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rony petterson gomes do vale - Biblioteca Digital de Teses e

1. A quest o da par dia O RISO NO INTERDISCURSO RELA ES INTERDISCURSIVAS DO DISCURSO HUMOR STICO Topia discursiva mutualismo Cenas da enuncia o e DISCURSO HUMOR STICO INTERSUBJETIVIDADE E VRBANITAS QUEM FAZ RIR DAS M SCARAS C MICAS DOS SUJEITOS DO A quest o da denomina o dos profissionais do riso Aquele que faz rir origens perfis Os c micos de adoradores de Dion sio aos sujeitos da com dia O buf o de adulador nos templos a pseudofil sofo nos O sat rico de seguidor de a cr tico bobo superintendente de bufonaria de sua majestade Humorista sim mas no verdadeiro sentido da palavra The man of humour e o molho ingl s tipo exporta o QUEM RI DE QUEM DAS INST NCIAS NO DISPOSITIVO O c mico no discurso perspectivas n veis de interpreta o Do dispositivo dos atos de comunica o humor sticos O lugar do tiers no dispositivo do discurso humor stico Alvo ou objeto do riso um lugar para aquele que simplesmente ri Do macrodispositivo
2. subst riso c mico humor ad ris vel rid culo c mico engra ado e os latinos RIDERE CACHINARE RISVS RIDICVLVS 40 primeira edi o inglesa de 1916 foi publicada com o t tulo de The wit and its relation to the unconscious J a edi o de 1969 teve o t tulo reformulado para The jokes and their relation to the unconscious E dessa ltima que resultou a tradu o brasileira de 1969 47 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 at a terminologia utilizada pelo mesmo Como exemplo Strachey explica que para tradu o do termo alem o witz chiste os correlatos em ingl s wit chiste joke chiste piada e jest gracejo eram aparentemente ou amplos demais ou estreitos demais Strachey 1996 14 15 continua no uso do ingl s normal wit e witty t m um sentido altamente restrito e aplicam se apenas a uma esp cie de chistes mais refinados intelectuais Joke chiste por outro lado parece ser ampla demais cobrir igualmente a alem Scherz piada gracejo brincadeira O mesmo se deu com as palavras alem s komische komic e humour vertidas respectivamente para o ingl s como comicality comic e humour Estas segundo Strachey soavam em alguns contextos um tanto artificiais a ouvidos ingleses Como podemos ver as rela es entre os termos
3. das artes pol tica do homem dot g urbano Por exemplo na Ret rica Arist teles baseando se no sofista G rgias afirma que o ris vel pode funcionar como argumento nas contendas devendo ser utilizado contra a seriedade do advers rio ARIST TELES 2007 p 190 Essa proposta ser seguida e aperfei oada mais tarde pelos retores e oradores latinos Dando prosseguimento a esse ponto de acordo com Alberti 1999 p 56 deve se a C cero e a Quintiliano o primeiro entendimento mais completo sobre o riso pois diferentemente de Plat o que perquiria as afec es da alma e de Arist teles que estudava a arte po tica e as quest es ticas os latinos n o colocam em seus tratados De ridiculis e De risu o problema do riso como objeto secund rio Nesse sentido na hist ria do pensamento ocidental criou se podemos dizer uma esp cie de rela o de retrospec o e de proje o nas reflex es sobre o riso e o ris vel tendo como ponto central os estudos de C cero e de Quintiliano Isso porque por um lado nesses ltimos podem ser reconhecidas as teorias anteriores de modo especial Arist teles por outro porque nos estudos posteriores medievais renascentistas e modernos podem ser ouvidos ecos das ideias de C cero e de Quintiliano ainda que reformuladas Apesar 105 disso nesse momento particular diremos de modo sucinto que ambos sistematizam na ret rica latina as coloc
4. disposi o para gracejar ridicularizar dizer fac cias de modo agrad vel espirituoso transliterado eutrapelia 9 SCVRRA AE 1 paisano civil geralmente com ideia de desprezo ou inj ria 2 janota bobo buf o histri o farsista parasita 10 RYSTICVS campon s lavrador camp nio RVSTICVS 1 dos campos campestre rural 2 r stico rude grosseiro inculto simples ing nuo no bom mau sentido 3 esquivo bisonho 101 Skinner 2002 34 35 alega entretanto que as reflex es posteriores do pensamento de Arist teles sobre as fun es do riso no discurso se ativeram principalmente ideia exposta na Po tica a reprova o dos v cios como a avareza a hipocrisia a soberba das pessoas que apresentam um comportamento rid culo como por exemplo a extravag ncia ou a falta de naturalidade nas a es ou no falar Apesar disso deve ser ressaltado que essa reprova o dos v cios como apresentaremos mais 84 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 somente em prol do ataque a um determinado alvo mas sim para compartilhar um momento e HARIs sem dor nem destrui o Uma continuidade desse posicionamento pode ser percebida em outros textos e passagens nos quais Arist teles discute a funcionalidade do riso nas v rias atividades
5. Portanto assim que o poeta c mico emitir a primeira nota c mica acrescentar a segunda de modo instintivo e involunt rio BERSGSON 2007 p 40 41 Isso se explica pela proximidade entre as categorias Por exemplo um jogo de palavras trocadilhos ambiguidades invers es respons vel muitas vezes por certas mudan as de isotopia pode implicar tanto um barbarismo cf parte 2 violentississ ssima quanto uma ironia sarcasmo cf parte II cap 2 item 2 2 Ah pega no meu pau Portanto se seguimos uma separa o dos elementos e dos procedimentos mais por uma necessidade de certo modo did tica de estabelecer uma ordem na apresenta o das principais caracter sticas lingu sticas e discursivas que um texto lato sensu pode apresentar ou sugerir para desencadear o riso Desse modo no que se segue buscamos ir al m da simples identifica o das causas lingu sticas e discursivas do riso Primeiramente apresentamos uma vis o panor mica e ao mesmo tempo cr tica de algumas das principais tentativas de sistematizar os expedientes respons veis pelo riso no tocante l ngua e ao discurso de modo a tornar 110 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 mais preciso para os objetivos desse percurso o conceito de formas do riso Em seguida avan amos em dire o quest o da utiliza o e da reu
6. e o terceiro chiste piada gra a Se continuarmos testando os la os sem nticos entre os demais termos construiremos uma outra lista infind vel de correla es sinon micas importante ressaltar tamb m que na lista apresentada se encontram misturados termos que designam ora g neros anedota chiste com dia gracejo piada s tira ora qualidades ligadas ao riso comicidade hilaridade mordacidade risibilidade ora ju zos de valor sobre seres e a es burlesco c mico humor stico ironismo macarr nico grotesco rid culo ris vel sat rico o que dificulta ainda mais o estabelecimento de um padr o de classifica o tanto para g neros e textos quanto para sujeitos e atitudes digamos pertencentes ao universo do riso Outra quest o relacionada aos termos ligados ao riso diz respeito correla o entre termos pertencentes a diferentes pocas e l nguas Nessa perspectiva Possebon 2003 por exemplo nos explica que a defini o dos termos correlatos ao riso se nos apresenta problem tica pois l ngua portuguesa achamos importante coloc lo na lista de modo a mostrar que os g neros do humor como os g neros em geral est o sempre sendo re inventados Isso se deve muitas vezes tamb m ao fato de esses termos passarem por um processo de redefini o dependendo da rea do conhecimento nas quais s o utilizados como categorias de an lise servindo ora para designar coisas difere
7. 4 obras c micas verbais BAKHTIN 2010 53 comicidade das palavras BERGSON 2007 76 et para citar algumas Al m disso humorismo termo correlato de humor e de humor stico teria a vantagem de acordo com Eco 1984 350 em rela o a c mico termo muito geral como jogo por se mostrar a um s tempo metalingu stico metatextual e metassemi tico pois por um lado promove um distanciamento em rela o s quest es que discute fazendo da voz que reflete sobre as situa es Nessa linha podemos citar o trabalho de Compart 2009 no qual o autor se prop e a compreender lugar do riso e do sorriso enquanto rea es espont neas nos processos de socializa o dos indiv duos 51 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 sociais uma inst ncia mesmo oculta da enuncia o ECO 1984 p 351 grifos do autor Por outro lado porque representa potencialmente uma cr tica consciente e explicita da regra social que pressup e e Em rela o ao riso Veissid 1978 p 143 prop e que o humor de um modo geral um m todo artificial de produ o do riso enquanto a com dia coloca o sujeito em condi es diretas de rir vislumbrando o espet culo por interm dio dos atores e claro das personagens no palco o humor por sua vez seria uma descri o ou uma sugest o dessas situa es c mic
8. Curso de filosofia aristot lica leitura e interpreta o do pensamento aristot lico Barueri Manole 2003 BOCCACCIO G Decamer o S o Paulo Editora Abril 1971 BONHOMME J Isotopia In CHARAUDEAU MAINGUENEAU D Dicion rio de an lise do discurso 2 ed S o Paulo Contexto 2006 p 292 294 BONNAFOUS J Norma In CHARAUDEAU MAINGUENEAU D Dicion rio de an lise do discurso 2 ed S o Paulo Contexto 2006 p 348 350 BOSI A Hist ria concisa da literatura brasileira 48 ed S o Paulo Cultrix 2012 BREMMER J Piadas comedi grafos e livros de piadas na cultura grega antiga In BREMMER J ROODENBURG orgs Uma hist ria cultural do humor Rio de Janeiro Record 2000 p 27 50 BREMMER J orgs Uma hist ria cultural do humor Rio de Janeiro Record 2000a BREMMER J ROODENBURG H Humor e hist ria In BREMMER J orgs Uma hist ria cultural do humor Rio de Janeiro Record 20006 13 25 BRONCKART J P BOTA Bakhtin desmascarado hist ria de um mentiroso de uma fraude de um del rio coletivo S o Paulo Par bola 2012 BUENO S Dicion rio escolar da l ngua portuguesa 6 ed FENAME 1969 BURTON The anatomy of melancholy London Oxford University Press 1989 BUSATTO L Posf cio M F e sua gram tica In FRADIQUE M Grammatica portugueza pelo methodo confuso adoptado em todas as escola
9. UM LUGAR PARA AQUELE QUE SIMPLESMENTE RI Vimos at aqui que a categoria do alvo por defini o carrega em si independentemente do referente visado um forte matiz de derris o e por conseguinte de agress o a outrem Mesmo quando nos fala que sujeito locutor pode buscar uma coniv ncia l dica que visa um alegramento em si mesmo livre de qualquer julgamento sat rico ou zombeteiro Charaudeau 2006a p 36 n o negligencia a possibilidade de que esse julgamento esteja presente mesmo que de modo subjacente no ACH Tamb m somos partid rios da opini o de que dificilmente um efeito de sentido totalmente desprovido de car ter negativo de agress o de derris o possa ser inferido dos enunciados de natureza humor stica o que se deve em muito aos postulados filos ficos p s renascentistas sobre o riso e o ris vel cf parte 1 cap 2 itens 2 2 1 e 2 2 2 2 Apesar disso h sempre a possibilidade como nos explicam algumas autoridades de que o riso represente um estado de esp rito l dico e inocente BAUDELAIRE 1855 p 9 um desejo de reviver os folguedos da inf ncia BERGSON 2007 p 50 elevando no homem as for as vitais o desejo de viver e de tomar parte na vida PROP 1992 p 163 Admitindo se assim a estreita rela o entre o riso bom alegre e a ludicidade parece nos providencial estabelecer a possibilidade de exist ncia em um dado texto do que 28 Cf sketch Debate pol t
10. comme spectateur d sint ress aux ph nom nes de son moi Mais le cas est rare Les animaux les plus comiques sont les plus s rieux ainsi les singes et les perroquets 181 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 para que haja c mico isto emana o explos o libera o do c mico necess rio que haja dois seres em presen a que especialmente no ridente no espectador que reside o c mico que entretanto relativamente a essa lei da ignor ncia necess rio fazer uma exce o aos homens que t m feito o trabalho de desenvolver neles mesmos o sentimento do c mico e de tir lo de si para o divertimento de seus semelhantes tal fen meno se choca com a classe de todos os fen menos art sticos que denotam no ser humano a exist ncia de uma dualidade permanente o poder de ser a uma s vez o outro e si mesmo BAUDELAIRE 1855 15 tradu o e grifos nossos Buscando uma reconcilia o entre o riso e a filosofia Baudelaire evidencia a fragmenta o ou desdobramento do sujeito do eu n o somente no ato da percep o do c mico mas tamb m no modo de produzir o c mico ou seja o sujeito sente experiencia ao mesmo tempo em que produz o c mico numa esp cie de circularidade 5 entre objeto e sujeito que mais tarde na teoria psicanal tica e nas teorias do discurso tornar se patente f
11. esclarecimento a revela o do que estava escondido e a peculiaridade da brevidade 30 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 25 Da ap s submeter um coment rio considerado chistoso par frase Freud chega conclus o de que um pensamento pode em geral ser expresso por v rias formas ling sticas ou seja por v rias palavras que podem represent lo com igual aptid o FREUD 1996 p 25 Isto a forma parafraseada ou mesmo traduzida muda mas o sentido permanece entretanto perde se o efeito c mico Logo o car ter do chiste aquilo que segundo Freud faz nos rir a bom rir n o est no pensamento mas na forma verbal ou melhor n o pode haver d vida que precisamente dessa estrutura verbal que dependem o car ter do chiste como chiste e o seu poder de causar o riso FREUD 1996 p 26 27 Como podemos ver para Freud 1996 a forma verbal se estabelece como crit rio fulcral em seu trabalho com os chistes e por consequ ncia para a sele o do corpus de sua pesquisa No entanto o mesmo Freud n o deixa de levar em considera o o riso ainda que secundariamente sob o aspecto de efeito c mico Nas suas pr prias palavras pois natural que escolhamos como assunto de nossa investiga o exemplos de chistes que nos tenham impressionado mais no curso de nossas vidas e que nos tenham
12. o entre as tarefas necess rios ao esp rito e moral ensinando sobre coisas teis para a vida e o que se deve fazer para n o cair em pecado lingu stica permitindo aos jovens escrever coisas c micas tipo de pecado perdoado na adolesc ncia do monge de modo que esses pudessem aperfei oar o uso da gram tica da l ngua latina e a estil stica dos textos e ret rica utilizando os limitados em quantidade e em qualidade como argumento nos serm es para aliviar a seriedade desses ltimos e para chamar a aten o dos fi is para o ensinamento s rio que viria na sequ ncia Em suma o riso n o poderia segundo essa concep o crist ter um fim em si mesmo devendo ser utilizado para alcan ar o bem de acordo com os des gnios divinos e para evitar o pecado Entretanto nos alerta Le Goff 2000 que embora todas as proibi es ao risvs os monges desenvolveram com base na derris o na zombaria outras formas de distra o os 10CA esp cie de anedotas picantes sobre curas judeus e arm nios No Renascimento por sua vez as discuss es sobre as fun es do riso podemos dizer se apresentam num movimento pendular entre o seu uso ret rico fundamentado em m 2 Lat alegria tempor ria m Lat alegria pr pria do esp rito humano DELECTATIO ONIS deleita o deleite pr
13. o um di logo Apesar disso uma situa o monologal na qual os parceiros n o est o presentes mas sim mediados por um sistema de computar semelhante ao que acontece nos telefonemas O registro se d pela escrita embora seja instant neo Mas quem s o os parceiros Quem s o os protagonistas Quem ou o que o alvo De acordo com Charaudeau 2006a a percep o do sujeito analisante nesse primeiro momento deve voltar se para o sujeito que demonstrar ter uma inten o humor stica dentro do ato de comunica o No nosso modo de ver preferimos tratar essa inten o como uma visada de fazer rir que pode ser identificada nos textos a analisar a partir intui o no caso presun o do que pass vel de fazer rir No texto analisado Dispon vel em lt http www facebook com GinaIndelicada gt Acesso em 22 ago 2012 209 De acordo com Capelo 2012 o respons vel pela p gina Gina Indelicada um estudante de publicidade de 19 anos chamado Ricck Loppes O fake considerado um dos maiores sucessos virais da internet em menos de uma semana 14 a 23 de agosto 2012 a p gina atingiu a marca de 1 1 milh o de seguidores o povo o Facebook adora uma zombaria Ainda segundo Capelo o estudante est ganhando com a marca de venda de camisetas a patroc nios de v rias empresas para veicular publicidades em sua p gina Todavia a festa parece estar com os seus dias contados A ind stria respon
14. Saliba 2002 ressalta que O humorista n o era reconhecido socialmente e eles pr prios tinham dificuldade em reconhecer se como humoristas O mais not vel que quando designados publicamente como humoristas o r tulo colava se a eles como a m scara do palha o e n o havia meio de tir la SALIBA 2002 p 133 134 Muito embora nesse mesmo contexto a anedota gerasse um certo sucesso perante o p blico ela n o apresentava valor est tico nenhum n o trazia status de literato para o escritor mambembe Assim n o de se espantar que alguns humoristas dessa poca como por exemplo Bastos Tigre e Em lio de Meneses procurassem escrever poesia s ria no formato parnasiano Al m disso numa tentativa de se esquivar dessa m scara humor stica o uso de pseud nimos passa a ser uma estrat gia discursiva n o somente dos humoristas mas tamb m dos literatos que a exemplo de Olavo Bilac Guilherme Passos Martins Fontes entre outros por vezes escreviam quadras humor sticas e slogans digamos bem humorados para a publicidade da poca Nesse caso Lustosa 1993 p 69 sugere que a irrever ncia marca do humorista dificilmente poderia caber na atitude sublime do poeta no seu arrebatamento rumo ao et reo e outras formas de que se fazia at ent o uma vez que essa irrever ncia era uma moeda social sem d vida pois dava prest gio e poder mas n o era reconhecida como express o de arte 376
15. duplica o da mol cula de ADN cido desoxirribonucleico em ingl s DNA Da dizem se replicantes as c pias de ADN produzidas a partir de outra mol cula como molde J no campo das Belas Artes pintura escultura denominam se r plicas as c pias ou as imita es de determinadas obras ou de tra os dessas HOUAISS 2009 Em nosso percurso assumimos uma amplia o desse conceito no campo da Science Fiction SCI FI Tomando como base o conflito descrito no romance Do androids dream of electric sheep em portugu s Blade Runner perigo eminente no qual androides fabricados imagem e semelhan a do homem por m mais fortes e agressivos reivindicam al m dos direitos civis dos humanos mais tempo de vida eles s duravam poucos anos cf DICK 1968 o diretor Ridley Scott tece o conceito de replicantes para a sua adapta o cinematogr fica do romance SUPPIA 2008 p 2 Com replicantes Scott substitu a o conceito de androide muito em voga na poca Esse conceito j se encontrava muito desgastado e devido est tica de film noir desejada por Scott para o mundo sombrio e futurista de Blade Runner se aplicava com certas dificuldades a seres fabricados biologicamente em s rie Al m disso podemos dizer que com replicantes Ridley Scott amplia de certo modo as discuss es tanto em Filosofia quanto em Literatura SCI FI a respeitos dos conceitos de cyborg de androide e tamb m de clone ao abordar o desco
16. explicitamente um julgamento negativo enquanto que naquela o que h uma express o de um julgamento positivo o que acarreta por um lado a n o percep o da discord ncia entre o que dito e pensado ambos no sarcasmo zombaria negativos por outro pode se constatar um exagero no que dito em rela o o que pensado numa esp cie de hiperboliza o do julgamento negativo 272 De acordo com Charaudeau 20064 pode se considerar a ironia como um ato de enuncia o que produz uma dissocia o entre o que dito e o que pensado no sentido de discord ncia ou mesmo de contr rio daquilo que dito pelo e o que pensado pelo EU o enunciado dito pelo enunciador se apresenta sempre como uma aprecia o positiva mascarando a aprecia o que pensada pelo autor e que ent o negativa CHARAUDEAU 2006a p 28 tradu o nossa Desse modo a enuncia o faz coexistir o que dito e o que pensado ou seja de certa maneira deixar transparecer para um destinat rio ideal o que pensado apesar de n o dito Da a presen a dos ndices ou ind cios para que o destinat rio possa realizar a convers o No original 1 dit par l nonciateur se pr sente toujour comme une appr ciation positive masquant lappr ciation qui est pens e par lauteur et que donc est toujour n gative 273 aak A respeito dos tipos de incoer ncia veja o ap ndice B 274 Deve ser
17. los da comicidade Como o autor adverte esta ltima sempre se mostrou mais atraente para os pensadores e escritores que se debru aram antes dele sobre o tema Contudo Freud admite que lendo esses trabalhos dificilmente se enxergar os chistes fora de sua liga o com o c mico Desse modo Freud ap s passar em revista as caracter sticas dos chistes apontadas pelas autoridades antecipa que o efeito c mico dos chistes est ligado forma lingu stica e brevidade textual que juntas constituem a estrutura dos chistes Todavia com seu esp rito cient fico o te rico austr aco desejoso de demonstrar que a uni o da forma e da brevidade o cerne dos chistes prop e que para um dito se tornar um chiste ou o pensamento expresso na senten a possui em si mesmo o car ter de chiste ou o chiste reside na express o que o pensamento encontrou na senten a FREUD 1996 p 10 Como se sabe nesses trabalhos o interesse de Freud para al m dos chistes e seus efeitos c micos a busca pela estrutura on rica a partir dos processos psicol gicos similares entre os sonhos e os chistes Somente mais tarde no artigo Der humor de 1927 que ele se dedicar mais especificamente a quest es do humor De acordo com Freud 1996 p 22 essas caracter sticas s o a atividade a rela o com o conte do dos nossos pensamentos as ideias contrastantes o sentido no nonsense a sucess o de desconcerto
18. mais especificamente o publicit rio o midi tico jornal stico e o liter rio cf parte II cap 4 209 N o devemos confundir as rela es de transtextualidade com as rela es interdiscursivas t picas do mutualismo oportunista e replica o A reutiliza o de determinados enunciados e ou de estilos individuais pelos humoristas na maior parte das vezes se configura somente enquanto casos de intertextualidade hipertextualidade comuns a qualquer tipo de discurso cf na parte II cap 4 item 4 3 reutiliza o dos enunciados proferidos pelo humorista Rafinha Bastos n o atingindo necessariamente estrutura tipol gica do discurso mas t o somente materializa o lingu stico textual dos enunciados 151 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 medo da ridiculariza o ligada ao matiz de derris o aferido aos g neros e aos textos ditos humor sticos e Possui uma aparente aus ncia de estrutura tipol gica Caracter stica que por vezes faz com que n o se admita o seu status de tipo de discurso Todavia exatamente essa aparente aus ncia de estrutura que propicia ao replicar uma gama de propriedades estruturais relativas s cenas de enuncia o em especial cena englobante e aos macrodispositivos conceptuais dos outros tipos de discurso cf parte II cap 2 item 2 5 e Utiliza um c digo linguageiro com caracter sticas pr
19. o As consequ ncias desse ponto de vista podem ser percebidas quando se segue essa linha de racioc nio Chabrol 2006a em seu trabalho focado sobre a rela o entre o humor e discurso midi tico prop e para esse fim que se restrinja o campo de pesquisa a somente produ es intencionalmente humor sticas CHABROL 2006 7 tradu o nossa Aqui surgem duas quest es 1 como o analista define o que uma 20 No original Il est plut t une certaine mani re de dire l int rieur de ces diverses situations un acte d nonciation des fins de strat gie pour faire de son interlocuteur un complice No original seules productions intentionnellement humoristiques 40 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 produ o humor stica como garantir a intencionalidade de um ato de comunica o Sobre essas quest es Chabrol a exemplo de Charaudeau 2006a se apega busca da coniv ncia do interlocutor pelo sujeito falante que se d por meio de estrat gias de humor todavia acreditamos que antes de pensar em coniv ncia o fator humor presente na produ o dita humor stica passa pelo crivo dos problemas do riso ou melhor de um fazer rir Problemas que ambos os autores Charaudeau e Chabrol procuram colocar de fora da quest o Restringido o escopo da pesquisa e afastado o problema do riso Chab
20. o humor stico ou seja quem faz rir quem simplesmente ri de quem se ri e quem ri de quem Isto qual a fun o de cada um dos sujeitos do riso na mise en sc ne interna e externa do Quais s o as condi es para o uso do riso as principais recomenda es ticas ret ricas para a constru o de um discurso baseado no riso e quais principais implica es eth ticas para aquele que pretende utiliz lo iv Qual ou quais os lugares topia dos sujeitos do riso em rela o aos diferentes campos discursivos considerando a influ ncia da quest o profissional desses sujeitos na constitui o tanto na imagem ethos que se cria desses sujeitos quanto da legitima o do discurso dos mesmos Cada um dos pontos acima ser perscrutado respectivamente nos cap tulos 1 2 3 4 E como uma nova etapa determina um novo ponto de partida iniciemos pela imagem que se faz dos sujeitos do riso ou melhor dizendo pelas suas m scaras c micas 154 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 PARTE CAP TULO 1 QUEM FAZ DAS M SCARAS C MICAS DOS SUJEITOS DO RISO V rios fil sofos definiram o homem como um animal que sabe rir Poderiam tamb m t lo definido como um animal que faz rir Henri Bergson 2007 p 3 155 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale
21. o de comunica o seleciona para definir sua finalidade uma ou v rias visadas dentre as quais geralmente uma s vezes duas dominante J em rela o s visadas diremos que s o elas que marcam a intencionalidade do sujeito falante a partir de um ponto de vista de an lise isto sugerir que uma visada x ou y faz parte de um ato de comunica o est ligado ao julgamento de um sujeito analisante a respeito de determinado conjunto de textos organizados em torno de atitudes enunciativas de mesma orienta o pragm tica CHAR AUDEAU 2004 23 Com efeito voltando ao caso analisado devemos considerar ent o que a ncora do JN tinha dentro do contrato de comunica o midi tico a finalidade de transmitir informa es contudo a estrat gia utilizada consciente ou inconscientemente pode ser percebida e descrita como uma visada digamos de fazer rir que juntamente com outras visadas por exemplo a visada de fazer saber constitui a finalidade daquele ato de comunica o midi tico O que se evidencia a respeito da explica o sobre ponto G n o somente por ser uma leitura tendenciosa do texto mas tamb m circunstancial o fato de o texto estar no portal G1 falar do mito ponto e ser uma tradu o brasileira das palavras de uma americano n o totalmente descabida Em segundo lugar al m da sinon mia entre finalidade e visada preciso destacar que a percep
22. o nossa No original Si le rire est le propre de homme Pusage du langage et de l argumentation en est un autre 71 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Ao fim do cap tulo anterior vimos que o conceito de linguagem do riso LR abre a possibilidade de se relacionar discurso e riso numa perspectiva que inclui n o somente a l ngua no sentido saussuriano mas tamb m o sujeito que utiliza essa linguagem Em outras palavras ao observar os atos de linguagem voltados para o humor o c mico o rid culo etc sob uma perspectiva linguageira o sujeito passa a ter papel fundamental no desvelamento dos efeitos de sentido pois esses atos como os atos de linguagem em geral n o est o isentos do princ pio da intencionalidade Desse modo neste cap tulo achamos de suma import ncia discutir a rela o entre as finalidades e as visadas discursivas concernentes ao discurso humor stico DH Antes por m faz se necess rio apresentar algumas quest es que rondam esses conceitos para que em seguida possamos articul los com o nosso ponto de vista sobre a rela o discurso riso Em primeiro lugar devemos estar atentos para os aparentes problemas de sinon mia que cercam os conceitos de finalidade e de visada discursiva Por estarem fortemente imbricados esses conceitos muitas vezes s o tomados como sin nimos o que est longe de ser uma verdade pois
23. selecionar uma ou mais visadas tendo uma como predominante o que se d por exemplo em g neros ou em textos parodiados ou transferidos de seus suportes Do que foi exposto at aqui devemos salientar que as visadas se apresentam com um car ter duplo de um lado elas s o elementos constituintes do contrato de comunica o compondo as finalidades discursivas de outro lado elas s o um meio ou melhor um instrumento de observa o da inten o comunicativa da inst ncia de produ o fundamentado tanto em pressupostos te ricos quanto em diferentes tipos de saberes cient ficos emp ricos e intuitivos Por essas raz es antes de esclarecermos o que vem a ser a visada de fazer rir devemos procurar elaborar um quadro te rico que n o somente esboce o que significa fazer rir mas tamb m que apresente a que prop sitos outros essa inten o possa vir a servir 2 2 FINALIDADES VISADAS E DISCURSO HUMOR STICO Presente em n situa es o riso e o fazer rir podem desempenhar as mais variadas fun es de simples alegramento derris o de argumento na orat ria a tratamentos cl nicos as terapias do riso entre outras Longe de apresentar todas as fun es que o riso pode desempenhar o que demandaria v rios tratados e mesmo assim n o esgotaria o assunto nossa proposta aqui trazer baila da discuss o o ponto de vista de alguns pensadores e autoridades sobre o tema de modo a apresentar como c
24. 2013 simples durante banquetes ou descidas ao Hades n o preocupada com os ditos vulgares aberta ao c mico ao riso e ao mesmo tempo misturada com tom s rio numa esp cie de politonalidade Com efeito para Bakhtin 2010d p 141 essa linguagem a servi o da carnavaliza o apresenta uma cosmovis o de mundo ao avesso presente em diferentes momentos da hist ria do homem sendo que sob a gide dessa cosmovis o que surgiriam surgem espa os relativamente livres do medo e das coer es sociais um ambiente prop cio para o desenvolvimento do riso nas diferentes formas de manifesta o par dia humor ironia festas etc Todavia um riso de car ter ambivalente que zomba para renovar numa fus o entre j bilo e ridiculariza o J em Quest es de literatura e de est tica s o evidenciadas as fun es do riso dentro de outros g neros como por exemplo na autobiografia na qual o riso se torna s tira e por conseguinte assume uma forma reduzida do riso humor ironia bufa prioritariamente de car ter negativo BAKHTIN 2010c p 260 Bakhtin 2010c p 309 322 tamb m reflete sobre o riso ritual que ridiculariza as autoridades as atitudes dos soldados romanos frente ao imperador durante o Triunfo o casamento zombando a figura do noivo etc Tamb m os sujeitos do riso s o estudados por Bakhtin principalmente no que toca a licenciosidade de sujeitos como o buf o e o bobo figuras que riem e s o ao mesmo t
25. 215 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 No Livro da Po tica Arist teles apresenta os princ pios b sicos os meios os objetos e os modos das formas de m mesis presentes na epopeia na trag dia na com dia no ditirambo na flauta e na citara Em seguida s o delineados os objetos das formas de imita o em rela o ao homem Uma vez que quem imita representa os homens em ac o for oso que estes sejam bons ou maus os caracteres quase sempre se distribuem por estas categorias isto todos distinguem os caracteres pelo v cio e pela virtude e melhores do que n s ou piores ou tal e qual somos ARIST TELES 2004 p 39 A partir disso Arist teles exemplifica como essa diferencia o pode se dar na arte po tica Partid rio de uma superioridade est tica do estilo de Homero afirma que esse representou seres superiores na epopeia enquanto outros poetas como por exemplo Heg mon de Tasos autor de par dias e Nic cares autor da Dil ada ou Deiliada representaram seres inferiores ARIST TELES 2004 p 40 44 Ainda seguindo essa linha de racioc nio o fil sofo maced nico nos diz que j em Homero se encontram os 320 g rmens da com dia por m numa forma elevada de c mico O que se deve ao fato de que Homero n o fez s tira explorando o vitup rio mas sim dramatizou o rid culo Assim delineiam se os
26. 5 Assim o xito de uma metodologia ao avesso aliada a certas pretens es pedag gicas justificadas faz com que o texto de Fradique mantenha um di logo constante com os discursos que fundamentam tais a es o cient fico o liter rio e o did tico pedag gico Nesse ponto como adiantamos somos levados a concluir que o DH passa a compartilhar o status de discurso mediador com o discurso pol tico uma vez que ambos podem se utilizar de argumentos e de temas advindos dos discursos constituintes direcionando os para finalidades espec ficas No entanto diferentemente do discurso pol tico o DH n o assume devido sua natureza iconoclasta e sua incapacidade de autolegitimar a pr pria enuncia o pretens es de se tornar um discurso constituinte Pelo contr rio enquanto discurso mediador e mimot pico sui generis o DH parece construir uma 1 M todo Confuso tem suas origens na publica o p stuma da obra do escritor Lu s Delfino feita por seu filho Thomaz Delfino Segundo Busatto 1984 p 274 o fato de essa publica o ter se dado de modo disperso em v rios volumes e sem uma ordem ou um crit rio impossibilitou o acompanhamento da evolu o est tica da obra de Lu s Delfino Fradique por sua vez caracteriza o m todo como uma esp cie de cruz ou calv rio que marcaria sua produ o textual posterior De acordo com esse autor ele n o tinha mais sequer o direito de errar pois o leitor indulgente acreditou
27. Noutros momentos desse percurso vimos que par dia sempre foi aferido um grande potencial gerador do riso a ponto de por vezes ela ser tomada juntamente com o burlesco a caricatura e a ironia como sin nimo de riso Entretanto alguns estudiosos viram na par dia outras possibilidades de estrat gicas discursivas e de efeitos de sentido que excedem o riso e o ris vel Nessa linha de racioc nio ressaltamos os trabalhos de Genette 1982 e de Maingueneau 1997 Buscando explicar como funcionam as pr ticas hipertextuais que possibilitam a um dado texto B hipertexto retomar um texto A hipotexto Genette 1982 observa que o 127 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 grau de complexidade simples direta ou indireta da transforma o pela qual passa o texto A at chegar ao B pode atingir n o somente a estrutura textual mas tamb m a fun o pragm tica de A Com isso em mente Genette antev ao iniciar suas reflex es pela par dia uma confus o terminol gica em torno desse termo devido a uma converg ncia funcional baseada nos diferentes matizes do efeito c mico Isso porque argumenta Genette o termo par dia pode ser utilizado tanto para uma deforma o l dica mais ou menos isenta de zombaria ou para uma transforma o burlesca de um texto quanto para uma imita o sat rica de um estilo Diante disso Genette 1982 p 33 et se
28. O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 21 h uma certa cautela em esses textos e g neros sejam atualmente bastante estudados lhes atribuir uma filia o discursiva efetiva Em palavras mais t nues a hip tese de que esses g neros e textos perten am a um certo tipo de discurso no caso o discurso humor stico DH ora negligenciada em favor de uma filia o digamos extraviada para outro tipo de discurso ora ela tomada como um axioma Nesse caso tem se ent o n o uma hip tese mas um fato e por conseguinte n o h necessidade de demonstra o desse axioma importante ressaltar que essa cautela se deve muitas vezes ao fato de piadas anedotas chistes poderem ocorrer no interior de g neros engendrados por outros discurso como por exemplo o liter rio o midi tico o pol tico entre outros No entanto nos parece que esse tipo de racioc nio fica comprometido ao ser aplicado a g neros mais complexos como o sketch o stand up e por que n o dizer as pegadinhas se entendemos por essas ltimas uma forma mais atual das burlas a que se referia Castiglione A nosso ver essas dificuldades em torno do DH se devem a quest es ligadas interdiscursividade como por exemplo a imprecis o sobre as rela es que esse tipo de discurso estabelece com outros discursos e as d vidas quanto ao seu estatuto de tipo de discurso capaz de en
29. Paris Presses Universitaires de France 1972 FALC O Oportunidade nica Lindo bonito e joiado Fortaleza Continental 1992 FARIA E Dicion rio latino portugu s Belo Horizonte Livraria Garnier 2003 FAVRE R Le rire dans tous ses clats Lyon Presses Universitaires de Lyon 1995 FEDRIZZI A org O humor abre cora es E bolsos Rio de Janeiro Campus 2003 FERREIRA A B H Dicion rio Aur lio da l ngua portuguesa 5 ed Curitiba Positivo 2010 FLORES V N et al orgs Dicion rio de lingu stica da enuncia o S o Paulo Contexto 2009 FRADIQUE M Feira livre antologia das letras nacionais pelo m todo confuso Rio de Janeiro Beijamin Costallar amp Miccolis 1923 FRADIQUE Desvantagens do methodo confuso In l gica do absurdo Rio de Janeiro Editora Leite Ribeiro 1925 FRADIQUE M Grammatica portugueza pelo methodo confuso adoptado em todas as escolas primarias secundarias e terciarias do Brasil e suburbios 3 ed Rio de Janeiro Rocco 1984 FRADIQUE M Hist ria do Brasil pelo m todo confuso S o Paulo Companhia das Letras 2004 FREJAT Amor pra recome ar Amor pra recome ar Warner Music Brasil 2002 267 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 FREUD S O humor In Obras psicol gicas completas de Sigmund Freud 2 ed 1 reimpr Rio de Janeiro Imago 1988 p 163 169 FREUD S Os chistes e
30. TENERE 347 Cf De ridiculis 219 223 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 sejam orgulhos c a afei o das pessoas pois se deve evitar atingir pessoas amadas Isso se deve ao fato de que esse uso do riso est limitado a atacar somente alguma torpeza v cio ou deformidade das por m essas devem ser nem queridas nem desafortunadas e N o se deve utilizar de obscenidades uma vez que essas podem se aproximar dos gestos do m mico farsista ou comediante ou das palavras do buf o voltando se contra o orador Pois ao orador importa ocultar a imita o para que aqueles que o ouvem cogitem mais do que v em preciso que ele o orador mostre seu pudor e evite a torpeza das palavras e as coisas obscenas C CERO apud MARQUES JR 2008 p 52 53 Tais tipos de imita o baseadas nos gestos na fisionomia facial no timbre e no tom de voz da pessoa ridicularizada alerta o retor n o s o coisas dignas de f rum mas das festas liberais Quintiliano ao abordar a quest o alerta para algumas caracter sticas ticas dos GENERA VRBANITATIS Para ele os ditos rid culos quase sempre incorrem em uma n o verdade s o s vezes propositadamente distorcidos e nunca s o enaltecedores Logo s o perigosos devido sua proximidade com o esc rnio A partir disso o retor passa a orientar o seu leitor dos risc
31. Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Letras IIl T tulo CDD 418 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE P S GRADUA O EM ESTUDOS LINGU STICOS FOLHA DE APROVA O O discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso RONY PETTERSON GOMES DO VALE Tese submetida Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de P s Gradua o em ESTUDOS LINGU STICOS como requisito para obten o do grau de Doutor em ESTUDOS LINGU STICOS rea de concentra o LINGU STICA DO TEXTO E DO DISCURSO linha de pesquisa Linha E An lise do Discurso Aprovada em 02 de agosto de 2013 pela banca constitu da pelos membros Reute ce Le CE Prof a Renato de Mello Orientador UFMG Prof a Amarante de Mendon a Mendes UFMG A Pro Jo o Bosco Cabral dos Santos Universidade Federal de Uberl ndia nica S Sema evo Prof a M nica Santos de Souza Melo Universidade Federal de Vi osa Belo Horizonte 2 de agosto de 2013 Para meus pais Paulo e Luci e para minha irm Paula Para Tia Lourdes In memoriam Agrade o Deus por ter me dado a oportunidade de fazer valer os momentos de vida a mim concedidos Agrade o minha fam lia por entender todos os momentos que n o pude estar com eles enquanto escrevia essa tese Agrade o ao professor Renato de Mello por todos os anos de orienta o pela paci ncia comigo e com o meu te
32. a agress o f sica entre outras ligadas s mais diversas finalidades a que pode se prestar um ACH a saber escarnecer ironizar divertir educar vender um produto uma ideia aterrorizar zombando falamos aqui do humor negro etc Contudo face linguageira que denominaremos com base no pr prio Bakhtin 2010a p 58 78 de Linguagem do riso Vejamos a seguir como tal linguagem pode ser caracterizada 1 2 1 LINGUAGEM DO RISO CULTURA MEDO E G NEROS DO DISCURSO Haver no mundo meio mais poderoso para opor se s diversidades da vida O inimigo mais poderoso fica horrorizado diante dessa m scara sat rica e a pr pria desgra a recua Je 4 58 diante de mim se me atrevo a ridiculariz la Para entendermos o que a linguagem do riso doravante LR vamos discuti la no contexto da obra cultura Popular na Idade M dia e no Renascimento Para isso tomamos como uma esp cie de mote uma cr tica vis o reducionista do estudo bakhtiniano do riso aplicado cultura popular da Idade M dia e do Renascimento proposta por Gurevich 2000 procurar mostrar a distor o da realidade que alguns pensadores podem desenvolver quando tentam interpretar sentimentos humanos como o medo e o riso retirando as suas reflex es de contextos vitais Gurevich apresenta a proposi o Bakhtiniana de que o gt De acordo com Souza 2002 muitos termos nas obras de Bakhtin podem sofrer uma vari
33. a o povo principalmente os eleitores parece nunca entender a piada e continua colocando mais humoristas comediantes e palha os no Poder Da tantos sorrisos Paulo Maluf estampados nos rostos desses nobres cidad os o povo se faz de bobo os pol ticos fazem o povo de palha o e por fim o bobo e o palha o percebendo a oportunidade se fazem pol ticos como por exemplo o caso do palha o Tiririca deputado federal mais bem votado no Brasil no ano de 2009 e do comediante Beppe Grill candidato a chefe de Estado italiano nas elei es de 2013 Assim como na pol tica mundo do entretenimento as personagens mais marcantes das novelas por exemplo n o s o as mocinhas choronas ou os mocinhos valent es mas aquelas que fazem o p blico rir de todo aquele repetitivo dramalh o mexicano lembremos personagens como Sinhozinho Malta ou Cr para citar alguns Nessa mesma linha podemos dizer que a maioria das pessoas aparentemente n o gosta de ir ao cinema ou ao teatro para ver uma trag dia como Medeia ou dipo no entanto t m uma predile o pelas com dias e pelos espet culos c micos quantas vezes ouvimos as 1 pessoas dizerem minha vida j um drama pra qu assistir mais um No ciberespa o o boom das redes sociais trouxe consigo um aumento substancial das formas do riso e do humor s abrirmos a p gina principal do Facebook por exemplo e l est o piadas tirinhas fotos
34. a Jana na Barbosa tem uma galera Luana Piovani tamb m t gr vida tem uma galera gr vida que teve filho a Ivete teve filho n o bacana A Luana Piovani t gr vida e vai entrar pra ci ncia como a primeira mulher que n o vai ficar mais enjoada depois da gravidez N o d pra ficar mais enjoada do que a Luana Piovani j T brincando muito legal seguir ela no Twitter ela bacana ela fala o que ela pensa eu gosto da Luana Piovani t bunitona gr vida Olha eu comia ela e deixa pra 141 Uma amiga minha engravidou com dezesseis anos quando aquilo que ela acabou de conhecer atrasou n que foi o ensino m dio E ela me chamou pra ser padrinho do beb e eu fui l pra conhecer meu afilhado Ele um beb muito bunitinho ele tem tipo um m s e oito quilos muito n Eu tamb m achei Eu acho que ao inv s de d chupeta eles t o dando toicinho pra esse menino chupar porque n o normal isso n Oito quilos N o verdade Mas quando eu cheguei l e meu afilhado tava num cercadinho sabe Cercadinho quando eu vi aquele beb daquele tamanho num cercadinho eu juro a primeira coisa que eu pensei foi vou jogar um amendoim pra ele eu vou O beb era muito gordo Acho que ele vai aprender a falar milk shake antes de mam e porque ele n o precisa de uma 33 Para Madureira o humor de Rafinha Bastos um humor adolescente infantil pois o que ele fez
35. a descri o dos contratos de comunica o pois desse modo verificar se tanto o espa o de coer es quanto o de estrat gias com os quais os sujeitos podem jogar para se comunicar Com isso em mente Charaudeau 2006 21 nos adverte que devido sua capacidade de atravessar diferentes situa es de comunica o com vari veis contratos de comunica o pol tico publicit rio midi tico conversacional etc os fatos humor sticos sozinhos n o constituem a totalidade da situa o de comunica o Segue que para esse autor o humor ou melhor os atos de comunica o humor sticos doravante ACHs s o antes de tudo maneiras de dizer no interior de diversas situa es um ato de enuncia o com fins estrat gicos para fazer de seu interlocutor um c mplice CHARAUDEAU 2006 21 22 tradu o nossa ou seja o humor n o um g nero mas uma entre v rias estrat gias dispon veis ao sujeito falante para seduzir seu audit rio A princ pio isso acarreta dizer que n o haveria nem um tipo de discurso humor stico muito menos g neros tipicamente humor sticos Isso porque como prop e o pr prio Charaudeau 2006a p 27 32 o que conhecemos como ironia s tira sarcasmo par dia e como hist rias engra adas piadas anedotas chistes n o passariam de categorias ligadas ao jogo enunciativo presentes nos ACHs isto estrat gias discursivas pass veis de ocorrer em n situa es de comunica
36. ados no Tractatus 159 Literalmente f bula narrada para Marques Jr 2008 anedota Tradu es poss veis no De ridiculis pois como o pr prio C cero explica 240 241 264 esses GENERA possuem algo de verdadeiro a respeito de pessoas e de fatos historicamente marcados por m a inven o e a fic o podem e devem ser acrescentadas para dar maior nfase coisa narrada aumentando desse modo o riso por meio do veross mil salpicado de torpezas 115 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 importante ressaltar aqui a preocupa o de C cero em apresentar certos g neros do riso que v o al m da palavra ou do sintagma Isto C cero demonstra ter conhecimento de que certos GENERA RIDICVLORVM possuem uma estrutura textual muito mais complexa do que um trocadilho ou um duplo sentido todavia a imprevisibilidade das formas que os g neros de assunto podem assumir parece n o permitir que C cero elabore uma classifica o espec fica Isso faz com que o retor se limite a explicar como se d o desencadeamento do riso numa s rie de exemplos sem especificar os g neros ou com raras exce es denomine alguns como por exemplo a SIMVLATIO Outro fator que dificulta tal classifica o como alerta C cero a grande frequ ncia com que os g neros de palavra ou simplesmente GENERA FACETIARVM se en
37. escreve se algo sem nenhum sentido e todo mundo enxerga mais de cem Jos Ronaldo Proc pio In Adail 1976 p 161 vol 2 132 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Com base no cap tulo anterior podemos dizer que piadas anedotas tiradas chistes e mesmo a par dia se encontram numa situa o deveras complicada por um lado se se considera que eles s o ACHs por conseguinte se aceita que s o capazes de atravessar quaisquer g neros de discurso a tend ncia que se assuma para esses atos de comunica o um estatuto de sequ ncias humor sticas Por outro lado se tomados enquanto g neros textuais discursivos piadas anedotas tiradas chistes podem passar por sin nimos do riso isto por g neros prot tipos do riso do ris vel Nesse caso a situa o pode se complicar ainda mais uma vez que certos g neros do riso s o capazes de assumir formas que v o muito al m de uma simples piada ou de um chiste ou de uma sequ ncia humor stica configurando se enquanto obras humor sticas cf parte 1 cap 3 item 3 1 1 2 Diante disso somos levados nessas circunst ncias a nos perguntar a que tipo de discurso esses g neros estariam vinculados Sabemos que de um modo geral poemas e romances est o subordinados ao discurso liter rio santinhos e com cios ao discurso pol tico ladainhas e missas ao discurso religios
38. m com base nos principais autores que deram prosseguimento 125 teoria da superioridade Monro explica que esse entendimento do riso pela derris o se atividade de entendimento isto o ris vel ser capaz de alagar o conhecimento como se n o fosse mais incompat vel com a verdade ALBERTI 1999 p 160 Essa aparente contradi o ainda de acordo com a autora se deve ao fato de as teorias sobre o riso e o ris vel n o terem se desenvolvido pari passu com as rupturas cronol gicas 123 E y As teorias analisadas por Monro 1988 de certo modo retomam outras teses e reflex es dos per odos j estudados Da a nossa escolha por uma apresenta o resumida de modo a evitar certas redund ncias gt Todavia isso n o quer dizer que um autor x ou y desse per odo n o possa ser chamado em momento oportuno para a discuss o de outro s fator es relacionado s ao riso e ao ris vel 124 No original the pleasure we take in humor derives from our feeling of superiority over those we laugh at 125 sr Monro faz refer ncia aqui a Alexander Bain e a Henri Bergson 91 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 diferencia das teses anteriores por dois aspectos 1 primeiro porque se passa a refletir sobre o n vel de consci ncia em rela o derris o chegando se conclus o de que nem sempre o sujeito possu
39. no caso o efeito de sentido pretendido com o enunciado J a imbrica o entre as visadas e as finalidades se revela de outra natureza a finalidade pode se compor de uma ou v rias visadas discursivas e dependendo do projeto de fala a se realizar essa mesma finalidade pode 1 selecionar somente uma visada o que pode acarretar em alguns casos uma correspond ncia quase tautol gica entre finalidade 36 Esse termo tomando aqui em um sentido que subsume de normas da comunica o e de normas de conduta o primeiro por fazer refer ncia s regras sociais de emprego de uma l ngua em rela o aos componentes da situa o de comunica o os parceiros o contrato o tipo de registro etc j o segundo por se considerar que nenhum fato social pode escapar s coer es sociais o desvio pressup e a exist ncia de uma norma pr via BONNAFOUS 2006 p 348 349 87 2 gt gt Acreditamos que essa correspond ncia quase tautol gica que pode levar a uma confus o uso das categorias de finalidade e de visada Isso porque muitas vezes se pode vir a determinar a finalidade de um ato de comunica o sem antes determinar quais visadas o constituem No exemplo dado na introdu o 79 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 visada verbi gratia a finalidade de informa o e a visada de fazer saber ou 11
40. o de uma determinada visada em rela o ao contrato de comunica o do DH definir o que uma pica a antiga embarca o a remo Com esse bord o indicava se a obsess o de algu m por assuntos ligados ao sexo e sexualidade Resultado naquilo ou aquilo entrou para o imagin rio do povo brasileiro como sin nimo de sexo De um ponto de vista cognitivo Freud diria que o que aconteceu foi ato falho ou seja o aparecimento na linguagem falada ou escrita de termos inapropriados que supostamente remetem para conte dos ou desejos recalcados referentes ao objeto pessoa ou ao fato em quest o HOUAISS 2009 74 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 passa necessariamente pelo crivo de saber qual finalidade predominante nesse tipo de discurso e quais s o as visadas que satisfazem essa finalidade Isso se deve ao fato de que um ACH pode estar a servi o de um outro tipo de discurso como no caso da publicidade ou do jornalismo ou estar integrado em um g nero pr prio do humor como no sketch ou no stand up Em ambos os casos desmascarar a finalidade e as visadas que a constituem pode nos ajudar a evidenciar com qual tipo de discurso estamos lidando Dentro dessa proposta surge a necessidade de o sujeito analisante se munir de um conhecimento no nosso modo de ver o mais amplo poss vel sobre os objetivos do uso da L
41. o riso aconte a necess ria uma certa anestesia do cora o Ou seja a comicidade dirige se intelig ncia pura BERGSON 2007 p 4 104 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Em suma se considerarmos que de um modo geral as teorias correspondem a uma certa vis o admitida a respeito de determinado fen meno em dada poca e que de volta os construtos te ricos influenciam outras reflex es posteriores constituindo assim imagin rios sociodiscursivos sobre esse mesmo fen meno devemos ent o aceitar que dificilmente poder se perceber o riso bom e o riso alegre Isso porque como vimos esses dois tipos est o muito pr ximos de emo es que poderiam anular o riso embotar a sua intensidade ou at mesmo mudar a classe de suas formas Contudo evidenciar essa dificuldade n o quer dizer de modo algum que esses tipos de riso n o podem ser induzidos o que por consequ ncia nos obriga a consider los mesmo que em pot ncia na an lise do DH 13 De acordo com Charaudeau 2006b p 196 et seg teorias e construtos te ricos devem ser enquadrados como saberes de conhecimento que procuram estabelecer uma verdade sobre o mundo constituindo um saber exterior ao homem de modo que o mundo se imponha ao homem como realidade por si mesmo Esse conhecimento pode ser subdividido em savant pr ximo do saber cient fico da ordem do
42. para o latim a forma ANECDOTA nominativo neutro plural ter amos ao declin la ANECDOTORVM genitivo neutro plural que significaria em latim de anedotas Da GENERA ANECDOTORVM g neros de anedotas Dessa maneira esperamos manter por um lado a coer ncia tanto com o texto quanto com a ideia de C cero a partir da tradu o de Marques Jr 2008 e por outro uma certa associa o com o sentido do termo anedota que em portugu s corresponde a narrativa mais ou menos breve de um fato engra ado ou picante HOUAISS 2009 116 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 parti o dos GENERA O pr prio C cero como ressalta Marques Jr n o faz distin o no decorrer de sua exposi o entre os g neros de assunto e os g neros mistos de palavras e de assunto sendo as tentativas ulteriores de enquadramento dos g neros mistos em uma ou noutra categoria se n o s o consideradas confusas ao menos s o tidas como discut veis MARQUES JR 2008 50 51 nota 177 N o entraremos na querela sobre os problemas de classifica o dos GENERA RIDICVLORVM em C cero somente diremos que tal confus o pode ter se dado devido 1 ao g nero textual di logo orat rio escolhido por C cero e tamb m 11 s dificuldades inerentes mat ria abordada rid culo orat rio Contudo em estudos posteriores sobre o riso e o ris vel d
43. por consequ ncia molda de alguma forma o seu car ter ethos Vejamos porque tais dificuldades podem gerar outros tipos de problemas na leitura e na interpreta o das proposi es de Arist teles Como exemplo vejamos algumas tradu es de geloion ye oiog yeAoiwv ris vel rid culo Na tradu o francesa foi utilizado plaisanterie que pode conotar fac cia piada brincadeira A tradu o espanhola ARIST TELES 2002 p 186 por sua vez apresenta a palavra irris rios rid culo ris vel J na vers o inglesa ARISTOTLE 1984 216 tem se o termo jests gracejos piadas chistes o que pode ter acarretado na tradu o brasileira a partir do ingl s ARISTOTELES 2007 p 190 o uso do termo trocadilhos 317 No Livro 1 cap tulo XI da Ret rica Arist teles classifica riso e as coisas jocosas entre as coisas agrad veis suscet veis de proporcionar prazer no entanto para sabermos o que s o tais coisas o fil sofo nos remete Po tica cf ARISTOTELES 2007 64 65 118 Como ressalta Alberti 1999 39 40 os termos geloion yehoiwv RIDICVLVM equivalem nos textos antigos a ris vel e por vezes t m por tradu o o termo rid culo todavia nesse ltimo caso como afirma a autora rid culo remete a aquilo de que se ri n o tendo necessariamente uma conota o negativa agressiva
44. prias intuitivamente reconhec vel e estritamente ligado ao riso e ao fazer rir Com efeito esse c digo ou melhore dizendo essa linguagem do riso que propicia entre outras coisas melhor evidenciar a presen a de uma visada de fazer rir nas materializa es lingu stico discursivas presentes em textos portadores de GENERA RIDICVLORVM No entanto devido s propriedades estruturais e possibilidade de utiliza o desses GENERA como estrat gias discursivas ACHs como prop e Charaudeau por outros discursos tal visada pode se apresentar por vezes de modo reduzido as formas reduzidas do riso de acordo com o regime adotado l dico sat rico humor stico etc ou por for a de fatores ligados situa o e ao contrato de comunica o em especial finalidade e aos sujeitos do discurso Quanto finalidade j a abordamos anteriormente cf parte 1 cap 2 Na sequ ncia passaremos discuss o de outros fatores que constituem em potencial a situa o e o contrato de comunica o identidade prop sito circunst ncia coer es etc humor sticos tomando como fator central os sujeitos do discurso ou melhor dizendo os sujeitos do riso 152 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 PARTE DISCURSO HUMOR STICO INTERSUBJETIVIDADE E VRBANITAS 153 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Pett
45. rep blica ideal sistematizadas no texto da Rep blica reverberavam as posi es assumidas na Academia onde o riso era proibido BREMMER 2000 p 39 De fato Plat o era partid rio de um uso moderado inofensivo e at mesmo da exclus o do riso 202 Aqui falamos claro do lugar de entendimento ocidental que tem por base a cultura greco romana 303 Como coloca Minois 2003 49 70 j nos fins do s culo a C o crescente refinamento e os progressos do intelectualismo levaram a uma desconfian a em rela o ao riso desenfreado ou rir de zombar de Da a necessidade de domesticar e de civilizar o riso Os mitos passam assim por reformula es de modo a apagar o riso inquieto dos deuses No teatro a v a com dia nova dirigida a um p blico mais culto bane as grosserias os falos e os excrementos de cena Na literatura o riso assume as formas reduzidas assim diria Bakhtin do humor das alus es e das adivinhas Na orat ria o c mico passa a fazer parte do conjunto de argumentos do orador por m regido pela e tpamelio urbanidade ao Por fim na filosofia tem se a apatia dos estoicos dos pitag ricos Os primeiros se considerando pessoas s rias n o riem n o se mostram sens veis zombaria alheia e n o fazem os outros rirem pois para eles o riso uma marca de vulgaridade e al m disso de impot ncia uma co
46. rindo rebaixar brutalmente o alvo sem defesa poss vel Em segundo lugar devemos destacar na proposta de Olbrechts Tyteca 1974 que o audit rio enquanto conceito ret rico n o uma entidade encarnada o que a aproxima muito da defini o de inst ncia discursiva na Teoria Semiolingu stica N o s o as pessoas de carne e osso mas entidades humanas cada qual sendo o lugar de uma intencionalidade e caracterizada em fun o de pap is que lhe s o destinados Trata se desse modo de categorias abstratas desencarnadas e destemporalizadas definidas como se diz pela posi o que elas ocupam no dispositivo e s quais os indiv duos s o remetidos CHARAUDEAU 2006b 55 Isso nos possibilita dizer que do mesmo modo que sobre o audit rio se projetam determinados efeitos de sentido esses mesmos podem ser projetados quando falamos de dispositivos sobre as inst ncias Assim a caracter stica de voyeur que apontamos a respeito dos usu rios seguidores leitores deve ser melhor explicada De fato tomar um sujeito por voyeur implicaria afirma que ele estaria presente ausente na situa o de comunica o na qual o ACH acontece Segue que esse fato nos faria considerar esse voyeur como um tiers o que poderia parecer primeira vista uma contradi o Expliquemos sabido que os audit rios s o heterog neos em sua constitui o PERELMAN OLBRECHTS TYTECA 2005 p 24 Logo aquele que quer argumentar
47. rio e a cena humor stica s o acionadas simultaneamente no mesmo momento em que o contrato de comunica o tamb m se estabelece o que pode se dar por meio de um t tulo ou pelo reconhecimento da cena gen rica no caso um manual uma gram tica uma antologia um dicion rio uma enciclop dia e ou de um texto espec fico no caso espec fico da HBMC o texto de Rocha Pombo Dessa forma o leitor preparado avisado de que o texto uma 205 Num primeiro momento ficamos inclinados a considerar tr s modos de acionamento incluindo assim um modo Pontual Esse modo indicaria que a cena englobante humor stica seria acionada abruptamente em um determinado momento do texto normalmente no final assemelhando se desse modo a uma guilhotina mental que reverte drasticamente as expectativas dos leitores ouvintes ou a um solavanco mental que desata os n s e proporciona uma leve surpresa seguida de um al vio de tens o SALIBA 2012 p 19 Com efeito poder amos agrupar nesse modo certas narrativas mais ou menos longas nas quais o leitor ouvinte somente perceberia a cena englobante humor stica no momento do desenlace como nas cr nicas ou no teatro ou da moral no caso de algumas f bulas Contudo o fato de que nessas narrativas o acionamento fica restrito a um momento pontual cria dificuldade para que se distinga se o que temos realmente um acionamento de uma cena englobante humor stica ou se se trata de um ACH
48. seu jogar com a sua imagem extradiscursiva intradiscursiva audit rio Da a possibilidade de Charaudeau 2006b propor a constru o de uma tipologia de eth aqui o ethos adquirindo tamb m caracter sticas anal tico descritivas n o exaustiva em rela o ao discurso pol tico baseada em caracter sticas sociais psicol gicas e f sicas dos seres humanos a saber seriedade virtude pot ncia car ter compet ncia intelig ncia humanidade solidariedade etc Para n s essas duas reformula es do conceito de ethos para sua aplica o nos Estudos Discursivos se complementam e devido a isso o conceito de vRBANITAS deve ser associado ao de ethos respeitando os princ pios expostos acima do seguinte modo primeiramente a vRBANITAS vinculada ao ethos do orador ou melhor do sujeito falante tem o poder de diferenciar graus de adequa o aos limites do uso do riso isto VRBANITAS dever ser considerada como parte do ethos enquanto estrat gia discursiva Da ser poss vel por exemplo diferenciar quando uma t cnica do riso comum ao comedi grafo ao humorista e ao homem urbano est adequada ou n o situa o e assim especificando melhor o ethos do sujeito do discurso Em segundo lugar a vRBANITAS deve se afastar de seu car ter normativo prescritivo origin rio na ret rica isto deve perder a pretens o de reger o comportamento do orador quando do uso do riso Isso porque ao se
49. uma seriedade unilateral e est pida que no carnaval vencida pelo riso BAKHTIN 2010a p 41 Entretanto isso n o quer dizer que o riso ou melhor que uma linguagem do riso n o estivesse presente nos dois tipos de cultura A quest o acreditamos est em saber qual n vel de elabora o a linguagem e as formas receberam em cada uma dessas culturas Como explica Bakhtin 2010a 75 et a LR na cultura popular estava pr xima da linguagem da pra a p blica do cotidiano e do conv vio familiar mesmo entre os intelectuais ou seja uma linguagem principalmente baseada podemos dizer em g neros prim rios como por exemplo obscenidades juramentos insultos 59 ay xagtos oc aquele que n o ri ou que odeia o riso N o entraremos na querela em rela o s reflex es bakhtinianas e os procedimentos de pesquisa em Hist ria uma vez que nosso objetivo aqui outro tratar das quest es de linguagem relacionadas ao riso no pensamento bakhtiniano No entanto vale notar que de acordo com Minois 2003 p 160 Gurevich teria evidenciado em Bakhtin uma proje o manique sta sobre a sociedade medieval da sociedade sovi tica dos anos de 1960 separada em n veis um oficial e ideol gico o outro popular e da vida real mas sob a cobertura fict cia mantida pelo partido comunista l Embora se note nessa proposta nuances de uma an lise sociol gica de cunho marxista nosso objetivo n o
50. 2003 p 352 367 ROCHA PEREIRA M H Pref cio In ARIST TELES Po tica Lisboa Funda o Calouste Gulbenkian 2004 p 5 31 ROCHA POMBO J F Nossa p tria narra o dos factos da hist ria do Brasil atravez da sua evolu o com muitas gravuras explicativas 67 ed S o Paulo Melhoramentos 1925 272 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 R NAL P N o perca o seu latim 10 impr Rio de Janeiro Nova Fronteira 1981 H A conversa agrad vel civilidade e piadas na Holanda seiscentista In BREMMER ROODENBURG orgs Uma hist ria cultural do humor Rio de Janeiro Record 2000 p 165 193 ROUANET S Riso e melancolia a forma shandiana em Sterne Diderot Xavier de Maistre Almeida Garrett e Machado de Assis S o Paulo Companhia das Letras 2007 SALIBA E T Ra zes do riso a representa o humor stica na hist ria brasileira S o Paulo Companhia das Letras 2002 SANTOS R E Reflex es te ricas sobre o humor e o riso na arte e nas m dias massivas In SANTOS R E ROSSETTI R orgs Humor e riso na cultura midi tica varia es e perman ncias S o Paulo Paulinas 2012 p 17 59 SANTOS R E ROSSETTI R orgs Humor e riso na cultura midi tica varia es e perman ncias S o Paulo Paulinas 2012 SCHMIDT M F Nova hist ria cr tica do Brasil 500 anos de hist ria mal contada
51. 257 Para maiores detalhes veja A quest o da par dia parte 1 cap 3 item 3 1 1 2 288 No original une sorte de pur amusement ou exercice distractif sans intention agressive ou moqueuse 199 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 sociopsicol gico dos hipertextos e a interinflu ncia das pr ticas hipertextuais concretas prevendo se assim as poss veis nuances entre os regimes Com efeito o autor 1982 p 37 40 reformula novamente sua classifica o estabelecendo agora seis regimes a saber l dico humor stico s rio pol mico sat rico e ir nico Donde o humor stico representaria uma esp cie de meio termo entre os regimes l dico e s rio o pol mico entre s rio sat rico O ir nico entre o sat rico e o l dico Como podemos depreender a classifica o das pr ticas e dos g neros em Genette 1982 tem o m rito de por um lado eleger o l dico enquanto regime relativamente independente do sat rico e por conseguinte garantir assim acreditamos um lugar o efeito de riso bom alegre nas pr ticas textuais em geral Por outro lado ao estabelecer a interinflu ncia entre os regimes Genette nos mostra como o l dico exerce um papel fundamental na atenua o do matiz de derris o zombaria e tamb m de seriedade presente nos g neros e nos textos Estabelecem se assim novas possibilidades de se ve
52. An lise discursiva do s sil ncio s no texto liter rio In MACHADO I L et al Ensaios em an lise do discurso Belo Horizonte FALE UFMG 2002 p 87 123 MENDON A M A stand up comedy vira sucesso no Brasil poca on line n 469 jul 2007 Dispon vel em lt http revistaepoca globo com Revista Epoca 0 EDG77345 6006 00 html gt Acesso em 29 maio 2013 MENNUCCI S H mor S o Paulo Monteiro Lobato amp Cia Editores 1923 MINER H Body ritual among the Nacirema American Anthropologist n 58 1956 MINOIS G Hist ria do riso e do esc rnio S o Paulo Editora UNESP 2003 270 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 MONRO D H Theories of humor In BEHRENS L ROSEN L J Writing and reading across the curriculum 3 ed Glenview Il Scott Foresman and Company 1988 349 55 Dispon vel em lt https www msu edu jdowell monro html gt Acesso em 22 mai 2012 MOREIRA 5 Tradu o do Tratado Coisliniano ep tome do Livro II da Po tica de Arist teles Ousia Revista Eletr nica Rio de Janeiro 2003 Dispon vel em lt http www ifcs ufrj br fsantoro ousia traducao coisliniano html gt Acesso em 5 maio 2012 MORRIS An essay towards fixing the true standards of wit humour raillery satire and ridicule Londres 1744 NARLOCH L Guia politicamente incorreto da Hist ria do Brasil S o Paulo Leya 2011 N
53. Barbas pdf gt Acesso em 19 mar 2013 TABET A Sa da pelos fundos Trip S o Paulo Trip Editora e Propaganda n 221 maio 2013 TELLES Mulher manual do propriet rio S o Paulo Editora Best Seller s d TELLES Homem manual da propriet ria 9 ed S o Paulo Editora Best Seller 2002 273 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 TIGRE B Versos perversos poesias satyricas em coment rio aos acontecimentos de 1904 Rio de Janeiro Livraria Cruz Coutinho 1905 TIRIRICA Meus eleitores n o deram voto perdido Congresso em foco edi o on line Bras lia Caracol Web Design set 2012 Dispon vel em lt http congressoemfoco uol com br noticias manchetes anteriores tir rica E2 80 9Cmeus eleitores nao deram voto perdido E2 80 9D gt Acesso em 14 set 2012 TRASK R L Dicion rio de linguagem e lingu stica S o Paulo Contexto 2004 VALE G P e a Chapeuzinho Vermelho tela an lise da argumenta o midi tica a partir de uma par dia do programa Brasil Urgente Gl uks Revista de Letras e Artes An lise do Discurso Vi osa v 8 n 1 jan jun 2008 p 202 228 VALE P G A mulher nas piadas de almanaques estrat gias discursivas representa es sociais 2009a 135f Disserta o mestrado Faculdade de Letras POSLIN UFMG Belo Horizonte VALE R P G Sangue e trag dia no ba
54. Com isso em mente devemos considerar que esse audit rio de n vel superior representado no circuito interno do discurso por um tipo especial de tiers um fiers voyeur que mant m certa dist ncia da situa o enquanto elabora sua atitude responsiva observando simplesmente o desenvolvimento do di logo das personagens nas hist rias engra adas nas pe as c micas etc ou dos avatares como no texto da Gina Indelicada At aqui fizemos um exerc cio de articular essas duas propostas de modo a vislumbrar um dispositivo para o DH Todavia deve ficar claro que ambas focam o c mico e o 197 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 humor enquanto estrat gias discursivas isto essas propostas conseguem nos mostrar o que acontece na cena interna dos atos de comunica o mas n o preveem a replica o de dispositivos complexos por exemplo a par dia de um debate pol tico ou subvers o de uma transmiss o de uma partida de futebol Nesse nterim ainda precisamos trilhar alguns caminhos de modo a descrever para o DH um macrodispositivo conceptual nos moldes do que foi proposto por exemplo para o discurso pol tico cf CHARAUDEAU 2006b Antes no entanto devemos retomar a discuss o sobre o status da inst ncia alvo em rela o possibilidade de o DH ter como efeito visado o riso bom alegre 2 4 ALVO OU OBJETO DO RISO
55. Debate Pol tico da Cia Os Melhores do Mundo cf OS MELHORES DO MUNDO 2008 Nesse sketch s o apresentados os candidatos que representam a inst ncia pol tica o apresentador de TV a inst ncia mediadora e o p blico do teatro que nesse caso assume o papel designado ao p blico telespectador a inst ncia cidad Todavia embora o debate siga as normas do g nero a finalidade humor stica faz com 8 Nesse momento n o levamos em considera o a possibilidade de se fazer humor dentro do discurso pol tico uma vez que o humor dessa forma tido apenas como um ACH dentro dos v rios microdispositivos poss veis do discurso pol tico cf parte cap 3 item 3 2 n o replicando de modo algum a configura o do macrodispositivo do discurso pol tico 205 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 que grande parte das regras do debate seja deliberadamente alterada de modo a beneficiar um dos candidatos a inst ncia mediadora tende para um dos candidatos ora delegando mais tempo para a fala ou r plica da parte beneficiada ora desconstruindo explicitamente as respostas da inst ncia advers ria N o entremos em mais detalhes sobre esse texto Por esse momento diremos somente que nesse caso espec fico o discurso pol tico e o DH foram tomados enquanto com dia caso previsto por Charaudeau 2006a 40 que possibilita a quebra das cl
56. Frejat 2002 De certa maneira nas se es anteriores tangenciamos o ponto de vista de algumas autoridades sobre como o riso e o ris vel est relacionado com as paix es humanas Podemos dizer que de modo geral esses pensadores justificam suas ideias com base em duas grandes linhas uma que procura condenar o fazer rir seguindo o pensamento de Plat o a outra que procura validar o uso do riso baseada nos preceitos dos retores Partindo dessas perspectivas acreditamos ser poss vel esbo ar um panorama das discuss es referentes aos prazeres ligados ao riso muito embora a sombra da conting ncia do riso ainda paire sobre muitas dessas reflex es Comecemos pelos antigos Para os gregos o riso deriva de uma paix o comp sita mista de dor e prazer que carrega em si um potencial positivo e negativo dio inveja e desejo bem e mal Diziam os antigos que tal paix o de nome desconhecido podia proporcionar ao mesmo tempo 1 a perda moment nea da raz o e acarretar sentimentos contradit rios violentos na alma cf Plat o 11 um alegramento do esp rito que alivia o cansa o das demais obriga es e que gera um sentimento pr ximo do bem supremo ou seja da felicidade cf Arist teles e uma tranquilidade por vezes confundida com aliena o capaz de por um lado afastar o esp rito da melancolia e por outro possibilitar a reflex o filos fica que por sua vez gera tamb m um prazer proveniente da
57. Idade Moderna as Ci ncias Humanas e Sociais a perscrutar sobre as fontes do riso na psicologia do homem e na natureza social do fen meno Com efeito dependo do posicionamento te rico os prazeres do riso e do ris vel se ligam a um e Sentimento de superioridade do homem que ri sobre aquilo de que se ri isto sente se prazer para alguns uma forma de alegria com uma s bita gl ria 98 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 sobre o objeto ao se vislumbrar as suas fraquezas e incoer ncias acarretando o seu rebaixamento pela derris o e Sentimento de surpresa gerado por uma expectativa frustrada ou seja prazer do riso obtido a partir de uma tens o gerada por uma expectativa de que algo dado como certo aconte a s vezes por uma dedu o l gica mas que na verdade outra coisa vem a acontecer e Sentimento de al vio em rela o s coer es do meio social Em outras palavras riso O ris vel proporcionam aos indiv duos burlar as regras sociais que atormentam a alma dando mesmo que momentaneamente livre curso a pun es e desejos secretos por vezes interditos socialmente No nosso modo de ver essas ltimas maneiras de refletir sobre os prazeres do riso e do ris vel geraram no pensamento moderno duas consequ ncias para os estudos do riso do ris vel at certo ponto nocivas A primeira diz respeito capacidade
58. Lisboa 2011 e Santos 2012 estabelecemos de modo amplo quatro macro fatores que possibilitaram o surgimento do humorista na Europa a partir do s culo i forte rea o da intelligentsia europeia contra o burlesco vulgar baixo subversivo e grosseiro ligado dimens o corporal que atingia a linguagem por meio de termos chulos populares e coloquiais SKINNER 2002 Desse modo proposta juntamente com um refinamento de costumes uma purifica o da linguagem da elite por certo tomada agora como uma barreira social que deve evitar a infiltra o da ral na melhor sociedade MINOIS 2003 p 409 surgimento no final do s culo XVII e no in cio do s culo de reflex es de elaboradas teorias a respeito do humor enquanto caracter stica psicossocial 245 do homem baseada ao mesmo tempo no riso na melanc lica no pessimismo e no distanciamento por m em muito diferente da tro a da idiotice e da 245 E gt A j 5 A princ pio circunscrita ao povo ingl s tempos depois de certa forma universalizada mas tendo o temperamento ingl s como par metro como se evidenciar mais frente 172 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 zombaria O humor toma a partir de ent o ares de categoria est tica e psicol gica passando a ser observada e analisada no estilo de pensadores
59. Nesse passo de modo semelhante que j havia feito na sua GPMC o autor justifica a aplica o do m todo sobre a ci ncia da Hist ria preparando assim o esp rito do leitor para a leitura da HBMC Desse ponto tem se in cio o texto propriamente dito ou melhor dizendo n o tem in cio pois o cap tulo primeiro dedicado situa o de Portugal em 18500 se encontra em branco FRADIQUE 2004 59 Segue se ent o no cap tulo segundo os motivos que levaram os portugueses e em especial Pedro Alvares Cabral a empreenderem a viagem para c um telegrama da United Press avisando sobre extin o do comissariado no Brasil Assim no dia 9 de mar o a tropa de Cabral parte do Tejo em dez calhambeques ex alem es tendo entre outros tripulantes Sancho Pan a como imediato de Cabral alguns rep rteres uns penetras uma galinha d angola A chegada ao Pa s se d no dia 21 de abril No desembarque Cabral recebido como qualquer outro embaixador latino no Rio de Janeiro banalmente e sem nenhum alarde J a galinha dangola foi recepcionada uma comiss o composta pelos Srs Pinto Rocha Pinto Lima Rocha Pombo Bulh o Pato e sportman Gallo Cabral e sua tropa foram alojados provisoriamente num albergue noturno uma mistura de hotel bordel e meretr cio Depois de um curto passeio de autom vel pelo o Rio de Janeiro Cabral retorna ao albergue noturno onde se depara com um sujeito enforcado era Tiradentes
60. S o Paulo Nova Gera o 1997 SKINNER Q Hobbes e a teoria cl ssica do riso S o Leopoldo Editora UNISINOS 2002 SOARES J Credo Veja Rio de Janeiro Editora Abril n 29 jul 1989 p 23 SOARES J Manifesto dos humoristas Veja Rio de Janeiro Editora Abril n 04 jan 1990 p 19 SOARES J Se n o tem gra a piada vira grossura Folha de S o Paulo edi o on line S o Paulo Editora Abril out 2011 Dispon vel em lt http wwwl folha uol com br fsp ilustrad fq2210201111 htm gt Acesso em 01 abr 2012 SOUZA G T Introdu o teoria do enunciado concreto do c rculo Bakhtin Volochinov Medvedev 2 ed S o Paulo Humanitas FFLCH USP 2002 STRACHEY J Pref cio In FREUD S Os chistes e a sua rela o com o inconsciente Rio de Janeiro Imago 1996 p 11 16 SUCHOMSKI J Delectatio und utilitas Ein Beitrag zum Verst ndnis mittelalterlicher komiscker literatur Bern Munique Franke 1975 SUPPIA A L P O A metr pole replicante designing Metropolis e Blade Runner Design arte e Tecnologia S o Paulo Edi es Rosari n 4 2008 Dispon vel em lt http portal anhembi br sbds pdf 23 pdf gt Acesso em 01 dez 2011 SWIFT J Uma modesta proposta para prevenir que na Irlanda as crian as dos pobres sejam um fardo para os pais ou para o pa s e para as tornar ben ficas para a Rep blica 1729 Dispon vel em lt http www helenabarbas net traducoes 2004 Swift Proposal H
61. a do s culo XVI Esse bobo utilizava na assinatura de diversos documentos e em especial na sua correspond ncia pessoal MINOIS 2003 p 288 20 SANNIO ONIS bobo palha o 168 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 aqui a origem do bobo que como j salientamos anda pari passu com a dos buf es Buscamos antes as origens da profiss o de bobo da Corte quando esta se estabelece na sociedade medieval europeia Nesse intuito baseamos nossa apresenta o nas descri es do riso no per odo medieval feitas por Bakhtin 2010a e Minois 2003 Em linhas gerais segundo Bakhtin 2010a apesar de todas as a es contr rias da Igreja que reduzia e regulamentava os per odos prop cios ao riso por exemplo s festas religiosas e ao carnaval o riso ainda podia ser encontrado na Idade M dia em v rios espa os nos mosteiros na pra a p blica nas resid ncias particulares no castelo e mais tarde no pal cio real Todavia o surgimento e a exist ncia do bobo com seu riso ecoante e louco seu chap u de guizos sua seminudez sua clava que mais tarde passar a bast o em analogia ao cetro real est o estreitamente condicionados num primeiro momento ao sentimento de invers o do mundo desencadeado durante essas festas e ao jogo parod stico a c pia deformada exce o das festas o bobo tido como parvo est pido e
62. a humanidade falhou Pausa Simplesmente porque Deus n o se lembrou de testar se em grupo antes PINTO 1970 p 30 Foi uma puta falta de sacanagem da parte de Deus concluiriam com esse meme os segregados do para so se o fato tivesse acontecido em nossos dias E embora a situa o da expuls o possa dar a Deus o m rito de primeiro humorista o que temos muitas vezes s o somente especula es de quem se p e a ler a hist ria de forma humor stica Sendo assim deixemos de lado a origem do uso da LR e do primeiro humorista e nos concentremos nos perfis dos indiv duos que ao longo da hist ria ficaram a cargo da atividade do fazer rir Comecemos por aqueles que os gregos consideravam portadores do riso os 1 1 cujas origens se relacionam s festas rurais ao culto s divindades e com dia 219 v aquele que provoca o riso homem riso buf o bobo transliterado gelotopoios 162 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 1 2 1 Os C MICOS DE ADORADORES DE DION SIO AOS SUJEITOS DA COM DIA A origem do Kopux est estritamente ligada da com dia grega Entre os estudiosos da com dia cl ssica costumam se aceitar duas hip teses de base etimol gica j presentes na Po tica de Arist teles A primeira assume que os c micos eram assim denominados pelos
63. a sua Jfatuidadezinha poder ser razo vel e criterioso em cingii nta assuntos ter ju zo sensatez como vinte mas h de por f r a fazer alguma coisa em que le seja b bo Urbano Duarte In Masucci 1958 27 180 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Quantos portugueses s o necess rios para trocar uma l mpada Um brasileiro responderia tr s um para segurar a l mpada e dois para rodar a escada ou talvez cinco um sobe na mesa e segura a l mpada e os outros quatro rodam a mesa E acreditamos que esse n mero de portugueses poderia aumentar ou diminuir dependendo do humor de quem est contando e de quem est escutando a piada e l gico tamb m dos la os hist rico familiares desses sujeitos com nossos patr cios Com efeito tal piada ilustra bem no plano ficcional como o discurso humor stico DH est subordinado a um dispositivo que regula as coer es e as estrat gias discursivas levando em conta entre outros fatores as identidades e os lugares ocupados pelos sujeitos dentro de uma dada situa o de comunica o Com isso em mente devemos nos perguntar quantas pessoas est o necessariamente envolvidas num ato de fazer rir De modo geral muitos pensadores procuraram responder a essa pergunta focando seus objetos de estudos comicidade com dia chiste humor piada riso etc Propp 1992 p 31 por ex
64. a sua rela o com o inconsciente Rio de Janeiro Imago 1996 GARC A M D V dir Humour et crises sociales regards crois s France Espagne Paris L Harmattan 2011 GARCIA O M Comunica o em prosa moderna aprenda a escrever aprendendo a pensar 27 ed Rio de Janeiro Editora FGV 2010 GENETTE G Palimpsestes la litt rature au second degr Paris Editions du Seuil 1982 GENTILI D Irrever ncia Jornal Pampulha o seman rio de Belo Horizonte Belo Horizonte Sempre Editorial n 1144 30 jun 2012 GOMES N Pequeno dicion rio do humorismo brasileiro tudo o que faz o brasileiro rir Sorocaba edi o do autor 1998 GOODBYE J A utilidade do humor na propaganda In FEDRIZZI A org O humor abre cora es E bolsos Rio de Janeiro Campus 2003 p 77 78 GRAF C cero Plauto e o riso romano BREMMER ROODENBURG H orgs Uma hist ria cultural do humor Rio de Janeiro Record 2000 p 51 64 GREIMAS COURT S J Dicion rio de semi tica S o Paulo Contexto 2008 GUREVICH A Bakhtin e sua teoria do carnaval In BREMMER J ROODENBURSG orgs Uma hist ria cultural do humor Rio de Janeiro Record 2000 p 83 92 L Maluf o senhor ladr o Trip S o Paulo Trip Editora e Propaganda n 221 maio 2013 p 96 101 HERZEN A Ob iskusstve Moscou 1954 HINOTO A ALVES A Uma Arlinda mulher Mamonas assassinas EMI 1995 HOBBES T Elements o
65. afastar esse tipo de intui o por 28 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 meio do uso de corpora Trask parece querer evitar a possibilidade de o pesquisador se envolver na an lise o que poss vel e aceit vel na proposta gerativista Para nossa proposta de an lise como demonstraremos mais adiante acreditamos ser importante o uso dessa intui o n o somente na an lise propriamente dita mas sobretudo no momento da sele o do corpus ou seja um corpus constitu do de maneira mais ou menos intuitiva GREIMAS COURT S 2008 105 Entretanto isso exige que nos baseemos numa compet ncia mais abrangente do que a compet ncia lingu stica Propomos pois uma sele o e uma an lise que tenha por base uma compet ncia discursiva Sem entrar em muitos detalhes nesse momento do trabalho diremos que o conceito de compet ncia discursiva de certo modo subsume o de compet ncia linguageira que diz respeito ao reconhecimento das representa es linguageiras das pr ticas sociais CHARAUDEAU 2008 p 56 e que pode ser dividida em compet ncias situacional discursiva e semiolingu stica MAINGUENEAU 2006b p 102 e tamb m o conceito de compet ncia interdiscursiva que se relaciona ao conjunto de par metros de identifica o do discurso MAINGUENAEAU 2008b p 55 pass vel de se diversificar de acordo com a fun o dos tipos de disc
66. ainda est muito pr ximo do estabelecido por Arist teles De acordo com Houaiss 2009 por eutrapelia se entende modo de gracejar sem ofender zombaria inocente 211 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 3 1 VRBANITAS E AS IMPLICA ES ETH TICAS DO USO DO RISO Como j adiantamos as considera es est ticas ticas e ret ricas sobre o uso do riso retomam Arist teles todavia sabemos que a n o chegada at nossos dias do Livro da Po tica criou uma esp cie de lacuna em rela o aos estudos do riso na obra desse fil sofo Isso faz com que busquemos exegetas e conhecedores na medida do poss vel contempor neos das coloca es do estagirita Assim os oradores e retores latinos mais precisamente C cero e Quintiliano surgem como autoridades e fontes relativamente pr ximas das ideias de Arist teles Em vista disso os tratados De ridiculis de C cero e De risu de Quintiliano se nos apresentam como guias para descobrirmos mais e melhor sobre as vantagens e os limites da utiliza o ou n o de uma linguagem baseada no riso n o somente no seu uso ret rico mas tamb m nas demais situa es de comunica o Ali s na obra desses retores que encontramos o conceito de VRBANITAS De uma maneira geral esse conceito diz respeito 1 s caracter sticas que contribuem para a constitui o do ethos discursivo do ora
67. as Creio na fam lia na tradi o e na propriedade desde que por tradi o a propriedade seja da minha fam lia Creio que toda mulher deve ser colocada num pedestal que a gente possa olhar bem as pernas dela IX Creio que os nossos l deres pol ticos ainda voltar o a fazer desse pa s o que ele j foi um imenso deserto de gelo do per odo glaci rio qe cp qe ps e ad a A E acima de tudo creio que de todos os males que afligem este nosso mundo de Deus nenhum pior mais terr vel mais repugnante do que este credo que eu estou escrevendo agora mada EN Aau aAA E Z 7 __ me alii mo e Alia o Me gt ei Er bio at afirmo mim mia mm Figura 1 Meu credo SOARES 1989 p 23 No texto da figura 1 Soares 1989 p 23 anuncia sua entrada como colunista da Revista Veja Diferente do texto das narrativas analisadas por Possenti 2010 e da can o do Falc o o credo de J Soares nos oferece mais pista de que a transforma o 126 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 c mica se opera para al m do n vel da frase ou da simples presen a dos mecanismos t cnicas do riso N o somente pelo t tulo remiss o direta ao Credo Unum Deum Patrem e pela parte imag tica uma esp cie de iluminura representa
68. ato de comunica o h sempre um espa o de manobra com qual o sujeito do discurso pode Jogar e desse modo dizer o que precisa dizer ou o que quer dizer mas que teoricamente n o pode dizer Isso porque todo espa o de coer o prev um espa o de estrat gias discursivas como postula Charaudeau 2006d p 218 219 No caso de Dutra ao utilizar um dito picante VRBANITAS circunscreve as tr s macroestrat gias discursivas a saber a credibilidade a legitima o a capta o S Quanto s duas primeiras estrat gias poder amos dizer num primeiro momento que o enunciado do presidente brasileiro tem por base os discursos ditos vazios de significados isto discursos fundamentos na fun o da f tica linguagem No entanto o dito picante de Dutra faz mais do que uma simples tentativa de estabelecer o contato ele coloca em evid ncia a estrat gia da legitima o ou seja mostra o poder de autoridade do sujeito de n o somente tomar a palavra mas tamb m de distorc la falamos aqui da paronom sia Quanto estrat gia de capta o seduzindo e persuadindo visa se fazer o parceiro da troca comunicativa entrar no quadro de pensamento do sujeito falante CHARAUDEAU 2006d p 219 o que pode se dar pela pol mica ou pela dramatiza o Nessa ltima encontra se a possibilidade do jogo de palavras para atrair o ouvinte Da o uso do trocadilho por Dutra por meio dos GENE
69. blicas se voltem para a defesa de grupos minorit rios esse projeto se caracteriza por uma tentativa de limpeza de termos 400 Quanto ao car ter anacr nico de postular VRBANITAS enquanto categoria de an lise entendemos que n o devemos lidar com o passado numa perspectiva de um passado absoluto definitivo irrevog vel mas um passado profundamente din mico e muito fecundo a nos fazer presentes as mais refinadas indaga es a nos levantar intrincados questionamentos acad micos a nos sugerir nas reflex es de ontem reflex es para o hoje REZENDE 2009 36 401 No original On donc parler ici d une cat gorie proprement discursive qui ne se laisse r duire ni une grille strictement linguistique ni une grille d ordre sociologique ou psycho sociologique 260 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 lingu sticos marcados pelo preconceito Nesse cen rio os humoristas s o acusados de serem politicamente incorretos gerando esc ndalos na m dia aberta processos judiciais e indeniza es milion rias No entanto esses mesmos humoristas conseguem fazer a pol mica com politicamente incorreto funcionar a seu favor elaborando estrat gias discursivas como por exemplo o marketing pelo m todo confuso que al m de permitir o sucesso no campo do humor atrai a aten o das grandes empresas e marcas para o fazer humor stic
70. cero e Quintiliano determinam que o maior perigo para o orador parecer um artista sendo as t cnicas semelhantes e sendo os atores fregiientemente os tutores dos jovens oradores a distin o ainda mais importante e ainda mais dif cil Mais uma vez a diferen a de posi o hier rquica GRAF 2000 p 54 Em vista disso coube arte ret rica refinar essa diferencia o a partir de uma educa o na qual o discurso do orador deveria se basear tanto na craviras quanto na VRBANITAS ou seja a gra a deve se manter dentro de certos limites de respeitabilidade para ser aceita socialmente GRAF 2000 p 52 Cabe ainda destacar aqui outra diferencia o agora n o s espacial rvs vres mas sim temporal antiqvvs novvs Um riso fundamentado no que faceto ir nico eutrapeloi como desejava Arist teles era ansiado pela classe senatorial romana desejosa de marcas distintivas al m das da origem Sobre essa atitude Minois 2003 p 82 esclarece que os antigos homens do poder como por exemplo Cat o o Censor eram marcados por possuir um senso de humor altamente c ustico zombeteiro mordaz provido de v rias estrat gias como cita es prov rbios tropos todavia sem respeito s coer es da classe Ou seja uma linguagem baseada nas picaciras Isso por sua vez n o era desejado como pr prio do orador ideal almejado pelos retores romanos Em resposta primeiro C cero e de
71. condenado morte pela forca por ter sido considerado maximalista e juntamente com Dom Pedro ter conspirado para revolta da esquadra que levaria Independ ncia no dia 7 de setembro Na manh do dia seguinte Cabral parte para um passeio para reconhecer a terra encontrando se por acaso com um patr cio o Bas lio primo da Lu sa que o leva de bonde at um lugar especial um para so novamente uma esp cie de meretr cio ou bordel 203 Segundo Lustosa 1993 maximalistas seria uma tradu o literal da palavra russa bol chevik que na reuniria sob o mesmo r tulo e s vezes no mesmo fato personalidades de diferentes pocas ligadas a diferentes tipos de levantes ou de revolu es 146 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Por essas poucas linhas podemos afirmar junto com Lustosa 1993 p 127 que a caracter stica mais marcante do texto de Fradique o fato de que ele conta a Hist ria do Brasil numa esp cie de movimento narrativo pancr nico ou seja diacronicamente a narrativa obedece ao modelo tradicional No entanto num movimento sincr nico faz com que esta hist ria tradicional aconte a num Brasil contempor neo Como j vimos essa caracter stica muito semelhante estrat gia narrativa presente na Coena Cypriani No caso espec fico da HBMC assim como Cabral v rias outras figuras hist ricas e mesmo
72. contar uma piada escrever um texto jocoso apresentar 210 Redu o da express o identidades psicol gicas e sociais CHARAUDEAU 2011 17 211 Termo utilizado por Pinto 1970 para designar um profissional do riso voltado especificamente para fazer rir e que na concep o de Ziraldo se difere por vezes do humorista propriamente dito 2 Dizer que os sujeitos falantes possuem uma identidade psicol gica e social de modo algum implica que nosso percurso adotar o vi s de uma an lise psicol gica subjetivista como por exemplo a que em certa medida realizada em determinados trabalhos sobre o riso o ris vel a citar Baudelaire 1855 Veissid 1978 Mennucci 1923 Peixoto 1936 Pereira 1970 Pirandello 1996 D Angeli amp Paduano 2007 Rouanet 2007 Ramos 2009 Esses trabalhos por vezes tentam explicar o humor o humorismo o c mico a comicidade etc de certas obras ou estilos individuais por meio de esquemas e ou de processos cognitivos de produ o ou de recep o que um escritor poeta considerado c mico ou humorista desenvolve em sua mente Nossa proposta menos pretenciosa procura apresentar determinadas caracter sticas f sicas fisiol gicas comportamentais e por que n o mentais se os sujeitos do riso s o considerados por exemplo loucos dementes s bios exc ntricos melanc licos etc na medida em que essas possam contribuir para a constru o e tamb m para a an lise d
73. contradiction entre deux logiques dans une m me isotopie 277 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 AP NDICE DAS CONIV NCIAS E DOS EFEITOS VISADOS Segundo Charaudeau 2006 36 39 tradu o e grifos nossos CONIV NCIA DESCRI O EFEITO VISADO um alegramento em si dentro de busca fazer partilhar uma vis o uma fus o emocional do autor e do decalcada sobre as bizarrices do mundo e das destinat rio livre de todo o esp rito normas do julgamento social sem sugerir L DICA cr tico produzido e consumido dentro algum engajamento moral mesmo se de uma gratuidade de julgamento como uma mise en cause das normas sociais se se tudo fosse poss vel encontre em subjac ncia prop e ao destinat rio uma Ela pol mica o que a torna diferente da den ncia de um falso parecer de coniv ncia l dica como se houvesse uma virtude que esconde valores negativos contra argumenta o impl cita pois busca CR TICA Contrariamente l dica a fazer partilhar o ataque a uma ordem est vel coniv ncia cr tica possui um carga denunciando falsos valores particularizante podendo se tornar agressiva com rela o alvo possui um efeito destruidor busca fazer partilhar uma desvaloriza o Aqui n o h a mesma contra dos valor
74. convencer persuadir pode deve prever essa heterogeneidade ou fragmenta o poss vel dentro de um mesmo audit rio e como estrat gia discursiva subdividi lo em grupos sociais distintos testando as formas de inclus o das partes no todo PERELMAN OLBRECHTS TYTECA 2005 25 De volta aos exemplos 2 e 3 analisados por Olbrechts Tyteca 1974 vemos que o que a autora chama de sentimento de afastamento que se desenvolve a partir da inser o de uma terceira personagem no di logo uma ilustra o do que pode ocorrer quando um dado audit rio apresenta diverg ncias de opini o Nesse sentido essa terceira personagem aparenta ter um status semelhante ao de um tiers quando a esse ltimo dada voz oportunidade de dar sua opini o dentro de determinada situa o enunciativa Isso se processa pelo fato de o sujeito comunicante poder jogar com a possibilidade de substituir os protagonistas uns pelos outros para inclu los ou exclu los direta ou 196 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 indiretamente da mise en sc ne CHARAUDEAU 2004b p 4 Podemos deduzir portanto que essa estrat gia corresponde em certa mediada a um teste de heterogeneidade do audit rio Em outras palavras essa inser o de um tiers nos ACHs representa o afastamento de uma parte do audit rio de terceiro n vel que desse modo passa a se constituir como um audi
75. das principais formas linguageiras lingu sticas e discursivas pelas quais o ris vel pode se apresentar perscrutando a possibilidade de erigir uma diferencia o entre sequ ncias e obras propriamente humor sticas Por fim no cap tulo 4 delineamos como o riso e o ris vel se encontram no interdiscurso verificando os tipos de rela es interdiscursivas pass veis de ser mantidas pelos g neros e pelos textos engendrados pelo discurso humor stico No segundo movimento de nosso percurso voltamos nossas aten es para o modo como organizada a estrutura do discurso humor stico por meio da an lise do seu macrodispositivo conceptual Assim na parte as rela es intersubjetivas passam a ser o foco dessa parte colocando os sujeitos desse discurso em evid ncia Nesse nterim no cap tulo 1 partindo da origem e do perfil dos principais profissionais do riso na hist ria do pensamento ocidental a saber o c mico o buf o o s tiro o bobo da Corte e o humorista buscamos construir um painel com os perfis eth ticos poss veis de ser aferidos aos sujeitos do discurso humor stico No cap tulo 2 propomos uma rean lise do microdispositivo enunciativo dos atos de comunica o humor sticos partindo do pressuposto de que o ris vel pode se voltar para um riso sem o matiz de derris o ou de zombaria isto para um riso bom ou alegre No cap tulo 3 os limites e as condi es para o uso do riso no discurso s o analisados a p
76. de gerar prazer seja ele de superioridade de incongru ncia ou de al vio em certas formas do riso De fato a quantidade de riso n o somente passa a determinar a classe em que ser o enquadradas essas formas humor c mico ironia sarcasmo grotesco como tamb m influenciar na exclus o de certas formas do riso do meio social e at mesmo no expurgo do riso de algumas pr ticas humor sticas e de certos estudos por exemplo sobre o humor e a ironia cf Escarpit Daremos tratamento especial a essa quest o em outro momento de nosso texto cf parte 1 e cap 4 A segunda consequ ncia se refere dificuldade de percep o do riso bom alegre Podemos dizer que o matiz de derris o de zombaria ou seja todo o lado negativo e agressivo do riso se torna a partir desse per odo uma esp cie de nebulosa que encobriria e de certo modo at impediria a possibilidade de ver o lado positivo salutar criador regenerador do riso e do fazer rir na sociedade humana cf Bakhtin Aprofundemos um mais pouco nesse ponto Em Comicidade e riso Propp 1992 afirma que o estudo da comicidade deve se pautar ao mesmo tempo na est tica das obras ditas c micas e na psicologia do sujeito que ri Com isso em mente o autor se debru a sobre a psicologia de diferentes tipos de riso procurando evidenciar os mecanismos capazes de desencadear o riso e a forma como 99 O Discurso humor stico um percurso de an lise pe
77. de reclamar de algo que se considera ofensivo a coisa complica quando o politicamente correto vira lei e passa a comprometer a liberdade de express o Se esse mpeto coercitivo n o for refreado ele poder impedir no limite que qualquer cartum seja desenhado que qualquer livro seja escrito qualquer filme seja filmado O politicamente correto solta e legalizado acabar por impedir no fim das contas o riso 383 Em rela o aos processos do programa Tas apud 2013 100 acredita que a quest o n o somente gira em torno de objetivos lucrativos mas tamb m que ela possui motiva o pol tica pois segundo o humorista o objetivo de se processar o programa seria evitar que na campanha eleitoral perguntas pontiagudas sejam feitas a determinados candidatos de conduta pol tica e social duvidosa 242 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Essa patrulha do moralismo tamb m tem fins lucrativos Hoje fundar uma ONG em defesa dos an es caolhos gera dinheiro e preciso justificar esse dinheiro Essas representa es s o muitas vezes question veis veem preconceito em tudo MADUREIRA apud MARTINHO 2013 p 63 Somado ao politicamente correto uma hip tese sugere que esse novo tipo de humor e essa nova gera o de humoristas s o resultados em maior ou menor medida da introdu o da cultura norte americana do stand up
78. de silogismos etc podendo portanto se estender desde per odos simples e compostos at par grafos cf PERELMAN OLBRECHTS TYTECA 2005 Nesse caso no entanto cabe uma ressalva tanto C cero no De ridiculis quanto Quintiliano no De risu deixam subentendido se suas explica es a respeito dos GENERA RIDICVLORVM NO Seu uso orat rio se aplicam ao texto escrito O que quanto a isso Castiglione n o deixa d vidas Na virada do medievo para a poca renascentista Castiglione 1478 1529 brilhante erudito e humanista da Corte de Urbino It lia central desenvolve em Cortegiano aquilo que admitia ser o retrato do cortes o ideal Na esteira de C cero e de Quintiliano e nos moldes dos di logos orat rios da antiguidade Castiglione em cena nesse 169 gt E E Trata se da retor o por meio da qual se reutiliza contra o advers rio palavras colhidas do discurso do mesmo 170 No De risu 45 NIHIL ENIM QVOD IN LACESSENDO DICI POTEST NON ETIAM IN REPERCVTIENDO 171 Por uma quest o mais metodol gica do que ontol gica Olbrechts Tyteca 1974 7 procura diferenciar comique de la rh torique do comique dans rh torique O primeiro um tipo de c mico que diz respeito ao modo como os argumentos as condi es e os esquemas argumentativos podem ser vistos interpretados como potencialmente desencadeadores do riso J o segundo refere se ao c mico que circunscreve as formas verbais em g
79. descoberta de um conhecimento novo cf Dem crito 132 Por se tratar de um estudo em AD n o ser o discutidas aqui outras formas que n o as lingu sticas e as discursivas de se provocar o riso ou de se induzir estados euf ricos como por exemplo c cegas fric es em algumas partes do corpo que desencadeiam processos neurol gicos e f sicos ligados ao riso ervas c nabis haxixe papoula drogas lcool pio fluoxetina ou p lula da felicidade gases xido nitroso ou g s hilariante cloreto de etila ou ter perfumado g s comprimido base do lan a perfume ou vulgo lol doen as loucura dem ncia riso sard nico determinados tipos ferimentos principalmente na regi o do diafragma entre outros 97 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Os oradores e retores latinos e os pensadores medievais por sua vez procuraram a seu modo reformular as ideia dos gregos sobre o riso Os latinos nas figuras de C cero e Quintiliano abordam o riso de forma pr tica aplicando o fazer rir na orat ria e na ret rica cf parte II cap 3 item 3 2 2 Sendo assim quest o da paix o da origem do riso na alma humana e da sua natureza f sico fisiol gica foi dada menor import ncia o que se deve ao fato de que os latinos perceberam que as dificuldades pr prias da quest o acarretavam a impossibilidade de dar um tratamento cien
80. dia proporcionada pela propaganda eleitoral do candidato N o exploraremos esse ponto O que nos interessa mais precisamente essa confus o entre pol tica e com dia uma vez que acreditamos que ela est diretamente relacionada replica o do macrodispositivo do discurso pol tico 2 9 Para al m do personagem de palha o de buf o havia rumores na poca sobre a capacidade intelectual de Tiririca principalmente no que diz respeito s compet ncias de leitura e de produ o de texto o que levou o candidato a passar por um processo de legitima o dessas compet ncias junto C mara dos Deputados para poder assumir o cargo Ou seja o que antes contribu a para formar o ethos de buf o e distorcer o ethos de pol tico tornou se mais tarde um problema de inelegibilidade para candidato 206 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Eu sou o Tiririca da televis o Sou candidato a deputado federal O que que faz um deputado federal Na realidade eu n o sei Mas vote em mim eu te conto Vote no Tiririca pior do que t n o fica Nesse excerto os dois enunciados grifados s o importantes para marcar a sobreposi o das inst ncias entre os macrodispositivos do DH e do discurso pol tico Num primeiro momento o candidato exp e sua pseudoparvo ce atitude t pica do buf o ao alegar desconhecimento das fun es de um deputado Ess
81. discursiva pois e Aparentemente n o h um setor de atividade social ou mesmo um campo espec fico do c mico do ris vel ou mesmo do riso em contrapartida podemos dizer apoiados nas observa es de Possenti 2010 p 171 et seg que h um campo do humor que subsume produ es teatrais cinematogr ficas musicais televisivas eventos simp sios congressos feiras publica es revistas jornais livros e profissionais humoristas comediantes comedi grafos caricaturistas cartunistas chargistas palha os todos ligados de algum modo n o somente ao humor mas tamb m ao riso ao ris vel ao c mico ao l dico etc e Uma denomina o como discurso do riso corre o risco de focalizar somente o car ter visual ou fisiol gico do riso os diferentes tipos de risos e sorrisos procurando responder quest es como o que significa responder com um riso ou com um sorriso O que significa o riso ou o sorriso do sujeito x na situa o O que significa aquele sorriso amarelo no seu rosto e O termo humor stico est aparentemente mais relacionado a atividades linguageiras do que os outros termos a citar toda a argumenta o de Charaudeau 2006a a favor da especificidade dos atos de comunica o humor sticos Isso pode ser evidenciado nas especifica es atribu das comicidade e ao c mico como c mico da linguagem ECO 1984 352 comicidade verbal BAKHTIN 2010a
82. do presidente norte americano Harry Truman em 1947 o mandat rio brasileiro o Marechal Eurico Gaspar Dutra 1946 1950 que n o falava ingl s recebeu do cerimonial a recomenda o de apenas repetir o que o americano dissesse para que em seguida os presidentes se perfilassem e fossem executados os hinos nacionais How do you do Dutra foi o cumprimento de Truman Dutra por sua vez teria respondido How tru you tru Truman Numa an lise das t cnicas do humor presentes no texto fica evidenciado o uso do trocadilho mais especificamente da paronom sia prevista tanto em C cero e quanto em Quintiliano quest o que se coloca a seguinte era pr prio de um presidente se utilizar desse expediente naquela situa o Aqui entra o problema exposto por C cero quando esse fala que as t cnicas s o compartilhadas tanto pelo ator c mico pelo buf o quanto pelo homem dotado de vrBANITAS Como qualificar ent o o ethos do presidente brasileiro urbano espirituoso ou t pico de um buf o Nesse ponto deparamo nos com a primeira contribui o da categoria de vRBANITAS partir do ethos pr vio do Marechal podemos dizer que esse estava condicionado por 364 N o debateremos aqui as quest es relacionadas aos pontos lend rios e ou obscuros dessa suposta gafe do presidente Dutra como por exemplo a sua n o profici ncia no idioma ingl s O que nos interessa como o ethos e por conseguinte
83. do ris vel quanto a isso j existem obras de especializadas cf Alberti 1999 Bremmer e Roodenburg 2000a Escarpit 1972 Minois 2003 para citar algumas Tamb m n o desejamos fixar nosso percurso como o nico poss vel que isso impediria a outros analistas do discurso e pesquisadores de outras reas de construir a seu modo o pr prio percurso e tamb m de fornecer complementos ou mesmo cr ticas ao nosso ponto de vista Negar tal possibilidade a nosso ver seria nada salutar para o avan o dos estudos sobre o discurso humor stico 27 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 cr tica de sele o de exemplos e com a adequa o veracidade dos dados E al m disso como pensar o papel do sujeito pesquisador analista em rela o constru o do corpus N o temos a pretens o de responder a todas essas quest es mas discuti las atentamente com outros pensadores e dessa maneira verificar quais caminhos podemos trilhar em nossa an lise Comecemos com algumas considera es de Trask 2004 p 68 sobre a constitui o de corpora em Lingu stica Para esse autor enquanto conjunto de textos dispon veis para an lise o corpus garante grandes vantagens ao analista e Evita que este consulte sua intui o sobre os fatos da linguagem uma vez que os dados escritos ou falados foram produzidos espontaneamente por falantes reais e
84. do riso segundo o fil sofo sorridente De acordo com Alberti 1999 Dem crito procurava dissecando animais a sede de um tipo espec fico de humor a b lis negra Essa ltima era de acordo com os antigos a desencadeadora do esp rito de melancolia um humor respons vel tanto pela loucura 58 Para isso veja Alberti 1999 74 75 59 De acordo com Houaiss 2009 essa acep o de humor se encontra ligada hist ria da medicina correspondendo a um tipo de l quido secretado pelo corpo e que era tido como determinante das condi es f sicas e mentais do indiv duo Na Antiguidade cl ssica contavam se quatro humores sangue bile amarela fleuma ou pitu ta e bile negra ou atrab lis 81 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 quanto pela sabedoria Como resultado de suas reflex es narradas na Carta Dem crito se apresenta como portador da seguinte posi o diante da realidade rir de todos absurdos humanos Isso se deve ao fato de que para Dem crito o riso se mostra como um certo tipo de desinteresse pelas coisas da vida necess rio ao recolhimento filos fico requisito para a sabedoria profunda PIGUEAUD 1981 apud ALBERTI 1999 p 77 grifos da autora Como se v esse desinteresse n o porta em si um sentido pejorativo ou negativo ele representa na forma do riso a s dvpua bom animo bom esp r
85. dos sketches humor sticos interpretados em cena dentro de algumas emiss es de r dio ou de televis o ditas de divertimento mas tamb m no teatro ou no cinema desde que se trate do que chamado Com dia CHARAUDEAU 2006a p 40 tradu o nossa No original Il faut encore remarquer qu il est rare de communiquer de fa on humoristique selon une forme homog ne et continue Sauf exception une conversation qui reposerait que sur change de plaisanteries ou de moqueries est bien peu fr quente en dehors de la sc ne th trale ou du cabaret 33 No original il peut s riger en genre lorsqu il s annonce et se donne consommer pour tel dans le recueils d histoires dr les dans les sketches humoristiques jou s sur sc ne dans certaines missions de radio ou de t l vision dites de divertissement mais aussi au th tre ou au cin ma lorsque l on affaire ce qui s intitule Com die 41 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 N o descartamos a ideia de que o humor e tamb m tantas outras formas de c mico no discurso possa ser considerado como estrat gia discursiva que atravessa outros discursos e g neros Nossa inten o mostrar que embora os autores n o considerem a totalidade de um discurso humor stico a exist ncia de g neros ditos c micos as com dia as farsa os mimos ou humor sticos as bufonarias as
86. e o mutualismo defensivo no qual alimento e abrigo s o oferecidos em troca de defesa contra predadores De um ponto de vista um pouco diferente Vaz 2001 p 1 3 prop em uma cr tica a essa vis o at certo ponto positivista sobre as rela es mutual sticas Para esse jornalista voltado para quest es ambientais essas rela es quando observadas mais de perto se apresentam mais como coopera es aparentes Isso porque em muitos casos pode se verificar que tais rela es s o mais explora es rec procas do que esfor os cooperativos entre os indiv duos Vaz exemplifica isso com o tipo de rela o estabelecida entre o indicador uma esp cie de pica pau da frica e o texugo mam fero da fam lia dos mustel deos o primeiro um especialista em localizar colmeias de abelhas mas impossibilitado de extra las das cavidades onde se encontram o segundo portador de garras afiadas O segundo abre a colmeia come o mel e ao primeiro possibilita suprir se das larvas e da cera de que feito o ninho Em casos semelhantes continua Vaz nem sempre os limites entre as rela es s o claros pois n o se sabe a exemplo do que acontece com o tubar o e as r moras se os seres s o indiferentes ou n o a presen a do outro o que levaria a considerar tal rela o mais como um tipo de parasitismo rec proco ou devido d vida um mutualismo oportunista 135 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela lin
87. em rela o e posi o do sujeito numa dada hierarquia aos momentos hist ricos e s profiss es ligadas ao riso marcando a tomada de palavra concedida pelo poder do rei por exemplo pelo acontecimento feira festa carnaval ou pelo m dium circo teatro jornal r dio internet imagem do fiador enquanto buf o bobo sat rico isto em rela o representa o do corpo do enunciador reconstitu da pelo ouvinte leitor MAINGUENEAU 2004 qual garante o dizer dando suporte por exemplo a escolha de determinados expedientes lingu sticos e discursivos como por exemplo o uso da excrement cia da lubricidade da chularia ou mesmo da 217 Com base em Maingueneau 20044 diremos que m dium n o deve ser entendido somente enquanto suporte de textos orais ou escritos mas sim como um conjunto de caracter sticas circunstanciais e materiais que est o diretamente ligadas transmiss o e recep o dos enunciados tendo o poder de modelar os g neros do discurso e de influenciar na pr pria constitui o dos textos 159 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 verdade muitas vezes interditos devido s coer es do contrato e ou da situa o de comunica o e autoridade adquirida pelo discurso Nesse caso trata se do argumento de autoridade pelo avesso Aqui tocamos no ponto cr tico entre o que se
88. englobantes ditas humor sticas pode ser potencializado ou atenuado pela percep o da inst ncia discursiva que produz o discurso Os Sonacirema s o um grupo norte americano que vive no territ rio entre os Cree Canadenses o Yaqui e Tarahumare mexicanos e os Carib e Arawak das Antilhas Pouco se sabe sobre sua origem embora a tradi o diga que vieram do leste A cultura Sonacirema caracterizada por uma economia de mercado altamente desenvolvida que evolui em um rico habitat natural Embora as pessoas dediquem um bom tempo s atividades econ micas a maior parte dos frutos desses trabalhos e uma por o consider vel do dia s o gastos em rituais A convic o fundamental subjacente a todo o sistema parece ser a de que o corpo humano feio e de que a sua tend ncia a debilidade e a doen a Encarcerado em tal corpo a esperan a do homem evitar essas condi es pelo uso das poderosas influ ncias do ritual e da cerim nia Todas as casas possuem um ou mais santu rios dedicados a esse prop sito O ponto central do santu rio uma caixa ou arca embutida na parede Nessa arca s o guardadas as muitas po es m gicas e simpatias sem as quais nenhum nativo acredita poder viver Esses preparados s o obtidos de v rios profissionais especializados Os mais poderosos entre eles s o os curandeiros cuja ajuda deve ser compensada com bons presentes Entretanto os curandeiros n o fornecem as po es curativas p
89. era a forte presen a do riso 155 GENVS RIS conjunto de seres que t m origem comum e semelhan as naturais g nero ra a esp cie 156 z Marco Ant nio 143 av do tri nviro exerceu a pretoria em 103 Era considerado por C cero um dos maiores oradores de Roma 157 Lat g neros de fac cias Segundo Marques Jr 2008 FACETIAE gracejos fac cias foi o termo escolhido por C cero em detrimento de outros como por exemplo IOCVS jogo para definir instrumento do rid culo orat rio 158 No De ridiculis 248 264 C cero exemplifica os g neros de palavras classificando os de acordo o conhecimento lingu stico e po tico da poca Entre os principais destacamos 1 a paronom sia que se baseia na similitude entre palavras ou na mudan a de apenas uma letra na escrita ou de um fonema na fala 11 invers o na qual se tem um deslocamento sem ntico do sentido das palavras uma forma pontual de ironia iii a ambiguidade ou os casos gerais de duplo sentido nos quais por exemplo se toma coisas graves por facetas e vice versa iv as obscenidades sexuais e excrement cias v a literalidade em que se entende algo pela palavra e n o pelo seu sentido vi a alegoria ou discurso modificado e vii a met fora ou transla o de uma s palavra Sem aprofundarmos na quest o podemos dizer que esses GENERA parecem ser desdobramentos daqueles esbo
90. escritores e poetas ESCARPIT 1972 8 9 significativa especializa o da imprensa proporcionada por sens veis avan os na forma de impress o de material escrito litografia e de imagens litogravura institucionalizando se desse modo como meio de comunica o de massa Al m disso com base numa relativa liberdade essa imprensa viu no riso e nas suas formas reduzidas na caricatura e na charge fortes aliados nas quest es gerais de atratividade dos peri dicos o humor como meio de sedu o SANTOS 2012 p 43 de den ncia das mazelas sociais e de cr tica aos sistemas estabelecidos Nas palavras de Lisboa 2011 p 391 392 o sucesso desses impressos jocosos junto prefer ncia do p blico se deve principalmente a um riso moderado expurgado do escabroso e da escatologia cujas fontes tem ticas se voltam o cotidiano da vida em sociedade s o gra as feitas de not cias gazet rias iv advento do Romantismo que pregava uma rea o aos preceitos da ret rica e s leis externas da tradicional educa o liter ria desenvolvidas a partir do Classicismo PIRANDELLO 1996 p 52 Assim dando livre curso ao sentimento poetas e escritores podiam utilizar espontaneamente a sua inclina o para o humor e para o riso sem passar pelo crit rio da imita o estabelecido pelos modelos ret ricos N o aprofundemos na discuss o desses fatores elencados Todavia partindo do contexto exp
91. etc bem verdade que na Europa continental tamb m se reflete sobre os humores na est tica da arte barroca em voga naquele momento e que de acordo com Pirandello 1996 p 19 ligava por vezes o humor a fantasia capricho e o humorista a fant stico Todavia como ressalta Escarpit 1972 enquanto que nos outros autores as personagens somente apresentam humores por exemplo Hamlet melanc lico em Ben Johnson elas se tornam deliberadamente c micas pois adaptando a patologia dos humores s personagens da com dia Ben Johnson descobre um modo de utiliza o 217 HVMOR ONIS 1 umidade elemento l quido l quido de toda esp cie gua vinho l grima sangue 2 humores do corpo 174 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 c mica dos humores criando assim um forte elo entre o humour e o rid culo que n o havia na sem ntica do termo latino humor A partir de ent o podemos dizer que na Inglaterra se desenvolve sobre o humour uma esp cie circunl quio na Hist ria das Ideias no qual se relaciona o temperamento esp rito do povo ingl s a sua l ngua e at mesmo as condi es clim ticas do pa s ao sense of humour brit nico Com efeito justifica se o humor ingl s por meio de uma dial tica entre tend ncias contradit rias onde cada uma serve alternadamente de m scara a ou
92. ex col nias brit nicas e ii a grande produtividade do humor nas literaturas inglesa e dialetal em compara o com a pobreza de obras tipicamente humor sticas nas outras literaturas Como se v o texto de Mennucci um t pico representante da cr tica do in cio do s culo XX baseada ainda em reflex es de car ter subjetivista como justificar um argumento com base na falta de recursos lingu sticos e na predile o da ideia em detrimento da forma em uma l ngua que nos presenteou com as obras de John Milton e de Willian Skakespeare Atualmente tem se conhecimento de que uma l ngua pode adaptar se melhor do que outra a determinado fim espec fico O que n o significa entretanto que uma seja intrinsecamente mais rica ou mais pobre que a outra LYONS 1982 p 40 Nesse sentido devemos dizer que alegar a pobreza da l ngua inglesa como fonte nica do humor desenvolver uma an lise t o tendenciosa quanto a que considera haver l nguas mais evolu das do que outras o que explicaria por exemplo a rudeza das l nguas germ nicas em rela o ao latim ou ao grego ou a aparente simplicidade das l nguas isolantes como o chin s em rela o s indo europeias flexionais No nosso modo de ver isso nos parece uma heran a do conceito de barbarismo ainda aferido a determinado povo sua cultura e por consequ ncia mas sem argumento cient fico algum sua l ngua 249 7 5 No original une sorte de dialect
93. gera o de humoristas Como sabemos os ACHs podem ser utilizados por outros tipos de discurso enquanto estrat gia discursiva cf parte 1 cap 2 principalmente na literatura e na publicidade Nesses termos os ACHs atravessam esses discursos e por vezes chegam a ser considerados uma caracter stica essencial de alguns g neros como por exemplo nas propagandas cf parte 1 cap 3 item 3 1 1 2 Todavia com a sombra do politicamente correto pairando sobre v rios temas o que est acontecendo com alguns formatos de humor exatamente o contr rio atos de comunica o de natureza publicit ria est o atravessando os g neros espec ficos do humor numa esp cie de marketing que pelas similitudes de processo e pela presen a da linguagem politicamente incorreta denominamos ad hoc de marketing pelo m todo confuso Expliquemos Na publicidade o ataque direto a marcas concorrentes que produzem e ou comercializam um mesmo produto no mercado tido normalmente como uma pr tica discursiva falha e atualmente tamb m como um ato politicamente incorreto Isso porque tal pr tica pode entre outras coisas funcionar de modo contr rio dando maior visibilidade ao produto da marca concorrente No caso do marketing pelo m todo confuso doravante MMC o humorista vendo seu discurso na maioria das vezes talhado pelas coer es sociodiscursivas do politicamente correto a favor das minorias encontra na guerra entre
94. humoristas podem surgir em qualquer espa o ter profiss es ou atividades que podem ser mais ou menos pr ximas do papel de humoristas e De modo semelhante literatura o humor trata de quaisquer temas e assuntos E al m disso ligada a essa caracter stica comum ambos lutam permanentemente para que nenhuma proibi o ou controle possa atingir suas produ es e O humor como a literatura um campo em que se praticam g neros numerosos da com dia charge passando pelas cr nicas e narrativas Al m disso pode haver manifesta es humor sticas no interior de todos os tipos de textos dos tratados aos ensaios da B blia ao romance e O humor tamb m n o se pretende pragm tico embora eventualmente existam defesas do papel cultural e at mesmo pol tico das produ es do campo O que poderia evidenciar diferentes posicionamentos ideol gicos e acontece na literatura haveria diferentes classifica es para as produ es humor sticas como por exemplo a humor mais popular vs humor erudito s vezes chamado de humor inteligente b humor de sal o n o agressivo n o expl cito vs humor grosseiro chulo da rua c humor predominante oral das conversas do dia a dia vs humor Esse posicionamento reflete a proposta de an lise de discurso de Maingueneau muitas vezes ainda ligada em alguns de seus escritos a categorias como por exem
95. justifica termos dado prefer ncia o termo vRBANITAS lat ao inv s de urbanidade port que atualmente n o abarca o sentido empregado por C cero e por Quintiliano 1 E E meo SE Quest o que ser melhor abordada em nossas considera es iniciais 21 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Assim em nosso texto os termos gregos latinos relacionados s discuss es sobre o riso o ris vel ter o na sua primeira ocorr ncia a forma como se encontram na l ngua e no texto de origem Essa nossa preocupa o se deve ao fato de que algumas tradu es dos textos dos antigos frequentemente trazem problemas como qualquer tradu o na vers o desses termos para as l nguas modernas como por exemplo o termo geloion que aparece nas tradu es da Ret rica de Arist teles vertido em portugu s como riso ris vel rid culo fac cia trocadilho piada Com efeito tentando amenizar esses problemas al m do termo no seu alfabeto original forneceremos em nota de rodap as formas como os termos podem ser encontrados no dicion rio nominativo e genitivo seguidos do significado em portugu s Com isso acreditamos poder facilitar n o somente a consulta do texto fonte no idioma original mas tamb m aumentar a precis o dos sentidos dos termos em rela o ao contexto hist rico no qual as obras foram escritas Para a tradu o dos termo
96. l gico podemos at dizer que de certo modo o povo esperava por isso que o buf o passasse a bobo da corte leia se bobo da C mara mas n o exatamente o que acontece no caso de Tiririca Ao que parece h algumas profiss es que privam pessoas med ocres da capacidade de rir Em particular profiss es que investem o homem de alguma parcela de poder PROPP 1992 p 33 Assim sendo podemos admitir que Tiririca aprendeu depois de algum tempo no Congresso que a responsabilidade do cargo de deputado grande e que s vezes o sil ncio o melhor amigo do pol tico De acordo com o pr prio Tiririca 2012 a palha a na Casa tem seu nus que n o compensa pagar Eu me sinto vigiado 24 horas 208 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 PARTE CAP TULO 3 AS CONDI ES PARA FAZER RIR DOS LIMITES DO USO DO RISO FLAMMAM A SAPIENTE FACILIVS ORE IN ARDENTE OPPRIMI QVAM BONA DICTA TENEAT Quinto nio Scaenica CLXVII segundo C cero De ridiculis 222 mais f cil para o s bio sufocar uma chama numa boca flamejante do que reprimir ditos oportunos tradu o de Marques Jr 2008 p 36 209 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Nos cap tulos anteriores refletimos a respeito dos sujeitos do riso suas poss veis identidades psicoss
97. lado o que melhor e toma para si o que pior quando o discurso desarticulado ou o enunciado incoerente e sem nenhuma ordem Depreendemos do arrazoado acima que a divis o entre o que especificamente do fala entenda se discurso e o que se d pela a o n o est muitas vezes bem delimitada no Tractatus Isso se deve ao fato de que as causas expostas s o extra das da arte dram tica muito provavelmente podemos supor resultado da an lise dos textos de com dias e trag dias bem como das encena es teatrais onde o discurso e a a o juntos formam a especificidade desse tipo de m mesis Isso pode ser exemplificado com base em Moreira 2003 pela forma como o Tractatus se refere elocu o pr pria da com dia por ser c mica a elocu o deve ser vulgar comum sendo atribu da s personagens a l ngua p tria das mesmas mas na l ngua do comedi grafo Ou seja a o de dizer atribu do o ethos das personagens articulando se desse modo particularidades lingu sticas discursivas e acionais a a o de dizer sendo uma propriedade da elocu o teatral de modo a constituir o efeito c mico Embora seja evidente uma tentativa de agrupar os elementos a partir de uma parti o que se aproxima da dicotomia l ngua vs discurso o car ter sum rio do Tractatus apresenta os fatores causadores do riso de um modo geral donde muito pouco se pode depreender dos elementos a descritos Al m disso a
98. latrin lias ou sat ricos os epigramas as s tiras desde a Antiguidade aponta para um tipo de discurso especialmente ligado ao riso que proporciona uma leitura uma interpreta o e certos efeitos de sentido tipicamente ligados a uma visada especial fazer rir Abordaremos essa quest o mais detalhadamente em outro momento desse percurso cf parte 1 cap 2 Por este momento ressaltamos somente que esse discurso baseado numa visada de fazer rir por sua capacidade de imitar tanto para subvers o quanto para capta o de atravessar outros discursos deve apresentar uma estrutura sui generis que proporciona tanto a elabora o de g neros prim rios teoricamente mais r pidos menos ideologicamente marcados mais simples na forma quanto de g neros secund rios BAKHTIN 2010b Tal estrutura deve n o somente permitir o desempenho dessas fun es acima relatadas mas tamb m garantir que g neros possam ser tomados como tipicamente humor sticos uma vez que tais g neros desempenhavam e ainda desempenham importantes fun es nas rela es entre os homens como por exemplo amenizar situa es e discursos s rios fazer passar o n o dito pelo dito proporcionar momentos l dicos e momentos de hilaridade construir e refor ar estere tipos e imagin rios sociodiscursivos entre outras finalidades Esse tipo de racioc nio nos leva a examinar a proposta de Possenti 2010 sobre a exist ncia de um campo humor s
99. ligados ao universo do riso tanto em l ngua vern cula quanto em l ngua estrangeira mostram por um lado que os limites entre eles e suas defini es s o muito t nues movedi as aparentemente marcadas por uma univocidade por outro lado esses termos nem sempre mant m entre si uma biunivocidade ou seja muitas vezes n o h termos que se correspondam minimamente entre sistemas diferentes dificultando a compreens o do que faz rir entre diferentes sociedades pocas e culturas comum um Espanhol desejando exprimir a ideia de humour se servir da express o buen humor bonne humeur o que um contrassenso mas um contrassenso muito insidioso para ser percebido ao n vel da linguagem corrente Com efeito o humour e o buen humor t m todos dois alguma coisa a ver com o riso infelizmente n o em tudo a mesma coisa ESCARPTT 1972 p 9 10 tradu o nossa Ou seja n o somente o grau de comicidade vari vel mas tamb m o que uma dada sociedade x considera como c mico ou humor pode ser somente rid culo ou mais ou menos engra ado para uma sociedade y Isso a princ pio n o nos ajudaria em nada a construir um consenso sobre o discurso pass vel de causar o riso No entanto Problema semelhante encontraram os tradutores de Comicidade e riso De acordo com eles cf PROPP 1992 24 nota 5 Komism kom tcheskoe foram vertidas para o portugu s por comicidade e
100. ltimo uma vez que n o assume nenhum papel obrigat rio em cerim nias de cunho religioso As causas do riso alegre n o s o precisas e os pretextos de seu surgimento podem ser os mais insignificantes O prazer desencadeado por esse riso se aproxima de um alegramento puro pr prio de pessoas boas e dispostas ao humorismo PROPP 1992 p 163 vi Riso ritual Como o pr prio nome diz esse riso est ligado aos mais diferentes tipos de rituais verificados desde os prim rdios das sociedades humanas Tido muitas vezes como intencional e ou artificial falso o riso ritual pode at mesmo assim como o choro ser obrigat rio em algumas cerim nias De acordo com Propp 1992 p 164 165 tal riso tem fun o de despertar e de elevar as for as vitais suscitar a vida e at mesmo promover a ressurei o dos mortos tanto dos seres humanos por vezes tamb m dos deuses quanto dos vegetais os rituais realizados durante as colheitas e as semeaduras Embora Propp vislumbre a possibilidade de exist ncia dos outros tipos de riso importante ressaltar que o papel do riso de zombaria nas pesquisas sobre a comicidade De acordo com Propp 1992 esse riso de zombaria pode chegar ao ponto de ser tomado por vezes como sin nimo de comicidade O que se deve ao fato de que Justamente este e apenas este aspecto irris o est permanentemente ligado esfera do c mico Basta notar por exemplo que todo o vasto campo da s ti
101. maravilhosamente ao riso na forma da dicacitas e iii o car ter extremamente conservador da sociedade romana 33 preciso lembrar que em Roma os demais profissionais do riso como o sannio palha o ethopoios ator o mimvs mimo entre outros pertenciam todos a uma classe diferente eles s o estrangeiros gregos escravos ou servos GRAFF 2000 p 54 Exerciam sua atividade de fazer rir mas n o possu am status de cidad o e portanto n o tinha o poder de influenciar de modo decisivo na arte liter ria latina devido aus ncia de legitima o estabelecida a partir do ethos pr vio caro aos romanos 166 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 cabe agora perguntar quem o sat rico qual a sua origem e quais as caracter sticas do seu discurso Etimologicamente sariricvs remonta que por sua vez tamb m remonta satIRVS A origem desses sujeitos designados pelo termo s tiro est relacionada tamb m s festas dionis acas e de algum modo s primeiras trag dias Nessa linha argumenta Lesky 1995 p 255 que a hip tese da origem da trag dia como canto dos bodes WMM seria a mais plaus vel esclarecedora a respeito dos s tiros pois esses ltimos moda de P orelhas rabo e patas de bode teriam por pai Paposilenos que traz sempre uma vestimenta maneira de malha pelu
102. modo a passar de uma intui o simplista a uma presun o e por fim c que ao mesmo tempo se embasa nas autoridades mas critica os mesmos filosofemas procurando desse modo desvendar as propriedades dos discursos e os efeitos de sentidos poss veis dos enunciados e dos textos PARA AL M DOS ATOS DE COMUNICA O HUMOR STICOS Embora venhamos at aqui nos referindo a um discurso pass vel de causar o riso ainda n o dissemos quase nada sobre os problemas relacionados sua natureza tipol gica e gen rica Tal problematiza o nesse momento do trabalho se justifica para mostrar que devido infinidade das formas que o riso pode assumir e sua liga o com 25 Apesar de essa proposta nos parecer a mais adequada para os estudos do discurso em quest o seria herc leo e talvez infrut fero tentar dar conta da totalidade dos estudiosos que nas mais variadas reas do conhecimento se dedicaram aos problemas do riso do humor do c mico e do ris vel Sobre esse ponto parece ser providencial a reflex o de Pirandello 1996 125 sobre que o humorismo Segundo esse autor se quis ssemos dar conta de todas as respostas a esta pergunta de todas as defini es que autores e cr ticos tentaram poder amos encher muitas e muitas p ginas e provavelmente por fim confusos entre tantos pareceres e despareceres n o conseguir amos sen o repetir a pergunta Mas em suma o que o
103. n o aquele coloca a vida dos outros em risco aquele que fala que pensa Fique tranquilo No fundo voc est pensando S bebi um pouquinho e estava 20 Km h Rafinha entretanto parece saber da repercuss o de qualquer palavra que emite e rapidamente no seu Twitter pede desculpas ao apresentador Li e reli o meu post anterior e decidi escrever Personifiquei a minha ira contra a hipocrisia do planeta na figura do Luciano Huck Fiquei indignado ao saber que o caso poderia morrer com uma simples nota para a imprensa mas n o sou eu o respons vel por puni lo princ pio existe Justi a pra isso Dirigir alcoolizado um crime grave e este deveria ser o tema do meu post Acabei transformando o caso em um palanque para despejar uma s rie de ofensas pessoais contra o trabalho do apresentador Atitude desnecess ria Feia Eu poderia ter exposto a minha opini o de uma forma muito mais inteligente e eficiente N o sei se haver algum processo judicial contra mim N o esta a quest o Estou aqui apenas para deixar claro que desta vez sinto que me equivoquei Errei e por isso pe o desculpas 51 Se voc trabalha em um jornal ou portal e pretende reproduzir este texto pe o que o fa a na ntegra inclusive com os 55 PS 2 Aproveito a oportunidade para avisar a todos que estou vendendo uma moto 250 cc por apenas R 5 500 Excelente estado Tratar aqui PS 3 Votem na Amanda Fran a para a Menina F
104. n o s capacidade do DH para imitar g neros e textos mas tamb m sua capacidade em replicar as cenas enunciativas dos outros tipos de discurso 4 1 TOPIA DISCURSIVA E MUTUALISMO OPORTUNISTA Com base nas ideias de Maingueneau 20104 157 170 podemos dizer que um dos modos pelos quais se torna poss vel a an lise das rela es interdiscursivas levar em 194 Como observa Sobral em nota tradu o do termo franc s constituance no Discurso liter rio MAINGUENEAU 2006a p 62 constitu ncia usado aqui em sentido idiossincr tico de auto instaura o autofunda o do car ter constituinte dos discursos constituintes n o devendo ser confundido com o termo estruturalista hom grafo usado em teoria sint tica 195 De acordo com Ricklefs 2003 360 362 podemos considerar por mutualismo um tipo de intera o entre esp cies em que ambos os participantes da associa o por vezes fisicamente ntima se beneficiam Ainda segundo o autor diferentemente da simbiose na qual os membros associados formam juntos uma entidade distinta como no l quen o mutualismo prev na maioria dos casos que cada s cio seja especializado em executar uma fun o complementar no outro Desse modo podem se estabelecer diferentes tipos de mutualismo como por exemplo o mutualismo tr fico no qual cada indiv duo se volta especificamente para complementa o nutricional e energ tica do outro
105. na estrutura da imagem e da palavra e percebido nela Tal nuance de efeito resultante segundo Bakhtin 2010a de uma desnaturaliza o do riso no fim da Idade M dia devido a o reguladora primeiramente da Igreja depois do Estado e por fim das Cortes Reais Em consequ ncia o riso perde seu car ter renovador libertador e alegre seu lado positivo para se aproximar com maior nfase da derris o isto o riso assume um car ter negativo agressivo e paradoxalmente refinado Disso uma interpreta o poss vel que ao afirmar que as formas do riso se tornaram reduzidas Bakhtin d a impress o de empregar tal adjetivo para evidenciar que tais formas se diferenciavam entre si em termos de varia o lingu stica 111 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 e Diat pica uma vez que as manifesta es do riso s o diferentes dependendo da localiza o o riso da pra a p blica da feira dos jogos n o o mesmo riso do mosteiro do pal cio e da assembleia e Diajf sica j que a situa o mais ou menos formal exigia e ainda exige uma forma de riso que n o atentasse por exemplo contra a figura do rei ou do pr ncipe pois nesse contexto alertava Castiglione 1997 p 136 deve se ter respeito por aqueles que s o universalmente apreciados e amados por todos e poderosos porque escarnecendo de um deles poder s
106. no meio termo entre a excesso atitude do buf o que utiliza uma linguagem que pode beirar obscenidade e a falta caracter stica do r stico indiv duo in til para determinados interc mbios sociais mudo ou preocupado somente em censurar aqueles que sabem gracejar Ainda com base em Arist teles 2011 p 97 diremos que essa intui o parece ser fundamentada numa atitude de autorregulamenta o pois se o gracejo uma esp cie de insulto e h coisas que os legisladores nos pro bem de insultar como a pol tica e a religi o cabe ent o ao homem virtuoso criar uma esp cie de lei para si com a qual se observar em rela o ao riso e ao prazer o que dizer quando onde e para quem Nessa mesma linha de racioc nio mas agora no mbito da Ret rica Arist teles expande a explica o sobre essa diferen a social na utiliza o do riso Quanto fac cia yehoiwv ela parece ter algum cabimento nos debates Pretendia G rgias que se deve confundir a seriedade dos advers rios pela fac cia y Xwrti e suas fac cias amp pela seriedade e nisso tinha raz o Mas tratamos destas diferentes esp cies de fac cia em nossa obra sobre a Po tica onde precisamos que umas conv m ao homem livre e outras n o Dever pois o orador escolher as que lhes conv m A ironia quadra melhor ao homem livre do que a bufonaria pois ironizamos para nos deliciarmos ao passo que bufone
107. ntica na variedade dos termos subsumidos Institua um elo entre o riso e a linguagem Procurando seguir essas diretrizes ficamos a princ pio propensos a aceitar o termo comicidade no sentido em que Propp 1992 p 16 o concebe tudo aquilo que provoca O riso OU O sorriso tudo o que ainda que remotamente se relaciona com o dom nio da comicidade No entanto tal termo teria a desvantagem de ser abrangente demais ou seja ir muito al m do discurso alcan ando manifesta es como a pantomima a com dia pastel o a fisionomia do rosto as esculturas isto manifesta es que se apresentam c micas ou rid culas sem necessariamente passarem pelo crivo de uma atividade linguageira Por outro lado o termo humor postulado por Charaudeau 2006a p 21 como uma no o gen rica que pode se fazer objeto de diversas categoriza es primeira vista nos pareceu satisfazer s diretrizes elencadas todavia esse car ter gen rico traria dois problemas para o ponto de vista que desejamos para o nosso trabalho 1 utilizando o termo humor assim definido estar amos nos afastando das quest es do riso e do ris vel pois para Charaudeau 2006a o humor n o necessariamente tem capacidade de acionar riso e em consequ ncia disso 11 a extens o do termo humor se apresenta reduzida n o podendo subsumir sentidos como c mico ris vel rid culo 43 No original nous emploier
108. o considerado agora um Consequentemente o discurso desse sujeito passa a ser reconhecido como uma pseudofilosofia um discurso com tons moralizantes permeado de grosserias e absurdos MINOIS 2003 p 56 Desse modo podemos dizer que essa nova condi o de parasirvs ressalta ao mesmo tempo as semelhan as e as diferen as entre os primeiros c micos e os buf es uma vez que esses ltimos se especializaram em fazer rir em troca do poder comer No entanto os buf es passaram a se organizar em grupos a aprender t cnicas como a m mica a dan a par dica o malabarismo e a arte de dizer pilh rias com os manuais de chala a e al m disso eles ocupavam agora um espa o no anfiteatro o que conjunto provaria a institucionaliza o da profiss o segundo Minois 2003 Isso gerou o reconhecimento social de alguns grupos como Os Sessenta de Atenas que obtiveram fama a tal ponto de se tornarem refer ncia sobre os assuntos gerais da polis os Sessenta disseram isso e aquilo acabo de chegar dos Sessenta etc BREMMER 2000 p 33 225 1 que se oculta junto de um altar para furtar ou mendigar as oferendas mendigo ladr o 2 buf o charlat o 3 bufo grosseiro vulgar transliterado bumolochos 66 220 bajulador adulador transliterado kolaz 227 ARETALOGYS
109. o do bobo se degeneram perdendo de acordo com Bakhtin 2010a seu poder regenerador e libertador Ele o bobo se torna agora uma esp cie cancioneiro porta voz de boletins sat ricos sobre as quest es reais A bufonaria a chularia a linguagem coloquial s o expulsas da corte as formas reduzidas do riso as substituir o E o momento das piadas de sal o da ironia fina do chiste e do surgimento do man of humour 1 2 5 HUMORISTA SIM MAS NO VERDADEIRO SENTIDO DA PALAVRA Da mesma maneira que no passado termos como c mico buf o bobo sat rico eram tomados e por muitas vezes ainda s o uns pelos outros atualmente os usos que se faz do termo humorista levam em muitos casos os profissionais do riso a serem confundidos entre si ou seja comediantes cartunistas chargistas caricaturistas entre outros s o tidos como humoristas que tudo indica essa quest o est diretamente ligada defini o de humorista que carrega em si uma carga hist rica de problemas sem nticos desde a sua origem no final do s culo Tais problemas por sua vez est o ligados ao termo humor e seus equivalentes ing humour e fr humeur No decorrer dos s culos s culo o termo humor possu a uma grande flutua o de usos na Europa circunscrevendo dois campos sem nticos O primeiro dizia respeito a quest es psicol gicas e patol gicas relacionadas reinterpreta o dos humore
110. o filos fico o cient fico o religioso entre outros sem contar as mais improv veis situa es para o seu surgimento das longas noites de vel rio regadas pelas mais fant sticas piadas aos coment rios desconcertantes durante uma cerim nia de casamento civil ele fica espreita aguardando pacientemente sua vez como a mosca da sopa impertinente com a qual n o se pode mais pelejar o seu eterno retorno s vezes silenciado censurado entretanto possui certa licenciosidade as saturnais do passado e do presente E assim demonstra que esteve est estar presente nos diversos momentos nas mais diversas sociedades at mesmo entre os deuses Com essas ideias em mente as principais contribui es do conceito de linguagem do riso nossa proposta de uma an lise do discurso baseado no ris vel podem ser sintetizadas nos seguintes pontos i o problema da an lise est tico psicol gica do riso no espa o da atitude responsiva do sujeito mantendo a discuss o no mbito de uma psicologia social ou seja riso o ris vel e a sua percep o no n vel do discurso interior cf parte 1 cap 2 item 2 2 2 1 ii Delimita a problem tica dos termos correlatos ao riso a intens o do conceito de linguagem do riso um termo mais gen rico para a linguagem 72 P No original Celui ci le comique accompagne ainsi comme son ombre tout le champ d
111. o inv lucro a forma e a t cnica do chiste No nosso modo de ver essa dificuldade atinge n o somente os chistes mas tamb m as v rias formas do riso que comp em o DH Todavia embora saibamos da import ncia desse assunto n o adentaremos no debate sobre o lugar na mente humana onde se localizam e se desenvolvem as fontes de prazer advindas dos discursos Deixemos isso por conta 93 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 127 Nesse momento interessa nos das teorias da cogni o e dos trabalhos em psican lise mais evidenciar na observa o de Freud que alguma forma de prazer pode ser sempre depreendida no chiste E como o chiste se constitui uma forma do riso admitiremos ad hoc que nas demais formas do riso algum tipo de prazer tamb m pode ser sempre percebido ou sentido Com base nessa intui o viemos at aqui falando de um fazer rir e de uma visada de fazer rir que acreditamos poss vel de ser depreendida do No entanto n o encontramos subs dios na Teoria Semiolingu stica que nos possibilite justificar a presen a dessa visada nos atos de linguagem em geral Na verdade entre as visadas previstas nessa teoria cf CHARAUDEAU 1997 e CHARAUDEAU 2004a a que mais se aproxima de um ato discursivo que pretende fazer rir seria a visada de fazer prazer Essa visada por sua vez est subordinada a uma visada mais ampla a visada de pathos ou
112. o m rito de mostrar um caminho que a nosso ver parece conciliar crit rio da forma crit rio do riso No original Nous ne pouvons dans beaucoup de cas observer directement le rire ou le sourire Et si nous le pouvions nous n en serions gu re plus avanc s puisqu il nous faudrait encore les interpr ter Sont ils spontan s ou sont ils volontaires c est dire plus ou moins feints 24 No original lorsque des histoires comiques sont donn es pour telles nous pr sumons qu elles font rire gt interessante notar que Freud 1996 22 aponta nas autoridades sobre chistes o fato de elas analisarem os mesmos exemplos dados pelos seus predecessores No entanto o pr prio Freud assegura que n o se esquivar de analisar tamb m esses mesmos casos que se prestaram s cl ssicas investiga es 26 No original La tradition en ce domaine est une sorte de caution mutuelle 37 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Com base nessas ideias vamos agora expor nosso ponto de vista sobre a rela o entre a intui o e a presun o em rela o aos fatos humor sticos e ao mesmo tempo tentar demonstrar como isso pode contribuir para uma sele o do corpus Primeiramente podemos afirmar que o crit rio da forma tem a vantagem de nos mostrar o que na superf cie dos textos tem o potencial de desencadear o riso ou seja as t c
113. o seu discurso quando relatado pela m dia por vezes n o devidamente contextualizado o que resulta em dificuldades s vezes jur dicas para desqualificar certas acusa es de racismo homofobia machismo etc E como a base do stand up o texto verbal a linguagem se volta para uma tend ncia do humor americano e mundial ou seja para politicamente incorreto OLIVETTO 2003 33 Com base em Possenti 1995 p 125 129 podemos dizer que uma linguagem politicamente incorreta percept vel a partir de formas lingu sticas que veiculam com maior nfase ideias de segrega o de classe de ra a de sexo etc Nessa linha de racioc nio a utiliza o dessa linguagem pode acarretar entre outras coisas 1 tornar o vocabul rio de determinada l ngua marcado em rela o a qualquer grupo descriminado por exemplo negro gay sapat o gordo bicha etc e 11 fazer com que os sujeitos produtores de pr ticas discursivas que utilizam consciente ou inconscientemente essa linguagem sejam julgados como preconceituosos machistas homof bicos racistas a partir dos efeitos sentidos que possam ser depreendidos na pela enuncia o de tal vocabul rio Numa tentativa de reverter essa situa o os partid rios de uma linguagem politicamente correta conforme explica Possenti 1995 p 131 138 acabam caindo do ponto de vista lingu stico em erros banais como verbi gratia propor a substitui o do termo marca
114. obra de Bakhtin e ao mesmo tempo evitar o risco de entrar em contradi o ao se trabalhar com esse conceito devido varia o terminol gica pr pria do estilo bakhtiniano Al m disso de modo algum essa apresenta o tem a pretens o de ser exaustiva pelo contr rio ser propositadamente lac nica uma vez que durante o corpo do trabalho tanto as obras quanto os demais conceitos correlacionados ao riso ser o retomados para fundamentar ou discutir quest es ligadas ao discurso humor stico como por exemplo o ethos dos sujeitos do riso as coer es e a VRBANITAS interdiscursividade das formas do riso etc Nossa pesquisa n o se prendeu cronologia de publica o das obras de Bakhtin mas sim quest o do riso Com isso em mente partimos da obra de maior refer ncia sobre o tema A cultura popular na Idade M dia e no Renascimento para as demais procurando desse modo manter a coer ncia em nossas interpreta es Apesar disso achamos relevante apresentar aqui seguindo Souza 2002 tal cronologia Discurso na vida e discurso na arte 1926 Freudismo 1927 Problemas da po tica de Dostoi vski 1929 1961 1962 A cultura popular na Idade M dia e no Renascimento o contexto de Fran ois Rabelais 1940 1965 as compila es Quest es de literatura e de est tica 1975 Est tica da cria o verbal 1979 56 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale
115. ou seja fingindo n o entender o que diz o seu interlocutor essas pessoas fornecem respostas absurdas 163 C cero 240 nos diz que o g nero de fac cias de assunto se configura quando algo contado na forma de anedota MARQUES JR 2008 p 51 Com isso em mente preferimos adotar para essa subdivis o dos GENERA RIDICVLORVM a ideia presente no sintagma g neros de anedotas Destarte procurando estabelecer um par de termos para compor uma dicotomia entre os g neros do riso e ao mesmo tempo evitar a repeti o do termo FACETIARVM procedemos a uma convers o por certo anacr nica de g neros de anedotas para o latim Assim sabendo que o termo anedota em portugu s tem sua origem no franc s anecdote que por sua vez deriva do grego substantivo neutro plural de oc coisa n o publicada HOUAISS 2009 seguimos as indica es de R nai 1981 198 sobre o uso dos nomes gregos pelos romanos os romanos ao usarem substantivos gregos numa frase latina declinavam no latina na maioria das vezes Por ser oc um adjetivo da segunda declina o sua utiliza o na frase latina deveria ainda segundo R nai 1981 p 199 seguir totalmente o paradigma de declina o correspondente em latim logo da segunda declina o tema em o Com efeito admitindo que a palavra v k ota nominativo neutro plural assumiria se transliterada
116. p 441 442 CHARAUDEAU P Le discours d information m diatique la construction du miroir social Paris Nathan INA 1997 CHARAUDEAU P Visadas discursivas g neros situacionais e constru o textual In MACHADO I L MELLO orgs G neros reflex es em an lise do discurso Belo Horizonte NAD FALE UFMG 2004a 13 41 CHARAUDEAU P Tiers est tu CHARAUDEAU MONTES R La voix cach e du Tiers Des non dits du discours Paris 20046 p 1 15 Dispon vel em lt http www patrick charaudeau com Tiers ou es tu 9 html gt Acesso em 25 maio 2012 CHARAUDEAU P Des cat gories pour humour Questions de Communication humour et m dia D finitions genres et cultures Nancy Presses Universitaires de Nancy n 10 2006a p 27 43 CHARAUDEAU P Discurso pol tico S o Paulo Contexto 2006b CHARAUDEAU P Contrato de comunica o In CHARAUDEAU P MAINGUENEAU D Dicion rio de an lise do discurso 2 ed S o Paulo Contexto 2006c p 130 133 CHARAUDEAU Estrat gia de discurso In CHARAUDEAU P MAINGUENEAU D Dicion rio de an lise do discurso 2 ed S o Paulo Contexto 20064 218 219 CHARAUDEAU Linguagem e discurso os modos de organiza o do discurso S o Paulo Contexto 2008 CHARAUDEAU P Discurso das m dias S o Paulo Contexto 2009 CHARAUDEAU Des cat gories pour l humour Pr cisions rectifications compl ments In G
117. pastiche etc e s o orientadas de acordo com determinadas fun es sociocognitivas criticar continuar deformar imitar reformular satirizar ridicularizar etc Essas fun es a princ pio levam Genette a postular uma classifica o dicot mica dos g neros em sat ricos par dia e travestimento e n o sat ricos pastiche por m o car ter mais agressivo sat rico do travestimento em rela o par dia faz com que autor reelabore essa classifica o propondo uma tricotomia de regimes l dico sat rico e s rio Sob essa nova coloca o Genette procura com o regime l dico evidenciar que algumas formas de par dia e mesmo de pastiche podem visar a um tipo de alegramento ou exerc cio distrativo sem inten o agressiva ou zombeteira GENETTE 1982 p 36 tradu o nossa Genette ressalta ainda que a passagem do termo fun o para regime se fez necess ria de modo a garantir uma fronteira menos r gida entre as disposi es do funcionamento 285 didi ee E Embora sua proposta se volte mais diretamente para o problema do texto liter rio acreditamos que grande parte do que dito sobre as pr ticas hipertextuais e sobre os regimes tamb m se aplica aos textos e discursos que n o possuem estatuto especificamente liter rio 286 No original un texte ant rieur que j appellerai bien s r Aypotexte sur lequel il se greffe d une mani re qui n est pas celle du commentaire
118. pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 2 3 O LUGAR DO TIERS NO DISPOSITIVO DO DISCURSO HUMOR STICO Anteriormente vimos que Olbrechts Tyteca 1974 mostra as possibilidades de percep o do c mico em rela o aos audit rios em diferentes n veis onde se pode buscar visualizar as a es maliciosas nas respostas r plicas entre os sujeitos Tamb m vimos que muitos elementos da situa o de comunica o foram abstra dos por motivos de an lise ou seja Olbrechts Tyteca toma nos seus exemplos a situa o simulada entre as personagens como se ela fosse uma rela o real entre audit rios Sabemos entretanto que essas histoires dr les hist rias engra adas escritas ou mesmo orais se encontram num regime ficcional que deve tamb m ser levando em conta durante a an lise do DH De acordo com Vale 20094 necess rio um desdobramento da mise en sc ne interna onde toda a pequena narrativa passa a ser interpretada como uma cria o do sujeito locutor EU enunciada pelo sujeito enunciador EUe Esse ltimo se apaga ao criar uma esp cie de discurso relatado semelhante ao narrador em terceira pessoa dos romances fazendo as personagens dialogarem como numa pe a de teatro Temos dessa forma que toda a hist ria engra ada contado pelo EUe passa a ser uma estrat gia do sujeito locutor no espa o interno de manobra do g nero Acreditamos que esse desdobramento das in
119. personagens ficcionais consideradas como her is Tiradentes Ant nio Conselheiro Caramuru Paragua u Peri D Pedro D Pedro In s de Castro Deodoro de Fonseca D Jo o Cesto Carlota Joaquina Jeca Tatu Mem de S entre outros passam a viver o dia a dia do Rio de Janeiro no que Lustosa 1993 p 130 considera uma esp cie de banaliza o do her i agora com h bitos e atitudes familiares H bitos e atitudes perfeitamente pass veis de an lise numa hist rica pelo m todo confuso pois Se dermos aten o demorada a certos procedimentos registrados na hist ria dos homens teremos que nos perder em considera es de ordem filos ficas perfeitamente dispens veis ao pre o do caf mas em todo caso interessantes pela sua superfutilidade FRADIQUE 2004 p 114 Depreende se do arrazoado acima que a HBMC al m de fazer surgir v rios tipos de incoer ncia loufoquerie ins lita e paradoxal com o seu movimento narrativo pancr nico exige que a cena englobante do discurso did tico pedag gico t pica dos livros did ticos e dos manuais escolares conviva com outra cena englobante que nos diz que o texto deve ser lido e entendido como um texto de humor Ou seja n o podemos dizer que ao assumirmos o contrato humor stico durante a leitura da HBMC a cena englobante do discurso did tico pedag gico foi abandonada Pelo contr rio acreditamos que essa cena anda pari passu com uma outra que a repli
120. qual o riso obrigat rio do mundo pol tico aos meios de comunica o e do col gio ao clube de terceira idade manter o c mico inevit vel O humor universal padronizado midiatizado comercializado globalizado conduz o planeta MINOIS 2003 553 554 De chistes piadas na conversa o do dia a revistas canais e programas no r dio TV e na internet especializados em humor vemos essa linguagem e esse discurso se infiltrarem em v rios espa os das ci ncias da pol tica da religi o publicidade educa o etc importante ressaltar ainda o paradoxo presente nesse tipo de discurso ao mesmo tempo ele e n o levado a s rio vive margem dos outros discursos 70 ms 2 N o seria muito ousado dizer que isso pode ser estendido at os nossos dias 71 Falamos aqui do Comedy Central canal de TV por assinatura que exibe uma programa o totalmente voltada para o riso 68 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 numa clandestinidade observada sorrateiro o c mico acompanha assim como sua sombra todo o campo do discurso PERELMAN 1974 p 6 tradu o nossa numa constante amea a o medo do rid culo uma doen a uma patologia da linguagem normal reta racional PERELMAN 1974 p 5 um al vio para tens o pr pria de certos discursos como por exemplo o pol tico
121. que pode ser provado e de experi ncia pr ximo de um saber que pode ser experimentado Os saberes de conhecimento se diferenciam por exemplo da doxa e do senso comum pois esses se enquadram na classe dos saberes de cren a que procuram tamb m estabelecer uma verdade sobre o mundo mas por meio da avalia o e do julgamento Nesse caso o homem com base num engajamento daquele que enuncia em rela o ao conhecimento enunciado se imp e ao mundo e esse passa por um filtro interpretativo do sujeito Esses saberes de cren a podem se apresentar na forma de uma revela o semelhante s verdades doutrinais e de opini o marcadas por um engajamento do sujeito Todos esses saberes de conhecimento e de cren a no entanto devem ainda de acordo com Charaudeau ser considerados como formas materializadas de express o com n cleo sem ntico est vel isto maneiras de dizer as representa es sociais que circulam em dada sociedade e que por isso constituem os imagin rios sociodiscursivos sobre determinado fen meno ou realidade 105 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 PARTE CAP TULO 3 O QUE FAZ RIR Do RISO NA L NGUA AO RISO NO DISCURSO No primeiro livro tratamos da trag dia e de como ela suscitando piedade e medo produz a purifica o de tais sentimentos Como t nhamos prometido tratamos agora da com dia ainda mais da s tira e do mimo e d
122. qui conduit pas depuis tr s longtemps dit Doris Tu sais cet agent qui m a coll une contravention a t vraiment aimable Comment cela Eh bien figure toi qu il ma demand si je d sirais que la commune d place tous les r verb res pour moi OLBRECHTS TYTECA 1974 p 18 tradu o nossa 202 No original Une femme dit un humoriste Comme vous tes laid cher Monsieur connais pourtant une femme qui tait pr te donner 10 000 dollars pour me voir elle tait aveugle Pauvre femme dit un Juif allemand OLBRECHTS TYTECA 1974 p 18 tradu o nossa 186 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 se singulariza dentro do audit rio de terceiro n vel ao qual a hist ria foi endere ada Como postula a autora essa personagem representa nas hist ricas c micas o ataque capacidade de compreens o do riso em muitos casos estereotipada por determinado grupo como por exemplo o judeu alem o na Fran a os escoceses para os ingleses os brancos entre os negros etc Essa atitude de julgar o outro faz com que essas personagens colaborem para a constitui o do audit rio de n vel superior Em s ntese a proposta de Olbrechts Tyteca 1974 nos proporciona visualizar quatro n veis de audit rios onde o c mico pode ser percebido no discurso 1 primeiro e seg
123. respirar de se abrir de contemplar de viver de crescer E com base nessa ideia de um riso de alegramento per si Baudelaire levado a diferenciar as formas de c mico em significativo e absoluto sendo esse ltimo totalmente desprovido de qualquer de alegria No mbito de uma cr tica est tica e psicol gica Pirandello 1996 busca a ess ncia do humorismo tratando primeiramente de diferenci lo de outras formas do riso principalmente do c mico Com esse intuito Pirandello nos diz que uma obra humor stica assim como toda realiza o art stica passa por um procedimento psicol gico de organiza o Essa organiza o psicol gica no caso espec fico do humorismo se aproxima de uma forma de sentimento que medida em que obra se faz ela a critica n o friamente como faria um juiz desapaixonado analisando a mas improvisadamente segundo a impress o que dela recebe PIRANDELLO 1996 135 No original Le rire est expression d un sentiment double ou contradictoire et c est pour cela qu il y a convulsion 136 No original est il tout fait diff rent m me comme expression physique comme forme du rire de Phomme qui assiste une com die regarde une caricature 137 E 7 No original Le rire des enfants est comme un panouissement de fleur C est la joie de recevoir la joie de respirer la joie de s ouvrir la joie de contempler de vivre de gr
124. ressaltado nesse termo o uso da letra mai scula que de acordo com Charaudeau 2004b serve para diferenci lo das outras esp cies de tiers parceiro ou protagonista ausente presente em alguns dispositivos que possuem tamb m rela es tri dicas como por exemplo o dispositivo conversacional ou o dispositivo de media o 192 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 representaria de acordo com Charaudeau 2004b p 7 a voz a doxa sobre a qual se sustentam certos imagin rios sociodiscursivos Logo ao tornar o Tiers um alvo ataca se a doxa que d suportes ao desenvolvimento de determinados tipos de racioc nios poss veis em dada sociedade O segundo ponto se refere predomin ncia do matiz de derris o que comporta a 75 O modo como constru da a argumenta o de Charaudeau 2006a inst ncia do alvo e 2011 sobre a natureza dessa categoria parece nos levar a considerar o objeto do riso daquilo que se ri exclusivamente no mbito do riso de zombaria Isso pode ser evidenciado por exemplo quando relacionado a uma pessoa ou a um grupo a categoria do alvo definida como uma pessoa de quem se critica comportamento psicol gico ou social de quem se evidencia as faltas ou os ilogismos dentro das maneiras de ser e de fazer em rela o a um julgamento social de normalidade CHARAUDEAU 2011 p 18
125. resulta da associa o contingente de um fundo e de uma forma n o se pode dissociar a organiza o de seus conte dos e do modo de legitima o de sua cena de fala MAINGUENEAU 2008a p 69 70 Ou seja para Maingueneau a categoria de ethos assume em AD um car ter mais anal tico descritivo e ao mesmo tempo constituinte das cenas de enuncia o afastando se parcialmente das quest es pragm ticas da ret rica isto da normatividade e da t cnica de persuas o diminuindo portanto o seu car ter de estrat gia Divergindo parcialmente desse ponto de vista Charaudeau 2006b nos diz que o ethos uma constru o complexa que se d n o somente atrav s dos enunciados do sujeito falante mas tamb m de enunciados de outrem destinat rios ou tiers Com efeito tamb m o que se diz do sujeito falante pode contribuir para a constru o do ethos Isso porque parte das informa es necess rias para a constru o de alguns eth pode ser fornecida pela m dia a partir da hist ria dos sujeitos e de suas identidades ou seja identidades discursiva e social fusionam se no ethos CHARAUDEAU 2006b p 116 Da a proposta de Charaudeau de debater a quest o do ethos enquanto estrat gia discursiva do discurso pol tico relacionadas identidade do sujeito Essa ltima desdobrada em duas componentes Em sua primeira componente o sujeito mostra se com sua identidade social de locutor ela que lhe d o dir
126. ricas e de montagens c micas em sites como por exemplo o Facebook e o Youtube que viriam a gerar uma nova gera o de humoristas que nos dizeres de Ver ssimo se livra da velha tradi o do circo do teatro de revista e da caricatura grotesca como ainda se v no Zorra Total Independentemente claro dos g nios do velho estilo como Chico Anysio VERISSIMO 2013 40 Na vis o de Porchat apud MARTINHO 2013 p 65 a nova gera o do humor brasileiro se adaptou a certas condi es de recep o desenvolvidas na atualidade Para esse humorista o humor de hoje n o muito diferente do humor do passado mas o ritmo das pessoas em rela o ao humor mudou logo como atualmente estamos mais acelerados certo que o humor tamb m deve seguir outro timing Por outro lado Madureira apud MARTINHO 2013 63 admite que esse novo humor consequ ncia de uma crise de criatividade humor stica resultante de uma 382 Tal censura nova forma de censura branca fundamentada no politicamente correto ainda segundo Madureira respons vel pelo estabelecimento de leis e de processos por difama o que por detr s n o teriam somente objetivos moralistas a favor de minorias mas tamb m certas finalidades financeiras 380 F bio Porchat humorista e um dos roteiristas do programa Zorra Total da Rede Globo de Tv al m de participar da produ o dos sketches humor sticos do canal Porta do Fundos do
127. riso BAKHTIN 2010a p 57 58 Por fim relata Bakhtin 2010a p 65 68 que o riso apesar de tudo conseguiu adentrar os muros das abadias e dos mosteiros e se fazer presente nos quadros do clero era a forma de colocar um pouco de ar sem o qual poderiam explodir nos barris de vinho na incessante fermenta o da piedade da sabedoria e da austeridade crist s por meio de toda uma literatura par dica sacra de pais nossos credos a missas e celebra es inteiras ou seja uma LINGUA SACRA PILEATA que servia para o divertimento n o somente dos cl rigos mas tamb m dos paroquianos cansados depois de um longo jejum de carne e de sexo Devido import ncia do riso nessa obra vamos tom la como guia e fonte para as reflex es sobre o conceito de linguagem do riso entretanto como se percebe ser o necess rias constantes reinvestidas nas outras obras pois essas cont m elementos subsidi rios para melhor entendimento das faces do riso no pensamento bakhtiniano 1 2 AS FACES DO RISO SEGUNDO BAKHTIN ATITUDE RESPONSIVA E LINGUAGEM DO RISO Pode parecer contradit rio mas a defini o do conceito de riso em Bakhtin n o se encontra em cultura popular na Idade M dia e no Renascimento e sim em Quest es de literatura e de est tica Vejamos N s temos em vista o riso n o como um ato biol gico e psico fisiol gico mas o riso na exist ncia s cio hist rica cultural e objetal e principal
128. riso na reacentua o dos g neros do discurso por m adverte que ao se reacentuar um g nero triste com um tom jocoso alegre o que surge da alguma coisa nova por exemplo o g nero epit fio jocoso BAKHTIN 2010b p 293 Ao discutir os problemas de uma po tica sociol gica no artigo Discurso na vida discurso na arte de 1926 Bakhtin Volochinov 1926 p 5 11 relaciona o riso nas suas formas reduzidas do humor e da ironia com a quest o da entoa o Assim tanto a compreens o de enunciados pelo vi s da an lise de seu material exclusivamente lingu stico o que leva a um signo ideologicamente vazio quanto uma an lise da psiqu do criador desses enunciados acabam fadadas ao insucesso pois as duas procuram descobrir na parte o todo e apresent la como sendo o todo deixando de fora o contexto os sujeitos envolvidos a inter rela o criador obra contemplador o tempo o horizonte espacial comum etc e a entoa o que tem o potencial de marcar a avalia o dessa situa o Focaliza se ent o que o discurso em sua face estritamente verbal se encontra numa rela o de depend ncia com os julgamentos de valor que uma sociedade admite a doxa ou melhor uma entoa o criativamente produtiva segura e rica poss vel somente sobre a base de um apoio coral presumido Resulta disso o que pode acontecer ao riso exemplifica Bakhtin quando uma pessoa rindo percebe 58 O Discurso humo
129. s poderemos refletir sobre as caracter sticas das rela es interdiscursivas estabelecidas pelo discurso em foco ap s termos discutido o problema de consider lo ou n o enquanto um tipo de discurso Logo nos parece sensato apresentar nesse momento essas problem ticas centrais de modo a situar o nosso leitor em rela o quilo que consideramos pontos de partida de nosso percurso Sem eles 2 Sabemos da import ncia que o termo percurso possui na semi tica greimasiana cf percurso gerativo de sentido percursos tem tico figurativo narrativo no entanto tomamos nessa tese esse termo no seu sentido mais comum de itiner rio roteiro trajeto deslocamento entre pontos Por isso ao nomearmos nossa tese como um percurso de an lise n o se est propondo desenvolver uma an lise semi tica nos moldes greimasianos Contudo isso de modo algum nos impossibilita de admitirmos percurso no sentido de progress o de um ponto a outro gra as a inst ncias intermedi rias GREIMAS COURT S 2008 24 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 nossa argumenta o corre s rios riscos de ser mal compreendida devido principalmente aos diferentes pontos de vista que existem sobre as atitudes linguageiras ligadas ao riso ao ris vel O RISO NUMA PERSPECTIVA LINGUAGEIRA crit rio efetivo de todo estudo sobre o c mico o riso Olbr
130. s de discurso humor stico por que n o utilizar discurso c mico discurso ris vel ou discurso do riso Como hav amos apontando na se o anterior optamos a princ pio por apresentar esse discurso tendo como base uma tipologia que associa os discursos a vastos setores de atividade social uma vez que se seu status de tipo de discurso ou mesmo de g nero era negado como identificar marcas lingu sticas e discursivas que pudessem caracteriz lo como tipo ou g nero de discurso Por outro lado tamb m sabemos que somente uma tipologia baseada em fun es sociais n o suficiente per si para dar conta das especificidades dos discursos pois por vezes tal tipologia pode negligenciar os funcionamentos lingu sticos dos textos MAINGUENEAU 2004a p 63 Acreditamos que para uma an lise do discurso que procura manter o di logo entre os fatores externos e internos linguagem o ideal seria poder apoiar se sobre tipologias propriamente discursivas ou seja tipologias que n o separassem por um lado as caracteriza es ligadas s fun es aos tipos e aos g neros de discurso e por outro as caracteriza es enunciativas MAINGUENEAU 2004a p 63 grifo do autor 50 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Com base no argumento exposto podemos dizer que a denomina o discurso humor stico parece satisfazer as exig ncias de uma tipologia
131. se encontram em rela o direta com um conceito mais geral a intencionalidade De fato se se leva em considera o que todo ato de linguagem um enjeu aposta expectativa lan ado entre os parceiros de um sujeito comunicante a um sujeito interpretante a afirma o de que a inten o do autor x ou y mais do que problem tica N o h como assegurar e nem mesmo o autor de um enunciado qualquer talvez possa que a intencionalidade realmente x No caso espec fico do humor acreditamos que isso se torna ainda mais incerto Examinemos um caso interessante 17 Durante a exibi o de um respeitado telejornal a ncora do programa anunciou seguinte not cia sobre o M xico Olha Quem acompanha com mais aten o o notici rio internacional j notou que um pa s latino americano tem aparecido frequentemente com chacinas de uma brutalidade impressionante o M xico Que vive as consequ ncias de uma guerra violentississ ssima entre os quart is do tr fico de drogas 78 5 pis E Em termos de AD problem tico at mesmo o uso do verbo ser no presente uma vez que as an lises s o sempre realizadas a posteriori em rela o ao surgimento do enunciado 1 Trata se aqui da edi o do dia 17 de maio de 2012 do Jornal Nacional JN da Rede Globo de Tv considerado como um dos telejornais de maior audi ncia no territ rio nacional 50 Dispon vel em lt http www y
132. se segue apresentamos algumas propostas de an lise desse dispositivo no quadro das teorias do discurso Propomos um di logo entre elas tendo sempre em mente as asser es dos pensadores e estudiosos do riso e do ris vel anteriormente citados de modo a oferecer uma caracteriza o sen o precisa pelo menos a mais abrangente poss vel do dispositivo e das inst ncias discursivas envolvidas no DH Com isso esperamos ao final dessa se o poder estabelecer um dispositivo conceptual que abarque o maior n mero de possibilidades de replica o s quais o DH possa se prestar 2 1 O C MICO NO DISCURSO PERSPECTIVAS E N VEIS DE INTERPRETA O Em suas reflex es sobre o c mico do discurso Olbrechts Tyteca 1974 p 17 20 prop e que o c mico pode se situar em diferentes n veis concernentes por sua vez a tr s diferentes perspectivas a saber e rela o entre os diferentes planos do objeto c mico num primeiro n vel c mico age sobre as condi es da argumenta o sobre os esquemas e sobre os tipos racioc nios num segundo n vel o c mico age sobre a ret rica ela pr pria 184 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 sendo essa parodiada e um terceiro n vel no qual a ret rica ridicularizada enquanto ci ncia ou t cnica e rela o entre o objeto e o pensamento a respeito do objeto o que se d em dois n veis o prim rio no q
133. seja o t pico o que faz com que uma piada seja uma piada n o seu tema sua conclus o mas uma certa maneira de apresentar tal tema sua tese sobre o tema Se certo que se necessita de um tema e de certa forma de um tema proibido ou controlado por regras sociais de bom comportamento evitar o preconceito reprimir desejos sexuais ou de elimina o do diferente etc a men o do tema n o necessariamente uma piada 31 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 seu sentido assim como a rela o forma sentido CHARAUDEAU 2006 25 26 tradu o nossa Com efeito eles podem agir tanto sobre o significante como nos trocadilhos quanto sobre a rela o significado significante por exemplo nas palavras hom nimas ou poliss micas que permitem mudan as de isotopia Por outro lado ainda de acordo com Charaudeau 2006 os procedimentos discursivos dependem do mecanismo da enuncia o isto da posi o do sujeito falante e de seu interlocutor do alvo visado do contexto de emprego e do valor social do dom nio tem tico concernido Devido a isso os procedimentos lingu sticos n o podem ser por si mesmos os portadores do valor humor stico uma vez que tais procedimentos podem estar presentes em diferentes g neros discursivos inclusive os mais s rios como a poesia CHARAUDEAU 2006a p 25 26 trad
134. sociais com as informa es internas ou melhor dizendo informa es externas internalizadas a palavra vai palavra Essa articula o ainda salienta Bakhtin que gera na mente humana o discurso interior respons vel pela apreens o da enuncia o de outrem sua compreens o e sua aprecia o isto a orienta o ativa do falante Com base no racioc nio acima podemos assinalar que em rela o s formas de sentir essa articula o entre informa es externas e internas que nos permite por exemplo dizer que as paix es e as emo es tidas como subjetivas e individuais nada mais s o do que ecos de representa es e imagin rios sociodiscursivos selecionados e depositados em nossa mem ria Com efeito podemos dizer que a recep o do discurso direciona nossa compreens o responsiva para estados de alma positivos agrad veis ou negativos desagrad veis e por conseguinte que essa mesma compreens o orienta nossa atitude responsiva para uma determinada forma de express o exterior Todavia essa express o exterior pode se consubstanciar em n formas de rea es fisiol gicas n usea choro riso sorriso entre outras at as rea es discursivas o sil ncio e seus m ltiplos significados e o discurso propriamente dito nas suas materializa es verbal e n o verbal Como podemos ver essa descri o sucinta do processo de recep o dos discursos al m de se aplic
135. tica nossa proposta procura ver na LR um conceito geral nos moldes do conceito de c digo linguageiro Isso porque na maioria das vezes se pode evidenciar na hist ria da humanidade a ocorr ncia do riso e das suas formas independentemente das diferen as sociais e culturais no entanto sabemos tamb m que essas mesmas formas possuem especificidades estritamente ligadas cultura e hist ria de cada sociedade a aparente aporia entre o riso e o ris vel parte 1 cap 1 item 1 2 2 Assim a LR enquanto um c digo linguageiro a servi o do DH nos possibilitaria por um lado observar como certos elementos lingu sticos de uma l ngua espec fica como por exemplo portugu s ingl s latim grego japon s etc podem ser organizados de modo a compor as formas do riso e por outro lado verificar a utiliza o desses elementos em rela o s condi es de produ o evidenciando a constru o dos efeitos de sentido Pois bem isso nos leva a considerar n o somente os aspectos estritamente lingu sticos da constru o humor stica mas tamb m os aspectos semiol gicos Em outras palavras devemos procurar entender o ato de linguagem no caso o humor stico enquanto um objeto que se constitui em uma interdiscursividade Quanto a essa proposta encontramos apoio nas ideias de Bergson 2007 que salienta que preciso distinguir a comicidade que a linguagem exprime da comicidade que a linguagem cria rigor a prim
136. tipo de discurso embora sui generis semelhante ao admitido para o discurso liter rio ou para o discurso pol tico Diante disso dever amos tornar mais precisas as rela es intersubjetivas previstas no dispositivo conceptual desse discurso De in cio fez se necess rio tra ar os perfis eth ticos que os sujeitos do DH poderiam adotar Assim remontamos na Hist ria das Ideias as origens e os perfis dos principais profissionais que na sociedade ocidental representaram a arte de fazer rir nas suas mais diversificadas formas do c mico ao s tiro do bufo ao humor Come amos ent o pela Antiguidade com os c micos e seus improp rios durante as festas em adora o a Dion sio Passamos pelos buf es que na origem exerciam uma certa fun o religiosa mas que com o tempo se torna problem tica na sociedade grega sendo o buf o expulso da mesa dos banquetes para as barbearias Em Roma vimos os s tiros que sa dos das prociss es f licas se tornam uma esp cie de m scara ethos assumida por certos escritores e poetas romanos que embora criticassem os desvios de conduta dos cidad os da vrBs fazendo o povo rir ainda assim se mantinham a favor da aristocracia J na Idade M dia o bobo se institui como profiss o nas Cortes ele o arauto que fazendo rir diz as verdades rei joga com sua liberdade discursiva para tirar vantagens de todos os tipos Todavia com o Absolutismo esse bobo termi
137. um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 barroco Uma confus o como alega Pirandello que tende a piorar a partir do momento em que o jornalismo adota o humorismo e esfor ando se para fazer rir mais ou menos de modo vulgar e a todo custo constr i o que Pirandello chama de um falso sentido do que seja um humorista Da a rea o dos humoristas que passam a exigir ser chamados por humoristas sim mas no verdadeiro sentido da palavra Sentido que aguardamos atenciosamente Pirandello nos esclarecer todavia como elucida Eco 1989 o que conseguimos ao termino da leitura de Pirandello aumentar nossas d vidas confundido humorismo humorista humor humour c mico ironista ironia rid culo filosofia arte vida po tica etc N o sem raz o que o pr prio Pirandello considere que exatamente essa confus o a que Eco 1989 considera no todo do ensaio uma forma de defini o deveras imprecisa e desastrada a possibilidade de enxergar e de definir o humorismo deixando em aberto o problema Para Eco isso reflete bem o pensamento de Pirandello que gostava de expor s problemas para os quais n o tinha solu o ECO 1989 250 Apesar disso devemos ressaltar que Pirandello 1996 p 155 fornece uma distin o entre humoristas e comediantes c micos ironistas etc Essa se fundamenta na diferen a entre o sentimento do contr rio pr pr
138. usulas do contrato de comunica o do primeiro em favor da finalidade do segundo Pode acontecer no entanto de o DH se confundir de tal forma com o discurso replicado que essa confus o acarrete problemas para se determinar qual tipo de macrodispositivo conceptual est sendo acionado Ou seja o macrodispositivo do DH se adapta t o bem s caracter sticas do macrodispositivo a ser replicado que tende a sobrepor as suas inst ncias sobre as do outro tido de discurso Isso pode ser observado na programada pol tica do candidato Tiririca a deputado federal no ano eleitoral de 2010 Conhecido como um palha o moderno que n o utiliza do recurso da maquiagem para esconder o rosto Tiririca obteve relativo sucesso nacional a partir de 1997 com a grava o da can o Florentina sucesso que alguns atribuem aus ncia no cen rio nacional do grupo Mamonas Assassinas Desde ent o sua carreira como comediante tanto no teatro quanto na passa por altos e baixos No entanto no ano de 2009 ele se candidata a deputado federal pelo Estado de S o Paulo filiando se ao Partido da Rep blica Sua campanha a principio tida por muito como uma pilh ria Todavia ao final do processo eleitoral descobre se que Tiririca havia se tornado o segundo candidato mais bem votado de toda hist ria do Pa s O que para uns se deveu ao voto de protesto da popula o para outros resultado de uma confus o entre pol tica com
139. vel rid culo grotesco sat rico bufo chularia esc rnio etc Possibilita um maior di logo entre a An lise do Discurso e outras reas do conhecimento Filosofia Psicologia Ret rica Sociologia Antropologia entre outras no que diz respeito ao riso ao ris vel Diante de tudo que foi exposto podemos assumir que a LR o riso enquanto representa es linguageiras Essas ltimas por sua vez organizadas atrav s de elementos linguageiros sem nticos e formais CHARAUDEAU 2008 p 63 sendo que tais elementos est o dispon veis tanto para a organiza o quanto para a configura o dos atos de linguagem orientados em diferentes graus para um fazer rir E portanto enquanto atividade linguageira a LR une toda a complexidade do conceito de linguagem sua heterogeneidade seus sujeitos seu car ter s cio hist rico cultural que acompanham qualquer ato de linguagem s reflex es sobre o riso em toda a sua complexidade e fun o social dando a possibilidade no nosso entender de aproximar efetivamente as teorias do discurso dos quase 23 s culos de estudos a respeito do riso humor Tem se o direito de empreg la a respeito dos gregos C cero tem humor Ou preciso reservar a palavra e a coisa como uma safra controlada para a Inglaterra depois do s culo Digamos claramente para n s o humor n o tem idade nem p tria Ele adquire formas diferentes mas um campon s eg pcio
140. visada de fazer sentir que procura provocar no outro um estado emocional agrad vel ou desagrad vel CHAR AUDEAU 2009 69 Nesse sentido como uma forma particular da visada de fazer sentir a visada de fazer prazer se apresenta com o objetivo principal de despertar no outro estados emocionais positivos isto atingir a sensibilidade do sujeito interpretante atrav s da satisfa o e ou atrav s do l dico LYSARDO DIAS 1998 p 21 Com efeito podemos dizer que haveria certos atos de comunica o com maior ou menor propens o a serem portadores da visada de fazer prazer e que tal visada por sua vez estaria ligada a determinadas formas positivas de emo o desencadeadas pelo discurso Nessa perspectiva para os ACHs Charaudeau 2006a nos apresenta primeiramente v rias formas de coniv ncia que o sujeito locutor busca estabelecer o sujeito receptor Essas coniv ncias est o ligadas a um ponto de vista que o locutor deseja partilhar com o receptor e a um efeito pretendido relacionado a uma determinada emo o Por exemplo ao tratar da coniv ncia l dica e da coniv ncia de derris o Charaudeau 2006a p 36 39 prop e que enquanto a primeira est voltada para 127 A respeito das fontes de prazer ligadas aos chistes ao c mico ao humor veja a parte do livro de Freud sobre os chistes de 1905 cf FREUD 1996 e tamb m o seu artigo Der humor de 1927 cf FREUD 1988 12
141. watch v 41THTgLWYDc gt Acesso em 24 nov 2012 32 A vida de Rafinha Bastos Teaser dispon vel em lt https www youtube com watch v BypSD FEIQs gt Acesso em 5 maio 2013 247 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 sil ncio Quase mortal para a pseudo Wanessa o sil ncio cria uma tens o um mal estar enquanto o elevador vai subindo os andares No nosso modo de ver a instaura o do sil ncio no teaser significativo pois como assevera Mello 2002 p 87 88 o sil ncio fala tanto ou mais que as palavras tornando se uma forma estrat gica de express o e at mesmo uma t tica de comportamento deliberado Ou seja al m de mostrar o desconforto que o enunciado de Rafinha causou a todas as mulheres gr vidas do Pa s a presen a do sil ncio no teaser ganha fun o de estrat gia discursiva a aus ncia de enunciado uma forma de remiss o n o somente ao comeria ela e o beb mas tamb m a toda repercuss o gerada com esse enunciado Cabe notar que embora comeria ela e o beb sofra ataques por n o se adaptar ao politicamente correto para alguns por ser um humor que falhou quando retomado no stand up tal enunciado fez com que esse mesmo desconforto causado pelo sil ncio se tornasse moeda de troca pelo riso da plateia Tem um monte de celebridade gr vida tem quem a gente gosta a n muita gente bacana gr vida
142. 000 p 65 grifos nossos Por fim Bergson 2007 potencializando esse car ter social do riso assume que a comicidade est estritamente ligada ao que propriamente humano isto s se torna objeto do riso aquilo que carrega a marca do homem Assim sendo somente o homem poder perceber e identificar essa marca e consequentemente rir ou n o o homem possui a hilaridade em pot ncia isto ele pode ou n o utiliz la dependendo das 183 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 circunst ncias No entanto essa percep o para Bergson s ser plena quando se tornar greg ria nosso riso sempre um riso de um grupo BERGSON 2007 p 5 Portanto para que possamos realmente saborear a comicidade parece haver uma exig ncia de compartilhamento do riso entre intelig ncias uma cumplicidade entre ridentes Voltando agora para as quest es espec ficas e delicadas da rela o discurso riso podemos dizer que essas propostas nos mostram v rios caminhos a percorrer e claramente contribuem para uma an lise do DH todavia como j evidenciamos h uma necessidade de adequa o e ou reinterpreta o das mesmas ao quadro da AD Por conta disso e de modo a guiar tal adequa o devemos reformular a pergunta feita anteriormente da seguinte maneira quantas inst ncias est o envolvidas no dispositivo do DH Diante dessa quest o no que
143. 005 PERINI A Gram tica descritiva do portugu s 4 ed S o tica 1999 PIETRO U Dicion rio de literatura latina Lisboa S o Paulo Editorial Verbo 2006 PIGUEAUD J La maladie de tude sur la relation de et du corps dans la tradition m dico philosophique antique Paris Les Belles Lettres 1981 PIMENTA R Casa da m e Joana curiosidades nas origens das palavras frases e marcas 10 ed Rio de Janeiro Campus 2002 271 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 PINTO Z A Ningu m entende de humor Revista de Cultura Vozes Rio de Janeiro Editora Vozes n 3 vol LXIV 1970 p 21 37 PIRANDELLO L O humorismo S o Paulo Experimento 1996 PLAT O O banquete In Di logos 2 ed S o Paulo Abril Cultural 1985 p 1 54 PLAT O Rep blica S o Paulo Martin Claret 2012 PLATIN Silogismo In In CHARAUDEAU MAINGUENEAU D Dicion rio de an lise do discurso 2 ed S o Paulo Contexto 2006 p 448 POND L F Guia politicamente incorreto da filosofia S o Paulo Leya 2012 POSSEBON Batracomiomaquia a batalha dos ratos e das r s Homero S o Paulo Humanitas 2003 POSSENTI S A linguagem politicamente correta e a an lise do discurso Revista Estudos da Linguagem Belo Horizonte FALE UFMG ano 4 v 2 jul dez 1995 p 123 140 Dispon vel em lt http www periodicos
144. 1 tagarela charlat o 228 pARASITVS 1 parasita papa jantares palavra da com dia da 2 h spede convidado Sentido figurado 3 comediante 229 Numa concorr ncia direta com os atores c micos e mimos com os quais tamb m os buf es passaram ser confundidos 165 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Apesar do sucesso desses buf es profissionais a mesma preocupa o da aristocracia grega que num primeiro momento atingira os c micos e os comedi grafos recai agora sobre os buf es o buf o continua l Mas agora de bom tom desacredit lo MINOIS 2003 p 60 Da mesa do banquete expurga se a bufonaria A ado o de normas de comportamento busca o controle do riso tolerado na aristocracia somete em suas formas reduzidas da ironia da tirada ou do dito espirituoso As rea es das autoridades se voltam contra o buf o agora relegado barbearia BREMMER 2000 p 34 Ou seja o buf o passa de bajulador nos templos e nos banquetes para frequentador das soleiras da sociedade 1 2 3 O SAT RICO DE SEGUIDOR DE A CR TICO MORDAZ Embora RIDENDO CASTIGAT MORES seja a marca caracter stica do discurso do sat rico isso de modo algum quer dizer que antes os demais gelotopoioi n o fizeram cr tica social lembremos o destino dos buf es a part
145. 1 2010b 367 392 podemos encontrar v rias reflex es sobre as quest es do riso que seriam melhor desenvolvidas em seus trabalhos futuros Devidos a esse car ter experimental n o traremos para nossas discuss es tais reflex es 57 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 no caso o chiste e o gracejo para Freud servem a exemplo da arte para contornar a realidade ou libertar da seriedade da vida Com isso em mente Bakhtin critica em Freud e em seus sect rios a tend ncia de considerar que por detr s da arte e podemos dizer do riso se esconde um sentido potencialmente sexual que os orienta Ou seja essas formas de express o dos homens s o interpretadas aos olhos do freudismo somente do ponto de vista de uma psicologia exclusivamente individual e subjetivista deixando de fora toda perspectiva social do riso e da arte em prol de algum complexo sexual decalcado J no mbito da est tica da cria o verbal Bakhtin 2010b p 19 nos diz que a heroifica o da imagem de uma personagem anda lado a lado com a possibilidade da satiriza o dos aspectos f sicos at a zombaria da import ncia tico cognitiva por meio da express o verbal ou seja podem ser desmascaradas as pretens es a uma condi o de importante de her i de uma determinada personagem por meio da s tira e do humor Bakhtin tamb m prev o papel do
146. 2 p 36 entretanto nos alerta que e aqui est a grande quest o ainda no s culo come a se a especular se essas estrat gias s o pr prias do car ter humorista ou se ele as desenvolve por meio de alguma t cnica e ou estudo Em outras palavras se h aqueles sujeitos que sofrem de uma excentricidade imanente que possuem um modo pr prio de sentir e de ver as coisas do mundo humoristas passivos ou se h aqueles que possuem consci ncia do car ter volunt rio da composi o humor stica mostrando assim os efeitos dessa excentricidade calculada no seu discurso humoristas ativos Um Homem de Humor Man of Humour um homem capaz de representar com alegria uma personagem fraca e rid cula na vida real seja assumindo a si mesmo como personagem seja fazendo isso por meio da representa o de outra pessoa de uma maneira t o natural que se possa por assim dizer tocar com o dedo as bizarrices e as fraquezas mais extravagantes da personagem Um Humorista Humorist uma pessoa da vida real obstinadamente presa s bizarrices particulares de sua pr pria cria o bizarrices que s o vis veis no seu temperamento e na sua conduta Enfim um Homem de Humor um homem capaz de representar e de revelar com alegria as bizarrices e as fraquezas de um humorista ou de outras personagens MORRIS 1744 apud ESCARPIT 1972 36 tradu o nossa 20 Em franc s Un Homme d humour Man of Humour est un h
147. 2013 A princ pio identificar identidades psicossociais mesmo que protot picas dos sujeitos do riso se nos apresentava tamb m como uma empresa fadada ao malogro devido a todas as particularidades do discurso humor stico DH Todavia da mesma maneira que a tradi o nos legou uma gama de conhecimentos sobre as causas lingu sticas e n o lingu sticas os efeitos visados e concretos as quest es ticas entre outras ligadas ao riso e ao fazer rir esses mesmos estudos para n o dizer a vida tamb m t m muito a nos ensinar a respeitos desses seres personagens figuras atores que representam a arte no sentido n o s de dom mas tamb m de t cnica do fazer rir a saber c micos buf es s tiros sat ricos escurras histri es tru es m micos bobos trocistas palha os men of humour espirituosos galhofeiros ironistas piadistas humoristas comediantes chargistas cartunistas caricaturistas risistas entre outros Nesse passo podemos afirmar que esses seres vez por outra s o conjurados em enunciados do tipo n o se fa a de bobo n o fa a papel de palha o voc est Pp espirituoso hoje etc Esses refletem n o s a exist ncia dessas identidades nos imagin rios mas tamb m que essas identidades muitas vezes se apresentam como m scaras que qualquer sujeito pode adotar consciente ou inconscientemente quando se aventura a fazer um chiste
148. 6 CF De risu 29 337 De risu 47 338 Cf De risu 35 NIMIVM ENIM RISVS PRETIVM EST SIPROBITATIS INPENDIO CONSTAT 359 De risu 82 IN SE DICERE NON FERE EST NISI SCVRRARVM ET IN ORATORE VTIQUE MINIME PROBABILE 225 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 discurso s rio elevado na verdade tamb m pode ser encontrando num discurso n o s rio obsceno e ou agressivo pr prio dos buf es Isso porque os retores sabiam e alertavam da mesma mat ria pode se obter ambos os discursos o que os diferencia a inspira o ris vel baseada na simula o e na dissimula o e colocada sobre as formas de discurso 3 2 VRBANITAS E ETHOS ARTICULANDO CONCEITOS EM AN LISE DO DISCURSO Vimos at aqui que o conceito ret rico de vRBANITAS enquanto conceito normativo est por um lado estreitamente ligado ao de ethos e por outro ao uso do riso no discurso Assim para sua aplica o dentro da AD faz se necess rio vincul lo as postula es feitas sobre a categoria de ethos Apresentamos sucintamente duas caracteriza es dessa categoria evidenciando como vRBANITAS pode contribuir para aumentar sua capacidade anal tica Para Maingueneau 2006a o conceito de ethos pensado a partir de Arist teles possui um car ter h brido pois por defini o constr i se atrav s do discurso que por sua vez necessita de uma situa o de comun
149. 6c p 288 289 MAINGUENEAU C digo linguageiro CHARAUDEAU P MAINGUENEAU D Dicion rio de an lise do discurso 2 ed S o Paulo Contexto 2006d p 97 98 MAINGUENEAU Cenas de enuncia o In CHARAUDEAU P MAINGUENEAU D Dicion rio de an lise do discurso 2 ed S o Paulo Contexto 2006 p 95 96 MAINGUENEAU D Cenas da enuncia o S o Paulo Par bola Editorial 2008a MAINGUENEAU D G neses do discurso S o Paulo Par bola Editorial 2008b MAINGUENEAU D Doze conceitos em an lise do discurso S o Paulo Par bola Editorial 2010a MAINGUENEAU D O discurso pornogr fico S o Paulo Par bola Editorial 2010b MALHADAS D DEZOTTI M NEVES M H M Dicion rio grego portugu s Cotia Ateli 2006 MALMBERG B Les nouvelles tendances de la linguistique Paris PUF 1966 MARI H et al orgs Fundamentos e dimens es da an lise do discurso Belo Horizonte Carol Borges 1999 MARQUES JR I N O riso segundo C cero e Quintiliano tradu o e coment rios de De oratore Livro II 216 291 De ridiculis e da Institutio Oratoria livro VI 3 De risu 2008 160f Disserta o mestrado Departamento de Letras Cl ssicas e Vern culas da USP S o Paulo MARTINHO T T rindo do qu Trip S o Paulo Trip Editora e Propaganda n 221 maio 2013 p 58 65 MASUCCI F Dicion rio humor stico 2 ed S o Paulo Editora Leya 1958 MELLO
150. 8 Para mais detalhes sobre os tipos de coniv ncias e seus efeitos veja o ap ndice 94 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 oferecer ao receptor um simples divertimento a segunda prop e ao outro um ataque ao alvo rebaixando esse ltimo Quanto s emo es Charaudeau nos explica que enquanto a coniv ncia l dica busca desencadear um alegramento puro livre de qualquer tipo de julgamento cr tico a coniv ncia de derris o procura desenvolver em outrem um sentimento de desprezo e uma sensa o de superioridade ambos em rela o ao alvo O que Charaudeau n o nos diz mas deixa subentendido que essas emo es s o teoricamente pass veis desencadear o riso Se olharmos atentamente para a proposta de Charaudeau 2006a poss vel afirmar que as coniv ncias que nada mais s o que outro modo de denominar as visadas discursivas t picas do DH e os seus efeitos de sentido correspondentes por um lado se afastam do riso como forma de efeito visado e por outro se relacionam estritamente s concep es filos ficas de humor e de comicidade anteriormente abordadas Logo levantamos a hip tese de que a nfase das an lises que assumem esse ponto de vista tende a se voltar sobre as outras finalidades s quais esses g neros e atos de comunica o podem se prestar deixando de lado ou dist ncia o fazer rir propriamente dito So
151. 9 de setembro de 2011 ficaria conhecida como a ltima da qual Rafinha Bastos participaria Humorista do meio stand up Rafinha Bastos antes mesmo do enunciado comeria ela e o beb j era considerado um dos novos humoristas mais pol micos e tamb m mais bem sucedidos do Brasil lotando shows por onde passava Alvo de processos pelos membros da fam lia Camargo Rafinha foi obrigado a deixar o programa CQC uma vez que pessoas influentes intervieram perante a diretoria da Rede Bandeirantes pedindo sua cabe a pelo caco de enunciado politicamente incorreto cf XAVIER 2011 Todavia o que parecia ser o fim para Rafinha se mostrou o in cio de uma rent vel estrat gia discursiva para angariar fundos para esse bobo da corte moderno cf parte cap 1 item 1 2 4 Poucos meses depois de deixar a Rede Bandeirante Rafinha assina um contrato milion rio com o canal por assinatura FX filiado americana FOX ENTERTAINMENT GROUP no qual o humorista transforma em piada os pr prios problemas com a arte da com dia principalmente seus processos na justi a e seus desafetos declarados Para termos uma ideia de como funciona o programa o teaser promocional de vida de Rafinha Bastos se mostra providencial Nesse teaser s o apresentados dentro de um elevador uma gr vida s sia da cantora Wanessa Camargo e o humorista ambos em Fragmento do programa Dispon vel em lt https www youtube com
152. A Uma Arlinda mulher 1995 Letra dispon vel em lt http letras mus br mamonas assassinas 24152 gt Acesso em 08 nov 2012 296 Sobre os tipos de incoer ncia veja o ap ndice 202 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 efeito de riso bom alegre todavia esse mesmo riso tende a mudar de car ter dependendo dentre outros fatores da inten o humor stica do sujeito Apesar da ressalva acima apontada parece nos necess rio promover uma altera o no ponto de vista sobre aquilo que motivo do riso n o podemos consider lo em todas as ocasi es um alvo pois nesse caso estar amos admitindo exclusivamente o ponto de vista negativo agressivo e destrutivo do riso Apesar disso deve ficar bem claro que esse algo de que se ri tamb m carrega em si o potencial de se consubstanciar em alvo com todo o sentido negativo do termo e de modo semelhante categoria do alvo possuir uma caracter stica cambiante Diante dessas caracter sticas precisamos de um termo mais amplo que alvo e que contemple a um s tempo as duas naturezas positiva e negativa dos motivos do riso Assim buscando manter uma certa neutralidade e na falta de um termo melhor chamaremos esse algo de que se ri simplesmente de objeto do riso OR Por conseguinte embora seja rara essa possibilidade de nem sempre haver um alvo em deter
153. ARCIA M D V dir Humour et crises sociales regards crois s France Espagne Paris L Harmattan 2011 9 43 266 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 COMPART O riso e sorriso nos processos de socializa o e constru o identit ria 2009 124f Disserta o mestrado Faculdade de Filosofia e Ci ncias Humanas UFMG Belo Horizonte D ANGELI PADUANO O c mico Curitiba Editora UFPR 2007 DICK P K Blade Runner perigo eminente 2 ed Mira Sintra Publica es Europa Am rica 1968 DRIESSEN Humor riso e o campo reflex es da antropologia In BREMMER orgs Uma hist ria cultural do humor Rio de Janeiro Record 2000 p 251 276 DUCROT O Les mots du discours Paris ditions de Minuit 1980 ECO U O c mico e a regra In Viagem na irrealidade cotidiana Rio de Janeiro Nova Fronteira 1984 p 343 353 ECO U O nome da rosa Rio de Janeiro Editora Record 1986 ECO U Pirandello ridens In Sobre espelhos e outros ensaios Rio de Janeiro Nova Fronteira 1989 ECO U Hist ria da fei ra Rio de Janeiro Record 2007 ENCICLOPEDIA ITALIANA DI SCIENZE LETTERE ED ARTI Circo equestre Roma Treccani 1929 39 vol 10 p 402 ENCICLOPEDIA ITALIANA DI SCIENZE LETTERE ED ARTI Pagliaccio Roma Treccani 1929 39 vol 25 p 930 ESCARPIT R L humour 5 ed
154. ARLOCH L TEIXEIRA Guia politicamente incorreto da Am rica Latina S o Paulo Leya 2011 NIETZSCHE F Assim falava Zaratrusta um livro para todos e para ningu m Petr polis Vozes 2007 NIGRIS M E Degluti o cultural o riso e o riso reduzido no Brasil da ltima d cada do s culo XX 2006 234f Tese doutorado Faculdade de Filosofia Letras e Ci ncias Humanas da USP S o Paulo OLBRECHTS TYTECA L Le comique du discours Bruxelles Editions de PUniversit de Bruxelles 1974 OLIVETTO W Uma conversa s ria sobre humor Favor n o rir FEDRIZZI A org O humor abre cora es E bolsos Rio de Janeiro Campus 2003 p 29 61 OS MELHORES DO MUNDO Debate pol tico Os melhores do mundo not cias populares Warner 2008 PECHEUX Sur les contextes pist mologiques de de discours Mot Presses da la Fondation national des sciences politiques n 9 out 1984 PEIXOTO A Humour ensaio do brevi rio nacional do humorismo 2 ed S o Paulo Companhia Editora Nacional 1936 PEREIRA L S S Humor um enfoque psicol gico Revista de Cultura Vozes Rio de Janeiro Editora Vozes n 3 vol LXIV 1970 p 57 62 PERELMAN Pref cio In OLBRECHTS TYTECA L Le du discours Bruxelles Editions de l Universit de Bruxelles 1974 5 6 PERELMAN C OLBRECHTS TYTECA L Tratado da argumenta o a nova ret rica 2 ed S o Paulo Martins Fontes 2
155. Antiguidade in meros autores e pensadores tenham se empenhado de diferentes modos certamente a circunscrever tais procedimentos t cnicas e tamb m g neros mais ou menos relacionados ao riso No nosso modo de ver essa aparente contradi o menos um problema de ontologia do que de posicionamento te rico sobre determinado objeto cf parte 1 cap 1 De fato como assevera Olbrechts Tyteca 1974 p 21 as pesquisa sobre o c mico o humor o ris vel quase sempre buscam de in cio definir as causas do riso Tais pesquisas ainda segundo a autora ora partem das reminisc ncias ou da intui o do pesquisador sobre o que desencadeia o riso ora resultam de uma revis o mais ou menos exaustiva de outros trabalhos sobre o tema advindo da teorias que na maioria dos casos s o tentativas de colocar ordem na grande quantidade de dados obtidos A bem dizer perscrutando alguns dos principais trabalhos que giram em torno da tem tica do riso e do ris vel poss vel perceber que dois m todos de an lise dos fen menos causadores do riso nos saltam aos olhos no primeiro os estudiosos partem de um corpus mais ou menos extenso composto por textos tidos a priori como c micos humor sticos sat ricos e da depreendem os procedimentos e os mecanismos do riso J no segundo m todo como sugere Eco 1989 toma se uma defini o por vezes complexa e obscura de humorismo de comicidade de c mico ou de um g ne
156. Arist teles mas tamb m os in meros textos sobre o riso e o ris vel que se perderam pelos meandros da hist ria Apesar dessas dificuldades v rios outros trabalhos que mant m uma maior ou menor rela o de intertextualidade com esses textos perdidos se encontram ao nosso alcance Assim sendo pretendemos nesse cap tulo sistematizar um conhecimento sobre as causas do riso e sobre as fontes do ris vel do c mico do humor de modo a potencializar nossa compet ncia discursiva e assim poder construir hip teses mais precisas a respeito do contrato de comunica o e dos demais componentes do dispositivo do discurso humor stico DH Antes no entanto devemos retornar a uma quest o crucial relacionada ao conceito de linguagem do riso LR a saber a infinidade de t cnicas e de procedimentos linguageiros erigidos como poss veis desencadeadores do riso Vimos com Charaudeau 2006a que os procedimentos lingu sticos e discursivos encontrados nos atos de comunica o humor sticos ACHs s o t o variados que por vezes s o os mesmos encontrados em outros g neros considerados s rios Quanto a essa mesma quest o outros autores s o mais incisivos e asseveram qualquer expediente pode facilmente torna se fonte do c mico PERELMAN OLBRECHTS 2005 213 Diante disso podemos ser levados a duvidar da necessidade e at mesmo da possibilidade de se construir um rol de procedimentos linguagei
157. Assegura informa es altamente confi veis e isentas de opini es de julgamentos pr vios sobre os fatos de uma l ngua luz desses pontos devemos nos questionar no que consiste essa intui o e essa isen o de julgamentos de que fala Trask Quanto aos corpora serem isentos de ju zo de valor isso somente poss vel se os dados como relata o pr prio Trask 2004 p 68 69 forem coletados sem ser penosamente extra dos dos falantes o que poderia levar a manipula o dos dados e os mesmos dados estarem abertamente disposi o para consulta e pesquisa H que se pensar por m que no momento da sele o e do recorte desses corpora em um corpus espec fico o papel do sujeito pesquisador analista surge ele com seus objetivos e sua metodologia de pesquisa que projeta sobre esses fatos a princ pio neutros o seu ponto de vista Disso resulta como ensinam Greimas e Court s 2008 p 104 um desmascaramento dos pressupostos de cientificidade exaust o adequa o e objetividade e ao sujeito pesquisador analista dever ser necessariamente atribu da parte da import ncia na constru o do objeto Isso posto podemos agora refletir agora sobre a intui o Seguindo ainda o pensamento de Trask diremos que a intui o da qual ele trata a compet ncia lingu stica que permite ao pesquisador analista julgar o que por exemplo gramatical ou agramatical numa dada constru o numa determinada l ngua Ao
158. CH Nesse dispositivo Charaudeau 2011 prop e que um ACH se d em uma mise en sc ne tri dica onde est o previstas as inst ncias referentes ao espa o interdiscursivo locutor receptor e ao espa o intradiscursivo enunciador destinat rio e o alvo cible sobre o qual recai o ACH Cada uma dessas inst ncias assim prossegue Charaudeau 2011 p 17 20 possui suas caracter sticas pr prias que apresentamos de forma sum ria no quadro 1 265 Embora esteja ligada s ideias de mon logo e de solil quio que de um modo geral prop em um desdobramento do sujeito falante locutor receptor no di logo interior ou locutor receptor ficcional nas representa es teatrais o conceito de situa o monologal aqui aplica se a possibilidade de os parceiros do ato de linguagem estarem ou n o presentes na situa o de comunica o Nesse caso o locutor se encontra numa situa o na qual ele n o pode perceber imediatamente as rea es do interlocutor pode apenas imagin las o que pode levar a uma organiza o mais progressiva e l gica do discurso CHARAUDEAU 2008 72 188 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 TIPO NATUREZA Espa o Locutor possui identidade psicol gica e social INTERDISCURSIVO i OU a origem da inten o humor stica COMUNICACIONAL institui se como enunciador dura
159. Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 forma o de bobos Sua apar ncia f sica refor ada pelo uso de um capuz com orelha de asno que representa a mescla de ignor ncia e sensualidade As vezes tinha o cr nio raspado com exce o de uma mecha frontal s vezes era vestido magnificamente como o pr prio rei MINOIS 2003 p 228 Al m de fazer rir segundo Minois 2003 p 230 232 o bobo desempenha outras fun es na Corte como por exemplo 1 aconselhar o rei em v rios assuntos pol tica religi o economia etc perturbando distorcendo as regras do jogo e criando intrigas entre os membros da Corte de prefer ncia em rela o aos conselheiros do rei 1 dizer a verdade num contexto no qual o rei cercado de lisonjas elogios e mentiras trazendo assim o rei para a realidade 111 lembrar ao rei que ele apenas um mortal partilha da condi o humana para evitar que mergulhe na embriaguez do poder solit rio iv representar a voz da oposi o diante do rei e sob a prote o da loucura e do riso ser um verdadeiro anti rei soberano invertido conscientizando o rei dos limites do seu poder desp tico Vendo se encarregado dessas fun es o bobo mostrava ent o que de bobo n o tinha nada seguro do apoio real ele usava da sua esperteza para a desonestidade angariar lucros com intrigas ligadas vida dos membros e dos funcion r
160. ETIARVM em dois tipos os r pidos os trocadilhos e os tropos como a ironia e os desenvolvidos ao longo discurso que se assemelham s anedotas cf parte 1 cap 3 item 3 1 1 Finalizadas essas explica es C cero coloca na voz de Crasso a justificativa para o tratado e as ressalvas quanto ao uso do riso Como se dessas mesmas coisas que Ant nio vem falando h algum tempo houvesse alguma arte Como ele mesmo disse dessas coisas eficazes no discurso h certa observa o que se pudesse produzir pessoas elogiientes quem n o o seria Quem com efeito n o poderia aprender estas coisas com facilidade ou de algum modo Mas creio eu que h nestes preceitos for a e 331 n t cnica arte da tratado de arte transliterado techn 332 Lat g neros de fac cias brincadeira jocosidades em C cero Em Quintiliano esses g neros ser o designados por GENERA VRBANITATIS lat g neros de urbanidades Ambos servem para delimitar o que os retores pensavam sobre os GENERA RIDICVLORVM lat g neros de ditos rid culos 333 De ridiculis 235 DE RISV QVINQVE SVNT QVAE QVAERANTVR QVID SIT ALTERVM VNDE SIT TERTIVM SITNE ORATORIS RISVM VELLE MOVERE QVARTVM QVATENVS QVINTVM QVAE SINT GENERA RIDICVLI 219 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 utilidade n o para que pela arte sejamos cond
161. Esses discursos continua Maingueneau possuem certas caracter sticas comuns como por exemplo servir de fiadores esp cie de garante dos outros discursos justificar certas a es e comportamentos dos membros de uma sociedade e por vezes validar ou fundar discursos sobre essas mesmas a es Essa voca o para fundar e n o ser fundado por outro discurso MAINGUENEAU 2006 p 61 est ligada ao car ter constitutivo ou constitu ncia dos discursos constituintes que por sua vez se deve ao fato de que os discursos constituintes a fim de autorizar se por si mesmo eles devem se propor ligados a uma fonte legitimadora S o a um s tempo autoconstituintes heteroconstituintes duas faces que se pressup em mutuamente s um discurso que se constitui ao tematizar sua pr pria constitui o pode desempenhar um papel constituinte com rela o aos outros discursos MAINGUENEAU 2006 61 grifos do autor 136 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Desse modo uma vez que suas fontes legitimadoras est o ligadas ao Absoluto Verdade a Deus s Musas etc os discursos constituintes validam por meio da enuncia o a sua pr pria enuncia o Essa autolegitima o ainda de acordo com Maingueneau 2010a p 162 163 um tra o espec fico que diferencia os discursos constituintes parat picos por excel ncia dos discursos t picos
162. ISPOSITIVO CONCEPTUAL DO DISCURSO HUMOR STICO UM DISPOSITIVO PROTEIF RMICO Como podemos observar as reflex es anteriores nos mostram a complexidade do dispositivo do DH Acreditamos que a raz o de toda essa complexidade se deva s caracter sticas estruturais sui generis desse discurso isto ao mutualismo oportunista replica o Recordando a primeira est ligada diretamente necessidade de o DH conviver numa rela o de relativa depend ncia com outros tipos de discurso extraindo desses tanto a subst ncia quanto a forma J a segunda se refere capacidade do DH em replicar n o somente os g neros e os textos produzidos em outros tipos de discurso mas tamb m os dispositivos desses discursos Em outras palavras diremos que al m de ser capaz de imitar o microdispositivo dos demais tipos de discursos abrangendo desse modo uma grande quantidade de textos e de g neros o DH ainda se mostra igualmente capaz de replicar dos outros tipos de discurso o macrodispositivo conceptual que estrutura a situa o na qual se desenvolvem as trocas linguageiras ao organiz las de acordo com os lugares ocupados pelos parceiros da troca a natureza de sua identidade as rela es que se instauram entre eles em fun o de certa finalidade CHARAUDEAU 20066 53 Essas caracter sticas estruturais explicam por exemplo a capacidade de o DH engendrar n o somente os g neros e os textos tipicamente humor sticos
163. Olbrechts Tyteca prop e que poss vel reduzir tal historieta a um aforismo do tipo Os frangos de Mans s o sempre fartos em 257 Lembra a autora que essas perspectivas n o s o completamente independentes mas os n veis devem ser considerados separadamente em cada uma delas OLBRECHTS TYTECA 1974 p 17 tradu o nossa No original Ces trois perspectives ne sont pas tout fait ind pendantes mais les niveaux en chacune d elles doivent tre envisag s s par ment 258 No original Que ce poulet est maigre disait l auteur dramatique D un ma tre d h tel qui le servait Monsieur il arrive du Mans fait le ma tre d h tel en se rengorgeant Alors il est venu pied r pond D OLBRECHTS TYTECA 1974 p 17 tradu o nossa 185 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 carne salvo quando eles v m a p ao mercado Entretanto esse procedimento n o nos proporcionaria perceber as a es maliciosas e as rea es entre os parceiros OLBRECHTS TYTECA 1974 p 17 18 tradu o nossa De fato essa percep o da presen a dos audit rios contribui para vislumbrar melhor as fontes do c mico com mais um exemplo 2 A bela Pamela que h muito tempo n o dirigia diz Doris Voc sabia o guarda de tr nsito que me pegou em contraven o foi verdadeiramente am v
164. PIA PARA O SUJEITO HUMORISTA Sendo o homem caracterizado s vezes pela linguagem pelo riso e pelo fato de ser um animal social podemos supor que esses tr s elementos mant m uma liga o Lucie Olbrechts Tyteca 1974 p 14 No original L homme tant caract ris la fois par le langage par le rire et par le fait d tre un animal social nous pouvons supposer que ces trois l ments ne sont pas sans lien Tradu o nossa 233 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Se partirmos da ideia de que todo discurso se constr i na intersec o entre um campo de a o lugar de trocas simb licas organizado segundo rela es de for a e um campo de enuncia o lugar dos mecanismos de encena o da linguagem CHARAUDEAU 2006b p 52 grifos nossos podemos ent o assumir que o conceito de topia discursiva n o somente diz respeito a um espa o do que diz vel em uma sociedade MAINGUENEAU 2010a p 170 mas tamb m a um espa o do que diz vel dentro de um dado campo de discurso Isto embora o sujeito do discurso possua certa margem de manobra as estrat gias discursivas dentro dos mais diversos contratos de comunica o ainda assim seu discurso regulamentado por certas press es do campo discursivo ao qual ele o sujeito est de certo modo subordinado Anteriormente vimos cf nossas considera e
165. Petterson Gomes do Vale 2013 AP NDICE ASPECTOS LINGU STICOS NA CONSTRU O DO HUMOR Segundo Possenti 1998 p 27 36 N VEL LINGU STICO CHAVE LINGU STICA FONOL GICO principalmente na diferen a da pauta acentual de palavras e ou express es para criar a possibilidade de duas ou mais leituras devido altera o da distribui o de acentos em s labas de maior ou menor sali ncia f nica Ex para a palavra danoninho haveria as pron ncias 1 danon nho com somente um acento agudo marcando a t nica e 2 d noninho com dois acentos agudos marcando as t nicas por conseguinte a exist ncia de uma ora o formada de um verbo d uma contra o no e um substantivo ninho MORFOL GICO Fortemente ligadas ao n vel fonol gico as chaves ditas morfol gicas se fundamentam no crit rio da divis o sil bica ou no erro a silabada e nos processos de forma o de palavras Assim o exemplo da palavra danoninho pode ser analisado pelo vi s morfol gico colocando se os dois processos presentes em evid ncia danone inho processo de sufixa o e dar no ninho elis o decorrente da influ ncia da oralidade na escrita por isso a queda do r final do verbo dar L xICO Ressaltam se aqui duas facetas do l xico a a quest o do duplo sentido que acarreta as ambiguidades nas piadas a possibili
166. R j que negligenciar esse ponto pode implicar ver somente um lado do problema Por exemplo se se coloca que o DH tem como finalidade nica a busca pela coniv ncia de outrem contra um alvo corre se o risco de cair seguindo Bakhtin 2010a em uma percep o exclusivamente negativa do riso isto o riso visto somente no seu car ter sat rico agressivo e destruidor Levando em considera o essas quest es vamos nas se es que se seguem primeiramente apresentar os conceitos de finalidade e de visada discursiva no quadro da Teoria Semiolingu stica procurando melhor discerni los entre si e em rela o ao conceito de intencionalidade Numa segunda etapa propomos uma revis o sobre os objetivos do fazer rir de acordo com os principais estudiosos do riso para logo em seguida articular essas proposi es com o nosso ponto de vista sobre o papel das visadas de fazer prazer e fazer rir na an lise do DH 55 Como j apontamos em outros momentos nossa proposta visa construir um conhecimento a partir das teorias sobre o riso o ris vel Nesse sentido adotar somente um ponto de vista poderia causar uma certa parcialidade nas an lises Argumentando nessa linha Monro 1988 p 354 355 nos diz que as teorias do humor t m a capacidade de elucidar alguns tipos humor mas h que se duvidar sempre se uma delas sozinha pode explicar satisfatoriamente todo tipo de humor Entretanto continua Monro cada uma tem o m rito de po
167. RA VRBANITATIS O orador pode amenizar o ar de tens o as paix es e outras circunst ncias impostas em determinadas situa es e lugares N o interessa nesse ponto nos perguntarmos sobre as rela es diplom ticas entre os pa ses Brasil e EUA nos anos p s Segunda Guerra mas sim sobre as dificuldades enfrentadas pela diplomacia em eventos internacionais 368 N o confundir o conceito de capta o cf MAINGUENEAU 1997 que se aplica a capacidade de um texto imitar um outro texto espec fico e ou um g nero sem necessariamente subvert los ou ridiculariz los cf parte 1 cap 3 item 3 1 1 2 369 How do you do Nice to meet you No elevador Parece que vai chover ou O dia est quente hoje entre outros 230 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 escolha de um idioma universal ingl s ou diplom tico franc s presen a de tradutores ritos cerimoniais e assim por diante Nessas circunst ncias qualquer deslize por menor que seja pode ser considerado uma falta grave qualquer palavra mal utilizada pode demonstrar desrespeito e simplesmente arruinar as rela es entre na es entre outros tantos problemas Com rela o ao desrespeito podemos problematizar a quest o do idioma no texto analisado se Dutra tivesse respondido em portugu s al m de n o se mostrar urbano ou seja desconhecedor do idioma das po
168. RONY PETTERSON GOMES DO VALE O DISCURSO HUMOR STICO UM PERCURSO DE AN LISE PELA LINGUAGEM DO RISO FACULDADE DE LETRAS DA UFMG BELO HORIZONTE MG 2013 RONY PETTERSON GOMES DO VALE O DISCURSO HUMOR STICO UM PERCURSO DE AN LISE PELA LINGUAGEM DO RISO Tese apresentada ao Programa de P s gradua o em Estudos Lingu sticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obten o do t tulo de Doutor em Lingu stica rea de concentra o Lingu stica do Texto e do Discurso Linha de pesquisa An lise do Discurso Orientador Prof Dr Renato de Mello FACULDADE DE LETRAS DA UFMG BELO HORIZONTE MG 2013 Ficha catalogr fica elaborada pelos Bibliotec rios da Biblioteca FALE UFMG Vale Rony Petterson Gomes do O discurso humor stico manuscrito um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 279 f enc il Orientador Renato de Mello rea de concentra o Lingu stica do Texto e do Discurso Linha de Pesquisa An lise do Discurso Tese doutorado Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Letras Bibliografia f 263 274 Anexos 235 239 Ap ndices 275 279 1 An lise do discurso Teses 2 Humorismo brasileiro Hist ria e cr tica Teses 3 Riso Teses 4 Discurso humor stico Teses 5 Estrat gia discursiva Teses Mello Renato de Il
169. S REPVGNANTIBVS CAVSIS EFFECTIS COMPARATIONE PARIVM MAIORVM MINORVM SIMILIS MATERIA PRAEBETVR SICVT IN TROPOS QVOQVE OMNIS CADIT 118 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Assim sendo conv m destacar que a preocupa o de Quintiliano 45 com aquele g nero de palavra voltado para o ataque e para a defesa tamb m deve ser estendida aos g neros de assunto pois n o h nada que n o possa ser dito atacando que n o possa ser dito replicando QUINTILIANO apud MARQUES JR 2008 112 Aqui novamente o discurso orat rio proferido em situa o jur dica retorna baila da discuss o muito embora n o seja poss vel diferenciar na exposi o de Quintiliano o c mico da ret rica do c mico na ret rica altamente imbricados como adverte Olbrechts Tyteca 1974 Com efeito a gama de tipos de argumentos e de esquemas pass veis de ser tomados como c micos aumenta consideravelmente escapando a uma tentativa de formaliza o ret rica Nesse passo podemos alegar que apesar de evidenciar a relativa inefici ncia da arte ret rica nessa mat ria Quintiliano nos fornece uma diretriz ao mostrar que os g neros de assunto podem assumir formas semelhantes a esquemas argumentativos e tipos de argumentos Isso porque em seu uso regular tais esquemas e argumentos se apresentam sob as mais variadas formas de silogismos entimemas encadeamentos
170. S o exemplos de humoristas que se utilizaram desse recurso nesse per odo Jos Madeira de Freitas Mendes Fradique Bastos Tigre D Xiquote Apar cio Torelly Bar o de Itarar Alexandre Marcondes Machado Ju Banan re para citar os principais 238 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 de valor est tico em si Fazia se apenas consumo interno Seu papel era divertir e deleitar a sociedade Com efeito a linguagem do humor leia se LR marcada pela irrever ncia e pela linguagem do cotidiano n o tinha lugar na grande literatura Mesmo assim como observa Saliba 2002 p 142 144 os humoristas continuavam na busca pelo reconhecimento da institui o que nessa poca representava a refer ncia da intelligentsia brasileira a Academia Brasileira de Letras ABL O escritor mambembe podemos dizer ao mesmo tempo que ironiza a ABL atacando seus membros quer partilhar daquele grupo de homens cultos mas percebe que paira sobre seu nome como uma sombra a pecha de humorista Assim com lemas A Tro a por princ pio a Pilh ria por base o Riso por fim TIGRE 1905 apud SALIBA 2002 p 136 dificilmente os humoristas seriam eleitos para uma cadeira na ABL cabendo a eles espremidos entre o teatro ligeiro e o jornalismo de ocasi o num prec rio equil brio para agradar a todo custo o p blico das revistas ilustrada
171. Youtube 381 Marcelo Madureira humorista um dos principais integrantes do grupo Casseta amp Planeta 382 Segundo Pond 2012 29 31 o movimento politicamente correto pode ser definido como uma mistura de covardia informa o falsa e preocupa o com a imagem Ainda de acordo com autor esse movimento tem sua origem num ramo do pensamento de esquerda americano que a partir dos fins dos anos de 1960 assume uma esp cie de programa pol tico em defesa das minorias negros na d cada de 1960 gays a partir da d cada de 1980 procurando desenvolver um mal estar com rela o ao mau tratamento dado a esses grupos na vida social comum Assim tal programa muda o foco da a o da esquerda da revolu o pelo proletariado para uma acomoda o do status quo desses grupos minorit rios em ascens o econ mica e social ao capitalismo gerando para esse fim leis e pol ticas p blicas que possibilitem a realiza o do processo Atualmente continua Pond 2012 p 31 o politicamente correto se caracteriza por ser um movimento que busca moldar comportamentos h bitos gestos e linguagem para gerar a inclus o social desses grupos e por tabela combater comportamentos h bitos gestos e linguagem que indiquem uma recusa dessa inclus o Especificamente em rela o ao humor Aubert 2013 p 104 adverte que o que est em jogo o pr prio futuro do riso uma vez que o problema maior n o a liberdade
172. a es de seus predecessores quanto s fun es do riso nos debates para o sucesso nos processos no f rum e na assembleia recomendando por adiante no cap 3 parte n o deve carregar nem dor nem destrui o pois essas ltimas podem despertar conforme Arist teles 2005 n o o riso mas sim a comisera o das pessoas 102 vDICRVS A divertido recreativo l dico 103 ARIS alegria contentamento de bom humor 104 gat c ov citadino urbano de Atenas transliterado astos Em sentido restrito aquele que segue o asteismo urbanidade falar e se comportar como um homem da cidade delicadeza ao gracejar e fazer brincadeiras 105 Maiores detalhes a respeito das reflex es de C cero e de Quintiliano ser o apresentados quando debatermos as causas do riso no discurso cf parte 1 cap 3 itens 3 1 1 e 3 1 1 1 e as coer es sobre o uso do riso cf parte II cap 3 item 3 1 2 85 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 exemplo a adequa o do ethos do orador a mobiliza o dos 107 r n paix es emo es dos ju zes pelo riso e a mitiga o das situa es tensas por meio do uso dos GENERA RIDICVLORVM Continuemos nosso percurso Da Alta Idade M dia at os primeiros momentos da filosofia moderna s culos XVI e XVII co
173. a o terminol gica tanto na tradu o entre l nguas quanto nas diversas edi es de uma mesma obra feita por tradutores diferentes como por exemplo termos como palavra ou pares de termos enunciado enuncia o Em vista disso Souza 2002 p 43 44 prop e que devemos nos precaver dessa quest o procurando 1 consultar tradu es diferentes devido ao problema para a maioria dos estudiosos brasileiros de ler consultar diretamente o original russo e 11 consultar edi es diferentes da mesma obra Nesse intuito em nossa pesquisa ao proceder desse modo sobre o termo linguagem do riso podemos dizer que esse n o apresenta problemas de tradu o nas passagens em que ocorre cf BAKHTIN 2010 p 58 78 Tomando a edi o americana temos para essas passagens the essential truth about the world and about man cannot be told in the language of laughter e Laughter on the contrary overcomes fear for it knows no inhibitions no limitations Its idiom is never used by violence and authority BAKHTIN 1984 67 90 grifos nossos J na edi o francesa temos on ne exprimer dans le la langue du rire la v rit primordiale sur le monde et Phomme seul le ton s rieux est de rigueur e Au contraire le rire suppose que la peur est surmont e Le rire n impose aucun interdit aucune restriction Jamais le pouvoir la violence lautorit n emploient le langage du rire BAKHTIN 1970 76 98 gri
174. a o do c mico colocando de fora por exemplo a possibilidade da presen a ausente de um tiers que se encontram de certo modo em stand by elaborando sua atitude responsiva ativa Por outro lado essa rela o tri dica ao colocar como inst ncia enunciativa um sujeito sobre a categoriza o gen rica de alvo n o prev a possibilidade de busca por um riso bom ou alegre no qual o matiz de derris o e de zombaria estaria ausente ou muito atenuado por conseguinte n o prev tamb m a possibilidade de haver um sujeito interpretante que n o se consubstancia nem em v tima muito menos em alvo mas em rieur isto num sujeito que simplesmente ri um riso alegre bom compartilhando um momento de felicidade ou de alegramento de per si Desse modo redefinimos a rela o tri dica como uma rela o entre inst ncias que al m da capacidade de fragmenta o dependendo do circuito interno ou externo da mise en sc ne do discurso se configura como locutor receptor e objeto do riso OR Assim sendo pod amos agora complementar nossa an lise da estrutura do DH postulando que como esse discurso baseado no mutualismo oportunista e na replica o o seu 258 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 macrodispositivo necessita ser de tal modo proteiforme que possibilite n o somente uma maior adequa o s mais variadas situa es de comunica
175. a o do seu discurso por meio de uma incompreens o fingida e por uma distor o das verdades socialmente admitidas apoiando se no car ter diferenciado de sua posi o social Assim poss vel ao buf o desenvolver um discurso que fala com uma linguagem n o reconhec vel e que deturpa maldosamente as linguagens reconhecidas Partindo dessa ideia Bakhtin 2010c p 275 276 ressalta que a introdu o desses sujeitos no universo ficcional trouxe para a literatura 1 uma liga o estreita com os palcos teatrais e os espet culos de m scaras ao ar livre 11 um sentido figurado especial para o discurso desses sujeitos enquanto personagens tudo o que fazem e dizem n o t m sentido direto e imediato mas figurado e s vezes invertido a cria o de uma situa o paradoxal de exclus o inclus o eles n o s o deste mundo n o se solidarizam com ele e o veem pelo avesso iv uma forte influ ncia sobre o estatuto de autor no romance sobre a sua imagem se ela aparecia de um modo ou de outro e sobre seu ponto de vista Com respeito a esse ltimo ponto Bakhtin 2010c p 277 278 nos esclarece que desse modo as m scaras de buf o e de bobo v m em socorro do romancista e que al m disso elas n o s o inventadas elas t m suas ra zes populares muito profundas Com tais m scaras o romancista capaz de refletir revelar publicamente esferas da vida 214 Lemb
176. a marcadamente c mica as formas de humor presentes no folclore as revistas humor sticas e sat ricas incluindo jornais e folhetins o circo o teatro a com dia et coetera Mais do que isso Propp se mostra ciente das dificuldades em analisar a comicidade a partir desse crit rio e prop e de modo a manter o rigor metodol gico as seguintes diretrizes ou postulados e diante de qualquer fato ou caso que suscite o riso o pesquisador deve a cada vez colocar se a quest o do car ter espec fico ou n o espec fico do fen meno em exame de suas causas PROP 1992 19 e em cada caso isolado preciso estabelecer a especificidade do c mico preciso verificar em que grau e em que condi es um mesmo fen meno possui sempre ou n o os tra os de comicidades PROP 1992 p 19 20 grifos do autor 34 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Essas diretrizes resultam da cr tica que Propp 1992 p 19 faz s an lises da comicidade realizadas at ent o e das defini es de c mico que segundo o autor s o amplas demais abarcando tamb m fen menos que muitas vezes nada t m a ver com o c mico Cita como exemplo Schopenhaeur Este como nos relata Propp alega que o riso surge quando se percebe a n o correspond ncia na rela o entre os objetos do mundo e as representa es que fazemos deles No entanto na vis o de Pr
177. a ou melhor v rias ou muito provavelmente uma hist ria c mica tendo o falecido por protagonista Ri se da situa o de dor E o tempo intermin vel para quem perdeu um ente querido parece passar mais r pido Os exemplos poderiam se multiplicar mas esse percurso de an lise um trabalho de ci ncia e devemos por isso situ lo Do ponto de vista dos Estudos do Texto e do Discurso podemos dizer que o riso e o humor apresentam de um modo geral problemas de an lise similares aos que sobreatuam o conceito de discurso dificuldades de defini o conting ncia de efeitos de sentido m ltiplas reas de conhecimentos que se debru am sobre esses objetos por vezes isolando os at mesmo da sociedade da cultura e da hist ria Esses problemas s o tantos a ponto de alguns acreditarem que o encanto do humor est na impossibilidade de ser quantificado previsto ou contido GOODBYE 2003 p 77 Com efeito para n s analisar um discurso que tem o potencial de engendrar o riso e o humor se torna t o escorregadio quanto o pr prio conceito de riso ou de humor parece que toda a argumenta o corre a todo o momento o risco de desabar como um castelo de cartas As poss veis imprecis es ou seja os argumentos baseados na intui o parecem tomar a forma n o de exce o mas sim de regra 17 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Desse modo di
178. a VRBANITAS podem melhor evidenciar os efeitos de sentido em um dado discurso 365 4 E Outro g nero aquele que possui uma pequena altera o das palavras variando s vezes apenas uma s letra e que os gregos chamam de cf De ridiculis 256 266 Esse ditos s o t o frios quanto forma o de nomes atrav s da adi o subtra o e mudan a de letras cf De risu 53 267 Deve ficar claro que no exemplo escolhido lidamos tanto com a lenda quanto com a anedota ou seja temos um texto ficcional dito c mico no qual h personagens que possuem correspond ncias com seres reais que por sua vez t m identidades e imagens eth relacionadas a um acontecimento marcado historicamente Essa conflu ncia que garante a percep o do efeito de sentido pois esse se apoia em mem rias discursivas relativas a sujeitos espec ficos hist ria e sociedade 229 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 quest es diplom ticas e hier rquicas a manter sua urbanidade caso contr rio ele atentaria contra as coer es do contrato de comunica o CHAR AUDEAU 2006c p 132 ou seja desrespeitaria a identidade do parceiro no caso o presidente americano e as circunst ncias do evento o cerimonial Portanto cabia a Dutra perder a piada o chiste mas n o a vRBANITAS Sabemos entretanto que em todo
179. a da poca Primeiramente fala das dificuldades do Estado e da Igreja em institucionalizar o riso ou seja em utiliz lo a seu favor essa seriedade exclusiva da ideologia defendida pela Igreja oficial trazia a necessidade de legalizar fora da igreja isto do culto do rito e do cerimonial oficiais e can nicos a alegria o riso e a burla que deles haviam sido exclu dos Isso deu origem a formas puramente c micas ao lado das formas can nicas BAKHTIN 20104 64 Isso de acordo com Bakhtin desnaturalizava o riso quando da regulamenta o das festas o fazia perder seu car ter libertador e renovador Ali s para autor 2010 81 o riso jamais poderia ser instrumento de opress o e embrutecimento de um povo Ningu m conseguiu jamais torn lo inteiramente oficial Em segundo lugar nessa obra ainda s o apresentadas as diferentes formas de interpreta o pelas quais o riso passou dependendo da poca e da sociedade Nesse sentido o riso no s culo XVI era percebido no seu car ter positivo ambivalente e festivo pass vel de expressar verdades sobre o mundo j nos s culos posteriores ao Renascimento o riso se torna uma esp cie 59 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 de arma em todo seu aspecto sat rico negativo apontada para os v cios e as mazelas da sociedade nenhuma verdade poderia ser dita na linguagem do
180. a de ser um escritor com certo esp rito liter rio espec fico sat rico c mico espirituoso ir nico et similia para se tornar uma profiss o com todos os problemas que isso possa acarretar como por exemplo a regulamenta o do Minist rio do Trabalho o registro na carteira de trabalho os acertos salariais etc Nesse ltimo ponto Ziraldo categ rico com humorismo ningu m poder sobreviver ou ganhar dinheiro s se pago para fazer rir PINTO 1970 p 36 grifos nossos Isso porque Ziraldo entende que o humor est ligado defesa de uma verdade uma tese sobre o mundo que desmonta as coisas para que outrem as veja mais claramente T da vez que voc ouvir uma hist ria parar e pensar assim U gente N o que isso mesmo pode estar certo de que a revela o que o humor cont m que te faz exclamar assim O Humor tem sempre uma verdade dentro PINTO 1970 p 29 30 grifos do autor Como podemos perceber Ziraldo apresenta uma vis o quase rom ntica que alia humor e verdade e de certa forma distancia o riso do humorismo Essa a base da sua diferencia o entre aquele sujeito do riso que mestre na arte de fazer rir que ganha dinheiro para fazer rir e cujo objeto de trabalho especificamente fazer rir daquele outro sujeito do riso que n o somente faz rir mas que faz algo mais como fazer pensar refletir admirar o que est sendo desmontado pelo o humor Co
181. a dos termos para designar as atitudes verbais e n o verbais ligadas ao riso e comicidade Com efeito nas p ginas seguintes vamos em primeiro lugar expor alguns problemas acarretados por essa dificuldade para logo depois tentar propor alguns caminhos que nos permitam estabelecer uma correla o entre esses diversos termos relacionando os problem tica do discurso Com base em nossas leituras e com a ajuda de alguns dicion rios de l ngua portuguesa Azevedo 2010 Ferreira 2010 Houaiss 2009 e Bueno 1969 iniciemos essa discuss o a partir de uma lista de termos relacionados ao riso e ao ris vel a saber achincalha o anedota apodo apupo arabesco asneira besteira blague bobagem bobeira bobo boutade bufa buf o bufonaria bugiaria burla burlesco ca oada calembur cavila o chacota chala a chasco chiste chistoso chocarrice chularia com dia comicidade c mico debicar desopilar derris o deboche desprezo dichote ditote divertido engra ado esc rnio espirituoso fac cia gag galhofa garatuja goliardesco goza o gra a gracejo gra ola grotesco humor humorado humorismo humor stico h lare hilari ncia hil rio hilaridade histrionice idiotices ironia ir nico ironismo irris o jocoso jocosidade jucundo jucundidade l dico macarronismo magano meme micterismo mofa mordacidade motejo obscenidade palha ada 37 Por meme se entende qualquer text
182. a estrat gia visa buscar a coniv ncia cr tica da inst ncia cidad oferecendo uma autoridiculariza o autoironia em termos de discurso isto Tiririca faz de si pr prio a inst ncia pol tica um OR objeto do riso Num segundo momento o candidato tentando mostrar o car ter inovador de sua proposta faz com que o OR seja tamb m direcionado para a inst ncia advers ria uma vez que apresenta um cen rio de mudan a n o entre uma situa o ruim e um futuro possivelmente melhor mas sim entre o pior e o que n o pode ficar pior Ou seja um dilema c mico no qual ao OR n o escapam nem inst ncia pol tica nem a inst ncia advers ria Em outro momento do v deo Tiririca parece antever o papel da inst ncia mediadora no que diz respeito aos esc ndalos tipicamente ligados a candidatos corruptos os fichas sujas Oi gente estou aqui para pedir seu voto pois eu quero ser deputado federal para ajudar os mais necessitado sic inclusive a minha fam lia Mesmo que toda boa vontade seja inferida a esse enunciado o imagin rio social nos diz algo muito diferente sobre essa ajuda a necessitados que vem viria dos pol ticos Com efeito antes que a m dia alegue ou invente algo Tiririca j instaura os objetivos de seu futuro governo favorecimento il cito e nepotismo camuflados sob a m scara da irresponsabilidade tica e discursiva pr pria de um bobo ou seja dizer e n o dizer verdades e se poss ve
183. a lingu stica textual Em linhas gerais como explica Chabrol 2006b p 441 442 as no es de script esquema e frames quadros est o ligadas capacidade cognitiva e mem nica de percep o das regularidades lingu sticas discursivas situacionais presentes em textos e em eventos Nesse sentido os conhecimentos assim armazenados podem ser utilizados para construir expectativas que sem d vida orientam parcialmente os processos de pr programa o na percep o a o e compreens o dos textos ou das imagens Nesse sentido continua Chabrol podemos considerar que os frames dizem respeito s situa es de enuncia o conhecidas e os scripts a uma sucess o de frames em sequ ncia 144 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Por outro lado h certos textos nos quais o processo de percep o das cenas englobantes pode se apresentar nebuloso e confuso Nesses casos embora a tend ncia seja acionar a cena englobante mais recorrente alguma coisa nos diz que essa cena n o corresponde finalidade e s visadas pass veis de ser percebidas no texto Assim sendo devemos supor que a no o de imita o por capta o ou por subvers o de certo modo incide tanto sobre g neros e textos quanto sobre a estrutura do tipo de discurso ou melhor dizendo sobre a sua cena englobante numa esp cie de pluri isotopia n o somente t
184. a promo o da Sukita a tua onda Diferentemente do epis dio 3 Na lata mostra que n o h partidarismos como poderia parecer tanto a Coca como o Dolly a Pepsi e a Sukita e tamb m seus respectivos consumidores s o todos esculhambados ridicularizados No entanto o que poderia gerar processos legais como o que acontece com os humoristas stand up no caso do Porta dos Fundos aparece como uma f rmula de marketing confuso que as empresas e as corpora es veem como um novo espa o humor stico cibern tico para divulga o de suas marcas ao qual elas n o podem por isso mesmo se privar Pelas raz es aduzidas nesse cap tulo somos levados a 1 afirmar que o humor n o somente uma caracter stica estil stica ou uma estrat gia discursiva disposi o de certos escritores mas tamb m uma m scara capaz de marcar o lugar e em alguns casos o destino como por exemplo o de Mendes Fradique dentro de um determinado campo discursivo daqueles que se aventuram pelo universo do riso e do ris vel ii assumir que o campo do humor assim como alguns campos discursivos por exemplo o liter rio extremamente sens vel s mudan as sociais discursivas e tecnol gicas ou seja o DH acompanha de perto os outros tipos de discursos os meios de circula o desses tipos e as a es justificadas por esses discursos cf politicamente correto dentro 252 O Discurso humor stico um percurs
185. a tenha pelo menos um equivalente fisiol gico que o riso para depois perceber que existem in meros exemplos de c mico que n o acompanhado pelo riso ECO 1989 p 250 Embora o riso possa passar em uma dada defini o qualquer de uma condi o suficiente a uma condi o necess ria importante notar mesmo em Eco 1989 o 26 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 ineg vel o papel do riso ou de um fazer rir na intui o sobre o que sejam esses atos de linguagem relacionados ao c mico ao humor ao ris vel Decerto em rela o ao riso sabemos de sua natureza contingente de sua universalidade e ao mesmo tempo da infinidade de formas de manifesta o que podem suscit lo vari veis tanto no tempo e no espa o quanto nas mais diferentes sociedades e culturas De fato pode se dar a causa do riso por m poss vel existirem pessoas que n o riem e que imposs vel fazer rir A dificuldade est no fato de que o nexo entre o objeto c mico a pessoa n o obrigat rio nem natural L onde um ri outro n o ri PROPP 1992 p 31 Assim ao se perceber tantas vari veis a tend ncia fazer do riso persona non grata nos estudos discursivos Entretanto acreditamos que desconsiderar o seu lugar na problem tica desse discurso ligado ao ris vel seria o mesmo que fechar os olhos a 2300 anos de estudos sobre o tema Mesmo q
186. adr es emigrantes ou ingressar no ex rcito inimigo Assim num tom academicista quase estat stico matem tico Swift apresenta primeiramente as benesses do seu m todo 1 evitar grandes gastos com alimenta o uma vez que as crian as com at um ano se suprem muito bem com leite materno ii impedir atos de barb rie como os abortos e os assass nios de filhos bastardos e 111 contribuir para alimenta o e vestu rio de milhares na Irlanda Em seguida Swift demonstra que h sim condi es favor veis aplica o do seu m todo Sendo o n mero de almas neste reino normalmente avaliado em um milh o e meio calculo que entre estas devem existir cerca de duzentos mil casais cujas mulheres s o f rteis Deste n mero subtraio trinta mil casais com meios para manter os seus pr prios filhos embora dadas as actuais mis rias da na o eu julgue que n o possam existir tantos Todavia assegurado isto restar o cento e setenta mil parideiras De novo subtraio cinquenta mil por conta das mulheres que abortam ou cujos filhos morrem por acidente ou doen a durante o primeiro ano Restam apenas cento e vinte mil filhos de pais pobres a nascer por ano SWIFT 1729 2 Diante disso Swift pode agora expor sua proposta Foi me garantido por um muito s bio americano do meu conhecimento em Londres que uma crian a jovem e saud vel bem alimentada com um ano de idade do mais delicioso o alimento mais n
187. agrad vel do tipo duas mulheres esperando o rapaz na cama ou o jogador Ganso fen meno da Sele o Brasileira entrando no time da pelada do bairro do rapaz etc e o slogan da marca Pode ser bom pode ser muito bom pode ser Pepsi Como se v o humor estabelecido pela nega o da publicidade da Pepsi que no mercado brasileiro n o alcan a as marcas de vendagem da concorrente Em outro epis dio intitulado Na lata zombaria se volta ao mesmo tempo para a promo o da marca Coca Cola que viabilizou na lata dos refrigerantes nomes pr prios aleat rios como meio de aproximar a marca dos seus consumidores e para uma marca nacional de refrigerantes de qualidade inferior conhecidos como refrigerecos mas de grande sucesso entre as classes mais populares devido ao menor pre o do produto em compara o com as grandes marcas internacionais Nesse epis dio uma consumidora com roupas decotadas procura seu nome na lata da Coca Vendo a mo a nessa situa o um auxiliar de supermercado oferece ajuda 3 Dispon vel em lt http www youtube com watch v BOM pRh2hNw gt Acesso em 24 maio 2013 3 Dispon vel em lt http www youtube com watch v NZbOXKHetjo gt Acesso em 24 maio 2013 251 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 AUXILIAR DE SUPERMERCADO Opa Tudo Bem Quer alguma ajuda t procurando alguma coisa que
188. alamos aqui por exemplo da autoironia Em Freud 1996 171 et a quest o das pessoas envolvidas no processo de fazer rir fica subordinada diferen a entre uma classe mais geral o c mico e uma subclasse o chiste na medida em que essa ltima possui em sua pr pria natureza algumas das caracter sticas do c mico inalteradas ou meramente modificadas Destarte Freud difere num primeiro momento essas duas classes de acordo com car ter social pr prio de cada uma e o c mico constatado nos seres nas situa es nas ideias na linguagem s o necess rias e suficientes duas pessoas 1 uma primeira que percebe o c mico e 11 uma segunda em quem se constata o c mico Uma terceira pessoa a quem se conta intensifica o processo mas nada lhe acrescenta 254 No original pour qu il comique c est dire manation explosion d gagement de comique il faut qu il ait deux tre pr sence que c est sp cialement dans le rieur dans le spectateur que g t le comique que cependant relativement cette loi d ignorance il faut faire une exception pour les hommes qui ont fait m tier de d velopper en eux le sentiment du comique et de le tirer d eux m mes pour le divertissement de leurs semblables lequel ph nom ne rentre dans la classe de tous les ph nom nes artistiques qui d notent dans 1 humain existence d une dualit permanente la puissan
189. alitera o etc desenvolvem o riso quando est o voltados exclusivamente para um divertimento J na m sica dos Mamonas Assassinas os mesmos procedimentos acarretam nos termos de Charaudeau 2006a uma na qual a mudan a de isotopia se d entre os universos de sentido para os quais n o h la os l gicos aparentes ou seja a incoer ncia somente se 296 torna poss vel num mundo aparentemente de loucos Com efeito elenca se um alvo isto o car ter negativo do riso de zombaria agora se volta contra os ilogismos dos conhecimentos aferidos aos s bios ou mesmo contra a pr pria l gica aristot lica Em suma nas can es l dicas poss vel perceber a visada de fazer rir voltada para um 292 E a Voltadas ao mesmo tempo para atividades de recrea o e de aprendizado de quest es de conhecimentos b sicos por exemplo de higiene como em O sapo n o lava o p 293 q E Lembremos os trava l nguas utilizados no tratamento de dificuldades fonol gicas como por exemplo Fia fio a fio fino fio frio a frio 294 Aqui falamos das can es l dicas que se tornaram jingles cl ssicos como o Chu chu do Johnson s Baby Shampoo Dispon vel em lt http www youtube com watch v dIDTqXr2BAs gt Aceso em 5 out 2012 e o Tom do leite longa vida da Parmalat Dispon vel em lt http www youtube com watch v V7rEgelA_Ew gt Acesso em 5 out 2012 295 HINOTO A ALVES
190. aloris 417 EA E E a A No original consiste ponctuer ce qui vient d tre dit par un commentaire pour ter au propos son s rieux 8 No original Ce droit revendiqu blaguer ou dire m importe quoi est une fa on d inviter Vinterlocuteur partager un moment de pure plaisanterie la plaisanterie pour la plaisanterie qui n engage rien ne porte aucun jugement sur le monde ni sur l autre met tout en cause travers le langage mais de fa on gratuite videmment cela n est qu apparence la plupart du temps demeure sous jacente une critique Il n emp che ici le jeu consiste faire comme si celle ci tait du moins provisoirement annul e 279
191. alume com br titas racio simio html gt Acesso em 15 abr 2013 130 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 sequ ncia de fonemas presente em amp r a que passa a o que traz para prov rbio uma conota o sexual obscena e chula Com base nessas observa es podemos dizer que tanto no primeiro quanto no segundo excerto os mecanismos ou as t cnicas do riso foram encontrados por m algo parece indicar que o efeito de humor nesses textos se afasta ou se diferencia bastante dos efeitos de sentido desencadeados pelos textos de J Soares e de Falc o Para a an lise de textos semelhantes a estes ltimos levantamos em Vale 2008 e 2009b a hip tese de que a percep o da dicot mica capta o vs subvers o esteja de tal modo enfraquecida que se torne bastante complicado assegurar com precis o se a imita o desqualifica os g neros textos imitados ou se ela somente busca apoio no prest gio da estrutura dos mesmos Isso pode ser notado por exemplo no udio da can o do Falc o o slogan Vem pra Caixa voc tamb m vem foi mantido com todas as suas caracter sticas de entona o al m da utiliza o de arranjos musicais semelhantes aos presentes nos publicidades de TV da Caixa No caso do credo de J Soares o ltimo par grafo x pode ser considerado n o tanto uma desqualifica o do pr
192. amos para deliciar os outros ARIST TELES 196 219 Sem maiores aprofundamentos podemos identificar algumas caracter sticas do conceito de eutrapelia tamb m na Ret rica Primeiramente trazida tona a possibilidade do uso do riso pelo orador na forma de fac cia por m para maiores 314 amp ruas 100 caracter stica habitual uso costume maneira de ser ou h bitos de uma pessoa car ter impress o moral produzido por um orador transliterado ethos 315 v loc wTo riso c mico rid culo 316 Devido s dificuldades relacionadas aos termos que designam o riso ris vel cf nossas considera es iniciais adicionamos ao excerto da tradu o brasileira ARISTOTELES 196 inser es dos termos gregos presentes na tradu o francesa de edi o bil ngue cf ARISTOTE 1944 p 407 Isso 214 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 esclarecimentos a respeito das esp cies de fac cias Arist teles nos remete Po tica Segue se a explica o sobre a ironia o que sugere que entre as fac cias deve haver algum tipo que pode servir ao enunciado ir nico Com efeito podemos depreender que Arist teles generaliza nessa passagem com o termo yshoiwv a utiliza o de algumas formas de tropos trocadilhos met foras meton mias ironias etc quando esses est o a s
193. andir 138 De acordo com Santos 2012 23 24 a diferen a entre as formas c micas apontadas por Baudelaire tem como base por um lado a percep o do c mico e por outro a inten o imitativa dessa percep o pelo artista Assim ainda seguindo Santos o c mico absoluto ou grotesco seria mais natural no sentido de encontrado na natureza e captado somente pela intui o humana j o c mico significativo ou ordin rio estaria mais para a arte para uma linguagem vulgar cotidiana e por conseguinte seria mais f cil de analisar 103 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 131 Disso chega se ao princ pio que organiza o humorismo o sentimento do contr rio Pirandello defende essa ideia exemplificando esse princ pio com o caso da velha senhora fantasiada com roupas e maquiagens de mulheres mais jovens Segundo o cr tico italiano 1996 p 132 ao dar se conta dessa senhora nos pomos a rir uma vez que ela representa o contr rio daquilo que se espera de uma senhora respeit vel Tem se ent o a ess ncia do c mico ou seja a advert ncia do contr rio No entanto se nos colocamos a refletir sobre a situa o os motivos que levaram a velha senhora a se empetecar ridicularmente por exemplo para agradar um esposo muito mais jovem que ela e por conseguinte conservar seu relacionamento eis que n o posso mais rir diss
194. ant stica e votem para eliminar a sis na Fazenda de Ver o Ela s chora e n o ajuda no dia a dia da casa N o entraremos na querela entre Rafinha Bastos e Luciano Huck O que nos interessa aqui mostrar que para al m de representar uma pitada de chocarrice no pseudo pedido de desculpas os Pss de Rafinha nos indicam mais uma de suas estrat gias a venda de 395 Comedy Central Apresenta Stand up com Daniel Duncan Dispon vel em lt https www youtube com watch v h8UcES Y mb2U gt Acesso em 14 mar 2013 36 Dispon vel em lt http contigo abril com br noticias rafinha bastos critica luciano huck por se recusar ao teste do bafometro gt Acesso em 29 maio 2013 37 Dispon vel em lt http ego globo com famosos noticia 2012 12 rafinha bastos pede desculpas luciano huck html gt Acesso em 13 mar 2013 249 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 caracteres do seu Twitter De acordo com Honorato 2011 Rafinha comercializava at 4 de maio de 2011 um Twitter 140 caracteres patrocinado por aproximadamente R 6 400 00 contabilizando para cerca 2 milh es de seguidores o valor de R 0 03 para cada caractere Ou seja o bobo mais uma vez mostra que de bobo n o tem nada utiliza a repercuss o negativa do seu discurso em prol de um objetivo financeiro Finalidade ali s que indica uma nova caracter stica do DH encontrada por essa nova
195. antigos d rios porque expulsos por desprezo da cidade andavam deriva pelos komai ARIST TELES 2004 42 Disso podemos inferir que devido aos protestos e s manifesta es agressivas e mordazes desses camponeses contra os cidad os LESKY 1995 265 a cidade relega esses indiv duos Koun talvez numa das primeiras rea es sulfurosas contras os gelotopoioi A segunda hip tese relaciona os c micos s festas religiosas em adora o a Dion sio deus da alegria da lux ria e do vinho nas quais os xwpt i numa alegria desenfreada celebravam a renova o da vida por meio da embriaguez e do engodo numa esp cie de carnaval LESKY 1995 p 263 265 Mais aceita entre os estudiosos essa hip tese se fundamenta no fato de que a esses interpretes dos cantos f licos adoradores de Dion sio era permitido um discurso alegre e ao mesmo tempo grosseiro que posteriormente deixaria a festa culto para adentrar na arte po tica o uso de tro as mordazes e pessoais entre os participantes e o p blico durante o cortejo passaria a constituir par base na com dia JAEGER 1995 416 Tempos mais tarde no entanto esse mesmo discurso levaria a aristocracia grega a repudiar a com dia atestando o perigo do riso Com efeito comedi grafos e atores c micos que se confundiam eram tidos muitas vezes com desconfian a devido 220 Ani adia RA Eau G poeta
196. ar a qualquer tipo de discurso apresenta in meras possibilidades de output Assim sendo mesmo tomando o DH como ponto de partida nada nos garante que a express o da atitude responsiva ser necessariamente o riso De modo semelhante a outros fatores do DH tentar essa via n o nos ajuda em nada na descri o dos efeitos de sentido do mesmo Diante disso propomos fazer o caminho inverso Em outras palavras supondo a forte liga o entre o DH e o riso e o potencial que aquele tem de gerar esse ltimo tomaremos o riso e o sorriso como pontos de partida para as nossas 130 Da ter sido poss vel desenvolver uma descri o na maioria das vezes muito detalhada das v rias paix es e emo es em tratados de psicologia filosofia e ret rica como por exemplo o Livro da Ret rica de Arist teles BI Sobre o sil ncio e seu papel no discurso veja o trabalho de Mello 2002 96 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 reflex es Com isso mente nas p ginas que se seguem apresentamos as principais paix es e prazeres relacionados ao riso evidenciando sempre a articula o entre riso prazer e discurso e assim evitando discutir sobre outros prazeres que tamb m t m o potencial de riso mas que s o gerados de forma n o discursiva 2 2 2 2 DOS PRAZERES DO RISO QUEST O DO RISO BOM E DO RISO ALEGRE rir bom mas rir de tudo desespero
197. ara os seus clientes apenas decidem quais devem ser os ingredientes e ent o os anotam em uma linguagem antiga e secreta Essa escrita s compreendida pelos curandeiros e pelos herboristas que em troca de outro presente fornecem a simpatia desejada Em Os sonacirema Miner 1956 apud DRIESSEN 2000 p 259 260 tra a um retrato dos rituais corp reos de uma sociedade que se encontra estabelecida no continente americano Apresentado em forma de artigo esse texto prossegue nesse jarg o digamos cient fico antropol gico at o fim sem em nenhum momento apresentar 150 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 conectores ou desencadeadores de isotopia aparentes uma vez que o autor do artigo est longe de ser reconhecido pelos seus pares como um humorista Por m um leitor mais atento percebendo o anagrama presente no t tulo Sonacirema Americanos poder refazer todas as infer ncias como por exemplo que curandeiros s o m dicos ou dentistas que os herboristas s o farmac uticos que os santu rios s o banheiros que preparados s o rem dios e assim por diante o que pode gerar um humor muito semelhante ao das burlas em Castiglione cf parte 1 cap 3 item 3 1 1 1 Nesse ltimo caso assim como nas cr nicas de humor dir amos que as obras podem ou n o assumir o status de humor sticas devido ao fato de o sujeito
198. ara ser censurada e O riso tamb m pode ser usado contra as testemunhas desde que essas se mostrem estultas parciais ou levianas 12 e O riso como o sal sem exagero serve temperar comida aumentando sede de ouvi los os ditos rid culos Quintiliano assume posi o semelhante de C cero referente mat ria Sua contribui o exp e com mais clareza pontos relacionadas ao dispositivo do discurso judici rio e serve para desarticular estrat gias utilizadas pelo advers rio diminuindo tens o e ou tristeza 337 Cf De ridiculis 236 338 Cf De ridiculis 236 39 Cf De ridiculis 236 9 Cf De ridiculis 236 31 Cf De ridiculis 274 222 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 e O riso alivia o cansa o dos ju zes ap s a recapitula o dos fatos podendo assim se conquistar a simpatia e ou os favores dos mesmos Do que foi exposto importante ressaltar contudo que tanto C cero quanto Quintiliano atentam para o uso dos g neros do humor nas situa es para al m do discurso judici rio Segundo C cero o bom uso dos GENERA RIDICVLORVM proporciona reconhecer as conversas ditas urbanas Quintiliano por sua vez ao defender C cero quanto queles que consideram que este abusava dos ditos picantes alerta que respeitadas as prescri es as re
199. artir da VRBANITAS conceito tico normativo ligado ao riso que remonta aos retores e as oradores da antiguidade especialmente Arist teles C cero e Quintiliano Assim devido s suas particularidades vemos a VRBANITAS muito pr xima dos conceitos de ethos e de contrato de comunica o que possibilitam entre outras coisas observar o efeito das coer es sociais e discursivas sobre o sujeito falante Por ltimo no cap tulo 4 analisamos o discurso de alguns humoristas brasileiros do s culo xx e XXI de modo a discutir a quest o da topia discursiva do sujeito humorista em rela o a certos campos discursivos liter rio midi tico publicit rio humor stico 20 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Com rela o ao texto da tese algumas palavras ainda devem ser ditas Em primeiro lugar a quest o do corpus Antevendo algumas cr ticas quanto constitui o do corpus analisado seguimos o modelo de Quintiliano que no De risu afirma n o querer saturar seu tratado com exemplos jocosos Com efeito contamos com a colabora o do leitor e tamb m com a sua mem ria sobre aqueles textos que de algum modo despertaram despertam a nossa vontade de rir ou sobre aqueles textos que simplesmente conseguiram conseguem fazer com que esbocemos um sorriso ou desenvolvamos uma sensa o de prazer ligada ao riso cf parte I cap 2 Desse modo acredita
200. as reais ou ficcionais mediadas pela linguagem palavras ou representa es gr ficas evidente que n o esgotamos todos os argumentos a favor da denomina o discurso humor stico No entanto acreditamos que o exposto at aqui seja suficiente para mostrar que essa denomina o relacionada ao termo humor e a seus correlatos humorismo e humor stico parece assumir a pr pria capacidade do humor de cobrir com sua autoridade e seu prest gio as formas do riso das mais refinadas e mais grosseiras s mais ex ticas e familiares ao mesmo tempo em que ele as colore com um sutil brilho de filosofia que sua ilumina o pr pria ESCARPIT 1972 62 tradu o nossa E como diria o humorista Ziraldo o Humor hoje o nome que abrange ainda que impr priamente t da atividade ligada cria o da cria o do riso vamos fazer assim t da a x atividade ligada arte de fazer rir fica com o nome j generalizado de humorismo J que est deixa ficar PINTO 1970 p 35 grifos do autor Com base nessas ideias cremos que por este momento conseguimos situar nosso leitor audit rio em rela o ao lugar de onde pretendemos iniciar nosso percurso n o intentamos de modo algum fazer ontologia sobre o objeto selecionado mas antes analisar esse discurso pass vel de proporcionar o riso buscando descrever classificar comparar os poss veis interpretativos os efeitos de sentid
201. as empresas e suas marcas espa o para fazer humor ao mesmo tempo para ganhar dinheiro como por exemplo o que acontece em v rios sketches humor sticos do canal Portas dos Fundos do Youtube https www youtube com user portadosfundos 250 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Com programas de curta dura o de 2 a 5 minutos o grupo de humorista liderado por Ant nio Tabet representa situa es do dia a dia que acabam declinando ora para um humor inteligente com toques de nonsense ora para um c mico pr ximo do grotesco sexual Sucesso na internet o Porta dos Fundos chamou a aten o dos diretores de marketing que em tempos de redes sociais entenderam que n o adianta tentar abafar cr ticas ou dar respostas evasivas ao p blico as marcas devem entrar no jogo com transpar ncia melhor ainda se for com bom humor cf TABET 2013 p 15 Isso porque em v rios epis dios do Porta dos Fundos as empresas que esses diretores representam foram de algum modo ridicularizadas pelo o MMC como por exemplo no epis dio 3 cena se passa em um restaurante Um casal est conversado quando RAPAZ Ei gar om voc me v uma Coca por favor GAR OM Ih S tem Pepsi pode ser RAPAZ Neeee o n o Aqui o que se esperava era uma confirma o do enunciado do gar om com a resposta Pode ao que se seguiria uma surpresa
202. ato de reconhecer que o riso tem uma significa o positiva regeneradora e criadora o que a diferencia nitidamente das teorias e filosofias do riso posteriores inclusive a de Bergson que acentuam de prefer ncia suas fun es denegridoras BAKHTIN 2010 61 grifo do autor 13 das teorias Com base nessas ideias apresentamos na sequ ncia uma sumariza o sobre o riso e o ris vel do per odo que vai do Romantismo at o s culo xx procurando nessas pelas interpreta es sobre o fazer rir Nesse passo Monro 1988 argumenta que de acordo com os modos de percep o da natureza e das fun es do objeto as teorias modernas que tentam explicar os fatos do humor do riso do ris vel podem ser divididas em tr s tipos e Teorias da superioridade superiority theories e Teorias da incongru ncia incongruity theories e Teorias do al vio relief theories De acordo com as teorias da superioridade os v cios os defeitos e os infort nios das pessoas glut es b bados maus alunos entre outros s o alvos caracter sticos do riso devido possibilidade que se abre de podermos julgar tais atitudes como inferiores em rela o sociedade e a n s mesmos Segue que o prazer que temos no humor deriva de nosso sentimento de superioridade sobre aquilo de que se ri MONRO 1988 350 tradu o nossa As origens desse pensamento como anteriormente vislumbramos t m suas fontes em Tomas Hobbes por
203. azer encanto distra o m VTILITAS 1 utilidade vantagem proveito 2 servi os prestados 3 necessidade m Lat exemplos agrad veis exemplos apraz veis 7 Seguem se aqui os tratados sobre o riso dos antigos nos quais se prescrevia evitar a bufonaria a obscenidade e a farsa logicamente inadequadas aos religiosos 8 Lat riso mon stico H Lat jogos dos monges brincadeiras dos monges gracejos dos monges 87 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 C cero e Quintiliano e o seu prop sito terap utico f sico fisiol gico e psicol gico interesse da medicina cient fica que se iniciava na Europa Assim por um lado abre se nesse per odo hist rico a possibilidade de ver no riso uma fun o ontol gica ao mesmo tempo ligada filosofia e medicina pois a disposi o para rir das tolices humanas era considerada como meio para preservar a sa de SKINNER 2002 p 66 Isso de acordo com Bakhtin 2010a forneceu mat ria para a gera o de escritores e poetas da poca de Rabelais que procura avan ar os limites de uma interpreta o exclusivamente s ria da realidade Por outro lado como salienta Alberti 1999 p 81 cria se a necessidade de verificar como o riso age sobre o corpo humano quais rg os s
204. bre esse ponto no entanto j mostramos que as finalidades atribu das tanto aos g neros t picos do humor quanto aos ACHs podem se constituir de n visadas e que entre essas a visada de fazer rir tamb m pode se fazer presente A quest o que se apresenta como o analista pode ser capaz de depreend la e justificar tal percep o N o temos a pretens o de fornecer aqui para essa empresa uma solu o ltima e definitiva mas simplesmente refletir sobre alguns caminhos poss veis e as dificuldades que podem vir a surgir Isso porque lembremos mais uma vez o riso contingente e como o choro pode vir de onde menos se espera 2 2 2 1 DISCURSO E PRAZER De um modo geral podemos dizer que os discursos desenvolvem nos sujeitos interpretantes dois movimentos que correspondem respectivamente entrada input do discurso e sa da output da atividade responsiva Entre o input e o output tem se 129 Cf nessa linha os trabalhos de Chabrol 2006 Vale 2009a e Garc a 2011 95 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 no entanto um momento de compreens o responsiva ativa durante o qual o sujeito processa em sua mente para alguns pensadores na alma no esp rito as informa es de maneira l gica logos ou de modo passional pathos Para Bakhtin 1995 p 146 148 nesse momento que os seres humanos relacionam as informa es externas
205. c mico entanto smechnoe rus engra ado rid culo ris vel por orienta o do pr prio autor foi s vezes traduzido por c mico conforme o contexto Al m disso ressaltam os tradutores que o termo rid culo n o deve ser entendido na sua acep o pejorativa mas sim como que suscita o riso No original il est fr quent qu un Espagnol voulant exprimer l id e d humour se serve de Pexpression buen humor bonne humeur ce qui est un contresens mais un contresens trop insidieux pour tre per u au niveau du langage courant En effet le humour et le buen humor ont tous deux quelque chose voir avec le rire malheureusement pas du tout la m me chose 48 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 acreditamos que s o exatamente essas regi es lim trofes movedi as que nos levam a crer na exist ncia de um tra o de homogeneidade n o na l ngua mas sim na linguagem e no discurso que d suporte a essa circularidade sinon mica entre os termos e sem ntica entre as defini es e a uma relativa correspond ncia entre termos pertencentes a sistemas lingu sticos diferentes Devido a isso parece necess rio para fins da an lise a que nos propomos estabelecer um termo que a Permita manter a especificidade e a fluidez sem ntica dos diversos termos ligados ao riso b Estabele a um tra o de homogeneidade sem
206. c mico ator c mico comediante transliterado komik s 21 n pequena aldeia lugarejo arredores da cidade de acordo com a etimologia proposta de Arist teles transliterado Kom 222 importante ressaltar que a condi o de festa carnaval embora favore a o riso e outras manifesta es de alegria n o necessariamente desenvolve um discurso humor stico podendo o riso ser resultado tamb m de rituais religiosos OLBRECHTS TYTECA 1974 11 223 i festa d ria com cantoria dan a em homenagem a Dion sio 2 parte da divers o onde os convidados percorrem as ruas depois de uma festa ou um festival com m sica cantos e dan a 3 trupe impetuosa transliterado k mos 224 Na com dia cl ssica ocasi o em que o coro se afastava da a o teatral e trazia o p blico de volta realidade abordando temas pol ticos e sociais HOUAISS 2009 163 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 possibilidade de seus discursos sempre tenderem para o rid culo e para o esc rnio Para citar um exemplo vejamos o caso de Arist fanes Reconhecido poca como promissor autor de com dias durante os debates desenvolvidos no Banquete de Plat o Arist fanes chamado como os outros convidados a fazer um elogio ao Amor Eros Entretanto Erix maco ao
207. ca para dar forma cena englobante do DH 204 Sobre a capacidade proteiforme dos dispositivos do DH veja parte cap 2 item 2 5 147 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Cabe ressaltar que esse acionamento de cenas englobantes pode acontecer em momentos diferentes da leitura lato sensu de um texto Grosso modo diremos que esse acionamento pode se dar de dois modos e Incoativo indica que a cena englobante humor stica apresentada desde o in cio da leitura No entanto a cena englobante do discurso replicado tamb m acionada de modo a dar sustenta o s distor es propostas pela imita o por capta o ou por subvers o e Cont nuo indica que a cena englobante humor stica vai se construindo gradativamente durante a leitura por meio de um ac mulo de dedu es l gicas e ou de reinterpreta o de infer ncias No modo incoativo al m da HBMC podemos incluir como exemplos desse acionamento as obras a Grammatica portugueza pelo methodo confuso cf FRADIQUE 1984 Feira livre antologia das letras nacionais pelo m todo confuso cf FRADIQUE 1923 Mulher manual do propriet rio cf TELES s d Homem manual da propriet ria cf TELES 2002 Dicion rio humor stico cf MASUCCI 1958 e a Casa da M e Joana cf PIMENTA 2002 Nessas obras a cena englobante do discurso replicado no caso o did tico e o liter
208. ca lembrada como acontece no drama Para Le Goff 2000 p 65 tanto o riso quanto o ris vel s o fen menos ao mesmo tempo culturais e sociais pois dependendo da sociedade e da poca as atitudes em rela o ao riso a maneira como praticado seus alvos e suas formas n o s o constantes mas mut veis Nessa mesma linha Bremmer e Roodenburg 2000b p 15 16 grifos dos autores argumentam que de Freud e Bergson a Mary Douglas psic logos fil sofos soci logos e antrop logos t m se empenhado em encontrar uma teoria abrangente para o humor e o riso Uma falha comum a todas estas tentativas o pressuposto t cito de que existe algo como uma ontologia do humor que humor e riso s o transculturais e anist ricos Contudo o riso um fen meno t o determinado pela cultura quanto o humor 65 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Sabemos com Arist teles que nenhum animal ri exceto o isso porque esse riso est ligado sua racionalidade e sua percep o da realidade Assim para rir preciso saber ver o rid culo em outros casos preciso atribuir s a es algum valor moral a comicidade da avareza da covardia etc Finalmente para apreciar um trocadilho ou uma anedota preciso realizar alguma opera o metal PROPP 1992 p 40 No entanto o homem possui a capacidade para a hilaridade em pot nc
209. ce d tre la fois soi et un autre 255 ae s Sobre a capacidade humana para tornar c micas as coisas Freud 1996 p 186 assevera que poss vel produzirmos c mico em rela o a n s mesmos a fim de divertir outras pessoas por exemplo fazendo nos de desajeitados ou est pidos Nesse sentido somos a um s tempo objeto e sujeito do riso 256 naa Na autoironia assegura Charaudeau 2006a p 30 o locutor que provavelmente se encontra numa situa o de desvaloriza o dirige seu julgamento negativo sobre si mesmo constituindo se em uma esp cie de cible interlocuteur soi m me interlocutor alvo de si mesmo Logo esse locutor cria no seu discurso uma ilus o de afastamento distanciamento de si mesmo e assim se apresenta dedoubl desdobrado cindido divido na mise en sc ne dos discursos 182 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 e Por outro lado como o chiste produzido s o necess rias pois tr s pessoas 1 uma primeira que produz o chiste 11 uma segunda sobre a qual o prop sito hostil ou obsceno do chiste recai podendo essa ltima estar ausente da situa o e uma terceira a quem se narra o chiste Diferentemente do que acontece no c mico essa terceira pessoa indispens vel pois ela que chamada a compartilhar determinado prazer ligado sexualidade ou agress o e a assenti
210. cf parte 1 cap 4 necessita por defini o que o pr prio sujeito humorista procure romper a todo momento as regras 234 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 tamb m inst veis do campo fazendo com que esse ltimo se mantenha dessa maneira permanentemente inst vel J SOARES Manifesto dos Humoristas ouca gente sabe mas no ano de Mil Setecentos e L Vai Fuma a os humoristas indignados com que estava acontecendo com o humor e sem saber ali s que era reuni ram se em Talugar e resolveram pu blicar um manifesto que por ser de les mesmo passou a chamar se Manifesto dos Humoristas De pois de anos de completo anonimato vem luz esse precioso documento que transcrevemos a seguir Suficientemente aborrecidos ponto de darmo nos ao trabalho de redigir este documento resolvemos tomar atitudes en rgicas para debelar tudo o que tem sido feito contra o Humor em nome da gargalhada Cansados da usurpa o de alguns amadores que insistem em querer fa zer mais gra a do que n s e como prote o pr pria classe decidimos que qualquer engra adinho que pre tenda dedicar se ilustre tarefa de fa zer rir siga risca as dez regras deste manifesto sob pena de n o acontecer coisa nenhuma 1 Nunca fa a gra a de gra a Voc humorista n o pol tico 2 Quem ri por ltimo nem sempr
211. cidade estrat gica se desenvolve mesmo que com outros matizes em outros povos e outras literaturas n o importando os limites hist ricos e as fronteiras sociais culturais ou lingu sticas Sendo assim poss vel supor a exist ncia de uma universaliza o n o menos complexa e repleta de ressalvas do humorismo como a que prop e por exemplo Pirandello N o se pretender que os Italianos ou os Franceses tenham o humour ingl s como n o se pode pretender que os Ingleses riam nossa maneira dos italianos ou tenha o mesmo esp rito dos Franceses O humorismo pr prio e verdadeiro uma outra coisa e tamb m para os Ingleses uma excentricidade de estilo Basta confundir uma coisa com outra para que se venha a reconhecer uma literatura humor stica em um povo e neg la em um outro Mas se pode ter uma literatura humor stica apenas sob esta condi o isto fazendo esta confus o e ent o cada povo ter a sua assumindo todas as obras nas quais este humor t pico se exprime nos mais bizarros modos PIRANDELLO 1996 p 118 grifos do autor Em segundo lugar se se considera essa mesma excentricidade parte imante do man of humour humorista passivo pode se admitir que o humour uma caracter stica pr pria les bizarreries et les faibles les plus extravagants du personnage Un Humoriste Humorist est une personne de la vie r elle obstin ment attach e des bizarreries particuli res de son p
212. cina durante a Antiguidade Cl ssica e que como afirma Alberti 1999 s o reverbera es prov veis das reflex es de Plat o e de Arist teles presentes na Carta de Hip crates a Damagetus Assim embora tenhamos tratado da posi o de Dem crito tendo como fonte um escrito de um per odo posterior devemos apresentar ainda nesse 90 Essa decis o de acordo com Burton 1989 apud SKINNER 2002 p 67 era uma esp cie de rem dio para o temperamento bilioso de Dem crito que tornava o t o impaciente e irritante que ele eventualmente se deprimia a ponto de se matar l s Qvpua coragem nimo alegria confian a transliterado euthymia 9 Alberti utiliza como fonte a vers o integral da Carta reproduzida em ap ndice in JOUBERT L Trait du ris suivi d un dialogue sur la cacographie fran aise 1973 93 a tu 2 Essa fun o terap utica tamb m se far presente em outros per odos da hist ria ocidental como por exemplo no Renascimento principalmente na poca de Rabelais cf BAKHTIN 2010 e no final do s culo in cio do XXI com as terapias do riso contra males ditos modernos o c ncer stress cr nico 82 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 passo o posicionamento de Arist teles e verificar quais s o as fun es do riso para esse fil sofo Nas reflex es presen
213. comenda es para a utiliza o do riso tamb m se estendiam s conversas do quotidiano Por essas raz es cabe a n s verificar as explica es de ambos sobre tais prescri es 3 1 3 2 DAS PRESCRI ES QUARTVM QUATENVS De um modo geral C cero observa que ao usar OS GENERA RIDICVLORVM deve se respeitar as pessoas as coisas as circunst ncias porque dific limo para os homens facetos mordazes ter em conta as pessoas as circunst ncias e observar as coisas que ocorrem e que podem ser ditas muito picantemente CICERO apud MARQUES JR 2008 35 36 Se a isso se presta a devida aten o evitar se por um lado diminuir a gravidade o teor s rio do discurso e por outro agredir sem causa coisa t pica dos buf es Al m disso afirma C cero ser necess rio atentar a brevidade do dito picante pois desse modo se tira o tempo de rea o reflex o ao advers rio De modo espec fico C cero ao responder a quarta pergunta prescreve que e N o se deve utilizar o riso contra a os fac noras pois a esses cabe uma pena maior b os miser veis devido sua fortuna sorte destino a n o ser que 32 Cf De risu 1 383 Cf De risu 9 10 4 Cf De ridiculis 271 5 Cf De risu 4 28 346 De ridiculis 221 QVOD EST HOMINIBVS FACETIS ET DICACIBVS DIFFICILLIMVM HABERE HOMINVM RATIONEM ET TEMPORVM ET EA QVAE OCCVRRANT QVOM SALSISSIME DICI POSSVNT
214. como por exemplo as piadas as anedotas os chistes as charges as tiradas etc ou mesmo aqueles que nesse percurso especificamente passamos a considerar como humor sticos num sentido amplo como as can es l dicas e em sentido restrito alguns trava l nguas mas tamb m a infinidade de g neros e de textos pass veis de ser imitados com finalidade humor stica de m ximas e epit fios a tratados cient ficos e debates pol ticos Com 297 Rieur euse subst ou adj risonho jovial folgaz o Nossa prefer ncia pelo termo em franc s se deve a dois fatores 1 enquanto categoria o termo rieur pode ser tomando tanto como substantivo quanto adjetivo abrangendo toda a intens o de sentido presente no adjetivo ridente em portugu s e ii uma vez que desenvolvemos nossa pesquisa numa vertente francesa de An lise do Discurso o termo em franc s pode manter a coer ncia sem ntica na tradu o e o di logo com os escritos e os postulados te ricos dessa linha de estudos 204 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 efeito podemos deduzir que quanto mais complexo o g nero ou o texto replicado mais male vel e mais polim rfico dever ser o macrodispositivo conceptual do DH Assim sendo al m de submetermos a uma reformula o a rela o tri dica do DH proposta por Charaudeau 2006a de locutor receptor alvo para locutor receptor OR postula
215. como por exemplo o discurso pol tico Esse ltimo incapaz de autolegitimar se busca naqueles formas de assentar sua autoridade por meio de cita es par frases argumentos de autoridade etc e num caso mais raro no estilo adotado pelos enunciadores Num outro extremo da topia Maingueneau 2010a p 165 168 coloca os discursos at picos Esses embora sejam tolerados pela sociedade s o fadados a uma clandestinidade penetrando quando muito pelos interst cios do espa o social Assim pr ticas discursivas atestadas socialmente como palavr es m sicas indecorosas ritos de feiti aria etc s o muitas vezes silenciadas reservadas a espa os de sociabilidade restritos ou a momentos muito particulares como por exemplo as alcovas das casas as festa pag s os carnavais entre outras Semelhante a tais pr ticas Maingueneau cita como discurso at pico por excel ncia o discurso pornogr fico cuja produ o e consumo mesmo sendo superabundante sempre relegada ao outro quele sem pudic cia ou quele que n o interessa dizer quem ou que faz falamos aqui dos produtores e atores pornogr ficos Isso pois esse tipo de produ o discursiva n o reconhecida pela cidade Idealmente a sociedade n o tem a obriga o de saber que ela existe tampouco de conceder lhe um lugar e jamais haver de erigir uma est tua a seus autores Do exposto at aqui uma quest o surge em nossa mente onde se e
216. como por exemplo uma carta ap crifa de Rui Barbosa escrita do seu pr prio punho J no pref cio 3 edi o Fradique explica que 202 Podemos afirmar que os textos tendem a apresentar na maioria das vezes um plano isot pico que os mant m ligados a um determinado dom nio tem tico como por exemplo o dom nio da sa de da pol tica do sexo da moral etc CHARAUDEAU 2006a No entanto certos textos como os po ticos e em especial os humor sticos podem fazer coexistir num mesmo texto dois ou at mais planos isot picos por meio de conectores e ou desencadeadores de isotopia instaurando por sua vez diferentes tipos de incoer ncia no plano sem ntico do texto cf ap ndice B 145 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Sendo a hist ria uma s rie cont nua e coordenada de deturpa es mais ou menos originais do que em verdade se passa no seio dos homens atrav s do tempo e do espa o sendo essas deturpa es s vezes t o profundas que repelem para os dom nios da lenda fatos absolutamente reais e fantasticamente adulterados para a imagina o das gera es como acontece com os primeiros tempos da Gr cia e Roma tomei a delibera o human ssima de poupar posteridade esse trabalho fastigioso de desordenar e mascarar a hist ria no que se refere a este pa s de desfalques e conselheiros FRADIQUE 2004 p 54
217. conceptual do discurso humor stico um dispositivo proteif rmico 113 117 122 127 132 135 143 153 155 160 161 163 164 166 168 171 174 180 184 188 194 198 204 CAP TULO 3 3 1 3 1 3 1 3 1 3 2 3 2 CAP TULO 4 4 1 4 2 4 2 1 4 3 AS CONDI ES PARA FAZER RIR DOS LIMITES DO USO DO RISO VRBANITAS as implica es eth ticas do uso do risO VRBANITAS na Antiguidade 4551 PA ROS pec nata po 20 DR O conceito de VRBANITAS no mundo VRBANITAS vantagens e Das vantagens TERTIVM SITNE ORATORIS RISVM VELLE MOVERE Das prescri es QVARTVM VRBANITAS ethos articulando conceitos em An lise do DiSCUISO nat asda Eita st TE sta O LUGAR DAQUELE QUE FAZ RIR UMA TOPIA PARA O SUJEITO A EEES O humor nas entrelinhas da Humoristas versus risistas em defesa da profiss o Humoristas versus humoristas posicionamentos no campo do Stand up e o politicamente in correto da baixaria generalizada ao marketing
218. considera um discurso s rio e um discurso n o s rio O discurso do bobo da corte por exemplo diz sem dizer ao mesmo tempo em que diz o que preciso dizer no entanto os demais membros da Corte podem quase sempre encontrar uma terceira via para o rei n o leve essas palavras besteiras ou verdades a s rio ele s um bobo Destarte apresentamos nas p ginas seguintes uma descri o sucinta dos perfis dos sujeitos que ao longo da hist ria se dedicaram arte do fazer rir Todavia diante da impossibilidade de construir uma trajet ria hist rica que aborde todos esses sujeitos selecionamos os profissionais que no nosso entender exerceram um papel fundamental nos discursos ligados ao riso al m claro da sua representatividade no imagin rio ocidental Desse modo juntamente com uma caracteriza o hist rica que nos indique as propriedades da legitima o aferida a esses sujeitos essa apresenta o se voltar mais atentamente para as marcas que caracterizaram caracterizam o discurso dos mesmos Antes contudo devemos apresentar a quest o dos termos que designam tais profissionais 1 1 A QUEST O DAS DENOMINA ES DOS PROFISSIONAIS DO RISO Ao longo da hist ria aos profissionais do riso foram atribu dos diferentes termos de acordo com as sociedades e as culturas Com isso a grande maioria dos termos que encontramos em l ngua portuguesa como por exemplo buf o c mico ou palha o t m sua origem e
219. contram mesclados aos g neros de assunto ou GENERA Essa possibilidade de mescla entre os Genera leva C cero a optar pela terceira via dos g neros mistos de palavras e de assunto No entanto apesar de erigir essa terceira 160 partir do 266 podemos perceber que embora se proponha a explicar os g neros de assunto C cero j come a a descrever os g neros de palavra que se encontram mesclados queles como por exemplo 1 a compara o de imagens um tipo de analogia que utiliza fatos e personagens hist ricos 11 a hip rbole voltada para a falsa admira o ou seja uma forma particular de ironia a retor o pela qual se reutiliza contra o advers rio palavras colhidas do discurso do mesmo iv as frases absurdas etc 161 Lat dissimula o Nos 269 270 C cero nos diz que h dissimula o quando s o ditas coisas diversas das coisas que pensamos Todavia esse g nero difere daquele da invers o de palavras pois na dissimula o brincamos com a severidade utilizando o g nero do discurso como um todo e falando algo diferente do que pensamos Nesse passo C cero remete esse g nero quilo que os gregos chamavam de ecipoveio ironia dissimula o 162 Lat simula o Para C cero 274 275 causam muito riso todas aquelas coisas que s o ditas com tempero e aparente absurdo por pessoas sensatas como por simula o MARQUES JR 2008 p 77 79
220. d vida quanto ao seu per odo de escritura e sua autoria paira como uma nebulosa sobre a rela o hist rica do Tractatus com a Po tica Por outro lado o importante aqui assinalar que esse tratado talvez represente o que h de mais pr ximo do Livro da Po tica cujos ecos ser o ouvidos em trabalhos posteriores sobre o riso e o ris vel Em especial o tratado de C cero No De ridiculis C cero pela voz da personagem C sar prop e entre outras coisas cf mais adiante parte cap 3 item 3 1 2 que o riso se encontra no discurso na 152 Os limites entre uma comicidade de fala e de a o s o t o t nues que Bergson 2007 82 chega assumir que num estudo do riso a comicidade de linguagem dever corresponder comicidade das a es e das situa es e que ela n o passa de sua proje o no plano das palavras Em especial no que se refere quest o da rigidez e da distra o transpostas do plano da a o para o da palavra por exemplo atos falhos tiques repeti es frases prontas jarg es g rias entre outros como fontes do ris vel 153 De ridiculis pequeno tratado sobre o riso que ocupa todo o Livro 216 291 do De oratore Para essa exposi o servimo nos do trabalho de Marques Jr 2008 p 29 89 que apresenta al m da tradu o e de notas explicativas o texto em latim 114 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do ris
221. da que nos seus filhos aparece como um rudimentar avental de pele peluda em que est fixo o falo LESKY 1995 p 256 Isso os caracterizava tamb m como interpretes dos cantos f licos por m diferentemente dos primeiros c micos os s tiros seriam portadores de um comportamento mais selvagem e de uma lux ria sem limites Ainda de acordo Lesky 1995 a presen a dos s tiros nas primeiras manifesta es dram ticas j havia sido apontada por Arist teles para quem nos primeiros tempos a trag dia seria composta de pequenos temas e de uma linguagem jocosa o tra o Tempos mais tarde a trag dia evoluiria para temas mais complexos ficando o satyrikon reservado ao drama sat rico E exatamente essa linguagem jocosa que vai se fixar na base das originando em Roma a s tira enquanto g nero partir do s culo Il a 234 SATIRICVS A VM semelhante a um s tiro 235 SATVRA AE 1 mistura de prosa e verso composi o liter ria em que se misturam v rios g neros 2 s tira dram tica esp cie de farsa 3 s tira liter ria g neros liter rio criado por Lucilius em que se criticavam os v cios as pessoas 236 SATIRVS I s tiro 1 semideus companheiro de Baco representado com orelhas rabo e p s de cabra Mais tarde transforma se em g nio r stico confundido com fauno 2 drama sat rico em que tomavam pa
222. da heterogeneidade de sentidos ou possibilidade de haver ambiguidades em um dado texto BONHOMME 2006 p 292 294 16 No original Les proc d s discursifs eux d pendent de l ensemble du m canisme d nonciation et donc de la position du sujet parlant et de son interlocuteur de la cible vis e du contexte d emploi et de la valeur sociale du domaine th matique concern 32 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 N o desprezaremos nada do que virmos Talvez ali s com esse contato ass duo ganhemos alguma coisa mais flex vel que uma defini o te rica um conhecimento pr tico e ntimo como o que nasce de longa camaradagem BERGSON 2007 2 Do excerto citado percebe se que a diferentemente de Freud Bergson insinua n o tomar nenhuma defini o dada anteriormente a respeito da comicidade pelas autoridades b tal comicidade ser estudada partindo se de um conhecimento pr tico ntimo logo ele se permite usar da sua intui o do que seja comicidade c se nada deve ser desprezado tanto a vida quanto a arte poder o se constituir como lugares para sua observa o Com isso em mente Bergson 2007 p 2 4 apresenta tr s observa es que referem se menos comicidade em si do que ao lugar de onde esta deve ser procurada a saber e O riso vai direto raz o intelig ncia pura da a necessidade da
223. dade das palavras se referirem s pr prias palavras numa esp cie de metalinguagem relacionado men o e uso D IxIS Essa chave se baseia na possibilidade de ambiguidade no uso de palavras ditas d iticas normalmente os pronomes em rela o ao contexto situacional imediato SINTAXE Semelhantemente d ixis as chaves de sintaxe se fixam nas palavras que exercem a fun o de retomadas anaf ricas e cataf ricas Mesmo recorrendo ao contexto lingu stico n o poss vel ao leitor ouvinte evidenciar o verdadeiro referente ao qual se reportam as an foras e cat foras PRESSUPOSI O Chave lingu stica que se baseia no acionamento de pressuposi es pelo l xico ou pela sintaxe e nos la os entre essas pressuposi es e o intertexto INFER NCIA A partir de dados expl citos e impl citos mas facilmente recuperados pelo contexto tem se a possibilidade de uma conclus o por parte do leitor ouvinte altamente sugestionada pelo texto VARIA O LINGU STICA Essa chave consiste no funcionamento de determinadas palavras dentro das piadas geralmente os gatilhos com dupla pron ncia dependendo da varia o lingu stica mais formal mais informal mais coloquial etc TRADU O Apesar da dificuldade de tradu o de textos como as piadas alguns mecanismos lingu sticos como o duplo sentido por exemplo conseguem resistir a uma tradu o da l ngua 1 para a l ngua 2 pr
224. dades da literatura c mico latina como por exemplo as disputas e di logos par dicos as cr nicas par dicas etc Seus autores deviam possuir seguramente um certo grau de instru o em alguns casos muito elevado Eram os ecos do riso dos carnavais p blicos que repercutiam dentro dos muros dos mosteiros universidades e col gios BAKHTIN 2010a p 13 Por essa lista vemos que o grau de conhecimento exigido para atravessar tais g neros textuais com a LR era bem maior do que o conhecimento de vida e de mundo da maioria do povo mesmo nas grandes cidades que vivia do lado de fora dos mosteiros e das poucas universidades Isso entretanto n o desmerece a rela o que a LR estabelece entre a linguagem da pra a do cotidiano e a linguagem da arte o que pode ser comprovado por exemplo com Rabelais que conhecia muito bem as duas realidades RABELAIS s d 1 2 2 LINGUAGEM DO RISO E A APARENTE APORIA ENTRE O RISO E O RIS VEL onde h o homem est a contradi o e portanto o rid culo Mennucci 1923 p 153 Lendo os mais diferentes estudos sobre o riso e o ris vel parece haver uma contradi o inerente rela o entre esses dois elementos Pensemos da seguinte forma se o riso 64 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 por muitos estudiosos tido como universal ou seja est presente em todas culturas com
225. damente dentro da vagina como essa pesquisa Essa estrutura mostrou ter potencial de se esticar de ficar maior quando estimulada Se fecharmos momentaneamente nossos olhos para a ci ncia e pensarmos por um 2283 instante que seja naquilo evidenciaremos uma sens vel altera o na isotopia do 8 Seriado criado pelo ator Roberto Bola os tamb m conhecido como Chespirito e transmitido exaustivamente na televis o brasileira desde o in cio da d cada de 1980 pelo SBT Na trama a personagem Chaves interpretado por Bolafios um menino pobre que habita uma pequena vila da Cidade do M xico onde se envolve nas maiores confus es Nessa mesma vila moram outras personagens como a Chiquinha filha do Seu Madruga a Dona Florinda e seu filho Quico a Dona Clotilde Bruxa do 71 entre outros No plano do seriado essa vila representa o sub rbio de qualquer cidade da Am rica Latina Nesse sentido o programa se apresenta como uma cr tica situa o social n o somente do M xico pa s de origem da produ o mas tamb m s pol ticas econ micas e sociais da maioria dos pa ses da Am rica Latina seguidores incondicionais do sistema capitalista norte americano a partir da segunda metade do s culo xx Em outras palavras Chaves um programa humor stico que reproduz o t pico discurso latino americano baseado nas ideias de condena o do capitalismo e de den ncia da domina o estrangeira heran a da forma de colo
226. de Janeiro em 1931 Tratava se de programetes programas com dura o de 5 a 10 minutos que conjugavam humor com informa o publicidade e esporte Com o tempo afirma Vasques esses programetes evolu ram para programas mais complexos como por 239 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 para que os profissionais do riso se concentrassem na defesa do humor como um produto de consumo que movimenta dinheiro e gera empregos Com isso o campo discursivo do humor come a a se organizar e podemos dizer a ideia de vRBANITAS passa a ser um crit rio de diferencia o dos profissionais do riso dentro desse campo Nesse nterim s o esclarecedoras as palavras do humorista Ziraldo para quem O Humor uma atividade econ mica Primeiro a Imprensa e depois todo o desenvolvimento dos meios de comunica o trouxe o humor das entrelinhas das obras liter rias e das insinua es dos quadros dos grandes mestres Miguel ngelo f z Humor e Ironia na Capela Sistina para o primeiro plano nas p ginas dos jornais e peri dicos e depois para o som do r dio e a imagem da televis o A comunica o massificada necessitou do Humor para preencher suas novas formas de mensagens a Propaganda tamb m entrou na dan a e eis que eu tenho uma profiss o ainda n o regulamentada pelo Minist rio do Trabalho Sou humorista PINTO 1970 p 27 Desse modo o humorista deix
227. dela com tomando como par metros os mecanismos geradores dos efeitos de humor encontrados em piadas Fora a quest o da inova o do suporte eletr nico Possenti conclui que aparentemente n o h nada de novo na an lise dessas narrativas longas os mecanismos ou as t cnicas do humor alus o ou men o de temas obscenos jogos de linguagem que transitam entre escrita e fala nonsense duplo sentido entre outros e os efeitos de sentido a ADMRATIO surpresa advinda da quebra dai por exemplo os trabalhos em Fedrizzi 2003 em Lustosa 2011 e em Santos e Rossetti 2012 183 Pick up Fiat Strada 2013 Dispon vel em lt http youtu be g 4Y zHjdFRI gt Acesso em 12 abr 2013 124 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 de expectativa s o praticamente os mesmos daqueles pass veis de ser encontrados nas piadas No entanto Possenti n o se refere s formas de encadeamento desses mecanismos ou seja ficamos sem saber se o que temos nessas narrativas s o sequ ncias humor sticas ou se essas narrativas s o um texto humor stico simplesmente pelo fato de elas se encontrarem num site de humor o que por conseguinte garantiria seu status de g nero humor stico Para essas quest es tentemos um caminho um pouco diferente No bairro da Maraponga vende se casa Moderna lado da sombra gua encanada Tr s quartos uma su te nibus
228. deprecia o resultado de uma heran a da Ret rica Num segundo momento o autor nos diz que a imita o n o somente pode agir sobre um estilo espec fico ou um texto marcados historicamente mas tamb m sobre g neros por meio de capta o ou de subvers o de suas caracter sticas textuais e ou discursivas O que se deve ao fato de que quando um falante se apaga por tr s do locutor de um g nero determinado de discurso e mostra o que faz poder se beneficiar da autoridade ligada a este tipo de enuncia o ou arruin la No primeiro caso quando h capta o a imita o incide sobre a estrutura explorada e no segundo caso quando h subvers o a desqualifica o desta estrutura ocorre no pr prio movimento de sua imita o MAINGUENEAU 1997 p 102 grifos nossos 185 No entanto tamb m em seu trabalho voltado especificamente para o texto liter rio Maingueneau 1996 p 100 101 vai considerar a par dia em termos de uma polifonia da enuncia o Segundo o autor a par dia faz com que intervenham duas inst ncias enunciativas o locutor faz com que se ou a a por seu dizer uma outra fonte enunciativa que ele p e como rid cula mostrando atrav s disso sua superioridade A enuncia o acompanhada de ndices de distanciamento que permitem ao co enunciador perceber uma disson ncia Diferentemente por m do que se passa na ironia o locutor ridicularizado individualizado tra
229. der jogar luz sobre algum aspecto do humor Com efeito acreditamos que se o sujeito analisante estiver de posse de um conhecimento mesmo que amplo dessas teorias e o que elas procuram elucidar a respeito do humor do c mico do rid culo mais precisas ser o suas hip teses sobre os componentes do DH 75 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 2 1 INTENCIONALIDADE FINALIDADES E VISADAS DISCURSIVAS No quadro dos estudos do texto e do discurso h certos ind cios de que o conceito de intencionalidade e seu correlato inten o seja uma heran a da Filologia e da Hermen utica Qual o sentido do texto O que o autor quis dizer Qual a forma primeira desse texto Qual seu verdadeiro autor Por que raz o isso foi escrito Essas s o algumas perguntas que orientam os trabalhos dos fil logos e dos hermeneutas aqueles voltados para a recupera o compara o e interpreta o dos textos estes interessados no sentido original do texto capaz de servir de argumento para elabora o de leis Direito e de regras religiosas Deus diz exatamente isso etc De fato como sugere Malmberg 1966 apud MAINGUENEAU 1997 p 9 grifos nossos o fil logo quer conhecer a significa o ou a inten o daquele cuja fala conservada atrav s da escrita No mbito da AD Maingueneau 1997 p 10 11 ressalta que parte dessa pretens o do fil logo d
230. dez urbanidade civilidade 3 gra a eleg ncia polidez de linguagem 4 zombaria gracejo dito espirituoso 29 107 plural de paix es emo es transliterado path 108 Lat g neros de ditos rid culos 10 SUCHOMSKI J Delectatio und utilitas Ein Beitrag zum Verst ndnis mittelalterlicher komiscker literatur 1975 Nesse texto o autor analisa textos da antiguidade e do medievo do s culo ao de autores como por exemplo Clemente de Alexandria 160 215 e S o Tomas de Aquino 1224 5 1274 MO az E i Da a c lebre quest o a respeito de quais exemplos de homens santos ou n o os crist o deveriam seguir pois explicitamente n o se encontram na B blia ind cios sobre o fato de que Cristo Deus feito homem ter rido alguma vez na vida 111 RISIBILITAS TATIS disposi o para rir risibilidade 86 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 ligado a duas concep es de alegria a saber i a LAETITIA TEMPORALIS 2 relacionada s coisas terrestres e passageiras ii GAVDIVM spIRITVALIS verdadeira felicidade alcan ada somente ap s a morte mas pass vel de ser contemplada ainda em vida observando se as coisas pr dicas divinas Em vista disso permitido sim fazer rir visando todavia a e DELECTATIO repouso e a distra
231. do M dio Imp rio pode muito bem ter um senso de humor t o desenvolvido quanto Oscar Wilde MINOIS 2003 p 17 No mbito dos estudos do texto e do discurso semelhantemente s dificuldades de defini o e de terminologia de v rias categorias e conceitos como por exemplo enunciado enuncia o g neros do discurso textual texto discurso etc podemos dizer que acontece o mesmo com o riso o ris vel e os seus termos correlatos Ainda assim deixar de pesquisar e evitar refletir sobre eles nos parece um grande erro 76 Aqui entendidas como representa es de fen menos linguageiros tais como o ato falho o trocadilho o chiste a ironia a mentira e tantos outros MARI et al 1999 p 21 grifo dos autores 77 Isso porque acreditamos que o papel do analista n o somente mostrar aquilo que outras pessoas n o conseguem perceber nos discursos mas tamb m fornecer ferramentas e caminhos para que essas consigam ver aquilo que est a princ pio opaco isto a diversidade de efeitos de sentido poss veis de serem percebidos nos discursos 70 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 PARTE CAP TULO 2 FAZER RIR PRA QU DAS FINALIDADES E DAS VISADAS DISCURSIVAS Se o riso uma caracter stica do homem uso da linguagem e da argumenta o uma outra Chain Perelman 1974 Apud Olbrechts Tyteca 1974 5 tradu
232. do por outro teoricamente n o marcado pois se considera que a troca de palavras marcadas por palavras n o marcadas ideologicamente pode produzir a diminui o dos preconceitos entretanto se o preconceito existe somente porque a sociedade gera condi es para que o preconceito e os discursos que o justificam aconte am 389 Comedy Central Apresenta Stand up com Marcelo Marrom Dispon vel em lt https www youtube com watch v 014FjRwzFFk gt Acesso em 14 mar 2013 245 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 reboque dessa substitui o se segue muitas vezes a inexist ncia na l ngua de um termo sin nimo criando como sugere Possenti 1995 139 eufemismos de certa forma c micos ou verdadeiras defini es como por exemplo indiv duo casado com atividade sexual paralela e prestadora de servi os sexuais em vez de ad ltero e de prostituta respectivamente Ou seja o politicamente correto se torna politicamente incorreto dependendo da visada impressa no enunciado pelo sujeito Oh desculpa Eu n o sei faz esse neg cio de stand up T meio nervoso n o t acostumado a fal no microfone na verdade t aqui s para cumprir a cota de negro no elenco Queria faz um protesto que muito dif cil ser negro no Brasil muito dif cil ser negro nesse Pa s tem pa s que mais f cil voc ser negr
233. dor afastando o de virtudes indesej veis como e 11 capta o dos afetos dos ouvintes audit rio para o sucesso da argumenta o com a utiliza o do riso no discurso Como se pode notar o conceito de vRBANITAS est estreitamente ligado ao conceito de ethos por m numa realidade mais 311 latina do que grega Por isso visando esclarecer melhor o conceito de vRBANITAS num 30 processo de referencia o entre as obras de Arist teles comum cf as remiss es Po tica feitas na Ret rica ARIST TELES 2007 p 65 190 e tamb m as diversas rela es que se mant m entre esses dois escritos e o cap tulo do Livro IV da tica a Nic maco ARIST TELES 2011 p 96 97 No entanto o tema espec fico do riso se constitui um problema devido aus ncia do Livro da Po tica Isso porque na obra de Arist teles n o h segundo Bittar 2003 acumula o tautol gica para o tratamento de um mesmo tema ou melhor dizendo nos escritos aristot licos parece ser regra a exist ncia de uma nica obra para a investiga o espec fica de uma problem tica determinada BITTAR 2003 p 992 110 RVSTICITAS 1 rusticidade ar de camp nio costumes campestres simplicidade da gente do no bom sentido 2 rusticidade rudeza 3 acanhamento bisonhice 311 Em seu sentido aristot lico ethos era considerada uma das provas
234. e do riso ritual O riso bom e o riso alegre podem ser desencadeados por via discursiva Com efeito esses tipos de riso de modo semelhante ao riso de zombaria ou o riso maldoso tamb m participariam de um discurso baseado no ris vel muito embora estejam aparentemente mais afastados da comicidade como sugere Propp Como alegamos anteriormente essa atitude de Propp parece ressoar uma certa vis o moderna a respeito de certos tipos de riso nos fatos da comicidade e do humor Numa linha um pouco divergente podemos citar Baudelaire Procurando definir a ess ncia do riso em seu estudo sobre a caricatura Baudelaire 1855 considera que o riso diversificado e que n o nos alegramos somente com a desgra a a fraqueza e 134 Para Propp 19 7 o riso ritual deve ser considerado dentro das pr ticas rituais que diferentemente das pr ticas sociais ou cotidianas est o ligadas a cerim nias religiosas com datas fixas no calend rio e por vezes realizadas com a ajuda de um sacerdote Devido a isso Propp ressalta que o riso ritual se prestar a observa o pelo nexo existente entre as variantes riso diante da morte riso durante a sementeira etc e o desenvolvimento econ mico social pr tribal tribal escravista e assim por diante do povo qual ele o riso se realiza Nesse passo Propp 19 80 et seg nos diz que por exemplo o riso ritual pode marcar a diferen a entre os vivos e os mortos sendo que ao
235. e o do corpus e natureza do objeto Primeiramente vamos sumariz las para logo ap s discuti las mais atentamente I mbito das ci ncias que se ocupam do texto do discurso como lidar com a rela o entre um discurso que toma por base aquilo que pass vel de proporcionar o riso e o riso propriamente dito enquanto fen meno cultural filos fico fisiol gico hist rico psicol gico e social Tendo esse mesmo discurso em foco como proceder sele o de textos para constituir corpora de an lise ou melhor dizendo que crit rios adotar para considerar um texto pass vel de causar o riso Qual a natureza de nosso objeto de pesquisa Isto esse discurso pass vel de fazer rir pode ou n o ser tomado com status e por consequ ncia com estrutura de tipo de discurso semelhante ao discurso pol tico liter rio filos fico publicit rio entre outros IV contornar as dificuldades para a an lise desse discurso advindas dos problemas de defini o dos termos ligados ao riso ao ris vel como por exemplo humor humorismo c mico comicidade engra ado sat rico ir nico rid culo grotesco etc evidente que esses quatro pontos n o subsumem toda problem tica ligada a esse discurso Como se ver nessas considera es iniciais tais pontos levar nos o a outras quest es n o menos importantes mas que devem ser discutidas em momentos mais precisos como por exemplo
236. e piadas ou melhor dizendo de t cnicas pontuais do riso como o duplo sentido ou o trocadilho por se apresentarem na forma tanto oral incluindo portanto o tom vocal os gestos e as fisionomias faciais quanto escrita semelhantes a novelas e iv por poderem assumir formas que se assemelham a silogismos o que faz com esses GENERA possam se distender por frases ora es par grafos Uma d vida contudo circunda ainda nosso pensamento Essas caracter sticas presentes nos GENERA ANECDOTORVM s o ndices pelos quais podemos consider los realmente g neros no sentido moderno do termo isto como tipos relativamente 173 Como o pr prio texto de Il cortegiano o faz na utiliza o dos exemplos de burlas narrados pela personagem Dom Bernardo durante sua explana o numa esp cie de jogo metalingu stico de explicar e expor fazendo rir ao mesmo tempo 174 Como sugere Platin 2006 448 grifos nossos devemos utilizar o termo silogismo para designar um encadeamento de proposi es cuja forma sint tica e o modo de encadeamento imitam mais ou menos aqueles de um silogismo e convergem para uma conclus o afirmada categoricamente O que nos leva a admitir para o termo silogismo uma concep o mais frouxa em rela o aos rigores da L gica 121 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 est veis de enunciados ou a partir delas so
237. e adequados queles com quem fala e que saiba com certa suavidade recrear o esp rito dos ouvintes e com ditos agrad veis e fac cias discretamente possa induzi los festa e ao riso de modo que sem jamais aborrecer ou saturar agrade continuamente CASTIGLIONE 1997 p 130 131 Esses livros pregavam o uso do riso como marca de civilidade pois na boa sociedade torna se indispens vel distinguir se pela tiradas de esp rito pelos coment rios ferinos Fazer rir para existir de prefer ncia fazer rir custa dos outros MINOIS 2003 p 445 446 Da que nesse mesmo contexto se desenvolve o seguinte dilema como fazer rir de forma inteligente e espirituosa sem mostrar maldade ou agressividade Sobre esse dilema Roodenburg 2000 defende a ideia de que entre os livros de arte da conversa o muitas vezes se encontravam v rios livros de anedotas Esses livros eram copiados por vezes manualmente e quando impressos contrabandeados uma vez que a Igreja ainda mantinha controle sobre o que o crist o deveria ler J as anedotas e piadas neles contidas eram memorizadas pois a arte de cont las passara a fazer parte integrante da habilidade comunicativa exigida das classes altas ROODENBURSG 2000 p 181 21 Ducado de Urbino localizado no centro da It lia ocupava a parte setentrional da atual regi o da Marche e parte da alta Umbria Em sua poca 1443 1631 esse antigo estado feudal se ligava por la o
238. e certo modo assimilada pelo analista na sua busca daquilo que est opaco nos textos Ao fazer isso o analista do discurso se aproxima tamb m do trabalho do hermeneuta pois ele hermeneuta sup e que um sentido oculto deve ser captado o qual sem uma t cnica apropriada permanece inacess vel Todavia continua Maingueneau essa busca do analista do discurso se fundamenta em pressupostos te ricos e m todos diferentes tanto do fil logo e quanto do hermeneuta Isso porque a tarefa de analisar um texto numa perspectiva discursiva cria outras dificuldades Entre essas por exemplo existe o fato de que n o h como garantir que o sentido oculto e o sentido descoberto correspondam ipsis litteris com o sentido pretendido pelo sujeito falante ou escritor uma vez que o ato de comunica o materializado em um texto como j salientamos anteriormente sempre uma aposta expectativa desse sujeito e o sentido sempre uma co constru o resultante da intera o entre os parceiros do ato de comunica o Segue que o sujeito comunicante sempre pode supor que o outro possui uma compet ncia linguageira de reconhecimento an loga sua Nessa perspectiva o ato de linguagem torna se uma proposi o que o EU faz ao TU e da qual ele espera uma contrapartida de coniv ncia CHARAUDEAU 2008 p 56 grifos do autor 76 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes d
239. e como suscitando o prazer do rid culo ela chegue purifica o de tal paix o quanto tal paix o seja digna de considera o j o dissemos no livro sobre a alma enquanto nico dentre todos os animais o homem capaz de rir Definiremos portanto de que tipo de a es m mesis a com dia em seguida examinaremos os modos como a com dia suscita o riso e esses modos s o os fatos e o el quio Mostraremos como o rid culo dos fatos nasce da assimila o do melhor ao pior e vice versa do surpreender enganando do imposs vel e da viola o das leis da natureza do irrelevante e do inconsegiiente do rebaixamento das personagens do uso de pantomimas bufonescas e vulgares da desarmonia da escolha das coisas menos dignas Mostraremos por conseguinte como o rid culo do el guio nasce dos equ vocos entre palavras semelhantes para coisas diferentes e da repeti o dos jogos de palavras dos diminutivos dos erros de pron ncia e dos barbarismos Arist teles 7 106 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Passar em revista todas as propostas de interpreta o e de teoriza o a respeito das causas do riso no discurso de sa da seria al m de herc lea talvez uma tarefa imposs vel Dizemos isso retomando a ep grafe desse cap tulo seria maravilhoso fazer como Guilherme de Baskerville e poder consultar n o somente o Livro da Po tica de
240. e faz ofender gratuitamente sem proporcionar gra a Assim segundo o Casseta n o houve humor falhou apud XAVIER 2011 J Soares atenta para a quest o dos limites do humor acho que o humor n o pode ter limite Quem estabelece esse crit rio quem fala a coisa A cria o n o pode ter limite H uma linha t nue entre o humor e a grossura Se tem gra a humor Se n o tem vira grossura SOARES 2011 34 Ritrospectiva UOL Comedians celebridades que marcaram o ano de 2012 com Bruno Motta Dispon vel em lt https www youtube com watch v 0vpBtK74cSI gt Acesso em 14 mar 2013 248 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 bab ele precisa de um personal trainer n S rio aquele beb era t o nas 395 grande mais t o grande que eu acho que ele que comeria o Rafinha Voltando s artimanhas de Rafinha s tiro Bastos podemos dizer que elas v o muito mais al m Considerado um dos twiteiros mais influentes do Mundo pelo New York Times cf HONORATO 2011 Rafinha Bastos faz de seu Facebook e do seu microblog uma arma contra tudo e contra todos Por exemplo diante do caso de um apresentador da Rede Globo de TV pego em uma blitz policial contra o uso de lcool na dire o Rafinha diz Luciano voc bebeu antes de dirigir Fez merda Mas n o se preocupe Para a maioria do pa s comunicador FDP
241. e iam adquirir inimizades perigosas e Diastr tica pois o n vel socioecon mico que de certo modo causava forte impacto sobre a escolaridade restringiu a elabora o de formas mais complexas do riso como por exemplo a par dia sacra a indiv duos com maior grau de instru o no caso os monges e os poucos intelectuais da poca como Erasmo de Rotterdam e Fran ois Rabelais Embora possamos inferir que essas varia es devam ter influenciado na estrutura textual das formas do riso os exemplos e as escassas descri es fornecidas por Bakhtin n o nos permitem dizer que o adjetivo reduzidas tamb m se aplica extens o textual dessas formas Em outras palavras n o podemos afirmar que reduzidas se aplica somente a certos g neros do discurso marcados pela brevidade ou pela agudeza como por exemplo as tiradas as piadas e os chistes Donde acreditamos que o crit rio de classifica o das formas do riso em Bakhtin parece dar maior proemin ncia fun o pragm tica do texto atenuada por fatores s cio hist ricos do que para a sua estrutura propriamente lingu stico textual Assim sendo julgamos ser necess rio para uma an lise do DH tornar mais preciso como as formas do riso e as formas reduzidas do riso podem se caracterizar estruturalmente em termos lingu sticos textuais e discursivos em g neros 148 zogi 5 Essas categorias tomamos emprestadas sociolingu stica aplicando as em seu se
242. e ideia se o humor traz cena as coer es sociais exigidas por uma dada sociedade talvez ele tamb m permita que nos aliviemos dessas mesmas coer es Assim esse al vio pode ser tempor rio como o proporcionado por uma piada de fundo sexual ou duradouro semelhante ao que acontece com pessoas que est o sobre grande tens o ou stress Essas teorias afirma Monro t m suas bases nos trabalhos de Sigmund Freud Em seu trabalho sobre o humor Freud postula de acordo com Monro 1988 354 que o humor busca burlar o censor nome te rico para o conjunto das nossas inibi es internas que nos impede de dar livre curso aos nossos desejos e pun es Desse modo o fazer rir se apresenta como meio de enganar esse censor o que acarreta no mesmo instante a libera o de alguma repress o da qual se obt m o prazer do al vio reflief 126 5 Monro se refere a Os chistes e a sua rela o com o inconsciente de 1905 92 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Em rela o s finalidades do riso passamos em revista as principais teorias sobre o tema Vimos que se pode utilizar do riso objetivando alcan ar a felicidade pelo alegramento ou pela boa sa de o sucesso na argumenta o apresentando nos como pessoas civilizadas e urbanas o descanso das obriga es religiosas as verdades diferentes daquelas propostas pelas teses ditas s
243. e objetivam no fundo a an lise dos sonhos e da psiqu humana importante ressaltar que muitas dessas an lises s o meros prolongamentos ou revis es de an lise anteriormente realizadas em outra cultura ou em outro momento hist rico outras vezes tais estudos s o aplica o de uma determinada teoria a um determinado corpus tido como humor stico Isso a nosso ver n o tira em nada o valor e o m rito dessas an lises Elas nos serviram de guia para muitas de nossas coloca es os interessados nesse tipo de an lise encontraram em nosso texto muitas indica es bibliogr ficas Por m vimos que seria enfadonho e sem prop sito reproduzir nossa an lise dessa forma N o dizemos com isso que nosso trabalho n o observa a tradi o ou que inventamos a roda Longe disso Nossa preocupa o foi simplesmente outra sistematizar uma via reflexiva com a qual pud ssemos alcan ar esse discurso voltado para o fazer rir os elementos que comp em sua estrutura tipol gica e ao mesmo tempo que possibilitam engendrar os g neros tipicamente humor sticos e seus efeitos de sentido de comicidade de humor de rid culo de ludicidade etc Desse modo esperamos gerar bases para outras reflex es mais espec ficas a respeito dos g neros dos textos e dos atos de comunica o pass veis de ser reconhecidos e considerados como humor sticos Com esse prop sito organizamos nosso percurso de an lise em dois movimentos que se comp
244. e passa a se apoiar agora em caracter sticas mais externas do que internas ao discurso 312 Aqui falamos especificamente do Livro da Po tica Rocha Pereira 2004 8 observa que existem tentativas de recupera o desse livro a partir do Tractatus Coislinianus um manuscrito an nimo datado do s culo x que supostamente cont m um ep tome do Livro todavia ainda n o h consenso entre os especialistas sobre a autenticidade desse texto Para uma vis o geral do Tractatus Coislinianus veja parte 1 cap 3 1 1 313 Com isso compartilhamos das ideias de Carvalho 2002 18 que nos diz que o m rito dos estudiosos gregos imenso pelo seu car ter precursor Na verdade as ra zes do pensamento ling stico ocidental mergulham profundamente na Gr cia Antiga 213 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 espirituosos o que envolve um esp rito vivo que se volta de um lado ao outro efetivamente essas agudezas de esp rito s o consideradas movimentos do car ter e assim como o corpo apreciado pelos seus movimentos o car ter tamb m o ARIST TELES 2011 p 96 Do excerto compreende se que o ethos marcado por um movimento ligado eutrapelia ou seja as pessoas espirituosas eutrapeloi det m uma certa intui o dos limites do uso do riso marcado por uma linguagem centrada antes sobre insinua es baseado
245. e potencializ la no caso do sujeito analista em rela o ao que possa ser ou n o considerado um ato de comunica o humor stico Quem sabe uma problem tica psicol gica que se apoie n o em atitudes reativas subjetivas e individuais mas em representa es coletivas ou melhor sociodiscursivas das formas do riso cf parte I cap 1 e cap 3 possa apontar para uma solu o do problema Tal hip tese se baseia no fato de que caso se leve em conta o senso comum uma pergunta do tipo o que humor ou o que c mico resultar provavelmente em uma resposta do tipo aquilo que faz rir Muitas vezes porque e esta a opini o de Pirandello 1996 p 22 o vulgo n o pode entender os contrastes secretos as finezas sutis do verdadeiro humorismo mas sim o humorismo num sentido muito mais amplo no qual estejam compreendidas a burla a tro a a fac cia em suma todo c mico em suas v rias express es PIRANDELLO 1996 p 38 Ou seja para o povo humorismo e gra a comico satira s o synonimos sic perfeitos MENNUCCI 1923 p 165 Tamb m as defini es filos ficas como alega Eco 1989 n o escapam imprecis o da experi ncia em rela o s nuances entre o c mico o humorismo ou o ironismo pois N o se sabe muito bem se se trata de experi ncias diferentes ou de uma s rie de varia es de uma nica experi ncia fundamental Come a se achando que esta experi nci
246. e ri melhor As vezes ele n o entendeu a piada 3 Fa a piada velha para p blico novo piada nova para p blico velho 4 N o se esque a Mais vale um sorriso de admira o do que uma gargalhada de deboche 5 Evite piada em vel rio No seu voc n o rir 6 No terreno das aves basta J ha quinze anedotas para cada papagaio 7 Prefira as curtas Nunca tan tos rir o tanto por t o pouco 8 Preocupe se com a pontua o Doutor morto esta Tarde chega mos E bem diferente de Doutor morto esta tarde chegamos Este quadro mostra quando o famoso Manifesto dos Humoristas foi lido pela primeira vez diante do rei Philipe Le Cr tin 9 Se n o rirem da primeira vez n o desanime Pode ser por respeito 10 Se n o rirem nunca n o de sanime Tente o drama Quem infringir qualquer destas re gras fica condenado cinquenta anos de trocadilho Figura 3 Manifesto dos humoristas SOARES 1990 p 19 Assim nas se es que se seguem procuramos discutir essa instabilidade do lugar do humorista em rela o a certos campos discursivos liter rio jornal stico publicit rio humor stico buscando com isso verificar como o humor saindo das soleiras da literatura fez surgir a partir das inova es tecnol gicas dos s culos XX e XXI certos profissionais do riso humoristas comediantes caricaturistas chargistas risistas etc que procuram del
247. echts Tyteca 1974 p 11 Para al m da comicidade e do c mico somos tentados a dizer que o crit rio do riso assombra tamb m os estudos sobre o grotesco o humor a ironia a s tira o rid culo o ris vel ou sobre qualquer outro conceito e ou g nero relacionado a um ato de linguagem que tem como pretens o a busca por um efeito ilocut rio ou perlocut rio ligado ao riso ao sorriso hilaridade ou a qualquer sensa o de prazer semelhante que essa mesma hilaridade possa vir a proporcionar ao esp rito humano Caso se assuma esse ponto como axioma aqui podemos dizer que se iniciam os problemas para as ci ncias que estudam o texto e o discurso numa perspectiva linguageira Quanto a isso Charaudeau 2006a nos alerta do risco de se adentrar numa problem tica psicol gica ao tratar o riso como garantia para os fatos humor sticos De acordo com esse te rico se o riso tem a necessidade de ser acionado por um fato humor stico este ltimo por sua vez n o aciona necessariamente o riso CHARAUDEAU 2006 20 tradu o nossa Em outras palavras nem todo ato de comunica o humor stico tem a capacidade de fazer rir Al m disso Charaudeau adverte que considerar o humor como um ato de enuncia o para fazer rir nos faria interrogar sobre todo um mecanismo psicol gico ligado a uma atitude reativa vari vel rir sorrir ou mesmo nenhum p 362 proposto pela semi tica uma vez que os camin
248. edade corpora orais preciso dispor de grava es audiovisuais e mobilizar o enorme aparelho conceptual e descritivo da an lise da conversacional Tamb m n o consideramos a dimens o ic nica fotos desenhos esquemas pagina o dos textos de modo a nos concentrar unicamente na mat ria verbal Como sugere esse autor dar privil gios ao material verbal uma escolha para um devido fim Tamb m acreditamos que para uma an lise totalizante se que isso poss vel do discurso humor stico seria necess rio levar em considera o todo sistema semi tico que possa vir a constituir o texto lato sensu todavia isso desviaria nossas aten es para discuss es distantes dos objetivos propostos para esse trabalho Voltamos a afirmar isso um percurso e s vezes necess rio fazer escolhas 39 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 estrat gias como a imita o principalmente a par dia e o pastiche esse discurso apresenta uma grande instabilidade estrutural o que n o possibilitou ainda uma an lise e classifica o sistem ticas como assegura Bakhtin 2010c p 343 Em vista disso apresentamos alguns pontos de vista sobre essa quest o mostrando que h tamb m sobre esse ponto uma esp cie de dissens o entre os estudiosos Como sabemos para a Semiolingu stica umas das no es centrais para a an lise de qualquer discurso
249. edi o data de 1927 Fradique 1984 tra a uma bem humorada cr tica s gram ticas normativas da L ngua Portuguesa em um texto relativamente breve e de f cil leitura BUSATTO 1984 p 274 Transpondo para linguagem do riso LR os aspectos t cnicos e caducantes da nomenclatura gramatical esse texto aborda de um modo descritivo um tanto quanto sistem tico quase todos os t picos da ARS GRAMMATICA fonologia ortografia lexicologia sintaxe entre outros E como de praxe se inicia com uma defini o confusa por sinal de grammatica Grammatica arte de fallar e escrever incorrectamente uma l ngua Segundo affirmam os grammaticos a grammatica o conjunto de regras tiradas do 1 De acordo com Minois 2003 142 esse um dos mais celebres textos latinos compostos entre os s culos V e VIII Trata se de uma descri o de uma ceia pascal onde todas as personagens do Antigo e do Novo Testamentos se rejencontram e re contam suas hist rias Para muitos a Coena Cypriani uma esp cie de resumo c mico com fun o mnem nica dos marcos da Sagrada Escritura 7 Por paraliteratura pode se entender um conjunto de textos que se afastam daqueles que uma dada sociedade considera como liter rios como por exemplo revistas letras de m sica HQs etc A respeito da an lise desse g nero no qual se inclui a literatura pornogr fica Mainguencau adverte que n o se pode adotar um ponto de vista liter rio tradic
250. eestabelecimento da ess ncia do que seja o humor o humorismo a com dia enfim o fazer rir Esse conflito entre diferentes posicionamentos como sugere Maingueneau 1999 p 49 50 uma tentativa de retorno s ideias primeiras como por exemplo o Belo a Verdade a Literatura a Pol tica o Divino etc que alguns posicionamentos dentro de um mesmo campo discursivo teriam desfigurado esquecido ou subvertido Nesse sentido para Ziraldo por exemplo todo humorista pode vir a se tornar um risista mas o contr rio nem sempre poss vel de acontecer o que de certo modo afastaria Ziraldo e sua gera o de todo um grupo de humoristas e de comediantes que se estabeleceram nas zonas suburbanas da literatura nos tempos ureos do r dio e nos prim rdios da Essa diferencia o como vimos se deve principalmente s inova es tecnol gicas que geraram outras formas de m dia e de finalidades aferidas ao humor nos meados do s culo XX quest o que se coloca que essas inova es n o se estagnaram e no final do s culo e in cio do acabaram por possibilitar o surgimento de novas formas de m dias como por exemplo as TVs fechadas ou por assinatura e principalmente internet com a dissemina o de v deos caseiros com sketches humor sticos de 241 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 anima es sat
251. eidade discursiva fazendo com que o leitor ouvinte acione para uma maior compreens o dos efeitos de sentido n o somente planos isot picos diferentes mas tamb m cenas englobantes diferentes 4 2 CENAS DA ENUNCIA O E REPLICA O No item anterior vimos que para melhor visualizar como se processa a enuncia o no enunciado Maingueneau trabalha a met fora teatral de cenas de fala mais especificamente cenas de enuncia o Essas cenas de acordo com o autor 2006 95 possuem car ter ao mesmo tempo construtivo e institutivo ou seja por meio delas a enuncia o pode acontecer num espa o institu do pelo g nero e simultaneamente instaurar seu pr prio espa o de enuncia o no universo de discursos de uma dada sociedade Com base nisso Maingueneau 20046 48 49 e 2006 96 97 prop e que os textos de um modo geral podem apresentar tr s cenas distintas a saber e Cena englobante aquela que corresponde ao tipo de discurso Quando recebemos um panfleto na rua temos geralmente capacidade para determinar 2 O conceito de replica o e seus correlatos r plica e replicante pode assumir diferentes acep es dependendo do campo sem ntico no qual ele aplicado No campo da Ret rica entende se por replica o o direito de retrucar replicar certos tipos argumentos contestando alega es feitas pelo advers rio No campo da Biologia considera se que a replica o diz respeito
252. eira poderia ser traduzida de uma l ngua para outra com a possibilidade de perder a maior parte de seu brilho ao passar para uma sociedade nova diferente em termos de costumes literatura e sobretudo associa es de id ias Mas a segunda geralmente intraduz vel Ela deve tudo o que estrutura da frase ou escolha das palavras N o constata por meio da linguagem certas distra es particulares dos homens ou dos acontecimentos destaca as distra es da linguagem em si a pr pria linguagem aqui que se torna c mica BERGSON 2007 p 76 77 grifos nossos Embora admita que linguagem em si possa ser c mica Bergson 2007 p 77 explica que h dificuldades de se saber e de dizer do que realmente rimos pois as frases n o 146 De acordo com Maingueneau 20084 147 o c digo linguageiro que mobiliza o discurso verdade aquele por meio do qual o discurso deseja que se deva enunciar o nico leg timo em considera o ao universo de sentido que ele instaura E al m disso o c digo linguageiro resulta de uma determina o da interl ngua isto da intera o das l nguas e dos registros ou das variedades de l ngua acess veis tanto no tempo como no espa o em uma conjuntura determinada ou seja ele pode combinar diversas variedades lingu sticas MAINGUENEAU 2006d p 97 98 147 Sobre esse ponto veja a descri o de Possenti 1998 no ap ndice A 109 O Disc
253. eis Mesmo assim embora muito restrito ao apresentar esse esquema aqui buscamos alertar para o perigo de se cair em outro extremo isto de se admitir em rela o aos atos de linguagem o n o entendimento absoluto entre os usu rios de uma mesma l ngua ou de l nguas diferentes a m tica Torre de Babel De fato acreditamos ser mais prudente assumir uma posi o que relativize esses extremos em rela o ao reconhecimento dos efeitos de sentido e da inten o do sujeito falante pois como nos adverte Maingueneau 2004a p 20 a pessoa que interpreta o enunciado reconstr i seu sentido a partir de indica es presentes no enunciado produzido mas nada garante que o que ela reconstr i coincida com as representa es do enunciador Desse modo para uma an lise do discurso isso nos leva a assumir que 1 a inten o por sua natureza contingente torna se pouco operacional como categoria anal tica e que 11 a indica o das marcas de sentido pretendido em um enunciado al m dos recursos lingu sticos expl citos dispon veis numa l ngua pode passar por v rios graus de opacidade dos ndices de heterogeneidade mostrada pressuposi es implica es subentendidos cita es par frases par dias pastiches etc at as 77 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 infer ncias sobre os mais complexos mecanismos de heterogeneidade c
254. eito palavra e que funda sua legitimidade de ser comunicante em fun o do estatuto e do papel que lhe s o atribu dos pela situa o de comunica o Em sua segunda componente o sujeito constr i para si uma figura daquele que enuncia uma identidade de enunciador que se at m aos pap is que ele se atribui em seu ato de comunica o resultado das coer es da situa o de comunica o que se imp e a ele e das estrat gias que ele escolheu seguir O sujeito aparece portanto ao olhar do outro com uma identidade psicol gica e social que lhe 361 Amossy 2005 124 a categoria de ethos pr discursivo corresponde a um saber pr vio que audit rio possui sobre o orador anterior ao momento em que o orador toma a palavra Todavia esse saber se constitui tamb m em um discurso ou seja h um discurso que fornece suporte a esse ethos Desse modo Amossy prop e que qualifiquemos somente como pr vio essa forma de ethos presumida pelo audit rio 227 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 atribu da e ao mesmo tempo mostra se mediante a identidade discursiva que ele constr i para si CHARADEAU 2006b p 115 grifos nossos Nesse diapas o poss vel dizer que o ethos em Charaudeau 2006b n o deixa de ter seu car ter estrat gico no sentido ret rico uma vez que o sujeito do discurso poder 362 de modo a mover
255. el Como assim Tipo assim Imagine voc que ele me perguntou se eu desejaria que a comunidade trocasse de lugar para mim todos os postes de ilumina o p blica Aqui a fonte do c mico deve ser percebida na acolhida e na interpreta o de uma resposta potencialmente c mica De acordo com Olbrechts Tyteca n s leitores embora sejamos um audit rio de terceiro n vel n o sabemos a resposta de Doris e por consequ ncia estamos sentimos nas palavras da autora mais afastados em rela o cena entre Pamela e o agente do que em rela o cena entre o senhor D e o gar om Segue que a presen a de um terceiro personagem no di logo al m de potencializar esse afastamento oferece as bases para a constitui o de um audit rio de n vel superior Vejamos o exemplo 3 Uma mulher diz a um humorista Como voc feio meu caro senhor Eu conhe o entretanto uma mulher que estaria disposta a pagar 10 000 d lares para me ver Sim ela cega Coitada diz um Judeu alem o O coment rio do judeu alem o como observa Olbrechts Tyteca 1974 p 18 parece fazer rir a um audit rio de quarto n vel uma vez que essa personagem anormalement 259 No original Les poulets du Mans sont toujours bien en chair sauf quand ils viennent pied au march 260 No original les malicieuses actions et r actions entre partenaires 201 No original La jolie Pam la
256. eld of humor discourse putting the debate about what is to be a comedian FIGURA 1 Meu credo FIGURA 2 Gina Indelicada LISTA DE FIGURAS FIGURA 3 Manifesto dos 5 LISTA DE SIGLAS E DE ABREVIATURAS ACH Ato de Comunica o Humor stico AD An lise do Discurso DH Discurso Humor stico GPMC Grammatica Portugueza pelo Methodo Confuso HBMC Hist ria do Brasil pelo M todo Confuso LR Linguagem do Riso MMC Marketing pelo M todo Confuso OR Objeto do Riso ad adjetivo adv adv rbio al alem o fr franc s gr grego hol holand s ing ingl s it italiano lat latim port portugu s rus russo subst substantivo SUM RIO RESUMO p 7 RESUM SD aah p 8 ABSTRACT E ARSE ETRS p 9 LISTA DE FIGURA Snie a NIES E aS p 10 LISTA DE SIGLAS E DE ABREVIATURAS cccceererseesencrecesacersescerrenaees 11 INTRODU O 15 CONSIDERA ES INICIAIS aiie aia 23 PARTEI LINGUAGEM DO RISO DA INTUI O PRESUN O p 54 CAP TULO 1 LINGUA PILEATA BAKHTIN LINGUAGEM DO RISO E AN LISE DO 55 1 1 riso na obra de Bakhtin buscando o conceito p 56 1 2 As faces do riso segundo Bakhtin atitude responsiva e inguagem do TISO ssa ans pensas quali aid p 60 1 2 1 Linguag
257. em do riso cultura medo e g neros do discurso 62 1 2 2 Linguagem do riso e a aparente aporia entre o riso e o ris vel p 64 1 3 Linguagem do riso e An lise do p 68 CAP TULO 2 FAZER RIR PRA QU DAS FINALIDADES E DAS VISADAS DISCURSIVAS a a a 71 2 1 Intencionalidade finalidades e visadas p 76 2 1 2 Visada discursiva um instrumento de an lise p 78 2 2 Finalidades visadas e discurso humor stico p 80 nr pra QUe sap a pi as p 80 2 2 2 As visadas de fazer prazer p 93 222 Discurso sad SEA RSA p 95 2 2 2 2 Dos prazeres do riso quest o do riso bom e do riso alegre p 97 CAP TULO 3 O QUE FAZ RIR DO RISO NA L NGUA AO RISO NO DISCURSO p 106 3 1 Formas e formas reduzidas do 1 0 111 3 1 1 1 3 4 1 2 3 2 CAP TULO 4 4 1 4 2 PARTE II CAP TULO 1 1 1 1 2 1 2 1 1 2 2 52 3 1 2 4 1 2 5 1 2 5 1 CAP TULO 2 2 1 2 2 2 3 2 4 2 5 GENERA GENERA ANECDOTORVM Obras e sequ ncias
258. emente muito mais aptas para dizer quais as caracter sticas um texto deve possuir para que ele seja considerado ris vel ou n o Logo ao buscar por essas teorias e reflex es assumimos juntamente com Maingueneau 2008b para os estudos discursivos em geral e para o estudo do discurso que focalizamos a seguinte postura no caso de uma an lise do discurso estreitamente ligada hist ria das id ias em geral n o no que diz respeito ao enriquecimento da massa de informa es j gigantesca que a necessidade mais se faz sentir e sim no que se refere a hip teses capazes de torn la operacional Ao inv s de continuar a 27 Para Favre 1995 apud MINOIS 2003 117 se formos dotados de humor podemos fazer uma leitura humor stica de textos desprovidos de humor H tamb m que se pensar se o contr rio n o pode ocorrer ou em outros termos se n o formos dotados de um m nimo senso de humor textos nitidamente humor sticos podem n o ser lidos interpretados como tal 38 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 acumular fragmentos de saber err tico melhor esfor ar nos para validar ou refutar proposi es sobre os funcionamentos discursivos MAINGUENEAU 2008b p 24 Em outras palavras adotaremos uma postura a que absorve filosofemas da hist ria das ideias mas n o faz deles dogmas b que alia intui o e crit rios externos de
259. emplo nos diz que para que surja O riso s o necess rios o sujeito que percebe e o objeto de que se ri devendo o estudo da comicidade se pautar ao mesmo tempo na est tica das obras c micas e na an lise psicol gica do sujeito que ri Numa via relativamente diferente Baudelaire 1855 sustenta que o poder do riso est exclusivamente naquele que percebe o c mico e de maneira alguma no objeto pois N o o homem que cai que ri de sua pr pria queda a n o ser que seja um fil sofo um homem que adquiriu por h bito a for a de se desdobrar rapidamente e de assistir como um espectador desinteressado aos fen menos de si mesmo Mais o caso raro Os animais mais c micos s o os mais s rios assim s o os macacos os periquitos BAUDELAIRE 1855 p 8 tradu o nossa Da cita o acima importante evidenciar a ressalva em rela o atitude do fil sofo Tal atitude melhor explicada ao final do texto onde Baudelaire resume suas proposi es dando a impress o de entrar em contradi o com a tese da exclusividade da fonte do c mico no homem 252 Aqui falamos dos demais componentes do contrato de comunica o a saber o prop sito ou tema as finalidades e as circunst ncias 253 No original Ce n est point Phomme qui tombe qui rit de sa propre chute moins qu il ne soit un philosophe un homme ait acquis habitude la force de se d doubler rapidement et 0 515
260. empo objetos do riso Al m disso Bakhtin nos mostra de que maneira riso pode ser utilizado na representa o de determinados objetos como a morte e as formas de morrer as mortes pelo riso Em Freudismo Est tica da cria o verbal e Discurso na vida e discurso na arte espa o dedicado quest o do riso relativamente menor comparado s outras obras por m n o menos importante Bakhtin 2007 p 58 60 observa que as formas do riso 50 quest o dos vivos imprest veis e o medo dos mortos Defunto nem mesmo para escorar cerca cf Bakhtin 2010c p 438 gt N o entraremos na querela sobre a reivindica o dos textos disputados por Bakhtin Volochinov Medvi dev Para isso indicamos a leitura do extenso trabalho de Bronckart amp Botas 2012 Nosso posicionamento sobre essa quest o de cautela pois muito embora os argumentos elencados pelos autores sejam reveladores e at certo ponto contundentes a respeito tanto da autoria dos textos disputados quanto do car ter de Bakhtin acreditamos que as repercuss es dessas descobertas ainda necessitar o de algum tempo para reorganizar o imagin rio acad mico e vulgar e o cen rio editorial e comercial sobre o pretenso C rculo de Bakhtin Desse modo procuramos em nosso texto manter as refer ncias s obras e ao s autor es indicado s nas edi es consultadas gt gt No cap tulo dedicado aos apontamentos de Bakhtin de 1970 197
261. ens elocu o espet culo etc sua fun o pelo riso e pelo prazer proporcionar a purga o dessas mesmas afec es Especificamente em rela o s causas do riso elas est o dispostas em categorias de fala e categorias de a o Pela fala considera se que o riso pode ser gerado por homon mia sinon mia prolixidade paron mia pr tese af rese diminutivo trocadilho e ou altera o da voz e segundo a forma de falar imitando uma personagem ou pessoa conhecida publicamente Por outro lado o riso proveniente das a es surge desde a assimila o que se usa para o pior ou melhor o engano o imposs vel o poss vel e incoerente a quebra de expectativa a caracteriza o chula das personagens o uso das dan as grosseiras ou pantomima quando algu m tendo a 1 Para essa exposi o servimo nos da tradu o do Tractatus Coislinianus partir do original grego de Moreira 2003 E tamb m do estudo sobre o conceito de riso entre gregos antigos realizado por Possebon 2003 bem como de sua proposta de tradu o do Tractatus 150 Acr scimo de elemento fon tico no in cio de voc bulos sem altera o do significado como exemplo abangun ar de bagun ar 151 x a Supress o de segmento f nico como por exemplo em roz doce de arroz doce 113 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 possibilidade deixa de
262. ente n o vai rir E o que a gente busca isto quanto mais gente rindo melhor Como podemos depreender do exposto at aqui os posicionamentos e as discuss es sobre o que e como se faz humor alternam de acordo com as condi es de produ o 384 Marcelo Tas ator humorista apresentador e diretor do programa humor stico da Rede Bandeirantes de 385 Danilo Gentili humorista stand up fez parte do programa CQC e atualmente divide com o Programa do J o hor rio nobre dos programas no molde talk show com o seu Agora Tarde pela Rede Bandeirantes de 386 Ant nio Tabet humorista blogueiro e criador do site humor stico Kibe Loco Atualmente um dos respons veis pelo canal de sketches Porta dos Fundos 243 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 do DH e por que n o dizer das condi es de mercado criadas por uma sociedade Assim que se segue procuramos ver como o DH reflete tais condi es e ao mesmo tempo como os humoristas influenciados pela cultura stand up e pelo politicamente incorreto jogam com as coer es sociais sociodiscursivas estabelecidas atualmente na sociedade brasileira 4 3 STAND UP E O POLITICAMENTE IN CORRETO DA BAIXARIA GENERALIZADA AO MARKETING PELO M TODO CONFUSO Fruto da escola americana de humor o stand up um tipo de espet culo apresentado por um nico hu
263. ento de um talk onde o avatar Gina Indelicada um fake falsifica o de usu rio na linguagem do Facebook da garota propaganda das ind strias de palitos de dente Rela Gina responde a outros usu rios de forma ora bem humorada ora bem grosseira Vejamos o texto 26 Inclu mos nesse ponto tamb m as institui es Igreja Estado Governo Direito L ngua etc em geral e as pessoas que representem tais institui es cf FREUD 1996 p 107 207 Programas de conversa o on line mediados por computador ou outro hardware por exemplo No espa o virtual h v rios programas desse tipo como por exemplo google talk yahoo messenger windowns messenger entre outros As conversas nesse tipo de programa ficam restritas aos interlocutores que se utilizam de avatares imagens virtuais de usu rios para selecionar no mesmo espa o cibern tico parceiros outros avatares criando assim uma rede de amigos virtuais 189 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Kauany Souza EM HM Voc menina deveria ser mais delicada ah pega no meu rsrs Figura 2 Gina Indelicada N o discutiremos nesse momento as quest es de veracidade em rela o ao texto ou ao avatar Gina Indelicada O que nos interessa mostrar que o talk ou melhor fragmento de texto recortado do talk reproduz uma conversa
264. entrar na discuss o a respeito do m todo de Bakhtin O que nos interessa delinear a LR como um tipo de linguagem que est dispon vel em diferentes graus para quaisquer classes sociais nas quais uma cultura pode se desenvolver 63 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 impreca es grosserias gracejos fac cias ditos populares debates falados bufonarias anedotas etc e alguns g neros secund rios relativamente mais elaborados devido ao processo de parodiza o entre os quais ora es ditos cerimoniais fortemente marcados como as b n os e as preces prontas dos padres e nomes de santos e de m rtires Cf LINGUA SACRA PILEATA Por sua vez na cultura erudita a quest o se torna cada vez mais complexa assim como os g neros secund rios em sua maioria pois o riso e suas formas estavam mais fortemente condicionados s coer es exigidas pela Igreja os barris de vinho da sabedoria e austeridade crist s em constante fermenta o Do exposto podemos dizer que com estrat gias como a par dia e o pastiche que uma infinidade de g neros discursivos textuais adequados a tal realidade passou a certas formas do riso bulas decretos da igreja epit fios evangelhos hinos liturgias m ximas ora es regras monacais serm es testamentos textos e leis jur dicas BAKHTIN 2010a 73 74 Al m disso existiam outras varie
265. eople laugh beyond its strategic use in other discourses make you laugh turned to laughter itself the linguistic and discursive causes of the laughable effects questioning parody and imitation as sources of laughter and iv the interdiscursive relationship modes that a discourse based on the target to make one laugh can maintain with other types of discourses In the second part the structural characteristics of the humorous discourse turn out to be the focus of our analysis Firstly we present the ethos profiles comic masks that the individuals can take when the use of laughter discourse Subsequently the conceptual device of this discourse 15 described and examining here the positions that the individual of laughter can take as instances of production and reception At this particular step we also list the conditions the coercions and advantages of the use of laughter in speech by taking the concept of VRBANITAS as a constitutive property of the ethos of the subject of laughter Lastly we discuss the instability of the comedian s place in relation to the discursive fields literary journalistic publicity humorous Therefore leaving the between the lines of literature we seek to analyze how humor arouse from the technological innovations of the xx and XXI centuries certain professionals of laughter comedians caricaturists cartoonists satirist risistas etc who seek to delimit the space of discourse itself into the fi
266. eral e os diversos argumentos distorcidos de algum modo por um matiz c mico Ambos utilizados com finalidade persuasiva 119 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 tratado personagens que discutem sobre as boas maneiras a serem adotadas por cavalheiros e por damas nas Cortes daquele tempo Em rela o ao riso quase todo o Livro II de cortegiano dedicado ao uso das fac cias no discurso Assim al m de prescri es morais e ticas que seguem a risca os conselhos dos antigos cf parte cap 3 item 3 1 2 Castiglione a exemplos dos seus predecessores prop e uma tipologia das fac cias pass veis de uso pelo cortes o Para o autor 1997 132 137 139 tr s podem ser os tipos de fac cias a saber i festividade ou urbanidade it festivit ovvero urbanit que se estende pela argumenta o longa cont nua 11 as arg cias it arguzie fac cias de car ter mordaz e picante que consistem somente num nico dito r pido e gil e iii as burlas it burle nas quais interv m narrativas longas e ditos breves e ainda alguns gestos Novamente n o nos ateremos aqui s arg cias GENERA FACETIARVM uma vez que Castiglione se limita a parafrasear e a explicar s vezes utilizando os mesmos exemplos as ideias de C cero e de Quintiliano Sua grande contribui o est no nosso modo de ver na discuss o a respeito da
267. erson Gomes do Vale 2013 Ao tratar das quest es do riso e do ris vel no decorrer desse percurso viemos fazendo refer ncia a variados tipos de sujeitos que desejam ou precisam utilizar de alguma maneira a linguagem do riso LR como por exemplo o c mico o buf o o humorista sat rico entre outros No entanto uma pergunta poderia ser feita o que se entende por essas identidades Ou melhor quem s o esses sujeitos Com certeza um escurra da poca de C cero e de Quintiliano n o tem o mesmo status social nem age da mesma forma que um palha o do Cirque du Soleil Ali s devemos adiantar que quase sempre as coer es sociais e sociodiscursivas n o recaem sobre esses sujeitos do riso do mesmo modo a citar os preceitos de Arist teles que recomendam o uso do riso pelo homem livre e urbano desde que esse n o se apresente com os maneirismos de um buf o Com isso em mente apresentamos nessa parte de nosso percurso algumas problem ticas que consideramos centrais para a an lise do discurso humor stico DH relacionadas s identidades psicossociais e discursivas e aos lugares dos sujeitos do riso a saber i Quais as identidades protot picas aferidas a esses sujeitos Dito de outro modo quais s o as principais imagens relacionadas aos profissionais do riso cujas bases se encontram na hist ria do pensamento sobre o riso e o ris vel Quais s o as inst ncias discursivas envolvidas no dispositivo de comunica
268. erson Gomes do Vale 2013 Esse agora se torna n o um atrativo das qualidades e benesses da Caixa enquanto institui o banc ria s ria ligada ao Estado mas sim um chamamento para o mal uso da m quina financeira representada pelas facilidades de financiamento oferecidas pelo banco estatal de modo semelhante ao que acontece com a m administra o da coisa dinheiro p blica pelo Governo Como podemos perceber embora essas leis da transforma o c mica sejam teoricamente mais percept veis no n vel da frase da ora o do per odo algo presente nelas aponta para um princ pio mim tico deveras complexo que al m de encetar o encadeamento de enunciados se apresenta em sua plenitude acreditamos no n vel do discurso do ds do TUR do diversa Cf mm mi _ mm O N o poderia come ar a escrever em t o prestigiosa revista sem anunciar O meu credo i Creio em ir igreja todo domingo n o ser que d praia Creio em obedecer nove dos dez mandamentos porque aquele da castidade muito dif cil Creio que direito e a liberdade de todos s devem terminar quando eu quiser IV 1 Creio em igualdade para todcs inclusive para os militares v Creio na fraternidade at entre os irm os Creio na homeopatia desde que seja associada aos antidist nicos A mi am da _ E
269. ertas reflex es a respeito do fazer rir mudaram ou n o atrav s da hist ria Acreditamos que essa revis o pode nos ajudar a construir um leque de op es sobre como interpretar o fazer rir ou melhor como determinar as finalidades e as visadas relacionadas ao DH 2 2 1 FAZER RIR PRA QU Como ponto de partida dessa etapa do percurso retomamos as reflex es dos gregos sobre os objetivos do fazer rir Essas reflex es como se perceber andam de bra os dados ora com a Filosofia e com a Etica ora com a Ret rica e com a Po tica Por desse cap tulo poder se ia alegar que a finalidade do ato de comunica o humor stica no entanto o que se v claramente a presen a da visada de fazer rir n o predominante juntamente com o uso da visada de fazer saber predominante as quais constituem aquele ato de comunica o midi tico 80 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 exemplo em Plat o o riso representa uma paix o de natureza ambivalente mistura de dor e prazer uma combina o mal vola de bem e mal de desejo e inveja MINOIS 2003 p 71 Por conseguinte o fazer rir principalmente na forma da com dia deve a exemplo dos outros tipos de mimesis como a trag dia e a poesia especialmente ser banido da rep blica ideal uma vez que o poeta imitador instaura na alma de cada indiv duo um mau governo lisonjeando a parte irrac
270. ervi o do riso isto quando constituem uma LR No entanto alerta o estagirita esse uso depender do ethos do orador umas fac cias conv m melhor ao homem livre e outras n o O que claramente se v nessa passagem novamente uma prescri o que busca diferenciar atrav s da percep o de certas visadas discursivas os homens livres os cidad os urbanos os gentlemen dos buf es do escurra do clown e tamb m do r stico Numa terminologia semiolingu stica poder amos dizer que isso se d ao se especificar a visada de fazer rir em fazer rir a si pr prio pr pria do homem livre isto do cidad o grego urbano e fazer rir ao outro pr pria do buf o Diante do exposto podemos levantar a hip tese de que essa diferencia o entre os sujeitos do riso tamb m s o reverbera es dos postulados de Arist teles feitos na sua Po tica ainda que as esparsas coloca es sobre o fazer rir presentes no que chegou at n s dessa obra digam respeito mais com dia e comicidade do que propriamente a prescri es ticas Em vista disso se partirmos do princ pio de que desde a inf ncia todo homem naturalmente imita e nisso obt m prazer ARIST TELES 2004 p 42 devemos ent o levar em considera o essas recomenda es do estagirita sobre a arte da com dia em rela o ao ethos pois ao imitar o homem adquire tamb m seus primeiros conhecimentos ARIST TELES 2004 p 42 o que
271. es e 111 pode se converter no seu contr rio num discurso s rio com a condi o de deixar uma marca ou um ndice que garanta a percep o da dissimula o de sentidos Apesar disso o DH apresenta outras caracter sticas que por estarem ligadas aos caracteres positivo e negativo do riso por um lado estabelecem rela es mais espec ficas entre o DH e outros tipos de 138 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 discurso e por outro tendem a diferenci lo por exemplo do discurso publicit rio discurso mimot pico por excel ncia Entre essas caracter sticas destacamos em primeiro lugar o fato de o DH ser considerado uma constante amea a a outros tipos de discurso o que se deve por vezes ao medo do riso e do rid culo Esse medo assombra as mais diversas enuncia es e situa es uma vez que o riso pode como vimos anteriormente surgir do erro da falha e do engano Da esse tipo de c mico humor ser considerado uma esp cie da patologia da linguagem dita normal s ria racional PERELMAN 1974 p 5 Um mal ou uma sombra que sorrateiramente acompanha as demais pr ticas discursivas PERELMAN 1974 p 6 aproveitando se de todas as oportunidades para a partir delas gerar um riso de derris o de zombaria agressivo e por vezes destruidor como o ha ha ha ha Olha com s rid culo da personagem Nelson Mun
272. es e m dicos da Renascen a redescobriam a teoria cl ssica do riso Skinner 2002 p 25 afirma que buscando a paix o que suscita o riso eles associaram no s explica es do choro e das l grimas e assim entre os elementos comuns ao riso e ao choro esses escritores apontam que eles s o peculiares humanidade que s o em grande parte incontrol veis e que parecem rea es excessivamente intensas a algum movimento da alma Em seu estudo sobre a comicidade Propp 1992 p 27 32 observa que o riso depende de um objeto ridicularizado e do sujeito que ri ou seja o homem ri o que implica que em todas as pocas e culturas houve haver o riso uma vez que essas s o imposs veis sem o homem todavia cada poca e cada sociedade possui seu pr prio sentido de humor e c mico que s vezes incompreens vel em outras pocas Bakhtin de acordo com Flores et al 2009 p 59 como grande estudioso do riso destacava seu car ter universal e sua presen a em todas as culturas Para Minois 2003 p 16 o riso um fen meno universal ele pode variar de uma sociedade para outra no tempo e no espa o 6 De acordo com Eco 1984 p 348 o c mico diferente do car ter universal do tr gico est aparentemente mais ligado sociedade cultura e ao tempo pois para que haja efeito c mico e outras coisas semelhantes a regra social ou cultural que ser violada deve estar sempre pressuposta impl cita mas nun
273. es que a norma social considera CINICA argumenta o impl cita como dentro da positivos e universais coniv ncia cr tica Al m disso o sujeito humorista ostenta que ele assume essa destrui o dos valores avesso e contra todos visa desqualificar o alvo a coniv ncia de derris o busca fazer rebaixando o isto fazendo o descer partilhar a insignific ncia do alvo quando esse do pedestal sobre o qual ele esteja se cr importante ou quando se cr que ele se DERRIS O Ze Epi ia cr importante De forma mais geral ela A coniv ncia de derris o tem em busca fazer partilhar uma mise distance s 4 No original est un enjouement pour lui m me dans une fusion motionnelle de l auteur et du destinataire libre de tout esprit critique produite et consomm e dans une gratuit du jugement comme si tout tait possible 40 No original Elle cherche faire partager un regard d cal sur le bizarreries du monde et le normes du jugement social sans qu elle suppose un quelconque engagement moral m me si comme pour tout acte humoristique une mise en cause des normes sociales se trouve en sous jacence 410 No original La connivence critique propose au destinataire une d nonciation du faux semblant de vertu qui cache des valeurs n gatives Contrairement la connivence ludique la critique a une port e particularisante pouvant devenir agr
274. esses conhecimentos pudemos erigir uma visada de fazer rir que abarcasse o maior n mero de possibilidades de efeitos de sentido ligados ao fazer rir Enquanto instrumento de an lise essa visada de fazer rir entre outras coisas nos permitiu durante o percurso aliar crit rio do riso ao crit rio da forma e desse modo dizer 1 se determinado texto constitu a um exemplo de texto humor stico voltado para riso em si mesmo ou ii se estamos diante de um texto que obedece a outra s finalidade s publicit ria midi tica pol tica etc mas que ao mesmo tempo 255 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 atravessado por um ato de comunica o humor stico ACH ou mesmo iii se estamos diante de uma sequ ncia humor stica ou diante de uma obra cuja a inten o global humor stica Nesse passo estabelecida uma visada que representasse o riso no discurso coube a n s precisar os conceitos que comp em a LR as formas e formas reduzidas do riso Com isso em mente procuramos ent o sistematizar conhecimentos que pudessem ao mesmo tempo nos mostrar as causas do riso e as t cnicas lingu sticas e discursivas capazes de desencadear os efeitos de sentidos relacionados ao ris vel humor c mico rid culo sat rico etc Ativemos aus ncia dos postulados de Arist teles sobre a quest o partimos das postula es dos retores e dos o
275. essive l endroit de la cible No original Elle est donc pol mique ce que n est pas la connivence ludique comme s il y avait une contre argumentation implicite car elle cherche faire partager l attaque d un ordre tabli en d non ant de fausses valeurs 412 No original La connivence cynique a un effet destructeur Ici il n y a m me pas contra argumentation implicite comme dans la connivence critique De plus le sujet humoriste affiche qu il assume cette destruction des valeurs envers et contre tous 413 No original elle cherche faire partager une d valorisation des valeurs que la norme sociale consid re positives et universelles 414 No original La d rision vise disqualifier la cible la rabaissant c est dire en la faisant descendre du pi destal sur lequel elle tait 278 comum com coniv ncia cr tica desqualifica o sobre uma pessoa ou uma ideia mas diferentemente da cr tica ela n o procede nem chama nenhum desenvolvimento argumentativo A derris o desqualifica brutalmente sem apelar sem defesa poss vel Ao contr rio a cr tica sup e que se possa justific la O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 vezes mesmo um certo desprezo referente ao que de uma maneira ou de outra est 416 supervalorizado consiste em pontuar aqui
276. et rica latina realizada por C cero e mais tarde por Quintiliano no conceito de vRBANITAS que nada mais que o refinamento no uso do riso pelo orador Desse modo no que se segue examinamos os problemas relacionados s coer es impostas ao riso e as implica es eth ticas do uso da LR com base no conceito de VRBANITAS presente nos escritos de C cero e de Quintiliano Na sequ ncia articulamos esse conceito com o de ethos de modo a precisar os diferentes efeitos de sentido do humor Isso porque acreditamos que tais efeitos podem variar de acordo com as caracter sticas dos diferentes eth com os quais o sujeito falante pode estrategicamente jogar criando refor ando ou reformulando a sua imagem no pelo discurso 304 Condenada no Livro x da Rep blica cf PLAT O 2012 306 305 Nesse contexto essa caracter stica discursiva era atribu da aos e tp me or aqueles que possu am flexibilidade de esp rito de humor que gracejam agradavelmente transliterado eutrapeloi 3 significativo que a express o agudeza de esp rito eutrapelia n o seja encontrada antes de Rep blica mas seja discutida v rias vezes em Arist teles BREMMER 2000 p 41 307 7 4 evtpamedia disposi o gracejar ridicularizar dizer fac cias de modo agrad vel espirituoso transliterado eutrapelia 3 Em portugu s o significado desse termo
277. exemplo fazer prazer ou fazer rir cf parte 2 Desse modo se negamos a possibilidade de o DH receber essa denomina o em decorr ncia de uma tipologia baseada nessas fun es devido ao fato de que isoladas de outras particularidades estruturais e comunicativas essas fun es assim como as visadas n o constitu rem crit rios suficientemente rigorosos como adverte Maingueneau 2004a p 59 para circunscrever os tipos de discurso 44 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 UM DISCURSO DO HUMOR UMA LINGUAGEM DO RISO Em alguns momentos no item anterior utilizamos a express o discurso humor stico para designar o nosso objeto de estudo Todavia nada nos diz de antem o que tal express o a mais adequada para denominar um discurso pass vel de causar o riso Isso se deve ao fato de que nosso objeto est inserido em uma querela que parece a princ pio n o afetar os outros tipos de discurso como por exemplo o discurso pol tico aparentemente ningu m se questiona nem sobre a exist ncia um problema de ontologia nem sobre a capacidade do discurso pol tico de engendrar g neros e textos tipicamente ligados ao setor de atividade social da pol tica J em rela o a um discurso ligado ao riso ao ris vel ao humor ao c mico etc as coisas come am a se complicar devido principalmente quantidade e instabilidade sem ntic
278. extual mas sim discursiva Tal processo que denominamos ad hoc de replica o pode ser percebido em certas obras humor sticas que parecem exigir o acionamento em diferentes momentos de cenas englobantes de outros tipos de discurso Vejamos um exemplo Em Hist ria do Brasil pelo m todo confuso HBMC Fradique 2004 faz um relato humor stico e confuso dos principais acontecimentos hist ricos do Pa s desde o seu descobrimento at as primeiras d cadas do s culo xx Fatos her is pessoas importantes e caracter sticas gerais das terrae brasilis s o apresentados de modo c mico e sat rico por m nos moldes dos livros did ticos das escolas prim rias da poca Marcada tamb m pelo m todo confuso a HBMC se estrutura desde as suas p ginas pr textuais de modo semelhante s obras did ticas do final do s culo XIX in cio do De cara Fradique erige uma lista de suas obras publicadas e a publicar mas que o autor nunca publicou nem viria a publicar merecendo destaque o Dicion rio de rimas rigqu ssimas e pobr ssimas a Hist ria do fim do mundo cujo exemplar nico datilografado o autor vendeu ao barbeiro da esquina para limpar navalhas FRADIQUE 2004 p 35 36 Na sequ ncia dessa pseudo lista segue se mais um engodo de Fradique com nomes falsos e com pastiches dos cr ticos da poca o autor elogia rebate argumentos negativos e ao mesmo tempo tece cr ticas pr pria HBMC
279. f law natural and politic 2 ed London Cass 1969 HOLANDA Bom conselho Quando o carnaval chegar Phonogram 1972 H Elements of criticism Londres 1762 HONORATO R Campe es de audi ncia no twitter vendem de tudo na rede Veja S o Paulo edi o on line Editora Abril maio 2011 Dispon vel em lt http veja abril com br noticia vida digital campeoes de audiencia do twitter vendem de tudo na redeftextol gt Acesso em 28 maio 2013 HOUAISS A Dicion rio eletr nico Houaiss da l ngua portuguesa S o Paulo Objetiva 2009 JAEGER W A com dia de Arist fanes In Paid ia a forma o do homem grego S o Paulo Martins Fontes 1995 p 414 439 JOLLES A O chiste In Formas simples S o Paulo Cultrix 1976 p 205 216 JOSEPH 1 O trivium as artes liberais da l gica gram tica e ret rica S o Paulo Realiza es Editora 2008 268 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 JOUBERT L Trait du ris suivi d un dialogue sur la cacographie fran aise Genebra Slatkine Reprints 1973 KENEDY E Gerativismo In MARTELLOTA M E org Manual de lingu stica 1 ed 3 reimpr S o Paulo Contexto 2010 p 127 140 KERBRAT ORECCHIONI An lise da conversa o princ pios e m todos S o Paulo Par bola Editorial 2006 LE GOFF J O riso na Idade M dia In BREMMER J ROODENBURG orgs Uma hi
280. feito rir mais intensamente FREUD 1996 p 23 Divergindo ligeiramente dessa ideia da primazia da forma lingu stica Charaudeau 2006a em sua proposta para a an lise dos atos de comunica o humor sticos demonstra que estes enquanto atos linguageiros s o constitu dos por procedimentos lingu sticos e procedimentos discursivos e que n o se deve dar exclusividade para os primeiros Isso se deve ao fato de que os procedimentos lingu sticos constituem um mecanismo l xico sint xico sem ntico que concerne ao expl cito dos signos sua forma 12 Tal coment rio pertencente personagem Hirsch Hyacinth um simples agente de loteria que relata Heine poeta e escritor suas rela es como o Bar o Rothschild dizendo E t o certo como Deus h de me prover todas as coisas boas doutor sentei me ao lado de Salomon Rothschild e ele me tratou como um seu igual bastante familionariamente A partir disso Freud 1996 p 25 26 evidencia as seguintes possibilidades de par frase 1 Hyacinth fora recebido com uma familiaridade de esp cie n o rara que em regra n o favorecida por ter um tempero de milion ria riqueza Rosthschild tratou me Hyacinth como um igual muito familiarmente isto na medida em que isto poss vel a um milion rio 13 Em seu trabalho espec fico sobre piadas Possenti 1998 46 tamb m admite a primazia da forma para a defini o do g nero qualquer que
281. ferentemente de Charaudeau 2006b que inicia sua an lise se perguntando o que o discurso pol tico n o podemos fazer o mesmo com nosso objeto de estudo uma vez que n o a sua exist ncia ontol gica que est em jogo mas a sua categoriza o de acordo com uma teoria do discurso Para muitos tal discurso nem pass vel de classifica o ou de descri o para outros somente uma estrat gia dentro de outros discursos cf nossa considera es iniciais Diante disso faz se necess rio dar a esse discurso corpo e alma ou seja perscrutar se poss vel aferir lhe um status de tipo de discurso semelhante ao que gozam por exemplo o discurso pol tico ou o discurso liter rio Isso feito acreditamos ser poss vel desmont lo verificar como suas pe as funcionam e se relacionam e depois julgar a pertin ncia dessas observa es chegando assim a algumas conclus es Com isso em mente devemos partir da ideia de que h um tipo de discurso que tem a capacidade de engendrar g neros por exemplo piadas charges sketches chistes e textos espec ficos voltados para efeitos de sentido relacionados em maior ou menor medida com o riso Isso posto podemos da mesma maneira supor que h dom nios de pr tica discursiva nos quais se move esse discurso garantindo assim condi es para que ele aconte a Procurando entender esse discurso dessa forma colocamos nosso trabalho junto aos objetivos de uma An lise do D
282. finalidade etc e Cenografia aquela que n o imposta pelo tipo ou pelo g nero de discurso mas pelo pr prio discurso Nesse passo podemos afirmar que a cenografia tem por fun o fazer passar a cena englobante e a cena gen rica para o segundo plano Com efeito assume se que certos g neros exigem a escolha de uma cenografia o caso por exemplo dos g neros ligados ao discurso publicit rio certas propagandas exploram cenografias de conversa o outras de discurso cient fico etc Embora essas cenas possam ser consideradas metodologicamente distintas entre si Maingueneau sublinha que h uma forte imbrica o entre elas Tanto assim que as cenas englobante e gen rica formam uma esp cie de quadro c nico no interior do qual o texto pragmaticamente falando est em conformidade MAINGUENEAU 2004b p 49 No entanto certos tipos de discursos como por exemplo o publicit rio e o liter rio podem engendrar as mais variadas cenografias em seus textos Mesmo assim esses textos permanecem com suas cenas englobantes protot picas pois o contrato de comunica o deve ser percebido enquanto publicidade cf comercial da pick up Fiat Strada 2013 e literatura por exemplo o Werther de Goethe para que as finalidades sejam atingidas 201 Nesses termos devemos tamb m admitir que a ideia de quadro c nico se aproxima em muito dos conceitos de frames e de script oriundos da psicologi
283. fos nossos 55 Reflex es da personagem o guarda noturno de Bonawentura in Bakhtin 20104 33 34 62 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 riso representava a caracter stica principal da cultura popular o que leva Bakhtin de acordo com Gurevich 2000 p 84 a postular uma divis o da cultura medieval em uma cultura de ay laotoi que odeiam o riso caracterizada pelo tom s rio e pelo medo e em uma cultura baseada na tradi o popular dominada pelo riso e pela alegria Da a cr tica posi o de Bakhtin em colocar o medo e a fobia fora do mbito da cultura popular Para Gurevich 2000 p 85 86 tanto o riso tinha sua fun o na cultura erudita da Igreja quanto o medo vivia assombrando a vida e a preocupa o com o p s vida do povo Todavia o que n o nos parece muito claro na explica o de Gurevich o escopo desse medo Para n s Bakhtin quando caracteriza a cultura popular medieval n o despreza a exist ncia do medo da morte da fome da peste de Deus das for as naturais do inferno BAKHTIN 2010a p 78 mas reconhece que o medo do riso e do rid culo estava mais pr ximo dos eruditos dos te logos e dos prelados da Igreja sempre preocupados em proteger a si mesmos enquanto autoridades terrestres e as coisas celestiais Deus os anjos os santos uma vez que o medo express o extrema de
284. g prop e um refinamento do conceito de par dia distribuindo as caracter sticas dessa pr tica hipertextual em quatro categorias de acordo com a fun o pragm tica sat rica e n o sat rica e o car ter da rela o intertextual transforma o ou imita o donde se obt m 1 a par dia propriamente dita que baseada na fun o l dica procede a uma transforma o m nima ou direta da estrutura textual do hipotexto 11 o travestimento fr travestissement que baseado na fun o sat rica degradante procede a uma transforma o indireta da estrutura textual do hipotexto 111 a charge que baseada na fun o sat rica procede a uma imita o estil stica do hipotexto e iv o pastiche que ausente de fun o sat rica procede a uma imita o estil stica do hipotexto Esse refinamento no entanto n o garante ressalta Genette 1982 p 34 38 um lugar para a par dia can nica ou par dia s ria na qual n o est o presentes nem uma fun o burlesca nem uma fun o sat rica De acordo com o autor essa pr tica hipertextual espec fica da par dia can nica est relacionada a certas f rmulas gen ricas que se voltam ora para uma fun o l dica ora para uma fun o baseada na seriedade dos temas ou dos assuntos discutidos importante ressaltar que o objetivo de Genette em dar continuidade a esse refinamento do conceito de par dia tornar mais precisas mais vis veis as pr ticas hipertextuai
285. gendrar g neros para citar as principais Em vista disso nossa proposta procura discutir o problema de cima para baixo sob um ponto de vista n o mais horizontal na superf cie dos textos mas sim vertical isto explorando as caracter sticas digamos macroestruturais da organiza o discursiva Desse modo no que segue primeiramente delineamos a partir da compara o de 191 Ainda que adotem diferentes perspectivas m todos e objetivos de an lise podemos nesse ponto incluir as abordagens de Olbrechts Tyteca 1974 Jolles 1976 Possenti 1998 e 2010 Bremmer 2000 Roodenburg 2000 Fedrizzi 2003 Saliba 2002 Chabrol 2006a Berist in 2011 Lustosa e Triches 2011 Velloso 2011 Castro 2012 para citar alguns 192 Acreditamos que piadas assim como charges tirinhas sketches stand up etc t m estatuto diferente de outros g neros que por pertencerem a determinado tipo de discurso recebem subclassifica es ligadas ao riso Como exemplos podemos citar as cr nicas de humor os poemas piada as poesias sat ricas as novelas c micas os romances picarescos que assim subcategorizados podem manter sua filia o ao discurso liter rio restringindo sua extens o de sentido ao universo do ris vel 193 De um modo geral define se pegadinha como um ato ou fato de p r algu m propositadamente em situa o embara osa com o fito de fazer gra a HOUAISS 2009 Nos meios midi ticos r d
286. guagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 considera o a maneira pela qual um dado discurso se inscreve no universo de discurso de uma determinada sociedade Em outras palavras podemos determinar como um discurso se instaura no interdiscurso verificando a maneira como ele se relaciona com a topia discursiva isto com o espa o do que diz vel em uma sociedade MAINGUENEAU 2010a p 170 Com isso em mente Maingueneau prop e que os discursos podem assumir diferentes condi es t picas dependendo da sua situa o de marginalidade diante da sociedade Assim os discursos podem ser considerados grosso modo como e Parat picos aqueles que se constituem numa zona de fala lim trofe paradoxal uma vez que tais discursos t m a pretens o de estar acima das demais produ es discursivas S o discursos que participam da sociedade mas eles s o fazem porque se colocam para al m da sociedade e At picos aqueles cuja produ o discursiva embora tolerada tida como clandestina ou seja mantida na marginalidade sem direito cidadania e T picos propriamente ditos aqueles que circunscrevem o restante da produ o discursiva aceita e permitida em dada sociedade Como exemplos de discursos parat picos Maingueneau 2010a apresenta o que ele denomina de discursos constituintes religioso o filos fico o cient fico o liter rio para citar os mais evidentes
287. guns os discursos mimot picos especialmente voltados para a absor o ou para a imita o da estrutura de outros discursos e outros os discursos mediadores direcionados para a reelabora o de conte dos pertencentes a certos discursos cuja leitura e interpreta o exigem um 256 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 quadro hermen utico mais complexo como o discurso cient fico por exemplo Nesse passo propusemos que o nosso objeto de estudo isto um discurso voltado para o riso e para o ris vel e cuja estrutura aparentemente se baseia na imita o de outras estruturas de outros tipos de discurso deveria manter com os demais discursos certas rela es interdiscursivas espec ficas baseadas no mutualismo oportunista e na replica o das cenas enunciativas desses mesmos discursos Da ser poss vel ao discurso humor stico DH absorver tanto a subst ncia ou conte do quanto a forma estrutura dos outros discursos e engendrar os seus pr prios g neros discursivos e textuais aproveitando se quando for o caso 1 das oportunidades nas quais o rid culo e os deslizes discursivos surgem na vida social ou 11 da necessidade de trazer para uma linguagem mais simples do cotidiano as mensagens e as ideias dos discursos ditos mais complexos como por exemplo o pol tico o filos fico ou o religioso Assim delineado assumimos para DH o estatuto de
288. herchons partir de la notion de langage du rire baucher i les faces du rire son c te psycho socio physiologique en tant qu activit r active et son c t langagi re mat rialis dans les GENERA RIDICVLORVM 11 les buts de faire rire en plus de son utilisation strat gique dans d autres discours le faire rire tourn vers le rire lui m me iii les causes linguistiques et discursives d effets risibles en mettant en cause la parodie et l imitation comme sources du rire et iv les types de relations interdiscursives qu un discours bas sur la vis e de faire rire peut tenir avec autres types de discours Dans la deuxi me partie les caract ristiques structurelles du discours humoristique deviennent l objet de notre analyse Tout d abord nous pr sentons les profils eth ticos les masques comiques que les sujets peuvent assumer lorsque de l utilisation du rire dans le discours Ensuite nous d crivons le dispositif conceptuel de ce discours en y regardant les positions que les sujets du rire peuvent assumer en tant qu instances de production et de r ception Entre temps nous r pertorions galement les conditions les contraintes et les avantages de l utilisation du rire dans le discours en prenant la vrbanitas comme une propri t constitutive de lethos des sujets du rire De cette fa on nous discutons sur l instabilit de la place de l humoriste par rapport les champs discursifs litt raire journalisti
289. hos pelos quais trilhamos mostram n o somente o modo como se formam alguns efeitos de sentido desse discurso mas tamb m como se pode melhor analisar os componentes desse discurso em n veis cf parte cap 2 item 2 1 3 No original le crit re effectif de toute tude sur le comique est le rire Tradu o nossa Dizemos perlocut rio uma vez que o efeito de sentido de um ato de linguagem pode n o ser somente produzido pelo dito ato ilocut rio mas tamb m pelo simples fato de dizer Assim por perlocut rio entendemos tratar se de um efeito segundo como o que produz um discurso eleitoral ao suscitar entusiasmo convic o ou enfado o mesmo acontece quando se faz uma pergunta a algu m seja para embara lo seja ao contr rio para ajud lo GREIMAS COURT S 2008 p 365 grifos nossos gt No original Si le rire a besoin d tre d clench par un fait humoristique celui ci ne d clenche pas n cessairement le rire 25 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 desses Da as dificuldades de percep o do que sejam os fatos humor sticos pois eles tendem a variar de indiv duo para indiv duo plaus vel levar em considera o as afirma es de Charaudeau quando esse autor aponta tal dificuldade todavia acreditamos que para fins de an lise deve haver um modo de desenvolver essa percep o no sentido d
290. humorismo Com base nesse racioc nio novamente diremos que nosso trabalho se apresenta como um percurso no qual a todo o momento devemos fazer escolhas Assim buscar por reflex es e por teorias um meio para um fim potencializar a compet ncia discursiva em rela o aos atos de linguagem ligados ao riso Nesse aspecto durante a sele o das autoridades priorizamos aquelas que de algum modo s o refer ncias em cada rea do conhecimento como por exemplo Arist teles e Bergson na Filosofia C cero e Quintiliano na Ret rica Bakhtin Escarpit Propp e Pirandello na Teoria da Literatura e na Hist ria da Literatura Freud na Psicologia e assim por diante Todavia isso de modo algum impede que nos apoiemos em outros pensadores mesmo correndo o risco de que isso nos leve pela soma de todas as caracter sticas e consequentes defini es a um conhecimento demasiado sum rio do objeto como adverte Pirandello 1996 p 126 29 2 ER di Embora assumamos texto como um ato de linguagem na sua configura o linguageira CHARAUDEAU 2008 nos ateremos nesse percurso na maior parte das vezes aos textos em sua configura o verbal escrita ou oral quando representando a fala de personagens ou de pessoas por exemplo em emiss es de r dio e de fragmentos de filmes v deos da internet entre outros Isso porque seguindo a mesma posi o adotada por Maingueneau 2004a p 12 para estudar com seri
291. i consci ncia de sua a o derris ria 11 segundo porque se toma consci ncia do aspecto legal Direito das a es ou seja a a o derris ria pelo riso uma das formas de defesa da coletividade contra o exc ntrico que recusa a se ajustar s regras e s conveni ncias sociais Com efeito a sociedade faz pairar sobre cada um sen o uma amea a de corre o pelo menos uma perspectiva de humilha o que mesmo sendo leve n o deixa de ser temida BERGSON 2007 p 101 Em suma nessa linha de pensamento o fazer rir torna se sin nimo de derris o J para as teorias da incongru ncia o foco se orienta para os modos de percep o daquilo que c mico rid culo Monro nos esclarece que para essas teorias o humor e o riso gerados pela incongru ncia est o ligados a 1 uma expectativa frustrada na qual o humor surge de uma s bita transforma o de uma tensa expectativa em nada tese que tem sua base na filosofia kantiana ii uma inesperada conex o entre ideias tese fundamentada em Schopenhaeur Ou seja o humor implica encontrar o inapropriado dentro do apropriado e a fun o do humorista colocar em evid ncia os fatos inconvenientes que corrompem atitudes tidas por exemplo como padr o ou como politicamente corretas mas que no fundo n o s o mais do que estere tipos representantes das incongru ncias do mundo MONRO 1988 p 353 Sobre as teorias do al vio Monro nos diz que elas partem da seguint
292. ia sendo que essa capacidade pode ou n o ser exercitada ou em outros termos ativada porque o homem racional ele pode ver que algo engra ado porque ele um animal ele pode rir Um homem possui uma capacidade para a hilaridade quer ele a exer a ou n o A risada de uma hiena n o alegre uma mera gargalhada um som um barulho horrendo mas n o alegre JOSEPH 2008 p 108 Tamb m sabemos que sobre o sujeito que as influ ncias e as coer es s cio hist rico culturais recaem Com efeito esse mesmo sujeito visando fazer rir o car ter positivo ou negativo aqui n o vem ao caso deve deseja pode escolher numa determinada linguagem os elementos para a produ o desse discurso em especial Enquanto express o verbal acreditamos que tal linguagem deve ser constitu da de elementos linguageiros sem nticos e formais mut veis de l ngua para l ngua de registro para registro e desse modo pass veis de se adaptarem s mais diferentes situa es de comunica o Com efeito seguindo Bakhtin 2010b sabemos que no uso efetivo da linguagem os enunciados refletem as finalidades o conte do a constru o composicional do g nero e o estilo Este ltimo representa a sele o de recursos lexicais frascol gicos e gramaticais da l ngua BAKHTIN 2010b 261 isto a aparente escolha a marca do homem Todavia os outros fatores que constituem os g neros do discurso imp
293. ia de oposi o entre um humor urbano e um humor r stico bufo que torna poss vel evidenciar no discurso o homem que diz fac cias sem maneirismos do homem do campo e sem as performances do c mico e do m mico Se conjugarmos essas macroacep es ao conceito de ethos podemos dizer que a primeira se desenvolve na esfera do ethos pr vio marcando o sujeito por meio de tra os de classe social origem espa o campo vs cidade e tempo gera es J a segunda macroacep o se especializa na quest o ret rica da prescri o do poder utilizar a palavra a quem pass vel tomar a palavra em que situa o e sobre o qu ou seja a VRBANITAS influenciando a constitui o do ethos discursivo Sabendo que o conceito de ethos em AD se apresenta ligado tanto s estrat gias discursivas ou s provas na ret rica quanto s coer es sociodiscursivas devemos primeiramente apresentar como C cero e Quintiliano delineiam o conceito de vRBANITAS em rela o s vantagens s prescri es da utiliza o do riso no discurso para num segundo momento articular de forma mais precisa os conceitos de ethos VRBANITAS 3 1 3 VRBANITAS DAS VANTAGENS E DAS PRESCRI ES Anteriormente vimos que o conceito de vRBANITAS est ligado a uma quest o cara aos romanos o ethos do orador Nos dois tratados De ridiculis de C cero e De risu de Quintiliano a modera o e as vantagens do uso do riso s o circunscritas de acordo co
294. ica o e de parceiros o que leva a refletir sobre o ethos sempre relacionado a uma determinada conjuntura hist rica na qual a identidade dos sujeitos ser pe a fundamental no desempenho ou sucesso quando de uma argumenta o do ato de comunica o Pensando dessa maneira al m de mostrar que o conceito de ethos depende de outras categorias como por exemplo os g neros do discurso e as cenas de enuncia o Maingueneau 2006a ressalta que o ethos pode assumir caracter sticas diferentes dependo da forma como for apresentado pelo sujeito falante Ao fazer isso Maingueneau tira a exclusividade da perten a desse conceito arte ret rica e passa a aplic lo aos estudos dos diferentes discursos como por exemplo o liter rio Enquanto ferramenta de an lise proposto que o ethos pode possuir um car ter discursivo ou 360 CF De risu 70 85 226 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 pr discursivo Contudo vale destacar que de acordo com Maingueneau 20084 ethos em AD n o deve ser entendido da mesma forma que na ret rica Em uma perspectiva do discurso n o podemos nos contentar como na ret rica tradicional em fazer do ethos um meio de persuas o ele parte pregnante da cena de enuncia o com o mesmo estatuto que o vocabul rio ou os modos de difus o que o enunciado implica por seu modo de exist ncia O discurso n o
295. ico In OS MELHORES DO MUNDO Os melhores do mundo not cias populares Warner 2008 284 Cf sketch regra clara no canal Porta dos Fundos Dispon vel em lt https www youtube com watch v ZtV7vNqU8GU gt Acesso em 24 maio 2013 198 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 denominamos na falta de um termo melhor de efeito de riso bom alegre Com isso em mente devemos procurar por meio de marcas lingu sticas e discursivas evidenciar como esse efeito pode se apresentar nos texto e quais as principais implica es do seu desvelamento para uma an lise do DH Mas antes apresentaremos o papel do l dico entre os tipos de regimes fun es sociocognitivas nos quais os textos segundo a proposta de Genette 1982 podem se apresentar Como vimos em outro momento de nosso percurso cf parte I cap 3 item 3 1 1 2 para Genette 1982 texto liter rio por vezes fruto de pr ticas hipertextuais isto resultado de opera es de transforma o simples ou indireta pelas quais um texto B hipertexto mant m rela es manifestas ou secretas com um texto anterior A hipotexto do qual ele hipertexto B transplantado de uma maneira que n o a do coment rio GENETTE 1982 11 16 tradu o nossa Segundo Genette essas pr ticas se consubstanciam em certos g neros como por exemplo a par dia o travestimento o
296. ificuldades semelhantes s encontradas por C cero principalmente no que tange a an lise a descri o e a classifica o dos GENERA ANECDOTORVM se apresentam recorrentes Por conseguinte exatamente nesse ponto que procuramos focar nossa aten o uma vez que tais dificuldades parecem apontar para caracter sticas mais discursivas do que estritamente lingu sticas dos g neros do riso 3 1 1 1 GENERA ANECDOTORVM De modo semelhante a C cero podemos dizer que Quintiliano no s culo I d C Castiglione no s culo XVI apresentam as mesmas dificuldades oriundas da imprevisibilidade de formas dos GENERA e da infinidade de fontes do ris vel no tratamento principalmente no tange a classifica o dos g neros do riso que se d o na 164 complei o do discurso No De risu Quintiliano categ rico muito dif cil dizer onde se consegue o riso e em que lugar costuma ser procurado Pois se quisermos perseguir todos os aspectos n o descobriremos a regra e trabalharemos em v o QUINTILIANO apud MARQUES JR 2008 p 107 grifos nossos Castiglione por sua vez afirma no Il cortegiano 1528 que na narra o festiva ou urbanidade n o necess ria nenhuma arte pois a natureza cria e forma homens aptos a narrar de modo agrad vel e lhes d o rosto os gestos a voz e as palavras apropriadas para imitar o que 164 Pequeno tratado que explora o tema do riso Encontra se no Livro VI do Instit
297. imitar o pr prio espa o dentro do campo discursivo do humor colocando em debate o que ser um humorista 235 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 4 1 O HUMOR NAS ENTRELINHAS DA LITERATURA Em outro momento desse percurso cf parte cap 1 item 1 2 5 apresentamos os principais motivos que teriam proporcionado o surgimento do humorista na Europa e em especial na Inglaterra do s culo Entre esses motivos merecem destaque os avan os tecnol gicos pelos quais passou a imprensa Esses avan os como j comentamos fizeram com que o texto impresso se tornasse mais comum passando de objeto de luxo no caso do livro a meio de comunica o de massa em forma de panfletos folhetins e almanaques cf VALE 2009a Segue que o aumento de tiragens assim como a maior presen a de imagens litogravura fizeram com que outros campos discursivos abrissem concorr ncia com o campo liter rio Assim os campos midi tico e publicit rio passam a conviver com a grande literatura buscando progressivamente uma especializa o de cada setor Em meio a esses campos discursivos o humorista come a a desenvolver sua arte e como sugere Pirandello 1996 se iniciam tamb m as discuss es em torno do sentido 372 do que ser humorista Mennucci 1923 por exemplo nos diz que o humorista aquele escritor que carrega como marca de estilo a bu
298. insensibilidade e O riso social isto precisa do contato entre as intelig ncias a necessidade da comunh o da coniv ncia e Uma paisagem um objeto um animal diferente do homem s pass vel de fazer rir se contiver a marca que o homem lhe imprimiu ou o uso que homem fez faz dele ou ainda a semelhan a pass vel de ser percebida desse objeto com o homem Ou seja n o h comicidade fora daquilo que propriamente humano Podemos depreender do exposto que a ltima dessas considera es proporciona a Bergson do seu lugar de fil sofo buscar encontrar a comicidade em n lugares da fisionomia dos gestos dos movimentos s situa es s a es e tamb m linguagem pois todas est o relacionadas ao homem e carregam em maior ou menor medida a sua marca Assim embora estejam ligadas ao crit rio do riso podemos dizer que para a an lise a que nos propomos essas considera es v o muito al m do discurso ou da linguagem ou melhor dizendo se apresentam amplas demais vagas demais criando dificuldades para que tal crit rio seja empregado numa sele o de textos Isso posto devemos ent o procurar outras propostas que contribuam para delinear melhor esse crit rio em rela o ao discurso 33 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Podemos dizer que a obra Comicidade e riso de Propp 1992 se apresenta como um di
299. io Tv internet encontra se uma variante desses atos fatos engra ados que s o apresentados como entretenimento Nesse caso normalmente atribu do ao termo pegadinhas o nome do programa ou do apresentador Da as pegadinhas do Faust o do Gugu do Serginho Malandro para citar algumas O que n o exclui exce es como por exemplo o Partoba do canal humor stico Mundo Canibal cf http www youtube com user OficialMundoCanibal 134 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 caracter sticas discursivas mais gerais e abstratas por exemplo constitu ncia discursiva e a capacidade mim tica os tipos de rela es que o DH parece manter com os demais tipos de discurso Num segundo momento buscamos verificar como se constitui a estrutura tipol gica do DH a partir da descri o das cenas enunciativas que acreditamos esse discurso capaz de produzir Com esse objetivo em mente e refletindo sobre a proposta por Charaudeau 2006a de que a par dia faz coexistir dois textos que se alimentam reciprocamente somos levados a acreditar que o DH mant m com outros discursos certas rela es interdiscursivas que tamb m podem ser caracterizadas por met foras de cunho biol gico a primeira ligada necessidade do DH de conviver e de se alimentar de outros discursos numa esp cie de mutualismo a segunda consequ ncia da primeira referente
300. io do humorista cuja fun o colocar sobre as formas c micas um certo amargor derivado do fazer refletir o c mico e a percep o do contr rio pr pria dos demais sujeitos do riso que d o livre curso ao riso e suas formas Em suma diremos por enquanto que essa querela nos mostra que a quest o do humorista est al m de seu temperamento ou de sua capacidade estrat gica de utilizar o riso tamb m um problema de lugar topia desse sujeito em rela o aos diferentes campos liter rio midi tico pol tico filos fico etc e ao seu pr prio campo discursivo humor stico De certo modo uma problem tica que como vimos at aqui acompanhava acompanha em diferentes nuances tamb m os demais sujeitos do riso 21 exatamente essa querela que proporcionar novas reflex es e reformula es do conceito de humorista Isso porque tais reflex es e reformula es est o diretamente ligadas quest o do lugar de atua o profissional e da postura tica moral que o humorista assume na sociedade entre o final do s culo e o decorrer do s culo xx quando a profiss o tende a ser reconhecida enquanto tal cf parte II cap 4 179 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 PARTE CAP TULO 2 QUEM RI DE QUEM DAS INST NCIAS NO DISPOSITIVO HUMOR STICO Um homem n o existe neste peda o de mundo velho que deixe de ter
301. ional que n o distingue entre o que maior e o que menor mas julga acerca das mesmas coisas ora que s o grandes ora que s o pequenas que est sempre a forjar fantasias a uma enorme dist ncia da verdade PLAT O 2012 p 304 305 De fato para Plat o o que o poeta nos apresenta al m de n o ser a verdade somente acess vel atrav s da filosofia est tr s vezes afastado de garantir a governan a necess ria ao homem Assim sendo a imita o aqui no sentido de repeti o reprodu o das a es e dos ditos rid culos se torna extremamente perigosa e sem nenhuma serventia ao homem digno de ser considerado urbano Isso porque com o riso se instauraria um movimento violento da alma capaz de desestabilizar a raz o Sendo a raz o a nica atrav s do h bito com for a suficiente para conter tanto o riso quanto os ditos rid culos Plat o 2012 p 306 conclui que o homem que d livre curso ao riso al m de se privar de conhecer e governar a si mesmo atrav s dela sem que perceba tornar se um autor c mico em sua pr pria casa Numa linha um pouco divergente cabe ressaltar o posicionamento do pr socr tico Dem crito de Abdera cuja figura transformada em personagem ficcional na Carta de Hip crates a Damagetus datada da segunda metade do s culo 1 a C N o cabe aqui fazer um resumo dessa Carta mas t o somente destacar que a partir da narrativa nela contida pode ser depreendido das fun es
302. ional que ao privilegiar o valor est tico s se interessa pelos textos que escapam ao ordin rio 2010b p 10 Mutatis mutandis acreditamos que o mesmo deve ser aplicado aos g neros e aos textos engendrados pelo DH 198 Mantivemos nos excertos a ortografia da edi o fac s mile de 1984 140 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 modo pelo qual um povo falla usualmente uma l ngua Ora o povo falla sempre muito mal e escreve ainda peiormente logo n o de se estranhar que seja a grammatica a arte de fallar e escrever incorretamente uma lingua FRADIQUE 1984 p 7 Preocupado em se assegurar de que o leitor chegue conclus o de que a gram tica realmente n o uma arte de bem escrever e falar Fradique passa a questionar agora o status da gram tica que do seu ponto de vista se afasta tanto de uma arte quanto de uma ci ncia Arte tudo aquilo que consegue emocionar ora grammatica enfastia caceteia encrespa o discurso inteiri a a phrase mechanisa a express o mumifica a id a e faz ainda mil e uma coisas mais qual dellas entretanto menos capaz de emocionar Logo grammatica n o arte A sciencia o trabalho da intelligencia tendente ao conhecimento e simplifica o dos phenomenos ora grammatica principia por n o ser um trabalho da intelligencia porque quem intelligente n o perde tempo em carranci
303. ios da Corte a ponto de os moralistas o considerarem o pr prio diabo cujo fim deveria ser a fogueira Diante de semelhante quadro n o de se espantar que a Corte desejasse por vezes a morte do bobo e que arquitetasse em momento prop cio o fim dessa profiss o real E isso n o tardou a acontecer As mudan as sociais e culturais pelas quais passou a Europa a partir do Renascimento iriam tornar os s culos posteriores dif ceis para o bobo Juntam se a isso o Absolutismo e o desenvolvimento da ci ncia de base cartesiana que fazem com que as monarquias repensem o papel desse sujeito a maioria da intelligentisia est relacionada com o fortalecimento da hierarquia que culminou no final do s culo num desprezo gen rico e neocl ssico por todos os tipos de humor mais baixos BREMMER 20006 23 O rei assume car ter mais que divino e n o se pode mais zombar do lugar tenente de Deus na Terra Como consequ ncia o bobo troca o riso pela bajula o devido ao medo do hosp cio que se apresenta sempre como o lugar 170 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 mais prop cio para esse louco resqu cio de uma poca de barb rie e de um riso desmedido O bobo do rei se subsiste n o mais que uma divers o privada um palha o dom stico MINOIS 2003 p 359 De fato nesse contexto tanto o riso quanto a fun
304. ique entre des tendances contradictoires dont chacune sert alternativement de masque l autre la plaisanterie venant humaniser la m lancolie ou morosit venant temp rer une vitalit trop exub rante 175 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 saber a discuss o sobre o car ter imanente ou estrat gico da excentricidade aferida ao humorista Com esse objetivo Escarpit 1972 p 27 et seg nos explica isso a partir da aproxima o entre o sense of humour e outra importante quest o psicol gica o self consciousness Segundo Escarpit essa ltima n o deve ser entendida como simples consci ncia de si mas sim uma consci ncia que a pessoa no caso especial o humorista possui de que est sendo observado por outrem o que por vezes confundida com pudor ou timidez mas que n o exclui a mal cia a aud cia ou a coragem Ou seja a consci ncia daquele que se percebe enquanto um personagem o que possibilita entre outras coisas ao humorista desenvolver estrat gias digamos discursivas como por exemplo a piscadela de olho a busca da cumplicidade o gracejo com ar triste o tom melanc lico a observa o aberrante numa frase imperturbavelmente grave entre outras de modo a fazer passar n o somente a mensagem a ideia mas tamb m algo do riso sua mal cia sua aud cia de forma atenuada ou melhor dissimulada Escarpit 197
305. ir do momento em que seu discurso assume car ter mais cr tico e agressivo No entanto parece que na Roma Antiga que a cr tica jocosa com um car ter c ustico altamente agressivo direcionada aos v cios e principalmente s pessoas em especial aos poderosos se desenvolveu de modo a se tornar modelo na po tica e a ressoar como grito de protesto somado ao riso nas sociedades posteriores Com os sat ricos vemos o riso adentrar na grande literatura na classe dos escritores e dos poetas Plauto Juvenal Catulo Marcial para citar alguns por m n o sem a exig ncia do refinamento de comportamento baseado tamb m nas pr dicas de Arist teles C cero Hor cio e mais tarde Quintiliano Mas 20 Lat Rindo castiga os costumes De acordo com R nai 1981 40 palavras atribu das ao poeta neolatino Jean de Santeuil 1630 1697 21 A Gr cia verdade conheceu a diatribe forma agressiva e amarga de cr tica social desenvolvida pelos c nicos no quadro de discuss es entre mestres e alunos Mas enquanto a diatribe permaneceu ligada a uma escola filos fica a s tira em Roma atinge uma dimens o nacional MINOIS 2003 p 87 grifos nossos 22 Com base em Minois 2003 84 85 podemos dizer que alguns fatores favoreceram desenvolvimento da s tira em Roma a saber 1 a causticidade camponesa nas origens do povo ii a l ngua latina que com suas formas el pticas prestava se
306. iscurso que visa a n o considerar os lugares independentemente das falas que elas autorizam redu o sociol gica e a n o considerar tampouco as falas independentemente dos lugares dos quais s o partes constitutivas redu o lingu stica MAINGUENEAU 2004b p 43 nos colocar diante dessas hip teses n o descartamos que outros antes de n s n o tenham estudado de algum modo tal discurso ou seus efeitos de sentido ou mesmo sua estrutura a literatura sobre o tema por certo muito extensa Todavia procuramos elaborar um estudo que projete o riso o ris vel o humor o c mico na esfera de uma Lingu stica do Discurso Com efeito em muitos cap tulos n o nos debru amos sobre a an lise digamos estritamente lingu stica de g neros ou de textos tidos como humor sticos Isso porque acreditamos que h muitos trabalhos por vezes extremamente detalhados que j se prestaram muito bem a isso ora buscando depreender a an lise do c mico ou do humor a partir dos mecanismos desencadeadores do riso cf por exemplo OLBRECHTS TY TECA 1974 PROPP 1992 POSSENTI 18 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 1998 e VALE 2009a ora estudando g neros e textos c mico humor sticos sat ricos com um outro ponto de vista que n o exclusivamente lingu stico como por exemplo os trabalhos de Freud sobre os chistes e o humor qu
307. iso Qual a rela o desse discurso com os demais tipos de discurso numa dada sociedade Quem o usaria para quais fins Quais as implica es eth ticas derivam desse uso Tais perguntas por si s j justificariam uma aten o especial para tal discurso No entanto longe de respond las em sua integridade nosso trabalho de certo modo se prop e a transitar por elas apontando caminhos a serem percorridos na busca de tais respostas Antes entretanto devemos aqui fazer mais uma quest o norteadora como a nossa sociedade ocidental lida com tal linguagem e com tal discurso Para Minois 2003 a sociedade do s culo xx se apresenta como uma sociedade humor stica num s culo marcado por guerras de propor es mundiais crises como a grande depress o americana de 1939 a divis o do mundo em dois grandes blocos o capitalista e o socialista a corrida armamentista a amea a nuclear o terrorismo etc a sociedade ocidental principalmente necessitava de uma v lvula de escape para suportar os sofrimentos causados por esses acontecimentos A solu o rir de tudo Tudo se torna ris vel a morte a fome os pol ticos os generais as na es amigas inimigas as barbaridades e as viol ncias das guerras Para esconder as vergonhas dos atos praticados em prol de determinada escolha ideol gica tem se uma esp cie de nova droga um novo pio do povo o riso Logo podemos dizer que vivemos numa sociedade humor stica na
308. ito que nada mais que a busca pela aus ncia de preocupa o e a felicidade na sabedoria universal ALBERTI 1999 p 77 Na voz de Dem crito Se os homens fizessem as coisas prudentemente me poupariam o riso Mas ao contr rio eles como se as coisas fossem firmes e est veis nesse mundo vangloriam se loucamente sem poder reter sua impetuosidade por faltar lhes a boa raz o o discernimento o julgamento Porque este nico aviso lhes bastaria de que todas as coisas t m seu turno o qual adv m por mudan as s bitas Eles como se a coisa fosse firme e perdur vel esquecendo os acidentes que ocorrem ordinariamente se envolvem com v rias calamidades Se cada um pensasse fazer todas as coisas de acordo com seu poder certamente se sustentaria em uma vida certa e tranquila conhecer se ia a si mesmo contentando se com as riquezas Eis o que me d mat rias de riso homens insensatos voc s s o bem punidos de sua loucura avarice insaciabilidade de faze rem do v cio virtude DEM CRITO apud ALBERTI 1999 p 76 Disso podemos deduzir que a fun o do riso para Dem crito n o est somente ligada a uma fun o terap utica relacionada aos humores fluidos que controlam os estados de esp rito dos seres humanos mas tamb m busca da verdade na forma da boa raz o Fun es ali s que seguem os preceitos da estreita aproxima o entre a tica e a medi
309. itos momentos se apresentou rido duro cansativo e por vezes sem gra a que ironia deve se s nossas leituras e aos conselhos de outrem que estudaram e estudam o assunto principalmente Escarpit 1972 p 7 que nos diz que uma das falhas erros funestos nas palavras do autor daqueles que escrevem sobre o humor tentar faz lo com humor Entretanto se o texto for lido com paci ncia como um percurso deve ser talvez consiga despertar aquele sentimento que segundo Ziraldo surge quando nos admiramos diante do humor U gente N o que isso mesmo PINTO 1970 p 29 Todavia se em alguns momentos fizer rir melhor ainda 262 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 REFER NCIAS 263 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 ADAIL J et al Antologia brasileira de humor Porto Alegre L amp PM Editores 1976 vol 2 ADAM M lingu stica textual introdu o an lise textual dos discursos 2 ed S o Paulo Cortez 2011 ALBERTI O riso e ris vel na hist ria do pensamento Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor FGV 1999 AMOSSY R Imagens de si no discurso a constru o do ethos S o Paulo Contexto 2005 ANTUNES FROMER REIS N Racio s mio Blom Rio de Janeiro WEA 1989 ARISTOTE Art rh
310. juntar categoria de ethos tal como foi proposta em AD ela ao mesmo tempo assume um car ter anal tico descritivo e se torna parte pregnante dos discursos como postula Maingueneau 2008 para o ethos Todavia a aplica o da categoria de vRrBANITAS deve levar em considera o as macroacep es baseadas na ret rica pois essas podem se mostrar como guias para o desvelamento das coer es impostas pelo g nero do discurso e pela situa o de 262 Entendendo que esse processo se d em dois circuitos interno e externo da mise en sc ne dos atos de comunica o cf CHARAUDEAU 2008 163 A nosso ver essas caracter sticas arroladas por Charaudeau devem tamb m ser vistas pelo seu lado oposto a partir da falta ou do excesso isto elas possam indicar mostrar por exemplo um ethos de incompet ncia ou de fraqueza respectivamente pela falta de compet ncia ou pelo excesso de solidariedade 228 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 comunica o na qual est inserido o sujeito Logo assumimos que a VRBANITAS poder enquanto categoria descritiva indicar a adequa o tanto do sujeito representado pelo seu ethos quanto do seu discurso ao contrato de comunica o imposto para o uso do riso Para termos uma ideia de como isso pode se dar imaginemos como seria um presidente do Brasil utilizando a LR Reza a lenda que durante uma visita
311. khtin somente h reflex es a respeito do lado estritamente verbal objetal e social do riso uma vez que o pr prio Bakhtin nos diz que n o h literalmente nada de que n o possamos rir o sol as rvores os pensamentos BAKHTIN VOLOCHINOV 1926 p 12 De fato h que se tomar muito cuidado com o termo riso em Bakhtin Como j vimos ora esse termo remete s formas textos g neros com as quais 1 exprime se um ponto de vista sobre o mundo ii refere se a fen menos particulares da vida como os v cios ora o termo faz refer ncia a uma atitude psicofisiol gica isto o riso enquanto gesto que carrega em pot ncia o g rmen do ataque e da defesa da amea a e do carinho e tamb m as suas variantes como por exemplo o sorriso o sorriso entre os dentes o sorriso amarelo o sorriso pol tico Isso pode ser percebido em Bakhtin nas discuss es sobre a gargalhada de Rabelais o riso de Gargantua ou de Pantagruel o relinchar do asno o riso sard nico de Parnugo o riso criador de Deus o riso debochado do Diabo o mostrar os dentes Prevendo essa aparente contradi o nos postulados bakhtinianos preferimos dizer que o riso em Bakhtin pode se mostrar sob dois aspectos 1 uma face linguageira ou seja uma linguagem da qual poss vel retirar elementos para compor as mais variadas formas de express o verbal do riso e ii uma face psicossociofisiol gica isto O riso 2255 enquanto atit
312. l tirar vantagem disso Novamente o OR subsume ao mesmo tempo tanto a inst ncia pol tica quanto a inst ncia advers ria se os pol ticos sempre fazem isso n o vou fazer diferente mas como sou um bobo contarei isso a voc s poder amos depreender do discurso de Tiririca Pelo exposto n o podemos alegar que o humor n o seja uma estrat gia discursiva Todavia no caso analisado o grau de complexidade do humor extrapola em muito um 300 Os excertos utilizados nessa an lise est o alocados no site Youtube com dispon veis em lt http www youtube com watch v qJqD6SrrOA4 gt Acesso em 11 nov 2012 grifos nossos 207 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 simples ACH N o estamos falando de uma cenografia humor stica que se instaura dentro do discurso pol tico como poderia alegar Maingueneau 2004 cena gen rica de propaganda pol tica mantida e tamb m a finalidade discursiva voltada para influenciar o eleitor a favor do candidato N o s o criadas nem uma narrativa nem qualquer outra forma discursiva t pica de outro g nero mantido o car ter argumentativo pr prio da publicidade eleitoral Ou seja o humor n o est simplesmente atravessando o discurso pol tico como um ato de comunica o pontual Pelo contr rio o DH est replicando as caracter sticas do discurso pol tico o macrodispositivo do primeir
313. la linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 eles agem na cogni o humana Segue que o cr tico russo passa a elencar e a discutir metodicamente os principais tipos de riso para os quais apresentamos uma s ntese iv Riso de zombaria Voltado para a puni o dos v cios e para o esc rnio dos defeitos mesquinhos Altamente sat rico e destruidor esse riso estabelece como alvo entre outras coisas a falsa grandeza a falsa autoridade a falsa pusilanimidade a falsa pudic cia e a norma estabelecida O prazer gerado por esse riso a somat ria de sentimentos como a satisfa o e a sensa o de superioridade conquistada por uma esp cie de vit ria o dio contra o objeto do riso a alegria com os pequenos infort nios alheios entre outros Riso bom Raramente encontrado esse riso tamb m se volta para a puni o dos v cios todavia diferentemente do riso de zombaria ele n o porta o tra o de irris o Isso se deve ao fato de que a puni o proporcionada por esse riso embotada por alguma forma de afeto daquele que ri sobre o objeto do riso pois o defeito pode ser pr prio de uma pessoa a quem amamos e apreciamos bastante ou por quem sentimos simpatia Nessas circunst ncias um defeito n o provoca condena o mas pode ao contr rio refor ar um sentimento de afeto e simpatia PROPP 1992 p 152 Riso maldoso Nesse tipo de riso os v cios e os defeitos mesquinhos apa
314. lementam No primeiro debru amo nos sobre a possibilidade de articula o entre o riso a linguagem partindo da ideia de que A opacidade da linguagem condensa m ltiplas possibilidades formais que permitem seu emprego c mico aproveitando os aspectos r tmicos as analogias fon ticas a ambigiiidade dos significantes Quando essas opera es que se assemelham brincadeira infantil de manejar palavras como parte de um quebra cabe a mas sem nenhuma ingenuidade t m apenas a si pr prias como fim conseguem macular a certeza de que a linguagem seja l mpida transmissora de id ias que a raz o deseja D ANGELI PADUANO 2007 197 Com efeito na parte 1 de nosso percurso propomos no cap tulo 1 uma re inser o nos Estudos do Discurso do riso enquanto um conceito de car ter objetal verbal 19 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 historicamente marcado e ligado s mais diversas manifesta es culturais atrav s das suas faces linguageira e psicossociofisiol gica No cap tulo 2 discutimos os modos de se observar o riso enquanto atividade linguageira por meio de instrumentos de an lise dispon veis na An lise do Discurso e tamb m pela liga o entre o riso e as formas de prazer que por sua vez podem caracterizar o riso como bom maldoso alegre ritual e zombeteiro No cap tulo 3 procuramos sistematizar um conhecimento a respeito
315. letras ufmg br index php relin article view 1016 1127 gt Acesso em 24 maio 2013 S Os humores da l ngua an lise ling stica de piadas 5 reimpr Campinas Mercado das Letras 1998 POSSENTI S Humor l ngua e discurso S o Paulo Contexto 2010 PROPP V O riso ritual no folclore In dipo luz do folclore Lisboa Editorial Vega 19 7 69 113 PROPP Comicidade e riso S o Paulo tica 1992 RABELAIS Gargantua e Pantagruel Lisboa Portug lia Editora s d RABELAIS F Obras d cima aos leitores BAKHTIN cultura popular na Idade M dia e no Renascimento o contexto de Fran ois Rabelais S o Paulo 7 ed Hucitec 2010 59 RAMAGE E S Early roman urbanity The American Journal of Philology vol 81 n 1 1960 p 65 72 RAMOS J C mico In Risada e meia comicidade em Tutam ia S o Paulo Annablume 2009 p 24 54 RASKIN Linguistic heuristic of humour a script basead semantic approach International Journal of Sociology of Language 65 1987 p 11 25 REZENDE A M Latina essentia prepara o ao latim 4 ed rev ampl Belo Horizonte Editora UFMG 20094 REZENDE A M Rompendo o sil ncio a constru o do discurso orat rio em Quintiliano 2009 280f Tese doutorado UFMG FALE POSLIN Belo Horizonte RICKLEFS R E Coevolu o e mutualismo In 4 economia da natureza 5 ed Rio de Janeiro Editora Guanabara Koogan S A
316. licam que o estilo n o deve ser considerado como sendo o reflexo de um nico indiv duo o estilo de um escritor X e sim que o estilo pelo menos duas pessoas ou mais precisamente uma pessoa mais seu grupo social na forma de seu representante autorizado o ouvinte participante constante na fala interior e exterior de uma pessoa BAKHTIN VOLOSCHINOV 1926 p 23 Segue se que o 6 ARIST TELES Partes dos animais 10 673 apud Minois 2003 72 6 Esse tipo de racioc nio pode ser percebido por exemplo em defini es operat rias de humor proposta por Bremmer e Roodenburg 2000b p 13 quando dizem que entendem por humor qualquer mensagem expressa em atos palavras escritos imagens ou m sicas cuja inten o a de provocar o riso ou um sorriso 66 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 estilo representa sim uma escolha relativamente subjetiva mas ao mesmo tempo uma escolha tamb m condicionada por fatores discursivos as finalidades os g neros o conte do os parceiros e por fatores funcionais de diferentes reas da atividade humana cient fica t cnica public stica oficial cotidiana entre outras Desse modo linguagem e estilo de linguagem mant m entre si uma estreita liga o podendo uma determinada linguagem como a liter ria por exemplo absorver v rios estilos funcionais mant los
317. lo que acabou de ser dito por um coment rio para retirar do proposto seu car ter de s rio Esse direito reivindicado para tro ar zombar ou para dizer n o importa o que uma maneira de convidar o interlocutor a partilhar um momento de pura brincadeira a brincadeira pela brincadeira que n o engaja em nada n o carrega nenhum julgamento sobre o mundo nem sobre o outro coloca tudo em causa atrav s da linguagem mas de maneira gratuita Evidentemente isso somente apar ncia pois na maior parte do tempo permanece uma cr tica No entanto aqui o jogo consiste em fazer como se ela fosse pelo menos provisoriamente anulada PLAISANTERIE 415 No original La connivence de d rision en commun avec celle de critique la disqualification d une personne ou d une id e mais la diff rence de la critique elle ne proc de ni aucun d veloppement argumentatif La d rision disqualifie brutalement sans appel sans d fense possible En revanche la critique suppose que l on puisse la justifier 410 No original la connivence de d rision cherche faire partager cette insignifiance de la cible lorque celle ci se croit importante ou lorsqu on croit qu elle se croit importante Plus g n ralement elle cherche faire partager une mise distance parfois m me un certain m pris vis vis de ce qui d une fa on ou d une autre est surv
318. louco ca ado a pedradas um ser de quem a comunidade teria o prazer de se livrar de acordo com Minois 2003 p 227 241 narradas Nesse mesmo tempo no castelo senhorial o riso proporcionado pelas gabs pelos cavaleiros do rei que com um riso hom rico e hist rias extravagantes ridicularizam os advers rios derrotados Entretanto quando se passa ao pal cio real o riso orquestrado pelo REx FacETvs 2 Esse ltimo agora regulamenta o riso institui aquele que tem o of cio ou melhor a obriga o que podia se estender de forma vital cia e a licen a legitima o de fazer rir o bobo da Corte Sobre esse of cio Minois 2003 p 227 nos esclarece que a institui o n o nova mas conhece nessa poca um grande desenvolvimento a ponto de n o somente os grandes senhores mas tamb m as municipalidades e as corpora es terem feito quest o de adot lo um pouco como mascote Havia agora sele o para bobo feita com base na estrutura f sica e no aparente estado cognitivo dos candidatos d beis mentais aleij es e an es s o colecionados nas Cortes ou mesmo adquiridos em centros de 241 ros Como sugere Minois 2003 189 essa palavra que ressoa como um golpe de ma a pr xima de gag derivaria do latim medieval gabae ela pr pria oriunda do latim cl ssico cavilla isto cavila o ironia maliciosa 22 Lat rei brincalh o rei faceto 169 O
319. m a ideia que esses retores tinham de urbanidade Com isso em mente percorremos esses tratados objetivando elaborar um quadro que esboce as vantagens e as prescri es de modo que nos permita refletir sobre as estrat gias e as coer es ligadas utiliza o da LR Para isso vamos tomar como guias nessa trajet ria a terceira e a quarta pergunta 221 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 propostas por C cero no De ridiculis a saber se pr prio do orador querer provocar o riso e at que ponto o orador pode utiliz lo 3 1 3 1 DAS VANTAGENS TERTIVM SITNE ORATORIS RISVM VELLE MOVERE C cero responde positivamente que o orador pode provocar o riso nas contendas e nos processos uma vez que o riso tem a capacidade de mover o audit rio diminuindo a ades o desse ltimo tese advers ria e de afastar sentimentos como o dio e a raiva motivados pelo pathos administrado pelo advers rio suavizando assim as situa es de tens o A partir dessa vantagem geral C cero exp e com v rios exemplos as vantagens espec ficas que apresentamos aqui em linhas gerais 338 O riso ben volo quem o suscita pois as pessoas gostam de agudezas de respostas a um ataque e riso na ALTERCATIO serve para enfraquecer constranger diminuir afugentar refutar o advers rio principalmente se a estultice desse for evidente p
320. m efeito para Ziraldo um cara que escorrega numa casca de banana e cai c mico A ste que exemplo o Rep rter Osso o ltimo a dar a not cia que parodiava um importante informativo da poca o Rep rter Esso 240 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 pretende criar o riso continuar sendo naturalmente um humorista chamaremos risistas Depois v m os outros tudo humorista PINTO 1970 35 Assim se entende porque o risista pode conviver com o humorista stricto sensu sem grandes problemas pois como coloca J Soares 1990 p 19 as dez regras do manifesto dos humoristas figura 3 se aplicam a qualquer engra adinho que pretenda dedicar se ilustre arte de fazer rir sob pena de n o acontecer coisa nenhuma No entanto sabemos juntamente com Quintiliano que o riso a qualquer pre o custa caro e sua cota a honra cf parte II cap 3 item 3 1 3 Ali s como veremos mais adiante no caso da profiss o humorista n o somente a honra est em jogo mas tamb m os lucros das atividades ligadas ao humor 4 2 1 HUMORISTAS VERSUS HUMORISTAS POSICIONAMENTOS NO CAMPO DO HUMOR Da dicotomia humoristas vs risistas proposta por Ziraldo e das regras de conduta humor stica propostas por J Soares podemos inferir tamb m um embate entre diferentes gera es de humoristas que gira em torno de um r
321. m ofensa aos amigos d obscenidade de modo algum deve o orador delas se utilizar d ambiguidade quando essa beirar o ultraje quele com quem se fala devido aos poss veis mal entendidos Como afirma o retor essas advert ncias devem ser observadas e as palavras ditas com dignidade pois o riso custa caro e seu pre o a honra QUINTILIANO apud MARQUES JR 2008 107 E relevante dizer que para Quintiliano al m dessas prescri es de suma import ncia ao orador n o dizer coisas rid culas sobre si mesmo pois isso algo quase de buf es e em geral muito pouco apreci vel em um orador QUINTILIANO apud MARQUES JR 2008 p 132 Do que dissemos at aqui fica evidente que o modo de constru o dos tratados apresenta as vantagens de maneira mais direta e diretiva Por sua vez as prescri es demandaram mais aten o dos retores pois essas ltimas est o ligadas preocupa o de afastar os oradores da linguagem dos buf es e dos m micos uma vez que o objetivo do uso do riso no discurso n o divertir outrem mas sim ser til causa do cliente ALBERTI 1999 p 58 Assim em muitas passagens nas quais o ponto a descri o e a an lise dos GENERA RIDICVLORVM em C cero ou GENERA VRBANITATIS em Quintiliano s o indicadas orienta es ao orador de que aquilo que pode parecer pr prio de um 333 CF De risu 34 354 CF De risu 26 355 De risu 28 35
322. m outras l nguas e al m disso est o por vezes marcados historicamente Como consequ ncia direta disso podemos ler nas tradu es de Arist teles C cero ou Quintiliano verbi gratia o termo escurra que como vimos parte I cap 2 item 2 2 1 n o necessariamente desempenhava a profiss o de fazer rir vertido para o portugu s como buf o bobo ou palha o 8 Por exemplo o termo palha o origin rio do italiano pagliaccio tem seu registro em l ngua portuguesa a partir do s culo XVI 160 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 N o queremos aqui entrar nas querelas sobre os problemas de tradu o de termos interl nguas uma vez que os limites sutis de sentido entre os termos relacionados ao riso ao ris vel fazem com que os termos ligados a esses sujeitos se tornem de certo modo t nues Destacaremos somente que devido a esses problemas optamos por organizar nossa apresenta o como um percurso que leve em considera o os termos marcados historicamente fazendo refer ncia sempre que poss vel ao termo na l ngua de origem Isso al m de nos ajudar a diferenciar o status institucional que cada um desses sujeitos apresentou apresenta manter nosso texto em coer ncia com os demais estudos sobre o riso o ris vel Um exemplo bobo datado em nossa l ngua a partir do s culo XVI e possui sinon mia direta c
323. m que torna poss vel o engendramento das formas do riso e por conseguinte do discurso humor stico Num segundo momento voltamos nossa aten o para a estrutura desse discurso tendo os sujeitos do discurso como par metro Com efeito na primeira parte procuramos a partir do conceito de linguagem do riso delinear 1 as faces do riso seu lado psicossociofisiol gico enquanto atividade responsiva e seu lado linguageiro materializado nos GENERA RIDICVLORVM 11 as finalidades do fazer rir para al m do seu uso estrat gico em outros tipos discursos o fazer rir voltado para o riso em si mesmo as causas lingu sticas e discursivas dos efeitos ris veis colocando em quest o par dia e a imita o como fontes do riso e iv os modos de relacionamento interdiscursivo que um discurso baseado na visada de fazer rir pode manter com outros tipos de discursos Na segunda parte as caracter sticas estruturais do discurso humor stico passam a ser o foco de nossa an lise Apresentamos primeiramente os perfis eth ticos as m scaras c micas que os sujeitos podem assumir quando do uso do riso no discurso Em seguida procuramos descrever o dispositivo conceptual desse discurso perscrutando a as posi es que os sujeitos do riso podem assumir enquanto inst ncias de produ o e de recep o Nesse passo elencamos ainda as condi es as coer es e as vantagens da utiliza o do riso no discurso tomando o conceito de VRBANITAS com
324. magem de interlocutor tamb m uma cria o ficcional do usu rio real ou seja 219 Em todo caso um avatar que pode ou n o corresponder imagem real do usu rio algum sujeito receptor vai interpretar esse enunciado O problema aqui que n o temos como saber nem o sujeito locutor se a interpreta o acontecer da forma desejada todo ato de comunica o um enjeu uma aposta Determinados os parceiros e os protagonistas passemos ao alvo No caso espec fico do texto analisado podemos determinar o alvo a partir do efeito de sentido pretendido pelo sujeito locutor Tal efeito podemos dizer transita nos limites t nues entre a ironia e o sarcasmo Devemos ressaltar que esse efeito est diretamente ligado s poss veis interpreta es inferidas a partir da an lise do jogo de palavras o duplo sentido e a mudan a de isotopia Se se entende a palavra pau no dom nio da sexualidade ela remeter a uma g ria utilizada para representar o rg o sexual masculino Desse modo tem se uma linguagem chula e levando se em conta o fato de o enunciador se 270 Pode ser que Kauany seja na verdade um homem uma senhora uma crian a etc e n o uma adolescente como aparece na foto do avatar 191 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 identificar com uma mulher Gina encontrar se nessa fala al m de uma grosseria um ilogismo Da o
325. mente na express o verbal O riso se manifesta na fala pelos mais diferentes fen menos que at hoje n o foram submetidos a um estudo hist rico sistem tico rigoroso suficientemente profundo Ao lado do emprego po tico da palavra num sentido n o particular ou seja ao lado dos tropos existem as mais variadas formas de utiliza o indireta de um outro g nero de linguagem a ironia a par dia o humor a fac cia os diversos tipos de comicidade etc n o existe uma classifica o sistem tica BAKHTIN 2010c p 343 grifos nossos Como se v a concep o de riso para Bakhtin extrapola o riso enquanto simples rea o individual e psicofisiol gica de um sujeito diante de um determinado discurso Mesmo gt Lat l ngua sagrada em gorro burlesco Essa express o latina servia para designar os grupos de obras par dicas nos fins da Antiguidade semelhante ao que acontecia GRAMMATICA PILEATA como por exemplo a Virgilius Maro Grammaticus do s culo apontados por Bakhtin 2010c 388 391 Da LINGUA PILEATA linguagem em gorro burlesco 60 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 o riso sendo universal presente em todas as sociedades e culturas o impacto da linguagem que o exprime de car ter social marcado cultural e historicamente Apesar disso seria ing nuo de nossa parte acreditar que no pensamento de Ba
326. mente devemos admitir esses GENERA enquanto sequ ncias discursivas humor sticas se assim o for que a exemplo do que acontece com os ACHs podem estar presentes em v rios g neros sem no entanto constituir a totalidade desses Diante desse aparente dilema vemo nos obrigados por mais paradoxal que pare a a colocar em causa o estatuto gen rico dos GENERA ANECDOTORVM Nesse nterim vemos nas coloca es de Maingueneau 2010b pontos nevr lgicos semelhantes entre o discurso pornogr fico e o DH uma vez que ambos compartilham o fato de poder se manifestar tanto atrav s de g neros quanto atrav s de sequ ncias 3 1 1 2 OBRAS E SEQU NCIAS HUMOR STICAS 176 Em seu estudo a respeito do discurso pornogr fico Maingueneau procura diferenciar obras pornogr ficas propriamente ditas de segu ncias pornogr ficas Essa distin o segundo Maingueneau 2010b p 17 19 grifos nossos propicia diferenciar textos cuja inten o global pornogr fica de textos cuja inten o n o essencialmente pornogr fica mas que cont m sequ ncias pornogr ficas Nesse mesmo passo o autor caracteriza essas sequ ncias pornogr ficas como trechos de extens o muito vari veis que derivam da escrita pornogr fica e est o portanto predispostos a provocar um consumo do tipo pornogr fico e que al m disso podem ser encontradas em g neros muito diversificados inclusive em textos que n o de
327. minados enunciados humor sticos nos leva tamb m a pensar que o algo de que se ri n o necessariamente visado por uma atitude de agress o daquele que ri Em outras palavras ao se colocar o riso bom alegre entre os tipos de riso pass veis de ser proporcionados pelo DH devemos discutir a possibilidade de aquele que ri n o rir somente visando derris o do alvo Ele pode simplesmente rir fato que dificilmente poderemos provar no entanto devemos tamb m dizer que pode ser poss vel que o sujeito locutor vise com seu enunciado propor unicamente um efeito de riso bom alegre e por conseguinte busque em seu audit rio um sujeito ou um grupo de sujeitos que simplesmente ri Aceitando se essa possibilidade devemos considerar ent o que a heterogeneidade dos audit rios do se amplia para al m do sujeito destinat rio TU4 do tiers voyeur postulamos a possibilidade na mise en sc ne do DH haver um outro sujeito que desenvolve a sua compreens o ativa responsiva e tamb m a sua atitude responsiva n o necessariamente como resposta ao chamado do sujeito locutor para se tornar v tima ou c mplice mas sim como uma resposta que corresponda a um simples alegramento da 203 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 alma Sendo assim diremos que esse o sujeito que simplesmente ri e o denominamos ad hoc de rieur 2 5 DO MACROD
328. morista one man show de cara limpa sem maquiagem e em p por isso stand up e normalmente realizado em teatros cinemas casas noturnas ou bares Na maioria dos casos n o s o utilizados nenhum dos artif cios da arte dram tica como por exemplo cen rio figurino sonoplastia trilha sonora personagens entre outros No palco o humorista tem grande liberdade para dizer aquilo que lhe vem mente utilizando se de v rios recursos verbais e mim ticos e de quaisquer temas pol tica sexo excrement cia religi o casamento etc contanto que fa a rir Enquanto g nero algumas regras s o estabelecidas como a n o interpreta o de personagens e principalmente a n o utiliza o de piadas ou de causos j conhecidos pois como 387 afirma Gonzaga a for a est no texto Muitas vezes o p blico aplaude mais uma observa o inteligente com que ele se identifica do que o engra ado apud MENDON A 2007 No entanto essas regras como ridiculariza Marrom sempre s o obedecidas e por vezes tamb m servem de motivo de piada Fal pra voc s o que o stand up o stand up isso aqui a pessoa chega e fala o que tiver na cabe a dela importante que seja engra ado que arranque risada n o isso Isso o stand up Mas tem algumas regras Sabe que n o pode ter um cen rio por exemplo se eu colocar um peruca deixa de ser stand up e passa a ser personagem Isso
329. mos nos aproximar menos de uma Lingu stica dita hard do que de uma Lingu stica do Discurso Donde devemos nos preocupar mais com conjuntos abertos de enunciados do que com corpora fechados uma vez que mesmo os linguistas do n cleo hard s conseguem registrar um n mero irris rio de frases em compara o com todas as que um ling ista poderia teoricamente ter coletado o que ainda assim lhes permite elaborar uma gram tica da l ngua que eles estudam LEVI STRAUSS 2004 p 26 Nesse sentido embora os exemplos apresentados no decorrer de nosso percurso estejam em n mero reduzido acreditamos ter erigido como exemplos de textos humor sticos especialmente aqueles que contribuem para refor ar uma vis o macro do discurso humor stico isto textos e enunciados que v o al m das t cnicas do riso ou dos atos de comunica o humor sticos cf parte I cap 3 A segunda considera o diz respeito ao uso de termos gregos e latinos no corpo da tese A princ pio o que poderia parecer pedantismo de nossa parte na verdade uma preocupa o por um lado com a precis o terminol gica uma vez que atualmente muitos termos da Ret rica antiga est o sendo reutilizados com outro sentido principalmente em An lise do Discurso por exemplo ethos e pathos Por outro lado tamb m nos preocupamos com a quest o da extens o de sentido que se estabelece com o termo na l ngua original e sua tradu o o que por exemplo
330. mos que devido a essa capacidade de se transmutar em n tipos de dispositivos o macrodispositivo do deve ser considerado como um macrodispositivo proteif rmico Isso porque a troca linguageira de base humor stica n o somente estabelece como as demais trocas uma rela o de encaixamento entre macrodispositivo conceitual que estrutura cada situa o de troca social e os microdispositivos materiais que a especificam enquanto variantes CHARAUDEAU 2006b p 54 mas tamb m porque ela exige que esse macrodispositivo que deve assumir diferentes formas garanta uma alt ssima capacidade de replica o das caracter sticas da estrutura tipol gica dos outros tipos de discurso Vejamos como isso pode ser percebido em alguns tipos de rela o poss veis entre o DH e o discurso pol tico De acordo com Charaudeau 2006b o macrodispositivo conceptual do discurso pol tico formado por tr s lugares de fabrica o do discurso um lugar de governan a um lugar de opini o e um lugar de media o No primeiro desses lugares se encontra a inst ncia pol tica e seu duplo antagonista a inst ncia advers ria no segundo encontra se a inst ncia cidad e no terceiro a inst ncia midi tica CHARAUDEAU 2006b p 55 grifos do autor De fato quando se pretende fazer humor o discurso pol tico pode se ter s vezes a replica o pari passu desse macrodispositivo como o que se observa no
331. na da mesma forma que o buf o expulso do conv vio real e renegado s soleiras da sociedade Por fim nos prim rdios da Idade Moderna o humorista no sentido brit nico do termo 257 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 desponta na Inglaterra aliando a melancolia o medo e at mesmo um certo desencanto com a humanidade ao riso E nesse momento que o fazer rir ainda atrelado literatura come a a al ar voos mais altos chegando ao jornalismo e publicidade Delineadas essas m scaras c micas passamos na sequ ncia a discutir como o macrodispositivo conceptual do DH poderia ser descrito Partindo das ideias de Olbrechts Tyteca 1974 conseguimos depreender que os n veis de interpreta o do c mico sugerem que dependo do n vel primeiro segundo terceiro ou quarto onde se encontram o sujeito falante ou o sujeito receptor pode se evidenciar um maior afastamento da percep o do c mico e por conseguinte a heterogeneidade dos audit rios aos quais direcionado o enunciado humor stico Com isso em mente sentimos a necessidade de uma rean lise do microdispositivo enunciativo do DH proposto por Charaudeau 2006a e 2011 que postula uma rela o tri dica entre locutor receptor e alvo nos ACHs Isso porque assim descrita essa rela o tri dica por um lado n o abarca o afastamento entre os sujeitos a depender do n vel de interpret
332. na porta Cozinha jardim de inverno E depend ncia completa de empregada Financiamento da Caixa e sem nenhum trabalho Vem pra Caixa voc tamb m Dispensa taco nos quartos m vel embutido Esquadria de alum nio anodizada Poupan a facilitada e sem des gio Vizinha de um centro esp rita E quase em frente da delegacia Financiamento da Caixa e sem nenhum trabalho Siga o rumo da venta ou ent o pegue um atalho E voc chegar casa do caralho E voc chegar casa do caralho Vem pra Caixa voc tamb m 184 Vem Esse exemplo por certo complexo nos remete quilo que Bergson 2007 considera como leis de transforma o c mica uma frase se tornar c mica se continuar tendo sentido depois de invertida ou se exprimir indiferentemente dois sistemas de id ias de todo independentes ou ent o se tiver sido obtida por transposi o de id ias para um tom que n o o seu BERSGON 2007 p 89 Voltando can o podemos afirmar com base em Bergson que o humor n o somente se resume ao reemprego do slogan da Caixa Econ mica Federal ele tamb m atinge tanto quest es pragm ticas quanto argumentativas reorientando a fun o do slogan 184 FALC O Oportunidade nica 1992 Letra dispon vel em lt http www vagalume com br falcao oportunidade unica htmlfixzz2POi3gBzg gt Acesso 03 abr 2013 125 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Pett
333. ndo um anjo tocando trombeta mas tamb m pela estrutura textual organizada em forma de s ntese dos artigos essenciais de uma religi o ou seita no caso o cristianismo cat lico conseguimos perceber que se trata de um texto relativamente longo que se apoia ao mesmo tempo num tipo de discurso o religioso num g nero espec fico o dec logo e num texto particular a ora o do Credo todos reconhec veis para imitando os declin los com temas sexo direito pol tica religi o organizados de modo contradit rio aos princ pios prescritos pelo discurso religioso em quest o Al m disso n o escapa ao humorista o seu pr prio texto pois como ele pr prio assevera de todos os males que afligem este mundo de meu Deus nenhum pior mais terr vel mais repugnante do que o credo que ele escreve Do exposto podemos perceber que os princ pios da transforma o c mica ao transcenderem o n vel da palavra da frase da ora o e por que n o dizer o n vel das sequ ncias humor stica remetem a uma estrat gia mais complexa que na tradi o liter ria e ret rica conhecemos como par dia Em vista disso parece nos imprescind vel discutir a quest o da par dia de modo a apurar nossa compreens o sobre quais fatores fazem OS GENERA RIDICVLORVM OS ACHS terem os seus efeitos de sentido projetados para al m do n vel lingu stico textual ou seja para o n vel do discurso 3 2 A QUEST O DA PAR DIA
334. nessa norma o tipo de finalidade selecionada em rela o aos outros componentes do contrato identidades temas circunst ncias e com o apoio desses mesmos dados elencar quais visadas discursivas tal finalidade exige para realizar o projeto do sujeito falante Dito de outro modo as finalidades s o modos de perceber a inten o numa esp cie de postulado que leva em considera o a coletividade a doxa e as representa es sociodiscursivas e a recorr ncia de determinados prop sitos nos atos de linguagem executados em uma dada sociedade As visadas por outro lado correspondem uma intencionalidade psico s cio discursiva que determina a expectativa enjeu do ato de linguagem do sujeito falante e por conseguinte da pr pria troca linguageira As visadas devem ser consideradas do ponto de vista da inst ncia de produ o que tem em perspectiva um sujeito destinat rio ideal mas evidentemente elas devem ser reconhecidas como tais pela inst ncia de recep o necess rio que o locutor e o interlocutor possam recorrer a elas CHAR AUDEAU 2004 23 Nesse sentido podemos assumir que as visadas se apresentam como uma ponte entre a finalidade uma categoria de an lise e a intencionalidade do sujeito falante emp rico Elas as visadas podem ser consideradas portanto como hip teses da parte do sujeito analisante sobre a a o da inst ncia de produ o cuja consci ncia intencional se volta para um objeto
335. nfiss o de fracasso em transformar o mundo J os pitag ricos imagem de seu fundador Pit goras tamb m n o riem tornando se impass veis como o vasto universo regido pela harmonia dos n meros 210 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 de certas atividades sociais Para esse fil sofo o riso poderia entre outras coisas acarretar em sua forma exagerada rea es violentas e presente na com dia levar imita o da bufonaria pelos cidad os e pelos jovens Ainda de acordo com Bremmer 2000 41 no s culo a C mudan as na sociedade ateniense levaram a um aburguesamento crescente que por sua vez acarretou uma esp cie de refinamento moral relacionado ao ato de contar ditos jocosos de modo 305 espirituoso Diante disso coube a Arist teles direcionar os rumos da discuss o sobre o uso do riso E embora o seu tratado sobre a com dia n o tenha chegado at n s 306 outros textos do estagirita apresentam sua proposta sobre o uso do riso por meio da ideia de 0 Como veremos a eutrapelia est na base das regulamenta es sobre o bom e o correto uso do riso no entanto tal conceito ser muitas vezes retomado e reformulado de acordo com a linha de pensamento religiosa filos fica entre outras admitida em determinada poca Um exemplo disso a sua reformula o na r
336. nforto e a desconfian a da sociedade diante de um desenvolvimento tecnol gico acelerado e desordenado particularmente quando voltado para fins b licos A partir disso observamos no DH ou melhor nos g neros e nos textos por ele engendrados certas semelhan as com os replicantes Como esses os g neros e os textos humor sticos possuem as caracter sticas da duplica o de g neros e de textos pela imita o da for a no caso argumentativa e da durabilidade ligada em alguns casos brevidade dos g neros e dos textos tidos como humor sticos Al m disso acreditamos que o conceito de replica o consegue de certo modo melhor circunscrever a capacidade do DH em imitar ou melhor em replicar n o somente as cenas gen ricas mas tamb m as cenas englobantes de outros tipos de discurso 143 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 se ele oriundo de um discurso de tipo religioso pol tico publicit rio ou seja temos uma no o da cena englobante que nos necess ria para interpretar o panfleto em quest o e notar de que maneira ele interpela o leitor e Cena gen rica aquela definida pelos g neros de discurso particulares Cada g nero de discurso implica com efeito uma cena espec fica pap is para seus parceiros circunst ncias em particular um modo de inscri o no espa o e no tempo um suporte material um modo de circula o uma
337. nhoso urbano pr prio do orador e Os modos do homem urbano Homo VRBANVS VS HOMO RVSTICVS seus modos de falar quanto ao tom de voz e pron ncia 334 De ridiculis 232 QVASI VERO INQVIT CRASSVS HORVM IPSORVM DE QVIBVS ANTONIVS IAM DIV LOQVITVR ARS VLLA SIT OBSERVATIO QVAEDVM EST VT IPSE DIXIT EARVM RERVM QVAE IN DICENDO VALENT QVAE SI ELOQVENTIS FACERE POSSET QVIS ESSET NON ELOQVENS QVIS ENIM HAEC NON VEL FACILE VEL CERTE ALIQVO MODO POSSET EDISCERE SED EGO IN HIS PRAECEPTIS HANC VIM ET HANC VTILITATEM ESSE ARBITROR NON VT AD REPERIENDVM QVID DICAMVS ARTE DVCAMVR SED VT EA QVAE NATVRA QVAE STVDIO QVAE EXERCITATIONE CONSEQVIMVR AVT RECTA ESSE CONFIDAMVS AVT PRAVA INTELLEGAMVS QVOM QVO REFERENDA SINT DIDICERIMVS 335 Lat g neros de urbanidades 336 De risu 107 NAM MEO QVIDEM IVDICIO ILLA EST VRBANITAS IN QVA NIHIL ABSONVM NIHIL AGRESTE NIHIL INCONDITVM NIHIL PEREGRINVM NEQVE SENSV VERBIS NEQVE ORE GESTVVE POSSIT DEPRENDI 220 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Seguindo essa linha de racioc nio mas voltados para os nossos pr prios prop sitos sintetizamos essas acep es do conceito de vRBANITAS em duas macroacep es o A primeira corresponde a um tipo de refinamento desenvolvido pelo homem da cidade em termos de polidez de comportamento no falar e no uso de gestos o A segunda corresponde ide
338. nicas ou os gatilhos do ris vel por m esse crit rio n o garante que o g nero carregue necessariamente o fator c mico ou humor stico uma vez que essas t cnicas ou procedimentos lingu sticos em sentido estrito ironia par dia met foras conectores e desencadeadores de isotopia entre outros est o presentes em diversos outros g neros n o necessariamente ligados ao c mico ou ao humor poesia romance f bula etc Em segundo lugar o crit rio do riso est ligado diretamente aos problemas da conting ncia do mesmo ou seja n o temos como garantir baseando nos somente em tudo aquilo que provoca o riso ou o sorriso ou melhor naquilo que me fez faz rir ou que proporcionou prazer semelhante que um dado texto x c mico humor stico ris vel engra ado etc Todavia devemos considerar que essa intui o um fato presente na compet ncia discursiva n o somente dos falantes em geral mas tamb m do analista e do linguista Em vista disso estamos certos de que mesmo os estudiosos que assumiram crit rio do riso em suas an lises possu am al m dessa intui o sobre o ris vel uma presun o advinda das suas pr prias pesquisas sobre o riso ris vel comicidade o humor as formas do riso etc o que lhes possibilitou muitas vezes fazer leituras humor sticas de textos que n o necessariamente s o considerados como humor sticos Com efeito suas compet ncias discursivas se apresentam aparent
339. nifesta es textuais Nesse ltimo caso podemos ilustrar isso com uma recente publicidade de autom vel na qual ap s a apresenta o das qualidades do produto cerca de 70 do tempo da propaganda simulado um desvelamento da inst ncia de produ o O primeiro plano da c mera se volta para a figura de um pseudo diretor do comercial que indignado e esbravejante questiona o resto da equipe de produ o Corta CORTA Cad a piada do comercial Cad a PIADA DO COMERCIAL Et Miranda N O Procura mais A tem coisa hein Ou seja por um lado evidencia se a aus ncia do elemento humor que do ponto de vista do falso diretor crucial para o sucesso persuasivo da propaganda Por outro lado essa aus ncia da piada se torna o pr prio elemento de humor a partir do desvelamento das tentativas desesperadas da equipe de produ o para suprir essa aus ncia no caso a apresenta o de um boneco de extraterrestre fantasiado de Carmen Miranda de um quadro de um macaco vestido de terno atendendo telefone e de um boneco na forma de crocodilo tocando bandolim Diante do exposto at aqui uma quest o ainda se imp e como saber se estamos diante de um encadeamento de sequ ncias humor sticas ou de um texto humor stico de grande extens o Em sua proposta de descri o de textos humor sticos de longa extens o Possenti 2010 p 113 120 analisa certas narrativas alocadas num site de humor www humorta
340. niza o centrada na explora o das riquezas naturais como causas do desenvolvimento prec rio e da pobreza desses pa ses NARLOCH TEIXEIRA 2011 18 19 2 Dispon vel em lt http gl globo com ciencia e saude noticia 2012 04 cientista diz ter encontrado ponto g mas medicos duvidam html gt Acesso em 25 abr 2013 53 Ele s pensa naquilo Bord o da personagem Dona Bela interpretada pela atriz Zez Macedo do programa humor stico A Escolinha do Professor Raimundo A personagem que se dizia casta e invicta utilizava esse bord o como resposta a certas perguntas normalmente de duplo sentido pelo menos um sexual endere adas a ela pelo professor Raimundo interpretado por Chico Anysio como por exemplo 73 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 enunciado do dom nio da sa de passamos ao dom nio do er tico gra as sequ ncia Nunca se tinha ido t o profundamente dentro da vagina que assume o car ter de conector de isotopias Isso de modo algum quer dizer que o texto efetivamente fez rir a algu m por m conseguimos demonstrar que ele tem esse potencial de leitura humor stica devido a certas caracter sticas interdiscursivas espec fica do DH cf parte cap 4 N o antecipemos essa discuss o por enquanto Para esse momento somente assinalaremos juntamente com Charaudeau 2004a p 25 que cada situa
341. no cen rio humor stico brasileiro que de certo modo proporcionou na mente desses humoristas o direito a certos excessos de liberdade discursiva fora do espa o dos palcos como por exemplo a zombaria ofensiva e gratuita a chularia a excrement cia etc Tas apud 2013 p 98 por sua vez acredita que o humor por si mesmo que fornece tais licen as pois quando se joga com o humor pode se colocar as pessoas despidas no entanto admite sou muito mais processado hoje do que no regime militar e por raz es muita mais rid culas Gentili 2012 6 admite que nunca foi censurado na Tv mas bvio que alguns temas s o mais f ceis de se trabalhar no teatro Quanto a essas condi es de produ o impostas pela sociedade aos profissionais do riso Madureira apud XAVIER 2011 mais categ rico quando voc ofende algu m porque n o houve gra a falhou Alvo de in meros processos por ofensa Gentili apud MARTINHO 2013 p 63 procura relativizar a quest o fundamentando se na hist ria do humorismo brasileiro todo mundo fala de Chico Anysio e J Soares como se eles fossem santos nesse sentido Mas eles faziam piadas sexistas zoando homossexuais ra as e credos De um ponto de vista digamos quantitativo Tabet 2013 p 20 assume que o que vai salvar o humor da pol mica ele ser engra ado ser bom Se for ofensivo pode at ter algu m que ria mas muita g
342. no m todo e aceitou a blage Resultado n o posso hoje 1925 tra ar uma linha por mais austero que pretenda ser sem que venham com essa coisa fatal Boa piada m todo confuso FRADIQUE 1925 apud SALIBA 2002 p 134 importante ressaltar que outras obras humor sticas al m da GPMc foram elaboradas seguindo esse m todo como por exemplo Hist ria do Brasil pelo m todo confuso cf FRADIQUE 2004 Feira livre cf FRADIQUE 1923 e de certo modo podemos at evidenciar alguns ecos desse m todo em obras n o necessariamente humor sticas como Nova hist ria cr tica do Brasil cf SCHMIDT 1997 Aprenda ingl s com humor cf CARVALHO 2012 Guia politicamente incorreto da Hist ria do Brasil cf NARLOCH 2011 Guia politicamente incorreto da Am rica Latina cf NARLOCH TEIXEIRA 2011 e Guia politicamente incorreto da filosofia cf POND 2012 Todavia o m todo e o humor nessas ltimas se encontram digamos rarefeitos enfraquecidos e por isso mesmo mais pr ximos dos ACHS Isso porque apesar das liberdades concedidas pelo tra o do humor tais livros se mant m ref ns das coer es dos contratos do discurso did tico e nesse caso tamb m das coer es do discurso pol tico pedag gico do Minist rio da Educa o e do discurso acad mico cient fico respectivamente 142 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 simultan
343. nquadraria o DH em rela o topia Devido s caracter sticas sui generis cf nossas considera es iniciais tamb m a inser o do DH numa topia discursiva se apresenta problem tica uma vez que as rela es da sociedade com um discurso que se fundamenta no c mico no humor no l dico no sat rico dependem em muito das condi es hist ricas de licenciosidade do riso cf parte II cap 3 Donde por um lado poder se ia alegar que o DH se encontra aparentemente numa zona de transi o entre os discursos t picos e os discursos at picos pois sua marginalidade fun o de uma maior ou menor toler ncia para com o riso suas formas em dado contexto s cio hist rico cultural 137 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Por outro lado sabemos que como advertiam C cero e Quintiliano se pode obter mat ria para o riso das mesmas fontes de onde se retira subst ncia para os discursos ditos s rios Seguindo esse racioc nio o DH se aproximaria dos discursos constituintes mais especificamente do discurso liter rio e em menor medida do filos fico e do religioso pois ambos possuem uma capacidade mim tica que propicia a eles mobilizar qualquer g nero de discurso para elaborar suas cenografias MAINGUENEAU 2010a p 108 Essa capacidade mim tica no entanto n o para Maingueneau 2010a uma caracter stica determinante para q
344. nsidera se que as reflex es sobre o riso e o ris vel foram marcadas por constantes reformula es e adapta es dos postulados dos antigos Tratando da Idade M dia Alberti 1999 71 com base em Suchomski observa que aparentemente os autores medievais n o se arriscaram a despender tempo e trabalho abordando teoricamente uma futilidade nociva como o riso o ris vel Eles preferiam gastar seus esfor os em conciliar as coer es e proibi es crist s 0 e na dos santos com o conceito de fundamentadas na B blia na vida de Jesus RISIBILITAS que diz respeito faculdade humana de rir ou melhor dizendo capacidade do homem ser dotado de raz o de rir As discuss es por conseguinte permaneceram focadas em maior medida na toler ncia em rela o ao riso e ao fazer rir de um lado a tentativa de domestica o do riso de outro o fazer rir nas pr ticas sociais Com rela o a isso Le Goff 2000 afirma que nesse per odo houve dois momentos distintos No primeiro todos os esfor os se voltam para uma rejei o total do riso j no segundo retoma se a ideia dos antigos baseada em uma tipologia do riso de um lado o riso bom de outro riso mau Isso fez que assegura Alberti 1999 69 os pensadores da teologia crist ao regulamentarem as prescri es considerassem o riso 106 vRBANITAS 1 morada na cidade morada em Roma vida de Roma 2 poli
345. nte a produ o do ato e imagina um destinat rio ideal para seu ato Receptor a quem o ACH endere ado tamb m possui identidade psicossocial ESPA O Enunciador possui uma identidade enunciativa INTRADISCURSIVO OU ENUNCIATIVO aquele que fala representa a voz do seu mentor o locutor portador dos efeitos poss veis como por exemplo os efeitos de ethos e de ficcionalidade Destinat rio idealmente constru do pelo locutor s o lhe atribu das as identidades discursivas de i c mplice que deve partilhar um ponto de vista a respeito do alvo suscet vel de coenunciar por meio de apropria o do ACH v tima ou destinat rio alvo quando tornado alvo de uma cr tica negativa direta sarcasmo indireta ironia MISE EN AB ME Alvo sobre quem ou o que reca o ACH pode ser 266 i um pessoa ou grupo em posi o de protagonista tiers ou destinat rio alvo do ACH encontra se assim no espa o intradiscursivo ii uma situa o absurda ou rid cula uma ideia uma opini o ou uma cren a doxa da qual se mostram as contradi es encontra se desse modo no espa o interdiscursivo Quadro 1 Inst ncias discursivas nos ACHs Para mostrar como essas inst ncias se distribuem durante um ACH tomemos um texto retirado de uma p gina de um programa de relacionamento o Facebook mais precisamente fragm
346. nte o c mico da ret rica Esse tipo de c mico diz respeito ao modo como os argumentos as condi es e os esquemas argumentativos podem ser vistos interpretados como potencialmente desencadeadores do c mico Com isso em mente a autora embora mantenha um di logo com as mais diversas teorias do riso e do 17 comique de la rh torique se diferencia segundo a autora 1974 7 do comique dans la rh torique Esse ltimo est relacionado s diversas formas do c mico verbal cf parte 1 cap 3 item 3 1 1 utilizadas como estrat gias discursivas com finalidade persuasiva 35 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 ris vel toma especificamente como fundamenta o metodol gica as ferramentas de an lise presentes no Tratado da argumenta o de 1958 Como j colocamos anteriormente Olbrechts Tyteca assevera que o riso o crit rio para os estudos do c mico contudo a pr pria autora 1974 p 11 12 n o deixa de levar em considera o as dificuldades de aplica o desse crit rio pois O riso excede largamente o c mico Isso se deve ao mesmo tempo conting ncia do riso e s formas n o necessariamente discursivas de provoc lo ervas c cegas gases drogas problemas psiqui tricos ou fisiol gicos etc O riso nem sempre tem a mesma significa o Ou seja dependo da sociedade da cultura e da poca o riso
347. ntes com o mesmo termo ora para designar a mesma coisa com termos diferentes CHARAUDEAU 2006a p 21 Da surgirem express es do tipo humor ir nico ironia c tica s tira grotesca humor sarc stico ironia rid cula ironia zombeteira humor c nico dito espirituoso ironia c ustica entre outras 46 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 N o f cil hoje definir com precis o termos como riso humor piada chiste palha ada H campos sem nticos que muitas vezes se interp em e h nuances e sutilezas que permitem ao especialista encher muitas p ginas Pensamos que essa problem tica n o era estranha antiguidade tanto que a riqueza de voc bulos de hoje tem seu equivalente de outrora POSSEBON 2003 49 Essa infer ncia pode ser exemplificada tomando se a palavra inglesa humour Segundo Bremmer e Roodenburg 20006 13 humour aparece no Concise Oxford Dictionary 29 com as seguintes acep es fac cia comicidade menos intelectual e mais agrad vel que o chiste datada aproximadamente em meados do s culo j a palavra francesa humeur que em sua origem latina tinha por significado fluidos corporais sangue fleuma b lis e b lis negra s come a a assumir a acep o de plaisanterie naturelle brincadeira ou fac cia natural nas ltima
348. ntido mais amplo aos problemas da LR 112 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 3 1 1 GENERA RIDICVLORVM do conhecimento de muitos que as tentativas de se criar um rol de elementos desencadeadores do riso s o bem antigas Sabemos cf parte II cap 3 item 3 1 por exemplo que Arist teles teria descrito tais elementos em sua sistematiza o da com dia no Livro da Po tica livro que infelizmente n o chegou at os nossos dias Apesar disso alguns estudiosos acreditam que um manuscrito sem identifica o de autoria se aproxime muito desse livro Tal manuscrito conhecido no meio cient fico como Tractatus Coislinianus tido por muitos fil logos como um ep tome do Livro da Po tica Sua data o a princ pio do s culo x n o deixa de gerar d vidas pois n o somente a sua tem tica e a sua estrutura esquem tica mas tamb m o modo como reflete os ensinamentos filos ficos de Arist teles fazem crer que esse manuscrito tenha como data mais prov vel de confec o o s culo VI e n o o fim da Alta Idade M dia constituindo se talvez uma das fontes mais pr ximas do livro perdido da Po tica MOREIRA 2003 Voltado para a arte da dram tica o Tractatus Coislinianus doravante somente Tractatus uma apresenta o sum ria do g nero com dia sua estrutura pr logo epis dio e xodo seus elementos constituintes enredo personag
349. ntrelinhas da literatura para a institucionaliza o enquanto campo do humor Nesse passo vimos o humor passar de caracter stica estil stica de alguns escritores e poetas que se enveredavam pelo universo do riso e do ris vel para uma certa regulamenta o da profiss o de humorista junto aos campos do jornalismo e da publicidade Com efeito verificamos que a VRBANITAS passa a erigir as rusgas de posicionamento at mesmo entre os pr prios humoristas que se diferenciam de acordo com a concep o adotada sobre o que fazer humor Donde por um lado uma primeira diferencia o entre sujeitos voltados para fazer rir a todo custo os risistas e aqueles que al m de fazer rir procuram mostrar uma tese sobre o mundo os humoristas Por outro lado uma segunda diferencia o relacionada principalmente aos avan os tecnol gicos dos s culos XX e XXI os quais fizeram e ainda fazem com que os humoristas brasileiros se adaptassem s novas formas de m dias Assim sendo o humorismo brasileiro que durante muitas d cadas reproduzia as formas do riso advindas do circo do teatro de revista e da caricatura grotesca com o advento da internet e concomitantemente a introdu o da cultura stand up com toda uma liberdade discursiva v os novos humoristas criarem outras estrat gias discursivas de modo a escapar de um projeto ideol gico de tend ncia internacional o politicamente correto Fazendo com que leis e pol ticas p
350. o MACHADO I L CRUZ A R LYSARDO DIAS D Teorias e pr ticas discursivas estudos em an lise do discurso Belo Horizonte NAD FALE UFMG Carol Borges 1998 17 24 MACHADO A A Cavaquinho e saxofone solos Rio de Janeiro Jos Olympio 1940 MAINGUENEAU D Elementos de lingu stica para o texto liter rio S o Paulo Martins Fontes 1996 MAINGUENEAU D Novas tend ncias em an lise do discurso 3 ed Campinas Pontes Editora da Universidade Estadual de Campinas 1997 MAINGUENEAU L L analyse des discours constituants In MARI et al orgs Fundamentos e dimens es da an lise do discurso Belo Horizonte Carol Borges NAD FALE UFMG 1999 45 58 269 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 MAINGUENEAU D An lise de textos de comunica o 3 ed S o Paulo Cortez 2004a MAINGUENEAU Diversidade dos g neros do discurso In MACHADO L MELLO R orgs G neros reflex es em an lise do discurso Belo Horizonte NAD FALE UFMGS 2004b 43 58 MAINGUENEAU D Discurso liter rio S o Paulo Contexto 2006a MAINGUENEAU D Compet ncia discursiva In CHARAUDEAU P MAINGUENEAU D Dicion rio de an lise do discurso 2 ed S o Paulo Contexto 20066 101 102 MAINGUENEAU Intertextualidade CHARAUDEAU MAINGUENEAU D Dicion rio de an lise do discurso 2 ed S o Paulo Contexto 200
351. o Tipo sei l Nig ria Angola Uh hu L s d n is Mas agui muito preconceito contra o negro Negro n o Que agora mudou voc s t o sabendo Agora n o pode mais chamar o coleguinha de negro de preto agora voc s s o obrigados a me chamar de Afrodescendente responde a plateia agora sim um puta respeito comigo cara Eu passo na rua as pessoas falam Afrodescendente s faz merda hein No caso do DH para al m do uso restrito de um vocabul rio a cultura do stand up com toda sua liberdade discursiva e a linguagem politicamente incorreta confusamente cerceada pelo politicamente correto influenciam a pr pria estrutura dos g neros do humor e a posi o do humorista e dos demais sujeitos do riso dentro da sociedade Isso porque numa sociedade midiatizada como a nossa mesmo os humoristas acreditando que est o protegidos pela condi o de espet culo do stand up restrito ao teatro ao cinema s casas noturnas seus enunciados politicamente incorretos acabam por vezes vazando para a m dia aberta TV r dio jornais internet etc em forma de discurso relatado direto livre indireto indireto livre Com efeito o que se pode perceber que nessa situa o certos humoristas de forma mais ou menos premeditada fazem dessa reutiliza o de seus enunciados estrat gias discursivas Essas estrat gias al m de mant los em evid ncia no cen rio humor stico naci
352. o CHAR AUDEAU 2008 p 63 e al m disso construir procedimentos que exponham o olhar leitor a n veis opacos 45 No original L humour va couvrir de son autorit et de son prestige les formes du rire les plus raffin es et les plus grossi res les plus exotiques et les plus famili res mais du m me coup il les colore d une subtile lueur de philosophie qui est son clairage propre Diferentemente do que objetivam por exemplo as teses de Bergson 2007 em rela o comicidade e de Pirandello 1996 p 125 que busca de certa maneira entender a verdadeira ess ncia do humorismo 52 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 a o estrat gia de um sujeito PECHEUX 1984 apud MAINGUENEAU 1997 p 11 Tal como explica Perelman em pref cio ao trabalho de Obrechts Tyteca 1974 nossa tese no caso nosso percurso anal tico n o deseja elaborar uma explica o filos fica nem antropol gica nem uma teoria geral sobre o riso e o ris vel qual outras teorias gerais poderiam ser postas em oposi o PERELMAN 1974 p 6 mas t o somente apresentar um outro ponto de vista a respeito desse tipo de discurso centrado no ris vel no rid culo no c mico no humor etc ou em outras palavras centrado numa linguagem do riso Esperamos que ao final deste percurso nossa denomina o de discurso humor stico e nossas de
353. o Rony Petterson Gomes do Vale 2013 156 forma de Num primeiro momento a pedido de Ant nio C sar alega partir de suas leituras de tratados gregos que OS GENERA RIDICVLORVM podem ser de dois tipos 1 as DicAcITAS mordacidades marcadas pela brevidade e usadas em momentos precisos no discurso ii caviLLATIO cavila o trama ardilosa zombeteira que se distribui igualmente pelo discurso espalhando se por frases ora es cap tulos etc Donde se infere que o aspecto pontual vs durativo o crit rio de maior preponder ncia nessa classifica o Num segundo momento C sar C cero n o satisfeito com a abordagem dos gregos se predisp e a expor o que ele entende sobre o rid culo na arte orat ria Em especial sobre os g neros do riso ele reconsidera a primeira divis o propondo uma nova parti o Assim OS GENERA RIDICVLORVM nas palavras de C sar 239 248 devem ser classificados em tr s tipos de GENERA FACETIARVM i os de dito palavra marcados pela brevidade e agudeza ii OS RE TRACTATVR de assunto coisa tratada desenvolvidos no discurso em formas semelhantes a uma FABELLA NARRATVR e iii os g neros mistos de palavras e de assunto 154 Essa personagem de acordo com Marques Jr 2008 7 nota 12 faz refer ncia a J lio C sar Estrab o c nsul em 90 cuja principal caracter stica orat ria
354. o e assim por diante Todavia quando se pensa em piadas em anedotas em chistes n o temos como alegar categoricamente que tipo de discurso fornece sustenta o discursiva a esses g neros Assumir que eles s o g neros do discurso do cotidiano pouco contribui no nosso modo de ver para o entendimento dos textos engendrados por esses g neros pois conforme prop e Adam 2011 p 45 para que um sentido seja atribu do a um texto preciso que seja projetado de certa forma sobre o pano de fundo de um esquema discursivo preexistente De um modo geral apesar de essa necessidade de proje o do texto sobre o esquema discursivo se mostrar como evidente o que encontramos no caso dos g neros tidos como humor sticos s o textos que muitas vezes n o respondem ou pouco respondem s quest es relativas ao tipo de discurso que os engendra Prova disso que embora 19 Aqui o que queremos alegar que esses g neros s o predominantemente subordinados aos respectivos tipos de discurso servindo por vezes de prot tipos desses ltimos pois numa escala l gica poemas santinhos e ladainhas s o unidades menos abstratas e por conseguinte muito mais pr ximas das esp cies de textos elaborados nesses tipos de discurso como por exemplo a Odisseia no discurso liter rio Isso de maneira alguma impede que tais g neros sejam utilizados como cenografias em determinados textos como na publicidade 133
355. o mas tamb m replica o dos dispositivos conceptuais de outros tipos de discurso Caracterizando dessa maneira o macrodispositivo conceptual do DH impunha se prever as condi es do uso do riso Com esse objetivo novamente remontamos aos pensadores da Antiguidade Encontramos em Arist teles o conceito de eutrapelia que prescreve ao homem astos a justa medida no uso do riso Assim conforme postula Arist teles esse homem livre e urbano deve utilizar o riso com parcim nia procurando se afastar do exagero pr prio do buf o e da aus ncia de gra a pr pria do r stico No entanto esses postulados de Arist teles se mostravam aplicados ao uso do riso na vida social em geral Desse modo procuramos outras fontes que pudessem nos dizer algo a respeito do uso do riso no discurso Segue que encontramos nos latinos C cero e Quintiliano o conceito de vRBANITAS que remontando a Arist teles prescreve entre outras coisas as vantagens e as desvantagens do uso do riso pelo orador Entre as vantagens podemos citar por exemplo a ameniza o das situa es de tens o no f rum e na assembleia e a desarticula o das estrat gias discursivas do advers rio J entre as desvantagens os latinos s o categ ricos n o se deve utilizar o riso 1 contra aqueles que s o amados nem contra aqueles acometidos por doen a ou por qualquer outro infort nio ou seja utiliza se o riso somente contra os v cios mas n o contra as torpeza
356. o por exemplo a polissemia dos termos um acidente dentro da narrativa um tra o comum abstrato etc e Trata se da rela o de contradi o entre duas l gicas dentro da mesma 2 407 1 0 e Esse tipo de incoer ncia ataca a pr pria l gica N o a l gica universal mas aquela que garantida pela norma social criando desse modo uma antinorma social PARADOXAL e resultado produzido com essa incoer ncia uma contradi o inaceit vel dentro do mesmo universo de leitura pois se cria um contrassenso contre sens ligando normalmente elementos antin micos entre si 403 Termo de dif cil convers o para o portugu s Tem sentido pr ximo de loucura doideira coisa estapaf rdia 44 No original les univers mis en relation sont compl tement trangers lun l autre n ont rien voir l un avec Pautre 405 No original il n y a pas de jugement de valeur comme dans Pironie ou la raillerie puisque est plong dans un monde sans liens logiques entre les v nements un monde comme on dit loufoque 406 P E 2 Xe 2 a De acordo com Charaudeau 2006a poss vel diferenciar a incoer ncia loufoquerie da ins lita n o pela exist ncia de um la o entre os universos envolvidos mas pela possibilidade de percep o mais ou menos f cil da exist ncia desse la o 407 No original Il s agit de rapports de
357. o verbal imag tico ou multimodal que pode se consubstanciar em piada ou melhor em um ato de comunica o com potencial humor stico na web desde que se transforme em um viral se espalhando rapidamente pela internet ex Luiza que est no Canad uma puta falta de sacanagem forever alone Apesar de esse termo n o constar ainda dos dicion rios de 45 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 p ndega par dia patetice piada picante pilh ria pulha rabo leva remocar remoque rinchada rinchavelhada risada risibilidade riso risonho ris rio risota rid culo sarcasmo s tira sat rico sorridente sorriso tirada tolice trepa o trocadilho tro a truanear xex zagunchada zoada zombaria Como se v a lista acima extensa Al m disso seguindo Charaudeau 2006a p 20 constatamos tamb m que muitos desses termos se encontram numa esp cie de circularidade de defini es ou seja um termo muitas vezes definido com tra os sem nticos de outro num reenvio sinon mico em caracol Para observarmos melhor essa circularidade tomemos no Dicion rio Houaiss 2009 os termos gracejo chiste e pilh ria O primeiro foi definido como dito engra ado espirituoso ou que pretende s lo para o segundo encontramos dito espirituoso geralmente de humor fino e adequado gracejo
358. o Vale 2013 Mec nica e esquematicamente isso poderia nos levar a supor que um sujeito falante ao elaborar um enunciado x pretende com esse enunciado causar um efeito de sentido 660 99 digamos em leitor ouvinte audit rio espec fico No entanto esse leitor ouvinte audit rio ao entrar em contado com x pode atender ou n o a expectativa do sujeito falante interpretando e depreendendo para x 1 um sentido semelhante a y resultando na coniv ncia esperada pelo sujeito falante 11 um sentido pr ximo mas n o igual a y levando a uma coniv ncia parcial com as expectativas do sujeito falante o que pode gerar pedidos de explica es e ou maiores esclarecimentos ou iii um sentido que se afasta drasticamente de y gerando entre outras possibilidades discord ncia entre o sentido pretendido pelo sujeito falante e o sentido depreendido pelo ouvinte Nesse passo devemos ressaltar que os enunciados de um modo geral carregam em si uma relativa imprevisibilidade de efeitos de sentidos resultante da emerg ncia nica do enunciado produzido por um indiv duo espec fico numa ocasi o espec fica e da efemeridade pr pria de cada enuncia o TRASK 2004 p 92 93 Da nossa ressalva quanto ao car ter mec nico e esquem tico do modelo de percep o de efeitos de sentido acima descrito uma vez que ele n o consegue e nem poderia conseguir prever a gama de vari veis poss v
359. o a hist rico existe em diferentes pocas e sociedades deve haver alguma coisa que o provoque isto tamb m o ris vel deve ser de algum modo transcendental Digamos claramente para n s o humor n o tem idade nem p tria Ele adquire formas diferentes mas um campon s eg pcio do M dio Imp rio pode muito bem ter senso de humor t o desenvolvido quanto Oscar Wilde O tempo n o vem ao caso MINOIS 2003 p 17 De que maneira se explica ent o que essas formas do ris vel e aqui falamos principalmente das mais variadas formas linguageiras que ele pode assumir sejam condicionadas por fatores s cio hist rico culturais Sem a pretens o de resolver definitivamente essa quest o esbo aremos em linhas gerais nosso ponto de vista sobre essa aparente aporia Arist teles coloca a capacidade de rir como uma das caracter sticas fundamentais que diferencia o homem dos demais animais afirmando portanto seu car ter universal No pensamento medieval segundo Alberti 1999 p 68 69 o riso n o somente distinguia o homem dos animais mas tamb m de Deus Nessa linha de racioc nio relata a autora homem possuiria a faculdade de RISIBILITAS lat disposi o para rir que ao mesmo tempo marcava sua superioridade diante dos animais e a sua inferioridade sua fraqueza perante Deus ambos homens e Deus dotados de raz o mas Cristo alguma vez riu Por outro lado ao mostrar de que modo pensadores escritor
360. o afetados Qual a o do riso no esp rito Quais s o as emo es desencadeadas Com efeito pela primeira vez desde a Antiguidade os estudos do riso retomam a quest o de saber que paix o da alma poderia ser t o poderosa a ponto de nos fazer explodir dessa forma convulsiva SKINNER 2002 p 25 Novamente surge a discuss o sobre a pureza dessa paix o Coloca se em evid ncia o fato de essa paix o aliar a um s tempo prazer e dor um alegramento somado derris o e ao ataque aos v cios Nas palavras de Hobbes H uma paix o que n o tem nome e seu sinal aquela perturba o do semblante a qual chamamos riso que sempre alegria A paix o do riso n o nada sen o uma s bita gl ria que surge de uma s bita concep o de alguma superioridade em n s mesmos pela compara o com as fraquezas alheias ou com as nossas pr prias fraquezas em tempos passados HOBBES 1969 apud SKINNER 2002 p 54 55 Portanto um prazer baseado num sentimento de superioridade daquele que ri e no rebaixamento daquele de quem se ri mesmo que esse ltimo seja um desdobramento do nosso eu o caso da autoderris o Essa concep o que se afasta em certa medida da vis o filos fica e terap utica antes evidenciada que influenciar o uso ret rico do riso nesse per odo Esse uso se desvincula das r deas da Igreja e passa a ser utilizado 2 tamb m das como argumento em favor da condena o dos v cio
361. o assume a forma do segundo criando uma confus o no acionamento da cena globalizante t pica de cada tipo de discurso cf parte 1 cap 4 item 4 2 Isso porque nos enunciados analisados o estabelecimento dos efeitos de sentido voltados para o fazer rir est diretamente imbricado com o tom s rio da campanha o que leva a percep o de que as inst ncias discursivas estejam relacionadas a um s tempo a dois macrodispositivos distintos Isso no caso da campanha do Tiririca se mostrou bastante eficaz Com base nessas reflex es podemos assumir que a replica o acarreta a possibilidade de distor o e at mesmo de transgress o de certas coer es do contrato comunicacional do discurso pol tico Por m devemos advertir que o DH em si tamb m determina as suas pr prias regras para o uso da LR e que tais regras se ligam a um s tempo tanto s quest es ticas e eth ticas logo s identidades sociais quanto aos fatores do discurso propriamente dito ou seja aos elementos estruturantes da situa o e do contrato de comunica o entre eles as inst ncias discursivas Numa tentativa de prever essas condi es para o bom e adequado uso do riso desde a antiguidade alguns pensadores v m fornecendo n o apenas preceitos ticos como tamb m ret ricos Assim sendo no cap tulo seguinte apresentamos alguns desses preceitos tentando na medida do poss vel articul los nossa proposta de an lise do DH 31 Seria
362. o como antes precisamente porque a reflex o trabalhando em mim fez me ir para al m daquela primeira advert ncia ou de prefer ncia mais adentro daquela primeira advert ncia do contr rio fez me passar a este sentimento do contr rio PIRANDELLO 1996 p 132 Conclui se disso que para Pirandello a diferen a b sica entre uma representa o c mica e uma representa o humor stica como se d a percep o do contr rio esse ltimo portador do potencial gerador do riso Por m esse potencial pode ser embotado a partir do momento em que a reflex o a qual na vis o de Pirandello necessariamente segue alguma forma de sentimento tende a turbar ou a impedir o riso Quanto a esse ltimo ponto Bergson 2007 p 3 categ rico o riso n o tem inimigo maior que a emo o A insensibilidade e a indiferen a afirma o fil sofo franc s s o fatores necess rios para que a comicidade produza seus efeitos de sentido leia se riso Para Bergson isso se deve ao fato de que Numa sociedade de puras intelig ncias provavelmente n o mais se choraria mas talvez ainda se risse ao passo que almas invariavelmente sens veis harmonizadas em un ssono com a vida nas quais qualquer acontecimento se prolongasse em resson ncia sentimental n o conheceriam compreenderiam o riso BERGSON 2007 p 3 Assim sendo emo es como a piedade e a afei o t m um grande potencial de anular o riso pois para que ele
363. o de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 de uma dada sociedade de modo a poder tirar proveito a favor do riso das contradi es inerentes a cada um deles e por fim mas n o menos importante iii admitir que o MMC vem ao encontro da nossa ideia de que o DH realmente possa ser considerado um tipo de discurso nos mesmos moldes do discurso pol tico ou do discurso liter rio uma vez que por meio do MMC podemos colocar em evid ncia que n o o humor que funciona em prol da publicidade mas que a publicidade que passa a constituir mat ria subst ncia o humor enquanto discurso 253 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 CONSIDERA ES FINAIS 254 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Antes de descansarmos de nosso longo percurso acreditamos ser necess rio recordar as v rias etapas e as descobertas que nos trouxeram at aqui Em primeiro lugar diremos que o conceito de linguagem do riso LR cunhado a partir das ideias de Bakhtin reinsere de certo modo o riso nos Estudos do Discurso uma vez que nos possibilita observar o riso com todo seu car ter objetal como manifesta o verbal historicamente marcada Vista dessa maneira a LR permite delinear o riso enquanto manifesta es linguageiras as formas e formas reduzidas do riso e enquanto a
364. o de derris o se torne imposs vel Talvez por um esfor o filos fico pode se dizer que a vit ria daqueles que conseguem executar a can o n o trope ando nas repeti es seja ativadora de um prazer que implicaria num riso de superioridade diante da incapacidade de outrem em conseguir fazer o mesmo 201 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 l dicas podem servir a diferentes finalidades pedag gicas terap uticas entre outras No entanto o que deve ser levado em considera o que nessas can es a visada de fazer prazer fazer rir pode ser percebida como constitutiva de pelo menos parte dos efeitos de sentido dos enunciados Tanto assim que os elementos com potencialidade humor stica presentes nessas can es s o s vezes ressaltados em outras esp cies de can es c micas humor sticas como por exemplo 295 no excerto a seguir grifos nossos Voc foi Agora a coisa mais importante Que j me aconteceu neste momento Em toda a minha vida Um paradoxo do pret rito imperfeito Complexo com a Teoria da Relatividade Num momento crucial Um s bio soube saber que o sabi sabia assobiar E quem amafagafar os mafagafinhos Bom amafagafigador ser importante ressaltar no entanto que nas can es l dicas e nos trava l nguas os procedimentos lingu sticos acumula o repeti o
365. o ethos desses sujeitos levantando certas hip teses a respeito de seus enunciados ou da legitima o estabelecida sobre seus discursos De maneira alguma diremos que durante um ato de comunica o humor stico ACH o sujeito pensou pensa de modo mas que a partir do ethos pr vio de sat rico ou de e do ethos discursivo a m scara c mica discursivamente constru da ou reformulada pode se supor que o enunciado nessas circunst ncias assume tal ou qual possibilidade de sentido 213 r R E 2 Vamos nos restringir aqui aos imagin rios sociodiscursivos ocidentais 156 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 um stand up ou seja uma m scara c mica adapt vel pelo no discurso a qualquer sujeito que vise fazer rir Nesse sentido Bakhtin tratando especificamente do trapaceiro do buf o do bobo reflete a possibilidade de essas figuras ao deixar a vida e os palcos e adentrar o universo do romance se consubstanciarem em m scaras para o autor De modo geral Bakhtin 2010c p 195 et seg nos diz que enquanto o trapaceiro busca a legitima o do seu dizer no embuste alegre permitido e aceito entre os mentirosos e o bobo a possui devido simploriedade pat tica justificada pela sua incapacidade de compreens o o como um am lgama dos dois sujeitos anteriores constr i a legitim
366. o modo suas origens no pensamento grego principalmente em Arist teles No entanto sabemos que refletir sobre as quest es do riso em Arist teles n o uma das tarefas mais simples uma vez que em suas obras as refer ncias a esse assunto s o 312 esparsas e muitas vezes tais obras nem chegaram at n s Independente disso para o 313 ponto que nos interessa importante ressaltar a posi o do estagirita pois ela ser seguida mesmo que de modo parcial tanto por C cero quanto por Quintiliano Em tica a Nic maco Arist teles 2011 discute a quest o do homem virtuoso em rela o ao divertimento e ao prazer e como esses podem ser obtidos Assim cabe ao homem educado de espirito refinado e alegre eutrapeloi estar ciente de que a arte de dizer e de escutar gracejos regulada tamb m pelo meio termo isto pela justa medida nas atitudes entre o excesso e a falta pois Aqueles que levam a jocosidade ao excesso s o considerados buf es vulgares s o os que procuram provocar o riso a qualquer pre o e na sua nsia de fazer rir n o se preocupam com a inconveni ncia do que dizem nem em evitar o mal estar daqueles que elegem como objeto de seus chistes ao passo que os que n o sabem gracejar nem suportam os que o fazem s o r sticos e grosseiros Os que por m gracejam com bom gosto s o chamados posses sua erudi o sua urbanidade etc o que acarretou uma modaliza o do conceito qu
367. o no espa o cibern tico da web Tendo em vista o exposto acima podemos agora dizer que nossa tese menos uma resposta absoluta e definitiva a uma pergunta do que um caminho um desenrolar de ideias orientadas a partir das principais tend ncias em estudos do discurso um percurso no qual v rios questionamentos e solu es v o sendo postos em constante discuss o pois para a compreens o de um texto s o importantes n o apenas as indica es que ele traz para o destinat rio mas tamb m as manobras s quais submetido os percursos que obrigado a seguir DUCROT 1980 apud MAINGUENEAU 1997 164 grifos do autor O que muitas vezes nos fez voltar n o somente para a an lise do DH discurso e suas manifesta es textuais mas tamb m para os discursos sobre o DH ou melhor dizendo sobre o riso o c mico o humor ou seja sobre aquilo que comp e a LR Al m disso concordamos com Possenti 2010 quando ressalta que sobre o campo do humor muito h que se estudar o que dizer das novas formas de humor que escapam Com efeito muitas pr pria l gica do humor como por exemplo o stand up gospe quest es ficaram em aberto o que t pico de um trabalho com tamanha pretens o Isso porque tanto o campo do humor quanto o DH se apresentam em constante muta o adaptando se muito rapidamente s novas realidades sociais s r pidas inova es tecnol gicas e s coer es sociodiscursiva
368. o que n o participa desse convencionalismo e n o o compreende mas tamb m de um sujeito que n o deseja dele participar ou pelo contr rio que o compreende s vezes at muito bem e deseja denunciar as suas incoer ncias Com efeito ao darmos aten o para essa quest o das m scaras podemos dizer que esse sujeito com a finalidade de elaborar diferentes formas do riso e por conseguinte diferentes g neros do discurso pode ajustar seu ethos baseando se ora num afastamento ora numa aproxima o das representa es s cio hist ricas dos buf es bobos sat ricos De fato numa perspectiva linguageira Charaudeau 2006b p 64 nos assegura que o ser de palavra quer se queira quer n o sempre duplo Uma parte dele mesmo se refugia em sua legitimidade de ser social outra se quer constru da pelo que diz seu discurso Em outras palavras a identidade discursiva e a identidade psicossocial interagem se mesclam garantindo a legitimidade do sujeito do discurso E embora estejam fortemente imbricadas durante o ato de linguagem essas identidades podem por uma abstra o metodol gica ser separadas para que melhor se entenda e se explique os efeitos de sentido poss veis resultantes dessa mescla 158 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Nessa linha de racioc nio Charaudeau 2011 p 17 nos adverte que para a an lise do humor o problema
369. o riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 O enunciado derivado de um discurso constituinte se instala no interior de uma hierarquia de g neros do discurso h enunciados mais prestigiosos que outros pois se encontram mais pr ximos da Fonte legitimadora a grande filosofia a alta teologia a ci ncia nobre s o sempre reduplicados por outros g neros menos nobres manuais escolares serm es dominicais revistas de divulga o Instaura se uma hierarquia entre os textos fundadores de certa forma autoconstituintes e aqueles os comentam os resumem os interpretam MAINGUENEAU 2008a p 141 Ou seja os discursos constituintes por vezes procuram engendrar certos g neros que funcionam como uma vitrine traduzindo para uma linguagem mais comum mais simples os seus enunciados De certo modo podemos dizer que o DH e os g neros e os textos por ele engendrados a exemplo do que acontece com esses textos menos nobres s o capazes de traduzir para a LR as quest es debatidas e os sentidos presentes nos textos ditos fundadores Aqui poder amos citar a obra de Rabelais ou a Coena Cypriani mas estar amos nos arriscando a entrar nesse momento na querela da rela o entre o campo do humor e o campo liter rio cf parte II cap 4 Por isso tentemos um exemplo relativamente mais pr ximo de uma paraliteratura Em sua Grammatica portugueza pelo methodo confuso GPMC cuja primeira
370. o uma propriedade constitutiva do ethos dos sujeitos do riso Por fim discutimos a instabilidade do lugar do humorista em rela o aos campos discursivos liter rio jornal stico publicit rio humor stico Buscamos assim ver como o humor saindo das entrelinhas da literatura fez surgir a partir das inova es tecnol gicas dos s culos XX certos profissionais do riso humoristas comediantes caricaturistas chargistas risistas etc que procuram delimitar o pr prio espa o de discurso no campo do humor colocando em debate o que ser um humorista R SUM Dans une soci t ou le rire est consid r comme le nouvel opium du peuple une panac e pour tous les maux et ou rire est presque obligatoire r fl chir sur un discours capable d engendrer les plus diff rentes formes du rire du risible du ludique du comique du satire de humour devient notre avis essentiel En effet dans ce parcours d analyse nous prenons cette relation entre le discours et le rire comme un point de d part pour la r insertion du rire dans les tudes Discursives Divis en deux parties notre parcours est ax tout d abord sur le langage qui permet d engendrer les formes du rire et par cons quent le discours humoristique Dans un deuxi me moment nous tournons notre attention vers la structure de ce discours en tenant compte des sujets du discours comme param tre Alors dans premi re partie nous c
371. objetos imitados pela trag dia e pela com dia enquanto esta quer representar os homens inferiores aquela os quer superiores aos da realidade Todavia h certas restri es imita o desses seres inferiores A com dia uma imita o de caracteres inferiores n o contudo em toda a sua vileza mas apenas na parte do v cio que rid cula O rid culo um defeito e uma deforma o nem dolorosa nem destruidora ARIST TELES 2004 p 45 46 Sem entrar na querela sobre os problemas de tradu o v cio vs feio e rid culo vs comicidade uma tendendo mais para a tica enquanto a outra para a est tica importante salientar somente que o alvo visado da imita o pela com dia deve de acordo com Arist teles estar isento de dor ou de destrui o em oposi o direta ao 319 29 Uma esp cie de epopeia do covarde 320 Trata se da obra Margites uma esp cie de epopeia burlesca de um pateta s restam fragmentos atribu da a Homero Para Arist teles 2005 23 essa obra est para as com dias assim como a Il ada a Odisseia est o para as trag dias 321 Por exemplo na tradu o de Jaime Bruna tem se A com dia imita o de pessoas inferiores n o por m com rela o a todo v cio mas sim por ser o c mico uma esp cie de feio A comicidade com efeito um defeito e uma feiura sem dor nem destrui o ARISTOTELES 2005 p 23 24 216 O Discu
372. ociais e suas principais fun es enquanto inst ncias discursivas Entretanto s parcialmente nos manifestamos sobre como as imposi es s cio hist ricas e as coer es sociodiscursivas podem estabelecer regras para o uso do expediente do riso no discurso A quem permitido fazer rir no caso quem pode fazer humor e sobre o qu Quais as implica es ticas previstas desse ato sobre o ethos desses sujeitos Essas perguntas que parecem ter sa do de manuais de boas maneiras resumem de certo modo as condi es e os limites impostos queles que desejam ou precisam utilizar a linguagem do riso LR De fato esse tipo de preocupa o e de preven o tem seus prim rdios na 302 Antiguidade Desde essa poca tratados de tica orat ria ret rica entre outros alertam para os problemas advindos da utiliza o do riso nos diversos lugares e momentos da vida social das conversa es cotidianas banquetes escritura de textos po ticos e n o po ticos aos debates na gora e no f rum Podemos mesmo considerar que tais preocupa es passam a ser discutidas de modo mais sistem tico a partir de Arist teles Entretanto isso n o quer dizer que antes n o houve propostas para uma regulamenta o do riso Bremmer 2000 cita como exemplos os fil sofos S crates e Plat o Ao primeiro atribu da no s culo a C a ideia do uso do riso com parcim nia Quanto ao segundo ecos das reflex es referentes
373. oisa enquanto a honra o prazer a raz o e todas as demais virtudes ainda que as escolhamos por si mesmas visto que as escolher amos mesmo que nada delas resultasse fazemos isso no interesse da felicidade pensando que por meio delas seremos felizes Mas a felicidade ningu m escolhe tendo em vista outra virtude de uma forma geral qualquer coisa al m dela pr pria ARIST TELES 2011 p 21 22 eudaimon a passa portanto a ser a disposi o da alma no sentido de realiza o plena da virtude BITTAR 2003 p 1016 Por conseguinte essa disposi o deve 9 ed mpovia 0 felicidade alegria prosperidade transliterado eudaimonia 83 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 moldar o 00 ethos do homem pela pr tica e pela conduta correta como forma de alcan ar uma excel ncia moral no conv vio social Em Arist teles essa moldagem do ethos do cidad o segue os princ pios da uec tn o meio termo a justa medida 33 prud ncia sabedoria tanto para a entre os extremos a aquisi o da pp vnoi delibera o quanto para a disponibiliza o dos meios teis para alcan ar os fins BITTAR 2003 No tocante ao fazer rir essa atividade relacionada por Arist teles 2011 p 96 97 ao repouso uma vez que a vida n o feita s de atividade ao divertimento e bu
374. om termos como tru o bufo buf o HOUAISS 2009 Este ltimo de certo modo remonta ao termo bumolochos que em grego antigo significava 1 que se oculta junto de um altar para furtar ou mendigar as oferendas mendigo ladr o 2 buf o charlat o 3 bufo grosseiro vulgar MALHADAS DEZOTTI NEVES 2006 p 175 Nesse ponto importante evidenciar que com esse termo que Arist teles se refere na Ret rica ao sujeito do riso do qual o homem urbano deveria se diferenciar ao utilizar o riso cf ARIST TELES 2002 p 186 Isso por um lado nos leva a propor que o termo buf o seja mais adequado do que bobo ou palha o para tratar de um determinado sujeito que fazia rir na Antiguidade Por outro mesmo que o buf o n o tenha desaparecido durante a Idade M dia e o Renascimento o termo bobo nos parece ser mais conveniente aos nossos objetivos de propor modelos eth ticos para designar talvez esse mesmo indiv duo o buf o cuja fun o de fazer rir como mostraremos mais adiante foi institucionalizada como profiss o nas Cortes Medievais 1 2 AQUELE QUE FAZ RIR ORIGENS E PERFIS Seria muito interessante escrever a hist ria do riso Herzen 1954 apud LE GOFF 2000 p 66 Para al m da hist ria do riso dir amos que seria tamb m interessante remontar as origens e a hist ria dos sujeitos do riso A quest o que semelhante ao que acontece com a hist ria da linguagem humana a origem do u
375. omme capable de repr senter avec bonheur un personnage faible et ridicule dans la vie r elle soit en lassumant lui m me soit en le faisant repr senter par une autre personne d une fa on si naturelle qu on pourra pour ainsi dire toucher du doigt 176 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Nessa passagem vemos as defini es man of humor e de humorist do ponto de vista de um pensador do s culo Nela importante ressaltar a capacidade digamos mais t cnica do man of humour em representar v rias personagens inclusive um humorista sendo que o inverso nem sempre poss vel De outro modo todo man of humour pode representar um humorist mas nem todo humorist tem necessariamente a capacidade de representar um man of humour Embora concorde com essa linha de racioc nio Escarpit 1972 p 37 nos adverte que devemos fazer uma invers o dessas defini es uma vez que o que entendemos hoje por humorista ativo o man of humour daquela poca em contrapartida o que entendemos atualmente por man of humour o humorista passivo no pensamento do s culo XVIII o que nos leva ainda nas palavras desse autor a importantes implica es Primeiramente se se considera que essa excentricidade uma caracter stica calculada capaz de ser percebida no discurso do humorista pode se dizer que para al m das terras inglesas essa mesma capa
376. onal fazem desses humoristas alvos de interesses comerciais de grandes marcas e corpora es nacionais e internacionais Vejamos TAs Gente que bunitinha que t a Wanessa Camargo gr vida isso RAFINHA BASTOS Comeria ela e o beb Tas Mas que isso RAFINHA BASTOS T nem a T nem a 30 Comedy Central Apresenta Stand up com Marcelo Marrom Dispon vel em lt https www youtube com watch v 014FjRwzFFk gt Acesso em 14 mar 2013 246 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Tas Ali s esse beb vai ser sortudo Esse beb vai ser acalentado por vozes RAFINHA BASTOS Ah de cantores da fam lia Mas t a um beb que vai durmir r pido Os cara chega pra ele e diz assim Ou voc dorme agora ou a gente vai o Zez de Camargo O excerto acima um fragmento do programa humor stico CQC exibido em hor rio nobre 22h na Rede Bandeirantes de Formato importado da Argentina esse programa liderado por Marcelo Tas que recruta no cen rio nacional outros humoristas para compor uma equipe em prol de um humor moderno que a cr tica atualmente considera como inteligente Numa bancada os principais do programa sempre Tas e mais dois humoristas reconhecidos comentam e criticam os principais fatos do Pa s e do Mundo da TV e do entretenimento No entanto a edi o do dia 2
377. ons le terme humour pour d signer une notion g n rique qui ensuite faire l objet de diverses cat gorisations 49 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 hil rio engra ado etc utilizados muitas vezes pelo senso comum na aprecia o de um texto que presume se fez faz rir Diante desse aparente dilema a express o linguagem do riso cunhada por Bakhtin 2010a nos saltou aos olhos durante a leitura de cultura popular na Idade M dia e no Renascimento o contexto de Fran ois Rabelais Sem adentrarmos muitos detalhes nesse momento diremos somente que essa express o dentro da obra de Bakhtin se mostrou estritamente ligada ao conceito de riso tanto em suas manifesta es predominantemente verbais das formas do riso como o c mico e a da par dia s formas reduzidas do riso como a ironia o humor a bufa etc quanto nas manifesta es n o exclusivamente verbais as festas populares os rituais carnavalescos as obras teatrais c micas etc Al m disso tal express o apresenta de acordo com Bakhtin 2010a a capacidade de promover o desenvolvimento de discursos ligados a uma cosmovis o carnavalizada do mundo atrav s do riso ou melhor dizendo por meio de uma linguagem do riso Seguindo essa mesma linha de racioc nio podemos agora voltar discuss o da denomina o do nosso objeto de estudo ao inv
378. onstitutiva rela es interdiscursivas Com efeito o sujeito analisante se encontra em uma situa o no m nimo desconfort vel em rela o tarefa a que se prop e pois por um lado est numa posi o exterior consci ncia tanto do sujeito falante quanto do sujeito receptor do ato sujeito interpretante nos termos da Teoria Semiolingu stica e por outro lado o pr prio texto pode apresentar se sem marcas aparentes da inten o do sujeito falante escritor Apesar disso esse sujeito analisante ao entrar em contato com esse enunciado torna se tamb m um sujeito interpretante n o no mesmo grau do sujeito destinat rio podendo utilizar a sua intui o para inferir sobre o efeito de sentido pretendido ou seja sobre a inten o do sujeito falante Nessa tarefa de criar hip teses ou interpreta es o sujeito analisante deve estar portanto munido de instrumentos pressupostos te ricos m todos categorias sua intui o enquanto usu rio da l ngua etc de modo a fazer suas suposi es passarem a presun o a respeito de determinado efeito visado semelhante ao que fazem fil logos e hermeneutas Assim sendo vejamos que tipo de instrumentos temos a nosso dispor para executar a tarefa de analisar o DH 2 1 2 VISADA DISCURSIVA UM INSTRUMENTO DE AN LISE Enquanto categorias de an lise as finalidades e as visadas discursivas comp em juntamente com as identidades dos sujeito
379. oporcionando um determinado efeito de humor mais ou menos relacionado ao efeito obtido na l ngua 1 na l ngua 2 276 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 AP NDICE B DOS TIPOS DE INCOER NCIAS NO JOGO SEM NTICO DO HUMOR De acordo com Charaudeau 2006a p 32 34 tradu o nossa INCOER NCIA CARACTER STICAS e Os universos colocados em rela o s o completamente estranhos uns aos outros nada tem a ver uns com o outros e narrativa surge de uma rela o entre objetos constru da aparentemente sem sentido hors sens fora da l gica humana que a aproxima das hist rias de loucos LOUFOQUERIE e n o h julgamento de valor como dentro da ironia ou da raillerie porque se est mergulhado num mundo sem la os l gicos entre os eventos um mundo como se diz louco e Esse procedimento liga dois universos diferentes entre si mas que n o s o completamente estranhos um ao outro e A liga o entre esses universos n o se d de forma natural ou seja ela se INS LITA torna percept vel devido narrativa ou situa o onde os universos s o chamados a se relacionar o que justifica a pr pria liga o e Na incoer ncia ins lita h uma esp cie de transfer ncia de sentido trans sens entre os universos e diferentemente da loufoguerie poss vel explicar essa transfer ncia evidenciand
380. opp isso implicaria dizer por exemplo que quando um cientista faz uma descoberta e esta muda seu conhecimento sobre o seu objeto de estudo evidenciando seu erro seu equivoco isso faria desencadear o riso o que n o necessariamente verdade Pelo exposto at aqui poss vel perceber que Propp n o somente diz mas demonstra como diria Maingueneau que possui um conhecimento tanto da mat ria analisada como tamb m das diversas teorias sobre o riso e a comicidade Segue que sua intui o e o seu conhecimento podemos dizer sua compet ncia discursiva 1 levaram no a escolha do m todo indutivo devido s falhas percebidas nas teorias sobre o c mico e 11 influenciaram no diretamente tanto na sele o quanto na an lise dos fatos Todavia para nossa proposta de an lise o crit rio do riso assim definido ainda n o se apresenta devidamente delimitado Dizer simplesmente que estudaremos tudo aquilo que provoca o riso ou o sorriso de modo algum nos d garantias de uma sele o relativamente segura Com efeito ainda sentimos necessidade de aprofundar um pouco mais a respeito desse crit rio de modo a torn lo operacional na An lise do Discurso Com esse objetivo exploremos o trabalho de Lucie Olbrechts Tyteca sobre o c mico do discurso Seguindo uma tend ncia de estudos discursivos levantada pela Nova Ret rica Olbrechts Tyteca se prop e a analisar em Le comique du discours de 1974 especificame
381. os do uso dos ditos picantes prescrevendo a exemplo de C cero quais os objetos o orador pode utilizar para provocar o riso e os limites desse uso Quanto aos objetos Quintiliano afirma serem tr s os tipos de coisas que t m o potencial de provocar riso e como elas podem ser ditas i as coisas nossas falar absurdos deliberadamente simulando estultice ingenuidade fingida as coisas dos outros censurar refutar rebaixar ou zombar os elementos neutros usar as palavras estultas 348 Cf De ridiculis 237 39 De ridiculis 242 ORATOR SVRRIPIAT OPORTET IMITATIONEM VT IS QVI AVDIET COGITET PLVRA QVAM VIDEAT PRAESTET IDEM INGENVITATEM ET RVBOREM SVVM VERBORVM TVRPITVDINE ET RERVM OBSCENITATE VITANDA 350 Cf De risu 3I Cf De risu 7 352 Cf De risu 23 224 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 que em outrem pode parecer imprudente mas se as simulamos mostram se ent o portadoras de gra a e de eleg ncia Quanto modera o Quintiliano segue os passos de C cero e prescreve advert ncias relativas ao uso dos GENERA VRBANITATIS em rela o a atentar se diante de quem contra quem e contra o qu se diz tal dito b fisionomia e aos gestos orador cabe n o demonstrar que est dizendo ou fazendo coisas rid culas c s circunst ncias gt n o se deve jamais ocorrer e
382. os ideais visados que devem ter uma determinada atitude responsiva de acordo com a visada predominante desse ato de comunica o seguindo nossas hip teses se a visada de fazer rir pode ser depreendida a partir do texto espera se efeito pretendido que o sujeito destinat rio ria sorria ou desenvolva prazer 281 semelhante na mente por exemplo um alegramento Por outro lado do ponto de vista de Charaudeau 2006a o que esse sujeito humorista EUe procura estabelecer pelo discurso algum tipo de coniv ncia com sujeito interpretante em rela o No sistema Windows quando a tecla print screen pressionada um programa captura em forma de imagem tudo o que est presente na tela exceto o ponteiro do mouse e salva o conte do em algum programa pr prio para arquivos de imagens 280 Podemos deduzir portanto que muito mais de 1 1 milh o de usu rios do Facebook conhecem essas traquinagens de Gina Indelicada 281 Todavia vimos que os dirigentes da Ind stria Rela Gina n o interpretaram com bons olhos o discurso e as atitudes de Gina Indelicada 282 Para mais detalhes a respeito dos tipos de coniv ncias veja ap ndice 195 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 ao alvo Nesse caso podemos dizer que o sujeito locutor EU busca uma conviv ncia de derris o que procura
383. osto propomos tra ar algumas linhas do perfil do humorista com base nas discuss es que envolvem a rela o desse ltimo com o man of humour e das fun es do humor nas entrelinhas das obras liter rias PINTO 1970 p 27 at o in cio das querelas entre os verdadeiros humoristas e os demais profissionais do riso Querelas essas que levar o mais tarde a novas reflex es e reforma es do conceito de humorista 246 De acordo com Lisboa 2011 392 394 em Portugal e Espanha do s culo a liberdade de express o em impressos caminha lado a lado com a clandestinidade um per odo de grande produ o de impressos clandestinos em geral Nesse passo mesmo com seu riso moderado os impressos jocosos alfinetavam a realeza a aristocracia o clero e os pol ticos com o teor c ustico alegre de suas narrativas Isso por outro lado constitu a s rios problemas para a obten o da licen a real para publica o uma vez que a sombra do Santo Of cio a Inquisi o nesses pa ses ainda resistiria alguns s culos ap s o fim da Idade M dia adentrando a Idade Moderna ainda pairava sobre os assuntos de censura 173 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 1 2 5 1 THE MAN OF HUMOUR E O MOLHO INGL S TIPO EXPORTA O A teoria dos humores primeiramente desenvolvida na Antiguidade por Hip crates e mais tarde reformulada por Galeano de certo modo re
384. otar que o pr prio Fradique parecia antever esse esquecimento como uma esp cie de condena o por cometer livros humor sticos FRADIQUE 2004 p 253 No cap tulo 41 da sua HBMC intitulado Remorsos o autor simula ter sido obrigado pelos editores a ler as provas de seu livro Essa leitura que Fradique considera quase um supl cio chin s faz com que o autor entre num estado de aparente loucura ao que se segue um transe parecido com os del rios de Br s Cubas Em meio aos fantasmas 374 Essas tend ncias como assegura Candido tinham como caracter stica comum a presen a de mais humour mais ousadia formal elabora o mais aut ntica do folclore e dos dados etnogr ficos irrever ncia mais consequente produzindo uma cr tica mais profunda CANDIDO 2006 p 129 375 De acordo com Saliba 2002 p 130 esse livro nico de car ter c mico da obra de Murilo Mendes foi renegado pelo pr prio autor uma vez que n o seguia o teor geral de sua obra Como afirma Bosi 2012 p 468 477 478 Murilo Mendes apresenta no conjunto de sua obra uma mudan a de engajamento No per odo inicial de sua produ o liter ria o autor teria assumido um posicionamento mais pol tico no qual seus poemas anteriores a 1934 ano de sua convers o ao catolicismo fazem o giro piad stico de um Brasil morno e provinciano e ecoam a maneira inicial de Oswald e M rio de Andrade data dessa mesma poca a publica o da sua His
385. outube com watch v rW IyF7LaDsl gt Acesso em 26 jun 2012 72 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Ap s o uso da constru o violentississ ssima n o houve nenhuma rea o da parte dos apresentadores nem coment rios nem risos nenhuma alus o do tipo Reparem Fiz um chiste que indicassem qualquer inten o humor stica da ncora do telejornal Todavia podemos levantar hip teses sobre um uso humor stico desse barbarismo uma vez que a rela o entre a constru o utilizada violentississ ssima e a localidade referida M xico nos remete ao programa Chaves El Chavo e em especial bord o da personagem Chiquinha Chilindrina marcado pelo uso peculiar do superlativo absoluto sint tico duplica o da s laba inicial do morfema ssimo No entanto nada nos garante que a real inten o da apresentadora foi ou n o fazer ato de comunica o humor stico ACH pois toda interpreta o uma suposi o de inten o CHARADEAU 2008 p 31 grifos nossos Na mesma linha encontramos num portal de reportagens da internet a seguinte explica o cient fica sobre um tipo tecido fibroso de cor azulada que de acordo com o pesquisador americano e m dico ginecologista Adam Ostrzenski o nico tecido que apresenta essa cor N o h outra estrutura similar ao ponto G na vagina Nunca se tinha ido t o profun
386. pelo m todo CONSIDERA ES FINAIS upina aa R REFERENCIAS e Ta E E EA R e i a E Aspectos lingu sticos na constru o do Das coniv ncias e dos efeitos Tipos de incoer ncias do jogo sem ntico do humor 209 212 213 213 217 221 222 223 226 233 236 239 241 244 254 263 275 276 277 278 INTRODU O O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Muitas vezes durante essa pesquisa nos perguntamos por que estudar o humor o ris vel o fazer rir Que import ncia isso tem para a sociedade Que contribui o analisar um discurso pass vel de proporcionar o riso pode trazer Ficar estudando piadas ditos e textos engra ados para qu Tentando encontrar uma justificativa nobre para tal empresa percebemos que nos diversos discursos que nos circulam e nas pequenas coisas do cotidiano poderia haver uma resposta Os exemplos ent o se multiplicaram em nossa mente O que fazem os pol ticos com a organiza o do Brasil Desde o come o l por volta de 1 500 como diria Fradique 2004 s pode ser piada No entanto por mais incr vel que pare
387. perceber um tom faceto nas primeiras palavras de Arist fanes indaga a esse ltimo da necessidade de manter seu discurso sob vigil ncia Meu caro Arist fanes v o que fazes Est s a fazer gra a quando vais falar e me for as a vigiar o teu discurso se por ventura vais dizer algo ris vel quando te permitido falar em paz PLAT O 1985 p 22 Arist fanes por m desenvolve seu elogio sobre o Amor de forma brilhante sem a presen a do ris vel t o temido por Erix maco Esse contraste de atitudes importante notar surge exatamente no mesmo di logo em que S crates ao fim do banquete juntamente com outros convivas procura defender um ponto de vista aparentemente contradit rio s ideias defendidas por Plat o em rela o arte da com dia dos pormenores da conversa disse Aristodemos que n o se lembrava pois n o assistira ao come o ainda estava sonolento em resumo por m disse ele for ava os S crates a admitir que de um mesmo homem o saber fazer uma com dia e uma trag dia e que aquele que com arte poeta tr gico tamb m um poeta c mico PLAT O 1985 p 53 Embora o texto de Plat o deixe passar essa possibilidade de o poeta tr gico usar seu engenho para a com dia a quest o que se coloca que nesse passo a fala de S crates retratada enquanto discurso reportado o que n o nos possibilita saber quais os argumentos foram utilizados para tentar persuadir os conviva
388. plicabilidade no mbito da arte da eloqu ncia 3 1 2 O CONCEITO DE VRBANITAS NO MUNDO ROMANO Dois pontos nos ajudar o a circunscrever o conceito de vRBANITAS na cultura romana 1 a diferencia o social e o retrato do orador ideal Em 1 podemos argumentar seguindo Minois 2003 77 et que sempre houve uma forma de diferencia o social baseada na linguagem e na presen a utiliza o do riso na hist ria romana De acordo com esse historiador o riso romano ressoa desde as antigas festas rurais em homenagem a Baco Numa linguagem baseada na RvsticrrAs tais festas eram marcadas por uma licenciosidade para com as mordacidades os insultos as chularias etc na busca daquilo que poderia alegrar e fazer rir Da o fato de esse tipo de linguagem ser compartilhado tanto por r sticos buf es sat ricos e com o desenvolvimento das artes Roma tamb m por atores e comedi grafos Segundo afirma Graf 2000 322 MIMVS I 1 pantomimo comediante 2 mimo farsa teatral 3 farsa 323 5 ENE Aqui nos referimos com dia atelana presente nos prim rdios do teatro romano 217 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 todos esses sujeitos do riso embora fizessem rir as pessoas n o tornavam o rid culo FACETVM pois desconsideravam os limites impostos pela sociedade Com base nisso C
389. plo forma o discursiva forma o ideol gica e assujeitamento Por outro lado somos partid rios de uma certa relatividade das coer es imposta ao sujeito pelos campos discursos isto h que se prever que o sujeito tem um espa o de manobra onde ele pode jogar com essas coer es utilizando diferentes tipos estrat gias discursivas 43 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 especializado baseado sobretudo na escrita e utilizado em produ es do teatro do r dio da Tv da internet De modo geral podemos dizer juntamente com Possenti que tais pr ticas espec ficas desses dois campos contribuem para diferenciar o campo da literatura e o campo do humor de outros campos como por exemplo da pol tica da filosofia da m dia da publicidade da hist ria etc E embora Possenti assegure que sua proposta um programa de estudos e que ainda h muito por fazer ela identifica v rias caracter sticas do campo do humor que v o ao encontro da nossa proposta de colocar o discurso humor stico doravante DH em uma tipologia que associa discursos a vastos setores de atividade social pol tico publicit rio religioso filos fico liter rio et coetera A escolha dessa forma de tipologia se justifica pelo fato de que o DH devido s caracter sticas at agora elencadas dificilmente se enquadraria em tipologias baseadas de acordo com Mainguenea
390. pois Quintiliano buscam explica Pietro 2006 tra ar 11 um retrato desse orador ideal FACETVS A VM 1 elegante bem feito de bom gosto 2 espirituoso engra ado jovial faceto 375 GRAVITAS TATIS 1 peso gravidade 2 peso fraqueza languidez idade madura Em sentido especial 7 seriedade dignidade severidade nobreza for a de vontade x 326 RYS RVRIS 1 em oposi o DOMVS e VRBS 2 terras de lavoura casa de campo 3 no plural propriedade rural 4 rusticidade rudeza 327 vRBS VRBIS 1 cidade em oposi o RVS campo e ARX cidadela 2 Roma a cidade por excel ncia 328 ANTIQVVUS VM 1 antigo velho passado de outrora 2 mais importante prefer vel not vel 3 ANTIQVI pl os antigos escritores os homens de outras eras 329 NOVYS A VM 8 homem que n o tem fam lia nobre HOMO NOVVS e que ao exercer pela primeira vez um cargo p blico como que inaugura sua nobreza 99 DICACITAS TATIS dicacidade mordacidade 218 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 C cero aborda a quest o no De ridiculis presente no Livro do De oratore Nesse tratado em forma de di logo C cero na voz da personagem C sar depois de disserta
391. presentamos de modo sucinto o lugar desse conceito nas principais obras de Bakhtin buscando delinear as faces que o riso pode assumir nos escritos desse te rico De posse desse conceito propomos ao fim desse cap tulo sua articula o com uma an lise do discurso voltado para o humor para o c mico para o ris vel 1 1 O RISO NA OBRA DE BAKHTIN BUSCANDO O CONCEITO Em Problemas da po tica de Dostoi vski o riso relacionado ao campo do s rio c mico que subsume por exemplo alguns g neros da Antiguidade como o di logo socr tico e a s tira menipeia Esses segundo a posi o de Bakhtin 2010d p 121 s o os primeiros modelos de uma literatura carnavalizada na qual podemos encontrar entre outras caracter sticas personagens her is mitol gicos e at mesmo deuses utilizando uma linguagem mais pr xima do conv vio familiar mais comum mais Em maior ou menor grau alguns dos principais estudos sobre o riso e o ris vel na atualidade dedicam a Bakhtin sen o um cap tulo como Bremmer e Roodenburg 2000 e Minois 2003 pelo menos uma se o como em Alberti 1999 Nigris 2006 D Angeli amp Paduano 2007 e Eco 2007 ou ainda mant m com ele uma grande interdiscursividade como em Eco 1984 e 1986 e Propp 1992 mostrando a relev ncia das reflex es bakhtinianas sobre o tema 48 Nosso objetivo aqui situar leitor sobre os v rios lugares onde riso pode aparecer na
392. prio texto mas sim uma esp cie de apologia disfar ada ao texto original Cabe ressaltar que longe de propor uma escala de efeitos de sentido do humor do c mico do rid culo estamos procurando evidenciar que juntamente com a imita o textual e gen rica deve haver outros fatores que colaboram para que a inten o humor stica se torne mais percept vel em determinado texto Desse modo aceitando que as fontes que possibilitam a imita o muita vezes se encontram no interdiscurso e que o discurso s assume um sentido no interior de um universo de discursos atrav s do qual ele abre caminho MAINGUENEAU 2006 42 acreditamos que desvelar as rela es que o DH pode estabelecer com outros tipos de discurso possa contribuir de um lado para colocar em evid ncia os efeitos de sentido entre eles os efeitos ligados ao riso o c mico o sat rico o l dico o humor stico e de outro para justificar quando for o caso a presen a da visada de fazer rir em dado texto 189 Dispon vel em lt https www youtube com watch v a3Z6UO 1 wgQ4 gt Acesso 16 abr 2013 131 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 PARTE CAP TULO 4 O RISO NO INTERDISCURSO DAS RELA ES INTERDISCURSIVAS DO DISCURSO HUMOR STICO Antigamente escrevia se uma piada de duplo sentido e ningu m entendia nenhum dos dois Hoje a situa o inversa
393. que publicitaire humoristique Enfin nous voulons y voir comment l humovr a fait surgir partir des innovations technologiques des xx et XXI si cles certains professionnels du rire com diens humoristes caricaturistes dessinateurs risistas etc qui pr tendent d finir leur propre espace discursif dans le champ de l humour en mettant en cause ce que c est un humoriste ABSTRACT In a society in which laughter is seen as the new opium of the people a panacea for all ills and where laughing turns into something that is almost mandatory reflect upon a discourse which is capable of engendering the most different forms of laughter of what 15 laughable playful comic satire humor becomes essential in our view Indeed in the course of this analysis we take the relationship between discourse and laughter as a starting point for the re insertion of laughter in Discourse Studies Divided into two parts the course of our analysis focuses primarily on the language that makes it possible to engender forms of laughter and consequently the humorous discourse Secondly we turn our attention to the structure of the discourse by having the subject of discourse as a parameter In the first part we outline from the language of laughter concept 1 the faces of laughter its physiological and psychosocial sides as responsive activity and its language side materialized in GENERA RIDICVLORVM 11 the purpose of making p
394. que as produz ser ou n o considerado um sujeito do riso cf parte 1 cap 4 Sendo um sujeito do riso pode ocorrer ent o parafraseando Fradique 1925 que nada mais do que eles venham a escrever nem mesmo uma linha escape categoriza o de piada guisa de uma conclus o assumiremos que o DH deve ser considerado como um tipo de discurso n o constituinte mimot pico e mediador sui generis que utiliza in meros expedientes de linguagem voltados para atender em maior ou menor escala do c mico ao humor stico do l dico ao sat rico uma visada de fazer rir Mais especificamente diremos que o DH um tipo de discurso que e Mant m com os demais tipos de discursos rela es interdiscursivas baseadas numa esp cie de mutualismo oportunista que implica al m da absor o e re utiliza o ao mesmo tempo da subst ncia e da forma um conv vio mais ou menos pac fico entre os discursos Conv vio regulado muitas vezes por meio do 207 Esse artigo de Miner foi publicado no n mero 58 da revista American Anthropologist 2 Aqui achamos por bem manter o verbo no condicional pois acreditamos que escritores como por exemplo Angeli Bastos Tigre Bar o de Itarar Em lio Meneses J Soares Ju Banan re Lu s Fernando Ver ssimo Mill r Fernandes e o pr prio Mendes Fradique se encontram num lugar problem tico lim trofe entre o campo do humor e os demais campos discursivos
395. que se coloca saber se o sujeito tem autoriza o dentro de uma dada situa o para realizar seu ACH Essa autoriza o ou melhor dizendo essa legitima o se relaciona s vezes a um s tempo 1 natureza do interlocutor 11 ao tipo de rela o instalada entre os interlocutores s circunst ncias materiais iv ao lugar ocupado pelo sujeito falante na situa o de comunica o e v constru o do ethos No decorrer de seu texto entretanto Charaudeau 2011 concede maior nfase aos elementos da situa o de comunica o em detrimento da identidade psicossocial Isso porque para esse autor o humor deve ser entendido antes como uma estrat gia discursiva do que um tipo de discurso propriamente dito Se se adota essa postura os sujeitos do riso que representaram representam o fazer rir perdem a possibilidade de serem tomados enquanto modelos prot tipos para a constru o dos eth discursivos ou para a reformula o dos eth pr vios durante o uso da LR Em vista disso nosso intuito mostrar que a legitimidade do sujeito humorista tamb m pode ser buscada por meio das identidades psicossociais n o somente no sentido restrito no qual Charaudeau 2006b as define mas tamb m em um sentido amplo vale dizer relacionando as s representa es sociais armazenadas nos imagin rios sociodiscursivos sobre os profissionais do riso Isso nos leva portanto a situar a legitimidade desses sujeitos em particular
396. quer texto aproximando se assim de um fen meno mais amplo a interdiscursividade 200 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Estava a mulher no seu lugar Veio a morte lhe fazer mal A morte na mulher a mulher no homem o homem no boi o boi na gua a gua no fogo o fogo no pau o pau no cachorro o cachorro no gato o gato no rato o rato na aranha a aranha na mosca a mosca na velha e a velha a fiar Como se v o texto traz marcas ou procedimentos lingu sticos que tamb m aparecem nos textos engendrados pelo DH no caso a acumula o e a repeti o Esse fato de alguns g neros e textos portarem elementos ou procedimentos que a princ pio determinariam um texto de humor stico j foi previsto em outro momento de nosso percurso cf nossas considera es iniciais Aqui o que buscamos evidenciar 1 possibilidade de se perceber pela intui o uma inten o humor stica CHARAUDEAU 2006 baseada especificamente numa coniv ncia l dica ou seja mostrar que can es e outros textos semelhantes a velha a fiar constroem uma ludicidade por vezes afastada de um conceito de comicidade fundamentado na derris o Essa ludicidade acreditamos se d a partir de palavras que servem de 290 instrumentos para a ativa o de um divertimento s vezes f sico articulat rio que em pot ncia fonte do riso do sorriso ou de
397. r sobre as tentativas frustradas dos antigos gregos de propor uma t xvn sobre o tema por se entender o riso como uma quest o natural uma esp cie de paix o direciona a discuss o das personagens sobre a utiliza o do riso GENERA FACETIARVM com cinco perguntas a saber A respeito do riso h cinco coisas que devem ser perguntadas Primeira o que o riso segunda onde encontrado terceira se pr prio do orador querer provocar o riso quarta at que ponto o orador pode utiliz lo quinta quais s o os g neros do riso CICERO apud MARQUES JR 2008 45 No decorrer do tratado C cero discute cada uma dessas perguntas que apresentamos de forma sum ria aqui Para a primeira sobre a natureza do riso C cero deixa a resposta a cargo de Dem crito uma vez que n o se sabe dizer em que paix o nasce o riso isto qual fonte das rea es f sicas correspondentes ao riso ao sorriso gargalhada etc A respeito da segunda o retor diz que o riso depende das situa es e das pessoas e suas torpezas e tamb m das coisas s rias Para a terceira a reposta positiva o riso serve para mover os sentimentos do juiz e do audit rio e al m disso para diminuir a for a dos argumentos pat micos utilizados pelo advers rio Sobre a quarta esclarece que o orador deve tomar o cuidado para n o se aproximar do buf o e do mimo E finalmente para a quinta C cero prop e a divis o dos GENERA FAC
398. r stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 repentinamente que ela est rindo sozinha sua risada ou cessa ou se degenera torna se for ada perde sua seguran a e clareza e sua capacidade de provocar humor e alegria BAKHTIN VOLOCHINOV 1926 p 11 A nosso ver o riso busca sua for a nesses valores presumidos nesse apoio coral para potencializar a criatividade de suas formas e a inteligibilidade das sutilizas de entoa o presentes por exemplo na ironia no sarcasmo no gracejo etc Embora as obras citadas transitem em maior ou menor grau pelo universo do riso a grande obra de Bakhtin sobre o riso podemos dizer cultura popular na Idade M dia e no Renascimento o contexto de Fran ois Rabelais Nesse trabalho Bakhtin 20104 prop e compreender a obra de Rabelais relacionando a cultura c mica popular e cosmovis o carnavalizada do mundo no fim da Idade M dia Da o papel do riso e de suas formas de manifesta es verbais e n o verbais a par dia dos textos sagrados as formas reduzidas do riso a bufonaria o humor a ironia e o sarcasmo as obras c micas teatrais representadas em datas especiais o riso de natal e RIsvs PASCHALIS OS festejos carnavalescos as festas para rir a festa do asno o riso ritual etc o vocabul rio da pra a p blica e a linguagem do ambiente familiar O te rico russo tamb m discute a rela o do riso com a cultura erudit
399. r alguma ajuda CONSUMIDORA sim t procurando meu nome na latinha AUXILIAR DE SUPERMERCADO Ah legal Qual seu CONSUMIDORA Kelen AUXILIAR DE SUPERMERCADO Kelen n o Kelen ruim um nome merda n o tem CONSUMIDORA Como assim AUXILIAR DE SUPERMERCADO Nome de puta a Coca n o faz Brigite Sheila eu nunca vi CONSUMIDORA Voc t louco t maluco AUXILIAR DE SUPERMERCADO Ah t Kelen legal Kelen agora um puta nome Kelen um nome b blico A m e de Cristo Kelen Kelen ruim Meu nome Welerson e n o por isso que estou procurando aqui meu nome na latinha Meu nome bosta e eu tenho consci ncia disso CONSUMIDORA Ok Welerson Mas eu j achei Kely Ent o se tem Kely de repente tem meu nome AUXILIAR DE SUPERMERCADO Kely um nome Kelen a deriva o merda desse nome ruim Por duas letras seu pai te amaldi oou pra sempre CONSUMIDORA T bom obrigada eu vou continuar procurando porque eu sei que eu vou achar AUXILIAR DE SUPERMERCADO N o voc n o vai achar Se quiser achar voc procura na promo o aqui em baixo que a promo o do Dolly que bem semelhante s que com nome merda P mela tem T bata tem nome errado tem Cr udio tem um que eu gosto muito que Gr ria lembrei do nome da minha m e Agora se voc n o achar no Dolly acho que
400. r com os prop sitos dos chistes normalmente pelo riso Num segundo momento Freud 1996 p 186 argumenta por m que a humanidade n o se contentou em desfrutar o c mico onde ele se deparava a sua experi ncia procurou tamb m produzi lo intencionalmente Essa conclus o tempos mais tarde levar Freud a afirmar que a atitude humor stica n o importando em que consista poss vel de ser dirigida quer para o pr prio indiv duo quer para outras pessoas de supor que ocasione uma produ o de prazer pessoa que a adota e uma produ o semelhante de prazer vem a ser a quota do assistente n o participante FREUD 1988 p 165 Desse modo depreende se que o que foi afirmado para o chiste se presta agora tamb m ao c mico e ao humor fen menos diferentes na teoria freudiana a terceira pessoa passa portanto a ser parte important ssima no processo Numa linha de racioc nio similar podemos incluir Le Goff 2000 Para esse autor o la o entre o riso e a sociedade extrapola a restri o num rica e a presen a concreta dos indiv duos numa dada situa o Ainda de acordo Le Goff os indiv duos podem at mesmo ser tomados enquanto entidades abstratas j que o riso um fen meno social Ele exige pelo menos duas ou tr s pessoas reais ou imagin rias uma que provoca o riso uma que ri e outra de quem se ri e tamb m muitas vezes da pessoa ou das pessoas com quem se ri LE GOFF 2
401. ra Creio que o mesmo vale mutatis mutandis para a reda o PERINI 1999 p 27 28 grifos do autor Como sabemos essa pr tica de avacalha o da disciplina gramatical n o exatamente nova cf parte 1 cap 1 item 1 2 no entanto o diferencial do texto de 141 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 199 Fradique a presen a de um m todo que invadindo o espa o editorial atrav s de informa es falsas ou de deslocamentos de fatos datas personagens biografias notas de rodap pref cios etc LUSTOSA 1993 p 111 112 faz refletir cr tica sat rica e humoristicamente sobre os problemas e as dificuldades do ensino de gram tica nas escolas brasileiras Nas palavras de Fradique Tendo eu encetado a t tulo de ensaio ha alguns annos a publica o de uma s rie de livros didacticos obedecendo ao methodo do Sr Thomaz Delphino qual o Methodo Confuso verifiquei sem menor difficuldade a perfeita adapta o desse methodo mentalidade da minha gente e da minha ra a O exito do Methodo Confuso como processo didactico foi flagrantemente fructuoso o que me animou a continuar a s rie dando estampa a presente Grammatica Portugueza pelo Methodo Confuso cuja ado o nas escolas e gymnasios do Brasil se fez avant la lettre simples exposi o do programa a que obedece a materia no compendio FRADIQUE 1984 p
402. ra baseia se no riso de zombaria E exatamente este tipo de riso o que mais se encontra na vida PROPP 1992 p 28 oportuno destacar que em grande parte do seu texto Propp 1992 se interessa pelo riso de zombaria e seus aspectos Com isso os demais tipos de riso recebem uma an lise deveras superficial em especial o riso bom e o riso alegre pois estes tipos de riso n o s o provocados pela comicidade n o est o ligados a ela e constituem uma quest o mais de car ter psicol gico que est tico PROPP 1992 p 162 Propp 133 Dos vinte e sete cap tulos que comp em Comicidade e riso dezenove s o dedicados an lise do riso de zombaria 101 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 justifica essa posi o apresentando o fator quantitativo como argumento decisivo para n o avan ar em suas reflex es e an lises desses tipos de riso Partindo se de observa es de ordem puramente quantitativas podemos afirmar que o riso de zombaria o mais frequente que o tipo fundamental de riso humano e que todos os outros tipos encontram se muito mais raramente Do ponto de vista da l gica formal pode se chegar racionalmente conclus o de que h duas subdivis es do riso ou dois g neros Um cont m a derris o o outro n o PROPP 1992 p 151 Contudo devemos chamar a aten o para esses dois tipos de riso pois diferentement
403. radores latinos em especial C cero e Quintiliano sobre o qu no discurso poderia proporcionar o riso Com esses pensadores pudemos delinear OS GENERA RIDICVLORVM que por sua vez se dividem em GENERA FACETIARVM invers o paronom sia trocadilhos entre outros cuja marca caracter stica a brevidade e em GENERA ANECDOTORVM que se estendem no discurso podendo assumir a forma de anedotas ou de burlas No entanto a imprecis o da extens o textual dos GENERA ANECDOTORVM nos levou a perscrutar sobre a transforma o c mica de enunciados Chegamos assim quest o da par dia Enquanto estrat gia discursiva ligada imita o percebemos que a par dia assim como o pastiche se limita subvers o ou capta o de textos e de g neros do discurso no entanto essa defini o nos mostrava muito pouco quase nada sobre certos g neros que se voltam especificamente para o humor ou para o riso sem com isso subverter outros g neros ou textos espec ficos como por exemplo as piadas os chistes e em certa medida o stand up Diante dessa quest o come amos a cogitar a ideia de que um tipo de discurso deveria dar suporte a esses g neros Com esse intuito procuramos delinear como esse discurso poderia se estruturar Primeiramente verificamos como os tipos de discurso podem desenvolver suas rela es no interdiscurso Assim percebermos que entre os tipos de discursos teoricamente poss veis em nossa sociedade existem al
404. rechts Tyteca 1974 p 13 prop e reduzir o problema a seguinte presun o desde que as hist rias c micas s o dadas como tal presumimos que elas fazem rir Sobre esse ponto entretanto preciso dizer que a autora coloca uma ressalva uma vez que n o se sabe muito sobre a extens o do grupo de rieurs aqueles que riem que asseguram a comicidade dessas hist rias se retomar do mesmo modo como fizeram outros autores estudiosos do riso e da comicidade predecessores o exame dos mesmos exemplos analisados nesses estudos ou seja a tradi o nesse dom nio um tipo de cau o m tua importante lembramos sempre que o estudo de Olbrechts Tyteca 1974 p 7 n o focaliza toda esp cie de c mico mas somente o c mico da ret rica Dessa maneira a autora procura desvendar como se pode perceber numa diversidade de tipos argumentos somente aqueles pass veis de se tornarem c micos caricaturando os argumentos s rios Segue que sua proposta pode dessa forma se fundamentar nesse tipo de presun o que em certa medida parece fazer eco proposta de Propp e em menor escala de Freud A n s tal presun o se nos mostra problem tica pois n o fica claro se ela somente parte da intui o do analista ou se ela se constitui com base numa revis o das teorias ou ainda se ela se baseia nas formas do riso Todavia basear se na presun o do que faz fez rir como procede Olbrechts Tyteca tem
405. remos que o grau de predomin ncia dessa visada discursiva pode variar de acordo com a finalidade identificada no projeto de fala do sujeito cf parte 1 cap 2 215 No contexto de discuss o fornecido por Bakhtin 2010c devemos entender bobo no sentido de tolo ing nuo parvo 2167 2 Leia se tamb m bobo da corte 157 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 especialmente privada por exemplo a esfera da sexualidade e ao mesmo tempo promover a den ncia de toda esp cie de convencionalismo falso nas rela es humanas Como podemos perceber Bakhtin nos explica esses pontos tendo por fundo a constru o do romance mas podemos nos perguntar se isto poss vel no romance por que n o o seria em outros g neros Quanto a isso as palavras do pr prio Bakhtin s o esclarecedoras Na luta contra o convencionalismo e a inadequa o de todas as formas de vida existentes por um homem verdadeiro essas m scaras adquirem um significado excepcional Elas d o o direito de n o compreender de confundir de arremedar de hiperbolizar a vida o direito de falar parodiando de n o ser literal de n o ser o pr prio indiv duo BAKHTIN 2010c 278 Portanto as m scaras se apresentam no nosso entender como um princ pio organizador do s discurso s em geral n o somente de um indiv du
406. rentes reais ou inventados s o hiperbolizados Com isso esse riso se aproxima fortemente da maledic ncia e da falsidade cuja aus ncia de um impulso nobre faz elencar como alvos preteridos a hipocrisia diante da realidade e a sacraliza o dos atos de bondade tidos sempre como falsos Assim sendo o pathos desse tipo de riso pode beirar o dio generalizado convertendo se em pseudotr gico Isso porque esse riso nos alerta Propp 1992 p 160 est estritamente ligado infelicidade ao fracasso e desilus o daquele que ri Riso c nico Embora seja muito similar ao riso maldoso o riso c nico se difere desse pelo fato de que retira seu prazer da desgra a alheia Para Propp esse tipo de riso se afasta como o riso maldoso da comicidade pois n o s o mais os pequenos infort nios que se tornam alvo mas qualquer desgra a seja ela de pequena ou de grande dimens o Esse tipo de comportamento ressalta Propp 1992 p 160 pr prio de um ser humano rido incapaz de compreender o sofrimento dos outros 100 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 v Riso alegre Diferencia se do riso bom pois em nenhum grau se verifica a presen a de alguma forma de puni o dos defeitos N o carrega de modo algum o tra o de irris o Tal como o riso ritual o riso alegre vivificador das for as e do desejo de viver por m se distancia tamb m desse
407. ret ricas juntamente com o logos o pathos funcionando como um argumento persuasivo em favor do orador Por meio desse argumento o orador poderia se mostrar portador de qualidades como a prud ncia phronesis a virtude aret e a benevol ncia eun ia Desse modo para Arist teles o ethos era tido como o car ter ou a imagem que o orador em seu discurso mostra ou constr i objetivando aumentar a ades o de um determinado audit rio Vemos portanto que o ethos para Arist teles est estreitamente preso ao discurso J os romanos como aponta Amossy 2005 principalmente nas figuras de C cero e de Quintiliano dedicando se aos estudos ret ricos e buscando uma maior praticidade no uso das provas retomaram o conceito de ethos mas o aproximam de forma mais estreita pr pria vida do orador sua origem familiar suas 212 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 primeiro momento apresentamos um pouco de sua hist ria no universo social e discursivo greco romano Num segundo momento propomos discutir a possibilidade de articula o desse conceito com o de ethos hoje operacionalizado na An lise do Discurso AD como categoria de an lise e definido como estrat gia discursiva 3 1 1 VRBANITAS NA ANTIGUIDADE CL SSICA 3 1 1 1 A ORIGEM GREGA Apesar de sistematizado na ret rica latina o conceito de vRBANITAS podemos dizer tem de cert
408. rias a purifica o dos v cios e dos defeitos da alma Tamb m observamos que com o riso podemos entre outras coisas mostrar nossa superioridade em rela o queles que jugamos inferiores evidenciar as incongru ncias do mundo que se apresentam como norma e aliviar as tens es que nos co bem de dar livre vaz o a certos desejos ainda importante ressaltar que desde Plat o e Arist teles o fazer rir tendo como fim o pr prio riso aparentemente se encontra afastado das discuss es e das reflex es o que se deve ao fato de esse objetivo n o obedecer ao princ pio da justa medida e por isso mesmo ter sido re legado aos artistas c micos e aos buf es Todavia essa finalidade ou mais especificamente dizendo essa visada de fazer rir podemos agora afirmar dilui se nos mais diversos tipos de discursos em rela o queles que herdaram as fun es de fazer rir torna se um efeito visado que garante um mix de retalia o e sucesso junto ao p blico e sociedade cf parte II cap 4 item 4 3 2 2 2 AS VISADAS DE FAZER PRAZER E DE FAZER RIR N o sabemos o que que nos proporciona prazer nem do que estamos rindo Freud 1996 p 128 Na ep grafe acima Freud evidencia a dificuldade de percep o das fontes de prazer que nos assola diante de determinadas formas mais complexas de chiste N o sabemos assevera Freud 1996 p 128 dizer se nos impressionamos mais com o pensamento transmitido conte do ou com
409. rid culas montagens c micas v deos engra ados etc Quando um pensamento ou um dito s rio acontece algu m por vezes com dor de cotovelo ou sofrendo de amor Todavia depois de postada tal mensagem s ria ou piegas certo que em pouco tempo um coment rio jocoso aparece riso 16 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 zombaria voltam cena Ainda nos facebooks e nos talks da vida interessante ver como se ameniza uma conversa enviesada depois de uma ou duas frases fortes ou s rias um dos parceiros da troca linguageira percebendo que o seu discurso n o est saindo de acordo com o prop sito usa o artif cio de um rsrsrs um kkkkk ou um heheh ou ainda um ahahah o problema quando essas formas s o compreendidas como ironia ou como sarcasmo n o adiantou nada usar o rsrsrs cf figura 2 Nos bares restaurantes e caf s f cil verificar os rostos com grandes sorrisos e gargalhadas ensurdecedoras No nosso entender essas gargalhadas por vezes n o s o gratuitas deve ter havido algo que foi dito ou visto que as induziu At mesmo nos vel rios h humor apelemos para a mem ria e lembremo nos daquele sujeito estranho parente distante do morto que consegue fazer com que v rias pessoas fiquem ao seu redor para prestar aten o em seu discurso Com certeza uma piad
410. rificar determinados efeitos de sentido ligados ao riso como por exemplo o humor stico e o ir nico que s o considerados por Genette formas amenizadas do sat rico e como j vimos em outro momento de nosso percurso formas reduzidas do riso cf parte 1 cap 1 e cap 3 De posse dessas ideias tentemos agora a partir um exemplo retirado do cancioneiro popular verificar como o l dico pode nos levar ao riso bom alegre VELHA A FIAR Estava a velha no seu lugar Veio a mosca lhe fazer mal mosca na velha e a velha a fiar Estava a mosca no seu lugar Veio a aranha lhe fazer mal aranha na mosca a mosca na velha e a velha a fiar Estava a aranha no seu lugar Veio o rato lhe fazer mal O rato na aranha a aranha na mosca a mosca na velha e a velha a fiar 289 Isso se deve ao fato de a hipertextualidade n o ser uma classe estanque sem comunica o com as outras subcategorias da transtextualidade intertextualidade paratextualidade metatextualidade arquitextualidade mas que mant m com elas numerosas e decisivas rela es de interse o GENETTE 1982 Com efeito podemos admitir com base em Maingueneau 2006c p 288 289 grifos do autor que al m de designar um conjunto de rela es expl citas ou impl citas que um texto ou um grupo determinado de textos mant m com outros textos a hipertextualidade assim como a intertextualidade lato sensu uma propriedade constitutiva de qual
411. riginalidade imagina o sentimentalismo Tais caracter sticas de acordo com Nigris 2006 p 90 91 teriam arrastado nesse contexto o riso para as suas formas reduzidas do grotesco da ironia sendo que essa ltima n o ser um riso para o outro mas um riso para si ter sua sonoridade sensivelmente diminu da em sua atitude de sacralizar o eu e n o o outro Por seu turno o grotesco devido ao car ter asc tico das constru es s rias desse per odo vislumbraria alcan ar com toda a sua loucura e deformidade o status do sublime o que para Eco 2007 p 279 est relacionado celebra o da caricatura que converte pela passagem do repugnante ao rid culo a deforma o e o exagero humor stico em beleza e fantasia Assim sendo podemos dizer que diante de semelhante quadro que Bakhtin 2010a demarca as diferen as de interpreta o do riso e de suas fun es entre a Renascen a e as teorias nas pocas ulteriores 122 Deve ficar bem claro entanto que apesar da predomin ncia dos aspectos negativos os aspectos positivos do riso nos alerta Alberti 1999 ainda subsistem nesse per odo e nos posteriores vinculados 90 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Sublinhemos uma vez mais que para a teoria do riso do Renascimento como para as suas fontes antigas o que caracter stico justamente o f
412. rivam da pornografia 175 De acordo com Greimas e Court s 2008 457 a compara o entre sequ ncias entendidas como unidades discursivas permite estabelecer disjun es contrastivas que por sua vez possibilitam o reconhecimento de propriedades formais compat veis com a narra o a descri o a conversa o entre outras Ainda segundo os autores uma tipologia de unidades discursivas encontra seu fundamento em denomina es baseadas nesse tipo de reconhecimento a saber sequ ncia narrativa descritiva dialogal etc J para Maingueneau 1996 159 160 as sequ ncias devem ser entendidas como restri es de algum modo transversais aos tipos e g neros do discurso Assim sendo a narra o a argumenta o a descri o podem operar numa infinidade de g neros do romance com dia por exemplo Ainda para esse autor levar em considera o os tipos de sequ ncias possibilita observar o texto enquanto uma realidade heterog nea constitu da seja 1 por sequ ncias de tipos diversos 11 por certos casos extremos de uma sequ ncia de um nico tipo ou ainda 111 por uma sucess o de sequ ncias de um mesmo tipo Heterogeneidade como ressalta Maingueneau regulada por certo pelo g nero do discurso ao qual o texto se vincula 176 Apesar do t tulo do trabalho La litt rature pornographique do corpus analisado obras liter rias pornogr ficas Maingueneau 2010b p 18 19 grifos do autor asse
413. ro espec fico por exemplo com dia piada ou chiste e tenta se depreender os elementos e os efeitos de sentidos relacionados em maior ou menor grau ao riso ainda importante salientar que uma grande parte desses trabalhos se volta quase sempre para outros objetivos que n o o pr prio DH isto a an lise dos elementos lingu sticos e discursivos por vezes somente um meio seja para afirmar as defini es 143 Dessa forma colocamo nos numa perspectiva mais ret rica do que filos fica Isso porque entendemos que as interpreta es sobre as causas do riso de modo algum devem ser tomadas como verdades absolutas mas sim enquanto tentativas de prever como se d o contrato protot pico do DH Sempre devemos ter em mente o riso contingente e as suas formas s o capazes de atravessar quase todos os discursos e quase todas as situa es de comunica o 144 Aqui podemos citar nomes como os de C cero de Quintiliano os trabalhos de Propp 1992 e Freud 1996 145 Os trabalhos de Pirandello 1996 Bergson 2007 Veissid 1978 D Angeli amp Paduano 2007 Possenti 1998 servem de exemplos desse m todo 108 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 e ou teorias admitidas a priori seja para comprovar a exist ncia de uma especificidade est tica ret rica ou pragm tica aferida a um dado conjunto de textos Diante de tal problem
414. rol 2006a vai argumentar que necess rio observar que raro comunicar de modo humor stico seguindo uma forma homog nea e cont nua Salvo exce es uma conversa o que se baseasse somente troca de plaisanteries piadas gracejos brincadeiras ou de zombarias bem pouco frequente fora dos teatros ou dos cabar s CHABROL 2006 7 tradu o nossa Para Chabrol 2006a p 9 os ACHs n o podem portanto constituir a ess ncia dos g neros e subg neros presentes no discurso midi tico A nosso ver coloca es como essas mesmo considerando o foco da pesquisa de Chabrol podem levar a generaliza es que impe am a tomada de consci ncia sobre um tipo de discurso que pass vel de causar o riso Se isso ocorre n o h como verificar se esse tipo de discurso digamos humor stico engendra seus pr prios g neros a exemplo do que acontece com o discurso pol tico com seus debates cartazes santinhos etc Logo o maior risco abolir a exist ncia de g neros tipicamente ligados ao riso como a com dia e os g neros s rio c micos apontados por Bakhtin 2010c o stand up e os muito frequentes no discurso do cotidiano piadas chistes e anedotas para citar alguns Nesse sentido Charaudeau 2006a prevendo a complexidade da quest o admite que ele o humor pode se constituir em g nero desde que se anuncie e se d a consumir por tal dentro das colet neas de hist rias engra adas dentro
415. ropre cru bizarriries qui sont visibles dans son temp rament et dans sa conduite Bref un Homme d Humour est un homme capable de repr senter et de r v ler avec bonheur les bizarreries et les faibles d un humoriste ou d autres personnages 177 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 da consci ncia social cultural inglesa com o qual sujeito aparenta ser grave s rio mas pinta os objetos de tal maneira que provoca a alegria e o riso HOME 1762 apud MINOIS 2003 p 424 Logo diremos que esse humor uma esp cie de molho ingl s uma analogia que acreditamos n o ser de todo gratuita pois sabemos que v rios estudiosos do riso e do ris vel por vezes relacionam o riso o ris vel e o fazer rir com certa percep o de sabores que extrapola a simples quest o do paladar Nessa linha podemos citar os antigos retores e ret ricos entre eles Arist teles C cero e Quintiliano que consideravam o uso riso nos discursos uma capacidade inata de alguns sujeitos e que dificilmente se poderia ensinar Como a t cnica de temperar esses pensadores acreditavam que o riso era como saL ou saLsvM lat sal molho picante que d gosto e real a mas que ao mesmo tempo deve ser adicionado com parcim nia e sabedoria para n o estragar a comida ou o discurso De certo modo assim tamb m pensamos o caso do humour ingl s um tipo de molho e
416. ros 4 140 excerto um pastiche do livro perdido da Po tica supostamente encontrado por Guilherme Baskerville na biblioteca da Abadia do romance O nome da rosa A Po tica de Arist teles era o livro fatal causador direta e indiretamente das mortes na trama do romance cf ECO 1986 p 526 141 Referimo nos aqui aos escritos gregos que C cero diz ter lido cf De ridiculis 217 De acordo com Marques Jr 2008 32 essas fontes podem ter sido 1 Do riso de Teofrasto disc pulo de Arist teles os escritos de G rgias sobre o riso e o Livro da Po tica de Arist teles Ainda segundo Marques Jr nenhum desses escritos chegou at n s 142 Na literatura sobre o riso e o ris vel em especial sobre o humor s o v rios os termos e os conceitos relacionados ao termo t cnica a saber chaves lingu sticas ou mecanismos lingu sticos cf POSSENTI 1998 gatilhos cf RASKIN 1987 recursos t cnicos t cnica verbal ou expressiva cf FREUD 1996 ndice lingu stico cf CHARAUDEAU 2008 para citar alguns Em nosso trabalho o termo t cnica ser tomado como um termo gen rico para designar as marcas lingu sticas respons veis por possibilitar a percep o dos efeitos de humor 107 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 voltados para o ris vel Entretanto estranho e ao mesmo tempo intrigante que desde a
417. rroco da vov Argumenta o na m dia e g neros transgressivos problematicidade nos g neros de imita o In ENCONTRO MINEIRO DE AN LISE DO DISCURSO Anais Vi osa DLA UFV 2009b VASQUES Ligue o r dio garantia de boas risadas In SANTOS E ROSSETTI R orgs Humor e riso na cultura midi tica varia es e perman ncias S o Paulo Paulinas 2012 p 187 198 VAZ A Mutualismo coopera o ou oportunismo 2001 Dispon vel em lt http naturlink sapo pt print aspx menuid 2 amp cid 41381 amp viewall true amp gt Acesso em 21 abr 2013 VEISSID J Le comique le rire et humour Paris Lettres du Monde 1978 VELLOSO M P A mulata o papagaio e a francesa o jogo dos estere tipos culturais In LUSTOSA I org Imprensa humor e caricatura a quest o dos estere tipos culturais Belo Horizonte Editora UFMG 2011 p 365 387 VERISSIMO L F Amor nos tempos de com dia Trip S o Paulo Trip Editora e Propaganda n 221 maio 2013 p 40 XAVIER M Rafinha bastos o novo rei da baixaria Veja S o Paulo edi o on line Editora Abril out 2011 Dispon vel em lt http vejasp abril com br materia rafinha bastos comediante acha engracado gt Acesso em 11 jun 2012 274 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 AP NDICES 275 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony
418. rso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 pathos da trag dia doloroso e destrutivo O que como vemos aponta para a coer ncia no pensamento desse fil sofo pois a aus ncia de tais afec es est de acordo com o princ pio tico da eutrapelia gracejar espirituosamente evitando a derris o a zombaria isto o lado negativo do riso diria Bakhtin Nesse diapas o que se pode dizer que Arist teles tendo em mente o conceito de eutrapelia delineia nesses escritos a rela o entre o uso do riso e o ethos Ali s importante ressaltar que a abrang ncia dessas considera es aqui sumarizadas vai muito al m de discutir o uso do riso somente numa perspectiva ret rica elas alcan am desde as prescri es ticas e morais relacionadas amizade entre os homens at as condi es de felicidade que proporcionam alegria e prazer chegando ainda s quest es est ticas da arte Contudo a aus ncia de considera es sobre os tipos de gracejos remiss es ao Livro da Po tica e sobre as vantagens espec ficas no uso do riso pelo orador deixam as explica es de Arist teles com um car ter muito amplo gen rico Diante disso caber segundo Pietro 2006 p 292 aos romanos com seu pragmatismo e sua sistematiza o s lida e coerente da arte ret rica circunscrever o princ pio de eutrapelia no conceito de vRBANITAS al m disso delinear a sua a
419. rte os s tiros 29 66 237 v semelhante a um s tiro que concerne ao drama sat rico 235 Essas SATVRAE eram formadas de dicacitas de festivas que por sua vez eram divertimentos pastoris que consistiam em enviar de um grupo a outro em r plicas alternadas desaforos mordazes com uma m trica precisa Com o tempo essas SATVRAE evolu ram para uma esp cie de teatro total misturando express o corporal canto dan a palavra em uma atmosfera global cuja fun o de derris o era essencial MINOIS 2003 85 167 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Como apontamos anteriormente a vida em Roma se apresentava prop cia ao desenvolvimento da s tira quase todos os poetas e escritores latinos se aventuram no g nero Isso se deve principalmente ao fato de que a vida pol tica nos ltimos anos da Rep blica ainda n o o protesto com espada O riso era sabidamente uma arma contra os abusos e os maus costumes que se desenvolviam por influ ncia dos estrangeiros e dos b rbaros que abundavam a vrBs devido ao sucesso das campanhas militares romanas Assim o sat rico se constitui aparentemente como arauto do povo contra os poderosos Isso pois os sat ricos pertencem classe aristocr tica e por isso mesmo o seu discurso uma esp cie de defesa dos costumes dessa classe conservadora fa
420. s 243 Deve ficar claro no entanto que as manifesta es do riso baseadas na bufonaria continuariam o seu percurso hist rico fora das paredes do pal cio Data aproximadamente dos fins s culos XVI o surgimento do circo equestre da commedia dell arte Essas institui es de certo modo v o absorver os bobos degredados da Corte Estes ltimos assumem num primeiro momento o papel de tipos no teatro como por exemplo Arlequim Colombina e Pierr mas posteriormente passam fun o de pagliaccio nas trupes circenses itinerantes cf ENCICLOPEDIA ITALIANA 1929 39 p 402 930 244 Como exemplo podemos citar um fato recente com dois cones do humorismo brasileiro Chico Anysio e Mill r Fernandez Quando da morte desses o primeiro em 23 de abril de 2012 o segundo em 27 do mesmo m s a m dia com certeza levou em considera o essa confus o sinon mica Para Mill r havia os seguintes ep tetos nas mat rias mestre do humor cartunista caricaturista humorista escritor J Para Chico Anysio as varia es se apresentaram em maior n mero humorista comediante g nio do humor g nio m ximo da com dia grande mestre da com dia caricaturista um verdadeiro pai para todos os comediantes Dispon vel em lt http ego globo com noticias no twitter famosos lamentam morte de chico anysio html gt Acesso em 23 abr 2012 171 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Pe
421. s habitar somente a zona suburbana das letras brasileiras SALIBA 2002 p 133 Pensemos a ABL motivo de admira o e de dio dos humoristas seria ent o o para so que Dante mostrara a Fradique 4 2 HUMORISTAS VERSUS RISISTAS EM DEFESA DA PROFISS O Para mim todo mundo humorista Bar o de Itarar 1965 apud SALIBA 2002 p 33 Os avan os tecnol gicos do s culo xx n o tardaram a modificar a condi o de profissional do riso na sociedade brasileira A populariza o do cinema a dissemina o do r dio e em meados do s culo a cria o da TV preparam o terreno 377 Podemos citar por exemplo Masucci 1958 13 que com uma ponta de desd m assim se refere ABL e a seus membros ACAD MICO Escritor p sto em quarentena 378 Para Lustosa 1993 31 32 o cinema foi uma das inven es que maior impacto causou sociedade brasileira no in cio do s culo xx vindo a se tornar h bito de divers o na grande maioria das cidades brasileiras Como explica a autora no ano de 1907 dezoito salas de proje o foram criadas somente no Rio de Janeiro E l estavam o riso e o humor em Paz e Amor uma das primeiras produ es cinematogr ficas brasileiras que satiriza o governo de Nilo Pe anha e cujo lema era exatamente Paz e Amor 3 Vasques 2012 192 193 explica que as primeiras manifesta es humor sticas no r dio aconteceram no Brasil na cidade do Rio
422. s Ali s como veremos mais a frente esse apagamento do discurso direto de S crates faz jus a posi o de Plat o que n o favorecia de modo algum o desenvolvimento de ideias em prol da com dia e do riso 1 2 2 O BUF O DE ADULADOR NOS TEMPLOS A PSEUDOFIL SOFO NOS BANQUETES Na se o anterior vimos a preocupa o de Erix maco em rela o ao ris vel em pot ncia no discurso de Arist fanes Para al m dos comedi grafos e dos atores c micos essa 164 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 preocupa o durante os banquetes e as reuni es da sociedade grega se deve a outro gelotopoios que fez dessas situa es o seu habitat natural Nas suas origens buf o tinha uma fun o religiosa Na Gr cia Antiga Bopiol xo era uma esp cie de um adulador que junto aos altares mendigando comida clamava pela piedade dos fieis durante os cultos Mais tarde essa adula o passa dos templos para os banquetes da boa sociedade por m n o sem afetar tamb m o comportamento do bumolochos que deveria divertir os convidados com suas par dias imita es caretas burlescas s vezes o buf o convidava se a si pr prio e em troca de comida devia fazer rir a companhia MINOIS 2003 p 55 importante evidenciar que essa mudan a de topos tamb m trouxe consigo pelo menos nas primeiras pocas uma legitima o para buf
423. s N o aprofundaremos aqui esse ponto cf parte cap 2 item 2 4 Nesse momento nos interessa somente apresentar o lugar da par dia na proposta de Genette Diremos por conseguinte que em Genette 1982 h uma grande preocupa o em evidenciar como o conceito de par dia est ligado a certas pr ticas de transforma o 128 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 textual cujos produtos textos podem ou n o carregar a matiz de derris o o burlesco e o sat rico No entanto devido aos objetivos de Genette focados mais especificamente no texto stricto sensu liter rio n o podemos ainda depreender com maior precis o explica es relacionadas organiza o discursiva dos textos derivados dessas pr ticas como por exemplo as condi es de produ o e a utiliza o desses textos em determinada situa o de comunica o Em rela o par dia podemos dizer que Maingueneau 1997 p 102 106 expande de certo modo as ideais de Genette do n vel do texto no caso particularmente do texto liter rio para o n vel da enuncia o e do discurso Entendendo a par dia como uma das manifesta es mais vis veis da heterogeneidade discursiva Maingueneau num primeiro momento prop e englob la e mais tarde tamb m o pastiche como estrat gia de imita o categoria mais geral e relativamente menos presa a um de
424. s de vassalagem aos Estados Pontif cios 89 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Desse ponto de vista o fazer rir oferece e ao mesmo tempo exige ao homem do Renascimento 1 mostrar se civilizado inteligente e espirituoso 11 tornar se estimado pelas pessoas conquistando amizades pois o riso n o somente acarreta a derris o mas tamb m a alegria e somado a isso equipar se com estrat gias e t ticas para se esquivar do rid culo e do riso alheio uma vez que a conversa o em sociedade um verdadeiro combate O sal o um campo fechado onde cada um para esgrimir se faz zombador e onde o interlocutor um advers rio em potencial A arma o riso o golpe mortal o rid culo MINOIS 2003 p 447 Apesar de funcional retoricamente e at certo ponto eticamente essa predomin ncia do car ter negativo leva Bakhtin 2010a p 33 a especular sobre o fim da fun o criadora e regeneradora do riso Essa mudan a no entendimento do riso como fen meno social nos esclarece Bakhtin pode ter sido resultado das inova es est ticas e ideol gicas iniciadas no s culo XVIII com movimento rom ntico Com se sabe o Romantismo tinha como uma de suas caracter sticas principais a ruptura com as tradi es da Antiguidade Cl ssica o que por consequ ncia acarretou uma desvaloriza o da ret rica em prol da individualidade marca de o
425. s o tema e as circunst ncias de realiza o do ato de linguagem aquilo que Charaudeau 2009 chama de contrato de comunica o Esse ltimo se apresenta como um quadro no qual podem ser previstas tanto as coer es sociodiscursivas pass veis de se impor ao sujeito desejoso de se comunicar quanto o espa o de manobra estrat gias discursivas que esse mesmo sujeito pode utilizar para realizar seu projeto de fala Com efeito esse quadro possibilitaria em certa medida prever o princ pio intuitivo a respeito da inten o que move o sujeito falante todavia nos adverte Charaudeau 2009 p 89 que dizer a inten o significa que aquilo que dito corresponde ao que pensado Sup e se ent o que se instaure uma rela o de transpar ncia entre o que enunciado e o que pensa o sujeito que fala 78 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Apesar dessa impossibilidade plaus vel imaginar que o sujeito analisante com o objetivo de erigir os poss veis interpretativos de um enunciado busque com base em sua intui o descrever a intencionalidade do sujeito falante Tal intui o baseada como sugere Charaudeau 2009 p 89 em representa es sociodiscursivas do que seja norma prevista para determinado ato instaurada no mesmo momento em que se estabelece o contrato de comunica o A posteriori o sujeito analisante pode determinar com base
426. s vel pela marca a Rela Gina entendeu que a repercuss o foi negativa e pretende acionar o jur dico para for ar o Facebook a retirar a p gina da internet 190 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 diremos sem entrar em muitos detalhes que a visada perceb vel na fala da Gina pela presen a de uma t cnica do riso o jogo de palavras mais especificamente o duplo sentido Comecemos ent o por esse sujeito Mesmo se tratando de um fake por detr s do avatar h um sujeito locutor o mesmo que sujeito comunicante EU que se apresenta como Gina Indelicada instituindo se assim um sujeito enunciador EU e que se dirige respondendo uma pergunta a um interlocutor o outro usu rio do Facebook Todavia a resposta o enunciado de Gina visa a um destinat rio uma imagem um modelo de sujeito destinat rio TUq projetada pelo sujeito locutor do qual se espera a compreens o do enunciado em toda sua potencialidade falamos aqui da percep o do duplo sentido presente em ah pega meu pau No entanto esse enunciado encontrar um receptor real um sujeito interpretante TU No texto analisado esse sujeito aparece denominado como Kauany Souza preciso lembrar que o fato de o interlocutor estar identificado no espa o virtual com um nome pr prio em nada nos garante que tamb m esse n o seja um fake Essa i
427. s d cadas do s culo XIX provavelmente a partir de 1870 por influ ncia da palavra na sua acep o inglesa BREMMER ROODENBURSG 2000b 14 Nessa mesma linha de racioc nio os mesmos autores destacam os termos witz al chiste mop hol chiste gracejo que embora sejam mais recentes descrevem um fen meno que h muito os antecede isto a piada curta que atinge abruptamente o cl max Diante desse fato Bremmer e Roodenburg observam que seria de grande valia um estudo que buscasse vislumbrar hist rica ou sincronicamente os termos ligados ao humor o que acarretaria ainda de acordo com os autores abord los em rela o aos estilos nacionais humor franc s humor ingl s humor alem o etc importante notar na argumenta o de Bremmer e Roodenburg 2000b que a correla o entre os termos embora apresente similitudes sem nticas n o deve ser considerada como totalmente exata Um exemplo disso pode ser observado nas tradu es Traduttores traditores s o palavras que James Strachey admitia colocar na folha de rosto da tradu o do livro de Freud Der witz und seine beziehung zum unbewussten 1905 De acordo com Strachey no pref cio a edi o inglesa de 1969 1996 apud FREUD 1996 p 11 16 os problemas dessa tradu o em particular iam desde os jogos de palavras intraduz veis que continham os chistes analisados por Freud 3 O autor cita como exemplos os termos gregos
428. s da sociedade a es de sua principal repressora a pr pria Igreja Por conseguinte essas ideias influenciar o as reformula es dos preceitos postulados pela arte ret rica latina cl ssica principalmente no tocante ao ideal renascentista do que seria um homem civilizado Ali s s o cria es desse per odo os livros de cortesia e os livros da arte da 120 sempre bom deixar claro que falamos aqui da sociedade europeia ocidental 88 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 conversa o que passam a delinear as fun es do riso nos discursos tidos como refinados Como relata Skinner 2002 p 70 71 com o objetivo de promover um refinamento nos atos e no modo de falar os livros de cortesia eram endere ados s damas aos jovens e aos homens que frequentavam as Cortes e os sal es da poca Modaliza se riso A recomenda o beira proscri o deve se ao inv s de rir sin nimo de barb rie falta de controle e de loucura no m ximo sorrir Paradoxalmente nesse mesmo per odo surgem os chamados livros da arte de conversa o Por exemplo em 1528 na Corte 121 italiana de Urbino Castiglione refletia sobre cortes o ideal Mas seria demasiado longo e cansativo discorrer sobre todos os v cios que podem surgir na conversa o por isso o que desejo no cortes o que seja de tal maneira que n o lhe faltem argumentos bons
429. s de luto ou ainda que durante o RISVS PASCHALIS os padres contavam gracejos e historietas c micas de modo a divertir os fieis no p s quaresma A isso aliamos tamb m as tro as e os improp rios dos primeiros c micos e dos s tiros dirigidos aos transeuntes durante as prociss es f licas na Gr cia na Roma antigas cf parte cap 1 item 1 2 102 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 inferioridade de outrem Isso porque nosso riso prossegue o poeta pode ser excitado de maneiras inocentes que muitas vezes n o tem nada a ver com o esp rito de Sat Nesse sentido Baudelaire 1855 p 9 10 tradu o nossa prop e que fa amos uma distin o entre o que a alegria e o que riso A primeira nos esclarece esse autor um estado de esp rito existente por si mesmo um estado de esp rito que pode se manifestar de in meras formas como por exemplo o sil ncio o choro e claro o riso J esse ltimo a express o de um sentimento duplo ou contradit rio e por isso que h a convuls o Desse modo o riso das crian as que seria uma obje o sua tese para Baudelaire totalmente diferente mesmo como express o f sica quanto forma do riso do homem que assiste uma com dia observa uma caricatura pois o riso das crian as como um desabrochar de uma flor a alegria de receber de
430. s e proporcionando por mais paradoxal que possa parecer seriedade ao riso ao ris vel ao c mico ao sat rico em fim ao humor 402 Podemos citar aqui o espet culo Stand Up Gospel Comedy De acordo com seu criador Dennys Ricardo humorista e pastor da Comunidade Apost lica Livre esse o primeiro espet culo de com dia segmentada no Brasil levando divers o a todos os crist os contando hist rias b blicas e de vida cotidiana pela tica do humor um espet culo para todo tipo de p blico sem restri es de faixa et ria social pol tica ou religiosa Ainda nas palavras do pastor Dennys pecado n o achar gra a Dispon vel em lt http standupgospelcomedy com br index html gt Acesso 30 maio 2013 261 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Pois como adverte Z Bonitinho O humor coisa s ria liberdade Basta ver nos pa ses ditatoriais ali n o existe humor LOREDO 2013 p 95 Assim sendo nosso percurso se apresenta mais como uma tentativa de prever os movimentos do DH n o somente olhando para o passado falamos aqui dos textos humor sticos c micos s tiros etc mas tamb m apontando para a capacidade sempre mutante desse discurso e sua capacidade extraordin ria de ora tornar uma coisa velha em nova ora de se consubstanciar com o novo renovando se ad infinitum Se o texto da tese em mu
431. s e das express es em grego antigo nos baseamos em Bailly 1950 e em Malhadas Dezotti amp Neves 2006 J quanto aos termos e s express es em latim adotamos a tradu o de acordo com Faria 2003 e R nai 1981 Outra observa o importante se refere escrita dos termos em latim De acordo com Rezende 2009 15 16 em latim as letras 1 1 e t m sempre o valor amb guo de consoante ou de vogal dependendo da sua posi o nas palavras Com isso mesmo antes de outras vogais tem se para as palavras latinas as representa es gr ficas uua ou subst uva e iam ou IAM adv de acordo com a pron ncia restaurada uua Para evitar uma poss vel confus o manteremos os termos latinos relacionados ao riso sempre em caixa alta Por fim prevendo tamb m as dificuldades de consulta dos textos antigos e de suas tradu es fornecemos sempre que poss vel e em nota de rodap o par grafo do qual extra mos a informa o que citamos ipsis litteris ou do qual a ideia parafraseamos 22 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 CONSIDERA ES INICIAIS 23 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Antes de iniciarmos nosso percurso propriamente dito de suma import ncia atentar para algumas problem ticas relacionadas metodologia sel
432. s graves o que pode levar o audit rio comisera o e n o ao riso n o se deve fazer 11 uso de obscenidades ou de qualquer recurso que aproxime o orador do mimvs ou do buf o e por fim n o se deve utilizar dos GENERA RIDICVLORVM quando esses beirarem ao ultraje pois o riso custa caro e sua cota a honra Com bases nessas ideias uma aproxima o entre o conceito de VRBANITAS a categoria de an lise do ethos se mostrou mais que oportuna uma vez que enquanto categoria descritiva a vRBANITAS tem o potencial de desvelar a adequa o tanto do sujeito representado pelo seu ethos pr vio e discursivo quanto do seu discurso s coer es sociais e sociodiscursivas previstas no contrato de comunica o do DH Isso faz da 259 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 VRBANITAS Uma categoria propriamente discursiva pois assim definida n o se deixa reduzir a uma grade estritamente lingu stica nem a uma grade de ordem sociol gica ou psicossociol gica MAINGUENEAU 1999 47 tradu o nossa De posse dessa categoria que de certo modo regulamenta o uso do riso pelos sujeitos do riso a n s faltava analisar o lugar discursivo desses sujeitos em rela o a uma dada sociedade Partindo do conceito de campo discursivo e da hist ria do humorismo no Brasil tra amos em linhas gerais o caminho do humor e dos humoristas das e
433. s iniciais que um campo discursivo estabelece certas regras que por isso mesmo podem ser consideradas como constitutivas do pr prio campo diferenciando o de outros dentro de uma dada sociedade Com efeito essas regras regulamentam al m da circula o e da edi o dos textos a pr pria produ o discursiva estabelecendo por vezes certos formatos gen ricos e textuais Todavia ainda que esses procedimentos apontem para uma relativa homogeneidade os campos discursivos s o internamente heterog neos ou seja s o lugar de um jogo de equil brio inst vel no interior do qual interagem diferentes posicionamentos fontes de enunciados que devem assumir os embates impostos pela natureza do campo definindo e legitimando seu pr prio lugar de enuncia o MAINGEUNEAU 2010 50 Como podemos ver de certo modo ilustrado no Manifesto dos humoristas de J Soares figura 3 um campo do humor parece estabelecer como propriedade constitutiva um lugar de posicionamentos fortemente marcado por uma permanente instabilidade Isso porque embora o campo do humor apresente no decorrer da hist ria uma tend ncia a se configurar de modo semelhante ao campo liter rio de formas espec ficas no que diz respeito edi o circula o escolariza o cr tica demanda por leitores consagra o do autor POSSENTI 2010 p 173 o discurso humor stico DH enquanto um discurso mimot pico e mediador
434. s primarias secundarias e terciarias do Brasil e suburbios 3 ed Rio de Janeiro Rocco 1984 273 274 CANDIDO A Literatura e sociedade 9 ed Rio de Janeiro Editora Ouro Azul 2006 CAPELO R Gina Indelicada surpreende empresa vamos acionar o jur dico poca Neg cios on line S o Paulo Editora Globo ago 2012 Dispon vel em 265 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 lt http epocanegocios globo com Informacao Acao noticia 2012 08 gina indelicada surpreende empresa vamos acionar o juridico html gt Acesso em 23 ago 2012 CARVALHO Para compreender Saussure 11 ed Petr polis Vozes 2002 CARVALHO U W Aprenda ingl s com humor micos que voc n o pode pagar Barueri Disal Editora 2012 CASTIGLIONE cortegiano Mil o Garzanti 1945 CASTIGLIONE B O cortes o S o Paulo Martins Fontes 1997 CASTRO M L D Humor na publicidade televisiva entre o prazer e o mercado In SANTOS R E ROSSETTI R orgs Humor e riso na cultura midi tica varia es e perman ncias S o Paulo Paulinas 2012 p 129 145 CHABROL Humour et m dias Questions de Communication humour et m dia D finitions genres et cultures Nancy Presses Universitaires de Nancy 10 2006 7 17 CHABROL Script In CHARAUDEAU P MAINGUENEAU D Dicion rio de an lise do discurso 2 ed S o Paulo Contexto 2006b
435. s vivos proibido rir entre os mortos ou durante os ritos de inicia o por m torna se uma obriga o rir diante da vida ou do regresso vida ou seja ao riso atribu da a faculdade n o s de acompanhar a vida mas tamb m de suscit la Na Roma antiga nos relata Propp que durante os homic dios simb licos nas lupercais festas em homenagem a P os jovens supostamente assassinados deveriam rir ap s a ressurrei o marcando o sucesso da ritual Relacionado multiplica o dos g neros humano animal e vegetal o riso ritual se encontraria verbi gratia no riso da deusa do parto que com a for a do riso gera os homens no riso dos ca adores e dos pescadores ao celebrarem a morte e a volta ressurei o dos animais abatidos no riso dos agricultores durante as festas para cultivo e para colheita se ri para semear o campo para que a terra seja fecundada Em suma o riso ritual um tipo de riso desencadeado na maior parte das vezes n o por um discurso ris vel mas sim por um ato cerimonial quase m gico ou seja n o se estabelece um discurso de cunho propriamente humor stico ou c mico para seu surgimento No entanto deve ficar claro que isso n o quer dizer que outros tipos de riso como o de zombaria por exemplo n o possam ocorrer juntamente com o riso ritual Propp 19 76 96 mesmo nos alerta que entre as mulheres carpideiras se encontravam buf es contratados para fazer rir as pessoa
436. sadas no discurso humor stico cf parte I cap 2 item 2 2 a quest o da visada de fazer rir ser melhor explicada Sempre deve estar em nossa mente a quest o da conting ncia do riso e da intui o do leitor ouvinte sobre o que pass vel de provoc lo pois como ressaltam Bremmer e Roodenburg 2000b p 22 aqueles que leram alguns textos humor sticos do passado podem ter achado que algumas piadas n o s o de todo ruins outras visivelmente sem gra a e v rias at mesmo incompreens veis Em outras palavras estes textos se mostram ao mesmo tempo familiares e estranhos a n s 68 4 Minois 2003 18 constata que lendo as an lises de Arist teles sobre assunto tem se a impress o de que os gregos de 23 s culos atr s riam como n s com as mesmas nuances e pelas mesmas raz es Possenti 2010 8 relata sua experi ncia de d ja vu ao ler os tratados antigos sobre humor tive confirma o mais recente lendo um texto de Quintiliano De risu em Institutio Oratoria porque est o l quase todas as teses sobre o que deve ocorrer num texto para que ele provoque o riso e quais s o as situa es em que ele funciona ou n o 67 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 1 3 LINGUAGEM DO RISO E AN LISE DO DISCURSO Que tipo de discurso ou atos de comunica o pode ser produzido com essa linguagem do r
437. sarcasmo Por outro lado se se entende a mesma palavra no dom nio das coisas materiais no sentido de corpo formado de madeira ela far remiss o ideia de que Gina a garota propaganda estampada na caixinha de palitos dentes Da a ironia que s obt m seu sentido alguma coisa do tipo Ah ent o pega no meu palito de dente a partir da possibilidade de inter rela o entre os planos de isotopia descritos acima 273 constitu da por uma incoer ncia ins lita Em ambos os casos tanto no sarcasmo quanto na ironia o alvo e o destinat rio se consubstanciaram constituindo se a v tima do ACH Diante do exposto dois pontos devem ser destacados na proposta de Charaudeau O primeiro diz respeito posi o do alvo no limiar entre o espa o interdiscursivo e o intradiscurso Isso se explica devido caracter stica cambiante do alvo que possibilita a esse se consubstanciar com outras inst ncias tanto no espa o externo quanto interno VALE 2009a p 54 Com efeito essa inst ncia pode consubstanciar se com 1 o locutor no caso da autoironia 11 o destinat rio fazendo desse ltimo uma v tima ou iii Tiers Nesse ltimo caso isso se d no espa o da interdiscursividade onde circulam os discursos portadores de sistemas de pensamento Com efeito esse Tiers 271 Diferentemente da ironia no sarcasmo se considera que seguindo Charaudeau 2006 30 31 o que dito
438. sca pelo prazer Todavia como veremos noutro ponto desse percurso cf parte II cap 3 item 3 1 essa busca pelo prazer na forma do riso regida pela capacidade do homem de se afastar por meio da virtude da amp agudeza de esp rito dos extremos do v cio 1 do excesso que corresponde zombaria pr pria do do scvrra ii da falta que corresponde grosseria do Rvsticvs Com base nessas ideias podemos dizer que Arist teles ao postular a eudaimon a como bem supremo considera que o prazer n o um fim em si mesmo embora o bem 2 esteja estritamente relacionado com prazer e por vezes o prazer eleja se pr pria condi o de bem absoluto BITTAR 2003 p 1083 Segue que tamb m o fazer rir dever almejar a felicidade e n o somente a destrui o pela zombaria pela derris o o 101 lado negativo do riso Em outras palavras pode se buscar a coniv ncia de outrem n o 95 7 1006 caracter stica habitual uso costume maneira de ser ou h bitos de uma pessoa car ter impress o moral produzido por um orador transliterado ethos Lec tn posi o medial ou intermedi ria meio entre dois extremos transliterado mes tes 7 qp vnois 0 a o de refletir raz o sabedoria sagacidade sabedoria intelig ncia transliterado phronesis 38 ec rtpomemo a
439. sca pelo desnivelamento dos assuntos de que trata Com efeito diferentemente do literato que evita assumptos rasteiros e procura elevar mesmo aquelles de que accidentalmente cuida alteando o tom da prosa O humorista est sempre em oposi o ao assumpto Quando s o altos foge aos ourop is do estylo rebaixa os tratando os com maneiras por assim dizer corriqueiras Quando ao contr rio eleva o tom da voz em assumpto banal Tornar picas as banalidades e banalizar os hero smos eis o grande processo dos humoristas MENNUCCI 1923 p 41 No Brasil no final do s culo XIX e in cio do essa diferencia o entre literatos 43 humoristas tamb m afetou drasticamente o campo liter rio onde aparentemente preocupa o de todo escritor era parecer ser grave e severo O riso era proibido 372 q7 4 15 H que se supor que mesmo antes do s culo houve discuss es sobre o lugar dos sujeitos do riso enquanto profissionais por m acreditamos que tais discuss es se restringiam aos campos da arte liter ria e da filosofia 373 Embora nosso percurso passe a partir de agora a se restringir ao campo do humor dentro da sociedade brasileira nada nos impede de imaginar que tomadas as devidas propor es tais caracter sticas tamb m possam ser reconhecida na sociedade ocidental ou melhor na sociedade humor stica como assevera Minois 2003 p 553 554 236 O Discurso humor
440. scobertas sobre o mesmo se mostrem coerentes com os atos de comunica o ditos c micos ris veis rid culos humor sticos etc que circularam e circulam na sociedade humana 53 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 PARTE LINGUAGEM DO RISO DA INTUI O PRESUN O O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 PARTE CAP TULO 1 LINGUA PILEATA BAKHTIN LINGUAGEM DO RISO E AN LISE DO DISCURSO Melhor de risos que de l grimas escrever porque o riso a marca do homem Fran ois Rabelais Apud Bakhtin 20104 59 55 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Parece un nime a opini o de que Bakhtin um dos grandes estudiosos do riso e de fato percorrendo as suas obras o riso se mostra como uma preocupa o recorrente certo tamb m que nos seus escritos o riso se v ligado de algum modo a outras problem ticas como por exemplo a carnavaliza o o realismo grotesco a cultura c mica popular a entoa o entre outros o que torna ainda mais complexa a tarefa de examinar minuciosamente a quest o Apesar disso pretendemos buscar na esteira de Bakhtin entender melhor o conceito do riso naquilo que ele tem de espec fico e de objetal Com esse intuito nas pr ximas se es a
441. smos grammaticaes Al m disso a grammatica longe de tender simplifica o dos phenomenos complica tudo a lingua a linguagem e todas as formas de enunciar se uma id a FRADIQUE 1984 p 8 Partindo de premissas de certo modo falaciosas esses argumentos procuram persuadir e levar o leitor a conclus es que apesar do distanciamento temporal de quase um s culo fariam lembrar a fala de certos linguistas da atualidade como por exemplo as assertivas de Perini 1999 sobre os objetivos do ensino de gram tica na educa o pr tica dos alunos brasileiros Concorda se geralmente que o grande objetivo do ensino de l ngua portuguesa levar os alunos a ler e escrever razoavelmente bem Pergunto ent o ser que o estudo de gram tica pode ajudar na aquisi o da leitura e da escrita Acredito que a resposta negativa Ningu m que eu saiba conseguiu at hoje levar um aluno fraco em leitura ou reda o a melhorar sensivelmente seu desempenho apenas por meio de instru o gramatical Muito ao contr rio toda a experi ncia parece mostrar que entre os pr requisitos essenciais para o estudo da gram tica est o primeiro habilidade de leitura fluente e depois um dom nio razo vel da l ngua padr o j que esta o objetivo das gram ticas dispon veis Assim para estudar gram tica com proveito preciso saber ler bem o que exclui a possibilidade de se utilizar a gram tica como um dos caminhos para a leitu
442. so da LR tamb m se encontra envolta em mist rio No entanto sabemos que por vezes se relaciona a origem da 161 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 linguagem figura de uma entidade criadora do universo por exemplo Deus no caso da mitologia crist Nessa linha tentemos uma hip tese seria Deus o primeiro sujeito humorista Imaginemos a situa o no para so poca em que Javeh tendo criado o mundo no qual as plantas se parasitam os animais se entredevoram o homem a fam lia divina Ad o Eva Caim Abel Seth etc praticam a desobedi ncia a rebeldia a inveja o assass nio o roubo o incesto declara que tudo est bem PEIXOTO 1936 p 15 grifos do autor Para o homem entretanto essa situa o estava fadada a uma mudan a radical Deus como um autor de com dia arquiteta uma reviravolta para ver o para so pegar fogo a expuls o do den se torna inevit vel Agora preciso ganhar a vida E como era dura a vida buscar comida proteger se do frio livra se dos animais ferozes aguentar a mulher irasc vel talvez pelas lembran as do para so perdido LUIZ 1970 p 63 Diante de semelhante vaudeville o homem come aria a buscar explica es para esse humor divino Sabe por que que Deus criou o Homem sua imagem e semelhan a f z dele consegiientemente um ser perfeito e mesmo assim
443. sob uma relativa harmonia e os reacentuar de acordo com um determinado ponto de vista sobre o mundo BAKHTIN 2010b p 325 Com base no exposto acima e pensando em termos de humor e de c mico verbal podemos levantar a hip tese de que o que constante desde os tempos remotos at hoje n o o ris vel em si mesmo mas a linguagem que o constitui marcada triplamente por uma visada de fazer rir por uma escolha dos procedimentos linguageiros pelo sujeito e por um ponto de vista sobre o mundo ou seja uma LR No entanto se as formas linguageiras do ris vel se modificam sob diferentes condi es e situa es de comunica o isso se deve ao fato de que o sujeito na sua margem de manobra dentro dos mais diferentes contratos de comunica o estar estrategicamente escolhendo entre os elementos dispon veis nessa linguagem as melhores maneiras de satisfazer a visada de fazer rir Logo n o devemos nos espantar de reconhecer que s vezes as coisas que faziam um grego ou um romano rir na Antiguidade sejam quase as mesmas que nos proporcionam sen o o riso ou um sorriso entre os dentes pelo menos uma sensa o de prazer relacionada hilaridade Embora essa mesma visada possa estar a servi o juntamente com outras visadas de uma infinidade de finalidades como por exemplo educar divertir escarnecer vender informar entre outras Em momento adequado quando tratarmos da rela o entre as finalidades e as vi
444. special que engendra com medidas espec ficas em si mesmo o riso a melancolia a seriedade e o pessimismo e que de modo semelhante a outros molhos espalhados pelo mundo por exemplo a salsa cubana o shoyu o barbecue entre outros marca de modo muito carater stico a cultura em que eles foram criados Esses molhos podem ser exportados ou at mesmo copiados em outros lugares por m sempre t m a na o de origem como refer ncia sobre seu sabor Pelo exposto at aqui vemos que os tra os que definem o retrato do sujeito humorista s o muito t nues o que torna tentar confirmar tais defini es a partir do discurso uma empreitada das mais complexas No entanto esses mesmos tra os e caracter sticas nos proporcionam direcionar nosso olhar para o que est na base do entendimento do que seja o humorista no seu sentido atual e aparentemente indefin vel isto atentar para a querela existente entre esses ltimos e os demais profissionais do riso Querela a princ pio fundamentada num paradoxal expurgo do riso dos g neros t picos do humor A respeito disso Pirandello 1996 p 22 23 ressalta o entendimento que a opini o p blica do final do s culo e in cio do tinha sobre o ser humorista para muita gente escritor humor stico o escrito que faz rir como por h bito se costuma chamar rom ntico tudo o que h de mais arcaico e sentimental de mais falso e 178 O Discurso humor stico
445. st es eth ticas do uso do riso cf parte II cap 3 item 3 1 Voltemos pois nossa aten o para a primeira parti o Para Quintiliano 43 diferentemente daquele g nero de palavras VERBIS que consiste em uma esp cie de I1ACVLATIONE DICTORVM ditos lan ados arremessados os g neros de assuntos s o baseados numa a o demorada e se assemelham 167 anedotas Todavia o retor 66 faz supor que a mescla entre esses g neros deveras muito comum pois do mesmo modo como tudo resulta em tropos a mat ria semelhante aos ditos rid culos fornecida pelo g nero pela esp cie pelas propriedades pelas diferen as pelas afinidades pelas circunst ncias de um fato pelas consequ ncias pelas contradi es causas efeitos pela compara o de igualdade superioridade inferioridade QUINTILIANO MARQUES 2008 123 166 Lat g neros de urbanidades Modo Quintiliano renomeia os GENERA RIDICVLORVM adotando em seu tratado uma postura voltada mais para as quest es morais da utiliza o do riso pelo do orador partir de ent o 66 100 cabe ressaltar Quintiliano passa a descrever analisar por m sem nomear exemplos de um terceiro tipo de GENERA a exemplo de C cero am lgama dos outros dois 168 No De risu 66 PROINDE GENERE SPECIE PROPRIIS DIFFERENTIBVS IVGATIS ADIVNCTIS CONSEQVENTIBVS ANTECEDENTIBV
446. st ncias internas identidades enunciativas faz com que o sujeito destinat rio TUa passe tamb m a ser considerado pelo sujeito locutor como uma esp cie de voyeur qual se oferece a chance de assistir cena em que personagens trocam palavras chistosas ironias sarcasmos etc Voltando ao exemplo parcialmente analisado na se o anterior podemos agora explicar que o fragmento de talk uma imagem recortada da p gina Gina Indelicada 1 Essas pequenas narrativas podem tomar a forma de piadas de anedotas de sketches etc 278 Tomamos ad hoc esse termo no sentido de aquele que observa tem algum tipo de prazer com o que est assistindo mas n o se compromete fisicamente com o fato Nesse sentido voyeur se afasta de espectador que pode interagir com o espet culo aplaudindo no teatro reclamando via telefone ou internet ou simplesmente rindo e em parte do sentido proposto na psicopatologia indiv duo que experimenta prazer sexual ao ver est mulos sexuais objetos associados sexualidade ou o pr prio ato sexual praticado por outros HOUAISS 2009 194 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 extra da a parte de um print screen e publicada no feed de not cias ou p gina inicial do Facebook pelo dono do fake onde todos os usu rios seguidores podem l la Logo a conversa o que era restrita aos us
447. st ria cultural do humor Rio de Janeiro Record 2000 p 65 82 LESKY A Os come os do drama In Hist ria da literatura grega Lisboa Funda o Calouste Gulbenkian 1995 p 253 271 LEVI STRAUSS C O cru e o cozido S o Paulo Cosac amp Naif 2004 LISBOA J L O Anat mico entre os pap is jocosos setecentistas In LUSTOSA 1 org Imprensa humor e caricatura a quest o dos estere tipos culturais Belo Horizonte Editora UFMG 2011 p 391 405 LOREDO J Casa nova tupiniquim Trip S o Paulo Trip Editora e Propaganda n 221 maio 2013 p 80 95 LUIZ M O triste bom humor brasileiro Revista de Cultura Vozes Rio de Janeiro Editora Vozes n 3 vol LXIV 1970 p 63 66 LUSTOSA 1 Brasil pelo m todo confuso humor e boemia em Mendes Fradique Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1993 LUSTOSA 1 Introdu o Hist ria do Brasil pelo m todo confuso In FRADIQUE Hist ria do Brasil pelo m todo confuso S o Paulo Companhia das Letras 2004 p 9 25 LUSTOSA org Imprensa humor e caricatura a quest o dos estere tipos culturais Belo Horizonte Editora UFMG 2011 LUSTOSA 1 TRICHES R O portugu s da piada In LUSTOSA I org Imprensa humor e caricatura a quest o dos estere tipos culturais Belo Horizonte Editora UFMG 2011 251 269 LYONS Lingua gem e lingii stica uma introdu o Rio de Janeiro Zahar Editores 1982 LYSARDO DIAS D O saber fazer comunicativ
448. stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 MACHADO 1940 apud GARCIA 2010 p 127 Nesse contexto coube imprensa e publicidade absorver os escritores e os poetas que fugiam regra No entanto os humoristas come am a travar uma batalha pelo reconhecimento e pela aceita o do p blico Reconhecimento e aceita o que at aquele momento se restringiam somente aos literatos Um caso interessante o de Mendes Fradique Sua produ o humor stica de acordo com Lustosa 2004 p 17 atingiu grande sucesso comercial a citar a sua Hist ria do Brasil pelo m todo confuso HBMC que teve sete edi es durante d cada de 1920 sendo considerada at hoje o livro brasileiro mais completo em recursos humor sticos que se conhece Rompendo com a historiografia tradicional a HBMC assume caracter sticas estruturais e tem ticas bastante pr ximas das tend ncias modernistas presentes em outras obras do mesmo per odo como por exemplo a Poesia Pau Brasil de Oswald de Andrade o Macuna ma de M rio de Andrade a Hist ria do BrasiP de Murilo Mendes Apesar disso como ressalva Lustosa Fradique diferentemente dos escritores citados foi esquecido pela posteridade restringindo se a refer ncias escassas sobre sua arte do desenho caricaturas e sua contribui o em peri dicos humor sticos como a Revista Quixote 1917 e o jornal O Macaco 1939 importante n
449. stin e 187 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 2 2 DO DISPOSITIVO DOS ATOS DE COMUNICA O HUMOR STICOS Embora evidencie que o c mico possa nascer em n veis relacionados a diferentes audit rios Olbrechts Tyteca 1974 n o especifica nem esse o objetivo da autora se tal proposta deve ser aplicada abstraindo se alguns dos componentes envolvidos na problem tica da descri o das situa es de comunica o a saber a se a situa o dialogal ou monologal se o canal de transmiss o oral ou escrito se a cena uma representa o ficcional ou n o para citar alguns Levantamos essa quest o porque os exemplos analisados pela autora se restringem s histoires dr les hist rias engra adas ou seja somente um dentre os v rios g neros pr prios do humor Com base nisso torna se necess rio buscar outras explica es para o funcionamento do DH que sejam mais abrangentes e que contemplem al m dos g neros pr prios do humor outros tipos de discurso que possam utilizar o humor enquanto estrat gia discursiva Nessa vertente encontramos os trabalhos de Charaudeau 2006a e 2011 Esses trabalhos se voltam para o humor enquanto ato de comunica o capaz de atravessar as mais diferentes situa es e contratos Ainda assim proposto um modelo geral de dispositivo para o ato de comunica o humor stico A
450. t fico digo filos fico ao tema cf Quintiliano Com efeito os latinos deixaram a quest o em aberto MARQUES JR 2008 p 22 e remeteram os interessados s reflex es de Dem crito cf C cero J para os medievais e aqui nos restringimos aos da cristandade a discuss o sobre a paix o geradora do riso e dos prazeres a ele ligados tem como objetivo justificar as formas de rir poss veis e boas para o bom crist o de um modo geral o riso sin nimo de zombaria era tido como coisa do Diabo Desse modo dir se que tais formas de rir permitidas ao bom crist o devem se voltar ou para a alegria nas coisas divinas pr ximas de um xtase religioso ou para as coisas pr ticas da vida como por exemplo o repouso das obriga es religiosas Em outras palavras nos medievais pouco se avan a na discuss o sobre os prazeres do riso ora se reformulam as advert ncias de Plat o ora se foca nas pr dicas de Arist teles de C cero e de Quintiliano em vista do pensamento crist o da poca A partir do Renascimento a quest o das paix es que acarretam o riso volta baila de discuss o centrada agora nas reflex es da ci ncia m dica nascente Nos tratados m dicos desse per odo procuram se as causas f sicas e fisiol gicas do riso baseadas principalmente nas reformula es da teoria dos humores de Hip crates e de Galeano cf parte cap 2 item 1 2 5 1 Essas reflex es levar o um pouco mais tarde j na
451. t ncias mundiais teria perdido a oportunidade de fazer rir a si pr prio como prescreve Arist teles ao homem livre ou C cero e Quintiliano ao homem urbano uma vez que How tru you tru Truman por parecer 370 soar potencialmente agramatical para o falante do ingl s n o criaria uma amea a face de Truman no m ximo geraria um mal entendido Do exposto at aqui podemos afirmar que a categoria de vRBANITAS aponta para caminhos interessantes para o entendimento do uso do humor ou melhor do uso da LR pelos seguintes pontos 1 Contribui para caracterizarmos melhor o ethos discursivo do sujeito falante pois traz em sua defini o a possibilidade de desvelamento do contrato de comunica o assumido pelas inst ncias do discurso produtora e receptora no surgimento dos GENERA RIDICVLORVM cf parte 1 cap 3 item 3 1 1 Nessa mesma linha contribui para a melhor descri o das estrat gias utilizadas pelo sujeito falante em rela o ao seu interlocutor e as coer es sociais E 370 Dizemos potencialmente pois a palavra tru tru poderia soar por semelhan a f nica como thru adj direto adv atrav s ou talvez como throw verbo jogar subst arremesso o que causaria assim problemas de coer ncia sint tica e sem ntica no enunciado de Dutra 371 Kerbrat Orecchioni 2006 p 78 79 nos diz que todo indiv duo tem dois tipos de face
452. t ria do Brasil Num segundo tempo ainda de acordo com Bosi o autor passaria um posicionamento mais religioso ou esteticamente falando a um posicionamento surrealista no qual sua obra tende para uma linguagem religiosa e on rica focada na busca fervorosa pelo para so crist o 297 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 das personalidades hist ricas que Fradique satirizou surge Dante Alighieri convidando o para um passeio at o inferno Niter i Ao chegar na ilha Fradique se depara com um pr dio em cujo portal de entrada lia se Hosp cio Nacional dos Alienados Depois de uma visita s depend ncias desse inferno Fradique pede a Dante que lhe mostre o para so Pedido a que Dante consente mas adverte a Fradique Olha Mendes l est o Para so Contenta te em lobrig lo dist ncia que aquilo n o para o bico de escritor mambembe FRADIQUE 2004 p 256 Ao que tudo indica com mambembe Dante categorizava toda uma esp cie de escritor poeta que se envereda pela mediocridade e pela arte do c mico e do riso Tanto assim que como j vimos cf parte 1 cap 4 Fradique afirma que nenhuma linha do que escrevia escapava ao t tulo de piada e ao m todo confuso ou seja n o escapava m scara humor stica que o acompanha mesmo em seus escritos sem inten o c mica humor stica Sobre essa m scara
453. t rio de n vel superior Nesse sentido podemos supor que dentro das possibilidades de sujeitos interpretantes o sujeito locutor considera que uma parte desses possa elaborar uma atitude responsiva divergente daquela visada proposta aos sujeitos destinat rios e que preciso afastar tais atitudes n o correspondentes evidenciando muitas vezes de modo humor stico por meio de uma tirada uma ironia um nonsense etc as opini es contr rias veja a fala do judeu alem o no exemplo 3 Como consequ ncia diremos que esse audit rio de n vel superior na verdade se constitui de sujeitos receptores sujeitos interpretantes em modo stand by pois tais sujeitos se encontram num estado de compreens o ativa responsiva BAKHTIN 2010b Isto esses sujeitos est o num est gio inicial de forma o da resposta r plica no qual ainda n o se decidiram entre a possibilidade de se tornar c mplice ou no caso de se sentirem ofendidos se colocarem em lugar de v tima tomando parte a favor do alvo Em ambos os casos isso somente ser confirmado quando ocorrer a express o da atitude responsiva no c mplice pelo riso sorriso ou um enunciado que confirme sua posi o contra o alvo no caso do texto Gina Indelicada alguma coisa do tipo boa ou Curti na v tima pela indigna o nesse caso as possibilidades de atitudes responsivas s o in meras da r plica tamb m grosseira at mesmo o sil ncio por exemplo
454. ta se de um autor ou de um g nero de discurso identific veis Esse tipo de comunica o liter ria s portanto efetivamente bem sucedido se o co enunciador est suficientemente familiarizado com o discurso parodiado 186 De acordo com Maingueneau 1997 75 essa heterogeneidade pode se dar de forma mostrada ou constitutiva sendo que a primeira incide sobre as manifesta es expl citas recuper veis a partir de uma diversidade de fontes de enuncia o enquanto a segunda aborda uma heterogeneidade que n o marcada em superf cie textual mas que a AD pode definir formulando hip teses atrav s do interdiscurso 129 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Desse modo podem ser quatro casos espec ficos de imita o 1 a capta o de um g nero 11 a capta o de um texto singular e de certo modo do g nero que o engendra a subvers o de um g nero iv a subvers o de um texto singular e do g nero Cabe ressaltar que no caso da capta o ou da subvers o de g neros assevera Maingueneau n o h normalmente como reconhecer os tra os dos textos espec ficos que neles foram engendrados Como se pode notar a proposta de Maingueneau 1997 procura seguindo os passos de Genette desvencilhar a imita o e por conseguinte a par dia da sombra do riso e da derris o colocando a no caso da subvers o no m ximo como
455. tativas produz o mesmo efeito Mas de onde podem ser tiradas as burlas s o quase as mesmas das fac cias Por isso digo somente que h dois tipos de burlas sendo que cada uma delas poderia ser dividida em v rias partes Uma quando se engana algu m engenhosamente de maneira elegante e agrad vel outra quando se estende quase uma rede e se joga uma isca fazendo com que a pessoa se engane por si mesma CASTIGLIONE 1997 p 169 Apesar disso num segundo momento Castiglione parece se atentar para o fato de que as burlas podem se tornar narrativas portanto g neros do assunto pass veis de ser 13 Novamente o autor se refere s novelas de Boccaccio como utilizadas pelo cortes o exemplos agrad veis dessa esp cie de fac cias dando para as burlas tamb m a possibilidade de materializa o escrita Com base nas ideias desses tr s autores C cero Quintiliano e Castiglione podemos em s ntese assumir que OS GENERA ANECDOTORVM consistem em uma esp cie dos GENERA RIDICVLORVM que apesar da imprevisibilidade de formas e da infinidade de fontes se caracterizam 1 pela presen a do veross mil o que lhes permite ter como temas fatos e pessoas que transitam entre a hist ria real ou admitida como real e a fic o aceit vel no caso das burlas at mesmo a mentira 11 pela mescla entre os g neros de palavra e os g neros de assunto o que lhes garante a possibilidade de encadeamento d
456. tes na tica a Nic maco Arist teles procura discutir a finalidade das atividades humanas Em seu teleologismo o fil sofo maced nio nos diz que toda a o t cnica pr tica ou te rica do homem est voltada para um fim qualquer que seja este ARIST TELES 2011 p 13 A quest o moral que se coloca descobrir se h um fim o bem almejado tanto pelo ser em sua individualidade quanto por esse mesmo ser inserido na coletividade Nessa linha de racioc nio Arist teles 2011 nos diz que se as atividades variam variam tamb m as finalidades Em consequ ncia disso os diferentes tipos de homens discursar o a favor dos fins almejados de acordo com aquilo que para eles deva ser considerado como supremo bem Com efeito essa heterodoxia leva Arist teles segundo Bittar 2003 p 1004 a classificar esses tipos de homens de acordo com a busca de fins que possam corresponder felicidade eudaimonia verdadeira do homem em sua singularidade de ser racional Haver ent o homens que se esfor am na busca de uma vida ligada aos prazeres mais pr xima do lado animal e instintivo outros que se centram numa vida pol tica almejando honra e reconhecimento e por fim aqueles que buscam uma vida contemplativa pela sabedoria e pelo conhecimento No entanto no racioc nio de Arist teles todos esses fins t m meta a evdmuovio pois Ela buscada sempre por si mesma e nunca no interesse de uma outra c
457. tico Tomando o conceito em Maingueneau Possenti 2010 discute a possibilidade de se pensar o humor enquanto campo discursivo cujo tra o principal que seus membros seguem regras espec ficas Ou seja h regras que o caracterizam que s o constitutivas de um campo A principal consequ ncia desse conceito que adotando o n o se pode mais considerar que um discurso e outras atividades a ele relacionadas s o a es ou decis es de um indiv duo um sujeito um pesquisador um autor mas o resultado de um conjunto de regras que esses indiv duos seguem em um campo espec fico POSSENTI 2010 170 42 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Se se segue essa posi o continua Possenti isso nos leva a pensar que a constitui o dos textos embora diferentes devem seguir um formato relativamente espec fico sob pena de n o serem reconhecidos pelos membros do campo Diante disso Possenti 2010 174 176 passa a caracterizar o discurso humor stico como um campo menos organizado que o cient fico por exemplo em analogia com o liter rio uma vez que sobre este ltimo parece n o haver d vidas quando o seu status de campo discursivo Vejamos os principais pontos dessa proposta e Semelhantemente ao que ocorre no campo liter rio os autores humoristas n o se formam como se forma um bi logo ou um m dico escritores e
458. tiliza o dos expedientes da linguagem do riso discutindo o conceito de par dia pelo vi s linguageiro 3 1 FORMAS E FORMAS REDUZIDAS DO RISO Em outro momento de nosso percurso cf parte 1 cap 1 item 1 2 mencionamos que Bakhtin 2010c p 343 procura entender o riso na sua exist ncia s cio hist rica cultural e objetal ou seja o riso que de alguma maneira se manifesta na fala Com efeito para o te rico russo a ironia a par dia o humor e os diversos tipos de comicidade s o tidos como variadas formas de utiliza o indireta de um outro g nero de linguagem Tal linguagem como se pode evidenciar nos escritos de Bakhtin se constitui de determinadas manifesta es do riso as quais o autor categorizou como formas do riso como por exemplo a par dia e o c mico e formas reduzidas do riso verbi gratia a ironia o humor e a s tira No entanto como o objetivo de Bakhtin n o era especificamente descrever e analisar tais formas mas sim entender a est tica de determinadas obras liter rias em contextos hist ricos mais ou menos precisos sobre essas categorias parece pairar uma certa obscuridade de defini o t pica da escrita bakhtiniana Atentemos por exemplo para o adjetivo reduzidas no sintagma formas reduzidas do riso Bakhtin 2010d p 129 130 nota 1 alega que as formas reduzidas se constituem de um riso que carece de express o direta por assim dizer soa mas deixa sua marca
459. tividade responsiva ativa a face psicossociofisiol gica do riso o que nos levou a revisitar e a rediscutir toda uma gama de categorias necess rias ao sujeito analista para descrever e interpretar o riso n o somente como efeito de sentido pretendido e poss vel mas tamb m como princ pio organizador de textos e de discursos Isso porque como aprendemos em Bakhtin 2010c p 372 grifos nossos o riso organizou as mais antigas formas de representa o da linguagem que inicialmente n o eram sen o qualquer coisa como o esc rnio da linguagem e do discurso Isso no nosso modo de entender aproxima o riso de certos procedimentos que consistem em utilizar determinadas categorias da l ngua para orden las em fun o das finalidades discursivas de um dado ato de comunica o no caso um ACH ou seja O riso em termos te ricos muito semelhante aquilo que Charaudeau 2008 p 74 postula como modos de organiza o do discurso Quanto s categorias revistadas ressaltamos o papel das visadas discursivas enquanto parte integrante das finalidades que comp em qualquer contrato de comunica o Em termos de humor de c mico de ris vel vimo nos obrigados a nos aproximar das discuss es a respeito da face psicossociofisiol gica do riso os tipos de riso bom mau c nico alegre ritual zombeteiro e do prazer felicidade al vio superioridade irascibilidade que o riso pode desencadear nos sujeitos receptores Com base n
460. tomada e amplamente discutida na ci ncia m dica na Europa Renascentista Nesse contexto entretanto busca se associar essa teoria n o somente a uma medicina da mat ria os humores enquanto fluidos corporais sangue b lis fleuma atrab lis mas tamb m a uma medicina da alma do espirito procurando respostas para os desequil brios de temperamento e para as desordens funcionais Com isso nos s culos XV e XVI seguindo a proposta de Escarpit 1972 a palavra de origem latina humor e seus equivalentes na grande maioria das l nguas vern culas europeias tida por um voc bulo de certa forma banal usado sem maiores preocupa es de exatid o de sentido aberto a v rias significa es aparecendo nas discuss es e pol micas n o s m dicas mas tamb m do senso comum em express es do tipo mau humor bom humor humor virado humor azedo etc Sabedor dessa flutua o de sentido a Ben Johnson comedi grafo contempor neo de Skakespeare coube a inser o do termo ingl s humour com sua obra Every man out of his humour na arte dram tica e liter ria inglesa Segundo Escarpit 1972 p 13 16 Ben Johnson v nesse termo a possibilidade de explicar ao p blico a sua concep o nova de com dia Baseando se na teoria dos humores Ben Johnson elabora uma com dia na qual cada personagem caracterizada psicologicamente pela predomin ncia de um tipo de humor col rico fleum tico melanc lico
461. tomar diferentes aspectos de significa o O riso n o de modo algum proporcional intensidade do c mico Rir mais ou menos depende de variados fatores como o estado cognitivo mais ou menos emotivo do sujeito a sua idade a companhia estar no mesmo grupo social ou comunidade de fala a situa o etc O c mico suscita tanto o riso quanto o sorriso O que poderia acarretar segundo a autora tomar o sorriso como crit rio secund rio isto entender sorriso como uma esp cie de riso atenuado e desse modo implicar uma grada o na qualifica o do c mico N o podemos dentro de muitos casos observar diretamente nem o riso nem o sorriso Se pud ssemos isso seria de pouco avan o pois necessitar amos ainda de interpret los s o eles volunt rios ou s o involunt rios isto 18 No original Le rire d borde largement le comique 19 Como por exemplo o xido nitroso N20 vulgarmente conhecido como g s hilariante 20 No original Le rire n a pas toujours la m me signification 21 No original Le rire n est certainement pas proportionnel l intensit du comique 22 No original Le comique suscite tant t le rire tant t le sourire 36 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 s o eles mais ou menos fingidos OLBRECHTS TYTECA 1974 12 13 tradu o nossa Em raz o disso Olb
462. torique et art po tique Paris Librairie Garnier Fr res 1944 ARIST TELES Arte ret rica e arte po tica Rio de Janeiro Ediouro 196 7 ARIST TELES Ret rica Cidad Universit ria M xico D F Universidad Aut noma do M xico 2002 ARIST TELES Partes dos animais In MINOIS G Hist ria do riso e do esc rnio S o Paulo Editora UNESP 2003 p 72 ARIST TELES Po tica Lisboa Funda o Calouste Gulbenkian 2004 ARIST TELES Arte po tica In ARIST TELES HOR CIO LONGINO po tica cl ssica 12 ed S o Paulo Cultrix 2005 p 19 52 ARIST TELES Ret rica S o Paulo Rideel 2007 ARIST TELES tica a Nic maco 5 ed S o Paulo Martin Claret 2011 ARISTOTLE Rhetoric New York The Modern Library 1984 AUBERT A Piada de portugu s Trip S o Paulo Trip Editora e Propaganda 221 maio 2013 p 104 AZEVEDO S Dicion rio anal gico da l ngua portuguesa 2 ed atul rev Rio de Janeiro Lexikon 2010 BAILLY A Dictionnaire grec fran ais Paris Hachette 1950 BAKHTIN L oeuvre de Fran ois Rabelais et la cultura populaire au Moyen Age et sous la Renaissance Paris Gallinard 1970 BAKHTIN M M Rabelais and his world Boomington Indiana University Press 1984 BAKHTIN Marxismo e filosofia da linguagem S o Paulo Hucitec 1995 BAKHTIN O freudismo um esbo o cr tico S o Paulo Perspectiva 2007 BAKHTIN A cultura pop
463. tra a brincadeira gracejo vindo humanizar a melancolia ou a morosidade vindo temperar uma vitalidade muito exuberante 1972 23 tradu o nossa Alega se como fonte disso excentricidade natural ou afetada pr pria do povo portador ao mesmo tempo de um otimismo triste e de um pessimismo alegre resultado por sua vez do isolamento da ilha brit nica do seu clima chuvoso e frio etc que seria uma esp cie de molho especial t pico da literatura daquele pa s Diante de tal quadro necess rio atentar nos para um ponto em especial que de certa forma tornar poss vel pensar o humour enquanto produto de exporta o ingl s a 248 Em H mor Mennucci 1923 argumenta em favor da tese de que o humor uma marca da cultura inglesa n o por ser um sainete pr prio da alma anglo sax nica mas sim devido ao ingl s l ngua seca mon tona que n o consegue deslumbrar o leitor pela m sica original das palavras Faltam lhe recursos de estylo grandioso o que explica que seus cultores se hajam visto obrigados a se voltar mais para a id a do que a forma e a tratar id as sic todas numa linguagem banal e ch sem artif cios e sem jogos de sonoridade MENNUCCI 1923 71 Da continua o mesmo ensa sta pode se explicar dentre outras coisas 1 o grande n mero de humoristas principalmente nos EUA devido ao emperramento lingu stico do ingl s desenvolvido nas
464. trabalho tal conceito se aplicar tanto intui o do sujeito falante e tamb m do analista do que pass vel de fazer rir quanto an lise das rela es interdiscursivas do discurso humor stico 29 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Com base nessas coloca es faz se necess rio circunscrever o nosso ponto de vista em rela o aos que antes de n s se propuseram a refletir e analisar discursos relacionados ao riso para que logo depois possamos determinar quais textos podem ou n o constituir o corpus para nossa an lise Desse modo para termos uma ideia dessa quest o discutimos aqui dois crit rios que devido sua generalidade parecem dividir as opini es dos estudiosos do riso e do ris vel a saber o crit rio da forma o crit rio do riso Antes mesmo da elabora o de Os chistes e a sua rela o com o inconsciente Freud j dava mostras de se interessar por textos pass veis de carregar um efeito c mico em seu trabalho A interpreta o dos sonhos publicado em 1900 ao ouvir relatos de seus pacientes das semelhan as entre os sonhos e a estrutura dos chistes Prova disso a sua cole o de piadas sobre judeus que deu base para o desenvolvimento de seu livro sobre os chistes e os sonhos Nesse trabalho publicado originalmente em 1905 Freud 1996 p 17 26 na sua busca pela natureza espec fica dos chistes procura desvencilh
465. tradu o nossa Isso pode ser explicado pelo fato de que Charaudeau 2006a e 2011 considera o riso um elemento que n o deve ser levado em conta na an lise dos ACHs cf nossas considera es iniciais Assumindo uma linha de racioc nio relativamente divergente da de Charaudeau nossas an lises procuram atentar para os variados tipos de riso que o DH tem o potencial de produzir ou seja tanto o riso bom alegre quanto o riso de zombaria cf parte 1 cap 2 2 2 2 2 Se isso levado em considera o nossa hip tese que o dispositivo desse discurso deve apresentar uma organiza o das inst ncias relativamente diferente do que prop e Charaudeau 2006a 2011 para os ACHs Discutiremos isso mais adiante Antes necess rio voltar proposta de Olbrechts Tyteca 1974 e rever quest o do tiers 275 Mesmo em franc s cible como o termo em portugu s alvo mant m um sentido de ponto de mira ligado a ataque a algum tipo de atitude de agress o Esse sentido se difere por exemplo de conota es como objetivo presente em p blico alvo muito utilizado na publicidade ou nas teorias da literatura 276 No original une personne dont on met mal le comportement psychologique ou social dont on met en vidence les d fauts ou les illogismes dans les mani res d tre et de faire au regard d un jugement social de normalit 193 O Discurso humor stico um percurso de an lise
466. tterson Gomes do Vale 2013 fluidos corp reos como humor estado disposi o de esp rito donde o fato de a defini o de humorista se aproximar da de humoralista O segundo campo sem ntico correspondia ao entendimento de humor mais especificamente humour como uma quest o de est tica psicol gica ou seja uma caracter stica de estilo aparentada do ing wit e do fr esprit de determinados escritores e poetas que sabiam balancear em suas obras riso e melancolia Isso porque nesse contexto O riso n o mais um sopro vital um modo de vida tornou se uma faculdade de esp rito uma ferramenta intelectual um instrumento a servi o de uma causa moral social pol tica religiosa ou anti religiosa Ele se decomp s em risos mais ou menos espirituais correspondendo a necessidades precisas O ridente generalista deu lugar a especialistas quase se pode dizer aos profissionais com tudo que isso significa de compet ncia e enfraquecimento MINOIS 2003 p 409 Nesse passo o riso assume formas reduzidas e os sujeitos do riso tendem a se profissionalizar nas fronteiras pouco precisas entre os campos da literatura do jornalismo e da publicidade Com base nessa ideia alguns autores consideram ser esse o momento do nascimento do humorista no sentido moderno e como veremos mais adiante pouco definido do termo Com isso em mente e a partir das leituras de Pirandello 1996 Escarpit 1972 Skinner 2002 Minois 2003
467. tz da s rie Os Simpsons Por outro lado embora transite entre os regimes do l dico do sat rico e do s rio e se nos apresente como um tipo de discurso predominantemente mas n o exclusivamente iconoclasta acreditamos que ainda assim poss vel em contraste com a ideia de negatividade que o circunda ver no DH o lado positivo do riso admitindo se o prazer que esse discurso capaz de proporcionar cf parte I cap 2 item 2 2 2 2 e o modo como ele discute certos problemas filos fico religiosos cient ficos et similia numa atmosfera jocosa Assim sendo n o de se admirar que o DH sirva como uma esp cie de discurso mediador entre os discursos parat picos constituintes e a doxa Maingueneau 2006a nos alerta que os textos engendrados pelos discursos constituintes se encontram via de regra num quadro hermen utico Esse quadro mostra as dificuldades que tais textos devido ao seu car ter fundador de uma religi o de uma escola liter ria de uma corrente filos fica etc geram para leitura e interpreta o exigindo int rpretes professores cr ticos liter rios te logos fil sofos entre outros autorizados a proceder a uma exegese v lida e validante e a erigir uma interpreta o leg tima e ortodoxa do sentido dos textos MAINGUENEAU 2006 70 72 Com isso em mente podemos dizer junto com Maingueneau 2008a que 139 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem d
468. u o nossa Pelo exposto at aqui depreendemos que o crit rio da forma nos faria percorrer uma gama de g neros discursivos e textuais que trariam as marcas lingu sticas formas verbais como queria Freud mas que n o necessariamente carregariam em si os efeitos ligados ao riso ao ris vel resultando disso muitas vezes an lises de textos que dificilmente considerar amos humor sticos ou c micos Diante disso cabe a n s verificar agora se crit rio do riso capaz de proporcionar maiores vantagens para a sele o de corpus Em O riso ensaio sobre a significa o da comicidade Bergson 2007 p 150 afirma que seu intento foi buscar na com dia na farsa na arte circense etc os procedimentos para fabrica o da comicidade ou seja procurar aquilo que pass vel de causar o riso Com efeito a n s de extrema import ncia nos perguntar de que ideia ou pressuposto partiu Bergson para analisar tais lugares ou melhor o que o levou a tais g neros Qual foi o seu programa objetivando a comicidade Deixemos o pr prio fil sofo nos dizer 14 No original Les proc d s linguistiques rel vent d un m canisme lexico syntaxico s mantique qui concerne explicite des signes leur forme et leur sens ainsi que les rapports forme sens 5 O conceito de isotopia diz respeito exist ncia de uma certa homogeneidade no plano de leitura de um texto em oposi o pluri isotopia ou alotopia que est liga
469. u 20044 60 63 i fun es da linguagem referencial f tica emotiva etc ou fun es sociais l dica religiosa informativa entre outras porque essas podem interagir em maior ou menor grau e por vezes simultaneamente no interior dos g neros do humor ii marcas ou sequ ncias lingu sticas narrativa descritiva argumentativa j que essas podem se fazer presentes em qualquer g nero caracter sticas situacionais pois diferentes formas gen ricas do DH podem aparecer em quase todas as situa es iv tipologias gen ricas uma vez que o DH aparentemente pode se transmutar em quase todos os tipos gen ricos Isso pode ser percebido at mesmo em g neros tidos como hard como por exemplo manuais de uso de determinados produtos cf TELLES s d dicion rios etimol gicos cf PIMENTA 2002 ou mesmo gram ticas cf FRADIQUE 1984 35 O espa o que separa esses campos muito t nue Propp 1992 66 80 93 por exemplo chega indicar a exist ncia de uma literatura humor stica e mesmo o trabalho de Pirandello 1996 foca quase que exclusivamente sobre textos liter rios na busca de uma defini o para humorismo Embora as fun es da linguagem e em certa medida tamb m as fun es sociais n o sejam sin nimos de visadas discursivas CHAR AUDEAU 20044 14 podemos consider las como fortes indicadores percept veis na leitura de diversos textos das visadas como por
470. u rios no talk passa dessa forma a ser vista lida por 220 Com todos os seguidores de Gina Indelicada e pelos amigos desses seguidores isso tal fragmento toma agora a forma de uma pequena narrativa ou um pequeno sketch no qual os avatares dos usu rios no caso Gina e kauany passam a ser observados pelos usu rios seguidores Admitindo que esses seguidores assumem o papel de voyeurs diante da conversa o dos avatares vejamos como o di logo entre as metodologias propostas por Olbrechts Tyteca 1974 e por Charaudeau 2006a e 2011 explicam o desenvolvimento do discurso e do c mico no texto de Gina Indelicada Primeiramente diremos que Gina Indelicada representa o lugar de audit rio de primeiro n vel primeiro a ser interpelado Ela assume seu papel dando uma r plica sarc stica ir nica provoca o de Kauany Lembremos mais uma vez nesse momento estamos analisando o fragmento enquanto um texto postado no feed de not cias do Facebook Devido a isso os avatares agora podem tomar status semelhantes aos das personagens nos exemplos de Olbrechts Tyteca 1974 J os demais usu rios seguidores leitores em potencial passam a aguardar a tr plica de Kauany audit rio de segundo n vel Na proposta de Olbrechts Tyteca podemos dizer que esses usu rios seguidores est o em rela o ao sujeito locutor em posi o de um audit rio de terceiro n vel os destinat ri
471. u discours 73 5 Que de certa forma ser o retomados e melhor explicados no decorrer desse percurso Por exemplo sobre a rela o entre a LR e as formas do riso veja parte 1 cap 3 item 3 1 74 Toda ess ncia da apreens o apreciativa da enuncia o de outrem tudo que pode ser ideologicamente significativo tem sua express o no discurso interior Aquele que apreende a enuncia o de outrem n o um ser mudo privado de palavra mas ao contr rio um ser cheio de palavras interiores Toda a sua atividade mental o que se pode chamar de fundo percept vel mediatizado para ele pelo discurso interior e por a que se opera a jun o com o discurso apreendido do exterior A palavra vai palavra no quadro do discurso interior que se efetua a apreens o da enuncia o de outrem sua compreens o e sua aprecia o isto a orienta o ativa do falante BAKHTIN 1995 p 147 148 grifos do autor 75 O que talvez n o fa a os puristas rirem a flexibilidade eventualmente abusiva no emprego de termos como burlesco grotesco sat rico par dico humor stico Conhecem se por exemplo debates ubuescos aos quais se dedicaram certos especialistas desprovidos de humor a prop sito da palavra 69 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 ativadora dos discursos ligados ao riso da c mico humor ris
472. ual o c mico mostra diz trata e o secund rio ou reflexivo no qual o c mico compreendido Assim se se leva em considera o a coniv ncia que o riso da ret rica exige por meio do uso de argumentos e esquemas deve se pensar ent o que grande parte disso foi formulada de forma impl cita mas que ao mesmo tempo pass vel de ser descrito como numa argumenta o normal e As rela es entre os audit rios pelas quais se pode perceber o c mico nas a es maliciosas e nas rea es entre os parceiros a partir da diferen a entre os atos de interpelar e de responder de atacar e de revidar Como o nosso objetivo n o especificamente analisar o c mico da ret rica mas sim o DH e os seus m ltiplos sujeitos nos restringiremos ao entendimento das rela es entre os audit rios explorando seus diferentes n veis Tomemos o exemplo 1 que esse frango est magro Dizia o autor dram tico D a um gar om que o servia Meu senhor ele de Mans fala o gar om se gabando Ent o ele veio a p responde D De acordo com Olbrechts Tyteca 1974 os interlocutores no exemplo 1 se encontram em n veis diferentes no primeiro n vel se encontra o gar om primeiro a ser interpelado no segundo o senhor D Todavia como se trata de uma narrativa ela est logicamente endere ada a outrem isto a um audit rio de terceiro n vel Tendo em vista perceber onde est o c mico da ret rica
473. ude responsiva verbal ou n o verbal ligada uma compreens o ativa responsiva da fase inicial preparat ria da resposta r plica seja l qual forma esta adote at mesmo a forma silenciosa representante de um efeito retardado BAKHTIN 2010b p 271 272 do sujeito leitor ouvinte diante de um discurso no caso potencialmente humor stico Desse modo levando se em considera o a 54 Como o sorriso Paulo Maluf que ao mesmo tempo ri da incompet ncia judici ria do Pa s da gt 2 parvo ce ou pseudoparvo ce do povo brasileiro 55 A r plica propriamente dita isto a rea o ao discurso de outrem que pode adotar formas verbais ou n o verbais como por exemplo f sicas a agress o ou o atendimento de uma demanda ou fisiol gicas o riso o choro o v mito para citar algumas Isso nos remete a enunciados do tipo N o entendi a gra a ou Desculpa estou rindo de uma piada que me contaram outro dia ou Quem ri por ltimo ri melhor ou ainda Quem ri por ltimo porque n o entendeu a piada 61 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 conting ncia do riso essa face psicossociofisiol gica representa uma dentre as v rias atitudes responsivas poss veis de serem desencadeadas como por exemplo a indigna o o insulto a indiferen a pelo sil ncio ou pelo jogar de ombros a careta
474. ue do mesmo modo que o discurso pornogr fico o DH tamb m capaz de engendrar em uma dada poca e para uma dada sociedade uma grande variedade de g neros revistas seman rios livros programas de Tv etc e por conseguinte obras e textos voltados para um consumo de tipo humor stico cuja inten o global por isso mesmo deve ser considerada humor stica Quanto s segu ncias podemos a princ pio propor que as observa es de Maingueneau 2010b mutatis mutandis tamb m se aplicam ao DH pois como vimos OS GENERA RIDICVLORVM FACETIARVM E ANECDOTORVM apresentam propriedades muitas vezes semelhantes s das sequ ncias Com efeito assumiremos que 05 GENERA enquanto sequ ncias discursivas podem 1 portar uma inten o n o essencialmente humor stica estando a servi o de outra finalidade 11 variar de extens o de acordo com um tipo de linguagem no caso a LR e atravessar se admitirmos os GENERA enquanto ACHs uma gama de g neros funcionando desse modo tamb m como estrat gias 17 7 E Diremos tamb m o tipo de linguagem pois atualmente os textos entendidos aqui como manifesta es linguageiras de um dado discurso apresentam muitas vezes o car ter multimodal podendo se constituir de v rios sistemas semi ticos diferentes simultaneamente 178 Como por exemplo as revistas MAD Bundas e Casseta amp Planeta Di rio 179 Citemos como exemplos Le Chari
475. ue esses estudos n o nos assegurem de modo algum o sucesso ilocut rio ou perlocut rio do humor do c mico do ris vel paribus coeteris poderemos com base neles pelo menos argumentar algo sobre o que nos faz rir sorrir ou prazer semelhante e que fez rir a muitos no caso as autoridades do riso pensadores escritores m dicos humoristas comedi grafos entre outros diante de um texto potencialmente caracterizado como humor stico c mico ris vel ir nico divertido engra ado etc CRIT RIO DO RISO VERSUS CRIT RIO DA FORMA Apontada essa primeira dificuldade na rela o discurso riso nosso percurso como toda longa jornada exige agora que ultrapassemos mais uma barreira quais crit rios adotar para a sele o de textos que podem compor um corpus para a an lise desse discurso De que modo lidar com a representatividade do corpus exaustiva quase exaustiva Essa sinon mia parece ser t o real que afeta at produ es sobre o riso o ris vel Por exemplo Gomes 1998 p 3 em seu Pequeno dicion rio do humorismo brasileiro explica que seu trabalho sendo livre de quaisquer pretens es cient ficas baseado em sua mem ria intui o sobre pessoas artistas situa es coisas etc que fizeram fazem e far o humor no Brasil Da o subt tulo sugestivo de seu livro Tudo o que faz o brasileiro rir 7 Isso n o quer dizer que o nosso objetivo elaborar uma hist ria do riso
476. ue possamos enquadrar certos discursos como por exemplo o discurso publicit rio entre os discursos parat picos Analisando a t pica do discurso publicit rio Maingueneau 2010a p 168 170 afirma que embora possua uma grande capacidade mim tica para imitar g neros tanto para a subvers o quanto para a capta o esse tipo de discurso n o deve ser considerado nem at pico nem parat pico Isso porque o seu nomadismo seu poder de metamorfose ilimitado sua onipresen a faz com ele se mantenha em constante transforma o podendo se transformar at mesmo no seu contr rio cf as publicidades da Benetton Desse modo Maingueneau acredita que para os discursos com essas propriedades seria melhor consider los como discursos mimot picos um tipo de discurso que podendo absorver qualquer cena de fala e tendo a capacidade de se difundir como modelo de formata o para outras enuncia es duplica em simulacro o conjunto de outros discursos Pelas raz es aduzidas at aqui vemos que o DH compartilha algumas dessas caracter sticas para ser considerado um discurso mimot pico a saber 1 apresenta se tamb m como n made se por isso entendermos a sua capacidade de atravessar outros tipos de discurso e por esses ser utilizado como estrat gia discursiva 11 tamb m est em constante transforma o adequando se s mais diferentes situa es de comunica o com o intuito de proporcionar as mais variadas finalidad
477. ular na Idade M dia e no Renascimento o contexto de Fran ois Rabelais 7 ed S o Paulo Hucitec 2010a BAKHTIN Est tica da cria o verbal 5 ed S o Paulo Martins Fontes 2010b BAKHTIN M M Quest es de literatura e de est tica a teoria do romance 6 ed S o Paulo Hucitec 2010c 264 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 BAKHTIN M M Problemas da po tica de Dostoi vski 5 ed Rio de Janeiro Forence Universit ria 2010d BAKHTIN M M VOLOCHINOV V N Discurso na vida e discurso na arte Trad Crist v o Tezza e Carlos Faraco Texto de circula o acad mica 1926 BAR O DE ITARAT O bar o no jogo da verdade Manchete Rio de Janeiro Bloch Editores 1965 BAUDELAIRE De du rire et g n ralement du comique dans les arts plastiques Le Portefeuille 1855 Dispon vel em lt http baudelaire litteratura com Mrub oeuvre amp srub ess amp id 27 amp s 1 gt Acesso em 3 ago 2012 BEACCO J C corpus In CHARAUDEAU MAINGUENEAU D Dicion rio de an lise do discurso 2 ed S o Paulo Contexto 2006 p 137 140 BERGSON H O riso ensaio sobre significa o da comicidade 2 ed S o Paulo Martins Fontes 2007 BERIST IN O chiste In LUSTOSA org Imprensa humor e caricatura a quest o dos estere tipos culturais Belo Horizonte Editora UFMG 2011 p 69 91 BITTAR
478. um prazer semelhante na alma Se se toma isso enquanto fato torna se ent o mais dif cil evidenciar um alvo com todo seu 291 car ter negativo o qual o enunciado teoricamente seria direcionado Isso de maneira alguma quer dizer que n o se ri de algo no texto somente se deve agora considerar que n o h nesse algo um matiz por demais evidente de zombaria Em outras palavras pretende se uma constru o l dica direcionada para o simples prazer da recrea o como parte da busca pela Na sequ ncia do que foi dito poder se ia conjecturar que esse efeito de riso bom alegre presente nessas can es se deve finalidade discursiva predominante e n o necessariamente ao fazer rir N o descartamos essa hip tese uma vez que as can es 290 Seguimos nessa linha o pensamento de Bergson 2007 59 61 que compara esse tipo de procedimento c mico com brincadeiras de crian as baseadas no que ele chama de efeito bola de neve Tal efeito obtido por um processo que se propaga por auto acumula o semelhante ao de uma bola de neve que ao rolar aumenta de tamanho de tal modo que a causa insignificante na origem desemboca por meio de um progresso necess rio num resultado t o importante quanto inesperado como por exemplo o desmoronar de um castelo de baralho ao se retirar uma das cartas da base 291 O que n o quer dizer que vislumbrar um sentid
479. uma forma reduzida do riso humor no sentido brit nico do termo cf parte TI cap 1 item 1 2 5 1 Com isso poder se por exemplo evidenciar esse efeito em textos cuja inten o humor stica se apresenta em muito atenuada Ou a um bom conselho Que eu lhe dou de gra a In til dormir que a dor n o passa Espere sentado Ou voc se cansa 187 Est provado quem espera nunca alcan a Quem esporra sempre alcan a Com Manah adubando d Ningu m joga domin sozinho dos carecas que elas gostam mais A soma dos catetos o quadrado da hipotenusa Nem tudo que se tem se usa Racio s mio racio s mio racio s mio racio s mio 8 Em ambos temos a desqualifica o da estrutura de um texto e de um g nero a partir da subvers o do prov rbio quem espera sempre alcan a No primeiro a imita o por subvers o opera atrav s da altera o dos adv rbios de tempo sempre gt nunca que parece buscar uma l gica mais realista mais aristot lica para o sentido original do prov rbio No segundo excerto a subvers o opera alterando as formas verbais do prov rbio por meio do princ pio da paronom sia isto por uma pequena altera o na 187 HOLANDA Bom conselho 1972 Letra dispon vel em lt http www vagalume com br chico buarque bom conselho html gt Acesso em 16 abr 2013 188 ANTUNES A FROMER M REIS N Racio 1989 Letra dispon vel lt http www vag
480. uma pequena aula que eu t dando pra voc s viu Quiser botar um jaleco branco por exemplo e quiser faz um m dico alem o n o alem o n o m dico Ah n o pode sabia E uma das coisas que abomin vel no meio stand up contar uma piada que j existe Isso mata qualquer um que do meio stand up mata de raiva n o pode regra Mas como diz no ditado que quando n o caga na 387 Cl udio Torres Gonzaga humorista e na poca da mat ria era redator chefe do programa do Zorra Total da Rede Globo de Tv 388 4 Pare 2 4 e Marcelo Marrom um humorista stand up cuja principal caracter stica discursiva a utiliza o da autoderris o pelo fato de ser negro Com isso Marrom alvo de in meros processos legais por pr tica preconceituosa contra brasileiros afrodescendentes 244 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 entrada caga na sa da eheheh Eu vou sair com uma piada que j existe E que se foda o stand up E suas regras Autoderris o uso de termos chulos quebra das coer es do g nero tudo mat ria para fazer rir No stand up n o h a prote o da m scara do palha o ou da personagem sob a qual o ator c mico poderia se esconder n o fui eu quem disse aquelas barbaridades foi a personagem O humorista est totalmente exposto seu ethos pr vio e discursivo se consubstanciam e
481. uma positiva ligada aos espa os f sico e corporal do territ rio do eu e uma negativa ligada s imagens valorizantes constru das pelos interlocutores Segue que durante qualquer ato de comunica o tanto locutor quanto interlocutor podem ter as suas faces amea adas de acordo com a modalidade de enunciado utilizada oferta promessa desculpa cr tica ofensa proibi o insulto chacota sarcasmo etc No caso de Truman a face amea ada com o dito picante de Dutra seria a positiva pois o narcisismo do presidente americano seu amor pela pr pria imagem seria colocado em perigo de desmoraliza o caso Truman compreendesse o trocadilho e por consequ ncia a poss vel falta de polidez da parte de Dutra 231 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Veremos no entanto que essas considera es a respeito das coer es e das estrat gias concernentes LR est o diretamente imbricadas com o lugar ocupado por aqueles que desejam precisam fazer rir o que exige que perscrutemos como os sujeitos do riso se encontram em rela o aos diversos campos discursivos liter rio publicit rio jornal stico humor stico entre outros presentes numa dada sociedade 232 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 PARTE CAP TULO 4 O LUGAR DAQUELE QUE FAZ RIR UMA TO
482. undo n veis entre os personagens interlocutores diretos 11 terceiro n vel configurado como o audit rio para o qual um ato c mico relatado leitores e ou ouvintes 11 quarto n vel que na verdade o audit rio de terceiro n vel movido por um afastamento devido presen a de uma personagem anormalement s rieux No discurso essa personagem tem a fun o de apresentar explicita ou implicitamente a acolhida rejei o e por vezes a n o compreens o do c mico julgada a partir de estere tipos pertencente a um ser em rela o a um dado grupo Dentro desse panorama quando se exp e a presen a do audit rio de terceiro n vel e o afastamento que esse audit rio pode poderia ter em rela o cena do di logo essa proposta tem o m rito de apontar para o que acontece internamente e externamente no discurso No entanto como os planos situacional ou comunicacional e discursivo ou enunciativo n o est o claramente delimitados as inst ncias do discurso internas externas presentes ausentes parecem causar confus o a respeito de quem faz rir e quem ri de quem 263 Devido dificuldade de verter para o portugu s com o sentido proposto pela autora isto dizer que uma personagem s ria de uma forma muito anormal preferimos deixar no nosso texto a express o em franc s 264 No original se singularise dans l auditoire du 3 niveau auquel l histoire tait pr tendument de
483. urbanidade e das burlas enquanto GENERA ANECDOTORVM Em rela o s narrativas festivas e urbanas it urbana e piacevol narrazion continuata Castiglione 1997 p 137 139 grifos nossos admite que embora essas narrativas requeiram os gestos e aquela efic cia que possui a voz mesmo na escrita por vezes se reconhecem suas virtudes Ainda segundo o autor essas narrativas podem se assemelhar a contar novelas Tanto assim que o pr prio Castiglione se refere como exemplos de urbanidade a certas passagens das Cento Novelles ou Decamer o de Giovanni Boccaccio Quanto s burlas Castiglione inova ao propor que esse g nero fa a parte de uma tipologia das fac cias Isso porque do modo como ele primeiramente as define as burlas se assemelham a uma mentira isenta de car ter vil com a qual se prega uma pe a em outrem ou seja as burlas s o mais um tipo de brincadeira uma esp cie de jogo do que um g nero textual ou discursivo propriamente dito 172 uma maior precis o dos termos referentes aos tipos de fac cias consultamos tamb m o texto em italiano cf CASTIGLIONE 1945 p 161 167 120 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 E me parece que a burla n o passe de um engano amig vel de coisas que n o ofendem ou quase n o e como nas fac cias falar contra as expectativas provoca o riso nas burlas atuar contra as expec
484. urso Levando essa compet ncia discursiva em considera o podemos desenvolver nosso ponto de vista e por conseguinte melhor direcionar o nosso olhar para a constru o do corpus uma vez que Em An lise do Discurso como em outras ci ncias sociais geralmente o corpus que de fato define o objeto de pesquisa pois ele n o lhe preexiste Mais precisamente o ponto de vista que constr i um corpus que n o um conjunto pronto para ser transcrito Os discursos s o abordados a partir de uma problem tica que os constitui em um conjunto homog neo do qual s o ao mesmo tempo os pr prios dados Por m as conclus es sobre as caracter sticas desse conjunto s poder o ser interpretadas e portanto n o ser poss vel extrair os dados pertinentes do corpus atrav s de conceitos descritivos caso se formulem a priori explicitamente condi es sobre a natureza dos dados pertinentes BEACCO 2006 p 138 139 5 Esse tipo de intui o tem um papel fundamental no tratamento dos dados na proposta gerativista De fato al m de testes de gramaticalidade nos quais falantes nativos devem aplicar a sua intui o para identificar por exemplo se certas frases s o gramaticais ou agramaticais os gerativistas utilizam a intui o do pr prio linguista que afinal tamb m um falante nativo de sua pr pria l ngua KENEDY 2010 p 134 9 2 2 Como apresentaremos de forma dilu da em outros momentos desse
485. urso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 se fazem sozinhas e que se rimos delas poderemos estar rindo de seu autor na mesma ocasi o Ali s o pr prio fil sofo franc s de certo modo nos diz isso quando argumenta que a comicidade que a linguagem cria se d pela escolha das palavras Ora como discutimos anteriormente cf parte 1 cap 1 item 1 2 2 tal escolha pode estar relacionada n o somente sintaxe ou a outras coer es estabelecidas por um sistema lingu stico espec fico mas tamb m ao estilo s visadas e s estrat gias discursivas adotadas por um sujeito falante em uma situa o de comunica o humor stica Al m disso preciso advertir que os expedientes ou procedimentos linguageiros ligados ao riso mant m entre si implica es m ltiplas e podem gerar ecos ou harm nicos direcionados ora para os mesmos efeitos de sentido ora para outros Isso justifica nossa aten o quest o da predomin ncia de certos tra os presentes na defini o das categorias que como veremos mais adiante comp em os GENERA RIDICVLORVM g neros de ditos rid culos pois Quando um m sico emite uma nota num instrumento surgem espontaneamente outras notas que sendo menos sonoras que a primeira estando ligadas a ela por certas rela es definidas imprimem lhe um timbre por lhe somarem como se diz na f sica s o harm nicos do som fundamental
486. utilizado como estrat gia discursiva num dado g nero liter rio ou publicit rio por exemplo 2 Em pref cio 3 edi o Fradique 2004 54 afirma que diante da inveja e do despeito pela ado o da HBMC nas casas oficiais de ensino seus concorrentes deveriam praticar sobre sua a obra o que ele Mendes Fradique praticou sobre a do Sr Rocha Pombo voltando desse modo verdade pela nega o 148 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 armadilha obrigando o a uma leitura mais atenta pois de um modo geral ele quer rir e entender a piada participar da comunidade do riso LUSTOSA 1993 p 161 J para o modo cont nuo podemos citar Uma modesta proposta para prevenir que na Irlanda as crian as dos pobres sejam um fardo para os pais ou para o pa s e para as tornar ben ficas para a Rep blica SWIFT 1729 Considerado em seu tempo como um humorista de espinhos por fora e rosas por dentro ESCARPTT 1972 p 42 et seg Swift elabora uma proposta ou nas palavras do pr prio autor um m todo justo barato e f cil para resolver o problema das crian as pobres da sociedade irlandesa de meados do O texto nos moldes de um artigo de sociologia pol tica ou de econ mica discute a impossibilidade de uma grande parte das m es daquele pa s conseguir sustentar seus filhos que por sua vez t m como futuro se tornar l
487. utio Oratoria ocupando todo o cap tulo 3 1 112 Para essa discuss o utilizamos a tradu o e as notas de Marques Jr 2008 90 146 165 No De risu 35 AUTEM CONCILIETVR RISVS ET QVIBVS LOCIS PETI SOLEAT DIFFICILLIMVM DICERE NAM SI SPECIES OMNIS PERSEQVI VELIMVS MODVM REPERIEMVS ET FRVSTRA LABORABIMVS 117 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 quiserem CASTIGLIONE 1997 p 132 grifos nossos Apesar disso preciso salientar que ambos os autores cada um a seu modo e em seu tempo legaram nos contribui es para aclarar pontos obscuros e por vezes n o discutidos nas explica es de C cero Iniciemos por Quintiliano No De risu 22 24 Quintiliano levado a estabelecer diferentemente de C cero dois tipos de divis o dos GENERA Pela primeira divis o baseada num crit rio digamos mais estrutural s o estabelecidos os g neros de palavras VERBIS os g neros de assunto Na segunda considerando se um crit rio podemos dizer mais tem tico moral tenta se cercar as fontes do riso que pode se dar 1 por coisas nossas absurdos 11 por coisas dos outros v cios e por elementos neutros expectativas malogradas Abstemo nos nesse momento de discutir essa segunda divis o pois como se ver adiante seu direcionamento se volta mais especificamente para que
488. utriente e completo seja estufada grelhada assada ou cozida E n o tenho qualquer d vida de que poder igualmente ser servida de fricass ou num ragout SWIFT 1729 p 3 da mentira Essa obra seria Nossa p tria narra o dos factos da hist ria do Brasil cuja primeira edi o data de 1917 cf ROCHA POMBO 1925 149 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Segue se ent o uma sequ ncia de argumentos n o menos estapaf rdios que procuram validar essa tese como por exemplo 1 o tipo de p blico alvo pessoas de qualidade e fortuna pelo reino a fora 11 o rendimento uma crian a rendendo duas por es para festas ou um quarto da frente ou detr s para uma fam lia jantar sozinha a conserva o at 4 dias no inverno base de sal e pimenta iv o aproveitamento da carca a para confec o de luvas e de botas etc Como se pode notar no texto de Swift a cena do discurso cient fico da sociologia e da economia n o abandonada em prol da cena humor stica Pelo contr rio essa ltima vai sendo institu da passo a passo criando um real discursivo que possibilite a Swift criticar a burguesia ascendente o papismo que infectava o pa s e as condi es prec rias de vida na sociedade irlandesa 2 E necess rio salientar ainda que embora seja poss vel distinguir os modos incoativo cont nuo o acionamento das cenas
489. uzidos a encontrar o que dizer mas para que uma vez que tenhamos aprendido ao que elas devam referir se sigamos aquelas que pela natureza pelo estudo e pelos exerc cios confiamos serem retas ou entendamos serem ruins CICERO apud MARQUES JR 2008 p 42 43 Na trilha de C cero afirma Marques Jr 2008 Quintiliano tamb m constr i seu texto de modo a responder a essas cinco perguntas acentuando do ponto de vista tico o car ter dos ditos picantes classificados por ele como GENERA VRBANITATIS gt Desse modo percebemos ao longo dos dois tratados que vai se delineando no discurso desses retores uma grande preocupa o em desenvolver explica es sobre o uso do riso baseado na vRBANITAS Por exemplo Quintiliano vai defini la como a virtude na qual nada de inconveniente nada de r stico nada de grosseiro nada de ex tico nem quanto X 33 ao pensamento s palavras voz ou aos gestos pode ser encontrado QUINTILIANO apud MARQUES 2008 144 Com efeito baseando se nos trabalhos de Ramage 1960 Marques Jr 2008 p 94 considera que o conceito de VRBANITAS pode ser entendido na cultura cl ssica romana como e Uma no o f sica campo vs cidade determinando o refinamento que essa ltima poderia proporcionar educa o do cidad o e Um tipo de riso refinado relacionado aos modos de gracejar deseducado petulante obsceno pr prio dos buf es vs elegante enge
490. vari 1832 1926 na Fran a Der Simplicissimus 1897 1944 na Alemanha e no Brasil o antigo Pasquim 1969 1991 encabe ado por Henfil Ziraldo Mill r 180 2 E 2 Inclu mos aqui n o somente as diversas colet neas de piadas t o comuns em bancas de jornal supermercados mas tamb m os livros do pessoal do Casseta amp Planeta do Ari Toledo e em certa medidas conforme Gomes 1998 leva a crer algumas obras de Mill r de Luiz Fernando Ver ssimo e de J Soares 181 Sem levar em considera o a quest o croonol gica citemos como exemplos os programas Monty Python da BBC P nico na TV e Agora Tarde da Rede Bandeirante Pra a da Alegria Os Trapalh es Viva o Gordo TV Pirata Casseta amp Planeta Urgente e Zorra total da Rede Globo Pra a Nossa do SBT O Cabar do Barata da extinta TV Manchete Furo MTV da MTV BRASIL 123 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 discursivas em prol de um consumo de tipo humor stico l dico ou sat rico Contudo em rela o ao DH sempre devemos proceder com cautela pois se corre sempre o risco de erigir os ACHs como elementos essenciais na constitui o de outros tipos de discurso que n o estariam necessariamente voltados para um consumo do tipo humor stico Esse tipo de racioc nio parece encontrar apoio n o somente em trabalhos de pesquisa mas tamb m nas pr prias ma
491. vera que devido a uma perspectiva que procura restringir a no o de g neros do discurso em AD a literatura pornogr fica deve ser considerada mais como tipo de discurso assim como o discurso pol tico o discurso religioso o discurso administrativo etc que recobre em determinada poca e para uma sociedade dada diversos g neros Nesse caso prossegue o autor a no o de g neros somente se aplica a obras nas quais poss vel identificar uma inten o global pornogr fica 122 O Discurso humor stico um percurso de an lise pela linguagem do riso Rony Petterson Gomes do Vale 2013 Isso posto deduzimos que a inten o global na vis o de Maingueneau 2010b o fator decisivo para que possamos considerar um g nero ou um texto como plenamente engendrados por um tipo de discurso e em segundo lugar que a extens o dos textos pode variar de acordo com o tipo de escrita que caracteriza esse ou aquele tipo de discurso e em conson ncia com as restri es do g nero Em todo caso j vimos em rela o ao conceito de inten o como problem tica sua inser o enquanto categoria em AD parte 1 cap 2 item 2 1 No entanto se ao alegar que um dado texto possui uma inten o global implicamos necessariamente que esse mesmo texto se constitui como uma obra que por sua vez deriva de um g nero institu do por um tipo de discurso somos levados ent o a considerar o DH como um tipo de discurso Isso porq
492. visor de guas nos estudos sobre est tica do riso e do ris vel Nela o autor prop e adotar um m todo diferente para a an lise do c mico o m todo indutivo A alega o para isso segundo Propp 1992 p 15 16 que humoristas profissionais e n o profissionais escritores homens de teatro de circo entre outros sempre muito bem sem qualquer teoria que embasasse suas obras c micas humor sticas ou sat ricas Entretanto o mesmo Propp afirma que tratando se de um mundo cient fico como o nosso imprescind vel uma teoria e por conseguinte um m todo Convicto de que somente de fatos se podem extrair verdades Propp assume ent o que partir de um cuidadoso estudo comparativo e de uma an lise dos fatos para chegar a conclus es apoiadas nos pr prios fatos Nesse nterim o te rico russo nos diz como proceder a coleta do material Antes de tudo foi necess rio sem desprezar nada sem realizar qualquer sele o reunir e sistematizar o material Foi necess rio levar em conta tudo aquilo que provoca o riso ou o sorriso tudo o que ainda que remotamente se relaciona ao dom nio da comicidade PROPP 1992 p 16 grifos nossos Apesar de alegar que nenhuma sele o pr via foi feita fica bem claro que o pr prio Propp 1992 adota o crit rio do riso como crit rio para a sele o de corpus o que pode ser percebido pela indica o dos objetos de sua perscruta o uma literatur
493. xto e principalmente por acreditar na minha pesquisa Agrade o professora Gl ucia Lara Muniz por ter me tirado da favela a coisa estava complicada l Agrade o professora M nica Melo por ter um dia acreditado em mim e me colocado no caminho da pesquisa Agrade o aos professores C sar Reis e Jos Ol mpio pelos conselhos e pelas orienta es durante a minha estada como professor na gradua o da Faculdade de Letras da UFMG Agrade o a CAPES por fomentar esse trabalho Sem esse apoio dificilmente chegar amos aqui Agrade o aos meus amigos s minhas amigas aos meus colegas de trabalho aos meus alunos enfim a todos que de um modo ou de outro contribu ram com esse trabalho consideraremos como falsa toda a verdade que n o venha acompanhada de risos Friedrich W Nietzsche 2007 p 275 Numa sociedade na qual o riso tido como o novo pio do povo uma panaceia todos os males e na qual rir se faz quase obrigat rio refletir a respeito de um discurso capaz de engendrar as mais diferentes formas do riso do ris vel do l dico do c mico da s tira do humor torna se no nosso modo de ver imprescind vel Com efeito nesse percurso de an lise tomamos essa rela o entre discurso e riso como ponto de partida para a rejinser o do riso nos Estudos Discursivos Dividido em duas partes nosso percurso se debru a primeiramente sobre a linguage
494. zer rir o povo das inova es das classes dirigentes para manter o vigor delas e aumentar a prote o da ordem desencadear cinicamente um riso cujas verdadeiras v timas s o aqueles que riem Zombar das taras dos aristocratas para guardar intacta a for a da aristocracia MINOIS 2003 p 88 Denunciando os v cios os defeitos morais as inova es estrangeiras nefastas a insol ncia etc o sat rico paradoxalmente se torna mais conservador do que contestador proporcionando a manuten o do status quo da aristocracia e dos seus costumes por meio do seu discurso 1 2 4 O BOBO SUPERINTENDENTE DE BUFONARIA DE SUA MAJESTADE Hav amos anteriormente relatado que os termos e bobo est o estreitamente imbricados e que a nossa prefer ncia por buf o para designar um gelotopoios na Antiguidade se deve mais a motivos etimol gicos do que propriamente sem nticos outras designa es como histri o tru o escurra sANNIO etc por vezes faziam tamb m refer ncia tanto ao buf o quanto ao bobo Do mesmo modo acreditamos que para os objetivos desse trabalho o termo bobo se apresenta mais adequado para circunscrever o sujeito do riso que adentrou o imagin rio sociodiscursivo atrav s de fatos hist ricos e de cria es ficcionais devido sua fun o numa nova realidade social as Cortes Medievais Com isso em mente n o remontamos 29 Ep teto atribu do a Chicot bobo da Corte de Henrique IV na Fran

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