—Near miss“: repercussões e percepção da assistência
Contents
1. Brasil 2 Doutora Professora Titular do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Psiqui trica da Escola de Enfermagem da Universidade de S o Paulo USP S o Paulo SP Brasil Doutora Professora do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Psiqui trica da Escola de Enfermagem da Universidade de S o Paulo USP S o Paulo SP Brasil Doutora Professora do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Psiqui trica da Escola de Enfermagem da Universidade de S o Paulo USP S o Paulo SP Brasil Autor Correspondente Roselena Bazilli Bergamasco Artigo recebido em 18 04 2008 e aprovado em 15 10 2008 Av Dr En as de Carvalho Aguiar 419 Cerqueira C sar S o Paulo SP Cep 05403 000 E mail roselena Dusp br Acta Paul Enferm 2009 22 2 162 8 Near miss repercuss es e percep o da assist ncia recebida por mulheres sobreviventes egressas de uma unidade de terapia intensiva INTRODU O O governo brasileiro considerou o ano de 2004 como o Ano Internacional da Mulher sendo realizada a I Confer ncia Nacional de Pol ticas para as Mulheres em Bras lia no m s de julho organizada pela Secretaria Especial de Pol ticas para as Mulheres com o objetivo de contribuir para a constru o de pol ticas p blicas de g nero como direito de todas e dever do estado no campo da sa de do trabalho da educa o e da cidadania O evento ocorreu pela necessidade de priorizar as a2. bem antes de ter outro filho e outra Isso a a mesma coisa que nm aviso de Deus E5 A narrativa de outra mulher evidenciou que a mudan a ocotrida aumentou as barreiras da possibilidade de maternidade causando lhe tristeza e amargura e prefere n o fazer planos para n o se decepcionar novamente minha vida mudou fiquei mais amarga bem mais triste mais amarga mesmo sabe Num certo ponto me sinto trang iila gostaria de ter um filho poss vel N o T m tantos por ai que precisam de uma fam lia Von esperar e tentar ado o se n o der certo tamb m paci ncia N o sei como ser men futuro nunca pensei nele E13 Duas mulheres demonstraram inseguran a quanto ao futuro n o t m planos ou perspectivas de qualquer natureza quanto ao men futuro n o sei sinceramente eu n o sei choro E3 Nos depoimentos de muitas mulheres a for a da Acta Paul Enferm 2009 22 2 162 8 166 maternidade est evidente mesmo passando por complica es graves com risco de morte e proibi o m dica Elas ainda gostariam de ser m es novamente entretanto muitas destacam o medo de engravidar em raz o da possibilidade de viver a mesma experi ncia Poucas n o querem mais filhos pois n o desejam mais uma vez correr o risco de morrer tenho receio de engravidar de novo por cansa disso Penso ser que vou poder ter parto normal Sempre tive vontade de ter parto normal mas a penso nes
3. em busca do conhecimento disserta o S o Paulo Escola de Enfermagem da Universidade de S o Paulo 2001 4 Nashef SA Whatis a near miss Lancet 2003 361 9352 180 1 5 Souza JP Cecatti JG Parpinelli MA Sousa MH Serruya SJ Revis o sistem tica sobre morbidade materna near miss Cad Sa de P blica Rep Public Health 2006 22 2 255 64 6 Lewis G Beyond the numbers reviewing maternal deaths and complications to make pregnancy safer Br Med Bull 2003 67 27 37 7 Godoy SR Minha vida de agora em diante experi ncias de mulheres sobreviventes da morte materna tese S o Paulo Escola de Enfermagem da Universidade de S o Paulo Godoy SR Gualda DMR Bergamasco RB Tsunechiro MA aos seus familiares A pesquisa identificou uma naturaliza o de alguns sinais e sintomas pr prios do per odo gr vido puerperal como as diversas modalidades de dor obst trica tonturas e sangramentos vaginais de diferentes intensidades Os depoimentos mostraram a precariedade da aten o recebida pelas mulheres em especial no p s parto imediato Apontaram ainda a situa o de abandono dessas mulheres ap s a alta hospitalar Nas narrativas n o existe a men o do acompanhamento profissional para essas mulheres sobretudo s portadoras de doen as cr nicas e aquelas emocionalmente afetadas AGRADECIMENTO Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient fico e Tecnol gico CNPq pela concess o de b
4. Aos poucos a gente vai tentando e olha que j faz um ano e 23 dias que eu sa da UTI e tenho a impress o que foi ontem Hoje a gente tem outra vis o E8 A experi ncia da complica o grave al m da desist ncia de tentar ter filhos fez algumas tomarem decis es que talvez em outra situa o n o teria ocorrido como exemplo a separa o do marido e a sa da da casa da sogra minha vida mudou agora eu n o tento mais N o pensei mais em ter outro filho E n o sei o que vai ser o men futuro porque n s largamos mas estamos meio assim de rolo Eu gosto dele acho que ainda pode dar certo mas continuar morando com a minha sogra N o d n o E9 No que se refere s implica es para sua vida reprodutiva os relatos mostraram a percep o das mulheres da possibilidade de nova gravidez Uma colaboradora tem boas expectativas para seu futuro mas enquanto n o conseguir engravidar vai procurar viver bem com o marido e a filha Foi alertada a respeito do aviso divino na perspectiva de nova gesta o a nica coisa que penso que en e men marido esque a um pouco esse problema que aconteceu e dar bastante aten o pra minha filha dar o que a gente puder pra ela Esse problema grave representou muita coisa pra mim Alguns parentes mesmo falaram assim D dessa vez den certo Voc tem que agradecer a Deus porque voc se salvou numa hora dessa n o era pra voc estar aqui Ent o pensa
5. Artigo Original Near miss repercuss es e percep o da assist ncia recebida por mulheres sobreviventes egressas de uma unidade de terapia intensiva Repercussions of Near miss and women s perception of care received in the critical care unit Near miss repercusiones y percepci n de la asistencia recibida por mujeres sobrevivientes egresadas de una unidad de cuidados intensivos Sandra Regina de Godoy Dulce Maria Rosa Gualda Roselena Bazilli Bergamasco Maria Alice Tsunechiro RESUMO Objetivo Relatar as repercuss es do near miss para a vida de mulheres sobreviventes e a percep o da assist ncia recebida M todos Trata se de pesquisa qualitativa fundamentada na hist ria oral Foram utilizados conceitos da Antropologia M dica como referencial te rico Para a coleta de dados foram realizadas entrevistas organizadas em narrativas com 13 mulheres egressas de uma UTI durante o per odo de 2003 a 2005 residentes em Fernand polis SP Resultados Os resultados mostraram que para algumas mulheres a experi ncia foi sofrida e deixou marcas como a perda da fertilidade sintomas depressivos resigna o ou falta de perspectiva de vida Outras conseguiram ajustar se e redirecionar suas vidas Muitas se queixaram da assist ncia recebida da neglig ncia e ou imper cia dos profissionais durante o evento Conclus o Os resultados permitiram compreender a experi ncia das mulheres e apontaram para a desumaniza o do
6. a Oldhat espiritualmente falando estou bem gra as a Deus Porque uma coisa puxa a outra Voc tem que ter o seu lado espiritual pra estar de bem com a vida E12 Para outra a recupera o foi boa e a perda do tero ap s o quadro hemorr gico resolveu seu problema de c lica menstrual hoje acho que estou normal em rela o a esse problema que tive Eu me sinto melhor me sinto bem por n o ter sangramento todo m s E bem melhor do que era sentia c lica menstrual antes e sofria 4 No que se refere aos aspectos psicossociais para algumas mulheres o evento trouxe mudan as que podem ser classificadas como negativas ou positivas Para outras o evento da complica o ficou resolvido e possibilitou a tomada de decis es Algumas mulheres apontaram aspectos negativos em sua sa de resultantes da complica o Referiram dores ins nia nervoso sentimentos como tristeza e n o aceita o da perda dos filhos Comentaram a respeito dos modos que encontraram para diminuir os desconfortos e disseram acreditar que ainda ir o se recuperar sinto muita dor de cabe a quase todo dia Eu sinto muita dor nas costas onde eu tomei anestesia N o durmo direito Eu tamb m fiquei mais nervosa N o superei ainda Apesar de ser muito dif cil e aceitar n o von aceitar mesmo mas eu entendo E1 Outras mulheres consideravam se mais nervosas do que antes Acta Paul Enferm 2009 22 2 162 8 Near miss
7. adores do enfrentamento e supera o das Acta Paul Enferm 2009 22 2 162 8 Near miss repercuss es e percep o da assist ncia recebida por mulheres sobreviventes egressas de uma unidade de terapia intensiva dificuldades decorrentes da experi ncia vivida Algumas mulheres com doen as preexistentes acreditam que melhoraram da doen a por m necessitam adaptar se continuamente ou est o em fase de recupera o e adapta o s novas condi es de sobreviv ncia Descrevem o amadurecimento pessoal e a valoriza o do autocuidado o fortalecimento da auto estima para tomada de decis es para aprender a conviver com doen as cr nicas e reafirmar a f Outras consideram que se recuperaram do ocorrido mesmo apresentando algumas queixas de ordem org nica e emocional Acreditam que superaram esse momento em suas vidas pela reafirma o da f religiosa e vontade de viver para acompanhar o crescimento e desenvolvimento de seus filhos Uma delas relatou que ap s o evento ocorrido conseguiu resolver um problema f sico cr nico e assim sentia se bem Diferentes colaboradoras comentaram que a experi ncia do evento adverso em suas vidas era algo do passado e praticamente n o lhes trouxe mudan as Para algumas colaboradoras as implica es foram negativas pois adquiriram doen as sofrimento e medos n o existentes anteriormente Dessa forma algumas necessitam de acompanhamento psicol gico em fun o das qu
8. cuidado indicando a necessidade de estudos a respeito de quest es ticas relativas s a es dos profissionais Descritores Complica es na gravidez Sa de da mulher Medicina reprodutiva ABSTRACT Objective To report the repercussions of near miss on the life of women who survived that event and the women perception of the care received during the near miss event in the critical care unit Methods This was a qualitative study using oral history interviewing Medical anthropology served as the conceptual framework for the study Data were collected from 2003 to 2005 through narrative interviews with 13 women who were discharged from a critical care unit and who were residents in Fernand polis SP Results Some of the women reported that the experience of near miss brought suffering and sequelae such as infertility depressive symptoms and lack of perspectives in life Other women were able to adjust and redirect their life Many women complained of the care received and the negligence and or incompetence of health care professionals during the near miss event Conclusion The study s findings allowed us to understand the experience of this sample of women and suggested they receive a dehumanized care There is a need for further studies regarding health care professional ethical behaviors Keywords Pregnancy complications Women s health Reproductive medicine RESUMEN Objetivo Relatar las repercusiones del near miss para la vida
9. da Em todo o per odo de atendimento da ocorr ncia do evento near miss pelos profissionais as mulheres percebiam o que estava acontecendo em sua volta e as dificuldades no atendimento Reclamaram da qualidade da assist ncia em rela o a demora no atendimento a falta de esclarecimento e a orienta o a respeito do tratamento e dos cuidados a serem observados por ela J fazia duas horas que n s est vamos esperando uma vaga e Godoy SR Gualda DMR Bergamasco RB Tsunechiro MA n o achava e eu deitada l na maca perdendo sangue O m dico Jalou que ia me mandar pra Rio Preto E3 A narrativa de uma colaboradora encerra fatos contundentes e expl citos de falha na assist ncia e seu desdobramento que esbarra em quest es ticas Relata que o parto foi for ado e a placenta foi extra da pelo m dico Ap s o parto a queixa de dor abdominal intensa acompanhada de hemorragia vaginal exagerada n o foi valorizada pelo enfermeiro nem pelo marido eles enfermeiro e enfermeira empurravam a minha barriga e eu comecei a sentir falta de ar Ele m dico falou Voc tem que fazer for a O pessoal est te ajudando Depois de eles empurrarem tanto falaram que estavam vendo a cabecinha do nen mas s depois deles empurrarem muito me machucaram as costelas Ficou tudo dolorido muito tempo E2 Na sequ ncia da ocorr ncia em raz o da hemorragia vaginal exagerada consequente do trauma perineal e do e
10. de cuidado com os desconfortos pr prios da gesta o Nestes depoimentos ficou evidente a falta de informa es por 167 parte dos profissionais em especial dos m dicos A esse respeito dois autores sugerem mudan as que conduzem reflex o sobre a humaniza o da medicina em particular a rela o m dico paciente para o reconhecimento da necessidade de maior sensibilidade diante do sofrimento ou necessidade das mulheres como conhecer suas realidades ouvir suas queixas e encontrar estrat gias que facilitem as adapta es ao estilo de vida exigido muitas vezes pela doen a Outros autores apresentam resultados semelhantes e ressaltam que a equipe m dica s vezes fornece paciente e fam lia informa es insatisfat rias sobre uma complica o ou utiliza se de termo t cnico que n o familiar ou compreendido de forma err nea Cabe ressaltar que todas as colaboradoras deste estudo passaram por acompanhamento pr natal com in cio no primeiro trimestre de gesta o realizado por m dicos ou enfermeiros como preconiza o Minist rio da Sa de No entanto algumas n o mencionaram nem perceberam que deveriam ter recebido atendimento pr natal especializado visto as hist rias de sa de pessoal e obst trica de doen as cr nicas adquiridas na gesta o e ou intercorr ncias anteriores Os achados mostraram ainda a precariedade da aten o recebida pelas mulheres em especial no p s
11. de mujeres sobrevivientes y la percepci n de la asistencia recibida M todos Se trata de una investigaci n cualitativa fundamentada en la historia oral Como referencial te rico fueron utilizados conceptos de la Antropolog a M dica Para la recolecci n de datos se llevaron a cabo entrevistas organizadas en narrativas con 13 mujeres egresadas de una UCI durante el per odo del 2003 al 2005 residentes en Fernand polis SP Resultados Los resultados mostraron que para algunas mujeres la experiencia fue de sufrimiento y dej marcas como la p rdida de la fertilidad s ntomas depresivos resignaci n o falta de perspectiva de vida Otras consiguieron ajustarse y reorientar sus vidas Muchas se quejaron de la asistencia recibida de la negligencia y o inexperiencia de los profesionales durante el evento Conclusi n Los resultados permitieron comprender la experiencia de las mujeres y apuntaron hacia la deshumanizaci n del cuidado indicando la necesidad de estudios respecto a cuestiones ticas relativas a las acciones de los profesionales Descriptores complicaciones del embarazo Salud de la mujer Medicina reproductiva Artigo extra do da tese Minha vida de agora em diante experi ncias de mulheres sobreviventes de morte materna apresentada Escola de Enfermagem da Universidade de S o Paulo USP S o Paulo SP Brasil Doutora em Enfermagem Professora da Funda o Educacional de Fernand polis FEF Fernand polis SP
12. eixas de tristeza depress o medo de relacionar se com as pessoas Na vis o das mulheres a experi ncia para a fam lia foi marcante e sofrida O tema que envolveu futuras gesta es teve diferentes impactos em cada uma delas Para algumas representou barreira para concretizar o sonho de ser m e em decorr ncia de condi es f sicas Para colaboradoras disitntas apesar da gesta o ter sido uma experi ncia intensa e causadora de sofrimento a perspectiva de uma nova gesta o representa uma dificuldade que pode ser superada S o poucas as que n o gostariam de ter outro filho apesar da recomenda o contr ria do m dico Isto evidencia as cren as e os valores que elas det m quanto ao papel da mulher diante da reprodu o humana e a for a que a maternidade exerce em suas escolhas de vida Na fala das mulheres percebe se uma falta de conhecimento sobre as quest es que envolvem o seu corpo durante o processo reprodutivo as quais contribu ram para a viv ncia destes eventos extremos em suas vidas As que eram portadoras de doen as preexistentes mencionaram dificuldades no cuidado de sua sa de sobretudo em rela o ao conhecimento da doen a ao reconhecimento dos sinais e sintomas de agravamento s formas de tratamento e aos cuidados requeridos Aquelas que experimentaram complica es decorrentes da gesta o referiram d vidas e desconhecimento de fatores de risco e as formas de tratamento e controle das doen as e
13. es voltadas sa de da mulher levando se em conta os indicadores de sa de que desafiam os servi os de sa de e a sociedade como um todo As altas taxas de morbidade e mortalidade materna e neonatal configuram se como viola o dos direitos sa de de mulheres e crian as atingem de forma desigual as regi es brasileiras e prevalecem nas classes sociais desfavorecidas Apesar de todos os avan os e conquistas realizadas pelas mulheres no s culo passado muitas delas ainda morrem ou adoecem em consequ ncia de agravos no per odo gr vido puerperal outras sobrevivem ao risco potencial de morte materna Nas ltimas d cadas o tema mortalidade materna tem sido motivo de preocupa es de pesquisadores em especial nos pa ses em desenvolvimento e subdesenvolvidos A aten o dos pesquisadores brasileiros tem se voltado geralmente para dados estat sticos locais causas de morte materna fatores de riscos e estrat gias de redu o da mortalidade materna Al m da mortalidade a morbidade materna tem sido cada vez mais foco de aten o relevante entender por que mulheres gr vidas adoecem do que adoecem e quais s o as repercuss es para sua sa de Na literatura near miss event definido como um evento de quase perda ou seja uma ocotr ncia cl nica adversa um termo empregado no controle de tr fico a reo para designar um acidente que se aproximou do acontecimento mas por alguma raz o por acaso ou
14. is pelo fato de algumas mulheres terem mudado de endere o outras informaram endere os inexistentes A decis o de procurar as mulheres sobreviventes da morbidade materna near miss nos registros de uma Unidade de Terapia Intensiva de um hospital de Fernand polis deveu se a facilidade de estabelecer contato com o pessoal da equipe de sa de O tratamento das entrevistas foi realizado em tr s fases conforme recomendado por Meihy transcri o textualiza o e transcria o Assim foram apresentadas inicialmente as narrativas de cada depoente e em seguida para se obter uma compreens o do grupo como um todo das narrativas foram criadas categorias as quais foram classificadas com base na tem tica relatada A seguir estas categorias foram agrupadas dando origem aos temas Os temas resultantes foram Percep o do problema Significados e sentimentos vivenciados pela mulher no processo da experi ncia do near miss Participa o da fam lia na perspectiva da mulher Repercuss es do ocorrido para a vida das mulheres A an lise das narrativas teve como suporte referencial a Antropologia da Sa de cujos eixos norteadores foram o processo sa de doen a e a experi ncia do processo grav dico puerperal vivida pelas mulheres sobreviventes de complica es graves RESULTADOS Este artigo aborda os temas sobre repercuss es do ocorrido para a vida das mulheres e a assist ncia recebida no processo morbidade near miss Repe
15. julgamento n o se verificou Tem sido utilizado pela medicina cl nica podendo ser empregado em v rias situa es No caso da obstetr cia pensando em mortalidade materna um near miss normalmente um evento adverso s rio que conduziu a danos e morbidade para a m e que de algum modo sobreviveu De acordo com a Organiza o Mundial da Sa de n o existe uma defini o universalmente aplic vel ao termo zear miss Para as auditorias ou an lises de casos uma das principais vantagens de se utilizar casos de near miss ao inv s de mortes maternas que as complica es obst tricas ocorrem com maior frequ ncia do que as mortes possibilitando uma an lise quantitativa mais abrangente 9 O evento near miss t m repercuss es prejudiciais sa de 163 f sica mental e social da mulher e sua fam lia Nesse sentido alguns estudos sobre o tema v m sendo realizados procurando evidenciar as quest es conceituais e cl nicas mas poucos abordam a experi ncia da mulher sobrevivente Assim para ampliar o olhar dos profissionais de sa de e todos os envolvidos para al m das quest es de ordem num rica raz o de morbidade e mortalidade materna realizamos um estudo utilizando como crit rio de morbidade materna grave near miss a interna o em unidade de cuidados intensivos de mulheres com complica es graves obst tricas ou cl nicas no per odo gestacional no parto ou no p s parto O objetivo deste artigo rela
16. m 13 mulheres sobreviventes atendidas na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital geral de Fernand polis no per odo de 2003 a 2005 que passaram pela experi ncia de uma complica o grave no processo do ciclo gr vido puerperal A institui o atende usu rios do Sistema nico de Sa de SUS e outros clientes conveniados com abrang ncia para outros 11 munic pios menores e circunvizinhos um servi o que presta assist ncia hospitalar de baixa e m dia complexidade atendimento emergencial e ambulatorial O hospital apresenta 12 leitos Acta Paul Enferm 2009 22 2 162 8 164 obst tricos sendo dez direcionados ao SUS Nos ltimos tr s anos o total de partos foi 910 em 2003 858 em 2004 e 833 em 2005 A taxa de parto ces rea varia entre 50 e 60 dados do SAME do hospital Dentro dos crit rios definidos foram encontradas 35 transfer ncias de mulheres gestantes ou pu rperas que apresentaram complica es graves A etapa seguinte foi buscar no Servi o de Arquivo M dico e Estat stica SAME os dados referentes s interna es endere os ou telefones e diagn sticos m dicos com defini o das complica es obst tricas graves Assim do total de 35 transfer ncias foram localizados 32 prontu rios Em seguida foi feito o contato com essas mulheres para solicitar sua colabora o na realiza o da pesquisa Nesta etapa as maiores dificuldades foram enfrentadas pois alguns contatos n o foram poss ve
17. olsa de doutorado 2006 8 Meihy JCSB Manual de hist ria oral 4a ed S o Paulo Loyola 2002 9 Caprara Franco ALS rela o paciente m dico para uma humaniza o da pr tica m dica Cad Sa de P blica 1999 15 3 647 54 10 Filippi V Ronsmans C Gandaho T Graham W Alihonou E Santos P Women s reports of severe near miss obstetric complications in Benin Stud Fam Plann 2000 31 4 309 24 11 Brasil Minist rio da Sa de Secretaria de Aten o Sa de Departamento de A es Program ticas Estrat gicas Area T cnica de Sa de da Mulher Pr natal e puerp rio aten o qualificada e humanizada manual t cnico Bras lia DF 2005 12 Soler ZSGS Estudo do quarto per odo do parto uma proposta de assist ncia sistematizada de enfermagem tese S o Paulo SP Escola de Enfermagem da USP 1993 13 Albuquerque CMS Oliveira CPE Sa de e doen a significa es e perspectivas em mudan a online 2004 Dispon vel em http www ipvpt millenium Millenium25 25 27 htm Acesso em 7 set 2004 Acta Paul Enferm 2009 22 2 162 8
18. parto imediato H mais de dez anos um pesquisador apontou a desconsidera o dos profissionais da equipe obst trica quanto assist ncia prestada no transcorrer do per odo p s parto pois via de regra a atua o do obstetra termina com o reparo das les es do parto e com a prescri o No entanto o quarto per odo do parto considerado cr tico rec m parturida o tempo em que h maior risco de ocorr ncias anormais com destaque para a hemorragia genital como ocorreu com algumas mulheres Duas autoras tecem uma cr tica ao modelo biom dico que al m de possuir uma vis o mecanicista e reducionista do corpo humano negligencia a autonomia conceitual e as representa es que as pessoas fazem sobre seu estado de sa de As mulheres perceberam e avaliaram a assist ncia prestada pelos profissionais de sa de Conforme seus depoimentos citaram que a qualidade da assist ncia ficou muito aqu m do esperado Apontaram tamb m a falta de respeito de compreens o e considera o para com suas necessidades de falar sobre os sinais e sintomas percebidos e a demora no atendimento e transfer ncia para outro servi o de sa de Observaram o descaso e despreparo da equipe de sa de ao receber as mulheres no pronto atendimento acompanhamento do pr natal parto e p s parto Quase todas as hist rias de vida reprodutivas dessas mulheres sugerem uma assist ncia obst trica inadequada pois muitas vezes foram expostas a
19. rcuss es do ocorrido para a vida das mulheres Neste tema est o compreendidas as repercuss es da morbidade materna na vida das mulheres inclu das nas categorias implica es na sa de aspectos psicossociais e Godoy SR Gualda DMR Bergamasco RB Tsunechiro MA perspectivas para nova gravidez No que se refere s implica es para a sa de as mulheres relataram que se recuperaram da complica o obst trica no entanto evidenciaram ambiguidade em suas falas alegando ter sa de mas queixaram do trauma da experi ncia do parto receio de uma nova gravidez Algumas mulheres acreditavam que se recuperaram da complica o e que a sa de melhorou mas continuavam com as doen as preexistentes a hipertens o arterial e a diabetes se for pra dizer que tenho sa de hoje Ab N o tenho muita sa de n o De vez em quando estou ruim tem bora que d dor no peito a press o sobe o diabetes ataca eu fumo tamb m E11 Uma das mulheres relatou que se recuperou da complica o mas para conviver com as doen as cr nicas precisava aprender a se cuidar conhecer a doen a fazer o tratamento ter sempre uma atividade para realizar e sobretudo ter uma religi o para se confortar boje tomo medicamento pra press o pro diabete e tomo pra circula o E o resto da minha vida en levo assim trabalhando lutando O diabete um fator que aparece na vida da gente e temos que aprender a conviver com esse problem
20. repercuss es e percep o da assist ncia recebida por mulheres sobreviventes egressas de uma unidade de terapia intensiva depois do parto fiquei com um pouco de trauma se pensar que tenho sa de o que acontece mesmo o medo que tenho O receio em ter um parto problema o parto esse o men medo E2 Algumas hist rias apontaram dificuldades emocionais que ainda persistem quando declararam precisar guardar o sentimento para poupar a fam lia As dores o esquecimento a ins nia a irritabilidade a m goa e o medo de sair de casa evidenciam a problem tica n o sei se j me recnperei psicologicamente falando Acho que n o Est guardado sabe Isso prejudica a mim men marido minha m e porque eu levo todo mundo junto Vira aquela confus o ent o pra segurar voc guarda finge que n o com voc S quando est sozinha deixa rolar bota pra fora E a cabe a uma dor aqui parece que eu tenho um redemoinho na cabe a uma coisa horrorosa e eu esque o Sou ruim de dormir sempre fui sou uma nega o pra dormir e agora ficou pior s vezes acordo de noite com essas coisas na minha cabe a vai at de madrugada E8 Outras mulheres declararam que a experi ncia da complica o trouxe marcas dif ceis de apagar como altera es de auto imagem depend ncia da presen a do marido e depress o tive problemas na rela o sexual com men marido Atrapalhou que fiq
21. riscos desnecess rios e danosos Acta Paul Enferm 2009 22 2 162 8 168 CONCLUS O A morbidade materna grave near miss identificada como um processo complexo de interpreta o pelo qual as mulheres em suas conting ncias hist ricas e biogr ficas atribuem significado pr prio Na assist ncia sa de importante considerar n o apenas a queixa de afli es f sicas e emocionais mas buscar a compreens o das formas de interpreta o valores e cren as relacionadas aos problemas apresentados pelas mulheres buscando entender a vis o de mundo das pessoas que s o assistidas No presente estudo p de se apreender que em v rias situa es houve comunica o ineficaz do profissional de sa de em rela o mulher ou fam lia e entre equipe e fam lia Houve tamb m relatos que atestam que os profissionais em especial os m dicos n o fornecem informa es sobre o ocorrido nem mulher e tampouco REFER NCIAS 1 Souto K Oito de mar o dia internacional da mulher data de muitas lutas e hist rias Revista Saber Viver Internet 2004 citado 2008 Abr 12 1 3 cerca de 1 p Dispon vel em http wwwsaberviverore br index php e edicao diamulher mulher3 2 Brasil Minist rio da Sa de Sa de da mulher Internet Bras lia DF Minist io da Sa de 2004 citado 2004 Nov 12 Dispon vel em http portal saude gov br saude visualizar texto cfm idtxt 19482 3 Godoy SR Mortalidade materna
22. sa quest o se acontecer a mesma coisa E o fato do men tero ter dilacerado ser que est fechado mesmo N o sei o que fa o Penso em ter outro beb s que quando me lembro daquilo que acontecem dificil pra mim E2 Ap s vivenciar duas experi ncias de gesta o de alto risco e as dificuldades decorrentes da doen a preexistente ou adquirida na gesta o ainda assim uma mulher mant m o desejo de ter mais filhos mas reconheceu que isso n o ir acontecer porque o m dico resolveu fazer a laqueadura tub ria Se n o tivessem me operado Ab Daqui uns cinco seis anos provavelmente ex ia querer outro Existe ainda a vontade que agora n o mais poss vel O m dico me operou na ltima gravidez E10 Reconheceu ainda as possibilidades para que uma gravidez ocorra por insemina o entretanto o desejo da maternidade muito grande mas o medo aparenta ser maior e uma insemina o pode ser que da primeira n o d certo vai ser outra decep o aquela expectativa voc pode entrar em depress o E 13 H relato de colaboradora que evidenciou o desejo ter mais filhos mas n o no momento visto o medo ainda presente de situa es vividas ter outros filhos agora n o quero Tenho medo de sofrer na anestesia choro Tenho medo da dor E3 Percep o da assist ncia obst trica recebida no processo morbidade near miss Este tema agrupa todas as falas relativas assist ncia recebi
23. stado de choque hipovol mico foi transferida para outro hospital de maior complexidade Ali ouviu coment rios relativos ao estado do per neo ela a m dica perguntou quem fez isso em voc Da eu falei tal m dico e ela comentou tinha que ser Eu ouvia ela falando a episiotomia que t sangrando O outro falava ela n o vai mais poder ter parto normal o que foi que ele fez E2 Os esclarecimentos da m dica quanto a sua situa o apontam para quest o tica profissional e falta de compromisso com a qualidade da assist ncia perguntei ele m dico fez alguma coisa errada E ela disse ele fez tudo errado filha S que como tica m dica a gente procura n o comentar muito Seu tero dilaceron o pique foi muito profundo e tive que costurar com uma agulha muito grossa E2 Al m disso seu caso tornou se p blico e distorcido nossa Foi ela ent o A todo mundo j sabia j tinha conhecimento do assunto S que o que se comenta pro restante do pessoal Ab E normal ter uma hemorragia p s parto E2 DISCUSS O A percep o da complica o grave pelas mulheres apresenta aspectos positivos negativos Dentre os aspectos positivos encontrados nas narrativas destaca se o apoio e a preocupa o das fam lias com as repercuss es da morbidade na vida das mulheres Alguns depoimentos mostraram que houve maior aproxima o entre familiares tornando os la os afetivos mais fortes e facilit
24. tar as repercuss es do near miss para a vida de mulheres sobreviventes e a percep o da assist ncia recebida M TODOS Trata se de um estudo qualitativo tendo como referencial te rico os conceitos b sicos da Antropologia M dica e referencial metodol gico da Hist ria Oral Para obten o dos dados utilizamos o processo metodol gico da Hist ria Oral em raz o da necessidade de obter depoimentos de mulheres que se identificam por um motivo ter vivido uma morbidade grave no ciclo gr vido puerperal ou seja passaram por uma quase perda da pr pria vida por complica o grave O m todo da Hist ria Oral tem tica foi a modalidade considerada mais apropriada para este estudo pois as narrativas das mulheres que sobreviveram ao risco de morte materna formam o conte do principal das an lises investiga o foi desenvolvida em uma regi o do interior paulista tendo como refer ncia a cidade de Fernand polis O projeto de pesquisa foi aprovado pela Comiss o de tica em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de S o Paulo Houve autoriza o do hospital para a realiza o da pesquisa Todas as colaboradoras ap s estarem cientes e esclarecidas da proposta do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido autorizando a participa o na pesquisa A pergunta de corte foi Conte me como foi para voc ter vivenciado esse momento de quase morte em sua vida As colaboradoras da pesquisa fora
25. uei muito tempo sem ter rela o sexual estava feio foi um corte muito feio A sutura ficou feia E2 Algumas mulheres mencionaram consequ ncias negativas como dificuldades de relacionamento com o companheiro inc modo pela presen a de outras pessoas e comportamento anti social ap s a segunda gravidez e a perda do nen eu e men marido passamos por uma fase bem dificil Ficou um bom tempo assim era muito dif cil pra gente saber lidar com essa situa o E3 Em v rias falas estava presente a expectativa de melhora de vida demonstrando a esperan a que a mulher traz em si mesma quanto ao futuro de agora em diante Ab Vida nova passou acabou E1 Para algumas mulheres a viv ncia do processo de quase morte trouxe consequ ncias positivas sobretudo em termos de amadurecimento no relacionamento familiar e no reconhecimento da necessidade de ter mais cuidado com sua pr pria sa de Uma mulher explicitou a gra a de Deus de forma especial minha vida mudou muito amadureci bastante Meu psicol gico hoje vejo as coisas de outra forma pra dizer a verdade Deus me den outra chance E10 165 Para uma colaboradora a experi ncia do near miss trouxe uma vis o diferente da vida se existem dias que a pessoa est de baixo astral n o se pode desistir de viver e as experi ncias inusitadas deixam marcas na mem ria em penso assim tem dia que a gente fica de baixo astral
Download Pdf Manuals
Related Search