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edna galvao - Universidade Federal Fluminense

1. I CONGRESSO MUNICIPAL DE EDUCA O DE ANGRA DOS REIS 1994 Angra dos Reis RJ Caderno de Delibera es Angra dos Reis Rio de Janeiro PMAR SME 1994 43 p I CONGRESSO MUNICIPAL DE EDUCA O DE ANGRA DOS REIS 1994 Angra dos Reis RJ Manual de Orienta o Angra dos Reis Rio de Janeiro PMAR SME 1994 25 p II CONGRESSO MUNICIPAL DE EDUCA O DE ANGRA DOS REIS 1999 Angra dos Reis RJ Caderno de Delibera es Angra dos Reis Rio de Janeiro PMAR SME 1999 56 p DEMOCRATIZA O DA GEST O Relato de um processo constru do e vivenciado por servidores e usu rios da escola p blica municipal Documento n 01 fev 97 Caderno impresso pelo servi o de mecanografia da Secretaria Municipal de Angra dos Reis Rio de Janeiro 1997 IH ENCONTRO DE EDUCA O DE JOVENS E ADULTOS DE ANGRA DOS REIS Documento S ntese da I Mostra Pedag gica de Angra Dos Reis Angra dos Reis Rio de Janeiro PMAR SME 1999 PAGE IBASE COORDENA O DE ELABORA O E A O POL TICA Rio de Janeiro Angra dos Reis Gest o Democr tica v I Apropria o do Solo do Solo Urbano V II 1993 MACHADO Lia Os rio Angra dos Reis por que olhar para o passado UFRJ entre 1990 e 1995 Texto mimeografado MANH ES Luiz Carlos amp MILET Rosa Lepak A Caminhada do Noturno em Angra dos Reis amp A Reformula o do Noturno em Angra dos Reis Caderno impresso pelo servi o de mecanografia da Secretaria Municipal de Angra dos Reis Rio d
2. Nesta escola a a o sobre o corpo o treinamento do gesto a regulamenta o do comportamento a interpreta o do discurso com a inten o de hierarquizar e separar fazem com que surja na hist ria da humanidade esta figura singular e individualizada que o homem como produ o do poder mas tamb m como objeto do saber Esse homem torna se respons vel pelo seu sucesso ou fracasso passa a ver na competi o o est mulo para encontrar alcan ar seu lugar na sociedade Nesta perspectiva as oportunidades s o categorizadas como constru es pessoais comum ouvir as seguintes express es Quem bom cria seu pr prio espa o voc que cria as oportunidades Se voc quiser voc chega l sem considerar que o mundo atual n o democratiza as informa es e o acesso aos diferentes espa os e processos educativos A escola caracterizada por Foucault 1989 que valoriza a ordem a t cnica o trabalho repetitivo e a organiza o linear da aprendizagem tamb m difunde valores leis e regras sociais na tentativa de formalizar as a es humanas dissociando as da participa o corporal privilegiar as opera es cognitivas abstratas desvinculando as de experi ncias sensoriais concretas e de esquecer o sentido existencial do presente em fun o de um futuro abstrato No entanto os investimentos do poder sobre o corpo levaram os sujeitos consci ncia de seu pr prio corpo fazendo surgir pr ticas de ins
3. ES DA PESQUISA 155 As pr ticas cotidianas do corpo escola no segundo ano do projeto e a rela o com a SME 155 A proposta da pesquisa e o envolvimento dos alunos 192 PONTOS DE CHEGADA AS MARCAS DEIXADAS PELAS MAR S DE ANGRA DOS REIS 231 COMPANHEIROS DE VIAGEM 236 TESES E DISSERTA ES 240 DOCUMENTOS 241 PAGE O ITINER RIO E O PERCURSO A TITULO DE INTRODU O DA SEDU O AO ENVOLVIMENTO COM A TEM TICA A guia e o condor devem ser nossos guias nossos her is interiores nosso arqu tipos seminais Atrav s deles alimentamos a coragem de criar de erguer v o e de moldar um novo futuro LEONARDO BOFF 1999 Meu primeiro contato com o curso noturno se deu em 1990 no primeiro ano de formada em Educa o F sica quando tive a oportunidade de acompanhar algumas turmas de uma escola municipal em Volta Redonda RJ fazendo avalia o f sica nos alunos e palestras relacionadas atividade f sica e sa de Nesta escola estudavam alguns alunos que frequentavam a pra a do bairro onde eu trabalhava com esporte e lazer comunit rio Para minha surpresa na escola eles eram considerados incompetentes irrespons veis rebeldes baderneiros enquanto que na pra a eram l deres organizavam os grupos para os jogos mostravam se cooperativos e interessados Esta realidade fez surgir algumas perguntas que na poca n o conseguia respostas Que imagem a escola vem construindo desses alunos Por que a rela o corporal
4. Um coment rio que chegou a rodar pelos bastidores das escolas era que a nova administra o da SME tinha como estrat gia para desmantelar os projetos da antiga administra o a desmobiliza o dos grupos de professores considerados resistentes e combatentes na defesa do trabalho desenvolvido pela antiga administra o Este coment rio surgiu diante das medidas tomadas a respeito da lota o dos novatos algumas escolas reivindicaram a SME que mantivesse o quadro de professores que j vinha trabalhando nos diferentes projetos desenvolvidos pelas escolas o que n o foi respeitado Al m das novas contrata es foi cancelada a dobra de contrato de muitos professores que atuavam nos projetos O medo da resist ncia do conflito do embate ideol gico da compara o pol tico administrativa inviabilizam a continuidade de projetos e ou propostas impedindo a consolida o de pr ticas que atendam aos interesses de uma coletividade A mudan a de governo seja a n vel Municipal Estadual ou Federal normalmente vem acompanhado de mudan as nas diferentes esferas administrativas interferindo consequentemente na forma e interesse em encaminhar as diferentes a es Um outro contexto que estava posto diz respeito coordena o do projeto do regular noturno No fim do ano 2000 os coordenadores entregaram o cargo o que j era esperado e no ano seguinte uma professora que n o havia feito parte do projeto at ent o assumiu a fun o
5. parede Percebi a dificuldade de muitos fecharem os olhos e relaxarem Ap s este momento sentamos no ch o e conversamos sobre o que sentiram durante todas as atividades Muitos disseram achar estranho gritar na escola ali n o era um espa o pr prio para isto outros relataram que nunca tinham gritado e por isso sentiram dificuldades de faz lo outros disseram ainda que sentiram medo vergonha de dan ar de olhar no olho do outro e gritar estamos t o condicionado aos mesmos movimentos gestos rela es e espa os que n o nos permitimos ser diferentes Esta fala foi feita por um dos alunos Tivemos tamb m aqueles que no in cio ficaram temerosos mas que aos poucos foram se soltando brincando gritando e pulando enlouquecidos Para estes as atividades tinham sido divertidas desafiadoras e permitiram aliviar o estresse Comentamos como cada lugar constr i sentidos e significados para o corpo e para o comportamento Analisamos quais os sentidos dados pelas institui es fam lia igreja e principalmente a escola aos sons e movimentos corporais A participa o de todos na discuss o foi muito boa os alunos tinham v rios exemplos de repress es sofridas por comportamentos indesej veis Discutimos as influ ncias culturais sociais econ micas e pol ticas no desenvolvimento de padr es e modelos aceit veis socialmente A presen a do professor W contribuiu muito para o debate No entanto mais tarde na sala dos professores ele
6. PAGE proposta voltava se para a religi o enguanto manifesta o cultural e como tal datada historicamente H um momento e um motivo por tr s da cria o e manifesta o das religi es que deveria ser problematizado principalmente neste momento em que a humanidade se volta para as quest es espirituais e in meras religi es e seitas s o criadas importante discutir estas quest es para que haja toler ncia entre as cren as consci ncia de sua historia e principalmente entendimento de que por ser uma cria o humana n o se constitu a em verdade absoluta da mesma forma como foi criada pode ser desconstru da transformada Dentro do vi s cultural todos concordaram em manter o tema Todos estes temas se mostraram importantes dentro da minha pesquisa pois se relacionavam com as quest es de saber poder corpo institu das na escola O tema Organiza o Social permitia discutir a organiza o da escola os padr es regras e hierarquias institu das o tema drogas atingia diretamente o cotidiano de alunos professores e dire o que de uma forma ou de outra tamb m trilhavam seu caminho o tema democracia estava no cerne do projeto e levava a refletir qual o lugar do aluno na escola o que permitido ou n o neste espa o quem determina as regras Este tema possibilita discutir os poderes estabelecidos principalmente no que tange as rela es de saber poder corpo na escola provoca a emerg ncia de novos sujeitos cid
7. escola e entraram na sala mostrando um certo encantamento espanto satisfa o ao ver o clima de descontra o e alegria do grupo Depois comentaram o quanto o grupo parecia amigo e isso era importante para um bom trabalho Pelos coment rios olhares e express o corporal tive a impress o de que eles pensaram que todo o grupo era coeso o que facilitaria a defesa do projeto Que ali se encontrava um grupo forte e resistente Esta PAGE caracter stica apesar dos atritos e diverg ncias se manifestou nas reuni es em defesa pela continuidade do projeto Mas nesta aula um acontecimento em especial chamou a aten o de todos um dos professores novatos que vou denominar de professor X apresentava uma certa dificuldade na intera o com o grupo de todos era o mais calado s rio e r gido corporalmente Iniciou a aula demonstrando um certo desconforto pois biodan a significa dan ar a vida atrav s da celebra o do contato com o outro busca a troca o movimento ritmado mexendo com a emo o em todos os sentidos as pessoas s o convidadas a se olhar se abra ar desafiar e conquistar numa manifesta o de afeto e aceita o Numa das atividades em que os professores estavam divididos em pequenos grupos todos de m os dadas se movimentando lentamente ao ritmo da m sica e se olhando nos olhos o professor X come ou a se mexer com mais euforia emitindo sons elevados e num repente de emo o me abra ou elevou me do ch o e me
8. o do servi o p blico e corre o de sal rios No que se refere ao ltimo item Angra passa a oferecer o maior sal rio do Estado do Rio para os seus servidores Isso fez com que profissionais de diferentes localidades e especializa es participassem do concurso p blico realizado em 1992 E foi a partir deste concurso que passei a integrar a equipe de professores do munic pio neste mesmo ano A escola um espa o de movimento constante pleno de opera es a es de sujeitos que no cotidiano das rela es cria as caracter sticas pr prias deste espa o Angra dos Reis ao 1 A E A E 2 v suas escolas serem investidas de uma nova cultura receber profissionais estrangeiros de outras vis es de mundo e de pr ticas que ir o abrir novas discuss es novos posicionamentos frente aos rumos da educa o municipal 19 pd 21 O termo estrangeiros foi usado para categorizar os funcion rios p blicos que n o eram moradores do Munic pio de Angra dos Reis PAGE Em meados de 1991 a Secretaria Municipal de Educa o SME desencadeou um amplo processo de discuss o com a comunidade escolar sobre Gest o Democr tica no entanto podemos dizer que foi a partir do IX EPEM Encontro de Professores das Escolas Municipais em 1992 que este debate se corporificou em propostas efetivas Como s ntese do encontro ficou estabelecido que as escolas iriam amadurecer as discuss es sobre as elei es para diretore
9. o no que diz respeito a s rie idade ao incentivo para a implanta o de cursos supletivos que prev supl ncia e achatamento de conte dos para alunos jovens e adultos ao inv s de construir pol ticas que viabilize a constru o de propostas coerentes com a realidade de cada localidade assim como com as necessidades e expectativas de seus alunos PAGE Neste sentido esta investiga o representa um momento do trabalho prenhe de significados constru dos historicamente parte da a necessidade de refletir sobre meu envolvimento na realidade pesquisada assim como as interfer ncias da pesquisa em minha vida Dessa forma procurei me afastar da no o de sujeito e objeto separados para assumir a no o de transversalidade das rela es Nesta perspectiva este estudo n o seria poss vel se ele n o se constitu sse num instrumento analisador de meu comprometimento no mbito do projeto que a escola desenvolve e de como ele vivenciado pelos diferentes sujeitos da escola Entretanto a an lise das implica es n o tarefa f cil pois faz se necess rio desnudar as a es revelando suas fraquezas erros e limita es 2 Amamos nossa aliena o Sentimos que muito doloroso a an lise de nossas implica es ou melhor a an lise dos lugares que ocupamos ativamente neste mundo Ou por exemplo em nosso local de trabalho Um coletivo de trabalho urge que ocultemos de n s mesmos digamos 80 de seu
10. p 23 Um novo caminho foi constru do para diminuir a dist ncia da travessia dos produtos principalmente o ouro e agilizar seu envio de forma segura para a Europa O Caminho Novo como ficou conhecido ligava por terra a regi o de S o Paulo ao interior de Minas Gerais e estas ao Rio de Janeiro evitando assim a a o dos piratas muito comum no antigo caminho mar timo de Paraty e Angra para S o Vicente A constru o dessa estrada acompanhou o desmatamento para a instala o de pioneiros que vinham em busca do cultivo de produtos agr colas Por m o dom nio das grandes propriedades sesmarias e o baixo valor dos produtos n o permitiram grande expans o do povoamento interessante lembrar que este foi o caminho percorrido por D Pedro I ap s a declara o da Independ ncia em 1822 Em Paraty ainda encontramos a casa em que se hospedava com os objetos preservados e abertos visita o p blica Para Angra dos Reis essa via abriu novas possibilidades de sobreviv ncia A medida que avan ava a PAGE constru o da estrada outros atalhos para chegar ao litoral foram sendo constru dos No entanto a principal via de acesso ao Caminho Novo foi atrav s de L dice e Rio Claro pelo vale do Arir Jurumim Angra dos Reis se constituiu numa importante regi o comercial recebendo grande quantidade de migrantes Inicialmente tornou se respons vel pela atividade portu ria funcionando como pequeno entreposto co
11. No fim de todo este processo percebo que o projeto pode acabar mas nunca mais ser amos os mesmos e isto prometia uma situa o de busca constante Estava claro para todos os problemas decorrentes de uma nova pr tica muitos n o tinham sido superados contudo t nhamos sa do vitoriosos Sab amos que era poss vel repensar o ensino noturno e atender s necessidades dos alunos jovens e adultos trabalhadores Podem calar um projeto mas n o podem calar uma pr tica uma atitude Hoje ap s tr s anos de t rmino do projeto alguns professores da escola est o envolvidos com o resgate de sua hist ria participando de eventos com relatos de uma pr tica que acreditam ter dado certo sonham em traz la de volta Os destaques feitos no decorrer deste trabalho coadunam se com a op o do tipo de pesquisa realizada ou seja n o se priorizou os grandes instrumentos de an lise mas voltou se para as a es do cotidiano que cortam a hist ria acontecimentos analisadores que produziram rupturas que catalisaram fluxos que produziram an lises e nos permitiram narrar uma outra hist ria olhando a realidade sob outro ponto de vista Neste sentido todas as situa es experimentadas na escola e relatadas aqui me mostraram a necessidade de discutir as rela es corporais que n o se limitaram ao indiv duo PAGE mas buscaram expandir o corpo coletivo dentro de qualquer projeto pol tico pedag gico Muitos s o os conflitos e embat
12. O tempo n o tinha qualquer valor para os antigos os romanos o consideravam res incorporalis e portanto sem pre o Quando se vive no cio e n o necess rio competir com algu m a vida segue seu curso a passo de tartaruga Mas agora as coisas tinham mudado uma das primeiras medidas do protestantismo religi o burguesa por excel ncia foi abolir a infinidade de festividades com que o catolicismo medieval se comprazia para aumentar assim o n mero de dias teis Ainda haveria de transcorrer um s culo antes de Franklin enunciar a sua c lebre senten a tempo dinheiro mas a burguesia capitalista manufatureira j tinha tomado consci ncia disso De fato a burguesia apressava o passo para acompanhar o ritmo da produ o Com nio proclamou a necessidade de economizar tempo no terreno educativo trinta e tr s anos depois da Did tica Magna John Floyer criou o instrumento adequado para medida do tempo acrescentando ao rel gio em 1690 o ponteiro dos segundos 1982 p 127 A rela o entre a escola exercendo o papel de disciplinadora do uso do tempo e a educa o para o trabalho dos alunos jovens e adultos da classe popular sens vel ela est presente nos programas planejamentos e leis educacionais Enguita 1989 se refere obsess o das escolas em manter a ordem e os alunos ocupados o tempo todo dizendo que um dos motivos que a atividade constante evita que surjam problemas de indisciplina mas que
13. RIO RESUMO ABSTRACT O ITINER RIO E O PERCURSO A T TULO DE INTRODU O DA SEDU O AO ENVOLVIMENTO COM A TEM TICA COMO COMPREENDEMOS A PESQUISA E NOSSA IMPLICA O A OP O PELA PESQUISA INTERVEN O OS CAMINHOS PERCORRIDOS NA ELABORA O DESTE ESTUDO NARRANDO A CORPORICIDADE DE NOSSA HIST RIA O PROCESSO HIST RICO DE ANGRA DOS REIS O auge O decl nio Enquanto rea de seguran a nacional O fim da ditadura militar e a mobiliza o popular em prol da democratiza o em angra O governo petista e a gest o democr tica O SISTEMA EDUCACIONAL E O CONTEXTO DA PESQUISA A DEMOCRATIZA O NO MBITO EDUCACIONAL A COORDENA O DO REGULAR NOTURNO PAGE 08 09 12 12 15 21 29 32 32 32 37 40 50 53 57 57 UMA TENTATIVA DE CORPORIFICAR AS DISCUSS ES PEDAG GICAS 69 O PROJETO PARA ALUNOS JOVENS E ADULTOS HORIZONTALIZANDO A RELA O CORPO PODER SABER O FIM DA GEST O DO PT SUJEITOS E LUGARES O CORPO EM QUEST O ANATOMIAS URBANAS E O SENTIDO DE CIDADE OS CORPOS INDESEJ VEIS DOS ALUNOS JOVENS E ADULTOS 85 94 104 105 114 PAGE ENTRE A VERGONHA E O DESEJO O DESAFIO E O DIREITO EDUCA O ESCOLAR 120 A CORPORALIDADE DOS ALUNOS E O CEN RIO DA PESQUISA 130 PONTOS DE PARTIDA REFLEX ES E INTERVEN ES 139 O ESPA O DA PESQUISA E O CONTEXTO NO QUAL SE INSERE 139 O CORPO ESCOLA E A IMPLANTA O DO PROJETO DO REGULAR NOTURNO 142 O SEGUNDO ANO DO PROJETO E AS INTERVEN
14. do nosso interesse n s baixamos as regras Depois de algum tempo decidiram levar a quest o para o Conselho Este mesmo professor ap s a reuni o veio conversar comigo dizendo o quanto alguns professores eram incoerentes nas suas atitudes em determinado momento defendiam a autonomia dos alunos e a flexibiliza o do professor diante das regras e em outro reclamavam do comportamento dos alunos e tomavam medidas autorit rias defendendo a n o flexibiliza o dos professores PAGE Quando do interesse do professor os alunos s o apontados como adultos prontos assumir responsabilidades e quando n o era do interesse diziam que os alunos eram irrespons veis e n o podiam ficar soltos precisando de r deas curtas Eu j havia percebido esta mudan a de posicionamento dos professores por diversas vezes alguns deles reclamaram da organiza o da escola e em outros esses mesmos professores defenderam a sua organiza o dizendo em toda desorganiza o existe uma organiza o Nas minhas observa es pareceu se que estava em jogo uma briga pela demarca o do espa o uma luta de for as que tinha no discurso pol tico bem articulado os instrumentos de convencimento e ao mesmo tempo de distin o Nesta luta quem tem raz o se torna o mais forte e vice versa Foucault 1999 p 08 09 nos alerta dizendo que as pr ticas sociais engendram dom nios de saber que v o influir diretamente no aparecimento de novos obj
15. dosagens dos conte dos curriculares n o alteraram a constitui o b sica da escola e isto porque essas mudan as n o tocam no ponto fundamental Enquanto a condi o de trabalho estudante n o for questionada pela escola a situa o n o ter possibilidade de ser transformada se bem que n o basta que s a escola realiza esse questionamento o pr prio conceito de trabalho que precisa ser reformulado Sem di logo entre o trabalhador e o conte do real da aprendizagem sem o di logo entre a pr tica profissional e a pr tica escolar n o haver possibilidade de que o conhecimento adquirido atrav s do cotidiano profissional seja reelaborado a partir da pr tica escolar Sem esse di logo dificilmente se conseguir que o trabalhador conhe a os meios de supera o de sua condi o social e os limites e possibilidades que lhe s o impostos pela sociedade mais ampla Nos encontros com os professores da UFF os profissionais do noturno apontaram a necessidade de mudar radicalmente o ensino neste turno visto que j n o era satisfat rio ficar discutindo apenas atividade serem realizadas em datas comemorativas Defendiam a constru o coletiva de uma proposta em que o conte do escolar refletisse a realidade do Esta fala de C lia Pezzolo de Carvalho no texto Ensino Noturno realidade e ilus o s d vers o mimeografada que foi apresentada no caderno A caminhada do noturno em Angra dos Reis e A Reformula
16. es de p lo era garantida a presen a de todos os professores das escolas envolvidas dispensando os alunos das aulas pois era necess rio um espa o de participa o efetiva sem representatividade Por outro lado entend amos a import ncia destes encontros para a forma o e tomada de decis es para pelo coletivo 5 Caderno de delibera es do I Congresso Municipal de Educa o de Angra dos Reis Reproduzido pela mecanografia da SME em mar o de 1994 p 17 PAGE Afia RAS r Foto 17 Cursos de capacita o para professores do Regular Noturno Nesta proposta o curr culo assumiu como fios condutores de sua pr tica em todas as reas do conhecimento a Introdu o Pesquisa tem como objetivo desenvolver a investiga o a pesquisa e a constitui o de um aluno autodidata capaz de manipular diferentes instrumentos de an lise e interpreta o essenciais compreens o da realidade os Temas da Atualidade a partir de elementos vivenciados pelos alunos no mundo contempor neo e contextualizados em sua realidade local os professores elaboraram coletivamente uma programa o curricular abordando temas como desemprego viol ncia exclus o social entre outros investigando as suas causas e consegii ncias Os temas s o selecionados com base em levantamento diagn stico realizado junto aos educandos jovens e adultos ou a partir de pesquisa investigativa feita na comunidade na qual a escola est inse
17. lia no trabalho na escola e no munic pio Foram relatos emocionantes que geraram um clima de compaix o e ao mesmo tempo de identidade pois todos de uma certa forma tinham hist rias semelhantes Os mais velhos passaram a entender um pouco dos conflitos e anseios dos mais jovens e estes perceberam a luta que aqueles empreenderam para estarem ali Esse clima de entendimento se reproduziu nas oficinas oferecidas pela escola e nas aulas de dan a e teatro proposto por esta pesquisa uma vez que todos podiam participar delas independente da s rie e da idade Durante o desenvolvimento do projeto pude perceber uma mudan a sutil e progressiva na forma dos alunos se colocarem no espa o escolar medida que eles foram percebendo uma certa flexibilidade nas rela es entre professor dire o aluno come aram a ocupar os diferentes espa os da escola com mais liberdade naturalidade um exemplo disso a sala dos professores Nela existe uma televis o que costuma ficar ligada noite por isso era comum os alunos disputarem as janelas na hora do intervalo para assistir novela ao jornal ou a outro programa qualquer Com o tempo sem ningu m estranhar esse alunos come aram a entrar na sala sentar mesa ou sof para ver televis o ou simplesmente conversar tomar caf ou gua ir ao banheiro usar o computador do professor com sua permiss o e algumas vezes at deitar no sof quando se sentiam mal Se antes era comum os professores
18. o pode ser ouvida de forma p blica LOURAU 1993 p 52 Dar destaque s coisas que comumente ficam s sombras relegadas ao sil ncio uma importante forma de rever o vivido e contar uma outra hist ria Este estudo produziu diferentes express es e silenciamentos desestruturou para conhecer o que estava estruturado e muitas vezes reproduziu o que j estava posto Neste contexto n o posso deixar de admitir que a pesquisa um instrumento de poder pois prioriza determinadas vozes e sujeitos deixando ao esquecimento aqueles as que n o interessam marginalizando s vezes grande parte dos acontecimentos No teor dessa investiga o foi preciso tomar algumas decis es escolher as atividades a serem desenvolvidas as a es que seriam implementadas e registradas as vozes os olhares PAGE e rela es que seriam privilegiadas assim como os pressupostos te rico metodol gicos que norteariam minhas an lises A OP O PELA PESQUISA INTERVEN O Resgatar minha implica o no Projeto do Regular Noturno em Angra dos Reis assim como analisar a produ o de corporalidades a partir das novas rela es de saber e poder que se construiu n o foi nada f cil Saber ouvir e conviver com o diferente desenvolver atividades que pudessem constituir se em acontecimentos analisadores enfrentar os pr prios limites e medos registrar cada passo cada rea o e cada fala foi uma intensa viv ncia pedag gica As difer
19. o reflex o a o os conte dos escolares deveriam ser organizados mediantes temas geradores que se articulariam o tempo todo com uma aplica o social Referindo se a esta forma de encaminhar o planejamento curricular Ant nio Fernando Gouv a da Silva que assessorou os projetos interdisciplinares via tema gerador desenvolvidos no munic pio assim se expressou na apresenta o do caderno Construindo uma proposta interdisciplinar na Rede Municipal de Educa o de Angra dos Reis que foi impresso e distribu do a toda rede municipal pela SME Considero a autonomia que a comunidade escolar vem assumindo ao consubstanciar pela pr tica cr tica a reconstru o coletiva de seus fazeres pedag gicos cotidianos a caracter stica mais significativa de todo esse processo democr tico e participativo de emancipa o educacional Educadores educandos pais equipes diretivas e funcion rios em constante di logo refletem sobre os conflitos e dificuldades presentes nas atividades socioculturais e econ micas na comunidade optam e decidem sobre quais seriam as a es pedag gicas mais pertinentes para superar tais dificuldades tornando se assim sujeitos construtores de um curr culo comprometido com a transforma o da realidade em que a escola est inserida 2000 p 03 04 O suporte te rico metodol gico do projeto para alguns professores principalmente aqueles que n o estavam engajados nas reuni es de P lo do RN nos anos a
20. o da Rio Santos amp Caderno publicado em 1998 pelo projeto Mem ria Hist ria desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educa o sob coordena o da prof Ms Rossana Maria Papini Este caderno sob o t tulo O Frade Ontem e Hoje fruto de um trabalho sobre a mem ria local realizado com professores e alunos do primeiro segmento PAGE O Sr Ant nio Tavares morador do bairro desde 1927 conta um pouco das mudan as em sua vida diante da reestrutura o do bairro cidade numa entrevista prof Rosana Papini Minha hist ria na pesca foi assim comecei com uma canoa A resolvi comprar uma lancha Com essa lancha fazia frete Levava e trazia passageiros do Frade at Angra e vice versa Ficava nisso o dia todo Todo mundo viajava comigo Com ela eu levava as bananas que comprava do Frade at Parati para Itacuru Depois disso veio a Rio Santos e a banana passou a ser transportada por caminh o Deixei de carregar banana e fui trabalhar com o Japon s na Ilha Grande Fiquei com ele 12 anos Neste trabalho eu levava sal at a Ilha Grande e trazia sardinha para ser levada regi o norte Entrou ent o o carro frigor fico que passou a levar diretamente os peixes que os caras compravam O Japon s teve que fechar a f brica Fui trabalhar no Hotel do Frade levando turista para as ilhas Os amigos tamb m compraram barcos e o servi o fracassou Uma vez resolvi vender meus barcos e passei tr s an
21. rios alunos que conviviam com ela e outros de sua sala de aula disseram o quanto seu comportamento tinha mudado Estava mais solta expressava se mais e melhor tanto em sala quanto em outros espa os da escola conseguiu transitar em v rios grupos e por isso fez muitas amizades Percebeu que as pessoas gostavam dela que ela era importante nos grupos Participou no fim do ano de duas pe as de teatro e da apresenta o de dan a Este foi talvez o exemplo mais marcante no entanto muitos alunos de diferentes s ries e idades endossaram os ganhos que tinham tido com o projeto Ressaltando principalmente a oportunidade de estarem juntos o que possibilitou uma melhora sens vel nas rela es alunos alunos alunos professores alunos dire o PAGE PONTOS DE PARTIDA REFLEX ES E INTERVEN ES O ESPA O DA PESQUISA E O CONTEXTO NO QUAL SE INSERE O sentido hist rico tal como Nietzsche o entende sabe que perspectivo e n o recusa o sistema de sua pr pria injusti a Ele olha de um determinado ngulo com o prop sito deliberado de apreciar de dizer sim ou n o de seguir todos os tra os do veneno de encontrar o melhor ant doto FOUCAULT 1979 Como dito anteriormente esta pesquisa teve como locus de investiga o a Escola Municipal Cacique Cunh bebe localizada no Bairro do Frade na rua Projetada s n pr ximo estrada Rio Santos distante do centro de Angra mais ou menos 30 km A Escola foi constru da na g
22. sua esposa nas festas sempre dan ava com outros homens e ele ficava olhando com inveja e agora estava casado com outra e n o queria que isto se repetisse Um outro aluno mais atirado me disse que ele n o perdia nenhuma festa no bairro que ele gostava muito de dan ar e dan ava com qualquer uma feia bonita nova velha n o importava desde que estivesse dan ando J tinha sido casado e que agora n o era mais e que era melhor assim pois podia dan ar com quem quisesse sem ser censurado Uma outra aluna me revelou o seguinte segredo Professora quero aprender a dan ar para n o ficar sentada o tempo todo nas festas Eu vejo que os homens gostam quando a mulher dan a bem Meu marido adora dan ar se eu n o dan o ele vai acabar dan ando com outra Relato de uma das alunas PAGE Numa das aulas de dan a uma aluna de mais ou menos 23 anos me procurou perguntando se poderia assistir s aulas mas n o poderia dan ar por causa do beb que estava esperando Disse a ela que n o teria problema algum ela dan ar mas ela insistiu que s queria assistir pois gostava de ver as pessoas reguebrando Depois seu esposo apareceu na sala olhou o que estava acontecendo e saiu ficando atr s da porta espiando pensou que n o estava sendo visto Perguntei aluna se ela n o dan ava por causa do esposo ela me confirmou dizendo que ele era muito ciumento e a tinha proibido ela de dan ar mas que tamb m era evang lica e o pa
23. tona Segundo ela apenas o regimento das escolas garantia sua manuten o at o fim de 2001 quando ent o a SME faria uma avalia o com as escolas para decidir pela continuidade ou n o do projeto Foi perguntado por que n o poderia ser publicado agora A resposta dada foi que os membros do Conselho tinham mudado e que o projeto deveria ser novamente avaliado Vale a pena lembrar que a nova presidente do Conselho era a secret ria de educa o e grande parte das outras fun es era exercida pelos diretores ou gerente de se o e coordenadores da SME Esta realidade de certa forma j mostrava os problemas que a escola teria para continuar a desenvolver o trabalho no pr ximo ano Estava se diante de uma situa o dif cil aqueles que sempre tinham se mostrados resistentes e temerosos diante dos projetos para a democratiza o e reorganiza o da educa o em Angra estavam agora na dire o da SME O discurso de qualidade tinha tomado outro rumo significava agora formar para adequar se s exig ncias do mundo do trabalho e do mercado Todo esse processo pareceu um movimento para desmobilizar o projeto faltava vontade pol tica para sua manuten o Numa das reuni es pedag gicas um dos professores mais antigos da escola e que em outro momento havia participado do grupo de coordenadores da SME desabafou A atual Gerente do Departamento de Ensino a alguns anos atr s respondia pela orienta o e supervis o pedag gica na SME ela
24. um aluno envolvido e preocupado com as quest es pedag gicas na escola Em todos os momentos de depreda o e viol ncia na escola o gr mio nunca se manifestou Surpreendeu me perceber a vis o tradicional que ele possu a da escola pois ele representava o prot tipo do garoto roqueiro com tatuagens roupas rasgadas andar de malandro linguagem a partir da g ria Eu respondi que n o importava o que eu achava mas o que ele estava sentindo Concordei com tudo o que ele havia me dito e acrescentei Se tudo isso n o houvesse acontecido eu n o saberia sua posi o em rela o escola da mesma forma como voc n o teria coragem de se dirigir a mim naquele tom Isto demonstra autonomia e personalidade qualidades fundamentais num homem e principalmente no presidente do gr mio Pedi que me perdoasse e que depois ir amos conversar melhor Ele ficou aliviado por ter dito o que pensava e quando me afastei ele j estava mais calmo A escola historicamente desenvolveu um processo de treinamento dos alunos que inclui poucas palavras nenhuma explica o no m ximo um sil ncio total que s seria interrompido por sinais sinos palmas gestos simples olhares do mestre ou o sinal que deveria significar em sua brevidade a t cnica do comando e a moral da obedi ncia FOUCAULT p 149 Neste contexto ao aluno cabe aprender o c digo previsto pela escola aos sinais e obedecer automaticamente a cada um deles Port
25. vela Cada propriet rio tinha pr ximo s praias um rancho no qual guardavam suas canoas redes e todo o material de pesca Os lavradores de banana subiam o rio do Frade de canoa pois buscavam seus cortes de banana no Carangola hoje campo de golfe do Hotel do Frade Faziam a entrega aos barcos grandes como eram chamados Muitos moradores ap s a venda pegavam suas canoas e iam Angra fazer suas compras Tamb m era feito corte de madeira para lenha devido ter muitos fog es lenha Os moradores cortavam a lenha lascavam deixavam secar e vendiam o cento O Sr Benedito Pena pai do Ferreira da Defesa Civil comprava dos moradores e com sua canoa levava para Angra onde vendia um pouco mais caro do que comprou O Sr Manoel Mariano comerciante que tinha o maior armaz m da poca alugava embarca es em Angra para trazer os mantimentos para o seu armaz m Logo surgiu a primeira embarca o a motor do local que era do Sr Ant nio Tavares e tinha o nome de Mercedes Ela fazia o transporte de pessoas e mantimentos Com o surgimento do motor come ou o crescimento das embarca es Na poca foi a baleeira Catarinense a mais usada em toda a regi o Frade Gip ia Ilha Grande etc Logo veio a primeira estrada estadual com uma linha de nibus fazendo um hor rio pela manh e outro tarde A estrada era de ch o Com o passar do tempo chegaram as firmas para a constru
26. A PAGE Foto 37 Avalia o do trabalho com os alunos o fim do ano letivo Um ano depois retornei escola e tive a oportunidade de rever muitos dos alunos que haviam participado da pesquisa Pedi que se reunissem comigo numa sala para conversarmos sobre a escola depois do fim do projeto As falas de pesar e saudade deram o tom s narrativas A escola n o mais como antes tem muitos professores novos que n o deixam a gente nem falar em sala as aulas est o divididas por tempos diferentes como era antes N o temos mais as oficinas nem trabalhos fora de sala eu gostaria que voltassem as aulas de dan a e teatro Informa o oral de uma das alunas da 8 s rie Th professora a escola t mais chata muitos professores daquela poca foram embora A gente n o pode mais falar nada n o tem mais aquela rela o legal Informa o oral de uma das alunas da 7 s rie A escola antes era mais interessante n o sei porque acabaram com o projeto Informa o oral de uma outra aluna da 7 s rie PAGE Foto 38 Encontro com os alunos um ano ap s o t rmino da pesquisa Daqui a alguns anos estes alunos n o estar o mais na escola e as lembran as destes dois anos ficar o apenas na mem ria de alguns funcion rios mais antigos No entanto as experi ncias vividas jamais ser o esquecidas e onde eles estiverem provavelmente se lembrar o de que um dia a escola tentou ser diferente
27. Ao meu sogro Efrem Galv o que gentilmente leu meus primeiros cap tulos e deu importantes sugest es para sua reorganiza o A minha sobrinha Lucrecia Galv o pela disponibilidade em reproduzir muitas das fotos que ilustram esta tese Ao amigo Odenildo Queiroz de Sousa pelo carinho dedicado a revis o final do texto e reprodu o de outras fotografias minha irm Aparecida e meu cunhado Wellington pela paci ncia e disponibilidade em me auxiliar na reprodu o do texto final Aos amigos de caminhada junto a Secretaria Municipal de Educa o de Angra que de forma incans vel buscavam nas infinitas reuni es e assessorias um meio de consecu o dos ideais educacionais que defend amos Em especial aos amigos nio Serra companheiro de coordena o do Projeto do Regular Noturno e amigo incans vel em todas as horas e a Marilia Campos que com sua for a determina o e carinho foi exemplo de trabalho e dedica o causa da EJA O que pensamos fizemos e escrevemos juntos foram fundamentais na constru o desta tese A Virginia Oliveira da Silva pelas horas de di logo companheirismo e acolhida sem as quais tornariam insuport veis as viagens Niter i Rio Angra e minha estada no Rio de Janeiro PAGE Aos amigos Marry e Luar pela amizade carinho e abrigo nas noites cariocas A patr cia Simone Dal Col pelas conversas incans veis pela amizade e apoio em todas as horas por ter acreditado nesta pesquisa e permitido a
28. Diante das dificuldades que ela enfrentou alguns meses depois um outro professor foi chamado para compor a equipe Este professor havia entrado no projeto no ano anterior PAGE dando aula no primeiro segmento do Ensino Fundamental na escola Cacique Cunh bebe Esta indica o de certa forma acalentou a todos pois havia um medo geral de que acabassem com o projeto e este professor tinha tido uma excelente atua o e havia demonstrado acreditar na proposta o que seria uma prerrogativa para a defesa de sua continuidade A Escola Cacique Cunh bebe teve que se adaptar ao novo contexto assim como todas as outras escolas A situa o agora era diferente de um ano atr s havia muitos professores novos que n o conheciam o projeto se sentiam discriminados pelos colegas e se colocavam na defensiva Nas reuni es pedag gicas simplesmente n o emitiam qualquer opini o era imposs vel saber se eles entendiam a nova din mica de trabalho e se concordavam com ela Uma outra realidade era minha presen a na escola n o mais como coordenadora mas como colaboradora e pesquisadora e a do professor nio que tamb m coordenava o projeto como professor de geografia do turno diurno No in cio do ano letivo de 2001 colocaram se os novos professores a par do projeto e deu se andamento a uma das propostas feitas no fim do ano letivo a organiza o de uma assembl ia com representantes da comunidade a fim de reorganizar o curr culo Como este proce
29. Especial se voltava para atender os alunos portadores de necessidades especiais no que se refere audi o em escola pr pria e com profissionais especializados 2 Mais informa es podem ser buscadas nas disserta es de mestrado da Rossana Maria Papini e Marilia Campos presente na bibliografia deste trabalho e nos cadernos publicados pelo Departamento de Ensino divulgando seus projetos e a es 8 A Secretaria Municipal de Educa o de Angra dos Reis implementou um acompanhamento pedag gico s diversas reas do conhecimento com coordenadores escolhidos pelos professores nas reas Bimestralmente eram realizados reuni es dos professores com o coordenador visando discutir o planejamento curricular acompanhar os projetos pedag gicos e viabilizar encontros interdisciplinares PAGE guiado por quest es sociol gicas pol ticas e epistemol gicas que resultam em constru o de pr ticas edificadoras de sentidos e significados A inten o era criar condi es para que homens e mulheres desenvolvessem suas possibilidades de cria o interven o e di logo com o diferente conhecendo construindo sua hist ria valores e utopias compreendendo e re significando a realidade Lutar pela participa o e decis o popular sobre o curr culo essencial para se garantir a amplia o do poder e da revers o da domina o cultural Participar e decidir juntos traduzem praticar democracia uma dimens o substantiva para a c
30. Noturno n o significa que n o tenha que pensar outras inst ncias Isto foi gerando rela es tensas claro que existe afinidade e n s nos encontramos com quem tem afinidade N o vou fazer biodan a vou aproveitar este tempo para trocar outras figurinhas Professor M Esta fala foi motivada pelas cobran as em rela o aos atrasos e faltas tanto nas aulas quanto nas reuni es pedag gicas e s insistentes cr ticas da dire o geral quanto ao trabalho do noturno A diretora geral da escola possu a uma vis o fragmentada do projeto e como n o se envolvia efetivamente com o processo era comum duvidar da sua qualidade quando comparava com a educa o desenvolvida nas escolas do Estado Por n o seguir um modelo tradicional de educa o n o usava os livros did ticos e n o priorizava os exerc cios para casa de modo que sua qualidade era colocada em cheque Eu s vi as coisas acontecendo quando fizemos o planejamento Acho que devemos aproveitar este momento e discutir o projeto e planejar que o nosso objetivo aqui Eu gostaria de fazer biodan a porque a gente fica no stress mas o que precisamos mesmo dar um empurr o discuss o pedag gica Nosso problema t cnico como deslanchar esta rela o como fazer funcionar esta rede este nosso monstro que precisamos encarar Professor 1 Concordo com muita coisa que j foi dita No ano passado era um trabalho novo que nos deixou inseguros este ano houve
31. PAGE UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS APLICADOS FACULDADE DE EDUCA O DOUTORADO EM EDUCA O EDNA FERREIRA COELHO GALV O A PRODU O DE CORPORALIDADES NA ESCOLA uma an lise do projeto de Educa o de Jovens e Adultos em Angra dos Reis NITEROI RJ 2004 PAGE EDNA FERRERIA COELHO GALV O A PRODU O DE CORPORALIDADES NA ESCOLA uma an lise do projeto de Educa o de Jovens e Adultos em Angra dos Reis Tese apresentada ao programa de P s Gradua o em Educa o da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obten o do t tulo de Doutora em Educa o Orientador Prof Dr Jo o Batista Bastos Co Orientadora Prof Dr Lilia Ferreira Lobo NITER I RJ 2004 PAGE EDNA FERREIRA COELHO GALV O A PRODU O DE CORPORALIDADES NA ESCOLA uma an lise do projeto de Educa o de Jovens e Adultos em Angra dos Reis Tese apresentada ao programa de P s Gradua o em Educa o da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obten o do t tulo de Doutora em Educa o Aprovada em BANCA EXAMINADORA Prof Dr LILIA FERRERIA LOBO Faculdade de Psicologia da Universidade Federal Fluminense UFF RJ Prof Dr JO O BATISTA BASTOS Faculdade de Educa o da Universidade Federal Fluminense UFF RJ Prof Dr C LIA FRAZ O LINHARES Faculdade de Educa o da Universidade Federal Fluminense UFF RJ Prof D MARIA
32. a Serra do Mar Ali se encontra uma popula o em sua maioria de baixa renda que vive a partir do com rcio local das ofertas de servi os a partir do Hotel do Frade e da Usina de Produ o de Energia Nuclear de Furnas do servi o p blico institui es particulares de ensino e outros Esta localidade teve grande expans o ap s a constru o da estrada Rio Santos e da Usina Nuclear respons veis pelas constantes migra es da regi o poss vel afirmar que a grande maioria dos moradores deste bairro n o remanescente de Angra dos Reis mas proveniente de diferentes partes do pa s em busca de melhores condi es de vida Num levantamento diagn stico do bairro realizado pelos professores em 2000 foram identificadas desigualdades sociais entre as diferentes localidades do bairro podendo ser caracterizadas da seguinte forma Baixo Frade M dio Frade e Alto Frade No Baixo Frade espa o de terra que vai da estrada Rio Santos at o mar encontra se a popula o mais antiga do bairro e tamb m a mais est vel No M dio Frade e Alto Frade que corresponde Informa o retirada do documento Projeto Pedag gico do Regular Noturno da Escola Municipal Cacique Cunh bebe constru do por professores orientadores e auxiliar de dire o do ensino noturno em 2000 p 08 78 Idem p 06 PAGE respectivamente faixa de terra entre a estrada Rio Santos e a escola Cacique e a regi o da montanha temos a popula
33. a aprofundou a PAGE divis o entre os profissionais do noturno e os do diurno O noturno tinha um projeto pedag gico e o diurno n o Havia uma preocupa o da dire o em tornar a escola mais coesa em desenvolver atividades que unissem mais os diferentes segmentos Diante disso a auxiliar de dire o prop s aos professores do noturno a realiza o das reuni es de planejamento de 15 15 dias uma vez que o mesmo j estava fechado e iria exigir apenas um acompanhamento e avalia o do processo tamb m havia notado um certo desinteresse na presen a semanal de alguns professores Nos outros dias ela prop s a realiza o de aulas de biodan a para aqueles que se interessassem junto com os professores dos outros turnos Defendeu a proposta como sendo uma forma de auto conhecimento e crescimento da rela o coletiva Pediu para que todos pensassem e na pr xima semana decidiriam Sua proposta surtiu diferentes rea es na semana seguinte muitos disseram que era uma imposi o da dire o Voc colocou que a biodan a vai melhorar o relacionamento do grupo Eu n o penso assim mesmo com diferen as com simpatias ou n o Pelo que percebo isso n o tem influenciado nosso caminhar profissional Terminamos o planejamento n o vejo por que n o deixar a reuni o de 15 15 dias mas acho que n s n o temos tido tempo para aprofundar determinadas quest es ent o este dia poder ser aproveitado tamb m neste sentido Profes
34. a eles apresentariam as dan as ensaiadas como se fosse uma parte do teatro no espa o reservado ao refeit rio Os ensaios transcorreram sem muitos problemas salvo quando t nhamos que usar o p tio da escola em que s vezes os professores reclamavam do barulho No fim do ano fizemos a apresenta o das pe as e das dan as na feira cultural Muitas pessoas da comunidade estavam presentes Outros alunos alguns do teatro e da dan a montaram uma outra pe a junto com outro professor representando a vida dos retirantes nordestinos diante da morte e outras manifesta es de dan a Foi um grande acontecimento na escola Foto 36 Apresenta es dos Alunos na Noite Cultural da Escola PAGE Quanto ao teatro f rum antes de sua apresenta o explicamos a todos din mica desse tipo de teatro e dissemos que a medida que as cenas fossem sendo representadas se eles quisessem mudar falas e comportamentos dando um outro rumo aos acontecimentos era s pedir para parar a cena os atores ficariam como est tuas e eles ent o poderiam entrar no lugar de qualquer ator O teatro come ou ningu m tinha no o das cenas que seriam representadas percebi uma certa surpresa nos professores e na dire o geral as cenas transcorreram sem nenhuma interrup o Ao fim questionamos os presentes sua atitude principalmente daqueles que tinham vivido os diferentes epis dios na escola de apenas espectador Dissemos que esta era a oportunida
35. a programar as atividades desenvolvidas nestes espa os e se podiam freq ent lo andar por eles e us los quando quisessem eles responderam que n o chegaram conclus o que os alunos n o t m espa o pr prio na escola pois todos possu am PAGE regras de uso e ocupa o constru das por outras pessoas sem a sua participa o Expliquei que minha inten o com a dan a e o teatro era questionar isso na escola eles acharam interessante a proposta Falei ent o da id ia de criar um clima de descontra o e prazer na escola atrav s da dan a Far amos no hor rio do jantar um grande baile no refeit rio ir amos iniciar dan ando sobre os bancos para depois ir para o ch o convidar os demais alunos para dan ar conosco Mais uma vez combinamos de n o falar com ningu m nosso prop sito A princ pio os alunos ficaram temerosos e t midos mas depois resolveram ensaiar como fariam no refeit rio No refeit rio a atividade aconteceu sem grandes transtornos Os alunos come aram a dan ar sobre os bancos chamando a aten o de todos depois foram para o ch o e um grande baile aconteceu entre as mesas A auxiliar de dire o atra da pela m sica foi at o refeit rio e dan ou junto com os alunos da mesma forma fizeram alguns professores Muitos alunos ficaram na janela observando alguns perguntaram o que est vamos comemorando Eu e mais dois alunos entramos na cozinha para dan ar com as cozinheiras A cozinheira mai
36. ato 1996 p 216 Perguntei a eles que situa o gostariam de retratar e depois de algum tempo sugeriram representar uma cena de viol ncia todos os alunos apoiaram a id ia Num primeiro momento tentei dissuadir a id ia dizendo que poderia ser perigoso depois pensei melhor e me lembrei das reclama es dos professores quanto indisciplina e o desrespeito dos alunos os acontecimentos de viol ncia na escola e a hesita o velada em puxar uma discuss o mais ampliada como foi sugerido em outras ocasi es Pensei que esta seria uma oportunidade de encaminhar finalmente este debate A proposta consistia em representar duas cenas de briga e conflito pr ximas quadra onde estava havendo aula de educa o f sica Dois alunos iriam simular uma discuss o dando a impress o que iriam partir para a agress o f sica ao mesmo tempo duas alunas iriam discutir por causa do celular Os outros alunos do grupo ficariam espalhados observando as diferentes rea es dos espectadores e iriam incentivar outros alunos a intervir na situa o O irm o de uma das meninas que estava discutindo pegou a irm no colo e tirou ela de perto da outra amea ando de lhe bater se n o parasse de dar vexame na escola mas a outra foi atr s seguida de muitos alunos e a discuss o continuou Na quadra a confus o foi PAGE maior Muitos alunos incentivavam para que eles se agredissem outros gritavam para que parassem O professor de educa o f sica f
37. condom nios de luxo de empresas como Furnas P 16 Petrobr s e Verolme 15 A cidade se constitui a partir de sujeitos que corporalmente se expressam e produzem pr ticas que identificam os princ pios valores regras normas e leis necess rias sua organiza o Dessa forma pode se dizer que a cidade se corporaliza a partir das pr ticas de seus sujeitos Aqui utilizo o termo corporicidade porque ao historicizar o processo de constru o da cidade apresentarei ao mesmo tempo as bases para a compreens o do processo de constitui o de seus sujeitos l Mais adiante no texto ser detalhada a influencia destes empreendimentos na vida dos moradores de Angra PAGE Foto 01 Praias e Enseadas de Angra dos Reis A hist ria de Angra marcada pela sua rela o comunica o com o meio exterior Em todos os per odos hist ricos como veremos posteriormente esta cidade passou por in meros processos de migra o Eram pessoas vindo de diferentes partes do pa s em busca de trabalho e melhores condi es de vida A presen a do diferente do estranho oferece perigo e tamb m interfere na din mica local provoca mudan as garante vitalidade e impede a estagna o pois mant m as rela es em permanente revis o s o encontros desencontros reencontros que mexem com a organiza o social e cultural Entender esse processo compreender porque as pr ticas cotidianas n o permanecem iguais em cada momento Olhar
38. de forma que no primeiro momento um grupo ficava com os alunos e no segundo momento o outro grupo assumia o trabalho Esta solu o n o foi a melhor op o pois o planejamento interdisciplinar ficava prejudicado no entanto foi uma situa o provis ria que atendeu escola naquele momento Caso o problema se repetisse na Escola Cacique n o se poderia recorrer a esta alternativa uma vez que os professores n o estariam na escola Mas diante de seus argumentos quanto autonomia na organiza o do projeto pedag gico a proposta foi aceita O m s de fevereiro foi dedicado a reuni es com os mesmos para que tomassem conhecimento da din mica do projeto e escolhessem a melhor forma de iniciar o planejamento O maior problema apresentado pelos professores foi em rela o ao suporte te rico do projeto Consideraram que para compreend lo na sua ess ncia era necess rio maior aprofundamento te rico Chegou se conclus o que isto era fundamental no entanto este estudo deveria ser feito paralelo discuss o do planejamento uma vez que em mar o iriam come ar as aulas Toda a bibliografia utilizada nas discuss es em dois anos nas reuni es da Comiss o do RN e de P lo foi disponibilizada para o acesso dos professores Os encontros pedag gicos aconteciam todas as quintas feiras no hor rio de 14h s 18h com participa o dos professores dire o e orienta o da escola e coordenadores do projeto Muitos professores n o haviam fe
39. de perversas consequ ncias a ruptura entre trabalho e cuidado O trabalho n o mais relacionado com a natureza modela o mas com o capital confronto capital trabalho As pessoas vivem escravizadas pelas estruturas do trabalho produtivo racionalizado objetivado e despersonalizado submetido l gica da m quina BOFF 1999 p 97 No decorrer do ano fui percebendo uma maior coes o entre os professores em volta do projeto tanto que em muitos momentos de reuni o com a SME eles se juntavam aos professores das outras duas escolas com o projeto para resistir s cr ticas e tentativas de dificultar o trabalho PAGE No fim do ano a SME convocou uma reuni o com os representantes das tr s escolas com o projeto para decidir se ele continuaria ou n o no ano seguinte Os professores da Cacique n o concordaram em mandar representantes pois seria uma reuni o deliberativa e todos queriam estar presentes Este posicionamento causou pol mica com a coordena o do RN e com a SME mesmo assim todos os professores compareceram discuss o A participa o da escola Cacique Cunh bebe defendendo sua perman ncia foi muito calorosa Em muitos momentos o embate com os representantes da SME foi desgastante mas mostrou a preocupa o dos professores com este segmento de ensino os avan os que as escolas tinham conseguido com o projeto e principalmente defenderam a posi o dos alunos que tinham feito uma avalia o
40. de todos da dire o Talvez a resida todo o problema administrativo vivido neste per odo Quanto ao impasse a sugest o final da auxiliar de dire o foi levar para a reuni o dos professores o problema e l decidir amos o que fazer Na reuni o expliquei aos professores PAGE toda a situa o e a inten o da assembl ia Eles n o haviam presenciado o epis dio salvo o professor de educa o f sica porque estavam em sala ministrando aula inclusive disseram n o ter ouvido nada o que demonstra que as cenas representadas n o criaram o clima de confus o geral como alguns funcion rios disseram Todos manifestaram sua posi o e algumas delas destaco a seguir Gostei muito do trabalho pois sempre fazemos o discurso de uma escola diferente de fugir do tradicional mas n o temos coragem de ousar mexer com a estrutura com a ordem e a organiza o da escola Temos que parar de ter medo de inovar preciso nos arriscar sair da seguran a isto mete medo mas s assim poderemos reinventar a escola Professor G Acho que sou o professor mais tradicional da escola pois achei o trabalho arriscado mexer com a ordem e a organiza o sem ter a exata medida das consegii ncias muito complicado poderia ter acontecido coisas mais graves que n o ter amos como reverter Professor M Este tipo de trabalho para n o ser dito mesmo trabalha se com o inesperado Professor 1 Disse ainda aos professores que eu
41. do ensino no turno noturno encaminhou se em busca de uma nova qualidade de ensino que no caso de Angra dos Reis se traduz em assumir seu papel social face s necessidades das classes populares o que significa proporcionar a democratiza o do acesso atrav s do aprofundamento da democratiza o da gest o Se a escola p blica precisa assumir seu papel social face s necessidades das classes populares precisamos refletir sobre o curr culo que nela est colocado e em que medida ele responde s necessidades anteriormente apontadas Os ndices de Caderno Democratiza o da Gest o relato de um processo constru do e vivenciado por servidores e usu rios da escola p blica municipal Doc N 01 fev 97 p 01 Reproduzido pela mecanografia da SME PAGE repet ncia e renit ncia j nos indicam que este curr culo est falido Para alcan armos o curr culo significativo que tanto desejamos precisamos incorporar a comunidade escolar na constru o curricular pais alunos representantes da comunidade local funcion rios de apoio compreendido no mbito dos profissionais da educa o Este um dos princ pios que n o podemos abrir m o para construirmos um curr culo significativo e uma escola que aposte na inclus o das classes populares em poca de neoliberalismo e reprodu o ampliada da exclus o social inclusive nos aparelhos educativos grifo do autor O ponto de partida da reorienta o curricular
42. durante toda a manh prevista para o treino a fim de que pudessem se comunicar com os funcion rios da SME informando a hora de enviar os carros e funcion rios para o transporte das pessoas Para a popula o que n o fosse removida de suas casas o encaminhamento dado pela Usina era para vedar todos os orif cios da casa com fita crepe Muitos problemas foram detectados al m da falta de estrutura f sica material e financeira para atender popula o num caso de emerg ncia um vazamento real n o avisa com anteced ncia como fica ent o todo este cen rio constru do na simula o Esta era uma quest o que gerou muitas discuss es nas escolas e nos setores de organiza o popular Em 1974 inicia se a constru o do terceiro empreendimento importante do Governo Militar o terminal petrol fero da Petrobr s no bairro de Monsuaba pr ximo ao Estaleiro Verolme O terminal integra o esfor o do governo central para assegurar o enorme suprimento energ tico demandado e projetado pelo ritmo de crescimento do modelo econ mico pelo terminal que passa a ser movimentada a maior parte do petr leo origin rio do exterior IBASE v II 1993 p 24 PAGE Foto 07 Petrobr s Estes tr s empreendimentos constru o da Rodovia Rio Santos as Usinas Nucleares e a Petrobr s e o auge econ mico do Estaleiro Verolme movimentaram economicamente a regi o agilizando o com rcio e a constru o civil Por outro lado
43. em planos gerais algumas de suas caracter sticas os alunos do ensino noturno da Escola Municipal Cacique Cunh bebe s o na sua grande maioria natural de outros estados ou filhos de pais que vieram de outras cidades Muitos s o os motivos apresentados para justificar a migra o a seca a falta de emprego na cidade de origem a promessa de emprego em Furnas e na Verolme outros parentes j tinham vindo e dito que aqui era melhor as promessas de uma vida melhor numa das regi es mais desenvolvidas do pa s o sudeste Com o objetivo de conhecer o perfil dos alunos do noturno professores dire o e orientadores organizaram um question rio com perguntas abertas e fechadas relacionadas viv ncia cotidiana dos alunos Este question rio foi aplicado em todas as turmas do noturno Os dados obtidos foram computados e analisados pelos professores dando uma id ia geral de quem s o os jovens e adultos que estudam na escola PAGE Todos independente da idade quando perguntados se gostavam de Angra comparada as cidades de origem disseram que a vida ali era muito melhor mesmo com todas as dificuldades que passavam pois estavam perto dos grandes centros Rio de Janeiro e S Paulo e de praias bel ssimas apesar de n o terem acesso maioria delas seja pela dist ncia ou dif cil acesso no caso das praias das ilhas ou por serem praias de condom nio fechadas visita o Muitos desses alunos disseram n o ter
44. esse labor da alma sobre ela pr pria como condi o de um bom regime som tico O que conv m aos adultos um regime completo da alma e do corpo tratar de acalmar as pr prias puls es hormai e de fazer de forma que nosso desejos prothumiai n o ultrapassem nossas pr prias for as N o se trata portanto nesse regime de instaurar uma luta da alma contra o corpo nem de estabelecer meios pelos quais ela poderia de defender face a ele trata se para a alma antes de mais nada de corrigir se para poder conduzir o corpo segundo uma lei que do pr prio corpo FOUCAULT 1995 PAGE RESUMO Analisar o processo de constru o de corporalidades no interior de uma escola noturna que desenvolve um projeto direcionado a alunos jovens e adultos trabalhadores requer uma an lise da historicidade do corpo nesta institui o admitindo que no mesmo momento em que a escola surgiu n o s come aram a construir os sentidos de espa o tempo produtivo e n o produtivo que se mant m em grande medida at os dias atuais como tamb m surgiram processos normalizadores e disciplinadores do corpo As bases que institu ram o sistema educacional relegaram o corpo a uma posi o menor considerando o apenas como hospedeiro protetor da mente que tudo conhece e tudo cria Neste contexto um sistema hier rquico se desenvolveu de modo a posicionar os diferentes sujeitos em lugares e comportamentos espec ficos de acordo com o saber poder
45. ficado muito nervosa ele explicou que era apenas teatro mas ela n o acreditou e foi pra casa avisar a sua m e Pedi para ele ir para casa explicar o que havia ocorrido Fui ao refeit rio e avisei aos alunos que toda a situa o criada na escola tinha sido teatro No in cio tamb m n o acreditaram mas depois expliquei os motivos e muitos me perguntaram se ainda podiam entrar no teatro A rea o do presidente do gr mio me chamou bastante a aten o Ele me chamou num canto e pagou uma geral dizendo que eu tinha sido irrespons vel que ele entrou no meio da briga para separar os menino e poderia ter se machucado com isso e at perder o emprego que havia conseguido naquela semana Voc n o pensou nas consegii ncias de seus atos isto foi rid culo escola n o lugar de briga Perguntei a ele escola lugar de qu Ele ent o respondeu que era lugar de estudar de aprender coisas boas os professores devem ensinar e os alunos aprender para serem algu m na vida Levantei cedo trabalhei o dia todo e vim pra escola estudar e n o viver esta confus o Voc acha que o que voc fez est certo PAGE Esta reclama o era interessante porque ele era um dos meninos do gr mio que sempre tinha uma desculpa para sair de sala de aula o mesmo que tinha dito a um professor n o considerar mais sua autoridade e por diversos comportamentos havia sido chamando dire o para se explicar N o era precisamente
46. funcionamento real ou relacional Inclusive necessita desse ocultamento para funcionar a verdade a realidade N o mau apenas contradit rio LOURAU 1993 p 14 15 Grande parte dos problemas sociais que ora enfrentamos como por exemplo a viol ncia o desordenamento urbano o desmatamento e extin o de v rias esp cies animais e vegetais a mis ria a desnutri o a falta de acesso sa de publica etc s o consegii ncias de uma forma de ver o mundo de produzir a subsist ncia humana de construir as rela es sociais e tamb m de financiar e desenvolver pesquisas As inten es que geram a produ es cient ficas muitas vezes est o mais a servi o de um poder econ mico pol tico que segrega e classifica os sujeitos em classes sociais do que atentos s necessidades imediatas de grande parte da popula o Suas consegii ncias interven es e implica es s o em grande parte 2 O conceito de implica o apresentado pela An lise Institucional da seguinte forma a an lise das implica es n o consiste somente em analisar os outros mas em analisar a si mesmo a todo instante inclusive no momento da pr pria interven o As coisas que dizemos trazem as marcas das posi es pol ticas materiais e libidinais que assumimos dizem respeito ao lugar que ocupamos nas rela es sociais LOURAU 1993 p 36 O conceito de transversalidade traz a compreens o das for as sociais que nos constituem
47. grupo para a gest o da Secretaria de Educa o Rossana Papini que fez parte da SME como coordenadora de Hist ria nos conta um pouco dessa hist ria em sua disserta o de mestrado defendida na UFF Foram viscerais estas lutas trazendo dimens es transposi es de debates travados ali para outros f runs posteriores e grandes discuss es nas escolas quanto forma de condu o estabelecida pelo grupo hegem nico Teria havido segundo muitos uma esp cie de golpe nas regras estabelecidas previamente com a destitui o da comiss o organizadora do Congresso substitu da por outra em cima da hora a qual veio dominar o processo Foram muitas as brigas t o caracter sticas de nossa esquerda em torno do que fazer Nossos avan os foram todos assim num mar de conflitos Na pr tica levou a ascens o de grupos oriundos do concurso de 1992 a maioria com hist ria de participa o em movimentos sociais no PT Partido dos Trabalhadores no SEPE Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro muitos com a pr tica que no jarg o pol tico critic vamos como centralismo democr tico uma esp cie de eufemismo que combinaria paradoxalmente esses dois aspectos contradit rios Podemos tentar descrever assim uma condu o centralizadora que euiasse os rumos da democratiza o pois a maioria de n s somos de uma gera o criada na cren a da necessidade de vanguardas de partidos regidos por elas na busca ut pi
48. importantes deveriam ser discutidas na reuni o pedag gica Esta atitude foi vista por alguns professores com antipatia o que pareceu que quanto mais feriado melhor Alguns alunos questionaram a diferen a da comemora o dos alunos e da comemora o dos professores A rela o trabalhista muitas vezes se sobrep e aos ideais pedag gicos Por mais importante que seja o projeto e a rela o com os alunos a escola um espa o de trabalho como outro qualquer regido pelas normas e leis trabalhistas logo as atitudes tendem a reproduzir os valores presentes neste sistema Os professores e demais funcion rios s o os profissionais os alunos os clientes Portanto existe uma tend ncia de cada grupo comemorar e confraternizar se com seus pares PAGE Na semana seguinte fechamos com os alunos da dan a e do teatro as apresenta es que seriam feitas na semana cultural da escola Encenar amos duas pe as uma proposta pelo professor de hist ria que retomava a coloniza o do Brasil recontando a hist ria pelo olhar do ndio com um tom sat rico e c mico Os alunos se encantaram com a proposta e assumiram a id ia A outra pe a seria uma reprodu o do teatro f rum sob a perspectiva do teatro do oprimido que consiste em representar uma cena ou um acontecimento onde os espectadores podem a qualquer momento suspender a cena e entrar na representa o no lugar de um ator e dar outro encaminhamento para a fala ou a a o Nes
49. mudan as defendidas pelos partidos de esquerda do pa s e movimentos sociais organizados o que vai gerar in meros conflitos em sua gest o Os ataques ao seu governo se deram logo no in cio do mandato com um pedido de impeachment pelos vereadores conservadores que representavam a classe empresarial Acusaram o prefeito de improbidade e desrespeito Constitui o Federal por ter autorizado a contrata o de servidores sem concurso p blico Esta situa o foi agravada com a press o dos funcion rios p blicos que entraram em greve por verem extintos alguns privil gios mantidos pelas administra es anteriores como por exemplo a impunidade diante de falhas profissionais e administrativas promo o m rito e compet ncia por meio clientelista Independente da pertin ncia ou n o do motivo do processo de impeachment necess rio reafirmar o seu objetivo pol tico de reaglutina o das for as dos interesses conservadores bem como o da desestabiliza o de um governo antag nico pr tica pol tica tradicional E que a acusa o tamb m impulsionou outra PAGE rea o inicial de um dos elos importantes do esquema conservador e clientelista o funcionalismo municipal A quase totalidade do corpo de funcion rios foi constitu da ao longo do per odo de interven o e da administra o anterior Sua rela o estreita com o clientelismo e com a pr tica administrativa correspondente era n tida Segredo das inf
50. n o iria reconhec lo como aluno e ele seria expulso depois desta fala se retirou levando o aluno consigo Quando o professor se sente incapaz de restaurar a ordem reivindica a presen a de um poder maior Fiquei me perguntando se n o haveria possibilidade de resolver o impasse pelo di logo ao inv s da for a Ap s este relato o professor desabafou Acho que os alunos j est o sentindo o poder do enfrentamento n o sentem medo se acham no direito de questionar o professor Penso que isto fruto de minhas pr prias aulas do projeto da forma como temos nos relacionado Acho que eles n o est o preparados est o atropelando o processo n o est o se importando com coletivo mas agindo individualmente Estou preocupado com este andamento Ser que n s vamos conseguir lidar com isto E se chegar a um estado de caos completo precisando de um poder maior para intervir o que vamos fazer Respondi ao professor que est vamos sendo colocados contra tudo o que sempre aprendemos como disciplina escolar est vamos diante de uma situa o nova e por isso era comum cairmos em contradi o Hoje penso que defendemos a democracia mas na sala de aula ser democr tico muito dif cil pois preciso saber quando nos despir de nosso poder de professores e ceder espa o aos alunos sem abrir m o de nossa responsabilidade profissional Estas contradi es nos fazem rever posi es modificar e assumir novas PAGE posturas N o e
51. n o se enquadravam nos m todos avaliativos nas din micas das aulas nas normas de disciplina nos hor rios fixados na estrutura curricular no espa o tempo de aprendizagem e que por isso tornavam se renitentes cont nuos evadiam se ou eram convidados a se retirar PAGE Este contexto levou a SME a propor encontros entre professores dire o e orientadores com o objetivo de buscar coletivamente caminhos para solucionar tais problemas Nos dois primeiros anos 1991 e 1992 os encontros tiveram a assessoria da UFF na pessoa dos Professores Luiz Carlos Manh s e Rosa Lepak Milet Ao fim da assessoria foi apontada a necessidade de uma pessoa espec fica do munic pio para coordenar as reuni es do Regular Noturno e encaminhar as discuss es e propostas constru das pelo coletivo e assim o Prof Carlos Prima foi escolhido para esta fun o Diante da proposta de Gest o Democr tica e participa o coletiva na constru o do curr culo e decis es administrativas da escola desde 1991 j havia o entendimento de que a mudan a do ensino noturno n o poderia vir de cima para baixo mas deveria vir a partir da participa o das pessoas que vivenciam esta realidade Desse modo um racioc nio s ntese acompanhou a caminhada do noturno Tentativas de modificar a situa o problem tica dos cursos noturnos por meio de medidas administrativas ou did ticas como diminui o do hor rio das aulas aumento do n mero de anos letivos
52. no fim essa pr tica resulta numa antecipa o da jornada de trabalho Este autor mostra que a necessidade de uma precis o temporal dos acontecimentos n o tem rela o direta com o processo ensino aprendizagem diz mais respeito a formas m tuas e simult neas de ensino surgidas com o capitalismo e com a sua car ncia de m o de obra domesticada a moderna produ o industrial que tem que coordenar o trabalho de centenas ou milhares de bra os e que tem que valorizar no m nimo lapso poss vel um capital fixo que por s lo n o deve permanecer inativo e que necessita submeter as vontades e os ritmos individuais s exig ncias da programa o temporal Enfim a escola ensina a respeitar e cumprir um hor rio e para sermos mais precisos um hor rio imposto ENGUITA 1989 p 177 PAGE Esses conceitos de tempo e espa o s o aceitos socialmente e com base neles que os alunos se matriculam e esperam que os donos do processo ensino aprendizagem saibam direcionar sua vida escolar e atestem pelos meios avaliativos quando eles est o prontos aptos para sair da escola e assumir outras fun es no meio social Essa forma de conceber as rela es no espa o escolar difundida por diretores funcion rios e professores para alunos e pais desde a educa o infantil o que de certa forma subverte o conceito de espa o p blico pr prio das escolas municipais estaduais e federais Essa postura ainda reproduzida n
53. o s pr ticas inovadoras mais l dicas se manifesta diante da descontinuidade das a es planejamentos e organiza o do cotidiano pois a se instauram a imprevisibilidade e o risco da indisciplina elementos que questionam a PAGE autoridade e seriedade bases sob as quais a cultura racionalista em geral e as rela es pedag gicas em particular constru ram as suas identidades CARRANO 1999 p 415 A busca pelo cont nuo a perman ncia e o medo do aleat rio da imprevisibilidade e do transit rio levaram a sociedade e em particular a institui o educacional a optar pela alegria medida e mediada pelo movimento restrito e ordenado pelas rela es distantes e moralizantes A pesquisa que ora apresento prop e uma invers o nesta l gica desafia a experimentar outras possibilidades de agenciamentos que passam por rela es mais envolventes com prometidas e com partilhadas com o com viver tendo nas diferentes linguagens humanas o instrumento de aproxima o de entendimento de reflex o e a o renovada Um projeto educacional que se pretende socialmente respons vel com a revis o dos processos de submiss o e domina o imposta pela sociedade precisa considerar que o corpo n o mero agente f sico depositor de uma mente que pensa e reflete sobre o mundo mas a nica forma de os sujeitos se materializarem no espa o e intervirem no entorno construindo e reconstruindo hist rias Uma educa o que se reconh
54. o do Noturno em Angra dos Reis p 03 04 uma publica o restrita da SME distribu da na rede municipal de educa o de Angra no ano de 1999 na tentativa de dar visibilidade para o relat rio final da assessoria dos professores Carlos Manh s e Rosa Lepak produzido em 1992 PAGE aluno servindo sua conscientiza o e organiza o Era necess rio rever o planejamento escolar de forma a n o massacrar o aluno com conte dos atividades sem significado e aplicabilidade na realidade Neste sentido o curr culo precisava estar sintonizado com o processo de constru o do conhecimento da realidade de ser viver e trabalhar de seus alunos Deve promover uma reflex o do processo de constru o de sua vida material social e pol tica de forma a possibilitar condi es de buscar criar novas formas de existir Da mesma forma fazia se urgente pensar uma nova estrutura de hor rio e regime de trabalho desses professores de forma a viabilizar a dedica o exclusiva a este turno ao inv s de ser apenas um espa o para completar a carga hor ria de trabalho semanal Esta reformula o subentendia um projeto coletivo de mudan a da escola por isso era uma proposta pol tica e como tal necessitava de uma estrutura administrativa e pedag gica No que tange aos professores de 5 a 8 s rie al m de viabilizar uma carga hor ria espec fica para o noturno devia se garantir que as quatro horas pedag gicas previstas no contrato profissional fosse
55. o mais nova e flutuante do bairro como tamb m a mais pauperizada Dentre as op es culturais e de lazer do bairro destaca se uma quadra esportiva em prec rias condi es de manuten o uma pra a alguns bares uma danceteria eventos promovidos pelas Escolas Estadual de Ensino M dio e Municipal Cacique Cunh bebe e a praia que mesmo polu da e proibida para o banho recebe alguns banhistas Muitos moradores andam cerca de 20min para se banhar numa pequena praia um dos poucos lugares pr ximo ao bairro onde o banho permitido Do ponto de vista religioso um bairro com predomin ncia de igrejas evang licas Outrora esta era uma localidade que atra a muitos turistas das cidades do Sul Fluminense mas com a polui o da praia este potencial tur stico diminuiu salvo o Hotel e o condom nio do Frade que se localizam numa rea mais nobre com praia privativa ancoradouro e campo de golf que atrai pessoas de classe social mais abastada O CORPO ESCOLA E A IMPLANTA O DO PROJETO DO REGULAR NOTURNO No in cio do ano 2000 a Escola Municipal Cacique cunh bebe optou por implementar a nova grade do Regular Noturno em grande parte pelo empenho da auxiliar de dire o do noturno da poca e alguns professores que trabalhavam na escola com esta modalidade de ensino e participavam das discuss es dos p los do RN Havia tamb m um movimento de conquista por parte da coordena o do projeto para qua a escola o adotasse tendo em
56. o port o aberto haja vista a possibilidade de entrar estranhos na escola inclusive com drogas Professora B Esta discuss o se estendeu na reuni o pedag gica dos professores daquela semana e considero importante para melhor compreender a realidade da pesquisa destacar outras falas O aluno tem que saber o lugar dele N o porque o aluno usa uniforme que o professor tem que usar Professor S Tem que se observar as normas a escola exige uniforme para os alunos e n o para o professor Quando forem trabalhar l fora ter o que se adequar Professor I A quest o do uniforme enche o saco a gente perde tempo Em toda escola tem uniforme se quiser discutir tudo bem mas fazer uma assembl ia para isto demais Professora H S aqui na escola acontece este tipo de problema Na escola estadual todos v o uniformizados Ele importante e preciso us lo Diretora Geral A assembl ia n o s para discutir o uniforme Vamos aproveitar tamb m para discutir os direitos e deveres dos alunos e professores Para isto vamos aproveitar a segunda feira j que ainda n o temos oficinas Nesta noite os gremistas podem esclarecer aos alunos suas propostas para o gr mio este ano e montar um estatuto Orientadora Diante destas falas defendi a realiza o da assembl ia dizendo que os alunos do noturno independente da idade n o estavam ali obrigados por pai ou m e mas por op o e PAGE que a maioria j assum
57. organiza o institu da enunciando suas determina es revelando a estrutura institucional 1995a p 64 PAGE escola uma outra parte concordava com a posi o da escola considerando fundamental a cobran a do uniforme pois isto dava seguran a a todos impedindo que estranhos entrem na escola Outro ponto levantado e defendido por muitos alunos foi a necessidade da escola ter regras s quais eles devem se adequar O primeiro desafio portanto que a pesquisa interven o prop e a de inserir no espa o da pesquisa a es dispositivos que abalem a ordem estabelecida que mexam com as certezas e permitam investigar a produ o de conceitos significados comportamentos hist rias e corporalidades pelo corpo escola no mbito das pr ticas corporais Um segundo desafio seria redimensionar a vis o tradicional que muitas vezes se tem acerca da institui o escolar que privilegia os grandes acontecimentos as grandes figuras hist ricas para enfim dar volume s vozes que ecoam pelos corredores da escola voltar se para os corpos que se mostram diferentes do esperado ouvir os lamentos as revoltas as alegrias os desejos possibilitar o grito o movimento estar atento ao car ter nico e agudo dos acontecimentos Foucault na investiga o geneal gica afirma que As for as que se encontram em jogo na hist ria n o obedecem nem a uma destina o nem a uma mec nica mas ao acaso da luta Elas n o se m
58. orienta o pedag gica e a dire o da escola come aram ent o a agendar as prefer ncias dos alunos em rela o s mesmas Como hav amos previsto a SME n o conseguiu alocar verbas no in cio do ano para garantir as oficinas das tr s escolas com o projeto Isto gerou um certo transtorno principalmente na Escola Cacique Cunh bebe uma vez que os professores n o estavam presentes na segunda feira noite prevista para a realiza o das oficinas Estas s tiveram PAGE in cio em abril neste tempo a dire o da escola junto com a orienta o e alguns professores de 1 a 4 s rie realizaram alguns encontros com os alunos nesta noite para esclarecer quest es acerca do projeto para discutir os princ pios e objetivos da escola assim como seu regimento desta forma foi poss vel caracterizar a segunda feira como dia letivo Quando foram iniciadas as oficinas elas n o vieram em n mero suficiente para atender todos os alunos das 13 turmas A alternativa da escola foi dividir cada oficina em dois turnos desta forma em cada turno um grupo de alunos participaria das atividades Esta situa o n o foi a ideal uma vez que comprometia o princ pio de democratiza o do acesso previsto para a rede municipal de educa o No entanto n o quer amos inviabilizar o projeto mediante este entrave apost vamos na solu o do problema no menor tempo poss vel Apesar disso a avalia o dos alunos em rela o a esta noite foi po
59. participariam com os alunos A participa o do professor W foi muito interessante estava mais solto fez exerc cios de representa o olhou nos olhos dos alunos sem medo dan ou e rolou no ch o O professor Z na medida do poss vel fez as atividades mas muito envergonhado e n o conseguiu terminar a aula A proposta principal desta aula era realizar movimentos e sons que normalmente n o faziam na escola seja por que n o era conveniente ou permitido seja por medo ou vergonha Iniciamos com uma grande roda e ao som da m sica amos brincando nos enrolando construindo e desfazendo um grande n sem soltarmos as m os Num determinado momento da aula pedi que todos dan assem e gritassem alto como jamais tinham feito na escola Houve hesita o de todos no in cio os sons eram baixos e os movimentos devagar comparados com o ritmo da m sica aos poucos medida que os provocava come aram a gritar mais alto e a pular freneticamente no entanto alguns alunos n o conseguiram gritar e muito menos dan ar O barulho provocado chamou a aten o dos outros alunos da escola que estavam no intervalo houve um grande reboli o para saber o que estava acontecendo na sala O professor Z saiu no meio da aula dizendo que n o se sentia bem com este tipo de atividade No final fizemos um relaxamento em c rculo com todos deitados no ch o Alguns alunos n o se sentiram vontade para deitar e ficaram sentados nas cadeiras encostadas na PAGE
60. pessoas referirem se Educa o de Jovens e Adultos como um processo de resgate da educa o perdida no tempo idade apropriada Do mesmo modo corriqueiro o discurso dos professores quanto s dificuldades de aprendizagem desta clientela uma vez que com idade mais avan ada outras preocupa es como por exemplo trabalho e fam lia e uma capacidade intelectiva n o estimulada apresentam limita es e PAGE por isso preciso n o esperar demais ou mesmo n o exigir muito nas avalia es Enunciados do tipo Os alunos do noturno n o querem muito ter o certificado de conclus o do Ensino Fundamental o bastante pra eles ningu m t preocupado com o vestibular O que eles querem um emprego melhor Nosso aluno tadinho quer mais um t nis para cal ar e um pouco de educa o para tentar melhorar trabalhar com o aluno do noturno carregar pedra quem que est disposto a isso a este sacrif cio Porque o nosso aluno n o ret m nada se ele conseguir reter o m nimo j um grande desafio esta uma maneira modesta de ver este trabalho d o indicativos de como os professores organizam discursivamente esse segmento de ensino A baixa expectativa do professor em rela o aprendizagem desses alunos muitas vezes direciona toda a organiza o e planejamento das a es da escola noturna inviabilizando uma equaliza o de oportunidades pesquisa constru o do conhecimento hi
61. pol tica em v rios movimentos sociais ecol gicos onde se tentou uma rea o a estes riscos PAPINI 1998 p 49 Decorridos trinta anos desde a implanta o da primeira Usina a popula o percebeu o quanto perdeu com tal empreendimento O emprego gerado n o compensou o grande impacto ambiental causado e a inseguran a diante de poss veis acidentes Hoje t cnicos em engenharia el trica ecologistas e ambientalistas mostram que existem meios mais econ micos eficazes e seguros para produzir energia PAGE importante destacar que as Usinas II e II apesar de constantes manuten es interrompe suas atividades por problemas pouco esclarecidos O que se tem de concreto s o os riscos que representam para toda a regi o uma vez que n o se sabe o que ser feito do lixo at mico daqui a cinco anos quando esgotar o local de estocagem e a falta de estrutura e planos capazes de proteger a popula o em caso de vazamento PAPINI 1998 Em 1998 numa a o treino com a popula o a Usina avisou a Defesa Civil ao Corpo de Bombeiros a Pol cia Militar a Secretaria de Sa de e a Secretaria de Educa o o dia e o hor rio que seria realizada a simula o de vazamento pedindo para selecionarem as escolas que serviriam de base para receber a popula o em estado de perigo Uma solicita o chamou a aten o de todos na Secretaria de Educa o que n o fossem ocupados os telefones tanto da secretaria quanto das escolas sede
62. precisa cada vez menos dar se conta das pessoas e das constru es para prosseguir no seu movimento Os PAGE deslocamentos s o mais r pidos num meio ambiente cujas referencias tornaram se secund rias SENNET 1997 p 18 Por outro lado n o podemos deixar de considerar que a experi ncia do deslocamento da velocidade da leveza da flexibilidade s mudan as produz corpos din micos com rea es r pidas e que buscam incansavelmente o novo com curiosidade agu ada Talvez a resida a premissa para que os corpos na atualidade se mostrem mais fluidos individuais capazes de se adaptar rapidamente s novas exig ncias sociais aqui podemos perceber a influ ncia mais surda por m mais profunda de um mundo em crise inquietante e inst vel tomado por abalos brutais e animados por mudan as r pidas um universo social que se assimila e do qual nossos corpos carregam os tra os POCIELLO 1995 p 119 Se de um lado temos os turistas e os viajantes no outro extremo temos os moradores da cidade presos a seus valores e tradi es vivendo o dia a dia muitas vezes alheios a todo esse movimento caracter stico desse espa o Os alunos da escola Cacique Cunh bebe em sua maioria pertencem a este segundo grupo S o moradores do bairro do Frade distante mais ou menos 30 km do centro e cortado ao meio pela estrada Rio Santos O movimento da estrada ao mesmo tempo em que faz parte da rotina de suas vidas tamb m representa
63. que segurasse as pontas at que algu m da dire o chegasse Deixou como recomenda o que n o permitisse que nenhum aluno entrasse sem uniforme e sa sse da escola no hor rio do recreio Uma aluna da 5 s rie com seus 28 anos chegou um pouco atrasada devido ao hor rio do trabalho e sem uniforme como a secretaria n o estava na portaria ela entrou sem problemas no entanto algumas alunas que foram barradas na entrada e tiveram que voltar em casa para trocar de roupa foram at a secret ria reclamar por que a cobran a n o era para todos A secret ria se dirigiu sala de aula e retirou a aluna que estava sem uniforme e mandou para casa Houve um bate boca no p tio e a aluna disse que ia embora mas que n o voltava mais a resposta que obteve foi melhor que abre vaga para outro Um outro aluno que tamb m foi barrado no port o da escola desistiu de estudar alegando que n o era crian a que tinha fam lia pra criar e n o precisava aturar desaforo da escola Na hora do recreio para surpresa de todos o port o estava fechado e a secret ria informou que n o era mais permitido sair ordens da dire o Esses epis dios foram discutidos em sala de aula com os alunos muitos concordaram com as normas os mais velhos alegaram que havia muitos adolescentes na escola necessitando de uma disciplina mais r gida e que os alunos precisavam se acostumar com as regras da escola o uniforme d mais seguran a para
64. que serviu para refor ar a ret rica dos estrangeiros tirando emprego e oportunidades do povo de Angra Esta situa o refor ou a cr tica dos setores conservadores ao governo o que for ou a SME na pessoa da dire o do Departamento de Ensino a realizar um balan o dos contratos tempor rios realizados no ltimo mandato no sentido de mostrar sociedade quantos profissionais de Angra foram contratados pela SME em rala o aos de fora O resultado foi um n mero maior de professores da cidade no primeiro segmento do Ensino Fundamental e uma pequena superioridade dos professores de outras cidades no segundo segmento do Ensino Fundamental Isto se explica pela aus ncia no munic pio de cursos de licenciatura plena e p s gradua o nas diferentes disciplinas o que deixa em desvantagem os moradores locais No entanto os esfor os empreendidos para mostrar popula o e aos pr prios funcion rios da prefeitura a realidade dos funcion rios professores na Secretaria de Educa o professores de Angra Os professores de outras cidades no qual tamb m me incluo tinham Angra dos Reis como local de trabalho a moradia que fixavam geralmente em forma de rep blicas estava sujeita a mudar a cada ano dependendo da organiza o dos hor rios da escola ou fim de contrato Dessa forma havia uma certa migra o de professores entre as escolas e muitas vezes mudan a de bairro No entanto apesar de n o se fixarem numa c
65. que esse discurso conseguiu colocar o processo de interven o do governo federal indica o dos lideres pol ticos para governar o munic pio como a nica causa da crise local transferindo o foco das lutas apenas para o n vel nacional Ao mesmo tempo neutralizou os efeitos perversos da crise fazendo parecer que ela atingia igualmente PAGE toda a popula o angrense n o considerando aqueles que ganharam com o modelo econ mico adotado no per odo militar O poder deste grupo ficou evidente nas elei es para prefeito em novembro de 1985 quando atrav s da campanha eleitoral com o slogan da autonomia pol tica e do apelo ao crescimento econ mico cria o de empregos coordenado pela pr pria prefeitura a partir do contexto local e n o mais imposto de fora o candidato do Partido da Frente Liberal PFL ganha as elei es Vale destacar que o mesmo recebeu apoio do ent o prefeito da cidade Jo o Luiz Gibrail Rochaf que colocou a m quina administrativa a servi o de sua campanha IBASE v I 1993 p 37 38 O candidato do Partido dos Trabalhadores PT ficou em terceiro lugar com 20 dos votos v lidos Em sua campanha apelou para a organiza o e fortalecimento dos movimentos sociais para a import ncia da participa o de todos na escolha dos dirigentes pol ticos e para a necessidade de uma administra o transparente e democr tica Desse modo deixou claro que as diferen as que afastavam o PT de outros partidos po
66. questionamento estava constantemente presente mostrando a necessidade de auto avaliar as a es e implica es numa realidade considerada mpar no Estado Enquanto sujeito pesquisadora estabelecia uma rela o de an lise e auto an lise das implica es do projeto que ora vinha desenvolvendo Portanto n o era poss vel assumir o princ pio cient fico de afastamento neutralidade pelo contr rio era necess rio assumir os nus e os b nus de minhas implica es O projeto pol tico do intelectual implicado inclui a inten o de transformar a si mesmo e o seu lugar social a partir de estrat gias de coletiviza o das experi ncias e an lises LOURAU 1993 p 85 Quando uso a express o corpo escola estou me referindo a todos os sujeitos presentes no cotidiano escolar e que a seu modo participam do processo educacional desenvolvido neste espa o Mais precisamente s o os professores funcion rios diretores orientadores supervisores alunos e pais 7 O projeto constru do em 1998 e implementado em 1999 para alunos jovens e adultos do Ensino Fundamental na rede municipal de Angra dos Reis ficou conhecido por todos como Projeto do Regular Noturno RN 8 Aqui estou me referindo aos PCN s como forma de organiza o do curr culo ao financiamento do FUNDEF priorizando o ensino fundamental de 6 a 14 anos em rela o a Educa o Infantil a Educa o Especial e a EJA a proposta de ciclos que corresponde apenas a uma adequa
67. se d de forma t o diferente nestes dois espa os Que rela es de poder saber corpo s o constru das e institu das no espa o da escola delimitando lugares e comportamentos Meu retorno escola noturna se deu dois anos mais tarde no Munic pio de Angra dos Reis ap s concurso p blico Como professora de Educa o F sica numa escola de zona rural meu maior envolvimento foi com alunos jovens e adultos com idades entre 15 e 45 anos que acreditavam na possibilidade de uma vida melhor atrav s da educa o Estavam envolvidos com o mundo do trabalho em diversas atividades profissionais enfermagem trabalhos dom sticos ajudante de obra biscateiro balconista etc viam na escola e em particular nas minhas aulas a nica oportunidade de entretenimento do bairro com atividades corporais A busca de uma rela o mais significativa e prazerosa me mobilizou a organizar atividades que PAGE agradassem a maioria tentando fazer uma concilia o entre os diferentes desejos e a proposta da disciplina Meu interesse era observar a forma como eles se manifestavam dentro e fora da sala de aula como os corpos se mostravam nas diferentes rela es existentes no espa o escolar e nas diversas atividades constru das por eles e pelo professor Algumas quest es me inquietavam por que a escola separa aprendizagem de prazer insuport vel qualquer esfor o distante das atividades prazerosas Por que a escola d mais import ncia a apr
68. sempre levantava as quest es legais nas reuni es da SME Em 94 95 ela fazia oposi o junto aos coordenadores quanto aos projetos que estavam sendo encaminhados sempre numa vis o legalista e foi por isso que ela foi exonerada Quando iniciamos a discuss o deste projeto ela disse que est vamos fazendo algo sem legalidade Hoje estamos com o embate legal porque ela est no poder Seu questionamento na poca j girava em torno do que amos fazer com o aluno que quer transfer ncia como ser o boletim do aluno que sai da escola uma PAGE vis o positivista est tica da educa o e usam isto para abafar por medo ou certeza n o sei usam este discurso para o entrave na constru o de uma educa o popular O poder que est na SME hoje reflete esta vis o atrasada Diante dos entraves oferta das oficinas o trabalho com os alunos na escola ficou prejudicado pois n o foi poss vel preencher o hor rio de segunda feira o que era um problema uma vez que n o fecharia a carga hor ria destinada ao ano letivo Isto gerou muitas cobran as por parte da escola e ao mesmo tempo cr ticas ao projeto por parte da Secretaria de Educa o De certa forma ficou impl cito que a escola deveria buscar uma alternativa por conta pr pria inclusive foi sugerida a oferta de oficinas pelos pr prios alunos A Gerente do Departamento de Ensino disse num dos encontros com a escola que muitos alunos deveriam saber fazer alguma coisa capaz de
69. uma mudan a no grupo que nos trouxe estaca zero o que prejudicou muito o trabalho e deu este clima de desorganiza o O Clima ficou realmente ruim mas n o vejo isto como se a SME estivesse nos deletando Mas desde o ano passado j dizia que precisamos conhecer o trabalho que o outro faz Por que n o aproveitar este dia para fazer isto Professor F Penso que nosso problema n o s t cnico essencialmente pol tico uma briga de poder como ele est sendo exercido e articulado N o sei se a dire o se sente cobrada em outras inst ncias e acaba reagindo equivocadamente conosco as coisas sempre acontecem na rea o e esta n o a melhor forma de agir No noturno ap s doze anos a SME resolveu desenvolver um projeto o n vel de cobran a muito alto em rela o capacidade do grupo em resolver as coisas que aparecem no dia a dia Professor M N s estamos nos esquecendo que temos que pensar a parte legal do projeto Ele n o a menina dos olhos de apenas algumas pessoas n s queremos que ele continue e se n o repensarmos seus entraves ele vai se perder Professora D PAGE Eu estou com dificuldades de encaminhar o projeto na 6 s rie eu ainda me sinto muito presa ao conte do Se fecharmos a reuni o de 15 15 dias n o teremos tempo de rediscutir o projeto Eu tamb m gostaria de usar este tempo para fechar meu trabalho fazer biodan a Mas n o d para o tempo todo ser jogado margem da lei Esta d
70. uma nova escola na tica da LDB 1997 PAGE devem ensinar bem e que no fim a escola deve proporcionar sucesso a todos o que significava passar de ano e concluir o Ensino Fundamental Em entrevista com os alunos foi poss vel perceber em sua express o um certo sentimento de fracasso inferioridade por ainda estarem na escola ou por n o ter acompanhado a rela o s rie idade durante sua vida escolar Estudar noite significava estar atrasado fora do seu tempo Por outro lado tamb m era uma curti o principalmente para os mais jovens uma vez que a escola possibilitava diferentes encontros festas jogos que de certa forma movimentava diferentemente a vida no bairro Quando o Projeto do Regular Noturno foi apresentado na escola para os alunos no inicio do ano 2000 percebemos um certo receio principalmente dos mais velhos por que tinham um prot tipo de escola produtiva e temiam perder mais do que j haviam perdido e de empolga o principalmente dos mais jovens diante de uma proposta que prometia um movimento diferente e por isso mesmo desafiante e curioso Alguns alunos tinham participado do II Encontro de Educa o de Jovens e Adultos realizado em setembro de 1999 com a participa o de professores e alunos do Ensino Noturno no qual discutimos a necessidade de rever a proposta pedag gica do noturno Esse grupo foi importante no apoio ao projeto uma vez que era a tentativa de abarcar todas as prop
71. verdades transcritas em leis decretos e normas produzindo um discurso que decide reproduz e transmite efeitos de poder As rela es de poder desenvolvidas nas institui es e em particular na escola influi no comportamento e no conceito que os diferentes sujeitos constroem de si o cargo ou fun o que exercem muitas vezes estimula formas veladas de domina o promovendo um discurso voltado para uma conviv ncia conciliat ria organizada mas que no dia a dia promove a adapta o dos indiv duos Neste sentido a disciplina ou como nos define Foucault 1979 a rela o de PAGE docilidade utilidade passa a ser o ponto chave da vida institucional pois define as rela es que o corpo deve manter com o meio COELHO 1998 p 69 Nos meus encontros com os alunos buscava adequar as discuss es previstas pela minha pesquisa com as discuss es propostas pela rede tem tica na tentativa de n o desvincular minhas a es com as do projeto Optei pelas atividades que permitiram uma transversalidade nas discuss es entre as rela es corporais desenvolvidas no espa o escola e os temas geradores Neste sentido busquei na teoria teatral de Boal 1996 2000 nas minhas viv ncias com a biodan a com a dan a cl ssica e contempor nea e nas oficinas de teatro em que havia participado o embasamento necess rio para o desenvolvimento das aulas de teatro e dan a A inten o era garantir um espa o descontra do onde os alunos pud
72. vista seu primeiro ano 1999 em duas escolas com resultados positivos e a efetiva participa o do corpo escola nas discuss es da Comiss o Estas informa es podem ser aprofundadas no texto do prof Reinaldo Antonio da Silva O bairro do Frade um perfil escrito para compor a projeto pedag gico da escola Municipal Cacique Cunh bebe em 2000 p 06 PAGE nos P los do RN e encontros de professores e alunos do EJA mostrando a insatisfa o de todos quanto ao tempo de discuss o envolvendo o ensino noturno e a morosidade no processo de mudan a Apesar das cr ticas e de reconhecer os avan os em rela o ao projeto implementado no ano anterior havia por parte dos professores uma certa resist ncia em adota lo uma vez que o projeto propunha uma altera o radical na organiza o da carga hor ria importante frisar que a maioria destes professores tinha resid ncia fixa nas cidades do Rio de Janeiro e Volta Redonda e ficava no munic pio apenas dois dias da semana para cumprir a carga hor ria prevista no contrato trabalhista No projeto eles teriam que ficar tr s noites o que representava voltar para casa no quarto dia devido dist ncia do Frade em rela o ao centro da cidade e aos hor rios de nibus previstos para outras localidades Ap s muitas negocia es a proposta dos professores feita coordena o foi aceita e em fevereiro de 2000 iniciamos o projeto na escola A proposta consistia na mudan a d
73. AGENS ASSMANN Hugo Paradigmas Educacionais e corporeidade 3 Edi o Piracicaba S o Paulo UNIMEP 1995 p 82 AZEVEDO I B de O prazer da produ o cient fica diretrizes para a elabora o de trabalhos acad micos 5 ed Pref cio de Hugo Assmann Piracicaba S o Paulo UNIMEP 1997 BAUMAN Zygmunt Globaliza o as consegii ncias humanas Tradu o Marcus Penchel Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 1999 BOAL Augusto Jogos para atores e n o atores Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2000 O Arco ris do Desejo m todo Boal de Teatro e Terapia 3 Edi o Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1996 BRITO Vera L cia Alves A Educa o f sica e a constru o de uma nova escola na tica da LDB In COL GIO BRASILEIRO DE CI NCIAS DO ESPORTE Org Educa o f sica escolar frente nova LDB e aos PCN s Iju Sedigraf 1997 BOFF Leonardo Saber cuidar tica do humano compaix o pela terra Petr polis Rio de Janeiro Rio de Janeiro Vozes 1999 COELHO Edna Ferreira Linguagens corporais na Educa o de Jovens e Adultos em escolas municipais de Angra dos Reis In IV ENFEFE 2000 Niter i Rio de Janeiro Anais 2000 COELHO Edna Ferreira amp SANTOS Enio Jos Serra Repensando o ensino regular noturno como escola para jovens e adultos trabalhadores a experi ncia da rede municipal de Angra dos Reis Alfabetiza o e Cidadania Revista de Educa o de Jove
74. As refer ncias pol ticas econ micas culturais ideol gicas sexual libidinal etc que entrecruzam nossas vidas e produzem diferentes formas de subjetiva o GUATTARI 1986 PAGE desconsideradas em prol de um novo conhecimento de uma nova descoberta N o esta minha inten o Tentarei como na An lise Institucional n o fazer um isolamento entre o ato de pesquisar e o momento em que a pesquisa acontece na constru o do conhecimento Quando falamos em implica o com uma pesquisa nos referimos ao conjunto de condi es da pesquisa LOURAU 1993 p 16 minha inten o e interfer ncia na realidade Neste sentido pretendo assumir minha inseparabilidade do contexto da pesquisa Reconhecendo que em v rios momentos n o consegui ouvir ver o que a realidade me dizia mostrava da mesma forma que em outros momentos me calei diante da impossibilidade de reconhecer outra sa da Foi inevit vel priorizar determinadas vozes a es e rela es assim como agir como c mplice seja diante do sil ncio ou do som mais agitado das reivindica es Por outro lado esta pesquisa tamb m representa uma importante restitui o pelo fato de trazermos tona falas a es comportamentos olhares que em geral s o deixadas de lado a sombra Coisas que s o observadas ouvidas nos corredores nos intervalos das aulas no p tio longe de ouvidos inimigos enfim tais coisas s o aquelas fala institucional que n
75. ELIZABETH BARROS E BARROS Universidade Federal do Esp rito Santo UFES Prof Dr ESTHER MARIA MAGALH ES ARANTES Faculdade de Educa o da Pontif cia Universidade Cat lica PUC RJ UERJ PAGE Dedico este trabalho aos meus pais Joaquim e Geralda cuja exist ncia exemplo de vida coragem e solidariedade Sem seu incentivo e apoio seria imposs vel caminhada at aqui voar por lugares distantes em busca de novos desafios ou mesmo frequentar a primeira escola prim ria onde tudo come ou A minha princesinha que com apenas seis meses de gesta o j se tornou uma grande companheira e minha maior produ o PAGE AGRADECIMENTOS A Juarez Bezerra Galv o meu companheiro h oito anos pela presen a paci ncia e cobran as que n o me deixaram abandonar o barco diante dos obst culos A toda minha fam lia Ferreira Coelho e Galv o pela amizade lembran as e emo es que tecem a trama de minha exist ncia A Prof Lilia Ferreira Lobo que sempre acreditou em meu trabalho e cuja orienta o competente leitura criteriosa e ensinamentos muito contribu ram para a consecu o desta tese Pela amizade e apoio nas horas dif ceis Ao prof Jo o Batista Bastos por ter percebido e indicado a necessidade da contribui o da prof Lilia Lobo nesta tese Aos professores e colegas da Universidade Federal Fluminense que possibilitaram e participaram sua maneira de mais uma etapa de minha forma o
76. a O projeto tinha por objetivo possibilitar a constru o da cidadania ativa e da autonomia tica criando oportunidade para o educando buscar a transforma o de sua realidade e construir conhecimentos que lhe permitissem compreender criticamente sua inser o num mundo globalizado marcado pelas novas tecnologias Compreender n o para se adaptar mas para construir outras pr ticas poss veis a partir de um constante processo de alfabetiza o O projeto do RN ap s ser apresentado em toda a rede municipal foi implementado em duas escolas no ano de 1999 e mediante as delibera es do II Congresso Municipal de Educa o de Angra dos Reis realizado em mar o deste mesmo ano Em 2000 uma outra escola a exemplo das duas anteriores tamb m optou pela nova grade totalizando tr s escolas a realizar o projeto Nossa inten o era estender o projeto a todas as escolas do RN no prazo m ximo de quatro anos Aquelas escolas que n o optassem por esta proposta 58 Chamamos de educa o inclusiva aquela que possibilita os alunos sentirem se inclu dos no processo de constru o do conhecimento e ao mesmo tempo tendo acesso a todas as reas de conhecimentos oferecidos pela forma o escolar Estas escolas fizeram a op o pela grade e foram consideradas escolas pilotos Uma funcionava com ensino de 1 a 4 s rie do Ensino Fundamental e a outra de 1 a 8 s rie Estas escolas tamb m foram pioneiras no desenvolvimen
77. a Outro momento de grande conflito se deu diante da necessidade de selecionar o material mais significativo para dar visibilidade hist ria que pretendia contar Foi necess rio fazer algumas escolhas diante da quantidade de registros feitos no di rio de campo das entrevistas gravadas filmadas das imagens fotografadas e das observa es realizadas neste momento que o pesquisador retira a m scara que o esconde para escancarar sua intencionalidade seu envolvimento e sua implica o pol tico acad mico PAGE pedag gica Tive que abandonar muitas viv ncias e narrativas que certamente comp em o contexto de produ o da corporalidade dos sujeitos escolares para privilegiar outras que ao retratar os significados das pr ticas cotidianas tamb m apontaram para o desvelamento dos sentidos atribu dos aos diferentes espa os e atores escolares O primeiro momento desta pesquisa orientou se para a observa o an lise e descri o das pr ticas dos professores diretores e orientadores na implementa o do projeto suas dificuldades d vidas embates buscando registrar e refletir sobre as experi ncias e viv ncias deste grupo assim como minha implica o nesta realidade O segundo momento mostrou se mais desafiador pois eu n o estava mais no controle da situa o novas configura es se apresentavam necessitando um envolvimento maior com o cotidiano da escola a fim de perceber os agenciamentos que atravessavam as diferente
78. a o de todo o processo educativo Esses crit rios ganharam vida nova com a Revolu o Industrial quando o processo de produ o das rela es econ micas se tornou fragmentado eficiente e com menos gasto de energia demonstrando a possibilidade da produ o em s rie e em massa com grande ac mulo de capital Os valores e princ pios criados neste per odo influenciaram todos os setores da vida humana inclusive a escola que passou a adotar os mesmos par metros de organiza o disciplina e avalia o da f brica no processo ensino aprendizagem A divis o entre descontra o e trabalho alegria e seriedade produ o e ociosidade imediatismo e futuro assumiu nos s c XVIII e XIX a mola mestra para a produtividade e expans o do capitalismo industrial Os avan os cient ficos que propiciaram a Revolu o Industrial penetraram todos os campos da vida humana construindo uma determinada forma de perceber o homem e o mundo direcionando todas as suas a es O m todo cient fico com o status de ser o nico capaz de mostrar a verdade de conhecer a realidade passa ser utilizado indiscriminadamente pelas ci ncias sociais e humanas na tentativa de tamb m avan arem e progredirem tal qual as ci ncias naturais e tecnol gicas A escola neste contexto passou a ser investida de um saber acad mico distante da realidade um aprendizado de conte dos que leva a um conhecimento abstrato e ou distante do mundo por meio de discursos te ri
79. a muitas vezes foram feitas e recebidas com intoler ncia Em v rios embates percebi e algumas vezes participei efetivamente deles uma tentativa de pression lo para que percebesse que o grupo n o era ing nuo que conhecia os investimentos pessoais que estava posto N o est vamos mais diante de uma proposta de gest o participativa e democr tica agora o importante era enfatizar o que n o havia dado certo na administra o anterior para reorganizar a casa segundo novos par metros Percebemos logo nas primeiras reuni es com os novos coordenadores que a presen a de um antigo colega na coordena o do RN n o significaria ter um aliado Suas coloca es acerca do projeto da equipara o da carga hor ria das disciplinas e das oficinas deixaram claro que sua fun o ali era defender os interesses da nova administra o Em uma das reuni es ele disse que sua presen a na escola era para contribuir com o grupo mas que se sentia abortado n o era recebido como os antigos coordenadores e se sentia mal por isso Na continuidade de sua fala disse o que pensava do projeto e suas inten es N s precisamos ter algo consistente para garantir a legalidade do projeto O grupo deve decidir o que fazer e eu serei o defensor da proposta na SME Voc s sabem que as oficinas s o um entrave No ano passado j t nhamos problemas O espa o de encontro dos professores um ganho mas quanto equipara o da carga hor ria das disciplinas te
80. a noite cultural para segunda feira e n o na quarta feira como estava previsto inicialmente no projeto sendo que nesta noite os alunos estariam apenas com a dire o orienta o pedag gica e oficineiros No projeto original a quarta feira seria a noite dedicada oferta de oficinas e outras atividades para os alunos e reuni o de planejamento para os professores Com esta proposta a reuni o dos professores ficaria para quinta feira tarde e assim todos trabalhariam duas noites e uma tarde No primeiro momento esta proposta foi rejeitada pela coordena o porque havia o medo de n o conseguir preencher a segunda feira com oficinas suficientes para atender as 13 turmas da escola de 1 a 8 s rie Isto j havia ocorrido em outra escola com o projeto e a 8 Cada professor teria uma carga hor ria semanal de tr s horas aulas por semana para cada turma ficando a organiza o do hor rio di rio com dois blocos de disciplina tr s aulas antes do intervalo e tr s aulas ap s o intervalo cada aula com um tempo de 40 min Desta forma t nhamos um grupo de professores que trabalhava ter a quarta e quinta e outro grupo que trabalhava quinta e sexta Os professores do in cio da semana eram preferencialmente moradores de Angra ou professores com carga hor ria em outras escolas do munic pio por isso a maior perman ncia na cidade em rela o aos outros PAGE solu o na poca foi fazer um revezamento entre os professores
81. a Angra dos Reis impulsionando a constru o do porto da cidade e permitindo o escoamento de produtos agr colas No entanto a a o portu ria s ganhou import ncia com a exporta o dos produtos da Companhia Sider rgica Nacional de Volta Redonda inaugurada em 1940 Outras a es importantes para o setor urbano da cidade foram a implanta o de um estabelecimento de ensino no munic pio pela Marinha em 1914 transformada em Col gio Naval em 1952 e a inaugura o de uma estrada que ligou o munic pio de Angra Barra Mansa facilitando sua comunica o com a antiga rodovia Rio S o Paulo em 1947 o que facilitou o acesso de turistas assim como o transporte de produtos para o porto angrense A pol tica desenvolvimentista que o Brasil adota a partir da d cada de 50 vai enquadrar o munic pio de Angra dos Reis no padr o dominante de acumula o de capital a partir da instala o em 1959 do Estaleiro Verolme por um grupo holand s Com a ind stria naval o munic pio deixou de exercer um papel secund rio tanto na economia regional como na nacional PAGE Foto 03 Estaleiro Verolme O impacto que esta ind stria gerou para a regi o pode ser analisado mediante o n mero de oper rios que ela absorveu da popula o local mais de 3 000 sem considerar o grande fluxo migrat rio de m o de obra qualificada e n o qualificada Esta nova realidade desencadeou um processo de reorganiza o das rela es humanas dinami
82. a das escolas alegando n o haver legalidade para manter o projeto no pr ximo ano e em 2002 outras discuss es seriam promovidas no sentido de viabilizar o projeto do RN e o ciclo Apesar da grande frustra o que tomou conta de todos nas tr s escolas ficou claro que tinham de alguma forma encontrado um caminho de di logo Haviam experimentado algo n o somente inovador mas principalmente ousado diante do sistema educacional atual enfrentaram barreiras burocracias cr ticas e a lei A sensa o era de realiza o O projeto poderia acabar mas nunca mais seriam os mesmos e isto prometia uma situa o de busca constante Foto 32 Reuni o Pedag gica com os professores da Escola Cacique Cunh bebe em 2001 PAGE A proposta da pesquisa e o envolvimento dos alunos Eu s queria crer num Deus que soubesse dan ar NIETZSCHE s d Para analisar a concep o de corpo e a produ o de corporalidades no seio do projeto fazia se necess rio n o s um trabalho com os professores mas tamb m contactar os alunos estabelecer uma rela o dial gica e expressiva de forma que pudessem expor seus anseios desejos vontades e ao mesmo tempo perceber o impacto disso no ambiente escolar Dessa forma seria poss vel desvelar os preconceitos e a forma como cada um se apropria do espa o p blico criando sentidos e significados para os diferentes ambientes e comportamentos Optei por desenvolver atividades de express o corporal a
83. a forma n o o desafia a buscar coletivamente caminhos para a constru o de uma escola que invista na intera o entre o conhecimento sistematizado e as diferen as peculiaridades da popula o O discurso voltado diversidade parece desconsiderar a heterogeneidade das unidades escolares buscando apenas dar um sentido de unidade para a educa o no pa s O m todo implementado pelo governo FHC para avaliar o ensino no territ rio nacional nos mostrou que os PCN s como instrumento de legitima o do poder saber tinha inten es de homogeneizar o processo educacional no pa s reproduzindo interesses alheios escola e comunidade qual deveria servir interesses nem sempre desvelados reconhecidos ou explicitados para os educadores que executavam e assumiam esse curr culo como seu sem pens lo ou question lo Mais uma vez professores e alunos se viam afastados da possibilidade de se tornarem agentes e co agentes do processo de ensino aprendizagem Ao pensarmos uma proposta pedag gica para o ensino noturno em Angra dos Reis nossas a es foram na contra m o do processo em curso no pa s Em conson ncia com o sentido de Democracia adotado pelo Governo Municipal de Angra que subentende a participa o ampla das classes trabalhadoras na tarefa de construir uma outra l gica Aa AR i 220003550 pol tica econ mica e social que atenda aos interesses da maioria As discuss es em prol de uma reestrutura o curricular
84. a o munic pio e para o pa s entra em crise Pesquisadores de influ ncia da marxista voltados para reflex o e an lise de programas de urbaniza o e os movimentos empreendidos pelas organiza es sociais ser o respons veis pelas cr ticas severas ao modelo econ mico e pol tico Estas cr ticas v o possibilitar uma tomada de consci ncia dos preju zos sofridos pela popula o angrense durante a ditadura militar impulsionando a luta por melhores condi es de vida e pela organiza o democr tica PAGE V rias lutas s o travadas ao mesmo tempo contra a degrada o ambiental e o projeto nuclear pela posse da terra rural e urbana por melhores condi es de habitabilidade por melhores sal rios e pela amplia o das oportunidades culturais De maneira difusa h uma percep o de que muitas das dificuldades prov m dos efeitos negativos dos projetos federais agravadas pela perda da autonomia pol tica Assim a primeira metade da d cada de 80 um momento de afirma o organizativa das lutas da popula o trabalhadora e dos seus aliados da camada social interclasse A luta ecol gica e anti nuclear passa a organizar se em torno da SAP Sociedade Angrense de Prote o Ambiental As associa es de moradores dos bairros populares fundam o COMAM Conselho Municipal das Associa es de Moradores A Comiss o Pastoral da Terra Igreja Cat lica consolida o seu apoio luta dos sem terra desalojados pela esp
85. a referencia se encontra na bibliografia desta tese 9 Esta resist ncia se dava mediante impasses na organiza o dos hor rios dos professores ou na falta do mesmo mediante dispensa m dica ou para atender aos compromissos de outras institui es de ensino Os professores de outras localidades ao serem lotados nas escolas reivindicavam hor rios que lhes permitissem voltar para suas cidades em menor tempo O fato de n o residirem no munic pio muitas vezes impedia a participa o mais efetiva desses professores nas atividades escolares o que provocava constantes cr ticas por parte dos PAGE Durante a administra o do PT foram realizados tr s concursos p blicos nos respectivos anos 1990 1992 e 1998 A valoriza o dos funcion rios p blicos independente das secretarias em que estavam lotados fazia com que profissionais de diferentes localidades do Estado do Rio e de outros uma grande parte com forma o mais qualificada do que os moradores de Angra participassem dos processos seletivos do munic pio O concurso preencheu muitas vagas no entanto algumas n o eram de car ter definitivo o que obrigou o poder p blico a efetuar contratos por tempo determinado Na SME estes contratos tempor rios se davam a partir da an lise de curr culo e entrevistas mediante alguns crit rios definidos pelos coordenadores de rea Muitos dos funcion rios p blicos principalmente aqueles com forma o superior eram de outras localidades o
86. a se torna respons vel pelas d vidas Universo de regras que n o destinado a ado ar mas ao contr rio a satisfazer a viol ncia A regra o prazer calculado da obstina o Ela permite reativar sem cessar o jogo da domina o ela p e em cena uma viol ncia meticulosamente repetida FOUCAULT 1979 p 25 Neste sentido poss vel aos acontecimentos analisadores permitirem revelar o momento em que o corpo escola vive o lugar de onde fala e para quem fala o lugar de onde olha e para quem olha o partido que toma a favor de quem contra quem assim como o contexto que me envolve e me movimenta na investiga o Com a cren a renovada realizamos a assembl ia com os alunos Infelizmente poucos professores se fizeram presentes e destes apenas duas professorasse envolveram efetivamente da mesma forma a dire o geral da escola e os pais n o compareceram Iniciei a assembl ia relembrando aos alunos a cena representada pelo grupo de teatro na semana PAGE anterior e as rea es provocadas em seguida falei dos epis dios de viol ncia e indisciplina ocorridos na escola durante o ano e abri espa o para que eles se manifestassem dizendo o que sentiram e o que pensam a respeito desta situa o Alguns alunos do teatro falaram da experi ncia que viveram e disseram que se tivesse acontecido de verdade eles tamb m teriam medo porque quando v m para a escola esperam estar num ambiente seguro mas que alguns acontecim
87. ad os conscientes de seus direitos negados e permite construir novas rela es de poder local O tema religi o nos coloca de frente com uma das institui es mais fortes no cotidiano dos alunos no que diz respeito a normatiza o de comportamentos desej veis e n o desej veis influenciando diretamente a maneira como muitas das meninas lidam com seu corpo De certa forma estava direcionando os professores a levantarem discuss es em sala de aula que seriam reafirmadas contextualizadas e vivenciadas nas aulas de teatro e dan a Conversava sempre com a auxiliar de dire o sobre minhas inten es e ela dizia que eu estava manipulando o grupo Refleti se isto era verdade e se era ruim Cheguei conclus o que eles poderiam discordar das minhas sugest es como ali s em muitos momentos fizeram Nas diferentes rela es h sempre um movimento de ceder e tomar PAGE espa o penso que em muitos momentos eu cedi e em outros tomei o espa o que considerei significativo Isto aconteceu com todos pois o grupo de professores desta escola tinha vida pr pria muitos pela caminhada com o noturno tinham suas posi es definidas e a rela o estabelecida nas reuni es pedag gicas era de total abertura para auto express o muito dif cil um pesquisador inserido na realidade pesquisada desprender se de seus desejos e posicionamentos Entretanto minha participa o e interven o se tornaram importantes dispositivos analisadores da
88. ades e aspira es desses alunos e se a estrutura s rie disciplina possibilita uma din mica eficiente para o aprendizado Qualquer proposta inovadora deveria responder a estas quest es No fim do ano chegamos conclus o de que n o pod amos esperar mais para avan ar era preciso criar uma nova escola regular noturna que conseguisse contemplar a rela o dos educandos com o mundo do trabalho e suas experi ncias de vida incorporando PAGE suas produ es cotidianas no espa o escolar e oportunizando lhes um processo de alfabetiza o cont nua como forma de exerc cio da cidadania ativa Com esta expectativa foi solicitado a todas as escolas do RN que discutissem constru ssem com todos os sujeitos que a comp em um projeto que pudesse ser experimentado no ano seguinte dentro dos princ pios e diretrizes da educa o no munic pio As dire es das escolas junto com professores e orientadores educacionais n o conseguiram em suas unidades dar corpo a um projeto pedag gico que contemplasse os anseios e reivindica es de todos os profissionais e discentes do Noturno Foi ent o que a coordena o do RN alguns representantes das escolas na Comiss o do RN e a gerente da divis o de educa o da SME reviram um projeto que havia sido constru do mas n o implementado por uma das escolas do RN h alguns anos antes Foram feitos alguns reajustes de acordo com a realidade atual e enfim foi apresentado para todas
89. adquirido Quando uma escola ousa experimentar uma pr tica diferente que pretender rever este espa o e principalmente construir rela es mais horizontais entre os diferentes sujeitos que a comp em torna se imprescind vel analisar que outros sentidos est o sendo constru dos para as rela es saber poder corpo neste territ rio n o para imputar um ju zo de valor mas para dar visibilidade a uma nova pr tica e possibilitar a percep o de novos caminhos A educa o de pessoas jovens e adultos aqui apresentada no contexto de pol ticas p blicas excludentes teis ao controle e a expans o de uma classe dominante ao mesmo tempo em que tamb m se apresenta como possibilidade de equaliza o das injusti as e promo o de qualidade de vida social Por isso esta tese relembra a constitui o da cidade a partir da migra o de sonhos desejos e esperan as de tantos brasileiros por uma vida melhor buscando nas proveni ncias e emerg ncias da vida em Angra dos Reis o entendimento do processo educacional e particularmente do projeto de educa o de jovens e adultos do regular noturno das escolas municipais O roteiro desta viagem composto por seis esta es que correspondem a um primeiro entendimento da inten o da pesquisa e caminhos metodol gicos priorizados num segundo e terceiro momento a um passeio hist rico pelas pr ticas da cidade e particularmente da Secretaria Municipal de Educa o durante tr s mandatos do Par
90. adquirido organizando diversos est gios separados uns dos outros por provas graduadas determinando programas que devem desenrolar se cada um durante uma determinada fase e que comportam exerc cios de dificuldade crescente qualificando os indiv duos de acordo com a maneira como percorreram essas s ries FOUCAULT 1989 p 144 A escola disciplinar apostou na rela o docilidade utilidade como meio de desenvolvimento Para Foucault 1979 as institui es disciplinares s o respons veis pela produ o de uma maquinaria de controle que funciona como um microsc pio do comportamento Os valores as leis e as regras sociais conduzem os indiv duos desde o nascimento controlando seu comportamento tatuando seus corpos imprimindo lhes marcas que estabelecem e ou reconhecem diferen as quanto idade sexo religiosidade hierarquia social e outras As atitudes s o enquadradas ao ambiente e mantidas dentro de uma normalidade massificada As cicatrizes mostram o que o corpo v m continuamente aprendendo a obedecer ou desobedecer a reproduzir ou criar diferentes valores usos normas e formas de relacionamento de trabalho de arte e de conhecimento COELHO 1998 A esse respeito Morin num estudo muito relevante sobre os determinismos culturais aponta um caminho complexo de determina es s cio culturais onde persistem v rias intimida es ou press es de pensamento que induzem os indiv duos s verdades absolutas s evid n
91. ai al m do saber de pura experi ncia feito que leva em conta as suas necessidades e o torne instrumento de luta possibilitando lhe transformar se em sujeito de sua pr pria hist ria A participa o popular na cria o da cultura e da educa o rompe com a tradi o de que a elite competente e sabe das necessidades de toda a sociedade FREIRE apud FREITAS 1997 p 33 A discuss o democr tica uma faca de dois gumes no momento que a SME colocou para funcionar um grande esquema de discuss o e participa o abriu espa o tamb m para os questionamentos e posi es divergentes de seus encaminhamentos Diante de muitos embates e propostas ficou uma reivindica o geral um Congresso popular que pudesse deliberar sobre as diretrizes pol ticas e pedag gicas do munic pio Nas minhas lembran as sobre este momento mediada mais pelo cotidiano vivido e pelas pr ticas a exercidas do que por documentos impressos poss vel identificar o quadro sin ptico tomado no percurso dos debates Neste processo foi se acumulando for as necess rias para se realizar em mar o de 1994 ap s grande resist ncia da SME o I Congresso Municipal de Educa o o qual contou com participa o de 262 delegados com direito a voz e voto e 55 observadores com direito a voz sendo delegados os professores da rede municipal O objetivo central deste Congresso foi tra ar diretrizes pol ticas e pedag gicas para a constru o de uma nova escola gar
92. ais e que sujeitos t m sido criados e ou permitidos existir dentro de seus muros Onde queremos chegar e onde estamos chegando PAGE OS CAMINHOS PERCORRIDOS NA ELABORA O DESTE ESTUDO Os pr ximos cap tulos retratam algumas experi ncias e os lugares que ocupei nos ltimos cinco anos assim como o processo hist rico de forma o da cidade de Angra dos Reis e sua administra o pelo Governo do Partido dos Trabalhadores S o leituras reflex es debates viv ncias depoimentos pr ticas e observa es que foram registradas em di rios de acampo fita K 7 fita de v deo e fotografias Todo esse material foi separado e organizado da seguinte maneira Registro escrito e fotogr fico do Projeto do Regular Noturno constru do e implementado entre 1998 e 2001 pela Secretaria Municipal de Educa o SME e escola pesquisada apresenta o das atividades culturais pelos alunos no Teatro Municipal de Angra dos Reis filmagem e fotografias de aulas e oficinas na escola pesquisada reuni es com as escolas do Regular Noturno e SME reuni es pedag gicas na escola pesquisada encontros entre a escola e a comunidade na realidade investigada semin rios de Professores e Alunos do Regular Noturno promovido pela SME e assembl ias de alunos e professores em tr s escolas municipais noturnas Grava o em fita K 7 e fita de v deo de depoimentos de alunos que participaram das atividades da pesquisa gt Registrei ao todo 50
93. al e n o mais holand s o que acarretou mais de 3 000 PAGE desempregos e a desacelera o no setor tur stico Os desajustes sociais observados a partir de ent o provocaram press es ainda maiores por parte da popula o no que se refere ao acesso aos servi os p blicos de responsabilidade do governo municipal e s pol ticas de gera o de novos empregos O fim da ditadura militar e a mobiliza o popular em prol da democratiza o em Angra Os grandes empreendimentos petrol feros nuclear tur stico e naval realizados em Angra dos Reis foram respons veis pela alta taxa de densidade populacional ocorrida na regi o Diante disso grandes e graves problemas sociais precisavam ser enfrentados pelo poder p blico local ocupa o desordenada do solo desorganiza o das comunidades pesqueiras e rurais que se viram expulsas de suas terras desarticula o das atividades econ micas de subsist ncia aumento de demandas por servi os p blicos de infra estrutura desenraizamento e consequentemente quebra da identidade cultural da popula o aumento das oportunidades de emprego neutralizadas pela intensa chegada de migrantes mercado de trabalho inst vel dependente do ritmo de execu o das grandes obras degrada o ambiental aumento do n mero de analfabetos e crian as fora da escola aumento da viol ncia e da pauperiza o das classes populares Diante deste quadro o modelo econ mico defendido pelos militares par
94. alho no Hotel e acho que ganho pouco pelo trabalho que fa o 2 E comum nos relatos a rela o entre o abandono da escola e o envolvimento com o mundo do trabalho S o pessoas das camadas populares ou de fam lias pobres normalmente numerosas e com pais analfabetos ou semi analfabetos uma realidade que se reproduziu nos guetos e periferias das cidades ou no campo onde o trabalho mais penoso e o acesso aos bens produzidos pela humanidade ainda pior Essa realidade levou historicamente diferentes setores da sociedade a exercer press o sobre governos e gestores educacionais em prol da amplia o das ofertas de escolariza o Essa reivindica o produziu uma solu o paliativa para atender aqueles segmentos populares que se afastaram da escola com idades de 07 a 14 anos Desta forma come a a funcionar no pa s o ensino noturno numa reprodu o da escola diurna O que se percebe que as condi es para o seu funcionamento dificilmente atende s necessidades de seus usu rios as escolas n o t m infra estrutura adequada mant m uma temporalidade inadequada curr culo sem significa o para a vida dos educandos e altos ndices de evas o e repet ncia Mediante esta realidade viu proliferarem se no pa s cursos supletivos e modulares com car ter de educa o compensat ria e consequentemente consolida o por parte dos educadores de uma concep o do ensino noturno enquanto problema interferindo diretamen
95. aliza o do poder s o todos objetivos que est o por detr s das PAGE a es estatais orientadas cria o de uma malha de controle t cnico e pol tico que responda sua racionalidade criando novos espa os e fluxos Dentre as redes privilegiadas pelo poder a de transporte ocupa um lugar de destaque Na sua consecu o planifica o e l gica estatal soma se a iniciativa privada basicamente interesses ligados s empresas construtoras que cresceram e atingiram em alguns casos n vel internacional sempre apoiados pelo Estado 1992 p 66 Neste contexto houve um avan o acelerado do setor industrial e um aumento de m o de obra oper ria diminuindo a incid ncia da pesca artesanal e da agricultura de subsist ncia Outra atividade de grande for a econ mica que come a a se estruturar na regi o com a constru o da estrada Rio Santos o turismo Especialistas na rea v o ratificar o grande potencial tur stico presente nas paisagens de Angra dos Reis capaz de atrair investimentos econ micos das grandes redes hoteleiras e construtoras imobili rias Os projetos implementados a partir de ent o n o se configuraram numa iniciativa de dinamiza o econ mica local com valoriza o do patrim nio municipal mas criou suporte para que a usurpa o do espa o virasse um grande mercado com ganhos de determinados setores e graves consegii ncias vida local Foto 04 Espa os tur sticos PAGE O p
96. alunos cursar os oito anos previstos em Lei se assim o desejassem e continuar a receber verbas do FUNDEF Este era sem d vida um grande desafio para a Comiss o Esta proposta foi estruturada tendo como interlocutores al m dos membros da Comiss o os professores das escolas com o projeto do RN e os coordenadores de rea da SME Ap s sua constru o foi amplamente discutida nas reuni es de p lo do RN com os demais professores e em 2000 come ou a ser implantada nas duas escolas com projeto Ap s muitos encontros entre os professores e orientadores das escolas com o projeto do RN construiu se uma proposta de ciclo que congregava o desejo e interesses de todos ao envolvidos com a EJA nestas escolas Nas paginas 157 158 desta tese poss vel conhecer um pouco desta proposta PAGE Foto 15 Reuni es de P lo do Regular Noturno Todo esse processo permitiu compreender melhor as especificidades da EJA e ao mesmo tempo fez com que algumas escolas se sentissem desafiadas a pensar definir um projeto pedag gico adequado a este grupo T nhamos em mente que tal proposta deveria levar em conta que o aluno jovem e adulto via de regra est retornando vida escolar ap s longos per odos de afastamento e poss veis fracassos Da mesma forma era preciso tamb m considerar os motivos que fizeram com que estas pessoas voltassem para a escola em que medida os conhecimentos que o curso oferece est o adequados s necessid
97. anejamento coletivo cada professor elencou um rol de conte dos mais apropriados para se alcan ar os objetivos gerais Este novo fazer trouxe inseguran as dificuldades pois nossa forma o ainda traz os ran os dos moldes tradicionais da academia Fomos formados numa sociedade autorit ria criados no sil ncio estamos acostumados a obedecer s determina es de outras pessoas e em consegii ncia disso n o nos comprometer com os resultados de nossas a es O professor de um modo geral se transformou em um mero executor de m todos estrat gicos propostos por outros profissionais at se reduzir a receita simplificada e de m qualidade do livro did tico Este instrumento de trabalho hegem nico em que se transformou o livro did tico tem presen a decisiva no cotidiano de nossas escolas orientando a pr tica de sala de aula ainda que n o adotado junto aos alunos como livro texto Construir coletivamente o projeto pedag gico para a escola romper com a ditadura do livro did tico e devolv lo a seu lugar pr prio ou seja o de recurso auxiliar de ensino Vimos ent o necessidade de buscar outros referenciais te ricos que sustentassem esta nova proposta e implementar um processo de forma o permanente para os profissionais do Noturno Para tanto realizamos encontros semin rios cursos e oficinas constitu mos a Comiss o do RN e reuni es peri dicas dos P los do RN importante frisar que nestas reuni
98. anifestam como formas sucessivas de uma inten o primordial como tamb m n o t m o aspecto de um resultado Elas aparecem sempre na lea singular do acontecimento 1979 p 28 A op o por este caminho metodol gico colocou me de frente com determinadas regras Para compreender a produ o de corporalidades no interior da escola tive que considerar o ponto de vista de alunos professores funcion rios pais dire o suas vicissitudes sua cultura e suas pr ticas seus medos e tabus suas cren as e perspectivas foi preciso portanto um contato direto com esses sujeitos aprendendo com eles mas tamb m percebendo suas contradi es 13 Ex A x a amo Considero pr ticas corporais segundo a concep o de Foucault 1979 as a es dos corpos que incidem sobre o meio e sobre outros corpos seja direta ou indiretamente PAGE No processo de interven o o pesquisador ao mesmo tempo indutor e receptor de pr ticas ele interfere e sofre interfer ncias da realidade Nesse processo de interfer ncia existe uma conflu ncia de saberes e produ o coletiva de novos conhecimentos Isto me mostra a necessidade de pensar formas de restitui o do que constru do durante a pesquisa formas de socializar os resultados pois o pesquisador n o pode apenas restringir se coleta de informa es sobre a realidade A atitude que adotei foi de incentivar reflex es construir outras pr ticas provocar o debate entre diferen
99. antindo a participa o de todos os professores interessados Muitos Conselhos de Escola ficaram merc da dire o reunindo apenas quando esta solicitava e discutindo apenas as quest es propostas pela mesma algumas decis es eram tomadas sem quorum devido Outros n o funcionaram devidamente por falta de comprometimento de alguns membros Diante de um discurso democr tico contradit rio afirmar que havia uma certa resist ncia da SME em realizar o Congresso No entanto bom lembrar que a a o democr tica um exerc cio constante de ceder e tomar espa o e para muitos grupos que assumem o poder convictos de suas verdades ceder pode ser uma tarefa rdua demais PAGE neste processo Para tanto os temas propostos para a constru o das teses que seriam apreciadas e votadas no Congresso foram revis o da estrutura da SME pol tica de forma o permanente para professores municipais princ pios fundamentais para a reorienta o curricular pol tica de alfabetiza o e pol tica de educa o de jovens e adultos Ao fim do Congresso t nhamos fechado como diretrizes pol tico pedag gicas a democratiza o de gest o a garantia de acesso e a nova qualidade de ensino A forma como o Congresso foi projetado e conduzido se configurou na gota d gua que faltava para os fortes questionamentos acerca da condu o administrativa material e pedag gica da rede municipal de educa o Este movimento levou um novo
100. anto no momento em que o aluno expressou toda sua indigna o e deu vaz o aos seus sentimentos sem se preocupar com a quest o hier rquica entre professor e aluno ele estava reinventando a escola exercendo seu direito voz quebrando o sil ncio imposto pela institui o disciplinar Independente do que foi dito o singular a pot ncia est no gesto no PAGE acontecimento na rea o Penso que a parti destes elementos que ser poss vel repensar e reconstruir uma nova forma de fazer escola No intervalo a auxiliar de dire o me disse que o guarda tinha sugerido que ela suspendesse meu trabalho na escola pois ele havia visto os meninos se agredindo fisicamente e isso era irresponsabilidade da minha parte Fui conversar com ele e na brincadeira questionei sua fala na dire o Perguntei a ele sobre os meninos e ele fugiu do assunto riu disse ter ficado nervoso que eu deveria ter avisado a ele mas que agora estava tudo bem N o teve coragem de mostrar sua indigna o na minha frente e muito menos se referir suspens o devido minha irresponsabilidade Os pap is na escola est o muito bem definidos o professor est num patamar abaixo da dire o considerado por todos os funcion rios uma autoridade que deve ser respeitada merece algumas regalias seu saber inquestion vel Depois do intervalo fui avisada de que a m e de um aluno do teatro estava na escola e gostaria de falar comigo Ela estava muit
101. apassa o sentimento de partilha de comum uni o A capacidade de auto adapta o ao ambiente promove o desenvolvimento de valores e atitudes condizentes com as situa es de vida de cada um Podemos ent o dizer que esta caracter stica de auto organiza o faz com que os sujeitos a partir de seu contato com o mundo construam no es de tempo e espa o criem s mbolos e significados desenvolvam pr ticas que refletem os valores considerados importantes na sociedade Se a competi o um valor incentivado como necess rio sobreviv ncia ele ser incutido e vivenciado em todas as rela es Essa a justificativa naturalizadora do liberalismo para as desigualdades sociais e para o hiper individualismo do nosso mundo globalizado PAGE No pr ximo encontro assistimos a um v deo chamado Quando o crioulo dan a Neste filme aparecem v rias pessoas dando depoimentos sobre experi ncias com a discrimina o e ao mesmo tempo um homem negro que ao som de uma m sica animada dan a nas ruas do Rio de Janeiro medida que o homem dan a provoca diferentes rea es nas pessoas ao seu redor Seduz uma guarda de tr nsito que dan a com ele no meio da rua Provoca medo numa mulher branca que sentada no ponto de nibus pensa que um ladr o Em determinado momento confundido com um louco e no outro com um mendigo Provoca alegria e divertimento nos garotos de rua Ao mesmo tempo a fala de fundo traz tona a quest o do
102. aptarem s exig ncias da forma o formal Os mais jovens com suas roupas diferentes e uma forma pr pria de andar falar e lidar com seu corpo muitas PAGE vezes s o percebidos como uma afronta s normas sociais Mesmo que isso possa parecer a motiva o inicial a tend ncia uniformiza o dos comportamentos juvenis poss vel visualizar sua acomoda o ao espa o e o que poderia motivar um debate mais amplo sobre a posi o e desejos do jovem frente sociedade acaba se tornando apenas modismo Isso vis vel nas cal as baixas nos bermud es nas roupas pretas nos piercing nas tatuagens nas g rias nas saias curtas e decotes no jeito largado de andar nas cores fortes e extravagantes etc Os jovens s o fortes quando est o no grupo s o capazes de questionar reivindicar e bagun ar o coreto mas quando se trata das normas e regras da escola mesmo que muitos n o as respeitem todos as consideram importantes e defendem que a escola deve ser r gida na disciplina J os mais velhos apresentam uma postura mais respons vel e comedida geralmente concebem a vida adulta com seriedade e acabam exacerbando comportamentos da vida do trabalho na escola Estudar e trabalhar s o a es que muitas vezes se correspondem em suas vidas N o incomum uma atitude de reprova o diante de um ambiente mais l dico na sala de aula ou a auto exclus o das festas e comemora es da escola poss vel ouvir nos corred
103. ar Ali s este tamb m foi o comportamento de outros professores antigos da escola Enfim n s a convencemos a participar e para nossa surpresa apesar da vergonha que demonstrava sentir ela se envolveu com a proposta medida que o tempo ia passando e novas atividades eram propostas percebi que aos poucos esta professora come ou a se soltar mais nas reuni es e manifestar com uma certa regularidade suas opini es Sua nova postura chamou a aten o dos outros professores e foi carinhosamente elogiada e bem recebida por todos Uma outra professora novata filha de uma antiga professora da escola e bastante discriminada por possuir um parentesco com o prefeito mantinha se sempre calada n o olhava os outros nos olhos e mesmo nos grupos menores dificilmente interagia Desenvolvia seu trabalho sem se preocupar com o projeto Num certo dia apareceu na reuni o animad ssima dizendo que tinha uma proposta para a noite cultural da escola queria trabalhar teatro m sica e poesia com os alunos e para isso era necess rio estar junto com outros professores Sua proposta foi bastante elogiada e percebi sua auto estima se elevar A partir deste dia houve maior aproxima o dela com outros professores Quando parei para analisar o comportamento de cada professor percebi o quanto cada um havia mudado no processo de discuss o e rela o que desenvolvemos na escola Falar de todos particularmente seria invi vel pois somavam 23 ao todo No entanto go
104. ar al m daquilo que os ouvidos ouvem de sentir al m daquilo que toca a pele e de pensar al m do significado das palavras BOAL 2000 p xiv A dan a e o teatro s o manifesta es art sticas que no mundo atual n o se limitam a convidar o espectador a sonhar mas analisar sua percep o a partir das informa es que ela lhe oferece O p blico convidado a interagir com os artistas e nessa intera o refletir sobre o sentido de ser experimentar sensa es f sicas e psicol gicas capazes de nos tornar receptivos s informa es do meio ambiente Quanto mais esta receptividade for afinada seletiva atenta melhor seremos informados e melhor responderemos s solicita es exteriores seja para acolh las seja para delas nos afastarmos Por outro lado os espectadores n o se contentam mais em apenas prestar homenagem arte ou ao artista eles preferem os trabalhos que permitem o toque o mexer o apertar ou mesmo aqueles onde se pode entrar e participar de alguma maneira A arte hoje faz parte da vida das pessoas encontra se dilu da nas estampas de cadernos e camisetas nas PAGE propagandas da televis o nos shows etc ela estende seus dom nios para o cotidiano e com ele interage desestetizando se dessacralizando se mesmo n o prometendo nada MARQUES 1999 p 24 Neste contexto Boal nos d algumas indica es quanto ao caminho a ser percorrido imposs vel fazer teatro dan a sem o co
105. armos sobre o epis dio Quando eles sa ram expliquei auxiliar de dire o as raz es do teatro e porque n o havia avisado a ela era preciso analisar a rea o tamb m da dire o Ela entendeu a proposta mas me pediu para que na pr xima fosse avisada A dire o da escola constitui o poder maior ela respons vel pela organiza o e administra o deste espa o Todos as pr ticas devem estar de acordo com suas normas e regras ela precisa controlar todas as a es desenvolvidas pelos diferentes atores escolares PAGE Quando isto n o se efetiva h uma desestrutura o um desarranjo na sua administra o o que lhe confere a perda de controle e consegiientemente de poder Os conflitos os embates as lutas culturais e de classe est o presentes na escola e na sociedade s o os poderes estabelecidos na sociedade capitalista que os mant m enclausurados S o os acontecimentos ordin rios prenhes de possibilidades analisadoras que podem num determinado momento proceder a ruptura o dissenso e a constru o do novo Na sala elogiei a atua o dos alunos mas chamei a aten o daqueles que agiram por conta pr pria disse que ramos um grupo e que as inten es deveriam ser colocadas para o grupo tinham autonomia mas nesta situa o particular poderiam ter causado um grande transtorno se eu n o chegasse a tempo de impedir que chamassem a pol cia Um dos alunos me disse que tinha uma irm na escola e que ela havia
106. as escolas do Noturno Duas escolas optaram por implementar o projeto em car ter experimental no ano de 1999 E em 2000 diante dos resultados apresentados uma terceira escola tamb m optou pelo 50 o E Epa ad a projeto Esta pesquisa se lan a a analisar uma dessas experi ncias no que se refere produ o de corporalidades a partir das novas rela es de poder saber corpo institu das O PROJETO PARA ALUNOS JOVENS E ADULTOS UMA TENTATIVA DE HORIZONTALIZAR A RELA O CORPO PODER SABER 47 Alfabetiza o aqui compreendida enquanto processo que atravessa toda a vida dos sujeitos ajudando os a construir uma leitura de mundo e n o apenas enquanto dom nio dos instrumentais b sicos da leitura e da escrita 48 O documento elaborado e aprovado na V Confer ncia Internacional sobre Educa o de Adultos realizada em Hamburgo 18 de julho de 1997 serviu de base para nossas discuss es nele a cidadania ativa est ligada a um processo de educa o ao longo de toda a vida criando condi es para instaurar um desenvolvimento ecologicamente duradouro para promover a democracia a justi a a equidade no tratamento dado aos homens e s mulheres e o desenvolvimento cient fico social e econ mico bem como para a edificar um mundo que viol ncia preferir o di logo e uma cultura da paz fundada sobre a justi a p 01 Esta proposta foi criada na Escola Municipal do Perequ pela prof Mar lia Campos que na poca e
107. as me ajudou a perder um pouco da minha timidez tinham vergonha de falar em sala de aula e agora me sinto mais segura para falar Aluna da 5 s rie antes eu me sentia muito envergonhada de falar me sentia inferior e agora n o converso normalmente com as pessoas fiz novas amizades estou mais solta e segura Aluna da 6 s rie Muitos alunos confirmaram a fala desta aluna dizendo que ela havia mudado bastante Outros falaram da melhora na rela o entre os alunos antes os alunos ficavam restritos sua turma agora n o h tanta diferen a os alunos se misturam mais no intervalo a 8 s rie n o t o distante como antes Aluno da 4 s rie hoje n o percebemos mais diferen a entre os alunos do primeiro segmento e os alunos do segundo segmento todos se falam normalmente Aluno da 7 s rie Todos concordaram que a rela o entre os alunos tinha ficado diferente a escola ficou mais divertida que eles torciam para chegar a quinta e sexta feira para terem aulas de dan a e teatro Essas aulas me ajudou a relacionar melhor com os outros alunos e at na sala de aula hoje falo mais o que penso Aluna da 4 s rie importante a escola proporcionar momentos diferentes de forma a integrar mais os alunos Aluno da 6 s rie o teatro e a dan a deu outra vida pra escola a escola ficou diferente Aluna da 3 s rie Tivemos tamb m alguns alunos que disseram gostar das aulas de dan a por
108. asas e pr dios e gest o urbana privada com infra estrutura constru da pela pr pria empresa IBASE v II 1993 p 26 31 A mec nica de apropria o do solo urbano verificada em Angra dos Reis foi resultante de tr s din micas comunh o entre as pr ticas de produ o econ mica os interesses e disputas entre as diferentes classes sociais e a atua o do governo local que sob press o defendiam os interesses de uma ou outra classe social De qualquer forma podemos dizer que o processo de apropria o do solo urbano sofreu uma mudan a de uso e ocupa o excludente e seletiva Isto porque com as terras privatizadas a popula o nativa n o p de permanecer nos seus lugares de origem nem continuar reproduzindo ali a sua for a de trabalho Da mesma forma a sele o das reas de menor declive pr ximas do mar e das PAGE belas paisagens angrenses com os limites f sicos bem tra ados foi atitude que imp s restri es ao livre acesso s reas urbanizadas Neste contexto percebemos um imbricado movimento de espolia o e segrega o no qual o crescimento econ mico alcan ado por Angra dos Reis reproduziu a l gica de acumula o de capital s custas da pauperiza o da classe trabalhadora Podemos perceber o papel contradit rio que os grandes projetos representaram para o munic pio se de um lado abriu novas frentes de trabalho atraindo m o de obra qualificada ou incentivando sua profissionaliza o por o
109. az de conhecer o fen meno social e encontrar solu es para seus problemas Neste debate a pesquisa passou a ser concebida como processo de constru o de conhecimento a partir de uma rela o constante entre pesquisador e realidade pesquisada Este contexto atravessado PAGE pelos modos de subjetiva o pois a produ o do conhecimento est intimamente ligada a produ o da fala do discurso das imagens dos s mbolos da sensibilidade das pr ticas do desejo e essa produ o adjacente a uma multiplicidade de agenciamentos sociais a uma multiplicidade de processos de produ o maqu nica a uma muta o de universos de valor e hist ricos GUATTARRI 2000 p 32 Essa forma de conceber e produzir pesquisa considera o envolvimento de diferentes posi es olhares concep es e interlocu es que num processo hist rico v o construir consensos e conflitos tecendo a trama cotidiana Assim a pesquisa se corporaliza negociando momentos de falas e sil ncios promovendo o reconhecimento da realidade constituindo se a partir de rela es de cumplicidade e engajamento poss vel dessa forma pensar a pesquisa como processo de forma o hist rica das pessoas e grupos medida que significa o dom nio do conhecimento da realidade que os circunda Pesquisar ent o subentende construir saber Todo saber compreendido como pr tica acontecimento como uma pe a de um dispositivo pol tico se arti
110. bairros Camorim e Monsuaba Este encontro foi realizado nos dias 18 e 19 de setembro com a participa o de 90 dos munic pios da regi o sul fluminense O objetivo era discutir as seguintes tem ticas financiamento para a EJA a forma o dos professores a estrutura para seu funcionamento o curr culo Ficou deliberado neste semin rio que Angra dos Reis faria a sistematiza o do encontro e enviaria a todos os munic pios que este documento fosse discutido em reuni o do F rum EJA Rio que haveria uma articula o com a ANFOPE para discutir no F rum EJA Rio a quest o da forma o de professores da EJA articulada com a proposta de cria o dos Institutos Superiores de Educa o que uma data fosse marcada para discutir as diversas formas de constru o interdisciplinar por ter sido constatada a falta de clareza a este respeito Estas delibera es podem ser consultadas em documento produzido pela coordena o do RN em 1998 e distribu do s escolas com RN da rede municipal de educa o em forma mimeografada PAGE Foto 13 I Encontro Sul Fluminense de Educa o de Jovens e Adultos Em 1999 realizamos o II Encontro de professores e alunos do EJA e MOVA AR com o objetivo de divulgar o trabalho desenvolvido nas duas escolas com projeto ouvir os anseios e expectativas dos alunos e professores quanto ao processo educacional da EJA em Angra e principalmente iniciar uma discuss o sobre a temporalidade da educa o de jove
111. ca e prof cua de guiarmos o povo operariado massas institui es rumo ao socialismo democracia Fomos marcados pela tradi o autorit ria de nosso pa s pela ditadura e seus terrores com o agravo de n o podermos nos abrigar no mando de defesa do long nquo socialismo real ou comunismo como era corriqueiramente conhecido pois assistimos queda ou auto dissolu o daquela forma de organiza o social o que trouxe para o centro de debates a necessidade substantiva da democracia antes muito desqualificada como regime pol tico de sustenta o da burguesia liberal 1998 p 63 64 O discurso da democratiza o era encantador a proposta de autogest o vinha ao encontro dos anseios de todos no entanto o processo para sua consecu o constitu a um PAGE grande n dif cil de desfazer As escolas queriam e apostavam na mudan a mas n o sab am como Muitos inovavam suas pr ticas cotidianas criavam novos movimentos com a comunidade entretanto os limites de nossa forma o tanto acad mica quanto pol tica impediam grandes avan os Da mesma forma as caracter sticas sociais e culturais de diferentes escolas do munic pio muitas vezes se mostraram fortes aliadas das pr ticas tradicionais e grandes obst culos para a inova o Neste sentido as diretrizes apontadas no Congresso desencadearam a es importantes na busca de solu es para o como fazer Quanto Democratiza o da Gest o tive
112. cas das escolas Nele encontramos os direitos e deveres dos diferentes sujeitos escolares O novo regimento foi discutido em 1994 aprovado pelo coletivo em plen rias em 1995 e oficializado pelo Conselho Estadual de Educa o em 1996 PAGE Educa o Ambiental Programa de Orienta o Sexual MOVA Movimento de Alfabetiza o de Adultos Projeto Mem ria Hist ria O Projeto do Regular Noturno foco desta pesquisa nasceu mais tarde decorrente desse processo de discuss es Ainda dentro do Movimento de Reorienta o Curricular os coordenadores das diferentes reas do conhecimento atrav s de suas coordena es deveriam direcionar suas discuss es a partir dos princ pios norteadores citados acima buscando alternativas para a supera o da dissocia o impingida s diferentes disciplinas Neste sentido abandonamos a proposta curricular padr o com caracter sticas arcaicas e autorit rias para priorizar a constru o coletiva dos princ pios e objetivos de cada disciplina tentando identificar os macro conceitos de cada rea do conhecimento valorizar a troca entre os diversos profissionais e campos do saber e considerar como parte de todo o processo a realidade na qual o aluno est inserido O curr culo nesta perspectiva n o se configura um rol de conte dos pr determinados a serem transmitidos mas envolve o conjunto de elementos sociais e hist ricos 2 que interferem no processo de apropria o e pr
113. certo poder sobre este saber o que socialmente se configura em atitudes que se refletem no corpo seja de quem det m o saber seja de quem objeto do mesmo Desta forma estes elementos se articulam o tempo todo criando valores significados modelos e padr es a serem seguidos copiados por todos FOUCAULT 1979 O conceito de corporalidade que adotei n o se restringe constitui o corporal do indiv duo na sua dimens o psicol gica biol gica e social mas tenta empreender um conceito amplo de constru o do sujeito dentro da multiplicidade e heterogeneidade dos processos de produ o de saber de poder de corpo e de subjetividade refletindo se na forma de pensar de movimentar se de posicionar se de relacionar se com o meio de perceber a si e o mundo de criar e construir a vida material Este conceito se distancia do de corporeidade apresentado pela fenomenologia por n o se restringir busca da ess ncia dos sujeitos a partir do que eles pensam sentem ou como agem A corporalidade pretende ir al m da individualidade da no o intimista dos sujeitos nele consideramos o corpo como produ o de pr ticas de poder e saber como tamb m objeto que reflete esta produ o Podemos acrescentar que ela se assemelha ao que Guattari e Rolnik 2000 chamam de subjetividade O Ensino Regular Noturno em Angra dos Reis era ofertado em nove escolas Destas somente duas iniciaram em 1999 o planejamento curricular a partir de um projeto especific
114. cias e certezas imbat veis Qualquer posicionamento de contesta o ou inconformismo combatido com discrimina o e r tulos que induzem ao rid culo ao medo ao bloqueio das rea es espont neas Estes condicionamentos s o trazidos pelas normas que imp e imprinting cultural nos humanos Veja como este autor refor a essa quest o Ora h um imprinting cultural que marca os humanos desde o nascimento com o selo da cultura primeiro familiar e depois escolar e que prossegue na universidade ou no exerc cio da profiss o PAGE O imprinting cultural inscreve se cerebralmente desde a mais tenra inf ncia pela estabiliza o seletiva das sinapses inscri es iniciais que v o marcar irreversivelmente o esp rito individual quanto ao seu modo de conhecer e agir A normaliza o manifesta se de maneira repressiva ou intimidadora ela faz calar os que sentiriam tentados a duvidar ou contestar A normaliza o portanto com os seus subaspectos de conformismos exerce uma preven o contra o desvio e elimina o quando ele se manifesta Ela mant m e imp e a norma sobre o que importante v lido inadmiss vel verdadeiro err neo imbecil perverso Indica os limites que n o podem ser ultrapassados as palavras que n o devem ser ditas os conceitos que devem ser desenhados as teorias a p r de lado A Z apar ncia da verdade absoluta n o sen o o resultado de um conformismo absoluto 1991 p 25 26
115. cio professores e alunos perceberam o quanto sua forma de ser era singular Por se mostrar diferente do padr o de professor com que a escola est acostumada sofreu muitas goza es o que pareceu n o incomod lo Ele entrava nos ambientes da escola e falava com as pessoas parecendo n o notar o preconceito Nas reuni es costumava ficar quieto mas n o numa posi o de submiss o era como se seu trabalho n o dependesse daquelas discuss es Algumas vezes quando se posicionou na reuni o dois professores mais antigos se manifestaram contra sua fala numa atitude de hostilidade isto pareceu n o incomod lo Mas provocava rea es de apoio de outros professores que percebiam o jogo de combate Estava sempre pronto a soltar uma piada ou criar um clima de descontra o Aos poucos medida que fomos introduzindo as atividades corporais e de intera o pude PAGE perceber que o grupo passou a aceit lo Ele foi um dos grandes incentivadores para que os professores participassem da quadrilha na festa junina da escola junto com os alunos Havia tamb m no corpo docente uma professora muito t mida meiga de quem todos gostavam muito Dificilmente ela se manifestava nas reuni es No entanto nos grupos menores mostrava preocupa o e interesse em planejar o trabalho seguindo as diretrizes do projeto Quando iniciamos as atividades de intera o com os professores ela se mostrou t mida calada e algumas vezes resistente em particip
116. ciplina pois era para o bem de todos principalmente deles Os professores podem ir embora mas a gente n o moramos aqui e temos que estudar aqui PAGE V rios alunos deram seu depoimento e endossaram a import ncia daquela discuss o Um deles acrescentou infelizmente foi preciso passar pela situa o da semana passada pra gente acordar para os acontecimentos da escola a gente j deveria estar discutindo isso h mais tempo Sem d vida a dire o sozinha n o d conta de organizar a escola n s precisamos ajudar Fotos 36 Assembl ia com os alunos As seguintes sugest es forma apontadas pelos alunos uma maior articula o entre dire o e gr mio os representantes de turma agirem junto com os alunos da sala no sentido de preservarem o espa o outros momentos de assembl ia para decidir sobre futuros problemas que possam vir a surgir na escola De forma geral percebi que a escola ganhou os alunos como aliados ouvimos seus lamentos e tamb m o reconhecimento de suas falhas assim como o comprometimento com a organiza o da escola Na semana seguinte juntei os alunos de teatro e dan a no 1 tempo e ainda discutimos a mecaniza o do corpo nos espa os da escola o comportamento desejado e esperado Perguntei a todos qual era o espa o dos alunos na escola No in cio todos disseram que era a sala de aula o p tio e a quadra Questionei se eles poderiam fazer o que quisessem neste espa o se ajudavam
117. cola trazendo contradi es pol tico s cio econ micas e culturais em diferentes escalas espa o temporais Os conte dos escolares eram acionados para compreender a realidade in micro seu processo de constitui o e permitir um salto qualitativo no entendimento das quest es macro que permeiam os acontecimentos Este processo se dava da seguinte forma por exemplo uma das tem ticas apontadas pela entrevista na comunidade foi a migra o por um lado a quest o do crescimento desordenado do bairro aumento da viol ncia e desemprego e por gt Fala do professor Ant nio Gouv a na Mesa Redonda Realidade e Conhecimento durante a I Mostra Pedag gica de Angra dos Reis em julho de 1997 Ant nio Gouv a era professor de Ci ncias e Biologia da rede p blica de S o Paulo Prestou assessoria Prefeitura Municipal de S o Paulo na gest o de Luiza Erundina 1989 1992 e assessorou os movimentos de reorienta o curricular dos munic pios de Angra dos Reis Porto Alegre Campinas Chapec Barra Mansa e outros de gest o do partido dos trabalhadores PAGE outro a falta de sentimento de pertencimento a uma terra distante de suas ra zes e a saudade dos familiares que ficaram a partir desta problem tica os professores criaram objetivos gerais a serem atingidos por todos professores e alunos no prazo que variava de um a dois meses e objetivos espec ficos referentes s rea de conhecimento tendo conclu do esta parte do pl
118. como prioridade estudar propostas de EJA de outros estados a fim de subsidiar nossas discuss es em favor de um projeto pr prio para o RN no munic pio Empreendemos tamb m uma ampla discuss o com professores e alunos sobre a seguinte tem tica que escola temos e que escola queremos Algumas escolas a partir dessa discuss o realizaram uma assembl ia geral deliberativa na escola com propostas constru das por alunos e professores a partir dessa assembl ia muitas normas e regras da escola foram revistas Foto 12 Assembl ia com os alunos Em setembro deste mesmo ano realizamos o I Encontro Sul Fluminense de EJA com a inten o de discutir com outros munic pios estrat gias de a o para esta modalidade de 4 p g ensino Outro avan o importante foi a aproxima o dos educadores e educandos do RN com o projeto MOVA As reuni es de P los eram organizadas de acordo a proximidade territorial das escolas Totalizavam tr s P los P lo I E M Nova Perequ E M Frei Bernardo e E M Cacique Cunh bebe situadas nos bairro Nova Perequ e Frade P lo II E M Prefeito Toscano de Brito E M Professora Cleuza Fortes Pinto Jord o E M Mauro S rgio esta escola deixou de participar das discuss es no fim de 1999 por n o ter mais o ensino noturno situada nos bairros Gamboa Japuiba e Promor e as E M Coronel Jo o Pedro de Almeida E M Benedito dos Santos Barbosa e E M Raul Pomp ia situadas nos
119. cos e f rmulas matem ticas supostamente neutros sem envolver a participa o efetiva dos alunos Para Foucault 1997 1989 as escolas eram semelhantes s f bricas procurando eliminar dos corpos os movimentos involunt rios ao mesmo tempo em que produzia induzia a es volunt rias com objetivos racionais definidos regidas pelas normas sociais a servi o da produ o de corpos teis e d ceis PAGE O modelo m dico higienista o escolhido para assumir o comando da purifica o e higieniza o do espa o urbano revitalizado com as novas ind strias e um aumento populacional assustador devido s constantes migra es do homem do campo Este modelo penetra na escola direcionando a educa o dos corpos desenvolvendo h bitos necess rios uma sociedade saud vel Neste discurso pr ticas de controle da sexualidade do contato corporal entre meninos e meninas foram desenvolvidas tendo a Educa o F sica como grande aliada o corpo da sociedade que se torna no decorrer do s c XIX o novo princ pio este corpo que ser preciso proteger de um modo quase m dico em lugar dos rituais atrav s dos quais se restaurava a integridade do corpo do monarca ser o aplicadas receitas terap uticas como a elimina o dos doentes o controle dos contagiosos a exclus o dos delingiientes A elimina o pelo supl cio assim substitu da por m todos de assepsia a criminologia a eugenia a exclus o dos degen
120. cretaria Municipal de Angra dos Reis Rio de Janeiro 2000
121. cula com a estrutura econ mica O saber na perspectiva foucaultiana possibilita construir novas rela es de poder todo saber assegura o exerc cio de um poder Poder capaz de intervir materialmente e atingir a realidade concreta dos sujeitos seu corpo situado ao n vel do corpo social penetrando na vida cotidiana se constituindo num micro poder FOUCAULT 1979 p XID gt Para Guatarri e Rolnik o conceito de subjetividade n o se confunde com o conceito de individualidade Para ele os indiv duos s o o resultado de uma produ o de massa O indiv duo serializado registrado modelado A subjetividade n o pass vel de totaliza o ou de centraliza o no indiv duo Uma coisa a individua o do corpo Outra a multiplicidade dos agenciamentos da subjetiva o a subjetividade essencialmente fabricada e modelada no registro social 2000 p 31 O autor traz importantes contribui es no sentido de nos ajudar a superar aquela vis o intimista a hist rica abstrata natural ligada ao conceito de individualidade para ao contr rio mostrar que a constru o dos sujeitos se d dentro de uma cultura de massa produzindo comportamentos valores normas corpos submissos disciplinados e hierarquizados socialmente PAGE Na articula o entre saber poder concebo a pesquisa n o s como constru o de conhecimento mas tamb m como atitude pol tica o que significa engajar se em mov
122. cuss o mais ampliada sobre a quest o feminina e a institucionaliza o dos comportamentos est o no cerne das atitudes de submiss o Isto passa desapercebido na escola s o corporalidades que se manifestam a todo instante sob o olhar cego do corpo escola Alguns alunos mais jovens que se mostravam t midos calados em sala de aula segundo relato de v rios professores optaram por fazer dan a e surpreendentemente foram aos poucos perdendo a timidez e se envolvendo com a aula Foi vis vel a transforma o de muitos deles No in cio queriam s ficar olhando e aos poucos foram tentando se envolvendo e dan ando Numa noite em que demorei a entrar na sala os alunos ligaram o som e colocaram um ritmo de samba e todos come aram a dan ar Um destes alunos talvez o mais calado e t mido do grupo era um dos que mais sambava sendo elogiado por todos Em pouco tempo outros alunos foram se interessando pela proposta e tive que montar dois hor rios para atender a todos Alguns alunos do primeiro segmento me pediram para fazer os dois hor rios porque gostavam muito Esta liberdade foi dada mediante autoriza o dos professores de sala de aula As aulas tornaram se t o envolventes que muitas vezes perd amos a no o do tempo todos da escola iam embora e fic vamos at s 23h em plena sexta feira Uma destas noites quase fomos trancados na escola pelo vigia que n o percebeu que ainda est vamos na sala Isto demonstrava o envolvimento e o prazer
123. da Ilha Grande num total de 495 de Paraty entraram 86 embarca es A carga descrita cacha a mel a car arroz feij o trigo caf cebola galinhas goma mostra n o s a import ncia das destilarias como tamb m o com rcio de mercadorias com barcos provenientes do PAGE exterior ou de outros lugares do Brasil enviados para o porto do Rio de Janeiro MACHADO s d p 25 Uma grande rede de trilhas caminhos e estradas foram sendo constru das medida que a atividade agr cola se expandia O porto de Angra se tornou o principal escoadouro de caf produzido no sul de Minas Gerais Barra Mansa e Resende Em meados do s c XIX se tornou o segundo maior porto do Brasil Meridional escoando n o s produtos agr colas como tamb m receptando m o de obra escrava procedente da frica e de outras regi es do Brasil Gra as ao caf e ao tr fico pela primeira vez em sua hist ria Angra dos Reis conhece o desenvolvimento urbano Fotos 02 Porto de Angra dos Reis Da antiga denomina o de Par quia dos Santos Reis Magos em 1593 de Vila da Ilha Grande em 1608 e Comarca em 1829 com uma rea que se estendia de Paraty a Itagua incluindo a Ilha Grande e a restinga de Marambaia finalmente em 1835 a antiga povoa o de N S da Concei o foi elevada categoria de cidade de Angra dos Reis REIS 1988 O decl nio O decl nio do territ rio angrense e sua consegiiente marginaliza o vieram em mead
124. dar eu tinha que trabalhar para colocar as coisas dentro de casa eu e minha irm A eu vim para o Rio fui trabalhando depois surgiu um emprego de marinheiro em Santos no litoral de SP o mestre me perguntava se eu sabia fazer as coisas se sabia ler eu dizia que sabia s para conseguir o emprego depois fui perguntando pra pessoas e aprendendo Eu era revoltado porque n o tive inf ncia n o tive a liberdade que hoje muitas pessoas t m meu pai me espancava muito desde de pequeno Por isso sai de casa cedo pra trabalhar sozinho mas amo meu pai apesar de tudo Trabalhando numa lancha cheguei em Angra j faz quatro anos me casei aqui e resolvi ficar Estou gostando trabalho gra as a Deus e tive oportunidade de estudar estou na 5 s rie e pretendo continuar Eu tenho 45 anos e sou do Rio de Janeiro N o tive a oportunidade que os filhos hoje t m de enfrentar o mundo Eu tive que sair cedo para trabalhar e eles n o precisam est o a estudando e os pais fazem tudo pra dar aquilo que eles precisam Antigamente n o era assim Quando eu era menor eu estudei at a terceira s rie porque meu pai disse que filha mulher n o precisava passar da terceira s rie por isso eu estou hoje em dia aqui estudando Meu pai dizia que se filha mulher estudasse mais de terceira s rie estava inventando coisa pra cabe a ia aprontar no col gio Na terceira s rie tirava todo mundo da escola e colocava PAGE pra trabalhar Eu trab
125. de a priva o sensorial a que aparentemente estamos condenados pelos projetos arquitet nicos dos mais modernos edif cios a passividade a anatomia e o cerceamento t ctil que aflige o ambiente urbano Essa car ncia dos sentidos tornou se ainda mais not vel nos tempos modernos em que se privilegiam as sensa es do corpo e a liberdade de movimentos SENNETT 1997 p 15 O munic pio de Angra dos Reis tem sido alvo de muitas pesquisas acad micas dada a sua especificidade geogr fica e administrativa pois foi a nica cidade do Estado do Rio de Janeiro governada pelo Partido dos Trabalhadores PT por tr s mandatos seguidos 1989 a 2000 Este Governo a exemplo de outras experi ncias nacionais implementou uma s rie de medidas de cunho democr tico contrapondo se s a es de administra es anteriores que em seus projetos e medidas optaram por manter e defender a propriedade privada e a apropria o do solo urbano pela elite econ mica A posi o geogr fica do munic pio garante sua valoriza o desde os tempos da coloniza o A privilegiada condi o f sica um territ rio situado entre a Mata Atl ntica e a Ba a da Ilha Grande recortado por centenas de praias e enseadas e a proximidade dos grandes centros urbanos do pa s levaram o munic pio implanta o de uma s rie de empreendimentos que o transformaram radicalmente como a constru o da rodovia Rio Santos que incentivou a implanta o de
126. de de rever as pr ticas que tivemos durante todo o ano de pensar outros desdobramentos e sugerir solu es para os problemas vividos Alguns professores se explicaram dizendo n o ter entendido direito a proposta outros ficaram com medo vergonha de interferir pois tudo parecia t o real e ensaiado que a impress o era de que iria atrapalhar Boal nos diz que quando a situa o n o urgente quando n o se trata de sair do espet culo e agir diretamente sobre a realidade igualmente n o necess rio encontrar uma solu o necess rio busc la 2000 p 327 Talvez a experi ncia de expectador seja muito mais forte do que a de protagonista e este tipo de proposta deixe as pessoas inseguras acerca da melhor forma de agir claro que muitos tinham solu es alternativas para os problemas apresentados entretanto por diferentes motivos assistiram s cenas como fatalidades ou pior como naturais ao espa o escolar e portanto n o provocam incentivo para a interven o e a mudan a Os alunos atores ficaram um pouco decepcionados com a falta de interven o mas ao mesmo tempo euf ricos por terem feito a apresenta o e sido elogiados por todos Na avalia o final dos trabalhos perguntei a eles como tinha sido participar das aulas de dan a e teatro e que influ ncia essas aulas tinham tido na rela o deles com a escola PAGE Muitos alunos se referiram as aulas como possibilidade de vencer a timidez essas aul
127. de estava est nas atividades ditas intelectivas O corpo d cil sempre foi uma prioridade para a escola e da escola Desta forma o sistema educacional instituiu lugares e comportamentos desej veis para todos os sujeitos que participam do cotidiano escolar Aos alunos foi destinado o lugar do ouvinte aquele que destitu do do saber deve receber do professor o conhecimento socialmente importante sua forma o deve submeter se s normas organiza o e hierarquia da escola como condi o b sica de escolariza o Este lugar foi incorporado naturalmente pelos alunos e por toda a sociedade sem considerar o contexto s cio hist rico que o produziu Por outro lado o corpo dos professores diretores orientadores funcion rios e pais tamb m coagido seja pela pol tica educacional mais ampla que imp e programas e burocracias seja pelos chefes imediatos com amea as diante de a es n o compat veis com as ordens estabelecidas seja pela rela o de superioridade justificada pelo cargo ou titula o acad mica Desta forma o corpo na escola tem sido disciplinado modelado controlado silenciado segundo regras e interesses alheios aos seus sujeitos A organiza o desse espa o PAGE estabelece lugares e hor rios para entrar sair brincar trabalhar estudar distrair falar conversar silenciar assim como lugar permitido para alunos para professores para a dire o para funcion rios Enfim o espa o e tempo escolar
128. democr tica quando legitimamos a participa o de outros segmentos nessa discuss o Elizabeth de F tima Bento Secret ria de Educa o no per odo de 1999 e 2000 e professora de Geografia da Rede Municipal de Educa o de Angra dos Reis na apresenta o do caderno s ntese das Delibera es Tem ticas do II Congresso Municipal de Educa o de Angra dos Reis realizado em Mar o de 1999 com distribui o em toda a Rede Municipal em 2000 PAGE Fotos 08 II Congresso Municipal de Educa o Em julho deste mesmo ano a SME realizou o F rum deliberativo de avalia o das escolas do Munic pio de Angra a fim de rediscutir o processo de avalia o da aprendizagem implementado no munic pio a partir das delibera es do I Congresso Municipal de Educa o A avalia o mediante conceitos que visam a analisar o alcance ou n o dos objetivos tra ados pelo professor foi motivo de muitas discuss es e cr ticas de um grupo de profissionais da rede de ensino uma vez que acreditavam que os conceitos previstos S atingiu satisfatoriamente os objetivos P atingiu parcialmente os objetivos e N n o atingiu os objetivos n o eram suficientes para avaliar rigorosamente a aprendizagem do aluno Uns defendiam a cria o de mais conceitos outros defendiam a volta da quantifica o por considerarem esta a nica forma de proceder rigorosamente a avalia o outros defendiam a manuten o dos tr s conceitos Este debate
129. depoimentos de alunos em seis momentos diferentes ap s realiza o de atividades de dan a no refeit rio da escola ap s a apresenta o do aoi ual a E a teatro invis vel na quadra em assembl ia de alunos ap s as atividades da Semana 14 Teatro Invis vel uma t cnica teatral em que os atores simulam uma situa o real num espa o em que os espectadores n o t m o conhecimento de que se trata de uma cena As pessoas manifestam rea es diversas PAGE Cultural realizada na escola no fim do ano 2001 antes de finalizar o trabalho de pesquisa e no ano seguinte ao retornar a escola ap s o fim do projeto pela nova gest o da SME Esses depoimentos foram colhidos no grupo muitas vezes gerando debates entre eles quando as id ias divergiam Foram importantes momentos de an lise do processo de produ o da corporalidade na escola e tamb m da pr pria pesquisa Registro em di rio de campo de depoimentos e falas de professores diretores pais e funcion rios da escola e de minhas pr prias sensa es e percep es de todo o processo gt Foram falas percep es e depoimentos proferidos em reuni es salas de professores corredores no cafezinho ou lanche da tarde ap s as atividades de dan a e teatro na escola em conversa fechada com a dire o na hora do jantar no banco do refeit rio no balc o da secretaria no port o de entrada Enfim nos diferentes espa os da escola em que seus sujeitos se dispu
130. do Governo ou acabar com a proposta Interessante que no ano anterior ela n o havia apresentado esta posi o ent o coordena o do RN A auxiliar de dire o da escola deu a seguinte resposta A LDB garante autonomia s escolas para organizar seu sistema de ensino e a proposta que est sendo desenvolvida na rede fruto de muitas discuss es com professores diretores orientadores e alunos Ela atende s expectativas de todos e n o tem cabimento negarmos todo esse processo somente para facilitar o preenchimento do senso Se o problema a legalidade por que n o mudar no regimento a frase que prende as oficinas ao ciclo desta forma a escola Cacique tamb m poder ter acesso a elas Fala proferida numa das reuni es da escola com a SME A Gerente do Departamento de Ensino da SME disse que isto n o era t o f cil assim e que iam pensar numa solu o Na realidade esta mudan a no texto n o era t o complicada pois o regimento ainda n o havia sido enviado ao Conselho Municipal de Educa o e nem PAGE distribu do por toda a rede de ensino Para a escola esta situa o foi gerada pela intoler ncia pol tica da SME Outro problema apontado pela supervisora era que o projeto tinha sido aprovado pelo Conselho Municipal de Educa o em 1999 mas n o tinha sido publicado portanto n o teria nenhuma validade legal Esta situa o tamb m n o tinha sido apontada no ano anterior por que s agora ela trazia isto
131. dos de outro h fatores com um potencial positivo igualmente forte a forma o de um mercado de trabalho industrial e de servi os o surgimento de sindicatos e de movimentos populares uma retomada de interesse pelo destino do lugar a vinda de profissionais de melhor capacidade profissional a profissionaliza o da popula o existente e uma diversifica o de atividades MACHADO s d p 34 O processo de expans o e ocupa o territorial assumiu tr s diferentes categorias de assentamento as reas urbanas dos distritos os condom nios de veraneio e as vilas residenciais das grandes empresas Na primeira percebemos um processo de periferiza o da rea central com a cria o da Grande Japu ba bairro pr ximo ao centro da cidade e a forma o de bairros considerados secund rios com grande demanda por equipamentos e servi os urbanos o caso dos bairros Perequ Mambucaba Frade Jacuecanga Camorim Monsuaba e outros Os condom nios de veraneio constituem unidades espaciais aut nomas e se localizam numa estreita faixa urbana entre a rodovia BR 101 e o mar espa o antes ocupado por pescadores e agricultores A consegii ncia espacial vis vel desse tipo de assentamento est na privatiza o do litoral angrense e terrenos da Marinha impedindo o acesso livre da popula o s praias As vilas residenciais tamb m acessadas pela BR 101 se caracterizam pela organiza o r gida do espa o constru o padronizada de c
132. dos no caderno de delibera es do I Congresso Municipal de Educa o de Angra dos Reis Impresso pelo servi o de mecanografia da SME e distribu do s Unidades Escolares em abril de 1994 p 12 PAGE Quanto aos princ pios estes tinham o objetivo de fomentar a an lise e reflex o dos educadores da rede municipal sobre a realidade que atuavam a fim de redirecionar as decis es e a es desenvolvidas no interior da escola O objetivo maior era buscar a forma o de homens e mulheres capazes de questionar criticar compreender a realidade onde vivem tendo como perspectiva sua transforma o a partir de a es pensadas No caderno de Delibera es do I Congresso p 16 poss vel encontrar as indica es das fases para a reflex o do curr culo assim como os princ pios 1 Diagn stico da realidade local pedag gica administrativa comunit ria etc garantindo a vis o dos educandos do espa o escolar 2 Sistematiza o e elabora o do dossi da escola Constru o do programa 4 Especifica o das necessidades materiais humanas para a execu o do projeto pedag gico da escola Todo este processo seria garantido pelos seguintes princ pios de trabalhos 1 Trabalho coletivo com participa o da comunidade atrav s do Conselho de Escola 2 Integra o dos conte dos entre si interdisciplinaridade 3 Integra o dos conte dos com a realidade local Caracteriza o S cio Econ mica da Comunidade A
133. duas escolas com projeto pois j haviam iniciado o processo de organiza o por ciclos Esta discuss o gerou muitas pol micas pois a escola estava no seu segundo ano do projeto e era exatamente agora que ir amos discutir a possibilidade do desenvolvimento do ciclo uma vez que a reforma da EJA no munic pio previa a implanta o do projeto e paulatinamente a reorganiza o do tempo escolar deixando de ser seriado para passar a uma organiza o mais flex vel por ciclo Numa reuni o com os coordenadores do RN expliquei a l gica que guiou as discuss es sobre o ciclo do RN A possibilidade de organiza o por ciclo surgiu a partir da discuss es do projeto e n o o contr rio Pensar em ciclo ou seria o e n o perceber toda a discuss o pedag gica antes de se optar pelo ciclo nos leva a correr o risco de apenas mudar a nomenclatura enquanto a pr tica vai permanecer a mesma N o queremos que o ciclo seja uma adequa o s rie este deve vir para facilitar as a es pedag gicas o processo ensino aprendizagem n o apenas para se adequar ao senso do Governo Federal A proposta de ciclo para o noturno foi discutida com todos os envolvidos no projeto do RN previa tr s ciclos de aprendizagem cada um contendo tr s etapas para todo o Ensino Fundamental com tempo m nimo de seis meses para cada etapa Ao fim deste per odo aluno e professores avaliariam a perman ncia ou n o na etapa mediante os objetivos tra ados para cada
134. e Niter i Rio de Janeiro 1999 COELHO Edna Ferreira Rela es aprendizagem e prazer alinhavando novas possibilidades pedag gicas Disserta o Mestrado em Educa o Universidade Metodista de Piracicaba S o Paulo 1998 LOBO Lilia Ferreira Os Infames da Hist ria a institui o das defici ncias no Brasil 1997 2 Vol 407 f Tese Doutorado Departamento de Psicologia da Pontif cia Universidade Cat lica do Rio de Janeiro 1997 PAGE MIRANDA L cia Lobo Produ o de Subjetividades por uma est tica da exist ncia 1996 129 F disserta o Mestrado em Psicologia Pontif cia Universidade Cat lica Rio de Janeiro 1996 PAPINI Rossana M A produ o de uma outra hist ria narrando a mem ria das classes populares Disserta o Mestrado em Educa o Universidade Federal Fluminense Niter i Rio de Janeiro 1998 DOCUMENTOS COELHO Edna Ferreira amp SANTOS Enio Jos Serra Regular Noturno oportunizando a reflex o coletiva na busca de novos caminhos como desafio Caderno impresso pelo servi o de mecanografia da Secretaria Municipal de Angra dos Reis Rio de Janeiro 2000 O ensino regular noturno como alternativa de educa o p blica para os trabalhadores angrenses IN ESCOLA PARTICIPATIVA 12 Anos Revista publicada em comemora o aos 12 anos da Administra o do Partido dos Trabalhadores em Angra dos Reis Rio de Janeiro Ano 1 n 01 Angra dos Reis RJ PMAR SME 2000
135. e competi o e coopera o Esta rela o surgiu n o s para colocar em pauta as expectativas deles quanto s aulas de Educa o F sica mas principalmente para trazer tona os princ pios que t m pautado as rela es entre os diferentes sujeitos e destes com o meio assim como as exig ncias do mercado diante das transforma es do sistema capitalista Para empreender esta discuss o utilizamos dois caminhos primeiro realizamos uma gincana com atividades competitivas e cooperativas ao fim fizemos uma avalia o coletiva dos pontos positivos e negativos Depois assistimos a um filme chamado Jamaica abaixo de Zero que retrata as aventuras de um grupo de quatro negros jamaicanos que resolvem PAGE montar uma equipe para participar da olimp ada de inverno na modalidade corrida de tren A partir dele foram analisadas as atitudes que envolvem um campeonato onde s tem valor quem ganha em primeiro lugar Por outro lado este filme em especial retrata o preconceito tnico dos pa ses desenvolvidos em rela o a um pa s com menor poder aquisitivo e de maioria negra esta quest o tamb m se fez relevante em nosso debate Confrontamos a avalia o da primeira atividade com a segunda discutindo as influ ncias culturais no desenvolvimento das atitudes competitivas e cooperativas e sobre as regras que nos s o impostas e que exigem nossa adapta o para sermos aceitos na sociedade Neste particular veio tona o problema
136. e ensino do munic pio p 01 Idem p 02 PAGE Foto 10 Reuni o com os coordenadores de rea da SME Todo este processo influenciou os diferentes projetos desenvolvidos na rede municipal Entretanto para as reas do conhecimento de 5 a 8 s rie a organiza o curricular via interdisciplinar ainda era um n a ser desatado Muitos avan os foram conseguidos por grupos de reas isoladas e afins como foi o caso da Hist ria e Geografia mas era preciso avan ar a discuss o de forma a ampliar esta a o Neste sentido em 1998 iniciou se um trabalho com assessorias de professores de diferentes Universidades do pa s com o intuito de avan ar de forma unificada na busca de conceitos epistemol gicos norteadores das reas para que a partir deles cheg ssemos a um referencial pedag gico para a rede Todas as reas de conhecimento refletiram com seu assessor algumas quest es relevantes a saber 1 Que correntes filos ficas epistemol gicas v m embasando o pensamento da rea desde sua concep o Caderno intitulado SOP II aprofundando o di logo entre as reas Reproduzido pelo Servi o de Mecanografia da SME e distribu do em toda a rede de ensino no ao de 2000 p 01 PAGE 2 Como se deu a inser o da rea no Ensino Fundamental 3 Quais e como as correntes pedag gicas t m influenciado o ensino da rea 4 Que conceitos b sicos categorias metodologias abordagens fundame
137. e Janeiro 1998 I MOSTRA PEDAG GICA DE ANGRA DOS REIS Anais Angra dos Reis PMAR SME 1997 MOVIMENTO DE REORIENTA O CURRICULAR NOVA QUALIDADE DE ENASINO Relato dos trabalhos realizados em 1997 pelos Coordenadores do 2 segmento e pelos Chefes de Servi os dos Departamentos da Divis o de Educa o Documento n 01 nov 98 Caderno impresso pelo servi o de mecanografia da Secretaria Municipal de Angra dos Reis Rio de Janeiro 1998 NOVA QUALIDADE DE ENSINO MOVIMENTO DE REORIENTA O CURRICULAR escola assumindo os desafios de uma Proposta de Mudan a Documento n 04 fev 97 Caderno impresso pelo servi o de mecanografia da Secretaria Municipal de Angra dos Reis Rio de Janeiro 1997 PAPINI Rossana O Frade Ontem e Hoje Livreto publicado atrav s do Projeto Mem ria Hist ria e impresso pelo servi o de mecanografia da Secretaria Municipal de Angra dos Reis Rio de Janeiro 1998 Mem rias de Japu ba Livreto publicado atrav s do Projeto Mem ria Hist ria e impresso pelo servi o de mecanografia da Secretaria Municipal de Angra dos Reis Rio de Janeiro 1999 REDE MUNICIPAL DE EDUCA O DE ANGRA DOS REIS SOP II aprofundando o di logo entre as reas Caderno impresso pelo servi o de mecanografia da Secretaria Municipal de Angra dos Reis Rio de Janeiro 2000 REDE MUNICIPAL DE EDUCA O DE ANGRA DOS REIS Construindo uma proposta interdisciplinar Caderno impresso pelo servi o de mecanografia da Se
138. e d o o tom aos diferentes contextos e pr ticas cotidianas dos sujeitos Para Foucault 1995 1979 medida que novos sistemas de rela es e esquemas de uso entram em vigor ou seja ap s serem pronunciados assumem outras configura es segundo o lugar que cada um ocupa O processo de reprodu o dos modelos sociais se d mediante um certo n mero de suportes procedimentos e institui es que implementam a es com esta finalidade Neste sentido Angra dos Reis apesar de manter algumas tradi es n o mais aquela cidade do passado presa a moralidade religiosa e representante de um para so terrestre intoc vel e permanente mas um lugar com novos recortes e funcionamentos um espa o apropriado pelos diferentes sujeitos atrav s de a es cada vez mais normatizadas e intencionalizadas um territ rio de todos retomando a no o de espa o banal proposta por Milton Santos 1996 que se configura a partir do trabalho e interven o de todos e ao mesmo tempo um espa o multifacetado N o exagero afirmar que os praticantes das cidades atualizam os sentidos que dormem na intencionalidade das pranchetas e dos projetos de ordena o pol tica e cultural dos territ rios urbanos A cidade deve ser vista como uma organiza o plural e multifacetada Ela um conjunto m ltiplo de a o coletiva elaborada em muitas dimens es plena de significados construtora de identidades e identifica es Num mesmo espa o geogr
139. e tamb m destacar que um veto presidencial ao inciso II do art 2 da Lei 9424 96 excluiu as matr culas de jovens e adultos no Ensino Fundamental dos c lculos para a redistribui o dos recursos vinculados ao FUNDEF Diante disso governos municipais e estaduais foram desestimulados a expandir esse n vel de modalidade de ensino Podemos perceber que esses alunos mais uma vez s o exclu dos do sistema educacional Se por um lado n o puderam estudar devido s condi es de vida que possu am agora que podem n o t m matr cula gratuita garantida Outra quest o que precisa ser discutida a base do curr culo das modalidades supletivas Por se constitu rem num processo de acelera o da aprendizagem n o oferecem condi es efetivas para a continuidade da escolariza o e muitas vezes n o se configuram em instrumentaliza o para o exerc cio pleno da cidadania Isto se d pelo car ter descont nuo das discuss es pelo distanciamento entre conte dos e realidade ou mesmo pela aus ncia de interlocutores no caso da educa o a dist ncia que inviabiliza uma compreens o mais geral da interconex o entre as diferentes realidades ficando a cargo do aluno correr atr s do preju zo 7 Esta discuss o foi apresentada por S rgio Haddad e Maria Clara Di Pierr atrav s do texto Satisfa o das necessidades b sicas de aprendizagem de jovens e adultos no Brasil contribui es para uma avalia o da d cada da Ed
140. ece como produtora de corporalidades pode buscar atrav s de diferentes pr ticas reavaliar as rela es de saber poder corpo presente em seu espa o com vista constru o de novos processos de singulariza o capazes de produzir interven es e estimular a capacidade criativa e inventiva dos diferentes sujeitos escolares No processo de restitui o as hist rias microsc picas m ltiplas singulares que aqui demos visibilidade ao serem relidas pelos sujeitos que participaram do contexto desta pesquisa permitiram perceber a complexidade presente no cotidiano vivido da mesma forma permitir rever a posi o que assumiram no decorrer do projeto Se n o foi poss vel garantir explica es objetivas com o mergulho feito no cotidiano da escola espero ter contribu do para a interpreta o de processos sociais significativos PAGE decorrentes do projeto do RN Compreender os sentidos empreendidos pelo corpo escola aos diferentes espa os e pr ticas escolares decisivo para o estabelecimento de a es coerentes com a necessidade da produ o de novas corporalidades capazes de produzir tanto uma vida coletiva quanto uma vida para si pr prio no campo material e subjetivo neste sentido que a arte de representar a vida na escola que mais que uma representa o uma apresenta o da vida n o no sentido de apenas mostr la mas de torn la presente se apresenta como possibilidade de rever os acontecimentos sob
141. ecula o imobili ria As Comunidades Eclesiais de Base Igreja Cat lica ap iam e fornecem militantes e lideran as O movimento cultural torna se parte importante na organiza o dessas lutas E fundada a se o local do Partido dos Trabalhadores que aglutina parte dos integrantes mais ativos de toda esta efervesc ncia social IBASE v I 1993 p 35 36 Por outro lado o t rmino das grandes obras no munic pio e a diminui o da taxa de crescimento econ mico nacional trouxeram grande insatisfa o aos empres rios locais que ganharam com a diversifica o e aumento do ritmo dos neg cios mas agora come am a perder ou a n o ganhar na mesma propor o de antes Este quadro obrigou este setor a reorganizar seu discurso construindo uma nova composi o social econ mica e pol tica Embora as diferentes entidades populares procurassem relacionar suas lutas com a situa o pol tica que o pa s e a cidade em particular atravessavam diante da ditadura militar denunciando aqueles que dela se favoreceram os empres rios e pol ticos tradicionais conseguiram inverter o discurso da autonomia pol tica em reivindica es manique stas de oposi o entre o municipal e o federal Desta forma foram os empres rios e pol ticos tradicionais que conseguiram articular o car ter contestat rio das diferentes lutas diminuindo seu potencial de amea a uma vez que a autonomia pol tica era um anseio generalizado importante destacar
142. edo Orgs Imagens de Foucault e Deleuze resson ncias nitzschianas Rio de Janeiro DP amp A 2002 PAGE SANTOS Milton SOUZA Maria Ad lia A de SILVEIRA Maria Laura Org Territ rio Globaliza o e Fragmenta o 2 ed S o Paulo Ed HUCITEC 1996 SOARES Carmem L cia Org O corpo e a Hist ria Campinas S o Paulo Autores Associados 2001 REIS Brasil Apontamentos para a hist ria de Angra dos Reis Angra dos Reis Rio de Janeiro Conselho Municipal de Cultura Angra dos Reis 1988 SENNET Richard Carne e Pedra Tradu o de Marcos Aar o Reis Rio de Janeiro Record 1997 TESES E DISSERTA ES BARROS Regina Benevides de Grupo a afirma o de um simulacro 1994 307 f Tese Doutorado em Psicologia Cl nica Pontif cia Universidade Cat lica S o Paulo 1994 BARTONCELLO Rodolfo V O processo de moderniza o e espa o local o caso do munic pio de Angra dos Reis Disserta o Mestrado em Geografia Universidade Federal do Rio de janeiro Rio de Janeiro 1992 CAMPOS Mar lia Lopes Algumas interven es no campo da Educa o Popular em Angra dos Reis a partir das narrativas e mem rias populares Disserta o Mestrado em Educa o Universidade Federal Fluminense Niter i Rio de Janeiro 1997 CARRANO Paulo C sar Rodrigues Angra de tantos reis pr ticas educativas e jovens tran ados da cidade Tese Doutorado em Educa o Universidade Federal Fluminens
143. ela que se fosse embora n o voltaria mais ela ent o disse pra ele ir Desde esse dia ele nunca mais veio pra escola Informa o oral As regras muitas vezes engessam as rela es impedindo que os sujeitos tenham autonomia na busca de solu es para os problemas cotidianos O que se v normalmente nesses embates entre alunos e escola a intoler ncia que pode levar ao abandono da escola Cumprir a disciplina mais importante do que estar na escola e aprender A discuss o sobre o uniforme deu pano pra manga O fato relatado pela aluna suscitou um grande debate acerca da legitimidade dessa pr tica Muitos alunos defendiam a libera o do uniforme ou pelo menos uma maior flexibilidade na cobran a do seu uso uma vez que a maioria dos alunos do noturno trabalha tendo que vir direto do servi o para a O dispositivo uma situa o criada no ambiente da pesquisa com o objetivo de provocar determinados comportamentos falas atitudes que no ambiente cotidiano n o v m a tona Podemos tamb m definir como acontecimentos que fogem a uma determinada normalidade ou expectativa e que permitem vislumbrar a es capazes de revelar as rela es institucionais presentes num determinado espa o Para Lourau 1993 um conjunto de pr ticas planejadas e executadas com vista a provocar uma interven o num determinado espa o Coimbra define dispositivos como um elemento que introduz diversos tipos de contradi es na l gica da
144. em tica relacionando os temas geradores surgidos a partir das falas em seguida constru am se os objetivos gerais a ser atingidos por todos Depois os professores eram divididos por reas de conhecimento ou reas afins para organizar os objetivos espec ficos a sele o dos conte dos as estrat gias de trabalho e os meios de avalia o PAGE Fotos 28 Reuni es pedag gicas bom frisar que toda a rede de ensino de Angra dos Reis em semin rio de avalia o envolvendo professores pais alunos t cnicos e administradores havia optado por uma avalia o do ensino aprendizagem a partir de conceitos que se referem ao alcance ou n o dos objetivos previsto pelo professor No di rio de classe cada professor deveria expor os objetivos previstos para cada aula e n o apenas os conte dos como de praxe Desta forma a avalia o no projeto seguia a nomenclatura oficial da rede municipal de edua o S P e N As aulas iniciaram no m s de mar o e num primeiro momento todo o corpo docente e administrativo do Regular Noturno ficou envolvido com a tarefa de esclarecer aos alunos o novo projeto da escola De um modo geral os alunos se mostraram animados diante da possibilidade de participarem de oficinas que possibilitassem aprender uma atividade capaz de gerar renda como foi o caso das oficinas de artesanato costura trabalhos manuais e edifica es ou mesmo a experi ncia com atividades mais art sticas e culturais A
145. empreendeu um movimento de migra o nunca antes visto na cidade Um grande n mero de trabalhadores tempor rios foi requisitado no processo de instala o das empresas trazendo grandes impactos territoriais haja vista que cada projeto demandava a cria o de canteiros de obras para a instala o desses oper rios Com o fim da obra muitas pessoas que n o tinham condi es financeiras para voltar sua cidade ou que esperavam novas oportunidades de trabalho fixaram resid ncia no munic pio passando a ocupar os bairros perif ricos Para os engenheiros t cnicos e demais funcion rios de n vel superior as empresas garantiram a constru o de vilas oper rias residenciais com toda a infra estrutura necess ria incentivando os a trazerem suas fam lias e fixarem resid ncia no munic pio Entre 1970 e 1980 segundo informa es do IBGE a popula o de Angra aumentou de 40 para 57 mil habitantes Esse contexto instalou um processo de redefini o da vida social cultural geogr fica econ mica e pol tica da regi o uma vez iniciado os grandes projetos dificilmente pode ser revertido o processo de mudan a da composi o profissional social pol tica e das mentalidades que esses projetos representam basicamente porque a entrada de imigrantes e a presen a do maquinismo alteram as rela es sociais e culturais dominantes no lugar hospedeiro Se de um lado problemas de diversos tipos surgiram ou foram PAGE agrava
146. emprego fixo mas d pra se virar alguns trabalhavam como aut nomos Os condom nios e hot is de luxo representavam possibilidade de trabalho oferecendo vagas como caseiro camareiras cozinheiros vigias e outros servi os Fun es muito cobi adas pelos alunos da escola principalmente em poca de temporada pelas gorjetas que recebiam e possibilidade de conhecer gente famosa Outro problema levantado era a falta de op es de lazer no bairro principalmente para a juventude ficando restrita s festas e bailes Funks e aos bares e ruas com os amigos Mas o que consideravam pior era a saudade da terra natal e dos familiares que estavam distantes O trabalho nos condom nios e hot is em poca de temporada afastava os alunos da escola pela necessidade que tinham de dar total assist ncia aos patr es Ficando a cargo dos professores dispens los da presen a e realizar avalia es extras para que n o perdessem o ano letivo Havia uma preocupa o da escola em manter esses alunos estudando e por isso havia todo um processo de identifica o do perfil dos alunos a fim de adequar o trabalho pedag gico s necessidades dos mesmos Quanto ao tempo fora da escola muitos disseram que pararam de estudar para trabalhar outros pelas constantes reprova es outros ainda n o tiveram oportunidade de estudar porque precisavam ajudar os pais Ainda h aqueles que os pais achavam que n o 4 7 Esta situa o ilegal consid
147. endizagem de conte dos A escola possibilita a aquisi o e atitudes ticas Que sentidos a aprendizagem constr i mediante rela es de satisfa o companheirismo e cumplicidade Estas indaga es me levaram a investigar no mestrado em 1996 as conex es fisiol gicas psicol gicas culturais e sociais existentes entre o prazer as rela es com o meio e consigo mesmo e a aprendizagem tentando entender historicamente porque o sistema educacional distanciou estas tr s dimens es significantes da vida no processo ensino aprendizagem O interesse pelo ensino noturno tem feito parte de minha vida desde ent o Em 1998 passei a fazer parte da equipe da Secretaria Municipal de Educa o de Angra dos Reis SME como coordenadora da rea de Educa o F sica Diante do interesse particular com a Educa o de Jovens e Adultos EJA inseri me nas discuss es que a secretaria vinha desenvolvendo desde 1991 sobre o ensino regular noturno RN neste mesmo ano fui convidada para assumir a coordena o deste segmento de ensino Passei a participar dos f runs regulares de EJA na cidade do Rio de Janeiro o que constituiu um importante espa o de interlocu o enriquecedora em minha caminhada No ano de 1999 a comiss o do RN constitu da pela coordena o do RN e tr s representantes de cada uma das nove escolas noturnas iniciou em car ter experimental um novo projeto pol tico pedag gico para alunos jovens e adultos trabalhadores em duas e
148. ensinar aos colegas porque ent o n o aproveit los como oficineiros A escola alegou que esta n o era a inten o do projeto as oficinas eram para os alunos e n o o contr rio al m do mais eles n o possu am manejo de turma o que acabava atrapalhando mais do que ajudando A escola tinha experimentado duas oficinas no ano anterior tendo alunos com professores e n o tinha dado certo N o pod amos tratar as oficinas simplesmente como forma de ocupar um tempo livre do aluno Este era um espa o de aprendizagem que deveria estar em conex o com as discuss es desenvolvidas em sala de aula Era um momento que deveria se constituir em pesquisa cria o e descoberta capaz de conectar a realidade cotidiana com a escola e com a arte possibilitando um novo entendimento de escola e processo ensino aprendizagem Logo este momento n o poderia ser dinamizado apenas pelos alunos era necess rio a presen a e participa o do professor Como no ano anterior a escola n o conseguiu apoio dos empres rios locais para a realiza o das oficinas ficando sem alternativa para preencher a noite de segunda feira Por outro lado a orientadora pedag gica que tanto ajudava a dire o nas atividades com os PAGE alunos nesta noite teve seu contrato rescindido sem substitui o o que dificultou ainda mais o trabalho da dire o Somente no segundo semestre algumas oficinas foram ofertadas pela SME sem no entanto atender s expectativas dos al
149. ente aos jovens e adultos que n o puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracter sticas do alunado seus interesses condi es de vida e de trabalho mediante cursos e exames No momento em que se acredita que o conhecimento foi perdido num tempo que lhe pr prio e precisa ser recuperado na EJA reproduz se a vis o de conhecimento pronto dado preso a uma idade e a uma institui o espec fica n o se aposta na condi o humana permanente de aprender a aprender do ser humano Da mesma forma reproduz a vis o de aluno como t bula rasa onde cabe ao professor escrever os conhecimento Seguindo esse racioc nio quanto mais novo o aluno maior a t bula para ser escrita maior o tempo de escolaridade e maiores os investimentos e quanto mais velho menor a t bula logo n o se pode perder tempo nem recursos oferta se o elementar aumentam se os ndices de alfabetismo e ao mesmo tempo produz se na sociedade a no o de avan o e equaliza o dos direitos humanos Algumas propostas de erradica o do analfabetismo empreendidas pelos governos tratavam da expans o da oferta do Ensino Fundamental de 7 a 14 anos pois seguiam a l gica de que aumentando a escolariza o nessa faixa et ria haveria com o passar do tempo uma diminui o significativa dos jovens e adultos n o escolarizados contando claro com a morte daqueles que hoje encontram se nessa situa o Ser
150. entes vis es sobre o espa o escolar e suas fun es as posi es divergentes a aproxima o com os corpos dos alunos o desafio de horizontalizar a rela o professor aluno colocar em cheque a organiza o do espa o escolar e as rela es que acabamos por privilegiar possibilitaram me profundas experi ncias e a identifica o de processos de singulariza o que n o havia percebido antes Esse processo me mostrou a pot ncia da singularidade existente no ambiente escolar A partir desta realidade a pesquisa foi sendo reestruturada de acordo com os acontecimentos do cotidiano escolar que pouco a pouco alteraram minha compreens o percep o do que vem a ser o corpo na escola a rela o professo aluno o 10 Acontecimentos produzidos individualmente ou em grupo que trazem tona as contradi es na l gica da organiza o social com objetivo de fazer surgir comportamentos atitudes falas etc que de outra forma n o se manifestariam permitindo analisar os processos de institucionaliza o presentes nas rela es que os sujeitos estabelecem ou seja suas determina es COIMBRA 1995a ll Guatarri e Rolnik apresentam o conceito de singularidade em contraposi o ao conceito de individualidade A individualidade seria produzida capitalisticamente dentro da cultura de massa o que significa produzir indiv duos normalizados hierarquizados submissos O processo de singulariza o se oporia a essa m quina de produ o s
151. ento de Reorienta o Curricular da rede municipal realizou um question rio com os alunos a fim de levantar o perfil do aluno do noturno A proposta lan ada para iniciar o planejamento do ensino noturno em 2000 foi partir das respostas dadas a este question rio Pela experi ncia nas outras duas escolas com o projeto a coordena o j sabia que o question rio realizado n o seria suficiente para levantar as quest es norteadoras do planejamento no entanto optamos por deixar a escola experienciar esta realidade para depois sugerirmos outro caminho no caso uma assembl ia com representantes da sociedade local a fim de levantarmos os principais problemas da escola do bairro e da cidade de Angra dos Reis O referido question rio continha perguntas relacionadas com o local de nascimento e de vida atual dos alunos com as atividades que exerciam para sobreviver e se divertir sobre os motivos que os levaram a procurar a escola e suas expectativas em rela o a ela Com as respostas computadas os professores constru ram um dossi e foi a partir dele que se iniciou o processo de planejamento curricular a partir de falas situa es significativas relatadas pelos alunos O planejamento coletivo acontecia seguindo uma certa rotina primeiro analisavam se as falas contidas no dossi e escolhiam se aquelas que eram mais significativas e recorrentes e pudessem gerar discuss es em todas as reas Ap s este momento constru a se uma grande rede t
152. entos Por exemplo os professores chegaram conclus o que o perfil tra ado atrav s de question rio n o foi suficiente para conhecerem e trabalharem a realidade local Ficou como sugest o ent o que no ano seguinte proced ssemos como nas duas outras escolas com o projeto uma PAGE reuni o com representantes da sociedade local e alunos para ouvirmos a respeitos dos problemas mais graves enfrentados pelos moradores do bairro Quanto s oficinas diante dos problemas enfrentados foi apontado que a dire o da escola deveria tentar novamente nas empresas locais conseguir recursos para sua manuten o o que mais uma vez n o surtiu efeito Por outro lado a SME buscava uma forma de ter acesso s verbas do FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador o caminho apontado era criar parcerias com entidades que pudessem garimpar verbas tanto do FNDE quanto do FAT para a manuten o das oficinas Foram pensadas parcerias com a FASE o IBASE e o CEDAC Ao mesmo tempo em que articul vamos isto continuamos as discuss es do projeto entretanto dando um freio na sua amplia o at que fosse resolvida esta quest o Infelizmente n o deu tempo para estabelecermos estas parcerias Este encaminhamento foi apontado nova coordena o da SME pelo Prof nio mas nenhuma medida neste sentido foi tomada Quanto ao hor rio dos professores tivemos que manter a mesma organiza o definida no ano anterior para o ano de 2001 o que continuou i
153. entos ocorridos durante o ano provaram o quanto poss vel se machucar neste espa o Uma das alunas disse que no epis dio do apag o uma das cadeiras jogadas do andar superior caiu bem perto dela mais um pouco teria atingido sua cabe a s vezes fazemos coisas sem pensar s pela zona do momento pela curti o n o medimos as consegii ncias O presidente do gr mio tamb m resolveu dizer o que tinha pensado de tudo isso Disse que no in cio ficou com muita raiva mas depois que conversou comigo e agora na assembl ia percebeu a necessidade de algo tr gico para chamar a aten o de todos Pedi para ele e outros do gr mio que estavam presentes para falar qual a posi o dos representantes dos alunos diante das viol ncias presenciadas na escola e aproveitar para esclarecer a todos qual era a fun o do gr mio na escola Foi dito que o gr mio pode ser uma inst ncia de articula o com os alunos de forma que esses epis dios n o aconte am mais Quando questionados os representantes do gr mio sobre o n o envolvimento na poca com a quest o responderam que em nenhum momento a escola pediu para que eles interviessem perante os alunos Uma outra aluna da 5 s rie levantou e disse que muitas vezes os pr prios alunos do gr mio estavam envolvidos nas badernas da escola falou de sua preocupa o como aluna e m e que a escola n o era lugar de viol ncia nem de drogas e que os alunos deveriam ajudar a manter a dis
154. erados FOUCAULT 1979 p 145 As diferentes institui es v o ser investidas de novos modelos e novas atribui es a fim de formar um novo homem capaz de se adequar nova cidade O sistema educacional que na Idade M dia formava apenas os filhos da aristocracia e que mais tarde se voltava para os filhos da burguesia e senhores de engenho com a nova ordem econ mica e expans o dos espa os p blicos teve que se estender tamb m classe trabalhadora a fim de form la para o mercado de trabalho difundir h bitos saud veis e valores de uma vida regrada Essa escola ser investida de um poder disciplinar capaz de enquadrar modelar e dirigir o comportamento e desejos humanos segundo os preceitos indicados para a sa de p blica e c vica Foucault 1989 p 130 a 133 apresenta a disciplina como uma arte de dispor em fila nela cada sujeito vai se definir a partir do lugar que ocupa e da dist ncia que o mant m separado dos outros sujeitos A individualiza o dos corpos se d a partir da sua distribui o no espa o social cada indiv duo no seu lugar e em cada lugar um individuo e da rede de PAGE rela es a qual estar sujeito A determina o do lugar de cada um tornou poss vel o controle e o trabalho simult neo dos indiv duos Esse o tempo disciplinar que se imp e pouco a pouco pratica pedag gica especializando o tempo de forma o e destacando o do tempo adulto do tempo do oficio
155. eral da escola preparou uma grande festa Colocou no refeit rio mesas e cadeiras destinadas s autoridades e professores da escola ali foi servido v rios tipos de salgadinhos com refrigerante Para os alunos e pais foi montada uma barraca fora da escola com cachorro quente e refrigerante Esta organiza o n o passou desapercebida pelos alunos e demais pessoas da comunidade pois a porta do refeit rio ficou fechada e com uma pessoa respons vel para deixar entrar s quem de direito Uma equipe de som estava no p tio da escola tocando para as pessoas dan arem A impress o geral era caviar para os ricos e mortadela para os pobres Esta atitude surpreendeu alguns professores pois a escola passou por uma grande reforma no governo anterior e foi exig ncia da secret ria de educa o na poca que a festa fosse uma s para autoridades e comunidades Esta era uma marca da democratiza o que tanto discut amos na escola A atitude da dire o geral deixou claro qual era a concep o de mundo que estava presente agora os sujeitos escolares s o diferentes e merecem tratamentos diferenciados nem todos s o os escolhidos e preciso conformar se com isso No dia das crian as a escola resolveu fazer um grande bolo em cada turno para comemorar Foi decidido que o bolo seria cortado na cozinha e levado em bandeja s salas de aula para os alunos e depois seriam dispensados No noturno duas professoras e eu conversamos com a diretora geral
156. erando o car ter p blico do litoral brasileiro Em algumas praias e ou condom nios poss vel visualizar uma pequena passagem para pedestres mas a situa o marginal de muitos destes caminhos demonstram que o livre acesso dificultado ao m ximo em prol da particulariza o do espa o PAGE precisavam estudar Vou descrever alguns relatos por considerar significativos na an lise desses alunos Sou o filho mais velho com sete anos j ajudava no servi o da casa fui bab de seis irm os cozinhava levava comida no mato cortava cana cuidava dos animais ia buscar lenha da agricultura quase tudo eu sei fazer Escola Eu n o tive tempo de ir para a escola Brincar Eu nunca bati um pi o nunca joguei uma bola nunca brinqguei com pipa eu n o tive o privil gio de brincar meu brinquedo era o servi o uma enxada uma foice um machado Com 18 anos sai de Minas Gerais para o Rio foi na poca da ponte Rio Niter i me fizeram muito medo que eu ia morrer da voltei pra casa e fui pra SP Quando perdi meu pai eu voltei pra cuidar de minha m e e meus nove irm os a mais nova ficou com 7 meses de idade Eu fiquei lutando meus irm os foram casando saindo e eu fui ficando Casei com 32 anos de idade tenho um filho mais velho de 15 anos que estuda aqui comigo e uma menina de 13 estou no Frade h 18 anos e foi depois de casado que eu fui ter lazer Fui pra escola com 15 anos estudei at os 17 n o pude ir pra fren
157. eria uma maneira de recusar todos esses modos de encodifica o preestabelecidos todos esses modos de manipula o e de telecomando recus los para construir de certa forma modos de sensibilidade modos de rela o com o outro modos de produ o modos de criatividade que produzam uma subjetividade singular Uma singulariza o existencial que coincida com um desejo com um gosto de viver com uma vontade de construir o mundo no qual nos encontramos com a instaura o de dispositivos para mudar os tipos de sociedade os tipos de valores que n o s o os nossos 2000 p 17 PAGE lugar do aluno do professor da dire o e dos funcion rios o papel do curr culo o projeto pol tico pedag gico a organiza o do espa o escolar e a educa o para jovens e adultos das classes populares Posso dizer que este contexto integrou minhas implica es enquanto educadora Como professora pesquisadora em educa o f sica escolar a quest o do corpo na escola sempre se fez presente em minhas investiga es A op o pela pesquisa interven o se deu na medida em que fui percebendo que ela me oferecia a oportunidade de atuar no mbito da produ o de pr ticas corporais que poderiam constituir se em acontecimentos diferenciadores com grande potencial de an lise Isto me pareceu um ponto fundamental considerando a situa o de subservi ncia utilidade que historicamente o corpo foi submetido nos ambientes escolares cuja priorida
158. es Graal 1985 A verdade e as forma jur dicas Tradu o de Roberto Cabral de Melo Machado e Eduardo Jardim Morais Rio de Janeiro Nau Ed 1999 A vida dos homens infames In O que um autor Portugal Vega Passagem s d Anti dipo uma introdu o vida n o fascista In ESCOBAR C H de Org Dossier Deleuze Rio de Janeiro H lon Editorial 1991 Em defesa da sociedade curso no Coll ge de France 1975 1976 Tradu o de Maria H Galv o S o Paulo Martins Fontes 1999 FREIRE Paulo Sombra desta Mangueira S o Paulo Olho D gua 1995 Educa o como pr tica de liberdade Rio de Janeiro Paz e Terra 1994 PAGE FREITAS J K Gest o Democr tica constru o de um processo para supera o da exclus o In I MOSTRA PEDAGOGICA DE ANGRA DOS REIS Anais Angra dos Reis PMAR SME 1997 p 31 33 GALV O frem de Jesus Neves Romanceiro Mocorongo ou a quase hist ria de Santar m Santar m PA Editora Tiag o 1998 GARCIA Regina Leite M ltiplas linguagens na escola Rio de Janeiro DP amp A 2000 Um livro sobre o corpo In GARCIA Regina Leite Org O corpo que fala dentro da escola Rio de Janeiro DP amp A 2002 GENTILLI Pablo Neoliberalismo e educa o manual do usu rio In SILVA Tomaz T amp GENTILLI Pablo Escola S A Quem ganha e quem perde no mercado educacional do neoliberalismo Bras lia 1996 GOLDMAN Marcio Objetiva o e Subj
159. es que surgem no cotidiano escolar seja entre os professores seja entre professor e aluno seja entre professor e dire o seja entre aluno e dire o e necess rio desenvolver outras estrat gias de trabalho ouvir e considerar sua posi o para que o trabalho pedag gico avance e possa possibilitar a constru o de uma nova escola com um olhar mais atento aos valores e conceitos que est o sendo constru dos sens veis s necessidades e caracter sticas de cada um ajudando os a superar suas dificuldades e ultrapassar as barreiras que possam encontrar sejam sociais culturais pol ticas ou econ micas Acredito que minha participa o como coordenadora do projeto como professora e pesquisadora no cotidiano da escola implicou muitas mudan as na forma de pensar e agir dos sujeitos envolvidos Por outro lado as rela es que estabelecemos foram decisivas para minha tomada de posi o diante da pesquisa assim como influenciaram em grande medida a forma como passei a encarar e me relacionar com o corpo docente e discente de outras institui es de ensino com as quais me vinculei posteriormente PAGE PONTOS DE CHEGADA AS MARCAS DEIXADAS PELAS MARES DE ANGRA DOS REIS N o gostaria que o que eu possa ter dito ou escrito fosse visto como reivindicando qualquer direito totalidade N o tento universalizar o que digo inversamente o que n o digo n o deve por isso ser desqualificado como sendo de nenhuma import ncia M
160. es sem fundamenta o Todas as vezes que a dire o geral tinha d vidas e se dirigia aos professores fazia num primeiro momento de forma hostil e com ar de cobran a e diante da rea o dos professores logo em seguida se justificava dizendo que eram os alunos que estavam reclamando Esta atitude demonstrou por diversas vezes a inseguran a da dire o geral diante da validade e import ncia do projeto Por outro lado os professores do noturno eram os que mais cobravam da dire o um posicionamento diante da desorganiza o administrativa que a escola apresentava As cr ticas PAGE diziam respeito indisciplina dos alunos nos intervalos das aulas falta de material e informa es sobre reuni es ou encaminhamentos dados pela escola ou SME falta de pulso da dire o frente SME aos alunos e professores tomada de posi o mediante press o e a favor daquele que pressiona s decis es arbitr rias sem consultar o grupo alunos e professores forma como se dirige aos professores como se eles estivessem sempre errados falta de envolvimento com as discuss es do noturno s atitudes paternalistas com alunos e comunidade e falta de crit rios para tomar decis es Todas essa cr ticas eram apresentadas auxiliar de dire o que se defendia dizendo ser necess rio faz las a quem de direito Quando a dire o geral aparecia nas reuni es pedag gicas mediante reivindica o dos professores as cr ticas se
161. esquisa feita com a comunidade escolar onde professores e alunos teriam condi es de conhecer melhor a realidade local e a partir dela adquirir habilidades e instrumentos de an lise para compreender a realidade mais amplamente Este processo para ter a significa o pretendida dependia da capacidade dos professores em construir uma rela o interdisciplinar de coopera o e interdepend ncia Caderno com as delibera es e tem ticas do II Congresso Municipal de Educa o de Angra dos Reis distribu do pela SME toda a rede municipal em abril de 1999 p 18 19 Idem p 19 20 PAGE A proposta interdisciplinar que busc vamos desenvolver n o se fechava nos conte dos ou temas transversais mas constituiu se numa pr tica efetiva de di logo sistematizado entre sujeitos detentores de diferentes concep es e saberes sobre objetos significativos e contradit rios da realidade local vivenciada Para n s o di logo interdisciplinar ao fornecer instrumentos anal ticos aos educandos permitiria novas interpreta es da realidade e poss veis a es diferenciadas sobre as quest es abordadas Foto 16 Reuni o pedag gica na Escola Municipal Coronel Jo o Pedro de Almeida Procuramos desenvolver um trabalho que possibilitasse ir al m das disciplinas escolares tomando como refer ncia n o mais os conte dos cl ssicos mas tem ticas sociais presentes nas falas da comunidade que atravessam o cotidiano da es
162. essem criar e se expressar livremente sem medo de censuras al m de suscitar an lises N o tinha a inten o de didatizar a dan a ou o teatro mas utiliz los na forma mais livre e criativa poss vel A iniciativa e a espontaneidade eram valorizadas porque acredito que elas conduzem ao desenvolvimento pessoal e coletivo e rela o com o entorno Numa outra aula com os alunos desenvolvemos diversas atividades com objetivo de identificar os objetos e os colegas atrav s dos diferentes sentidos Quando em determinado momento tiveram que identificar o colega pelo simples toque nas m os e no rosto percebi um certo constrangimento principalmente em tocar o rosto do outro Depois propus um exerc cio em dupla chamado escultura um aluno teria que ser o escultor e o outro a obra de arte ap s o t rmino da escultura o artista deveria desenhar a forma numa folha de papel Muitos alunos tiveram dificuldade em participar da atividade porque n o se sentiam vontade tocando o colega ou sendo observado por ele Diminu a luminosidade da sala para ver se eles se soltavam mais mas n o adiantou Muitos diziam o que era para o outro fazer e ficavam de longe observando e desenhando Um segundo momento da atividade era juntar duplas at montar grupos de seis alunos nos quais eles teriam que decidir uma sequ ncia para PAGE as poses e aprender todas elas para a m sica dar vida cria o em ritmo coreogr fico Alguns alunos participaram animad
163. est o do prefeito Jair Carneiro Toscano de Britto no ano de 1983 Seu nome uma homenagem ao bravo Cacique Cunh bebe que viveu nestes arredores defendendo sua terra e os direitos de sua gente Sua hist ria foi imortalizada na lenda da pedra do Frade lembrada pelos antigos e contada por todas as crian as do bairro Foto 27 Pedra do Frade 75 As informa es para construir este breve hist rico foram tiradas do Projeto Pedag gico do Regular Noturno da Escola Municipal Cacique Cunh bebe constru do por professores orientadores e auxiliar de dire o do ensino noturno em 2000 76 Diz a lenda que um Frade da ordem dos jesu tas veio para estas terras catequizar os ndios e neste processo pacific los para aceitar a coloniza o portuguesa e consegiientemente a invas o de suas terras O Cacique Cunh bebe capturou este Frade levou o para a pedra mais alta do bairro e ofereceu o em sacrif cio para seus deuses devorando o mostrando com este gesto que os ndios n o iam aceitar as invas es dos brancos A pedra que testemunhou o sofrimento do Frade assumiu a sua apar ncia para que todos que ali chegassem pudessem se lembrar do ocorrido e deixassem os ndios em paz PAGE Inicialmente a escola Cacique Cunh bebe funcionava apenas com o Ensino Fundamental diurno somente em 1991 o ensino regular noturno foi implantado atendendo alunos de 5 a 8 s rie Mais tarde os alunos trabalhadores de 1 a 4 s rie tamb
164. est o milim tricamente organizados atendendo a fun o a que se destina Apesar de todo este controle not ria a presen a de comportamentos que questionam a ordem vigente s o processos de viol ncia indisciplina conflitos de inadequa o de revolta de enfrentamento de apatia de fracasso repet ncia ou de evas o A escola se defronta no seu cotidiano com atitudes e situa es inesperadas e muitas vezes indesejadas Neste contexto construir pr ticas que fujam s regras e levantem quest es muitas vezes caladas ou desconsideradas pela escola uma oportunidade de analisar os processos de produ o de significados e comportamentos nesse espa o Em uma atividade de dan a com alguns alunos da escola pesquisada realizada no refeit rio no intervalo para o jantar uma das funcion rias que trabalha na cozinha da escola com certa irrita o e indigna o disse Lutamos muito para ter um lugar amplo para trabalhar e n o acho justo usar o refeit rio para aulas colar cartazes Dan ar na hora da refei o incomoda mexe com a ordem d a impress o de bagun a j estou velha e n o tenho mais a paci ncia de antes Ou o barulho de crian a o dia todo e n o tenho mais idade para essa confus o Se quiser fazer um baile que fa a depois do jantar quando n s terminarmos o servi o e tudo j estiver arrumado Informa o oral Esta atividade tinha a inten o de alegrar e criar um clima de descontra o no i
165. estava junto dos alunos e iria intervir parar a representa o quando fosse necess rio como havia feito por outro lado os alunos envolvidos sabiam que era apenas uma representa o ent o n o teria perigo de acontecer o pior No final da reuni o todos concordaram com a manuten o do trabalho e a realiza o da assembl ia Depois fiquei me perguntando se eu havia exagerado se a situa o n o tinha fugido ao controle se realmente tinha sido irresponsabilidade minha permitir aquela situa o por que os alunos haviam proposto uma situa o de viol ncia e todos quiseram criar sua cena por que os alunos tinham se sentido vitoriosos quando perceberam que tinham enganado a todos inclusive a dire o se eu tinha o direito de mexer com os sentimentos das pessoas como havia feito Diante destes questionamentos percebi o peso que a institui o escola tem sobre mim o quanto sou atravessada pela suas pr ticas ser que eu tinha direito de questionar seu espa o suas rela es Estas d vidas me levaram a refletir a validade desta PAGE pesquisa entrei em crise foi preciso retomar os autores que vinham me acompanhando para tomar novo f lego e voltar escola A pesquisa na perspectiva da an lise institucional prev como situa o de an lise a crisan lise que um tipo de interven o que gera a possibilidade de instituir crises no espa o da pesquisa para que seus grupos possam se apropriar da an lise dos comp
166. este contexto buscou se uma sa da para melhorar o relacionamento entre os professores A sugest o inicial foi manter nas reuni es pedag gicas um trabalho realizado no ano anterior voltado para as rela es interpessoais com din micas de intera o e reflex o no in cio das reuni es Esta proposta foi sendo introduzida aos poucos Inicialmente a orienta o pedag gica e a dire o do noturno ficaram respons veis em pensar as din micas mais apropriadas depois cada professor passou a trazer uma atividade diferente a cada quinta feira PAGE A auxiliar de dire o que al m da forma o em pedagogia tamb m havia feito escola de biodan a conversava muito comigo sobre a possibilidade de fazermos um trabalho corporal com os professores pois sent amos uma certa rigidez f sica um distanciamento que se refletia nas diferentes rela es travadas na escola Discutimos a possibilidade de desenvolver um trabalho corporal com objetivo de confront los com seus medos inseguran as e ao mesmo tempo permitir o aconchego a aproxima o para num segundo momento analisarmos coletivamente esta experi ncia Apresentamos a proposta para o grupo e realizamos uma aula de biodan a antes da reuni o e alguns acontecimentos se mostraram muito reveladores A maioria dos professores sentiu dificuldade de se entregar e interagir na aula Foram comuns o riso as conversas paralelas um certo enrijecimento corporal e constrangimento diante da pr
167. estos precisos que o sujeito deseja realizar num dado momento motor da sua mudan a A express o f sica abre a possibilidade de transforma o dos seus desejos da sua rela o com o mundo e com os outros a express o f sica do desejo espont neo do individuo tal como o vive no momento qualquer que seja sua forma quando ela acontece numa experi ncia de prazer partilhado n o fechar o individuo repetitivamente ao seu desejo antes pelo contr rio ir abri lo a si pr prio e aos outros Ir faz lo aceder ao conjunto os seus desejos e receios reprimidos desenvolver a sua iniciativa a sua capacidade de entender os outros como agentes de satisfa o e n o como obst culo e de estabelecer com eles rela es mutuamente satisfat rias s a p 86 Foto 34 Festa Junina da Escola A proposta do trabalho com os alunos tinha o prazer compartilhado como perspectiva das discuss es de fundo referente s rela es de poder saber corpo no espa o escolar Neste sentido v rios exerc cios eram propostos no sentido de experimentarem as possibilidades de movimento e express o de seu corpo sozinho e em grupo Eram comuns as atividades em dupla ou com grupos maiores pois havia uma barreira a ser vencida que diz respeito presen a e proximidade do outro Tanto nas aulas de teatro quanto nas aulas de dan a t nhamos inicialmente dificuldades que precisavam ser vencidas Os alunos mais jovens costumavam rir dos alunos mais vel
168. etiva o no ltimo Foucault In BRANCO Guilherme Castelo e NEVES Luis Felipe Ba ta Org Michel Foucault da arqueologia do saber a est tica da exist ncia Rio de Janeiro NAU Londrina CEFIL 1998 GOUV A A F G Realidade e Conhecimento In I MOSTRA PEDAG GICA DE ANGRA DOS REIS Anais Angra dos Reis Rio de Janeiro PMAR SME 1997 p 06 08 GUATTARI F lix e ROLNIK Suely Micropol tica Cartografias do Desejo 6 ed Petr polis Rio de Janeiro Vozes 2000 HADDAD S rgio amp DI PIERR Maria Clara Satisfa o das necessidades b sicas de aprendizagem de jovens e adultos no Brasil contribui es para uma avalia o da d cada da Educa o para Todos In I SEMIN RIO NACIONAL SOBRE EDUCA O PARA TODOS Anais Bras lia DF INEP MEC 1999 LOURAU R An lise Institucional e pr ticas de pesquisa Rio de Janeiro UERJ 1993 LOWEN Alexander Prazer uma abordagem criativa da vida 5 ed Tradu o de Ibanez de Carvalho Filho S o Paulo Summus 1984 MARQUES Isabel A Ensino da dan a hoje textos e contextos S o Paulo Cortez 1999 PAGE MARTON Scarlett Extravag ncias ensaios sobre a filosofia de Nitzsche S o Paulo UNDJU 2000 MIRANDA L cia Lobo Subjetividade a des constru o de um conceito In SOUZA Solange Jobim e Org Subjetividade em quest o a inf ncia como critica da cultura Rio de Janeiro 7Letras 2000 MORIN Edgar O m todo IV As Id ias a sua natu
169. etos novos conceitos novas t cnicas e principalmente formas novas de sujeitos e sujeitos de conhecimento Tendo no discurso um forte aliado pois seu jogo estrat gico de a o e rea o de perguntas e respostas de domina o e de esquiva constitui uma pr tica de luta pelo poder Esta disputa estava presente no cotidiano do projeto assim como na escola como um todo Isto era vis vel quando todos os problemas da escola sempre eram computados para o ensino noturno havia tamb m um disputa de poder entres os membros da dire o al m do que o noturno era o nico que bem ou mal desenvolvia um trabalho articulado isto causava um certo ci me e afastamento De certa forma os professores e a auxiliar de dire o do noturno se sentiam desde o ano anterior sozinhos na escola Os professores eram vistos como os mais faltosos brig es irrespons veis e os alunos os mais baderneiros aqueles que destrufam a escola Era comum ouvir voc tem que resolver isso dirigindo se a auxiliar de dire o como se ela fosse a PAGE nica respons vel pelo noturno Todos estes problemas se refletiam nas rela es travadas entre os professores e destes com o corpo t cnico e administrativo da escola Nas reuni es gerais da escola os professores do noturno se posicionavam questionando o comportamento da dire o o seu pouco envolvimento com o noturno e cobrando atitudes mais en rgicas quanto organiza o e disciplina na escola E
170. falei sobre o teatro do oprimido BOAL 2000 explicando suas caracter sticas e objetivos Sugeri montarmos uma pe a dentro desta perspectiva para ser apresentada na feira cultural do fim do ano Todos ficaram animados Como na dan a realiz vamos v rios exerc cios corporais voltados para a experimenta o e viv ncia de diferentes situa es sempre buscando o autoconhecimento e a desenvoltura no espa o coletivo Mais do que na dan a os momentos de an lise e discuss o das atividades eram mais calorosos pois permitiam o reconhecimento das emo es de cada um ao mesmo tempo em que eram convidados a represent las Certa noite levei um texto do Boal sobre desmecaniza o do ator para ser lido e debatido Aproveitei para fazer a rela o do texto com a mecaniza o do corpo nos diferentes espa os da escola Os alunos deram grandes contribui es para o debate mas quando foram solicitados para representar algumas imagens e incorporar determinados personagens criando uma hist ria a partir dele tiveram muitas dificuldades dif cil despirmo nos mudarmos express es gestos falas risos etc para assumir personagens imagens que n o s o bonitos cultos ricos charmosos mais f cil representar aqueles que n s invejamos do que os iguais a n s mesmos ou pior iguais aqueles que preferimos n o considerar Da mesma forma a dificuldade em criar uma hist ria se refere ao costume de receber tudo pronto na escola o processo de cr
171. fico da cidade poss vel encontrar diferentes atores e organiza es atuando simultaneamente CARRANO 1999 p 28 E neste movimento que os sujeitos se constituem que corporalidades s o formadas que conceitos valores e pr ticas s o constru dos Novas rela es com o meio v o sendo Milton Santos apresenta a no o de espa o banal em contraposi o ao espa o em rede Para ele a primeira se refere a todo o espa o e ao espa o de todos ao passo que a no o de rede se refere a apenas uma parte do espa o ao espa o de alguns ou seja o territ rio daquelas formas e normas ao servi o de alguns fazendo refer ncia a uma no o vertical de territ rio 1996 p 16 a 19 PAGE experimentadas testadas e aos poucos surge um novo sentido de homem de mundo de cidade Isto acontece porque s o as rela es que estabelecemos com os corpos de outros sujeitos no espa o que direcionam as rea es que teremos diante dos acontecimentos cotidianos como nos vemos e ouvimos como nos tocamos ou distanciamos dos outros SENNET 1997 p 17 As experi ncias dos corpos na cidade determinam o grau de confiabilidade de autonomia e de seguran a que cada sujeito vai adquirir pois este espa o recortado delimitado organizado e selecionado traz incutido em suas normas e leis os comportamentos desej veis como tamb m as possibilidades criativas de auto sobreviv ncia O espa o organizado busca a rapidez o desloca
172. foi analisar e refletir o curr culo com os educadores da rede municipal a partir do conjunto de pr ticas desenvolvidas no interior da escola olhando criticamente o fazer pedag gico O curr culo neste contexto n o se configura um rol de conte dos cristalizados historicamente Seguindo a concep o de Michael Apple Henry Giroux Roger Simon e Peter Mclaren que fundamentam o caderno com as delibera es do II Congresso Municipal de Educa o compreendemos curr culo como fruto de uma sele o de um recorte realizado a partir de um determinado ponto de vista de classe etnia e g nero Este recorte que fundamenta o que deve estar presente ou ausente no curr culo compreende um movimento processual no qual o grupo escola vai sistematicamente relendo suas concep es e pr ticas passadas e atuais realizando readequando suas proposi es face s necessidades do grupo social a que pretende atender realidade que se apresenta naquele contexto hist rico e s singularidades de cada localidade onde se encontra o equipamento escola Por isso n o podemos compreender o processo de constru o curricular enquanto monop lio dos professores mas enquanto um territ rio que precisa ser alargado incorporando novos atores e novos saberes os usu rios da escola p blica grifo do autor Neste sentido o Projeto do RN como ficou conhecido na rede municipal tinha como caracter stica a organiza o do curr culo a partir de uma p
173. geri que ele buscasse uma gatinha ele disse que preferia dan ar comigo Percebi ent o sua satisfa o em dan ar com a professora os outros alunos o elogiavam e isto pareceu ench lo de um sentimento de auto valoriza o A mesma coisa aconteceu com outra aluna que al m de ser negra baixinha e gordinha Estas caracter sticas me pareceram estar no cerne de sua baixa estima era comum ela se menosprezar diante dos outros colegas ou se fazer de v tima Ao mesmo tempo ela tinha necessidade de ser aceita e admirada mas normalmente era motivo de goza o nos ensaios os meninos n o queriam dan ar com ela No dia da quadrilha chamei um professor de Educa o Art stica do turno diurno que era muito popular entre as meninas para dan ar com ela Ele foi muito carinhoso e a elogiou bastante o que fez sua express o mudar completamente dan ou alegre sorrindo o tempo todo era vis vel sua satisfa o Em muitos momentos nos defrontamos com determinadas atitudes dos alunos que demonstram um certa posi o de vitimiza o neste contexto demonstram um sentimento de inferioridade diante do grupo quando encontram algu m que os valorizam destacam sua PAGE potencialidades e demonstram afeto o apego quase imediato Pag s faz uma reflex o interessante quanto mudan a de comportamento mediante experi ncias de prazer compartilhado A express o f sica espont nea numa experi ncia de prazer partilhado dos g
174. gia por tudo que t nhamos vivenciado Foto 30 ltimo encontro dos professores do RN do ano de 2000 O SEGUNDO ANO DO PROJETO E AS INTERVEN ES DA PESQUISA As pr ticas cotidianas do corpo escola no segundo ano do projeto e a rela o com a SME Como foi previsto no ano anterior muitos professores contratados por tempo determinado n o tiveram seu contrato renovado o que ocasionou uma certa descontinuidade no trabalho desenvolvido pela escola Isto se deu por dois motivos primeiro porque o governo que ganhou as elei es tinha se comprometido em ceder aos vereadores da coaliz o uma cota de contrata o nas diversas secretarias depois da posse e segundo porque em alguns casos os professores j haviam fechado os dois anos previstos para este tipo de contrato n o permitindo a sua renova o As escolas do projeto sofreram muito com esta nova realidade por um lado porque muitos professores sem experi ncia de sala de aula ou com o ensino noturno foram PAGE contratados e lotados nestas escolas e por outro por ter sido os compromissos de elei o assumidos pelos vereadores os crit rios usados para as contrata es o que gerou um grande mal estar entre os professores da rede Percebi logo uma separa o do grupo de um lado os novatos que para muitos s estavam ali mediante acordo eleitoreiro e do outro os professores efetivos indignados com todo o processo e com uma certa hostilidade em rela o aos primeiros
175. gio Haddad faz uma reflex o interessante a este respeito Muitas vezes este argumento tem sido utilizado menos para apoiar programas de EDA Educa o de Adultos e muito mais para esvazia los em nome de um ataque mais efetivo no campo da educa o regular Muitas vezes parece ser uma op o deixar que s as novas gera es aprimorem os indicadores educacionais fazendo com que os que atrasaram em sua escolaridade deixem gradativamente de comparecer nestes indicadores em uma esp cie de genoc dio educacional Esquecem se os gestores das pol ticas educacionais que programas de EDA s o fatores que potencializam a educa o infantil na medida em que criam no contexto familiar e comunit rio uma cultura letrada e de valoriza o da escolariza o ainda fator de desenvolvimento em PAGE outras reas como o da sa de meio ambiente trabalho etc melhorando o contexto de marginalidade em que tais grupos est o inseridos 1997 p 202 Por outro lado embora o Art 4 da LDB 9394 96 tenha reiterado o direito da popula o jovem e adulta ao Ensino Fundamental previsto na Constitui o Federal em seu Art 208 a Emenda 14 aprovada no mesmo per odo alterou a reda o desse ltimo artigo desobrigando jovens e adultos de frequentarem a escola e consequentemente criando a justificativa para que os poderes p blicos tamb m se sintam desobrigados da oferta do Ensino Fundamental gratuito para esse grupo et rio important
176. hos outros por vergonha realizavam alguns exerc cios e se recusavam a fazer outros Muitos queriam primeiro olhar a aula para depois pensar se iam fazer Na realidade PAGE eram duas atividades que provocavam encantamento satisfa o curiosidade mas ao mesmo tempo exigiam um estado de entrega e desenvoltura que abalava a seguran a dos movimentos e comportamentos rotineiros Fotos 35 Aula de Teatro e Dan a Os alunos que se interessaram pela dan a logo na primeira aula queriam saber quais eram os estilos a serem trabalhados a grande motiva o era aprender dan a de sal o Expliquei minha proposta de trabalho e a pesquisa que estava desenvolvendo no doutorado eles concordaram em participar mas queriam saber se era poss vel aprender algum estilo de dan a Mediante as expectativas dos alunos organizei as aulas em dois momentos Um dedicado aos exerc cios de desenvoltura aproxima o percep o e express o corporal com discuss o acerca das dificuldades e avan os em cada aula da ditadura dos gestos PAGE padronizados em todos os espa os inclusive na dan a assim como os diferentes movimentos permitidos ou n o no espa o escolar e suas consegii ncias Num outro momento trabalh vamos aquilo que eles queriam a dan a de sal o No teatro a expectativa dos alunos era montar uma pe a representar para o p blico Da mesma forma como tinha feito com o grupo de dan a expus minha proposta de trabalho e
177. ia o muitas vezes se torna uma dificuldade para o aluno PAGE Percebi que nas aulas de dan a os exerc cios e discuss es realizadas no in cio da aula conseguiam maior participa o pois n o havia cobran a de gestos espec ficos j na segunda parte da aula quando ent o eles iriam aprender alguns passos da dan a de sal o havia um des nimo generalizado Muitos apresentaram dificuldades em aprender os passos e tinham vergonha de demonstrar esta dificuldade preferiam parar e ficar olhando Conversamos sobre a mecaniza o do gesto presente na dan a e as dificuldades do corpo em adotar posturas movimentos diferentes do seu cotidiano Entretanto como isto era importante para eles e a quest o da auto estima estava envolvida uma vez que no bairro a maioria das festas envolvia este tipo de dan a e muitos diziam ter vergonha de dan ar resolvi adotar outras estrat gias para que n o desanimassem de aprender a dan a de sal o Uma situa o esdr xula era a participa o de alguns alunos mais velhos do primeiro segmento da escola tanto no teatro como na dan a Eram senhores e senhoras que n o se importavam com algumas goza es dos mais novos das risadas e da pr pria dificuldade na realiza o das atividades Eles gostavam de estar ali e era costume ao fim da aula me agradecer e dizer que a aula tinha sido muito boa Um desses alunos me confidenciou que seu primeiro casamento tinha fracassado porque ele n o sabia dan ar
178. ia a olhar as atividades poucas vezes se envolveu efetivamente com as propostas e quando organiz vamos o grupo para discutirmos a aula ele nunca se manifestava Neste dia em especial ele pediu que eu lesse seu texto em voz alta percebi o quanto ele tinha a contribuir para nossas discuss es mas se mostrava t mido e temeroso em se expor Seu texto se referia constru o do corpo no meio social foi muito bem elaborada a forma como organizou as id ias parecia ter uma enorme vontade de dizer o PAGE que pensa No texto mostrou se muito magoado e inconformado com a discrimina o que o negro sofre e com o pr prio medo de falar com seu sentimento de inferioridade e o lugar que ele mesmo se colocava mas n o gostaria de estar Demonstrou vontade de ser diferente e de livrar se do medo A escola em grande medida produtora desta situa o quando exclui os alunos da escola quando age mediante as leis e regras determinadas sem considerar as caracter sticas e necessidades dos sujeitos que a comp em quando estabelece que o aluno mesmo adulto precisa ser educado disciplinado mediante padr es que arbitra como necess rios n o permitindo a descoberta o confronto o di logo a manifesta o das diferentes linguagens Nesta mesma semana houve festa junina na escola com a participa o de trinta casais de alunos do noturno Um casal de alunos em particular merece destaque ambos negros Um deles me pediu para ser seu par quando su
179. ia da educa o das classes populares de Angra dos Reis A sociabilidade desenvolvida neste espa o a partir dos princ pios e objetivos tra ados no projeto assim como nesta pesquisa permitiram novas express es do pensar do sentir e do agir do corpo escola que marcaram suas vidas e implicaram a configura o e reconfigura o deste trabalho Contudo percebi uma grande contradi o entre o que se acredita e diz e o que se concretiza na pr tica A hist ria de subjuga o da escola aos anseios e expectativas do mundo do trabalho mant m ran os dif ceis de serem superados A necessidade da produ o do sucesso nos concursos da adequa o aos curr culos dos diferentes n veis escolares da aprendizagem de normas e regras sociais e principalmente a aprendizagem da disciplina como autocontrole e incorpora o de comportamentos socialmente aceit veis mant m os diferentes sujeitos escolares presos a uma trama de rela es de poder dif cil de ser desmanchada No universo da pesquisa pude perceber esta din mica perpassando as diferentes pr ticas N o foi raro os momentos de embate entre alunos escola professores SME contrariando o que Carrano denomina de bases da seriedade racionalidade e autoridade hier rquica t picas de alguns sistemas educacionais Os alunos desejam uma escola mais festiva l dica menos elogiosa da seriedade seria o e mais radical na busca de novos relacionamentos entre o corpo escola A rejei
180. iam responsabilidades com o trabalho logo n o poderiam ser tratados como crian as ou irrespons veis Assim me expressei Est o na escola por conta pr pria eles querem estar aqui da a necessidade de discutir com eles as regras desta escola Se n o querem usar o uniforme devem sugerir outra forma de identifica o Eles precisavam ser colocados como sujeitos do processo de organiza o da escola assim como do ensino aprendizagem No fim decidiram pela realiza o da assembl ia e o resultado foi perman ncia do uniforme Foto 26 Assembl ia com os alunos Estas falas demonstram o quanto a escola tende ao controle dos corpos e dos movimentos dos alunos Em alguns momentos eles s o considerados adultos para resolver e assumir responsabilidades frente escola e em outros s o tratados como crian as que precisam ser educados e disciplinados para desenvolver responsabilidades H uma grande incoer ncia na postura dos professores os alunos do noturno s o diferentes porque n o possuem o mesmo n vel de escolaridade deles entretanto a grande maioria pai de fam lia trabalhador assume fun es na igreja enfim participa da vida produtiva cultural e social da cidade Nisto n o diferem em nada dos professores Os alunos da escola Cacique Cunh bebe n o fogem ao estere tipo criado para Jovens e Adultos do Ensino Fundamental s o alunos das classes populares com sentimentos de perda e exclus o prontos para se ad
181. ico ideal e muitas vezes dissociado da pr xis de educandos marcados por fracassos escolares frequentes pela descontinuidade de sua vida escolar e pela prem ncia de conciliar as figuras do trabalhador e do aluno Caso o porqu educar centre se apenas nessa nsia de doar conhecimentos ent o poderemos tranquilamente culpabilizar nossos alunos por suas dificuldades de aprendizagem pelo seu desinteresse e por fim por sua reprova o Numa s ntese podemos dizer que este ensino como acontece hoje na rede uma c pia reduzida dos conte dos do ensino diurno salvo alguns projetos colocados em pr tica em algumas escolas que atendem ao 1 segmento preciso ent o se pensar em que medida os conhecimentos que o curso oferece adequam se s necessidades e aspira es do alunado e do mesmo modo que novas estruturas relativas a s ries disciplinas e metodologias possibilitariam uma din mica diferente para o aprendizado desses alunos 1994 p 35 36 O ensino noturno nas escolas municipais de Angra dos Reis teve in cio em fevereiro de 1990 A partir de ent o in meros foram os problemas enfrentados pelos professores diretores e orientadores dificuldade de motivar os alunos para as aulas o eterno confronto entre as normas e inten es da escola e as viv ncias e expectativas dos alunos a dificuldade de ingresso e perman ncia nos bancos escolares vagas limitadas para a demanda que se apresentava alunos que
182. idade refletimos sobre os motivos de muitos terem vergonha do movimento das emo es da aproxima o Muitos alunos se envolveram com o debate outros ficaram alheios sem demonstrar interesse Quando disse que tinha um pr mio para o vencedor da gincana a anima o foi geral PAGE Chamei a equipe vencedora e disse considerando os valores de competi o e coopera o trabalhados na gincana sugiro que o pr mio da equipe um saco de chocolate seja repartido segundo o os princ pios da coopera o de forma que todos na sala comam o chocolate Esta sugest o foi recebida com desagrado por alguns alunos da equipe vencedora no entanto houve aqueles que entenderam a proposta e dividiram sem conflito o chocolate Durante toda atividade da noite e at na divis o do pr mio percebi um certo preconceito de alguns meninos em rela o a algumas meninas s queriam dividir o chocolate e fazer atividades em dupla com aquelas que eles escolhessem Pareceu me que o preconceito se referia quest o tnica e est tica No fim conversamos sobre o ocorrido a dificuldade em dividir e o quanto n s criticamos a atitude dos outros mas reproduzimos as mesmas pr ticas guando nos relacionamos com base na competi o perdemos em qualidade de vida Um dos alunos disse professora j temos t o pouco e a senhora ainda quer dividir Talvez a experi ncia da falta da mis ria desenvolva uma atitude de auto sobreviv ncia que ultr
183. imeira regi o conhecida da costa sul de S o Sebasti o nome dado ao Estado do Rio de Janeiro na poca A ocupa o desta regi o obedeceu a motivos estrat gicos pois era necess rio enfrentar as embarca es holandesas francesas e inglesas que comercializavam o pau brasil com os ind genas desafiando o dom nio portugu s Com a chegada dos portugueses regi o angrense segundo os historiadores os habitantes nativos eram os ndios Tamoios ao norte e os Tupinamb s ao sul Os Guaianases que haviam se instalado na Ilha Grande mais conhecidos como os Guaramunis faziam parte da grande fam lia dos tupinamb s apesar de n o falarem o tupi Um dos guerreiros mais conhecidos e destemidos da poca era o cacique Cunh bebe da tribo Guaianeses residente da aldeia Arirab atualmente Arir Os portugueses enfrentaram grande resist ncia destes bravos ndios que aliados lutaram contra a domina o MACHADO s d Cunh bebe foi figura de grande proje o nessa insurrei o contra os colonizadores lusos e s a paci ncia evang lica do Padre Jos de Anchieta conseguiu acalmar os mpetos guerreiros do terr vel morubixaba O c lebre jesu ta convertendo o chefe guaian s ao cristianismo preparou o terreno para a completa catequiza o dos silv colas que habitavam as plagas angrenses REIS 1988 p 13 Com o dom nio portugu s novas perspectivas se abrem A necessidade de exportar produtos e de habitar as regi es com p
184. imentos de revis o interven o e reestrutura o processando uma mudan a rec proca entre pesquisador e realidade O pesquisador querendo ou n o assume decis es que refletem sua posi o concep o de mundo e produz saber segundo determinados interesses Os procedimentos que utiliza a rela o que estabelece com os sujeitos da pesquisa a linguagem e a forma como escreve assim como o compromisso ou n o com a socializa o dos resultados demonstram sua atitude pol tica Transcrever o que se pensa observa ouve instaura um processo de reflex o acerca das pr prias viv ncias dos princ pios valores e pontos de vista possibilitando um novo olhar sobre si mesmo sobre as rela es que se estabelece com o outro e a forma como se age e se coloca diante do mundo A escrita coloca se como instrumento pol tico fundamental de conex o entre o pesquisador pesquisa e os sujeitos realidade ora se apresenta como possibilidade de reflex o e transforma o ora como institucionaliza o e imobiliza o Nesse sentido meu comprometimento pol tico com a a o profissional e as viv ncias constru das com a EJA remeteram me a constantes questionamentos sobre o papel da escola diante da produ o de sujeitos que interagem com o mundo estabelecendo tanto rela es de cria o de humaniza o de emancipa o de tica como de reprodu o competi o destrui o e manipula o Esta preocupa o se deu mais especificamente a par
185. inha obra est situada entre pilares inconclusos e cadeias provis rias de escoras O que eu digo deve ser tomado como proposi es aberturas de jogo ao qual aqueles que podem estar interessados s o convidados a se juntar FOUCAULT 1979 Esta pesquisa se constituiu mais do que num trabalho para a aquisi o de um t tulo de doutoramento mas num espa o de viv ncias e aprendizagens que recomp s o lugar e o contexto onde me criei e formei pois muitas narrativas que ouvi dos alunos se assemelharam a momentos que vivi enquanto adolescente e estudante da mesma forma os comportamentos observados entre os professores me lembraram acontecimentos de minha pr pria vida profissional Estar cotidianamente envolvida com os sujeitos da pesquisa me revelou o processo de constru o de rela es em rede que se estabelecem no dia a dia contudo mostrou nos tamb m nossa incapacidade de acess la na totalidade dos sentidos subjetivos Assim olhar para um projeto pol tico pedag gico que a escola desenvolve procurando compreender as rela es de saber poder corpo que s o agenciadas em seu cotidiano e a produ o de corporalidades decorrentes desta rela o constituiu se num grande desafio pois foi preciso sair de um mundo sob controle para enveredar por um caminho novo e desconhecido Foi preciso enfrentar meus pr prios medos e inseguran as para perceber o quanto a escola necessita de pr ticas ousadas capazes de reinvent l
186. interior dando ensejo organiza o pol tica das classes populares uma vez que os sujeitos sociais que dela participam sistematizam sua pr pria experi ncia Nesse sentido a pr tica pedag gica associa a o da Secretaria Municipal de Educa o o saber pr prio e insubstitu vel dos usu rios dos servi os educacionais e desse modo torna se indispens vel seus participantes no planejamento na execu o e na gest o do processo pedag gico 20 LEI n 481 L de 05 de dezembro de 1995 Disp e sobre a realiza o de elei es diretas das escolas p blicas nos termos do art 239 par grafo 2 da lei Org nica Constitui o do Estado do Rio de Janeiro e d outras provid ncias PAGE O princ pio da Gest o Democr tica foi assumido tamb m na gest o do Departamento de Ensino DE da Secretaria Municipal de Educa o Em circular n 072 92 distribu da a todas as Unidades de Ensino a diretora do DE informou que para garantir o funcionamento do Projeto Educacional era imprescind vel empreender uma administra o participativa na qual os profissionais pudessem realizar um trabalho cooperativo e integrado participando na fixa o dos objetivos no processo decis rio e na escolha dos meios de a o Deste modo colocou para aprecia o dos profissionais de educa o as informa es das discuss es coletivas sobre Gest o Democr tica dos servi os que comp em o DE pedindo que as escolas discutissem a prop
187. iola mas acabou participando Na aula ele ria e brincava muito quando era preciso olhar no olho do outro ele se esquivava e soltava uma piadinha Nos corredores estava sempre sacaneando algu m Conversamos muito sobre este comportamento sobre os preconceitos e medos que possu a a necessidade de rever seus conceitos sobre seu pr prio corpo para lidar com o corpo do aluno nas aulas indiquei alguns textos para ele ler sobre a quest o corporal e a forma o de subjetividades Passamos a pensar juntos as aulas de educa o f sica e de certa forma algumas das discuss es previstas pela minha pesquisa ele realizou com seus alunos Quando comecei as aulas de dan a e teatro este professor percebeu que uma boa parte dos alunos se interessaram PAGE por participar Os coment rios feitos nos intervalos geravam curiosidades nos demais alunos que se agrupavam na porta ou entravam na sala somente para observar muitos pediram para serem liberados da aula na quadra para participar das minhas aulas Numa noite que chovia muito a orientadora pedag gica tinha um question rio para aplicar nas turmas e pediu um espa o das aulas Como vieram poucos alunos o Professor W sugeriu juntarmos todos os alunos de 6 e 8 s rie para fazermos um grande aul o conversamos com o professor Z que tamb m dava aula para estas turmas e ficou combinado que no primeiro tempo eu faria uma aula com os princ pios previstos pela minha pesquisa e eles
188. ios da popula o angrense por melhores condi es de vida com um dado novo a participa o popular nas decis es da administra o p blica Um governo democr tico participativo desprivatizado no n vel local e com car ter p blico e coletivo PAGE ampliado foi a alternativa proposta para o enfrentamento das quest es que tanto afligiam a popula o Tal plataforma era num certo sentido aceita por todos Por outro lado os candidatos que representavam a classe empresarial local mantiveram um discurso economicista de desenvolvimento a partir de atua es decisivas da prefeitura o que durante a campanha levou a acusa es m tuas e cr ticas administra o anterior Esses candidatos n o conseguiram perceber que diante do fracasso da pol tica nacional era imposs vel veicular os interesses de sua classe por meio de tal proposta uma vez que a popula o n o acreditava mais na capacidade dos representantes pol ticos e do pr prio Estado encontrarem solu es para a grave crise socioecon mica Outro fator importante a se destacar foi o fortalecimento da sociedade civil organizada a partir das a es de oposi o administra o local o que levou a uma quebra da hegemonia clientelista entre governo e popula o carente dificultando a compra de votos IBASE v I 1993 p 43 O novo prefeito de Angra dos Reis ser o primeiro gestor dos tr s mandatos consecutivos do PT no munic pio Inicia se com ele uma s rie de
189. is N o tem como o peixe escapar Ainda tem os pescadores que usam artif cios para afundar ainda mais o arrast o utilizando pesos como pneus Assim o arrast o pega tudo o que v pela frente Gostaria muito que mudasse imediatamente o uso do arrast o Isso est acabando com tudo S as autoridades para dar jeito nisso PAPINI 1997 p 10 17 Com a estrada Rio Santos veio a valoriza o das terras e os investimentos imobili rios que geraram v rios condom nios em toda a sua extens o Pr ximo ao bairro do Frade foram constru dos dois grandes condom nios de luxo o condom nio do Bracu e o condom nio do do Ensino Fundamental da Escola Cacique Cunh bebe envolvendo os moradores mais antigos do bairro atrav s de entrevista fotografias e observa es O referido trecho pode ser encontrado nas p 26 28 PAGE Frade este ltimo com um hotel de fama internacional Muitos moradores trabalham nestes condom nios como caseiros marinheiros porteiros bab s vigias camareiras cozinheiros etc Foto 25 Condom nio do Frade Estar pr ximo vida de luxo mexe com o imagin rio de muitos e as condi es de trabalho que possuem muitas vezes representa o ideal de vida que desejam manter Por outro lado l os alunos ficam de frente com a sua pr pria realidade n o incomum reproduzir um sentimento de incapacidade e falta de perspectiva quanto ao alcance de bens materiais e uma situa o s
190. is como Cria o dos Conselhos Municipais de Cultura Educa o Sa de Urbanismo e Meio Ambiente etc a elabora o do Plano Diretor do munic pio que apresentou resultados importantes em diversos n veis como a participa o popular no planejamento e gest o das diretrizes municipais desprivatiza o das praias maior possibilidade de preserva o do meio ambiente regulariza o fundi ria a cria o do Conselho de Or amento onde s o eleitos os representantes das diversas localidades que atrav s de processos participativos decidem coletivamente as obras priorit rias da Prefeitura ano a ano etc PAPINI 1998 p 60 O primeiro suporte das inten es democr ticas do novo governo foi a elabora o do Plano Diretor do Munic pio em 1989 com assessoria da Coordena o dos Programas de P s Gradua o de Engenharia COPPE da Universidade Federal do Rio de Janeiro e a PAGE participa o das associa es de moradores e outras representa es da sociedade civil Os objetivos gerais do plano foram disciplinar a ocupa o do solo conter a especula o de terras e evitar a degrada o ambiental Os empres rios propriet rios de terras e ligados aos setores imobili rio e tur stico sentindo se amea ados com a nova pol tica buscaram perante os vereadores mais conservadores apoio para a n o aprova o do mesmo a partir da alega o de n o incentivo ao desenvolvimento econ mico por prejudicar os investi
191. iscuss o pra mim priorit ria Professora F Todas estas falas mostram o grau de liberdade e autonomia do grupo em dizer o que pensa e decidir seu pr prio caminho Os princ pios democr ticos previstos no trabalho criaram um compromisso com o que se considera melhor para o coletivo A rela o interpessoal na escola n o das melhores isto por muitos momentos emperrou o trabalho No entanto n o houve disponibilidade do grupo em abrir m o de um caminho j tra ado para resolver esta quest o A falta de tempo e a urg ncia com que as quest es aparecem no cotidiano escolar urgindo por solu o fazem com que o corpo escola priorize as quest es mais pr ticas e funcionais O grupo resolveu manter as reuni es semanais e discutir de que forma era poss vel rever o projeto e torn lo vi vel pela SME sem perder seus princ pios e caracter sticas b sicas Desta forma me parece que n o sobra tempo para as atividades voltadas para o cuidado a ditadura do trabalho se imp e em nossas rela es O grande desafio para o ser humano combinar trabalho com cuidado Eles n o se op em mas se comp em Limitam se mutuamente e ao mesmo tempo se complementam Juntos constituem a integralidade da experi ncia humana por um lado ligada materialidade e por outro espiritualidade O equ voco consiste em opor uma dimens o outra e n o v la como modos de ser do nico e mesmo ser humano Desde a antiguidade assistimos a um drama
192. ito parte das discuss es do RN no ano anterior pois somente em 2000 foram lotados na escola Alguns deles n o eram professores efetivos mas contratados por tempo determinado esta situa o j havia sido discutida como n o ideal uma vez que os professores levavam um tempo para entender e se adaptar ao projeto e quando isso acontecia havia uma troca da equipe perdendo muitas vezes a qualidade do trabalho e a mem ria de todo o processo Entretanto esta era uma situa o dif cil de ser alterada diante da estrutura de lota o e contrata o da SME o que fazia com que de dois em dois anos tiv ssemos uma troca de professores nas escolas quebrando seu ritmo de trabalho PAGE O ano de 2000 se configurou num grande aprendizado por parte de todos Est vamos lidando com uma realidade diferente e com um grupo de profissionais altamente envolvidos com a quest o do noturno muitos j acompanhavam a discuss o na rede h algum tempo outros j haviam trabalhado no noturno e conheciam bem sua realidade assumindo o projeto sem resist ncia N o houve problemas quanto intera o do grupo pois apresentavam uma disposi o geral para o aprender Como coordena o geral do projeto o prof nio Serra e eu est vamos presentes em todas as reuni es pedag gicas orientando sugerindo e tamb m aprendendo medida que os professores iam tomando ci ncia do projeto e entendendo melhor sua din mica traziam sugest es e encaminhamento
193. itua o tudo menos liberdade Esses s o os vagabundos BAUMMAN 1999 p 100 101 Vagabundos e turistas coexistem no mesmo espa o como consumidores de emo es e colecionadores de experi ncias os valores e ideal de vida s o os do turista que ambos desejam No entanto os vagabundos s o consumidores frustrados pois n o possuem recursos nem potencial para se igualarem aos turistas tornam se ao mesmo tempo sustent culo e amea a para estes pois sua simples presen a deixa s claras o outro lado da vida a realidade nua e crua do verso da moeda Os dois modos de vida produzem duas concep es bem distintas do mundo e de suas afli es consequentemente formas diferentes de lidar com a realidade tamb m s o constru das mediante as experi ncias de vida de cada um De um lado constroem se ideologias reproduzidas institucionalmente e de outro as a es dos habitantes locais que muitas vezes aproveitam as brechas dos ventos pol ticos e com suas reivindica es e suas diferen as possibilitam o tecer de novas rela es que fogem ao controle criam micropoderes que no dia a dia avan am ganhando espa o e subvertendo a ordem globalizante Neste contexto est o nossos alunos jovens e adultos por um lado presos a uma estrutura socioecon mica que limita e muitas vezes impede as inter rela es e por outro criando e recriando novas formas de co existir OS CORPOS INDESEJ VEIS DOS ALUNOS JOVENS E ADULTOS E comum ouvir as
194. ivro Mem rias de Japuiba editado pela Secretaria Municipal de Educa o e organizado pela professora Rossana Maria Papini poss vel encontrar a hist ria deste bairro de Angra contada segundo as falas dos moradores Uma das passagens do livro diz o seguinte Uma peculiaridade que chama aten o na Japu ba o fato das ruas terem nomes dos munic pios do Rio de Janeiro Isto aconteceu a partir de 1983 quando os moradores reivindicaram CERJ a ilumina o p blica para o bairro e n o puderam ser atendidos porque as ruas n o possu am nomes definidos e eram Rossana Papini professora da disciplina Hist ria do munic pio desde 1993 e na poca da publica o do livro estava na coordena o dos professores de Historia pela Secretaria de Educa o SME Quando este livro Mem rias de Japu ba 1999 foi lan ado o projeto j havia viabilizado a produ o de outros sete livros de outras localidades do munic pio Essas publica es fizeram parte das a es do Projeto da SME Mem ria Historia desenvolvido pela mesma Este projeto tinha como objetivo re construir a identidade cultural e preservar o patrim nio hist rico de nossas comunidades ampliando o espa o para o exerc cio da cidadania e democratiza o dos saberes e mem rias coletivas O trecho em destaque foi retirado da p 21 PAGE comumente chamadas pelos nomes dos moradores como por exemplo a Rua Cabo Frio antigamente conhecida como R
195. l deres para o governo sem entretanto uma a o efetiva para formar novas lideran as PAGE discuss es que o fundamentavam o que dificultou em grande medida a rela o das escolas com projeto com a nova coordena o e a SME Era poss vel perceber uma resist ncia velada dos novos membros da secretaria em rela o s pessoas que criaram defenderam e conheciam o projeto em sua ess ncia esta resist ncia sem d vida tinha uma raz o partid ria mas tamb m uma raz o profissional Era dif cil para este grupo admitir sua ignor ncia em rela o ao servi o que estavam coordenando da mesma forma que n o possu am argumentos significativos para convencer as escolas de que o projeto n o era adequado Durante todo o ano fomos assombrados com a possibilidade de t rmino do projeto do RN e da organiza o das escolas por Ciclos as duas primeiras escolas pilotos a experimentarem o projeto no ano de 2000 iniciaram a organiza o de seu tempo atrav s de ciclos Ao todo eram tr s ciclos para todo o Ensino Fundamental A grande inova o neste projeto era que os alunos do noturno poderiam entrar em qualquer m s do semestre sem configurar reprova o por faltas ou defasados nos conte dos que perdeu nos meses anteriores A l gica que segu amos era do planejamento interdisciplinar com possibilidade de uma noite por semana ter aulas de refor o se fosse preciso Ao fim de cada tr s meses os alunos eram avaliados mediante um relat ri
196. l ticos n o estavam apenas na origem social do mesmo mas nos princ pios que fundamentavam suas propostas e reivindica es Esse movimento foi de extrema import ncia para a consolida o do partido no munic pio e sua aceitabilidade quatro anos depois na nova elei o para prefeito O governo que se estabelece a partir de ent o n o consegue responder s expectativas da popula o por que seus interesses e a es administrativas estavam comprometidas com a classe empresarial e com o modelo econ mico vigente A autonomia defendida pelos setores conservadores estava apenas no plano formal do direito ao voto direto para os representantes pol ticos n o havia uma inten o clara de mudar a l gica de ocupa o e explora o do solo urbano como ficou comprovado no Plano Diretor 8 Consta que Jo o Luiz Gibrail Rocha integrou o grupo de empres rios e pol ticos que pediram em 1969 a interven o federal ao ent o comandante do Col gio Naval Capit o de Mar e Guerra Jos Cavalcante Aranda PAGE O Plano Diretor como principal instrumento de pol tica urbana pode ser usado para homogeneizar atrav s do pensamento t cnico as forma de uso e gest o do espa o urbano Diante das diversidades que caracterizam as diferentes cidades brasileiras se a gest o local apresenta se com pouca autonomia pol tica e t cnica no que se refere administra o do espa o urbano fatalmente se render s press es externas que igno
197. lar quero destacar a contribui o das reuni es de coordena o de cada rea do conhecimento realizada bimestralmente pelos coordenadores de rea da SME assim como os encontros municipais voltados para o Movimento de Reorienta o Curricular Estes encontros agiam como suporte nas discuss es espec ficas do planejamento do Projeto do RN pois ao buscar uma reestrutura o curricular a partir da interdisciplinaridade possibilitaram aos professores perceberem que essa perspectiva era poss vel n o mediante os conte dos previstos socialmente para cada disciplina s rie mas a partir de conceitos macros ou seja conceitos que atravessam todas as reas de conhecimento e que agem como integradores das diferentes a es Infelizmente quando em 2000 conseguimos definir os conceitos macros relacionando os com os conceitos espec ficos de cada rea o processo de discuss o parou devido mudan a do governo municipal e reestrutura o dos servi os coordenadores e diretores da SME que trouxeram outras perspectivas de trabalho O fim desta discuss o pela coordena o de rea impediu um maior amadurecimento da proposta o que refletiu significativamente no andamento do projeto do RN em 2001 pois os professores novatos PAGE n o tinham como se apoderar desta discuss o ao mesmo tempo em que os professores mais antigos tinham ainda muitas d vidas quanto ao seu encaminhamento A escola em 1999 seguindo as orienta es do Movim
198. levou a SME a propor s escolas que montassem suas teses de avalia o e defendessem no F rum deliberativo importante destacar o projeto pol tico educacional que estava em jogo Quando por ocasi o do I Congresso estes conceitos foram adotados havia um consenso de que a avalia o era um processo cont nuo n o deveria se restringir a apenas um tipo de instrumento nem a um momento espec fico do bimestre mas que deveria adotar a l gica da consecu o dos objetivos e metas tra adas Neste sentido avaliar deixa de ser um instrumento punitivo para ser um instrumento organizativo do planejamento do ensino e da aprendizagem e os conceitos S P e N seriam indicadores da necessidade de se repensar PAGE as estrat gias de ensino assim como favorecer tanto ao aluno quanto ao professor uma auto avalia o de sua participa o no processo ensino aprendizagem A ado o de mais conceitos poderia levar o professor a fazer uma adequa o entre nota e conceito da mesma forma que a volta da quantifica o representava um outro projeto de educa o uma outra l gica de avalia o um outro compromisso pol tico com o processo ensino aprendizagem Ap s muitos debates foi deliberado neste encontro que o processo de avalia o continuaria a partir dos alcances ou n o dos objetivos Entretanto ficou como indica o que as Unidades Escolares promovessem momentos de aprofundamento te rico e metodol gico para melhor direciona
199. lina disse que um aluno quase jogou a cadeira em cima dela quando soube o resultado de sua avalia o Outra professora se posicionou dizendo que dever amos resgatar o caderno de notas que o aluno ap s algumas ocorr ncias seria expulso E acrescentou que na sala dos professores o aluno deveria ser proibido de entrar um absurdo os alunos entrarem na sala dos professores para assistir televis o tomar cafezinho ou mesmo ficar pendurado na janela n s n o temos liberdade nem na hora do recreio Um outro professor lembrou a baderna que aconteceu na escola quando teve um apag o de trinta minutos at cadeira foi jogada do segundo andar podendo atingir as pessoas aqui em baixo Fez men o tamb m a uma bomba caseira jogada no banheiro masculino causando um alvoro o na escola E a dire o n o faz nada Me posicionei dizendo que a discuss o da disciplina deveria ser feita de forma mais ampla N o recorrer apenas ao poder opressor O professor W concordou comigo quanto a estender a discuss o da disciplina e acrescentou O que eu percebo que em determinado momento a autonomia interessa e em outro n o Quando temos que levar o projeto para a SME a autonomia interessa dentro da escola ela n o interessa e os alunos percebem isso Acho que temos que colocar o aluno e dire o aqui dentro para discutir que autonomia esta Quando de nosso interesse n s chamamos o aluno para discutir mas quando n o
200. logar ver e rever posi es recuar e avan ar respeitando examinando e aprendendo Existia uma preocupa o com o processo pol tico educacional desencadeado na rede municipal e a continuidade dos princ pios apontados no I Congresso da a necessidade de avaliar as a es implementadas nos ltimos cinco anos e tra ar novas metas Era preciso continuar resistindo ao modelo educacional proposto pela pol tica neoliberal Neste sentido com o objetivo de analisar o modelo de escola proposto pelas novas leis e medidas governamentais em rela o s necessidades e expectativas da classes trabalhadora a SME iniciou um amplo processo de debate com a comunidade escolar a partir das seguintes quest es que escolas temos e que escolas queremos Que concep es de mundo de sociedade de escola de aluno de participa o queremos construir Que hist rias queremos escrever Estes questionamentos permearam as discuss es coletivas sobre o projeto pol tico pedag gico em toda a Rede Municipal e foram decisivos nas novas propostas encaminhadas ao II Congresso Municipal de Educa o de Angra dos Reis realizado em mar o de 1999 A participa o neste Congresso foi ampliada tendo representantes de pais alunos funcion rios de apoio dire o e professores da rede municipal estadual e particular Ao todo foram 279 delegados com direito a voz e voto e 132 observadores com direito a voz Acreditamos ter dado mais um passo em dire o gest o
201. lunos n o tiveram acesso a ela em outros momentos de sua vida e mais uma vez foram alijados do seu processo ficando a cargo de cada um buscar esse conhecimento ou se contentar com as poucas informa es dadas pela m dia Essa medida da lei desconsiderou todo o avan o da rea e sua import ncia no que se refere ao entendimento do homem com sua cultura sua rela o com seu corpo e com o dos outros no meio em que vive Em Angra dos Reis como j foi dito no cap tulo anterior tentamos fugir a essa l gica de modo que o Projeto de EJA para o Regular Noturno pode ser considerado uma produ o coletiva concatenando os anseios dos alunos professores coordena o e dire o Nossa motiva o era construir um caminho que pudesse amenizar todo o processo de exclus o vivido por estes alunos na escola ao mesmo tempo em que tamb m v amos neles cansados pelo trabalho a desejo de encontrar algum est mulo para n o desistir novamente da escolariza o Neste espa o encontram se duas realidades diferentes os alunos mais velhos com uma vis o um tanto romantizada da escola por consider la um bem distante e adquirido a duras penas e os mais jovens olhando a como um espa o de encontro de lazer de namoro mas ambos concordavam que a escola deve ter regras para os alunos que os professores 73 Esta discuss o pode ser ampliada com a leitura do texto de Vera L cia Alves de Brito A educa o f sica e a constru o de
202. m Angra dos Reis e no Frade dificuldades e desafios como est a escola hoje o que voc espera da escola e do mundo PAGE pois muitos destes temas permitiriam discutir as rela es de poder saber corpo desenvolvida na escola e no projeto como foram as falas que se referiam organiza o da escola e do bairro organiza o social a presen a das drogas no meio da juventude drogas a falta de abertura da escola educa o aos pobres democracia e a presen a de varias religi es no bairro levando muitas vezes intoler ncia religi o Cada um destes temas gerou pol micas entre os professores sobre sua pertin ncia ou n o no planejamento No fim todos concordaram em mant los Gostaria a seguir de destacar alguns dos embates travados na escolha dos temas O tema droga na escola foi apontado como um problema pela comunidade e pelos alunos Contudo dois professores alegaram que este n o era um problema vis vel n o podemos dizer que acontece na escola que n o significativo para n s pois n o causa problemas para o funcionamento da escola Outros professores alegaram que era um problema apontado em todas as s ries Defendi a perman ncia do tema dizendo pode n o ser um problema vis vel mas ele existe e a escola prefere ignorar As falas mostram que ele significativo para os alunos por isso penso que dever amos mant lo Um outro professor destacou que n o dever amos pensar s em droga
203. m a perman ncia do tema desde que se problematizasse tamb m a qualidade deste acesso Um novo impasse ocorreu quando sugeri destacar a fala que colocava a escola Cacique como democr tica Perguntei ser que a escola democr tica Um dos professores disse que sim os alunos chegam e saem quando querem o port o fica aberto eles n o usam uniforme eles fazem o que querem Para este professor isto era democracia uma vez que correspondia ao direito de ir e vir Eu discordei e defendi a manuten o do destaque pela necessidade de discutirmos no grupo e com os alunos o que democracia Um outro professor disse que democracia muitas vezes estava ligada anarquia baderna Posicionei me novamente alegando haver muitos conceitos de democracia e que na minha opini o a escola n o era democr tica e muito menos n s professores Outras falas vieram refor ando o que eu havia dito e no fim mantivemos o tema Tamb m houve contesta es quanto sugeri destacar como tema significativo a religi o Um dos professores concordou em mant lo alegando que tinha pedido para os alunos cantarem uma m sica na sala e uma das alunas disse que n o cantaria por conta de sua religi o a m sica tinha ritmo do candombl Sua fala gerou discuss o com o coordenador do RN que estava presente pois ele da mesma religi o da aluna Disse que se o foco fosse o que e o que n o permitido ele n o concordaria em manter o tema Coloquei que minha
204. m cumpridas semanalmente em reuni o com os outros professores do noturno permitindo assim a articula o dos conte dos e a discuss o dos princ pios gerais que devem nortear os trabalhos Este encaminhamento dado em 1992 serviu de base para construirmos o projeto pol tico pedag gico do Regular Noturno em 1998 Vale a pena ressaltar que foram oito anos de amadurecimento e discuss es No I Congresso Municipal de Educa o tivemos uma discuss o espec fica do noturno e uma das propostas foi retomar as delibera es de 1992 Em 1996 na I Mostra Pedag gica de Angra dos Reis realizamos o I Encontro de Educa o de Jovens e Adultos onde os professores tiveram a oportunidade de apresentar suas experi ncias com a es interdisciplinares e com a participa o efetiva dos alunos na constru o curricular 40 744 Id ias apresentadas no documento citado anteriormente PAGE Foto 11 I Encontro de EJA realizado na I Mostra pedag gica 1996 Era um momento de avaliar o caminho percorrido at ent o e os avan os obtidos Foram tra adas algumas delibera es para serem cumpridas at o ano de 1998 quando ent o estava previsto o pr ximo Congresso Municipal de Educa o Dentre elas destaco buscar novas fontes de recursos para financiar projetos educativos estimular a participa o dos professores do RN no F rum de EJA do Rio de Janeiro estimular a cria o de projetos nas escolas fornecer forma o continuada pa
205. m distribui o em massa aos professores e unidades escolares e com veicula o na rede T V Escola muitas vezes tornou se o nico instrumento de consulta para o planejamento de professores e sistemas de ensino sem pol ticas educacionais populares e diretrizes princ pios pedag gicos e curriculares claramente definidos Com os PCN s os professores t m em m os um projeto curricular completo contendo os princ pios e diretrizes educacionais a concep o de cada rea do conhecimento os objetivos gerais e espec ficos para cada ciclo de aprendizagem os temas transversais mais interessantes a serem considerados no planejamento e os textos para orienta o da l Os princ pios foram tra ados em 1992 para a Reorienta o Curricular e confirmados pelo coletivo da Rede Municipal em 1994 no I Congresso Municipal de Educa o de Angra dos Reis T nhamos como princ pios a defesa da autonomia pol tico pedag gica da escola o processo de constru o curricular coletivo e o di logo entre teoria e pr tica entre a es e falas pr ticas e desejos Estes princ pios foram sistematizados e incorporados pelas escolas na constru o de seus projetos pol ticos pedag gicos com as seguintes delimita es trabalho coletivo interdisciplinaridade e integra o dos conte dos com a realidade local PAGE aprendizagem O trabalho a partir dos par metros n o instiga o professor a discutir com a comunidade escolar o curr culo da mesm
206. m estreitar rela es ou se comprometer mais especificamente com o projeto A 2 Esta situa o vale a pena contextualizar a professora em quest o tinha passado no concurso p blico e aguardava chamada para contrata o definitiva A SME disse que esta contrata o s seria poss vel ap s recis o do contrato por tempo determinado Diante disso ela foi afastada com a prerrogativa de ser chamada imediatamente pelo concurso isto n o aconteceu t o r pido quanto se esperou seis meses depois outra orientadora foi colocada em seu lugar na escola e s ent o ela foi chamada pelo concurso mas n o havia mais vaga na Escola Cacique Cunh bebe PAGE sensa o que se tinha era de que as discuss es ficavam apenas naquelas reuni es e que em sala de aula a din mica empreendida por estes ltimos era igual a uma escola sem projeto Este comportamento causava uma certa preocupa o naqueles que acreditavam na proposta e queriam que ela avan asse Conversei diversas vezes nos corredores com a auxiliar de dire o sobre a hostilidade em rela o aos contratados Sab amos que para estes professores se envolverem com o projeto era preciso que fossem conquistados para sua causa e n o obrigados a assumir um trabalho que n o conheciam at porque na sala de aula o professor tinha total autonomia para desenvolver sua pr tica pedag gica Esta conquista passava pelo entendimento das inten es pol tico pedag gicas que envolvem o projeto
207. m foram contemplados No ano da pesquisa a escola possu a 13 turmas de ensino noturno de 1 a 8 s rie uma turma do MOVA e uma turma do Projeto Integrar contando aproximadamente com 450 alunos no turno noturno A administra o da escola contava com uma dire o geral dois auxiliares de dire o atuando e respondendo prioritariamente pelo turno diurno e uma auxiliar de dire o respondendo pelo turno noturno A dire o costumava fazer um revezamento de hor rio de forma que todos pudessem conhecer a escola como um todo assim o ensino noturno ficou sob a responsabilidade da prof Patr cia que teve uma atua o fundamental na implanta o e desenvolvimento do projeto Seguindo as indica es apontadas no I e II Congresso Municipal de Educa o em 1999 a escola realizou um amplo debate com o corpo docente da escola a fim de construir os princ pios norteadores e os objetivos gerais da pr tica pedag gica que passo a descrever a seguir Princ pio PARTIR DA REALIDADE LOCAL Tem por objetivo conhecer e respeitar o saber constru do promovendo a associa o e o confronto entre o saber popular e o cient fico sem privil gio de um sobre o outro a fim de construir conhecimentos que aprofundem a vis o local e global do mundo Princ pio CRITICIDADE Tem por objetivo estimular o desejo de participa o do aluno no seu entorno social levando o a uma vis o cr tica do mundo a fim de que seja capaz de intervir e transforma
208. madoras 7 Texto apresentado pelos coordenadores do Regular Noturno Edna Ferreira Coelho e nio Jos Serra para publica o da revista Escola Participativa 12 anos em comemora o aos 12 anos de gest o dos partidos dos trabalhadores no munic pio de Angra dos Reis Lan ada no munic pio de Angra dos Reis em dezembro de 2000 PAGE Fotos 19 Algumas oficinas desenvolvidas com os alunos do projeto dan a jornal m sica artesanato exposi o dos trabalhos As a es diversas realizadas na escola trouxeram um grande enriquecimento para o curr culo Os professores utilizavam este hor rio para construir interdisciplinarmente o planejamento de ensino nas diferentes s ries e para realizar atividades de esclarecimento ou aprofundamento com os alunos Outra caracter stica importante desta grade curricular era a organiza o das diferentes reas do conhecimento de forma n o hierarquizada ou seja as PAGE diferentes reas do conhecimento inclusive a Educa o F sica com a denomina o de Linguagens Corporais foram organizadas neste projeto obedecendo a uma mesma carga hor ria pois acreditamos que o conhecimento n o se constr i de forma estanque dentro das disciplinas mas a partir de uma rela o em rede onde professores e alunos ao sujeitos do processo possibilitando um trabalho coletivo e coerente com a concep o de educa o inclusiva participativa democr tica e transformador
209. mais apropriado sentiu se envergonhado e foi embora esperando algum tempo para ter coragem de encarar todos novamente Na semana seguinte relembramos esta aula com o grupo no sentido de saber como se sentiram que sensa es tiveram Muitos falaram que no in cio foi dif cil ficaram com vergonha mas que aos poucos foram se soltando Outros disseram que as brincadeiras de alguns professores o riso a conversa tirou um pouco a concentra o Eu havia levado um texto que falava sobre os signos corporais criados socialmente lemos e discutimos sobre os tabus e preconceitos que possu amos em rela o ao outro o medo do toque do carinho a necessidade de mantermos uma certa dist ncia corporal para nos sentirmos protegidos a forma como somos educados para ter comportamentos aceit veis socialmente Enfim foi uma conversa que de certa maneira permitiu que todos expressassem sua forma de pensar e refletissem sobre as diferentes rea es durante a aula a rea o euf rica do colega sua falta escola naquela semana e tamb m as brincadeiras e risos durante a aula Quando n o conseguimos enfrentar uma determinada emo o situa o a tend ncia tentarmos fugir esquivarmo nos daquele contexto a fuga pode se dar na simples nega o em participar das atividades ou nas atitudes de brincadeira em que se provoca a distra o e se desvia a aten o da quest o principal A realidade que temos medo do outro n o permitimos que nosso corp
210. mando opini es conhecendo e valorizando a identidade cultural A escola se tornou um lugar em que era poss vel expressar a mem ria de luta e sofrimento das classes populares mas tamb m um espa o em que os sonhos eram revividos Esta realidade talvez tenha sido a mola propulsora para a nova coordena o do RN n o desistir por completo do projeto pois em 2002 segundo alguns professores e alunos com muitas modifica es ele se manteve todos os professores foram lotados em tr s noites sendo que a quarta feira seria dedicada a reuni es pedag gicas enquanto os alunos teriam disciplina da grade diversificada turismo novas tecnologias e leituriza o n o havia deram continuidade realiza o das oficinas Outra mudan a significativa foi em rela o a organiza o do curr culo n o mais por temas geradores Cada professor ficou respons vel em organizar seu pr prio curr culo nas reuni es semanais discutem sobre matriz curricular uma determina o da SME ainda n o definida Segundo falas de alguns alunos a escola est chata voltou a ser como antes numa alus o a organiza o tradicional da escola e reclama das disciplinas da rea diversificada por n o atenderem as suas necessidades Uma das alunas da 6 s rie se referiu a uma medida tomada pela dire o diante do perigo de drogas em torno da escola como autorit ria pois n o considerou as vozes dos alunos como outrora acontecia Ela se referia aos dois anos a
211. mente encaminhada ao Conselho Municipal e o processo de expans o n o foi da mesma forma autorizada pelo mesmo estando portanto o munic pio em a o irregular e por este motivo n o poderia manter o projeto do RN As tr s escolas que o desenvolviam fizeram suas reivindica es apresentaram relat rios e abaixo assinado de alunos e professores mas tudo isto foi em v o diante do discurso da legalidade A institui o educacional assim como seus representantes muitas vezes se prendem as quest es burocr ticas transformam nas numa camisa de for a capaz de imobilizar e desestimular os sujeitos diante da estrutura Por outro lado o discurso de legalidade pode ser usado para manter construir um determinado projeto de mundo dando respaldo s pr ticas de manuten o e reprodu o de interesses de determinados grupos Em 2002 as escolas voltaram a funcionar como antes mas a semente do projeto estava presente Todos sabiam que n o era mais poss vel ignorar a experi ncia vivida O trabalho que havia sido desenvolvido com os professores os alunos e a comunidade tinha constru do uma outra escola Os conhecimentos e fatos sobre o processo hist rico de segrega o social por parte dos setores populares estavam presentes no dia a dia da escola tecidos cotidianamente pelo curr culo A din mica escolar permitia que as narrativas e PAGE produ es textuais revivessem essa realidade reelaborando imagens tecendo considera es for
212. mento sem obst culo n o se pode perder tempo com a paisagem as metas finais precisam ser alcan adas com menor tempo e esfor o esta a lei da produtividade do progresso A partir da experi ncia f sica da velocidade o espa o tornou se um lugar de passagem medido pela facilidade com que dirigimos atrav s dele ou nos afastamos dele SENNET 1997 p 17 Esta realidade pode ser identificada na cidade de Angra pelo grande contingente de pessoas que chega todos os dias para trabalhar e voltam para suas cidades no final do expediente nos constantes carros que atravessam a Rio Santos em dire o aos v rios bairros ou cidades localizados em toda a sua extens o nos turistas que chegam de carro nibus helic ptero ou jato em busca de aventura desafios descanso prazer A experi ncia da velocidade do contato superficial com a realidade da fluidez da emo o da liberdade da impetuosidade da impaci ncia da desterritorializa o sentida por todos e constr i o modo de ser de estar e de agir dos diferentes sujeitos constitui sua corporalidade A condi o f sica do corpo em deslocamento refor a a desconex o do espa o Em alta velocidade dif cil prestar aten o paisagem Navegar pela geografia da sociedade moderna requer muito pouco esfor o f sico e por isso quase nenhuma vincula o com o que est ao redor De fato medida que as vias s o cada vez mais expressas e bem sinalizadas o motorista
213. mentos privados no munic pio No entanto com apoio das associa es de moradores grupos ambientalistas e culturais o plano foi aprovado em 1991 In meras outras a es foram implementadas no primeiro mandato do Partido dos Trabalhadores na tentativa de ampliar a participa o do coletivo na administra o p blica assumindo assim os compromissos firmados durante a campanha A reorienta o das prioridades e dos investimentos da Prefeitura foi outra iniciativa de peso At ent o submetidas aos interesses dos empres rios e dos representantes pol ticos tradicionais as a es e os programas governamentais passam a pautar se no atendimento das reivindica es e necessidades dos trabalhadores da popula o de baixa renda em geral dirigindo se para diminuir o d ficit hist rico de infra estrutura e cobertura social educa o e sa de nos bairros e reas habitadas pelos trabalhadores IBASE v I 1993 p 51 Outra importante motiva o era a oportunidade de apresentar sociedade brasileira uma proposta de governo diferente que buscasse atender os reais interesses da classe trabalhadora dos grupos marginalizados e exclu dos da sociedade O projeto de sociedade que ora se apresentava mostrava se como uma alternativa de governo frente pol tica neoliberal do Governo Federal que diante do processo de globaliza o aponta para medidas de exclus o marginaliza o e empobrecimento da maior parte dos brasileiros
214. mercial Depois passou a fazer o transporte e escoamento do ouro para a Col nia Portuguesa e outras regi es do pa s e da Europa por meio de contrabando Com a decad ncia do Ouro novas pr ticas entram em cena propiciando um novo surto de crescimento como por exemplo a produ o de alimentos voltados para o consumo local e a pesca de baleias Mais tarde em virtude do novo com rcio de escravos africanos iniciou se a produ o da aguardente absorvendo a cana de a car que era plantada em Paraty Angra e tamb m na Serra incrementando seu cultivo O tr fico de escravos fez Angra dos Reis no final do s c XVIII ocupar um lugar importante no cen rio nacional No entanto importante destacar que a prolifera o dos engenhos de aguardente associado lavoura de cana de a car e produ o do caf desencadearam um processo de desmatamento dessa regi o trazendo in meros problemas ecol gicos e sociais Outro produto tamb m produzido nesta regi o pelos grandes propriet rios de terras foi o anil muito valorizado no mercado internacional como corante e que desapareceu no inicio do s c XIX A regi o de Mambucaba Bananal e Paratimirim se dedicou produ o de hortali as frutas mandioca milho arroz legumes caf e cana de a car o que fez aumentar a atividade portu ria da regi o Uma estat stica de 1791 sobre o movimento de barcos no porto do Rio de Janeiro indica a entrada de 69 barcos procedentes da ba a
215. mos nos anos seguintes a formaliza o das rela es de poder tanto na escola quanto na SME mediante as elei es para diretores e Conselho de Escola e mais tarde na constru o de um novo regimento interno da educa o No que diz respeito Nova Qualidade de Ensino as a es n o foram t o simples construir um novo fazer invertendo a l gica tradicional dos curr culos e trazendo uma outra realidade para a forma o da classe trabalhadora n o se constitu a tarefa f cil Mas um importante passo foi dado ao se instituir autonomia curricular e pedag gica s Unidades Escolares a partir da discuss o sobre o Movimento de Reorienta o Curricular A partir da cada escola ficou respons vel por construir seu projeto pol tico pedag gico tendo como princ pios norteadores aprovados no Congresso a inter rela o das reas de conhecimento interdisciplinaridade o trabalho coletivo com participa o da comunidade atrav s do conselho de escola e a inter rela o dos conte dos com a realidade local Com isto diversas a es foram sendo estruturadas em projetos aut nomos de diferentes naturezas A diversidade presente nas 54 escolas do munic pio deu o tom para cada projeto projeto das escolas multisseriadas projeto inter projeto da educa o especial e os projetos propostos pela SME muitas vezes transformados em programas Programa de O Regimento Escolar veio para regulamentar as a es administrativas e pedag gi
216. mos que repensar A rede tem tica com os temas geradores problem tica j pensava assim no ano passado N o quero trazer algo de cima pra baixo quero construir com o grupo Quero contar com o grupo se n o puder vou ter que fazer isto com a SME Vou trazer textos da SME que o grupo pode reafirmar ou PAGE refutar sobre transdisciplinaridade estamos pensando em trabalhar nesta linha e n o mais com temas isolados Relato oral Ele deixou claro que a perspectiva interdisciplinar era ultrapassada e que os temas geradores n o passavam de temas isolados Isto colocava em cheque todas as discuss es reflex es realizadas pela SME escolas durante 12 anos de administra o petista Lan ava por terra todas as bases filos ficas metodol gicas e epistemol gicas presentes nos diferentes projetos desenvolvidos at ent o assim como o pr prio projeto do RN Quando diz amos isto seja para os coordenadores do RN como para a nova dire o da SME a rea o era a mesma dissimulavam fugindo do confronto direto dando respostas evasivas do tipo N s vamos manter o que tem dado certo A transdisciplinaridade uma perspectiva mais avan ada preciso caminhar na sua dire o N o queremos acabar com o projeto queremos o que for melhor Diante desta posi o muitos conflitos e cobran as foram gerados Alguns professores se manifestaram dizendo que a SME n o tinha id ia do que era transdisciplinaridade e que s ago
217. mpre eram apresentadas em tom apaziguador salvo quando a diretora fazia cr ticas ou apresentava medidas sem a consulta pr via ao grupo como foi o caso da dispensa dos alunos antes do t rmino das aulas quando a rea o de contesta o foi imediata Um dos professores se manifestou dizendo Quando voc est no turno noturno fica a noite toda sentada em sua cadeira fumando n o anda pelos corredores e por isso n o pode saber se os alunos foram dispensados ou se n o querem assistir s aulas A verdade que os alunos ficam vontade para fazer o que quiser fumar namorar perturbar outras aulas e at quebrar tudo Por diversas vezes a quest o da indisciplina na escola foi pauta de discuss o entre os professores Numa determinada reuni o uma professora de Educa o Art stica ficou indignada ao chegar na escola e ver que v rias esculturas produzidas pelos seus alunos para serem expostas na feira cultural estavam quebradas Agora n o aparece quem fez De que adianta o projeto se n o existe respeito com o trabalho do outro Estes trabalhos estavam na sala dos professores num espa o reservado para os arm rios Mas n o s os professores tinham acesso a este espa o pois ali tamb m ficavam os instrumentos da banda era comum PAGE os alunos entrarem para pegar os instrumentos ou buscar materiais para os professores Qualquer um poderia ter quebrado as esculturas Uma das professoras se referindo indiscip
218. namento legal e respaldo para o funcionamento e implementa o do projeto de EJA no ensino regular noturno e foi esse o encaminhamento dado Uma vez que n o havia nada claro quanto organiza o e administra o do Ensino Fundamental noturno a l gica que imperava era a de c pia do ensino diurno ficando a cargo dos professores repensar a linguagem para lidar n o mais com adolescentes e crian as mas com jovens e adultos O aluno que se matricula na escola regular noturna como o caso dos alunos do munic pio de Angra est fora do que se entende por EJA suas caracter sticas e necessidades imediatas n o precisam ser consideradas ficando a crit rio do professor ou da secretaria entender ou n o suas dificuldades com o trabalho e a presen a di ria na escola Os alunos muitas vezes s o tratados como crian as tendo que obedecer s mesmas regras e avalia es PAGE 2 E comum a escola comparar o comportamento dos alunos do noturno com os alunos do diurno muitas vezes com pr ju zos para aqueles Gostaria de ressaltar tamb m que a LDB por considerar o corpo dos alunos jovens e adultos j formado fisicamente e pela idade possu rem autonomia para o pr prio cuidado de si colocou a Educa o F sica como facultativa no ensino noturno regular n o fazendo nenhuma refer ncia a sua oferta na EJA o que consideramos mais uma forma de exclus o uma vez que esta uma rea do conhecimento como outra qualquer e os a
219. ncia se constituiu numa oportunidade de acesso terra e reprodu o das fam lias nas reas rurais da mesma forma que permitiu a recupera o da Mata Atl ntica No entanto essa nova organiza o social era fr gil e insuficiente para trazer autonomia econ mica regi o No final do s culo XIX a organiza o administrativa de toda a regi o da Costa Verde era dividida em cinco par quias N S da Concei o de Angra dos Reis N S do Ros rio de Mambucaba Santana da Ilha Grande de Fora N S da Concei o da Ribeira N S das Dores de Jacuecanga Destas a par quia mais extensa e com maior popula o era a da Ribeira hoje ie AA ag Fase e r 25 Divis o administrativa municipal dominante no per odo do Imp rio PAGE distrito de Cunh bebe cujo cultivo da cana de a car e a concentra o de pequenos engenhos de aguardente movidos a gua ao todo 15 asseguravam sua primazia no munic pio MACHADO s d p 29 O s culo XX vai trazer novas oportunidades econ micas regi o angrense assim como a abertura de novas vias de comunica o A cultura da banana introduzida na d cada de 20 pelos ex escravos e colonos vai se constituir numa importante fonte de sobreviv ncia para a popula o principalmente ap s a segunda Guerra Mundial mediante a expans o metropolitana de S o Paulo e Rio de Janeiro Com o in cio da era Vargas a estrada de ferro que liga Uberaba Belo Horizonte Barra Mansa e Rio Claro chega
220. negro no pa s Ap s o filme discutimos o processo de exclus o que vem sofrendo os negros as mulheres os ndios os menores de rua os velhos os gordos os homossexuais etc Interessante destacar algumas rea es de alunos negros e mulatos um deles saiu da sala dizendo que o v deo era chato porque falava muito n o tinha a o Uma das alunas insistiu afirmando que o preconceito maior entre os negros n o demonstrou simpatia pela quest o e discordou do v deo dizendo que na m dia tinha muitos negros trabalhando at como rep rter Outros alunos deram testemunho de momentos de discrimina o pelo qual passaram Resgatamos a aula anterior refletindo sobre a n o disponibilidade dos meninos em fazer determinadas viv ncias com algumas meninas a discrimina o presente no filme Jamaica Abaixo de Zero apresentamos os ndices do IBGE sobre a presen a de negros na universidade nos diferentes postos de trabalho e seu sal rio comparado ao homem branco Percebi um certo constrangimento de alguns alunos quando foram identificados como negros O professor que tinha se proposto a fazer a mesma discuss o com seus alunos me fez o seguinte relato Estava discutindo com a 7 s rie o filme Jamaica abaixo de Zero Os alunos que pertencem ao gr mio estudantil um determinado momento pediram para PAGE sair pois teriam reuni o Eu disse que ali eles eram alunos como os outros e se sa ssem ficariam com falta Tomei e
221. neste contexto de mudan as que um novo projeto educacional para as escolas municipais de Angra dos Reis come a a ser gerado tendo como princ pio a Gest o Democr tica a democratiza o do acesso e o atendimento s classes trabalhadoras segundo suas expectativas e necessidades PAGE O SISTEMA EDUCACIONAL E O CONTEXTO DA PESQUISA A DEMOCRATIZA O NO MBITO EDUCACIONAL i comum contar a hist ria da humanidade a partir da a o pessoal 3 de alguns poderosos e n o da massa humana que cria e recria a vida N o h como evitar que os detentores do poder documentem e registrem seus pr prios feitos como se fossem a ess ncia do viver humano Ent o como resgatar nomes e ideais dos que pereceram no combate ingl rio Efrem Galv o 1998 A discuss o sobre gest o democr tica nas escolas estava no bojo das discuss es produzidas realizadas na pela cidade a partir dos movimentos sociais do governo e dos partidos e tamb m sobre a democratiza o do planejamento urbano or ament rio e administrativo A educa o era apenas uma pe a deste grande cen rio que movimentava as rela es em Angra dos Reis O primeiro mandato do PT 1989 1992 voltou se para um movimento de organiza o legitima o recupera o material e valoriza o do servi o p blico municipal revis o no processo de administra o constru o de escolas recupera o de pr dios p blicos busca de novos recursos moraliza
222. nfantil Servi o de Educa o Especial Servi o de Orienta o Educacional Servi o de Supervis o Escolar Dire o do Departamento de Ensino Anexado a este documento vinha tamb m uma proposta de crit rios para elei o de Diretores e Conselho de Escola PAGE No que se refere democratiza o da SME que significa descentralizar o poder e romper com a hierarquia que verticaliza o processo decis rio ficou claro no encaminhamento dado que as elei es n o eram suficientes e que a partir da diferentes f runs de discuss es deveriam ser garantidos como por exemplo reuni es de diretores de servi os de chefias de departamentos de reas de conhecimento etc delimitando suas compet ncias e garantido que as decis es coletivas fossem implementadas Este processo n o foi espont neo mas sim uma op o de transformar a escola e o sistema que a mant m num espa o de produ o de cultura e de constru o de conhecimento a partir da intera o entre os diferentes agentes que os comp em priorizando fundamentalmente a dialogicidade Esta tarefa pode parecer simples mas na realidade apresentou muitas dificuldades porque mexeu com a hierarquia de poder institu da e com convic es pol ticas e pedag gicas Surgiram diverg ncias entre as diferentes vis es e manter o di logo como princ pio foi nossa meta pela rela o dial gica que os educadores se tornam verdadeiramente democr ticos acreditar nisso cons
223. nham a expressar seus pensamentos sentimentos concep es cr ticas ou elogios ao projeto do Regular Noturno aos procedimentos da pesquisa ou a organiza o administrativa pedag gica e f sica da escola gt Registrei tamb m no di rio de campo todas as observa es percep es sensa es e sentimentos que vivenciei durante o processo de pesquisa Este registro foi importante porque percebi as mudan as que fui sofrendo medida que os acontecimentos di rios me envolviam e exigiam um constante posicionamento e tomada de decis o mediante o sentimento que a situa o representada lhe provocar sem no entanto saber que tudo fict cio BOAL 2000 PAGE Esta pesquisa se desenvolveu porque pretendia Mostrar o contexto em que se inseriu o Projeto do Regular Noturno no Munic pio de Angra dos Reis e sua efetiva o em uma das escolas no que tange produ o de saber poder corpo amp Aprofundar a discuss o sobre a fun o do corpo na escola analisando os conceitos elaborados e reproduzidos neste espa o para explicar justificar o lugar que os diferentes sujeitos ocupam em seu processo de organiza o amp Refletir sobre o papel da escola noturna voltada para a educa o de jovens e adultos no processo de constitui o de corporalidades PAGE NARRANDO A CORPORICIDADE DE NOSSA HIST RIA O PROCESSO HIST RICO DE ANGRA DOS REIS O auge Um dos grandes problemas da contemporaneida
224. nistra o e organiza o do seu espa o No entanto importante salientar que houve uma mudan a radical no quadro de profissionais desta escola A Orientadora Pedag gica que foi indicada para o noturno em 2002 era uma professora contratada por tempo determinado n o conhecia o projeto nem tinha o ac mulo da discuss o desenvolvida na rede nos PAGE governos anteriores Houve uma troca tamb m de professores na dire o da escola e a diretora que tanto apoiava conhecia e defendia o projeto saiu da escola o que contribuiu significativamente para uma nova cara do Regular Noturno Muitos dos professores que foram pioneiros nas discuss es do Noturno e que tinham o ac mulo de experi ncias do projeto tamb m se afastaram da escola ou do noturno por motivos diversos Numa conversa com a antiga diretora do noturno sobre os ltimos acontecimentos na escola nos anos de 2001 e 2002 tive a impress o de que uma rede de movimentos foi sendo tecida lentamente no sentido de desmobilizar o corpo escola que de forma coesa se colocava como resist ncia ao novo governo PAGE SUJEITOS E LUGARES O CORPO EM QUEST O O corpo uma palavra poliss mica uma realidade multifacetada e sobretudo um objeto hist rico Cada sociedade tem seu tempo assim como ela tem sua l ngua E do mesmo modo que a l ngua o corpo est submetido gest o social tanto quanto ele a constitui e a ultrapassa SANT ANA 1995 p 12 Um dos
225. ns e Adultos Jovens Escola e Cultura S o Paulo RAAAB Rede de Apoio a Alfabetiza o do Brasil n 10 2000 INSS 1518 7551 COIMBRA Cec lia Maria B amp NASCIMENTO Maria Livia A institui o menino de Rua e alguns de seus efeitos In Anu rio do Laborat rio de Subjetividade e Pol tica Departamento de Psicologia UFF Niter i Rio de Janeiro Ano II Vol II 1993 p 75 85 PAGE COIMBRA Cec lia Maria B Os Caminhos de Lapassade e da An lise Institucional uma empresa poss vel In Revista do Departamento de Psicologia UFF v 7 n 1 p 52 80 JANEIRO ABRIL 1995a p 53 80 Guardi es da Ordem uma viagem pelas pr ticas psi no Brasil do Milagre Rio de Janeiro Oficina do Autor 1995b CONFITEA V V CONFER NCIA INTERNACIONAL SOBRE EDUCA O DE ADULTOS e III ENCONTRO ESTADUAL DE ALFABETIZA O DE PESSOAS JOVENS E ADULTAS Organiza o das Na es Unidas para a Educa o a Ci ncia e a Cultura Hamburgo 14 18 de julho de 1997 ENGUITA Mariano F A face oculta da escola Porto Alegre Artes M dicas 1989 FOUCAULT Michel Microf sica do poder Org e Trad de Roberto Machado Rio de Janeiro Edi es Graal 1979 Vigiar e Punir nascimento da pris o 7 Ed Tradu o de Ligia M Ponde Vassalo Petr polis Rio de Janeiro Vozes 1989 Hist ria da Sexualidade 3 o cuidado de si Tradu o de Maria Tereza da Costa Albuquerque Rio de Janeiro Edi
226. ns e adultos no munic pio Participaram deste encontro todos os professores diretores e orientadores do noturno e os alunos representantes de turma de todas as nove escolas do noturno Havia a inten o de repensar a forma de oferta do Ensino Fundamental no regular noturno pois o projeto que ora era desenvolvido resolvia pelo menos pretendia resolver a PAGE quest o do curr culo voltado s necessidades deste segmento era necess rio tamb m pensar o tempo de oferta deste ensino uma vez que era constante a fala dos alunos principalmente os mais velhos quanto ao des nimo diante da necessidade de cursar oito anos para ent o concluir o Ensino Fundamental Esta condi o muitas vezes levava evas o ou busca por cursos supletivos os quais promovem um achatamento de conte dos numa concep o de suprir minimamente os conhecimentos conte dos perdidos nos anos de escolaridade Fotos 14 II Encontro Municipal de Professores e Alunos da Educa o de Jovens e Adultos Deste encontro sa ram como encaminhamento que a Comiss o do Regular Noturno seria a inst ncia congregadora dos desejos das diferentes unidades escolares respons vel por sintetizar e organizar uma proposta de ciclo que atendam s necessidades dos alunos quanto diminui o do tempo de perman ncia no Ensino Fundamental sem no entanto configurar supl ncia ou oferta de conte dos m nimos Por outro lado deveria ser uma proposta que permitisse aos
227. nte de sua autoridade acad mica Outra situa o que preocupou bastante principalmente a dire o geral da escola era quanto ao hor rio de t rmino das aulas Alguns professores quando terminava o planejamento previsto para aquela noite liberavam os alunos antes do hor rio previsto para o fim do turno noturno Isto para a dire o geral era inadmiss vel Em reuni o pedag gica disse aos professores que era imposs vel eles n o terem atividades capazes de manter o aluno at o fim da aula Al m disso a dire o se incomodava tamb m quando o aluno dizia que tinha pouca mat ria no caderno isto se configurava no seu entendimento que o professor n o estava dando conte do A aprendizagem se confunde em determinados momentos com a quantidade de mat ria dever e exerc cios copiados no caderno Este um dos requisitos b sicos para um processo ensino aprendizagem de qualidade dentro da escola tradicional O projeto que ora desenvolv amos n o tinha este encaminhamento como priorit rio no entanto era necess rio n o perder de vista a organiza o do processo que passa pela carga hor ria de aula pelo planejamento das aulas pelo conte do desenvolvido e pelas atividades previstas Perder de vista este direcionamento significava desorganizar e banalizar o projeto Portanto esta era uma situa o para ser considerada e discutida com base nos princ pios e objetivos do planejamento n o simplesmente mediante concep es e reclama
228. nteriores constitu a de certa forma um entrave para o entendimento do mesmo Era necess rio se familiarizar mais com os autores que embasavam o projeto para compreender melhor os encaminhamentos que deveriam ser dados rela o ensino aprendizagem e como os conte dos das diferentes reas do conhecimento dinamizariam todo o processo uma vez que o maior conflito estava na organiza o do curr culo e escolha dos conte dos conceitos afins com os temas geradores A discuss o que se colocava era que havia um certo acordo nacional no que tange aos conte dos previstos para cada s rie nas diferentes reas do conhecimento e que os temas PAGE geradores n o contemplavam todos eles Como ent o n o se afastar do projeto e ao mesmo tempo n o deixar de trabalhar os conhecimentos socialmente constru dos e cobrados em outros estabelecimentos de ensino Esta d vida estava presente principalmente na falas dos professores das reas exatas O impasse foi resolvido da seguinte forma os professores teriam autonomia para decidir o momento de introduzir paralelamente ao projeto conte dos que considerassem fundamentais na forma o dos alunos deixando claro para os mesmos a estrat gia que estava sendo adotada Esta solu o se mostrou suficiente para acalmar os nimos entretanto ficou claro que o planejamento organizado no coletivo deveria ser implementado por todos com avalia o dos objetivos alcan ados ou n o Neste particu
229. nteriores em que a escola trabalhava segundo os princ pios do Projeto do Regular Noturno em que as regras e normas da escola eram discutidas com os alunos A escola mudou muito do ano passado para c hoje parece que estamos numa pris o tem grade pra todos os lados E agora com este port o todo fechado e o muro alto n o poss vel mais ver a rua N o podemos mais falar com ningu m l fora e nem sair no intervalo s os professores t m permiss o para sair Est o nos tratando como crian as Informa o oral Quando perguntei a um dos funcion rios da escola sobre o motivo da troca do port o ele me respondeu PAGE N o consegu amos evitar a entrada de pessoas estranhas a incid ncia de drogas na escola estava preocupante n o tivemos outra alternativa a n o ser colocar port o de ferro todo fechado para proteger a escola Informa o oral Antes havia um port o pequeno de grade aberta que n o ficava trancado os alunos tinham o h bito de conversar com as pessoas de fora saiam e entravam da escola sem muita vigil ncia nos intervalos Era comum apenas um funcion rio na entrada do turno para exigir o uso do uniforme No entanto pela falta de funcion rios esta tamb m n o era uma medida muito regular no Noturno TAEA i po Ti Bi 3 eat Foto 22 Imagem da frente da escola com o port o todo fechado Pareceu me que a escola voltou de certa forma a seguir os par metros tradicionais de admi
230. ntervalo das aulas al m de observar as rea es produzidas por alunos dire o e professores uma vez que n o houve aviso pr vio Era uma atitude que fugia do cotidiano da escola e apenas as pessoas envolvidas nas aulas de dan a e teatro tinham o conhecimento da proposta N o foi s uma atitude de reprova o que provocamos as outras funcion rias da cozinha novatas na escola gostaram da farra express o usada por uma delas e aproveitaram para dan ar com os alunos que entraram na cozinha alguns professores e a dire o do turno PAGE tamb m aderiram dan a bailando com os alunos por entre as mesas do refeit rio Entretanto muitos alunos continuaram a comer como se nada estivesse acontecendo e outros curiosos aproximaram se do refeit rio mas ficaram olhando de longe sem a coragem ou vontade de participar da festa esta express o foi usada por um dos alunos inquirindo se est vamos comemorando algo S se dan a na escola se for em dia comemorativo A rea o observada me mostrou que a tradi o corporal da escola muitas vezes engessa os conceitos percep es impedindo que os sujeitos se permitam vivenciar situa es inusitadas ou estabelecer rela es mais prazerosas com o ambiente de trabalho Por outro lado esta mesma tradi o tamb m aponta para a capacidade dos sujeitos escolares produzirem mecanismos pr prios de intera o e prote o de seus espa os Num outro dia em con
231. ntinuar ou n o me parece apenas uma mudan a de nomenclatura mas a pr tica continua a mesma Nesta proposta de ciclo cabe qualquer projeto progressista ou tradicional e a inten o primeira era discutir o projeto de educa o para depois pensarmos num ciclo que se adequasse a ele Por outro lado n o viemos aqui para decidir qual o ciclo mas ouvir as propostas levar para a escola e amadurecer a discuss o para num outro momento decidir foi isso que os coordenadores explicaram para n s na escola Diante das minhas falas o coordenador do RN falou que o encaminhamento havia mudado e n s ter amos que fazer uma op o naquela reuni o Uma orientadora pedag gica de uma das escolas com projeto apresentou um abaixo assinado pedindo um tempo maior para estudo e discuss o das propostas e n o implementa o para todas as escolas no pr ximo ano A discuss o girou no sentido de fazer a SME voltar rever sua decis o de ciclar todas as escolas num determinado momento a Gerente do Departamento de Ensino manifestou se enfaticamente dizendo que esta era uma decis o tomada na reuni o anterior e que n o voltariam atr s Duas outras escolas apresentaram se dizendo que tamb m tinham uma proposta de ciclo e gostariam de apresent la Depois de um r pido intervalo a Escola Cleusa Fortes Pinto Jord o apresentou sua proposta que de certa forma j havia sido discutida no ano anterior na Comiss o do Regular Noturno Ao fim de sua exposi o pe
232. ntos seriam importantes para o ensino da rea atualmente Em abril de 2000 foi ent o realizado o I Encontro Interdisciplinar na tentativa de avan ar o processo de aproxima o das reas Para tanto foram reservados tr s dias consecutivos com uma pauta unificada e a presen a dos respectivos assessores Os dois primeiros dias foram dedicados discuss o dos conceitos organizadores de cada rea e como estes dialogam com as demais reas No terceiro dia foi realizado uma grande plen ria inter reas com o objetivo de no coletivo encontrar uma forma de consolidarmos nossas a es na constru o da interdisciplinaridade nos projetos de nossa rede de ensino Este movimento das reas foi fundamental no processo de constru o dos projetos pol tico pedag gicos das escolas assim como todos os f runs organizados pela SME os quais constitu ram momentos de embates e proposi es que deram o tom democr tico s suas a es V nia Tavares da Silva Mendon a chefe de Servi o de Orienta o Pedag gica II SOP II no ano de 2000 ao apresentar o caderno de presta o de contas dos trabalhos desenvolvidos desde 1998 pelo SOP II assim expressa A II Mostra Pedag gica realizada em julho 2000 provou como foram importantes as iniciativas da SME no sentido de estabelecer esses espa os formativos propiciando a organiza o dos diversos f runs democr ticos de discuss es e oportunizando uma maior qualifica o dos
233. nviabilizando a presen a deles na noite das oficinas Isto se deu devido necessidade de garantir a perman ncia do maior n mero de professores que tinham vivenciado o projeto na escola uma vez que no final do ano 2000 o Governo do PT perdeu o mandato nas elei es para prefeito influenciando significativamente todos os projetos pedag gicos implementados pela SME e pelas escolas at ent o Apesar de todos os problemas enfrentados neste primeiro ano de projeto a avalia o do corpo escola deixou claro os avan os conseguidos tanto no trabalho pedag gico quanto nas rela es interpessoais Sab amos que no ano seguinte a equipe de trabalho n o seria a 8 O sistema de parcerias neste sentido se apresentava na poca como uma alternativa para viabilizar as oficinas voltadas para a gera o de renda a rela o escola empresa e as verbas do FAT se constitu am uma op o neste contexto Contudo conhec amos os limites e problemas que a parceria representa assim como os interesses que mobilizam determinadas institui es a se aproximarem da escola Mas era uma risco que naquele momento est vamos dispostos a correr em prol do projeto do RN PAGE mesma e isto causou uma certa tristeza o grupo tinha se identificado com o projeto e com a rotina do trabalho amizades tinham sido constru das e seria dif cil come ar tudo de novo O encontro final foi muito emocionante com muitas manifesta es de carinho e uma certa nostal
234. o comportamento dos indiv duos tomados individualmente ou em grupo para modelar dirigir para modificar a maneira deles se conduzirem a si pr prios Podemos dizer que s o os modos simult neos de agir e pensar LOBO 1997 p 05 PAGE por este dispositivo que poss vel identificar a forma como os sujeitos governam a si mesmos e se deixam governar uns pelos outros Fui em busca das pr ticas singulares aquelas que surpreendiam os abalos e os acasos que mexeram com as estruturas trazendo tona contradi es muitas vezes n o percebidas Queria garantir espa o para circular dizeres e saberes coletivos que permitissem a compreens o dos modos de produ o de conhecimentos de linguagens e apropria o dos espa os pr prios dos setores populares Em um dos encontros com os alunos percebi a aus ncia de um deles e perguntei se sabiam porque ele estava faltando escola uma das alunas me contou o fato Professora esse aluno parou de estudar porque veio um dia sem uniforme e n o deixaram ele entrar Ele foi conversar com a dire o e como a diretora ainda n o havia chegado ele falou com a menina da secretaria que estava sem uniforme porque tinha sa do mais tarde do trabalho e n o deu tempo de ir em casa trocar de roupa Sabe o que ela disse Todo aluno tem sempre uma desculpa pra n o vir de uniforme a ordem que temos para n o deixar ningu m entrar voc ter que ir vestir o uniforme Ele disse a
235. o do professor e auto avalia o do aluno para saber se ele estava apto pra avan ar ou permanecer na s rie Aqueles que permaneciam n o eram considerados reprovados apenas precisavam de um tempo maior para alcan ar os objetivos previstos para cada semestre Desta forma eram oferecidos oito anos de escolaridade do Ensino Fundamental garantindo a verba do FUNDEF mas o aluno tinha a possibilidade de terminar em menos tempo de acordo com suas possibilidades Em 2001 est vamos ainda aparando as arestas que o Ciclo apresentava quando a SME decretou que n o seria poss vel manter esta forma de organiza o e que no m ximo pod amos adotar a PAGE forma de Ciclos propostos pelo Governo Federal Todo o processo de discuss o com professores dire o alunos e comunidade para a constru o desta proposta foi ignorado No fim do ano numa reuni o da Comiss o do RN com a SME foi dito que no projeto enviado ao Conselho Municipal de Educa o estava prevista a experi ncia em duas escolas pilotos por dois anos quando ent o seria feita uma avalia o dos resultados do projeto e posterior expans o gradativa pela rede municipal no per odo de quatro anos Esta avalia o foi feita no fim de 1999 e em 2000 iniciamos o processo de expans o Vale ressaltar que os membros do Conselho Municipal na poca eram integrantes da SME que acreditavam e defendiam o projeto No entanto a nova administra o alegou que esta avalia o n o foi oficial
236. o do projeto do RN junto com os demais membros da Comiss o do RN sentia me respons vel por ele e este sentimento por diversas vezes me fez sair da condi o de pesquisadora e intervir defendendo e direcionando as a es do grupo Isto n o foi percebido s por mim fiquei sabendo por interm dio de um dos professores que dois componentes do grupo criticaram meu posicionamento em algumas reuni es dizendo que eu n o era mais a coordenadora do projeto e n o poderia querer direcionar as reuni es como antes agora era o grupo que decidia que caminho percorrer Isto me levou a fazer uma an lise de minhas implica es neste espa o Percebi que meu posicionamento diante das escolhas das falas significativas que indicariam os temas geradores para o planejamento curricular do segundo semestre foi o que gerou as cr ticas descritas anteriormente Minha defesa em prol de algumas falas era decorrente de duas situa es primeiro minha preocupa o em garantir na rede tem tica todos os temas levantados pelas pessoas na assembl ia e que se mostraram significativos priorizando o que a comunidade quer e n o a vontade dos professores Segundo meu interesse na pesquisa 8 A escola convidou diferentes l deres comunit rios representantes das institui es presentes no bairro o Conselho de Escola e os representantes dos alunos de cada turma e realizou uma grande assembl ia em abril de 2001 tendo como quest es norteadoras como morar e
237. o fale expresse nossa inseguran a diante do olhar do outro o movimento o contato provoca rea es inesperadas incontrol veis e isso inadmiss vel na nossa cultura principalmente no contexto da escola onde falta o humor na rela o com o PAGE aluno e a seriedade confundida com sisudez parece essencial aprendizagem reproduzindo hierarquias nas rela es de poder Realizamos outras atividades nas reuni es posteriores buscando esse contato e o desenvolvimento de uma certa intimidade no grupo Na terceira semana quando o professor X apareceu o grupo o recebeu sem tocar no ocorrido Ele percebeu ent o que n o haveria cobran as nem goza es pelo seu comportamento e passou a participar das reuni es com mais seguran a Uma outra situa o curiosa percebida entre os docentes diz respeito a um outro professor tamb m novato que neste trabalho vou chamar de professor Y Este professor tinha uma forma incomum de andar se vestir gesticular e se colocar diante das outras pessoas Era um pouco extravagante gostava de usar roupas que valorizassem seu f sico forte s vezes se vestia como um desses her is americanos de filme de a o Rambo e usava culos de sol coloridos andava como se nada ou ningu m o amedrontasse Com os alunos criou um clima de brincadeira e costumava se comparar ao Tigr o numa refer ncia a um personagem de uma m sica Funk muito tocada nas r dios e cantada pelos alunos na poca Logo de in
238. o nervosa me perguntou se era viol ncia que est vamos querendo ensinar na escola que minha atitude tinha sido irrespons vel Expliquei a ela os acontecimentos que vinham ocorrendo na escola e a falta de disciplina dos alunos as depreda es e a inoper ncia da escola para resolver o problema falei ent o dos objetivos do teatro O teatro teve a inten o de colocar os alunos diante de uma situa o que os fizessem refletir e despertou neles indigna o e os motivou a intervir pela manuten o da ordem Na pr xima semana vamos realizar uma assembl ia com todos para discutir a viol ncia na escola sob outros patamares n o mais o aconselhamento e a puni o atitudes que at hoje n o resolveram nada Vamos colocar em pauta o papel de todos nestes epis dios necess rio criar um clima de comprometimento para que a situa o mude Minhas palavras pareceram acalm la convidei a a participar da assembl ia e disse inclusive que outros pais tamb m poderiam vir Expliquei ainda que sua filha tinha sido avisada que era apenas um teatro mas n o acreditou Pedi desculpas por t la feito vir PAGE escola e ao mesmo tempo disse ser importante sua preocupa o e que ela tinha todo o direito de me questionar e conhecer o trabalho que estava sendo desenvolvido na escola No dia seguinte a diretora geral me chamou para saber o que havia ocorrido na escola e disse a m e que conversou com voc ontem e a merendeira da e
239. o para al m dos muros da escola uma vez que a realidade cotidiana acentua o movimento de redes e rela es sociais gerando contextos e acontecimentos que interferem e ou direcionam a constru o do ambiente escolar PAGE Diante disso volto minha aten o para a constru o de corporalidades que ocorrem atrav s de in meras pr ticas nos diferentes ambientes da cidade no sentido de entender sua continuidade descontinuidade sua previsibilidade aleatoriedade sua homogeneidade heterogeneidade no movimento da vida e da pr xis social ANATOMIAS URBANAS E O SENTIDO DE CIDADE O sentido atribu do cidade assim como sua forma e arquitetura s o frutos de uma constru o cultural que congrega mem rias do passado e presente e re ne diferentes sujeitos conhecidos e desconhecidos com o mesmo sentimento de pertencimento Existe uma rela o rec proca entre o espa o urbano e os sujeitos que o comp em pois a forma como os corpos interferem e constroem seu espa o influencia significativamente seu modo de ser de se relacionar com o meio de encarar a vida A cidade reflete revela os corpos de seus moradores seus desejos sonhos e ambi es ao mesmo tempo em que os corpos refletem revelam o sentido urbano que seu tempo construiu A cidade de Angra dos Reis como vimos no primeiro cap tulo antes de ser considerada uma cidade recebeu outras denomina es que estruturaram o sentido de lugar e naturalidade de cada poca No l
240. o para o aluno trabalhador as outras sete escolas acompanhavam o processo de implementa o pelas reuni es de P lo e da Comiss o do Regular Noturno A indica o era que no prazo m ximo de quatro anos todas as escolas do noturno deveriam adotar o projeto ou criar outra forma de atender os princ pios apontados no I Congresso Municipal de Educa o Foucault 1979 define como pr ticas discursivas aquelas que s o ditas que est o presentes nas orat rias e pr ticas n o discursivas aquelas que s o praticadas Para ele a palavra discurso serve para designar as coisas ditas e feitas e cada pr tica produz o objeto que lhe corresponde seja a orat ria seja a a o Esta defini o tamb m apresentada no texto de Paul Veyne Foucaul revoluciona a hist ria 1998 PAGE COMO COMPREENDEMOS A PESQUISA E NOSSA IMPLICA O Grande parte das pesquisas cient ficas h muito tempo est atrelada busca da verdade objetiva das explica es l gicas e medidas quantitativas de car ter universal O pesquisador movido pela curiosidade e sua a o se restringe em descobrir como o fen meno fato se manifesta Para tanto o sujeito pesquisador deve manter uma certa dist ncia do objeto a ser investigado a fim de n o interferir nos resultados com seus valores e concep es Acredita se na neutralidade cient fica A cr tica a este paradigma cient fico surgiu de in meros debates advindos principalmente das ci ncias sociais e
241. objetivos centrais desta tese foi o de perceber como se processa a constru o de corporalidades na educa o de jovens e adultos a partir de novos sentidos e processos educativos institu dos pela escola Neste sentido busca se avan ar na compreens o dos incont veis jogos de rela es e aprendizagem que tecem o cotidiano e as pr ticas educativas construindo rela es de saber poder corpo que v o incidir significativamente no quadro global de forma o dos sujeitos neste sentido que optei por dar visibilidade tens o exercida entre as pr ticas de conserva o e de transforma o das circunst ncias da vida cotidiana no ambiente da pesquisa pois elas representam processos educativos e como tais inscrevem nos corpos dos diferentes sujeitos comportamentos valores sentidos e signos que v o re definir as diferentes inter rela es constru das num determinado momento hist rico Entender este contexto fundamental para se pensar novas pr ticas escolares com vista produ o de novas corporalidades Por outro lado sei que o processo de transforma o das circunst ncias e de si pr prio n o est reduzido pr tica escolar A materialidade da vida a urbaniza o do espa o as configura es sociais e os cruzamentos de redes de subjetividade tamb m estabelecem contextos efetivamente educativos que interferem neste processo Desta forma acredito ser de suma import ncia compreender as rela es de saber poder corp
242. ocioecon mica privilegiada Diante de duas realidades completamente diferentes e distantes parece que a escola reproduz a m xima escola p blica para os pobres e oper rios para os dirigentes e donos do poder uma outra escola Talvez estes dois mundos possam ser comparados com a alegoria que Baumman utiliza para identificar os sujeitos na p s modernidade os turistas e os vagabundos o primeiro representa a liberdade p s moderna enquanto o segundo se parece mais com a vers o p s moderna da escravid o A primeira experi ncia d o paradigma de turista e n o importa que a viagem seja a trabalho ou a lazer Os turistas tornam se andarilhos e colocam os sonhos agri doces da saudade acima dos confortos do lar porque assim o querem ou porque consideram essa estrat gia de vida mais racional nas circunst ncias ou porque foram seduzidos pelos prazeres reais ou imagin rios de uma vida hedon stica Mas nem todos os andarilhos est o em movimento por preferirem isso a ficar parados ou porque querem ir aonde v o Muitos talvez preferissem ir a outros lugares ou mesmo n o ter uma vida n made se pudessem escolher mas para come o de conversa n o lhes deram op o Est o se movendo porque foram empurrados tendo sido primeiro desenraizados do lugar sem perspectivas por uma for a sedutora ou propulsora poderosa demais e muitas vezes misteriosa PAGE demais para resistir Para eles essa angustiante s
243. odu o do conhecimento algo vis vel 25 Os projetos eram propostas constru das pelo coletivo das escolas junto a SME possu am coordenadores espec ficos e tinham uma vincula o direta com os desejos e vontades dos sujeitos escolares Os programas eram mantidos pela SME tamb m com coordenadores espec ficos no entanto seu desenvolvimento diretrizes e princ pios eram definidos pela SME e coordena o Estes programas n o se restringiam ao espa o escolar podendo exercer a es em outros espa os da cidade 6 As escolas multisseriadas com alunos de v rias s ries e faixa et ria na mesma sala de aula ficam normalmente em locais de dif cil acesso como por exemplo nas ilhas e sert es com realidades muito diferentes do restante do munic pio Estas escolas contaram muito tempo com assessorias especificas da UFF O Projeto Inter como ficou conhecido na rede foi implantado em 1994 como projeto piloto e mais tarde foi sendo expandido pelas escolas mais especificamente de primeiro segmento do Ensino Fundamental Este projeto tinha a assessoria do Prof Ant nio Gouv a que fez parte do governo da ent o prefeita Erundina em S o Paulo junto com Paulo Freire Sua proposta era construir um curr culo interdisciplinar via abordagem tem tica tendo como pressuposto o construtivismo de Paulo Freire Este projeto era inicialmente uma proposta da SME apresentado s escolas que tinham autonomia para adot lo ou n o O projeto da Educa o
244. oduzidos pelos alunos e a comunidade fossem valorizados e sistematizados no espa o escolar Aqui se encontra o cerne desta pesquisa defender uma educa o inovadora subentende considerar que a produ o do conhecimento se faz a partir dos diferentes sujeitos que comp em a escola experimentando criando conhecendo formando e reformando permanentemente conceitos valores significados e comportamentos produzindo rela es de sujeitos e evitando as rela es de sujei o Conhecer a realidade efetiva do cotidiano escolar travando um di logo constante entre o saber oficial e o saber popular observando de perto o que dito escrito e o que realizado permite revelar para quem e para qu as escolas trabalham que rela es de poder saber est o construindo que papel elas assumem na sociedade que corporalidades produzem a favor de quem remetem seus esfor os e consegiientemente contra quem est o estes mesmos esfor os O FIM DA GEST O DO PT EM ANGRA DOS REIS No fim do ano 2000 o Partido dos Trabalhadores perde a elei o para prefeito e com isso tamb m muitos dos sonhos e projetos implementados Apesar das diferentes explica es que foram dadas para a derrota n o se pode esquecer dos investimentos a longo prazo na constru o de um conceito acerca da administra o do PT pelos partidos de oposi o Os setores conservadores que tinham sido afastados da administra o p blica passaram a fundamentar seu discur
245. ofessores que encaminhamentos poderiam ser dados diante do desinteresse dos alunos Uma das sugest es se voltou para a obrigatoriedade da presen a dos alunos em todos os dias letivos o n o comparecimento se configuraria em falta no di rio podendo levar reprova o no fim do ano Este direcionamento foi problematizado pela dire o alegando que se todos os alunos resolvessem aparecer nesta noite n o teriam estrutura para atend los uma vez que havia poucas oficinas e um limite de inscri o em cada uma delas Muitos professores discordaram da sugest o tendo em vista que eram alunos adultos e n o havia motivo para obrig los a participar das atividades mas sim conquist los mostrar que a escola n o s disciplina e conte do did tico afinal o projeto previa uma mudan a de pensamento do que escola Discordaram tamb m da amea a de reprova o dizendo que o projeto previa uma nova postura do professor diante do aluno portanto esta atitude seria PAGE antidemocr tica era preciso pensar outro caminho Como encaminhamento final ficou determinado que a dire o deveria buscar no Hotel do Frade e em outras empresas locais verbas pr prias para aumentar o n mero de oficinas ao mesmo tempo em que verificaria com os alunos mais velhos a possibilidade de eles oferecerem alguma oficina para os colegas enquanto isso os professores iriam estimular atividades de inicia o pesquisa para ser desenvolvidas nesta noite c
246. oi imediatamente separar a briga quando estava conseguindo acalmar os nimos de todos um dos alunos informou em tom baixo que era teatro ele come ou a rir e disse que eles podiam brigar vontade se quisessem podiam usar toda a quadra A auxiliar de dire o chegou neste exato momento e muito nervosa deu uma bronca no professor e tentou acabar com a briga o que n o conseguiu os outros alunos do teatro que deveriam ser apenas observadores resolveram por conta pr pria tamb m simular brigas em outros espa os da escola As brigas ficaram s na discuss o ningu m tentou agress es f sicas Entretanto o tumulto na escola com os alunos que estavam no p tio foi t o grande que deu a impress o de que estava havendo uma briga generalizada um motim A auxiliar de dire o desesperada chamou o vigia para ajudar a controlar a situa o muitos alunos aproximaram se no sentido de parar com a briga O vigia nervoso foi secretaria e pediu para ligarem para a pol cia Diante disto falei com a secret ria que n o era preciso porque a situa o j estava controlada fui at os alunos e disse para todos irem para a sala da dire o A auxiliar de dire o nervosa e descontrolada come ou a gritar com os alunos foi ent o que lhe avisei que tudo tinha sido teatro Num primeiro momento ela n o acreditou depois furiosa disse que eu deveria ter avisado a ela Os alunos comemoravam o feito pedi para sa rem e se dirigirem sala para convers
247. olher se queriam participar ou n o do trabalho Para nossa surpresa iniciamos com dois grupos um de teatro com mais ou menos 15 alunos e um de dan a com 20 alunos Aos poucos outros alunos foram se interessando pela proposta o que me levou a organizar quatro grupos dois de teatro com mais ou menos 30 aluno e dois de dan a com mais ou menos 70 alunos bom frisar que alguns faziam dan a e teatro A CORPORALIDADE DOS ALUNOS E O CEN RIO DA PESQUISA Os alunos jovens e adultos por serem frutos de uma hist ria de exclus o que atinge todas as classes empobrecidas de nossa sociedade t m uma forma de lidar com o espa o e o tempo a partir de algumas caracter sticas pr prias desses setores O espa o geralmente tem dono normas hor rios lugares permitidos e n o permitidos os n o propriet rios devem conhecer e acatar as regras o propriet rio quem diz o que pode ou n o fazer assim como ele quem d permiss o para entrar ou n o PAGE Da mesma forma que o espa o pertence a algu m o tempo tamb m ditado por quem de direito Nosso tempo no mundo n o nos pertence tal qual o tempo que passamos em algumas institui es como por exemplo a escola l o tempo n o pertence ao aluno Em 1657 Com nio em sua Did tica Magna j se referia economia do tempo seus preceitos s o comentados por An bal Ponce Economia de tempo Estas palavras t m um sabor t o original que merecem alguns coment rios
248. om apresenta o e discuss o em sala de aula Diante disto alguns professores se responsabilizaram em comparecer nas segundas feiras para ajudar no desenvolvimento das pesquisas Ao se levantar a quest o da organiza o do hor rio dos professores na escola todos concordaram que a presen a deles nesta noite teria diminu do os problemas Mas n o havia possibilidade de retroceder pois muitos j tinham iniciado seu trabalho em outras escolas impedindo assim qualquer altera o de hor rio Mais uma vez foi apontado que o ideal era ter um profissional dedicado ao ensino noturno e que o munic pio deveria caminhar suas discuss es para permitir a constru o de uma estrutura que viabilizasse isso Em muitos momentos a estrutura administrativa age como limitadora na organiza o e implementa o dos projetos pedag gicos Enquanto foi poss vel criar atalhos conseguimos por em andamento as sugest es e desejos coletivos contudo a mudan a na estrutura de contrata o e lota o de professores se faz a partir de a es coordenadas em v rias inst ncias do governo municipal requer um tempo maior de discuss o e amadurecimento das propostas Infelizmente n o conseguimos encaminhar esta discuss o no ano de 2000 e no ano seguinte os problemas se repetiram nesta escola Ao fim do ano letivo a avalia o do projeto feita por professores alunos dire o orienta o e coordena o foi positiva mas era necess rio rever alguns procedim
249. omunidade esses profissionais trouxeram uma nova din mica econ mica para a cidade no setor imobili rio no com rcio e servi os em geral importante destacar que muitos professores optaram por fixar resid ncia na regi o PAGE n o adiantaram muito O concurso realizado em 1998 era para muitos profissionais da rede municipal e estadual de Angra uma chance de uma nova matr cula p blica e consegiientemente melhoria salarial mas este desejo foi frustrado pela grande concorr ncia O ran o pelo fracasso no concurso e na SME a n o possibilidade de conseguir uma dobra de contrato diante dos crit rios de avalia o da escola e da coordena o de rea de cada profissional ou mesmo pela diminui o das vagas tempor rias ajudaram em grande medida a fermentar o sentimento pelo anti estrangeirismo Pode se dizer que os setores conservadores e os profissionais insatisfeitos com sua situa o profissional constitu ram o bloco de oposi o do munic pio uma vez que ajudaram a fortalecer o discurso de estrangeirismo durante os tr s mandatos do PT e que mais tarde se tornou o slogan de campanha Angra para os angrenses Quem passou pela cidade na poca da campanha para prefeito em 2000 pode observar as picha es por toda a cidade fora estrangeiros fora PT e at fora negro numa clara hostilidade ao ent o prefeito Jos Marcos Castilho que negro Dentre as muitas manifesta es de rep dio o conjunto de partidos op
250. onstru o da escola popular e democr tica a servi o de uma sociedade mais justa e menos desigual Participar meio e canal de constru o de conhecimentos e do compartilhar decis es o que significa divis o de poder FREITAS 1997 p 32 Como se pode ver as a es implementadas pela SME caminhavam na contram o das propostas neoliberais para a educa o nacional Enquanto na proposta oficial crise educacional era proposto um pacote de medidas elaboradas por especialistas a serem aplicadas em qualquer parte do mundo com apoio do Banco Mundial e do FMI em Angra dos Reis busc vamos solu es a partir da participa o de todos os sujeitos envolvidos com a rede municipal de ensino A escola pela perspectiva neoliberal deve se tornar uma grande empresa produtora de servi os educacionais Para isso utiliza o discurso de democracia e cidadania sob outro vi s democracia tratada apenas como um sistema pol tico que permite aos sujeitos desenvolver e potencializar a capacidade individual de livre escolha no mercado e a cidadania passa ser reconhecida pela capacidade do cidad o privatizado consumir Segundo Pablo Gentilli na ret rica constru da pelas tecnocracias neoliberais atualmente inclusive nos pa ses pobres n o faltam escolas faltam escolas melhores n o faltam professores faltam professores mais qualificados n o faltam recursos para financiar as pol ticas educacionais ao contr rio falta uma melhor distrib
251. oposta do movimento ritmado e do olhar nos olhos do outro Dois professores disseram que tinham outras coisas mais importantes para fazer e n o foram para a aula Ap s algum tempo eles chegaram na sala Como a aula ainda n o havia acabado um deles professor G resolveu participar o outro Professor I reclamou com clara manifesta o de desgosto e disse que perd amos tempo com estas atividades antes da reuni o Estes comportamentos refletem os condicionamentos corporais adquiridos pelas pessoas individualmente Pag s mais uma vez traz contribui es para entender estas rea es o desejo e a repress o s o fen menos atuais e n o somente experi ncias passadas Est o gravadas no corpo do sujeito e rev se a cada momento nas suas permutas com o ambiente As condi es vigentes no ambiente actual do sujeito s o pois essenciais mudan a s d p 65 66 Uma das professoras que estava fazendo a aula parava o tempo todo e se justificava reclamando de cansa o Num exerc cio de dan a do chap u as pessoas dan avam mantendo uma certa dist ncia sem olhar para o outro a orientadora pedag gica e eu dan amos bem pr ximas o que gerou goza es e insinua es PAGE Estas rea es deixaram evidentes os preconceitos do grupo no que se refere proximidade com o outro o toque assim como isso me pareceu uma manifesta o da n o disponibilidade do professor para experimentar uma proposta em que o outro
252. ores falas de reprova o do tipo venho pra escola pra estudar e n o para brincar tenho muita coisa pra fazer em casa n o vou ficar aqui perdendo tempo ou ainda os professores precisam ser mais r gidos com esses alunos eles s v m para a escola brincar e acabam atrapalhando quem quer levar a s rio os estudos Estas diferen as muitas vezes geram conflitos e tens es entre jovens e adultos e a escola quando n o problematiza essa realidade deixa que o tempo a naturalize perdendo uma tima oportunidade para rever seus valores e suas pr ticas O que se percebe que a divis o entre seriedade e brincadeira entre trabalho e prazer n o est presente apenas nos discursos pedag gicos mas perpassa a forma o humana nos diferentes espa os de atua o de forma que o aluno jovem e adulto carrega consigo esta perspectiva dicot mica Estudar se PAGE relaciona com trabalho com produtividade e desempenho portanto distante da dimens o do prazer da emo o da alegria e do riso N o se pode perder tempo num mundo de transforma es r pidas o qual apresenta como crit rio de avalia o das possibilidades pessoais velocidade e a competitividade na adapta o diante do novo Percebi que o Projeto do Regular Noturno desenvolvido na Escola Cacique de certa forma conseguiu colocar isso em pauta quando atrav s de uma pesquisa em sala de aula deu oportunidade a todos de contar um pouco de sua hist ria na fam
253. orma es pouco preparo t cnico quase nenhuma afinidade com o ideal de um governo p blico e coletivo atitude autorit ria quando em contato com a popula o de baixa renda agravados por uma condi o salarial pouco valorizada formavam um quadro comportamental que favorecia a resist ncia ao prop sito de uma conduta administrativa transparente p blica e democr tica IBASE v I 1993 p 45 Al m desses movimentos outros dois epis dios abalaram a estrutura administrativa petista o fechamento do Estaleiro Verolme em 1990 deixando mais de quatro mil trabalhadores desempregados o que repercutiu significativamente na vida econ mica e social do munic pio e a articula o para dividir o territ rio angrense com vista a formar um novo munic pio a partir de um processo de emancipa o dos distritos de Cunhambebe Frade e Mambucaba distritos de Angra dos Reis e Tarituba pertencente ao munic pio de Paraty Este movimento foi deflagrado em 1991 e estava ligado aos interesses dos empres rios envolvidos com o mercado imobili rio e tur stico e dos propriet rios de terras que diante do novo Plano Diretor se sentiram prejudicados no que tange utiliza o comercial do territ rio E neste contexto que Angra dos Reis inicia o processo de transformar a gest o administrativa numa pr tica democr tica Neste sentido muitas a es foram implementadas priorizando a participa o da popula o nas decis es da administra o ta
254. ortamentos e a partir dela propor a es Esta interven o tem como caracter stica um tempo de curta dura o Ela favorece o aparecimento da dimens o institucional oculta ou mesmo obscurecida pelos procedimentos rotineiros Ela prop e uma subvers o das pr ticas institu das COIMBRA 1995b p 333 Era exatamente esta a proposta criar uma crise no grupo para possibilitar a an lise da emerg ncia das atitudes de indiferen a diante dos problemas de viol ncia na escola Trata se neste sentido de indagar pelos processos pol ticos pedag gicos que levaram o corpo escola a privilegiar comportamentos alheios aos problemas da escola privativos temerosos em revelar se fortalecendo as estrat gias disciplinares que promovem o indiv duo inodor sem rosto e aparentemente ausente de desejos sentimentos e emo es RAGO 1993 p 13 A cena representada na quadra da escola constituiu se num acontecimento revelador de medos recalques e limita es que abalaram o lugar seguro de cada sujeito escolar A escola como institui o possui um c digo de normas e regras que definem por si s o cotidiano das rela es Naturaliza pr ticas e procedimentos que asseguram sociedade a seguridade de suas fun es A escola desta forma se aliena da realidade mais ampla e reproduz sujeitos debru ados sobre si mesmos indiferentes diante das grandes causas coletivas Na hist ria geneal gica de Foucault podemos encontrar respostas para a hist
255. os das atividades se divertiram e n o queriam que a aula acabasse outros inibidos demonstraram muitas limita es corporais No final da aula discutimos as dificuldades encontradas e os motivos A grande maioria disse sentir vergonha e medo de tocar o colega pois poderia ser mal interpretado outros disseram ter um pouco de vergonha de dan ar mas de forma geral gostaram de montar a coreografia e experimentar diferentes ritmos com ela Todo o processo educacional empreendido pela nossa cultura seja na fam lia na escola ou em outras institui es priorizou o olhar em detrimento dos outros sentidos pois ele permite manter a dist ncia necess ria e segura do nosso espa o individual O toque foi investido de significados e reservado apenas aos ntimos aos mais pr ximos Da mesma forma a dan a atrav s da evolu o e cria o dos v rios estilos muitas vezes inibe quando a proposta dan ar sem necessariamente obedecer a determinados passos ou ritmos o medo da cr tica tende a limitar os movimentos e a livre express o corporal Na aula seguinte fizemos uma discuss o sobre cultura e humaniza o e pedi aos alunos que expusessem no papel suas id ias diante de todo trabalho desenvolvido at aquele momento Depois alguns se propuseram a ler o que tinham escrito o que fez gerar um debate com grande participa o Um dos alunos da 6 s rie negro me chamou muito a aten o Ele gostava de fazer parte do grupo mas se restring
256. os dias atuais decorre de um processo de escolariza o arraigado ao modelo tradicional de transmiss o aquisi o de conhecimentos de um sujeito o a professor a que det m o conhecimento e sabe o que necess rio para os alunos de um a gestor a capaz de organizar e direcionar o uso do espa o do material e do tempo de todos os sujeitos escolares e com autoridade para punir ou premiar os maus e os bons Apesar dos avan os observados na atualidade no que se refere aos processos pedag gicos ainda exatamente esta rela o que se instala no ambiente escolar O aluno jovem e adulto conhece o hierarquia social da escola e suas regras por isso n o incomum observar comportamentos t midos vacilantes e at temerosos diante do professor ou da dire o S o poucos aqueles que se envolvem em embates questionando as atitudes da escola a solu o muitas vezes encontrada pelo aluno a desist ncia e a evas o Na escola pesquisada tivemos dois epis dios que retratam esta realidade A escola era gerida por uma diretora geral e tr s auxiliares todos se revezavam nos diferentes hor rios para poderem ter acesso a todas as pr ticas pedag gicas Apesar desta combina o havia um acordo entre eles todas as quest es pedag gicas do noturno eram respondidas por uma das auxiliares PAGE Numa noite em que a diretora geral deveria estar na escola por um problema de sa de n o pode comparecer e pediu secret ria
257. os do s c XIX Dentre os motivos poss veis apontada a constru o da estrada de ferro PAGE D Pedro II 1864 ligando S o Paulo ao Rio de Janeiro atrav s do Vale do Para ba Os antigos par metros de localiza o e velocidade foram rompidos mexendo com a no o de espa o e tempo de modo que agora grandes quantidades de cargas podiam ser transportadas em menor tempo Com esta nova realidade as antigas estradas de tropas que levavam produtos aos v rios portos de Angra Jurumirim Arir Itanema e Mambucaba foram sendo abandonadas gradativamente Outro fator determinante na decad ncia das atividades comerciais do munic pio foi a decad ncia da produ o de caf da farinha de mandioca e da aguardente decorrente principalmente da aboli o da escravid o Aos poucos as inova es tecnol gicas chegam ao Brasil o s culo XIX ser ent o o s culo das m quinas a vida brasileira vai se transformar significativamente a partir das novas rela es de produ o e comunica o a estrada ferro um sinal deste processo Diante desse contexto a vida angrense toma outro rumo Muitos produtores abandonam suas terras em busca de reas mais pr speras Os homens livres e escravos libertos v o formar os v rios povoados cai aras iniciando uma economia de subsist ncia por meio da pesca cultivo da mandioca da cana de a car fabrica o da aguardente cestarias etc Para estas pessoas o per odo considerado decad
258. os sem embarca o e ent o fiquei doente Eu tinha que viver no mar ele muito importante pra mim Hoje a praia est polu da Tem uma galeria e duas manilhas e do outro lado um canal jogando toda a sujeira no mar A praia acabou N o d pra pegar marisco e mais nada porque o lodo com o qual se alimenta est polu do Hoje s pega marisco quem faz curral O marisco vendido por um pre o alto Ainda dizem que o marisco de Angra tem melhor qualidade que o do Rio pois a polui o daqui menor Em algumas praias a gente n o pode nem encostar de tantos tambores para pegar mexilh o marisco que colocam Hoje n o d mais para sobreviver da pesca mesmo com todos os recursos que permitem que qualquer um seja pescador Agora o peixe levado para Angra de carro bem mais f cil s vezes encontramos mais de vinte traineiras no mar As traineiras cercam o pescado e n o prejudicam tanto quanto os arrast es Estamos numa situa o de n o poder pescar nas sextas s bados e domingos por causa do perigo que corremos devido s lanchas que circulam neste per odo A paisagem e a utilidade do mar comparadas s anteriores est o mudadas por causa do arrast o e da polui o Os peixes est o cada vez mais raros devido sua escassez e se continuar assim v o acabar Tem gente usando duas redes de arrast o num barco s Eles o chamam de galhudo Agora sim piorou muito mais porque um barco s faz o servi o de do
259. ositores ao governo realizou na cidade uma encena o na qual v rias pessoas carregavam um caix o com a bandeira do PT enquanto outras carregavam malas representando a morte do governo petista e a partida dos estrangeiros Entretanto olhando o processo hist rico de constitui o desta cidade podemos ver que o movimento migrat rio uma das grandes caracter sticas de sua popula o at os dias atuais As diversas gera es que vieram para o munic pio cada uma a seu tempo e a seu modo lutaram para manter se na regi o enfrentando situa es diversas e criando uma rede de rela es geogr ficas e culturais que deu o tom para sua organiza o social Este contexto se apresenta como ponto essencial para o entendimento da vida em Angra e a compreens o das rela es desta cidade com o espa o pol tico econ mico e geogr fico mais amplo PAGE A coliga o de 12 partidos e a a o clientelista na negocia o do voto a pouca mem ria da juventude e dos novos moradores que n o conheceram a cidade antes do governo do PT o enfraquecimento dos movimentos sociais que sempre deram base partid ria para as campanhas algumas atitudes do prefeito de car ter n o democr tico e op es pol ticas que trouxeram insatisfa o a boa parte do funcionalismo a situa o do pa s refletindo se no munic pio a press o do Estado no repasse de verbas e o alto prest gio do governador Garotinho que apoiava a coliga o foram alguns do
260. ossibilitou analisar os significados que os sujeitos atribuem aos diferentes espa os da escola assim como as pr ticas corporais permitidas ou concebidas nestes espa os Esta an lise permitiu entender as diferentes concep es acerca da fun o da escola os mitos supersti es e pr conceitos quanto ao corpo os modos pr prios de falar ou de silenciar os medos e receios assim como meu envolvimento com esta realidade e os reflexos que sofri no processo de intera o com a mesma enfim os modos de corporaliza o produzidos pela escola A tradi o corporal desses sujeitos muitas vezes se contrap s vis o que eu possu a de corpo e de escola Para n o adotar uma postura elitista recorri perspectiva geneal gica de Foucault 1979 que ajudou a considerar o momento em que todos n s envolvidos na pesquisa nos encontr vamos de onde olh vamos e o que olh vamos o ngulo que determinava o nosso olhar e consegiientemente o que apreci vamos ou n o o que permit amos ou n o A hist ria geneal gica me permitiu olhar para a realidade sem a preocupa o de fazer julgamentos estabelecer verdades formar grandes teorias ou generalizar resultados meus esfor os se dirigiram para o reconhecimento das pr ticas que produziam os sujeitos e objetos Pr ticas essas mais ou menos met dicas mais ou menos intencionais entendidas como processos e t cnicas usados em diferentes contextos institucionais para operar sobre
261. osta e enviassem sugest es Em 1993 foi ent o realizada a primeira elei o direta para os cargos na SME A SME acreditava que esta medida era necess ria uma vez que existia a preocupa o com a democratiza o das rela es defendia se um projeto pedag gico diferente do modelo tradicional que educa para a submiss o a inten o era educar para a participa o coletiva em prol de um projeto de melhores condi es de vida para todos Nas pr prias palavras da SME no mesmo documento referido anteriormente podemos visualizar sua op o pol tico pedag gica Ao inv s de educarmos para o individualismo que esconde ou ignora o car ter coletivo da vida pretendemos educar para o direito e o respeito s diferen as que o viver coletivo propicia Ent o na verdade democratizar a estrutura do sistema municipal parte do processo de cria o de uma outra educa o um outro educador que questione e que se permita ser questionado que d satisfa es do seu trabalho pois assim estar preparando seus alunos a faz lo mais tarde que enquanto equipe elabore suas a es para n o atirar pedras comodamente na hora dos fracassos pois ter responsabilidade com o coletivo CIRCULAR n 072 92 p 03 2 Os cargos postos para elei o foram Coordenador Geral de C A a 4 s rie Coordenador de rea s rie do 1 segmento do EF Coordenador Geral de 5 a 8 s rie um para cada disciplina Servi o de Educa o I
262. ostas surgidas naquele debate Foi grande a expectativa dos alunos em rela o ao projeto principalmente em rela o ao dia das oficinas havia uma certa preocupa o em se inscrever logo para garantir a vaga uma vez que cada oficina apresentava um limite m ximo de participantes A oferta das mesmas no primeiro ano do projeto foi feita a partir de uma enquete realizada com os alunos Diante das op es escolhidas e da verba que a Secretaria Municipal de Educa o disponibilizou para a escola o trabalho foi iniciado com um n mero n o suficiente de PAGE oficinas para todos os alunos isso causou um certo transtorno e decep o pois com vagas limitadas muitos alunos n o conseguiram se inscrever Este quadro se repetiu no ano seguinte Assim que come aram as aulas os alunos questionaram quando come ariam as inscri es para as oficinas era poss vel observar um misto de ansiedade e curiosidade em torno destas atividades pois a noite cultural realizada no fim do ano anterior com exposi o dos trabalhos constru dos nas diferentes oficinas oferecidas pelas tr s escolas agiu como um grande incentivo participa o nas oficinas Contudo mediante os novos problemas apresentados pela SME n o foi poss vel atender as expectativas dos alunos quanto s oficinas Diante disso percebi uma grande anima o diante do convite para participar desta pesquisa atrav s das atividades de dan a e teatro Eles tiveram a liberdade de esc
263. otencial produtivo levaram em meados do s c XVII reativa o do caminho utilizado pelos ndios antes da chegada dos europeus ligando o PAGE planalto paulista ao litoral sem passar por S o Vicente A cidade de Paraty 1960 surgiu em fun o dessa trilha mas somente em 1667 foi reconhecida como Vila As mercadorias que a chegavam seguiam para o Rio de Janeiro por via mar tima Rotas de tropeiros percorriam as trilhas abertas na floresta trazendo colonos que geralmente fixavam se nas melhores terras beira dos caminhos beneficiando se quando influentes do sistema de sesmarias e da escravid o reinante Nos primeiros duzentos anos a regi o compreendida pelos atuais munic pios de Angra dos Reis e Paraty viu desaparecer a cultura origin ria dos povos ind genas e assistiu gradativa implanta o de latif ndios escravistas voltados x produ o de a car e aguardente assim como g neros aliment cios destinados popula o PAPINI 1998 p 39 40 importante frisar que at o s c XVII a m o de obra utilizada na regi o era de origem ind gena pois as atividades agr colas n o eram suficientemente valorizadas para justificar a importa o de escravos africanos No fim deste s culo 1698 1699 a descoberta de ouro na regi o de Geraes hoje conhecida como Minas Gerais e logo depois em Cuiab e Goi s transformou de maneira irrevers vel a geografia da col nia brasileira MACHADO s d
264. otencializados 1994 p 14 A preocupa o curricular n o se restringia s reas de conhecimento mas tamb m apontava para a necessidade de se olhar de forma espec fica para as diferentes frentes de atua o ou seja a educa o infantil a educa o especial as classes multisseriadas as escolas nas ilhas as escolas nos sert es as escolas nos quatro distritos do munic pio com realidades distintas e a educa o de jovens e adultos no ensino regular noturno Uma diversidade de problemas a serem enfrentados n o poderia partir de uma nica proposta a discuss o curricular deveria considerar toda essa dissimilitude Neste sentido foi deflagrado o Movimento de Reorienta o Curricular no munic pio tendo no caderno de delibera es do I Congresso Municipal de Educa o distribu do a toda rede de ensino o conceito de curr culo e os princ pios que deveriam nortear as a es das escolas Como curr culo o entendimento era o seguinte tudo o que acontece na escola e que afeta direta ou indiretamente o processo de apropria o e produ o do saber Envolve um conjunto de elementos que v o desde os aspectos f sicos at os agentes internos e externos que interferem na escola Desse modo h um sentido lato por tr s da id ia de curr culo que implica em reconhecermos como atores necess rios ao tratamento da quest o os demais membros da comunidade escolar pais alunos e funcion rios Princ pios encontra
265. outra tica de proceder uma auto avalia o de nossas pr ticas assim como sonhar com novos caminhos pedag gicos capazes de envolver e encantar os sujeitos escolares Da mesma forma a arte de dan ar assemelha se ao movimento que caracteriza todo o processo de evolu o da humanidade p e em cheque a cren a em tudo que r gido e inerte Mostra a cada minuto a cada contrapasso que a vida imprevis vel vacilante fr gil e intensa age entre constantes equil brios e desequil brios coloca abaixo uma determinada vis o de mundo que a quer estacionar e com seus giros e viravoltas grita que a nica certeza que a dan a a vida s continuam enquanto houver m sica Scarlett Marton interpretando Nietzsche j nos dizia preciso coragem para praticar a desconfian a descartar os pr juizos evitar as convic es preciso destemor para desfazer se de h bitos abandonar comodidades renunciar seguran a preciso ousadia para abrir m o de antigas concep es desistir de mundo hipot tico libertar se de esperan as v s Enfim longo o processo para o esp rito tornar se livre E n o causa surpresa que o esp rito livre seja antes de tudo um dan arino MARTON 2000 p 47 84 m a dio C y A Z k O termo evolu o aqui n o usado no sentido evolutivo do progresso E a evolu o no sentido da dan a das apresenta es das escolas de samba elas evoluem na avenida PAGE COMPANHEIROS DE VI
266. para o passado de Angra se justifica pela necessidade de se buscar entender melhor as perspectivas de nosso pr prio tempo e do nosso pr prio lugar compreender seus avan os e retrocessos seus xitos e derrotas suas oportunidades e op es as coisas que suscitaram os sujeitos luta e aquelas que foram desprezadas desta maneira que cada cidade apresenta se como fonte nica e inesgot vel de hist ria singular Remontar hist ria de Angra permite mostrar sua diferen a em rela o a outros munic pios do Estado e perceber o que lhe confere uma marca t o valorizada no mercado tur stico No per odo colonial as atividades relacionadas fun o portu ria eram a garantia de certo desenvolvimento regi o devido s dificuldades de transportes por terra era tamb m seu principal meio de comunica o com o mundo Sua costa mar tima facilitou as rela es PAGE comerciais entre as navega es vindas da Europa e da frica e as terras localizadas no extremo sul do Brasil conhecidas na poca por Continente do Rio Grande de S o Pedro Esta atividade se manteve por quase quatrocentos anos PAPINI 1998 Os portugueses que pelo Tratado de Tordesilhas eram os donos dessas terras enviaram algumas expedi es para reconhecimento e tomada de posse precisavam desvendar as riquezas e possibilidades portu rias apresentadas pelo novo territ rio O descobrimento da Baia da Ilha Grande data deste per odo sendo a pr
267. para que o bolo fosse cortado na hora do intervalo com todos os alunos juntos colocar amos o som para que todos dan assem e comemorassem o dia Quando deu 20h e 30 min alguns alunos foram at o audit rio onde estava o grupo de PAGE teatro dizendo que todos os alunos j haviam sido dispensados e que se eles n o descessem agora iriam ficar sem bolo Quando fui me certificar fiquei sabendo que as turmas haviam sido chamadas uma a uma at o refeit rio a partir das 20h pegaram seu bolo e em seguida foram dispensadas Um momento de festa e comemora o foi feito como se fosse uma obriga o O objetivo era manter a limpeza a disciplina a ordem o sil ncio e ao mesmo tempo terminar o expediente mais cedo pois era v spera de feriado e os funcion rios queriam ir embora Muitas vezes as regras da escola s o pensadas de forma a minimizar os problemas e o trabalho para os diferentes profissionais deste espa o As necessidades interesses e desejos dos alunos s o em grande parte desconsiderados diante dos desejos necessidades e interesses dos donos da escola Na semana seguinte a dire o geral resolveu fazer um jantar dan ante para comemorar o dia dos professores Uma grande festa foi preparada num dos bares do bairro com dispensa dos alunos e mais um dia de folga para todos os professores da escola A auxiliar de dire o do noturno n o dispensou os professores porque tinha sido um bimestre de muitos feriados e quest es
268. pol ticas al m do que as discuss es no mbito da epistemologia produziram diferentes argumentos criando novos entendimentos acerca da pesquisa Superou se a concep o de pesquisa apenas como possibilidade de descobrir algo que j existe muito pr prio das ci ncias naturais pesquisar tamb m intervir e criar conhecimento novo Para Assmann Toda an lise j cont m uma proposta de interven o na realidade Hoje mais do que nunca ilus ria qualquer pretens o de neutralidade do processo de pensamento Por isso mesmo pensar sempre posicionar se Isso considerado fica evidente que o enfoque metodol gico jamais se reduz a meros bisturis te ricos categorias e conceitos e sua articula o rec proca No bojo do marco te rico sempre existem pressupostos t citos acerca das manuten es ou transforma es poss veis desej veis ou n o do mundo certo que n o se l o real sem articular sua interpreta o mediante um conjunto de categorias e conceitos S o lentes lupas e bisturis sem os quais permaneceremos cegos Mas o que se v pelos olhos das ci ncias sempre cont m como na vis o ocular a outra vis o a criada pelo c rebro no caso da vista a criada pela esperan a ou a resigna o no caso do saber In AZEVEDO 1997 p 03 A censura aos m todos experimentais e objetivos de an lise dos problemas sociais levou ao desenvolvimento de teorias que defendem a an lise qualitativa como aquela cap
269. positiva do mesmo Durante a discuss o a SME muitas vezes ficou sem argumentos No fim da reuni o n o fechou nenhum posicionamento mas ficou um sentimento geral de que seria dif cil a manuten o do trabalho Foi apontado que uma outra reuni o seria marcada para discutir a quest o do ciclo e as escolas deveriam mandar seus representantes Depois desta reuni o o professor da escola que estava presente fez o seguinte relato Depois de v rios embates lavagem de roupa suja etc a SME bateu o martelo e disse que no pr ximo ano v o ciclar todas as escolas e o hor rio do professor ser de tr s noites Nenhuma escola sem projeto protestou Eu disse que este havia um equ voco no encaminhamento que estavam sendo precipitados mas n o adiantou e esta decis o foi a final A SME enviou uma circular escola falando da delibera o tomada na reuni o com os representantes das escolas com Regular Noturno e informou um pr ximo encontro onde as escolas poderiam apresentar suas propostas de ciclo Neste encontro a SME apresentou sua proposta de ciclo no final um dos professores presentes se manifestou dizendo N o existe diferen a entre o ciclo proposto e a seria o logo por que n o permitir escola optar por ciclo ou n o Aproveitei esta argumenta o e disse PAGE A proposta que voc s apresentaram uma reprodu o do que est previsto nos PCN s Com esta organiza o n o fazia diferen a se o projeto vai co
270. precisamos dar condi es para que estas qualidades se desenvolvam e se associem ao conhecimento Cabe nos definir os pap is a serem atribu dos educa o de adultos para que ela possa vir ao encontro de um novo mundo que est assumindo suas formas pr prias em nosso redor V CONFITEA 1997 p 15 A Lei de Diretrizes e Bases da Educa o Nacional LDB N 9394 96 que em muitos momentos apresenta avan os quanto EJA mant m o car ter anterior Em sua se o V apresenta a normatiza o para a Educa o de Jovens e Adultos separando a da Educa o B sica e relacionando a aos cursos supletivos regulares No Art 37 encontramos A educa o de jovens e adultos ser destinada queles que n o tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e m dio na idade pr pria Pode se ler tamb m aqueles que perderam a oportunidade de estudar quando crian as no Ensino Fundamental agora poder o recuperar o tempo perdido na EJA atrav s dos cursos supletivos ou afins com menor dura o e ministrado segundo suas necessidades 7l Essa discuss o tamb m foi desenvolvida no artigo de COELHO Edna Ferreira Linguagens corporais na Educa o de Jovens e Adultos em escolas municipais de Angra dos Reis publicado nos Anais do IV ENFEFE Niter i 2000 PAGE Em seu inciso 1 novamente vemos um refor o da no o de tempo perdido para esses jovens e adultos Os sistemas de ensino assegurar o gratuitam
271. prios da cidade foram sendo alterados no dia a dia mediante a presen a do novo Os velhos moradores com grande caracter stica religiosa realizavam suas festas de devo o comemorando os Santos Reis a chegada do Divino e de Nossa Senhora da Concei o numa aut ntica manifesta o sacra Com o desenvolvimento econ mico e a necessidade de manter a tradi o estas festas que perderam um pouco do brilho religioso de outrora hoje representam manifesta es ao mesmo tempo santa e profana levando para as pra as um grande n mero de pessoas sem afinidades com o sagrado Os cat licos n o s o mais unanimidade Outras religi es se instalaram na cidade e ganharam grandes adeptos o que fez mudar significativamente o peso das festas tradicionais Por outro lado a juventude n o se contentou mais com as quermesses outras formas de lazer e com isso pr ticas l dicas foram criadas seja pelos diferentes grupos e tribus como tamb m pelas grandes empresas que se voltaram para a cidade investindo verbas em shoppings boates bares com m sica ao vivo shows eventos esportivos e culturais PAGE A cidade se transformou assim como muitas de suas pr ticas interferindo diretamente na constru o de novas corporalidades Homens e mulheres assumiram outros modos de exist ncia com princ pios e valores renovados segundo os padr es atuais de consumo e rela o Neste contexto formam se pr ticas discursivas e n o discursivas qu
272. produzir o conhecimento escolar fazendo e aprendendo 33 democracia A fim de dar visibilidade a forma como toda as escolas est o realizando o Movimento de Reorienta o Curricular a SME solicitou em novembro de 1996 uma esp cie de balan o pedag gico considerando as seguintes quest es I Como e com quem a escola se organizou pedagogicamente II A programa o curricular feita por s rie reas Aponta no sentido de superar a fragmenta o do conhecimento buscando uma dimens o interdisciplinar Explicite os avan os e dificuldades HI O discurso e a pr tica da escola s o condizentes Por qu IV Em que sentido o Projeto da Escola 1 possibilita a constru o de uma cidadania cr tica 2 alterou a organiza o administrativa da U E A Reorienta o Curricular entendida com um movimento subentende um processo de forma o permanente dos segmentos escolares ao mesmo tempo em que um grande desafio diante das barreiras impostas pela forma o acad mica tradicional Neste sentido diferentes foram as inst ncias de discuss es envolvendo todo o corpo escola e SME assim como diversos cadernos foram publicados e distribu dos congregando todas as a es e reflex es realizadas 3 Documento n 04 fev 1997 intitulado Nova Qualidade de Ensino as escolas assumindo os desafios de uma proposta de mudan a Reproduzido pelo Servi o de Mecanografia da SME e distribu do em toda a rede d
273. professores da rede para que esses pudessem assumir o papel de agentes no exerc cio do seu trabalho Quantidade e qualidade foram fortes aliados nas inscri es dos trabalhos da Mostra oficinas comunica es pain is atividades culturais oferecidos pelos profissionais da rede revelaram o alto n vel de qualifica o que atingimos No que diz respeito ao ensino noturno que o foco principal deste estudo todo este contexto foi de extrema import ncia corroborou para um amadurecimento dos diferentes 3 Idem p 02 Idem p 02 Idem p 02 PAGE sujeitos escolares e da SME o que possibilitou a constru o de um projeto pedag gico para esta rea espec fica de atua o Torna se necess rio conhecer um pouco mais a inser o da Educa o de Jovens e Adultos nos diferentes espa os de debate coletivo A discuss o apontada no I Congresso tinha como base duas quest es basilares por que educar e como educar No caderno de delibera es deste Congresso poss vel identificar os motivos dessa op o O porque educar d conta da postura ideol gica assumida pelo educador e em ltima an lise pela pr pria escola Se propomo nos a educar com o intuito de que o jovem e o adulto simplesmente tenham acesso ao arsenal dispon vel de informa es nas diversas disciplinas que lhe cabe conhecer na escola a f rmula atual perfeita Continuaremos pois a massacrar nossos alunos com um conte do program t
274. que davam prazer divertimento eram um lazer na escola mas que as rela es s tinham mudado entre aqueles que participavam das aulas O resto da escola continuava chato Retomo novamente Pag s a fim de analisar estas falas 2 N o qualquer gesto que indutor de mudan as mas sim certos gestos precisos n o substitu veis por outros para um individuo ou grupo dados num momento dado Esses gestos s o aqueles que exprimem a forma particular manifestada pelo seu desejo inibido atrav s das camadas sobrepostas do seu sistema de defesas constru das ao longo da sua hist ria s d p 83 Desta forma os diferentes sujeitos interpretam e criam significados para as a es cotidianas de acordo com as viv ncias e o meio no qual vivem O que pode ser inovador e PAGE promissor para alguns pode se revelar como castrador e inibidor para outros De qualquer forma percebi de modo geral que as participa es e as discuss es ocorridas nestes espa os com os alunos permitiram um grande crescimento para todos n s Em diversos momentos tive que superar meus limites quanto rela o professor aluno para me tornar uma parceira dos alunos Somente quando consegui quebrar esta dist ncia que efetivamente se travou uma rela o de companheirismo confian a e cumplicidade o que foi fundamental para o desenvolvimento desta pesquisa Antes de findar o ano diante da possibilidade de t rmino do projeto fizemos um encontro com os al
275. que todos sentiam de estar juntos dan ando A dan a consistia numa forma de auto aceita o e aceita o do outro medida que tomavam consci ncia das possibilidades individuais e coletivas a partir das viv ncias cotidianas aumentava a auto estima do grupo a intera o e o sentimento de pertencimento fundamentais no processo de auto conhecimento e participa o coletiva Por outro lado a autoconfian a que o grupo de teatro foi adquirindo levou o a reivindicar uma atua o mais ampla na escola expressar a vontade de mostrar aos outros o PAGE que estavam fazendo Diante desta prontid o fizemos pequenos exerc cios em diferentes espa os da escola na tentativa de observar as rea es das outras pessoas sem que elas soubessem que se tratava de teatro Esta din mica serviu para discutirmos os comportamentos esperados dos alunos pelo corpo escola Resolvi ent o propor ao grupo a representa o do Teatro Invis vel na escola Boal traz a seguinte defini o para esta t cnica teatral Consiste em ensaiar uma cena contendo as a es que o protagonista gostaria de experimentar na vida real improvisa se a cena exatamente no local onde tais fatos poderiam ocorrer E isso diante de espectadores que n o sabem que s o espectadores e que agem como se a cena improvisada fosse real Assim a cena improvisada torna se realidade A fic o penetra na realidade O que o protagonista ensaiou como pot ncia agora transforma se em
276. r andamento ao planejar curricular 1 Foto 31 Assembl ia com a Comunidade No m s de maio a auxiliar de dire o do noturno tirou licen a pr mio e se afastou da escola por tr s meses Diante desta situa o o grupo se mostrou fragilizado Numa das reuni es pedag gicas disse aos professores que era importante ficarem unidos tentar superar as dificuldades n o rachar internamente neste momento de crise sem coordena o e dire o do noturno Enfatizei ainda que o grupo tinha condi es de se autogerir No final da reuni o uma das professoras me perguntou se eu ficaria coordenando as reuni es Respondi que faria isto somente no pr ximo encontro quando estar amos tirando as falas significativas para o PAGE planejamento mas que depois disso a coordena o deveria ser colegiada e os professores poderiam se revezar na sistematiza o das id ias Mas importante ressaltar que minha presen a semanalmente na escola participando de todas as reuni es com os professores muitas vezes me fez entrar nas discuss es do planejamento de forma calorosa posicionando me como se ainda fosse coordenadora do RN principalmente na aus ncia da auxiliar de dire o Este fato se deu segundo minhas an lises posteriores devido ao sentimento de criador diante de sua cria o Havia participado das discuss es promovidas pela SME referente ao ensino noturno desde 1992 e principalmente havia efetivamente influ do na constru
277. r essa realidade Princ pio TICA Tem por objetivo compreender a tica como uma rela o do aluno consigo mesmo com o pr ximo e com o mundo visando qualificar as rela es humanas tornando as mais solid rias Princ pio INTERDISCIPLINARIDADE Tem por objetivo articular as diversas reas do conhecimento visando superar a fragmenta o do saber para concretiza o de uma pr xis globalizadora e mais humana Princ pio AUTONOMIA Tem por objetivo garantir a autonomia das quest es administrativas e pedag gicas da Unidade Escolar assim como na forma o pol tico social do aluno PAGE Princ pio PARTICIPA O SOCIAL Tem por objetivo potencializar o desejo de participa o do aluno no seu entorno social contribuindo assim para o processo de democratiza o da sociedade Estes princ pios deram o pontap inicial para a reorganiza o do projeto pedag gico da escola e indicou a necessidade de se construir uma nova pr tica com os alunos jovens e adultos A partir de ent o professores e alunos iniciaram um processo de reconhecimento do perfil dos alunos do noturno e do bairro do Frade realidade imediata de todos os atores escolares O bairro do Frade est localizado entre os bairros da Japu ba e Perequ dois importantes p los populacionais da cidade de Angra dos Reis Possui uma rea de aproximadamente 500 a 1 000 metros quadrados numa pequena extens o de terra entre o mar o Oceano Atl ntico e
278. r este processo i Fotos 09 F rum de avalia o A COORDENA O DO REGULAR NOTURNO UMA TENTATIVA DE CORPORIFICAR AS DISCUSS ES PEDAG GICAS Esta pesquisa foi gestada a partir de minhas viv ncias como coordenadora do ensino regular noturno nas escolas municipais de Angra dos Reis no per odo de 1998 a 2000 No entanto meu interesse em analisar as produ es de rela es de poder saber corpo nas escolas do munic pio era antigo remonta os anos seguintes minha entrada no quadro de funcion rios p blicos municipais por concurso em 1992 Desde ent o meu engajamento em diferentes encontros reuni es me mostrava a singularidade do trabalho neste munic pio PAGE T nhamos mensalmente reuni es das Coordena es de rea de conhecimento em que professores de uma mesma disciplina tinham a oportunidade de trocar experi ncias e tra ar novos objetivos para a disciplina Esses encontros nos tiravam do isolamento muitas vezes sentido em outras redes de ensino e facilitavam a constru o de id ias grupos de lutas em prol dos ideais de esquerda que muitos cultivavam Dessa forma nas escolas em que atuava passei a integrar o grupo de profissionais que se empenhavam na democratiza o e reorganiza o da rede municipal de educa o e mais especificamente do curr culo Al m das reuni es de Coordena es outros f runs de discuss o constitu am importantes momentos de reivindica o e constru o coletiva como po
279. r exemplo as reuni es de p los quando as escolas de proximidade geogr fica se encontravam para discutir suas necessidades e os encaminhamentos da SME Nestes encontros havia representantes de alunos pais professores dire o pessoal de apoio etc Outros f runs importantes eram os das escolas com projetos ou com processos educacionais semelhantes como era o caso das escolas com projeto Inter as escolas multisseriadas o MOVA as escolas com educa o de jovens e adultos etc A pol tica de forma o permanente adotada pelo munic pio tamb m se configurou em importante espa o de troca e socializa o de pr ticas educacionais O I Congresso de Educa o foi um marco na hist ria da educa o no munic pio pois forneceu as diretrizes pol tico pedag gicas para a amplia o das a es do governo na reformula o da educa o no munic pio Foi a partir dele que as a es nas diferentes reas do conhecimento tomaram um rumo mais concreto no sentido da reorienta o curricular O que conhecer Como conhecer Por que conhecer Para que conhecer Eram perguntas que Essas reuni es de coordena o surgiram no munic pio a partir de um modelo desenvolvido no Col gio Naval no qual o coordenador tinha a fun o de fiscalizar e controlar as a es dos professores para que n o fugissem ao que estivesse institu do no planejamento geral da institui o Com a administra o democr tica essas coordena es passaram a ter um out
280. ra interessante a atitude corporativista do grupo nestes encontros os problemas e diferen as eram deixados de lado em prol da defesa do trabalho do noturno Isto dava a impress o aos demais funcion rios da escola de estar diante de um grupo forte e coeso o que causava um certo desconforto diante das reclama es e cobran as feitas dire o pois raramente isto acontecia uma vez que o clima das reuni es gerais costumava ser ameno e cordial Independente do papel que o grupo de professores resolvia assumir fora de suas reuni es pedag gicas o que estava claro para a auxiliar de dire o e orientadora pedag gica era que as rela es interpessoais se constitu am num entrave para o avan o dos princ pios e objetivos do projeto Pages de certa forma confirma esta impress o quando diz o organismo humano um sistema aberto cujo funcionamento depende materialmente da fluidez das permutas consigo pr prio e com o ambiente As perturba es do funcionamento prov m de situa es de rigidez ou de ruptura nas permutas internas e externas E a express o f sica corporal das emo es o meio privilegiado do restabelecimento dessas permutas para ele pela experi ncia do prazer partilhado que passa necessariamente o restabelecimento da socialidade a redu o das formas possessivas e destruidoras do desejo das condutas perversas neur ticas ou psic ticas a via da mudan a do individuo s d p 70 75 N
281. ra a escola estava efetivamente conseguindo entender e trabalhar mesmo com todos os problemas a interdisciplinaridade como ent o pensar em dar um salto maior que as pernas Por outro lado foi questionado o car ter antidemocr tico de sua fala se n o quiser construir comigo vou construir com a SME isto significa n o apoiar as decis es da escola o que mais uma vez deixa claro que sua atua o como aliado adstrita aceita o de suas id ias pelo grupo Esta situa o de certa forma afastou a coordena o do RN do acompanhamento semanal das reuni es Entretanto em v rios momentos ela estava presente pois era uma prerrogativa da SME observar de perto as escolas com projeto Neste contexto o que se percebeu era que a escola estava por conta pr pria a dire o seria a respons vel pela coordena o das reuni es e sistematiza o das discuss es Minha presen a e a do Enio na escola foi destacada como uma grande contribui o para o grupo PAGE mediante o ac mulo de discuss o que possu amos e da experi ncia com o projeto nas outras escolas No que se refere noite cultural a situa o se agravou A SME n o se comprometeu em manter as oficinas oferecidas no ano anterior alegando que no regimento das escolas aprovado no II Congresso Municipal de Educa o as oficinas estavam previstas para as escolas do noturno que eram cicladas Desta forma a SME s iria oferecer oficinas nas outras
282. ra auxiliar de dire o ap s muitas discuss es tanto com os professores da escola como nos f runs de reuni o do noturno E M Frei Bernardo situada no bairro Nova Perequ E M Coronel Jo o Pedro de Almeida no bairro Camorim e E M Cacique Cunh bebe no bairro do Frade em Angra dos Reis PAGE Na constru o do projeto do RN n o pod amos ignorar os princ pios e diretrizes tra adas no I Congresso de Educa o para a pol tica pedag gica do munic pio De qu democracia e de qu qualidade estamos falando N o podemos esquecer que estes termos tamb m s o usados pelos setores mais conservadores da sociedade A Lei de Diretrizes e Bases da Educa o LDB n 9394 96 defende a autonomia da escola na constru o de seus projetos pedag gicos e gest o democr tica no entanto ao analisarmos as medidas tomadas pelo Governo Federal percebemos que o discurso trazia impl cito um sentido de permiss o s escolas para elaborarem seus pr prios projetos pedag gicos Esta permiss o n o vem acompanhada de mecanismos concretos de capacita o dos agentes educativos para conhecer a realidade na qual a escola estava inserida pelo contr rio par metros curriculares foram elaborados e distribu dos nacionalmente para orientar a organiza o pedag gica dos estabelecimentos de ensino p blico Os Par metros Curriculares Nacionais PCN s em muitos lugares se transformou no grande alicerce da educa o nacional Pois co
283. ra poss vel prever o que iria acontecer s vivenciando o dia a dia com muito di logo poder amos encontrar as respostas Diante deste epis dio faz se necess rio refletir um pouco sobre a quest o do poder uma vez que o professor pelo saber investido de uma autoridade que diante dos demais sujeitos escolares muitas vezes se transforma em coer o e domina o Lowen tr z uma importante contribui o para este debate O insidioso perigo do poder reside no seu efeito desagregante sobre o relacionamento humano A pessoa com poder torna se uma figura superior enquanto a que se sujeita a ele reduzida a mero objeto O uso do poder nega a individualidade entre os seres humanos e invariavelmente leva a conflitos e hostilidades 1984 p 86 O poder se materializa com as regras padr es e proibi es constituindo se um entrave livre express o dos sujeitos Isso implica muitas vezes um abalo da autoconfian a provocando movimentos hesitantes evocando respostas amb guas causando inseguran a enfim desenvolvendo a docilidade ou indiferen a social Foucault 1989 tamb m refletindo sobre as rela es de poder esclarece que as diferentes institui es disciplinares s o respons veis pela produ o de uma maquinaria de controle dos comportamentos As atitudes s o estimuladas a se enquadrarem ao ambiente os comportamentos s o educados e mantidos dentro de uma normalidade massificada Neste sentido o que se percebe s o
284. ra todos os envolvidos com o RN estimular a articula o entre as escolas do RN reativar as reuni es da Comiss o do RN mensalmente assim como seu coordenador Em 1998 quando assumi a coordena o do RN ap s um longo per odo sem um coordenador espec fico todo esse processo de discuss o foi reavivado N o est vamos come ando do zero pelo contr rio t nhamos vivido um intenso per odo de discuss es e viv ncias que serviu para o amadurecimento e ousadia de nossas propostas Neste ano foram institu dos novamente os encontros semanais da Comiss o do RN com representantes das escolas de ensino noturno 2 coordenadoras do RN e do Projeto MOVA Movimento de Alfabetiza o e as reuni es de P lo do RN com participa o de A comiss o do Regular Noturno MOVA com encontros mensais firmou se num importante f rum de discuss o no mbito da rede municipal de ensino tornando se refer ncia como inst ncia de decis es e interven es nesta modalidade de ensino 4 At o ano de 1999 o Munic pio tinha nove escolas com ensino noturno caindo para oito no ano de 2000 A autora desta pesquisa era a coordenadora do RN no ano de 1998 Ap s insistentes reivindica es o professor nio Serra veio integrar a coordena o no ano de 1999 O Projeto MOVA at 1999 contava com cinco coordenadoras e em 2000 passou a ser apenas tr s coordenadoras PAGE todos os professores das escolas envolvidas T nhamos inicialmente
285. rando as hist rias e peculiaridades locais v o orientar as diretrizes de sua administra o p blica E foi exatamente esta tend ncia que se observou nos estudos realizados pelo IBASE em Angra dos Reis A id ia e a pr tica do planejamento continuam em grande parte associadas ao primado da racionalidade da centraliza o e do controle Trabalha se com uma abordagem que parte do macro para o micro em que as grandes diretrizes s o formuladas com crit rios t cnicos e estabelecidas como plano de inten es Neste plano de id ias deixam de se materializar os conflitos reais que se d o na luta cotidiana pelo espa o na disputa pelas vantagens urbanas nos embates pela apropria o de valores socialmente constru dos Em outras palavras o planejamento macro e a pr tica no varej o jamais dialogam v II 1993 p 40 O descr dito da popula o com os setores conservadores da cidade e a grande campanha do partido de esquerda nas ltimas elei es assim como o fortalecimento das organiza es sociais foi o contexto decisivo para a mudan a do quadro pol tico nas elei es de 1988 O governo petista e a gest o democr tica Diante do fracasso da administra o municipal em atender s promessas de campanha que versavam sobre o desenvolvimento econ mico da regi o e consequentemente aumento dos ndices de emprego o Partido dos Trabalhadores nas elei es para prefeito em 1988 consegue aglutinar os anse
286. rcebi uma aprova o geral das escolas presentes Depois a Escola Frei Bernardo tamb m apresentou sua proposta sendo apoiada pela Escola Cacique Cunh bebe Diante das tr s exposi es a SME percebeu a tend ncia do plen rio em aprovar a proposi o da Escola Cleusa Jord o Resolveu ent o dar um tempo para todos estudarem as propostas e numa pr xima reuni o decidiria qual delas seria implementada Pediu para as escolas deixarem os nomes de seus representantes antes de sa rem neste momento outro embate aconteceu Uma das professoras da Cacique disse que em outro encontro a escola n o tinha apresentado nenhum representante porque as reuni es estavam tendo car ter deliberativo e n o consultivo logo todos queriam estar presentes com direito a voz e voto PAGE A Gerente do Departamento de Ensino nervosa respondeu tudo isso mentira vamos tirar a m scara na verdade a escola quer coagir confrontar a SME voc s pensam que n s n o sabemos escrever o motivo de voc s outro Um outro professor da escola levantou e disse N o bem assim n s s queremos defender nosso trabalho se as reuni es deixarem de ser deliberativas n o temos nenhum problema em mandar representantes Ela ent o assegurou que a reuni o n o teria car ter deliberativo apenas o f rum no fim do ano Com isto foi resolvido o impasse mas ficou no ar um mal estar geral Algum tempo depois a dire o da SME definiu a quest o reveli
287. rea do conhecimento em cada ciclo Caso o aluno avan asse teria condi es de terminar em menor tempo o Ensino Fundamental o que era o desejo de grande parte de nossos alunos Caso ele n o avan asse n o se configuraria reprova o mas a necessidade de PAGE um tempo maior para alcan ar os objetivos previstos tendo o direito aos oito anos de escolaridade previstos para esta etapa da Educa o B sica Esta organiza o por ciclo permitia ainda o aluno trabalhador matricular se em qualquer per odo do ano sem configurar reprova o por falta ou a no o de que perdeu conte dos Acreditava se que o planejamento curricular por temas geradores e a avalia o por objetivos facilitariam o trabalho do professor diante do aluno novato Em qualquer momento ele pode aprender desta forma os diferentes conte dos teriam uma din mica n o de ordem crescente mas de ida e vinda de acordo com as discuss es propostas pelos temas A SME se mostrou inflex vel diante das reivindica es da escola pela implanta o das oficinas o discurso da legalidade pesou mais do que a necessidade de garantir o dia letivo dos alunos A supervisora da Secretaria defendeu o regimento aprovado e desabafou que o projeto e o ciclo do regular noturno tinham trazido muitos transtornos pois n o eram compat veis com os ciclos apontados pelo Governo Federal o que dificultava o preenchimento do senso do governo Sugeriu que a melhor op o era adotar o ciclo
288. reza vida habitat e organiza o Tradu o de Em lio Campos Lima Portugal Publica es Europa Am rica Ltda 1991 NIETZSCHE Assim falava Zaratruska Trad Jos Mendes de Souza Edi es de Ouro Rio de Janeiro Editora Tecnoprint Ltda s d ORTEGA Francisco Da ascese bio ascese ou do corpo submetido submiss o ao corpo In RAGO Margareth ORLANDI Luiz B Lacerda VEIGA NETO Alfredo Orgs Imagens de Foucault e Deleuze resson ncias nitzschianas Rio de Janeiro DP amp A 2002 PAGES Max O trabalho amoroso Tradu o de Jos C L Rodrigues Lisboa Vega Universidade s d POCIELLO Christian Os desafios da leveza In SANT ANNA Denise Bernuzzi Org Pol ticas do Corpo S o Paulo Esta o Liberdade 1995 PONCE An bal Educa o e Luta de Classes S o Paulo Cortez Editora Autores Associados 1982 RAGO Margareth Pol ticas da In Diferen a individualismo e esfera p blica na sociedade contempor nea In Anu rio do Laborat rio de Subjetividade e Pol tica Departamento de Psicologia UFF Niter i Rio de Janeiro Ano II Vol II 1993 p 11 24 SANT ANNA Denise Bernuzzi Cuidados de si e embelezamento feminino fragmentos para uma historia do corpo no Brasil In SANT ANNA Denise Bernuzzi Org Pol ticas do Corpo S o Paulo Esta o Liberdade 1995 Transforma o do corpo controle de si e uso dos prazeres In RAGO Margareth ORLANDI Luiz B Lacerda VEIGA NETO Alfr
289. ria que ousamos contar nesta pesquisa a hist ria dos acontecimentos singulares que permitem reconhecer as rela es de for as presentes no espa o escolar um vocabul rio retomado e PAGE voltado contra seus utilizadores uma domina o que se enfraquece se distende se envenena e uma outra que faz sua entrada mascarada 1979 p 28 Neste sentido prop e a an lise das proveni ncias e das emerg ncias ou seja do come o seu ponto de surgimento Para este autor o corpo o lugar da proveni ncia pois nele que se inscrevem os acontecimento analisar a proveni ncia analisar o corpo atravessado pela hist ria mostrar o jogo presente nas rela es de for as a maneira como elas lutam umas com as outras ou seu combate frente a circunst ncias adversas ou ainda a tentativa que elas fazem se dividindo para escapar da degeneresc ncia e recobrar o vigor a partir de seu pr prio enfraquecimento FOUCAULT 1979 p 22 23 A emerg ncia diz respeito entrada em cena de determinadas for as ou a sua interrup o Quando irrompem lutando umas contra as outras sempre uma mesma pe a que se apresenta a que envolve dominantes e dominados ela se produz no interst cio desta rela o em cada momento da hist ria a domina o se fixa em um ritual ela imp e obriga es e direitos ela constitui cuidadosos procedimentos Ela estabelece marcas grava lembran as nas coisas e at nos corpos el
290. rida Em seguida elabora se uma rede tem tica estabelecendo as rela es dos v rios PAGE eixos a serem utilizados como s ntese da comunidade escolar e ponto de partida da pr tica pedag gica e os Grupos de Estudos podem constituir se em atividades orientadas em torno de determinados temas que os alunos desejam estudar ou em espa o tempo do curr culo para realiza o de atividades de recupera o paralela Foto 18 Assembl ia com a comunidade realizada na Escola Municipal Frei Bernardo O espa o dentro da grade curricular reservado para os grupos de estudos foi organizado pelas escolas de forma a configurar se como espa o alternativo para discuss o e produ o de outras formas de conhecimentos Essa proposta determinou uma noite para desenvolver diferentes projetos culturais art sticos e de gera o de renda oficinas r dio escola publica es livros artesanais boletins etc teatro dan a produ o de murais organiza o do gr mio estudantil palestras e debates com diferentes setores da sociedade e articula o com a associa o de moradores Esta noite tamb m foi aproveitada para trabalhos orientados aos grupos de estudos constituindo se em recupera o paralela importante lembrar que muitas escolas j vinham desenvolvendo algumas destas atividades Esta nova grade facilitou a melhor acomoda o dessas pr ticas na medida em que as incorporou 7 formalmente como a es curriculares for
291. rimeiro planejamento tur stico PROJETO TURIS para atrair a popula o de alta renda do eixo Rio S o Paulo e de outros pa ses extrapolou as expectativas A diversidade de empreendimentos de pacotes tur sticos e a articula o com outros servi os urbanos fizeram assumir seu car ter industrial A ind stria tur stica com seus hot is condom nios marinas e loteamentos nasceu na d cada de 1970 e atingiu o pice na d cada de 1980 Modificou n o s a paisagem costeira como se tornou um dos principais respons veis pela altera o do ambiente natural da regi o exemplificada pelos aterros na ba a da Ilha Grande destrui o de manguezais e principalmente pela valoriza o especulativa dos aterros uma das caracter sticas de qualquer atividade vinculada ao capitalismo imobili rio Outra consegii ncia foi o despovoamento do conjunto insular da ba a da Ilha Grande A pesca artesanal foi prejudicada com a redu o da popula o de peixes na rea da ba a uma consegii ncia em parte das altera es das correntes marinhas em virtude dos aterros do aumento dos dejetos jogados na ba a e do ru do dos barcos e tamb m porque os pescadores venderam a posse de seus terrenos subitamente valorizados pela onda tur stica Outro fator foi a fal ncia ou abandono da pequena industria pesqueira local um dos motivos sendo a alta do pre o do pescado o que encareceu o suprimento para fins industriais MACHADO s d p 32 33 A con
292. ro car ter Agora os professores tinham o direito voz e voto de modo que priorizava se a troca de experi ncias e as proposi es coletivas para a rea A prof Rita de C ssia N Santos em sua disserta o de mestrado Sob o Signo do Cisne Branco a educa o e o ensino municipal numa rea de seguran a nacional Angra dos Reis 1969 1985 defendida no Programa de P s Gradua o em Educa o da UFF Niter i em 1997 faz maiores refer ncias a essa hist ria PAGE permeavam nossas pr ticas e que precisavam de respostas para se construir um novo curr culo No caderno de delibera es do I Congresso Municipal de Educa o distribu do pela SME em toda a rede municipal encontramos a seguinte reflex o Historicamente o curr culo tem orientado a a o pedag gica da escola e tem se mostrado um instrumento eficaz na reprodu o de interesses alheios escola e comunidade a que ela serve interesses nem sempre desvelados reconhecidos ou explicitados para os educadores que executam e assumem esse curr culo muitas vezes como seu sem repens lo ou question lo preciso ter claro que a escola e o seu curr culo deveriam responder s necessidades sociais Conhecer pois essas necessidades nos levam a desvelar para quem e para que nossa escola trabalha ou seja que papel ela assume na nossa sociedade a favor de quem remete seus esfor os e consegiientemente contra quem esses mesmos esfor os acabam sendo p
293. rodou pela sala sorrindo os outros tomados pela surpresa come aram a rir Num primeiro momento fiquei surpresa constrangida e tive um principio de rejei o mas depois retribui ao abra o Assim que ele me colocou no ch o a Patr cia que estava coordenando a aula tentou diminuir o impacto daquela atitude pedindo a todos que se abra assem alegremente mudando o ritmo da m sica para algo mais contagiante Todos entraram no clima e a aula continuou Ap s seu t rmino foi dado um intervalo antes de voltarmos para a reuni o neste momento o professor X foi embora sem que ningu m o visse e por duas semanas n o compareceu escola Patr cia ligou para a casa dele para saber se estava tudo bem e a resposta dada foi que ele estava muito gripado e n o tinha condi es de dar aula Todos comentaram a surpresa que sentiram diante daquele fato relatei ao grupo que por uns instantes senti medo e um certo desconforto pois n o esperava aquela rea o Analisamos depois que o professor X diante das press es que vinha sofrendo na escola e PAGE talvez tamb m em casa com o contato corporal o ritmo das m sicas e o clima de aceita o e carinho que surgiu na aula sentiu uma emo o dif cil de segurar e a alternativa foi extravasar gritar colocar para fora aquilo que tanto o oprimia Entretanto ao perceber a rea o dos colegas e se dar conta que teve um comportamento diferente daquele que estava acostumado e que talvez considerasse
294. rpo Por essa raz o utilizamos movimentos f sicos formas volumes rela es f sicas Nada deve ser feito com viol ncia ou dor em um exerc cio ou jogo ao contr rio devemos sentir prazer e aumentar a nossa capacidade de compreender Os exerc cios e jogos n o devem ser feitos dentro do esp rito de competi o devemos tentar ser sempre melhores do que n s mesmos e nunca melhores do que os outros Creio que o teatro e a dan a deve trazer felicidade deve ajudar nos a conhecer melhor n s mesmos e ao nosso tempo O nosso desejo o de melhor conhecer o mundo que habitamos para que possamos transform lo da melhor maneira O teatro e a dan a uma forma de conhecimento e deve ser tamb m um meio de transformar a sociedade Pode nos ajudar a construir um futuro em vez de mansamente esperarmos por ele 2000 p x xi Para discutir com os alunos os conceitos de corpo constru dos socialmente tracei num primeiro momento um caminho junto com o professor de Educa o F sica da escola Como muitos alunos n o estavam fazendo parte das atividades previstas para a pesquisa pensei em estender parte da discuss o pretendida a eles atrav s das aulas de Educa o F sica Por outro lado este encaminhamento tamb m estava de acordo com os temas previstos na rede tem tica Desta forma n o estar amos fugindo do planejamento interdisciplinar Nossa primeira proposta conjunta era discutir com os alunos os valores sociais d
295. s muitas vezes diversos do que se processava nas outras duas escolas com o projeto O tempo todo deix vamos claro que apesar de estarmos presentes como coordenadores da SME era o corpo escola o respons vel pelo direcionamento que o projeto tomaria sua constru o era cotidiana e corresponderia s caracter sticas daqueles que participam efetivamente do seu desenvolvimento Pois assim como Paulo Freire 1987 acredit vamos que as problematiza es surgidas no decorrer do projeto representariam desafios aos professores que instigados a resolv los tornar se iam mais engajados com sua proposta Este encaminhamento estava de acordo com os princ pios filos fico e metodol gico do trabalho com alunos jovens e adultos que n s haviamos assumido como op o pr xis da Educa o Popular tendo como centro de discuss o a Pedagogia Libertadora de Paulo Freire 1994 Esta pedagogia concebida como aquela comprometida com a transforma o da sociedade a partir inicialmente da tomada de consci ncia da situa o existente para imediatamente se engajar criticamente num projeto de interven o atrav s da pr xis social a o mais reflex o PAGE Neste contexto era importante conhecer a realidade imediata dos alunos para a partir dela tra ar um paralelo entre a realidade local e a realidade global num processo de tomada de consci ncia das nossas reais possibilidades para intervir no entorno Dentro da concep
296. s antiga ficou muito brava e tentou parar com a m sica como n o conseguiu se retirou da cozinha Ap s o jantar desligamos o som e tudo voltou ao normal Fui ent o conversar com a cozinheira Ela me perguntou se isto era normal se aconteceria esta confus o toda semana se assim fosse ela pediria transfer ncia da escola pois estava velha demais para estas inova es Disse ainda que se eu quisesse fazer um baile que fosse depois do jantar quando tudo estivesse arrumado n o causaria transtorno para ningu m Na realidade a escola n o est acostumada com os transtornos com o inesperado todas as a es s o padronizadas e mediadas pelos donos dos respectivos espa os n o permitido fugir norma Pareceu me que a cozinha e o refeit rio s o lugares reservados s cozinheiras alunos e professores s podem us lo de passagem com a sua permiss o Em outro momento esta mesma funcion ria havia reclamado de um professor que usou o PAGE refeit rio para fazer um trabalho de artes pois precisou usar o tanque que havia neste espa o e depois expor as produ es dos alunos em varais improvisados para secar Se cada espa o da escola possu a um dono perguntei me qual era o espa o dos alunos Uma outra situa o que vale a pena destacar foi a inaugura o da biblioteca e da quadra da escola Estariam presentes o prefeito e sua comitiva incluindo secretaria de educa o e seus coordenadores A dire o g
297. s e conselhos de escola com a associa o de moradores e comunidade escolar a partir dos seguintes pontos forma de gest o crit rio para se efetivar a candidatura o tempo apropriado para a dura o do mandato e cronograma das elei es As delibera es tomadas ap s um grande processo de discuss o tornou se lei em dezembro de 1995 Em texto mimeografado distribu do numa reuni o geral pela SME a todas as Unidades Escolares em dezembro de 1992 foram apresentadas as diretrizes b sicas que iriam nortear a pol tica de a o da Secretaria Municipal de Educa o na pr xima gest o do PT 1993 1996 Os principais eixos norteadores do trabalho eram a democratiza o do acesso a democratiza o da gest o e a nova qualidade de ensino Tal medida foi justificada no referido texto p 02 da seguinte forma Pretendemos cristalizar uma pr tica que altere o modo de legitima o do poder pol tico Essa nova pol tica estabelece um novo relacionamento entre os movimentos sociais e o poder p blico ao mesmo tempo que limita a margem do arb trio do poder pol tico constituindo uma nova fonte para sua legitima o pois entendemos o poder democr tico e popular como express o mais leg tima da cultura pol tica dos direitos A Pr tica Pedag gica preocupada em resgatar criticamente o conhecimento produzido pela humanidade e centrada no trabalho coletivo revela a escola como centro irradiador da cultura popular que recriada no seu
298. s fortalecidos na d cada de 60 Angra dos Reis foi uma das cidades que geograficamente se enquadrou perfeitamente aos des gnios governamentais O aprofundamento das rela es pol ticas e econ micas entre a cidade de Angra dos Reis e o pa s foi decorrente da acumula o de capital liderada pela associa o entre as grandes empresas estrangeiras multinacionais o Governo Federal e empresas privadas nacionais a partir de tr s iniciativas de peso que impulsionaram os rumos industriais no munic pio neste per odo a constru o da rodovia BR 101 ligando a cidade do Rio de Janeiro cidade de Santos pelo litoral de Angra a famosa rodovia Rio Santos imortalizada pela can o de Roberto Carlos o que viabilizou o PROJETO TURIS empreendido pela EMBRATUR Empresa Brasileira de Turismo a constru o da Usina Nuclear de Angra I FURNAS e do terminal petrol fero mar timo da Petrobr s TEBIG IBASE v I 1993 p 22 23 A constru o da rodovia BR 101 atendeu aos anseios de expans o capitalista ligada ao desenvolvimento industrial e tur stico da regi o o que representou a destrui o das estruturas econ micas sociais e pol ticas anteriores e a implanta o de novas atividades que corroboraram para tornar a regi o um para so de especula o imobili ria Para Bertoncello a constru o da rodovia buscava integrar e controlar o territ rio facilitar a expans o capitalista moderna remover obst culos centr
299. s interven es na escola enfim por ter estado ao meu lado nos momentos mais dif ceis Aos colegas da Escola Cacique Cunh bebe que viveram comigo esta experi ncia e me mostraram que diante da singularidade preciso dar um passo de cada vez trabalhar com a conquista e sedu o para que todos se sintam respons veis pela constru o dos projetos educacionais Em especial ao meu amigo Marcelo Para so pelo incentivo e cumplicidade durante o per odo da pesquisa Aos alunos da Escola Cacique Cunh bebe pela amizade e respeito que me dispensaram durante todo o trabalho e pelas li es de humanidade for a e coragem em busca de um sonho Aos amigos nio Virginia Rossana Marcio Dourado Marcio Marilia V nia Pablo S rgio Beatriz etc que dividiram comigo dias inesquec veis no muquifo casa que nos uniu e se tornou cen rio para os debates e ideais profissionais festas e comemora es que certamente jamais se apagaram de nossas mem rias Aos professores Maria Elizabeth Barros ster Arantes C lia Linhares Sonia Vargas e Jo o Batista pela disponibilidade e carinho que demonstraram no processo de composi o e defini o da mesa de defesa desta tese A Deus pela presen a constante pelo colo e conforto nos momentos de desesperan a e desanimo A for a e coragem adquirida a partir da cren a em ti s o fundamentais diante das adversidades vivenciadas no cotidiano PAGE Ateneu define de modo bem claro
300. s motivos que levaram o PT a perder as elei es de 2000 Com o novo prefeito in meras medidas foram implementadas em 2001 obrigando muitos profissionais que n o residiam em Angra a pedirem licen a sem vencimentos afastamento por tempo determinado ou mesmo demiss o Isso ocasionou vac ncia de fun es que imediatamente foram preenchidas pelos profissionais da cidade com crit rios no m nimo duvidosos Na Educa o essas vagas foram distribu das entre os vereadores que apoiaram a coliga o Minha inser o na escola pesquisada como investigadora se deu neste ano momento de muitas incertezas e boatos A fala inicial da nova administra o da SME era que os projetos que estivessem dando certo n o sofreriam modifica es Na pr tica o que vimos foi um processo cont nuo de desmantelamento dos grupos que davam suporte aos diferentes projetos nas escolas Professores que durante doze anos n o tiveram participa o expressiva nos diferentes espa os de discuss o ou se colocaram numa posi o de cr tica constante sem proposi o efetiva agora estavam nas diferentes coordena es da SME No que se refere ao RN dois professores assumiram sua coordena o Apesar da boa vontade ambos ignoravam os mecanismos democr ticos que deram origem ao projeto da mesma forma ignoravam seu processo de implementa o nas escolas assim como as No meu entendimento este enfraquecimento se deu principalmente pelo deslocamento dos seus
301. s pesadas o fumo cigarro e o lcool tamb m deveriam ser considerados Houve um certo constrangimento Como trabalhar um problema que tamb m atinge os professores e dire o no caso o v cio do cigarro No fim todos concordaram em manter a discuss o do tema enfatizando mais suas consequ ncias e rela es sociais e econ micas abrindo m o de um vi s mais moralizante Outro embate interessante foi em torno das falas que acusavam a escola de n o dar abertura para os pobres Eu defendi estas falas como sendo significativas haja vista o funil que representa a educa o brasileira Tr s professores discordaram Os motivos alegados foram esta n o foi uma quest o recorrente em outros grupos nenhum sistema educativo PAGE tem como proposta a democratiza o do ensino superior fazer este discurso pura demagogia Hoje temos muitas vagas o aluno que n o procura a escola Coloquei meu posicionamento dizendo que n o poder amos simplificar esta quest o alegando que tem vagas nas escolas e o aluno que n o est interessado preciso contextualizar a repet ncia e o abandono a discuss o da democratiza o do acesso n o se prende a apenas ampliar o n mero de vagas mas criar condi es para que o aluno permane a queira estar na escola Mesmo que nem todos fa am o 3 grau pelo menos eles precisam ter condi es de opinar e decidir se querem continuar os estudos Muitos professores defendera
302. s pr ticas discursivas e n o discursivas A rela o estabelecida com o corpo escola nestes dois anos de investiga o possibilitou a percep o da escola como territ rio de produ o de corporalidades nos quais se disputam sentidos de submiss o e emancipa o poss vel perceber corpos submissos enquadrados s normas e fechado na busca de seus pr prios objetivos ao mesmo tempo em que se vislumbra que o empenho de todos na busca de uma nova pr tica pedag gica permite reconduzir os sujeitos para um maior compromisso com as causas coletivas para o auto conhecimento e para a valoriza o do prazer compartilhado estabelecendo rela es mais comprometidas como outro e com o meio Revendo Carrano 1999 posso afirmar que a socializa o empreendida pela escola pode assumir caracter sticas de adapta o continuidade e incorpora o como tamb m pode se configurar numa socializa o ativa contradit ria e dial gica Nela coexistem for as resistentes e heterog neas que podem fazer sobrepor processos de domina o como podem favorecer processos comunicativos de participa o ou de resist ncia e cria o coletiva PAGE reconhecendo as m ltiplas faces presentes na forma o dos sujeitos e n o apenas linguagens parceladas de professores e alunos em salas de aulas com quadro e giz Neste contexto acredito que o projeto do RN desenvolvido na Escola Municipal Cacique Cunh bebe demarcou um corte significativo na hist r
303. s pr ticas que se processaram nesta realidade pois a pesquisa interven o vai propor a no o de implica o que recusa a neutralidade do analista pesquisador na tentativa de romper com as barreiras entre sujeito que conhece e objeto a ser conhecido Pressup e a integra o do pesquisador com o campo de investiga o de modo a estabelecer uma rela o rec proca de interfer ncia na realidade ou seja pesquisador e pesquisado se constituem no mesmo momento no mesmo processo Sua concep o de mundo n o s interfere nas an lises como tamb m ser objeto dela A teoria e a pr tica n o s o elementos considerados separadamente com necessidade de fus o mas como processos que se atravessam e se autoconstituem constantemente Desta forma ela inclui uma an lise do sistema de lugares o assimilamento do lugar que ocupa que busca ocupar e do que lhe designado ocupar com os riscos que isto implica BARROS 1994 p 308 309 Neste sentido percebo que minha participa o nas reuni es por diversas vezes clareou d vidas e definiu a es que posteriormente se apresentaram como significativas no entendimento do projeto e na constru o cotidiana das rela es do corpo escola No segundo semestre o quadro que se apresentava era de um grupo de professores que apesar das diferen as tinha conseguido ultrapassar muitas barreiras e estava pronto para defender o trabalho que vinha desenvolvendo no noturno Esta seguran
304. scola me procuraram para dizer que voc provocou uma grande confus o na escola incentivando os alunos a brigarem Expliquei a ela o ocorrido e os objetivos do trabalho e no fim ela disse ter entendido a proposta e concordava com a assembl ia Depois fiquei sabendo pela auxiliar de dire o que a diretora geral havia criticado meu trabalho que eu n o deveria estar na escola trabalhado teatro com os alunos que os professores estavam reclamando o uso do audit rio e que ela deveria resolver esta situa o comigo Na conversa com a auxiliar de dire o falei da minha conversa com a diretora que n o entendia porque ela n o havia me dito todas estas coisas pessoalmente e se a escola decidisse que eu n o poderia mais fazer o trabalho com os alunos eu daria por encerrada a minha pesquisa Entretanto analisava esta situa o como uma atitude de resist ncia da escola diante da possibilidade de auto analisar e promover mudan as Enfatizei tamb m a atitude da dire o quando era de seu interesse dava autonomia sua auxiliar para decidir sobre o noturno quando n o era de seu interesse esta autonomia lhe era tirada e teria que obedecer a ordens Esta atitude representava uma falta de articula o e afinidades entre os membros da dire o Eram quatro pessoas com motiva es e interesses diferentes regendo uma escola de maneira que apesar de terem seus princ pios e objetivos tra ados n o representavam os objetivos profissionais
305. scolar procurando rever sua organiza o hier rquica compreender os diferentes entendimentos de sua fun o na sociedade possibilitar uma forma o continuada em servi o aos diferentes profissionais da escola a fim de suprir as falhas da forma o escolar e acad mica estabelecer seus limites e criar um espa o de questionamento e proposi o coletiva O desafio de repensar reestruturar a educa o em Angra dos Reis diante do contexto s cio econ mico pol tico do pa s era um desafio criticado por muitas pessoas presas a l gica instrumental e produtivista das escolas A luta apesar das diverg ncias internas era por uma escola p blica que entendesse a cidadania em sua completude e diversidade permitindo em seu espa o a constru o de rela es de resist ncia l gica de redu o dos espa os e direitos p blicos Em 1998 a SME na voz da secret ria sub secret ria das gerentes e chefes de departamentos lan a a proposta de realiza o do II Congresso Municipal de Educa o uma vez que boa parte das delibera es do I Congresso haviam sido cumpridas A justificativa apresentada pela Secret ria de Educa o Elizabete Bento no ano de sua realiza o em 1999 Percebemos a necessidade de ampliar a participa o nas decis es voltadas para a pol tica educacional nas escolas municipais Para isto criamos espa os para avaliar nossas PAGE a es porque acreditamos que para superar os limites precisamos dia
306. scolas municipais de Angra dos Reis Democracia autonomia interdisciplinaridade e refer ncias s PAGE realidades vividas pelos alunos no curr culo eram os princ pios que embasavam as pr ticas pedag gicas no projeto Esse discurso trouxe me a necessidade de olhar mais detalhadamente para o cotidiano destas escolas e observar como se davam as rela es de poder saber corpo diante do novo projeto Uma nova quest o come ou a se formar Que corporalidade esta nova pr tica est construindo nas escolas Meu envolvimento com a coordena o do RN exigiu muito do meu tempo apresenta o de propostas coordena o das reuni es semanais de planejamento com os professores do projeto forma o dos profissionais envolvidos com o ensino noturno sistematiza o dos materiais produzidos nas diferentes reuni es e encontros acompanhamento das escolas sem projeto participa o em outras a es da SME etc levando me a adiar uma investiga o mais espec fica acerca da produ o de corporalidades no cotidiano escolar O doutorado permitiu me retomar esta quest o e ampliar o questionamento no sentido de entender os atravessamentos institucionais presentes nas us ad R 4 z pr ticas discursivas e n o discursivas produzidas nas escolas Estes tr s elementos me chamam a aten o por constitu rem a base da constru o cultural dos comportamentos humanos medida que adquirimos o saber sobre algo somos dotados de
307. se isolarem na sala dos professores no intervalo das aulas para ter uma folga dos alunos agora este espa o era dividido tamb m com muitos PAGE deles de forma espont nea um clima de descontra o companheirismo e brincadeira reinava neste espa o Muitos professores passaram a jantar no refeit rio junto com os alunos para ter um espa o maior ou simplesmente para dividir o momento com eles Da mesma forma a sala da dire o n o estava proibida aos alunos com a porta geralmente aberta para o p tio eles tinham acesso sem nenhum constrangimento era comum entrarem e sa rem sem ficar configurado um clima de repress o ou cobran a Percebi tamb m que nas salas de aula alguns alunos mais calados come aram a se expressar mais Uma das alunas da sexta s rie me disse em entrevista que ela se sentia inferior achava que as pessoas n o gostavam dela que a consideravam chata e tinha muita vergonha de falar tinha medo de falar algo errado e que por isso ficava na dela n o tinha amigos Essa aluna me chamou muito a aten o por dizer n o a tudo que era proposto sempre repetia que n o conseguia que n o tinha jeito que tinha vergonha Diversas vezes foi embora da escola ou se afastou do grupo de trabalho de forma abrupta demonstrando raiva e ressentimento sem que as pessoas pudessem entender o motivo Com muita insist ncia minha essa aluna foi participar das aulas de dan a e teatro No fim da pesquisa ap s seu depoimento v
308. se torna parceiro Olhar para o diferente com carinho e aten o abra lo s o a es desnecess rias no ambiente escolar Ali o espa o do trabalho da produ o da sobreviv ncia qualquer atitude diferente disso perda de tempo Pergunto me como rever a Educa o de Jovens e Adultos a partir de um projeto que prop e um caminho na contra m o da l gica capitalista de simples prepara o para o trabalho com vista a criar novas rela es e valores sociais se os professores n o se disp em a rever os seus pr prios valores e comportamentos Como pensar novas rela es de saber poder corpo na escola se os professores n o se prop em a rever suas rela es com o ambiente Este um n dif cil de desatar dentro do sistema educacional S o s culos de educa o do corpo submisso individual competitivo serializado com prioridade dos sentidos vis o e audi o que permitem a dist ncia sobre os outros sentidos o tato o olfato o paladar que prev a proximidade As rela es de poder saber corpo j est o solidificadas e o processo de desvelamento longo Vale a pena ressaltar que no fim da aula notei uma grande descontra o no grupo muitas brincadeiras e anima o o que me pareceu ser uma rea o proximidade que a aula possibilitou Este clima de certa forma se desfez ap s a aula porque o grupo foi dividido para discutir o planejamento espec fico por rea Mas antes disso membros da SME chegaram
309. seu encaminhamento t cnico e tamb m pela identifica o com o grupo de trabalho se n o h confian a nos colegas a tend ncia geral n o se expor Muitas vezes aparentemente concordavam com o que estava sendo dito para n o gerar pol mica mas continuavam reproduzindo aquilo em que acreditam Havia tamb m na din mica de discuss o e organiza o do projeto a indica o da apresenta o pelos professores de algumas de suas aulas desenvolvidas com os alunos com o objetivo de todos analisar e apontar os avan os e retrocessos no sentido de possibilitar um crescimento no que se refere a um planejamento de aula interdisciplinar Esta din mica s teria xito se houvesse uma confian a m tua entre os professores e seguran a diante do trabalho desenvolvido importante frisar que este direcionamento encontrou s rias resist ncias poucos foram os professores que ousaram colocar seu trabalho para avalia o no ano de 2000 em 2001 esta din mica n o conseguiu ser repetida Os professores est o acostumados a serem os nicos respons veis pelo planejamento e desenvolvimento de suas aulas s o eles que decidem o conte do a ser desenvolvido naquele dia a abordagem e as estrat gias a serem seguidas Colocar este planejamento para avalia o de outros professores PAGE para muitos estar numa posi o fragilizada destitu da de poder sujeito a cr ticas situa o insuport vel para alguns e descabida para outros dia
310. sitiva pois de alguma forma foi garantida a presen a das atividades que haviam escolhido e oportunizada viv ncias culturais art sticas e comunicativas que at ent o n o haviam experimentado na escola muitos foram os ganhos desta pr tica para a constru o de novas rela es neste espa o A seguir destaco duas falas proferidas por alunos na avalia o do projeto A oficina ajudou a me expressar mais a diminuir a timidez consigo falar mais Foi muito importante pra mim Minha amiga fez artesanato hoje ela faz artesanato pra ela e vende alguns isto tamb m foi muito importante pra ela Por isso n s temos que exigir a continuidade das oficinas aluna da 5 s rie Eu gostaria de sugerir a manuten o da oficina de r dio Foi importante pra mim e acho que importante pra muita gente Al m de desinibir abre espa o para falarmos o que est acontecendo e desenvolver os dons de cada um aluno da 7 s rie Estas falas demonstram que a aprendizagem passa por diferentes viv ncias e se torna mais significativa quando possibilita a livre express o e quando as pr ticas cotidianas escolares consideram e valorizam no processo de ensino aprendizagem as diferentes linguagens corporais permitindo o florescimento da imagina o condi o primeira da cria o Regina Leite Garcia faz algumas reflex es a este respeito PAGE n o dever amos estar deixando fluir a imagina o de nossos alunos e alunas e
311. so retomando alguns projetos do governo que n o PAGE atenderam s expectativas da popula o como por exemplo o projeto de saneamento b sico do munic pio PROSANEAR que congregou um montante de verba mas por problemas administrativos n o se efetivou Era poss vel ver parte do material comprado abandonado em terrenos baldios o que reacendia sempre a chama da promessa n o cumprida Um outro fator que de certa forma causou insatisfa o em parte dos profissionais p blicos foi a op o priorit ria da ltima gest o do PT em Angra pelo projeto ORLA que representava uma s rie de projetos de pavimenta o da orla da cidade deixando para segundo plano os investimentos em educa o e sa de bom destacar que a sa de sempre foi um problema no munic pio e as a es implementadas nos tr s mandatos n o conseguiram atender s expectativas da popula o Outra quest o que montou a base do discurso da oposi o foi a aprova o de grande parte de estrangeiros nos concursos p blicos municipais Acusavam a administra o do PT de governar e criar empregos para os de fora e n o para os moradores de Angra Esse discurso penetrou os diferentes espa os da cidade Nas escolas era comum encontrarmos uma certa resist ncia velada de alguns profissionais residentes da cidade em rela o aos professores que vinham de outra cidade Mais informa es consultar a Disserta o de Marilia Campos cuj
312. sor G Fico preocupado com aqueles professores que n o quiserem fazer biodan a o que eles v o fazer Professor H Por que n o montar um grupo de estudo Professora A N o vejo de maneira nenhuma a imposi o Eu gostaria muito de fazer uma atividade em que eu possa estar comigo mesma e com o grupo timo estar com quem eu gosto e discutir as diverg ncias E se a escola est oferecendo isso eu acho importante N s precisamos estar com o outro vivenciar com o outro e isto importante para tudo na vida uma oportunidade de estar junto trocando experi ncia que n o s profissional uma oportunidade de crescermos como seres humanos Professora B A fala da professora demonstra a import ncia de viver a experi ncia daquilo que realmente conta o encontro com o outro a viv ncia do cuidado e n o do valor utilitarista pensando apenas no uso poss vel das coisas e pessoas Para Leonardo Boff 1999 p 96 a PAGE partir desse valor substantivo que emerge a dimens o da alteridade de respeito de sacralidade de reciprocidade e de complementaridade O pressuposto para o trabalho de 15 15 dias equivocado As rela es est o ruins porque est o tensas porque a cobran a est demasiada existe patrulha sobre minhas a es me sinto mal isto deteriora qualquer rela o A dire o desta escola tem que encontrar seu perfil nada mais caminhou na escola porque j temo o projeto do Regular
313. spira es da Comunidade Caracteriza o da clientela Formula o dos objetivos 2 veces Projetos festividades calend rio escolar Este encaminhamento foi adotado pelas diferentes escolas na constru o de seus projetos pedag gicos da mesma forma as reuni es de coordena o das reas de conhecimento passaram a discutir formas de atender aos princ pios apontados no Congresso Todas as a es realizadas neste sentido foram estimuladas a serem apresentadas na I Mostra Pedag gica da rede municipal realizada em 1996 atrav s de pain is comunica es orais e oficinas Neste mesmo ano foi tamb m distribu do em toda a rede municipal o caderno de relatos das a es das coordena es de rea intitulado Nova Qualidade de Ensino movimento de reorienta o curricular Considerou se que as a es desenvolvidas no Foram apresentados 108 trabalhos de professores todos eles tiveram o resumo publicado nos Anais da 1 Mostra Pedag gica de Angra dos Reis realizada entre os dias 29 de julho e 03 de agosto de 1996 PAGE munic pio voltadas para o Movimento de Reorienta o Curricular descentralizado mas sobretudo s rio e consequente significou um est gio de amadurecimento das escolas fruto de um trabalho respons vel e comprometido em que as escolas puderam exercitar sua autonomia did tico pedag gica e desempenhar sua fun o social considerando os diversos saberes e nestes contr rios
314. sso era demorado e dependia em parte do in cio das aulas pois a presen a dos alunos era fundamental neste debate foi sugerido que se come asse o ano letivo dando continuidade ao planejamento mediante as falas significativas tiradas no ano anterior e que ainda n o haviam sido contempladas A assembl ia viria para reorganizar o planejamento do segundo bimestre em diante Os professores que ainda estavam tomando conhecimento da situa o desenvolviam suas aulas de forma tradicional Os novos coordenadores se apresentaram escola para acompanhar as reuni es pedag gicas no entanto n o conseguiram exercer a fun o de orienta o do planejamento pois apesar de um deles ter atuado no projeto ainda tinha muitas d vidas por outro lado os PAGE professores mais antigos apresentaram uma certa resist ncia a sua presen a Na realidade ningu m entendia direito por que este professor tinha aceitado o convite para coordenar o noturno uma vez que sua inser o nas discuss es do projeto do RN tinha acontecido no ano anterior portanto n o possu a o ac mulo dos dez anos de discuss o da EJA no munic pio e principalmente sabendo que a nova administra o tinha um projeto pol tico completamente adverso da administra o anterior que em diversos momentos ele havia elogiado Em muitas reuni es sua presen a gerou pol micas e constrangimentos pois as cobran as em rela o ao seu compromisso profissional com o projeto e a escol
315. sta atitude porque na aula anterior eles tamb m me pediram para sair a fim de organizar o baile dos alunos Perguntei aos alunos da classe quem estava sabendo que haveria baile somente dois levantaram a m o Ent o disse a eles que n o permitiria aus ncia nas minhas aulas para este fim e iniciei com o grupo uma discuss o sobre a fun o do gr mio a necessidade de mobiliza o da categoria e transpar ncia nas a es Perguntei aos alunos se eles sabiam onde eram gastos o dinheiro arrecadado e os alunos responderam que desconhecem qualquer a o do gr mio Com base neste relato eu reafirmei que n o permitiria aus ncia nas minhas aulas Lembrei ao grupo o que tinha dito na semana anterior e proibi a sa da deles Os gremistas disseram que a dire o havia autorizado a aus ncia das aulas para a reuni o Eu respondi que a dire o podia decidir pela escola mas n o mandava em minha sala de aula nem no meu di rio Rodrigo ent o me disse que eu estava sendo autorit rio e que a partir daquele momento ele n o mais reconhecia minha autoridade como professor Fui em busca da dire o geral que estava na escola naquela noite e perguntei a ela na frente da turma se ela havia permitido a aus ncia dos alunos do gr mio das aulas para a reuni o Ela negou e depois de um serm o no grupo p s fim ao embate impondo sua autoridade disciplinar Disse em frente turma que se o Rodrigo n o reconhecia a autoridade do professor a escola tamb m
316. staria de PAGE ressaltar mais um Este professor que vou chamar de professor W era um antigo amigo de gradua o Na universidade discord vamos de muitas coisas principalmente quanto concep o da educa o f sica na escola Ele atleta de voleibol defendia o esporte como conte do principal da rea eu com um envolvimento maior com a dan a e a express o corporal discordava Quando ele foi chamado pelo concurso p blico e lotado na escola Cacique Cunh bebe para trabalhar com o noturno em 2001 tive uma agrad vel surpresa pois fazia tempo que n o tinha contato com ele e nossa amizade sempre propiciou bons debates Tivemos longos di logos sobre minha inten o de pesquisa no doutorado sobre a educa o f sica e o corpo na escola Seu entendimento sobre minha proposta foi fundamental para a realiza o das atividades de dan a e teatro com os alunos pois ele me cedeu seus alunos no hor rio da aula de educa o f sica para realizar a pesquisa Este professor sempre teve um carisma pessoal para lidar com as pessoas alegre e costuma brincar com todos sendo chamado por alguns de boa pra a Na escola logo se sentiu vontade e ganhou espa o com os outros professores e alunos Nas reuni es pedag gicas sempre se manifestava emitia suas opini es mas tamb m brincava muito o que s vezes irritava a dire o Quando realizamos a aula de biodan a ele foi um que n o queria participar dizia ser coisa de bo
317. stor n o permitia Uma outra aluna que participava das aulas h algum tempo me procurou dizendo que algu m da escola havia dito ao seu marido que ela estava se esfregando com outros machos da escola nas aulas de dan a Ele ent o a proibiu de participar das aulas sob pena de tir la da escola Muitas alunas comentaram comigo quando iniciei o trabalho que queriam participar mas n o podiam por que eram casadas ou evang licas algumas assistiam s aulas outras nem isso podiam fazer Pag s nos alerta que a repress o n o tem o mesmo sentido para um e para outro essencialmente moral para o segundo e por demais necess ria porque exprime o contacto com a realidade e o desejo torna se imposs vel para o primeiro s d p 66 Ela bloqueia o fen meno de crescimento e desenvolvimento s cio cultural dos sujeitos O poder do sexo masculino e da religi o neste grupo de alunos preponderante As mulheres s o mais submissas e acreditam que este seu nico caminho Os homens t m poder de mando e decis o sobre suas vidas Esta quest o tamb m foi abordada nas aulas e muitas alunas se manifestaram a favor das mulheres obedecerem aos maridos outras discordaram por m contemporizaram diante dos casos em que a mulher sustentada pelo homem O que se percebe que o corpo aprende nas rela es cotidianas a quem deve obedecer ou n o os comportamentos desejados PAGE e os n o desejados a dificuldade de acesso a uma dis
318. storicamente constru dos nas diferentes reas e s produ es culturais Outro discurso conhecido como justificativa para os problemas de aprendizagem no noturno o conflito entre jovens e adultos uma vez que os adultos est o na escola porque perceberam na vida social a import ncia dos estudos e os jovens que sa ram do ensino diurno por motivos diversos principalmente pelas constantes reprova es est o na escola mais pela possibilidade do encontro com seus iguais As caracter sticas da juventude tais como alegria imediatismo descontra o s o muitas vezes percebidas tratadas no ambiente escolar como empecilho para a produtividade Diante destes comportamentos os educadores s o chamados a exercer a fun o de policiais desenvolvendo pr ticas de disciplina e controle do corpo do aluno FOUCAULT 1979 Isto porque historicamente tem reca do sobre a educa o mais especificamente sobre a escola a fun o social de perpetuar manter viva a cultura da sociedade na qual est S Estas falas s o de professores da rede municipal de educa o de Angra numa das reuni es do P lo do Regular Noturno PAGE inserida Neste sentido formas de saber e poder foram sendo criadas e aplicadas no ambiente escolar para atender os ideais de vigil ncia e controle sociais A produtividade e o desempenho individual dentro de determinados padr es estabelecidos socialmente foram e continuam sendo a base da avali
319. stru o de condom nios fechados e de hot is de luxo empreendeu uma nova organiza o do espa o cerca de 70 do litoral angrense estava privatizado no final da d cada de 70 Os posseiros e ou pescadores deixaram suas terras e passaram a ocupar reas sem acesso ao mar como por exemplo os morros no centro da cidade as reas perif ricas e os mangues perdendo a possibilidade de continuar suas principais atividades produtivas a agricultura e a pesca No entanto importante frisar que a popula o angrense n o aceitou passivamente este processo de desapropria o do solo pelo contr rio os conflitos nesta regi o chegaram a representar um quarto dos conflitos de terra do Estado do Rio de Janeiro MACHADO s d PAGE Foto 05 Expans o das moradias pelos morros da cidade O turismo e todas as a es que dele se originam ao incentivar a constru o de uma segundo moradia para os moradores eventuais foi respons vel por uma grande parte da migra o para a regi o no entanto n o influenciou significativamente a produ o de novos postos de trabalhos Ap s a instala o do Estaleiro Verolme na d cada de 50 foram os projetos implementados nas d cadas de 60 e 70 na rea da energia transporte e comunica o os grandes respons veis pelo incha o populacional da cidade em busca de novas frentes de trabalho Esses empreendimentos com iniciativas da EMBRATUR faziam parte do projeto modernizante de reestrut
320. sua intui o e sua sensibilidade e ao pretender educar educar o que n o significa domesticar o olho o ouvido o tato o olfato e a gusta o formas de conhecimento do mundo e de si mesmo pois s assim lhes ser oferecida a possibilidade de diversidade de pensamento de diversidade de linguagens Musicalizar a vida poetizar a vida sentir o cheiro da vida tornar a vida mais bela Ou como diria Bakhtin h que se carnavalizar a vida para que se possa manifestar o seu impulso criador Ou para os iniciados deixar aparecer Exu for a que abre caminhos e que transborda o impulso criador cuja nega o a morte 2000 p 12 Por outro lado percebeu se um certo desinteresse por parte de alguns alunos em participar das oficinas Os motivos alegados foram n o havia oficina que os interessassem e era desanimador vir para a escola apenas depois das 20h para o segundo bloco de atividades Esta situa o preocupou a todos uma vez que a inten o era articular as atividades da oficina com as atividades de sala de aula quebrando com a vis o tradicional que diz que s se aprende na sala de aula com livro did tico quadro e giz avalia es quantitativas e exerc cio de casa Oficina de Capoeira Oficina de Corte Costura Oficina de Dan a PAGE Oficina de R dio Oficina de Trabalhos Manuais Foto 29 As Oficinas Esta quest o foi pauta das reuni es pedag gicas nas quais se discutiu com os pr
321. te na motiva o desses profissionais quanto ao processo ensino aprendizagem Apesar dos avan os que tivemos nos ltimos anos com grande expans o da EJA nem todos t m acesso a ela A EJA segundo documento da CONFINTEA Confer ncia Internacional de Educa o de Adultos 1999 ainda permanece um privil gio das popula es mais fortemente escolarizadas dos homens mais que das mulheres dos pa ses ricos das zonas urbanas melhor equipadas dos brancos mais que dos negros e ndios S o PAGE comuns programas de ensino distantes da realidade cultural camuflando as diferen as e preconizando padr es de uma cultura hegem nica Existem ainda hoje milh es de pessoas que n o sabem ler nem escrever e outros milh es que conseguem entender o que l em e por isso possuem poucos instrumentos para compreendem a mudar a realidade na qual est o inseridos Educar jovens e adultos um desafio a ser enfrentado para minimizar os efeitos negativos que s culos de explora o impingiram s classes populares Os avan os tecnol gicos na informa o precisam estar a servi o de todos necess rio criar condi es para que homens e mulheres desenvolvam suas compet ncias para criar intervir e dialogar com o diferente assumir seu lugar no mundo compreendendo e re significando a realidade Para isso necess rio um cont nuo aprendizado por toda a vida A coragem e a imagina o do ser humano s o nossos melhores adornos
322. te porque a escola era fraquinha e s tinha at a terceira s rie n o tive oportunidade de ir pra outras escolas porque j estava rapazinho e ia tirar a vaga de outras crian as Tem dois anos que voltei pra escola me matriculei aqui no Frade fiz algumas avalia es de 3 e 4 s rie e passei e hoje estou aqui na 5 s rie com 48 anos Espero n o parar mais Nasci no Rio de Janeiro mas fui criado com meus pais no interior da Bahia Como meu pai tinha o v cio da bebida n s passamos muitas dificuldades Dos sete filhos eu sou o filho mais velho s o quatro mulheres e tr s homens O interior um lugar meio sofrido Em termos de trabalho desenvolvimento escolas eu n o pude estudar tive que trabalhar para ajudar meus irm os na ro a na pesca Eu pescava com meu pai eu queria vir embora para o Rio de Janeiro para a casa de meus parentes mas eu ficava pensando nos meus irm o e minha m e Quando meus irm o come aram a crescer com 12 e 15 anos a eu tomei a decis o de vir para o Rio sem ningu m se oferecer para me trazer cheguei na casa de meus tios tinha 17 anos e comecei a batalhar Ajudava minha m e e ajudo at hoje mesmo sendo casado Meu objetivo era sair do interior pra ajudar meus irm o e minha m e eu passei muita dificuldade passei fome e tamb m n o t nhamos roupas porque meu pai n o se preocupava em colocar comida em casa Minha m e professora de 1 a 4 s rie mas eu n o tinha condi es de estu
323. te tipo de teatro longe de ser testemunha o espectador ou deve exercitar se para vir a ser o protagonista da a o dram tica BOAL 2000 p 322 No teatro do oprimido buscam se os caminhos da liberta o e n o da resigna o ou catarse por isso necess rio buscar as imagens mesmo simb licas surrealistas que possam corporificar teatralmente um tema significativo e real pois quando se tem um problema claro concreto e urgente natural que o debate se dirija para as solu es igualmente urgentes concretas e claras muito mais importante provocar o debate do que chegar a uma boa solu o uma vez que neste tipo de teatro n o se pretende criar modelos mas propor o debate o conflito de id ias a dial tica a argumenta o e a contra argumenta o tudo isso estimula aquece enriquece prepara o espectador para agir na vida real BOAL 2000 p 327 Neste sentido a proposta era representar o cotidiano da escola trazendo para a cena os acontecimentos que de alguma forma geraram conflitos nas rela es como por exemplo as situa es de viol ncia dos alunos o problema com o uniforme e o port o fechado a dan a no refeit rio as cenas de brigas do teatro invis vel etc Os alunos se animaram com a id ia e uma grande produ o foi organizada transformando o p tio da escola nos v rios ambientes da escola Os alunos das aulas de dan a seriam coadjuvantes e ao mesmo tempo durante a PAGE pe
324. tes posi es possibilitar o encontro entre os sujeitos com o pretexto de descobrir contar a hist ria do corpo na escola noturna Neste sentido concordo com Lourau quando afirma A pesquisa para n s continua ap s a reda o final do texto podendo at mesmo ser intermin vel Se a popula o estudada recebe esta restitui o pode se apropriar de uma parte do status do pesquisador se tornar uma esp cie de pesquisador coletivo sem a necessidade de diplomas ou anos de estudos superiores e produzir novas restitui es tanto ao agora talvez ex pesquisador quanto ao presente social mais imediato e global Isso seria efetivamente a socializa o da pesquisa 1993 p 56 Esta pesquisa constituiu se numa oportunidade de reexaminar os encontros desencontros reencontros de minha forma o e aprofundar a percep o das formas de produ o de conhecimento a partir das rela es de poder corpo subjetividade dos sujeitos escolares procurando compreender um pouco mais seus mecanismos e minhas implica es medida que me envolvia com a realidade pude tamb m rever reestruturar os desejos e inten es diante das rela es vivenciadas Acredito que este estudo seja uma contribui o para o debate relativo s fun es da escola para jovens e adultos no mundo atual assim como uma possibilidade de reflex o sobre o corpo na escola Afinal que espa o este reservado para alunos diretores professores funcion rios e p
325. tido dos Trabalhadores em seguida busca se o entendimento do lugar reservado esperado do corpo do aluno jovem e adulto na sociedade escola para ent o conhecer o universo da pesquisa suas interven es e implica es e finalmente visualizar o ponto de chegada com as percep es do caminho percorrido e sua interfer ncia no meu corpo viv ncia PAGE ABSTRACT To analyze the corporality construction process inside a night school which develops a project designed to adult students who work requires a history analysis of the body in this Institution admitting that at the same time as the school came out not only productive and unproductive time space sense began to be built which maintain itself up to now but also ruling and disciplinarian body process came about The bases which instituted the educational system relegated to the body a minor position considering it as a simple host and protector of the mind which knows and creates everything In this context a hierarchical system developed in a way to set the different subjects in specific places and appropriate behavior according to their acquired knowledge power When a school dares to experiment a different practice that intends to review space and mainly to build more horizontal relationships among the different subjects that make it It s indispensable to analyze what other senses have been built for the relationships knowledge power body in this territory not to impute a val
326. tir de meu envolvimento com a coordena o de um projeto para alunos jovens e adultos do Ensino Fundamental de escolas municipais noturnas de Angra dos Reis O projeto idealizado e constru do pelos professores diretores orientadores e coordenadores do ensino noturno tinha como proposta a reorganiza o do espa o e do curr culo escolar de forma a garantir efetiva participa o coletiva no processo de ensino aprendizagem Defendia se a necessidade de construir uma nova realidade para os alunos PAGE trabalhadores e com isso possibilitar outras intera es rela es de saber poder corpo menos coercitivas e disciplinadoras Diante das inten es previstas nos princ pios e objetivos gerais do projeto e das realiza es poss veis na realidade cotidiana do corpo escola surge como problema investigativo a seguinte quest o como est o sendo constru das as rela es no interior do Projeto do Regular Noturno RN no que se refere produ o de saber de poder e de corpo e que lugar fun o assumem os sujeitos que dele participam Minha inten o era analisar a constru o produ o de corporalidades no interior de uma escola noturna que desenvolvia um projeto pedag gico com princ pios democr ticos o que subentende questionar os institu dos inventando permanentemente novas formas de organiza o participa o e rela o e propostas que caminhavam na contra m o das pol ticas educacionais do Governo Federal Este
327. to da estrutura de ciclos do RN em 2000 Manter e buscar a amplia o do RN seguindo uma nova organiza o temporal a exemplo das escolas pilotos E M Frei Bernardo e E M Cel Jo o Pedro de Almeida com uma grade Curricular adequada realidade do aluno trabalhador Estas informa es podem ser confirmadas no Caderno de Delibera es e Tem ticas do I Congresso Municipal de Educa o 1999 9 A escola em quest o a E M Cacique Cunh bebe que fez a op o pela grade mediante algumas reivindica es dos professores considerando a realidade local Queriam que as reuni es de coordena o para o planejamento interdisciplinar fossem tarde e n o no per odo da noite como era nas outras duas escolas Dessa forma os alunos estariam uma noite na escola apenas com os oficineiros dire o e orienta o do noturno Esta reivindica o causou pol mica na coordena o do RN que na poca era constitu da por mim e o prof nio Serra No fim a reivindica o foi atendida PAGE deveriam discutir com seu coletivo e construir um outro projeto dentro dos princ pios e diretrizes da rede municipal de educa o Havia uma abertura para a constru o aut noma dos projetos pol ticos pedag gicos PPP e todo um arsenal de reuni es e assessorias foi criado para fundamentar formar as escolas neste sentido importante salientar que a pr tica discursiva da SME apostava na elabora o de Projetos onde o saber e o conhecimento pr
328. todos outros disseram que a atitude tinha sido exagerada e autorit ria somos adultos a conversa poderia ser diferente at chegar a um acordo houve tamb m aqueles que reclamaram questionando por que exigem uniforme apenas para os alunos os professores tamb m deveriam usar ou ainda por que os professores podem sair e lanchar e n s n o O impasse foi t o grande que em 74 7 a NE sug aa Ds Era comum os alunos sa rem no hor rio do recreio para lanchar num bar pr ximo e a dire o decidiu impedir esta sa da porque muitos se atrasavam para retornar a escola e queriam entrar depois do hor rio na sala de aula Muitos professores j haviam reclamado sobre esta pr tica para a dire o PAGE conversa com os alunos sugeri que reivindicassem na dire o uma assembl ia para discutir o caso No intervalo comentei com alguns professores sobre o ocorrido As respostas que me deram foram as seguintes Os alunos n o podem querer se igualar aos professores s o diferentes eles precisam de identifica o de disciplina e educa o Eles n o podem achar que poss vel se igualar aos professores n s temos responsabilidade podemos sair na hora do recreio que voltamos para a escola eles n o A assembl ia desnecess ria porque a norma j est dada todos t m que usar uniforme mesmo Professor I Os alunos t m que se colocar em seu lugar Professor Y perigoso n o usar o uniforme e manter
329. trav s da dan a e do teatro por tr s motivos primeiro por serem duas reas que muito me encantam nas quais j havia atuado e trabalhado segundo porque constituem atividades que permitem a express o dos sentimentos e emo es possibilitando uma leitura de comportamentos e signos corporais constru dos por cada um e por fim porque os alunos tinham pedido estas duas atividades em forma de oficinas demonstrando o interesse por elas No ano anterior estas atividades tamb m foram desenvolvidas em forma de oficinas mediante solicita o dos alunos A escola tinha um professor de Educa o Art stica com forma o em artes c nicas que desenvolveu a oficina de teatro No fim do ano os alunos se apresentaram no evento que ficou conhecido por Noite Cultural do Regular Noturno realizado no teatro municipal revelando grandes artistas na escola e incentivando outros alunos a participarem destas atividades PAGE Foto 33 Noite Cultural em Angra dos Reis com exposi o dos trabalhos dos alunos Pela dan a e pelo teatro os alunos s o capazes de observarem a si mesmos em a o s o capazes de se ver no ato de ver de pensar suas emo es e se emocionar com seus pensamentos Podem se ver aqui e se imaginar adiante poder se ver como s o agora e se imaginar como ser o amanh por isso que os seres humanos s o capazes de identificar Identificar a capacidade de ver al m daquilo que os olhos olham de escut
330. truir uma via de m o dupla trabalhar com aqueles que se ausentam que n o querem fazer que se omitem mas tamb m com todos aqueles que se prop em que acreditam e se envolvem com as discuss es desestabilizar as rela es de poder que de t o sedimentadas inviabilizam as transforma es Os espa os antes concedidos pelo grau de confian a da hierarquia administrativa municipal com a gest o democr tica s o conquistados pela participa o no coletivo tendo como fio condutor o projeto global de educa o da SME Neste sentido os diferentes sujeitos eleitos deveriam ter uma proposta de trabalho que partissem dos princ pios gerais apontados por este projeto No que se refere aos conselhos de escola a l gica de escolha n o fugiu a esta regra uma vez que a escolha dos candidatos devia seguir o crit rio de engajamento e interesse nas discuss es promovidas pela escola Este um espa o que garante a participa o PAGE de todos os segmentos da escola e por isso mesmo tem grande import ncia na constru o do fazer pedag gico e administrativo da mesma Infelizmente essa participa o n o assumiu a 5 2 7299 x e E propor o pretendida no entanto os espa os de forma o e interven o foram garantidos e legitimados N o devemos chamar o povo escola para receber instru es postulados receitas amea as repreens es e puni es mas para participar coletivamente da constru o de um saber que v
331. ua do Rosalvo e da Tarcilia a Rua Mag que se chamava Rua Sot e a Rua Cantagalo que recebia o nome de Rua Girassol porque ali morava um rapaz que vendia girass is A Rua Parati era denominada Morro das Velhas porque na poca viviam ali tr s vi vas Maria Baiana Alzira e Noca Pode se perceber a rela o intr nseca existente entre a forma de vida das pessoas e a identifica o e significado dado ao espa o Os sujeitos que de alguma forma tinham sua exist ncia veiculada ao cotidiano do bairro eram imortalizados na forma de identifica o dos diferentes espa os que habitavam Essa pr tica pr pria do lugar onde todos se conhecem e dividem suas ang stias e expectativas cotidianas n o cabe mais nas cidades comprometidas com o desenvolvimento econ mico Na medida em que a cidade foi assumindo novas formas e outros interesses ligados ao poder pol tico e econ mico come ou um processo de re organiza o e re distribui o do espa o urbano Angra dos Reis foi se modificando um contingente expressivo de migrantes vindo de diferentes estados come a a se fixar na cidade atra do pelo desenvolvimento industrial da regi o PAGE Fotos 23 Centro da cidade Nesta configura o pr ticas antigas e novas passam a coexistir no mesmo espa o Diferentes culturas se encontram e buscam um lugar comum de exist ncia ao mesmo tempo em que lutam para n o perderem sua singularidade Sutilmente os costumes pr
332. uca o para Todos que subsidiou sua exposi o no I Semin rio Nacional sobre Educa o para Todos Implementa o de compromissos de Jontiem no Brasil Promovido pelo INEP MEC em Bras lia DF 10 e 11 06 1999 PAGE Quando a lei se refere necessidade de considerar as caracter sticas do alunado parece reinar a l gica da forma o m nima para o atendimento s exig ncias da vida em sociedade Isso significa dizer ser capaz de se auto sustentar conviver com as regras sociais cuidar de si sem onerar os cofres p blicos e acima de tudo participar do sistema como consumidor O Ensino Fundamental oferecido nos cursos noturnos n o s o considerados pelos munic pios Educa o de Jovens e Adultos Isso ficou bem claro no I Encontro Sul Fluminense de Educa o de Jovens e Adultos realizado em setembro de 1998 em Angra dos Reis com a participa o de 15 munic pios do Estado e representantes do F rum EJA Rio Da mesma forma nos v rios encontros que participamos no F rum EJA Rio n o era colocado em pauta o Ensino Fundamental Noturno como EJA Chegamos a pedir ao F rum que consultasse o MEC para se saber qual era sua posi o diante desta realidade A informa o recebida n o foi esclarecedora o que nos levou a buscar esta resposta na Secretaria de Educa o do Estado Ap s insistentes tentativas sem resposta oficial sugest o O que nos foi dada que busc ssemos perante o Conselho Municipal de Educa o um posicio
333. ue judgment but to show a new practice and possibility to perception of new paths The education of young people and adults is in the context presented as excluding public policies useful for the control and expansion of a dominant class and at the same time it is presented as a possibility of equalization of this form of injustice and also as a promoter of good life quality For this reason the theses presented resembles the constitution of a city under a dream migration perspective desired and hoped for so many Brazilians who search in the Angra dos Reis lifestyle provenience and emergencies in the educational process and understanding mainly the young people and adults educational project for regular municipal night schools The itinerary for this journey is formed by five stations which correspond to a primary understanding of this research objective and the priorized methodological conceptions secondly an overview of the city educational practices and particularly that of the Municipal Education Secretary going back to the last three PT Labor Party municipal administrations afterwards the research tries to understand what is the reserved place for the young and adult student s body within this school society for only then to get to know the more universal intentions and implications of the research and finally visualize the arriving point with its perceptions concerning area covered and its interferences in my body experience SUM
334. ui o dos recursos existentes implementa o do FUNDEF Sendo assim transformar a escola pressup e um enorme desafio gerencial promover uma mudan a substantiva nas pr ticas pedag gicas tornando as mais eficientes avaliar sua efici ncia pelo prov o o ENEM etc reestruturar o sistema para flexibilizar a oferta educacional instaurar a livre concorr ncia e a competitividade promover uma mudan a cultural n o menos profunda nas estrat gias de gest o agora guiada pelo novo conceito de qualidade total sistema de premia o para aqueles que mostrarem maior PAGE efici ncia reformular o perfil dos professores requalificando os forma o de professores centralizada nacionalmente segundo as diretrizes previstas pela reforma neoliberal implementar uma ampla reforma curricular os Par metros Curriculares Nacionais etc 1996 p 26 grifo nosso Sabe se que a escola n o est isolada ela faz parte de uma rede de institui es que regulam e ditam valores e normas de comportamentos socialmente aceitos S o poderes diversos que atravessam as rela es desenvolvidas pelo corpo escola Coexistem em seu interior interesses viv ncias e experi ncias que nos remetem a um contexto social mais amplo sua fun o portanto se volta para conhecer e responder s necessidades sociais que se apresentam dentro e fora de seus muros Nessa perspectiva a educa o em Angra priorizou um caminho de an lise da institui o e
335. uma interrup o da mesma diante da possibilidade de ver alguma celebridade se dirigindo para um dos muitos condom nios do munic pio ou numa situa o mais tr gica ser um espectador dos v rios acidentes que acontecem todo o ano naquelas imedia es Fotos 24 Vista do Bairro do Frade pela Estrada Rio Santos PAGE Salvo as surpresas vindas da estrada a vida no bairro pode ser considerada pacata Algumas igrejas alguns bares uma danceteria duas escolas p blicas uma pra a a praia n o apropriada para o banho um posto de sa de o corpo de bombeiros um posto de gasolina e os servi os gerais de com rcio Com ruas estreitas na sua maioria de m o nica o bairro mostra uma certa efervesc ncia por ter o tempo todo pessoas cruzando suas ruas Os carros andam lentamente dividindo o pouco espa o com os pedestres na grande maioria jovens e crian as que brincam conversam pedalam passeiam e observam quem entra e quem sai talvez ansiosos por novidades ou rostos conhecidos Tamb m ocupam este espa o os pedintes e mendigos que perambulam pelas ruas sem destino buscando em cada minuto condi es para sua sobreviv ncia curioso observar como em t o pouco tempo a vida neste bairro mudou tanto h sessenta setenta anos atr s tudo era muito diferente n o havia todo esse movimento Isso poss vel constatar a partir da mem ria dos moradores mais antigos O transporte antigamente era feito de canoa a remo e
336. unos A alternativa encontrada pela Secretaria foi alocar carga hor ria de alguns de seus coordenadores para oferecer oficinas de turismo produ o de texto e ingl s al m de uma pequena verba destinada s oficinas de artesanato com os professores da rede As professoras do primeiro segmento tamb m se organizaram para alternarem sua presen a nesta noite e desenvolver aulas de refor o ou trabalho de pesquisa com alguns alunos Mesmo diante do empenho da escola em resolver o problema e garantir as atividades para os alunos nesta noite as oficinas no segundo ano do projeto tanto na Escola Cacique como nas outras duas escolas com projeto n o tiveram a mesma repercuss o e resultado dos anos anteriores haja vista a diminui o da participa o dos alunos As reuni es pedag gicas semanais com os professores apresentavam duas situa es rotineiras ou aconteciam sem grandes pol micas e o clima geral era de um certo marasmo alguns professores se recolhiam muitas vezes ao sil ncio ou saiam e entravam constantemente sem mostrar compromisso com a participa o e outros assumiam o encaminhamento da reuni o ou os nimos se exaltavam e as discuss es muitas vezes geravam ataques pessoais o que causava desconforto na maioria e sent amos que o trabalho n o avan ava A situa o era de grande divis o os professores mais antigos se organizavam em panelinhas enquanto que os novatos se restringiam em executar seu trabalho se
337. unos e avaliamos todo o trabalho realizado na escola neste dois ltimos anos A seguir destaco algumas falas Pra mim foi muito bom pois a partir das oficinas e das aulas de dan a e teatro eu aprendi a mexer mais a conhecer mais meu corpo a conversar eu era um pouco acanhada e atrav s disso eu consegui me soltar mais pra mim que tenho 28 anos muito importante aprender coisas novas que est me ajudando muito Tem sido muito bom e espero que no ano que vem a gente tenha esta oportunidade de novo de dan ar fazer teatro pinturas novas coisas pra gente porque nos ajuda e nos faz sentir jovem Informa o oral de uma aluna da 5 s rie Eu n o gostava de vir escola de maneira nenhuma e hoje eu gosto Informa o oral de uma aluna da 6 s rie 18 anos Todas as oficinas que a escola desenvolve incentiva os alunos a estudar tem muito aluno que se matricula aqui por causa das oficinas Eu quero aprender muitas coisas Tem muitas coisas que as outras escolas n o fazem e que esta aqui faz est sendo o melhor col gio entre todos Informa o oral de um aluno da 4 s rie 24anos A rela o entre aluno e dire o mudou os diretores eram mais afastados dos alunos a gente amigo de todo mundo a dire o amigo dos alunos ouve as reivindica es dos alunos Hoje em dia os aluno se misturam mais ficou mais f cil a rela o Informa o oral de uma aluna da 5 s rie 44 anos
338. ura o pol tica e geogr fica do pa s A promessa de ordem e progresso para todos foi apresentada popula o com o slogan de milagre brasileiro um caminho para a redistribui o de renda e melhoria das condi es de vida para a popula o brasileira o que n o passou de um grande engodo visto que mais uma vez o que se viu foi um movimento de acumula o de capital por uma pequena parcela da sociedade PAGE A constru o da Usina Nuclear Angra I 1972 1980 adquirida nos Estados Unidos da Am rica USA fez parte das a es que prometiam o tal milagre Esta usina era respons vel pelo fornecimento de energia para o principal eixo industrial do pa s Rio S o Paulo abastecimento este justificado nacionalmente ap s a crise mundial de petr leo em 1973 Foto 06 Usina Nuclear de Angra dos Reis Em decorr ncia dos acordos pol ticos e interesses econ micos em 1979 o Brasil assina um acordo com a Alemanha prevendo a constru o de mais duas Usinas Nucleares Angra II e Angra III Vale ressaltar que a popula o n o foi consultada o que gerou in meros protesto em todo o pa s Os riscos de acidentes passaram a ser uma permanente preocupa o da popula o aliados aos problemas gerados por um temer rio e desconhecido plano de evacua o cujo processo de elabora o transcorreu sem a participa o da popula o Este medo veio a desaguar na d cada de oitenta ap s a distens o
339. urrei o contra o poder Como bem assevera Foucault 1979 a batalha continua pois novos saberes s o desenvolvidos no sentido de controle do corpo que por sua vez produz novas pr ticas de insurrei o Neste PAGE sentido os corpos disciplinados que a escola noturna quer se apresentam com marcas e signos sociais que os diferenciam dos corpos infantis A tatuagem da exclus o e discrimina o pode ser lida nos comportamentos agressivos indiferentes ou de baixa auto estima A autodesvaloriza o n o atitude rara neste meio Seu corpo cansado pelo trabalho busca algo mais no espa o escolar do que apenas aprender a ler e escrever O ambiente da escola se transforma em cen rio para as rela es socializantes Os diferentes espa os s o apropriados e re significados pelos alunos que superando todas as expectativas voltam para a escola depois de cont nuos fracassos imp em sua presen a revelando os ndices que engordam o cen rio dos semi analfabetos Eles buscam identidade precisam re ver sua auto imagem querem criar la os que os encorajem a continuar a caminhada temem o fracasso precisam de nimo Os jovens e adultos precisam construir outros conceitos de si mesmos acreditar em sua real contribui o para o processo de transforma o do espa o e das rela es ENTRE A VERGONHA E O DESEJO O DESAFIO E O DIREITO EDUCA O ESCOLAR A partir de uma pesquisa diagn stica com os alunos foi poss vel tra ar
340. utro esses projetos apresentaram se como auto suficientes para a maior parte dos servi os internos al m de criar v nculos profundos com a regi o tornando a comunidade local dependente dos destinos das empresas A dissemina o de um discurso que prometia um milagre econ mico sem a agress o ao meio ambiente se mostrou cheio de contradi es como por exemplo houve um aumento da renda per capita do munic pio no entanto grande parte ficou concentrada nas m os de uma minoria a centraliza o privada de grandes propriedades valorizadas pelo setor imobili rio e o movimento de invas o de reas menos valorizadas por parte das camadas mais pobres degrada o da natureza urbaniza o ca tica com s rios problemas de abastecimento de gua esgoto energia e recolhimento de lixo e graves problemas de sa de p blica diante de um aumento relativo do n vel educacional e diversifica o cultural amplia o da classe econ mica m dia e ao mesmo tempo interrup o ou desestrutura o das antigas atividades econ micas agricultura de subsist ncia pesca artesanal e aprofundamento da exclus o social dos mais pobres IBASE v II 1993 Estas contradi es se aprofundaram no final da d cada de 80 mediante a crise do capital financeiro nacional que afetou o munic pio com a paralisa o das obras da Usina Nuclear Angra II reiniciada apenas em 1996 e com a diminui o das atividades do Estaleiro Verolme agora de capital nacion
341. versa informal com a mesma funcion ria ela relatou que h anos trabalhava na escola que antes o espa o da cozinha era pequeno e muito quente havia um refeit rio pequeno que era usado tamb m como cantina e muitas vezes como sala de aula Diante da estrutura prec ria e a quantidade de alunos a escola era obrigada a organizar hor rios intermedi rios entre os turnos para atender a toda a demanda As condi es de trabalho eram muito ruins Com a reforma da escola aumentou o n mero de salas foi constru da a quadra a biblioteca sala para professores dire o e secretaria o audit rio a cantina e finalmente uma cozinha e refeit rio com espa o suficiente para um trabalho mais organizado Demoramos muito para conseguir tudo isto e n o podemos abrir m o O refeit rio o lugar para as refei es l fora tem espa o para fazer atividades com os alunos Al m do mais anti higi nico misturar o lugar das refei es com outras atividades Informa o oral E importante frisar que esta funcion ria uma das pessoas mais engajadas nas lutas pela melhoria da escola e do bairro al m de ser uma senhora que gosta muito de dan ar Em PAGE diversas oportunidades de jantar comemorativo dos funcion rios da escola ela foi uma das pessoas que se deixava embalar ao som da m sica mostrando seus dotes para a dan a A pesquisa interven o segundo os pressupostos da an lise institucional foi neste contexto a que me p
342. vivenciado pelos alunos quanto ao uso do uniforme e o port o fechado na hora do intervalo Questionaram por que as regras eram diferentes para professores e alunos se todos s o adultos Respondi dizendo Historicamente nossa sociedade reproduziu a separa o entre quem domina e quem dominado pelo acesso ao saber e ac mulo do ter determinou quem superior Existe em todas as rela es uma briga pelo poder e em nossa sociedade quem sabe mais domina quem sabe menos quem tem mais domina quem tem menos Neste contexto o professor visto como superior aos alunos e por isso com direitos e regalias diferentes Mas que esta no o de divis o ilus ria na realidade ningu m o tempo todo dominante ou dominado as rela es s o complexas e mostram que cada momento prenhe de possibilidade de revis o Logo se voc s est o insatisfeitos com esta situa o era poss vel se organizar questionar as regras e reivindicar seus direitos Ainda sob este enfoque realizei atividades de express o corporal de forma a possibilitar a viv ncia da obedi ncia da norma do comando e da repeti o mas tamb m da cria o da desobedi ncia da autonomia e da cumplicidade Alguns alunos tiveram dificuldades em participar pois era uma proposta diferente do que eles estavam acostumados Muitos se sentiram envergonhados e quiseram ficar apenas olhando enquanto outros faziam a aula No fim sentamos todos no ch o para conversar sobre a ativ
343. zando a economia local e nacional o que afetou o contingente populacional do munic pio devido ao crescimento significativo das constantes migra es A cidade teve que repensar seu espa o urbano e investir em constru o de novos bairros e vilas oper rias IBASE v I 1993 p 22 O impacto geogr fico sofrido pelo munic pio trouxe grandes problemas de infra estrutura no que diz respeito ao saneamento habita o sa de educa o transporte e seguran a O governo local se mostrou incapaz de arcar com todas as despesas geradas pela sua expans o Angra entrou no caminho do desenvolvimento em contrapartida teve que pagar um alto custo social e ambiental Enquanto rea de seguran a nacional A d cada de 1960 e 1970 representou um per odo de grandes transforma es econ micas pol ticas e sociais para a regi o de Angra Com a instala o da ditadura militar PAGE no pa s ap s o golpe de 1964 as cidades brasileiras se v em diante de uma nova realidade muitas foram convertidas em reas de seguran a nacional perdendo o direito de escolher seus representantes pol ticos e sofrendo repress es no mbito dos seus movimentos sociais Angra dos Reis em 1969 foi uma delas Os militares a partir de um governo autorit rio implementaram uma s rie de a es modernizantes com o objetivo de dinamizar o capitalismo nacional de acordo com os novos moldes internacionais de acumula o e derrotar os movimentos populare
344. zombou do outro colega dizendo que ele tinha ficado com vergonha de pegar nas meninas que ele deveria ter aproveitado Chamei sua aten o pela brincadeira pois tinha alunos na porta e janela da sala de professores vendo e ouvindo o que ele dizia e isto n o era tico ele deveria respeitar as meninas Pediu me desculpas dizendo que n o era sua inten o Num outro momento disse me que tinha gostado muito da aula e que gostaria de participar outras vezes queria discutir melhor estas quest es Percebi o quanto de inibi o pr conceito e bloqueio ele tinha e que mesmo assim se propunha a participar das atividades Depois disso passou a me questionar mais e mais sobre esta perspectiva de PAGE trabalho No ano seguinte come ou a trabalhar com corporeidade na universidade passou a fazer parte de um grupo de biodan a em sua cidade Pude observar que algumas mudan as se processaram na rela o entre os docentes a partir dos diferentes trabalhos e din micas desenvolvidas Os professores novatos come aram a entender melhor o projeto e a se esfor ar para atender as expectativas do mesmo A participa o nas reuni es de forma geral melhorou mas a presen a e a pontualidade deixaram a desejar e o planejamento conjunto n o oferecia tantos conflitos como no in cio Em abril todos se envolveram na realiza o da assembl ia com representantes de v rios setores da comunidade e alunos para conhecer melhor a realidade local a fim de da

edna galvao - Universidade Federal Fluminense

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