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Pedagogia da Conscientização Ana Lúcia Souza de Freitas

1. E por que fui escola Porque seu pai p de mandar o senhor escola O nosso n o E por que os pais de voc s n o puderam mandar voc s escola Por que eram camponeses como n s E o que ser campon s E n o ter educa o posses trabalhar de sol a sol sem direitos sem esperan a de um dia melhor E por que ao campon s falta tudo isso Por que Deus quer E que Deus E o Pai de todos n s E quem pai aqui nesta reuni o Quase todos de m o para cima disseram que o eram Olhando o grupo todo em sil ncio me fixei num deles e perguntei Quantos filhos voc tem Tr s Voc seria capaz de sacrificar dois deles submetendo os a sofrimentos para que o terceiro estudasse com vida boa no Recife Voc seria capaz de amar assim N o Se voc disse eu homem de carne e osso n o capaz de fazer uma injusti a desta como poss vel entender que Deus o fa a Ser mesmo que Deus fazedor dessas coisas Um sil ncio diferente completamente diferente do anterior no qual algo come ava a ser partejado Em seguida N o N o Deus o fazedor disso tudo E o patr o Freire 1992 p 49 50 Ana L cia Souza de Freitas 59 Partindo de tal relato Freire reflete sobre sua interven o a qual ao assumir com eles o sil ncio inicial abriu espa o para no momento seguinte desafiar lhes a criticidade tendo em vista o rompimento com sua per
2. Essa pois uma perspectiva que merece ser analisada tendo em vista a s ntese entre a obriga o e a autonomia proposta por Snyders ao considerar que as obriga es da escola podem levar os alunos a uma independ ncia que torna quase insignificante a liberdade que eles pensam encontrar quando fazem muito simplesmente tudo de que t m vontade na hora p 114 Considera fundamental que a partir da escola se desenvolva o car ter culturalmente frut fero da obriga o p 108 de modo que a partir do obrigat rio seja poss vel apreender a alegria de uma realiza o p 107 j que em seu sentido mais global a obriga o escolar a esperan a de incitar o aluno a ir ao m ximo de suas for as ao limite de suas possibilidades ao extremo de si mesmo p 106 Entretanto conv m ressaltar que n o se trata de qualquer obriga o Snyders embora convicto das possibilidades de nascer a alegria no interior do obrigat rio admite os riscos de sua proposta Reconhece que existe Pedagogia da Conscientiza o 128 fundamento na oposi o obriga o a qual em si mesma n o pode ser considerada libertadora Por isso adverte que em cada situa o preciso pensar coletivamente se a obriga o exigida est cumprindo um papel positivo a fim de que esta possa constituir se como elemento de ajuda para penetrar nas reas dif ceis e essenciais onde ser o supercompensados com a alegria pelos esfor os d
3. Freire 1993a inverte essa l gica considerando que o erro do intelectual progressista est justamente em dicotomizar o abstrato do concreto de modo que por exemplo tende a fazer um discurso sobre a mais valia em lugar de discuti la com os trabalhadores surpreendendo a na an lise do modo de produ o capitalista quer dizer na an lise da pr pria experi ncia do trabalhador p 56 Segundo ele existem diferen as culturais na forma de organiza o do pensamento que devem ser consideradas no ato pedag gico a fm de que seu desconhecimento n o se constitua num obst culo epistemol gico A quest o que se coloca que Na sintaxe ou na organiza o popular do pensamento se descreve o objeto e n o o seu conceito Se se pergunta a um estudante universit rio o que favela Ana L cia Souza de Freitas 57 sua tend ncia usando o verbo ser verbo conotativo descrever o conceito favela Se se faz a mesma pergunta a um favelado sua tend ncia descrever a situa o concreta da favela usando o verbo ter na negativa Na favela n o tem gua farm cia etc p 56 Nessa perspectiva destaca se na obra de Freire segundo N voa 1998 o estatuto epistemol gico que ele reconhece ao senso comum p 184 Senso comum definido por Sousa Santos 1997 corno aquele conhecimento vulgar e pr tico com que no quotidiano orientamos as nossas ac es e damos sentido nossa vida p 55 deno
4. cr tica concep o de professor como um expert t cnico principalmente no que diz respeito a considerar o professor sujeito de sua pr pria pr tica Contreras Domingo 1997 estabelece importantes diferencia es entre as concep es de professor enquanto profissional reflexivo e intelectual cr tico Recorrendo a Liston e Zeichner para compreender os limites da teoria de Shin na qual se ap iam diversos te ricos para desenvolver a concep o de profissional reflexivo destaca suas preocupa es no que se refere ao car ter individual que atribu do s pr ticas docentes reflexivas Considera que as pr ticas educativas do profissional reflexivo orientam se a partir de valores pessoalmente assumidos ao interpretar os distintos interesses sociais analisando os pol tica e praticamente Sua compet ncia profissional est pois em sua capacidade de investiga o e reflex o sobre a pr pria pr tica Sua compreens o de autonomia profissional situa se no campo da responsabilidade moral pr pria 32 Contreras Domingo refere se tradu o espanhola de obra original americana ublicada em 1991 Formaci n dei profesorado y condiciones sociales de ia esco arizaci n Madrid Morata 1993 33 Contreras Domingo refere se s seguintes obras The reflective practitioner How profissionais think ia action Londres Temple Smith 1983 e La formaci n de profesionales reflexivos Hacia na a nevo disefio de la enseffanza y ei aprendizag
5. es hist ricas geradoras de desesperan a explicam o imobilismo e o descomprometimento que representam a reprodu o do senso comum dominante e contribuem para a consolida o do descr dito do servi o p blico e da desvaloriza o do a professor a Esse contexto exige a cria o de pr ticas coletivas de desestabilza o do conformismo estimuladoras da capacidade de indigna o e de sua criticidade mobilizando ao comprometimento com a qualidade do trabalho p blico e a profissionaliza o docente desafiando a constitui o de uma consci ncia democr tica produto produtora do desenvolvimento da esperan a que move a luta pela constru o dos Ana L cia Souza de Freitas 225 sonhos poss veis mediante urna perspectiva de globalidade progressistamente orientada para a constitui o de subjetividades inconformadas e transformadoras dimens o pol tica Segunda considera o A supera o das rela es profissionais que concebem o professor como mero t cnico fundamental para que se constituam pr ticas profissionais cr tico reflexivas A cria o de tal possibilidade demanda a luta por condi es institucionais que viabilizem a constitui o de pr ticas de trabalho coletivo em fun o de um projeto pol tico pedag gico de qualidade democr tica processo em que se desenvolva urna disciplina intelectual voltada para a cria o de atitudes de forma o permanente capazes de viabilizar a viv ncia da dupla ruptur
6. o um legado de Paulo Freire forma o de professores n o obstante oriundo de um trabalho acad mico executado com cuidadosa metodologia carece de ran o acadernicista raz o pela qual certamente encantar os leitores da academia ou n o que t m em comum a admira o e o respeito pela coer ncia e o valor da vida e obra de nosso maior educador brasileiro e trazem no sangue como ele a paix o de aprender ensinar de educar educar se MARIA HELENA MENNA BARRETO ABRAIJ O SUM RIO 1 A PRODU O TE RICA DE PAULO no FREIRE NA D CADA DE 90 UM CONVITE REFLEX O A O 1 1 Paulo Reglus Neves Freire o educador que rompeu o tempo dei destiempo 1 2 O desafio da reinven o da escola na d cada de 90 1 3 Conhecimento e senso comum a perspectiva epistemol gica da p s modernidade presente no saber de experi ncia feito 2 EDUCA O LIBERTADORA g DESAFIOS A CONSCIENTIZA AO 2 1 A esperan a como desafio dimens o pol tica 2 2 A curiosidade como desafio dimens o epistemol gica 2 3 A alegria como desafio dimens o est tica 3 FORMA O CONSCIENTIZA OE REINVEN O DA ESCOLA NA PERSPECTIVA g g DA GEST O DEMOCR TICA UMA RELA O EM CONSTRU O 3 1_Conscientiza o e gest o democr tica uma perspectiva de globalidade 3 2 A pr xis educativa libertadora e a identidade do educador progressista uma perspectiva de totalidade 3 3_A cotidianidade das a es de forma o e a
7. qualificar t cnica te rica e eticamente p 100 o trabalho do professor est diretamente ligado s possibilidades de vencer a Pedagogia da Desesperan a p 100 que orienta o senso comum do trabalho escolar Igualmente Freire 1995 enfatiza a necessidade de supera o da desesperan a produzida pelo contexto neoliberal pois Educadores desesperan osos contradizem a sua pr tica S o homens e mulheres sem endere o e sem rumo Perdidos na hist ria p 88 Orientado pela Pedagogia da Esperan a o desenvolvimento do processo de conscientiza o enquanto princf pio metodol gico da forma o de professores na gest o democr tica da escola acrescenta a esta perspectiva de globalidade que considera a rela o de circularidade entre conscientiza o e a gest o democr tica um conjunto de id ias for a que fundamentam uma pedagogia ut pica de den ncia e de an ncio Freire 1979a p 89 tendo em vista a constitui o da pr xis educativa libertadora 1 Para ser v lida toda educa o toda a o educativa deve necessariamente estar precedida de uma reflex o sobre o homem e de uma an lise do meio de vida concreto do homem a quem queremos educar ou melhor dito a quem queremos ajudar a educar se J 2 O homem chega a ser sujeito por uma reflex o sobre sua situa o sobre seu ambiente concreto 3 Na Ana L cia Souza de Freitas 155 medida em que o homem integrado em seu contexto reflete
8. o transformadora A pr tica serve como crit rio de verdade e o fim ltimo de todo o processo de conhecimento Uara s d p 6 Esse o entendimento em que a conscientiza o se constitui como principio metodol gico das pol ticas de forma o orientadas por uma globalidade progressista as quais n o prescindem da gest o democr tica concebendo a como condi o para o planejamento das a es voltadas para a constru o do comprometimento do da professor a com o processo de reinven o da escola enquanto parte de seu compromisso social Portanto faz Pedagogia da Conscientiza o 154 se necess ria a assun o coletiva da circularidade entre conscientiza o e gest o democr tica como eixo norteador das a es de forma o a fim de que o a professor a sinta se desafiado a a atuar na perspectiva da pr xis educativa libertadora constituindo se como sujeito nesse processo j que a conscientiza o n o pode existir fora da pr xis Freire 1979a p 26 Frigotto 1996 assume posicionamento a esse respeito propondo que a forma o e a profissionaliza o do educador ocorra na perspectiva da pr xis apontando a necessidade da conscientiza o e considerando que o desafio fundamental da forma o do professor o de potencializar a experi ncia da a o cotidiana para que ela n o se reduza repeti o mec nica ao ativismo pedag gico ou ao voluntarismo politico p 99 Para ele a necessidade de
9. pois uma pr tica metodol gica que desalia a reflex o da realidade a partir de sua representa o uma vez que transforma a quotidianeidade que ela representa num objeto cognosc vel Freire 1982 p 52 Submetida ao di logo com os sujeitos cognoscentes viabiliza o exerc cio de sua descodifica o no qual constroem a abstra o e a criticiza o de modo que come am a questionar a opini o que 2 Nesta obra Freire utiliza a grafia quoridianeidade embora rias ltimas obras empregue a grafia cotidianeidade Pedagogia da Conscientiza o 208 tinham da realidade e v o substituindo por um conhecimento cada vez mais cr tico da mesma Freire 1982 p 53 A constru o da codifica o faz a media o entre o contexto te rico e o contexto concreto ao mesmo tempo que mediatiza os sujeitos cognoscentes que a desvelam mediante o di logo O contexto te rico o contexto do aut ntico di logo entre os sujeitos cognoscentes inclui a reflex o a discuss o e o estudo da realidade mediante sua tematiza o O contexto concreto o contexto social em que os fatos se d o a cotidianidade E a partir da viv ncia da aut ntica pr xis estabelecida no movimento entre contexto te rico e contexto concreto que se constr i o entendimento cr tico da realidade tal como Darnke 1995 afirma ao analisar a teoria freireana Inseridos no contexto real os seres humanos t m sempre urna certa compreens o tanto dos a
10. supera o dos aspectos limitadores da realidade criticada O terceiro desafio o de lutar por condi es de trabalho que contribuam para a profissionaliza o da doc ncia incluindo a melhoria das condi es salariais mas tamb m exigindo a melhoria das condi es de trabalho entre as quais est o direito forma o permanente do professor em que se inclui o incentivo participa o em cursos semin rios congressos e outros eventos de forma o a garantia de tempo e espa o de trabalho coletivo e estudo no local de trabalho a participa o na constru o de projetos de pesquisa o acesso a novas tecnologias entre outras Certamente tais condi es n o garantem o compromisso com o estudo e a transforma o das pr ticas pedag gicas no entanto sua falta restringe em grande parte essa possibilidade Sendo assim a reinven o da escola e a forma o perrianente de professores orientada pela conscientiza o enquanto princ pio metodol gico e finalidade da pr tica educativa estabelecem entre si uma rela o de circularidade em que influenciam se mutuamente Reitera se portanto entre os desafios que se colocam equipe diretiva a necessidade de desenvolvimento de uma compet ncia t cnico pedag gica politicamente comprometida com esse processo H que se compreender tanto o sentido do trabalho da equipe diretiva como um todo quanto o dos profissionais que a integram Ainda que n o se queira reproduzir uma vis
11. 1994a p 237 334 Notas In FREIRE Paulo sombra desta mangueira S o Paulo Olho D Agua 1995 p 89 120 Nita e Paulo cr nicas de amor S o Paulo Olho D gua 1998 FREIRE Paulo Pedagogia do oprimido 22 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 conscientiza o teoria e pr tica da liberta o urna introdu o ao pensamento de Paulo Freire S o Paulo Cortez amp Moraes 1979a Educa o e mudan a 20 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1979b A o cultural para a liberdade e outros escritos 6 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1982 Educa o O sonho poss vel In BRAND O Carlos Rodrigues org O educador vida e morte 3 ed Rio de Janeiro Graal 19883 p 89 101 A educa o na cidade S o Paulo Cortez 1991a Ana L cia Souza de Freitas 237 Depoimento de um grande amigo posf cio In FIORI Ernani Maria Educa o e pol tica Porto Alegre L amp PM 1991b Textos Escolhidos v 2 p 273 287 Pedagogia da esperan a um reencontro com a pedagogia do oprimido Rio de Janeiro Paz e Terra 1992 Pol tica e educa o ensaios S o Paulo Cortez 1993a 3 ed brasileira 1997 Professora sim tia n o cartas a quem ousa ensinar S o Paulo Olho D gua 1993b Pref cio edi o brasileira In SNYDERS Georges Alunos felizes reflex o sobre a alegria na escola a partir de textos liter rios Rio
12. 1996 e Did tica e forma o de professores percursos e perspectivas no Brasil e em Portugal 1997 Ana L cia Souza de Freitas 215 a ci ncia daquilo que o Ser Humano capaz de fazer consigo mesmo Ela um instrumento com o qual ele busca congru ncia e coer ncia CONGRUENCIA coisa da t cnica harmonia causal entre o objeto e sua finalidade COERENCIA coisa da ti ca harmonia rec proca dos Seres Humanos entre si e com o Ambiente na intera o entre prioridades conflitantes TECNICA e ETICA s o os ingredientes das intera es entre a personalidade humana e ambiental e a heran a cultural da civiliza o Nogueira 1994 p 99 A Pedagogia ao lidar com os processos de intera o de modo a potencializar a constru o do conhecimento a partir de op es conscientemente organizadas e sistematizadas contribui para sua compreens o cr tica e possibilita que o sujeito desenvolva a consci ncia de sua pr pria forma o Desse modo a Pedagogia tem em si uma natureza interdisciplinar pois ao mesmo tempo que precisa das demais ci ncias tamb m para qualquer conhecimento cient fico fundamental esta possibilidade pedag gica de manter nunca satisfeita a curiosidade humana Freire in Nogueira 1994b p 102 Por isso Freire considera que a Pedagogia consiste sobretudo num tipo especial de arte a Arte de fazer com que a curiosidade seja permanente e met dica que lida com o
13. Freire analisa o intensamente de for ma indireta a partir de tr s categorias fundamentais que correspondem respectivamente a cada uma dessas dim ns es a esperan a a curiosidade e a Ana L cia Souza de Freitas 69 alegria Entre elas se estabelece uma rela o de complexidade a partir da qual em cada dimens o encontram se presente tamb m as demais A esperan a al m de representar a utopia e o sonho relacionados dimens o pol tica ao exigir o conhecimento cr tico faz se epistemol gica e enquanto geradora de um dinamismo transformador Damke 1995 p 112 cont m em si tamb m a dimens o est tica De igual modo a curiosidade epistemol gica tamb m est tica por ser esta o impulso que nos move na busca do novo e fundamentalmente pol tica por orientar se na dire o das nossas op es Por sua vez a alegria entendida como uma certa exig ncia ontol gica de nossa dimens o est tica torna se epistemol gica a partir do momento em que a percebemos enquanto decorr ncia do ato cr tico de estudar A alegria tamb m pol tica quando percebida enquanto necess ria manuten o da esperan a A compreens o da complexidade desse processo fundamental para a constitui o de pr ticas educativas fundadas na co zcep o de educa o libertadora uma vez que nesta perspectiva a educa o simultaneamente iima determinada teoria do conhecimento posta em pr tica um ato pol tico e um ato est ti
14. NUPEP v 1 n 1 abr 2000 TORRES Carlos Alberto A pedagogia pol tica de Paulo Freire In APPLE Michael W NOVOA Ant nio Paulo Freire pol tica e pedagogia Porto Portugal 1998 p 47 67 voz do bi grafo latino americano uma biografia intelectual In GADOTTT Moacir Paulo Freire uma biobibliografia S o Paulo Cortez Instituto Paulo Freire Bras lia UNESCO 1996 VASCONCELLOS Celso dos Santos Avalia o concep o clial ticolibertadora do processo de avalia o escolar S o Paulo Libertad 1994 VEIGA lima Passos Alencastro Projeto politico pedag gico da escola uma constru o poss vel In VEIGA lima Passos Alencastro org Projeto pol tico pedag gico da escola uma constru o poss vel Campinas Papirus 1995 p 11 35 VEIGA NETO A J Foulcault e educa o outros estudos foucaultianos In SILVA T T org O sujeito da educa o estudos foucaultianos Petr polis Vozes 1994 VIGOTSKI Liev Semi novitch A forma o social da mente o desenvolvimento dos processos psicol gicos superiores S o Paulo Marfins Fontes 1994 ZEICHNER Kenneth A forma o reflexiva do professor Lisboa Educa 1998 Pedagogia da Conscientiza o 246 ERECE O livro de Ana L cia um belo exerc cio de reconstru o da PES aa nao vista especificamente como princ pio stodol gico para a forma o de professores A autora v a dorciensatio como uma totalidade org nica qu
15. Ressalta que as exig ncias culturais fazem parte da natureza da escola e que a autonomia de uma atividade n o basta para garantir seu valor op cit Considera que preciso quebrar esta suposta equival ncia entre alegria e escolha 1988 p 244 e preocupa se com as Ana L cia Souza de Freitas 127 possibilidades de construir uma autonomia especificamente escolar de modo a explorar a alegria a ela correspondente Ou seja considera ser poss vel que os alunos descubram a grandeza nos livros o te rico racioc nios e experi ncias preparadas pelo educador 1993 p 164 ampliando suas experi ncias de alegrias das rela es inter pessoais para a viv ncia de alegrias que transcendem a cotidianidade e est o ligadas ao ato de estudar A escola cumpre assim papel importante ao propiciar a aproxima o do aluno s alegrias a que espontaneamente poderia n o chegar j que a experi ncia escolar pode oferecer ao aluno um leque de experi ncias emotivas que n o t m equivalente no mundo cotidiano p 104 desafiando ao enfrentamento de resist ncias desafios em que se torna poss vel progredir em determinados campos superando se a si mesmo Argumenta portanto que um dos caminhos para a aquisi o das alegrias especificamente escolares ser apoiado pelo obrigat rio A obriga o a chance que cada um tem de encaminhar se para aquilo que ainda n o o atra a onde ainda n o fora bem sucedido p 106
16. Tais tend ncias propagam a id ia de igualdade de oportunidades sem no entanto levar em considera o a desigualdade das condi es sociais concebem a escola como institui o destinada prepara o do indiv duo para adaptar se sociedade a partir da otimiza o de suas aptid es individuais Logo orientam se implicitamente pelos valores difundidos pela doutrina liberal a saber lib neo embora elabore sua reflex o a partir de crit rios e enfoque diferenciados coincide com Mizukami no que diz respeito ao entendimento da n o neutralidade do processo pedag gico de que decorre a preocupa o em compreender de forma mais global suas intencionalidades e consequ ncias pr ticas Ana L cia Souza de Freitas 79 a O termo liberal n o tem o sentido de avan ado democr tico aberto como costuma ser usado A doutrina liberal apareceu como justifica o do sistema capitalista que ao defender a predomin ncia da liberdade e dos interesses individuais na sociedade estabeleceu uma forma de organiza o social baseada na sociedade privada dos meios de produ o tamb m denominada sociedade de classes A pedagogia liberal portanto uma manifesta o pr pria desse tipo de sociedade Lib neo 1986 p 21 No grupo que denominou de pedagogia progressista Lib neo refere se ao conjunto de tend ncias pedag gicas que analisam criticamente as realidades sociais e orientam se implicitamente por
17. Tese de doutoramento apresentada Faculdade de Educa o da Universidade de S o Paulo 1991 DOMINGO Jos Contreras La autonomia dei profesorado Madrid Morata 1997 DOWBOR Ladislau Pref cio In FREIRE Paulo sombra desta mangueira S o Paulo Olho D Agua 1995 p 7 14 FERNANDES Jo o Viegas Da alfabetiza o educa o de adultos educa o popular comunit ria relev ncia do contributo de Paulo Freire In APPLE Michael W N VOA Ant nio Paulo Freire pol tica e pedagogia Portugal Porto 1998 p 113 144 Pedagogia da Conscientiza o 236 FERNANDES Marileusa Moreira A op o da supervis o diante da ambival ncia iri Nove olhares sobre a supervis o Campinas Papirus 1997 p 111 121 FERNANDEZ Alicia O lugar da queixa no processo de aprendizagem In Revista Paix o de Aprender Porto Alegre Secretaria Municipal de Educa o n 4 p 52 61 set 1992 A queixa da professora In A mulher escondida na professora urna leitura psicopedag gica da mulher da corporeidade e da aprendizagem Porto Alegre Artes M dicas 1994 p 107 116 FIORI Ernani Maria Educa o e pol tica Porto Alegre L amp PM 1991 Textos Escolhidos v 2 FREIRE Ana Maria Ara jo Notas In FREIRE Paulo Pedagogia da esperan a um reencontro com a pedagogia do oprimido Rio de Janeiro Paz e Terra 1992 p 205 245 Notas In FREIRE Paulo Cartas Cristina Rio de Janeiro Paz e Terra
18. a vida com amor p 102 103 4 a Ana L cia Souza de Freitas 49 refer ncias especiais destacando simultaneamente sua contribui o intelectual e afetiva A Ana Maria Nita que me devolveu o gosto bom de viver quando a vida me parecia t o longe e quase sem esperan a a olhava A Anita minha mulher 1 Meu muito obrigado a Nita pela paci ncia com que me aturou durante os dias mais intensos de reda o do texto mas sobretudo pelas sugest es tem ticas que me fez 1 A Ana Maria minha mulher n o apenas com o meu agradecimento pelas notas com as quais pela segunda vez melhora livro meu mas tamb m com a minha admira o pela maneira s ria e rigorosa com que sempre trabalha 1 A Ana Maria Nita minha mulher com meu agradecimento mais uma vez pelas notas cuidadosamente trabalhadas com que vem melhorando meus livros A Ana Maria minha mulher com alegria e amor Da mesma forma Ana Maria Ara jo Freire explicita a intensidade com que compartilharam o exerc cio de an lise reflex o den ncia e cr tica que envolve o ato de escrever Assim j tendo feito refer ncias a este respeito nas notas da obra Pedagogia da Esperan a ao faz lo em Cartas Cristina d seu testemunho sobre a viv ncia dessa cumplicidade Fazendo assim Paulo em suas cartas e eu em minhas notas lendo criticamente os fatos as situa es e as pessoas de nossa sociedade tentamos intenci
19. conhecimento de forma a n o esquecer e nem sufocar a indaga o permanente Freire in Nogueira 1994 p 101 Nesse sentido a arte de reinventar a supervis o escolar um desafio a ser assumido tamb m pelas inst ncias de sua forma o inicial a fim de que se possam ampliar as condi es deste profissional assumir uma identidade progressista que oriente seu querer agir e refletir em fun o da gest o democr tica do trabalho pedag gico Esse tamb m o entendimento de Silva Jr 1997 ao considerar que o supervisor pode se constituir corno um articulador do projeto pedag gico de uma coletividade p 102 e destacar a import ncia de uma forma o que reelabore a rela o teoria e pr tica em supervis o escolar de modo a superar a l gica empresarial que marcou a origem de sua forma o e que ainda hoje se constitui na refer ncia principal nas inst ncias de forma o e de atualiza o do supervisor p 97 Vale dizer um desafio a ser assumido conjuntamente por Pedagogia da Conscientiza o 216 seus formadores j que o professor de supervis o escolar n o pode se valer de autores cl ssicos no campo de obras consagradas ou de uma bibliografia variada e estimu jante Silva Jr 1997 p 99 e por isso ensinar supervis o no Brasil hoje significa necessariamente pesquisar supervis o Pesquisar a e para a supervis o p 100 Para tanto urge construir novas refer ncias te ricas q
20. conhecimento humano que possam contribuir para a qualidade da escola que se quer op cit Pedagogia da Conscientiza o 188 Para a viabiliza o de tais princ pios a discuss o tomada como base do processo de forma o de professores complementa se com a participa o dos demais segmentos da comunidade escolar no movimento permanente de constru o e reconstru o do projeto pol tico pedag gico da escola A gest o democr tica do trabalho pedag gico implica pois na assun o do risco e da dificuldade dos processos participativos j que a escola n o propriedade dos professores e o ato de conhecer em que consiste a pr tica educativa n o se d a partir de modelos cientificamente prescritos Por isso fundamental que se desenvolva uma postura de humildade em que se perceba e valorize o conhecimento do saber de experi ncia feito ou seja preciso que a escola respeite e acate certos m todos populares de saber coisas quase sempre fora dos padr es cient ficos mas que levam ao mesmo resultado Freire 1991a p 45 A esse respeito vale lembrar um momento em que Freire com sua humildade de escuta compreendeu o modo como o saber de experi ncia feito pode perceber o que um conceito Espera a um pouquinho eu vou falar para o senhor o que o senhor est querendo dizer para n s Esse neg cio a de concei to de concep o de que o curr culo passa por ter certos conceitos eixo n
21. criadas pelo mercado assume a l gica empresarial como organizadora de suas a es transpondo para a escola o emprego de estrat gias de controle da qualidade do processo produtivo Essa transfer ncia da l gica empresarial ao mbito escolar gera novos mecanismos de controle entre os quais situam se as propostas de avalia o externa em que se utilizam instrumentos padronizados como foi ma de press o ado o da Gest o da Qualidade Total na educa o A chamada Gest o da Qualidade Total GQT em educa o uma demonstra o de que a estrat gia neoliberal n o se contentar em orientar a educa o institucionalizada para as necessidades da ind stria nem em organizar a educa o em forma de mercado mas que tentar reorganizar o pr prio interior da educa o isto as escolas e as salas de aula de acordo com esquemas de organiza o do processo de trabalho Silva 1995 p 20 Pedagogia da Conscientiza o 82 Outrossim tamb m a escola atrav s de seu trabalho cotidiano orientado por um projeto politico pedag gico que se fundamenta na l gica da qualidade total estar comprometida implicita ou explicitamente com a reprodu o dos valores ditados pelo mercado Essa intencionalidade expressa se no direcionamento cotidiano das a es pedag gicas que ao privilegiar uma avalia o que eleja os melhores deixa de se preocupar com o desenvolvimento poss vel de todos os alunos e estimula o individualismo jus
22. es A escola s o conte dos e rela es espec ficas preciso encontrar prazer em ambos para atingir a alegria 1993 p 69 Compreendendo que escola cabe possibilitar a viv ncia de tipos particulares de alegria que n o se encontram na vida cotidiana analisa as alegrias especificamente escolares fazendo distin o entre as alegrias culturais Ana L cia Souza de Freitas 129 e o que considerou alegrias intermedi rias as atividades l dicas os m todos prazerosos as rela es amig veis entre professor aluno e at mesmo a autonomia para fazer op es no processo educativo Sem desconsiderar a import ncia dessas alegrias intermedi rias insiste que a escola n o se restrinja a elas mas conceba as como consequ ncia de uma rela o de satisfa o cultural que sendo pr pria da vida escolar capaz de dar um novo sentido sua vida Sendo assim Snyclers cuja preocupa o a de renovar a escola a partir de uma transforma o dos conte dos culturais 1988 p 11 d nfase aos conte dos escolares como eixo que orienta a transforma o da escola na perspectiva da viv ncia das alegrias especiflcamente escolares Todavia para al m de suas poss veis diferen as ao refletir sobre a alegria na escola Freire toma a obra de Snyders como refer ncia ao considerar que existe uma estreita rela o entre a alegria necess ria pr tica educativa e a esperan a que caracteriza a consci ncia humana de seu
23. faz parte nela e a partir dela que se desenvolver o coletivamente esses e outros saberes necess rios pr tica educativa Enfim al m dos aspectos j mencionados essa obra tem caracter sticas que a fazem diferente das demais 2 Chama aten o o fato de ser uma obra quase sem notas no formato de S o Paulo Paz e Terra 1996 165 p 1 Estava em andamento quando faleceu a escrita da obra cartas pedag gicas da qual foram publicados alguns trechos no jornal Folha de S o Paulo e na Revista do cPERS em maio de 1997 Em abril de 2000 essa contribui o resgatada em obra organizada por Ana Maria Ara jo Freire sob o t tulo Pedagogia da indigna o cartas pedag gicas e outros escritos lan ada pala Editora UNESP 42 Diferentemente das obras deste per odo as notas dessa obra escritas ao longo da pr pria p gina em que se inserem s o quase todas indica es bibliogr ficas referentes a outros autores ou s Pedagogia da Conscientiza o 48 edi o de bolso e contendo entre uma s rie de dedicat rias um agradecimento com ares de despedida Christine Rbhring e equipe de produ o e revis o da Paz e Terra pela dedica o com rela o n o s a este corno a outros livros meus p 6 Realmente essa ltima obra publicada de Freire tem o calor de urna despedida pois encerra em si um convite ao estudo rigoroso de sua produ o te rica desafiando a curiosidade do leitor ao conhecim
24. gica de quem procura clesvelar os fatos sendo portanto a posi o de quem procura conhecimento ao assumir se epistemologicamente curioso em fun o de uma determinada causa Nesse sentido n o existe fora da pr xis nem existe sem comprometimento hist rico visto que consci ncia cr tica significa consci ncia hist rica Torres 1996 p 125 Assim a supera o da consci ncia m gica e ing nua condi o necess ria para que o homem e a mulher assumam se enquanto sujeitos hist ricos comprometidos com a transforma o da realidade unia vez que esse compromisso torna se poss vel somente quando a realidade n o percebida como est tica e imut vel A capacidade de attiar e refletir de acordo com finalidades propostas caracter stica da consci ncia cr tica o que Freire considera a primeira condi o para que um ser pudesse exercer um ato comprometido Freire 1979b p 17 O Ana L cia Souza de Freitas 149 ato comprometido resulta pois do exerc cio desta capacidade de intencionalizar sua consci ncia para a pr pria forma de estar sendo que condiciona sua consci ncia de estar Freire 1979b p 16 E justamente esta percep o cr tica da sua condi o de estar sendo que mobiliza os homens e as mulheres supera o de uma postura fatalista que limita suas possibilidades ontol gicas de ser sujeito da hist ria humana Por isso mesmo a maneira como se manifesta esse compromisso di
25. gorosidade met dica Ana L cia Souza de Freitas 231 Quadro 2 O PROCESSO IDENTITARIO DO EDUCADOR PROGRESSISTA um desafio em tr s planos Pedagogia da Conscientiza o 232 Quadro 3 A CONSCIENTIZA O COMO PRINC PIO METODOLOGI Tr s Pers pectivas a o l COMPLEXI DADE auto consci n cia um desafio em tr s perspectivas Tr s dimens es Pedagogia da Espe ran a pol tica Princ pios que articu lam as tr s dimens es epistemo l gica Tr s rela es de cir cularidade comple mentares est tica Dimens o pol tica Dimens o epistemo l gica CO DA FORMA O DE PROFESSORES Dimens o est tica ESTUDAR 1 princ pio Ter a pr ti ca social como ponto de partida criticidade No plano da ades o conscienti za o gest o de mocr tica do trabalho pedag gico 2 princ pio Realizar um processo de teoriza o sobre a pr tica curiosidade l No plano da a o identidade do educador progressista eleva o da consci ncia da pr xis educativa libertadora Ana L cia Souza de Freitas 233 3 princ pio Fazer da teoria um guia para a a o trans formadora criativida de No plano da autocons ci ncia diversidade das intera es sociais em diferen tes n veis de reflex o amplia o das possibili dades de cria o do in dito
26. h tamb m urna forma neoliberal de valorizar o senso comum Trata se segundo Apple 1998 de um movimento de reconstru o do senso comum que mobiliza atualmente os neoliberais unidos aos neoconservadores aos populistas autorit rios e a outros setores da nova classe m dia ascendente ji 44 Um movimento que reconstr i o senso comum Ana L cia Souza de Freitas 61 na dire o de sua despolitiza o a servi o de uma racionalidade econ mica capaz inclusive de transformar o pr prio conceito de democracia 55 sensocomunizando o na perspectiva da l gica do mercado Neste aspecto a id ia de consumidor crucial Para os neoliberais o mundo na sua ess ncia um vasto supermercado A escolha do consumidor a garantia da democracia E Assim a democracia transforma se em pr ticas de consumo Nestes planos de escolha o ideal do cidad o o do comprador n o o do trabalhador p 31 Para Apple esse movimento difere da perspectiva de Freire ao desconsiderar a diferen a social entre os indiv duos a partir da qual h aqueles que apenas podem pertencer quilo que melhor se pode designar por consumo p s modemo Ficam fora do supermercado e apenas podem consumir a sua imagem p 31 Assim esse mesmo movimento o que responsabiliza unicamente os indiv duos pelos seus fracassos e desconstitui as utopias enquanto sonhos poss veis trazendo efeitos ideol gicos qu
27. id ias de Bachelard publicadas desde 1934 todo o conhecimento uma reconstru o Conhecimentos novos consistem em reorganizar o que se conhece Bachelard precede Paulo Freire na cr tica escola tradicional Em primeiro lugar considerando o saber como processo e n o como produto mudam as rela es entre professor e aluno Continuar sendo estudante deve ser o voto secreto de todo o professor Bachelard 1977 p 31 E o mesmo racioc nio aplic vel quele que aprende A partir dessa dial tica professor aluno n o h distin o r gida entre quem sabe e quem n o sabe invertendo se o dogmatismo e a cren a num conhecimento cient fico universal e acabado j 63 Ana L cia Souza de Freitas 55 A rela o de horizontalidade que se op e dicotomia entre professor aluno situa se em torno do entendimento que t m em comum Freire e Bachelard sobre a dialeticidade da rela o de ensinar e aprender a partir da qual ensinar inexiste sem aprender e vice versa Freire 1996 p 26 Da mesma forma compartilham o entendimento sobre a relev ncia da pergunta para a constru o do conhecimento Para Bachelard 1996 todo conhecimento resposta a uma pergunta Nada evidente Nada gratuito Tudo constru do p 18 Para Freire a curiosidade expressa na pergunta o que movimenta o processo de conhecer de modo que a supera o da cotidianidade relaciona se promo o da curiosidade i
28. ncia p s moderna prop e a supera o da dicotomia entre senso comum e conhecimento cient fico a partir de uma outra forma de conhecimento a dupla ruptura epistemol gica a qual ao reconhecer o valor epistemol gico do senso comum compreende que a finalidade da ci ncia encontra se justamente em sua possibilidade de sensocomunizar se Dessa afirma o decorre a necessidade de compreens o da ideologia do pensamento neoliberal imposta ao senso comum e suas consequ ncias constru o da identidade profissional do professor no contexto sociocultural da p s modernidade dimens o pol tica Segunda afirma o O ato de conhecer compreendido a partir de teorias interpretativas que fundamentam sua explica o segundo um Ana L cia Souza de Freitas 223 modelo de ci ncia historicamente constru do o qual numa perspectiva progressista da p s modernidade consiste num conhecimento libertador assim concebido pela complexidade da rela o que se estabelece entre a totalidade de suas dimens es pol tica epistemol gica e est tica Dessa afirma o decorre a necessidade de compreens o da forma de conhecimento pr pria da ci ncia p s moderna e suas implica es para a constitui o de pr ticas profissionais cr tico reflexivas capazes de desenvolver o exerc cio profissional da doc ncia na perspectiva da permanente recria o da pr xis educativa libertadora dimens o epistemol gica Terceira afirma o Em seu pr
29. o de dimens o pol tica que orienta se por uma perspectiva de globalidade progressista fundada na Pedagogia da Esperan a Decorre dessa op o a assun o de uma postura cr tica de forma o produto produtora do in dito vi vel em que o ato de sonhar coletivamente ponto de partida que complementa se no ato cr tico de estudo concebidos ambos como aspectos complementares e indispens veis ao comprometimento da dimens o est tica com o desafio constitui o de subjetividades indignadas democr ticas e solid rias Esclarecidos os pressupostos acerca da globalidade totaidade complexidade em que se insere o compromisso com a constitui o de propostas de forma o permanente progressistamente orientadas h que se destacar que o exerc cio de pr ticas profissionais reflexivas necessidade decorrente de tais condi es te ricas encontra se limitado pelas condi es Pedagogia da Conscientiza o 178 sociais de sua viabiliza o j que o conhecimento sempre contextual Nesse sentido vale retomar a reflex o de Sousa Santos 1989 acerca dos quatro contextos estruturais do conhecimento o contexto dom stico o contexto do trabalho o contexto da cidadania e o contexto da mundialidade p 151 pois preciso que se compreendam as condi es sociais necess rias ao desenvolvimento de pr ticas profissionais reflexivas no mbito de uma teoria de sociedade em que os diversos contextos da pr tica social propi
30. o falam apenas da necessidade mas mostram a possibilidade de reinven o da escola na perspectiva da pedagogia progressista libertadora Nesse per odo em que Freire d destaque especial profissionaliza o do professor dimens o est tica do ato de conhecer e radicaliza o do valor atribu do ao senso comum sua escrita assume caracter sticas peculiares em cada obra bem como no conjunto delas demarcando assim a inteireza de sua constru o te rica A educa o na cidade primeira obra publicada ap s sua experi ncia como secret rio municipal de educa o re ne uma s rie de entrevistas que concedeu ao exercer essa fun o Em suas Considera es preliminares afirma ser este uma esp cie de livro introdut rio p 9 sobre o que foi sonhado 31 O conceito de pr xis analisado no Cap 3 32 S o Paulo Cortez 1991 144 p Pedagogia da Conscientiza o 42 e constru do na luta por uma escola p blica de qualidade na cidade de S o Paulo Publicada quase simultaneamente na rran a e cledilcacla por rreire a todas e todos que tazenclo a escola municipal de S o Paulo conosco da limpeza do ch o reflex o te rica deixam claro que mudar dif cil mas poss vel e urgente p 8 Entre os muitos aspectos importantes a serem considerados nessa obra destaca se a reflex o em torno da forma o permanente enquanto uma necessidade profissionaliza o do professor Freire sistematiza
31. o ftincionalista que concebe dissociadamente as diferentes forma es faz se necess rio analisar a especificidade da contribui o de cada uma delas para que complernentando se a partir das diferentes nfases que assumem possam atuar numa perspectiva de totalidade em que o processo de forma o de professores crie condi es para que se constituam pr ticas profissionais comprometidas com a democratiza o da escola Pedagogia da Conscientiza o 196 O funcionamento da equipe diretiva ser aqui compreendido a partir das tr s dimens es da concep o libertadora da educa o considerando as numa perspectiva de complexidade em que uma dimens o cont m as demais Sendo assim a rela o que se estabelece entre cada dimens o da forma o com uma atua o profissional diz respeito sua nfase e n o exclusividade Partindo desse entendimento poss vel afirmar que a dimens o pol tica da educa o est relacionada de modo mais direto pr tica profissional da dire o j que em se tratando da gest o democr tica da escola o exerc cio de diretor a e vice diretor a s o cargos eminentemente eletivos a servi o de um preto escolhido pela comunidade escolar No entanto oportuno destacar que a atua o nos cargos de dire o e vice dire o da escola n o prescinde das dimens es epistemol gica e est tica bem como que os demais profissionais n o deixam de ter responsabilidade politica acerca de sua atua
32. o profissional j que esta a dimens o que orienta a pr tica em suas demais dimens es As dimens es epistemol gica e est tica da educa o enquanto pr tica social dizem respeito respectivamente especificidade da forma o profissional do pedagogo supervisor escolar ou orientador educacional integrantes da equipe diretiva da escola e que t m contribui es pr prias para o processo de forma o permanente de professores Suas contribui es situam se no mbito da Pedagogia enquanto campo comum de sua forma o a partir da qual articulam se as a es que desenvolvem no cotidiano escolar Nesse sentido Garcia 1986 ao buscar compreender criticamente o comum e o espec fico do trabalho dos pedagogos especialistas em educa o considera que o orientador educacional um especialista em rela es e o supervisor escolar um especialista em metodologias p 18 Tomando como refer ncia as tr s dimens es da educa o libertadora poss vel considerar o trabalho do orientador educacional com uma nfase que se situa no mbito da dimens o est tica e o trabalho do supervisor escolar com uma nfase que se situa no mbito da dimens o epistemol gica de modo a estabelecer uma Ana L cia Souza de Freitas 197 rela o de complementaridade para a atua o no trabalho da dire o pol tico pedag gica da escola Vale dizer que tal entendimento exige que se compreenda que a constitui o do
33. o tradicional do intelectual como algu m com a capacidade de analisar v rios interesses e contradi es na sociedade estendida para se referir a algu m capaz de articular as possibilidades e7nancip at rias e trabalhar no sentido de sua realiza o Os professores que assumem o papel de intelectuais transformadores tratam os estudantes como agentes cr ticos questionam como o conhecimento produzido e distribu do utilizam o di logo e fazem o conhecimento significativo cr tico e fmalmente emancipat rio p 264 O educador progressista pois aquele que assume esta postura cr tico reflexiva concebendo a dimens o pol tica como elemento norteador de sua pr tica profissional comprometendo se com a coer ncia entre discurso e pr tica medida que desenvolve um discurso que une a linguagem da cr tica e a linguagem da possibilidade de forma que os educadores sociais reconhe am que podem promover mudan as Giroux 1997 p 163 Ao desenvolver a consci ncia da possibilidade de transforma o autoriza se a propor a altera o das pr ticas escolares bem como das condi es institucionais em que estas se inserem Esta uma decorr ncia da assun o da natureza pol tica da pr tica educativa a o consciente que organiza as a es de modo a construir alternativas que redimensionem as pr ticas orientadas por uma concep o banc ria de educa o tomando como refer ncia a concep o probiematizadora e libe
34. ria necess rios ao compromisso coletivo com a reinven o da escola E esse o sentido de propor a compreens o da complexidade da cotidianeidade das a es de forma o em fun o da no o de historicidade enquanto caracter stica que lhe pr pria Tal compreens o fundamental para a constitui o de uma atitude cr tica no cotidiano j que dissociar cotidianidade e hist ria uma manifesta o de ingenuidade tal como esclarece Kosik 1976 A consci ncia ing nua considera a cotidianidade como atmosfera natural ou como a realidade ntima e familiar ao passo que a Hist ria lhe aparece como a realidade transcendente a divis o da vida em cotidianidade e Hist ria existe como destino Enquanto a cotidianidade intimidade familiaridade vizinhan a ar caseiro a Hist ria se manifesta como descarrilamento como destrui o da trilha da cotidianidade como exce o e estranheza Esta divis o corta de um s golpe a realidade em historicidade da hist ria e a historicidade do cotidiano A Hist ria muda a cotidianidacle permanece constante p 71 Ao contr rio a consci ncia cr tica percebe a hist ria sendo constru da a partir da a o transformadora da cotidianidade e assume um modo pr prio de relacionar se com ela a sua problematiza o No entanto a cotidianidade caracteriza se por ser um mundo em cujo ritmo regular o homem se move com 15 Em rela o a grafia da palavra coridianidade se
35. tica educativa ltima obra publicada de Freire quase que uma s ntese atualizada e revisada dos principais conceitos desenvolvidos ao longo de suas obras constituindo se em importante refer ncia para a forma o inicial e permanente do educador progressista no contexto atual Ao considerar a educa o como um ato de conhecimento destaca a import ncia de suas tr s dimens es a dimens o pol tica que implica compreend la como um conjunto de op es e decis es a dimens o epistemol gica em que o desenvolvimento da curiosidade cumpre a fun o de desobstruir a burocratiza o mental produzida pela educa o banc ria a dimens o est tica em que se insere a imprescind vel viv ncia da boniteza e da alegria embutidas no ato de aprender Em especial reitera a necessidade de uma educa o para a conscientiza o considerando este um desafio ao desenvolvimento de pr ticas orientadas por uma concep o progressista da p s modernidade Nessa reflex o analisa uma s rie de saberes necess rios pr tica educativa tais como a esperan a a tica a coer ncia a humildade a curiosidade a rigorosidade met dica a amorosidade a alegria e a criatividade entre outros Contudo Freire faz quest o de destacar que n o considera tais saberes como tarefas inerentes educa o como uma esp cie de sacerd cio Ao contr rio associa os necess ria profissionaliza o do professor da qual sua forma o permanente
36. tica formadora constituir se na dialeticidade da pedagogia da indigna o e da esperan a a que se coaduna a necessidade de um projeto pol tico pedag gico emancipat rio adequado ao tempo presente o qual segundo Sousa Santos 1996 aquele que trata se de um projeto educativo orientado para conibater a trivializa o do sofrimento J consiste em recuperar a capacidade de espanto e indigna o e orient la para a forma o de subjetividades inconformistas e rebeldes j a conflitualidade do passado enquanto um campo de possibilidades e decis es humanas assumida no projeto educativo como conflitualidade de conhecimentos todo conhecimento uma pr tica social de conhecimento ou seja s existe na medida em que protagonizado e mobilizado por um grupo social 1 um projeto de aprendizagem de conhecimentos confltuantes com o objetivo de atrav s dele produzir imagens radicais e desestabilizadoras educa o pois para o inconformismo que recusa a trivializa o do sofrimento e da opress o e veja neles o resultado de indesculp veis op es p 17 18 Compreendido desse modo o ato de sonhar coletivarnente encerra em si a possibilidade de superar as pr ticas tradicio nalmente instituidas e usualmente inquestionadas Constitui se em atitude cr tica de forma o que concebe a dist ncia entre o sonhado e o realizado como um espa o a ser ocupado pelo ato criador Assumir coletivamente
37. Cap 3 ao tratar a respeito da forma o Pedagogia da Conscientiza o 96 an ncio Sonhar coletivamente implica portanto exercer simultaneamente um duplo compromisso O primeiro compromisso consiste em fazer a den ncia das situa es limites em que se articulam as interfaces da l gica global excludente a opress o de sua dimens o pol tica a sele o de sua dimens o epistemol gica e a discrimina o de sua dimens o est tica Desse ato de denunciar decorre o segundo compromisso o an ncio de uma possibilidade ineditamentevi vel bem como com a luta pelas condi es sociais necess rias para exerc la O crit rio da possibilidade ou impossibilidade de nossos sonhos um crit rio hist rico social e n o individual Freire in Brand o 1983 p 99 por isso o in dito vi vel n o ocorre ao acaso nem se constr i individualmente A cria o do in dito vi vel representa sobretudo uma alternativa que se situa no campo das possibilidades e n o das certezas caracter stica pr pria da ci ncia p s moderna que problematiza o tempo e o futuro a partir da no o de instabilidade Esta formula o quebra a simetria entre passado e futuro que a f sica tradicional afirmava inclusive a mec nica qu ntica e a relatividade Essa f sica tradicional unia conhecimento completo e certeza desde que fossem dadas condi es iniciais apropriadas elas garantiam a previsibilidade do futuro e a possibilidade de retrodi
38. Relatividade de Einstein deforma conceitos primordias que eram tidos como fixados para sempre A partir dessa data a raz o multiplica suas obje es dissocia e religa as no es fundamentais prop e as abstra es mais auclaciosas p 9 Tais per odos concebidos em fun o de uma concep o de ci ncia e conhecimento que os definem trazem consigo tamb m um conjunto de id ias de concep es esperan as d vidas valores desafios em intera o dial tica com seus co ntr rios buscando plenitude Freire 1987 p 92 caracterizando o que Freire denominou de unidades epocais A cada unidade epocal constituem se novos obst culos humaniza o sendo necess rio portanto que se rediinensionem as tarefas hist ricas a serem cumpridas tendo em vista a nova realidade social que se configura A respeito da configura o do contexto atual Sousa Santos 1997 considera que estamos a viver um per odo de revolu o cient fica que se iniciou com Einstein e a mec nica qu ntica e n o se sabe ainda quando acabar p 23 Decorre desse processo hist rico a crise do paradigma da modernidade a qual precisa ser compreendida como o resultado interativo de Ana L cia Souza de Freitas 151 uma pluralidade de condi es p 24 em que se distinguem condi es te ricas e condi es sociais No que se refere s condi es te ricas observa se que a identifica o dos limites das insufici ncias es
39. Universit rio La Salle cuja interlocu o mobilizou ao pensamento frente s situa es limite da pr tica educativa e refor ou a necessidade de uma Pedagogia da Esperan a como ingrediente fundamental forma o do supervisor educador De igual modo minha participa o como integrante do Projeto Sonho Poss vef fortaleceu a compreens o acerca da transitoriedade dos sonhos imposs veis e da necess ria inteireza que envolve a constru o de suas possibilidades Nesse processo a indigna o que se funda na certeza da natureza pol tica da pr tica pedag gica mobilizou me recria o do modo de lutar contra a dificuldade inerente s pr ticas que buscam romper com o imobilismo O exerc cio sistem tico da indigna o produto produtora de criticidade levou me a fazer da escrita um instrumento da defesa por sonhos poss veis em que o desafio intui o e rigorosidade met dica politicamente orientadas se fez permanente Esse foi o movimento em que se constituiu o estudo e sistematiza o dos cap tulos que integram este trabalho A op o primeira por Paulo Freire como refer ncia te rica central para esta reflex o justifica se n o s em fun o da op o politica que o insere no campo da pedagogia progressista mas principalmente por seu testemunho acerca da possibilidade de vivenciarmos a inteireza de ser educador a A delimita o do estudo das obras escritas na d cada de 90 deve se ao fato de 30 Projeto Son
40. a es de forma o necessita levar em conta tamb m essa complexidade do processo em que se constitui o modo de ser e exercer a atividade profissional da doc ncia a fim de que se possam vislumbrar desdobramentos pr ticos capazes de desafiar o envolvimento dos educadores ao envolvimento pessoai profissional com a reinven o democr tica da escola A constru o da identidade profissional constitui se num movimento permanente e din mico sendo poss vel a afirma o radical de que n o h dois professores iguais e de que a identidade que cada um de n s constr i como educador baseia se num equil brio nico entre as caracter sticas pessoais e os percursos profissionais N voa 1997 p 33 A esse respeito N voa 1997 analisa a natureza complexa do ensino em que se constr i a identidade profissional do a professor a considerando sua impossibilidade de ser racionalizado tendo em vista as condi es diversas do cotidiano pedag gico e a inevitabilidade dos fatores aleat rios e imprevis veis do acto educativo p 31 Acredita que a crise de identidade dos professores foi se constituindo entre outros fatores em fun o de uma concep o de ci ncia ciue dicotomizou a identidade profissional da identidade pessoal e argumenta que ao contr rio a ci ncia p s moderna valorizando o senso comum busca reencontrar os sujeitos de modo que as investiga es e pol ticas de forma o sugerem um olhar mais centrado
41. a de ptica geral face ao futuro p 45 tend ncias progressivamente aceleradas nos ltimos anos de trabalho O desinvestimento caracteriza se por ser um fen meno de recuo e de interioriza o no final da carreira profissional p 46 em que as pessoas deixam de se lamentar e investem mais em si mesmas pilorizando interesses da vida social fora da escola A respeito de tais fases entretanto vale destacar uma s rie de advert ncias feitas pelo pr prio autor a fim de que n o se tenha urna leitura normativa sobre as mesmas Embora trate se de um conjunto de tend ncias organizadas em fun o da frequ ncia com que tais caracter sticas s o observadas ou relatadas nas pesquisas emp ricas de diversos autores h que se considerar que 11 Grifos do autor Ana L cia Souza de Freitas 167 Isto n o quer dizer que tais sequ ncias sejam vividas sempre pela mesma ordem nem que todos os elementos de uma dada profiss o as vivam todas O desenvolvimento de uma carreira assim um processo e n o uma s rie de acontecimentos Para alguns este processo pode parecer linear mas para outros h patamares regress es becos sem sa da momentos de arranque descontinuidades Se os estudos emp ricos s o bastante un vocos a prop sito das fases iniciais da doc ncia passam a s lo menos nas fases subsequentes Huberman 1992 p 37 41 Trata se de admitir o equ voco de uma argumenta o em torno de fases de
42. a reflex o da experi ncia vivida atrav s de princ pios e eixos que nortearam o trabalho de forma o privilegiando a que se faz no mbito da pr pria escola com pequenos grupos de educadores ou com grupos ampliados resultante de agrupamentos de escolas pr ximas p 81 Encontra se tamb m nessa obra a s ntese de sua fala de despedida do trabalho na Secretaria Municipal de Educa o de S o Paulo sob o t tulo Manifesto maneira de quem saindo fica p 143 Pedagogia da Esperan a um reencontro com a Pedagogia do Oprimido obra que surgiu da inten o inicial de Freire de escrever um novo pref cio em que fossem revistas algumas das cr ticas Pedagogia do Oprimido tornou se importante refer ncia deste per odo O esfor o de retomar as id ias centrais de seus primeiros escritos luz das cr ticas sofridas acabou por gerar essa nova obra cujo t tulo sem ter uma escolha antecipada nasceu nas conversas com os amigos Freire 1993b p 7 Pedagogia da Esperan a tamb m um livro de mem rias em que Freire relata e analisa experi ncias vividas que foram construindo e consolidando os conceitos e valores que orientam sua trajet ria pessoal e profissional Essa a primeira obra que tem a peculiaridade de ser complementada por um conjunto significativo de notas ao final S o 52 notas desenvolvidas ao longo de quarenta p ginas em que sua esposa a historiadora Ana Maria Ara jo Freire esclarece conceitos util
43. a viv ncia da alegria visto que o sistem tico necess rio para que a escola seja o lugar do dif cil o sistem tico aquilo que se pode esperar ultrapassar o dif cil daquilo que a escola se d como tarefa a ser enfrentada p 204 205 Nesta perspectiva o sistem tico e o obrigat rio contribuem para a alegria do ato criador pois a for a criadora essencial n o se desenvolve em nenhum outro lugar a n o ser na vida e nos esfor os do conjunto de homens p 96 Pedagogia da Conscientiza o 140 Partindo desse entendimento poss vel compreender o registro como atitude de forma o que desafia a autoria do a professor a a ser sujeito da constru o do conhecimento a partir de sua a o reflex o e sistematiza o o qual exercido de forma obrigat ria e sistem tica pode faz lo evoluir para a elabora o peri dica de relat rios bem como sua autoria na produ o de artigos ensaios entre outros que construam a hist ria e a reflex o de sua pr pria experi ncia na perspectiva do sonho poss vel da educa o a servi o da democratiza o Enfim poss vel que apoiado na obrigatoriedade o registro se constitua num ato de cria o atrav s do qual se vivenciem novas alegrias na rela o profissional da doc ncia Todavia para que se possa vivenciar essa perspectiva ser preciso que sejam recriadas as formas de registro tradicionalmente obrigat rias na escola tais corno determinados ti
44. acerca de suas rela es com o processo de conscientiza o e a reinven o da escola Propor uma determinada rela o implica necessariamente assumir posi o acerca das categorias que a sustentam Especialmente os conceitos de totalidade e complexidade tornam se relevantes por serem categorias que explicam a qualidade da rela o estabelecida Respectivamente totalidade e complexidade correspondem forma de pensar a perspectiva global de ci ncia da modernidade e da p s modernidade as quais perante determinado ponto de vista podem ser consideradas antag nicas No entanto partindo de outro entendimento cabe destacar que o conceito de totalidade n o se refere compreens o total e absoluta da realidade das coisas dos fatos trata se de uma forma de compreender a realidade tal como define Kosik 1976 Pedagogia da Conscientiza o 144 Totalidade significa realidade como um todo estruturado dial tico no qual ou do qual um fato qualquer classes de fatos conjuntos de fatos pode vir a ser racionalmente compreendido n o um m todo que pretenda ingenuamente conhecer todos os aspectos da realidade sem exce es e oferecer um quadro total da realidade na infinidade de seus aspectos e propriedades p 35 36 O conceito de totalidade surge no interior do paradigma da ci ncia moderna em que a no o de paradigma est relacionada defini o de Thomas Kuhn segundo o qual paradigma refere se a mo
45. alongando se umas nas outras no fundo azul do c u E a curiosidade met dica exigente que tomando distancia do seu objeto dele se aproxima para conhec lo e dele falar prudentemente p 116 Analisa assim a forma como o homem foi ao longo de sua hist ria ampliando sua capacidade de conhecer ao aperfei oar seus m todos de aproxima o dos objetos para melhor compreend los para ultrapassar o n vel meramente opinati vo ibidem p 11 Enfatiza a import ncia de uma conipreens o cr tica da educa o propondo nesse sentido a metodiza o rigorosa da Ana L cia Souza de Freitas 105 curiosidade ibdem p 11 enquanto fator fundamental para problematiza o da realidade e a compreens o da processo de reinven o do mundo A terceira obra que constitui se numa refer ncia fundamental para a compreens o do significado da curiosidade epistemol gica Professora sim tia n o cartas a quem ousa ensinar 1993 Nesta obra Freire tematiza a tarefa de ensinar pressupondo a participa o do educando na produ o do conhecimento e enfatizando necessidade da radicalidade do di logo como selo da rela o gnosiol gica p 6 a partir do qual o professor envolvendo se com a curiosidade dos alunos reconstr i sua pr pria curiosidade Ao abrir se s perguntas s cr ticas e s sugest es de seus alunos o professor tem nessa rela o uma fonte rica de aprendizagem Nesse sentido ser destacada
46. compet ncia t cnica s o portanto dois aspectos a serem permanentemente renovados no processo de forma o que assuma a conscientiza o como princ pio metodol gico j que a capacidade de comprometer se caracter stica da consci ncia cr tica n o tem um fim em si mesma mas est relacionada a um projeto coletivo e transformador sendo a promo o da consci ncia ing nua para a consci ncia cr tica um desafio constante Para tanto o a professor a dever ser provocado a a indagar se sobre a intencionalidade de sua pr tica pedag gica tendo como refer ncia o projeto politico pedag gico da escola a fim de que num processo de permanente an lise da dist ncia entre as expectativas e os fatos bem como da coer ncia entre discurso e pr tica desvelem se os obst culos s mudan as necess rias constru o da escola desejada A consci ncia cr tica objetivando esses obst culos inscreve o grupo na busca de sua supera o demarcando com a intencionalidade da sua a o uma ruptura com a concep o ing nua e fatalista que gera o imobilismo e impede a constru o do in dito vi vel A passagem da ingenuidade para a criticidade sup e ruptura coragem e capacidade de assumir riscos delimita a assun o da responsabilidade em que se situa o espa o das decis es A consci ncia cr tica faz com que os homens e as mulheres considerem se como seres em devir corno seres inacabados incompletos em rela o a si mesmos
47. curiosidade sempre desperta Freire 1993b p 16 Tal concep o ser 8 Esse posf cio consiste num depoimento dado por Freire aos organizadores da obra Textos escolhidos FIORI Ernani Maria Porto Alegre 1 amp PM 1991 v 2 Educa o e pol tica O depoimento foi lado em novembro de 1985 mesmo ano em que foi publicada a obra Por urna pedagogia da pergunta por essa proximidade nie refiro s id ias de curiosidade e de postura epistemol gica como presentes no mesmo periodo Ana L cia Souza de Freitas 103 compreendida a partir da cria o da express o curiosidade epistemol gica a qual passar a ser um elemento fundamental no desenvolvimento da consci ncia cr tica Dessa forma a criticiza o da consci ncia exigir a assun o de uma postura reflexivo cr tica dos sujeitos em fun o da qual poder a curiosidade espont nea tornar se curiosidade epistemol gica Destacam se tr s obras importantes no sentido de urna maior compreens o do significado dessa curiosidade epistemol gica A primeira Pedagogia da Pergunta 1985 obra em que Freire e Faundez refletem em torno de suas experi ncias pol tico pedag gicas Convencidos da validade de fazerem juntos um livro dial gico por ser esta uma forma de dar um testemunho de ruptura com a acomoda o que transforma o trabalho intelectual num ato individualista realizam nessa obra constante movimento entre teoria e pr tica analisando experi ncias vividas em
48. da consci ncia da pr xis profissional do a professor a quanto maior for a diversidade de intera es sociais estabelecidas a partir de sua curiosidade em constante movimento nos diferentes n veis de 2 Grifo da autora Ana L cia Souza de Freitas 185 reflex o Contudo ainda que tal posicionamento justifique a import ncia de uma forma o permanente comprometida com a constru o da identidade profissional do a professor a enquanto sujeito indispens vel e insubstitu vel nesse processo a problematiza o de sua pr tica n o pode deixar de estar diretamente articulada participa o da comunidade escolar j que a discuss o com os demais segmentos alunos as pais m es e funcion rios as tamb m em processo de forma o permanente pode servir de ant doto contra a particularidade pois as concep es orientadas neste sentido podem ser confrontadas com as opini es dos outros certamente matizadas e mais ou menos imersas na cotidianidade Souza Patto 1993 p 351 Esse o entendimento que fundamenta a perspectiva progressista de globalidade em que se inscreve a conscientiza o como princ pio metodol gico da forma o de professores na luta pela constitui o de propostas de forma o que assumam a gest o democr tica da escola tamb m como um principio organizador de suas a es de forma o de tal modo que a participa o constitua se como princ pio educativo na constru o da autoria de pensament
49. da escola faz parte Juntos desafiam educadores progressistas n o apenas leitura mas tamb m escrita como parte de seu compromisso pol tico E o que afirma Freire 1991a dando seu testemunho a esse respeito Escrever e ler fazem parte como momentos importantes da minha luta 1 Meu gosto de ler e escrever se dirige a uma certa utopia que envolve uma certa causa escrever a cr tica n o malvada mas l cida e corajosa das classes dominantes continuar a ser uma de minhas frentes de briga p 144 Freire nos desafia leitura e escrita enquanto processos indicotomiz veis de pensar a exist ncia nos desafia a fazer com que as experi ncias vividas constituam se em fonte de reflex o te rica A leitura de Freire nos ensina a fazer da teoria um instrumento necess rio desafiando nos sobretudo a sermos sujeitos no processo de reconstru o permanente da pr xis educativa libertadora Em especial a leitura das obras da d cada de 90 nos ensina a potencializar a capacidade coletiva de organiza o popular na sistematiza o do conhecimento constru do em processo constituindo se num instrumento fundamental para a constru o da dif cil mas poss vel reinven o da escola na perspectiva da educa o popular 1 3 Conhecimento e senso comum a perspectiva epistemol gica da p s modernidade presente no saber de experi ncia feito Ana L cia Souza de Freitas 51 O emprego do termo p s modernidade i
50. da indigna o contra o neoliberalismo excludente explicitam esta vontade de abrir o conceito para cr tica e amorosamente reconstru lo Talvez fosse a sua maneira de dizer que a velha opress o est ganhando caras novas s vezes muito sofisticadas que escondem o mesmo sofrimento e que na teoria pedag gica latino americana n o nos conv m esquecer os caminhos j andados O livro de Ana L cia um belo exerc cio de reconstru o da conscientiza o vista especificamente como princ pio metodol gico para a forma o de professores N o se trata de uma volta saudosista ao passado para descobrir o que sobrou mas da explicita o da conscientiza o nos escritos de Paulo Freire nos anos 90 mesmo quando dito com outras palavras A autora v a conscientiza o corno uma totalidade org nica que compreende tr s dimens es a pol tica a epistemol gica e a est tica que por sua vez s o referidas respectivamente s categorias da esperan a da curiosidade epistemol gica e da alegria Tudo isso sempre ligado com a forma o do educador e da educadora A criticidade a curiosidade e a criatividade outra forma que a autora usa para expressar a tr ade conceitual que descobre na releitura da conscientiza o n o s o meras abstra es mas est o referidos pr tica formativa com professo res da rede municipal em Porto Alegre onde Ana L cia exerce a fun o de coordenadora pedag gica Ana L cia Souza d
51. da op o por uma pr tica de forma o inicial tamb m progressista mente orientada pela conscientiza o como princ pio metodol gico que disponha se a organizar os momentos de sonhar estudar e criar num exerc cio permanente de constru o da identidade profissional do professor Tal possibilidade se viabiliza a partir da cria o de mecanismos institucionais que assumam na viv ncia do tr ptico did tico a partilha do compromisso com a constru o de alternativas para as dificuldades inerentes s perspectivas de globalidade totalidade e complexidade que envolvem esse processo Esta poder ser urna maneira meditamente vi vel de gestar dernocraticamente a reinven o da supervis o escolar bem corno de outros estudos no intuito de potencializar a gest o democr tica do trabalho pedag gico na escola p blica Sobretudo essa possibilidade se constr i no compromisso coletivo com a constru o de um conhecimento libertador conhecimento que n o se encerra na dimens o epistemol gica mas assume uma perspectiva frente mesma em fun o de sua articula o s dimens es pol tica e est tica Vale dizer que a forma o de professores orientada pela conscientiza o ao articular a arte a ci ncia e a pol tica na viv ncia da reflex o permanente das pr ticas pedag gicas a partir da perspectiva da dupla ruptura epistemol gica faz do Pedagogia da Conscientiza o 218 cotidiano escolar um espa o privilegiado da cons
52. das desigualdades sociais bem como ap ia a luta contra todo tipo de discrimina o tais como a racial tnica de g nero entre outras Trata se da viv ncia de urna sensibilidade de natureza tico emancipat ria desenvolvida no processo de conscientiza o a partir do qual a realidade social criticamente analisada exige urna tornada de posi o na luta pela reinven o do futuro Uma sensibilidade que compreende ser imposs vel aceitar urna simples manifesta o de que horror diante de fam lias desesperadas que almo am lixo hospitalar peda os de selos amputados ou restos de comida nos lixos sanit rios dos centros urbanos Freire 1995 p SS Grifos do autor 38 Grifos do autor 37 Grifo do autor Refere se um grande terreno de dep sito de lixo p blico na cidade de Olinda em A sombra desta mangueira Freire sublinha a partir deste fato a natureza das rela es democr ticas no Brasil em que discursos reacion rios acusam de invasores de terra os que lutam pelo direito fundi rio Em Pedagogia da autonomia retoma tal fato pormenorizando o em fun o da imprensa ter noticiado tal refer ncia em sua obra anterior manifestando se com veem ncia E poss vel que a noticia tenha provocado em pragm ticos neoliberais sua rea o habitual e fatalista sempre em favor dos poderosos E triste mas que fazer A realidade por m n o inexoravelmente esta Est sendo esta como poderia
53. de Janeiro Paz e Terra 1993c p 9 10 Cartas Cristina Rio de Janeiro Paz e Terra 1994a Reagindo sobre este texto In NOGUEIRA Adriano org Contribui es da interdisciplinaridade para a ci ncia para a educa o para o trabalho sindical Petr polis Vozes 1994b p 100 102 Sombra desta Mangueira S o Paulo Olho D gua 1995 Pedagogia da autonomia saberes necess rios pr tica educativa S o Paulo Paz e Terra 1996 Apresenta o In GIROUX Henry Os professores como intelectuais rumo a uma pedagogia critica da aprendizagem Porto Alegre Artes M dicas 1997 p IX X Pedagogia da indigna o cartas pedag gicas e outros escritos S o Paulo Editora UNESP 2000 FAUNDEZ Ant nio Por uma pedagogia da pergunta Rio de Janeiro Paz e Terra 1985 SHOR lra Medo e ousadia o cotidiano do professor 3 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986 Pedagogia da Conscientiza o 238 FREITAS Ana L cia Souza de Pedagogia da Esperan a um reencontro com a Pedagogia do Oprimido Paulo Freire Resenha Revista de Educa o Ciencia e iuuura Lanoas 1 centro universitario 1a aiie v 4 n 1 p 114 117 1997 O Desenvolvimento da Curiosidade Epistemol gica urna aprendizagem necess ria ao processo de forma o permanente de professores as no cotidiano escolar novas reflex es Revista Estudos Leopoldenses S rie Educa o Un
54. desenvolvimento profissional pr fixadas sequ ncias pretensamente universais apesar das diferen as de condi es sociais ou de per odo hist rico p 52 No entanto com sua devida relativiza o a compreens o de tais tend ncias manifestas no ciclo profissional do a professor a um elemento relevante a ser considerado na constitui o de propostas formadoras comprometidas com a permanente reinven o do ato pedag gico tendo em vista a necessidade de que o instinto formativo predornine sobre o esp rito conservativo tal corno sugere Bachelard 1996 Um epistem logo irreverente dizia h vinte anos que os grandes homens s o teis ci ncia na primeira metade de sua vida e nocivos na outra metade o instinto formativo acaba por ceder a vez ao instinto conservativo Chega o momento em que o esp rito prefere o que confirma seu saber quilo que o contra diz em que gosta mais de respostas do que de perguntas O instinto conservativo passa ent o a dominar e cessa o crescimento espiritual p 19 Superar essa tend ncia um importante desafio s propostas de forma o a fim de que contribuam para a manuten o e o desenvolvimento da esperan a da curiosidade e da alegria de ensinar e aprender ao longo de todo o ciclo de vida profissional do a professor a Para tanto faz se necess rio compreender que fatores contribuem favoravelmente para a manuten o do esp rito formativo ao longo da vida profissiona
55. disponham se a reinventar se compreendendo a Pedagogia a partir de uma perspectiva interdisciplinar que concebe a complexidade da rela o entre arte e ci ncia em sua articula o com a totalidade em que se constr i a rela o consci ncia mundo Trata se portanto do desafio de que arte e ci ncia coexistam num campo pedag gico politicamente orientado em fun o do desenvolvimento da conscientiza o para que a Pedagogia Progressista ao compreender a educa o enquanto pr tica social atue segundo uma concep o coletiva e interdisciplinar do conhecimento considerando que seu objeto de investiga o o POR QUE e o COMO o Ser Humano se transforma atrav s de sua forma o Nogueira 1994 p 94 Logo a Pedagogia ao sistematizar a capacidade de conhecer de modo a fazer surgir a criticidade junto com o conhecimento constitui se como a ci ncia da reflex o critica sobre os quefazeres humanos como 2 A discuss o sobre a concep o da Pedagogia como ci ncia da educa o a partir de um estatuto epistemol gico pr prio em rela o com as demais ci ncias da educa o bem como da fun o da did tica nesse processo o que fundamenta a reflex o que aqui se apresenta e pode ser aprofundada em v rias obras que trazem com muita propriedade esta discuss o entre as quais destacam se duas obras organizadas por Selma Garrido Pimenta e publicadas pela Cortei Editora Pedagogia ci ncia da educa o
56. e em terceiro lugar o entendimento de que no processo de conscientiza o constroem se possibilidades de reinven do das pr ticas escolares na perspectiva de sua democratiza o mobilizando a inteireza dos sujeitos ao compromisso com a cria o do in dito vi vel Considerando tais pressupostos a conscientiza o pode ser compreendida a partir das rela es de globalidade totalidade complexidade que se estabelecem entre os mesmos no processo de trans forma o permanente da pr tica docente problematizada pela concep o profissional do educador progressista concebido como aquele que vivenda a radicalidade da ades o a propostas em fun o de seus princ pios e valores compromete se com o processo de transforma o de sua a o em fun o de um projeto coletivo bem como assume o exerc cio permanente da Ana L cia Souza de Freitas 221 auto consci ncia exercendo a autoria do pr prio pensamento e desafiando se cria o do in dito vi vel A conscientiza o compreendida como processo que integra organicamente a criticidade a curiosidade e a criatividade orienta se no sentido do desenvolvimento da consci ncia democr tica do conhecimento libertador e da sensibilidade emancipat ria problematizando a identidade profissional do educador de tal modo que este possa perceber criticamente as situa es limite a que se encontra limitado e para al m delas perceber se como sujeito da cria o do in dito
57. educa o para a curiosidade n o nos esque amos tamb m de que H outra forma curiosa de nos entregarmos gostosamente ao desafio Trata se da curiosidade est tica Freire 1995 p 77 E a curiosidade est tica que nos faz admirar por exemplo a beleza do p r do sol a curiosidade est tica que nos permite a emo o diante do belo e na concep o libertadora da educa o conhecer algo de belo na medida em que conhecer desvendar um objeto o desvendamento d vida ao objeto chama o para a vida e at mesmo lhe confere uma nova vida isto uma tarefa art stica Freire 1986 p 145 Sobretudo a curiosidade epistemol gica recorre curiosidade est tica Freire 1995 p 77 porque o ato de conhecer impregnado de subjetividade O que eu sei sei com meu corpo inteiro com minha mente cr tica mas tamb m com meus sentimentos com minhas intui es com minhas emo es Freire 1993b p 43 A compreens o da import ncia do desenvolvimento de tais curiosidades para a viv ncia da pr xis educativa libertadora ser poss vel a partir do pr prio exerc cio delas em sua forma o permanente no cotidiano escolar sem dissociarem se da curiosidade pol tica a qual fundada na esperan a organiza a intencionalidade das demais E esse o sentido de que o educador progressista consciente da necessidade do desenvolvimento de tais curiosidades para a constitui o de Ana L cia Souz
58. envolve o ato de avaliar ampliando o campo das lembran as e auxiliando na restitui o da imagem do trabalho realizado bem como das id ias que este provocou reflex o O registro permite que a riqueza das id ias desenvolvidas na pr tica pedag gica n o se submeta cotidianidade Compreendido dessa forma o registro torna se instrumento fundamental da pr tica profissional do educador progressista e portanto toma se obrigat rio seu desenvolvimento de forma sistem tica e intencionalmente organizada tendo em vista o rompimento de rela es rotinizadas do a professor a com seu trabalho A obrigatoriedade do registro em forma o permanente pois um desafio qualifica o do pr prio processo de for ina o no sentido da supera o da padroniza o das pr ticas tradicionalmente inquestionadas e representa uma possibilidade de constru o de pr ticas democr ticas ineditamentevi veis Sendo assim a diversidade das intera es sociais tamb m um elemento que contribui para que o ato de registrar seja sentido como necessidade e incorporado como pr tica usual decorrente da perspectiva democr tica da atividade profissional da doc ncia Para tanto faz se necess rio que se constituam pr ticas de forma o permanente em que o ato de registrar assuma car ter sistem tico pois segundo Snyders 1988 h uma estreita rela o entre o obrigat rio e o sistem tico tendo em vista a supera o do dif cil bem como
59. erva doce mas a erva doce estava velha ent o ficou um gosto assim meio ruim foi irna experi ncia que n o deu certo Est l o bolo que n o deu para comer Quer dizer o conceito a experi ncia a organiza o dos dados da experi ncia no conceito Ela deu uma aula A reflex o das experi ncias de vida pois a melhor forma de compreender como se d o processo de constru o de conceitos E isso que o senhor chama de experimenta o para ver se deu certo a ela abriu o farnel dizendo assim Est aqui o bolo prove E o que o senhor chama de comprobabilidade do conhecimento Se o senhor n o come n o vai reconhecer aqui dentro o fub o doce o tempero o coco porque na verifica o o senhor n o distinguiu as partes Ent o o senhor se apropriou do conceito de maneira inadequada tem que aprender a comer degustando para saber se tem dia que eu ponho coco mas tem dia que eu ponho queijo ralado ou quando n o tem nenhum dos dois Essa situa o ilustra claramente a import ncia de que se compreendam as diferentes formas de organiza o dos saberes em fun o das situa es de viv ncia e de sobreviv ncia Logo tomar como ponto de partida o saber de experi ncia feito tanto dos as professores as quanto dos demais segmentos fundamental para que todos sejam sujeitos de um processo de teoriza o da pr pria pr tica em que a teoria serve de orienta o para a constru o de um conhe
60. es de aprendizagem poder o projeto pol tico pedag gico da escola ser constru do e vivenciado coletivamente no cotidiano escolar ampliando o campo das possibilidades de cada um problematizar sua tica de particularidade na perspectiva do desenvolvimento da tica do humano gen rico E nesse sentido que se insere a a o do supervisor educador como um a articulador a das a es educativas de tal forma que atrav s de um processo permanente de debate coletivo de cr tica rec proca de permuta de pontos de vista num movimento din mico entre teoria e pr tica v tornando se poss vel a explicita o e an lise dos pressupostos que est o orientando as pr ticas escolares e recriando as a partir de op es te rico cr ticas conscientes coletivas e eticamente democr ticas Por conseguinte compreendendo que as transforma es das pr ticas docentes s se efetivam na medida em que o professor amplia sua consci ncia sobre a pr pria pr tica Pimenta 1997 p 23 e que esta ocorre em fun o da reflex o realizada pelo professor em seus diferentes n veis a reflex o coletiva constitui se no maior desafio ao trabalho do supervisoreducador Sendo assim poss vel compreender como seu objeto de trabalho a constru o coletiva da organiza o do ensino a partir da trans forma o permanente da teoria e pr tica did tica que orientam o planejamento coletivo e contextualizado j que a necessidade fundamental de
61. faz se urgente e necess ria uma vez que para termos escolas p blicas de qualidade precisamos cada vez mais de pol ticas p blicas de valoriza o do magist rio que concebam o ato de conhecer como um processo permanente e consequentemente o ato de estudar como inerente ao trabalho docente e parte integrante da jornada de trabalho do a professor a 3 3 A cotidianidade das a es de forma o e a profissionaliza o docente uma perspectiva de complexidade A assun o do princ pio metodol gico da conscientiza o como perspectiva de globalidade de uma proposta de forma o de professores Ana L cia Souza de Freitas 171 implica uma postura cr tica produto produtora de esperan a de alegria e de curiosidade em que tais sentimentos n o se restringem realiza o de desejos particulares e imediatos Para tanto a proposi o de a es de forma o pressup e que se considere a perspectiva de complexidade da cotidianidade escolar em fun o de uma perspectiva de globalidade que integra tamb m a perspectiva de totalidade em que se inscreve a circularidade entre a pr xis educativa libertadora e a identidade do educador progressista A compreens o desses pressupostos s o fundamentais a fim de que se potencializem as a es de coordena o da forma o permanente de professores no cotidiano escolar tendo em vista o desenvolvimento da consci ncia democr tica do conhecimento libertador e da sensibilidade emancipat
62. figura familiar da tia argumentando tal posicionamento a partir de duas raz es fundamentais De um lado evitar uma compreens o distorcida da tarefa profissional da professora de outro desocultar a sombra ideol gica repousando manhosamente na intimidade da falsa identifica o Identificar professora com tia o que foi e vem sendo ainda enfa tizado sobretudo na rede privada em todo o pais quase como proclamar que professoras como boas tias n o devem brigar n o devem rebelar se n o devem fazer greve Quem j viu dez mil tias fazendo greve sacrificando seus sobrinhos prejudicando os no seu aprendizado 1 ideologia que toma o protesto necess rio da professora como uma manifesta o de seu desamor aos alunos de sua irresponsabilidade p 12 A preocupa o em n o equiparar o trabalho docente com a perspectiva tradicional do trabalho dom stico reside no fato de ser esta uma identifica o que op e se dimens o pol tica de uma pr tica pedag gica de natureza progressista em que o ensino e a aprendizagem n o tem nada a ver com conservar as coisas iguais em si mesmas mas com um processo construtivo de transforma o Fernandez 1992 p 56 Nesse sentido a profissionaliza o da atividade docente passa necessariamente por superar o n vel de consci ncia ing nua que concebe a atividade docente como trabalho eminenternente feminino e se expressa atrav s da queixa como lamento a qual cumpre a fun
63. gente O que surgira como um instrumento de luta nessa conquista parecia tornar se um fim em si mesmo deixando de ser um fator para motivar e orientar a a o libertadora Afinal como lembrava Thiago de Mello em Can o para os fonemas da alegria publicado em Educa o como pr tica da liberdade palavras deveriam ser m gicos sinais que v o se abrindo constela o de girass is gerando em c rculos de amor que de repente estalam como flor no ch o da casa Da veio o sil ncio Conscientiza o saiu de cena ao menos como personagem central Um sil ncio restaurador um momento de cicatrizar feridas abertas mas tamb m de buscar novos caminhos Paulo Freire n o se negava quando necess rio a usar e explicitar o conceito mas n o via nisso a sua Pedagogia da Conscientiza o 10 voca o Em vez de sair mundo a fora reclamando dos ignorantes que n o entendiam ou que deturpavam o sentido de uma palavra Paulo Freire preferiu criar novas imagens e novas palavras que quem sabe dissessem ainda melhor o seu mundo e o mundo que queria ajudar a construir Uma marca de sua capacidade de recriar se e de recriar a linguagem sempre com o intuito de construir pontes e de cruzar fronteiras Mas a conscientiza o n o estava morta Jamais como pr tica e enquanto palavra parece que o tempo estava maduro para que retornasse com uma nova densidade e profundidade Alguns dos escritos mais recentes no contexto
64. inacabamento Na obra Pol tica e educa o enfatiza sua proximidade com Snyders ao argumentar a defesa por uma escola menos discriminat ria e elitista referindo se a uma escola aberta que supere preconceitos que se fa a um centro de alegria como por este sonho se vem batendo este not vel pensador franc s incans vel lutador pela alegria na escola que Georges Snyders 1993 p 22 Para tanto destaca na obra Professora sim tia n o a alegria corno um elemento importante para a profissionaliza o da doc ncia j que O processo de ensinar que implica o de educar e vice versa envolve a paix o de conhecer que nos insere numa busca prazerosa ainda que nada f cil Por isso que urna das raz es da necessidade da ousadia de quem se quer fazer professora educadora a disposi o pela briga justa l cida em defesa de seus direitos como no sentido da cria o das condi es para a alegria na escola um dos sonhos de Snyders Freire 1993b p 11 4 Grifo do autor 41 Grifo do autor Pedagogia da Conscientiza o 130 Em suas ltimas obras Cartas a amp istina sombra desta mangueira e Pedagogia da Autonomia Freire reitera a import ncia da luta pela alegria na escola como um elemento fundamental s praticas educativas orientadas pela concep o probiematizadora e libertadora da educa o Para tanto destaca a relev ncia da forma o permanente de professores j que impresci
65. intera o consolidou a import ncia do outro na problematiza o do pensamento Ana L cia Souza de Freitas 19 ao amigo Gilberto Ferreira da Silva e s amigas D ris Helena de Souza e Luciana Coronel cuja inteireza com que se dedicaram s leituras com olhos de banca contribuiu para a relativiza o das certezas ao meu irm o Marcos e minhas irm s S lvia Alice e Cana e aos demais familiares pelo apoio est mulo carinho cuidados e compreens o sobre as horas de afastamento devido ao estudo rigoroso sobretudo ao Z pela paci ncia impaciente com que suportou o exerc cio da rigorosidade met dica que me permitiu a sistematiza o desta reflex o Pedagogia da Conscientiza o 20 A produ o te rica de Paulo Freire na d cada de 90 um convite reflex o a o Freire tem sido citado por educadores em todo o mundo e constitui uma importante contribui o para a pedagogia critica n o somente por causa de seu refinamento te rico mas por causa do sucesso de Freire em colocar a teoria na pr tica Peter McLaren compreens o da obra de Freire tem sido objeto de m ltiplas e variadas interpreta es Sua contribui o tem sido refer ncia para a recria o de pr ticas educativas em diversas reas e mbitos de atua o Sua constru o te rica fundada na experi ncia criticamente refletida assume caracter sticas pr prias capazes de suscitar leituras diversas tanto no que diz respeito s
66. ncia uma ruptura com o senso comum O conhecimento cient fico depende tanto da raz o como da experi ncia porque se conhece contra um conhecimento anterior p 42 Dessa forma ao contr rio de Kuhn Bachelard defende a hist ria recorrente considerando necess rio conhecer o presente para compreender o passado p 44 resultando da seu entendimento de que o desenvolvimento hist rico das ci ncias seja estudado a partir dos conhecimentos cient ficos atuais Ao contr rio tamb m de Popper Bachelard considera que o desenvolvimento das ci ncias ocorre n o pelo ac mulo de conhecimentos mas por rupturas e reorganiza es do saber de tal forma que o maior obst culo forma o do esp rito cient fico colocar a experi ncia antes e acima da critica j 28 No racionalismo dial tico o imediato dever ceder lugar ao constru do e para tanto faz se necess rio compreender a import ncia do sonho do devaneio e do entusiasmo vendo nas ci ncias a paix o pelos problemas dif ceis p 47 Partindo dessa an lise comparativa Borges 1996 considera que entre os fil sofos das ci ncias Bachelard como professor quem mais se envolve com a educa o p 62 e estabelece sua aproxima o com Freire destacando id ias semelhantes entre ambos Freire 1986 ao afirmar que a constru o do conhecimento novo n o se dissocia da reconstru o do conhecimento j existente recria noutro contexto
67. necess rio que se desenvolvam propostas ineditamente vi veis comprometidas com esta desestabiliza o e com a problematiza o das compreens es acerca da fun o social da doc ncia bem como da necess ria rigorosidade met dica para faz la melhor Rigorosidade que implica necessariamente seriedade mas n o prescinde da alegria do sonho e da esperan a que nutre se do prazer da realiza o e da conviv ncia democr tica que n o sendo harm nica explicita os conflitos e trabalha permanentemente suas contradi es incentivando a tomada de posi o frente constru o de um novo senso comum visto que Uma educa o que parte da conflitualidade dos conhecimentos visar em ltima inst ncia conduzir conflitualidade entre sensos comuns alternativos entre saberes pr ticos que trivializam o sofrimento humano e saberes pr ticos que se inconformam com ele entre saberes pr ticos que aceitam o que existe s porque existe independentemente da sua bondade e saberes pr ticos que s aceitam o que existe na medida em que merece existir finalmente entre saberes pr ticos que olham as decis es pelo que est montante delas e as converte em indesculp veis op es humanas Sousa Santos 1996 p 18 Para que o a supervisor a possa atuar efetivamente nesse sentido imprescind vel o desenvolvimento de uma postura de compromisso pol tico aliada a condi es t cnico pedag gicas que fundamentem uma pr tica ineditame
68. o da express o curiosidade epistenzoi gica Freire traduz em s ntese seu entendimento acerca da necess ria postura epistemol gica para que se efetive o ato de conhecer numa perspectiva cr tica A curiosidade epistemol gica enquanto conceito diretamente relacionado forma o do educador progressista assume uma centralidade tem tica em suas ltimas obras de modo que chama aten o a nfase empregada nas repetidas vezes em que Freire analisa a curiosidade considerando a como elemento indispens vel ao processo cognitivo e insistindo na necessidade de a educa o escolar assumir uma pr tica formadora fundada no estimulo e no desenvolvimento da curiosidade epistemol gica Freire 1994a p 130 Defende uma educa o que se comprometa em promover essa 2 Freire usa a express o seres programados para aprender tomando como refer ncia Fran ois Jacob Nous sommes programrn mais pour aprendre Le courrierde IVnesco Paris fev 1991 Freire 1995 p 37 Pedagogia da Conscientiza o 102 passagem da curiosidade ing nua curiosidade epistemol gica de modo a estimular criticamente a capacidade de aprender de aventurar se e arriscar se no exerc cio fundamental da inteligibilidade cr tica do mundo Nesse sentido torna se relevante o entendimento mais rigoroso do significado da curiosidade epistemol gica o qual desenvolvido por Freire antes mesmo de se fazer presente sob a forma dessa associa
69. o da maneira cotidiana de pensar e de atuar na realidade social da qual participam Souza Parto 1993 p 349 A partir da problematiza o da queixa p0 der se construir o entendimento de suas caracter sticas de cotidianidade imersa na particularidade e desenvolver um entendimento a partir da tica do humano gen rico transformando a em ju zo cr tico Assim considerando que a problematiza o da pr tica profissional do a professor a pressup e a criticiza o da cotidianidade escolar em sua tica de particularidade a queixa ocupa um papel importante no processo de conscientiza o tendo em vista a constitui o de pr ticas cuja intencionalidade integre uma perspectiva de totalidade assumindo simultaneamente a particularidade e a genericidade necess rias viv ncia da pr xis educativa libertadora Trata se portanto de compreender a potencialidade da queixa Pedagogia da Conscientiza o 182 docente tendo em vista a constitui o de pr ticas formadoras que desafiem a eleva o da consci ncia da pr xis educativa libertadora condi o necess ria pr tica profissional do educador progressista Para Fernandez 1994 fundamental o entendimento do lugar da queixa na constitui o da subjetividade da professora funcionando corno lubrificante da m quina inibidora do pensamento p 109 bem como o modo que as institui es educativas favorecem e at mesmo promovem o desenvolvimento deste tipo de comu
70. pela teoria freireana para a seguir compreend la sob a perspectiva do momento atual A pedagogia progressista libertadora teorizada por Freire integra a teoria educacional cr tica da modernidade a qual numa abordagem 52 sociocultural do ensino concebe o conhecimento numa perspectiva interacionista segundo a qual A express o refere se pesquisa realizada por Mizukami 1986 que se constituiu importante refer ncia para a compreens o mais global do processo de ensino e aprendizagem considerando suas caracter sticas de multidimensbnalidade e intencionalidade Buscando Pedagogia da Conscientiza o 52 O nomem se constroi e cnega a ser sujeito na medida em que integrado em seu contexto reflete sobre ele e com ele se compromete tomando consci ncia de sua historicidade 1 A elabora o e o desenvolvimento do conhecimento est o ligados ao processo de conscientiza o O conhecimento elaborado e criado a partir do m tuo condicionamento pensamento e pr tica Mizukami 1986 p 90 91 Tal perspectiva fica explicita num dos princ pios fundamentais da educa o libertadora ao considerar que ningu m liberta ningu m ningu m se liberta sozinho os homens se libertam em comunh o Freire 1987 p 52 A natureza epistemol gica de tal princ pio pode ser melhor compreendida a partir da filosofia da ci ncia Borges 1996 ao realizar pesquisa sobre a natureza do conhecimento cient fico analisa o
71. permanente de professores n o est colocada apenas no mbito individual e ou de pequenos grupos na escola os quais movidos pela necessidade pelo compromisso e pelo prazer Pedagogia da Conscientiza o 170 que encontram em estudar a pr pria pr tica para melhor atuar buscam permanentemente ampliar as brechas poss veis para viabilizar seus encontros Tamb m n o est colocada somente no mbito das equipes diretivas das escolas que embora tenham o poder de administrar os tempos e os espa os na organiza o do coletivo da escola mesmo quando imbuidas da intencionalidade necess ria para ampliar espa os de discuss o deparam se frequentemente com quest es de ordem legal ou de recursos humanos que obstaculizam a possibilidade de realiz los de modo mais sistem tico A assun o de tal responsabilidade um desafio que est colocado a todos nos limites de sua atua o na escola bem como em outras inst ncias de participa o social Entretanto essa responsabilidade individual precisa ser compreendida numa perspectiva de totalidade que atribui s inst ncias de representa o social o governo o sindicato e a universidade a responsabilidade de trabalhar articuladamente no sentido da garantia do tempo do espa o e das condi es materiais que incluem necessariamente as produ es intelectuais para que se desenvolvam propostas de forma o permanente de professores no cotidiano escolar Essa articula o
72. pr tica est embebida de quatro sensos comuns produto produtores de quatro comunidades de sa ber as comunidades familiar do trabalho p blica e nacional p 154 Tomando como refer ncia tais pressupostos poss vel compreender a cotidianidade escolar em que se desenvolve a identidade profissional como uma articula o complexa da cliversidade de suas determina es estruturais totalidade das condi es hist rico sociais em que estas se inserem Sendo assim a intencionalidade da problematiza o do ato pedag gico a ser desenvolvida no trabalho de forma o permanente do educador progressista precisa assumir simultaneamente essas perspectivas de totalidade e complexidade a fim de que possa representar um desafio s dimens es pol tica epistemol gica e est tica que integram a identidade pessoal profissional do a professor a Essa portanto uma perspectiva de globalidade progressista que concebendo o a professor a como um sujeito em processo permanente de forma o poder orientar a constitui o de propostas de forma o inicial ou continuada no intuito de romper com o conformismo desobstruir a burocratiza o mental e superar a desesperan a viabilizando dessa forma a eleva o da consci ncia da pr xis educativa libertadora 21 Grifos do autor Ana L cia Souza de Freitas 175 Para tanto a conscientiza o enquanto principio metodol gico orientar as a es de forma o no sentido de const
73. profissionaliza o docente uma perspectiva de complexidade 21 25 33 51 67 73 99 122 143 146 159 171 3 4 A gest o democr tica do trabalho pedag gico contribui es para a reinven o da supervis o escolar e outras pr ticas 4 CONSIDERA ES ACERCA DA CONSCIENTIZA O COMO PRINCIPIO METODOLOGICO 5 QUADROS S NTESE REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS 187 220 231 234 A conscientiza o revisitada Conscientiza o j foi palavra perigosa Fatal para alguns Em todos os casos m gica Ela dividia as pessoas e os grupos entre os de dentro e os de fora Entre quem apostava num futuro diferente num mundo onde todos tivessem lugar e aqueles que pretendiam por ingenuidade ou ast cia prender o futuro dentro de um eterno presente Refiro me s d cadas de 60 e 70 quando intensas movimenta es populares se cruzaram com duras e violentas repress es na maioria dos pa ses da Am rica Latina Naquele tempo muito se escreveu sobre conscientiza o quase sempre numa associa o direta e imediata com Paulo Freire Era uma palavra de sentido mais ou menos evidente para quem fala a lingua portuguesa Mas como logo se constatou praticamente intraduz vel para outros idiomas E tamb m para n s o que parecia simples come ou a se tornar complicado Em vez de unir desunia numa discuss o que muitas vezes desfocava o verdadeiro problema por tr s da conscientiza o a conquista da dignidade como
74. profundamente experimentado quanto um dever irrecus vel uma tarefa pol tica a ser cumprida J escrever n o uma quest o apenas de satisfa o pessoal N o escrevo somente porque me d prazer escrever mas tamb m porcjue me sinto politicamente comprometido porque gostaria de convencer outras pessoas sem a elas mentir de que o sonho ou os sonhos de que falo sobre que escrevo e porque luto valem a pena ser tentados A natureza pol tica do ato de escrever por sua vez exige compromissos ticos que devo assumir e cumprir p 15 16 Esse um desafio que dever nortear a luta do educador progressista na perspectiva da profissionaliza o da doc ncia uma vez que registrar na perspectiva proposta por Freire urna forma de inscrever se nesse processo de constru o do conhecimento urna possibilidade de socializar a riqueza das experi ncias vividas uma forma de partilhar a reflex o podendo fazer se presente quando a presen a f sica n o se faz poss vel uma maneira de convidar interlocu o um modo de provocar a discuss o como instrumento de luta desafiando novas autorias Enfim registrar socializar a reflex o que sustenta a defesa da educa o libertadora como um sonho poss vel pr xis comprometida com o desenvolvimento da consci ncia democr tica do conhecimento libertador e da sensibilidade emancipat ria concebidos como elementos fundamentais para a reconstru o da vida a servi o da ti
75. que permite manter a dualidade no seio da unidade O segundo princ pio Recursividade Organizacional nega a cadeia linear causa efeito produtor produto infra estrutura superestrutura e fundamenta a id ia de qtie a causalidade necessariamente recursiva de modo que urna causa produz um efeito que se torna causa novamente e as assim sucessivarnente O terceiro princ pio lologram lico parte da proposi o de que a parte est no todo que est na parte Esse princ pio diferencia se da vis o hol stica uma vez que para Mona o todo por vezes maior ou menor que a soma das partes p 33 A transcri o de tais princ pios n o tem o intuito de aprofundar uma an lise comparativa entre os autores aqui estudados e Edgar Mona mas apenas indicar que apesar das diferen as o termo complexidade utilizado por considerar relevantes alguns aspectos que o definem e que s o pertinentes s id ias desenvolvidas neste trabalho E o caso por exemplo da proximidade conceitual do princ pio da recursividade organiacional e o de dupla ruptura epistemol gica proposta por Sousa Santos O princ pio holo gram tico tamb m se explicita na reflex o desenvolvida acerca do tipo dc rela o que se estabelece entre as tr s dimens es do conhecimento pol tica epistemol gica e est tica as quais ao constitufrem se enquanto urna totalidade estabelecem entre si urna rela o de complexidade cm que cada urna cont m em si
76. que se construa a compreens o da hist ria como possibilidade em lugar do fatalismo neoliberal Enfim essas reflex es auxiliam n o s a construir uma certa compreens o da quest o proposta por Saviani acerca das tend ncias pedag gicas contempor neas mas principalmente a compreender o significado e a import ncia da educa ao Izbertadora no contexto atual Nesse sentido continua a vigorar a cr tica ao que Freire denominou de concep o banc ria da educa o a qual nesse momento para al m de opor se s diversas tend ncias da pedagogia liberal permanece sendo uma refer ncia para uma Ana L cia Souza de Freitas 87 oposi o contundente pedagogia neoliberal especialmente no que se refere s pr ticas no mbito do espa o formal da escola p blica Sobretudo a teoria pedag gica da educa o libertadora que faz da obra de Paulo Freire uma refer ncia indispens vel pr tica pedag gica de educadores progressistas n o pode deixar de articular se a outros referenciais te rico cr ticos atuais a fim de que possa sem assumir um car ter prescritivo contribuir para a compreens o da complexidade do ato pedag gico e reinvent lo em fun o do compromisso com a democratiza o do conhecimento No entanto h que se radicalizar na unidade em torno da manuten o de uma perspectiva comum qual seja uma perspectiva de globalidade progressista que compreende ser necess ria hoje frente ao contexto neolibera
77. s modernidade a dupla ruptura epistemol gica a partir de uma perspectiva de globalidade progressistamente orientada a qual n o prescinde da conscientiza o Ana L cia Souza de Freitas 67 Numa an lise mais rigorosa dos escritos de Freire poss vel perceber corno ele sem fazer uso do termo atualiza e amplia especialmente nas obras da d cada de 90 seu entendimento acerca do processo de conscientiza o A aus ncia do termo n o ocorre ao acaso consequ ncia de suas preocupa es com o uso do mesmo Tive indiscutivelmente raz es para desusar a palavra Nos anos 70 com exce es claro falava se ou se escrevia de conscientiza o como se fosse ela uma p lula m gica a ser aplicada em doses diferentes com vistas mudan a do mundo Me pareceu quela poca e sobre isso conversei com Elza que de um lado eu deveria de uma vez deixar de usar a palavra de outro procurar em entrevistas em semin rios em ensaios o que fiz realmente aclarar melhor o que pretendia com o processo conscientizador Freire 1991a p 114 No intuito de diminuir o risco das distor es do sentido original da conscientiza o Freire passou a trabalhar o conceito sem referir se ao termo Apesar disso em sua ltima obra publicada Pedagogia da Autonomia Freire retorna a atualidade do mesmo dizendo Contra toda a for a do discurso fatalista neoliberal pragm tico e reacion rio insisto hoje sem d
78. se construir teorias fertilizadoras da pr xis dos professores no sentido da transforma o das persistentes condi es de ensino e aprendizagem seletivas e excludentes da gesta o de pr ticas pedag gicas capazes de criar nos mbitos escolares as condi es de emancipa o e desenvolvimento social cultural e humano dos alunos pertencentes aos segmentos desfavorecidos da sociedade e que por isso sofrem o processo de marginaliza o nas escolas Pimenta 1997 p 24 Pedagogia da Conscientiza o 206 A did tica portanto concebida como necessidade inerente compreens o da educa o e do ensino como pr tica social viva nos contextos sociais e institucionais nos quais ocorrem Pimenta 1997 p 21 e por isso uma decorr ncia da pr tica profissional do professor construir uma did tica coerente com a eleva o da consci ncia de sua pr xis pedag gica j que a consci ncia cr tica n o se constitui atrav s de um trabalho intelectualista mas na pr xis a o e reflex o Freire 1982 p 82 Esse consiste o objeto de trabalho do a supervisor a que assume uma proposta progressista de forma o de professores orientada pelo princ pio metodol gico da conscientiza o Para tanto h que comprometer se com o processo de re signiflca o da did tica a partir da compreens o do tradicional tri ngulo did tico professor ensinar aluno aprender conhecimento formar Pimenta 1997 p 21
79. se insere a defesa de Freire sobre a necessidade de uma educa o da esperan a a fim de superar os condicionamentos hist ricos geradores de desesperan a e expandir a potencialidade transformadora da esperan a cr tica Cirigliano 1995 desafia o pensamento a esse respeito ao relacionar o desenvolvimento da esperan a s exig ncias inerentes ao processo de conscientiza o A consci ncia intransitiva orientada pelo impulso vital do desejo relaciona a esperan a unicamente como necessidade ontol gica consci ncia transitiva ing nua orientada pela racionalidade t cnica relaciona a defesa e a argumenta o em tomo da necessidade de uma educa o da esperan a consci ncia transitiva cr tica orientada por um projeto existencial impregnado de valores relaciona a supera o da esperan a corno algo que n o simplesmente intelectual e racional Esse o estado da consci ncia que requer a a o da pr tica transformadora enraizada na esperan a como energia para a manuten o de um projeto alternativo ao poder dominante enfim que requer a constitui o de propostas educativas que consolidem a Pedagogia da Esperan a a partir de pr ticas ineditamente vi veis No entanto para que as mesmas se viabilizem preciso que se tenha uma vis o de processo em que se conceba dialeticamente a rela o entre a paci ncia e a impaci ncia historicamente necess rias concretiza o de pr ticas transformadas e transformadora
80. seus valores Uara s d p 6 7 Partindo desse princ pio a pr pria pr tica em seus elementos objetivos e subjetivos localizada num determinado contexto hist rico e social torna se objeto de conhecimento e transforma o Decorre desse entendimento o segundo princ pio realizar um processo de teoriza o sobre a pr tica significa que necess rio que se constituam processos em se possa analisar criticamente as situa es concretas que s o o ponto de partida buscando compreender suas causas emitir opini es construir conceitos de tal modo a situar as manifesta es particulares de nossa vida cotidiana dentro do conjunto da totalidade social num momento hist rico determinado Trata se pois de gerar uma din mica de reflex o coletiva onde os conhecimentos existentes sejam ativamente reafirmados aprofundados modificados ou abandonados de maneira consciente Numa palavra apropriados apossados pelos participantes Jara s d p 8 Trata se de apropriar se da capacidade de teorizar num permanente exerc cio de questionamento e busca da amplia o do conhecimento processo em que a crescente curiosidade constr i a necessidade de uma pr tica tamb m diferenciada Desse entendimento decorre o terceiro princ pio fazer da teoria um guia para a a o transformadora significa que a constru o de conceitos e de sua criticidade dever permitir a an lise de situa es particulares tendo em vista a orien
81. tal forma que Pedagogia da Conscientiza o 220 Minha seguran a se funda na convic o de que sei algo e de que ignoro algo a que se junta a certeza de que posso saber melhor o que j sei e conhecer o que ainda n o sei Minha seguran a se alicer a no saber confirmado pela pr pria experi ncia de que se minha inconclus o de que sou consciente atesta de um lado minha ignor ncia me abre de outro o caminho para o conhecer Freire 1996 p 153 Contudo mais do que argumentar teoricamente essa proposi o a reflex o que se apresenta tem o intuito de defender a import ncia de contextos formadores que se orientem pela conscientiza o enquanto finalidade e princ pio metodol gico considerando essa uma possibilidade de constitu rem se propostas de forma o desafiadoras de pr ticas pedag gicas in dito vi veis capazes de construir alternativas l gica excludente da p s modernidade Trata se aqui de sumariar os fundamentos que sustentam a compreens o da conscientiza o enquanto um Princ pio de forma o reiterando em primeiro lugar a concep o de educa o como um ato cr tico de constru o do conhecimento libertador em segundo lugar a concep o de professor como um sujeito hist rico produto produtor das experi ncias pol ticas epistemol gicas e est ticas s cio culturalmente vivenciadas e que portanto atua pedagogicamente segundo sua identidade pessoal profissional criticizada nesse processo
82. tem ticas quanto s reas de abrang ncia Igualmente a aproxima o de Freire com outros te ricos tem sido tema de muitos estudos e investiga es constituindo se refer ncias importantes em diversos campos do conhecimento Realizo a aproxima o de Freire com Boaventura de Sousa Santos Gaston Bachelard e Georges Snyders no intuito de melhor compreender os conceitos trabalhados por ele nas obras escritas na d cada de 90 especialmente no que se refere forma o de professores A escrita de Freire embora primeira vista tenha um tom de relato de experi ncia resultado de uma intensa reflex o te rica que lhe permite perceber criticamente as experi ncias vividas Nem sempre expl citas as influ ncias te ricas que marcaram a constru o do pensamento de Freire em Ana L cia Souza de Freitas 21 diferentes momentos s o muitas tendo em vista sua permanente curiosidade epistemol gica exercida em fun o de m ltiplos temas de interesse antropologia ling stica filosofia literatura gram tica hist ria e educa o entre outros A respeito de t o variadas influ ncias interessante observar sua preocupa o em registrar em um livro de anota es o nome o autor e at o valor pago pelas obras adquiridas No per odo de 1942 a 1955 registram se 572 livros entre autores nacionais e estrangeiros de modo que torna se dif cil limitar suas refer ncias Contudo Georges Snyders educador franc s contemp
83. tenham uma indica o expl cita nesse sentido foram aqui destacadas para compreender a concep o de conhecimento que perpassa a constru o te rica de Freire j que assim como Freire e Snyders Bachelard e Sousa Santos t m uma compreens o do conhecimento a partir de uma complexa articula o da totalidade de suas dimens es politica epistemol gica 3 Gostos Bachelard 1814 1962 fil sofo franc s consagrou se como refer ncia contempor nea por sua contribui o tanto no que diz respeito constru o do saber cientifico Bachetard diurno quanto no que diz respeito ao saber da cria o art stica do devaneio das imagens po ticas das pot ncias da imagina o Bachelard noturno Procurando pensar a rela o dos homens com seu pr prio saber suas id ias tornam se amplamente difundidas a partir da obra A forma o do esp rito cient fico Publicada em Paris em 1938 e reeditada em diversas l nguas Boauentura de Sousa Santos 1940 soci logo Professor Catedr tico da Faculdade de Economia e Diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra Em 1988 realizou confer ncias no Brasil a convite do Instituto de Estudos Avan ados da Universidade de S o Paulo Entre seus numerosos trabalhos encontra se um estudo sobre as formas de rela es jur dicas e as contradi es socioecon micas no Brasil p s64 realizado a partir de trabalho emp rico no cotidiano da Favela da Rocinha no Rio de Janeiro pub
84. ticas em torno da rela o entre educa o e qualidade educa o para a qualidade qualidade da educa o e educa o e qualidade de vida p 37 Nessa reflex o enfatiza a natureza pol tica n o s da educa o mas tamb m da qualidade da educa o ao considerar que n o h educa o nem qualidade neutras educa o e qualidade s o sempre uma quest o pol tica fora de cuja reflex o de cuja compreens o n o nos poss vel entender nem uma nem outra j 44 34 S o Paulo Cortez 1993 119 p 3 Dos 11 textos reunidos nesta obra apenas um deles n o foi escrito no ano de 1992 Alfabetiza o como elemento de forma o da cidadania foi escrito em maio de 1987 38 Grifos do autor Pedagogia da Conscientiza o 44 Professora sim tia n o cartas a quem ousa ensinar traz em sua introdu o o depoimento de Freire acerca do prazer com que escreveu essa obra dos quase dois meses em que se dedicou reda o em casa mas tamb m em avi es e quartos de hot is Ao escrever as primeiras palavras comenta que acabara de receber o exemplar antes mesmo que a edi o fosse s livrarias de outra obra ent o rec m escrita Fedagogia da Esperan a Considera portanto que Professora sim tia n o foi escrita molhada de esperan a j 9 inspirada nos temas instigados pela reflex o da obra anterior Em suas Primeiras Palavras Freire discute a raz o do t tulo da obra justificando q
85. um projeto pol tico pedag gico de escola Contudo considerando a natureza complexa da interlocu o que possibilita a mudan a do esquema conceitual que serve de refer ncia a o Souza Patto 1993 p 352 torna se de fundamental import ncia a reinven o das pr ticas tradicionais da supervis o escolar a partir da conscientiza o como princ pio metodol gico a fim de que possa com sua pr tica profissional colaborar com grupos de educadores na supera o da maneira irrefletida estereotipada preconceituosa pragm tica e sem perspectiva humano gen rica com que lidam com a tarefa de ensinar Souza Patto 1993 p 352 Implica estabelecer rela es no cotidiano escolar que ultrapassando os limites da espontaneidade construam uma disciplina intelectual necess ria ao exerc cio da constante indaga o diante dos fatos pr prio da consci ncia cr tica A assun o de uma posi o reflexivo cr tica por parte dos sujeitos no exerc cio permanente de sua curiosidade espont nea poder fazer com que esta venha a tornar se curiosidade epistemol gica comprometida com um projeto comum Para tanto o a supervisor a escolar h que atuar necessariamente na perspectiva do trabalho coletivo sendo esta uma obrigatoriedade que se imp e a um trabalho de forma o que assuma o compromisso com a gest o democr tica do trabalho pedag gico Em raz o desta op o colocam se novas obrigatoriedades tamb m ao super
86. vi vel no desenvolvimento da autoria de sua consci ncia critica O in dito vi vel compreendido como a materializa o historicamente poss vel do sonho almejado express o do compromisso com uma concep o libertadora da educa o em que n o apenas se denunciam pr ticas excludentes mas fundamentalmente se assume a luta pela constru o de alternativas poss veis A cria o do in dito vi vel pois um exerc cio de ousadia de assun o do risco do novo e do prazer da autoria do que ainda n o existe em fun o de uma perspectiva ut pica na qual a historicidade um processo que desafia a compreens o da dist ncia entre o sonho e a realidade como um espa o de luta e de cria o Contudo ser sujeito da cria o do in dito vi vel implica a assun o de uma rela o com o conhecimento em que se desenvolva a autoria de pensamento e a autonomia da a o enquanto dimens es intr nsecas da reconstru o individual possibiltada pelo trabalho coletivo de forma o orientado pela conscientiza o enquanto finalidade e princ pio metodol gico Tal proposi o justifica se por ser esta uma possibilidade pedag gica de assumir a finalidade social da viv ncia da dupla ruptura epistemol gica proposta por Sousa Santos 1997 a partir da qual vale reiterar busca se construir um conhecimento prudente para uma vida decente p 37 Tendo em vista a assun o deste compromisso destacam se tr s afirma es te r
87. 2 A supervis o escolar nesta perspectiva da gest o democr tica trabalhar para o reclimensionamento das rela es que se estabelecem no interior da escola exercendo uma interlocu o constante com o professor no estudo de sua pr tica instituindo conjuntamente obrigatoriedades que se constituam em elemento de apoio para o desenvolvimento de uma s ria discipuna intelectual que de forma sistem tica e intencionalmente planejada estabele a uma articula o permanente entre teoria e pr tica did tica problematizando situa es padronizadas e desafiando a cria o do in dito vi vel Para tanto faz se necess rio que o a supervisor a assuma o desafio de ressignificar as rela es estabelecidas a partir de seu trabalho fazendo evoluir a natureza das obriga es escolares de modo a torn las elementos desencadeadores da reflex o Ao vivenciar novas formas de rela o com o obrigat rio poder o professor atribuir lhe o significado libertador proposto por Snyders vislumbrando as possibilidades de surgimento da alegria no interior da obrigatoriedade a partir de sua pr pria viv ncia em trans forma o permanente Ana L cia Souza de Freitas 205 e repensando consequentemente tamb m as rela es de obrigatoriedade estabelecidas em sala de aula Assim a partir do estudo das pr ticas pedag gicas desenvolvidas de sua criticiza o e reconstru o permanentes num processo em que o a professor a tamb m vivenda situa
88. 5 Ser no processo de pensar a pr tica que se construir sua cr tica bem como a supera o de seus limites e dificuldades a partir de pr ticas coletivas e ineditamentevi veis A esse respeito importante a contribui o de Freire 1991a ao sistematizar os princ pios b sicos do programa de forma o de educadores desenvolvido na Secretaria Municipal de S o Paulo 1 0 educador o sujeito de sua pr tica cumprindo a ele cri la e recri la 2 A forma o do educador deve instrumentali z lo para que ele crie e recrie a sua pr tica atrav s da reflex o sobre o seu cotidiano 3 A forma o do educador deve ser constante sistematizada porque a pr tica se faz e se refaz 4 A pr tica pedag gica requer a compreens o da pr pria g nese do conhecimento ou seja de como se d o processo de conhecer 5 0 programa de forma o de educadores condi o para o processo de reorienta o curricular da escola p 80 Acrescenta se ainda um sexto princ pio que aponta eixos b sicos a serem considerados na pr tica da concep o de forma o expressa nos cinco princ pios anteriores 6 O programa de forma o de educadores ter como eixos b sicos e a fisionomia da escola que se quer enquanto horizonte da nova proposta pedag gica a necessidade de suprir elementos de forma o b sica aos educadores nas diferentes reas do conhecimento humano e a apropria o pelos educadores dos avan os cient ficos do
89. 98 p 46 Ana L cia Souza de Freitas 219 4 Considera es acerca da conscientiza o como princ pio metodol gico Ningu m conscientiza ningu m ningu m se conscientiza sozinho os homens e as mulheres se conscientizam em comunh o O entendimento de que todo conhecimento provis rio talvez seja uma das poucas certezas comuns diversidade de concep es acerca da p s modernidade Contudo essa relativiza o das certezas n o exime a responsabilidade da assun o de posicionamentos mesmo que tempor rios Tal afirma o torna se relevante especialmente quando se refere natureza e compromisso de um trabalho de investiga o j que o conhecimento novo gerado na reflex o de um conhecimento anterior Para al m dessa natureza de provisoriedade ainda que se considere tamb m a relativiza o do conhecimento como crit rio de verdade ao final deste trabalho cabe tecer aigumas considera es acerca do conhecimento constru do no processo de investiga o tendo em vista a op o pol tica assumida na defesa de uma educa o libertadora Para tanto cabe ratificar a argumenta o te rica constru da a partir do estudo da obra de Freire acerca da conscientiza o como finalidade da pr tica educativa cr tica bem como ousar uma compreens o acerca das perspectivas de globalidade totalidade e complexidade que integram o conceito de conscientiza o considerando o como um princ pio metodol gico de
90. Abrah o 430 227 9 Ai EDIPUCRS Afiliada a ABEU emmonaneiiana
91. Ana L cia Souza de Freitas Conscientiza o Uma legado de Paulo Freire forma o de professores sr CW 3 Edi o Pedagogia da Conscientiza o um legado de Paulo Freire forma o de professores Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul Chanceler Dom Dadeus Grings Reitor Norberto Francisco Rauch Vice Reitor Joaquim Clotet Conselho Editorial Antoninho Muza Naime Antonio Mario Pascual Bianchi D lcia Enricone Helena Noronha Cury Jayme Paviani Jussara Maria Rosa Mendes Luiz Ant nio de Assis Brasil Mar lia Gerhardt de Oliveira M rian Oliveira Urbano Zilles presidente Diretor da EDIPUCRS Antoninho Muza Naime Ana L cia Souza de Freitas Pedagogia da Conscientiza o um legado de Paulo Freire a forma o de professores 32 edi o EDIPUCRS Porto Alegre 2004 O EDIPUCRS 1 edi o 2001 2 edi o 2002 3 edi o 2004 Capa AGEXPP FAMECOS PUCRS Prepara o de originais Eurico Saldanha de Lemos Revis o da autora Diagrama o da vers o digital Laura Guerra Editora o e com posi o Suliani Editografia Ltda Impress o e acabamento Gr fica EPEC Dados Internacionais de Cataloga o na Publica o CIP F866p Freitas Ana L cia Souza de Pedagogia da conscientiza o um legado de Paulo Freire forma o de professores 3 ed Ana L cia Souza de Freitas Porto Alegre EDIPUCRS 2004 250 p IS
92. BN 85 7430 227 9 1 Educa o 2 Pedagogia 3 Freire Paulo Cr tica e Interpreta o 4 Professores Forma o Profissional 5 Conscientiza o Educa o Titulo CDD 370 71 Ficha Catalogr fica elaborada pelo Setor de Processamento T cnico da BC PIJCRS Proibida a reprodu o total ou parcial desta obra sem autoriza o expressa da Editora EDIPURS Au Ipiranga 6681 Pr dio 33 caixa Postal 1429 90619 900 Porto Alegre RS Brasil Fone fax 51 3320 3 523 htip Avww pucrs br edipucrs E nail edipucrsOpucrs br ao Z pelas aprendizagens em todas as dimens es que envolvem o compromisso pol tico a curiosidade epistemol gica e o desafio do desenvolvimento est tico de um conhecimento da vida e para a vida minha m e Ely pelo apoio sempre entusias nado mem ria de meu irm o Eduardo e de meu pai Amilcar cuja tristeza da falta tornou se geradora de reflex o sobre o sentido da exist ncia a todos aqueles e aquelas que compartilharam os espa os de reflex o em que estas id ias foram sendo gestadas e aqueles e quelas que se sintam desafiados a viver a inteireza da luta pela reinven o da escola na perspectiva de sua democratiza o a mem ria de V nia Ara jo cujo testemunho de luta com alegria ser sempre lembrado Apresenta o O presente livro tem sua origem na Disserta o de Ana L cia que tive a felicidade de orientar apresentada cor
93. EITAS Ana L cia Souza de SILVA Gilberto Ferreira da Conhecimento e pedagogia em Paulo Freire a escrita o di logo e a curiosidade como desafios forma o do pedagogo Revista de Educa o Ci ncia e Cultura Canoas Centro Universit rio La Saile v 3 n 2 p 39 48 1998 FRIGOITO Gaud ncio O enfoque da dial tica materialista hist rica na pesquisa educacional In FAZENDA Ivani org Metodologia da pesquisa educacional S o Paulo Cortez 1991a p 69 90 Tecnologia rela es sociais e educa o In Revista T B Rio de Janeiro p 131 147 abr jun 1991b forma o e a profissionaliza o do educador novos desafios In SILVA Tomaz Tadeu GENTILI Pablo orgs Escola S A quem ganha e quem perde no mercado educacional do neoliberalismo Bras lia CNTE 1996 p 70 89 GADO f I Moacir Paulo Freire uma biobibliografia S o Paulo Cortez Instituto Paulo Freire Bras lia UNESCO 1996 GARCIA Regina Leite Especialistas em educa o os mais novos respons veis pelo fracasso escolar In O fazer e o Pensar dos supervisores e orient adores educacionais S o Paulo Loyola 1986 p 13 23 Cole o Educar GENTILI Pablo Neoliberalismo e educa o manual do usu rio In SILVA Tomaz Tadeu GENTILI Pablo orgs Escola S A quem ganha e quem perde no mercado educacional do neoliberalismo Brasilia CNTE 1996 p 30 42 GIROUX Henry Escola cr tica e pol tica cultural S o Paulo Cor
94. a Refletindo a esse respeito Silva Jr 1986 prop e que a a o do supervisor coloque se a servi o da organiza o do trabalho coletivo e desafia a qualidade de sua participa o nesse processo Quando o supervisor definido e reconhecido como um educador se revelar capaz de articular a a o dos demais educadores respeitando a sua cria o e ao mesmo tempo favorecendo seu acesso ao conhecimento a inevitabilidade da divis o interna do trabalho na escola estar superada pela reapropria o pelo conjunto dos educadores no sentido do projeto educacional que os une e Pedagogia da Conscientiza o 200 sanciona o trabalho desenvolvido com seus alunos O supervisor ser ent o a refer ncia necess ria para a concretiza o desse projeto p 116 A transforma o da pr tica da supervis o escolar a partir dessa concep o implica aprofundar a compreens o em torno do segundo aspecto o objeto de trabalho da supervis o escolar Medina 1995 problematiza o pensamento a esse respeito analisando os problemas decorrentes de sua indefini o por parte do a pr prio a supervisor a a partir do relato da seguinte situa o Uma professora do curriculo por atividades estava no p tio com os seus alunos desenvolvendo atividades de educa o f sica Repentinarnente abandonou o trabalho que executava e dirigiu se secretaria Entrou e falando alto disse Tem um rapaz estranho na escola conversando com os meus alunos
95. a mas infelizmente ainda encontra se um tanto longe da realidade desejada tal como poss vel perceber na afirma o de Lirihares 1997 expressando claramente em termos ainda atuais essa preocupa o Num pa s com uma p s gradua o que j conta com a produ o de mais de seis mil disserta es as quais alimentam um movimento editorial respeit vel que garante uma express o dentro e fora do Brasil como vivemos com esse descalabro p blico Enquanto se difundem as comunica es via sat lite televis o a cabo e antenas parab licas J a escola p blica se esvai perdendo sua credibilidade e a identifica o social de seu trabalho p 66 Ana L cia Souza de Freitas 217 doc ncia a da pesquisa e a da extens o a de n o apenas manifestar mas viver a busca permanente da paix o do conhecimento p 116 Esse o sentido de propor que a reinven o da forma o do supervisor desafie a curiosidade em torno da constru o de uma teoria da did tica em supervis o escolar no intuito de que refletindo sobre a pr pria pr tica possa contribuir no cotidiano do trabalho pedag gico para a constru o de condi es sociais que permitam o desenvolvimento de urna perspectiva did tica coletiva desdobramento necess rio conscientiza o e elemento fundamental para que se amplie a qualidade democr tica da constru o de um projeto pol tico pedag gico de escola Esta uma possibilidade que se vislumbra a partir
96. a Esperan a um reencontro com a Pedagogia do Oprimido a qual segundo ele mesmo organiza se em tr s momentos No primeiro momento fala das tramas da inf ncia da mocidade dos come os da maturidade p 12 relatando situa es em que foram sendo gestadas as id ias da Pedagogia do Oprimido Segundo ele a escrita dessa obra tem a ver com a constru o de um saber cr tico que permitiu lhe estabelecer rela es e compreender as mem rias vivas que o marcaram como se todos os acontecimentos fizessem parte de uma trama maior Ana L cia Souza de Freitas 89 Relembra com detalhes o acontecimento que lhe fez desistir de sua carreira na advocacia rec m iniciada Conta como falou a Elza sua esposa o fato ocorrido de corno precisou com ela falar do falado do dito e do n o dito do ouvido do escutado p 17 junto ao jovem dentista com quem conversara na qualidade de advogado de seu credor Errei disse ele ou fui demasiado otimista quando assumi o compromisso que hoje n o posso honrar N o tenho como pagar o que devo Por outro lado continuava o jovem dentista em voz lenta e sincera segundo a lei n o posso ficar sem os instrumentos de trabalho O senhor pode providenciar a tomada de nossos m veis a sala de jantar a sala de visita E rindo um riso t mido nada desdenhoso mais com humor do que com ironia completou S n o pode tomar minha filhinha de ano e meio p 17 Admite
97. a a o mais consequente avan ada que por sua vez vai tornando o conhecimento ampliado base para uma nova amplia o Frigotto 1991a p 89 No intuito de diminuir os riscos de uma vis o intelectualista a constru o do caminho orientou se em fun o de minha pr pria curiosidade epistemol gica aliada perspectiva de democratiza o do conhecimento demarcando um processo de interlocu o permanente em que o desa lo de sua constru o tamb m foi lan ado curiosidade epistemol gica de outros sujeitos Nesse movimento o estudo do referencial te rico assumiu caracter sticas pr prias constituindo se fundamentalmente numa postura dial gica a partir de tr s perspectivas o di logo com o pr prio saber de experi ncia feito o di logo com a literatura e o di logo na intera o com outros saberes de experi ncia feitos O di logo com o pr prio saber de experi ncia feito problematizado pela literatura estabeleceu categorias de an lise que foram sendo compreendidas a partir de uma rigorosidade met dica que originou a elabora o de uma resenha e seis ensaios publicados no per odo de dezembro de 1997 a mar o de 1999 A sistematiza o destas reflex es viabilizou a participa o em diversos f runs de discuss o que contribu ram para sua reelabora o a partir da intera o no di logo com outros saberes de experi ncia feitos Sobretudo a teoriza o da pr tica aqui constru da tornou se poss vel a partir
98. a curiosidade como uma atitude cognitiva necess ria ao ato cr tico de estudar enquanto um aspecto indispens vel pr tica profissional da professora e n o tia Assim Freire reitera sua defini o em torno dessa curiosidade necess ria ao ato de estudar concebendo a como aquela que torna o sujeito capaz de adentrar na intimidade do texto para desnudar suas verdades seus mist rios suas inseguran as p 42 A curiosidade epistemol gica pois aquela que tomando dist ncia do objeto dele se aproxima com o gosto e o mpeto de desvel lo p 42 Essa curiosidade epistemol gica elemento fundante da consci ncia cr tica aliada clareza pol tica considerada por Freire como um dos melhores instrumentos de luta do educador progressista A professora para al m de ser uma boa tia ao participar da luta em defesa de seus direitos no que se refere s condi es de seu exerc cio profissional buscar entre outros o direito forma o permanente na escola a partir da qual ao exercer mais sistematicamente sua curiosidade na pr tica de pensar a pr tica e estud la possa desenvolver sua curiosidade epistemol gica Pedagogia da Conscientiza o 106 A obra Professora sim tia n o assinala uma s rie de preocupa es em torno da pr tica profissional da professora entre as quais a do desenvolvimento da qualidade da curiosidade a ser desenvolvida na pr tica do educador progressista Tais preo
99. a curiosidade e da criatividade para a consti tui o da pr xis educativa libertadora na perspectiva da cria o do in dito vi vel Criticidade curiosidade e criatividade integram os saberes necess rios pr xis educativa libertadora e representam a intencionalidade de cada um dos momentos pedag gicos que configuram a conscientiza o como princ pio metodol gico A criticidade a nfase do momento de sonhar em que a dimens o pol tica orienta a assun o de compromissos coletivos em fun o do desenvolvimento da consci ncia democr tica A curiosidade a nfase do momento de estudar em que a dimens o epistemol gica politicamente comprometida orienta a constru o da compet ncia did tica para a recria o do ato pedag gico em fun o da constru o de um conhecimento libertador A criatividade a nfase do momento de criar em que a dimens o est tica fundamentada na consci ncia democr tica e no conhecimento libertador desafia a constitui o de uma sensibilidade emancipat ria que mobiliza a assun o de compromissos coletivos e amplia as possibilidades de enfrentamento das situa es limite a partir da cria o do in dito vi vel Esses s o desafios a serem assumidos para a reinven o da pr tica profissional do a supervisor a escolar em fun o da gest o democr tica do trabalho pedag gico a fim de que fazendo evoluir a natureza das obriga es profissionais estabelecidas na rela o com o a pr
100. a de Freitas 121 pr ticas pedag gicas democr ticas fa a do trabalho coletivo de reflex o cr tica permanente e sistematizada elemento central na luta pela cria o de condi es para que a escola possa ser reinventada 2 3 A alegria como desafio dimens o est tica A reflex o desenvolvida por Freire acerca da dimens o est tica que integra a concep o problematizadora e libertadora da educa o expressa seu entendimento sobre a import ncia da subjetividade na rela o que se estabelece entre criticiclade curiosidade e constru o do conhecimento ao considerar que a criticiza o do conhecimento amplia se medida que orienta se na perspectiva do desenvolvimento da criatividade A criatividade est diretamente relacionada capacidade de sonhar possibilidade de estimular a imagina o e desenvolver a capacidade de criar visto que a imagina o ajuda a curiosidade e a inventividade da mesma forma como agu a a avejitura sem que n o criamos Freire 1993b p 71 constituindo se portanto em elemento fundamental no processo de cria o do sentido da exist ncia bem como da transforma o do sujeito e da sociedade na perspectiva do in dito vi vel A cria o do in dito vi vel movida pela imagina o que nos leva a sonhos poss veis e imposs veis op cit visto que ao imaginarmos algo o fazemos condicionados precisamente pela car ncia de nosso concreto ibdem a qual percebi
101. a epistemol gica e a constru o de um conhecimento libertador produto produtor da curiosidade epistemol gica que mobiliza o prazer de estudar mediante a perspectiva de totalidade do compromisso que nele se expressa dimens o epistemol gica Terceira considera o A constru o do processo de mudan a das pr ticas pedag gicas n o prescinde do a professor a enquanto sujeito de um processo em que constr i simultaneamente conhecimento subjetividade e identidade Sendo assim h que se considerar a import ncia da valoriza o de sua inteireza pessoal profissional a partir da proposi o de pr ticas reflexivas que desafiem a constitui o de uma sensibilidade emancipat ria produto produtora da viv ncia da alegria da cria o do in dito vi vel que fortalece para o enfrentamento das situa es limite que se apresentam mediante a perspectiva de complexidade em que se inscreve o cotidiano escolar dimens o est tica Essas considera es desafiam o redimensionamento da cotidianidade das pr ticas formadoras na perspectiva da assun o da conscientiza o enquanto princ pio metodol gico cuja concretude pode ser vislumbrada a partir Pedagogia da Conscientiza o 226 de tr s momentos pedag gicos sonhar estudar e criar os quais apenas metodo logicamente separados dialogam entre si e se entrecruzam em fun o das perspectivas de glol alidacle totalidade e complexidade ciue caracterizam o ato pedag gico c
102. a realidade escolar envolvendo sua pr tica dentro e fora da sala de aula na perspectiva da reinven o da escola O desenvolvimento da curiosidade epistemol gica pois uma necessidade forma o do educador progressista que ao vivenci la no exerc cio coletivo de sua forma o permanente toma sua pr pria pr tica como objeto de curiosidade sendo desafiado a recri la de modo a instigar tamb m o aluno a ser sujeito de sua curiosidade no processo de conhecer Faz parte das condi es para que aprender criticamente seja poss vel a presen a de educadores e educandos criadores instigadores inquietos rigorosamente curiosos humildes e persistentes Freire 1996 p 29 Para Freire quanto mais criticamente se exerce o processo de conhecer mais se desenvolve a curiosidade epistemol gica por isso O educador democr tico n o pode negar se o dever de na sua pr tica docente refor ar a capacidade cr tica do educando sua curiosidade sua insubmiss o Uma das tarefas primordiais trabalhar com os educandos a rigorosidade met dica com ciue se devem aproximar dos objetos cognosc veis Freire 1996 p 28 Desafiar a curiosidade crescente dos educandos a fim de que sejam sujeitos do processo de conhecer implica portanto construir rela es de constru o de conhecimento fundadas no rigor criativo utilizando o registro como elemento de apoio reflex o e testemunhando sua coer ncia entre discurso e p
103. a reflex o te rica que fez sobre ela Tais escritos t m sobretudo a marca do clima perversamente antidemocr tico da repress o vivida no Brasil na poca do regime militar pano de fundo da reflex o de Freire especialmente nessa primeira fase A segunda fase compreendida entre 1969 e 1980 caracterizada por uma forte ac o pol tico educativa nos pa ses ditos em desenvolvimento e uma presen a muito significativa nos meios acad micos e universit rios dos pa ses ditos Tomo a refer ncia de N voa para inserir em cada fase outros elementos que considero importantes destacar na trajet ria de Freire Entretanto por j terem sido realizados in meros trabalhos em rela o s fases iniciais da vida e obra de Paulo Freire sua inclus o aqui tem apenas o objetivo de situar o estado da d cada de 90 o qual poderia ser considerado como um segundo momento da terceira fase proposta por N voa 10 O Chile foi o local em que se instalou de 1964 a 1969 depois de ter passado pela Bol via de onde saiu em novembro de 64 tamb m em fun o de um golpe de Estado 11 Trata se do Servi o Social da Ind stria institui o privada na qual Freire realizou trabalho na Divis o de Educa o e Cultura sendo esta urna passagem fundamental na sua trajet ria pessoal e profissional A respeito desse per odo al m dos coment rios que perpassam diversas obras Freire dedica uma reflex o especial em Cartas Cristina d cima p
104. a uma obrigatoriedade vivenciada na forma o permanente do professor a partir de um rigor criativo que desenvolve o ato critico de estudar Freire prop e o desenvolvimento do h bito de registrar a reflex o da pr tica a partir daquilo que ele mesmo vivenciou na sua rela o com a escrita express o de profunda e permanente reflex o sobre suas experi ncias cotidianas as quais tiveram no registro um ponto de apoio fundamental Em sua reflex o te rica explicita n o apenas seu entendimento sobre como o momento da a o est relacionado com as id ias que expressamos ao escrever mas tamb m revela a cria o de uma rigorosidade met dica pr pria respons vel pela intensa sistematiza o de seu processo de gesta o das id ias 1992 p 53 Atrav s da an lise de seu pr prio processo de teoriza o num exerc cio permanente de reflex o das rela es entre contexto te rico e contexto concreto Freire testemunho da possibi lidade do ato de registrar constituir se num exerc cio de investiga o e reflex o do professor sobre a sua pr pria no o de circularidade um dos conceitos que integram o paradigma da complexidade desenvolvido por Edgar Morin a esse respeito ver cap 3 Ana L cia Souza de Freitas 137 pr tica fazendo desta uma fonte geradora de um conhecimento libertador aquele que nasce da reflex o cr tica da pr tica e constr i se no sentido da potencializa o de sua natureza transformadora Sobre
105. ado Assumida como centralidade na obra de Freire a conscientiza o constitui se em ltima an lise numa leitura cr tica da realidade Andreola 1993 p 40 sendo essa uma condi o necess ria assun o do comprometimento humano frente ao contexto hist rico social O homem ou a mulher na medida que conhece tende a se comprometer com a pr pria Pedagogia da Conscientiza o 146 realidade Freire 1979b p 39 entretanto tal possibilidade est relacionada pr xis humana unidade dial tica que constitui de maneira permanente o modo de ser ou de transformar o mun do que caracteriza os homens Freire 1979a p 26 ou seja a o consciente do homem da mulher sobre seu contexto hist rico cultural E pois atrav s da conscientiza o que o homem assume o papel de sujeito e o seu compromisso hist rico num processo de fazer e refazer o mundo dentro de possibilidades concretas fazendo e refazendo tamb m a si pr prio Tal processo exige a o reflex o em movimento permanente de supera o da posi o ing nua frente realidade aquela que ocorre na forma espont nea de aproxima o do mundo Exige a assun o de uma posi o cr tica para al m da tomada de consci ncia uma vez que a tomada de consci ncia n o ainda a conscientiza o porque esta consiste no desenvolvimento cr tico da tomada de consci ncia Freire 1979a p 26 A conscientiza o exige o engaja
106. agogia da Conscientiza o 58 integra o senso comum sem abrir m o do desafio sua criticidade viabilizada atrav s da pergunta problematizadora Tem como pressuposto que a supera o do senso comum um direito das camadas populares e n o um privil gio das elites A interdi o do conhecimento s camadas populares tira lhes a possibilidade de irem se assumindo como sujeitos curiosos indagadores Damke 1995 p 90 Freire n o apenas argumenta a necessidade de tal pr tica mas mostra possibilidades descrevendo a maneira como em diversas situa es partindo do entendimento colocado pelo grupo acerca de sua pr pria situa o existencial foi poss vel desacomodar suas certezas possibilitando novas formas de compreens o Entre outras relata a primeira experi ncia que viveu na Zona da Mata de Pernambuco fato que embora longo bastante significativo para esta reflex o Relata de forma detalhada que ap s uns momentos de debate com um grupo de camponeses um sil ncio envolveu a todos sendo a seguir interrompido por um dos camponeses que justificou o sil ncio dizendo que n o podiam falar porque eles nada sabiam Muito bem disse eu a eles Eu sei Voc s n o sabem Mas por que eu sei e voc s n o sabem O senhor sabe porque doutor N s n o Exato eu sou doutor Voc s n o Mas por que eu sou doutor e voc s n o Porque foi escola tem leitura tem estudo e n s n o
107. ais se assaltado n o raras vezes quando se caminha s por uma rua Estas id i as e estas observa es devidarnente fichadas passam a constituir desafios que devem ser respondidos por cjuem as registra Quase sempre ao se transformarem em incid ncia da reflex o dos que as anotam estas id ias os remetem a leituras de textos com que podem instrumentar se para seguir em sua reflex o Freire 1982 p 11 O terceiro aspecto refere se necessidade de que quem estuda se aproprie tanto quanto poss vel da bibliografia relacionada ao tema em estudo objeto de sua curiosidade Tal atitude imprescind vel a fim de que ao considerar diferentes posicionamentos seja poss vel construir sua pr pria autoria de pensamento O quarto aspecto diz respeito assun o de uma atitude de di logo a ser assumida com o autor do texto cuja media o se encontra nos temas de que ele trata Freire 1982 p 12 O quinto aspecto est relacionado atitude de humildade necess ria coer ncia com a postura cr tica assumida Esta humildade permite admitir a d vida a incompreens o as limita es de seu conhecimento e movimenta a busca de instrumentos para auxiliar esse processo como por exemplo o uso de dicion rios Enfim Freire considera necess rio o desenvolvimento de tais atitudes a fim de que se assuma uma postura cr tica de estudar fundamentalmente porque acredita que Ana L cia Souza de Freitas 177 estuda
108. ancipat rio do senso comum visto que deixado a si mesmo o senso comum conservador e pode legitimar prepot ncias mas interpenetrado pelo conhecimento cient fico pode estar na origem de uma nova racionalidade Sousa Santos 1997 p 55 Tal perspectiva se evidencia nas obras de Freire em especial nas escritas na d cada de 90 no modo como ele reflete sua rela o com a escrita ao considerar que suas obras constituem se em relat rios te ricos de quefazeres 1993a p 87 com os quais se envolveu Numa esp cie de reedi o de me m rias recria as experi ncias vividas reelaborando sua compreens o luz do conhecimento atual e igualmente nesse movimento reelaborando o pr prio conhecimento presente Nesse processo segundo Freire 1993b a teoria emergia molhada da pr tica vivida p 32 o que em outras palavras trata se de uma viv ncia freireana da dupla ruptura epistemol gica teorizada por Sousa Santos Assim Freire lida com a mem ria de forma criticamente produtiva fazendo dela constante objeto de sua curiosidade epistemol gica Surge desse movimento urna nova teoria que potencializada pelo car ter ernancipat rio do senso comum permite a reconstru o da experi ncia anterior superando suas limita es em fun o do conhecimento atual Especialmente em Pedagogia da Esperan a obra em que relata o processo de gesta o das id ias 1992 p 53 que deu origem a sua mais conhecida obra Pedag
109. ar autorit ria Relembra um momento em que juntamente com um grupo de educadores mediante pesquisa realizada com a comunidade deparou se com o modo como as fam lias justificavam o uso do castigo castigo duro que faz gente dura capaz de enfrentar a crueza da vida pancada que faz homem macho p 22 No intuito de provocar a reflex o acerca de tais posicionamentos baseando se em estudos de Piaget sobre o c digo moral da crian a e sua representa o mental do castigo desenvolveram um projeto de trabalho no qual eram realizados uma s rie de debates com a comunidade escolar envolvendo a quest o da disciplina e defendendo uma rela o dial gica amorosa entre pais m es filhas filhos que fosse substituindo os castigos violentos p 25 Um desses encontros relatado por Freire como importante marca no seu aprendizado sobre a necess ria escuta do saber de experi ncia feito ao ouvir de um dos participantes Acabamos de escutar come ou ele umas palavras bonitas do dr Paulo Freire Palavras bonitas mesmo Bem ditas Umas at simples que a gente entende f cil Outras mais complicadas mas deu para entender as coisas mais importantes que elas todas juntas dizem J Me fitou manso mas penetrantemente e perguntou Dr Paulo o senhor sabe onde a gente mora O senhorj esteve na casa de um de n s p 26 Come ou ent o a descrever a precariedade da situa o em que viviam da falta d
110. aria Ara jo Freire desta vez perfazendo quase cem p ginas em que traz uma s rie de dados e reflex es em torno da hist ria de autoritarismo e injusti a sociais da pol tica brasileira no intuito de conscientizar da possibilidade de um novo tempo hist rico brasileiro no qual seus homens mulheres e crian as tenham espa os e tempos de vida mais iguais Freire Ana Maria in Freire 1994 p 237 238 A sombra desta mangueira tem no pr prio t tulo um desalio curiosidade do leitor Sobre o mesmo Freire afirma ser uma licen a a que se permite para sublinhar o significado que teve em sua inf ncia a sombra de diferentes rvores sob as quais estudou brincou conversou e viveu muitos 39 S o Paulo Olho d gua 1995 120 p Pedagogia da Conscientiza o 46 momentos de sua exist ncia Em fun o da estreita rela o estabelecida desde cedo com a amenidade das sombras considera que sua mem ria n o poderia deixar de estar repleta de experi ncias de sombras ji 15 as quais ao permitirem lhe tantas reflex es puderam ser comparadas sua biblioteca Minha biblioteca tem algo disso As vezes como se fosse a sombra da mangueira de minha inf ncia p 16 Assim Freire retoma as aprendizagens contru das a partir das sombras num esfor o reflexivo para compreend las enquanto possibilidade hist rica no mundo atual Resgata de forma contundente a necessidade de atualizar a compreens o da natureza p
111. as ltimas obras a esperan a compreendida como uma necessidade ontol gica do ser humano analisada como atitude a ser criticamente desenvolvida pelas pr ticas formadoras comprometidas com uma posi o progressista da educa o No desenvolvimento de sua criticidade constitui se enquanto pedagogia que orienta a constru o do sonho coletivo a partir da viv ncia da dialeticidade da den ncia e do an ncio viabilizando a constru o do in dito vi vel e desafiando o senso comum a orientar se a partir de uma consci ncia democr tica A Pedagogia da Esperan a traduz a atualidade das preocupa es de Freire acerca da dimens o pol tica da educa o face ao contexto neoliberal que atua no sentido de sua despolitiza o ao considerar que a pr tica pedag gica necess ria hoje aquela que convencida da inexist ncia das classes sociais e da supera o da tese do fim da hist ria como aflrmou o Sr Fukyiama entende como pr tica educativa v lida a que coloca os sonhos e as utopias entre par nteses Freire in Passetti 1998 Enfim uma posi o fatalista que desproblematiza o futuro e desacredita da possibilidade da cria o de in ditosvi veis Ao contr rio as pr ticas educativas fundadas na concep o libertadora da educa o concebem dialeticamente as rela es entre consci ncia e mundo e t m uma compreens o da hist ria como possibilidade a qual descarta a predetermina o do futuro sem Pedagogia da Consc
112. as demais Ana L cia Souza de Freitas 145 Coerentemente com a posi o adotada neste trabalho a rela o proposta entre as categorias totalidade e complexidade n o de car ter excludente e sim de complementariedade A categoria da totalidade n o ser desconsiderada por ser esta uma refer ncia central da teoria cr tica ser concebida articuladamente categoria da complexidade aproximadas em fun o de uma perspectiva de globalidade progressista que orienta essa possibilidade Sendo assim as rela es entre a forma o de professores o processo de conscientiza o e a reinven o democr tica da escola ser o analisadas a partir das perspectivas de totalidade e complexidade compreendidas como complementaridades necess rias a urna perspectiva de globalidade progressista 3 1 Conscientiza o e gest o democr tica uma perspectiva de globalidade A conscientiza o elemento central da concep o libertadora da educa o urna vez que o ato de conhecimento nesta perspectiva implica uma aproxima o cr tica da realidade Por esse motivo muitos atribuem a Freire a autoria do voc bulo conscientiza o de tal modo que numa de suas obras ele es clarece na realidade foi criado por uma equipe de professores do INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS BRASILEIROS por volta de 1964 Freire 1979a p 25 Destaca entretanto que quando ouviu o termo pela primeira vez percebeu de imediato a profundidade de seu signific
113. as em educa o que se encontram em continuidade com os ideais da modernidade ibidem Pedagogia da Conscientiza o 86 Para Sousa Santos 1995 a utopia faz se necess ria enquanto possibilidade de se reinventar o futuro uma vez que depois de s culos de modernidade o vazio do futuro n o pode ser preenchido nem pelo passado riem pelo presente ii 322 A morte do futuro e a celebra o do presente numa certa dire o da p s modernidade ou mesmo o pensamento reacion rio que celebra o passado s o incapazes de sustentar o desenvolvimento de projetos pol tico emancipat rios S o passado como op o e como conflito capaz de desestabilizar a repeti o do presente Maxirnizar essa clesestabiliza o a raz o de ser de um projeto educativo ernancipat rio Para isso tem de ser por um lado um projeto de mem ria e de den ncia e por outro um projeto de comunica o e cumplicidade Souza Santos 1996 p 17 Segundo ele duas s o as condi es de possibilidade da utopia uma nova epistemologia e uma nova psicologia Sousa Santos 1995 p 324 as quais recusam o fatalismo e o imobilismo e geram a indigna o e a luta pela constru o de alternativas Esse o sentido da utopia da esperan a e do sonho para a educa o libertadora a qual continua sendo refer ncia para o desenvolvimento de pr ticas progressistas voltadas para o desenvolvimento de um processo educativo conscientizador em
114. as por causa do sucesso de Freire em colocar a teoria na pr tica p 328 importante destacar que Freire n o assume uma postura ing nua acerca das possibilidades transformadoras da educa o em sua rela o mais ampla com a sociedade Ao contr rio compreende que o poder da educa o encontra se justamente em seus limites se ela tudo pudesse ou se ela pudesse nada n o haveria por que falar de seus limites Falamos deles precisamente porque n o podendo tudo pode alguma coisa Freire 1991a p 30 A esse espa o de possibilidade desafia os educadores progressistas a assumirem competentemente a luta para desconstituir os obst culos assun o de pr ticas educativas libertadoras Ana L cia Souza de Freitas 77 Nesse sentido destaca como imprescind vel a nega o do futuro como algo inexor vel para construir a compreens o da hist ria como possibilidade reconhecendo a import ncia da decis o corno ato que implica ruptura a import ncia da consci ncia e da subjetividade da interven o cr tica dos seres humanos na reconstru o do mundo Freire 1993a p 97 Pensar a hist ria como possibilidade reconhecer a educa o tamb m como possibilidade Freire 1993a p 35 Logo a esperan a exerce um papel fundamental para o exerc cio de pr ticas fundadas em tal concep o assumindo centralidade no que se refere dimens o pol tica da educa o Tem tica que persiste no conjunto de su
115. assos individuais p 23 As preocupa es de Zeichner evidenciam se de forma expl cita na escrita de Freire a qual jamais dissocia a reflex o da pr tica de sua perspectiva social fazendo da dimens o pol tica uma centralidade que orienta a pr tica reflexiva a uma perspectiva de globalidade tico democr tica Freire ilustra essa possibilidade a partir de sua pr pria experi ncia na qual a viv ncia da reflex o em seus diversos n veis relaciona se atitude de escuta do outro num intenso esfor o reflexivo de pensar o saber de experi ncia feito em fun o de seu compromisso pol tico Nessa perspectiva destaca o registro como elemento imprescind vel ao processo de estudar a pr pria pr tica considerando o um instrumento de apoio investiga o reflex o Freire atribui ao registro a fun o de movimentar o processo de reflex o da a o em seus diferentes n veis destacando a potencialidade do mesmo em recuperar a compreens o de um determinado momento enquanto elemento fundamental para desencadear a posterior reflex o sobre essa mesma compreens o num processo de supera o permanente j que a produ o da compreens o atual implica a reprodu o da compreens o anterior que pode levar a classe atrav s do conhecimento do conhecimento anterior de si mesma a um novo conhecimento 1993b p 69 O registro dos fatos e da reflex o sobre os fatos desafia a reflex o sobre os diferentes momentos vividos repre
116. ata aqui de analisar globalmente a obra de tais autores mas de buscar algumas aproxima es que contribuam para o estudo da peculiaridade das obras que integram a produ o te rica de Freire na d cada de 90 Nesse per odo Freire tematiza a pr tica da educa o libertadora no mbito da escola p blica sem contudo restringir se a ela Especialmente no que diz respeito forma o de professores esse um per odo em que a produ o te rica de Freire faz se refer ncia indispens vel ao desenvolvimento de propostas de forma o que proponham se manuten o da perspectiva ut pica da educa o enquanto alternativa de mobiliza o das for as progressistas frente ao contexto neoliberal A leitura de sua obra instiga reflex o uma vez que sua escrita n o apenas denuncia de modo contundente a l gica social perversa a que se coadunam as pr ticas orientadas por uma concep o banc ria da educa o mas sobretudo desafia a o pois sua viv ncia refletida na perspectiva de uma con cep o libertadora da educa o testemunho de que mudar urgente e poss vel embora dif cil Freire contagia de esperan a mobilizando a inteireza de suas leitoras e leitores ao compromisso com uma perspectiva transformadora da educa o desafiando os as autoria da reinven o da pr tica docente compreendida como um espa o de luta por condi es sociais favor veis viv ncia de sonhos poss veis Pedagogia da Conscie
117. atiza o do conhecimento e procura ser 31 l coerente com ela no discurso e na pr tica No contexto atual brasileiro significa trabalhar lucidamente em favor da escola p blica em favor da melhoria de seus padr es de ensino em defesa da dignidade dos docentes de sua forma o permanente Significa lutar pela educa o popular pela participa o crescente das classes populares nos conselhos de comunidade de bairro de escola Freire 1991a p 50 A concep o de educador progressista proposta por Freire pode ser compreendida atrav s do estudo realizado por Contreras Domingo 1997 acerca dos modelos de professorado no qual compara as concep es de professor como expert t cnico profissional reflexivo intelectual cr tico a partir de diversas dimens es da profiss o docente bem como do entendimento de autonomia profissional correspondente As concep es de professor enquanto profissional reflexivo e intelectual cr tico desenvolvem se como rea o concep o de professor como um expert t cnico modelo dominante de atua o profissional do professor fundada na racionalidade t cnica Segundo o modelo da racionalidade t cnica a atividade docente restringe se aplica o de um conhecimento te rico e t cnico estabelecido a priori por meio da investiga o cientifica Dessa forma se estabelece uma rela o hier rquica entre conhecimento e pr tica ficando esta limitada a um campo de ap
118. bo intransitivo aquele que n o deixa passar sua a o a outro p 39 Pedagogia da Conscientiza o 148 No momento em que os indiv duos atuando e refletindo s o capazes de perceber o condicionamento de sua percep o pela estrutura em que se encontram sua percep o muda embora isto n o signifique ainda a mudan a da estrutura Mas a mudan a da percep o da realidade que antes era vista como algo imut vel significa para os indiv duos v la como realmente uma realidade hist rico cultural humana criada pelos homens e que pode ser transformada por eles Freire 1979b p 50 Ao contr rio da consci ncia ing nua a consci ncia cr tica v o mundo de forma din mica o tempo n o mais repetitivo e o homem n o se contenta em ser mero espectador da hist ria da vida faz se consciente de sua a o percebendo se capaz de transformar a realidade e tamb m a si mesmo A consci ncia cr tica permite a assun o dos desafios no trabalho de cada dia num processo que passa da an lise para a den ncia das estruturas desumanizantes que se desvelam e para o an ncio de novas possibilidades Portanto a consci ncia cr tica gera pessoas prof ticas e portadoras de esperan a que se superam que v o em frente e olham para o amanh com uma vis o din mica que cr na possibilidade de reconstru lo A consci ncia cr tica ultrapassando a esfera espont nea de apreens o da realidade assume uma posi o epistemol
119. c pio metodol gico e finalidade da pr tica pedag gica a reinven o da escola entendida como um sonho poss vel a partir da participa o efetiva de todos os segmentos da comunidade escolar Para tanto preciso que o a supervisor a juntamente com os professores problematizem e disponham se a reconstruir sua identidade profissional medida que pensem sobre o que fazem e porque fazem sobre os significados que atribuem s suas pr ticas discutindo a intencionalidade de seu trabalho em permanente di logo com a realidade bem Pedagogia da Conscientiza o 202 como lutando para a transforma o das condi es institucionais que limitam suas possibilidades de reinventar sua atua o profissional Participando nesse processo o a supervisor a ao mesmo tempo que contribui para a reinven o da escola simultaneamente rein venta se j que medida que a escola se transforme tamb m exigir uma atua o diferenciada deste profissional Faz se necess rio portanto que o a supervisor a tome consci ncia do conhecimento que desenvolve a partir de sua pr tica profissional que assuma seus saberes e sua incompletude incluindo se criticamente num movimento de constante trans forma o medida que desenvolve a consci ncia cr tica de sua pr tica pedag gica o que exige a o reflex o e registro permanentes e sistematizados Entre outros aspectos h que se reinventar a natureza das rela es que se estabelecem entre su
120. ca uma educa o que constr i a criticidade na complexa articula o da criticidade da curiosidade e da criatividade enquanto um exerc cio tico democr tico que promove o ato criador perspectiva do in dito vi vel E nesse exerc cio de criatividade associado sensibilidade emancipat ria que se desenvolve a dimens o est tica da consci ncia fazendo da criticidade uma experi ncia hist rica na totalidade das dimens es pol tica epistemol gica e est tica Nesta perspectiva a alegria decorrente do processo social individual de conscientiza o assume centralidade na reflex o de Freire acerca do processo de reinven o da escola considerando sobretudo que lutar pela alegria na escola uma forma de lutar pela mudan a do mundo Freire in Snyders 1993c p 10 2 3 1 A alegria na escola converg ncias entre Freire e Snyders O desafio de reinventar a escola assumido por Paulo Freire como Secret rio Municipal de Educa o na luta pela recupera o da qualidade e da dignidade da escola p blica desencadeou um processo de reflex o coletiva permanente e sistematizada viabilizando a teoriza o acerca das possibilidades de transformar a escola num espa o gerador de esperan a e alegria Para tanto Freire enfatiza a necessidade de que os educadores progressistas assumam o compromisso com a supera o do fracasso escolar visto que o insucesso a disputa a classifica o e a sele o entre outras caract
121. ca universal do ser humano ou seja elementos indispens veis viv ncia de uma educa o a servi o da humaniza o Pedagogia da Conscientiza o 142 3 Forma o conscientiza o e reinven o da escola na perspectiva da gest o democr tica uma rela o em constru o Ningu m democratiza a escola sozinho a partir do gabinete do secret rio Paulo Freire A forma o permanente percebida por Freire como condi o necess ria profissionaliza o do professor desde que se constitua fundamentalmente num desafio aos educadores a pensarem criticamente sobre sua pr tica assumindo a rigorosidade met dica necess ria para melhor compreend la e transform la Entretanto por entender que esta n o est isenta de intencionalidade associa a ao processo de conscientiza o considerando esse o eixo norteador das a es de forma o comprometidas com uma pr tica fundada na concep o libertadora da educa o A educa o entendida como uma forma espec fica de pr xis exige op o e compromissos claros em fun o dos quais orienta sua reflex o A op o por urna pr xis educativa libertadora fundamentada na teoria pedag gica de Freire implica a forma o permanente como condi o 1 Emprego a express o forma o pennanenre n o apenas para ser fiel nomenclatura utilizada por Paulo Freire ao longo de suas obras mas tamb m por consider la mais pertinente uma vez que a reflex o qu
122. ca necessariamente urna dimens o epistemol gica urna vez que a consci ncia cr tica ao n o se satisfazer com as apar ncias nem aceitar explica es m gicas sobre a realidade pressup e uma atitude de inquieta o e busca da compreens o dos fatos ultrapassando os limites da cotidianidade e exigindo que o pensamento opere epistemologicarnente Logo a curiosidade torna se epistemol gica caracter stica fundante da consci ncia cr tica a qual n o se reduz tomada de consci ncia mas implica principalmente a assun o de sua condi o de sujeito hist rico Nesse processo no exerc cio permanente da capacidade de conhecer se atrav s da criticiza o das rela es consci ncia mundo o sujeito contribui para a transforma o da realidade medida que transforma tamb m a si mesmo A complexidade desse processo analisada por Freire de modo especial na d cada de 90 ampliando a compreens o do processo de conscientiza o a partir do desenvolvimento de sua dimens o est tica na qual inclui os elementos que se referem subjetividade tais como a intui o a emo o o prazer a amorosidade e a alegria entre outios saberes necess rios pr tica educativa Compreendido na amplitude de seu significado o processo de conscientiza o consiste pois numa totalidade organicamente articulada a partir de tr s dimens es a dimens o pol tica a dimens o epistemol gica e a dimens o est tica Em suas ltimas obras
123. cep o fatalista Analisa como a partir desse momento fez sentido compreender entre outros aspectos poss veis de serem estudados a fun o do patr o dentro das rela es que se estabelecem no sistema social capitalista de produ o Por outro lado o mesmo tema abordado ap s o sil ncio sob a forma de um discurso tradicional sioganizador vazio intolerante p 50 teria perdido seu sentido educativo libertador E poss vel perceber pois a import ncia do ato educativo progressista que ao organizar se de modo a problematizar as situa es concretas contribui para refazer a percep o em torno da raz o de ser das mesmas construindo sua intelegibilidade cr tica No entanto cabe ressaltar que o fato de compreender criticamente a percep o anterior da realidade por si s n o a transforma mas a partir dessa nova compreens o cria se a disposi o para mud la Da mesma forma mediante situa o similar a essa tamb m num relato longo mas extremamente significativo Freire nos mostra como foi poss vel tomando como refer ncia os saberes presentes no grupo valorizando os quebrar a l gica estabelecida de hierarquiza o de saberes e estabelecer uma rela o de crescimento m tuo a partir da intera o entre os diferentes saberes Muito bem disse eu em resposta interven o do campon s Aceito que eu sei e voc s n o sabem De qualquer forma gostaria de lhes propor um jogo que para funci
124. cep o da educa o como um ato politico faz se necess rio compreender com maior Grifos do autor Ana L cia Souza de Freitas 73 radicalidade o pensamento de Freire a esse respeito Essa a inten o de Michael Apple e Ant nio N voa ao organizarem recente obra intitulada Paulo Freire pol tica e pedagogia 1998 A respeito do t tulo afirmam Ao escolhermos o titulo Pol tica e pedagogia queremos deixar bem clara a import ncia da dimens o pol tica no trabalho de Paulo Freire E mais do que isso desejamos sublinhar que n o se trata apenas de pensar politicamente as realidades educativas mas tamb m de agir no sentido da sua transforma o libertadora p 7 A assun o desta dimens o pol tica no pensamento e na a o exige que se desenvolvam atitudes formadoras radicais n o sect rias comprometidas com o di logo e a disponibilidade de abrir m o das certezas em fun o da eticidade na educa o Ao contr rio do sect rio sempre aferrado a suas certezas o radical est aberto a rever se n o intransigente embora n o possa transigir com procedimentos pouco ticos Freire 1995 p 66 Sobretudo a dimens o pol tica da educa o est ligada natureza tica dos valores aos quais est o submetidos a pr tica pedag gica Freire na defesa de uma tica de qualidade democr tica faz da esperan a uma preocupa o central de sua obra ao compreend la como movimento q
125. cessariamente mau Apple 1998 p 30 Realizando grande investimento nesse sentido Freire constitui uma pol tica educacional p blica de qualidade comprometida em ampliar as condi es que favorecem a luta cotidiana no processo de reiven o da escola cuja administra o n o se orienta por qualquer tipo de qualidade mas por uma certa qualidade da educa o a democr tica popular rigorosa s ria respeitadora e estimuladora da presen a popular nos destinos da escola que se v tornando cada vez mais uma escola alegre Escola alegre que Snyders tanto defende Freire 1993a p 43 A preocupa o com a alegria na escola enquanto parte integrante da dimens o est tica do ato de conhecer numa perspetiva cr tica outro elemento referido por Freire aliado profissionaliza o do professor como fundamentais ao processo de reinven o da escola A reflex o em torno da import ncia de se resgatar a alegria embutida no ato de aprender bem como em torno das necess rias condi es para a alegria na escola constitui se importante presen a tem tica nas obras da d cada de 90 Tais reflex es explicitam o entendimento acerca da import ncia da subjetividade no processo de conhecer sendo este mais um elemento que o situa no paradigma da p s modernidade 2 Grifos do autor Pedagogia da Conscientiza o 36 A import ncia da alegria na escola argumentada por Freire tornando como refer ncia a reflex o
126. ciem a viv ncia da dupla ruptura epistemol gica Considerando essa diversidade de contextos estruturais como espa os em que se cruzam as determina es estruturais da cotidianidade na sociedade capitalista poss vel perceber que as necessidades e possibilidades te ricas de transforma o dos tempos espa os escolares de forma o de professores em atividade coletiva e sistem tica geradora de esperan a de curiosidade e de alegria encontram se limitadas pelas condi es institucionais que caracterizam o trabalho pedag gico na estrutura curricular seriada produto produtora de tais contextos estruturais Entre elas a fragmenta o a hierarquiza o e o individualismo que contribuem para fortalecer um senso comum conservador autorit rio e excludente A esse respeito Souza Patto 1993 faz importante reflex o Reprodu o ampliada das condi es de produ o dominantes na sociedade que as incluem as rela es hier rquicas de poder a segmenta o e a burocratiza o do trabalho pedag gico marcas registradas do sistema p blico de ensino elementar criam condi es institucionais para a ades o dos educadores singularidade a uma pr tica motivada acima de tudo por interesses particulares a um comportamento caracterizado pelo descompromisso social p 343 Assim ao inv s de jogar a responsabilidade sobre a individualidade do a professor a a autora busca compreender tal realidade a partir de um entendimento mais g
127. cimento bem como o individualismo personalista Como proposta alternativa a defesa de uma concep o libertadora da educa o que oriente a reinven o da escola na perspectiva de sua gest o democr tica justifica se por ser este um caminho para a constitui o de pr ticas sociais que tanto quanto s o produtos de um processo de conscientiza o s o tamb m produtoras de condi es favor veis ao seu desenvolvimento Decorre desses pressupostos uma afirma o a ser considerada pelas pol ticas de forma o de professores comprometidas com a reinuen o da escola tendo em vista a constru o de pr ticas pedag gicas coerentes com uma qualidade democr tica E necess rio que se considere que entre conscientiza o e gest o democr tica constitui se uma rela o de causalidade n o linear mas complexa de modo que essas n o se hierarquizam em termos de preced ncia nem de prioridade mas ao contr rio estabelecem entre si um sistema de circularidade em que o produto tamb m produtor e o efeito ao mesmo tempo uma causa Morin 1997 p 18 Assim pr ticas democr ticas de planejamento participativo e de co responsabilidade ao exigirem o comprometimento individual em fun o de um projeto coletivo Ana L cia Souza de Freitas 153 contribuem para a constru o da conscientiza o ao mesmo tempo que o desenvolvimento desta amplia a necessidade de constituir parcerias na luta pelas condi es sociais de
128. cimento libertador Decorre desse entendimento a relev ncia da participa o da comunidade na constru o do projeto pol tico pedag gico da escola j que a gest o democr tica do trabalho pedag gico ao desafiar uma leitura cr tica da realidade se constitui como importante instrumento de resgate da cidadania e que refor a o engajamento do cidad o nos movimentos sociais que lutam pela melhora da qualidade de vida e pela transforma o social Freire 1991 p 68 o que fundamenta a concep o acerca da fun o social da escola de qualidade democr tica Pedagogia da Conscientiza o 190 A democratiza o da escola implica pois a democratiza o do acesso a democratiza o das rela es e a democratiza o do conhecimento dimens es intr nsecas da gest o democr tica do trabalho pedag gico que partindo do entendimento de que todos t m direito e s o capazes de aprender considera que a escola tal como est organizada reproduz a l gica da exclus o social no campo da educa o Para que todos exer am seu direito de aprender preciso portanto que a escola seja reinventada no sentido da supera o do fracasso escolar o que implica assumir simultaneamente tr s desafios que integram a gest o democr tica do trabalho pedag gico em primeiro lugar eliminar mecanismos institucionais de exclus o tais como a reprova o e demais mecanismos de natureza punitiva em segundo lugar constituir mecanismos inst
129. co Essas tr s dimens es est o sempre juntas momentos simult neos da teoria e da pr tica da arte e da pol tica o ato de conhecer a um s tempo criando e recriando enquanto forma os alunos que est o conhecendo Freire 1986 p 146 Esse o entendimento que orienta o trabalho de Freire na d cada de 90 ao tematizar a pr xis educativa libertadora a partir destas tr s dimens es indissoci veis que integram a cons cientiza o enquanto um processo de trans forma o permanente a dimens o pol tica a dimens o epistemol gica e a di nens o est tica Assim compreendido o ato pedag gico exige a assun o Em suas ltimas obras Freire d destaque tica de forma a estabelecer em alguns momentos uma rela o de igualdade entre ela e as dimens es pol tica epistemol gica e est tica dando a entender que a tica poderia ser considerada como mais uma dimens o cio ato de conhecer Entretanto por reconhecer os limites deste trabalho considero a tica enquanto um elemento integrante da dimens o pol tica O conceito de pr xis educativa libertadora e sua rela o com a conscientiza o ser analisado no Cap 8 3 Pedagogia da Conscientiza o 70 consciente de op es em cada uma dessas dimens es as quais t m influ ncia rec proca de tal modo que a dimens o pol tica orienta a intencionalidade das demais dimens es sem prescindir de fazer op es de natureza epistemol gica e est tica a dime
130. co de mim e de muitas os que nele se envolveram diretamente ou sofreram suas repercuss es N o poderia deixar ao final destas Primeiras palavras de expressar meu agradecimento em especial prof Dr Maria Helena Menna Barreto Abrah o pelo carinho e compet ncia tico democr tica com que orientou a elabora o deste trabalho cuja disponibilidade se fez atrav s do apoio da cr tica do est mulo e da valoriza o constantes ao prof Dr Carlos Rodrigues Brand o pela acolhida afetuosa de minha curiosidade epistemol gica e por ter me desafiado a compreend la luz de Bachelard ao prof Dr Adriano Nogueira pela cumplicidade na defesa de sonhos poss veis prof Dr Ana Maria Ara jo Freire e ao prof Dr Danilo Streck pelo apoio e disponibilidade em participar da avalia o deste trabalho prof S nia Pilla Vares secret ria municipal de educa o na segunda gest o da Administra o Popular em Porto Alegre e prof Maria de F tima Baierle diretora da Divis o de Educa o Escolar neste per odo pelo apoio e est mulo na origem de minhas reflex es ao prof Jos Cl vis de Azevedo secret rio municipal de educa o na terceira gest o da Administra o Popular em Porto Alegre pela confian a e valoriza o com que acolheu na teoria e na pr tica o desenvolvimento deste trabalho Pedagogia da Conscientiza o 18 prof Ana Maria Giovanoni Fornos profa Vera Arnaro Vera Mansa M
131. concretiza o da gest o democr tica da escola bem como do espa o p blico Nesse sentido a conscientiza o tornada como objetivo essencial das pr ticas formadoras comprometidas com uma educa o de qualidade democr tica pode ser tamb m compreendida como um princ pio metodol gico a ser considerado no planejamento das a es democr ticas de forma o visto que Na realidade o m todo a forma externa da consci ncia que se manifesta por atos que adquire a propriedade fundamental da consci ncia sua intencionalidade A ess ncia da consci ncia ser com o mundo e esta situa o continua e inevit vel Consequentemente a consci ncia por ess ncia um caminho para algo fora de si mesma que a rodeia e que ela apreende gra as a seu poder de idealiza o Portanto a consci ncia por defini o um m todo no sentido mais geral da palavra Freire 1979a p 86 Mais do que um m todo a conscientiza o diz respeito concep o metodol gica global que orienta os processos de tomada de decis o acerca da constru o do ato pedag gico enquanto pr tica social para al m de uma vis o prescritiva que organiza o ensino em fun o do uso de t cnicas ferramentas necess rias e da aplica o de m todos passos a serem dados ao considerar que A pr tica social a fonte dos conhecimentos A teoria est em fun o do conhecimento cient fico da pr tica e serve como guia para a a
132. consci ncia da pr xis educativa libertadora e a identidade do educador progressista no plano da autoconsci ncia a rela o de circularidade se d entre a diversidade das intera es sociais em diferentes n veis de reflex o e a amplia o das possibilidades de cria o do in dito vi vel Assim o compromisso com a cria o do in dito vi vel constitui se um desafio pr tica profissional do educador progressista em trans forma o permanente tendo em vista a viv ncia de uma nova rela o com o conhecimento a servi o da qualidade de vida Para tanto h que se constituir na problematiza o da pr tica atrav s de um processo cont nuo de a o reflex o registro a o reflex o cr tico e sistem tico no qual os momentos pedag gicos de sonhar estudar e criar potencialzam a Ana L cia Souza de Freitas 229 conscientiza o como um movimento gerador de esperan a curiosidade e alegria Tal entendimento mesmo que parcial e provis rio servir para desencadear a reflex o em torno das perspectivas de globalidade totalidade complexidade que envolvem o processo de forma o permanente de professores inicial ou continuada como condi o para o fortalecimento da luta cotidiana no enfrentamento s pr ticas sociais excludentes Sobretudo a conscientiza o como princ pio metodol gico da trans forma o permanente representa um desafio ao desenvolvimento da esperan a da curiosidade e
133. contecimentos como da totalidade Todavia nem sempre percebem de forma cr tica a raz o de ser dos fatos muito menos percebem como eles participam da cria o da totalidade e como ao mesmo tempo por ela s o criados E pois no contexto te rico tomando dist ncia do real que assumimos a posi o de sujeitos cognoscentes p 91 A partir do contexto te rico que tomamos dist ncia de nossa pr tica para melhor compreend la A pr tica de pensar a pr tica nos leva percep o da percep o anterior ou ao conhecimento do conhecimento anterior que de modo geral envolve um novo conhecimento Freire 1993b p 113 Para tanto o registro assume um papel fundamental j que quando exercido criticamente o ato de escrever torna se provoca o ao pensar mobilizando o exerc cio da curiosidade epistemol gica em constante busca de novos conhecimentos visto que importa escrever para buscar o que ler importa ler para reescrever o que se escreveu e o que se leu Antes o escrever depois o ler para o reescrever Isso procurar aprender atos em que o homem se recria de cont nuo sem se repetir Isso pesquisar Marques 1997 p 90 O ato de registrar constitui se em instrumento fundamental para o processo de forma o de professores no exerc cio de estudo investiga o Ana L cia Souza de Freitas 209 reflex o e avalia o permanentes de sua pr tica profissional O ato de registrar a pr tica e a re
134. cr tica do trabalho pedag gico necessita desenvolver tamb m uma atua o diferenciada a fim de que possa dar consequ ncias pr ticas ao compromisso com o trabalho coletivo e a politicidade da educa o Essa responsabilidade implica a assun o dos riscos e desafios que lhe s o inerentes enquanto coordena o da cotidianidade escolar o que implica a assun o de alguns desafios O primeiro desafio o de que realmente se constituam enquanto equipe pois isso n o ocorre automaticamente preciso querer constituir se como coletivo e ilivestir na sua organiza o Para tanto fundamental que se re nam sistematicamente que reflitam sobre as finalidades de suas pr ticas estudem nas seriamente e assumam a autoria de suas propostas como parte do seu exerc cio profissional Um segundo desafio diz respeito cren a na capacidade de organiza o coletiva para a constru o de alternativas vi veis s limita es da pr tica E preciso que se organizem espa os de discuss o e estudo a partir dos quais se ampliem as possibilidades de compreender a complexa rela o entre teoria e pr tica vivenciando se pr ticas de forma o orientadas pelo entendimento da dupla ruptura epistemol gica em que se realize um processo Ana L cia Souza de Freitas 195 de teoriza o das pr ticas desenvolvidas e tamb m se fa am conscientemente op es te rico pr ticas que d em sustenta o ao desenvolvimento de pr ticas que proponham se
135. cupa es passar o a ser objeto da curiosidade de Freire nas obras que se seguem Cartas Cristina A sombra desta mangueira e Pedagogia da Autonomia Em especial nas duas ltimas Freire dar continuidade reflex o sobre a n amp cessidade de criticiza o da curiosidade instigando os educadores progressistas a assumirem para si o desafio curiosidade ing nua do educando para com ele partejar a criticidade Freire 1995 p 79 Para tanto destaca a import ncia do ato cr tico de estudar a pr pria pr tica como eixo norteador da forma o bem como seu car ter provocador da alegria de estudar Nessas ltimas obras a rela o entre a curiosidade e a alegria ser outra reflex o desenvolvida em defesa de seu sonho de reinven o da escola Sonhamos com uma escola que porque s ria se dedique ao ensino de forma competente mas dedicada s ria e competente mente ao ensino seja uma escola geradora de alegria O que h de s rk at de penoso de trabalhoso nos processos de ensinar de aprender de conhecer n o transforma esse quefazer em algo triste Pelo contr rio a alegria do ensinar e aprender deve acompanhar professores e alunos em suas buscas constantes Freire 1991a p 37 Tais preocupa es fazem com que Freire reafirme a necessidade da assun o da ousadia que representa a responsabilidade de ser professora e n o tia A responsabilidade de quem assume a luta pela exig ncia pol tica em defesa de
136. da alegria de ser e de viver no trabalho e a partir dele enquanto um direito a ser socialmente garantido a todos e todas Registre se assim o convite a novas interlocu es no intuito de suscitar a imagina o e o desenvolvimento de pr ticas formadoras ineditanZen te vi veis que potencializem as capacidades de sonhar estudar e criar corno forma de luta contra a inviabilidade hist rica da realiza o de nossas perspectivas ut picas visto que o imposs vel se faz transit rio na medida em que assumimos coletiva mente a autoria dos sonhos poss veis Esse o entendimento que me faz acreditar na necessidade de que se desenvolvam pedagogias orientadas por uma perspectiva progressista de globalidade que integre simultaneamente a compreens o da perspectiva de totalidade em que se inscrevem as possibilidades da constru o coletiva de alternativas in dito vi veis ao contexto neoliberal e a compreens o da complexidade do processo de transforma o social e pessoal em que nos constitu mos sujeitos dessa transforma o Parafraseando Paulo Freire justamente porque ningu m conscien tiza ningu m ningu m se conscientiza sozinho os homens e as mulheres se conscientizam em comunh o urge que se desenvolva sua proposi o acerca de uma Pedagogia da Conscientiza o Pedagogia da Conscientiza o 230 5 Quadros sintese Quadro 1 DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE CONSCIENTIZA AO um desafio em tr s dimens es mento da ri
137. da criticamente mobiliza ao estabelecimento de projetos de futuro bem como a inser o na luta pela sua viabilidade hist rica Esse pois o entendimento de Freire ao sublinhar a relev ncia da dimens o est tica no processo de conscientiza o considerando que a rela o consci ncia mundo envolve a totalidade das dimens es do ato de conhecer ao afirmar que Pedagogia da Conscientiza o 122 Minha presen a no mundo com o mundo e com os outros implica o meu conhecimento inteiro de mim mesmo E quanto melhor me conhe a nesta inteireza tanto mais possibilidade terei de fazendo Hist ria me saber sendo por ela refeito Freire 1993b p 72 Freire 1997 considera que a educa o toma se relevante medida que este papel da subjetividade compreendido como tarefa hist rica e pol tica necess ria In Giroux p x j que a hist ria como possibilidade se faz por homens e mulheres sujeitos hist ricos cuja inteireza se constr i a partir da rela o consci ncia mundo sem nenhuma ruptura entre sensibilidade emo es e atividade cognoscitiva Freire 1993b p 118 Urna subjetividade que n o se dissocia de sua natureza tica pois trata se de uma subjetividade voltada n o apenas pr pria exist ncia individual e imediata mas uma subjetividade comprometida com a problematiza o do futuro Uma subjetividade que manifesta seu inconformismo e indigna o com a naturaliza o da mis ria da fome
138. da diversidade das intera es estabelecidas e representa um testemunho da potencialidade transformadora do movimento de pesquisar a pr pria pr tica Este trabalho parte de minha disserta o de mestrado defendida em julho de 1999 na PUCRS sob o titulo A conscientiza o como princ pio metodol gico da forma o de professores registro da reflex o sobre uma experi ncia medita mente vi vel na Pol tica Educacional da Administra o Popular em Porto Alegre Ainda que tenha se feito a op o por publicar neste momento apenas o estudo te rico que envolveu este trabalho a reflex o que aqui se apresenta n o teria sido poss vel sem a contribui o dos as participantes da pesquisa O estudo completo desta investiga o encontra se disposi o nas bibliotecas da PUCRS e da Secretaria Municipal de Educa o de Porto Alegre As publica es aqui mencionadas est o indicadas nas refer ncias bibliogr ficas Ana L cia Souza de Freitas 15 o qual n o permite que se restrinja a ela Entre elas destacam se tamb m as entrevistas conversa realizadas com Adriano Nogueira Carlos Rodrigues Brand o e Ana Maria Ara jo Freire bem como as entrevistas que privilegiaram a escuta do saber de experi ncia feito de autores as e atores as do trabalho cotidiano na consolida o da Escola Cidad em Porto Alegre Integra ainda a complexidade vivenciada nesse processo a intera o com minhas alunas e ex alunas do Curso de Pedagogia do Centro
139. de conversas frases express es que pudessem proporcionar an lises sem nticas sint ticas pros dicas do seu discurso Seria um exerc cio de aproxima o das duas sintaxes a dominante e a popular Freire 1992 p 72 Freire nos d seu testemunho bem como prop e novas possibilidades de rela o com o conhecimento capazes de viabilizar um intenso processo de produ o te rico cr tica a partir da permanente reflex o sobre o mundo vivido ao mesmo tempo que contribui para transform lo Dessa forma chama aten o a caracter stica de sua produ o intelectual n o ter um fim em si mesma estabelecendo uma rela o dial tica entre escrita e oralidade entre teoria e pr tica na qual a intera o assume o car ter de realimentar o pr prio processo de escrita orientando a no sentido de novas necessidades Ao h bito de escrever os textos juntei o de discuti los toda vez que poss vel com dois grandes amigos com quem trabalhava discutindo achados e n o apenas meus textos debatendo d vidas interrogando nos desafiando nos sugerindo nos leituras surpreendendo nos 1992 p 52 Em virtude disso argumenta a favor da necessidade da constitui o de espa os coletivos de forma o na escola a fim de que se desenvolvam pr ticas de observa o registro reflex o e discuss o na viv ncia da permanente tens o entre teoria e pr tica Tal concep o segundo Sousa Santos 1989 consistiria na A
140. delo padr es compartilhados que permitem a explica o de certos aspectos da realidade E mais que uma teoria implica uma estrutura que gera novas teorias E algo que estaria no in cio das teorias Moraes 1997 p 31 Por outro lado o conceito de complexidade que se fortalece no interior do paradigma da p s modernidade est relacionado perspectiva paradigm tica proposta por Edgai Morin que tem por base um enfoque relacional em que conceitos e teorias soberanos convivem com teorias rivais Moraes 1997 p 31 de modo a compreender o inundo f sico como urna rede complexa de rela es e conex es de diversas naturezas A no o de complexidade presente desde Bachelard em O novo esp rito cienrtfico desenvolvida como paradigma da complexidade por Edgar Morin partindo do entendimento de que a mesma antes de tudo um atributo de toda a mat ria estado de ser dos sistemas abertos auto eco organizados e organizadores Almeida 1997 explicita sumariamente os tr s princ pios fundamentais que orientam a no o de complexidade em Edgar Morin O primeiro princ pio a dial gica diz respeito s trocas simbioses e retroa es entre as entidades f sico qu mico ps quicas que comandam a organiza o viva em especial o homem e a sociedade O princ pio dia l gico n5o op e ordem e desordem natureza e cultura mas entende tais fen menos como simultaneamente concorrentes anta g nicov e complementares o
141. desenvolvida por Georges Snyders ao considerar que a alegria na escola fortalece e estimula a alegria de viver Se o tempo da escola um tempo de enfado em que educador e educadora e educandos vivem os segundos os minutos os quartos de hora espera de que a monotonia termine a fim de que partam risonhos para a vida l fora a tristeza da escola termina por deteriorar a alegria de viver Freire in Snyders 1993c p 9 Ao prefaciar a obra de Snyders Paulo Freire reitera a iinport ncia da alegria na escola pois para ele lutar pela alegria na escola uma forma de lutar pela mudan a do mundo p 10 Entretanto ressalta que para que se viva plenamente a alegria na escola necess rio lutar para que ela se transforme e para tanto preciso n o apenas acreditar na possibilidade coletiva de sua transforma o mas tamb m compreender que essa possibilidade se constr i na luta cotidiana contra sua inviabilidade hist rica E nesse sentido que se faz relevante a compreens o da dimens o pol tica do desenvolvimento da alegria na escola como elemento fundamental no processo de sua reinven o visto que se estudar e ler fossem fontes de alegria e prazer de que resulta tamb m o indispens vel conhecimento com que nos movemos melhor no mundo ter amos ndices melhor reveladores da qualidade de nossa educa o Freire 1993b p 37 N o pode ser alegre uma escola que conviva com a perman ncia do insucesso de muito
142. do pr prio saber de experi ncia feito dele se aproxima epistemologicamente percebendo o de forma cr tica Assim compreendendo a riqueza do saber de experi ncia feito com o qual muito temos que aprender Freire sugere que se v registrando o que observamos por considerar essa uma atitude cognitiva fundamental em que agu amos nossa capacidade de escuta e de observa o desafiando nossa curiosidade em torno do objeto de conhecimento e valorizando a cotidianidade em que estamos inseridos ao tom la como objeto de nossa investiga o Partindo desses pressupostos Freire desa fia o educador progressista a pensar constantemente sua cotidianidade e fazer do registro um ponto de apoio constitui o da rigorosidade met dica de sua reflex o A constitui o desse rigor criativo gerador da curiosidade epistemol gica est associada sobretudo ao compromisso pol tico a partir do qual o educador progressista busca conscientemente diminuir a dist ncia entre seu discurso e sua pr tica Dessa forma em sua atividade pedag gica busca ir al m da mera descri o ou opini o dos fatos procurando conhecer sua raz o de ser e portanto ao conhecer predisp e se mudan a pois nos tornamos algo mais porque estamos aprendendo estamos conhecendo porque mais do que observar estamos mudando Freire 1986 p 104 Nesse sentido a forma o permanente no cotidiano escolar constitui se enquanto exerc cio reflexivo no qual o di lo
143. do as como fonte de reflex o te rica Ao faz lo de modo t o intenso quanto simples desafia seus leitores tamb m a questionar se sobre a constru o te rica poss vel a partir das pr prias viv ncias Em suas Primeiras Palavras Freire defende fortemente a convic o sobre a necessidade da esperan a e do sonho para a exist ncia humana e a permanente luta para faz la melhor Segundo ele a esperan a uma necessidade ontol gica pois sem um m nimo de esperan a n o podemos sequer come ar o embate No entanto alerta que atribuir esperan a o poder de transformar a realidade um modo excelente de cair na desesperan a pois enquanto necessidade ontol gica a esperan a precisa da pr tica para tomar se concretude hist rica p 11 Assim sem poder negar a desesperan a como algo concreto nem desconhecer as raz es hist ricas econ micas e sociais que a explicam acredita que n o podemos prescindir da esperan a que nos anima a lutar pela defesa dos sonhos poss veis justificando dessa forma a necessidade de uma educa o da esperan a Como programa a desesperan a nos imobiliza e nos faz sucumbir no fatalismo onde n o poss vel juntar as for as indispens veis ao embate recriador do mundo p 10 por isso uma das tarefas do educador progressista desvelar as possibilidades para a esperan a n o importam os obst culos Com essas Primeiras palavras Freire nos convida leitura de sua Pedagogia d
144. e pr pria realidade Isso desafia os para um comprometimento no sentido de dar sua contribui o no processo de transforma o pessoal e social A consci ncia de seu inacabamento coloca homens e mulheres numa atitude de busca cont nua de conhecimento atrav s do fazer e refazer a sua pr pria pr tica Compreendido dessa forma o processo de conhecimento constitui se num processo de dar se conta dos aspectos de consci ncia m gica e ing nua interessante observar que este trecho encontra se em um cap tulo denominado A escola necess ria para os tempos modernos Pedagogia da Conscientiza o 194 presentes no pr prio ser para cont nua e permanenternente buscar a sua supera o Ou seja quanto mais se assume a consci ncia cr tica mais se percebe a pr pria consci ncia m gica e ing nua pois ningu m totalmente cr tico ou ing nuo O processo de crescimento se d atrav s de uma autocr tica permanente A conscientiza o que se apresenta como um processo num determinado momento deve continuar sendo processo no momento seguinte durante o qual a realidade transformada mostra um novo perfil Freire 1979a p 27 Assim ao fazer e refazer a pr tica homens e mulheres transitam pela consci ncia ing nua e reencontram se na sua criticidade sendo essa uma condi o para que assumam o compromisso com o projeto pol tico pedag gico da escola A equipe diretiva da escola ao assumir a gest o demo
145. e necess ria para pensar de grada se e aparece como lamento Na gueixa reclama o j h um manejo diferente a queixa funciona como uma acusa o dirigida a algu m e como uma reclama o que espera daquele que escuta a entrega de uma solu o mais do que compartilhar o entendimento do problema Fernandez 1994 p 108 Ana L cia Souza de Freitas 183 Sendo assim a transforma o da queixa em pensamento constitui se um desafio e uma possibilidade conscientiza o como princ pio metodol gico da forma o j que a queixa implica um desejo de den ncia Fernandez 1992 p 57 e a percep o cr tica da den ncia presente na queixa reclamo abre espa o para o questionarnento acerca do compromisso com o an ncio de uma postura alternativa situa o reclamada Trata se pois de perceber e desenvolver essa potencialidade transformadora da queixa atrav s da discuss o e do questionamento que a problematizam criando condi es para que se desenvolva uma pr tica de forma o voltada para a reflex o e a discuss o em que se abra espa o s perguntas a suportar o vazio moment neo da aus ncia de respostas sem cair na facilidade das supostas explica es r pidas que as queixas impli cam Fernandez 1994 p 110 111 podendo dessa forma construir a criticidade da queixa inicial mobilizando para o enfrentamento de sua supera o Trata se da possibilidade do a professor a sentir se desafiado a superar
146. e Freitas 11 Tive o privil gio de acompanhar embora pontualmente este trabalho ao longo de seu surgimento como disserta o de Mestrado na Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul Porto Alegre Chamava aten o a persist ncia com que a autora buscava informa es sobre o tema num verdadeiro processo de desenvolvimento da curiosidade epistemol gica E gratificante ver esta curiosidade ganhando corpo numa obra que por saber se incompleta convida ao di logo em v rias frentes algumas novas e outras nem tanto mas nem por isso menos importantes Penso por exemplo na complexa integra o da obra de Paulo Freire na discuss o sobre modernidade e p s modernidade na rela o entre tica e est tica um tema que ganha importante impulso com a publica o de Pedagogia da Indigna o editado por Ana Maria Freire nos novos desafios no campo da epistemologia a partir do desenvolvimento tecnol gico entre outros Alegro me com o fato de que este privil gio de conhecer Ana L cia e ser companheiro de di logo seja agora ampliado para quem compartilha a f no ineditamente vi vel na e atrav s da educa o DANILO R STRECK Professor do Programa de P s Gradua o em Educa o da UNISJNOS Pedagogia da Conscientiza o 12 Primeiras Palavras O entendimento acerca da Pedagogia da Conscientiza o como centralidade do legado de Paulo Freire forma o de professores veio sendo constru do ao longo de minha
147. e a utiliza na rela o com a categoria do in dito vi vel ampliando de forma pr pria a rela o estabelecida por Alvaro Vieira Pinto entre situa es limites e atos limites Respeitarei aqui a grafia adotada pelo autor Pedagogia da Conscientiza o 94 alternativa ao que denuncia E express o concreta da assun o do risco de criar novas possibilidades j que quando se assume qualquer possibilidade humana de ser e fazer voc necessariamente assume um risco 1 faz parte de todo o movimento criador o risco de n o ser de distorcer se no meio do caminho Freire in Passetti 1998 p 99 O risco de assumir a luta pelo in dito vi vel pois uma decorr ncia da natureza ut pica pr pria da consci ncia cr tica e encerra em si uma perspectiva metodol gica visto que faz do ato de sonhar coletivamente um movimento transformador A capacidade de sonhar coletivamente quando assumida na op o pela viv ncia da radicalidade de um sonho comum constitui se numa atitude de forma o que se orienta n o apenas por acreditar que as situa es limites podem ser modificadas mas fundamentalmente por acreditar que essa mudan a se constr i constante e coletivamente no exerc cio critico de desvelamento dos temas problemas sociais que as condicionam Portanto op e se ao entendimento de tais situa es limites como determinantes hist ricos a que n o reste outra alternativa sen o adaptar se aos mesmos para ao contr r
148. e aqui se apresenta n o se restringe forma o continuada mas refere se tamb m forma o inicial concebendo as como complementares Ana L cia Souza de Freitas 143 necess ria para que se radicalize a gest o democr tica da escola em seus tr s aspectos fundamentais democratiza o das rela es de participa o e decis o democratiza o do conhecimento como instrumento de hu naniza o e democratiza o do acesso a direitos sociais A reinven o da escola na perspectiva da gest o democr tica pois parte de um entendimento mais amplo acerca da necessidade e da possibilidade de transforma o social o qual sem desconsiderar os limites da institui o escolar n o a exime de responsabilidades Entre elas a de instituir uma nova identidade ao trabalho pedag gico desenvolvendo pr ticas ineditamente vi veis capazes de gestar um senso comum transformador constitu do por uma consci ncia democr tica No entanto a constru o de uma escola cuja identidade seja democr tica n o se faz por decreto a identidade da escola se institui na correla o de for as da identidade de seus educadores A qualidade da gest o democr tica da escola est diretamente relacionada identidade dos educadores progressistas que lutam pela sua constru o Nesse sentido a forma o permanente na escola assume grande relev ncia no que diz respeito viabiliza o desta possibilidade E o que justifica ampliar a compreens o
149. e compreende tr s dimens es o pol tico a epistemol gica e a est tica que por sua vez s o referidas respectivamente s categorias da esperan a da curiosidade epistemol gica e da alegria Tudo isso sempre ligado com a forma o do educador e da educadora Danilo R Streck Ana tem uma capacidade invulgar de introduzir id ias e conceitos e de ir cercando os por todos os lados e assim aprofundando os ir fazendo emergir sua rigorosidade no ato de pensar e escrever e sua liberdade no ato de criar e recriar Escreve com paix o e boniteza Vislumbra o in dito vi vel Engaja se emociona se sofre e se alegra ao penetrar no mago dos sonhos poss veis Ana Maria Ara jo Freire Ana L cia uma estudiosa que se mostra altura do autor por ela trabalhado como refer ncia te rica central Paulo Freire quer no di logo que estabelece com Freire com base em sua obra especialmente a da d cada de 90 quer incluindo nesse di logo outros autores nacionais e internacionais quer ainda ampliando o para trazer elementos da realidade a que se det m tamb m a analisar estabelecendo org nico relacionamento teoria empiria bem como elaborando importantes constructos te ricos pr prios em especial quando visualiza a categoria conscientiza o como princ pio metodol gico para a forma o de professores enriquecendo e dotando a teoria freireana de um corpus integrado expl cito Maria Helena Menna Barreto
150. e de sua possibilidade de ser transformada Tal entendimento torna se fundamental a fim de que as iniciativas pedag gicas mesmo bem intencionadas n o venham a perder seu valor educativo frente s limita es da realidade Somente a partir de uma compreens o cr tica acerca da realidade em que se insere o ato pedag gico poss vel perceber a melhor forma de interven o pedag gica a qual n o se constr i unilateralmente nem apenas com o saber pedag gico mas precisa ser constru da na pr pria rela o entre os diferentes sujeitos envolvidos num ato rec proco de escuta e troca de saberes Essa entre outras tantas tramas contadas ilustram a profundidade da reflex o realizada por Freire nesse primeiro momento da Pedagogia da Esperan a em que nos d mostras da rigorosidade met dica necess ria para percebermos criticamente a import ncia do senso comum e de todo o conhecimento nele contido No segundo momento Freire retoma aspectos da Pedagogia do Oprimido analisando algumas de suas cr ticas Entre elas a marca machista com a qual foi escrita Confessa que ao receber as primeiras cartas que o criticavam por estar condicionado pela ideologia machista reagiu ora quando falo homem a mulher necessariamente est inclu da p 67 Entretanto ao rever sua posi o reconhece sua d vida a essas mulheres que o fizeram ver o quanto a linguagem tem de ideologia Logo argumenta a favor da recria o da linguagem como rec
151. e en las profisiones Barcelona Paid s 1992 Ana L cia Souza de Freitas 115 considerando a responsabilidade social em fun o de sua independ ncia de ju zo Ainda a esse respeito argumenta que a defesa da necessidade de que os professores sejam mais reflexivos sobre seu pr prio trabalho ao desconsiderar as condi es institucionais nas quais o mesmo se desenvolve acaba por responsabilizar individualmente os professores por problemas que s o estruturais Por outro lado a concep o de professor enquanto intelectual cr tico compreende que a reflex o sobre os condicionantes institucionais bem como sobre as quest es ideol gicas integram a compet ncia profissional a ser desenvolvida pelo professor aliando a reflex o da pr tica pedag gica ao desenvolvi mento da an lise e cr tica social e organizando sua participa o na a o pol tica transformadora As pr ticas educativas do professor enquanto um intelectual cr tico orientam se na defesa de valores para o bem comum tendo como objetivo a emancipa o individual e social e comprometendo se efetivamente com a participa o em movimentos sociais pela democratiza o Nessa concep o a autonomia profissional compreendida como libera o profissional e social das opress es processo coletivo que desenvolve a consci ncia cr tica e orienta se no sentido da transforma o das condi es institucionais e sociais do ensino A concep o de educador progressista pr
152. e geram o imobilismo ao contr rio da necess ria indigna o defendida por Freire Portanto h que se considerar a perspectiva em que se inserem as defesas pela valoriza o do senso comum bem como a import ncia atribu da subjetividade Dessa forma Fernandes 1998 ao considerar a concep o epistemol gica de Freire enquanto uma concep o p s moderna comprometida com um projeto social de diminui o das desigualdades materiais e culturais salienta a import ncia do conhecimento do senso comum reconhecida por Freire analisando a coincid ncia de pontos de vista com os do Pr mio Nobel da Qu mica de 1977 Ilya Prigogine p 139 Tal compara o deve se ao fato da concep o de conhecimento presente na obra de Freire 3 Emprego aqui e no decorrer deste trabalho a express o utilizada por Sousa Santos 1997 por ser esta a express o mais adequada para expressar o entendimento da fun o social de um a conhecimento libertador conforme argumenta o apresentada neste trabalho Apple 1998 destaca nessa reflex o apenas os neoliberais sem deixar de chamar aten o para o poder dos outros tr s grupos em fun o de que os neoliberais est o actualmente na lideran a desta alian a para reformar a educa o e est o muito preocupados com as rela es entre a escolariza o e as condi es materiais e ideol gicas da vida econ mica p 29 Pedagogia da Conscientiza o 62 5 tornou orientar se por
153. e realidade e em fun o de um horizonte desejado condi o necess ria para que se construa um processo em que se viabilize a cria o do in dito vi vel Pedagogia da Conscientiza o 162 A constru o e reconstru o permanente de um projeto pol tico pedag gico poder cumprir a fun o de desencadear e manter o processo coletivo de discuss o da pr tica pedag gica Sua constru o necessita ser intencionalmente organizada e problematizada no planejamento do curr culo escolar Esse o entendimento de Veiga 1995 ao conceber o projeto pol tico pedag gico corno a organiza o coletiva do trabalho escolar tendo em vista a sua globalidade constituindo se em refer ncia ao trabalho do professor na din mica de organiza o interna da sala de aula O projeto busca um rumo uma dire o uma a o intencional com um sentido expl cito com um compromisso definido coletivamente Por isso todo projeto pedag gico da escola tamb m um projeto pol tico por estar intimamente articulado ao compromisso sociopol tico com os interesses reais e coletivos da popula o majorit ria p 13 no sentido da constru o coletiva desse horizonte desejado que se situa a necessidade de explicita o da utopia a ser perseguida pelo projeto pol tico pedag gico de escola De qualquer modo o certo que a utopia expl cita e compartilhada gera um clima tamb m ut pico capaz de reunir pessoas grupos classes
154. e recursos para as m nimas necessidades do conv vio na escassez de c modos em que os limites dos espa os acabavam por limitar tamb m sua privacidade conjugal do cansa o do corpo e da impossibilidade dos sonhos com um amanh melhor E continuou Agora veja doutor a diferen a O senhor chega em casa cansado A cabe a at que pode doer no trabalho que o senhor faz Pensar escrever ler falar esses tipos de fala que o senhor fez agora Isso tudo cansa tamb m Mas continuou uma coisa chegar em casa mesmo cansado e encontrar as crian as tomadas banho vestidinhas limpas bem comidas sem fome e a outra encontrar os meninos sujos com fome gritando fazendo barulho E a gente tendo que acordar s quatro da manh do outro dia para come ar tudo de novo na dor na tristeza na falta de esperan a Se a gente bate nos filhos e at sai dos limites n o porque a gente n o ame eles n o E porque a dureza da vida n o deixa muito para escolher p 27 Ana L cia Souza de Freitas 91 Sua fala fundada no saber de experi ncia feito expressou a exig ncia que se coloca pr tica pedag gica do educador progressista de compreender a natureza politica da educa o Reconhecer a n o neutralidade do trabalho pedag gico fundamental a fim de que se possa ao tornar como objeto de discuss o a pr pria situa o existencial perceb la criticamente construindo a compreens o da natureza das diferen as sociais
155. e tr s tempos o pretiempo o contratiempo e o destiempo No pretiempo tempo de proposi o de novos paradigmas as id ias s o parcialmente toleradas pois encontram se na forma de ensaios iniciais no contratiempo tais id ias uma vez postas em pr tica avan am contrariando mentalidades dominantes que acabam por encaminhar lhes ao ex lio momento de pausa ordenadora Com o passar dos anos s o levadas ao destiempo per odo em que suas oposi es se suavizam pois deixam de ter um car ter amea ador ao passarem a ser apenas uma refer ncia nost lgica que j perdeu a possibilidade de se concretizar Para Cirigliano a obra de Freire h quebrado ei tiempo del destiempo p 1 uma vez que politicamente comprometida com sua contemporaneidade n o perde a for a de sua palavra E importante tamb m destacar o pr prio posicionamento de Freire sobre os questionamentos em torno da atualidade de sua obra assumido de forma p blica em diferentes momentos Entre outros destaca se sua sauda o Gustavo F J Cirigliano Doutor em Educa o pela Universidade de Buenos Aires e consultor internacional de institui es como a OEA BID e UNESCO desenvolve com profundidade esta reflex o no trabalho publicado sob o t tulo De la palabra consci ncia de la opresi n a la palabra proyecto de la esperanza na Revista La Educaei n O t tulo aqui apresentado n o tem o intuito de reproduzir sua reflex o mas de tom la como ref
156. ecess ria S o Paulo Cortez 1991 Cole o Pol micas do Nosso Tempo RUQUOY Danielle Situa o de entrevista e estrat gia do entrevistador In ALBARELLO Luc et ai Pr ticas e m todos de investiga o em ci ncias sociais Tradu o de Luisa Baptista Lisboa Gradiva 1997 SANTOS Boaventura de Sousa Um discurso sobre as ci ncias 9 ed Portugal Afrontamento 1997 Introdu o a uma ci ncia p s moderna Rio de Janeiro Graal 1989 Pedagogia da Conscientiza o 244 Pela m o de Alice o social e o pol tico na p s modernidade S o Paulo Cortez 1995 Para uma pedagogia do conflito In SILVA Luis Heron da Reestrutura o curricular novos mapas culturais novas perspectivas educacionais Porto Alegre Sulina 1996 p 15 38 SAIJL Ana Maria O diagn stico participativo uma alternativa para repensar a supervis o educacional brasileira In D ANTOLA Arlete Supervis o e curr culo S o Paulo Pioneira 1983 p 25 34 SILVA Luis Heron da org Para uma pedagogia do conflito Porto Alegre Sulina 1996 Escola cidad teoria e pr tica Pegr polis Vozes 1999 SILVA Naura Syria F Corr a da Supervis o educacional uma reflex o cr tica Petr polis Vozes 1981 SILVA JR Celestino Alves da Supervis o da educa o do autoritarismo ing nuo vontade coletiva S o Paulo Loyola 1986 A escola p blica como local de trabalho S o Paulo Cortez Au
157. egra o esp rito cient fico em que se fundamenta a concep o de professor investigador Entretanto considera que esta n o uma capacidade que ocorre espontaneamente mas requer condi es favor veis e necessita de estrat gias fundadas em princ pios de forma o que orientem se no sentido de seu desenvolvimento Para tanto d relevante destaque curiosidade nesse processo ao considerar que para que estas modalidades de forma o tenham um car cter verdadeiramente formativo isto din mico e construtivo elas t m de ser imbu das de tal curiosidade prescrutadora e inquietante30 que se traduz numa atitude de questionamento permanente p 182 Dessa forma tal como Freire elege o ato de perguntar como estrat gia privilegiada de forma o por ser esta uma pr tica que permite ampliar a profissionaliza o docente a partir do desenvolvimento de sua capacidade de interpreta o e reconstru o das experi ncias vividas Isso se torna poss vel 2 Grifo meu 3 Grifo meu Ana L cia Souza de Freitas 113 quanto maior for a intencionalidade formadora no desenvolvimento da curiosidade epistemol gica O exerc cio da curiosidade epistemol gica do educador est ligado assun o da natureza pol tica de sua pr tica pedag gica e constitui se portanto num elemento integrante da concep o de educador progressista Para Freire educador progressista aquele que faz a op o de atuar na perspectiva da democr
158. eire Ana Maria in Freire 1992 p 205 No entanto o desenvolvimento da consci ncia cr tica implica necessariamente a a o transformadora a consci ncia cr tica complementa se no ato critico e criativo do sujeito que assume sua responsabilidade hist rica Por isso a consci ncia cr tica n o apenas predisp e se mudan a mas age de forma aut noma em rela o s situa es limites n o apenas acredita na possibilidade da transforma o mas assume a luta pela constru o do in dito vi vel Esse in dito vi vel pois em ltima inst ncia algo que o sonho ut pico sabe que existe mas que s ser conseguido pela pr xis libertadora j na realidade uma coisa in dita ainda n o claramente conhecida e vivida mas sonhada e quando se torna um percebido destacado pelos que pensam utopicamente esses sabem ent o que o problema n o mais um sonho que ele pode se tornar realidade Freire Ana Maria in Freire 1992 p 206 Logo o in dito vi vel a materializa o historicamente poss vel do sonho almejado E uma proposta pr tica de supera o pelo menos em parte dos aspectos opressores percebidos no processo de conhecimento que toma como ponto de partida a an lise cr tica da realidade Representa a responsabilidade pol tica em anunciar urna possibilidade concreta como 19 A categoria situa es limites expressa os obst culos e situa es a serem vencidas na viv ncia social Freir
159. eixa contribui para o desenvolvimento de uma identidade profissional transformadora e de uma atua o reflexiva comprometida com a cria o de condi es institucionais fomentadoras do trabalho coletivo e criativo bem como com a valoriza o da imagem social do a professor a como educador a Trata se da pr xis criativa na qual medida que o sujeito assume a postura cr tico pr tica compromete se com o que est para nascer engaja se na luta pela concretiza o do porvir e naturalmente levado a tentar adotar algo do ponto de vista correspondente realidade que est contribuindo para criar Konder 1992 p 123 Tal processo necessariamente coletivo ao privilegiar a discuss o enquanto forma coletiva de pensamento Souza Patto 1993 p 351 problematiza a consci ncia ing nua do a professor a acerca de seu pr prio trabalho em suas caracter sticas de particularidade de ultrageneraliza o e de conformismo contribuindo para que se possa coletivamente perceber os condicionantes estruturais da pr tica pedag gica ampliando a compreens o de seu sentido humano gen rico e desafiando as autorias na transforma o das pr ticas pedag gicas ou seja construindo possibilidade de eleva o da consci ncia de sua pr xis profissional Vale reiterar a compreens o sobre a complexidade da cotidianidade em que se constitui a pr tica do educador progressista para considerar que ser tanto mais poss vel a eleva o
160. ela falava at imitando o sotaque nordestino do velho dizia assim Fa o bolo de fub na minha casa boleira de m o cheia Eu posso chegar aqui para o senhor e dizer assim prof Paulo 4 x caras de fub 2 x caras de a car ou 4 quando o marido est em casa porque ele diab tico 1 pitada de sal 1 copo de leo ou de margarina vegetal quando tem na dispensa coco ralado quando n o tem queijo ralado quando n o tem nenhum dos dois vai assim mesmo p e erva doce mexe tudo isso bate bate at ficar bem homogeneizado e leva ao fogo Eu podia encurtar tudo isso e dizer bolo de fub Ent o veja o senhor bolo de fub o conceito De igual modo a partir da mesma situa o percebe no saber de experi ncia feito uma clara compreens o acerca da teoria como orienta o para a a o transformadora EA situa o citada refere se ao relato gravado e transcrito de Adriano Nogueira por ocasi o de trabalho como interlocutor convidado para o encontro de forma o de supervisores escolares e orientadores educacionais organizado pela SMED em Porto Alegre dia 17 de dezembro dc 1997 Ana L cia Souza de Freitas 189 Agora isso que o senhor est querendo dizer que o processo tem dias que eu experimento botar um pouquinho de suco de laranja conforme o que eu tenho na dispensa ent o eu estou fazendo tentativas de tornar a teoria mais adequada realidade daquele momento Ontem mesmo eu pus
161. ela teria reclamado de mim Medina 1995 p 119 Para Medina tal situa o demonstra que o a supervisor a ao n o ter clareza de seu objeto de trabalho busca justificar sua presen a na escola atrav s do cumprimento das mais variadas tarefas considerando estar em auxilio ao professor Dessa forma acaba por assumir um papel de tarefeiro atuando com base no espontane smo realizando a es pontuais isoladas e sem perspectiva de continuidade Partindo dessa reflex o Medina prop e que o objeto de trabalho da supervis o escolar se situe no campo do ensinar e do aprender orientando esse processo o que significa criar um processo de di logo que permita repensar a es num movimento que recria e reinventa p 129 Dessa forma o a supervisor a passa a atuar por interm dio de atividades baseadas na pesquisa do trabalho realizado no dia a dia da escola p 158 identificando assim espa os a serem ocupados na rela o com os professores tendo em vista a possibilidade de transforma o coletiva das pr ticas escolares Considera poss vel que se efetive uma a o repensada da supervis o escolar de modo a caracterizar se como um processo de constru o m tua de conhecimento sendo necess rio para tanto que a organiza o do trabalho na escola tamb m se transforme Essa uma possibilidade que se amplia a partir da gest o democr tica do trabalho pedag gico j que ao assumir a conscientiza o como prin
162. elestino Alves da RANGEL Mary orgs Projeto pol tico pedag gico da escola uma constru o poss vel Campinas Papirus 1995 p 37 52 CANDAU Vera Maria Rumo a uma nova did tica Petr polis Vozes 1988 CASTELLS Manuel org Novas perspectivas cr ticas em educa o Porto Alegre Artes M dicas 1996 Ana L cia Souza de Freitas 235 CASTRO Marta Luz Sisson de Metodologia da pesquisa qualitativa revendo as id ias de Egon Guba Iri ENGERS Maria Emilia Amara org Paradigmas e metodologias da pesquisa em educa o notas para reflex o Porto Alegre EDIPUCRS 1994 p 53 64 CIRIGLIANO Gustavo F J De la palabra conciencia de la opressi n a la palabra proyeto de la esperan a In Revista Interamericana de Desarroilo Educativo Organizaci n de los Estados Americanos a o 39 n 120 1 p 145 1995 Educacionais do RS v 3 n 22 p 43 44 set 1994 CORTELLA Mano Sergio Paulo Freire e a sedu o da esperan a In F rum Paulo Freire 1 Encontro Internacional 28 30 abr 1988 Colet nea de textos s p COSTA Mansa Vorraber A pesquisa a o na sala de aula e o processo de significa o In SILVA Luiz Heron da org A escola cidad no contexto da globaliza o Petr polis Vozes 1998 p 239 256 DAMKE Ilda Righi O processo do conhecimento na pedagogia da liberta o as id ias de Freire Fiori e Dussel Petr polis Vozes 1995 DELIZOICOV Dem trio Conhecimento tens es e transi es
163. em particular em rela o pr xis educativa Ribeiro 1991 p 61 A esse respeito cabe destacar o estudo de Ribeiro 1991 sobre os falsos significados atribu dos categoria pr xis Adverte que se compreendermos a pr xis distingUindo a da pr tica por ser uma atividade humana fundamentada teoricamente corremos o risco de refor ar o incorreto entendimento de que poss vel em termos humanos falar se de separa o Para Freire 1979 a conscientiza o um projeto irrealiz vel para as direitas A direita por natureza incapaz de ser ut pica e n o pode portanto praticar uma forma de a o cultural que conduziria conscientiza o N o se pode dar conscientiza o ao povo sem uma den ncia radical das estruturas desumanizantes que marche junto com a proclama o dc unia nova realidade que pode ser criada pelos homens p 90 No contexto atual as direitas referidas por Freire podem ser compreendidas conforme os quatro elementos considerados por Apple 1998 como integrantes de uma alian a pela moderniza o conservadora os neoliberais os neo conservadores os populistas autorit rios e um sector particular da nova classe m dia ascendente p 29 Maria Luisa Santos Ribeiro em Educa o escolar e pr xis publica reflex es em torno da obra Filosofia da PrLvis de Adolfo S nchez V zquez tomada como objeto de estudo com os alunos que cursavam com ela uma disciplina obrigat ria em Pr
164. em fun o dos contextos em que as pr ticas ocorrem A constru o da teoria did tica a partir da pr tica demanda a cria o de uma rigorosidade met dica que consolide o exerc cio permanente e coletivo da disciplina intelectual mobilizadora da sistematiza o coletiva da reflex o contribuindo para a eleva o da consci ncia da pr xis e consequentemente para o compromisso com a transforma o das pr ticas pedag gicas A media o desse processo exige a cria o de instrumentos metodol gicos que o qualifiquem e requer uma atua o profissional que organize a intencionalidade coletiva para sua operacionaliza o dentro dos limites e possibilidades de cada grupo de trabalho Esse entendimento acerca do objeto de trabalho da supervis o escolar requer o redimensionamento de sua a o a fim de que se problematize no cotidiano escolar as rela es entre contexto te rico e contexto concreto na pers pectiva da viv ncia da pr xis educativa libertadora Esse um movimento complexo e exige a cria o de a es de forma o in ditamente vi veis Vale destacar a import ncia de estudar a pr tica o que implica ler escrever refletir e registrar permanentemente essa reflex o como um aspecto essencial a ser considerado na rela o supervisor professor sendo Ana L cia Souza de Freitas 207 este um elemento fundamental na proposi o de um obrigat rio ressignificado no sentido proposto por Snyders 1993 Paradoxa
165. endes da Silva e Paulo Roberto Psiebiger da coordena o dos NAls pelo apoio que viabilizou o di logo com a realidade aos professores e professoras entrevistados Jos Cl vis de Azevedo Paulo Renato Soares Margane Foichini Ana L cia do Carmo Falcetta Ana Maria Giovanoni Fornos Ponimar dei Pino Neusa Teresinha Herbert D ris Helena de Souza Susana Fernandes Cl udia Luana da Cunha On frio Maria Isabel E Petersen Ana L cia Brum Ginar Teiles cuja disponibilidade em compartilhar seu saber de experi ncia feito foi fundamental para vislumbrar viv ncias de possibilidade aos demais colegas com quem compartilhei o trabalho de assessoria pedag gica da SMED no per odo de 1993 a 2000 bem como s professoras e professores da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre que lutam para construir a realidade de muitos sonhos poss veis ao prof Alexandre Silva Virg nio secret rio municipal de educa o de Alvorada bem como aos demais companheiros e companheiras de sua equipe e das escolas cuja partilha da reflex o contribuiu no processo de sistematiza o deste trabalho ao Ir Adriano Jos Hertzog Vieira e demais companheiras 0s integrantes do Projeto Sonho Poss vel cuja partilha desafia a compreens o da inteireza de ser educador a s amigas que partilharam as id ias e o processo de diferentes formas s minhas ex alunas e alunos aos colegas e professores as com quem compartilhei o estudo no curso de mestrado cuja
166. ente de professores em se tratando de sua gest o democr tica Para Freire sendo o educador sujeito de sua pr pria pr tica cabe a ele cri la e recri la o que exige a a o de sujeitos cr ticos e criativos capazes de superar interpreta es deterministas da realidade e assumirem se enquanto autores do in dito vi vel O desafio da reinven o da escola a partir de in ditosvi veis que rompam a institucionalidade das pr ticas excludentes e operacionalizem sua democratiza o exige a eleva o do n vel de consci ncia da pr xis educativa na dire o de urna consci ncia cr tico democr tica A consci ncia da pr xis educativa libertadora fundada na esperan a articula as dimens es da identidade do educador progressista em fun o do trabalho coletivo comprometido com o desenvolvimento da consci ncia democr tica do conhecimento libertador e da sensibilidade emancipat ria A amplia o dessa consci ncia condi o para sustentar a permanente cria o e recria o da pr xis educativa libertadora Construir essa possibilidade tarefa da reflex o cr tica dos educadores em processo de trans forrna o permanente j que urna aut ntica consci ncia da pr xis s pode ser conseguida num processo de trabalho coletivo Ribeiro 1991 p 10 E nesse sentido que o estudo das pr ticas escolares bem como seus resultados produzidos na rela o com os educandos estabelecendo sua discuss o a partir da an lise d
167. ento das obras anteriores Todavia em suas dedicat rias encontra se uma peculiaridade comum s demais obras da d cada de 90 demarcando sua reflex o em torno da relev ncia da subjetividade no processo de constru o do conhecimento Trata se da forma expl cita como se refere contribui o de sua esposa Ana Maria Ara jo Freire historiadora respons vel pela pesquisa e elabora o das notas explicativas que complementam suas obras nesse per odo A Nita faz suas pr prias obras Em especial destaca se a nota da p gina 32 por ser essa urna nota que explicita o entendimento de Freire acerca da concep o de professor pesquisador Essa a nica obra de Freire que tem esse formato de publica o sendo esta uma caracter stica importante por possibilitar um convite para inicia o ao estudo de sua obra O tamanho em si n o restringe a densidade de seu conte do cuja escrita rompendo com qualquer tipo de linearidade desafia multiplicidade de leituras tem ticas Incluem se tamb m nessa obra as seguintes dedicat rias A Fernando Gasparian a cujo gosto de rebeldia e a cuja disponibilidade luta pela liberdade e pela democracia muito devemos Paulo Freire Jo o Francisco de Souza intelectual cujo respeito ao saber de senso comum jamais o fez um basista e cujo acatamento rigorosidade cient fica jamais o tornou um elitista e a In s de Souza sua companheira e amiga com admira o de Paulo Freire A Eliete Sa
168. envolve o processo identit rio do a professor a tomam se compreens veis as manifesta es de insatisfa o com o trabalho docente cornumente expressas atrav s da queixa A esse respeito as pesquisas realizadas por Fernandez 1992 com grupos de professores revelam ser a queixa um n vel de comunica o habitualmente utilizado relacionando se com dois aspectos principais com um sentimento de frustra o e com um sentimento de impot ncia p 53 Em seu trabalho ao analisar a queixa das professoras toma como refer ncia a similitude entre o trabalho dom stico e o trabalho docente feita pela ideologia tradicional Fernandez 1994 p 109 para considerar o fato de que ambos se colocam na perspectiva da manuten o No trabalho dom stico coloca se em jogo n o a produ o mas a conserva o Femandez 1992 p 55 uma vez que consiste em conservar os m veis e objetos limpos a fim de mant los iguais tal como novos Pedagogia da Conscientiza o 180 O trabalho dom stico tamb m concebido como inerente s mulheres que seriam naturalmente destinadas aos cuidados das crian as entre os quais se inclui a tarefa de educar Tal entendimento ao retirar do trabalho docente seu valor produtivo consolida uma imagem que depreciativa n o s da atividade educativa mas tamb m da professora enquanto profissional Esse tamb m o posicionamento de Freire 1993 b ao recusar a identifica o da professora com a
169. ep o libertadora da educa o que concebe a participa o e o trabalho coletivo como condi es imprescind veis constru o do comprometimento de todos com o processo de transforma o da cotidianidade escolar em fun o de um projeto pol tico pedag gico emancipat rio O entendimento da participa o como princ pio educativo justifica se atrav s de considera es em tr s dimens es a di nens o pol tica que concebe a necessidade da participa o ao assumir como obviedade a inexist ncia de neutralidade no ato pedag gico a dimens o epistemol gica que concebe a participa o como elemento essencial para que se viabilze um processo em que influenciam se mutuamente tanto o conhecimento te rico quanto o saber de experi ncia feito e a dimens o est tica que ao compreender a complexidade estabelecida entre a identidade pessoal profissional do a professor a e sua pr tica pedag gica concebe sua participa o bem como sua forma o permanente como condi es necess rias para que possa assumir se enquanto sujeito da pr xis educativa libertadora Compreendida em fun o da rela o de circularidade que estabelece com a conscientiza o enquanto princ pio metodol gico e finalidade da pr tica educativo cr tica a gest o democr tica do trabalho pedag gico implicar urna forma o permanente que se funde sobretudo na reflex o sobre a pr tica Ana L cia Souza de Freitas 187 Freire 1991a p 2
170. er dimens o epistemol gica e transformar dimens o politica n o s o dualidades mas aspectos distintos da mesma unidade a pr xis hist rica do ser humano Damke 1995 p 92 E no processo de conscientiza o em que o di logo condi o para o conhecimento Damke 1995 p 76 e a partir do qual os sujeitos cognoscentes desafiam se mutuamente criticidade exigindo que a mente opere epistemologicamente que promove se a constru o do conhecimento libertador um conhecimento coletivo articulando o saber popular e o saber cr tico cient fico mediados pelas experi ncias no mundo Freire 1991a p 83 Tal concep o revela o sentido social que Freire atribui ao ato de conhecer e expressa a supera o de outra caracter stica marcante da ci ncia da modernidade a clicotomia entre sujeito objeto Essa caracter stica tamb m evidenciada por Damke 1995 ao expressar seu entendimento acerca da rela o cognoscente que fundamenta a teoria freireana afirmando que a situa o gnosiol gica de acordo com essa teoria n o uma rela o eu objeto mas sup e uma situa o dial gica entre sujeitos cognoscentes sendo o objeto do conhecimento o mediador dessa rela o p 76 Da mesma forma compreendendo o sentido social do qual a concep o freireana de conhecimento encontra se impregnada ndreola 1993 considera que o tra balho de Freire direciona se no sentido de um esfor o imenso de constr
171. er ncia para a compreens o de sua import ncia na forma o de professores Pedagogia da Conscientiza o 30 aos participantes do congresso sobre Comunica o e Desenvolvimento na Era P s Moderna uma Reavalia o do Legado Freireano ocorrido na Mal sia em 1998 Entendo por outro lado que assim como houve progressistas e retr grados na antiguidade na modernidade tamb m os h na p s modernidade H urna forma reacion ria de ser p s moderno como h uma forma progressista de s lo A p s modernidade n o est isenta dos conflitos por conseguinte das op es das rupturas das decis es Para mim a pr tica educativa progressistamente p s moderna nela que sempre me inscrevi desde que vim tona timidamente nos anos 50 a que se funda no respeito democr tico ao educando como um dos sujeitos do processo a que tem no ato de ensi nar aprender momento curioso e criador 1 Freire apud Corteila 1998 p 8 Esse o modo com que ele constr i a perman ncia da for a te rica de sua contemporaneidade pensando se nela e sobre ela redimensionando suas concep es anteriores luz da reflex o atual Sempre aberto s mudan as destaca se a preocupa o em explicitar a forma como reconstr i seus conceitos Freire rompe com o tempo do destiempo a partir da auto reflexividade constante e cr tica Nesse intuito de rever a compreens o em torno dos pr prios conceitos retoma amplia e atual
172. er sticas da l gica escolar excludente s o incompat veis com a viv ncia da alegria na escola Da mesma forma Snyders 1988 considera que uma pedagogia progressista tem como tarefa primordial lutar contra os fracassos escolares maci os das crian as exploradas p 108 a fim de que a escola seja para todos as um lugar de satisfa o cultural da qual decorrem as alegrias Ana L cia Souza de Freitas 125 especifica mente escolares as quais s podem existir se houver uma ou ti a cultura diferente daquela que se dedica s vidas perdidas ao culto do insucesso e que vai entravar as esperan as e as possibilidades p 77 Freire reitera a import ncia do desenvolvimento de uma cultura democr tica no espa o escolar como condi o para o sucesso na aprendizagem considerando necess ria uma radical mudan a da escola atrav s da participa o popular Prop e que a escola seja reinventada de modo que se transformem n o apenas os conte dos escolares j que por mais fundamentais que sejam os conte dos a sua import ncia efetiva n o reside neles mas na maneira como s o apreendidos pelos educandos e incorporados sua pr tica 1993a p 80 Por isso viver plenamente a alegria na escola implica transform la globalmente sua estrutura curricular sua organiza o de ensino as rela es escola comunidade e professor aluno j que imposs vel trabalhar conte dos sem saber o que pensam os alunos no seu conte
173. ermitir lhes o exerc cio de um poder real ainda que limitado 1991 p 41 Ana L cia Souza de Freitas 81 pl slicas Quais as implica es disso para o meio ambiente e para a sa de a m dio e longo prazo Quando esses resultados da a o reguladora do mercado aparecerem os danos j ser o irrev s veis Moraes 1998 p 4 No campo educacional decorre deste posicionamento a substitui o da educa o corno um direito por urna concep o de educa o como uma mercadoria a mais um bem que pode ser comprado vendido ou consumido no mercado educacional Azevedo 1995 p 31 Assim a escola n o permanece imune l gica da efici ncia e da competi o desenvolvida nesse contexto neoliberal j que o sistema educacional passa a funcionar tal como o mercado Segundo Gentili 1996 se o sistema escolar tem que se configurar corno mercado educacional as escolas devem definir estrat gias competitivas para atuar em tais mercados 1 7 p 31 O mercado passa a ser ent o o definidor das pol ticas educacionais influenciando os objetivos e a organiza o do trabalho escolar Em nome da efici ncia a educa o ao ser concebida como mercadoria de consumo tamb m entendida como propriedade individual justificando assim o fato de a competi o caracterizar a l gica interna das institui es educacionais Gentili 1996 p 32 A escola tendo como objetivo atender tais necessidades individuais
174. es maneiras de agir jogam se decis es do foro profissional e do foro pessoal 1 certas experi ncias marcam a nossa postura pedag gica fazendo nos sentir bem ou mal com esta ou com aquela maneira de trabalhar na sala de aula A de Autoconsci ncia porque em ltima an lise tudo se decide no processo de reflex o que o professor leva a cabo sobre a pr pria ac o A mudan a e a inova o pedag gica est o intimamente dependentes desse pensamento reflexivo p 34 A contribui o de N voa corrobora a perspectiva freireana de forma o por destacar a import ncia da autoconsci ncia do a professor a sobre sua identidade pessoal e profissional considerando que a maneira como cada um de n s ensina directamente depende da imagem que temos da profiss o est em rela o direta com aquilo que somos como pessoa quando exercemos o ensino p 36 Em outras palavras significa dizer que n o h neutralidade na a o educativa e que essa rela o se estabelece numa articula o estreita com 10 Grif do autor Ana L cia Souza de Freitas 165 a hist ria pessoal profissional vivida pelo a professor a Nesse sentido outra contribui o importante diretamente relacionada complexidade que envolve a constitui o da identidade profissional o estudo desenvolvido por Huberman 1992 sobre o cicio de vida profissional dos professores em que identifica uma sequ ncia de fases percept veis da carreira do pr
175. escente capacidade criadora 1993b p 8 Esse processo envolve entre outros aspectos o conheci mento de como os as alunos as est o aprendendo e exige al m de uma postura de est mulo participa o dos as mesmos as no sentido da cr tica ao trabalho que est sendo desenvolvido em sala de aula uma postura s ria e bastante disciplinada do professor no sentido de levar realmente em conta o conjunto dos aspectos avaliados para redimensionar 45 Grifo meu Pedagogia da Conscientiza o 134 permanentemente seu trabalho Para tanto h que se considerar a potencialidade da reflex o que ocorre em diversos n veis A reflex o na a o ocorre quando o professor reflecte no decorrer da pr pria ac o e vai reformulando ajustando a assim a situa es novas que v o surgindo A reflex o sobre a a o acontece quando o professor reconstr i mentalmente a ac o para analisar retrospectivamente O olhar a posteriori sobre o momento da ac o ajuda o professor a perceber melhor o que aconteceu durante a ac o e como resolveu os imprevistos ocorridos O professor toma consci ncia do que aconteceu por vezes atrav s de uma descri o verbal A reflex o sobre a reflex o na a o um processo que fomenta a evolu o e o desenvolvimento profissional do professor levando o a construir a sua pr pria forma de conhecer Este tipo de reflex o que podemos definir como meta reflex o leva o professor a desenvolver novos racioc ni
176. escola p blica As obras da d cada de 90 atualizam conceitos e sistematizam importantes refer ncias para a constru o de projetos pol tico pedag gicos emancipat rios que possam ser contraponto e alternativa poss vel s pr ticas individualistas e excludentes no mbito escolar Em especial no conjunto das obras da d cada de 90 destaca se a reflex o em torno da necessidade de uma forma o permanente conscientizadora capaz de desafiar a consolida o de pr ticas de car ter progressista que se oponham ao contexto neoliberal A intensa produ o intelectual desse per odo consolida Freire como refer ncia fundamental para a reconstru o da pedagogia hoje tendo em vista a forma o inicial e permanente de educadores progressistas multiplicadores da esperan a da curiosidade e da alegria geradas no ato cr tico de conhecer enquanto forma de luta e resist ncia ao contexto neoliberal Mais importante do que polemizar de modo inconsequente a p s modernidade freireana na atribui o de r tulos como freireanos p s freireanos ou at antifreireanos fundamental que se assuma uma atitude freireanamente humilde para que se possa aprender com Freire a consolida o de pr ticas coletivas solidariamente comprometidas com a conscientiza o como um caminho para a reinven o da escola na perspectiva de sua democratiza o Freire se faz importante hoje fundamentalmente porque desacomoda e faz pensar desatiando nos a recu
177. espendidos p 109 Faz se necess rio portanto que a escola mantendo o princ pio da obriga o 1988 p 213 questione se sobre as obriga es que imp e justificando as e reconstruindo as em fun o do contexto pois temos que nos perguntar se todas as obriga es habituais s o realmente indispens veis no fundo por quem desde quando em que contexto e quem talvez se modificou se elas foram estabelecidas e no modo de interpret las n o as sobrecarregamos de ang stia Tudo o que prescrevemos realmente exig vel no mesmo n vel e em cjualquer idade Fazer fila pareceu durante muito tempo indispens vel e o que isto significa hoje A imobilidade em classe prolongando se nas permiss es para pedir ordem para qualquer movimento uma lei imut vel op cit Assim na luta pela alegria na escola tema central de sua obra Snyders argumenta que a escola deveria repensar colocar em prova a no o geral da obriga o e a multiplicidade de suas aplica es particulares ibdem compreendendo a n o como causa primeira Ou seja a escola deveria colocar a satis fa o cultural escolar no primeiro plano de suas preocupa es a fim de oferecer ao aluno outras possibilidades de alegria pois ainda que o universo das rela es interpessoais que se estabelecem na escola tenha uma incid ncia essencial sobre a viv ncia das alegrias e n o alegrias n o podemos reduzir a alegria na escola alegria das rela
178. esse espa o de cria o abre possibilidades para que se consolidem propostas transformadoras e ineditamente vi veis visto que quando se transformam em a o organizada as id ias alteram decisivarnente qualquer marcha supostamente inelut vel da hist ria ou o fim de qualquer hist ria Moraes 1998 p 5 Pedagogia da Conscientiza o 98 Enfim o desenvolvimento da capacidade de sonhar coletivamente em que se realize a den ncia da realidade existente e o an ncio de sua possibilidade de transforma o poder ser um caminho para que se proponham in ditos vi veis transformadores capazes de progressiva e sucessivamente contribu rem para a mudan a da face excludente da escola Esse entendimento justifica a advert ncia de Freire aos educadores e educadoras comprometidos com uma educa o libertadora ai daqueles e daquelas entre n s que pararem com a sua capacidade de sonhar de inventar a sua coragem de denunciar e anunciar Freire in Brand o 1983 p 101 Esse portanto um desafio que se coloca cotidianamente a todos as que lutam pela reinven o da escola na perspectiva de sua democratiza o 2 2 A curiosidade como desafio dimens o epistemol gica As pr ticas educativas fundadas na concep o probiematizadora e libertadora da educa o orientam se por uma dimens o epistemol gica cuja perspectiva sociointeracionista tem como pressuposto que educador e educando s o sujeitos no p
179. esvios idealistas na necessidade da conscientiza o Freire 1996 p 60 A relev ncia da argumenta o de Freire sobre essa necessidade est em seu testemunho de viv ncia da possibilidade de fazer da pr tica profissional do professor em sua forma o permanente um processo educativo conscientizador de modo a ratificar a natureza politica e fun o social da educa o frente ao paradigma da p s modernidade A educa o libertadora compreendida como um ato de interven o no mundo Freire 1996 p 122 est ligada possibilidade de tornarmos consci ncia de nossas op es ou educamos para a manuten o ou para a transforma o dos valores dominantes questionando os numa perspectiva 1 No Cap 3 a respeito da forma o ser analisada a origem do termo bem como o processo de conscientiza o em si Pedagogia da Conscientiza o 68 cr tica de compreens o da realidade bem como de sua possibilidade de ser transformada Esse continua sendo o sentido da educa o para Freire 1979a A realidade n o pode ser modificada sen o quando o homem descobre que modific vel e que ele pode faz lo E preciso portanto fazer desta conscientiza o o primeiro objetivo de toda a educa o antes de tudo provocar uma atitude cr tica de reflex o que comprometa a a o p 40 A conscientLza o enquanto processo permanente de constru o da criticidade para al m de sua dimens o pol tica impli
180. ex o ao contr rio do momento da pr tica que exige intui o e tomada de decis o imediata Refletir teoricamente exige que se assuma a igorosidade met dica necess ria para melhor compreender a raz o de ser das pr ticas desenvolvidas tendo em vista sua transforma o a partir de op es te ricas conscientes Ao analisar explicar e buscar a fundamenta o te rica coerente op o pol tica de sua pr tica pedag gica os professores constroem aprendizagens significativas acerca de sua pr pria fun o abandonando a postura de mero transmissores de conte dos para assumirem uma pr tica dial gica que faz do processo de conhecer um ato rec proco no qual n o apenas ensinam mas tamb m aprendem Nesse processo o desenvolvimento da curiosidade epistemol gica sem a qual deteriora se a pr tica educativa progressista Freire 1995 p 79 representa uma concretiza o da possibilidade de viver a dialeticidade da rela o teoria pr tica urna vez que a busca da reflex o te rica sobre a pr tica exige que a curiosidade sobre ela se fa a epistemol gica Esta curiosidade ser um elemento fundamental para que o professor se aproprie da teoria explicitando a e recriando a para ampliar suas possibilidades de compreender cr ticamente os aspectos limitadores de seu trabalho Dessa forma ampliam se tamb m as possibilidades de sua inser o enquanto sujeito no processo de Ana L cia Souza de Freitas 119 transforma o d
181. ferente em cada n vel de consci ncia Na consci ncia ing nua h uma busca de compromisso na cr tica h um compromisso e na fan tica uma entrega irracional Freire 1979b p 16 Portanto o comprometimento n o um ato passivo mas implica o conhecimento cr tico da realidade pois requer n o apenas a consci ncia dessa realidade mas tamb m a consci ncia da capacidade do pr prio sujeito em transform la Contudo esse um processo que n o pode ser compreendido de modo linear A promo o da ingenuidade criticidade implica uma perspectiva de globalidade que inclui simultaneamente as perspectivas de totalidade da realidade hist rico cultural na qual os homens e as mulheres est o inseridos no que diz respeito s rela es de domina o e depend ncia de determinado contexto social bem como a perspectiva de complexidade decorrente da concep o de ci ncia que orienta o paradigma dominante em cada momento hist rico da humanidade A compreens o dessa globalidade condicionada e n o determinada pressup e um entendimento orientado pela concep o de dial tica da sobredetermina o em que se funda a rela o entre infra estrutura e superestrutura de tal modo que verdade que a infra estrutura criada nas rela es pelas quais o trabalho do homem transforma o mundo d origem superestrutura Mas tamb m verdade que esta mediatizada pelos homens que assimilam seus mitos volta se para a infra estr
182. finalidades sociopoliticas da educa o Segundo ele esta pedagogia progressista manifesta se a partir de tr s tend ncias a libertadora mais conhecida como pedagogia de Paulo Freire a libert ria que re ne os defensores da autogest o pedag gica a cr tico social dos conte dos que diferentemente das anteriores acentua a primazia dos conte dos no seu confronto com as realidades sociais p 32 A teoria pedag gica da educa o libertadora consolidou se enquanto importante tend ncia da pedagogia progressista ao fundamentar pr ticas educativas transformadoras em oposi o s pr ticas fundadas na pedagogia liberal em suas diferentes tend ncias denominadas por Freire de concep o banc ria da educa o Entretanto para que se atualize o entendimento acerca da concep o libertadora da educa o faz se necess ria uma an lise mais ampliada das conseq ncias educacionais decorrentes do contexto neoliberai Para Saviani in Nogueira et ai 1997 a grande quest o seria se o 10 Grifos do autor 11 b neo em nota de rodap justifica o uso do termo progressista tomado de empr stimo de Georges Snyders Esta uma observa o interessante que ratifica a aproxima o estabelecida neste trabalho entre Freire e Snyders I ogo embora lib neo argumente a favor da tend ncia cr tico social dos conte dos a categoriza o elaborada por ele aqui referida porque contribui para situar Paulo Freire no c
183. flex o da pr tica pode transformar se num exerc cio de codifica o e descodifica o do pensamento do a professor a viabilizando a tomada de consci ncia da teoria impl cita na sua a o para criticizando a mobilizar o comprometimento com sua trans forma o permanente Especialmente merecem ser repensadas entre as rela es de obrigatoriedade estabelecidas pelo a supervisor a com o a professor a as tradicionais cobran as de entrega de planos relat rios gr ficos percentuais entre outros visto que tais formas de registro t m servido mais para inibir do que para estimular a reflex o Partindo de suas necessidades os as pr prios as professores as poder o criar novas formas de registro que venham a auxili los as nesse complexo exerc cio de estudar a pr pria pr tica em fun o de uma atua o cr tica na realidade em que se inserem E nesse processo que o trabalho da supervis o implicar necessariamente uma viv ncia de conscientiza o pois requer n o apenas a tomada de consci ncia mas tamb m a assun o de um novo modo de agir frente realidade onde a cr tica e a autocr tica tornem se elementos constitutivos do processo de constru o do conhecimento Logo n o h conscientizadores e conscientizados visto que ao contribuir para a conscientiza o do grupo tamb m o a supervisor a conscientiza se nesse processo Contudo o a supervisor a poder exercer a partir da articula o do coletivo forte inf
184. flex o e permanente reconstru o de sua pr tica profissional tendo em vista a supera o da nfase administrativo burocr tica ou t cnico pragm tica para constituir se como articulador necess rio gest o democr tica do trabalho pedag gico Dessa forma inversamente concep o tradicional que prop s ao supervisor a as tarefas de pensar planejar e avaliar a qualidade da execu o de pr ticas padronizadas e previamente definidas reduzindo o professor a objeto de seu controle o supervisor educador assume o compromisso de desafiar a reflex o dos professores ao problematizar sua pr tica profissional em forma o permanente Por conseguinte assume como fun o espec fica da identidade profissional comprometida com a democratiza o da escola a socializa o do saber docente na medida em que a ela cabe estimular a troca de experi ncias entre os professores a discuss o e a sistematiza o da pr tica pedag gica Garcia 1986 p 19 Nesse processo constr i sua participa o como profissional que assim como cada professor em sua rea de forma o tem uma contribui o espec fica e importante a ser compartilhada para que as pr ticas pedag gicas desenvolvidas possam ser compreendidas e reconstruidas em fun o das perspectivas de globalidade totalidade e complexidade que envolvem as a es coletivas comprometidas com a constitui o de um projeto pol tico pedag gico de uma escola de qualidade democr tic
185. gia da Esperan a constitui se num campo de possibilidades para o desenvolvimento cr tico e criativo de urna pr tica pol tico pedag gica s ria e competente que responda nova fisionomia da escola que se busca construir Freire 1991a p 80 uma escola reinventada de modo ineditarnente vi vel tendo em vista sua Ana L cia Souza de Freitas 159 democratiza o Trata se portanto de assumir o desafio de desenvolver a pr xis educativa libertadora entendendo a como aquela que ao sensocomunizar se numa perspectiva progressista constr i uma compet ncia t cnico pedag gica decorrente do trabalho coletivo voltado para o desenvolvimento da consci ncia democr tica do conhecimento libertador e da sensibilidade ernancipat ria No entanto esse entendimento que diz respeito globalidade da perspectiva metodol gica da forma o de professores necessita articular se a uma perspectiva de totalidade que a concebe como uma pr tica social instituinte da identidade do educador progressista da mesma forma que a concretiza o de propostas formadoras orientadas pelo processo de conscientiza o dependem de educadores progressistas que assumam tal responsabilidade Sendo assim para que se constituam rela es de compromisso com esse processo torna se necess rio que a forma o permanente seja constru da de modo coletivo em que se vivencie nela e a partir dela um elevado grau de consci ncia sobre a pr xis humana total e
186. go sobre o ato de ensinar e aprender poder assumir um car ter desafiador provocador desta curiosidade epistemol gica que impele o educador progressista na busca de ser sujeito da produ o de um conhecimento que o axilie a melhor lidar com sua tarefa educativa um conhecimento libertador O conceito de curiosidade epistemol gica pois uma contribui o fundamental da educa o libertadora teorizada por Freire constitui o de uma Pedagogia da Conscientiza o 112 teoria pedag gica que sustenta a profissionaliza o docente j que a curiosidade tem sido destacada na reflex o de diversos educadores como um elemento essencial forma o permanente de professores condi o necess ria sua profissionaliza o Segundo Perrenoud 1993 a profissionaliza o aumenta quando na profiss o a implementa o de regras preestabelecidas cede lugar a estrat gias orientadas por objetivos e por uma tica p 137 sendo a curiosidade um elemento decorrente dessa postura profissional reflexiva Enquanto a maioria dos professores procura a estabilidade a rotina a solid o talvez porque t m medo da mudan a a profissionaliza o deveria transmitir bastante confian a polival ncia curiosidade e mobilidade geogr fica social intelectual afectiva estimulando a adapta o a ambiente distintos Q 151 Para Alarc o 1996 o pensamento reflexivo refere se a uma postura de constante questionamento que int
187. gor que ao objeticvar os fen menos os objetualiza e os degrada que ao caracterizar os fen menos os caricaturiza E em suma e finalmente uma forma de rigor que ao afirmar a personalidade do cientista destr i a personalidade da natureza Sousa Santos 1997 p 32 Ao contr rio dessa concep o de conhecimento rigorosamente cient fico que reprime a pergunta o conhecimento cr tico gerado a partir de um rigor criativo 1 1 aquele pelo qual voc faz mais do que observar voc tenta interpretar a realidade Assim quanto mais me aproximo criticamente do objeto de minha observa o mais consigo perceber que este objeto n o porque ele est se tornando Ent o come o a notar cada vez mais na minha observa o que o objeto n o algo em si mesmo mas est dialeticamente se relacionando com outros que constituem uma totalidade Freire 1986 p 104 O exerc cio desse rigor criativo implica uma s rie de atitudes cognitivas a serem desenvolvidas pelo educador progressista em sua forma o permanente entre elas a de trabalhar de forma met dica e rigorosa com o registro enquanto um instrumento indispens vel ao ato cr tico de estudar O ato de registrar a pr tica e a reflex o da pr tica elemento fundamental para a Ana L cia Souza de Freitas 111 constitui o da rigorosidade dos procedimentos de aproxima o do objeto cognosc vel uma vez que ao viabilizar a tomada de dist ncia da percep o
188. hado registrava a id ia As vezes era uma pura frase A noite em casa depois do jantar trabalhava a ou as id ias que havia registrado escrevendo duas tr s ou mais p ginas Em seguida dava o t tulo para a ficha e o n mero em ordem crescente Freire 1992 p 58 Partindo da reflex o sobre seu pr prio processo Freire preocupa se com a cria o e o desenvolvimento de atitudes cognitivas que contribuam para que o professor possa assumir criticamente esse movimento din mico entre pensamento linguagem e realidade do qual se bem assumido resulta urna crescente capacidade criadora 1993b p 8 Nesse sentido considera a pr tica de registrar enquanto um elemento indispens vel ao ato cr tico de estudar pois o registro dos fatos e de sua reflex o desafia o pensamento 2 Freire revela seu processo de escrita tomando como refer ncia o que C Wright Miils no ap ndice de sua obra Tite sociological frnagination 1957 chamou de artesanato intelectual Na obra A o cultural para a liberdade e ou tros escritos 1982 Freire introduz sua reflex o com sob o t tulo Considera es em orno do ato de estudar na qual analisa o uso do registro no processo de reflex o sugerindo explicitamente a importante contribui o do autor em seu processo de escrita Registros que passam a constituir o que Vright Mii is chama de fichas de id ias p 12 3 A esse respeito ver C onsidera es em torno do ato de estuda
189. ho Poss vel deu origem realiza o de um in dito vi vel a Escola Popular Lassalista por Ciclos de Forma o situada em Sapucaia do Sul e na continuidade contribuiu para a cria o do NUPEP N cleo de Pesquisa e Extens o em Educa o Popular do Centro Universit rio La Salie em Canoas A esse respeito ver Sonho Poss vel Revista de Educa o Popular Centro Universit rio La Saile NUPEP v 1 n 1 abr 2000 Canoas CEULS 2000 Pedagogia da Conscientiza o 16 ser este um per odo em que a reflex o de Freire tem a peculiaridade de tematizar a pr tica da concep o problematizadora e libertadora da educa o no espa o formal da escola p blica Escritas a partir de sua experi ncia como secret rio municipal de educa o da cidade de S o Paulo enfatizam a forma o permanente como uma necessidade pr tica profissional do professor bem como reinven o da escola na perspectiva de sua qualidade democr tica E o que se trata no primeiro cap tulo O segundo cap tulo organiza se a partir da compreens o de que a educa o simultaneamente uma determinada teoria do conhecimento posta em pr tica um ato pol tico e um ato est tico Freire 1986 p 146 e que a constitui o da pr xis educativa libertadora em que se vivenciam simultaneamente estas tr s dimens es do ato pedag gico constr i se no processo de conscientiza o A possibilidade de desenvolvimento de uma consci ncia profissional comp
190. ica em fun o do contexto sociocultural em que esta se insere Dito de outro modo a forma o permanente de professores que se comprometa com a constru o da identidade do educador progressista dever desenvolver atitudes de forma o no intuito de problematizar a 20 A produ o do fracasso escolar obra que ser uma refer ncia ara as reflex es deste cap tulo trata de trabalho realizado numa escola da rede de ensino municipal de S o Paulo na d cada de 80 e teve sua primeira impress o no ano de 1990 Pedagogia da Conscientiza o 174 cotidianidade escolar atrav s de um processo intencional e sistem tico de reflex o em que se desenvolva o ato cr tico e coletivo de estudo E importante considerar na complexidade desse processo a an lise de Sousa Santos 1989 acerca da rela o que se estabelece entre a cotidianidade e o senso comum tendo em vista as determina es estruturais da sociedade Vivemos pois em quatro quotidianidades a dom stica a do trabalho a da cidadania e a da mundialidade Todos n s somos configura es humanas em que se articulam e interpenetram os nossos quatro seres pr ticos o ser de familia o ser de classe o ser de indiv duo o ser de na o E o sentido de nossa presen a no mundo e portanto da nossa a o em sociedade de fato uma configura o de sentidos Ainda que se possa falar em n vel muito abstrato de um senso comum como de resto tenho feito em realidade nossa
191. icas complementares das quais decorrem tr s compreens es Pedagogia da Conscientiza o 222 conceituais necess rias cria o de contextos de forma o geradores de pr ticas ineditamentevi veis A primeira afirma o diz respeito perspectiva de globalidade a ser assumida em sua dimens o pol tica a segunda afirma o perspectiva de totalidade a ser assumida em sua dimens o epistemol gica e a terceira afirma o perspectiva de complexidade a ser assumida em sua dimens o est tica Tais afirma es organicamente relacionadas sintetizam a compreens o de que a conscientiza o enquanto finalidade e princ pio metodol gico da pr xis educativa libertadora um desafio a ser assumido para que se desenvolvam processos de trans forma o permanente em que a partir do trabalho coletivo se recupere a capacidade de sonhar se vivencie a curiosidade epistemol gica e se compartilhe a alegria da cria o do in dito vi vel Nesse movimento busca se estabelecer uma nova rela o com o conhecimento em que ci ncia e senso comum transformem se mutuamente mediante o compromisso com a compreens o da complexidade da vida cotidiana tendo em vista a supera o de sua l gica social excludente Primeira afirma o A pr modernidade fundou se no senso comum despreocupando se com o desenvolvimento do conhecimento cient fico a ci ncia moderna desenvolveu o conhecimento cient fico em oposi o ao senso comum a ci
192. idade produz num primeiro momento urna consci ncia transitivo ing nua e num segundo momento uma consci ncia transitivo cr tica A consci ncia ing nua tem um car ter est tico e n o din mico simplesmente opinativa ficando ao n vel do senso comum A consci ncia ing nua tamb m pode se manifestar na forma de fanatismo pr pria do homem massificado Segundo Freire podem ser consideradas caracter sticas da consci ncia ing nua conclus es apressadas e superficiais dos fatos tend ncia a considerar que o passado foi melhor aceita o de formas greg rias ou massificadoras de comportamento n o considerar o saber do homem simples ser imperme vel investiga o satisfazendo se com as experi ncias e rejeitando a concep o cient fica bem como fundamentar suas argumenta es somente na emo o e n o na criticidade podendo ter um forte conte do passional A consci ncia ing nua v a humanidade como uma cole o de fatos isolados e o mundo como uma obra alheia sem comprometer se com a sua constru o Freire 1979b p 40 A import ncia da conscientiza o est em sua possibilidade de ao problematizar esta percep o ing nua focalista e in capaz de conceber a realidade numa perspectiva de totalidade desencadear um processo de supera o dos aspectos opressores de seus condicionamentos sociais 3 A respeito do emprego deste termo Freire 1979b esclarece tomou se este termo da no o gramatical de ver
193. ie indagadoramente o mundo em volta contempl lo assustar nos Freire 1991a p 111 que nos tornou capazes de agir sobre a realidade para transform la transformando sirnultaneamente a pr pria curiosidade enquanto 23 Grifo meu Ana L cia Souza de Freitas 101 uma exig ncia do processo de conhecimento Logo a curiosidade humana tornou se epistemol gica a fim de que os seres humanos programados para aprender pudessem assumir se enquanto sujeitos do processo de conhecer pois enquanto epistemologicamente curiosos que conhecemos no sentido de que produzimos o conhecimento e n o apenas mecanicamente o armazenamos na mem ria Freire 1994a p 148 Essa passou a ser uma preocupa o constante nas ltimas obras de Freire as quais concebem a curiosidade epistemol gica como elemento central para que se viabilizem pr ticas educativas fundadas na concep o proble natizadora e libertadora da educa o visto que a curiosidade epistemol gica n o qualquer curiosidade a curiosidade que est ligada ao dificil mas prazeroso ato de estudar A curiosidade epistemol gica para Freire aquela que ao viabilizar a tornada de dist ncia do objeto transcende os limites da cotidianidade na qual nossa mente n o opera epistemologicamente E a curiosidade pr pria da consci ncia cr tica aquela que n o se satisfazendo com as apar ncias busca a compreens o dos fatos com maior profundidade Atrav s da cria
194. ientiza o 78 entretanto negar os fatores que o condicio nam da a import ncia em reconhecer a dimens o pol tica da educa o A educa o compreendida por Freire como pr tica social hist rica tendo em vista sua inser o num projeto de transforma o social mais amplo exige pois uma pedagogia e uma did tica que fundadas em referenciais te ricos cr ticos orientem na na perspectiva de sua democratiza o Muitas pesquisas educacionais t m se preocupado em compreender a complexidade desse processo analisando as diversas nuan as de intencionalidade das pr ticas pedag gicas as quais encontram se orientadas impl cita ou explicitamente por diferentes referenciais te rico pol ticos Tais pr ticas s o analisadas a partir de enfoques e crit rios diversos a fim de que se construa uma compreens o mais global sobre as mesmas Lib neo 1986 te rico que se constituiu como importante refer ncia nesse sentido utiliza o termo tend ncias pedag gicas para expressar a posi o que essas assumem em rela o aos condicionantes sociopol ticos da educa o utilizando como crit rio de compreens o dos pressupostos que orientam as pr ticas docentes Partindo desse entendimento classifica as tend ncias pedag gicas em dois grandes grupos a pedagogia liberal e a pedagogia progressista Compreende a pedagogia liberal a partir de quatro tend ncias a tradicional a renovada progressivista a n o diretiva e a tecnicista
195. igadas ao ato de conhecimento Nela a posi o ut pica tem como marca essencial o dinamismo transformador Damke 1995 p 112 ao participarem do seinin rio Nuevas Perspectivas Cr ticas em Educaci n realizado em julho de 1994 na cidade de Barcelona A obra resulta desse encontro e re ne os trabalhos de Donaldo Macedo Universidade de Massachusetts Boston Henry Giroux Penn State University Pensylvania Manuel Castells Universidad de California I3ekerley Paul Willis Universidad de Wolverhampton Inglaterra Ram n Flecha Universidad de Barcelona e Paulo Freire Pontificia Universidade Cat lica de S o Paulo com o objetivo de orientar pr ticas educativas alternativas com as quais recuperar a esperan a na educa o e em sua capacidade para a tranforma o social p vii Ana L cia Souza de Freitas 85 Segundo Freire a utopia relaciona se possibilidade de concretiza o dos sonhos humanizantes tal como afirma Para mim o ut pico n o o irrealiz vel a utopia n o o idealismo a dialetiza o dos atos de denunciar e anunciar o ato de denunciar a estrutura desumanizante e de anunciar a estrutura humanizante Por essa raz o a utopia tamb m um compromisso hist rico Freire 1979a p 27 Tamb m os aspectos que se relacionam vis o de um futuro inexor vel rejei o da educa o como conscientiza o bem como o descr dito nos projetos politico emancipat rios s o elementos que to
196. iliza o do objeto ou do achado de sua raz o de ser Freire 1996 p 98 na constru o da autoria de pensamento e da cria o do in dito vi vel A constru o e a manuten o do rigor no ato de estudar coletivamente justifica se medida que contribui para ampliar as possibilidades de cria o e recria o das pr ticas escolares j que tornado obrigat rio a partir da criticidade que redimensiona seus aspectos repressivos o rigor pode ser vivido como um ponto de apoio atividade criadora assumindo as caracter sticas do que Freire 1986 denominou de rigor criativo o que decorre de um desejo de saber uma busca de resposta um m todo cr tico de aprender p 14 a partir do qual paradoxalmente cada um poder construir sua pr pria rigorosidade met dica medida que desenvolve sua autoria de pensamento Na perspectiva de potencializar esse processo h que se organizar a pr tica do a supervisor a escolar a partir de uma perspectiva metodol gica que operacionalize os princ pios que integram o processo de conscientiza o em fun o de uma rigorosidade met dica que contribua para a constitui o da pr xis educativa libertadora Para tanto sua atua o deve problematizar as pr ticas docentes circunscrita tica de particularidade em fun o de um sonho coletivo que viabiliza a tomada de consci ncia da tica do humano gen rico e mobiliza a Ana L cia Souza de Freitas 213 viv ncia da criticidade d
197. io assumir politicamente a historicidade da exist ncia frente a sua supera o Tal concep o fundamenta a compreens o acerca do desenvolvimento da capacidade de sonhar coletivamente constituir se numa atitude de forma o produto produtora do in dito vi vel pois quando os seres conscientes querem reiletem e agem para derrubar as situa es limites o in dito vi ve n o mais ele mesmo mas a concretiza o dele no que ele tinha antes de invi vel Freire Ana Maria in Freire 1992 p 207 Nesses tr s movimentos querer refletir e agir poss vel perceber uma proposi o metodol gica em que encontram se articuladas numa perspectiva de complexidade as tr s dimens es do conhecimento necess rias constru o do in dito vi vel 20 Grifo da autora Ana L cia Souza de Freitas 95 O plano do querer encerra em si a dimens o pol tica em fun o da qual se fazem as op es que orientam a dire o do sonho a ser constru do op es que n o se exirnem da necess ria clareza te rica nem mesmo de sua intelig ncia est tica O plano do refleti encerra em si a dimens o epistemol gica a partir da qual se ampliam a compreens o da raz o de ser das situa es limites e os motivos que tornam imprescind vel a luta pelo sonho a clareza em torno das possibilidades te ricas de constru lo bem como das condi es sociais necess rias sua materializa o Esse processo n o dis
198. isa ser feito 1 59 Logo reafirma corno finalidade imediata da educa o tornar poss vel um maior e mais rigoroso grau de consci ncia compreens o conhecimento da realidade da qual n s seres humanos somos parte e na qual atuamos te rica e praticamente p 58 O posicionamento de Ribeiro 1991 ao considerar a eleva o de consci ncia da pr xis educativa como condi o necess ria para que se possa explorar todo o universo de possibilidades criadoras p 57 coincide com a perspectiva de Freire sobre a necessidade da consci ncia cr tica para a constitui o do ato criador No entanto a perspectiva freireana de pr xis Aqui a autora refere se a um grau de consci ncia comum ou um grau de consci ncia filos fica p 66 de modo que tal compreens o pode ser tamb m relacionada aos n veis de criticiza o da consci ncia propostos por Freire Ana L cia Souza de Freitas 161 sublinha sua op o por um car ter libertador estando politicamente orientada no sentido da transforma o da realidade desumanizante contrapondo se a qualquer tipo de opress o e discrimina o ressaltando sua defesa pela constitui o de uma pr xis educativa libertadora A rela o proposta por Ribeiro entre o n vel de consci ncia da pr xis e a amplia o de nossa capacidade criadora justifica a intencionalidade de eleva o da consci ncia da pr xis educativa libertadora constituir se num desafio forma o perman
199. ituam se entre os principais questionamentos trazidos pela p s modernidade Moreira 1997 sintetiza as id ias caracter sticas da literatura p s moderna a partir dos seguintes aspectos a o abandono das grandes narrativas b a descren a em uma consci ncia unit ria homog nea centrada c a rejei o da id ia de utopia d a preocupa o com a linguagem e com a subjetividade e a vis o de que todo discurso est saturado de poder e f a celebra o da diferen a p 10 Distingue por m duas formas de interpreta o do p s modernismo uma que o associa ao neoliberalismo e portan to considera o incompat vel com a teoria educacional cr tica da modernidade outra que tem buscado oferecer subs dios para que os elementos centrais do p s modernismo possam ser combinados com as categorias do discurso progressista p 10 no desenvolvimento de uma pedagogia radical A perspectiva de continuidade 14 A esse respeito ver Novas perspectivas cr ticas em educa o obra organizada por Manuel Castelis Porto Alegre Artes M dicas 1996 em que Paulo Freire escreve sobre Educa o e participa o comunit ria compartilhando da perspectiva apresentada por diversos educadores Pedagogia da Conscientiza o 84 difere da perspectiva de ruptura na rela o que se estabelece entre modernidade e p s modernidade A primeira procura avan ar na redefini o do pensamento moderno contestando o sem deixar de p
200. itucionais de inclus o j que o processo de exclus o se d tamb m para aqueles que est o dentro da escola em terceiro lugar estabelecer um processo coletivo de forma o que tenha como ponto de partida a avalia o das pr ticas escolares rompendo com a padroniza o e estimulando sua reflex o e recria o permanente de modo que todos sejam sujeitos no processo de reinven o da escola Tal entendimento torna imprescind vel a efe tiva participa o da comunidade na constru o do projeto pol tico pedag gico da escola e para tanto preciso que haja investimento para a constru o da qualidade dessa participa o de tal modo que N o devemos chamar o povo escola para receber instru es poshilados receitas amea as repreens es e puni es mas para participar coletivamente da constru o de um saber que vai al m do saber de pura experi ncia feito que leve em conta as suas necessidades e o torne instrumento de luta possibilitando lhe transformar se em sujeito de sua pr pria hist ria Freire 1991a p H que se criar mecanismos e inst ncias de participa o em que os diversos segmentos da comunidade escolar possam exercer seu poder de 3 Esta cita o parte do primeiro documento elaborado pela administra o de Freire e publicado no Di rio Oficial do Municipio de S o Paulo em de fevereiro de 1989 cujo titulo foi Aos que fazem a educa o eonosco em S o Paulo Ana L cia Souza de F
201. iversidade do Vale do Rio dos Sinos Centro de Ci ncias Humanas Programa de P s Gradua o em Educa o v 2 n 3 p 59 70 jul dez 1998 O obrigat rio pode ser alegria desafios supervis o escolar Revista Reencantando a Educa o Secretaria Municipal de Educa o Cultura e Crian a de Esteio RS n 1 p 19 24 mar 1999 Forma o permanente de educadores refletindo o processo de constitui o da escola por ciclos de forma o Revista Paix o de Aprender Secretaria Municipal de Educa o de Porto Alegre RS n 11 p 78 83 mar 1999 Projeto Constituinte Escolar a viv ncia da reinven o da escola na Rede Municipal de Porto Alegre In SILVA Luiz Heron da org Escola cidad teoria e pr tica Petr polis Vozes 1999 p 31 45 O desenvolvimento da curiosidade epistemol gica uma aprendizagem necess ria ao processo de forma o permanente de professores as no cotidiano escolar Revista Educa o Porto Alegre Faculdade de Educa o PUCRS ano 22 n 37 p 109 120 mar 1999 A conscientiza o como princ pio metodol gico da forma o de professores registro da reflex o sobre uma experi ncia ineditamente vi vel na pol tica educacional da Administra o Popular em Porto Alegre 1999 Disserta o Mestrado em Educa o Pontificia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul Porto Alegre Ana L cia Souza de Freitas 239 FR
202. iza os a partir da reflex o sobre sua cotidianidade tomando como refer ncia o entendimento dos mesmos em momentos anteriores Entre outros analisa como foi construindo o significado da rela o entre pol tica e educa o Num certo momento da minha trajet ria da minha experi ncia eu n o pensei em pol tica num outro momento eu pensei em pol tica e educa o e s num terceiro momento no qual eu me encontro h uns dez anos que eu digo que a educa o tem natureza politica Freire in Fiori 1991b p 282 Freire rompe com o tempo do destiempo especialmente na d cada de 90 per odo em que assumindo o car ter pedag gico do ato de governar 17 e Grifo meu 18 A data refere se apenas publica o de depoimento dado por Freire no ano de 1985 Depoimento de um grande amigo Post cio in Fiori 1991 O ano de refer ncia para considerar essa afirma o de Freire deve ser portanto o ano em que foi dado o depoimento e n o o de sua publica o Ana L cia Souza de Freitas 31 Freire 1992 p 174 sistematiza sua reflex o teorizando a experi ncia vivida A partir de sua participa o como secret rio de educa o p s em pr tica uma pol tica educacional que fundada na gest o democr tica da escola permitiu Ihe ampliar sua produ o te rica ao buscar n o apenas compreender as limita es mas fundamentalmente construir possibilidades para a educa o libertadora no espa o formal da
203. izados por Freire bem como contextualiza os fatos narrados a partir de detalhadas 33 Rio de Janeiro Paz e Terra 1992 245 p Ana L cia Souza de Freitas 43 an lises hist ricas Essas notas contam tamb m com um texto que as introduz em que Ana Maria fala de sua alegria frente ao pedido de Freire para que as elaborasse bem como da forma como foi se envolvendo e sentindo se estimulada a escrev las joguei nelas minhas emo es meus conhecimentos da hist ria da educa o brasileira mas sobretudo minha leitura de mundo norteada pelo tri ngulo interdi o liberta o esperan a Freire Ana Maria in Freire 1992 p 209 Em Pol tica e educa o ensaios encontram se reunidos textos escritos no decorrer do ano de 1992 e discutidos em reuni es no Brasil ou em outros pa ses Entre eles um objetivo comum a preocupa o em sublinhar a intera o entre a op o pol tica e a pr tica pedag gica Aprofundando a compreens o acerca da natureza pol tica da pr tica pedag gica no contexto atual defende uma op o pol tico pedag gica orientada por um pensamento p s moderno radical que n o apenas reconhece a import ncia do papel da subjetividade na hist ria mas atua politico pedagogicamente no sentido de fortalecer aquela import ncia p 17 Ainda a respeito da politicidade da educa o Fi eire reflete nessa obra sobre sua necess ria qualidade fazendo interessante an lise de diferentes hip teses tem
204. jeitos hist ricos transformadores a n o ser assumindo nos como sujeitos ticos Freire 1996 p 19 Sobretudo Freire argumenta acerca da necessidade de uma pr tica educativa que defenda a tica universal do ser humano tica enquanto marca da natureza humana enquan to algo absolutamente indispens vel conviv ncia humana Freire 1996 p 19 20 que Pproblematize a transgress o de seus princ pios e a submiss o da voca o ontol gica do ser Ana L cia Souza de Freitas 71 humano para o ser mais ao comando da malvadez da tica do mercado Freire 1996 p 19 A tica da doc ncia defendida por Freire consiste na busca consciente da coer ncia entre discurso e pr tica na luta por uma tica democr tica que orienta suas op es metodol gicas a ultrapassar os limites da sala de aula e da escola compreendendo a fun o social do educador progressista a favor de um projeto social mais amplo assumindo as op es que orientam sua pr tica pedag gica Sou professor a favor da dec ncia contra o despudor a favor da liberdade contra o autoritarismo da autoridade contra a licenciosidade da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discrimina o contra a domina o econ mica dos indiv duos ou das classes sociais Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou essa aberra o a mis ria na fartura Sou profe
205. l mais do que em qualquer outro momento hist rico a constitui o de projetos pol tico pedag gicos alternativos fundados numa Pedagogia da Esperan a Esse o entendimento de Freire ao entregar curiosidade de seus leitores e estudiosos a obra Pedagogia da Esperan a um reencontro com a Pedagogia do Oprimido fruto de sua intensa produ o intelectual na d cada de 90 importante refer ncia da constru o te rica acerca da atualidade da educa o libertadora a qual merece ser aqui destacada Na Pedagogia da Esperan a Freire faz um retorno reflexivo s experi ncias passadas retomando as e analisando muitas das cr ticas recebidas por sua mais divulgada obra a Pedagogia do Oprimido Insiste no exerc cio de volta ao passado sendo esta quase uma obra de mem rias No entanto n o trata do passado de forma nost lgica mas sim de forma cr tica com o intuito de ampliar a compreens o de seu momento atual uma vez que considera que os momentos que vivemos ou s o instantes de um processo anteriormente iniciado ou inauguram um novo processo de qualquer forma referido a algo passado p 28 Ao longo de sua escrita faz revela es 15 A esse respeito Saviani afirma que pretende retomar a discuss o das tend ncias pedag gicas atuais sugerindo poss veis denomina es corno neotecn leismo e neoescolanouismo Saviani in Nogueira 1997 p 20 Pedagogia da Conscientiza o 88 importantes sobre sua vida pessoal toman
206. l desafio torna se relevante principalmente hoje quando o paradigma da p s modernidade associado ao pensamento neoliberal chega ao ponto extremo de abrir m o das utopias em fun o da relativiza o das certezas trabalhando no sentido de construir um senso comum que duvide da possibilidade de um conhecimento libertador produto produto da consci ncia democr tica e da 8 O termo produto produtor utilizado por Sousa Santos 1989 p 154 ao analisar a rela o de dupla ruptura epistemol gica que se estabelece entre senso comum e comunidade de saber Tendo em vista ser esta uma maneira muito apropriada de expressar a natureza do movimento que se estabelece nessa rela o de dupla ruptura epistemol gica o mesmo ser empregado no decorrer deste trabalho sempre que for necess rio expressar um entendimento dessa natureza sobre a rela o que se estabelece entre os conceitos em estudo Ana L cia Souza de Freitas 65 sensibilidade erancipat ria Um tempo em que Freire n o estando fisicamente presente para mobilizar educadores progressistas a continuar na luta pela possibilidade de concretizar pr ticas orientadas pelas indispens veis Pedagogia da Oprimido da Pergunta da Esperan a e da Autonomia desafia nos continuidade do desenvolvimento de sua Pedagogia da Conscientiza o 59 A consci ncia democr tica e a sensibilidade ernancipat ria s o termos criados neste trabalho para expressar o entendimento acerca da to
207. l do a professor a constituindo se este num importante objeto de pesquisa a fim de que se possam sugerir condi es institucionais que viabilizem tal possibilidade a partir da compreens o 12 Grifo do autor Pedagogia da Conscientiza o 168 das condi es de trabalho na escola que acentuariam ou diminuiriam a monotonia em situa o de sala de aula em termos tais que pudessem induzir ou afastar os sintomas que integram o questionamento a meio da carreira Huberman 1992 p 43 como um momento que determine um percurso de desinvestimento profissional Vale destacar nesse sentido a participa o de Freire em pesquisa realizada por Goldfeld 1997 que reuniu 34 depoimentos de pessoas apaixonadas pela vida na fase da terceira idade partindo do pressuposto de que poss vel viver e ter projetos ap s os sessenta anos desde que haja desejo e criatividade p 11 Em seu depoimento Freire afirma que isso poss vel quando movidos pelo mpeto criador assumimos o gosto pelo risco em que o exerc cio de arriscar se na cria o do novo faz da vida uma experi ncia que se alimenta pelo in dito pelo inesperado pela surpresa e pela capacidade de espanto e indigna o num processo de forma o permanente em que a criatividade exerce um lugar fundamental A criatividade tem que ver muito com uma das conota es da vida do fen meno vital que a curiosidade 1 que implica s vezes uma certa estupefa o dian
208. lica o da s ci ncia s e por isso a compet ncia Embora a refer ncia feita trate se de urna entrevista concedida ao Sindicato dos Trabalhadores do Ensino de Minas Gerais em mar o de 1989 considero pertinente o uso do termo atual para tal depoimento uma vez que estas continuam sendo quest es pouco consideradas no que se refere educa o p blica brasileira Pedagogia da Conscientiza o 114 profissional est ligada ao dom nio t cnico dos m todos mais adequados para alcan ar os resultados previstos Da mesma forma os valores e fins educativos s o est veis e previamente definidos numa rela o de aceita o das metas previstas pelo sistema sob a argumenta o de sua neutralidade Nesse contexto a autonomia profissional meramente ilus ria uma vez que se encontra na depend ncia de diretrizes t cnicas superiores ficando o professor relegado a uma situa o de impot ncia e incapacidade de criar alternativas fiente aos problemas e situa es que envolvem sua pr tica profissional Ao contr rio as concep es de professor enquanto profissional reflexivo e intelectual cr tico fundamentam se na assun o de valores a servi o dos quais orienta se a atividade educativa num processo permanente de investiga o e reflex o articulando pr tica e teoria de forma a lidar criativa e original mente com as situa es limite que envolvem a complexidade do ato pedag gico Ainda que coincidam em alguns aspectos quanto
209. licado pela Universidade de Yale The law of opressed the construction and reproduction of legality is Pasargada Law 1977 Importante te rico que atua na perspectiva de um entendimento progressista da p s modernidade desenvolve reflex o acerca da utopia no contexto atual especialmente na obra Pela m o de Alice o social e o pol tico na p s modernidade 1995 A respeito da p s niodernidade destacam se duas obras anteriores que tamb m fundamentam o referencial te rico desse trabalho Um discurso sobre as ci ncias 1987 e Introdu o a uma ci ncia p s moderna 1989 A convite da Secretaria Municipal de Educa o de Porto Alegre participou do III Semin rio Internacional de Reestrutura o C urricular Novos Mapas Culturais Novas Perspectivas Educacionais cuja reflex o publicada sob o t tulo Para uma Pedagogia do Conflito Silva 1996 mais urna refer ncia utilizada neste estudo Atualmente realiza coleta de dados e troca de subs dios em torno de iniciativas de participa o popular e democr tica a partir de um conv nio de parceria com o CIDAIJE Centro de Assessoria e Estudos Urbanos ONG em Porto Alegre RS Ana L cia Souza de Freitas 23 e est tica Tal concep o revela uma perspectiva pedag gica progressista comum a tais te ricos caracter stica determinante da op o do estudo dos mesmos para ampliar a compreens o da proposta de forma o de professores defendida por Freire Entretanto n o se tr
210. lmente a obriga o de estudar a pr pria pr tica que implica necessariamente um olhar investigativo e interdisciplinar ao partir da tica de particularidade do a professor a para problematiz la em fun o da an lise da realidade que prop e lhe uma tematiza o pode demarcar um campo espec fico de desejos e esfor os por conhecer Marques 1997 p 92 e desafiar a reinven o da pr pria pr tica Esta a proposi o de Freire ao considerar que toda investiga o tem tica de car ter conscientizador se faz pedag gica e toda aut ntica educa o se faz investiga o do pensar 1987 p 102 Nessa perspectiva a forma o de professores orientada pelo princ pio metodol gico da conscientiza o faz da investiga o tem tica o ponto de partida da dialogicidade em que se constitui o processo formativo de reflex o did tica que envolve a pr xis criativa de urna concep o libertadora da educa o A investiga o tem tica desafia ao processo de codifica o e descodifica o da pr tica e de sua reflex o atrav s do qual as situa es existenciais s o refletidas de modo a criticizar sua vis o focalista e refaz la numa perspectiva de totalidade hist rica entendida como unidade entre subjetividade e objetividade visto que a realidade concreta nunca apenas o dado objetivo o fato real mas tamb m a percep o que dela se tenha Freire 1982 p 51 A codifica o das situa es concretas
211. lo biografado O m todo dial gico O homem p blico e Ide rio libert rio Express o utilizada por Freire 1995 para referir se dif cil aprendizagem de viver e sofrer o espa o tempo do ex lio Sofrer o ex lio assumir o drama da ruptura que caracteriza a experi ncia de existir num contexto de empr stimo p 51 sendo necess rio para tanto aprender a educar a saudade de seu contexto de origem ao compreender que existe um ex lio t o dif cil quanto o seu o ex lio de quem fica p 53 F 15 Freire se tornou professor na Pontificia Universidade Cat lica de S o Paulo e na Universidade Estadual de Campinas 14 Ana L cia Souza de Freitas 29 como uma consequ ncia das rela es estabelecidas por Freire nessa fase a inclus o em suas ltimas obras de aspectos relevantes da discuss o da p s modernidade Apesar disso considera que a forma como o mesmo reelabora um discurso humanista e ut pico na Pedagogia da Esperan a p 180 demonstra cabalmente sua perspectiva modernista Para al m de tais interpreta es a contemporaneidade da obra de Freire pode ser melhor compreendida a partir da reflex o realizada por Cirigliano 1995 em torno de uma certa teoria de interpreta o periodizante surgida nos anos 80 a qual fundada num determinismo pessimista analisava os momentos do destino das teorias de car ter transformador Fundava se numa an lise explicativa da trajet ria das mesmas a partir d
212. lobal que compreende as determina es estruturais da cotidianidade em fun o do contexto social em que est inserida considerando que Ana L cia Souza de Freitas 179 Quando uma professora desenvolve estrat gias que lhe permitam dar conta de urna dupla ou tripla jornada de trabalho prejudicando a qualidade de sua a o pedag gica e n o se comprometendo com seus alunos ela na verdade est tentando atingir da maneira que lhe poss vel ou seja mergulhada na singularidade no individualismo uma situa o de bem estar pessoal que o sistema promete mas n o lhe permite alcan ar p 349 Esse posicionamento de Souza Parto ao levar em conta as repercuss es institucionais na constru o da subjetividade do a professor a coincide com o de Sousa Santos 1989 quando afirma que cada contexto estrutural um espa o e uma rede de rela es dotadas de uma marca espec fica de intersubjetividade que lhes conferida pelas caracter sticas dos v rios elementos que o constituem p 151 Tomando como refer ncia tais posi es poss vel perceber como a constru o da identidade profissional do a professor a est relacionada sua inser o enquanto sujeito social na diversidade das intera es que estabelece com a totalidade dos contextos estruturais do conhecimento o dom stico o do trabalho o da cidadania e o da mundialidade Assim tendo em vista a totalidade e a complexidade destes contextos em que se des
213. lu ncia no sentido da cren a da hist ria como possibilidade e portanto na expectativa de que os sujeitos tomando consci ncia acerca da fun o social da doc ncia superem a concep o fatalista que os limita a serem objetos da hist ria e mobilizem se no sentido da constru o do in dito vi vel a qual demanda a supera o do comodismo da apatia e ou da impot ncia frente s situa es limite que se desvelam no processo de codifica o e descodifica o importante compreender a isen o de neutralidade da pr tica metodol gica em que consiste a codifica o descodifica o e para tanto vale Pedagogia da Conscientiza o 210 destacar sua proximidade com a reflex o de Sousa Santos 1996 quando ao propor um projeto educativo emancipat rio que recupere a capacidade de espanto e inconformismo frente a realidade historicamente desumana prop e que se desenvolva um processo de conscientiza o atrav s da produ o de imagens desestabilzadoras que alimentem o inconformismo perante um presente que se repete repetindo as op es indesculp veis do passado p 18 Justifica tal proposta ao considerar que as id ias perderam seu poder mobilizador e nossas op es assentam se em emo es e sentimentos que merecem ser conflitualizados Sendo assim no processo de tematiza o da pr tica pedag gica orientado pela dialeticidade da Pedagogia da Esperan a e a Pedagogia da Indigna o e do inconformismo faz se
214. m tempo de estagna o parado na impossibilidade de pensar a transforma o social radical Nunca foi t o grande a discrep ncia entre a possibilidade t cnica de uma sociedade melhor mais justa e mais solid ria e a sua impossibilidade pol tica Este tempo paradoxal cria nos a sensa o de estarmos vertiginosarnente parados p 15 Esse contexto neoliberal ao eleger o mercado como regulador das rela es sociais Frigotto 1991b p 141 ocrienta se e estimula o desenvolvimento de valores inerentes aos interesses do mercado Dessa forma as rela es sociais regulam se pelo ter e n o pelo ser submetendo tudo e todos a um valor quantific vel conforme sua capacidade produtiva associando qualidade de vida ao consumo e acumula o de capital considerando a amplia o das vantagens individuais um direito de quem foi bem sucedido no mercado competitivo Entretanto essa efici ncia preconizada pelo mercado est muito longe de atender s necessidades sociais uma vez que seu crit rio exclusivamente o crit rio da produtividade e do lucro Logo determinadas atividades podem gerar baixos custos e altos lucros para um empreendedor e pre os convidativos para o consumidor provocando contudo altos custos sociais e de longo prazo Pode ser mais conveniente a curto prazo para fabricantes e consumidores o farto uso de embalagens reprodutivistas colocando nas m os dos educadores uma arma de luta capaz de p
215. mens o pol tica da educa o Portanto embora a posi o aqui apresentada coincida com a referida autora quanto necessidade de uma a o supervisora comprometida com a democratiza o das rela es na escola h que se fazer uma distin o entre os posicionamentos adotados Para Medina 1995 a democratiza o parece estar ligada a uma compet ncia t cnica profissional desvinculada de compromissos pol ticos visto que afirma Entendo que o partido que estiver no governo para pensar uma escola democr tica necessita discutir os princ pios dessa escola com outros partidos mas elaborada com a escola que por sua vez participa levando em conta o que as comunidades indicam como prioridade e necessidade Para isso escolhe pessoas competentes respons veis s rias id neas e comprometidas com a democratiza o do ensino e da educa o p 139 Contrariamente a posi o assumida neste trabalho pretende n o apenas defender a import ncia da dimens o pol tica da educa o entendida conforme Freire como uma prioridade que orienta as demais dimens es do processo educativo mas tamb m assumir a critica de uma proposta pedag gica constru da pelo conjunto de educadores a partir da Administra o da Cidade de Porto Alegre pelo Partido dos Trabalhadores PT Ana L cia Souza de Freitas 201 professora A supervisora mediante o questionamento da pesquisadora assim respondeu Eu tenho que agir assim se eu n o tivesse feito
216. mento cient fico p 57 Pedagogia da Conscientiza o 56 contraposi o s epistemologias idealistas e empiristas encontra se limitada pelo paradigma em que se origina Assim embora represente o m ximo da consci ncia poss vel dentro da ci ncia modema p 35 preciso repens lo luz do paradigma da p s modemidade Entre outros aspectos que caracterizam as limita es do paradigma da moderni dade est a dicotomia entre senso comum e conhecimento cient fico de tal forma que no racionalismo dial tico a ci ncia constr i se pois contra o senso comum e para isso disp e de tr s atos fundamentais a ruptura a constru o e a constata o Sousa Santos 1989 p 31 Partindo desse entendimento a opini o que caracteriza o senso comum conforme Bachelard 1996 constitui se num obst culo epistemol gico ao conhecimento cient fico por ser esta uma forma de pensar que pensa mal n o pensa traduz necessidades em conhecimentos Ao designar os objetos pela utilidade ela se impede de conhec los N o se pode basear nada na opini o antes de tudo preciso destru la Ela o primeiro obst culo a ser superado p 18 Assim para Bachelard 1996 o ato de conhecer d se contra um conhecimento anterior p 17 e a presen a deste conhecimento anterior representa um obst culo epistemol gico pois diante do real aquilo que cremos saber com clareza ofusca o que dever amos saber p 18
217. mento da a o numa perspectiva transformadora de modo que n o p ra estoicamente no reconhecimento puro de car ter subjetivo da situa o mas pelo contr rio que prepara os homens no plano da a o para a luta contra os obst culos sua humaniza o Freire 1987 p 114 O desenvolvimento da consci ncia cr tica precisa ser compreendido a partir do aprofundamento da concep o de conscientiza o tendo em vista uma perspectiva de globalidade acerca do processo em que se constr i a criticidade na rela o consci ncia mundo em que sejam considerados dois en tendimentos complementares a totalidade cm que se constitui a diferencia o dos estados da consci ncia bem como a complexidade que envolve a promo o dos n veis de consci ncia da ingenuidade criticidade Ana L cia Souza de Freitas 147 A intransitividade e a transitividade enquanto estados da consci ncia diferenciam se pela maneira como percebem a realidade A intransitividade primeiro estado da consci ncia resulta de um estreitamento no poder de capta o da consci ncia Freire 1979b p 39 e sendo assim produz uma consci ncia m gica para a qual as causas que se atribuem aos desafios escapam cr tica e se tornam supersti es Freire 1979b p 39 Dessa forma as respostas aos desafios implicar o a es de natureza tamb m m gicas porque a compreens o da realidade m gica supersticiosa O estado de transitiv
218. minado por Freire de saber de experi ncia feito Tal express o demonstra sua valoriza o e compreens o da riqueza que o mesmo encerra ao expressar as intera es sociais imediatas e portanto estar impregnado do conhecimento gerado na experi ncia vivida Sendo assim Freire desafia educadores progressistas escuta do saber de experi ncia feito tendo em vista a organiza o do ato pedag gico pois a partir dela que se estabelece entre educador e educando uma rela o de horizontalidade de supera o da marca autorit ria que dicotomiza quem ensina e quem aprende Assim atrav s do pr prio testemunho nos relatos de pr ticas e de sua reflex o argumenta em torno da necess ria escuta do saber de experi ncia frito assumida como postura decorrente da radicaliza o do valor epistemol gico atribu do ao senso comum Essa ser uma marca importante da obra de Freire orientando se na perspectiva da constru o de um conhecimento prudente para uma vida decente Sousa Santos 1997 p 37 A radicalidade da valoriza o do senso comum ao ser concebida enquanto um eixo norteador da pr tica do educador progressista exige o desenvolvimento de pr ticas comprometidas com a permanente escuta do saber de experi ncia frito bem como com a sua problematiza o Sua escrita ser marcada pela defesa da necessidade do desenvolvimento de pr ticas educativas de natureza dial gica fundadas no respeito ingenuidade que Ped
219. mplexo de rela es entre as caracter sticas dos programas contextos e pessoas imprescind veis para o desenvolvimento de uma consci ncia cr tica dos professores sobre as limita es de ordem social cultural e ideol gica do sistema educativo p 100 Partindo desse entendimento constitui se uma obrigatoriedade forma o permanente de professores no cotidiano escolar que a reflex o cr tica para o estudo da pr tica pedag gica oriente se em fun o de um projeto pol tico pedag gico coletivo de car ter emancipat rio comprometido com a constru o de um conhecimento para a transforma o das condi es pessoais 2 O ato cr tico de estudo enquanto necessidade para que o educador se assuma como sujeito do ato pedag gico compreendido por Freire a partir de cinco aspectos essenciais que o integram a esse respeito ver cap 3 43 Grifo meu Pedagogia da Conscientiza o 132 sociais da exist ncia humana A defesa de tal posicionamento uma centralidade na obra de Freire o qual para tanto argumenta a necessidade de uma forma o permanente que ultrapasse o n vel de reflex o meramente t cnico pragm tico a fim de que se assuma uma postura cr tico reflexiva comprometida com a perspectiva tico democr tica que demarca a dimens o pol tica das pr ticas educativas progressistas Nesse processo n o se dissociam comprometimento tico e perspectiva metodol gica para configurar um contexto formador favor
220. mpo em que passada a estupefa o em face da queda do muro de Berlim o mundo se refar e recusar a ditadura do mercado fundada na perversidade de sua tica do lucro p 144 Frente a esse contexto reitera a import ncia da conscientiza o como tarefa hist rica necess ria para o desenvolvimento de uma resist ncia cr tica ao contexto atual considerando que H um s culo e meio Marx e Engeis gritavam em favor da uni o das classes trabalhadoras do mundo contra sua espolia o Agora necess ria e urgente se fazem a uni o e a rebeli o das gentes contra a amea a que nos atinge a da Pedagogia da Conscientiza o 152 nega o de n s mesmos como seres humanos submetidos fereza da tica do mercado Freire 1996 p 145 Partindo desse entendimento e concebendo a conscientiza o enfim como um processo em que o ser humano reconstr i na dimens o individual e em fun o da diversidade de suas intera es sociais a criticidade do conhecimento s cioculturalmente constru do transformando o e transformando se na medida em que age reflete e conhece faz se necess rio que se configurem condi es sociais que favore am o desenvolvimento deste processo E essa a perspectiva de globalidade totalidade complexidade em que se insere a luta de Freire pela supera o de uma concep o banc ria da educa o cuja cotidianidade ratifica a dicotomia teoria pr tica a fragmenta o entre as reas do conhe
221. na L cia Souza de Freitas 41 viv ncia da dupla ruptura epistemol gica pr xis poss vel a partir de tr s condi es que encontram se tamb m presentes na reflex o desenvolvida por Freire progressivamente atenuar o que Foucault designa por desnivelamento dos dis cursos p 4Z superar a Ulcotomia contempla o a ao p 43 e encontrar um novo equilibrio entre adapta o e criatividade p 44 Sua viv ncia refletida em especial no penodo em que passou pela experi ncia de ser secret rio de educa o a reflex o sobre ele e a partir dele gerou urna intensa produ o intelectual a qual necessitando ser sistematizada levou o ao afastamento da Secretaria Municipal de Educa o assim justificado Vou ficar mais livre para assumir outro tipo de presen a N o estou deixando a luta mas mudando simplesmente de frente Onde quer que eu esteja estarei me empenhando como voc s a favor da escola p blica popular e democr tica As pessoas gostam e t m direito de gostar de coisas diferentes Gosto de escrever e de ler Escrever e ler fazem parte corno momentos importantes da minha luta J Meu gosto de ler e de escrever se dirige a uma certa utopia que envolve uma certa causa Freire 199 la p 144 De fato a luta por uma escola p blica popular democr tica e de qualidade se faz o eixo norteador das obras que Freire escreve imediatamente ap s sua experi ncia como secret rio Tais obras n
222. na forma o permanente do educador progressista enquanto professor pesquisador Para Freire 1996 a pesquisa elemento intr nseco pr tica educativa cr tica No meu entender o que h de pesquisador no professor n o uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente de ensinar Faz parte da natureza da pr tica docente a indaga o a busca a pesquisa O de que se precisa que em sua forma o permanente o professor se perceba e se assuma porque professor como pesquisador p 32 Contudo imerso em sua cotidianidade o educador deixa de vivenciar a natureza investigativa de sua pr tica reduzindo sua capacidade de pensar epistemologicamente sobre ela ou seja deixa de exercer a sua curiosidade epistemol gica express o de sua atividade docente cient fica e politicamente comprometida A reside a argumenta o de Freire em torno da necessidade de uma forma o permanente que comprometa se com o processo de desenvolvimento da curiosidade atrav s de sua criticiza o Essa criticiza o da curiosidade se torna poss vel no estabelecimento de rela es dial gicas em que se te matize o pr prio ato de conhecer a partir do qual os sujeitos assumam uma posi o reflexivo cr tica A experi ncia dial gica fundamental para a constru o da curiosidade epistemol gica S o constitutivos desta a postura cr tica que o di logo implica Ana L cia Souza de Freitas 109 a sua preocupa o em a
223. nd vel que o a professor a vivencie a alegria cultural a partir de seu trabalho a fim de que possa recri la na rela o com seus alunos as compartilhando a alegria de conhecer Nesse sentido necess rio que se estabele a um processo permanente de reflex o cr tica e transforma o das pr ticas escolares que construa o comprometimento com a elimina o do fracasso escolar por ser este um elemento impedidor da alegria na escola Essa uma obrigatoriedade que se imp e pr tica profissional do educador progressista a permanente recria o da pr xis educativa no intuito da democratiza o do conhecimento e da alegria de aprender problematizando a coer ncia entre os discursos e as pr ticas escolares E uma obrigatoriedade libertadora porque representa um desafio profissionaliza o da doc ncia mas sobretudo porque representa uma possibilidade de viv ncia da alegria de ser professor a 2 3 2 A alegria do obrigat rio na forma o permanente de professores Ressignificar a natureza das obriga es escolares elemento fundamental segundo Snyders 1988 para criar possibilidades de ampliar a viv ncia da alegria na escola para al m da alegria das rela es interpessoais ou seja para que se desenvolvam alegrias diferentes da vida di ria p 14 entre elas a alegria de estudar Na mesma perspectiva Freire 1992 considera n o s importante mas poss vel que as pr ticas educativas fundadas na concep o p
224. nder Esta import ncia atribuida curiosidade no processo de constru o do conhecimento expressa se claramente em seu di logo com Carlos Alberto Torres por ocasi o da despedida do trabalho na Secretaria de Educa o de S o Paulo Carlos Torres 1 Qual a heran a de Paulo Freire para n s educadores latino americanos e de outras partes do mundo Paulo Freire Qual a heran a que posso deixar Exatamente uma Penso que poder ser dito quando j n o esteja no mundo Paulo Freire foi um homem que amou Ele n o podia compreender a vida e a exist ncia humana sem amor e sem a busca de conhecimento Paulo Freire viveu amou e tentou saber Por isso mesmo foi um ser constantemente curioso E isto o que espero que seja a express o de minha passagem pelo mundo mesmo quando tudo o que tenha dito e escrito sobre educa o possa haver mergulhado no sil ncio Freire 1991a p 139 140 Freire considera a curiosidade enquanto uma necessidade ontol gica do ser humano caracter stica fundamental em sua busca permanente de saberes que lhe possibilitem a cria o e recria o de sua pr pria exist ncia uma esp cie de abertura c mpreens o do que se acha na rbita do ser desafiado Freire 1995 p 76 Para ele essa curiosidade ao ultrapassar os limites que lhe s o peculiares do dom nio vital se torna fundante da produ o do conhecimento Freire 1996 p 61 E essa capacidade de olhar curiosamen
225. ndo a educa o transfer ncia de conte dos sob a apar ncia de uma pseudoneutralidade articula o neoliberalismo econ mico ao neoconservadorismo cultural para montar um cen rio educacional contradit rio de modo que ao lado dessa l gica econ mica predominam vis es culturalmente conservadoras e moralistas representando um Ana L cia Souza de Freitas 83 mecanismo de repress o controle e conten o Silva 1995 p 26 Esse contexto tamb m analisado por Frigotto 1996 segundo o qual o ajustamento das sociedades ao processo excludente da globaliza o faz parte das estrat gias de recomposi o do capitalismo no contexto da crise deste final de s culo p 78 entre as quais incluem se tamb m a naturaliza o da exclus o e a banaliza o do sofrimento a crise da raz o e a emerg ncia do p s modernismo a falta de esperan a e o fim das utopias E nessa perspectiva que assumem relev ncia as pr ticas educativas fundadas na concep o probleniatizadora e libertadora da educa o cuja fun o conscientizadora constitui se no desenvolvimento da politicidade da educa o da compreens o da hist ria como possibilidade da utopia como sonho poss vel e da esperan a como energia para a o transformadora sendo essa uma refer ncia fundamental para a constru o de alternativas concretas ao contexto neoliberal Entretanto tais pressupostos centrais para a educa o libertadora proposta por Freire s
226. ndo a manuten o de concurso p blico Considera este fato inerente ao processa de democratiza o que n o prescinde de assumir suas contradi es bem como a correla o de for as que se estabelece na disputa com as diverg ncias Pedagogia da Conscientiza o 76 s o inerentes preciso que se fortale a o senso comum que considere que a briga fundamental pela experi ncia democr tica reconhecendo que teremos de lutar para corrigir equ vocos das buscas anteriores e por adequa es hist ricas nas buscas de ontem Freire in Passetti 1998 p 99 Para tanto faz se necess rio construir o comprometimento coletivo com o processo de reinven o permanente da qualidade democr tica da escola sendo esta uma indispens vel contribui o da educa o ao processo de transforma o social 2 1 1 A esperan a e a manuten o da pedagogia progressista em tempos de p s modernidade A pedagogia progressista constitui se enquanto tal por compreender a natureza pol tica da educa o assumindo a na perspectiva da transforma o social Freire tornou se importante refer ncia nesse campo da pedagogia tendo influenciado muitos outros educadores e pensadores internacionalmente reconhecidos tal como afirma McLaren 1997 ao destacar que O trabalho de Freire tem sido citado por educadores em todo o mundo e constitui uma importante contribui o para a pedagogia cr tica n o somente por causa de seu refinamento te rico m
227. nevit vel ainda que absolutamente question vel em se tratando da defesa de projetos politico pedag gicos emancipat rios A possibilidade de manuten o das utopias do paradigma da modernidade em tempos de p s modernidade quest o pol mica e merece ser melhor analisada A dificuldade se encontra inclusive na poss vel inadequa o do pr prio termo tal corno concebe Sousa Santos 1989 ao afirmar que a poca que estamos vivendo deve ser considerada uma poca de transi o entre o paradigma da ci ncia moderna e um novo paradigma de cuja emerg ncia se v o acumulando os sinais e a que falta de melhor designa o chamo ci ncia p s moderna p 11 Encontra se em quest o entre outros aspectos nesse contexto da emerg ncia de um novo paradigma a concep o de conhecimento Essa discuss o torna se fundamental ao concebermos a educa o tal como Freire prop e enquanto um ato de conhecimento Nesse sentido faz se necess rio construir a compreens o de conhecimento em que se fundamenta sua concep o problematizadora e libertadora da educa o situando a nessa perspectiva pol mica que se estabelece entre modernidade e p s modernidade j que a concep o de conhecimento adotada decorre de uma abordagem epistemol gica do desenvolvimento das ci ncias que por sua vez est diretamente relacionada ao paradigma em que se situa Assim fundamental compreender a origem da concep o de conhecimento adotada
228. ng nua curiosidade epistemol gica Tamb m para Bachelard a alma pueril ou mundana precisa ser superada para a forma o do esp rito cientifico no qual a abstra o um dever Tais aproxima es entre outras possibilidades a serem pensadas permitem afirmar que a concep o de conhecimento presente na obra de Freire tem como refer ncia o racionalismo aplicado ou racionalismo dial tico Entretanto isto n o suficiente para compreender em especial as obras escritas na d cada de 90 Segundo Fernandes 1998 tais obras trazem de forma mais expl cita uma perspectiva epistemol gica que se situa num paradigma de ci ncia p s moderna p 137 enquanto que para Sousa Santos 1989 a ruptura epistemol gica bachelardiana interpreta com fidelidade o modelo de racionalidade que subjaz ao paradigma da ci ncia moderna p 34 Tal complexidade d se justamente pelo fato da obra de Paulo Freire ter uma dinamicidade pr pria refletindo permanentemente sobre si mesma redefinindo conceitos atualizando se a partir do exerc cio reflexivo e cr tico sobre a pr pria emerg ncia de um novo paradigma Sousa Santos 1989 ao analisar a epistemologia bachelardiana considera que embora esta represente um avan o no que se refere do que trata o Cap 2 54 Segundo Sousa Santos 1997 na ci ncia moderna a ruptura epistemol gica simboliza o salto qualitativo do conhecimento do senso comum para o conheci
229. nica o sugerindo ciue est o voltadas para a constru o da criticidade Considera uma ingenuidade confundir ju zo cr tico com queixa dando a impress o de que se est pensando ou analisando uma situa o quando somente se est convalidando O ju zo cr tico o pensar implicam necessariamente uma transforma o no mundo interno que segundo como se operacionalize pode gestar uma transforma o maior ou menor do mundo externo A queixa pelo corar rio imobiliza p 107 Queixar se portanto uma fun o inibidora da capacidade cr tico reflexiva sendo o mais preocupante do ponto de vista da autoria do pensamento da subjetividade humana e da aprendizagem que a queixa ocupa o lugar de um pensamento Fernandez 1992 p 54 No entanto h que se destacar sua potencialidade j que a queixa urna maneira de expulsar a viol ncia que n o se pode engolir Fernandez 1994 p 113 A exist ncia de diferentes tipos de queixa permite que se possa transform la em pensamento num processo de criticiza o a partir do qual a queixa reclamo se diferencia da queixa lamento viabilizando a constru o de seu ju zo cr tico A diferen a est no tom e na resposta que demandam e ou esperam daquele que escuta Quem escuta uma queixa lamento chamado somente a condoer se e dif cil que a partir do enunciado possa pensar Isto a queixa lamento inibe o pensar A carga saud vel de agressividad
230. no p tio Ser que algu m pode ver quem e o que deseja A supervisora que se encontrava na sala da secretaria respondeu de imediato ao apelo da professora De bra os cruzados interpelou o desconhecido Era o irm o da cozinheira que pretendia dar lhe um recado corno n o conhecia a escola perguntou aos alunos onde ficava a cozinha p 118 119 Essa entre outras situa es semelhantes vivenciadas na escola fizeram lhe refletir sobre a conduta da supervisora que sem inicialmente dialogar sobre a situa o ocorrida agiu quase que por impulso atendendo solicita o da Recorro ao trabalho de Medina por considerar este um relevante trabalho de pesquisa realizado com supervisoras da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre e que consiste em uma das poucas publica es especificas em torno da teoria e pr tica da supervis o escolar trazendo importante contribui o especialmente no que diz respeito problematiza o em torno do objeto do trabalho do supervisor na escola p blica Contudo considero que a reflex o apresentada naquele momento como alternativa a o supervisora tradicional denominada de a o supervisora renovada n o refere explicitamente a op o te rica em que se sustenta tal proposta como tamb m ao opor se caracter stica de neutralidade da atua o tradicional a partir da proposi o de um comportamento expresso com clareza p 88 n o assume explicitamente uma posi o acerca da di
231. no requisito parcial para obten o do t tulo de Mestre em Educa o pela Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul Cito parte de meu parecer para a ocasi o da defesa O trabalho se constitui em consistente e brilhante tese desde que tanto na forma quanto no conte do cumpre n vel de exig ncia em muito superior aquele que se espera de urna disserta o por mais excelente que uma disserta o possa ser A abordagem te rica do trabalho pode per se ser considerada uma tese tendo em vista que apresenta f lego para tanto em virtude do exigente patamar de complexidade alto grau de abstra o e certamente caracterizada pelo ineditismo que se exige de uma tese Ana L cia uma estudiosa que se mostra altura do autor por ela trabalhado como refer ncia te rica central Paulo Freire quer no di logo que estabelece com Freire com base em sua obra especialmente a da d cada de 90 quer incluindo nesse di logo outros autores nacionais e internacionais quer ainda ampliando o para trazer elementos da realidade a que se det m tamb m a analisar estabelecendo org nico relacionamento teoria empina bem como elaborando importantes constructos te ricos pr prios em especial quando extrai do seu estudo a categoria conscientiza o como princ pio metodol gico para a forma o de professores enriquecendo e dotando a teoria freireana de um corpus integrado expl cito O livro Pedagogia da Conscientiza
232. ns o epistemol gica ao orientar se a partir de determinados pressupostos traz em si a politicidade inerente sua op o tendo tamb m repercuss es de natureza est tica a dimens o est tica ao expressar uma rela o epistemol gica n o se exime igualmente da natureza pol tica a que se vincula Logo a conscientiza o torna se uma exig ncia pr tica educativa progressista j que N o posso ser professor se n o percebo cada vez melhor que por n o poder ser neutra minha pr tica exige de mim uma defini o Uma tomada de posi o Decis o Ruptura Exige de mim que escolha entre isto e aquilo N o posso ser professor a favor simplesmente do Homem ou da Humanidade frase de uma vaguidade demasiado contrastante com a concretude da pr tica educativa Freire 1996 p 115 Partindo desse entendimento torna se fundamental conceber a conscientiza o n o s como finalidade das pr ticas fundadas na concep o problematizadora e libertadora da educa o mas tamb m como princ pio metodol gico das a es e rela es que se estabelecem no mbito pedag gico tendo em vista a articula o das dimens es pol tica epistemol gica e est tica que o configuram numa perspectiva de globalidade eticamente comprometida A pr tica educativa enquanto atividade especificamente humana n o prescinde da eticidade pois n o podemos nos assumir como sujeitos da procura da decis o da ruptura da op o como su
233. nsem sobre isso Freire 1992 p 48 49 Enfim atrav s da compreens o da import ncia que Freire atribui ao saber de experi ncia feito poss vel perceber sua aproxima o com a concep o de ci ncia p s moderna para a qual o salto qualitativo mais importante o do conhecimento cient fico para o senso comum Ao salientar a positividade do senso comum o seu contributo poss vel para um projeto de emancipa o cultural e social Sousa Santos 1989 p 41 a ci ncia p s moderna compreende o no interior de uma outra forma de conhecimento capaz de estabelecer uma nova rela o entre ci ncia e senso comum Trata se do conhecimento constru do a partir de uma dupla ruptura epistemol gica tal como j referido na an lise das obras de Freire na d cada de 90 No entanto do mesmo modo que a teoria cr tica da moclernidade n o admitiu a neutralidade da ci ncia tamb m na p s modernidade a ci ncia n o se encontra isenta da natureza pol tica que a orienta A esse respeito sem querer reproduzir vis es dicot micas nem reduzir a complexidade dos fatores condicionantes nesse processo preciso que se registre o antagonismo evidente entre duas posi es frente a essa valoriza o do senso comum a progressista e a neoliberal Enquanto Freire assume uma posi o demarcadamente progressista ao exercer a dupla ruptura epistemol gica com o intuito de valorizar o senso comum potencializando seu car ter emancipat rio
234. nte Ana L cia Souza de Freitas 211 vi vei a partir da qual possa vir a constituir se em um provocador de esperan as um profissional necess rio art fice e s mbolo de uma pr tica educacional em que o t cnico e o pol tico se fundem no servi o da transforma o Silva Jr 1986 p 117 Esta pois a contribui o que a concep o libertadora da educa o nos aponta a partir do entendimento da educa o como um ato de conhecimento associado ao processo de conscientiza o Compreender esse processo fundamental para sustentar a pr tica democr tica da supervis o escolar especialmente no que diz respeito reinven o da dimens o epistemol gica de sua pr tica profissional em fun o de sua indissociabilidade das dimens es pol tica e est tica que demarcam a op o por um conhecimento libertador Enfim o objeto de trabalho da supervis o escolar comprometida com a gest o democr tica da escola a reconstru o coletiva da pr tica pedag gica a partir da viv ncia de uma organiza o do ensino orientada por uma teoria did tica que d sustenta o pr xis criativa e medita mente vi vel em fun o de um projeto pol tico pedag gico emancipat rio A clareza de tal objeto desafia a pr tica do a supervisor a a comprometer se com o desenvolvimento da identidade do educador progressista assumindo a Pedagogia da Esperan a como fundamento de suas a es de forma o e concebendo a trans forma o da
235. nte assumir o compromisso com sua transforma o acreditar na 2 Ernani Maria Fiori fil sofo ga cho que se tornou parceiro intelectual e amigo de Paulo Freire foi quem escreveu o pref cio da obra Pedagogia do oprimido sobre o qual Freire assim se refere O pref cio no fundo melhor do que o livro E uma s ntese extraordin ria de compreens o do que eu dizia Freire in Fiori 1991 p 285 2 Freire refere se ao Partido dos Trabalhadores o PT fundado em 1980 do qual tornou se membro fundador quando ainda se encontrava na Europa Sobre sua filia o no partido d o seguinte depoimento Era a primeira vez que me filiava a um partido com ficha nome endere o Tudo certo Tudo legal E que pela primeira vez na hist ria pol tica deste pais um partido nascia de baixo para cima Freire 1991 p 62 2 Sobre a complexidade que envolve o processo democr tico de constru o da mudan a Freire considera que nunca se atinge a mudan a desejada de forma absoluta refere se dessa forma tanto sua gest o na secretaria de educa o de S o Paulo em que teve como prop sito a democratiza o da escola quanto gest o do governo posterior que vem trabalhando no sentido de construir a mudan a no sentido oposto Apesar disso afirma que s o fato de leul ter constatado novamente ser poss vel mudar valeu a pena ter vivido dois anos e meio como Secret rio Freire in Passetti 1998 p 73 Destaca ainda ent
236. ntiago em cuja pr tica docente ensinar jamais foi transfer ncia de conh cimento feita pela educadora aos alunos Ao contr rio para ela ensinar uma aventura criadora Paulo Freire Aos educandos e educandas s educadoras e educadores do Projeto Ax de Salvador da Bahia na pessoa de seu incans vel animador Cesare de La Roca com minha profunda admira o Paulo Freire A Angela Antunes Ciseski Moacir Gadotti Paulo Roberto Padilha e S fia Couto cio Instituto Paulo Freire com meus agradecimentos pelo excelente trabalho de organiza o dos cap tulos desta Pedagogia da Autonomia Paulo Freire A respeito de seu casamento com Ana Maria Ara jo Freire ap s ter ficado vi vo de Elza sua primeira esposa afirma Freire 1991 em comovente entrevista concedida a Carlos Alberto Torres 1 a influ ncia de Elza em minha vida foi enorme Ela morreu como voc sabe e eu quase morri tamb m 1 Um dia por m mesmo mergulhado em muita dor decidi viver de novo 1 Descobri ent o alguma coisa que para mim hoje bvia quanto mais voc amou e ama tanto mais voc pode amar 1 Amo de novo Outra mulher me ajudou a voltar vida a que tenho direito e ante a qual tenho deveres Ana Maria ou simplesmente Nita como a chamo Nita n o chegou para substituir Elza nem paracontinu la Chegou para como disse a mim e de mim em excelente livro seu Freire Ana Maria Ara jo Analfabetismo 1989 reinventardas perdas
237. ntiza o 24 1 1 Paulo Reglus Neves Freire o educador que rompeu o tempo dei destiempo Paulo Freire forma reduzida do nome corno ficou nacional e internacionalmente conhecido o educador Paulo Reglus Neves Freire refer ncia central na constru o da teoria educacional cr tica da modernidade continua a s lo para a manuten o de uma pedagogia progressista nesses pol micos tempos de p s modernidade A seu respeito cabe referir utilizando suas pr prias palavras ainda que de modo alongado por ser esta uma forma de contextualizar a origem de suas reflex es Nasci em 19 de setembro de 1921 em Recife Estrada do Encantamento bairro da Casa Amarela Joaquim Tem stocles Freire 1 espiritista extremamente bom inteligente capaz de amar meu pai Edeltrudes Neves Freire de Pernambuco cat lica doce boa justa minha m e Com eles aprendi o di logo que procuro manter com o mundo com os homens com Deus com minha mulher com meus filhos O respeito de meu pai pelas cren as religiosas de minha m e ensinou me desde a inf ncia a respeitar as op es dos demais A crise econ mica de 1929 obrigou minha fam lia a mudar se para Jaboat o onde parecia menos dif cil sobreviver 1 Em Jaboat o perdi meu pai Em Jaboat o experimentei o que a fome e compreendi a fome dos demais Como professor de Portugu s satisfazia o gosto pelo estudo da l ngua ao mesmo tempo em que ajudava meus irm os mais
238. num n vel de criticidade que argumente sua compreens o te rica bem como a clareza de suas op es pol ticas Ao n o ser problematizada a atua o profissional que permanece nesse n vel de conhecimento torna se repetitiva rotineira inconsciente e mec nica reduzindo o a professor a a mero a transmissor a de conte dos E pois a partir da problematiza o deste saber de experi ncia feito que o processo de forma o permanente desafia o a professor a a assumir uma atitude propositiva na perspectiva da constru o de um conhecimento pedag gico in dito vi vel que potencialize a perspectiva emancipat ria da pr tica docente j que A pr tica surge como espa o integrado de integra o de compet ncias Isto s poss vel se o professor reflectir sisternaticamente sobre o que faz e sobre o que v fazer A experimenta o e reflex o s o elementos autoformativos que levam a uma conquista progressiva de autonomia e descoberta de potencialidades Amaral Moreira e Ribeiro 1996 p 98 Logo estudar a pr pria pr tica implica necessariamente a assun o de uma atitude cr tica de estudo implica estabelecer uma rela o org nica entre ensino e pesquisa Partindo dessa concep o Freire preocupa se com a cria o e o desenvolvimento de atitudes cognitivas que contribuam para que o professor possa assumir criticamente o movimento din mico entre pensamento linguagem e realidade do qual se bem assumido resulta uma cr
239. o Pedagogia da Conscientiza o 228 desenvolvimento do ato de registrar o a professor a torna se sujeito criador da pr xis educativa libertadora ampliando assim a diversidade das alegrias vividas na e a partir da escola Na alegria a totalidade da pessoa que progride e em rela o totalidade da vida sentir compreender for a de agir Snyders 1988 p 19 a alegria da cria o do in dito vi vel que mant m a esperan a na reinven o do futuro e movimenta o processo de constru o de novas utopias Em s ntese a conscientiza o para constituir se como tal precisa ser compreendida a partir de uma perspectiva de globalidade orientada pela Pedagogia da Esperan a que assume em cada uma das dimens es que integram a conscientiza o um duplo compromisso o compromisso com a den ncia da inviabilidade vivenciada hist rico culturalmente e o an ncio das condi es de possibilidade vislumbradas como um sonho poss vel bem como o compromisso com a luta pela concretiza o de tais possibilidades Essa perspectiva de globalidade amplia se pela compreens o da perspectiva de totalidade que desafia a a o a partir de uma complexa articula o de tr s rela es de circularidade complementares que a integram no plano da ades o trata se de compreender a rela o de circularidade que se estabelece entre conscientiza o e gest o democr tica no plano da a o a circularidade se estabelece entre a eleva o da
240. o e autonomia da a o de todos os segmentos da comunidade escolar Trata se da possibilidade de que o ato pedag gico compreendido como pr tica social e exercido no movimento da criticidade da curiosidade e da criatividade coletiva e sistematicamente compartilhadas no processo de trans forma o permanente torne realidade a viv ncia da reinven o da escola como um local produto produtor de esperan a curiosidade e alegria na cria o do in dito vi vel Enfim trata se da possibilidade de que se construam as condi es sociais necess rias viabiliza o das condi es teoricamente poss veis e eticamente desej veis no que se refere constitui o de pol ticas de forma o que contribuam para a profissionaliza o do a professor a para a recupera o da dignidade da escola p blica e para a radicaliza o da fun o transformadora da educa o na constitui o de um senso comum emancipat rio Pedagogia da Conscientiza o 186 3 4 A gest o democr tica do trabalho pedag gico contribui es para a reinven o da supervis o escolar e outras pr ticas A gest o democr tica do trabalho pedag gico foi concebida por Freire 1991a como o caminho poss vel de reinven o da escola tendo em vista a constru o de sua qualidade democr tica por acreditar que n o se democratiza a escola sozinho a partir do gabinete do secret rio p 43 Essa postura educativa uma decorr ncia pr tica da conc
241. o curiosidade epistemol gica Desde suas primeiras obras Freire j apontava a necessidade de uma certa postura epistemol gica a ser assumida para que se d com maior exatid o a aproxima o do objeto a ser conhecido Contudo merece destaque a concep o expressa claramente no posf cio dedicado a Fiori ao afirmar que o pr prio da mente na cotidianidade se acercar dos objetos espontaneamente n o epistemologicamente Ela s se acerca dos objetos epistemologicamente quando ela assume a posi o de querer conhecer os fatos de querer decifr los Freire in Fiori 1991b p 275 Sobretudo alerta nos de que isso n o significa que n o haja curiosidade na cotidianidade Existe e n o poderia deixar de existir a temos vida humana exist ncia Nesse dom nio contudo nossa curiosidade desarmada espont nea sem rigorosidade met dica Freire 1995 p 77 Freire preocupa se em compreender a import ncia e a qualidade dessa curiosidade pr pria da consci ncia cr tica de tal forma que poss vel perceber ao longo de suas obras os diferentes adjetivos que foram sendo atribuidos por ele a essa curiosidade que movimenta o ato de conhecer A curiosidade radical de quem busca e de quem quer conhecer Freire 1991a p 59 denomina se a seguir de curiosidade intelectual Freire 1992 p 71 aquela curiosidade que opera epistemologicamente ibidem p 109 caracteriza se tamb m corno uma
242. o de confirmar e reproduzir um lugar de depend ncia Fernandez 1992 p 54 22 Grifos do autor Ana L cia Souza de Freitas 181 Essas s o ultrageneraliza es acerca do trabalho docente a serem criticizadas num processo de forma o permanente em que a conscientiza o como princ pio metodol gico tem o intuito de problematizar a pr tica profissional do a professor a tomando como refer ncia a totaldade e a complexidade da articula o de tais contextos estruturais do conhecimento Nesse sentido Souza Patto 1993 destaca o potencial transformador presente na fun o social da doc ncia os educadores em geral e as educadoras mais especialmente s o portadores de carecimentos radicais que os fazem da perspectiva da sociologia da vida cotidana um grupo social potencialmente transformador Sua insatisfa o com a situa o de opress o que vivem como profissionais e em sua maioria corno mulheres torna os especialmente receptivos a propostas nas quais possam falar de suas frustra es representa es e desejos p 349 Em fun o dessa potencialidade torna se poss vel o desenvolvimento da conscientiza o corno um processo em que a queixa docente tomada como ponto de partida constitui se em elemento desencadeador da reflex o acerca da identidade pessoal profissional do a professor a Processo em que suas contradi es sejam explicitadas e no qual sejam convidados a novas smnteses rumo supera
243. o que se ven a a desesperan a para assumir a luta pela transforma o j que a utopia recusa a Essa express o tomada de empr stimo de educadores que tendo trabalhado com Paulo Freire na Secretaria Municipal de Educa o de S o Paulo traduziram a teoria dial tica do conhecimento a partir do que denominaram de tr s momentos pedag gicos organizadores da dialogicidade no processo de con amp tru o de programas educativos A esse respeito ver PONTUSCHIICA org Ousadia no dkulogo S o Paulo Loyola 1993 e DELIZOICOV Dem trio Conhecimento tens es e transi es Tese de doutoramento apresentada Faculdade de Educa o da Universidade de S o Paulo 1991 Ana L cia Souza de Freitas 227 subjetividade do conformismo e cria a vontade de lutar por alternativas Sousa Santos 1995 p 324 O momento de estudar desafia a eleva o da consci ncia da pr xis orientando se a partir do segundo princ pio que desdobra a conscientiza o como princ pio metodol gico realizar um processo de teoriza o sobre a pr tica o momento em que a compreens o da realidade codificada atrav s de sua descodifica o permite que se vislumbre um caminho para sua transforma o O desenvolvimento sistem tico dessa capacidade de estudar coletivarnente a partir da tematiza o da pr tica transforma se em necessidade decorrente do desejo de exercer se como sujeito nesse processo E portanto o momento de a o e comprome
244. ocesso de desenvolvimento o indiv duo desenvolve a consci ncia cr tica do conhecimento socioculturalmente sistematizado na medida em que ampliando a diversidade de suas intera es sociais torna se sujeito do ato de conhecer nesse processo reconstr i no mbito individual as etapas hist ricas do pensamento cient fico Dessa afirma o decorre a necessidade de compreens o do processo de conscientiza o levando em conta a totalidade das dimens es que envolvem o ato de conhecer bem como sua rela o com a complexidade do ato pedag gico enquanto pr tica de sujeitos sociais cuja inteireza se constitui na historicidade de suas dimens es epistemol gica pol tica e est tica dimens o est tica Tais afirma es poder o constituir se como eixos organizadores e provocadores de desdobramentos pr ticos decorrentes do compromisso com o desenvolvimento de propostas de forma o voltadas para a constru o do in dito vi vel enquanto um desafio permanente pr tica do educador progressista na perspectiva de que se inaugure uma nova rela o com o conhecimento caracterizada pela dupla ruptura epistemol gica enquanto um conhecimento socialmente comprometido com a constru o de um senso comum emancipat rio Propor alternativas concretas no entanto pressup e a cria o de condi es sociais favor veis sua viabiliza o Vale retomar a respeito desta Pedagogia da Conscientiza o 224 reflex o as considera e
245. ofessor p 38 A entrada na carreira momento em que ocorre o contato inicial com a sala de aula caracteriza se por ser um momento de sobreviv ncia frente ao choque do real a confronta o inicial com a complexidade da situa o profissional o tatear constante a preocupa o consigo pr prio 1 a dist ncia entre os ideais e as realidades quotidianas da sala de aula p 39 Por outro lado esse momento tamb m atravessado pelo entusiasmo inicial em que a sensa o de descoberta do novo permite suportar o impacto da sobreviv ncia A fase de estabiliza o ocorre como decorr ncia da fase inicial em que a explora o de possibilidades profissionais e as op es provis rias encaminham a um comprometimento mais definitivo e amplia o das responsabilidades que caracterizam essa fase profissional A no o de estabiliza o est relacionada a um sentimento de compet ncia pedag gica crescente 1 um sentimento de confian a e de conforto associa do a uma maior descentra o as pessoas preocupam se menos consigo pr prias e mais com os objetivos did ticos p 40 do que decorre urna atua o pedag gica mais descontra da flex vel e prazerosa A fase de diverszfica o um momento que passadas as inseguran as iniciais que restringem as possibilidades de diversifica o das aulas e conduzem a uma certa rigidez bem como j tendo vivenciado o momento de estabiliza o as pes
246. ofessor a bem corno em rela o ao seu pr prio trabalho possa ser um testemunho da possibilidade de desenvolvimento da capacidade criadora a partir da s ria disciplina intelectual comprometida com um projeto coletivo contribuindo para a cria o e recria o permanente da pr xis educativa libertadora Para que possa atuar nesse sentido o a supervisor a precisa assumir o compromisso com a recria o de sua pr pria identidade profissional compreendendo a como um desafio em tr s perspectivas uma perspectiva de complexidade que compreende a necessidade da assun o da responsabilidade de sua trans forma o permanente exercendo se como Pedagogia da Conscientiza o 214 sujeito criador de sua pr tica profissional uma perspectiva de totalidade que argumenta a necessidade de sua participa o na elabora o e defesa de propostas institucionais que ampliem as possi bilidades de recriar permanente e coletivarnente o projeto pol tico pedag gico da escola e urna perspectiva de globalidade que defende a necessidade do engajamento na luta de sua categoria profissional para que se constituam condi es sociais favor veis a este processo de permanente trans forrna o de sua pr tica Sobretudo para al m das iniciativas individuais e coletivas de trans forma o da pr tica profissional do a supervisor a escolar faz se necess rio que tamb m os cursos de forma o compreendendo a import ncia desta habilita o profissional
247. ogia do Oprimido poss vel perceber essa viv ncia da dupla ruptura epistemol gica em que Freire exercita permanentemente a mem ria no intuito de recri la Nessa obra analisa o importante papel da oralidade ao destacar como falando apaixonadamente sobre as id ias da Pedagogia do Oprimido como se estivesse a escrev las foi se constituindo o processo de sua cria o Atribui a esse tempo da oralidade de profunda e permanente reflex o sobre suas 28 Grifo do autor Ana L cia Souza de Freitas 39 experi ncias cotidianas o fato de ter escrito em apenas 15 dias de trabalho os tr s primeiros cap tulos da Pedagogia do Oprimido Para Freire 1992 o processo de escrita de um livro envolvendo a gesta o das id ias envolve tamb m o momento ou os momentos da a o em que se foram gestando e os de p las no papel j 53 sendo fundamentais por isso tanto o respeito ao senso comum na observa o atenta da cotidianidade quanto o exerc cio da rigorosidade met dica necess ria produ o intelectual Esse entendimento se explicita nos detalhes com que relata seu processo de escrita Comecei a escrever fichas a que ia dando em fun o do conte do de cada uma um certo t tulo ao mesmo tempo em que as numerava Andava sempre com peda os de papel nos bolsos quando n o com um pequeno bloco de notas Se uma id ia me ocorria n o importava onde estivesse no nibus na rua num restaurante sozinho acompan
248. ognitivos e te ricos ultrapassando as necessidades que se situam no campo do racional visto que A ac o reflexiva tamb m um processo que implica mais do que a busca de solu es l gica e racionais para os problemas A reflex o implica intui o emo o e paix o p 18 Freire 1996 tamb m enfatiza a import ncia da intui o para o desenvolvimento fio processo reflexivo compreendendo a como um elemento que integra a dimens o est tica da concep o problema tizadora e libertadora 5 Refere se aqui ao processo de escrita da obra Pedagogia do oprimido Pedagogia da Conscientiza o 138 da educa o juntamente com as dimens es pol tica e epistemol gica ao considerar que Nenhuma forma o docente verdadeira pode fazer se alheada de um lado do exerc cio da criticidade que implica a promo o da curiosidade ing nua epistemol gica e de outro sem o reconhecimento do valor das emo es da sensibilidade da afetividade da intui o ou adivinha o p 51 Todavia sem desconsiderar que imposs vel conhecer rigorosamente com desprezo intui o aos sentimentos aos sonhos aos desejos 1991a p 109 Freire n o dissocia a intui o da rigorosidade met dica necess ria ao ato de conhecer Ainda que ressalte n o ser poss vel negar o corpo e as emo es em nome do rigor do conhecimento compreende que o importante n o resta d vida n o paramos satisfeitos ao n vel das int
249. ogramas de P s Gradua o Pedagogia da Conscientiza o 160 absoluta entre teoria e pr tica p 67 Assim esclarece como compreende essa rela o entre pr tica e pr xis Considero portanto que pr xis refere se a uma realidade a atividade humana diante da qual posso ter diferentes graus de consci ncia Assim sendo uma atividade pr tica humana pr xis quer sobre ela tenha este ou aquele grau de consci ncia quer ela seja ou n o teoricamente fundamentada p 66 Esse entendimento sustenta sua convic o de que a atividade educacional escolar uma forma espec fica de pr xis e sendo tem que ser compreendida enquanto tal p 58 Compreender a pr tica educativa enquanto uma forma espec fica de pr xis implica perceber a articula o da finalidade imediata que d sentido pr prio educa o p 58 com a finalidade imediata a que toda forma espec fica de atividade humana est subordinada qual seja a finalidade de constru o produ o constitui o de um ser humano cada vez mais humano p 59 Refor a assim a import ncia dessa compreens o para a atividade educacional destacando as consequ ncias no sentido contr rio A falsa compreens o que gera um conhecimento do lado pr tico da atividade educacional no estreitamento dos limites do pr tico utilit rio condena muitos de n s educadores a uma atitude em verdade pragm tica diante do que faz e do que prec
250. oliberalismo e educa o 1w APPLE Michael W Pedagogia da Conscientiza o 234 NOVOA Ant nio Paulo Freire pol tica e pedagogia Portugal Porto 1998 p 21 42 AZEVEDO Jos Cl vis de Educa o e neoliberalismo In Revista Paix o de Aprender Prefeitura Municipal de Porto Alegre SMED n 9 p 26 39 dez 1995 BACHELARD Gaston A psican lise do fogo Lisboa Litoral Edi es 1989 A forma o do esp rito cient fico Tradu o Estela dos Santos Abreu Rio de Janeiro Contraponto 1996 BALZAN Newton Cesar Perfil do supervisor necess rio In Supervis o Educacional novos caminhos S o Paulo Papirus 1982 Cadernos Cedes n 7 p 41 57 BORGES Regina Maria Rabeilo Mudan a de paradigma em pesquisas sobre educa o de professores In ENGERS Maria Em lia Amaral org Paradigmas e metodologias da pesquisa em educa o notas para reflex o Porto Alegre EDIPUCRS 1994 p 45 50 Em debate cientificidade e educa o em ci ncias Porto Alegre SE CECIRS 1996 BRAND O Carlos Rodrigues Refletir discutir propor as dimens es da milit ncia intelectual que h no educador In org O educador vida e morte 3 ed Rio de Janeiro Graal 1983 p 71 87 Vida ou morte Esperan a ou desespero In org O educador vida e morte 3 ed Rio de Janeiro Graal 1983 p 9 12 BUSSMANN Ant nia Carvalho O projeto politico pedag gico e a gest o da escola In SILVAJR C
251. olitica da educa o frente ao contexto neoliberal que refor a sua pseudoneutralidade Ao compreender a influ ncia rec proca entre o contexto pol tico econ mico e a educa o enfatiza a responsabilidade hist rica das pr ticas pedag gicas orientadas por uma concep o progressista da p s modernidade Tal entendimento explicita se especialmente no fato de convidar Ladislau Dowbor doutor em ci ncias econ micas para prefaciar A sombra desta mangueira Dowbor 1995 faz importante reflex o em torno dos mecanismos econ micos e culturais que sustentam o capitalismo diante da explos o tecnol gica dos ltimos vinte anos nos quais paradoxalmente passamos cada vez mais tempo trabalhando intensamente para comprar mais coisas destinadas a economizar nosso tempo p 13 Em meio a sua reflex o Dowbor destaca uma importante caracter stica de Freire que ao escrever n o s escreve mas tamb m pensa o seu ato de escrever num permanente distanciamento sobre si mesmo p 7 Assim considera que nesta obra voltando mangueira como ncora da identidade que se reencontra e se recria p 12 Freire luta sobretudo por uma educa o formadora e transformadora A esperan a que o move na defesa de tal possibilidade tamb m nesta obra continua a ser compartilhada com Ana Maria Ara jo Freire na compet ncia com que escreve suas notas Ana L cia Souza de Freitas 47 Pedagogia da Autonomia saberes necess rios pr
252. ometidas com a conscientiza o enquanto princ pio metodol gico e finalidade da educa o Este um elemento imprescind vel para pensar a educa o no contexto atual uma vez que urna das exig ncias da p s modernidade progressista n o estarmos demasiado certos de nossas certezas ao contr rio do exagero das certezas da modernidade Freire 1994a p 19 A obra de Freire especialmente na d cada de 90 importante refer ncia n o apenas por fazer a den ncia concep o de educa o banc ria fundada na certeza castradora da curiosidade dos educandos mas principalmente por propor uma concep o problernatizadora e libertadora de educa o na qual seja a capacidade de conhecer associada curiosidade em torno do objeto Freire in Pasquim 1978 p 9 d vida constante indaga o busca de querer saber de tal forma que se v forjando a relativiza o das certezas orientada pelo compromisso com a constitui o da curiosidade epistemol gica 2 Express o empregada por Adriano Nogueira ao referir se ao significado da curiosidade para Freire entrevista realizada em 17 12 97 gravada e transcrita Pedagogia da Conscientiza o 100 2 2 1 Curiosidade e constru o do conhecimento na obra de Paulo Freire Ao definir a educa o como um ato de conhecimento Freire prop e tendo em vista uma perspectiva critica de conhecer que a curiosidade seja um eixo norteador do processo de ensinar e apre
253. omprometido simultaneamente com as dimens es pol tica epistemol gica e est tica que integram a educa o libertadora O momento de sonhar desafia a tomada de consci ncia orientando se a partir do primeiro princ pio que desdobra a conscientiza o como princ pio metodol gico tomar a pr tica social como ponto de partida o momento da den ncia da estrutura desumanizante e do an ncio de sua possibilidade de transforma o A partir da problematiza o da realidade constr i se sua codifica o e desafiase sua criticiza o tornando a como objeto de curiosidade para a reflex o em torno de sua dist ncia do sonho almejado processo em que se desenvolvem simultaneamente a tornada de consci ncia dos pr prios saberes e seus questionamentos mobilizando a busca de novos conhecimentos O exerc cio sistem tico da capacidade de sonhar coletivamente em fun o do desenvolvimento da consci ncia democr tica transforma se em movimento que sela o compromisso com a cria o do in dito vi vel do qual a atitude cr tica de estudo torna se urna decorr ncia E portanto no desenvolvimento da capacidade de sonhar coletivamente que se constr i a circularidade que se estabelece entre a conscientiza o e a gest o democr tica do trabalho pedag gico momento de ades o Pedagogia da Esperan a dialetizada pela Pedagogia da Indigna o constituindo se assim no primeiro passo para a constru o de um trabalho coletivo pois precis
254. onalmente conscientizar da possibilidade e necessidade da transforma o deste mundo brasileiro t o perverso corrupto e injusto 1 Sem parcim nia fui construindo n o poderia dizer jamais que a contragosto do autor do livro um espa o para as notas que n o deixando de s amp las em nenhum momento delas foram tendo tamb m uma alma pr pria uma certa e necess ria autonomia N o poderia nem deveria ser apenas a notista que explica neutramente desaparecendo enquanto quem escreve notas que por serem notas n o devem carregar os sentimentos e a raz o de quem as escreve p 237 238 Igualmente na obra seguinte sombra desta mangueira introduz as notas reafirmando o prazer da partilha com Freire n o apenas do dia a dia do 4 Pedagogia da esperan a Pol tica e educa o Professora sim tia n o cartas Critina 5 A sombra desta mangueira 51 Pedagogia da autonomia Pedagogia da Conscientiza o 50 conv vio marido mulher mas a satisfa o de estar tamb m vivendo e dividindo suas preocupa es pol tico pedag gicas p 89 Assim juntos desafiam tamb m seus leitores as a refletir e compartilhar sua cren a na possibilidade de mudan a constituindo se como refer ncia importante nesse contexto neoliberal para alimentar a esperan a que move os educadores progressistas a continuar na luta pela reconstru o da atual realidade hist rica de nosso pa s da qual a reinven o
255. onar bem exige de n s absoluta lealdade Vou dividir o quadro negro em dois peda os em que irei registrando do meu lado e do lado de voc s os gols que faremos eu em voc s voc s em mim O jogo consiste em cada um perguntar algo ao outro Se o perguntado n o sabe responder gol do perguntador Come arei o jogo fazendo uma primeira pergunta a voc s 1 Que significa a mai utica socr tica Gargalhada geral e eu registreio meu primeiro gol Agora cabe a voc s fazer a pergunta a mim disse Houve uns cochichos e um deles lan ou a quest o Que curva de n vel N o soube responder Registrei um a um Qual a import ncia de Hegel no pensamento de Marx Dois a um Para que serve a calagem do solo Dois a dois Que verbo intransitivo Tr s a dois Que rela o h entre curva de n vel e eros o Tr s a tr s Que significa epistemologia Quatro a tr s O que Pedagogia da Conscientiza o 60 aduba o verde Quatro a quatro Assim sucessivamente at chegarmos a dez a dez Ao me despedir deles lhes fiz urna sugest o Pensem no que houve esta tarde aqui Voc s come aram discutindo muito bem comigo Em certo momento ficaram silenciosos e disseram que s eu poderia falar porque s eu sabia e voc s n o Fizemos um jogo sobre saberes e empatamos dez a dez Eu sabia dez coisas que voc s n o sabiam e voc s sabiam dez coisas que eu n o sabia Pe
256. onfigura se ainda pelo estabelecimento de rela es hier rquicas caracterizando se pela centralidade na tarefa e n o na reflex o A respeito de tais cr ticas a d cada de 80 foi marcada pela busca de reconstru o da identidade do a supervisor a escolar a fim de superar sua imagem social de tecnocrata desumanizado ou especialista descomprometido Pedagogia da Conscientiza o 198 Brand o 1983 p 11 desenvolvendo se a partir dai a concep o de supervisor educador E esse o contexto em que Freire convidado para o Ill Encontro Nacional de Supervisores de Educa o realizado em Goi nia de 20 a 25 de outubro de 1980 teve seu primeiro grande encontro ap s quase 16 anos de ex lio realizando palestra que recebeu o nome de Educa o o sonho poss vel em que se posiciona sobre a pr tica profissional do supervisor educado O supervisor um educador e se ele um educador ele n o escapa na sua pr tica a esta natureza epistemol gica da educa o Tem a ver com o conhecimento com a teoria do conhecimento O supervisor n o escapa a isso tamb m O que se pode perguntar qual o objeto de conhecimento que interessa diretamente ao trabalho do supervisor A talvez a gente pudesse dizer o pr prio ato de conhecimento que est se dando na rela o educador educando Freire in Brand o 1983 p 95 O posicionamento de Freire confirma a import ncia da dimens o epistemol gica para que o supervi
257. onjunto das tend ncias pedag gicas entre as quais Paulo Freire assume importante relev ncia j que a tend ncia libertadora da Pedagogia Progressista considerada por Lib neo como a pedagogia de Paulo Freire 12 Grifos do autor 13 Saviani assim como Ub neo e MiZukami constitui se importante refer ncia pedagogia ao contribuir para que os educadores possam refletir sobre sua pr tica pedag gica situando a mediante a an lise das rela es entre educa o e sociedade Concebe a necessidade de uma teoria critica da educa o a que se imp e a tarefa de superar tanto o poder ilus rio que caracteriza as teorias n o cr ticas como a impot ncia decorrente das teorias critico Pedagogia da Conscientiza o 80 neoliberalismo em termos pol ticos e econ micos ou a p s modernidade em termos culturais teria um correspondente pedag gico e no que este consistiria p 20 O neoliberalismo compreendido por Frigotto 1996 como a ideologia que d sustenta o ao processo material concreto da reestrutura o produtiva sob a l gica da globaliza o excludente p 76 Esse contexto orientado pela l gica do lucro e n o das necessidades humanas produz segundo Sousa Santos 1996 a morte do espanto e da rebeldia produz uma sensa o de imobilismo frente a um tempo paradoxal Um tempo de muta es vertiginosas produzidas pela globaliza o a sociedade de consumo e a sociedade de informa o Mas tamb m u
258. oposta por Freire sem deixar de ter converg ncias com a concep o de professor como profissional reflexivo amplia se nessa perspectiva do professor como intelectual cr tico tamb m denominada por Giroux 1997 de intelectual transformador constituindo se portanto no profissional reflexivo que para al m de fazer a cr tica te rica das ideologias tecnocr ticas e instrumentais subjacentes teoria educacional que separa a conceitualiza o planejamento e organiza o curricular dos processos de implementa o e execu o p 161 compromete se com a necessidade de tornar o pedag gico mais pol tico e o pol tico mais pedag gico op cit p 163 o que signffica assumir a natureza libertadora da educa o de modo a Pedagogia da Conscientiza o 116 utilizar formas da pedagogia que tratem os estudantes como agentes cr ticos tornar o conhecimento problem tico utilizar o di logo critico e afirmativo e argumentar em prol de um mundo qualitativamente melhor para todas as pessoas dar aos estudantes voz ativa em suas experi ncias de aprendizagem E desenvolver uma linguagem cr tica que esteja atenta aos problemas experimentados em n vel da experi ncia cotidiana Giroux 1997 p 163 McLaren 1997 igualmente assumindo o termo intelectual transformador para destacar a politiza o do ensino como fun o social especifica do professor considera que este um entendimento em que j a vis
259. or neo de Freire exerce influ ncia expl cita que sobressai se nas obras escritas na d cada de 90 per odo em que sua preocupa o volta se de forma intensa para uma racionalidade molhada de afetividade na qual n o se dicotorniza o afetivo do cognitivo Referindo se ao mesmo Freire afirma um homem como Georges Snyders o grande educador franc s que para mim uma das melhores express es de uma concep o s ria da pedagogia neste fim de s culo Ele um so cialista com clara op o marxista e com urna lealdade criadora ao pensamento marxista Seu ltimo livro La joic a I cole A alegria na escola um hino alegria O que ele faz convidar o educador a fazer alegria atrav s da educa o Freire 1991a p 93 Freire assume se como parceiro do pensamento de Snyders na defesa de uma disciplina intelectual geradora de alegria A proximidade da constru o te rica de ambos se materializa quando Freire prefacia a edi o brasileira da obra de Snyders intitulada Alunos felizes reflex o sobre a alegria na escola a 1 Essa uma curiosidade interessante que demarca a rigorosidade met dica exercida por Freire no ato de estudar encontra se em pormenores na nota n 27 da obra Pedagogia da esperan a 1992 escrita por Ana Maria Ara jo Freire 2 Georges Snyders 1916 educador franc s contempor neo a partir de uma compreens o marxista da sociedade desenvolveu estudo das pedagogias n o diretivas constit
260. ora uma vez que Se n o poss vel defender uma pr tica educativa que se contente em girar em tomo do senso comum tamb m n o poss vel aceitar a pr tica educativa que zerando o saber de experi ncia feito parta do conhecimento sistem tico do a educador a Freire 1992 p 59 A constru o do conhecimento libertador passa necessariamente pela compreens o do saber de experi ncia feito aquele saber constru do na cotidianidade na qual nos movimentamos sem a preocupa o de interrogar nos 28 Grifo do autor Pedagogia da Conscientiza o 110 sobre sua raz o de ser E tomando o saber de experi ncia feito como objeto de nos sa curiosidade que emergimos da cotidianidade tomando dist ncia dela exigindo que nossa mente curiosa passe a operar epistemologicamente E pois a partir dessa exig ncia que o pr prio processo de conhecimento vai fazendo ao exerc cio da curiosidade que ela tornando se mais metodicamente rigorosa ao transitar da ingenuidade para a criticidade constitui se enquanto curiosidade epistemol gica No exerc cio dessa rigorosidade met dica uma s ria disciplina intelectual ir sendo forjada no sentido da viv ncia do que Freire chamou de um rigor criativo Um rigor pr prio da consci ncia cr tica que op e se ao rigor cient fico em seu sentido restrito O rigor cient fico porque fundado no rigor matem tico um rigor que quantifica e que ao quantificar desqualifica um ri
261. ores como necessidade para a cria o de condi es que viabilizem as transforma es das pr ticas pedag gicas j que no exerc cio coletivo de estudar a pr pria pr tica que o a professor a se faz e se refaz assumindo sua inconclus o enquanto sujeito e educador visto que Ningu m come a a ser educador numa certa ter a feira s quatro horas da tarde Ningu m nasce educador ou marcado para ser educador A gente se faz educador a gente se forma como educador permanentemente na pr tica e na reflex o sobre a pr tica Freire 1991a p 58 A equipe diretiva da escola h que constituir se como coordenadora deste processo de forma o articulando as dimens es pol tica epistemol gica e est tica do ato pedag gico em fun o das perspectivas de totalidade e de complexidade que o integram e buscando a concretiza o cotidiana da utopia compartilhada no projeto pol tico pedag gico da escola considerando que o a professor a Em primeiro lugar ele deve estar comprometido politicamente com a sua tarefa de educador Em segundo lugar o professor comprometido politicamente tem que ser tecnicamente competente J Em terceiro lugar se a escola se pretende democr tica o educador necess rio para ela deve assumir Ana L cia Souza de Freitas 193 democraticamente a sua tarefa educativa ele deve compreender a import ncia coletiva de seu trabalho Rodrigues 2 1991 p 65 67 Compromisso pol tico e
262. ormas n o cotidianas de atividade sobretudo nas decis es morais e pol ticas fazendo com que essas percam o car ter de decis es individuais Heiler 1992 p 46 Tal comportamento conform stico fundado na ultrageneraliza o impedidor da a o criadora bem corno da eleva o do n vel de consci ncia da pr xis j que a atividade pr tica do indiv duo s se eleva ao n vel da pr xis quando atividade humano gen rica consciente na unidade viva e muda da particularidade e da genericidade Heiler 1992 p 32 Portanto a conscientiza o a ser desenvolvida nesse processo tem o intuito de problematizar as ultrageneraliza es produzidas na cotidianeidade escolar tendo em vista a constitui o da atividade humano gen rica consciente atrav s 17 Grifo da autora 18 Grifo da autora 19 Grifo da autora Ana L cia Souza de Freitas 173 da qual a consci ncia cr tica realiza a s ntese entre as dimens es social e de singularidade constituintes da identidade do educador progressista Com efeito a individualidade humana n o simplesmente uma singularidade Todo homem singular individual particular e ao mesmo tempo ente humano gen rico Sua atividade sempre e simultanearnente individual particular e humano gen rica Em outras palavras o ente singular humano sempre atua segundo seus instintos e necessidades socialmente formados mas referidos ao seu Eu e a partir dessa perspectiva
263. os novas formas de pensar de compreender de agir e equacionar problemas Amaral Moreira e Ribeiro 1996 p 98 Todavia h que se destacar igualmente o depoimento de Zeichner 1993 ao afirmar que suas investiga es levaram lhe a suspeitar muito da inten o escondida por detr s da ret rica sobre a reflex o dos professores J 24 visto que frequentemente afastam se da perspectiva social para concentrar se numa tica individual do desenvolvimento profissional do professor Assim fala se pouco da reflex o enquanto pr tica social em que grupos de professores sustentam o crescimento uns dos outros limitando se assim as possibilidades de clesenvolvimento da consci ncia profissional do professor numa perspectiva emancipat ria j que Urna das consequ ncias deste isolamento dos professores e da pouca aten o dada ao contexto social do ensino no desenvolvimento dos professores que estes acabam por ver os seus problemas como s seus sem terem qualquer Os autores referem se aqui aos conceitos desenvolvidos por Donald Shin 47 Grifos meus 48 Grifo do autor Ana L cia Souza de Freitas 135 rela o com os dos outros professores ou com a estrutura das escolas e os sistemas educativos Assim assistimos ao aparecimento de termos como esgotamento ou stress dos professores que desviam a aten o dos professores de urna an lise mais cr tica das escolas enquanto institui es para a preocupa o com seus frac
264. os aspectos uma coordena o administrativo pedag gica competente e interativa que estimule planeje comande avalie ap ie e dialogue sempre continuamente p 52 Tal responsabilidade atribuida ao conselho escolar necessita ser compartilhada com a equipe diretiva da escola enquanto coordenadora da cotidianidade em que se operacionalizam as decis es tomadas pelos diversos segmentos da comunidade atrav s do conselho escolar Assim o acompanhamento da reflex o do trabalho pedag gico em seus desdobramentos espec ficos a partir Pedagogia da Conscientiza o 192 das defini es do projeto pol tico pedag gico dever ser assumido como responsabilidade da equipe diretiva em articula o com o conselho escolar equipe diretiva constitu da por educadores que t m forma es profissionais cliferenciadas no campo da educa o compete uma atua o a partir de um campo de trabalho comum o curr culo aqui compreendido como um processo din mico em que se constroem as a es e rela es no cotidiano escolar Sua atua o fundamental para que se consolide na cotidianidade escolar a es comprometidas com a democratiza o da escola e nesse sentido a forma o permanente de professores constitui se parte fundamental de seu objeto de trabalho ao comprometer se com uma proposta cuja perspectiva de globalidade esteja progressistamente orientada Dessa fonna a equipe diretiva assume a forma o permanente de profess
265. osidade ing nua sem deixar de ser curiosidade pelo contr rio continuando a ser curiosidade se criticiza Freire 1996 p 34 Portanto torna se fundamental compreender esse processo de criticiza do da curiosidade para que se possam constituir no cotidiano escolar a es de forma o intencionalmente Torres 1998 considera que Freire oferece nos a sua epistemologia da curiosidade p 51 na obra Pol tica e educa o 1993 Entendo que nesta obra encontra se explicita pela primeira vez a express o curiosidade epistemol gica entretanto sua compreens o conceitual encontra se presente em obras anteriores especialmente na obra Pedagogia da pergunta 1985 e desenvolve se ao longo das demais obras da d cada de 90 Pedagogia da Conscientiza o 108 organizadas de modo a potencializar a reflex o da pr tica pedag gica a partir do exerc cio da curiosidade epistemol gica A criticiza o da curiosidade faz se necess ria para que se ampliem as possibilidades de nossas buscas epistemol gicas uma vez que a curiosidade ing nua de que resulta indiscutivelmente um certo saber n o importa que metodicamente desrigoroso a que caracteriza o senso comum O saber de pura experi ncia feito Freire 1986 p 32 Nesse sentido torna se importante a compreens o da natureza investigativa da pr tica educativa cr tica da qual a curiosidade epistemol gica faz parte e consiste num desafio a ser perseguido
266. osta Snyders 1988 acerca da viv ncia da alegria na escola Trata se de conhecer alegrias que n o se encontram na cotidianidade S o alegrias decorrentes do ato de conhecer de coisas que sacodem interpelam a partir do que os alunos mudar o algo em sua vicia dar o um novo sentido a ela dar o um sentido a sua vida p 14 De igual modo Freire 1991a considera que seria errado falar ao estudante que h uma compensa o de alegria no ato de estudar p 95 e desafia a constitui o de pr ticas educativas que partam do entendimento de que o pr prio ato de estudar em si mesmo e n o apenas como promessa de futuro possa ser vivido como um processo que dif cil exigente mas gostoso desde o come o op cit E nesse sentido que destaca a importante contribui o de Snyders em sua luta para que a escola comprometa se com o desenvolvimento das alegrias especificamente escolares possibilidade que est ligada natureza de obrigatoriedade que caracteriza a escola enquanto institui o de ensino Snyders 1993 define a escola como um lugar de cumprir obriga es p 101 onde o dom nio do dever o que mais se op e alegria pois a alegiia para a maioria dos alunos sin nimo de op o Entretanto alerta para o fato de que os alunos muitas vezes procuram na escola o mesmo tipo de autonomia existente na vida cotidiana ou seja a op o e se irritam por n o encontr la J 110
267. ou na es em torno de compromissos e de valores que impulsionam a o concreta Isso significa que as uto pias e a esperan a est o ligadas subjetividade e esta ao pro cesso de transforma o da realidade Damke 1995 p 114 Compreendida enquanto materializa o da utopia desejada a constru o do projeto pol tico pedag gico da escola implica um processo de conscientiza o representando uma possibilidade de provocar a passagem da consci ncia ing nua consci ncia cr tico democr tica necess ria luta cotidiana para a implanta o e implementa o de projetos pol ticopedag gicos emancipat rios Tal entendimento aponta a perspectiva de complexidade presente tamb m nesse processo j que em se tratando da constru o da identidade profissional estabelece tamb m uma rela o de circularidade entre a eleva o da consci ncia da pr xis educativa libertadora e a identidade do educador progressista Ana L cia Souza de Freitas 163 Sendo a pr xis educativa libertadora uma a o conscientemente comprometida com uma op o pol tico pedag gica progressista sua assun o tanto no enfrentamento das dificuldades que lhe s o inerentes quanto no prazer da autoria das supera es historicamente poss veis n o ocorre ao acaso nem por imposi o mas est relacionada a uma identidade profissional de car ter progressista A conscientiza o enquanto princ pio metodol gico que orienta a organiza o das
268. pensa a sensibilidade e a natureza politica que lhe imprimem significado e exigem sua rigoros dade met dica O plano do agir encerra em si a dimens o est tica que envolve a qualidade da participa o nesse processo considerando numa perspectiva de sensibilidade e complexidade a inteireza do sujeito que conhece e constr i se construindo a hist ria Por isso o agir n o se constitui unicamente por aspectos subjetivos mas tamb m pela natureza pol tica e epistemol gica que o explicam A reflex o em torno desses tr s movimentos auxilia a vislumbrar a possibilidade de construir o in dito vi vel como um modo de supera o dos condicionamentos hist ricos que o tornam momentaneamente invi vel Acreditar na potencialidade do ato de sonhar coletivamente nessa perspectiva significa compreender a import ncia da rigorosidade met dica para ao perceber os temas contidos nas situa es limites tom los co mo objeto de estudo e reflex o podendo perceber tamb m que al m dessas situa es e em contradi o com elas enconlra se algo n o experimentado Freire 1979a p 30 A luta pelo sonho pois uma decorr ncia do processo de constru o da criticidade ou seja a conscientiza o que est evidentemente ligada utopia Freire 1979a p 28 constitu da na dialeticidade da den ncia e do 2 Para tanto Freire prop e a metodologia da codifica o e descodifica o da realidade a qual ser abordada no
269. perar a capacidade de sonhar e mobilizando luta coletiva na defesa da possibilidade de nossos sonhos Vale dizer 19 Atuou como secret rio de educa o durante o per odo de 1 de janeiro de 1989 a maio de 1991 Pedagogia da Conscientiza o 32 atribuindo lhe as palavras que ele mesmo dirigiu ao amigo Ernani Maria Fiori por ocasi o de sua morte ele foi na verdade mestre de todos n s E era um pensador mas tamb m um pedagogo quer dizer um homem que pensava a pr tica educativa enquanto ato de conhecimento 1 Pode o corpo ter envelhecido Mas a cabe a dele n o 1 morreu jovem Ele jamais perdeu a paix o pelos seus sonhos Freire in Fiori 1991a p 287 1 2 O desafio da reinven o da escola na d cada de 90 Paulo Freire participou da administra o do Partido dos Trabalhadores P1 na cidade de S o Paulo como secret rio municipal de educa o durante o per odo de janeiro de 1989 a maio de 1991 experi ncia em que prop s o desafio da reinven o da escola Segundo ele para recuperar a qualidade e a dignidade da escola p blica e de seus educadores ter amos fi is op o de nosso partido de come ar a pensar em reinventar a escola Em mudar a sua cara 1991 p 55 Seu trabalho fundou se no entendimento de que mudar dificil mas poss vel e urgente Freire 1991a p 8 Mudar a cara da escola na perspectiva proposta por Freire implica fundamentalme
270. percebe interroga e d respostas realidade mas ao mesmo tempo atua como membro do g nero humano e seus sentimentos e necessidades possuem um car ter humano gen rico Heller 1992 p 80 A esse respeito Souza Parto 1993 ao analisar o contexto em que tem se constitu do a produ o do fracasso escolar considera que No plano das id ias a vida na escola encontra se imersa na cotidianidade contrariando a pr pria defini o de seus objetivos segundo a qual o espa o escolar seria um lugar privilegiado de atividades humano gen ricas Ju zos provis rios e ultrageneraliza es cristalizados em preconceitos e estere tipos orientam as pr ticas e processos que nela se d o pensamento e a o manifestam se e funcionam exclusivamente enquanto imprescind veis simples continua o da cotidianidade caracter stica do econornicismo da vida cotidiana utilidade e verdade s o crit rios que se sobrep em o que torna a vida marcada pelo pragmatismo p 346 Cabe destacar que tal an lise realizada em fun o de um contexto espec fico cont m elementos que podem ser estendidos a realidades diversas e serve de justificativa aos posicionamentos sobre o magist rio como uma sem iprofiss o E no sentido de uma maior profissionaliza o do professor que se situa a necessidade de uma forma o permanente e coletiva no pr prio local de trabalho tendo como ponto de partida a problematiza o da pr t
271. pervisor e professor j que essas t m sido historicamente sustentadas pela obrigatoriedade em seu sentido restritivo O A supervisor a escolar tem sido em grande parte o a respons vel pela cobran a das obriga es escolares as quais t m servido como instrumento de controle e de fortalecimento de rela es hier rquicas As pr ticas dessa natureza t m contribu do para consolidar uma imagem profissional que ligada a essa concep o de obrigatoriedade configura se como elemento inibidor da reflex o Logo para que se desenvolva uma nova identidade profissional do a supervisor a escolar preciso que tais pr ticas sejam reinventadas a fim de que possam explorar o car ter frut fero que a obrigatoriedade pode assumir quando estabelecida e avaliada conjuntamente H que se construir novas obrigatoriedades na rela o supervisor a professor a tendo em vista a possibilidade de que se desenvolvam no e a partir do processo de forma o permanente a esperan a a curiosidade e a alegria necess rias pr xis educativa libertadora Trata se de assumir o desafio proposto por Snyders 1993 de fazer da obriga o a chance que cada um tem de encaminhar se para aquilo que ainda n o o atra a onde ainda n o fora bem Ana L cia Souza de Freitas 203 sucedido p 106 trata se de assumir o espa o coletivo de forma o como a nica possibilidade de problematizar a pr tica profissional do professor de modo a compromet lo com
272. por ser esta uma possibilidade de superar um senso comum desesperan ado que n o percebe raz es para a esperan a pois tem uma concep o fatalista a cerca da realidade Trabalhar na perspectiva da Pedagogia da Esperan a portanto uma maneira de contribuir para superar a acomoda o e o conformismo constituindo um novo senso comum tal como prop e Sousa Santos 1989 considerando que o que se pretende um novo senso comum com mais sentido ainda que menos comum p 150 Enfim o desenvolvimento de propostas de forma o que assumam a dimens o pol tica da educa o a partir de urna postura progressista faz se necess rio para continuarmos acredi tando tal como Rocha 1994 que a democracia o nico caminho poss vel ji 19 Apesar das dificuldades que lhe 8 Maria Selma de Moraes Rocha professora de Sociologia e Pol tica da Universidade de S o Paulo participou da equipe de Paulo Freire no trabalho da cretaria Municipal de Educa o de S o Paulo Refletindo sobre essa experi ncia em palestra proferida no Semin rio Nacional Gest o Democr tica e Qualidade de Ensino promovido pela SMED de Porto Alegre em julho de 1993 a respeito dos desafios e dificuldades da pr tica da gest o democntica analisa o fato de ter sido rejeitada por cerca de 80 de professores e especlistas da rede municipal de S o Paulo a proposta de elei o de diretores como parte do processo de democratiza o da escola preferi
273. pos de planos de ensino e relat rios de atividades desenvolvidas uma vez que estas muito pouco t m contribu do para desencadear a reflex o do a professor a acerca de sua pr tica pedag gica Somente os as pr prios as professores as no processo de reflex o cr tica e permanente de sua pr tica poder o construir propostas que potencializem e desafiem a possibilidade do registro constituir se em elemento desencadeador da reflex o Ser preciso portanto que se constituam novas obrigatoriedades forma o do a professor a entre elas a cria o de condi es de trabalho favor veis para estimular o exerc cio permanente da reflex o bem como de sua sistematiza o concebendo a como um espa o de cria o e de alegria no exerc cio da doc ncia Dessa forma o educador progressista na luta pela constru o do in dito vi vel h que inserir como quest o primordial a reflex o em torno das obrigatoriedades escolares tendo em vista sua reconstru o permanente coletiva e contextualizada H que assumir sobretudo a luta por condi es de trabalho que lhes permitam exercer o registro e a produ o intelectual como obrigatoriedade inerente reflex o cr tica da pr tica pedag gica enquanto Ana L cia Souza de Freitas 141 parte do compromisso pol tico com a constru o do sonho poss vel de uma escola p blica de qualidade tal como Freire 1994a testemunhou ser poss vel Escrever para mim vem sendo tanto um prazer
274. posicionamentos fazem a cr tica a Freire sem declarar explicitamente uma posi o acerca da contemporaneidade de sua obra Costa 1998 ao referir sua pr pria trajet ria de constru o das refer ncias te ricas para o trabalho com pesquisa a o d destaque ao fato de ver se impelida ao ceticismo quanto ao potencial emancipat rio de qualquer projeto guiado por uma raz o unit ria p 243 Justifica seu questionamento sobre a concep o de ci ncia e conhecimento em que se fundamenta o paradigma da modernidade Insere em sua reflex o a refer ncia a Freire quando questiona as possibilidades da constru o de conhecimento a partir das pr ticas dial gicas em fun o de considerar imposs vel n o admitir o quanto s o desiguais em SA express o empregada por Moraes na obra O Paradigma Educacional Emergente 1997 ao referir se contribui o de Freire para a constitui o de um paradigma educacional emergente qualificado por ela de construtivista interacionista sociocultural e transcendente Considera que Freire situa se no mesmo mbito de outros autores que referenciam tal paradigma Jean Piagel Seymour Papert e Howard Gardner porque suas teorias t m uma vis o de totalidade ao descrever a multidimensionaldade do processo de constru o do conhecimento J reconhecem a subjetividade no conhecimento a participa o do sujeito na constru o do conhecimento l p 24 Entretanto afirma q
275. preendam para que os aprendam Freire 1995 p 32 Ao contr rio a reinven o da escola proposta por Freire situa se no sentido de sua gest o democr tica compreendida em sentido amplo a qual envolve a democratiza o das rela es e a participa o no processo de tomada de decis o a democratiza o do acesso e a democratiza o do de mudan a o pouco tempo para que se desdobrem as rela es entre partido e governo para a constru o desse processo por isso julga serem necess rios cinco anos de administra o de um partido para que suas propostas possam ser melhor compreendidas e consolidadas Segundo ele o primeiro ano de governo resume se ao esfor o de reorientar o or amento deixado pelo partido anterior em fun o de novas prioridades no segundo ano voc trabalha no sentido da sua op o o terceiro ano o do seu trabalho propriamente dito mas na metade do ano quando me retirei j tem inicio a discuss o em torno da reelei o No quarto ano de governo todo sacrificado porque o partido est preocupado com a reelei o Com o mandato de cinco anos voc tem pelo menos tr s de a o um de corre o do governo anterior e um de elei o Ci 75 2 A esse respeito ver no Cap 2 A esperan a e a manuten o da pedagogia progressista em tempos de p s modernidade Pedagogia da Conscientiza o 34 conhecimento Esse processo de reinven o da escola desenvolvido teoricamen
276. preender a raz o de ser do objeto que medeia os sujeitos dial gicos Freire 1995 p 81 Esse processo desenvolve se a partir da constru o coletiva de uma rigorosidade met dica que discipline o ato cr tico de estudar a cotidianidade escolar discutindo suas finalidades e problematizando a na busca da coer ncia entre discurso e pr tica Assim poss vel que a reflex o v tornando se cada vez mais exigente quanto compreens o te rica das pr ticas pedag gicas visando sua transforma o A import ncia que Freire atribui a esse processo reside em sua concep o de que essa rigorosidade met dica que faz a passagem do conheci mento ao n vel do senso comum para o do conhecimento cient fico Freire 1995 p 78 viabilizando o exerc cio dial tico da rela o entre teoria e pr tica Por isso mesmo preocupa se com a crescente dist ncia entre a pr tica educativa e o exerc cio da curiosidade epistemol gica Freire 1995 p 81 Tal preocupa o n o tem entretanto a inten o de desprezar ou minimizar o senso comum tal como as pr ticas da concep o de educa o banc ria que ao desprezar o saber de experi ncia feito supervalorizam a ci ncia e elitizam a educa o Ao contr rio a certeza de que a supera o do senso comum passa necessariamente por ele por sua compreens o cr tica fazem do mesmo o ponto le partida para as pr ticas educativas orientadas pela concep o de educa o libertad
277. que este foi em sua trajet ria profissional um momento definitivo em sua op o por ser educador ao declarar sua esposa J n o serei advogado N o que n o veja na advocacia um encanto especial uma necessidade fundamental uma tarefa indispens vel que tanto quanto outra qualquer se deve fundar na tica na compet ncia na seriedade no respeito s gentes Mas n o a advocacia que quero p 17 Lembra ainda que Elza teria lhe dito Eu j esperava isto voc um educador p 17 Tal fato fez com que aceitasse poucos meses depois o convite para trabalhar na Divis o de Educa o e Cultura do SESI local em que permaneceu durante dez anos Atribui ao trabalho desenvolvido nesse momento a reflex o que deu origem sua tese defendida na Universidade do Recife Educa o e atualidade brasileira que no fundo desdobrando se em Educa o como Pr tica da Liberdade anuncia a Pedagogia do Oprimido p 19 Entre as experi ncias vividas no trabalho do SESI destaca a preocupa o com as rela es fam lia escola assim como com a busca do di logo para refletir sobre as consequ ncias pol ticas de uma rela o pais filhos baseada no castigo Ou seja com a impossibilidade de construir rela es escolares democr ticas Este o nome em que tinha na poca tornando se depois Universidade Federal de Pernambuco 17 Grifos do autor Pedagogia da Conscientiza o 90 vivendo uma rela o famili
278. que o estudo e a reflex o cr tica sobre as pr ticas pedag gicas necessitam articular se reflex o sobre a fun o social da escola em torno de um projeto pol tico pedag gico dimens o pol tica bem como s teorias que d o sustenta o sua operacionaliza o dimens o epistemol gica sem deixar de lado a import ncia do desenvolvimento do prazer da criatividade da curiosidade da alegria da esperan a e do sonho que expressam a inteireza dimens o est tica com que se ensina e se aprende na medida em que se percebe o ato pedag gico como ato pol tico e est tico de constru o social do conhecimento Esse entendimento remete import ncia de que se considere a rela o de circularidade que se estabelece entre a eleva o da consci ncia da pr xis educativa libertadora e a identidade do educador progressista concebendo a como um desafio constitui o de atitudes de forma o comprometidas com a conscientiza o enquanto principio metodol gico Para tanto a proposta de forma o necessita ser planejada e sistematizada a partir de uma rigorosidade met dica intencionalmente organizada a fim de estimular a cu iosidade epistemol gica que fundada na consci ncia da incompletude dos homens e das mulheres desafie o a professor a ao desenvolvimento de urna disciplina intelectual comprometida com um projeto politico pedag gico constru do em conjunto com a comunidade escolar Logo a responsabilidade pela forma o
279. r o mantidas as formas empregadas pelos autores dou tradutores quando se tratar de cita o 1 Grifo do autor Pedagogia da Conscientiza o 172 uma instintividade mec nica e com o sentimento de familiaridade Kosik 1976 p 76 Da mesma forma Heiler 1992 considera que a vida cotidiana caracteriza se pela unidade imediata de pensamento e a o p 45 sendo a ultrageneraliza o uma propriedade que lhe inevit vel uma vez que n o poder amos viver se nos empenh ssemos em fazer com que nossa atividade dependesse de conceitos fundados cientificamente Mas o grau de ultrageneraliza o nem sempre o mesmo Helier 1992 p 44 A ultrageneraliza o cont m os ju zos de valor que constituem o saber cotidiano e orientam a a o imediata s o todos eles ju zos provis rios que a pr tica confirma ou pelo menos n o refuta durante o tempo em que baseados neles formos capazes de atuar e nos orientar Heller 1992 p 34 Tais ju zos de valor em fun o da estrutura pragm tica da cotidianidade podem assumir ares de verdade configurando se como conformismo Todo homem necessita inevitavelmente de uma certa dose de conformidade Mas essa conformidade converte se em conformismo quando o indiv duo n o aproveita as possibilidades individuais de movimento objetivamente presentes na vida cotidiana de sua sociedade caso em que as motiva es de conformi dade da vida cotidiana penetram nas f
280. r tica abrindo se cr tica e predispondo se mudan a Essas entre tantas outras a serem discutidas s o qualidades indispens veis pr tica democr tica do educador progressista qualidades que v o sendo gestadas coletivamente no cotidiano escolar no exerc cio de sua curiosidade epistemol gica em coer ncia com a sua op o politica Dessa forma ao assumir se enquanto sujeito epistenologicamente curioso o educador estabelece urna rela o prazerosa com o processo de conhecer permitindo se desburocratiza o da mente e permanente recria o de sua pr tica pedag gica superando uma atua o meramente t cnica para comprometer se Pedagogia da Conscientiza o 120 com a natureza pol tica de sua pr tica pedag gica Atrav s do desenvolvimento da curiosidade epistemol gica poder ser poss vel construir a supera o da pedagogia da resposta pela Pedagogia da Pergunta a qual orientada pelo seu compromisso pol tico emancipat rio cria uma pedagogia da curiosidade em que o professor vivenciando permanenternente a curiosidade de aprender seja provocado a recri la na rela o com seus alunos Enfim o desenvolvimento da curiosidade epistemol gica urna atitude de forma o que complementa o ato cr tico de sonhar coletivamente potencializando a cria o do in dito vi vel No entanto essa curiosidade fundamental ainda n o basta Freire 1993b p 42 Entre os muitos desafios que se colocam numa
281. r intelectualmente numa nova produ o escrita e por outro lado implicar se em movimentos sociopol ticos no contexto de S o Paulo e do Brasil p 173 Para Freire 1991a esse momento foi inicialmente um tempo de reaprender o Brasil p 62 Destaca como fatos marcantes do per odo os di logos nas viagens pelo pa s o retorno atividade docente e a participa o como membro fundador do Partido dos Trabalhadores da qual decorreu sua indica o para o trabalho como secret rio municipal de educa o de S o Paulo As muitas e variadas experi ncias dessa fase geraram uma intensa produ o intelectual trazendo novas reflex es que ampliam e complementam aspectos de suas obras anteriores N voa admite 13 Essa fase denominada por N voa de vagabundagem do bvio Certamente obviedade e vagabundagem n o s o as melhores palavras para expressar os desafios enfrentados por Freire neste per odo A express o tamb m empregada por Edson Passetti cuja obra Conversa o libert ria com Paulo Freire introduzida sob o t tulo Paulo Freire o andarilho do bvio Em sua reflex o Passetti 1998 refere se a Freire como algu m que passou a vida como um andarilho do bvio um libert rio pela estrela azulada que navega no Nada p 22 Essa obra em 120 p ginas re ne entrevistas gravadas em 13 sess es de duas horas cada urna realizadas entre 1994 e 1995 organizadas a partir dos seguintes t tulos Biografia pe
282. r n o um ato de consumir id ias mas de cri las e recri las Freire 1982 p 12 Concebido desse modo o ato de estudar realmente um trabalho dif cil Exige de quem o faz uma postura cr tica sistem tica Exige uma disciplina intelectual que n o se ganha a n o ser praticando a Isto precisamente o que a educa o banc ria n o estimula Pelo contr rio sua t nica reside fundamentalmente em matar nos educandos a curiosidade o esp rito investigador a criatividade Sua disciplina a disciplina para a ingenuidade em face do texto 1 1 o que se lhes pede afinal n o a compreens o do conte do mas sua memoriza o Numa vis o cr tica as coisas se passam diferentemente O que estuda se sente desafiado pelo texto em sua totalidade e seu objetivo apropriar se de sua significa o profunda Freire 1982 p 10 Estudar critica e permanentemente as pr ticas escolares pois um desafio forma o de professores que disponha se a superar as pr ticas embasadas numa concep o banc ria da educa o reinventando as a partir de um entendimento p s moderno da concep o libertadora da educa o Tal entendimento pressup e uma op o em torno da dimens o epistemol gica da educa o tomando corno refer ncia as condi es te ricas de uma concep o de ci ncia pautada pelo princ pio da dupla ruptura epistemol gica Sousa Santos 1989 p 147 articulada op
283. r texto escrito por Freire no Chile em 1968 Refletindo sobre as caracter sticas de uma atitude critica no estudo esse texto serviu de introdu o rela o bibliogr fica proposta para um semin rio nacional sobre educa o e reforma agr ria encontra se publicado na obra A o cultural para a liberdade e outros escritos sendo o primeiro de um conjunto de textos reunidos nessa obra E interessante observar que j nesse momento Freire destaca a necessidade de uma postura curiosa frente ao ato de conhecer Essa reflex o sobre o ato critico de estudo ser analisada no Cap 3 Pedagogia da Conscientiza o 40 sobre as experi ncias vividas em diferentes momentos A pr tica de registrar nos leva a observar comparar selecionar estabelecer rela es entre fatos e coisas 1993b p 83 de modo que o ato de registrar n o se esgota no puro ato de fixar com pormenores o observado tal qual para n s se deu Significa tamb m arriscar nos a fazer observa es cr ticas e avaliativas a que n o devemos contudo emprestar ares de certeza Freire 1993b p 68 Por isso Freire sugere aos educadores e educadoras que no trabalho com educa o popular desenvolvam a capacidade de escuta do senso comum utilizando o registro como um ponto de apoio sua compreens o Com rela o a essa riqueza popular e de que tanto podemos aprender me lembro das sugest es que andei fazendo de irem registrando est rias retalhos
284. ra a constru o da possibilidade de se fazer um trabalho educativo s rio envolvendo toda a comunidade escolar em torno da constru o de um projeto pol tico pedag gico emancipat rio que denuncie pr ticas de natureza excludente e defina o conjunto de valores a serem perseguidos bem como as possibilidades de sua operacionaliza o Por isso a pr tica cr tico reflexiva n o prescinde da cria o de espa os coletivos de discuss o e da gest o democr tica da escola Dessa forma compreendendo a fun o social de seu trabalho o educador progressista se insere na luta pela reinven o da escola Assume o compromisso de pensar criticamente a institui o escolar e sua pr tica pedag gica trabalhando no sentido de sua transforma o A luta pela Pedagogia da Conscientiza o 118 reinven o da escola se expressa numa s rie de desafios a serem perseguidos cotidianamente a partir de seu trabalho entre os quais situa se o compromisso com o desenvolvimento da curiosidade epistemol gica por ser este um elemento fundamental na constitui o do pensar cr tico que ampliando a compreens o da raz o de ser de sua pr pria pr tica amplie tamb m a capacidade de melhor exerc la Pensar a raz o de ser da pr pria pr tica implica construir a sua compreens o te rica Entretanto refletir teoricamente no exerc cio de sua curiosidade epistemol gica pressup e uma s ria disciplina intelectual disponibilidade e tempo para refl
285. racionalidades positivistas p 181 ao recusar a dicotomia entre subjetividade e objetividade Destaca tamb m como aspectos relevantes da atual reflex o de Freire o modo com que se refere s quest es relativas ao feminismo ao multiculturalismo e dimens o coletiva da forma o docente N voa apresenta A inteireza de um pedagogo ut pico considerando que o percurso da vida de Freire foi refer ncia para sua constru o te rica e 8 Grifos meus Ana L cia Souza de Freitas 27 analisa as contribui es do mesmo a partir de tr s fases A primeira por ele compreendida como o per odo que vai at 1969 fase que corresponde fixa o de uma certa imagem de Paulo Freire a partir do lan amento das primeiras experi ncias de alfabetiza o da elabora o de seu m todo e da reda o da sua trilogia de refer ncia p 173 A trilogia de refer ncia nomeada pelo autor diz respeito s obras A educa o como pr tica da liberdade 1967 A o cultural para a liberdade e outros escritos 1968 e Pedagogia do Oprimido 1970 Escritas nos ltimos anos dessa fase quando Freire pr ximo de seus cinquenta anos encontrava 0 se exilado no Chile s o express o da intensa reflex o e sistematiza o vividas nesse per odo Segundo Freire os saberes sistematizados nessas obras foram se constituindo criticamente desde suas primeiras experi ncias no SESI e se consolidaram na pr tica chilena e n
286. rata se de perceber e potencializar a viv ncia da dupla ruptura epistemol gica na articula o dos princ pios que integram a perspectiva metodol gica da conscientiza o assumindo a como desafio em tr s dimens es assumir o desafio de sua dimens o pol tica tomando a pr tica social como ponto de partida e construindo sua critici dade em fun o da compreens o da totalidade social em que a mesma se insere assumir o desafio de sua dimens o epistemol gica ao desenvolver um processo em que se potencialize a capacidade de teorizar a pr pria pr tica e assumir o desafio de sua dimens o est tica ao problematizar a transforma o das pr ticas pedag gicas desafiando os sujeitos nela envolvidos autoria de perspectivas ineditamente vi veis Concebida dessa forma a conscientiza o constitui se princ pio metodol gico que integra as dimens es pol tica epistemol gica e est tica do conhecimento a partir de uma perspectiva de globalidade p s modernamente progressista visto que prop e uma viv ncia de forma o em que se articulem as perspectivas de totalidade e complexidade dessas dimens es tendo em vista a constitui o da pr xis educativa libertadora a partir de uma teoriza o da pr tica sobre a pr tica a partir da pr tica e em fun o dela Jara s d p Pedagogia da Conscientiza o 158 10 Sobretudo as propostas de forma o que assumam essa globalidade p s modernamente progressista necessitam o
287. raz o de esperan a Freire 1995 p 88 Nesse processo torna se imprescind vel o desenvolvimento de a es e atitudes de forma o que contribuam para a viv ncia da conscientiza o uma vez que a cons cientiza o nos convida a assumir urna posi o ut pica frente ao mundo Freire 1979a p 27 impedindo a burocratiza o do pensamento e exigindo a viv ncia da aut ntica pr xis Esse o sentido de compreender o princ pio metodol gico da conscientiza o enquanto uma totalidade de tr s princ pios em que se sustentem as propostas de forma o Primeiro princ pio ter a pr tica social como ponto de partida significa que os programas de forma o devem partir da problem tica concreta em que 5 Tais princ pios referem se teoria dial tica do conhecimento sistematizada por OscarJara Pedagogia da Conscientiza o 156 vive O grupo ao qual a mesma se destina deve considerar suas necessidades bem corno os conhecimentos que j possuem e seu n vel de consci ncia sobre o pr prio conhecimento Assim j partir da pr tica social sup e basear se nos elementos objetivos ciue surgem na vida cotidiana de um grupo ou segmento da sociedade al m disso sup e partir tamb m dos elementos subjetivos os conhecimentos e interpreta es que este setor social j a iquiriu em sua experi ncia Isto significa considerar suas formas de express o sua linguagem suas manifesta es culturais e art sticas
288. re as dificuldades para a implementa o de uma proposta Ana L cia Souza de Freitas 33 possibilidade e lutar pelas condi es necess rias para que a escola possa ir ficando s ria rigorosa competente e alegre 199 la p 38 Significa assumir o compromisso com sua reinven o criando alternativas para superar a l gica elitista classificat ria e excludente que a orienta reconstruindo a na perspectiva da educa o popular fazendo da escola um espa o de debate de tomada de decis es de constru o do conhecimento de sistematiza o de experi ncias um centro de participa o popular na constru o da cultura Enfim significa lutar para p r em pr tica no mbito do espa o formal da escola a concep o libertadora da educa o que de forma atualizada n o se op e apenas pedagogia liberal em suas tend ncias tradicional renovada diretiva e n o diretiva ou tecnicista mas tamb m se op e escola que se reinventa na perspectiva da pedagogia neoliberal aquela que se caracteriza por ser pragm tica segundo a qual a pr tica educativa hoje eficaz a que despreocupada com os esfor os de desoculta o de verdades se centra no treinamento t cnico caberia aos especialistas a sele o e organiza o dos conte dos a serem ensinados nas escolas refor a a pseudoneutralidade da pr tica educativa reduzindo a a transfer ncia de conte dos aos educandos a quem n o se exige que os a
289. realidades diversas explicitando os conceitos impl citos em tais pr ticas e buscando ampliar sua compreens o em torno dos mesmos Entre outros aprofundam o entendimento da estreita rela o que se estabelece entre curiosidade pergunta e constru o do conhecimento ao considerar que todo conhecimento come a pela natureza desafiadora da pergunta em sua radicalidade na busca de sentidos de respostas e de querer saber Segundo eles essa inquieta o representa a curiosidade expressa na pergunta levando os a considerar que a curiosidade uma pergunta Freire 1985 p 46 Freire e Faundez rejeitam a pr tica da educa o banc ria centrada na resposta a qual segundo eles representa uma forma de castra o da curiosidade Freire 1985 p 46 Por outro lado argumentam que uma educa o de perguntas a nica educa o criativa e apta a estimular a capacidade humana de assombrar se de responder ao seu assombro e resolver seus verdadeiros problemas essenciais existenciais Freire 1985 p 2 Antonio Faundez chileno fil sofo e ex professor da Universidade de Concepci n no Chile exilado atualmente diretor do IDEA Institut de D velopment et d Education d Adultes em Genebra Gadotti 1996 p 190 Pedagogia da Conscientiza o 104 52 Ressaltam a import ncia de uma educa o que valorize a curiosidade expressa na pergunta compreendendo a como um elemento fundamental para que se desenvol
290. reitas 191 decis o sobre o projeto pol tico pedag gico sonhado e vivido no cotidiano escolar Esse o sentido da elei o de conselhos escolares em que os membros que o comp em representantes de cada segmento da comunidade escolar t m a fun o de estabelecer uma rela o representante representados de modo a garantir uma leg tima disputa das expectativas desejos necessidades e interesses de cada segmento Portanto o conselho escolar o rg o m ximo de decis o na escola em se tratando de sua gest o democr tica de tal modo que o processo de forma o permanente dos as professores as e dos demais segmentos tamb m responsabilidade do conselho escolar E no processo de discuss o registro e reflex o acerca do projeto pol tico pedag gico que ao desenvolverem se intera es coletivas que impulsionam cria o de novos conhecimentos constr i se simultaneamente a identidade da escola e de seus educadores Essa constru o representa um grande desafio organiza o coletiva j que a partir dela que se viabiliza a problematiza o da tica da particularidade que caracteriza a consci ncia ing nua tendo em vista o desenvolvimento da tica do humano gen rico a qual permite a relativiza o da particularidade para a assun o de compromissos em fun o de uma causa comum atitude pr pria da consci ncia cr tica Todavia segundo Bussmann 1995 um processo de constru o coletiva sup e entre outr
291. reitas 45 aos poucos dizendo das idas e vindas em que voc foi se tornando o educador que est sendo p 28 Para Freire a escrita desta obra uma resposta carta inteligente de sua sebrinha respons vel pela proposta de um projeto n o s vi vel mas interessante p 28 Dessa forma revive suas mem rias n o apenas recordando aspectos marcantes de sua trajet ria mas realizando um intenso exerc cio reflexivo sobre a atualidade reafirmando valores e aprofundando conceitos constru dos nesse processo de tornar se educador Esse tamb m o entendimento de Adriano Nogueira fil sofo companheiro de trabalho e amigo de Freire ao afirmar no pref cio desta obra o quanto atrav s dela podemos perceber o que que Paulo Freire faz com o trabalho sobre a mem ria p 9 Nogueira considera que a escrita de Freire tem a marca de tr s grandes op es a primeira a de que Gente humana processo exige o trabalho interativo de autoconhecimento p 10 a segunda que o mundo a vida e as cidades sendo humanas s o mut veis elas s o lugar epistemol gico de transforma es ji 11 e a terceira que diz respeito a uma determinada concep o de leitura na qual ler um entendimento participativo Ler e pronunciar a palavra reconhecer se dentro do engendramento da realidade p 13 Tais id ias desenvolvidas ao longo da escrita dessa obra s o novamente complementadas pelas notas de Ana M
292. reservar a import ncia de sua tradi o enquanto a segunda constitui um verdadeiro antimodernismo busca efetuar uma completa ruptura com o modernismo Moreira 1997 p 16 Para Giroux 1996 o desafio de uma educa o critica o de 1 entender o pensamento p s moderno como parte de um projeto pedag gico mais amplo que assegura a primazia da politica enquanto simultaneamente se une aos aspectos mais progressistas da modernidade A p s modernidade torna se relevante na medida em que faz parte de um projeto politico mais amplo no qual as rela es entre modernidade e p s modernidade s o clial ticas dialogantes e criticas p 68 Tal entendimento torna se importante para situar e compreender a preocupa o de Freire em torno de uma p s modernidade reacion ria segundo a qual com a morte das ideologias o desaparecimento das classes sociais do sonho da utopia a administra o da coisa p blica quest o de pura t cnica desvinculada da pol tica e da ideologia Freire 1993a p 24 A rejei o da id ia de utopia pois um dos elementos que caracterizam o entendimento da teoriza o p s moderna que pressup e uma rela o de ruptura entre modernidade e p s modernidade A teoria pedag gica da educa o libertadora op e se frontalmente a essa concep o uma vez que Na pedagogia libertadora a utopia se define no mesmo mbito do sonho e da esperan a sendo que estas categorias aparecem l
293. rientar se pela Pedagogia da Esperan a j que qualquer que seja a dimens o pela qual apreciemos a aut ntica pr tica educativa gnosiol gica est tica tica pol tica seu processo implica a esperan a Freire 1995 p 88 A esperan a torna se indispens vel porque quando compartilhada criticamente constr i a consci ncia de que a impossibilidade hist rica e socialmente contextualizada n o inviabiliza a cren a na futuridade poss vel e dessa forma entusiasma a participa o democr tica na cria o do in dito vi vel A esperan a alimenta a luta pela democracia corno o nico caminho poss vel pois na verdade as negatividades que experimentamos hoje n o levantam d vidas democracia E porque estamos exercendo com mais rigor a democracia que certas coisas est o se dando e de muitas outras tornamos consci ncia Freire 1995 p 88 E esse o sentido que justifica o entendimento da conscientiza o corno princ pio metodol gico da forma o de professores na perspectiva da gest o democr tica da escola 3 2 A pr xis educativa libertadora e a identidade do educador progressista uma perspectiva de totalidade A globalidade de uma pol tica de forma o de car ter progressista ao assumir a conscientiza o corno princ pio metodol gico para a organiza o de suas a es em circularidade com a gest o democr tica da escola bem corno orientar se pelas id ias for a que fundamentam a Pedago
294. rif cios em rela o ao objetivo de ascens o individual e prest gio Muitas t m sido as investiga es que analisam o car ter excludente classificat rio e elitista da escola apontando a necessidade de transforma o das pr ticas pedag gicas baseadas em pressupostos inatistas e ou empiristas em fun o de uma postura interacionista e reflexiva do a professor a No entanto poucas s o aquelas que para al m da den ncia apresentam alternativas concretas que proponham sua supera o Este trabalho ao fundamentar se na teoria pedag gica de Paulo Freire assume a dialeticidade da den ncia e do an ncio em que se constitui a Pedagogia da Esperan a como um caminho para fazer da investiga o um instrumento de estudo an lise e avalia o da pr pria pr tica mas tamb m de proposi o e compromisso com a cria o do in dito vi vel na perspectiva da democratiza o da escola p blica e da constru o de um conhecimento libertador Ao assumir o compromisso do ato de pesquisar ultrapassando os limites da pura curiosidade intelectual Freire 1992 p 71 para contribuir efetivamente num movimento transformador a constru o poss vel a partir da pesquisa teve como Pedagogia da Conscientiza o 14 ponto de partida e de chegada a Rede Municipal de Ensino buscando implica es concretas para o pr prio trabalho no intuito de vivenciar o ciclo da pr xis onde o conhecimento ampliado permite ou deveria permitir um
295. rimeira carta p 109 140 12 Essa reflex o feita por Freire 1992 ao narrar a dificuldade de fazer chegar ao Brasil o texto da obra Pedagogia do oprimido datilografado em portugu s lingua em que foi o riginalmente escrito p 62 teve sua primeira publica o em ingl s no ano de 1970 sendo que sua publica o no Brasil foi poss vel somente em 1975 quando j havia sido traduzido tamb m para o espanhol o italiano o franc s e o alem o Devido ao clima de repress o vivido na poca nessa edi o foi preciso omitir os nomes de muitos amigos e companheiros de ex lio a quem Freire gostaria de ter registrado seu agradecimento Pedagogia da Conscientiza o 28 desenvolvidos N voa 1998 p 173 foi o per odo em que Freire situado em Genebra trabalhou no Conselho Mundial das Igrejas viveu o que ele denominou de contexto de empr stimo Para Freire este foi um per odo em que a tradu o de suas obras para v rias l nguas especialmente a Pedagogia do Oprimido fez com que aumentassem o n mero de convites que fizeram com que ele fosse se tomando um andarilho Freire 1993a p 87 V rias foram as experi ncias desse per odo das quais entre outras decorre a publica o da obra Cartas Guin Bissau registro de uma experi ncia em processo O retorno definitivo de Freire ao Brasil em junho de 1980 demarca segundo N voa o in cio da terceira fase a qual permitiu lhe por um lado investi
296. rnam a teoria pedag gica da educa o libertadora incompativel com essa vis o p s moderna que prop e a ruptura com a modernidade Contudo a teoria pedag gica da educa o libertadora pode ser concebida como parte integrante da teoria critica da modernidade que se amplia a partir da incorpora o de alguns princ pios da p s modernidade sem perder a perspectiva de continuidade de alguns valores da modernidade Moreira 1997 situando se nessa perspectiva considera poss vel a incorpora o de princ pios p s modernistas pedagogia radical desde que garantida a preserva o de determinados ideais da modernidade p 10 Destaca nesse sentido a import ncia da manuten o de uma perspectiva ut pica op cit posicionando se a favor de um discurso de emancipa o no qual a luta pela domina o constitui parte de um projeto educacional de cunho pol tico p 11 Embora admita que a cren a na emancipa o possa ser tida como incompat vel com os princ pios do pensamento p s moderno e que os movimentos a seu favor possam ser vistos como destinados a falhar justifica sua op o por ser esta uma forma de preservar um certo otimismo presente na teoria educacional cr tica da modernidade quanto s possibilidades da educa o Defende a necessidade da manuten o da utopia referindo se a Sousa Santos o qual segundo ele constitui se numa importante contribui o para enriquecer as an lises p s modern
297. roblenatizadora e libertadora da educa o construam um rigor Ana L cia Souza de Freitas 131 criativo comprometido com a reinven o do ato de estudar propiciando que os educandos descubram e sintam a alegria nele embutida que dele faz parte e que est sempre disposta a tomar todos quantos a ele se entreguem p 83 No entanto para que se desenvolva tal possibilidade faz se necess rio que os as pr prios as professores as descubram em sua forma o permanente a alegria do ato cr tico de estudo E nesse sentido que a discuss o coletiva como processo de reflex o das pr ticas escolares torna se obrigat ria pr tica pedag gica progressista j que a assun o de uma postura critico reflexiva a partir da qual a curiosidade se torna epistemol gica faz do ato cr tico de estudo condi o imprescind vel ao desenvolvimento da autonomia profissional Paradoxalmente na obrigatoriedade da reflex o compreendida como condi o necess ria ao exerc cio profissional da doc ncia que se desenvolve a alegria da constru o do conhecimento libertador em que consiste a alegria da pr tica pedag gica progressista Portanto a reflex o e as alegrias que dela decorrem n o t m um fim em si mesmas mas se situam no campo das possibilidades de atua o profissional numa perspectiva ernancipat ria fundada no n vel de reflex o cr tica que tal como definem Amaral Moreira e Ribeiro 1996 engloba o conjunto co
298. rocesso de conhecer Ao pronunciar o mundo enquanto sujeitos e n o objetos da hist ria os homens e as mulheres se inscrevem radicalmente na realidade para melhor compreendendo a melhor lutar pela sua transforma o Logo essa concep o de educa o perceber como importante a an lise e a compreens o dos mecanismos a partir dos quais o sujeito se insere no processo de busca da constru o do conhecimento nesse sentido que se situa a importante contribui o de Freire ao estabelecer uma complexa rela o entre a curiosidade a criticidade e a constru o do conhecimento A curiosidade em tomo do objeto percebida por ele como elemento indispens vel expans o da capacidade de conhecer numa perspectiva cr tica j que Ana L cia Souza de Freitas 99 Sem a curiosidade que nos torna seres em pernianente disponibilidade indaga o seres da pergunta bem feita ou mal fundada n o importa n o haveria a atividade gnosiol gica express o concreta de nossa possibilidade de conhecer Freire 1995 p 76 Assim prop e que as pr ticas educativas orientadas pela concep o problematizadora e libertadora da educa o busquem potencializar o car ter desafiador da curiosidade pois essa ao transcender os limites da cotidianidade assume importante fun o no processo de conscientiza o O desenvolvimento da curiosidade concebida por ele como um certo ant doto da certeza um eixo norteador das pr ticas compr
299. rometida com pr ticas reflexivas cr ticas engajadas no trabalho coletivo em torno da constru o de um projeto pol tico pedag gico de uma escola de qualidade para as classes populares n o est colocada somente no mbito individual mas um desafio que se coloca ao processo de forma o permanente de professores a ser intencionalmente organizado e planejado em fun o da democratiza o do trabalho pedag gico Esse o centro da discuss o do terceiro cap tulo ao considerar que a concretiza o desta possibilidade amplia se a partir de uma pr tica de coordena o que organize o trabalho coletivo segundo uma perspectiva metodol gica coerente com sua intencionalidade politica nesse sentido que o terceiro cap tulo defende a tese de que a conscientiza o mais do que uma finalidade da pr tica educativa libertadora possa ser compreendida como um princ pio metodol gico e prop e que seja este um caminho para que se reinvente a atua o da equipe diretiva na escola apontando desafios especialmente pr tica da supervis o escolar Ao final s o Ana L cia Souza de Freitas 17 sumariados os pressupostos que sustentam a compreens o da conscientiza o como um princ pio metodol gico da forma o de professores entendidos como um convite viv ncia de uma pr xis de esperan a curiosidade e alegria E com muita alegria que entrego curiosidade das os poss veis leitoras es deste livro reflex es que dizem um pou
300. rtadora da educa o 34 Grif do autor Ana L cia Souza de Freitas 117 Dessa forma o educador progressista faz do ato pedag gico objeto de estudo e questionamento constantes analisando suas finalidades e seus efeitos tendo em vista sua permanente recria o no sentido de construir a supera o de seus aspectos elitistas classificat rios e excludentes inclusive no que diz respeito aos limites estruturais da escola e demais institui es do ensino Seu compromisso com a reconstru o permanente de sua pr tica pedag gica tem um sentido que ultrapassa os limites da sala de aula est relacionado com a utopia da luta por uma sociedade democr tica onde todos possam ter vez e voz Faz de sua pr tica profissional um instrumento de mobili za o social em defesa dos valores de jusfi a e igualdade pois acredita na possibilidade coletiva de transforma o das condi es hist ricas que inviabilizam a constitui o de um projeto pol tico pedag gico emancipat rio E no sentido de sustentar o enfrentamento contra esta inviabilidade hist rica que faz se necess rio que o educador progressista assuma a natureza ut pica de sua pr tica pedag gica a qual concebida corno sonho poss vel mant m a capacidade de sonhar e de ter esperan a pois sustenta se no movimento dial tico entre a den ncia de sua inviabilidade hist rica e o an ncio das condi es para sua possibilidade Nessa perspectiva se insere sua op o de trabalhar pa
301. ruir a criticidade das ultrageneraliza es presentes na cotidianidade escolar de modo que o a professor a ao movimentar se entre a particularidade e sua eleva o ao genericamente humano transforma conscientemente os objetivos e aspira es sociais em objetivos e aspira es particulares de si mesmo e em que desse modo socializa sua particularidade Helier 1992 p 80 Tal possibilidade est relacionada constru o coletiva de uma rigorosidade met dica voltada para o desenvolvimento da disciplina intelectual necess ria assun o de uma postura cr tica indispens vel ao ato de estudar em que se desafiem as autorias constru o de in ditos vi veis capazes de instituir um senso comum orientado democraticamente no sentido de tornar se includente em sua dimens o pol tica liberta dor em sua dimens o epistemol gica e emancipat rio em sua dimens o est tica A esse respeito Freire 1982 expressa sua compreens o em torno da necessidade de uma concep o libertadora da educa o comprometida com o desenvolvimento do ato cr tico de estudar considerando este um elemento fundamental na pr tica profissional do educador progressista j que o ato de estudar no fundo uma atitude cr tica frente ao mundo p 11 e destaca cinco atitudes que caracterizam esta postura cr tica frente ao ato de estudar Em primeiro lugar preciso que quem estuda se assuma enquanto sujeito desse ato superando uma postura pa
302. s Torna se fundamental nesse sentido o entendlimento de Freire acerca da complexidade que envolve o processo de constru o da mudan a desejada N o apenas preciso mudar mas poss vel mudar o que por m exige paci ncia uma paci ncia que eu chamo impaciente que exige tamb m conhecimento humildade e uma pressa n o demasiado apressada quer dizer voc tem que viver um tempo em que voc corre e anda tamb m anda quando pode corre quando pode Freire in AOERGS 1994 p 44 Ana L cia Souza de Freitas 75 tamb m o que nos adverte Rocha 1994 ao refletir sobre o paradoxo em que nas ltimas d cadas encontra se a escola a qual ainda que institui o respons vel pela constru o do conhecimento tem sido esvaziada de sua capacidade de pensar sobre si mesma p 15 Nesse sentido afirma ser fundamental a gest o democr tica da escola a fim de que se geste uma nova qualidade da educa o p 17 e salienta a respeito da mudan a de uma cultura autorit ria para uma cultura da participa o popular que preciso que se diga que a participa o n o ocorre magicamente 1 necess rio que tenhamos vis o de processo para que essa realidade se transforme e muito investimento p 18 Entre os investimentos fundamentais para essa constru o destaca se a import ncia de pr ticas formadoras que se comprometam com o desenvolvimento da consci ncia cr tica e da esperan a justamente
303. s bem como o desenvolvimento da curiosidade epistemol gica que viabiliza a viv ncia de um conhecimento libertador e ainda o desenvolvimento de uma sensibilidade emancipat ria em fun o da qual se fortalece a luta pela reinven o da pr pria exist ncia a fim de que o saber de minorias dominantes n o pro ba n o asfixie n o castre o crescer das imensas maiorias dominadas Freire 1993b p 127 39 A respeito da compreens o do desenvolvimento do processo identit rio ver cap 3 deste trabalho que trata da forma o de professores No entanto cabe antecipar o posicionamento aqui assumido quanto perspectiva hist rico cultural desse processo discordando portanto do entendimento de Guattari 1986 quando afirma que os conceitos de cultura e de identidade cultural s o profundamente reacion rios a cada vez que os utilizamos veiculainos sem perceber modos de representa o da subjetividade que a reificam e com isso n o nos permitem dar conta de seu car ter composto elaborado fabricado da mesma forma que qualquer mercadoria no campo dos mercados capital sticos p 70 A perspectiva aqui defendida exatamente acerca da conscientiza o como possibilidade para o desenvolvimento de subjetividades que se oponham aos valores difundidos pela l gica pr pria da sociedade capitalista a l gica do mercado Pedagogia da Conscientiza o 124 Esse o sentido que orienta a dimens o est tica da educa o cr ti
304. s alunos O fracasso a frustra o e a baixa auto estima s o incompat veis com a alegria na escola assim como com a possibilidade de alegria a partir da escola Para que a escola possa tornar se um espa o gerador de alegria imprescind vel que se reestruture a partir da constru o coletiva de um projeto pol tico pedag gico emancipat rio que proponha a supera o dos mecanismos de exclus o tradicionalmente institudos que promovem e naturalizam o fracasso escolar Redirnensionando se em fun o da pr pria vida a vida na escola precisa estar atenta valoriza o dos saberes constru dos fora da Ana L cia Souza de Freitas 37 escola para tomando os como refer ncia question los ampli los e ou transform los dando sentido constru o de um conhecimento libertador Desse entendimento decorre o terceiro elemento fundamental da escrita de Freire em torno do processo de reinven o da escola que a radicaliza o do valor epistemol gico atribuido ao senso comum Embora a valoriza o do saber de experi ncia feito tenha sido um elemento presente ao longo de sua obra em seus ltimos escritos Freire torna mais expl cita a rela o que estabelece com o senso comum em seu processo de constru o te rica Testemunha atrav s de sua obra a pr tica daquilo que Sousa Santos 1989 compreendeu sobre a forma de conhecimento que caracteriza a p s modernidade trata se de uma dupla ruptura epistemol gica sendo e
305. s entendimentos de conhecimento presentes em Popper 1935 Kuhn 1962 Feyerabend 1969 e Bachelard 1934 concluindo que atualmente a maioria dos fil sofos das ci ncias por maiores que sejam as diverg ncias entre eles contestam o empirismo e apresentam em comum uma vis o construtivista do conhecimento p 17 Opondo se ao empirismo segundo o qual a observa o precede a teoria tais fil sofos consideram que n o h observa o neutra isenta de teoria pois as teorias influenciam as observa es Contudo ainda que a vis o construtivista le conhecimento seja o elemento comum entre os mesmos Borges 1996 apresenta as diversas varia es entre eles no que diz respeito concep o de ci ncia e de conhecimento cient fico bem como em suas implica es nas pr ticas de ensino situando os em quatro abordagens o compreender o que fundamenta a a o docente analisa os pressupostos te rico metodol gicos dos discursos e das pr ticas docentes identificando diferentes abordagens Utiliza o termo abordagens para explicar as nfases e peculiaridades que o ensino pode assumir no fazer pedag gico dos professores Entre outros aspectos considera que tais abordagens derivam de diferentes posicionamentos acerca das teorias do conhecimento assumindo conce es empiristas inatistas ou interacionistas Identificou assim cinco abordagens de ensino a tradicional a comportamentalista a humanista a cognitivista e a sociocult
306. s feitas por Sousa Santos 1989 quanto aos enfrentamentos necess rios viv ncia da dupla ruptura epistemol gica qual sejam em primeiro lugar se deve progressivamente atenuar o que Foucalt designa por desnivelamento dos discursos p 42 em segundo lugar se deve progressivamente superar a dicotomia contempla o a o p 43 e em terceiro lugar necess rio encontrar um novo equilibrio entre adapta o e criatividade p 44 E no sentido deste enfrentamento que se toma relevante tecer considera es acerca do exerc cio profissional da doc ncia situada num contexto neoliberal bem como compreender a globalidade em que se insere o movimento de valoriza o do educador corno sujeito de sua forma o no qual a conscientiza o constitui se como princ pio metodol gico Destacam se tr s considera es importantes para expressar uma compreens o cr tica que ao apontar as limita es que se configuram nesse contexto concebe as como desafios a serem assumidos na forma o permanente do professor a partir de pr ticas que articulem as dimens es pol tica epistemol gica e est tica numa perspectiva de globalidade em que se considere simultaneamente as perspectivas de totalidade e complexidade que integram o processo de conscientiza o como express o da possibilidade do a educador a assumir se como sujeito da dupla ruptura epistemol gica na cria o do in dito vi vel Primeira considera o As condi
307. s pr ticas pedag gicas como um processo que exige urna postura critico reflexiva que n o ocorre ao acaso mas se movimenta pela curiosidade epistemol gica j que efectivamente a postura de questionamento que caracteriza o pensamento reflexivo Alarc o 1996 p 181 O pensamento reflexivo parte integrante do objeto de trabalho da supervis o escolar quando compreendido corno urna capacidade que se desenvolve no ato de estudar a pr tica a qual se amplia a partir de uma postura cr tica e sistem tica de forma o em que o acompanhamento a problernatiza o a investiga o e o estudo s o assumidos na perspectiva da constitui o da pr xis educativa libertadora Pedagogia da Conscientiza o 212 Para tanto o trabalho da supervis o escolar envolver a cria o de uma rigorosidade met dica que ap ie o desenvolvimento de atitudes cr ticas de forma o tais como a observa o a escuta e o registro articuladas num processo de reflex o a o em que se vivencie coletivamente os atos de sonhar estudar e criar como parte integrantes do movimento permanente de recria o das pr ticas pedag gicas em fun o do projeto pol tico pedag gico da escola Contudo a rigorosidade n o prescinde da criatividade visto que a sistematiza o da reflex o ressignificada a partir de uma obrigatoriedade libertadora convoca a imagina o a intui o as emo es a capacidade de conjecturar de comparar na busca da perf
308. sentando uma possibilidade do a professor a distanciar se epistemologicamente de sua pr pria reflex o para melhor compreend la O ato de registrar pois urna postura cognitiva a ser assumida pelo educador progressista tendo em vista a viabiliza o de pr ticas que consolidem e ampliem a perspectiva te rica da concep o problematizadora e libertadora da educa o em suas diversas dimens es Para tanto h que se desenvolver Pedagogia da Conscientiza o 136 de modo a fortalecer a reflex o em seus diferentes n veis Trata se de se estabelecer entre o registro e os n veis de reflex o da a o uma rela o de circularidade na qual o desenvolvimento de pr ticas docentes reflexivas poder utilizar se do registro enquanto elemento de apoio para reflex o da mesma forma que poder tamb m o ato de registrar contribuir para a constitui o de pr ticas docentes reflexivas O registro nessa perspectiva proposta por Freire 1993b constitui se elemento fundamental ao permanente exerc cio de estudo da pr tica docente visto que estudar envolve certas opera es solid rias entre elas p 8 que de forma dialeticamente indicotomiz vel constituem o processo de constru o do conhecimento ensinar aprender ler e escrever criticamente expressam a significa o mais profunda do ato de estudar Por isso concebe o registro como instrumento da pr tica profissional do educador progressista propondo que o mesmo sej
309. ser outra e para que seja outra que precisamos os progressistas lutar p 83 Ana L cia Souza de Freitas 123 49 50 Para al m de tomar consci ncia da necessidade de transforma o dessa realidade a sensibilidade emancipat ria mobiliza luta pela reinven o cio mundo na perspectiva da justi a social A sensibilidade emancipat ria aquela que articula a consci ncia de raz o e sentimentos de tal modo que o sonho a esperan a o entusiasmo a imagina o e a alegria dialetizam se na historicidade que constr i sua impossibilidade de ser Assim na luta que se faz tamb m de indigna o de inconformismo de raiva e de radicalidade que se constr i uma perspectiva de futuro capaz de manter viva a esperan a indispens vel alegria de ser e de viver Portanto toma se fundamental exercer se como sujeito assumindo posi o e tomando partido na luta de interesses que constr i a hist ria como possibilidade construindo se medida que constr i tamb m um conhecimento libertador Tal possibilidade se concretiza a partir da complexa articula o da totalidade das dimens es que envolvem o processo identit rio do educador progressista j que o ato de conhecer compromete o corpo inteiro sentimentos emo es mente cr tica Freire 1993b p 118 Sendo assim o trabalho coletivo faz se necess rio porque nele e atrav s dele se potencializa o desenvolvimento da esperan a na luta por sonhos poss vei
310. seus direitos e sobretudo em fun o da cria o de condi es para a alegria na escola Freire 1991a p 11 entre eles a exig ncia de sua forma o permanente Ana L cia Souza de Freitas 107 2 2 2 Cur osidade epistemol gica aprendizagem necess ria forma o do educador progressista A reflex o proposta por Freire em torno da curiosidade enquanto postura epistemol gica necess ria para que se efeti ve o ato de conhecer numa perspectiva de constru o e n o de reprodu o articula se em torno da necessidade de uma educa o cr tica capaz de transformar se ao transformar a realidade Assim ao destacar a import ncia da curiosidade epistemol gica enquanto elemento constitutivo da postura profissional cr tico reflexiva expressar tamb m de forma mais acentuada sua preocupa o com uma pr tica formadora fundada no est mulo e no desenvolvimento da curiosidade epistemol gica Freire 1994a p 130 Passar a dar nfase necessidade de uma educa o que se comprometa em promover essa passagem da curiosidade ing nua curiosidade epistemol gica que estimule criticarnente a capacidade de aprender de aventurar se e arriscar se no exerc cio fundamental da inteligibilidade critica do mundo Justifica sua preocupa o com uma educa o que construa a supera o da curiosidade ing nua a partir de seu entendimento de que a mesma n o se d automaticamente se d na medida em que a curi
311. siderar que as id ias pr vias influenciam as observa es mas tamb m aproxima se do empirismo a partir do entendimento do conhecimento como resultado de um m todo ao propor o m todo hipot tico dedutivo e desconsiderar a influ ncia dos fatores socioculturais sobre a constru o do conhecimento Para o contextualismo Kuhn considerado como ci ncia aquilo que os cientistas aceitam como consenso p 41 por isso a ci ncia relaciona se ao paradigma adotado pela comunidade cient fica num dado per odo hist rico ou seja preciso julgar a ci ncia de uma poca de acordo com o contexto da poca e n o a partir dos conhecimentos atuais p 33 Nessa abordagem o conhecimento progressivo e cumulativo sofrendo rupturas somente em per odos de crise ou revolu es cient ficas nos quais ainda prevalece a racionalidade Contrariamente a Popper e Kuhn o anarquismo epistemol gico Feyerabend considera que o conhecimento cient fico vi vel a partir dos m todos mais diversificados havendo pluralismo na comunidade cient fica p 18 Considera os conflitos corno elementos necess rios e questiona a dogmatiza o de m todos e teorias atribuindo grande import ncia s emo es Pedagogia da Conscientiza o 54 teimosia e irracionalidade no desenvolvimento das ci ncias aproximando se das id ias de Bachelard O racionalismo aplicado ou racionalismo dial tico Bachelard considera que a ci
312. soas disp em se a novos desafios caracteriza se por ser uma rea o ao receio de cair na rotina mobilizando o envolvimento em projetos de grande envergadura A viv ncia dessa fase conduz a uma tomada de consci ncia mais aguda dos fatores institucionais Pedagogia da Conscientiza o 166 que contrariam esse desejo as pessoas uma vez estabilizadas est o em condi es de lan ar o ataque s aberra es do sistema p 41 P rse em quest o no sentido de fazer um balan o da vida profissional pode variar desde uma ligeira sensa o de rotina at uma crise existencial efectiva face prossecu o da carreira p 42 H uma grande variedade de causas poss veis mas corresponderiam a um momento identificado como sendo um meio da carreira p 43 Serenidade e distanciamento afectivo s o as consequ ncias de uma fase de questionamento em que o n vel de ambi o desce o que faz baixar igualmente o n vel de investimento enquanto a sensa o de confian a e de serenidade aumentam E as pessoas nada mais t m a provar passa igualmente pela reconcilia o entre o eu ideal e o eu real ji 44 Conservantismo e lamenta es s o claramente observ veis com o passar da idade de modo a verificar se tend ncias para uma maior rigidez e dogmatismo para uma prud ncia acentuada para uma resist ncia mais firme a inova es para uma nostalgia do passado para uma mudan
313. sobre este contexto e se compromete constr i a si mesmo e chega a ser sujeito j 4 Na medida em que o homem integrando se nas condi es de seu contexto de vida reflete sobre elas e leva respostas aos desafios que se lhe apresentam cria cultura J 5 N o s por suas rela es e por suas respostas o homem criador de cultura ele tamb m fazedor da hist ria Na medida em que o ser humano cria e decide as pocas v o se formando e reformando Freire 1979a p 33 38 Acrescenta se a tais id ias id ias for a uma sexta id ia que ratifica as anteriores relacionando de modo complexo a totalidade das dimens es politica epistemol gica e est tica a ser considerada na globalidade de uma proposta formadora progressistamente orientada 6 preciso que a educa o esteja em seu conte do em seus programas e em seus m todos adaptada ao fim que se persegue permitir ao homem chegar a ser sujeito construir se como pessoa transformar o mundo estabelecer com os outros homens rela es de reciprocidade fazer a cultura e a hist ria Freire 1979a p 39 Esse o sentido de uma forma o permanente cr tico reflexiva de modo que as a es de forma o deveriam se organizar em fun o do esfor o de manter viva a esperan a indispens vel alegria na escola educadoras e educadores deveriam analisar sempre as idas e vindas da realidade social Idas e vindas que viabilizam urna maior
314. sobre os professores sobre as suas vidas e os seus projetos sobre as suas cren as e atitudes sobre os seus valores e ideais N voa 1997 p 32 Salienta a import ncia da compreens o desse processo Grifo do autor Pedagogia da Conscientiza o 164 Durante muito tempo disse se o que vale o professor vale o ensino ignorando se outras componentes essenciais da ac o educativa Depois inverteram se os termos e a ci ncia da educa o esfor ou se por definir pr ticas racionais de ensino que limitassem ao m nimo as interfer ncias do factor humano Hoje procuramos ser mais comedidos mais razo veis n o queremos cair na desmedida de pensar que tudo passa pelo professor mas n o podemos p r entre par nteses a import ncia de sua ac o como pessoa e como profissional p 33 Assim analisa a constru o do processo identit rio do professor considerando este um importante aspecto a ser levado em considera o no que diz respeito forma o de professores uma vez que a identidade n o um produto a ser adquirido mas um lugar de lutas e de conflitos um espa o de constru o da maneira de ser e estar na profiss o p 34 Para tanto prop e a compreens o do processo identit rio dos professores a partir do triplo A14A A de Ades o porque ser professor implica sempre a ades o a princ pios e a valores a adop o de projectos A de Ac o porque tamb m aqui na escolha das melhor
315. sor possa constituir se como um supervisor educador No entanto esta dimens o n o tem um fim em si mesma politicamente comprometida orienta se no sentido de contribuir para a democratiza o do conhecimento na escola e a partir dela Assim para que possa atuar efetivamente nessa dire o a identidade profissional do a supervisor a escolar necessita ser problematizada a partir de dois aspectos complementares que interferem diretamente na cotidianidade de seu trabalho a intencionalidade de sua postura profissional e o entendimento acerca de seu objeto de trabalho na escola Quanto ao primeiro aspecto que diz respeito s rela es de trabalho a serem estabelecidas na escola a postura libertadora em supervis o escolar fundamenta se na cr tica sua concep o tradicional apontando alternativas de redimensionamento da mesma tendo em vista a gest o democr tica do trabalho pedag gico Sendo assim esta concep o de supervisor educador ao comprometer se com a democratiza o da escola op e se s caracter sticas restritivas da supervis o tradicional propondo que se supere a neutralidade pelo posicionamento cr tico o controle pelo comprometimento as rela es Ana L cia Souza de Freitas 199 hier rquicas pela responsabilidade partilhada o individualismo pela solidariedade a separa o do fazer e do pensar pela reflex o coletiva a ajuda pela problernatiza o a receita pela cria o Enfim compromete se com a re
316. sos materiais adequados acesso a novas tecnologias garantia de tempo e espa o coletivos de estudo remunerados bem como a participa o da comunidade escolar na defini o do trabalho pedag gico 2 A concep o de conhecimento aqui referida diz respeito ao conhecimento libertador perspectiva que integra a obra de Freire tal como ser desenvolvido na continuidade deste trabalho concep o segundo a qual o conhecimento n o se esgota na dimens o epistemol gica A qualidade social difere da qualidade total por n o encontrar se vinculada aos interesses particulares e privados nem regular se pela l gica do mercado competitivo ao contr rio a qualidade social op e se a este car ter de exclus o orientando se no sentido da qualidade para todos 25 Ana L cia Souza de Freitas 35 Esse entendimento orientou o trabalho de Freire na Secretaria de Educa o e nesse processo construiu te rica e praticamente uma pol tica educacional p blica de valoriza o do magist rio Concebendo o ato de conhecer como um processo permanente e consequentemente o ato de estudar como inerente ao trabalho do a professor a a forma o permanente e cr tica compreendida como condi o indispens vel profissionaliza o do professor Assim deixou importante contribui o para desconstituir um certo senso comum que orientado pelo pensamento neoliberal acredita que o que privado necessariamente bom e o que p blico ne
317. squisa Uu Ed UNUUI 1997 McLAREN Peter A vida nas escolas uma introdu o pedagogia cr tica nos fundanientos da educa o Porto Alegre Artes M dicas 1997 MEDINA Antonia da Silva Supervis o escolar da a o exercida a o repensada Porto Alegre EDIPUCRS 1995 MILIS Wnight C Ap ndice do artesanato intelectual In A imagina o sociol gica 3 ed Rio de Janeiro Zahar 1974 p 211 243 MIZUKAMI Maria da Gra a Nicoletti Ensino as abordagens do processo S o Paulo EPU 1986 MORAES Maria C ndida O paradigma educacional emergente Campinas Papirus 1997 Cole o Pr xis MORAES Reginaldo Neoliberalismo o que e para onde leva In Cadernos Em Tempo Textos de apoio da edi o n 300 301 mar abr 1998 Publica o da Tend ncia Democracia Socialista do Partido dos Trabalhadores p 1 6 MOREIRA Antonio Fl vio Barbosa org Curr culo quest es atuais Campinas Papirus 1997 Escola curr culo e constru o do conhecimento novas reflex es In Encontro de Ver o textos b sicos Cademo Pedag gico Porto Alegre Secretaria Municipal de Educa o n 5 p 16 20 maio 1995 Pedagogia da Conscientiza o 242 MORIN Edgar Complexidade e tica da solidariedade In CASTRO Gustavo de CARVALHO Edgard de Assis ALMEIDA Maria da Concei o de orgs Ensaios de complexidade Porto Alegre Sulina 1997 p 15 24 NOGUEIRA Adriano A pedagogia uma contribui o cien
318. ssa a condi o epistemol gica capaz de desenvolver plenamente a positividade do senso comum p 41 Caracteriza se assim uma outra forma de conhecimento visto que dupla ruptura epistemol gica procede a um trabalho de transforma o tanto do senso comum corno da ci ncia Enquanto a primeira ruptura imprescind vel para constituir a ci ncia mas deixa o senso comum tal como estava antes dela a segunda ruptura transforma o senso comum com base na ci ncia Com essa dupla transforma o pretende se um senso comum esclarecido e urna ci ncia prudente tem por objeto criar uma forma de conhecimento ou melhor uma configura o de conhecimentos que sendo pr tica n o deixe de ser esclarecida e sendo s bia n o deixe de estar democraticarnente distribu da p 41 42 A dupla ruptura epistemol gica prop e a supera o da dicotomia entre conhecimento cient fico e senso comum na constru o de um conhecimento libertador que transforma a ambos E express o do que Sousa Santos anteriormente considerou como uma das teses que caracterizam a concep o p s moderna de ci ncia todo conhecimento cient fico visa constituir se em senso comum 1997 p 55 Referenciada nessa tese a ci ncia p s moderna ao sensocomuniza se entende que todo o conhecimento deve traduzir se em 27 Grifo do autor Pedagogia da Conscientiza o 38 sabedoria de vida ao mesmo tempo que prop e se a desenvolver o car ter em
319. ssiva de aceita o das id ias alheias Por isso estudar implica compreender os posicionamentos dos autores estudados em fun o de seus condicionamentos socioculturais considerando a estreita rela o entre texto e contexto Implica compreender que os livros em verdade refletem o enfrentamento de seus autores com o mundo Freire 1982 p 11 Assumir se como sujeito do ato de estudar exige pois questionamento e n o mera reprodu o Exige a mesma postura cr tica a ser tomada na rela o consci ncia mundo em que o indiv duo torna se sujeito no exerc cio da complexa rela o entre as dimens es que envolvem a totalidade de sua Pedagogia da Conscientiza o 176 identidade Logo estudar seriamente fazer op es e toma se um ato prazeroso uma vez que implica n o somente numa penetra o cr tica em seu conte do b sico mas tamb m numa sensibilidade aguda numa permanente inquieta o intelectual num estudo de predisposi o busca Freire 1982 p 11 de conhecer e de viver Um segundo aspecto relacionado a essa postura cr tica de estudar que a mesma se dinamiza em fun o da atitude curiosa que se desenvolve nesse processo de quem pergunta indaga e busca sendo que seu exerc cio a toma cada vez mais cr tica e para tanto 1 se imp e o registro constante das observa es realizadas durante uma certa pr tica durante as simples conversa es O registro das id ias que se t m e pelas qu
320. sso escolar hist rias de submiss o e rebeldia S o Paulo T A Queiroz 1993 reimpress o Ana L cia Souza de Freitas 243 PERRENOUD Phillippe Pr ticas pedag gicas profiss o docente e forma o perspectivas sociol gicas Portugal Dom Quixote 1993 PIMENTA Selma Garrido Para urna re significa o da did tica ci ncias da educa o pedagogia e did tica uma revis o conceitual e uma s ntese provis ria In PIMENTA Selma Garrido org Did tica e forma o de professo res percursos e perspectivas no Brasil e em Portugal S o Paulo Cortez 1997 p 19 76 Pedagogia ci ncia da educa o S o Paulo Cortez 1996 PONTUSCHKA org Ousadia no di logo S o Paulo Loyola 1993 PRIGOGINE llya Ofim das certezas tempo caos e as leis da natureza Tradu o de Roberto eal Ferreira S o Paulo Editora da Universidade Paulista 1996 RANGEL Mary Considera es sobre o papel do supervisor corno especialista em educa o na Am rica Latina In SILVA JR Celestino Alves da RANGEL Mary orgs Nove olhares sobre a supervis o Campinas Papirus 1997 p 147 161 RIBEIRO Maria Luisa Santos Educa o escolar e pr xis S o Paulo Iglu 1991 ROCHA Maria Selma de Moraes Gest o democr tica os desafios da pr tica In Revista Paix o de Aprender Porto Alegre Secretaria Municipal de Educa o n 6 p 14 19 mar 1994 RODRIGUES Neidson Da mistifica o da escola escola n
321. ssor a favor da esperan a que me anima apesar de tudo Sou professor contra o desengano que me consome e me imobiliza Freire 1996 p 115 nesse sentido que se destaca a reflex o de Freire em torno dos saberes necess rios pr tica educativa os quais de modo organicamente articulados contribuem no processo de conscientiza o em que se constituem pr ticas pedag gicas decorrentes desta perspectiva de globalidade tico democr tica Entre outros Freire analisa a import ncia e a necessidade do desenvolvimento da esperan a como desafio dimens o pol tica da curiosidade corno desafio dimens o epistemol gica e da alegria corno desafio dimens o est tica considerando os como aspectos complementares que integram o desafio contemporaneidade da pr xis educativa libertadora ou seja a transforma o permanente da qualidade de sua resist ncia fabrica o da universalidade da tica de mercado na luta pela consolida o da tica universal do ser humano na perspectiva de sua humaniza o Pedagogia da Conscientiza o 72 2 1 A esperan a como desafio dimens o pol tica A dimens o pol tica da educa o diz respeito ao exerc cio da op o inerente pr tica educativa que n o sendo neutra assume um posicionamento pol tico ideol gico a servi o do qual coloca suas dimens es epistemol gica e est tica A conscientiza o acerca da natureza pol tica da educa o constitui se elemento cen
322. stacados tem o intuito de despertar a curiosidade epistemol gica dos as leitores as a fim de que possam buscar na pr pria obra o aprofundamento de t o densas reflex es 2 1 2 Sonhar coletivamente uma atitude de forma o produto produtora do in dito vi vel A categoria do in dito vi vel presente desde os primeiros escritos de Freire tem sido pouco comentada e estudada Essa categoria est relacionada a urna compreens o da hist ria como possibilidade da qual 18 Essa afirma o bem como as id ias centrais que explicam essa categoria feita por Ana Maria Ara jo Freire em longa e explicativa nota da obra Pedagogia da esperan a nota 1 p 205 207 este o referencial que deu suporte compreens o aqui apresentada Ana L cia Souza de Freitas 93 decorre uma posi o ut pica que op e se vis o fatalista da realidade Relaciona se ao entendimento de que a realidade n o mas est sendo e portanto pode ser transformada Tal perspectiva pr pria da consci ncia critica que compreende a historicidade construindo se a partir do enfrentamento das situa es limites que se apresentam na vida social e pessoal Assim Os homens e as mulheres t m v rias atitudes diante dessas situa es limites ou as percebem como um obst culo que n o podem transpor ou como algo que n o querem transpor ou a inda como algo que sabem que existe e que precisa ser rompido e ent o se empenham na sua supera o Fr
323. sto car ter democr tico da constru o coletiva do conhecimento p 244 245 Decorre desse entendimento a cr tica mais direta a Freire salientando dois aspectos primeiro que urna rela o dial gica n o necessariamente uma rela o de igualdade e nem garantia de participa o democr tica p 245 segundo que a conscientiza o n o garante a emancipa o p 245 E interessante observar que tal cr tica se organiza tendo como refer ncia central o termo garantia o qual al m de ser uma express o dos valores de uma modernidade tecnicista reduz o processo de conscientiza o a uma rela o de causa efeito Tal entendimento ilustra a relev ncia das preocupa es de Freire em tomo das diferentes interpreta es que foram atribu das ao conceito de conscientiza o pois justamente por n o se tratar de uma p lula m gica o processo de conscientiza o ao ter tamb m suas limita es torna se ainda mais complexo pouco compreendido e raramente praticado Outros posicionamentos assumem de forma mais expl cita o entendimento sobre a obra de Freire em rela o aos pressupostos da modernidade e ou p s modernidade Esse o modo como se posiciona N voa 1998 quando considera que o essencial do projeto de Freire modernista p 180 mas admite que em seus ltimos escritos Freire apresenta uma nova reflex o epistemol gica inserida numa teoria do conhecimento que faz a cr tica s
324. t fica para o trabalho educativo interdisciplinar In NOGUEIRA Adriano org Contribui es da interdisciplinaridade para a ci ncia para a educa o para o trabalho sindical Petr polis Vozes 1994 p 89 100 NOGUEIRA Adriano et ai A pedagogia hist rico cr tica contextualiza o hist rica e te rica Entrevista com o Prof Demerval Saviani In Cademo Pedag gico publica o comemorativa dos 50 anos da APP Sindicato Curitiba P1 1997 p 7 22 N VOA Ant nio Os professores e a sua forma o Lisboa Publica es Dom Quixote 1995 Diz me como ensinas dir te ei quem s e vice versa in FAZENDA ivani org As pesquisas em educa o e as transforma es do conhecimento S o Paulo Papirus 1997 p 29 41 Cole o Pr xis Paulo Freire 1921 1997 a inteireza de um pedagogo ut pico in APPLE Michael W NOVOA Ant nio Paulo Freire pol tica e pedagogia Portugal Porto 1998 p 167 186 OLIVEIRA Marta Kohl de Vygotsky e o processo de forma o de conceitos In TAILLE Yves de la et ai Piaget Vygotsky Wallon teoria psicogen ticas em discuss o S o Paulo Suinrnus 1992 PASQUIM Paulo Freire no ex lio ficou mais brasileiro ainda Entrevista concedida a Claudius Ceccon Pasquim Rio de Janeiro n especial p 7 11 dez 1978 PASSETI I Edson conversa o libert ria com Paulo Freire S o Paulo Imagin rio 1998 PArTO Maria Helena Souza A produ o do fraca
325. t nio org Vidas de professores Porto Porto Editora 1992 p 31 59 HUTCHEON Linda Po tica do p s modernismo hist ria teoria e fic o Tradu o Ricardo Cruz Rio de Janeiro Imago 1991 JARA Oscar Concep o dial tica da educa o popular s l Grupo Alforja s d KONDER Leandro O futuro da filosofia da pr xis o pensamento de marx no s culo XXI Rio de Janeiro Paz e Terra 1992 KOSIK Karel Dial tica do concreto Rio de Janeiro Paz e Tena 1976 LINHARES C lia Fraz o O direito ao saber com sabor Supervis o e forma o de professores na escola p blica In SILVA JR Celestino Alves da RANGEL Mary orgs Nove olhares sobre a supervis o Campinas Papirus 1997 p 59 90 Ana L cia Souza de Freitas 241 LIB NEO Jos Carlos Democratiza o da escola p blica a pedagogia cr tico social dos conte dos S o Paulo Loyola 1986 Cole o Educar MACHADO Carlos As vicissitudes da constru o da qualidade do ensino na pol tica p blica de educa o no Munic pio de Porto Alegre de 1989 a 1996 1998 Disserta o Mestrado Programa de P s Gradua o em Educa o na Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS Porto Alegre MAROY Christian A an lise qualitativa de entrevistas In ALBARELLO Luc et ai Pr ticas e m todos de investiga o em ci ncias sociais Tradu o de Luisa Baptista lisboa Gracliva 1997 MARQUES Mano Osorio Escrever preciso o princ pio da pe
326. ta o de a es pr ticas Ou seja n o basta compreender criticamente o que acontece preciso que o conhecimento constru do nesse processo seja instrumento de mobiliza o em torno das pr ticas sociais tomadas como ponto de partida transformando as em fun o de uma nova compreens o Significa portanto orientar se em fun o de um conhecimento Ana L cia Souza de Freitas 157 libertador que concebe dialeticamente a rela o entre teoria e pr tica social considerando que a teoria n o responder somente s exig ncias e necessidades colocadas pela pr tica j existente mas tamb m necessidade de formular um projeto alternativo de uma pr tica ainda inexistente e que precisamos criar Esta pr tica de retornar se com os elementos te ricos como guia para a a o n o fecha o c rculo da concep o metodol gica dial tica mas o abre a um novo aprofundamento N o se trata pois de descobrir ou formular um modelo de interpreta o da realidade mas de ir permanentemente encontrando nas novas pr ticas uma fonte inesgot vel de conhecimentos te ricos em fun o de novas e in ditas condi es que iremos criando Uara s d p 9 10 Em s ntese as pr ticas formadoras que se orientam pelo princ pio metodol gico da conscientiza o em circularidade com a gest o democr tica assumem o compromisso com uma forma o que articule a totalidade e a complexidade das tr s dimens es do conhecimento T
327. talidade das dimens es que integram a identidade do educador progressista A explicita o da complexidade conceitual que os envolve ser objeto de estudo no decorrer deste trabalho justamente por fundarem se em categorias pol micas na perspectiva da diversidade dos entendimentos sobre a p s modernidade Pedagogia da Conscientiza o 66 2 Educa o libertadora desafios conscientiza o A utopia recusa a subjetividade do conformismo e cria a vontade de lutar por alternativas Boaventura de Sousa Santos S se pode estudar aquilo com que primeiro se sonhou Gaston Bachelard Na alegria a totalidade da pessoa que progride e em rela o totali dad da vida sentir compreender for a de agir Georges Snyders educa o concebida por Freire como um ato de conhecimento urna aproxima o cr tica da realidade 1979a p 25 compreende os atos de ensinar e aprender que caracterizam a natureza da pr tica educativa enquanto dimens es do processo maior o de conhecer 1992 p 110 Sendo assim do entendimento da perspectiva epistemol gica da p s modernidade presente no saber de experi ncia feito decorrem desafios pr tica da concep o probiernatizadora e libertadora da educa o frente a esse contexto Torna se fundamental compreender a import ncia e comprometer se com o desenvolvimento de pr ticas formadoras que viabilizem a viv ncia da concep o de ci ncia que caracteriza a p
328. te do mundo uma certa admira o uma certa inquieta o um conjunto de perguntas inda ga es ou sil ncios que termina nos empurrando para uma refeitura do mundo N s mulheres e homens nos tornamos seres refazedores reconstrutores do mundo que n o fizemos E n o h reconstru o sem criatividade Freire in Golfeld 1997 p 181 Sendo assim importante que a complexidade em que se insere a constru o do processo identit rio do a professor a ao longo de sua vida profissional seja compreendida sem perder de vista a perspectiva de totalidade em que as quest es fundamentais que dificultam ou facilitam seu desempenho profissional competentemente cr tico e prazeroso sejam discutidas num 13 Par efeitos da pesquisa foi considerada a idade de 60 anos como o marco para situar o in cio da erceira idade Grifos do autor Ana L cia Souza de Freitas 169 relacionamento democr tico de participa o e decis es coletivas A constru o democr tica da escola desejada implica pois a recria o permanente das pr ticas metodol gicas no intuito de desafiar a totalidade e a complexidade das dimens es que envolvem a identidade profissional do professor mediante um processo coletivo da assun o consciente de op es numa postura cr tica e comprometida a ser constru da em forma o permanente ao assumir a conscientiza o como um princ pio metodol gico e finalidade do ato pedag gico E nesse sentido
329. te por Freire em torno de tr s elementos fundamentais a profissionaliza o do professor a dimens o est tica do ato de conhecer e a radicaliza o do valor epistemol gico atribuido ao senso comum A reflex o em torno da profissionaliza o do professor necessidade a fim de que se concretize a qualidade democr tica da educa o acentuou se a partir do momento em que Freire ao exercer a fun o de secret rio da educa o percebeu muito de perto e trabalhou para reverter o descaso com a escola p blica e com os as professores as em nosso pa s Percebeu as consequ ncias do descaso com a educa o que al m dos altos ndices de fracasso escolar trouxe grandes preju zos sobre a dignidade dos as professores as Fragilizados as em sua identidade social de educadores as os as professores as cada vez mais deixam de exercer sua capacidade de cria o e de constru o do novo reduzindo se a meros t cnicos repassadores as de conte dos A preocupa o de Freire com tal realidade manifesta se fortemente nas obras da d cada de 90 tornando se tema recorrente de sua reflex o Em diversos momentos aponta aspectos que envolvem a recupera o da identidade social do professor bem como a constitui o de pr ticas docentes cr tico reflexivas condi es para que a reinven o da escola oriente se pela qualidade social do ensino Entre outros destaca a valoriza o profissional do professor atrav s de sal rios dignos recur
330. tez Autores Associados 1992 Jovens diferen a e educa o p s moderna In CASTELIS Manuel et ai Novas perspectivas cr ticas em educa o Porto Alegre Artes M dicas 1996 p 63 85 Os professores como intelectuais rumo a uma pedagogia cr tica da aprendizagem Porto Alegre Artes M dicas 1997 Pedagogia da Conscientiza o 240 GOLDFELD Z lia org Encontros de vida 34 depoimentos de pessoas com mais de 60 anos apaixonadas pela vida Rio de Janeiro Record 1997 p 179 187 G MEZ P rez Angel O pensamento pr tico do professor a forma o do professor como profissional reflexivo In NOVOA Ant nio coord Os professores e sua forma o Lisboa Publica es Dom Quixote 1995 p 93 114 A fun o e forma o do professor a no ensino para a compreens o diferentes perspectivas In SACRISTAN J Gimeno Compreender e transformar o ensino Porto Alegre Artes M dicas 1998 p 353 379 GUAITARI F lix Cartografias do desejo Petr polis Vozes 1986 GUTIERPEZ Claudio Augusto Silva Forma o continuada de professores na escola cidad an lise da proposta de forma o continuada de professores da Prefeitura de Porto Alegre na terceira gest o da Administra o Popular 1997 Disserta o Mestrado Educa o B sica UNISINOS S o Leopoldo HELLER Agnes O cotidiano e a hist ria S o Paulo Paz e Terra 1992 HUBERMAN Micha l O ciclo de vida profissional dos professores In N VOA An
331. tificando seu car ter excludente em nome da efici ncia em selecionar os mais aptos a atuarem no mercado de trabalho competitivo A reinven o da escola a partir das necessidades de mercado pois o modo neoliberal te projetar a pol tica educacional no sentido de sua manuten o Para Azevedo 1995 tratase de desconstituir a escola como espa o p blico onde a constru o do conhecimento produza valores e forme sujeitos hist ricos conscientes de seus direitos atores de seus destinos p 31 Em dire o oposta reinven o da escola sonhada por Freire a ofensiva cultural do mercado neoliberal reinventa a escola a partir de uma concep o que lhe pr pria a qual denominada por Azevedo de mercoescola A mercoescola o ajuste neoliberal na educa o J Os autores da mercoescola consideram a desigualdade um valor positivo e natural O m rito individual aos melhores estimula a competi o a liberdade dos cidad os a concorr ncia necess ria para a prosperidade de todos Essa vis o de escola portanto produz um curriculo homog neo que n o contempla as necessidades dos desiguais daciueles que est o socialmente em desvantagem Trabalha um conhecimento padronizado da tica e dos interesses dos grupos sociais dominantes Nesta concep o n o cabem as id ias de solidariedade e igualdade A padroniza o aumenta e consolida a exclus o dos setores sociais em desvantagem ji 31 A mercoescola reduzi
332. timento com a circulariclade que se estabelece entre a eleva o da consci ncia da pr xis educativa libertadora e a identidade do educador progressista j que nesse movimento que a curiosidade tornando se epistemol gica passa a ser elemento imprescind vel pr tica profissional do a professor a Estudar e sonhar coletivamente constituem se pois em atos complementares visto que s se pode estudar aquilo que se sonhou primeiro Bachelard 1989 p 28 esse o processo em que se ampliam as possibilidades de cria o do in dito vi vel j que a teoria politicamente comprometida elemento indispens vel a o transformadora O momento de criar potencializado a partir dos atos de sonhar e estudar coletivamente desafia a viv ncia da pr xis criativa orientando se pelo terceiro princ pio que desdobra a conscientiza o como princ pio metodol gico fazer da teoria uma orienta o para a a o transformadora E portanto o momento da autoconsci ncia e comprometimento com a circularidade que se estabelece entre a diversidade das intera es sociais em diferentes n veis de reflex o e a amplia o das possibilidades de cria o do in dito vi vel movimento em que se desafia a identidade do educador progressista ao exerc cio de sua criatividade e autoria de pensamento Este momento justamente o que d sentido rigorosidade met dica necess ria ao desenvolvimento desta postura cr tica de forma o em que n
333. tores Associados 1990 Organiza o do trabalho na escola p blica o pedag gico e o administrativo na a o supervisora In SILVA iR Celestino Alves da RANGEL Mary orgs Nove olhares sobre a supervis o Campinas Papirus 1997 p 91 109 SILVA Tomaz Tadeu A nova direita e as transforma es na pedagogia da pol tica e na pol tica da pedagogia In SILVA Tomaz Tadeu GENTILI Pablo org Neoliberalismo qualidade total e educa o vis es cr ticas Petr polis Vozes 1995 p 9 29 SMED Ensino por ciclos alternativa para o sucesso escolar In Revista Paix o de Aprender Porto Alegre Secretaria Municipal de Educa o n 9 n 9 p 12 25 dez 1995 Ana L cia Souza de Freitas 245 Ciclos de forma o proposta pol tico pedag gica da escola cidad Caderno Pedag gico Porto Alegre Secretaria Municipal de Educa o n 9 dez 1996 O especialista em educa o na perspectiva da escola cidad Cademo Pedag gico Porto Alegre Secretaria Municipal de Educa o n 10 dez 1996 Plano de A o dos NAIs Documento interno SMED mar 1994 Projeto Constituinte Escolar Documento interno SMED out 1995 SNYDERS Georges A alegria na escola S o Paulo Manole 1988 Alunos felizes reflex o sobre a alegria na escola a partir de textos liter rios Rio de Janeiro Paz e Terra 1998 Sonho Poss vel Revista de Educa o Popular Canoas Centro Universit rio La Saile
334. trabalho em equipe caracteriza se por momentos em que as a es s o coletivas organizando se em fun o das diferentes contribui es dos profissionais que a comp em bem como exige que estas a es coletivas articulem se ao planejamento de projetos de trabalho a serem realizados simult nea e integradamente buscando dar conta de desdobramentos espec ficos necess rios para o desenvolvimento de cada uma das tr s dimens es da pr tica pedag gica Nesta perspectiva o processo de trabalho da equipe diretiva da escola tema bastante amplo que merece ser analisado mediante as perspectivas de globalidade totalidade e complexidade que o explicam Trata se aqui de contribuir para essa reflex o a partir de um posicionamento em torno das possibilidades de reinven o da supervis o escolar na perspectiva da gest o democr tica da escola tomando como refer ncia uma concep o libertadora de educa o comprometida com um entendimento progressista da p s modernidade A fim de compreender o uso do termo reinven o faz se necess rio destacar que a pr tica profissional da supervis o escolar ainda sofre os efeitos de uma forma o que lhe conferiu o estatuto de especialista em educa o cuja origem deu nfase ao controle fiscaliza o e aos aspectos administrativos burocr ticos ou tecnicistas embu dos de uma pseudoneutralidade A pr tica supervisora mesmo ao assumir o nome de coordena o pedag gica entre outros c
335. trajet ria pessoal e profissional Nasceu da necessidade de melhor compreender minha pr pria pr tica enquanto professora da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre cuja viv ncia de reinven o da escola parte integrante da globalidade do Projeto de Gest o Democr tica da Cidade tem desafiado a constitui o de pr ticas pedag gicas ineditamente vi veis capazes de consolidar a l gica da inclus o como eixo organizador do cotidiano na Escola Cidad Especialmente frente ao contexto de reestrutura o curricular vivido na Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre de 1993 a 2000 acentuou se minha preocupa o em torno da constru o de um conhecimento que potencializasse o processo de forma o permanente de professores tendo em vista a transforma o da pr tica pedag gica na perspectiva da gest o democr tica da escola Considerando que esta compreens o exige op es de natureza diversa a investiga o realizada no curso de mestrado configurou se como uma possibilidade de ampliar e sistematizar os saberes de experi ncia feitos na viv ncia do compromisso com uma concep o problematizadora e libertadora da educa o em que Paulo Freire desde cedo fez se refer ncia permanente de minha a o reflex o e registro Como pesquisadora assumi a postura de constante preocupa o em n o reproduzir a es caracterizadas pela prescri o e descompromisso com a transforma o da realidade por acreditar que o que importa f
336. tral na obra de Freire tendo em vista sua preocupa o com o desenvolvimento de pr ticas orientadas por uma consci ncia democr tica que simultaneamente denuncie a realidade excludente anuncie uma nova possibilidade e comprometa se com sua transforma o Para tanto desafia compreens o e prop e o desenvolvimento do car ter educativo e dinamizador da indigna o do espanto da rebeldia do inconformismo da suspeita da raiva da coragem da ousadia do sonho e da esperan a transformando as em atitudes cr ticas de forma o Desde a obra de Freire a compreens o acerca da natureza pol tica da educa o constituiu se em obviedade te rica transformada num senso comum capaz de conceber que a educa o enquanto ato de conhecimento tamb m e por isso mesmo um ato pol tico No momento mesmo em que a gente se pergunta em favor de que e contra que eu conhe o n s conhecemos n o h mais como admitir uma educa o neutra a servi o da humanidade como abstra o Freire in Brand o 1983 p 97 No entanto esse mesmo senso comum frequentemente deixa de questionar se acerca do direcionamento pol tico com que se comprometem as pr ticas educativas assim n o expressa de modo concreto consequ ncias significativas decorrentes de tal afirma o Falta lhes a assun o da ruptura decorrente do exerc cio consciente e cr tico de suas op es Especialmente frente ao contexto neoliberal que pretende desconstituir a con
337. tru o de um conhecimento social mente comprometido com uma melhor qualidade de vida para todos Portanto para que se potencialze o desenvolvimento do estatuto epistemol gico de uma ci ncia pedag gica sustentada por princ pios que uperem seu car ter prescritivo e explore a possibilidade criadora do ato pedag gico ser necess ria a participa o da escola e de seus educadores na sistematiza o da teoria did tico pedag gica da pr xis educativa libertadora Essa possibilidade poder ser constru da fundamentalmente a partir da contribui o de Freire pedagogo por excel ncia que fez de sua obra um testemunho da possibilidade de cria o da teoria pedag gica no processo de refletir a pr pria pr tica Freire exerceu e nos desafia a exercer a possibilidade pedag gica de ativar a curiosidade numa perspectiva interdisciplinar para constituir o ato pedag gico como um ato pol tico epistemol gico e sobretudo est tico construindo no movimento sistem tico de a o reflex o e registro uma Pedagogia da Conscientiza o que orienta a constitui o da pr xis educativa libertadora na perspectiva da cria o do in dito vi vel Compreender essa contribui o de Freire fundamental n o para repeti lo mas para recri lo da forma como ele mesmo nos desafia ao afirmar n o tenho nem quero seguidores Quero recriadores curiosos sobre o que criei com minha curiosidade epistemol gica Freire in Freire Ana Maria 19
338. truturais do paradigma cient fico moderno o resultado do grande avan o no conhecimento que ele propiciou O aprofundamento do conhecimento permitiu ver a fragilidade dos pilares em que se funda Sousa Santos 1997 p 24 Nesse processo consolidou se uma concep o de conhecimento em que n o mais se concebem as vis es dicot micas entre ci ncia e senso comum natureza e cultura objetividade e subjetividade cogni o e afeto sujeito e objeto Paradoxalmente no que se refere s condi es sociais a concep o de mercado orientada pelo discurso neoliberal que se funda na globaliza o da economia concebida como um processo natural inevit vel e necess rio traduzindo se numa realidade social que n o corresponde s condi es te ricas que afirmam as possibilidades do conhecimento transformar se em autoconhecimento bem como de direcionar o desenvolvimento tecnol gico a servi o da diminui o da pobreza da mis ria e do sofrimento da grande maioria da popula o A esse respeito Freire 1996 manifesta se O discurso da globaliza o que fala da tica esconde por m que a sua a tica do mercado e n o a tica universal do ser humano 1 procura disfar ar que ela vem robustecendo a riqueza de uns poucos e verticalizando a pobreza e a mis ria de milh es O sistema capitalista alcan a no neoliberalismo globalizante o m ximo de efic cia de sua malvadeza intr nseca Espero convencido de que chegar o te
339. tudo Freire testemunho do prazer vivido nesse processo de cria o O gosto com que me entregava quele exerc cio tarefa de ir como que me gastando no escrever e no pensar insepar veis na cria o ou na produ o do texto me compensava o d ficit de sono com que voltava das viagens J n o tenho na mem ria os nomes dos hot is onde escrevi peda os do quarto capitulo da Pedagogia mas guardo em mim a sensa o de prazer com que relia antes de dormir as ltimas p ginas escritas 1992 p 61 Alerta no entanto que essa produ o intelectual n o tem um fim em si mesma a riqueza do processo encontra se justamente na rela o dial tica que se estabelece entre escrita e oralidade entre teoria e pr tica na qual a intera o assume um car ter fundamental de realimentar o pr prio processo de escrita orientando a no sentido de novas necessidades Trata se de estabelecer uma rela o permanente entre contexto te rico e contexto concreto e para tanto faz se obrigat ria a constitui o de espa os coletivos de fonria o na escola a fim de que se desenvolvam pr ticas de observa o registro reflex o e discuss o permanentes que viabilizem a tomada de dist ncia epistemol gica sobre a pr pria reflex o tendo em vista sua problematiza o Contudo para que se desencadeie este processo de reflex o sobre a a o Zeichner 1993 salienta que sua problematiza o requer outros elementos al m dos aspectos c
340. ue cada autor tenha privilegiado ou refor ado um aspecto mais do que outro p 24 Sendo assim ao referir se a Freire ao longo de sua obra n o localiza sua contribui o quando se refere aos aspectos ligados subjetividade a qual analisa corno elemento importante nesse paradigma destacando a intui o e a criatividade entre outros Essa refer ncia n o se d de forma expl cita nem mesmo quando utiliza o termo inteireza p 102 express o bem freireana utilizada por ele na d cada de 90 para expressar a importfincia destes elementos no ato cr tico de conhecer Tal como ele mesmo nos afirma Sou uma inteireza e n o urna dicotornia t Conhe o com meu corpo todo sentimentos paix o Raz o tamb m 1995 p 18 A aus ncia da importante contribui o de Freire acerca da dimens o est tica do ato de conhecer na referida obra poder ser atribuida ao fato de ter sido pouco explorada sua produ o da d cada de 90 visto que na bibliografia indicada mencionam se apenas duas obras desse per odo Pedagogia da Esperan a 1992 e Pol tica e Educa o 1993 O trabalho referido consta de uma reflex o da autora com o objetivo de questionar o suposto car ter emancipat rio das pr ticas participativas de pesquisa empregadas na educa o de grupos populares subalternos grifo meu 7 Pedagogia da Conscientiza o 26 termos de poder os sujeitos que conversam em um grupo o que torna uma ilus o o supo
341. ue a identifica o da professora com a figura da tia reduz sua responsabilidade profissional Assim escrevendo sob a forma de cartas aborda aspectos relacionados cotidianidade da pr tica profissional do professor tais como a quest o da disciplina a rela o teoria pr tica o desenvolvimento da curiosidade necess ria ao ato cr tico de estudar a dialogicidade na rela o professor aluno as tens es inerentes ao primeiro dia de aula a dif cil tarefa de lidar com o diferente e o medo do novo a humildade a coragem de lutar a amorosidade de ensinar bem como uma s rie de outras qualidades necess rias pr tica educativa progressista Por isso argumenta que faz parte da responsabilidade profissional do educador progressista a exig ncia pol tica por sua forma o permanente p 11 em que se possam desenvolver coletivarnente tais qualidades indispens veis constitui o de pr ticas fundadas numa concep o libertadora da educa o Cartas Cristina tem origem no inusitado Freire sentiu se desafiado escrita dessa obra a partir de uma das cartas que recebeu de sua sobrinha Cristina quando ainda se encontrava no ex lio Na carta explicitando sua curiosidade em melhor conhec lo Cristina diz ao tio que gostaria que ele fosse escrevendo cartas falando algo de sua vida mesma de sua inf ncia e 37 S o Paulo Olho d gua 1993 127 p 38 Rio de Janeiro Paz e Terra 1994 334 p Ana L cia Souza de F
342. ue decorram da an lise da pr tica do supervisor j 104 e nesse sentido essencial a proposta de Alarc o 1997 ao enfatizar a import ncia que assume a did tica curricular para o estabelecimento de uma estreita rela o entre a did tica como rea cient fica de investiga o e a did tica em a o de modo a constituir se numa rela o de interdepend ncia a que denomina de tr ptico did tico em fun o da qual sugere que a focagem sobre uma das tr s partes n o significa o desconhecimento das outras mas antes a sua rela o de continuidade p 161 Trata se pois de propor o in dito vi vel tamb m na forma o do pedagogo tendo em vista a cria o de propostas organizadas em fun o deste entendimento de tr ptico did tico como uma necessidade articula o das pr ticas de ensino pesquisa e extens o no intuito de promover o desenvolvimento da ci ncia da pr tica pedag gica do a professor a e especialmente do supervisor a enquanto formador Para Freire 1993b urna das tarefas da universidade compreendida em sua tr plice atividade a da 3 A did tica curricular entendida pela autora como aquela que se ensina nos programas de forma o de professores 31 A did tica em a o entendida pela autora como aquela que diz respeito ao exerc cio da fun o did tica na atua o profissional do educador 32 Articular as atividades de ensino pesquisa e extens o uma proposta que n o nov
343. ue impulsiona a pr tica progressista aquela que se op e ao car ter desesperan oso fatalista antiut pico de uma tal ideologia em que se forja uma educa o friamente 5 A inten o inicial dessa obra era a publica o dos textos apresentados no Simp sio que se realizaria em maio de 1997 em fun o de ser concedido a Paulo Freire um grau honorifico na Universidade de Lisboa em Portugal Por ocasi o de sua morte esta publica o representou uma forma de homenagem e reconhecimento ao seu trabalho Para Apple 1998 o modo de o exaltar fazer sobreviver aquilo que n o deve nunca degenerar num siogan in til n o te lamentes organiza A sua vida pode ter terminado mas a sua heran a permanece uma presen a viva em todos n s os que queremos justi a p 25 Participam tamb m nessa obra com contribui es fundamentais Maria de Lourdes Pintassilgo pref cio Carlos Alberto Torres UCLA Los Angeles EUA Pierre Furter Universidade de Gen ve Su a Adriana Puiggr s Universidade de Buenos Aires Argentina Jo o Viegas Fernandes Escola Superior de Educa o da Universidade do Algarve Portugal e Ana Maria Saul Pontificia Universidade Cat lica de S o Paulo Brasil 8 Grifos do autor 7 Grifo do autor Pedagogia da Conscientiza o 74 t cnica e se requer um educador ex mio na tarefa de acomoda o ao mundo e n o na de sua transforma o Freire 1996 p 161 162 E nesse sentido que
344. ui es mas submet las an lise metodicamente rigorosa de nossa curiosidade epistemol gica 1996 p 51 Nesse sentido faz se necess rio desafiar a subjetividade do a professor a no desenvolvimento da identidade do educador progressista o qual ao sentir se mobilizado na perspectiva do desenvolvimento da consci ncia democr tica do conhecimento libertador e da sensibilidade emancipat ria assume o compromisso com a democratiza o do trabalho pedag gico A democratiza o do trabalho pedag gico exige pois o desenvolvimento da reflex o sobre a reflex o na a o n vel considerado pelos te ricos como correspondente a um processo mais aprofundado de reflex o no qual o professor dialoga a partir de sua reflex o sobre a a o buscando compreender suas a es atrav s da diversidade das rela es que estabelece Diz respeito n o apenas interlocu o com a literatura mas tamb m ao di logo com os diversos segmentos da comunidade escolar podendo desta forma chegar uma ressignifica o da pr pria teoria bem como altera o de sua pr tica tendo em vista as particularidades do contexto social A pr tica sistem tica deste n vel de reflex o faz do registro uma realidade uma vez que mediante tal exig ncia a mem ria deixa de ser suficiente para apoiar a reflex o Ana L cia Souza de Freitas 139 O registro constitui se assim num importante ponto de apoio recupera o da necess ria mem ria que
345. uindo se enquanto refer ncia da teoria educacional critica ao construir o conceito de Pedagogia progressista titulo de importante obra sua Coimbra Portugal Almedina 1974 O tema da alegria na perspectiva da pedagogia progressista vem sendo desenvolvido ao longo de suas obras Para onde v o as pedagogias n o diretivas Lisboa Portugal Moraes 1976 Escola classe e luta de classes Lisboa Portugal Moraes 1977 A alegria na escola A escola pode ensinar as alegrias da m sica S o Paulo Cortez 1992 Alunos Felizes reflex o sobre a alegria na escola a partir de textos liter rios Rio de Janeiro Paz e Terra 1993 Feliz na Universidade Rio de Janeiro Paz e Terra 1995 Pedagogia da Conscientiza o 22 partir de textos liter rios Escrito em janeiro de 1993 per odo imediatamente posterior editora Paz e Terra ter lan ado em dezembro de 1992 sua obra Pedagogia da Esperan a um reencontro com a Pedagogia do Oprimido estabelece uma rela o de complementaridacle entre as referidas obras ao afirmar que n o h esperan a sem alegria p 10 Na continuidade de suas obras ao discutir a necessidade de a escola tomar se um centro de alegria bem como destacar a impo rt ncia de cria o de condi es para que a alegria na escola seja poss vel refere se sempre a Snyders corno algu m que vem alegremente lutando por esse sonho As aproxima es com Gaston Bachelard e Boaventura de Sousa Santos embora n o
346. uir uma Pedagogia da Conscientiza o 64 nova proposta de conhecimento capaz de reinventar um conhecimento que tenha fei es de beleza reconstruir uma ci ncia que tenha sabor de vida e cheiro de gente num s culo necr filo que se especializou na ci ncia e na arte da morte da guerra e da destrui o p 41 Para Andreola esse deveria ser neste fim de s culo e de mil nio o maior desafio de intelectuais e pesquisadores A esse desafio Freire procurou responder ao contribuir para o desenvolvimento de pr ticas findadas na concep o de um conhecimento libertador aquele que integra n o apenas sua dimens o epistemol gica mas tamb m suas dimens es pol tica e est tica Consciente de sua responsabilidade social afirmou ser este o desafio assumido no trabalho da Secretaria Municipal de Educa o de S o Paulo Estamos preparando o terceiro mil nio que vai exigir urna dist ncia menor entre o saber dos ricos e o saber dos pobres Freire 1991a p 98 Esta a perspectiva defendida por Sousa Santos 1989 ao argumentar teoricamente a necessidade de pr ticas fundadas numa concep o de dupla ruptura epistemol gica justificando o sentido social a que a mesma se dirige com essa dupla transforma o pretende se um senso comum esclarecido e uma ci ncia prudente p 41 Em outras palavras vale reiterar busca se construir um conhecimento prudente para uma vida decente Sousa Santos 1997 p 37 Ta
347. uma concep o de ci ncia em que o fim das certezas se uma exig ncia hist rica capaz de questionar a pr pria natureza de historicidade do conhecimento Segundo Prigogine 1996 no lugar da ci ncia moderna que se orientou pela busca apaixonada das certezas p 194 a ci ncia p s moderna procura construir um caminho estreito entre essas duas concep es que levam igualmente aliena o a de um mundo regido por leis que n o deixam nenhum lugar para a novidade e a de um mundo absurdo acasual onde nada pode ser previsto nem descrito em termos gerais p 198 Desse modo a ci ncia p s moderna ao conceber que o futuro n o est predeterminado e orientar se por uma concep o de conhecimento que n o se restringe uma objetividade comensur vel considera a criatividade cient fica um desafio ao surgimento de uma ci ncia que n o mais se limita a situa es simplificadas idealizadas mas nos p e diante da complexidade do mundo real p 14 Tal entendimento leva Fernandes 1998 ao aproximar Freire de Prigogine no intuito de ressaltar as caracter sticas da concep o p s moderna de conhecimento presente em sua obra a destacar a import ncia que ele atribui s dimens es n o cognitivas do conhecimento p 140 Para Freire a dimens o cognitiva epistemol gica n o se dissocia de uma dimens o est tica do conhecimento na qual inclui a criatividade assim como a intui o a emo o o pra
348. uma situa o profissional que subestima sua capacidade criativa submetendo lhe a uma atua o t cnica limitando suas necessidades aquisi o de conte dos e m todos mediante uma postura aplicativa e reprodutora E importante destacar nesse sentido a importante contribui o dos te ricos que ao conceberem a educa o como atividade complexa que nem sempre pode ser desenvolvida a partir de procedimentos previamente organizados exigindo do professor uma postura reflexiva permanente para criar alternativas ao ensino constroem o conceito do professor como pr tico reflexivo reconhecendo a riqueza da experi ncia que reside na pr tica significa que o processo de compreens o e melhoria do seu ensino deve come ar pela reflex o sobre a pr pria experi ncia Zeichner 1993 p 17 Dessa forma teorizam a pr pria experi ncia a partir da an lise de situa es concretas abandonando a postura de meros transmissores de conte dos e assumindo uma postura reflexiva acerca de seu trabalho Essa Pedagogia da Conscientiza o 184 uma possibilidade que se amplia na pr tica da Pedagogia da Esperan a em que a reflex o associa se ao intuito de recuperar a capacidade de espanto e indigna o juntamente com a capacidade de sonhar em que a viv ncia da dialeticidade da den ncia e do an ncio abrem espa o para a imagina o desafiando a criatividade no exerc cio da criticidade Concebida dessa forma a criticiza o da qu
349. undamentalmente n o a cr tica pela cr tica o conhecimento pelo conhecimento mas a cr tica e o conhecimento critico para uma pr tica que altere e transfor me a realidade anterior no plano do conhecimento e no piano hist rico social Frigotto 1991a p 81 O movimento constitutivo desta pesquisa levou em considera o Ana L cia Souza de Freitas 13 sobretudo o risco de tomar a realidade pesquisada como objeto de pura curiosidade intelectual Freire 1992 p 71 A esse respeito mesmo que de forma alongada relevante destacar as preocupa es de Apple 1998 p 26 28 manifestadas sob a forma de den ncia Actualmente existe uma esp cie de ind stria de Freire Foram escritos m ltiplos livros sobre o seu trabalho e influ ncia Muita gente utilizou Freire enquanto escritor e pessoa como parte de estrat gias de mobilidade social no meio acad mico Assim empenham se na recolha de capital cultural que esperam um dia converter em capital econ mico atrav s de um maior prest gio e de um progresso na carreira acad mica Tenho que admitir que suspeito desses indiv duos que se apropriaram do nome e linguagem de Freire mas que eles pr prios nunca se empenharam em dinamizar um trabalho deste tipo numa pr tica concreta quero que se explore a possibilidade de que uma das utiliza es de Freire tenha sido criar uma ilus o de compromisso pol tico enquanto se procurava n o fazer sac
350. ural Nessa reflex o considera que a abordagem sociocultural do ensino organiza se em torno da concep o interacionista acerca da constru o do conhecimento e d destaque obra de Freire Urna das obras referentes a esse tipo de abordagem que enfatiza aspectos s cio pol tico culturais mais significativas no contexto brasileiro e igualmente uma das mais difundidas a de Paulo Freire com sua preocupa o com a cultura popular p 85 Ana L cia Souza de Freitas 53 racionalismo critico ou hipot tico dedutivismo Popper o contextualismo Kuhn o anarquismo epistemol gico Feyerabend e o racionalismo aplicado ou racionalismo dial tico Bachelard O racionalismo cr tico ou hipot tico dedutivismo Popper parte do entendimento de que s ci ncia o que pode ser submetido refuta o ou seja uma teoria cient fica se dela s o deduzidas consequ ncias que podem ser testadas para demonstrar sua falsidade p 41 Assim o m todo hipot tico dedutivo de Popper ao substituir o m todo cient fico tradicional prop e que o problema e a elabora o de hip teses envolvam criatividade e imagina o mas ao utilizar o crit rio da falsiflcabilidade para diferenciar ci ncia e n o ci ncia preserva o car ter racional de uma pesquisa p 26 No que se refere s implica es pedag gicas o falseasionismo de Popper aproxima se do entendimento de conhecimento como constru o construtivismo ao con
351. usa ideologia machista e parte do processo de reinventar o mundo ao alcance de nossas possibilidades No terceiro e ltimo momento dessa obra Freire repensa e de certa forma revive a Pedagogia do Oprimido sem contudo assumir uma posi o Pedagogia da Conscientiza o 92 saudosista Aborda entre tantas outras a quest o do medo que inibe os oprimidos ao embate recriador um medo causado por motivos concretos Atribui s lideran as a tarefa de imuniza o desse medo atrav s da leitura cr tica e permanente da realidade bem como da constru o de a es estrat gicas que viabilizem que se fa a no futuro aquilo que hoje se apresenta como imposs vel Sobretudo Freire insiste na necessidade de uma educa o fundada na Pedagogia da Esperan a para recuperar a utopia como sonho poss vel e a compreens o do futuro assim como do presente e do passado como fruto das op es e decis es humanas A leitura da Pedagogia da Esperan a pois no m nimo uma leitura emocionante e sem d vida um referencial b sico forma o de qualquer educador ou educadora que se pretenda progressista A Pedagogia da Esperan a mant m sempre viva a presen a de Paulo Freire e sua convic o sobre a necessidade da luta pela constitui o de um senso comum esclarecido fundado na cren a da possibilidade do mundo ser reinventado na perspectiva de uma vida melhor para todos as A reprodu o de alguns trechos intencionalmente aqui de
352. utura e a sobredetermina Se n o existisse a din mica destas rela es prec rias nas quais os homens movimentam se e trabalham no Freire utiliza tal express o para definir seu entendimento acerca das rela es entre infra estrutura e superestrutura por considerar que ser este um instrumento de an lise proposto por Althusser que impede que se interprete como uma explica o mecanicista Pedagogia da Conscientiza o 150 mundo n o poder amos falar nem de estrutura social nem de homens nem de mundo humano Freire 1979a p 64 Sendo assim necess rio que se considere tamb m nesse processo de conscientiza o os condicionamentos que se relacionam ao permanente tensionarmnento entre o ontem o hoje e o amanh e que constituem a historicidade humana Especialmente torna se relevante levar em conta as etapas hist ricas da evolu o do pensamento cient fico a qual considerada por Bachelard 1996 a partir de tr s grandes per odos O primeiro per odo que representa o estado pr cient fico compreencleria tanto a Antiguidade cl ssica quanto os s culos de renascimento e de novas buscas como os s culos XVI XVII e at XVIII O segundo per odo que representa o estado cientifico em prepara o no fim do s culo XVIII se estenderia por todo o s culo XIX e in cio do s culo XX Em terceiro lugar considerar amos o ano de 1905 como o in cio da era do novo esp rita cient fico momento em que a
353. va um processo de constru o e n o de reprodu o de conhecimentos Por isso prop em que o ensino deveria ser fundamentado pelas perguntas e n o pelas respostas As respostas ditas corno verdades do a professor a e muitas vezes sem serem origin rias de pergunta alguma do a aluno a inibem sua iniciativa formula o de perguntas e contribuem para a sua passividade A segunda obra que se destaca nesse sentido Pol tica e educa o 1993 na qual em suas Primeiras Palavras ao destacar a natureza hist rica do conhecimento e seu processo de permanente reconstru o Freire considera o conhecimento como uma produ o social que resulta da a o e reflex o da curiosidade em constante movimento de procura p 9 Segundo ele a curiosidade inscreveu se historicamente na natureza humana a qual vocacionada para o ser mais necessita de condi es concretas para desenvolver se Essa curiosidade tomada epistemol gica p 10 no processo hist rico cuja experi ncia social fez o homem capaz de produzir a linguagem tamb m possibilitou mudar a qualidade da curiosidade nascida com a vida transformando sua curiosidade ing nua numa curiosidade exigente metodizada com rigor que procura achados com maior exatid o ibdem p 11 A partir dessa compara o define a curiosidade epistemol gica A curiosidade de que falo n o obviamente a curiosidade desarmada com que olho as nuvens que se movem r pidas
354. vel ao desenvolvimento de tais pr ticas Trata se pois de constituir pr ticas coletivas de forma o em que o a professor a construa conhecimento e tamb m a si mesmo Trata se de um processo em que partindo da an lise e interpreta o de sua pr pria atividade o professor problematiza a rela o entre pensamento e a o desafiando a assun o da responsabilidade de suas op es pedag gicas Assim torna se obrigat rio ao educador progressista a assun o da avalia o cr tica e permanente sobre o sentido de suas a es construindo metodologias pr prias de investiga o de tal modo que ao analisar explicar e buscar a fundamenta o te rica para a pr tica pedag gica em fun o da aprendizagem de todos as os as alunos as problematize o chamado conhecimento pr tico tendo em vista a constru o de um conhecimento pedag gico libertador O conhecimento pr tico ou o conhecimento na a o aquele conhecimento que os professores manifestam no momento em que executam a ac o j din mico e resulta na reformula o da pr pria ac o Amaral Moreira e Ribeiro 1996 p 97 o componente inteligente que orienta toda a actividade humana e se manifesta no saber faze G mez 1995 Tal conhecimento corresponde ao que Freire denominou de saber de experi ncia feito o qual orientado pela cotidianidade n o d conta de explicar por que 44 Grifo do autor Ana L cia Souza de Freitas 133 faze
355. velhos na sustenta o da familia E Atendendo irresist vel voca o de pai de fam lia casei me aos 23 anos em 1944 com Elza Com ela prossegui o di logo que aprendera com meus pais De n s vieram ao mundo cinco filhos 1 Foi a partir do casamento que comecei a me preocupar com problemas educacionais O golpe de Estado 1964 levou me pris o por cerca de 70 dias refugiando me na Embaixada da Bol via em setembro de 1964 Fui considerado como um subversivo internacional um traidor de Cristo e do povo brasileiro Freire 1979a p 13 16 Infelizmente para muitos assim como o conhecimento de seu nome e de sua hist ria reduzida foi tamb m a compreens o da import ncia e 5 A declara o se encontra integralmente detalhada em Paulo Freire Por si mesmo primeira parte da obra Conscientiza o teoria e pr tica da liberta o 1979a Ana L cia Souza de Freitas 25 complexidade de sua obra Tanto por parte de quem o defendeu mas reduziu sua contribui o a um m todo de alfabetiza o de adultos aos trabalhos no campo da educa o informal ou a uma pedagogia social quanto por parte dos que o acusam de ultrapassado ao considerarem que encontra se ainda hoje fundado no paradigma da modernida de A contemporaneidade de Freire pois aspecto igualmente pol mico e que merece ser melhor analisado desde os diferentes posicionamentos cr ticos Alguns
356. vi vel Refer ncias bibliogr ficas o kS Toda bibliografia deve refletir uma inten o fundamental de quem a elabora a de atender ou a de despertar o desejo de aprofundar conhecimentos Paulo Freire ALARC O Isabel Ser professor reflexivo In ALARC O Isabel Forma o reflexiva de professores estrat gias de supervis o Portugal Porto Editora 1996 p 171 189 Contribui o da did tica para pensar a forma o de professores reflex es sobre o seu ensino In PIMENTA Selma Garrido org Did tica e forma o de professores percursos e perspectivas no Brasil e em Portugal S o Paulo Cortez 1997 p 159 190 ALMEIDA Maria da Concei o de Complexidade do casulo borboleta In CASTRO Gustavo de CARVALHO Edgard de Assis ALMEIDA Maria da Concei o de orgs Ensaios de complexidade Porto Alegre Sulina 1997 p 25 45 AMARAL Jo o Maria MOREIRA Alfredo Maria RIBEIRO Deolinda O papel do supervisor no desenvolvimento do professor In ALARCAO Isabel Forma o reflexiva de professores estrat gias de supervis o Portugal Porto Editora 1996 p 89 122 ANDREOLA Baldu no O processo do conhecimento em Paulo Freire Educa o e Realidade Porto Alegre v 18 n 1 p 32 42 jan jun 1998 AOERGS Entrevista com Paulo Freire Entrevista concedida a Cecilia Guaran Prospectiva Revista de Orienta o Educacional Associa o dos Orien adores APPLE Michael W Ne
357. visor a que fazendo da reflex o permanente das pr ticas educativas na escola uma meta a ser perseguida cotidianamente ressignifica seu pr prio objeto de trabalho de modo a constituir se no que Souza Patto 1993 denominou de interlocutor qualificado um profissional que deve estar capacitado para uma escuta que criticamente informada leve em conta as fantasias ang stias e defesas que acompanham qualquer processo de mudan a p 352 Sendo assim constitui se uma obrigatoriedade pr tica da Pedagogia da Conscientiza o 204 supervis o comprometida com a gest o democr tica do trabalho pedag gico considerar a queixa como uma manifesta o que encobre situa es limite que precisam ser explicitadas compartilhadas analisadas cr tica e coletivamente a fim de que se possa propor a supera o de rela es que se situam no n vel da cotidianidade E preciso que o a supervisor a oriente suas a es a partir do entendimento de que E um trabalho grupal que se pretenda caminhar em dire o n o cotidianidade n o pode tentar polir as arestas e propor se melhorar o funcionamento de urna institui o escolar atrav s de t cnicas de rela es humanas conciliadoras ao contr rio deve criar condi es para que a revolta e a insatisfa o latentes sejam nomeadas compreendidas em sua dimens o hist rica e desta forma possam redimensionar as rela es de for a a existentes Souza Patto 1998 p 35
358. xto real sem saber o que eles sabem independentemente da escola para que os ajudemos a saber melhor o que j sa bem de um lado e de outro para a partir dai ensinar lhes o que ainda n o sabem Freire 1993b p 105 A viv ncia da alegria na escola um desafio sua reinven o na perspectiva da qualidade democr tica compreendendo a como uma rela o org nica de tr s dimens es fundamentais a di jnens o pol tica que diz respeito democratiza o das rela es de participa o e decis o atrav s dos conselhos escolares a dimens o epistemol gica que diz respeito democratiza o do conhecimento corno instrumento de humaniza o atrav s de uma educa o de natureza dial gica que parta do saber de experi ncia feito e a dimens o est tica que diz respeito ao acesso escola como um direito social que garanta o acesso a um conhecimento libertador atrav s do qual o sujeito constr i sua autonomia e amplia sua capacidade de atuar coletivamente e recriar as condi es de sua pr pria exist ncia Pedagogia da Conscientiza o 126 A luta pela alegria na escola implica a assun o do compromisso com a sua democratiza o sendo esta uma refer ncia constante nas obras de Freire escritas na d cada de 90 Todavia a democratiza o da escola na perspectiva da alegria n o prescinde da constitui o de rela es de obrigatoriedade e nesse sentido o entendimento de Freire aproxima se da perspectiva prop
359. zer a curiosidade e a alegria entre outros que se relacionam subjetividade considerando as imprescind veis ao ato de conhecer numa perspectiva cr tica Assim a constitui o de um conhecimento libertador ocorre no processo de conscientiza o e n o se esgota na racionalidade A consci ncia do mundo que implica a consci ncia de mim no mundo com ele e com os outros que implica tamb m a nossa capacidade de perceber o mundo de compreend lo n o se reduz a uma experi ncia racionalista E com uma totalidade raz o sentimentos emo es desejos que meu corpo 5 Refere se ao t tulo da obra 1996 Ed UNESP em que Prigogine discute a quest o do tempo considerando a o que est na encruzilhada do problema da exist ncia e do conhecimento p 9 Ana L cia Souza de Freitas 63 consciente do mundo e de mim capta o mundo a que se intenciona Freire 1995 p 75 76 Essa perspectiva de uma nova racionalidade em Freire tamb m destacada por Dowbor 1995 ao encerrar o pref cio da obra A sombra desta mangueira afirmando No racioc nio de Paulo Freire a racionalidade reclama racionalmente o direito a suas ra zes emocionais p 14 A busca dessa nova racionalidade est ligada sobretudo dimens o pol tica que orienta a constru o do conhecimento no sentido da conscientiza o o qual n o se limita tomada de consci ncia mas se complementa a partir da a o transformadora pois conhec
360. zer o passado Desde que a instabilidade incorporada a significa o das leis da natureza ganha um novo sentido Doravante elas exprimem possibilidades Prigogine 1996 p 12 A partir dessa compreens o a concep o de futuro situa se num espa o intermedi rio entre a concep o autoritariamente determinista e a arbitrariedade do acaso Para Prigogine 1996 O futuro n o dado Vivemos o fim das certezas p 193 e esse o momento que abre espa o criatividade nas ci ncias uma vez que inversamente durante tanto tempo o ideal da fisica esteve associado certeza isto denega o do tempo e da criatividade p 194 Esse tamb m o entendimento de Freire ao compreender a hist ria como possibilidade e o in dito vi vel como uma alternativa constru da coletivamente a partir da viv ncia cr tica do sonho almejado capaz de construir a supera o das situa es limites que impedem sua concretiza o Ana L cia Souza de Freitas 97 E nesse sentido que faz se necess ria uma forma o permanente cr tica e coletiva que reflita sobre o car ter opressivo das situa es limites e construa na pr tica e em sua reflex o as condi es te ricas e sociais que viabilizem a proposi o de in ditos vi veis democratizados e democratizantes Assim orientando se pelo entendimento da hist ria como possibilidade e comprometendo se com o desenvolvimento da capacidade de sonhar coletivarnente a pr

Pedagogia da Conscientização Ana Lúcia Souza de Freitas

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