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aspectos formativos da literatura

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1. a a no o de que a leitura n o necessariamente em voz alta mas sempre do texto liter rio forma a base do ensino concentrada nas disciplinas relacionadas aprendizagem da l ngua materna b a no o de que os textos lidos t o importantes para a aprendizagem s o passagem para um outro est gio superior situado fora do livro escolhido pela escola ZILBERMAN 2002 p 80 No tocante aos principais textos do ensino da leitura e da Literatura em nossa tradi o escolar segundo a referida autora todos os esfor os dos diferentes manuais conduzem a um nico lugar a leitura proposta pela escola n o se justifica sem exibir um resultado que est al m dela Sem a exposi o de finalidade situada mais al m que d visibilidade e sentido ao trabalho com textos escritos o ensino de leitura ou a pr pria leitura n o se sustentam Eis a utopia da leitura utopia no entanto que a desfigura porque promete uma felicidade que est al m dela mas pela qual n o pode se responsabilizar ZILBERMAN 2002 p 81 A reflex o de Zilberman ao mesmo tempo em que aponta a exist ncia de perspectivas equivocadas da arte liter ria recupera outro modelo que abre uma possibilidade distinta de aproxima o ao texto liter rio modelo este ausente em nossa escolariza o conforme a autora A leitura implica aprendizagem se o texto foi aceito enquanto alteridade com a qual um sujeito dialoga e perante a qual se
2. No contexto atual em que as incertezas est o cada vez mais presentes no dia a dia h que estar presente esta abertura para olhares m ltiplos com vistas a romper com a hegemonia epist mica dos grandes saberes das grandes narrativas oficiais e do sujeito racional que com seu olhar iluminista pretende iluminar tudo PELLANDA 1996 p 13 Trata se de um esfor o de ir al m do conhecimento fragmentado e um tanto r gido e seguro de si na busca de certezas absolutas para se voltar para posi es te ricas e metodol gicas que permitam a possibilidade de lidar com a impureza a incompletude e a opacidade t o necess rias s ci ncias que estudam o homem sua natureza e sua condi o de humano BARBOSA 2008 p 242 243 S o esses os pressupostos te ricos da abordagem multirreferencial Os pesquisadores que utilizam esse procedimento sugerem ainda a imagem da bricolagem para explicitar a forma como se d a articula o ou conjuga o dos distintos saberes A respeito disso Barbosa comenta Ardoino apresenta considera es filol gicas e etimol gicas sobre a palavra bricolage nas quais lembra o seu valor quase pejorativo no franc s contempor neo conserto realizado de qualquer maneira e trabalho de amador pouco apurado Petit Robert Segundo ele no entanto houve outrora sentidos mais t cnicos para al m de trabalhos manuais pouco remunerados atribu dos ao termo Por exemplo era utili
3. a qual torna o texto liter rio uma obra de arte entendo que Vigotski n o est afirmando a necessidade de se arruinar ou reduzir a nada tais viv ncias isso n o faria sentido Ele se 69 refere a um rearranjo do conte do de maneira que possa ressaltar determinados aspectos capazes de provocar uma emo o particular no leitor e promover a catarse Na an lise da rea o est tica a partir do esquema dial tico o conflito entre tese conte do e ant tese forma conduzindo s ntese catarse Vigotski acentuou que a obra de arte produz em n s novos sentimentos afastando se do ponto de vista de serem estes simplesmente produtos da acumula o de sentimentos pr vios ou reflexos condicionados como Pavlov teria dito Dito de outro modo a obra de arte tem efeito transformador sobre o leitor um efeito que n o pode ser compreendido simplesmente pela an lise de suas partes constitutivas A nfase sobre o poder transformador da arte e sobre sua natureza social e educativa claramente de profundo interesse para este estudo Como ent o para Vigotski realiza se ao longo do processo da aprendizagem e do desenvolvimento humano essa interven o transformadora da arte liter ria Num dos cap tulos de Psicologia da Arte Vigotski escreve sobre o papel da arte na vida das pessoas Considera que a arte n o se limita apenas a despertar sentimentos est ticos Na verdade ela recolhe da vida o seu materia
4. e a favorita de West A thought may be compared to a cloud shedding a shower of words VIGOTSKI apud WEST 1999 p47 O ensaio de West tem a inten o de investigar a teoria psicol gica da est tica de Vigotski em particular a Literatura As preocupa es est ticas de Vigotski ao que tudo indica pertencem aos primeiros est gios de sua carreira investigativa antes de ele se mudar para o Instituto de Psicologia Experimental de Moscou onde desenvolveu a maior parte de seus estudos Apesar de serem parciais e provis rios seus estudos em est tica no entanto s o ricos e sugestivos Como todo grande intelectual Vigotski tinha seu interesse voltado para todas as esferas do conhecimento humano Durante seus anos universit rios em Moscou 1913 1917 ele estudou Medicina antes de passar para o Direito enquanto fazia especializa es em Hist ria e Filosofia noutra Universidade conforme mencionei Ele tamb m manteve seus anteriores interesses em Literatura e arte era um vido leitor de poesia desde a juventude escrevendo uma breve monografia ente agosto e setembro de 1915 intitulada A Trag dia de Hamlet Pr ncipe da Dinamarca de Shakespeare quando tinha 19 anos de idade Um ano mais tarde ele revisou esse estudo e submeteu o aprecia o como A condensa o da fala externa e sua redu o a predicados tradu o nossa 19 O significado de uma palavra do dicion rio n o mais do que uma pedra no e
5. monumento da Humanidade tombado pela Unesco e protegido contra depreda o etc Mas h tamb m patrim nios da Humanidade que n o precisam ser tombados pois existem n o de forma f sica mas apenas conceitualmente como as ideias as cren as os valores morais o patrim nio folcl rico e cultural que passa de gera o a gera o transmitido de pais para filhos como as can es de ninar os contos de fadas os mitos Tamb m temos como patrim nios as vis es de mundo dos artistas Se a linguagem pr pria tamb m chamado estilo a forma do artista se comunicar a vis o de mundo sua forma de ver o que temos como incompreens vel ou seja a exist ncia mist rio pautado entre os mist rios do Infinito e da Eternidade PELLEGRINI 2007 p 15 Para Umberto Eco essa composi o liter ria constitui se num verdadeiro poder imaterial que de alguma forma pesa e tem seu lugar na hist ria da humanidade ECO 2003 p 9 Quando iniciei minha jornada rumo ao mestrado o que tinha em mente era falar sobre o papel da Literatura na aprendizagem e no desenvolvimento humano Naquele momento guiava me a necessidade de compreender o processo de constru o do conhecimento capaz de promover o desenvolvimento do ser humano desenvolvimento esse que permite ao homem ler o mundo para melhor se posicionar nele Trata se de uma leitura ent o que representa ela mesma um conhecimento uma compreens o d
6. Essa pluralidade de constituintes heterog neos pode ser compreendida ainda para al m de uma pluralidade de saberes como presen a de m ltiplos sentidos constru dos Trata se do reconhecimento da subjetividade do pesquisador no contexto da pesquisa sua temporalidade e seus anseios particulares sempre presentes O olhar que apreende dada situa o inevitavelmente inscrito num determinado contexto hist rico intrinsecamente implicado na situa o por sua subjetividade e intersubjetividade suas cren as aspira es e prop sitos Sob esse olhar est o sujeito 3 Sobre essa tem tica veja se o estudo SANTOS 1995 32 pesquisado tamb m ele um ser situado cujo posicionamento peculiar orienta sua compreens o do mundo e lhe permite desenvolver estrat gias para fazer frente as estrat gias do outro Essa a no o de negatricidade desenvolvida por Ardoino 1998 p 68 que representa a capacidade de o sujeito reagir e estabelecer contraestrat gias destinadas a desfazer aquelas das quais se sente objeto Ademais a negatricidade constitui se da habilidade de estabelecer sentidos pr prios aos conceitos que mediam as rela es estabelecidas no campo da pesquisa Por conseguinte a no o de complexidade est na base da abordagem multirreferencial Complexidade n o significa a intangibilidade das coisas Complexo n o o intang vel incognosc vel mas no caso o que apresenta m ltiplas possibilidades de
7. contener o de ordenar el mundo Lo que se le ha arruinado es la imagen simplificadora de la costumbre la mirada del habito La antigua casa del lenguaje se le ha hecho inhabitable y a n no dispone de un lenguaje que le permita expresar lo vivido Por eso el lenguaje est en crisis porque se nos ha hecho falso y caduco el lenguaje de la racionalidad cl sica y a n no disponemos de una nueva racionalidad que est a la altura de la complejidad de nuestra poca LARROSA 2001 p 77 grifos do autor Larrosa analisa ainda v rios textos do escritor austr aco Peter Handke Para esse escritor El lenguaje convencional propio de la era de la comunicaci n ese lenguaje lleno de clich s y de frases hechas ese lenguaje o do a diario y que ya no dice nada ese lenguaje no nos deja ver ni hablar porque nos da todo visto y nombrado LARROSA 2001 p 77 Handke revela a mecanizag o da linguagem dos discursos de opini o os quais se mostram hoje meras convenc es sobre uma realidade j dita e interpretada de antem o Larrosa cita tamb m uma obra teatral de Handke em que este analisa a mecaniza o ou instrumentaliza o da linguagem O enredo conta a hist ria de um rapaz de dezesseis anos que numa pra a de Nuremberg recebe educa o por interm dio de um discurso que lhe apontado O rapaz acaba assimilando e reproduzindo o mesmo discurso Handke contr rio aos clich s e fossiliza o da linguagem considera que est
8. es que as diferentes disciplinas requisitadas tornadas essenciais se colocam mutuamente a respeito do objeto implicado tanto quanto para si mesmos por ocasi o dessa pesquisa particular ARDOINO 1998 p 41 Foi poss vel observarmos que a abordagem multirreferencial articula as linguagens e os distintos olhares sobre o fen meno analisado procurando aproxim los mas sem formular s nteses ou dirigir sua compreens o Antes deseja conduzir a novas quest es acerca da natureza e complei o do objeto de modo que a complexidade dos olhares seja real ada e a emerg ncia das distintas faces acerca do fen meno estabele a o conhecimento Como j mencionei n o o fen meno em si que carrega o estatuto de complexo mas o olhar humano sobre ele que se configura de distintos modos Dessa forma a abordagem multirreferencial nasce como uma resposta moderna consci ncia da complexidade dos fen menos humanos e sociais e funda um novo conhecimento diferenciado 31 do conhecimento cientifico tradicional sobretudo por evidenciar sua pluralidade e heterogeneidade A no o de complexidade adotada por Ardoino para situar os fundamentos da abordagem multirreferencial tomada dos estudos de Edgar Morin O termo complexo habitualmente apresentado como sin nimo de complicado e o contr rio do que simples evidente sempre foi desconsiderado no plano dos paradigmas tradicionais da ci ncia De fato o s
9. o criativa tem como ponto de partida a realidade sens vel o que confirma o la o entre a imagina o liter ria e a realidade concreta Esse la o serve para ilustrar em profundidade a fun o integradora e transformadora da cria o liter ria com rela o aos seus pontos de refer ncia na realidade CANDIDO 2002 p 82 E disso decorre a pergunta sobre a possibilidade de uma fun o formativa de tipo educacional na Literatura O autor entende existir sim tal fun o mas alerta que a fun o educativa muito mais complexa do que pressup e um ponto de vista estritamente pedag gico A pr pria a o que exerce nas camadas profundas afasta a no o convencional de uma atividade delimitada e dirigida segundo os requisitos das normas vigentes A Literatura pode formar mas n o segundo a pedagogia oficial que costuma v la ideologicamente como um ve culo da tr ade famosa o Verdadeiro o Bom o Belo definidos conforme os interesses dos grupos dominantes para refor o da sua concep o de vida Longe de ser um ap ndice da instru o moral e c vica esta apoteose matreira do bvio novamente em grande voga ela age com o impacto indiscriminado da pr pria vida e educa como ela com altos e baixos luzes e sombras Da as atitudes ambivalentes que suscita nos moralistas e nos educadores ao mesmo tempo fascinados pela sua for a humanizadora e temerosos de sua indiscriminada riqueza CANDIDO 2002 p 83 grifo d
10. Comunica o e Artes Programa de P s Gradua o em Educa o III T tulo CDU 37 01 JOSE PAULO GATTI ASPECTOS FORMATIVOS DA LITERATURA A ARTE LITERARIA NA EMANCIPACAO HUMANA DESDE UMA PERSPECTIVA MULTIRREFERENCIAL Disserta o apresentada ao Programa de Mestrado em Educa o da Universidade Estadual de Londrina como requisito parcial obten o do t tulo de Mestre COMISS O EXAMINADORA Prof Dr Jo o Batista Martins Universidade Estadual de Londrina Prof Dra Mirian Hisae Yaegashi Zappone Universidade Estadual de Maring Prof Elza Maria Mendes Pessoa Pullin Universidade Estadual de Londrina Londrina de de A minhas irm s que me mostraram o mundo da Literatura Aos meus pais que me incentivaram a sempre seguir em frente AGRADECIMENTOS Meu muito obrigado ao professor Joao Batista Martins meu orientador pela paci ncia e pelo permanente incentivo mesmo nos momentos de crise Aos professores que me ajudaram com textos e sugest es sobretudo a professora Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin Ao professor Joaquim Gon alves Barbosa que na banca para qualifica o apontou outro horizonte para essa investiga o professora Mirian Hisae Yaegashi Zappone que participou da banca de defesa e com suas reflex es ajudou a aperfei oar importantes aspectos da pesquisa Aos padres meus irm os de comunidade Irio Ozanilton Jo o Carlos que me apoiaram nesse projeto c
11. Literatura na vida O que estaria faltando As observa es de colegas ao longo do trabalho mostravam me a falta de objetividade e de rigor na esquematiza o da problem tica e dos meios poss veis de se realizar tal investiga o Por que tratar esses autores se o tema Literatura e forma o humana Qual a relev ncia deles Outros expoentes da educa o e da Literatura n o foram citados Continuava faltando uma linha de racioc nio que orientasse a pesquisa Qual seria o prop sito do trabalho Onde estaria a rela o com a escola uma vez que se trata de um mestrado em educa o escolar Toda a cr tica esfriou minha disposi o para o trabalho e fiquei sem disposi o para as leituras A impress o era de que n o adiantava ler se n o sabia para qu estava lendo se n o sabia para onde essas leituras iriam me conduzir Era preciso clara consci ncia do que eu desejava encontrar nas leituras e isso naquele momento n o me ocorria mais As perguntas iniciais n o pareciam convincentes Pode a Literatura colaborar no desenvolvimento do ser humano emancipado A resposta sim estava dada de antem o A leitura de Vigotski afirmava essa possibilidade Por m restavam in meras d vidas como eu relacionaria Antonio Candido e Borges E Freire Os autores pareciam desconectados uns dos outros Em que usaria a multirreferencialidade Definitivamente n o um trabalho multirreferencial se todos os nomes se inscrevem na mes
12. a Medusa pelo reflexo de seu escudo conseguindo derrot la assim deve ser a rela o do poeta com o mundo Essa uma li o do processo de continuar escrevendo CALVINO 2007 p 16 O escritor n o pode prescindir da realidade por mais dura pesada e cruel que ela seja n o pode tampouco olhar diretamente para essa realidade sob o risco de ficar endurecido por ela Deve traz la consigo como um fardo pessoal mas deve aprender a contempl la indiretamente A Literatura para Calvino esse reflexo que possibilita olhar a realidade Quando ela alcan a reproduzir a leveza que se perdeu na vida ela representa um universo que n o mais aquele do viver Enfatiza o autor Cada vez que o reino humano me parece condenado ao peso digo para mim mesmo que imagem de Perseu eu devia voar para outro espa o N o se trata absolutamente de fuga para o sonho ou o irracional Quero dizer que preciso mudar de ponto de observa o que preciso considerar o mundo sob uma outra tica outra l gica outros meios de conhecimento e controle CALVINO 2007 p 19 12 a universo infinito da Literatura sempre se abrem outros caminhos a explorar nov ssimos ou bem antigos estilos e formas que podem mudar nossa imagem do mundo CALVINO 2007 p 19 20 A Literatura pois a express o de outro olhar sobre a realidade o qual se configura numa l gica diversa da que retrata a concretude do viver Essa possibilidade o in cio de ou
13. a linguagem insere o ser humano no mundo Em princ pio recorro perspectiva de Vigotski sobre o processo da aprendizagem e do desenvolvimento humano e o lugar da linguagem nesse processo 3 1 A compreens o da aprendizagem e do desenvolvimento em Vigotski Liev Semionovitch Vigotski nasceu em 1896 na cidade de Orsha na Bielo R ssia Em 1917 graduou se em Direito na Universidade de Moscou na Universidade de Shanyavskii frequentou disciplinas de Hist ria e de Filosofia Em seguida come ou a lecionar Literatura e Psicologia Entre 1925 e 1934 reunido com outros jovens cientistas em Moscou atuava na rea da Psicologia e no estudo das anormalidades f sicas e mentais Seu interesse pela Medicina levou o a fazer o curso de Medicina em Moscou e Kharkov onde tamb m ministrou um curso de Psicologia Morreu de tuberculose aos 37 anos de idade no dia 11 de Junho de 1934 Vigotski n o foi propriamente um educador mas um investigador voltado para o estudo dos processos ps quicos relacionados ao desenvolvimento humano Estudando a forma o dos conceitos na crian a desenvolveu uma importante teoria acerca das rela es existentes entre aprendizagem e desenvolvimento pensamento e linguagem Tais investiga es e di logos com os pesquisadores de seu tempo refletem a constante preocupa o de apresentar uma teoria suscet vel de ser aplicada ao contexto social O grande m rito de seu trabalho uma nova compreens o do ser humano l
14. atitude e o exerc cio da bricolagem portanto se apresentam como condi o para a possibilidade da aventura a ser empreendida pelo sujeito a percorrer um caminho sem o controle pr vio de todos os passos a serem dados portanto abrindo uma porta para a cria o para a dimens o instituinte sem o que todo nosso trabalho de pesquisa n o consegue ir al m de uma reprodu o muitas vezes bastante prec ria de caminhos percorridos por outrem Nesta dire o que nossas escolas n o v o al m da produ o do mesmo da homogeneidade sem abrir espa o para presen a do outro o que significa pensar e atuar na perspectiva da heterogeneidade BARBOSA VENTURA 2004 p 73 No mesmo texto Barbosa e Ventura analisam tamb m a condi o do aluno envolvido em uma pesquisa com a qual me identifiquei enquanto pesquisador estudante em processo de forma o Para o aluno principalmente a oportunidade da viv ncia da ang stia resultante da a o nova em n o cumprir aquele papel esperado na escola qual seja o de ouvir o professor e reproduzir o que ouviu Trata se de trilhar caminhos novos como o de descobrir atalhos e articular ideias e significados o de olhar para a realidade que o cerca n o de forma mec nica separando e especificando as partes como se a compreens o do todo viesse como resultado autom tico ou pior em busca de um sentido como se o mesmo j viesse impresso no objeto bastaria resgat lo desconhecendo de vez a a
15. capacidade de dizer uma palavra significativa sobre minha pr pria experi ncia e a partir da de maneira bastante limitada sobre a experi ncia humana como um todo Compreendendo melhor a a o da experi ncia est tica em minha trajet ria pessoal e de modo particular os aspectos formativos da Literatura posso afirmar que tal a o promoveu a emerg ncia de um sujeito falante em cont nuo processo de autoriza o A Literatura esteve presente e propiciou a experi ncia da linguagem estilizada modelo adequado para o discurso humano Eminentemente todavia esteve presente como voz experi ncia humana concreta express o de subjetividades que me tornam menos convencido de muitas certezas e mais aberto presen a do outro 4 CONSIDERACOES E INSTIGACOES No meio da sala estava uma mesa Como uma pedra no meio do caminho E aquilo que poderia significar um impedimento era na realidade um desafio O desafio de desvendar a Literatura ao mesmo tempo maravilhosa e assombrosa Ela mesma proferia o or culo como a Esfinge Decifra me ou devoro te Em raz o de eu n o conseguia decifrar aqueles textos em italiano ela me consumia angustiava me e me desafiava a tentar novamente A palavra de fato instiga enquanto desvenda revela tira o v u do que ainda permanece colado a natureza nomeia torna humano E a palavra liter ria como pedra do caminho exige um esfor o de interpreta o de respeito ao autor J foi bem lemb
16. consiste em estar aberto ao mundo capt lo e compreend lo atuar de acordo com suas finalidades a fim de transform lo N o simplesmente responder a est mulos por m algo mais responder a desafios As respostas do homem aos desafios do mundo atrav s das quais vai modificando este mundo impregnando o com o seu esp rito mais do que um puro fazer s o quefazeres que cont m inseparavelmente a o e reflex o FREIRE 1974 p 8 9 grifos do autor Freire considera que o homem tem uma voca o ontol gica a ser realizada em sua exist ncia a de pronunciar sua pr pria palavra a de ser sujeito de uma a o transformadora do mundo Inscrito no tempo e no espa o ele est sujeito a condicionamentos mas n o a determinismos Submetido a condi es concretas que o transformem em objeto o homem estar sacrificado em sua voca o fundamental Mas como tudo tem seu contr rio a situa o concreta na qual nascem os homens objeto tamb m gera os homens sujeito FREIRE 1974 p 9 A educa o emancipadora aquela que permite ao homem dizer sua pr pria palavra apesar dos condicionamentos a que est submetido tomando consci ncia deles tornando se coautor de si mesmo homem sujeito de seu vir a ser Entretanto essa possibilidade n o pode ser assegurada obviamente por uma educa o preocupada com a modelagem de pessoas a partir de seu exterior ou pela transmiss o de um conjunto de saberes fragmentados A ed
17. de perspectivas pr vias imposs vel de ser precisado definitivamente Ardoino relembra os termos agente ator postulados pela escola francesa de sociologia das organiza es para exemplificar o processo de autoriza o Na verdade trata se de um tr ptico diz ele incluindo o termo autor para uma an lise mais apropriada da quest o Assim agente aquele que simplesmente desempenha a es mais ou menos conscientes em seu meio O ator por sua vez o sujeito capaz de interpretar de maneira mais consciente seu papel social O ator executa mas n o se torna por isso a origem o autor ou uma das origens poss veis daquilo que faz ARDOINO 1998 p 28 O autor de outro lado o respons vel O autor realmente o fundador o criador at mesmo o genitor seja como for aquele que se situa e que explicitamente reconhecido pelos outros como estando na origem de ARDOINO 1998 p 28 49 O processo de autoriza o desenvolvido na atividade educativa comporta desse modo um envolvimento de autorizados na pessoa dos educadores e de educandos em processo de autoriza o segundo o qual os primeiros v o possibilitando mediante uma a o desencadeada que os educandos possam tornar se tamb m coautores assumindo se autorizando se Enfatizo a pr tica educativa consiste sobretudo em se autorizar Ou seja uma pr tica pela qual o sujeito adquire a inten o e a capacidade de
18. do mestrado entrei em contato com muitos textos autores e perspectivas as mais diversas que foram descortinando um horizonte sobre a problem tica da leitura liter ria e de suas implica es na vida das pessoas Pude entrar em contato com o pensamento de Lev Vigotski e de algum modo as ideias desse autor chamaram me a aten o Seu enfoque do movimento hist rico na din mica do desenvolvimento humano sua compreens o da aprendizagem e especialmente seu interesse pela Literatura me atra ram Um texto de Ana Luiza B Smolka 2000 analisando o pensamento de Vigotski apresentou me esse estudioso cuja teoria propunha as rela es sociais como respons veis pela constru o dos modos de agir de pensar e de se relacionar humanos De acordo com ele tais rela es sociais constroem signos e sentidos e simultaneamente constituem os sujeitos da intera o Smolka afirmava que para Vigotski a g nese do conhecimento humano est assentada por um lado no plano intrassubjetivo plano dos recursos individuais das fun es psicol gicas que emergem e se consolidam na a o entre O depoimento de Schopenhauer a que Zilberman se refere sua cr tica literatura de massa como se segue Nove d cimos de toda a nossa Literatura atual n o tem nenhum outro objetivo a n o ser tirar alguns trocados do bolso do p blico para isso o autor o editor e o cr tico liter rio compactuam Por isso t o importante em rela o a
19. exatid o conforme vimos s o caracter sticas que conferem Literatura a capacidade de comunicar somente aquilo que significativo alcan ando a palavra certa na hora certa do jeito certo Eo cora o da Literatura sua dimens o talvez mais importante Pertence a ela esse car ter de dizer aquilo que somente intu mos Alguma vez ja me ocorreu ler e descobrir no texto uma experi ncia particular ali anunciada claramente quando em mim mesmo n o passava de sombra informe usando a imagem do poeta amigo de Vigotski Osip Mandelstam A obra liter ria com efeito tem a forga de transformar as sensac es em linguagem mas n o s isso transforma linguagem em palavra significativa carregada de emo o como disse Pound 1990 p 32 Essa for a confere Literatura um papel muito importante na formag o humana de aproximar o leitor com sua pr pria hist ria e experi ncia no mundo de um universo humano mais amplo de emo es e sentimentos permitindo lhe formular outros sentidos para sua pr pria trajet ria As outras duas propostas apresentadas por Calvino para a Literatura tratam da VISIBILIDADE e da MULTIPLICIDADE Falando sobre a visibilidade Calvino mostra nos a import ncia da imagina o a qual nos arrebata do mundo exterior e nos extasia num mundo interior Sobre essa tem tica antes proposta por Vigotski em relag o aos c nones da psicologia Calvino aborda a considerando o Purgat rio da obra de Dante Calvino
20. explica que tanto a palavra pode provocar a imagem quanto a imagem pode chegar a express o verbal O primeiro processo ocorre normalmente na leitura a qual concorre para a formag o das imagens no mundo interior do leitor Al m disso as imagens tamb m podem ser colhidas e verbalizadas E de onde elas v m Calvino parte de Dante que creditava a imagina o ao influxo divino e chega aos postulados mais recentes que relacionam a imagina o a um conhecimento de tipo teos fico ou a um fen meno da interioridade individual como na explicag o da psican lise e nos conceitos de arqu tipos e inconsciente coletivo de Jung Analisando a pr pria experi ncia Calvino v a imagina o primeiramente como um evento mental carregado de significa o Tais imagens v o se multiplicando e desenrolando numa hist ria Em virtude de o campo do vis vel ser conceitual a ordena o a a o do autor escolhendo o que compat vel com o des gnio geral da hist ria A escrita corresponde busca de uma palavra que traduza a imagem at que pouco a pouco a escrita se torna a dona do campo Ela que ir guiar a narrativa na dire o em que a express o verbal 75 flui com mais facilidade n o restando imagina o visual sen o seguir atr s CALVINO 2007 p 105 O autor une gera o espont nea de imagens intencionalidade do pensamento discursivo entendendo que a l gica imposta pelo racioc nio e a express o verbal t m f
21. explora todas as potencialidades da linguagem estando particularmente atenta ao valor dos signos ling sticos Literatura uma arte da linguagem explorando todas as suas potencialidades todas as possibilidades do signo lingu stico dando lhe um valor singular e combinando os criativamente MAIA 2004 p 41 Segundo Ezra Pound Literatura linguagem carregada de significado Grande Literatura simplesmente linguagem carregada de significado at o m ximo grau poss vel 1990 p 32 grifos do autor A linguagem foi obviamente criada e obviamente UTILIZADA para a comunica o Literatura novidade que PERMANECE novidade 1990 p 33 grifos do autor Pound com sua express o os artistas s o as antenas da ra a 1990 p 77 manifesta a grande consci ncia de que o artista capta a palavra a qual n o somente a dele mas de toda uma coletividade e consegue exprimi la em seu texto A Literatura pode ser reconhecida nessa esteira como s ntese comunicativa e antecipat ria dos desenvolvimentos sociais e t cnicos at mesmo das gera es futuras Pound assinala uma na o que negligencia as percep es de seus artistas entra em decl nio 1990 p 78 A obra liter ria mais a sagra o de um texto que uma vez dito n o pertence mais a seu autor tornando se express o de um tempo de uma mentalidade de uma consci ncia social Jorge Luis Borges escritor argentino que viveu de 1
22. humana constituindo se social e historicamente n o como um a priori da Hist ria A natureza que a ontologia cuida se gesta socialmente na Hist ria mais do que um ser no mundo o ser humano se tornou uma Presen a no mundo com o mundo e com os outros Presen a que reconhecendo a outra presen a como um n o eu se reconhece como si pr pria Presen a que se pensa a si mesma que se sabe presen a que interv m que transforma que fala do que faz mas tamb m do que sonha que constata compara avalia valora que decide que rompe FREIRE 2006 p 18 grifos do autor Em outro texto Paulo Freire j havia anunciado que o discurso sobre a educa o sustenta se em uma determinada antropologia e entendida como um quefazer humano Quefazer portanto que ocorre no tempo e no espa o entre os homens uns com os outros FREIRE 1974 p 7 Da reflex o do que o ser humano e qual sua posi o no 51 mundo surgir um discurso sobre a educa o sua import ncia sua finalidade Isso poss vel conforme a antropologia freireana quando se concebe o homem como um ser no mundo com o mundo FREIRE 1974 p 8 Est no mundo mas sua condi o nica Diferentemente dos animais est no mundo mas n o est ligado ao mundo O homem pode abstrair o mundo em sua consci ncia Ele existe no mundo e com o mundo A possibilidade de admirar o mundo implica em estar n o apenas nele mas com ele
23. humana e ajudaram me a compreender a amplitude dessa crise que se caracteriza por ser uma quest o da linguagem Nessa perspectiva vejo a necessidade de trilhar um novo caminho descobrir outra forma de aproxima o dos fen menos de falar a respeito deles Procuro um itiner rio que esteja altura da complexidade de nossa poca como disse Larrosa 2001 preciso encontrar justificativas para continuar pronunciando palavras Afinal essa a principal das vias de express o humana Se o significado da palavra est de alguma forma definido anteriormente pela cultura seu sentido por m nasce no di logo entre os falantes E o sentido da palavra plural devido aos in meros olhares e possibilidades que o constituem durante a intera o verbal Algo mais pode ser dito acerca dos fen menos al m daquilo que foi nomeado fragmentado e definido pela an lise das partes Tais reflex es juntamente com o esfor o dos autores que trago em seguida cujos distintos olhares procurei articular ajudaram me a compor a multirreferencialidade do 29 texto Dessa maneira poss vel assegurar a heterogeneidade dos discursos irredut veis a um sistema universal integrador de toda experi ncia humana 2 1 A perspectiva multirreferencial A perspectiva da multirreferencialidade orienta quem a utiliza a desenvolver uma abordagem sobre os fen menos sociais diferente daquela realizada sob uma perspectiva tradicional O m todo cartesiano busc
24. impulsos sexuais b sicos a psican lise pode apenas conceber os artefatos art sticos enquanto fachada atr s da qual se esconde o prazer real Uma esp cie de 68 ap ndice secund rio e sem grande import ncia descart vel no fundo VIGOTSKI 2001 p 90 Em outras palavras a forma desses artefatos n o teria outra func o sen o dissimular a operac o do inconsciente do conte do sexual da obra de arte Em contraste direto com o formalismo a psican lise torna o conte do da obra de arte seu princ pio fundamental relegando a forma um papel de simples ap ndice Na perspectiva de Vigotski a psican lise tal qual o formalismo profundamente a social e a hist rica uma vez que reduz toda atividade humana incluindo a atividade art stica a um instinto biol gico imut vel As duas teorias formalismo e psican lise s o consoante Vigotski monistas em sua concep o da rela o forma conte do O autor argumenta que necess rio um m todo capaz de contemplar essa rela o em sua complexidade dualista O m todo apresentado por ele como anal tico objetivo Achamos que a ideia central da psicologia da arte o reconhecimento da supera o do material da forma art stica ou o que d no mesmo o reconhecimento da arte como t cnica social do sentimento Achamos que o m todo de estudo desse problema o m todo anal tico objetivo que parte da an lise da arte para chegar s ntese psicol gic
25. j conhece pelo que j est amadurecido Em conformidade com as ideias vigotskianas o fen meno humano deve ser analisado na sua complexidade o que inclui o movimento hist rico e n o expresso do que capaz Assim o autor prop e incluir na an lise do desenvolvimento da crian a o que est em matura o aquilo que a crian a s pode realizar com a ajuda de outra pessoa o contido em sua Zona de Desenvolvimento Pr ximo El estado del desarrollo no se determina nunca a trav s de la parte ya madura del mismo nicamente El psic logo al valorar el estado del desarrollo debe tener obligatoriamente en cuenta no solo las funciones maduras sino tambi n las que est n en trance de maduraci n No solo el nivel actual sino tambi n la zona de desarrollo pr ximo VIGOTSKY 1990 1997 v 2 p 238 grifo do autor O processo escolar de instru o da crian a se realiza pelo ensino de alguns conhecimentos cient ficos Ao entrar na escola a crian a tem j uma s rie de conhecimentos cotidianos ou espont neos desenvolvidos no processo de internaliza o e a partir dos quais atua a escola Todavia os conceitos que at ent o possui est o profundamente marcados por sua percep o da realidade por sua experi ncia emp rica e n o alcan am ainda explicitar detalhes conceituais nem sua aplica o mais generalizada Isso corresponde a uma nova perspectiva que se desenvolve na escola medida que a crian a incorpora no
26. leituras que realizei sobre a abordagem multirreferencial verifiquei que o conhecimento n o est na s ntese que se processa da an lise das partes em que o objeto de estudo possa ser separado Essa era a t nica da abordagem cientificista tradicional criadora de um conhecimento esfacelado incapaz de responder s novas perguntas que v o surgindo diariamente e a meu ver grande respons vel pela crise da racionalidade dos ltimos tempos Minha perspectiva passou a ser outra Neste texto resultado da pesquisa apresento as leituras que fiz de alguns dos autores os quais abordam o papel da Literatura na aprendizagem e na constitui o do ser humano emancipado Procuro discutir de que forma isso acontece e ao mesmo tempo inquirir se esta rela o pode representar uma nova possibilidade de Raz o N o uma nova l gica nova possibilidade de racioc nio humano busco considerar os aspectos negligenciados pela racionalidade tradicional iluminista cartesiana Objetivo neste trabalho logo compreender quais os aspectos formativos da intrincada presen a da Literatura na vida do homem e em que medida ela contribui para sua emancipa o N o pretendo descrever os diferentes modos como a Literatura tratada em sala de aula ou como pode definitivamente influenciar na forma o do estudante Busco entender algumas das motiva es que legitimam sua presen a na educa o refletindo sobre quais outras poderiam tamb m ser levadas em conta no sen
27. mais considerada como vertente privilegiada legitimada pela autoridade de quem a pronuncia mas tendo percebida a multiplicidade das vozes que a configuram A multirreferencialidade oferece a possibilidade de integrar os distintos olhares as distintas linguagens sobre a realidade subjetiva dos eventos humanos em outra perspectiva Quero a partir deste ponto desdobrar a reflex o sobre a influ ncia da Literatura na constituig o do ser humano emancipado mediante a um processo formativo para finalmente abordar os aspectos formativos da Literatura Zilberman mostrou como no passado a Literatura se prestava somente a ser instrumento para aquisi o e reprodu o de uma linguagem autorizada legitimada pelo poder hegem nico e divulgada nos manuais pedag gicos de ensino da L ngua P tria Na atualidade por m essa arte compreendida como express o das vozes das minorias como um esfor o cont nuo de manter vivas as impress es e vis es de mundo diferentes muitas delas desvalorizadas Trata se de uma nova concep o da Literatura cuja origem n o vou precisar neste trabalho mas a meu ver constru da na esteira dos questionamentos sobre a linguagem esbo ados anteriormente Pretendo analisar como se estabelece o papel desempenhado pela Literatura na vida do homem Vamos experimentar essa ideia Ser mesmo relevante essa quest o Haver alguma import ncia especial da Literatura al m daquela j exaustivamente apresentada pelos in
28. na esperan a de que a autora me dissesse por que devia incluir Borges na pesquisa E ela respondeu me a pergunta Borges o escritor que antes de conhecer a realidade mesma conheceu o texto escrito Sua vis o de mundo est mais alicer ada em suas leituras de que em sua experi ncia concreta da vida Ele o leg timo ser humano educado fundamentalmente atrav s da leitura de textos liter rios OLMOS 2008 p 8 A descoberta de Borges levou me a outra descoberta todo autor pode entrar em minha pesquisa Todos t m uma experi ncia nica e irrepet vel de forma o de contato com textos liter rios Teria dessa maneira centenas de cita es de cada um deles para 19 comentar situando os no contexto da Literatura e da forma o humana E se n o encontrasse ainda assim poderia cit los como exemplos de excec o Todos t m algo a dizer e at seus sil ncios s o reveladores Cada um inscreve sua Obra no horizonte humano num ponto de partida mas cujo limite n o se pode precisar De fato quem pode determinar as implica es da leitura de um texto na vida de algu m Ent o a Literatura tem um potencial formativo Em que consiste isso Minha pesquisa levava me a ler os autores sugeridos procurando determinar o que cada um deles havia falado sobre Literatura e sua import ncia para a forma o do ser humano Entretanto minhas descobertas n o pareciam suficientes para responder a quest o de fundo sobre o papel formativo da
29. ncia humana Essa talvez tenha sido a pretens o da filosofia e da ci ncia com seus modelos totalizadores mas a produ o liter ria n o representa nenhuma tentativa nesse sentido Ela n o formula modelos n o prop e sistemas apenas trata do humano explora possibilidades Por isso entendo que as obras liter rias caracterizam se por n o ser s palavra mas palavra com inten o palavra com sentimento vale at ser meia palavra para que o meio sil ncio revele o que n o pode ser dito Tenho consci ncia ainda de que a Literatura n o produz um discurso homog neo da experi ncia humana e na pluralidade de suas vozes nas idas e vindas do discurso nos ditos e interditos nos sil ncios na t cnica e na imagina o criativa para tec la expressa o que talvez de nenhuma outra forma a humanidade poderia faz lo Nesse sentido penso eu h coisas as quais somente ela nos pode dar A Literatura fruto da capacidade criativa humana nascida do devaneio como afirma Candido 2002 p 81 o elemento que est mais al m de um simples impulso repetidor de impress es assimiladas no passado Afinal o que Literatura Embora n o seja o objetivo maior deste trabalho fazer uma discuss o acerca do conceito de Literatura necess rio considerar os que foram tomados como ponto de partida para a an lise dos aspectos formativos dessa arte N o poss vel estabelecer uma defini o cabal de Literatura dada a multiplicidade de
30. ncias e na educa o S o Carlos Editora da UFSCar 1998 p 50 72 BAKHTIN Mikhail Marxismo e filosofia da linguagem 11 ed S o Paulo Hucitec 2004 BARBIER Ren A pesquisa a o na institui o educativa Rio de Janeiro Jorge Zahar 1985 BARBOSA Joaquim Gon alves Posf cio In Coord Multirreferencialidade nas ci ncias e na educac o S o Carlos SP UFSCar 1998 p 200 204 BARBOSA Silvia Maria C Etnometodologia multirreferencial contribui es te rico epistemol gicas para a formac o do professor pesquisador In Educac o amp Linguagem S o Bernardo do Campo SP v 11 n 18 p 238 256 jul dez 2008 Dispon vel em lt https www metodista br revistas revistas ims index php EL article viewFile 117 127 gt Acesso em 21 out 2009 VENTURA Cristina de Fatima Aprendizagem existencial plural Educac o amp Linguagem S o Bernardo do Campo SP ano 7 v 1 n 9 p 73 89 jan jul 2004 Dispon vel em lt http www grupos com br group historiaftcead Messages html action download amp year 08 amp month 8 amp id 1218887719803441 amp attach Aprendizagem 20existencial 20plural 5B 1 5D doc gt Acesso em 19 out 2009 BERGER Peter LUCKMANN Thomas A construc o social da realidade tratado de sociologia do conhecimento 26 ed Petr polis Vozes 2006 BERMAN Marshall Tudo que s lido desmancha no ar a aventura da modernidade 2 ed Sao Paulo Companhia das Letras 2006 BL
31. o do sujeito que significa as coisas e a realidade Finalmente a ousadia de articular o que antes era separado at poss veis extremos para atrav s de um olhar agora paradoxal n o perder de vista a complexidade emprestada a realidade como nos ensina Jacques Ardoino quando diz que n o a realidade que complexa mas sim o olhar do pesquisador que a v de modo complexo articulando sujeito observador e coisa observada e seu entorno BARBOSA VENTURA 2004 p 89 essa perspectiva que estou abra ando para analisar a emancipa o do ser humano desenvolvida pela presen a da Literatura em sua forma o Trata se de um itiner rio em que apresento distintos olhares Neste caso o olhar da Filosofia da Psicologia da Pedagogia e da Cr tica Liter ria a partir das resson ncias das vozes de pesquisadores dessas reas em minha pr pria trajet ria formativa Ao analisar os aspectos formativos da Literatura e considerar as pr prias implica es existentes pretendo t o somente articular tais saberes aproxim los e confront los no intuito de evidenciar a complexidade da tem tica ao mesmo tempo em que busco compor uma melhor compreens o do fen meno 3 LITERATURA E FORMACAO HUMANA Conforme pude demonstrar at aqui iniciei este estudo introduzindo a proposta da necessidade de outra racionalidade mais adequada a complexidade de nosso olhar sobre a realidade Tal proposta no entanto exige um novo estatuto de linguagem n o
32. obra art stica parece n o educar dessa maneira A Literatura por exemplo quando se constitui em voz que rompe as fronteiras do que j est legitimado pode transgredir e emprestar voz para aqueles que antes n o podiam se expressar al m de conformar outro olhar sobre a realidade Assim ela pode provocar novas rela es do aprendiz consigo e com o mundo com essas outras vozes e firma se como conhecimento diverso realidade outra o que pode auxiliar a emancipa o do homem Ao tornar corp rea uma vis o de mundo antes desconhecida e traz la ao conjunto das demais vis es j legitimadas e autorizadas a Literatura parece contribuir para que haja outra compreens o da experi ncia humana Essa arte ent o amplia o conhecimento do sujeito que dialoga com tais experi ncias o que lhe d maior autonomia no sentido de possibilitar a intera o com o diverso A for a educativa da arte portanto compreende essas propriedades dentro das quais a obra foi criada Todavia Zilberman 2002 j apontou a exist ncia de uma incompatibilidade entre o que ela pode desencadear e o processo formativo sistem tico da institui o escolar Vanguarda e escola s o termos inconcili veis pois como escreve Mario de Andrade escola imbecilidade de muitos para vaidade de um s Logo a proposta de uma teoria da leitura dentro desses quadros s poderia se dar fora do mbito da escola e revelia dela ZILBERMAN 2002 p 82 8 Zilb
33. olhares e perspectivas implicadas nessa quest o Terry Eagleton 1994 discute essa tem tica Ele mostra como o conceito de Literatura profundamente pol tico marcado pelos interesses das classes hegem nicas que estabelecem a linguagem oficial e mais do que isso ditam quais os costumes e valores aceit veis numa comunidade Segundo o autor h muitas tentativas de se definir a Literatura H quem procura entend la como escrita imaginativa no sentido de fic o aquilo que n o propriamente ver dico 1994 p 1 ou ent o como uma escrita que transforma e intensifica a linguagem comum afastando se sistematicamente da fala cotidiana 1994 p 2 54 Eagleton salienta a definig o da literatura como discurso n o pragm tico cuja preocupa o n o est em nenhuma finalidade imediata referindo se apenas a um estado geral das coisas 1994 p 8 Todas as tentativas em realidade s o incompletas haja vista que a Literatura n o pode ser de fato definida objetivamente 1994 p 9 Para Eagleton a defini o de Literatura fica dependendo da maneira pela qual algu m resolve ler e n o da natureza daquilo que lido 1994 p 9 Se certo que muitas das obras estudadas como Literatura nas institui es acad micas foram constru das para serem lidas como Literatura tamb m certo que muitas n o o foram o que importa pode n o ser a origem do texto mas o modo
34. posiciona A leitura implica aprendizagem 14 quando a subjetividade do leitor acatada e quando o leitor ele mesmo aceita se como o eu que perde e ganha sua identidade no confronto com o texto Que nem todos os leitores admitem as regras desse processo sugere o o depoimento de Schopenhauer que as institui es como a escola ainda n o descobriram como trabalhar com esse jogo entre identidade alteridade mostra o a trajet ria da leitura no ensino da lingua portuguesa Que a ficg o sempre soube jogar esse jogo indica o a hist ria da Literatura que registra a presen a de obras sobre os efeitos da leitura t o antigas como o D Quixote de Miguel de Cervantes ou t o recentes como a de Italo Calvino Se um viajante numa noite de inverno Por que a escola n o pode aprender como a Literatura em vez de ensin la ZILBERMAN 2002 p 85 grifo da autora a O que a Literatura pode ensinar escola sobre a forma o do ser humano Instigado por essa quest o de Zilberman pretendia investigar as pr ticas de leitura liter ria de estudantes do Ensino Fundamental de v rias escolas de Londrina p blicas e particulares Procuraria identificar os crit rios de escolha dos textos pela instituig o de ensino e como os textos eram interpretados pelos estudantes Ademais tinha a esperan a de poder vislumbrar de que modo tais escolhas e interpreta es colaboram para a forma o humana e para a emancipa o dos estudantes No in cio das aulas
35. presente e do porvir s o epis dios ou fragmentos de um nico poema infinito erigido por todos os poetas do orbe Borges considera a Literatura como a hist ria do esp rito humano da imaginac o humana Para ele uma arte que capta a vida por meio da escritura e surpreende os que se debru am sobre ela imagina o que reflete a complexidade do olhar humano Em Quevedo Borges afirma que os grandes escritores aqueles cujos nomes est o gravados nos anais do grande c none liter rio universal chegaram a esse lugar entre outras qualidades por terem alcan ado em suas obras um s mbolo capaz de apoderar se da imagina o popular Ele exemplifica Homero tem Pr amo que beija as m os homicidas de Aquiles S focles tem dipo que decifra enigmas e a quem dado decifrar o horror de seu pr prio destino Melville tem a abominag o e o amor da baleia branca Cervantes tem o afortunado vaiv m de Sancho e Quixote Shakespeare tem seus orbes de viol ncia e m sica entre outros tantos BORGES 1974 p 660 Pound j acredita que um cl ssico cl ssico n o porque esteja conforme a certas regras estruturais ou se ajuste a certas defini es das quais o autor cl ssico provavelmente jamais teve conhecimento Ele cl ssico devido a uma certa juventude eterna e irreprimivel POUND 1990 p 22 Vemos que a Literatura remete a um devir humano Ao de compor e re compor a vida humana pela palavra escrita a Literatura cria
36. que o rodeiam Tal postura integra a natureza humana em sua constante tentativa de harmonizar dar sentido adequar se a realidade De fato at mesmo a no o de realidade uma constru o coletiva A cada dia no entanto a tarefa de harmonizar construir nexos e dar sentido torna se mais dif cil Os modelos que criamos n o d o conta da complexidade do real dado que o real fruto da multiplicidade dos olhares que o constituem Por conta disso as solu es esbo adas n o respondem a todas as perguntas acabam sendo simplifica es respostas parciais e incompletas Apesar dessas circunst ncias limitadoras a humanidade construiu o conhecimento como um sistema perfeito e completo Ele foi elaborado de acordo com o m todo cartesiano em que se considera apenas o que pode ser medido analisado fracionado Elaboraram se diversos modelos a fim de abarcar toda a experi ncia humana As conclus es acerca disso foram apresentadas como saber leg timo e acabado e incutidas nas gera es mais jovens como nico conhecimento poss vel Para realizar a tarefa foram criadas institui es como a escola a qual vai formando seres humanos tamb m fracionados tal qual o conhecimento que reproduz S o indiv duos conhecedores das verdades legitimadas pela ci ncia mas inquietos diante das lacunas que existem e desejosos de um conhecimento mais articulado global Severino 2006 afirma que a natureza da Educa o na tradi o oci
37. s convincente realidad el vinculo pr ctico con la realidad porque al materializarse cobran tanta realidad como los dem s objetos y ejercen su influencia en el universo real que nos rodea Estos frutos de la imaginaci n han atravesado muy larga historia que convendr a acaso resumir en breve esquema cabe decir que han descrito un c rculo en su desarrollo Los elementos que entran en su composici n son tomados de la realidad por el hombre dentro del cual en su pensamiento sufrieran compleja reelaboraci n convirti ndose en producto de su imaginaci n Por ltimo materializ ndose volvieron a la realidad pero trayendo ya consigo una fuerza activa nueva capaz de modificar esa misma realidad cerr ndose de este modo o c rculo de la actividad creadora de la imaginaci n humana VIGOSKII 1987 p 24 25 Esse parece ser o itiner rio da construg o do texto liter rio Pela via da linguagem ele a materializa o de elementos os mais variados da experi ncia humana que entram em contato com o sujeito por meio da rela o dial gica os quais s o reelaborados atrav s de complexas decomposi es e composi es da imagina o humana segundo os desejos as necessidades e os anelos que atravessam sua exist ncia e acabam por retornar realidade sob uma nova forma o texto liter rio T cnica e experi ncia intrincadamente associadas alcan am nesse ponto a estatura de VOZ aut noma mais al m de perspectivas pessoais de
38. sem que estejam mescladas no entanto num discurso homog neo com a pretens o de dar uma explica o cabal do assunto A posi o dessa abordagem a de que tal articula o funda outro conhecimento relacional visto que considera as m ltiplas facetas do humano relacionando as em suas muitas possibilidades de aproxima o e distanciamento A articula o de diferentes linguagens conforma se num outro olhar sobre os fen menos humanos mais apropriado pluralidade indetermina o nuances e contradi es de tais fen menos Nas palavras de Martins 2000 p 55 significa uma nova perspectiva epistemol gica na constru o do conhecimento sobre os fen menos sociais principalmente os educativos Nova n o em contraste a uma perspectiva velha ou 30 ultrapassada mas enquanto novidade isto como outra perspectiva distinta das abordagens tradicionais Se num primeiro momento a no o de multirreferencialidade remete a procedimentos a serem adotados na an lise de determinados fen menos isso se deve a constatac o do car ter complexo das pr ticas sociais sobre as quais a an lise se funda B atrice Poinssac afirma Sabemos que a multirreferencialidade um m todo de an lise e de leitura aplicado a situa es relacionais POINSSAC 1998 p 119 Aos poucos Ardoino se voltou para as quest es epistemol gicas intr nsecas a esse novo procedimento no lugar de buscar um sistema ex
39. seus autores O texto liter rio conforma se em outra possibilidade de compreens o da realidade torna se um modo de dizer diferente pensamento peculiar uma express o nica do humano Antonio Candido 2002 em um estudo sobre a import ncia da Literatura na forma o do homem analisa sua for a humanizadora que consiste sobretudo em confirmar a humanidade do homem Pensando sobre o papel da Literatura ele v nela primeiramente uma fun o psicol gica a qual responde necessidade universal do ser humano em busca de fic o e fantasia encontrando na obra liter ria a satisfa o pela frui o do texto A Literatura propriamente dita uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes e espont neas de satisfa o talvez sejam coisas como a anedota a adivinha o trocadilho o rif o Em n vel complexo surgem as narrativas populares os cantos folcl ricos as lendas os mitos No nosso ciclo de civiliza o tudo isso culminou de certo modo nas formas impressas divulgadas pelo livro o folheto o jornal a revista poema conto romance narrativa romanceada CANDIDO 2002 p 80 Considerando que essa busca muitas vezes representa uma tentativa de explicar e compreender a exist ncia do homem no mundo Candido estabelece um elo entre a fic o liter ria e a realidade concreta A Literatura operando a partir do devaneio que lhe abre 59 o caminho da imagina
40. teatro do Departamento de Educa o do Povo em Gomel em que teve uma atua o direta na sele o do repert rio escolhendo os cen rios dirigindo as pe as e editando a se o teatral do jornal local Vigotski tamb m ensinou e deu palestras em v rias institui es de Gomel entre 1917 e 1924 lecionando uma grande variedade de assuntos incluindo Literatura e Linguagem Russa Est tica Hist ria da Arte e L gica Provavelmente foi em suas aulas de Literatura na Escola de Professores de Gomel que Vigotski veio a elaborar seus pr prios m todos pedag gicos assim como a natureza da rea o est tica confrontado como ele foi com o fen meno surpreendente de seus alunos lendo o mesmo texto liter rio fundamentalmente de modos diferentes Em 1922 o referido autor deu uma palestra sobre os m todos de ensino de Literatura durante uma confer ncia local e come ou a organizar experimentos psicol gicos sobre a recep o da Literatura num pequeno laborat rio de psicologia que ele havia montado na Escola de Professores Durante esse per odo 1922 1924 Vigotski tamb m deu um curso de Psicologia conduziu v rios outros experimentos psicol gicos leu largamente os textos dispon veis sobre Psicologia Educa o e Pedagogia e escreveu a maior parte de seu texto Psicologia Pedag gica Al m disso trabalhou intensivamente em Psicologia da Arte um projeto iniciado em 1915 66 Ambas as disciplinas Est tica e Psicologia desen
41. todos pois nem todos compartilham dos mesmos crit rios de avalia o ABREU 2006 p 110 grifo da autora A perspectiva de literatura que procuro apresentar neste estudo sem tratar propriamente dessa quest o can nica dentro da qual muitas gera es foram educadas Trata se de uma perspectiva idealizada como afirmava Eagleton e utilizada na forma o de um n mero expressivo de pessoas contribuindo n o h como negar para a manuten o e refor o da perspectiva hegem nica Essa perspectiva por m tem suas nuances e se transforma continuamente Como ponto de partida tomo justamente esse olhar da Grande Literatura o olhar dos eruditos sobre os textos por eles considerados excelentes E se o fa o para estabelecer os pressupostos de minha an lise com a justificativa de que tais conceitos foram 55 os que delinearam meu processo formativo N o pretendo fazer um julgamento desses pressupostos apenas enunci los para prosseguir na compreens o das resson ncias de tais afirma es em minha trajet ria educativa Como bem esclarece Jo o Domingues Maia A palavra Literatura designa os textos que possuem uma dimens o est tica fugindo pr tica corrente e visando a significar mais significando diferentemente suscitando nos prazer est tico por sua forma conte do e organiza o do conjunto Sendo express o do homem um meio privilegiado de comunica o Por isso mesmo em rela o arte
42. uma abertura a qual projeta a vida do leitor al m do que est realizado Em Borges e eu autor e narrador est o presentes o narrador que apresenta o texto Conforme ele as ideias ocorrem a Borges mas ele quem deve viv las narr las O narrador passeia pelas ruas saboreia o caf e observa o autor isolado vaidoso A rela o entre eles n o hostil seria exagerado afirmar tal coisa Talvez seja a rela o entre senhor e servo Eu vivo eu me deixo viver para que Borges possa tramar sua Literatura e essa Literatura me justifica BORGES 1974 p 808 Nesse jogo de espelhos de Borges a Literatura d vida s entidades do texto as quais constituem sempre alguma possibilidade 57 nova de vida humana para o escritor e para os leitores Analisando um texto de Borges Harold Bloom afirma que a Literatura can nica n o simetria nem sistema mas uma imensa e prol fera enciclop dia do desejo humano do desejo de ser mais criativo em vez de fazer mal ao pr ximo BLOOM 2001 p 54 Um estudo de Vigotski 1987 acerca da imagina o mostra como essa capacidade especificamente humana possibilita ao homem distanciar se do seu contexto e encontrar abrigo em outra realidade Talvez seja justamente esse o caminho de supera o pela via da linguagem que o homem pode trilhar para emergir do turbilh o por ele mesmo criado Sen o vejamos Toda actividad humana que no se limite a reproducir hechos o i
43. 0 203f Tese Doutorado em Educa o Universidade Federal de S o Carlos S o Carlos SP MORIN Edgar Os desafios da complexidade In Org A religa o dos saberes o desafio do s culo XXI Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2001 p 559 568 OLIVEIRA Marta Khol Vygotsky alguns equ vocos na interpreta o de seu pensamento Cadernos de Pesquisa S o Paulo n 81 p 67 69 1992 OLMOS Ana Cec lia Por que ler Borges S o Paulo Globo 2008 PELLEGRINI Domingos Vis o de mundo do artista patrim nio da humanidade In REZENDE Lucinea Aparecida de Org Leitura e vis o de mundo pe as de um quebra cabe a Londrina Eduel 2007 p 13 22 POINSSAC B atrice Infografia e multirreferencialidade ensaio para uma reflex o metodol gica nas ci ncias da educa o In BARBOSA Joaquim Gon alves Coord Multirreferencialidade nas ci ncias e na educa o S o Carlos SP Editora da UFSCar 1998 p 119 125 POUND Ezra ABC da literatura S o Paulo Editora Cultrix 1990 REZENDE Lucinea Aparecida de Leitura na gradua o para apalpar as intimidades do mundo In Org Leitura e vis o de mundo pe as de um quebra cabe a Londrina Eduel 2007 p 1 11 SANTOS Boaventura de Sousa Um discurso sobre as ci ncias 7 ed Porto Afrontamento 1995 SCHOPENHAUER Arthur A arte de escrever Porto Alegre L amp PM 2007 SEVERINO Antonio Joaquim A busca do sentido da forma o humana tarefa da F
44. 03 p 34 O car ter dial gico do discurso humano como poss vel verificar pode facilitar ou restringir a intera o dos sujeitos na fala Minha compreens o que quanto maior for a abertura do falante para articular a multiplicidade de vozes as quais podem compor seu discurso maior ser a possibilidade de intera o Disto depende a emancipa o humana entendida aqui como a emerg ncia do ser humano roda do di logo enquanto capacidade de dialogar e interagir com a pluralidade do mundo que o cerca Seguindo essa l gica a leitura e sobretudo a leitura de textos liter rios que pode promover tal emancipa o Esse o esbo o do que eu intentava alcan ar Durante a entrevista para a sele o do Mestrado os professores da banca expuseram suas preocupa es quanto a esses objetivos muito amplos Como eu pensava alcan ar essa meta foi uma das perguntas que 17 fizeram Minha resposta estava pronta N o fa o a menor ideia Eu na verdade n o havia pensado al m do que estava exposto mas estava claro para mim a import ncia de uma orienta o nesse sentido E foi assim que come amos No come o do processo de orienta o o professor orientador apresentou me v rios textos sobre multirreferencialidade com a indica o de que essa perspectiva de an lise possibilitaria melhor aproxima o da tem tica proposta no projeto Contudo era preciso delimitar os estudos A multirreferencialidade n o er
45. 899 a 1974 parece compreender bem esse conjunto de possibilidades que a Literatura desperta na constitui o do ser humano No pr logo de seu livro El otro el mismo de 1964 o autor escreve Es curiosa la suerte del escritor Al principio es barroco vanidosamente barroco y al cabo de los a os puede lograr si son favorables los astros no la sencillez que no es nada sino la modesta y secreta complejidad BORGES 1974 p 858 A modesta e secreta complexidade a culmina o de todos os esfor os do escritor que assim logra ter produzido uma obra altura do ser humano Este de fato o intento de toda Literatura onde quer que suas obras tenham sido produzidas Evidenciar a multiplicidade dos saberes a complexidade dos fen menos permitindo que o homem reinterprete seu mundo 56 Em La Flor de Coleridge Borges afirma ser de Emerson a afirma o de que todos os livros que h no mundo foram redigidos por uma nica pessoa BORGES 1974 p 639 Antes Paul Valery em 1938 j havia dito La Historia de la Literatura no deber a ser la historia de los autores y de los accidentes de su carrera o de la carrera de sus obras sino la Historia del Esp ritu como productor o consumidor de Literatura Esa historia podr a llevarse a t rmino sin mencionar un solo escritor VALERY apud BORGES 1974 p 639 Borges cita Shelley em A Defence of Poetry de 1821 o qual afirma que todos os poemas do passado do
46. OOM Harold Como e por que ler Rio de Janeiro Objetiva 2001 BORGES Jorge Luis Obras completas 1923 1972 Buenos Aires Emec Editores 1974 87 CALVINO Italo Seis propostas para o pr ximo mil nio lig es americanas 3 ed S o Paulo Companhia das Letras 2007 CANDIDO Antonio A literatura e a formag o do homem In Textos de Intervenc o S o Paulo Livraria Duas Cidades Editora 34 2002 p 77 92 CASTORIADIS Cornelius Feito e a ser feito as encruzilhadas do labirinto V Rio de Janeiro DP amp A Editora 1999 EAGLETON Terry Teoria da literatura uma introdu o 2 ed S o Paulo Martins Fontes 1994 ECO Umberto Sobre a literatura Rio de Janeiro S o Paulo Record 2003 FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necess rios pr tica educativa 34 ed S o Paulo Paz e Terra 2006 Pedagogia do oprimido 43 ed S o Paulo Paz e Terra 2006b Uma educac o para a liberdade 4 ed Porto Dinalivro 1974 GENTILI Pablo Org Pedagogia da exclus o cr tica ao neoliberalismo em educa o 11 ed Petr polis Vozes 2004 Neoliberalismo e educag o manual do usuario In SILVA Tomaz Orgs Escola S A quem ganha e quem perde no mercado educacional do neoliberalismo CNTE Bras lia 1996 Dispon vel em lt http www cefetsp br edu eso globalizacao manualusuario html gt Acesso em 26 jun 2007 GERALDI Jo o Wanderley FICHTNER Bernard BENITES Maria Transgress
47. Paulo Freire em seu ltimo texto Pedagogia da Autonomia 2006 retoma suas grandes ideias e estabelece os crit rios para uma educa o progressiva em favor da autonomia do ser dos educandos Formar para ele n o se confunde com simples treinamento para o desempenho de destrezas mas constitui um movimento permanente de busca decorrente da abertura e inconclus o do ser humano A proposta de Paulo Freire est alicer ada em um pressuposto tico da maior import ncia para nosso estudo A tica proposta por Freire 2006 corresponde a dar lugar para as distintas vozes que comp em um discurso A legitimidade dessas vozes assegurada pelo compromisso hist rico com a realidade que as suscita e n o mais por uma ordem mundial estabelecida que se pretende nica voz natural e inevit vel Para al m de uma 50 tica que represente o enfrentamento das for as hegem nicas neoliberais posso entrever na proposta de Freire a indica o da emerg ncia do discurso das minorias das vozes silenciadas mas sempre murmurantes sobretudo atrav s da Literatura e que expressam uma vis o de mundo diversa tamb m carregada de significa o A crise da raz o fundamentada num discurso que se pretendia nica voz autorizada postulava como princ pio tico para o pesquisador a imparcialidade diante daquilo que os dados lhe apresentavam J expusemos que essa perspectiva parece n o ser capaz de responder complexidade dos fen menos humanos e ed
48. Universidade Estadual de Londrina CENTRO DE EDUCA O COMUNICA O E ARTES DEPARTAMENTO DE EDUCACAO JOS PAULO GATTI ASPECTOS FORMATIVOS DA LITERATURA A ARTE LITERARIA NA EMANCIPACAO HUMANA DESDE UMA PERSPECTIVA MULTIRREFERENCIAL LONDRINA PR 2010 JOSE PAULO GATTI ASPECTOS FORMATIVOS DA LITERATURA A ARTE LITERARIA NA EMANCIPACAO HUMANA DESDE UMA PERSPECTIVA MULTIRREFERENCIAL Disserta o apresentada ao Programa de Mestrado em Educa o da Universidade Estadual de Londrina como requisito parcial obten o do t tulo de Mestre Orientador Prof Dr Jo o Batista Martins Cataloga o elaborada pela Divis o de Processos T cnicos da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina Dados Internacionais de Cataloga o na Publica o CIP G263a Gatti Jos Paulo Aspectos formativos da literatura a arte liter ria na emancipa o humana desde uma perspectiva multirreferencial Jos Paulo Gatti Londrina 2010 89 f il Orientador Jo o Batista Martins Disserta o Mestrado em Educa o Universidade Estadual de Londrina Centro de Educa o Comunica o e Artes Programa de P s Gradua o em Educa o 2010 Inclui bibliografia 1 Educa o Filosofia Teses 2 Abordagem interdisciplinar do conhecimento na educa o Teses 3 Educa o Literatura Teses I Martins Jo o Batista II Universidade Estadual de Londrina Centro de Educa o
49. Vigotski que dedicou v rios estudos compreens o da import ncia da arte na vida das pessoas Um artigo de D W West 1999 objetiva pontuar o lugar da arte e da Literatura nos escritos de Vigotski Alguns dados biogr ficos indicados 64 por ele ajudam a compreender melhor essa import ncia Para West significativo que Vigotski tenha iniciado o ltimo e mais importante cap tulo de seu livro Pensamento e Linguagem intitulado Pensamento e Palavra com a cita o do poeta e seu amigo particular Osip Mandelstam que j mencionamos Consoante West durante toda a vida Vigotski nutriu um profundo interesse e mesmo uma paix o pelas artes especificamente pela Literatura Vigotski buscava e encontrava nas pegas poemas f bulas e novelas os exemplos que lhe permitiam ilustrar os complexos argumentos daquele cap tulo final em que ele apresenta suas afirma es conclusivas da investiga o cient fica acerca da rela o entre pensamento e fala A obra Ana Karenina de Tolstoi por exemplo citada para exemplificar the condensation of external speech and its reduction to predicates VIGOTSKI apud WEST 1999 p 47 2 Al m do papel referencial a Literatura aparece tamb m no n vel da linguagem do texto vigotskiano Pensamento e Palavra foi escrito com aten o po tica The dictionary meaning of a word is no more than a stone in the edifice of sense in inner speech words die as they bring forth thought
50. a o m todo de an lise dos sistemas art sticos dos est mulos VIGOTSKI 2001 p 3 grifo do autor O princ pio est tico b sico de Vigotski a ideia de supera o da forma em rela o ao material da obra art stica Uma obra de arte sempre apresenta um ntimo conflito entre seu conte do e sua forma alcan ando o artista o efeito desejado pelo significado da forma a qual destr i o conte do Essa ideia repete se ao longo de todas as an lises realizadas por Vigotski Para ele cada obra de arte consiste em um relacionamento dial tico entre conte do ou mat ria e forma ou t cnica o conflito entre esses dois elementos que torna a obra de arte est tica que lhe confere esse status de arte ou Literatura O efeito est tico um produto desse conflito um efeito conseguido quando o conte do sacrificado pela forma 173 um po Pie a disposi o desse material segundo as leis da constru o art stica no sentido exato do termo VIGOTSKI 2001 p 177 O autor tamb m nos esclarece o que conte do tudo o que o poeta usou como j pronto rela es do dia a dia hist rias casos o ambiente os caracteres tudo o que existia antes da narrag o e pode existir fora e independentemente dela caso algu m narre usando suas pr prias palavras para reproduzi lo de modo intelig vel e coerente VIGOTSKI 2001 p 177 Ao declarar ser a organizac o formal que destr i o conte do a caracter stica
51. a a arte liter ria na formag o humana O autor entende que a Literatura explora as possibilidades expressivas cognoscitivas e imaginativas da linguagem Considerando que o segundo mil nio viu o surgimento consolida o e expans o das l nguas ocidentais modernas e do objeto livro como o conhecemos Calvino quer analisar qual o destino que se lhes aguarda na era tecnol gica dita p s industrial Ele afirma Minha confian a no futuro da Literatura consiste em saber que h coisas que s a Literatura com seus meios espec ficos nos pode dar CALVINO 2007 p 11 Esse texto de Calvino recolhe cinco confer ncias pronunciadas por ele para a Universidade de Harvard em 1985 Seriam seis propostas mas o autor n o chegou a concluir sua tarefa A ltima seria a Consist ncia A primeira proposta de Calvino o elemento LEVEZA que ele contrap e a peso argumentando em favor do primeiro que cabe Literatura retirar o peso do universo humano das figuras humanas dos corpos celestes das cidades da pr pria estrutura narrativa da linguagem O autor defende que entre o que se deseja narrar e a narrativa em si existe uma diferen a O peso das coisas as quais se pretende narrar comumente se transfere para a narrativa enrijecendo a Ele evoca o mito de Perseu e da Medusa para propor uma estrat gia que permita olhar a face do monstro sem deixar se petrificar por ela Como Perseu que voa com sand lias aladas e olha
52. a delimitar um objeto de estudo fracion lo enquadra lo em categorias pr determinadas generalizar caracter sticas intr nsecas estabelecer leis universais Em oposi o a esse recurso a multirreferencialidade foi desenvolvida por Jacques Ardoino professor da Universidade de Vincennes Paris VIII juntamente com seus colaboradores Ardoino fala da multirreferencialidade como outro olhar sobre as tem ticas que focalizam o ser humano as quais s o normalmente parciais e limitadas A multirreferencialidade parte do princ pio de que os fen menos sociais s o complexos isto est o carregados de m ltiplas implica es as quais n o podem ser reduzidas a leis gerais porque sempre guardam varia es sempre permanecem aspectos por desvendar Assim nos elucida Ardoino Assumindo plenamente a hip tese da complexidade at mesmo da hipercomplexidade da realidade a respeito da qual nos questionamos a abordagem multirreferencial prop e se a uma leitura plural de seus objetos pr ticos ou te ricos sob diferentes pontos de vista que implicam tanto vis es espec ficas quanto linguagens apropriadas s descri es exigidas em fun o de sistemas de refer ncia distintos considerados reconhecidos explicitamente como n o redut veis uns aos outros ou seja heterog neos ARDOINO 1998 p 24 A abordagem multirreferencial pois a pluralidade dos olhares articulados segundo diferentes linguagens descritivas e interpretativas
53. a deve transgredir os limites impostos e for ar novos horizontes interpretativos O texto de Larrosa finalizado com algumas sugest es para o mbito da educa o espa o por excel ncia do aprendizado do mundo pela palavra Com base em Hannah Arendt o autor afirma que a educa o deve introduzir os seres humanos na linguagem sob um duplo aspecto de transmiss o de conceitos da cultura e de permiss o para o uso da pr pria palavra A educa o precisa falar e fazer falar falar e deixar falar Esta a meu ver a pr tica educativa que promove a emancipa o humana Outros autores mencionados nas p ginas seguintes tamb m defendem a no o de que um processo formativo cujo objetivo seja a emancipa o humana deve possibilitar a express o da pr pria experi ncia a leitura que o sujeito aprendiz faz do mundo e a linguagem que ele utiliza para express la Nesse sentido um texto escrito tem sempre algo novo a dizer uma vez que o leitor o interpreta com sua fala Desse modo aprender a leer no es solo adquirir la capacidad de entender lo que el texto dice sino ser capaces de escuchar en lo dicho lo que da que decir lo que queda por decir ARENDT apud LARROSA 2001 p 79 Se por um 28 lado a educag o consiste em transmitir um conhecimento j acumulado e possibilita ao educando dizer o que todo mundo diz por outro lado deve permitir a ruptura com o que j est dito a transgress o s regras do dizer a poss
54. a propriamente um m todo mas outra abordagem do conhecimento apresentada por v rios pesquisadores das ci ncias humanas no intuito de assegurar a express o da sua subjetividade implicada na investiga o bem como a complexidade dos fen menos em pauta Desse modo iniciei os estudos sobre a multirreferencialidade o que me levou a pensar a pesquisa como uma an lise das m ltiplas refer ncias existentes no mbito da Literatura na forma o do homem A proposta era trazer diferentes abordagens te ricas sobre essa tem tica especificamente da Psicologia de Vigotski da Filosofia e da Cr tica Liter ria Qual a relev ncia da arte liter ria no processo formativo humano Na pesquisa ao aproximar diferentes abordagens sobre essa rela o pretendia lan ar um novo olhar sobre o assunto acreditando que desta forma eu poderia compreender melhor a complexidade de conceitos t o abrangentes como Literatura e forma o humana al m de avaliar as pr ticas pedag gicas estabelecidas Eu pretendia ainda considerar a Literatura mediante os estudos de autores da Cr tica Liter ria da Psicologia e da Filosofia por serem estas reas do conhecimento nas quais me situo Objetivava tamb m relacionar suas peculiares interpreta es bem como as implica es na forma o de leitores de int rpretes e de pessoas capazes de agir autonomamente A perspectiva no entanto era que eu tinha um mapa diante de mim o mapa da multirreferenc
55. a vida e da sociedade e que muito me interessava dadas as perspectivas filos ficas subjacentes 13 Eu queria estudar a forma o do leitor do ser humano que pode compreender os diferentes textos pessoas distintas situa es e interagir com tudo discernir criticar questionar Desejava entender como a leitura de textos liter rios pode influenciar o processo de forma o da consci ncia e analisar de que forma a educa o alcan a desenvolver tais qualidades no ser humano Tomando a forma o como processo de inser o do sujeito no mundo o objetivo maior da investiga o era pois conhecer de que maneira a leitura de textos liter rios poderia colaborar para isso avaliando tamb m como se estabelecem os procedimentos educativos de forma o de leitores e escritores em um contexto escolar Regina Zilberman 2002 pesquisadora nessa rea analisou os manuais preparados para o ensino da leitura nas institui es de ensino a partir do s culo XIX quando a escolariza o tornou se obrigat ria A autora encontrou neles a exist ncia de diferentes concep es do que a leitura Escolarizada a leitura liter ria torna se frequentemente um exerc cio intermedi rio que aponta para ulteriores progressos uma atividade sem finalidade pr pria Apresentando o desenvolvimento das pr ticas escolares de leitura ao longo de nossa hist ria Zilberman demonstra que o h bito da leitura sempre esteve fundamentado em duas concep es
56. aber cient fico proposto pelo positivismo comteano e pelo racionalismo cartesiano assinalava que o conhecimento leg timo exige no rigor do m todo o estabelecimento de ideias simples e claras Estas deveriam ser formuladas a partir da decomposig o dos fen menos a fim de a an lise de suas partes elementares revelar o conjunto segundo a l gica indutivo dedutiva para a proposig o de leis universais desses fen menos Ocorre que ao longo do s culo XX tais princ pios foram abalados justamente no mbito das chamadas ci ncias da natureza ao mesmo tempo em que as ci ncias humanas buscavam novos pressupostos epistemol gicos que pudessem superar as inconsist ncias do modelo cient fico tradicional Com efeito a perspectiva metodol gica fundada em princ pios epistemol gicos racionalistas e positivistas n o possibilita explicitar os fen menos humanos em sua complexidade A no o de complexidade passou a significar ent o segundo Ardoino a intelig ncia de uma pluralidade de constituintes heterog neos inscritos numa hist ria ela mesma aberta em rela o s eventualidades de um devir ARDOINO 2001 p 550 Ao longo do s culo XX conforme visto criou se nova intelig ncia capaz de superar o reducionismo dos modelos tradicionais inconsistentes e aberta para a complexidade dos fen menos articulando a multiplicidade dos saberes considerados distintos isto heterog neos mas profundamente implicados uns nos outros
57. ado de incerteza se devia a constatag o de ser imposs vel dominar e sintetizar num modelo universalizante a experi ncia humana no mundo E desse ponto chegava ao sil ncio E o que exprimia a Carta de Lord Chandos de Hugo Von Hofmannsthal Tal crise tamb m se caracteriza por um sentimento cada vez maior no homem moderno de habitar um mundo desencantado onde as antigas certezas foram todas questionadas e desconstru do o conhecimento que organizava o universo Um mundo portanto ca tico sem sentido onde at mesmo a Palavra n o mais re presenta a realidade sendo mera conven o Nessa perspectiva nada mais tem correspond ncia imediata nada mais verdadeiro toda afirma o duvidosa Trata se de um verdadeiro turbilh o desestabilizador da vida no meio do qual est o homem entregue a si mesmo sem qualquer outra seguran a O contexto social as transforma es tecnol gicas as organiza es e sistemas cada vez mais independentes e exercendo grande influ ncia sobre a vida humana aprofundam a crise Berman assim descreve a situa o O turbilh o da vida moderna tem sido alimentado por muitas fontes grandes descobertas nas ci ncias f sicas com a mudan a da nossa imagem do universo e do lugar que ocupamos nele a industrializa o da produ o que transforma conhecimento cient fico em tecnologia cria novos ambientes humanos e destr i os antigos acelera o pr prio ritmo da vida gera novas formas de poder co
58. ando suas pr ticas esclarecendo os desdobramentos de suas a es de forma mais ou menos aberta Lajolo destaca por exemplo as decorr ncias da fun o performativa da linguagem a qual capacita o homem a materializar em atos concretos aquilo que foi apenas verbalizado Compondo outra intelig ncia do mundo a Literatura pode romper a mirada convencional das posturas predeterminadas dos olhares comuns e despertar o que foi chamado de aprendizagem expansiva Geraldi Fichtner e Benites 2006 analisam a possibilidade de se tomar a obra de arte como instrumento capaz de provocar esse tipo de aprendizagem Eles consideram que os problemas enfrentados pelo ser humano ao longo de sua vida s o comumente observados de um ngulo preestabelecido o que inevitavelmente tamb m se desdobra em um n mero limitado de solu es previs veis A proposta tomando o conceito aprendizagem expansiva de Engestr m n o est focada na expans o de novas atividades mas mais na constru o e na forma o de novas rela es sociais do aprendiz consigo mesmo e com a realidade GERALDI FICHTNER BENITES 2006 p 115 Segundo essa perspectiva um problema antes de ser solucionado deve ser pensado e posicionado a l gica de sua coloca o e as estrutura que o geraram devem ser evidenciadas A solu o pode estar na total subvers o do problema a resposta pode exigir uma perspectiva totalmente distinta da que foi explicitada inicialmente Pa
59. aprendizado o fato de ele criar a zona de desenvolvimento pr ximo ou seja o aprendizado desperta v rios processos internos de desenvolvimento que s o capazes de operar somente quando a crianca interage com pessoas em seu ambiente e quando em cooperag o com seus companheiros Uma vez internalizados esses processos tornam se parte das aquisig es do desenvolvimento independente da crianca Desse ponto de vista aprendizado n o desenvolvimento entretanto o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e p e em movimento v rios processos de desenvolvimento que de outra forma seriam imposs veis de acontecer VIGOTSKI 2007 p 103 Podemos afirmar a partir do exposto que um conhecimento internalizado transforma se em suporte para outro mais complexo na interag o educativa e tal perspectiva significa de certo modo a presenga em germe de um conhecimento futuro Tal conceito estabelece a consolida o do processo de desenvolvimento humano pela media o cultural o homem se humaniza pelos efeitos da pr tica social Essa afirma o no entanto n o comporta qualquer tipo de determinismo social A perspectiva de Vigotski nao determinista a ponto de considerar a pr tica do indiv duo simplesmente como reflexo da compreens o e percep o do grupo social O conceito de internaliza o e a ideia de uma Zona de Desenvolvimento Pr ximo conforme 41 caracterizados por esse autor evidenciam a impor
60. as da arte que foram objetivas em suas metodologias mas que embora importantes em alguns aspectos tinham s rias falhas em outros Reconhecendo a crescente influ ncia que essas duas teorias foram exercendo sobre o pensamento est tico Vigotski atribuiu um capitulo para cada uma em sua investiga o Arte como Procedimento na qual ele lidou com o formalismo e Arte e Psican lise na qual ele analisou a psicologia da arte de Freud Para Vigotski a principal falha de ambas as teorias decorreu do pressuposto da rela o existente entre forma e conte do que considerou equivocado e respons vel por uma compreens o prec ria da din mica hist rica e social de uma obra da arte Quanto perspectiva formalista a compreens o da arte como forma pura e o conceito de forma art stica como algo completamente objetivo independente de pensamentos ideias sentimentos e outros materiais psicol gicos pelos quais a forma se constitui impede o formalismo de revelar ou explicar o conte do s cio psicol gico dos artefatos art sticos que se modificam historicamente Em outras palavras explorando a forma e ignorando o conte do o formalismo exclui de si os elementos s cio hist ricos e psicol gicos de qualquer obra de arte VIGOTSKI 2001 p 65 66 O ponto mais fraco da teoria da arte psicanal tica por outro lado sua defini o de forma art stica VIGOTSKI 2001 p 88 Vendo o conte do da arte enquanto satisfa o de
61. cadearam uma simult nea fascina o sobre Vigotski durante toda sua vida Sua apresenta o no Segundo Congresso de Psiconeurologia de Leningrado em janeiro de 1924 quando ele falou sobre Os m todos de investigac o psicol gicos e reflexol gicos assinalou por m uma decisiva mudanga no equil brio daqueles para esses interesses Devotou a maior parte de suas energias mentais depois disso para construir sua ci ncia da humanidade com os tijolos da psicologia Ele se encontrou e trabalhou ainda com as principais figuras culturais de seu tempo incluindo Mandelstam e Eisenstein e ocasionalmente retornou depois de 1924 a quest es est ticas em seus textos Psicologia Moderna e Arte 1928 e Sobre o Problema da Psicologia na criatividade dos atores publica o p stuma de 1936 A hip tese de West a de que isso poderia ser um argumento para propor que toda a psicologia de Vigotski foi elaborada precisamente para responder s complexas quest es psicol gicas que ele tinha formulado em suas investiga es est ticas Ainda mais West sugere ter sido por causa de seus trabalhos em est tica e de seus estudos sobre os mais avan ados e complexos produtos da mente humana que Vigotski estava consciente da import ncia de enfrentar o reducionismo e determinismo biol gico nos quais a psicologia de seu tempo estava paralisada West indica ter sido essa consci ncia que o capacitou a fazer uma brilhante e original contrib
62. cial a forma o n o pode ser simples capacitac o t cnica desenvolvida por uma abordagem neoliberal interessada em preparar m o de obra para o mercado consumidores de produtos e produtores de mercadorias Nela n o est presente a forma o para a cr tica das institui es e dos modelos educacionais cr tica que para Ardoino Barbier e GiustDesprairies ponto de partida do conceito de educa o Segundo eles a educa o inscreve se na ordem do pol tico com todas as implica es que o plano pol tico estabelece 1998 p 60 O entendimento da afirma o desses autores encontra se no mesmo texto em que h um di logo com Corn lius Castoriadis Castoriadis quem esclarece O objeto da verdadeira pol tica transformar as institui es mas transform las de maneira que estas eduquem indiv duos para a autonomia Sem isto n o h sociedade aut noma ARDOINO BARBIER GIUST DESPRAIRIES 1998 p 61 A institui o forma o sujeito para exercer uma cr tica e tamb m ser criticada por ele Esse o paradoxo da educa o defendida por esses pesquisadores nica possibilidade de se promover uma forma o emancipadora e n o a mera adapta o do sujeito sociedade Trata se como vemos de uma educa o para a constitui o de uma consci ncia emancipada verdadeiramente capaz de integrar e transformar a sociedade educa o enquanto din mica de forma o do sujeito para a intera o social por meio
63. ciar a pesquisa era compreender o papel da Literatura na forma o humana mas o itiner rio escolhido foi reformulando o objetivo at que meu olhar como pesquisador encontrou minha pr pria presen a em tudo o que estava sendo analisado As implica es dessa descoberta foram determinantes para que eu pudesse entender que n o era propriamente o papel da Literatura na forma o humana que eu buscava mas os aspectos formativos da Literatura ressoando em minha pr pria trajet ria educativa Tal reflex o conduziu me a procurar o lugar da Literatura na vida dos distintos autores pesquisados para tamb m perceber implica es em minha hist ria pessoal 79 como o olhar desses autores formava meu proprio olhar Enveredei por esse caminho no qual eu estava implicado como parte integrante do objeto de pesquisa Li os autores com o mesmo olhar de quem procura os resultados da presen a da Literatura em um processo formativo no qual se integram os efeitos dos contextos culturais e as potencialidades humanas Encontrei Vigotski esclarecendo como a realidade de algum modo antecede nos e como o contexto social que primeiramente interv m no processo formativo na aprendizagem e no desenvolvimento com estruturas internas e externas interagindo Propondo as rela es sociais como respons veis pela constru o dos modos de agir de pensar e de se relacionar do ser humano Vigotski me mostrou que tais rela es constroem simultaneame
64. cl ssicos como Branca de Neve e os sete an es A Bela adormecida O gato de botas e tantos outros lidos por minhas irm s para mim desde que eu era pequeno Tais leituras criaram um universo paralelo para o qual aprendi a gostar de viajar Aquelas imagens assombrosas com seus textos indecifr veis agu avam me a curiosidade e davam me asas Foram minhas primeiras incurs es pelo universo da leitura Quando me questiono por que leio as respostas trazem de volta essas experi ncias viagens por lugares desconhecidos presen a de pessoas queridas desafios a serem enfrentados Harold Bloom j disse exatamente o que eu queria dizer Ler nos conduz alteridade seja nossa pr pria ou de nossos amigos presentes ou futuros Literatura de fic o alteridade e portanto alivia a solid o Lemos n o porque na vida real jamais conheceremos tantas pessoas como atrav s da leitura mas tamb m porque amizades s o fr geis propensas a diminuir em n mero a desaparecer a sucumbir em decorr ncia da dist ncia do tempo das diverg ncias dos desafetos da vida familiar e amorosa BLOOM 2001 p 15 Sim lemos para estar em contato com os outros para exercitar essa nossa humana necessidade de conviver Isso nem sempre simplesmente prazeroso mas uma necessidade Se a conviv ncia humana tem seus momentos dif ceis tamb m o encontro com o texto pode provocar os sentimentos contradit rios de ang stia e prazer assombro e desc
65. compreens o No dizer de Morin designamos algo que n o podendo realmente explicar vamos chamar de complexo Por isso que existe um pensamento complexo este n o ser um pensamento capaz de abrir todas as portas mas um pensamento onde estar sempre presente a dificuldade MORIN apud MARTINS 2000 p 60 Complexo n o nem mesmo o complicado o dif cil no sentido de ser alguma coisa que uma vez alcan ada desvendada manifesta se homog nea evidente A multirreferencialidade ao contr rio revela a complexidade dos fen menos no sentido de desdobrar e mostrar as m ltiplas sondagens conceituais a seu respeito anuncia como pluralidade o que antes era tido como desordem Essa pretensa desordem posta pelas inconsist ncias das distintas an lises pelas lacunas e at mesmo contradi es mostra se no dizer de Ardoino uma unitas multiplex a unidade e a diversidade conciliadas num saber diferente daquele apresentado anteriormente ARDOINO 2001 p 552 A abordagem multirreferencial n o pretende conforme notamos esgotar a discuss o sobre um assunto Na realidade ela se prop e a suscitar novos questionamentos descobrir novas possibilidades de compreens o dos fen menos Tendo como ponto de partida o pensamento complexo na an lise dos fen menos humanos n o poss vel estabelecer certezas definitivas explica es cabais Dessa maneira a compet ncia de algu m n o estar na sua capacida
66. ctos formativos da Literatura e em que medida ela contribui para a forma o do ser humano emancipado Por meio de pesquisa bibliogr fica retomando alguns dos autores que se debru aram sobre esse assunto no campo da Filosofia da Psicologia da Cr tica Liter ria e da Pedagogia procuro apresentar uma leitura de suas principais contribui es e das resson ncias de suas vozes em minha pr pria trajet ria formativa al m de textos liter rios Assumi como ponto de partida uma perspectiva multirreferencial assegurando a multiplicidade de seus discursos e procurando articul los todos com o cuidado de n o reduzir uns aos outros e nem mesmo de produzir alguma s ntese conclusiva do assunto Esta disserta o o resultado dessa an lise que toma a emancipa o humana como possibilidade de emitir ju zos significativos e dialogar com o outro al m de reconhecer a Literatura como express o da multiforme experi ncia humana no mundo por interm dio da linguagem escrita A Literatura d voz a experi ncias antes desprestigiadas de minorias antes ignoradas Por meio do contato com essas outras vis es de mundo o sujeito leitor descobre a exist ncia de outros sujeitos com suas experi ncias espec ficas e discurso pr prio amplia os horizontes de seu olhar sobre a realidade e lhe reconhecida a voz na roda do di logo humano Palavras chave Educa o Desenvolvimento humano Literatura Multirreferencialidade GATTI Jos Paulo For
67. da presen a do texto liter rio em minha pr pria hist ria os sentimentos e sentidos produzidos por essas leituras Tudo era declarado abertamente nos primeiros instantes desse discurso contudo em seguida silenciados por uma imperiosa necessidade de imparcialidade ao apresentar os autores analisados os enfoques da Filosofia Psicologia Pedagogia e Cr tica como eu havia proposto Esses na realidade eram os 21 pressupostos do modelo de pesquisa tradicional das ci ncias exatas estabelecidos pela ci ncia moderna uma forma de investigar que assenta a legitimidade do discurso somente no que pode ser mensurado e demonstrado empiricamente Aspectos humanos como a intui o a emo o e o sentimento ficaram desprezados e destitu dos de import ncia mesmo fazendo parte da experi ncia dos sujeitos A l gica cartesiana que busca enquadrar classificar reduzir dominar completamente um conhecimento ainda faz parte de todo discurso como pude constatar pelas ang stias vivenciadas na elabora o deste trabalho de pesquisa Por m tomando consci ncia da precariedade desse discurso tento estabelecer uma nova escrita menos universal mais localizada em que procuro encontrar elementos de uma trajet ria particular que representem uma aut ntica experi ncia humana A pesquisa iniciara justamente com uma recupera o do lugar da Literatura em minha trajet ria pessoal e isso n o podia mais ser negligenciado Eu estava inteirament
68. de Outro texto de Jorge Larrosa 2001 analisando as rela es existentes entre Linguagem e Educa o bem como os desdobramentos dessa crise ajudou me a enxergar a linguagem como express o formal da racionalidade Tais leituras me levaram tamb m a refletir sobre a crise e as possibilidades de sua supera o por outra aproxima o dos fen menos a serem estudados Neste cap tulo apresento minha leitura desses dois textos Por meio deles mostro a necessidade de outra perspectiva de an lise dos fen menos humanos de forma a justificar a multirreferencialidade nesta pesquisa a qual me ajudou a compreender duas quest es essenciais para mim o lugar da Literatura em minha trajet ria formativa e de que maneira essa presen a alcan a favorecer a emancipa o humana no processo formativo Vigotski faz uma an lise de nossa tend ncia a sempre fazer s nteses Diz ele que nosso comportamento se organiza segundo o princ pio da unidade e essa unidade se realiza principalmente atrav s de nossa consci ncia na qual deve estar for osamente representada de alguma maneira toda inquieta o procura de vaz o VIGOTSKI 2001 p 322 Segundo o autor nossa consci ncia inquieta se diante do que lhe estranho contradit rio e busca um nexo o equil brio do entendimento para as situa es desestruturadoras 24 A hist ria da Filosofia e a Ci ncia representam duas das faces da permanente busca do homem por explicar os fendmenos
69. de de dominar determinados objetos pelo conhecimento que tenha deles mas no seu reconhecimento quanto impossibilidade de um dom nio absoluto sobre os objetos e na possibilidade de articular saberes distintos acerca dos mesmos N o se trata portanto de uma an lise multidisciplinar no sentido de busca de s nteses redutoras e sim de uma an lise multirreferencial pelo princ pio de heterogeneidade sobre o qual j comentei Assumindo a multirreferencialidade como ponto de partida deste estudo pretendo expor ao longo deste trabalho o resultado das distintas refer ncias pesquisadas 33 Mostro que s o leituras de alguma maneira ressignificadas em virtude de minha tica particular pelas estrat gias mais ou menos conscientes que estabeleci desde minha posig o de sujeito situado e dotado de intencionalidade Al m disso tais leituras s o meio de realizar o exerc cio de fidelidade de que falava Eco 2003 p 12 ao tratar da leitura de obras liter rias Garantindo essa pluralidade de constituintes heterog neos acredito que o processo de pesquisa desenvolva efetivamente a capacidade imaginativa o exerc cio da autorreflex o cr tica a produ o de uma consci ncia verdadeira n o adaptada sociedade mas capaz de pensar a sociedade em seu devir pelo movimento das transforma es hist ricas que direcionam a concep o da mesma realidade Barbosa acentua a import ncia dessa abordagem na pesquisa do fen meno humano
70. de partida de Vigotski a compreens o dos fen menos psicol gicos desde uma perspectiva hist rica Ele afirma O conceito de uma psicologia historicamente fundamentada mal interpretado pela maioria dos pesquisadores que estudam o desenvolvimento da crian a Para eles estudar alguma coisa historicamente significa por defini o estudar algum evento do passado Por isso eles sinceramente imaginam existir alguma barreira intranspon vel entre o estudo hist rico e o estudo das formas comportamentais presentes Estudar alguma coisa historicamente significa estud la no processo de mudan a esse o requisito b sico do m todo dial tico Numa pesquisa abranger o processo de desenvolvimento de uma determinada coisa em todas as suas fases e mudan as do nascimento morte significa fandamentalmente descobrir sua natureza sua ess ncia uma vez que somente em movimento que o corpo mostra o que Assim o estudo hist rico do comportamento n o um aspecto auxiliar do estudo te rico mas sim sua verdadeira base VIGOTSKI 2007 p 68 69 grifos do autor No cerne da investiga o de Vigotski est a import ncia da cultura na constitui o do ser humano Ele formula sua tese propondo diferencia o entre as fun es psicol gicas elementares e as fun es psicol gicas superiores estas respons veis pelas opera es propriamente humanas a es conscientemente controladas como aten o volunt ria
71. dental abrangeu a forma o tica e a forma o pol tica do cidad o Com a crise do racionalismo constatada nos ltimos tempos por m a Educa o passa por uma reviravolta sendo agora promovida como forma o cultural do ser humano Consoante o autor na cultura ocidental a educa o foi sempre vista como processo de forma o humana Essa forma o significa a pr pria humaniza o do homem que sempre foi concebido como um ente que n o nasce pronto que tem necessidade de cuidar de si mesmo como que buscando um est gio de maior humanidade uma condi o de maior perfei o em seu modo de ser humano Portanto a educa o processo do devir humano como devir humanizador mediante o qual o indiv duo natural dev m um ser cultural uma pessoa 2006 p 621 A Educa o entendida pois como processo que contribui para o devir humano desenvolvendo a emancipa o pela constitui o de um sujeito aut nomo N o nem deve ser restrita a um procedimento institucional ou instrucional a educa o um aprender 2 constante que constr i o ser humano e constru da por ele Severino 2006 por m Sobre essa tem tica a obra de Berger Luckmann 2006 um cl ssico a primeira edi o de 1978 25 z reconhece que esse um objetivo ut pico uma vez que o ser humano vivencia muitas opress es na esfera social pela explora o de sua for a de trabalho entre outras tantas situa es Os
72. dif cio do sentido na fala interna as palavras morrem quando trazem adiante o pensamento e a preferida de West Um pensamento pode ser comparado a uma nuvem derramando uma chuva de palavras tradu o nossa 65 sua tese de mestrado A monografia ent o sofreu mais extensivas revis es at aparecer como um cap tulo de Psicologia da Arte cap tulo 8 Entre 1916 e 1917 Vigotski tamb m escreveu para um suplemento de cr tica liter ria analisando textos de escritores pertencentes ao recente movimento simbolista russo Foi durante esse tempo em Moscou que ele come ou a desenvolver seu interesse pela Psicologia quando leu muito sobre a Literatura psicol gica internacional ent o dispon vel por exemplo William James e Sigmund Freud West destaca que de 1917 a 1924 durante o tumultuado per odo da revolu o e da guerra civil Vigotski viveu em sua cidade natal Gomel onde se tornou um dos mais proeminentes e ativos l deres culturais Escreveu muita cr tica liter ria e teatral colaborou na organiza o das chamadas Segundas liter rias quando trabalhou na apresenta o e discuss o de escritores cl ssicos e modernos dentre os quais Shakespeare Goethe Pushkin Tchecov Mayakovsky e Esenin Foi o respons vel pela cria o de uma Casa Publicadora Anos e Dias e um Jornal Liter rio Heather juntamente com seu primo David Vigotsky poeta linguista e filologista Foi ainda respons vel pelo setor de
73. do di logo e de uma pluralidade de discursos Nesse sentido a escola pode tornar se um espa o privilegiado na realiza o dessa tarefa ao apresentar se como lugar da intera o p blica da multiplicidade cultural tnica religiosa e assim por diante consoante nosso ambiente moderno Castoriadis no texto mencionado afirma que a filosofia pol tica esqueceu se da quest o educativa Ao inv s disso a filosofia pol tica fala agora supondo que indiv duos livres tenham sido fornecidos sem se saber como a essas sociedades sem d vida sa dos de uma f brica e que a quest o central ordenar suas rela es Mas estas rela es ser o apenas o que forem esses indiv duos Somente uma coletividade aut noma pode formar indiv duos aut nomos e vice versa da o paradoxo para a l gica corrente ARDOINO BARBIER GIUST DESPRAIRIES 1998 p 61 O paradoxo apontado por Castoriadis resulta a meu ver de a institui o ainda pretender garantir a uniformidade de discursos e n o a pluralidade A ordena o das rela es em busca de uma homogeneidade dificulta o reconhecimento da heterogeneidade dos 48 discursos O sujeito emancipado no entanto educado para perceber as multiplas vozes dos discursos aquele capaz de vislumbrar a institui o sob outra tica podendo nela interferir criativamente O conceito de emancipa o comporta a capacidade de dialogar com a sociedade Ainda de acordo com Castoriadi
74. do Vigotski oooooomom 63 3 5 Caminhos poss veis para a Literatura na forma o humana sscscssseeeeee 70 4 CONSIDERA ES E INSTIGACOEG ccsssssssssssssssssssossessesessecsesecsecsesncecesceneees 78 S REFERENCIAS sado iss EDU Sid AS D UC RSS 86 1 INTRODU O No meio da sala de estar havia uma mesa Sob o tampo ao inv s das pernas um pequeno arm rio em que se guardavam os livros de escola de minhas irm s Havia tamb m dois grandes livros de capa dura e sem inscri es Esses dois volumes me causavam certo medo devido aos desenhos de cat strofes que traziam Eram de um colorido muito vivo e num misto de assombro e curiosidade eu os explorava regularmente Ningu m sabia me explicar do que se tratava Meu pai n o aprendera a ler minha m e tamb m de pouco estudo estava sempre atarefada com outras coisas Saia da debaixo menino Esses eram os jornais do 9 49 nono N o fique mexendo nas coisas de suas irm s va brincar l fora Era um local proibido entendi Eu tinha de ser silencioso e rapido Ficava ali escondido olhando as figuras e imaginando o que significariam aqueles textos escritos numa lingua indecifravel Eu sabia ler mas o italiano era me estranho demais Eu via as figuras e tentava interpretar a lingua Essas experi ncias de leitura incompletas frustrantes s eram poss veis porque meu universo liter rio infantil estava habitado pelos textos de
75. e implicado nesta tem tica e todos os autores analisados como vozes ressoando dentro de mim mesmo ofereciam me reais possibilidades de reelaborar antigas experi ncias e atribuir sentidos novos ao aprofund las Considerar todas as consequ ncias dessa postura abarcava o elemento hist rico a tens o dial tica capaz de assegurar a multirreferencialidade da pesquisa e a constru o de um texto livre de ser uma simples compila o de distintas teorias Isso n o estava acontecendo O texto que eu havia produzido estava cindido em duas partes a introdu o na qual expunha meu itiner rio de pesquisa com algumas das ang stias vivenciadas neste processo e o corpo do trabalho em que apresentava imparcialmente as an lises dos autores procurando confront los encontrando aspectos afins em seus textos De fato eu reconhecia a dificuldade de abandonar os pressupostos de clareza simplicidade imparcialidade da ci ncia tradicional em favor de um estudo que permitisse mostrar a complexidade do processo formativo Entretanto eu n o estava mais ali presente naquela an lise e o texto deixava em suspenso as consequ ncias das implica es deste estudo sobre minha forma o eu que mais diretamente queria descobrir o papel da Literatura na emancipa o do ser humano Ent o ficou claro para mim que o primeiro destinat rio do texto deve ser o pr prio autor que nele encontra o resultado de sua busca Esta introdu o era naquele primei
76. ela concis o da narrativa pela economia de argumentos e pelas imagens de movimento fantasias que desencadeiam a imagina o e que d o ao texto a ideia de que o discorrer como o correr 2007 p 56 Ele compreende a rapidez ent o como elemento importante da narrativa visando a comunicar de modo insuper vel no tempo e no espa o Comunica o entre pessoas diferentes no espa o e no tempo dizia Galileu mas ocorre acrescentar igualmente a comunica o imediata que a escrita estabelece entre todos os seres existentes ou poss veis CALVINO 2007 p 58 A proposta de Calvino recomendar a Literatura enquanto meio o qual estabelece a comunica o entre o que diverso pelo fato de ser diverso n o embotando mas antes exaltando a diferen a segundo a voca o pr pria da linguagem escrita CALVINO 2007 p 58 Essa a meu ver a assertiva mais importante Segundo tal concep o a Literatura estabelece a comunica o na diversidade legitima essa diversidade Mais adiante discorrendo sobre outra qualidade liter ria a EXATIDAO Calvino vai al m afirmando ser na Literatura que a linguagem se torna mais propriamente comunicativa Por que me vem a necessidade de defender valores que a muitos parecer o simplesmente bvios Creio que meu primeiro impulso decorra de uma hipersensibilidade ou alergia pessoal a linguagem me parece sempre usada de modo aproximativo casual descuidado e isso me causa intoler ve
77. ente o horizonte da tomada de consci ncia sobre a leitura a qual se faz do mundo e dos modos de express o nesse mesmo mundo Assumi esse caminho na Universidade e a partir dele fa o a leitura do passado da experi ncia formativa e do lugar da Literatura nessa trajet ria Encontrei Castoriadis 1999 fazendo um balan o programa de seus textos dedicados a quest es de psican lise e filosofia indicando em Feito e a Ser Feito que nada 80 est conclu do acabado algo est feito por m h muito a ser feito ou retomado A avalia o que fa o deste texto tamb m segue essa mesma indica o O passado desvendado movimenta se e na din mica das mudan as ocorridas transforma tamb m o presente e lan a outras perspectivas para o futuro Compreendo que a Literatura ensinou me a penetrar o corag o humano e a enxergar pela palavra suas ang stias dores medos e desejos Mostrou me ainda como perceber a mesquinhez e a virtude as vilanias e hero smos desse corag o podendo descobrir tais sentimentos no pr prio peito e escapar de tais infort nios medos ang stias e desejos desastrosos Eu personagem de mim mesmo num espelho borgiano A Literatura ofereceu as li es para eu me descobrir agente ator e autor no processo formativo Agente por ser parte de um processo de ensino aprendizagem que me antecedeu dado pelos conte dos formais das institui es de ensino Ator pela capacidade de interpretar nesse contex
78. entimentos e afetos mas tamb m suscita tais rea es no leitor Representa a possibilidade de apreender a pluralidade cultural existente uma vez que ela mesma respeita essa pluralidade pela multiplicidade de express es que comporta Na escola em contato com o c none da Literatura Universal o estudante ter acesso a formas de express o as quais muito provavelmente n o reconhece em seu cotidiano A massifica o da linguagem a que est 7 O verso de Mandelstam citado por Vigotski I have forgotten the word I intended to say and my thought unembodied returns to the realm of shadows WEST 1999 p 47 Esqueci a palavra que pretendia dizer e meu pensamento sem forma retorna para o reino das sombras tradu o minha 53 exposto impede o de conhecer possibilidades outras de expressividade que s6 a Literatura em ltima inst ncia pode lhe assegurar Analisemos detalhadamente essas afirma es Berman 2006 como vimos anteriomente assegura que estamos inseridos num verdadeiro turbilh o de experi ncias que nos atordoam de todas as formas Sobre esse contexto marcado pela complexidade humana e social que ousamos pensar com Calvino H coisas que s a Literatura com seus meios espec ficos nos pode dar CALVINO 2007 p 11 De fato acredito ser a Literatura nossa possibilidade de emergir do turbilh o apontado por Berman Reconhe o que a palavra s ela n o d conta de traduzir toda a experi
79. entrismo radical foi desenvolvido e levando o racionalismo s ltimas consequ ncias desembocou na atualidade numa cr tica contundente ao modelo te rico cient fico Severino cita Rouanet que mostra estar a elei o do modelo cient fico racionalista como manifesta o nica da experi ncia humana na origem da crise da racionalidade Depois de Marx e de Freud n o podemos mais aceitar a ideia de uma raz o soberana livre de condicionamentos materiais e ps quicos Depois de Weber n o h como ignorar a diferen a entre uma raz o substantiva capaz de pensar fins e valores e uma raz o instrumental cuja compet ncia se esgota no ajustamento de meios e fins Depois de Adorno n o poss vel escamotear o lado repressivo da raz o a servi o de uma ast cia imemorial de domina o da natureza e sobre os homens Depois de Foucault n o l cito fechar os olhos ao entrela amento do saber e do poder Precisamos de um racionalismo novo fundado numa nova raz o ROUANET apud SEVERINO 2006 p 629 26 O texto de Jorge Larrosa por sua vez aborda as grandes inquieta es que a experi ncia da linguagem tem provocado na pr tica filos fica e liter ria Trata se de uma reflex o nascida dessas inquieta es tendo em vista que a linguagem deixou de ser segura tendo em vista que n o existe mais a convicg o de que todos se entendem perfeitamente ao se utilizarem do mesmo c digo Ela tamb m deixou de ser propriedade do fala
80. erman cita ANDRADE M rio Pref cio Interessant ssimo In Paulic ia desvairada Poesia completa S o Paulo Martins 1966 62 Em tempo minha inten o n o avaliar as possibilidades da Literatura no ambiente escolar tentar compreender que for a essa e quais as condi es necess rias para ela promover a forma o humana Nesse sentido a for a educativa da arte passa pelo reconhecimento da complexidade do discurso humano tanto mais pleno de legitimidade quanto mais rico de sentidos de experi ncias marcantes capazes de influenciar e mesmo transformar a realidade humana O discurso do homem revestido de um significado universal porque inscrito na linguagem humana e ao mesmo tempo expresso na multiplicidade das vozes que o enunciam com seus sentidos particulares o que garante sua legitimidade A arte liter ria alcan a essa possibilidade formativa enquanto saber humano que ultrapassa seu conte do primeiro Lucinea Rezende falando sobre a necessidade de m ltiplas leituras na gradua o diz nos N o me parece que num segmento apenas do conhecimento cient fico no caso da Gradua o vamos nos ver e ver o Mundo como se fosse num espelho m gico onde as duas coisas seriam poss veis ao mesmo tempo preciso mais que isso A radicalidade da Ci ncia seu encanto suas revela es lacunas e mist rios por certo t m espa o de honra na forma o universit ria Mas o encanto as revela es e
81. es Convergentes Vigotski Bakhtin Bateson Campinas SP Mercado de Letras 2006 GIUST DESPRAIRIES Florence Reflex o Epistemol gica sobre a multirreferencialidade In BARBOSA Joaquim Gongalves Coord Multirreferencialidade nas ci ncias e na educac o S o Carlos SP Editora da UFSCar 1998 p 158 167 JUNQUEIRA Fernanda Gomes Coelho Confronto de vozes discursivas no contexto escolar percepc es sobre o ensino de gram tica da l ngua portuguesa 2003 250f Dissertac o Mestrado em Letras Pontif cia Universidade Cat lica do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Dispon vel em lt http www2 dbd puc rio br pergamum tesesabertas 0115421 03 pretextual pdf gt Acesso em 16 out 2009 LAJOLO Marisa Sociedade e literatura parceria sedutora e problem tica In ORLANDI Eni Org Sociedade e linguagem Campinas Editora da Unicamp 1997 p 63 74 LARROSA Jorge Lenguage y educaci n Revista Brasileira de Educa o Campinas SP n 16 p 68 80 jan mar 2001 88 LURIA Alexander Romanovich A atividade consciente do homem e suas raizes s cio hist ricas In Curso de Psicologia Geral introdu o evolucionista psicologia Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1979 p 71 84 MAIA Jo o Domingues Literatura textos e t cnicas 2 ed S o Paulo Atica 2004 MARTINS Jo o Batista Abordagem multirreferencial contribui es epistemol gicas e metodol gicas para o estudo dos fen menos educativos 200
82. esse contexto formativo que delineamos qual o lugar da Literatura N o sendo poss vel sua instrumentaliza o para que legitime tal perspectiva ela perdeu import ncia sendo considerada mormente como instrumento de capacita o para o uso da linguagem N o esse pois o modelo educativo o qual pode oferecer um lugar de destaque Literatura e de assegurar toda sua potencialidade formativa A perspectiva neoliberal instrumentaliza o conhecimento e negligencia a reflex o cr tica de seu modelo disfar ando desse modo a mera adequa o do homem ao seu meio O enfoque do processo formativo pela abordagem multirreferencial por outro lado considera os fen menos humanos como o a educa o em sua complexidade isto respeitando as in meras implica es que os envolvem numa din mica permanente de busca do conhecimento sempre inconcluso O conceito de complexidade como desenvolvido por Morin 2001 acentua que se num primeiro momento complexo o oposto do simples sendo que a ci ncia devia revelar o subjacente aparente confus o dos fen menos as leis simples que os regem Ao longo do s culo XX essa perspectiva foi sendo 47 desconstru da A revolug o cient fica do ltimo s culo tornou evidente a complexidade dos fen menos reconhecendo uma inevit vel parcela de incerteza no conhecimento o fim do saber absoluto e total MORIN 2001 p 564 Conforme a perspectiva multirreferen
83. fala determinado pela situa o imediata ou pelo contexto mais amplo que constitui o conjunto das condi es de vida de uma determinada comunidade lingu stica BAKHTIN 2004 p 121 E o livro Consoante o referido autor O livro isto o ato de fala impresso constitui igualmente um elemento da comunica o verbal Ele objeto de discuss es ativas sob a forma de di logo e 16 al m disso feito para ser apreendido de maneira ativa para ser estudado a fundo comentado e criticado no quadro do discurso interior sem contar as rea es impressas institucionalizadas que se encontram nas diferentes esferas da comunica o verbal cr ticas resenhas que exercem influ ncia sobre os trabalhos posteriores etc Al m disso o ato de fala em forma de livro sempre orientado em fun o das interven es anteriores na mesma esfera de atividade tanto as do pr prio autor como as de outros autores ele decorre portanto da situa o particular de um problema cientifico ou de um estilo de produ o liter ria Assim o discurso escrito de certa maneira parte integrante de uma discuss o ideol gica em grande escala ele responde a alguma coisa refuta confirma antecipa as respostas e obje es potenciais procura apoio etc Qualquer enuncia o por mais significativa e completa que seja constitui apenas uma fra o de uma corrente de comunica o verbal ininterrupta concernente vida cotidiana Literatura ao c
84. forma la imaginaci n constituye una condici n absolutamente necesaria para casi toda funci n cerebral del ser humano Cuando leemos los peri dicos y nos enteramos de miles de acontecimientos que no hemos podido presenciar personalmente cuando de ni os estudiamos la geograf a o la historia cuando conocemos por carta lo que sucede a otra persona en todos estos casos nuestra fantas a ayuda a nuestra experiencia VIGOSKII 1987 p 20 De tal forma se realiza a combina o fantasia realidade que se produz um verdadeiro la o emocional entre ambas como se a emo o elegesse impress es ideias imagens congruentes com o estado de nimo existente naquele instante Essa vincula o entre fantasia e realidade tende a cristalizar se em algo in dito Assim afirma Vigotski 58 El edificio erigido por la fantasia puede representar algo completamente nuevo no existente en la experiencia del hombre ni semejante a ningtin otro objeto real pero al recibir forma nueva al tomar nueva encarnaci n material esta imagen cristalizada convertida en objeto empieza a existir realmente en el mundo y a influir sobre los dem s objetos Tales im genes cobran realidad Pueden servir de ejemplo de esta cristalizaci n o materializaci n de las im genes cualquier aditamento t cnico cualquier m quina o instrumento Fruto de la imaginaci n combinadora del hombre no se ajustan a ning n modelo existente en la naturaleza pero emanan la m
85. forme segue Enquanto sistema de c digos que designam os objetos suas a es qualidades ou rela es e serve de meio de transmiss o de informa o a linguagem teve import ncia decisiva para a posterior reorganiza o da atividade consciente do homem Por isso t m raz o os cientistas que afirmam que a par com o trabalho a linguagem o fator fundamental de formag o da consci ncia O surgimento da linguagem imprime aos menos tr s mudangas essenciais a atividade consciente do homem Primeiro a linguagem permite discriminar esses objetos dirigir a aten o para eles e conserv los na mem ria Resulta da que o homem est em condi es de lidar com os objetos do mundo exterior inclusive quando eles est o ausentes Segundo as palavras de uma lingua n o apenas indicam determinadas coisas como abstraem as propriedades essenciais destas relacionam as coisas perceptiveis a determinadas categorias Isto d 4 linguagem a possibilidade de tornar se n o apenas meio de comunica o mas tamb m o ve culo mais importante do pensamento que assegura a transi o do sensorial ao racional na representa o do mundo Terceiro a linguagem o ve culo fundamental de transmiss o de informa o uma terceira fonte de evolu o dos processos ps quicos A linguagem realmente o meio mais importante de desenvolvimento da consci ncia LURIA 1979 p 80 81 grifos do autor A consci ncia humana assenta sua constitu
86. fornecer os conceitos adequados para uma melhor interpreta o da realidade Por m foi ali que a multiplicidade das linguagens e dos olhares come ou a ser exercitada Onde esteve ent o a educa o emancipadora Talvez n o nos curr culos nos conte dos formais mas permeando cada no o nos interditos no curr culo oculto e sobretudo nos textos liter rios com a multiplicidade de linguagens e de olhares sobre o humano Minha primeira experi ncia acad mica foi interrompida por quest es vocacionais Depois finalmente foram tr s gradua es e a Universidade tornou se de fato o lugar da tomada de consci ncia desse processo formativo de maneira mais ampla Sobretudo por meio da pesquisa que articulando perspectivas conceituais t o heterog neas e considerando a complexidade das manifesta es em que o pr prio pesquisador encontra se presente alcan a produzir mais que s ntese ou explica o cabal dos fen menos A pesquisa TT resultou na produ o de um discurso significativo e ao mesmo tempo problem tico visto que desperta uma s rie de outras quest es a serem pesquisadas Aos poucos observando melhor todo itiner rio formativo especialmente por meio da pesquisa das idas e vindas sobre os autores e sobre minha pr pria hist ria fui delineando os elementos constituintes de meu desenvolvimento e emancipa o As m ltiplas implica es foram se revelando de modo que a emancipa o traduz se a meu ver na
87. i o na possibilidade da linguagem como verificamos Entretanto a linguagem exprimindo certa racionalidade percebe se incapaz de representar a totalidade do real o que gera uma profunda crise e a busca de alguma legitimidade essa a situa o paradoxal que apontei no in cio deste estudo uma das dimens es que constituem em n s o humano nossa pr pria consci ncia que apreende o mundo a linguagem mas essa linguagem reflete uma raz o questionada impossibilitada de apreender totalmente o mundo Tal situa o paradoxal exige parece me a investiga o do lugar da Literatura na forma o humana pois ela guardi da linguagem racionalidade do homem que pode garantir a presen a das diferentes express es do humano e assegurar a heterogeneidade das linguagens as quais comp em essa experi ncia Por m antes de analisar os aspectos formativos da Literatura pretendo considerar alguns pressupostos da educa o porquanto segundo a perspectiva do que seja forma o humana que se estabelece o lugar da Literatura no processo formativo 3 2 Educa o para a emancipa o humana Inaugurei meu texto trazendo uma reflex o sobre a crise da racionalidade 2 tradicional incapaz de expressar a totalidade da experi ncia humana no mundo E a crise 43 manifestada pela linguagem que expressando certa percepg o da realidade conclu a ser impossivel dizer qualquer coisa sobre os fatos e experi ncias Esse est
88. ialidade e devia utiliz lo na elabora o de um caminho seguro capaz de conduzir a pesquisa rumo aos melhores resultados Por m n o obstante a multirreferencialidade mostrar uma s rie de dire es ela n o oferecia a objetividade e a solidez de um caminho seguro como eu esperava O termo diz respeito possibilidade de se estabelecerem m ltiplas refer ncias sobre uma determinada tem tica sem reduzi las todas num sistema explicativo fechado o que me parecia mais plaus vel Diante dessa no o de multirreferencialidade o que me incomodava era como realizar um trabalho de pesquisa a partir do que me parecia um novo paradigma sem incorrer numa simples compila o de textos comentados ou numa jun o desconectada de autores diversos Afinal onde estava o caminho a seguir A perspectiva multirreferencial 18 trazia sim a inseguran a pr pria de quem tem muitas possibilidades plaus veis e nenhuma conclus o sobre elas Na realidade meu entendimento sobre a multirreferencialidade ainda precisava ser lapidado Meu orientador usava a imagem da bricolagem apresentada pelos defensores da abordagem com vistas a assegurar a conjuga o ou articula o dos distintos textos numa nova apresenta o a qual n o deveria ser uma nova s ntese mas bem o contr rio uma nova problematiza o do assunto Precisava ficar clara a complexidade a aus ncia de um ordenamento cabal como se busca nos textos acad m
89. ibilidade de dizer o novo A an lise de Larrosa particularmente significativa a medida que descobre essa reflex o presente em textos liter rios destacando os diferentes olhares os quais lhe s o projetados e propor o que revela a consci ncia do valor da linguagem considerada desde sua caracter stica formal a fim de integrar assimila o e transgress o Como pudemos observar nesse itiner rio tra ado a crise da raz o assenta suas origens na pretens o de oferecer uma s ntese cabal da experi ncia do homem no mundo por meio de um nico modelo hermen utico um discurso monof nico para usar uma express o bakhtiniana o qual esconde a multiplicidade das vozes que tratam dos fen menos julgando ser capaz em si de esco los todos por um nico vi s interpretativo Da impossibilidade de faz lo nasce a desconfian a em rela o a qualquer discurso A crise ent o tamb m crise da palavra da sua capacidade de expressar legitimamente a realidade que pretende Todavia se a crise gera impasse e sil ncio suscita al m disso novas an lises e possibilidades A legitimidade da palavra est nos sentidos que o falante estabelece ao designar o mundo dos fen menos como observamos anteriormente a constru o desses sentidos acontece no di logo entre os falantes Severino e Larrosa em seus textos apontaram as inquieta es surgidas a partir da afirma o de um modelo racional que pretende aglutinar toda experi ncia
90. icos Entretanto como realizar uma pesquisa cient fica a partir desses pressupostos Nos encontros com o orientador ele ia citando autores e eu ia escrevendo os nomes os t tulos dos textos na esperan a de ler todos e encontrar o nexo que os ligava minha pesquisa Cedo percebi que esse nexo o porqu da presen a de um autor ou texto e n o outro tinha de ser urgentemente encontrado Comecei por Vigotski fazia me perguntas sobre o motivo de sua presen a na minha pesquisa e logo percebi a conex o de suas ideias com meus objetivos e o suporte te rico para esta pesquisa Isso foi poss vel mediante seus estudos recuperando as rela es sociais na forma o dos modos de agir humano e sua proposi o de que a intera o com outro mais frente no processo de aprendizagem alavanca minha aprendizagem Em seguida descobri sua inclina o pela arte e pela Literatura o que definitivamente legitimou sua presen a no texto No entanto o orientador citava Borges e Sartre e outros Borges O que tem Borges Por que n o Machado de Assis Li Borges adquiri o comp ndio de suas obras e acabei por encontrar um grande n mero de cita es sobre Literatura escrita educa o Escrevi um coment rio desses textos conectando os com os ensaios de Antonio Candido Mas ainda ficava a pergunta por que Borges A resposta veio por acaso numa livraria em que encontrei um livro intitulado Por que ler Borges OLMOS 2008 Debrucei me sobre ele
91. idade representativa da realidade Ela se torna desse modo uma forma de conhecimento como foi dito Alcan ando certa autonomia a Literatura tem a for a 60 de atuar sobre a realidade adquire uma voz propria capaz de interagir com o leitor e faz lo avan ar no conhecimento daquilo que ainda n o domina O que se estabelece entre a obra liter ria e o leitor um relacionamento em que a primeira provoca instiga desafia seu interlocutor num verdadeiro processo de aprendizagem como anunciava Vigotski Por m Antonio Candido tamb m esclareceu que a Literatura no fim das contas n o se deixa instrumentalizar no sentido de prestar se a um tipo espec fico de educa o Para ele a Literatura educa como a vida com altos e baixos luzes e sombras Outro estudo acerca das rela es entre sociedade e arte liter ria de Marisa Lajolo 1997 revela que a sociedade e nela o Estado com as demais institui es de poder sempre procurou gerenciar o que pode ou o que deve ser lido e ensinado Em raz o disso um controle r gido da imprensa e das institui es de ensino foi constru do ao longo do tempo s vezes de forma aberta e direta s vezes por meios disfar ados ou indiretos Entretanto como bem demonstra a autora em sua an lise tamb m a Literatura e as artes de maneira geral sempre desenvolveu o gerenciamento da sociedade mas de outro modo revelando as institui es de poder anunciando e denunciando suas pol ticas critic
92. ilosofia da Educa o Educa o e Pesquisa S o Paulo v 32 n 3 p 619 634 set dez 2006 SMOLKA Ana Luiza Bustamante O im pr prio e o im pertinente na apropria o das pr ticas sociais Cadernos Cedes Campinas SP ano XX n 50 p 26 40 abr 2000 VIGOSKII Lev Semyonovitch La imaginaci n y el arte en la infancia Ensayo psicol gico M xico Ediciones y Distribuciones Hisp nicas 1987 89 VIGOTSKI Lev Semyonovitch A formac o social da mente 7 ed S o Paulo Martins Fontes 2007 Psicologia da arte S o Paulo Martins Fontes 2001 VIGOTSKY Lev Semyonovitch Obras escogidas v II Madrid Visor 1990 1997 WEST David W Lev Vygotsky s psycology of art and literature Changing English London v 6 n 1 p 47 55 1999 ZILBERMAN Regina Leitura liter ria e outras leituras In GOMES BATISTA Antonio Augusto OLIVEIRA GALVAO Ana Maria de Orgs Leitura pr ticas impressos letramentos 2 ed Belo Horizonte Aut ntica 2002 p 71 87
93. iro trata se de uma atividade que n o est obrigatoriamente ligada a motivos biol gicos antes at regida por complexas necessidades frequentemente chamadas de superiores ou intelectuais Segundo n o for osamente determinada por impress es evidentes recebidas do meio ou por vest gios da experi ncia individual imediata antes toma como orienta o um conhecimento mais profundo das leis interiores dessa situa o raz o por que h todo um fundamento para afirmar se que o comportamento humano baseado no reconhecimento da necessidade livre Terceiro a atividade consciente do homem n o tem como fonte somente a programa o heredit ria e a experi ncia individual mas especialmente a assimila o da experi ncia de toda a humanidade acumulada no processo da hist ria social e transmiss vel no processo de aprendizagem LURIA 1979 p 71 73 grifos do autor Analisando a origem dessa atividade consciente Luria identifica a como um fen meno produzido pelas condi es sociais de vida forjadas historicamente e passa a gt Essa discuss o do determinismo em Vigotski tamb m foi desenvolvida por OLIVEIRA 1992 42 explicitar as raizes dessa complexa atividade consciente do homem Para o autor o trabalho social com o emprego dos instrumentos de trabalho e o surgimento da linguagem promovem a hist ria social do homem 1979 p 75 Especial atenc o ele dedica a linguagem con
94. itimidade desses discursos diversos e inscrev los no plano da experi ncia humana poss vel As obras liter rias asseguram tal processo Embora aos quinze anos de idade a amargura de Bentinho Santiago sua tristeza e desilus o n o fossem capazes de comunicar uma experi ncia significativa para mim ainda que os olhos obl quos de cigana dissimulada como ele enxergava Capitu n o pudessem 83 atingir meu cora o adolescente foi uma primeira leitura e o conhecimento de uma experi ncia humana particular Do mesmo modo li Grande Sert o Veredas Riobaldo e Diadorim eram guerreiros conquistando o sert o enfrentando lutas para reprimir um amor proibido e sobreviver em um ambiente hostil Eu ainda n o era capaz de intuir as veredas de minha pr pria exist ncia toda ela marcada pela presen a de um grande sert o ou melhor dizendo marcada pelo humano desejo de ser t o grande E foi a Universidade com a prerrogativa de abrir o universo apresentar a variedade as m ltiplas leituras os planos diversos e as met foras que desencadeou um processo de descoberta por m ltiplas aproxima es Se por um lado a crise da racionalidade revelou se pela linguagem pela palavra crise estabelecida por um sistema cognitivo que se pretende absoluto nico modelo de compreens o da realidade de meu lado pude perceber a exist ncia de uma educa o capaz de dar ao sujeito a chance de dizer sua palavra Conheci a educa o que p
95. ivre dos determinismos naturais apontados pela maioria dos outros estudos e a qual evidencia a realidade social dos sujeitos hist ricos Vigotski parece consciente da necessidade de retomar todas aquelas reflex es e analis las em suas aplica es pr ticas demonstrando suas limita es e a necessidade de uma postura pluridimensional frente realidade dos fen menos humanos O processo de constru o de seu discurso cient fico retomando autores confrontando os uns com os outros analisando suas propostas e submetendo as a sua pr pria verifica o conduzem no a idas e vindas num movimento dial tico situado historicamente Ele se manteve procurando resgatar a rela o fundamental entre indiv duo e sociedade sem 37 reduzir o que o indiv duo sociedade sem reduzir o que o indiv duo sua sociedade mas tamb m sem reduzir o que o indiv duo sua carga biol gica GERALDI FICHTNER BENITES 2006 p 14 grifo nosso Segundo Geraldi Fichtner e Benites compreender essa rela o sem cair em determinismos significava para Vigotski e para os seus alunos considerar o ser humano como um sujeito da sua vida e ao mesmo tempo como um processo social cultural e hist rico Assumir essa aparente contradi o entre indetermina o e determina o foi sempre uma grande provoca o e um esc ndalo ingente para os ortodoxos da poca stalinista e at para os ortodoxos de hoje 2006 p 14 O ponto
96. l mas produz acima desse material algo que ainda n o est nas propriedades desse material VIGOTSKI 2001 p 308 Mais do que contagiar muitas pessoas com o sentimento de uma a verdadeira natureza da arte sempre implica algo que transforma que supera o sentimento comum e aquele mesmo medo aquela mesma dor aquela mesma inquieta o quando suscitadas pela arte implicam o algo a mais acima daquilo que nelas est contido VIGOTSKI 2001 p 307 A obra de arte assim compreendida suscita um desdobramento para al m daquilo que ela encerra em sua materialidade Poder amos considerar logo que o texto liter rio desperta o leitor para um devir a transcend ncia de sua realidade ordin ria experi ncias que inicialmente ele n o havia cogitado De fato a arte transcende a realidade ordin ria mesmo dependendo dela para se constituir O externo torna se interno por essa resson ncia da palavra do outro do texto a qual sempre transforma algo no leitor pois ali este encontra um sentido pr prio Vigotski analisa a utiliza o da obra liter ria no ensino formal Diz ele que a presen a da obra liter ria objeto da cultura e a presen a de um mediador que tenha avan ado mais em sua an lise podem estabelecer um contexto de aprendizagem proporcionando o desenvolvimento dos educandos Isso porque a Literatura se constitui em s ntese e proje o da experi ncia humana e o professor mesmo quando quer apenas despertar o gosto
97. l rep dio Que n o vejam nessa rea o minha um sinal de intoler ncia para com o pr ximo sinto um rep dio ainda maior quando me ou o a mim mesmo Por isso procuro falar o m nimo poss vel e se prefiro escrever que escrevendo posso emendar cada frase tantas vezes quanto ache necess rio para chegar n o digo a me sentir satisfeito com minhas palavras mas pelo menos a eliminar as raz es de insatisfa o de que me posso dar conta A Literatura quero dizer aquela que responde a essas exig ncias a Terra Prometida em que a linguagem se torna aquilo que na verdade deveria ser CALVINO 2007 p 72 Calvino entende assim que a Literatura assegura a diversidade dos discursos e ao mesmo tempo a terra da exatid o lugar onde as palavras s o particularmente escolhidas para evocar a imagina o e traduzir as nuances do pensamento em suma torna se comunicativa A nfase no aspecto comunicativo nesse caso n o representa a defesa de um purismo como se fosse poss vel uma linguagem inequ voca h pelo contr rio rep dio da palavra vazia dita sem uma resson ncia interior sem que seja uma verdade para o falante Eis porque o ensino da Literatura fundamental possibilidade de sair da massifica o e educar o homem para dizer a sua palavra Esta que se inscreve na 74 linguagem humana conhecida de todos mas tamb m que representa uma particular experi ncia da vida e do mundo Rapidez e
98. lo da trajet ria A experi ncia deles esclarece a minha pr pria trajet ria A linguagem liter ria est presente em nossas hist rias formativas Mas ser poss vel dominar e aplicar formalmente esse aspecto formativo da Literatura A tarefa n o parece t o f cil Antes por m de adentrar neste processo peculiar dos aspectos formativos da Literatura fa o uma reflex o acerca da forma o propriamente dita Durante o processo educativo formal a possibilidade de a Literatura desenvolver livremente uma a o formativa sobre o indiv duo depende da perspectiva pedag gica adotada A forma o para a emancipa o humana est vinculada ao significado que adquire essa mesma forma o e emancipa o em cada perspectiva educativa E f cil perceber no turbilh o apontado por Berman que n o existe consenso a esse respeito Forma o diz respeito a formar a dar forma Trata se de um processo ou conjunto de a es ou de procedimentos que d o forma um processo de determinada configura o ou constitui o Constitui o um termo frequente quando se pensa em forma o O texto de Severino 2006 mostrava como desde a perspectiva cl ssica a forma o corresponde a uma conforma o do sujeito a modelos pr existentes Depois com o Iluminismo e a emerg ncia do sujeito na polis a forma o passou a ser vista como resultante da constitui o dos seres que acontece no conjunto das rela es ocorridas na nature
99. lways being careful not to reduce one another neither produce some conclusive synthesis about the issue The present text is a result of this analysis which takes human emancipation as a possibility of giving meaningful judgment and to dialogue with others as well as to recognize literature as an expression of the varied human experience in the world through written language Literature gives voice to experiences once discredited to a minority once ignored Through this contact with other views of the world the subject reader discovers the existence of other subjects with their specific experiences with their own speech broadens the horizons of its perception of reality and its voice is recognized in the wheel of human dialogue Keywords Education Human development Literature Multi referentiality SUMARIO LAINTRODUCA Ovarios 11 2 EDUCA O E MULTIRREFERENCTALIDADE cssssssssssssssssscssossessesessesoeees 23 2 1 A perspectiva multirreferenciall sccccsssscssssscssssscssssesssssccsssscsosssssssssssesssssees 29 3 LITERATURA E FORMA O HUMANA cccssssssssssosssssesessessesessscsesncsecsesncenees 35 3 1 A compreens o da aprendizagem e do desenvolvimento em Vigotski 36 3 2 Educa o para a emancipa o humana eescessessoesoessessossosssesoossocssessesoossosssesssee 42 3 3 A dimens o educativa da Literatura e seu lugar no itiner rio formativo 52 3 4 Aspectos formativos da Literatura segun
100. ma perspectiva filos fica hist rico cr tica Para realizar uma abordagem multirreferencial n o seria necess rio trazer autores que investigaram o tema desde distintas perspectivas filos ficas Esse era meu questionamento Em minha pesquisa todos eram materialistas e utilizavam a perspectiva marxista n o havia nenhum liberal nenhum divergente Onde estava a multirreferencialidade Apenas nos distintos campos do saber S o diferentes campos do saber educa o arte cr tica liter ria psicologia mas 20 todos abordam as quest es desde um mesmo paradigma epistemol gico Estava claro que eu ainda nao tinha uma vis o ampla da multirreferencialidade de meu estudo Muitas perguntas poucas respostas E meu orientador indicava mais textos diferentes autores os mais variados enfoques assegurando a necessidade de problematizar um pouco mais o tema ao inv s de tentar fech lo em busca de solu es Minha preocupa o era de criar um sum rio mesmo que apenas um esbo o capaz de apaziguar meu profundo sentimento de falta de dire o A ang stia era intensa Por um lado a necessidade de ter tudo tragado de antem o inclusive o lugar aonde eu queria chegar e por outro lado incertezas quanto ao caminho tra ado e quanto produ o de algo aceit vel Assim fui tecendo uma urdidura de textos autores enfoques pequenos sum rios novas quest es novos textos autores e enfoques Durante a qualifica o os profe
101. mano Ele acredita que o processo de instru o tem uma estrutura pr pria uma sucess o e uma l gica de desenvolvimento que se relacionam com aquela outra estrutura tamb m peculiar na cabe a dos alunos Segundo o autor cada crian a tem una red interna de procesos que ven a la luz y se mueven durante la instrucci n escolar pero que poseen su propia l gica de desarrollo VIGOTSKY 1990 1997 p 237 Vemos ent o que no processo de aprendizagem as duas estruturas interagem aquela que pretende se estabelecer pelo ensino e a estrutura ps quica particular do estudante As investiga es de Vigotski levaram no a afirmar a exist ncia de uma influ ncia da instru o no desenvolvimento das fun es ps quicas superiores porque a aprendizagem capaz de puxar o desenvolvimento delas Com vistas a explicar esse fen meno Vigotski desenvolveu sua no o de Zona de Desenvolvimento Pr ximo Ele constatou que as investiga es acerca do problema da aprendizagem da poca limitavam se a estabelecer o n vel do desenvolvimento mental da crian a Os investigadores apresentavam tarefas para que a crian a resolvesse e assim estabeleciam seu grau de desenvolvimento No entanto para o referido autor esse procedimento apenas revela o que j est assimilado pela crian a deixando de lado o que ainda est por vir 39 Vigotski entende que o estado de desenvolvimento da crian a n o pode ser determinado apenas pelo que ela
102. mas s outras manifesta uma apreens o nica do mundo em sua pluralidade Calvino ressalta A excessiva ambi o de prop sitos pode ser reprovada em muitos campos da atividade humana mas n o na Literatura A Literatura s pode viver se se prop e a objetivos desmesurados at mesmo para al m de suas possibilidades de realiza o S se poetas e escritores se lan arem a empresas que ningu m mais ousaria imaginar que a Literatura continuar a ter uma fun o No momento em que a ci ncia desconfia das explica es gerais e das solu es que n o sejam setoriais e especial sticas o grande desafio para a Literatura o de saber tecer em conjunto os diversos saberes e os diversos c digos numa vis o plural stica e multifacetada do mundo CALVINO 2007 p 127 grifo nosso N o posso afirmar a presen a de todos esses elementos formativos em meu itiner rio A institui o escolar que frequentei nos anos da ditadura militar estava mais voltada para a reprodu o de um conhecimento legitimado do que para a educa o de um sujeito cr tico No entanto foi ela que forneceu as bases conceituais para os posteriores desdobramentos educativos Depois veio a Universidade Naqueles primeiros anos da abertura pol tica a Academia n o conseguiu educar me para uma cr tica das institui es ficando a nfase ainda na elei o de um conte do legitimado outro tamb m ele pensado em termos de conhecimento verdadeiro capaz de
103. mative aspects of Literature the literay arts in human emancipation from a multi referential perspective 2010 89 f Dissertag o Mestrado em Educag o Universidade Estadual de Londrina Londrina PR 2010 ABSTRACT For a long time human formation was sustained in presupposes in which a legitimate knowledge should be reproduced in the educative process In this context literature was considered a capacitating instrument for the speaker formation who knew the language and his communicative capacity However at the present time the formative process is more comprehensive as a search for knowledge which is changing continuously and literature besides keeping the expressive language also represents the possibility to give voice to different experiences of man in the world Considering the importance of this phenomenon I try to analyze the consequences of this change in perspective in order to discern which are the aspects of the formative literature and in which extent it contributes to the formation of the emancipated human being Through bibliographic research bringing up some authors who have worked with this subject in the Philosophy Psychology Literary Critic and Pedagogy fields as well as literary texts I intend to present a text with their main contribution and with the resonances of my own academic background I started up with a multi referential approach ensuring the multiplicity of speeches and trying to articulate them all a
104. mb m entendi a possibilidade de haver diferentes leituras produzidas por diferentes aproxima es o que amplia ilimitadamente a aprendizagem e o desenvolvimento Ainda com rela o a essa perspectiva da aprendizagem que considera encontro das vozes do texto com as do leitor encontrei nos escritos de outro pensador russo Mikhail Bakhtin os pressupostos te ricos os quais podem legitimar tal perspectiva pedag gica Analisando o processo de forma o da linguagem e do psiquismo humano o autor concebe a l ngua como fen meno social que possibilita a intera o verbal dos falantes Toda palavra comporta duas faces Ela determinada tanto pelo fato de que precede de algu m como pelo fato de que se dirige para algu m Ela constitui justamente o produto da intera o do locutor e do ouvinte Toda palavra serve de express o a um em rela o ao outro Atrav s da palavra defino me em rela o ao outro isto em ltima an lise em rela o coletividade A palavra uma esp cie de ponte lan ada entre mim e os outros Se ela se ap ia sobre mim numa extremidade na outra ap ia sobre o meu interlocutor A palavra o territ rio comum do locutor e do interlocutor BAKHTIN 2004 p 113 grifos do autor Nessa perspectiva a exist ncia da l ngua possibilita a intera o verbal dos falantes o que se realiza atrav s de enunciados A enuncia o por sua vez um puro produto da intera o social quer se trate de um ato de
105. memoriza o ativa pensamento abstrato a o intencional GERALDI FICHTNER BENITES 2006 p 15 De acordo com Vigotski todas as fun es no desenvolvimento da crian a aparecem duas vezes primeiro no n vel social e depois no n vel individual primeiro entre pessoas interpsicol gica e depois no interior da crian a intrapsicol gica Isto se aplica igualmente para a aten o volunt ria para mem ria l gica e para forma o de conceitos Todas as fun es superiores originam se das rela es reais entre indiv duos humanos VIGOTSKI 2007 p 57 58 Essa afirma o do autor aponta para a natureza cultural das fun es psicol gicas superiores n o como fruto de mera transposi o fora dentro e sim resultado de complexa elabora o pessoal denominada por ele processo de internaliza o Tal processo se desenrola desde o primeiro instante em que a crian a nasce e constitui se em aprendizagem As fun es psicol gicas elementares permitem crian a entrar em contato 38 com o mundo que a rodeia ao mesmo tempo em que gra as a media es s cio hist rico culturais situadas ela desenvolve as fun es psicol gicas superiores Tentei demonstrar que o curso do desenvolvimento da crian a caracteriza se por uma altera o radical na pr pria estrutura do comportamento a cada novo est gio a crian a n o s muda suas respostas como tamb m as realiza de maneiras novas gerando novo
106. meros defensores da leitura liter ria na escola relativa s fun es que a Literatura desempenha na forma o humana Minha hip tese que a Literatura ocupa um lugar especial na educa o para a emancipa o humana no sentido de ser o artefato que melhor exprime a pluralidade das experi ncias do homem no mundo Ela possibilita que o sujeito conhe a a diversidade da linguagem suas nuances e possibilidades e alcance finalmente dizer sua pr pria palavra A Literatura como uma das guardi s da multiplicidade do discurso humano tem um papel singular nesse processo Ela antecede e possibilita ao mesmo tempo em que erige e consolida as distintas vis es de mundo e da os diferentes sistemas cognitivos com que o olhar humano enxerga a realidade O texto liter rio impl cita ou explicitamente carrega a heran a cultural do homem Ao longo de todo o processo formativo desde os primeiros instantes do indiv duo no 36 mundo at a educac o formal atrav s da escola e depois fora dela de maneira aut noma a Literatura vai desdobrando o olhar do homem descortinando novos horizontes de diferentes modos sempre presente como express o das m ltiplas vozes que comp em nosso universo Ela uma das express es da linguagem e a linguagem sobretudo que possibilita a emancipa o do homem sua constitui o no universo humano pelo dom nio da fala Desse modo julgo relevante analisar tamb m o processo por meio do qual
107. mpresiones vividas sino que cree nuevas im genes nuevas acciones pertenece a esta segunda funci n creadora o combinadora El cerebro no se limita a ser un rgano capaz de conservar o reproducir nuestras pasadas experiencias es tambi n un rgano combinador creador capaz de reelaborar y crear con elementos de experiencias pasadas nuevas normas y planteamientos Si la actividad del hombre se redujera a repetir el pasado el hombre seria un ser vuelto exclusivamente hacia el ayer e incapaz de adaptarse al ma ana diferente Es precisamente la actividad creadora del hombre la que hace de l un ser proyectado hacia el futuro un ser que contribuye a crear y que modifica su presente VIGOSKII 1987 p 9 Para Vigotski a imagina o essa capacidade de combinar e reelaborar as experi ncias passadas produzindo novas express es Isso acontece segundo ele em virtude da uni o entre fantasia e realidade En tal sentido la imaginaci n adquiere una funci n de suma importancia en la conducta y en el desarrollo humano conviertendose en medio de ampliar la experiencia del hombre que al ser capaz de imaginar lo que no ha visto al poder concebir bas ndose en relatos y descripciones ajenas lo que no experiment personal y directamente no est encerrado en el estrecho c rculo de su propia experiencia sino que puede alejarse mucho de sus l mites asimilando con ayuda de la imaginaci n experiencias hist ricas o sociales ajenas En esta
108. nesse caso desde o in cio do processo formativo manipulam se modernas tecnologias num processo formativo que privilegia a t cnica em detrimento de qualquer forma o humana Tais perspectivas neoliberais tentam ainda estabelecer a no o de que o processo formativo se desenvolve pura e simplesmente como um ato da vontade individual do educador que seria capaz por si s de promover a transforma o das realidades dos formandos e de seu entorno Por isso os projetos governamentais sempre falam da necessidade da participa o efetiva dos educadores e da comunidade sem a qual n o se chega a um ensino de qualidade Significa que se os resultados n o forem positivos a culpa ser sempre dos indiv duos os quais n o se esfor aram o suficiente ou n o tinham m rito De acordo com essas concep es a educa o de qualidade vai transformar o formando num ex mio conhecedor das novas tecnologias atento s novidades da sociedade preciso que ele tenha desenvolvido essa capacidade de perceber as novidades sociais e econ micas juntamente com a suficiente flexibilidade para adaptar se a elas N o se pensa em s nteses pessoais mas apenas em treinamento e assimila o Sobre essa tem tica ver o estudo de GENTILI 2004 46 Zz Sob esse ponto de vista emancipado o sujeito capaz de mudar seus padr es rapidamente conformando se s novas necessidades que seu meio exige pragm tico capaz de valori
109. nte porque nem sempre s o deste os ju zos que expressa Al m disso j n o temos dom nio pleno sobre a linguagem Ao longo do s culo XX ela adquiriu car ter de precariedade pluralidade e dinamismo Experimenta se ainda o desfalecimento da linguagem que significa ao mesmo tempo la experiencia del desfallecimiento de los modos tradicionales de racionalidad que determinaban nuestro modo de conocer el mundo y de encarar la vida LARROSA 2001 p 70 A inten o de Larrosa percorrendo as reflex es desenvolvidas pela filosofia de Nietzsche Heidegger e Gadamer al m de textos liter rios de Hofmannsthal e Handke a de mostrar posibilidades que nos permitan estar atentos al habla y a nuestra relaci n con ella como diz ele citando Heidegger LARROSA 2001 p 69 De fato a quest o da legitimidade da racionalidade humana deve ser compreendida em ltima inst ncia como possibilidade de o homem dizer uma palavra sobre a realidade que o circunda Nesse texto de Larrosa vemos interessante reflex o de cunho pedag gico nas passagens em que ele analisa algumas ideias de Hannah Arendt sobre a educa o O car ter prec rio de nosso discurso como o referido autor anuncia de in cio vem de uma tradi o filos fica a qual Larrosa retoma em linhas gerais Segundo ele tal car ter fruto de um ju zo temer rio de que nossas afirma es acerca do mundo s o totalmente seguras e capazes de embasar nossas a es No mesmo
110. nte significados e sentidos ao mesmo tempo em que propriamente nos constituem enquanto sujeitos da intera o A palavra os conceitos o conhecimento a linguagem todos esses elementos v o constituindo o humano no homem atrav s do processo interativo Na Educa o entendida desde o contexto escolar com a presen a do mediador mais adiantado o educador propriamente dito e num processo complexo de internaliza o de conceitos cada vez mais aperfei oados Vigotski revelou me ainda o lugar eminente da arte liter ria ela mesma capaz de fornecer o contato com experi ncias e linguagens distintas daquelas nas quais me inscrevo Nas idas e vindas do texto nas an lises dos distintos autores e nas resson ncias dessas vozes pude perceber os elementos de um processo de autoriza o pessoal como prop s Ardoino 1998 O sujeito est sempre a constituir se coautor de si pela media o educativa Esse processo tem in cio na inf ncia quando se capaz de pronunciar um primeiro n o ou seja colocar a pr pria vontade frente vontade do outro Entretanto isso ainda n o autonomia Somente com o dom nio da linguagem e a atribui o de outros sentidos realidade que a emancipa o vai se consolidando Ao emitir ju zos que lhe sejam significativos ao dizer uma palavra que seja sua O sujeito ingressa na esfera da emancipa o O processo de pesquisa como atitude concreta de amor pelo saber que abre verdadeiram
111. o autor A instrumentaliza o da Literatura na educa o para que atue como manual de virtude e boa conduta cria um objeto artificial incapaz de se acomodar totalmente Candido conclui sobre essa fun o educativa que a Literatura n o corrompe nem edifica portanto mas trazendo livremente em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal humaniza em sentido profundo porque faz viver CANDIDO 2002 p 85 grifo do autor Outra quest o pensar se a Literatura teria uma fun o de conhecimento do mundo e do ser Candido reconhece que a Literatura uma forma de conhecimento uma forma de express o e ainda uma constru o semi tica aut noma A obra liter ria de fato possui uma autonomia de significado mas est vinculada s suas fontes de inspira o no real sobre as quais atua Assim ela pode ser tamb m a representa o de uma realidade social e humana espec fica oferecendo ao leitor uma melhor compreens o ou n o dessa realidade Nessa perspectiva Candido analisa diferentes textos de Literatura regionalista exemplificando como em alguns casos ao inv s de resgatar tipos marginalizados os escritores acentuam determinado estigma A Literatura de qualquer modo confirma a humanidade do homem uma fun o psicol gica de tipo cat rtica responde necessidade humana de fic o e fantasia Sendo fruto da imagina o criativa do homem parte sempre de sua experi ncia do real constituindo se em nova ent
112. o nosso h bito de leitura a arte de n o ler Ela consiste na atitude de n o escolher para ler o que a cada momento determinado constitui a ocupa o do grande p blico por exemplo panfletos pol ticos ou liter rios romances poesias etc que causam rebuli o justamente naquele momento e chegam a ter v rias edi es em seu primeiro e ltimo ano de vida SCHOPENHAUER 2007 p 131 132 grifo do autor 15 sujeitos e por outro lado no plano intersubjetivo das rela es com o outro dos significados constru dos historicamente e partilhados socialmente Observada desse ngulo a aprendizagem tem in cio na intera o social na maneira como constru mos rela es com o mundo os outros e conosco por meio do trabalho e da linguagem A educa o o conjunto das a es que promovem a inclus o do ser humano nessa roda do di logo ou seja no mundo A leitura de Vigotski permitiu que eu percebesse a grande complexidade que envolve no es como aprendizagem e desenvolvimento humano Pude vislumbrar a exist ncia de in meras possibilidades de verdadeiro di logo entre textos e leitores e de leitores entre si Identifiquei me com a assertiva vigotskiana de que a leitura de fato realiza o encontro das vozes as quais comp em o texto com as que constituem o leitor Al m disso observei que as aproxima es entre leitor e texto produzem determinados sentidos os quais se alteram medida que os leitores interagem Ta
113. obrindo minhas faltas nos compromissos de minha responsabilidade meu muito obrigado Aos amigos que me fortaleceram com sua presen a constante e suas palavras de motiva o A todos voc s meu muito obrigado O grande desafio para a Literatura o de saber tecer em conjunto os diversos saberes e os diversos c digos numa vis o pluralistica e multifacetada do mundo talo Calvino GATTI Jos Paulo Aspectos formativos da Literatura a arte liter ria na emancipa o humana desde uma perspectiva multirreferencial 2010 89 f Dissertag o Mestrado em Educa o Universidade Estadual de Londrina Londrina PR 2010 RESUMO A forma o humana durante muito tempo esteve assentada em pressupostos segundo os quais um conhecimento legitimado devia ser reproduzido no processo educativo A Literatura nesse contexto era considerada como instrumento de capacitac o para o uso da linguagem para o aprendizado das express es mais apropriadas comunica o do conhecimento Hoje no entanto o processo formativo mais bem compreendido enquanto busca de um conhecimento que se transforma continuamente A Literatura al m de manifestar as possibilidades expressivas da linguagem tamb m representa o espa o em que se encontra a voz das diferentes experi ncias do homem no mundo Reconhecendo a import ncia desse fen meno procuro analisar as consequ ncias dessa mudan a de perspectiva de maneira a vislumbrar quais os aspe
114. omens nele de maneira que possa dialogar com essas outras perspectivas da realidade Permite ainda conhecer essas outras linguagens o que amplia consideravelmente seu universo conceitual e a possibilidade de expressar a pr pria experi ncia Contudo n o dizendo uma palavra que o sujeito falante propriamente faz uma experi ncia tica Antes ouvindo uma palavra a do outro e interagindo com ela que se pode estabelecer a tica do di logo aquela na qual est permitido a cada um dizer sua pr pria palavra desde sua situa o humana concreta reconhecida por todos os falantes Ler Dom Casmurro na altura dos quatorze ou quinze anos por exemplo n o foi propriamente uma experi ncia agrad vel ou emancipadora Naquele momento o texto era ins pido e rido demais Minhas leituras dessa poca eram Frederick Forsyth Harold Hobins Agatha Christie J lio Verne Jos Lins do Rego Jorge Amado Guimar es Rosa Fernando Sabino entre outros tantos Eram leituras de entretenimento sem a percep o da diversidade de planos interpreta es sem a consci ncia das met foras presentes embora o tr gico as injusti as e a explora o do homem mexessem com meus sentimentos Quando li O Guardador de Rebanhos de Fernando Pessoa mais adiante fiz uma profunda descoberta Naquele momento eu tamb m trazia em meu peito mais humanidades que Cristo e cogitava mais filosofias que Kant Eu me sentia dono daquelas palavras como se eu me
115. onhecimento pol tica etc Mas essa comunica o verbal ininterrupta constitui por sua vez apenas um momento na evolu o cont nua em todas as dire es de um grupo social determinado BAKHTIN 2004 p 123 grifos do autor Fiz quest o de fazer essa longa cita o para mostrar como Bakhtin partindo do objeto livro indica a polifonia da linguagem presente nesse produto da comunica o humana em particular mas tamb m em toda enuncia o por mais completa que seja Bakhtin 2004 defende a ideia de que os discursos se constituem de dois modos monof nicos os quais parecem se constituir de uma nica voz e polif nicos constitu dos de diferentes vozes provenientes de outros contextos comunicativos reelaborados e ressignificados pelos locutores em sua pr pria fala A esse respeito esclarece nos Fernanda Junqueira Conforme os recursos discursivos utilizados pelos sujeitos falantes teremos o discurso monof nico e o discurso heterogl ssico ou polif nico O primeiro abafa outras vozes enquanto que o segundo permite entrever as diversas vozes que o constituem No discurso polif nico h uma pluralidade de vozes que coexistem em fun o do car ter dial gico das pr ticas discursivas as rela es dial gicas entre discursos s o percept veis isto deixam se ver e entrever No discurso monof nico as rela es dial gicas ocultam se por tr s de um discurso nico de uma nica voz JUNQUEIRA 20
116. ontra o como experimentei 12 Mas a pergunta nao pode ser apenas por que ler Dessa primeira questao mais b sica respondida em termos de necessidade humana decorre outra sobre os sentidos que o homem atribui ao texto liter rio Se procurarmos entender para al m da satisfag o de necessidades o significado da leitura de textos liter rios e de suas implica es na constitui o do humano devemos percorrer um itiner rio j tragado por in meros estudiosos desejosos de compreender o sentido da arte na vida do homem Cabe registrar desde j que pretendo considerar a Literatura neste texto em sua acepc o mais ampla como criac o art stica humana material que explora as possibilidades da linguagem desdobrando seus horizontes Sob esse ponto de vista intento compreender as consequ ncias dessa densa manifesta o de experi ncias na forma o do ser humano emancipado Terei oportunidade adiante de apresentar v rios conceitos de Literatura e de que maneira sua exist ncia toca a vida humana Assim considerar a Literatura como arte implica dizer que ela carrega mais do que sua materialidade encerra materialidade entendida como papel letras palavras discurso ali est al m de uma hist ria um universo de emo es de sentimentos de ideias de sentidos m ltiplos para serem explorados como diz Domingos Pellegrini Ouvimos falar que determinado ponto tur stico ou recurso natural paisagem ou arquitetura
117. or a irresist vel sobre as imagens Seja como for as solu es visuais continuam a ser determinantes e vez por outra chegam inesperadamente a decidir solu es que nem as conjecturas do pensamento nem os recursos da linguagem conseguiriam resolver CALVINO 2007 p 106 Assim para Calvino a imagina o vem de um repert rio do potencial do hipot tico de tudo quanto n o nem foi e talvez n o seja mas que poderia ter sido o esp rito fant stico um mundo ou recept culo jamais saturado de formas e de imagens 2007 p 106 107 A import ncia da visibilidade na Literatura do modo abordado por Calvino corresponde a sua capacidade de evocar imagens e ser express o delas num mundo em que estamos correndo o perigo de perder uma faculdade humana fundamental a capacidade de p r em foco vis es de olhos fechados de fazer brotar cores e formas de um alinhamento de caracteres alfab ticos negros sobre uma p gina branca de pensar por imagens CALVINO 2007 p 108 grifo do autor Isso tudo porque vivemos numa poca de imagens pr fabricadas ofertadas num dil vio intempestivo repetidas at a satura o impostas aos indiv duos de todos os modos mas de forma que nenhuma adquira relevo As imagens que marcam s o novos s mbolos que carregamos e que materializam experi ncias profundas carregadas de emo o e sentimento como aquela criada por Homero quando Pr amo beija as m os assassinas de Aquile
118. os mist rios s podem fazer sentido quando encontram resson ncia em nosso eu impregnado de subjetividades Quando podem ser aquilatados mediante outros saberes Nossos saberes a cada novo saber v o se transformando e nos transformamos com isso Sem ler somos sempre os mesmos medida que lemos mais nossa compreens o de Mundo e de n s pr prios nele como um barco em alto mar vai mais e mais longe REZENDE 2007 p 4 A Literatura nos insere no mbito da subjetividade humana no mbito da palavra com a qual nos constitu mos e constitu mos nosso mundo O conhecimento que ela det m o das vozes que a comp em da experi ncia humana traduzida no texto liter rio S rgio Paulo Adolfo refletindo sobre a Literatura e a vis o do mundo afirma que O texto liter rio permite que o leitor tome contato com as mais variadas situa es humanas pois ao manipular um texto ao adentrar nas profundezas abismais do tecido liter rio o leitor estar na verdade aprofundando no seu pr prio eu numa esp cie de retorno de si mesmo a busca do tempo perdido de Proust a busca do tempo perdido de cada um de n s arcabou o humanit rio resgatado atrav s da fala do poeta ou do ficcionista Ezra Pound afirma que o artista a antena da ra a e n s dirfamos que ele a antena da nossa humanidade Um texto liter rio consegue condensar as virtudes e falhas humanas sendo que o artista ao fingir uma determinada sit
119. ossibilita estabelecer um sentido reconhecidamente leg timo para a pr pria experi ncia capaz portanto de garantir outra raz o plural comunicativa Tamb m os textos liter rios permitem que a experi ncia humana seja expressa por interm dio das muitas vozes que a constituem Calvino ja nos alertava quando afirmava O grande desafio para a literatura o de saber tecer em conjunto os diversos saberes e os diversos c digos numa vis o plural stica e multifacetada do mundo CALVINO 2007 p 127 Para isso n o h que se buscar um sistema nem regras universais Apresentando suas propostas para a arte liter ria no terceiro mil nio encontrei Calvino defendendo a leveza a exatid o a rapidez a visibilidade a multiplicidade e a consist ncia embora sobre essa ltima n o chegasse a escrever para que a Literatura possa continuar sendo verdadeira express o do humano Arrisco me no entanto a dizer que tais propostas n o se enquadram num sistema harmonioso H entre elas certa n o complementaridade Por exemplo um texto talvez n o possa em ltima inst ncia ser exato conciso ao mesmo tempo em que cultiva a multiplicidade ou apresenta visibilidade ou rapidez e leveza E n o h nenhum problema nisso Enquanto textos s o propostas que garantem a sonoridade das vozes capazes de comunicar algo significativo entre os interlocutores Tamb m Pound 1990 escrevendo sobre o m todo para estudo da poesia e da Literatura afi
120. pela leitura faz uma leitura pr pria interage com os alunos a partir de uma das 70 possibilidades de aproximag o do texto de modo que a leitura confrontada com a leitura dos alunos e abrem se novos horizontes de compreens o A educa o nesse sentido organiza a consci ncia para a rea o diante do objeto de arte ao mesmo tempo em que suscita mudan a Vigotski citando S Molojavi fala em termos de um processo que amplia a personalidade enriquece a com novas possibilidades predisp e para a rea o conclu da ao fen meno ou seja para o comportamento VIGOTSKI 2001 p 325 O sentido pedag gico da arte consiste em ter a obra de arte a caracter stica de tocar a alma humana daquele que a percebe para al m de seu pr prio sentimento numa experi ncia in dita de encontro com o humano concomitantemente a arte o impulsiona a uma rea o Tal experi ncia orientada atrav s da media o educativa remete a novos desdobramentos do que foi assimilado e representa um novo comportamento Da pode acontecer uma nova aproxima o da obra art stica e novas inquieta es podem produzir outro processo O que foi internalizado em uma primeira experi ncia promove tal como uma alavanca seu desdobramento em novas descobertas Desse modo o encontro com o objeto art stico cria a Zona de Desenvolvimento Pr ximo toca o ser humano promovendo a abertura para o conhecimento no processo de aprendizagem o que resulta em compor
121. pelo qual as pessoas o consideram EAGLETON 1994 p 9 O conceito de Literatura consoante Eagleton um constructo modelado por determinadas pessoas por motivos particulares e num determinado momento N o existe uma obra ou uma tradi o liter ria que seja valiosa em si a despeito do que se tenha dito ou se venha a dizer sobre isso Valor um termo transitivo significa tudo aquilo que considerado valioso por certas pessoas em situa es espec ficas de acordo com crit rios espec ficos e luz de determinados objetivos EAGLETON 1994 p 12 M rcia Abreu 2006 discutindo tamb m as m ltiplas defini es da Literatura entende que esse conceito algo cultural e hist rico e portanto n o poss vel analisar os textos mediante uma nica perspectiva hermen utica A autora defende outra proposta que se abra m o da tarefa de julgar e hierarquizar o conjunto dos textos empregando um nico crit rio e se passe a compreender cada obra dentro do sistema de valores em que foi criada N o se trata de se esquivar de qualquer forma de Julgamento ou hierarquia at porque os grupos culturais avaliam suas pr prias produ es e decidem que h algumas mais bem realizadas que outras O que parece Z inadequado entretanto avaliar todas as composig es segundo os crit rios pertinentes cria o erudita Abandonando essa forma de agir ficar claro que n o h livros bons ou ruins para
122. plicativo unit rio as ci ncias humanas necessitam de explica es ou de olhares ou de ticas de perspectivas plurais para dar conta um pouco melhor ou um pouco menos mal da complexidade dos objetos ARDOINO apud MARTINS 2000 p 57 O autor esclarece que a an lise multirreferencial das situa es das pr ticas dos fen menos e dos fatos educativos se prop e explicitamente uma leitura plural de tais objetos sob diferentes ngulos e em fun o de sistemas de refer ncias distintos os quais n o podem reduzir se uns aos outros Muito mais que uma posi o metodol gica trata se de uma decis o epistemol gica ARDOINO apud MARTINS 2000 p 57 58 Ainda segundo Ardoino o interesse de tal procedimento no campo da pesquisa o de conduzir interroga o sobre a natureza e sobre o processo de constru o de tais objetos A multirreferencialidade n o quer a partir da absolutamente fornecer uma resposta complexidade constatada com a qual permanece intimamente ligada ou tornar sua leitura dirigida por assim dizer mas constitui muito mais o apelo deliberado atrav s da pluralidade de olhares e de linguagens reconhecidos como necess rios compreens o dessa suposta complexidade emprestada ao objeto de um questionamento epistemol gico atualmente imprescind vel nessas reas antecessor de toda operacionaliza o de m todos e dispositivos Lembremos que neste caso trata se de quest
123. psicologia popular deixou de satisfazer por dois motivos primeiro servia ainda para alimentar toda sorte de subjetivismo em est tica embora as correntes objetivas necessitassem 67 de premissas objetivas segundo desenvolvia se uma nova psicologia que reconstru a o fundamento de todas as antigas chamadas ci ncias da alma O objetivo da nossa pesquisa foi justamente rever a psicologia tradicional da arte e tentar indicar um novo campo de pesquisa para a psicologia objetiva levantar o problema oferecer o m todo e o princ pio psicol gico b sico de explica o e s VIGOTSKI 2001 p 2 grifo do autor O autor afirma a t tulo de pref cio que sua investigac o responde a procura de um caminho fora da prec ria pris o do subjetivismo por meio de uma tend ncia a objetividade a uma precisa cient fica e material aproximag o do conhecimento nos campos da psicologia e da est tica De acordo com Vigotski a est tica sempre esteve baseada em pressupostos psicol gicos no entanto a velha psicologia popular com seu subjetivismo n o respondia mais s quest es atuais O advento da nova psicologia a psicologia objetiva poderia reconstruir as bases fundamentais de toda chamada ci ncia da alma incluindo a est tica A crise ent o representava uma oportunidade e um desafio para os psic logos da arte refundarem o estudo da est tica a partir da nova psicologia objetiva Existiram duas teorias psicol gic
124. ra isso necess rio pensar mais globalmente fugir dos reducionismos das especializa es de nosso saber compartimentado De acordo com os autores preciso nos aproximarmos de um pensar 61 coletivo na construg o de um novo sujeito GERALDI FICHTNER BENITES 2006 p 92 Para eles Existe um campo do saber humano cujo valor justamente a objetiva o do expansivo Um campo no qual a qualidade do expansivo est muito pr xima e tem uma inesgot vel riqueza o campo da arte e das obras de arte A arte materializa torna vis vel a capacidade humana de ultrapassar limites fixados de abandonar contextos estereotipados de criar novos contextos As obras de arte podem ser entendidas e analisadas como modelo dessa capacidade GERALDI FICHTNER BENITES 2006 p 95 O conceito de arte como espa o educativo capaz de promover a objetiva o do expansivo entendido enquanto capacidade de o aprendiz estabelecer novas rela es consigo e com a realidade suscita uma confronta o com outro modelo formativo aquele cuja inten o o treinamento para a adapta o do educando ao seu meio e a reprodu o de um conhecimento legitimado como expusemos acima Ora esse modelo de educa o compartimentada incapaz de responder aos desafios da modernidade de educar para a diversidade Ele se edifica pelo cumprimento de expectativas previamente estabelecidas entre os atores da forma o estudantes e formadores A
125. rado por Umberto Eco A leitura das obras liter rias nos obriga a um exerc cio de fidelidade e de respeito na liberdade de interpreta o H uma perigosa heresia cr tica t pica de nossos dias para a qual de uma obra liter ria pode se fazer o que se queira nelas lendo aquilo que nossos mais incontrol veis impulsos nos sugerirem N o verdade As obras liter rias nos convidam liberdade da interpreta o pois prop em um discurso com muitos planos de leitura e nos colocam diante das ambiguidades e da linguagem e da vida Mas para poder seguir neste jogo no qual cada gera o l as obras liter rias de modo diverso preciso ser movido por um profundo respeito para com aquela que eu alhures chamei de inten o do texto ECO 2003 p 12 Buscando compreender quais s o os aspectos formativos da Literatura comecei este trabalho fazendo determinadas escolhas compondo uma s rie de pressupostos dentre os quais poderia realizar uma investiga o optei por tratar da Literatura em sua manifesta o escrita Iniciei meu estudo lembrando o contexto de crise da racionalidade tradicional e da linguagem como possibilidade de express o objetiva da experi ncia humana E com a crise o desafio urgente de descobrir outras possibilidades de express o uma nova raz o comunicativa capaz de garantir a pluralidade e subjetividade da experi ncia humana no mundo Conforme disse na introdu o desse trabalho minha inten o ao ini
126. re as quais se desenvolveu o edif cio filos fico da modernidade o pensamento cr tico contempor neo tem procurado recuperar a experi ncia est tica como via privilegiada de resgate da corporeidade e o lugar poss vel do sentido encarnado 2006 p 630 Tratarei na sequ ncia da relev ncia da arte na emancipa o humana especificamente da arte liter ria que me parece profundamente implicada na constituig o do sujeito falante As duas afirma es de Severino apresentadas h pouco revelam uma consci ncia assaz precisa do lugar da arte na vida do homem contempor neo Considerar a experi ncia est tica um modo de resist ncia o ltimo opress o da racionalidade tradicional significa dizer que a arte ainda guarda uma dimens o de autonomia frente s tentativas de instrumentaliza o e massifica o presentes na sociedade contempor nea Se a palavra de algum modo forma o pensamento em sua possibilidade de express o como indica o verso de Osip Mandelstam citado por Vigotski no cap tulo final de Pensamento e Linguagem a Literatura por meio da linguagem escrita garante a perman ncia desse pensamento e a variedade de express es Ademais ela impede a redu o da palavra por ser guardi dos sentidos m ltiplos desta e ainda pode suscitar a catarse o maravilhamento al m de tantas outras fun es que lhe s o atribu das A Literatura possibilita n o s expressar as diferen as e nuances de s
127. rmava ser ele o m todo dos biologistas contempor neos a saber exame cuidadoso e direto da mat ria e cont nua COMPARA O de uma l mina ou esp cime com outra POUND 1990 p 23 grifo do autor Contudo dizia ele no mesmo texto Um cl ssico cl ssico n o porque esteja conforme certas regras estruturais ou se ajuste a certas 84 Zz defini es das quais o autor cl ssico provavelmente jamais teve conhecimento Ele cl ssico devido a uma certa juventude eterna e irreprim vel p 22 Pound enfatiza a validade do m todo cient fico para a an lise de um poema e paradoxalmente logo em seguida declara que n o s o regras pr estabelecidas que asseguram a grandeza de cl ssico Vejo nisso uma contradi o a qual n o inviabiliza o discurso mas pelo contr rio enriquece o Cada olhar e cada voz expressa uma experi ncia humana e nem por isso se reduz um olhar no outro nem as vozes se misturam elas se complementam Chego a este ponto do texto acreditando ter realizado uma pesquisa significativa a minha percep o Observo neste momento relembrando antigas experi ncias confrontando as com saberes e viv ncias de outros como a Literatura sempre esteve presente em minha vida e em cada uma das trajet rias analisadas N o se trata por m de um ponto de chegada mas de uma tomada de consci ncia e de uma abertura para novas experi ncias Candido afirmava que a Literatura humaniza em sentido p
128. rmite crian a chegar solu o de determinados problemas com a ajuda de outra pessoa mais velha e ou mais capaz nesse n vel sobretudo que a escola trabalha ou deve trabalhar no sentido de proporcionar sempre um passo a frente na direg o daquilo que ainda n o foi internalizado A dist ncia que h entre o que sou capaz de resolver por mim mesmo e o que aprendo com o aux lio do outro chamada por Vigotski de Zona de Desenvolvimento Pr ximo o espaco momento entre o que j est internalizado conhecimento adquirido e o que ainda n o est totalmente incorporado mas que existe enquanto potencialidade e est vinculado aos ciclos de desenvolvimento j completados A crian a portanto alcan a esse conhecimento existente atrav s da intelectualidade de outro com quem interage e que j assimilou o que ela ainda est descobrindo A Zona de Desenvolvimento Pr ximo a rea do desenvolvimento relacional e o espaco das potencialidades do ser humano Vigotski tem consci ncia de que o ensino baseado no nivel de desenvolvimento real de uma crianca gira em torno do que j est completo fechado Entretanto o que ocorre na aprendizagem que ela cria a zona de desenvolvimento pr ximo por despertar a possibilidade de avangar em direg o ao que ainda n o foi completamente assimilado A aprendizagem desse modo aponta para o futuro Nas palavras do pr prio autor Propomos que um aspecto essencial do
129. ro resultado de trabalho o nico momento em que eu apresentava um rosto anseios frustra es Em seguida por m enquanto pesquisador eu sa a de cena para dar lugar a um texto herm tico e distante da realidade pesquisada Eu exclu a do texto ao final minha pr pria trajet ria formativa e as influ ncias da Literatura na constitui o de minha autonomia de sujeito Segundo a banca contudo era 22 necess rio resgatar quais as implica es dessa tem tica na trajet ria do pesquisador como nica maneira de oferecer um discurso verdadeiramente humano e pass vel de tornar se significativo tamb m para os leitores Barbier explica em que consiste a implica o engajamento pessoal e coletivo do pesquisador em e por sua pr xis cient fica em fun o de sua hist ria familiar e libidinal de suas posi es passadas e atual nas rela es de produ o e de classe e de seu projeto s cio pol tico em ato de tal modo que o investimento que resulte inevitavelmente de tudo isso seja parte integrante e din mica de toda atividade de conhecimento BARBIER 1985 p 120 Com uma nova perspectiva retomei o texto para repens lo a partir de minha experi ncia formativa e da emancipa o por influ ncias liter rias Nas p ginas a seguir procuro dar um sentido a todo esse emaranhado de ideias e perspectivas o inevit vel desejo de encontrar e propor um nexo em tudo N o h muitas conclus es Quem poderia t las Com as
130. rofundo porque faz viver 2002 p 85 Compreendo que os textos liter rios com os quais convivi alguns dos quais relatei neste trabalho proporcionaram me aut nticas experi ncias de encontro e di logo Tais obras se conformam em uma encruzilhada de saberes s o o dep sito da multiplicidade das experi ncias humanas e a reserva de uma pluralidade de linguagens que constitu ram na complexa din mica do processo formativo minha palavra mais aut ntica Eagleton afirma Sempre ouvimos dizer que a Literatura est vitalmente relacionada com as situa es existenciais do homem que ela antes concreta do que abstrata apresenta a vida em toda sua rica variedade e rejeita a investiga o conceitual est ril preferindo o sentimento e o gosto de se estar vivo EAGLETON 1994 p 211 Foi essa perspectiva da Literatura que procurei tornar mais evidente Julgando ser ela capaz de fundamentar a no o de que ao se deparar com a rica variedade da exist ncia humana no mundo o leitor amplia sua possibilidade de di logo Este texto mostra e registra assim o resultado de minha pesquisa e as considera es acerca do papel da Literatura na forma o do ser humano emancipado capaz de participar do di logo com o outro Ao estabelecer os pressupostos de minha an lise delimitei os resultados do estudo de modo a evidenciar que n o tive o objetivo de prescrever sugest es sobre a utiliza o de textos liter rios na forma o de e
131. rporativo e de luta de classes descomunal explos o demogr fica que penaliza milh es de pessoas arrancadas de seu habitat ancestral empurrando as pelos caminhos do mundo em dire o de novas vidas r pido e muitas vezes catastr fico crescimento urbano sistemas de comunica o de massa din micos em seu desenvolvimento que embrulham e amarram no mesmo pacote os mais variados indiv duos e sociedades Estados nacionais cada vez mais poderosos burocraticamente estruturados e geridos que lutam com obstina o para expandir seu poder movimentos sociais de massa e de na es desafiando seus governantes pol ticos ou econ micos lutando por obter algum controle sobre suas vidas enfim dirigindo e manipulando todas as pessoas e institui es um mercado capitalista mundial drasticamente flutuante em permanente expans o BERMAN 2006 p 16 grifo do autor A racionalidade humana entretanto n o est falida o sil ncio n o tem sido a nica resposta poss vel pois continuamos pensando comunicando construindo Repensando toda essa heran a cultural a pesquisa sobre os fen menos humanos tem apontado outras possibilidades de inteligir no sentido mesmo de ler dentro as realidades que materializam nossos atos As pesquisas t m tamb m renomeado as situa es o conhecimento fragmentado agora articulado se antes s tinha valor cient fico o dado objetivo atualmente s o consideradas as m ltiplas implica es existente
132. s instrumentos de comportamento e substituindo sua fun o psicol gica por outra Opera es psicol gicas que em est gios iniciais eram realizadas atrav s de formas diretas de adapta o mais tarde s o realizadas por meios indiretos A complexidade crescente do comportamento das crian as reflete se na mudan a dos meios que elas usam para realizar novas tarefas e na correspondente reconstru o de seus processos psicol gicos Nosso conceito de desenvolvimento implica a rejei o do ponto de vista comumente aceito de que o desenvolvimento cognitivo o resultado de uma acumula o gradual de mudan as isoladas Acreditamos que o desenvolvimento da crian a um processo dial tico complexo caracterizado pela periodicidade desigualdade no desenvolvimento de diferentes fun es metamorfose ou transforma o qualitativa de uma forma em outra embricamento de fatores internos e externos e processos adaptativos que superam os impedimentos que a crian a encontra Dominados pela no o de mudan a evolucion ria a maioria dos pesquisadores em psicologia da crian a ignora aqueles pontos de viragem aquelas mudan as convulsivas e revolucion rias que s o t o frequentes no desenvolvimento da crian a VIGOTSKI 2007 p 80 81 grifos do autor O momento da instru o escolar representa uma etapa peculiar desse processo de desenvolvimento Para Vigotski a educa o escolar tem uma import ncia capital no desenvolvimento do ser hu
133. s a emancipa o do sujeito realiza se desde que o processo formativo desperte o amor pelo saber Uma coisa n o se d sem a outra O sujeito aut nomo o sujeito pensante que cultiva o amor pelo conhecimento Castoriadis afirma n o vejo como se pode formar alunos como seres aut nomos no sentido verdadeiro e pleno do termo se esses seres n o aprendem a amar o saber portanto se eles n o aprendem ARDOINO BARBIER GIUST DESPRAIRIES 1998 p 67 O aprendizado depende de uma predisposi o interior do sujeito que Castoriadis define como verdadeiro amor pelo saber Tal amor se expressa na capacidade de o sujeito cultivar a pesquisa m e do conhecimento A pr tica educativa consiste na inser o dos mais jovens na sociedade pela media o dos mais velhos Ardoino 1998 entende que essa tarefa estabelecida por um processo de autoriza o Pais professores educadores desempenham pap is bem estabelecidos no mbito da organiza o social S o fun es que comportam compet ncias responsabilidades poderes Ao mesmo tempo eles est o sempre diante de seres espec ficos em intera o direta com seus psiquismos e esses indiv duos tamb m atuam diretamente no processo educativo por meio de manifesta es transferenciais proje es e invers es afetivas mais ou menos inconscientes O processo de autoriza o por conseguinte realiza se em um mbito bastante complexo de jogos simb licos do imagin rio de cada um
134. s como dizia Borges Quanto multiplicidade Calvino utiliza se do termo para falar de uma caracter stica do romance moderno a seu ver o romance contempor neo como enciclop dia como m todo de conhecimento uma rede de conex es entre os fatos entre as pessoas entre as coisas do mundo 2007 p 121 Citando textos e autores italianos Calvino mostra a exist ncia de um entrela amento de todas as realidades Nesses textos cada objeto m nimo visto como o centro de uma rede de rela es da qual o escritor n o consegue se esquivar multiplicando os detalhes a ponto de suas descri es e divaga es se tornarem infinitas 2007 p 122 Entrela am se assim elementos de diferentes horizontes conceituais numa tentativa de compreender o todo da exist ncia e s o explorados em todas as rela es passadas e futuras reais ou poss veis A escrita aflora por essa tens o entre exatid o racional e deforma o pela explora o das palavras como componente de todo processo de conhecimento 76 113 A multiplicidade logo corresponde a manifestar pelo texto liter rio a presen a simult nea dos elementos mais heterog neos que concorrem para a determina o de cada evento CALVINO 2007 p 121 Calvino afirma caber a Literatura a tarefa antiga de representar a multiplicidade das rela es A Literatura assegurando a presen a das m ltiplas realidades n o sintetizadas das m ltiplas vozes n o reduzidas u
135. s muitas delas subjetivas e o que era caos incerteza reconhecido hoje como a opacidade pr pria dos fen menos humanos 44 Por conta disso abracei uma postura multirreferencial aproximando olhares distintos fazendo uma leitura atenta das implica es e resson ncias destas vozes em minha pr pria vida ela tamb m inserida no processo formativo em discuss o A Literatura em minha hist ria anunciada j nas primeiras linhas deste texto quando crian a significava assombro e encantamento Haveria algo de formativo naquelas leituras de entretenimento E quais s o os aspectos formativos da Literatura capazes de promover a emancipa o humana Qual leitura de fato educa Investiguei diversos autores procurando em suas trajet rias pessoais as respostas Vigotski o pensador russo maravilhado com os efeitos diversos da leitura de textos liter rios enveredou pelos caminhos da psicologia procurando compreender essa din mica tratada de forma t o determinista pelos psic logos de seu tempo Borges o escritor argentino formado na biblioteca da fam lia descobriu o mundo por meio da Literatura e criou sua pr pria biblioteca interior a partir das vozes todas que ressoam em seus textos dos labirintos pelos quais vagueia Ele no entanto n o se perde porque o labirinto n o um emaranhado de caminhos que dificultam a chegada na verdade uma multiplicidade de veredas as quais possibilitam o conhecimento mais amp
136. s condi es de vida na Rom nia sob o regime pol tico comunista de Nicolae Ceaucesco Essa premia o exemplifica outra perspectiva em rela o Literatura e sua import ncia na vida humana Apresenta uma nfase distinta Sem negligenciar os aspectos formais de um texto liter rio ressalta o conte do que ele traz a hist ria humana com toda carga de viv ncias passadas e experi ncias acumuladas que se n o foram reais poderiam ter sido Entretanto n o me parece pr prio analisar a Literatura em termos de mudan a de nfase entre forma e conte do Isso parece empobrecer a for a deste olhar sobre o texto liter rio No caso da obra de Muller trata se de um texto capaz de retratar o universo dos despossu dos e assim representa o reconhecimento da exist ncia de uma voz das minorias de sua literariedade E isso na concess o de um Pr mio Nobel ou seja feito pelo olhar que erige e constitui a obra de arte desde a perspectiva hegem nica Sem querer adentrar em uma an lise demasiadamente ideol gica do conceito de Literatura penso que ao considerar o texto liter rio enquanto VOZ HUMANA SITUADA o que se alcan a a express o de uma perspectiva peculiar da Literatura 3 4 Aspectos formativos da Literatura segundo Vigotski As contribui es apresentadas at aqui me ajudaram a compreender o lugar de destaque que a Literatura poderia ocupar na forma o do ser humano emancipado Tal perspectiva parece me tamb m a de
137. smo as tivesse pronunciado Elas se tornaram minhas e expressavam com uma clareza que nunca experimentara antes minha verdade Naquele momento a Literatura revelava minhas verdades aquelas que eu sustentava sem palavras at que as encontrei A Literatura me traduzia para mim mesmo era palavra do poeta mas na realidade era palavra significativa para mim leitor que encontrava a express o perfeita de uma verdade pessoal 82 A tomada de consci ncia revela o que antes se ignorava por estar encoberto ou seja ela emancipa Trata se da possibilidade de dispor dos pr prios pensamentos de explicit los nome los para ent o convert los transform los segundo o que se julga melhor A Literatura por ser construg o de signos e sentidos e reserva da multiforme pluralidade dos discursos constitui se em verdadeira guardi desse dep sito das experi ncias da humanidade Mestra e ao mesmo tempo serva da palavra a Literatura possibilitou o processo formativo no qual estive inscrito desde os primeiros instantes da vida al m de conduzir perlaborac o constru o de outros sentidos encontrado a partir da leitura de textos liter rios A Literatura n o prescreve nada n o se constitui em um sistema estruturado cartesianamente A obra liter ria d voz ao que humano d voz s express es do humano efetivamente as enuncia ela revela o humano do homem com suas grandezas e desastres Nesse sentido a Literatura constit
138. ssores da banca fizeram uma s rie de considera es acerca desse meu projeto O texto naquele momento apresentava se como uma tentativa de refletir sobre o papel da Literatura numa sociedade marcada pelo decl nio da racionalidade cientificista tradicional Entretanto havia tamb m um esfor o uma tentativa de abordar o lugar da Literatura na din mica da forma o humana mas isso n o estava bem definido no texto A banca apontou inconsist ncias falhas lacunas e principalmente a disson ncia entre o que estava proposto no t tulo e em alguns excertos do trabalho e aquilo que de fato era discutido no conjunto Seria necess rio sobretudo situar me como investigador na trama da pesquisa Alguns esclarecimentos sobre a multirreferencialidade levaram me a perceber que o pesquisador das ci ncias humanas tamb m se encontra implicado no seu objeto de estudo O orientador j havia falado sobre a necessidade de ressaltar a dimens o hist rica na pesquisa o que eu havia interpretado por ter cuidado com aspectos dial ticos conflitivos Por conta disso a qualifica o se tornou um momento rico de reflex o acerca da postura multirreferencial entendida n o mais como simples itiner rio de estudos e sim como um posicionamento do pesquisador frente ao seu objeto Ficava claro naquele momento que eu mesmo estava profundamente implicado na pesquisa Desde a escolha da tem tica minhas palavras iniciais recordando experi ncias marcantes
139. studantes Entendo que o educador ao ler essas considera es poder avali las e descobrir em que medida poderiam ter utilidade pr tica A 85 reflex o teve na realidade o objetivo de compreender alguma coisa acerca dos aspectos formativos da Literatura Se colaborar para que os educadores avaliem sua pr pria trajet ria com textos liter rios e a maneira como desempenham sua atividade docente ter alcangado mais do que se propos realizar De fato somente a descoberta dos condicionamentos aos quais estamos submetidos pela longa e continuada trajet ria formativa que poder possibilitar a mudanga deles 5 REFERENCIAS ABREU Marcia Cultura letrada literatura e leitura S o Paulo Editora UNESP 2006 ADOLFO S rgio Paulo Literatura e vis o de mundo In REZENDE Lucin a Aparecida de Org Leitura e vis o de mundo pe as de um quebra cabe a Londrina Eduel 2007 p 23 36 ARDOINO Jacques A complexidade In MORIN Edgar Org A religa o dos saberes o desafio do s culo XXI Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2001 p 548 558 Abordagem multirreferencial plural das situa es educativas e formativas In BARBOSA Joaquim Gon alves Coord Multirreferencialidade nas ci ncias e na educa o S o Carlos Editora da UFSCar 1998 p 24 41 BARBIER Ren GIUST DESPRAIRIES Florence Entrevista com Cornelius Castoriadis In BARBOSA Joaquim Gon alves Coord Multirreferencialidade nas ci
140. sujeitos ainda sofrem em virtude da aliena o dado que n o participam da riqueza produzida pelo seu labor N o obstante as contradi es da cultura ocidental o processo educativo qual itiner rio tra ado no passado para incluir o homem no universo humano continua validado no presente de acordo com o autor No entanto essa situa o degradada do momento hist rico social que atravessamos s faz agu ar o desafio da forma o humana necess ria pelas car ncias nticas e pela conting ncia ontol gica dos homens mas poss vel pela educabilidade humana SEVERINO 2006 p 621 A educa o pode realizar seu objetivo apesar das contradi es a que est sujeita pela pr pria condi o humana educ vel Vou tratar dessa quest o da Educa o pormenorizadamente mais adiante Entretanto preciso dizer neste ponto que a educa o a pr tica humana capaz de dar respostas s car ncias do ser humano embora tenha suas limita es O texto de Severino 2006 percorrendo a hist ria dos sentidos atribu dos educa o desde a forma o cl ssica at aos nossos dias constata que a antiga tradi o come ou a ser alterada com o Iluminismo e o movimento das transforma es hist rico sociais que formaram a moderna sociedade burguesa e mercantil O fator social como elemento principal na constitui o da realidade do ser humano desenvolveu se sobretudo ao longo do s culo XIX A partir da um antropoc
141. t ncia do processo de aprendizagem esta transforma o conhecimento e configura o de uma maneira particular Se assim n o fosse n o haveria desenvolvimento Segundo Geraldi Fichtner e Benites 2006 embora o sujeito se constitua na intera o social e ent o a consci ncia seja de natureza social e cultural a constru o desse n cleo n o um processo de c pia de uma realidade externa e social Ao contr rio trata se de um processo ativo em que o indiv duo constr i a si mesmo como sujeito transformando as rela es sociais em fun es psicol gicas superiores GERALDI FICHTNER BENITES 2006 p 16 grifos dos autores Assim entre a crian a e o mundo sempre h uma media o e o primeiro mediador um adulto seguido da palavra Sob tal perspectiva o processo de forma o humana toma nuances bastante espec ficas pois ele se circunscreve no plano da intersubjetividade enraizado num contexto s cio cultural e mediado pela fala Com essas afirma es Vigotski ao lado de Alexander Luria e Alexei Nikolaievich Leontiev oferece nos uma teoria a qual pontua a centralidade da linguagem situando o processo de aprendizagem e desenvolvimento hist rica e dinamicamente a partir da intera o de fun es psicol gicas superiores e b sicas no contexto social Luria 1979 afirma que a atividade consciente do homem se caracteriza principalmente por tr s tra os fundamentais definidos por ele como expomos a seguir Prime
142. ta a Literatura como expressividade humana a qual ele julga necess rio assegurar no terceiro mil nio a RAPIDEZ Ela no entanto n o um valor em si Considerando as caracter sticas do conto Calvino bem observa que o tempo narrativo pode ser tamb m retardador ou c clico ou im vel Em todo caso o conto opera sobre a dura o um sortil gio que age sobre o passar do tempo contraindo o ou dilatando o CALVINO 2007 p 49 Apesar disso o cr tico tende a valorizar mais o primeiro estilo liter rio Diz Calvino citando Giacomo Leopardi A rapidez e a concis o do estilo agradam porque apresentam alma uma turba de ideias simult neas ou cuja sucess o t o r pida que parecem simult neas e fazem a alma ondular numa tal abund ncia de pensamento imagens ou sensa es espirituais que ela ou n o consegue abra las todas de uma vez nem inteiramente a cada uma ou n o tem tempo de permanecer ociosa e desprovida de sensa es A for a do estilo po tico que em grande parte se identifica com a rapidez n o nos deleita sen o por esses efeitos e n o consiste sen o disso A excita o das ideias simult neas 13 pode ser provocada tanto por uma palavra isolada no sentido pr prio ou metaf rico quanto por sua coloca o na frase ou pela sua elabora o bem como pela simples supress o de outras palavras ou frases etc LEOPARDI apud CALVINO 2007 p 55 Para o autor esses s o os efeitos provocados p
143. tamentos sempre renovados O educador um dos sujeitos dessa rela o educativa em que est o envolvidos a obra de arte seu autor e o leitor Despertando uma nova vis o de mundo abrindo os horizontes da percep o humana a Literatura constitui se nessa perspectiva em um universo de conhecimentos de experi ncias que fundam o humano no homem Ela educa no sentido mais pr ximo do que fal vamos de inserir na cultura humana inaugurando uma raz o de fato comunicativa de m ltiplas refer ncias 3 5 Caminhos poss veis para a Literatura na forma o humana Creio ter chegado a um ponto da reflex o sobre os aspectos formativos da Literatura que confirma seu lugar especial na educa o para a emancipa o humana como eu disse anteriormente Enquanto expressa a diversidade da linguagem humana capaz tamb m de dar corpo s m ltiplas experi ncias do homem no mundo tornando se dessa forma uma linguagem carregada de significado Sem produzir um discurso homog neo dessa experi ncia a Literatura materializa a capacidade imaginativa humana e seus objetos personagens e situa es n o raro t m o poder de se apoderar dessa mesma imagina o humana Ela 71 desperta para um vir a ser cria um espaco de possibilidades de conhecimento sobretudo quando esse espa o consiste no di logo com o outro talo Calvino 2007 analisando um poss vel lugar para a Literatura no terceiro mil nio desenvolve fecundo caminho par
144. tido de se assegurar uma aprendizagem capaz de colaborar para a forma o do sujeito aut nomo que interage criticamente em seu meio 2 EDUCACAO E MULTIRREFERENCIALIDADE Vigotski pesquisador da aprendizagem e do desenvolvimento humano a quem vou me referir muitas vezes nesse estudo discorrendo sobre m todo de sua pesquisa psicol gica afirma que em geral qualquer abordagem fundamentalmente nova de um problema cient fico leva inevitavelmente a novos m todos de investigac o e an lise VIGOTSKI 2007 p 59 Ocorreu comigo justamente essa situa o ao projetar descobrir as implica es formativas da Literatura no processo educativo humano Durante este trabalho verifiquei que pesquisador caminho percorrido e o fen meno em quest o s o uma unidade de an lise indissoci vel A partir disso tencionei avaliar as implica es de minha experi ncia encontradas ao longo da an lise dos textos e da reflex o pessoal de tal modo que o processo da pesquisa comp s se em conhecimento e passou a integrar o estudo Como atestava Vigotski falando do m todo de an lise neste caso o m todo ao mesmo tempo pr requisito e produto o instrumento e o resultado do estudo 2007 p 69 A leitura de um texto de Antonio Joaquim Severino 2006 sobre os sentidos da forma o humana na hist ria da civiliza o ocidental desde sua origem grega deu me elementos para compreender os antecedentes da atual crise da racionalida
145. to determinado papel de professor o qual promove a discuss o de estudante em busca do entendimento e de escritor capaz de comunicar uma significativa experi ncia humana Autor pela possibilidade de criticar questionar e at refutar os textos analisados dando lhes um sentido particular ao dizer uma palavra pr pria a qual pode ser significativa tamb m para o outro interlocutor no di logo formativo Bakhtin ensina como a emerg ncia de minha palavra vem da dialogicidade Toda a ess ncia da apreens o apreciativa da enuncia o de outrem tudo o que pode ser ideologicamente significativo tem sua express o no discurso interior Aquele que apreende a enuncia o de outrem n o um ser mudo privado da palavra mas ao contr rio um ser cheio de palavras interiores Toda a sua atividade mental o que se pode chamar o fundo perceptivo mediatizado para ele pelo discurso interior e por a que se opera a jun o com o discurso apreendido do exterior BAKHTIN 2004 p 147 Assim no exerc cio do di logo na pr tica da escuta na pesquisa e na intera o com os outros falantes bem como no encontro com as m ltiplas manifesta es da experi ncia humana por meio da Literatura possibilitado pela heterogeneidade dos discursos analisados que se desenvolveu minha pr pria voz A problem tica dos aspectos formativos da leitura liter ria no entanto envolve outras quest es Por que ler Literatura A resposta em s
146. tornar se a si mesmo seu pr prio coautor de querer se situar explicitamente na origem de seus atos e por conseguinte dele mesmo enquanto sujeito ARDOINO 1998 p 28 Ardoino ressalta a nog o de coautor no sentido de que ningu m autor de si mesmo H outros autores anteriores os pais os educadores de maneira que nos autorizamos a partir da relag o sob a influ ncia dos outros A emancipa o defendida por Ardoino nao implica de forma alguma auto sufici ncia Cumpre me ressalvar que para Ardoino os conceitos de agente ator e autor se inscrevem numa perspectiva mais propriamente psicol gica dos comportamentos do sujeito e que eles subsistem justapostos imbricados um no outro N o poss vel se liberar da condi o de agente transformando se em ator pela d diva de uma conscientiza o de uma sensibiliza o ou de uma forma o ARDOINO 1998 p 29 O sujeito numa determinada situa o desempenhar concomitantemente as atitudes do agente do ator e tamb m do autor se o processo formativo desenvolver essa din mica A autonomia se promove como podemos observar com uma educa o na qual os sujeitos nela envolvidos podem progressivamente conquistar adquirir constituir desenvolver nele a capacidade de se autorizar quer dizer de acordo com a etimologia de se fazer de se tornar seu pr prio autor ARDOINO 1998 p 29 Tamb m analisando a tem tica da educa o para a emancipa o do homem
147. tra racionalidade distinta daquela j internalizada assegurada pela educa o que desenvolvemos A leveza defendida por Calvino confere Literatura essa capacidade de elevar o texto acima das realidades concretas que enrijecem o olhar sobre a realidade Tal dimens o muda o ngulo a partir do qual visualizamos as situa es humanas e d Literatura a possibilidade de pensar de maneiras distintas tais situa es Acredito ser essa tamb m a perspectiva da educa o visto ter ela por objetivo uma mudan a de comportamento De fato uma mudan a de comportamento deve sempre ser precedida por uma mudan a de olhar Creio ter experimentado a mencionada dimens o do texto liter rio justamente quando estive confrontado por textos religiosos primeiramente e filos ficos logo em seguida Tais leituras provocaram a mudan a do olhar e redirecionaram meus caminhos apontando me outras perspectivas antes desconhecidas Se Borges teve a biblioteca de sua casa n o imposs vel que os meninos e meninas das classes populares possam ter os livros dos amigos ou a biblioteca da escola com algum texto capaz de despertar uma leitura significativa capaz de apoderar se de sua imagina o e desencadear um processo de mudan a de comportamento Exemplo disso que aos quinze anos de idade a leitura de uma biografia de Paulo Ap stolo baseada em suas ep stolas provocou profundos questionamentos em minha vida Outra proposta de Calvino que tamb m ressal
148. trabalho depois de fazer sua revis o filos fica Larrosa 2001 destaca dois textos liter rios em que a tem tica da linguagem o centro da discuss o O primeiro de Hugo von Hofmannsthal uma carta desse escritor comunicando ao seu correspondente sua total impossibilidade de continuar escrevendo Larrosa explica a den ncia feita pelo literato da fal ncia da racionalidade cl ssica e do impasse do sil ncio porquanto a linguagem n o mais capaz de ordenar o mundo La obra escrita entre 1901 y 1902 se titula Carta de Lord Chandos La carta constituye un testimonio de la enfermedad de las palabras y de la imposibilidad de los ju cios del desfallecimiento del lenguaje y por lo tanto del naufragio del yo y de la p rdida del mundo El autor de la carta comunica a su corresponsal su decisi n de abandonar la vocaci n y la profesi n de escritor y las razones que le han conducido a esa decisi n simplemente la p rdida de la capacidad de pensar o hablar coherentemente sobre cualquier cosa Chandos no puede usar las palabras comunes aquellas que todo el mundo usa sin sentir un inexplicable malestar sin tener la sensaci n de que se le descompon an en la boca como hongos podridos 27 Adem s se siente impotente para juzgar puesto que los juicios comunes le parecen vacuos y falsos Y siente la imposibilidad de expresar sus pensamientos o sus sensaciones Chandos se ha quedado mudo porque el lenguaje no es capaz de
149. ua o ou sentimento est na verdade universalizando o seu sentimento que particular tornando o universal e colocando o dessa forma ao alcance de todos os homens ADOLFO 2007 p 27 O conceito de Literatura esbo ado neste trabalho reflete uma escolha que tem por base uma experi ncia pessoal as leituras e propostas colocadas em pr tica em meu itiner rio formativo Essa experi ncia sempre esteve vinculada ao c none ocidental 63 legitimado pelas institui es que cuidaram de minha educa o formal A postura dessas institui es se caracterizou pela valoriza o dos aspectos formais da Literatura e o entendimento de que a linguagem precisa ser conhecida em todas as suas express es Segundo me parece reconhece se atualmente a literariedade de textos que enfatizam conte dos existenciais H uma nova valoriza o da Literatura enquanto VOZ que manifesta uma vis o de mundo peculiar n o prestigiada mas igualmente leg tima por se tratar de voz humana Essa voz por outro lado pode interagir com os leitores e pode comunicar lhes algo talvez antes impensado o que aconteceu por exemplo na premia o do Nobel de Literatura 2009 Ao conceder o pr mio para a escritora alem Herta Muller os organizadores declararam que com a densidade da sua poesia e a franqueza da sua prosa a autora alcan ou retratar o universo dos despossu dos Muller que romena de nascimento destacou se por seus relatos sobre as dur ssima
150. uca o capaz de promover a emancipa o reconhece a legitimidade da complexidade dos discursos humanos Trata se de uma perspectiva mais consciente das in meras implica es do conhecimento que comp e a compreens o do mundo e a presen a do homem nele Esse conhecimento faculta ao indiv duo a possibilidade de interferir e transformar a realidade desse mundo e tamb m constituir e transformar sua pr pria realidade de pessoa humana A educa o desde essa perspectiva pensada enquanto produ o da consci ncia verdadeira voltada para a capacidade imaginativa do homem e capaz de refazer o mundo no qual se inscreve por meio dos novos sentidos produzidos pelos olhares com que apreende a realidade A meu ver tais articula es constituem as bases de uma aut ntica forma o para a emancipa o do homem Quando penso a no o de emancipa o do homem esta perspectiva que tenho em mente qual seja a do ser humano amante do saber em 52 permanente crescimento capaz de dizer sua propria palavra diante da palavra do outro e de participar da roda do di logo humano 3 3 A dimens o educativa da Literatura e seu lugar no itiner rio formativo A experi ncia est tica constitui o ltimo modo de resist ncia dos indiv duos a desenfreada opress o causada universalmente pela racionalidade t cnica da sociedade capitalista contempor nea SEVERINO 2006 p 631 Como bem acentuou Severino autor que p e em xeque as bases sob
151. ucativos Dada a subjetividade dos atores n o h possibilidade de se estabelecer crit rios matem ticos mensur veis para analisar a a o humana Paulo Freire descartando estes postulados afirma ser a tica os pressupostos morais a verdadeira base em que precisa se instalar o discurso cient fico e a partir da qual se prop em objetivos O discurso tico garante a legitimidade da proposi o e n o a imparcialidade essa ing nua atitude de quem imagina um conhecimento deslocado de seu contexto e de inten es concretas Da o meu nenhum interesse de n o importa que ordem assumir um ar de observador imparcial objetivo seguro dos fatos e dos acontecimentos Em tempo algum pude ser um observador acinzentadamente imparcial o que por m jamais me afastou de uma posi o rigorosamente tica Quem observa o faz de um certo ponto de vista o que n o situa o observador em erro O erro na verdade n o ter um certo ponto de vista mas absolutiz lo e desconhecer que mesmo do acerto de seu ponto de vista poss vel que a raz o tica nem sempre esteja com ele FREIRE 2006 p 14 A tica ent o crit rio de legitimidade do discurso e n o mais a pseudo imparcialidade Aquela compreende um posicionamento claro mas que n o pode ser absolutizado como nico discurso poss vel Etica compreende pluralidade Freire considera o ser humano plural e aberto possibilidade de ser mais O autor comenta sobre a natureza
152. ui o para a ci ncia da mente O per odo em que Vigotski trabalhou mais vigorosamente em Psicologia da Arte 1922 1924 foi conforme West tempo de grande convuls o social e intelectual na vida sovi tica mas tamb m de imensa oportunidade e excita o antes da morte de L nin e do totalitarismo intelectual de Stalin criada pela nova sociedade na aurora da revolu o de 1917 Naquele momento a reflex o dos intelectuais estava embarcada na quest o urgente de criar uma nova ci ncia da humanidade baseada nos princ pios do materialismo hist rico Ao mesmo tempo e independentemente dos desdobramentos da revolu o mudan as fundamentais estavam acontecendo em um grande n mero de disciplinas intelectuais inclusive e especialmente na Psicologia mudan as que essencialmente se desenvolveram na linha do novo esp rito sovi tico materialista e objetivista Vigotski comenta a respeito Por um lado o estudo das artes come a a carecer cada vez mais de fundamenta es psicol gicas Por outro a psicologia ao tentar explicar o comportamento em seu conjunto tamb m n o pode deixar de propender para os complexos problemas da rea o est tica Se incorporarmos aqui a mudan a que ora experimentam ambas as ci ncias a crise do objetivismo que as envolve isto ir determinar at o fim a acuidade do nosso tema De fato o estudo tradicional das artes sempre se baseou consciente ou inconscientemente em premissas psicol gicas mas a velha
153. ui se em uma intelig ncia do mundo em um corpus de saberes m ltiplos que n o pode ser instrumentalizado Em virtude disso pode a Literatura ser ensinada O que se ensina quando se ensina Literatura Zilberman 2002 me apontava essas quest es Apesar de serem muitas as interroga es da advindas n o h d vida quanto s possibilidades de ensinar essa arte e de se aprender com ela Assim por mais fortes que sejam os condicionamentos humanos e sociais restritivos da fala dos indiv duos os processos de massifica o o turbilh o apontado por Berman entendo que os textos liter rios sempre ter o algo a dizer a despertar dentro de n s n o podendo ser totalmente manipulados e instrumentalizados A Literatura continuar a representar uma possibilidade outra de discurso Os sistemas educacionais com suas regulamenta es acerca do que deve ser dado com seus organismos de avalia o e padr es de corre o com seus novos mecanismos de condicionamento poder o continuar a pretender delimitar o que deve ser ensinado mas n o conseguir o cercear o que pode ser aprendido Como afirmava Freire Ningu m educa ningu m ningu m educa a si mesmo os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo FREIRE 2006 p 78 A media o que educa conforme o que pude observar nesta pesquisa aquela que expressa a diversidade a qual paradoxalmente parece mais inconsistente confusa contradit ria Ela educa por apresentar a leg
154. uma era a de que tal leitura tornava as pessoas melhores Poucas raz es poderiam ter sido mais persuasivas Quando alguns anos depois as tropas aliadas chegaram aos campos de concentra o para prender comandantes que passaram suas horas de lazer com um volume de Goethe tornou se clara a necessidade de explica o Se a leitura de obras liter rias realmente tornava os homens melhores ent o isso n o acontecia da maneira direta imaginada pelos mais euf ricos partid rios da teoria liter ria EAGLETON 1994 p 38 39 81 N o creio que possamos compreender a forma o de maneira t o autom tica Considerar a Literatura como promotora do verdadeiro do bom e do belo como tamb m afirmou Candido 2002 p 83 era interesse das classes dominantes para refor ar seus valores e sua vis o de mundo E isso implicava conceituar como Literatura os escritos que pudessem legitimar tais interesses Os aspectos formativos da Literatura que procurei salientar nesse estudo n o percorrem esse vi s interpretativo Ali s ficou evidente que a Literatura n o se deixa instrumentalizar Ao contr rio a Literatura por tudo o que discutimos at aqui possibilita o contato com a pluralidade da experi ncia humana no mundo pluralidade de viv ncias e de linguagens A leitura de textos liter rios a meu ver insere o leitor nessa roda de di logo com possibilidades distintas de compreender o mundo e as distintas experi ncias dos h
155. vas no es reformula seus conceitos e assimila os conceitos cient ficos na intera o com os outros e de maneira especial com o educador Um conceito quando internalizado pela crian a d lhe a possibilidade de falar sobre aquele tema Ao mesmo tempo propor o que a crian a entra em contato com outros cujo conhecimento desse conceito mais aprofundado ela incorpora novas no es o que tamb m modifica a amplitude de seu conceito Os conceitos na verdade evoluem Um conceito internalizado n o algo acabado para Vigotski mas apenas uma abertura para o conhecimento Se uma determinada instru o incorporada pela crian a estabelece seu n vel de desenvolvimento real tamb m possibilita ao relacionar se com outros que avan aram mais nesse conhecimento sua transforma o est criada sua zona de desenvolvimento pr ximo Nesse sentido existe o n vel de desenvolvimento real da crian a que compreende ciclos de desenvolvimento j completados por ela e lhe permite resolver determinados problemas sem a ajuda de ningu m Esse n vel pode ser estabelecido pela aplica o de testes nos quais se determina a idade mental da crian a idade que lhe permite resolver as coisas independentemente Como nico instrumento de avalia o este recurso foi 40 criticado por Vigotski Existe tamb m o n vel de desenvolvimento potencial da crian a o qual se constitui de ciclos de desenvolvimento ainda n o totalmente completos e pe
156. za na sociedade e historicamente 45 Nesse contexto o sujeito algu m contextualizado inserido numa realidade social e pol tica com exig ncias pr prias as quais ele deve conhecer A formag o agora deve preparar o cidad o sem a presenga de modelos pr vios dados e sem a ideia de ess ncias ou de formas determinantes do real Essas perspectivas ultimamente v o tamb m se transformando em fun o de outras no es acerca da constitui o do ser humano num mundo globalizado e em cont nua mudan a Ent o como pensar no presente a forma o humana Que processo esse Certa perspectiva talvez uma das mais difundidas nestes tempos p s modernos v o processo formativo como capacita o para tornar o sujeito um empreendedor de sucesso capaz de perceber os nichos de mercado e oferecer solu es criativas Visando a atender as demandas sociais desde os primeiros anos de estudo a escola se transforma num grande laborat rio reproduzindo os desafios que o adulto enfrentar no mercado de trabalho Entretanto nem todos os alunos s o contemplados nos projetos desenvolvidos por essa perspectiva Tal qual na sociedade ali tamb m se produz um ambiente de exclus o poss vel ainda sob esse ngulo entender a forma o como capacita o para tornar o sujeito um profundo conhecedor das novas tecnologias capaz de utiliz las com desenvoltura implement las e aperfei o las em benef cio da sociedade Tamb m
157. zado para designar jogos que exigiam habilidades tais como bilhar p la e bilboqu Para o autor atualmente h uma tend ncia a reabilit lo no n vel da t cnica e da Ci ncia Assim que na Antropologia toma o sentido de trabalho cuja t cnica improvisada adaptada aos materiais s circunst ncias Petit Robert Ardoino afirma no entanto que bricolage sempre conteve a ideia de improvisa o h bil e de ast cia concluindo que se trata essencialmente de ir aqui e l eventualmente procurar obter pelo desvio indiretamente aquilo que n o se pode alcan ar de forma direta No nosso entendimento aqui se encontra uma defini o clara do que seja bricolage BARBOSA 1998 p 203 grifos do autor A bricolagem assenta se em suma na ideia de um conhecimento constru do por um movimento permanente de busca e de inconclus o estando o pesquisador livre para 4 O texto a que Barbosa se refere PELLANDA N M C PELLANDA L E C Psican lise hoje uma revolu o do olhar Petr polis Vozes 1996 p 13 19 34 vaguear em busca das liga es poss veis entre conceitos antigos e novos com os quais vai se deparando Desviando se para outros mbitos pode deixar em aberto seu discurso e saltar para outras abordagens considerando as linguagens todas que se debru am sobre a tem tica em quest o enfim realizando uma experi ncia de aprendizagem itinerante A bricolagem permite ao pesquisador ousar A
158. zar o conhecimento necess rio para interagir com o mundo globalizado A informag o a chave para sua entrada na sociedade do conhecimento Esse sujeito est profundamente focado nos aspectos pragm ticos da aprendizagem aprendeu a aprender Ele na verdade um consumidor de informa o de tecnologias e com seu m rito e esfor o pessoal est construindo seu sucesso entendido como inser o no mercado na sociedade produtiva de consumo Gentili comenta a resposta liberal simplista e enganadora promete mais mercado quando na realidade na pr pria configura o do mercado que se encontram as ra zes da exclus o e da desigualdade E nesse mercado que a exclus o e a desigualdade se reproduzem e se ampliam O neoliberalismo nada nos diz acerca de como atuar contra as causas estruturais da pobreza ao contr rio atua intensificando as GENTILI 1996 p 16 Essa educa o prop e na realidade uma sociedade em que h dois tipos de indiv duos os melhores os vencedores que o seriam em fun o do m rito obtido pelo seu esfor o pessoal e que acabam sendo sempre as elites que monopolizam o poder pol tico econ mico e cultural e os piores ou perdedores assim considerados os ineptos os que n o se enquadram por falta de m rito pessoal e de esfor o aos quais se nega n o apenas os direitos sociais mas principalmente o mais elementar direito vida GENTILI 1996 p 16 N

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