutora Edla Eggert estou fazendo um convite para voc participar como volunt rio a deste estudo Esta pesquisa tem como pano de fundo o territ rio quilombola A partir da os engendramentos ora isolados ora articulados buscando a manuten o e amplia o daqueles espa os atrav s do cultivo dos princ pios de d diva e reciprocidade dos processos educativos n o escolarizados passados as gera es e nas rela es de parentesco e compadrio em comunidades de remanescentes quilombolas s o fonte dos nossos estudos Esse tema se insere no contexto do lugar em que o doutorando atua como docente no Instituto Federal de Educa o Ci ncia e Tecnologia IFRS Campus As comunidades em
11. nica Um dos programas p blicos para atendimento as comunidades de remanescentes quilombolas o Programa Brasil Quilombola PBQ criado em mar o de 2004 com o objetivo de consolidar os marcos da pol tica de Estado para as reas quilombolas Dentro da amplitude do programa foi criada a Agenda Social Quilombola Decreto 6 261 2007 onde as a es est o organizadas em quatro 80 Como seu desdobramento do PBQ foi institu da a Agenda Social Quilombola Decreto 6 261 2007 que agrupa as a es voltadas s comunidades em v rias reas conforme segue 160 eixos O eixo 1 Acesso a Terra n o mais importante que os demais mas para as comunidades negras remanescentes de quilombos tem se constitu do uma hist ria de luta e de resist ncia na manuten o de sua identidade como grupo o reconhecimento do territ rio imperativo Neste cen rio a conquista e manuten o desses territ rios juntado ao patrim nio material e imaterial do lugar indissoci veis desde sempre e agora n o menos t m se constitu do pelas estrat gias de processos educativos conformados pelos moradores de Arvinha e Morma a Giv nia Maria da Silva 2006 2012 observa que as constru es e aprendizagens dessas comunidades se materializaram atrav s de um tecido social e de uma hist ria de luta e saber popular resist ncia e cultura Tamb m n o h como pensar a educa o na comunidade descolada de uma estrat gia de sobreviv ncia da c
12. o e Delimita o ser realizada nova publica o na forma do artigo 11 desta Instru o Art 15 Realizado o julgamento a que refere o artigo 14 o Comit de Decis o Regional CDR aprovar em definitivo o Relat rio T cnico de Identifica o e Delimita o do territ rio e o submeter Presid ncia do INCRA para publica o de portaria reconhecendo e declarando os limites do territ rio quilombola Par grafo nico A portaria do presidente do INCRA ser publicada no Di rio Oficial da Uni o e da unidade federativa onde se localiza a rea e trar o memorial descritivo do per metro do territ rio AN LISE DA SITUA O FUNDI RIA DOS TERRIT RIOS PLEITEADOS Art 16 Incidindo os territ rios reconhecidos e declarados sobre unidades de conserva o constitu das reas de seguran a nacional e reas de faixa de fronteira a Superintend ncia Regional dever adotar as medidas cab veis visando garantir a sustentabilidade dessas comunidades ouvidos conforme o caso o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente IBAMA ou a Secretaria Executiva do Conselho de Defesa Nacional Art 17 Se os territ rios reconhecidos e declarados incidirem sobre terrenos de marinha a Superintend ncia encaminhar o processo a SPU para a emiss o de t tulo em benef cio das comunidades quilombolas Art 18 Constatada a incid ncia nos territ rios reconhecidos e declarados de posse particular sobre reas de dom nio da Uni o a Superinten
13. o n o formal Inicialmente numa trajet ria educacional de 53 anos da institui o e minha como servidor p blico h 26 anos necessitar amos fazer uma pesquisa nos registros escolares que pudessem informar pr ticas de uma educa o n o formal que tivessem levado em considera o as comunidades locais Na minha lembran a n o desejo cometer injusti a nfimos os momentos apenas em projetos pontuais de algum professor ou atividade de extens o at porque nessas escolas t cnicas salvo raras exce es sempre se valorou e prevaleceu o conhecimento cient fico aquele recebido numa escola escrito nos livros e testemunhado por um professor O conhecimento constru do a partir da observa o dos fen menos e comprovados pela experi ncia emp rica transmitidos e reinventados pelas gera es n o teria valor maior por isso desconsiderado At porque ainda h certa confus o na utiliza o dos termos tecnol gico tecnologia a tecnologia para muitos d uma ideia de avan o desenvolvimento o que vai depender da tica individual que temos sobre avan o desenvolvimento Dessa forma sedimentou o conceito de que para avan ar seria necess rio ter a tecnologia mais moderna e que ela estava presente na escola nos escritos nos professores somente Ent o nessa escola fomos educados provindo assim o questionamento como podemos visualizar a outra realidade as outras tecnologias o valor em outras
14. o sistem tica de escravos para a explora o na atividade produtiva O come o da produ o industrial de charque no Rio Grande do Sul deve se s secas do final do s culo XVIII no Nordeste que at ent o era o produtor da carne seca Desse modo o Rio Grande do Sul o substituir como novo mercado produtor O ciclo da charqueada inaugurou a definitiva estrutura o do escravismo como modo social de produ o dominante de uma ampla regi o do territ rio ga cho A introdu o do charque uma atividade que se desenvolveu no Rio Grande do Sul mas multiplicou riquezas por todo o pa s e foi essencial na poca do chamado Ciclo do Ouro quando era a base da alimenta o dos que trabalhavam 39 nas Minas Gerais est ligada n o a um ga cho mas a um cearense Jos Pinto Martins Foi ele que constituiu em Pelotas em 1780 a primeira charqueada do munic pio Seriam as charqueadas que depois desse momento se transformariam na base da economia local e do pr prio estado por muito tempo O charque era amplamente utilizado na alimenta o de escravos e das camadas mais pobres da popula o das cidades brasileiras E Pelotas em pouco tempo se transformou em um centro exportador do produto para o pa s As consequ ncias e determina o que isso trar para a nossa hist ria n o foram ainda nem mesmo delineadas Por mais de cem anos a classe economicamente mais din mica viver da explora o direta do trabalho escrav
15. onde para o autor haveria padr es integrados de atitudes dominantes entre os diversos grupos sociais camponeses Entre estas atitudes estaria a supremacia dos valores morais religiosos e simb licos sobre os econ micos no entorno da agricultura a rever ncia perante a terra que se afirma como valor junto ao trabalho familiar a transmiss o dos saberes s novas gera es em especial no tocante reprodu o da exist ncia Parece nos poder amos nos associar a essa corrente considerando a percep o que temos tido in loco acerca da vis o que esses moradores constru ram a respeito da valora o de seus espa os da forma de intera o da materialidade e imaterialidade dessa natureza e a defesa com que fazem no sentido de sobreviv ncia e reprodu o do grupo Klaas Wortmann 1988 ao falar sobre a campesinidade evoca determinadas qualidades presentes em suas pr ticas cotidianas em maior ou menor grau que os difere de outros grupos se n o totalmente em parte delas Faz se ent o necess rio considerar que a afirma o da campesinidade se d por meio da elabora o de estrat gias que estabelecem o jogo com a sociedade da mercadoria Sua concretude ser constru da com nuances e diferen as oriundas desta rela o Para o autor na constru o da campesinidade algumas categorias culturais seriam comuns e inter relacionadas como terra fam lia trabalho e liberdade definidoras de uma ordem moral presente nas socieda
16. 1974 discutindo a d diva presente em Mauss n o s como princ pio de reciprocidade mas sim um princ pio de troca sim trica Alain Caill 1998 quando discute a n o gratuidade da d diva entre outros as que se relacionam ao tema Nesse momento como elementos para a an lise buscamos 83 problematizar essas a es no grupo familiar e individualmente atrav s da observa o participante utilizando entrevistas e suas narrativas 3 1 Territ rio A Configura o Como Espa o de Sobreviv ncia O conceito de que territ rio se refere a um espa o qualquer geralmente marcado e defendido espa o de sobreviv ncia de um grupo ou pessoa j de h muito vem se ampliando na possibilidade de abarcar uma s rie de ocorr ncias que se d o em seu interior O termo origin rio do latim territorium termo derivado de terra figurava nos tratados de agrimensura significando peda o de terra apropriada Um espa o delimitado e constitu do por rela es de poder foi utilizado na ci ncia geogr fica remetendo o seu significado ao territ rio nacional Essa associa o com o Estado nacional foi de f cil identifica o Isto porque a ideia de Estado esteve sempre associada a um determinado territ rio onde poder e povo exerciam sua soberania Esta forma de ver o territ rio predominou na Geografia por muito tempo contudo a maneira de enfoc lo foi se modificando Discutem se situa es de territ rio constru do e d
17. CRQ foram reconhecidas at 25 de outubro de 2013 noventa e quatro comunidades quilombolas no Estado Rio Grande do Sul e expedidas as certid es de reconhecimento Dispon vel em http www palmares gov br page id 88 Acesso em 1 ago 2014 A Comunidade da Morma a foi reconhecida em 2004 e da Arvinha em 2006 2A Funda o Cultural Palmares constitui pessoa jur dica de direito p blico sob a esp cie jur dica de funda o p blica federal vinculada ao Minist rio de Estado da Cultura cuja autoriza o de cria o foi estabelecida pelo art 1 da Lei Federal n 7 668 88 e a cria o pelo Decreto n 418 92 que aprovou seu Estatuto A Funda o 20 Desde 2008 temos desenvolvido trabalhos com a Comunidade de Remanescentes Quilombolas da Morma a no munic pio de Sert o o que hoje tem facilitado os contatos com seus moradores fig 01 Figura 1 Primeiros contatos Comunidade Morma a mulheres l deres da Associa o dos Remanescentes e grupo de pesquisa jun 2008 Fonte Arquivo da pesquisa 2008 Naquela poca uma preocupa o maior era de que na Escola T cnica n o tinhamos estudantes negros e nenhum oriundo das Comunidades quilombolas da Morma a e da Arvinha t o pr ximas geograficamente e praticamente desconhecidas como grupo tnico Nosso trabalho foi aproximar a institui o comunidade Morma a atrav s de dois projetos iniciais Um desses trabalhos de extens o foi relacionado apren
18. EGGERT 2011 p 36 Voltando s discuss es de assimetrias numa outra atividade agora nas lavouras o trabalho ao relento por m sem utiliza o de nenhum equipamento Ainda para o enriquecimento da discuss o a pesquisadora Prof 2 Dra Edla Eggert 2010 juntamente com a bolsista Sabrina Forati Linhar UNIBIC UNISINOS e um grupo de mulheres artes s de um atelier de tecelagem no munic pio de Alvorada desenvolveu pesquisa atrav s de uma oficina de estudos no in cio do ano de 2010 com tema Fios tramas saberes artesanato o trabalho invisibilizado e prec rio de mulheres em um atelier de tecelagem Entre os objetivos buscaram identificar o que e como as tecel s compreendem o que produzem e a partir disso analisar a percep o do trabalho que realizam como arte t cnica e conhecimento Ainda relacionar a experi ncia de tecer com a experi ncia dos conhecimentos invisibilizados das mulheres ao longo da hist ria Como resultados entre outros na leitura de textos sobre a condi o das mulheres na m ltipla jornada de trabalho levou as a analisar melhor as reprodu es naturalizadas que vivenciamos em nossa sociedade as tecel s por sua vez visibilizaram seus conhecimentos de um outro lugar ou seja no ato de ensinar perceberam que descreviam com precis o o que fazem produzem e sabem E ainda n o menos importante no trabalho das transcri es que realizaram foi poss vel observar como por meio de algumas
19. Enfocamos neste cap tulo as Comunidades Remanescentes dos Quilombos de Arvinha e Morma a a partir de sua hist ria constru o comunit ria historiciza o de suas rela es e o autorreconhecimento como grupo tnico quilombola condi o e premissa para a declara o de comunidade remanescente de quilombo e do pertencimento quele grupo o eu pertencer Estabelecemos reflex es sobre a condu o e destinos destas comunidades a partir de uma cultura de lideran a matrifocal pr tica que tem continuidade desde os prim rdios da instala o de Arvinha e Morma a pela a o prec pua das escravas Cezarina de Miranda e Francisca Vieira e provavelmente por outros negros fugidos e libertos Note se que a matrifocalidade e a matrilinearidade tamb m s o dispositivos percebidos em outras comunidades quilombolas Ainda no mesmo cap tulo discutiremos o processo de reconhecimento o est gio atual e quais engendramentos que se desenham para sua total autonomia e a representa o comunit ria atrav s das associa es de moradores remanescentes 2 1 O Negro e a Negra no RS a hist ria esquecida Naquela amarga condi o de vida talvez lhes restasse como nica sa da o suic dio Iniciamos o texto com a frase acima para assinalar que este triste fim a qualquer ser humano fez parte da vida de muitos negros escravos no Brasil e no Rio Grande do Sul O suic dio se dava em n mero de ocorr ncias duas a tr s vezes 36 su
20. MAUSS 1974 p 236 Ningu m d algo sem motivo por isso ocorre reciprocidade pois a d diva n o desinteressada mas motivada pelo interesse com o outro e pelo reconhecimento dele A reciprocidade n o uma troca como o interc mbio pois a opera o de interc mbio corresponde a uma permuta o de objetos enquanto a estrutura de reciprocidade constitui uma rela o revers vel entre sujeitos SABOURIN 2006 p 137 A troca ainda utiliza esses primeiros valores humanos para se poupar da viol ncia Trata se de uma rela o de interesses mas que sup e uma reciprocidade m nima A raz o aconselha a estabelecer a competi o de interesses forjada na confian a na paz e na compreens o m tua produzidas pelas rela es de reciprocidade Dessa forma poss vel entender que se possa muito facilmente confundir a troca com uma forma de reciprocidade sim trica Mas em realidade ela inverte o movimento da reciprocidade porque em vez de se preocupar com o outro procura em primeiro lugar a satisfa o do pr prio interesse Assim tem se que reciprocidade n o um ato humano pr existente dado Ela constru da no processo de rela o social seja em comunidades abertas ou fechadas A reciprocidade prov m da amizade das rela es de parentesco e do compadrio De acordo com Luciana Silveira 2010 sua demonstra o material pode estar representada pela troca de presentes presta o de servi os ajuda
21. O objetivo da demarca o do territ rio quilombola assegurar a posse da terra como meio de produ o fundamental um lugar de vida e trabalho capaz de guardar a mem ria da fam lia e de reproduzi la para as gera es posteriores WANDERLEY 1999 44 No entanto necess rio assinalar que em rela o ao territ rio de origem a demarca o do territ rio atual sempre vai significar uma de limita o Em tempos pret ritos onde a terra era a rola este campesinato negro se reproduzia em seu Grifos da Autora 68 modo de vida intrinsecamente vinculado din mica natural do meio e fertilidade natural do solo sendo relativamente favorecido pela disponibilidade de terras FERREIRA 2006 p 79 Os primeiros mapeamentos sobre a exist ncia de territ rios negros na regi o Sul do Brasil s o produzidos a partir de 1996 quando a Universidade Federal de Santa Catarina atrav s do N cleo de Estudos sobre Identidade e Rela es Inter tnicas UFSC NUER identifica em torno de 120 comunidades remanescentes Esses estudos s o encaminhados para a Secretaria Estadual do Trabalho Cidadania e Assist ncia Social do Estado do Rio Grande do Sul STCAS no ano de 2000 Mobilizados militantes do Movimento Negro em Porto Alegre se sensibilizam com as lutas das comunidades negras rurais fazendo com que o tema fa a parte da agenda pol tica e dos debates estaduais e nacionais A a o desses movimentos e a predisposi o do
22. Pesquisa Participante 3 reimp 8 ed S o Paulo Brasiliense 2006 224 FERNANDES Florestan A integra o do negro na sociedade de classes estudo das rela es raciais no Brasil tese para c tedra USP S o Paulo 1964 p 150 185 FERREIRA Simone Raquel Batista Campesinidade e Territ rio Quilombola no Norte do Esp rito Santo Revista GEOgrafia ano VIII n 16 2006 Dispon vel em http www uff br geographia ojs index php geographia article viewFile 204 196 Acesso em 17 fev 2014 FRAN A FILHO Genauto Carvalho de A for a cr tica de uma concep o maussiana da d diva artigo PPG em Administra o UFBA Salvador 2009 Dispon vel em http nww anpocs org portal index php option com docman amp task doc view amp gid 4631 amp Ite mid 356 Acesso em 6 agosto 2013 FREIRE Paulo Pedagogia da esperan a um reencontro com a pedagogia do oprimido 7ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2000 Pedagogia do Oprimido Rio de Janeiro Paz e Terra 2005 42 edi o GALLERT Claudia Pedagogia do MST e transforma o social 2 Semin rio Nacional Estado e Pol ticas Sociais no Brasil anais UNIOESTE Cascavel 2005 GARCIA Graciela Bonassa Terra trabalho e propriedade A estrutura agr ria da campanha rio grandense 1870 1890 Tese Doutorado em Hist ria Programa de P s Gradua o em Hist ria Universidade Federal Fluminense UFF Niter i RS 2010 GODBOUT Jacques em colabora
23. Programa de P s Gradua o em Educa o Universidade Federal do Mato Grosso Cuiab 2004 Dispon vel em http www bdae org br dspace handle 123456789 510 Acesso em 11 nov 2013 SILVEIRA Luciana Concei o Lemos da Rela es de reciprocidade quilombola Peixoto dos Botinhas e Cant o das Lombas munic pio de Viam o RS Disserta o Mestrado em Desenvolvimento Rural Programa de P s Gradua o em Desenvolvimento Rural FCE UFRGS Porto Alegre 2010 SERRANO Carlos Mem ria D frica a tem tica africana em sala de aula S o Paulo Cortez 2007 p 115 146 SOMMER Michelle F Territorialidade negra urbana A morfologia s cio espacial dos territ rios negros urbanos segundo a heran a hist rica comum Disserta o Mestrado em Planejamento Urbano Regional PROPUR Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS Porto Alegre 2005 STRECK Danilo R WEYH C nio B orgs Educa o e desenvolvimento regional estudos na regi o das miss es S o Leopoldo Oikos Santo Angelo EdiURI 2009 Pesquisa pronunciar o mundo notas sobre m todo e metodologia In BRANDAO Carlos amp STRECK Danilo R Org Pesquisa participante o saber da partilha Aparecida SP Id ias e Letras 2006 Por uma pedagogia da participa o In SOBOTTKA Emil STRECK Danilo EGGERT Edla Orgs Dizer a sua palavra educa o cidad pesquisa participante or amento p blico Pelotas Seiva v 1 p 85 114
24. anais Universidade de Caxias do Sul RS Caxias do Sul 2012 RUBERT Rosane A Comunidades Negras Rurais do RS um levantamento socioantropol gico preliminar Porto Alegre RS Rural Bras lia IICA 2005 227 RUBERT Rosane A et al Comunidades Negras Rurais do RS o tr nsito rumo auto identifica o como quilombola Porto Alegre RS Rural 2008 RUCKERT Aldomar Arnaldo et al Laudo hist rico territorial sobre a comunidade rural negra remanescente de Quilombo da Arvinha S 1 INCRA 2002 SABOURIN Eric Marcel Mauss da d diva quest o da reciprocidade In Revista Brasileira de Ci ncias Sociais vol 23 n 66 p 131 138 fevereiro 2008 Dispon vel em http nww scielo br pdf rbcsoc v23n66 08 pdf Acesso em 5 agosto 2013 SAQUET Marcos A Abordagens e Concep es de Territ rio S o Paulo Express o Popular 2007 p 120 139 SANTOS Boaventura de S Una izquierda con futuro In GARAVITO C sar R BARRETT Patrick e CHAVEZ Daniel orgs La nueva izquierda en Am rica Latina p 435 456 Bogot Norma 2005 Dispon vel em http repository urosario edu co bitstream handle 10336 4052 882180502012 pdf jsessionid E4F1E258015A16978EF8D1C374F41379 sequence 1 Acesso em 9 jan 2013 SANTOS Gislene Aparecida dos A inven o do ser negro Um percurso das ideias que naturalizaram a inferioridade dos negros S o Paulo EDUC FAPESP PALLAS 2002 Parte Il Inventando o negro brasileiro p 65 167 Disp
25. caminhos inversos ou sim tricos que elas se reproduzam como num espelho e esta reflex o o motor oculto dos seus movimentos inclusive quando s o aparentemente livres e gratuitas A devolu o da d diva explicada pela for a presente na coisa dada pelo la o espiritual ao qual na falta de um termo equivalente nos pa ses ocidentais Mauss d o nome de mana ou que reconhece tamb m no hau dos Maori 104 Para Temple amp Chabal 1995 Mauss reuniu as principais pe as de uma teoria da reciprocidade a d diva a obriga o de retribuir o prest gio e a presen a do terceiro esse elemento era a nica obscuridade da teoria ind gena Mauss convence se da ideia de que o ciclo das d divas leva obriga o de retribuir No entanto essa obriga o sup e uma estrutura fundamental de simetria entre as d divas ou necessita que se recorra a um terceiro elemento seja eles uma pessoa ou um s mbolo SABOURIN 2006 p 136 Mauss diferencia assim a reciprocidade direta presta es materiais ou simb licas devolvidas entre dois indiv duos ou dois grupos de reciprocidade indireta quando os bens simb licos recebidos n o s o devolvidos a quem os deu mas a outro grupo que por sua vez ter que devolv lo a um outro grupo O modelo dessa reciprocidade indireta precisamente aquele da circula o dos bens entre as gera es aquilo que seu pai fez para voc que voc pode devolver ao seu filho
26. es do pa s essa divis o social e sexual do trabalho desprovida de uma fronteira n o havendo uma limita o sexual de tarefas Podemos observar e ouvir descri es de homens que s o cozinheiros e respons veis pela organiza o dom stica enquanto mulheres desenvolvem os trabalhos externos como plantios capinas colheitas cria o e cuidados com o gado e porcos e a ordenha das vacas Ou seja n o h uma divis o r gida entre os afazeres e sim uma responsabilidade na execu o daquelas 124 atividades inerentes realidade daquele grupo familiar ou do grupo ampliado Os puxir es mutir es servem como exemplos pr ticos A campesinidade est ent o no sentido de caracterizar internamente este grupo social como sujeito criando sua pr pria exist ncia cujo trabalho na terra destinado primeiramente satisfa o das necessidades da fam lia e reprodu o de sua vida Na comunidade da Morma a ainda se cultiva padr es tradicionais presentes nas pesquisas de Galeski 1975 como o uso de terras e pastagens comunais pastoreio em comum e grupos de trabalho associados a la os de fam lia e de amizade como os trabalhos em puxir o e ainda em torno de meios de produ o comum WOORTMANN E 1995 p 33 A import ncia social do campesinato na hist ria agr ria brasileira teve pouco reconhecimento muito embora fosse ele tamb m respons vel pela produ o de alimentos para o mercado interno Ao contr r
27. es estas que se basearam no modo de relacionarem se entre si pelos princ pios da d diva e reciprocidade e constitu ram pr tica que possibilitou coes o entre os seus membros por meio da uma travessia iniciada no ajuntamento de pessoas criando aglomera es e posteriormente a forma o de uma comunidade S o processos educativos que as comunidades t m experenciado em suas trajet rias e tidos como mais significativos queles exercitados nos seus cotidianos no conv vio da casa com parentes pr ximos com a vizinhan a e num grupo maior a comunidade Trata se portanto de processos educativos de ensinar e aprender n o escolarizados que perpassam toda a hist ria pessoal dos sujeitos aliadas ainda s rela es de parentesco de compadrio e de amizade simbolizadas nas uni es matrimoniais que cultivados fizeram com que se mantivessem esses espa os e n o se retrocedesse na luta pela amplia o a originalidade das reas Palavras chave Educa o Comunidade Quilombola Territ rio Territorialidade ABSTRACT The present thesis analyses the education process of two communities of remaining quilombolas Arvinha and Morma a localizated on the countryside at the towns of Coxilha and Sert o northeast of Rio Grande do Sul Since 2004 the remaining communities have been acknowledged by Funda o Cultural Palmares Arvinha and Morma a are communities which fight for the maintenance and recovery of their geographic
28. gua e reservat rios naturais riachos passagens carreiros abertos naturalmente pelo constante transitar foram num curto espa o de tempo interrompidos e cerceados de uso M quinas derrubaram aterraram impuseram as cercas marcaram territ rios descaracterizaram continuidades e provocaram desaprendizagens e ocultamentos Interrompem uma hist ria de mais de 150 anos O cercamento como um dos impeditivos da liberdade de ir e vir limitava acessos a comunica o os processos de troca as rela es e as d divas proporcionadas pela natureza a utiliza o das riquezas naturais e o conhecimento e as experi ncias que se davam atrav s de formas n o escolares de ensinar e aprender A partir da delimita o desses espa os comuns agora sob dom nio privado os remanescentes passam obedi ncia das normas dos agricultores brancos oficializados pelo Estado o que os torna dependentes e vulner veis Em decorr ncia dessa tomada de assalto dos dom nios comuns essas comunidades viram a exaust o dos recursos naturais e o seu comprometimento com o meio o que comprovado pelo risco sobreviv ncia e continuidade dessas comunidades quando diversas fam lias e jovens se evadem daqueles locais em busca de melhores condi es e oportunidades de vida tema que ser abordado no cap tulo seguinte Essa realidade n o foi percebida somente nas comunidades de Arvinha e Morma a Pesquisas em comunidades de outras regi es
29. mem ria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem as formas de express o Il os modos de criar fazer e viver 85 Ficam tombados todos os documentos e os s tios detentores de reminisc ncias hist ricas dos antigos quilombos 66 outro A promulga o e divulga o desses instrumentos legais t m contribu do para o fortalecimento da condi o cidad dos sujeitos assim como para a eleva o da autoestima do negro poss vel encontrar nos rg os de assessoria governamental como a Funda o Cultural Palmares FCP e o Minist rio da Cultura apoio para os tr mites burocr ticos H no entanto uma s rie de instrumentos jur dico administrativos necess rios regulariza o das comunidades remanescentes e para o alcance de outros direitos Leite 2008 p 6 faz refer ncia ao estabelecimento de dois extensos procedimentos administrativos para a efetiva o dos referidos direitos constitucionais socialmente reconhecimentos aos membros das comunidades quilombolas Em primeiro lugar preciso instaurar um procedimento administrativo perante a Funda o Cultural Palmares com a finalidade de identificar os remanescentes das comunidades dos quilombos assentar nos autos do processo administrativo que a comunidade se autorreconhece como descendentes de quilombo em virtude de sua trajet ria hist rica pr pria dotados de rela es territoriais espec ficas com pr
30. ncia opress o sofrida e sua caracteriza o deve ser dada segundo crit rios de auto atribui o atestada pelas pr prias comunidades como tamb m adotado pela Conven o 169 da Organiza o Internacional do Trabalho OIT sobre Povos Ind genas e Tribais Para Anjos et al 2006 essa disposi o legal causa p trea na organiza o ao discutir etnicidade coloca nfase na dimens o internacional das identidades tnicas e no fato de que as fronteiras tnicas se constituem em atos p blicos de auto defini o identit ria 38A palavra quilombo ou calhambo de origem banto e significa acampamento ou fortaleza e foi usada pelos portugueses para denominar as povoa es constru das por escravos fugidos O termo tamb m pode ser atribu do casa ou ref gio Durante os per odos colonial e imperial v rios quilombos ou comunidades negras se formaram com a fuga de escravos que se rebelaram contra a ordem escravista Havia diferentes formas de quilombos desde pequenos grupos itinerantes que viviam de assaltos nas estradas e fazendas at complexas estruturas de vilarejos como era o quilombo de Palmares no Nordeste brasileiro e o quilombo de Ambr sio no Centro Oeste mineiro Centro De Documenta o Eloy Ferreira da Silva 2008 p 41 apud LEITE 2009 p 2 Consultando documentos na l ngua espanhola especialmente de pa ses Sul Americanos pudemos verificar outras compreens es
31. nos parece singular Primeiramente uma pesquisa de resgate para que conhecimentos rituais e t cnicas de ensinar e aprender n o venha a perderem se pelo desuso e esquecimento em segundo lugar por reafirmar sua import ncia como identidade cultural e como a es que engendraram a conquista do territ rio mantendo aquele espa o como uno Ocorre que muitas dessas manifesta es como exemplo compreens es diferenciadas de processos e do pr prio mundo processos criativos de manuten o e desenvolvimento pessoal modos comunit rios arraigados por possibilidades de viver n o hegemonicamente muitas vezes s o invisibilizados pela absolutiza o da igualdade T m se como pressuposto que a igualdade absoluta uma forma de viol ncia na reflex o de Boaventura de Sousa Santos 2005 E finalmente apresentam se as considera es que dever o levantar um leque de possibilidades e desafios para institui es de ensino como as do Instituto Federal de Educa o Ci ncia e Tecnologia do RS Campus Sert o do qual fa o parte como docente Assim com a estrutura proposta para esta pesquisa buscamos contribuir ao debate das quest es que se referem s comunidades negras remanescentes de quilombos especialmente quando da ocupa o e reincorpora o de territ rios utilizados por antecedentes espa o de manuten o e continuidade hist rica desses grupos 2 A CONSTRU O DAS COMUNIDADES REMANESCENTES DE ARVINHA E DA MORMA A
32. o mercantilista mas em que todos se beneficiam parece ser mais afetiva Para ele produzir soja e n o engordar porco a o de algu m que n o est integrado aquele meio natural cultural preocupa se com o lucro quando precisar tempero ou um p de alface vai at ao mercado na cidade e compra transmite outra l gica de mercado aos seus Precisamente nessas demonstra es de apego a tudo que parte daquele cotidiano que valoroso e diz respeito a todos se renovam la os que igualmente v o dando configura o ao territ rio O territ rio um espa o de conviv ncia e nele se d o as rela es sociais que na mem ria dos mais antigos tra am um comparativo entre o anterior e o atual nesse lugar materializado nas moradias de antepassados marcos divisas identificadas por elementos da natureza O ato de rememorar traz consigo concep es do justo e injusto acontecimentos significativos hist rias causos recontados associando lugares a pessoas nessa mem ria coletiva percept veis em Morma a e Arvinha fig 11 92 Figura 11 Territ rio multifacetado O homem e o menino duas gera es restevando palha de trigo em espa o outrora quilombola Morma a Fonte Arquivo da pesquisa 2010 Pr ximo de um dos n cleos familiares do tronco Quirino de Miranda na Arvinha o morador N C e sua esposa I R C relatam no quadro atual da paisagem outra configura o que identificava o cotidia
33. o de que o conhecimento sobre meio ambiente deve emergir dessa intera o podemos observar resultados pr ticos dessa intera o na comunidade da Arvinha L ocorre uma interven o parcial nesse meio atrav s da operacionaliza o de processos produtivos agr colas e pecu rios para o sustento das fam lias Nos plantios anuais se utiliza o pousio Que uma t cnica mais que centen ria onde reas utilizadas durante v rios anos s o colocadas para descansar deixando se retomar a vegeta o natural para num per odo adiante voltar a ser utilizada com as ro as Assim tamb m na cria o dos animais onde ainda os alimentam com pastagem nativa No ver o as que ocorrem nessa esta o e com o chegar do frio t pico de inverno mudam para reas abrigadas onde a geada n o mata os capins portanto n o alteram aquela paisagem com a utiliza o dos arados e outros implementos mantendo as naturais Antigamente era mais f cil voc podia plantar aqui uns ano depois l no fundo mais um tempo e assim ia Com as cria o tamb m ficava no ver o numa invernada naquele pasto No inverno levava pro mato notro pasto De veis inquando ia d uma reparada tava tudo l Depois fecharum tudo com cerca i estrada N o tem mais lugar pra isso s nos cantinho N R 67 Comunidade da Morma a dezembro de 2013 A tecnologia do pousio foi adotada por agricultores familiares brasileiros
34. o e Reforma Agr ria como agente administrativo representante do Estado Brasileiro na condu o desses processos e ainda legislando ao emitir Instru es Normativas as INs para regula o Caminha ainda numa discuss o embebida pela beleza de pr ticas de conviv ncia comunit ria simbolizadas na d diva e na reciprocidade entre as pessoas e os grupos processos do ensinar e aprender de crian as e jovens que ir o como experi ncia carreg las consigo Enfocaremos entre os te ricos Marcell Mauss 1974 em seu Ensaio sobre a d diva pr tica que percebemos muito presente nessas comunidades L vi Strauss 1974 discutindo a d diva presente em Mauss n o s como princ pio de reciprocidade mas sim um princ pio de troca sim trica Alain Caill 1998 quando discute a n o gratuidade da d diva entre outros as que se relacionam ao tema Nesse momento como elementos para a an lise buscamos problematizar essas a es no grupo familiar e individualmente atrav s da observa o participante utilizando entrevistas e suas narrativas No quarto cap tulo as rela es de parentesco demarcando a territorialidade campesina sugerem se alian as matrimoniais como mediadoras na manuten o e indivisibilidade desse territ rio a partir dos troncos que originam essas comunidades Os rituais associados ao parentesco casamentos e batismos e nesse nterim porque n o o compadrio e as rela es de amizade
35. patrim nios material e imaterial daquele territ rio s o indissol veis para que esse grupo subsista Esse direito est previsto em dois momentos da legisla o No Art 215 da C F que diz O Estado garantir a todos o pleno exerc cio dos direitos culturais e acesso s fontes da cultura nacional e apoiar e incentivar a valoriza o e a difus o das manifesta es culturais 8 1 O Estado proteger as manifesta es das culturas populares ind genas e afro brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizat rio nacional E no Decreto Presidencial n 6 040 2007 que institui a Pol tica Nacional de Desenvolvimento Sustent vel dos Povos e Comunidades Tradicionais refor a a rela o cultural do quilombola com a terra Ele define como comunidades tradicionais grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais que possuem formas pr prias de organiza o social que ocupam e usam territ rios e recursos naturais como condi o para sua reprodu o cultural social religiosa ancestral e econ mica utilizando conhecimentos inova es e pr ticas gerados e transmitidos pela tradi o Adiante afirma que territ rios tradicionais s o os espa os necess rios reprodu o cultural social e econ mica dos povos e comunidades tradicionais sejam eles utilizados de forma permanente ou tempor ria Fernanda Torres 2007 ao abordar a quest o do territ rio quilombola destaca q
36. por motivos bvios hist ricos e sociais junto ao entorno n o quilombola n o 194 assumem religi o de matriz africana As religi es crist s rapidamente assumiram esse papel Tamb m por estarem localizados e convivendo principalmente entre descendentes de italianos alem es e poloneses tra os culturais caracter sticos como a est tica pessoal as vestimentas a alimenta o n o s o trabalhados e nem cultivados Como afirma Gohn 2011 p 76 a educa o n o formal uma possibilidade de produ o de conhecimento em territ rios fora das estruturas curriculares da educa o formal no cotidiano dessas comunidades que ainda se apresentam diversos espa os que configuram esses processos de ensinar e aprender n o escolarizados podendo ser compreendidos como s mbolos de resist ncia enquanto preservam a identidade a cultura a hist ria e a tradi o coletiva O cemit rio o forno de barro a pr tica do mutir o a medicina caseira tradicional a senzala comunit ria as festas e tantas outras manifesta es se apresentam como laborat rio itinerante agregando as fam lias de Arvinha e Morma a e dando continuidade a esse conhecimento Nas manifesta es das pessoas mais velhas aparecem lembran as de acontecidos de passagens que viveram ou eram contadas Nas casas rodeados por adultos e crian as ao colo e sentadas bem juntas nos bancos de madeira pudemos nesta pesquisa ouvir algumas hist rias Uma
37. primeiramente em garantir aquele reduzido espa o f sico a que est o hoje submetidos guardando suas fronteiras num segundo momento agregar outros espa os que anteriormente j lhes pertenceram como condi o de sobreviv ncia e reprodu o dos grupos e um terceiro momento a longa espera na tramita o dos processos de regulariza o e titula o dos territ rios que se d no mbito administrativo mas especialmente na esfera pol tica Discutir se os enfrentamentos travados com o entorno sindicatos rurais agentes e gestores p blicos em prefeituras municipais rg os p blicos de assist ncia t cnica pol ticos grupos privados e ainda com parte da popula o regional contr ria aos seus pleitos e por vezes na intimida o utilizando se de pr ticas racistas e discriminat rias Tamb m ser abordada a participa o do INCRA como agente administrativo representante do Estado Brasileiro na condu o desses processos e ainda legislando ao emitir Instru es Normativas as INs para regula o Caminha ainda numa discuss o embebida pela beleza de pr ticas de conviv ncia comunit ria simbolizadas na d diva e na reciprocidade entre as pessoas e os grupos processos do ensinar e aprender de crian as e jovens que ir o como experi ncia carreg las consigo Enfocaremos entre os te ricos Marcel Mauss 1974 em seu Ensaio sobre a d diva pr tica que percebemos muito presente nessas comunidades L vi Strauss
38. unidade de ensino na qual trabalho o campus Sert o do IFRS no munic pio de Sert o regi o norte deste Estado existem A Profa Dr Edla Eggert tem realizado pesquisas com base nos estudos feministas relacionados Educa o de Jovens e Adultos mais especificamente do trabalho artesanal e os processos pedag gicos decorrentes dessa produ o 7 A resist ncia e a contraposi o da mulher como rea o a o frente ao patriarcalismo foi destacada pela Profa Dr2 Georgina Helena Lima Nunes no momento da Qualifica o do Projeto desta Tese em 16 de outubro de 2013 ao considerar que n o h somente passividade da mulher nessa rela o e sim um conjunto de iniciativas e atos marcando posi es 19 tr s comunidades ind genas e duas de remanescentes quilombolas reconhecidas Trata se de comunidades que neste momento dentro de suas hist rias de resist ncia atravessam situa o de indefini o em rela o demarca o e oficializa o de seus territ rios o que tamb m implica em direitos de outros grupos especialmente pequenos e m dios agricultores Como mencionado claro na Constitui o Federal o reconhecimento a grupos tnicos que assim se expressem advindo a partir disso a concretiza o desse e outros direitos Ao inteirar me dessa realidade em especial das comunidades remanescentes durante os estudos no Curso de Doutorado refleti no sentido de qual papel uma unidade de ensino p blico federal
39. A Presidenta da Associa o de Remanescentes Maria Teresinha Costa Vargas se refere como os cinco troncos filhos da escrava Cezarina que originaram toda a comunidade outubro de 2012 As reconstitui es verbais das paisagens de outrora indicam o lugar como intensamente procurado por escravos libertos ex escravos e remanescentes ind genas para arranchamento Nesse sentido s o m ltiplos os troncos de parentesco de escravos e ex escravos que deram origem atual comunidade afrodescendente muitos dos quais provenientes de outros lugares Rosane Rubbert 2007 p 12 ao se referir aos troncos que deram origem a Comunidade de Passo dos Brum no munic pio de Formigueiro RS 54 organiza o por tronco familiar n o delimitou um espa amento f sico individualizado As moradias foram constru das pr ximas das outras As reas de terras que foram maiores hoje apenas circundam a Vila que margeia uma sanga numa meia encosta de serra A propriedade familiar de Natal cio Rosa possui cinco hectares a maior em rea Dessa forma os sujeitos sociais que simbolizam integra o do grupo com base na origem das principais refer ncias culturais e do imagin rio social comp em a linhagem iniciada com Cezarina e Francisca que por sua vez s o suas principais refer ncias fig 08 Figura 8 Comunidade Remanescente do Quilombo da Morma a resid ncias F Fonte Arquivo da pesquisa 2008 2014 Constitu dos
40. Aldomar Ruckert et al 2002 em seu relat rio entre os escravos do plantel dos Miranda Biriva Nome dado aos habitantes dos Campos Cima da Serra descendentes de bandeirantes ou aos tropeiros paulistas os quais geralmente andavam em mulas e tinham um sotaque especial diferente do da fronteira ou da regi o baixa do Estado Para o folclorista ga cho Jo o Carlos Paix o C rtes 2009 p 20 O Tropeiro Biriva ou Beriva do Sul do Brasil atingiu seu maior relevo socioecon mico no cen rio do tropeirismo nacional no s culo XIX Este cavaleiro tinha seu vivenciar pelas nossas paragens redobradas e densas matas do Planalto M dio e Campos de Cima da Serra PAIX O C RTES Jo o C Dan as Birivas do Tropeirismo Ga cho Ed Assembleia Legislativa do RS 1999 2 Escrava Cezarina cor preta 36 anos avaliada em 600 000 Autos de invent rio de Maria Prud ncia de Souza APERS Invent rios de Passo Fundo Vara de Fam lia ex rf os auto 173 ma o 7 1876 In SANTOS S 2009 p 133 48 consta a escrava Cezarina nos documentos de invent rio Cezarina de Miranda Esta tivera cinco filhos com o Cel Francisco de Barros Miranda recebendo parte dos terrenos em doa o do pr prio Francisco Em pesquisa nos registros de batismo os filhos de Cezarina de Miranda nascidos de ventre livre 2 foram os g meos Quirino e Quirina nascidos em 1875 Leonor nascida em 1876 Silvana n o h pr
41. Constitui o Federal de 1988 e o Decreto n 4 887 de 20 de novembro de 2003 C Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE 231 ANEXO A Presid ncia da Rep blica Casa Civil Subchefia para Assuntos Jur dicos DECRETO N 4 887 DE 20 DE NOVEMBRO DE 20083 Regulamenta o procedimento para identifica o reconhecimento delimita o demarca o e titula o das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art 68 do Ato das Disposi es Constitucionais Transit rias O PRESIDENTE DA REP BLICA no uso da atribui o que lhe confere o art 84 incisos IV e VI al nea a da Constitui o e de acordo com o disposto no art 68 do Ato das Disposi es Constitucionais Transit rias DECRETA Art 1 Os procedimentos administrativos para a identifica o o reconhecimento a delimita o a demarca o e a titula o da propriedade definitiva das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art 68 do Ato das Disposi es Constitucionais Transit rias ser o procedidos de acordo com o estabelecido neste Decreto Art 2 Consideram se remanescentes das comunidades dos quilombos para os fins deste Decreto os grupos tnico raciais segundo crit rios de auto atribui o com trajet ria hist rica pr pria dotados de rela es territoriais espec ficas com presun o de ancestralidade negra relacionada com a resist ncia opres
42. D S 58 dezembro de 2013 Essa indaga o muito oportuna pois n o deixa de ser uma realidade Para corroborar no campesinato h diversas pesquisas que demonstram a rela o entre a forma o dos filhos as e seu retorno e perman ncia no meio rural O campus Sert o do IFRS vizinho s comunidades remanescentes a cada dois anos em encontro que promove com egressos e ex servidores daquela institui o tem realizado pesquisa com os participantes e entre as abordagens uma se refere ocupa o atual Em suas respostas constata se uma grande parcela de t cnicos de n vel m dio especialmente na forma o T cnico em Agropecu ria que ao finalizarem o curso v o atuar na rea de forma o o que positivo por m distantes da propriedade rural da fam lia Depreende se que ir o trabalhar para terceiros deixando a propriedade de origem aos cuidados de quem nela permanecer 205 geralmente sozinhos o casal de pais Parece me advir desse e de outros dados a preocupa o da m e moradora sobre quem ir adiante lutar por suas causas e subliminarmente com a manuten o dos grupos e daqueles territ rios Considerando a possibilidade do conflito entre estudar os filhos como garantia de uma vida melhor na comunidade ou estud los para adquirir outra forma o tendo que atuar num outro meio mesmo assim nos parece que a forma o que alcan arem contribuir para conquistas cidad s pessoais e das comunidades pois poder o
43. Diretrizes e Bases da Educa o Nacional LDB quando define educa o como aquela que abrange processos formativos que se desenvolvem na vida familiar na conviv ncia humana no trabalho nas institui es de ensino e pesquisa nos movimentos sociais e organiza es da sociedade civil e nas manifesta es culturais LDB art 1 1996 apud Gonh 2011 p 11 Freire 2007 ao argumentar que a escola n o poderia ser o nico elemento de transforma o social dizia isso por saber e observar que ela j n o fazia o que deveria de fazer ou seja discutir a vida que pol tica na vida da escola portanto n o ser neutra Essa neutralidade nas discuss es sobre as desigualdades do povo negro de ordem econ mica e de acesso ao emprego sa de educa o moradia renda e cidadania colabora para invisibilizar essa popula o reprimindo e n o reconhecendo o saber negro dos quilombos Ent o de qual escola precisamos Na Arvinha e na Morma a havia escolas em seus antigos dom nios territoriais entre tr s a quatro quil metros de suas sedes depois na d cada de 1990 foram fechadas e os estudantes transferidos para escolas das cidades Sert o e Coxilha Crian as e jovens se deslocavam para l ou em comunidades mais pr ximas de transporte escolar mas diversas vezes a p Nesse entremeio algumas desistiram outras n o conseguiram chegar ao final do ensino fundamental poucas completaram o ensino m
44. Entre os s culos XVI e XIX o Brasil recebeu aproximadamente cinco milh es de africanos e africanas na condi o de homens e mulheres escravizados ibid p 18 e apesar da contribui o ineg vel dessa etnia instrumentos legais de coer o e de invisibilidade foram por muito tempo e de certa forma embora subliminares continuam sendo utilizados na discrimina o racial presente no imagin rio da sociedade brasileira As pesquisas que v m se desenvolvendo na rea das ci ncias sociais e educa o sobre os grupos sociais participantes da forma o da identidade nacional t m provocado a reflex o para uma nova historiografia da caminhada dessas popula es deixando de somente considerar o conceito ainda colonial de quilombo como aquele habitado por negros fugidos mas sim numa perspectiva de grupo tnico que teve continuidade e se apresenta atualmente como remanescentes de quilombo Ap s atenta pesquisa de levantamento dos trabalhos acad micos relacionados com nosso campo emp rico para escrever o projeto desta tese por ocasi o de sua qualifica o e utilizando se dos bancos de teses e disserta es da Coordena o de Aperfei oamento de Pessoal de N vel Superior CAPES e o da O Plano um instrumento de planejamento implementa o e monitoramento das pol ticas p blicas priorit rias para os povos tradicionais de matriz africana a serem executadas com base no PPA 2012 2015 coordenado pela Secreta
45. Governo Estadual poca representado por Ol vio Dutra no reconhecimento hist rico dessas comunidades foi celebrado junto ao Governo Federal conv nio com vistas elabora o de novos trabalhos Em julho de 2001 firmado um conv nio entre a STCAS Governo Estadual Funda o Cultural Palmares Governo Federal tendo como objeto a identifica o o reconhecimento a delimita o territorial o levantamento cartorial e a demarca o com vista titula o e ao registro do t tulo em cart rio de registro de im veis das comunidades remanescentes de quilombos Arvinha no munic pio de Coxilha Morma a no munic pio de Sert o S o Miguel no munic pio de Restinga Seca Rinc o dos Martimianos tamb m no munic pio de Restinga Seca Morro Alto no munic pio de Maquin e Casca no munic pio de Mostardas ANJOS 2004 8 H 32 anos o poeta ga cho Oliveira Silveira sugeria ao seu grupo que o 20 de novembro fosse comemorado como o Dia da Consci ncia Negra pois era mais significativo para a comunidade negra brasileira do que o 13 de maio Treze de maio trai o liberdade sem asas e fome sem p o assim definia Silveira o Dia da Aboli o da Escravatura em um de seus poemas Em 1971 o 20 de novembro foi celebrado pela primeira vez A ideia se espalhou por outros movimentos sociais de luta contra a discrimina o racial e no final dos anos 1970 j aparecia como proposta nacional do Movimento Negro Unificado
46. IV Funda o Nacional do ndio FUNAI V Secretaria Executiva do Conselho de Defesa Nacional VI Funda o Cultural Palmares Par grafo nico Expirado o prazo e n o havendo manifesta o dos rg os e entidades dar se como t cita a concord ncia com o conte do do relat rio t cnico Art 9 Todos os interessados ter o o prazo de noventa dias ap s a publica o e notifica es a que se refere o art 7 para oferecer contesta es ao relat rio juntando as provas pertinentes Par grafo nico N o havendo impugna es ou sendo elas rejeitadas o INCRA concluir o trabalho de titula o da terra ocupada pelos remanescentes das comunidades dos quilombos Art 10 Quando as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos incidirem em terrenos de marinha marginais de rios ilhas e lagos o INCRA e a Secretaria do Patrim nio da Uni o tomar o as medidas cab veis para a expedi o do t tulo Art 11 Quando as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos estiverem sobrepostas s unidades de conserva o constitu das s reas de seguran a nacional faixa de fronteira e s terras ind genas o INCRA o IBAMA a Secretaria Executiva do Conselho de Defesa Nacional a FUNAI e a Funda o Cultural Palmares tomar o as medidas cab veis visando garantir a sustentabilidade destas comunidades conciliando o interesse do Estado Art 12 Em sendo constatado que as terra
47. Negro e de entidades de apoio as lutas pelo reconhecimento jur dico das terras de antiga ocupa o nas d cadas de 1970 e 80 e especialmente ap s a Constitui o Federal de 1988 compreens es conceituais v m se reconstruindo Para Jusc lio Arcanjo 2008 p 26 o processo de ressemantiza o da categoria quilombo tanto pol tica quanto juridicamente contribui afirma o tnica e mobiliza o pol tica desses segmentos camponeses particularmente as comunidades negras rurais Corrobora ainda o fato de que O espa o em que se constr i a comunidade possibilita nos ao reconhecimento das rela es que historicamente se constitu ram como objeto de interpreta o das diversas formas de ocupa o forma o das chamadas terras de preto como resultado das diversas estrat gias empreendidas pelos negros e negras Essas formas ressaltadas pela etnicidade reatualizaram o termo dando um sentido pol tico lei conforme o art 68 dos ADCT que os impelia ao contra ataque s fazendas dos brancos e sedu o de outros escravos ARCANJO 2008 p 27 A emerg ncia identit ria etnoquilombola que tomou corpo nas lutas empreendidas pelas comunidades negras rurais com a promulga o da Constitui o Federal de 1988 ressurge dentro de um novo contexto de luta e afirma o do direito de ser e pertencer a uma coletividade Desta forma poss vel recorrer se ao termo Ventre Livre Tamb m houve redu o do n mero de escrav
48. Para o historiador Fl vio Gomes do Departamento de Hist ria da Universidade Federal do Rio de Janeiro a escolha do 20 de novembro foi muito mais do que uma simples oposi o ao 13 de maio os movimentos sociais escolheram essa data para mostrar o quanto o pa s est marcado por diferen as e discrimina es raciais Foi tamb m uma luta pela visibilidade do problema Isso n o pouca coisa pois o tema do racismo sempre foi negado dentro e fora do Brasil Como se n o existisse Dispon vel em http movimentonegrounificadors blogspot com br 2009 12 oliveira silveira um dos fundadores do html Acesso em 11 set 2013 69 Desse conv nio resultou na elabora o de seis relat rios t cnicos e tamb m em decorr ncia dessa aproxima o com as comunidades em novembro de 2001 realizou se um semin rio de forma o de volunt rios para a atua o junto s demandas das comunidades remanescentes de quilombos no Rio Grande do Sul RAMOS 2009 p 41 O grupo de militantes do Movimento Negro que participou desse semin rio no mesmo ano fez curso de capacita o de agentes para trabalhar com comunidades remanescentes de quilombos O curso previu a realiza o de trabalho de campo e a rela o de 120 comunidades indicadas pela pesquisa realizada pelo NUER UFSC serviu de base para indicar as comunidades onde atuariam os agentes Como apoio a essas comunidades parte dessas 250 pessoas que permaneceram atuando junto aos rema
49. Paran outra celebra o cat lica que acontecia hoje diversos moradores s o evang licos era a Recomenda das Almas durante o per odo da quaresma na quarta quinta e sexta feira santa Essa romaria pelas almas se dava em frente s cruzes nas casas no cemit rio e na igreja Tamb m se praticava a dan a de S o Gon alo que um santo cat lico historicamente conhecido nas comunidades negras n o tendo pra isso uma data definida A dan a pode ser realizada tamb m nas festas de outros santos como Santo Ant nio S o Sebasti o e do Divino para pagar promessas alcan adas GTCM 2010 p 67 Essa simetria estabelecida pelo povo afro no Brasil cultuando santos cat licos desenhada nos par grafos acima bem observada e discutida por Luz 2000 A religi o aspecto fundamental da cultura humana emblem tica no caso dos as negros as africanos as em terras brasileiras Por meio desse mpeto criativo de sobreviv ncia pode se dizer que a popula o negra promoveu um processo de africaniza o de 196 religi es crist s e de recria o das religi es de matriz africana LUZ 2000 apud BRASIL SECAD 2006 p 22 Dentro das pr ticas da medicina tradicional caseira conhecimento que vem sendo ensinado aos jovens que demonstram esse interesse j hav amos destacado a presen a de benzedeiras os e curandeiras os durante todo o per odo da ocupa o negra daqueles territ rios at a atual
50. Sul no Rio Grande do Sul Referida na p 19 110 inspirada em princ pios antag nicos aos que regem o sistema produtivo hegem nico Neste caso tudo complementar e sup e a colabora o das partes tem se a ideia de uma presta o til o sistema de presta es totais de Mauss Enfim essas presta es e contrapresta es se estabelecem de uma forma sobretudo volunt ria embora elas sejam no fundo rigorosamente obrigat rias MAUSS 1974 p 191 Pr ticas de obriga es rec procas mesmo n o estando coagidas por um contrato formal de trabalho ou por promessa de uma remunera o salarial mas motivadas por uma cultura de endividamento m tuo s o efetivadas no interior dessas rela es Neste recorte semelhante ao presenciado por Ramos 2009 na comunidade Cambar foi para n s apresentado na Morma a uma cena em que tr s fam lias conjuntamente convergem em torno da d diva Na propriedade de Seu N R 65 e Dona L R A 66 por n o serem mais t o mo os o morador vizinho V R 36 est refazendo as cercas que a delimita prepara os palanques abre as covas espicha e grampeia os arames ao mesmo tempo J P 16 todas as manh s v m cuidar dos animais tira o leite solta as duas vacas e separa os terneiros para o casal Esta obriga o d vida com rela o ao casal prov m dentre outros fatores por ambos benzerem e fazerem rem dios caseiros utilizam das plantas as ra zes cascas galh
51. a pol tica educacional adotada no Brasil desconsiderava a popula o negra a atua o do movimento negro brasileiro n o se resumiu s reivindica es pela inclus o dessa popula o ao sistema educacional Anteriormente na d cada de 1970 o movimento j lutava para incluir a hist ria do negro no curr culo escolar Essas primeiras iniciativas foram impulsionadas pela constata o de que os PCNs Par metros Curriculares Nacionais LDB de 1996 abordam a tem tica racial tnica na pluralidade cultural em forma de orienta o gen rica sem maiores consequ ncias na produ o de pol ticas educacionais O Movimento Negro alertava que a evas o escolar se dava al m da dificuldade financeira tamb m pela quest o do racismo presente nos livros did ticos al m da falta de conte dos que valorizassem a identidade da crian a negra no curr culo escolar Em meio s comemora es do centen rio da aboli o 1988 o Movimento Negro Unificado elegeu O Negro e a Educa o como tema do VIII Encontro de Negros do Norte e Nordeste que aconteceu no Recife em julho de 1988 Conforme Claudilene Silva 2009 p 16 17 constava no relat rio deste encontro como preocupa o central questionar a nega o da import ncia do negro na forma o social brasileira atrav s dos meios oficiais de educa o do pa s As proposi es que resultaram dos debates realizados no encontro apontam para a necessidade de introduzir o estud
52. ao tema como o trabalho desenvolvido pelo Nuer UFSC no ano de 1991 que mapeou cerca de 40 comunidades pass veis de reconhecimento como remanescentes de quilombos e a tese de doutorado defendida no ano de 1987 pela professora Petronilha Beatriz Gon alves e Silva sobre a comunidade negra do Limoeiro Esses dois movimentos acad micos de maneira precursora trouxeram para o debate a quest o das comunidades negras rurais Silva P 2011 p 126 Enquanto contribui o acad mica para n s a escolha da tem tica de pesquisa processos educativos territ rios quilombola engendramentos para manuten o e recupera o em Arvinha e Morma a traz embutida a quest o do conflito social e das lutas j incorporadas nessa empreitada Ambas as comunidades constitu ram e constituem se numa concretude de resist ncia territorial frente ao modelo econ mico dominante Experimentando cotidianamente um modo de vida peculiar delimitam fronteiras e tal como no passado constituem territ rios da mestrado e doutorado em todos os estados da Federa o Em 2007 passou tamb m a atuar na forma o de professores da educa o b sica As atividades da Capes podem ser agrupadas nas seguintes linhas de a o cada qual desenvolvida por um conjunto estruturado de programas avalia o da p s gradua o stricto sensu acesso e divulga o da produ o cient fica investimentos na forma o de recursos de alto n vel no pa s e exterior pro
53. apontam dificuldades 148 As uni es conjugais os casamentos e os encontros eram mais frequentes entre os dois grupos de maneira que o morador da Morma a ou da Arvinha ao casar se mudava para uma das comunidades facilitando os contatos com a ida e vinda dos parentes Hoje em dia as uni es s o menos frequentes pois as liga es entre os grupos s o tamb m menos frequentes M T 97 e M F 44 mar o de 2014 Contudo n o se quer dizer que as rela es de parentesco inexistam pelo contr rio numa das manh s era um domingo visit vamos a resid ncia do casal J G T 66 e M L T 67 na Arvinha J G T um dos poucos descendentes do tronco de Ant o de Miranda bisneto que vive na rea que teria sido territ rio quilombola d uns 4 km de dist ncia do nucleamento Neste dia tamb m os visitava a Senhora octogen ria T T oriunda da comunidade da Morma a com sua filha e seu genro filho dos donos da casa E como essa outras uni es nos foram relatadas chamam de casamentos trocados entre descendentes das comunidades Um costume que acontecia em tempos passados de escravid o notado por A Miriam Hartung 2005 o que se assemelha s visitas aos parentes No espa o da fazenda os escravos ligavam se por rela es de parentesco que supunham uma s rie de deveres e direitos tanto quanto lhes proporcionavam amparo confian a e ajuda em caso de necessidade e dificuldade em outros t
54. artes e rituais seus conhecimentos relacionados com a natureza suas artes culin rias seu direito consuetudin rio sua vestimenta e valores Em fun o da terra est a integra o dos quilombolas com a natureza e com a constru o de sua hist ria TORRES 2010 p 7 O princ pio da inalienabilidade determina que o im vel n o possua valor comercial e est diretamente ligado ao desenvolvimento e manuten o dos grupos Isto porque a titula o das terras dos remanescentes de quilombo tem como um de seus objetivos eminentes a continuidade da comunidade A terra na concep o do legislador sobre esse princ pio tem o sentido de ser um bem fundamental que a comunidade n o poder alienar Nessa condi o o territ rio nunca poder pertencer a algu m que n o fa a parte da comunidade quilombola A terra institucionalmente vira patrim nio comunit rio a ser transmitido s novas gera es O t tulo de dominio emitido em nome de uma associa o forma juridicamente estabelecida que permite s comunidades a manuten o de seu modo de vida e organiza o social 2 5 2 O Envolvimento da Comunidade Na perspectiva do fortalecimento dos sujeitos o trabalho de desenvolvimento institucional permite identificar os diferentes momentos em que se encontra a 2 Assim estabelece o art 17 do Decreto n 4 887 2003 a titula o ser reconhecida e registrada mediante outorga de t tulo coletivo e pr indiviso s comunida
55. brasileiras verificou esse repetir como declara Ramos 2009 serve para pintar o mesmo quadro Maria das 96 Gra as C Cunha 2010 ao estudar a expans o capitalista no sert o norte mineiro a partir de 1970 enfatiza Neste processo de moderniza o a regi o teve grande parte de seu territ rio desmatado para abrigar esta nova forma de explora o capitalista Assim expressiva parcela de popula es rurais sertanejas foi expulsa de suas terras uma vez que ocupavam reas consideradas devolutas concedidas pelo Estado a grupos empresariais O cercamento dos campos n o tardou a se fazer contando inclusive com o apoio formal do Estado privatizando grande parte das terras devolutas com contratos de concess o por vinte anos para empresas de planta o de eucalipto como os efetuados pela Ruralminas durante o regime ditatorial sob tutela militar em Minas Gerais CUNHA 2010 p 6 ao referir Gon alves 2004 p 222 Percebe se que nessa nova divis o territorial desdobra se a perda da identidade do grupo e tamb m do conhecimento acumulado com o decorrer dos tempos As consequ ncias da moderniza o no campo s o o desaparecimento e ou encurralamento das gentes sertanejas e das identidades locais ocasionado pela perda de seus territ rios pelo cercamento dos territ rios coletivos e pelo desequil brio ambiental em decorr ncia das atividades capitalistas a perda do conhecimento acumulado por es
56. campesinatos at o final da d cada de 1970 por m com a entrada da tecnologia dos defensivos agr colas numa proposta de moderniza o de processos produtivos essa pr tica foi abandonada Na regi o vizinhas as comunidades quilombolas habitam em suas reas reservadas tr s diferentes popula es ind genas j relacionadas que praticam a t cnica do pousio em sua agricultura desde a muito Essa popula o consegue conviver harmonicamente e consumir produtos oriundos dessa intera o homem natureza como o mel frutas nativas animais de ca a como tatus peri s porco do mato al m de aves e peixes Ou seja adotar o pousio deixando a terra descansar para uso futuro promove que determinados ciclos biol gicos n o desapare am em virtude da utiliza o de agroqu micos 178 Nestas linhas em que transpusemos sua fala uma realidade dif cil e mesmo triste desse morador e que me parece de outros tantos em tantas outras comunidades Um sequestro do territ rio para o qual n o havia dono estava para ser utilizado por quem l estivesse Plantava se hoje nesta terra amanh em outra Cercas Para qu N o se trata aqui de um saudosismo mas de rememorar espa os anteriormente utilizados e que ao desrespeitar essa popula o foram tomados de assalto quando n o tamb m os expulsavam Esses espa os tamb m eram de aprendizagens e de experi ncias Me ocorre para ilustrar verso de um cantor missi
57. casa do trabalho do lazer em suma dos cotidianos como educa o n o formal que desenvolve a es que abrangem os espa os sociais num todo Sua fundamenta o tamb m inspirou este trabalho i CUNHA Aline Lemos da Hist rias em m ltiplos fios um estudo das manualidades de mulheres negras em Rio Grande RS Brasil e Capit n Berm dez Santa F Argentina re inventado pedagogias da n o formalidade ou das tramas complexas Tese Doutorado em Educa o Programa de P s Gradua o em Educa o da Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS S o Leopoldo RS 2010 A Professora Dra Edla Eggert orientou esta Tese 28 Definidos a metodologia da pesquisa e as t cnicas a serem utilizadas buscamos reiniciamos os contatos nas comunidades As lideran as comunit rias me parece constituem boas fontes iniciais para num momento posterior contatar outros sujeitos colaborativos Em nosso primeiro intento 2008 os trabalhos se deram com membros da Associa o de Remanescentes de Quilombo Morma a porque como descrevemos anteriormente pens vamos num projeto educacional a ser desenvolvido com jovens e adultos ent o a associa o iria atuar como um elo o que veio a acontecer fig 02 Fig 2 Visita de moradores da Comunidade Morma a ao campus Sert o IFRS 2008 Fonte Arquivo da pesquisa 2008 Por m ao incorporar na pesquisa a comunidade remanescente da Arvinha a qual tamb m possui
58. certamente consigo trouxeram conhecimentos experienciados por seus ancestrais o que deve ter inspirado esses remanescentes no cultivo destes saberes como uma das refer ncias que os identifica como grupo Chegaram 181 trazendo o desejo da liberta o os seus s mbolos os seus santos suas tecnologias e dom nio do conhecimento sobre o solo o clima as plantas a chuva e a seca Al m do conhecimento sobre o ambiente natural s o detentores de um enorme conhecimento sobre o ambiente f sico poss vel que suas continuidades somente se tornaram reais gra as ao conhecimento desse ambiente constru do atrav s dos tempos compreendendo assim a teia de rela es estabelecidas entre os componentes bi ticos e abi ticos do sistema do qual fazemos parte O conhecimento sobre o clima fez com que adaptassem recursos naturais a uma condi o mais confort vel termicamente como a habita o por exemplo utilizando se do barro argiloso da madeira e os capins abundantes para construir suas primeiras casas as mantinham aquecidas no inverno e agrad veis no ver o Hoje nas comunidades n o h mais esse tipo de resid ncia substitu ram pela madeira serrada em sua maioria e algumas em alvenaria no entanto a menos de tr s d cadas existiam sob o modelo antigo Hoje esse conhecimento faz parte das hist rias contadas aos mais jovens As mais diversas sociedades humanas acumulam um acervo de informa es sobre o meio onde vivem o que lhe
59. conhecimento constru do atrav s da observa o e da experimenta o utilizando se do poder dos recursos da natureza especialmente plantas e animais e da f para tratar a sa de e a cura de males que os aflige O contentamento maior que isto nos proporciona presenciar de que na riqueza desses atos de ensinar e aprender h um conhecimento que n o se perde mant m se vivo ao ser retratado em cada fervura de um desses xaropes e em cada frase de um desses benzimentos fig 25 Figura 25 Casal morador na Morma a com o ca ula dos 11 filhos ao visit los TT Fonte Arquivo da pesquisa 2014 5 4 2 A A o Educativa Cotidiana O conhecimento forjado no interior das popula es tradicionais deve se constituir num pilar para a forma o educacional de seus filhos Um rememorar de experi ncias pr ticas s mbolos identidades que fazem parte de suas a es diuturnas Um conhecimento sedimentado nos mais diversos espa os n o 186 escolarizados constru do no seio da cultura local e registrado na mem ria de seu povo transforma se em a es de cultivar e cuidar da terra de criar e proteger os animais de usufruir dos recursos da natureza de pescar de preparar a madeira de construir casas ou na engenhosa observa o do tempo e dos fen menos naturais Trata se de processos de ensinar e aprender formais e n o formais que v m perpassando gera es por um conv vio di rio expressa
60. das Comunidades Morma a e Arvinha observa se que as articula es para defini o de seus territ rios come am no ano de 2001 e em 2004 e 2006 respectivamente foram reconhecidas pela Funda o Cultural Palmares como Comunidades Remanescentes dos Quilombos da Morma a e de Arvinha No entanto pleitear esse direito de ser reconhecido em seu pr prio territ rio ocupado historicamente como forma de resist ncia a toda esp cie de discrimina o e preconceito que sempre sofreram as comunidades negras rurais tendo suas terras expropriadas seus recursos naturais extintos ou limitados direitos sociais escamoteados restringindo sua capacidade aut noma de sobreviv ncia 77 se contrapor a todos esses fatores que representam o processo de invisibilidade social legitimado pelo Estado Na o que sempre privilegiou a aristocracia rural e os grandes latif ndios Portanto articulando a identidade tnica e a representa o pol tica como condi o fundamental para o exerc cio da cidadania a maneira de interferir nas esferas do Estado para a efetiva o dos princ pios constitucionais a implanta o das pol ticas p blicas e a es afirmativas de que carecem as comunidades remanescentes como um todo O que tem que ficar claro que a garantia do direito de propriedade dos quilombolas deve levar em conta a estreita rela o existente entre a terra e suas tradi es e express es orais seus costumes e l nguas suas
61. de 2007 conceitua as comunidades e povos tradicionais como grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais Possuem formas pr prias de organiza o social ocupam e usam territ rios tradicionais al m de recursos naturais como condi o para sua reprodu o cultural social religiosa ancestral e econ mica Para tanto se utilizam de conhecimentos inova es e pr tica de conhecimentos inova es e pr ticas geradas e transmitidas pela tradi o Assim s o comunidades tradicionais povos ind genas quilombolas popula es ribeirinhas ciganos povos de terreiro dentre outras Dispon vel em http www dpu gov br Acesso em 14 nov 2013 60 ficaram isolados margem de sociedade Pelo contr rio sempre se relacionaram intensa e assimetricamente com a sociedade brasileira resistindo a v rias formas de viol ncia para permanecer em seus territ rios ou ao menos em parte deles RAMOS 2009 p 31 Desse processo resulta a constru o das identidades tnica e coletiva constru das e reconstru das segundo os interesses individuais e ou coletivos forjando a identidade etnoquilombola tamb m nos moradores das comunidades Arvinha e Morma a Os remanescentes de quilombo na legisla o brasileira s o compreendidos como grupos tnico raciais que tenham uma trajet ria hist rica pr pria dotado de rela es territoriais espec ficas com presun o de ancestralidade negra relacionada com a resist
62. do escravo no Rio Grande do Sul n o deve ser esquecida pois ali nas f tidas e midas senzalas das charqueadas nos suic dios do escravo desesperado no negro aquilombado nas tentativas de fuga e insurrei es est o passado do nosso povo DACANAL amp GONZAGA 1979 p 61 Os negros entraram na hist ria do Rio Grande do Sul desde seu in cio Mas o fizeram como personagens secund rios pouco lembrados pouco citados n o obstante sua atua o tenha sido provavelmente decisiva para a pr pria forma o do estado Na vis o do portugu s branco o negro e a negra eram um complemento indispens vel as suas atividades com a terra nas casas nas lutas e nas conquistas O fato ilustrado quando em 1635 Raposo Tavares ao explorar os vales dos rios Taquari e Jacu afirma que havia escravos negros entre seus membros Tamb m ao final do s culo XVII precisamente em 1680 na funda o da Col nia de Sacramento a expedi o comandada por Manoel Lobo trazia escravos negros Eram 200 militares tr s padres e 60 negros dos quais 41 escravos do 1 professora Edla Eggert em apontamentos a esta tese 38 comandante seis mulheres ndias e uma branca al m de homens ndios Os negros representavam portanto mais de 20 da expedi o sem se considerar os soldados negros e mulatos livres que eram usados pelos ex rcitos daquela poca Paralelamente a funda o de Laguna em Santa Catarina vem tamb m contribuir com a hist
63. e amparados pelos la os de solidariedade que simbolicamente est o representados e identificados por fatores peculiares em ordem de prioridade a posse e uso comum da terra a tradi o da moradia pr xima ao n cleo o compartilhamento do mesmo espa o do terreiro a constitui o de rela es conjugais dentro do mesmo grupo e os la os de afetividade e afinidade bem caracterizam esses la os identit rios forjados a partir de uma origem comum Esses costumes e tradi es tiveram no Brasil ra zes fortes nas antigas comunidades de senzala em torno da figura da mulher escrava e representam nesse sentido tra os de resson ncia da tradi o africana Nesse sentido observa Carlos Serrano 2007 que essa refer ncia tamb m tem inspirado a di spora negra que procurando resgatar a sua identidade volta se para suas ra zes culturais e hist ricas O fundamental diz respeito aos processos sociais que se desenvolveram no continente e que influenciaram profundamente a forma de ser e de pensar do homem africano Nessa tica assinale se que para o africano t pico a 55 sua identidade est em primeiro lugar centrada no n cleo familiar A fam lia constitui o cerne da vida social SERRANO 2007 p 126 129 Essa peculiaridade ocorre na Comunidade Remanescente da Arvinha que se constituiu tomando como refer ncia o modelo de fam lia nuclear matrifocal atrav s dos la os de parentesco no interior do grupo de de
64. eee 150 Figura 23 Escola na Comunidade Arvinha mais tarde virou resid ncia de morador SAEI eTnnl o1 E AEE PEE EFE A EA E EE N E E EE 170 Figura 24 Cultivos plantas medicinais temperos e amendoim na Arvinha 183 Figura 25 Casal morador na Morma a com o ca ula dos 11 filhos ao visit los 185 Figura 26 Casal morador na Morma a autores da proposta 188 Figura 27 Senzala Social Comunit ria da Arvinha sassgaoss2ossasabisadaosdaos noabasuiaasames 193 Figura 28 Moradores quilombolas na Morma a da esquerda para direita o casal Dona Nena e Seu Nauro Picuxa filha de Chica Morma a falecida e o primo Casilano elas j foram parteiras qassasasaiacasasadotalasaloialasadcdedasalcdoiosadofesolasoiesolsasteaa 197 Figura 29 Pil o para moer macerar diversos alimentos de consumo humano e animal morador na AMINNA see e elos E E espia 198 Figura 30 Adolescentes e jovens estudantes na Morma a 205 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ADCT Ato das Disposi es Constitucionais Transit rias AHRS Arquivo Hist rico do Rio Grande do Sul APERS Arquivo P blico do Estado do Rio Grande do Sul CETAP Centro de Apoio ao Pequeno Produtor CF Constitui o Federal CNE Conselho Nacional da Educa o CONAQ Coordena o Nacional de Articula o das Comunidades Negras Rurais Quilombolas CRQ Comunidades de Remanescentes Quilombola
65. entrela amento de processos educativos escolarizados e n o escolarizados o que promove novos horizontes emancipa o manuten o da cultura e consequente perman ncia 204 de jovens e adultos na comunidade No entender de Regisnei da Silva 2002 2004 a educa o proveniente do lar vai se entrela ar com a educa o formal balizada pela escola completando as etapas de sua forma o para a vida Citando Honda 1998 ao refor ar que essa intera o se traduz em instrumento que garante a mobilidade social possibilita melhores condi es de trabalho e de vida e permite exercitar o direito cidadania das popula es tradicionais Uma estrat gia que o grupo quilombola vem debatendo e utilizando para o fortalecimento de sua luta proporcionar estudo aos filhos Pudemos presenciar a discuss o a respeito num dos encontros na Morma a em dezembro de 2013 promovida pela Associa o dos Remanescentes Uma das m es infere Quem vai luta por n s sem ser n s mesmo Poucos aqui tem mais estudo Ent o que tem que estud s o as crian a elas que v o atr s de nosso direito elas que vai falar pela gente O G 55 dezembro de 2013 Sucederam se falas semelhantes e outras tantas de apoio Por m pensativa e provavelmente testemunha de outra realidade uma das m es questiona Quero sabe se quando for estuda e termina elas v o fica aqui que nem n is V o quere mora aqui Viver como a gente
66. es s cio hist ricas da educa o escolar tamb m s o afetadas Constitu do esse cen rio a educa o e seu conceito ampliam se No entender de Maria da Gl ria Gohn 2011 a educa o n o se limita apenas aos espa os escolares formais atrelados somente ao processo de ensino aprendizagem de seus educandos Ela chamada tamb m a transpor os muros da escola para os espa os da casa do trabalho do lazer do associativismo e outras atividades afins Configura se assim um novo campo da educa o que aborda processos educativos fora das escolas ou n o em processos organizativos da sociedade civil abrangendo organiza es sociais e n o governamentais movimentos sociais estrat gicos ou processos educacionais articulados com a escola e comunidade A educa o n o formal desenvolve a es que abrangem os espa os sociais num todo tem o objetivo de analisar discutir e desenvolver uma participa o atrav s de a es educativas buscando uma poss vel transforma o para cada indiv duo de acordo o contexto de cada um Nesse sentido percebemos um processo educacional participativo com intera o do coletivo dito tamb m por Gohn a Educa o n o formal tem sempre um car ter coletivo passa por um processo de a o grupal vivida como pr xis concreta de um grupo ainda que o resultado do que se aprende seja absorvido individualmente O processo ocorre a partir de rela es sociais mediadas por agentes asse
67. escravo lhe era natural n o significou que n o tenha havido resist ncia por parte dessa popula o ao modelo de domina o Esses africanos e africanas que foram arrastados do al m mar n o estavam s s trouxeram com eles suas divindades e seus diversos modos de vis o do mundo sua alteridade lingu stica art stica tnica religiosa suas diferentes formas de organiza o social e simboliza o do real Houve assim a resist ncia a luta em busca de liberdade que se concretizava na forma o dos quilombos e a participa o dos negros nas diversas insurrei es ocorridas no pa s no s culo XIX demonstrando esse inconformismo Entretanto o Estado constitu do sempre mostrou compet ncia para sufocar as resist ncias de car ter mais coletivo e com abrang ncia maior que pudesse ser amea a ao poder estabelecido Diante das barb ries a que essa popula o por longos s culos esteve submetida somente no final dos mil e novecentos que s o reconhecidos como grupos tnicos cabendo assim repara o hist rica pela sociedade A Constitui o Federal de 1988 reconhecendo a trajet ria dos negros e negras em situa o de vida rural que at ent o n o possu am nenhum instrumento legal que legitimasse sua luta pela posse definitiva da terra historicamente ocupada por seus antepassados e tamb m hist rico veem seus territ rios reduzidos ou extintos pelo poder e for a de grandes latifundi rios fazendeiros e donos dos m
68. estabelecidas no Brasil fundamenta se na ideia de inferioridade do negro e superioridade do branco o que justifica e consolida a escravid o a que os povos africanos foram submetidos Claudilene Silva 2009 p 11 discutindo o trabalho de Santos 2002 infere que os europeus trataram diferentemente os ndios da Am rica e os negros da frica porque embora considerassem os primeiros como primitivos entendiam que eles eram dotados de uma pureza que n o se estendia aos negros A cor que os distinguia dos brancos era estranha e pedia explica o Essa explica o tornava se quase sempre justificativa de sua inferioridade natural Ibid As investiga es e as especula es sobre o ser do negro como um fen meno diferente conduziram os europeus a ver a frica como uma terra de pecado e imoralidade que gerava homens corrompidos decorrendo assim como paradigma uma popula o branca e civilizada europeia Dessa forma fundamentaram as teorias racistas do s culo XIX A sociedade brasileira e suas institui es inclusive a escola v o se constituir em sintonia com esse projeto colonial que institui o racismo e as pr ticas racistas em seus espa os Dessa forma a sociedade em geral e a educa o em particular assimilam e reproduzem o imagin rio brasileiro a respeito da popula o negra como uma popula o inferior Durante anos a elite brasileira uniu esfor os em busca de mecanismos que negassem essa condi o de pa s n
69. fazemos isto inventando e partilhando palavras saberes ideias vis es de mundo sistemas de cren as religi es filosofia artes teorias e pr ticas pedag gicas BRAND O 2007b p 7 PROGRAMA ESPECIAL DOCUMENT RIO CULTURA POPULAR E EDUCA O Percebemos ent o que na condi o de seres humanos seres pensantes somos consci ncia capaz de criar e transformar cultura e podermos viv la em diversos momentos o passado o presente e o futuro enquanto que aos outros seres e tudo o que vive nossa volta t m a possibilidade viver um s o presente que moment neo e vivido como se fosse sem fim Esse mundo que transformamos da natureza em n s e para n s dando formas simboliza cultura A cultura e est tanto nos atos e nos fatos atrav s dos quais n s nos apropriamos do mundo natural e o transformamos em um mundo humano quanto est nos gestos e nos feitos com que nos criamos a n s pr prios ao passarmos em cada indiv duo em um grupo humano ou em toda a nossa esp cie de organismos biol gicos a sujeitos sociais ao criarmos socialmente os nossos pr prios mundos e ao dot los e a n s pr prios de algum sentido Ibid p 9 10 A Senzala Comunit ria em Arvinha e Morma a que um dos espa os de representa o da cultura do povo remanescente uma constru o realizada com recursos do Governo Federal possuem o mesmo projeto arquitet nico diferenciam se apenas em detalhes na Morma a com pare
70. formas de ensinar e aprender respeitando essas manifesta es Como essa 3 O Pensamento pedag gico cr tico de Paulo Freire expressado na Pedagogia do Oprimido A Educa o como Pr tica da Liberdade e A Pedagogia da Esperan a e em outros escritos e momentos investe contra o discurso liberal sobre a educa o condenando a educa o puramente t cnica e cient fica Para ele o trabalhador precisa adquirir uma consci ncia pol tica para desempenhar com inteira liberdade sua cidadania V se na apresenta o do Pedagogia do Oprimido Aos que constroem juntos o mundo humano trabalhadores compete assumirem a responsabilidade de dar lhe dire o 208 escola de educa o ci ncia e tecnologia ir conceber tamb m o conhecimento n o escolarizado Com a cria o em 2008 dos Institutos Federais de Educa o em sua nova estrutura foi incorporado um grande n mero de atores professores e t cnicos administrativos gestores e servidores terceirizados com amplo leque de forma o e experi ncia trazidos de outros lugares tamb m est se constituindo e sendo ofertada uma gama de novos cursos e forma es e mais importante s o os novos p blicos que devem ser incorporados nessas escolas incluindo todas as diversidades culturais da popula o brasileira Bem desta feita h de se compreender h de se esperar que com a chegada dessa diversidade de sujeitos que fluir o novas e
71. galinhas e porcos presos e soltos Utilizava se como meio de locomo o e transporte de alimentos e materiais o cavalo com carro a ou charrete e a junta de bois puxando gaiota ou carro a Esse conhecimento permanece em suas mem rias 199 Uma das moradoras da Arvinha fala dos pratos tradicionais e de receitas antigas que fazem parte da culin ria tradicional do povo negro desde os tempos dos aquilombamentos Outras comunidades tradicionais onde h a presen a da popula o cabocla especialmente tamb m utilizam esses pratos Como quase todos ainda s o preparados e consumidos se traduz em conhecimento que ao ser transmitido mant m uma tradi o cultural secular Era preparado o arroz com galinha caipira feito em panela de ferro a pa oca de amendoim pa oca de pinh o cozido pinh o socado no pil o depois misturado com carne frita canjica de milho o revirado de feij o com torresmo quirera com carne de porco farofa de carne de frango ou de tat broa de fub e de biju bolo de milho bolo de porvilho o licor da folha de figo a murcia de porco morcilha o queijo de porco e tantos outros M L 67 mar o de 2014 A moradora da Morma a N O 67 anos procura passar para filhos e netos sua cultura especialmente o tratamento com as outras pessoas o respeito a amizade a cortesia o amor ao pr ximo a religiosidade e o louvado forma de cumprimento onde se pede a b n o a uma pessoa mais v
72. iniciativas dos quilombolas os tornam ent o ativos de certa forma empoderando os Os remanescentes da Morma a cultivam lavouras de inverno e ver o como n o disp em de m quinas e equipamentos para desenvolver os trabalhos recorrem contrata o externa paga Dois de seus vizinhos que certamente possuem reas que foram territ rio quilombola quando da desapropria o ser o atingidos mesmo assim tem vindo prestar esse trabalho Num dos dias que est vamos na propriedade do casal N R 67 e L R A 68 chegava o vizinho agricultor G A com seu trator acoplado com uma forrageira para fazer a moagem de gr os de milho aveia branca aveia preta e trigo para serem utilizados na prepara o das ra es como alimento aos animais de leite e engorda de su nos Trabalharam at pr ximo ao meio dia Essas rela es que em momentos pontuais tem sido assim tricas tornam se amistosas e colaborativas em outros Mesmo o morador quilombola pagando pelos servi os prestados seu vizinho poderia n o desejar faz lo o que de certa forma estaria contribuindo para a manuten o e uma poss vel amplia o dessas reas quilombolas Ao realizarem aquela atividade pudemos presenciar outra a o comum nessas comunidades a reciprocidade Como Seu N R tem problemas de pulm o e esse trabalho faz muita poeira prejudicando o solicitou ajuda a dois jovens trabalhadores filhos do morador E M 58 que mora a uns 300 metros dali para ajudarem na
73. lavouras de soja semente ou nos armaz ns no descarregamento carregamento e movimenta o de gr os 113 Primeiramente caracteriza se por trabalho exclusivamente bra al uma 84 atividade desvalorizada sem uma forma o profissiona mais elaborada aparentemente n o agrega conhecimento pelo fato de ser repetitivo o que de forma alguma significa estarmos dizendo que nestas atividades n o h saberes e portanto conhecimentos sem d vida h saberes experi ncias e conhecimentos invisibilizados A professora Edla Eggert 2011 em uma de suas pesquisas sobre os processos educativos do fazer artesanal explicita as raz es de muitos conhecimentos e experi ncias populares j numa condi o de quase desaparecimento constitu rem conhecimentos invisibilizados como exemplo nos trabalhos de produ o artesanal no caso da pesquisa com mulheres artes s A pesquisadora tenta quebrar esse preconceito em rela o ao trabalho manual no campo pedag gico com a contribui o do referencial te rico que tem por base a pesquisa sobre as manualidades no que segue o trabalho manual e o tema da viol ncia contra as mulheres s o assuntos que a academia tem ao longo dos s culos deixado nas margens Desde a experi ncia da produ o do conhecimento grego o trabalho manual foi relegado aos escravos e escravas e s pr prias mulheres mesmo aquelas pertencentes aos cidad os Eggert 2008 p 2 In BRUN amp
74. liberada v o voltar OLIVEIRA H 2012 p 15 As afirma es acima demonstram o sentido e a for a da cultura matrifocal nessas comunidades Primeiramente as conclus es de que sa ram para trabalhar mas seus lugares continuam l e de que v o voltar e considerando a origem das falas constituem desejos e esperan as de duas l deres comunit rias presidentas das associa es de remanescentes dando continuidade a essa cultura matrifocal herdada 2 4 O Processo de Reconhecimento das Comunidades O reconhecimento dos direitos fundamentais das comunidades remanescentes de quilombos tem se alternado em momentos de estagna o e de progressos Apesar de nesses ltimos anos as pol ticas p blicas para as 59 comunidades tradicionais brasileiras caracterizadas no Decreto Presidencial n 6 040 de 07 de fevereiro de 2007 terem avan ado mais do que em toda sua hist ria a luta destas n o tem sido f cil s o lutas de minorias diante de um contexto opressor centrado no capital e no poder com presen a na esfera pol tica em governos locais estaduais e federal na m dia e em setores da sociedade Considerando a desproporcionalidade de for as para embrenhar se na empreitada enfatizam a sua condi o de coletividades camponesas compartilhando um territ rio e uma identidade A essa incorpora o de identidades que podemos chamar para a Arvinha e Morma a e a outras comunidades id
75. m disponibilzaram suas casas e se propuseram acompanhar nas caminhadas me apresentando para as fam lias que ainda n o conhecia Precisamente aconteceu aquilo que Roberto Oliveira 2000 discute sobre a forma como se d a inser o no campo de pesquisa Essa aproxima o ou seja o estar em campo envolto de uma trama de evoca es e representa es faz com que entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados haja uma abertura um canal de di logo para uma fus o de horizontes OLIVEIRA 2000 p 31 Talvez a informalidade dos encontros tenha tornado os relatos mais preciosos possibilitando nas manifesta es presentes em seus di logos relatar experi ncias certamente singulares para a manuten o e a viv ncia naquele lugar A presta o de d divas em Arvinha e Morma a est baseada principalmente no emprego da for a de trabalho demonstrando neste princ pio de a o qu o imbricadas suas d vidas para com o territ rio A prefer ncia por dar a for a de trabalho ao outro ao inv s de vend la constatada ainda pelos puxir es que fazem em pocas determinadas nas atividades agr colas onde se faz necess rio um maior n mero de trabalhadores na execu o de determinadas tarefas como o caso de plantios colheitas e ro adas Para determinadas atividades rurais assim como para algumas no meio urbano principalmente as expostas ao tempo necess rio que se realize em condi es ideais de tra
76. m tentado formar grupos de consulta ad hoc constitu dos de camponeses id neos trabalhadores e ndios com vasta experi ncia com a finalidade de suplantar os grupos de consulta formados por acad micos e professores a elite dominante BORDA 1978 p 233 2006 p 53 Neste trabalho descreveremos o conhecimento elaborado a partir da experi ncia acumulada individualmente ou aquele da constru o conjunta que vem com seus ancestrais Faz se necess rio para al m de conhec lo valorizar os saberes da comunidade respeitar a cultura e seu contexto social Essa interlocu o com a realidade exige um olhar atento para o territ rio O professor Danilo Streck 2006 fala de um distanciamento da pesquisa dos livros e dos bancos escolares dos saberes das comunidades havendo a necessidade de se realizar um caminho inverso A realidade n o um corpo morto a ser seccionado e dissecado mas tem vida alma Ou seja ela mesma se coloca como sujeito que interpela o pesquisador de formas muitas vezes inusitadas um gesto uma palavra um voto podem indicar ao pesquisador que ele n o estava compreendendo nada do que acontecia a sua volta E ele ter de reaprender e se posicionar naquela realidade STRECK 2006 p 270 271 necess rio ent o pensar nos territ rios comunit rios estabelecendo uma conversa com essa realidade n o deixando de esquecer o todo um di logo entre o local e o global utilizando se de a e
77. mbito da Administra o P blica Federal e pelo Decreto n 4 887 2003 que estabelece normas espec ficas Ainda devem ser observados os princ pios constitucionais da ampla defesa e do contradit rio art 5 inciso LV da Constitui o da Rep blica de 1988 que garante a possibilidade da comunidade quilombola interessada em participar de todas as etapas do procedimento administrativo e o disposto no Decreto n 4 887 2003 a fim de que as terras ocupadas por remanescentes de quilombos sejam identificadas reconhecidas delimitadas demarcadas e tituladas Finalmente conclu da a fase de demarca o do procedimento administrativo inicia se a fase de titula o em que o INCRA outorga em nome da associa o que representa a comunidade quilombola o t tulo de propriedade coletiva da terra com cl usulas de inalienabilidade de imprescritibilidade e de impenhorabilidade procedendo se a seguir ao registro do t tulo no Cart rio de Registro de Im veis e encerrando se o procedimento administrativo de identifica o reconhecimento delimita o demarca o e titula o das terras ocupadas por comunidades remanescentes de quilombo 2 4 2 A Regulariza o do Territ rio nas Comunidades Negras da Arvinha e Morma a Ao iniciarmos este item me parece importante termos clara a raz o maior da regulariza o dos territ rios nas Comunidades Negras o que isto significa e o que est sendo reparado as popula es remanescentes
78. moagem e novamente ensacar os gr os triturados fig 22 Prontamente vieram prestar a ajuda dando nos a impress o que estavam a devolver d diva que anteriormente haviam recebido 150 Figura 22 Jovens trabalhadores dando nos a impress o que estavam a devolver d diva que anteriormente haviam recebido a PQ v Ai SEAT J EREE Fonte Arquivo da pesquisa 2014 Finalmente pudemos compreender que por interm dio das rela es de parentesco sangu neo refor adas por la os de parentesco em compadrio e de apadrinhamento que decorre o entrela amento daqueles moradores remanescentes A fam lia e o parentesco os usos e usufrutos da terra o modo de produ o e troca as rela es pol ticas com os entes da sociedade as formas de sociabilidade e a mem ria social coletiva materializam a identidade quilombola Essa condi o uno de grupo estabelecida pelo fortalecimento de la os parentais sendo a alian a o fundamento do parentesco se traduz no objetivo principal para os moradores de Arvinha e Morma a a conquista da titula o das terras territ rio e a constru o de um perfil de identidade quilombola que se firme politicamente considerando que a legisla o brasileira j adota este conceito de comunidade e reconhece que a determina o da condi o adv m da auto identifica o auto reconhecimento previsto no Decreto n 4 887 2003 A trajet ria coletiva trilhada pelos grupos e o rec
79. momentos quando os grupos se agregam de modo festivo e intencionam a retomada de um territ rio de pertencimento que se verifica a entrega celebrativa que havia sido costurada em d cadas de trocas intensas fig 14 Figura 14 Dona Teresa ao p do fogo quando trazia lembran as dos puxir es Fonte Arquivo da pesquisa 2014 109 O sentido de comunidade que raramente se ratifica na forma escrita confirmado assim atrav s da circula o de coisas pelo territ rio Silveira 2010 Esta confraterniza o demonstra que as rela es de proximidade se constituem nas mais importantes formas de sociabilidade sendo elas tanto de parentesco como de amizade No entanto as diferentes comunidades Morma a e Arvinha apresentam distintas maneiras de manter as sociabilidades o interconhecimento o preservar atos de reciprocidade e a intensidade da vida comunit ria As d divas prestadas e retribu das na Morma a e Arvinha em sua maioria s o aquelas que a terra d s o os frutos do trabalho ou a pr pria m o de obra A produ o agr cola n o visa somente ao consumo pr prio mas possibilidade de presentear a sobra o excedente ou seja o consumo festivo daquilo que produzido assim ocorrem as trocas Como a produ o se d em pequenas reas os alimentos trocados mais intensamente s o o leite ovos algumas carnes verduras e legumes frutas e ervas Mauss 1974 ao estudar sociedade
80. n o ser o nico a foment la esse acontecer se d em um cem n meros de espa os na fam lia nos grupos nos grupos ampliados na igreja na rua ou na escola ela est por todos os lugares A educa o pode existir de modo livre nas mais diversas formas de ensinar e aprender onde o conhecimento est dispon vel para tornar se comum tamb m pode apresentar se restrito centralizado como condi o de manuten o de poder de persuas o de press o e de controle o que tem provocado distanciamento entre povos popula es refor ando a desigualdade entre os homens Desta forma ent o o modo de vermos a educa o n o pode ser nico tem que ser avaliado seu sentido a educa o do colonizador que carrega o saber de seu modo de vida e que aparenta uma legalidade em seus atos de dom nio n o servir como educa o para o colonizado que intrinsecamente vai aceitando e internalizando como nica sem perceber incorporando valores a servi o do dominador Tamb m na pr tica a mesma educa o que ensina pode deseducar e 156 pode correr o risco de fazer o contr rio do que pensa que faz Idem 2007 p 12 A educa o neste momento est diante de grandes desafios considerando um quadro t o diversificado e desigual s o os movimentos no interior da sociedade a exigir constantemente novas a es no que se refere esfera p blica e privada provocando altera es profundas onde as configura
81. n s que se op e aos estranhos A nfase que coloquei na descend ncia se justifica pela semelhan a entre a l gica do matrim nio campon s e aquele da sociedade romana herdar transmitir WVOORTMANN E 1995 p 92 93 Figura 18 Netas da escrava matriarca Cezarina Jurema No mia Zulmira e Maria filhas de Silvana de Miranda Anivers rio de Zulmira em 2013 86 anos en td b X dna Fonte Arquivo Prof Maria Teresinha Costa Vargas 2013 Com a doa o efetivada da Invernada da Arvinha para a escrava liberta Cezarina de Miranda ela com seus filhos come am a constru o social e afirma o do territ rio da Arvinha enquanto territ rio negro A esse espa o se assentaram outros sujeitos negros que vinham da regi o ind genas e bugres Relatos d o conta de que na Arvinha e na Morma a as rela es afro ind genas foram uma constante e que alguns dos padrinhos dos remanescentes que viviam pr ximos s comunidades designados como pardos ou livres fossem descendentes de ind genas N o por acaso como descrevemos no cap tulo dois nessa regi o existem tr s reservas ind genas num raio de mais ou menos 80 km com grande circula o de nativos nas redondezas rurais e urbanas Especialmente com rela o Morma a o parentesco efetivado seja pela uni o matrimonial seja pelo apadrinhamento aproximou em distintas pocas escravos africanos e caboclos ind genas e negros livre
82. nas ferrarias forjas utilizando pe as de ferro que eram armas contra os negros transformando os em instrumentos de trabalho Assim nos quilombos ga chos diversas mulheres tamb m se destacaram como exemplo no Quilombo da Arvinha a escrava Cezarina de Miranda que juntamente com escravos fugidos materializou e deu sentido quela comunidade criando la os fazendo com que mais tarde aquele local fosse reconhecido como local de vida quilombola A pr tica de uma estrutura onde a mulher negra toma para si a responsabilidade pela continuidade desses grupos constatada em muitas comunidades negras rurais brasileiras adv m tamb m de uma ancestralidade africana Escritos d o conta dessa presen a naquele continente No trabalho dom stico na ro a no terreiro no rio na escola na lideran a comunit ria na organiza o das atividades culturais e religiosas a presen a feminina marcante ANJOS 2006 p 158 De outra sorte no Quilombo da Morma a foi na figura de Francisca Vieira que de acordo com levantamento realizado j nascera no local onde hoje sede da comunidade se constituiu a Vila Morma a como era conhecida at final da d cada de 1970 fig 09 Figura 9 Contempor neos de Francisca Vieira Comunidade Morma a Fonte Arquivo Prof Maria Teresinha Costa Vargas 2014 88 3 2 Territorialidade A Ocupa o Desocupa o Considerando o pressuposto de que a organiza o d
83. nascidas de pais escravos e pela lei n 3 270 Lei Saraiva Cotegipe de 28 de setembro de 1885 que regulava a extin o gradual do elemento servil O projeto da Lei urea foi decorr ncia de press es internas e externas Em 1888 o movimento abolicionista j possu a uma grande for a e apoio popular no pa s e j havia conseguido a aprova o da Lei Eus bio de Queir s a Lei do Ventre Livre e a Lei dos Sexagen rios O n mero de escravos havia diminu do muito nas d cadas anteriores aboli o da escravatura devido aboli o do tr fico de escravos em 1850 pela Lei Eus bio de Queir s s frequentes epidemias de var ola ocorridas no s culo XIX Guerra do Paraguai onde muitos escravos morreram ou foram libertos Lei do 63 da atividade repressiva estatal e de grupos sociais e econ micos que desejavam dizimar os focos de resist ncia ao regime pol tico jur dico vigente os quilombos reaparecem em novos lugares como verdadeiros focos de defesa contra a opress o dos sucessivos regimes pol ticos jur dicos que perseveraram em lhes negar o reconhecimento O quilombo enquanto categoria hist rica det m um significado relevante localizado no tempo e na atualidade objeto de uma reinterpreta o jur dica quando empregado para legitimar reivindica es pelo territ rio dos ancestrais por parte dos denominados remanescentes de quilombos Como resultado das mobiliza es de grupos rurais do Movimento Social
84. natureza seria uma natureza cultivada que ao ser incorporada atrav s do saber e do trabalho ao mundo da cultura estaria representada como uma natureza socializada Ent o n s seres humanos somos seres dessa natureza e somos naturalmente humanos Vivemos a cada momento de nossas vidas em um mundo natural cada vez mais transformado em mundo de artefatos de equipamentos de objetos de uma natureza socializada e transformada em cultura Questionando o autor eu pesquisador eu morador quilombola estamos dando forma interagindo com o mundo natureza isso ent o a representa o da cultura Nas palavras de Brand o 191 a cultura est longe de ser apenas isto Antes de ser aquilo que os homens fazem ao socializarem a natureza a cultura est transita e se transforma naquilo em que os seres humanos fazem com eles pr prios Ela est nos pr prios processos atrav s dos quais n s mesmos passamos da natureza cultura Est na cria o da sociedade e das diferentes formas de vidas sociais Ela habita as diversas tramas e teias de s mbolos de saberes de sentidos de significados de sentimentos e de sociabilidades os v rios esses do mundo da cultura com que n s criamos preservamos e transformamos nossas maneiras de viver e de sobreviver de conviver e de atribuir identidades a quem somos e significados a como vivemos e aos mundos em que convivemos e que criamos e re criamos para viver E
85. o casamento entre primos irm os no s tio campon s sergipano era um preceito cujo objetivo era minimizar a disputa por terras num per odo em que o cercamento das reas havia se intensificado Idem p 138 Nesse sentido n o obstante as regras matrimoniais de cada regi o variem todas parecem ter por objetivo nos distintos contextos de campesinato evitar ou minimizar a fragmenta o das reas Continuando a an lise das uni es matrimoniais parentais consangu neas elas n o se restringem fam lia citada h outros relatos Ainda entre os descendentes do tronco Silvana de Miranda um de seus filhos Felisbino contrai matrim nio com Laura filha de seu irm o Querubino uni o de tio com sobrinha Na mesma fam lia de Querubino seu filho Sime o casa se com Constantina filha de Vicentina que era irm de Querubino uni o entre primos A l der comunit ria M Teresinha Costa Vargas 60 e seu esposo Avelino Miranda Vargas 64 carregam um estreito grau de parentesco O pai de Avelino era neto de Silvana e sua m e neta de Leonor enquanto a m e de Teresinha Dona Zulmira 86 neta tamb m de Silvana Depreende se dai uma estreita consanguinidade fig 19 Essa uni o representa claramente al m da constitui o T do grupo familiar um processo de aglutina o territorial pois ambos antepassados possu am reas em Arvinha o que possibilitou que viessem a fundir se 71 Z 3 Z O casal provavel
86. o com A Caill 1998a O esp rito da d diva Rio FGV GOHN Maria da Gl ria Movimentos sociais e educa o 3 ed S o Paulo Cortez 1999 Educa o n o formal e o educador social atua o no desenvolvimento de projetos sociais S o Paulo Cortez 2010 Cole o quest es da nossa poca v 1 Educa o n o formal e cultura pol tica impactos sobre o associativo do terceiro setor 2 ed S o Paulo Cortez 2011 GOMES Ana B Sousa BOAKARI Francis Musa Comunidades negras rurais do Piau e a escola Leituras e aprendizados University of Incarnate Word Universidade Federal do Piau UFPI Teresina 2002 Dispon vel em http www ufpi br subsiteFiles ppged arquivos files eventos evento2002 GT 14 GT14 4 200 2 pdf Acesso em jan 2014 GTCM Grupo de Trabalho Cl vis Moura Quilombos do Paran Relat rio do Grupo de Trabalho Cl vis Moura 2005 2010 Curitiba GTMC 2010 HARTUNG Miriam Muito al m do c u Escravid o e estrat gias de liberdade no Paran do s culo XIX Revista TOPOI v 6 n 10 jan jun 2005 p 143 191 Dispon vel em http www revistatopoi org numeros anteriores Topoi 2010 topoi Acesso em 7 fev 2014 HAESBAERT Rog rio Dos m ltiplos territ rios multiterritorialidade Porto Alegre 2004 Dispon vel em http www uff br observatoriojovem sites default files documentos CONFERENCE Rogerio HAESBAERT pdf Acesso em 15 nov 2012 225
87. o da terra territ rio A finalidade da explora o mercantil do plantador de soja a venda de sua produ o enquanto que para o remanescente a comercializa o n o fator 91 principal ser comercializado o excedente se houver depois da partilha entre seu grupo leda Ramos 2009 em pesquisa que desenvolveu na comunidade quilombola Cambar no interior do munic pio de Cachoeira do Sul RS bem observa essa pr tica O sistema de d diva se constitui como a perspectiva de que os bens circulem com o objetivo de fortalecer os v nculos Ou seja quando o produto oferecido ou servi o prestado n o tiver um fim em si mesmo mas visa criar consolidar e alimentar rela es interpessoais Em oposi o ao modelo de interc mbio a d diva recusa a equival ncia e por conseguinte rejeita o c lculo instrumento que baliza a rela o mercantil RAMOS 2009 p 62 Os v nculos fortalecidos que a pesquisadora detectou em seu trabalho para o morador da Morma a N R mesmo que na subliminaridade de sua proposta est ocorrendo um processo educativo envolvendo os mais pr ximos com perspectiva de se ampliar aos demais Na rela o di ria se configura um processo de ensinar e aprender considerando a sua vis o de utiliza o dos recursos naturais a produ o de diversos produtos teis de consumo imediato e para todos Essa vis o pr tica que perpassa as gera es constituindo essa outra forma de produ o n
88. o das classes populares e sua inser o nas pol ticas p blicas est profundamente vinculado s transforma es do trabalho e consequentemente estrutura pol tica de estado Reinventar a educa o ent o uma das propostas do educador Paulo Freire com seu grupo no experenciar de suas trajet rias profissionais Reinventar a ideia de que a educa o uma inven o humana e se em algum lugar foi feita um dia de um modo pode ser mais adiante refeita de outro diferente diverso at oposto BRAND O 2007 p 100 Reconfigurando esse contexto hist rico vale ressaltar que a educa o popular ou as metodologias qualitativas nasceram s margens da sociedade no extramuros da institui o escolar e dos espa os de legitima o oficial da educa o A Educa o n o formal ent o uma possibilidade de produ o de conhecimento em territ rios fora das estruturas curriculares da educa o formal Gohn 2011 O aprender ou o ensinar no cotidiano da comunidade n o acontece intencionalmente mas necessariamente a necessidade de se manter no 218 ambiente geralmente marginal que garante o aprendizado dos grupos sociais de comunidades tradicionais N o h vontade de ensinar ou de aprender H no entanto a necessidade de ensinar e aprender e essa necessidade manifestada sem inten o tanto por quem ensina como para quem aprende Os que n o sabem v o aprendendo com os outros que sabem mesmo
89. o em forma o capaz de transformar essa vis o do conceito nico do padr o que forma nossa sociedade A participa o dos professores e dos entes que comp em a institui o escolar atrav s de sua pr pria forma o torna se indispens vel para uma educa o que vise ao reconhecimento e valoriza o da hist ria cultura e identidade dos diferentes povos que habitam o Brasil particularmente neste trabalho os descendentes de africanos A professora Georgina Nunes 2006b nos traz uma reflex o que diz respeito natureza interna do ser humano quando se refere ao seu status quo quando essa certa zona de conforto amea ada ao nos deparamos com a diferen a que s vezes nos desafia e at mesmo assusta propondo rever pr ticas e conceitos at ent o tidos como imut veis Tratar a quest o da diversidade e da diferen a para a grande maioria dos professores e gestores n o deve trazer a especificidade da quest o tnico racial Ao implementar a lei n 10 639 03 que insere nos curr culos escolares de ensino fundamental e m dio a Hist ria e Cultura Afro Brasileira uma das grandes dificuldades que se colocam n o a quest o do conte do a ser explorado mas das emo es que v o ser mexidas e que estavam at ent o guardadas em lugares n o percebidos onde se alojam nossos preconceitos que por vezes emergem disfar ados na indiferen a NUNES 2006b p 348 A Secretaria de
90. objeto da presente Instru o Normativa t m como fundamento legal Artigo 68 dos Atos das Disposi es Constitucionais Transit rias da Constitui o Federal Artigos 215 e 216 da Constitui o Federal Lei n 4 132 de 10 de setembro de 1962 Lei n 9 784 de 29 de janeiro de 1999 Lei n 4 504 de 30 de novembro de 1964 Decreto n 59 428 de 27 de outubro de 1966 Decreto n 433 de 24 de janeiro de 1992 Lei n 8 629 de 25 de fevereiro de 1993 Medida Provis ria n 2 183 56 de 24 de agosto de 2001 Lei n 10 267 de 28 de agosto de 2001 Decreto n 4 887 de 20 de novembro de 2008 Decreto n 4 886 de 20 de novembro de 2008 Conven o Internacional n 169 da Organiza o Internacional do Trabalho OIT Lei n 10 678 de 23 de maio de 2003 CONCEITUA ES Art 3 Consideram se remanescentes das comunidades dos quilombos os grupos tnico raciais segundo crit rios de auto defini o com trajet ria hist rica pr pria dotados de rela es territoriais espec ficas com presun o de ancestralidade negra relacionada com a resist ncia opress o hist rica sofrida Art 4 Consideram se terras ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombos toda a terra utilizada para a garantia de sua reprodu o f sica social econ mica e cultural bem como as reas detentoras de recursos ambientais necess rios preserva o dos seus costumes tradi es cultura e
91. oportunidade de experiment la um xarope concentrado com excelente sabor Pudemos conhecer uma s rie de outros medicamentos que preparam e querem nos ensinar dentro de uma diversidade para a cura de doen as Benzimento e simpatia tamb m s o pr ticas tradicionais cultura que vem na oralidade das gera es anteriores Na Arvinha contaram das rezas e dos benzimentos para eliminar doen as H benzimentos para picadas de aranhas para feridas na pele para temporais que se aproximam e at para espantar cobras no ver o entre outros tantos Aprendi um que deram me por escrito ficando aqui registrado um benzimento para rendidura que acontece quando ao for armos o corpo ou partes dele numa posi o incorreta de mau jeito deslocamos o m sculo provocando dor por v rios dias Antes de iniciar a benzer colhe se tr s raminhos folhas de capim fazendo se tr s n s em cada um enquanto benzemos Diz assim Em nome do Pai do Filho e do Esp rito Santo Am m O que coso o que costuro Rendidura Isso mesmo eu coso 185 Jesus nasceu desta carne desta carne se criou Jesus cure esta carne que esta carne se rasgou Ao final amarrar os tr s ramos rezando a ora o do Pai Nosso Repetir por tr s dias V Nina 71 janeiro de 2014 Em cada comunidade h v rios elementos que se apresentam caracter sticos de uma cultura tradicional baseada num largo
92. organiza es criadas possibilitaram mobiliza es em defesa de seus direitos e de todo ser humano E neste tocante seu espa o no mercado de trabalho a inser o no mundo profissional e a conquista de novos espa os na sociedade foram alcan ados Por m com as conquistas a mulher foi levada a assumir m ltiplos pap is no espa o p blico mas ainda Ihe restou um espa o amplo no mbito dom stico e que por tratar se de uma quest o cultural dificulta se desvencilhar com facilidade O papel do cuidar descrito em v rios autores e que mais tarde nos reafirmava em suas aulas a Professora Edla Eggert um modelo presente no senso comum cont nuo em d cadas e s culos num modelo patriarcal anterior idade m dia que perdura at hoje Felizmente se est em decl nio e a sociedade como um todo percebe que esses pap is n o s o exclusivos mulher Como a inser o das mulheres no mercado de trabalho de forma efetiva se deu com o avan o do capitalismo industrial as conquistas tem se dado a passos firmes mundo do trabalho e forma o profissional apesar de ser ainda de modo desigual ao homem pois continua existindo preconceito e discrimina o Ao aprofundarmos a an lise sobre mercado de trabalho e trabalho dom stico que vamos perceber a desigualdade a mulher sujeita se dupla e at tripla jornada pois do trabalho est sua subsist ncia e de sua fam lia que al m de suas tarefas dom sticas no lar suas atribu
93. poder desigual um agricultor cujas terras 115 dever o ser desapropriadas pelo Estado por estarem dentro da rea demarcada como territ rio quilombola presta servi os agr colas com suas m quinas mediante pagamento na propriedade do casal de moradores N R e L R A fig 15 o nico que vem faze pra n is Na hora de planta pasto de inverno aveia ou trigo e o milho no ver o Tamb m vem o l S Os otro nem bola n o ajudam a gente s veis s cumprimenta casal N R 65 outubro de 2012 Figura 15 Reciprocidade assim trica agricultor prestando servi o ao morador quilombola na moagem de gr os Morma a no outono de 2014 Fonte Arquivo da pesquisa 2014 Alguns escritos se referem a uma prote o condescendente Silveira 2010 caracterizada por supremacia baseada em reciprocidade que possibilita um padr o de rela es raciais onde lindeiros vizinhos agricultores fazendeiros e comerciantes simultaneamente se apresentam como protetores e guardi es de uma moralidade local condi o que para esta realidade parece n o se aplicar As comunidades da Arvinha e da Morma a como pot ncia contam com uma pluralidade de princ pios de a o ou seja as l gicas que embasam as pr ticas de seus membros s o m ltiplas variando conforme as circunst ncias Dizer isto n o ignorar as especificidades das suas rela es sociais ou mesmo como se poderia pensar atribuir ao co
94. previu medidas de inclus o social e econ mica para os negros ao conferir o direito de propriedade aos remanescentes de quilombos estabelecendo par metros de visibilidade e diversidade dos grupos sociais em que s o participantes nesse processo de forma o da identidade nacional Essa real possibilidade do resgate da identidade aliada constru o da mem ria permitiu o avan o de muitas quest es Por outro lado uma s rie de outras continuam a merecer estudo investiga o e reflex o O Brasil ainda n o tinha experimentado reconhecer direitos aos mais distintos grupos tnicos e sociais formadores da nossa popula o e agora por conta disso setores poderosos representados pela quase totalidade da m dia grupos industriais nacionais e internacionais que produzem para o agroneg cio grupos ruralistas com representatividade local no congresso nacional e em rg os dos governos promovem diuturnamente campanhas contr rias s aspira es desses grupos e s pol ticas p blicas que ensejam pelo reconhecimento e inclus o Explicitamente revelam resist ncias na n o aceita o de mudan as propostas p s Nova Constitui o A etnia afrodescendente torna se um grupo particularmente visado a partir da reivindica o do direito agora reconhecido territ rio e sua territorialidade Compreens es conceituais sobre esse quilombo v m se reconstruindo O espa o de negros as fugidos as foi legitimado no Brasil em 1740 quando o Co
95. que estamos desenvolvendo esta pesquisa s o as de Remanescentes Quilombolas da Morma a e da Arvinha localizadas na rea rural dos munic pios de Sert o e Coxilha norte do Estado do Rio Grande do Sul que desde 2004 j haviam sido reconhecidas como comunidades remanescentes pela Funda o Cultural Palmares Arvinha e Morma a s o comunidades que lutam por aquele espa o geogr fico que hoje ocupam o que n o se resume em si mas o des gnio de um processo de trabalho aut nomo e livre da submiss o caracterizado pela transi o econ mica do escravo ao campon s livre Compreender as quest es que rodeiam o territ rio e sua territorialidade especialmente de uma comunidade ou de comunidades de grupo tnico racial auto reconhecidos que desde sua secular origem luta por esse espa o pelo pertencimento quele lugar constitui nosso objeto de pesquisa Para o desenvolvimento desta pesquisa com uma abordagem qualitativa no campo da Educa o a metodologia que ser utilizada na coleta na leitura dos dados e interpreta o nas idas e vindas ao pr prio campo empiria ter como base a pesquisa participante Pretendemos com este trabalho de tese contribuir para o debate no mbito educativo sobre como esses grupos organizados nas comunidades quilombolas produzem seus processos educativos e quais as possibilidades da Escola aprender com essas realidades Em sua realiza o ser o utilizados diversos instrumentos metodol gicos 244
96. ria da ocupa o do Rio Grande do Sul Diversas foram as expedi es que vieram com objetivos de capturar gado especialmente o bovino assim como para ocupar o Continente de S o Pedro O negro estava presente na funda o de Laguna e tamb m nessas expedi es que os lagunenses fizeram ao Estado em que constitu am a maioria dos integrantes Portugal ao constituir a Col nia d in cio a gigantesco mercado de m o de obra servil devido a sua posi o geogr fica que facilitava tanto o recebimento como a distribui o pela regi o O com rcio com o homem escravizado ser uma realidade cotidiana na Col nia Outra atividade importante para a Col nia de Sacramento al m do contrabando era o couro sebos carnes salgadas e os escravos africanos como citados anteriormente A ca a ao gado da Banda Oriental pelo seu couro ser permanentemente um dos pilares econ micos da Col nia Conseguindo o couro era ele secado e exportado para o Brasil ou para o exterior DACANAL amp GONZAGA 1979 p 66 As atividades do povo negro nas charqueadas foram sem d vida o per odo de maior ocupa o desta m o de obra e tamb m o de maior sofrimento pelos maus tratos a esse povo O regime social de escravid o se estrutura com a expuls o dos espanh is e a funda o da primeira charqueada ao n vel industrial ter se uma atividade produtiva de primeira ordem baseada na explora o do trabalho escravo Iniciou se assim a introdu
97. se apresentam como rituais de coes o social buscando garantir a essas fam lias prote o e um espa o social onde seja poss vel reproduzir se material e simbolicamente Conforme vimos em Anjos amp Silva 2004 quando pesquisam a manuten o territorial assentada nas rela es de parentesco que Trata se de uma regra de simultaneidade econ mica e moral que rege as tradi es sucess rias de tal modo 17 O Instituto Nacional de Coloniza o e Reforma Agr ria INCRA uma autarquia federal criada pelo Decreto n 1 110 de 9 de julho de 1970 com a miss o priorit ria de realizar a reforma agr ria manter o cadastro nacional de im veis rurais e administrar as terras p blicas da Uni o Dispon vel em http www incra gov br Acesso em 15 jan 2012 34 que a indivisibilidade e a integridade do territ rio esteja garantida ANJOS amp SILVA 2004 p 149 Neste momento se faz importante uma reflex o sobre o sentido que o territ rio representa para as pessoas o sentido que transita em suas mentes Imagens guardadas ao serem rememoradas s o trazidas ao conhecimento p blico A ocupa o do territ rio traduzida pela campesinidade quilombola Ainda preciso identificar a partir das narrativas a demanda por manter e ampliar esses espa os e as estrat gias empreendidas pelo grupo Finalizando no quinto cap tulo o estudo dos processos educativos n o escolarizados na manuten o do territ rio
98. seguido por Mauss dar a pista de sua dificuldade em identificar nos fatos o princ pio da d diva Mauss mostra se ali com raz o dominado por uma certeza de ordem l gica a saber que a troca o denominador comum de um grande n mero de atividades sociais aparentemente heterog neas entre si A observa o emp rica n o lhe fornece a troca mas apenas como ele pr prio diz tr s obriga es dar receber retribuir L VI STRAUSS 1974 p 33 No entender de L vi Straus se a troca necess ria e se ela n o dada preciso ent o constru la aplicando uma fonte de energia a que chama de energia dos corpos Pode se provar que nas coisas trocadas h uma virtude que for a as d divas a circularem a serem dadas e retribu das Por m como o pr prio L vi Straus 1974 afirma est se diante de uma virtude subjetiva em que cada ser confere determinado valor ou valor algum o que tornaria isso imposs vel pois os bens em quest o n o s o apenas objetos f sicos mas tamb m dignidades cargos privil gios Essa forma objetivista de enunciar os processos das trocas feitas pelo autor reduz a reprodu o da d diva e por conseguinte o princ pio da reciprocidade Numa compreens o ao texto de Mauss sobre os presentes e d divas concordamos que estes despendem de uma alma ou um sentido mesmo que seja um bem material inerte 100 Esse sentido pertence pessoa q
99. semelhante de arranjamentos matrimoniais Visto que as alian as t m um papel fundamental na constru o das rela es sociais ademais de poderem funcionar como mecanismo de preserva o do patrim nio familiar ocorre que as pessoas se casem frequentemente por interesse mais do que por amor e que as alian as sejam arranjadas a fim de constru rem as melhores perspectivas poss veis para a reprodu o social Os pais orientam seus filhos as para que se casem preferencialmente com primos e primas muito mais do que com pessoas desconhecidas e distantes do contexto familiar Todavia consenso que nos dias de hoje os pais j n o t m tanto poder para interferir nesse tipo de decis o como tinham outrora CAMORTE 2010 p 136 137 Ao passo que as uni es matrimoniais por indica o promoviam tamb m a manuten o e defesa do territ rio determinados artif cios de prote o invas o de reas foram postos em pr tica Esses as mesmos moradores ao rememorarem dizem que vem de h muito tempo a inten o em evitar os de fora como condi o de preservar aquele espa o fazendo sua defesa e a manuten o da comunidade tinha muita terra ent o n o era preciso entrar na terra do otro quem vinha de outras banda podia escolher os lugar pra morada e o rancho T T 79 mar o de 2014 Na declara o da senhora octogen ria a terra congrega a identidade do 135 grupo na mesma form
100. social Eixo 3 Inclus o Produtiva e Desenvolvimento Local apoio ao desenvolvimento produtivo local e autonomia econ mica baseado na identidade cultural e nos recursos naturais presentes no territ rio visando sustentabilidade ambiental social cultural econ mica e pol tica das comunidades Eixo 4 Direitos e Cidadania fomento de iniciativas de garantia de direitos promovidas por diferentes rg os p blicos e organiza es da sociedade civil estimulando a participa o ativa dos representantes quilombolas nos espa os coletivos de controle e participa o social como os conselhos e f runs locais e nacionais de pol ticas p blicas de modo a promover o acesso das comunidades ao conjunto das a es definidas pelo governo e seu envolvimento no monitoramento daquelas que s o implementadas em cada munic pio onde houver comunidades remanescentes de quilombos Dispon vel em http www seppir gov br comunidades tradicionais programa brasil quilombola Acesso em 28 nov 2013 161 rela o estreita entre a conquista do territ rio e os processos educativos faz com que as comunidades tenham se preocupado em transmiti lo a seus descendentes num processo de educa o coletiva informal como forma de manuten o das caracter sticas culturais e consequentemente suas exist ncias 5 2 Uma Lei para obrigar a um Direito Lei 10 693 2003 O racismo anti negro enquanto elemento estruturador das rela es sociais que foram
101. space that they actually are occupying because they has the purpose of a process which includes autonomous work and freedom of subservience The investigative process utilized the following methodologies participant observation individual and collective interviews and documentary research seek to understand the issues about territory and territoriality especially the communities of the racial ethnic groups which are self recognized These groups have been fighting since their origin for their space because they have the feeling to belong to that place This thesis shows the reasons why the communities have been setting up survival strategies in the last 160 years which one we understand as educational strategies linked to teaching and learning with the intention to avoid that their knowledge will be absolved by brazilian society Those strategies are based in the relations between the group s members and it has established and made possible the cohesion at the group enabling a primitive clustering of people and after that it became a community It is an education process which the communities have experienced for a long time and it s very significant at the daily life at the relationship with the housemates the relatives the neighborhood and the biggest group the community Therefore it s a process of teaching and learning non schooled which is linked with the personal history of people with the relationship with one another the frien
102. uma associa o a defini o de quais contatos viriam no sentido de possibilitar a rela o de intera o pesquisador pesquisado conceito apropriado em Rosiska Darcy de Oliveira 2006 segundo o qual totalmente imposs vel imaginar uma separa o entre o sujeito da pesquisa o cientista social e o seu objeto a sociedade De fato considerando que somos estranhos ao grupo e n o sendo um deles nem por isso n o nos consideramos como um de fora haja visto que dentro dessa intera o n o h mais lugar para um pesquisador separado de seu objeto de pesquisa O pesquisador um homem ou uma mulher com uma inser o social determinada e com uma experi ncia de vida e de trabalho que 29 condicionam sua vis o de mundo modelam o ponto de vista a partir do qual ele ou ela interagem com a realidade E esta vis o de mundo este ponto de vista que vai determinar a intencionalidade de seus atos a natureza e a finalidade de sua pesquisa a escolha dos instrumentos metodol gicos a serem utilizados OLIVEIRA R D 2006 p 24 importante nesta altura fazermos um recorrido da mem ria quanto caminhada percorrida com moradores das comunidades quilombolas Ela vai se dar anteriormente ao in cio do curso de doutorado Com a comunidade Morma a que temos contato desde 2008 pudemos com um grupo de pesquisa realizar trabalhos de extens o conjuntos foram trabalhos educacionais locais para uma prepara o espec fica qu
103. 00Culturapopular2 pdf Acesso 7 mar 2014 195 almo o para os visitante que depois v o segui para a pr xima casa e assim vai continuando N R 67 morador na Morma a dez 2013 A festa se constitui num grande mutir o In meras pessoas de um povoado rural ou mesmo de v rios deles participam dos preparativos Tanto a casa do festeiro quanto as casas do giro e dos pousos s o decoradas para a passagem da Folia ou para a realiza o da Festa Familiares encarregam se das in meras tarefas de preparar o local e fazer a comida Parentes e vizinhos se oferecem ou s o convocados para um adjut rio Crian as e jovens participam ativamente das v rias tarefas de prepara o A mesma comida cotidiana multiplica se entre panel es e fornos de barro GTCM 2010 p 69 A Festa do Divino ainda tradicional em muitas comunidades quilombolas e outras rurais no Brasil Inicia se rezando uma novena anterior data de realiza o da festa cat lica os devotos pagam promessas ao Divino pelas gra as alcan adas como boa colheita a boa sa de das pessoas e da cria o Todas as doa es arrecadadas durante as visitas ficam registradas para que no dia da festa do Divino se realize um leil o com as doa es da comunidade principalmente animais al m disso acontecem jogos rifa e um tradicional matin musical De acordo com o relat rio do Grupo de Trabalho Cl vis Moura 2010 nas comunidades negras do
104. 1 Fortalecimento do Marco Legal 2 Pol tica de Forma o Inicial e Continuada 3 Pol tica de Materiais Did ticos e Paradid ticos 4 Gest o Democr tica e Mecanismos de Participa o Social 5 Avalia o e Monitoramento e 6 Condi es Institucionais A elabora o desses documentos teve tamb m como base uma ampla consulta a diversas pessoas e grupos do Movimento Social Negro Conselhos Estaduais e Municipais de Educa o e professores que desenvolvem trabalhos sobre a tem tica das rela es tnico raciais SILVA C 2009 p 20 A Conselheira do CNE Prof Dr Petronilha Beatriz Gon alves e Silva ent o elaborou o Parecer CNE CP 03 2004 que atrav s de normativas oferece caminhos poss veis para que os sistemas de ensino tenham par metros e condi es de efetivar os preceitos da Lei n 10 639 03 Determina ainda quais devem ser os princ pios orientadores da pol tica educacional e enfatiza entre outras coisas O necess rio oferecimento de forma o de professoras e professores a forma e os conte dos que devem ser abordados a necessidade de investimentos em pesquisas bem como de produ o e aquisi o de materiais did ticos Escreve no parecer 3 petronilha Beatriz Gon alves e Silva reconhecida ativista e intelectual da causa negra Pesquisadora conceituada se at m ao estudo das rela es tnico raciais e africanidades brasileiras professora titular de Ensino aprendizagem das Rela es t
105. 1996 afirma que este pode servir para propiciar novos usos de plantas existentes at ent o desconhecidas pela ci ncia moderna Para este autor os povos tradicionais usam de alguma forma cerca de 75 de todas as esp cies existentes enquanto que apenas aproximadamente 2 explorado economicamente na Regi o Amaz nica SILVA R 2004 p 65 A utiliza o de um grande universo de plantas como rem dios em comunidades quilombolas precisa ser compreendida a partir de um contexto social e econ mico levando se em considera o os fatores culturais envolvidos nas etiologias das doen as Na produ o de rem dios tanto para o consumo humano quanto para os animais os remanescentes utilizam in meras esp cies de plantas 88 O estudo do uso das plantas medicinais na cura de doen as e a correta identifica o das plantas e seus princ pios ativos tem possibilitado a valida o do uso de medicamentos fitoter picos embasada no conhecimento cient fico Nesse sentido a Portaria Interministerial 2 960 2008 instituiu o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoter picos BRASIL 2006 visando garantir popula o brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoter picos promovendo o uso sustent vel da biodiversidade o desenvolvimento da cadeia produtiva e da ind stria nacional e considerando imprescind vel promover o resgate o reconhecimento e a valoriza o das pr ticas tradicionais e pop
106. 2005 EGGERT Edla SOBOTTKA Emil Org Dizer a sua palavra educa o cidad pesquisa participante or amento p blico Pelotas Seiva v 1 2005 SURITA Rita BUCHWEITZ Susanne orgs Descobri que tem ra a negra aqui Pelotas 2 ed 2007 104 p apoio MDA Bras lia DF Gr fica Siriarte TAGLIAPIETRA Jos Rui C A trajet ria do Incra RS na aplica o do Decreto No 4 887 03 Boletim Informativo Nuer Quilombos no Sul do Brasil per cias antropol gicas v 3 n 3 Florian polis Nuer UFSC 2006 229 THEODORO Helena Mulher negra luta e f s c XVI a XIX 2011 artigo Dispon vel em http Anww casadeculturadamulhernegra org br mn mn t histo01 htm Acesso em 2 de fev 2012 TORRES Fernanda C O direito ao territ rio quilombola como direito tnico e cultural frente ao programa Titula o do ITER MG Projeto de Coopera o T cnica Apoio s Pol ticas e Participa o Social no Desenvolvimento Rural Sustent vel PCT IICA NEAD Belo Horizonte 2007 UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS BIBLIOTECA DA UNISINOS Guia para elabora o de trabalhos acad micos artigo de peri dico disserta o projeto relat rio t cnico e ou cient fico trabalho de conclus o de curso e tese S o Leopoldo 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL UFRGS LUME Reposit rio Digital Dispon vel em http Anww lume ufrgs br handle 10183 1 Acesso em 15 fev 2012
107. 2010 p 36 nesse espa o que se atualiza de forma mais vis vel o pertencimento simultaneamente territorial e de parentesco dos corpos que ali se re nem O ser quilombola da comunidade se apresenta assim percorrendo os corpos em festa como uma intensidade que s pode ser suportada por muitas d cadas de conv vios similares Nesses diversos espa os p blicos e privados em que disp em os moradores das comunidades a todo instante transparecem elementos da cultura popular levando se em conta as teias e tramas de cria es de s mbolos de significados que realizam e as conex es entre as v rias manifesta es enquanto remanescentes suas festas populares sua alimenta o os seus diversos modos de ser e viver pensar e criar entre a poesia a dan a o canto e as cren as os diferentes modos de ser e representar se como parte da popula o brasileira s vezes uma cultura vista como an nima por m constantemente criada e recriada por conhecidos e reconhecidos mestres dessa cultura popular que expressa todo o seu valor social e simb lico na t cnica na religi o na festa na arte nos utens lios e nos saberes do trabalho no campo e na cidade Carlos Brand o 2007b fala de uma inser o do homem na natureza como estar produzindo cultura Dessa a o rea o seria a express o da cultura tida como tudo aquilo que os seres humanos acrescentam natureza de que n s somos parte e de que partilhamos As plantas da
108. 4 E Grifo nosso 167 e escrita condenando as cotas raciais justificando que as mesmas causariam um racismo reverso Podemos como exemplo levantar uma das pinturas reais desse quadro a evas o escolar de estudantes negros especialmente nos anos iniciais do ensino fundamental onde entre os principais motivadores est o o preconceito e a discrimina o baseada em crit rios tnico raciais A escola como uma institui o que reproduz as estruturas da sociedade tamb m reproduz o racismo como ideologia e como pr tica de rela es sociais que invisibiliza e imobiliza as pessoas inferiorizando as e desqualificando as em fun o da sua ra a ou cor Nesta condi o o Estado cria o instrumento que por si s n o resolve mas a exist ncia da Lei uma refer ncia representado por uma pol tica curricular fundada em dimens es hist ricas sociais antropol gicas oriundas da realidade brasileira buscando combater o racismo e as discrimina es que atingem particularmente os negros Esta perspectiva prop e a divulga o e produ o de conhecimentos a forma o de atitudes posturas e valores que eduquem cidad os orgulhosos de seu pertencimento tnico racial para interagirem na constru o de uma na o democr tica em que todos igualmente tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada SANTOS J 2010 p 6 O Minist rio da Educa o MEC realizou levantamento identificando as principais raz es pelas qua
109. 99 surge a primeira associa o comunit ria quilombola do Rio Grande do Sul e inicia um intenso processo de articula o social entre as comunidades remanescentes de quilombos Dez anos depois as comunidades quilombolas somam um n mero de mais 165 no Estado do Rio Grande do Sul A constitui o da Associa o Comunit ria Dona Quit ria na Comunidade de Casca situada no interior do munic pio de Mostardas pioneira como espa o de 74 articula o tendo como elemento fundante a sua condi o quilombola e instaura um processo denso de organiza o de um potente movimento social que emerge de um Rio Grande Profundo SILVA P 2011 p 126 A conquista dos objetivos dessas comunidades passa pela necessidade de uma representa o forte e articulada No ano de 2007 como referido Arvinha e Morma a constituem suas associa es a Associa o dos Remanescentes do Quilombo da Arvinha e a Associa o dos Remanescentes do Quilombo da Morma a A associa o necess ria para os tr mites legais por m mais importante a possibilidade em falar por um lugar de uma comunidade quilombola e por quem falar de remanescentes Na Arvinha s o 65 associados e 28 fam lias remanescentes moradoras na Morma a 46 associados e 19 fam lias remanescentes moradoras Na associa o a comunidade pode atuar de forma mais coesa e com processos amadurecidos evitando a es individualizadas desproporcionais e s vezes em mo
110. A Carta Social Carteira do Idoso Pol tica de Cisternas Isen o de taxa para concursos p blicos Passe livre para pessoas portadoras de defici ncia em sistema de transporte coletivo interestadual Programa Bolsa Fam lia Programa de Apoio Conserva o Ambiental Bolsa Verde Programa de Erradica o do Trabalho Infantil Peti Programa de Fomento s Atividades Produtivas Rurais Assist ncia T cnica e Extens o Rural ATER Programa Nacional de Acesso ao Ensino T cnico e Emprego Pronatec Programa Minha Casa Minha Vida Pr Jovem Adolescente Servi o de Conviv ncia e Fortalecimento de V nculos para Adolescentes e Jovens de 15 a 17 anos Tarifa Social de Energia El trica Telefone Popular Ascom MDS Dispon vel em http wnww mds gov br saladeimprensa noticias Acesso em 13 dez 2013 A educa o se constitui como caminho para a emancipa o das popula es j dizia Paulo Freire especialmente para as mais vulner veis por isso a necessidade de trilhar esse caminho com maior rapidez n o somente para recuperar o tempo que passou e n o sendo lhes oportunizada essa condi o mas sim para reconhecer o direito que lhes foi negado As pol ticas de acesso educa o especialmente a de cotas para ingresso em institui es p blicas e privadas que recebem incentivos e recursos p blicos neste momento imprescind vel Deste movimento podem ocorrer parcerias atrav s do
111. Alfabetiza o Forma o Continuada e Diversidade SECAD incumbida em n vel nacional para a aplica o dessa pol tica tem empreendido diversos esfor os para fomentar a efetiva o do discurso da Lei n 10 639 03 A cria o e acompanhamento de F runs Estaduais de Educa o e Diversidade tnico Racial e o processo de elabora o do Plano Nacional de Implementa o das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa o das Rela es tnico Raciais e para o Ensino da Hist ria e Cultura Afro Brasileira e Africana em conjunto com a Secretaria Especial de Pol ticas de Promo o da Igualdade Racial SEPPIR s o exemplos desses esfor os SILVA C 2009 p 22 Esta pol tica tem como meta o direito dos negros se reconhecerem na cultura nacional expressarem vis es de mundo pr prio manifestar com autonomia 169 individual e coletiva seus pensamentos Ainda n o menos importante o direito dos negros assim como todos os cidad os brasileiros a cursarem cada um dos n veis de ensino em escolas devidamente instaladas e equipadas orientados por professores qualificados para o ensino das diferentes reas do conhecimento com forma o para lidar com as tensas rela es produzidas pelo racismo e discrimina es sens veis e capazes de conduzir a reeduca o das rela es entre diferentes grupos tnico raciais ou seja entre descendentes de africanos de europeus de asi ticos e povos ind genas 5 3 Proce
112. Brasil CRB 10 1184 HERON LISBOA DE OLIVEIRA COMUNIDADES REMANESCENTES DOS QUILOMBOS DE ARVINHA E MORMA A processos educativos na manuten o e recupera o do territ rio Tese apresentada como requisito parcial para a obten o do t tulo de Doutor pelo Programa de P s Gradua o em Educa o da Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS rea de concentra o Educa o Aprovado em seis de agosto de 2014 BANCA EXAMINADORA Prof Dr Edla Eggert orientadora UNISINOS Prof Dr Telmo Adams UNISINOS Prof Dr Danilo Romeu Streck UNISINOS Prof Dr Georgina Helena Lima Nunes UFPeL Prof Dr Jos Carlos Gomes dos Anjos UFRGS Universidade de Cabo Verde Aos meus pais Jos e Nina minhas irm s meus cunhados sobrinhos e sobrinhas nossa fam lia ao Felipe nas discuss es sobre economia e sobre um desenvolvimento sustent vel para Todos ideal que sempre defendes e por isso teu mpeto jovem de luta Fernanda linda filha n o imaginas o quanto ajudaste lembra me dos momentos em que te pedia s um tempo para n o perder a ideia e solidariamente e com paci ncia aguardavas e a Voc Bea minha companheira de todos os momentos e apoio incondicional Grato a Voc s AGRADECIMENTOS Ao longo de minha vida pessoal e profissional pude contar com o apoio de in meras pessoas umas ainda t o presentes outras n o mais mas as guardo em minhas lembran as e
113. F RTIL PARA UM COTIDIANO BASEADO NA SIMBOLOGIA DA D DIVA E RECIPROCIDADE oaeee 82 3 1 Territ rio a configura o como espa o de sobreviv ncia 83 3 2 Territorialidade a ocupa o desocupa o sssssssssssssnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn 88 3 2 1 O espa o de sociabilidade reconfigurando o territ rio 90 3 2 2 A privatiza o das reas COMUNS ssusasianicaiiisiiabiiiadado rdias iiinia adam a ndiaidi duda dna did 94 3 3 D diva simbologia de coes o comunit ria eeeesssooooo 98 3 4 Reciprocidade estabelecendo simetrias eee 103 3 5 D diva e reciprocidade cultivadas em Arvinha e Morma a 105 3 6 Rela es sim tricas e assim tricas de Arvinha e Morma a com o GNOMO oe eaae SEDE NENE RE AN UR DRE SEDE ES ENCERRA Dr CR E S EO RES ARE E ER RD ENE ES 110 4 PARENTESCO E CAMPESINATO Estrat gias de manuten o e amplia o 117 4 1 Campesinidade valor moral determinando continuidade entre gera es 118 4 2 Intera o material e imaterial numa ideia de sobreviv ncia e reprodu o do o gl jo e FONRODN ENA EE E o RR OR ER RS RIA EE ESPANCA EU 122 4 3 Territ rio Alidade disputa entre sujeitos sociais e valores 127 4 4 Intencionalidade do Parentesco eee iiiiiieeeeeeaaaaaaaaa 129 4 5 Indivisibilidade do Territ rio padr es matrimon
114. Francisca Francisco Barros de Miranda e Am ncio de Oliveira Cardoso faleceram ap s a aboli o da escravatura 1890 e 1904 respectivamente portanto n o foi poss vel precisar o n mero de cativos que ambos possu am SANTOS S 2009 p 134 30 1883 Funda se no Rio Janeiro a Sociedade Abolicionista Riograndense Nota do jornal Correio do Povo de 10 de junho de 1883 In Correio do Povo se o Cronologia p 18 10 de junho de 2014 31 Firmina Vieira declarada como solteira preta escrava de Am ncio de Oliveira Cardoso C ria Diocesana de Passo Fundo Registro Paroquial de Batismo livro 3 folha 57v SANTOS S 2009 p 135 Registros encontrados quando esta batiza sua filha C ndida a primeira de seus seis filhos nascida em 16 de janeiro de 1876 50 tenham com seus filhos se instalados nas matas que circundavam a propriedade de Francisco de Miranda Theobaldo Vieira e Am ncio de Oliveira As rela es e la os de parentesco que uniam esses senhores facilitavam o tr nsito de seus escravos e agregados entre suas propriedades Firmina e Elisb o deslocam se em busca de um lugar que pudesse abrig los com maior tranquilidade e seguran a Documentos comprovam que na demarca o a partir de 1907 dos lotes da se o 3 figuram entre os concession rios parentes diretos ou indiretos de Francisca Morma a sendo que alguns deles podem ser considerados seus ascendentes A rea onde se assenta a Com
115. Implementando uma pol tica administrativa com uma preocupa o maior para a rea social especialmente no combate fome e exclus o social de milh es de brasileiros o governo representado pelo Presidente Lula a partir de 2003 retoma os compromissos assumidos pelo Brasil na 32 Confer ncia Mundial contra o Racismo a Discrimina o Racial a Xenofobia e Formas Correlatas de Intoler ncia que foi organizada pelas Na es Unidas ONU que aconteceu em Durban na frica do Sul em 2001 transformando os em pol ticas afirmativas mais concretas A cria o ainda em 2003 da Secretaria Especial de Pol ticas de Promo o da Igualdade Racial SEPPIR que possui status de minist rio e da Secretaria de Educa o Continuada Alfabetiza o e Diversidade SECAD em 2004 vinculada ao Minist rio da Educa o s o exemplos do processo de concretiza o dessa pol tica 165 afrodescendente regulamentando pol ticas de a es afirmativas pol ticas de repara es e de reconhecimento e valoriza o de sua hist ria cultura e identidade O Parecer CNE CP 003 2004 e a Resolu o CNE PC 01 2004 t m como objetos fortalecer e institucionalizar a implanta o da Lei com orienta o s institui es educacionais sobre suas atribui es nessa nova pol tica educacional O Plano detalha quais s o as atribui es e a es que devem ser adotadas pelas mais diversas institui es educacionais fundamentando se em seis eixos tem ticos
116. Na associa o a comunidade pode atuar de forma mais coesa e com processos amadurecidos evitando a es individualizadas desproporcionais e s vezes em momentos n o adequados Ao enfatizar a import ncia do trabalho solid rio proposto pelas associa es em atividades comuns ao grupo Nunes 2006b lembra que trabalhar sob o regime de mutir o exige um grau de mobiliza o que requer um processo educativo e deve emergir no mbito da comunidade mas tamb m dos outros espa os que instrumentalizam para essa pr tica dentre eles a escola Al m da forma o t cnica a forma o pol tica deve estar atrelada a qualquer projeto que a comunidade venha a desenvolver A perspectiva de realiza o das obras seria atrav s de um trabalho realizado sob a forma de mutir o Contudo deve se ter a compreens o de que essa din mica de rela o n o se estabelece naturalmente em um contexto social que faz parte de uma l gica global de individualidade Por mais que os la os de interdepend ncia existam no interior do quilombo esses precisam ser fortalecidos ressignificados conforme o desafio colocado NUNES 2006b p 355 356 190 Na Senzala Social tamb m se cristaliza a territorialidade quilombola como lugar de conflu ncia dos rituais das festividades e dos momentos mais ostentat rios do cotidiano de a es de trocas representadas pelas mais diversas formas entre elas processos educativos Para Luciana Concei o Silveira
117. Paulo Freire que juntamente com seus companheiros do Instituto de Desenvolvimento e A o Cultural experienciaram em suas trajet rias profissionais Reinventar a ideia de que a educa o uma inven o humana e se em algum lugar foi feita um dia de um modo pode ser mais adiante refeita de outro diferente diverso at oposto BRAND O 2007 p 100 Reconfigurando esse contexto hist rico vale ressaltar que a educa o popular ou as metodologias qualitativas nasceram s margens da sociedade no extramuros da institui o escolar e dos espa os de legitima o oficial da educa o J na d cada de 60 do s culo XX experi ncias de organiza o popular e educa o comunit ria faziam parte de debates f runs e tentativas de articula o com a educa o oficial formal Freire frente deste processo engenhosamente 174 abriu caminhos para a reflex o sobre o papel do conhecimento e a responsabilidade social e pol tica do educador e da educadora e sobretudo do sentido emancipat rio da educa o p blica Paulo Freire ainda protagonizou a ideia de sujeito que aprende e que ensina deslocando o debate sobre o poder e conhecimento para poder conhecimento e autonomia social Somente no final da d cada de 1980 que tais debates passam a fazer parte das estruturas oficiais do Estado As pol ticas de educa o como um direito cidadania v o tomando concretude a partir de press o dos movimentos s
118. SEPPIR Projeto Dourados considerado um projeto permanente que atende s comunidades ind genas locais alcan ando mais de 15 mil beneficiados Projeto DPU Itinerante presta atendimento jur dico em localidades fora do per metro urbano Dentre os diversos p blicos do projeto se encontram os quilombolas de estados como Bahia Rio Grande do Sul e Amap Dispon vel em http www dpu gov br Acesso em 14 nov 2013 154 Considera se portanto a ideia de um processo educativo para a liberdade Freire 2005 que respeite sua cultura sobre as mais diversas formas manifestadas passando primordialmente pelo territ rio e a compreens o pela sociedade de que a ocupa o e uso desse espa o devem ser feitos dentro da vis o de mundo de cada povo A permanente busca da liberdade das comunidades quilombolas de Arvinha e Morma a e da Rep blica de Palmares em seus territ rios pela sua autonomia ainda constante alimenta se no ato de resist ncia de um povo que mergulhado num mundo real de exclus o consegue se afirmar desafiando a hist ria oficial sofrendo revezes contrariando discursos e l gicas postas e fazendo suas pr prias hist rias 5 1 L havia uma Escola Uma escola significa um marco um ponto o qual podemos ter como refer ncia Pelas muitas localidades vilas e vilarejos do interior do Brasil esse espa o ocupado por pequenas e m dias escolas al m de ser um local tradicional de ensino e aprendizagem ocupa
119. Sul e ao Governo Federal pela sensibilidade e preocupa o com a forma o e qualifica o dos servidores em Educa o ao possibilitar que fiz ssemos este curso com dedica o exclusiva RESUMO A presente tese analisa os processos educativos de duas Comunidades Remanescentes de Quilombos Arvinha e Morma a localizadas na rea rural dos munic pios de Coxilha e Sert o norte do Estado do Rio Grande do Sul Desde 2004 foram reconhecidas como comunidades remanescentes pela Funda o Cultural Palmares Arvinha e Morma a s o comunidades que lutam pela manuten o e recupera o daqueles espa os geogr ficos que hoje ocupam o que n o pouco pois t m o prop sito de um processo de trabalho aut nomo e livre da subservi ncia O processo investigativo utilizou se das seguintes metodologias observa o participante entrevistas individuais e coletivas e pesquisa documental Buscou se compreender as quest es que rodeiam o territ rio e sua territorialidade especialmente de comunidades dos grupos tnico raciais autorreconhecidas que desde sua secular origem lutam por esse espa o pelo pertencimento aquele lugar Como tese apresenta se o argumento de que nestes mais de 160 anos de hist ria tais comunidades v m estabelecendo estrat gias de sobreviv ncia que se entende como estrat gias educativas de ensinar e de aprender para n o terem suas descend ncias absorvidas nos espa os comuns da sociedade brasileira Combina
120. UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS UNIDADE ACAD MICA DE PESQUISA E P S GRADUA O PROGRAMA DE P S GRADUA O EM EDUCA O DOUTORADO EM EDUCA O HERON LISBOA DE OLIVEIRA Tese COMUNIDADES REMANESCENTES DOS QUILOMBOS DE ARVINHA E MORMA A processos educativos na manuten o e recupera o do territ rio S o Leopoldo RS 2014 HERON LISBOA DE OLIVEIRA COMUNIDADES REMANESCENTES DOS QUILOMBOS DE ARVINHA E MORMA A processos educativos na manuten o e recupera o do territ rio Tese apresentada como requisito parcial para a obten o do t tulo de Doutor pelo Programa de P s Gradua o em Educa o da Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS rea de concentra o Educa o Orientadora Prof Dr Edla Eggert UNISINOS S o Leopoldo RS 2014 Oliveira Heron Lisboa de Comunidades remanescentes dos quilombos de arvinha e morma a processos educativos na manuten o e recupera o do territ rio por Heron Lisboa de Oliveira 2014 245 f il color 30cm Tese Doutorado Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos Programa de P s Gradua o em Educa o S o Leopoldo RS 2014 Orientador Profa Dra Edla Eggert 1 Educa o 2 Comunidade quilombola Processo educativo 3 Territ rio Processo educativo 4 Territorialidade I T tulo II Eggert Edla CDU 37 Cataloga o na Publica o Bibliotec ria Eliete Mari Doncato
121. a figura da mulher foi e continua sendo primordial na condu o dos rumos dessas comunidades lideran a que se sucede representada na luta e resist ncia pela manten a daqueles espa os O protagonismo da mulher quilombola se materializa contemporaneamente pelo trabalho de Maria Teresinha Costa Vargas na Arvinha e na comunidade Morma a por La des Rosa al m de outras lideran as locais e regionais descendentes que d o continuidade a essa cultura demonstrando solidez experenciada na matrifocalidade A reconstru o identit ria individual e como grupo ainda um processo em profus o interno e externo pois existe uma afirma o delas enquanto grupos que promovem um diferencial dos outros o que implica a constru o de discursos de autoafirma o tnica que se baseiam no passado vinculado escravid o Nos depoimentos as pessoas se identificam como negros e descendentes das matriarcas escravas Rememoram com clareza a ascend ncia pai e m e av e av tios e tias bem como tra am com facilidade suas genealogias at seus troncos origin rios Produzem assim uma representa o destacando o papel central da fam lia escrava O reconhecimento do outro enquanto semelhante promove o estreitamento dos la os de afinidade entre os sujeitos sentimento percept vel entre o grupo dos remanescentes de Arvinha e Morma a e estes com os grupos externos Tamb m em decorr ncia as rela es de parentesco de compadrio e d
122. a o que move a a o o interesse econ mico O mercado um dos recursos interessantes de que se pode lan ar m o para a an lise da forma como cada grupo o pratica Sob esse prisma o c lculo torna se relevante pois a partir dele que se avalia a a o do agente como prejudicial ou vantajosa em termos econ micos lucrativa Dessa angula o N R mais adiante sentencia nossa produ o pequena mas n o s por causa da rea Produzimo um pouco de tudo coisas de horta tempero o milho a mandioca a aveia O trigo o leite o porco gordo pra banha e a carne e outras poucas coisa Eles plantam s o soja nem engordam porco N R 65 set 2012 A justificativa do agricultor quilombola de que em suas atividades produz um pouco de v rias coisas e que os outros s soja n o somente uma cr tica pela n o concord ncia expressa sim uma racionalidade mercantil do contraste onde seu vizinho busca otimizar a ocupa o daquele espa o de terra especializando se naquele cultivo acelerando a produ o por rea atendendo s demandas do mercado e em consequ ncia tendo maiores ganhos individuais o lucro O morador quilombola ao expor sua l gica e dos seus deseja demonstrar que h outros condicionantes que n o somente a rela o mercantil quando rejeita o plantio para o mercado Nesse momento se estabelece no grupo o princ pio da d diva que se sobrep e ao c lculo utilit rio como uma incorpora
123. a o rural v m aumentar o distanciamento entre popula es Trouxe de um lado vantagens para a velha elite rural com o seu reaparelhamento territorial e o surgimento da nova classe rural brasileira representada pela imigra o europeia que inaugurar esse novo modelo produtivo agr rio baseado no mercado de outro lado perdas de autonomia do conhecimento acumulado bem como do espa o de sobreviv ncia e continuidade a grupos mais vulner veis e desprotegidos como ind genas e remanescentes quilombolas condi es estas avalizadas pelo Estado Brasileiro apoiada por setores da sociedade fig 13 Figura 13 Cercamentos impedindo acesso a espa os comuns E E Fonte Arquivo da pesquisa 2008 2011 Finalizando em decorr ncia dessas transforma es as comunidades de remanescentes quilombolas que passaram por esse processo de expropria o est o sujeitas a um novo processo de coloniza o hist rica que est se repetindo nestas primeiras d cadas do s culo XXI 98 3 3 D divas Simbologia de Coes o Comunit ria A reciprocidade constitui resposta ao ato da d diva a o de dar de forma generosa e gratuita de receber e retribuir formando um processo de solidariedade e ajuda m tua fortalecendo a confian a e os la os de amizade pois no ato de dar ocorre mais que uma mera troca existe todo um simbolismo presente que refor a os valores humanos Marcel Mauss 1974 vai considerar que o fato de
124. a categoria tnica conferindo um car ter coletivo propriedade Posteriormente em 2003 os conceitos de comunidade quilombola e seus territ rios s o estabelecidos pelo Estado no Decreto Presidencial 4 887 03 no seu art 2 Consideram se remanescentes das comunidades dos quilombos para os fins deste Decreto os grupos tnico raciais segundo crit rios de autoatribui o com trajet ria hist rica pr pria dotados de rela es territoriais espec ficas com presun o de ancestralidade negra relacionada com a resist ncia opress o hist rica sofrida Hoje a luta est pela demarca o e titula o das reas das chamadas terras de preto ou terras de quilombolas associadas ao forte sentimento de fazer parte da hist ria de um grupo identificado com um territ rio Em paralelo a busca dos outros direitos de cidad os e cidad s 18 invisibilidade dos processos formadores das mulheres no estudo da Educa o de Jovens e Adultos e que agora de forma mais cuidadosa passaremos a narrar aprofundando como objeto de estudo para a tese em processo A defini o desta pesquisa ou desse l cus de pesquisa n o foi internamente t o pac fica assim Havia uma inten o inicial em estudar as rela es de g nero entre alunos e alunas dos cursos t cnicos da rea de ci ncias agr rias do Campus Sert o que percebiamos que convive num vi s discriminat rio A situa o acentuava se entre aqueles as estudantes que al m terem
125. a de tal organiza o em consulta a documentos da poca no Arquivo Hist rico de Passo Fundo n o pudemos localizar registros sobre seus objetivos avan os conseguidos e outras indica es Foi sugerido que visit ssemos os registros das sess es da C mara de Vereadores de Passo Fundo que se localiza em outro local o que n o ocorreu por quest es de log stica em 28 de outubro de 2013 o autor 34 Em se tratando de Firmina Vieira esta foi trabalhar para Am ncio de Oliveira ainda crian a e certamente foi encaminhada ao servi o dom stico fato que provavelmente colaborou para que sua alforria tenha sido concedida quando ela ainda tinha em torno de 26 anos portanto ainda em idade produtiva Como tinha consigo tr s filhos pequenos Firmina n o poderia prescindir do trabalho na casa de Am ncio e certamente permaneceu em sua propriedade 3 Oficialmente no Rio Grande do Sul a imigra o alem se inicia em 1824 enquanto que a italiana vai se dar a partir de 1875 O papel reservado aos imigrantes inclu a desde a responsabilidade por produzir alimentos passando pela seguran a do territ rio at o branqueamento da popula o Seyferth 1996 51 Oriundos das chamadas col nias velhas de imigra o italiana Caxias do Sul Garibaldi e Bento Gon alves e descendentes de alem es vindos da regi o Central do Estado tendo como motivos a n o mais exist ncia de terras livres para ocuparem naqueles locais al m de a est
126. a e de seus familiares Para Regisnei Aparecido da Silva 2004 p 67 nas comunidades tradicionais o aprendizado de que necessitam para se manterem no local acontece pela pr tica cotidiana no fazer das atividades e pela coletividade das a es O saber e o fazer est o intimamente ligados na aquisi o e socializa o do conhecimento Nesse sentido a socializa o desse conhecimento se d pela oralidade e o seu registro mental de acordo com aspectos culturais de cada grupo ou fam lia Nas diversas leituras que fizemos quando se pesquisam popula es tradicionais em quase todas se observa uma grande influ ncia da fam lia na educa o podendo se consider la como componente educacional de maior express o advindo dela os valores sociais e profissionais Constata o disso a atribui o aos familiares do conhecimento adquirido sobre o ambiente local e a preocupa o em repass lo aos descendentes Este conhecimento atrav s de uma 177 pr tica n o escolar respons vel pelas a es de socializa o dos indiv duos no desenvolvimento de atividades di rias Conhecimentos relacionados aos benef cios provocados com a intera o homem natureza recursos da flora fauna h dricos e as belezas em uma est tica natural Retomando a experi ncia de Lima 1984 retratada por SILVA R 2004 p 67 que em an lise v na educa o informal um papel importante na integra o do homem com o ambiente refor ando a posi
127. a escola como local de aprendizagem tamb m a utilizam como moradia na Casa do Estudante antigamente conhecidos como internatos Nossa preocupa o vinha desde o tempo de estudante de ensino t cnico m dio e superior tive a oportunidade de conviver de modo comunit rio durante sete anos em internato Conviv amos dividindo espa os meninos e meninas Ap s a gradua o vim trabalhar numa institui o de ensino agr rio com as mesmas caracter sticas Desde ent o com maior viv ncia tenho percebido nesses ambientes escolares salas de aula refeit rios quadras esportivas locais de conviv ncia e nos pr prios apartamentos nas casas de estudantes profunda discrimina o entre os g neros masculino e feminino Expl cita e ou velada parece que alguns atos est o internalizados fazem parte daquela rotina percebe se imposi o de uma cultura patriarcal e de outro lado atos de resist ncia contraposi es e rebeldias por vezes silenciosa das mulheres frente a uma normalidade aceita por grande parte da sociedade Esta ent o seria uma primeira inten o de pesquisa considerando que na condi o de professor observava que n s homens consciente ou inconscientemente nos utiliz vamos de a es discriminat rias de g nero para com essas mulheres as alunas e um estudo mais profundo seria importante para identificar a veracidade ou n o dessas pr ticas Ocorre que na regi o pr ximo
128. a que a conjun o rela es de parentesco e territ rio comum ir se constituir como um elo agregador de todos os indiv duos Por outro lado devemos considerar que em ambas as comunidades convivem com os remanescentes em uni es conjugais pessoas com outras origens ind genas caboclos e descendentes italianos poloneses e alem es o que se imagina devem compartilhar da identidade e dos valores dos grupos quilombolas respeitando as regras de sucess o e manuten o territorial do grupo incorporando assim aquele regime de a o O estabelecimento dessas rela es conjugais demonstrado em diversos relatos Na Arvinha as uni es t m se dado principalmente com descendentes italianos neste caso homens brancos se unindo as jovens remanescentes por m estes casais n o permanecem residindo na comunidade v o morar nas propriedades ou trabalhar em outros munic pios Na comunidade da Morma a h uni es com descendentes de italianos e poloneses al m de ind genas diferentemente de Arvinha estes casais residem na Comunidade o polaco veio de fora e mora aqui a Maninha e o tio italiano sa ram pra morar fora e tem o irm o do Natal cio casado com a ndia que moram aqui desde muito tempo Quando Voc pass tem que pergunta nas casa porque tem otros N O 67 mar o de 2014 Revela tamb m a tradi o do acolhimento muito presente nos antigos quilombos recebendo al m de negros e negras fugid
129. a uma forma o profissional e os benef cios que adv m com a eleva o do n vel de conhecimento o que se tem comprovado em diversas pesquisas e estudos uma quest o por m carece de reflex o Considerando que d Educa o de Jovens e Adultos EJA Presencial uma modalidade de estudos oferecida como estudos presenciais autorizados pelo Conselho Estadual de Educa o em estabelecimentos de ensino em cujo espa o educativo desenvolvido uma metodologia diferenciada e atende a legisla o espec fica Parte de uma an lise e avalia o de estudos formais e informais do aluno para que possa ser localizado na parte do curso onde tem condi es de prosseguir conforme o Plano de Estudos de cada escola Dispon vel em http www educacao rs gov br pse html eja jsp Acesso em 13 dez 2013 207 existem no Brasil 38 Institutos Federais de Educa o Ci ncia e Tecnologia IFs com mais de 400 campi interiorizados circundados por uma diversidade de comunidades com hist rias culturas experi ncias necessidades e projetos pr prios que caminham por estrat gias diferenciadas de a o e continuidade inclusive de produ o e propaga o do conhecimento Quais s o os impasses que um IF teria para dialogar com esses lugares que exalam educa o n o formal Ou melhor numa condi o local da pesquisa quais s o os impasses que o Instituto Federal campus Sert o teria para dialogar com esses dois lugares que exalam educa
130. ade jovens adultos e idosos no intuito de mant la demonstram esse sentimento O casal A M 67 e N O 67 moradores na Morma a com problemas de sa de necessitam morar na cidade ou mais pr ximo por isso j pensaram em se desfazer 143 da propriedade com tr s alqueires de terra e tr s casas para investir e ficar mais juntos do recurso J pensemo em ir embora compr uma casa na cidade viv melhor mas semo um dos fundador da Associa o fui o primeiro presidente mas faz uma pausa respira larg tudo ir embora deix essa terra que a N herdo do pai dela n o d Se for os meu filho n o v o ter mais ch o n o valeu ter lutado at agora e deixar pra traz Ent o vamo se sacrific mais um pouco e acredit que isso aqui vai d certo o nosso ch o aqui n o outro A M 67 mar o de 2014 Compartilhando do mesmo sentimento demonstram suas preocupa es e apego ao ch o Como ir o se desfazer de tudo Quais legados deixar o aos filhos Preferem viver em maiores dificuldades mas carregarem consigo a altivez de que suas lutas n o tenham sido em v o aguardam a repara o hist rica Essa terra tamb m traduz heran a dos pais de Dona N O descendente de Francisca Vieira H um certo c digo pactuando a posse dos territ rios n o havendo a proibi o de venda das terras mas sim a consci ncia comum de que a perda daquele espa o de
131. ades necessitam da titula o n o apenas das terras ocupadas mas sim de todo o seu territ rio visando preserva o de sua cultura e de suas pr ticas t picas As terras quilombolas n o se limitam ao espa o f sico das moradias e planta es de seus membros tamb m convergem reas coletivas como rios reas de vegeta o natural e os locais onde eles realizam suas pr ticas religiosas e culturais onde guardam seus mortos e demais espa os com os quais se identificam o Aprovado o Relat rio T cnico de Identifica o e Delimita o RTID pelo Comit Regional do INCRA deve se efetuar a publica o do resumo do RTID no Di rio Oficial da Uni o e no Di rio Oficial da Unidade Federativa por duas vezes consecutivas acompanhado de memorial descritivo e mapa da rea estudada Ademais o INCRA dever notificar os ocupantes confinantes e detentores de dom nio do RTID para apresenta o de contesta es no prazo de 90 noventa dias 0 processo de regulariza o das terras quilombolas no Brasil iniciou se em 1995 com a atua o do INCRA amparado nas normas constitucionais que titulou em terras p blicas seis territ rios quilombolas no Estado do Par e criou 15 Projetos de Assentamentos Quilombolas nos Estados da BA MA e GO Paralelamente os Estados do PA BA RJ MA e AP e a Funda o Cultural Palmares FCP emitiram mais oito t tulos em terras p blicas Hoje dados atualizados at 30 de setembro de 2013 est o aber
132. ades rurais para tratar dessas quest es Nesse sentido o Movimento Quilombola por sua vez alinhado com outros movimentos e organiza es empreendeu uma forte luta para assegurar que o autorreconhecimento fosse estabelecido na legisla o Esse direito que desde 1969 foi assegurado na Conven o 169 sobre Povos Ind genas e Tribais em Pa ses Independentes da Organiza o Internacional do Trabalho OIT j citado s estendido popula o quilombola em 2003 atrav s do Decreto Federal 4 887 2003 2 5 1 Coletivo e Afirma o Pol tica A afirma o pol tica condi o sine qua non para o processo da etnog nese quilombola pois o reconhecimento e a aceita o de si constituem os primeiros passos para a aceita o da diferen a do outro ARCANJO 2008 p 41 Essa afirma o pol tica tamb m passa pela permanente representa o pol tica do movimento na sociedade A associa o em um sentido amplo iniciativa formal ou informal que re ne pessoas com objetivos comuns visando superar dificuldades e buscar benef cios para os seus associados Para uma associa o formal pode se dizer que a maneira jur dica de legalizar a uni o de pessoas em torno de seus interesses Assim na d cada de 90 as comunidades quilombolas passam a constituir personalidade jur dica ou seja formam uma associa o nos territ rios para lidar formalmente com o Estado no que concerne regulariza o fundi r
133. alha do trigo conhecimento buscado com descendentes italianas para fazer chap us e cestas do cip e da taquara para fazer peneira chap u esteiras e bancos a escultura na madeira a curti o do couro aprendizado com vizinhan a ind gena na regi o al m do pil o que pe a tradicional em sua cultura fig 29 198 Figura 29 Pil o para moer macerar diversos alimentos de consumo humano e animal morador na Arvinha Fonte Arquivo da pesquisa 2014 Dona Leonora nos fala da alimenta o tradicional da comunidade e quer tamb m nos passar a receita de como s o feitas O milho constitu a um dos alimentos b sicos na mesa desses remanescentes Mo do o milho s vezes era na pedra da farinha podia fazer o biju v rios tipo de bolo e de bolacha outra planta a mandioca se fazia porvilho doce e o azedo cozinhava e fritava pra comer e ainda dava a farinha de mandioca tem os doce de fruta a laranja a cidra o figo p ssego ab bora o mogango a batata doce e tinha muitos outros L R A 68 dez 2013 A import ncia de outros produtos em sua alimenta o e dos animais nesse instante lembrada aos mais jovens e s crian as como as diversas variedades de feij o que eram e algumas continuam a serem cultivadas as canas de a car o arroz do seco e do banhado a batatinha a batata doce e a ab bora s o tamb m fundamentais na economia de subsist ncia das comunidades Havia cria o de
134. alor simb lico que n o mensurado faz parte de um imagin rio fantasiado de cultura que foge aos olhos da ci ncia e que s a viv ncia e a perten a a esse territ rio saber o explicar Ao trabalharmos nesta pesquisa com os remanescentes fica muito claro ser o grande intento dos quilombolas da Arvinha e Morma a a conquista da terra e nela poder viver em liberdade A liberdade que uma conquista e n o uma doa o exige uma permanente busca Busca permanente que s existe no ato respons vel de quem a faz Ningu m tem liberdade para ser livre pelo contr rio luta por ela precisamente por que n o a tem FREIRE 2005 p 37 Rubert e Moura Mello 2011 demonstraram que no caso das comunidades remanescentes de quilombos localizadas no Rio Grande do Sul a territorializa o negra teve um car ter multifacetado Independentemente da forma pela qual se teve acesso a terra deve se tratar a territorializa o tnica a partir dessa nfase recente da historiografia da escravid o segundo a qual as a es dos escravos e aquilo que se poderia chamar de resist ncia tiveram um car ter multifacetado Assim como diversas comunidades remanescentes de quilombos espalhadas pelo Brasil a origem de Arvinha e Morma a n o remonta fuga ou insurg ncia de escravos Isso n o significa entretanto que os antecedentes do grupo n o tenham se deparado com uma s rie arbitrariedades Diante de situa es Uma primeira vers o d
135. am sobre a forma que se dar a divis o das terras como fica a titula o Tenho dito que n o represento o INCRA e que este o mediador do processo no entanto a legisla o diz que essa rea ter uma titula o coletiva e que a Associa o que os representa ser a detentora do t tulo E mais a forma como essa rea ser utilizada ser determinada por um consenso entre os moradores dentro de sua pr pria Associa o Alguns levantam a hip tese de que podem trabalhar de maneira associativa representados por uma cooperativa outros uma utiliza o pelo grupo familiar encabe ado pelo a patriarca matriarca Tenho percebido que grande parte deles prefere a divis o em lotes e que este ser de uso e responsabilidade de cada grupo ou da descend ncia do tronco familiar Em outras palavras trata se de atividades mais individualizadas e talvez uma organiza o cooperativada para realizar os processos de aquisi o de insumos recebimento transforma o e comercializa o dos produtos O importante desse processo est no sentido de que a terra n o representa somente uma entidade f sica n o representa somente um fator de produ o na vis o de mercado mas sim uma extens o da ancestralidade do quilombo fator de resist ncia e identidade que configura esses grupos Por isso sua apropria o e manuten o s o condi es para a continuidade e longevidade como grupo tnico 4 6 As Redes do Parentesco em A
136. amb m nos di logos que temos estabelecidos com grupos na Arvinha e na Morma a se percebe uma constru o pessoal para a cidadania e precisamente nesses contextos de discuss o que aflora a consci ncia cidad S o pontos de vista fundamentados e defendidos individualmente e em grupo que demonstram a concretude e amadurecimento dessa forma o Por m anterior ao atual est gio torna se necess rio que conhe amos o universo do segmento negro em especial o dos quilombolas onde os v nculos entre educar e formar v m com sua ancestralidade n o constituem atributos exclusivos da escola Na percep o de Georgina Nunes 2006a existe um passado e um presente de popula es negras que v m se educando secularmente atrav s de uma resist ncia que n o passiva que apenas reage s diversidades mas que igualmente provocadora de rea es Assim o que antecedeu aos antigos quilombolas foi a hist ria da coloniza o do escravizar o desejo direito liberdade se havia escraviza o havia resist ncia havia rea o os capit es do mato n o surgiram da imobilidade foram rea es do outro campo do campo da opress o Ibid p 144 A luta contra o racismo em nosso pa s vem possibilitando que se discutam temas significativos para a compreens o de todo esse processo mostrando a resist ncia dos africanos e seus descendentes que n o se submeteram passivamente escravid o que se rebelaram e que conseguiram manter v
137. anco de teses Acesso em 29 out 2012 CUNHA Aline Lemos Hist rias em m ltiplos fios um estudo das manualidades de mulheres negras em Rio Grande RS Brasil e Capit n Berm dez Santa F Argentina re inventado pedagogias da n o formalidade ou das tramas complexas Tese Doutorado em Educa o Programa de P s Gradua o em Educa o UNISINOS S o Leopoldo RS 2010 CUNHA Maria das Gra as Campolina Entre cercas perman ncias e transforma es no Espa o rural do sert o norte mineiro XVI Encontro Nacional dos Ge grafos anais Porto Alegre 2010 ISBN 978 85 99907 02 3 DACANAL Jos Hildebrando GONZAGA Sergius Org RS Economia e Pol tica O Escravo Africano no Rio Grande do Sul Porto Alegre Ed Mercado Aberto 1979 DE DEUS Z lia Amador A quest o racial no Brasil um pouco de hist ria UFPA Bel m 2000 mimeo EGGERT Edla org Processos educativos do fazer artesanal de mulheres do Rio Grande do Sul Santa Cruz do Sul EDUNISC 2011 SILVA M rcia Observa es sobre pesquisa autobiogr fica na perspectiva da educa o popular nos estudos de g nero Rev Contexto amp Educa o Ed Unijui ano 26 n 85 jan jun 2011 Narrar processos Tramas da viol ncia dom stica e possibilidades para a educa o Florian polis Ed Mulheres 2009 Criando m todos de pesquisa alternativa aprendendo a faz la melhor atrav s da a o In BRANDAO Carlos Rodrigues org
138. andes rebanhos O voc bulo origin rio do espanhol platino significava apenas as unidades produtivas em que se criava gado sem nenhuma conota o de tamanho Sua afirmativa tem base nos documentos pesquisados onde encontrou com essa designa o propriedades de 150 200 ou 3000 cabe as de gado OS RIO 2006 p 154 Estes estabelecimentos rurais destinaram se inicialmente a reunir o gado solto em invernadas objetivando seu deslocamento e comercializa o no restante do Pa s atrav s da feira de Sorocaba centro da atividade tropeira no per odo Gradualmente foram ampliadas as atividades iniciais passando ao criat rio efetivo e incorporando atividades agr colas e pr ticas fabris incipientes como a produ o das farinhas de trigo e mandioca em atafonas de charque e curtimento de couro entre outras Chama se est ncia no Rio Grande do Sul uma circunscri o dada das campinas do pa s povoada de gado cavalos e mulas e em certas por es partes de carneiros tem ordinariamente a extens o de uma sesmaria s vezes de duas de tr s e mais os animais multiplicam se nelas na raz o da quantidade inicial da vastid o do territ rio e da bondade dos pastos DREYS 1990 p 94 apud LUCCAS p 87 2010 40 vinha ocorrendo em fun o da Col nia de Sacramento torna se independente desta e toma uma raz o em si Para Dacanal amp Gonzaga 1979 isso n o significa que a ocupa o do Rio Grande do Sul tenha se dado baseada essencia
139. ando 217 coletivamente com pais e estudantes sobre suas escolaridades um dos pontos levantados foi sobre a hist ria negra a cultura e as contribui es desse povo contadas em sala de aula e necessariamente a Lei 10 693 de 2003 foi abordada Uma das quest es se dava em torno da maneira da metodologia que a escola e os professores trabalhavam o tema e a Lei Todos as especialmente os estudantes n o conseguiram responder nem identificar nas pr ticas escolares a es diferenciadas das que eram trabalhadas tradicionalmente nem a pr pria obriga o da escola na abordagem preconizada naquele texto A educa o que aqui se apresenta n o trata da Hist ria do povo afro brasileiro e nem de sua cultura Ainda superficial e por vezes discriminat ria a diversidade da popula o nacional e de acordo com Nunes 2006 propor diretrizes para viabilizar a implementa o da Lei 10 693 2003 na educa o quilombola um exerc cio de buscar os conceitos n o apenas em sua forma te rica mas na expectativa de que eles solidiffguem uma proposta pol tico pedag gica que possibilite a educa o das rela es tnico raciais NUNES 2006 p 152 Cada grupo humano conta com os mecanismos b sicos para educar seus membros dentro de maneiras pr prias que lhe garante a sociedade os elementos necess rios para construir seu dever hist rico no contexto de seu projeto de homem e de sociedade Nessas duas ltimas d cadas o debate sobre a educa
140. anismos de enfrentamento s dificuldades financeiras s desigualdades e de promo o do desenvolvimento Neste sentido representantes das comunidades da Arvinha e Morma a refletindo sobre a sustentabilidade relacionada a aspectos acima descritos descrevem uma realidade bem preocupante As l deres quilombolas identificam programas espec ficos para as Comunidades por m fazem ressalvas Pol tica municipal n o h sabemos dos programas h a pol tica p blica estadual e federal mas os recursos n o chegam at n s e quando chegam n o a totalidade M T 58 outubro de 2012 Conversando com um servidor assistente administrativo da Prefeitura Municipal de Sert o preferiu n o identificar se informou me V m recursos para aplica o nos quilombos mas a prefeitura n o divulga para as comunidades manda parte dos recursos o restante deve ter sido utilizado com outras comunidades n i outubro de 2012 Nas falas das lideran as as dificuldades s o de ordem pr tica N o chegam os recursos por exemplo para os cursos de tric e macram faltava material para treinamento n o tinha material para fazer dois trabalhos um para ficar em casa e outro para vender Para a horta a mesma coisa vieram trouxeram mudas e nos mostram como plantar n o 19 houve continuidade n o h o fechamento da rea n o h o acompanhamento O que chegou foi o cart o seca para n s e os outros pe
141. aquele que d ou ao contr rio da desonra e da vileza daquele que tendo aceitado a d diva se recusa a devolver ou a devolve mais FRAN A FILHO 2009 p 9 Contrariamente troca mercantil a d diva cont m portanto uma dimens o simb lica A troca mercantil que repousa sobre uma despersonaliza o da rela o n o porta outro sentido que n o aquele da sua utilidade De sorte que a rela o se conclui t o logo se realiza isto a rela o se anula na sua equival ncia utilit ria Ela n o tem continuidade A d diva simboliza uma alian a que perdura na anti equival ncia anti utilit ria de modo que as pessoas envolvidas na rela o jamais podem se livrar e sem o querer evidentemente sentindo se assim mutuamente endividadas o caso por exemplo das rela es no seio de casais harm nicos caracterizadas por um endividamento m tuo positivo Godbout 1998a O esp rito da d diva de Jacques Godbout em colabora o com Alain Caill Rio FGV 1998 Atualiza o valor do dom para explicar fen menos sociais modernos como a solidariedade social e a doa o de rg os por exemplo MARTINS Paulo Henrique De L vi Strauss a M A U S S Movimento Anti Utilitarista nas Ci ncias Sociais Itiner rios do Dom Dispon vel em http www jornaldomauss org jornal extra 2007de levi strauss a mauss pdf Acesso em seis ago 2013 102 A d diva tudo aquilo que circula em prol ou em nome do la o social
142. articipante 3 reimp 8 ed S o Paulo Brasiliense 2006 STRECK Danilo R Org Pesquisa participante o saber da partilha Aparecida SP Id ias e Letras 2006 Educa o como Cultura Campinas SP Mercado das Letras 2002 223 CAILL Alain Nem holismo nem individualismo metodol gico Marcel Mauss e o paradigma da d diva In Revista Brasileira de Ci ncias Sociais v 13 n 38 p 5 38 1998 CAMAROTE Elisa M Lages das Aroeiras territorializa o parentesco e produ o em uma comunidade baiana de fundo de pasto 2010 Disserta o Programa de P s Gradua o em Antropologia Universidade Federal da Bahia Salvador Dispon vel em http repositorio ufba br ri handle ri 6654 Acesso em 8 jan 2014 CENTRO DE APOIO AO PEQUENO AGRICULTOR CAPA Revelando os quilombos no Sul Pelotas RS 2010 apoio MDA Bras lia DF CENTRO DE DOCUMENTA O ELOY FERREIRA DA SILVA Comunidades quilombolas de Minas Gerais no s c XXI hist ria e resist ncia Belo Horizonte Aut ntica 2008 Cole o Cultura Negra e Identidades CERTAU Michel de A inven o de cotidiano artes de fazer 19 ed Trad de Ephraim Ferreira Alves Petr polis RJ Vozes 2012 CHAYANOV A V La organizaci n de la unidade econ mica campesina Buenos Aires Nueva Visi n 1974 COORDENA O DE APERFEI OAMENTO DE PESSOAL DE N VEL SUPERIOR CAPES Banco de Teses Dispon vel em http Anww capes gov br servicos b
143. as e libertas caboclos ind genas trabalhadores rurais brancos procurados pela justi a da poca padres vendedores donos de tabernas entre outras pessoas que mantinham rela es comerciais com os aquilombados Juntamente estrat gia das uni es end genas e com alguns de fora na manuten o do territ rio busca se a amplia o recuperando reas anteriormente ocupadas e presentes na mem ria dos descendentes s o como desenhos e croquis guardados recuperados na lembran a de hist rias ouvidas de seus antepassados Conforme documentos oficializados em Cart rio de Registro h na Arvinha algumas escrituras de propriet rios que adquiriram reas posteriormente ou receberam de heran a e em apenas duas fam lias na comunidade da Morma a No entanto o somat rio dessas reas registradas n o contempla ao territ rio original e nem mesmo o espa o negociado e delimitado pelo INCRA que consta no Relat rio T cnico de Identifica o e Delimita o RTID publicado no D O U no m s de outubro de 2010 completando portanto quatro anos 136 Partindo ent o da premissa de amplia o e recupera o do territ rio a garantia de transmiss o deste patrim nio s gera es seguintes constru da nas comunidades quilombolas pela titula o coletiva das terras em nome de suas Associa es A titula o coletiva retira a terra do mercado semelhante pr tica camponesa apontada por Woortmann E 1995 Na comu
144. as possibilidades acima responde melhor ocorr ncia de um encontro mais festivo As pessoas gostam de falar da alegria do que lhes d prazer do que lhes faz bem e sentido tratamos de d diva e de reciprocidade de doa o de ajuda m tua e para aquelas comunidades se n o houvesse d diva e reciprocidade em suas tramas de sociabilidade muito prov vel que suas continuidades estariam ainda mais comprometidas A cristaliza o dessa sociabilidade que se configura na identidade tnica dessas comunidades bem traduz Mauss ao afirmar as sociedades progrediram na medida em que elas mesmas seus subgrupos e seus indiv duos souberam estabilizar suas rela es de dar receber e enfim retribuir esse um dos segredos permanentes de sua sabedoria e de sua solidariedade MAUSS 1974 p 313 Mesmo com o pouco que possuem o ato da doa o representa muito mais por seu sentido do que propriamente pelo bem ou a a o em quest o Mulheres e 106 homens relataram suas pr ticas de conviv ncia e doa o no seu n cleo familiar no n cleo ampliado pelas rela es de parentesco e com a comunidade como um todo Na primeira quinzena de maio de 2013 no intervalo de uma semana permanecemos entre uma e outra comunidade Na Morma a cuja inser o iniciou em 2007 e na Arvinha munic pio de Coxilha RS com que temos contato desde final de 2010 Nos reunimos na Senzala Social Comunit ria que ambas possuem tamb
145. as rela es humanas se d mediada pelo tempo e pelo espa o o tempo compreendido como a sucess o de eventos e sua trama e o espa o como o meio o lugar material da possibilidade de eventos Santos M 1996 p 41 constitui se assim num territ rio Precisamente esse territ rio ser meio onde se interpenetram sistemas de objetos condi es materiais t cnicas historicamente produzidas e sistema de a es pr ticas dos sujeitos na organiza o cotidiana Conforme Man ano 2002 citado em SOMMER 2005 p 36 A expans o e ou cria o de territ rios s o as a es concretas representadas pela territorializa o O refluxo e a destrui o s o as a es concretas representadas pela desterritorializa o Enquanto a territorializa o firma se como resultado da expans o do territ rio a territorialidade precisamente as manifesta es sociais dentro do territ rio Na territorialidade encontram se presente as outras express es materiais e imateriais onde os grupos constroem suas experi ncias O espa o ocupado pelos moradores das comunidades remanescentes de Arvinha e da Morma a em alguns casos continuam sob posse da descend ncia dos antigos moradores mas na maioria das vezes a outra parte dessas reas est nas m os de agricultores eurodescendentes As fam lias especialmente da Morma a n o conseguindo manter se em suas reas se aglomeraram num vilarejo s o lindeiras s reas origin ria
146. ata de algo extraordin rio para os quilombolas conservar os recursos naturais n o miss o e nem mesmo uma a o pol tica de interesses uma atitude necess ria para garantir a sobreviv ncia dessa popula o e da vindoura Essas atitudes podem ser compreendidas como uma a o de educar para o meio ambiente como garantia de qualidade de vida caracterizando se como educa o ambiental informal representada em processos internalizados Ao estudar como referimos anteriormente a rela o entre o saber tradicional da popula o de uma comunidade ribeirinha na regi o Norte Araguaia do Estado de Mato Grosso acerca do ambiente e o processo educativo ali estabelecido Regisnei 180 Aparecido da Silva 2004 p 80 amplia a compreens o de que a educa o ambiental instalada na maioria das comunidades tradicionais brasileiras inerente ao modo de vida da popula o sendo manifestada nas atividades do cotidiano e podendo servir de base para discuss es sobre conserva o ambiental em sociedades modernas Ao se propor a constru o de programas pensados a partir de suas realidades inseridos num contexto regional e global para que se efetivem preciso conhecer o cotidiano das pessoas suas representa es a cultura a sociedade e sua situa o econ mica hist rica e religiosa buscando solu es aos problemas socioambientais num plano de a o conjunto e dentro desse imprimir tentativas na melhoria das rela es entre sere
147. atuar como elo entre o seu grupo e os agentes institucionais A contribui o nos debates com a comunidade e os encaminhamentos necess rios garante lhes a identidade remanescente que mesmo dist ncia n o deixam de ser fig 30 Figura 30 Adolescentes e jovens estudantes na Morma a MANN CULL AARU Fonte Arquivo Prof Maria Teresinha Costa Vargas 2010 Neste mesmo encontro na Morma a havia alguns jovens estudantes do ensino fundamental e ensino m dio Em suas falas transparece muito clara a import ncia da educa o escolarizada para ascens o cidad para o reconhecimento e o surgimento de mais melhores oportunidades O emprego n o est aqui tem trabalho nas cidades mas preciso o 93 estudo Al m do ensino m dio agora tem o pronatec que d uma PRONATEC O Programa Nacional de Acesso ao Ensino T cnico e Emprego foi criado pelo Governo Federal em 2011 entre os objetivos est expandir interiorizar e democratizar a oferta de cursos de educa o profissional t cnica de n vel m dio e de cursos de forma o inicial e continuada ou qualifica o profissional presencial e dist ncia O Pronatec 2014 quer atingir 8 milh es de estudantes Dispon vel em http pronatec mec gov br institucional objetivos e iniciativas Acesso em 13 dez 2013 206 forma o profissional e bolsa de estudo n o vou me desligar daqui continuo vindo aqui sou moradora Sei que preci
148. balho e rendimento Como exemplo h os plantios que devem acontecer quando o solo apresenta boas condi es de umidade nas colheitas importante colher gr os secos de maneira que n o se percam pelo excesso de sol mas tamb m que n o tomem chuvas na constru o civil ao se iniciar um concreto Puxir o conhecido por mobiliza es coletivas para lograr um fim baseando se na ajuda m tua prestada gratuitamente uma express o usada originalmente para o trabalho no campo ou na constru o civil de casas populares em que todos s o benefici rios e concomitantemente prestam aux lio num sistema de rod zio e sem hierarquia Atualmente por extens o de sentido se utiliza o termo mutir o que pode designar qualquer iniciativa coletiva para a execu o de um servi o n o remunerado como um mutir o para a pintura da escola do bairro limpeza de um parque Outros nomes sao conhecidos na rea rural do Brasil como putir o putirum pixurum punxirum adem o adjunto bandeira batalh o 107 o recomendado n o parar no meio da concretagem e sim finaliz lo de uma nica vez portanto s o atividades que devem acontecer num curto espa o de tempo exigindo assim um n mero consider vel de trabalhadores Nestes puxir es ou mutir es se envolvem quase todos os membros das fam lias inclusive crian as e jovens atendendo aos adultos com ferramentas e gua os quais se agrupam para trabalharem As mulheres tal
149. bilizada de formas diversas ao longo dos s culos Na institui o escolar essa situa o ganha materialidade tendo o curr culo e as pr ticas curriculares como mediadores da invisibilidade da popula o negra e de sua cultura Em sua pesquisa Silva C 2009 p 15 utiliza importante observa o de GON ALVES 1985 p 315 sobre pr ticas curriculares onde ao ser incorporado pela escola uma a o por mais ing nua e despretensiosa que possa parecer tem for a pedag gica Em muitos casos o sil ncio como um ritual pedag gico a favor da discrimina o racial ainda se faz presente na manuten o de uma pedagogia do silenciamento sobre a tem tica das rela es tnico raciais no espa o escolar lbid 1985 A vis o institucional de uma escola p blica homogeneizada tem posto margem por processos diversos grupos ou segmentos sociais negros ind genas ciganos considerados subalternos no Brasil 81 Neste momento na ocorr ncia do campeonato mundial de futebol no Brasil as discuss es sobre as pr ticas racistas est o nos holofotes do evento e da m dia O futebol na maioria dos pa ses e especialmente no Brasil um dos palcos onde o racismo anti negro tem explicitamente sido demonstrado entre seus praticantes e expectadores O Governo Brasileiro como um dos promotores do campeonato tem insistido interno e externamente para que a Copa seja tamb m contra a discrimina o racista 163 Ao perceber que
150. bola da Arvinha Al m de semelhan as em suas trajet rias de forma o luta e resist ncia as Comunidades de Arvinha e Morma a t m ainda proximidade territorial Arvinha com a maior parte de sua rea geogr fica distribu do na zona rural dos munic pios de Sert o em torno de 85 e Coxilha distancia se 16 km por estrada intermunicipal que liga esses dois munic pios fig 05 45 Figura 5 Comunidade Remanescente do Quilombo da Arvinha e parte de antigos territ rios Fonte Arquivo da pesquisa 2013 Sert o possui 6 294 habitantes e Coxilha com 2 826 moradores t m com principal divisa territorial al m de ser a mais extensa no sentido leste oeste um trecho da rodovia BR 153 conhecida como Rodovia Transbrasiliana sem pavimenta o asf ltica O munic pio de Coxilha bem mais recente ao emancipar se na d cada de 1980 teve desmembrado para a configura o de seu territ rio reas de Passo Fundo munic pio m e e de Sert o Sert o e Coxilha s o munic pios por ter sua base de economia essencialmente agr cola praticamente n o possuem ind strias Suas terras prop cias para a atividade agropecu ria com topografia adequada e boa fertilidade t m altos ndices de produ o de gr os em cultivos de inverno e ver o Al m disso tem na produ o leiteira grande fonte de renda de pequenas e m dias fam lias agricultoras No munic pio de Coxilha a maioria das reas rurais formada por g
151. bri o das hoje Comunidades Remanescentes da Arvinha e da Morma a T m nas figuras de Cezarina de Miranda e Francisca Vieira as matriarcas de suas ascend ncias e aquelas que forjaram o identit rio desses territ rios tnicos afro brasileiros Como conhecido em sociedades africanas em que a fam lia extensa ou a linhagem leva em considera o um ancestral comum conhecido presente na mem ria das pessoas como exemplo um bisav ou um tetrav reportam Cezarina e Francisca que ali instalaram se buscando a liberdade social O que est presente na mem ria social dos membros de ambos os grupos a lembran a de que as escravas Cezarina e V Chica constituem se como o elo de constru o das comunidades N o obstante estar claro se como alforriadas ou fugidas apresentam se nitidamente nos relatos dos entrevistados mais velhos a proced ncia e a origem comum as av s que vieram para aquele sert o como terra de viver de morar e de morrer A figura de V Chica no imagin rio de N R 65 dezembro de 2012 remete a uma espacialidade do passado negro num Planalto agropastoril transplantada para o presente como um tempo de mudan a tempo de viver e tempo de morrer observado em sua fala dizem que vieram do Sul veio de l naquela poca mais ruim ficaram nas fazenda e a eles se mudaram preste sert o ficaram o tempo todo at que terminou o resto da vida Este ato de migrar para outra regi o representa
152. cas e equipamentos contempor neos As pesquisadoras Edla Eggert e M rcia Alves 2011 num estudo com recorte educacional que desenvolveram com grupos de mulheres artes s nos munic pios de Alvorada e Pelotas RS tendo como op o te rico metodol gica a pesquisa participante e as ferramentas da pesquisa forma o identificaram tamb m a import ncia do associativismo naquela pesquisa as cooperativas de artes s para a visibilidade do trabalho da mulher em ambientes privados para que o produto deste possa circular em espa os p blicos Corrobora o fato de que Essa passagem do privado para o p blico tem papel fundamental quando se pensa no artesanato como possibilidade emancipat ria n o apenas no aspecto econ mico enquanto produtos artesanais que passam a circular no mercado mas tamb m enquanto forma o pol tica para as artes s em virtude da experi ncia coletiva proporcionada pela cooperativa S o viv ncias que uma vez compartilhadas no grupo aumentam os horizontes dessas mulheres que dessa forma ressignificam suas pr prias trajet rias pessoais Assim a experi ncia do coletivo torna se uma aprendizagem que extrapola as aprendizagens hist ricas do espa o dom stico EGGERT amp SILVA 2011 p 65 Em s ntese sobre essas nossas incurs es a campo Roberto Oliveira 2000 em O trabalho do antrop logo sintetiza como se d a inser o no campo de pesquisa Essa aproxima o ou se
153. cep es diferentes das coisas e sendo assim os senhores n o ficar o ofendidos ao saber que a vossa ideia de educa o n o a mesma que a nossa muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ci ncia Mas quando voltaram para n s eles eram maus corredores ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem a sede e a fome N o sabiam como ca ar o veado matar o inimigo e construir uma cabana e falavam a nossa l ngua muito mal Eles eram portanto totalmente in teis N o serviam como guerreiros como ca adores ou como conselheiros Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e embora n o possamos aceit la para mostrar nossa gratid o oferecemos aos nobres senhores de Virg nia que nos enviem alguns dos seus jovens que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos deles homens BRAND O 2007 p 8 Nesta passagem sublinha o autor que n o h uma forma nica do saber do fazer e nem do aprender n o h uma nica cultura um nico pensamento mas uma diversidade de coisas de modos de formas de existir e de viver N o h nem um nico modelo de educa o a escola n o o nico lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor o ensino escolar n o a sua nica pr tica e o professor profissional n o o seu nico praticante BRAND O 2007 p 9 Compreendido a educa o acontecer em mundos diversos e o professor
154. cessariamente a uma divis o da terra em parcelas individuais A garantia da condi o de produtores aut nomos uma vez ausente o grande propriet rio ou por demais debilitado o seu poder conduziu a formas organizativas sendo os ditames de uma coopera o ampliada e de formas de uso comum da terra e dos recursos h dricos e florestais Almeida 1989 p 170 172 apud FERREIRA 2006 p 57 58 A utiliza o da terra para o uso comum dessa popula o negra distando daquelas onde geralmente no n cleo familiar o pai chefe de fam lia vai centralizar determinando os aspectos produtivos agr colas a sobreviv ncia do grupo e ainda as formas de sucess o familiar vai constituir um campesinato baseado na produ o para o auto consumo e eventualmente um excedente a ser trocado ou vendido Essa pr tica desenvolvida pelos moradores quilombolas tamb m vai caracterizar as rela es que manteve com seu entorno e da mesma maneira sua inser o na sociedade mais abrangente estabelecida principalmente em rela o a comunidades ou cidades mais pr ximas onde se efetivavam as trocas A par das rela es comerciais as festividades religiosas muito presentes proporcionavam o encontro constante entre estes diversos agrupamentos seja em suas comunidades ou na vizinhan a Portanto a ideia de relativa condi o de isolamento necessita de uma contextualiza o considerando que em suas rela es internas esses camponeses mantinham redes constante
155. cesso de ocupa o e posse daquela rea territorial que adv m com seus ancestrais escravos libertos e fugidos h quase dois s culos Considerando se simplesmente o processo de ocupa o e posse essas reas n o necessariamente seriam compreendidas como remanescentes de quilombos por m exatamente a que se encontra sua singularidade ela est na forma no modo pr prio de viv ncia na manuten o cotidiana na pr tica do acolhimento na intera o com o meio ambiente e com outras etnias al m de caracter sticas culturais internas aos grupos Uma constante circula o de bens materiais e imateriais estabelecidos nos atos de d diva e reciprocidade entre os moradores da Morma a e entre os da Arvinha seria reduzir sua ess ncia se os compreend ssemos como uma troca maior que isso a retribui o est longe de ser pensada como uma d vida a reciprocidade carrega la os sentidos valores em que o simples retribuir n o exprimiria a profundidade desse ato Em minha percep o quando Mauss 1974 chama para esse simbolismo de hau esse o verdadeiro sentido da d diva e da reciprocidade concordando que o valor n o est no bem mas no ato em si de dar e receber Experi ncia maior fez me essa comprova o quando pude em dois momentos acompanhar mutir o em diferentes comunidades quilombolas Num deles ao final de tarde ap s as atividades do dia observar uma mulher moradora retribuir com um vidro d
156. cha a e dava pra toma N O 67 mar o de 2014 Minha m e falava da V Chica de quantos parto ela fez ia sempre a cavalo levava o material do parto as veis chegavam na casa dela ela tinha bebido umas n o tinha problema montava no cavalo e devagarinho chegava fazia sempre os parto bem certinho Aqui tinha outras partera a Picucha chamavam de Bugra era filha do V Chica a Iracema da 197 Rosa minha m e Diamantina fez o parto do Gilmar meu filho 0 G 55 mar o de 2014 Percebe se a intensidade com que moradores e moradoras constru ram essa comunidade havendo certamente muitas dificuldades n o se abalaram e desses momentos brotaram muitas alegrias e a continuidade de um povo fig 28 Figura 28 Moradores quilombolas na Morma a da esquerda para direita o casal Dona Nena e Seu Nauro Picuxa filha de Chica Morma a falecida e o primo Casilano elas j foram parteiras Fonte Arquivo Prof Maria Teresinha Costa Vargas por volta de 1970 Outras manifesta es culturais o artesanato como pr tica tradicional constitui tamb m um processo educativo nas comunidades Diversos objetos que se fabricavam e alguns ainda hoje fazem parte da mem ria coletiva dos adultos e das pessoas mais velhas agora rememorados nessas conversas atrav s da produ o de mobili rio para a casa de pe as em barro argila objetos decorativos em madeira a utiliza o da p
157. cheio de similitudes sociais nosso pa s Uma possibilidade de descobrir o j existente mas que de modo velado subsistia nas mentes das pessoas Assim novos movimentos sociais pol ticos estudantis de trabalhadores as de feministas e outros tantos puderam expor e se expor Legitimamente as minorias tamb m querem exercer seus direitos de vez e voz Nesse nterim popula es ind genas e negras v m buscar visibilidade para si e suas causas Os movimentos pr comunidades ind genas o movimento negro tiveram intensa participa o nessa luta A interfer ncia da esfera p blica atrav s do Minist rio P blico MP e de setores da sociedade propuseram o protagonismo a esses grupos nessa busca pol tica que considerasse sobretudo suas identidades tnicas e sociais Salienta Arcanjo 2008 p 31 que depois de 100 anos da aboli o da escravid o no Brasil o Estado procura autenticar a trajet ria dos negros e negras em situa o de vida rural que at ent o n o possu am nenhum instrumento legal que legitimasse sua luta pela posse definitiva da terra historicamente ocupada por seus antepassados assim como historicamente vilipendiada pelos grandes latifundi rios fazendeiros e donos dos meios de produ o De fato essa pron ncia do Estado vem se dar em decorr ncia de um conjunto de a es e lutas sociais empreendidas pelo Movimento Negro em todo o pa s ap s a abertura pol tica em 1979 concretizado com a promul
158. cia se d mediante consentimento dos outros membros havendo a partir de agora um compartilhamento de recursos locais participando dos c digos daquele grupo Uma cont nua uni o conjugal entre os membros do grupo ao longo dos anos e no desenrolar das gera es conecta a localidade a um nome de fam lia A comunidade estabelecida acabou por criar uma localidade Como fora constitu da pela matriarca Francisca Vieira Chica Morma a era mais conhecida por todos V R 36 l der comunit rio foi denominada at os anos 1999 mais ou menos Vila Morma a ap s Comunidade Quilombola da Morma a Atualmente h uma preocupa o com a integridade do territ rio o que inclui tanto o espa o f sico como tamb m a rea de uso comum dos recursos naturais que desde o in cio da d cada de 1970 viram esses espa os serem reduzidos e a constante degrada o da natureza Por outro lado uma integra o de la os de parentesco de compadrio e de amizade entre membros de Morma a e Arvinha j se deram numa maior intensidade em per odos passados bem como a circula o de moradores de uma comunidade outra foi mais frequente Uma das condi es que dificulta esses contatos dist ncia 16 km que necessariamente devem ser feitos com ve culos antigamente se fazia de carro a de charrete ou a cavalo hoje n o faz mais O transporte di rio o nibus escolar ou quando se arruma carona Lideran as comunit rias
159. cimento transmitido por processos educativos n o escolarizados e as rela es de parentesco e compadrio Tudo isso dentro do universo simb lico no cotidiano de um grupo com uma tradi o cultural historicamente compartilhada e vivenciada como remanescentes de quilombo Com a proposta de descrever esse universo simb lico material e imaterial das comunidades utilizo me da oralidade conciliada s t cnicas da entrevista e da observa o participante e de instrumentos como question rios depoimentos fotografias e outros Desta forma ser poss vel trabalhar com o imagin rio o que reflete o universo individual e coletivo cultural organizacional familiar religioso e social Neste sentido pretendo mais do que atender aos crit rios cient ficos de apropria o do conhecimento entender de que modo os sujeitos da pesquisa como pessoas nos aproximam da condi o de participante desse mesmo processo A ideia est em fazer pesquisa comprometida imagino que todas intentam para um comprometimento com os sujeitos ou seja para popula es cujas culturas e Inicialmente ao falarmos em territ rio quilombola necess rio reconhecer que o direito propriedade a transcende configurando se como um direito tnico cultural o que prev o Art 68 da Constitui o Federal Sem esse espa o a terra poss vel que estes grupos desapare am absorvidos na sociedade E assim sendo para que isso n o venha a acontecer esses
160. cipais professores educadores dire o e coordena o pedag gica de escolas lideran as das associa es dos remanescentes e de outras entidades associativas e colaboradores externos No intuito de maior proximidade e melhor observa o do cotidiano desses moradores e moradoras foram realizados Trabalhos e Campo nessas comunidades e em outras tr s na regi o Sul do Estado Tamb m acessamos a dados documentos e material de pesquisa elaborado por outros autores pesquisadores as Toda essa informa o est descrita no decorrer da tese al m de estar cronologicamente registrada sua origem informantes localiza o e outros dados 1 Dados fornecidos pela Coordenadoria de Registros Escolares Campus Sert o mar o de 2014 30 Na comunidade da Arvinha tivemos os primeiros encontros no in cio de 2011 a sim na condi o de campo emp rico de pesquisa o que tamb m nos gratifica pela colabora o e espontaneidade do grupo sinal do comprometimento para esta pesquisa Nas oportunidades que tivemos junto a essas pessoas fizemos observa o participante utilizando nos das diferentes formas de entrevistas individuais e algumas em pequenos grupos familiares al m de estudos locais e levantamentos documentais hist ricos Foi poss vel realizar os contatos para a pesquisa dentro de uma escolha livre enquanto pesquisador por m sempre pautado pelo consentimento do s participante s Numa das idas a Morma a e Arvinha precisamen
161. cipais fatores que impulsionaram o xodo rural por parte das fam lias negras e o atual quadro de fragmenta o e expropria o dos territ rios das comunidades Mas contribu ram tamb m para isso os baixos n veis de escolaridade e o consequente dom nio prec rio dos c digos que mediavam legitima o da apropria o gerando a depend ncia de atores externos n o comprometidos com concep es internas de justi a e direito e que ao contr rio se aproveitaram da situa o de fragilidade das comunidades para acelerarem processos de expropria o Depoimentos nessa dire o s o encontrados tanto nos laudos t cnicos j realizados LEITE 2002 ANJOS et al 2004 BARCELLOS et al 2004 quanto o foram s o recorrentes durante as visitas s novas comunidades que se encontram em processo de autoidentifica o Geralmente d o conta da exist ncia de pap is que legitimavam a posse escrituras testamentos recibos de pagamento do imposto territorial rural para o INCRA etc mas que foram extraviados ap s confiados a 76 algu m geralmente advogados que teria se responsabilizado em regulariz la conforme Rubert et al 2008 Diante de todas essas ocorr ncias e paulatinamente o territ rio se vendo atacado alterando sua geografia pela nsia material de terceiros consequentemente as expectativas e as possibilidades de sobreviv ncia para todo o grupo naquele lugar foram se reduzindo e com isso a migra o A c
162. cisca a Chica Morma a Um Ppar ntese hist rico conv m A respeito da chamada campanha abolicionista anterior promulga o da Lei urea em 1888 ela vai ser mobilizada em diversas prov ncias brasileiras No hoje Estado do Paran essa campanha resulta em v rios atos particulares de estancieiros e fazendeiros libertando seus escravos ou parte deles como os descritos por Miriam Hartung 2005 Nos ltimos anos da escravid o multiplicaram se pelo Paran as sociedades emancipadoras que angariavam fundos para a liberta o de escravos Al m das joias das mensalidades e da renda de festas beneficentes alguns de seus membros faziam doa es para as referidas sociedades Nas boticas e armaz ns existiam listas para a liberta o de determinados escravos Continua aberta nesta tipografia a assinatura para a liberdade do escravo Pedro As manumiss es no Paran prosseguiram at a data da aboli o e algumas foram concedidas sem condi es como aquelas que fez um senhor s suas escravas durante os anos de 1868 1869 e 1870 HARTUNG 2005 p 179 180 Francisca Vieira nasceu entre 1892 1894 conforme consta em sua certid o de casamento realizado em outubro de 1911 com Luiz Bernardo da Cruz com quem teve quatro filhos Registrado em laudo antropol gico realizado na comunidade da Morma a apresentado ao INCRA RS em 2007 SANTOS S 2009 p 137 detalha ser prov vel que Firmina Vieira e Elisb o pais de
163. com a Secretaria Estadual que trata dos quilombolas e ind genas a Prefeitura de Sert o n o interfere a favor dos quilombolas a Emater n o aparece e nem o Neabi de Sert o M T 58 outubro 2012 rg os que deveriam atender as comunidades negras como atendem a outras especialmente no caso da Emater e da Prefeitura Municipal que deveriam gerenciar a implanta o de projetos que comp em pol ticas p blicas espec ficas dos Governos Estadual e Federal e ainda propor pol ticas locais n o o fazem quando fazem de forma desigual N o deveriam se pautar por quest es ideol gicas de 80 serem contra ou a favor posi o que deve ser pessoal mas sim na obriga o de cumprir bem seu papel de gestor p blico institucional Por outro lado em contatos atrav s de trabalho de campo que realizamos em outras comunidades as associa es relatam que no contexto atual algumas comunidades t m conseguido acessar recursos tanto da coopera o internacional da iniciativa privada e governo federal J Q l der quilombola dezembro de 2012 Lideran as comunit rias que t m participado de oficinas de fortalecimento institucional identificaram que na gest o organizacional existe uma s rie de necessidades a serem atendidas como mecanismos e ferramentas para elaborar um planejamento estrat gico e incluir ainda a forma o em gest o administrativa e financeira Na dimens o formativa identificou se a necessidade do forta
164. d ncia Regional dever adotar as medidas cab veis visando a retomada da rea Art 19 Incidindo os territ rios reconhecidos e declarados sobre terras de propriedade dos Estados do Distrito Federal ou dos Munic pios a Superintend ncia Regional encaminhar os autos para os rg os respons veis pela titula o no mbito de tais entes federados Par grafo nico A Superintend ncia Regional poder propor a celebra o de conv nio com aquelas unidades da Federa o visando a execu o dos procedimentos de titula o nos termos do decreto e desta instru o 241 Art 20 Incidindo nos territ rios reconhecidos e declarados im vel com t tulo de dom nio particular n o invalidado por nulidade prescri o ou comisso e nem tornado ineficaz por outros fundamentos a Superintend ncia Regional adotar as medidas cab veis visando a obten o dos im veis mediante a instaura o do procedimento de desapropria o previsto no artigo 184 da Constitui o Federal Par grafo nico Sendo o im vel insuscept vel desapropria o prevista no caput a obten o dar se com base no procedimento desapropriat rio previsto no artigo 216 10 da Constitui o Federal ou ainda mediante compra e venda na forma prevista no Decreto 433 92 com altera es posteriores Art 21 Verificada a presen a de ocupantes n o quilombolas nas terras dos remanescentes das comunidades dos quilombos a Superintend ncia Regional prov
165. da qual o pesquisador parte integrante podendo i6 as y A importante ressaltar que utilizamos do Termo de Consentimento Livre e Espont neo TCLE modelo anexo para ter autoriza o em registrar os di logos imagens e falas estabelecidas com os entrevistados A apresenta o das falas nesta tese identificada por letras iniciais dos nomes dos informantes m s e ano do encontro 31 inclusive sofrer as consequ ncias do projeto social que prop e ou das transforma es que sua a o pode provocar OLIVEIRA R D 2006 importante notar a representatividade que possuem as associa es dos remanescentes e a sede como espa o de encontro de discuss es de celebra es e de trabalho em Arvinha e Morma a reunindo todo o grupo ou aqueles com atividades determinadas As mulheres como na sociedade brasileira s o maioria Apoiadas pelas associa es que organizam encontros e cursos que envolvem os ligados s atividades rurais aos trabalhos artesanais com a produ o de p es cucas bolachas biscoitos e massas numa pequena agroind stria e ainda utiliza o de fios no croch e tric transformados em bolsas tapetes guardanapos e enfeites estas mulheres desenvolvem na arte do ensinar e do aprender mesmo sem elas pr prias perceberem uma pr tica educativa emancipat ria valorizando seus saberes decorrentes das experi ncias que adv m dos antepassados talvez sim atualizados com a utiliza o de t cni
166. dam terra nem querem trabalho em parceria com os Quilombola Os homens tiveram que procurar servi o fora daqui L R 35 maio 2012 E num terceiro momento esses homens e mulheres n o recebem nenhuma garantia de trabalho em outras pocas n o lhes s o recolhidos direitos trabalhistas para uma previd ncia no futuro e ainda por serem diaristas teoricamente trabalhadores aut nomos favorecem exclusivamente aos empres rios que n o t m outras obriga es aumentando seus lucros Estas s o caracter sticas de rela o de reciprocidade assim trica Uma reciprocidade negativa referida por Roberto Oliveira 2003 citado por Silveira 2010 p 50 na qual o autor destaca no conceito de reciprocidade negativa o fato de que pode ser plenamente traduzida em evid ncias materiais refletindo um desequil brio acentuado no valor dos bens trocados J a nega o da d diva se expressa em uma aus ncia de defer ncia ostensiva percebida como um insulto ou ato de desconsidera o que frequentemente n o pode ser traduzida em evid ncias materiais pela recusa nega o da d diva que a rela o de supremacia racial como modalidade de viol ncia doce pode passar se n o dissimulada pelo menos inquestion vel Na comunidade da Morma a acontece um fato de reciprocidade assim trica por m num processo de troca mais justo se comparado ao elucidado acima muito embora numa ocorr ncia de rela o de
167. de ensino do Recife Revista Educa o e Diversidade CEAD UFPE vol 2 2009 Dispon vel em http Awww ufpe br cead estudosepesquisa textos claudilene2 pdf Acesso em 28 nov 2013 SILVA Giv nia Maria da Identidade territorialidade e educa o na Comunidade Quilombola de Concei o das Crioulas 2006 sd Dispon vel em http www anped org br app webroot 34reuniao GT21 Acesso em 20 out 2013 228 Educa o como processo de luta pol tica a experi ncia de educa o diferenciada do territ rio quilombola de Concei o das Crioulas Disserta o Mestrado em Educa o Programa de P s Gradua o em Educa o Universidade de Bras lia UnB 2012 Dispon vel em http repositorio unb br bitstream 10482 12533 1 2012 Acesso em 24 nov 2013 SILVA Paulo S rgio da Rio Grande Profundo o estado da arte da quest o quilombola Revista eletr nica do Grupo de Pesquisa identidade da Escola Superior de Teologia Faculdades EST S o Leopoldo RS v 16 n 2 jul dez 2011 Dispon vel em http www est edu br peri dicos index php identidade Acesso em 30 nov 2013 SILVA Paulo Vin cius Baptista da COSTA Hilton Notas de Hist ria e Cultura Afro Brasileiras Editoras UEPG e UFPR 2007 SILVA Regisnei Aparecido de Oliveira Bases para a educa o ambiental em espa os n o escolarizados um estudo com a Comunidade de Retireiros do Araguaia Luciara MT Disserta o Mestrado em Educa o
168. de ou interessado dever apresentar informa es sobre a localiza o da rea objeto de identifica o 8 2 Compete s Superintend ncias Regionais manter atualizadas as informa es concernentes aos pedidos de regulariza o das reas remanescentes das Comunidades de Quilombos e dos processos em curso no Sistema de Obten o de Terras SISOTE e no Sistema de Informa es de Projetos de Reforma Agr ria SIPRA para monitoramento e controle CERTIFICA O Art 7 A caracteriza o dos remanescentes das Comunidades de Quilombos ser atestada mediante auto defini o da comunidade 8 1 A auto defini o ser demonstrada atrav s de simples declara o escrita da comunidade interessada nos termos do Artigo 2 do Decreto 4 887 03 8 2 A auto defini o da Comunidade ser certificada pela Funda o Cultural Palmares FCP mediante Certid o de Registro no Cadastro Geral de Remanescentes de Comunidades de Quilombos do referido rg o nos termos do 4 do artigo 3 do Decreto 4 887 2003 8 3 O processo que n o contiver a Certid o de Registro no Cadastro Geral de Remanescentes de Comunidades de Quilombos da FCP ser remetido pelo INCRA por c pia quela Funda o para as provid ncias de registro n o interrompendo o prosseguimento administrativo respectivo IDENTIFICA O E DELIMITA O Art 8 O estudo e a defini o do territ rio reivindicado ser o precedidos de reuni es com a comunidade e c
169. de ser e pertencer a uma coletividade Objetivos espec ficos Identificar no simbolismo de atos de d diva e reciprocidade em alian as de parentesco e compadrio contribui es para que os territ rios permane am e sejam retomados criando assim melhores condi es de sobreviv ncia aos grupos Descrever processos educativos n o escolarizados passados de gera o a gera o os quais t m promovido a identifica o dessas comunidades com aquele espa o considerando o como uno e Compreender na rela o de descend ncia matrifocal o papel da mulher quilombola na condu o dos rumos das comunidades e na autoafirma o daqueles grupos ora estudados como s mbolo de resist ncia s formas de exclus o e invisibiliza o do negro em ambiente rural 1 3 Pressupostos Te rico Metodol gicos No desenvolvimento desta pesquisa a partir de uma abordagem qualitativa desenvolvida no campo da Educa o a metodologia que ser utilizada na coleta na 24 leitura dos dados e interpreta o nas idas e vindas ao pr prio campo empiria ter como base a pesquisa participante BRAND O amp STRECK 2006 Essa op o te rico metodol gica nos possibilita desenvolver um campo f rtil de investiga o por meio da tentativa de reunir fragmentos hist ricos rememorados e uma vis o do mundo clara e atual relacionado com a etnicidade as concep es de territorialidade os valores presentes na d diva e reciprocidade o conhe
170. delas religiosa a celebra o da Festa do Divino que acontecia geralmente no m s de janeiro era precedida com uma novena e a bandeira do Divino visitando cada casa A chegada da bandera em cada casa de grande festa com foguete e cantorias Quando os foli o chega numa casa com a bandeira s o recebido com foguete e pedem uma oferta para que a festa continue Essa oferta pode s em dinheiro e pedem tamb m uma prenda que pode s um alimento um animal ou o que o morado pude dar e a bandeira fica posando na casa do morador que puder oferece janta caf da manh e parte das fam lias da comunidade Morma a apresenta certa diversidade flexibilidade e dualidade com refer ncia op o religiosa considerando viv ncia simult nea de religi es motivadas pelas uni es conjugais Essa diverg ncia faz com que venham frequentar mais de um local religioso A Folia de Santos Reis um denso e belo exemplo da maneira como a sociedade camponesa cria e consagra rela es sociais e simb licas entre diferentes categorias de pessoas e grupos no interior da fam lia da parentela da vizinhan a da comunidade Ela a unidade m vel de artistas e de devotos que difunde a not cia anual do nascimento de Jesus Cristo Ela um ritual errante entre casas e casas e antecede uma festa religiosa popular a celebra o do Dia de Santos Reis em seis de janeiro Dispon vel em http www tvbrasil org br fotos salto series 1053
171. des camponesas A essas categorias emp ricas estariam associadas outras categorias antropol gicas relacionadas a valores e princ pios organizat rios e ao sentido mais geral da humanidade a reciprocidade a honra e a hierarquia Desta forma complementa Woortmann Pensar trabalho pensar terra e fam lia N o s o pensadas separadamente porque s o categorias de um universo concebido holisticamente Por outro lado honra reciprocidade e hierarquia tamb m n o se pensam separadamente s o conceitos te ricos que se interpenetram na constitui o da ordem moral que chamo campesinidade WOORTMANN K 1988 p 63 127 Aponta ent o para a no o de trabalho como base de uma ordem moral a campesinidade que organiza o universo dos agricultores sua rela o com a terra e os espa os sociais internos fam lia Poder amos desta forma compreender disso que a terra n o por si s um ente resultante de um processo f sico mas carregada de uma hist ria daqueles que por ela passaram 4 3 Territ rio Alidade disputa entre sujeitos sociais e valores Considerando se numa perspectiva de Jos M Arruti 2004 que al m dos elementos caracter sticos de um grupo como os remanescentes de quilombo basearem se na identidade tnica territorialidade autonomia e serem percebidos como grupos tnicos ao se auto atribu rem importante a atribui o por outros BARTH 1988 Ou seja a ate
172. des quilombolas com obrigat ria inser o de cl usula de inalienabilidade imprescritibilidade e de impenhorabilidade E como exig ncia de titularidade do direito acrescenta o par grafo nico a determina o de que se faz necess ria aplicabilidade do direito a cria o de uma associa o legalmente constitu da que representar todos os membros da comunidade coletivamente 78 organiza o associa o em rela o comunidade a compreens o de sua relev ncia e estrat gias que envolvem a leitura dos contextos Internamente ao movimento o alcance de objetivos o grau de articula o entre os movimentos associa es e comunidades externamente como a credibilidade da organiza o perante as comunidades e o p blico em geral a capacidade de dialogar e estabelecer parcerias e a capacidade de impactar agendas p blicas seriam condi es tidas como ideais A partir desta leitura indispens vel refletir sobre as condi es de sustentabilidade da comunidade quilombola no que diz respeito gest o do seu territ rio sua produ o econ mica e ao patrim nio material e imaterial nela existente Sustentabilidade no n vel micro avaliada pela capacidade de sustentar de forma duradoura o valor social do projeto institucional atrav s da intera o criativa com contextos mut veis no n vel macro compreendida pelo grau de correspond ncia entre a a o coletiva da comunidade e as concep es pol ticas e mec
173. des rebocadas possui uma pequena torre em sua entrada enquanto que na Arvinha n o h a torre est em um nico n vel e os tijolos colocados s o do tipo vista Pois o interessante em seus desenhos a forma T m semelhan a arquitet nica a uma antiga senzala Prof a Teresinha l der comunit ria cnamou de Senzala Comunit ria 89 A Senzala era um grande alojamento que se destinava moradia dos escravos dos engenhos e das fazendas no Brasil Tinham grandes janelas com grandes grades e seus moradores s sa am de l para trabalhar e apanhar Os homens viviam separados das mulheres e das crian as Os escravos dormiam no ch o duro de 192 No in cio o pessoal n o gostou muito da ideia mas coloquei para eles a hist ria de como nossos antepassados viviam com suas fam lias ali dentro Era um lugar comum n o havia separa o por fam lias e nem de adultos com crian as Havia muitas janelas estreitas e fechadas na entrada em forma de cone ficava o temido Capit o do Mato observando a todos Professora Maria Teresinha 58 dez 2012 De fato a constru o tem essa arquitetura um local amplo com boa ventila o e luminosidade apropriado para os encontros da comunidade sejam reuni es cursos forma o religiosa e festividades A ideia um resgate n o significa hoje para n s uma opress o Acho que ajuda manter nossas ra zes vivas complementa a lideran a A exist ncia do sa
174. di rios se anteciparam a fim de impedir que negros pudessem tamb m se tornar donos de terras Promulgada por D Pedro Il esta Lei contribuiu para preservar a p ssima estrutura fundi ria no pa s e privilegiar velhos fazendeiros As maiores e melhores terras ficaram concentradas nas m os dos antigos propriet rios e passaram s outras gera es como heran a de fam lia Dispon vel em http reforma agraria no brasil info mos view Acesso em 12 jun 2013 62 perfeitamente demandado em rela o ao campesinato tradicional incluindo tamb m grupos camponeses negros Por outro lado essas a es impeditivas de acesso a terra se transformam em bandeira de luta e sobreviv ncia para os moradores das Comunidades Remanescentes na contemporaneidade De qualquer maneira o importante a reter o fato de que os negros que j se achavam territorializados desde a primeira metade do s culo XIX alimentaram rela es de parentesco com aqueles que ainda se achavam sob o jugo do cativeiro o parentesco efetivado seja pela uni o matrimonial seja pelo apadrinhamento aproximou em distintas pocas escravos africanos e crioulos negros e ind genas livres e libertos N o se trata de retratar algo idealizado e isento de conflitos mas o fato que entre 1880 1890 diversos indiv duos que rec m haviam se tornado livres foram acolhidos no interior das glebas adquiridas por ex escravos na primeira metade do s culo XIX E foi
175. dio E os di logos com diversos desses jovens se davam em torno de o que aprendi Para que serve Nas falas e n o foram poucas havia semelhan as nas respostas Vimos muitas coisas poucas eram conhecidas se estudava as cidades e as pessoas das cidades Sobre o interior e de n s muito pouco E C 19 novembro 2013 Realidade em Arvinha e Morma a que n o diferente de tantas outras de remanescentes de quilombos brasileiros Uma escola para qu Uma escola educa o assim emancipat ria ou instrumento de domina o Essas s o portanto as quest es postas A escola quilombola deveria criar condi es para que a mesma se constitua instrumento de luta para a comunidade quilombola o aparelho escolar n o pode criar obst culos para que essa emancipa o que deve se dar a partir de seu interior venha a ocorrer Professora Edla Eggert em seus apontamentos nesta tese mar o de 2014 159 Com isso n o se pretende dizer que somente a escola quilombola possa desenvolver uma educa o focada nas quest es quilombolas essa uma possibilidade para todas as que se dispunham a considerar essa realidade e tamb m passem a refletir sobre outras realidades Ela na sua pluralidade deve refletir sobre a identidade do povo quilombola de forma positiva na perspectiva do fortalecimento da presen a desses grupos possibilitando fazer se uma nova releitura de mundo tamb m para aqueles que pertencem a o
176. distantes e mesmo entre primos s o recorrentes dentro de uma tradi o sucess ria em Arvinha e Morma a contribuindo para a n o entrada de estranhos como estrat gia de defesa e manuten o de um territ rio espec fico com uma rea cada vez mais limitada 70 E Grifos nossos 134 O estudo de Woortmann 1995 realizado em um s tio campon s no sert o sergipano observou essa mesma tend ncia quanto s regras preferenciais de alian a com o crescimento da popula o a terra se torna um bem mais escasso A endogamia de bairro isto a defini o das mulheres como propriedade do S tio enquanto grupo de descend ncia e o dever dos homens de se casarem com essas mulheres e com nenhuma outra assim como a defini o do conjunto de patrim nios familiares como propriedade coorporativa do S tio isto como bens s acess veis aos descendentes de Manoel Barreto ir o permitir a reprodu o do grupo como sitiantes fortes Passando da posse indivisa e abundante do s tio parcelado e limitado por efeito de crescimento demogr fico num territ rio definido a endogamia de lugar pensada como endogamia de sangue ir garantir aos in group sua reprodu o social WOORTMANN E 1995 p 263 Elisa Camarote 2010 pesquisando em outra regi o do nordeste brasileiro Lages das Aroeiras uma comunidade de fundo de pasto localizada na regi o norte do semi rido baiano evidenciou pr tica
177. dizagem onde se propunha melhorar conhecimentos do ensino fundamental de homens e mulheres em idade ou n o escolar que lhes oportunizasse melhores condi es de aprova o em processo seletivo para os cursos t cnicos de n vel m dio ofertados Outro projeto buscou discutir formas alternativas de gera o de trabalho e renda condi o tamb m crucial para a sobreviv ncia e desenvolvimento do grupo atrav s de projetos financiados por governos e organiza es n o governamentais OGNSs onde as pessoas pudessem se envolver e assim financeiramente melhorar as condi es de vida local Cultural Palmares possui sede em Bras lia Distrito Federal no endere o Setor Banc rio Sul Quadra 02 Lote 11 CEP 70 070 120 21 O que nos aproximou do tema de estudo foram os trabalhos de campo que tivemos a oportunidade de realizar nas comunidades estabelecendo la os de trabalho pesquisa e amizade Os trabalhos de campo a partir de uma presen a in loco possibilitou uma aproxima o positiva entre os moradores e o pesquisador a claro que para uma intera o maior seria talvez necess ria uma conviv ncia cotidiana por mais tempo o que nos dias atuais torna se um pouco dif cil por m em contatos cont nuos o aprofundamento nas quest es locais se concretiza a partir do estabelecimento de c digos de confian a entre as pessoas moradoras e neste caso o eu enquanto pesquisador Temos tido uma preocupa o constante em
178. do em sua arte em suas festas nas suas cren as na sua luta em sua hist ria A fam lia os grupos mais pr ximos e as formas de organiza o social s o grandes respons veis por este modelo de educa o Brand o 2007 faz refer ncia ao modelo de educa o fora das divisas escolares em sua acep o denominado por ele de educa o n o intencional A educa o uma fra o do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam entre tantas outras inven es de sua cultura em sua sociedade Formas de educa o que produzem e praticam para que elas reproduzam entre todos os que ensinam e aprendem o saber que atravessa as palavras da tribo os c digos sociais de conduta as regras do trabalho os segredos da arte ou da religi o do artesanato ou da tecnologia que qualquer povo precisa para reinventar todos os dias a vida do grupo e a de cada um de seus sujeitos atrav s de trocas sem fim com a natureza e entre os homens BRAND O 2007 p 10 O aprender ou o ensinar no cotidiano da comunidade n o acontece intencionalmente mas necessariamente a necessidade de se manter no ambiente geralmente marginal que garante o aprendizado dos grupos sociais de comunidades tradicionais N o h vontade de ensinar ou de aprender H no entanto a necessidade de ensinar e aprender e essa necessidade manifestada sem inten o tanto por quem ensina como para quem aprende Os que n o sabem v o aprendendo com os outros qu
179. dos e libertos Note se que a matrifocalidade e a matrilinearidade tamb m s o dispositivos percebidos em outras comunidades quilombolas Ainda no mesmo cap tulo discutiremos o processo de reconhecimento o est gio atual e quais engendramentos que se desenham para sua total autonomia bem como a representa o comunit ria atrav s das associa es de moradores remanescentes O terceiro cap tulo trata do territ rio e a territorialidade que uma quest o bastante significativa nesse momento para essas comunidades H busca de afirma es Primeiramente em garantir aquele reduzido espa o f sico a que est o hoje submetidos guardando suas fronteiras num segundo momento agregar outros espa os que anteriormente j lhes pertenceram mesmo atrav s de posses como condi o de sobreviv ncia e reprodu o dos grupos e um terceiro momento a longa espera na tramita o dos processos de regulariza o e titula o dos territ rios que se d no mbito administrativo mas especialmente na esfera pol tica Ir discutir os 33 enfrentamentos travados com o entorno sindicatos rurais agentes e gestores p blicos em prefeituras municipais rg os p blicos de assist ncia t cnica pol ticos grupos privados e ainda com parte da popula o regional contr ria aos seus pleitos e por vezes na intimida o utilizando se de pr ticas racistas e discriminat rias Tamb m a participa o do INCRA Instituto Nacional de Coloniza
180. dship the relationship of compadrio Finally this process was able and still is able to preserve their space and don t recede in the fight to keep the enlargement and originality of their areas Key Words Education Quilombola Community Territory Territoriality LISTA DE FIGURAS Figura 1 Primeiros contatos Comunidade Morma a mulheres l deres da Associa o e grupo de pesquisa jun 2008 aeee 20 Figura 2 Visita de moradores ao campus Sert o IFRS out 2008 28 Figura 3 Mapa munic pio de Sert o RS localizando Comunidades Quilombolas 42 Figura 4 Divis o Regional do Estado do Rio Grande do Sul regi o Planalto M dio43 Figura 5 Comunidade Remanescente do Quilombo da Arvinha e parte de antigos temo S ARRAES RU RO O RO RE RR E 45 Figura 6 Local hist rico antigo territ rio quilombola rvore P de Cambar que originou o nome Arvinha para a Comunidade eee 46 Figura 7 Casal Avelino de Vargas e Maria Teresinha Costa Vargas descentes bisnetos dos troncos de Leonor e Silvana de Miranda o 53 Figura 8 Comunidade Remanescente do Quilombo da Morma a resid ncias 54 Figura 9 Contempor neos de Francisca Vieira Comunidade Morma a 87 Figura 10 Comunidade Morma a e o entorno parte de antigo territ rio desde propredade do casaINRELRA saidas eta Sp E a 89
181. e banha de porco a um pote de chimia de ab bora que havia recebido pela manh de outra remanescente num ato de d diva E noutro tr s jovens espontaneamente fazer a moagem e ensacamento de gr os na propriedade de um casal quilombola idoso retribuindo os rem dios caseiros que esses faziam a todos os da comunidade num ato de dar servir 216 Dentre os objetivos do trabalho estava preocupa o em descrever processos educativos n o escolarizados passados de gera o a gera o os quais t m promovido a identifica o dessas comunidades com aquele espa o considerando o como uno Pudemos ent o perceber que os processos educativos que as comunidades remanescentes de Arvinha e Morma a t m experenciado em suas trajet rias e tidos como mais significativos foram aqueles exercitados em seus cotidianos no conv vio da casa com parentes pr ximos com a vizinhan a e num grupo maior com a comunidade Trata se portanto de processos educativos de ensinar e aprender n o escolarizados que perpassam toda a hist ria pessoal dos sujeitos e dos grupos E num segundo momento a institui o escola como espa o tradicional de forma o Neste caso apesar de aspectos positivos na oferta de conhecimentos para uma forma o intelectual e profissional dos estudantes a educa o que se apresenta n o est voltada para uma educa o quilombola Nas observa es e nos di logos que temos tido nas comunidades se d
182. e compreender o campesinato A produ o ent o alcan ada o retorno da atividade indivis vel da fam lia cujo car ter constitui se noutra dimens o fundamental para compreens o da fam lia camponesa sem a qual as rela es de parentesco n o podem ser entendidas A terra na tica de Chayanov 1966 constitui se somente como fator de produ o independentemente de seu conte do ideol gico Portanto para ele a fam lia uma unidade econ mica ocupada em reproduzir seus fatores de produ o quais sejam terra capital e trabalho Diferindo a Chayanov outro autor Galeski 1975 observa que a terra n o apenas fator de produ o mas um patrim nio isto det m um valor moral onde a fam lia uma continuidade entre gera es e este um ponto importante para o entendimento das rela es de parentesco camponesas WOORTMANN E 1995 p 31 Para Galeski 1975 na fam lia camponesa a escolha da esposa envolve um equil brio de interesses das duas fam lias envolvidas depreende se que o casal deva ter as bases necess rias para garantir sua exist ncia o que envolve a terra e os padr es de heran a 122 A indivisibilidade da terra como forma de manuten o daqueles territ rios tem sido experimentada em algumas comunidades de remanescentes a partir de uni es conjugais dentro do pr prio grupo podendo ainda estar ligados por linhas de parentesco ou ainda por rela es pr ximas de compad
183. e 2014 Essa rea em valores atuais equivale aproximadamente a R 2 860 000 00 145 vizinho Comunidade que al m de suas terras ocupa mais de uma col nia de terra que n o tem escritura rea quilombola invadida Outra situa o a venda troca de terra por animal para carnear Verdadeira expropria o do patrim nio de quem n o conhece e n o sabe o real valor comercial da rea A t tulo comparativo hoje poss vel adquirir aproximadamente 73 cabe as do referido bovino com essa rea Entre as diversas formas de opress es de que s o alvos a extors o das terras tem sido sua marca mais evidente Voltando quest o a distribui o espacial das resid ncias vem favorecer a pr pria circula o de pessoas pelos quatro troncos tornando se agentes de trocas matrimoniais configurando a teia de parentesco As rela es de parentesco amizade e compadrio e afinidade est o relacionadas a normas sociais que regulam o viver da comunidade fazendo emergir um senso de justi a local Tanto o direito de heran a das terras quanto nas rela es de parentesco parece haver uma mesma preocupa o a preserva o do territ rio e a salvaguarda da comunidade RAMOS 2009 p 92 A preocupa o em manter esse territ rio indissol vel tamb m perdura na fam lia de E M 58 e O M 55 Moradores da Morma a t m a propriedade ocupando uma faixa pequena de terra que margeia uma sanga dividindo a Comunidade com a rea d
184. e agricultor e as fam lia recebe a bolsa fam lia N is que semo novo sa mo pra trabalhar fora fui pra Sert o cuida de uma idosa as outras tamb m v o trabalha e voltam pra casa o J pedreiro e assim vai Diminuiu o trabalho na lavoura depois que comecemo a lutar pela nossa terra desde 2004 5 e porque a nossa terra diminuiu Depois os vizinho agricultor n o deram mais servi o pra n is n o arrendam n o deixam plantar em parceria Os novo foram procura servi o fora daqui longe foi pras colheita de ma em Vacaria Bom Jesus e na Serra V o 63 PA a Utilizamos novamente a fala da lideran a pois a mesma prop e reflex es importantes sobre as rela es dos moradores quilombolas com moradores do entorno 112 em Veran polis Flores da Cunha e Caxias na safra da uva outros v o carregar frango nos caminh o em avi rio aqui perto e outros na cidade por dia quando chove para L R 35 out 2012 Nesse recorte manifesta es prim rias na rela o de reciprocidade as trocas n o mais se configuram n o h uma no o de equival ncia buscando a justi a mas uma assimetria e rela es de poder em favor dos brancos As rela es entre patr es e empregados se perpetuam em modalidades de rela es assim tricas de reciprocidade h de certa forma um confronto de interesses individuais e de diferen as sociais que ir determinar uma estrutura de domina o bem caracterizado n
185. e amizade simbolizadas nas uni es matrimoniais t m promovido suas perman ncias e a manuten o dos territ rios os processos educativos n o escolarizados e os atos da d diva e reciprocidade praticados permitem aos remanescentes uma const ncia na luta em reaver reas originais com isso terem ampliados seus territ rios Atuam como for a motriz que os mant m em resist ncia e n o os deixa retroagir pela desesperan a Para as Comunidades de Arvinha e Morma a o modo de relacionarem se em seus cotidianos pelo princ pio da d diva constituiu se e constitui pr tica que possibilitou coes o entre os membros desses grupos o que lhes permitiu uma travessia iniciada no ajuntamento de pessoas criando aglomera es posteriormente passando forma o de uma comunidade quando hoje em per odo 215 recente a Constitui o Brasileira vem reconhec los como remanescentes de escravos e ex escravos aquilombados Talvez por maior vulnerabilidade considerando a press o do entorno a comunidade Morma a tenha com certo xito podido manter se local e como grupo por relacionar entre os seus pelo princ pio da d diva A consolida o de la os de solidariedade a partir dessa racionalidade permitiu a resist ncia diante da amea a as suas continuidades Refuta se ent o a hip tese de que o territ rio ocupado n o constitui conquistas de a es engendradas nas rela es sociais de seus membros mas sim resulta de um pro
186. e possibiltasse melhores conhecimentos escolares a estudantes interessados em cursar as forma es t cnicas que aquele instituto educacional oferecia Vamos considerar que as vagas ofertadas eram disputadas atrav s de exames seletivos anuais dando se prefer ncia a alunos e a subliminarmente homens oriundos do meio rural que j desenvolvessem com suas fam lias atividades agropecu rias Negros e negras n o necessariamente preenchiam esses requisitos e ainda n o havia um programa como o das cotas raciais que hoje temos Ainda participamos de eventos locais e regionais que discutiam a quest o da inclus o de popula es perif ricas ao ensino p blico Em outubro de 2009 a equipe de pesquisa participou da 2 Feira Estadual de Ci ncia e Tecnologia da Educa o Profissional FECITEP com o projeto A Comunidade Remanescente do Quilombo da Morma a com satisfa o que se pode verificar que talvez esse tenha sido o embri o que possibilitou o interesse e a entrada de remanescentes a essa institui o escolar atualmente no semestre 2014 I s o 23 estudantes 14 Sobre caminhada percorrida para uma melhor compreens o da escrita desta tese importante ressaltar que se deu em diversos per odos entre os anos de 2011 2012 2013 e 2014 com pessoas moradoras e oriundas das Comunidades Quilombolas de Arvinha e Morma a Mantivemos ainda em contato e entrevistas com respons veis por rg os p blicos Secret rias Muni
187. e processo adquiriu para Maria de Lourdes Bandeira 1988 p 113 duas formas complementares a luta pela liberdade do corpo fuga individual e a luta pela liberdade tnica quilombo ganhando novos contornos na din mica dos movimentos sociais e negros na contemporaneidade e constituindo se como s mbolo de luta por uma consci ncia tnica Diante dessa incr dula realidade a mulher foi protagonista Muitas em a es locais nos pr prios afazeres dom sticos cuidando de suas fam lias e ou desempenhando papel de m e e pai em atividades externas de ro as e animais e na ajuda a seus companheiros V rias foram as mulheres que se destacaram pela lideran a que possu am nos grupos seja atrav s de sucess es matrifocal ou matrilinear Helena Theodoro 2011 p 7 se refere entre outras Aqualture e Teresa do Quariter Aqualture l der que organizou sua fuga e de outros escravos para Palmares atuou no processo de organiza o do Estado de Palmares chefiou uma das povoa es que levava seu nome o Mocambo de Aqualture Outra lideran a foi Teresa do Quariter que durante duas d cadas no s culo XVIII chefiou o Quilombo de Quariter de tal forma o organizou fazendo com que sobrevivesse at 1770 Preocupou se com a autossufici ncia produtiva atrav s de uma agricultura forte e a fabrica o de tecidos a partir de grandes teares comercializando seus excedentes Tamb m fez com que se desenvolvesse o 87 trabalho
188. e sabem mesmo sem saber BRAND O 2007 p 20 O processo de aquisi o e transmiss o desse conhecimento um processo hist rico manifestado pela cultura A intera o entre os remanescentes e destes com o ambiente proposta em a es desse cotidiano al m de perpetuar os saberes antigos promove a constru o de novos saberes garantindo a sobreviv ncia da popula o e da pr pria conserva o dos recursos naturais diante das transforma es sociais por que vem passando as comunidades 187 Na argumenta o de Mauro Guimar es 1995 referido em Silva 2004 p 83 o processo de educar n o deve ser uma imposi o de forma universal e uniforme que o educador n o deve conceber a educa o como abstrata fora da dial tica da hist ria independente da cultura nem que a realidade existe fora do educando O homem ter por isso mesmo modos diferentes de construir sua vis o de mundo de saber que sabe de conceber a exist ncia enfim de construir os seus pr prios saberes Decorre da a compreens o de que o processo epistemol gico isto o modo como o povo quilombola constr i o seu saber lhe pr prio ou apresenta peculiaridades por estar nascendo na dial tica de sua pr pria hist ria na sua pr pria cultura na sua mundivis o a que ter o educador que se orientar primeiro e imprescindivelmente para sua rela o com o educando O autor se junta deste modo aos que apontam para a neces
189. e um agricultor Av s de uma menina ainda de colo dois de seus filhos se casaram tamb m com primas a essa indivis o do patrim nio implica indivis o da fam lia e a perpetua o do grupo dom stico fig 21 Col nia de Terra Medida de rea rural utilizada para transa es comerciais principalmente na regi o norte do Estado do Rio Grande do Sul corresponde a 24 2 hectares 146 Figura 21 Casal morador na Morma a e sua descend ncia Fonte Arquivo da pesquisa 2014 Trata se portanto do significado do parentesco como um c digo que regula o acesso e a transmiss o dos recursos b sicos da comunidade fundamentais para a produ o e para a reprodu o dessa comunidade A propriedade ent o um valor social intimamente associado ao princ pio da descend ncia ou sucess o Tal valor expresso em muitos casos pela no o de indivis o pois a fam lia tamb m seu patrim nio e este n o apenas uma materialidade mas igualmente uma sacralidade Wortmann E 1995 p 79 Al m dos espa os privados que cada morador ocupa com seu grupo familiar h os espa os comuns de utiliza o que apesar de reduzidos s o geridos de forma consensual entre todas as fam lias Fazendo parte do territ rio estes espa os especialmente recursos naturais visam preserva o ambiental prevalecendo a percep o de que os recursos dispon veis s o limitados mas v m se degradando ao longo do tempo e est
190. ecis o na data e Ant o nascido em 1879 Como bens de raiz s o arrolados seis im veis entre eles uma casa em rua de Com rcio um potreiro nos sub rbios da Vila e duas invernadas uma denominada Bugio e outra Arvinha Estes campos eram cont nuos cobriam aproximadamente 14 000 hectares Foi na Invernada da Arvinha que teria se consumado a doa o escrava Cezarina de Miranda e onde atualmente est localizada a Comunidade Remanescente Quilombo da Arvinha SANTOS 2009 p 133 134 Cezarina de Miranda era uma das escravas do Cel Miranda que trabalhava nos servi os dom sticos da casa grande e de atendimento a seus familiares imagina se a confian a nela depositada por seus patr es Cezarina e outra escrava tamb m acompanhavam tropas nas batalhas em que se envolvia o Coronel Miranda com seus homens eram enfermeiras que cuidavam dos feridos nas lutas preparavam os rem dios e curativos M T 60 mar o 2014 2 2 2 Comunidade Quilombola da Morma a Quilombo da Chica Morma a Extensas eram as reas das propriedades de Francisco Barros de Miranda e seu vizinho Am ncio de Oliveira Cardoso Praticamente todo o 3 distrito hoje munic pio de Sert o pertenciam aos concunhados Pelos dados descritos ambos possu am escravos o primeiro herdara de sua esposa oito cativos e o segundo por heran a de sua m e possu a pelo menos quatro escravos Entretanto considerando o tamanho de suas propri
191. edades e investimentos certamente estes indiv duos a Informa o confirmada pela historiadora e l der comunit ria na Comunidade Arvinha Profa Maria Teresinha Costa Vargas em Trabalho de Campo pelo autor mar o de 2014 2 C ria Diocesana de Passo Fundo Registro Paroquial de Batismo livro 3 folhas 33 33v 43v e 73v respectivamente SANTOS S 2009 p 134 8 A Lei do Ventre Livre determinava que a partir da promulga o da mesma todos os filhos de m es escravas eram considerados livres No entanto deveriam ficar em poder dos senhores at 8 anos e ap s essa idade deveriam ser encaminhados ao Estado que indenizaria o senhor ou ent o deveriam continuar na propriedade at completar 21 anos com intuito de indenizar os senhores 49 possu am plant is maiores Am ncio de Oliveira Cardoso tornara se tamb m influente na localidade foi eleito vereador duas vezes Em seu novo mandato a partir de 1884 exerceu o cargo de vice presidente da C mara Nesse mesmo ano a campanha abolicionista retomada impulsionada principalmente por um decreto de 24 de mar o de 1884 pelo qual a Prov ncia do Cear decretou a liberta o de todos os escravos naquela jurisdi o Talvez por ser abolicionista ou tomado de impulso Am ncio de Oliveira alforria sua escrava Firmina Vieira pertencente a ele por heran a deixada por sua m e em 1863 quando esta contava ter cinco anos e que mais tarde daria luz Fran
192. efere a uma forma de ensino e aprendizagem que pode ser generalizada para outras formas de ensinar e aprender fora de ambientes acad micos como por exemplo o ensino e aprendizagem na tecedura de fios No entendimento da autora por se tratar de uma forma de ensinar e aprender de mulheres em espa os n o escolares essa pedagogia merecedora de uma conceitua o peculiar Assim Entendemos aqui por formal toda a pr tica educativa que se realiza em ambientes formais de instru o escolas universidades e as da n o formalidade aquelas que de alguma maneira t m institui es educacionais que a cercam por m uma n o sobressai da outra Contudo essas formas n o s o totalmente sem formas Por isso ao adotar o termo pedagogias n o formais considero as pedagogias da n o formalidade ou seja uma tentativa pedag gica de manifestar em espa os diversos e inusitados por m permeados e transpassados por diversas institui es CUNHA 2010 p 188 A compreens o da autora se assemelha a alguns escritos nesta pesquisa cap 4 quando da identifica o de pr ticas recorrentes de ensino e aprendizagem em processos educativos n o escolarizados estabelecidos entre moradores remanescentes de Arvinha e da Morma a De igual maneira a pesquisadora Maria da Gl ria Gohn 2009 2010 2011 vai trabalhar esses processos n o escolarizados que transp e os muros da escola para os espa os da
193. egi o da serra L R abril de 2008 58 Essa situa o relatada j est sinalizada em Stack 1970 p 305 e retomada em ZARUR 1976 p 12 onde a matrifocalidade tamb m n o regra de resid ncia O princ pio grupamento matrilateral n o se identifica com a regra de resid ncia matrilateral A regra de resid ncia uma express o do casamento Se considerarmos que a matrifocalidade existe sem casamento como no caso t pico da escravid o nas Am ricas fica evidente que dois conceitos denotam realidades diversas De fato quanto menos estruturados os padr es de acasalamento mais evidente a situa o matrifocal Sobre a n o correspondente necessidade entre estar residente e a obedi ncia matrifocal corrobora neste sentido a afirma o de duas moradoras uma da Arvinha e outra da Morma a registrada num outro trabalho apresentado a este Programa de P s gradua o quando s o indagadas quem est por vir Quem est por vir quem n o encontrando lugar aqui foi trabalhar fora mas seu lugar aqui O espa o f sico OS recursos pra sobreviv ncia ainda n o s o suficiente As casas est o fechadas mas vir o para c Profa Maria Teresinha Para a dona de casa La des Rosa antes tinha 30 fam lias hoje s o 19 a maioria s o aposentados alguns recebem pens o tempor ria do INSS outros podem criar gado de leite mas os outros sa ram pra trabalhar viver melhor Quando a terra for
194. egro Uma nega o que tenta se perpetuar mesmo na atualidade quando o Brasil possui o maior contingente da popula o negra fora do continente africano Ao longo da 162 historiografia brasileira o racismo tem se reatualizado e atuado continuamente na produ o de desigualdades e subordina o Contrapondo no sentido da desconstru o desse processo a educa o tem se constitu do um dos eixos b sicos na reflex o sobre o combate s desigualdades na sociedade brasileira As an lises que v m sendo desenvolvidas nas ltimas d cadas t m tentado direcion la para uma a o pol tica libertadora e democr tica Todavia grande parte da discuss o acerca da educa o girou em torno da desigualdade social da diferen a de classes e da luta contra a opress o social e pela liberdade do aluno SILVA G 2006 p 12 Desta forma mesmo entre as diversas pedagogias progressistas as propostas de igualdade social para negros sempre estiveram atreladas s sa das universalistas e as perspectivas de ascens o social para esse grupo s o vistas como processos individuais Embora a constitui o da sociedade brasileira seja caracterizada pela pluralidade tnico racial a ideia de inferioridade do negro tem estruturado as rela es sociais que aqui foram estabelecidas resultando que a diferen a foi transformada em desigualdade e o desejo de que o pa s se tornasse um pa s branco fez com que a popula o negra fosse negada e invisi
195. eios de produ o atrav s dos ADCT em seu art 68 regulamenta o direito propriedade definitiva de terras ocupadas por remanescentes de quilombos Cabe portanto ao Estado emitir os t tulos definitivos das terras ocupadas e guardadas por longos anos Esse instrumento veio garantir o direito constitucional de luta pela cidadania plena reconhecendo os membros dessas comunidades rurais como uma categoria tnica N o obstante a pr pria Carta Constitucional garante aos territ rios ocupados mediante os artigos 215 e 216 o exerc cio dos direitos culturais e difus o das manifesta es tornam os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em conjunto portadores de refer ncia identidade a o mem ria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira O processo de regulariza o fundi ria dos espa os territoriais de Arvinha e da Morma a ainda est tramitando Considerando que no Di rio Oficial da Uni o j 211 foram publicados os editais com os objetos delimitando as reas bem como os per metros dos territ rios que dever o ser demarcados para as Comunidades Quilombolas da Arvinha 2009 e da Morma a 2010 e j passados quase cinco anos do ato administrativo os remanescentes continuam a aguardar o final do processo de regulariza o fundi ria de seus espa os territoriais Al m do t tulo de propriedade coletiva das terras em nome das associa es dos remanescentes de quilo
196. el Francisco de Barros Miranda ocorrida na segunda metade do s culo XIX Tiveram cinco filhos os g meos Quirino e Quirina nascidos em 1875 Leonor nascida em 1876 Silvana cuja data de nascimento n o foi precisada e Ant o nascido em 1879 Todos com sobrenome Miranda foram criados pela M e sob a prote o do Cel Miranda Esses descendentes s o conhecidos como os troncos da comunidade Desses cinco troncos apenas os descendentes de Ant o n o vivem no nucleamento esse em idade adulta mudou se para regi o pr xima e constituiu seu grupo Descendentes vivos mais pr ximos escrava Cezarina h quatro netas filhas de Silvana de Miranda Jurema No mia Zulmira e Maria que n o residem mais na Comunidade fig 18 Dos outros troncos v rios bisnetos As rela es de parentesco e de compadrio sedimentadas principalmente em uni es endog micas determinam todas as suas descend ncias a ocupa o e a configura o dos territ rios As alian as de compadrio e amizade t m aproximado parentes herdeiros atrav s de uni es conjugais Woortmann 1995 define essa aproxima o como necess ria manuten o do patrim nio e a continuidade dos grupos 139 O casamento uma pr tica que assegura a sucess o Se ele responde proibi o do incesto e institui a alian a ele se relaciona intimamente com a descend ncia Juntos casamento e descend ncia n o s reproduzem o patrim nio mas produzem o
197. elha tratamento segundo ela que j anda esquecido entre os mais jovens Dona N O faz quest o de nos contar das crendices que n o conv m desconfi O relat rio apresentado pelo Grupo de Trabalho Cl vis Moura 2010 sob o t tulo Quilombos do Paran traz algo semelhante ao que a remanescente nossa pesquisada guarda em sua mem ria cortar cabelo e unha na minguante ou na cheia n o cai e n o cria ponta seca O milho se plantar na nova ou na crescente n o produz Colocavam o fumo na gua e regavam a horta a couve a batatinha que matava as pragas Adubo estrume esterco de vaca de boi de carneiro d uma planta sadia e n o tem problema nenhum A rvore para podar na minguante pra n o d caruncho fungo GTCM 2010 p 187 Como podemos perceber nessas comunidades remanescentes e certamente em tantas outras rurais nesse Brasil in meras manifesta es da cultura popular 200 demonstram o conhecimento constru do pelo povo negro homens e mulheres que perpassaram gera es fruto de uma ousada resist ncia 5 4 4 Educa o para a Cidadania A forma o educacional local conhecimento perpassado por gera es tem fortalecido a organiza o das Comunidades e se materializa quando observamos a prepara o de moradores e moradoras nas diversas reuni es e encontros que realizam debatendo a comunidade as estrat gias os caminhos a trilharem fazendo proposi es T
198. em 1850 editada a Lei de Terras a qual veio substituir o direito da terra baseado na posse quando se comprovasse dom nio de determinada rea cabendo aos registros cartoriais oficializarem esse direito A titula o efetiva sob a forma de posse de rea de terra por per odo comprovado ainda hoje pr tica legal de requerer seu registro p blico e Terreiro de candombl como s o geralmente conhecidos os templos de candombl ou Espa o de Religi o de Matriz Africana Mas tamb m s o chamados de casas ro as e dependendo da na o podem ser chamados de barrac es ou ainda pela palavra correspondente a casa nos v rios idiomas africanos Barrac o de um candombl tamb m conhecido como Il Ax o local sagrado para o povo do santo onde acontecem as festas p blicas e pode abrigar uma grande parte dos convidados No local central sob o solo est o fixados plantados os fundamentos do orix da Terra Todos os adeptos reverenciam seus orix s e ancestrais em sinal de respeito e amor Dispon vel em http www casadeoxumare com br Acesso em 12 jun 2013 Lei de Terras como ficou conhecida a Lei n 601 de 18 de setembro de 1850 foi a primeira iniciativa no sentido de organizar a propriedade privada no Brasil A Lei de Terras foi aprovada no mesmo ano da lei Eus bio de Queir s que previa o fim do tr fico negreiro e sinalizava a aboli o da escravatura no Brasil Grandes fazendeiros e pol ticos latifun
199. em se ampliado atualmente a fim de englobar as rela es entre plantas e a cultura humana Dispon vel em http www portaleducacao com br farmacia artigos 21808 etnobotanica Acesso em 17 mar 2014 182 morangas e ab boras as verduras produzidas nas pequenas hortas as pastagens as rvores frut feras plantadas e as nativas est o presentes diariamente em suas vidas Os remanescentes fazem uso das plantas de diversas formas na constru o de casas cercas galp o mangueira para encerrar o gado no fabrico de cabos de enxada foice machado como lenha de fog o no cozimento de alimentos e ainda com fins medicinais para tratamento cura e preven o de doen as O saber sobre sua utiliza o transmitido no cotidiano interno das fam lias e dos grupos ampliados e trabalhados atrav s da oralidade Constitui um conhecimento que vai al m dos mecanismos de uso estando associado tamb m a mecanismos de conserva o da flora local como garantia da sobreviv ncia desta popula o Esse conhecimento tradicional sobre os vegetais uma das grandes riquezas de popula es tradicionais Sobre a import ncia do conhecimento etnobot nico presente na experi ncia e na mem ria desses moradores Regisnei da Silva 2004 enfatiza Portanto o estudo desse conhecimento etnobot nico precisa ser amplamente divulgado nos meios acad micos para a sua valora o e reconhecimento A respeito de estudos etnobot nicos Posey
200. emanescentes de quilombos que pesquisamos neste trabalho s o habitadas por outros grupos tnicos dentre eles os povos ind genas Kaingang Guarani e em menor n mero os Charruas estabelecendo rela o de amizade que se estreita na utiliza o dos recursos naturais Esta conviv ncia aliada a uma proximidade geogr fica levou esses grupos que integram as comunidades tradicionais brasileiras caracterizadas no Decreto Presidencial n 6 040 de 07 de fevereiro de 2007 a construir um vasto conhecimento do ambiente local e criar mecanismos de manejo dos recursos garantindo o suprimento das necessidades da comunidade e consequentemente a sobreviv ncia da popula o por longo per odo de tempo Conforme a Defensoria P blica da Uni o DPU o Brasil caracteriza se por sua multiplicidade sociocultural expressada em torno de 522 etnias com modos Regi o rea geogr fica que forma uma unidade distinta em virtude de determinadas caracter sticas recorte tem tico do espa o podendo ser delimitadas em diversas escalas de acordo com as necessidades do estudo congregando diversos munic pios de uma rea com similaridades econ micas e sociais utilizada para fins estat sticos e n o constitui portanto uma entidade pol tica ou administrativa Dispon vel em http www ibge gov br home geociencias cartogramas mesorregiao html Acesso em 21 jun 2014 Decreto Presidencial n 6 040 2007 que institui a Pol tica Nacional de De
201. emonstra que a educa o escolar dificilmente poderia estar contribuindo para a valoriza o do negro na sociedade em parte deve se ao material did tico utilizado a metodologia de ensino inadequada e desejosa em manter uma divis o social baseada em aspectos raciais e no geral ao desinteresse de professores em abordar para toda a classe e das pr prias escolas as diversidades populacionais formadoras da identidade nacional Corroboram neste sentido as percep es de Gomes e Boakari 2002 em pesquisa a comunidades rurais negras no Estado do Piau Em geral enquanto as atividades did ticas apresentavam se como insuficientes os temas trabalhados evidenciavam um desligamento com a realidade dos alunos e os materiais de ensino comprovavam a pouca aten o que as escolas nas comunidades recebem das autoridades municipais As professoras atuavam muito mais como reprodutores da ideologia castradora do negro que existe nos livros did ticos Que na maioria das vezes uma abordagem voltada para o passado hist rico da escravid o dos negros associando o negro ao escravo e assim ao fraco ao oprimido ao dominado prejudicando a forma o da identidade racial dos alunos Gomes 2000 p 139 e assim enfatizando a sua incapacidade de aprender e ou subir socialmente GOMES BOAKARI 2002 p 10 Situa o que se assemelha percebemos num dos encontros precisamente em 18 e 19 de dezembro de 2013 na comunidade Morma a dialog
202. enquanto um territ rio impregnado de significa es relacionadas resist ncia cultural 128 Realidade comum para os moradores e moradoras que vivem nas comunidades de Arvinha e Morma a a reconstru o identit ria individual e como grupo ainda um processo em profus o interno e externo pois existe uma afirma o em tr nsito enquanto grupos que promovem um diferencial dos outros o que implica a constru o de discursos de autoafirma o tnica que se baseiam no passado vinculado escravid o Nos depoimentos as pessoas se identificam como negros e descendentes das matriarcas escravas Rememoram com nitidez pai e m e av e av bem como tra am com facilidade suas genealogias at seus troncos origin rios Produzem assim uma representa o destacando o papel central da fam lia escrava Por outro lado fazem transparecer uma condi o hostil nas rela es estabelecidas com o contexto externo Assim ocorrem os movimentos de mobiliza o e desmobiliza o por conta dos preconceitos gerados pelos estigmas existentes no interior do grupo e sofridos por ele Moradores na comunidade e alguns fora dela afirmam que experimentam conflitos tnico raciais com os outros que est o ao seu redor A l der comunit ria na Morma a L R denuncia haver conflitos diretos em determinadas situa es Anteriormente quando as estrada eram mais ruim ou chovia o transporte as veis n o vinha As crian a tinha
203. entidade etnoquilombola em decorr ncia de eventos hist ricos introduzem novas rela es de diferen a as quais passam a ser fundamentais para essas popula es negras de lutar pelo direito de continuar ocupando e transmitindo as descend ncias aquele territ rio que foi dado forma pela passagem das diversas gera es de seus antepassados A partir dessa posi o historicamente desfavor vel no que diz respeito ao poder conforme leda Ramos 2009 p 30 que as comunidades quilombolas v m lutando pelo direito de serem agentes de sua pr pria hist ria assin la Em tal situa o de desigualdade os grupos minorit rios passam a valorar positivamente seus tra os culturais diacr ticos como forma de ajustarem se s press es e nesse contexto social que constroem sua rela o com a terra tornando a territ rio impregnado de significa es relacionado resist ncia cultural Ibid p 31 N o qualquer terra mas a terra na qual mantiveram alguma autonomia cultural social e que consequentemente conforma uma autoestima A identidade de grupos rurais negros se constr i sempre num percurso territorial e precisamente esta rela o que cria e informa o direito a terra A resist ncia se d a partir de um territ rio e esta a sua base de luta Portanto n o se pode imaginar que esses grupos camponeses negros tenham resistido em suas terras at os dias de hoje porque 37 O Decreto n 6 040 de 07 de fevereiro
204. era passagem de tropeiros os Birivas 24 que vinham da regi o de Santa Maria passavam por Cruz Alta e Passo Fundo e se iam por Lagoa Vermelha Vacaria Lages em Santa Catarina depois o Paran chegando a Feira de Sorocaba em S o Paulo com suas tropas de mula para negoci las Na Arvinha cada fam lia vive em seu peda o de terra Cada tronco de fam lia tem junto as suas casas a de seus filhos e netos mais adiante outro tronco outra fam lia Criam plantam trabalham na agricultura para si e nas propriedades vizinhas como diaristas ou em empreitadas nos explica uma das pessoas com quem tivemos contato l der e Presidente da Associa o dos Remanescentes do Quilombo da Arvinha a professora municipal Maria Teresinha Costa Vargas que tamb m Licenciada em Hist ria e vive com sua fam lia na comunidade Maria Teresinha muito nos auxiliou nos encontros e nas informa es para esta pesquisa De fato sobre o trabalho di rio em propriedades pr ximas assim pudemos presenciar e conversar com moradores quilombolas que estavam numa rea de aproximadamente 170 hectares de uma empresa agrosilvopastoril replantando mudas de eucalipto que tamb m haviam ajudado na derrubada da ent o floresta adulta O espa o ocupado pela comunidade da Arvinha precisamente aquele onde a negra vinda da frica ent o escrava Cezarina veio com sua fam lia fixar se e assim dar continuidade s gera es dos atuais remanescentes Conforme
205. eri ncias vividas e contribuem na compreens o do ambiente podendo servir de instrumentos nas discuss es e poss veis solu es para os problemas atuais A Educa o n o formal ent o uma possibilidade de produ o de conhecimento em territ rios fora das estruturas curriculares da Educa o formal GOHN 2011 p 15 Nas Comunidades de Remanescentes como tamb m em outras Comunidades Tradicionais o conhecimento de que necessitam para sobreviverem e conviverem no ambiente prov m das pr ticas cotidianas e das rela es sociais estabelecidas entre os grupos onde criam e recriam formas diferenciadas de adapta o neste contexto No entanto as transforma es do mundo moderno e a press o do modelo de desenvolvimento em curso no Brasil levaram esses povos a adquirir tamb m conhecimentos gerados em espa os escolarizados a fim de que possam reconhecer seus direitos e buscar alternativas para os problemas at ent o desconhecidos pela comunidade Nesse espa o o processo educativo deve primar pela valoriza o do saber dessas popula es utilizando esse saber para permear o curr culo tradicional nas 173 escolas Gadotti 1995 nesta perspectiva comenta que o professor precisa reordenar esse saber e o seu pr prio elucidando o tornando o coerente Deve cuidar para que esse saber mantenha uma liga o com as experi ncias dos alunos Assim em FREIRE 2001 p 47 respeitar o saber popular implica respeitar o con
206. ermos a exist ncia entre eles de outros elos que n o apenas o da condi o igualit ria de cativos Estes la os lhes asseguravam pertencer comunidade dos homens porque inseridos em fam lias em redes de rela es parentais que em alguns casos podiam extrapolar os limites da fazenda HARTUNG 2005 p 166 Essas din micas de interc mbio entre as fam lias s o marcadas por la os de reciprocidade vigentes em grande parte da vida comunit ria a hospitalidade a organiza o pol tica as rela es e presta es entre as gera es as alian as entre fam lias e grupos Essas pr ticas correspondem a outras din micas estabelecidas como o autoconsumo o trabalho familiar o patrim nio comum a autonomia com rela o ao mundo global a inser o parcial no mercado e o valor dos conhecimentos interpessoais RAMOS 2009 p 100 101 A manuten o destes territ rios al m dos aspectos da descend ncia das rela es de parentesco de compadrio e de amizade este acontecer se materializa tamb m pelo estabelecimento de rela es a es com atores externos vizinhos lindeiros as comunidades agentes p blicos pessoas simpatizantes causa movimentos sociais representa es das comunidades e outras alternando 149 momentos de rela es sim tricas e outros de assimetrias N o t o amistosas as assimetrias de certa forma contribuem para a continuidade das comunidades fazendo o contraponto das
207. escente quilombola de Helv cia BA Revista frica e Africanidades Ano 2 n 7 Novembro 2009 ISSN 1983 2354 Especial Afro Brasileiros Construindo e Reconstruindo os Rumos da Hist ria Dispon vel 222 em http Anww africaeafricanidades com br documentos Reenegrecimento feminizado pdf Acesso em 24 ago 2013 BOURDIEU Pierre A Economia das Trocas Simb licas S o Paulo Editora Perspectiva 1999 BRASIL I Plano Nacional de Desenvolvimento Sustent vel dos Povos e Comunidades Tradicionais De Matriz Africana Secretaria de Pol ticas de Promo o da Igualdade Racial 1 edi o Bras lia 2013 Programa Brasil Quilombola Secretaria de Pol ticas de Promo o da Igualdade Racial Bras lia 2011 Dispon vel em http Anww seppir gov br acoes pbg Acesso em 20 set 2013 Plano Nacional de Implementa o das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa o das Rela es Etnico Raciais e para o Ensino de Hist ria e Cultura Afro Brasileira e Africana Bras lia s n 2009 Minist rio da Educa o Secretaria da Educa o Continuada Alfabetiza o e Diversidade Orienta es e A es para Educa o das Rela es Etnico Raciais Bras lia SECAD 2006 Constitui o Brasileira In T CITO Caio Constitui es brasileiras 1988 5 ed Bras lia Senado Federal Minist rio da Ci ncia e Tecnologia CEE 2005 Minist rio da Educa o Diretrizes curriculares nacionais pa
208. esco em rela o aos ancestrais e de outras rela es delimita o territ rio ancestral da mesma maneira que confere direitos de sua reapropria o pelos descendentes atuais transformando o em patrim nio Ou seja o territ rio quilombola o territ rio pleiteado Como a identidade quilombola se afirma a partir da ancestralidade comum o territ rio pleiteado se baseia naquele vivido e guardado na mem ria Neste sentido configura o territ rio dos v ios cujas refer ncias no espa o s o dadas principalmente pelos antigos locais de morada FERREIRA 2006 p 77 Como vimos historicamente as comunidades negras rurais se constitu ram atrav s e principalmente na rela o com a terra Por isso a compreens o do territ rio como o espa o necess rio sobreviv ncia daquele grupo n o se limitando ao espa o da terra ocupada mas assim queles recursos materiais e imateriais indispens veis para sua reprodu o e perman ncia no local de estabelecimento onde s o constru dos os v nculos identit rios 4 5 Indivisibilidade do Territ rio padr es matrimoniais e de resid ncia A mem ria dos mais antigos conta de alguns arranjamentos matrimoniais no passado n o mais havendo contemporaneamente e sim um processo natural de aproxima o baseado em simetrias por m numa continuidade de alian as matrimoniais dentro do pr prio grupo circunscrevendo aqueles territ rios uni es end genas Casamentos entre parentes
209. escolas rurais fossem fechadas na d cada de 1990 e ampliadas as urbanas para receberem esses estudantes Ent o crian as adolescentes e jovens que ainda moram no meio rural inclusive quilombolas para participarem desse processo educativo deslocam se 175 para as cidades de Coxilha e Sert o atrav s do transporte escolar Contudo o processo educativo n o se extingue a a constru o do conhecimento tem continuidade no interior das pr prias comunidades entre os atores locais dentro da concep o cultural destes Neste momento faz se necess rio que a educa o passe a ser vista como mais do que escola a comunidade como um todo escola que contribuir para a forma o de sua gente identificar o papel espec fico da escola nesse processo essencial o que pode contribuir considerando ainda a import ncia dos outros espa os educativos e do conhecimento acumulado por esses grupos Temos ainda muito presente que as pol ticas educacionais voltadas para a educa o no campo especialmente s comunidades negras at o in cio deste s culo estiveram comprometidas com as elites rurais deixando margem da quest o os que realmente necessitavam de uma educa o que estivesse de fato voltada para as necessidades e especificidades uma educa o inclusiva que reconhe a sua diversidade cultural rompendo com a atual escola rural que tem sido apenas uma extens o da escola urbana Gallert 2005 p 8 aponta co
210. esconstru do independentemente do controle do Estado Conforme Eduardo Karol 2000 nos ltimos anos vem ganhando import ncia pesquisas que denotam a constru o e desconstru o de territ rios a partir dos movimentos reivindicat rios que se mobilizam para exigir direitos Aqui a escala espa o temporal j mais complexa variando segundo a proposta reivindicat ria e o grau de rela o estabelecida pelo movimento na sociedade O territ rio n o se reduz a uma entidade jur dica e n o pode ser assimilado a uma s rie de espa os vividos sem exist ncia pol tica ou administrativa reconhecidas De acordo com Marcos Saquet 2007 o territ rio resulta das rela es sociedade natureza sendo condi o para a reprodu o social campo de for as historicamente determinadas O autor considera que As for as sociais efetivam o territ rio o processo social no e com o espa o geogr fico centrado na territorialdade cotidiana dos indiv duos e emanado dela em diferentes centralidades temporalidades e territorialidades que condicionam nossa vida cotidiana Formam se territ rios heterog neos e sobrepostos 84 fundados em desigualdades e diferen as Cristalizam se territorialidades e interesses predominantemente econ micos e ou pol ticos e ou culturais que d o certa forma e determinados conte dos ao territ rio e aos territ rios SAQUET 2007 p 127 128 Temos ent o a compreens o que o territ rio n o se re
211. esentantes por eles indicados Art 7 O INCRA ap s concluir os trabalhos de campo de identifica o delimita o e levantamento ocupacional e cartorial publicar edital por duas vezes consecutivas no Di rio Oficial da Uni o e no Di rio Oficial da unidade federada onde se localiza a rea sob estudo contendo as seguintes informa es denomina o do im vel ocupado pelos remanescentes das comunidades dos quilombos II circunscri o judici ria ou administrativa em que est situado o im vel HI limites confronta es e dimens o constantes do memorial descritivo das terras a serem tituladas e IV t tulos registros e matr culas eventualmente incidentes sobre as terras consideradas suscet veis de reconhecimento e demarca o 1 A publica o do edital ser afixada na sede da prefeitura municipal onde est situado o im vel 233 82 O INCRA notificar os ocupantes e os confinantes da rea delimitada Art 8 Ap s os trabalhos de identifica o e delimita o o INCRA remeter o relat rio t cnico aos rg os e entidades abaixo relacionados para no prazo comum de trinta dias opinar sobre as mat rias de suas respectivas compet ncias Instituto do Patrim nio Hist rico e Nacional IPHAN Il Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov veis IBAMA III Secretaria do Patrim nio da Uni o do Minist rio do Planejamento Or amento e Gest o
212. estadual municipal do Distrito Federal organiza es n o governamentais e entidades privadas observada a legisla o pertinente 3 O procedimento administrativo ser iniciado de of cio pelo INCRA ou por requerimento de qualquer interessado 84 A autodefini o de que trata o 8 1 do art 2 deste Decreto ser inscrita no Cadastro Geral junto Funda o Cultural Palmares que expedir certid o respectiva na forma do regulamento Art 4 Compete Secretaria Especial de Pol ticas de Promo o da Igualdade Racial da Presid ncia da Rep blica assistir e acompanhar o Minist rio do Desenvolvimento Agr rio e o INCRA nas a es de regulariza o fundi ria para garantir os direitos tnicos e territoriais dos remanescentes das comunidades dos quilombos nos termos de sua compet ncia legalmente fixada Art 5 Compete ao Minist rio da Cultura por meio da Funda o Cultural Palmares assistir e acompanhar o Minist rio do Desenvolvimento Agr rio e o INCRA nas a es de regulariza o fundi ria para garantir a preserva o da identidade cultural dos remanescentes das comunidades dos quilombos bem como para subsidiar os trabalhos t cnicos quando houver contesta o ao procedimento de identifica o e reconhecimento previsto neste Decreto Art 6 Fica assegurada aos remanescentes das comunidades dos quilombos a participa o em todas as fases do procedimento administrativo diretamente ou por meio de repr
213. este artigo intitulada Dos m ltiplos territ rios multiterritorialidade foi apresentada no Semin rio Nacional sobre M ltiplas Territorialidades promovido pelo Programa de P s Gradua o em Geografia da UFRGS Curso de Geografia da ULBRA e AGB Porto Alegre em 23 de setembro de 2004 86 adversas distintas poss vel que algumas dessas estrat gias fossem acionadas como socorrer se a indiv duos dotados de maior capital o estabelecimento de rela es amistosas com o senhorio a formaliza o das posses e o saque aos rebanhos dos estancieiros O prop sito de ouvir e recontar suas hist rias n o est o em confirm las mas sim levar outro olhar no sentido de mudan a da forma como o mundo v os grupos sociais historicamente invisibilizados Nas comunidades de Arvinha e Morma a esse car ter hist rico de resist ncia se apresenta atrav s da descend ncia matrifocal demonstrada na luta pela manuten o e amplia o daqueles territ rios a partir da perspectiva da lideran a feminina atrav s da organiza o de mulheres Na luta para a afirma o desses espa os os quilombos homens e mulheres travaram e travam batalhas quase que cotidianamente A situa o do negro em ambiente rural resultado de um processo de luta pela liberdade que se contrap s ao cativeiro da escravid o empreendido desde a segunda metade do s culo XVII tendo no Quilombo de Palmares um dos maiores exemplos de luta e resist ncia Ess
214. esun o de ancestralidade negra relacionada com formas de resist ncia opress o hist rica sofrida A Funda o Palmares inscrever a comunidade no Cadastro Geral de Remanescentes de Comunidades de Quilombos e emitir o Certificado de Auto defini o como Remanescente de Quilombo Esse documento comprova a exist ncia jur dica de uma comunidade como remanescente e possibilita a exig ncia da efetividade dos direitos fundamentais reconhecidos jur dica e socialmente pela sociedade brasileira Uma vez emitido o Certificado de Auto defini o como Remanescente de Quilombo considerando se ent o juridicamente a comunidade deve se instaurar em segundo lugar um procedimento administrativo perante o Instituto Nacional de Coloniza o e Reforma Agr ria INCRA com a finalidade de identificar reconhecer delimitar demarcar e titular as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos 46 w a 1 4 di al Ea 4 Para a caracteriza o jur dica de uma comunidade como remanescente de quilombo imprescind vel que a pr pria comunidade se autorreconhe a como tendo ancestralidade negra ligada a formas de resist ncia opress o hist rica sofrida 67 O procedimento administrativo de identifica o reconhecimento delimita o demarca o e titula o das terras ocupadas por remanescentes est o regulamentados pela Lei Federal n 9 784 99 que estabelece normas gerais sobre o processo administrativo no
215. eviv ncia e perman ncia daqueles grupos Desta maneira esse processo de rela o social torna se tamb m processo educativo medida que perpassado desde os idos de Cezarina e Francisca quando firmaram aquelas comunidades Parece me que uma das condi es que se apresenta articulada a outras mais profundas que compreende este estudo pela significativa import ncia na congrega o social e educativa daquelas popula es As rela es de parentesco engendradas ent o como estrat gias dessa manuten o e amplia o dos territ rios tem sido utilizadas como pr ticas para mant los em posse de grupos familiares e mesmo de grupos ampliados constituindo elemento caracter stico da campesinidade e afirmando o territ rio quilombola No entanto em virtude do contexto hist rico de maiores ou menores conflitos com a sociedade abrangente a manifesta o da campesinidade quilombola pode se dar com intensidades diferenciadas assim como suas pr ticas de territorialidade que compreendem a es de afirma o enquanto espa o apropriado para a reprodu o material e simb lica dos grupos Na comunidade da Arvinha essa pr tica esse processo educativo impl cita como estrat gia e talvez n o percebida pela maioria est muito presente O grupo descende da escrava Cezarina de Miranda e de seus cinco filhos essa tradi o sucess ria constitui verdadeira teia nas uni es matrimoniais ocorridas no seu interior levando se em considera
216. ga o da Constitui o Federal de 1988 na Nova Carta atrav s do Ato das Disposi es 65 Constitucionais Transit rias ADCT em seu art 68 que ir regulamentar o direito propriedade definitiva de terras ocupadas por remanescentes de quilombos O art 68 1988 do ADCT determina que o Estado emita os t tulos definitivos das terras ocupadas por remanescentes de quilombos Esse instrumento veio garantir o direito constitucional de luta pela cidadania plena reconhecendo os membros dessas comunidades rurais como uma categoria tnica N o obstante a pr pria Carta Constitucional garante aos territ rios ocupados por negros e negras mediante os artigos 215 e 216 o exerc cio dos direitos culturais e difus o das manifesta es tornam os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em conjunto portadores de refer ncia identidade a o mem ria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira Nessa condi o ap s a promulga o constitucional o Estado encontra se na obriga o moral do reconhecimento social dos quilombolas as comunidades quilombolas passam a ser consideradas constitucionalmente como um grupo tnico pertencente sociedade brasileira sendo protegidas juridicamente as manifesta es culturais quilombolas os espa os sociais onde se desenvolve as formas de vida quilombola e a garantia da propriedade das terras ocupadas pelas comunidades remanescentes de qu
217. hecimento de Dom nio Art 24 A expedi o do t tulo e o registro cadastral a ser procedido pela Superintend ncia Regional far se l o sem nus de qualquer esp cie aos Remanescentes das Comunidades de Quilombos independentemente do tamanho da rea DISPOSI ES GERAIS Art 25 Os procedimentos administrativos de titula o das reas das comunidades remanescentes dos quilombos em andamento em qualquer fase em que se encontrem passar o a ser regidos por esta norma aproveitando se no que couber os atos praticados em conson ncia com as disposi es e requisitos ora institu dos Art 26 A Superintend ncia Regional promover em formul rios espec ficos o registro cadastral dos im veis titulados em favor dos remanescentes das comunidades dos quilombos Art 27 Fica assegurada aos remanescentes das comunidades dos quilombos a participa o em todas as fases do procedimento administrativo bem como o acompanhamento dos processos de regulariza o em tr mite na Superintend ncia Regional diretamente ou por meio de representantes por eles indicados Art 28 As despesas decorrentes da aplica o das disposi es contidas nesta Instru o correr o conta das dota es or ament rias consignadas na lei 242 or ament ria anual para tal finalidade observados os limites de movimenta o empenho e pagamento Art 29 A Superintend ncia Regional encaminhar Funda o Cultural Palmares e ao IPHAN todas as informa
218. historiografia livres O fator preponderante na forma o deste Estado Acreditavam que os escravos eram pouco utilizados e quando se falava neles era para ressaltar que aqui se houve escravismo ele foi paternal benigno Pelo conceito vigente interpretavam que havia sido pequena a contribui o de sangue africano na etnia rio grandense Por m continuam os primeiros escritos s rios sobre o assunto ir o provar o contr rio Participando do amplo movimento da d cada de 1930 que reiniciar o estudo mais sistem tico da africanologia brasileira aparecer o os primeiros trabalhos do advogado Dante de Laytano o qual procurar nos documentos relatos e mapas estat sticos do s culo XVIII e XIX o tra o da passagem da escravid o pelo Rio Grande do Sul Esse autor tece duras palavras sobre a benignidade do tratamento aos escravos pois enquanto os negros estavam no pastoril do Rio Grande tiveram um tratamento mais humano mas ao habitar a senzala dos granjeiros ou as charqueadas esse tratamento foi modificado pelas chicoteadas do feitor e pela barb rie escravagista Na verdade a hist ria do escravo no sul est ainda por escrever se Isso se deve resist ncia dos historiadores ga chos a escrever a hist ria como ela pois tornar pouco simp tico os her is aparecerem como senhores de escravos Junta se a esse problema a raridade das fontes hist ricas pois muitas foram propositalmente destru das A saga
219. hos Laurentina nascida entre 1881 1882 Francisca nascida entre 1892 1894 e Justimiano n o precisada data do nascimento o faz como como filhos de Elisb o Luiz Vieira Nos registros de batismo citados Firmina indicada como solteira e seus filhos como naturais ou seja ileg timos oriundos de uni es n o sacramentadas pela igreja No entanto isso n o significa que o pai das crian as e companheiro marido n o estivesse presente Ot lia que em seu registro de batismo declarada filha natural j em seu registro de bito consta como filha de Lisb o de Oliveira e Firmina Ursulina de Oliveira mostrando que ela conhecia e reconhecia este como seu pai Conforme levantamento realizado por Sherol Santos 2009 ao pesquisar os livros de Registro Paroquial de Batismos na C ria Diocesana de Passo Fundo RS assinala que Elisb o provavelmente n o citado nos registros por que n o era oficialmente casado com Firmina e de acordo com o sobrenome adotado por ele Vieira prov vel que ele fosse escravo ou agregado de Theobaldo Vieira vizinho de Francisco Barros de Miranda e casado com Emilia Prud ncia de Souza irm de Maria Prud ncia e Balbina Prud ncia esposas de Francisco de Miranda e Am ncio de Oliveira respectivamente Corrobora com essa hip tese o fato de que a madrinha de Ot lia Francelina Vieira de Souza filha de Theobaldo Vieira e Em lia Prud ncia SANTOS S 2009 p 136 Mais adia
220. i es tamb m passam a ser de ordem financeira porque sua renda agora incorporada a renda familiar OLIVEIRA H 2006 p 146 108 agacha do a as cadera e tinha que trilha logo n o podia pegar chuva no tempo Hoje quase n o faz mais nada n o tem ro a grande s uns cantinho T T 79 maio 2013 Sobre os dias de puxir o que eram retribu dos para as outras fam lias importante lembrar que neste trabalho n o se remunerava ningu m apenas se registrava quais pessoas vieram ajudar para depois devolver em servi o Dona Teresa nos conta algumas passadas com alegria Era necess rio aqui em casa n is era em tr s e na safra voc sabe tem que colher ligero sen o apodrece no tempo e os bicho come ent o tinha que pedir ajuda aos vizinho e depois ajud l tamb m Ent o vinha bastante gente mas tinha vez que todo mundo tava se vendo com a colheita ent o vinha menos gente O que acontecia era uma grande confaterniza o na hora do almo o Todo mundo sentava numa sombra ou nas varanda das casa n is trazia uns panel o com comida prosa contando novidade discuss o da colheita era alegre Descansavam e depois voltavam ao trabalho Era uma festa T T 79 maio 2013 Percebe se que nas alegres lembran as da moradora h uma trama de trocas cotidianas que sustenta a liberdade festiva que faz acontecer o momento quilombola com efervesc ncia precisamente nesses
221. ia acesso a pol ticas p blicas e acesso a recursos p blicos levando se em considera o que o decreto 4 887 2003 ao dispor sobre os procedimentos para a titula o dos territ rios quilombolas previu no par grafo nico de seu artigo 17 que As comunidades ser o representadas por suas associa es legalmente constitu das Isto significa dizer que do ponto de vista legal a representante da comunidade passa a ser a associa o As associa es quilombolas s o formas de organiza o novas nos quilombos e tem como desafio n o substituir as formas tradicionais e sim atuar articuladamente com todas as organiza es existentes no territ rio para que possa ser de fato leg tima e obter efetividade nas suas a es as quais devem estar 73 fundamentadas nos princ pios e valores existentes e acordados na comunidade importante buscar nessas outras organiza es e lideran as experientes as motiva es e inspira es para a supera o dos desafios que enfrentar o As alternativas provavelmente est o no pr prio territ rio junto quelas pessoas e organiza es que historicamente est o na luta por conquista de direitos Durante o processo de cria o de uma associa o quilombola fundamental que haja discuss es na comunidade para que as pessoas possam compreender o motivo e import ncia com sua constitui o fundamental tamb m acordar coletivamente como a associa o vai funcionar importante que es
222. ia ou pelos membros da comunidade num 3 O Governo Federal tem tratado de uma pol tica educacional baseado no conceito etnoeducativo especialmente para as comunidades ind genas criando os Territ rios Etnoeducacionais TEEs que s o reas definidas a partir da consulta aos povos ind genas e est relacionada a sua mobiliza o pol tica afirma o tnica e garantia de seus territ rios e de pol ticas espec ficas nas reas da educa o conforme determina a Constitui o Federal de 1988 O Decreto n 6 861 2009 determinou os objetivos para essa pol tica de educa o escolar ind gena quais sejam a valoriza o das culturas dos povos ind genas e a afirma o e manuten o de sua diversidade tnica o fortalecimento das pr ticas socioculturais e da l ngua materna de cada comunidade ind gena a formula o e manuten o de programas de forma o de pessoal especializado destinados educa o escolar nas comunidades ind genas o desenvolvimento de curr culos e programas espec ficos neles incluindo os conte dos culturais correspondentes s respectivas comunidades a elabora o e publica o sistem tica de material did tico espec fico e diferenciado a afirma o das identidades tnicas e a considera o dos projetos societ rios definidos de forma aut noma por cada povo ind gena Dispon vel em http 6ccr pgr mpf mp br institucional grupos de trabalho educacao documentos territorios etnoeducacionais pactuado
223. iaa dada cds da a dad dani dada ei 13 1 1 Indica o do Problema e iiiieeeeeeeecaeeeenrreneeenaaaa 17 1 2 Algumas Suspeitas ou hip teses Objetivos Geral e Espec ficos 22 1 3 Pressupostos te rico metodol gicos asse 23 1 4 Estrutura e constru o da pesquisa sssssssssssssssrrssnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn nenna 32 2 A CONSTRU O DAS COMUNIDADES REMANESCENTES DE ARVINHA E MORMA A saia asa dinaanan aana Rd P SS dE 35 2 1 O negro e a negra no RS a hist ria esquecida sssssooi 35 2 2 Comunidades Remanescentes dos Quilombos 41 2 2 1 Comunidade Quilombola da Arvinha era 44 2 2 2 Comunidade Quilombola da Morma a eee 48 2 3 Matrifocalidade e matrilinearidade na forma o das rela es de parentesco 52 2 4 O processo de reconhecimento das comunidades 58 2 4 1 Instrumentos jur dico administrativos na regulariza o dos territ rios 64 2 4 2 Regulariza o do territ rio das Comunidades Negras da Arvinha e Morma a 67 2 5 Associa o Comunit ria instrumento de representa o 71 2 5 1 0 coletivo Ed atirma o Politica nisi gra dd a dn 72 2 5 2 O envolvimento da comunidade ca sescessoronssedo donos snionosednianonododesakedocasctuiensuntetaia TT 3 TERRIT RIO TERRITORIALIDADE CAMPO
224. iais e de resid ncia 133 4 6 As redes do parentesco em Arvinha e Morma a sss 137 4 7 O Ch o Este N o Outro qaaiasiianiiccadasiiasidsaidesidonidiaidanideeadenidecidorideradeaas 142 4 8 Parentesco proximal prefer ncia nas alian as matrimoniais na Morma a 146 5 PROCESSOS EDUCATIVOS N O ESCOLARIZADOS Ensinar e Aprender 152 5 1 L havia uma escola sssssssssssssssnrnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn nnana nnmnnn nna 154 5 2 Uma lei para obrigar a um direito errar 161 5 3 Processos educativos em Arvinha e Morma a sssssoo 169 5 4 Os diversos espa os educativos em Arvinha e Morma a 174 5 4 1 O ENDOSSA 178 5 4 2 A a o educativa CONTADA aaaentnias iris tt trtrrennnn rnnt r reeenn 185 5 4 3 Construindo a educa o nos diversos espa os sociais 188 5 44 Educa o para a Cidadania SU a a la 200 5 4 5 O que se esperar io nnne ernennt 206 6 CONSIDERA ES sseseseneuseseunurureunnururunennurunurunnnnunununnnnunununnnnunuranennananannnnnn nea 209 REFERENCIAS asso doa doc nana 221 ANEXO A Decreto 4 897 2003 00 0 mesasesstiniiamantimesaniecassrsadnsLiaNedunis Deca ras unir s ga 231 ANEXO B Instru o Normativa n 20 IN 20 2005 INCRA 237 ANEXO C Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TOLE
225. idade O trabalho das parteiras tamb m faz parte da lembran a das fam lias pois por mais de um s culo as comunidades conviveram com esta realidade ser parteira era atividade que naturalmente as m es ensinavam para as filhas que ao aprender davam continuidade a esses conhecimentos Atualmente n o se divulga essa pr tica pelo acesso proporcionado sa de da mulher em postos p blicos de atendimento no entanto moradoras mais antigas contam das dificuldades da gravidez que por falta de chegar a tempo as dist ncias e sem condu o raramente iam a um hospital assim na hora do parto eram atendidas pelas parteiras da comunidade ou alguma da vizinhan a Na Morma a v rias moradoras relembraram das parteiras que trabalharam at mais ou menos 1988 Quase todos os moradores at essa data nasceram em casa pelas m os dessas mulheres Me lembro at hoje tinha v rias partera mas Tia Chica eu era pequena fazia parto de muita gente aqui e das vizinhan a dos italiano e dos outro tamb m O pessoal j se preparava quando tava perto dexava amarrado dois cavalo e as ensilha por ali quando a mulher dava sinal do parto iam busca V Chica Ela vinha a cavalo com uma malinha na garupa e atr s notro cavalo o pai da crian a Fez muito parto dif cil salvou m e e filho j Usava faz lavagem com um ch de planta anti inflamat ria era um ch poderoso pra mulher que ganha nen em casa Pra dor fervia noz moscada com ca
226. idade o territ rio quilombola unifica as categorias de espa o e parentesco No entanto em virtude do contexto hist rico de maiores ou menores conflitos com a sociedade abrangente a manifesta o da campesinidade quilombola pode se dar com intensidades diferenciadas assim como suas pr ticas de territorialidade que compreendem a es de afirma o do territ rio enquanto espa o apropriado pelo grupo para a reprodu o material e simb lica da sua exist ncia Historicamente inserido em contextos conflituosos a origem do territ rio quilombola concretiza a disputa entre sujeitos sociais e valores As diversas formas de ocupa o foram possibilitadas pela desestrutura o do sistema escravista na presta o de servi os pelos negros nas guerras e mesmo lutando ao lado das tropas do governo contra insurrei es civis por aquisi es e doa es que receberam caracterizando sua trajet ria de resist ncia como legada aos remanescentes Tem se aqui a concep o do territ rio na sua dimens o pol tica enquanto espa o onde se exerce um determinado poder 132 Por outro lado o territ rio quilombola apresenta sua dimens o cultural relacionada ao espa o vivido e concebido pelo grupo E no tocante reprodu o material da fam lia a partir do trabalho na terra sua dimens o econ mica ganha relev ncia enquanto fonte de recursos Esses territ rios t m ainda como singularidade garantir a reprodu o f sica e social do gr
227. idenciar o reassentamento em outras reas das fam lias de agricultores que preencherem os requisitos da legisla o agr ria DEMARCA O Art 22 A demarca o do territ rio reconhecido ser realizada observando se os procedimentos contidos na Norma T cnica para Georreferenciamento de im veis rurais aprovada pela Portaria INCRA P n 1 101 de 19 de novembro de 2003 e demais atos regulamentares expedidos pelo INCRA em atendimento Lei 10 267 de 28 de agosto de 2001 TITULA O Art 23 Conclu da a demarca o a Superintend ncia Regional realizar a titula o mediante outorga de t tulo coletivo e pr indiviso s comunidades em nome de suas associa es legalmente constitu das sem qualquer nus financeiro com obrigat ria inser o de cl usula de inalienabilidade imprescritibilidade e de impenhorabilidade devidamente registrado no Servi o Registral da Comarca de localiza o das reas Par grafo nico Incidindo os territ rios reconhecidos e declarados nas reas previstas nos artigos 17 18 e 19 aos remanescentes de comunidades de quilombos fica facultada a solicita o da emiss o de T tulo de Concess o de Direito Real de Uso em car ter provis rio enquanto n o se ultima a concess o do T tulo de Reconhecimento de Dom nio para que possam exercer direitos reais sobre o territ rio que ocupam A emiss o do T tulo de Concess o de Direito Real de Uso n o desobriga a concess o do T tulo de Recon
228. ilizando nos da terminologia campesinidade que nos parece melhor se adequar s quest es envolvendo o territ rio s rela es de parentesco e tamb m s rela es de compadrio como pr ticas que convergem para manuten o amplia o e indivisibilidade de espa os territoriais pertencentes a comunidades tradicionais neste estudo remanescentes quilombolas Por outro lado o modelo de campesinato tradicional tem sido igualmente recorrido por diversas popula es rurais entre elas as caboclas e sertanejas e as coloniais especialmente nas regi es sul e sudeste do pa s 4 1 Campesinidade valor moral determinando continuidade entre gera es Os territ rios negros no Brasil em geral se constitu ram pela apropria o de terras no per odo escravocrata e tamb m posteriormente ora atrav s de fugas ora atrav s da doa o de antigos senhores e da Igreja conv m ressaltar que escravos libertos compraram reas de terra de seus ex patr es em troca de presta o de servi os ou pagamentos em esp cie para se fixarem Nas comunidades de Arvinha e Morma a que se constitu ram pela a o de escravas libertas caracterizou se a doa o na Arvinha para Cezarina de Miranda enquanto que na Morma a atrav s de reas de ocupa o por Francisca Vieira e a aquisi o por alguns descendentes figura 16 O territ rio negro dava se n o pela propriedade mas pela apropria o e uso comum destes recursos atrav s de pr tica
229. ilombo A regulariza o da quest o fundi ria mesmo tendo seu efeito legal na aplica o do art 68 1988 do ADCT j relacionado deve ocorrer por iniciativa dos seus principais interessados organizados em associa es e amparado pelo Decreto Presidencial n 4 887 de novembro de 2003 por meio de uma carta of cio se autorreconhecendo como uma comunidade remanescente de quilombos A l gica do Estado reconhecer mediante os dispositivos legais condi o de exist ncia e pertencimento dos grupos negros em condi es de vida rural possibilitando o autorreconhecimento de si em detrimento da condi o qualquer do 3 Art 68 do Ato das Disposi es Constitucionais Transit rias Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras reconhecida a propriedade definitiva devendo o Estado emitir lhes os t tulos respectivos Art 215 O Estado garantir a todos o pleno exerc cio dos direitos culturais e acesso s fontes da cultural nacional e apoiar a incentivar a valoriza o e a difus o das manifesta es culturais 8 1 O Estado proteger as manifesta es das culturas populares ind genas e afro brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizat rio nacional 4 Art 216 Constituem patrim nio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em conjunto portadores de refer ncia identidade a o
230. inir o acesso a terra somente atrav s do processo de compra procurava inviabilizar a apropria o camponesa do meio de produ o em especial do campesinato negro que caminhava no sentido da aboli o de sua escravatura Assim embora livres permaneceriam sem ter o direito de posse e sem as condi es de adquirir a terra por eles ocupada at ent o FERREIRA 2006 p 63 A nova concep o ent o de que o progresso no campo esteja a partir da moderniza o agr cola surgindo como modelo ideal a empresa rural Nessa l gica da propriedade e produtividade capitalista da terra em nenhum momento se considera outras possibilidades de apropria o e v nculos com a terra inclusive o campesinato que questiona esse modelo de desenvolvimento hegem nico Diante da posi o pol tica ou pelas pr ticas efetuadas na reprodu o da vida a propriedade camponesa deve ser eliminada e com isso os pr prios camponeses e as outras comunidades tradicionais No n vel das representa es e sob a l gica dominante o campesinato deve ser eliminado inclusive conceitualmente uma vez que carrega em si outras possibilidades e o peso hist rico da luta para estar e entrar na terra Com a cria o do Estatuto da Terra Lei 4 504 de 1964 o discurso girava em torno de que a pol tica de desenvolvimento rural deveria estar em harmonia com a industrializa o do pa s As grandes propriedades latif ndios poderiam se modernizar e transformar se em emp
231. inseridos no sistema e aqui estamos propondo sua reprodu o como grupo a partir daquele espa o original ocupado e mant lo ao longo do tempo exigiu se desses povos adquirirem experi ncias e transform las em saber que se manifesta atrav s das t cnicas de trabalhar a terra de manejar a vegeta o os animais da defesa e da resist ncia Nesse sentido colabora o pensamento de Freire 2007 que na pr tica de velejar se confirmam se modificam ou se ampliam esses saberes Diegues 2000 citado na observa o de Regisnei Aparecido Silva 2004 p 23 em sua pesquisa com grupos ribeirinhos na Comunidade dos Retireiros do Araguaia na regi o Norte Araguaia do Estado do Mato Grosso prop e que este conhecimento pode ser definido como o saber e o saber fazer a respeito do mundo natural e sobrenatural gerados no mbito da sociedade n o urbana industrial transmitida oralmente de gera o em gera o Sua interpreta o se d por interm dio dos aspectos culturais de cada povo atrav s da oralidade o que o torna diferente do conhecimento cient fico que interpretado por meio da linguagem escrita A educa o n o formal para Gohn 2010 foi um campo de menor import ncia no Brasil at os anos de 1980 tanto nas pol ticas p blicas quanto entre os educadores A autora comprova na hist ria recente onde o caminho institucional aos processos educativos em espa os n o formais foi aberto em 1996 pela Lei de 158
232. io concretizando uma outra rela o com a terra e com seus pares este sujeito social muitas vezes significou um empecilho a ser removido pelos projetos e pol ticas de desenvolvimento historicamente delineados pela grande produ o agr cola monocultora e exportadora Na pesquisa que desenvolveu Simone Ferreira 2006 sobre a campesinidade em territ rios negros no extremo norte do Esp rito Santo percebeu que o processo de moderniza o brasileira ocorreu sem a incorpora o deste campesinato Neste sentido emblem tico o per odo da ditadura militar que engendrou os planos nacionais de desenvolvimento baseados no ideal do crescimento capitalista Ao depor o presidente Jo o Goulart o Golpe Militar de 1964 completando 50 anos coloca freios e passa a controlar algumas pol ticas reformistas que vinham tomando corpo em prol dos trabalhadores rurais como a cria o do Estatuto do Trabalhador Rural 1963 e da Confedera o Nacional dos Trabalhadores na Agricultura CONTAG 1963 Os governos militares utilizaram os territ rios quilombolas para a amplia o das fronteiras agr colas e tamb m o das Ligas Camponesas que nas d cadas de 1950 60 atuavam no questionamento da estrutura fundi ria do Nordeste altamente concentrada ou o caso de Canudos que messianicamente procurou construir o territ rio livre na terra prometida A Lei de Terras de puxir o referido no cap tulo 3 p 59 125 18509 ao def
233. ioecon micas e culturais Conforme Gohn 2011 o objetivo principal da educa o n o formal a forma o da cidadania e acontece na coletividade Ainda escreve que este modelo de educa o intencional e surge como alternativa para classes populares se organizarem na luta por direitos sociais In meras organiza es como sindicatos associa es partidos pol ticos e igrejas foram respons veis pela implanta o da educa o n o formal e pela promo o da mesma em diversos segmentos da sociedade Essas organiza es conhecidas como do terceiro setor salvo exce es t m desenvolvido um importante papel na organiza o dessas comunidades margem socialmente e geograficamente ocupando espa os de dif cil acesso ou quase que isolados Silva R 2004 em sua pesquisa retrata um desses cen rios Na regi o do Araguaia e na Comunidade dos Retireiros MT a igreja cat lica regional Prelazia de S o F lix do Araguaia na pessoa do bispo D Pedro Casald liga exerceu grande influ ncia nas lutas sociais Al m de atuar diretamente nas tomada de decis es contribuiu tamb m na forma o de lideran as para atuarem nas frentes populares de lutas por direito e cidadania organizou entidades espec ficas que pudessem atuar nas diferentes quest es 202 como o Conselho Indigenista Mission rio CIMI e a Comiss o Pastoral da Terra CPT A atua o da Prelazia de S o F lix do Araguaia ainda continua no
234. ireito costumeiro permitindo assim excluir da heran a da terra um ou mais membros da fam lia Nesse modelo de sucess o da propriedade rural onde a mulher nada ou pouco herda vem ao encontro do que aparentemente Chaynov 1966 descrito em Woortmann E 1995 considera sobre o trabalho da mulher apontando que sua atividade de tempo parcial porque pela divis o sexual do trabalho ideologicamente engendrado competem lhe as tarefas dom sticas o que nos d a entender que a mulher n o est integralmente envolvida na atividade produtiva agr cola Parece tratar se aqui da mesma oposi o ideol gica entre o ro ado e a casa entre o trabalho e a ajuda nas representa es do campesinato brasileiro WOORTMANN E 1995 p 35 Nessa tica da economia tem se claro uma divis o do trabalho parcial produtivo e das atividades dom sticas n o produtivas por m n o se considera e n o se pode esquecer a reprodu o e continuidade do grupo familiar A reprodu o n o transfer vel da mulher dentro de uma constru o biol gica ent o o que est em jogo o sentimento subjetivo presumido do campon s Considera este tratar se de um papel social que deve ser atribu do mulher e que fundamentalmente est ligado s concep es de troca matrimonial pap is matrimoniais Diferentemente nas comunidades de remanescentes em seguidos relatos a que temos tido acesso inclusive de comunidades em outras regi
235. is os atores dos sistemas de ensino relutam implementa o da pol tica Entre elas ganham destaque o pr prio desconhecimento da Lei n 10 639 03 a falta de forma o espec fica para as professoras e professores a inexist ncia de livros e materiais did ticos que correspondam ao conte do proposto e a falta de recursos para investimento Em nossa compreens o h fatores tamb m de ordem interna nas institui es de ensino talvez mais importantes que os recursos e a pr pria forma o dos professores e gestores que colocam obst culos entre a proposta do Estado e a aplicabilidade efetiva nos ambientes escolares Trata especialmente da constitui o cultural do educador e da educadora ou seja carrega em seu inconsciente tra os preconceituosos que atuam como uma barreira para o reconhecimento do afro brasileiro na forma o cultural social e econ mica da sociedade brasileira e sem d vidas agregado a isso o entorno formador do ambiente educacional escolar Podemos ainda discorrer sobre a atua o dos gestores das dire es escolares dos conselhos escolares a rea o dos pr prios estudantes em sala de 168 aula que na maioria das institui es de ensino origin rios de outras culturas n o reconhecem a diversidade cultural brasileira O imbr glio dessa situa o ou talvez a possibilidade de crescimento social que essa mudan a tem que se dar pela educa o especialmente na escola que concentra uma popula
236. itetura Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS Porto Alegre 2010 KAROL Eduardo Territ rio e territorialidade da Federa o de rg os para a Assist ncia Social e Educacional F A S E Disserta o FFLCH USP S o Paulo 2000 Dispon vel em http empreende org br pdf Acesso em 6 de fev 2011 MAESTRI M rio Pampa negro quilombos no Rio Grande do Sul In Reis Jo o J Gomes Fl vio dos S Liberdade por um fio hist ria dos quilombos no Brasil S o Paulo Cia das Letras 1996 MARTINS Paulo Henrique De L vi Strauss a M A U S S Movimento AntiUtilitarista nas Ci ncias Sociais Itiner rios do Dom Dispon vel em http www jornaldomauss org jornal extra 2007 11 28 18 31 53 de lvi strauss a mauss pdf Acesso em 6 agosto 2013 MAUSS Marcel Ensaio sobre a d diva forma e raz o da troca em sociedades arcaicas In MAUS M Sociologia e Antropologia S o Paulo EDUSP 1974 v 2 p 49 209 MOURA MELLO Marcelo Ra zes e rotas da terra Forma o de um territ rio negro no sul do Brasil Ciudad Aut noma de Buenos Aires n 19 1 jun 2011 Dispon vel em http www scielo org ar scielo php script sci arttext amp pid S1851 375120110001000018lng es amp nrm iso Acesso em 12 fev 2014 NUNES Georgina Helena Lima Nunes Educa o Quilombola In MEC Orienta es e A es para a Educa o das Rela es Etnico Raciais Bras lia SECAD 2006a 226 Educa o formal e inf
237. ivas as suas tradi es culturais Estabelecer um di logo com este passado por meio de pesquisas de encontros com a ancestralidade preservada ou reinventada se traduz 201 na busca da emancipa o A import ncia desse processo compartilhada na considera o adiante Todavia da ancestral hist ria da resist ncia acionamos o campo tamb m da emancipa o que perseverantemente as comunidades negras continuam a almejar Esta a grande rea o a ser despertada no campo da educa o produzir uma forma o humana na qual n o caibam estere tipos discrimina o e preconceitos que elegem e determinam os que est o dentro e os que est o fora Nesse campo da educa o o desafio contribuir para emancipar radicalmente as pessoas de rela es que retardam uma conviv ncia humana mais respeitosa e por isso mais plena NUNES 2006 p 144 145 Como experi ncia pr tica representando a busca pelos direitos da cidadania temos a cria o das Associa es de Remanescentes da Arvinha e de Remanescentes da Comunidade Morma a entidades oficializadas que s o suas vozes congregando a todos e todas e que ter uma incumb ncia ainda maior registrar em seu nome o territ rio demarcado como espa o nico e de todos os que ali viverem ou que a ele estiverem ligados Al m disso esses organismos t m contribu do para garantir direitos reduzindo press es que a popula o vem sofrendo com as mudan as soc
238. izado e que existisse uma forte resist ncia em manter se no ambiente manifestados na uni o e organiza o entre os 188 moradores sustentando a teia de rela es e em consequ ncia garantindo a socializa o do saber Esse quadro tamb m real nos remanescentes nas falas de antigos moradores ao desejarem ali permanecer hoje quase todos aposentados Sempre vivi aqui conheci quando era mais bonito e vivia mais gente isso j foi grande Uns j foram resta n is Vou ficar at o fim A M 67 dez 2013 Figura 26 Casal morador na Morma a autores da proposta em l permanecerem Fonte Arquivo da pesquisa 2013 5 4 3 Construindo a Educa o nos Diversos Espa os Sociais Os diversos espa os sociais utilizados pelos moradores de Arvinha e Morma a configuram momentos de ensinar e aprender o sal o comunit rio a sede da igreja evang lica a casa de moradores se apresentam como possibilidades do ensinar e do aprender acontecer As rela es de amizade e do parentesco t m proporcionado simetria interna e de certa forma uma simetria externa com a participa o de outros atores no contexto social de suas rela es Esses locais s o utilizados para reuni es diversas cursos celebra es religiosas comemora es de anivers rios casamentos festejos em geral Percebe se nesses encontros que o car ter das festas internas se reveste de intensos momentos de d divas constituem sujeitos para
239. ja o estar em campo envolto de uma trama de evoca es e representa es faz com que entre o pesquisador e os sujeitos 32 pesquisados haja uma abertura um canal de di logo para uma fus o de horizontes OLIVEIRA R 2000 p 31 nesse horizonte o das pessoas que comp em as comunidades quilombolas de Arvinha e Morma a que nas manifesta es de homens e mulheres presentes nos di logos v o compor o relato das experi ncias singulares indicadoras da manuten o e viv ncia naquele lugar 1 4 Estrutura e constru o da pesquisa Ap s a contextualiza o do problema das hip teses dos objetivos e dos aportes te rico metodol gicos que constituem o primeiro cap tulo discorro como apresento a sequ ncia desta tese No segundo cap tulo tratamos de enfocar as Comunidades Remanescentes dos Quilombos de Arvinha e Morma a a partir de sua hist ria constru o comunit ria historiciza o de suas rela es e o auto reconhecimento como grupo tnico quilombola condi o e premissa para a declara o de comunidade remanescente de quilombo e do pertencimento quele grupo o eu pertencer Estabelecemos reflex es sobre a condu o e destinos destas comunidades a partir de uma cultura de lideran a matrifocal pr tica que tem continuidade desde os prim rdios da instala o de Arvinha e Morma a pela a o prec pua das escravas Cezarina de Miranda e Francisca Vieira e provavelmente por outros negros fugi
240. justamente nesse per odo que a estrutura fundi ria da regi o se alterou profundamente dificultando s camadas desfavorecidas em especial s gera es do cativeiro o acesso a terra MOURA MELLO 2011 p 16 Conforme Mateus de Mendon a Leite 2009 p 5 havia os quilombos que surgiram durante a vig ncia do regime escravocrata que lutavam pelo reconhecimento dos negros trazidos do continente africano pelo regime escravocrata estabelecido pelas institui es pol ticas criadas pelos brancos colonizadores e os quilombos surgidos ap s o fim do regime escravocrata que lutavam pelo reconhecimento dos quilombolas em virtude de sua invisibilidade pelas pol ticas p blicas organizadas pelo Estado brasileiro para a efetiva o dos direitos de cidad os Independente do per odo de surgimento os quilombos representam a organiza o de um grupo social para lutar pelo reconhecimento dos direitos organizando se primeiramente de modo b lico e posteriormente de modo pol tico para exigir o seu reconhecimento e consequentemente sua dignidade e liberdade A singularidade dos quilombos surgidos antes e ap s a decreta o jur dica do fim da escravid o demonstra que apesar de destru dos in meras vezes por meio Lei urea Lei Imperial n 3 353 sancionada em 13 de maio de 1888 extinguiu a escravid o no Brasil Foi precedida pela lei n 2 040 Lei do Ventre Livre de 28 de setembro de 1871 que libertou todas as crian as
241. l dando vaz o a uma pr tica de uso e manuten o mais homog neo do territ rio Compartilhar essa honra a partir de uma etnicidade configura se em singular etapa de inser o comunit ria 4 4 Intencionalidades do Parentesco Pesquisas com popula es camponesas brasileiras t m demonstrado a import ncia da rela o territ rio parentesco Ellen Woortmann 1995 em estudos que tratam das formas como se d o as alian as matrimoniais no meio rural destaca 130 a recorr ncia de casamentos e uni es entre vizinhos ou parentes distantes das fam lias como uma estrat gia de manuten o das terras indivisas possibilitando a racionaliza o de reas destinadas aos cultivos cria es e reservas ambientais e das instala es como uso comum galp es e cercas como exemplo O parentesco atua assim como um componente b sico na reprodu o social do campesinato WOORTMANN E 1995 p 65 A legitima o da transmiss o de terras assenta se sobre as rela es de parentesco no entanto al m da tradi o sucess ria na articula o do parentesco transparecem tamb m as estrat gias de uma territorialidade espec fica Na comunidade da Arvinha essa pr tica impl cita como estrat gia talvez n o percebida pela maioria est muito presente Como j referida no introdut rio deste trabalho de tese o grupo descende da escrava Cezarina de Miranda e de seus cinco filhos chamados por eles utilizado por n s de tronco
242. l o nas comunidades traz consigo fortes redes de amizade e reciprocidade j estabelecidas entre os moradores da Morma a e de Arvinha Essa presen a n o apenas localiza a celebra o das duas comunidades como tamb m consideram tais la os como o parentesco confirmando as percep es sobre as condi es similares em que est o colocados fig 27 terra batida ou sobre palha Costumava haver na frente das senzalas um pelourinho tronco usado para amarrar o escravo para a aplica o de castigos f sicos Casa dos escravos Dispon vel em http pt wikipedia org wiki Senzala Acesso em 30 out 2012 Baseando se em relatos de viajantes que percorreram o Centro Sul do Brasil ao longo do s culo XIX Robert Slenes 1999 p 159 distingue tr s tipos de vivenda escrava as senzalas pavilh o edif cio nico com pequenos recintos ou cub culos separados para os escravos solteiros e casados as senzalas barrac o onde viveriam escravos e escravas solteiras em grandes recintos separados e as senzalas cabana onde viveriam escravos casados ou solteiros de um mesmo sexo MARQUESE Rafael de Bivar Moradia escrava na era do tr fico ilegal senzalas rurais no Brasil e em Cuba c 1830 1860 Dispon vel em http www scielo br scielo php script sci arttext amp pid S0101 47142005000200006 Acesso em 6 jan 2014 193 Figura 27 Senzala Social Comunit ria da Arvinha Fonte Arquivo da pesquisa 2012 Neste sentido concorda
243. la eram primo mas tenho duas filha que se casaram com outros dois irm o s o dois italiano que moram aqui perto trabalham nas granja eles tem uns vinte poucos ano quase trinta N C 66 mar o de 2014 As rela es matrimoniais familiares que o morador faz quest o de nos contar chama aten o para a uni o de duas de suas filhas com outros jovens tamb m irm os Nesta singularidade os casais tendo filhos ou se ainda n o vierem a t los esse parentesco entre as crian as ser bem estreito aquilo que a genealogia local chama de primos irm os Essa proximidade parental pro be uni o conjugal N O 67 moradora na Morma a mar o de 2014 Elisa Camarote 2010 em sua pesquisa se depara com forma semelhante de uni es Compondo ainda o cen rio das rela es de parentesco e dos padr es de alian a encontrei em Lages das Aroeiras a categoria primos irm os primos paralelos patri e matrilineares fruto do casamento de duas irm s com dois irm os De acordo com o 141 entendimento local os filhos que advierem dos dois casais n o devem casar entre si muito provavelmente porque consideram como irm os ou muito pr ximos dessa categoria Essa regra diverge daquela anteriormente descrita e mais usual segundo a qual a uni o entre primos carnais primos cruzados ou paralelos positivamente prescrita CAMAROTE 2010 p 137 De maneira inversa a etnografia de Woortmann E 1995 p 264 265 mostra que
244. lazer englobando os espa os de moradia e inclusive os espa os destinados aos cultos religiosos e os s tios que contenham reminisc ncias hist ricas dos antigos quilombos 238 COMPET NCIAS DE ATUA O Art 5 Compete ao INCRA a identifica o o reconhecimento a delimita o a demarca o a desintrus o a titula o e o registro imobili rio das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos sem preju zo da compet ncia concorrente dos Estados do Distrito Federal e dos Munic pios 8 1 As atribui es contidas na presente Instru o ser o coordenadas e executadas pelos setores competentes da Sede dos rg os regionais e tamb m por grupos ou comiss es constitu das atrav s de atos administrativos pertinentes 8 2 Fica garantida a participa o dos Gestores Regionais e dos Asseguradores do Programa de Promo o da Igualdade em G nero Ra a e Etnia da Superintend ncia Regional em todas as fases do processo de regulariza o das reas das Comunidades Remanescentes de Quilombos PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS PARA ABERTURA DO PROCESSO Art 6 O processo administrativo ter in cio por requerimento de qualquer interessado das entidades ou associa es representativas de quilombolas ou de of cio pelo INCRA sendo entendido como simples manifesta o da vontade da parte apresentada por escrito ou reduzida a termo por representante do INCRA quando o pedido for verbal 1 A comunida
245. lecimento pol tico para o enfrentamento das dificuldades a autodefini o identit ria e o estabelecimento de prioridades com as suas respectivas estrat gias importante destacar que as dificuldades encontradas no processo organizativo do movimento quilombola t m sido enfrentadas de forma participativa e articulada As diretrizes da Coordena o Nacional de Articula o das Comunidades Negras Rurais Quilombolas CONAQ t m estabelecido di logo com as Coordena es e articula es estaduais no sentido de que os compromissos se efetivem nas bases de forma participativa pois isto condi o para a legitimidade da lideran a CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE INSTITUTO SUMA MA 2012 p 10 11 Todo esse processo de articula o converge para que analisemos os tra os caracter sticos de organiza o dos quilombolas a partir de sua pr pria tica Os crit rios definidores da condi o ser e pertencer de como querem ser vistos e o de auto identifica o tamb m passa pelo crit rio de atribui o dado pelo outro com base nas diferen as Dessa maneira para Arcanjo 2008 p 51 esta atua o se configura como uma nova forma de resist ncia cultural atrav s de organismos sociais de representatividade pol tica Finalizando por meio da observa o participante que realizamos nessas idas e vindas s Comunidades Arvinha e Morma a mar o de 2014 em di logos com representantes das duas associa es de moradores sobre c
246. leira e o reconhecimento do papel das 1 A interculturalidade tem lugar quando duas ou mais culturas entram em intera o de uma forma horizontal e sin rgica As rela es interculturais implicam no respeito pela diversidade considerando o surgimento de conflitos inevit veis mas poss veis de serem resolvidos atrav s do respeito e di logo Para Luciana Vasconcelos 2012 a interculturalidade indica um conjunto de propostas de conviv ncia democr tica entre diferentes culturas buscando a integra o entre elas sem anular sua diversidade ao contr rio fomentando o potencial criativo e vital resultante da rela es entre diferentes agentes e seus respectivos contextos e diferente da multiculturalidade que indica apenas a coexist ncia de diversos grupos culturais na mesma sociedade sem apontar para um pol tica de conviv ncia Fleuri 2005 Dispon vel em http www cult ufba b INTERCULTURALIDADE pdf Acesso em 1 jul 2014 14 express es culturais de diferentes grupos sociais na forma o da identidade cultural brasileira O texto da Constitui o aponta para dois aspectos importantes para a defesa da diversidade cultural garante de um lado o direito de acesso da popula o sua cultura em sua diversidade e assegurando por outro o direito de participa o dos grupos no processo criativo e na express o da pr pria cultura Ainda reconhece os direitos culturais e pela primeira vez na hist ria do pa s
247. lho do antrop logo olhar ouvir escutar In O trabalho do antrop logo S o Paulo Bras lia Unesp p 26 51 2000 OLIVEIRA Rosiska Darcy de Pesquisa Social e a o educativa conhecer a realidade para poder transform la In BRAND O Carlos R Org Pesquisa Participante 3 reimp 8 ed S o Paulo Brasiliense 2006 Reengenharia do tempo Rio de Janeiro Rocco 2003 OS RIO Helen Estrutura agr ria e ocupacional In BOEIRA Nelson GOLIN Tau Coord Cole o Hist ria Geral do Rio Grande do Sul Volume 1 Col nia Passo Fundo M ritos 2006 p 153 170 PEDROZA Manoela Estrat gias de reprodu o social de fam lias senhoriais cariocas e minhotas 1750 1850 Revista An lise Social vol XLV 194 2010 141 163 Dispon vel em http analisesocial ics ul pt documentos 1268307435R3IEF3vcONp02JN5 pdf Acesso em 5 julho 2013 PESAVENTO Sandra Jatahy Hist ria do Rio Grande do Sul 9 ed Porto Alegre Mercado Aberto 2002 RAMOS leda C Alves O lugar do parentesco na alian a entre um laudo antropol gico e um territ rio quilombola an lise a partir do processo de regulariza o fundi ria do Quilombo Cambar Disserta o Mestrado em Desenvolvimento Rural Programa de P s Gradua o em Desenvolvimento Rural FCE UFRGS Porto Alegre 2009 RODRIGUES Deneusa TAMANINI Elizabete Educa o n o formal e movimentos sociais pr ticas educativas nos espa os n o escolares IX ANPED SUL
248. lia j tem 33 netos e 6 ou 7 bisnetos Mora hoje somente o casal 144 constru ram suas casas nesse entorno ficando bem espa adas umas das outras fig 20 Os remanescentes bisnetos do tronco de Quirino de Miranda se distribu ram a noroeste da comunidade toda a descend ncia se assenta num mesmo espa o diferente dos outros n cleos onde as moradias re nem pessoas dos outros tr s troncos Figura 20 N cleo de moradores descendentes do tronco Quirino de Miranda na Arvinha Fonte Arquivo da pesquisa 2013 Quirino de Miranda filho de Cezarina teria vivido mais de cem anos Me lembro at hoje o Quirino da gera o dos escravo morreu com 115 ano eu tinha uns catorze ou quinze Ele vendeu muita terra toda a terra dele vendia um alqueire por uma vaca gorda veja s O senhor sabe o que isso Uma coisa sem fundamento Quando iam medi pegavam mais terra e ele sei l se confiava ou n o comprendia as medi o Carneava a vaca e fazia festa foi trocando por vaca at n o te mais nada N C 66 mar o de 2014 H relatos sobre medi es de outras reas inclusive na comunidade da Morma a onde o neg cio era feito por uma rea depois avan avam as marca es A l der M T da Arvinha nos informou que na Morma a existe agricultor 74 Cezarina de Miranda teria deixado documentados 22 alqueires de terra 53 24 hectares para cada um dos cinco herdeiros M T 60 mar o d
249. lmente sobre o bra o livre especialmente considerando se que a ca a ao gado selvagem n o se combinava com o trabalho compuls rio Os pe es que trabalhavam na courama eram senhores de seus destinos pois se encontravam com boas montarias e armados coisas que n o se encaixavam com o homem escravizado Alguns escravos que participavam dessas atividades transformavam se em acompanhantes de seus senhores como guarda costas e pajens Por m em raz o da abund ncia de m o de obra com a possibilidade da escravid o de ndios e negros espanh is e lusitanos se dedicam s fazendas considerando as um sport n o trabalho para n o manchar seus orgulhos Dacanal amp Gonzaga 1979 descrevem o surgimento do ga cho assim Desse modelo social nasce o gaud rio changador ou ga cho Em regra homens de m ndole vagabundos e fugitivos O ga cho foi parte fundamental de nossa hist ria que esqueceu do eterno presente o escravo Embora at quase o in cio do s culo XIX n o tiv ssemos um regime social de produ o escravista a presen a do homem escravizado era constante e significativa O nosso territ rio come a a ser ocupado durante um per odo onde a sociedade brasileira est toda alicer ada sobre a explora o do trabalho servil A posse de um escravo significava status social A presen a do escravo em nossas primeiras est ncias algo pouco estudado mas seu papel importante est presente na an lise de mapas e
250. m lias escravas e outras libertas Figura 3 Mapa munic pio de Sert o RS localizando Comunidades Quilombolas da Arvinha e da Morma a e Sede Municipal coloridos Sert o 1996 Divis o F sica e Social A Sede do Munic pio B Santo Antonio 1 S o Pedro C Vila Englert 2 NS Aparecida D Vila incra P N S do Bom Conselho H Posse C neva M Bom Jesus j S o R que G m a m Linha Getelina N Paiol Queimado 4 010 Jos E Rio Ca ador F Santana Coid pia a Oi aca V Col nia Araujo E a j Linha Oito O Capoeiras 5 Volta Grande G Santa Catas ni a L S o Sebasti o fx pas uchinhos V S o Jo o dos Timbos 7 Faz Capuc Pagotto A i Butia Grande e Fonte OLIVEIRA Iris M MISTURINI Olavo S 1986 O norte ga cho mais especificamente a regi o do Planalto M dio onde se localizam as Comunidades Remanescentes dos Quilombos de Arvinha e da Morma a entre os munic pios de Sert o e Coxilha uma regi o que tardiamente foi incorporada ao territ rio que atualmente conforma o Rio Grande do Sul fig 04 Durante todo o s culo XVIII a regi o missioneira foi alvo de disputas entre as Coroas espanhola e portuguesa O projeto portugu s de garantir suas fronteiras rec m conquistadas recompensou militares e estancieiros que se envolveram nos conflitos com a distribui o de lotes de terras sesmarias Os atuais munic pios Sert o e Coxilha foram distritos e posteriorme
251. m que i a p at Sert o chegavam cansadas e suadas Tinham que fica l num canto da sala de aula n o falava com elas Eles os outros n o se misturam L R 37 maio de 2013 percept vel numa grande parcela dos moradores do munic pio de Sert o principalmente ap s a insurg ncia dos moradores da Morma a em lutarem pela oficializa o de seus territ rios uma distin o que separa os descendentes de ex escravos das outras pessoas Em consequ ncia da quest o em algumas situa es muitos sujeitos que residem no territ rio remanescente de quilombo em especial as crian as e jovens por vezes t m negado sua identidade at mesmo a condi o de ser quilombola materializando assim uma situa o de exclus o social Corrobora neste sentido a interpreta o de Juc lia Bispo Santos 2010 de que 68 o a a Interpreta o nossa A lideran a referindo se aos outros colegas de aula das crian as quilombolas provavelmente brancos 129 A nega o da identidade negra por alguns moradores adv m da a o do racismo no cotidiano daquelas pessoas sendo muitas vezes manifestado por determinados sujeitos que residem ao seu redor Vale ressaltar que a estrutura o desses grupos n o um fen meno isolado uma vez que esses processos est o relacionados com caracter sticas pol ticas econ micas e culturais que foram estabelecidas conforme o projeto da estrutura o social que se organi
252. mbolas de Arvinha e da Morma a considerando para isso a exist ncia de elementos que indicam a conflu ncia dos projetos de liberdade dessas fam lias n o s por elas compartilharem trajet rias semelhantes mas tamb m por elas terem estabelecido rela es de parentesco simbolizadas pela uni o matrimonial e ainda a recorr ncia do apadrinhamento e amizade entre as fam lias O territ rio quilombola inserido historicamente em contextos conflituosos concretiza a disputa entre sujeitos sociais e valores Constitui se aqui a concep o do territ rio na sua dimens o pol tica enquanto espa o onde se exerce um determinado poder Por outro lado o territ rio quilombola apresenta sua dimens o cultural relacionada ao espa o vivido e concebido pelo grupo E no tocante reprodu o material da fam lia a partir do trabalho na terra sua dimens o econ mica ganha relev ncia enquanto fonte de recursos A mem ria de parentesco constitui elemento caracter stico da campesinidade e afirma o territ rio quilombola No entanto em virtude do contexto hist rico de maiores ou menores conflitos com a sociedade abrangente a manifesta o da 118 campesinidade quilombola pode se dar com intensidades diferenciadas assim como suas pr ticas de territorialidade que compreendem a es de afirma o do territ rio enquanto espa o apropriado pelo grupo para a reprodu o material e simb lica da sua exist ncia Estamos nesta pesquisa ut
253. mbos o Estado deve subsidiar a ado o de medidas de a o afirmativa que visem ao desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida das comunidades quilombolas pois n o se pode perder de vista que se trata de uma demanda que deveria ter sido resolvida no s culo passado Em artigo Milton Santos 1996 vai al m e faz men o de que A repara o necess ria Na medida em que uma comunidade secularmente posta margem a na o tem que se ocupar dela Os negros n o s o integrados no Brasil Isso um risco para a unidade nacional SANTOS M 1996 p 8 Assim para consolidar a garantia da terra aos remanescentes dessas e demais comunidades faz se necess rio n o ceder press o de grupos poderosos especialmente ligados ao agroneg cio que desejam a interrup o dessa pol tica p blica mas envidar esfor os no sentido de foment la Garantir o direito terra significa garantir o direito vida das comunidades quilombolas e suas continuidades O territ rio ocupado pelos moradores das comunidades de remanescentes de Arvinha e da Morma a em alguns casos continuam sob posse da descend ncia dos antigos moradores mas a outra parte maior dessas reas est nas m os de agricultores eurodescendentes Registra se uma configura o atual do territ rio negro fragmentado formado de um lado pelas propriedades de agricultores integrados a explora o capitalista com concentra o da terra e outros meios de produ
254. mente deva possuir a maior rea de terra documentada na comunidade no entanto um espa o insuficiente para que este e as fam lias de seus tr s filhos consigam dela retirar seus sustentos Permanece na propriedade um dos filhos 142 Figura 19 Propriedade do casal parentesco determinando territ rio na Arvinha Fonte Arquivo da pesquisa 2014 Woortmann K amp Woortmann E 1990 j identificavam em outros grupos camponeses essa singularidade em grupos camponeses parece que as pessoas se apaixonam pelo parceiro mais indicado para sua reprodu o social pois para o amor ser socialmente legitimado ele deve corresponder aos interesses da alian a ou da descend ncia culminando assim em um casamento constru do pelas fam lias nele interessadas WOORTMANN K amp WOORTMANN E 1990 p 2 A uni o entre netos e entre bisnetos de Cezarina vem cristalizar rituais de coes o social Esses matrim nios soam estrat gicos na medida em que negros e negras v m lutando incessantemente por territorializar se e este fortalecimento dos la os sociais entre as fam lias acaba por garantir uma maior coes o do grupo frente opress o sofrida Ramos 2009 p 76 Essas uni es v o assegurar que o territ rio continue pertencente s fam lias continue entre a descend ncia dos troncos 4 7 O Ch o Este N o Outro A identifica o com o territ rio muito profunda independentemente da id
255. mentos n o favor veis Paralelamente s necessidades legais de cria o de uma associa o o fato tamb m se reveste de import ncia porque entre as d cadas de 1960 1970 e 1980 as comunidades viram reduzidos espa os de seus territ rios A partir desse per odo diversas fam lias moradoras evadiram procurando melhores condi es de sobreviv ncia emprego e educa o dos filhos Tal fato agravou se pela a o de agricultores vizinhos que lentamente avan aram no territ rio com m quinas agr colas e manualmente atrav s da derrubada de rvores e ro adas Tamb m houve neg cios de compra e venda entre moradores e agricultores por valores vis ou pela simples troca terra por animais cavalos vacas porcos constituindo verdadeira extorquia de seus patrim nios no cap 5 parentesco e campesinato se retoma a discuss o Relatos semelhantes existem em todas as regi es do pa s quando particulares e grupos empresariais muitas vezes tendo a esfera p blica como seus representantes e escudo atrav s de aparatos policiais escorra am comunidades negras de seus territ rios No relat rio 2005 2010 do Grupo de Trabalho Cl vis Moura no Estado do Paran tal situa o vivenciada em duas Comunidades Remanescentes de Quilombos CRQ Na CRQ de Varze o munic pio de Guarapuava o registro mais antigo de terras consta de 1856 com terras da fam lia negra de Jo o 75 Alves de Souza havidas por heran a e posse de
256. mo o da coopera o cient fica internacional indu o e fomento da forma o inicial e continuada de professores para a educa o b sica nos formatos presencial e a dist ncia Dispon vel em http www capes gov br Acesso em 11 dez 2012 SILVA Petronilha Beatriz Gon alves e Educa o e identidade dos negros trabalhadores rurais de Limoeiro Tese Doutorado em Educa o PPGEDU UFRGS Faculdade de Educa o Universidade Federal do Rio Grande do Sul 1987 17 liberdade Por m no decorrer dos tempos foram sendo encurraladas atrav s de uma s rie de pr ticas ilegais e subterf gios jur dico legais praticados por terceiros tendo a maior parte de seus territ rios dilapidados e sofridos com descontinuidade O territ rio a pr pria ess ncia da identidade cultural na medida em que a base fundamental da cultura de comunidades tradicionais de comunidades remanescentes de quilombo A fragmenta o da rela o entre os grupos e o territ rio acarreta o rompimento de suas pr ticas culturais e por conseguinte risco as suas continuidades Entre as diversas estrat gias que esses grupos encontram para manter se em seus territ rios e buscar a incorpora o de espa os anteriores em se tratando de Arvinha e Morma a lan am m o da cultura cotidiana baseada intensamente na d diva e reciprocidade nos processos educativos n o escolarizados permeando o conhecimento constru do pelos grupos e nas alian as do
257. mportamento individual uma volatilidade exagerada Ramos 2009 116 Resulta que a singularidade de Arvinha e Morma a n o reside em um ex tico modo de se relacionar pr prio de imagens estereotipadas atribu das s sociedades chamadas arcaicas em L vi Strauss 1974 A sua particularidade adv m da compreens o das racionalidades que acionam os distintos princ pios de a o que constroem um arranjo social diferenciado A varia o dos modos de agir em Morma a e Arvinha demarca uma fronteira simb lica que delimita diferentes modelos de justi a 4 PARENTESCO E CAMPESINATO Estrat gias de manuten o e amplia o Nas rela es de parentesco engendradas como estrat gias para a manuten o e amplia o de territ rios quilombolas e de propriedades rurais agr colas os campesinatos t m sido h muito utilizados como pr ticas para mant los em posse de grupos familiares e mesmo de grupos ampliados O sistema de parentesco valor social constru do culturalmente e que organiza o trabalho e define a heran a permeando todas as pr ticas de produ o e reprodu o do campesinato em torno da fam lia que giram as preocupa es e tomada de decis es e em torno da fam lia nuclear extensa ou ancestral que se estabelecem as rela es de reciprocidade Este cap tulo prop e a discuss o dessas estrat gias no sentido de como elas se deram como est o acontecendo nas comunidades de remanescentes quilo
258. munidades de Arvinha e Morma a portanto p blicos Neste caso registrando a presen a na reuni o de constitui o das Associa es de Remanescentes de Arvinha e Morma a 70 os Editais da Superintend ncia Regional do INCRA no RS com os objetos delimitando as reas em hectares bem como os per metros dos territ rios que dever o ser ocupados pelas Comunidades Quilombolas da Arvinha setembro de 2009 e da Morma a outubro de 2010 finaliza se nesta etapa o item seis de um total de quinze referentes aos procedimentos administrativos propostos em LEITE 2009 p 6 8 9 para a efetiva o dos direitos constitucionais socialmente reconhecidos aos membros das comunidades quilombolas no que concerne titula o do territ rio Passados hoje aproximadamente cinco anos desse ato administrativo os remanescentes continuam a aguardar o final do processo de regulariza o fundi ria dos espa os territoriais de Arvinha e da Morma a Assim para consolidar a garantia da terra aos remanescentes dessas e demais comunidades se faz necess rio que n o se interrompa uma pol tica p blica mas sim envidar esfor os no sentido de foment la Garantir o direito a terra significa garantir o direito vida das comunidades quilombolas e suas continuidades Cumpre lembrar o sentido do texto inscrito no art 2 do decreto 4 887 2003 os quilombolas s o dotados de rela es territoriais espec ficas Depreende se disso que as comunid
259. n o que recai sobre um conjunto de membros que se identifica e identificado por outros como uma popula o distinta Portanto a intera o em si n o nico fator gerador de cultura e de limites para cada grupo mas tamb m se observa seus contatos externos como constitutivos da estrutura desse grupo enquanto comunidade organizada por meio de uma constru o coletiva simbolicamente institu da Corrobora a men o de Juc lia Santos 2010 p 231 de que a estrutura comunit ria dos quilombos se estabelece por meio de v nculos demarcados pelo pertencimento O sentimento de perten a se estabelece atrav s da liga o do grupo a terra o que configura na express o da identidade tnica e da territorialidade constru das sempre em rela o aos outros grupos com os quais se confrontam e se relacionam Nesses grupos o parentesco constitui se por meio de normas que indicam liga o ou exclus o de membros O uso comum da terra caracterizado atrav s da ocupa o do espa o que tem por base os la os de parentesco e de vizinhan a assentados em rela es de solidariedade e de reciprocidade ARRUTI 2004 Dessa forma as comunidades de quilombos podem ser vistas como grupos minorit rios que valorizam acentuadamente seus tra os culturais diacr ticos e suas rela es coletivas a fim de ajustar se s press es sofridas Nesta perspectiva os indiv duos constroem identidades que est o relacionadas em conex o com a terra
260. nativa e nascem espontaneamente no local como a carqueja a pata de vaca a emba ba a aroeira a macela a hortel a espinheira santa o cip mil homens a c nfora a losna e tantas outras O relat rio do Grupo de Trabalho Cl vis Moura 2010 p 57 utilizando dados de Nodari e Guerra 2007 aponta para o fato da necessidade de uma diversidade de esp cies para a perpetua o desse conhecimento 184 Os medicamentos utilizados de diversas maneiras e concentra es para o uso t pico oral infus o banhos e outras s o preparados pelas pessoas mais experientes e geralmente com mais idade S o conhecidas por curandeiras curandeiros carregam o conhecimento sobre as plantas os males e a t cnica de cultivo colheita e preparo dos rem dios Na Morma a se recorre bastante aos medicamentos preparados por Dona Leonora que aprendeu com sua av o of cio Uma das medica es que fabrica e que a mais procurada uma fervura com v rias partes de plantas s o sete planta diferente uso a raiz as casca e as folha Fervo bastante no fog o de lenha e boto a car e vai mexendo at fica um pouco mais engrossado bom praqueles que sentem fraqueza no corpo L R A 68 dezembro de 2013 Complementa que provavelmente seja uma anemia aqui conhecida como tir cia O produto dessa fervura colocado em um vidro para ser conservado em geladeira toma se uma colher de sopa tr s vezes ao dia Tivemos a
261. ndo assim a nova reda o Art 26 A Nos estabelecimentos de ensino fundamental e m dio oficiais e particulares torna se obrigat rio o ensino sobre hist ria e Cultura Afro Brasileira Par grafo Primeiro O conte do program tico a que se refere o caput deste artigo incluir o estudo da frica e dos Africanos a luta dos negros no Brasil a cultura negra brasileira e o negro na forma o da sociedade nacional resgatando a contribui o do povo negro nas reas social econ mica e pol tica pertinentes Hist ria do Brasil Par grafo segundo Os conte dos referentes Hist ria e Cultura Afro Brasileira ser o ministrados no mbito de todo curr culo escolar em especial nas reas de Educa o Art stica e de Literatura e Hist rias Brasileiras Art 79 B O calend rio escolar incluir o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consci ncia Negra Com a altera o da LDB n 9 394 96 atrav s da Lei n 10 639 03 e propondo como pol tica p blica incluir nos curr culos escolares da educa o as rela es tnico raciais e da Hist ria e Cultura Afro Brasileira torna se necess rio ent o a regula o da lei o que ocorre com a edi o de dois documentos do Conselho Nacional da Educa o CNE o Parecer CNE CP 003 2004 e a Resolu o CNE PC 01 2004 O conjunto dessa legisla o dando maior amplitude LDB procura oferecer uma resposta na rea da educa o demanda da popula o
262. ndo com Silveira 2010 p 40 o sal o antecipa a associa o quilombola como cristaliza o de uma sociabilidade que configura a identidade tnica como totaliz vel em uma express o pol tico cultural Suportado por essa sociabilidade festiva o sal o tem grande influ ncia e import ncia na reconstru o e fortalecimento desses la os Foi constru do sob a inten o de que a comunidade pudesse realizar suas festas Congrega ainda visitantes n o quilombolas e n o negros da regi o que t m participado de suas promo es Outro espa o de forma o a religiosa acontece em igrejas crist s principalmente a cat lica h a evang lica Assembleia de Deus na Morma a em cuja sede faz amos encontros desde 2008 e que hoje est reconstru da Ocorrem celebra es catequese cursos batizados casamentos e festas e no m s de maio celebrada a comemora o em honra a Santa Teresinha Na comunidade da Arvinha em 12 de outubro realizada festa em homenagem Nossa Senhora de Aparecida padroeira da Comunidade constru ram um capitel Moradores vizinhos em grande n mero t m participado das festividades nas duas Comunidades confirma a Prof Teresinha Dialogando com moradores sobre a religiosidade os cultos religiosos com matriz afro praticados nas comunidades poder se ia dizer quase que inexistem A maioria das fam lias ao se referirem liberdade religiosa se auto intitulam cat licas e
263. nescentes criaram o IACOREQ Instituto de Assessoria a Comunidades Remanescentes de Quilombos A parceria Governo do Estado lACOREQ promoveu diversas oficinas de forma o nas comunidades facilitando entre outros pontos o surgimento de novas lideran as comunit rias Tais lideran as em sua maioria mulheres que com perspic cia rapidamente visualizaram que somente no engajamento seria poss vel alcan ar o reconhecimento daqueles territ rios quilombolas e a identidade etnoquilombola Na comunidade da Arvinha liderada pelas moradoras Maria Teresinha Vargas professora Maria Teresa agricultora Renata Cansio agricultora e Marilva Santos dona de casa organizaram e fizeram parte da primeira diretoria da Associa o dos Remanescentes do Quilombo Arvinha Vizinha a esta a Comunidade da Morma a tendo como l der La des Rosa atendente de idosa na cidade de Sert o Marli Soares agricultora e dona de casa Maria Helena dona de casa Marilene de Oliveira agricultora e dona de casa Ariane Gon alves estudante e dona de casa e ainda um Conselho Consultivo formado por dez de seus moradores constitu ram a Associa o dos Remanescentes do Quilombo Morma a ambas no ano de 2007 O processo de regulariza o fundi ria dos espa os territoriais de Arvinha e da Morma a ainda est tramitando Considerando que o Di rio Oficial da Uni o publicou Os nomes aqui referidos est o registrados nos livros de Atas de Reuni es das Co
264. nico Raciais da Universidade Federal de S o Carlos UFSCar e integra o N cleo de Estudos Afro brasileiros UFSCar A Professora Petronilha nasceu em Porto Alegre em 1942 licenciada em Letras doutora em Ci ncias Humanas Educa o pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com P s doutorado em Teoria da Educa o na University of South Africa onde foi professora visitante Dispon vel em www ufscar br ubuntu petro html Acesso em 1 dez 2013 166 Pedagogias de combate ao racismo e a discrimina es elaboradas com o objetivo de educa o tnico raciais positivas t m como objetivo fortalecer entre os negros e despertar entre os brancos a consci ncia negra Entre os negros poder o oferecer conhecimentos e seguran a para orgulharem se da sua origem africana para os brancos poder o permitir que identifiquem as influ ncias a contribui o a participa o e a import ncia da hist ria e da cultura dos negros no seu jeito de ser viver se relacionar com outras pessoas notadamente as negras Parecer CNE CP 3 2004 16 Prof Dr Petronilha Beatriz Gon alves e Silva Neste sentido Georgina Nunes 2006b aponta para as dificuldades em tratar de quest es voltadas para pr tica racista aliadas ao desconhecimento do que seja uma comunidade quilombola e os julgamentos que da decorrem Por outro lado concorda que Esse debate no campo das ideias as desconstru es de conceitos vai constit
265. nidade fechada mostra ainda Wolf a terra n o pode ser vendida a estranhos ela n o uma mercadoria plena De fato ela n o o em nenhuma forma camponesa plena ela patrim nio da fam lia ou da comunidade WOORTMAN E 1995 p 57 A titula o desse territ rio agora pleiteado o patrim nio que se quer recuperar como espa o ocupado pelos antepassados e transmitir s gera es Ao iniciar seu processo de reconhecimento enquanto quilombola a comunidade inicia tamb m todo um trabalho educativo que visa assegurar a transmiss o do territ rio patrim nio aos descendentes do ancestral comum Assim elaboram se estrat gias de reprodu o da comunidade e de seu pr prio territ rio com o intuito de perpetu lo enquanto patrim nio A partir de Marx Pierre Bourdieu teoriza que o patrim nio se apropria do seu propriet rio ou seja se a terra do propriet rio o propriet rio se faz da terra patrim nio FERREIRA 2006 p 78 A legisla o brasileira que trata da titula o de reas pertencentes s comunidades remanescentes quilombolas prev o registro como propriedade coletiva designando ent o o Estado como rg o executor o INCRA conforme define o artigo 23 da Instru o Normativa n 20 2005 Art 23 Conclu da a demarca o a Superintend ncia Regional realizar a titula o mediante outorga de t tulo coletivo e pr indiviso s comunidades em nome de suas associa es legalmente con
266. no daqueles moradores Toda essa terra a agora dos Bianchini de Tapejara munic pio que fica a uns 80 km na mesma regi o a empresa possui ali uma rea de 170 hectares faz uns quinze ano plantaram eucalipto cresceu j cortaram Agora t o plantando de novo outra floresta de eucalipto Antes tinha grama que se ia uns cap o de mato uns banhado era muita terra Agora s se v eucalipto pra poste e lenha N C 64 e I R C 59 setembro de 2012 A lembran a n tida em suas mem rias de uma era n o t o distante mostra a altera o do ambiente que possivelmente seus antepassados conheceram e utilizavam como espa o de sobreviv ncia em seus cultivos cria es ou quando ainda jovens contemplavam aquela exuber ncia pintada natural uma den ncia inscrita na terra do avan o sobre o territ rio da comunidade Uma poss vel expropria o da terra de seus leg timos donos alterando aquele espa o de viv ncia e de sociabilidade fig 12 93 Figura 12 Ambiente natural alterado planta o do ex tico eucalipto em territ rio de antanho quilombola Arvinha Fonte Arquivo da pesquisa 2011 Especialmente a respeito dessa rea que corresponde a quase cinquenta por cento do territ rio da Arvinha delimitado pelo INCRA e publicado em setembro de 2009 386 hectares a lideran a M T em outubro de 2013 e nesta oportunidade o pr prio morador quilombola nos disseram que empresa in
267. ns decorrentes de processos educativos n o escolarizados criam estreita rela o entre o pertencer quele grupo e a identifica o com o espa o conquistado As alian as estabelecidas pelas rela es de parentesco de compadrio e de amizade t m favorecido aos moradores dessas comunidades que esse territ rio n o sofra maior fragmenta o gerando assim a manuten o e possibilidades para a recupera o de espa os de outrora Existe o protagonismo da mulher quilombola atrav s da descend ncia matrifocal ainda presente nessas comunidades inicialmente no sentido de se estabelecerem como grupo tnico numa rela o interna sim trica e num momento 23 seguinte por meio de avan os sim tricos e assim tricos com o entorno resultando na configura o daqueles territ rios O territ rio ocupado n o constitui conquistas de a es engendradas nas rela es sociais de seus membros mas sim resulta de um processo de ocupa o e posse daquela rea territorial que adv m com seus ancestrais escravos libertos e fugidos h quase dois s culos Objetivo Geral Analisar processos educativos presentes nas rela es interpessoais simbolizadas nos atos da d diva e reciprocidade nas a es educativas n o escolarizadas e em alian as de parentesco e compadrio como interfaces de resist ncia das comunidades de Arvinha e Morma a para a manuten o e recupera o ou reconquista de seus territ rios exercendo o direito
268. nselho Ultramarino rg o respons vel pelo controle central patrimonial considerou quilombo como toda habita o de negros fugidos que passem de cinco de parte despovoada ainda que n o tenham ranchos levantados nem se achem pil es neles Esta configura o vigeu por todo o per odo Imperial e parte da Rep blica tendo como refer ncia a experi ncia do Quilombo de Palmares Recentemente entre as d cadas de 1970 e 80 o conceito de quilombo passou a ser discutido no contexto da abertura pol tica na descoberta de comunidades rurais e na constru o no Movimento Negro 15 A defini o trazida hoje no Plano Nacional de Desenvolvimento Sustent vel dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana refere como grupos que se organizam a partir dos valores civilizat rios e da cosmovis o trazidos para o pa s por africanos para c transladados durante o sistema escravista o que possibilitou um cont nuo civilizat rio africano no Brasil constituindo territ rios pr prios caracterizados pela viv ncia comunit ria pelo acolhimento e pela presta o de servi os comunidade SEPPIR 2013 p 12 ampliando assim a ressignifica o cultural nela contidas suas lutas e reivindica es Com a vinda do negro para o Brasil for a mais um elemento incorporado a essa forma o populacional brasileira tendo sua participa o na vida do pa s ininterrupta e intensa desde sua chegada quando trazidos
269. nte Zarur 1976 p 11 faz refer ncia a Stack 1960 p 305 para quem a matrifocalidade n o necessariamente descend ncia matrilinear Esta observa o relevante pois muito comum a rela o mais ou menos autom tica estabelecida entre regra de descend ncia e as formas tomadas pelos grupos sociais O parentesco matrilinear um sistema onde se organizam os parentes sistema de parentesco atrav s da linhagem materna matrilinear Poderia 57 verticalmente como exemplo existir Ana filha de Leoc dia neta de Dolores Numa sociedade como essa os sobrenomes seriam passados pela m e e n o pelos pais como em nossa sociedade que patrilinear Logo uma sociedade matrilinear uma sociedade em que o poder passado aos descendentes pela via feminina ou seja de m e para filha o poder s passado de m e para filho se ela n o tiver uma filha Nesse caso a esposa do filho sua nora que herdar o poder da m e sua sogra Nas comunidades em quest o Arvinha e Morma a essa condi o n o se deu de forma direta As matriarcas n o fizeram sucessoras suas filhas mas sim outras mulheres portanto assemelhando se matrifocalidade Outro ponto a considerar pr tica comum naquelas comunidades remanescentes presentes em relatos a condi o matrifocal se d na qualidade do pai marido estar presente mas de alguma maneira marginal ao grupo composto de esposa filhas netos e netas Os homens
270. nte desmembrados do munic pio de Passo Fundo que polo regional 43 Figura 4 Divis o Regional do Estado do Rio Grande do Sul regi o Planalto M dio Fonte SEPLAG Secretaria de Planejamento e Gest o do Estado do RS 2012 A regi o especialmente Passo Fundo desenvolveu se com rapidez atraindo novos moradores e neg cios pois constitu a caminho para a passagem de tropas bovinas e principalmente muares que eram transportadas at Sorocaba no estado de S o Paulo para serem vendidas naquele com rcio Neste per odo a regi o ainda pertencia ao munic pio de Cruz Alta vindo a emancipar se somente em 1857 caso de Passo Fundo De acordo com Sherol dos Santos 2009 p 129 nas propriedades instaladas ao longo desse caminho a principal atividade era a cria o de gado vacum e mulas cuja principal m o de obra foi a escrava Com as primeiras est ncias os senhores da guerra se estabelecem com seus agregados e escravos e como primeiros beneficiados com a posse das terras rio grandenses tornam se tamb m os senhores da terra e enfatiza De fato a an lise de documenta o prim ria acaba por nos revelar um planalto pastoril e escravista Analisando os invent rios post mortem de Passo Fundo pudemos notar que dos 148 autos pesquisados em 55 4 deles os inventariados possu am escravos SANTOS S 2009 p 130 poss vel ainda constatar a presen a de escravos quando relata 44 Podemos afi
271. ntuito da escrita em afirmar que houve sim escravid o no Rio Grande do Sul Os negros que foram trazidos ao Brasil pela Coroa Portuguesa eram origin rios de forma es banto e sudanesa Os principais centros exportadores onde os aprisionavam para depois serem trazidos para c e servirem de m o de obra foram Angola costa leste territ rio dos povos banto cabindas quicongos quimbundos guanguelas e suas subdivis es Costa da Guin costa norte e oeste do Golfo da Guin de cultura sudanesa e fronteira da frica do Sul Mo ambique e nordeste de Mo ambique de cultura banto No Rio Grande do Sul conforme Jos Dacanal amp Sergius Gonzaga 1979 para a historiografia sulina durante d cadas o escravo africano inexistiu sendo esse um consenso entre os historiadores a pouca import ncia que teria tido o escravo na sua forma o Avaliavam ser o homem e aqui era de fato o homem pois as 18 No Dicion rio Brasileiro da L ngua Portuguesa de 1875 de Joaquim de Macedo Soares poss vel ler a seguinte defini o banzar estar pensativo sobre qualquer caso triste sem saber de qu sofrer do spleen dos ingleses tristeza e apatia simult nea sofrer de nostalgia como os negros da Costa quando vinham para c e ainda depois de c estarem Dispon vel em http www revistadehistoria com br secao artigos Acesso em 22 abr 2013 37 mulheres ainda assim como os escravos n o haviam sido consideradas na
272. nvic es de Jos de Souza Martins 2004 sobre aquele meio O campo mais que uma concentra o espacial geogr fica o cen rio de uma s rie de lutas e movimentos sociais o ponto de partida para uma s rie de reflexos sociais um espa o culturalmente pr prio detentor de tradi es m sticas e costumes singulares ainda um espa o com dimens es temporais independentes do calend rio convencional civil Enfim o homem e a mulher do campo s o sujeitos historicamente constru dos a partir de determinadas s nteses sociais que s o espec ficas de dimens es diferentes da urbana MARTINS 2004 p 76 Essa participa o na luta por pol ticas p blicas estreita suas rela es com a sociedade pois passa a fazer a discuss o junto com a mesma buscando algo que ser til para a comunidade a qual historicamente sofre com a falta de pol ticas educacionais De acordo com Nunes 2006 p 152 propor diretrizes para viabilizar a implementa o da Lei 10 639 2003 na educa o quilombola um exerc cio de buscar os conceitos n o apenas em sua forma te rica mas na expectativa de que eles solidifiguem uma proposta pol tico pedag gica que possibilite a educa o das rela es tnico raciais 176 A escola deve propor um novo olhar e passar a ser vista como um tempo e um local fundamental no processo de forma o romper com suas limita es e barreiras culturais numa integra o sob todos os aspect
273. o Teremos ent o nossas senzalas feitores tronco nossas casas grandes e nelas frente a frente o senhor e o escravo Pode se dizer que o limite da jornada de trabalho na charqueada era a resist ncia f sica do escravo A viol ncia na charqueada era extrema o escravo mau trabalhador era na maioria das vezes castigado e torturado Era um modo de coer o muito eficiente para os senhores das charqueadas DACANAL amp GONZAGA 1979 p 78 Apesar de haver no Rio Grande do Sul antes mesmo das charqueadas vastos campos com muito gado arredio esta nova atividade industrial tamb m vai concorrer para o surgimento de grandes est ncias 2 Tropeiros vicentinos tomam o rumo do sul em busca desses animais por sua valorizada carne na alimenta o especialmente da popula o na regi o sudeste do Brasil e de seu produto secund rio o couro Muitos destes tropeiros se fixam surgindo as primeiras est ncias os primeiros povoados no in cio do s culo XVIII Essa ocupa o que Criat rias denominadas est ncias tamb m chamados fazendas no hemisf rio norte do Estado surgiram a partir da exist ncia de pastagens qualificadas povoadas por rebanhos de gado xucro remanescente do empreendimento jesu ta Em estudo sobre a estrutura agr ria e ocupacional do Rio Grande no primeiro s culo de exist ncia a historiadora Helen Os rio afirma que a palavra est ncia n o designava grandes propriedades nem era sin nimo de gr
274. o Comit Gestor ser considerada presta o de servi o p blico relevante n o remunerada Art 20 Para os fins de pol tica agr cola e agr ria os remanescentes das comunidades dos quilombos receber o dos rg os competentes tratamento preferencial assist ncia t cnica e linhas especiais de financiamento destinados realiza o de suas atividades produtivas e de infraestrutura Art 21 As disposi es contidas neste Decreto incidem sobre os procedimentos administrativos de reconhecimento em andamento em qualquer fase em que se encontrem Par grafo nico A Funda o Cultural Palmares e o INCRA estabelecer o regras de transi o para a transfer ncia dos processos administrativos e judiciais anteriores publica o deste Decreto Art 22 A expedi o do t tulo e o registro cadastral a ser procedido pelo INCRA far se o sem nus de qualquer esp cie independentemente do tamanho da rea Par grafo nico O INCRA realizar o registro cadastral dos im veis titulados em favor dos remanescentes das comunidades dos quilombos em formul rios espec ficos que respeitem suas caracter sticas econ micas e culturais Art 23 As despesas decorrentes da aplica o das disposi es contidas neste Decreto correr o conta das dota es or ament rias consignadas na lei or ament ria anual para tal finalidade observados os limites de movimenta o e empenho e de pagamento Art 24 Este Decreto entra em vigor na da
275. o circunscritos a uma rea definida 4 8 Parentesco Proximal prefer ncia nas alian as matrimoniais na Morma a Os moradores da comunidade Morma a tamb m tendem endogamia como preferencial nas alian as matrimoniais As uni es ocorrem no grau de parentesco estabelecido entre primos primos irm os tio e sobrinha e em graus mais distantes por m dentro do mesmo grupo familiar Da mesma forma que as rela es de 147 compadrio estabelecidas pelo conv vio religioso especialmente nas pr ticas cat licas de batismo crisma apadrinhamentos de matrim nios gera la os de identifica o e proximidade Esta condi o vai propiciar mais adiante uni es conjugais entre esses filhos afilhados e compadres que representam uma amplia o e consolida o de contatos expandindo la os de solidariedade e afeto As uni es se d o entre pessoas negras e n o negras de ambas as comunidades e outras pr ximas dali O parentesco est na base da organiza o social de grupos tnicos descendentes de africanos na maioria das comunidades remanescentes brasileiras tamb m assim nas comunidades de Arvinha e Morma a atuando geralmente como aglutinador dos integrantes de um territ rio negro Na ocorr ncia das uni es conjugais particularmente na Comunidade Morma a temos percebido os homens em sua maioria serem incorporados fam lia da mulher refor ando os la os de solidariedade interna do grupo Esse aceite na nova resid n
276. o da Hist ria da frica nos curr culos escolares discutir o papel da professora e do professor na descoloniza o do ensino e considerar a aprendizagem pela pr tica cultural como elementos importantes para o sucesso do processo de ensino aprendizagem da popula o negra A partir das reivindica es da inclus o da hist ria e cultura afro brasileira nos curr culos escolares o Movimento Negro problematizou a exist ncia de valores e pr ticas discriminat rias na escola principalmente quando essa institui o nega a exist ncia da diferen a em seus dom nios O in cio do s culo XXI marcado pela transforma o ainda que lenta das antigas reivindica es das entidades negras em pol ticas p blicas SILVA C 2009 p 18 A promulga o da Lei n 10 639 em 9 de janeiro de 2003 no mbito educacional uma conquista hist rica do Movimento Negro Brasileiro Projeto de Lei de autoria da Deputada Esther Grossi e do Deputado Ben Hur Ferreira apresentado na C mara dos Deputados em 11 de mar o de 1999 aprovado e remetido ao Senado no dia 05 de abril de 2002 O seu sancionamento foi 164 uma das primeiras iniciativas do governo do presidente Luiz In cio Lula da Silva em 09 de janeiro de 20032 Altera a Lei n 9 394 1996 de Diretrizes e Bases da Educa o Nacional LDB criando dois novos artigos e tornando obrigat ria a inclus o da tem tica Hist ria e Cultura Afro Brasileira no curr culo oficial de ensino Fica
277. o da d diva se d entre amigos entre vizinhos entre parentes sob a forma de presentes de servi os e de hospitalidade enquanto que na sociedade moderna ela vai circular tamb m entre desconhecidos doa es de sangue de rg os filantropia doa es humanit rias benevol ncia e outras formas A d diva se baseia na d vida que pode ser positiva ou negativa N o uma no o cont bil um estado no qual cada um considera que em termos gerais recebe mais do que d SILVEIRA 2010 p 24 A moral do dever n o se aplica d diva segundo Godbout 1998a Os membros de um sistema de d diva possuem uma rela o muito particular com as regras Antes de tudo as regras devem estar impl citas Portanto a liberdade na d diva n o do mesmo tipo da gerada no mercado ou na socioeconomia A liberdade n o se realiza na liquida o da d vida e n o consiste em gerar condi es que facilitem a sa da da rela o mas consiste em tornar o pr prio la o mais livre multiplicando os rituais que visam diminuir para o outro o peso da obriga o da rela o A d diva um jogo constante entre liberdade e obriga o A maior parte 103 das caracter sticas da d diva torna se compreens vel quando interpretadas segundo o princ pio da liberdade dos atores 3 4 A reciprocidade estabelecendo simetrias Mauss 1974 identifica nas presta es totais das sociedades antigas ou primitivas uma forma de rela o que ele chama de
278. o e de outro a comunidade de remanescentes expropriados de sua terra expropriados do direito cidadania Moradores mais antigos ainda descrevem por estarem guardadas na mem ria imagens daqueles territ rios A lembran a n tida arquivada de uma era Em contato 19 de maio de 2014 com a Coordena o de Projetos Especiais Regulariza o do Territ rio Quilombola da Superintend ncia do INCRA no Rio Grande do Sul foi informado que toda a documenta o das duas comunidades est na sede do Instituto em Bras lia em processo de finaliza o das an lises das contesta es 212 n o t o distante mostra a altera o do ambiente que possivelmente seus antepassados utilizavam como espa o de sobreviv ncia em seus cultivos cria es ou ainda quando jovens contemplavam aquela exuber ncia pintada natural uma den ncia inscrita no horizonte do avan o sobre o territ rio da comunidade Ceifados foram daquele espa o de viv ncia e de sociabilidade A manuten o dos atuais territ rios e a luta para anexar reas originais tem como um dos alicerces o estabelecimento de rela es de parentesco compadrio e de amizade que continuamente vieram fazer parte dos contextos sociais de Arvinha e Morma a Essas rela es espont neas e por vezes arranjadas se transformaram em a es educativas verdadeiros atos de ensino e de aprendizagem que v o intrinsecamente tornando se participantes do cotidiano de sobr
279. o e define a heran a permeando todas as 131 pr ticas de produ o e reprodu o Ser em torno da fam lia que se dar o as preocupa es e tomada de decis es e em torno da fam lia nuclear extensa ou ancestral que se estabelecem as rela es de reciprocidade Para as comunidades quilombolas as fam lias de hoje constituem a representa o da ancestralidade africana ou da grande fam lia original em seu territ rio A ascend ncia comum afirma os tra os da identidade quilombola criada por estes grupos e garante o direito ao territ rio Por meio do trabalho na terra a ancestralidade quilombola imprimiu suas marcas e produziu o territ rio patrim nio que deve ser transmitido s gera es seguintes reafirmando a mem ria do grupo Pode se ent o perceber a import ncia da mem ria na afirma o do territ rio atrav s da identifica o das redes de parentesco ascendentes e descendentes como destaca Ellen Woortmann Pode haver um pequeno n mero de gera es presentes no grupo local o que afinal sempre acontece por raz es demogr ficas mas a mem ria de parentesco pode ser longa alcan ando v rias gera es ascendentes como crit rio de reconhecimento de parentesco WOORTMANN E 1995 p 59 Na compreens o de Simone Ferreira 2006 p 67 a mem ria de parentesco se constitui elemento caracter stico da campesinidade e afirma o territ rio quilombola Concretizando tra os de campesin
280. o relato da lideran a Para melhor elucidar descreveremos algumas ofertas de trabalhos para os negros e brancos pobres na informalidade Nas rela es de trabalho onde se buscava a m o de obra quilombola agricultores produtores de frango os contratavam para fazer o carregamento de frangos de corte que posteriormente iriam aos frigor ficos para o abate Esses trabalhadores iam p ou na carroceria de caminh o at as propriedades geralmente os carregamentos eram noite morria menos frango iniciavam em torno da meia noite N is chegava onze meia noite come ava a carrega ali por duas hora da madrugada tinha um sandu che de lanche e um suco mais o servi o n o parava uns comia os outro trabalhava la at por cinco e meia s veiz seis da manh No final n is levava de pagamento quatro ou cinco frango n o levava dinheiro E M 56 trabalhador da Morma a outubro 2012 O estabelecimento de rela es trabalhistas injustas demonstram assimetrias caracterizadas por interesses conflitantes Pudemos ouvir esse e outros relatos na contrata o de for a de trabalho barato Na regi o da comunidade da Arvinha munic pio de Coxilha diversas empresas agr colas s o produtoras de sementes e possuem estruturas para armazenagem de gr os Nessas em determinadas pocas necess rio muita m o de obra seja para a quebra do pend o do milho semente para o arranquio de in os em
281. ociais nestas ltimas d cadas 5 4 Os Diversos Espa os Educativos em Arvinha e Morma a No meio rural brasileiro tend ncia que j ocorreu em quase todos os pa ses europeus em todas as regi es dos Estados Unidos e nos ltimos 40 anos em parte dos pa ses sul americanos tem diminu do significativamente a popula o do campo em alguns locais habitam apenas de 6 a 7 de sua popula o realidade cujos reflexos s o bem conhecidos de todos Felizmente ainda ocupam o campo popula es tradicionais nas cinco regi es brasileiras e a categoria dos agricultores familiares que respondem aproximadamente por 70 da produ o de alimentos para o consumo interno Outra parte do territ rio se ocupa por reservas nacionais e estaduais latif ndios reas para pecu ria e agricultura empresarial e pelas cidades os aglomerados urbanos As Comunidades Remanescentes dos Quilombos Arvinha e Morma a como historiadas na introdu o desta tese se situam na rea rural dos munic pios de Coxilha e Sert o no planalto m dio do Rio Grande do Sul Como a geografia dessa regi o formada em sua maioria por planaltos e coxilhas prop cia para a atividade agr cola de cultivos de cereais de inverno e ver o al m de pastagens para cria o de gado leiteiro est ocupada pela agricultura familiar e pela agricultura empresarial constitui por m um rural pouco habitado Parte dos agricultores mora nas cidades o que tamb m motivou que as
282. oletividade e do territ rio e como pr tica de liberta o Ao mesmo tempo em que o sistema formal os exclui por v rios mecanismos os quilombolas ali buscam alternativas de sobreviv ncia coletiva Percebe se que as disputas estabelecidas n o s o apenas pelo espa o f sico mas passa por um campo ideol gico no modo como as pr ticas se integram no todo do sistema de reciprocidade territorialmente fundado que a especificidade do grupo se manifesta ANJOS et al 2008 p 175 176 apud SILVA G 2006 p 7 Assim desterritorializar as pessoas uma das faces da armadilha do racismo para negar e diminuir a cultura daquele povo e em seguida domin lo A Eixo 1 Acesso a Terra execu o e acompanhamento dos tr mites necess rios para a regulariza o fundi ria das reas de quilombo que constituem t tulo coletivo de posse das terras tradicionalmente ocupadas O processo se inicia com a certifica o das comunidades e se encerra na titula o que a base para a implementa o de alternativas de desenvolvimento para as comunidades al m de garantir a sua reprodu o f sica social e cultural Eixo 2 Infraestrutura e Qualidade de Vida consolida o de mecanismos efetivos para destina o de obras de infraestrutura habita o saneamento eletrifica o comunica o e vias de acesso e constru o de equipamentos sociais destinados a atender as demandas notadamente as de sa de educa o e assist ncia
283. omo v m atuando e 53 Trabalho de Campo realizado nas comunidades quilombolas Picada Torr o e Monjolo munic pio de S o Louren o do Sul A declara o est registrada no Relat rio Processos educativos de viver e produzir em comunidade o modo de buscar recursos de sobreviv ncia naquele lugar S o Louren o do Sul 2012 p 8 e 11 81 como t m pautado suas a es temos percebido que a integra o entre os moradores das Comunidades e tamb m entre as lideran as comunit rias parece ser pontual N o h exatamente uma a o coordenada com objetivos definidos e metas a serem alcan adas Os pleitos dos grupos t m sido reivindicados isoladamente com isso tornando os fr geis perante o contexto externo que majoritariamente contr rio a seus anseios especialmente a demarca o de seus territ rios e das pol ticas p blicas propostas pelo Estado Rever essa intera o nesse momento de suma import ncia pois ao considerar la os que os identifiquem elegendo quest es comuns o caminho a ser trilhado deve ser nico as reivindica es conjuntas certamente os tornam mais fortes e cria possibilidades reais de alcance s pretens es 3 TERRIT RIO TERRITORIALIDADE CAMPO F RTIL PARA UM COTIDIANO BASEADO NA SIMBOLOGIA DA D DIVA E RECIPROCIDADE Este cap tulo tratar do territ rio e da territorialidade que uma quest o bastante importante nesse momento para essas comunidades H busca de afirma es
284. omunidade foi encolhendo T como a terra diminuiu tamb m reduziu o trabalho na lavoura Depois que comecemo a lutar pela nossa terra os agricultor n o deram mais servi o pra n is antes a gente ro ava capoeira restevava milho que ficava nas lavora depois de colherem hoje n o deixam mais N o arrendam terra nem querem trabalho em parceria com os Quilombola Os homens tivera que procurar servi o fora daqui v o pras colheita de ma em Vacaria e Fraiburgo em Santa Catarina safra da uva em Caxias outros v o carregar frango nos caminh o em avi rios da regi o e outros de diarista na cidade ou sem servi o Algumas mulheres foram trabalhar nas casa na cidade L R 31 abril de 2008 Um territ rio reduzido uma terra com baixa fertilidade sem recursos para recuper la e adquirir insumos fez com que as atividades agropecu rias diminu ssem tornando o trabalho externo como diarista e as aposentadorias as principais fontes de renda Mesmo assim chama aten o tamb m como processo educativo a persist ncia da agrobiodiversidade nos pequenos quintais e terrenos com pr ticas de cultivo e preserva o de alguns tipos de sementes distintas do entorno Isso se reverte para padr es alimentares que prezam o que produzido no interior dos dom nios familiares refor ando princ pios de autonomia expressos na recorrente presen a do pil o RUBERT 2005 p 131 Especificamente no caso
285. on vel em http www scielo br scielo php script sci nlinks amp ref 000076 amp pid S0104 026X2008000300016000098Ing en SANTOS Joc li Domanski Gomes dos A Lei 10 639 03 e a import ncia de sua implementa o na educa o b sica Curitiba Secretaria de Educa o do Estado do Paran 2010 Dispon vel em http www nre seed pr gov br uniaodavitoria arquivos Acesso em 29 nov 2013 SANTOS Juc lia Bispo dos Territ rio Direito e Identidade uma an lise da comunidade quilombola da Olaria em Irar Bahia Ant teses vol 3 n 5 jan jun de 2010 p 221 245 Dispon vel em http wnww uel br revistas uel index php antiteses Acesso em 18 out 2013 SANTOS Milton Territ rio e Sociedade S o Paulo Editora Funda o Perseu Abramo 2000 T cnica espa o e tempo globaliza o e meio t cnico cientifico informacional S o Paulo Hucitec 1996 SANTOS Sherol dos Territ rios tnicos no p s aboli o O caso do Quilombo da Morma a RS Revista Fronteiras Dourados MS V 11 N 19 p 127 141 Jan Jun 2009 SANTOS Sherol dos et al Comunidade remanescente Quilombo da Morma a hist ria cotidiano e territorialidade Relat rio antropol gico de caracteriza o hist rica econ mica e sociocultural de territ rios quilombolas luz da instru o normativa 20 2005 INCRA apresentado ao INCRA RS em janeiro de 2007 SILVA Claudilene O processo de implementa o da lei 10 639 03 na rede municipal
286. oneiro do Rio Grande do Sul que em sua can o desejando saber o que aconteceu com essa terra procura respostas Ser que foi o progresso Culpado deste descaso Ou se a vida sem regresso Chega ao fim t o triste o caso A realidade amarga N o tr s a paz aos caminhos E o louco ao findar tarde Fala canta e ri sozinho Fala canta e ri sozinho O louco Cenair Maic 1985 5 4 1 O Entorno Ambiental O conhecimento produzido principalmente em espa os n o escolarizados tem import ncia peculiar s comunidades remanescentes quando a preocupa o se d para a ocupa o daqueles espa os a partir de um desenvolvimento ambiental sustent vel A manuten o desses grupos com seus costumes e saberes em seu ambiente passa necessariamente por discuss es socioambientais que envolva tica e cidadania Neste sentido a Educa o Ambiental tem papel fundamental na promo o de debates em toda a sociedade e na cria o de mecanismos que estruturem e sustentem a organiza o da comunidade para a luta do direito ao territ rio a um 179 ambiente saud vel e manuten o das caracter sticas culturais garantindo a sustentabilidade do ambiente e consequentemente da popula o A sele o desses mecanismos passa pelo conhecimento que traz consigo cada homem e cada mulher de Arvinha e Morma a Qualquer interven o que se faz necess ria nessa natureza deve ser compreendida em sua integralidade con
287. onhecimento de sua etnicidade na legisla o p s Constitui o Federal de 1988 fez perceber que poss vel essa luta que realmente devem ter reconhecidos seus direitos e sua hist ria Esses sujeitos j n o querem mais assumir uma postura passiva diante deste trilhar As pessoas que moram nessas comunidades sonham com a transforma o do lugar com disponibilidade e acesso a todos os servi os que s o direitos dos cidad os brasileiros 151 Desta forma lideran as comunit rias e representantes das associa es dos remanescentes v m se articulando com as representa es do pr prio segmento com os diversos agentes e institui es p blicas privadas e do terceiro setor para que o reconhecimento de seus territ rios e os processos que t m surgindo de novas comunidades remanescentes de quilombo tenham andamento e especialmente que haja vontade pol tica dos gestores p blicos municipais estaduais e da esfera federal nas discuss es e em prover os meios para uma solu o em definitivo 5 PROCESSOS EDUCATIVOS N O ESCOLARIZADOS ENSINAR E APRENDER n s educadores pertencemos a uma tradi o pedag gica que sabe tratar com igualdades e n o com diferen as e quando nos deparamos com estas pensamos que o pedag gico super las exigindo de todos a mesma trajet ria educativa ARROYO 1995 p 19 No norte do Estado do Rio Grande do Sul as regi es Planalto M dio e Alto Uruguai al m das duas comunidades r
288. ontar o com a participa o do Grupo T cnico interdisciplinar nomeado pela Superintend ncia Regional do INCRA para apresenta o dos trabalhos e procedimentos que ser o adotados Art 9 A identifica o dos limites das terras das comunidades remanescentes de quilombos a que se refere o artigo 4 a ser feita a partir de indica es da pr pria comunidade bem como a partir de estudos t cnicos e cient ficos inclusive relat rios antropol gicos consistir na caracteriza o espacial econ mica e s cio cultural do territ rio ocupado pela comunidade mediante Relat rio T cnico de Identifica o e Delimita o com elabora o a cargo da Divis o T cnica da Superintend ncia Regional do INCRA que o remeter ap s conclu do ao Superintendente Regional para decis o e encaminhamentos subsequentes 239 Art 10 O Relat rio T cnico de Identifica o e Delimita o ser feito por etapas abordando informa es cartogr ficas fundi rias agron micas ecol gicas geogr ficas socioecon micas hist ricas e antropol gicas obtidas em campo e junto a institui es p blicas e privadas e compor se das seguintes pe as relat rio antropol gico de caracteriza o hist rica econ mica e s cio cultural do territ rio quilombola identificado devendo conter a descri o e informa es sobre a as terras e as edifica es que englobem os espa os de moradia b as terras utilizadas para a garantia da rep
289. or Deus Se loucura se verdade tanto horror perante os c us Dize tu severa Musa Musa lib rrima audaz S o os filhos do deserto onde a terra esposa a luz Onde vive em campo aberto tribo dos homens nus S o os guerreiros ousados que com os tigres mosqueados Combatem na solid o Ontem simples fortes bravos Hoje m seros escravos sem luz sem ar sem raz o S o mulheres desgra adas como Agar o foi tamb m Que sedentas alquebradas de longe bem longe v m Trazendo com t bios passos filhos e algemas nos bra os N alma l grimas e fel como Agar sofrendo tanto Que nem o leite de pranto t m que dar para Ismael 2 2 As Comunidades Remanescentes dos Quilombos As comunidades quilombolas de Arvinha e Morma a t m suas hist rias marcadas por semelhan as que em determinados momentos distanciam se e em outros se aproximam fig 03 Semelhan as na origem e na forma de condu o quando duas mulheres com mpeto de luta e sobreviv ncia desafiaram a normalidade recostaram se com suas fam lias numa regi o abrigada por grandes florestas de arauc rias e outras esp cies da mata atl ntica margeadas por sangas e 21 4 Dispon vel em http www biblio com br defaultz asp link http www biblio com br conteudo CastroAlves navionegreiro h tm Acesso em 24 abr 2013 42 riachos do planalto m dio ga cho Essa geografia local serviria de abrigo e sobreviv ncia s fa
290. oresta de seu territ rio de seu ch o ele realmente nativo O hau acompanha todo o detentor MAUSS 1974 p 199 101 sup e duas outras igualmente importantes obriga o de dar de um lado obriga o de receber de outro Genauto Carvalho de Fran a Filho 2009 na an lise que faz sobre a concep o maussiana da d diva externa diferen a entre a rela o mercantil e a d diva baseadas no trip valor de troca valor de uso e valor de rela o la o social Anti utilit rio anti acumulador anti equivalente a d diva n o portanto redut vel a uma rela o mercantil Os objetos doados aceitos e devolvidos n o se trocam nem porque s o teis nem em raz o da sua equival ncia monet ria mas porque significam simbolicamente a vontade de construir rela o Enquanto na rela o mercantil o bem conta mais que a rela o na d diva a rela o conta mais que o bem ela est mesmo a servi o da rela o a d diva possui valor de rela o Godbout J em colabora o com A Caill 1998a Assim sendo o que est em jogo na d diva nem o valor de uso que se mede pela utilidade dos bens a satisfazerem nossas necessidades nem o valor de troca resultado da confronta o entre oferta e demanda de um bem num mercado o pre o como medida de valor mas sim o valor das pessoas Os objetos intercambiados n o t m pre o sen o aquele a priori indeterminado da honra e da grandeza d
291. ormal o di logo pedag gico necess rio em comunidades remanescentes de quilombos In BRAGA Maria L cia de Santana et ali organizadoras Dimens es da inclus o no ensino m dio mercado de trabalho religiosidade e educa o quilombola Bras lia Minist rio da Educa o Secretaria de Educa o Continuada Alfabetiza o e Diversidade 2006b ISBN 85 296 0040 1 364 p Dispon vel em http Awnww unesco org new en unesco resources online materials publications unesdoc 0014 001463 146328 OLIVEIRA Heron Lisboa Quilombo da Morma a em busca do territ rio uma luta das mulheres negras In IX Semin rio de pesquisa em educa o da regi o sul IX ANPEDSUL 2012 anais Caxias do Sul RS 2012 Processos educativos de viver e produzir em comunidade o modo de buscar recursos de sobreviv ncia naquele lugar Relat rio out de 2012 apresentado ao Programa de P s Gradua o em Educa o ProEx Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos S o Leopoldo RS Educa o sexista uma quest o de g nero na institui o de ensino agr cola Tesis Doctorado en Ciencias de La Educacion Facultad de Estudios de Postgrado Universidad Del Norte UNINORTE Asunci n Paraguay 2006 OLIVEIRA Iris M MISTURINI Olavo S Orgs Atlas hist rico geogr fico munic pio de Sert o RS Prefeitura Municipal de Sert o Sec Mun da Educa o Sert o RS 1996 OLIVEIRA Roberto Cardoso de 1998 O traba
292. os rela es de parentesco solidificaram a rela o entre indiv duos que vivenciaram a experi ncia da escravid o Em trabalho de campo que realizamos em mar o de 2014 pudemos dialogar com a senhora octogen ria Terezinha Trindade dos Santos neta de Deolinda e Gomercindo Vieira da Cruz este tamb m escravo era irm o de Francisca Vieira Nessa rela o de parentesco chamam Dona Terezinha de sobrinha neta de Francisca Lembro de outro irm o da V Chica l na Vila Tio Manuel Mudamo de l eu tinha uns 15 ou 14 ano saimo mora pr fora com meu pai Jo o Ant nio dos Santos e a m e Maria Trindade que era sobrinha da V Chica A tia morreu l por 1950 1960 T T mar o de 2014 52 Esta passagem designa tamb m a posi o que Francisca Vieira ocupava ou viera a ocupar nos rumos da comunidade Morma a como sua l der descendente da mastrilinearidade de Firmina Vieira Estabelecendo uma descend ncia baseada em la os de parentesco e compadrio al m de um relacionamento ora em simetria e mais tarde em sua maior parte de maneira assim trica com o entorno 2 3 Matrifocalidade e Matrilinearidade na Forma o das Rela es de Parentesco Nos levantamentos documentais hist ricos e nos relatos orais que tivemos oportunidade de registrar est muito presente no pensamento daquelas pessoas que suas origens e das comunidades deve se ao protagonismo de duas mulheres negras escravas que formaram com suas fam lias o em
293. os com as comunidades uma vez que parte da constru o do conhecimento ocorre nas rela es e viv ncias cotidianas dentro de seu territ rio A aquisi o e socializa o do conhecimento t m garantido a essas comunidades sua reprodu o como grupo tnico capacidade de luta e resist ncia na manuten o e conquista de seus territ rios Carlos Brand o 2007 contribui com esta discuss o quando afirma que a educa o adquirida no espa o escolarizado sempre coexistiu com a educa o n o escolarizada O autor ilustra esta informa o citando o exemplo da educa o familiar n o escolarizada que na maioria das vezes suporte importante para o sucesso do indiv duo na educa o escolarizada As rela es assim tricas estabelecidas diretamente com parte da vizinhan a do entorno e indiretamente com organismos da sociedade contr rios aos desejos das comunidades fortaleceram esses povos para a pr tica de luta coletiva na busca e efetiva o de seus direitos Em paralelo s lutas sociais a produ o do saber para os remanescentes est associada s rela es estabelecidas com outros grupos por m a forma o interna que se reveste de maior import ncia As atividades peculiares do meio rural espa o das comunidades tamb m definem o modo de vida desta popula o e consolidam o processo educativo informal permitindo lhes adquirir um vasto conhecimento das caracter sticas desse ambiente garantindo a sua sobreviv nci
294. os devido Lei dos Sexagen rios de autoria de Rui Barbosa que libertou em 1885 todos os negros maiores de 65 anos de idade e que estabeleceu que os escravos maiores de 60 anos e menores de 65 estariam livres mas sujeitos presta o de servi os por 3 anos devido aboli o da escravid o em 1886 no Cear e no Amazonas e devido a cartas de alforria dadas por propriet rios de escravos Assim na primeira matr cula de escravos encerrada em 1872 haviam sido registrados 1 600 000 escravos e na ltima matr cula geral de escravos encerrada em 30 de mar o de 1887 havia 720 000 Dispon vel em http www historiabrasileira com escravidao no brasil lei aurea Acessado em 1 nov 2012 64 etnog nese para designar os diferentes processos sociais protagonizados por estes com diferentes distin es dentro do processo de desenvolvimento e por possu rem um patrim nio material e imaterial diferenciado caracterizando os como grupo tnico remanescentes de quilombos 2 4 1 Instrumentos Jur dico administrativos na Regulariza o dos Territ rios A efervesc ncia dos debates nos diversos segmentos da sociedade brasileira os quais se deram ap s a abertura pol tica atrav s da conhecida anistia pol tica e em seguida nos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte com o intuito de escrever uma nova Carta Nacional talvez tenham sido fatos decisivos para que a popula o como um todo percebesse qu o grande e
295. os e folhas e terem ofertados seus dons curando diversos males daqueles moradores crian as e adultos e outros de fora da comunidade Dons dos benzimentos que remontam terra e s ervas RAMOS 2009 p 68 Encerra ent o a d diva um princ pio educativo s o atos de ensinar e aprender rela es humanas espont neas 3 6 Rela es Sim tricas e Assim tricas de Arvinha e Morma a com o entorno Entre os moradores das comunidades de Arvinha e Morma a as a es s o orientadas por uma racionalidade espec fica que articuladas configuram um sistema de d diva Percebe se por m diferen as nas rela es sociais estabelecidas por membros do grupo a d diva n o est presente da mesma forma Ocorrem regimes de a o diferenciados entre os que pertencem comunidade e os que n o pertencem Nas caminhadas que fizemos e na parada pro mate com frequ ncia se ouvia a express o os de dentro e os de fora Inicialmente entendi que os de 111 fora fossem remanescentes que n o habitavam n o conviviam na comunidade Mas n o era isso os de fora est o na fronteira do territ rio s o os moradores vizinhos s o os gringos os italianos tamb m s o os representantes de agentes p blicos e privados Na Morma a os lindeiros s o pequenos agricultores cultivam soja milho trigo pastagens produzem leite e frangos de corte na Arvinha s o produtores empresariais m dias e grandes propriedade
296. os estudos e documentos apresentados pelo interessado por ocasi o do pedido de abertura do processo 8 1 Fica facultado comunidade interessada apresentar pe as t cnicas necess rias instru o do Relat rio T cnico de Identifica o e Delimita o as quais poder o ser valoradas e utilizadas pelo INCRA 8 2 O in cio dos trabalhos de campo dever ser precedido de comunica o pr via a eventuais propriet rios ou ocupantes de terras localizadas no territ rio pleiteado com anteced ncia m nima de 3 tr s dias teis PUBLICIDADE Art 11 Estando em termos o Relat rio T cnico de Identifica o e Delimita o o Superintendente Regional publicar resumo do mesmo no Di rio Oficial da Uni o e no Di rio Oficial da unidade federativa acompanhado de memorial descritivo e mapa da rea estudada 8 1 A publica o ser afixada na sede da prefeitura municipal onde est situado o im vel 8 2 A Superintend ncia Regional notificar os ocupantes e confinantes detentores de dom nio ou n o identificados no territ rio pleiteado informando os do prazo para apresenta o de contesta es CONSULTA A RG OS E ENTIDADES Art 12 Concomitantemente sua publica o o Relat rio T cnico de Identifica o e Delimita o ser remetido aos rg os e entidades abaixo relacionados para no prazo comum de trinta dias apresentarem manifesta o sobre as mat rias de suas respectivas compet ncias Institu
297. outras talvez no anonimato as quais muito representaram pra mim E nesta pesquisa de tese claro n o poderia ser diferente n o fazemos nada sozinhos nada que n o seja em fun o de algu m ou daquilo em que acreditamos Ent o leg timo escrever e agradecer o quanto essas pessoas e acontecimentos foram para mim importantes Inicialmente agrade o a Deus For a e F s pessoas das Comunidades Quilombolas de Arvinha e da Morma a que sempre me acolheram com entusiasmo e alegria que lhes s o peculiares pelas aprendizagens que constru ram e pelos di logos que tivemos e que prontamente ofertaram Sem a confian a e colabora o de Voc s esta pesquisa n o teria sido concretizada Sempre serei grato professora Edla Eggert orientadora desta tese pela confian a que depositou neste trabalho esteve sempre com acuidade intelectual pronta a me atender e ouvir Aos professores banca desta tese Prof Georgina Helena Lima Nunes UFPel Prof Jos Carlos Gomes dos Anjos UFRGS Prof Telmo Adams UNISINOS e Prof Danilo Romeu Streck UNISINOS pelas an lises cuidadosas e contribui es indicando caminhos a esta tese Ao Programa de P s Gradua o em Educa o desta Universidade representado pelos Professores as Coordena o e Secret rias pela sempre acolhida respeito e o repartir de suas experi ncias conosco e com nossa turma do IFRS Reitoria do Instituto Federal do Rio Grande do
298. outros significados tem outras utilidades possibilidades Local de encontros e reuni es comunit rias celebra es religiosas espa o de trabalho para uma diversidade de profiss es refer ncia como parada de nibus abrigo enfim um grande n mero de utiliza es mas ainda espa o de ensino e aprendizagem Essa uma imagem a que costumamos presenciar desde o in cio de nossas escolaridades institucionalizadas Tamb m real que no passado e ainda hoje em alguns lugares ela ainda n o est l ou precisamente no local onde deveria estar Nas comunidades long nquas nas comunidades de remanescentes quilombolas por exemplo ela ainda n o ocupou seu espa o Aguardam uma escola que fale da vida das pessoas das realidades das diversidades suas e de outros de sua cultura de seus conhecimentos A que hoje l existe fala de muitas coisas do nacional do estrangeiro da economia da guerra do urbano mas n o do essencial do local Carlos Brand o 2007 em seu conhecido O que educa o nos traz um trecho da carta que um dos chefes ind genas das Seis Na es envia ao grande chefe branco das col nias do norte Virg nia e Maryland EUA declinando do convite recebido que por sua vez faz lhe a mesma oferta 155 N s estamos convencidos portanto que os senhores desejam o bem para n s e agradecemos de todo cora o Mas aqueles que s o s bios reconhecem que diferentes na es t m con
299. palmente o revolvimento de solo pelos discos do arado rasgando milh es de hectares cobertos ainda com vegeta o natural Outra consequ ncia foi um intenso desmatamento de sul a norte grandes florestas dizimadas outras esp cies vegetais e animais se viram reduzidas e ou amea adas de extin o em suma al m de uma altera o na paisagem uma altera o clim tica local e regional com efeitos bem conhecidos at os dias de hoje As popula es campesinas e urbanas tamb m foram atingidas por esse impacto Contingentes de trabalhadores e trabalhadoras rurais se evadindo dos 95 campos e de suas atividades tradicionais deixaram suas terras a caminho das cidades que sem estrutura para acomod los e nem postos suficientes de trabalho foram aumentar bols es populacionais nas periferias As comunidades rurais vamos assim dizer nativas que historicamente viviam ocupando reas mais extensas como as ind genas e as quilombolas tamb m foram afetadas Viram seus espa os invadidos usurpados povos amea ados de morte e mortos lideran as assassinadas modificando suas hist rias e cultura afetando profundamente sua sobreviv ncia e continuidade das gera es As comunidades remanescentes de Arvinha e Morma a nosso campo emp rico da mesma maneira e pelos mesmos motivos viram alteradas condi es que h dezenas de anos permaneciam imut veis Espa os h muito utilizados terras com plantios e cria es fontes d
300. para o termo quilombo Como exemplo na Argentina se utiliza significando casa de toler ncia prost bulo lux ria ou desordem Conforme pesquisa a acep o de desordem ligada a quilombo n o deixa de ser na origem da palavra a quebra de uma ordem associada sociedade escravocrata A ideia de quilombo como desordem captada por uma sociedade que tem a ordem patriarcal estabelecida no caso a portuguesa e que busca a continuidade de uma rela o de domina o e em consequ ncia a ideia de quilombo como desordem tendo em vista que desordem para o homem branco dominador seria tudo aquilo que lhe tirasse seu poder de conquista Quilombo para um negro nunca seria desordem e sim espa o de representa o da liberdade e possibilidade de luta contra o dominador PA Conven o 169 sobre Povos Ind genas e Tribais em Pa ses Independentes da Organiza o Internacional do Trabalho OIT aprovada em 1989 durante sua 762 Confer ncia o instrumento internacional vinculante mais antigo que trata especificamente dos direitos dos povos ind genas e tribais no mundo Depois de quase 20 anos de sua aprova o a OIT vem acumulando experi ncias na implementa o dos direitos reconhecidos a esses povos sobre as mais diversas mat rias tais com o direito de autonomia e controle de suas pr prias institui es formas de vida e desenvolvimento econ mico propriedade da terra e de recursos naturais tratamento penal e ass dio sexual Dispon vel em Attp p
301. parentesco e do compadrio alinhavadas entre as gera es 1 1 Indica o do Problema e Objetivos As comunidades em que estamos desenvolvendo esta pesquisa s o as de Remanescentes Quilombolas da Morma a e de Arvinha localizadas nos munic pios de Sert o e Coxilha ao norte do Estado do Rio Grande do Sul Primeiramente de uma forma muito espor dica pelo fato de trabalhar como docente no Instituto Federal de Educa o Ci ncia e Tecnologia IFRS Campus Sert o Por m num segundo momento j no curso de doutorado fui confrontado a refletir sobre a gt o quilombo enquanto categoria hist rica det m um significado relevante localizado no tempo e na atualidade objeto de uma reinterpreta o jur dica quando empregado para legitimar reivindica es pelo territ rio dos ancestrais por parte dos denominados remanescentes de quilombos A reatualiza o do termo ocorre a partir da d cada de 1980 como resultado das mobiliza es de grupos rurais do movimento negro e de entidades de apoio s lutas pelo reconhecimento jur dico das terras de antiga ocupa o A inser o do art 68 do Ato das Disposi es Constitucionais Transit rias ADCT na Constitui o Federal de 1988 determinando que o Estado emita os t tulos definitivos das terras ocupadas por remanescentes de quilombos veio como instrumento garantir o direito constitucional de luta pela cidadania plena reconhecendo os membros dessas comunidades rurais como um
302. perguntas o di logo sobre a invisibilidade do conhecimento produzido pelas tecel s as mulheres consideram de menor valor o que fazem no seu dia a dia e isso n o uma constata o local e sim muito pr xima das leituras que fizemos nos textos das autoras lidas P3 Express o utilizada no meio rural brasileiro mas no Sul do Brasil e aqui no Estado do RS frequentemente evocado quando se trabalha nas atividades rurais pecu rias e agr colas sob o sol chuva ou garoa neblina vento e outros fatores do intemperismo ou seja ao relento 114 b sico de prote o sa de levam para o almo o marmita com a comida j preparada em 2007 uma empresa produtora de sementes pertencente a um grupo internacional no munic pio de Coxilha foi condenada a ressarcir trabalhadores por n o oferecer condi es m nimas de trabalho equipamentos de prote o individual insalubridade descanso obrigat rio transporte inseguro de trabalhadores entre outros Nas cerealistas submetem se a um trabalho pesado e de p ssima qualidade para a sa de Num segundo momento em algumas fam lias envolvem se quase todos seus membros jovens pais e m es que deixam seus filhos aos cuidados de outros outras para aproveitarem aquele per odo de trabalho que sazonal S o atividades que outros trabalhadores n o querem fazer restando ent o aos quilombolas condi o retratada por La des Rosa na Morma a n o arren
303. periores aos homens livres Denominaram banzo para a doen a que os acometia Ainda hoje se discute o significado dessa palavra O mais aceito tem uma remota origem africana equivalendo a pensar ou meditar O termo tamb m h tempos designou uma doen a Renato Ven ncio 2003 escreve Em 1799 por exemplo Luiz Ant nio de Oliveira Mendes apresentou na Academia Real de Ci ncias de Lisboa um estudo sobre as doen as agudas e cr nicas que mais frequentemente acometem os pretos rec m tirados da frica O banzo constava entre elas Os sintomas Os escravos ficavam entristecidos paravam de falar e acima de tudo deixavam de se alimentar mesmo oferecendo se lhes afirma o m dico as melhores comidas assim do nosso trato e costume como as do seu pa s falecendo pouco tempo depois Em 1844 Joaquim Manoel de Macedo na tese m dica intitulada Considera es Sobre a Nostalgia afirma o seguinte estamos convencidos de que a espantosa mortandade que entre n s se observa nos africanos principalmente nos rec m chegados bem como de que o n mero de suic dios que entre eles se conta tem seu tanto de d vida nostalgia Aos poucos a associa o entre nostalgia e banzo se tornou popular VENANCIO 2003 p 76 Chamo a aten o para esta condi o de vida ou a de n o mais querer viver a partir de v rios relatos que pudemos presenciar nesta pesquisa bem como com o i
304. presentam os territ rios dentro do espa o Como dentro do espa o encontramos as rela es sociais pode se afirmar que as rela es sociais s o os atores principais das transforma es espaciais e territoriais As rela es sociais produzem conceitos de espa os lugares territ rios regi es e paisagens ao fazerem esta ciranda s rela es sociais s o respons veis por gerarem territ rio multifacetado Nossas vidas est o impregnadas com influ ncias provenientes de in meros outros espa os e escalas A pr pria singularidade dos lugares e dos territ rios adv m sobretudo de uma espec fica combina o de 85 influ ncias diversas que podem ser provenientes das mais diversas partes do mundo lbid p 18 As comunidades negras rurais historicamente se constitu ram atrav s e principalmente na rela o com a terra Esta rela o ocorreu de forma conflituosa em um processo de luta e resist ncia s demais formas de discrimina o e destitui o dos direitos dos negros e negras p s Aboli o Somente ap s 100 anos do t rmino oficial da escravid o os negros em situa o de vida rural tiveram o direito territorialidade reconhecida pela Constitui o Federal de 1988 atrav s do artigo 68 do Ato das Disposi es Constitucionais Transit rias A partir de ent o se inicia um movimento em todo pa s pela identifica o dessas comunidades e a busca pelo seu reconhecimento Para elas o territ rio tem um v
305. presentear alguma coisa a algu m dar algo de si o v nculo pelas coisas um v nculo pela alma Para as Comunidades de Arvinha e Morma a o modo de relacionarem se em seus cotidianos pelo princ pio da d diva constituiu se e constitui pr tica que possibilitou coes o entre os membros desses grupos o que lhes permitiu uma travessia iniciada no ajuntamento de pessoas criando aglomera es posteriormente passando forma o de uma comunidade quando hoje em per odo recente a Constitui o Brasileira vem reconhec los como remanescentes de escravos e ex escravos Tal fato revestiu se de maior import ncia aos remanescentes da Morma a Essa comunidade conseguiu resistir opress o e espolia o especialmente nesses ltimos setenta anos se considerarmos que a partir de 1950 a moderniza o da agricultura tornou desenfreada a busca por novas reas e seus territ rios foram os primeiros a sofrer esse ataque ganancioso do capital com riscos eminentes de verem seus espa os findos por relacionar entre os seus pelo princ pio da d diva A consolida o de la os de solidariedade a partir dessa racionalidade permitiu a resist ncia diante da amea a de outros grupos as suas continuidades Por outro lado se os membros da comunidade fossem movidos por uma raz o utilit ria esta resist ncia estaria impossibilitada de se concretizar poss vel que esses la os as rela es baseadas no princ pio d diva iniciado
306. quenos agricultores atingidos pela seca Esse veio nominal do Governo do Estado O Programa Rancho do Governo Federal veio por dois meses M T 58 outubro de 2012 Percebe se um problema administrativo grave medida que h relatos sobre uma n o aplicabilidade integral desses recursos em projetos das comunidades e n o simplesmente falta de comunica o considerando que os pr prios rg os de origem dos recursos os governos municipal estadual e federal se n o o fazem deveriam informar al m da Prefeitura Municipal e o escrit rio local da Emater tamb m as comunidades quilombolas ambas possuem entidade representativa e mesmo n o havendo essa uma informa o qual deve ser dada publicidade Ainda sobre a interrrela o do movimento com o contexto externo entidades p blicas privadas e organiza es do terceiro setor conforme a moradora L R T muito pequena a prefeitura municipal pouco faz a Emater aparece de vez em quando o Neabi do Campus Sert o faz tempo que n o aparece o professor Giovani diz que vinha mas n o veio mais L R 35 outubro 2012 Nessa comunidade n o se percebe projeto algum principalmente coordenado pela Emater e pela Prefeitura Municipal O grupo do Neabi trocou de coordenador neste per odo h um projeto em artesanato informado por umas das pessoas que integra o n cleo Na comunidade da Arvinha z T o contato muito pequeno com o INCRA h
307. quist lo sim para n s por demais importante Desse modo chegamos formula o do problema ao LINHARES Luiz Fernando do Ros rio 2009 Revelando os quilombos no Sul In CAPA Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor Pelotas RS 2010 apoio MDA Bras lia DF 22 Como processos educativos em seus cotidianos simbolizados na d diva e reciprocidade em atos de ensinar e aprender n o escolarizados e nas alian as de parentesco e compadrio como interface de resist ncia das comunidades de Arvinha e Morma a tentam manter e recuperar ou reconquistar seus territ rios exercendo o direito de ser e pertencer a uma coletividade 1 2 Algumas Suspeitas ou Hip teses Objetivos Geral e Espec ficos Segundo Lakatos amp Marconi 1991 uma vez formulado o problema com a certeza de ser cientificamente v lido prop e se uma resposta suposta prov vel e provis ria isto uma hip tese Ambos problema e hip tese s o enunciados de rela es entre vari veis a diferen a reside em que o problema constitui senten a interrogativa e a hip tese senten a afirmativa Desse modo cheguei a algumas hip teses A manuten o do territ rio como espa o de sobreviv ncia e reprodu o daqueles grupos e consequentemente a identidade quilombola tem sido possibilitada num processo educativo pelas rela es interpessoais apoiadas em a es de d diva e reciprocidade trocadas pelos remanescentes As aprendizage
308. quista da terra finda a escravid o poderia significar uma tentativa de preservar espa os conquistados enquanto se era escravo GOMES MOTTA 2007 p 160 Quer pensemos nos ro ados quer nas posses formalizadas ou nos arranchamentos pode se supor que a experi ncia camponesa p de ter se dado durante a escravid o A ocupa o por anos e at mesmo por gera es dessas por es de terras p de estar na origem de diversos conflitos envolvendo ex escravos e seus antigos senhores especialmente ap s 1888 Ao mesmo tempo a perda ou o 120 enfraquecimento das redes de prote o dos antigos senhores esteve na origem de diversas espolia es MOURA MELLO 2011 p Ent o levando se em conta as diversas estrat gias para a posse da terra e seu uso comum v m estas ao encontro daquilo que Alfredo Wagner B de Almeida define como sistema produtivo de uso comum Constituem se por outro lado paradoxal e concomitantemente em modalidades de apropria o da terra que se desdobraram marginalmente ao sistema econ mico dominante Emergiram enquanto artif cio de autodefesa e busca de alternativa de diferentes segmentos camponeses para assegurarem suas condi es materiais de exist ncia em conjunturas de crise econ mica tamb m cognominadas pelos historiadores de decad ncia econ mica Em diferentes situa es examinadas conforme se verificar adiante registra se que este campesinato p s plantation n o procedeu ne
309. ra Ruth Landes 2002 p 342 essas rela es encontram refer ncia na posi o das mulheres brasileiras que se apresentam como as principais controladoras dos lares e comunidades exercendo com certa autoridade seu matriarcalismo Segundo Landes esse exemplo de matrifocalidade e matrilinearidade possui ra zes hist ricas nas comunidades de terreiros sobretudo nas de culto nag de tradi o ioruba onde as mulheres s o sacerdotisas e m diuns m e uma mulher madura preparada para dirigir com independ ncia A matrifocalidade descrita por George Zarur 1976 em seu artigo Repensando o Conceito de Matrifocalidade implica num grupo de mulheres e crian as matrilateralmente relacionadas com homens mais ou menos flutuantes ao 56 redor do grupo O pai marido pode estar fisicamente presente ou absolutamente ausente mas em qualquer caso a autoridade no grupo dom stico uma caracter stica feminina Em busca de melhor caracteriza o para a maneira como Cezarina de Miranda e Francisca Vieira conduziam seus familiares e a sua descend ncia observemos Tomando para discuss o o grupo familiar da escrava Firmina Vieira m e de Francisca Vieira do Quilombo Morma a ela registra tr s dos seis filhos C ndida 1876 Gerv sio 1880 Ot lia 1884 como filhos naturais e nesse assento Firmina declarada como solteira preta escrava de Am ncio de Oliveira Cardoso Por m Firmina ao registrar seus outros tr s fil
310. ra a educa o das rela e tnico raciais e para o ensino de hist ria e cultura afro brasileira e africana Bras lia MEC 2004 Dispon vel em http portal mec gov br cne Acesso em 17 mar 2013 Lei n 10 639 de 9 de janeiro de 2003 Altera a Lei no 9 394 de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as diretrizes e bases da educa o nacional para incluir no curr culo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da tem tica Hist ria e Cultura Afro Brasileira e d outras provid ncias Di rio Oficial da Rep blica Federativa do Brasil Bras lia DF 9 jan 2003 Dispon vel em http www planalto gov br ccivil 03 leis 2003 L10 639 htm Acesso em 29 jan 2018 Lei n 9 394 de 20 de dezembro 1996 Estabelece as diretrizes e bases da educa o nacional Di rio Oficial da Rep blica Federativa do Brasil Bras lia DF 20 dez 1996 Dispon vel em http www planalto gov br ccivil 03 LEIS 9394 htm Acesso em 21 jan 2013 BRAND O Carlos R O que Educa o 49 reimpress o da 12 ed S o Paulo Brasiliense 2007a CULTURA Culturas Culturas populares e a Educa o Carlos Rodrigues Brand o consultor Programa Especial Document rio cultura popular e educa o Boletim 19 Bras lia TVBrasil TV Escola salto para o futuro outubro de 2007b Dispon vel em http www tvbrasil org br fotos salto series 105300Culturapopular2 pdf Acesso em 18 mar 2014 Org Pesquisa P
311. ra os filhos Sempre dizia pra eles voceis estude n o quera sofrer de sol a sol A vida pesada e quem fic burro vai te que fic no pesado e passando arage como n is S assim argu m tem que fica em casa o casal N R e L R A 67 e 68 dezembro de 2013 quando o mate se entremeava aos di logos Percebe se a preocupa o dos pais av s com sua fam lia em que filhos e filhas tivessem uma instru o escolar que lhes possibilitasse uma vida diferente das suas que n o fosse t o pesada e dificultosa Mas h singularidade nessa fala solicitando que algu m deve ficar em casa indica inicialmente a ideia de n o deixar os pais envelhecidos e sozinhos mas intrinsecamente uma preocupa o com continuidade do grupo familiar e a integridade daquele territ rio O processo educativo concebido como as diversificadas formas de ensinar e aprender entre indiv duos e grupos tem se apresentado tamb m de in meras maneiras Como n o h uma forma nica nem um nico modelo de educa o e ela 171 podendo ocorrer em diversos lugares em pequenas sociedades tribais de povos ca adores agricultores ou pastores n mades em sociedades camponesas em pa ses desenvolvidos e industrializados Brand o 2007 p 10 tamb m nos grupos tnicos a educa o corresponde a processos end genos de forma o e socializa o de acordo com as caracter sticas culturais sociais pol ticas e econ micas Os processos e
312. randes propriedades exploradas na forma de agricultura empresarial diferenciando se do munic pio de Sert o com uma distribui o em pequenas propriedades onde agricultores familiares desenvolvem suas atividades produtivas A Comunidade Quilombola da Arvinha tem seu nome como refer ncia a um p de Cambar Gochnatia polymorpha rvore encontrada desde o territ rio argentino passando pelo sul do Brasil at o estado de S o Paulo que poca ainda pequena fazia sombra no centro de uma grande mangueira utilizada nas lides campeiras em uma das invernadas do Coronel Miranda Ainda hoje est l 2 Fonte IBGEO 2011 IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estat sticas 46 com alguns galhos secos e outros com a brota o nova da primavera percebe se ter grande signific ncia na mem ria daquelas gentes Guarda hist rias muitas que l aconteceram algumas rememoradas por moradores mais antigos descendentes de escravos e alforriados talvez Tamb m era Parada de Tropeiros que ap s dias de viagem com suas tropas de mula e gado bovino cansados acampavam dando uma pausa para que estes se recuperassem e em seguida prosseguissem a jornada fig 06 Figura 6 Local hist rico antigo territ rio quilombola rvore P de Cambar que originou o nome Arvinha para a Comunidade Fonte Arquivo da pesquisa 2012 Verdadeiramente um local bem estrat gico fica na parte mais alta de uma co
313. rela o ao retorno dos escritos dos temas pesquisados e das informa es o que possibilita novas incurs es ao campo emp rico Arvinha e Morma a s o comunidades rurais nos munic pios Coxilha e Sert o Consideramos ent o esse o espa o da pesquisa tamb m um espa o de luta e pelo qual lutam Sobre este espa o geogr fico ocupado por comunidades quilombolas Luiz Fernando do Ros rio Linhares 2009 1 compreende n o se referir a apenas um local geograficamente definido historicamente documentado e arqueologicamente escavado Ele designa um processo de trabalho aut nomo livre da submiss o dos grandes propriet rios Neste sentido n o importa se est isolado ou pr ximo das casas grandes H uma transi o econ mica do escravo ao campon s livre Este talvez seja o elemento mais controvertido e que dificulte aos historiadores tradicionais entender a ess ncia do significado de quilombo Alguns historiadores sempre querem coloc lo numa camisa de for a geogr fica escreve Linhares 2009 como se fora sempre isolado long nquo distante dos mercados e produzindo para subsist ncia Compreender as quest es que rodeiam o territ rio e sua territorialidade especialmente de uma comunidade ou de comunidades de grupo tnico auto reconhecidos que desde sua secular origem v m lutando por esse espa o pelo pertencimento aquele lugar e que com muita luta e sacrif cio v m tentando mant lo e recon
314. remanescentes das comunidades dos quilombos nas quest es surgidas em decorr ncia da titula o das suas terras Art 16 Ap s a expedi o do t tulo de reconhecimento de dom nio a Funda o Cultural Palmares garantir assist ncia jur dica em todos os graus aos remanescentes das comunidades dos quilombos para defesa da posse contra esbulhos e turba es para a prote o da integridade territorial da rea delimitada e sua utiliza o por terceiros podendo firmar conv nios com outras entidades ou rg os que prestem esta assist ncia Par grafo nico A Funda o Cultural Palmares prestar assessoramento aos rg os da Defensoria P blica quando estes rg os representarem em ju zo os interesses dos remanescentes das comunidades dos quilombos nos termos do art 134 da Constitui o Art 17 A titula o prevista neste Decreto ser reconhecida e registrada mediante outorga de t tulo coletivo e pr indiviso s comunidades a que se refere o art 2 caput com obrigat ria inser o de cl usula de inalienabilidade imprescritibilidade e de impenhorabilidade Par grafo nico As comunidades ser o representadas por suas associa es legalmente constitu das Art 18 Os documentos e os s tios detentores de reminisc ncias hist ricas dos antigos quilombos encontrados por ocasi o do procedimento de identifica o devem ser comunicados ao IPHAN Par grafo nico A Funda o Cultural Palmares dever in
315. rendizagens de trocas de acompanhamento e de experimenta o 3 2 2 A Privatiza o das reas Comuns A explora o mais intensiva das reas rurais no Brasil vai ocorrer no final da d cada de 1960 in cio de 70 nas regi es Sul e Sudeste as demais ser o incorporadas mais tarde considerando que agricultores dessas duas regi es migram para abrir fronteiras agr colas no Centroeste Norte e Nordeste brasileiros nos idos de 1980 90 Essa nova utiliza o das terras com a abertura de grandes reas decorre principalmente do financiamento p blico promovido pelos governos militares brasileiros atrav s de agentes financeiros estatais N o bastasse os recursos em sua maior parte serem tomados do estrangeiro fizeram com que o pa s importasse m quinas agr colas tratores colheitadeiras e equipamentos insumos agr colas e pecu rios medicamentos animais defensivos corretivos adubos nutrientes e sementes e outros ou seja a compra de uma tecnologia n o apropriada e cara fazendo com que a depend ncia externa se tornasse ainda maior e promovendo aumento estrondoso da d vida externa brasileira Esta concep o de desenvolvimento o milagre brasileiro at metade da d cada de 1970 vem causar grandes impactos a toda estrutura rural ocorrendo uma verdadeira e desenfreada corrida na abertura de novas reas com a finalidade de explora es agr colas a cria o de gado com implanta o de pastagens mas princi
316. resas rurais e assim se desvencilhar da possibilidade da desapropria o com isso se abafar os conflitos sociais que tomavam presen a no campo De fato se verificou o incentivo coloniza o de algumas regi es antes ocupadas por popula es camponesas comunidades tradicionais e ind genas especialmente em parte das regi es sudeste centroeste e em todo o norte Esta pol tica gerou e protelou conflitos sociais no campo que se estendem at a atualidade Ent o para as discuss es acerca do territ rio a partir das rela es de parentesco e compadrio efetivadas entre moradores e moradoras das comunidades negras remanescentes da Arvinha e Morma a foco neste cap tulo enfatiza se no es de campesinidade por considerar o seu peso hist rico de luta elegendo a terra como lugar de reprodu o de sua exist ncia material afetiva e simb lica uma luta cont nua que marca toda sua exist ncia e que ganha novo f lego no momento atual Embora diverso em suas especificidades o campesinato enfocado pela produ o te rica a partir de algumas caracter sticas que o unificam tornando se A Lei de Terras de 1850 possui referencial espec fico no cap 2 p 61 nota de rodap 41 126 assim espec fico dentro do quadro geral da s sociedade s FERREIRA 2006 p 65 Ao discutir alguns te ricos para a sua pesquisa com rela o propriedade camponesa negra Ferreira 2006 se utiliza da compreens o de Robert Redfield 1960
317. retens o de que nesta esgotassem os debates Nestes ltimos quatro anos durante os quais tivemos um maior envolvimento com moradores e moradoras dessas comunidades pudemos perceber qu o profundas as marcas deixadas daquele per odo de escravid o vivido na ancestralidade e o quanto esses tra os ainda se refletem nessa popula o De outra sorte as comunidades de Arvinha e da Morma a transparecem a altivez e o desejo de luta como tiveram seus antepassados pelos seus direitos e a recupera o de sua caminhada hist rica como povo tnico Acreditando ent o que as an lises aqui explicitadas n o se esgotam lan amos algumas considera es poss vel afirmar que a hist ria do povo negro no Brasil inscreve se numa narrativa que inclui migra es e travessias e que o modo particular de viv ncia constituiu se numa forma de resist ncia cultural e de sobreviv ncia tnica pol tica e social Fam lias africanas inteiras e outras s metades foram arrancadas de seu continente e transplantadas para c e para a Am rica como um todo naquilo que conhecemos por di spora negra Foram destitu dos de tudo inclusive de sua humanidade transformados em mercadorias coisificados neles imprimiu se os c digos do europeu que deles se apossou na condi o de senhor DE DEUS 2000 p 6 210 Uma aparente impress o na sociedade brasileira como se n o houvesse diferencia o racial e que ao negro a condi o de
318. rganiza o quilombola a necessidade de se garantir o estabelecimento de marcos legais foi de fundamental import ncia para garantir o avan o nas lutas e conquistas da popula o quilombola no Brasil haja vista as diversas tentativas do Estado Brasileiro em atribuir se o direito de definir quais comunidades seriam ou n o quilombolas Na hist ria da forma o dos quilombos no Brasil variadas foram as estrat gias em sua organiza o Em per odo recente final da d cada de 1980 as comunidades quilombolas iniciaram esfor os para se organizarem nacionalmente a partir da mobiliza o em torno da participa o na Constituinte de 1988 Neste per odo a principal pauta era incluir na Constitui o Federal o reconhecimento da exist ncia dos quilombos na sociedade nacional e a garantia do acesso s suas terras como um direito Desta mobiliza o resultou a aprova o do Artigo 68 do Ato das Disposi es Constitucionais e Transit rias j mencionado onde o Estado reconhece a propriedade desse territ rio A partir da Constitui o de 1988 a organiza o do movimento avan a no sentido de fazer com que o Estado Brasileiro exer a o seu papel de garantir o direito ao acesso s pol ticas p blicas e principalmente resolu o dos conflitos referentes a terra Como n o havia legisla o espec fica no que se referia ao direito civil para 72 tratar com organiza es quilombolas o Estado utiliza a legisla o geral sobre propried
319. ria de Pol ticas de Promo o da Igualdade Racial da Presid ncia da Rep blica por meio da Secretaria de Pol ticas para Comunidades Tradicionais SECOMT Dispon vel em http www seppir gov br comunidades tradicionais comunidades tradicionais de matriz africana Acesso em 22 abr 2014 ZA Coordena o de Aperfei oamento de Pessoal de N vel Superior Capes funda o do Minist rio da Educa o MEC desempenha papel fundamental na expans o e consolida o da p s gradua o stricto sensu 16 Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS conv m ressaltar que a quase totalidade das pesquisas s o decorrentes principalmente do per odo p s promulga o da Constitui o Federal de 1988 o que possibilitou visibilidade s comunidades remanescentes e da luta pelos seus direitos agora reconhecidos A primeira d cada deste s culo tem sido farta nos escritos que falam dessas popula es negras como pron ncia de sua exist ncia antes fadados a desaparecer dispersos numa sociedade que n o os enxergava Tamb m no Estado do Rio Grande do Sul as produ es v o sendo elaborados especialmente ap s 1988 De acordo Paulo S rgio da Silva 2011 em seu trabalho sobre o estado da arte envolvendo a tem tica quilombola no Rio Grande do Sul produzida nos Programas de P s gradua o confirma se uma produ o recente Conv m ressaltar que no per odo anterior a 1999 ocorreram pesquisas significativas com rela o
320. rica Brasil Revista da ANPEGE v 7 n 1 n mero especial p 261 274 out 2011 Afro Brasileiros Construindo e Reconstruindo os Rumos da Hist ria Revista frica e Africanidades ano 2 n 7 nov 2009 ISSN 1983 2354 Especial Dispon vel em http www africaeafricanidades com Acesso em 14 mai 2013 ARCANJO Jusc lio Alves Terras de Preto em Pernambuco Negros do Osso etnog nese quilombola UFBA PPG em Estudos Etnicos e Africanos Salvador 2008 ARTUNDUAGA Luiz A La etnoeducaci n una dimensi n de trabajo para la educaci n en comunidades ind genas de colombia Revista Iberoamericana de Educaci n n 13 out 1997 p gs 35 45 Dispon vel em http www rieoei org oeivirt rie13a02 pdf Acesso 11 jan 2014 ARRUTI Jos Mauricio Recupera o da mem ria do lugar auxilia laudo antropol gico Entrevista concedida em 10 03 2004 Dispon vel em http www comciencia br entrevistas memoria arruti htm Acesso em 22 dez 2013 BANDEIRA Maria De Lourdes Territ rio negro em espa o branco S o Paulo Brasiliense 1998 BORDA Orlando Fals Aspectos te ricos da pesquisa participante considera es sobre o significado e o papel da ci ncia na participa o popular In BRANDAO Carlos R Org Pesquisa Participante 3 reimp 8 ed S o Paulo Brasiliense 2006 BORGES DA SILVA Paulo de T ssio Re enegrecimento feminizado saberes e aprendizados no curr culo invis vel da comunidade reman
321. rio Essas rela es ou melhor vidas entrela adas que remetem ao per odo escravista facilitaram a forma o de um espa o comum pr tica que adiante vamos perceber entre os moradores de Arvinha e Morma a fig 17 Figura 17 Uni o matrimonial expressando linhas de parentesco proximal pe 3s MES E ma 75 Es Fonte Arquivo Prof Maria Teresinha Costa Vargas d cada de 1970 4 2 Intera o material e imaterial numa ideia de sobreviv ncia e reprodu o do grupo Uma das caracter sticas do campesinato est na sucess o familiar no sentido de manter a posse sobre a propriedade preferencialmente que a torne indivis vel H variadas formas em processo como exemplo aquela onde a propriedade deva continuar com o primog nito outra possibilidade ficar com o filho mais jovem ca ula da fam lia que teoricamente dever morar na propriedade atendendo os 123 pais at o final de suas vidas e ainda que os herdeiros vendam as partes para um nico irm o Por m mantida como caracter stica secular num grande n mero de fam lias e em diversas culturas as filhas mulheres nada herdam quando herdam s o quinh es menores que os irm os homens constituindo injusta discrimina o de g nero e um desrespeito ao direito humano presente em muitos c digos onde todos s o iguais perante a lei e a justi a A manuten o dessa estrutura social camponesa tem como base a tradi o conhecida como d
322. rmar que mesmo estando dentro de um projeto comprometido com o povoamento da regi o Missioneira a ocupa o de terras no planalto onde modernamente encontramos os munic pios de Passo Fundo e Sert o onde se localiza o quilombo da Morma a privilegiou a grande propriedade ao conceder amplas extens es de terras aos soldados a servi o da Coroa e que estes guerreiros ao se tornarem estancieiros se dedicaram atividade mais lucrativa do per odo a pecu ria sem prescindir do uso de m o de obra escrava SANTOS S 2009 p 132 Nessa condi o Sert o poca 3 distrito de Passo Fundo foi local onde se expandiram as propriedades por existir extensas reas de matas ainda n o ocupadas ricas em madeira erva mate e pinh o mas tamb m pelos campos irrigados por pequenos rios e lajeados prop cios para a cria o de gado sobrando aos pequenos lavradores caboclos e mamelucos essas reas para utilizar Os primeiros grandes estancieiros a expandirem suas propriedades nessa dire o foram Am ncio de Oliveira Cardoso e Francisco Barros de Miranda Este ltimo paulista dedicava se a tropear gado fixou se no distrito tornando se influente na elite local juiz de paz pol tico foi vereador por duas vezes 1864 e 1873 Enviando homens em batalhas defendendo o poder central recebeu a patente de Coronel do Ex rcito participou da Guerra do Paraguai comandando o 5 Corpo da Guarda Nacional 2 2 4 Comunidade Quilom
323. ro169 org Acesso 12 jun 2013 Site oficial da OIT sobre a C169 61 Os grupos considerados remanescentes de comunidades de quilombos se formaram a partir de uma grande diversidade de a es em que se somam desde fugas para locais mais isolados ocupando terras livres doa es heran as recebimento de terras como forma de pagamento de servi os prestados ao Estado e a senhores estancieiros compra de reas ap s o regime escravocrata e durante o mesmo e pela ocupa o de terras que cultivavam dentro de grandes propriedades A chamada comunidade remanescente de quilombo uma categoria social relativamente recente que representa uma for a social relevante no meio rural brasileiro dando nova tradu o quilo que era conhecido como comunidades negras rurais sul centro e sudeste do pa s e terras de preto mais ao norte e nordeste que tamb m come am a penetrar ao meio urbano dando nova tradu o a um leque variado de situa es que v o desde antigas comunidades negras rurais atingidas pela expans o dos per metros urbanos at bairros no entorno dos terreiros de candombl O cerceamento do direito em rela o propriedade da terra as estrat gias de limita o desses espa os sociais ao segmento populacional negro constituiu se como obst culos a esses grupos por meio de um conjunto de atos do poder legislativo ao longo da hist ria a come ar pelo per odo oficial em que a escravid o acontecia quando
324. rodu o f sica social econ mica e cultural do grupo humano a ser beneficiado c as fontes terrestres fluviais lacustres ou mar timas de subsist ncia da popula o d as terras detentoras de recursos ambientais necess rios preserva o dos costumes tradi es cultura e lazer da comunidade c as terras e as edifica es destinadas aos cultos religiosos e os s tios que contenham reminisc ncias hist ricas dos antigos quilombos II planta e memorial descritivo do per metro do territ rio bem como mapeamento e indica o das reas e ocupa es lindeiras de todo o entorno da rea IIl cadastramento das fam lias remanescentes de comunidades de quilombos utilizando se formul rios espec ficos do SIPRA IV cadastramento dos demais ocupantes e presum veis detentores de t tulos de dom nio relativos ao territ rio pleiteado V levantamento da cadeia dominial completa do t tulo de dom nio e de outros documentos similares inseridos no per metro do territ rio pleiteado VI levantamento e especifica o detalhada de situa es em que as reas pleiteadas estejam sobrepostas a unidades de conserva o constitu das a reas de seguran a nacional a reas de faixa de fronteira ou situadas em terrenos de marinha em terras p blicas arrecadadas pelo INCRA ou SPU e em terras dos estados e munic pios VII Parecer conclusivo da rea t cnica sobre a legitimidade da proposta de territ rio e a adequa o d
325. rutura familiar haver crescido n o mais restando terras para serem divididas naquele campesinato foram assim arrebanhados por empresas colonizadoras detentoras de concess o estadual para a regi o Diversas dessas empresas ofertavam terras f rteis e pr prias para a agricultura nesse extenso norte ga cho Um bom neg cio para a classe pol tica estadual pol ticos locais e para os empres rios colonizadores Lucravam duplamente pois recebiam reas p blicas gratuitas atrav s de acordos e por outro lado s vendiam para os novos colonos por m p ssimo para moradores e comunidades instaladas naqueles territ rios Ocorreu ent o uma nova configura o de propriet rios dessas terras reas de h muito tempo pertencentes e ocupadas por caboclos grupos negros e ind genas foram expropriadas pelo Estado Uma territorializa o de ex escravos e seus descendentes que se deu a partir da primeira metade do s culo XIX mas que n o se circunscreveu a um per odo espec fico foi particularmente marcante enquanto per odo de transi o entre a escravid o e a liberdade ex escravos foram acolhidos pelas fam lias negras que j viviam no local No entanto os procedimentos de medi o das terras e de persegui o incidiram sobre os territ rios A conquista e a manuten o de espa os aut nomos se deram em uma arena marcada por disputas solidariedades favores e conflitos entre distintos agentes Ao longo dos an
326. rvinha e Morma a Neste mar o de 2014 tivemos a oportunidade de conviver no intervalo de uma semana com moradores e moradoras das Comunidades de Arvinha e da 138 Morma a em mais um dos trabalhos de campo que empreendemos para esta pesquisa Um reencontro que vem se renovando desde 2008 Os di logos se deram no sentido de levantar mais intrinsecamente as rela es de parentesco e de compadrio nos grupos familiares nos grupos ampliados e inter rela es parentais que se formaram nas duas comunidades Um emaranhado de rela es perpassadas por uma territorialidade iniciada na ancestralidade das matriarcas Cezarina de Miranda e Francisca Vieira A pesquisa vai se dar na an lise do parentesco a partir da fam lia que em Arvinha e Morma a tem ocorrido preferencialmente no interior do grupo comunit rio duas pessoas s o parentes quando uma descende da outra ou quando ambas descendem de um antepassado comum determinando o grau de parentesco por essa rela o A descend ncia vai se converter ent o na ess ncia do parentesco Por m este parentesco se amplia naquilo que chamam parente por considera o s vezes chamamos de Tio a quem n o nosso tio diretamente mas um tio de algu m pr ximo da gente um costume nosso M T 60 mar o de 2014 Estudando a Comunidade da Arvinha bem conhecido nesta tese que os remanescentes em quase a totalidade descendem da escrava Cezarina em uni o com o Coron
327. s DPF Diocese de Passo Fundo DOU Di rio Oficial da Uni o DPU Defensoria P blica da Uni o DIEESE Departamento Intersindical de Estat stica e Estudos Socioecon micos EMATER ASCAR Empresa Assist ncia T cnica e Extens o Rural FCP Funda o Cultural Palmares GTCM Grupo de Trabalho Cl vis Moura GTI Grupo de Trabalho Interministerial IACOREQ Instituto de Assessoria a Comunidades Remanescentes de Quilombos IFRS Instituto Federal de Educa o Ci ncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul IN Instru o Normativa INCRA INCRA Instituto Nacional de Coloniza o e Reforma Agr ria LDB Lei n 9 394 1996 de Diretrizes e Bases da Educa o Nacional MDA Minist rio do Desenvolvimento Agr rio MEC Minist rio da Educa o MNU Movimento Negro Unificado MPF Minist rio P blico Federal OIT Organiza o Internacional do Trabalho SECAD Secretaria de Educa o Continuada Alfabetiza o e Diversidade SEPPIR Secretaria Especial de Pol ticas de Promo o da Igualdade Racial STCAS Secretaria Estadual do Trabalho Cidadania e Assist ncia Social do Estado do Rio Grande do Sul RTID Relat rio T cnico de Identifica o e Delimita o UFSC NUER Universidade Federal de Santa Catarina N cleo de Estudos sobre Identidade e Rela es Inter tnicas UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UNISINOS Universidade do Vale do Rio dos Sinos SUM RIO 1 INTRODU O assiiaiassaia
328. s trabalham com monoculturas da soja milho trigo e reflorestamento Essa diferen a de intera es com seus vizinhos demarca uma fronteira no entanto num primeiro momento n o se distingue uma rela o amistosa de uma conflituosa Posteriormente s o apontados tra os de um distanciamento quando em determinados momentos a colabora o se faz necess ria existe uma rela o entre o n s e o eles com um limite bem definido Esse marco delimitador para as trocas entre a comunidade e os italianos corresponde a interesses rec procos e ocorre enquanto h uma contrapartida de ambos os lados Pode se chamar a isso de rela es assim tricas de reciprocidade As rela es assim tricas estabelecidas pelas comunidades negras da Arvinha e Morma a com as popula es brancas de seu entorno est o bem caracterizadas pelo processo de troca baseada na contrapresta o O territ rio negro virtualmente todo o espa o de reciprocidade positiva sim trica que gera d vidas afetivas Seu exterior o da reciprocidade pela metade que gera o poder patronal e depend ncias clientelistas RAMOS 2009 p 70 Moradora com sua fam lia na comunidade Morma a L R presidenta da Associa o de Remanescentes ainda nos primeiros contatos em 2008 j expunha essa rela o unilateral mediada pelo capital o racismo e o poder Recentemente refor a As coisa tem se tornado dif cil ainda que os mais velho tem a aposentadoria d
329. s Acesso em 6 jan 2014 172 processo de aprendizagem que se realiza ao longo da vida como se estivesse acontecendo numa forma de m o dupla ou por diversas m os A educa o n o formal para Gohn 2011 p 14 n o visa substituir ou competir com a educa o formal Deste movimento podem ocorrer parcerias entre outras frentes de trabalho como as organiza es sociais ONGs e outros espa os da comunidade que tenham projetos sociais respons veis podendo colaborar para uma forma o cidad A inten o est em transpor esse territ rio conceitual O espa o educacional n o necessariamente visto como espa o escolar especializado e formal que desenvolve uma atividade social separado das outras e da vida mas um lugar que transcende a uma gama de lugares na hora da refei o nas brincadeiras quando crian a na ro a e no ro ado nas festas comunit rias na reza e no terreiro em todos os lugares A educa o prop e uma reflex o baseada nas experi ncias da realidade contribuindo para fortalecer a pr tica de conhecimentos vivenciados A ess ncia do ato educativo o acontecer din mico das lutas cotidianas O processo pedag gico esse caminhar cotidiano que busca promove e fomenta a vida GUTI RREZ 2000 p 97 apud SILVA Regisnei 2004 p 25 O resultado desse aprendizado precisa ser levado em considera o nos modelos de desenvolvimento pois s o carregados de exp
330. s o hist rica sofrida 1 Para os fins deste Decreto a caracteriza o dos remanescentes das comunidades dos quilombos ser atestada mediante autodefini o da pr pria comunidade 82 S o terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos as utilizadas para a garantia de sua reprodu o f sica social econ mica e cultural 3 Para a medi o e demarca o das terras ser o levados em considera o crit rios de territorialdade indicados pelos remanescentes das comunidades dos quilombos sendo facultado comunidade interessada apresentar as pe as t cnicas para a instru o procedimental Art 3 Compete ao Minist rio do Desenvolvimento Agr rio por meio do Instituto Nacional de Coloniza o e Reforma Agr ria INCRA a identifica o reconhecimento delimita o demarca o e titula o das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos sem preju zo da compet ncia concorrente dos Estados do Distrito Federal e dos Munic pios 232 8 1 O INCRA dever regulamentar os procedimentos administrativos para identifica o reconhecimento delimita o demarca o e titula o das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos dentro de sessenta dias da publica o deste Decreto 8 2 Para os fins deste Decreto o INCRA poder estabelecer conv nios contratos acordos e instrumentos similares com rg os da administra o p blica federal
331. s arcaicas os Haida e os Tlingit duas tribos do noroeste americano detecta restarem importantes vest gios da antiga presta o total trocam se presentes a prop sito de tudo de cada servi o e tudo se retribui posteriormente ou na mesma hora para ser redistribu do imediatamente MAUSS 1974 p 250 Essa pr tica a qual poder amos chamar de a retribui o como distribui o facilmente percebida no cotidiano dessas popula es Para ilustrar pudemos presenciar o fato quando realiz vamos trabalho de campo em comunidades quilombolas de outra regi o do Estado outubro de 2012 Nesse dia ao organizarem mutir o para a abertura de valetas que receberiam as bases das novas casas uma das moradoras num gesto singelo trouxe um pote de chimia de ab bora para consumirem Ao final da tarde recebera de outra moradora uma embalagem de vidro com banha de porco caracterizando a meu ver a retribui o como distribui o Desse modo essas trocas generalizadas v o se constituindo em uma economia uma economia da d diva e da d vida N o se trata de um est gio evolutivo anterior economia moderna aos prim rdios do mercado mas de uma forma de organiza o da produ o distribui o e consumo de bens e servi os l Termo utilizado por RAMOS 2009 p 68 ao descrever a presta o de d divas que ocorriam ocorrem na comunidade quilombola de Cambar no munic pio de Cachoeira do
332. s como reas tnicas do povo negro o qual teve significativa contribui o na forma o da identidade nacional Desej vamos tomar evidente a digna pretens o daqueles moradores afinal tamb m desejam ser reparados de injusti as passadas e poder em territ rio uno continuar suas descend ncias REFER NCIAS ANJOS Jos Carlos Gomes dos Bourdieu e Foucault derivas de um espa o epist mico Anos 90 UFRGS Porto Alegre v 11 n 19 20 p 139 165 2004 Dispon vel em http www lume ufrgs br handle net 10183 31541 Acesso em 11 dez 2011 RAMOS leda C A et al As condi es de raridade das comunidades quilombolas urbanas In GHELEN I SILVA M B SANTOS S R Org Diversidade e Prote o Social estudos quali quantitativos das popula es de Porto Alegre Porto Alegre Century 2008 p 167 178 No territ rio da Linha Cruzada a cosmopol tica afro brasileira Porto Alegre Editora da UFRGS Funda o Cultural Palmares 2006 Org S o Miguel e Rinc o dos Martimianos ancestralidade negra e direitos territoriais Porto Alegre Editora da UFRGS Funda o Cultural Palmares 2004 S rie comunidades tradicionais ALMEIDA Luciana S Modernidade e anti modernidade na mem ria coletiva constru da nos territ rios negros S o Miguel dos Pretos na Restinga Seca RS In HUMANAS Porto Alegre v 25 n 1 2 p 33 66 2002 2008 ANJOS Rafael Sanzio A dos Cartografia da Di spora f
333. s da comunidade essa tradi o sucess ria constitui verdadeira teia nas uni es matrimoniais ocorridas no seu interior levando se em considera o os diversos graus de parentesco Por outro lado h um profundo respeito e considera o de seus pares ao aben oar essas uni es Os matrim nios indiretamente v o propor a indivisibilidade daquele territ rio as reas apenas se redistribuem n o havendo perdas de espa os mas ocorrendo uma nova configura o em seus desenhos Nesta tradi o sucess ria e muito clara em Arvinha a transmiss o de terras regulada pela presen a de princ pios morais assumindo como valor a exclusividade da posse das terras por membros da Comunidade Este quadro foi observado tamb m por leda Alves Ramos 2009 em seu trabalho na comunidade quilombola Cambar Anjos amp Silva 2004 corroboram Trata se de uma regra simultaneamente econ mica e moral que rege as tradi es sucess rias de tal modo que a indivisibilidade e a integridade do territ rio esteja garantida Anjos amp Silva 2004 p 83 apud RAMOS 2009 p 92 Nesta sucess o territorial e moral h uma condi o na qual se estabelecem rela es sociais a reciprocidade Esta define o aspecto da rela o entre iguais constituindo um espa o de identidade e ao mesmo tempo de alteridade na rela o com o outro o estranho O sistema de parentesco valor social constru do culturalmente e que organiza o trabalh
334. s de respeito e considera o valorizando o ser o que temos buscado com aqueles homens e aquelas mulheres mesmo antes de decidir por esses grupos como campo emp rico para essa pesquisa Fals Borda 2006 lembra que nas lutas populares h sempre um espa o para intelectuais t cnicos e cientistas n o havendo a necessidade de ser um oper rio ou campon s ou um remanescente como em nosso caso Tem apenas que demonstrar honestamente seu compromisso com a causa popular perseguida por meio da contribui o espec fica de sua pr pria disciplina sem negar completamente essas disciplinas BORDA 2006 p 49 50 Outra condi o n o menos importante a qual desejo referir ao retorno das informa es e descobertas descobertas s vezes j conhecidas mas de alguma forma ainda invis veis que a pesquisa apura por uma condi o colaborativa dadivosa de um membro ou nos di logos de algo valioso e significativo Esse retorno conhecido como restitui o sistem tica se caracteriza por uma t cnica desalienadora que forma novo conhecimento a um n vel popular e no dizer de Borda 2006 tamb m deve ocorrer um feedback para os intelectuais org nicos Um feedback dial tico das bases para os intelectuais engajados parte importante do processo total da procura e identifica o da ci ncia do homem comum Infere ainda que 26 Os intelectuais compromissados com a luta popular em diversos pa ses t
335. s de seus antepassados Pode se dizer que a perman ncia no entorno lhes garante como guardi es e vigilantes do territ rio como acontecimento De sua propriedade cinco hectares documentadas a maior em rea na comunidade poss vel avistar boa parte da terra quilombola N R 65 anos que mora na parte alta aponta para uma rea ocupada atualmente por descendentes italianos Temos nossa frente duas l gicas de apropria o da terra o contraste entre monoculturas de soja e milho e noutro quadro quintais com arvoredos pequenas hortas ro a de milho potreiros algumas vacas de leite terneiros amarrados em estacas outros soltos beira da estrada pastando um capim duro fig 10 89 Figura 10 Comunidade Morma a e o entorno parte de antigo territ rio desde propriedade do casal N R e L R A Fonte Arquivo da pesquisa 2013 Registra se ent o a configura o atual do territ rio negro fragmentado formado de um lado pelas propriedades de agricultores integrados explora o capitalista com concentra o da terra e os outros meios de produ o e de outro a comunidade de remanescentes de quilombos expropriados de sua terra expropriados do direito a cidadania naquela encosta l na lavoura onde eles planta tamb m era de nossa gente Tinha um po o que foi cavado a pic o dava uns dezoito metro servia de gua pra eles os quilombolas que moravam perto Meteram o trator encheram de pau e pedra e
336. s de trocas materiais e simb licas externamente mantinham rela es pontuais e tamb m constantes com os centros comerciais mais pr ximos 121 Conv m para melhor compreens o buscarmos caracterizar formas de ocupa o e produ o agr colas baseadas no campesinato e campesinidade esteadas nas rela es de parentesco utilizando se de pesquisas e ensaios que desenvolveram Klaas Woortmann 1988 e Ellen Woortmann 1995 Contudo foi o estudo de Edmund Leach 1968 entre os camponeses de Pul Elya uma aldeia do Ceil o moderno que inaugurou na antropologia a premissa de que os sistemas de parentesco s possuem sentido se relacionados s concep es de terra e de propriedade O desenho que pude observar durante os anos desta pesquisa nas comunidades da Morma a e Arvinha parece conformar um territ rio de parentesco e reciprocidade Temos como premissa de que a terra constitui espa o de trabalho da fam lia e patrim nio carregada de valora es simb licas sendo a base da constitui o dos grupos camponeses Em Chayanov 1966 na discuss o de Woortmann E 1995 p 29 considera se a fam lia como um conjunto de produtores e de consumidores ou seja uma unidade de for a de trabalho e de consumo centrada num casal e seus filhos aos quais podia agregar outros membros A fam lia vista por ele como um centro dom stico isto desde uma tica econ mica e n o como valor cultural uma das dimens es b sicas para s
337. s dias atuais e aliada importante dos retireiros ribeirinhos e povos ind genas em suas reivindica es e no processo educativo tanto na educa o formal na implanta o e acompanhamento de centros de ensino fundamental m dio e superior quanto n o formal na cria o e atua o de entidades n o governamentais SILVA 2004 p 75 Cabe aqui um par ntese para discorrer sobre as condi es em que se d esse apoio externo para as comunidades de Arvinha e Morma a Uma rela o que tem sido pontual um apoio muito restrito o que se percebe in loco e das falas dos moradores Apenas alguns rg os p blicos lhes prestam apoio como o INCRA no Rio Grande do Sul representado pela Coordenadoria de Projetos Especiais Regulariza o dos Territ rios Quilombolas agentes p blicos servidores da Emater o campus Sert o do IFRS e limitadamente a Prefeitura Municipal de Sert o A Prefeitura Municipal de Coxilha tem tido uma atua o mais pr xima da Arvinha atrav s das Secretarias da Educa o e da Assist ncia Social Alguns profissionais independentes e membros da Igreja evang lica Assembleia de Deus t m sido de certa forma mais solid rios aos remanescentes na comunidade da Morma a A busca pela cidadania vem avan ando por conta dos Programas Sociais de 92 Apoio do Governo Federal com o foco central na erradica o da mis ria atrav s do cadastro nico com o qual milh es de fam lias brasileiras es
338. s e libertos 140 Por outro lado em algumas fam lias as rela es de compadrio n o se sobrepuseram s de alian a A t nica que permanece consiste na m xima amplia o do n mero de rela es e de grupos aliados O n o redobramento de elos parentais seja por alian a seja por compadrio amplia seu sentido dentro de um contexto o da escravid o no qual quanto mais aliados melhor grande n mero de diferentes aliados significava um aumento de ganhos materiais como seguran a rede de ajuda no trabalho prote o e talvez e sobretudo expans o de ganhos imateriais como status prest gio distin o HARTUNG 2005 p 169 As narrativas de homens e mulheres em Arvinha e Morma a especialmente dos mais velhos fazem refer ncia presen a de ind genas e em algumas pessoas do grupo uma ascend ncia ind gena ao que se referem mistura de bugre h ainda alguns casamentos entre homens e mulheres negros com ind genas cujas intera es afro ind genas foram fundamentais ao longo da hist ria das duas comunidades Tal fato conhecido na Arvinha pudemos presenciar e dialogar com o morador N C 66 descendente do tronco de Silvana e sua atual esposa M C 61 filha de pai de origem ind gena e m e com descend ncia alem Bisneto de Cezarina N C ao conversarmos durante seu almo o disposto e alegre fala das uni es conjugais Eu e a Ilda primeira esposa falecida ainda semo parente meu pai e o de
339. s extrativistas nas grandes extens es de matas banhados e rios assim como da pequena produ o das ro as e a cria o de animais nas pastagens 119 Figura 16 Fam lia na Comunidade Morma a descendente de Francisca Vieira er TE Fi TES z Fonte Arquivo Prof Maria Teresinha Costa Vargas prov vel final d cada de 1960 Pode se considerar estrat gias outras de apropria o desse territ rio como as que notou Moura Mello 2008 2011 em sua pesquisa na Comunidade de Cambar munic pio de Cachoeira do Sul RS e que neste caso em semelhan a poderiam ter acontecido na comunidade Morma a em especial e por que n o em Arvinha provocando nos a refletir a respeito de formas camponesas durante a escravid o e suas consequ ncias na p s aboli o bem como aquilo que Cardoso 1978 apropriando se das ideias de Sidney Mintz 1973 chamou de brecha camponesa Por este termo o autor designa as atividades agr colas realizadas pelos escravos nas parcelas de terras concedidas para este fim no interior das grandes planta es Cardoso 1978 p 137 N o obstante os benef cios angariados pelo senhorio ao concederem pequenas parcelas de terras no sentido de aplacar os desejos de seus plant is e de reduzir os custos com alimenta o era comum que essas concess es se transformassem em direitos podendo at mesmo estar na origem de alguns territ rios negros A bibliografia especializada aponta que a con
340. s humanos e a natureza e os seres humanos entre si O modelo na utiliza o dos recursos naturais dispon veis dentro de suas concep es ambientais pode ser compreendido como indicador de educa o ambiental para a sociedade n o tradicional nos diversos espa os de ensinar e aprender T cnicas de manejo do solo com restos culturais dos pr prios cultivos e restos de materiais org nicos de outras plantas s o utilizados em reas na Arvinha como forma de conten o da for a das guas em terrenos mais inclinados e como reposi o da fertiliza o natural do solo Atrav s desta compostagem agora devolvida em forma de adubo enriquece a terra para uma utiliza o ao longo do pr ximo ciclo que tamb m atua como componente educativo ambiental na intera o entre os membros da comunidade e os recursos naturais Os diversos saberes de Arvinha e Morma a podem ser retratados como os percebemos nas diversas idas e vindas a esses campos de conhecimentos muitas vezes emp ricos mas dotados de uma larga utiliza o e repleto de refer ncias para os que ali vivem e compartilham desse cotidiano de cultura Os ensinamentos que presenciamos a respeito da flora da fauna da gua de outros tantos recursos poss veis da natureza podemos agora compartilhar As matriarcas Cezarina de Miranda e Francisca Vieira e outros negros escravos e libertos ao se deslocarem ocupando essas reas entre os munic pios de Coxilha e Sert o
341. s ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos incidem sobre terras de propriedade dos Estados do Distrito Federal ou dos Munic pios o INCRA encaminhar os autos para os entes respons veis pela titula o Art 13 Incidindo nos territ rios ocupados por remanescentes das comunidades dos quilombos t tulo de dom nio particular n o invalidado por nulidade 234 prescri o ou comisso e nem tornado ineficaz por outros fundamentos ser realizada vistoria e avalia o do im vel objetivando a ado o dos atos necess rios sua desapropria o quando couber 8 1 Para os fins deste Decreto o INCRA estar autorizado a ingressar no im vel de propriedade particular operando as publica es edital cias do art 7 efeitos de comunica o pr via 8 2 O INCRA regulamentar as hip teses suscet veis de desapropria o com obrigat ria disposi o de pr vio estudo sobre a autenticidade e legitimidade do t tulo de propriedade mediante levantamento da cadeia dominial do im vel at a sua origem Art 14 Verificada a presen a de ocupantes nas terras dos remanescentes das comunidades dos quilombos o INCRA acionar os dispositivos administrativos e legais para o reassentamento das fam lias de agricultores pertencentes clientela da reforma agr ria ou a indeniza o das benfeitorias de boa f quando couber Art 15 Durante o processo de titula o o INCRA garantir a defesa dos interesses dos
342. s pela identifica o tnica que n o depende somente da cor da pele mas de aprendizagens e experi ncias repetidas no passado al m de uma conviv ncia comum consolidada nas alian as de parentesco venham contemporaneamente exprimir a identidade da comunidade negra da Morma a concretizados na etnicidade parentesco e d diva A discuss o te rica que se d at nossa contemporaneidade a respeito da d diva se inicia por volta de 1924 quando Marcel Mauss publica o Ensaio sobre a 99 D diva Para Mauss 1974 a d diva n o se restringe a simplesmente regalos est representada em uma maior amplitude segundo a qual eles os Polin sios n o trocam exclusivamente bens e riquezas ou coisas teis economicamente S o antes de tudo amabilidades banquetes ritos servi os militares mulheres crian as dan as festas e feiras MAUSS 1974 p 191 Essas presta es e contrapresta es se estabelecem de uma forma sobretudo volunt ria por meio de presentes embora no fundo elas sejam rigorosamente obrigat rias o que ele chama de presta es totais Quem as assume n o s o somente indiv duos s o coletividades que se obrigam mutuamente trocam e contratam as pessoas presentes ao contrato s o pessoas morais cl s tribos fam lias L vi Strauss 1947 ao publicar Introdu o obra de Marcel Mauss uma an lise sobre a teoria desse autor infere que um curioso aspecto de argumenta o
343. s permeadas pela tica e pelo respeito diversidade O di logo com o territ rio tamb m est relacionado necessidade de se fortalecer os v nculos com a comunidade de se promover a circula o a apropria o e o aflorar de seu potencial Entendemos como valorar o trivial a abnega o o sentimento a atitude uma tarefa importante e s vezes por demais dif cil Paulo Freire na Pedagogia do Oprimido 1981 fala da import ncia das coisas simples do essencial Streck 2006 p 264 265 indaga Onde estaria o simples da pesquisa Diria que pesquisar numa de suas inten es b sicas ler e pronunciar o mundo o segredo da pesquisa talvez esteja em penetrar esse simples movimentar se dentro dele entre suas fissuras e sali ncias 12 E Grifo nosso 27 O trabalho com grupos em cada comunidade utilizando se da observa o participante facilitou a identifica o de processos educativos presentes na pedagogia da n o formalidade que passam talvez despercebidos como algo corriqueiro no interior das rela es familiares grupais e da comunidade como um todo considerando que esses atos de ensinar e aprender s o constru dos por pessoas sem uma forma o acad mica no campo educacional Sobre a pedagogia da n o formalidade ou das tramas complexas a Professora Aline Lemos Cunha 2010 em sua Tese de Doutorado ao trabalhar as manualidades desenvolvidas por grupos de mulheres negras r
344. s possibilita interagir e retirar desse meio o necess rio para sua sobreviv ncia Desse acervo encontra se o conhecimento em rela o ao mundo vegetal A ancestralidade africana tamb m est presente no conhecimento etnobot nico dos quilombolas o que lhes propiciou que resistissem at a contemporaneidade apesar de terem sido desprovidos de qualquer tipo de pol tica p blica inclusive as de sa de Culturalmente a rela o homem vegetal de suma import ncia para o negro Barros 1993 apud GTCM 2010 p 48 Neste mesmo sentido para o negro o conhecimento e a liga o que estabelece com os vegetais indiferente do local onde esteja diz respeito sua pr pria exist ncia material A flora local importante na manuten o econ mica das comunidades as plantas cultivadas em lavouras milho feij o pipoca mandioca batata doce 87 A etnobot nica est inserida no contexto de etnobiologia que inclui as a es da ci ncia num contexto de multidisciplinaridade acad mica a fim de gerar retorno s comunidades de onde surgiu o conhecimento vivenciado sobre determinada particularidade A etnobot nica o estudo das rela es entre povos e plantas considerando o seu manejo percep o e classifica o deste recurso vegetal para as diferentes sociedades O termo etnobot nica foi utilizado pela primeira vez pelos bi logos europeus em 1985 para designar o uso das plantas por povos nativos O mbito do estudo etnobot nico t
345. samos estar unidas A P 24 Ensino M dio Completo dezembro de 2013 Na compreens o engajada da jovem e m e a educa o escolarizada aliada forma o profissional lhe trar melhores condi es para alcan ar objetivos pessoais e para conquista de direitos que lhe s o justos Percebe o trabalho como forma de alcan lo A consci ncia de moradora da comunidade e do valor em estarem coesos demonstra sua sensibilidade com o grupo e o pertencimento quele territ rio Particularmente nesta tarde pudemos conversar com A P e E C 20 anos outra jovem m e estudante do 6 e 7 ano da EJA sobre as possibilidades na continuidade dos estudos as realiza es que pessoalmente poderiam alcan ar e a import ncia para a Comunidade de mais algu m que pudesse represent la e falar em seu nome Dialogamos sobre oportunidades que o ensino p blico do Instituto Federal est a oferecer que localizado pr ximo da comunidade poderiam fazer um dos cursos superiores ou uma das forma es t cnicas de n vel m dio e ainda participando de atividades de pesquisa ou de extens o seria poss vel receber bolsas de aux lio financeiro Atentas depois pensativas deram esperan as a si pr prias que isso poss vel Eu educador pesquisador tomado de alegria despedi me e voltei para casa meu eu 5 4 5 O que se esperar Refletindo sobre a valoriza o desses jovens e suas fam lias na educa o escolarizada par
346. sas defini es pol ticas aconte am nos espa os j existentes para este fim nas organiza es tradicionais envolvendo de forma ampla a comunidade e as lideran as que normalmente t m esse papel no territ rio Isso porque s o nesses momentos que ser o estabelecidos os objetivos quem faz parte associados as as fun es das pessoas como ocorrem as decis es e etc CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE INSTITUTO SUMA MA 2012 p 31 32 Um dos aspectos mais importantes para conquistar xito nas pautas do movimento s o a uni o e a representa o atrav s das associa es comunit rias Os moradores de Arvinha e Morma a sabem desse caminho que longo e trabalhoso pois j enfrentaram e enfrentam por vezes conflitos com agricultores pol ticos agentes da sociedade e os poderes municipais H possibilidade de contar com o apoio de algumas lideran as de institui es religiosas da Procuradoria da Rep blica de algumas ONGs mas necess ria uma organiza o coesa internamente para que as conquistas n o se tornem ainda mais dif ceis De acordo com Paulo S rgio da Silva 2011 foi a partir de 1999 que se iniciou um significativo movimento entre as comunidades quilombolas a Academia os movimentos sociais e institui es p blicas com vistas s quest es das comunidades remanescentes de quilombos Contribuiu para essa consolida o o pioneirismo dos moradores da Comunidade Remanescente de Casca No ano de 19
347. sas popula es sobre o ambiente e a pauperiza o dessas popula es que permanecem nas reas rurais e que lutam por criarem novas estrat gias de sobreviv ncia ou daquelas que se transferiram para as reas urbanas e que habitam as periferias das cidades CUNHA 2010 p 7 Na comunidade remanescente de Cambar no munic pio de Cachoeira do Sul RS Ramos 2009 traz as adversidades provocadas com os mesmos intentos At mesmo a frui o dos bens existentes no interior de diminutas parcelas de terras hoje pertencentes comunidade amea ada pelos impactos causados pelo avan o das cercas Estou diante de um processo de coloniza o de d divas de bens naturais que deveriam ser usufru dos tranquilamente sem restri es e impedimentos RAMOS 2009 p 65 Graciela Bonassa Garcia 2010 ao analisar em sua pesquisa a estrutura agr ria da campanha rio grandense em finais do s culo XIX retrata a semelhan a dessas a es empreendidas sobre esses territ rios 97 A introdu o do aramado n o trouxe apenas a moderniza o para o mundo rural como alardeavam os precursores do Ruralismo Trouxe pobreza conflitos viol ncia f sica e simb lica gerou in meros despejos de fam lias pobres Cercou se a propriedade e a consequ ncia disso foi a expropria o de centenas de fam lias que a d cadas estavam estabelecidas em terras que consideram suas por direito GARCIA 2010 p 191 Essa nova configura o do esp
348. scend ncia matrilinear bem percept veis nos n cleos familiares dos descendentes de Cezarina representado pela comunidade de pessoas que comp e os quatro troncos antes citados Cezarina de Miranda tendo nascido na primeira metade do s culo XIX por volta de 1840 constituiu seus primeiros la os conjugais de acordo com Ruckert et al 2002 com seu patr o Cel Francisco de Barros Miranda remonta suas origens como trabalhadora de fazenda Com seus filhos abrigou se em uma das partes da Invernada da Arvinha doa o do Coronel Miranda determinando para aquela realidade a fortaleza de uma mulher que soube tra ar o rumo para sua descend ncia no mbito de uma sociedade patriarcal em que se configurou o Brasil desde os tempos coloniais se sobrep s figura masculina foi respons vel pela posse da terra e a persist ncia da fam lia e do grupo conforme se observou nos depoimentos de seus bisnetos do tronco Silvana de Miranda Os la os de consanguinidade tecidos pelos descendentes de Cezarina s o a base da forma o familiar e do parentesco que ora observamos na Comunidade da Arvinha Descendentes homens e mulheres se estabeleceram naquele local no entanto conforme a moradora e l der comunit ria M F 44 anos outras mulheres conduziram a comunidade os homens n o se importavam cuidavam das ro a e dos animais Percebe se a preval ncia da descend ncia matrifocal na organiza o e lideran a desses grupos Pa
349. se e os outros grupos respeitando as manifesta es a forma de interpreta o das realidades e sua cultura preconizada em lei Oportunizar que suas hist rias sejam contadas a partir de suas escritas que a caminhada como povo possa ser partilhada e respeitada Particularmente p blico como agente o Instituto Federal de Educa o do RS que tem no campus Sert o uma proximidade f sica e a possibilidade de integrar se s comunidades de Arvinha e Morma a incorporando as pol ticas p blicas de Estado relacionadas s formas de ingresso no ensino as condi es de perman ncia aos projetos de extens o e de pesquisa que envolva cidad os quilombolas Tamb m as contribui es da educa o n o escolarizada que tradi o secular entre esses povos na transmiss o de conhecimentos Parece me responsabilidade do campus Sert o e os outros entes da educa o o imediato questionamento de como incorporar tem ticas dessa diversidade cultural presente nas comunidades remanescentes e ind genas grupos constitutivos da na o brasileira desde sempre postos margem pela sociedade e pelo Estado mas t o proximais geograficamente Conv m destacar ainda a import ncia do resgate desse educativo n o formal para ser reconhecido na Escola como elemento criador de di logos e n o como algo ex tico desvelando assim esse paradoxo O t o diferente que n o t o diferente Finalmente nesta pesquisa quando a iniciamos no intuito de refle
350. se encarregavam do trabalho l fora planta es e cuidar do gado mas a decis o quem tomava era a mulher al m de ficar e cuidar dos filhos M F 44 mar o de 2014 Comunidade Arvinha Florestan Fernandes 1964 p 177 ao comentar o parentesco matrilinear em fam lias negras no estado de S o Paulo conclui A fam lia negra tal como ela se manifesta em S o Paulo durante as tr s primeiras d cadas deste s culo poderia ser definida como incompleta a forma de fam lia mais frequente era grupo composto por uma m e solteira ou sua substituta eventual como a av ou uma tia e as crian as Florestan Fernandes nesta condi o mostra que o pai desconhecido podendo o parentesco ser tra ado apenas pela linha materna Uma realidade evidenciada em muitas comunidades negras remanescentes a necessidade da mudan a de moradores para outros locais geralmente centros urbanos em busca de melhores condi es de trabalho tempor rio ou permanente educa o dos filhos e tratamentos de sa de Tal situa o foi relatada em 2008 por L R moradora da Morma a em trabalho de coleta de dados que realizamos quando dizia Os homens a maioria foram embora ficou quem n o tava bem de sa de e os aposentado Foram procurar trabalho Se empregaram nos carregamento de frango de avi rio na regi o de Tapejara outros foram pra colheita da ma em Vacaria e Santa Catarina e outros pra trabalhar com parreira na r
351. se ent o que seja preciso retribuir a outrem o que na realidade parcela de sua natureza e subst ncia pois aceitar alguma coisa de algu m aceitar algo de sua ess ncia espiritual de sua alma a conserva o dessa coisa seria perigosa e mortal e n o simplesmente porque seria il cita mas tamb m essa coisa que vem da pessoa n o apenas moralmente mas f sica e espiritualmente essa ess ncia esse alimento esses bens m veis ou im veis esses descendentes esses ritos ou essas comunh es t m poderes m gicos e religiosos sobre n s A presta o total n o implica somente a obriga o de retribuir os presentes recebidos mas 5 A palavra hau designa como o latim spiritus ao mesmo tempo o vento e a alma mais precisamente ao menos em certos casos a alma e o poder das coisas inanimadas e vegetais MAUSS 1974 p 198 5 As tribos da Nova Zel ndia s o teoricamente divididas pela tradi o maori em pescadores agricultores e ca adores que s o supostos trocar constantemente seus produtos MAUSS 1974 p 196 57 Assim interpretada o sentido n o apenas se torna claro mas aparece como uma das ideias dominantes do direito Maori Se o presente recebido trocado obriga que a coisa recebida n o inerte Mesmo abandonada pelo doador ela ainda conserva algo dele Por ela ele tem poder sobre o benefici rio assim como por ela sendo propriet rio ele tem poder sobre o ladr o Pois o taonga animado pelo hau de sua fl
352. sem saber BRAND O 2007 p 20 Nessa compreens o os diversos espa os sociais utilizados pelos moradores em Arvinha e Morma a configuram momentos de ensinar e aprender a Senzala Comunit ria a sede da Igreja Evang lica a casa de cada fam lia moradora as atividades laborais se apresentam como possibilidades do ensinar e do aprender acontecer Sem d vida podemos afirmar que o transmitir desses conhecimentos naqueles cotidianos veio sedimentar a identidade tnica presente de povo negro remanescentes de quilombo fato comprovador a luta por preservar e manterem se naqueles espa os N o se utiliza da vis o simplista terra capital mas sim uma terra identifica o modo de vida As reuni es das Associa es dos Remanescentes que acontecem na Senzala Social em cada Comunidade outro espa o em que homens mulheres adolescentes e crian as debatem suas comunidades educando se e pondo em pr tica essa condi o cidad onde verdadeiras transforma es de personagens se processam nas discuss es Moradores que por diversas vezes quase calados nos encontros que temos tido t m na associa o ocupado espa os e transmitidos seus conhecimentos ensinamentos e aprendizagens que vivenciados acumularam se e nestes momentos s o compartilhados com todos Na ltima d cada o Estado brasileiro desencadeou uma s rie de programas que fazem parte de pol ticas p blicas que objetivam promover as comunidades tradicionais para melhoria in
353. senvolvimento Sustent vel dos Povos e Comunidades Tradicionais Est explicitado no cap 1 p 24 nota de rodap 11 e no cap 2 p 59 nota de rodap 37 78 A Defensoria P blica da Uni o DPU que por se tratar de rg o p blico e oficial de defesa da popula o brasileira tem por voca o a prote o das camadas marginalizadas e estigmatizadas da sociedade brasileira Dessa forma tem como uma de suas miss es constitucionais a defesa e efetiva o dos direitos das comunidades tradicionais tornando vis veis os invis veis aos olhos da sociedade 153 pr prios de conduzir sua vida e de entender o mundo o que as destaca da sociedade nacional correspondendo hoje a oito milh es de brasileiros os quais ocupam 1 4 do territ rio nacional A Constitui o de 1988 abriu o di logo democr tico com as comunidades tradicionais por meio da consagra o do pluralismo jur dico e democr tico bem como o reconhecimento dos seus direitos Assim acompanhou a evolu o do modelo baseado no Estado Nacional para o Estado Plural e Multi tnico que fruto do processo hist rico e mundial de efetiva o dos direitos destas comunidades Nesta inst ncia da tese trabalhamos o ensinar e o aprender em especial em espa os n o escolarizados trocados desde a ancestralidade e contemporaneamente entre os moradores remanescentes dos quilombos Arvinha e Morma a como possibilidade estrat gica na manuten o e recompo
354. seus pais A mem ria dos mais velhos retrata grandes conflitos em 1959 1969 e 1970 onde a mesma estrutura de atentados se repete amea as agress es f sicas queima de casas e pai is com colheitas implementos agr colas e sementes a es essas que contavam com a presen a de policiais e jagun os Em todos esses momentos a comunidade reagiu via den ncias pol cia cartas e of cios enviados ao Governo Federal e mudando o local de moradias e planta es SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE SENG S s d RELAT RIO DO GRUPO DE TRABALHO CL VIS MOURA 2010 p 30 31 Em Adrian polis munic pio no norte do Paran divisa com S o Paulo Na comunidade Tr s Canais um fazendeiro alegando ter comprado um pequeno peda o de terra quilombola foi invadindo e esticando as cercas para dessa maneira ficar com a maior parte de pastos para seu rebanho A comunidade negra que n o usava cerca foi roubada em seu mais precioso bem a natureza Foi s no final do s culo passado que os as moradores as iniciaram cercar suas terras e na atualidade a comunidade vem sofrendo amea as por insist ncia de fazendeiros pressionando a para que vendam suas terras RELAT RIO DO GRUPO DE TRABALHO CL VIS MOURA 2010 p 99 Conforme Rosane Rubert et al 2008 as pol ticas de subs dio imigra o europeia do s culo XIX o processo de moderniza o da agricultura impetrado a partir de 1950 e a constru o de rodovias s o os prin
355. sfaz sua identidade pondo em risco tamb m a identidade do grupo Neste sentido a pesquisa de Camarote 2010 vem tamb m identificar essa condi o Isso n o aconteceu por acaso mas porque sua condi o camponesa fundada no patrim nio territorial Para perpetu lo sob seu dom nio preciso que as alian as estabelecidas entre seus membros produzam alian as capazes de evitar a fragmenta o excessiva e com isso a dissolu o do patrim nio Essa peculiaridade confere ao grupo a caracter stica de uma comunidade fechada na qual o acesso a terra se d unicamente pela via do parentesco WOORTMANN 1990 No mesmo sentido padr es de resid ncia casamento e heran a foram e s o acionados a fim de preservar o patrim nio nas m os dos que descendem dos fundadores de Lages das Aroeiras Tais estrat gias visam garantir sua reprodu o social que depende necessariamente da disponibilidade de terra para as gera es atuais e futuras CAMAROTE 2010 p 138 139 A espacialidade das resid ncias dos moradores da comunidade da Arvinha obedece a certa distribui o por troncos de maneira que os descendentes A unidade de medida alqueire se refere ao alqueire paulista corresponde aproximadamente a 2 42 hectares ou 24 200 m quadrados Conforme a regi o se utiliza unidades diferentes 73 pe Com uma casa de bom tamanho abrigaram e criaram onze filhos seis mulheres cinco homens A fam
356. si o daqueles territ rios Constitui saberes emp ricos experenciados utilizando se de t cnicas como a observa o o fazer refazer e o transmitir em seus cotidianos conhecimentos constru dos por gera es passados agora aos mais jovens Converte se tamb m em conhecimentos que os identificam como grupo O processo educacional de seus moradores muito importante no entender dessas popula es O conhecimento transmitido pela escola tradicional atrav s de um processo formal de ensino e aprendizagem tamb m valorizado pelos grupos tamanho o esfor o que os mais antigos principalmente faziam para poder chegar at esses locais Neste sentido procuramos assim discutir processos educativos nessas comunidades os saberes tradicionais numa intera o pessoal com os recursos naturais dispon veis O conhecimento dos aspectos culturais imprescind vel para essa compreens o em torno do modelo de vida adotado por popula es tradicionais em nosso caso os quilombolas A DPU al m do atendimento nas pr prias Unidades espalhadas pelo Brasil mant m projetos espec ficos para tratar das quest es que envolvem as comunidades tradicionais com a es in loco que colocam as comunidades tradicionais em contato direto com o Defensor P blico Federal entre as quais destacam se Projeto Brasil Quilombola que envolve outros setores parceiros do Governo como a Secretaria Especial de Pol ticas de Promo o da Igualdade Racial
357. sidade de considerar elementos epistemol gicos pr prios de uma educa o na perspectiva da cultura dos povos quilombolas de modo a resultar em uma efetiva organicidade da pedagogia dessa educa o no que se refere rela o entre teoria e a pr tica O contexto de uma popula o tradicional ribeirinha mas indicando que a constru o do saber pr pria em cada cultura retratado em Silva R 2004 Educa o para os retireiros n o a mesma coisa que ter estudo Para eles educa o o aprendizado que adquirem na viv ncia do dia a dia com os pais ou com os mais velhos estando relacionada ao comportamento moral respeito dedica o ao trabalho e a fam lia Ter estudo significa conhecer as t cnicas de viver na cidade aprender uma profiss o e usufruir as regalias de uma vida moderna Este fato apresentado por retireiros quando perguntado intencionalmente como a educa o do povo retireiro SILVA 2004 p 78 Os processos educativos instalados naquela comunidade educa o n o escolarizada e escolarizada embora pare am dissociados est o intimamente ligados garantindo aos retireiros a conserva o cultural e ambiental a manuten o da vida no ambiente e a esperan a de dias melhores a todos os membros Apesar de provoca es do mundo de fora a forma de organiza o social do trabalho grupal e do uso em comum dos recursos naturais pela comunidade permitiu que o conhecimento fosse social
358. siderando que as culturas t m como pr prias um projeto para aquele meio de maneira que a es desconsiderando a sabedoria das comunidades quase sempre t m causado danos a todos especialmente ao pr prio homem O usufruir dos recursos propostos pela natureza passa pelo desafio da conserva o O desenvolvimento sustent vel das comunidades remanescentes considerando seus aspectos sociais culturais e econ micos pode assim garantir um futuro n o apenas como um retrato do passado mas como manifesta es vivas e atuais de um grupo que consegue interagir com o mundo contempor neo aliando conhecimento tradicional e cient fico por meio dos processos educativos escolarizados e n o escolarizados E ainda permitindo transmitir seus conhecimentos e seu modo de vida a toda a sociedade como ensinamento de um modelo de rela o entre pessoa e natureza que demonstra ser economicamente sustent vel ecologicamente saud vel e socialmente justo O estudo da rela o entre educa o e meio ambiente se faz necess rio no contexto vivido pelas duas comunidades Na pr tica n o h exatamente uma separa o entre educa o ambiental e educa o propriamente dita e sim uma complementaridade entre ambas e o desejo de uma conviv ncia harm nica dos moradores com os recursos ofertados pela natureza Faz se necess rio ent o perceber a rela o entre o processo educativo instalado na comunidade e a conserva o dos recursos naturais N o se tr
359. spa os serem reduzidos e a constante degrada o da natureza Parece tanto na Morma a quanto em Arvinha haver uma tradi o sucess ria internalizada expressa em princ pios morais que regulam a transmiss o de terras assumindo como valor a exclusividade da posse das terras por membros das comunidades Trata se portanto do significado do parentesco como um c digo que regula o acesso e a transmiss o dos recursos b sicos da comunidade fundamentais para a produ o e para a reprodu o dessa comunidade A propriedade ent o um valor social intimamente associado ao principio da descend ncia ou sucess o Tal valor expresso em muitos casos pela no o de indivis o pois a fam lia tamb m seu patrim nio e este n o apenas uma materialidade mas igualmente uma sacralidade Wortmann E 1995 p 79 Nesse sentido confirma se uma das hip teses desta tese de que a manuten o do territ rio como espa o de sobreviv ncia e reprodu o daqueles grupos e consequentemente a identidade quilombola tem sido possibilitada num processo educativo pelas rela es interpessoais constitu das por uni es endog micas o parentesco e as rela es de compadrio e de amizade 214 A propriedade como continuidade descend ncia estabelece estreita liga o com a matrifocalidade possibilidade tamb m aventada ao iniciarmos esta pesquisa vindo a se confirmar A cultura matrifocal de lideran a comunit ria representada n
360. ssores e profundamente marcado por elementos de intersubjetividade medida que os mediadores desempenham o papel de comunicadores GOHN 1999 p 104 Depreende se que a partir deste car ter coletivo que o indiv duo adquire melhorias tanto para seu contexto quanto para a sociedade E tamb m por esse processo de educa o que s o tra adas estrat gias de sobreviv ncia da coletividade e de seus territ rios possibilidade criada nessa intera o 157 Esses processos educativos n o formais referidos pela autora e outros educadores preferimos trabalhar nesta pesquisa por uma quest o de nomenclatura utilizando se a express o processos educativos n o escolarizados de ensinar e aprender compreendida como aqueles que ocorrem fora dos limites da escola tradicional que habitualmente conhecemos Neste plano compreendemos esses processos educativos n o escolarizados como aqueles que acontecem nos mais diversos ambientes com ou sem a participa o de institui o alguma pr prio de comunidades que possuem sua pr pria sem ntica de vida Podemos aqui fazer lembran a s comunidades tradicionais que se constituem por uma popula o tradicional de caracter sticas nicas detentora de um profundo conhecimento do ambiente local Este conhecimento tamb m denominado tradicional constru do atrav s da necessidade de adapta o e sobreviv ncia dessa popula o ao ambiente em que vivem Para manterem se
361. ssos Educativos nas Comunidades de Arvinha e Morma a Os processos educativos que as comunidades remanescentes de Arvinha e Morma a t m experenciado em suas trajet rias e tidos como mais significativos foram aqueles exercitados em seus cotidianos no conv vio da casa com parentes pr ximos com a vizinhan a e num grupo maior com a comunidade trata se portanto de processos educativos de ensinar e aprender n o escolarizados que perpassam toda a hist ria pessoal de cada um de cada uma E num segundo momento a institui o escola como espa o tradicional A educa o escolarizada teve seu in cio em 1957 quando criada uma escola rural na comunidade da Arvinha a D Pedro Il onde as crian as podiam estudar at a 4 s rie do ensino fundamental fig 23 Na Morma a criada em 1963 a escola rural funcionou at in cio da d cada de 1990 ofertando tamb m as quatro s ries iniciais do ensino fundamental Ap s foram desativadas e os alunos realocados em escolas polo na sede dos munic pios de Sert o e Coxilha referidos anteriormente 170 Figura 23 Escola na Comunidade Arvinha mais tarde virou resid ncia de morador quilombola ati smp E mu ma o am E GRE mm mp mt a SS DER sas Fonte Arquivo da pesquisa 2011 A escola institucionalizada especialmente para as popula es rurais sempre foi muito importante na vis o dos pais dessas crian as que n o queriam a mesma realidade pa
362. stat sticos da Capitania A agricultura ocupar tamb m nesses primeiros anos o bra o escravo N o o far por m com exclusividade DACANAL amp GONZAGA 1979 p 82 Percebe se a utiliza o de um trabalho escravo velado no entanto capilarizado nessa regi o da Capitania do Rio Grande de S o Pedro Essa dura realidade vai oficialmente perdurar at quando o Imp rio em 1850 pressionado pela marinha inglesa come a efetivamente a reprimir o tr fico negreiro Apesar da supress o legal da entrada de novos escravos haver ainda os desembarques clandestinos O contrabando de escravos que desembarcavam em Montevid u no Uruguai era comum Quando ao iniciarmos este texto falando sobre o suic dio de negros escravos a inten o era incitar suscitar a discuss o porque de fato desde o 41 momento de sua ca ada o aprisionamento a viagem e as condi es a que eram sujeitados a permanecerem no Brasil constitu am verdadeira ruptura brutal e um risco integridade como do ser humano Diante das adversidades cotidianas realidade a que pais m es jovens e idosos fam lias inteiras eram submetidos o sentimento pela mudan a de uma nova vida longe de sua terra de sua cultura e dos 21 retratado na seus continuava latente em cada pessoa Desde o navio negreiro poesia de Castro Alves publicada em 1868 em sua V parte podemos assim perceber Senhor Deus dos desgra ados Dizei me v s Senh
363. stitu das sem qualquer nus financeiro com obrigat ria inser o de cl usula de inalienabilidade imprescritibilidade e de impenhorabilidade devidamente registrado no Servi o Registral da Comarca de localiza o das reas INCRA Instru o Normativa n 20 de 19 de setembro de 2005 Ainda considerando o presente artigo onde o dom nio do territ rio est baseado na titula o coletiva e indivis vel da terra n o h possibilidade de defini o de um herdeiro Assim a estrat gia considerada como tra o de campesinidade no contexto atual das comunidades quilombolas n o se sustenta e a ela se sobrep e l gica do coletivo patrimonial Por outro lado h uma aproxima o na rela o com a 137 terra enquanto espa o de reprodu o da vida e n o enquanto mercadoria afirmada pela cl usula de inalienabilidade imprescritibilidade e de impenhorabilidade das terras tituladas em nome das associa es comunit rias quilombolas Por m noutra interpreta o tra os de uma campesinidade quilombola ainda se identificam na compreens o da terra como patrim nio a ser cuidado e legado s gera es futuras garantindo a reprodu o social e identit ria das fam lias do parentesco como sustenta o do territ rio e a dimens o pol tica do processo de titula o das terras quilombolas Nos di logos que temos tido nas comunidades com seus moradores l deres familiares e n o foi somente uma vez nos pergunt
364. struir o processo para fins de registro ou tombamento e zelar pelo acautelamento e preserva o do patrim nio cultural brasileiro Art 19 Fica institu do o Comit Gestor para elaborar no prazo de noventa dias plano de etnodesenvolvimento destinado aos remanescentes das 235 comunidades dos quilombos integrado por um representante de cada rg o a seguir indicado Alimentar e Casa Civil da Presid ncia da Rep blica II Minist rios a da Justi a b da Educa o c do Trabalho e Emprego d da Sa de e do Planejamento Or amento e Gest o f das Comunica es g da Defesa h da Integra o Nacional i da Cultura j do Meio Ambiente k do Desenvolvimento Agr rio da Assist ncia Social m do Esporte n da Previd ncia Social o do Turismo p das Cidades IIl do Gabinete do Ministro de Estado Extraordin rio de Seguran a Combate Fome IV Secretarias Especiais da Presid ncia da Rep blica a de Pol ticas de Promo o da Igualdade Racial b de Aquicultura e Pesca e c dos Direitos Humanos 8 1 O Comit Gestor ser coordenado pelo representante da Secretaria Especial de Pol ticas de Promo o da Igualdade Racial 236 8 2 Os representantes do Comit Gestor ser o indicados pelos titulares dos rg os referidos nos incisos a IV e designados pelo Secret rio Especial de Pol ticas de Promo o da Igualdade Racial 3 A participa o n
365. sume a espa os pr determinados uma rea de campo uma pra a ou a uma rua ele tem que despertar um sentido levar consigo um significado de apropria o um sentimento Por isso o sentido do pertencimento eu sou daqui e de apropria o isto meu esta a minha terra este meu dom nio muito presente no campesinato e tamb m entre os moradores de Arvinha e Morma a campesinato quilombola vindo ao encontro das percep es de Haesbaert 2004 Portanto todo territ rio ao mesmo tempo e obrigatoriamente em diferentes combina es funcional e simb lico pois exercemos dom nio sobre o espa o tanto para realizar fun es quanto para produzir significados HAESBAERT 2004 p 4 Essas comunidades no vivenciar de seus cotidianos experenciam esse territ rio como um lugar habitado constituindo se assim num lugar de ocorr ncia de sentido bem na vis o de Milton Santos para quem o territ rio s faz sentido como espa o usado O territ rio diz ele s se torna um conceito utiliz vel para a an lise social quando o consideramos a partir de seu uso a partir do momento em que o pensamos justamente com aqueles atores que dele se utilizam SANTOS M 2000 p 22 poss vel assim um mesmo territ rio ensejar diversas representa es multiterritorialidades Haesbaert 2004 trabalha o conceito das multiterritorialidades como as diferentes formas que se a
366. t o podendo ter acesso a uma s rie desses programas O Programa Bolsa Fam lia um dos mais abrangentes participando deles diversas fam lias em Arvinha e Morma a quadro 1 a Programas Sociais do Governo Federal Uma base de dados com informa es sobre cerca de 25 8 milh es de fam lias brasileiras e principal ferramenta para constru o de pol ticas p blicas voltadas redu o da pobreza e das desigualdades no Brasil o Cadastro nico para Programas Sociais do Governo Federal refer ncia atualmente para 18 programas e a es da Uni o voltadas popula o de baixa renda O n mero de fam lias inscritas corresponde a 82 4 milh es de pessoas ou seja mais de 40 da popula o brasileira O p blico priorit rio do Cadastro nico formado por 18 5 milh es de fam lias que recebem por m s at R 140 por pessoa Destas 13 8 milh es atendida pelo Programa Bolsa Fam lia Outras 7 3 milh es de fam lias t m renda que varia entre R 140 01 mensais por pessoa ou possuem renda familiar total de at tr s sal rios m nimos Dispon vel em http www mds gov br saladeimprensa noticias 1 2013 setembro cadastro unico garante acesso a programas sociais do governo federal Acesso em 12 out 2013 203 Quadro 1 Programas e a es federais que utilizam o Cadastro nico Aposentadoria para Pessoa de Baixa Renda Aux lio Emergencial Financeiro Bolsa Estiagem Programa Brasil Alfabetizado PB
367. ta de sua publica o Art 25 Revoga se o Decreto n 3 912 de 10 de setembro de 2001 Bras lia 20 de novembro de 2003 182 da Independ ncia e 115 da Rep blica LUIZ IN CIO LULA DA SILVA Gilberto Gil Miguel Soldatelli Rossetto Jos Dirceu de Oliveira e Silva Este texto n o substitui o publicado no D O U de 21 11 2008 237 ANEXO B INSTRU O NORMATIVA N 20 DE 19 DE SETEMBRO DE 2005 DOU n 185 de 26 9 05 se o 1 p 79 Regulamenta o procedimento para identifica o reconhecimento delimita o demarca o desintrus o titula o e registro das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que tratam o Art 68 do Ato das Disposi es Constitucionais Transit rias da Constitui o Federal de 1988 e o Decreto n 4 887 de 20 de novembro de 2008 O PRESIDENTE DO INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZA O E REFORMA AGR RIA no uso das atribui es que lhe conferem o art 18 inciso VII da Estrutura Regimental aprovada pelo Decreto n 5 011 de 11 de mar o de 2004 e art 22 inciso VIII do Regimento Interno da Autarquia aprovada pela Portaria MDA n 164 de 14 de julho de 2000 resolve OBJETIVO Art 1 Estabelecer procedimentos do processo administrativo para identifica o reconhecimento delimita o demarca o desintrus o titula o e registro das terras ocupadas pelos remanescentes de comunidades dos quilombos FUNDAMENTA O LEGAL Art 2 As a es
368. te em 27 e 28 de agosto de 2012 nos reunimos com moradores e moradoras nas duas associa es para melhor expor a inten o da pesquisa o que tratava e principalmente onde se inseriam as comunidades identificando qual visibilidade vislumbravam para suas causas Dialogamos deixamos alguns escritos e pudemos visitar v rias moradias conversando sobre o trabalho identificando as pessoas colaboradoras com informa es importantes dentro dos temas a serem tratados Dando prosseguimento nesta intera o pudemos realizar trabalho de campo que se estendeu na semana de 15 a 19 de outubro de 2012 s Comunidades Remanescentes e organismos p blicos dos munic pios de Sert o e Coxilha Foram momentos de di logos e narrativas com moradores e membros das associa es comunit rias e a agentes p blicos Entrevistamos as Secret rias da Educa o e de Assist ncia Social Diretora e Coordenadora Pedag gica da Escola Municipal Pantale o da Costa no munic pio de Coxilha e Secret ria da Educa o de Sert o temas e dados com refer ncia a educa o e projetos decorrentes de pol ticas p blicas para Arvinha e Morma a No alimentar dessas rela es buscamos estar mais pr ximos daquelas realidades de suas hist rias e de seus anseios para escrever o protagonismo que homens e mulheres diariamente evocam para manter a continuidade do grupo O sujeito ele mesmo um ser social s o as a es humanas que modelam e transformam a sociedade
369. tem para desenvolver com essas popula es ou qual programa projeto esse Campus do Instituto Federal vem desenvolvendo At o ano 2007 nos seus quarenta anos de cria o nenhum passo naquela dire o nenhuma pol tica de aproxima o nenhuma pol tica de inclus o pelo contr rio tamb m velada a ideia de que nossa atividade a educa o essa quest o social n o somos n s que iremos resolver Mas a inconformidade diante desse imobilismo aquela situa o a nos provocar quest es antes latentes agora afloram surge o questionamento a partir desse cen rio onde n s educadores nos inserimos Al m disso inquietava o fato de n o termos estudantes negros no Campus e nem ind genas O que surpreende pois de fato h diversas comunidades negras reconhecidas no Rio Grande do Sul e bom n mero que protocolaram documenta o para reconhecimento mas que ainda continuam invisibilizadas pela sociedade em geral principalmente por gestores e agentes p blicos e tamb m por institui es p blicas de ensino e neste caso referindo ao Instituto Federal do RS campus Sert o Desse modo elegemos nosso campo emp rico as Comunidades Quilombolas de Arvinha e Morma a que j haviam sido reconhecidas como comunidades remanescentes de quilombos CRQ pela Funda o Cultural Palmares FCP Conforme dados da Funda o Cultural Palmares entidade respons vel por emitir a Certid o de Comunidade Remanescente de Quilombo
370. teressa vender a rea para a Uni o com essa finalidade n o coloca dificuldades N C 66 mar o de 2014 Depreende se disso a possibilidade da negocia o e n o ser um processo traum tico considerando n o haver necessidade de desintrus o A altera o da conforma o territorial com a vinda de outros grupos e a usurpa o de reas territ rio praticada por empresas colonizadoras com o aval do Estado no passado e tamb m por m dios e grandes produtores da regi o modificaram n o s a geografia paisagem do ambiente mas tamb m impediram formas sociais alternativas de organiza o do espa o A perda dos territ rios implicou a devasta o de rvores e pomares hortas e etc Mas o importante a notar que a nfase dada por alguns moradores ao fato de a regi o ter outra configura o quando os dom nios pertenciam exclusivamente ao grupo revela uma inconformidade n o apenas com o esbulho de terras mas com a altera o espacial de um territ rio vida outrora conservado e abundante em alimentos e animais RAMOS 2009 p 64 Depreende se que n o somente ocorreu uma mudan a f sica na paisagem o que j representa um grande dano a essa terra territ rio mas desencadeia um 94 processo mais profundo que certamente afetar a constitui o identit ria dos habitantes daquelas comunidades o desintegrar do territ rio vida ou seja a compreens o de um territ rio repleto de espa os de ap
371. terna e externa no combate pobreza e desigualdade social em a es de distribui o de renda da sa de familiar da educa o da moradia do cr dito e o acesso a outros servi os que resgatam a cidadania Entendo ser necess rio que essas medidas como exemplo na educa o levem em considera o as rela es raciais ao serem implantadas n o h mais espa o para negar que o acesso aos diversos direitos do ser humano nunca foram dispostos igualmente a todos no Brasil Numa outra vis o ao se adotar pol ticas de cunho universalistas levar se ia maior tempo na possibilidade de promover a igualdade em oportunidades o que j demandou muita espera 219 Na compreens o de De Deus 2000 p 9 10 cabe ao Estado o mesmo Estado que teve e que tem um papel importante na reprodu o de rela es sociais estruturadas racialmente o desafio de transformar se em instrumento de a o pol tica antirracista A implementa o das pol ticas de a o afirmativa s o formas de efetivamente reduzir a discrep ncia de oportunidades entre os mesmos brasileiros diferentes em suas origens As institui es de ensino locais e regionais t m ainda um papel especial a desenvolver com as comunidades remanescentes em inserir se em suas hist rias Inserir se oportunizar a participa o dessa popula o nas discuss es sociais e educacionais mais que ter estudantes em suas classes est em ofertar uma educa o inclusiva que contemple es
372. texto cultural de cada povo A educa o escolar em diversos momentos n o tem respeitado o saber de povos tradicionais e consequentemente sua cultura Este modelo de educa o tem sido utilizado como mecanismo de dom nio de povos e tamb m como mecanismo de sustenta o do sistema capitalista Com o avan o do capitalismo a tarefa da escola torna se ainda mais espec fica e muitas vezes contestada por grande parte da popula o e por estudiosos uma vez que ela atende ao interesse das classes dominantes e reproduz as mazelas sociais Bourdieu 1999 destaca a influ ncia da escola na sociedade Para ele a escola exerce uma viol ncia simb lica quando com suas pr ticas reproduzem a cultura dominante sustentada por uma pr tica pedag gica padronizada ignorando as diferen as sociais culturais e econ micas O fazer pedag gico no ensino formal n o leva em conta o interesse do aluno a menos que este esteja em conson ncia com os sistemas de classes dominantes Brand o 2007 p 26 argumenta que o ensino formal o momento em que a educa o se sujeita pedagogia criando situa es pr prias para o seu exerc cio Neste modelo de aprendizado a educa o tem objetivos regras e p blico definido H uma inten o previamente estabelecida Sendo esta a intencionalidade algo marcante na educa o formal Ibid p 99 Reinventar a educa o talvez seja uma das express es mais significativas na trajet ria do educador
373. tia de confidencialidade e esclarecimentos sempre que desejar Diante do exposto expresso minha concord ncia de espont nea vontade em participar deste estudo Assinatura do a volunt rio a Assinatura de uma testemunha Eu Heron Lisboa de Oliveira declaro que obtive de forma apropriada e volunt ria o Consentimento Livre e Esclarecido deste a volunt rio a para a participa o neste estudo Assinatura da respons vel pela obten o do TCLE 245 Dados do pesquisador Heron Lisboa de Oliveira Travessa Picos 41 bairro Centro Ibirub RS CEP 98200 000 Tel 54 91583579 Email heron lisboaQifrs sertao gov br Orienta o do projeto Prof Dr Edla Eggert Email edlaDunisinos br
374. tir as realidades das comunidades de Arvinha e Morma a especialmente as quest es espa o e territ rio e suas imbrica es para manuten o e amplia o nos envolvemos no campo emp rico da descend ncia das matriarcas Cezarina de 220 Miranda e Francisca Vieira Estas popula es v m desde a segunda metade do s culo XIX estabelecendo estrat gias de sobreviv ncia ou melhor estrat gias de ensinar e de aprender para n o terem suas descend ncias absorvidas nos espa os comuns da sociedade brasileira Pensamos assim termos alcan ado o objetivo maior desta pesquisa que esteve em analisar essas estrat gias educativas baseadas numa cont nua pr tica de atos de d diva e reciprocidade em processos educativos n o escolarizados que perpassaram conhecimentos e experi ncias por gera es e nas rela es de parentesco de compadrio e de amizade cultivados fazendo com que se mantivessem esses espa os e n o se retrocedesse na luta por amplia o a originalidade das reas que dever findar com a titula o coletiva As descobertas e as aprendizagens que essas pessoas nos oportunizaram transformaram se em reflex es dentro do campo de estudo que hav amos proposto a educa o Os dados levantados por esta e outras pesquisas nas comunidades de Arvinha e Morma a talvez possam constituir subs dios na modifica o e cria o de novas pol ticas pontuais na ado o de medidas concretas que visem manter e ampliar seus territ rio
375. tnoeducativos devem unir suas ra zes na cultura de cada povo de acordo com os padr es e mecanismos de socializa o de cada um em particular Cada grupo humano conta com os mecanismos b sicos para educar seus membros dentro de maneiras pr prias que garante sociedade os elementos necess rios para construir seu dever hist rico no contexto de seu projeto de pessoa e de sociedade No Brasil a educa o como hist ria vem se constituindo como rea de conhecimento e rea de interven o social fruto da interfer ncia significativa dos Movimentos Sociais em diferentes conjunturas sociais pol ticas e econ micas Nessas duas ltimas d cadas o debate sobre a educa o das classes populares e sua inser o nas pol ticas p blicas est profundamente vinculado s transforma es do trabalho e consequentemente estrutura pol tica de estado Quem educa segundo Rodrigues amp Tamanini 2012 precisa incluir os valores da comunidade em que se atua nas suas pr ticas pedag gicas e que esta atua o se d a partir de um compromisso social b sico Gohn 2010 2011 Freire 1996 afirmam que toda a pr tica educativa demanda a exist ncia de sujeitos um que ensinando aprende e outro que aprendendo ensina Depreendendo se disso o processo educativo nas comunidades quilombolas n o se pautar apenas s atividades formais de ensino mas tamb m s atividades do cotidiano da popula o proporcionadas pela pr pria fam l
376. to do Patrim nio Hist rico e Nacional IPHAN Il Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov veis IBAMA e seu correspondente na Administra o Estadual 240 IIl Secretaria do Patrim nio da Uni o do Minist rio do Planejamento Or amento e Gest o IV Funda o Nacional do ndio FUNAI V Secretaria Executiva do Conselho de Defesa Nacional VI Funda o Cultural Palmares Par grafo nico Expirado o prazo e n o havendo manifesta o dos rg os e entidades dar se como t cita a concord ncia sobre o conte do do relat rio t cnico CONTESTA ES Art 13 Os interessados ter o o prazo de noventa dias ap s a publica o e as notifica es para contestarem o Relat rio T cnico de Identifica o e Delimita o junto Superintend ncia Regional juntando as provas pertinentes 8 1 Competir ao Comit de Decis o Regional CDR o julgamento das contesta es oferecidas 8 2 As contesta es e os recursos oferecidos pelos interessados ser o recebidos apenas em efeito devolutivo JULGAMENTO Art 14 As contesta es e manifesta es dos rg os e interessados indicados no artigo 12 ser o analisadas e julgadas pelo Comit de Decis o Regional CDR ap s ouvidos os setores t cnicos e a procuradoria regional Par grafo nico Se o julgamento das contesta es ou manifesta es implicar em altera o das conclus es do Relat rio T cnico de Identifica
377. tos na Coordena o Geral de Regulariza o de Territ rios Quilombolas DFQ INCRA 1 281 processos solicitando regulariza o fundi ria de comunidades remanescentes de quilombos em todo o Brasil 79 no RS Dispon vel em http www incra gov br media politica fundiaria Quilombolas novas processos abertos pdf Acesso em 12 jun 2014 71 2 5 Associa es Comunit rias instrumentos de representa o Uma organiza o civil representativa algo presente em qualquer grupo social seja ele urbano ou rural Normalmente o que motiva o ser humano a se organizar a necessidade de enfrentar desafios Os processos de organiza o social no campo est o em grande parte relacionados ao enfrentamento de desafios Tais desafios podem ser compreendidos de diversas formas luta pela terra reivindica o de cr dito e assist ncia t cnica melhoria da infraestrutura estradas eletrifica o garantia dos servi os sociais b sicos educa o e sa de dentre outros Pode se dizer que a forma pela qual as pessoas escolhem e se arranjam para se relacionar coletivamente ou seja a forma de intera o entre as pessoas com um determinado objetivo Para as comunidades quilombolas esse objetivo passa pela luta por seus territ rios o fim da discrimina o uma educa o constru da a partir da realidade da comunidade tendo por refer ncia a ancestralidade e a express o de sua cultura e seus valores Na luta pelo reconhecimento da o
378. trancaram e plantaram por cima N R 65 outubro de 2012 Para o morador ao extrair da mem ria uma imagem do ambiente externo natural reclama o reconhecimento da exist ncia desses marcadores espaciais o po o ou um cap o de mato invocando o acontecimento da expropria o sofrido pelos negros Por outro lado poss vel evidenciar como essas formas de aquisi es suspeitas foram sendo na sua fala atualizadas Os brancos por motivos variados falecimentos naturais ou morte violenta migra es propriedades onde morava mulher m e e filhos ou era dirigida por este povo negro aproveitaram e foram subtraindo terras ou quando negociados eram por valores vis em sua maioria 90 3 2 1 O Espa o de Sociabilidade Reconfigurando o Territ rio A ocorr ncia de rela es parentais entre quase a totalidade dos membros em cada comunidade fez com que se concretizassem valores morais regidos por determinados c digos A condi o de ser parente compadre amigo e vizinho determinante na intera o o que torna o v nculo primordial na compreens o da din mica social das comunidades Observando a rela o estabelecida entre os remanescentes da Morma a com os vizinhos eurodescendentes em sua maioria italiana t m se novamente uma perspectiva de contraste Tomando se o sistema de mercado visto pelos dois grupos se expressa a uma dualidade onde o sistema de mercado pressup e uma raz o utilit ria ou sej
379. ue nos ofereceu o bem conservando ainda algo dela Mauss 1974 vai chamar isso de hau termo colhido da cultura Maori a qual pesquisou descobrindo que se refere ao sentido de todas e coisas e atos simboliza que elas n o existem em v o elas possuem um poder elas possuem alma Sintetiza o modo de agir daquelas tribos Suponha que voc possua um artigo determinado e que me d esse artigo voc me d sem pre o fixado N o fazemos negocia es a esse respeito Ora dou esse artigo a uma terceira pessoa que depois de transcorrido um certo tempo decide retribuir alguma coisa em pagamento ela me d de presente alguma coisa taonga Ora esse taonga que ele me d o espirito hau do taonga que recebi de voc e que dei a ela O taonga que recebi preciso que eu os devolva devo d los de volta pois s o um hau do taonga que voc me deu Se eu conservasse esse segundo taonga poderia advir me um mal seriamente at mesmo a morte Assim o hau o hau da propriedade pessoal MAUSS 1974 p 198 D nos entendimento que o v nculo pelas coisas um v nculo de almas pois a pr pria coisa tem uma alma uma alma Donde resulta que apresentar alguma coisa a algu m apresentar algo de si Esse dar representado pela d diva pode vir revestido pelo ato de retribuir a que conhecemos como reciprocidade ficando mais claro assim a natureza da troca nesse conceito de presta o total Compreende
380. ue o ordenamento brasileiro passou a reconhecer em seu texto constitucional a partir de 1988 uma forma de propriedade diferenciada dentro de uma pluralidade cultural social e tnica evidente no mbito jur dico que o territ rio quilombola amplamente assegurado e que se trata de uma ocupa o especial que em muito se diferencia das ocupa es de posseiros comuns TORRES 2007 p 13 25 pertencem s gentes das classes populares e que h tempo querem participar da produ o de suas hist rias aprender a reescrever a Hist ria atrav s da sua hist ria Considerando que nenhum conhecimento neutro e nenhuma pesquisa serve teoricamente a todos dentro de mundos sociais concretamente desiguais Carlos Brand o 2006 p 11 temos muito claro o car ter pol tico da atividade cient fica N o me refiro milit ncia mas constante indaga o nos escritos de autores como Paulo Freire p 36 Rosiska Oliveira p 22 e Fals Borda p 44 2006 A quem sirvo com minha ci ncia Por isso a necessidade do esfor o da pesquisa em ter a exata compreens o no retratar a hist ria das comunidades remanescentes quilombolas de Arvinha e Morma a e ser fidedigno aos seus pensamentos A autenticidade e compromisso de quem pesquisa com os sujeitos e com a pr pria pesquisa constitui um dos pressupostos de trabalho da pesquisa participante como op o metodol gica Estabelecer la os rec proco
381. uindo pr ticas inovadoras no contexto escolar Essas reflex es podem estabelecer rupturas anunciar formas emancipat rias para o trato da diferen a Se etnicismo se racismo se ra as existem ou n o existem o importante que a discuss o est estabelecida no interior da escola na escola t o silenciosa ada e desta forma a aplicabilidade da lei pode se dar como processo e n o como produto de uma determina o meramente legal As leis geralmente surgem para impor uma ordem A lei n 10 639 03 faz o seu reverso desordena estruturas fixas de organiza o escolar e de pensamento pedag gico ao desordenar um curr culo escolar NUNES 2006b p 349 350 A desconstru o desses conceitos papel que cabe escola aos educadores mas especialmente sociedade brasileira que tem sua popula o representada nas suas mais diversas origens No entanto deve compreender a necessidade de um despir de seus conceitos e preconceitos Conforme Joc li Domanski Santos 2010 p 5 os debates sobre rela es raciais no Brasil tornaram se mais intensos ap s essa legisla o ser editada Por um lado estudiosos com vis o mais cr tica defendendo a necessidade de uma reorganiza o de curr culo que contemple a cultura africana e afro brasileira como elemento fundamental da nossa cultura e em defesa de pol ticas sociais compensat rias por outro lado conservadores representados pela imprensa falada 8
382. ulares de uso de plantas medicinais fitoter picos e rem dios caseiros como elementos para a promo o da sa de conforme preconiza a Organiza o Mundial de Sa de BRASIL 2007 Dispon vel em http www mda gov br portal saf arquivos view Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoter C3 Aipicos pdf Acesso em 7 mar 2014 183 nativas Dentre esses vegetais os que mais se destacam s o a erva cidreira O alecrim o alho a arruda a aroeira o caruru a folha da laranjeira o mentrasto mentruz o tansagem a macela ou marcela que colhida antes do nascer do sol na quinta feira santa que antecede a P scoa crist al m de uma s rie de outras tantas fig 24 Cultivam em canteiros jardins e em pequenas hortas pr ximas das casas Al m desses vegetais a popula o faz uso de outras plantas medicinais encontradas em reas fora da comunidade Esse conhecimento vem sendo transmitido de gera o a gera o e depositado na mem ria de seus contempor neos Fonte Arquivo da pesquisa 2013 2014 Dentre as esp cies citadas pelos quilombolas como de uso medicinal uma pequena parcela s o ex ticas e foram domesticadas em seus ecossistemas naturais enquanto a maior parte de origem mediterr nea provavelmente chegaram ao Brasil no per odo colonial como o caso da arruda do alecrim e do tansagem Por m a maioria das esp cies encontradas nas comunidades quilombolas e tamb m ind genas e caboclas
383. uma forma o de reciprocidade o que nos parece diferente daqueles que se estabelecem nas festividades ao entorno que temos participado Esse canal dial gico pr prio da 189 observa o participante dentro de um exerc cio de escuta atenta nos propicia esses resgates que entre outros aspectos se constituem atos de ensinar e aprender involunt rios s vezes mas que se adentram em suas mentes e corpos As reuni es das Associa es dos Remanescentes que acontecem no Sal o Comunit rio ou melhor na Senzala Social da Comunidade outro espa o em que homens mulheres adolescentes e crian as debatem suas comunidades se educando e pondo em pr tica essa condi o cidad onde verdadeiras transforma es de personagens se processam nas discuss es Moradores que por diversas vezes permaneceram quase calados nos encontros que temos tido t m na associa o ocupado espa os e transmitido seus conhecimentos que vivenciados acumularam se e nestes momentos s o compartilhados com todos os presentes A conquista dos direitos dessas comunidades passa pela necessidade de uma representa o forte e articulada A Associa o dos Remanescentes do Quilombo da Arvinha e a Associa o dos Remanescentes do Quilombo da Morma a criadas no ano de 2007 s o instrumentos necess rios para a representa o e tr mites legais por m mais importante a possibilidade em falar por um lugar de uma comunidade remanescente quilombola
384. unidade do Quilombo da Morma a poca de sua ocupa o provavelmente tenha sido por apossamento consciencioso considerando que Francisco de Miranda e Am ncio de Oliveira participam no ano de 1871 da funda o da Sociedade Libertadora do Sexo Feminino que visava alforriar escravas e incentivar a campanha abolicionista o que teoricamente deveriam concordar com a liberta o No entanto n o se encontrou registros de que na ocasi o da funda o da Sociedade algu m deles tenha sido liberto Por m essa aparente calmaria na territorializa o dos moradores negros conformando ent o a Vila Morma a n o duraria muito tempo Com a implanta o de uma pol tica p blica estadual de ocupa o espacial povoamento e produ o mercantil na regi o norte do Rio Grande do Sul nos in cio de mil e novecentos iniciam as medi es de terra a partir de 1907 dos lotes da Se o 3 do hoje atual munic pio de Sert o para receberem descendentes de imigrantes italianos e alem es 32 Em rela o forma como se deu a ocupa o dessas reas importa ressaltar que os territ rios das comunidades at aqui conhecidas foram conquistados atrav s das mais variadas estrat gias por parte dos ex escravos e seus descendentes doa o testament ria de ex senhores apossamento compra e ref gio por aquilombamento Sobressaia se a doa o testament ria Rosane Rubert et al 2005 p 118 33 Considerando a import nci
385. upo como espa o alternativo e aut nomo para que a l gica da sucess o com base nas rela es estabelecidas de parentesco compadrio e amizade tenham continuidade mantendo o Entre as normas sociais que fazem a regula o cotidiana da comunidade um senso de justi a local emerge relacionado ao direito comum sobre a terra As rela es de d divas alicer adas no parentesco nas rela es de compadrio e amizade regulam todo o processo de apropria o dos recursos do territ rio A resist ncia expropria o das terras em per odo passado especialmente pela vulnerabilidade da comunidade Morma a e a press o cont nua para que se desfa am das reas amea ando a exist ncia do grupo tem sido fortalecida pelo sentimento de Comunidade estimulando a coes o social como forma de resist ncia diante da concretude dos momentos mais adversos As rela es de parentesco atuais e pret ritas efetivam ent o a sustenta o aos territ rios quilombolas e projetam seu vir a ser A expectativa pelo constructo territorial que garanta a reprodu o das fam lias enfatiza o car ter de patrim nio da terra e ordena o trabalho de identifica o das comunidades quilombolas de forma que para Wortmann E 1995 a dimens o do parentesco como princ pio organizat rio da reprodu o social do campesinato campesinato quilombola o enfatiza como fundamento da identidade e das representa es coletivas bem como da reprodu o do patrim nio atra
386. utros grupos A leitura a ser feita precisa reconhecer e valorizar todas as contribui es oriundas das mais diversas culturas para a forma o do povo brasileiro Para a pesquisadora Georgina Helena Lima Nunes 2006a a proposta de uma Educa o Quilombola passa por analisarmos qual concep o e para tanto necess rio que se reflita sobre o lugar onde o conhecimento vai ser concebido sobre quais conceitos se sustenta uma proposta de educa o das rela es raciais em que base did tico pedag gica as pr ticas educativas emancipat rias ser o poss veis al m das estruturas reais e necess rias para que este processo se desencadeie Construir esta proposta um exerc cio da pr xis um fazer cuja ess ncia e apar ncia n o se desvinculam do ato de criar as condi es necess rias para que educadores as e educandos as na rela o entre si e com o espa o onde se efetiva a pr tica pedag gica construam um conhecimento agregador de saberes sociais e saberes cient ficos Ibid p 143 Ent o assim de se considerar uma poss vel n o obedi ncia ao sistema formal e mesmo informal de educa o desobedi ncia esta capaz de criar possibilidades onde a comunidade possa seguir fazendo outros caminhos que lhes permitam conduzir segundo crit rios que melhor os identifique com suas realidades N o se quer uma escola a perpetuar contextos estabelecidos para manter uma concep o de educa o nica cuja hist ria tamb m
387. v s das gera es o parentesco como ideologia e como pr tica fornece uma resposta associada ao princ pio territorial WOORTMANN 1995 p 57 Ferreira 2006 ao discutir o art 4 da Instru o Normativa n 20 2005 elaborada pelo INCRA no sentido de que as terras de direito dos quilombolas passam a ser consideradas ent o todas aquelas ocupadas pela comunidade e e Instru o Normativa INCRA n 20 2005 Art 4 Consideram se terras ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombos toda a terra utilizada para a garantia de sua reprodu o f sica social econ mica e cultural bem como as reas detentoras de recursos ambientais necess rios preserva o dos seus costumes tradi es cultura e lazer englobando os espa os de moradia e inclusive os espa os destinados aos cultos religiosos e os s tios que contenham reminisc ncias hist ricas dos antigos quilombos Essa legisla o j referida anteriormente est aqui para facilitar a compreens o 133 tamb m aquelas necess rias preserva o de seus costumes tradi es cultura e lazer subentende que a defini o do territ rio quilombola se d a partir das necessidades apontadas pela comunidade para a garantia de sua reprodu o Na identifica o do territ rio a indica o dos crit rios de territorialidade sustenta tanto o territ rio ancestral expropriado quanto o territ rio a ser reconstru do Assim a mem ria do parent
388. va um projeto de resist ncia na busca por liberdade e constitui o de la os sociais 53 culturais e familiares no quilombo Como pr prio das tradi es africanas Cezarina e Francisca Vieira em espa os f sicos diferentes constru ram uma forma de organiza o social unilinear com base em suas descend ncias compartilhando la os de parentesco de compadrio e de amizade A distribui o espacial das fam lias nessas comunidades se d de forma diferenciada Na Arvinha com uma rea f sica dispon vel maior mais plana entre baixadas e coxilhas distribuem se os descendentes diretos de quatro dos cinco troncos filhos de Cezarina j referidos convivendo em cada um deles uma descend ncia Ao todo 28 fam lias possuem resid ncias individualizadas realizam suas atividades conjuntamente dispondo de uma condi o social e econ mica melhor estruturada O n cleo da fam lia de Teresinha Costa e seu esposo Avelino Costa s o origin rios dos troncos Silvana e Leonor fig 07 Figura 7 Casal Avelino de Vargas e Maria Teresinha Costa Vargas descentes bisnetos dos troncos de Leonor e Silvana de Miranda Fonte Arquivo da pesquisa 2014 J na Morma a como mencionado esse arranjo espacial se constitui num aglomerado de resid ncias formando uma vila a Vila Morma a onde a Tronco ou tronco velho termo utilizado por quase os moradores da Arvinha com quem pudemos dialogar
389. vez sejam as que maior n mero de compromissos assumem mesmo antes do dia marcado para o puxir o organizam a casa os lugares das refei es providenciam a comida ajudam no trabalho agr cola e ainda ao final das tarefas voltam a reorganizar aqueles espa os desempenhando uma verdadeira multiplicidade de jornadas Atualmente essas atividades se reduziram bastante consequ ncia tamb m da diminui o territorial das comunidades principalmente da Morma a Uma das moradoras mais antigas e que participou dessas atividades Dona Teresa tem clara lembran a desse tempo Naquela poca se plantava milho feij o e trigo No ver o no sol de janero tinha que arranca o feij o e deixa seca no tempo Quando secava tinha que mai de uma vez antes da chuva Por abril dobrava o milho pra secar melhor e n o d caruncho depois nas colheita fazia as bandera e tinha que trilhar N is n o tinha trilhadera pagava pros de fora O trigo dava trabalho cortava com uma foicinha tinha que se 6o Jornada de trabalho da mulher O processo de emancipa o das mulheres tem avan ado significativamente no ltimo s culo e in cio do novo pelo protagonismo das a es e embates que realiza em seu cotidiano de espa os p blicos privados Os meios de comunica o dispon veis atrav s da melhoria tecnol gica aproximaram informa es antes restritas a grupos dando conta dos direitos universais entre eles liberdade e democracia As
390. xilha bem em frente a uma rodovia federal a Transbrasiliana De l por ser um descampado poss vel avistar a uns cinco quil metros em cada uma das quatro dire es algum movimento ou aproxima o poca na ocorr ncia do s culo XVIII conta a moradora Maria Teresinha Costa Vargas uma de nossas acompanhantes nas idas comunidade 2 O termo Alforria vem do rabe onde a express o pronunciada como AI Horria quer dizer A Liberdade A Carta de Alforria era um documento cedido a um escravo por seu propriet rio Era um tipo de atestado de liberdade em que o propriet rio abdicava dos seus direitos de posse sobre o escravo Este ltimo ap s a Alforria era chamado negro forro Alforria alforriado n o era usado somente no Brasil mas em todas as col nias portuguesas que adotaram o regime escravista Dispon vel em http www historiabrasileira com escravidao no brasil carta de alforria Acesso em 20 mai 2013 47 T era caminho por onde passavam piquetes de soldados guerreiros e saqueadores j que era uma regi o de constantes lutas Pr ximo dali tem o Passo dos Tropeiros uma passagem pelo rio Bugio hoje uma sanga com mais ou menos quinze metros de largura que esses tropeiros davam gua tropa e seguiam adiante para acampar na mangueira da Arvinha Maria Teresinha 58 out 2012 Ainda h vest gios da Estrada Velha que de fato conforme conta a hist ria
391. xperi ncias novas formas de ensinar e de aprender novos projetos essencialmente te ricos confinados a determinados espa os e outros tamb m te ricos por m imbu dos de valorar conhecimentos experienciados na ancestralidade e comprovados na empiria de popula es contempor neas Assim desejando o conhecimento atrav s de uma educa o n o escolarizada poder ser revisitado por essas novas institui es O campus Sert o do Instituto Federal como um dos l cus de formula o e socializa o de conhecimento compreendido em toda sua comunidade escolar e as inst ncias do ensino pesquisa e extens o pode protagonizar o estabelecimento de uma educa o inovadora no sentido de reconhecer nos outros seus saberes que se utilizaram de outras formas na constru o do conhecimento e ai sim estabelecer uma interlocu o para partilhar interagir n o sobrepondo um conhecimento a outro 6 CONSIDERA ES aprendizados No decorrer da escrita desta tese nos propomos a retratar realidades das comunidades remanescentes de quilombo de Arvinha e da Morma a tendo como cen rio fundo a manuten o e amplia o de seus territ rios Convencidos estamos de que este trabalho e as percep es que pudemos ter e expressar n o encerram a riqueza de conhecimentos similitudes e as subjetividades que carregam aqueles povos o que possibilita a abertura de uma s rie de novos questionamentos que podem incitar novas abordagens Distante mesmo a p
392. zou no projeto da coloniza o em v rias partes do mundo SANTOS J 2010 p 233 4 Esta rejei o tamb m pode designar uma fuga na medida em que o grupo pode ser utilizado como amparo ou escudo contra uma discrimina o j prevista Nesse caso o estigmatizado ao entrar numa situa o social mista pode passar a responder de maneira defensiva tentando aproximar se com retraimento ou atrav s de uma atitude hostil inc moda aos outros temendo a rejei o Idem 235 Depreende se que territ rio e identidade tnica s o fatores essenciais na constitui o do espa o quilombola um espa o novo nessa conforma o que agora traz consigo outros jovens personagens os quais cotidianamente se deparam nas rela es com atores externos a seu grupo e por vezes numa conviv ncia n o t o amistosa assim Ent o o reconhecimento tnico por parte de cada pessoa moradora especialmente crian as e jovens de extrema import ncia como for a propulsora numa possibilidade de incorpora o de novos atores que se engajem no fortalecimento da comunidade Morma a enquanto um espa o social negro O reconhecimento do outro enquanto semelhante promove o estreitamento dos la os de afinidade entre os seres e isto se aplica entre o grupo dos remanescentes de Arvinha e Morma a e estes com os grupos externos a seu territ rio Da mesma forma o sentimento de perten a entre os seus faz com que o grupo passe a compartilhar um c digo de honra loca

Heron Lisboa de Oliveira

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