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Porto Alegre 2011 MARIANA FRANCISCA ARREGUY

1. 70 Figura 13 Da esquerda para a direita respectivamente o crem o manjeric o e o alecrim Porto Alegre em mar o de 2011 71 Figura 14 Croqui Os c rculos menores indicam as rvores do quintal Os c rculos maiores s o os a udes Os ret ngulos s o as benfeitorias do terreno Porto Alegre ein arco de Pn 74 Figura 15 Limpeza da carne do porco Gua ba em setembro de 2010 77 Figura 16 rea do plantio das mudas do projeto da EMBRAPA Cada estaca de madeira uma rvore cultivada Ao fundo h o pequeno parreiral e as rvores frut feras maiores Gua ba em setembro de 2 1 80 Figura 17 Horta apontando para o canteiro de beterrabas No limite do terreno bananeiras cultivadas pela fam lia Ao fundo os pinus P fora da rea do assentamento Gua ba em setembro de 2010 eee 80 Figura 18 esquerda a frente da casa com o mamoeiro em fruto indicado pela seta A direita circulado o feij o guand Pr ximo cerca circulado a banana do mato uma brom lia de ocorr ncia natural no RS comest vel e medicinal Gua ba emselempro de 20 SR 83 Figura 19 Fundos da casa de Alem o rvores mais antigas e o solo coberto Gua ba em setembro de 2010 5 esie pads eee niae vete ca aee rae Ea Ee ark RYE do Padua 86 Figura 20 Frente da resid ncia de Alem
2. sess 98 5 1 Esp cies usos e manejos a agrobiodiversidade 100 5 2 Evidenciando as percep es a constru o do lugar do quintal e a agrobiodIVersidade uio do Dit qe 6 ER OR ARSESP od dra DRE 101 5 3 Os descritores e as fun es do quintal sigas s dosapores 107 5 3 1 Descritores econ micos alimenta o com rcio sa de e turismo 108 5 91 JANET AO tut aud tasti aaa a SER n bete det 108 o d Ius QUOHIGFCIO ads s Mer ri TE id Rede eri ea eae EU 111 EC ES T 1010 et eU PC NC A Epp RR 114 Sus d a Ro 116 5 3 2 Descritores sociais redes de trocas e experimenta es refer ncia hist rica trabalho prazer resist ncia lazer e est tica 118 5 8 2 1 Rede de troca e experimentag es sse 118 5 3 2 2 Refer ncia hist rica arara 125 5552 9 IfaDallio DIGZBl s oue ien eo p tab tou e rn pu 129 moo CIA EA ui Cai d Dn tp ad c C ei 131 rome TN 133 QE D EE E ae vere ends A 194 5 9 9 Descritores ambientais biodiversidade independ ncia de insumos ar aqua e conforto ambiental 136 EC Eo 6219 2 0 BREMEN E a a 196 5 3 3 2 Independ ncia de insumos eese 142 FISZ aa
3. 147 Cr DER 148 5 3 3 5 Conforto ambiental 150 5 4 Percep es fun es agrobiodiversidade e autonomia 152 6 CONSIDERA ES FINAIS eene 165 REFER NCIAS eee trennen tentent tenete teens tens 169 AP NDICE A Termo de Consentimento Livre e Informado 177 AP NDICE B Quadro das unidades de pesquisa informa es pessoais dos entrevistados e realiza o das entrevistas no ano de 2010 178 AP NDICE C Roteiro de entrevista 179 AP NDICE D Roteiro de observa o do 181 AP NDICE E Quadro de agrobiodiversidade dividido em tr s grupos arb reas arbustivas e herb ceas e palmeiras apresentando a lista de plantas citadas e seus usos respectivos com nomenclatura cient fica das rvores identificadas em campo e determina o de sua ocorr ncia natural quando no RS de acordo com a bibliografia consultada ssesessssssss 183 AP NDICE F Gr fico de variedade total de esp cies citadas apresentando numericamente as diferentes ess ncias vegetais aliment cias e arb reas encontrada ao todo na pesquisa e em cada quintal 194 AP NDICE G Quadro de motivac es e intenc es numeradas em ordem de men o por
4. CIP S O JO O CIP ZINHO MIL HOMEM ANA CIP ZINHO DA HEMORR IDA CITRONELA CONFREI COPO DE LEITE COSTELA DE AD O BANANA DOS NDIOS COUVE CRAVINHO DO MATO CREM CRIS NTAMO CURUPI SALSO NATIVO CIP CAAPI DENTE DE LE O ERVA DE BICHO ERVA DE SANTA MARIA ERVA DE S O JO O ERVA DO NDIO ERVA DOCE ERVA DA PONTADA ESPADA DE S O JORGE ESTREL CEA F FIA FA SCA DE FOGO FEIJ O DE PORCO FEIJ O DE VAGEM FEIJ O ORELHA DE CABRA FIGUEIRILHA FISALIS T O AL AL ME AL AL ME ME ME ME ME AR CR ME RB RB ME O O CR O F AL AL AL O AL RB O AR CR ESP ME AL ESP ME S ESP ME ME ESP ME ESP ME CR CR O ME O AL AN S AL AL S ME 190 FLOR DE MAIO O FLORES O FOLHA FORTUNA ME FRUTINHA ERVA DE PASSARINHO ME ESP FUMO BRAVO ME ME ME FUNCHO AL ESP GALINHA GORDA E GENGIBRE ME GERBRA O GER NIO O ESP GERV O ME GUACO ME ME GUAIMB GUANDU a S GUIN CR HIBISCO O O HORTEL ME S ME ME ME HORT
5. ee S UAM 39 3 METODOLOGIA E PERCURSO 43 3 1 Crit rio para escolha dos sujeitos sean 44 3 2 Coleta de dados e o percurso transcorrido eee 46 3 2 1 Entrevista semi estruturada e iiisseeereaaarees 47 3 2 2 Observa o participante erra 50 3 2 2 1 Di rio de campo e uso de IMAGENS eee er oe 51 3 3 Visualizando os dados 5 52 3 4 Dificuldades no percurso metodol gico a 53 4 AS FAM LIAS OS QUINTAIS AS 5 56 4 1 Do meio do mato para o quintal o pequeno jardim bot nico 57 4 2 Do antigo plantio convencional ao atual s tio agroecol gico o quintal da Rn Ud 67 4 3 A unidade de produ o agr cola pr spera o quintal da for a de vontade 76 4 4 A experi ncia cont nua o quintal 8 82 4 5 Um horizonte de possibilidades o quintal de 87 4 6 Para uma vida mais saud vel o quintal do produtor org nico 94 5 APRESENTANDO E DISCUTINDO OS DADOS
6. Foi feito um novo modelo de bio l no vizinho que para usar nas plantas principalmente na horta Eu vi que tinha algumas coisas que eles acrescentaram a mais do que o que n s t nhamos aqui E diferente Ent o eu entrei junto para a gente ter ao menos no in cio Ap s vou trazer um balde e come ar a criar E5 As novas tecnologias s o proporcionadas pelas redes externas e v o sendo internalizadas pelos agricultores A ag ncia do ator fortalecida e materializada nas pr ticas do agricultor retomando os principais conceitos da POA com base no referencial desta pesquisa Nesta perspectiva os pr ximos quintais tamb m recebem as interfer ncias e as reproduzem O solo dif cil de cultivar no quintal de produ o O local do assentamento foi prejudicado pela compacta o e desgaste da fertiliza o natural do solo pelos sucessivos anos de cria o de b falos antes da desapropria o da rea O plantio de rvores est relacionado pela fam lia com a fertiliza o do solo atrav s da mat ria org nica foliar fixa o de nutrientes e descompacta o da terra pelas ra zes Por este motivo investem no cultivo de esp cies arb reas que n o d o frutos para humanos No cultivo do pomar foi empregado calc rio O solo mantido coberto pelo capim quando n o cultivado e na borda dos canteiros aveia cultivada para o preparo da terra e sobre o uso do esterco ele manifesta que Esterco do gado qu
7. Por conta Comprava e sempre colocavam um pouquinho a mais do que o agr nomo receitava Tamb m n o tinha aquele rigor de o agr nomo ter que assinar Era bem livre Era frouxo Comprava e usava O cultivo de alimentos org nicos inicia em 1997 atrav s de uma rede de agricultores e agricultoras na qual Juca se inseriu Antes disso Juca e seus irm os nascidos e criados em Viam o trabalhavam na agricultura com o pai Fala sobre esta poca 69 A tend ncia toda da fam lia os meus pais eram agricultores os meus av s Tanto de um lado como do outro paterno e materno L em Viam o fam lia paterna era agricultor e aqui por parte da m e eram agricultores Plantavam primeiro para a subsist ncia Plantava mandioca para fazer farinha Depois vender a farinha para pagar as contas porque dinheiro era muito pouco Seus av s n o conheceram os pais biol gicos por serem adotados A fam lia materna era de Porto Alegre bairro da Extrema Sua fala demonstra a import ncia real ada para o fato de a origem familiar ser r stica Nossa origem p lo duro mesmo Eu sou bisneto duas vezes da roda A roda quer dizer na Santa Casa h 50 anos as crian as que n o eram bem vindas eram colocadas ali se n o tinha que fazer com a crian a colocava ali Depois quem queria adotar uma crian a ia l e pegava Ent o eu tenho um bisav e uma bisav que era da roda Esse n o se sabe qu
8. A m e naquela poca j tinha dez filhos E onze do que nasceu depois A n s ficamos trabalhando e a m e n o podia mais trabalhar Hoje t m vivos cinco irm s e cinco irm os Uma faleceu pequenininha Eu sou a irm mais velha de casa As mais velhas sofre mais do que os mais pequenos N s t nhamos que ajudar a criar os mais pequenos N s tinha que trabalhar pra ajudar a colocar comida na mesa Porque a m e n o podia trabalhar Ela tinha que cuidar em casa os mais pequeninos e cuidar o nenezinho junto E n s trabalhando Com 15 anos e gr vida do primeiro filho foi morar com o marido na propriedade da av onde cultivaram a terra por dois anos Ela recorda esse momento quando fala da m e A m e mora em Santo ngelo Metade dos meus irm os vieram morar em Caxias e a metade est para Santo Angelo Minha m e tem agora 76 78 anos A a minha m e sempre dizia assim Agora os irm os mais pequenos t m que ficar em casa para trabalhar E voc s se virem Eu tinha 14 anos quando arrumei o meu namorado o V io Depois com 15 eu fiquei gr vida j A ganhei a M minha m e disse assim Agora voc se virem Tem que deixar a terra para os irm os mais pequenos plantar A eu fui morar l na minha av Mais tarde adquiriram um hectare de terras em Santo ngelo pr ximo ao rio Iju onde se estabeleceram por 8 anos com dificuldade Ela relata que o pre o pago pelos alimentos
9. ela que confere ao ator a habilidade de processar a experi ncia social tra ar formas de encarar a vida e resolver problemas mesmo sob grandes formas de coer o LONG PLOEG 1994 LONG 2007 A no o de ag ncia ser enfatizada aqui e interconectada luta por autonomia considerando que ambas se influenciam mutuamente Os demais conceitos da POA ser o apresentados brevemente para contextualizar a perspectiva As qualidades da ag ncia s o conhecimento e capacidade Isto quer dizer que a ag ncia requer a organiza o de capacidades e a estrat gica gera o manipula o da rede de rela es sociais e a canaliza o de itens espec ficos como reivindica es ordens bens instrumentos e informa o atrav s de certos pontos fundamentais de intera o n o sendo somente o simples resultado da posse de certas habilidades cognitivas poderes persuasivos e formas de carisma LONG PLOEG 1994 Salienta se ainda que a ag ncia n o um atributo individual mas sim a es particulares que causam mudan a em rela o aos eventos sociais e que se efetiva atrav s das rela es sociais Portanto a ag ncia n o um conjunto de inten es mas a es que produzem diferen a em um curso de eventos Assim Long 2007 nos diz que a ag ncia e o poder depende do surgimento de uma rede de atores Ou seja a no o de ag ncia implica no surgimento de uma rede de rela es sociais com a canaliza o de elementos espec fico
10. o de Controle Social OCS e posteriormente Juca pretende integrar os Organismos Participativos de Avalia o da Conformidade OPAC conforme disposto no Decreto n 6 323 de 27 de dezembro de 2007 BRASIL 2007 que regulamenta a Lei n 10 831 de 23 de dezembro de 2003 BRASIL 2003 Esta OPAC da qual Juca ir participar est em forma o pela associa o de produtores org nicos em Porto Alegre e Viam o RS 74 O que vemos neste quintal s o rvores altas concentradas na entrada da casa pr ximas da churrasqueira e da cerca de arame que limita o terreno com a via p blica sombreando o quintal Nota se uma clara divis o entre horta e o pomar de tr s anos em dois quarteir es distintos embora o espa o destinado ao pomar tamb m esteja sendo cultivado com hortali as leguminosas como o feij o de vagem Estas rvores do pomar ainda n o atingiram dois metros Apesar disto algumas j produziram frutos que foram consumidos ou multiplicados em mudas semeadas Juca comenta que visitou o quintal cultivado na EMBRAPA Clima Temperado em Pelotas na qual se implantou um modelo do projeto Quintais Org nicos Diz que est organizando um pomar nesta perspectiva mas n o bem certo de acordo ao que ele viu na EMBRAPA e idealiza ou seja que d frutas em todos os meses do ano Figura 14 Croqui Os c rculos menores indicam as rvores do quintal Os c rculos maiores s o os a udes Os ret ngulos s o as
11. o do nitrog nio realizado principalmente pelas esp cies pertencentes ao grupo das leguminosas Dos vegetais presentes entre rvores e ervas vejo as plantas pertencentes fam lia bot nica correspondente Suas palavras indicam suas pr ticas e preocupa es quintal de casa sobreviv ncia da fam lia Para voc ter as frutas dentro da sua casa para que voc possa consumir Que voc sabe o tipo de frutas que voc est se alimentando O quintal de casa a forma de conseguir sobreviver Para que todos a fam lia tenha o fruto que muitas vezes Tem s isso para poder se alimentar disso ali mesmo na roda de casa E ao menos voc tem uma coisa mais que o nitrog nio em rodas de casa que tal um pouco filtrado que eu quero dizer Pra mim toda a rvore tiver em roda de casa para mim mant m nitrog nio como a gente j vem de uma regi o onde agente plantava este tipo de cultura que no fato laranja bergamota esse tipo de frutas para servir como alimento eu quis manter Porque na poca a gente n o tinha dinheiro para poder comprar uma laranja Bom a solu o foi conseguir muda de frutas e plantar T assim hoje que tem uma fruta pra comer 87 O agricultor pede uma fotografia da frente da casa para ver a diferen a do crescimento das plantas daqui uns anos Fa o o registro e fico de lhe entregar a fotografia revelada num pr ximo encontro FIGURA 20 Figura 20 Frente d
12. 11 273 de 6 de fevereiro de 2006 11 507 de 20 de julho de 2007 revoga dispositivos da Medida Provis ria n 2 178 36 de 24 de agosto de 2001 e a Lei n 8 913 de 12 de julho de 1994 e d outras provid ncias Di rio Oficial da Uni o Poder Executivo Bras lia DF 17 jun 2009 p 2 Dispon vel em http www planalto gov br ccivil 03 ato2007 2010 2009 Lei L11947 htm gt Acesso em mar 2011 BRASIL Minist rio do Meio Ambiente Secretaria de Biodiversidade e Florestas A conven o sobre diversidade biol gica CDB Bras lia CID Ambiental 2000 32 p Secretaria de Pol ticas para Desenvolvimento Sustent vel Refer ncias conceituais e metodol gicas para gest o ambiental em reas rurais Bras lia MMA 2006a 28 p CAPORAL F R COSTABEBER J A Agroecologia enfoque cient fico e estrat gico Agroecologia e desenvolvimento rural sustent vel v 3 n 2 p 13 16 abr mai 2002 CAPORAL F R COSTABEBER J A Agroecologia aproximando conceitos com a no o de sustentabilidade In RUSCHEINSKY A Sustentabilidade uma paix o em movimento Porto Alegre Sulina 2004 p 46 61 171 CENTRO ECOL GICO IP Hist rico 2009 Dispon vel em lt http www centroecologico org br historico php Acesso em ago 2010 COTANDA F C et al Processos de pesquisa nas Ci ncias Sociais uma introdu o In PINTO C R GUAZZELI C A B Org Ci ncia Humana Pesquisa e M todo Porto Alegre Ed
13. Apenas a filha mais velha n o comercializa produtos agr colas pois seu esposo trabalha na cidade de Gua ba e prov o sustento da fam lia O filho mais velho mora na rea alta o filho mais novo mora na casa da m e mas ir casar se e constr i a casa em frente da m e que referi antes O processo de constru o do lugar atual vivenciado por ela relatado desde as mobiliza es realizadas por meio das ocupa es das terras com os acampamentos do MST S que no acampamento era assim n o tinha gua n o tinha luz n o tinha nada A se morava embaixo das lonas pretas Tinha dias que tinha comida e tinha dias que n o tinha A se passava fome At sede n s pass vamos N s procur vamos a gua bem longe e carregava com balde Quando chegamos nas nossas terras do assentamento a est vamos bem e est vamos feliz S que n s chegamos aqui n s n o tinha gua boa A n s ped amos a gua na vila e na vila eles diziam assim N s n o te conhecemos como que eu vou dar gua para voc s N s fomos trabalhando trabalhando Conseguimos fazer um po o a n s t nhamos a nossa gua A a nossa vida mudou N s ficamos trabalhando e conseguimos plantar milho plantamos alface couve beterraba r cula temperos E n s vendemos Conseguimos comprar outra alimenta o A n s come amos a criar vaca tamb m Vendemos as vacas vendemos o leite compramos outra alimenta
14. BRAGHIROLLI A C S Org Pareceres de Carlos Fernando de Moura Delphim sobre bens patrimoniais do Rio Grande do Sul Instituto Estadual do Livro IPHAN IPHAE 2009 144 p BRASIL Congresso Senado Lei n 10 831 de 23 de dezembro de 2003 Disp e sobre a agricultura org nica e d outras provid ncias Di rio Oficial da Uni o 170 Poder Legislativo Bras lia DF 24 dez 2003 p 15 Dispon vel em lt http www planalto gov br ccivil 03 Leis 2003 L10 831 htm Acesso em mar 2011 Lei n 11 326 de 24 de julho de 2006 Estabelece as diretrizes para a formula o da Pol tica Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais Di rio Oficial da Uni o Poder Legislativo Bras lia DF 25 jul 2006b p 1 Dispon vel em lt http www planalto gov br ccivil 03 Ato2004 2006 2006 Lei L11326 htm gt Acesso em mar 2011 Decreto n 6 323 de 27 de dezembro de 2007 Regulamenta a Lei no 10 831 de 23 de dezembro de 2003 que disp e sobre a agricultura org nica e d outras provid ncias Di rio Oficial da Uni o Poder Executivo Bras lia DF 28 dez 2007 p 2 Dispon vel em lt http www planalto gov br ccivil 03 Ato2007 2010 2007 Decreto D6323 htm Acesso em mar 2011 Lei n 11 947 de 16 de junho de 2009 Disp e sobre o atendimento da alimenta o escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educa o b sica altera as Leis n 10 880 de 9 de junho de 2004
15. Estudo piloto em O7 e 08 de novembro de 2009 179 AP NDICE C Roteiro de entrevista DADOS DO ENTREVISTADO Nome Profiss o Sexo Data de nascimento Local de nascimento Endere o Grau de instru o Religi o TRADI O FAMILIAR E ORIGEM REGIONAL Naturalidade dos pais e av s Trajet ria da inf ncia at chegar ao local do quintal Tempo de resid ncia no local onde h o quintal PERCEP O DO QUINTAL Quando eu falo quintal quais as 5 palavras que voc pensa O que voc entende por quintal Indique o local do quintal Qual a rea tamanho hectare do quintal H quanto tempo existe o quintal Qual a vontade para iniciar este quintal Antes desta experi ncia j tiveste alguma outra atividade com quintais Qual a sua responsabilidade no quintal Quem ajuda no manejo ou nas decis es sobre o que como quando plantar Por que manter esta rea PR TICAS SABERES E RELA ES SOCIAIS Atividades manejo que desenvolve executa no quintal Quanto tempo necess rio para cada atividade tarefa manejo que deve ser feita no quintal 180 De que forma o espa o e as plantas do quintal s o utilizados alimento medicina lazer religiosidade Com que frequ ncia o quintal usado Quantas horas por dia ou por semana o quintal utilizado Quais os cuidados com as plantas preparo do solo praga doen as poda Quais as plantas que s o espont neas e mantidas Po
16. ME AVEIA 5 S AL S AZEVEM 5 BABOSAS ME BALSAMO ME BAMB ITAQUARA BANANA DO MATO ME me AL BANANA DE RAPOSA ME F BANANAS me F F F AL BARBARI ME BARDANA ME 188 BATATA CAR BATATA DOCE BEIJINHO BERDROEGA BERINJELA BETERRABA BOLDO BOUGANVILLE BRINCO DE PRINCESA BUVA DO CAMPO CACTATUS DO CHILE CACTO DO S O PEDRO CACTO PER SQUIA CACTUS CAJUMBA CALC RIA ANJIQUINHO CALEANDRA QUE OCORRE NA NOSSA REGI O CALEANDRA CALEANDRA ROSA CALMADOR CAMBAR DO CAMPO CAM LIA CAMOMILA CANA DE AC CAR CAPUCHINHA CARAGUAT CARNE DE POBRE CARQUEJA CARQUEJA NATIVA DE ARVORE CARURU CATINGA DE MULATA CEBOLA CEBOLINHA CENOURA CERCA VIVA CH PORRETE AL AL AL AL ESP 1 4 O ESP 8 AL AL AL AL ME ME olo ESP ME AL AN ME AL O ESP ME ESP ME o o cv cv 9 ME ME olo ME ME AL mi AL a ME ESP AL AL ESP ESP ME 8 ME ESP S ME AL AL co co co AL AL O 5 ME 189 CHAPEU DE COURO FALSO CHAP U DE NAPOLE O CHAZINHO DOS TROPEIROS CHUCHU CIDR DE RVORE CIDR CANA CIDR
17. NCIA O AL IBISCO ME O INFALIVINA CH MAIS AMARGUENTO O AL AL INHAME AL AN AN AN INSULINA ME INSULINA CASEIRA ME JAPECANGA ESP JAPECANGA RAIZ ME AMARELA JIBOI O NATIVO NOSSO O LABE LABE 5 L GRIMA DE N SENHORA ME z AL L NGUA DE PADRE ESP ESP L NGUA DE VACA ME ESP AL L RIO O DE FLOR O MADRE SILVA MALVA DO CAMPO a CO CO MANJERIC O ME RB 191 MANJERONA MARACUJ ME MARACUJ DOCE MARACUJINA MARCELA MASTRUZ MATA CAVALO MELANCIA MELISSA MIGNON MIL EM RAMA MILHO MOGANGO MORANGA MORANGUINHA NABO FORRAGEIRO N O GIRASSOL NA VERDADE ORQU DEA DE CH O ORQU DEAS PALMA CACTO PAPOULA PARIT RIA PARREIRAS PASTINHO DO INVERN PEPINO PIC O BRANCO PIC O PRETO PIMENTA PIMENT O PINGO DE OURO PINICILINA POEJO PONTAL VIO PULMON RIA co ME ME F FME F E F ME Esp FSP Esp ME ME S SE ESP ESP ESP ME ESP ME ESP ME AL ESP ME AL AL AL AL AL AL AL S AL AN olo AL 9 AL ESP ME AL AL AL aL AL ESP ME ESP ESP ESP S AL AL AL AL olo ME ME ME ME
18. Para apresentar a pesquisa a disserta o foi estruturada em cinco cap tulos al m desta introdu o O pr ximo cap tulo explana o arcabou o te rico deste estudo O terceiro cap tulo define a metodologia e descreve o percurso metodol gico transcorrido O quarto cap tulo versa sobre os locais de pesquisa apresentando as unidades produtivas as fam lias e os entrevistados O quinto cap tulo apresenta e discute os dados obtidos No sexto e ltimo cap tulo constam as considera es finais 23 24 2 O REFERENCIAL TE RICO Este cap tulo abordar o referencial te rico embasador desta pesquisa A pergunta desta disserta o tem como universo emp rico o quintal ao qual se atribui que haja luta por autonomia Para refletir o universo emp rico necessitamos de uma abordagem multidisciplinar que abarque as rela es sociais e as ambientais expressas pelos agricultores no agroecossistema de quintal foco deste estudo Para referenciar os conceitos utilizados no esfor o anal tico dos dados coletados em campo faz se necess rio iniciar com a explana o da luta por autonomia contextualizada por Ploeg 2008 seguindo na rela o com Perspectiva Orientada ao Ator POA enfatizando os conceitos de ator e ag ncia e citando as no es de estrutura e heterogeneidade A POA nos d o suporte para compreender que os processos de mudan a social podem ser impulsionados pelos eventos de pequena escala atrav s
19. S Jacaranda sp MA JAMBO Syzygium spp F JAMBOL O Syzygium cumini L F O F O Skeels S Citrus sinensis L LARANJAS Osbeck F F F F F AL LARANJAS Citrus spp F Leucaena leucocephala AS AL Lam de Wit A i3 LIM OS BERGAMOTA Citrus sp F F F F LIM OS TAHITI Citrus latifolia Tanaka F FIF Citrus aurantifolia HMAS Christm Swingle i i LIMAS DE UMBIGO Citrus limettioides F F Tanaka LIXIA Litchi chinensis Sonn F LOURO NATIVO Cordia cf ecalyculata Vell X O 186 Kuntze LOURO Laurus n obilis L CO CO x Malus X domestica iii ad Borkh F FjF E Vasconcella quercifolia MAMAO NATIVO A St Hil AL MAMOEIROS Carica papaya L F F F MANGAS Mangifera indica L F F F F A Mimosa cf bimucronata ME S MARICA D C O Kuntze MEL MA MULUNGU Erythrina sp ME Azadirachta indica A RB NIN Juss S A Carya illinoinensis NOZES PECA Wang K Koch AL OLIVEIRA Olea europaea L O Ceiba speciosa A St PAINEIRAS Hil Ravenna PALITO NI AL PARENTE DA LEUCENA NI AN S PATA DE VACA NOSSA PATA DE VACA DE m REM DIO PATA DE Bauhinia fortificata Link ME O ME VACA PATAS DE VACA DE FLOR Bauhinia sp O PAU FERRO Caesalpinia sp O PAU FERRO MADEIRA i PAU FERRO Caesalpinea ferrea L MA O MA PAU BRASIL NI O P RAS Pyrus spp Brachychiton po
20. com conhecimentos tradicionais de uso de plantas Tamb m pelo vi s nutritivo medicinal e de necessidade de resist ncia da pequena agricultura com presen a da pluriatividade na unidade produtiva familiar que esta senhora exerce a busca da autonomia expressas nas pr ticas saberes e rela es com a agrobiodiversidade do quintal No quintal agrofloresta nota se a fun o de produ o de alimento livre de agroqu micos com diminui o da depend ncia do mercado externo e economia monet ria evitando a compra de frutas fertilizantes e ou pesticidas qu micos conforme trechos j apresentados do discurso de Alem o Nesta fala ele fala de forma sutil sobre sua resist ncia tanto que hoje eu tenho fruta daqui e que eu sei que foi uma rvore que eu plantei eu cuidei e eu que estou colhendo a fruta E5 Destaca se aqui a resist ncia expressa verbal e praticamente pelo agricultor em rela o busca por autonomia atrav s do manejo para produ o agroflorestal do quintal sendo esta sua meta na composi o deste agroecossistema O quintal de produ o tamb m express o de resist ncia Exemplificamos com a fala de D o esposo de Dora al m de comer e encher a tua barriga tu sabe que o que t ali saud vel foi tu que cuidou delas e ainda que n o passa os venenos pro teu vizinho Saber que para quem tu vai vender tamb m para quem eu vou vender vou garantir que n o est comendo veneno p
21. conforme as falas selecionadas que evidenciam esta percep o Eu mantenho esta rea com bom gosto com boa vontade porque n s temos de fazer produzir para alimento Porque a gente n o nada na sua vida se n o tem umas frutas N s gostamos muito de fazer produzir as frutas e plantamos de tudo um pouco E3 O que me satisfaz ver a planta crescer Voc plantar a planta e olhar ela no dia a dia ver o desenvolvimento dela Isto para mim satisfat rio E4 Eu fiquei satisfeito de olhar batata deste tamanho em tr s meses t vendo l fora aquele barril l Aquilo est cheio de feij o para passar o inverno Se a gente estivesse l na cidade Ser que a gente tria um tonel de feij o isso satisfa o E8 O quintal que nem a vida tudo de bom Porque eu gosto de mexer na terra Eu adoro estar aqui Olha as galinhas aquela polaca a minha rel quia Eu ganhei ovo l de triunfo E isso que eu gosto quando abriu aquela minha flor ali se tu visses a alegria que eu fiquei Eu fiquei cuidando desde que come ou a sair um canudinho j faz um m s Todos os dias eu vinha olhar E satisfa o Tu ver as coisas que tu faz sa rem enfeitarem E9 Podemos referir Tuan 1983 que define o lugar ntimo com rela o ao carinho tranq ilidade e seguranga observando que o lar um ref gio retomando a id ia do lugar como a pausa no movimento do espa o e tempo A conex o
22. entrevist lo mas pela minha observa o ela e a filha estavam muito atarefadas para a visita de amanh E ainda faltava arrumar e varrer o p tio onde seriam recebidos os grupos Ofereci minha ajuda para alguma tarefa e voltaria em um pr ximo domingo para a entrevista com a Dona Foi ent o que participei de uma das atividades que envolvem diretamente o quintal Varrendo o p tio experienciei que o quintal contribui mas tamb m requer muito trabalho tempo e dedica o para ser multifuncional No final do dia depois do banho e do caf retorno para o centro da 73 cidade Como de costume sou presenteada com verduras frescas e deliciosas daquele quintal Al m de tudo a esposa quis me remunerar pelo servico prestado Neguei qualquer dinheiro justificando que a minha tamb m parte da pesquisa que venho desenvolvendo Ela contrariada me presenteou com meio quilo de pasta de verduras que ela e a filha preparam para o consumo dos turistas e da fam lia Foi uma forma de me pagar pelo servi o Retornei um m s depois para entrevistar a Dona Tomei um belo banho de chuva na caminhada da parada at a casa Havia levado outra roupa e me troquei Experimentei um doce maravilhoso de mam o verde em calda colhido e feito pela Dona e ganhei o vidro Ela comentou que n o vendeu bem talvez por ser incomum Eu achei melhor que doce de ab bora A entrevista foi na cozinha enquanto os moradores da casa descansava
23. gicas mas tamb m s demandas culturais e aos h bitos alimentares da fam lia e do grupo social como um todo WEIDIG 2009 p 52 No contexto da condi o camponesa abordado por Ploeg 2008 a produ o para alimenta o da fam lia est atrelada menor depend ncia do mercado externo e ao fortalecimento da base de recursos sociais e naturais Neste sentido de distanciamento deste mercado externo imperativo Niederle 2006 aponta a produ o para o autoconsumo como uma das estrat gias de autonomia pode se optar por um processo de autonomiza o e des mercantilizac o que possibilitam diminuir a depend ncia dos agricultores frente s obriga es impostas pelos mercados bancos e comerciantes Neste sentido estrat gias de internaliza o de recursos produ o para autoconsumo e agroecologia t m se mostrado alternativas importantes NIEDERLE 2006 p 44 Ploeg 2009 observa que a agricultura camponesa baseia se em um capital de recursos n o mercantilizado associado a uma circula o de recursos n o 111 mercantilizada PLOEG 2009 Na pr tica da produ o para o autoconsumo por exemplo o alimento n o uma mercadoria e parte da alimenta o da fam lia n o depende de um mercado externo ou dos imp rios alimentares tal como definidos por Ploeg 2008 5 3 1 2 Com rcio Dos seis quintais apenas o pequeno jardim bot nico n o comercializa mas est sendo constru do com a inten o
24. ndios que hoje ocupam a aldeia distante 30 km do centro do munic pio de S o Miguel Em contra partida em um contexto de g nero ele um homem estranho por gostar e cuidar de plantas e em especial orqu deas Segundo o olhar de alguns miguelinos esta uma atividade predominantemente feminina quando n o focada no modelo empresarial ou capitalista de agricultura Aqui emerge o olhar machista da sociedade n o restrito ao local baseado em uma agricultura patriarcal e enraizado na tradi o hist rica que compreende o ga cho como o campeiro criador de gado tratando o ndio como distinto do ga cho e de modo depreciativo De fato ainda hoje os ndios que transitam no munic pio s o objeto de coment rios pejorativos por uma parcela da popula o e marginalizados na sociedade Estes dois pontos podem ser interligados no julgamento do Mateiro como algu m fora dos padr es simb licos e hist ricos do ga cho e tamb m mais pr ximo das 64 caracter sticas dos ind genas da regi o redundando na incompreens o a respeito do modo de ser e das atividades que o Mateiro desenvolve At este momento n s ainda n o andamos pelo quintal biodiverso que ele planta cuida e estima Claro que n s j hav amos colhido muitas limas e p ssegos antes desta entrevista Em minhas visitas fam lia sempre demos uma volta ao redor da casa e falamos ou colhemos algumas plantas Mas com o objetivo da pesquisa depois do estudo piloto
25. o A depois n s conseguimos j fazer casa de tijolos comprar roupa Conseguimos depois criar porco para ter carne banha Galinha n s criamos Agora n s temos a ovelha temos abelha tamb m De vez em quando d um melzinho Fizemos xarope do mel Hoje a rea cultivada ao redor da casa de aproximadamente um hectare e meio divididos entre o pomar em um hectare fechado FIGURA 16 e a horta em meio hectare igualmente cercado FIGURA 17 Atr s da casa est o galp o e o a ude Perus ovelha e carneiros vaca com terneiro cria o de coelhos S o animais observados ao redor da casa em espa o apropriado para cria o Entre a porta de entrada da casa e a horta rvores altas e m dias fazem sombra Vejo o cinamomo a canela doce pitangueiras e uma arauc ria Ela relata que a primeira rvore a ser plantada h 15 anos foi o cinamomo para sombrear o p tio Todas as rvores maiores de cinco metros est o mais pr ximas casa Esta fam lia recebeu rvores frut feras do projeto Quintais Org nicos h um ano e as mudas ainda n o ultrapassaram um metro de altura Foi a agricultora quem fez o plantio das 60 mudas doadas na rea de pomar cercado FIGURA 16 O manejo do quintal feito por ela com aux lio dos filhos em algumas oportunidades e necessidades Sobre a opini o do marido comenta Meu marido n o planta n o gosta de plantar rvores Ele planta um p de manga at hoje n o carrega Ele
26. o dos longos anos de cultivo e manejo com agroqu micos No seu entendimento n o h como combater estas doen as nas c tricas se uns plantarem com agroqu micos e outros n o Certamente aqueles que n o utilizam os agrot xicos no combate s pragas ter o suas planta es mais danificadas Desta sua observa o ele rejeita o plantio de algumas variedades de laranjas lim es e bergamotas Especifica quais os tipos mais resistentes e algumas destas ele possui no seu quintal Quanto s demais rvores frut feras doadas pelo projeto da EMBRAPA Juca n o fez coment rios enf ticos a n o ser o fato de estar buscando complementar seu pomar com diversas esp cies de frut feras Seu interesse tal que me pergunta quais as condi es para participar do projeto e a quem contatar Passo lhe as informa es que possuo e deixo para que ele realize o contato conforme a sua possibilidade 76 4 3 A unidade de produ o agr cola pr spera o quintal da for a de vontade Embarquei na rodovi ria de Porto Alegre e des o na BR 290 munic pio de Gua ba h 40 minutos da capital Estou na faixa de asfalto por volta das 9 horas O contexto da paisagem circundante de monoculturas de eucalipto pinus e arroz ao longo da estrada A rea do assentamento cortada pela BR 290 A rodovia est pr xima resid ncia e o alastramento dos adensamentos populacionais nas vilas constitu das pelas ocupa es irregulares que circundam a re
27. pontos em comum procuramos as peculiaridades da express o da luta por autonomia em cada quintal A rea do gr fico gerado n o pretende quantificar a express o da autonomia mas demonstrar a abrang ncia das pr ticas e discursos dos agricultores O gr fico indica por tanto as nfases de express o de autonomia em cada quintal 3 4 Dificuldades no percurso metodol gico Expomos aqui as limita es encontradas ao longo desta pesquisa para que este trabalho possa tamb m auxiliar outros pesquisadores no delineamento de suas etapas de investiga o A idealiza o deste estudo n o previu os percal os que poderiam ocorrer e foi pensada segundo uma realidade nem sempre aplic vel pr tica Ap s definido os locais para realizar as entrevistas a grande dificuldade consistiu em criar os momentos prop cios para tal Por se tratar da percep o e este ser um conceito individual fazia se necess rio que o entrevistado estivesse sozinho para responder as quest es o que geralmente n o ocorreu Na maioria das vezes em cada entrevista tinha a presen a de pelo menos mais um participante que muitas vezes n o intervinha na conversa e detinha algum grau de parentesco com o 54 entrevistado Este ltimo recorria ao ouvinte em alguns momentos solicitando lhe aux lio para recordar termos t cnicas receitas datas etc Dentro do poss vel foi solicitado ao entrevistado que n o recorresse s fontes externas pois n o ha
28. quintal da esperan a o turismo ocorre periodicamente Juca est 1 inserido no Roteiro Tur stico Caminhos Rurais da capital e tamb m recebe e orienta as visitas de alunos das escolas em Porto Alegre al m de estudantes e pesquisadores universit rios Estas visitas s o marcadas diretamente com a fam lia ou atrav s de agendamento com as ag ncias tur sticas parceiras Esta atividade de recep o e preparo de lanches aos visitantes desenvolvida pelas mulheres filha e esposa e segundo Juca ainda n o gera lucro financeiro Ele quem conduz os turistas na horta e fala sobre o seu trabalho parte do quintal e demanda tarefas internas com o processamento das frutas verduras e legumes para os lanches dos turistas e tarefas externas como limpar e cultivar o p tio e manter as estruturas de recep o dos visitantes no quintal Nos demais quintais o turismo n o foi mencionado como fun o para o quintal nem mesmo como possibilidade ou proje o para o futuro A localiza o destes assentamentos tamb m n o favor vel Ambos est o na zona da Grande Porto Alegre que n o disp em de atrativos ou organiza o de rota tur stica O turismo como atividade n o agr cola de complementa o da renda agr cola penetrado pela no o de pluriatividade que conforme Sevilla Guzm n 2001 envolve o uso m ltiplo do territ rio e o aproveitamento de todas as suas potencialidades mediante a reutiliza o da energia
29. rias para compreender e acessar as percepc es A luta por autonomia segundo o referencial adotado n o parece evidente para os agricultores de acordo s suas falas Mas quando observamos os seus quintais percebemos esta luta expressa Certamente se nos apoi ssemos apenas nos discursos colhidos n o ter amos uma an lise substancial dos dados pois suas pr ticas s o parte de modos e ou meios de vida pouco teorizados por m em exerc cio cont nuo Neste cotidiano os camponeses comp em suas formas e compreens es sobre a autonomia que praticam e com base nisto culmina se nos descritores Os descritores utilizados surgem da compreens o dos agricultores entrevistados e demonstram coer ncia com a discuss o sobre a luta por autonomia camponesa com a possibilidade de constru o de indicadores de express o de autonomia na perspectiva dos camponeses No entanto o universo amostral restrito da pesquisa limita uma an lise que possa fazer generaliza es Outros descritores podem surgir em contextos agr colas e de modelos diferentes como por exemplo agricultores que produzem segundo o modo empresarial mas mant m quintais org nicos Por isso um estudo com diferentes tipos de quintais talvez buscando abranger aqueles manejados com t cnicas mais pr ximas s convencionais e com a inclus o de agricultores que n o disp em de quintais seria necess rio constru o de indicadores Os quintais integrantes desta pesquisa expressa
30. veis baseando se no conceito de agroecossistemas como unidade anal tica 25 cultura e tradi o presente neste lugar constru do pelo cultivo e manejo no qual as pr ticas n o s o usurpadoras mas ao contr rio incrementam a base de recursos Ao final apresentamos a percep o desde sua constru o filos fica por Merleau Ponty 2006 e as aproxima es com a percep o geogr fica e ambiental expressas em Tuan 1980 A percep o apontada por Tuan como instrumento para a compreens o da constru o do espa o enquanto lugar segundo os termos utilizados por este autor 1983 As percep es no caso desta pesquisa est o expressas nas pr ticas e nos saberes dos agricultores e seus quintais e indicam a forma como o lugar vem sendo constru do ao longo da trajet ria de vida do pesquisado 2 1 Autonomia camponesa Para compreender a luta por autonomia que abordamos nesta disserta o conceitualizamos brevemente os termos utilizados por Ploeg 2008 na constru o de um referencial te rico anal tico S o tr s os diferentes mas inter relacionados arranjos pol tico econ micos definidos por Ploeg 2009 a agricultura camponesa a agricultura empresarial e a produ o capitalista O primeiro arranjo centro da discuss o desta disserta o defende a melhoria e garantia das formas e meios de vida dos camponeses com distanciamento progressivo dos mercados como os de insumos e de produtos Adota c
31. 2 Observo as rvores distante uns 50 m a partir dos fundos da casa Subo os olhos por mais de 15 metros para acompanh las e no alto da copa vejo uma grande colm ia de abelhas sem ferr o que ele indica popularmente como irapu e nativa da regi o Figura 2 Vista interna Bosque de arauc rias Solo coberto de folhas secas e sombreado direita e acima as arauc rias no dossel da vegeta o Abaixo e direita as arauc rias bananeiras abacateiros e diversas mudas de orqu deas OR S o Miguel das Miss es em 18 de fevereiro de 2011 Fonte Fotografado ela autora 59 Apesar de a propriedade ser da fam lia antes do Mateiro morar l o plantio de rvores foi iniciado por ele a partir de quando foi construir sua casa na rea Segundo ele e sua esposa n o havia nada plantado no terreno sendo tudo descampado A nica refer ncia a antiga pitangueira na frente da casa que segundo ele j estava assim quando viemos para c Ou seja uma rvore de YU MES Figura 3 Pitangueira com cactos brom lias e orqu deas nascidas sobre o caule S o Miguel das Miss es em 18 de fevereiro de 2011 Fonte Fotografado pela autora A frente da casa ornamentada com flores de ervas brom lias e orqu deas nas muitas rvores que vemos no p tio FIGURA 4 Esta com certeza a propriedade mais arborizada que encontramos na rua d 5 Figura 4 Frente da casa Os c rculos indicam plantas nativas
32. Este grupo iniciou um trabalho semelhante ao desenvolvido na rea baixa mas n o houve continuidade por motivos de organiza o interna do grupo Preta participou de outras atividades com a Rafinha no assentamento mas n o integrou o grupo da rea baixa Dentre as plantas que integram o quintal poucas s o rvores e destas a maior parte s o frut feras A maior parte dos vegetais s o hortali as As plantas espont neas conhecidas n o s o utilizadas com poucas exce es No retorno parada do nibus Preta me leva de carro at o asfalto Fico de voltar para lhe dar as fotografias que tirei do seu quintal Preta quer em especial a fotografia da orqu dea e do piment o em fruto 98 5 APRESENTANDO E DISCUTINDO OS DADOS O objetivo final de contribui o do plantio de uma grande diversidade de esp cies bot nicas no quintal diverso e espec fico de cada contexto pesquisado O pequeno jardim bot nico organizado e cultivado com a meta de constru o de um orquid rio o quintal da esperan a difere se dos demais pelo objetivo do turismo rural como complementa o da renda agr cola e a participa o na Feira Ecol gica Jos Bonif cio com produtos do seu quintal do quintal da for a de vontade extrai se todos os recursos poss veis para a subsist ncia o quintal agrofloresta constitui se como forma de potencializar e reconstituir a fertilidade do meio atrav s principalmente da
33. Miguel Hoje uma quinta feira o seu dia de folga como art fice profiss o que executa h vinte e tr s anos no S tio Arqueol gico S o Miguel Arcanjo O 2 O art fice presta servi os como os de pintura carpintaria pedreiro soldador eletricista jardinagem e demais atividades necess rias recupera o e manuten o das instala es f sicas da administra o 61 conhecimento sobre madeiras e como manufatur las tamb m contribui para a profiss o que exerce Neste dia vamos visitar um orquid rio em Santo ngelo h 40 km de S o Miguel aproximadamente o qual ele quer utilizar como refer ncia para construir o seu no quintal FIGURA 6 A filha mais nova nos acompanhar j que ela ser a respons vel pelo local no futuro pr ximo segundo a id ia do Mateiro Na viagem de ida ele conta suas experi ncias com os curandeiros da regi o Neste momento informal fala sobre o falecido tio D rio homem casado com sua tia como curandeiro e revela parte de como obteve os conhecimentos que tem hoje sobre o uso de plantas como medicina Conta na entrevista sobre o caso de um amigo Ele estava de chinelo e a cobra cruzeiro picou A foram l no D rio o curandeiro o m dico mais pr ximo Com este tio ele passava parte do dia para aprender sobre as plantas No orquid rio em Santo ngelo em uma manh com o propriet rio o Mateiro grava e filma a conversa para registrar as informa es como form
34. PLOEG 2008 p 39 resiste a esta forma mposta observando o contexto de priva o depend ncia e marginaliza o no qual se encontra Ploeg 2008 configura a condi o camponesa descrevendo a como a luta ininterrupta pela autonomia na esfera das rela es opressoras com o modo de produ o capitalista A rela o entre a pobreza e a inseguran a alimentar indicada tamb m por Ploeg 2008 e comp e o quadro da condi o camponesa uma vez que no mbito rural esta situa o agrava se em fun o de fatores tais como a exclus o de pequenos e m dios produtores agricultura camponesa e empresarial dos processos produtivos da agricultura capitalista baseados na mecaniza o da agricultura para produ o em larga escala Neste contexto Ploeg 2008 aponta esta rela o como squeeze ou seja o aperto no qual os camponeses em geral se enquadram O agricultor fica espremido entre a queda do pre o pago por seus produtos agr colas e os custos cada vez mais altos de produ o principalmente em rela o ao uso de insumos externos e tecnologia agregada Esses e outros elementos contribuem para a marginaliza o de uma grande parte da popula o rural em especial os pequenos agricultores familiares Os altos custos para viabilizar a produ o aliados aos baixos pre os pagos aos produtores na comercializa o uma das condi es que imp e ao agricultor duas vias a marginaliza o seja pelo abandono da proprieda
35. Regional Rural Development Assen Van Gorcum 2008 p 1 28 175 QUOOS R D Sistemas agoflorestais ferramentas da biodiversidade para uma agricultura sustent vel In DAL SOGLIO F K KUBO R Org Agricultura e sustentabilidade Porto Alegre Editora da UFRGS 2009 p 97 116 ROMANO J O Pobreza o problema e a constru o de solu es Agriculturas experi ncias em Agroecologia Rio de Janeiro v 5 n 4 p 4 7 dez 2008 SANTILLI J Agrobiodiversidade e direito dos agricultores S o Paulo Petr polis 2009 p 519 SANTILLI J Agrobiodiversidade diversidade cultivada 2009 Dispon vel em http www slowfoodbrasil com content view 310 82 Acesso em jan 2011 SANTOS M E COSTA B G nero pescadoras e meio ambiente o acordar para a consci ncia ambiental In SEMINARIO INTERNACIONAL FAZENDO GENERO 7 2006 Florian polis Artigos Florian polis UFSC 2006 p 1 6 Dispon vel em http www fazendogenero ufsc br 7 artigos S Santos Costa 37 pdf gt Acesso em mar 2011 SARAGOUSSI M MARTEL J H I RIBEIRO G de A Compara o na composi o de quintais de tr s localidades de terra firme do Estado do Amazonas Ethnobiology implications and applications Bel m v 1 p 295 303 1988 SEVILLA GUZM N E Uma estrat gia de sustentabilidade a partir da Agroecologia Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustent vel Porto Alegre v 2 n 1 p 35 45 jan mar 2001
36. S o Borja para que os pais cultivassem as plantas no quintal em Eldorado do Sul Depois estes assentados participaram de oficinas elaboradas por estudantes da UFRGS para a forma o de viveiristas e constru o de um viveiro de rvores Este contato tamb m influiu e fortaleceu a a o da fam lia em dire o constru o de um viveiro no seu lote a estufa que l est A intera o com os t cnicos que atendem o assentamento COPTEC tamb m fundamental j que s o citados diversas vezes e com papel importante no aux lio da tomada de decis o por parte da fam lia Dora diz por exemplo que plantar as rvores junto com a horta no quintal de produ o foi sugest o dos t cnicos Preta com o quintal do produtor org nico estabelece uma troca de conhecimento constante com os t cnicos da COPTEC e com seus vizinhos assentados Quando indagada sobre onde busca informa es sobre plantio e manejo ela responde Com os t cnicos e as pessoas de mais idade Aqui tem experi ncia de sobra porque se um n o sabe outro sabe E9 E a amizade e identifica o com os t cnicos da COPTEC expressa na fala de Preta 122 tudo gente que gosta dessa vida Eles chegam a pode estar com t nis branco da cidade vem para c e se enfia Se disser que tem que passar um rem dio numa vaca eles se enfiam no meio das merdas saem correndo Eles s o tudo gente que gosta disso Se n o gostasse nem dava para ser
37. T Biodiversidade e Agroecologia In BOEF W S et al Biodiversidade e agricultores fortalecendo o manejo comunit rio Porto Alegre L amp PM 2007 p 40 45 MARQUES F C Velhos conhecimentos novos desenvolvimentos transi es no regime sociot cnico da agricultura A produ o de novidades entre agricultores produtores de plantas medicinais no sul do Brasil 2009 220 f Tese Doutorado em Desenvolvimento Rural Faculdade de Ci ncias Econ micas Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2009 MEIRELLES L R Agricultura ecol gica e agricultura familiar Ip Centro Ecol gico Ip Serra Litoral Norte 2002 p 1 6 Dispon vel em lt http www centroecologico org br artigo detalhe php id artigo 10 gt Acesso em mar 2011 MEIRELLES L R coord Revista dos sistemas agroflorestais Dom Pedro de Alc ntara Centro Ecol gico Ip Litoral Norte PDA PPG7 MMA dezembro de 2008 60p MERLEAU PONTY M Fenomenologia da percep o 3 ed S o Paulo Martins Fontes 2006 655 p 174 MIGUEZ S R TOR Z V Econom a ambiente y sustentabilidad Aportes revista de la Facultad de Econom a M xico ano 11 n 33 p 101 109 sept dic 2006 MINAYO M C S O desafio do conhecimento pesquisa qualitativa em sa de 5 ed S o Paulo Hucitec Abrasco 1998 269 p NIEDERLE P A Mercantilizac o diversidade e estilos de agricultura Ra zes Campina Grande v 25 n
38. Todos os quintais s o tidos como fonte de alimento e os entrevistados entendem como um benef cio para a sa de a ingest o do alimento org nico O consumo do alimento org nico est associado sa de e sustentabilidade ambiental assim como o uso de plantas medicinais do quintal para humanos na forma de infus o ch ou medicamentos fitoter picos Aqueles que comercializam as plantas do quintal indicam um compromisso com o consumidor que estar adquirindo um alimento saud vel por ser org nico e n o apresentar resqu cios de produtos qu micos 115 Neste sentido a compreens o dos benef cios do alimento e do manejo org nico pode n o estar clara no discurso de todos os pesquisados por m suas pr ticas contribuem com uma sa de global Isto porque o uso de produtos qu micos na produ o agr cola causa malef cios que n o s o limitados aos efeitos locais como destacamos com o trecho transcrito abaixo de Dal Soglio 2009 Acresce que os produtos qu micos aplicados na agricultura tais como fertilizantes e agrot xicos sempre geram res duos n o decompostos pelos seres vivos xenobiontes que se acumulam no solo e na gua e acabam por intoxicar boa parte da vida do planeta At em regi es que jamais tiveram contato com os homens verifica se contamina o por produtos qu micos aplicados na agricultura e s rios danos sa de das esp cies que ali vivem DAL SOGLIO 2009 p 24 Os agricultores pesquis
39. a gente faz De vir e trocar id ias Na semana combinada vou almo ar com a fam lia no domingo e fazer a entrevista tarde domingo de sol e calor mais uma vez Juca me encontra de bicicleta no caminho Fala que a mulher e a filha est o ocupadas preparando salgados para um grupo de visitantes que ir o receber na propriedade no outro dia segunda feira O turismo outra atividade que a fam lia desenvolve e que segundo Juca ainda n o rendeu lucro Depois de largar a mochila tomar gua e conversar um pouco com elas na cozinha Juca e eu vamos colher alfaces para o almo o H um homem com uma m quina limpando o a ude para receber o grupo de amanh Juca paga o senhor e lhe d r culas colhidas da horta enquanto lavo as alfaces na cozinha No almo o est o todos que moram na casa Depois da deliciosa refei o tomamos caf preto e os netos v o com os av s para o descanso da tarde A filha e eu ficamos na cozinha Ela est preparando pizzas para o evento de amanh que ser movimentado com um grupo de visitantes pela manh e outro tarde Juca desperta e vamos entrevista Os netos seguem dormindo e mais pizzas v o para o forno atrav s das m os da filha Juca me leva para fora de casa escolhendo um local fresco para conversarmos Vamos para debaixo das rvores do quintal Encosto me numa arauc ria L ficamos por volta de 1 hora e 40 minutos Pelo nosso combinado eu iria fazer a entrevista com a Dona ap s
40. at chegar ao agroecol gico foi impulsionada pela intera o com o Centro Ecol gico Ip Desde ent o o conhecimento sobre o agroecossistema foi sendo ampliado no sentido de compreender mais sobre as causas e os efeitos do manejo convencional sobre o ambiente natural e a sa de humana A compreens o da esfera pol tica e da domina o da pequena agricultura pelas grandes empresas agr colas fornecedoras de sementes e insumos lhe foi evidenciada e internalizada sendo reproduzida no seu discurso e pr ticas Esta 155 percep o constru da pela intera o entre o empirismo do seu trabalho e a teoria dos formadores atuantes no Centro Ecol gico Ip possibilitou ao agricultor reconstruir o seu lugar reorganizando a agrobiodiversidade do quintal Novas formas de manejo foram descobertas como o biojuca E2 ou as plantas medicinais para regula o bi tica dos insetos e fungos nas plantas As rvores est o dispostas de forma mais organizada obedecendo ao desenho da propriedade com as frut feras acompanhando paralelamente os canteiros Hoje ap s conseguir uma produtividade est vel no agroecossistema Juca vem investindo nas frut feras que at ent o n o tinha na sua propriedade Agora al m das laranjas bananas e bergamotas Juca pensa em colher feijoa carambola siriguela entre outras A fam lia de assentados em Gua ba provindos de Santo ngelo das margens do rio Iju mostra se bem diversa na sua cole o de pl
41. atividades agr colas mal adaptadas que perpassam as rela es s cio econ micas Para o autor S o as planta es de eucalipto e outras esp cies arb reas ex ticas s o os cultivos de plantas transg nicas que amea am nossa agrobiodiversidade e nossa soberania alimentar s o os desmatamentos e destrui es de biomas especiais e sens veis tais como a Amaz nia o cerrado o pampa A perda de biodiversidade tamb m vem associada perda de agrobiodiversidade O atual modelo de agricultura produz a redu o da agrobiodiversidade A produ o em escala em uma agricultura industrializada inimiga da diversidade e a uniformidade coloca nos a um passo da extin o Assim a redu o da diversidade vai na contram o da evolu o e do desenvolvimento e constitui hoje um problema global de soberania alimentar pois os povos s o cada vez mais dependentes de Para Diegues 2000 falando da realidade dos pa ses tropicais existe grande diversidade s cio cultural respons vel por s culos de manejo do mundo natural que tem garantido a diversidade biol gica Diegues 2000 inclui o Brasil como um pa s que apresenta grande variedade de modos de vida e culturas diferenciadas que podem ser considerados tradicionais Citando Queiroz 1973 Diegues 2000 escreve que as popula es e culturas tradicionais n o ind genas s o de forma geral consideradas camponesas e s o fruto de intensa miscigena o entre o branco colo
42. canas de a car O agricultor mostra o tratamento e reutiliza o da gua na sua propriedade outro experimento do projeto da UFRGS referido na se o 1 para o qual ele cedeu seu espa o A gua utilizada na pia da cozinha filtrada e retorna para a irriga o das plantas do quintal Esta obra foi constru da com os estudantes de engenharia e o professor coordenador do projeto da UFRGS que atuou no assentamento Alem o participou do projeto Quintais Org nicos e recebeu as mudas h um ano Foi ele quem soube atrav s de outro companheiro sobre o projeto da 85 EMBRAPA A forma como relata o processo de conhecer a proposta at o plantio das rvores interessante Segundo Alem o o outro assentado explicou que viria um homem ao assentamento da Usina de Candiota que necessita realizar um trabalho de arrumar um local para colocar mudas de rvores e eles d o um mini pomarzinho Foi bem assim Imediatamente Alem o manifestou interesse e j se inseriu na proposta Comenta que hoje nem todos os agricultores que receberam o pomar me dariam a mesma resposta sobre a satisfa o com o projeto j que eles equipe do projeto Quintais Org nicos falharam com algumas quest es N o forneceram o arame para fechar o local e o adubo para uma segunda aplica o conforme o combinado No entanto ele pessoalmente se considera satisfeito com aquilo que recebeu por j estar colhendo frutos de alguma
43. cie A numera o sobrescrita indica a nomenclatura distinta para a mesma esp cie e quem a cita NI N o Identificada nativa QUINTAIS GRUPO NOME POPULAR NOME CIENT FICO RS Q 3 05 06 ABACATES Persea americana Mill F F F AC CIAS Acacia sp MA Malppighia emarginata Sess amp Moc Ex DC i d QUINA QUASSIA NATIVA Cf Picrasma crenata Vell Engl RB AMEIXA DO JAP O UMEBOXE Prunus sp F Eryobotrya japonica AMEIXA JAPONESA Thunb Lindl F F AMEIXAS Branca Amarela T F B F R Rosa Vermelha Preta Prunus salicina Lindl F F B P F V AMORAS Morus nigra L AD F EJA E Parapiptadenia rigida MA MERMEEHOR Benth Brenan X ME ME MA ARACA ARACA DO NORDESTE ARA A DO Psidium spp o F2 o SERGIPE J ui PIRANGA Eugenia multicostata D X F S Legrand a ARA AS Amarelo Psidium cf catleianum Vermelho Sabine V V V ARATICUM Rollinia spp X E ARATICUNS Annona spp X E F n Araucaria angustifolia ARAUCARIAS Bert O Kuntze X AL AL AL AL AL AROEIRA PERIQUITA RB i MANSA Schinus cf molle L X ME S O Schinus cf RB RB AROEIRAS VERMELHAS serebinthifolius Raddi AR est e ES AROEIRA PRETA Lithraea brasiliensis X S March RVORE DA SARNA NI ME Garcinia cf gardneriana BACUP
44. com a terra como instrumento de trabalho meio de sobreviv ncia e modo de subsistir est nos discursos e pr ticas dos agricultores como Ploeg 2009 retrata A terra constitui pilar central desta base de recursos n o s do ponto de vista material mas tamb m simb lico Ela representa o suporte para atingir um certo n vel de independ ncia Ela assim como foi o porto seguro a partir do qual o mundo hostil deve ser encarado e confrontado Da vem a centralidade da terra em muitas das lutas camponesas do passado e do presente PLOEG 2009 p 19 A garantia da terra pr pria o in cio da constru o do lar do lugar A perman ncia importante na id ia de lugar para Tuan 1983 Esta perman ncia no tempo inclui a resist ncia das coisas objetos e as aqui inclu das rvores A terra a base do agricultor que lhe permite a perman ncia num espa o para construir um lugar seguro Esta seguran a do agricultor vir do cultivo da sua terra da boa colheita da comida diversa SANTILLI 2009 das rvores que n o ser o retiradas do seu quintal por for as externas e alheias vontade do agricultor como relatam Juca e Mateiro A exemplo transcri o que segue 191 Esse cedro fui eu que plantei Esse cedro deve estar com mais ou menos uns 20 anos Vai alcan ar 100 anos se n o derrubarem Amanh ou depois a gente pode morrer mas vai ficando a dentro e pode conservar E1 Com a posse da terra gerenci
45. com que os agricultores atribuam determinadas fun es ao quintal Estas fun es s o resultado da intera o e interfer ncia m tua entre a percep o o discurso os conhecimentos e a pr tica cultivo uso e manejo de esp cies Vejamos agora cada descritor das 107 fun es estabelecidas para o quintal e como estes se relacionam com a luta por autonomia camponesa 5 3 Os descritores e as fun es do quintal As primeiras evid ncias extra das foram as motiva es e as inten es dos pesquisados para com a rea do quintal e o cultivo das plantas Por motiva o entenda se a for a inicial para o cultivo do quintal As inten es s o entendidas como o uso atribu do s esp cies do quintal Podem ser inten es mais locais de produzir alimento para o consumo da fam lia por exemplo ou inten es mais hol sticas como a import ncia e influ ncia das plantas no ciclo do sistema da gua As motiva es e inten es compuseram a an lise das fun es atribu das pelos atores aos seus quintais e est o integrados nos valores atribu dos aos descritores As tr s principais motiva es citadas para iniciar o cultivo do quintal em ordem de import ncia foram a necessidade de alimenta o a tradi o e os incentivos externos projetos institucionais universidade outras redes A produ o de alimentos pela necessidade da fam lia e a tradi o do cultivo da terra e de determinadas frutas est o vinculadas nas f
46. como ab bora batata doce mandioca entre outros era insuficiente para sustentar a fam lia nas suas necessidades Al m do mais havia pocas em que o rio Iju transbordava e danificava todos os cultivos S que quando o Rio Iju vinha ele alagava tudo e afundava tudo em gua A quando a gua vinha eu me sentava e chorava porque melancia que n s plantava ficava tudo boiando na gua As ab boras melancias tudo ia rio abaixo A n s n o t nhamos nada Eu me sentava e chorava e dizia O que vou comer com meus filhos O que eu vou fazer na minha vida A a nica coisa que nos salvou foi trabalhar pra fora ir trabalhar para as pessoas ricas para me alimentar e as crian as E ele o V io foi junto trabalhar para comprar outras comidas Estes foram alguns dos motivos pelos quais a fam lia abandonou sua propriedade para aderir ao MST h 28 anos aproximadamente Sua lembran a ao sair da casa da m e narrada na entrevista N s s levamos uma panela e um saco de roupa e uma carro ada de milho e uma faca e um porquinho Ele o V io tinha uma juntinha de boi A n s ficamos trabalhando nas terras da minha av A quando n s est vamos bem Depois tinha bastante planta N s plantamos bastante terra l na v Fizemos boas colheitas Plantava soja milho trigo Colhia o trigo e vendia para as cooperativas O trigo foi para a cooperativa que tinha moinho O milho tamb m O s
47. compra de mais alimentos assegurando a quantidade e variedade de nutrientes A seguran a da alimenta o para a fam lia o que caracteriza a constru o do lugar nutritivo As autoras Zanetti e Menasche 2007 observam que uma importante estrat gia de reprodu o social a produ o para o autoconsumo e esta uma atividade realizada predominantemente por mulheres agricultoras exceto quando a mulher impossibilitada de executar tais tarefas por conta de alguma doen a Assim como no estudo das autoras mencionadas 2007 nesta pesquisa as agricultoras 106 tamb m afirmam o orgulho de ser agricultora e serem reconhecidas nesta profiss o como por exemplo para adquirir a aposentadoria Outrora as mulheres n o eram reconhecidas como profissionais da agricultura apesar de cultivarem a terra com seus maridos As rela es de g nero e ambiente natural s o analisadas por Santos e Costa 2006 no mbito da atividade pesqueira e consci ncia ambiental Neste artigo as autoras advertem Quando tratamos sobre a sustentabilidade do meio ambiente atrav s do uso dos recursos naturais fundamental determinarmos quais tipos de rela es s o estabelecidas entre mulheres homens e natureza a partir de qual is pressuposto s os sujeitos sociais compreendem a sua inser o e interven o nos processos naturais SANTOS COSTA 2006 p 3 Suas observa es e an lise assemelham a desta pesquisa considerando os contex
48. conforme Meirelles 2003 cabe portanto tanto a a o local e individual como a luta por pol ticas p blicas Ambas devem prever a conserva o in situ da biodiversidade e da agrobiodiversidade n o somente em reas protegidas e unidades de conserva o mas tamb m em quintais sistemas agroflorestais e reas protegidas particulares MEIRELLES 2008 p 37 Os agricultores v m realizando cultivos diversos para manuten o da subsist ncia e aliado a isto alguns compreendem mais que outros a import ncia de garantir a biodiversidade e mant la nos seus agroecossistemas Tais percep es H tr s d cadas de investiga es agroecol cicas e etnoecol gicas j existe um respeit vel repert rio de exemplos mostrando como o minif ndio familiar campon s ou ind gena resulta muito mais eficiente do ponto de vista do uso e conserva o dos recursos naturais solo gua biodiversidade energia ecossistemas A explica o bastante simples e pode seguir v rios caminhos tradu o minha do original em espanhol 141 direcionam o agricultor para pr ticas mais ou menos aut nomas de formas de cultivo e op o pelas esp cies cultivadas Estes agricultores est o reagindo perda de biodiversidade a que todos estamos sendo conduzidos pela moderniza o da agricultura e produ o capitalista com introdu o de plantas geneticamente modificadas por exemplo el deterioro o agotamiento de
49. conhecimentos adquiridos ao longo do tempo As a es de interven o cont nua no ambiente de entorno da casa geram um lugar com significados espec ficos e ntimos para cada agricultor Falaremos sobre esta constru o do lugar na perspectiva da percep o geogr fica de Tuan 1983 e suas implica es na agrobiodiversidade 5 2 Evidenciando as percep es a constru o do lugar do quintal e a agrobiodiversidade O discurso e a pr tica dos pesquisados permitiu evidenciar dois grandes grupos perceptivos ambiente saud vel e alimento saud vel A percep o filosoficamente compreendida como individual e nica As exclusividades da percep o de cada ator n o s o desconsideradas neste agrupamento O objetivo evidenciar a similaridade dos discursos e pr ticas tendo a percep o expressa nas fun es atribu das aos quintais Os quintais manejados pelos homens est o no grupo do ambiente saud vel O Mateiro E1 o Juca E2 e o Alem o E5 s o os respons veis pelo plantio e manejo dos quintais e focam sua percep o na contribui o do quintal para o ambiente natural Todos os tr s referem a import ncia da biodiversidade para a composi o do agroecossistema e para a conserva o dos recursos naturais O Mateiro considera o quintal na fun o de manuten o da biodiversidade das matas remanescentes e esp cies nativas da regi o em que habita Juca compreende como necess ria a diversidade de esp cies para o
50. da a o dos atores sociais neste caso dos camponeses que lutam por autonomia A condi o camponesa de luta por autonomia requer a amplia o das capacidades conhecimento e poder ag ncia podendo ser uma resposta cotidiana individual ao contexto de priva es e depend ncia no qual se inserem mas que articula e articulada em uma rede de atores Consideramos a discuss o sobre a autonomia camponesa pr xima dos conceitos da Agroecologia e consequentemente definimos a agrobiodiversidade devido a sua centralidade na observa o dos quintais como express o de luta por autonomia O conhecimento do agricultor sobre o ambiente no qual est e sobre as potencialidades das plantas que est o no seu quintal sejam estas cultivadas ou espont neas para alimenta o animal e ou humana nutri o medicina sa de do solo regula o bi tica entre outros ampliam as capacidades destes agricultores para utilizar o quintal de forma diversa e usufruir dos benef cios internos do agroecossistema Estes saberes e pr ticas integram as compreens es dos agricultores sobre o quintal sobre o ecossistema no qual se inserem e sobre a Agroecologia definida por Caporal e Costabeber 2004 como um enfoque cient fico que re ne v rios campos de conhecimento assim como saberes e experi ncias dos agricultores e ap ia a transi o dos atuais modelos de desenvolvimento rural e agricultura convencionais para estilos de agricultura sustent
51. de assimetria nas decis es passa pela aprendizagem de compet ncias de aprendizados aplic veis na a o o que diferente de qualifica o de t cnicos ou de dirigentes locais ou de simples transfer ncia de conhecimentos ou tecnologias receitas etc Compet ncia se refere a o Compet ncia um poder para agir n o de modo absoluto mas em fun o de uma situa o dada que pode ser de ordem t cnica social legitimidade econ mica Um conjunto de compet ncias permite enfrentar uma situa o singular e complexa que precisa ser inventada constru da Pode oferecer uma resposta adaptada sem precisar extra la de uma gama de respostas pr programadas TONNEAU SABOURIN 2007 p 304 Neste ponto de vista a amplia o do conhecimento possibilita ao agricultor questionar os modos de fazer agricultura reformulando sua percep o acerca do lugar que cultivam A partir da reflex o os agricultores possuem o poder de escolha e a o nas diversas facetas da atividade agr cola Munidos de concep es que abranjam a influ ncia da agricultura no ambiente natural na economia na pol tica na sociedade e na cultura os agricultores refor am suas capacidades e ampliam o 164 seu poder de decidir sobre qual a agricultura que desejam realizar e como executar o suas metas influindo diretamente na agrobiodiversidade e no agroecossitema que constroem importante considerar que o quintal e a natureza ali pr
52. de comercializar as plantas provindas deste hectare de terra Os demais quintais s o utilizados para cultivar plantas para o mercado externo A fun o com rcio para o quintal estendida feira no quintal da esperan a Juca percebe e utiliza o quintal como espa o de produ o de alimentos A comercializa o na feira faz parte do quintal no entendimento de Juca Tamb m comercializa os produtos agr colas frescos ou processados para os vizinhos e os turistas No pequeno jardim bot nico a quantidade de plantas ornamentais entre brom lias agav ceas roseiras cactos trepadeiras cercas vivas arbustivas junto com o orquid rio demonstram o interesse do Mateiro na comercializa o de plantas atrav s de uma floricultura conforme menciona Para isso contribui a sua curiosidade sobre plantas de diferentes e distantes regi es como o Peru ou o Mato Grosso do Sul conforme cita Por meio desta curiosidade ele busca outras esp cies de plantas que desconhece e procura conhecer mais sobre seus usos tradicionais nos locais de origem Al m das rvores este colecionador de plantas d aten o especial s orqu deas De fato ele observa o potencial comercial destas plantas e o turismo no munic pio contribui para incentivar a sua id ia de montar um orquid rio comercial no seu quintal Programa entregar o orquid rio filha mais nova sendo uma forma de garantir uma fonte de renda para ela Por conseguinte o Mateiro mant
53. de salada tu capaz de encontrar Vinte esp cies de salada em qualquer restaurantezinho que tu chegar Ningu m come mais do que duas ou tr s esp cies As outras ficam ali para fazer Algu m vai chegar que comer a outra Tu come duas ou tr s mas o outro que chegou pode n o comer nenhuma daquelas que tu comeu e comer a outra Ent o eu chamo a minha h O meu quintal um buffet que de saladas Um buffet que ali tem para todos Se tiver o inseto ele vai escolher o que ele quer porque n o vai comer todas que nem n s quando chegamos num lugar Ali horta que eu chamo a biodiversidade funcionando Esta observa o complementada por uma compreens o de conserva o do ambiente expressa em suas palavras falando sobre as esp cies vegetais e a gente quer buscar mais ainda Est em busca de mais algumas nativas aqui na regi o Porque a meta salvar as nossas aqui da regi o e depois come ar a subir para ir buscando outras que possa dar aqui Mas salvar as da regi o Primeiro Que a gente sabe que foram tiradas derrubadas mortas Todas essas j tiveram e hoje n o tem mais Ent o uma maneira de deixar deixar para quem vem depois Quando comento sobre o projeto Quintais Org nicos ele expressa interesse Falo sobre as esp cies que comp em a proposta e Juca manifesta avers o pelas rvores de frutas c tricas Pela sua an lise existe muita doen a e praga que ataca estas esp cies em fun
54. dominar os mercados agr colas e alimentares Resumindo o contexto explorado por Ploeg 2008 em consequ ncia deste quadro e das priva es impostas pelo modelo de produ o capitalista e deste ambiente hostil principalmente para o campon s o autor prop e a no o de recampesiniza o como forma de resist ncia do pequeno agricultor familiar expressa pela luta por autonomia Nas palavras de Ploeg para fazer frente depend ncia e priva o necess rio ter autonomia PLOEG 2008 p 30 Assim os agricultores camponeses buscam resolver as discrep ncias com os agricultores empresariais e contra a l gica de produ o capitalista atrav s da a o cotidiana e da recampesiniza o elucidada por Ploeg 2008 O autor explica que a recampesiniza o uma das formas de mudan a da agricultura camponesa frente l gica capitalista e isto implica entre outros no aumento da autonomia na mesma propor o em que a l gica que governa a organiza o e o desenvolvimento das atividades produtivas se distancia cada vez mais dos mercados Petersen 2009 sinaliza que a recampesiniza o pode ser interpretada como uma forma de resist ncia da agricultura familiar que se expressa como luta por autonomia na era da globaliza o PETERSEN 2009 p 6 grifo do autor O uso de estrat gias camponesas de acordo com o modo campon s de fazer agricultura a 29 recampesiniza o ou o retorno ao modo campon
55. dos quintais caseiros definidos aqui como o espa o adjacente s resid ncias e em sua maioria com pequenas dimens es que n o ultrapassam um hectare ha de rea sendo manejados segundo pr ticas ecologicamente sustent veis Devido proximidade com a moradia e considerando o aspecto ornamental os quintais s o reas manejadas constantemente al m de apresentarem plantas com fins de usos diversos Para alguns habitantes do meio rural o quintal uma rea para a produ o de alimentos e cultivo de esp cies ornamentais condimentares medicinais entre outras al m de em alguns casos estar presente a cria o de animais recorrente a cita o nos trabalhos sobre os quintais de uma alta diversidade de esp cies com finalidades variadas S o muitos os estudos sobre quintais no mundo com nfase na sia Am rica Central e Oeste da frica conforme Florentino 2007 No Brasil h uma consider vel quantidade de estudos flor sticos em quintais em especial na regi o amaz nica ver por exemplo ANDERSON al 1985 EMPERAIRE PINTON 1986 LAMONT et al 1999 No RS h estudos nesta tem tica e trazemos como refer ncia Vivan 2000 Estes estudos demonstram a rica diversidade de esp cies bot nicas que pode contribuir n o s para a seguran a e soberania alimentar como tamb m para a diversidade gen tica vegetal Portanto o uso dos quintais abarca uma complexidade de rela es sociais econ micas e ambientais p
56. entrada tamb m para o trator que ele guarda dentro da garagem ao lado esquerdo da casa logo Desde o port o podemos ver rvores arbustos e ervas crescidos ao redor da casa O arbusto do feij o guandu cresceu de maneira que seus galhos quase alcan am a janela da resid ncia que est h dois metros do tronco da planta FIGURA 18 Alem o diz que quando plantou esta esp cie dizia que iria colher os frutos da janela de casa e agora isto j pratic vel f Figura 18 A esquerda a frente da casa com o mamoeiro em fruto indicado pela seta A direita circulado o feij o guand Pr ximo cerca circulado a banana do mato uma brom lia de ocorr ncia natural no RS comest vel e medicinal Gua ba em setembro de 2010 Fonte Fotografado pela autora 84 Ele come a a falar das plantas que tem ali e comenta que seus vizinhos o chamam de relaxado e falam que ele vive no meio da capoeira mas Alem o n o se importa com isso Enfatiza que ele tem um entendimento e eles t m outro e est satisfeito com aquilo que tem em roda de casa observando que as frutas d o bem E a capoeira Deixa l capim Aponta que aqueles que discordam da sua forma de plantio mas passam secantes para acabar com a grama que est nascendo e acabam prejudicando as frutas que caem do p pela sua observa o Esta explana o demonstra que Alem o sabe que um bom agricultor e est buscando compor uma agrofloresta e
57. fica AP NDICE Isto resultado tamb m da forma de manejo que exercida no local h tempos e que contribui para a fertilidade e nutri o do sistema A viv ncia e cultivo na mesma terra tamb m propiciam uma observa o detalhada do agroecossistema que permite ao agricultor interferir na rea de acordo ao ambiente e aos conhecimentos que constr i e incorpora a partir desta intera o com o quintal 160 Estas a es s o parte da constru o do conhecimento agroecol gico j que na Agroecologia conforme Weid 2010 n o existem projetos padr o Devido a essa caracter stica peculiar dos sistemas de base ecol gica a modelagem ou desenho da unidade produtiva deve ser realizada a partir da combina o de op es t cnicas e econ micas adaptadas s condi es f sicas e ambientais espec ficas de cada propriet rio O melhor arranjo entre estas op es desenvolvido por meio de processos cont nuos de aprendizagem com base na experimenta o local e na intera o com outros experimentadores e com acessoria t cnica WEID 2010 p 7 Este conhecimento constru do pela interfer ncia m tua do emp rico e do te rico ou t cnico cient fico contributivo para a base de recursos tanto sociais quanto materiais Ploeg 2010 ressalta que a agricultura camponesa utiliza mas tamb m reproduz e desenvolve a sua base de recursos sendo resultado de ciclos anteriores fruto do seu pr prio esfor o represent
58. foca na horta tendo o pomar como lugar de cultivo das frutas preferidas Este o quintal com menor diversidade biol gica citada Observamos que o foco produtivo a sustentabilidade econ mica aliada sustentabilidade ambiental de acordo s exig ncias legais da agricultura org nica A diversidade encontrada no quintal do produtor org nico tem maior contribui o de esp cies ex ticas e de produ o comercializ vel convencional A biodiversidade deve ser analisada no contexto em que se encontra ou seja na pequena agricultura conforme Toledo 2002 Tras tres d cadas de investigaci n agroecol gica y etno ecol gica existe ya um respetable repertorio de ejemplos mostrando c mo el minifundio familiar campesino o ind gena resulta mucho m s eficiente desde el punto de vista del uso y conservaci n de los recursos naturales suelo agua biodiversidad energ a ecosistemas La explicaci n es bastante simple y puede seguir varios caminos ale TOLEDO 2002 p 30 Por certo que os agricultores entrevistados reconhecem utilizam e cultivam uma diversidade de plantas O que procuramos aqui s o as nuances que fluem para determinadas prefer ncias de cultivos A biodiversidade encontrada contribui para revelar as percep es e pr ticas que os agricultores v m realizando na luta por autonomia Considerando que o modelo agr cola de produ o empresarial e capitalista vem contribuindo para a eros o gen tica e de saberes
59. fosse o resto aquilo que sobrou e eles deram e fora da poca acordada no primeiro contato na esta o do ver o inapropriada para plantio pelo forte calor e pouca chuva Sua insatisfa o maior est no fato de se sentir desmerecida neste acordo que n o foi desempenhado plenamente pela institui o Diz ter realizado o plantio mesmo fora de poca para n o deixar as mudas morrerem mas que para eles o projeto foi bom Vieram aqui e arrecadaram muitos nomes de interessados e depois nos fizeram de bobos prometendo um monte de coisas e n o cumprindo Na sua considera o ela e os demais agricultores participantes serviram para os n meros estat sticos necess rios ao relat rio sobre o andamento e continuidade do projeto Estas reflex es demonstram que na sua compreens o foi o projeto que se beneficiou em abranger aqueles agricultores Para Preta o nus da dedica o ao plantio das rvores que j estavam em prec rias condi es foi maior que o benef cio de receber as determinadas esp cies De fato a no o de interven o deve ser vista como um processo cont nuo constru do e negociado socialmente e n o simplesmente como execu o de um plano de a o j especificado e com resultados esperados LONG PLOEG 1989 apud LONG PLOEG 1994 LONG 2007 Os autores Long e Ploeg 1994 criticam as interven es planejadas j que estas n o d o conta do conhecimento detalhado e do dom nio das si
60. implica conforme Cotanda et al 2008 na intera o face a face que transcorre durante um per odo no qual o pesquisador passa a engajar se nas atividades do grupo investigado Sendo a percep o algo que muitas vezes n o dito mas expresso nas a es e intera es a observa o participante auxiliou na 51 interpreta o dos dados j que permitiu analisar os aspectos mais profundos e inconscientes dos pesquisados O roteiro de observa o est apresentado no Ap ndice D sendo o instrumento orientador desta t cnica A forma de registro dos dados segue abaixo 3 2 2 1 Di rio de campo e uso de imagens O di rio de campo o instrumento de registro para o pesquisador que utiliza a observa o como instrumento de coleta de dados segundo Gerhardt et al 2006 sendo a descri o do momento da observa o e das percep es do pesquisador As autoras ressaltam o papel de complementaridade para a coleta de dados proporcionada por este instrumento metodol gico O di rio de campo foi utilizado em paralelo observa o e s entrevistas Foram registradas tanto as observa es do pesquisador quanto as impress es subjetivas Utilizando se como refer ncia Gerhardt et al 2006 h o material descritivo que consiste em detalhar os acontecimentos no campo emp rico e o material reflexivo que apreende o ponto de vista do observador Portanto as observa es do pesquisador foram registradas no material descritivo enqua
61. internos a import ncia das plantas no processo de filtragem do g s carb nico do ar e para protec o das plantas ingeridas principalmente como rem dio cultivadas em meio s demais plantas espont neas para proteger da polui o gerada pela emiss o de gases dos automotores e f bricas preocupa o com o manejo da gua o conforto ambiental proporcionado pela sombra e pelo quebra vento necess rio melhor produ o da horta em fun o de fortes ventos que deterioram planta es inteiras por exemplo 5 3 3 1 Biodiversidade O quintal o ambiente biodiverso As diferentes esp cies vegetais que s o cultivadas comp em cada lugar As plantas e os animais t m significados e usos espec ficos em cada quintal A biodiversidade tratada aqui refere se s plantas 137 indicadas no quintal sejam cultivadas ou espont neas e aos animais presentes no agroecossistema com nfase na variedade vegetal conforme disposto na metodologia ver 3 2 1 A fun o do quintal para o ambiente no quesito diversidade biol gica evidente nos quintais do pequeno jardim bot nico e no quintal da esperan a O quintal da for a de vontade foca na diversidade em alimento de forma distinta do quintal do produtor org nico No quintal agrofloresta Alem o compreende a diversidade como a natureza em roda de casa E4 que ele est cultivando No quintal de produ o est iniciando se a pr tica e observa o d
62. maior for sua capacidade de ag ncia ou seja a capacidade de interferir e causar mudan as sociais com amplia o de conhecimento e gera o de diferentes rela es de poder Por ser espa o de express o de conhecimentos hist ria valores cren as os quintais s o locais de produ o e reprodu o das compreens es e intera es sociais Entre agricultores os quintais podem ser os lugares de a o para exercer a luta por autonomia A autonomia est relacionada s capacidades conhecimento e poder sendo estes interligados no o de ag ncia Aqui h uma aproxima o em diferentes perspectivas entre os itens deste referencial te rico a constru o do lugar a partir da localidade conhecimentos e capacidades locais e a influ ncia dos agricultores atores sociais atrav s dos eventos micro nos eventos macro LONG PLOEG 1994 A seguir portanto a contextualiza o dos termos ator e ag ncia 2 2 Perspectiva Orientada ao Ator A POA apresentada a partir da segunda metade do s culo XX atrav s da pesquisa de Norman Long em colabora o com Jan Douwe van der Ploeg entre outros Pretende evidenciar como as rela es sociais s o constru das reproduzidas e transformadas Para reconciliar a an lise estrutural dos processos de desenvolvimento com uma an lise centrada nos atores Long e Ploeg 1994 reconstituem os conceitos de ator e estrutura e integram a no o de ag ncia LONG PLOE
63. mais diversidade em animais do que outros Uma quest o que influi na cria o de animais o fato de 109 quintal estar localizado mais ou menos pr ximo ao aglomerado urbano No entanto a cria o de galinhas para principalmente consumir os ovos comum em todos os seis quintais No quintal da esperan a e no pequeno jardim bot nico h apenas cria o de galinhas Juca respons vel pelo primeiro quintal considera a cria o de animais uma tarefa que exige dedica o e tempo para o manejo da qual ele n o disp e al m do custo financeiro para tal O segundo tem como respons vel o Mateiro e este n o concorda em criar animais no seu quintal Atenta para as quest es sanit rias e comenta sobre instala es necess rias para criar porcos no meio urbano mas o investimento para tal muito alto J houve anos passados nos quais a fam lia criou porcos no local mas hoje mant m apenas algumas galinhas para consumir os ovos pois este animal simples de manejar segundo seu relato Dos seis quintais o pequeno jardim bot nico e o quintal agrofloresta n o focam na produ o de verduras No primeiro n o h horta organizada mas couves tomates e alfaces s o cultivados pelo Mateiro e uma estufa para produ o de hortali as est desocupada com o intuito de ser cultivada para este fim A maior contribui o alimentar se d pelas rvores frut feras e incluem as frutas nativas da regi o no conhec
64. mas participantes ativos que processam informa es e utilizam as estrat gias nas rela es com v rios atores locais assim como com institui es e pessoas externas LONG PLOEG 1994 Portanto os diferentes padr es de organiza o social s o resultado das intera es sociais entre os diversos atores que podem ser indiv duos grupos ou institui es Long e Ploeg 1994 revisando o conceito de estrutura e incluindo a no o de heterogeneidade afirmam que as estruturas n o s o for as direcionadoras que causam efeitos lineares e uniformes na pr tica social ou nas op es dos atores 92 Assim a estrutura n o deve ser vista como um conjunto de for as externas que regulam modos espec ficos de a o enquanto determinam outros modos como impratic veis O enfoque do ator entende a estrutura como resultado da inter rela o e ou distanciamento e transforma o m tua dos projetos dos atores interligando a an lise em pequenas escalas com estruturas institucionais ou sociais mais amplas Esta reconstitui o sobre o conceito de estrutura implica a explicita o das no es de ag ncia e de heterogeneidade Isso porque o estruturalismo sendo um conjunto de for as que postulam e explicam os fen menos e as tend ncias centrais insuficiente para explicar as causas e din micas da heterogeneidade social LONG PLOEG 1994 A no o de ag ncia fundamental na concilia o das no es de estrutura e de ator pois
65. na rela o entre a autonomia a agrobiodiversidade e os quintais A agrobiodiversidade abordada aqui pr xima Agroecologia considerando os agroecossistemas de quintais 2 3 A agrobiodiversidade e os agroecossistemas dos quintais Santilli 2009 relata que o conceito de agrobiodiversidade surge nos ltimos dez a quinze anos O contexto multidisciplinar no qual emerge a defini o demonstra as complexas rela es entre as sociedades humanas as esp cies cultivadas e o ambiente no qual convivem Para Santilli 2009 a agrobiodiversidade parte importante da biodiversidade e engloba todos os elementos que interagem na produtividade agr cola essencialmente um produto da interven o do homem 35 sobre os ecossistemas Por isso a agrobiodiversidade est associada e condicionada a contextos processos e pr ticas culturais e s cio econ micas j que as pr ticas de manejo cultivo e sele o de esp cies desenvolvidas pelos agricultores foram tamb m respons veis pela enorme diversidade de plantas cultivadas e de agroecossistemas Conforme Santilli os processos culturais os conhecimentos pr ticas e inova es agr colas desenvolvidos e compartilhados pelos agricultores s o um componente chave da agrobiodiversidade SANTILLI 2009 p 94 Considerando a agrobiodiversidade como resultado da intera o entre o homem e seu ambiente Machado 2007 escreve que A biodiversidade trabalhada pelas popula es t
66. natural dos recursos renov veis enfatizando a a o usurpadora do ser humano com o meio ambiente e ampliando a atividade de agricultor familiar para uma iniciativa de recupera o ambiental atrav s da pr tica agr cola de sele o e cultivo seja de ervas de arbustos de palmeiras ou de rvores Mateiro e Juca por experi ncia pr tica e intera o de muitos anos no mesmo local referem e cultivam as plantas nativas das respectivas regi es noroeste e sul do RS O aprendizado sobre as rvores e suas diferentes formas de uso deu se atrav s da intera o direta destes agricultores nas matas de entorno H a refer ncia afetiva resultante desta rela o de aprendizado a campo O afeto constru do na rela o familiar de uso e conhecimento tradicional das plantas estende se s pr prias plantas que possibilitam a reprodu o deste conhecimento adquirido e mata que comporta as esp cies utilizadas Portanto na constru o do lugar do quintal conforme Tuan 1983 este afeto resgatado O agricultor aproxima se daquilo que lhe traz as boas recorda es e felizes perspectivas de dar continuidade s pr ticas do conhecimento adquirido Alem o n o faz distin o a uma diversidade nativa ou ex tica Sua experi ncia e intera o no local atual de moradia e cultivo s o relativamente 108 recentes Apesar de habitar h 19 anos na rea e cultivar o quintal h 13 anos no seu lote n o h uma refer ncia hist rica anterior
67. o Garagem esquerda Gua ba em Selembro de ZOO ides curse operose Fe rn ee ehe cue ese ond i bb Di Eca ei 87 Figura 21 Entrada do lote da fam lia direita h uma caixa de cria o de abelhas Apis sp As rvores maiores s o a goiabeira e o anjico vermelho semeados pela fam lia Eldorado do Sul em 03 de novembro de 20 1 88 Figura 22 Entrada da rea do pomar junto com a horta Ao fundo os eucaliptos E e o maricazal MAR fora e dentro do Assentamento respectivamente Eldorado do Sul em 03 de novembro de 2010 90 Figura 23 esquerda estufa no p tio de casa direita caixa de madeira para a produ o de mudas de rvores dentro da estufa Eldorado do Sul em 03 de de 20 RREO Fuse etu RSA AE RR 91 Figura 24 Horta e rvores frut feras nos canteiros de hortali as Eldorado do Sul em 03 de novembro de 20100 mea vetet ien S ss nda ess tapa ras 92 Figura 25 esquerda e ao centro local de concentra o das rvores de ocorr ncia natural do RS A direita horta e pomar Eucaliptos E no centro fora do Assentamento Caixa de abastecimento de gua de irriga o vista ao centro e direita Eldorado do Sul em 09 de fevereiro de 2 93 Figura 26 horta cerca
68. o acesso aos recursos naturais referindo se biodiversidade principalmente e ao acesso prec rio terra A valoriza o do saber popular fundamental neste processo de redu o das priva es e depend ncias Com base em Altieri 2006 conforme avan a o conhecimento sobre as culturas tradicionais alterada a id ia pr concebida pela sociedade industrial urbana de que suas pr ticas agr colas eram insuficientes e primitivas Em contraposi o se afirma a id ia do car ter adequado e sofisticado dos mesmos em rela o ao manejo do ecossistema e da import ncia destes para melhorar os sistemas produtivos atuais Esta compreens o trazida por Altieri 2006 influi na agrobiodiversidade uma vez que a perspectiva de fortalecer os recursos locais incorporando variedades de plantas localmente adaptadas ao inv s da produ o e implementa o de variedades melhoradas geneticamente estar contribuindo para o agroecossistema em aproxima o com o ecossistema do local no qual est a unidade produtiva por exemplo Aqui conhecimento e biodiversidade se influenciam mutuamente e contribuem para a maior ou menor autonomia do agricultor dependendo da perspectiva da interfer ncia externa Em rela o ao prec rio acesso terra observamos que as propriedades cultivadas h mais anos s o aquelas com maior agrobiodiversidade e nas quais se expressa a autonomia com nfase em um n mero maior de descritores aliado representa o gr
69. o com a biodiversidade A produ o de frutas nativas no quintal em especial nos quintais de Mateiro e Juca s o favor veis nutri o de humanos e avifauna principalmente Al m do mais cultivar tais esp cies mant m os saberes e sabores locais aliando mais uma vez a diversidade biol gica com a diversidade sociocultural dE deteriorac o ou esgotamento da gua solo ar e biodiversidade questionou as formas por meio das quais o capital se apropria da natureza e transforma o meio rural a heterogeneidade a desigualdade e iniq idade mundial consideram possibilidades diferenciadas de resguardar os recursos naturais mais ainda quando est o em jogo as estrat gias e direitos de apropria o da natureza Enquanto os pa ses do Norte defendem os interesses das empresas transnacionais de biotecnologia em apropriar se dos recursos gen ticos localizados no terceiro mundo atrav s dos direitos de propriedade intelectual grupos ind genas e camponeses defendem a biodiversidade de suas regi es e seu direito de apropriar se e conservar o patrim nio que os pertence hist rica e culturalmente L uso racional dos recursos naturais recupera as formas tradicionais de produ o baseadas no conhecimento transmitido de gera o a gera o adaptadas ao nicho ecol gico em que surgiram adquirindo seu pr prio reconhecimento e valoriza o no mercado e considerando op es de sobreviv ncia no marco da produ o de alimentos
70. ocorr ncia natural no RS 16 contribu do com a variabilidade gen tica vegetal do local e paralelamente com o resgate da conviv ncia social no assentamento que na poca n o dispunha de nenhuma rvore para sombrear sua pra a central Meu envolvimento mais espec fico foi junto ao grupo da sa de Pensava como abordar este assunto entre pessoas que j haviam passado por situa es emblem ticas no que diz respeito ao bem estar e situa o de vida Perguntei me sobre os m todos tradicionais de resolver os problemas de doen a e contornar as dificuldades de acesso aos recursos m dicos mantendo os conhecimentos emp ricos obtidos pela oralidade considerando desta forma a cultura e saber do local de origem e das intera es sociais vivenciadas durante o percurso no movimento social Propus um estudo sobre o uso de plantas medicinais entre estas fam lias e observei que as esp cies vegetais utilizadas eram abundantes e cultivadas no quintal de casa junto horta ou s flores outras eram rvores j cultivadas ou colhidas nos locais de ocorr ncia geralmente num munic pio distante do assentamento trazidas por amigos ou parentes quando solicitado Foi meu primeiro contato reflexivo com o rural Comecei a notar as intensas e diversas experi ncias do homem com a natureza que o rodeia as diferentes intera es do ser humano com o seu ambiente natural e a import ncia de uma rela o favor vel para ambos gerando um amb
71. pai adquiriu a propriedade Mesmo que Juca fa a distin o entre o quintal antes e depois de ser produtor org nico a refer ncia do pai agricultor est presente no quintal hoje cultivado por Juca mas no passado cultivado por toda a fam lia sua m e seu pai e seus irm os Eu fiz a casa e reflorestei tudo isto aqui Tudo que tem de 26 anos para c A J filha veio para c com dois anos E foi a que eu comecei a fazer tudo isto aqui Mas esta propriedade j nossa h 40 anos J era da fam lia Quando o pai comprou ela em 69 ou 68 juntou toda a fam lia e pagamos Ent o a gente t aqui movimentando isso aqui h 40 anos E2 O resgate hist rico est fortemente expresso nas falas do Mateiro nas indica es das esp cies do quintal Grande parte do conhecimento adquirido sobre o uso das plantas est relacionado ao pai como nesta fala desde que o pai plantava muda plantar no tempo do inverno porque o inverno tempo de brota o Saber cultivar a terra foi um conhecimento herdado do pai O conhecimento das madeiras para confec o de carretas por exemplo est cultivado e materializado nas esp cies que comp em o seu quintal O primeiro pomar a que ele se refere no passado aquele cultivado pelo seu pai Conta que seu pai cultivou as melhores laranjas da regi o de S o Miguel Seu pai iniciou o arvoredo na sua propriedade para quitandear Plantas de refer ncia materna tamb m s o mantid
72. para serem analisadas Por ser uma entrevista semi estruturada as conversas chegaram a durar uma hora e meia at tr s horas quando realizadas em 48 mais de um encontro ver AP NDICE B e as perguntas n o ocorreram sempre na mesma sequ ncia O transcorrer da entrevista foi diferente em cada caso Entretanto na maioria das vezes at iniciar o item PR TICAS SABERES E RELA ES SOCIAIS fic vamos no interior da resid ncia ou sentados no p tio e a partir deste item and vamos pelo quintal observando o agroecossistema No momento da entrevista em que and vamos no quintal explor vamos a agrobiodiversidade Os entrevistados indicavam as plantas que possu am ali e relatavam sobre os usos que sabiam ou faziam com determinada planta al m dos cuidados necess rios no manejo Os animais eram inseridos na conversa distinguindo entre aqueles de cria o daqueles observados As plantas foram listadas a partir da cita o do entrevistado e indica o in loco assim como seus respectivos usos A diversidade biol gica nesta pesquisa comporta apenas a variedade e n o a abund ncia de esp cies n o sendo quantificado o n mero de indiv duos de uma mesma esp cie N o foi realizada coleta e herboriza o para sistematiza o bot nica das plantas As rvores foram identificadas em campo ao menos no n vel de g nero As defini es espec ficas foram complementadas com aux lio bibliogr fico em Lorenzi et al 2006 e em Sobra
73. pequenos agricultores familiares como resposta ao ambiente hostil que a agricultura capitalista imp e principalmente aos camponeses Estes investem na pluriatividade atividades al m da pr tica agr cola em si que contribuem com a renda da fam lia e em pr ticas de manejo menos dependentes de insumos externos enquanto aqueles s o homog neos e especializados em monoculturas direcionadas para exporta o e muitas vezes dominam o mercado de insumos e produtos Em face desta discrep ncia de valores se estabelece um ambiente hostil para os camponeses sendo a produ o agr cola um de seus principais campos de batalha PLOEG 2008 p 41 Neste campo a luta por autonomia e sobreviv ncia camponesa resultando na recampesiniza o do agricultor campon s em um 2 A pluriatividade n o se trata apenas de introduzir atividades n o agr colas no trabalho dos agricultores Segundo Sevilla Guzm n 2001 p 40 a pluriatividade se baseia mais na complementaridade de atividades e sup e uma recupera o de pr ticas ecol gica e economicamente sustent veis que historicamente se realizavam na comunidade Desta forma a sele o da atividade complementar que se introduzir na localidade est relacionada a escolhas coletivas e participativas 90 contexto de priva o e depend ncia Os agricultores nesta luta estar o melhor qualificados quanto mais pr ximas forem suas rela es com a natureza viva e quanto
74. por las diferentes escalas del espacio TOLEDO 2008 p 8 Assim sendo a fun o da gua no quintal t o importante quanto a fun o do quintal no ciclo da gua Ambos est o relacionados e quanto menor for a necessidade de utiliza o de irriga o artificial no sistema por exemplo tanto maior ser a autosufici ncia do agroecossitema Isto por que o agroecossistema e os conceitos da Agroecologia buscam a aproxima o com os ecossistemas naturais e conforme o autor abaixo afirma Um ecossistema de subtr pico mido por exemplo com insola o e pluviosidade abundantes nos sugere a conforma o de um agroecossistema com uma alta diversidade espacial e temporal permitindo que distintas esp cies aproveitem ao m ximo o sol e a gua gerando biomassa trabalho e n o eros o polui o MEIRELLES 2002 p 4 Os agricultores atrav s de suas pr ticas de manejo do quintal buscam aproveitar ao m ximo a gua atrav s da capta o filtragem e canaliza o desta no quintal O uso racional deste recurso tamb m observado j que a irriga o artificial utilizada de acordo necessidade das plantas em casos de estiagem 5 3 3 5 Conforto ambiental O conforto ambiental proporcionado pelo frescor temperatura da sombra intensidade luminosa das rvores principalmente e amenizando as temperaturas extremas seja para a terra para as plantas para os animais ou para o agricultor Tamb m inclui as barr
75. por todos os entrevistados Como aduba o temos o esterco de gado produzido na propriedade ou n o e a utiliza o de todo o capim como cobertura de solo nas seis propriedades A aplica o de insumo externo praticamente nula para a manuten o do pequeno jardim bot nico O lcool de cereais para o preparo das solu es repelentes e fungicidas adquirido no mercado externo As plantas utilizadas para fabria o dos insumos s o o alho a pimenta o cinamomo frutos o anjico vermelho folhas e frutos o urtig o ra z e a calda bordaleza O uso da calda bordaleza nas plantas frut feras foi questionado pelo Mateiro considerando que h um composto qu mico prejudicial sa de humana e se utilizada a calda bordaleza nos frutos logo quem os ingerir ir contaminar se com tal produto O pouco esterco utilizado recolhido na propriedade de uma filha do Mateiro h 3 km e trazido para o quintal sem custo financeiro O solo coberto de folhas secas plantas rasteiras e 149 gram neas O h mus feito a partir do minhoc rio do quintal que alimentado com os restos de frutas e verduras O quintal da esperan a necessita poucos insumos externos A aduba o preparada com os restos da capina e verduras al m da compostagem do pouco esterco animal utilizado que trazido da propriedade do irm o que mora ao lado do seu terreno Quando quer um inseticida ele adiciona plantas com esta fun o no pre
76. rcio de produtos agr colas de forma direta e regional tamb m possibilita o cultivo e venda de esp cies n o comumente utilizadas e oferecidas popula o pelos mercados globais A agrobiodiversidade favorecida pela venda direta e regional considerando que o agricultor tem a autonomia de cultivar plantas que n o tem aceita o em larga escala nos mercados convencionais Sobre este aspecto Santilli 2009 salienta Muitas variedades e esp cies agr colas j se extinguiram e outras correm risco de extin o Isso em um contexto em que nossa alimenta o baseia se em um n mero cada vez mais reduzido de esp cies o que resulta em consequ ncias negativas para o meio ambiente e para nossa sa de diretamente associada qualidade dos alimentos que comemos Nossa alimenta o cada vez mais pobre sendo que poucas as pessoas que se d o conta das interfaces entre os modelos agr colas hegem nicos e o padr o alimentar que nos imposto bem como de suas consequ ncias socioambientais marginaliza o socioecon mica dos agricultores tradicionais e familiares inseguran a alimentar contamina o das guas eros o dos solos desertifica o devasta o das florestas etc Na agricultura os impactos ambientais afetam a pr pria base de produ o o agroecossistema SANTILLI 2009 114 Este trecho do texto de Santilli 2009 compreende o descritor anterior relembrando que nos quintais h esp cies aliment cias esp
77. riquezas naturais em diferentes locais Riqueza esta contida no conhecimento de rem dios frutas madeiras para constru o ou lenha corantes fibras tratamento animal rituais religiosos tratamento inseticida e fungicida para plantas Todos estes usos foram relatados por ele para diferentes plantas Na propriedade tamb m identificamos diferentes extratos de plantas conforme observado em ecossistemas naturais Al m da presen a de polinizadores por ele trazidos e mantidos para auxiliar na reprodu o das esp cies A percep o do Mateiro est relacionada sua viv ncia e compreens o ecol gica da mata nativa Por este fato ele praticamente tenta recompor o mato escasso na regi o de entrono do munic pio na rea do seu quintal Dando destaque para a presen a de esp cies arb reas n o aliment cias para humanos observa se que sua percep o estendida para a pr tica do manejo agroecol gico procurando compreender micro e macro organismos de maneira integrada no ecossistema O quintal da for a de vontade o lugar da diversidade em alimentos Al m das frutas Alemoa conhece as plantas espont neas que s o aliment cias Seu foco o plantio de rvores frut feras incorporadas na alimenta o da fam lia A n s plantamos de tudo um pouco At a banana n s plantamos uns p s E4 A biodiversidade apresentada no quintal da for a de vontade reflete a import ncia da diversidade de alimentos Alemoa conhec
78. rvores andar na sombra colhendo e saboreando frutas Para isso ele tamb m as dissemina e origina novas mudas de rvores que plantar em outra rea ou doar para algum conhecido plantar Falam sobre os planos pessoais e coletivos com projetos visando o plantio de frut feras no Assentamento Pelo menos quatro locais foram citados pela fam lia como quintais em potencial Outras iniciativas do governo tamb m foram mencionadas como incentivo para os plantios a exemplo a LEI n 11 947 de 16 de junho de 2009 que disp e sobre a alimenta o escolar BRASIL 2009 92 Fonte Fotografado pela autora A rea do Assentamento relativamente grande mas o horizonte cercado A paisagem do entorno de monocultura de eucalipto e ac cias que n o pertencem ao assentamento enquanto as caturritas sobrevoam e atacam as planta es dos agricultores H tamb m uma produ o de ac cias dos assentados destinadas ao pagamento de empr stimo financeiro Em contrapartida h uma ilha de diversidade sendo cultivada como a atitude de resist ncia destas pessoas neste local Percebo atrav s da paisagem que vejo enquanto escuto e converso com eles sobre as plantas da rea Retornamos casa Observo novamente o anjico vermelho ao lado da caneleira ambos grandes em rela o casa O p tio sombreado por algumas outras rvores Sentamos para tomar gua debaixo do galp o em frente casa Falo sobre a minha pesq
79. s d a flor e cai a flor A ele disse que n o planta mais Ele ajuda um pouco na horta um pouco na lavoura de 80 arroz mas na maioria do tempo ele est na rua vendendo hortali as Tem dias que ele n o p ra em casa S para comer e dormir Figura 16 Area do plantio das mudas do projeto da EMBRAPA Cada estaca de madeira uma rvore cultivada Ao fundo h o pequeno parreiral e as rvores frut feras maiores Gua ba em setembro de 2010 Fonte Fotografado pela autora Figura 17 Horta apontando para o canteiro de beterrabas No limite do terreno bananeiras cultivadas pela fam lia Ao fundo os pinus P fora da rea do assentamento Gua ba em setembro de 2010 Fonte Fotografado pela autora O feij o est cozinhando na panela e uns peda os do porco ser o fritos para o almo o Na pia observo o sab o caseiro Foi ela quem fez e fala a receita que utiliza Numa cesta vejo ovos de tamanhos e cores diferentes H ovos de tr s tipos de aves que eles criam no quintal Vamos colher verduras na horta Os canteiros s o cobertos com lona preta e foram adubados com esterco Tem canteiro de alface couve beterraba salsinha cebolinha e outras hortali as para consumo e venda FIGURA 17 O V io e o filho mais novo fazem a venda dos produtos da horta nas casas de bicicleta Percorrem 30 km nesta atividade segundo o relato 81 Voltamos para a cozinha para terminar o almo o Colocamos os pratos talheres pa
80. s atrelado constante e crescente luta por autonomia Ploeg 2008 citando Slicher van Barh 1948 diz que a luta por autonomia implica em dois tipos de rela es 1 seguran a que o campon s esteja livre de rela es agressivas de explora o e submiss o e 2 liberdade para agir de tal forma que a agricultura corresponda aos interesses e aspira es dos produtores envolvidos Ambos os tipos de rela es est o interligados e o primeiro condiciona o segundo Citando Long 1985 Ploeg 2008 p 49 refere se autonomia relativa ao espa o de manobra que consiste em uma constela o em que a responsabilidade e a condi o de agente se manifestam Ploeg 2008 demonstra que a agricultura vem sofrendo diversas transforma es relacionadas com a delega o do processo produtivo s institui es externas originando maior depend ncia da agricultura com padr es externos que limita as possibilidades do agricultor de desenvolver autonomia nos processos produtivos entre outros Esta autonomia deve surgir da localidade da rela o do ator com o lugar do conhecimento oral ou emp rico transmitido ao longo do tempo e da intera o direta com a natureza viva constantemente retrabalhada pelo ator social interconectando atrav s da coprodu o os recursos sociais e naturais Esta compreens o das mudan as sociais influenciadas pelos atores e seus projetos no contexto do desenvolvimento rural aponta que emerge a resist ncia dos
81. s os 142 5 3 3 2 Independ ncia de insumos O descritor independ ncia de insumos refere se s formas de regula o bi tica e ciclagem e fixa o de nutrientes no sistema necess rio manuten o da fertilidade natural do solo com consequente menor utiliza o de insumo externo mesmo que org nico Ao agricultor que n o utiliza nenhum tipo de insumo externo no manejo do agroecossistema foi atribu do o m ximo valor tr s Em contrapartida o valor m nimo atribui se aqueles que utilizam apenas insumos qu micos externos Observamos aqui o uso de agroqu micos fertilizantes org nicos compostagem e aduba o verde plantas inseticidas e repelentes cultivadas nos canteiros de horta e seus extratos aplicados uso de produtos dom sticos como creolina sab o em p e leo disel no preparo de insumos caseiros folhas secas e ou cobertura verde de plantas espont neas incorpora o de mat ria org nica atrav s do plantio de rvores e arbustos contribu ntes na sa de do solo A maior ou menor depend ncia de insumos externos ir interferir na autonomia retomando Ploeg 2008 Cinco dos entrevistados utilizam algum insumo externo adquirido para o preparo das solu es Dentre os mais citados est o a calda bordaleza o biofertilizante o alhol a gua de fumo e a gua de cinamomo Os dois primeiros s o OS insumos que necessitam de mais produtos externos para a sua fabrica o Estes s o citados mas n o utilizados
82. seus recursos fundamentais para a sobreviv ncia de todos os seres est atrelada e evidenciada na cita o acima DAL SOGLIO 2009 usurpa o dos saberes e pr ticas adaptadas aos diferentes ecossistemas e constru das pela intera o direta do ser humano com aquele determinado local A constru o do conhecimento sobre o ambiente natural e suas intera es ecol gicas ocorre in vivo na viv ncia di ria do agricultor com o ambiente natural no qual est inserido percebendo observando e conectando informa es muitas destas alheias aquele lugar Aqui nos aproximamos da no o de coprodu o com fortalecimento da base de recursos ambientais e sociais na luta por autonomia fortalecendo o modo campon s de fazer agricultura O modo de produ o aut ctone o desenvolvimento end geno as formas de manejo tradicionais capacidades locais recursos naturais espec ficos coprodu o s o conceitos esbo ados aqui e est o em rela o maior ou menor com a no o de ag ncia e a luta por autonomia Para analisar as potencialidades locais em seu contexto espec fico queremos propor a percep o como parte do referencial te rico que auxiliar na compreens o das iniciativas de a es locais de resist ncia e luta por autonomia Portanto damos continuidade ao referencial te rico apresentando o pr ximo item 2 4 Percep o e constru o do lugar A percep o na compreens o filos fica o momento de capta o da exp
83. solo totalmente coberto por uma diversidade de plantas espont neas corroborando com o seu foco na fertiliza o natural Alemoa ao contr rio cobre o canteiro da horta com lona pl stica embora mantenha o pomar com a cobertura das plantas espont neas Tais pr ticas contribuem para uma crescente autonomia no caso do Alem o em contrapartida de uma depend ncia externa ainda que parcial de Alemoa O quintal de produ o assim como o dos demais assentados est mais pr ximos s assist ncias t cnicas e programas de extens o de universidades por exemplo A intera o direta com a COPTEC tem contribu do para o agroecossistema do quintal de produ o A assist ncia t cnica orienta os agricultores para o manejo agroflorestal influindo na forma como as rvores s o dispostas no terreno Assim como Juca as rvores est o organizadas nos canteiros de hortali as e alinhadas O incremento de esp cies nativas que n o produzem frutos para humanos est de acordo com as propostas agroflorestais que visam entre outros a incorpora o de mat ria org nica no sistema e a diversifica o com plantas de ocorr ncia natural naquela regi o No entanto ainda n o h a apreens o da complexidade das intera es da atividade agr cola que est o desenvolvendo O quintal de produ o caminha em dire o produtividade org nica visando a agroecologia mas estes 157 conceitos n o s o claros para os agricultores Ain
84. vento impacta o agroecossistema perturbando o ou lhe causando danos Desenhar os agroecossistemas para que sejam capazes de resistir ou mitigar os efeitos indesej veis dos ventos um caminho em dire o sustentabilidade GLIESSMAN 2005 Da mesma forma o autor indica que desenhar agroecossistemas que modifiquem o microclima est mais pr ximo sustentabilidade distanciando se da depend ncia de insumos externos GLIESSMAN 2005 5 4 Percep es fun es agrobiodiversidade e autonomia Analisando os dados das entrevistas e interligando as observa es de campo registradas no di rio encontramos os elementos que configuram as percep es dos atores sobre seu quintal e a complexidade das fun es estabelecidas atrav s do uso e manuten o da rea explanadas conforme 5 8 Relacionando estas fun es com a agrobiodiversidade identificamos a contribui o destas reas para a autonomia das fam lias Os dados do Ap ndice E n o comportam a quantidade de rvores de uma mesma esp cie nem falam sobre o desenho do agroecossistema mas a observa o de campo embasa os resultados e a an lise AP NDICE E 1559 Os quintais s o lugares de cole o de plantas e os agricultores aqui pesquisados podem ser alcunhados de colecionadores LORENZI et al 2006 p 13 Segundo Lorenzi et al 2006 estes colecionadores buscam cultivar todas as poss veis varia es de uma determinada planta e em pref cio obra referida Ro
85. 1 e 2 p 37 47 jan dez 2006 OAKLEY Emily Quintais dom sticos uma responsabilidade cultural Agriculturas experi ncias em Agroecologia Rio de Janeiro v 1 n 1 p 37 39 2004 OLIVEIRA A G Encontro Nacional Sobre Agrobiodiversidade e Diversidade Cultural MMA In BRASIL Minist rio do Meio Ambiente Secretaria de Biodiversidade e Florestas Agrobiodiversidade e diversidade cultural Bras lia MMA SBF 2006 p 11 24 PETERSEN P Introdu o In Org A agricultura familiar camponesa na constru o do futuro Rio de Janeiro AS PTA 2009 p 5 16 PLOEG J D van der On rurality rural development and rural sociology In HAN H de LONG N Ed Images and realities of rural life Assen Van Gorcun 1997 p 39 76 PLOEG J D van der Camponeses e imp rios alimentares lutas por autonomia e sustentabilidade na era da globaliza o Porto Alegre Ed da UFRGS 2008 372 p PLOEG J D van der Sete teses sobre a agricultura camponesa In PETERSEN P Org A agricultura familiar camponesa na constru o do futuro Rio de Janeiro AS PTA 2009 p 17 32 PLOEG J D van der Entre a dependencia e a autonomia o papel do financiamento para a agricultura familiar Agriculturas experi ncias em Agroecologia Rio de Janeiro v 7 n 2 p 34 37 jun 2010 PLOEG J D van der et al Towards a framework for understanding regional rural development In Unfolding webs The Dynamics of
86. ARI Planch amp Triana X F F Zappi BERGAMOTAS Citrus spp F F F BOL O DE OURO NI O 184 Cf Bunchosia CAFERANA armeniaca Cav DC F CAF Cf Casearia decandra X Jacq CAJU Anacardium sp F X Matayba cf RENDONA BRANCO elaeagnoides Radlk A O o CAMBOATA DO Cupania cf vernalis X MA VERMELHO Camb ME Myrciaria cf tenella CAMBUIM DC O Berg X F CANAF STULA Peltophorum dubium X Spreng Taub sp 1 Cf Senna multijuga CANAFISTULA Rich H S Irwin O Barneby CANCOROSA Maytenus ilicifolia Mart ESPINHEIRA SANTA Ex Reiss ME E Cinnamomum ME CO CANELAS zeylanicum Blume CO e ME m CAPOROROCA NATIVA Myrsine spp X ME O CAQUIS Diospyros kaki L f F F F F F CARAMBOLA Averrhoa carambola L F F Jacaranda cf micrantha CAROBA Cham X ME CEDROS Cearela fissilis Vell X MA MA CEREJAS X F F F F A Casearia cf silvestris CHA DE BUGRE Swarts X ME O CHAL CHAL Allophylus edulis St Fi F VACUNZEIRO Hil Radlk CHOR O Salix humboldtiana X ME Willd CHUVA DE OURO Senna spp AR RB RB S RB RB CINAMOMO Cinnamomum spp O Is olso CIRIGUELA Spondias purpurea L F COC OS Erythroxylum spp X MA O Tabernaemontana COBRINAS catharinensis DC A ME Cf Scutia CORONILHA buxifolia Reissek d CORTICEIRA DO Erythrina crist a galli
87. Disserta o Mestrado em Agroecossistemas Curso de P s Gradua o em Agroecossistemas Universidade Federal de Santa Catarina Florian polis 2000 WEDIG J C Reflex es socioculturais acerca do mundo rural In DAL SOGLIO KUBO R Org Agricultura e sustentabilidade Porto Alegre Editora da UFRGS 2009 p 47 62 WEID J M von der Um novo lugar para a agricultura In PETERSEN P Org A agricultura familiar camponesa na constru o do futuro Rio de Janeiro AS PTA 2009 p 47 66 WEID J M von der Agricultura familiar sustentando o insustent vel Agriculturas experi ncias em Agroecologia Rio de Janeiro v 7 n 2 p 4 7 jun 2010 ZANETTI C MENASCHE R Seguran a alimentar substantivo feminino mulheres agricultoras e autoconsumo In MENASCHE R Org Agricultura familiar mesa saberes e pr ticas de alimenta o no Vale do Taquari Porto Alegre Editora da UFRGS 2007 p 130 141 177 AP NDICE A Termo de Consentimento Livre e Informado Pesquisa Percep o dos agricultores e luta por autonomia nos quintais biodiversos Rio Grande do Sul Pesquisadora Mestranda Mariana Francisca Arreguy Muniz Fone 51 8472 3674 e mail chicamunizO gmail com Pesquisador Respons vel Orientador Prof Dr F bio Kessler Dal Soglio e mail fabiodsO ufrgs br Institui o de Origem Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS Curso de P s Gradua o em Desenvolvimento Rura
88. EST TICA LAZER FESIST NCIA QUINTAL DA ESPERAN A QUINTAL DA FOR A DE VONTADE ALIMENTA O CONFORTO AMBIENTAL 3 GUA ATURISMO REDES DE TROCAS E EXPERIMENTA ES BIODIVERSIDADE A REFER NCIA HIST RICA EST TICA QUINTAL DA FOR A DE VONTADE 198 QUINTAL AGROFLORESTA ALIMENTA O CONFORTO AMBIENTAL 3 A COM RCIO SA DE TURISMO REDES DE TROCAS E EXPERIMENTA ES REFER NCIA HIST RICA QUINTAL AGROFLORESTA QUINTAL DE PRODU O ALIMENTA O CONFORTO 3 COM RCIO AGUA SAUDE TURISMO INDEPEND NCIA DE J 7 REDES DE TROCASE BIODIVERSIDADE REFER NCIA EST TICA RABALHO LAZER RESIST NCIA QUINTAL DE PRODU O QUINTAL DO PRODUTOR ORG NICO ALIMENTA O CONFORTO AMBIENTAL 3 GUA TURISMO ER REDES DE TROCAS E INDEPEND NCIA DE INSUMOS L eset j A EXPERIMENTA ES BIODIVERSIDADE REFER NCIA HIST RICA EST TICA TRABALHO LAZER RESIST NCIA QUINTAL DO PRODUTOR ORG NICO
89. G 1994 Assim a POA coloca se como contraponto s teorias com enfoque estruturalista que n o compreendem a capacidade do homem na interfer ncia dos rumos da sociedade e de construir sua pr pria hist ria como a teoria da moderniza o e as teorias marxistas e neomarxistas Long 1987 explica que a teoria da moderniza o sugere o desenvolvimento como um movimento progressivo para formas institucional e tecnologicamente mais complexas e integradas na sociedade moderna com um envolvimento crescente nos mercados de commodities e a transfer ncia de tecnologias conhecimentos recursos e formas de organiza o do mundo desenvolvido ou de setores de um pa s para partes menos desenvolvidas J as teorias marxistas e neomarxistas evidenciam a natureza exploradora desses processos referindo se tend ncia expansionista do capitalismo necessidade de abrir novos mercados aumentar a obten o de excedentes e acumular capital 31 Ambas as perspectivas representam posi es opostas ideologicamente mas segundo Long 2007 s o modelos similares porque v em o desenvolvimento e a mudan a social provindo de interven es estatais ou de interesses internacionais e aderem id ia de que capital e Estado adentram nas reas rurais dominando o funcionamento da vida familiar e as dimens es institucionais locais Essas for as externas coibiriam a autonomia das pessoas e subestimariam as formas nativas ou locais de coopera o e soli
90. L X ME O ELMOS LAMOS Populus sp ii B EMBA BAS Cecropia spp X AR O ERVA MATE DE TALO paraguariensis A X ROXO St Hil EUCALIPTO Eucalyptus sp O EUCALIPTO DE FLOR Eucalyptus sp T Balfourodendron FARINHA SECA riedelianum Engler X MA Engler FIGUEIRA Ficus spp O F FIGOS Ficus carica L F F F 185 Coussapoa microcarpa FIGUEIRA MATA PAU Schott Rizzini X O O FLAMBOYAN Delonix regia Bojer ex Hook FRUTA DO CONDE NI GOIABA DA SERRA Acca selowiana O GOIABA SERRANA Berg Burret X F F FEIJOA 9 GOIABAS Amarela m Vermelha Psidium guajava L F V F F F F 7 Trema micrantha L GRANDIUVA Blume X O GR PIA Apuleia leiocarpa Vog MA Macbr GRAVIOLA Annona muricata L F GRUMIXAMA cf brasilliensis Myrcianthes pungens T GUABIJU O Berg D X FMA F F GUABIROBAS Campomanesia spp X F F F Cordia cf americana GUAJUVIRAS L Gottschling amp X MA O MA J E Mill GUAMIRIM Eugenia spp X O Plinia rivularis GUARURITI Cambess Rotman F Schizolobium parahyba GUAPURUVU Vell Blake X O GUARAN NI ME INGAZEIROS Inga spp X F F F F IP AMARELO Tabebuia spp X ojo O a Tabebuia heptaphylla O IPE ROXO Vell Toledo X ME ME ME ME JABOTICABAS Myrciaria truncuflora O X F Berg JABOTICABAS Myrciaria spp F F F F F F JACA Artocarpusi spp F JACARAND
91. ME ME 192 QUIABO RABANETE CIP RABO DE BUGIU RADITE REPOLHO ROSEIRAS ROSETA R CULA SAIA DE V IA TEM UMA BRANCA E UMA AVERMELHA DE SALSSAPARRILHA SALSINHA SALVIA SALVIA DA GRIPE SAMAMBAIA DO CAMPO SERRALHA TANSAGEM TIRIRICA TOMATE TOMATE ARB REO TOMATE DE RVORE TREPADEIRAS TREVO URTIGA DA SU A URTIGA URTIGA DO CAMPO URTIG O URUCUM UVA DO MATO MUSGUINHO VAGEM PALMEIRAS BUTI COQUEIRINHO DA BAHIA COQUEIRO DA BAHIA COQUEIRO VERMELHO ESPINHA DE PEIXE AL AL AL AL ololo olo ESP ME AL AL AL co co co ME ua ME ME ME i ESP Am ME AL ESP ME AL M ESP AL AL F F F 5 ESP ME zt AL ESP ME ESP ESP ALME ESP ESP E AL O TO co co S AR AR F S AL 198 GUARANA ME JERIV O CR O PALMITO JU ARA O AL PATA DE ELEFANTE O TUCUM F YUCA O TOTAL 335 183 123 70 52 194 AP NDICE Gr fico de variedade total de esp cies citadas apresentando numericamente as diferentes ess ncias vegetais aliment cias e arb reas encontrada ao tod
92. SHIVA V Terra madre una celebraci n de las econom as vivas Traducido por Esther Carrera y revisado por Fernando Soler 2005 Dispon vel em http www rebelion org noticia php id 12209 Acesso em fev 2011 SOBRAL M JARENKOW J A Org Flora arb rea e arborescente do Rio Grande do Sul Brasil S o Carlos RiMa Novo Ambiente 2006 TOLEDO V M et al Ecologia y autosuficiencia alimentaria M xico Siglo Veintiuno 1985 TOLEDO V M Agroecolog a sustentabilidad y reforma agraria la superioridad de la pequefia producci n familiar Agroecologia e desenvolvimento rural sustent vel Porto Alegre v 3 n 2 p 27 37 abr jun 2002 176 TOLEDO V M Metabolismos rurales hacia una teor a econ mico ecol gica de la apropiaci n de la naturaleza Revista de la red iberoamericana de econom a ecol gica Barcelona v 7 p 1 26 2008 TONNEAU J P SABOURIN E Elementos de s ntese e perspectivas In Org Agricultura familiar interac o entre pol ticas p blicas e din micas locais ensinamentos a partir de casos Porto Alegre Editora da UFRGS 2007 p 281 310 TUAN Y Topofilia um estudo da percepc o atitudes e valores do meio ambiente S o Paulo DIFEL 1980 p 288 TUAN Y Espa o e lugar a perspectiva da experi ncia S o Paulo DIFEL 1983 p 250 VIVAN J L Saber local e sistemas agroflorestais um estudo de caso na floresta atl ntica do litoral norte do RS Brasil 2000
93. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE CI NCIAS ECONOMICAS PROGRAMA DE POS GRADUA O EM DESENVOLVIMENTO RURAL MARIANA FRANCISCA ARREGUY MUNIZ PERCEP O DE AGRICULTORES E A AGROBIODIVERSIDADE EM QUINTAIS NO RIO GRANDE DO SUL EXPRESS ES DA LUTA POR AUTONOMIA CAMPONESA Porto Alegre 2011 MARIANA FRANCISCA ARREGUY MUNIZ PERCEP O DE AGRICULTORES E A AGROBIODIVERSIDADE EM QUINTAIS NO RIO GRANDE DO SUL EXPRESS ES DA LUTA POR AUTONOMIA CAMPONESA Disserta o submetida ao Programa de P s Gradua o em Desenvolvimento Rural da Faculdade de Ci ncias Econ micas da UFRGS como quesito parcial para obten o do t tulo de Mestre em Desenvolvimento Rural Orientador Prof Dr F bio Kessler Dal Soglio Porto Alegre 2011 Porto Alegre 2011 DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGA O PUBLICA O CIP Respons vel Biblioteca Gl dis Wiebbelling do Amaral Faculdade de Ci ncias Econ micas da UFRGS Muniz Mariana Francisca Arreguy M963p Percep o de agricultores e a agrobiodiversidade em quintais no Rio Grande do Sul express es da luta por autonomia camponesa Mariana Francisca Arreguy Muniz Porto Alegre 2011 197 f il Orientador F bio Kessler Dal Soglio S rie PGDR Disserta o n 137 Disserta o Mestrado em Desenvolvimento Rural Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Ci ncias Econ micas Programa de P s Gradua o em Desenvolvimento Rural Port
94. a de acrescentar e complementar o seu quintal e o conhecimento sobre as plantas e o manejo Mas sua principal preocupa o era que o seu amigo orquid filo que tamb m advogado lhe dissesse o que necess rio para legalizar um orquid rio e Figura 6 Orquid rio em Santo Angelo em junho de 2010 Fonte Fotografado pela autora Ao retornarmos sou presenteada com limas e laranjas que sua esposa colheu do quintal m s de julho e estas s o frutas da poca Falo sobre esta pesquisa e o meu interesse em incluir a sua experi ncia Ele demonstra gratid o e 62 concorda Fico sensibilizada com seu agradecimento j que sou eu quem deve lhe agradecer por possibilitar a realiza o deste estudo Mais tarde vou saber que outros zombam dele por ser um homem que se interessa por plantas e vive no meio do mato segundo a express o que comp e o t tulo ver 4 1 Convido a esposa para entrevist la e se nega dizendo que ele n o deixa ningu m mexer nas plantas do quintal ent o ela n o precisa participar Conta rindo que j limpou algumas plantas ali mas ele reclamou tanto que ela desistiu de continuar manejando Hoje deixa o trabalho s para ele e adverte Por isso que tem um monte de sujeira amontoada por a informa o verbal Fica marcada a entrevista Na minha partida ele fala que quer me apresentar para um curandeiro da regi o que tamb m sabe muito de plantas Novamente tenho a demonst
95. a deste assentamento parece ser crescente Os moradores costumam distinguir entre rea baixa e rea alta as terras divididas pelo asfalto Vou para a rea baixa cuja terra mais encharcada segundo os agricultores em contraste rea alta Caminho poucos metros em estrada de ch o perpendicularmente BR minha esquerda um extenso corredor de pinus e direita as casas dos assentados com suas hortas rvores flores e animais de cria o Vou convidar a agricultora Alemoa E4 a quem eu j havia contatado em visita anterior e que recebera as mudas do projeto da EMBRAPA para participar da pesquisa Havia telefonado e estavam minha espera para o almo o No port o de costas para os pinus bato palmas e avisto a Alemoa varrendo a varanda No caminho at a casa vejo ao lado direito o pomar cercado com pequenas rvores e alguns ara s e pitangueiras com mais de tr s metros al m de um pequeno parreiral Na minha esquerda a horta com couves alfaces e outras plantas vistosas e bastante esterco amontoado casa est no final deste corredor a minha direita O caminho se abre num p tio pouco maior que 10 m Outra casa est em constru o minha esquerda distante aproximadamente 15 m da primeira O V io como chamado pela esposa est limpando um porco com a ajuda do filho mais novo de 22 anos e de um dos genros debaixo das bergamoteiras do quintal FIGURA 15 As galinhas ciscam nas sobras
96. a este lugar Isto implica que n o haja men es sobre o fato da esp cie ser nativa ou ex tica j que n o h a apropria o deste tipo de conhecimento sobre as esp cies locais daquela por o meridional do RS No entanto a refer ncia afetiva tamb m se faz presente na recorda o da sua inf ncia brincando na mata e nos rios Alem o justifica que gosta das rvores dos p ssaros e dos rios por ter crescido em um ambiente que compreendia estes elementos os quais lhe d o prazer conforto e seguran a at hoje elementos estes necess rios percep o e constru o do lugar TUAN 1983 Os locais cultivados principalmente pelas agricultoras enquadram se no grupo do alimento saud vel As pesquisadas Alemoa E4 Dora E6 e Preta E9 enfocam como funcionalidade principal a alimenta o e o consumo de alimento org nico relacionado sa de da fam lia O ambiente visto com foco secund rio na observa o do manejo org nico como sendo menos prejudicial natureza como um todo O quintal sem veneno n N s plantamos o quintal sem veneno A fruta tudo sem veneno Porque n s sabemos que o veneno faz mal Porque o veneno vai para o sangue D o derrame d hemorragia N s plantamos aqui bastante verdura as coisas sem veneno E4 E falando em pomar eu penso tudo que bom porque fruta sa de e um dos meus alimentos preferidos todas elas rvores frut feras tem uma caracter stica que
97. a inten o Esta pr tica influi na sua rede de rela es inclusive no pr prio assentamento Entende o quintal agrofloresta como unidade demonstrativa de sua pr tica agroecol gica e diz que vai deixar o local como uma agrofloresta Ele enfrenta resist ncia no assentamento onde os vizinhos o chamam de relaxado como conta na entrevista A demonstra o a que Alem o se refere para seus pr prios companheiros de assentamento como relata O problema que eu tenho um entendimento e eles t m outro Ent o n o adianta No meu entendimento o que est em roda de casa t bom As frutas d o bem E a capoeira Deixa l E capim adubo E da tem os outros que discordam das coisas mas t o passando veneno Eu fico apavorado Passando veneno para matar a grama debaixo do p de bergamota Passam dois ou tr s dias come a a murchar as frutinhas e cai tudo no ch o E da T louco E5 Esta fala evidencia a aproxima o ou distanciamento que ocorre na disputa de interesses entre os atores A percep o e as pr ticas exercidas fluem na dire o de aproximar aqueles com quem se tenha afinidade para fortalecer os elos emp ricos e ou te ricos buscando associa es afins na forma o de uma rede de atores que contribuam para a amplia o das capacidades de ag ncia A fam lia de Dora iniciou o cultivo do quintal de casa atrav s de uma rede de troca Era seu filho quem semeava as mudas de rvore no munic pio de
98. a resid ncia de Alem o Garagem esquerda Gua ba em setembro de 2010 Fonte Fotografado pela autora Ao meio dia retornamos para o almo o na casa da Alemoa Chegamos e o feij o ainda est fervendo no fogo nossa espera Eu ainda tento partir antes da refei o mas para esta senhora uma ofensa n o participar da ceia pois na mesa sempre cabe mais um e isto para ela um imenso orgulho O almo o sempre delicioso que esta m e prepara feij o arroz galinha batata doce e muita verdura fresca A fartura da batata doce indica que a boa colheita Depois do almo o fico ajudando Alemoa na cozinha Tomamos o chimarr o na varanda e logo mais retorno capital Ganho uma d zia de ovos e batatas doces de mont o E ainda queriam me presentear com verduras Mas seria muita coisa para eu carregar e n o pude aceitar A felicidade da abund ncia de alimentos de hoje percept vel nestas atitudes 4 5 Um horizonte de possibilidades o quintal de produ o Embarquei na rodovi ria de Porto Alegre e passados 40 min estou na entrada da estrada de ch o que me conduz ao local da entrevista no munic pio de Eldorado do Sul A paisagem observada adiante dos tr s quil metros que caminharei composta por eucaliptos e ac cias entrecortadas por campos com cria o de gado e uma grande pedreira ao fundo 88 O sol forte nesta primeira hora da tarde A falta de sombra acrescida da poeira que paira no ar levan
99. acionados a um acervo de saberes conhecimentos pr ticas e tecnologias que persistindo enraizados na vida de comunidades urbanas e rurais comp em um variado quadro de interven es na sa de e nos processos de cura a despeito do avan o dos sistemas terap uticos modernos MARQUES 2009 p 32 Isto identificado principalmente no quintal da for a de vontade onde s o cultivadas as plantas medicinais utilizadas na farm cia comunit ria do assentamento Neste caso o acesso ao servi o p blico de sa de considerado pelos assentados como prec rio e o custo financeiro dos medicamentos farmac uticos alto em rela o ao poder aquisitivo dos assentados fazendo com que se torne mais pr tico barato e qui mais eficiente a utiliza o dos rem dios caseiros da farmacinha 5 3 1 4 Turismo O turismo outra fun o que contribui para o incremento da renda Em dois quintais o turismo foi destacado O pequeno jardim bot nico est no munic pio que faz parte no conjunto dos Sete Povos das Miss es rota tur stica do estado do RS A presen a do S tio Arqueol gico S o Miguel Arcanjo Patrim nio da Humanidade no munic pio atrai visitantes de todo o mundo O Mateiro motivado por este fluxo 117 de turistas na perspectiva de orientar visitas no seu quintal como em um pequeno jardim bot nico e comercializar suas plantas Neste caso o turismo uma forte proje o para o seu pr prio quintal No
100. ade em comunidades rurais mundo afora A autora escreve que 38 muitos estudos provenientes da sia frica e Am rica Latina observam que nos quintais h esp cies de ciclo curto que contribuem para alimentar a fam lia durante os per odos de escassez de alimentos at a colheita dos cultivos principais S o tamb m reservas estrat gicas de material gen tico funcionam como espa os de conserva o de variedades especiais ou preferenciais e at como locais de experimenta o de novas variedades OAKLEY 2004 A diversidade de esp cies de plantas propicia diferentes formas de manejo e ambas contribuem com a agrobiodiversidade Considerando que a sele o das plantas do quintal est associada com as motiva es dos atores para tais escolhas e que estas ltimas s o resultantes entre outras das viv ncias sociais ambientais trajet ria hist rica dos agricultores temos que o agroecossistema do quintal consequ ncia da rela o entre a diversidade s cio cultural e a diversidade biol gica Sendo assim a defini o de agrobiodiversidade est relacionada diversidade s cio cultural j que n o se pode tratar a agrobiodiversidade dissociada dos contextos processos e pr ticas culturais e socioecon micas que a determinam e condicionam SANTILLI 2009 p 94 Dal Soglio 2009 critica o contexto atual no qual conceitua a agrobiodiversidade apontando tamb m o impacto ecossit mico da industrializa o das
101. adores com terra continuavam sem moradia e sem atendimento s necessidades b sicas de sobreviv ncia e dignidade para o ser humano Viveram no local onde foram assentados em barracos de lona sem saneamento recebendo cestas b sicas deficit rias quanto composi o nutricional e inclusive suportando a dor da morte de crian as pequenas devido s prec rias ou inexistentes condi es de habita o alimenta o entre outras No entanto as fam lias resistiram bravamente e l constru ram suas moradas e seu trabalho agr cola de acordo com as possibilidades que lhes foram apresentadas A contribui o do grupo da UFRGS consistia em revitalizar o espa o s cio produtivo com uma abordagem multidisciplinar e participativa As decis es sobre as a es do projeto eram tomadas junto com os assentados em reuni es no Centro Comunit rio na data previamente comunicada a todos Os estudantes formavam grupos de interesses para atuar junto aos agricultores em diferentes linhas de a o como por exemplo agricultura arquitetura saneamento sa de Os agricultores por sua vez envolviam se nas atividades de acordo s esferas de interesse Foi ent o que pude ter o contato pr tico com a agrofloresta para produ o de alimentos sementes diversidade biol gica de interesses de compreens o das rela es produtivas menos dependentes para a recupera o da fertilidade do solo principalmente al m do plantio de rvores de
102. ados compreendem os danos f sicos ao humano causado pelo uso ou ingest o dos produtos qu micos utilizados na agricultura convencional Desta forma o quintal cultivado e manejado organicamente tem a fun o de colaborar com a sa de humana e ambiental Sobre as plantas medicinais pouco uso se faz da fitoterapia ou do ch de esp cies vegetais no quintal da esperan a Juca diz ter muito respeito pelo uso de plantas pois sabe que podem causar efeitos indesej veis Al m do mais pela pr pria viv ncia familiar relatada por eles o uso de plantas para ch restrito j que a esposa de Juca apresenta problemas de sa de e n o pode consumir qualquer tipo de planta No quintal de produ o e no quintal do produtor org nico Dora e Preta respectivamente utilizam poucas plantas como medicinais O pequeno jardim bot nico e o quintal da for a de vontade s o os mais utilizados nos recursos medicinais das plantas O Mateiro tem experi ncias particulares descritas nesta pesquisa que o levaram a buscar este conhecimento e aplic lo Algumas destas experi ncias incluem a viv ncia dos pais o tio que fora curandeiro e a amizade com os ind genas da aldeia Guaran em S o Miguel A Alemoa tamb m tem refer ncia ao uso de plantas medicinais na fam lia citando suas av s No entanto o ingresso no grupo de mulheres enfatizado na contribui o para o conhecimento e uso das plantas como fitoter picos O uso de
103. agricultura ao lado da fam lia faz parte da constru o do lugar do seu quintal Eu tinha algumas experi ncias experi ncia familiar Porque naquela poca minha av meu av eles plantavam faziam esse tipo de coisa l Mas l na minha av ainda existe o quintal de casa porque eles n o usam veneno eles mant m aquela coisa Ent o isso uma coisa que j vem de descend ncia mesmo da regi o da fam lia J me criei foi desta forma E4 Dora diz que ao chegar na rea do assentamento na qual est o ficou perplexa de estar indo para o meio rural e n o ter uma rvore de pitanga no local As primeiras rvores cultivadas no quintal de casa foram inclusive trazidas da sua regi o de nascimento A import ncia das frutas como alimento preventivo como ela mesma falou conhecimento trazido da experi ncia da inf ncia a gente morava numa zona rural e a o m dico da fazenda de onde era as terras l onde a fam lia de Dora trabalhava veio atender o parto que ela m e de Dora n o conseguia ganhar e ficou muito mal O rem dio que o m dico al m dos ch s caseiros que agente conhece que a manjerona por exemplo que um excelente rem dio que agente tomava quando ganhava nen e que ajuda a eliminar os res duos que ficam do parto foi que em vez de soro que na poca n o existia ela ficou tomando suco de laranja tinha um monte de gente porque ela ficou muito mal tava
104. ais adequadas aos diferentes ambientes Quando as rvores s o usadas para criar quebra ventos permanentes em agroecossistemas resulta em um tipo de agrofloresta o GLIESSMAN 2005 Neste sentido favorecer as esp cies nativas com potencial para quebra vento significa tamb m fortalecer a diversidade biol gica do ecossistema regional incrementando as capacidades locais retroalimentando num primeiro momento a 152 base de recursos naturais PLOEG 2009 A por o social da base de recursos PLOEG 2009 vir a ser fortalecida a partir do conhecimento gerado e apreendido pelo agricultor na intera o com o ambiente e com a determinada esp cie utilizada como quebra vento Assim sendo a interfer ncia externa reaparece neste descritor lembrando a fala de Dora sobre o quebra vento fornecido pelo projeto da EMBRAPA Segundo a agricultora a esp cie ex tica que foi enviada para plantio conhecida popularmente como lamo n o foi aprovada pela fam lia O seu esposo havia entrado na discuss o com o t cnico do projeto Quintais Org nicos de que esta esp cie seria ruim por se alastrar demais e n o queria que fosse plantada Dora diz que n o conhecia tal esp cie e plantou mas agora se arrepende pois constatou que de fato a rvore se alastra porque solta umas ra zes por baixo de onde brota de novo E6 ocasionando uma infesta o indesejada na ocupa o da rea de plantio Gliessman 2005 observa que o
105. al conforme Giddens 1991 analisa Tais transforma es causam consequ ncias n o premeditadas de a o A refer ncia Giddens 1991 embora haja diferen a na abordagem da no o de ag ncia deste autor e aquela da POA quer destacar a import ncia de compreender as capacidades do ser humano para agir e com isso considerar quais as implica es das pr ticas de interven o na natureza Conforme o sujeito compreende quais ser o as implica es de determinadas pr ticas de interven o na natureza configura se a forma de intervir no ambiente natural de se relacionar com outros atores sociais e de perceber o lugar que cultiva A agrobiodiversidade revela estas compreens es e a express o das percep es As fun es atribu das ao quintal denotam o entendimento sobre a abrang ncia das pr ticas que executam A agrobiodiversidade como materializa o das percep es saberes e pr ticas e os descritores das fun es como a express o da compreens o e do conhecimento ambos demonstram a capacidade de ag ncia dos agricultores aliada ao crescente conhecimento e poder adquiridos e expressos na luta por autonomia camponesa que ocorre na constru o do lugar do quintal As percep es sobre o lugar mostram se favor veis Agroecologia na busca de t cnicas menos 168 agressivas e degradantes dos recursos materiais da agricultura e mais conectadas aos processos ecol gicos naturais Isto por que a men o Agroecologia
106. al e tantos outros que poder amos elencar sobre esta rea f sica na qual h um quintal sejam distintas entre si assim como s o heterog neas as interven es de manejo Os agroecossistemas s o unidades fundamentais para o estudo e planejamento das intervenc es humanas a favor do desenvolvimento rural sustent vel S o unidades geogr ficas e socioculturais nas quais ocorrem os ciclos minerais as transformag es energ ticas os processos biol gicos e as relac es s cio econ micas CAPORAL COSTABEBER 2002 A sustentabilidade implica na considera o de dimens es econ mica pol tica social cultural ambiental e institucional que devem ser contempladas no seu conjunto e de forma interdependente A dimens o ambiental trata da conserva o da diversidade biol gica al m de melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente A dimens o cultural abrange os modos e meios de vida e aspira es das pessoas com a necessidade de um processo permanente de participa o da popula o nas decis es sobre as a es antr picas BRASIL 2006a 3 mateiro uma pessoa considerada pelo seu grande conhecimento sobre as matas da regi o em que habita inclu das as plantas e animais presentes nas forma es vegetais de acordo com sua experi ncia emp rica da vegeta o e intera es ecol gicas 18 Os quintais poderiam ser lugares nos quais os agricultores expressariam e contribuiriam com a luta por autonomia atrav s do cultiv
107. al m de alimentar ajuda a combater algum tipo de doen a ou prevenir E6 Porque tem gente que pensa que quintal s plantar flor plantar uma rosa plantar uma margarida E eu n o penso que s isso Eu penso que a vida mais cheia de vida mais pura Porque uma verdura sadia um fruto sadio que tu sabe que n o tem produto qu mico No meu ver isso o quintal a vida cheia de vida E9 As tr s agricultoras s o assentadas o que implica na rela o mais recente com o lugar do quintal assim como o Alem o No entanto Alemoa por participar do grupo de mulheres que estudam e utilizam as plantas medicinais est integrada a uma rede que lhe possibilita ampliar os conhecimentos relacionados alimenta o e sa de O grupo de mulheres participa de encontros e forma es que sejam interligadas ao uso das plantas Alemoa ent o interage com as plantas e o quintal na perspectiva das esp cies medicinais Plantas espont neas s o consideradas pela sua a o medicinal e tamb m nutritiva incorporadas em receitas culin rias Os 104 frutos das rvores s o utilizados como alimento e algumas esp cies arb reas s quais atribu do algum uso medicinal s o inclu das em receitas fitoter picas A fam lia de Dora exp e claramente que n o utiliza plantas como rem dio apesar de ter conhecimento de uso de plantas para tratar sintomas e doen as Sua perspectiva est direcionada para a capacidade nutritiva e preventi
108. alas dos entrevistados Desta forma coerente que a principal inten o em cultivar e manter o local do quintal seja o consumo dos alimentos produzidos A segunda inten o mais mencionada e relacionada com a anterior a de proporcionar a sa de e o bem estar da fam lia Depois temos a venda aux lio na qualidade e fertilidade do solo e a troca de experi ncias em paridade de men o AP NDICE G Subdividimos em quatro seis e cinco as fun es econ micas sociais e ambientais respectivamente e dispomos estas informa es no quadro AP NDICE H para compor os gr ficos elaborados para cada quintal AP NDICE 1 Outras poderiam ser elencadas para indicar a complexidade das intera es e relacionar autonomia exercida atrav s do quintal No entanto estas foram fun es explicitadas pelos atores em conson ncia com suas percep es e a es incluindo as esp cies cultivadas e espont neas o manejo os saberes e pr ticas de uso de plantas Os quintais ser o apresentados segundo a maior abrang ncia da express o da autonomia de acordo aos gr ficos AP NDICE iniciando pelo quintal da 108 esperan a e em sequ ncia o pequeno jardim bot nico o quintal da for a de vontade o quintal agrofloresta quintal de produ o e o quintal do produtor org nico Esta apresenta o n o pretende comparar os lugares mas demonstrar os aspectos mais enf ticos e peculiares de cada quintal seg
109. am se nas refer ncias citadas Por esta raz o as t cnicas utilizadas foram a entrevista semi estruturada e a observa o participante Os instrumentos de pesquisa utilizados foram o roteiro de entrevista e o roteiro de observa o O registro das entrevistas foi por meio de gravador cassete e posteriormente digital A observa o foi anotada em di rio de campo e atrav s de imagens fotografadas em c mera digital O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido AP NDICE A foi assinado visando esclarecer os objetivos da pesquisa e garantir a divulga o dos dados com o consentimento dos participantes 3 1 Crit rio para escolha dos sujeitos A escolha dos seis quintais para pesquisa n o ocorreu de forma aleat ria nem representativa O estudo foi realizado com pequenos agricultores familiares org nicos que dispunham de um quintal sob sua responsabilidade e o mantinham de forma mais ou menos aut noma independente do tempo de cultivo ou perman ncia na rea A execu o do projeto Quintais Org nicos com transfer ncia de tecnologia para a implanta o ou complementa o de quintais vinculado seguran a alimentar e nutricional resultou na visita de trinta quintais de agricultores familiares distribu dos em sete munic pios do RS Destes dezenove localizados em Pelotas e munic pios de entorno Morro Redondo Candiota e Santana da Boa Vista cinco na cidade de Buti um na capital do RS quatro em um assentamento do MST e
110. amos com guarani E depois com o tempo esses estancieiros foram ficando maiores A eles inventaram casamento de primos com primos para n o ter que dividir a heran a as terras a est ncia S por causa do interesse econ mico E1 grifo nosso 1 Pessoas com naturalidade em S o Miguel das Miss es RS 58 Ele e seus dez irm os nasceram e moraram na zona rural de S o Miguel denominada de Rinc o dos Atha de Trabalhavam em terra pr pria com agricultura de subsist ncia e com rcio do excedente Culturas como milho e soja s o citadas com destino venda O pai que hoje teria mais ou menos 100 anos pela entrevista sempre estimulou o conhecimento do trabalho agr cola considerando que saber cultivar a terra garante a sobreviv ncia da pessoa e da sua fam lia Atualmente o Mateiro n o tem a profiss o de agricultor mas a pr tica agr cola lhe foi comum at seus 30 anos aproximadamente j que o pai lhe ensinou a cultivar a terra para garantir que pudesse sobreviver em qualquer situa o O pai produzia e quitandeava comercializando de carreta de boi as frutas verduras e demais produtos agr colas O pai tamb m escolhia e retirava a madeira do mato para construir as carretas que utilizava Quando indagado sobre o tempo que moram no local ele pensa se veio morar antes ou depois de casar se Ent o traz como refer ncia o plantio das 17 arauc rias primeira esp cie que semeou h 38 anos no terreno FIGURA
111. ando a autonomia e evitando a necessidade de estabelecer as rela es de depend ncia externa tanto mais fortalecida for a base de recursos O agricultor constr i se livre de elos de depend ncia e explora o e livre para plantar segundo os interesses da fam lia agricultora Ploeg 2010 complementa dessa forma ningu m pode dizer como o agricultor deve operar Os pr prios agricultores decidem como v o planejar seus sistemas produtivos e desenvolver suas propriedades A liberdade de e a liberdade para portanto s o ingredientes indispens veis para a prosperidade da agricultura PLOEG 2010 p 35 grifo do autor Estas liberdades relacionam se com a soberania alimentar sendo este um movimento em defesa das culturas alimentares e da autonomia tecnol gica locais LIMA 2009 p 4 Interligando esta tem tica com a agricultura ecol gica Lima 2009 contribui A diversidade produtiva dos agroecossistemas bem como a intera o entre as atividades nelas desenvolvidas constitui se em princ pio fundamental para a agricultura de base ecol gica No cen rio atual essas rela es ganham destaque e configuram um dos pilares para a constru o e a reprodu o de agroecossistemas mais sustent veis e aut nomos LIMA 2009 p 4 Nesta perspectiva e com base nos dados analisados constatamos que os locais onde foi indicada a maior diversidade vegetal s o tamb m os mais abrangentes no que diz respeito aut
112. ando os processos produtivos e de trabalho observando e experienciando no agroecossistema e retroalimentando a base de recursos sociais e naturais atrav s de m ltiplas pr ticas no quintal que se expressa a resist ncia dos agricultores tal como elaborada por Ploeg 2009 ou seja o campo de a o dentro dos espa os de produ o 5 3 2 4 Resist ncia A resist ncia impl cita em alguns quintais e explicitada na fala do Juca principalmente Alem o e Alemoa salientam o aspecto da independ ncia do mercado para o consumo do alimento especialmente Atrav s dos m ltiplos usos e otimiza o do espa o de cultivo Juca percebe e pratica a resist ncia no local contribuindo para a autonomia De fato ele exp e como importante n o depender da ind stria E2 e diz que realiza todas as etapas da sua produ o com o m nimo de insumo externo inclusive de sementes pois algumas ele produz O Mateiro exerce a resist ncia atrav s das pr ticas no seu quintal Resiste cotidianamente contra as opini es dos vizinhos e colegas de trabalho por exemplo que consideram seu interesse por plantas algo sem nenhuma import ncia A pr tica do Mateiro demonstra ser um depoimento sobre seu modo de vida que hoje incomum perante um contexto de g nero no caso exemplificado acima e tamb m diante do contexto da agricultura modernizada local Sobre o aspecto da resist ncia exercida no mbito da agricultura moderna ele demons
113. ando quer pulverizar nas plantas objetivando repelir insetos com mais efici ncia Salienta a import ncia das plantas condimentares e arom ticas na horta e suas fun es repelentes Umas nascem espontaneamente outras s o cultivadas por ele como o 71 crem A raiz desta planta utilizada tradicionalmente por descendentes italianos como condimento conhecido popularmente tamb m por raiz forte e suas folhas s o consumidas preferencialmente pelos insetos Por volta de toda a horta h ervas espont neas que ele justifica a presenca como sendo plantas de alimento para insetos Observa que os insetos podendo escolher entre diversas plantas para comer n o ir o prejudicar as hortali as tanto quanto prejudicariam se s houvesse estas ltimas nos canteiros PERE La Figura 13 Da esquerda para a direita respectivamente o crem o manjeric o e o alecrim Porto Alegre em margo de 2011 Fonte Fotografado pela autora Onde n o h nada cultivado tamb m h muitas esp cies vegetais espont neas Ele as mant m al m da observa o anterior para cobertura do solo protegendo o das intemp ries e ajudando a conservar os nutrientes Na poca de realizar o plantio no local ele prepara aquela terra e deixa outra rea em pousio por um curto per odo Nos canteiros os cultivos s o em cons rcio e diversificados Desta forma o espa o otimizado aumentando a variedade de alimentos produzida Quase toda a semente da r
114. antas Foram dois os quintais visitados desta mesma fam lia sendo um da Alemoa e outro do Alem o Ambos agem com curiosidade sobre as esp cies vegetais M e e filho mencionaram mais de uma vez o fato de aprender com a observa o das plantas dos insetos da experimenta o do desenvolvimento vegetal em diferentes microambientes entre outros Ambos possuem uma variedade de esp cies citadas e utilizadas de maneiras diversas Destaca se a maior variedade de plantas espont neas comest veis e medicinais citada pela m e e pelo filho as plantas com potencial forrageiro e nutritivo para o solo e animais As distintas experi ncias contribuem para as diferentes percep es e pr ticas Ambos percebem o quintal como local de express o de resist ncia camponesa de fonte de alimentos nutritivos e saud veis com pr ticas de manejo alternativas e diversas entre si A pluriatividade caracter stica de ambos os quintais tamb m diferindo de acordo ao interesse e a meta pretendida Da mesma forma a escolha e o manejo das esp cies que comp em a agrobiodiversidade influenciada pelas percep es Estas ltimas por sua vez foram sendo reorganizadas a partir de interfer ncias externas como o contato com a UFRGS O envolvimento na participa o no projeto da UFRGS com o grupo da sa de ou com as t cnicas agron micas propostas revela aquilo que percebido com mais urgente para cada um Alemoa sofreu a dor da morte de um filho com oito a
115. antes est o mais avan ados s vezes encontramos espa os de cultivo que resistem como o quintal a horta o pomar desde que pelo menos em ess ncia mantenha se a integridade daquele modo de vida AMOROZO 2002 2 Reportando aos quintais e aproximando as refer ncias citadas podemos apontar estes agroecossistemas como unidades agr colas de uso tradicional do solo qui uma das formas mais antigas de uso da terra e com possibilidade de promover a sustentabilidade e contribuir com a soberania alimentar No Brasil o termo quintais usado para denominar a rea do terreno situado ao redor da casa SARAGOUSSI et al 1988 Estudos relacionados ALBUQUERQUE et al 2005 BLANCKAERT et al 2002 WEZEL OAKLEY 2004 inferem que s o reas nas quais se cultivam ou mant m esp cies vegetais que fornecem produtos diversos tanto madeir veis quanto n o madeir veis bem como suprem parte das demandas nutricionais da fam lia M ltiplos estudos evidenciam a import ncia de quintais para a subsist ncia e manuten o da diversidade biol gica e s cio cultural Os quintais como agroecossistemas proporcionam alimento e outros produtos tanto madeir veis quanto n o madeir veis Desta forma contribuem para suprir a demanda de alimento e o acesso a certos recursos tais como as plantas medicinais al m de auxiliarem a sustentabilidade ambiental Para Oakley 2004 p 37 quintais dom sticos s o reservat rios de agrobiodiversid
116. ar debaixo das rvores E5 A import ncia das rvores elas que v o aparar o vento por que o vento tamb m um inimigo da horta E8 Mais sombra que nem o meu pezinho de jambol o ali eu quero que esteja bem grand o do tamanho daquele outro A a gente senta aqui na grama E9 O conforto ambiental n o aproveitado apenas pelos humanos mas tamb m pela fauna e flora que habita o quintal As rvores de sombra e os quebra ventos favorecem a manuten o de uma temperatura mais est vel e criam micro climas nos quais se podem explorar culturas diferentes intervindo tamb m a intensidade luminosa nos microambientes Brom lias e orqu deas s o por exemplo plantas sens veis ao excesso de calor e luminosidade e ser o favorecidas em ambientes mais sombreados e midos Gliessman 2005 considera que a faixa de temperatura e a amplitude de varia o numa rea podem estabelecer limites para as esp cies e alterar a qualidade e a m dia do rendimento das culturas Assim tamb m a intensidade luminosa pode ser um fator limitante em certos ambientes Gliessman 2005 p 126 explica que quanto mais estratificada a estrutura da vegeta o maiores s o os desafios no manejo exp e como necess rio compreender as rela es entre a resposta da planta e a qualidade quantidade e dura o da exposi o luz para manipular o ambiente luminoso e otimizar a produ o atrav s da sele o das plantas m
117. aranjeiras nas frutas abrimos na volta e colocamos o esterco Nas frut feras As nativas n o As nativas v m por conta E9 O alhol o biofertilizante a urina de vaca e a calda bordaleza s o os insumos mais utilizados no combate aos fungos insetos e doen as no quintal do produtor org nico O alhol base de alho leo e sab o neutro A agricultora Preta salientou n o utilizar a gua de fumo por este apresentar compostos qu micos presentes no tabaco e sendo assim n o permitida sua utiliza o por possu rem o certificado de produtor org nico de acordo com a LEI n 10 831 BRASIL 2003 A in depend ncia de insumos externos importante sob diversos aspectos no que tange autonomia do agricultor O uso de insumos tecnol gicos alheios ao sistema local acentua o grau de depend ncia dos agricultores a um determinado mercado ou a um conhecimento inacess vel ao agricultor Se consider ssemos a depend ncia de sementes por exemplo estar amos adentrando no campo na seguran a e soberania alimentar principalmente Mas considerando apenas os insumos qu micos o agricultor ao utiliz lo e deles depender est enfraquecendo a sua base de recursos por assim dizer A incorpora o de mat ria org nica e manejo da biomassa no sistema ao contr rio fortalecedor da base de recursos tal como lembrada por Ploeg 2009 Uma forma de diminuir a depend ncia dos mercados globais e fortalecer o desenvolvimento de es
118. ardim de 25 m como mais de 50 roseiras coloridas Tamb m vimos uma linha de plantas da fam lia agav cea de todos os tamanhos misturadas com alguns cactos e a banana de raposa um tipo de brom lia terrestre nativa comest vel e medicinal Mais adiante muitas variedades de 66 p ssegos misturadas com diferentes variedades de bananas e limeiras Sobre as bananeiras ele comenta que s o oriundas dos cultivos do pai dele sem saber identificar todas as variedades Vendo uma estufa cheia de mamonas disse que iria arranc las para o plantio de alface e outras verduras Brinca contando que sua filha plantou alimento ali mas n o cuidou e morreu tudo E complementa eu deixei para eles verem como n o s plantar tem que cuidar Nos locais onde h plantas rasteiras em grande quantidade ele indica mais alguns tipos de ch s medicinais consumidos pela fam lia e outros amigos Mostrando estas esp cies espont neas ele fala que todas as plantas que nascem ficam se desenvolvendo no mesmo local ou s o transplantadas caso possam causar algum preju zo como nas fia es el tricas encanamentos e telhados Ao final do percurso no lado direito da casa est um horto de plantas cultivadas e utilizadas para ch e condimento Ali encontramos ervas mas tamb m rvores com fim medicinal como o araticum do cerrado e o ch de bugre indicados por Mateiro Durante a nossa caminhada a neta de 4 anos do Mateiro que nos acompanha of
119. artificial para o desenvolvimento das pl ntulas e manuten o das mudas O plantio feito pelos t cnicos obedece a um padr o sendo cada esp cie plantada em uma linha O transporte dos materiais se d por meio de ve culo do tipo caminhonete e pr prio ao projeto Nas reas que visitamos em sua maioria apenas as rvores frut feras cedidas pela EMBRAPA foram cultivadas no local destinado ao pomar doado com alguma ab bora milho ou aveia plantado entre as linhas de rvores Poucas as propriedades tinham outras rvores fora do local do pomar Este era o padr o com alguns desviantes Dentre aqueles visitados foram escolhidos quatro devido melhor possibilidade de acesso via transporte rodovi rio coletivo e pelos agricultores plantaram as rvores divergindo do modelo proposto pelo projeto utilizando os recursos cedidos pela EMBRAPA para complementar os seus quintais de acordo com os interesses de um grupo ou unidade familiar Em um primeiro olhar pareciam ser lugares cultivados com pouca influ ncia dos t cnicos da EMBRAPA para o plantio e manuten o do pomar Destes tr s localizam se em Gua ba em um assentamento do MST o quarto est no assentamento do MTD em Eldorado do Sul Al m dos quatro vinculados ao projeto Quintais Org nicos mais dois quintais comp em esta pesquisa no sentido de complementar o estudo com iniciativas aparentemente mais aut nomas por n o contarem com a interven o externa direcionada ao qu
120. as O quintal lhe proporciona frutas e alimento para o gado basicamente A fun o primordial do quintal de produ o e o quintal do produtor org nico a produ o de alimentos e procedente fonte de renda atrav s da comercializa o A produ o de alimentos otimizada pelo cons rcio de rvores frut feras e hortali as No primeiro a fam lia de Dora busca compor a agrofloresta e esp cies madeireiras s o incorporadas no local visando em primeiro momento a recupera o do solo atrav s da mat ria org nica que estas rvores ir o incorporar no sistema e a atrair aves que tragam nos excrementos sementes de outras esp cies que consumam Num segundo momento as rvores poder o ser utilizadas para a produ o de madeira tamb m A produ o mel fera inclusa tanto aqui como na fun o com rcio No quintal do produtor org nico n o h esp cies madeireiras nem com foco na alimenta o de abelhas ou aves com nfase nas frut feras priorizadas ao autoconsumo com pouca variedade de arb reas As frutas produzidas n o s o comercializadas pois todas s o consumidas pela fam lia de Preta A produ o para o autoconsumo fundamental para a subsist ncia e prefer ncia alimentar da fam lia como traz Weidg 2009 no trecho abaixo O autoconsumo ocupa um lugar fundamental nas fam lias de agricultores pois garante boa parte da alimenta o da fam lia atendendo n o somente s necessidades fisiol
121. as como se evidencia na fala seguinte Aqui n s conhecemos essa por saia de v ia n o sei se o nome correto Essa uma planta antiga Essa planta a m e plantava mas plantava pra flor Essas mudas eu trouxe l da morada onde n s t nhamos E1 O Mateiro expressa sua rela o com a ancestralidade ind gena no cultivo de plantas entendidas por ele como tradicionais Guarani Relacionando a esp cie vegetal do seu quintal com o uso pelos guaranis para o artesanato os rituais religiosos os alimentos os ch s e as medicinais ind genas o Mateiro aproxima se da sua pr pria ancestralidade e a reorganiza no seu conhecimento e pr ticas atuais A tradi o renova se reproduzida e transformada no manejo do quintal O Mateiro conhece as lendas ind genas que relacionam plantas como o jeriv e d o seu relato De fato Braghirolli 2009 descreve brevemente a lenda do pind palmeira sagrada e de grande import ncia na economia tupi guarani No mito da inunda o foi criado jeriv para que os homens pudessem sobreviver inunda o no alto destas plantas e alimentando se dos seus frutos tamb m indispens veis fauna silvestre O autor ressalta que uma planta com a qual confeccionam artefatos religiosos BRAGHIROLLI 2009 Outras plantas como o urucum a erva mate o 127 cip rabo de bugiu s o citadas pelo Mateiro como importante para os guaranis rabo de bugiu esse a foi plantado de
122. as formas como as utilizam e o manejo do agroecossistema AP NDICE E Todos os agricultores indicam plantas que contribuem com a alimenta o humana assim como plantas ornamentais medicinais condimentares frut feras espont neas com uso aliment cio ou medicinal e plantas para a sa de do solo Por sa de do solo englobam se as esp cies para a recupera o da fertilidade natural por incremento da mat ria org nica atrav s da aduba o verde e plantas forrageiras compostagem cobertura seca fixa o de nutrientes pelas ra zes e insumos org nicos preparados com extratos de plantas Plantas utilizadas para regula o bi tica s o aquelas mantidas para controle de insetos fungos e doen as e somente o quintal do produtor org nico n o cita esta utiliza o A contribui o de esp cies para alimenta o animal n o citada no quintal da esperan a Plantas indicadas para o artesanato foram mencionadas em tr s quintais assim como plantas utilizadas em rituais ou importantes em alguma cren a invasoras indesejadas e as madeireiras Esp cies utilizadas para cerca viva com potencial t xico e as mel feras foram citadas em dois quintais embora um quintal que n o citou uso mel fero produza mel para o autoconsumo O quebra vento foi citado em dois quintais Quebra ventos s o geralmente rvores conforme Gliessman 2005 objetivando a redu o da eros o e lica aumento do rendimento agr cola e prote o das ins
123. as hortali as otimizando o espa o e aumentando a produ o de alimentos Nos canteiros de verduras est o as rvores plantadas em linhas FIGURA 24 Observo algumas rvores que n o s o frut feras FIGURA 25 Algumas foram fornecidas pela EMBRAPA o qual a fam lia n o soube informar se era ou n o parte do projeto Quintais Org nicos Outras o casal me diz que s o rvores cujas mudas foram produzidas por eles no viveiro de plantas na estufa do p tio ao lado de casa distante 50 m da resid ncia FIGURA 23 As sementes s o oriundas de lugares distintos como por exemplo S o Borja ou at mesmo das j cultivadas rvores no quintal como as goiabeiras anjico vermelho e pitangueiras No caso do anjico vermelho planta muito citada pela fam lia durante as entrevistas havia sido trazida uma muda de S o Borja que foi plantada em frente casa e l est Hoje j produz 91 sementes que s o reproduzidas na estufa em saquinhos pl sticos para serem transportadas e replantadas D d M Figura 23 esquerda estufa no p tio de casa direita caixa de madeira para a produ o de mudas de rvores dentro da estufa Eldorado do Sul em 03 de novembro de 2010 Fonte Fotografado pela autora S o momentos de uma conversa ao sol escaldante Compreender e lembro enquanto escrevo esta disserta o a fala do esposo ao responder que estar satisfeito quando vir tudo isso E8 verde de
124. benfeitorias do terreno Porto Alegre em mar o de 2011 Fonte Fotografado pela autora Hoje Juca diz que quer ter uma agrofloresta e v m realizando o plantio das rvores frut feras nos canteiros das hortali as nesta perspectiva Falando do trabalho e da composi o das plantas esclarece Eu posso ter mais umas id ias de colocar outras coisas ali no meio da horta tirando espa o Por exemplo no meio das rvores nativas que eu estou plantando a inten o botar plantas medicinais Elas v o crescendo debaixo das rvores Entre uma linha e outra Medicinais 75 condimentares todas essas coisas agente pode ter Pode ter como um viveiro como uma experi ncia Agora eu n o vejo isto a como um com rcio Eu vejo que elas servem para ser til para o ambiente o aroma As plantas repelentes tu pode ter ali que s vai causar bem para todos E elas repelir Assim como tem arom ticas as medicinais e as repelentes Ele diz que v na horta a biodiversidade funcionando Referindo se ao local explica Eu acho que um conjunto que agrega valor tudo junto que vem a ser a biodiversidade Agora eu vou puxar para dentro da horta a minha diversifica o na horta A horta para mim o quintal que produz as verduras que eu levo para a feira Eu chamo aquilo ali de um buffet de saladas Porque se tu chegas para almo ar ou jantar em qualquer restaurante o que tem mais salada Vinte esp cies
125. buti e a arumbeva S o Miguel das Miss es em 18 de fevereiro de 2011 Fonte Fotografado pela autoras tinie iieiea a Ee O 59 Figura 5 Vista lateral esquerda da propriedade S o Miguel das Miss es em 18 de fevereiro de 60 Figura 6 Orquid rio em Santo ngelo em junho de 2010 61 Figura 7 Vista interna do orquid rio em constru o Resid ncia esquerda da figura S o Miguel das Miss es em 18 de fevereiro de 2011 64 Figura 8 Mudas de rvores nativas nos sacos S o Miguel das Miss es em 18 de fevereiro de de 65 Figura 9 Figueira ao lado esquerdo da estrada Porto Alegre em mar o de 2011 67 Figura 10 Vista da frente da casa de Juca Os eucaliptos e fora da propriedade Porto Alegre mar o de 2011 Ec EOS 68 Figura 11 esquerda local de concentra o do pomar direita biojuca Circulado o esterco misturado com folhas secas em decomposi o Porto Alegre m marco de 201 1 nn o ar rta e ED para oa 70 Figura 12 rea da roca e do pomar esquerda uma bergamoteira BE direita o chuchuzeiro CH No centro no terreno preparado para cultivo de hortalicas h um mamoeiro MA A seta indica o local de concentra o do pomar recente Ao fundo a resid ncia de tijolo vista Porto Alegre em mar o de 2011
126. cas por vezes Desta forma contribui se com a recupera o do ambiente em compatibilidade com o ecossistema local Os agricultores podem e devem possuir ambos os conhecimentos e os projetos institucionais e aux lios t cnicos s o as formas de acesso aos conhecimentos cient ficos Por fim consideramos que os quintais s o fonte e resguardo da diversidade biol gica dos conhecimentos da hist ria e cultura da tradi o dos modos e dos meios de vida do agricultor da seguran a alimentar das fam lias que os cultivam Por ser a express o materializada de uma gama de rela es que s o mais ou menos interdependentes os pequenos quintais podem ser agroecossistemas ricos em diversidades e s o considerados e configurados a partir da percep o sobre o lugar que cada agricultor idealiza para si ou para o grupo do qual faz parte Assim sendo estes espa os de produ o de alimentos diversificados e saud veis contribuintes da subsist ncia familiar e local de trocas e experi ncias que favorecem a base de recursos naturais e sociais s o lugares de express o da autonomia camponesa nos espa os de produ o O quintal um lugar no qual o agricultor expressa e apreende as capacidades de discutir e decidir sobre como relacionar se com ambiente natural e com a agricultura Atrav s dos conhecimentos adquiridos o agricultor amplia as capacidades e o poder de agir em prol da luta por autonomia camponesa buscando respostas de forma ativa e pr
127. cede a iniciativa governamental ou o apoio institucional Tais aux lios externos s o vantajosos para a composi o do ambiente produtivo e influem na diversidade da vegeta o No entanto a compreens o da import ncia das esp cies frut feras tanto para humanos como para a fauna indicada tamb m pela presen a das rvores de grande porte que encontramos no pequeno p tio da casa da fam lia 4 6 Para uma vida mais saud vel o quintal do produtor org nico Chego com Alem o apresentado conforme 4 3 na entrada da casa da pr xima entrevistada que tamb m fica na rea alta do assentamento de Gua ba Preta E9 de 30 anos a mais nova das entrevistadas Natural de Miragua RS noroeste do RS e na regi o fisiogr fica do Alto Uruguai reside h 14 anos no assentamento com o marido o filho de 13 anos e a sogra Recebeu as mudas do projeto da EMBRAPA h um ano mas o seu quintal vem sendo implantado h 14 anos Observando o terreno plano tem um gramado de quase 20 m desde o port o resid ncia da agricultora Vejo duas casas no terreno e a mais nova onde reside a sogra Esta ltima casa FIGURA 26 com aproximadamente 7 m de frente faz divisa com a horta 30 m recuada da cerca da frente do terreno assim como a outra resid ncia Est minha esquerda separada da casa da agricultora por um corredor com largura suficiente para a passagem de um trator No port o olho para a casa de Preta que tem apr
128. ciamento Por sugest o dos t cnicos que os auxiliam COPTEC a fam lia iniciou o cons rcio das rvores com as hortali as de maneira a otimizar o uso do espa o e aumentar a oferta e comercializa o de alimentos As refer ncias trazidas por esta fam lia sobre a participa o no projeto da EMBRAPA s o satisfat rias A observa o negativa foi com rela o poca de recebimento das mudas para o plantio e o fornecimento dos demais suprimentos para a implanta o do quintal que constavam no planejamento inicial Aguardar a chegada do adubo org nico atrasou o plantio que ocorreu em novembro Isto acarretou na morte de algumas plantas apesar da irriga o artificial por gotejamento tentar compensar a falta de gua para as mudas nesta poca do ano Apesar disto a fam lia est satisfeita em participar de uma iniciativa que aborda o cultivo de frutas e a sazonalidade compondo um quintal que produzir frutas durante os doze meses do ano Isto foi bem exposto na entrevista como se pode notar na fala transcrita a seguir E o que me surpreendeu que eu nunca tinha analisado do ngulo dos quintais que s o oferecidos a rela o de fazer produzir fruta o ano inteiro A gente foi criado assim tendo os pomares mas dentro de uma certa e determinada etapa A gente nunca juntou uma fruta com a outra pra fazer dentro do quintal com que sempre tivesse fruta e isso uma coisa importante E6 Esta fam lia estaria disposta a par
129. cisa Esta ltima compreens o entre outros pontos de vista sugere que um desenvolvimento rural e sustent vel deve compreender a subsist ncia atrelada seguran a alimentar e nutricional e estas por sua vez vinculadas busca pela autonomia camponesa melhoria da qualidade de vida e soberania alimentar E assim as intera es socioambientais que poderiam ser articuladas atrav s da tem tica do quintal estimularam a busca de material bibliogr fico e experi ncias emp ricas sobre o assunto Nesta etapa com o aux lio do orientador pesquisamos sobre a tem tica do quintal e localizamos um projeto institucional intitulado Quintais Org nicos de Frutas contribui o para a seguran a alimentar em reas rurais ind genas e A autonomia camponesa tratada nesta disserta o refere se principalmente s elucida es e discuss es apresentadas por Ploeg 2008 fundamentalmente em sua obra Camponeses e Imp rios Alimentares lutas por autonomia e sustentabilidade na era da globaliza o 19 urbanas EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECU RIA EMBRAPA 2008 em execu o desde 2005 pela EMBRAPA Unidade Clima Temperado Setor de Transfer ncia de Tecnologia em parceria com a Companhia de Gera o e Transmiss o de Energia El trica CGTEE e o Programa Fome Zero do Governo Federal Ressaltando o potencial do quintal para a subsist ncia o projeto visa proporcionar frutos durante todos os meses do ano at
130. cultivadas Da esquerda para direita as plantas s o cedro ing ip pitanga jeriv buti e a arumbeva S o Miguel das Miss es em 18 de fevereiro de 2011 Fonte Fotografado pela autora 60 Figura 5 Vista lateral esquerda da propriedade S o Miguel das Miss es em 18 de fevereiro de 2011 Fonte Fotografado pela autora Diante do port o n o consigo avistar o limite direita da propriedade devido a cerca viva mista de esp cies arbustivas trepadeiras e cact ceas que encobre tamb m o arame por todo o lado esquerdo da propriedade FIGURA 5 Ao meu bater de palmas aparece o Mateiro com sua esposa convidando para chegar sentar e tomar um mate Este convite n o d para negar ou estarei fazendo uma desfeita Sua esposa casados h 38 anos tem a descend ncia italiana e guarani como ele nascida e crescida na regi o rural do munic pio Av duas vezes esta senhora de 54 anos al m de almejar a aposentadoria de agricultora tamb m revende artesanatos na rea do S tio Arqueol gico S o Miguel Arcanjo no munic pio Nesta casa moram al m da v e do casal a filha de 17 anos que est concluindo o Ensino M dio pretendendo cursar a Gradua o em direito As outras tr s filhas de 33 30 e 28 anos moram em S o Miguel e em Santo ngelo RS todas casadas H mais uma casa retirada no terreno do seu irm o Uma das filhas segue na atividade agr cola casada com um agricultor empresarial em S o
131. da alimenta o e renda atrav s do mel A fam lia possui algumas caixas de abelhas Apis sp e pretende investir mais O quintal de produ o est atrelado aos mercados institucionais mas tamb m locais comercializando os produtos agr colas no pr prio assentamento No quintal do produtor org nico o com rcio dos produtos da horta traz grande contribui o para a economia da fam lia Preta salienta que a sua pequena horta traz rentabilidade econ mica da horta que a agricultora recebe lucros para cobrir as despesas da casa O com rcio pois fun o fundamental para o quintal Apesar de n o ser a fonte de renda principal desta fam lia que vende arroz org nico para as cooperativas de beneficiamento uma rentabilidade importante que ela menciona olha o tamanho que a minha horta Eu pago a luz eu compro ra o para as vacas eu compro comida com o dinheiro da minha horta E bem pequenininha Ali a horta deve dar uns dez por trinta E9 Devemos observar que o com rcio que se estabelece entre estes agricultores com os consumidores atrav s do contato direto entre os mesmos A produ o e a comercializa o agr colas conformam se em torno de um mercado local Tal pr tica fortalece a Agroecologia a sustentabilidade e a autonomia camponesa Entre as oito a es para a constru o da sustentabilidade no intuito do 119 desenvolvimento rural sustent vel atrav s da Agroecologia a s
132. da e casa mais nova ao fundo Gua ba em setembro de Figura 27 horta com alfaces butiazeiro goiabeira e outras rvores Gua ba em setembro de 2010 Fonte Fotografado pela autora 96 LISTA DE SIGLAS CGTEE Companhia de Gera o e Transmiss o de Energia El trica COPTEC Cooperativa de Presta o de Servi os T cnicos Ltda EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu ria MAPA Minist rio da Agricultura Pecu ria e Abastecimento MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra MTD Movimento dos Trabalhadores Desempregados OCS Organismo de Controle Social ONG Organiza o N o Governamental OPAC Organismo Participativo de Certifica o PGDR Programa de P s Gradua o em Desenvolvimento Rural POA Perspectiva Orientada ao Ator RS Rio Grande do Sul SISAN Sistema de Seguran a Alimentar e Nutricional SMTur Secretaria Municipal de Turismo SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conserva o UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul SUM RIO INTRODU O 5i a ed tic tote E oed 15 2 O REFERENCIAL TE RICO 24 2 1 Autonomia camponesa ns 25 2 2 Perspectiva Orientada ao AOL oe erat hds ais asa inda ien hee 30 2 3 A agrobiodiversidade e os agroecossistemas dos quintais 34 2 4 Percep o e constru o do
133. da n o lhes claro o conceito de agrofloresta e seus benef cios mais abrangentes que v o al m da melhoria da qualidade do solo para aumentar a produ o Da mesma forma n o dominam as t cnicas do manejo org nico e dependem do insumo externo preparado pela COPTEC sendo a calda bordaleza e o biofertilizante os mais utilizados Neste caso a autonomia vem sendo constru da e faz parte do objetivo final do quintal de produ o ainda que esta constru o esteja acontecendo de forma menos consciente do que observado no quintal da esperan a ou no quintal agrofloresta Isto quer dizer que o quintal de produ o constitu do da integra o de percep es fortemente influenciadas pela assist ncia t cnica e pouco internalizadas na compreens o da abrang ncia do manejo agroflorestal O quintal do produtor org nico conduzido por Preta disp e de menor agrobiodiversidade tanto no quesito de diversidade biol gica quanto no quesito de t cnicas empregadas no manejo e diversidade cultural Seus conhecimentos sobre o cultivo e manejo v m sendo aprimorados no universo emp rico e com o aux lio t cnico H depend ncia deste aux lio para o manejo do pomar e da horta com a utiliza o da calda bordaleza e do biofertilizante preparados pela COPTEC A produ o que o quintal proporciona o suficiente para a fam lia apesar de que Preta quer aumentar a rea da horta para ofertar maior quantidade dos produtos agr c
134. dariedade causando uma diferencia o socioecon mica com maior controle centralizado Segundo Long e Ploeg 1994 tais modelos excluem a possibilidade dos atores influ rem de maneira significativa nos processos de mudan a Assim a POA aborda o processo de desenvolvimento e de mudan a social com enfoque na heterogeneidade das a es dos atores para os estudos sociais propondo a an lise das multiplicidades inclu da as racionalidades os desejos as capacidades e as pr ticas LONG 2001 O problema central entender como as interven es externas penetram na vida dos indiv duos e grupos atingidos intervindo nas formula es das estrat gias sociais que esses grupos e indiv duos desenvolvem Os significados gerados a partir da internaliza o dos fatores externos podem ser distintos para os grupos de interesse ou para os v rios atores sociais Neste contexto Long e Ploeg 1994 ressaltam como necess rio entender as mudan as sociais salientando as rela es internas e externas como influentes e determinantes dos fatores de transforma o A POA reconhece como principal o papel da a o e da consci ncia humanas Para esta abordagem importa explicar as diferentes respostas a situa es estruturais similares em condi es aparentemente homog neas Assim sendo poss vel que os padr es diferenciais que surjam sejam em parte criados pelos pr prios atores Logo para Long e Ploeg 1994 os atores sociais n o s o passivos
135. das na fotoss ntese em lugar do petr leo Isso tudo se relaciona com a proposta de substituir insumos externos por processos e manejos em que se aproveita o efeito da biodiversidade no equil brio dos agroecossistemas QUOOS 2009 p 98 Tais pr ticas contribuem com o ambiente natural mas principalmente com a subsist ncia do agricultor e com a manuten o do sistema agr cola de forma cada vez mais independente dos insumos ex genos favorecendo a autonomia do agricultor nos processos produtivos Al m do mais propiciam experimenta es e descobertas sobre o manejo do solo e otimiza o do agroecossistema atrav s da observa o das intera es bi ticas de regenera o da sa de do solo 5 3 3 3 Ar A fun o do quintal para a qualidade do ar foi real ada somente no quintal da for a de vontade e mencionada raramente no quintal de produ o Alemoa enfatiza o fato de precisarmos cuidar do ambiente Neste enfoque a transcri o abaixo evidente N s temos que cuidar da nossa vida da nossa sa de para n s ter o ar limpo para limpar o nosso pulm o para n o respirar ar sujo Porque n s aprendemos que como n s estamos morando perto da cidade o ar tem muita polui o n s plantamos as rvores e as nossas hortas tudo perto dos matinhos para n o pegar polui o n s temos muita vontade para plantar mais ainda N s j temos bastante rvore mas n s quer amos plantar mais ainda para
136. das potencialidades e capacidades do seu quintal e maior liberdade de e para agir em prol do cultivo das esp cies que a particularidade e o contexto de cada agricultor estabelecem como sendo priorit rias por exemplo As fun es atribu das ao quintal v o decrescendo na medida em que cai a agrobiodiversidade do agroecossistema Esta rela o pode ser atribu da pela menor compreens o dos agricultores para a contribui o do seu agroecossistema de quintal nos servi os globais de sequestro de carbono e conserva o da biodiversidade Esta compreens o influi diretamente na diversidade vegetal que encontramos j que os agricultores buscam cultivar a terra segundo suas prefer ncias e necessidades A compreens o dos aspectos mais hol sticos no qual est o inseridos faz com que optem por por exemplo n o deixar terminar E1 as esp cies de rvores das matas locais ou por salvar as da regi o E2 referindo se ao cultivo das rvores nativas ou por usar tudo para nada ir fora E4 e consumir plantas espont neas e n o convencionais ou por produzir algum alimento em roda de casa E5 para o auto consumo ou por cultivar plantas mais naturais E6 ou seja rvores produzidas a partir de matrizes locais ao inv s de melhoradas geneticamente ou ainda optem por laranja e bergamota E9 para o consumo da fam lia A percep o est relacionada agrobiodiversidade e autonomia na medida em que co
137. de acordo aos interesses dos mesmos propondo a es que possam complementar a autonomia entre os agricultores por exemplo Tuan 1980 escreve que A percep o tanto a resposta dos sentidos aos est mulos externos como a atividade proposital na qual certos fen menos s o claramente registrados enquanto outros retrocedem para a sombra ou s o bloqueados Muito do que percebemos tem valor para n s para a sobreviv ncia biol gica e para propiciar algumas satisfa es que est o enraizadas na cultura TUAN 1980 p 4 Tuan 1980 nos diz que percep o atitude valor e vis o de mundo s o interligados e abarcados no que ele conceitua como topofilia Para Tuan 1980 p 5 topofilia o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente f sico Para Tuan 1980 p 14 a percep o uma atividade um estender se para o mundo Para Merleau Ponty 2006 a percep o ocorre no campo fenomenal no qual o ser se relaciona com o mundo externo Ambas as abordagens complementam se e entendem que a percep o n o algo inerente aos rg os dos sentidos nem limitado a eles Ambos os autores estudam a fisiologia e os rg os dos sentidos para estender suas reflex es e perspectivas al m desta compreens o cient fica 41 Merleau Ponty analisa que a percep o faz parte de uma rela o complexa de fatores que ele denominou de campo MERLEAU PONTY 2006 Ou seja o momento experienciado percebido no m
138. de culminando com xodo rural ou com a busca de inser o na atividade agr cola por meio da venda da for a de trabalho seja pela depend ncia dos mercados e empresas transnacionais Quanto mais especializada a agricultura e quanto maior o n mero de trabalhadores assalariados no setor agr cola alguns dos quais sendo pequenos agricultores sem espa o ou estrutura para plantar nos moldes empresariais de produ o capitalista maior ser a dedica o ao plantio exclusivamente para venda aos grandes mercados trocando a produ o ou a m o de obra por dinheiro com o qual se 27 adquirem os alimentos para a fam lia Visto que muitos dos agricultores n o praticam mais a agricultura para o autoconsumo instaura se uma condi o inst vel com vulnerabilidades e a depend ncia crescente do imp rio alimentar PLOEG 2008 destituindo o agricultor de sua autonomia Nesta perspectiva Ploeg 2008 salienta uma terceira op o que se afasta das duas anteriores garantindo a reprodu o do modo campon s de fazer agricultura atrav s da luta por autonomia camponesa Sendo assim as caracter sticas fundamentais da condi o camponesa s o a luta pela autonomia pela heterogeneidade dos modos de fazer agricultura pelas rela es sociais e econ micas equ nimes pela redu o da depend ncia do mercado de insumos e produtos O objetivo e concretiza o desta condi o criar uma base de recursos auto controlada que possa permitir ao cam
139. do para cultivar rvores e hortali as As esp cies vegetais mencionadas nestes outros locais n o diferem das j observadas Revelam o interesse da fam lia por certas esp cies de frut feras de acordo com a prefer ncia pessoal e de mercado j que tamb m est o visando a constru o de uma agroind stria A busca por mais rvores frut feras mesmo que de esp cies j existentes na rea est relacionado com o fato de a fam lia focar na melipolinicultura A produ o de mel uma atividade visada para o incremento da renda agr cola Cabe ressaltar que o tempo de perman ncia no local do assentamento relativamente recente para o enriquecimento do solo e da biodiversidade No entanto muito j foi feito por esta fam lia de forma aut noma e tamb m com aux lio de projetos institucionais 94 No ano de 2002 recordo da necessidade e busca deste assentamento para a capacita o em viveirismo de plantas Requisitaram estudantes de Ci ncias Biol gicas da UFRGS que iniciaram um curso mais especificamente com os jovens para a constru o e manejo do viveiro requerido pelo assentamento A fam lia entrevistada era uma das interessadas no tema e participante das oficinas semanais As atividades foram suspensas ap s tr s meses por falta de recursos financeiros para aquisi o dos materiais de constru o e manuten o do viveiro Nota se que a iniciativa desta fam lia para o cultivo e a produ o de mudas de rvores pre
140. do quintal expressa no discurso e na pr tica Al m do foco nos alimentos e no com rcio h a quest o ambiental que influi igualmente na agrobiodiversidade A presen a de rvores frut feras de ocorr ncia natural no RS constatada e ele expressa o desejo de buscar outras Por isso mesmo ele participaria do projeto da EMBRAPA dando continuidade sua cole o de rvores frut feras Na sua reflex o ele observa que no passado n o havia a preocupa o ambiental O com rcio de madeiras extra das da mata e da moderniza o da 138 agricultura do qual ele participou degradou a diversidade biol gica Por isso hoje ele diz Tanta bobagem a gente fez colocando veneno e matando tudo E agora tenho que me recuperar dos danos que fiz Das tantas que eu matei e tanta coisa Ent o uma maneira de eu me redimir vamos dizer E2 Sua pr tica ilustra o seu discurso No seu espa o de viv ncia que o quintal ele exerce sua autonomia e garante a subsist ncia da fam lia tamb m neste mesmo espa o que Juca busca a compreens o sobre as intera es ecol gicas que complementam suas pr ticas e reflex es Falando dos animais que avista ele comenta O bugiu sumiu Os bugius morreram Sumiu N o sei Agora parece que est o voltando Tem quatro por a mas aqui ainda n o chegaram Depois chega o quero quero que til para mim ele est junto comigo Outro p ssaro que tenho o magarico aquele do bico vermelh
141. e a gente usa muito tamb m o do cavalo um pouco Tem as galinhas a gente usa tamb m O esterco deixado pra decompor e depois usado No Jap o usado o esterco at da pessoa E6 A urina da vaca e o fumo embebido em gua s o borrifados nas plantas como fungicida mas a calda bordaleza feita pela fam lia o principal insumo e considerado o mais eficaz no combate aos fungos O biofertilizante tamb m aplicado A gente coloca o biofertilizante quando a fruta t pequenininha Depois de grande n o pode mais ou de prefer ncia antes de dar a fruta quando d a flor porque pra fortalecer a planta E6 O esterco utilizado produzido no assentamento e adquirido atrav s de financiamentos como o da horta e projetos institucionais como o Quintal Org nico 145 Adubos org nicos tamb m s o provenientes destas mesmas fontes Para combater formigas utilizam veneno comprado que vem em saquinho E8 Futuramente para auxiliar como repelente e inseticida as plantas arom ticas ser o inclu das conforme o relato Preta capina a horta e utiliza o esterco Ela procura manter os canteiros limpos E9 ou seja apenas com as plantas que cultiva com alguma exce o Aqui as beterrabas o mato tomou conta mas eu n o mexo a que da eu vou tirando conforme quero para eu comer Se eu for carpir machuco elas E9 Quanto ao uso do esterco no manejo das rvores Preta fala nas l
142. e alimentos que crescem nos ambientes mais in spitos considerados no estudo de Knupp 2007 como plantas ruderais e pass veis de serem consumidas por humanos com altos potenciais nutritivos KNUPP 2007 Esta aten o aos alimentos e nutrientes poss veis de extrair do ambiente natural parte da resist ncia e da luta por autonomia na apropria o de conhecimentos externos fortalecendo as capacidades locais PLOEG 2009 Alem o quer a diversidade de plantas para cultivar uma agrofloresta e produzir alimento em roda de casa Seu foco para a diversidade o solo e a fixa o de nutrientes em primeiro plano Sua compreens o a de que fortalecendo o solo com a ciclagem e fixa o de nutrientes a produtividade de alimentos ser maior A diversidade tamb m est associada ao cultivo de plantas aliment cias n o convencionais como o tomate arb reo e a carne de pobre A distin o da paisagem do quintal da Alemoa para o do Alem o indica a proposta agroflorestal de Alem o 140 Dora vem cultivando rvores em cons rcio com a horta na meta de compor uma agrofloresta e incrementar a produ o de mel O foco n o na biodiversidade em si mas no uso da diversidade para melhorar a produ o o que fica evidente na fala abaixo Por que da nossa obsess o por rvore Porque agente tem os api rios e as abelinhas precisam comer n Ent o agente tem que produzir n o s alimento pra n s mas tamb m pros bichinho E6 Preta
143. e conduzem aos caminhos investigativos desta disserta o Para pesquisar as intera es estabelecidas com os quintais sob a tica dos agricultores conformamos as seguintes quest es norteadoras deste estudo quais as percep es sobre o quintal e quais as fun es sociais econ micas e ambientais que derivam da intera o com o quintal entre agricultores respons veis pelo seu manejo no RS Estas percep es e fun es t m influ ncia na luta por autonomia camponesa e na agrobiodiversidade 2 Para dar conta do prop sito desta disserta o definido por meio das perguntas temos como objetivo geral Investigar a percep o sobre o quintal de agricultores no RS e as fun es socioecon micas e ambientais analisando as suas rela es com a agrobiodiversidade e com a express o da luta por autonomia camponesa E os seguintes objetivos espec ficos a Evidenciar as percep es de agricultores verificando a sua influ ncia na agrobiodiversidade b Identificar as fun es socioecon micas e ambientais para o quintal presentes nos seus discursos e pr ticas 9A agrobiodiversidade aqui entendida e aprofundada no referencial te rico como a diversidade agr cola diversidade de esp cies intra e interespec ficas e a diversidade de conhecimentos e pr ticas nas intera es com o ecossistema 22 c Relacionar as fun es identificadas com a express o da luta por autonomia camponesa e com a agrobiodiversidade do quintal
144. e materiais buscando a reposi o dos elementos deteriorados constitui uma pr tica hist rica mais recente pretende inventar de novo agora com o nome de pluriatividade Neste sentido o turismo rural e outras iniciativas semelhantes e derivadas s v lido no contexto das estruturas associativas existentes na comunidade rural para refor ar seus la os de solidariedade e buscando uma complementaridade de rendas que permita a melhoria do n vel de vida dos agricultores SEVILLA GUZMAN 2001 p 40 A atividade tur stica ainda para Juca uma divulga o do seu trabalho e pr ticas ecol gicas na agricultura A organiza o do Roteiro Tur stico Caminhos Rurais tamb m integrou os agricultores da capital No caso do bairro Lami mais de uma propriedade integra este programa conformando uma rede de agricultores que 1 Em 2005 a Secretaria Municipal de Turismo SMTur de Porto Alegre criou o Roteiro Tur stico Caminhos Rurais e atualmente integrado por seis diferentes roteiros na zona sul da capital e organizados principalmente pelas ag ncias Silsi Tours Rota Cultural Tri Legal e Webber Turismo BASTIAN 2010 118 incorporaram o turismo na sua unidade produtiva objetivando incremento da renda na Zona Sul da capital O turismo aproxima se dos descritores sociais em especial das redes de experimenta es e trocas que podem ser penetradas pela atividade tur stica no pr prio quintal ou no seu e
145. e o trabalho de campo constitui se numa etapa essencial da pesquisa qualitativa que a rigor n o poderia ser pensada sem ele Para isso realizamos a pesquisa de campo empregando as t cnicas da entrevista semi estruturada complementada pela observa o participante registradas em gravador digital no di rio de campo e em c mera digital fotografia e v deo As t cnicas espec ficas da pesquisa de campo segundo Cervo e Bervian 1978 t m por finalidade recolher e registrar ordenadamente os dados relativos ao assunto escolhido como objeto de estudo Especificaremos a seguir as t cnicas empregadas nesta fase iniciando em 3 2 1 com a principal t cnica desta pesquisa 47 3 2 1 Entrevista semi estruturada A entrevista tem como objetivo a obten o de informa es do entrevistado sobre um determinado assunto ou problema e ocorre no encontro entre o entrevistador e o entrevistado LAKATOS MARCONI 2000 HAGUETTE 2007 Gil 1999 considera a entrevista bastante apropriada para a obten o de informa es acerca do que as pessoas sabem cr em esperam sentem ou desejam pretendem fazer fazem ou fizeram bem como sobre suas explica es ou raz es a respeito das coisas precedentes Esta foi por tanto a principal t cnica utilizada em raz o de ser consonante com os objetivos deste estudo na busca de dados que respondam pesquisa proposta Devido natureza do estudo a entrevista semi estruturada mostrou se um instrumento
146. e ra a Eram brancos s que a gente n o sabe de onde v m se eram filhos de rico ou de pobre se alem o ou italiano a gente s sabe que um bisav meu uma ra a do meu lado por parte de pai vieram das lagunas aqueles que vieram para Viam o somos a orianos eu me considero bem p lo duro sem saber sem ter o fanatismo por uma origem Eu sempre me imaginei que era portugu s Tinha um lado do meu av que diziam que ele era galego Mas depois eu fui descobrir que galego que vinha da Gal cia Nem eram portugueses eram da Espanha Mas eu me considero bem r stico sem ra a Do lado da m e os bisav s s o da roda E do lado do pai s o os que vieram de Laguna que eu sei que foi para fundar a cidade de Viam o Esta rea j foi chamada de Fazenda do Moranguinho de tantos morangos que foram cultivados ali De fato Juca diz que foi esta cultura que ajudou a erguer economicamente a fam lia na d cada de 1960 Hoje a rea est bem diferente e segundo a esposa Dona E3 foi o Juca quem reflorestou tudo isso a E3 Ele mostra as hortali as e as ltimas rvores frut feras cultivadas h tr s anos nativas do RS e do Brasil FIGURA 11 Fala sobre o biofertilizante ao qual se refere como biojuca que ele faz em ton is pr ximo ao local onde desenvolve a compostagem do esterco com as folhas secas FIGURA 11 O fertilizante utilizado em geral para aplica es no solo na
147. ebo dele Combinamos minha volta para a entrevista Ele ainda me acompanha na casa de outra agricultora que falaremos em 4 7 Um m s e meio depois consigo uma entrevista com o agricultor Combinamos de nos encontrarmos na casa de sua m e e de l vir amos juntos para sua propriedade Chego por volta das 9h ap s ele realizar suas entregas na cidade 86 de Gua ba conforme combinado Faz sol e vento o que ameniza o calor O irm o mais novo dele me empresta a bicicleta para chegarmos mais r pido na rea alta antes de dez horas quando chegamos ao port o Dentro da casa realizamos uma parte da entrevista e o outro momento junto s plantas do quintal Levamos cerca de uma hora e meia nesta entrevista na qual ele cita esp cies de plantas das quais quase a metade s o rvores Apesar disso n o avistamos rea sombreada concentrada A maioria das rvores n o tem mais de tr s metros de altura O terreno coberto de plantas espont neas e plantas para aduba o verde sendo que algumas n o foram citadas individualmente mas como pertencente ao conjunto do agroecossistema auxiliando no manejo e manuten o da fertilidade do solo FIGURA 19 pe j Figura 19 Fundos da casa de Alem o rvores mais antigas e o solo coberto Gua ba em setembro de 2010 Fonte Fotografado pela autora z Sua perspectiva a produ o de alimentos mas tamb m manter a fertilidade do solo por meio do ciclo de fixa
148. econ mica e social interferem no manejo empreendido no sistema agr cola e no pr prio modo de vida dos agricultores familiares Conforme Almeida et al 2008 a pobreza se expressa em um conjunto de caracter sticas priva o do acesso ou acesso prec rio terra gua e biodiversidade fome e inseguran a alimentar marginaliza o nas rela es com os mercados privac o do acesso aos servigos b sicos e aos benef cios das pol ticas p blicas depend ncia pol tica e sujei o nas rela es de trabalho e n o inclus o nos processos locais de desenvolvimento ALMEIDA et al 2008 p 19 Romano 2008 p 4 coloca a pobreza nesta perspectiva abrangente como sendo um estado de nega o de direitos humanos de desempoderamento e de 159 restri o das capacidades e das oportunidades reais de pessoas e grupos considerando a pobreza relativa e a pobreza absoluta Para superar tal situa o Romano determina como necess rio a mudan a nas rela es de poder existentes que produzem e reproduzem os processos de gera o de desigualdades econ micas pol ticas e sociais Dessa forma as pol ticas de supera o da pobreza t m que enfrentar a quest o redistributiva no acesso aos recursos ROMANO 2008 p 7 Aqui consideramos como foco o acesso aos recursos sociais no que diz respeito ao conhecimento t cnico cient fico para os agricultores e a agrobiodiversidade resultante e
149. eio de outra coisa MERLEAU PONTY 2006 p 24 e por isso um dado perceptivo isolado inconceb vel MERLEAU PONTY 2006 p 25 Isto aponta que a percep o est tamb m em constante transfoma o A rela o espa o temporal com o lugar por exemplo est inserida no contexto da trajet ria pessoal Tuan 1983 enfatiza a experi ncia como fator determinante na constru o do lugar TUAN 1983 p 6 A percep o do lugar para Tuan 1983 est al m do espa o geogr fico e este autor salienta a import ncia de compreender o que as pessoas sentem sobre espa o e lugar considerar as diferentes maneiras de experienciar e interpretar espaco e lugar como imagens de sentimentos complexos TUAN 1983 p 7 Para Tuan 1983 a experi ncia pode dar se de forma direta e ntima ou indireta e conceitual abrangendo as distintas formas de conhecer e construir a realidade Experi ncia para Tuan abarca a sensa o a percep o e a concep o a emo o e o pensamento Procurando aproximar os conceitos da POA percep o e constru o da compreens o de lugar identificamos que para Tuan 1983 p 10 grifo nosso a experi ncia implica a capacidade de aprender com a pr pria viv ncia Experienciar aprender significa atuar sobre o dado e criar a partir dele Neste momento o autor identifica a experi ncia de seres humanos pela capacidade de agir e construir complementando que para ex
150. eiras naturais para o vento formadas pelas rvores utilizadas como quebra ventos Conforme Gliessman 2005 o vento um fator que pode causar impactos positivos e negativos tendo a capacidade de exercer for a f sica sobre as plantas transportar part culas e materiais para dentro e fora do agroecossistema e mesclar a atmosfera ao redor da planta alterando sua composi o propriedades dispersoras de calor e o efeito sobre a fisiologia da planta 8 Ao postular o conceito de ecossistema a ecologia n o s descobriu a estrutura interna da natureza ao conseguir identificar a unidade na complexa e intrincada diversidade das paisagens naturais como tamb m tornou evidente que os chamados recursos naturais a gua o solo a energia solar e as esp cies de organismos conformam elementos ou componentes que aparecem articulados e integrados uns com os outros em conjunto ou unidades com uma presen a real para as diferentes escalas do espa o 151 Em todos os quintais observamos a import ncia referida pelos agricultores da sombra nos dias de calor e do quebra vento nos dias de fortes ventos Vejamos precisa da sombra quando o sol t quente E1 Tem que dar cobertura cuidar para o que est plantado Eu espero andar pelas sombras se eu estiver vivo E2 Esse cinamomo eu plantei para fazer sombra para os peixes Os peixes gostam de sombra no ver o se n o os peixes morrem E4 e onde a gente puder sent
151. eles A que est lado que eu vejo a gente tem que oferecer um ambiente favor vel a eles Agora quando na tua propriedade n o tem o quintal n o tiver estas coisas eles n o v m n o tem sustenta o para eles por isso que eles n o t m Quando mata tudo falta comida para eles Porque eles s o T m esp cies que comem frutas e que comem insetos O sabi come as duas coisas come insetos e come frutas O bem te vi come os dois tamb m e os outros n o A sa ra s come frutas O jo o de barro s come insetos O tico tico come sementes da fam lia das pombas semente n o comem insetos Ent o tu tens que ter um ambiente para todos E depois vem o gavi o e come tudo n E2 Estas rela es observadas por Juca est o diretamente relacionadas constru o do lugar e experi ncia ntima com o mesmo TUAN 1983 O quintal lhe proporciona apreender aspectos da ecologia e experienciar o seu pr prio lugar No pequeno jardim bot nico o destaque que entre as diferentes rvores existem muitas esp cies caracter sticas ou nativas da regi o noroeste do RS como o pau ferro reproduzidas de matrizes existentes nas matas locais Com a 199 reprodu o de mudas para a doa o destas plantas que segundo Mateiro est o acabando nos morros o seu objetivo de preservar a esp cie e o uso a ela associado e atrav s das mudas distribu das multiplic las para que sempre tenhamos mais destas
152. em constante transforma o Dessa forma a homogeneiza o atua na contram o da agrobiodiversidade e portanto na contram o do atendimento s demandas ambientais FLEURY 2009 p 65 grifo da autora Boef 2007 p 37 define a agricultura como o modo humano de usar os recursos biol gicos f sicos e naturais para se alimentar curar construir abrigo produzir fibras e gerar renda sendo um elemento que distingue fortemente a agrobiodiversidade da biodiversidade natural atrav s da intera o entre o ser 36 humano e tais recursos que ocorre a transforma o e composi o dos ambientes sugerindo nos que os sucessivos anos de cultivo em uma dada rea resultar o em diferentes composi es de agrobiodiversidade dependendo das formas de manejo empregadas Gliessman 2006 considera que as altera es humanas nos ecossistemas para estabelecer uma produ o agr cola tornam os agroecossitemas muito diferentes dos sistemas naturais No entanto existem processos estruturas e caracter sticas que podem ser observadas em ambos Pensando nisso criar agroecossistemas sustent veis com caracter sticas semelhantes aos ecossistemas naturais um grande desafio Sendo reas naturais transformadas pelo homem nos agroecossistemas predominam esp cies de interesse humano no sentido de produzir alimento e mat rias primas diversas Mas o agroecossistema a rea f sica na qual o homem investe seu esfor o de cultivo
153. entrevistado ne e a Ra LER TR Rd 195 AP NDICE H Quadro dos descritores de func es com o valor m nimo e m ximo entre zero e tr s respectivamente disposto por entrevistado 196 AP NDICE Visualiza o gr fica por quintal das fun es atribu das pelos agricultores ao agroecossistema de acordo com os valores apresentados no i da acd vb e 197 Ningu m t o grande que n o possa aprender nem t o pequeno que n o possa ensinar P NDARO 15 1 INTRODU O Durante a gradua o em Ci ncias Biol gicas no ano de 2001 tive a oportunidade de participar de um projeto vinculado Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS em um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra MST denominado Diretrizes para Revitaliza o do Espa o S cio Produtivo do Assentamento 19 de Setembro em Gua ba RS coordenado pelo professor Gustavo Henrique Merten Naquela poca j fazia 11 anos que cerca de 40 fam lias haviam sido assentadas no local Encontramos agricultoras e agricultores instalados em suas casas e com lotes destinados para a produ o agr cola Antes por m estes integrantes do MST realizaram reiteradas mobiliza es caminhadas ocupa es e acampamentos sendo designados pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul RS para fixarem assentamento naquela rea No entanto apesar de passarem para a condi o de trabalh
154. er utilizado em orqu deas ao passo que estas ltimas eram tratadas com um extrato exclusivo Al m dos compostos vimos armazenado tr s tipos de corantes extra dos 65 de tr s diferentes plantas Ele observa que as madeiras de uma mesma esp cie podem ser de tr s tipos de cores amarelo vermelho e ou branco Seguindo a caminhada pelos fundos do orquid rio por debaixo das rvores ele mostra as plantas e fala sobre usos diversos que sabe de relatos ou experi ncia pr tica Durante o percurso paramos num local com mudas de rvores de ocorr ncia local que ele e outros amigos prepararam para doa o e plantio em reas remanescentes de matas FIGURA 8 Algumas das plantas j estavam se fixando naquela e ele disse que n o iria tir las dali j que estavam enraizadas Mas concorda que teria que podar algumas As sementes das mudas foram coletadas nos matos da regi o e tamb m no seu quintal Eram mais de dez esp cies entre cerca de 40 mudas E eile itx us Figura 8 Mudas de rvores nativas nos sacos S o Miguel das M Fonte Fotografado pela autora m yt iss es em 18 de fevereiro de 2011 Passamos ao lado da casa da filha de 28 anos que mora em um terreno adjacente Esta licenciada em Hist ria e trabalha como frentista em um posto de abastecimento de combust vel no munic pio Na divisa do terreno cresce uma palmeira ju ara esp cie ex tica na regi o Pr ximo a este local ele cultiva um j
155. er than one hectare and managed by means of simple techniques are agroecosystems including edible species such as trees shrubs and garden produce where animal breeding is also usually present This place cultivated and managed using few agrochemicals if any contributes to food and nutritional safety of families to keep living ways and means also enhancing natural biodiversity Farmers knowledge and practices result in the agrobiodiversity feeding the backyard agroecosystem where farmers express the ongoing struggle for autonomy with different stresses Integrating the concepts of actor and agency presented by the Actor Oriented Perspective we believe that through their daily practices actors expand their action capacity influencing social change processes materializing the peasant s condition in their peasant s way of making agriculture so demonstrating the possibilities for a rural and sustainable development The theoretical grounds also define agrobiodiversity and perception emphasizing the place construction aiming at highlighting the actors perceptions on their backyard and the influence on agrobiodiversity as well as the social economical and environmental functions arising from the interaction between the farmers and the place they cultivate and manage considering the backyard as a space of expression of the peasant s struggle for autonomy Using participant observation as the qualitative methodology nine semi structured
156. erece nos ara s vermelhos para degustarmos os quais ela colhera num ara azeiro pr ximo Ao falarmos sobre o projeto Quintais Org nicos pergunto se haveria interesse da parte dele em participar Responde que acha interessante mas para ele n o h necessidade pois j cultiva muitas esp cies de rvores ali e j sente que tem o suficiente de frutas no p tio de casa Acredita que estes projetos s o importantes para aqueles que n o t m frutas cultivadas no seu quintal por falta de recursos ou para os guaranis por seu exemplo Quando lhe pergunto por que ele desenvolve esta atividade e mant m esta rea sua resposta por lazer por gostar E diz A gente usa esse espa o aqui porque a gente planta rvore para lazer Tamb m para a gente usar Tem muitas rvores frut feras que a gente planta mesmo para trazer algum tipo de p ssaros algum tipo de animais A gente tamb m usa as frutas mas os passarinhos tamb m aproveitam ajudam Os animais tamb m ajudam E assim ele resume o motivo pelo qual seu quintal existe Por m eu tamb m tive a oportunidade de conhecer um pouco mais do seu trabalho e da sua percep o em outras conversas e na observa o do seu espa o e suas pr ticas As diferentes esp cies de plantas entre rvores arbustos trepadeiras palmeiras e ervas cobrem quase todo o p tio e as rvores altas s o habitadas por 67 trepadeiras orqu deas e brom lias Estas duas ltimas
157. eri ncia anterior a qualquer ju zo ou entendimento Para Merleau Ponty 2006 a percep o anterior raz o intelig ncia pois julgar n o perceber A percep o 40 ocorre em um campo de rela es independentes de tempo ou espa o Ou seja a percep o se d em um sistema eu outro mundo englobando n o s o que acontece no momento mas tamb m tudo o que aconteceu no passado al m de se ser tamb m aquilo que n o vemos no momento referido Merleau Ponty 2006 p 26 ressalta que a percep o concomitante sensa o e que constru mos a percep o com o percebido j que toda a consci ncia consci ncia de algo Fontes Filho 2006 p 42 citando Merleau Ponty registra que a percep o abertura para seres amb guos prov veis que se reduzem a um feixe de probabilidades Ou seja Fontes Filho 2006 p 46 relata que para Merleau Ponty toda individualidade portadora de potencialidade que a qualifica como cria o continuada devir de individua o O vi s de Merleau Ponty 2006 aproxima se da POA ao permitir as heterogeneidades de a es e percep es reconhecendo o indeterminado como um fen meno positivo MERLEAU PONTY 2006 p 27 A percep o anterior a o e isto redunda nas atitudes e interesses de cada indiv duo preciso trazer tona tais percep es para compreender as motiva es dos atores e suas particularidades para ent o agir
158. es alimentos para todos porque derrocha el agua la tierra y la energia Utiliza diez veces m s de la energia que produce diez veces m s agua que la agricultura ecol gica Por lo tanto es diez veces menos efectiva SHIVA 2005 p 1 O manejo e uso racional da gua est o al m das quest es locais S o influenciados e influem nos aspectos globais de acesso e conserva o dos recursos naturais e essenciais vida dos organismos habitantes no planeta Devido a esta complexidade a gua um elemento essencial nos sistemas naturais e agr colas conforme chama a aten o Toledo 2008 postular el concepto de ecosistema la ecolog a no solo descubri la estructura interna de la naturaleza al lograr identificar la unidad en la compleja e intrincada diversidad de los paisajes naturales sino que hizo evidente que los llamados recursos naturales el agua el suelo la energ a solar los minerales y las especies de organismos conforman elementos o componentes que aparecen articulados e integrados los unos con los otros 7 Este modelo incapaz de produzir alimentos seguros culturalmente apropriados saborosos e de qualidade E incapaz de produzir alimentos suficientes para todos porque desperdi a a gua a terra e a energia Utiliza dez vezes mais da energia que produz dez vezes mais gua que a agricultura ecol gica Por tanto dez vezes menos eficaz 150 en conjuntos o unidades com una presencia real
159. esente faz parte da vida daqueles que o manejam O quintal o local no qual os agricultores experimentam e observam o desenvolvimento das plantas e a intera o dos vegetais com os animais e os microorganismos H uma rela o afetiva que se estabelece entre a pessoa e o lugar rural e esta parte do processo de aprendizagem emp rica sobre o ecossistema Os cuidados dispensados para por exemplo manter o entorno da casa bonito e agrad vel com ervas arom ticas plantas ornamentais rvores de sombra frutas atrativas para p ssaros refor am a perspectiva de que estas pessoas valorizam o seu lugar pela rela o ntima que estabelecem com a terra e com os organismos que ali habitam O lugar ent o percebido segundo os valores simb licos e materiais que d o significado aos modos e meios de vida das agricultoras e agricultores 165 6 CONSIDERA ES FINAIS Evidenciar percep es n o algo simples j que s o informa es arraigadas no ntimo de cada um As pr ticas falam mais do que as palavras dos agricultores Os cultivos e manejos empreendidos demonstram o que os agricultores v m buscando com a atividade agr cola Para o pequeno agricultor org nico ou ecol gico a agricultura mais que produzir alimentos pois produzir sa de Uma vida saud vel em um ambiente produtivo e igualmente s o a meta destes agricultores que encontramos A inserc o da pesquisa e as quest es formuladas foram satisfat
160. faz lembrar por Caporal e Costabeber 2004 estilos de agricultura menos agressivos ao ambiente que promovem a inclus o social e proporcionam melhores condi es econ micas aos agricultores O termo Agroecologia traz a id ia e a expectativa de uma nova agricultura capaz de fazer bem ao homem e ao meio ambiente CAPORAL COSTABEBER 2004 p 46 atrav s de pr ticas que recuperam a base dos recursos naturais que poderemos atingir a sustentabilidade em patamares crescentes conforme os autores e obra acima citados Seguindo na perspectiva dos autores a socializa o de conhecimentos e saberes agroecol gicos ampliam as oportunidades de constru o de saberes socioambientais necess rios para consolidar um novo paradigma de desenvolvimento rural que considere as multidimens es da sustentabilidade CAPORAL COSTABEBER 2004 Os autores Caporal e Costabeber 2004 corroboram que a percep o sobre os riscos e malef cios causados pela utiliza o de determinadas tecnologias originam novas formas de rela o da sociedade com o ambiente natural Na perspectiva da aprendizagem e do desenvolvimento territorial Tonneau e Sabourin 2007 trazem tona a discuss o sobre a import ncia de dotar os atores de capacidade de negocia o atrav s da promo o de espa os de discuss o entre os atores sociais e da aquisi o de compet ncias Nas palavras dos autores fortalecer os atores locais empoderamento redu o
161. gre v 4 n 2 p 3159 3162 nov 2009 FONTES FILHO O Natureza individuac o e logos em Merleau Ponty Veritas Revista quadrimestral de Filosofia da PUCRS Porto Alegre v 51 n 2 p 37 54 2006 172 FLEURY L C M ltiplos olhares uma quest o repensando a agricultura e o desenvolvimento In DAL SOGLIO F K KUBO R Org Agricultura e sustentabilidade Porto Alegre Editora da UFRGS 2009 p 63 74 FLORENTINO A T N ARAUJO E L ALBUQUERQUE U P Contribui o de quintais agroflorestais na conserva o de plantas da Caatinga Munic pio de Caruaru PE Brasil Acta botanica bras lica S o Paulo v 21 n 1 p 37 47 2007 FUNES MONZOTE F et al Diversidade e integra o elementos da agricultura ecologicamente intensiva Agriculturas experi ncias em Agroecologia Rio de Janeiro v 6 n 2 p 15 18 2009 GERHARDT T E A constru o e a utiliza o do di rio de campo em pesquisas cient ficas Online Brazilian Journal of Nursing Rio de Janeiro v 5 p 1 10 2006 GIL A C M todos e t cnicas de pesquisa social S o Paulo Atlas 1999 207 p GLIESSMAN S R Agroecologia processos ecol gicos em agricultura sustent vel 3 ed Porto Alegre Editora da Universidade 2005 653 p GIDDENS A As conseq ncias da modernidade Tradu o de Raul Fiker S o Paulo Editora UNESP 1991 156 p Biblioteca b sica GUTERRES Agroecologia militante contribui es de nio Guterres S
162. ho E2 Esta rede de rela es tamb m alterou o curso da produ o de Juca A partir de 1997 foi iniciada a transi o para o modelo de produ o org nica Segundo ele Tudo come ou com a Maria Jos Guazzelli e a Ip o Centro Ecol gico de Ip a EMATER a Secretaria de Turismo e Com rcio de Porto Alegre foi o que deu aquela pilha em mim fui gostando da coisa n E2 Hoje Juca diz ter conseguido resultados satisfat rios economicamente al m de compreender sua responsabilidade com o ambiente para recuperar os danos que diz ter causado e a necessidade de manter a biodiversidade para auxiliar no manejo do ambiente produtivo Expressa satisfa o nesta forma de agricultura Diz ele Porque o objetivo de 97 para c foi muito maior depois que eu descobri produzir o org nico ecol gico a a motiva o A n o mais s por necessidade E mais por um desejo de realizar um sonho Agora n o quero parar Enquanto puder melhorar eu vou tocar cada vez mais E2 Juca tamb m considera a fun o do seu quintal nesta rede de trocas pois estabelece que o seu quintal um espa o de experimenta es para ele e para quem estiver interessado em praticar e experienciar o que fica claro na fala transcrita abaixo Eu n o tenho a inten o de fazer produ o de sementes Porque eu sei que muito dif cil mas um espa o aberto para algu m que queira fazer Que queira fazer mudas E um espa o abert
163. ial ou classe com suas cren as valores e significados Implica tamb m em considerar que o objeto das ci ncias sociais complexo contradit rio inacabado e em permanente transforma o MINAYO 1998 p 22 grifo da autora Serapioni 2000 escreve que os m todos qualitativos devem ser utilizados quando o objeto de pesquisa n o bem conhecido Exp e que tais m todos t m a capacidade de fazer emergir aspetos novos descobrir novos nexos e explicar significados O presente trabalho est inserido na linha de pesquisa que o caracteriza como um estudo que abordar as tem ticas ambientais e sociais O n cleo da investiga o versa sobre os significados percep es interesses motiva es pr ticas e saberes dos agricultores pesquisados Estes s o dados qualitativos e necessitam de um referencial de coleta e interpreta o desta natureza MINAYO 1998 Observamos que segundo Minayo 1998 p 134 a pesquisa qualitativa torna se importante para a compreender os valores culturais e as representa es de determinado grupo sobre temas espec ficos b para compreender as rela es que se d o entre atores sociais tanto no mbito das institui es como dos movimentos sociais c para a avalia o das pol ticas p blicas e sociais tanto do ponto de vista de sua formula o aplica o t cnica como dos usu rios a quem se destina 44 Ponderamos que a natureza deste estudo seu problema e objetivos enquadr
164. iente produtivo sustent vel Percebi tamb m como os pequenos agricultores e agricultoras vivem em uma situa o de inseguran a e instabilidade principalmente econ mica e alimentar O abandono das pr ticas de cultivo para a subsist ncia incentivado pela moderniza o da agricultura agrava severamente esta conjuntura Os processos de degrada o ambiental se aceleram e os recursos naturais e fundamentais para a atividade agr cola v o sendo deteriorados pela pr pria agricultura dependendo do modelo adotado sem capacidade de recupera o na mesma velocidade exigida para a produ o S o os pequenos agricultores aqueles que mais sentem os efeitos da degrada o socioecon mica e ambiental nos seus lotes de produ o devido pequena rea de cultivo e ado o de t cnicas com custos financeiros altos para a economia gerada na unidade de produ o familiar Percebe se que as consequ ncias da moderniza o da agricultura est o em contradi o com um desenvolvimento rural sustent vel Neste contexto de press o e repress o de modelos de agricultura alguns agricultores optam por resistir no 17 trabalho do cultivo artesanal da terra com policultivos e outros abandonam estas pr ticas Em um modelo econ mico e agr cola desfavor vel aos pequenos agricultores familiares h a busca destes trabalhadores agr colas em manter suas rela es ambientais sociais econ micas e de bem estar atrav s da terra cultivando o ali
165. ilizadas por ela tamb m em receitas de rem dios caseiros O presente que recebo da agricultora uma muda de orqu dea e outra de malva do campo como ela chamou Nossa entrevista durou mais de duas horas e certamente muita coisa ficou por se dizer 4 4 A experi ncia cont nua o quintal agrofloresta Eu e o Alem o E5 de 37 anos o filho mais velho de Alemoa e V io ambos apresentados em 4 3 andamos cerca de 2 km da BR at argovila na rea alta do 83 mesmo assentamento de Gua ba A estrada de ch o batido e perpendicular BR com grandes lavouras de arroz direita deste caminho esquerda vimos algumas poucas casas e plantios de eucalipto com algum gado solto no campo Faz sol e calor O Alem o nascido em Santo ngelo e participa desde os 16 anos do MST Acompanhado dos pais e dos cinco irm os vieram para este assentamento no qual est o h 19 anos vi vo e tem um filho com 15 anos estudante na Escola T cnica Agr cola do munic pio Chegamos ao local onde as casas est o dispostas lado a lado de maneira que formam um c rculo no centro do terreno a agrovila Ali h um sal o constru do no qual ocorrem as reuni es da comunidade do assentamento Ao lado h um adensamento de rvores com mais de um metro e meio de altura Dois troncos de madeira em posi o horizontal apoiados a partir de 40 cm do ch o nos moeir es fixos formam o port o com mais ou menos dois metros de largura a
166. imento produ o consumo e prefer ncia de alimento como pode ser percebido na fala abaixo Esse o guapuriti das frutas melhores que n s temos Esta a nativa da regi o Da mesma fam lia do guabij E da jabuticaba tamb m S que a jabuticaba n o ocorre aqui na regi o E1 Al m do alimento ele demonstra a observa o e compreens o da vegeta o que entende como nativa por sua experi ncia com o ecossistema nas matas do entorno recompondo a no agroecossistema do quintal O quintal da for a de vontade para Alemoa espa o de produ o de alimentos e por conseq ncia ter uma melhor condi o de vida Ela relata muitas vezes o fato de ter sofrido muito com a fome e a falta de recursos financeiros Por este fato ela diz ter aprendido a utilizar todos os recursos vegetais poss veis tanto para alimento como para rem dio Seu discurso demonstra suas pr ticas Durante o percurso da entrevista no quintal ela cita diferentes plantas aliment cias n o convencionais e receitas de rem dios caseiros com plantas espont neas O fato de Alem o n o possuir horta no quintal agrofloresta influi na composi o das esp cies sendo presentes grande n mero de esp cies arb reas e arbustivas com algumas trepadeiras e muitas gram neas espont neas e cultivadas 110 AP NDICE E A horta n o prioridade para Alem o j que suas principais refei es ocorrem na casa da m e onde consome as verdur
167. imos s duas extremidades de um continuum experiencial e ambos s o maneiras de conhecer TUAN 1985 p 11 grifo do autor S o estas diferentes formas de conhecer que permitem ao ser humano ter sentimentos intensos pelo espa o TUAN 1983 p 13 e por isso o espa o pode ser experienciado de maneiras distintas e pode inclusive ser definido por uma rede de lugares TUAN 1983 p 14 Sob esta perspectiva analisamos os quintais e a constru o do lugar nesta pesquisa 43 3 METODOLOGIA E PERCURSO METODOL GICO Para atingir os objetivos desta pesquisa a coleta de dados foi atrav s dos m todos qualitativos Haguette 1997 explicita que os m todos qualitativos enfatizam as especificidades de um fen meno em termos de suas origens e de sua raz o de ser Por se tratar de uma investiga o perceptiva abordando a complexidade das rela es sociais e ambientais atrav s das pr ticas dos entrevistados nos seus quintais nota se necess rio o m todo qualitativo para a coleta e an lise de dados utilizando as diferentes t cnicas que o constituem Segundo Minayo 1998 o objeto das Ci ncias Sociais essencialmente qualitativo e portanto toda investiga o social deveria contemplar uma caracter stica b sica de seu objeto de estudo o aspecto qualitativo A autora na mesma obra complementa que Isto implica considerar sujeito de estudo gente em determinada condi o social pertencente a determinado grupo soc
168. intal e sua produ o al m de apresentarem pr ticas que considero merecedoras de serem divulgadas e uma diversidade vegetal not vel pela observa o simples do local O encanto pelo trabalho nestes dois quintais foi 46 determinante para a escolha de ambos sendo um localizado em Porto Alegre e o outro em S o Miguel das Miss es O quintal localizado em Porto Alegre contou com dois entrevistados e aquele no munic pio de Eldorado do Sul integra tr s entrevistados Os demais quintais s o descritos cada qual por um entrevistado em fun o da n o ades o de outros familiares pesquisa seja por n o participarem das atividades de manejo ou por n o sentirem se vontade em responder pesquisa por considerar que n o t m o conhecimento suficiente para dar informa es a respeito Uma apresenta o sint tica dos pesquisados com base nos dados pessoais e o local e data das entrevistas para coleta de dados constam no Ap ndice B Os nomes atribu dos s o fict cios para preservar a identidade dos participantes Os quintais foram analisados abrangendo as informa es de todos os entrevistados de um mesmo quintal e s o portanto apresentadas seis unidades de pesquisa AP NDICE B 3 2 Coleta de dados e o percurso transcorrido A coleta de dados foi feita por meio de documenta o direta que para Lakatos e Marconi 2000 significa o levantamento de dados no pr prio local onde os fen menos ocorrem Minayo 1998 ressalta qu
169. intera es positivas no sentido de que h amplia o dos saberes e fazeres dos agricultores Mas h intera es negativas quando os conhecimentos locais s o sobrepujados pela transfer ncia de tecnologias e as esp cies e variedades regionais s o substitu das por plantas resultantes de inova es tecnol gicas como as sele es gen ticas indiscriminadas 5 3 2 2 Refer ncia hist rica A refer ncia hist rica est integrando as fun es do quintal pois as mem rias que os agricultores resgatam atrav s do cultivo dos quintais contribuem na reprodu o de um modo de vida aquele modo herdado da pr tica familiar agr cola Tamb m no quintal algumas das plantas cultivadas s o trazidas dos antigos pomares cultivados pela fam lia em outros locais como no caso do Mateiro O uso tradicional de plantas pelos av s e pelos pais referido na contribui o para a constru o do lugar do quintal Os conhecimentos emp ricos transmitidos pela oralidade est o presentes nas intera es dos agricultores com as esp cies do quintal Da resulta as refer ncias hist ricas aos ancestrais familiares com as plantas Todos os agricultores lembram se dos quintais da inf ncia nas propriedades dos av s ou dos pais O pomar ou arvoredo como mencionado nas entrevistas sempre esteve presente ao lado das casas no campo 126 Juca relata que a pr tica agr cola tradi o familiar A fam lia est h 28 anos na rea desde que seu
170. interviews with farmers who manage backyards were tape recorded including photographs and field journal notes at six properties during 2010 Interviews content analysis brought two perceptive groups 15 function descriptors 335 varieties of plants were mentioned having at least 17 different uses In these areas the actors get knowledge and put it in practice thus farmers are provided with safety at the place they build as they move away from the external dependency and strengthen the internal capacities through the co production that feeds the family the local community or the regional resources base Keywords Agroecology Agrobiodiversity Perception Backyard Peasant autonomy LISTA ILUSTRA ES Figura 1 M e do Mateiro em primeiro plano S o Miguel das Miss es em 18 de teyeremo de 200 safa id ims ie Qd o a E Da topi chen ts 57 Figura 2 Vista interna Bosque de arauc rias Solo coberto de folhas secas e sombreado direita e acima as arauc rias no dossel da vegeta o Abaixo e direita as arauc rias bananeiras abacateiros e diversas mudas de orqu deas OR S o Miguel das Miss es em 18 de fevereiro de 2011 58 Figura 3 Pitangueira com cactos brom lias e orqu deas nascidas sobre o caule S o Miguel das Miss es em 18 de fevereiro de 2011 59 Figura 4 Frente da casa Os c rculos indicam plantas nativas cultivadas Da esquerda para direita as plantas s o cedro ing ip pitanga jeriv
171. irriga o terreno no qual se concentra o pomar com 149 reutiliza o e filtragem da gua provinda das pias do banheiro e da cozinha Dora irriga por gotejamento com uso de caixa de gua e mangueiras Sandra coleta a gua da chuva para irrigar as verduras A aten o dada gua pelos agricultores n o mencionada com nfase Novamente as pr ticas se sobressaem aos discursos Os recursos h dricos s o diretamente afetados pelas atividades agr colas e pelo manejo do sistema agr cola A cobertura do solo e o sombreamento propiciado pelas rvores e demais plantas espont neas contribuem com a manuten o da umidade e temperatura do solo com consequente menor utiliza o de gua O aprovisionamento de gua com filtragem reten o e armazenamento de gua doce fundamental para um manejo racional da gua TOLEDO 2008 O manejo org nico tamb m influi nos mananciais h dricos uma vez que n o contaminar a gua que retorna ao sistema A gua um recurso natural renov vel mas os aqu feros subterr neos n o o s o TOLEDO 2008 A agricultura de produ o capitalista com alto uso de agrot xicos vem deteriorando o bem comum a gua e desta forma compromete a atividade agr cola assim como a pr pria vida humana neste planeta Shiva 2005 enfatiza esta reflex o colocando que Este modelo es incapaz de producir alimentos seguros culturalmente apropiados sabrosos y de calidad Y es incapaz de producir suficient
172. itora da UFRGS 2008 p 63 83 CORTES S M V T cnicas de coleta e an lise qualitativa de dados Cadernos de Sociologia Porto Alegre v 9 p 11 49 1998 DAL SOGLIO F K A crise ambiental planet ria a agricultura e o desenvolvimento In DAL SOGLIO F K KUBO R Org Agricultura e sustentabilidade Porto Alegre Editora da UFRGS 2009 p 13 32 DEPONTI C M et al Estrat gia para constru o de indicadores para avalia o da sustentabilidade e monitoramento de sistemas Agroecologia e desenvolvimento rural sustentent vel Porto Alegre v 3 n 4 p 44 52 out dez 2002 DIEGUES A C S O mito moderno da natureza intocada 3 ed S o Paulo Hucitec N cleo de Apoio Pesquisa sobre Popula es Humanas e Areas Umidas Brasileiras USP 2000 161 p EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECU RIA Marco referencial em Agroecologia Bras lia EMBRAPA Informa o Tecnol gica 2006 70 p Centro de Pesquisa Agropecu ria de Clima Temperado Quintais org nicos de frutas contribuic o para a seguran a alimentar em reas rurais ind genas e urbanas 2008 Dispon vel em http www cpact embrapa br programas projetos projetos quintais organicos index php Acesso em jun 2009 FERREIRA T B SABLAYROLLES M G P Quintais agroflorestais como fontes de sa de plantas medicinais na comunidade de Vila Franca Reserva Extrativista Tapaj s Arapiuns Par Revista brasileira de Agroecologia Porto Ale
173. j praticam o cultivo de rvores frut feras no seu quintal entre outras esp cies Valorizam o projeto que doou as mudas justamente pelo fato de terem experienciado a dificuldade de consegui las por outros meios Exemplificando com um trecho da entrevista de Alemoa O primeiro que eu plantei foi um p de cinamomo Eu disse Esse p de cinamomo vai dar sombra para n s Para no ver o sentar embaixo e o fizemos Eu e os meus filhos fizemos isso A achamos um p de Uva do Jap o na beirada da faixa A a n s plantamos para dar sombra Eu achei uma mudinha de cinamomo na beiradinha da faixa Demos uma caminhada na beirada da faixa e achamos mais mudas A eu e o meu filho o G n s plantamos Essas mudas o passarinho traz a semente e nasce na beirada da faixa e n s achamos as mudinhas e plantamos E agora t o grandes Ficou t o lindo E4 Alem o tem a mesma viv ncia da m e e diz enfaticamente que a muda custa dinheiro o adubo custa dinheiro Coisa dada muda doada que s pegar e 129 plantar se n o pegar tem que se enforcar em pra a p blica Nada mais E5 Estes discursos indicam as dificuldades encontradas para o cultivo da terra muito presente na realidade dos assentados como constatado no outro assentamento que integra este trabalho Dora participou do projeto da EMBRAPA com o objetivo de incrementar uma rea na qual outro projeto de horta estava sendo implantado com finan
174. junto com os c es Ao lado da mesa onde est o animal tem uma panela fervendo com gua v ceras mi dos e sangue de onde sair a morcilha O su no cria o pr pria e ser consumido pela fam lia 77 s 1 RM E q k x S J Ra Figura 15 Limpeza da carne do porco Gua ba em setembro de 2010 Fonte Fotografado pela autora Sentada na varanda tomando um mate com a Alemoa de 56 anos e aposentada conversamos sobre o assentamento e assistimos os homens na tarefa da carne O sotaque alem o na fala da fam lia dep e sua origem seus av s vieram de Berlim Alemanha A agricultora e seu esposo s o filhos de agricultores e assim como seus seis filhos s o nascidos na regi o pr xima ao munic pio de Santo ngelo Ela diz que sempre trabalhou na agricultura desde muito pequena Aos 13 anos seu pai faleceu e sendo a filha mais velha precisou cultivar a terra e garantir o sustento da fam lia auxiliando sua m e que passava pelo final da quinta gravidez Quando eu tinha 13 anos o pai morreu N s continuarmos trabalhando com a m e na lavoura S que a m e n o conseguia trabalhar igual ao pai A ela mandava n s para a lavoura e ficava na cozinha cozinhando para n s chegarmos ao meio dia em casa e a comida estar pronta N s amos na lavoura e naquele ano da morte do pai n s colhemos ainda 300 sacos de soja Eu e a minha irm trabalhando Porque a m e estava gr vida ganhou a nen
175. l PGDR CONSENTIMENTO LIVRE E INFORMADO Participa o nas Entrevistas Sr a Agricultor a Estamos convidando voc para participar como volunt rio a da pesquisa sobre a percep o do seu quintal O principal objetivo do estudo evidenciar as formas de perceber o espa o do quintal e discutir a contribui o da rea para a subsist ncia das fam lias A pesquisa ser realizada com diferentes agricultores em distintos munic pios Para isso realizaremos entrevistas individuais que ser o gravadas em udio ou em v deo al m de registros fotogr ficos ap s o consentimento Para esta pesquisa ser necess rio ouvir os agricultores com diferentes tipos de quintais Sua identidade ser mantida em car ter confidencial Igualmente fica assegurada a liberdade de optar pelo ingresso e continuidade no estudo bem como a op o pela desist ncia a qualquer momento Os resultados da pesquisa ser o mencionados em publica es cient ficas vinculadas rea de conhecimento que deu origem ao projeto e ou em outras modalidades de comunica o como em congressos e eventos de forma a socializar a informa o Tanto eu como meu professor orientador colocamo nos disposi o para esclarecimentos adicionais que se fizerem necess rios mesmo ap s a entrevista cujas formas de contato constam acima Local Data Prof Dr F bio Kessler Dal Soglio Mariana Francisca Arreguy Muniz Pesquisador Respons vel Orientador Pesquisad
176. l agua suelo aire y biodiversidad cuestion las formas por medio de las cuales el capital se apropia de la naturaleza y transforma el medio rural la heterogeneidad la desigualdad e inequidad mundial plantean posibilidades diferenciadas de resguardar los recursos naturales m s a n cuando est n en juego las estrategias y derechos de apropiaci n de la naturaleza Mientras los pa ses del Norte defienden los intereses de las empresas transnacionales de biotecnolog a por apropiarse los recursos gen ticos localizados en el tercer mundo a trav s de los derechos de propiedad intelectual grupos ind genas y campesinos defienden la biodiversidad de sus regiones y su derecho a apropiarse y conservar el patrimonio que les pertenece hist rica y culturalmente MIGUEZ TOR Z 2006 p 107 Diante deste contexto os pequenos agricultores agem estrategicamente na meta de manter sua base de recursos materiais aqui inclu da a biodiversidade Assim sendo o uso racional de los recursos naturales recupera las formas tradicionales de producci n basadas en el conocimiento trasmitido de generaci n en generaci n adaptadas al nicho ecol gico en que surgieron adquiriendo su propio reconocimiento y valorizaci n en el mercado y planteando opciones de sobrevivencia en el marco de la producci n de alimentos sanos MIGUEZ TOR Z 2006 p 107 A fun o de produ o de alimentos retomada atrav s da fun o de contribui
177. l e Jarenkow 2006 indicadas para confer ncia de esp cie Os animais foram considerados de acordo com a compreens o do agricultor e n o houve detalhamento zool gico ou determina o taxon mica As rela es ecol gicas de polinizadores e intera o da avifauna foram consideradas pela constru o de uma compreens o complexa das intera es entre os organismos vivos a partir da viv ncia do agricultor com o lugar do quintal A nfase para as esp cies arb reas decorre dos conceitos da Agroecologia que determina a necessidade da aproxima o dos sistemas cultivados com os ecossistemas naturais Assim sendo importante a inclus o de esp cies arb reas e nativas da matas locais Inclusive a produ o de mudas semeadas a partir de matrizes arb reas da regi o em que ser o cultivadas adaptadas a este determinado ecossistema igualmente importante na busca pela similaridade com o ecossistema natural Os alimentos propiciados pelos frutos das rvores e fundamentais sa de humana tamb m devem ser considerados para focar a import ncia destes vegetais na composi o dos agroecossistemas Dando sequ ncia foi feita a an lise do conte do do material da transcri o n Segundo Bardin 2002 a an lise de conte do um conjunto de instrumentos 49 metodol gicos diversificados que se baseiam na dedu o do conte do da mensagem do discurso a infer ncia BARDIN 2002 A descri o do conte do das mensagens atrav
178. limpar o ar Para limpar o ar Porque aqui onde n s estamos morando o do lado dos carros e tudo e a firma ela larga muito ar sujo Para a polui o para limpar a polui o Porque n s aprendemos da UFGRS e da Rafinha desde um p de ch tu n o pode plantar perto da estrada E nem colher ch perto da estrada porque tem polui o e pode matar Desde uma fruta quando tem polui o pode at matar 4 Por certo que os agricultores que cultivam rvores em seus quintais est o contribuindo para a filtragem do ar que respiramos Muito se t m falado sobre o plantio de rvores para o sequestro de carbono e estas a es t m sido realizadas 148 por grandes empresas como a CGTEE a exemplo da inser o como patrocinador do projeto Quintais Org nicos e estas contribui es s o divulgadas na m dia como proporcionadas pelas empresas O que vemos que a responsabilidade pelo xito destas contribui es est nas m os do agricultor que planta e ou cuida das rvores no seu quintal Muitos destes agricultores desconhecem o papel ecol gico que est o executando e o propagandismo no qual est o atuando Isto quer dizer que os agricultores executam o trabalho bra al de cultivo disp em do seu tempo e esfor o para garantir a sobreviv ncia das plantas e n o recebem todos os m ritos e pagamentos que deveriam por contribuir amplamente com a sa de do planeta Nesta intera o os agricultores na sua maioria n o s
179. m Gua ba e um no assentamento do Movimento dos Trabalhadores Desempregados MTD em Eldorado do Sul Os locais foram visitados com o apoio da EMBRAPA Clima Temperado CGTEE e Secretaria Municipal da Agricultura de Buti RS O projeto Quintais Org nicos conta com estagi rios e t cnicos agr colas que trabalham na produ o de mudas distribui o e plantio nas reas implantadas com pelo menos um hectare Al m das sessenta mudas o projeto fornece arame para cercar o pomar adubo e calc rio para o solo O contato com os p blicos alvo ocorreu por diversas vias Houve casos em que o projeto atrav s dos t cnicos envolvidos fez o primeiro contato Em outros 45 foram os recebedores do projeto quem indicaram demais benefici rios EMBRAPA OU aos seus vizinhos amigos e parentes A parceria com as prefeituras no RS foi outra forma de difundir o projeto e nestes casos o contato ocorria nos munic pios tanto por parte dos respons veis nas prefeituras como por parte daqueles que desejavam obter as mudas Integra a estrutura do projeto um viveiro de rvores na sede da EMBRAPA Clima Temperado em Pelotas Algumas das rvores inclusive as nativas s o variedades provenientes de sele es gen ticas para acelerar a produ o de frutos outras s o produzidas pela t cnica da enxertia O substrato utilizado para a produ o das mudas e o biofertilizante feito nesta mesma sede O viveiro conta com irriga o
180. m dico seja pela tradi o transmitida pela oralidade ou aplica o deste recurso em outras situa es adversas O que ouvimos desta agricultora um relato de satisfa o sobre esta atividade depois n s come amos com a farm cia tamb m A nossa farm cia n s come amos a trabalhar embaixo das rvores para conseguir depois fazer um rem dio A n s fizemos o rem dio conseguimos fazer a farm cia E agora mudou a nossa vida N o mais como era N s conseguimos o nosso xarope nosso sabonete nossas pomadas nossas tinturas elixires e bem no fim n s estamos felizes da vida A com a nossa farm cia as 8 mulher que est o trabalhando junto de alegria s vezes n s at cantamos De alegria A n s pens vamos Como que n s conseguimos tudo isso mas a for a e a vontade E assim Neste dia despe o me da fam lia e caminho at a parada de nibus depois de combinar o meu retorno para a nossa entrevista Quando volto Esta o Rodovi ria da capital j noite No meu retorno ap s 20 dias chego depois do desjejum da fam lia Ela me oferece um caf que recuso Acompanho a agricultora para tirar o leite da vaca Enchemos uma panela grande de alum nio que fica na 82 cozinha Ela solta os terneiros e vacas troca as ovelhas e carneiros de pasto e me mostra a cria o de coelhos do filho mais novo para venda O V io e o filho mais novo est o arrumando as verduras nas bicicleta
181. m tamb m o lazer de cuidar das orqu deas quando aposentar se Do quintal da for a de vontade saem diversos produtos agr colas inclusive processados para a venda direta nas casas dos moradores da cidade de Gua ba ou de aglomerados urbanos pr ximos ao assentamento As cucas gel ias chimias e 112 p es s o feitos pela Alemoa com as verduras ou frutas da poca colhidas na horta e no pomar A horta fonte de renda e manejo di rio para a agricultora O quintal agrofloresta n o foco para o com rcio Alem o comercializa algumas frutas do seu quintal mas centra o com rcio nos produtos da lavoura sendo a fonte de rendimento financeiro O fato de este agricultor trabalhar na lavoura de arroz em conjunto nas terras dos pais pode ser influente na quantidade menor de produtos comercializados do seu quintal Os outros dois quintais comercializam seus produtos frescos O quintal de produ o vem sendo cultivado na perspectiva de abastecer os mercados institucionais criados com incentivo governamental para o fortalecimento da agricultura familiar a exemplo da Lei n 11 326 que estabelece a Pol tica Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais BRASIL 2006b e a Lei n 11 947 BRASIL 2009 j citada Estas regulamenta es tamb m influem na decis o sobre quais plantas produzir baseados tamb m na necessidade do mercado Outra iniciativa para o plantio de rvores relaciona se com o incremento
182. m a luta por autonomia camponesa com diferentes nfases demonstrando maior ou menor abrang ncia da express o desta autonomia em cada caso Apesar das diferentes nfases de express es os quintais contribuem com a subsist ncia das fam lias e s o 166 agroecossistemas capazes de promover o desenvolvimento rural e sustent vel com gest o de recursos pelos agricultores que os manejam mantendo a diversidade biol gica e sociocultural Realizar mais de duas visitas s propriedades para abranger a totalidade da agrobiodiversidade do quintal deve ser fundamental nos locais com muita diversidade biol gica Muitas plantas n o s o mencionadas e passam despercebidas por n o serem consideradas importantes mesmo que tenham utilidade para a fam lia ou para o sistema agr cola Neste sentido entrevistar mais de um familiar da mesma unidade produtiva tamb m se torna interessante j que uns mencionam usos e conhecimentos diferentes dos outros tamb m demonstrando percep es distintas sobre um mesmo lugar ou ambiente natural Isto pode ser identificado mas n o foi explorado neste estudo uma vez que dois dos quintais apenas contaram com mais de um entrevistado Um estudo mais detalhado da agrobiodiversidade poderia ser feito remetendo se origem antropol gica dos alimentos consumidos e das receitas utilizadas relacionados naturalidade e origem tnica do agricultor Um estudo de natureza antropol gica das esp cies presentes nos qui
183. m influiu na percep o que hoje possui e nas suas pr ticas Conforme o relato da agricultora atrav s da UFRGS e da sua participa o na pesquisa sobre as plantas medicinais utilizadas no assentamento ela passou a observar mais atentamente as esp cies e descobrir sobre diferentes formas de uso como ch alimento suco etc Seu olhar voltou se para os potenciais preventivos de doen as com o uso de vegetais Desde ent o ela participa de eventos palestras e encontros de discuss o sobre as plantas relacionadas sa de A fun o da rede de trocas influi e est expressa na sua intera o pr tica de plantio e manejo do quintal Algumas das plantas medicinais utilizadas no preparo dos fitoter picos pelo grupo de mulheres s o cultivadas no quintal da Alemoa O conhecimento obtido atrav s da atua o no grupo de mulheres influi na busca de esp cies para incorporar ao quintal Quando Alem o disp s uma parte de sua rea para implantar a agrofloresta e melhorar o solo com aduba o verde visando assegurar sementes para a pr xima aduba o obteve com o passar dos anos resultados satisfat rio ao ponto de transpor esta experi ncia para o quintal de casa de maneira mais aleat ria como ele mesmo relata e com maior diversifica o de esp cies em menos rea de terreno Observa que este manejo necessita de menos insumos externos e est disposto a dar continuidade a esta experi ncia que se tornar permanente conforme 121 su
184. m na tarde chuvosa Logo que terminamos chegou uma senhora para falar sobre a produ o das broas e biscoitos que Dona faz por encomenda Apesar de n o manejar o quintal ela participa nas atividades de processamento dos vegetais colhidos Faz as pastas saborosas com condimentos e plantas da horta semeados e colhidos por Juca H uma divis o da for a de trabalho nesta fam lia de maneira que possam desenvolver o turismo e a agricultura paralela e complementarmente Neste dia Juca me falou uma novidade e mostrou um croqui que havia feito da sua rea indicando as plantas e o seu local Pediu me que ampliasse o desenho para a cartolina e assim fizemos Este croqui FIGURA 14 foi apresentado em uma reuni o da qual Juca e outros agricultores participaram para cadastrar se como produtor org nico no Minist rio da Agricultura Pecu ria e Abastecimento O levantamento das esp cies que apresentadas no croqui foi muito pr ximo ao que ele citou durante a entrevista Na entrevista foram citadas rvores arbustos e palmeiras sendo que as plantas nativas do RS entre frut feras e ornamentais comp e o quintal e representam quase a metade da variedade de rvores Inclu das as esp cies do croqui contabilizamos a variedade de ess ncias vegetais Certamente esta quantidade varia de acordo com a sazonalidade j que nem todas as hortali as s o cultivadas durante todo o ano Este cadastro ocorreu atrav s de uma Organiza
185. m volta da sua casa pelo seu relato H 13 anos cultiva as esp cies do seu quintal e diz o interesse de manter e aumentar isso Para que a popula o possa ver para que a gente possa mostrar para a popula o que isso realmente funciona e que hoje serve de alimento para a popula o No ano de 2001 ele disponibilizou uma rea de plantio para o experimento de uma agrofloresta proporcionado pelo projeto de extens o da UFRGS citado na se o 1 Alem o estendeu a experi ncia para o seu quintal Lembra na entrevista a gente fez todo um trabalho com a universidade UFRGS na poca que foi a hist ria de uma agrofloresta construir uma agrofloresta Come ou a fazer mover esse tipo de cultura que no fato banana e tudo que tipo de alimento que d pra gente produzir nas beiradas de mato Conta que pr ximo rea onde foi realizado o plantio da agrofloresta junto com os alunos da UFRGS est conformada uma ocupa o irregular com muitas casas Os moradores da vila visitam e colhem os frutos da planta o Por este motivo ele vem trabalhando de forma a produzir alimentos pr ximos resid ncia de maneira a evitar os poss veis furtos Vamos caminhando pelo quintal vendo as batatas doces ab boras e avicas tamb m conhecida popularmente como vica ou ervilhaca rastejando por baixo das rvores e arbustos frut feros S o plantas aliment cias e forrageiras Paralelas cerca est o as bananeiras e as
186. manejo org nico da horta Alem o aposta na diversidade vegetal para a manuten o da fertilidade do solo e tamb m 102 para a composi o e fortalecimento da agrofloresta para produ o de alimentos A exemplo as frases dos agricultores a gente planta mesmo para trazer algum tipo de p ssaros algum tipo de animal A gente tamb m usa as frutas mas os passarinhos tamb m aproveitam ajudam Os animais tamb m ajudam E1 eu n o vejo isto a como um com rcio n o vejo pelo lado do com rcio Eu vejo que elas plantas arom ticas servem para ser til para o ambiente o aroma As plantas repelentes tu pode ter ali que s vai causar bem para todos as demais esp cies E elas v o repelir E2 A tem algumas plantas que eu acrescentei dentro do quintal de casa que guand por exemplo para ajudar no manejo do solo E5 Estes agricultores percebem seus quintais como lugares importantes e necess rios ao ambiente natural Compreendem que estamos perdendo diversidade biol gica e esta perda gera consequ ncias que incluem e v o al m do seu quintal A experi ncia de cada um resulta em focos perceptivos diferenciados mas de maneira mais abrangente existe a forte semelhan a no discurso e na pr tica da preocupa o com um meio ambiente que possa se regenerar Estes agricultores observam que a velocidade da degrada o da natureza acelerada em compara o velocidade de recomposi o
187. mento e tamb m o rem dio Ent o atrav s do Programa de P s Gradua o em Desenvolvimento Rural PGDR na linha de pesquisa Din micas socioambientais no espa o rural vislumbrei a oportunidade de discutir o ambiente e a contribui o da natureza para o desenvolvimento rural e sustent vel pelo olhar de quem vivencia maneja e mant m os agroecossistemas contribuindo numa retroalimenta o homem ambiente Discuss es e investiga es acerca do desenvolvimento e das formas como os agricultores e agricultoras atuam para o incremento e manuten o dos seus modos e meios de vida ou seja sobre as estrat gias que os agricultores desenvolvem para sobreviver e melhorar suas situa es de vida s o imprescind veis para pensarmos o desenvolvimento no mbito rural tratando a sustentabilidade nas suas facetas Foi ent o que voltei meu olhar para os quintais atrav s do Mateiro um personagem importante nesta caminhada e que integra esta pesquisa sendo apresentado ao longo desta disserta o Este mateiro me fez observar o quanto um pequenino quintal pode resguardar um patrim nio biol gico e cultural t o diverso Neste contato com ele passei a especular sobre as percep es e os motivos que poderiam levar uma pessoa a se interessar pelo cultivo das plantas Provavelmente a percep o de um mateiro de um agricultor org nico de um agricultor empresarial de um pesquisador representante de uma institui o governament
188. nder rela es e deve ser complementada por uma pr tica de observa o participante Em 3 2 2 explanamos esta t cnica 3 2 2 Observa o participante Sobre a observa o Gil 1999 escreve que uma t cnica utilizada na fase de coleta de dados conjugada a outras t cnicas e segundo Lakatos e Marconi 2000 p 79 n o consiste apenas em ver e ouvir mas tamb m examinar fatos ou fen menos que se desejam estudar Para Gil 1999 a observa o tem a vantagem de podermos perceber os fatos diretamente sem qualquer intermedia o Minayo 1998 descreve que h varia o na posi o do observador que varia entre o participante total e o observador total No entanto Cortes 1998 ressalta que remota a possibilidade de realizar uma observa o total j que o investigador interage necessariamente com as pessoas estudadas Segundo Cotanda et al 2008 a observa o uma estrat gia de constru o de informa es acerca de uma realidade n o mediada por materiais n o documentais ou narrativas orais como entrevistas que visa a aprender pr ticas e comportamentos no momento em que se desenrolam Procura se com a observa o acurada do modo como as pessoas se relacionam conversam e interagem analisar o comportamento das pessoas e grupos sociais e o significado de suas a es em seu pr prio contexto COTANDA et al 2008 p 79 A observa o participante foi tomada como t cnica complementar entrevista e
189. nelas e duas bacias de verduras frescas da horta como alface r cula e radite temperadas com lim o bergamota este trazido do quintal do filho mais velho para a deliciosa refei o A nora faz um suco de uma erva arom tica e usualmente consumida como ch conhecida como s lvia da gripe que a agricultora colheu Bate as folhas com gua e a car e nos servimos O trabalho com as ervas arom ticas condimentares e medicinais outra ocupa o desta senhora Este trabalho surgiu de um encontro proporcionado pela equipe de estudantes do projeto de extens o da UFRGS mencionado na se o 1 da disserta o As agricultoras do assentamento conheceram o trabalho das farmacinhas comunit rias realizado pela senhora conhecida como Rafinha A Rafinha foi ao assentamento e convidou as mulheres a formarem uma farm cia com uso das plantas medicinais Dois grupos se formaram no assentamento sendo um na rea baixa e outro na rea alta Alemoa integrou o grupo da rea baixa Junto com mais sete mulheres elas preparam tinturas de plantas que s o utilizadas em tratamentos de algumas doen as ou sintomas As ervas utilizadas s o cultivadas no quintal das casas ou trazidas de outras cidades do interior do RS frequentadas por vizinhos O uso popular de plantas como medicamento entre as comunidades rurais frequente seja pela dificuldade de acesso ou falta de recurso financeiro para deslocar se s unidades de sa de para consultar o
190. nizador o portugu s a popula o ind gena nativa e o escravo negro DIEGUES 2000 Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conserva o SNUC a diversidade biol gica compreende a variabilidade de organismos vivos de todas as origens abrangendo a diversidade entre esp cies dentro de esp cies e de ecossistemas inclu dos os complexos ecol gicos de que fazem parte Na Ecologia pode ser medida a variedade e abund ncia das esp cies em uma determinada rea BRASIL 2000 99 sementes e animais comercializados pelas grandes empresas detentoras das licen as para sua produ o e que cobram caro pelo que chamam de gen tica mas que de fato adv m da apropria o ind bita da diversidade que outrora era um bem comum na agricultura No passado todas as comunidades tinham suas sementes seu material de propaga o de plantas e animais perfeitamente adaptados s condi es ecol gicas e culturais de cada agroecossistema Esse direito hoje est sendo retirado dos agricultores e das comunidades com falsas promessas de prosperidade e desenvolvimento aumentando a depend ncia das popula es para com aqueles mesmos que s o respons veis pelos altos custos ambientais da agricultura decorrentes do uso de fertilizantes qu micos e agrot xicos e para com aqueles mesmos que tamb m s o os atravessadores dos alimentos e que remuneram cada vez menos os agricultores DAL SOGLIO 2009 23 A usurpa o do ambiente natural e dos
191. nos de idade no acampamento devido entre outros pelo prec rio servi o de sa de p blico oferecido Esta experi ncia lhe foi certamente marcante e dolorosa e 156 deve estar associada aproxima o desta agricultora no grupo da sa de e aos seus esfor os para constru o do pr dio da farmacinha Alem o ao lado da fam lia sofreu com a fome principalmente nos acampamentos e a dificuldade de produ o aliment cia ao chegarem ao assentamento Esta percep o fez com que ele se dispusesse a procurar alternativas para melhorar a produtividade da terra compreendendo os motivos do esgotamento do solo no qual est e conhecendo as formas de manejo que contribuem para a sa de do solo Da talvez resulte a diferen a expressa na pr tica de cultivo e manejo do quintal Enquanto a m e planta o pomar destacado da horta em terreno encharcado e obedecendo a uma disposi o linear das rvores procurando produzir alimento naquele tipo de solo no qual est o pomar que segundo ela dif cil de cultivar o filho cultiva de forma mais aleat ria dispondo as rvores de acordo ao espa o dispon vel no terreno procurando construir microambientes e favorecer a intera o entre as esp cies Alem o percebe que a diversidade biol gica vegetal contribui com a fertilidade do solo Investe em esp cies que contribuam neste sentido e tamb m possam ser utilizadas como aliment cias seja para humanos seja para a avifauna ou para o gado O
192. nsideramos que a primeira modificada e constru da na intera o com outros atores sociais resultando em novas percep es Esta s ntese s poss vel atrav s do conhecimento acessado e internalizado pelos agricultores A 162 apreens o pelo agricultor das experi ncias t cnicas e saberes externos necess ria para elabora o de uma s ntese que lhe propicie compreens es cada vez mais abrangentes e complexas Este um processo crucial na incorpora o de conhecimentos externos que potencializem as capacidades internas e proporcione maior capacidade de ag ncia aos atores que ter o por consequ ncia mais elementos para agregar na agrobiodiversidade e mais for a na sua express o de luta por autonomia Neste sentido as rela es entre os agricultores e o ambiente natural e cultivado demonstram que h interfer ncia m tua entre ambos Na perspectiva de Giddens 1991 a capacidade da ag ncia humana que influi nas interven es na natureza sem implica es deterministas mas de m tua imbrica o A natureza passa a ser uma estrutura social produzida pelos atores sociais e tamb m o meio atrav s do qual esta produ o tem lugar GIDDENS 1991 Ou seja a natureza pr existe e os sujeitos precisam se adequar a ela para realizar suas atividades vitais Por meio desta adequa o os sujeitos transformam suas condi es de vida ao passo que transformam a natureza gerando um ambiente constru do e n o mais natur
193. nstru o do lugar como entendido por Tuan 1983 O autor considera o lugar como o momento da pausa em rela o ao espa o que m vel e indica O espa o experienciado quando h lugar para se mover TUAN 1983 p 13 Este espa o aberto entendido pelo autor como a possibilidade da aventura e da experi ncia no qual constru mos a refer ncia afetiva e segura de lugar As esp cies de plantas que comp em o lugar do quintal s o consideradas pela rela o afetiva constru da e fixadas na pausa do espa o retomando Tuan 1983 A seguran a de saber que as plantas cultivadas naquele lugar est o guardadas e sobreviver o s usurpa es que est o erodindo a gen tica vegetal e agr cola consciente no grupo ambiente saud vel O pequeno jardim bot nico o quintal da esperan a e o quintal agrofloresta foram constru dos como lugar ecol gico Nestas reas as plantas cultivadas s o a seguran a da biodiversidade garantindo a exist ncia daquela esp cie em um determinado per odo de tempo naquele lugar experienciando as diariamente no acompanhamento do desenvolvimento vegetal no agroecosistema O quintal da for a de vontade o quintal de produ o e o quintal do produtor org nico constroem o lugar nutritivo As plantas do quintal contribuem com a qualidade da nutri o da fam lia atrav s dos alimentos que as agricultoras produzem consomem comercializam e geram renda para a
194. ntais viria a contribuir com projetos de interven o que visem promover o desenvolvimento rural e sustent vel na perspectiva da Agroecologia Observamos que as interven es externas s o distintas Algumas s o elaboradas com a participa o dos agricultores ao passo que outras n o Esta participa o nos processos de idealiza o e execu o de projetos est relacionada a amplia o das capacidades e fortalecimento da base de recursos sociais aproximando se da Agroecologia e proporcionando maior autonomia aos agricultores Aprofundar as influ ncias das interven es externas nos agroecossistemas tamb m pode gerar investiga es e contribui es importantes na tem tica do desenvolvimento rural sustent vel Podemos observar uma transi o de paradigma que est ocorrendo na ci ncia a qual vem incorporando os conhecimentos tradicionais como importante fonte de investiga o cient fica por interm dio do enfoque sist mico que se estabelece a liga o entre o m todo racional anal tico de constru o de conhecimentos adotado por pesquisadores e os m todos indutivos integradores dos agricultores Planejar estrat gias em conjunto com as necessidades espec ficas dos agricultores e do ambiente poder enriquecer a diversidade biol gica e ou manter 167 conhecimentos e tradi es culturais Nesta perspectiva a Agroecologia surge como uma nova proposta aos sistemas produtivos e ao desenvolvimento rural sustent vel A pro
195. nte os churrascos da fam lia e na recep o dos turistas visitantes O pr prio Juca ainda n o se beneficia deste lazer mas fala sobre sua pretens o de usufruir em breve Fala que alguns amigos lhe dizem que ele ficar sem espa o para plantar de tantas rvores que j tem na propriedade Reflete que est ficando velho e n o pretende trabalhar a vida toda Ent o lhe restar gozar das frutas e das sombras das rvores Ambos os filhos n o s o agricultores Embora a filha contribua com o turismo sua profiss o fora da unidade produtiva H pouca perspectiva sucessional familiar para a atividade de produ o agr cola mas h a perspectiva de que toda a fam lia possa se beneficiar dos frutos produzidos nas rvores Relata Tem um vizinho meu que diz B mas tu vai ficar sem terra para plantar mas tamb m Eu estou com 66 anos quanto tempo mais de dura o dentro da ro a eu vou ter Eu quero daqui uns dias quando eu estiver mais velho passear caminhando na sombra ali no pomar colhendo fruta Por que estas plantas que eu tenho ali elas n o s o exigentes N o tem que pulverizar ensacolar e cuidar S o coisas nativas Por isso a tend ncia por isso a E2 194 Mateiro indica o lazer na sua fala como o motivo pelo qual ele cultiva as rvores Na descri o do local do seu quintal em uma das cita es o Mateiro diz que planta rvores por lazer De fato ele tem a compreens o que sua atividade no quin
196. nto as impress es subjetivas comp em o material reflexivo O di rio de campo n o foi analisado detalhadamente por conter informa es que n o cabem ao prop sito deste estudo No entanto salientamos a import ncia deste instrumento para o registro organiza o e detalhamento dos dados obtidos e aspectos subjetivos observados pelo pesquisador O material contribuiu na compreens o das entrevistas e da pr pria observa o por conter os registros das situa es n o contempladas nas t cnicas anteriores colaborando para a an lise dos dados e para a reda o desta disserta o Os registros fotogr ficos tamb m foram essenciais uma vez que nem todos os quintais visitados contaram com entrevistados Por m todos foram registrados fotograficamente para auxiliar na an lise reflexiva sobre a tem tica observando as diferentes intera es que a paisagem do local podia suscitar al m de contribuir para os registros do di rio de campo As fotografias foram captadas durante a visita a entrevista e ou no retorno posterior ao local 52 O car ter complementar do uso de imagens n o deve ser entendido como menos importante para esta pesquisa uma vez que todo o material reunido foi fundamental para o reconhecimento dos contextos investigados No entanto o foco deste estudo centra sua investigac o no uso da linguagem e da fala como principal fonte de obten o dos dados 3 3 Visualizando os dados coletados Reunindo os dados cole
197. ntorno 5 3 2 Descritores sociais redes de trocas e experimenta es refer ncia hist rica trabalho prazer resist ncia lazer e est tica Os descritores sociais s o considerados observando as intera es entre os diferentes atores e as contribui es externas nas interven es sobre o quintal As redes de trocas e experimenta es possibilitam o interc mbio de informa es t cnicas sementes mudas receitas aliment cias ou medicinais com amigos vizinhos parentes extensionistas pesquisadores t cnicos e institui es governamentais o trabalho como fonte de satisfa o e prazer de ter a terra f rtil de frutos a refer ncia hist rica exist ncia do pomar desde a lembran a de inf ncia e o cultivo de esp cies tradicionalmente utilizadas a resist ncia evidente na busca de gerar a auto sufici ncia da propriedade e depender menos dos recursos e mercados externos compreendendo as estrat gias camponesas o lazer e o final de semana com a fam lia e os amigos confortados pelo ambiente agrad vel debaixo das sombras das rvores no ver o a est tica da paisagem que agrada aos olhos daqueles que ali habitam cultivando esp cies de plantas que deixam o quintal mais bonito 5 3 2 1 Rede de troca e experimenta es A rede de troca de conhecimentos formada entre amigos familiares vizinhos outros agricultores e t cnicos na busca por aux lio e constru o de saberes est presente nos quintais Esta rede mostrou se f
198. ntrevistado 196 FUN ES DESCRITORES DE MULTIFUNCIONALIDADE QUINTAIS Q E ENTREVISTADOS E E2 Q2 E3 5 Q4 E6 JE Q5 E8 E9 Q6 ECON MICAS ALIMENTA O COM RCIO SA DE TURISMO WVININ O O m j nN c Olew Oj mn jo c Oj mn jo c Oj mn j o c SOCIAIS AMBIENTAIS REDES DE TROCAS EXPERIMENTA ES E w w N N w N N 55 N REFER NCIA HIST RICA TRABALHO PRAZER REIST NCIA LAZER EST TICA BIODIVERSIDADE INDEPEND NCIA DE INSUMOS AR GUA CONFORTO AMBIENTAL N m 2 C2 CO CO N N m iImPp N IO TmP j hN I UOU 1 020 CO 197 AP NDICE Visualiza o gr fica por quintal das fun es atribu das pelos agricultores ao agroecossistema de acordo com os valores apresentados no Ap ndice G PEQUENO JARDIM BOT NICO ALIMENTA O CONFORTO AMBIENTAL COM RCIO GUA N A DE ARL DA A TURISMO i SM QUINTAL DA ESPERAN A ALIMENTA O CONFORTO AMBIENTAL 3 GUA AR JREDES DETROCAS E INDEPEND NCIA DE INSUMOS E EXPERIMENTA ES BIODIVERSIDADE
199. o Onde ele estiver pode contar que tem bicho para ele Tem comida Se n o n o est ali O quero quero permanente agora o ma arico Olha mas eles devoram tudo Devoram lesma e tudo que for inseto por a Um outro bicho que tem v rios nomes que eu conhe o por choradeira anu branco que chamam de alma de gato aquele excelente Aquele uma limpeza total Quando estiver na ro a uma lagarta que a da borboleta branca e isso aconteceu comigo elas estavam comendo toda a folha mais ou menos em abril assim nesta poca eu tinha br cole e elas deixavam s o talo E ainda at esteve um rapaz da EMATER aqui um agr nomo um t cnico e disse tu vai ter que colocar alguma coisa nisso a Eu disse n o deixa a e daqui a pouco vai dar uma frente fria que eles v o se danar e a frente fria demorou um pouquinho mas veio O an branco aquele alma de gato dentro de oito dias n o ficou nenhuma mais Por que o quero quero n o come bicho parado Quero quero ele pega grilo e essas coisas assim minhoca coisas que estejam em movimento Eu j tive provas com eles v rias vezes Eu pegar o grilo para eles e eles v m bem pertinho de mim bem pr ximos de mim e enquanto o grilo estiver parado ele n o v Ele s v depois que o grilo se mexe Ent o a natureza tamb m Olha esses s o os bichos que a gente v Mais tantos outros que v m E agente tenta preservar por eles tem que criar um ambiente para
200. o a produzida por ele Depois de caminharmos pela horta ele pergunta sobre o que minha pesquisa e se ele serve Explico o objetivo do trabalho e falo sobre a entrevista convidando o a participar Ent o combinamos um pr ximo domingo para meu retorno j que durante a semana ele n o pode parar de trabalhar para conversa fiada express o que utiliza A esposa tamb m concorda em participar apesar de n o manejar o quintal considerando que est aposentada por invalidez e seus problemas de sa de a impedem de realizar servi os mais pesados Saio de l com o cair do sol e levo uma sacola de quiabos e berinjelas colhidas j no final da poca al m de alface e r cula que sobraram da feira do s bado anterior na qual ele comercializa semanalmente seus produtos A Feira Ecol gica Jos Bonif cio ocorre no Bairro Bom Fim da capital e inclu da por Juca 72 como parte do seu quintal e da rede de troca de informa es na qual produtor e o consumidor est o em intera o direta Nas suas palavras Quintal tamb m para mim Digamos assim Tirando daqui e levando l para a feira a minha banca vem a ser um quintal tamb m A minha banca na feira e onde eu recebo as visitas e onde eu apresento os meus produtos Todos os s bados estar o l junto com o consumidor conversando olhando aceitando opini o a reclama o se tiver De ver o pessoal na feira todo mundo acreditar no que
201. o Alegre 2011 1 Agroecologia 2 Agricultura ecol gica 3 Agricultura Biodiversidade 4 Autonomia camponesa Dal Soglio F bio Kessler Il Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Ci ncias Econ micas Programa de P s Gradua o em Desenvolvimento Rural HI T tulo CDU 631 147 MARIANA FRANCISCA ARREGUY MUNIZ PERCEP O DE AGRICULTORES E A AGROBIODIVERSIDADE EM QUINTAIS NO RIO GRANDE DO SUL EXPRESS ES DA LUTA POR AUTONOMIA CAMPONESA Disserta o submetida ao Programa de P s Gradua o em Desenvolvimento Rural da Faculdade de Ci ncias Econ micas da UFRGS como quesito parcial para obten o do t tulo de Mestre em Desenvolvimento Rural Aprovada em Porto Alegre 27 de junho de 2011 Prof Dr F bio Kessler Dal Soglio orientador Programa de P s Gradua o em Desenvolvimento Rural PGDR UFRGS Prof Dr Renata Menasche Departamento de Antropologia e Arqueologia Instituto de Ci ncias Humanas da Universidade Federal de Pelotas UFPel Prof Dr Fl via Char o Marques Programa de P s Gradua o em Desenvolvimento Rural PGDR UFRGS Prof Dr Paulo Brack Departamento de Bot nica Faculdade de Ci ncias Biol gicas UFRGS RESUMO Na trajet ria da industrializa o da agricultura a partir de meados da d cada de 1960 no Brasil os pequenos agricultores v m sendo pressionados para aderirem s novas tecnologias e homogeneizar a pr tica agr cola segundo a necessidade da
202. o Paulo Express o Popular 2006 184 p HAGUETTE T M F Metodologias qualitativas na sociologia 11 ed Petr polis Vozes 2007 KABASHIMA Y et al Revis o de Literatura sistemas agroflorestais em reas urbanas REVSBAU Piracicaba v 4 n 3 p 70 87 2009 KNUPP V Plantas aliment cias n o convencionais da regi o metropolitana de Porto Alegre RS 2007 590 f Tese Doutorado em Fitotecnia Faculdade de Agronomia Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2007 LAKATOS E M MARCONI M A Metodologia cient fica S o Paulo Atlas 2000 LIMA M Autonomia pela integra o entre cultivos e cria es Agriculturas experi ncias em Agroecologia Rio de Janeiro v 6 n 2 p 4 6 2009 178 LONG N Introdu o Sociologia do desenvolvimento rural Rio de Janeiro Zahar 1987 237 p LONG N Sociologia del desarrollo una perspectiva centrada en el actor M xico Colsan Ciesas 2007 p 21 106 LONG N Development sociology actor perspectives London Routledge 2001 298 p LONG N PLOEG J D Heterogeneity actor and structure towards a reconstitution of the concept of structure In BOOTH D Rethinking social development theory research and practice England Longman Scientific amp Technical 1994 p 62 90 LORENZI H et al Frutas brasileiras e ex ticas cultivadas de consumo in natura 98 Paulo Instituto Plantarum de Estudos da Flora 2006 640 p MACHADO A
203. o at para ti se quiser aprender a fazer enxerto fazer muda Mas tem que fazer e assumir E2 O Centro Ecol gico Ip uma Organizac o Governamental ONG fundada em 1985 CENTRO ECOLOGICO IPE 2009 120 No pequeno jardim bot nico a fala do Mateiro ilustra as diferentes redes que se conformam como por exemplo na passagem a seguir Fui levar um rem dio esses dias Tinha um homenzinho baixado no hospital s que ele n o gosta de rem dio de hospital A colhi uns rem dios de ervas e j fui levar para ele l Era o gerv o quebra pedra e a espinheira santa a cancorosa Levei tr s tipos de ervas Foi ele quem pediu Estava baixado l e n o gosta de rem dio Cheguei l estava o filho dele de Porto Alegre ele j pediu para ferver as folhas para ele tomar E1 A curiosidade parte do processo de conhecimento do Mateiro e suas intera es sociais tamb m lhe proporcionam novas experi ncias e saberes O munic pio de S o Miguel recebe muitos turistas e isto contribui com o interc mbio de plantas entre ele e os visitantes Al m dos turistas o Mateiro tem muitos amigos Guarani Estes se relacionam com as plantas e o extrativismo reproduzindo os conhecimentos tradicionais de usos e fins diversos aos vegetais Com estes amigos ele troca muitas informa es e conhece mais da sua pr pria origem No quintal da for a de vontade a intera o da Alemoa com o projeto da UFRGS tamb
204. o cultivo da agrofloresta Vejamos cada quintal No quintal da esperan a temos nos canteiro de horta as esp cies arb reas frut feras Uma borda de mata nativa na cerca da divis o do terreno e mais rvores pr ximo casa Como sua propriedade recebe visitas constantes Juca acha importante cultivar esp cies diferentes para demonstra o como graviola e jaca No entanto sua aten o est voltada para a recupera o das esp cies de ocorr ncia natural no RS Sua compreens o a de reconstituir o que assume ter degradado Relembra a sua hist ria no contexto da poca Naquele tempo os filhos at se decidir a casar a construir uma nova fam lia ficavam com os pais fazendo farinha trabalhando junto Por exemplo em janeiro era a poca que as mandiocas j estavam plantadas Trabalhava a fam lia nas capinas E nas entre safras cortar mato fazer lenha de talho Sabe o que lenha de talho Lenha rachada Hoje tem essas padarias que usam O pessoal cortava o mato faziam lenha rachada e levava para a cidade para vender porque naquela poca n o tinha g s E as casas compravam lenha de talho ou em hacha como se dizia Ali tamb m foi Um grande problema foi o do desmatamento Ali come ou o desmatamento porque tira do mato tira do mato Uns usavam para fazer dinheiro na entre safra E2 Sua experi ncia com o modo convencional e o org nico lhe possibilitou estruturar sua percep o
205. o da terra com produ o de sementes e mudas experimenta es bot nicas interc mbio de informa es produ o e ou reprodu o de variedades de esp cies al m de diversidade de conhecimentos de usos e pr ticas Sendo assim os quintais poderiam contribuir para o desenvolvimento rural possibilitando parte da subsist ncia atrav s de pr ticas que colaborariam para o bem estar do ambiente natural com produ o e consumo de alimentos diversos para complementar as necessidades nutricionais di rias da fam lia A produ o de alimentos assunto de destaque nos dias atuais principalmente quando abordamos o desenvolvimento rural focando os pequenos produtores agr colas de base ecol gica A capacidade da produ o de alimentos em escala global pelas agriculturas alternativas pauta nas discuss es sobre seguran a e soberania alimentar A seguran a alimentar e nutricional deve ser assegurada pelo poder p blico segundo a lei de n mero 11 346 que cria o Sistema Nacional de Seguran a Alimentar e Nutricional SISAN com vistas a garantir o direito humano alimenta o adequada A produ o em escala e distribui o local pode contribuir com a melhoria da situa o de alimento Ou seja os produtos agr colas devem destinar se alimenta o da fam lia ou comunidade rural na qual s o produzidos Nesta l gica n o predomina o capital financeiro e sim a capacidade de prover da terra na qual se vive o alimento do qual se pre
206. o na pesquisa e em cada quintal m TOTAL DE PLANTAS m TOTAL DE PLANTAS ALIMENTICIAS m TOTAL DE RVORES m TOTAL DE ARVORES ALIMENTICIAS m TOTAL DE RVORES NATIVAS 5 E v m E v E mm ra 2 5 ra LA E 5 gt A e R TOTAL DE RVORES ALIMENTICIAS NATIVAS PLANTAS Qi TOTAIS 195 AP NDICE G Quadro de motiva es e inten es numeradas em ordem de ENTREVISTADOS E1 E2 ES E4 E7 E8 E9 QUINTAIS MOTIVA ES Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 TRADICAO 1 2 2 2 1 3 3 3 1 INCENTIVO EXTERNO projetos institucionais 3 3 3 1 1 1 3 universidade outras redes NECESSIDADE DE ALIMENTA O ERE INTEN ES AUTOCONSUMO 2 1 1 1 1 1 4 3 2 VENDA 6 3 3 4 3 3 1 1 5 INDUSTRIALIZA O 5 4 2 FLORESTAMENTO 1 7 6 5 5 7 QUALIDADE DO AR 5 3 SUCESS O DO TRABALHO m 7 gt FERTILIDADE DO SOLO 4 4 8 4 3 SISTEMA DA GUA 7 9 ORNAMENTAL 5 5 3 8 10 2 1 INTERC MBIO cu 6 EXPERI NCIAS BEM ESTAR 3 2 2 2 2 2 6 5 4 men o por entrevistado AP NDICE H Quadro dos descritores de fun es com o valor m nimo e m ximo entre zero e tr s respectivamente disposto por e
207. o nem informados sobre a import ncia da sua m o de obra para os problemas globais Na perspectiva das empresas parece que basta o benef cio dos frutos que o agricultor ir colher e isto deve servir para sua satisfa o Este o ponto de vista que leva tais projetos a encarar os agricultores como benefici rios e n o como atores capazes de ag ncia e com conhecimentos que necessitam ser ampliados na perspectiva da descentraliza o do conhecimento e do poder LONG PLOEG 1994 N o apenas nesta considera o se valem as afirma es aqui expostas Os discursos em compara o com as pr ticas dos agricultores trazem tona tal descaso dos projetos embasados na interven o planejada em disponibilizar e discutir as tecnologias justamente por estarem apoiados na compreens o da transfer ncia de tecnologia LONG PLOEG 1994 Disto resulta que o agricultor n o acessa a forma de constru o do conhecimento e fica alheio aos aspectos que fazem a liga o entre a utiliza o de determinadas tecnologias e os reais benef cios gerados nos n veis local regional e global 5 3 3 4 gua O quintal interfere no manejo da gua Juca tem um canal de escoamento da gua ao longo do quintal para n o encharcar o terreno e uma caixa de gua pr xima da horta que bombeia a gua e depois vaza por gravidade Mateiro intenta aperfei oar a irriga o artificial no seu orquid rio e utiliza a caixa de gua e irriga o por gravidade Alem o
208. o org nico est em forte rela o com a sa de humana j que o consumo do alimento por ela produzido garante a ingest o de um alimento livre de agroqu micos que s o mal ficos sa de no entendimento de Preta A diversidade de esp cies n o mencionada como foco da sua pr tica Quando Preta refere se que tem de tudo E9 na sua horta est mencionando que cultiva o necess rio para o consumo da fam lia e para os seus compradores O interesse nas rvores objetiva o consumo das frutas de prefer ncia da fam lia e n o est relacionado com a contribui o s demais esp cies animais ou vegetais nem recupera o do solo nem recomposi o de rvores extintas ou ausentes na regi o em que habita Ambos os grupos est o interligados pela sa de observando que o uso de agroqu micos e a moderniza o da agricultura impl cita causam danos ao ambiente 105 natural com degrada o dos recursos naturais Tuan 1980 aponta diferen as na percep o de homens e mulheres O sexo uma categoria biol gica que segundo a interpreta o do autor est relacionada amplitude das atitudes humanas TUAN 1980 p 61 pois diferen as fisiol gicas tamb m afetam os modos de responder ao mundo Certamente cada grupo cont m suas especificidades e em cada quintal h uma diferente express o da luta por autonomia A agrobiodiversidade presente em cada unidade de pesquisa tamb m espec fica e faz parte da co
209. oja foi depois tamb m para as cooperativas A depois a minha av ficou doente Quando minha av ficou doente ela disse assim Agora eu vou morar com os meus filhos e os filhos dela venderam as terras da av A depois eu tinha que trabalhar de empregada porque eu n o tinha mais terra n o tinha mais nada Fui trabalhar de empregada com os meus filhos J tinha dois filhos Foi a M e depois eu ganhei o Alem o Voltei e fui morar em um hectare de terra A o Rio Iju pegou as terras morreu as plantas A depois o sindicato dos trabalhadores rurais apareceu Disse assim voc sabem o que que voc s fazem N s estamos come ando a reunir as pessoas sem terra e n s pensamos primeiro depois n s fomos Fomos mesmo Quando n s fomos para o sem terra MST a eu j tinha seis filhos A n s fomos para o acampamento Fomos se acampar junto com o sindicato O sindicato que levou n s n s fomos para Cruz Alta Depois para Bag Era 1982 At que n s chegamos nas nossas terras n s mudamos 14 vezes Esta fam lia est assentada h 20 anos Entre os filhos desta agricultora tr s s o mulheres e tr s s o homens O filho do meio e a filha mais nova ambos casados moram em munic pios distintos Esta ltima cursa o 3 grau em Pedagogia Os quatro outros filhos residem no assentamento sendo que duas moram em resid ncias separadas ao lado da casa da m e Destes todos plantam para o 79 consumo
210. olas que j cultiva aumentando o excedente As frutas nativas n o s o t o apreciadas sendo pouco consumidas e cultivadas Plantas ex ticas se destacam no quintal e est o integradas dieta familiar Plantas espont neas mant m a cobertura do solo e algumas forrageiras s o cultivadas para fortalecer a terra O esterco produzido na propriedade mas n o feita a compostagem com palha e esterco misturados apesar da utiliza o das folhas secas como cobertura As mudas vegetais s o adquiridas externamente e poucas rvores foram cultivadas a partir da semente pois ela considera que demoram mais para crescer e produzir frutos A maior parte adquirida pela compra de produ o por enxertia Todas as rvores s o frut feras de consumo humano exce o de tr s esp cies sendo uma conhecida como medicinal Percebemos que a sele o das esp cies bot nicas que compor o o quintal est diretamente associada s percep es sobre o lugar externalizadas na prefer ncia por determinadas plantas e relacionadas aos aspectos hist ricos e 158 culturais presentes na fam lia ou comunidade em uma rea Formas de manejo tamb m est o relacionadas com os aspectos anteriores Isto nos sugere que os quintais s o locais de express o e manuten o da diversidade s cio cultural e biol gica S o portanto espa os cultivados e constitu dos enquanto lugar de constru o e afirma o da identidade com os quais existe liga o afe
211. om o ambiente natural e estes saberes e pr ticas est o associadas aos processos de intera o empirismo e transmiss o de saberes atrav s das gera es 28 Esta no o um ponto chave para a compreens o da condi o camponesa descrita sendo o rural concebido como local da coprodu o e a ruralidade entendida como resultado deste processo na qual a artesanalidade est no eixo desta rela o do homem com a natureza viva PLOEG 1997 Em outras palavras A intera o com a natureza viva tamb m d forma ao social nas seguintes formas a natureza artesanal do processo de produ o a centralidade da artesanalidade e a predomin ncia de unidades familiares est o intimamente relacionadas com a coprodu o e com a coevolu o do homem com a natureza viva PLOEG 2008 p 41 Em contraposi o A industrialza o da agricultura um processo que tem em vista especialmente os modos empresarial e capitalista de produ o agr cola A industrializa o da agricultura implica uma desconex o frequentemente extrema da agricultura com a natureza e com as localidades fatores naturais t m sido progressivamente substitu dos por fatores artificiais que se expressam na forma de insumos externos e equipamentos tecnol gicos PLOEG 2009 p 23 Os pequenos agricultores camponeses que n o aderem ao modelo empresarial necessitam exercer uma resist ncia di ria diante da l gica capitalista que busca orientar e
212. omo estrat gia manter a unidade de produ o geralmente gerida pela m o de obra familiar com caracter stica multifuncional produ o para o mercado mas tamb m para manter a unidade agr cola e a fam lia observando o uso sustent vel dos recursos naturais O segundo tipo tem sua produ o baseada na forte mecaniza o na especializa o e na depend ncia do mercado principalmente o de insumos Quanto produ o capitalista ou corporativa de grande escala PLOEG 2008 p 18 caracteriza se pela forma o de uma rede de empresas agr colas que utilizam quase que essencialmente a m o de obra assalariada focando na maximiza o do lucro e conduzindo os mercados agr colas e alimentares de acordo aos interesses do modelo agroexportador Estes tipos de arranjos se interpenetram e geram transforma es PLOEG 2008 26 A condi o camponesa e o modo campon s de fazer agricultura s o dois conceitos inter relacionados definidos por Ploeg 2008 j que o segundo est enraizado no primeiro e prov m deste S o conceitos centrais para a compreens o e an lise da conjuntura hist rica atual da agricultura A condi o camponesa est contextualizada atualmente em rela o agricultura empresarial e produ o capitalista Esta ltima busca ditar as regras da forma mais correta de realizar a agricultura segundo a l gica da acumula o do lucro A condi o camponesa considerando a sua condi o de agente
213. omo o projeto Quintais Org nicos contribuem com a subsist ncia Entretanto poderiam capacitar e investir na produ o de mudas pelos pr prios agricultores de acordo aos interesses e conhecimentos locais associados com as novas tecnologias pesquisadas pela EMBRAPA Para isso deve se refletir sobre uma transi o agroecol gica na EMBRAPA EMBRAPA 2006 nos seus mais amplos sentidos iniciando talvez por uma transi o interna na empresa Mudan as epistemol gicas e metodol gicas internas poderiam ser importantes para que os seus pesquisadores e t cnicos incorporassem os atores sociais como parte fundamental nos processos de idealiza o elabora o e implanta o de projetos em desenvolvimento rural sustent vel Estas exposi es n o integram a pesquisa mas merecem o coment rio em vias de considera es que n o foram abordadas e poderiam complementar outros estudos al m do pr prio projeto Quintais Org nicos 168 importante para os produtores que suas rvores frut feras iniciem a produ o ap s curto per odo de plantio como o fato de ara frutificar ap s oito meses de plantio por ser uma planta selecionada igualmente importante fortalecer o ambiente com esp cies de ocorr ncia natural no local onde est o sendo implantadas com variedades adaptadas regi o se poss vel para minimizar as vulnerabilidades dos agricultores com rela o s pragas e doen as que atacam variedades espec fi
214. onomia Para Funes Manzote et al as v rias formas e escalas de diversidade encontradas na agricultura familiar desempenham importante papel no sustento das comunidades rurais em diversas partes do mundo Esses sistemas diversificados garantem um uso mais eficiente dos recursos locais e diminuem a depend ncia de insumos externos ao mesmo tempo em que conservam os recursos biol gicos e reduzem os riscos econ micos e ambientais A agrobiodiversidade tamb m desempenha importante papel na preserva o 161 do saber local e do empoderamento dos agricultores uma vez que sistemas agr colas diversificados s o intensivos em conhecimento e exigem tomadas de decis o complexas din micas e adaptativas FUNES MANZOTE et al 2009 p 18 A agrobiodiversidade e a autonomia est o em rela o interdependente neste estudo A pesquisa revela que a autonomia expressa de forma consciente e inconsciente nas pr ticas e discursos dos agricultores e que os quintais com maior agrobiodiversidade sendo estes em ordem decrescente representados pelo pequeno jardim bot nico o quintal da esperan a o quintal da for a de vontade o quintal agrofloresta o quintal de produ o e o quintal do produtor org nico expressam a autonomia tamb m em um menor n mero de descritores com nfases decrescentes respectivamente A maior agrobiodiversidade parece estar relacionada ao empoderamento do agricultor pelo conhecimento
215. ont neas e consumidas pela fam lia e plantas cultivadas por seu potencial nutritivo que n o est o nos mercados convencionais A alimenta o aliada ao com rcio do excedente da horta e pomar propiciam uma agrobiodiversidade espec fica As pr ticas e percep es influem nas plantas escolhidas para cultivo n o apenas os mercados reguladores Desta forma os agricultores trabalham na terra em conson ncia com suas prefer ncias h bitos e curiosidades sobre plantas aliment cias mantendo a diversidade sociocultural que inclui as variedades agr colas as pr ticas saberes e inova es desenvolvidas pelos agricultores SANTILLI 2009 Assim sendo necess rio que a biodiversidade agr cola seja conservada nos agroecossistemas nas unidades de produ o agr colas pelos pr prios agricultores conforme lembra a autora O descritor com rcio considerado no contexto da discuss o sobre o mercado e suas implica es para o com rcio dos produtos agr colas e demonstra que os agricultores v m aderindo s estrat gias que se distanciam dos mercados globais de forma mais ou menos consciente Esta dist ncia revela a aproxima o com mercados diretos e locais ou regionais relacionado ao modo campon s de fazer agricultura elucidado por Ploeg 2008 2009 demonstrando a estrat gia camponesa de luta por autonomia 5 3 1 3 Sa de A rela o do alimento produzido sem veneno e a sa de s o constantemente mencionadas
216. ora Mestranda Nome do Participante 178 AP NDICE B Quadro das unidades de pesquisa informa es pessoais dos entrevistados e realiza o das entrevistas no ano de 2010 q Munic pio e data s da s e reado unic pio e data s da s Quintal Entrevistado Local e Idade Tempo reu oe entrevista s no ano de da casa nascimento RS moradia na rea instru o 2010 1 Pequeno jardim S o Miguel das N o S o Miguel das Miss es bot nico Matsio 1 4 Miss es Ed voee Informado 31 de julho e 1 de agosto 400019 2Qunada Jwa2 5 Viam o 67 26anos 5 esperan a E ERE Porto Alegre 11 de abril e B00 Donal E3 5 Viam o 59 26 anos 4 s rie EF 18 dejulho 3 Quintalda forcade N o Gua ba 09 28 e 29 de Alemoa E4 4 Santo Angelo 56 19 anos Informado setembro 4918 4 Quintal z A ET Gua ba O9 de setembro e a y ew Alemao E5 4 Santo ngelo 37 19 anos 5 s rie EF Ade novembro Eldorado do Sul 29 de Dora E6 6 Santiago 58 9anos EF Completo marco 15 de abril O3 de 5 Quintal de novembro producao E Eldorado do Sul 29 de 318 6 S o Borja 41 1ano EF Completo marco e 16 de abril E c m Eldorado do Sul 29 de D E8 6 S o Borja 63 9 anos 2 s rie EF mar o e 16 de abri 6 Quintal do produtor Preta E9 4 Miragua 30 14 anos de org nico 1h O primeiro dia refere se ao convite para participa o na pesquisa
217. orque a gente sabe que essas do supermercado tudo s o carregadas E8 Preta verbaliza sua compreens o sobre o quintal e expressa a resist ncia quanto ao modelo de agricultura capitalista e dependente de agroqu micos deteriorando o organismo humano 133 em toda a propriedade n s n o passamos adubo qu mico veneno em nada D para ti ver a minha horta ali onde eu n o ven o puro mato Tem gente que passa secante passa um monte de coisa n s n o passamos nada E s esterco e enxada E9 Os discursos s o mais sutis do que as pr ticas que expressam e materializam a resist ncia De fato os agricultores demonstram a busca pela resolu o localmente de problemas globais tais como a seguran a nutricional e soberania alimentar perda de biodiversidade exclus o e marginaliza o social de pequenos agricultores entre outros de acordo com a defini o e o contexto do global apresentado Disso resulta a heterogeneidade das respostas que s o ativamente constru das e confrontam os modos de ordenamento dominantes na sociedade moderna atual PLOEG 2009 5 3 2 5 Lazer O lazer tamb m propicia a integra o familiar e conviv ncia social com amigos Os quintais s o lugares nos quais se pratica o lazer diferindo para cada unidade O quintal explorado como espa o de lazer mais pela fam lia amigos e demais visitantes do que para o pr prio agricultor Juca A sombra das rvores aproveitada dura
218. orta ela comenta que paga contas de luz e compra outros alimentos que n o produz Preta a principal respons vel pela manuten o da horta e comercializa o dos produtos O pomar tamb m cuidado por ela mas o manejo da poda feito pelo marido A escolha das esp cies cultivadas se d pela prefer ncia de consumo da fam lia As c tricas s o altamente consumidas in natura segundo o relato Laranja n s comemos tudo Compota do p ssego n s j fizemos Ameixa n s comemos tudo Jambol o fizemos gel ia Do lim o faz suco Mas das laranjas e bergamotas n s comemos tudo Tu viu a quantidade de p que tem N s comemos tudo N s comemos todos os dias Almo amos e chupamos bergamota jantamos e chupamos bergamota chupamos laranja E durante o dia A gente vai tirar leite levam um monte de bergamota e laranja A n o tem que chega Podia ter mais Aqui s o quatro pessoas que moram Eles criam galinhas porcos e vacas na propriedade Esta fam lia comercializa seus produtos fazendo entrega nas resid ncias e pequenos mercados da cidade de Gua ba e possui o certificado de produtor org nico segundo as 97 normas da conformidade org nica BRASIL 2007 com o qual comercializam o arroz org nico que cultivam para a cooperativa de beneficiamento Preta tamb m participou do projeto da UFRGS neste assentamento citado no cap tulo 1 Ela integrou o grupo da farmacinha na rea alta do assentamento
219. os demais sobre as plantas que antigamente eram mais frequentes nas matas do entorno Estas s o as plantas nativas E1 do quintal de Mateiro Eu tenho a caleandra rosa e a vermelha A vermelha a nossa nativa Essa rosa vem a d cima eu n o sei da onde ela vem A rosa n o da nossa regi o Pode ser do Estado mas n o ocorre aqui na nossa regi o ela n o ocorre E1 rvores ex ticas tamb m s o apreciadas pelos seus frutos e beleza ornamental tanto quanto as nativas Os conhecimentos de inf ncia s o perpetuados na presen a das rvores que sombreiam o quintal Plantas trazidas do antigo lugar de moradia seguem embelezando e proporcionando frutos no lugar atual Os saberes tradicionais e as intera es tnicas entre ga chos imigrantes italianos e ind genas s o comunicados 154 durante a entrevista principalmente no percurso transcorrido no quintal O manejo menos nocivo ao ambiente e que n o mata E1 mas apenas espanta E1 os insetos a pr tica que o orienta adquirida de uma percep o do lugar no qual se encontra e na intera o com os ind genas que a seu ver tem uma rela o de respeito para com a natureza que o homem branco E1 perdeu Esta forte refer ncia aos ndios e a sua identifica o com este grupo tnico na sua heran a geneal gica conforme narra o conduz a aproximar se tamb m das suas pr ticas e investigar mais sobre as tradi es mitos lendas e rituai
220. ou extrativismo e tamb m o conhecimento adquirido e praticado pelo homem naquele ambiente contribuindo para a transforma o do ecossistema natural No agroecossistema est presente a hist ria o saber e o fazer adquirido ao longo da trajet ria do agricultor e na rela o com aquele determinado ambiente natural no qual est inserido Neste sentido os agroecossistemas est o pr ximos dos aspectos da coprodu o trazidos por Ploeg 2008 A rela o do homem com a natureza viva corre em um determinado espa o uma rea f sica que se conforma na express o dos saberes tradicionais adquiridos e na reconstru o destes saberes pela troca e intera o de experi ncias e informa es Para Oliveira et al 2006 por exemplo sob outro ponto de vista a diversidade gen tica manejada por popula es tradicionais e agricultores familiares fruto de um longo e variado processo de sele o adaptado realidade local Com as pr ticas e saberes associados foi poss vel a cont nua adapta o do patrim nio biol gico nas modifica es dos contextos ecol gicos e socioecon micos locais e nacionais tornando se elementos decisivos para a autonomia e a seguran a alimentar das comunidades tradicionais e dos pequenos agricultores A diversidade biol gica um aspecto comum agricultura em geral Retomando Ploeg 2008 no modelo de agricultura empresarial ou na produ o capitalista em termos biol gicos as monoculturas intensiva
221. oximadamente 11 m de frente segundo ela Ao fundo tem um galp o e uma garagem A propriedade ainda 95 segue com a lavoura de arroz org nico e outras plantas minha direita est o algumas rvores que fazem sombra como a jaboticabeira e a maior delas o jambol o esquerda vejo a horta com aproximadamente 10 m de largura por 30 m de comprimento de rea cercada FIGURA 26 O not vel a quantidade de bergamoteiras e laranjeiras com em m dia 2 m de altura formando uma linha ao longo do limite esquerdo do terreno ultrapassando os 30 m de comprimento da horta e seguindo ao lado da casa por mais 30 m Da janela lateral pode se colher frutas Figura 26 horta cercada e casa mais nova ao fundo Gua ba em setembro de 2010 Fonte Fotografado pela autora Preta ir falar na entrevista que morou em Gua ba a partir dos seus 13 anos junto com a madrinha tendo como ocupa o cuidar da filha desta mulher Depois de algumas idas e vindas entre Porto Alegre e Gua ba trabalhando e estudando conheceu seu marido em Gua ba que j era assentado nesta rea Estudou at o 1 ano do Ensino M dio quando engravidou e casou indo morar no assentamento Falo sobre a pesquisa e a convido Ela concorda em participar e me mostra algumas plantas do seu quintal explicando que n o plantou todas as mudas recebidas concentradas num mesmo local e apenas algumas foram plantadas ao redor da casa Combino minha volta e nos de
222. padas segundo as categorias tem ticas Bardin 2002 refere dois processos de categoriza o sendo que em um o sistema de categorias existe previamente e no qual as unidades de registro se distribuem medida que s o encontradas e outro no qual o sistema de categorias n o est pr estabelecido mas resulta da classifica o anal gica e progressiva dos elementos Para a an lise utilizamos um procedimento que combina os dois processos visto que algumas categorias podiam ser determinadas a partir do agrupamento das pr prias quest es do roteiro da entrevista com a consequente classifica o das unidades de registro correspondentes a cada uma e outras foram surgindo da semelhan a ou dessemelhan a de temas resultantes das unidades de registro recortadas Bardin 2002 refere como ltima etapa da t cnica de an lise de conte do o tratamento dos resultados obtidos e a interpreta o quando os resultados brutos 50 tornam se significativos e v lidos e passam a ser confrontados e embasados no referencial te rico proposto e a ser objeto de infer ncias e interpreta es que venham a fundamentar os objetivos da pesquisa Para compreender o que o estava falando o material das entrevistas nos apoiamos no referencial te rico Retomando Minayo 1998 a entrevista semi estrutrada importante quando se trata de apreender sistema de valores de normas de representa es de determinado grupo social ou quando se trata de compree
223. parado de aduba o l quida o biojuca E2 Plantas repelentes s o cultivadas nos canteiros das hortali as com fun o inseticida O solo mantido coberto por plantas espont neas quando n o cultivado e na borda dos canteiros como forma de controle dos insetos atrav s da maior oferta de esp cies para estes animais se alimentarem segundo o entendimento de Juca Estas pr ticas contribuem para a menor depend ncia do mercado externo de insumos neste caso O quintal da for a de vontade manejado com uma pr tica mais dependente dos insumos externos Alemoa faz a cobertura do solo da horta com lona pl stica Na rea do pomar a cobertura do solo feita por gram neas espont neas Tamb m compra algum esterco animal como explicitado na fala abaixo Adubo de vaca dos porcos vai tudo para horta e a n s temos adubo de galinha mas n s compramos mais por cima ainda Porque n o tem que chegue E4 Um dos fungicidas que ela prepara h a adi o de produtos dom sticos como leo de cozinha querosene sab o em p e cloro O leo disel e um veneno granulado E4 tamb m s o utilizados para combater formigas Alem o estende a fun o do quintal para quest o ambiental principalmente na pr tica de manejo do solo diminuindo inclusive o uso de esterco atrav s da fixa o de nitrog nio com as esp cies cultivadas Ele possui uma diversidade de plantas em cons rcio priorizando a fixa o de ni
224. perienciar no sentido ativo necess rio aventurar se no desconhecido e experimentar o ilus rio e o incerto Em outros termos para a POA o ator processa as informa es que recebe e gera mudan as atrav s das intera es sociais Focando na compreens o do espa o o ator quem experiencia e constr i o lugar Tuan 1983 inclui a dimens o emocional ao considerar que para enfrentar os perigos do novo o ser humano ser compelido pela paix o compreendendo que a paix o um s mbolo de for a mental Esta express o tamb m est pr xima Merleau Ponty pois ambos n o dissociam o racional do sentimental N o nos aprofundaremos na discuss o filos fica sobre o idealismo o materialismo e outras interpreta es da filosofia por n o ser o foco deste estudo apenas demonstramos a 42 aproxima o do empirismo com o sentimento para conforma o da percep o do lugar Como Tuan 1983 afirma A experi ncia humana constitu da de sentimento e pensamento O sentimento humano n o uma sucess o de sensa es distintas mais precisamente a mem ria e a intui o s o capazes de produzir impactos sensoriais no cambiante fluxo da experi ncia de modo que poder amos falar de uma vida do pensamento e uma vida do sentimento E uma tend ncia comum referir se ao sentimento e pensamento como opostos um registrando estados subjetivos o outro reportando se realidade objetiva De fato est o pr x
225. pertinente para a obten o das informa es Para Cortes 1998 a entrevista semi estruturada baseia se num roteiro de quest es com respostas abertas e o entrevistado discorre livremente sobre o tema ou pergunta proposta Para o prop sito desta pesquisa este um instrumento fundamental para atingir os objetivos j explicitados As perguntas realizadas informalmente e com respostas abertas propiciaram est mulo fala do pesquisado sobre as suas percep es e motiva es emergindo os aspectos mais ntimos Para Minayo 1998 a entrevista semi estruturada parte da elabora o de um roteiro que visa a apreender o ponto de vista dos atores sociais orientando facilitando a abertura a amplia o e o aprofundamento da comunica o segundo os objetivos previstos Sendo a percep o complexa heterog nea subjetiva e inconsciente por vezes a entrevista semi estruturada torna se adequada para aprofundar o n vel das informa es ou opini es conforme Minayo 1998 Apresentamos o instrumento de coleta de dados ou seja o roteiro da entrevista realizada AP NDICE C Para o acerto final dos pontos que constariam na entrevista foi feito um estudo piloto com o Mateiro Este primeiro momento possibilitou a inclus o de t picos importantes e a reelabora o de quest es para o melhor entendimento do entrevistado e para atingir aos objetivos da pesquisa As entrevistas foram captadas por meio de gravador digital e transcritas integralmente
226. plantas medicinais tamb m resgatado no grupo de mulheres para o qual ela cedeu uma rea do seu lote onde constru ram a farm cia caseira comunit ria Ela n o faz men o a isto em nossa entrevista mas Preta conta em conversa informal que n o houve a forma o de um grupo semelhante na rea alta do assentamento pela falta de terreno onde pudessem construir um pr dio espec fico para a farm cia 116 caseira comunit ria Nesta conversa ela revela a informa o que Alemoa teria emprestado o terreno para que erguessem o pr dio da farmacinha que hoje l est Esta pesquisa n o objetiva validar o uso das plantas medicinais nem identificar botanicamente as esp cies utilizadas A import ncia est na sua contribui o para a sa de humana no entendimento dos entrevistados Por outro lado o cultivo de plantas medicinais nos quintais est associado n o s sa de mas tamb m agrobiodiversidade Corrobora com esta observa o o trabalho de outros autores como evidenciado no trecho abaixo Os saberes associados ao cultivo e uso destas plantas e a fabrica o de rem dios caseiros mantido e transmitido nestes espa os produtivos entre gera es conservando a biodiversidade local e o conhecimento tradicional a elas associado FERREIRA SABLAYROLLES 2009 p 3162 Outro aspecto relacionado s plantas medicinais foi observado por Marques 2009 apontando que os seus usos est o rel
227. plantas n o foram contabilizadas nem em variedade ou quantidade al m dos diferentes p ssegos ameixas bergamotas laranjas e bananas que povoam aquela rea Todas as esp cies indicadas foram relacionadas a um uso aliment cio medicinal artesanal religioso e ser o apresentadas na se o 5 4 2 Do antigo plantio convencional ao atual s tio agroecol gico o quintal da esperan a domingo de sol Vou para o centro da cidade de Porto Alegre pegar o nibus que vai para o bairro Lami para realizar a entrevista com Juca E2 Na fila tem um homem indignado com a demora Eu j havia visto os hor rios do nibus j que aos finais de semana s o reduzidos principalmente fora da temporada de ver o Ap s mais de uma hora no nibus chego Estrada do Espig o Caminho quase um quil metro de estrada de ch o e chego ao local Cem metros ap s a entrada da casa na beira da estrada em frente casa de um dos irm os h uma figueira antiga que faz sombra em toda a rua FIGURA 9 J ouvi este irm o contar que defendeu junto com Juca a perman ncia da rvore que foi cuidada e mantida pela fam lia e seria derrubada durante a amplia o da estrada Figura 9 Figueira ao lado esquerdo da estrada Porto Alegre em mar o de 2011 Fonte Fotografado pela autora 68 Batendo palmas em frente ao port o FIGURA 10 os cachorros latem Tem um churrasco acontecendo no p tio da casa O agricultor propriet
228. pon s conceber controlar construir e re construir o processo de trabalho e os muitos recursos ciclos tarefas e rela es que este implica PLOEG 2008 p 43 Esta base de recursos permite a coprodu o e a intera o com o mercado resultando em sobreviv ncia e perspectivas futuras A base de recursos fortalecida e realimentada pela rela o de coprodu o em constante aperfei oamento de import ncia estrat gica na luta por autonomia e consequente menor depend ncia do mercado de produtos e insumos Atividades n o agr colas podem ser incorporadas considerando a pluriatividade como meio de auxiliar a busca de autonomia assim como os padr es de coopera o que se conformam visando fortalecer as interconex es do modo de produ o campon s A no o de coprodu o traz a rela o do ator com o ambiente natural e cultivado com a incessante configura o e reconfigura o dos recursos sociais e dos recursos naturais Ploeg 2008 compreende que atrav s da coprodu o a natureza utilizada reproduzida e transformada em uma variedade de express es muitas vezes contrastantes O autor exp e que o rural o lugar onde ocorre o encontro a intera o e a transforma o m tua do homem e da natureza viva onde est localizado Prop e ainda que este encontro ocorre atrav s de uma gama de pr ticas diferentes que s o espa o temporalmente limitadas Ou seja muitos conhecimentos est o integrados s viv ncias c
229. posta de sustentabilidade no mbito econ mico ambiental social e ou cultural presente nos projetos e nas pol ticas p blicas pode objetivar a autonomia dos atores locais na meta de que eles pr prios busquem ou criem os meios para melhorar sua qualidade de vida e desta forma efetivar no mundo rural uma vis o integrada dos processos naturais e sociais promovendo o desenvolvimento rural sustent vel Tendo em conta que o ator com capacidade de ag ncia processa a informa o e as utiliza nas diferentes arenas faz se mister trabalhar com a heterogeneidade de a es aspira o habilidades entre outras Atenta se que anterior a o t m a percep o e isto representado nas atitudes e interesses de cada indiv duo preciso trazer tona tais percep es para compreender as motiva es dos atores e ent o propor a es que partam do interesse dos mesmos As pol ticas p blicas elaboradas com este enfoque ser o mais ricas em diversidade pois trar o os aspectos culturais ambientais e sociais heterog neos para a elabora o e planejamento das interven es Consideramos ainda que buscar as percep es motiva es e interesses dos atores com os quais se pretende desenvolver projetos de desenvolvimento rural podem vir a garantir o sucesso na continuidade das a es mesmo quando os interventores n o estejam presentes seja por meio de financiamento econ mico direto ou pela atua o t cnica Interven es externas c
230. produ o capitalista A produ o em larga escala tem deposto sobre sua insustentabilidade ambiental social econ mica expondo a popula o rural a situa es de vulnerabilidade que colocam em risco a soberania alimentar e a pr pria biodiversidade agr cola uma vez que nos alimentamos de um n mero cada vez mais reduzido de esp cies Assim o pequeno agricultor com o seu modo campon s de fazer agricultura resiste no espa o de produ o buscando a sua crescente autonomia e do seu espa o s cio produtivo retroalimentando a base de recursos sociais e naturais fundamentado no referencial desta pesquisa O conhecimento que o agricultor adquire na intera o com o ambiente no qual est o faz detentor de pr ticas espec ficas de acordo com o seu contexto por m com estrat gias comuns para a luta por autonomia Nesta perspectiva os quintais como o espa o ao redor da casa com uma rea n o muito superior a um hectare e manejados com t cnica simples s o agroecossistemas que incluem esp cies aliment cias entre rvores arbustos e produtos da horta com cria o de animais Este lugar manejado com pouca ou nenhuma utiliza o de agroqu micos contribui com a seguran a alimentar e nutricional das fam lias e com a manuten o dos modos e meios de vida al m de incrementar a biodiversidade Os saberes e pr ticas dos agricultores resultam na agrobiodiversidade que retroalimenta o agroecossitema do quintal no qual expressam a luta con
231. pulneus PERNADEMOGA Schott amp Endl R Br 9 P SSEGOS Prunus spp F F F F PITANGA Eugenia sp F PITANGAS Eugenia uniflora L F ME F F F F F Lonchocarpus cf RABO DE BUGIU muehlbergianus Hassl o RAMI Boehmeria nivea L AR Gaud X F F ROMAS Punica granatum L ME F F F ME Sambucus australis Cham amp Schltdl PME SENA Senna spp ME Campomanesia SETE CAPOTES guazumifolia F F Cambess O Berg Caesalpinia SIBIPIRUNA peltophoroides Benth TAMARINDO Tamarindus indica L F f Enterolobium TIMBAUVA contortisiliquum Vell O Morong TIPUANAS Tipuana tipu Benth S 187 UMB Phytolaica dioica L Oo UVAIA Eugenia pyriformis F F Cambess UVAS DO JAP O Hovenia dulcis Thunb MEL PLANTAS SEM NOMENCLATURA CIENT FICA E OCORR NCIA NATURAL ABACAXI F AB BORA AL AL ABOBRINHA AL E O AG VEAS PERU AR AGUAP S AIPIM AL AL AL AIPO AL AL CO ALECRIM 55 ALFACE AL AL AL AL AL ALFAZEMA ME p O ALGODAO AR ALHO RB AL F ALHO POR AL lt E S ALMEIR O DO MATO ESP AL 2 AMORA BRANCA tc AMORA SILVESTRE X FRAMBOESA EUN Ea o q ANIS ME 9 ARNICA ME m ME ME 5 ARRUDA CR CR CIDREIRA DE FOLHA i ARVOREZINHA DE CIDR MES u ESP ATROVERAN
232. qu micos tecnol gicos ou org nicos Y Presen a de mato nativo Y Presen a de manancial h drico Y Atividades que est o sendo realizadas no quintal no momento da visita Y Diversidade de plantas cultivadas Y Presen a de plantas espont neas Y Manejo da horta e pomar Y No interior da resid ncia observar elementos vegetais ou animais do quintal processados ou n o Y Benfeitorias no terreno Y Destino do lixo produzido 182 183 AP NDICE E Quadro de agrobiodiversidade dividido em tr s grupos arb reas arbustivas e herb ceas e palmeiras apresentando a lista de plantas citadas e seus usos respectivos com nomenclatura cient fica das rvores identificadas em campo e determina o de sua ocorr ncia natural quando no RS de acordo com a bibliografia consultada Legenda de usos para as plantas AL Aliment cia para humanos AL AN Aliment cia Animal AL AN Aliment cia tanto para humanos quanto para animais AR Artesanato CO Condimentar CR cren a CV Cerca Viva ESP Espont nea F Frut fera para consumo humano Invasora indesejada MA Madeireira ME Medicinal MEL Mel fera O Ornamental QV Quebra vento RB Regula o Bi tica S Sa de do solo T T xica os n meros e as letras entre par nteses indicam respectivamente os diferentes tipos quando utilizada e mesma denomina o ou as variedades identificadas pela letra inicial em uma mesma esp
233. quase morrendo Ent o eu lembro eu era crian a mas eu lembro tinha uma mesa na sala e tinha um s espremendo o suco de laranja e fazendo ela tomar Por que a laranja tem uma grande concentra o de vitaminas fortalece o organismo E6 Preta saiu e retornou para a atividade agr cola assim como Dora Mas Preta tamb m teve a inf ncia como agricultora trabalhando na lavoura para os granjeiros E9 O terreno da sua casa na inf ncia era pequeno mas sua m e cultivava alimentos para o consumo da fam lia O pomar no passado de Preta est impl cito na fala apesar de n o ser expresso nestes termos A pr tica do cultivo da terra e o prazer deste trabalho foram adquiridos na inf ncia segundo ela com os av s remetendo se origem ancestral Minha m e mora a 12 km da casa da minha av Minha av ainda viva N s amos para l adorava dormir na minha av para chupar laranja L na minha av tem tudo que tipo de fruta Mas ela j dizia para n s tirar s as frutas que f ssemos comer pra n o estragar Ent o a gente aprendeu desde que era pequeno a n o tira nada para estragar S tira o que vai comer Isso veio da minha av do meu v Minha av era negro com ndio E9 As experi ncias ntimas s o dif ceis de expressar TUAN 1983 p 152 mas est o presentes nas percep es e influem nas pr ticas de constru o do lugar do quintal De certa forma as rvores cultivada no quintal po
234. queno fragmento de rvores Os eucaliptos rodeiam a paisagem mas ali a diversidade vis vel e proporciona parte da subsist ncia daquelas fam lias Figura 21 Entrada do lote da fam lia direita h uma caixa de cria o de abelhas Apis sp As rvores maiores s o a goiabeira e o anjico vermelho semeados pela fam lia Eldorado do Sul em 03 de novembro de 2010 Fonte Fotografado pela autora 89 Diante da resid ncia que procurava FIGURA 21 bato palmas e chamo pelo agricultor e a agricultora que me haviam indicado como respons veis pelo cuidado do pomar do projeto Quintais Org nicos Para a minha surpresa aquelas rvores na volta da casa n o eram do dito projeto Algumas plantas haviam sido recebidas de distintas iniciativas governamentais mas outras eram resultantes da produ o de mudas da pr pria fam lia provindas da sua regi o de nascimento S o Borja RS Neste lote h duas casas de material nas quais em uma delas moram h 9 anos Dora E6 e seu esposo E8 com 58 e 63 anos respectivamente com o casal de netos com 7 e 8 anos cuja m e filha de Dora falecida A outra casa vem sendo ocupada desde dezembro de 2009 pelo filho de 41 anos E7 Este residia em S o Borja no per odo anterior mudan a de 2009 e auxiliava na colheita das sementes assim como produzia as mudas das rvores solicitadas pelos pais algumas das quais comp em a vegeta o do quintal da casa O casal tem suas ra ze
235. quisas que venham a utilizar m todos e t cnicas semelhantes A exposi o das dificuldades encontradas visa demonstrar que a pesquisa de campo nem sempre corre como o esperado e que diversas s o as situa es n o pensadas pelo pesquisador A capacidade criativa e adaptativa fundamental para dar continuidade aos processos investigativos com respeito aos entrevistados Informa o proferida por Juca agricultor entrevistado em conversa informal Porto Alegre em abr de 2010 55 56 4 AS FAM LIAS OS QUINTAIS AS DIVERSIDADES As seis fam lias convidadas a compor esta pesquisa disponibilizaram seis quintais nos quais se desenvolveu este estudo Os nomes atribu dos s o fict cios para preservar a identidade dos entrevistados A descri o obedecer a uma forma narrativa semelhante aquela utilizada no di rio de campo complementada pelas falas dos entrevistados Alguns elementos influentes na an lise dos dados obtidos j ser o elucidados contribuindo para a ilustra o dos locais e das fam lias Descrevem se as fam lias e os quintais da forma como foram conhecidos transcorrendo uma sequ ncia temporal em cada local A ordem de 4 1 a 4 6 n o segue a mesma cronologia das visitas mas est de acordo com os resultados obtidos A narrativa esfor a se para redesenhar o quintal auxiliando com a descri o textual a montagem do cen rio mental As informa es do di rio de campo foram resgatadas durante esta narrati
236. r objeto de pesquisas subsequentes Outro aspecto comum e n o definido priori que os quintais integrantes desta pesquisa est o em reas pr ximas aos centros urbanos aproximando o rural as cidades Apesar de n o estarem localizados em fragmentos de mata nativa e sim 99 em reas de especula o imobili ria com poucos remanescentes de vegeta o local todos os quintais apresentam plantas entre rvores arbustos e palmeiras de ocorr ncia natural do RS A caracteriza o dos quintais pelos entrevistados enquanto rea f sica corrobora o que est na defini o pr via desta disserta o A rea de cada quintal variou entre menos de um hectare 8 000 m a um hectare e meio e s o caracterizados como o espa o ao redor da casa no qual est o as frutas e a horta De fato o cultivo de rvores frut feras os pomares ou arvoredos como mencionado pelos entrevistados s o tradicionais Acerca da tradicionalidade Amorozo 2002 indica Quando se fala em sistemas agr colas tradicionais normalmente se est aludindo a sistemas de produ o voltados principalmente para a subsist ncia do grupo de produtores com utiliza o de insumos locais e tecnologia simples AMOROZO 2002 p 1 Tais caracter sticas est o presentes no agroecossistema de quintal Um aspecto salientado por todos os agricultores foi sobre os problemas de doen as nas plantas c tricas em especial as laranjeiras que est o presentes em todos o
237. r qu Quais as plantas que s o cultivadas e por qu De onde surge o conhecimento das plantas Qual a origem dos conhecimentos Onde busca as informa es sobre plantio e manejo Quais as pessoas que utilizam o seu quintal Tem algum grau de parentesco Quais as plantas do seu quintal que s o utilizadas para culin ria aliment cias e condimentares e de que forma Tem receitas Voc as utiliza Quais as plantas do seu quintal que s o utilizadas como ch ou rem dio De que forma Tem receitas pomadas ch tintura medicina natural Voc as utiliza Quais as plantas do seu quintal s o ou poderiam ser utilizadas para rituais religiosos Quais rituais e de que forma Voc utiliza Quais animais voc avista e ou cria aqui na rea do quintal Voc acha que o seu quintal contribui com a sua subsist ncia e da sua fam lia De que forma Como voc espera ver este lugar daqui a mais ou menos 15 anos O que satisfa o para voc Voc se considera satisfeito com o seu quintal D uma nota de 0 a 5 181 AP NDICE D Roteiro de observa o do quintal Y Vegeta o do entorno do quintal al m da rea de propriedade do agricultor Y Caracter sticas do entorno da resid ncia Y Localiza o das rvores de maior altura do terreno v Posi o da horta em rela o casa Y Posi o do pomar em rela o casa Y Animais vistos Y Presen a ou n o de sistema de irriga o artificial Y Presen a de insumos
238. r serem plantas perenes em rela o horta remetem ao que Tuan 1983 chama de objetos que 129 seguram o tempo com os quais buscamos reconstruir nosso passado e recordar nossa hist ria pessoal 5 3 2 8 Trabalho prazer A fun o trabalho prazer atribu da ao quintal expressa na pr tica do manejo ecol gico Quer dizer na busca pela melhoria da qualidade de vida cita o un nime entre os entrevistados associa se o prazer de trabalhar com a terra e dela estar colhendo os frutos sadios e em abund ncia na rela o de coprodu o PLOEG 2008 que os entrevistados se sentem satisfeitos com o seu modo de vida E quando chegamos neste ponto o que se torna manifesto que tudo perpassa por uma rela o de afeto de la o emotivo com a natureza Ao final dos discursos vislumbramos que o principal fator que leva continuidade do trabalho o amor por esta inter rela o entre o humano e a natureza entre flora fauna e fam lia Juca fala sobre sua satisfa o com o trabalho que executa Eu acho que em primeiro lugar se sentir bem Fazer o que gosta n o ter patr o nem o empregado e ter sa de e ter equil brio Come a em casa Tem que come ar em casa o entendimento com a fam lia Depois fazer o que gosta Ter prazer A pessoa tem que estar bem Se sentir bem em casa na hora de dormir no trabalho isso a satisfa o para mim N o tenho dinheiro mas estou feliz E A gente vai vivendo
239. ra o da import ncia que h na rede de troca que se estabelece em torno do conhecimento e do uso de esp cies vegetais Por isso concordo em visitarmos o curandeiro se concluirmos a entrevista e deixo claro que o meu foco da pesquisa com ele e o seu quintal Isso n o muito f cil de compreender para o Mateiro que espontaneamente um articulador de redes Nos acontecimentos posteriores visitamos o Seu Maneco como me foi apresentado pelo Mateiro Este senhor de aproximadamente 75 anos considerado pela comunidade local como curandeiro Foi uma visita interessante em um quintal com plantas medicinais na borda das lavouras e pasto FIGURA 7 Este senhor enquadra se no modelo de agricultura empresarial descrito por Ploeg 2008 n o sendo o foco desta pesquisa mas um agricultor instigante para ser pesquisado e por isto aqui mencionado FESI Figura 7 Propriedade do S Maneco de chap u A esquerda eu provo a fruta que S Maneco recomenda direita a borda de mato ao fundo da lavoura S o Miguel das Miss es Esquina Ezequiel em julho de 2010 Fonte Fotografado por Ariston Filho Informa o proferida pela esposa do Mateiro em conversa informal S o Miguel das Miss es em 2010 63 Volto para entrevistar o Mateiro no s bado tarde com muita chuva Sou recebida com o costumeiro chimarr o e uma prosa na sala Conversamos sobre a intera o dele com pessoas de outros pa ses e cultu
240. radicionais requer um complexo sistema de manejo e um profundo entendimento de seu ecossistema Essas formas milenares de manejo serviram como base para as diferentes formas de agricultura ecol gica existentes hoje As rela es humanas s o um fator fundamental para compreender a agrobiodiversidade MACHADO 2007 p 41 A agrobiodiversidade compreendida abrangendo al m da diversidade de esp cies cultivadas ou sistemas de cultivo em um sistema agr cola mas como tamb m um processo de rela es e intera es do manejo da diversidade dentre esp cies e entre elas com conhecimentos tradicionais e com o manejo de m ltiplos agroecossistemas sendo um recorte da biodiversidade MACHADO 2007 p 43 Esta uma defini o pr xima daquela de Dal Soglio 2009 que conceituam agrobiodiversidade como resultado da intera o da diversidade de esp cies em um agroecossistema com a diversidade gen tica dessas esp cies ou da diversidade de t cnicas e m todos de manejo de agroecossistemas com a diversidade cultural das popula es que vivem nesses sistemas DAL SOGLIO 2009 p 22 Ambas as aprecia es enquadram se na ressalva de Fleury 2009 de que a agrobiodiversidade um conceito necessariamente relacional isto dependente da intera o entre diversos fatores sendo a diversidade a chave para a multiplicidade de respostas multiplicidade de situa es poss veis em um ambiente complexo e
241. ras e os diferentes rituais de uso de plantas De cada pessoa que ele falava que conhecia e conversou havia uma planta ou mais no seu quintal que foi ganha neste interc mbio de informa es Em fun o da chuva combinamos que far amos parte da entrevista em casa e no dia seguinte domingo terminar amos com uma volta no quintal para falarmos sobre as esp cies Antes de iniciarmos sou convidada para o caf com um farto peda o de cabe a de porco Na cozinha o fog o lenha est aquecendo a resid ncia com madeira de poda de abacateiro do quintal A metade da entrevista dura cerca de duas horas Ele fala muito do seu pai que era grande conhecedor do mato Destaca a import ncia do pai na contribui o para o seu conhecimento sobre as diferentes esp cies e formas de uso Falando sobre o processo de extra o do mel de uma abelha nativa por exemplo ele explica o processo e complementa O pai que fazia isso a aprendi com o pai Se eu n o visse fazer n o sabia at hoje O Mateiro diz que se preocupa com a exist ncia das matas na regi o que segundo ele est o sendo destru das pelas grandes planta es Nas conversas informais que tivemos o Mateiro fala em defesa e luta h tempos para que os guaranis habitem nas reas de mato remanescentes no entorno Assim os ind genas viver o em melhores condi es e ajudar o a cuidar destes fragmentos que restaram Por este motivo ele uma refer ncia e um grande amigo dos
242. rav s da doa o e plantio de cinco mudas de doze esp cies frut feras pitanga goiaba ara laranja lim o bergamota figo p ssego rom caqui amora preta e cereja com algumas outras variantes Oferecem tamb m como quebra vento mudas de ac cia O projeto prop e se enfocar os diversos aspectos da sustentabilidade atrav s de quest es culturais tnicas ambientais alimentares educacionais econ micas e medicinais EMBRAPA 2008 Surgiu e foi executado no seu primeiro ano por uma demanda do Governo Federal e do Programa Fome Zero implantando onze quintais No ano seguinte iniciou a parceria com a CGTEE e grande porcentagem dos quintais foi implantada na metade sul do RS atrelada presen a das usinas de gera o de energia termel trica da CGTEE O plantio das rvores aplicado tamb m como medida de sequestro de carbono De 2006 at 2009 foram implantados setecentos e setenta quintais em noventa munic pios do RS Santa Catarina e do Uruguai tendo como p blico alvo agricultores familiares comunidades quilombolas ind genas e escolas do campo e cidade O contato com os agricultores ocorreu de diversas formas sendo os respons veis pelo projeto Quintais Org nicos na maior parte dos casos que se deslocavam para oferecer aos benefici rios o estoque de tecnologias da EMBRAPA informa o verbal presente no pacote tecnol gico do quintal Logo surgem novas indaga es acerca da
243. realizado em novembro de 2009 iremos ao quintal neste segundo dia Partimos da entrada da casa para o lado esquerdo FIGURA 5 e percorremos o per metro do terreno plano cuja rea de aproximadamente 1 100 m A caminhada leva cerca de uma hora e meia por entre rvores que sombreiam o nosso trajeto Observo as orqu deas enraizadas nas rvores Conectado aos fundos da resid ncia o Mateiro est finalizando a constru o de uma estrutura de madeira com 40 m de comprimento e 15 m de largura aproximadamente abrigando cerca de duas mil mudas de orqu deas e brom lias segundo sua estimativa FIGURA 8 Ao lado tem um forno que ele utiliza para fazer vasos de cer mica para as flores Diz estar buscando o ponto do barro e de secagem e v nisso um resgate de t cnicas dos seus ancestrais guaranis o P T n E L Po ada ER c 4 uj mm Figura 7 Vista interna do orquid rio em constru o Resid ncia esquerda da figura S o Miguel das Miss es em 18 de fevereiro de 2011 Fonte Fotografado pela autora Visitamos um dep sito de materiais ferramentas corantes de cascas de rvores e tinturas de folhas que ele prepara em pequenos potes de vidro Fala sobre as plantas em extrato l quido e para que os utiliza Vimos cinco compostos diferentes usados para o cuidado com as plantas cultivadas para proteg las de insetos fungos e outros microorganismos Havia um tipo de composto que n o poderia s
244. recupera o da sa de do solo o quintal de produ o centrado na melipolinicultura e agroind stria para gera o de emprego e renda na comunidade do assentamento e por fim o quintal do produtor org nico proporciona a subsist ncia atrav s do cultivo da horta e do pomar com papel complementar de fonte de renda Uma observa o que seis dos nove entrevistados s o nascidos em uma mesma regi o do RS a regi o missioneira A regi o fisiogr fica das miss es se situa entre os rios Ibicu Uruguai e Iju Os principais munic pios formadores da regi o s o Santo ngelo S o Miguel das Miss es S o Luiz Gonzaga Santiago S o Borja Itaqui e S o Francisco de Assis Ao longo dos grandes rios h florestas semelhantes s florestas latifoliadas do Alto Uruguai A vinda dos Jesu tas para o RS no s culo XVII influiu no ambiente na hist ria e na cultura local BAPTISTA 2009 No caso das plantas os pessegueiros laranjeiras e limoeiros por exemplo foram trazidos para o Novo Mundo BRAGHIROLLI 2009 Ou seja poss vel que aspectos hist ricos semelhantes de viv ncia regional e influ ncias hist ricas estejam presentes de forma comum nas rela es estabelecidas com o ambiente e com as esp cies escolhidas para compor o quintal Esta informa o foi observada durante a an lise dos dados sendo uma constata o posterior e aprofund la n o se enquadra no prop sito deste estudo No entanto pode se
245. rep ncias nas interpreta es de valor e incompatibilidades entre os interesses dos atores Os dom nios s o reconhecidos como as regras normas e valores que implicam em compromisso social mesmo que n o sejam percebidos da mesma maneira por todos os envolvidos Tendo em vista os diferentes dom nios presentes em cada arena formada iniciam se processos de ordenamento regula o disputa de valores sociais utiliza o de recursos autoridade e poder criando coliga es e ou distanciamento entre determinados atores As rela es entre os diferentes atores e ou institui es como por exemplo entre Estado e camponeses constituem as arenas nas quais os projetos s o articulados Sendo assim cada projeto articulado com os projetos interesses e perspectivas de outros atores a no o de interface social explorando as diferen as dos interesses sociais conhecimento poder e interpreta es culturais A busca pela autonomia camponesa ocorre nesta intera o recordando a condi o camponesa definida Como resultado desta condi o temos a luta por autonomia que se concretiza atrav s do desenvolvimento de uma base de recursos autogerida que propicia as diferentes formas de coprodu o que por sua vez retroalimentam a pr pria base de recursos fortalecendo o processo de coprodu o PLOEG 2009 94 Nesta conex o e inter rela o com a natureza viva os conhecimentos tradicionais recebidos s o postos em pr tica enquanto no
246. rio de 67 anos diz para eu abrir o port o e entrar O Tio Juca como conhecido j almo ou e est tomando caf na cozinha O churrasco da sua filha com o namorado e os amigos do casal Nesta propriedade moram al m do Juca a esposa de 59 anos e a filha de 25 anos com os netos de 3 e 4 anos O casal tem mais um filho que vive em Viam o atualmente e segundo Juca curioso por plantas cultivando mudas e inclusive contribuindo com esp cies no quintal Figura 10 Vista da frente da casa de Juca eucaliptos e fora da propriedade Porto Alegre mar o de 2011 Fonte Fotografado pela autora Deixo a mochila na cozinha e vamos para a ro a olhar as plantas e o que ele tem desenvolvido na sua terra A propriedade foi adquirida pelo pai na d cada de 1960 e posteriormente dividida em um hectare para cada um dos oito irm os dos quais um segue na agricultura org nica Terra herdada h 28 anos foi utilizada de acordo com os moldes da d cada ou seja a agricultura passava pelo processo de moderniza o com uso de m quinas e insumos qu micos Juca ainda lembra que A loucura do agrot xico foi de 70 65 para c Mas naquela poca n o se falava muito em botar veneno J existiam aqueles rem dios que todo mundo dizia que era rem dio De botar na flor Adubo l quido J tava come ando aquilo ali Mas depois a gente colocou muito veneno Na ameixa a gente colocou Usava no mel o no pepino A a gente colocou
247. rov m de contextos diversos e por motiva es peculiares Ou seja s o reas cultivadas a partir de iniciativas individuais ou comunit rias suprindo demandas de uma unidade familiar ou de um grupo 7 Long e Ploeg 1994 recomendam restringir o uso do termo ator social somente quelas entidades sociais s quais podem ser claramente atribu das as qualidades da ag ncia apresentadas no referencial te rico desta disserta o 21 Procurando relacionar a tem tica do uso do quintal com as rela es do homem com a natureza observando as din micas socioambientais decorrentes do uso do espa o ao redor da casa atentando para as estrat gias dos pequenos agricultores de busca por autonomia reconhecemos que o conhecimento do manejo das esp cies e a forma como s o executados s o elementos fundamentais para a agrobiodiversidade com manuten o dos modos e meios de vida Para Toledo et al 1985 o conhecimento dos agricultores sobre o ecossistema geralmente resulta em estrat gias produtivas multidimensionais de uso da terra que criam a auto sufici ncia alimentar das comunidades em determinadas regi es Considerando que a express o deste saber ocorre na pr tica di ria do agricultor e que diferentes pr ticas e intensidades de manejo configuram agroecossistemas distintos conhecer os lugares e os agricultores que v m transformando e mantendo a diversidade de plantas animais saberes e fazeres com e atrav s da terra m
248. s atrav s de pontos de interpreta o e intera o que resultam em diferentes rela es de poder atrav s de sucessivos processos de legitima o de opini es incorporando novas id ias e modos de comportamento 99 Esta abordagem te rica envolve a compreens o de um fen meno social mais amplo porque muitas das escolhas identificadas e projetos desenvolvidos por estes indiv duos ou grupos ter o sido moldados por processos externos aos seus campos imediatos de intera o a no o de campo da a o social que incita uma paisagem irregular com limites mal definidos em termos de disponibilidade e distribui o de elementos diferentes recursos informa es capacidade tecnol gica grupos estruturas f sicas A POA compreende a diversidade de atores as v rias formas de operacionaliza o de seus objetivos e de suas pr ticas Consequentemente exige se que sejam considerados os interesses as identidades e as perspectivas dos atores necess rio tamb m identificar os modelos espec ficos de intera o e de acomoda o dos diferentes atores e analisar suas hist rias recorda es e concep es espa o temporais Os valores e as interpreta es poder o ser reinterpretados e reconstitu dos nas arenas Para Long e Ploeg 1994 a articula o dos projetos dos atores ocorre nas arenas de luta S o espa os onde se apresentam as pr ticas e os valores de dom nios diferentes onde se fazem esfor os para resolver disc
249. s das rvores doadas Reconhece que onde plantou as frut feras a terra estava recuperada bem adubada forte boa Disse que a quantidade de mudas fornecidas para um quintal foi dividida ao meio de modo que mais fam lias pudessem ter acesso s frut feras No caso eram 60 mudas ao todo N s dividimos 30 para cada um aqui na rea alta do assentamento Complementa que n o colocou todas as mudas recebidas no quintal referindo se rea mais pr xima da casa mas em outras reas que ele determinou como necess rio Segundo a informa o que lhe passaram ao doarem as mudas as esp cies recebidas se desenvolveriam bem tanto em terra seca quanto mida A partir desta acertiva Alem o diz que por teimoso a primeira coisa que fez foi experimentar o plantio em solo seco e em solo mido e constata que em ambos os lugares as rvores est o frutificando Na conversa Alem o enfatiza que receberia outra edi o do projeto Nas suas palavras se aparecer de novo um projeto parecido assim e me deixarem de fora eu corro de atr s porque sua considera o que as frutas servem para o consumo da fam lia e tendo excedente h escoamento para o mercado Fruta tu pode plantar quinhentos p s ou mil p s sempre vai ter o que fazer com estas frutas Tem mercado Tem pra comer em primeiro passo J um avan o Saio de l com algumas sementes para multiplicar em mudas e replantar presente que rec
250. s de indicadores qualitativos ou n o permite a infer ncia de conhecimento a respeito das vari veis inferidas na mensagem BARDIN 2002 Assim sendo o conte do de question rios abertos podem ser avaliados por temas abrangentes o quintal por exemplo ou espec ficos rvores frut feras de consumo humano por exemplo Na pr an lise fez se uma leitura flutuante para posterior releitura e marca o dos trechos relacionados ao estudo estruturando o corpus para a an lise segundo as regras de exaustividade representatividade homogeneidade e pertin ncia BARDIN 2002 objetivando responder s perguntas da pesquisa apreendendo a agrobiodiversidade e a percep o as pr ticas e os significados das fun es no quintal Na explora o do material orientada por Bardin 2002 as frases das respostas foram agrupadas em palavras pertinentes ao assunto indicado e identificadas por cores comuns a todas as entrevistas Os textos das transcri es das entrevistas j marcados com as cores e os trechos do udio respectivos foram trabalhados exaustivamente para destaque da presen a ou aus ncia dos temas relacionados pesquisa Os temas foram as unidades de registro e regra para o recorte do trecho Unidades de registro n o definidas priori tamb m foram identificadas quando significativas no material analisado considerando as tamb m como n cleos de sentido BARDIN 2002 Conforme Bardin 2002 as unidades de registro foram agru
251. s dos guaranis E1 As plantas que encontramos no quintal da esperan a s o alimentos convencionais mas tamb m rvores frut feras nativas pouco difundidas nos mercados formais Este agricultor integra plantas convencionais aliment cias com rvores frut feras de produ o comercial al m de plantas nativas Objetiva multiplicar as rvores frut feras nativas e trazer ao conhecimento dos visitantes quais s o as frutas do RS que muitos nunca ouviram falar Aqui pensando na atratividade tur stica tamb m Juca incrementa o pomar com frut feras brasileiras como experimenta o e demonstra o Ademais a conviv ncia com estudantes pesquisadores lhe fez observar que seu quintal um lugar de experi ncias e pesquisas cient ficas Saber a idade de uma rvore pode ser um dado importante para uma determinada pesquisa que possa ser desenvolvida na sua rea Isto contribui na sua percep o sobre o lugar e lhe motiva seguir diversificando por curiosidade para demonstra o para diversificar a produ o e para recuperar os danos que causou na derrubada de rvores da regi o Este discurso recebe influ ncia do seu envolvimento com o Centro Ecol gico Ip que proporcionou a este agricultor a compreens o da complexidade das intera es da agricultura com o ambiente natural O seu conhecimento emp rico foi acumulado pelos anos de experi ncia na agricultura e a iniciativa de transi o do modo convencional para o org nico
252. s familiares maternas e paternas pr ximo fronteira do RS com a Argentina mencionando os munic pios de Itaqui S o Borja e Santo Ant nio das Miss es nas refer ncias aos pais e av s A tradi o familiar foi o trabalho agr cola como percebido na fala abaixo transcrita Eu nunca trabalhei de carteira assinada mas dizer que nunca trabalhei seria absurdo Eu sempre trabalhei Eu n o lembro quando eu n o trabalhei Eu praticamente tenho a minha lembran a de vida trabalhando Trabalhava quando crian a com meu pai na agricultura Depois que fui pra escola eu lembro que agente chegava da escola e ia colher amendoim feij o essas coisas Ou era antes ou depois de ir pra escola E6 Moraram com seus cinco filhos em S o Borja realizando servi os tempor rios e informais fora e dentro do setor agr cola Ela recorda que aos 18 anos tinha os 2 filhos sendo que hoje um mora em Alvorada e o outro est no assentamento Moraram no munic pio de Alvorada sendo ele gar om profissional instru do at a 3 s rie do Ensino Fundamental e ela trabalhando como dom stica informal cursando o supletivo at a 8 s rie do Ensino Fundamental Ap s alguns anos desprovidos de trabalho remunerado de acordo aos regimes legais integraram se ao MTD e acompanharam as mobiliza es at serem assentados na rea onde estamos Hoje ele aposentado por invalidez da mesma forma como o seu filho que l reside e ela est encaminhando a aposen
253. s para a entrega matinal Ajudo a amarrar as r culas para formar os molhos que ser o comercializados Sobra muita r cula que eles dizem que j est velha para vender pois passou da poca de colheita e est florescida Servir ent o de alimento para os animais Na varanda tomando o chimarr o com a nora esposa do filho mais novo iniciamos a entrevista antes do almo o mas n o a conclu mos neste dia A fam lia recebeu a visita de duas vizinhas da rea alta com as quais almo amos tarde a agricultora tinha compromisso com o grupo de mulheres citado antes Retornei na manh seguinte Conclu mos a entrevista e falamos sobre as plantas conhecidas e cultivadas por ela Ela cita as esp cies no quintal e atribui diferentes usos principalmente aliment cio e medicinal inclusive para as plantas espont neas Plantas consideradas como ervas daninhas para alguns s o para ela ervas com potencial aliment cio Receitas culin rias e propriedades nutricionais s o utilizadas pela fam lia Revela o aprendizado que recebeu ao longo da sua jornada como agricultora Aponta momentos de dificuldade de obter alimento nos acampamentos e no assentamento nos quais ela teve a oportunidade de contatar pessoas que lhe indicaram plantas comest veis que cresce nos brejo nos campo Na salada que colhemos para o almo o misturamos matric ria e menstruz Estas s o exemplos de plantas espont neas comest veis conhecidas e ut
254. s pol ticas p blicas para o Desenvolvimento Rural Sabemos que pol ticas e projetos nesta rea v m sendo executados com mais frequ ncia nos ltimos anos Entretanto nem todos levam em considera o o conhecimento tradicional e a sabedoria popular sobrepujando as pr ticas locais Assim podem fracassar ou serem remodelados caso os agentes interventores venham a se desligar da execu o das mesmas A meta de realizar 5 Informa o fornecida por Fernando Costa Gomes Eng Agr nomo da EMBRAPA e respons vel pelo projeto em conversa informal Pelotas jan de 2010 Entenda se aqui desde a escolha e a produ o das variedades de mudas arb reas a orienta o do plantio em determinado modelo a doa o do adubo org nico a determina o da esp cie vegetal com fun o de quebra vento e a tecnologia utilizada na semeadura e manejo das plantas em viveiro 20 tais pol ticas e projetos deve ser a de envolver os atores sociais para que estes possam atuar em todas as etapas da proposta desde a elabora o at a execu o assim contribuindo para o desenvolvimento rural na perspectiva de descentralizar o conhecimento e o poder gerado pela deten o do conhecimento A forma de inser o dos projetos externos e ou planejados por institui es governamentais nas estrat gias camponesas de sobreviv ncia interv m nos espa os de produ o Diante de tal realidade e do anteriormente exposto dedicamos nossa aten o ao estudo
255. s quintais inclusive naqueles que foram visitados durante o estudo explorat rio Na maior parte dos casos os agricultores n o sabem como lidar com estes problemas Isto traz ind cios de depend ncia t cnica com necessidade da interfer ncia externa pela pouca capacita o para o manejo org nico destas esp cies Outra caracter stica dos quintais a produ o de base ecol gica Como dito no in cio desta disserta o os quintais geralmente s o manejados sem a utiliza o de algum tipo de agroqu mico Todos os rem dios utilizados nas plantas s o preparados pelos pr prios agricultores ou assist ncia t cnica externa Estas reas s o manejadas semanalmente e utilizadas diariamente pela fam lia al m de amigos ou fregueses que frequentam esporadicamente o quintal Percebemos que as motiva es para construir e manter os quintais s o distintas mas alguns aspectos tangenciam os seis quintais Isto porque embora as percep es dos entrevistados sejam diferentes e nicas algumas pr ticas e discursos s o comuns Vejamos a agrobiodiversidade resultado desta pesquisa para em seguida evidenciar as percep es identificar as fun es e relacionar os dados com a express o da luta por autonomia camponesa 100 5 1 Esp cies usos e manejos a agrobiodiversidade As percepc es se refletem nas pr ticas di rias e na agrobiodiversidade A agrobiodiversidade aqui referida trata se das plantas elencadas pelos agricultores
256. s ra zes das plantas 70 Figura 11 esquerda local de concentra o do pomar A direita biojuca Circulado o esterco misturado com folhas secas em decomposi o Porto Alegre em mar o de 2011 Fonte Fotografado pela autora Vimos rvores frut feras plantadas em linhas circundante horta e tamb m dentro dos canteiros de hortali as FIGURA 12 Algumas s o representadas por um exemplar outras t m em maior quantidade para a produ o de frutas que ser o comercializadas como a acerola Sobre algumas esp cies comuns em outras regi es do Brasil como a graviola ele se refere a uma experimenta o para testar o desenvolvimento da planta no RS e ser um exemplar de demonstra o para os visitantes Sua maior inten o preservar as esp cies de frutas principalmente as nativas da regi o como o bacupari o guabij e o buti Ele fala disso como sendo uma forma de se redimir das tantas rvores que j derrubou quando era mais novo Figura 12 Area da ro a e do pomar esquerda uma bergamoteira BE A direita o chuchuzeiro CH No centro no terreno preparado para cultivo de hortali as h um mamoeiro MA A seta indica o local de concentra o do pomar recente Ao fundo a resid ncia de tijolo vista Porto Alegre em mar o de 2011 Fonte Fotografado pela autora Em meio aos canteiros indica algumas plantas repelentes de insetos FIGURA 13 Algumas ele coloca no preparo do biofertilizante qu
257. s raramente expressada O trabalhador rural n o emoldura a natureza em lindos quadros mas pode estar profundamente consciente de sua beleza Para viver o homem deve ver algum valor em seu mundo O agricultor n o exce o Sua vida est atrelada aos grandes ciclos da natureza est enraizada no nascimento crescimento e morte das coisas vivas TUAN 1983 p 113 196 Por estas experi ncias ntimas com o lugar a est tica do residente distinta daquela do passante Um visitante provavelmente julgar um mesmo lugar pela apar ncia por algum crit rio particular de beleza Esta postura tender ser superficial j que a id ia de est tica em Tuan 1983 est atrelada liga o afetiva com o lugar lembrando que este ltimo agrega valores imateriais hist rico e simb lico por exemplo e materiais como o valor paisag stico e gen tico Nos quintais observamos plantas ornamentais ex ticas do Brasil mas tamb m h a valoriza o da beleza da vegeta o nativa do pa s e ou do RS Esta fun o est tica influi tamb m nos pr ximos descritores em especial na biodiversidade 5 3 3 Descritores ambientais biodiversidade independ ncia de insumos ar gua e conforto ambiental Os descritores ambientais s o a import ncia da biodiversidade para o funcionamento do quintal de forma mais semelhante aos ecossistemas naturais a independ ncia de insumos considerando o uso ou n o de insumos externos ou
258. s s o preferenciais ao passo que no modo campon s se investe na diversidade Uma crescente eros o gen tica resulta desta situa o ou seja a perda de diversidade intra e 37 interespec ficas a substitui o de variedades locais adaptadas ao ecossistema pela homogeneiza o de variedades preferenciais produ o em larga escala e maximiza o do lucro Santilli 2009 observa que a perda da biodiversidade agr cola tem implica es para a agricultura camponesa mas tamb m para o pr prio agroneg cio j que os recursos essenciais ao melhoramento gen tico vegetal por exemplo s o um dos componentes desta agrobiodiversidade que vem sendo comprometida pela moderniza o e homogeneiza o da agricultura 2002 numa perspectiva bot nica e ecol gica considera que Os modos de produ o aut ctones t m sofrido press es em todo mundo pela dissemina o do modelo agr cola industrial e as consequ ncias da moderniza o globalizante Sistemas agr colas tradicionais voltados para a subsist ncia v m assim se desarticulando e perdendo espa o para a agroind stria e outras atividades comerciais que come am a ganhar vulto no campo A diversidade de plantas cultivadas nestes sistemas agr colas muito importante para a seguran a alimentar global pois n o garante apenas autonomia aos agricultores mas tamb m uma das fontes de material gen tico por m mesmo onde os processos moderniz
259. semente Os guaranis usam isso pros trabalho deles E1 Este resgate cultural trazido aqui por se tratar de uma refer ncia hist rica a uma origem ancestral que ele refere no seu discurso e tamb m nas suas pr ticas sobre as inten es e curiosidade pelas plantas que cultiva O quintal da for a de vontade traz como refer ncia por Alemoa a terra e o pomar que seus av s cultivaram Sobre o conhecimento do uso de plantas e do cultivo ela fala Um tanto eu sei do meu pai que fazia o meu av tamb m fazia bastante At hoje tem as rvores l Tem mais de cem rvores Tudo frutas assim que tem no mato nativo plantado l Tem at hoje um jardim l e o meu av e a minha av j faleceram Mas o meu tio mora l E4 Saber cultivar a terra heran a E4 do pai Ela o auxiliava na agricultura e passado o falecimento dele relembra que j cultivava as primeiras rvores para a fam lia Eu tinha l fora em Santo ngelo quintal E o quintal est at hoje Os meus irm os dizem Mana como que tu conseguiu plantar tudo isso Eu me botava trabalhava e conseguia A eu plantei tudo que fruta l e t dando frutas at hoje ainda Lim o bergamota ameixa muito figo Eu plantei 30 p s de figo l Pegando at hoje ainda Eles est o fazendo chimia doce comendo maduro fazendo de tudo com esses figos E a l em Santo Angelo a primeira coisa que eu achei no mato o p zinho de e
260. spectivamente Considerando que as fun es aqui evidenciadas abarcam o discurso dos atores durante as entrevistas e as observa es no trabalho de campo de coleta de dados os valores foram assim determinados zero atribu do para aquele que n o referiu nenhuma vez o tema no seu discurso e n o foi observada nenhuma pr tica Um indica men o leve sem pr tica observada ou a pr tica observada com pouca ou nenhuma men o Dois 53 refere se ao discurso e pr tica espor dica O valor m ximo atribu do aos que referem muitas vezes o mesmo eixo e a pr tica recorrente Os valores m ximos e m nimos graduam respectivamente a maior ou menor aproxima o das pr ticas e discursos luta por autonomia ponderando o referencial da pesquisa e as constru es reflexivas e pr ticas dos agricultores pesquisados Os quintais que contaram com mais de um entrevistado foram considerados complementando as informa es dos entrevistados do mesmo quintal e utilizando os maiores valores dos descritores para an lise A agrobiodiversidade as percep es e as fun es ser o apresentadas por unidade de pesquisa A seguir relacionamos 1 a percep o e a agrobiodiversidade agrupando os quintais dos agricultores de acordo s entrevistas e observa es 2 a express o da autonomia com o desenho do gr fico dos descritores das fun es e 3 a agrobiodiversidade com a luta por autonomia camponesa A partir destas inter rela es e dos
261. spedimos Passam vinte dias e retorno Combinei chegar 13h e 30min j que pela manh Preta realiza as entregas di rias de verdura No hor rio combinado bato na porta Ela e a sogra estavam descansando ap s o almo o e eu interrompi Sentamos na sala com cozinha conjugada e a sogra traz o chimarr o Conversamos por uma hora at iniciar a entrevista Come amos na sala e depois andamos pela horta FIGURA 27 e ao redor da casa Quando pe o que ela me indique a rea do quintal fala empolgada minha horta cheia de Tem flor tem verdura tem bergamota tem laranja Quer ir l e ver Minha horta tem de tudo Eu tenho um piment o ali que desde que saiu a flor eu e estou cuidando dele 96 si i iabeira e outras rvores Gua ba em setembro de 2010 Figura 27 horta com alfaces butiazeiro Fonte Fotografado pela autora go Sua defini o breve sobre o quintal flores verdura fruta a terra cheia de minhoca e vida boa Passam se uma hora e meia at concluirmos e ela ainda complementa que a conversa foi boa e passou r pido Ela indica as plantas no quintal e algumas esp cies s o de rvores e a sombra maior proporcionada pelo jambol o pr ximo casa Algumas frut feras nativas ocupam o terreno do quintal ela quem realiza a entrega matinal di ria dos produtos da horta de bicicleta percorrendo 20 km segundo seu relato Com os rendimentos que obt m desta rea da h
262. ssetto 2006 observa que n o h duas rvores que sejam exatamente iguais principalmente quando multiplicadas naturalmente por sementes Alguns agricultores t m mais curiosidade do que outros em experimentar e conhecer esp cies Mateiro Juca e Alem o s o os que mais mencionam a curiosidade como importante na conforma o do agroecossistema do quintal Alemoa tem curiosidade sobre as plantas medicinais e seus usos Dora elucida a curiosidade sobre o manejo Preta coleciona as esp cies preferenciais entre aliment cias e ornamentais sem men o a experimenta es Vejamos caso a caso Observando a disposi o das plantas no pequeno jardim bot nico podemos distinguir diferen as significativas sobre os demais quintais Sua conforma o poderia ser considerada desorganizada na perspectiva dos outros quintais A densidade de rvores no terreno expressiva e notamos as rvores nativas do RS A produ o de mudas de rvores para doa o e replantio povoa a rea Al m do mais as orqu deas s o centrais no manejo do quintal e as rvores propiciam um clima favor vel para as orqu deas O cultivo de plantas ornamentais e as cercas vivas trepadeiras cactos e brom lias recomp em o ambiente natural conformando um agroecossistema com esp cies locais e ex ticas de acordo com a prefer ncia curiosidade e acesso do Mateiro O pequeno jardim bot nico vem sendo cultivado para garantir a exist ncia e proporcionar o conhecimento a
263. sso n s gostamos de rvores de frutas rvores de sombra para bonito flores para sombra flores para bonito para ter cheiro bom no ar para limpar o ar E4 desde o tempo da inf ncia sempre vivi no meio do mato Gosto de rio e a m e gostava de plantar sempre gostei de ver a natureza ver as rvores E5 uma arvorezinha bonitinha tem uma folinha pequena E6 Eu n o sei parece que tenho uma paix o por anjico E8 Essa a a primavera Esse d uma flor coisa mais linda Essa aqui Buti os cabritos n o comeram e t bonita E9 Ao perguntar Preta sobre sua proje o para o lugar daqui alguns anos ela responde que espera ver seu quintal mais bonito do que est E9 Sua rela o com o lugar faz com que ela deseje manter o quintal sempre limpo e bonito E9 A est tica n o algo dado O padr o est tico constru do no caso dos agricultores pela viv ncia e intera o direta com o ambiente natural Tuan 1983 fala sobre a est tica no contexto do agricultor Para o trabalhador rural a natureza forma parte deles Este sentimento de fus o com a natureza n o simples met fora as cicatrizes testemunham a intimidade f sica do contato A topofilia deste agricultor est formada desta intimidade f sica da depend ncia material e do fato de que a terra um reposit rio de lembran as e mant m a esperan a A aprecia o est tica existe ma
264. stante por autonomia com diferentes nfases Integrando as no es de ator e ag ncia apresentadas pela Perspectiva Orientada ao Ator consideramos que atrav s da pr tica cotidiana os atores ampliam suas capacidades de a o e influenciam os processos de mudan a social materializando a condi o camponesa atrav s do modo campon s de fazer agricultura demonstrando as possibilidades para um desenvolvimento rural sustent vel O arcabou o te rico define ainda a agrobiodiversidade e a percep o com nfase na constru o do lugar objetivando evidenciar as percep es dos atores sobre o seu quintal e a influ ncia na agrobiodiversidade bem como as fun es sociais econ micas e ambientais que surgem atrav s da intera o do agricultor com o lugar que cultiva e maneja considerando o quintal como um espa o de express o da luta por autonomia camponesa Usando a observa o participante como metodologia de pesquisa qualitativa foram gravadas nove entrevistas semi estruturadas com agricultores que manejam quintais incluindo registros fotogr ficos e anota es em di rio de campo em seis propriedades durante o ano de 2010 A an lise do conte do das entrevistas resultou em 2 grupos perceptivos 15 descritores de fun es e 335 variedades de plantas citadas com pelo menos 17 usos diferentes Nestas reas os atores apreendem os conhecimentos e os praticam o que proporciona ao agricultor a seguran a no lugar que con
265. stava imobilizada Mas eu vinha todo dia Entrava por l fazia o giro nos canteiros e sa a de volta mas a eu via tudo como que estava E9 O lazer se reflete no bem estar das fam lias e o bem estar repercute na qualidade de vida Sentir se bem na sua casa e no seu quintal necess rio para refor ar as pr ticas que garantem os modos e os meios de vida 5 3 2 6 Est tica A beleza das plantas salientada por todos Ou seja o aspecto ornamental e sentir se bem naquele espa o externo da propriedade influem nas escolhas pelas esp cies e pela composi o do ambiente cultivado tamb m Do mesmo modo o 195 turismo influi na est tica como no caso do quintal da esperan a Juca recebe os turistas logo sua preocupa o com a est tica vai mais nesta perspectiva As falas exemplificam a fun o est tica atribu da aos quintais Ent o faz parte do quintal Este quintal do turismo que est recebendo turistas manter limpo e tamb m os a udes que agente j deu uma mexida hoje E2 Ali tem uma trepadeira tamb m que d uma flor bonita E1 E n s achamos tamb m muito lindo muito bonito ter rvores Porque n s somos gente que somos gente do mato N s somos gente do mato n s se criamos no mato n s adoramos muito N s se criamos igual aos ndios dentro do mato E n s adoramos muito passarinho nas rvores borboleta nas rvores tudo que bichinho que vai nas rvores n s adoramos E por i
266. str i na medida em que se distancia da depend ncia externa e fortalece as capacidades internas atrav s da co produ o que retroalimenta a base de recursos seja da unidade familiar da comunidade local ou de uma regi o Palavras chave Agroecologia Agrobiodiversidade Percep o Quintais Autonomia camponesa ABSTRACT In the path of agricultural industrialization since the mid 1960s Brazilian small farmers are being pressed to adhere to new technologies and standardize the agricultural practices to meet the needs of capitalist production The large scale production has made statements on their environmental social and economic unsustainability exposing rural people to situations of vulnerability which threaten even food sovereignty and the agricultural biodiversity itself as we feed ourselves with an increasingly reduced number of species In this context small farmers and their peasants way of making agriculture resist in the production space This peasant s way is related to the growing autonomy of farmers and their social productive space feeding back the social and natural resources base theoretically grounded in this research The knowledge farmers acquire within the interaction with their own environment entitles them to specific practices according to their context however with strategie common in the struggle for autonomy In this perspective the backyards as those spaces around the house with a small area not much larg
267. t cnico S o gente nossa E9 A EMBRAPA e o projeto Quintais Org nicos s o inseridos neste descritor O projeto da EMBRAPA foi mencionado pelos quatro participantes com diferentes nfases A tecnologia da EMBRAPA nos quintais tamb m foi questionada Todos os agricultores mencionaram o fato de as esp cies melhoradas serem mais fr geis e com menor durabilidade em anos Alemoa conseguiu 60 mudas do projeto Aproveitou uma rea cercada e de solo encharcado durante o inverno na qual j havia ara s goiabeiras e um pequeno parreiral para o plantio das mudas Como o solo n o estava bem adubado contando com pouco aporte de mat ria org nica e sem sombreamento muitas mudas morreram e outras pouco se desenvolveram em compara o com as plantas de Alem o As rvores foram plantadas formando dez linhas paralelas composta por 10 esp cies Junto com as mudas doadas a agricultora incrementou o pomar com mudas de ameixa japonesa e outras feitas por ela Alem o plantou 25 mudas doadas pelo projeto da EMBRAPA Seguiu seu plano da agrofloresta cultivando as plantas de forma desordenada concentrando algumas rvores perto de casa debaixo da sombra das rvores mais antigas no a ude em pleno sol e outras longe da resid ncia em local de solo encharcado O terreno do quintal j estava adubado pelas outras plantas cultivadas j mencionadas o que facilitou o desenvolvimento das rvores e quase nenhuma perda Ambos Alemoa e Alem o
268. tada pelos caminh es que entram e saem da estrada em dire o pedreira faz com que o calor e a estiagem pare am mais intensos Depois dos 3 km chego porteira do assentamento do MTD que segundo Guterres 2006 primeiro assentamento rururbano no RS e estabelecido h 9 anos Meus olhos j recaem sobre outra paisagem As bananeiras laranjeiras pitangueiras a udes galinhas e outras diversidades biol gicas quebram a monotonia dos eucaliptos e ac cias No entanto a rea onde est localizado o assentamento era utilizada para a cria o de b falos O desgaste dos nutrientes da terra a compacta o do solo e outros fatores dificultam o desenvolvimento das plantas principalmente sem o uso de insumos qu micos conforme relatado pelos entrevistados Enquanto caminho pela rua do assentamento e os cavalos pastam na beira desta estrada a poeira baixa nas minhas costas Existem mais de 30 fam lias nesta rea Eu entrevistarei apenas uma que irei conhecer e convidar para a entrevista Cheguei at aqui pela participa o da fam lia no projeto Quintais Org nicos No p tio das casas do assentamento vejo rvores de fruta ou sombra flores e frutos Escuto p ssaros e ou o as ovelhas porcos e galinhas A resid ncia da fam lia que irei entrevistar uma das ltimas casas daquela rua e parece ser a vizinhan a mais arborizada da pra a Percebo que s o lotes de fam lias diferentes e que no seu conjunto formam um pe
269. tadoria como agricultora Tenho interesse em conhecer o quintal fornecido pela EMBRAPA h um ano e o casal me acompanha onde foram plantadas as mudas de rvores frut feras Caminhamos alguns minutos da casa at a rea coletiva na qual foram implantados 90 dois projetos em concomit ncia que logo falaremos Esta fam lia distingue o quintal de produ o do quintal de casa Iniciaram o plantio de rvores no quintal de casa assim que chegaram rea Hoje investem no quintal de produ o no qual cultivam hortali as para a venda e consumo e as rvores frut feras e madeir veis As mudas fornecidas pela EMBRAPA ampliaram o quintal de produ o A rea cercada de 1 5 ha e dita coletiva por ser cuidada sob a responsabilidade de quatro fam lias As rvores maiores de 2 m que vemos s o os maric s no banhado as ac cias e os eucaliptos FIGURA 22 cor Figura 22 Entrada da rea do pomar junto com a horta Ao fundo os eucaliptos E e o maricazal MAR fora e dentro do Assentamento respectivamente Eldorado do Sul em 03 de novembro de 2010 Fonte Fotografado pela autora No local eles me explicam como foi planejado aquele espa o A terra foi preparada para o plantio da horta org nica patrocinado pela Petrobr s Posteriormente houve a oferta do projeto da EMBRAPA e os t cnicos da Cooperativa de Presta o de Servi os T cnicos Ltda COPTEC sugeriram o plantio das mudas de frut feras em cons rcio com
270. tados em campo evidenciamos as fun es econ micas sociais e ambientais cada qual com seus descritores espec ficos extra dos dos discursos e pr ticas dos participantes A no o de descritor prov m do m todo de avalia o da sustentabilidade em sistemas agr colas e conceituado como as caracter sticas significativas para a manuten o e o funcionamento do sistema que permitir o alcan ar o padr o de sustentabilidade idealizado pelos agricultores E o que os propositores desejam e o que por eles visto como necess rio para a sustenta o e perman ncia do sistema DEPONTI et al 2002 p 45 Os descritores s o portanto gen ricos qualitativos e n o mensur veis distinguindo os dos indicadores Os descritores s o trabalhados aqui para qualificar a autonomia expressa no agroecossistema do quintal n o os interpretando portanto como indicadores de autonomia O m todo n o se prop e a avaliar ou quantificar a autonomia e sim evidenciar as percep es atrav s das pr ticas saberes e diversidades presente na intera o com o quintal A partir das intera es com o agroecossitema que atribu mos as fun es espec ficas ou seja os descritores expressivos para a autonomia camponesa segundo os atores Para visualizar a autonomia expressa no quintal dispomos os descritores em eixos de um modelo de gr fico do tipo radial gerando gr ficos para cada quintal com atributos m nimo e m ximo de zero a tr s re
271. tal n o um trabalho j que ele possui uma profiss o distinta Seu lazer cuidar das plantas e buscar sementes na mata para semear Alemoa valoriza o espa o do quintal para o lazer O quintal agrad vel para o descanso desta senhora com tantos anos de trabalho E faz uma proje o para o seu quintal neste sentido A eu sempre digo primeira coisa que quero fazer uma pra a para as crian as brincarem Porque eu adoro muito crian a e quero fazer um dia uma pracinha para todas as crian as em roda se divertirem E4 Alem o conhecido pela fam lia por trabalhar demais e pouco fala do lazer no seu quintal Refere se ao lazer quando lhe pergunto quais as suas expectativas para o lugar como espera ver o local no futuro fechado de mato Essas rvores altas e a tomar um chimarr o curtir um pouco o dia debaixo da natureza E5 Dora n o explora o quintal de produ o como espa o de lazer Esta rea distante da resid ncia da fam lia por m quando os netos est o juntos eles utilizam o espa o para o lazer e a brincadeira Preta diz que o pr prio trabalho seu lazer seu passa tempo Fala que gosta de olhar sua horta seu quintal todos os dias s vezes nem que eu n o venha mexer na terra mas eu entro l fa o a volta por l ando em tudo viro e saio de volta Da vou l para dentro de casa Todo dia Quando n o d para vir A eu n o podia vir lidar na horta por que eu e
272. tala es e constru es Embora o pequeno jardim bot nico n o fa a tal indica o a nenhuma planta espec fica para tal fun o o Mateiro considera todo o quintal como um importante quebra vento Juca tamb m n o cita uma determinada planta mas se orienta pela dire o dos ventos para o plantio das rvores comentando que o local onde est o pomar pr ximo borda de mato que proteger as plantas frut feras Cada quintal apresenta uma variedade de esp cies a qual est representada em parte no gr fico respectivo AP NDICE F Foram consideradas como plantas aliment cias as indicadas como condimentares frut feras mel feras aliment cia para humanos e ou para o tratamento de animais de cria o As plantas 101 aliment cias foram agrupadas demonstrando a contribui o da agrobiodiversidade para a seguran a alimentar As rvores foram divididas em aliment cias e n o aliment cias demonstrando a contribui o das rvores para a nutri o dos agricultores e entre nativas e ex ticas do RS indicando a contribui o dos quintais para a biodiversidade regional e tamb m a relev ncia das nativas em cada quintal As percep es e a agrobiodiversidade relacionam se com o desenho e a composi o do agroecossistema e dep em sobre os conhecimentos e a pr tica dos agricultores Assim como o lugar a percep o est em constante transforma o e comporta aspectos das viv ncias dos lugares passados e dos
273. tica para a diminui o das vulnerabilidades social ambiental e econ mica e situa es de pobreza no meio rural 169 REFER NCIAS ALMEIDA S G Caminhos da inclus o social no Agreste da Para ba Agriculturas experi ncias em Agroecologia Rio de Janeiro v 5 n 4 p 18 22 dez 2008 ALTIERI M Agroecologia a din mica produtiva da agricultura sustent vel 5 ed Porto Alegre Editora da UFRGS 2009 117 p ALBUQUERQUE U P CAVALCANTI L H CABALLERO J Structure and floristics of homegardens in Northeastern Brazil Journal of arid enviroments Amsterdan v 62 n 3 p 491 506 2005 AMOROZO M C M Sistemas agr colas tradicionais e a conserva o de agrobiodiversidade 2002 Dispon vel em lt http homologa ambiente sp gov br EA adm admargs MariaA pdf gt Acesso em jun 2011 BARDIN L An lise de conte do Lisboa Edi es 70 2002 p 287 BAPTISTA J O temporal S o Miguel das Miss es Museu das Miss es 2009 p 226 BASTIAN L Rural de Porto Alegre percep es de moradores de munic pios da regi o metropolitana 2010 136 f Disserta o Mestrado em Desenvolvimento Rural Faculdade de Ci ncias Econ micas Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2010 A ser publicada BOEF W S Biodiversidade e agrobiodiversidade In BOEF W S et al Ed Biodiversidade e agricultores fortalecendo o manejo comunit rio Porto Alegre L amp PM 2007 p 36 40
274. ticipar de mais uma edi o do projeto considerando que o consumo de frutas dentro do seu n cleo grande e o custo financeiro alto para compr las E n o apenas o consumo in natura como tamb m a industrializa o e comercializa o No entanto sua iniciativa de cultivo das rvores n o cessa pelo t rmino do projeto da EMBRAPA Ali s inicia se antes no quintal de casa como dito pelos entrevistados desta unidade familiar Preta recebeu 30 mudas do projeto da EMBRAPA h um ano e incrementou o seu quintal que j era rico em laranjeiras e bergamoteiras As rvores nativas recebidas foram plantadas n o no quintal mas na rea de lavoura para segundo ela terem uma fruta para comer quando est o trabalhando por l e tamb m porque 124 as nativas s o menos exigentes em cuidado e se desenvolver o bem naqueles locais mais in spitos com mais incid ncia de sol e pouca umidade Diferente de Alem o ela enfatiza as falhas do projeto em n o honrar o compromisso de fornecer tudo o que fora prometido al m de entregarem as mudas numa poca do ano que j n o era mais recomendado plantar rvores sendo final do m s de outubro Refere se a um homem do projeto que esteve no assentamento pr ximo do m s de junho anotando os nomes dos interessados em receber as rvores e marcaram a entrega para o pr ximo m s Preta diz eles prometeram fornecer arame e adubo que n o entregaram As mudas chegaram feias como se
275. tima definida por Sevilla Guzm n 2001 o estabelecimento de circuitos curtos para o consumo de mercadorias que permitam uma melhoria da qualidade de vida da popula o local e uma progressiva expans o espacial do com rcio segundo os acordos participativos alcan ados pela sua forma de a o social coletiva SEVILLA GUZMAN 2001 p 43 Ploeg 2009 observa o controle e regula o do mercado que segundo o projeto neoliberal da d cada de 1990 est reestruturando as especificidades locais ou regionais em um mercado global que determinam os pre os tend ncias e rela es que governam este mercado Os imp rios alimentares conformam se na perspectiva de controlar crescentemente amplos segmentos da produ o processamento e consumo globais de alimento PLOEG 2009 p 24 As consequ ncias s o muitas e conformam o quadro de priva es e depend ncia dos agricultores Os imp rios alimentares det m consider vel monop lio de poder est se tornando cada vez mais dif cil se n o imposs vel para os agricultores venderem seus produtos e para os consumidores comprarem sua comida independentemente dos circuitos controlados por eles PLOEG 2009 p 24 grifo do autor Podemos inferir que os circuitos comerciais destes agricultores contornam em parte este mercado global priorizando a venda direta e regional Esta rela o fortalece a base de recursos autogerida crucial na luta por autonomia O com
276. tiva hist rica e familiar Utilizados e formalizados como rea de produ o em termos territoriais mas tamb m como express o de localidade e coprodu o As conex es estabelecidas pelos agricultores nos seus quintais fortalecem sua capacidade de ag ncia na medida em que constroem compreens es sobre a ecologia integrada produ o agr cola O arcabou o emp rico vai sendo refor ado e complementado nas pr ticas e nas redes nas quais se inserem Da poder resultar a produ o de novidades MARQUES 2010 pelos agricultores como o biojuca E2 por exemplo Neste sentido pode se relacionar que a trajet ria da agricultura uma hist ria de produ o de novidades Atrav s dos s culos agricultores t m produzido pequenas e grandes mudan as no processo de produ o combinando elementos naturais sociais econ micos institucionais dentro de um cen rio geralmente imprevis vel e muito diverso MARQUES 2010 p 67 Tal reflex o est associada ao fortalecimento da base de recursos dispon veis dos agricultores diminuindo o grau de priva es que os mesmos sofrem no contexto da moderniza o da agricultura PLOEG 2008 2009 Estas priva es a qual os agricultores s o submetidos contribuem para a pobreza no meio rural reduzindo as capacidades dos mesmos de agirem de forma significativa nos processos e causar as mudan as sociais necess rias que convirjam para a autonomia camponesa Priva es de ordem
277. tos distintos da atividade exercida e n o generalizando a percep o sobre o ambiente natural a todas as trabalhadoras apontando a necessidade de mais estudos sobre a tem tica A compreens o de que necess rio preservar o meio ambiente e a preocupa o de que necess rio agir no sentido de se evitar os danos se faz presente no cotidiano das trabalhadoras Entretanto observamos que a consci ncia sobre a preserva o ambiental est centrada na necessidade imediata de sobreviv ncia visto que a grande preocupa o est diretamente relacionada perda dos espa os de produ o SANTOS COSTA 2006 p 5 Aqui nesta pesquisa as agricultoras revelam atrav s do lugar nutritivo que se preocupam com a disponibilidade di ria dos alimentos oferecidos fam lia assim como preparam as refei es da casa De fato retomamos o estudo de Zanetti e Menasche 2007 considerando a import ncia do papel da mulher agricultora na seguran a alimentar das fam lias As autoras Zanetti e Menasche 2007 citando Maluf e Menezes 2004 observam que a seguran a alimentar norteada pela qualidade nutricional dos alimentos e a aus ncia de componentes qu micos nocivos sa de humana os h bitos e a cultura alimentar espec ficos de cada comunidade de cada grupo social a sustentabilidade do sistema alimentar ou seja a cont nua produ o e presen a de alimentos A maneira como cada quintal percebido e constru do faz
278. tra a no o de que as plantas que ocorriam abundantemente nas matas da regi o est o se extinguindo A ocupa o do territ rio com expans o das monoculturas de soja arroz eucalipto entre outras sobre as reas de mata diminuiu as esp cies arb reas de ocorr ncia natural Para manter estas esp cies que ele considera importante baseado nos conhecimentos que possui o Mateiro disp e do seu tempo e do espa o do quintal da sua casa para produ o e reprodu o destas rvores Resiste s monoculturas e ao modelo agr cola 192 convencional atrav s da sua pr tica e exemplo cotidianos e fala no trecho transcrito abaixo sobre as mudas de rvores que encontramos no quintal eu fa o porque eu gosto amanh ou depois n o vai mais ter na hora que eu precisar botar em saquinho pra mandar pra algum lugar eu tenho E1 Alemoa expressa a pr tica da resist ncia por um modo de vida como evidenciado na fala a seguir Eu me sinto melhor do que o primeiro ano De primeiro a gente n o tinha nada ali agora temos de tudo um pouco Agora estamos mais felizes mais alegres que porque tem agora frutas tem casa tem verduras tem animais De primeiro n o tinha nada S tinha a trouxa que agente vinha que trazia nas costas Agora a gente est bem E4 O seu discurso neste trecho proclama a resist ncia camponesa em manter se dos recursos naturais dispon veis muitas vezes por falta de recursos financeiros
279. trat gias locais de resist ncia trazida por Sevilla Guzm n 2001 Escrevendo sobre minimizar as externalidades negativas na produ o do agricultor o autor nos diz Este um tema delicado e que em geral vem determinado pela natureza da depend ncia do mercado e dos agentes da circula o Normalmente os sistemas agroalimentares atrav s dos insumos de natureza industrial e estandartizada geram uma estrutura de poder vinculada s casas comerciais na maioria dos casos multinacionais ou vinculadas a elas que imp em a l gica do manejo industrial dos recursos naturais introduzindo 146 com isto as fontes de degrada o e determinando desta forma a necessidade de levar a cabo a internaliza o das externalidades dentro dos j estreitos limites da sustentabilidade Como sabido as externalidades negativas da agricultura industrializada geram diferentes impactos biosfera impactos no solo na atmosfera nos recursos h dricos na biodiversidade muitas vezes incontrol veis Por isto em nossa proposta de desenvolvimento rural sustent vel joga um papel fundamental o estabelecimento de redes locais de interc mbio de insumos localmente dispon veis como elemento de resist ncia e enfrentamento ao controle externo exercido pelas empresas comerciais introdutoras dos elementos de natureza industrial que gera impactos negativos no manejo dos recursos naturais tanto na fase de produ o como na fase de comerciali
280. trog nio no solo atrav s do cultivo de rvores leguminosas como por exemplo o ing e o feij o guand Outras rvores ele cultiva pela produ o de mat ria verde para utilizar no solo por exemplo o objetivo da aroeira que eu podo para fazer aduba o cobertura E5 A aduba o verde e forragem s o importantes no quintal como a aveia a vica e o nabo forrageiro O biofertilizante utilizado preparado pela COPTEC e distribu do para os assentados Alem o revela que n o sabe exatamente sua composi o tem urina de vaca tem carv o tem fosfato tem pedra ferro no total deve ser 9 a 11 variedades de coisas E5 Al m disso ele informa que utiliza bastante 144 creolina porque tem uns fungos que as vezes entram na folhas que enruga toda a folha e s o plantas que com a creolina e eu estou conseguindo combater por que tem um cheiro meio forte Apesar de que n o passando nelas quando por exemplo as bergamotas est o no ponto de colher Uns dias antes n o se passa E5 Alem o segue incorporando esta t cnica no seu quintal explicando Quando vai fazer dele a primeira vez tem uma por o de coisas que tem que comprar Ap s fazer a primeira vez a tem que cuidar a tu alimenta esse flocos que tem dentro a tu mesmo alimenta ele de pau e mant m ele depois Sabendo usar ele n o deixando morrer sempre tem tem que alimentar ele tem que colocar restos de alimentos para ir mantendo
281. tua es locais altamente diversas Al m do mais esta forma de interven o traz consigo uma maneira de reformar a pr tica social e o conhecimento introduzindo novos elementos advindos dos agentes interventores e deslegitimando os corpos locais de conhecimento Isso porque a interven o percebida e legitimada como a produ o cont nua de descontinuidades com 3 Long N Ploeg J D van der Demythologizing planned intervention an actor perspective Sociologia Ruralis Assen v 28 n 3 4 p 226 246 1989 125 passado uma vez que se sup e que desenvolvimento ocorre mediante a interven o e reestrutura o de formas sociais existentes e por consequ ncia as interven es externas s o indispens veis Por conseguinte os autores Long e Ploeg 1994 prop em a no o de pr ticas de interven es cunhadas pela influ ncia m tua dos v rios participantes permitindo enfocar as formas de intera o procedimentos estrat gias pr ticas e tipos de discurso e categorias culturais emergentes presentes em contextos espec ficos A internaliza o dos fatores externos geralmente cria significados muito diferentes para os grupos de interesse ou para os v rios atores individuais que podem ser executantes clientes ou espectadores Percebemos que o conhecimento adquirido pela intera o nas redes sociais que cada agricultor se insere As experi ncias s o trocadas e novas id ias surgem desta alian a H
282. ucalipto Eu n o conhecia eucalipto e levei para casa para bonito e plantei Agora baita de uma tora Esta tora eu acho que tem uns trinta anos agora E4 Desta mesma forma ela vem reconstruindo o seu lugar no quintal da for a de vontade come ando pela mudinha E4 encontrada na beira da faixa E4 Ainda assim a percep o do lugar ntimo experienciado na inf ncia permanece v vida no contraste com a experi ncia atual demonstrando que a afei o duradoura pelo lugar tamb m resultado de experi ncias ntimas e confortantes TUAN 1983 S que l em Santo ngelo a terra mais forte A eu estranhei muito A terra de Gua ba fraca e a terra de Santo Angelo mais forte Tu chega l as folhas das rvores chega a ser preta de t o bonito que Verde escura As frutas quando est o verdes bem escuras E at a cor da fruta diferente Mais alaranjada E quando o Rio Iju sa a pegava nas frutas mas n o fazia nada Aqui mais dif cil porque a terra aqui mais fraca mais areia e mais banhado e a fruta custa muito mais para crescer E4 Sua fala demonstra a constru o da percep o de acordo com Tuan 1983 neste novo lugar nesta terra nova atrav s da viv ncia neste ambiente natural j alterado anterior exist ncia do assentamento 128 Alem o tem como refer ncia o quintal da inf ncia que o mesmo quintal da av materna e da pr pria Alemoa A inf ncia na
283. uintal o pequeno jardim bot nico A rua de paralelep pedo na cidade de S o Miguel das Miss es ou apenas S o Miguel como chamam os miguelinos transforma se em ch o batido Chegamos casa do mateiro com fisionomia ind gena No p tio tomando sol debaixo de uma velha e grande pitangueira est a sua m e com longos cabelos brancos de descend ncia italiana na idade de 90 e uns quebradinho conforme nos diz o Mateiro E1 de 56 anos Ele afirma num pr ximo encontro que a v tem 94 anos FIGURA 1 Figura 1 M e do Mateiro em primeiro plano S o Miguel das Miss es em 18 de fevereiro de 2011 Fonte Fotografado pela autora Os av s vieram da It lia para a regi o das miss es e aqui alguns se casaram com os ndios ou com os negros conforme o seu relato Os av s s o italianos Tanto do lado do meu pai como da minha m e O que acontece que at hoje aqui na regi o tem gente que n o gosta de casar com os primos Acha rid culo ficar na fam lia A como eles os imigrantes italianos chegaram aqui como desciam dos barcos entre 10 ou 11 fam lias mas tudo em parentesco Quando desciam num lugar ningu m sabia onde ficaram os estranhos demais imigrantes italianos A pelo lado do meu pai Que aqui ficaram muitos negros guarani A eles imigrantes italianos se obrigavam a casar com as negras com os negros essas misturas de ra a q houve assim Pelo lado do meu pai j cas
284. uisa mais uma vez e os convido a participarem Marcamos meu retorno em tr s semanas e ent o realizarei a entrevista 93 Figura 25 A esquerda e ao centro local de concentra o das rvores de ocorr ncia natural do RS direita horta e pomar Eucaliptos E no centro fora do Assentamento Caixa de abastecimento de gua de irriga o vista ao centro e direita Eldorado do Sul em 03 de fevereiro de 2010 Fonte Fotografado pela autora Na volta parada de nibus chego de caminh o na beira da faixa pela cortesia do caminhoneiro que trabalha para a pedreira que mencionei S o 18h e 30min quando subo no coletivo e retorno capital Na minha vinda posterior entrevisto a agricultora Ficamos na sala da casa durante a tarde por mais de uma hora em entrevista Retornei tr s vezes por l e entrevistei o esposo dela e o filho de 41 anos Na quarta e ltima visita voltamos na rea onde est o as mudas fornecidas pela EMBRAPA Na entrevista foram citadas rvores arbustos ervas espont nea e cultivada Os usos relatados para todas as plantas indicadas foram o consumo da fruta e verduras frescas como alimento e medicina preventiva e o ch das folhas de algumas rvores e de ervas arom ticas A diversidade de esp cies na rea n o abrange a totalidade de plantas cultivadas por esta fam lia Segundo o relato na entrevista a fam lia disp e de mais tr s outros pomares em diferentes locais que lhes disponibiliza
285. undamental principalmente no manejo com as plantas A interven o externa de agentes institucionais ou pessoas 119 conhecidas pelos entrevistados tamb m foi indicada como importante fonte de troca de mudas sementes receitas e pr ticas de manejo diversas Dos seis locais entrevistados cinco implantaram t cnicas alternativas de produ o ap s contatar algum agente externo seja ele um t cnico estudante ou agricultor ecol gico As redes de trocas de informa es t cnicas e sementes e a import ncia destas intera es sociais s o valorizadas nos discursos colhidos No quintal da esperan a Juca considera importante a conversa que estabelece com os consumidores na feira por exemplo no trecho abaixo conta um fato que achou pertinente J me aconteceu na feira uma senhora que nem tem intimidade comigo me perguntou Juca porque as tuas beterrabas me fazem fazer xixi vermelho Coisa que antigamente era assim e as do supermercado n o s o A fica assim meio sem resposta N o sabe se a qualidade ou o que ser que Agora descobri a qualidade mesmo Porque antigamente as beterrabas comia beterraba agora e quando chegava de tarde j estava fazendo xixi vermelho Bom mas agente n o tem intimidade nenhuma e fazer uma pergunta assim A gente fica Que neg cio esse que deu E depois eu fui descobrir que a qualidade porque esta beterraba que eu estou colhendo agora n o de fazer vermel
286. undo os descritores O ordenamento n o est exatamente de acordo maior agrobiodiversidade no qual o primeiro trocaria de lugar com o segundo quintal 5 3 1 Descritores econ micos alimenta o com rcio sa de e turismo Os descritores econ micos s o aqui compreendidos como as formas de os agricultores utilizarem o quintal para o incremento da renda ou mesmo para o consumo da fam lia com diminui o do investimento financeiro na compra de alimentos e rem dios As esp cies vegetais e animais presentes no quintal s o utilizadas para alimenta o da fam lia e com rcio com venda direta aos consumidores ou pequenos mercados locais de produtos in natura ou processados A sa de est inclusa aqui focando as plantas medicinais utilizadas in natura ou processadas para o autoconsumo ou venda e na associa o entre o consumo de alimento saud vel e o manejo org nico com o bem estar do ambiente natural Ou seja a aus ncia de agroqu micos nas frutas e verduras est relacionada com a sa de humana mas tamb m com a do ambiente O turismo outra atividade realizada em um dos quintais e propiciada pela rea f sica que abrange mas tamb m pela paisagem e pelas esp cies que comporta 5 3 1 1 Alimenta o Todos os quintais s o percebidos como o espa o ao redor da casa no qual se cultivam as rvores frut feras e os alimentos A horta e o pomar s o portanto parte do quintal A cria o de animais presente sendo uns com
287. va assim como as fotografias e as entrevistas As rela es estabelecidas em torno do quintal n o s o evidentes nem mesmo expressas em sua totalidade durante as entrevistas A observa o sob o vi s do pesquisador ressalta os aspectos que s o necess rios resposta dos objetivos da pesquisa Por este limitante a descri o dos seis locais pretende conter grande parte das anota es de campo com o prop sito de permitir aos leitores evidenciarem outras rela es n o exploradas nesta disserta o As explana es feitas aqui servem para esbo ar os caminhos que ser o aprofundados durante a discuss o S o as primeiras constata es cruas do processo investigat rio Nem todos os elementos apontados neste item ser o trabalhados em profundidade por isso a import ncia de expor os aspectos que foram observados S o id ias que podem ser instigadoras para a formula o de outros projetos de pesquisa Os t tulos de 4 1 a 4 6 incluem palavras ou express es s quais foi dada maior nfase durante a entrevista Cada entrevistado construiu sua opini o sobre o quintal durante a entrevista A fala que se aproxima a uma caracter stica forte do quintal foi inclu da na denomina o do mesmo para esta pesquisa Os t tulos n o s o por tanto categorias predeterminadas nem almejam construir tipologias mas identificar a caracter stica marcante do quintal de acordo s entrevistas realizadas 57 4 1 Do meio do mato para o q
288. va dos alimentos O quintal percebido como o espa o de cultivo e produ o do alimento que ir proporcionar fam lia a nutri o provinda dos pr prios produtos agr colas e o dinheiro necess rio aquisi o de alimentos n o produzidos e satisfa o de outras necessidades como roupas e rem dios reconhecida a import ncia das rvores no processo de recupera o da qualidade do solo pela decomposi o da mat ria org nica Conforme Dora a implanta o de uma agrofloresta no local onde h o quintal compreende a produ o de alimentos aliada ao servi o de recupera o do ambiente natural degradado A pr tica do manejo org nico com vistas implanta o da agrofloresta uma alternativa para otimizar a produ o de alimentos num solo degradado pelo impacto da cria o dos b falos antes da desapropria o da rea A diversidade de plantas est associada compreens o do manejo agroflorestal naquele ambiente pouco diverso em rvores e cercado de eucaliptos Preta tamb m n o utiliza as plantas como rem dio Apesar de n o fazer nenhuma ressalva quanto ao consumo de ch s ou fitoter picos cita raramente o uso de plantas como medicinal Na sua horta tamb m n o encontramos esp cies medicinais que sejam destacadas pela agricultora No entanto a refer ncia ao alimento org nico e saud vel recorrente A condi o de produtor org nico devido ao selo adquirido fundamental no manejo do quintal O manej
289. vai tocando a vida Eu me sinto muito bem Fa o o que gosto E2 Apesar da propriedade do Mateiro n o gerar renda nem contribuir economicamente o valor dado ao trabalho realizado na rea emotivo Ao falar sobre sua satisfa o com o quintal responde Se a gente n o se considera satisfeito agente n o conserva E n o s satisfeito Isso um amor que a gente pega Parece que tenho um amigo uma pessoa com quem tenho cuidado como um amigo Aqui a mesma coisa cuidado com a rvore Eu considero as rvores esse plantio de rvores como uma pessoa Porque se plantar e n o tiver cuidado a n o adianta Se a pessoa n o considera n o tem o amor n o fica satisfeito com o que t fazendo ele vai um pouco e cansa Da ele n o termina Isso aqui n o adianta Eu vou fazer outra coisa Ent o a gente se considera nesta parte n o s eu como a fam lia tamb m Se a gente n o tem ajuda n o adianta porque um n o puxa sozinho Amigos e fam lia a gente troca de id ia e vai formando Como dizia o ga cho antigo s uma andorinha n o faz ver o E1 Na fala acima as ltimas frases retomam a import ncia antes real ada que este homem atribui rede de troca de id ia E 1 como ele denominou 190 A seguran a da terra f rtil presente no discurso dos assentados A felicidade de cultivar e colher o alimento para a fam lia associada ao prazer e satisfa o de trabalhar na agricultura
290. var apenas o aspecto salientado aqui no contexto exposto por Weid 2009 acima a aduba o qu mica n o rep e micronutrientes e os sucessivos cultivos com reposi o constante de macronutrientes acabam por esgotar a fertilidade natural do solo Weid 2009 reintegra que tais adubos s o produzidos com alto custo de energias f sseis como o f sforo e o pot ssio e estes s o os nossos recursos naturais n o renov veis Disto resulta que quanto maior a depend ncia do emprego de agrot xicos e adubos qu micos maior ser a vulnerabilidade de sistemas convencionais WEID 2009 Diante desta perspectiva necess rio fortalecer os ciclos biogeoqu micos no pr prio sistema agr cola tendo como meta a amplia o da autonomia camponesa Mesmo a utiliza o de insumos org nicos externos pode ser transfigurada em rela o de depend ncia A proveni ncia do adubo e o custo 147 financeiro s o aspectos que devem ser considerados Por exemplo n o h avalia o sobre o efeito no esterco do gado da alimenta o base de sementes transg nicas Com a compra de esterco de origem desconhecida sem informa es sobre a proveni ncia do adubo e qual tipo de alimenta o o animal ingere incorre se em poss veis riscos de contamina o da biota na rea cultivada De fato segundo Quoos 2009 a busca de um sistema de produ o agroecol gico visa a utiliza o de recursos renov veis especialmente das fontes de energia basea
291. vas experimenta es resultam na constru o de saberes e pr ticas Este tamb m um dos encontros com a Agroecologia no que tange compreens o da import ncia dos conhecimentos e capacidades locais no desenho dos agroecossistemas Gliessman 2005 por exemplo ressalta que o manejo para a produ o sustent vel deve incluir o controle da comunidade local sobre seus recursos e o conhecimento do lugar Observa ainda que a produ o de alimentos com base nas exig ncias do mercado global e o uso das tecnologias desenvolvidas externamente substituem o manejo acumulado pela experi ncia ao longo dos anos ocasionando a necessidade de mais capital energia e recursos n o renov veis A perspectiva da autonomia camponesa resumidamente diminuir os fatores externos e fortalecer as capacidades internas A Agroecologia prop e te rica e empiricamente um enfoque no desenvolvimento local como estrat gia para a agricultura A Agroecologia respeitando a diversidade ecol gica e sociocultural e portanto outras formas de conhecimento propugna pela necessidade de gerar um conhecimento hol stico sist mico contextualizador subjetivo e pluralista nascido a partir das culturas locais Ademais se desenvolve uma reflex o sobre a import ncia do desenvolvimento local ou end geno destacando a necessidade de constru o e reconstru o do conhecimento local SEVILLA GUZMAN 2001 p 35 Em 2 3 apresentam se os elementos utilizados
292. viam respostas certas ou erradas Outro fator foi a dura o da entrevista Por ser uma conversa relativamente longa ramos interrompidos v rias vezes ao longo do di logo Isto dificultava a concentra o e a manuten o do foco do entrevistado nas respostas Em um caso houve a interrup o e remarca o da entrevista em fun o de uma visita inesperada das comadres vizinhas Parte da entrevista era realizada na rea do quintal na qual o pesquisado livremente indicava as plantas e falava sobre seus usos Esta etapa dependia de fatores clim ticos e de disposi o e sa de do entrevistado Retornei em propriedades para realizar esta etapa da pesquisa Uma em fun o de doen a do entrevistado e incapacidade para acompanhar me no percurso ao ar livre na data da entrevista e outras tr s por causa da forte chuva nas datas marcadas Outra quest o que os sujeitos pesquisados s o agricultores que t m suas tarefas a lida di ria e muitas vezes n o podem interromp las As entrevistas deveriam ser marcadas com anteced ncia e obedecendo ao calend rio lunar e sazonal de plantio e colheita Muitas vezes o agricultor n o poderia parar para conversar fiado informa o verbal pois tinha necessidade de plantar ou colher na data sugerida adiando mais algumas semanas a coleta dos dados Isto ocorreu mais de uma vez e em todos os casos entrevistados Esperamos que com estas considera es possamos colaborar com outras pes
293. za o A gera o de mercados alternativos de insumos e produtos tem um papel chave como estrat gia de resist ncia O importante em nossa opini o assegurar uma tend ncia a minimizar a depend ncia do exterior das comunidades e das redes convencionais de comercializa o SEVILLA GUZMAN 2001 p 39 Esta uma perspectiva que fortalece os la os sociais e econ micos locais e os recursos dispon veis s o gerenciados local ou regionalmente Este ponto de vista real a a forma de resist ncia do lado de dentro dos processos produtivos trazido por Ploeg 2009 Refor ando a perspectiva de acesso aos insumos e escoamento da produ o Ploeg 2010 nos diz A autonomia da base de recursos que foi historicamente constru da vem sendo amea ada em diversas partes do mundo A press o sobre a agricultura de um lado o aumento dos custos produtivos do outro a estagna o ou mesmo queda dos pre os de venda o vi s urbano das pol ticas p blicas e o incentivo ado o de modelos tecnol gicos que implicam a aquisi o de insumos externos s o fatores que contribuem para a eros o da base de recursos autogestionada PLOEG 2010 p 35 por isto que as pr ticas menos dependentes de insumos externos qu micos distanciam se desta realidade da produ o capitalista e moderniza o agr cola que vem superexplorando o planeta deixando um legado de solo erodido e pobre na sua fertilidade natural WEID 2009 Para obser

Porto Alegre 2011 MARIANA FRANCISCA ARREGUY

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