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Elizabeth Hartog Estrategia Saude Familia

1. Entrevistamos 5 m dicos e 5 enfermeiras com a inten o somente de implementar este estudo considerando que eram em n mero suficiente j que eles se inserem no conjunto de outras rela es que na condi o de professora de cursos de especializa o sobre a Sa de da Fam lia pode se observar inclusive com outras falas de alunos membros dessas equipes e que em alguns aspectos compor o essa an lise Dessa forma a coleta de dados teve in cio muito antes das entrevistas ou seja desde o in cio da nossa trajet ria profissional A rea de abrang ncia do trabalho dos profissionais pesquisados Curitiba e Regi o Metropolitana RMC que ocupa uma superf cie de 432 17 km habitados por 1 788 559 pessoas IBGE 2006 com os 29 munic pios que formam a Regi o Metropolitana de Curitiba RMC com a popula o em torno de 3 261 168 habitantes IBGE 2006 Esta regi o possui 245 equipes de ESF e foi escolhida como foco de estudo em decorr ncia a do tempo de implanta o da ESF na regi o propiciando maior experi ncia por parte dos profissionais b a exist ncia de estudos sobre o modelo com enfoque familiar no munic pio de Curitiba e a sua RMC d e pela facilidade de inser o da pesquisadora no campo Para complementar essas observa es buscamos a an lise de alguns dados como por exemplo informa es presentes nas Estat sticas da Sa de e Assist ncia M dico Sanit ria realizada pelo IBGE BRASIL 2005 e assim
2. S o Paulo Faculdade de Sa de P blica da Universidade de S o Paulo 1998 S rie Sa de amp Cidadania Dispon vel em lt http www saude sc gov br gestores sala de leitura saude e cida e cidadania extras n otas html gt Acesso em 23 ago 2005 DALCUCHE Marise Gnatta A experi ncia de mulheres com c ncer do colo do tero no sistema nico de sa de uma an lise sociol gica Disserta o de Mestrado Universidade Federal do Paran Programa de P s Gradua o em Sociologia 2006 DELEUZE Gilles Ilhas desertas S o Paulo Iluminuras 2006 Conversa es Rio de Janeiro Editora 34 1992 DONNANGELO M C F PEREIRA L Sa de e sociedade S o Paulo Ed Duas Cidades 1976 164 FARIA Lina Educadoras sanit rias e enfermeiras de sa de P blica identidades profissionais em constru o Cad Pagu Jul no 27 2006 FOUCAULT Michel O nascimento da Medicina Social In Microf sica do Poder Rio de Janeiro Graal 1972 O Nascimento da cl nica Rio de Janeiro Editora Forense Universit ria 1977 A arqueologia do saber Rio de Janeiro Forense Universit ria 1987 Vigiar e punir 6 ed Petr polis Vozes 1999 a Em defesa da sociedade Trad Maria Ermantina Galv o S o Paulo Martins Fontes 1999 b FERRI Sonia Mara Neves PEREIRA Maria Jos Bistafa MISHIMA Silvana Martins et all As tecnologias leves como geradoras de satisfa o em usu rios de uma unidade de sa de da fa
3. es do cotidiano das oper rias contra o autoritarismo e a viol ncia sexista Mesmo se as oper rias passam a ser exclusivamente objeto de uma sociologia espec fica e se os temas de an lise n o s o incorporados aos estudos sobre classe oper ria e tudo se passa como se o lugar na produ o fosse elemento unificador de tal ordem fazer parte da classe oper ria significa comportamentos relativamente un vocos KERGOAT 1978 Escondem se desta forma os elementos para an lise das pr ticas oper rias das rela es de g nero traduzidas na hierarquia entre os sexos Os conceitos est o marcados por classe oper ria entendida como masculina ou seja uma pr tica que constr i a invisibilidade das mulheres por que afinal o consenso da poca era que os homens e n o as mulheres s o os principais atores s ciopol ticos e s mulheres caberia procriarem e terem filhos Para Bruschini 1992 os conceitos e procedimentos metodol gicos tradicionalmente utilizados para medir o trabalho sempre ocultaram a contribui o feminina Dada a maior difus o e aceita o social da fun o feminina estar ligada aos afazeres dom sticos Esse fato faz com que ela seja declarada como a principal ocupa o da informante mesmo quando ela exerce tamb m outro tipo de tarefa no setor agr cola ou mesmo em muitas atividades informais na zona urbana 97 Atualmente para Sampaio 2007 j existe certo consenso em rela o a quest es fundamentais par
4. naturaliza o das diferen as que foram socialmente constru das podendo por conseguinte ser transformadas No contexto do pensamento ideol gico a apresenta o das diferen as como naturais constitui uma necessidade Sem este requisito o uso da diferen a para fins discriminat rios n o alcan a efic cia pol tica SAFFIOTI 1994 p 277 A necessidade de recorrer aos contextos hist ricos nos quais se apresenta a realidade social assim como no contexto da sa de onde algumas quest es s o tratadas Scott 1990 70 identifica a hist ria como uma maneira de registrar a transforma o da ordem organizacional e social entre os sexos que permite produzir conhecimento sobre a diferen a sexual Pensar as rela es sociais no espa o do trabalho em sa de junto popula o n o um desafio apenas dos dias atuais um velho desafio que dia ap s dia revitalizado pelas transforma es inerentes da sociedade sempre em movimento Atualmente esse desafio recebe um novo questionamento que identifica uma situa o bastante amb gua vive se uma poca em que o conhecimento as ci ncias e a tecnologia caminham de modo acelerado como se representassem desenvolvimento e crescimento intelectual da esp cie humana No entanto no mago deste movimento as desigualdades de g nero s o cada vez mais n tidas O que se verifica que as desigualdades entre homens e mulheres s o vistas como naturais A desigualdade nas rela
5. o sa de tentando substituir o modelo tradicional sendo que esse novo modelo de aten o implica em valorizar a realidade regional identificando os problemas apresentados pela comunidade local criando assim possibilidades de interven o sobre estes A ESF foi pensada como um espa o de democratiza o dos saberes e da participa o portanto agente da constru o da cidadania por m parece reproduzir as desigualdades de g nero veiculadas nas suas concep es sobre o cuidado e sobre quem deve cuidar quem deve medicar quem deve ensinar e curar Evidenciando nas tarefas do cotidiano uma divis o cl ssica do trabalho pensado para os homens e as mulheres fato que se deve a uma constru o social sobre as esferas do cuidado que frequentemente v m sendo atribu do responsabilidade feminina Essa ordem simb lica por sua vez tamb m segue estruturando modos de se fazer o trabalho em sa de e a mesma l gica tamb m posiciona as mulheres m es como agentes priorit rios da implementa o da ESF nesse sentido que este trabalho se situa no interior de estrat gias regradas e normatizadas por objetivos referidos ao desenvolvimento de a es que visam produzir e assegurar pr ticas em sa de constru das a partir de uma equipe de trabalho Equipe concebida como interdisciplinar mas possivelmente marcada por processos de generifica o das estrat gias concep es e defini es dos espa os das a es e das representa es s
6. o do SUS Disserta o Mestrado Universidade do Estado do Rio de Janeiro Instituto de Medicina Social 2002 BEAUVOIR Simone de O Segundo Sexo Fatos e Mitos S o Paulo Difus o Europ ia do Livro 1980 162 BOFF L Saber cuidar tica do humano compaix o pela Terra Petr polis RJ Vozes 1999 p 91 BOLTANSKY Luc As classes sociais e o corpo 3 ed Rio de Janeiro Graal 1989 BORNSTEIN Vera Joana STOTZ Eduardo Navarro Concep es que integram a forma o e o processo de trabalho dos agentes comunit rios de sa de uma revis o da literatura vol 13 no 1 p 259 268 Dispon vel em lt http www scielo br pdf csc v13n 1 28 pdf gt Acesso em 23 maio 2008 BOTOM Silvio Paulo Processos comportamentais b sicos em metodologia da pesquisa da delimita o do problema coleta de dados In CHRONOS Caxias do Sul v 30 n 1 p 43 69 jan jun 1997 BOURDIEU Pierre O poder Simb lico Rio de Janeiro Editora Bertrand Brasil S A Difel 1989 A domina o masculina Bertrand Brasil Rio de Janeiro 1999 Medita es pascalianas Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2001 O capital social notas provis rias 1980 In Nogueira M A e A Catani orgs Pierre Bourdieu escritos de educa o Cap tulo III Petr polis RJ Vozes 1998 BOWRA C M Gr cia Cl ssica Trad Pinheiro de Lemos Biblioteca de Hist ria Universal Life Rio de Janeiro Livraria Jos Olympio Editora 1969
7. 8 Wright Mills 1965 sugere uma pr tica artesanal ao pesquisador em Sociologia opondo se atitude herm tica burocr tica formalista e instrumental O artesanato intelectual caracteriza se pelo dom nio do pesquisador de todo o processo de conhecimento prop e a organiza o de arquivos com experi ncias e conceitos o que permitiria tanto criar as condi es para o conhecimento da realidade como estimular a imagina o sociol gica tornando a suscet vel para novas quest es e possibilidades de resposta 27 conquistado a partir da 8 Confer ncia Nacional da Sa de 1986 consagrando os princ pios preconizados pelo Movimento da Reforma Sanit ria BRASIL 1986 Contar essa hist ria agrega na qualidade do estudo porque demonstra como a mudan a no atendimento em sa de vem sendo delineada nas ltimas d cadas No Cap tulo III A constru o do campo anal tico na rela o com o cuidado Esse cap tulo se ap ia em trabalhos relativos problematiza o dos conceitos de g nero e trabalho a divis o sexual do trabalho e o conceito de cuidado tenta compreender como as rela es de g nero acontecem no cotidiano especialmente no espa o do trabalho da equipe da ESF Orientar esse estudo segundo a categoria g nero justifica se pelo fato de acreditar que esta forma de an lise desvela signos dados s rela es sociais e principalmente ao modo de ser do indiv duo na sociedade Cap tulo IV Trajet rias profissionais A
8. BRASIL Constitui o Federal Rep blica Federativa do Brasil 1988 Lei n 8 080 19 de setembro de 1990 Disp e sobre as condi es para promo o prote o e recupera o da sa de a organiza o e funcionamento dos servi os correspondentes e d outras provid ncias Di rio Oficial da Uni o Bras lia p 018055 col 1 1990 Portaria N 6458 de mar o de 2006 Dispon vel em lt tp dtr2004 saude gov br dab legislacao portaria 648 28 03 2006 pdf gt Acesso em nov 2007 Minist rio da Sa de Sa de da Fam lia Guia Pr tico do Programa Sa de da Fam lia na biblioteca virtual do MS Dispon vel em lt http dtr2004 saude gov br susdeaz topicos topico det php co topico 550 amp letra gt Acesso em 17 maio 2007 Minist rio da Sa de SUS Dispon vel em http www sespa pa gov br Sus sus sus oquee htm gt Acesso em 23 set 2007 BRAS LIA Relat rio do Semin rio Internacional Os desafios do ensino da Aten o B sica na Gradua o em Medicina Dispon vel em lt http www sbmfc org br News Media 3830d790 Relat WC3 B3rio 20Semin CI A Irio 20Internacional 20AB 20e 20Gradua C3 AT CI A30 pdf gt Acesso em 14 dez 2007 163 BRUSCHINI Maria Cristina Uma abordagem sociol gica da fam lia ABEP S o Paulo REBEP v 6 n 1 jan jun p 1 24 1989 Trabalho dom stico inatividade econ mica ou trabalho n o remunerado Rev bras estud popul S o Paulo v 23 n 2 2006 Dispon vel em l
9. o das tarefas cotidianas Neste contexto g nero tenta explicar como a representa o dual e frequentemente desigual entre as representa es sobre o que ser homem e ser mulher vem sendo constru da na cultura ocidental como ela se reproduz e resignificada em um quadro de rela es sempre mais complexo Pressup e tamb m entender g nero como uma constru o do pensamento que propicia o entendimento de contextos particulares assim como relacionais conforme deixava se de fazer uma hist ria ou uma literatura das mulheres sobre as mulheres e passava se a analisar a constru o social e cultural do feminino e do masculino atentando para as formas pelas quais os sujeitos se constitu am e eram constitu dos em meio a rela es de poder LOURO 2002 Trabalha se com as constru es simb licas do feminino e do masculino em cada sociedade na qual haver uma permanente articula o entre o que determina um g nero e outro onde a no o de assimetria ser determinante para a compreens o n o s da domina o das mulheres pelos homens mas tamb m no espa o de poder feminino no interior de cada cultura As identidades se constroem de forma relacional pode se falar em rela es de g nero pois existe uma complementaridade entre o masculino e feminino necess ria a estas rela es assim tricas COSTA BRUSCHINI 1992 Para Mariano 2005 as teorias de g nero contribu ram para que os estudos feministas que criticavam
10. o do Minist rio da Sa de ao institucionalizar o PSF como pol tica nacional da Aten o B sica foi adotar uma estrat gia de organiza o do sistema de servi os de sa de do Pa s Esse programa contribuiu para a reorganiza o do modelo assistencial em conformidade com os princ pios do SUS imprimindo uma nova din mica de atua o nas unidades b sicas de sa de com a defini o de responsabilidades entre os servi os de sa de e a popula o BRASIL 1999 As condi es iniciais s o desfavor veis implanta o do PSF n o somente no campo do financiamento mas tamb m na aus ncia de uma pol tica adequada de forma o de recursos humanos e na pr pria descren a da sua capacidade de induzir mudan as no modelo assistencial sofrendo assim transforma es ao longo da sua trajet ria Por outro lado alguns autores se referem popula o alvo desse trabalho como uma massa amorfa indistingu vel desorganizada consumista de medicamentos e que apresenta h bitos n o saud veis sendo sua interven o necess ria e imprescind vel demonstrando que em sua atua o esses t cnicos legitimam muito mais a institui o reprodutora desse saber que seu papel de sujeito social PEDROSA 2001 Onde essa fala se insere quando contraposta aos princ pios da ESF que se 57 refere popula o como sujeita de direitos que devem ser respeitados em sua regionalidade cultura e valores O Agente Comunit rio de Sa de ACS c
11. participar do processo de territorializa o e mapeamento da rea de atua o da equipe identificando grupos fam lias e indiv duos expostos a riscos inclusive aqueles relativos ao trabalho e da atualiza o cont nua dessas informa es priorizando as situa es a serem acompanhadas no planejamento local II realizar o cuidado em sa de da popula o adscrita prioritariamente no mbito da unidade de sa de no domic lio e nos demais espa os comunit rios escolas associa es entre outros quando necess rio II realizar a es de aten o integral conforme a necessidade de sa de da popula o local bem como as previstas nas prioridades e protocolos da gest o local IV garantir a integralidade da aten o por meio da realiza o de a es de promo o da sa de preven o de agravos e curativas e da garantia de atendimento da demanda espont nea da realiza o das a es program ticas e de vigil ncia sa de 60 V realizar busca ativa e notifica o de doen as e agravos de notifica o compuls ria e de outros agravos e situa es de import ncia local VI realizar a escuta qualificada das necessidades dos usu rios em todas as a es proporcionando atendimento humanizado e viabilizando o estabelecimento do v nculo VII responsabilizar se pela popula o adscrita mantendo a coordena o do cuidado mesmo quando esta necessita de aten o em outros servi os do sistema de sa de
12. 132 p 595 609 set dez 2007 JAPIASSU Hilton Nem Tudo Relativo A Quest o da Verdade S o Paulo Editora Letras amp Letras 2000 JUNQUEIRA Maria de F tima Pinheiro da Silva Cuidado as fronteiras da integralidade Ci ncia sa de coletiva Rio de Janeiro v 10 n 3 2005 Dispon vel em lt http www scielo br scielo php script sci_arttext amp pid S1413 81232005000300036 amp lng en amp nrm iso gt Acesso em 03 Set 2007 KARSCH Ursula M Idosos dependentes fam lias e cuidadores Cad Sa de P blica v 19 n 3 Rio de Janeiro jun 2003 KERGOAT Daniele Rela es sociais de sexo e divis o sexual do trabalho In LOPES M J M MEYER D E WALDOW V R Orgs G nero e Sa de Porto Alegre Edit Artes M dicas 1996 LAQUER Thomas Inventando o sexo corpo e g nero dos gregos a Freud Rio de Janeiro Relume Dumar 2001 LAMAR O S rgio Tadeu de Niemeyer Dos trapiches ao Porto Um estudo sobre a rea portu ria do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Secretaria Municipal de Cultura Departamento Geral de Documenta o e Informa o Cultural 1991 LEFEVRE Fernando Promo o de sa de elementos para reflex o S o Paulo Faculdade de Sa de P blica da Universidade de S o Paulo 2000 166 LEITE Silvia Meirelles O conceito de inf ncia da turma da M nica estudo de caso da se o divers o do site da turma da M nica INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Co
13. 35 7 Mandirituba 0 8 Fazenda Rio Grande 16 16 9 Arauc ria 17 01 16 10 Campo Largo 15 01 14 11 Campo Magro 07 01 06 12 Almirante Tamandar 03 01 02 13 Colombo 26 03 23 14 Quatros barras 07 01 06 15 Campina Grande do Sul 07 01 06 16 Cerro Azul 07 07 17 Lapa 06 01 05 18 Balsa Nova 03 03 19 Itaperu u 03 03 20 Rio Branco do Sul 08 02 06 21 Dr Ulisses 22 Adrian polis 02 01 01 23 Tunas do Paran 02 2 24 Bocai va do Sul 25 Contenda 03 03 26 Curitiba 191 06 185 Total regi o metropolitana 179 20 159 Total geral 370 26 344 FONTE Dispon vel em lt http cnes datasus gov br Mod Ind Profissional com CBO asp gt Acesso em 31 ago 2008 Para Shimazaki 2001 Curitiba tem investindo permanentemente nesses 20 anos junto aten o b sica sa de da popula o Este dado pode ser averiguado em decorr ncia dos indicadores de sa de que demonstram a redu o da mortalidade infantil assim como o ndice aumentado da expectativa de vida da popula o A rede municipal de Unidades de Sa de vem sendo ampliada garantindo cada vez mais o acesso dos usu rios aos servi os A constru o da Estrat gia de Sa de da Fam lia o resultado do trabalho constante de muitos profissionais ao longo desses ltimos 14 anos onde a Aten o B sica realizada pelas Unidades de Sa de cl nica geral pediatria
14. Essas quest es trazem problemas importantes para uma pr tica interdisciplinar que se pretende dial gica Essa an lise parece evidenciar que o trabalho com a fam lia talvez esteja carregado de concep es generificadas sobre as formas de compreender os cuidados em sa de e sobre quem deve fazer o que A partir desses diferentes desafios reflex o a disserta o se estrutura seguindo a ordem abaixo relacionada No Cap tulo I O artesanato intelectual como possibilidade da pesquisa sociol gica re no nesse cap tulo uma revis o da literatura sobre a metodologia tentando 26 atingir os objetivos propostos por esse estudo utilizando como pano de fundo a proposta desafiadora de Wright Mills em A imagina o sociol gica o artesanato intelectual t o essencial nesse momento Evidenciando com aux lio dos autores que fundamentam a pesquisa cient fica as quest es e os objetivos o m todo a forma de analisar o campo Adotei a pesquisa qualitativa tentando a conson ncia com categoria de an lise pela perspectiva de g nero No Cap tulo II Da assist ncia m dica curativa Sa de como direito de todos garantida pelo Estado Tratar desse assunto ou seja resgatar o hist rico sobre o Sistema P blico de Sa de no Brasil sem apresentar uma hist ria extremamente universal foi um grande desafio Primeiro porque participei do desenvolvimento de alguns acontecimentos que contribuiram para o movimento da Reforma S
15. In Hist ria das Mulheres S culo XIX Org Georges Duby e Michelle Perrot S o Paulo Edi es Afrontamento Ebradil vol 3 1994 p 443 475 SHIMAZAKI Maria Emi Acolhimento Solid rio a sa de de bra os abertos In Ducci L Sim o MG Pedotti MA Moys s SJ organizadores Curitiba a sa de de bra os 1 ed Rio de Janeiro Centro Brasileiro de Estudos de Sa de CEBES 2001 SILVA Anamaria C O impacto do Programa de Sa de da Fam lia no munic pio de Sobral Cear uma an lise da evolu o da sa de das crian as menores de cinco anos de idade no per odo de 1995 2002 Tese doutorado Faculdade de Medicina da Universidade de S o Paulo Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de S o Paulo 2003 SILVA Gisela Enfermagem profissional an lise cr tica S o Paulo Cortez 1986 SOARES Cristiane SAB IA Ana L cia Tempo trabalho e afazeres dom sticos um estudo com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic lios de 2001 e 2005 Rio de Janeiro IBGE Coordena o de Popula o e Indicadores Sociais 2007 Dispon vel em lt http www ibge gov br home estatistica popula o tempo trabalho afdom pnad2001 2005 pdf gt Acesso em 30 maio 2008 SOUZA LOBO Elizabeth O trabalho como linguagem o g nero do trabalho In COSTA Albertina de Oliveira BRUSCHINI Cristina Orgs Uma quest o de g nero Rio de Janeiro Rosa dos Tempos S o Paulo Funda o Carlos Chagas 1992
16. Jan Jun 2005 no 24 p 41 67 REZENDE Daniela Nem Eva nem Maria Disserta o de Mestrado Universidade Federal do Paran Programa de P s Gradua o em Sociologia 2008 RODRIGUES Ma sa Paulino ARA JO Mariza Sandra de Souza O fazer em sa de um novo olhar sobre o processo de trabalho na Estrat gia Sa de da Fam lia Dispon vel em lt http www observatorio nesc ufrn br polo php gt Acesso em 28 agos 2008 RODHEN Fab ola A arte de enganar a natureza contracep o aborto e infantic dio no in cio do s culo XX Rio de Janeiro Editora Fiocruz 2003 A constru o da diferen a sexual na medicina Cad Sa de P blica vol 19 supl 2 2003 Dispon vel em lt http www scielo br pdf csp v19s2v19s2 pdf gt Acesso em 27 set 2007 ROSEN George Uma hist ria da sa de p blica S o Paulo Unesp Hucitec 1994 ROUSSEAU Jean Jacques Em lio ou da educa o Tradu o por S rgio Milliet 3 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1995 SACKS Karen Engels revisitado a mulher a organiza o da produ o e a propriedade privada In ROSALDO Michelle Zimbalist Lamphere Louise Org A mulher a cultura e a sociedade Tradu o Cila Ankier e Rachel Gorentein Rio de Janeiro Paz e Terra 1979 SAFFIOTI H G nero e Patriarcado S o Paulo Pontif cia Universidade Cat lica de S o Paulo 1999 SAMPAIO Darli de F tima Rela es de g nero na ind stria automotiva A problem tica d
17. descritivos e classificat rios se prestam a indicar o diferencial de posicionamento de homens e mulheres na estrutura setorial ocupacional e de remunera o ou servem para indicar que o trabalho dom stico seria pr prio de mulher Ao longo dos anos 70 e 80 paralelamente a esse debate te rico foi se desenrolando um processo de desvendamento e de cr tica s estat sticas oficiais dispon veis para pesquisar a atividade econ mica feminina consideradas inadequadas para mostrar a real contribui o das mulheres sociedade A maior parte das cr ticas refere se ao n vel pouco adequado de mensura o da atividade das mulheres BRUSCHINI 2006 p 332 Para a autora o Recenseamento de 1980 trouxe grandes contribui es te ricas e metodol gicas sobre o trabalho feminino foram introduzidas referindo se aquelas que dizem respeito ao conceito de atividade inatividade econ mica A categoria de inativos abriga indiv duos que n o trabalham porque vivem de renda porque s o aposentados pensionistas doentes ou inv lidos estudantes e os as que realizam afazeres dom sticos Ou seja apesar do 98 consider vel volume de atividades que se escondem sob a rubrica afazeres dom sticos e que mant m ocupadas mulheres de todas as camadas sociais o trabalho dom stico n o contabilizado como atividade econ mica nesse tipo de levantamento A atividade de dona de casa costuma aparecer como a principal ocupa o da respondente a n
18. dicos e trabalho manual para as enfermeiras Al m da continuidade das demandas sobre a es preventivas que as fam lias devem desenvolver o que refor ado pela concep o que se tem sobre o conte do das tarefas desenvolvidas por enfermeiras A an lise dessas narrativas revelam que a ESF pode estar sendo constru da por fortes rela es de poder onde percebemos existir uma luta de for a tentando matizar a categoria profissional que tem a posi o de prest gio e comando nesse espa o A disputa muito acirrada e se revela nestes depoimentos Agora j tive uma experi ncia numa outra equipe em que eu peguei uma enfermeira que estava h muitos anos no servi o ela j estava assim calejada no servi o Ela j tinha as maldades dela quando eu cheguei muito empolgado em trabalhar com SF eu incomodei muito ela a ponto dela tentar me podar Tentou cortar as minhas a es tentou mandar em mim tentou inibir as a es que eu queria desenvolver Ent o com essa pessoa espec fica eu tive problema N o podemos generalizar que os m dicos de SF t m problemas com as enfermeiras Isso n o 121 existe existem sim casos e casos Eu acho que n s m dicos de SF temos que ter essa vis o de saber dividir as a es Fabr cio M dico Verificamos atrav s de alguns depoimentos que as rela es entre m dicos e enfermeiras tornam se em alguns momentos muito dificeis afinal todos buscam a valoriza o profissional
19. integrando reas t cnicas e profissionais de diferentes forma es VII Valoriza o dos diversos saberes e pr ticas na perspectiva de uma abordagem integral e resolutiva possibilitando a cria o de v nculos de confian a com tica compromisso e respeito POL TICA NACIONAL DE ATEN O B SICA 2006 140 ESF sem querer assumir o seu papel vem como ltimo caso um trabalho a mais resistente a mudan a seu modelo de medicina antigo se for concursado ent o pior n o se comprometem de forma alguma No meu entendimento esses profissionais deveriam ao terminar a sua faculdade permanecer a metade do tempo que utilizaram para se formarem em atividade volunt ria junto de comunidades carentes Esses m dicos quando chegam a ESF o objetivo ter mais uma renda e principalmente ganhar experi ncia melhorar o seu curr culo Sandra Enfermeira coordenadora ESF Vivi at pouco tempo atr s uma sensa o de equipe completa trabalhando com um m dico mais novo que fazia visitas domiciliares como prev a ESF se precisasse utilizava seu pr prio carro a sua gasolina A postura desse m dico modificou o funcionamento da equipe que se sentia motivada afinal todo mundo tinha a mesma responsabilidade em rela o s tarefas na Unidade Discut amos juntos muitos casos de pacientes Havia uma comunica o e parceria perfeita junto equipe Acredito que era o fato de ser formado recentemente uma
20. lio produzindo o cuidado entendido segundo as diretrizes do SUS como medidas de aten o acolhimento v nculo constru o da autonomia e tentativa de resolubilidade Por outro lado retomando o que diz Foucault at o final do s culo XVII poss vel identificar que o Estado s atuava em rela o sa de da popula o atrav s de medidas higienistas ou seja atrav s de a es preventivas no caso do aparecimento de epidemias Utilizar a express o medidas higienistas nos remete a compreender o sentido de Higiene P blica Que segundo Foucault 1972 em O nascimento da Medicina Social evidencia que o entendimento sobre a Higiene P blica era relacionado ao conceito de salubridade O autor afirma que salubridade o conjunto de elementos que permite a conserva o da sa de dos seres humanos em sociedade O s culo XVIII vai trazer uma grande cr tica s funda es hospitalares evidenciando assim o modo como o pensamento pol tico reflete a quest o da assist ncia Na Fran a do s culo XIX esta assist ncia estar inserida na Medicina Social onde a higiene p blica utilizada como controle pol tico cient fico do meio visando o aprimoramento das institui es sociais respons veis pela conserva o da sa de Assim a garantia de sa de nesse momento resume se s a es de controle da dissemina o de doen as portanto lavar as m os ou trocar de roupas eram atitudes que poderiam prevenir poss veis doen as Nes
21. o Paulo Hucitec 1997 A perda da dimens o cuidadora na produ o da sa de Uma discuss o do modelo assistencial e da interven o no seu modo de trabalhar a assist ncia In Sistema nico de Sa de em Belo Horizonte reescrevendo o p blico XAM VM ED Belo Horizonte 1998 Sa de a cartografia do trabalho vivo S o Paulo Hucitec 2002 MINAYO Maria Cec lia de Souza O Desafio do Conhecimento Pesquisa Qualitativa em Sa de S o Paulo Rio de Janeiro Hucitec ABRASCO 1999 MINAYO Maria Cec lia de Souza DESLANDES SUELY FERREIRA Org Caminhos do pensamento epistemologia e m todo Rio de Janeiro FIOCRUZ 2002 Cole o Crian a Mulher e Sa de MINAYO GOMEZ Carlos THEDIM COSTA Sonia Maria da Fonseca A constru o do campo da sa de do trabalhador percurso e dilemas Cadernos de sa de p blica Vol 13 supl 2 Funda o Osvaldo Cruz Fiocruz Escola Nacional de Sa de P blica ENSP Rio de Janeiro 1997 MILLS C Wright A imagina o sociol gica Tradu o de Waltensir Dutra Rio de Janeiro Zahar 1965 MOLIANI Maria Marce Especializa o e Compartimentaliza o de Saberes Efeitos sobre a Produ o de Cuidados e Administra o em Sa de Rev FAE Curitiba v 3 n 2 p 61 74 maio ago 2000 MOREIRA Martha Cristina Nunes Imagens no espelho de V nus mulher enfermagem e modernidade Rev Latino Am Enfermagem Ribeir o Preto v 7 n 1 1999 Dispon vel em lt
22. o social reconhecida e na afinidade alian a matrimonial Outros autores como Elizabeth Souza Lobo divulga o artigo G nero uma categoria til de an lise hist rica de Joan Scott Assim as pesquisadoras brasileiras come am a utilizar essa categoria enquanto instrumental de an lise apesar de j h algum tempo pesquisadoras norte americanas terem utilizado a palavra gender para se referir as origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas de homens e mulheres SCOTT 1990 Desde ent o o conceito de g nero seria amplamente empregado nos discursos sobre a sociedade oriundos das mais diferentes institui es tais como universidades ONGS escolas sindicatos etc A partir dessa perspectiva poss vel pensar como se estrutura a percep o correta e simb lica da vida no trabalho no que tange a distribui o e ao conte do das tarefas entre os membros da equipe da ESF como acessam os recursos materiais e simb licos os profissionais m dicos e enfermeiras em rela o ao valor do conte do das tarefas que ambos executam 86 Como as concep es generificadas se estruturam no interior da divis o sexual desse trabalho na experi ncia cotidiana mas sobretudo nos significados referidos ao cuidado no di logo entre o sujeito individual e a organiza o social no qual ele est inserido Nesse caso compreender o significado que a pr pria ESF organizou e estruturou para esses profissionais e a produ
23. o valida o seu conhecimento cient fico Esse saber ainda est vinculado ao m dico essa supremacia do m dico permanece Ao longo da hist ria da sa de todo mundo sempre acreditou que s o m dico saberia como salvar as pessoas das doen as J os enfermeiros inicialmente nem foram escola pra exercer a profiss o eram 129 conduzidos pelos m dicos como se fossem secret rios auxiliares Hoje a situa o vem mudando e a ESF uma possibilidade para essa mudan a porque exige forma o e envolvimento com a popula o que come a a reconhecer nosso espa o Fabiana Enfermeira A realidade exige uma reflex o incans vel no qual precisa aprender a utilizar a sua criatividade que busca respostas no cotidiano de uma pr tica desafiadora no sentido de um acordo silencioso entre si e com a comunidade tentando atender os princ pios ess ncias da aten o e promo o da sa de e da vida Entender essa realidade significa desvelar caminhos junto com a popula o e a equipe da ESF uma conversa frequente cotidiana no sentido de descobrir juntos dentro de todas as limita es formas de garantir uma mudan a que parece lenta demais e que parece n o refletir a realidade te rica que fundamenta esse espa o profissional 4 4 A flexibiliza o e a hierarquiza o no cotidiano da equipe de sa de O segundo ponto sobre as rela es no trabalho de m dicos e enfermeiras a sobre o qual dispusemos para a an lise do
24. p 252 265 STARFIELD B rbara Aten o Prim ria equil brio entre necessidades de sa de servi os e tecnologia Bras lia UNESCO Minist rio da Sa de 2002 TAMANINI Marlene Novas Tecnologias Reprodutivas Conceptivas o paradoxo da vida e da morte Revista Tecnologia e Sociedade CEFET PR 2006 171 TRONTO Joan C Mulheres e Cuidados O que as feministas podem aprender sobre a moralidade a partir disso In BORDO S R JAGGAR A M G nero Corpo Conhecimento Rio de Janeiro Record Rosa dos Tempos 1997 p 186 203 AP NDICES 172 173 AP NDICE A j ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM OS M DICOS Sobre o perfil dos entrevistados 1 Qual a sua idade 2 H quanto tempo concluiu a gradua o 3 Fez alguma especializa o Qual Sobre a forma o e experi ncia profissional 1 Que caminhos te conduziram ao trabalho como m dico na Unidade de Sa de ou seja ao trabalho junto equipe da Estrat gia de Sa de da Fam lia 2 Qual a sua experi ncia anterior na medicina Qual era a sua rea de atua o 3 Como se constituiu em m dico de fam lia Sobre g nero poder cuidado e interdisciplinaridade 1 Como identifica o discurso sobre o m dico n o saber trabalhar em equipe Comente sobre o campo da medicina o saber m dico legitimado pela sociedade E o Sa de da fam lia o que prop e nesse contexto onde a medicina atua 2 3 4 Como s o realizadas as suas tarefas no cotidiano 5 Como traba
25. 55 2 2 2 Principios da sa de da Familia asi esto pa Soa o ES RS Sonata 56 2 2 3 O desafio do trabalho em equipe na aten o Sa de da Fam lia 63 2 3 A FAM LIA E O PAPEL DA MULHER eee 73 3 A CONSTRU O DO CAMPO ANAL TICO NA RELA O COM O CUIDADO ea a a e UA a A E A aN 81 3 1 A DIVIS O SEXUAL DO TRABALHO E O CONCEITO DE CUIDADO 81 Sd G NIO EE tasisdo deter usadas alga du a a ug a ra e apaga 81 3 1 2 A divis o sexual do trabalhos sagas aa ROSES Ra ROS 91 313 O Cuidado esa rn CR DA ENS AG A pede aaa 100 4 TRAJET RIAS PROFISSIONAIS AMBIGUIDADES DA PR TICA 107 4 1 Escolhas amp Percen ES iai usa iret UNE a RSA adaga AGIA Rd Uia 108 4 2 Os conte dos das tarefas no coltdano squares Sa 118 4 3 O cuid do que Es aa ss ra a areas Sad a i e ie ca aa 127 4 4 A flexibiliza o e a hierarquiza o no cotidiano da equipe de sa de 129 4 5 O trabalho Eni EQUIpes uia soraia Te e AR SEE UG NTSC Tap AREA EAD Ina Arado 135 4 6 M dicos e enfermeiras na ESF concep es sobre o cuidado e o conte do das a es no COMMAND ss E a ia R E E ara 142 CONSIDERA ES FINAIS eira 150 REFERENCIAS oire pie tc oa a a N 161 APENDICES aiea a S 172 ANEXOS rama ita n iin TR Ta nan sa ER SR a ul 175 13 INTRODU O O foco deste estudo sociol gico o trabalho de m dicos e enfermeiras na Estrat gia de Sa de da Fam lia E
26. Gosto da aventura do desafio Mesmo tendo feito tantas coisas e atualmente trabalhando numa Unidade de Sa de da Fam lia numa rea de risco onde n o h saneamento b sico onde h muita viol ncia dom stica falta de intra estrutura familiar auto agress o viol ncia f sica sexual psicol gica priva o material e outras situa es que tornam o meu trabalho na ESF um desafio di rio como coordenadora da equipe No fim me dou conta de que mesmo depois dessa longa experi ncia por esse mundo afora vejo que nada sei ou seja que tenho muito que aprender Denise Enfermeira coordenadora ESF O depoimento emocionado desta enfermeira evidencia as condi es do cotidiano refletindo as dificuldades de estabelecer sua pr tica descobre at nita a necessidade de decidir e de atuar nesse contexto onde a viol ncia dom stica aniquila qualquer senso de op o imediata do agir profissional Por outro lado em outro contexto fora da ESF tamb m a necessidade de inserir se num espa o que mostra uma realidade t o ca tica onde o cuidar passa a ser um desafio di rio intermitente Assim a assist ncia sa de das fam lias baseada num compromisso tico assumindo o cuidar de pessoas como pessoas e n o como coisas Ainda vincula o cuidado ao cuidar se a evitar a viol ncia para consigo e a proteger se da viol ncia estrutural Essa dimens o carrega ainda mais as pr ticas em sa de com a necessidade de uma concep o politizada sobre
27. Trabalho Cargo fun o ESF Enfermagem 4 anos 1 Carla 26 Especializa o em Unidade de Sa de Enfermeira 2anos Sa de da Fam lia da Familia na concluindo a especializa o ESF Enfermagem 3 anos 2 Sandra 46 Especializa o em Unidade de Sa de Coordenadora 2 anos e 6 Sa de Coletiva conclu da da Familia da meses ESF Enfermagem 9 anos 3 Denise 36 Especializa o em Unidade de Sa de Coordenadora 5 anos Sa de P blica da Familia da conclu da ESF Enfermagem 14 anos 4 Fabiana 38 Especializa o em Unidade de Sa de Enfermeira 8 anos Sa de da Fam lia da Familia na conclu da ESF Enfermagem 10 anos 5 Heloisa 40 Especializa o em Sa de Unidade de Sa de Enfermeira 6 anos Coletiva concluindo a da Familia na especializa o ESF Medicina 20 anos 6 Francisco 48 Especializa o em Unidade de Sa de M dico 10 anos Sa de P blica da Familia na conclu da ESF Medicina lano e 6 meses 7 Fabr cio 29 Especializa o em Unidade de Sa de M dico l anoe 6 Sa de da Fam lia da Familia na meses concluindo a especializa o ESF Medicina 10 anos 8 Guilhermo 38 Especializa o em Unidade de Sa de M dico 2 anos Sa de da Fam lia da Familia na concluindo ESF Medicina 14 anos 9 William 39 Especializa o em Unidade de Sa de M dico 11 anos Sa de da Fam lia da Fam lia na concluindo ESF 38 Medicina 19 anos 10 Jo o 47 Especializa
28. a conveni ncia a moralidade e at a legalidade das suas atividades assalariadas A visibilidade da mulher trabalhadora resultou da sua percep o como um problema de cria o recente que exigia uma resolu o urgente ainda que sempre elas tivessem trabalhado Este problema implicava o pr prio sentido da feminilidade e a sua compatibilidade com o trabalho assalariado aspecto debatido em termos morais e de rela es sociais Fosse o objeto da aten o uma oper ria fabril uma costureira ou uma compositora tipogr fica emancipada fosse ela descrita como uma jovem rapariga solteira uma m e de fam lia uma vi va idosa ou como a mulher de um trabalhador desempregado ou de um h bil artes o Quer fosse tomada como o exemplo ltimo das tend ncias destrutivas do capitalismo ou como prova das suas progressivas potencialidades as quest es que ela levantava eram as mesmas deve a mulher trabalhar por um sal rio O trabalho da mulher sempre foi condenado pelos moralistas que afirmavam que antes de ser oper ria ou comerciante a mulher deveria assumir seu papel de m e questionando seus ganhos produzidos por seu trabalho evidenciando a import ncia dos filhos e a felicidade da fam lia relacionada a sua vig lia constante As mulheres trabalhadoras mais combatidas foram as intelectuais segundo Badinter 1985 foram vistas como as mais culpadas que as oper rias por que n o necessitavam trabalhar e o faziam por recusarem se 94 ass
29. a filosofia da equipe Voc tem que saber trabalhar em equipe Voc tem que ter a sua lideran a sim mas voc tem que ser capaz de saber dividir o espa o dividir o momento de trabalho dividir as a es Voc n o tem que tentar carregar tudo nas costas Ent o se voc ficar com esse endeusamento essa vaidade vai te atrapalhar voc n o vais e adequar ao tipo de trabalho que o PSF exige Fabr cio M dico A forma o dos profissionais de sa de n o estimula o trabalho interdisciplinar A medicina fundamentalmente cl nica O que acentua o atendimento individual Na faculdade isso bem claro tudo muito dividido em disciplinas cursos espa os Como exigir uma interdisciplinaridade de profissionais que n o viveram esta experi ncia No fim das contas cada um faz os seus atendimentos em nenhuma preocupa o com o que o outro profissional est fazendo Trabalho em conjunto e n o em grupo Trabalho de equipe significa e trabalho interdisciplinar trocas tica respeito envolvimento Jo o M dico Fica evidente nesse depoimento a dificuldade do trabalho em equipe tamb m em decorr ncia da falta de clareza e defini es de trabalho em equipe na literatura na forma o m dica principalmente verifica se uma abordagem t cnica e individualista O que se encontra a partir da fala dos sujeitos da pesquisa um trabalho multidisciplinar simplesmente uma jun o dos saberes de v rias ci ncias o que em
30. a modernidade revelassem que os valores do iluminismo direitos igualdade liberdade democracia num discurso humanista na verdade encobrissem as especificidades de g nero de classe de ra a de etnia e de orienta o sexual dos diferentes sujeitos que ocupavam outras fronteiras pol ticas que n o aquelas do homem branco heterossexual e detentor de propriedades Essas cr ticas colocavam em evid ncia a necessidade de uma teoria que desse suporte essa problematiza o no caso para Scott essa teoria seria o p s estruturalismo que permitiu questionar as categorias unit rias e universais tornando hist ricos conceitos que s o considerados como naturais Enquanto categoria de an lise g nero pretende compreender as rela es sociais desiguais entre homens e mulheres Muitas pesquisas se orientam por essa tem tica atuando 87 no sentido de modificar rela es sociais que produzem efeitos t o indesej veis como a discrimina o das mulheres nas fam lias nas escolas e no trabalho Grossi 1998 enfatiza a necessidade de instrumentos e perspectivas te ricas que abordem a sociedade como ela composta de homens e de mulheres e que d em conta da an lise dos conflitos presentes nessas rela es Na verdade busca se novo referencial te rico para trabalhar estas quest es h uma necessidade de ampliar a reflex o te rica de g nero como os conceitos de poder domina o e discurso Contribuindo com esse pensamento Sc
31. a problematiza o do espa o do di logo e da autonomia entre as profiss es Essa quest o parece ser um a priori fundamental para o trabalho interdisciplinar na ESF se cada profiss o n o percebe o que capaz de oferecer para o campo do di logo e do exerc cio cotidiano do trabalho em equipe E se cada profissional n o se recoloca na din mica do trabalho cada vez que os desafios aparecem sejam eles do pr prio conte do das tarefas ou das tens es no exerc cio dos poderes na perspectiva do di logo Dificilmente o interdisciplinar ocorrer As din micas sobre concep es culturais que se vinculam ao caminho dos m dicos como chefes os que estudaram os que salvam e curam ainda conta muito Em contrapartida o pouco valor social atribu do identifica o de problemas conversas conselhos a es educativas parece trabalho de qualquer mulher Tem a ver com a vis o hospitaloc ntrica O m dico que trabalha no hospital realmente ele n o sabe trabalhar em equipe trabalha sozinho as 24 horas e depois vai embora Mas numa equipe de sa de da fam lia ele ainda vem com a id ia de fazer a consulta atender a queixa do paciente e mand lo embora Na estrat gia um pouco diferente ele tem um v nculo ele precisa acompanhar os pacientes que est o na rea Ele tem um v nculo empregat cio Apesar do m dico estar inserido nessa equipe a gente nota que muitos ainda n o sabem trabalhar em equipe trabalham a quei
32. ainda determinadas profiss es revelam a exist ncia na sua maioria ou de homens a medicina ou de mulheres a enfermagem Nessa perspectiva o estudo aponta para a valoriza o da medicina como uma profiss o historicamente constru da hierarquicamente superior e masculina No caso da enfermeira a profissional vista como uma mulher representa es ligadas ao fato de que ser mulher significa ter alma feminina Assim a profiss o de enfermeira foi institucionalizada na sociedade atual como um campo de trabalho para mulheres e isso foi poss vel comprovar atrav s dos dados apresentados anteriormente A reflex o sobre o campo de trabalho da enfermagem suscita v rios questionamentos Problematizando o seu conhecimento como se produz como se obt m e finalmente de que maneira aplicado nas a es em sa de Para Anderson 2006 essas s o quest es relacionadas grande relev ncia do feminismo que impulsionou o reconhecimento de uma variedade de fontes de informa o que s o necess rias para lidar sensivelmente com os seres humanos entendimentos subjetivos que s o frequentemente negligenciados por um objetivismo cient fico direcionado empiricamente e pelo racionalismo m dico A pr tica da enfermagem est relacionada tradi o de cuidar escutar intuir presenciar diferente de curar doen as responsabilidade da medicina Nos depoimentos das enfermeiras entrevistadas pode se identificar que ainda a mulher est relac
33. alguns dos depoimentos abaixo Acho que o m dico uma figura supervalorizada pela sociedade embora a enfermagem tenha ganhado campo O m dico tem se movimentado para impedir com que o enfermeiro ganhe mais espa o para que n o invada o seu espa o correndo o risco de ser descredibilizado A sociedade supervaloriza o m dico e n o conhece o trabalho da enfermagem Fabiana Enfermeira Creio que o m dico ainda hoje tem em sua forma o acad mica um foco direcionado para a es curativas onde ele tem que diagnosticar e resolver o problema do paciente Os m dicos se acham detentores do saber e os nicos capazes de lidar com a doen a esquecem que para o processo de cura de uma doen a outros saberes devem ser envolvidos Na realidade acredito que hoje a nossa forma o na enfermagem e o contato direto com o paciente fazendo de forma muito detalhada o nosso atendimento estamos conseguindo conquistar aos poucos maior espa o e reconhecimento profissional Heloisa Enfermeira Talvez essa postura possa estar relacionada ao processo de forma o vinculada a pr tica do conhecimento do m dico que se destina ao diagn stico das enfermidades e cura 134 evidentes Onde o m dico visto como um profissional privilegiado aquele que capaz de curar aquele que repara um mecanismo perturbado estabelecendo na maioria das vezes uma rela o verticalizada com seus pacientes e colegas de trabalho Ass
34. as mulheres se preocupam com aquelas de menor import ncia TRONTO 1997 p 186 Para Tronto 1997 o cuidar abarca um compromisso o cuidar necessariamente relacional podemos dizer que cuidamos de ou temos cuidado com alguma coisa ou com algu m Podemos distinguir cuidado com de cuidar de com base no objeto dos cuidados realizar tarefas dom sticas cuidar da casa M dicos enfermeiras e outros proporcionam cuidados m dicos Os historiadores cuidam do passado Os ju zes cuidam para que seja feita Justi a Presumimos normalmente que as m es cuidem de seus filhos que as enfermeiras cuidem dos pacientes TRONTO 1997 p 187 Cuidado com refere se a objetos menos concretos caracteriza se por uma forma mais geral de compromisso Cuidar de implica um objeto espec fico particular que o centro dos cuidados Assim o cuidar implica algum tipo de responsabilidade e compromisso cont nuos cuidar relacionado a responsabilidade de assumir uma carga cuidar significa assumir um trabalho assumir um sacrif cio despender energia em rela o ao objeto de cuidados Em nossa sociedade a responsabilidade de cuidar de localiza se na fam lia as profiss es que proporcionam cuidados s o muitas chamadas de apoio para cuidados que n o podem mais ser proporcionados dentro da fam lia O mercado na sociedade moderna gerou uma vers o de cuidados crescente que no caso dos prestadores de servi os que fingem cuidado c
35. cadas do s culo XX espa os de reconhecimento para as mulheres mas somente a partir dos anos 60 que este movimento ganha for a e visibilidade atrav s dos 82 estudos de g nero resultantes de um processo de desconstru o te rica que se desenvolve no interior de v rios campos disciplinares Nesse sentido preciso considerar o modo como o conceito de g nero foi se constituindo e quais s o as suas bases te ricas e suas dimens es conceituais Desnaturalizar hierarquias de poder baseadas nas diferen as de sexo tem sido um de seus eixos centrais TAMANINI 2003 p 1 Simone de Beauvoir 1980 foi uma grande precursora das discuss es sobre a feminilidade Radical para seu momento hist rico uma das mulheres no mundo masculino dos fil sofos franceses antes mesmo que a palavra feminista come asse a ser utilizada que acompanha a forma o da condi o feminina e analisa como o homem se posiciona diante da mulher Evidenciou a visibilidade do feminismo no s culo XX com a publica o do cl ssico de 1949 Segundo Sexo em que cita a famosa e repetida frase Ningu m nasce mulher torna se mulher BEAUVOIR 1980 p 9 Aqui tornar se uma mulher n o implica necessariamente que se percorre um caminho de liberdade para uma incorpora o cultural o que se verifica que somos um corpo de in cio e s depois nos tornamos um g nero Assim a autora expressou a id ia b sica do feminismo a desnaturaliz
36. conviv ncia cotidiana com a equipe A profissionaliza o da enfermagem ocorreu em fun o da necessidade de tornar a pr tica enquanto um espa o profissional id neo Recorrendo no in cio da sua hist ria a estere tipos que relacionavam a natureza feminina onde estavam presentes a submiss o o comportamento caridoso abnega o e paci ncia Mas estudos comprovam que as mulheres tinham potencialidades para cura quando na Idade M dia realizavam partos e cuidavam de doentes No entanto tais capacidades foram questionadas e identificadas como negativas relacionando esse conhecimento como maligno pela Igreja nesse per odo muitas mulheres foram consideradas bruxas e assim queimadas em pra a p blica Atualmente analisar a entrada da enfermagem no mundo do trabalho parece identificar v rios esteri tipos refor ando a id ia sobre a representa o do mundo do trabalho como um espa o do homem valorizando o masculino como o melhor No terreno relacionado ao poder identificamos ainda uma grande tend ncia de certos profissionais em assumirem posturas que vem refor ar a hierarquiza o e subordina o Refor ando o que diz Badinter 1985 referindo aos m dicos como tradutores da verdade onde mulher caberia toda a organiza o do ambiente em rela o a fazer o menor a higiene a limpeza afazeres que n o necessariamente s o aprendidas na academia Esta situa o est posta nas falas destas entrevistadas Sempre com mu
37. cuidado e sabedoria ganho espa o de reconhecimento assim q tem q ser Por outro lado vejo a equipe sendo muito cobrada muita 38 Passar aqui tem o significado de fazer uma consulta passar pelo m dico pela enfermeira uma terminologia interna do atendimento em sa de Hist rias da minha passagem numa equipe de sa de Numa consulta a m dica informa a m e Sua filha est com crostas hem ticas Com certeza a mesma entrou em desespero achando que a filha pudesse ter mais uma doen a Seria mais simples dizer que era apenas uma casquinha de ferida ou seja utilizar um vocabul rio intelig vel para aquela m e vinda do interior e que mal sabia assinar o seu nome 149 press o me dou conta de quanto estamos envelhecendo por tanto stress cotidiano Denise Enfermeira Aqui a necessidade de problematizar as rela es entre profissionais no sentido de pensar no cuidado que implica num conjunto de conhecimentos e agires nas experi ncias e modos singulares de cada profissional de sa de operar seu trabalho vivo em ato MERHY 1998 No entanto o cuidado aqui na fala de Denise impossibilitando a capacidade em manter as rela es de trabalho mais relacionais acolhedoras garantindo um v nculo visando o empoderamento dos sujeitos O endeusamento infelizmente acontece pela super especializa o dos m dicos e da medicina s que no caso da SF isso n o pode ocorrer tanto porque a filosofia de trabalho do SF
38. da Fam lia n o tem compromisso com o seu verdadeiro papel na equipe Quando ele contratado promete assumir tudo visitas domiciliares carga hor ria No entanto 6 meses depois n o quer fazer mais nada a n o ser uma consulta r pida que faz sem nem olhar para o paciente faz uma receita e despacha Aquele usu rio na maioria dos casos nada representa para ele n o se faz o v nculo O que ele est mesmo buscando melhorar a sua renda mensal com mais um emprego e s Sandra Enfermeira Quando Nightingale fez a separa o do trabalho intelectual do manual estava dizendo que somente pessoas mais ricas da classe superior e educadas poderiam fazer as atividades intelectuais J no trabalho manual poderiam ser mulheres pobres e tamb m porque havia o entendimento de que para esse trabalho n o precisava ter muita capacidade ser inteligente estudar Dai sim o m dico passa a se destacar ele que tem a condi o de pensar de organizar e s enfermeiras caberia apenas a execu o das tarefas manuais Heloisa Enfermeira Os problemas relacionados com o trabalho n o s o os nicos enfrentados pelas mulheres na luta contra a discrimina o pois eles adv m de fatores situados em campos interdisciplinares como por exemplo condicionamentos culturais fundados em mitos e cren as rela es econ micas condi es de participa o na vida pol tica e social E se n o bastasse a integra o d
39. das tarefas do cuidado entre os seus membros O m dico ainda visto como o mais importante aquele que sabe E bem poss vel que eles acreditem mais no que o m dico diz do que nas suas orienta es 143 t o cuidadas Mas na rela o do dia a dia a popula o ter a oportunidade de te conhecer verificar o seu conhecimento tamb m cient fico e que as suas orienta es tamb m partem de um conhecimento acumulado Estamos trabalhando para esta mudan a Heloisa Enfermeira N o est se questionando o valor do m dico na ESF no entanto de suma import ncia discutir com a comunidade a responsabilidade de cada membro da equipe valorizando outras profiss es Evidenciando outros tipos de conhecimento e tamb m valorizando o conhecimento popular Incentivando nessas pr ticas cotidianas o di logo O di logo que facilita a aproxima o da comunidade e dos profissionais tendo em vista uma educa o que constr i a autonomia dos sujeitos valorizando para isso o conhecimento desses indiv duos reconhecendo seu poder e direito de liberdade para assegurar conquistas sociais criando novos espa os de poder FREIRE 2003 Garantindo para tanto a es planejadas tamb m com a perspectiva de g nero para a organiza o dessa popula o atendida na ESF O m dico de fam lia poderia ser identificado como aquele profissional que cuida do indiv duo no interior da comunidade dentro da fam lia construindo sua compet ncia par
40. de educa o e outras pol ticas sociais Neste contexto o mercado de trabalho prec rio e insuficiente para absorver esta m o de obra excedente e muitas fam lias pobres n o podem investir na educa o nutri o e sa de dos seus filhos Al m disso as fam lias chefiadas por mulheres e por jovens por pais com um baixo n vel de renda ou fam lias de ind genas contribuem para a reprodu o das desvantagens de capital humano e da pobreza entre gera es Este conjunto de fatores impacta a vida dom stica as rela es familiares e de parentesco e as redes sociais As pr ticas e decis es de diferentes gera es e grupos sociais transformam a composi o e a estrutura dos domic lios que v o se diversificando cada vez mais em termos de provedores e co provedores n mero de filhos fam lias reconstitu das e experi ncia de conjugalidades que incluem gays l sbicas e transexuais Portanto j n o s o heteronormativos como regra geral neste cen rio que a equipe interdisciplinar das institui es p blicas de sa de vem atuando Trabalhando no cotidiano com o desafio de superar as adversidades que surgem no cotidiano superar o discurso da doen a que um discurso sofrido para verbalizar mas tamb m dif cil para ouvir a doen a rompe com 59 aquilo que certo e confi vel para o indiv duo problematiza o seu cotidiano e faz com que ele tenha que reorganiz lo e dar sentido para tudo o que est expe
41. de constru o nacional trouxe tamb m as grandes epidemias febre amarela a mal ria a tuberculose e a ancilostom ase que deram margem para o trabalho das educadoras sanit rias e enfermeiras de sa de p blica valorizando assim o trabalho feminino No Brasil foi a partir de 1920 que a visitadora sanit ria adquiriu prest gio profissional respaldando a 5 No caso do Brasil temos a presidente da Associa o Brasileira de Enfermagem ABEN a paranaense Maria Goretti David Lopes diz que o n mero de enfermeiros com n vel superior no Brasil precisa dobrar para atender a demanda em todo o pa s Ela explica que a defici ncia est especificamente na quantidade de enfermeiros com gradua o capazes de assumir a coordena o de equipes N o faltam aqueles com cursos de n vel m dio e t cnico Segundo Maria Goretti preciso formar pelo menos 350 mil enfermeiros Somados os enfermeiros com n vel superior n vel m dio e t cnico mais de um milh o Respondemos por 60 2 da for a de trabalho em sa de no Brasil A Associa o Brasileira de Enfermagem est lutando pela consolida o do Sistema nico de Sa de FAVRETTO 2008 19 forma o de recursos humanos no sentido da expans o do papel da mulher na sociedade brasileira representada principalmente pela visitadora sanit ria e pela enfermeira de sa de p blica Ainda que para muitos focos de abordagem a literatura considerasse a enfermagem como uma profiss o feminin
42. de g nero e classe veiculadas nas suas concep es sobre o cuidado Esse cuidado que para Canguilhem 2004 implica na ado o de instrumentos teis produ o do cuidado e gest o dos servi os de sa de Nessa perspectiva faz se importante problematizar a situa o de trabalho em que se reproduzem condutas e pr ticas de cuidado da parte dos membros da equipe da sa de da fam lia a es possivelmente hierarquizadas e perpassadas por rela es de poder em que a divis o sexual do trabalho demarcada por rela es de poder Revelando se em um tema de investiga o porque permitem pensar aspectos fundamentais na rela o entre m dicos que tem o seu saber envolto por uma aura vinculada ao poder de cura e enfermeiras no interior da equipe Numa rela o que parece estar marcada pela desigualdade de g nero e que por isso configuram pol ticas com crit rios universais de cidadania mas ainda n o com experi ncias de igualdade entre os membros desse trabalho 2 2 3 O desafio do trabalho em equipe na aten o Sa de da Fam lia O interdisciplinar n o algo que se ensine ou que se aprenda algo que se vive fundamental uma atitude de esp rito Atitude feita de curiosidade de abertura de sentido de aventura de busca de intui o das rela es existentes entre as coisas e que escapam observa o comum Hilton Japiassu 2000 A id ia do trabalho em sa de pela perspectiva da interdisciplinaridade tem e
43. dizendo que alguns munic pios pagam at 10 mil reais Quase sempre o maior sal rio nos concursos do m dico no interior isso fica muito evidente uma forma de chamar aten o do m dico para morar no interior Isso tem gerado muita rotatividade ou ent o o interesse pelo sal rio e n o pelo trabalho tem criado muitos problemas na SF n o existe o compromisso profissional esperado para o trabalho junto equipe Quando se falava sobre o Congresso de Alma Ata 1978 ou na Reforma Sanit ria 1986 o ideal era o atendimento com qualidade para a popula o nas entrevistas em alguns pontos parece que o espa o pode estar sendo mercantilizado A mudan a caminha lentamente em dire o a proposta junto Aten o B sica que evoluiu e que tenta respaldar um novo conceito de sa de gerando um ambiente de inova o que d poder a comunidade de integra o incentivo gest o familiar com vistas a promo o humana garantir sa de de forma democr tica Na fala dos entrevistados abaixo est imbricado um pouco o lugar social de onde v m os profissionais assim como os espa os de poder que ocupam a partir da interpreta o da sua clientela A comunidade nas cidades menores nas cidades do interior com boa estrutura de SF enxerga as a es do m dico da equipe Eles t m certo carinho com as Unidades porque v em esse nosso trabalho vamos na casa Temos uma aceita o boa Muito boa por parte da popula o e eu acredit
44. do ano eu precisava esperar para fazer a prova de resid ncia Nesse meio tempo eu fui arrumar um emprego para eu n o ficar parado emprego em Sa de da Fam lia Isso me deixou um caminho livre para trabalhar no PSF comecei a me apaixonar por Sa de da Fam lia e desisti da tal ginecologia que eu queria fazer A SF me deixou um caminho livre eu posso ir para onde eu quiser Como eu sou de BH e passei a vida toda l eu resolvi vir para o Sul J havia alguns m dicos que j tinham vindo para regi o e resolvi vir e comecei a trabalhar com a medicina de 34 Grifo da autora 111 interior fiz um concurso p blico passei e me estabilizei nisso comecei a me identificar com as sa de da fam lia e ai decidi que queria levar isso para frente Fabricio M dico A profiss o do pai foi grande inspira o para que escolhesse este caminho de certa forma parecia garantir a sua coloca o no mercado de trabalho relacionamos esta inspira o ao capital social Bourdieu 1998 referencia o capital social como forma cultural e social refere se s vantagens culturais e sociais que alguns indiv duos det m permitindo lhes uma estrat gia de condu o a um n vel socioecon mico mais elevado Segundo Bourdieu capital social o conjunto de recursos atuais ou potenciais que est o ligados posse de uma rede dur vel de rela es mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e de inter reconhecimento ou em outros
45. e concederem a possibilidade de entrar em seus universos A Prof Dra Marlene Tamanini meu agradecimento por seu compromisso na tarefa t o dif cil de me orientar nessa caminhada seu apoio compromisso e compet ncia com suas opini es e sugest es sobretudo por sua vis o cr tica da qual espero ter aprendido alguma coisa Prof Dra Roseli Boschilia pela disponibilidade em integrar a banca e valiosa contribui o que permitiu um novo olhar sobre o conte do do meu estudo Ao Prof Dr Jos Miguel Rasia por instigar meus conhecimentos iniciais na sociologia e pela colabora o final ao me dar a honra de sua presen a na banca Prof Dra Monica Ribeiro da Silva agrade o com especial apre o pela inspira o como mestre e mentora durante a caminhada na UFPR no curso de Pedagogia e depois na vida profissional quando me mostrou alguns dos caminhos que me trouxeram ao Mestrado nesta Universidade Ao Prof Dr Nelson Dacio Tomazi por compartilhar de sua intelig ncia e cultura a quem serei eternamente grata n o s pelas sugest es e o est mulo mas sobretudo por ter aberto as portas da academia Ao Prof Dr Angelo Jos da Silva e Prof Dra Ana Luisa Fayet Sallas por me mostrarem com a sua alegria que poss vel tornar se um profissional s rio e comprometido e um grande pesquisador sem perder a riqueza e energia na vida fora da academia A Kathia Straube e Darli Sampaio pelo apoio nos momentos em que o mundo
46. em cuidar do outro a perda deste pode levar a destrui o assim para a autora n o pode haver no cuidado uma no o romantizada de abnega o ou o contr rio permanecer parte Para que algu m possa cuidar de outro necess ria uma liga o entre o ser e o outro a natureza dessa liga o constitui um problema para qualquer tica do cuidar O cuidado uma atividade assistencial para satisfazer necessidades dos outros Para tanto uma rela o igual de cuidados compartilha uma percep o de suas concretas complexidades respeitando a racionalidade e autonomia dos indiv duos buscando o equil brio entre as preocupa es consigo mesmo e com os demais O cuidar afeta quem assume as tarefas de cuidado porque este precisa se envolver com o outro como afeta quem est sendo cuidado porque suas necessidades s o atendidas e porque ela deve de alguma forma responder ao cuidado oferecido e aceit lo al m do mais um ato pol tico Os profissionais que trabalham no campo da sa de de alguma forma assumem o papel de cuidadores criando v nculos garantindo os cuidados e a aten o de que ele a popula o necessita Merhy 1998 Tronto retoma a id ia do roteiro tradicional do cuidar que toma por base a divis o do mundo masculino e feminino como sendo respectivamente p blico e privado colocando as mulheres como que atadas atividade mais particular de cuidar de outros est em oposi o s preocupa es mais p blicas e soc
47. enfermeiro e n o pelo m dico Profissional que cuida do outro e que deve comprometer se com aquilo que faz para fazer o melhor sempre s vezes em pequenos gestos de carinho e reconhecimento da popula o encontro grandes alegrias e realiza es assim que me sinto estou mais viva cada vez mais vival Sandra Enfermeira coordenadora da ESF 147 No depoimento acima a certeza de plena satisfa o ao atenderem a popula o de sentir se bem no desempenho de suas a es A responsabilidade sobre os usu rios o sentimento de equipe a possibilidade em colocar se a possibilidade de expor opini es e id ias a respeito do atendimento da clientela A valoriza o da categoria por parte da popula o atendida parece fundamental nesse espa o que se conquista vagarosamente com muito trabalho e que lhe proporciona visibilidade profissional Essas 5 mulheres representam um campo mais amplo de rela es que se engendram e constroem concep es sobre a circula o de valores e pr ticas em sa de E como ao interagirem na ESF que tem seu papel social pol tico e econ mico valorado elas se engendram como capazes de mudar ou n o um conceito de cuidado constru do no conjunto hist rico das rela es sociais como parte constitutiva do feminino e como condi o do n o valor da mulher Ao agregarem din micas como planejar gerenciar coordenar avaliar supervisionarem tradicionalmente exercidas por homens em quase todos os
48. estudo sobre a fam lia de forma a contextualizar o espa o de trabalho dos sujeitos da pesquisa discutindo tamb m o cuidado e a divis o sexual do trabalho enfocando as quest es de g nero postas no cotidiano da equipe O trabalho em sa de realizado por uma equipe interdisciplinar como prop e a Estrat gia de Sa de da Fam lia analisada pela perspectiva de g nero um tema novo A op o em realizar esta pesquisa atrav s da rea disciplinar da sociologia justifica se pela inten o em desenvolver uma an lise que permita indicar constru es sociais ou seja a possibilidade de se pensar as rela es entre homens e mulheres refletindo sobre o discurso da diferen a dos sexos e o que ele engendra em termos de desigualdades sociais pol ticas econ micas e culturais Como certas essencializa es de conceitos fundados em um determinismo biol gico levam para assimetrias e hierarquias profissionais salariais na 31 apropria o do tempo Categoria chave quando se trata de cuidar lavar limpar administrar a economia dom stica Quando se trata de cuidar ensinar fam lias engendradas sob o foco da m e e da crian a e constituir e produzir uma equipe de sa de que precisa mudar o seu conceito de fam lia e as suas pr ticas de trabalho 2 3 O CAMPO Como destacamos anteriormente a pesquisa se delineou tendo como foco o trabalho de m dicos e enfermeiras escolha feita tornou se evidente a necessidade de explicitar a raz
49. fazer pol tica prop e a politiza o do cotidiano Para Foucault 2000 essas formas de poder se articulam atrav s de micro poderes est o presentes no cotidiano dos indiv duos presentes nas rela es pessoais e nos grupos 93 trabalho Primeiro na Etnologia depois na Sociologia e na Hist ria Questionou se a ci ncia sobre o mito da neutralidade cient fica e principalmente as teorias do determinismo biol gico que segundo Aguiar 1997 apresentavam um entendimento biol gico e naturalizante da situa o da mulher As ci ncias biol gicas reproduziam a tradi o filos fica grega que representava o nascimento da mulher como uma puni o divina e que com o seu destino voltado a procria o Desta forma a ci ncia se desenvolveu considerando o princ pio da inferioridade feminina invisibilizando a mulher que durante s culos produziram experi ncias e aprendizados O s culo XIX a mulher com os problemas da revolu o industrial o demarcador da dicotomia entre trabalho feminino e ou feminilidade Segundo Scott 1994 a mulher trabalhadora visibilidade gera o questionamento por parte de juristas e moralistas da poca se era moral a mulher trabalhar e se o seu trabalho teria legalidade A figura da mulher trabalhadora se constituiu assim extremamente perturbadora Para a autora foi somente no s culo XIX que a mulher foi observada descrita e documentada com uma aten o sem precedentes quando os seus observadores debateram
50. funciona como obst culo que escora que garante a resist ncia A es e rea es que refor am o poder mas tamb m o mina exp em debilita Da mesma forma o sil ncio e o segredo d o guarida ao poder fixam suas interdi es mas tamb m afrouxam seus la os e d o margem a toler ncias mais ou menos obscuras FOUCAULT 1985 p 95 96 146 Esse saber fazer m dico garantindo um poder que validado pela maioria tomando conta nas rela es da ESF atrav s das pr ticas m dicas ou at mesmo de protocolos criados pela medicina ainda como formas de determinar o fazer profissional na rea da sa de Uma medicina que prioriza a cria o de protocolos rotinas diagn sticas e terap uticas diminuindo a autonomia de decis o dos m dicos no entanto al via sua responsabilidade E nesse cen rio como a comunidade aceita resignifica a condi o da Enfermagem Algumas entrevistadas referem a mudan a que se constroem lentamente quase impercept vel mas real Como j disse essa id ia est mudando percebo na pr pria popula o uma valoriza o em rela o a nossa atua o Em alguns momentos j passei por situa es constrangedoras com m dicos que n o valorizam nosso trabalho at mesmo tentando me intimidar com seu poder com seu status Denise Enfermeira Para compreender o que esse trabalho que se refere Denise faz se necess rio buscar nos estudos de g nero respostas que evidenciam que a
51. gente tem um papel a gente tem um protocolo a gente tem regras Isso n o enfermeiro isso n o m dico que tem que fazer isso administrador tem que saber mexer com estat sticas com n meros perspectivas Satisfazer as necessidades do MS Tem que 144 ser o administrador cara que n o tem que saber nada de sa de mas sabe conduzir as regras e pessoas gest o Guilhermo M dico Mudou porque eu n o tinha muito conhecimento e hoje eu estou adquirindo esse conhecimento n o porque mudou porque eu n o gostava na verdade eu n o sabia o que era o SF Quando voc sai da faculdade n o basta voc dizer que medico as pessoas te perguntam voc medico de qu Qual a sua especialidade Quando eu falo que sou m dico de SF me perguntam o que que isso Eu tenho que explicar o que que eu trabalho em Unidade de Sa de sou respons vel pela comunidade falo medicina generalista O pessoal n o sabe o que isso ainda eles acham que m dico de posto eles n o est o entendo a dimens o do trabalho o significado de SF a import ncia disso Eu pude ver quais s o os desafios e a vis o sobre o SF mudou no sentido de melhorar e isso que me faz buscar ser bom no que eu estou fazendo Fabr cio M dico Mudan as Alguns dos entrevistados ao longo das entrevistas evidenciaram que o m dico de fam lia ganhou muito espa o com a ESF que tem sido muito procurado nos concursos p blicos
52. ginecologia obstetr cia atendimento odontol gico e atendimentos b sicos vacinas curativos etc Trabalho realizado atrav s das consultas m dicas e de enfermagem A Secretaria Municipal de Sa de SMS v m cumprindo a sua miss o que o de planejar e executar a Pol tica de Sa de responsabilizando se pela gest o e regula o dos servi os pr prios monitorando doen as e agravos visando a uma popula o mais saud vel SHIMAZAKI 2001 p 64 Tendo em vista o atendimento do cidad o e n o mais 2 A consulta de enfermagem compet ncia exclusiva do enfermeiro A Lei do exerc cio profissional Lei n 7 498 86 artigo 11 inciso I al nea i legitima o enfermeiro para o pleno exerc cio dessa atividade com o indiv duo fam lia e a comunidade seja no mbito hospitalar ambulatorial domiciliar ou em consult rio particular 36 de um mero paciente passivo que desconhece os seus direitos e responsabilidades construindo com as equipes de sa de uma rela o de co responsabilidade Estas equipes da ESF trabalham com uma carga hor ria de 40 horas sendo que o atendimento realizado na unidade de sa de da fam lia assim como na comunidade atrav s de visitas domiciliares e atividades de educa o em sa de 1 3 1 O cen rio O contato com os profissionais teve a inten o de coletar dados que nos permitissem pensar as din micas generificadas compreendidas nas rela es com concep es sobre o
53. http www scielo br scielo php script sci arttext amp pid S0104 11691999000100008 amp I ng en amp nrm iso gt Acesso em 22 Set 2007 MOTT Maria Lucia G nero medicina e filantropia Maria Rennotte e as mulheres na constru o da na o Cad Pagu Jan Jun n 24 2005 Revendo a hist ria da enfermagem em S o Paulo 1890 1920 Cadernos Pagu 15 G nero Ci ncias Hist ria N cleo de Estudos de G nero Pagu Unicamp 1999 NARVAZ Martha Giudice KOLLER S lvia Helena Fam lias e patriarcado da prescri o normativa subvers o criativa Psicologia amp Sociedade Porto Alegre v 18 n 1 2006 Dispon vel em lt http www scielo br scielo php script sci arttext amp pid S010271822006000 168 100007 amp lIng en amp nrm iso gt Acesso em 22 Set 2007 NOGUEIRA Claudia Mazei A feminiza o do mundo do trabalho entre a emancipa o e a precariza o Campinas SP Autores Associados 2004 OLIVEIRA Elaine Machado de SPIRI Wilza Carla Programa Sa de da Fam lia a experi ncia de equipe multiprofissional Rev Sa de P blica v 40 n 4 Dispon vel em lt http www scielo br scielo php script sci arttext amp pid S003489102006000500025 amp Ing e amp nrm iso gt Acesso em jul 2007 ORGANIZA O MUNDIAL DA SA DE OMS Alma Ata 1978 Cuidados Prim rios de Sa de Relat rio da Confer ncia Internacional sobre cuidados prim rios de sa de Bras lia OMS UNICEF 1979 PAIM Jairnilson Si
54. material de apoio para o Programa de Qualifica o e Estrutura o da Gest o do Trabalho e da Educa o no SUS Segundo a Classifica o Brasileira de Ocupa es em Sa de Minist rio do Trabalho A partir dos dados constantes da tabela 1 comparamos as categorias de enfermeiros e m dicos verificando que na enfermagem de um total de 23 871 profissionais 89 7 s o mulheres e somente 10 3 s o homens Enquanto que na medicina de 23 024 profissionais 72 8 s o homens e as mulheres representam 27 2 desses profissionais no contexto brasileiro m dicas mulheres constituem quase 1 ter o dos profissionais da rea Em contato com o Conselho Regional de Enfermagem COREN pudemos confirmar que esta distribui o percentual tamb m se aplica no Paran e em Curitiba O total dos m dicos ativos inscritos no CRM PR tanto da iniciativa privada como da p blica somam 17 013 sendo que 11 439 m dicos pertencem ao sexo masculino e 5 394 destes s o do sexo feminino Os m dicos com especialidade somam 10 230 1 866 s o registrados na especialidade de Medicina de Fam lia e Comunidade Curitiba possui 192 m dicos na ESF dos quais 101 s o do sexo masculino e 91 do sexo feminino 1 Dados coletados no site do COREN e por informa es via contato telef nico no Conselho 34 TABELA 2 COMPARATIVO ENTRE N MERO DE M DICOS HOMENS E MULHERES NO PARAN Mulheres 5394 Es Homens 11439 E Homens W Mulheres FONTE
55. material emp rico a flexibiliza o e a hierarquiza o no cotidiano da equipe de sa de tentando identificar que tipo de pr ticas expressam no que se refere a divis o sexual do trabalho e as din micas de generifica o das pr ticas de cuidado Problematizando situa es cotidianas evidenciadas no campo tais como a N o saber trabalhar em equipe b As condi es desse saber e trabalho c O significado e perspectivas interdisciplinares desse contexto e d Como se estruturam as desigualdades de g nero na participa o das atividades para m dicos e enfermeiras Embora o trabalho em equipe seja uma das principais ferramentas da ESF ainda a hierarquia do saber poder m dico que permanece criando conflitos e que muitas vezes pode impedir o trabalho preconizado pelo MS Apesar de que a enfermeira como coordenadora da ESF come a a acenar como um ensaio da transfer ncia desse poder que buscado nos mesmos moldes nunca o ter e assim o conflito parece ser refor ado As rela es no cotidiano em alguns espa os ainda permanecem muito hierarquizadas conforme os relatos podem demonstrar s vezes penso que tudo de bom trabalhar em equipe mas por outro lado algumas enfermeiras n o s o muito respeitadas na equipe O m dico sempre tem a ltima palavra enfermeira ainda discriminada por ser do sexo feminino ainda n o temos muita firmeza do nosso m rito Fabiana Enfermeira 130 Esse depoimento traz
56. mulheres no cotidiano da equipe de sa de Desta forma segundo Wagner 2004 faz se necess rio buscar refer ncias aplic veis realidade no trabalho onde os princ pios da Aten o B sica se mostrem compat veis com o cotidiano desses profissionais Falar em trabalho significa evocar os princ pios da ESF que est o previstos no ide rio do SUS relacionados equidade ou seja igualdade de tratamento perante a lei e participa o social As equipes de Sa de da Fam lia devem realizar as a es de Educa o em Sa de o que necessariamente pressup e o compromisso e o trabalho de toda a equipe no sentido de desenvolver uma pr tica educativa voltada para a forma o da cidadania A atua o da equipe da ESF tem suas a es voltadas promo o e preven o de sa de devendo propiciar condi es ao usu rio de tornar se capaz sujeito de sua pr pria hist ria Desta forma os profissionais devem ser capacitados para diagnosticar intervir junto aos problemas da popula o desenvolvendo estas atividades de educa o em sa de buscando promover h bitos de vida mais saud veis e tamb m realizando o cuidado na resid ncia O trabalho em equipe embora n o seja uma exclusividade da Sa de da Fam lia representa um de seus principais pilares A perspectiva da integralidade das a es favorece uma a o inter transdisciplinar necess rio que o trabalho em equipe seja norteado por um projeto assistencial comum
57. n o biol gica como j foi mostrado em outro momento deste estudo Na revista Exame observa se como o marketing direcionado para os homens de uma forma bem expl cita na propaganda de carros como se somente homens consumissem esse tipo de bem Parecem dizer em seus depoimentos que preparar se para o trabalho na ESF significa relacionar este trabalho remunera o que muito boa isso pode ser um chamariz para todos os tipos de profissionais gerando o risco de se ter nas unidades m dicos despreparados e pouco envolvidos com os princ pios da ESF A medicina de fam lia uma especialidade um novo campo de trabalho que deveria ser valorizado e n o ser identificado como uma passagem provis ria As quest es levantadas neste estudo indicam a necessidade de analisar a poss vel quebra das rela es de poder entre os profissionais da sa de quando se observa na fala das enfermeiras um novo espa o de a o da enfermagem Por outro lado a poss vel dissemina o do trabalho em equipe numa tentativa de profissionais que tem trabalhado para que os princ pios da ESF possam realmente ser alcan ados e que de certa forma tamb m garantir a Revista Exame uma publica o da Editora Abril Edi o 917 Ano 42 n 8 de 07 05 2008 Este carro tem tudo que mais bacana inclusive o dono p 46 e 47 e Reduza a velocidade em reas escolares Assim os meninos v o entender por que vale a pena estudar para ser algu m na vid
58. necessita realizando parcerias com as universidades e pessoal dos servi os de sa de 2 Dados dispon veis no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Sa de CNES Dispon vel em lt http cnes datasus gov br Mod Ind Equipes asp VEstado 41 amp VComp gt Acesso em 13 jul 2008 55 2 2 A SA DE DA FAM LIA Pensar a Sa de da Fam lia significa tentar entender como se d a dinamicidade da ESF e como ocorre o trabalho em sa de junto fam lia explicar os seus princ pios e tamb m identificar a dimens o pedag gica e comunicacional da atividade do profissional da sa de para perceber como ocorre a sua generifica o Reformular a Aten o B sica uma preocupa o em todo o mundo Na sua grande maioria todos os pa ses buscam definir novas formas de organizar o seu servi o de sa de apresentando algumas diferen as nas a es com a presen a do o m dico numa atua o multiprofissional ou interdisciplinar mas principalmente visando preven o e a promo o da sa de No Brasil t m como princ pio a universalidade do acesso atrav s da descentraliza o da gest o a participa o de equipes e a presen a importante dos agentes comunit rios de sa de A organiza o da ESF tem como suporte a a o do Minist rio da Sa de e das Secretarias de Estado da Sa de destacando se internacionalmente como o modelo de Aten o B sica 2 2 1 A trajet ria de constru o do Programa de Sa de da Fam lia PSF Ret
59. no PSF Denise Enfermeira coordenadora ESF As atribui es comuns a todos os profissionais da ESF prevista pelo MS est o relacionadas trabalhar em equipe levando em considera o o saber de todas as categorias profissionais que atuam na aten o b sica Tudo uma quest o de falta de h bito e costume Acho que tamb m relacionado hist ria da medicina ainda vinculada ao m todo curativo alguns m dicos ainda tem resist ncia em interagir com a equipe multidisciplinar Ou seja se sentem os supremos individualistas que ditam as ordens e determinam o que e como deve ser feito o trabalho deixando de olhar o paciente como um todo e vendo apenas as partes O m dico formado h 20 anos atr s escola que formava o profissional numa tica curativa Esta forma o sempre compromete a atua o na equipe nos dias de hoje m dicos mais jovens recebem uma forma o diferenciada devido mudan a de aten o sa de ter o foco da preven o e promo o Estes tem uma postura diferente at de respeito em muitos casos em rela o ao trabalho do outro profissional Fabiana Enfermeira O que aconteceu muito e ainda ocorre que nas escolas formadoras do m dico o ensino tradicional baseado na aquisi o de conte dos onde se enfatiza os aspectos f sicos da doen a sem ter a preocupa o com os aspectos culturais e s cio econ micos ou seja 132 fatores que influenciam diretamente na
60. no campo da ESF b os conte dos das tarefas c a conquista de espa o profissional O conte do das tarefas assumidos por m dicos e enfermeiras nos permitiu pensar as concep es sobre as pr ticas de cuidado no que se refere as fun es previstas nos princ pios da ESF explicitando um pouco das din micas que falam das tarefas tais quais a ESF prev Esta an lise tamb m permitiu perceber o modo como os profissionais entram e se envolvem com as tarefas apontando para o poss vel caminho valorativo que est imbricado nas escolhas que realizam Nesse sentido apresentamos a experi ncia profissional e poss veis rupturas que fizeram em suas vidas sua hist ria das cren as dos valores que fazem com que se decidam 108 ou n o para este lugar evidenciando as condi es estruturais da ESF os conceitos sobre cuidado sa de fam lia e saberes que se interp e nessas decis es Resgata se inicialmente na fala dos entrevistados como fizeram a op o pelo trabalho na rea da sa de evidenciando algumas hist rias do in cio de suas carreiras profissionais Como uma sequ ncia uma segii ncia de experi ncias vividas as datas em que estas tiveram lugar e suas circunst ncias intervalos e seus desdobramentos HEILBORN 1998 p 395 como uma maneira de inserir os sujeitos no cen rio da pesquisa Como uma ordem das sucess es no sentido da perpetua o da linhagem da heran a em sentido amplo comenta a tend ncia p
61. no sentido do aprofundamento das quest es relacionadas a g nero Analisar as pr ticas e concep es da ESF dar conta de rela es hist ricas muito concretas que est o vivas nos discursos e que se expressam no trabalho da equipe e na preocupa o desse estudo com a divis o do trabalho entre m dicos e enfermeiras Assim pensar o cuidado colocado nesse discurso pode demarcar importantes articula es entre poder e saberes contingentes ESF mas tamb m s rela es sociais mais amplas em que o cuidado se constitui como uma marca generificada produzida por processos culturais estruturadores de ordens simb licas expressas em institui es como a fam lia a medicina e a enfermagem onde se identificam processos de trabalho que por sua vez tamb m s o marcados por linguagens discursivas representa es e subjetividades generificadas A ESF se legitima e 18 mant m sua capacidade de responder a demandas na medida em que sua capacidade pr tica e discursiva se coaduna com um conjunto de significados e neles se reconstroem posi es de sujeitos que os ressignificam e reproduzem Essa situa o leva a problematizar a concep o de cidadania que parece t o cara ESF onde se reproduzem condutas da parte dos membros da equipe tamb m hierarquizadas e perpassadas por rela es de poder em que a divis o sexual do trabalho igualmente demarca uma ordem simb lica geradora de conte dos que necessitam de problematiza o D
62. o cuidado e o cuidar se Trabalhava no servi o p blico num hospital de refer ncia era cirurgi o vascular num servi o de refer ncia do Estado l no Mato Grosso do Sul e pegava a parte mais dif cil de fazer principalmente com p s diab ticos atendendo pessoas que caem no SUS e necessitam de tratamento mas n o tem como pagar E infelizmente a maioria dos profissionais n o se preocupa com o povo maioria dos profissionais est preocupado em ganhar dinheiro se voc tem dinheiro eu te trato se voc n o tem dinheiro voc se ferra Infelizmente isso uma realidade e eu cuidava desse pov o de 20 leitos que tinha na enfermaria 15 eram meus Assumi arregacei a manga l sil ncio mas cansei Guilhermo M dico No depoimento abaixo um destaque para o entendimento cristalizado na sociedade de que o cuidar carrega o fardo da aceita o das divis es tradicionais de g nero numa sociedade que desvaloriza o que as mulheres fazem TRONTO 1997 200 E no caso do confronto entre o saber m dico e do da enfermagem ainda se identifica uma valoriza o que est posta no nascimento da cl nica FOUCAULT 1972 O atendimento em sa de ainda est relacionado classe m dica Um trabalho dividido aquele que faz e aquele que pensa Mas eu vejo que a sociedade que continua dando esse poder que muitas vezes complica na rela o m dico enfermagem Acho que a comunidade aceita o enfermeiro por m n
63. o de exclus o ao definir como n o indiv duos aqueles que se diferenciavam da figura protot pica do ser humano SCOTT 2002 p 32 Assim os homens tornam se firmes e resistentes e as mulheres permanecem como seres delicados vulner veis e sens veis Por outro lado a busca do entendimento sobre a mulher passava pela id ia de que elas s o mais mais sensitivas sedent rias e dotadas de um c rebro mais fraco desenvolveriam algumas caracter sticas pr prias e teriam at algumas vantagens em rela o aos homens Estariam livres de muitos tormentos enfrentados por eles e por isso viveriam mais felizes RODHEN 2003 p 208 As transforma es e a crise dos conceitos sobre a fam lia s o evidenciadas tamb m segundo Mott 2005 na imagem da fam lia brasileira encontrada em muitas obras do s culo XIX evidenciava a condi o aviltante que as mulheres enfrentavam vivendo sob forte opress o masculina numa situa o semelhante escravid o No Brasil os dois sexos estavam constitu dos e separados uma parcela composta por indiv duos nobres s lidos corajosos instru dos que sozinhos se viam na obriga o de lutar pela vida Do outro lado a vis o burguesa do casamento rom ntico acabava por valorizar o companheirismo e assim 78 cabia a mulher o papel de esposa e m e de fam lia o sexo feminino desterrado para dentro da casa m quina de reprodu o tratada abaixo de sua dignidade como um ser que nada
64. o de trabalho que me realiza e emociona todos os dias Denise Enfermeira coordenadora da ESF Cada vez mais se identifica a constru o de pr ticas sociais e cient ficas na rea da sa de exigindo a necessidade de se instaurar processos de mudan a no interior das institui es formadoras e nos pr prio sistema de sa de do pa s N o existe nenhum preparo espec fico que dado pelo SUS para capacitar o m dico N o existe nenhum investimento na forma o desse m dico nenhum preparo espec fico O sistema de capacita o do m dico no Brasil acaba sendo tradicionalmente esse a escola particular Aquela parcela cada vez menos de privilegiados que podem fazer uma resid ncia porque tem que ser sustentados por um per odo maior pelo pai A especializa o em Sa de da fam lia veio de uma curiosidade particular como todo m dico tendo a necessidade de estar se atualizando mantendo a cabe a envolvida em atividades cient ficas William M dico Nas entrevistas poss vel identificar uma mudan a no perfil dos profissionais que come am a ver no setor p blico um novo espa o do trabalho em sa de demonstram em seus relatos a forma o de uma massa cr tica e ao sa rem da universidade se d o conta da responsabilidade em assumir o trabalho em sa de vinculado educa o permanente A inova o que prop e a ESF exp e muitos desafios em rela o ao perfil de compet ncias desse p
65. o em Unidade de Sa de M dico 6 anos Sa de da Fam lia da Fam lia na conclu da ESF FONTE HARTOG 2008 As entrevistas ocorreram durante o m s de janeiro fevereiro mar o e abril do corrente ano Foram 10 entrevistados no total com idades entre 26 e 48 anos profissionais que atuam na Estrat gia de Sa de da Fam lia definindo assim o tamanho da amostra O tempo de conclus o da gradua o oscilou entre de 3 anos a 20 anos sendo que todos os entrevistados evidenciam o comprometimento profissional em rela o capacita o cient fica assim como clareza em atender as exig ncias do mercado de trabalho em rela o necessidade da capacita o permanente Durante todo o per odo de constru o desse estudo utilizamos o caderno de campo amos fazendo assim o artesanato intelectual registrando observa es de sala de aula registrando falas de profissionais da rea leituras observa es do cotidiano tentando garantir um arquivo que nos permitisse apreender o m ximo poss vel os fatos e subjetividades relacionadas ao nosso estudo Apreender o mundo subjetivo parece estar relacionado com o que Minayo 2002 refere ao supor a necessidade do compartilhamento entre o mundo que observamos e os nossos pesquisados com o mundo da vida do investigador porque compreender sempre compreender se Essa postura permite perguntar o porqu em que condi es Buscando assim entender situa es valorizando det
66. o ser que ela exer a outras atividades claramente identificadas como profissionais Este vi s poder ser agravado conforme a formula o das perguntas e a postura do entrevistador que tende a classific la prioritariamente na fun o de dona de casa e portanto inativa BRUSCHINI 2006 Para Hirata 2004 o mist rio que envolve o trabalho dom stico e os sentimentos que estariam na base desta divis o desigual de tarefas dom sticas est na edifica o das diferen as que se localizam no n vel profissional Na socializa o familiar se encontra o discurso constru do desde a inf ncia a respeito da incompet ncia t cnica feminina dividindo pap is masculinos e femininos Surgindo concep es sobre no exerc cio e o dom nio t cnico para o menino quando se expressa que ele sabe consertar o carro consertar pequenas m quinas em contraposi o o servi o para as meninas sempre relacionado ao cuidar da boneca cuidar do irm o menor ajudar a por a mesa As fun es de cargos atribu dos s mulheres s o sempre caracterizadas por esta rela o de servi o assim o trabalho dom stico disponibiliza a mulher para marido e filhos Esta dicotomia refor ada no discurso recorrente em torno da incompet ncia t cnica da mulher Pesquisas realizadas na Sociologia do Trabalho apresentam dados sobre quem s o os menos empreg veis apontando de forma convergente para as mulheres Com rela o quest o da empregabilidade se d
67. olham para o paciente s vezes chegam a ser grosseiros ser por que v em a popula o como ignorante incapaz de avaliar o tratamento que recebe Esses m dicos n o foram formados para acolher o paciente a ESF apenas mais um emprego Ningu m v o que acontece no dia a dia da Unidade com os pacientes e fica assim Ningu m se incomoda Denise Enfermeira coordenadora ESF A falta de m dicos com perfil para o trabalho na ESF constantemente referenciada muitas vezes identificada como um dos agravantes que dificultam a implementa o da troca do modelo assistencial em sa de Por outro lado a enfermagem ganhou espa o na ESF em decorr ncia da sua experi ncia no gerenciamento na rea da sa de visto assim como um profissional capacitado para as a es administrativas al m da carga hor ria contratual que o permite ter mais disponibilidade para assumir a es relacionadas a assist ncia a a o educativa e ao gerenciamento 122 o m dico ainda se v como um deus o dono do saber Ele se incomoda quando ouve os usu rios me chamarem de doutora vejo que eles detestam esse reconhecimento profissional por parte da popula o Para o m dico a coordena o da Sa de da Fam lia deveria ser dele desde que n o precisasse assumir a responsabilidade desse cargo ele quer o status n o as tarefas O que vejo como coordenadora que a maioria dos m dicos n o tem o menor conhecimento sobre a Sa de
68. pode para n o dizer completamente nulo MOTT 2005 p 55 Ao mesmo tempo essa concep o esbarra na constru o da figura da nova m e em rela o a situa o em que as mulheres burguesas prioritariamente encontravam a sua fun o social na reprodu o cuidado e socializa o dos filhos de acordo com Badinter 1985 Regen 2005 e Sarti 1996 em suas pesquisas a respeito da fam lia comentam a dificuldade em tratar desse assunto por remeter a uma realidade que muito pr xima e que se confunde com o que se ou seja com a identidade pessoal Outra dificuldade para se pensar a fam lia est relacionada a rapidez com que v m ocorrendo as mudan as nas rela es familiares principalmente nas ltimas d cadas com as fam lias recompostas e outros modelos de fam lias de modo comum Para Sarti 1993 a fam lia n o apenas o elo afetivo mais forte dos pobres o instrumento atrav s do qual viabilizam seu modo de vida trata se da sua identidade social que vem estruturar sua explica o do mundo Muito se discute sobre a crise da fam lia o decl nio do casamento assim como da aceita o do div rcio no entanto evidencia se que n o h o enfraquecimento dessa institui o mas sim o surgimento de novos modelos familiares resultado das freq entes mudan as nas rela es de g nero expressas atrav s do maior controle da natalidade da inser o intensiva da mulher no mercado de trabalho e das mudan as ocorridas na e
69. quest es passaram a ser discutidas na sala de aula com alunos da gradua o e P s Gradua o gerando pol micas muito s rias quando se falava no trabalho em equipe Evidenciando dificuldades em se refletir sobre as rela es hier rquicas no trabalho interdisciplinar Como interdisciplinar se alguns profissionais enfermeiras assumem maiores responsabilidades que outros m dicos onde algumas das a es como por exemplo a visita domiciliar parece nem sempre ser realizada pelo profissional m dico Segundo muitos representantes desta categoria foram contratados para atenderem pacientes e isto s poss vel na unidade de sa de e n o na casa do cidad o como orienta a ESF Na sala de aula esta discuss o toma rumos muito diferentes quando s se encontram enfermeiras os ou ao contr rio quando existe a presen a dos m dicos as Discuss es que revelavam certo preconceito com o fazer m dico e o fazer da enfermagem evidenciando o cuidado como responsabilidade da enfermagem ao realizar suas a es Como se pontuassem pap is masculinos e femininos deixando clara a desigualdade entre estas categorias n o s pela quest o da forma o mas possivelmente pelo significado constru do sobre a diferen a de sexo Onde homens foram feitos para pensar organizar por outro lado as mulheres mais sens veis preparadas no lar para desenvolver tarefas que demandam sensibilidade e cuidado Um filme acabou originando maior questionamen
70. rela es de poder A partir desta perspectiva fa o o recorte para este estudo tamb m partindo das minhas indaga es iniciais no Hospital quando n o conseguia compreender a dificuldade no entendimento entre m dicos e enfermeiras e principalmente o enfrentamento di rio dessas categorias como se tentassem estabelecer quem detinha o poder naquele cen rio Essa experi ncia originou o questionamento a respeito desse saber absoluto do m dico uma conduta possivelmente oriunda de uma ordem masculina de um espa o de poder que se pretende incontest vel nas a es em sa de Partindo do princ pio que o trabalho era realizado em equipe por que a preocupa o frequente em estabelecer espa os de poder em detrimento do atendimento e garantia de sa de do paciente Por que as enfermeiras realizavam determinadas tarefas ditas impuras 24 aceitando as de forma natural comparadas as fun es nobres do m dico que com seu saber cient fico podia organizar planejar mas jamais assumir a es da rotina dos cuidados em rela o aos pacientes A minha segunda forma o acad mica a Pedagogia permitiu a constru o de cr ticas em rela o aos espa os que ocupamos no cen rio profissional ou seja por que algumas categorias t m maior reconhecimento que outras Parece que certas fun es s o pensadas para serem realizadas especialmente por mulheres como se fossem incapazes para determinadas a es ou responsabilidades Estas
71. rela es hierarquizadas na distribui o das tarefas e no cotidiano das rela es de trabalho Gera dessa forma um constante enfrentamento entre m dicos e enfermeiras quando elas assumem o comando dessa rela o de trabalho definindo a priori as tarefas que ser o realizadas pelo m dico sem discuti las previamente Dessa perspectiva partimos para a an lise do primeiro ponto a ser compreendido no tocante as pr ticas de cuidado A ESF traz em seus princ pios e diretrizes a valoriza o da fam lia como a refer ncia da pol tica p blica de sa de vendo a como agente capaz de contribuir para a melhoria da sa de No entanto n o se d conta de que a fam lia est em processo de mudan a onde muitas vezes reapresentada pela m e e pela crian a ou mesmo apresenta outros modelos j citados anteriormente O atual modelo econ mico insere muitas dessas mulheres no mercado de trabalho de forma extremamente precarizada tornando crian as respons veis por cuidar de crian as Da a dificuldade tamb m do trabalho com essas fam lias quando se trata de orient las em rela o ao cuidado e a promo o da sa de A ESF apresenta como proposta a atua o profissional com uma vis o mais hol stica e humanizada quando centra as suas a es voltadas ao indiv duo como sujeito hist rico Numa rela o que prev a escuta acolhimento tendo em vista a aceita o do saber popular como capaz de contribuir para a constru o do conhecimen
72. seu corpo nem em sua vontade de instruir nem em seu destino e a cada novo momento cruza com um conjunto de regras que se encerram e que se articulam num dom nio coletivo que a circunscreve severamente dentro de um jeito de ser num papel que lhe atribu do Est inscrita no interior de uma hierarquia social que recorta de forma dr stica a sua paisagem com a dupla limita o a do sexo e a do grupo social de sua origem Situa o que refor ada pela rep blica no Brasil nos anos 30 anos e na sequ ncia nos anos 70 observamos que surgem espa os de discuss o sobre as quest es feministas tais como o movimento sindical e oper rio para discutir a condi o e as pr ticas das oper rias suas reivindica es e as modalidades que assume a divis o sexual do trabalho na f brica As mulheres passaram a ocupar definitivamente e em massa este novo espa o de trabalho contudo sem deixar de realizar as tarefas dom sticas gerando sobrecarga Em 1975 a Organiza o das Na es Unidas ONU estabeleceu este ano como Ano Internacional da Mulher criando assim um novo espa o de discuss o no sentido de mudar a sua situa o de s culos de inferioridade e subordina o Kergoat 1982 que discute principalmente o trabalho feminino evidencia que na d cada de 70 vislumbrou se o desenvolvimento de um feminismo oper rio preocupado em articular explora o econ mica e domina o sexual Assim como o movimento buscou refor ar as reivindica
73. termos vincula o a um grupo como conjunto de agentes que n o somente s o dotados de propriedades comuns pass veis de serem percebidas pelo observador pelos outros ou por eles mesmos mas tamb m s o unidos por liga es permanentes e teis BOURDIEU 1980 p 67 Aqui o capital social possibilitando uma gama de rela es e redes de ajuda que propiciam beneficios para o indiv duo e sua classe social funcionando como uma reserva que possivelmente permite as obter xito na competi o social Para o autor o capital social n o se encontra nos indiv duos mas sim encontra se no interior das rela es sociais das pessoas O capital social dos indiv duos permite acesso a informa es favores beneficios institucionais tendo como objetivo manter ou refor ar seu estatuto e poder na sociedade No entanto a seguran a do espa o conquistado pelo pai se esvanesse com a descoberta da ESF visualiza nesse espa o uma mobilidade espacial o interior do sul do pa s como a possibilidade de melhores condi es do que em Belo Horizonte Com isso Fabr cio acaba por se dar conta de que independente do mercado de trabalho algo parece ter maior sentido quando fez a op o pelo campo da medicina A ESF trazendo a seguran a do trabalho atrelada a realiza o profissional O primeiro aspecto que considero a mercantiliza o da medicina A gente faz uma faculdade com o objetivo de atender as pessoas termina a faculdade vai pa
74. trabalhos com muito envolvimento conta que o m dico anterior n o fazia visitas domiciliares de forma alguma No meu caso uma das atividades que mais gosto de realizar significa estar l na casa do cidad o conhecendo seu cotidiano e sua forma de lidar com a sua sa de Mas sei que n o sou refer ncia muitos colegas se negam a fazer visitas alegando perda de tempo priorizam o ambulat rio numa vis o totalmente desvinculada do que prop e o SF O problema que a visita domiciliar n o tamb m uma prioridade no curr culo m dico das faculdades de medicina mudar esta concep o talvez seja um dos embates no avan o da aten o prim ria Francisco M dico Este depoimento permite analisar uma das atividades fundamentais da ESF que a visita domiciliar Se ela n o uma prioridade do curr culo m dico como est o realizando este encontro com a fam lia poss vel que em situa o de visita domiciliar estejam m dicos e enfermeiras reproduzindo os antigos esteri tipos relacionados manuten o da higiene cuidado comida e sa de como tarefas da m e estabelecendo pr ticas prescritivas e normativas Sendo assim como se insere o discurso nas pr ticas atuais da ESF que tenta traduzir princ pios originados na 8 Confer ncia Nacional de Sa de Princ pios que visavam contrapor o biologicismo valorizando a vis o de totalidade no processo de sa de doen a tendo em vista uma maior compreens o dos processos que en
75. Confer ncia Internacional Promo o realizada em Ottawa Canad em novembro de 1986 a Carta de Ottawa contribuir para se atingir Sa de para Todos no Ano 2000 discutida Alma Ata Esta confer ncia foi resposta s crescentes expectativas por uma nova sa de p blica movimento que vem ocorrendo em todo o mundo Discutiram se as necessidades em sa de nos pa ses industrializados baseadas nos progressos alcan ados com a Declara o de Alma Ata para os Cuidados Prim rios em Sa de com o documento da OMS sobre Sa de Para Todos OMS Carta de Ottawa 1986 p 11 18 51 habilidades os conhecimentos a forma de atuar da equipe de sa de de fam lia varia de acordo com aspectos como as enfermidades locais mais comuns os recursos dispon veis e a proximidade com outros servi os de sa de No Canad e EUA a equipe de sa de participa da aten o a pacientes hospitalizados j no caso do Reino Unido e em alguns pa ses da Am rica Latina suas atividades se restrinjam ao atendimento ambulatorial No Canad o sistema de sa de fundamentado nos princ pios universalidade integralidade gest o p blica e acessibilidade conferindo desta forma o direito sa de a toda a popula o em todos os n veis de aten o A Medicina de Fam lia na Inglaterra levou mais de cinquenta anos para edificar a aten o sa de integral ao indiv duo e fam lia e atualmente serve de modelo para muitos pa ses inclusive o Brasil No entanto pa
76. Maio 2008 PERROT Michelle e DUBY Georges Escrever a Hist ria das Mulheres In DUBY Georges org Hist ria das Mulheres A Antig idade Vol 1 Porto Afrontamento 1990 PETERLINI OLGA LAURA GIRALDI Cuidado gerencial e ger ncia do cuidado na interface da utiliza o do sistema de informa o em sa de pelo enfermeiro Disserta o Mestrado Setor de Ci ncias da Sa de Curitiba Universidade Federal do Paran 2004 RAGO Elisabeth Juliska A ruptura do mundo masculino da medicina m dicas brasileiras no s culo XIX In Cadernos Pag n 15 2000 169 Libertar a Hist ria In ORLANDI L B L VEIGA NETO A orgs Imagens de Foucault e Deleuze resson ncias nietzschianas 2002 Rio de Janeiro DP amp A 2002 p 255 272 RAMOS Elza As negocia es no espa o dom stico construir a boa dist ncia entre pais e jovens adultos coabitantes IN BARROS Myriam Lins de org Fam lia e Gera es Rio de Janeiro FGV Editora 2006 REGEN Mina A institui o fam lia e sua rela o com a defici ncia Revista Centro de Educa o N 27 Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria 2005 RENNOTTE M A efici ncia das escolas na manuten o dos hospitais infantis Anais Primeiro Congresso de Prote o Inf ncia Rio de Janeiro Imprensa Nacional 1925 pp 500 504 In MOTT Maria Lucia G nero medicina e filantropia Maria Rennotte e as mulheres na constru o da na o Cad Pagu
77. Portal M dico lt http www portalmedico org br novoportal index5 asp gt Acesso em 19 jul 2008 O Conselho Regional de Enfermagem do Paran informa que o total de profissionais inscritos no Conselho 10 941 em Curitiba s o 3 445 enfermeiros sendo que 2 472 t m sua inscri o definitiva e 973 enfermeiros t m inscri o provis ria De acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Sa de CNESNet em Curitiba temos 1 132 enfermeiros dos quais 191 cadastrados como enfermeiros da Sa de da Fam lia sendo que destes 06 pertencem ao sexo masculino e 185 s o do sexo feminino A Regi o Metropolitana tem 179 enfermeiros cadastrados como enfermeiros da Sa de da Fam lia sendo que destes 20 pertencem ao sexo masculino e 159 s o do sexo feminino A seguir a apresenta o da tabela 3 com esses dados comparativos a respeito do n mero de enfermeiros homens e mulheres em Curitiba e Regi o Metropolitana TABELA 3 COMPARATIVO ENTRE N MERO DE ENFERMEIROS HOMENS E MULHERES EM CURITIBA E REGI O METROPOLITANA Munic pio Enfermeiros masculino feminino 1 Pinhais 02 02 2 Piraquara 06 06 3 S o Jose dos Pinhais 29 06 23 4 Agudos d Sul 03 03 5 Tijucas do Sul 03 03 6 Quitandinha 04 01 03 Dado atualizado em 10 08 2008 Dispon vel em lt http cnes datasus gov br Mod Ind Profissional com CB O asp VEstado 41 amp VMun 410690 amp VCbo 2235Cl gt Acesso em 20 ago 2008
78. S DOS PINHAIS FAZENDA RIO CONTENDA GRANDE LAPA ESA g f o MANDIRITUBA duma a TIJUCAS DO SUL y L A a RE x AGUDOS DO SUL FONTE Wikip dia 2008 Dispon vel em lt http pt wikipedia org wiki Imagem mapare giaometropolitana svg gt Acesso em 17 maio 2008 178 ANEXO B SAL RIOS M DIOS M DIA DE HORAS SEMANAIS CONTRATADAS M DIA SALARIAL POR HORA E NDICE SALARIAL POR OCUPA ES DE SA DE REGIME CLT JANEIRO A DEZEMBRO DE 2005 PARAN Ocupa o Sal rio M dia de Horas M dia ndice Salarial M dio Semanais Salarial Sal rio por hora do 1 Contratadas por Hora de M dico 100 Trabalho M dicos R 2 841 77 30 31 R 23 44 100 Enfermeiros R 1 338 16 38 71 R 8 64 37 Fonte UFMG NESCON Sinais de Mercado de Trabalho elaborada a partir dos dados do CAGED MT 2005
79. SF analisado pela perspectiva de g nero que contempla a divis o sexual do trabalho mas que tamb m a ultrapassa na medida em que g nero mais amplo em sua possibilidade anal tica englobando tamb m as din micas culturais Esta disserta o est inserida na P s Gradua o em Sociologia linha de Cultura e Sociabilidades g nero trabalho reprodu o e fam lia que integra a linha de pesquisa da professora orientadora constante no grupo de pesquisa Estudos de g nero Tem como objetivo compreender os significados atribu dos aos conte dos das tarefas e a divis o sexual do trabalho inserida em din micas de g nero e de poder no trabalho de m dicos homens e enfermeiras mulheres que atuam na ESF no que se refere proposta de interdisciplinaridade sobre as pr ticas do cuidado no meio familiar Quest o que embora se apresente nesse trabalho inicialmente de modo t o dicotomicamente recortado se justifica pela inser o hist rica de ambos os campos disciplinares marcada a enfermagem majoritariamente pela presen a de mulheres assim como a medicina entendida majoritariamente por ser a ci ncia dos homens com enormes barreiras entrada das mulheres sendo que essa realidade ainda persiste em v rias especialidades no campo da medicina Entre reas disciplinares comum observar se concep es valorativas desiguais e a rela o entre medicina e enfermagem o modelo cl ssico desta disposi o Este fato tamb m se revel
80. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN ELIZABETH HARTOG AS RELA ES DE TRABALHO ENTRE M DICOS E ENFERMEIRAS NA ESTRAT GIA DE SA DE DA FAM LIA UMA AN LISE DE G NERO CURITIBA 2008 ELIZABETH HARTOG AS RELA ES DE TRABALHO ENTRE M DICOS E ENFERMEIRAS NA ESTRAT GIA DE SA DE DA FAM LIA UMA AN LISE DE G NERO Disserta o apresentada ao Programa de P s Gradua o em Sociologia Setor de Ci ncias Humanas Letras e Artes da Universidade Federal do Paran como requisito parcial obten o do grau de Mestre em Sociologia Orientadora Prof Dra Marlene Tamanini CURITIBA 2008 Hartog Elizabeth As rela es de trabalho entre m dicos e enfermeiras na Estrat gia de Sa de da Fam lia uma an lise de g nero Elizabeth Hartog Curitiba UFPR Departamento de Ci ncias Sociais 2008 178 f Orientadora Marlene Tamanini Disserta o Mestrado em Sociologia Setor de Ci ncias Humanas Letras e Artes Universidade Federal do Paran 1 Estrat gia de sa de da fam lia 2 Equipe interdisciplinar 3 Cuidado 4 Rela es de g nero e poder UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN SETOR DE CI NCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES PROGRAMA DE P S GRADUA O EM SOCIOLOGIA Rua General Carneiro 460 9 andar sala 906 Fone e Fax 3360 5173 PARECER A banca examinadora institu da pelo colegiado do Programa de P s Gradua o em Sociologia do Setor de Ci ncias Humanas Letras e Artes da
81. Universidade Federal do Paran ap s arg ir o a candidato a ELIZABETH HARTOG em rela o ao seu trabalho de disserta o intitulado AS RELA ES DE TRABALHO ENTRE M DICOS E ENFERMEIRAS NA ESTRAT GIA DE SA DE DA FAM LIA UMA AN LISE DE G NERO de parecer favor vel ERR onta o RD A do a acad mico a habilitando o a ao t tulo de Mestre em Sociologia linha de pesquisa Cultura e Sociabilidades da rea de concentra o em CULTURA E PODER Curitiba 19 de setembro de 2008 y f 7 IA NA CAMA s Miguel Rasia Prof Dr Roseli Boschilia m a O o ea a e Prof Dr Marlene Tamanini Orientadora e presidente da banca examinadora Dedico este trabalho a todos os meus alunos Por me presentearem com sua curiosidade e alegria por darem sentido a minha vida profissional Motiva o sempre presente em todos os meus esfor os acad micos AGRADECIMENTOS Ao meu eterno pr ncipe encantado Pablo cuja presen a trouxe amor a minha vida al m de tolerar minhas aus ncias pelo incentivo tranquilidade e colabora o para concluir meu trabalho e chegar ao fim desta jornada Aos meus beb s Daniel e Isabella que pacientemente percorreram esse caminho comigo pelo apoio incondicional atrav s dos quais Deus me aben oa diariamente Aos meus pais que me apresentaram o mundo dos livros ainda quando mal sabia falar e principalmente pela minha inf ncia e adolesc ncia chei
82. VII participar das atividades de planejamento e avalia o das a es da equipe a partir da utiliza o dos dados dispon veis IX promover a mobiliza o e a participa o da comunidade buscando efetivar o controle social X identificar parceiros e recursos na comunidade que possam potencializar a es intersetoriais com a equipe sob coordena o da SMS XI garantir a qualidade do registro das atividades nos sistemas nacionais de informa o na Aten o B sica XII participar das atividades de educa o permanente e XIII realizar outras a es e atividades a serem definidas de acordo com as prioridades locais S O ATRIBUI ES ESPEC FICAS Do Enfermeiro I planejar gerenciar coordenar e avaliar as a es desenvolvidas pelos agentes comunit rios de sa de II supervisionar coordenar e realizar atividades de qualifica o e educa o permanente dos agentes comunit rios de sa de com vistas ao desempenho de suas fun es HI facilitar a rela o entre os profissionais da Unidade B sica de Sa de e agentes comunit rios de sa de contribuindo para a organiza o da demanda referenciada As tarefas do enfermeiro descritas aqui nada tem a ver com o cuidado tradicionalmente referido O enfermeiro est muito mais na estrutura o organiza o do servi o Ele faz girarem em torno das suas decis es o servi o de todos os outros membros da equipe e isso n o explicaria a tens o que o m dico vive
83. a es em sociedade Desde sempre em toda parte tem se medo do feminino do mist rio da fecundidade e da maternidade santu rio estranho fonte de tabus ritos e terrores Mal magn fico prazer funesto venenosa e enganadora a mulher acusada pelo outro sexo de haver trazido sobre a terra o pecado a infelicidade e a morte Terror de sua fisiologia c clica lun tica asco de suas secre es sangrentas e do l quido amni tico mida e cheia de odores ser impuro Perigosa portadora de todos os males Eva e Pandora devoradora dos filhos paridos de sua carne Med ia e Amazona Fonte da vida fertilidade sagrada mas tamb m noturnas entranhas Essa noite na qual o homem se sente amea ado de submergir e que o avesso da fecundidade o apavora o medo ancestral do Segundo Sexo Que fez crer imposs vel a amizade nas e das mulheres e tudo faz para impedi la CHAU 1987 p 38 Quando nos debru amos nessa hist ria quando pensamos o papel da mulher na fam lia descrito anteriormente temos a oportunidade de refletir sobre esta condi o que foi imposta desde o in cio da civiliza o No s culo XIX a mulher casada n o deveria fazer parte do mercado de trabalho o que poderia representar problemas grav ssimos sua fam lia assim maternidade e domesticidade eram sin nimos de feminilidade SCOTT 1991 p 468 desta maneira n o havia aceita o por parte da sociedade em rela o ao trabalh
84. a o mudan a do modelo assistencial Mas por outro lado os m dicos recebem em sua forma o uma vis o sobre o seu trabalho centrado nos hospitais pensam em ser especialistas e v m a realiza o profissional atrav s do modelo de pr ticas privadas Alguns deles nunca tiveram a oportunidade de desenvolver esse trabalho a realidade cotidiana da ESF encontrando dessa forma dificuldade em desenvolver um trabalho que quase totalmente 113 Os esteri tipos criados a respeito da pr tica m dica na ESF tamb m contribuem pra dificultar a op o consciente por este espa o de atua o profissional esse preconceito explicitado na id ia de que O problema a vis o de trabalhar em posto muitos pensam Deus me livre de trabalhar em posto de sa de ficar com aquele pov o ficar com o enfermeiro mandando em mim Por isso existe essa valoriza o para poder trazer esse profissional N o acho que o m dico est ganhando horrores de dinheiro Acho que os outros tamb m deveriam ganhar melhor porque voc teria uma dedica o melhor Eles que est o ganhando mal n o somos n s que estamos ganhando bem Est se ganhando bem por um pr prio incentivo do governo de puxar esses profissionais pela pr pria necessidade que se tem de ter o profissional hoje no PSF Sen o todo mundo vai ser especialista e n o vai ter ningu m cuidando da Aten o B sica que 80 do problema Guilhermo M dico Nas falas de alguns
85. a o do ser mulher como existencialista recuperando a id ia do indiv duo fazer suas pr prias escolhas Simone diz que a mulher um discurso produzido pelo imagin rio masculino V a mulher como o Grande Outro entre as minorias os negros etc Beauvoir denuncia o esquema de educa o ao se pronunciar recusando se a aceitar a explica o biol gica como meio de identificar a diferen a entre os sexos A autora comenta que g nero resultado de uma constru o que se inicia quando se ainda crian a estabelecendo se um comportamento padr o relacionado ao sexo feminino desde os primeiros anos sua voca o imperiosamente ditada BEAUVOIR 1980 p 10 Assim as meninas s o relegadas a um papel secund rio dependentes e passivas uma natureza feita para trabalhos dom sticos condicionada ao destino que seu papel biol gico imp e ou seja assume a fun o social de ser apenas esposa e m e Desta forma a sociedade se apropria destas concep es e imp e mulher uma identidade servil ao homem cabe os feitos her icos aquele que participa evolu o da sociedade A mulher A Bela Adormecida Cinderela Branca de Neve Nas can es nos contos v se o jovem partir aventurosamente em busca da mulher ele mata drag es luta contra gigantes ela se acha encerrada em uma torre um pal cio um jardim uma caverna acorrentada a um rochedo cativa adormecida ela espera BEAUVOIR 1980 p 33 83 Na d ca
86. a p 64 65 158 maior autonomia para os usu rios resultando na maior responsabilidade pelos resultados das pr ticas de aten o Uma constata o importante para a qualidade das a es na ESF refere se mudan a de atitude por parte do m dico que parece construir uma vis o mais hol stica e humana revendo paradigmas da profiss o e assim buscando uma forma o mais generalista e menos especializada Apresentando comportamentos menos racionalizados valorizando a import ncia do envolvimento com a comunidade Aceita o do saber popular como capaz de contribuir para a constru o do conhecimento evidenciando a possibilidade da forma o m dica ainda que sutilmente buscar sintonia com a nova proposta democratizante da conquista da cidadania Visando assim o controle social no cotidiano das quest es sociais pol ticas bem como no novo fazer em sa de dentro do contexto democr tico que prop e o SUS O desenvolvimento dessa investiga o nos fez compreender que ainda existem contradi es a serem desmistificadas como a forma o m dica e da enfermagem n o privilegiarem o preparo profissional para atuar junto a ESF e de alguma forma reproduzirem as desigualdades de g nero Fica o grande desafio refletir sobre diferentes agentes que necessitam trabalhar em equipe interdisciplinar repaginando esta id ia desta forma identificando a possibilidade de que os pressupostos da interdisciplinaridade no trabalho da ESF podem e
87. a de SUS desembocaram na implanta o do Programa de Sa de da Fam lia PSF como estrat gia do cuidado em sa de da popula o brasileira Essa hist ria mostra que o SUS foi concebido concomitantemente ao processo de democratiza o do pa s onde a grande tarefa a viabilidade de controle da sociedade sobre o Estado controle este que pretende o empoderamento das pessoas que devem ser capazes para o exerc cio de cidadania e autonomia Para tanto h necessidade de uma reorganiza o dessas propostas democratizantes para que realmente falem da participa o efetiva e includente da popula o A Constitui o Federal BRASIL 1988 mudou a forma de organizar a vida pol tica administrativa do Brasil visando a participa o da sociedade no sentido de participar da constru o das pol ticas p blicas incentivando o exerc cio da cidadania Na sa de essa mudan a ocorreu desde o seu pr prio conceito visto n o apenas como aus ncia de doen a mas sim como o resultado da qualidade de vida que o reflexo das condi es sociais econ micas e ambientais nas quais est inserida a popula o Sa de como um direito de todos e um dever do Estado como uma obriga o p blica Ou seja atrav s da lei 8080 90 Art 3 A sa de tem como fatores determinantes e condicionantes entre outros a alimenta o a moradia o saneamento b sico o meio ambiente o trabalho a renda a educa o o transporte o lazer e o acesso
88. a desenvolver o cuidado onde a rela o entre paciente e m dico deve ser o centro das preocupa es Para problematizar o terceiro ponto desta an lise partimos inicialmente do pressuposto sobre o poder e nos colocamos nesse momento a caminho da compreens o dos sentidos que estariam produzindo um discurso sobre rela es assim tricas de g nero nesse sentido que produziremos o ponto seguinte relativo aos a As rela es que ocorrem entre os membros da equipe no mbito do trabalho evidenciando alguma mudan a na forma de conduzir a ESF b Mecanismos de poder controle e reprodu o c As hierarquias e concep es sobre o conte do do trabalho imbricado com os processos de generifica o d As interfaces desse fazer profissional afeto e cuidado com acolhimento v nculo constru o de autonomia elementos de assistencialismo filantropia reprodu o da feminiza o e pol tica do cuidado Procurando assim analisar como os entrevistados percebem o cotidiano da ESF se identificam algum tipo de mudan a nas pr ticas da SF Infelizmente a teoria est muito aqu m da pr tica tem que juntar um pouco mais a teoria da pr tica porque est o muito distante uma da outra Isso s vai ser aproximado quando a gente tiver esse perfil do gestor que administrador Isso seriedade ao trabalhar Sa de da Fam lia Enfermeiro tem que fazer parte da enfermagem e administrador tem que fazer administra o organizar porque a
89. a divis o sexual do trabalho e da vis o essencializada da mulher Um estudo de caso Disserta o de Mestrado Universidade Federal do Paran Programa de P s Gradua o em Sociologia Curitiba 2007 Dispon vel em lt http dspace c3sl ufpr br dspace bitstream 1884 11567 1 dissertaoc3 81 c3 830 20fin al 20de 20mestrado 20darliy20de 20fatima 20sampaio pdf gt Acesso em 14 jun 2008 170 SARMENTO Manuel O estudo de caso etnogr fico em educa o In ZAGO Nadir CARVALHO Mar lia TEIXEIRA Rita A Org Itiner rios de pesquisa perspectivas qualitativas em sociologia da educa o Rio de Janeiro DP amp A 2003 SARTI Cyntia Fam lia e individualidade um problema moderno Texto preparado para mesa redonda Perspectivas de an lise te rica da fam lia no Semin rio A fam lia contempor nea em debate Instituto de Estudos Especiais da PUC de S o Paulo S o Paulo 1993 A Fam lia como Espelho Um Estudo sobre a Moral dos Pobres Campinas Editora Autores Associados 1996 SCOTT Joan Wallach G nero uma categoria de an lise hist rica Educa o e Realidade Porto Alegre 16 2 5 22 jul dez 1990 Pref cio A Gender and politics of History Cadernos Pagu dossi desencontros desamores e diferen as 3 1994 Entrevista com Joan Wallach Scott entrevista a Miriam Grossi Maria Luiza Heilborn e Carmem Rial Estudos Feministas Florian polis ano 6 n 1 p 114 124 1998 A mulher trabalhadora
90. a em virtude somente do cuidar da fam lia dos doentes e das crian as ou seja um papel desempenhado tradicionalmente por mulheres como se fosse uma extens o das atividades dom sticas Mott 1999 mostra quanto no final do s culo XIX a enfermagem era uma profiss o exercida tanto por homens quanto por mulheres A mudan a de perfil ocorre na virada do s culo XX com o advento da enfermagem moderna localizando melhor esse lugar da mulher que agora passa a assumir no mercado de trabalho pap is antes reservados somente aos homens A profiss o da enfermagem colocada nessa tens o portanto entre a produtora de saberes a que desenvolve t cnicas de administra o no espa o p blico contraposto com esteri tipos como o da mulher tarefeira rotineira m ezona e o contexto das novas agentes de sa de p blica Assim parece que a ESF sintetiza hoje um processo que anterior enfermagem e considerada na sua concep o e na pr tica como uma profiss o feminina A partir desta premissa por que ent o este espa o a colocaria noutra rela o Aqui ocorre um problema a Sa de da Fam lia foi concebida para ser interdisciplinar mas ela pr pria tem que lidar com uma estrutura o de l gicas profissionais disciplinares at ent o m dicas Desta forma poss vel afirmar conforme Bourdieu 2001 a partir do conceito habitus que nesta busca pelo poder os indiv duos permanecem em luta permanente pelo prest gio e pe
91. a baseada no saber poder m dico Esta desconstru o busca subverter a ordem no discurso do doutor esta fala socialmente aceita e logicamente compreendida buscando afastar se do mito tentando fazer parte de uma comunidade maior menos comprometida com os rituais de poder O que explicita t o 27 fA sr f o educador enquanto educa educado em di logo com o educando que ao ser educado tamb m educa Ambos assim se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que argumentos de autoridade j n o valem FREIRE 2002 p 68 71 claramente Foucault 1979 evidenciando as estrat gias que apresentavam a situa o de sa de ou doen a atrav s de uma codifica o cl nica onde os m dicos s o por excel ncia os int rpretes da verdade Se os m dicos eram considerados como tradutores da verdade mulher caberia fazer o menor este fazer era o cuidado ou seja a higiene dos doentes a limpeza do ambiente papel considerado sujo impr prio para o fazer do m dico Vindos de fam lias ricas nas quais eram ensinados n o tocar nos doentes BADINTER 1986 A grande diferen a entre estas profissionais enfermeiras e a figura da mulher m e que adquiriu sua base te rico pr tica informalmente e transmitida de mulher para mulher a desmistifica o de muitos atos e pr ticas relacionadas a cura Na Idade M dia as mulheres que curavam ou realizavam partos foram identificadas como feiticeiras mulher
92. a compreens o ou do estranhamento da comunica o intersubjetiva Supor compartilhamento entre mundo observado e os sujeitos da pesquisa com o mundo da vida do investigador Buscar entender as coisas e os textos neles mesmos distinguindo o processo hermen utico do saber t cnico MINAYO 2003 p 99 Minayo 1999 e Sarmento 2003 referem se s entrevistas como forma de coletar os fatos relatados pelos sujeitos que vivenciam uma determinada realidade que est sendo estudada segundo a autora esse o momento mais formal do trabalho de campo onde o 41 pesquisador coleta a informa o atrav s da fala do entrevistado Sendo que as entrevistas t m como objetivo verbalizar o pensamento e identificar as formas de interpretar temas diversos na realidade social assim a entrevista pressup e a espontaneidade onde os entrevistados podem se explicar onde contam sobre si encontrando as raz es e as sem raz es porque se age e vive para o pesquisador uma escuta ativa e met dica Para Quivy e Copenhoudt 1992 a entrevista seguida de uma an lise de conte do possibilita efetuar um trabalho de investiga o aprofundado que quando conduzido com a lucidez e as precau es necess rias apresenta um grau de validade satisfat rio p 200 A op o por entrevistas semi estruturadas aconteceu em decorr ncia de parecer permitir a captura do que est al m do aparente tendo em vista buscar a compreens o mais profun
93. a de calor e alegrias que me ajudaram a construir a pessoa que me tornei na fase adulta minha irm Sandra que sempre colocou luz nesse caminho t o dif cil de ser trilhado Aos meus irm os e cunhada que compreenderam a divis o meio tumultuada de tempo e aten o entre meus pr prios estudos e a conviv ncia familiar As minhas amadas amigas Lulus que suportaram as minhas desaten es durante esse tempo que me dediquei a este estudo ressaltando que esta dedica o atingiu aqueles que mais amo N o poderia deixar de ressaltar e agradecer a ajuda da minha amiga Fabiana e seu ador vel bem Gunther por conseguirmos finalizar esta disserta o no apagar das luzes com o resumo em ingl s As minhas amigas Maria Goretti Christiane Maristela Irene Nylcea Denise F tima Elizabeth e Consuelo pelos momentos m gicos que me trouxeram sa de e alegria para seguir em frente mesmo quando tudo parecia desmoronar a minha frente Meu especial agradecimento ao Cl udio Lima e toda a sua equipe por cuidarem de mim com tanto carinho ao longo dessa trajet ria A elabora o de uma disserta o de mestrado o resultado de um trabalho coletivo embora sua reda o responsabilidade e estresse sejam predominantemente individuais Agrade o a todas as pessoas que contribu ram para que eu chegasse onde estou De modo muito especial agrade o a todos os entrevistados que acreditaram neste trabalho pela confian a em me abrirem suas vidas
94. a de informa es contribuindo para compreender a subjetividade dos sujeitos e para explicar de forma mais aprofundada as diferen as as articula es entre o individual e o coletivo presentes no cotidiano das equipes de sa de MINAYO DESLANDES 2002 Segundo Minayo 1999 a pesquisa qualitativa permite entender os fen menos da organiza o social seus mecanismos de poder controle e reprodu o permite compreender as rela es que ocorrem entre os atores no mbito das institui es e no nosso caso as hierarquias concep es sobre o conte do das tarefas imbricadas com os processos de generifica o A pesquisa qualitativa representa no caso desse estudo a possibilidade n o de quantificar mas sim explicar o significado desvelar a ess ncia com rela o realidade social Essa metodologia pressup e as concep es epistemol gicas e te ricas adotadas em conson ncia com as t cnicas que permitem apreender o mundo social em sua complexidade e a capacidade de articular os conceitos e categorias te ricas de abordagem o conjunto de t cnicas a serem usadas para se abordar o social Assim a ci ncia e a metodologia caminham juntas Segundo Minayo 1999 p 22 a rigor qualquer investiga o social deveria contemplar uma caracter stica b sica de seu objeto o aspecto qualitativo Isso implica considerar sujeito de estudo gente em determinada condi o social pertencente a determinado grupo social ou classe co
95. a devido mudan a de aten o sa de ter o foco da preven o e promo o Estes t m outra postura de respeito em muitos casos em rela o ao trabalho do outro profissional Historicamente os m dicos assumiam a lideran a na equipe de aten o sa de por uma quest o relacionada a fatores imbricados na cultura poder e perspectiva da divis o entre o p blico e o privado o trabalho intelectual e manual a divis o sexual do trabalho na trajet ria da forma o das pr prias profiss es Atualmente este espa o passou a ser ocupado pela enfermeira tendo na proposta da ESF a participa o e responsabilidade de todos onde a equipe deve direcionar que necessidades precisam ser decididas quais profissionais devem estar envolvidos em determinados processos Mais uma vez a possibilidade de visualizar a mudan a nas rela es desses profissionais no entanto da mesma forma uma mudan a sofrida envolta em muitos conflitos ansiedades questionamentos No meio a tudo isso um compromisso muito grande por parte de nossos entrevistados no sentido de trabalharem constantemente envolvidos e comprometidos com esse novo fazer saber profissional no cotidiano das rela es entre m dicos e enfermeiras da ESF O trabalho nessa equipe exige uma constru o coletiva das tarefas cotidianas muitas s o as dificuldades para que isso aconte a Na fala dos entrevistados se exp e uma realidade diferente onde nem sempre troca de informa es e o plan
96. a entender a participa o feminina na sociedade como um todo e no trabalho em particular A primeira quest o est associada a redefini o do conceito de trabalho tanto do ponto de vista te rico quanto operacional ampliando se para que nele caibam muitas tarefas que fazem parte da vida cotidiana das mulheres e dos outros membros da sociedade Neste cen rio as mulheres devem ser vistas nas especificidades e peculiaridades de sua condi o social Ao lado do direito igualdade surge tamb m como direito fundamental o direito diferen a Importa o respeito diferen a e diversidade o que lhes assegura um tratamento especial PIOVESAN 2006 p 206 Como modificar o que est posto sobre o trabalho da mulher se no Brasil a produ o sociol gica sobre o tema n o foi ampliada como no caso de outros pa ses Lobo 1990 diz que os estudos sobre o trabalho feminino n o tem um estatuto central na sociologia do trabalho Na d cada de 80 alguns estudos referem se ao trabalho feminino a partir da no o de divis o sexual do trabalho princ pio organizador baseado na no o de preexist ncia de rela es sociais entre os sexos Os espa os produtivos neste caso seriam segregados definindo se qualifica es e caracter sticas pr prias para cada tarefa conforme o sexo de quem as executa relegando a mulher para os ramos industriais mais atrasados SAFFIOTI 1980 Estes estudos sobre a divis o sexual do trabalho apresentam se
97. a maternidade representou a miss o fundamental da mulher evidenciada no 76 modelo de fam lia nuclear que determina o papel social das mulheres como esposas e m es Dando origem a uma nova organiza o familiar que prev o recolhimento da fam lia afastada da rua das pra as da vida em coletividade e seu estabelecimento no interior de uma casa melhor defendida contra os intrusos e preparada para a intimidade ARIES 1978 p 23 A maternidade no cen rio acima se forja sob a gide da fam lia da p tria do cuidado da higiene aqui interpretada a partir das ideologias de g nero maternidade enquanto constru o social enraizada material e simbolicamente constitui o n cleo priorit rio da defini o dos pap is e identidades historicamente atribu das s mulheres BARBOSA 2001 Exclu da do espa o p blico a mulher encerrada nas fun es domiciliares esta separa o entre o p blico e o privado pontuou claramente quais deveriam ser os pap is masculino feminino Assim a partir do s culo XVIII em diante a mulher se torna objeto de cuidado e passa a cuidar se casada deveria se vestir de preto nenhum perfume nem la os ou fitas em seus cabelos cabia lhe ser mulher casada para serem vistas apenas por seus maridos PRIORE 2005 Sua fun o estava relacionada ao exerc cio de tarefas dentro do lar e pelo n mero de filhos que daria ao marido Educar a mulher significava adestr la para seu dever guardi da fam l
98. a mulher na popula o econ mica ativa tem exigido grande esfor o de sua parte n o s na luta contra preconceitos de uma sociedade patriarcal mas tamb m contra os seus pr prios preconceitos e estere tipos transmitidos durante toda uma exist ncia BARROS 2006 Por uma press o do pr prio ambiente do senso comum em rela o as tarefas femininas as enfermeiras assumem mais tarefas e responsabilidades do que deveriam realmente assumir Sinto me sobrecarregada no entanto parece que essa sobrecarga faz parte da nossa profiss o da trajet ria da enfermagem assumindo tudo que vem pela frente Penso que isso deveria ser analisado pelo Conselho de Enfermagem n o identifico nenhuma luta concreta pela categoria e melhora nos ambientes de trabalho Parece normal a sobrecarga fazemos sempre tudo sendo questionadas apenas quando n o assumimos essa carga toda Sandra Enfermeira coordenadora da ESF Parece que a enfermeira tem mesmo que segurar essa barra manda que ela aguenta Ser um dom N o sei explicar No meu caso tudo muito sem freio vamos at aonde der Denise Enfermeira coordenadora da ESF 123 Ao identificar um discurso que referencia a sobrecarga na voz destas profissionais foi poss vel pensar sobre as concep es profissionais que movem estas pr ticas o fato de ressaltarem estes aspectos do seu trabalho cotidiano pode influenciar em sua trajet ria profissional pessoal e na
99. a no interior da pr pria medicina se forem comparadas as inser es de homens e mulheres em pediatria e neurologia ou ortopedia e ginecologia espa os marcadamente masculinos com reas como a embriologia preponderantemente feminina Para entender a ESF no cen rio nacional necess rio saber que o Minist rio da Sa de MS vem realizando in meras a es tendo em vista garantir o melhor atendimento sa de da popula o No site do MS podem ser identificados alguns dos principais programas que visam garantir a es de promo o da sa de e de qualidade de vida de seus usu rios tais como Brasil Sorridente Doe vida Doe rg os SAMU Servi o de Atendimento M vel de Urg ncia Farm cia Popular Programa Nacional de Combate Dengue e a Estrat gia de Sa de da Fam lia Concebida pelo Sistema nico de Sa de SUS a partir da Lei Org nica de Utilizaremos a sigla ESF ao nos referir a Estrat gia de Sa de da Fam lia representando uma interven o do Sistema Unico de Sa de conjunto de a es e servi os de sa de no processo sa de doen a Informa es dispon veis no Portal da Sa de lt http portal saude gov br saude gt 14 Sa de a ESF tem como principal objetivo viabilizar uma de suas diretrizes que a descentraliza o das a es em sa de junto popula o reorientando assim o modelo de aten o e gest o Segundo o Minist rio da Sa de a ESF busca reorganizar a pr tica da aten
100. a sua biografia Hist ria das experi ncias pessoais aos processos e estruturas sociais mais amplos Unindo assim as experi ncias pessoais e profissionais para que atinja uma problematiza o e compreens o da realidade mais abrangente sejam o estabelecimento de perguntas amplas em rela o vida social e obten o de respostas que permitam articular concep es sobre a sociedade hist ria e sua biografia aspectos que o autor trata como dimens es da mesma realidade Desvelar a realidade atrav s da pesquisa cient fica tem permitido de certa forma conhecer a sociedade no nosso caso especificamente a ESF Assim desenvolvemos a pesquisa norteada pelo seguinte problema Como se constroem as rela es de g nero entre profissionais m dicos homens e enfermeiras mulheres a partir dos significados atribu dos aos conte dos das tarefas e a es previstas pela equipe interdisciplinar da ESF em rela o s pr ticas do cuidado e da educa o em sa de no meio familiar Essas a es envolvem a compreens o a respeito de sa de doen a cuidado e as formas de enfrentar os problemas surgidos na pr tica social No caso a educa o em sa de implica informa o e comunica o supondo a aquisi o e reconstru o de conhecimentos entre sujeitos Doentes usu rios cidad os ativistas profissionais t cnicos todos s o sujeitos de conhecimento portadores de saberes diversos frutos de um complexo aprendizado social 29 A e
101. a vontade de fazer a diferen a de estar em destaque O m dico visto num papel diferenciado com prest gio porque ele que d o diagn stico da doen a e que apresenta o plano de tratamento Assim constamos que em determinadas situa es as enfermeiras entendem que os m dicos n o sabem trabalhar em equipe o que tem dificultado a autonomia das enfermeiras na ESF Por outro lado Peterlini 2004 evidencia a quest o administrativa na pr tica profissional do enfermeiro sendo permeada de d vidas e pol micas principalmente na dicotomia entre o que se espera do profissional enfermeiro a partir do que est estabelecido nos principios da ESF com o que se verifica na sua pr tica cotidiana nas institui es de sa de ou mais especificamente na ESF De um lado a forma o profissional prioriza a fun o do enfermeiro ligado assist ncia direta ao cliente e de outro no mercado de trabalho esses profissionais se d o conta de outra realidade imposta pelas institui es de sa de Os relatos abaixo explicitam essa situa o Vejo como os m dicos olham com preconceito o fato da coordenadora ser uma enfermeira como se eu estivesse hierarquicamente abaixo deles N o sei por que ainda esse preconceito Parece que eles t m dificuldade em estar sob o comando da enfermeira alguns acham que n s enfermeiras n o temos capacidade e que estamos l para servir fazer o trabalho bra al n o temos capacidade M dicos que n o
102. ada por homens acho que esta condi o interfere na rela o profissional fazendo com que voc se esforce para que seu trabalho n o seja desqualificado Continuo como enfermeira porque estou na profiss o h muitos anos sempre sonhei em poder ajudar os outros puro amor Sempre pensando no atendimento da fam lia do paciente tentando garantir que todos assumam esta responsabilidade em rela o a sua sa de Tem que amar muito o que faz ter voca o envolvimento ou voc desiste Fabiana Enfermeira O trabalho visto como uma doa o Que realizado com o cora o atitude totalmente naturalizada como feminina Essa abnega o essa luta amor e virtude possivelmente est o em tens o com a proposta de politiza o preconizada na ESF Fabiana demonstra a dificuldade de identificar seu trabalho sem fazer a rela o com amor abnega o sentimento muitas vezes em detrimento de um saber cient fico Como identificam o seu trabalho Qual a consci ncia de si e do conte do das tarefas que realizam para garantir o cuidado O cuidado aqui problematizado na forma de como se assume esta responsabilidade evidenciado nesse papel descrito acima o que nos permite questionar se pode estar ocorrendo um processo de feminiza o no modo como s o pensados os pap is e distribu das as tarefas na equipe de sa de da fam lia marcando claramente a cl ssica divis o sexual do trabalho ou seja trabalho intelectual para os m
103. ade das tarefas com a enfermeira e demais entre os membros da equipe Esta mudan a trazida pela ESF modifica o padr o centrado na cura da doen a atrav s da consulta m dica tr s a Educa o em Sa de mostrando que muitas das tarefas do cotidiano da equipe est o diretamente ligadas s a es de preven o e promo o de sa de A equipe como um todo tornando se co respons vel para cuidar de indiv duos de todas as idades nas mais variadas comunidades trazendo resolubilidade aos problemas de sa de da popula o No tocante as tarefas os m dicos assumem em determinadas falas certo ressentimento insatisfa o e at mesmo preconceitos ao se colocarem como desvalorizados no espa o da equipe q eu se diz interdisciplinar Referem a coordena o da enfermagem assumida de forma a repetir o modelo hierarquizado de poder do modelo anterior N o atinge a mudan a do modelo tradicional porque ainda tem gerado na distribui o e organiza o das tarefas desigualdades de g nero no espa o de trabalho Ao relatarem sobrecarga que enfrentam no trabalho as enfermeiras exp em que assume com frequ ncia tarefas da responsabilidade de outros membros da equipe Quando se referem a sobrecarga verifica se nesses depoimentos certo desabafo que tamb m corresponde a sinaliza o da necessidade de se aumentar o quadro de profissionais da equipe m nima da ESF Ao mesmo tempo referem se a esse trabalho como um dom uma doa o trabalho que envolve am
104. ade no sentido de garantir as potencialidades dos indiv duos para possibilitar qualidade de vida do ser humano portanto para todos SOARES SAB IA 2007 Compreendendo o tema deste estudo que trata do trabalho de m dicos e enfermeiras identificamos a necessidade de situar e problematizar o conceito de cuidado mais especificamente o cuidado engendrado nas a es dos profissionais da ESF A profiss o da enfermagem est relacionada a presta o de cuidados de uma maneira institucionalizada portanto profissional LOPES LEAL 2005 A Confer ncia Internacional sobre Cuidados Prim rios de Sa de reunida em Alma Ata 1978 refere se ao sistema formal e informal de cuidados da sa de propondo que estes cuidados para serem compreendidos e aceitos pela comunidade dever o ser desenvolvidos por profissionais de sa de da comunidade devendo receber treinamento adequado para suprir as necessidades que a popula o aponta como relevantes O termo cuidado abrange pr ticas de sa de que envolve muitas considera es isto para que as pr ticas de sa de tenham como produto final o cuidado est impl cito 101 que nos servi os estejam ocorrendo o acolhimento as rela es de responsabilidade a autonomia dos sujeitos envolvidos as necessidades de sa de a resolubilidade o compromisso o social o econ mico as pol ticas p blicas enfim a integralidade ALMA ATA 1978 p 29 A grande diferen a entre estas profissio
105. ade que o trabalho exige Se as enfermeiras referem ainda sobre a vis o idealizada de sua profiss o referenciando realiza o ao desenvolverem atividades de ajuda poss vel pensar que esta concep o e este agir profissional possam resultar em problemas relacionados ao estresse e sa de dessa trabalhadora enfermeira A pr tica da enfermagem sofreu grande influ ncia da Igreja com o advento do cristianismo no Brasil desde sua origem representou abnega o e dedica o Como se a enfermeira precisasse apresentar caracter sticas de disciplina e obedi ncia Uma profissional que n o tenha nenhum posicionamento cr tico mas que saiba cuidar e socorrer os doentes Talvez esse seja um dos motivos que fazem com que a categoria enfrente tantas dificuldades em rela o s jornadas de trabalho extremamente longas remunera o salarial question vel em rela o aos demais profissionais da sa de A dificuldade de empregos com melhores sal rios e a posi o s vezes de subalternidade podem estar apontando para certo desencanto com a profiss o A escolha profissional e o estudo para os m dicos ao contr rio das enfermeiras aqui parece representar independ ncia financeira e identidade pessoal Escolha pensada de maneira a possibilitar uma estabiliza o profissional Sai da faculdade com aquela id ia de ter que fazer uma especialidade eu ia fazer ginecologia pois eu tenho um pai que ginecologista S que eu me formei no meio
106. adotando estilo repressivo de interven o o que gerou uma estrutura administrativa muito centralizadora e corporativa desta maneira causando grande dificuldade participa o da popula o no processo de planejamento e decis o da pol tica de sa de Em 1904 efetiva se a Reforma Oswaldo Cruz criando o Servi o de Profilaxia da Febre Amarela e a Inspetoria de Isolamento e Desinfec o tendo como objetivo maior combater a mal ria e a peste no Rio de Janeiro obrigando a popula o a submeter se vacina o e a revacina o contra a var ola Desta maneira foi estabelecida uma esp cie de brigada contra os mosquitos transmissores de febre amarela com medidas extremamente 47 repressivas Ocasionando muita rejei o conflito junto popula o denominada posteriormente como Revolta da Vacina LAMAR O 1991 O processo de organiza o da sa de p blica brasileira foi a resposta das classes dirigentes do per odo em rela o a amea as que impediam o desenvolvimento da abertura de novas rela es econ micas no pa s Surge da as primeiras discuss es sobre a necessidade da organiza o das a es em sa de no pa s num cen rio constitu do pela a resist ncia popular s a es de sa de p blica Os documentos daquele per odo demonstram que as campanhas sanit rias deram visibilidade insensibilidade estatal diante das reivindica es de sa de da popula o no entanto este modelo de atendimento de sa de pe
107. ais como o desemprego a viol ncia dom stica e sexual que enfrentam cotidianamente entre outros O conceito de fam lia passou por v rias transforma es no decorrer da hist ria Desencadeando a id ia de que sua concep o n o est vinculada apenas ao biol gico mas a estrutura social e ao modo da sociedade se relacionar 2 O parentesco estrutura formal que resulta de rela es de consangiinidade entre irm os da rela o de descend ncia entre pai e filho e m e e filho e da rela o de afinidade que se d atrav s do casamento O parentesco estabelecido mediante um ancestral em comum chamado parentesco consangi neo enquanto que o criado pelo casamento e outras rela es sociais recebe o nome de parentesco por afinidade 74 Segundo Narvaz e Koller no in cio da hist ria da humanidade as primeiras sociedades humanas eram coletivistas tribais n mades e matrilineares Tais sociedades ditas primitivas organizavam se predominantemente em torno da figura da m e a partir da descend ncia feminina uma vez que desconheciam a participa o masculina na reprodu o NARVAZ KOLLER 2006 p 50 Assim cada per odo hist rico constr i um significado para as rela es sociais mais ou menos vinculados s condi es existentes Nesse caso quando verificamos o contexto da Idade M dia verifica se o desaparecimento da no o de fam lia cultivada pelos gregos e romanos Segundo Leite 2001 quest es co
108. al assim a crian a definida antes mesmo que o feto complete sua evolu o por conta dos exames de ultrasonografia menina ou menino A autora comenta que foi tatuado em cada um de n s que somos homem ou mulher sem que nossa passagem pelo mundo seja acompanhada de nenhum manual de instru es que d conta do ajuste entre este ser homem ou ser mulher e a nfima singularidade do nosso desejo Manuais de instru o existem sim KEHL 1998 p 33 3 1 2 A divis o sexual do trabalho Segundo Maia 2004 toda atividade de trabalho pode ser entendida como um encontro entre corpos se agenciam se interconectam demandam escolhas e decis es e portanto tornam todo trabalho uma atividade de cria o O processo de trabalho em sa de compartilha caracter sticas comuns a outros processos de trabalho que se d o na ind stria e em outros segmentos econ micos Evidencia se a divis o social e t cnica do trabalho resultando em tr s dimens es b sicas a primeira de natureza formativa dos profissionais de sa de a segunda da gest o e da ger ncia dos servi os e a terceira da produ o propriamente dita dos servi os operando a es promocionais preventivas e curativas sobre a dor o sofrimento e as demandas de sa de da popula o RODRIGUES ARAUJO 2004 p 20 No nosso caso focamos para a ltima dimens o ou seja a produ o dos servi os Para os autores o servi o produzido pelo encontro entre quem prod
109. alar levando a sa de para mais perto das fam lias e com isso tenta melhorar a qualidade de vida dos brasileiros Tendo um car ter substitutivo complementar e hierarquizado representa o primeiro contato da popula o com o SUS Desta forma a sa de do indiv duo tratada em um contexto familiar comunit rio e dentro da realidade regional A ESF segundo Fortes 1998 ao referir se Humaniza o e tica na Aten o B sica busca atrav s da reorganiza o da aten o sa de uma nova postura das equipes visando a incorpora o de discuss es acerca da necessidade de humanizar a assist ncia m dico sanit ria em nosso pa s Humanizar significa reconhecer as pessoas que buscam nos servi os de sa de a resolu o de suas necessidades de sa de como sujeitos de direitos observar cada pessoa e cada fam lia em sua singularidade em suas necessidades espec ficas com sua hist ria particular com seus valores cren as e desejos ampliando as possibilidades para que possam exercer sua autonomia Qualquer pessoa independente de sua idade tendo condi es intelectuais e psicol gicas para apreciar a natureza e as conseq ncias de um ato ou proposta de assist ncia sua sa de deve ter oportunidade de tomar decis es sobre quest es relacionadas sua sa de ou seja poder agir como pessoa aut noma FORTES 1998 p 2 A globaliza o e as reformas econ micas mudaram os padr es de emprego de aten o sa
110. alha na rea tal voc vai atender as pessoas rea tal A demanda trabalhada porque as pessoas ainda t m a vis o de m dico de posto de fila Isso tem que acabar por que se agente tem 4 000 mil pessoas na sua regi o pode se organizar uma agenda pra trabalhar com essas pessoas Guilhermo M dico Ainda convivemos com a cultura institucional baseada no modelo tradicional hegem nico organizado a partir da concep o de que o processo de trabalho deve estar voltado para a aten o s doen as e as pr ticas direcionadas para a queixa conduta Pr ticas que recorrem a interven es t cnicas e medicalizantes Fruto de um longo per odo hist rico que permeia a organiza o dos servi os de sa de e que apesar do discurso de mudan a parece avan ar lenta e calmamente para a proposta de substitui o do modelo tradicional Assim subsiste o entendimento sobre o usu rio afastado do seu contexto familiar e dos valores culturais de sua comunidade O usu rio da ESF parece ainda ser visto como a doen a que atendida de maneira impessoal fragmentada sem que se observem as suas diferentes dimens es com isso se tem diminu do os espa os de constru o do v nculo entre usu rio equipe de sa de e tratamento O resultado evidenciado numa rela o deficit ria e pouco resolutiva como no depoimento a seguir Presenciei uma situa o com uma paciente gestante que poderia ter perdido a vida e por ela enfrentei um rio u
111. alho de equipe Novamente isso Mas dif cil porque n o se recebeu a devida forma o para sair dando aula de como o paciente deve garantir a sua sa de O m dico est acostumado a determinar os cuidados a medica o e s Fala se tanto no humaniza SUS Mas n o h uma forma o adequada para que os m dicos fa am seu trabalho atingindo esse objetivo poucos t m esse perfil esse comprometimento em rela o promo o de sa de Francisco M dico Pastore 2006 evidencia a ESF que se coloca em seu discurso de forma t o democratizado pontuando seus princ pios e diretrizes destacando a a o em equipe onde as rela es de g nero n o deveriam ocorrer de maneira dicotomizadas no seu status e poder Na fala de Francisco a necessidade de se rever essa experi ncia que ainda n o ocorre de forma igualit ria din mica que n o desmistifica as desigualdades entre homens e mulheres que n o quebra a dicotomia nas a es que ambos desenvolvem Mais uma vez vamos identificar no interior da ESF a hierarquia desigual das tarefas colocando as mulheres protagonistas das a es tanto na execu o da ESF quanto nas a es no interior da fam lia Para tanto elas se utilizam de uma for a que est no imagin rio das concep es sobre a mulher e enfrentam essa desigualdade como se estivesse num campo de batalha e desafio constante Sou uma lutadora uma guerreira que gosta de desafios sempre pronta para a luta o
112. alho t o feminilizado n o faz desse lugar e desse saber necessariamente uma outra concep o O mesmo se aplica aos m dicos Tradicionalmente esse o campo do poder masculino E a forma de pensar de gerar poderes normativos o funcionamento de um espa o estruturado de possibilidades a matriz criativa de a es e aprecia es os mecanismos estruturantes desses campos Tudo isso da ordem da cultura Nesse conjunto de disposi es eles est o binariamente e hierarquicamente contrapostos Por tanto n o estamos falando de diferen a biol gica dos sexos mas de como a leitura engendrada pela cultura sobre a marca do sexo nos corpos coloca as rela es entre 32 homens e mulheres por vezes em lados opostos E no caso da ci ncia estar em determinado lugar como campo da produ o do saber tamb m faz a diferen a se a leitura a priori sobre o campo marcada por pr ticas e compreens es que o fez como adequado par o masculino e ou par o feminino Essas pr ticas de socializa o t m consequ ncias no modo como uma vis o de mundo tamb m produziria din micas tensas se fosse o foco de an lise as rela es de homens enfermeiros e mulheres enfermeiras ou se fosse m dicos e m dicas Isso porque nossa an lise se produz a partir dos significados partilhados sobre um campo de saberes com suas complexas rela es culturais no que se refere a g nero que da ordem da cultura e n o em rela o a sexo tomado na sua fixidez biol gica
113. amp pid S0104 026X2005000300002 amp Ing en amp nrm iso gt Acesso em 23 ago 2007 MARTINS Ana Paula Vosne A ci ncia dos partos vis es do corpo feminino na constitui o da obstetr cia cient fica no s culo XIX Rev Estud Fem Set Dec 2005 vol 13 no 3 Dispon vel em lt http www scielo br pdf ref v13n3 al lv13n3 pdf gt Acesso em 27 set 2007 MATTOS Paulo C sar de Almeida et al Cadernos de Escolas Promotoras de Sa de I Sociedade Brasileira de Pediatria Departamento Cient fico de Sa de Escolar 2006 MELO Hildete Pereira de CONSIDERA Cl udio Monteiro DI SABBATO Alberto Os afazeres dom sticos contam Universidade Federal Fluminense 2005 MENDES Eugenio Vila a As Pol ticas de sa de no Brasil nos anos 80 a conforma o da reforma sanit ria e a constru o da hegemonia do projeto liberal In MENDES E V Org Distrito Sanit rio o processo social de mudan a das pr ticas sanit rias do Sistema nico de Sa de S o Paulo Rio de Janeiro Hucitec Abrasco 1999 167 MENECUCCI Eleonora A mulher a sexualidade e o trabalho S o Paulo Hucitec 1999 MERHY Emerson O SUS e um dos seus Dilemas Mudar a Gest o e a L gica do Processo de Trabalho em Sa de um ensaio sobre a micropol tica do trabalho vivo CEBES Rio de Janeiro 1995 Em busca do tempo perdido a micropol tica do trabalho vivo em sa de In Merhy EE Onocko R organizadores Agir em sa de um desafio para o p blico S
114. ampo da sa de foi visto no s culo XVII em todos os pa ses da Europa como a possibilidade para a organiza o da fam lia ou melhor do complexo fam lia filhos como inst ncia primeira e imediata da medicaliza o dos indiv duos fizeram na desempenhar o papel de articula o dos objetivos gerais relativos boa sa de do corpo social com o desejo ou a necessidade de cuidados dos indiv duos ela permitiu articular uma tica privada da boa sa de dever rec proco de pais e filhos com um controle coletivo da higiene e uma t cnica cient fica da cura assegurada pela demanda dos indiv duos e das fam lias por um corpo profissional de m dicos qualificados recomendados pelo Estado definindo assim os direitos e os deveres dos indiv duos concernindo sua sa de e dos outros o mercado onde coincidem as demandas e as ofertas de cuidados m dicos as interven es autorit rias do poder na ordem da 73 higiene e das doen as a institucionaliza o e a defesa da rela o privada com o m dico FOUCAULT 2000 p 200 201 2 3 A FAM LIA E O PAPEL DA MULHER A fam lia compreendida como uma das institui es mais antigas da sociedade Fam lia ou arranjo familiar o conjunto de pessoas ligadas por la os de parentesco depend ncia dom stica ou normas de conviv ncia residente na mesma unidade domiciliar ou pessoa que mora s em uma unidade domiciliar IBGE 2004 p 398 Fam lia
115. an lise sociol gica segundo uma colega de turma era eu a pr pria gafe sociol gica Esta situa o criou nova nuance sobre o tema Como assistente social esta an lise permitia entender o contexto mas no campo da sociologia a compreens o vinha de outro lugar que lugar era este t o desconhecido por mim A busca desse entendimento pela via da Sociologia denota a sua relev ncia pelo fato de tentar analisar como aparecem no cotidiano as tens es ambigiiidades conflitos divis o social e sexual do trabalho Evidencia quanto uma proposta interdisciplinar consegue romper com habitus poderes desiguais nos diferentes n veis de participa o e como profissionais da rea da sa de m dicos e enfermeiras administram no cotidiano as quest es de g nero Ou ainda como estas rela es se reproduzem no processo de trabalho em sa de ou seja a possibilidade de se pensar sobre as rela es entre homens e mulheres refletindo sobre o discurso da diferen a dos sexos Marcada por sua vez por v rias tens es na organiza o do trabalho na coordena o de atividades e na partilha de saberes que se reconhecem mutuamente Seja da parte da medicina reconhecer o sabe produzido pela enfermagem e esta por sua vez produzir em suas rela es poderes participativos que n o digam respeito a invers o de poderes dentro de crit rios duais bin rios com novas divis es s vezes comuns aos grupos que buscam construir se visibilizar se e empoderar se
116. ando origem implementa o em 1983 do Servi o de Sa de Comunit ria SSC da Divis o de Sa de Comunit ria do Grupo Hospitalar Concei o GHC vinculado ao Minist rio da Sa de SILVA 2003 A quest o do acesso e da qualidade dos servi os de sa de ofertados popula o passou a ser um dos grandes objetivos governamentais Assim sendo o Programa de Sa de da Fam lia foi concebido a partir da reuni o ocorrida nos dias 27 e 28 de dezembro de 1993 Uma demanda de secret rios municipais de sa de para efetuar mudan as na Aten o B sica motivou a convoca o do Ministro da Sa de de t cnicos do Minist rio da Sa de secret rios estaduais e municipais de sa de consultores internacionais e especialistas em sa de p blica Ao final da reuni o emergiu a proposta do Programa Sa de da Fam lia e foi criada a Coordena o de Sa de da Comunidade BRASIL 1994 Este programa estava vinculado Funda o Nacional de Sa de FUNASA at que em 1995 foi transferido para a Secretaria de Assist ncia Sa de SAS Em 1999 o PSF passou para a Coordena o da Aten o B sica da Secretaria de Pol ticas de Sa de SPS O PSF representou um eixo de estrutura o da aten o b sica de sa de sendo que dentre os seus objetivos estava o enfoque da aten o que passa a ser a fam lia e o meio em que ela vive incorporando o princ pio da vigil ncia sa de e o trabalho em equipe PELLIANO 1999 Na realidade a op
117. anit ria dada a minha inser o no campo Esta inser o come a quando entrei na gradua o em 1980 no curso de Servi o Social participando de discuss es no movimento estudantil Inclui a atua o profissional nas Prefeituras de Santa Isabel do Ivai e Santa Cruz do Monte Castelo que me abriram as portas para o movimento da Reforma Sanit ria atrav s da participa o em Confer ncias Municipais Estaduais e finalmente na 8 Confer ncia Nacional de Sa de que originou a implanta o do Sistema nico de Sa de SUS Sob a vigil ncia frequente da minha orientadora para que essa abordagem n o fosse assim t o apaixonada nem t o linear para tanto utilizei autores reconhecidos desse campo visando fundamentar os fatos sem fazer uma mera descri o hist rica Correndo o risco de repetir uma hist ria tantas vezes contada por todos que me antecederam ao falar da pol tica p blica de sa de neste pa s insisti em traz la para esta disserta o em decorr ncia de tentar explicar como chegamos ESF num per odo de apenas 22 anos a contar da 8 Confer ncia Nacional de Sa de O cap tulo suscita uma reflex o sobre como os servi os de sa de emergiram no Brasil no s culo XIX apresentando uma organiza o extremamente prec ria Ao analisar a hist ria dos servi os de sa de no Brasil pode se afirmar que as pol ticas deste atendimento apresentaram altera es passando de assist ncia m dica a direito sa de Direito este
118. aos bens e servi os essenciais os n veis de sa de da popula o expressam a organiza o social e econ mica do Pa s BRASIL 1990 Nessa perspectiva na sociedade atual a sa de ou o que se fala sobre ela ganhou uma import ncia fundamental Nunca como hoje as pessoas foram t o levadas a tomar a sa de como um dos principais modelos de refer ncia nas suas vidas 5 O empowerment ou empoderamento surgiu com os movimentos de direitos civis nos Estados Unidos nos anos 70 a o social que promove a participa o de pessoas e comunidades em ganhar controle sobre suas vidas na sociedade garantindo o direito informa o e melhoria das condi es de trabalho Empoderamento como fruto da intera o entre os movimentos feminista e de educa o popular que segundo Freire 2001 permite pensar que s aprende aquele que capaz de aplicar o aprendido s situa es do cotidiano dessa forma o conceito de aprendizagem est diretamente vinculado ao processo de empoderamento 44 Isto se torna evidente na hist ria da medicina na luta constante pela garantia da melhoria de vida das popula es Essa hist ria pode ser confundida com a hist ria da humanidade SILVA 2003 evidenciando h s culos atr s desde os procedimentos de magia a influ ncia de deuses e religi es a descobertas como as bact rias os antibi ticos os indiv duos atrav s da medicina tentam construir uma realidade consciente de enfrentamento das doen a
119. aos seus pacientes Agindo quase como confidentes de suas expectativas e esperan as de cura procurando sempre aumentar a qualidade de vida da popula o 148 O atendimento em sa de ainda est relacionado classe m dica Um trabalho dividido aquele que faz e aquele que pensa Mas eu vejo que a sociedade que continua dando esse poder que muitas vezes complica na rela o m dico enfermagem Acho que a comunidade aceita o enfermeiro por m n o valida o seu conhecimento cient fico Esse saber ainda est vinculado ao m dico essa supremacia do m dico permanece Fabiana Enfermeira A enfermagem est mais reconhecida mas ainda muito complicado por que a popula o v todo aqui como mundo como m dico A popula o desconhece a consulta de enfermagem ela se admira nossa mas enfermeira faz consulta Quando eles v em que a enfermeira d muito mais aten o do que o m dico pelo fato do tempo que voc tem eles acabam preferindo passar com voc Mas n o pelo fato de que voc enfermeira e sim pelo fato de que voc d mais aten o eu acho que quando voc diz que n o m dica eles se sentem mais pr ximos mais vontade e perguntam mais coisas consequentemente criando um v nculo maior Ent o me vejo fazendo um elo de liga o entre o paciente e o m dico Parece que a popula o pensa que voc est mais pr xima deles talvez a quest o do saber como se o m dico estive e
120. ar em conta a urg ncia da inova o do conceito de sa de e da cl nica Nessa forma o n o basta ir at a ESF ou realizar algumas visitas domiciliares poss vel que o cuidado domiciliar represente um grande desafio que precisa ser vivenciado durante grande parte do processo de forma o desses profissionais Em especial os m dicos parecem demonstrar certa dificuldade em assumir o trabalho interdisciplinar em algumas situa es padecem de estigmas e expectativas sociais Se por um lado podem ser objeto de adora o e reconhecimento por aqueles que gozam imediatamente de seus benef cios s o cobrados a nunca errar e sempre fazer viver mais ou n o deixar morrer ningu m como se estivesse ao alcance deles o pr prio dom da vida Tratado outrora quase como um membro da fam lia ascendentes e descendentes sabiam a quem recorrer em momentos dif ceis quando se mesclavam fun es diversas hoje realizadas por especialistas BARBOSA 2007 p 12 O m dico visto como um profissional privilegiado sua atua o relacionada cura das doen as o m dico que intercede como um t cnico como se reparasse um mecanismo perturbado numa perspectiva da medicina tradicional que n o deveria atuar em conjunto com a sociedade mas sim numa rela o evidenciada pelo saber cient fico uma rela o verticalizada entre m dico paciente Canguilhem 2004 afirma que no in cio da medicina moderna os m dicos atuavam baseados em comportam
121. aracteriza se como o elo entre a comunidade e a equipe que se responsabiliza pela aten o b sica em sa de de uma rea adscrita cuja popula o deve ser de no m nimo 2 400 e no m ximo 4 500 pessoas O ACS n o o foco do nosso estudo mas com certeza seu trabalho permite levantar alguns questionamentos em rela o sobrecarga que assume junto equipe realizando grande parte das tarefas previstas no domic lio por outro lado estudos apontam para aspectos importantes em rela o ao seu trabalho junto equipe que de alguma forma interfere nos objetivos propostos pela ESF ainda que o papel de media o exercido pelo ACS seja uma unanimidade nos documentos e artigos consultados esta media o parece implicar em contradi es que significam prest gio e poder junto popula o de sua rea de atua o desgaste ao absorver a press o de pessoas da comunidade insatisfeitas com o servi o ou que procuram conseguir favorecimentos em termos de acesso BORNSTEIN 2006 p 267 Assim poss vel identificar pontos de ruptura nessa proposta que se define t o democratizante e que pode estar simplesmente repetindo o modelo anterior revestida de um novo nome de um novo discurso Retomando a discuss o sobre como a ESF organiza seu trabalho verificamos que a popula o adscrita cadastrada e acompanhada por esta equipe de sa de da fam lia efetivando a promo o preven o tratamento e reabilita o sendo
122. arecia posicionar se em detrimento das a es em equipe Onde se identificava a dificuldade de alguns em compreender a forma como o trabalho de seus pares pensado e organizado Essa situa o permitiu me questionar por que as pessoas nessa equipe n o tomavam uma posi o o que pensam sobre si e sobre a sua profiss o Atualmente a ESF quando se coloca no epicentro de uma proposta que se pretende interdisciplinar surge tamb m como um novo campo de tens o em rela o ao que enfermeiras e m dicos sabem e pensam sobre si Tamb m sobre o que precisam saber sobre si mesmo para trabalhar e interagir com profissionais diferentes e com uma concep o de trabalho que apresenta uma proposta que pressup e o di logo No caso da enfermagem para dialogar preciso reconhecer esse lugar do outro e saber que precisa desinstalar se do pr prio lugar ao referendar o espa o de poder do m dico Mas afinal qual o lugar da enfermagem Qual a Assim como com os entrevistados que me permitiram o contato com o mundo real num enfrentamento com o discurso do mundo te rico e dos discursos oficiais sobre a ESF 22 sua caracter stica como profiss o Que salto precisa dar para constituir se como interdisciplinar Estas observa es tornaram se alvo e objeto dessa pesquisa quando iniciei minhas atividades como docente de cursos de P s Gradua o Lato Sensu na rea da Sa de P blica inspirada nas discuss es feitas em sala de aula observa
123. asa eram jovens e solteiras Vendiam produtos no mercado ganhavam dinheiro com o pequeno com rcio ou como vendedoras ambulantes empregavam se como trabalhadoras ocasionais Verificou se na sequ ncia o emprego n o especializado de baixos sal rios como reflexo da prioridade das obriga es dom sticas e maternais al m do que ser trabalhadora era uma anomalia porque afinal o trabalho industrial ocupava o tempo todo assim como os afazeres dom sticos tamb m ocupavam o tempo todo No universo europeu e norte americano do s culo XIX as mulheres eram associadas ao trabalho barato mas nem todo trabalho barato era considerado apropriado para elas Se eram consideradas aptas para trabalhar nos t xteis na confec o no cal ado no tabaco na alimenta o raramente eram encontradas nas minas na constru o civil na constru o mec nica ou naval mesmo quando havia a necessidade de m o de obra considerada n o qualificada Ao homem a madeira e os metais mulher a fam lia e os tecidos Trabalho para que eram contratadas mulheres era definido como trabalho de mulher adequado de algum modo s suas capacidades f sicas e aos seus n veis natos de produtividade Este discurso produzia uma divis o sexual no mercado de trabalho concentrando as mulheres em alguns empregos e n o em outros colocando as sempre na base de qualquer hierarquia ocupacional e estabelecendo os seus sal rios abaixo do n vel b s
124. c acredita nesse trabalho em sa de atrav s da equipe Por que quando voc tem a oportunidade de conhecer o trabalho do outro de estabelecer parcerias veicula o de informa es atendimento familiar em conjunto gerando a discuss o de casos e a busca de solu es Os m dicos com sua objetividade cl nica acabam perdendo um pouco da magia que a observa o pode proporcionar e nisso as minhas colegas enfermeiras d o uma aula de sabedoria quando sem precisar de nenhum exame referem s condi es de sa de de determinados pacientes por conta de seu comportamento olhar e at jeito de andar Nisso as mulheres s o imbat veis N s homens n o temos essa capacidade de arquivamento de observa o t o agu ada que as mulheres possuem tamb m n o somos nada eficazes em identificar se algu m est deprimido As mulheres parecem ter sensores est o ligadas em tudo muito confort vel trabalhar com seres que ao te verem entrando na unidade sem fazer a barba sabem que alguma coisa est errada com voc naquele dia Isso gera certo v nculo um companheirismo Elas est o sempre mostrando que h uma oura forma de avaliar aquela situa o que parece sem sa da Francisco M dico Francisco evid ncia as dificuldades desse trabalho que s pode atingir o seu objetivo na medida em que a equipe interdisciplinar se organiza est coesa se v como grupo e juntos t m a oportunidade de conhecer a realidade das fam lias Na med
125. cas que se engendram sobre a id ia de que a mulher sabe fazer isso naturalmente Destarte n o se faz necess rio investir nesse aprendizado de modo que esse trabalho n o deve ser computado socialmente no sentido de equival ncia em dinheiro ou de partilha com todos os membros envolvidos na situa o da casa e ou da doen a de algu m em casa As rela es tendem a concentrarem elevada expectativa de afeto e autenticidade no cuidado exercido pelas mulheres e chega se mesmo a afirmar que homem n o sabe fazer Tais expectativas t m se revertido em muitas din micas presentes nos lugares de trabalho em sobrecargas emocionais geradas pela competitividade do mercado de um lado e de outro pelo cumprimento de uma responsabilidade do afeto do cuidado e do provimento di rio O que para o campo do nosso estudo exime a sociedade e a sa de p blica de sua parte nas tarefas e pol ticas de apoio medicamentos e inser es gerenciais sobre o que deva e possa ser feito 103 com as pessoas no que tange a sa de p blica Esse tipo de situa o est centrado em expectativas sobre cuidado e sobre trocas emocionais que n o s o partilhadas de igual modo por homens e mulheres e quando em situa o de doen a familiar costuma recair completamente ou quase completamente sobre um membro da fam lia a mulher Nesse sentido o cuidado ganha al m dos aspectos necess rios a prote o aos cuidados higi nicos f sicos emocionais expectativas e
126. cia de rela es assim tricas constru das para as rela es entre os g neros que refor am a dicotomia entre o trabalho do m dico e da enfermeira Estabelece se desigualdades entre profiss es que cuidam e profiss es que constroem saberes e que s o portadores do conhecimento cient fico pontuando a exist ncia de uma divis o de trabalho entre o manual e o intelectual Esse entendimento parte da an lise de g nero enfocando as rela es sociais em que homens e mulheres fazem parte evidenciando uma forma de ver o mundo a partir de uma concep o da rela o social que bin ria Assim as rela es estabelecidas nas pr ticas do trabalho na rea da sa de conforme Pastore apresentam uma concep o de oposi o entre o tratar saber e fazer m dico e do cuidar saber e fazer de enfermagem Percebe se nesta rela o um processo de antagonismo que de certa forma foi naturalizado provocando inquieta es e necessidades de investiga o sobre a exist ncia de hierarquia e domina o nestas rela es Nossas hip teses indicam a perman ncia da feminiza o no trabalho na rea da sa de principalmente nos setores da enfermagem bem como uma crescente flexibiliza o nas rela es de trabalho PASTORE 2006 p 3 Trazendo a an lise de Pastore para o contexto da ESF torna se dif cil entender como uma a o proposta com crit rios de politiza o no campo da sa de pode trabalhar com uma din mica de despo
127. cia em SF que pode me respaldar melhor Continuarei a trabalhar com SF mas ai com uma resid ncia na rea A sa de da Fam lia n o um est gio um per odo Eu vim para ficar e quero crescer dentro da ESF Fabr cio M dico Participei de um Congresso Brasileiro em S o Paulo sobre SF conheci um professor da Organiza o Mundial de Sa de respons vel pela SF na organiza o e cirurgi o vascular que est h 20 anos fazendo PSF Para mim aquilo bateu o martelo A fiz um concurso para o PSF e passei Tive a certeza de que eu vou fazer isso Agora estou num lugar onde eu tenho um hor rio certo entro tal hora saio tal hora o fim de semana meu o feriado meu Fa o 8 horas di rias a remunera o n o das piores d para viver n o preciso ficar rico mas d para ficar bem Guilhermo M dico Guilhermo demonstra a import ncia de um est mulo externo de uma hist ria de sucesso e realiza o por parte deste professor indicando a ESF como novo espa o de trabalho Hoje para se tomar um bom m dico do SF necess rio buscar cursos de especializa o a forma o na gradua o n o preparava o m dico para o trabalho em equipe muito menos com a popula o carente a id ia era o atendimento no setor privado montar consult rio A especializa o passou a ser muito valorizada garantindo s vezes melhores sal rios e principalmente por que passou a ser
128. com esse profissional que tem redes de informa o produzidas pelos agentes comunit rios de sa de tem as condi es organizativas do servi o tem o poder outorgado pelo MS para planejar gerenciar coordenar e avaliar as a es desenvolvidas pelos agentes comunit rios de sa de supervisionar coordenar e realizar atividades de qualifica o e educa o permanente dos agentes comunit rios de sa de facilitar a rela o entre os profissionais das unidades de sa de 61 Que rela es de saber e poder est o imbricadas neste trabalho qual o significado em termos de valoriza o na comunidade e na equipe as enfermeiras entrevistadas em nosso estudo ganham Quest es que nos remetem ao campo no sentido de conhecer como o empoderamento dessa categoria profissional acontece nesse cen rio Do M dico I realizar assist ncia integral promo o e prote o da sa de preven o de agravos diagn stico tratamento reabilita o e manuten o da sa de aos indiv duos e fam lias em todas as fases do desenvolvimento humano inf ncia adolesc ncia idade adulta e terceira idade II realizar consultas cl nicas e procedimentos na USF e quando indicado ou necess rio no domic lio e ou nos demais espa os comunit rios escolas associa es e outros II realizar atividades de demanda espont nea e programada em cl nica m dica pediatria ginecoobstetr cia cirurgias ambulatoriais pequenas urg ncias cl nico cir
129. conte do das tarefas sobre o cuidado em sa de Se elas revelam se marcadas por desigualdades e por rela es de poder manifestadas no modo como ocorre a divis o sexual do trabalho com comprometimento inclusive do car ter interdisciplinar da ESF Assim os sujeitos da pesquisa foram entrevistados em locais datas e hor rios escolhidos por eles mesmos Tr s entrevistas foram realizadas em fim de semana em hor rio de intervalo da aula do curso de especializa o que os entrevistados est o concluindo Algumas entrevistas foram feitas no seu pr prio local de trabalho sendo que em alguns casos parece importante ressaltar a dificuldade de marcar tais entrevistas em decorr ncia da agenda ser modificada por emerg ncias que a unidade de sa de apresentou Esta situa o acabou atrasando o tempo previsto para a realiza o do trabalho de campo Por outro lado a disponibilidade de duas enfermeiras foi surpreendente pois foram at o local de trabalho desta autora no mesmo dia que entramos em contato com as mesmas solicitando aux lio na pesquisa de campo desse estudo As entrevistas foram agendadas assegurou se a garantia da preserva o da identidade dos participantes assim como o car ter confidencial de suas coloca es Os encontros com os entrevistados duraram em torno de 40 a 60 minutos as entrevistas foram gravadas em sistema eletr nico no formato MP3 a partir de di logos abertos feita a solicita o para gravar a entrevista v
130. creta sem a menor chance de modificarem na substancialmente Bourdieu est num conjunto de reflex es que as feministas est o produzindo Deste modo h pontos de conex o entre a sua teoria e o contexto da produ o das teorias feministas permitindo assim atrav s dessa conex o problematizar a eterniza o das rela es sociais diferenciadas entre homens e mulheres apontando para institui es como a Escola a Igreja e o Estado como respons veis pela constru o e imposi o de princ pios desta domina o BOURDIEU 1999 Por m em rela o a esse aspecto preciso dizer que n o se pode invisibilizar os processos de significados que s o produzidos pelos sentidos das a es desenvolvidas pelos pr prios indiv duos no contexto das complexas rela es culturais e intersubjetivas que os envolvem No caso os profissionais m dicos e enfermeiras que poderiam expressar uma experi ncia mais matizada na rela o entre a estrutura do servi o sua ordem social e institucional e a sua experi ncia como constru o do que s o como profissionais que n o apenas se adaptam e reproduzem o que lhes proposto por uma din mica normativa No entanto constroem novos significados a partir das tens es evidenciando sentidos de mudan a produzidos pela experi ncia cotidiana com as fam lias com a sa de com suas pr ticas e com as suas concep es sobre o trabalho em equipe De modo que ao tomar o conceito de habitus pretendeu se apo
131. da de 70 nos Estados Unidos o conceito de g nero come ou a ser discutido na antropologia nas diferentes reas cient ficas e nos movimentos feministas buscando a deslegitima o da domina o masculina visando a desconstru o de pr ticas hegem nicas sendo um espa o privilegiado de produ o do novo discurso sobre a mulher Dessa maneira as abordagens subsegiientes desenvolvidas a partir de questionamentos feministas t m possibilitado a presen a das mulheres como agentes atuantes aos processos sociais suscitando reflex es te ricas em v rias reas das ci ncias humanas Nesse cen rio inauguram se epistemologias para a produ o de saberes novos desestabilizando se reas consolidadas e que se encontram marcadas por abordagens do determinismo biol gico A partir de ent o introduziram se novos temas e metodologias vizibilizaram se quest es ligadas ao cotidiano a experi ncia dos atores negros mulheres homossexuais Os direitos humanos foram para o centro dessas quest es como direitos tamb m das mulheres Ao participarem do movimento feminista as mulheres perceberam que sua presen a nas lutas sociais com os homens n o ocorria em p de igualdade Pois n o tinham a correspond ncia na representa o pol tica nem cient fica acad mica Nesse aspecto sua atua o ficava em segundo plano pois nunca ficavam em lugares chaves dessas reas raramente elas eram chamadas a assumirem a lideran a pol tica q
132. da do objeto estudado Assim a entrevista vista como uma forma de evidenciar que existem outras maneiras de compreender os fatos diferente da vis o inicial proposta por esta pesquisadora forneceu dados para a compreens o das rela es entre os pesquisados e o mundo social recortado por esse estudo O roteiro das entrevistas Ap ndice A foi elaborado tomando o cuidado em n o induzir respostas sendo claras compreens veis permitindo a descri o do fen meno pesquisado Seguindo essas orienta es essa t cnica foi utilizada da maneira mais aberta poss vel para que os entrevistados pudessem apresentar sua pr pria concep o sobre o tema A an lise dos dados decorreu a partir das narrativas coletadas nas entrevistas como atrav s de material de observa o que estamos realizando desde que o curso de mestrado teve in cio Os depoimentos das entrevistas foram relacionados s observa es que vinham sendo feitas desde o in cio da carreira profissional da autora Trilhamos o seguinte caminho 1 ordenamos os dados das entrevistas transcritas e na sequ ncia agrupamos as quest es por temas o que permitiu manter os elementos presentes para cada sujeito pesquisado 2 classificamos os dados segundo o quadro referencial te rico e as informa es obtidas no campo O conjunto de dados resultantes das entrevistas permitiu um corte realizado de acordo com os objetivos dessa disserta o assim destacamos para a an lise pontos relevantes qu
133. das governamentais caracterizadas pela centraliza o nas formula es verticaliza o de a es no cuidado em sa de Muitas vezes as pr ticas de sa de n o condizem com as reais necessidades da popula o assistida Tomam os usu rios como se fossem carentes de um saber sobre a sa de como meros objetos de programas que pretendem impor a participa o da comunidade A proposta de a es tendo como objetivo o avan o da democratiza o evidenciada nos pressupostos do SUS serve de refer ncia para muitos questionamentos em decorr ncia de amea ar formas de domina o ou a es fortemente estabelecidas no espa o pr prio da medicina expondo a cr tica que se faz ao poder na rea da sa de o discurso de poder que silencia o paciente impondo uma disciplina m dica como maneira de controlar o corpo e a mente Como resultado desta nova ordem surge um novo discurso que polemiza as rela es opressivas de poder na rea da sa de Atrav s desse discurso politizante uma necessidade de democratizar as a es em sa de buscando apoio na teoria freiriana tentando assim expulsar esta sombra opress o 2 Universalidade representa o direito de todas as pessoas ao atendimento de sa de independente de cor ra a religi o local de moradia situa o de emprego ou renda Assim deixam de existir os indigentes como eram chamadas as pessoas que n o eram inclu dos no mercado formal de trabalho 2 Equidade visa diminuir as desigualdad
134. de Sa de SUS integrar todos os servi os p blicos em uma rede hierarquizada regionalizada descentralizada e de atendimento integral com participa o da comunidade numa pol tica p blica de prote o social universalista e eq itativa de atendimento de sa de Insatisfa es questionamentos por parte da popula o atendida pelas pol ticas p blicas acabam gerando um processo de mobiliza o da sociedade iniciado pelos 48 movimentos sociais dos anos 70 80 e 90 Constitu do inicialmente por uma parcela da intelectualidade universit ria e dos profissionais da rea da sa de O movimento de luta pela melhoria da sa de no Brasil nasce nas universidades brasileiras nos anos 70 e utiliza a sala de aula atrav s das palavras e a escritas atrav s de raras publica es de disserta es de mestrados e teses de doutorado BERTONE 2002 p 14 Segundo Cutait 1998 procurou se consolidar o processo de expans o da cobertura assistencial iniciado na segunda metade dos anos 70 em atendimento s proposi es formuladas pela Organiza o Mundial da Sa de OMS atrav s de encontros tais como a Confer ncia de Alma Ata 1978 que preconizava Sa de para Todos no Ano 2000 principalmente por meio da Aten o Prim ria Sa de resultaram em toda uma reavalia o do atendimento em sa de As discuss es realizadas em Alma Ata direcionam as pol ticas e os programas da OMS tendo em vista a tentativa de disponibilizar to
135. de grande relev ncia para o atendimento de sa de no Brasil que viveu profundas altera es passando de simples assist ncia m dica a direito sa de as pol ticas p blicas foram ordenadas de maneira a garantir sa de e qualidade de vida atrav s da a o do Estado A Carta de Ottawa define os campos de a o da promo o da sa de S o eles a elabora o e implementa o de pol ticas p blicas saud veis a cria o de ambientes favor veis sa de a participa o comunit ria desenvolvimento de habilidades pessoais e a reorienta o dos servi os de sa de Nessa sequ ncia sob forte influ ncia da discuss o mundial em resposta a necessidade de melhoria da qualidade na aten o b sica de sa de posta nos movimentos reivindicat rios da sociedade civil organizada foi implantado em 1990 o Sistema nico de Sa de O entendimento da constru o do SUS e as a es que se seguiram possibilitam identificar a implanta o do Programa Sa de da Fam lia como uma estrat gia proposta pelo Minist rio da Sa de que n o tem origem recente ao contr rio prov m de modelos internacionais e de experi ncias anteriores as quais possibilitaram a constru o o aperfei oamento e a expans o desse novo paradigma de aten o sa de Segundo Silva 2003 a partir dos anos 50 a Medicina Familiar passou a ser adotada em diferentes pa ses embora os princ pios da Medicina Familiar sejam universais as 1 Resultado da I
136. de o poder decis rio sempre passou pelo espa o da medicina Na fala desse m dico a clareza sobre a necessidade do aprendizado dial gico previsto no interdisciplinar necessidade de problematizar o espa o do m dico sem esse vi s da desvaloriza o da medicina mas sim na constru o de um novo processo de trabalho em sa de que sup e a interdisciplinaridade e a partilha do saber entre todos os agentes da equipe O m dico est sil ncio n o falo isso com nenhum vi s de cr tica ou ressentimento pelo contr rio O m dico est sofrendo uma desvaloriza o progressiva e uma diminui o de suas atribui es nas equipes de sa de Num programa de rastreamento c ncer cervical muitas vezes uma enfermeira que recebe uma capacita o mais ou menos curta ela j est se incumbindo dos preventivos e at do pr natal No dia a dia as tarefas s o as de um cl nico geral esporadicamente h reuni es de pacientes hiperdia Programa de atendimento de hipertensos e pacientes com diabetes Quanto a visita domiciliar verifico um total descompasso entre o m dico e o enfermeiro As visitas s o feitas em paralelo existe na verdade dois atendimentos totalmente desvinculados eu n o tenho acesso aos relat rios da enfermagem William M dico Desenvolvo as minhas tarefas com muito cuidado em rela o aos detalhes junto da equipe evitando o trabalho voltado s para a recupera o e cura Priorizand
137. des de interven o sobre estes A ESF busca desenvolver a es atrav s da equipe interdisciplinar de sa de priorizando as a es de promo o prote o e recupera o da sa de de indiv duos e fam lias de forma integral No entanto a nossa an lise nos permite dizer que ainda o discurso formal nos documentos que regimetam a ESF est o distanciados da pr tica cotidiana das equipes A ESF tem como um dos princ pios o estabelecimento de v nculo e comprometimento com 151 vistas humaniza o do atendimento popula o na medida em que se coloca como um espa o de democratiza o dos saberes e da participa o A ESF tem em vista a constru o da cidadania no entanto a nossa an lise evidencia que ainda que num discurso democratizante poss vel identificar no cotidiano do trabalho entre m dicos e enfermeiras a reprodu o das desigualdades de g nero veiculadas nas concep es sobre o cuidado e sobre quem deve cuidar quem deve medicar quem deve ensinar e curar O estudo pela perspectiva de g nero permitiu a compreens o de que muitas das tarefas do cotidiano nas a es em sa de realizadas por m dicos e enfermeiras ainda apresentam uma divis o cl ssica do trabalho pensado para os homens e as mulheres Apresenta conflitos quando n o consegue atingir a proposta de mudan a preconizada pelo SUS evidencia um deslocamento de poder para o campo da enfermagem que acaba reproduzindo em algumas situa es as mesmas
138. desses profissionais os significados atribu dos aos conte dos das tarefas e a divis o sexual do trabalho inserida em din micas de g nero e de poder na estrutura o da pr pria proposta da ESF no que se refere perspectiva de interdisciplinaridade sobre as pr ticas do cuidado no meio familiar A an lise que empreendemos levou nos a localizar a ESF inserida num contexto de direitos emanados da Constitui o Federal BRASIL 1988 partindo do pressuposto que a sa de um direito universal de todo cidad o No modelo atual o Estado o respons vel pelo acesso pleno ao atendimento de sa de da popula o cabendo ao SUS Sistema nico de Sa de integrar todos os servi os p blicos em uma rede hierarquizada regionalizada descentralizada e de atendimento integral com participa o da comunidade Nesse cen rio o visualizamos SUS como pol tica p blica que indica a ESF como uma ferramenta democratizante que tenta garantir a promo o sa de da popula o A ESF como resultado de movimentos de sa de e da pr pria Reforma Sanit ria 1986 constr i suas pr ticas baseada em modelos de assist ncia internacionais e busca para tanto substituir o modelo tradicional centrado na cura da doen a O novo modelo de aten o representa uma estrat gia do cuidado em sa de da popula o brasileira que implica em valorizar a realidade regional identificando os problemas apresentados pela comunidade local e criando assim possibilida
139. do cidad o a aten o b sica vinculada todos os demais n veis de um sistema de sa de Reajustando se as peculiaridades sociais e econ micas e perfil epidemiol gico assim como a rela o com o n vel de desenvolvimento do sistema de sa de dos pa ses vinculados essa proposta de educa o em sa de alimenta o e nutri o adequada gua pot vel e saneamento b sico trabalho direcionado assist ncia materno infantil campanhas de vacina o preven o e tratamento das doen as end micas assim como distribui o de rem dios b sicos Estas discuss es incentivaram movimento em prol da Medicina Preventiva e a necessidade de rever o sistema de assist ncia sa de no Brasil desencadeando a 8 Confer ncia Nacional de Sa de em 1986 realizada em Bras lia Esta Confer ncia tem como resultado o engajamento pol tico de uma parcela da popula o recebendo grande influ ncia de partidos da esquerda buscando uma maior compreens o dos processos que envolvem a doen a e a cura dando nfase na sa de e no controle desta pela sociedade negando o modelo anterior centrado na doen a resolvida somente pelo m dico Assim a Medicina Preventiva come a ser pensada como a leitura liberal e civil deste campo de tens es pretende redefinir as responsabilidades do m dico mantendo a natureza do seu trabalho ampliar o seu espa o social mantendo a organiza o hospitalar e de consult rios privados desenvolver uma preoc
140. do em vista apoio em uma estrutura coletivamente controlada No caso do Brasil atrav s do estudo sobre a sa de p blica no pa s evidencia se a trajet ria da Rep blica no artigo de Motta 1997 sobre os movimentos sociais e a constru o do SUS O autor analisa a import ncia dos movimentos sociais e sua contribui o no processo de constru o do novo sistema afirmando que a Pol tica de Sa de no Brasil passou neste per odo evidenciado acima por grande mudan a deixando de prestar somente assist ncia m dica para o atendimento popula o como um todo como direito sa de garantida pela Constitui o Federal BRASIL 1988 Somente a partir do s culo XIX os servi os de sa de surgiram no Brasil com uma caracter stica peculiar com p ssima organiza o fundamentada na pol cia m dica A nova abordagem na rela o sa de e sociedade foi desenvolvida atrav s das no es de pol cia m dica os m dicos higienistas exerceram na sociedade do Brasil Imp rio pr ticas m dicas articuladas aos projetos de reorganiza o social ROSEN 1994 assim para garantir a sua sa de o indiv duo deveria ter bom comportamento ou seja ter sa de estava relacionado uma atitude de responsabilidade nica do indiv duo A pol tica de sa de p blica permeava se pelo no controle de doen as e a es voltadas imuniza o Motta 1997 evidencia que as pol ticas de sa de deste per odo foram baseadas em decis es tecnocr ticas
141. dos m dicos por vezes se tencionam os valores do estudar ser generoso ter realiza o pessoal e ou quest es estruturais referenciadas ao mercado de trabalho e a necessidade de garantir a renda financeira V rios elementos em tens o em conflito com a realidade do mercado de trabalho que na rea de sa de bom principalmente considerando a ESF onde a maioria tem sido bem remunerado h oferta de empregos s vezes fora do eixo Sul e mais urbanizado do pa s no entanto existe no interior possibilidade de crescimento profissional e financeiro Alguns profissionais fazem a escolha pela medicina tamb m acreditando na carreira promissora que desenvolver o No caso da enfermagem identifica se no espa o da ESF a possibilidade de ter um bom emprego ser valorizado construir certa autonomia e identificar o retorno da popula o Entretanto a ESF pode ter acarretado a contrata o de profissionais com forma o ou perfil nem sempre ideais para fazerem parte das equipes de sa de o que sem d vida tem imbricado s rio comprometimento em rela o a sua legitimidade como tamb m em rela o a mudan a do paradigma tradicional das a es em sa de Verifica se principalmente no interior uma alta rotatividade de profissionais m dicos que em decorr ncia da possibilidade do emprego com sal rio diferenciado acima da m dia No entanto em alguns casos o emprego que seria apenas passageiro torna se definitivo gerando a necessidade de maior capaci
142. e integrada e capacitada para assumir os princ pios que preconizam o seu trabalho Na fala de nossos entrevistados identifica se a constante afirma o da hierarquiza o do trabalho no cotidiano da equipe de sa de o que demonstra a dificuldade de se trabalhar em equipe Ao analisarmos os conte dos sobre a ESF no site do MS o trabalho interdisciplinar premissa fundamental para a garantia da implanta o do novo modelo da Aten o B sica Exige uma nova postura por parte dos diversos profissionais envolvidos sem falar da popula o que passa a estabelecer v nculos de compromisso e de co responsabilidade com essa equipe de sa de No entanto identifica se a grande dificuldade por parte dos diferentes agentes envolvidos em desenvolver este trabalho em equipe interdisciplinar em decorr ncia de quest es que remetem forma o inadequada para a nova proposta assim como ainda a persist ncia do modelo hospitaloc ntrico que divide as tarefas dos membros da equipe numa perspectiva extremamente dicot mica Valoriza o conhecimento m dico em detrimento de outros saberes presentes na equipe assim como ainda refor a a diferen a na distribui o das tarefas no processo de cuidado realizado por homens e mulheres Por outro lado a cria o da ESF promove outra mudan a de paradigma quando prop e uma nova filosofia de trabalho na rea da sa de Sup e uma forma o mais generalista e menos especializada comportamentos menos objetivos e a
143. e as demais Assim parece que repetem o modelo j vivido O di logo foi indicado por alguns entrevistados como a possibilidade para a busca do consenso como elemento facilitador que pode possibilitar o desenvolvimento do trabalho em equipe A import ncia desse trabalho via equipe foi matizada por v rios entrevistados referindo se a necessidade da escuta do outro como caminho que abre espa o para o planejamento em conjunto e a comunica o frequente que garante criar espa os de discuss o coletiva do trabalho Nesse contexto identificam se ainda desigualdades de g nero rela o de poder hierarquizada entre os profissionais mant m se como garantia de status de alguns profissionais na tentativa de se manterem na lideran a da equipe Essa uma sinaliza o fundamental dessa disserta o no sentido de se redefinir no cotidiano das rela es entre m dicos e enfermeiras as responsabilidades e compet ncias de cada um valorizando principalmente os pontos de interse o entre eles tentando garantir dessa maneira a necess ria aproxima o integral entre os sujeitos que prestam o cuidado Nessa perspectiva estabelecer uma estrat gia para o enfrentamento das dificuldades tendo em vista romper com a hierarquiza o presente no modelo de sa de hegem nico Apesar das dificuldades enfrentadas para assumirem a proposta da interdisciplinaridade observa se no depoimento de todos os entrevistados em detrimento da forte press o sobre a p
144. e contribu ram para explorar experi ncias reveladoras que traduzem informa es fundamentais expressas na conclus o Tendo a inten o de construir uma compreens o sobre os significados atribu dos as rela es relativas a g nero e de poder no trabalho de m dicos e enfermeiras que atuam na ESF Entrecruzamos de teoria e campo para propiciar uma espiral que visava totalidade 42 tentando relacionar dialeticamente a teoria e a pesquisa de campo num entrela amento que levasse a compreens o dos significados sobre o problema surgido na pesquisa Estudar as rela es entre m dicos e enfermeiras pela perspectiva de g nero possibilitou observar e compreender um pouco da subjetividade e modo como ela tamb m se organiza estruturalmente na ESF Essa disserta o um esfor o no sentido de uma interface entre valores campo contexto e rela es sociais partilhadas No pr ximo cap tulo apresentamos alguns aspectos te ricos relativos trajet ria da sa de p blica no Brasil para podermos inserir nossa an lise na rela o complexa dos desafios apresentados no campo da sa de p blica 43 2 DA ASSIST NCIA M DICA CURATIVA SA DE COMO DIREITO DE TODOS GARANTIDA PELO ESTADO 2 1 RESGATE HIST RICO SOBRE A CONSTRU O DO SUS A op o de enveredar por esse caminho deve se a necessidade de resgatar a trajet ria da pol tica de sa de no Brasil pontuando como a Reforma Sanit ria e a constru o do Sistema nico de S
145. e da popula o A ESF exige um trabalho complexo demanda conhecimentos espec ficos assim como valoriza uma boa articula o junto s rela es interpessoais garantindo o respeito e a integra o da equipe Apesar dos avan os segundo informa es do Minist rio da Sa de o SUS enfrenta os seguintes problemas fragmenta o das rela es entre os diferentes profissionais prec ria intera o nas equipes e despreparo para lidar com a dimens o subjetiva nas pr ticas de aten o baixo investimento na qualifica o dos trabalhadores forma o dos profissionais de sa de distante do debate e da formula o da pol tica p blica de sa de entre outros BRASIL 2002 Essa afirma o relaciona se diretamente com os resultados obtidos na nossa investiga o poss vel identificar na fala dos entrevistados essa fragmenta o das rela es a falta de capacita o profissional para assumir as a es preconizadas pelo SUS O terceiro e ltimo ponto da nossa an lise parte do pressuposto de que o poder faz parte de uma gama de rela es organizadas e hierarquizadas assim fundamental tentar compreender os sentidos que estariam produzindo um discurso sobre rela es assim tricas de g nero A ESF encontra obst culos na sua incorpora o que fragilizam o processo de integra o da equipe na medida em que as a es s o desenvolvidas numa perspectiva bin ria de g nero pensando de forma dicot mica a divis o das tarefas e
146. e na atua o da enfermagem Como s o realizadas as suas tarefas no cotidiano Como trabalhar em equipe Sente a necessidade de alguma equipe especial para desenvolver o trabalho em parceria Como analisa a rela o de trabalho entre os profissionais numa equipe de sa de Como enfermeira como voc se v Qual o papel da enfermeira em rela o sa de Se voc pudesse me falar sobre as caracter sticas da profiss o o q voc me diria sobre ela Como se sente qual a sua posi o frente s atividades previstas para a equipe confort vel trabalhar discutir avaliar as quest es de sa de do paciente com colegas de trabalho ou seja em equipe 10 Comente uma situa o dificil na sua vida profissional 11 Como a comunidade aceita resignifica a condi o da enfermagem ANEXOS 175 176 ANEXO A REGI O DE ESTUDO CURITIBA E REGI O METROPOLITANA ANEXO B LISTA DE ESPECIALIDADES COM QUANTIDADE DE MEDICOS SOMENTE MEDICOS ATIVOS PARANA ANEXO C SAL RIOS M DIOS M DIA DE HORAS SEMANAIS CONTRATADAS M DIA SALARIAL POR HORA E NDICE SALARIAL POR OCUPA ES DE SA DE 177 ANEXO A REGI O DE ESTUDO CURITIBA E REGI O METROPOLITANA DR ULISSES ADRIAN POLIS CERRO AZUL agas TUNAS DO PARAN RIO BRANCO DO SUL ITAPERU U BOCAI VA DO SUL fs TAMANDAR CAMPINA GRANDE DO SUL CAMPO LARGO TAMANDAR coromBo CAMPO QUATRO BARRAS MAIS PIRAQUARA BALSA NOVA ARAUC RIA S O JO
147. e que os agentes desenvolvam uma a o de intera o entre si e com a comunidade Para tanto imprescind vel o desenvolvimento de uma pr tica comunicativa orientada para o entendimento m tuo ARA JO ROCHA 2007 p 455 2 A Educa o em Sa de tem como objetivo desenvolver nas pessoas a responsabilidade pela sua pr pria sa de assim como da sua comunidade A equipe do PSF desenvolve pr ticas que incentivam a popula o participar da vida comunit ria com v nculos de co responsabilidade A educa o em sa de como processo de trabalho n o enquanto medida coercitiva de controle social mas como instrumento que garanta aos indiv duos a compreens o de si mesmos enquanto cidad os e enquanto membros participativos da sociedade com direitos constitucionais em rela o sa de e vida 68 Para Ara jo e Rocha o trabalho em equipe tem como objetivo a obten o de impactos sobre os diferentes fatores que interferem no processo sa de doen a Assim a interdisciplinaridade pode possibilitar atrav s da a o de um profissional a reconstru o da pr tica do outro ambos sendo transformados para a interven o na comunidade na qual desenvolvem seu trabalho A abordagem integral do indiv duo fam lia ampliada pelo entendimento e olhar de v rios profissionais A por ela mesma n o garante o rompimento com a din mica do m dico como o centro do atendimento h necessidade de buscar a transforma o dessa din mica do traba
148. e subordina o como se ele fosse mesmo superior seu saber fosse maior que o que o da enfermagem e de seus outros colegas ele quer ser visto assim como o Doutor E assim ele pode simplesmente tentar te amea ar te diminuir com a inten o de estabelecer uma rela o de hierarquia onde ele quem determina como e quando tudo pode ser pensado e feito Sandra Enfermeira coordenadora ESF Evidenciando a diferen a entre homens e mulheres num espa o de desigualdades institu do a partir de valores normas e de pr ticas que se relacionam a uma ordem moral onde se identifica a hierarquia em conson ncia com crit rios de poder Mais uma vez o trabalho assumido pela mulher parece estar identificado a certa inferioridade que se vincula a uma suposta natureza fragilizada e menor A insatisfa o no cotidiano dessas profissionais uma constante as poucas perspectivas no mercado de trabalho no sentido da valoriza o salarial assim como ainda a posi o subalterna ocupada nos servi os apesar da ESF se configurar com uma proposta diferenciada s o elementos que contribuem para o desencantamento de algumas enfermeiras em rela o ao seu espa o profissional Tenho muita sobrecarga a enfermeira a chefe da equipe Se eu faltar por que estou doente eles n o fazem a reuni o Relat rios de sa de programas de sa de tudo enfermeira que faz Por que n o a dentista porque n o o m dico da equipe Estou sobreca
149. ebidas entre os sexos maneira primordial de significar rela es de poder para a autora o g nero uma primeira maneira de dar significado s rela es de poder a autora evidencia refere que provavelmente g nero constituiu um meio de dar efic cia significa o de poder no mundo ocidental SCOTT 1990 p 16 A hist ria ent o como testemunha de como esses fatos foram constru dos passa a ser mostrada em suas problematiza es sobre o pr prio determinismo biol gico que constitui o sexo e g nero A Sociologia produz uma s rie de reflex es sobre o trabalho e seu sexo a antropologia generefica suas teorias e a psican lise problematiza seus pressupostos Alguns autores permitem visualizar essa trajet ria como no caso de Rubin 1998 que ofereceu uma das primeiras explica es contempor neas sobre as rela es de g nero A autora afirma a necessidade da separa o anal tica entre g nero e sexo pensando o sexo como um fator de opress o que atravessa outros modos de desigualdade social tais como classe ra a etnicidade ou g nero Por outro lado mostra que o aspecto biol gico n o pode justificar a hierarquia sexual quando afirma que o g nero sexual uma constru o social refere se a assimetria entre os sexos decorrente das diferen as de status entre d diva e doador envolvendo portanto os sistemas de parentesco rela es que unem os homens entre si mediante la os baseados na consangiinidade enquanto rela
150. eepening of gender related questions Key words family health strategy interdisciplinary team care relations of gender and power LISTA DE TABELAS TABELA 1 INDICADORES DE GEST O DO TRABALHO OCUPA ES INSERIDAS NOS SERVI OS DE SA DE 33 TABELA 2 COMPARATIVO ENTRE N MERO DE M DICOS HOMENS E MULHERES NO PARAN 34 TABELA 3 COMPARATIVO ENTRE N MERO DE ENFERMEIROS HOMENS E MULHERES EM CURITIBA E REGI O METROPOLITANA 34 TABELA 4 IDENTIFICA O DOS PROFISSIONAIS ENTREVISTADOS 37 SUM RIO INTRODU O 02 na ria cd RR e a Pa A 13 1 O ARTESANATO INTELECTUAL COMO POSSIBILIDADE DA PESQUISASOCIOL GICA secretas aerea Ra RE aa 28 1 1 CONSTRU O DO PROBLEMA eeeeeeeeeeeeeeeeeeeremeeeneerereeteeees 28 1 2 OBJETO E O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA cc eretas 30 DSO CAMPO a pda RO SE SL a N a S 31 PR IO cid PARAR RN RR RN ST RR UR DN RARE RA 34 1 32 Os s jeitos da pesquisas isa isdaaas pia dana iara ea De Td dia aaa e a 37 13 AS ENE NAS AS ais eia E ala A da Dada a A A 38 2 DA ASSIST NCIA M DICA CURATIVA SA DE COMO DIREITO DE TODOS GARANTIDA PELO ESTADO ie rereeeeerecerereeeeeaeraaeaaererenerenos 43 2 1 RESGATE HIST RICO SOBRE A CONSTRU O DO SUS 43 22 A SAUDE DA FAM LIA renier areien dardo e ad a Ri eta a cp 55 2 2 1 A trajet ria de constru o do PSF acusa nsiacteiasoucaroneratacintes acusa iuc o votes iatisanidan o
151. efinida como a possibilidade de sair do desemprego e de ingresso no coeficiente dos empregados podemos dizer que as mulheres n o s o competentes Elas s o menos competentes do que os homens porque t m mais dificuldades de sair de uma situa o de desemprego para uma 32 A sobrecarga de afazeres dom sticos atrapalha a inser o das mulheres no mercado de trabalho Entre os homens a jornada m dia semanal de 42 9 horas fora de casa enquanto entre mulheres ela de 34 7 horas SOARES 2007 A pesquisa de Ana L cia Sab ia gerente de indicadores sociais do IBGE Tempo trabalho e afazeres dom sticos um estudo com base nos dados da Pesquisa por Amostra de Domic lios de 2001 e 2005 Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica IBGE mostra que desde a inf ncia as mulheres recebem a incumb ncia de realizar as tarefas dom sticas e que a participa o dos homens nos afazeres da casa aumenta entre os homens mais velhos e os mais escolarizados O aumento da participa o das mulheres no mercado de trabalho n o foi acompanhado da redu o da jornada dupla em casa A soma das jornadas m dias de trabalho em casa e no emprego remunerado mostra que na m dia as mulheres trabalham uma hora a mais que os homens Entre as mulheres ocupadas 92 tamb m t m afazeres dom sticos enquanto apenas 51 6 dos homens trabalham em casa Entre as mulheres ocupadas e com idade de 25 a 49 anos per odo em que normalmente h filhos pe
152. ejamento em conjunto tem acontecido A falta do trabalho coletivo coloca uma barreira que imp e empecilhos as tarefas e ao atendimento efetivo da demanda evidenciando conflitos que surgem em decorr ncia de 156 muitas opini es e posturas sendo que se referem que parte dos profissionais querem o controle das decis es e outros em sua maioria apresentam um comportamento amorfo n o assumindo com comprometimento as suas tarefas Fica evidente a ang stia de alguns profissionais entrevistados em construir esse espa o da forma como vem sendo idealizado Exige se resignificar a vis o do processo de trabalho e considerar que a equipe apresenta v rias possibilidades que tendem a auxiliar o desenvolvimento das a es em sa de Na fala de alguns m dicos tamb m o desabafo por estarem submetidos a uma grande sobrecarga de trabalho com dificuldades em rela o a continuidade do tratamento de pacientes que necessariamente precisariam ser atendidos por outras especialidades que n o fazem parte da equipe m nima garantindo a retaguarda dos demais n veis de aten o A interdisciplinaridade d novo sentido divis o de responsabilidades do cuidado entre os profissionais a concep o integral do cuidado pressup e a a o interdisciplinar onde a valoriza o das diversas disciplinas favorece a abordagem resolutiva do cuidado Dessa forma a figura do m dico que era o centro da equipe no modelo hospitaloc ntrico divide essa responsabilid
153. ela luta contra as formas de opress o masculina no s culo XIX situa o que demarcava principalmente a luta pelo direito ao voto Na segunda onda na d cada de 60 ele tamb m se expandiu mas junto com ele veio a constru o de novas teorias no mbito dos debates travados entre estudiosas e militantes de um lado e de seus cr ticos de outro ent o que se engendra o conceito de g nero que ir trabalhar a rela o o contexto e a diferen a dentro da diferen a como uma forma de romper com os padr es universais de an lise LOURO 2004 O termo g nero ao surgir vem desafiar a m xima essencialista que definia a mulher pelo seu biol gico cumpre o desafio de fazer a desconstru o dos determinismos As feministas trouxeram para dentro do processo a compreens o sobre a produ o cultural das diferen as e possibilitaram com isso pensar as rela es de poder que produziam as desigualdades Superam se assim a produ o universal nas ci ncias sociais dos estudos sobre a condi o feminina sobre sua participa o na sociedade na pol tica na organiza o familiar e no trabalho Esses estudos ganham um car ter relacional contextual desmistifica tamb m o universalismo das an lises al m dos determinismos biol gicos tarefa que j haviam tomado para si no final dos anos 70 que a opini o geral dentre as feministas toma for a no sentido de que a domina o seria universal que n o ocorria em um contexto isolad
154. emos aqui alguns elementos que podem ser elencados tais como o tempo de estudo se fizesse medicina teria que estudar muito mais a influ ncia familiar das tias relacionado aos processos de identifica o social e tamb m o desejo expl cito de cuidar do outro uma forma de encontrar a realiza o profissional Optei pelo curso n o por gostar sempre fui da rea administrativa Quando enfrentei a doen a do meu pai com muitas dificuldades passei muito tempo dentro 109 do Hospital este processo me incentivou a escolher ser enfermeira Estar tanto tempo no interior do hospital me fez ver a necessidade de ajudar as pessoas Foi durante o curso que me apaixonei pela profiss o Hoje ganhando menos do que poderia ganhar na rea administrativa mas vejo um ganho muito maior que o da realiza o profissional que me d energia para seguir em frente assumindo como coordenadora a equipe de Sa de da Fam lia uma responsabilidade que sempre muito grande Sandra Enfermeira coordenadora ESF A realiza o profissional mesclada com essa ajuda que identificada no sentido de contribuir de cuidar do outro esse cuidar do outro compreendida por estudos como uma atividade relacionada mulher enfermeira Esse cuidar relacionado com a possibilidade de garantir a qualidade de vida especialmente a vida de pessoas mais carentes esse um dos principais motivos que levam a esta escolha profissional Essa escol
155. ens e mulheres fazendo com que se mantenha e seja aceito porque ele n o pesa s como uma for a que diz n o mas que de fato ele permeia produz coisas induz ao prazer forma saber produz discurso Deve se consider lo 75 como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma inst ncia negativa que tem por fun o reprimir FOUCAULT 2000 p 8 A partir do s culo XVI identifica se o conflito conjugal onde jamais seria reconhecido o erro do marido perante a esposa O saber masculino foi cada vez mais oficializado sendo que a mulher n o poderia frequentar a universidade exemplo da situa o das mulheres europ ias O saber feminino era visto ent o como anticient fico tanto que na Inglaterra na forma de lei restringiu se nobreza o direito das mulheres de lerem a B blia privadamente as mulheres da burguesia mercante s podiam l la na presen a dos homens enquanto que as pessoas do povo estavam inteiramente privadas desse direito VARIKAS 2003 p 178 Ainda neste s culo um novo comportamento vai marcar as rela es da mulher no espa o social e familiar a import ncia da idade aparece com o seu registro nos documentos no nascimento das crian as modificando a imagem que sempre existiu sobre mulheres e crian as Badinter 1985 analisa que estas eram consideradas como seres inferiores sendo os homens a imagem de Deus Esta concep o estava posta na ideologia crist vendo o ho
156. ens e mulheres no processo de trabalho Em minha percep o a situa o se dava possivelmente em decorr ncia de um saber m dico que se entendia n o ser compartilhado pelas enfermeiras em fun o da compreens o hist rica sobre esta profiss o A trajet ria da enfermagem apresenta estigmas ou estere tipos embora datados que podem ter sido refor ados pelo fato de ser uma profiss o que envolve atividades manuais eminentemente portanto um trabalho sem valor social Evidenciando o trabalho relativo a homens e mulheres estabelecendo claramente a diferen a de valores para o masculino e o feminino Sacks 1979 analisa esta quest o ao referir se ao trabalho dom stico como n o sendo considerado verdadeiro por n o ter valor de troca A minha observa o cotidiana demonstrava que naquela esfera de rela es os m dicos acabavam por utilizar se de estrat gias baseadas no poder que seu conhecimento respaldava conquistando espa os naquele cen rio Por outro lado as enfermeiras em maior n mero pareciam ter a possibilidade de controlar a gama de informa es sobre as rotinas e o cotidiano resultando num constante conflito pelo poder no estabelecimento das regras e da organiza o Algum tempo depois em Curitiba contratada como assistente social de um centro de reabilita o cr nio facial numa Unidade da Secretaria de Estado da Sa de foi poss vel perceber que mais uma vez para alguns profissionais da medicina o saber m dico p
157. entanto consideramos que atrav s deste estudo estamos colaborando para evidenciar a necessidade de se repensar as rela es de trabalho na ESF A disserta o responde as quest es iniciais que inspiraram a investiga o Permite ao final problematizar a necessidade de preparar pessoas capazes de atuar como formadores de processos de mudan a em seus espa os de trabalho tenta desta forma contribuir para o redirecionamento das rela es de g nero no bojo da equipe de sa de tornando se como um desafio na humaniza o destas rela es no trabalho 161 REFER NCIAS ALMEIDA M rcio Jos de Ensino m dico e o perfil do profissional de sa de para o s culo XXI Tema do Painel de Debate promovido em agosto de 1997 pelas disciplinas de Pedagogia M dica e Did tica Especial dos Cursos de P s Gradua o da Faculdade de Medicina de Botucatu UNESP Dispon vel em lt http www interface org br revista4 debates 1 pdf gt Acesso em 06 maio 2006 ANDERSON Gwen W MONSEN Rita Black RORTY Mary Varney Enfermagem e gen tica uma cr tica feminista rumo ao trabalho em equipes transdisciplinares Rev Estud Fem Florian polis v 14 n 2 2006 Dispon vel em lt http Awww scielo br scielo php script sci arttext amp pid S0104026X2006000200006 amp Ing en amp nrm iso gt Acesso em 01 Set 2008 ARA JO Clara Scalon Celi orgs G nero fam lia e trabalho no Brasil Rio de Janeiro Editora FGV 2005 ARIES Philip
158. entido de contribuir para a compreens o do direito constitucional sa de de forma universal integral e equ nime que parte de um conjunto de direitos chamados de direitos sociais que t m como inspira o o valor da igualdade entre as pessoas 28 1 O ARTESANATO INTELECTUAL COMO POSSIBILIDADE DA PESQUISA SOCIOLOGICA 1 1 CONSTRU O DO PROBLEMA As estrat gias para desenvolver as etapas metodol gicas que propiciaram atingir os objetivos desse estudo evidenciam o que a metodologia da pesquisa sociol gica em sa de aponta segundo as id ias de Mills 1965 que o pesquisador parte fundamental do objeto de investiga o Tamb m indica que o m todo e a metodologia utilizados n o t m apenas um car ter instrumental mas que ao assumir o artesanato intelectual m todo e metodologia constituem se tamb m em formas de conhecimento pontos de partida e chegada que auxiliem na representa o que ele constr i do seu objeto de pesquisa Quando o autor fala sobre a o Artesanato intelectual se refere ao dom nio de todas as etapas do processo do conhecimento seja defini o de temas organiza o do arquivo exposi o do resultado por parte de quem realiza a pesquisa Esta atitude cria condi es para o conhecimento da realidade libera a imagina o sociol gica tornando a perme vel a novas quest es e possibilidades de respostas Seguir as orienta es de Mills implica em que o pesquisador tamb m saiba articular
159. entos derivados de padr es cient ficos e n o em particularidades seu trabalho era focado na compet ncia t cnica eram objetivos n o era permitido o envolvimento emocional na rela o com o paciente nenhuma possibilidade da exist ncia da subjetividade nesta rela o Uma rela o posta na institui o m dica doen a e n o m dico paciente assim o m dico representaria a ordem m dica e ao doente caberia adequar a sua queixa cientificidade do discurso m dico Para Foucault 2000 esta constru o de saber cient fico acaba por produzir verdades inquestion veis internalizadas pela sociedade que por sua vez acabam por legitimar rela es de poder m ltiplas que atravessam caracterizam e constituem o corpo social e que estas rela es de poder n o podem dissociar se estabelecer nem funcionar sem uma produ o e um funcionamento do discurso FOUCAULT 2000 p 179 66 Assim analisar as rela es de poder no cotidiano da ESF entre m dicos e enfermeiras significa refletir sobre a desigualdade entre homem e mulher como nos fala Vila apud Rodhen As mulheres s o feitas para a fam lia e n o podem se envolver em estudos intensivos como fazem os homens Nesse modelo de complementaridade sua empatia natural e sua do ura representam a base das virtudes sociais Elas precisam ent o respeitar essa ordena o natural para preservar a sua sa de manter a ordem social e garantir o lugar privilegiado q
160. er o papel de m dico s para dizer que o m dico est indo l se n o h as co especialidades para te ajudar O trabalho looongo At a nova regra do pacto de sa de sobre a ESF tem 138 algumas coisa que precisam ser mudadas Mas vamos ver se vai mudar s vai depender da gente Guilhermo M dico O trabalho em equipe gera a visibilidade sobre o indiv duo a fam lia e a popula o As informa es e os conhecimentos consegiientes das visitas domiciliares e consultas devem ser compartilhados e problematizados dentro da equipe A vis o interdisciplinar sobre um determinado fen meno pode propiciar trazer a humaniza o para as pr ticas cotidianas viabilizando um dos objetivos previstos para a ESF que a resolubilidade dos problemas apresentados pela popula o Esta conson ncia de a es e trocas est patente na fala a seguir Para o trabalho em equipe n o acho que papel apenas do m dico se especializar nesse programa Acho que todo mundo que est envolvido no SF tem que fazer isso O que eu quero dizer que as equipes t m que se especializar sim do m dico at o ACS imagina uma equipe em que todos estudam aquilo falam a mesma l ngua Olha que respaldo que a popula o vai ter disso uma equipe toda em sintonia todos os profissionais com o mesmo discurso esse que o objetivo Fabr cio M dico Minha equipe uma exce o regra temos uma enfermeira que coordena os
161. erificamos que n o houve intimida o pelo fato de 13 Abrindo assim espa os de produ o de di logo junto comunidade de reflex o problematiza o possibilita a constru o de uma rela o de co responsabilidade favorecendo formas mais humanas e efetivas do processo de trabalho em sa de BORGES JAPUR 2008 p 70 Tendo em vista atingir n o s os usu rios como os profissionais garantindo a constru o de uma nova forma de fazer sa de comprometida com o projeto democr tico do SUS 14 MP3 Tecnologia que permite gravar voz para palestras aulas e entrevistas a compress o de arquivos sonoros com qualidade digital muito pr xima de um CD Sua capacidade de compacta o pode chegar rela o 12 para um sem preju zo da qualidade sonora 37 realizarmos esta grava o Os di logos foram baseados em quest es semi estruturadas elaboradas com foco nos objetivos propostos nesse estudo Na sequ ncia cada entrevista passou pelo processo de digitaliza o cr tica categoriza o e an lise 1 3 2 Os sujeitos da pesquisa O quadro explicativo a seguir apresenta informa es gerais para identificar os profissionais pesquisados sem alus o a dados espec ficos e particulares Os nomes dos sujeitos da pesquisa s o fict cios escolhidos de forma totalmente aleat ria TABELA 4 IDENTIFICA O DOS PROFISSIONAIS ENTREVISTADOS Tempo na Nome Idade Forma o tempo Local de
162. erminadas coisas A situa o de entrevista foi um dos momentos mais importantes dessa trajet ria desvelou muitas informa es para a elabora o dessa disserta o A cada encontro um novo mundo se abria evidenciando concep es de vida e trabalho diferentes e s vezes t o iguais com relatos t o apaixonados e outros t o envoltos em decep es e ansiedades que aquele cen rio contempla 1 3 3 As entrevistas A complexidade cada vez maior da realidade social exigem que se busquem estrat gias metodol gicas que viabilizem a maior compreens o dos fen menos estudados Assim tendo em vista esta compreens o sobre o objeto deste estudo que a pesquisa de campo foi realizada de modo a pontuar que a inten o dos investigadores em ci ncias sociais n o principalmente descrever mas sim compreender E com vista a este esfor o de 39 compreens o que lhes ser necess rio recolher dados QUIVY CAPENHOUDT 1992 p 41 Para tanto faz se necess rio compreender o m todo que permitiu a realiza o da pesquisa entender o m todo significa conhecer o caminho a ser percorrido Para Botom 1997 o pesquisador precisa desenvolver comportamentos que permitam delimitar um problema de pesquisa cient fica e assim delinear um m todo para obter dados que contribuir o para resolver o problema constru do Optamos pela pesquisa qualitativa pelo fato de que ela permite construir categorias de an lise possibilitando a colet
163. ermos s o utilizados ora como sin nimos ora como contraposi o onde ele questiona se existem diferentes compreens es acerca dessas concep es se podem ser mantidas como sin nimos na realidade brasileira e ainda se a Sa de da Fam lia sofre influ ncias da superposi o desses conceitos ou diferentes interpreta es sobre Aten o Prim ria Sa de p 1172 O PSF deixa de ser um programa operacional da pol tica p blica de sa de que focalizava a aten o b sica em popula es exclu das dos servi os de sa de passando a ser identificada como uma estrat gia de mudan a do modelo de aten o sa de no pa s O PSF passou a ser compreendido a partir de 2005 como uma estrat gia que tinha como objetivo mudar o modelo assistencial deixando de ser apenas programa em decorr ncia da din mica que estava inserida a Sa de da Fam lia no Brasil Nesta condi o a ESF passa a atuar como instrumento de uma pol tica de universaliza o da Aten o B sica propondo a reorganiza o do processo de trabalho em sa de TEIXEIRA 2003 Nesse contexto de defini es e ambigiiidades sobre essa terminologia com base na observa o de como o MS define as a es em rela o Sa de da Fam lia utilizaremos os termos Estrat gia de Sa de da Fam lia e Aten o B sica no decorrer desta disserta o Partindo do entendimento que independente da conceitua o o que se faz necess rio garantir uma gest o p blica c
164. erpetua o no ser da posi o social que ocupam seus antecessores Sendo assim as trajet rias n o s o individuais referem se ao meio social e podem significar ascens o ou n o Trajet rias como forma de explicar de contar fatos comportamentos necessidades e aspira es dos sujeitos BOURDIEU 2001 4 1 Escolhas e percep es Nas falas abaixo a an lise dos relatos sobre os caminhos que conduziram ao trabalho em sa de o significado que diz respeito s pr ticas de cuidado no meio familiar e que se engendram por meio do modo como cada indiv duo faz seu caminho de inser o no campo da ESF Eu nunca imaginei que fosse fazer faculdade na rea da sa de eu quero uma coisa mais pr tica uma coisa que eu v mexer com pessoas e n o ficar lendo decorando leis E ai eu comecei a ver na rea da sa de que profiss o que eu iria escolher Comecei estudar as profiss es na rea da sa de a 1 que vem na cabe a sempre a medicina mas n o quis estudar 6 anos me dei conta que direito iria me exigir muito a segunda profiss o que veio foi a enfermagem como tinha tias enfermeiras isso contribuiu um pouco pra eu escolher essa profiss o Quando eu percebi como era o trabalho da enfermeira que era o cuidar do outro me apaixonei me encantei E isso que eu quero fazer eu n o constru isso ao longo da minha inf ncia e adolesc ncia foi de uma hora para a outra Carla Enfermeira T
165. ervi os centrados anteriormente no ambiente hospitalar O Minist rio da Sa de tendo em vista atender a popula o cada vez mais crescente incentiva experi ncias de promo o da sa de e preven o de agravos valorizando interven es da popula o incentivando nos atendimentos a cultura do saber fazer e os cuidados individuais e coletivos com a sa de Surge uma nova perspectiva para a sa de que n o mais uma quest o imbricada ao saber m dico mas principalmente pol tica onde v rios saberes diversos se confrontam complementando se e influenciando no espa o social da sa de Considerando o contexto das mudan as demogr ficas e sociais ocorridas nas ltimas d cadas poss vel identificar que por causa delas as pol ticas e programas recuperam a tica da segmenta o e a focaliza o de problemas ou voltam se para determinadas modalidades de assist ncia ou de clientela Ferindo respectivamente os princ pios da equidade e da integralidade como situa es exemplares desse cen rio o Minist rio da Sa de tem adotado pol ticas voltadas prioritariamente s a es b sicas de sa de ou mesmo programas focalizados nem sempre direcionados Essas a es da Aten o B sica visam o encontro com a popula o acontecendo pela emerg ncia da doen a que resulta na disputa pelo acesso ao atendimento individual Momento cr tico da rela o onde o acolhimento de suma import ncia dado que a busca orientada pelo
166. es de g nero est imbricada ao poder em virtude de que as rela es entre homens e mulheres podem ser vistas como rela es desiguais assim tricas Possivelmente a mulher subjugada ao homem que est situado numa sociedade de base patriarcal onde a organiza o da sociedade feita atrav s do dom nio masculino na estrutura p blica e privada constru da a partir de um modelo masculino de domina o embora atualmente alguns espa os de rela es sociais se encontrem matizados Ao mesmo tempo no meio a evolu o da sociedade sente se que necess rio diariamente reivindicar a import ncia de se discutir as rela es entre homens e mulheres como ocorre a divis o sexual do trabalho de onde surgem as regras de conv vio social entre homens e mulheres de gera o para gera o E assim pensar na desigualdade de g nero existente nessas rela es nesse estudo implica pensar sobre a pol tica p blica de aten o sa de pensar sobre a garantia dos direitos humanos dos direitos sa de que no caso espec fico independente de todos esses avan os da ci ncia e tecnologia ainda permanece no campo do discurso do projeto Com a possibilidade da participa o popular a partir de 1988 prevista no texto constitucional processos de decis o supondo uma rela o dial gica havia um discurso que envolvia essa dialogicidade entre os profissionais de sa de com o paciente e a sociedade visando a desconstru o de uma ideologi
167. es existentes no sentido de garantir que todo cidad o brasileiro igual perante o Sistema nico de Sa de sendo atendido de acordo com as suas necessidades Os servi os de sa de devem considerar que em cada popula o existem grupos que vivem de forma diferente tendo problemas espec ficos apresentam modos diferentes de viver de adoecer O SUS n o pode oferecer o mesmo atendimento todas as pessoas da mesma maneira em todos os lugares Dessa forma algumas pessoas v o ter o que n o necessitam e outras n o ser o atendidas naquilo que necessitam 2 O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a rela o dial gica em que se confirma como inquieta o e curiosidade como inconclus o em permanente movimento da Hist ria FREIRE 2005 p 136 A rela o dial gica representa uma reciprocidade a busca da compreens o do pensamento Parte da id ia 53 pela conscientiza o uma das fundamentais tarefas de uma educa o realmente libertadora FREIRE 1986 p 37 Uma educa o com vistas ao respeito do ser humano como pessoa permitindo que a sociedade tivesse acesso informa o de sua sa de e de seus direitos na organiza o desse sistema de atendimento impondo com esta pr tica uma mudan a incontest vel na forma de ocultar processos ou de valorizar pr ticas culturais n o aceitas institucionalmente A Constitui o Federal garantindo a universalidade do atendimento em sa de aumentou os s
168. es que foram queimadas e torturadas at contarem os seus segredos quando curavam os doentes BADINTER 1986 A doen a era relacionada ao mist rio ao natural devendo ser dominada pelo dono da natureza o homem A cura pertencia ao dominio masculino que atribuia poder uma profiss o para homens vedada s mulheres at o final do s culo XIX assim ao m dico foi atribu do legitimamente o poder da cura BOLTANSKI 1989 Da a figura da mulher m e assumindo um novo status a nova m e que se sente respons vel pela sa de do filho surgindo uma nova rela o onde a m e ao realizar uma esp cie de pacto com o m dico que a v como sua interlocutora enfermeira assistente e executiva BADINTER 1985 p 21 exatamente esta hist ria que est posta no s culo XIX respeitada a temporalidade que nos permite pensar se o papel que hoje o m dico na Sa de da Familia parece assumir est referendado ao papel que j assumiu de conselheiro da fam lia e da m e No s culo XIX o campo de a o da medicina foi ampliado originando o trabalho m dico no meio familiar enfrentando a autoridade do pai e saberes cotidianos maternos neste contexto o m dico tentava diminuir a mortalidade infantil Iniciando assim todo um trabalho 8 Varikas refere se a esta hist ria relacionada a uma cumplicidade que une poderes reformados e cat licos na den ncia do imp rio monstruoso das mulheres em geral e da bruxaria e
169. espa os de trabalho elas acabam por modificar concep es sobre sua habilidade capacidade din mica social que facilmente nas pr ticas de g nero s o pensadas como incapacidades para o feminino O que acontece com estas enfermeiras quando est o nessa din mica de um trabalho que tenciona se politizado do ponto de vista da cidadania e do investimento que ele precisa para construir e reverter se em a es de ordem organizacional produtiva Estrategicamente montadas para organizar um servi o que p blico dinamizado pelo trabalho da equipe e construtor de v nculos com a sociedade Elas j trazem para dentro da categoria cuidado um conte do pol tico onde n o cabe esteri tipos do tipo s o incapazes teoricamente estabanadas fracas emocionalmente inst veis ou serviriam melhor para trabalhos caseiros situa es tantas vezes utilizadas em ambiente de trabalho e que hoje poderiam ser consideradas em processo de ass dio moral Ao exercer essas fun es n o estariam posicionando essa pr pria profiss o na fun o do ensino do lugar da cidadania das constru es culturais novas principalmente quando se orientam para pr ticas de integra o organiza o e produ o de conhecimento sobre esse tipo de trabalho A quest o de desmistifica o de pr ticas ligadas sa de e em muitos casos ligados a quest es de g nero influi no trabalho das enfermeiras por estarem presentes ao lado do doente tornam se emocionalmente ligadas
170. essa forma faz pensar na politiza o em termos dos direitos sociais e pol ticos dos envolvidos sejam eles agentes ou fam lia j que tamb m as a es s o prioritariamente dirigidas s mulheres em suas casas Nesse contexto questionamos como homens e mulheres que obtiveram forma o em situa es t o diferentes chegaram ESF e por que ocupam esses lugares e essas fun es Quando se pensa no conceito de cuidado sa de h menos de cingiienta anos atr s o diagn stico e a cura eram tidos como atribui es espec ficas do m dico Com o desenvolvimento da sa de p blica a mulher enfermeira projeta se para o interior do mundo das profiss es emergentes do s culo XX assumindo pap is antes reservados aos homens garantindo assim desde o fim do s culo XIX espa os efetivos para a entrada da mulher no mercado de trabalho o que veio a contribuir com um maior reconhecimento p blico s enfermeiras Mulheres que se interessaram inicialmente pela medicina e enfrentaram tanto na Europa como no Brasil esse mundo masculino acabaram por abrir o campo participa o profissional feminina As enfermeiras por sua vez chegaram n o s dispostas a enfrentar as hostilidades dos m dicos mas principalmente dispostas a demarcar um territ rio de decis es e atua o que n o fosse tutelado pela profiss o m dica FARIA 2006 p 179 Faria demonstra que na Am rica Latina a urbaniza o e todo o processo de moderniza o e
171. exibiliza o e a hierarquiza o das atividades no cotidiano da equipe de sa de para conhecer que tipo de pr ticas elas expressam no que tange divis o sexual do trabalho compreender como se constitui historicamente e no cotidiano o conte do das a es de m dicos e enfermeiras e se as concep es sobre o cuidado e o conte do dessas a es s o demarcadas por alguma ordem simb lica associada a rela es desiguais de poder gerando dificuldades pr pria proposta da interdisciplinaridade Para tanto desenvolve se e articula se metodologia dessa disserta o algumas hip teses de trabalho que partem do pressuposto que o poder faz parte de uma gama de rela es organizadas e hierarquizadas poss vel ent o perceber que embutido no discurso de interdisciplinaridade pode existir uma rela o de poder e subordina o pautadas por rela es assim tricas de g nero A segunda hip tese problematiza se o significado do trabalho da enfermeira faz parte de uma realidade de g nero que se constitui a partir do entendimento de que ser mulher significa estar pronta para o ato de cuidar ao contr rio do que se espera do m dico cuja tarefa se vincula ao conhecimento A terceira hip tese a de que apesar de alguns contextos e exig ncias de trabalho terem se modificado n o significa que n o continuem a existir rela es de poder desigualdades e concep es naturalizadas sobre o trabalho de m dicos e enfermeiras que se expressaria
172. feminina mesmo nas rela es mais ntimas e cotidianas 100 Flax 1994 refere se ao feminismo como uma forma de filosofia p s moderna na tentativa de enfrentar situa es como citadas por Scott junto s entidades de classe a exemplo dos sindicatos que dificultavam e mesmo impediam a participa o da mulher quando obrigavam as mulheres que desejassem tomar a palavra nas reuni es a trazerem uma autoriza o escrita dos seus maridos ou pais SCOTT 1991 p 465 No trabalho em sa de essa dicotomia ser visibilizada nas concep es entre a enfermagem e o doutor De onde a desnaturaliza o da categoria cuidado se faz imprescind vel 3 1 3 O Cuidado O cuidado somente surge quando a exist ncia de algu m tem import ncia para mim Passo ent o a dedicar me a ele Disponho me a participar de seu destino de suas buscas de seu sofrimento e de seus sucessos enfim de sua vida Cuidado significa desvelo solicitude dilig ncia zelo aten o bom trato Como diz amos estamos diante de uma atitude fundamental de um modo de ser mediante o qual a pessoa sai de si e centra se no outro com desvelo e solicitude BOFF 1999 p 91 O cuidado com algu m faz parte da esp cie humana e no processo de garantia de vida nasce do interesse da preocupa o e do carinho que implicam ajudar algu m a sobreviver a garantir sa de Uma caracter stica humana Cuidar relacionado ao comportamento que envolve conhecimento valor habilid
173. forma como o indiv duo entende a sua enfermidade O ensino m dico deve tentar promover uma forma o cl nica e humana Baseado nos princ pios da ESF o m dico deveria ter o compromisso com o seu trabalho tendo a clareza que deve trabalhar o dia todo naquela unidade sendo que o v nculo com equipe fundamental Esse discurso tem criado situa es de conflito N o esta clara a defini o de trabalho em equipe no SF se verifica a urg ncia no trabalho feito em parceria mas poucos profissionais est o realmente preparados para a a o em equipe No caso dos m dicos ainda um descuido em rela o responsabilidade coletiva no produto final do SF gerando assim uma grande descontinuidade entre as a es da equipe Precisamos saber aproveitar esse espa o da equipe assumir o compromisso com a popula o ou repetiremos o modelo anterior Francisco M dico A respeito do discurso sobre o m dico n o saber trabalhar em equipe acentua se a id ia de que ensinar a trabalhar em equipe faz parte de uma forma o extremamente necess ria para o campo da medicina Discute a rela o entre uma concep o de doen a mais cultural uma forma o b sica para que n o se aprenda o trabalho em equipe atrav s do conflito Trabalhar em equipe requer a constru o coletiva em rela o a ger ncia do cuidado prestado pela ESF que representa a intera o de toda a equipe Discurso sobre o m dico n o saber trabalhar em equi
174. ha como forma de ser til junto de pessoas que sofrem ou na sua pr pria doen a ou na doen a de familiares ou amigos Esse discurso uma constante no cotidiano das mulheres que escolhem o curso de enfermagem como se o profissional de enfermagem fosse ligado a um estere tipo mulher enfermeira exposta a um cotidiano assistencial pronto para ser organizado e pensado pela enfermagem Parece nos que aqui est um dos cernes das quest es que levantamos em nossas hip teses Assim como se as rela es entre homens e mulheres pudessem ser vividas e pensadas enquanto rela es entre o que definido como masculino e feminino os g neros Neste sentido a divis o sexual do trabalho um dos muitos l cus das rela es de g nero Lobo 1991 p 11 nesse contexto e concep es As entrevistadas demarcam a realiza o profissional com a satisfa o pessoal essa energia que move seu trabalho como se tivessem uma voca o o trabalho como uma miss o Assim como por acreditarem que h uma responsabilidade em ser assumida que de garantir a qualidade de assist ncia popula o Trabalhava como instrumentadora cir rgica mas foi a morte da minha irm que me fez rever a profiss o e fazer enfermagem Ver o sofrimento de perto me fez refletir sobre a necessidade de ajudar as pessoas de cuidar e de garantir acolhimento nessa hora t o dif cil da doen a A gente v pessoas doentes morrendo Senti von
175. ho interdisciplinar mas tamb m parece surgir uma preocupa o com o desenvolvimento do trabalho em equipe pensando na necessidade de planejar e avaliar as a es desenvolvidas verificando se est o atendendo s necessidades da popula o Essas atitudes n o sinalizam efetivamente que est ocorrendo uma mudan a radical no trabalho da ESF no entanto delineia certa reflex o entre os membros da equipe em rela o s percep es sobre a sua pr pria pr tica Buscando assim estabelecer uma rela o dial gica na unidade de sa de tendo como objetivo contribuir para a supera o de rela es hierarquizadas de g nero em que os profissionais n o sabem respeitar o espa o de trabalho de seus colegas por partirem do senso comum posto nas rela es entre homens e mulheres Buscando conhecer as potencialidades de cada profissional evitando reproduzir dessa forma a divis o sexual do trabalho resignificando as rela es de mando e autoridade Procuro conhecer cada membro da minha equipe valorizar seu trabalho reconhecer suas necessidades dar apoio em momentos decisivos garantir que tenham seus direitos respeitados entre outros Esse apoio constante fundamental para o sucesso da equipe voc precisa reconhecer o ser humano que est ali com voc Sandra Enfermeira coordenadora ESF Aqui as atividades da enfermeira na equipe de sa de da fam lia implicam em relacionar os fatores sociais econ micos cultura
176. ia A condi o feminina era inferiorizada na rela o familiar mantendo este padr o como modelo para a fam lia Esta forma de posicionar a mulher atingia o objetivo de mant la numa condi o inferiorizada ao homem PATEMAN 1993 O modelo familiar mais referendado at poucos anos pontua que as fam lias passaram a se isolar cada vez mais no interior das casas e a educa o das crian as ficaria toda sob a responsabilidade dos pais BRUSCHINI 2000 p 52 A mulher passou a assumir pap is sociais direcionados para os assuntos internos da fam lia sendo a esposa a dona de casa e sobretudo a m e Essa fam lia de modelo patriarcal da qual comentamos foi vista como alicerce para uma sociedade civilizada RODHEN 2003 Ainda no s culo XVIII a fam lia passa a ser considerada um lugar de vigil ncia e disciplina para o controle da popula o FOUCAULT 2000 O autor ressalta que a fam lia passa a ter um car ter de instrumento evidente nas campanhas de sa de tais como controle da mortalidade e da natalidade campanhas relativas aos casamentos campanhas de vacina o visando a manter a normatividade nos comportamentos minimizando riscos aumentando a seguran a e a ordem social sobre isso que vai falar Rousseau 2004 em sua obra Em lio quando garante a exclus o das mulheres no processo de aquisi o da educa o baseada na raz o garantindo dessa forma a soberania masculina que se perpetua em todos os seguimentos da
177. iais dos homens Evidencia a necessidade de questionar o cuidado e as formas de cuidar inseridas nas institui es pol ticas e sociais em nossa sociedade por que o cuidar enfatiza liga es concretas com outras pessoas evoca muito da ess ncia di ria das vidas das mulheres e representa uma critica fundamental teoria moral abstrata pois surgindo muitas vezes como aparentemente irrelevante para ela entretanto um tema digno de s ria aten o por parte dos as te ricos as feministas TRONTO 1997 p 201 106 Mediante isso a abordagem feminista sobre o cuidado mostra a necessidade de ampliar a compreens o do que significa cuidar de outros revendo as quest es morais igualmente reestruturar institui es pol ticas e sociais no sentido de que o cuidar de outros pode significar uma parte fundamental das vidas de todo mundo na sociedade Tronto assevera que o cuidar est profundamente ligado a circunst ncias particulares circunst ncias particulares que demandam ser problematizadas em rela o a forma como s o socialmente constru das 107 4 TRAJET RIAS PROFISSIONAIS AMBIGUIDADES DA PR TICA No conjunto deste trabalho o cap tulo que aqui se apresenta tem por objetivo compreender a narrativa dos sujeitos da pesquisa evidenciando os caminhos que os conduziram ao trabalho na rea da sa de especificamente na ESF Faz se a exposi o dessa maneira procurando visibilizar esses profissionais atrav s de
178. ias Essa equipe idealizada parte da concep o de que existe uma insatisfa o por parte dos pesquisados demonstrando uma total desprepara o na forma o profissional para garantir o processo de integra o O resultado desta forma o inadequada o que se verifica no cotidiano das equipes da ESF apesar de m dicos e enfermeiras trabalharem juntos 142 diariamente parece que as suas a es n o correspondem ao que preconiza ao ESF Isto porque estes profissionais pouco se falam quase n o h intera o e as pr ticas de promo o e preven o da sa de ficam perdidas no discurso vazio por serem extremamente fragmentadas O cotidiano desvela que alguns destes profissionais entrevistados para este estudo no caso as enfermeiras est o sendo sobrecarregadas porque provavelmente alguns profissionais da equipe n o realizam as tarefas por entenderem que a responsabilidade do outro profissional e n o sua 4 6 M dicos e enfermeiras na ESF concep es sobre o cuidado e o conte do das a es no cotidiano O trabalho em equipe exige a intera o e a troca de saberes abrindo a possibilidade para que cada profissional utilize a sua compet ncia e criatividade nas a es do cotidiano para que juntos realizem a produ o do cuidado No entanto o dia a dia na ESF apresenta uma outra faceta evidenciando que nem sempre as parcerias que deveriam ocorrer para garantir o cuidado e a aten o em sa de da popula o se efeti
179. ico de subsist ncia SCOTT 1991 p 475 95 Concep es como essas foram produzidas gerando s rios problemas te ricos que definiam todas as mulheres como iguais acentuando se assim as diferen as entre homens e mulheres Dessa forma o sexo era tido como a nica raz o para as diferen as entre homens e mulheres interferindo na hist ria da separa o entre o lar e o trabalho selecionando e organizando a informa o de modo a obter um efeito que sublinha as diferen as biol gicas e funcionais entre homens e mulheres Essa concep o sobre a diferen a legitimada e institucionalizada como base para a organiza o social Scott 1991 analisa os processos discursivos que constru ram a divis o sexual do trabalho referindo se a identifica o do trabalho feminino com certo tipo de emprego e como m o de obra barata discurso formalizado e institucionalizado de v rias maneiras no s culo XIX As teorias pol ticas as teorias econ micas m dicas sindicais produziram fatos que n o existiam objetivamente ou seja a legisla o assegurava que as mulheres eram dependentes e que as assalariadas eram um grupo ins lito e vulner vel em certos tipos de empregos Por outro lado a concep o de trabalho para os homens e mulheres tinha conota es muito diferentes a exemplo disso o trabalho para os homens representava independ ncia e identidade pessoal enquanto que para as mulheres era tomado como um dever para com os outros Enquan
180. ida em que a atende atrav s da territorializa o do cadastramento das fam lias atrav s do planejamento realizado a partir deste contexto para ent o atuar de acordo com as necessidades dessa popula o contando com a equipe e os recursos necess rios e cab veis de infra estrutura No entanto a constru o do trabalho pela via da interdisciplinaridade ainda se faz com muitos desafios isso significa assumir novas posturas em rela o s pr ticas em sa de Significa acreditar na for a da equipe e romper com as rela es hierarquizadas rever as especialidades que acabam por fragmentar o trabalho mas tamb m os indiv duos Quando falamos em fragmenta o estamos nos referindo ao atendimento em sa de que v a doen a nos seres humanos ainda na perspectiva da especializa o como se f ssemos cora o f gado joelho cabe a Na maioria das vezes n o h uma vis o hol stica n o se compreende o todo para cuidar das partes Muitos profissionais da sa de ainda desenvolvem seu trabalho de maneira extremamente dicot mica A ESF prop e divis o de tarefas a valoriza o e distribui o partilhada de saberes representa a busca da resolubilidade atrav s do trabalho realizado por todos N o adianta nada fazer uma visita domiciliar a um paciente acamado se voc n o tem um psic logo para fazer um acompanhamento um fisioterapeuta para fazer uma fisioterapia o paciente n o vai evoluir N o adianta voc ir l faz
181. idade do m dico como aquele que cura que soluciona os problemas de sa de doen a Madel Luz 1988 refere se ao surgimento de uma racionalidade an tomo cl nica que vem organizando o que se apresenta como diferente na doen a de cada indiv duo como um modelo explicativo articulando o olhar linguagem investigando e descobrindo que n o exclui a interpreta o dos sintomas ou n o em signos de doen a buscando o diagn stico A ci ncia moderna exige do m dico uma mudan a constante tendo em vista deslocar o conhecimento da arte de curar pessoas para o entendimento das doen as passando a representar para este no seu cotidiano um conflito entre o indiv duo que realiza a cura e o cientista da doen a O cientista busca o universal atrav s da objetiva o da doen a enquanto que o artes o da cura busca o entendimento dos dados Analisa a import ncia dos fatos corriqueiros na cl nica referindo a um conhecimento constru do a partir da experi ncia ao diagnosticar e tratar in meros pacientes assim este saber fazer construindo alguns mitos ao redor da figura desse profissional Por conta disso poss vel que essa imagem ainda seja mantida tamb m porque no interior da equipe ningu m assume uma postura problematizadora e cr tica Assim esse poder saber ainda legitimado nos discursos ou nos sil ncios que n o se submetem ao poder mas tamb m n o se op e a ele Um jogo complexo e inst vel como um instrumento de poder e tamb m
182. idente uma forma de chamar aten o do m dico para morar no interior Isso tem gerado muita rotatividade como os colegas referenciam fa o meu p de meia e vou embora fazer uma especializa o num centro maior Ent o o interesse pelo sal rio e n o pelo trabalho tem criado muitos problemas no SF n o existe o compromisso profissional esperado para o trabalho junto equipe Quando se falava na reforma sanit ria o ideal era o atendimento com qualidade para a popula o parece que o espa o pode estar sendo mercantilizado Francisco M dico Na exposi o deste entrevistado h evid ncia de uma concep o presente tamb m no senso comum de que ser m dico significa conjugar saber intelectual empreendedorismo e racionalismo e que possivelmente alguns m dicos valorizam a sua forma o porque consideram que esta forma o m dica exigiu muito investimento em tempo dinheiro leituras e estudos O cuidado em sa de ainda est relacionado classe m dica Um trabalho dividido aquele que faz e aquele que pensa Mas eu vejo que a sociedade que 35 Anos atr s discutindo com um colega m dico sobre a diferen a de posi o hier rquica entre m dicos e assistentes sociais na equipe interdisciplinar de sa de passei pela desconcertante experi ncia de ouvi lo dizer que M dicos sabem mais que assistentes sociais porque estudam muito mais do que elas Gastam muito mais tempo e dinheiro do que as ass
183. identificamos que existem 2 9 postos m dicos para cada mil habitantes Pontuando que o n mero de m dicos aumentou nos estabelecimentos de sa de p blicos e que este setor respons vel por 50 7 dos postos de trabalho de n vel superior Investigamos junto ao Conselho Federal de Medicina o n mero de m dicos inscritos no Brasil concluindo que este possui 331 655 m dicos inscritos sendo que 204 119 pertencem ao sexo masculino e 127 378 pertencem ao sexo feminino ou seja 38 4 dos profissionais inscritos s o do sexo feminino 33 Dado relevante para a nossa disserta o no sentido de que nos permite pensar o quanto este espa o tem se ampliado validando o que nos fala nossos pesquisados quando se referem a investirem na ESF em decorr ncia da valoriza o e abertura de campo de trabalho que vem ocorrendo nos ltimos anos Em termos de g nero a tabela abaixo desenha evid ncias importantes quando apresenta 23 871 enfermeiros dos quais 89 7 s o mulheres e 23 024 m dicos dos quais 72 8 s o homens TABELA 1 INDICADORES DE GEST O DO TRABALHO OCUPA ES INSERIDAS NOS SERVI OS DE SA DE BRASIL 2005 Ocupa es de Total de Propor o de ocupa es Ocupa es por sexo Sa de ocupa es vinculadas ao SUS Propor o de Propor o de mulheres homens Enfermeiro da 23 871 99 9 89 7 10 3 ESF M dico de Sa de da 23 024 99 9 27 2 72 8 Fam lia FONTE Indicadores de gest o do trabalho em sa de
184. iidade e oportunidades de emprego visando melhores condi es de moradia educa o sa de entre outros Precisa existir uma equipe diferenciada isso n o muito complicado N o tenho essa informa o do porque o governo restringir o n mero de profissionais Essa equipe m nima muito pouco para dar conta de tudo que se tem que fazer eu vejo como uma utopia sem capacita o peri dica dos profissionais com prec rias condi es de trabalho No munic pio que trabalho somente h pouco tempo recebemos um carro para o transporte dos profissionais em visitas Resolvi por causa disso para facilitar meu trabalho residir numa favela para ficar mais pr ximo da popula o que atendo William M dico A comunica o a intera o entre os profissionais deve fazer parte do exerc cio cotidiano segundo os entrevistados que consideram o trabalho em equipe movido por articula es que sup em trabalhos distintos que respeitam as interven es t cnicas de cada profissional Pela integra o da equipe onde deve estar patente a flexibiliza o das fronteiras entre as reas profissionais Nessa fala a evid ncia da disponibilidade por parte da equipe em entender o discurso das outras disciplinas onde os profissionais se despojam de seus conceitos que tantas vezes apresentam se corporativos e refrat rios a conv vio na equipe incentivando a comunica o e a rela o democratizada sem a presen a de desigualdades e hierarqu
185. ilizam na equipe Somente a partir de leituras das teorias de g nero algumas explica es come aram a delinear o caminho para este entendimento possibilitando levantar hip teses de que as dificuldades enfrentadas por profissionais na ESF poderiam deliberadamente estar relacionadas s quest es suscitadas pelos estudos de g nero Quest es que me permitiram pensar a constru o social de uma s rie de representa es sobre o masculino e o feminino e como se imbricam as diferen as entre sistemas de desigualdades no caso espec fico deste trabalho Tamb m se vincula a din mica do poder tal qual definido por Scott 1990 e como as hierarquiza es e o entendimento sobre o conte do das tarefas sobre quem deve execut las est o relacionadas as refer ncias simb licas que evocam com fregii ncia s mbolos culturalmente dispon veis mas contradit rios o que a autora bem lembra ao contrapor Eva e Maria Ao expressar os elementos que se referem a normaliza o das interpreta es simb licas presentes nas doutrinas religiosas educativas cient ficas pol ticas ou jur dicas que tomam a forma t pica de uma oposi o bin ria que afirma de maneira categ rica e sem equ vocos o sentido do masculino e do feminino Scott 1990 n o se refere apenas a g nero como uma constru o social a partir das diferen as percebidas entre os sexos mas aponta para a sua vincula o din mica de poder como um primeiro modo de dar significado s
186. im as rela es de poder v o se construindo no cotidiano sem que se fa a a reflex o ou a cr tica Assumidas individualmente como naturais e n o com a devida clareza com que deviam ser observadas relacionam se inteiramente com esta an lise apresentada por Fabr cio Isso eu acho que muita culpa da tend ncia que a medicina apresentou nos ltimos anos Antigamente o m dico de 50 anos atr s era um m dico generalista era um m dico que conhecia tudo atendia a fam lia todas as especialidades de um modo geral mas com o passar dos anos com a evolu o tecnol gica a medicina foi se especializando mais e mais Hoje em dia a gente conhece um m dico deus o cara deus porque o melhor do mundo em joelhos e s Ele s sabe isso Sim tem que existir essa especializa o mas n o significa que todo o mercado da medicina todo mundo que faz medicina tem que se preocupar nisso Fabr cio M dico importante que se valorize o conhecimento cient fico do m dico e da enfermeira para garantir que o paciente receba os cuidados com toda a implementa o das novas tecnologias mas a humaniza o deve estar presente Gabriel 1999 refere se a Pestre 1996 comentando que este conhecimento faz parte do mundo cient fico campo de socializa o forma o cultural e atua o profissional onde fundamental relacionar a produ o do conhecimento ao lado humano da ci ncia e suas descobertas A autora discorre s
187. inino por sua vez desempenhado por irm s e freiras s o destinadas ao ensino cuidado e preserva o da sa de Assim esta seletividade sexual caracterizada pelos valores sociais profissionais e por ltimo religiosos tende a uma estrutura o em grupos de a o e incorporar caracter sticas de organiza o e desenvolvimento tecnol gico no campo cient fico e tamb m de um desenvolvimento humano no campo social Essa associa o entre cuidado e mulher uma quest o de g nero que envolve percep es e pr ticas marcadas por uma clara divis o sexual das tarefas E n o se trata apenas do p blico e do privado mas do exerc cio das escolhas e das trajet rias de vida de homens e mulheres em rela o s suas carreiras s din micas profissionais ao lugar de inser o na renda familiar e muito especialmente da forma como se negociam e se organizam ou n o as atividades do mbito dom stico ou referido a ele Como as mulheres est o conciliando seu trabalho sua vida seus desejos com essas dimens es da organiza o 102 social cultural e dos estere tipos que as inser es reprodutivas da maternidade e do cuidado carregam continua sendo um grande desafio anal tico Fica muito aqu m do ide rio de igualdade de direitos entre os sexos mesmo se as crises econ micas a crise da institui o do homem provedor e das diferentes realidades sociais vinculadas mis ria e a pobreza tenham obrigado grande parte das mu
188. ionada a alguns tipos de trabalhos considerados femininos pr prios para serem realizados por elas porque est ligada a id ia de que ser mulher significa ter sido preparada para o ato de cuidar Nesses depoimentos desde o per odo de forma o est posto que o ato de cuidar est em sua 155 pr pria ess ncia ou seja a mulher n o precisa fregientar uma faculdade para assumir certas atividades que s o desenvolvidas no cuidado com as fam lias da ESF porque faz isso desde a sua inf ncia e esta concep o est no imagin rio social Quando analisamos a nova proposta do fazer profissional do m dico nota se a necessidade de se preocupar n o somente com a t cnica com o dom nio do saber cient fico mas na fala dos m dicos surge um novo desafio Ele diz respeito a exig ncia da ESF de se tornarem tamb m cuidadores humanizados que se preparam a rela o consigo e com a popula o exigindo lhe novos valores que requer qualidade capacidade de trabalhar em equipe onde o objetivo a promo o da sa de o bem fazer ao indiv duo fam lia o m nimo que se espera do m dico da ESF Isso tido de forma diferente pelo m dico formado h 20 anos atr s quando a escola formava o profissional numa tica curativa o que acaba reproduzindo por parte de alguns uma postura que compromete a atua o na equipe nos dias de hoje Na fala dos m dicos entrevistados indentifica se que em sua maioria receberam uma forma o diferenciad
189. is discutem o modelo assistencial o conceito de Aten o B sica aparece com mais frequ ncia GIL 2006 p 1178 O conceito de aten o b sica est relacionado aten o prim ria utilizado nos pa ses industrializados onde as a es em sa de eram classificadas por n veis de aten o variando conforme a sua complexidade Antes da cria o do Sistema nico de Sa de SUS o termo Aten o Prim ria Sa de referia se a organiza o de servi os como alternativa fundamental para a mudan a do modelo assistencial caracterizada mais como unidade servi o local avalia o da preven o da diabetes em uma unidade de aten o prim ria do que como servi os de mbito municipal estrat gia ou modelo de organiza o de servi os O atendimento em sa de era organizado em dois n veis de aten o os centros de sa de prim rios e os centros de sa de secund rios Foi na Confer ncia de Alma Ata realizada em 1978 que o termo aten o prim ria ganhou espa o especificando os elementos essenciais da sua organiza o STARFIELD 2002 Em 1996 a aten o prim ria validada pela Organiza o Mundial da Sa de OMS reafirmando o conjunto de princ pios que se referiam a valores de dignidade humana equidade solidariedade e tica profissional tendo em vista a promo o e a prote o da sa de A es em sa de centradas nas pessoas visando a qualidade e o financiamento sustent vel que permitisse a cobertura universa
190. is dos profissionais que coordena e n o apenas em lidar com as situa es de sa de e doen a da fam lia tendo em vista interagir com situa es que ap iem a integridade familiar Na enfermagem a gente aprende desde cedo o que o trabalho em equipe Na ESF isso muito mais forte a quest o interdisciplinar O m dico que trabalha comigo d uma escapada das visitas domiciliares mas s vezes eu acho que ele n o est acostumado com essa pr tica Acho que ele deixa de fazer coisas para se livrar do trabalho e me pede para fazer coisas Tem o aspecto da valoriza o da enfermagem A enfermeira na equipe uma refer ncia Carla Enfermeira A equipe ideal aquela que sempre est dispon vel Disposta a conviver tendo autonomia di logo aberto e em conson ncia com os princ pios do PSF Avalia o das a es frequente assim como defini o de espa o de cada profissional Todos devem ser valorizados valorizar o saber de cada um Jo o M dico O trabalho em equipe aqui bastante valorizado apontando para a import ncia em compartilhar compartilhar permite um crescimento profissional e o sucesso do desenvolvimento das pr ticas de cuidado junto comunidade A troca de experi ncias a 137 constru o de conhecimentos entre outros s o a es significativas e valorizadas sendo poss veis a partir da a o interdisciplinar O trabalho junto com os colegas poss vel s quando vo
191. isciplinares a produ o de corpos femininos d ceis obedientes maternais e sem sexo Hoje se controla muito mais do que se disciplina Para o autor os controles s o uma moldagem que pode ser transformada continuamente produzindo uma situa o flex vel de subjetividade que acaba sendo a chave do controle Para Foucault 1999 o poder dividido catalogado para ent o governar evidencia que essa forma de controle ocorreu pela necessidade da burguesia se impor sobre as massas que representavam um grande perigo se levassem a s rio os ideais da Revolu o Francesa e do Iluminismo Foucault 1999 refere se ao sistema de controle social atrav s da conjuga o de v rias t cnicas de classifica o de sele o e de vigil ncia Sobre este controle vai falar 67 tamb m Deleuze 1992 trazendo uma reflex o sobre a rede de informa es como dispositivos moventes de controle evidenciando a chegada de novos tipos de controle Com base nessas an lises buscou se refletir se h profissionais homens e mulheres capazes de atuar como formadores de processos de mudan a em seus espa os de trabalho ou se eles se inserem a disposi o de uma pr tica neutra despolitizada Assim colocando os objetos do conhecimento como algo em si um produto de f cil manipula o de interesses ainda que disso n o se d em conta Essas a es em sa de no cotidiano da ESF podem ser espa o para o desvelamento das rela es assim tricas entre homens e
192. issionais como um reflexo da capacita o realizada pelas institui es formadoras que vem renovando seus curr culos favorecendo por parte dos profissionais pr ticas mais integradas e pr ximas da realidade da popula o Depois que eu me formei como a rea da sa de muito hospitaloc ntrica fui trabalhar no hospital Como o meu pai sempre me aconselhou a fazer concurso p blico aquela coisa de antigamente da estabilidade Resolvi estudar fiz o concurso 36 ini r me Recentemente num depoimento em sala de aula no curso de especializa o em Sa de da Fam lia uma aluna enfermeira desabafou estou cansada de ser enfermesa Afirmando que algo precisa ser feito enquanto categoria 116 p blico na Prefeitura passei fui trabalhar numa Unidade B sica e depois fui para o PSF para trabalhar no PSF fiz um concurso interno Carla Enfermeira Fiz um concurso no Programa de Sa de da Fam lia em Curitiba Foi nesse ambiente que surgiu a oportunidade de trabalhar no Tocantins onde vivi uma experi ncia inesquec vel e inigual vel Em nenhum outro lugar que eu possa trabalhar viverei o que vivi naquele lugar t o maravilhoso como desafiador Mas tamb m passei por muitas ang stias medos e um aprendizado que nenhuma escola capaz de oferecer No retorno vim para a ESF com contrato por tempo determinado e agora estou me preparando para fazer um concurso p blico no final de abril para garantir esse espa
193. istada fala em inseguran a est se referindo a dificuldade enfrentada no cotidiano da ESF pelos profissionais em virtude da sua forma o anterior ter sido muito prec ria em rela o a este novo espa o de trabalho Esta uma reclama o frequente por parte de profissionais que mantemos contato os cursos preparat rios Curso Introdut rio no entanto essa metodologia ainda n o atingiu seus objetivos gerando s rios problemas no processo de trabalho da ESF 141 Esta situa o demonstra uma grande contradi o no interior da ESF o fato das atividades de educa o continuada n o ser uma pr tica comum nas equipes de sa de podem estar sugerindo um discurso demag gico em decorr ncia do que prev o trabalho educativo junto comunidade em rela o garantia da preven o e promo o de sa de como uma das suas principais fun es Por outro lado ela se refere a parceria com as escolas acenando para o trabalho comprometido que exige a co responsabilidade com a popula o atendida no sentido de garantir o trabalho de Promo o da Sa de que faz retomar o conjunto de princ pios do SUS e de todo o ide rio da Reforma Sanit ria da constru o de estrat gias via equipe de sa de da fam lia que tenham como objetivo maior garantir uma mudan a real nas condi es de vida e sa de da comunidade onde est inserida Assim atrav s de a es conjuntas comunidade ESF tentar diminuir as desigualdades sociais visando a egi
194. istentes sociais Portanto sabem mais e devem ganhar muito mais pelo seu trabalho E essa n o a minha opini o e sim a da sociedade Apesar do tom de brincadeira com que falava tendo a inten o at mesmo de provocar uma discuss o sobre quem mandava e quem obedecia havia naquele discurso um pouco da realidade que v rias profiss es enfrentam na ESF No entanto h de se considerar que estudos demonstram que al m da diferen a da valoriza o profissional existe outro fator relacionado a g nero bastante importante evidenciando que a renda dos homens quase 50 maior do que a das mulheres Mulheres estas que permanecem em atividades direcionadas para a sa de e educa o muitas vezes recebendo sal rios menores segundo Jussara Reis Pr do N cleo Estudos sobre a Mulher da Universidade Federal do Rio Grande do Sul 115 continua dando esse poder que muitas vezes complica na rela o m dico enfermagem Ao longo da historia da sa de todo mundo sempre acreditou que s o m dico saberia como salvar as pessoas das doen as J os enfermeiros inicialmente nem foram escola pra exercer a profiss o eram conduzidos pelos m dicos como se fossem secret rios auxiliares Hoje a situa o vem mudando e a ESF uma possibilidade para essa mudan a porque exige forma o e envolvimento com a popula o que come a a reconhecer nosso espa o Fabiana Enfermeira Essa enfermeira aponta v rias concep es sob
195. ita sobrecarga a enfermeira respons vel por tudo na Unidade sempre e se for a coordenadora pior Na regi o que atuo convivo com casos de muita viol ncia viol ncia de todos os tipos esta semana atendi uma garota de 14 anos gr vida do padrasto e ai o que voc faz Se for amea ada a manter em sigilo sobre o ocorrido e simplesmente fazer o pr natal Algumas pessoas parecem que brincam de trabalhar Quando estas pessoas chegam numa comunidade como a que eu trabalho onde pais abusam sexualmente as suas pr prias filhas onde os seus pacientes s o usu rios de drogas chefes de gangs voc se d conta do desafio que tem pela frente A minha hist ria de vida me mostra outra perspectiva a do compromisso com meus pacientes e comunidade Isso sim ESF voc se envolver com o seu trabalho assumir a responsabilidade em rela o aos objetivos do SUS e da ESF Denise Enfermeira coordenadora ESF Com muita sobrecarga de responsabilidades apesar de identificar o grande reconhecimento tamb m da popula o acho que as tarefas deveriam ser melhor distribu das No caso dos m dicos se ele est na faixa de 20 anos de formado sua vis o de trabalho na Sa de P blica totalmente na perspectiva curativa pouco sabe 124 sobre o que Sa de da fam lia quando contratado promete fazer visitas domiciliares estar na Unidade em tempo integral Passado 6 meses se puder te amea a como se a rela o fosse d
196. ked by anti symmetrical relations of gender The second hypothesis problematizes if the meaning of the nurse s work is part of a gender oriented reality that builds from the understanding that being a woman means one is ready for the act of take care in contrast of what one expects from the doctor whose task ties with knowledge The third hypothesis is that although some contexts and requirements of work have been modified this does not mean that the relations of power inaqualities and naturalized conceptions on the doctors and nurses work do not continue to exist and actuate making it difficult interdisciplinary practice in the context of this study The very organization of the activities in the FHS can be the neuralgic point of this relation when related to the social and sexual division of the work and in this case instead of modify the classic hierarchy in terms of take care to have the knowledge and to make it would be coexisting with practices that carry many ambiguities The methodology was based on a qualitative nature field research consisting in interviews with 10 professionals of the FHS in the city of Curitiba and its Metropolitan Area in the period of January to March 2008 This study is relevant to awake the reflection about the process of work in health care in the perspective of taking care and the practices and concepts that are sedimenting the FHS placing at the disposal of Sociology the results of this analysis leading to the d
197. l e o acesso equitativo da popula o A Aten o B sica por outro lado representa uma gama de a es em sa de voltadas para o atendimento individual e da comunidade tendo em vista a promo o e a prote o da sa de o trabalho de prevenir agravos garantir diagn sticos o tratamento a reabilita o e a manuten o da sa de Alguns artigos referem se Aten o Prim ria Sa de como a es de preven o prim ria educa o em sa de GIL 2006 p 1178 J na Aten o B sica percebe se maior diversifica o dos temas sendo nove estudos sobre mortalidade dez de avalia o de programas doen as ou agravos de sa de quatro sobre atividades gerenciais dois sobre acesso territorializa o cinco sobre pr ticas profissionais um sobre an lise de pol ticas p blicas e onze sobre modelos de aten o sa de Quarenta por cento deles fazem refer ncia Estrat gia v rios fazem refer ncia ao SUS contextualizando o no corpo do texto GIL 2006 p 1178 A descentraliza o o desenvolvimento de mecanismos financeiros e 16 operacionais deu espa o utiliza o do termo Aten o B sica como conceito das a es municipais em sa de Diante disso recorremos ent o s informa es do Minist rio da Sa de documentos finais das Confer ncias de Sa de bem como textos de sites relacionados ao tema o que apontou a falta de uma defini o normatizada desses conceitos Para Gil 2006 estes t
198. la ou melhor como algo que s funciona em cadeia Nunca est localizado aqui ou ali nunca est nas m os de alguns nunca apropriado como uma riqueza ou um bem O poder funciona e se exerce em rede Nas suas malhas os indiv duos n o s circulam mas est o sempre em posi o de exercer este poder e de sofrer sua a o nunca s o o alvo inerte ou consentido do poder s o sempre centros de transmiss o Em outros termos o poder n o se aplica aos indiv duos passa por eles FOUCAULT 2000 p 183 nesse sentido que se produz o di logo que Scott 1994 ir desenvolver em seus estudos sobre a mulher e as rela es desiguais de poder evidencia que depois de tanto ignorar a presen a feminina seria a hora de mudar de mostrar que novos fatos podem documentar a exist ncia das mulheres no passado mas n o necessariamente modificam a import ncia ou falta dela atribu da s atividades 88 femininas De fato o tratamento em separado das mulheres podia servir para confirmar sua rela o marginal e particularizada em rela o aos temas masculinos j estabelecidos como dominantes e universais SCOTT 1994 p 14 15 Tamb m Mariano 2005 ressalta o pensamento de Scott 1999 quando diz que o p s estruturalismo permite questionar as categorias unit rias e universais e torna hist ricos conceitos que s o normalmente tratados como naturais como por exemplo homem e mulher Trazendo assim o m todo de desconst
199. la ascens o social em detrimento dos reais objetivos de seu trabalho Habitus apresentado pelo autor como sistema de esquemas gerais e generativos dur veis e transpon veis funcionando num plano inconsciente dentro de um espa o estruturado de possibilidades Matriz criativa de percep es a es e aprecia es agindo em n vel corporal como mecanismos estruturantes que operam desde dentro dos indiv duos relevante compreender que a domina o masculina o resultado de um processo hist rico de socializa o que acabou por incorporar nos indiv duos quando crian as e atrav s da fam lia e das institui es os habitus masculinos e femininos que se naturalizam sem problematiza es O habitus seria um conjunto de disposi es adquiridas e inconscientemente aceitas somente pela justificativa da diferen a biol gica entre os sexos mas que n o se institui como um processo de leituras sobre as diferen as sem consegi ncias sociais e pr ticas para a vida de homens e mulheres nele envolvidos Essa ades o imagem do poder e 20 valida o aos valores masculinos o resultado de um poder simb lico que n o percebido mas visto como natural O autor v o indiv duo constru do por pr ticas de socializa o atrav s do conceito de habitus evidenciando que homens e mulheres incorporam inconscientemente em seus habitus masculinos e femininos uma organiza o social marcada por uma vis o de mundo dominante de forma con
200. lecido melhora a qualidade da assist ncia porque os mesmos aderem aos programas e participam nas interven es al m de possibilitar que as confid ncias pessoais ocorridas nas visitas domiciliares desenvolvam a compreens o de necessidades dos sujeitos e a tica das rela es A popula o reconhece o desempenho dos profissionais e a efetividade do trabalho o que facilita a dissemina o da ESF o trabalho em equipe permite a continuidade do acompanhamento e maior envolvimento com os familiares por meio da abordagem de toda a equipe Assim importante que seus membros tenham boa intera o As agentes comunit rias de sa de que por vezes n o s o valorizadas constituem se em elementos fundamentais de liga o entre a comunidade e a equipe O enfermeiro tem 69 importante papel de coordena o e integra o incentivando os membros da equipe para o oferecimento de assist ncia integrada e com qualidade OLIVEIRA 2006 p 729 As a es da equipe interdisciplinar de sa de evidenciam quest es muito importantes a serem pensadas Oliveira refere se ao trabalho dessa equipe como a realiza o de tarefas compartilhadas entre indiv duos que contribuem para a efetiva o do sucesso Para ela esta no o quando est deslocada de condi es particulares e concretas pode transformar se em s mbolo m tico do ideal de pr tica em sa de ou em solu o m gica e apaziguadora dos conflitos entre as diferentes reas
201. lhar no Sa de da Fam lia 6 Quais s o as exig ncias para ser um m dico do sa de da fam lia 7 Sua opini o mudou a respeito do SF desde que come ou a trabalhar nesse espa o Percebe algum tipo de mudan a na forma de ver o trabalho no SF pe Sente a necessidade de alguma equipe especial para desenvolver a ESF 9 Como analisa a rela o de trabalho entre os profissionais em rela o proposta do SF 10 Como se sente qual a sua posi o frente s atividades na equipe 11 confort vel trabalhar discutir avaliar as quest es de sa de do paciente com colegas de trabalho 12 Comente uma situa o dificil na sua vida profissional 13 Como a comunidade aceita resignifica a condi o do m dico 174 AP NDICE B ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM AS ENFERMEIRAS Sobre o perfil das entrevistadas l 2 3 Qual a sua idade H quanto tempo concluiu a gradua o Fez alguma especializa o Qual Sobre a forma o e experi ncia profissional l 2 3 4 Que caminhos te conduziram ao trabalho com a sa de Que cursos precisou realizar para trabalhar na equipe de sa de Como foi a sua contrata o atrav s de concurso Como se constituiu em uma profissional da sa de Como identifica o discurso sobre o m dico n o saber trabalhar em equipe Sobre g nero poder cuidado e interdisciplinaridade 1 Comente sobre o campo da medicina o saber m dico legitimado pela sociedade interfer
202. lheres a trabalharem fora de suas casas tamb m com tripla jornada muitas vezes Essa rela o a divis o sexual do trabalho nos interessa de maneira particular nesse campo do cuidado porque ela uma quest o nodal no conjunto da organiza o social relativa a produ o e a reprodu o da vida e da reprodu o social Conforme nos mostram Ara jo e Scalon 2005 mesmo se as fam lias estejam ficando menores e se estejam ocorrendo uma s rie de novos arranjos familiares compostos por altera es nos padr es de conjugalidade e se as estat sticas mostram um crescimento de fam lias compostas apenas por um indiv duo fam lias monoparentais ou as compostas de casais do mesmo sexo e de casais sem filhos O acesso das mulheres ao trabalho pago a ordem reprodutiva e a maternidade n o acompanha o mesmo ritmo de mudan as sociais Permanece condicionado pela domesticidade de suas rela es como se fosse exterior s suas vidas pensado no caso do trabalho como uma ajuda econ mica a fam lia no caso da maternidade como sua condi o enquanto ser mulher e n o como um campo do direito e das escolhas geradoras de autonomia Por causa dessa mesma din mica e dessa ordem simb lica de g nero tamb m s o elas aquelas que devem dar aten o em casa quando o trabalho n o pago e se pago como no caso de algumas reas de servi os da sa de Ou educa o ser muito pouco valorizado porque ainda impregnado de percep es e pr ti
203. lho em sa de na concep o e fazeres do cotidiano de cada profissional Por determina o do Minist rio da Sa de a equipe da ESF composta por um m dico de fam lia generalista preparado para atuar nas reas b sicas da sa de um enfermeiro um auxiliar de enfermagem e quatro a seis agentes comunit rios de sa de Esta equipe tamb m pode contar com um dentista um auxiliar de consult rio dent rio e um t cnico em higiene dental dependendo da realidade de cada munic pio que implanta a ESF Para que haja uma verdadeira integra o entre esses profissionais emerge a necessidade das parcerias no trabalho interdisciplinar tendo como premissa atuar junto aos problemas tamb m decorrentes das rela es psico sociais objetivando n o um trabalho meramente assistencialista de doa o de recursos mas principalmente visando desencadear o processo de participa o social Para Goidanich 2001 a demanda de pacientes que necessitam deste atendimento em conjunto muito elevada ultrapassando a possibilidade do trabalho Em muitos ambulat rios a solu o encontrada para tal problema de n o escutar o indiv duo Assim a atua o em conjunto cria um espa o de escuta que permite o escoamento do problema inicial visando a resolubilidade da situa o Oliveira 2006 afirma que o indiv duo fam lia sentem se satisfeitos ao terem seus problemas resolvidos e conseguem confiar na equipe permitindo maior envolvimento O v nculo estabe
204. litiza o na medida em que provavelmente feminiza as pr ticas de cuidado descolando as de seu processo social como um processo de cidadania ampla situa o que de fato n o ocorre em rela o a valoriza o do trabalho das mulheres A abordagem interdisciplinar que tanto promulga o programa deveria sim garantir uma a o e concep o que contribui para compreender e intervir sobre problemas de sa de buscando para resolv los solu es conjuntas mais eficientes do que aquelas adotadas por cada profissional isoladamente MATTOS 2005 Atualmente poss vel que a dificuldade em realizar a es de educa o em sa de ou desenvolver o atendimento sa de da popula o pela via da interdisciplinaridade possa estar ocorrendo pelo processo de forma o vinculada a pr tica do conhecimento m dico destinado somente ao diagn stico das enfermidades e terap utica dos doentes Para Feuerwerker 2003 a atua o pela via da interdisciplinaridade fundamental no cuidado em sa de essa abordagem requer a intera o e ruptura de limites normalmente 65 presente no ensino m dico Nessa perspectiva na forma o do profissional da sa de essencial garantir a elabora o de um projeto pedag gico que prepare esses profissionais para que em suas pr ticas cotidianas possam atender as necessidades de sa de da comunidade Para a autora torna se indiscut vel tomar o cuidado como refer ncia para essa forma o assim como lev
205. lubilidade o trabalho feito pela equipe de sa de para resolver o problema de sa de da popula o Fabr cio M dico No in cio do trabalho do PSF eu tinha uma vis o muito fragmentada n o sabia o que realmente seria trabalhar em equipe n o vi isto na faculdade acho que tinhamos um preparo te rico pr tico muito deficit rio Acho que a teoria foi ensinada sem v nculo com a pr tica s depois no exerc cio profissional fui me dar conta Trabalhar em equipe um pouco complicado quando voc se d conta de quanto depende do outro para realizar o seu trabalho O coordenador da equipe precisa agir com sabedoria e jogo de cintura para poder lidar com determinadas situa es de conflito no trabalho Fabiana Enfermeira O importante para ter a intera o com a equipe m dica e garantir um perfil adequado de enfermeiro ou seja demonstrar conhecimento interesse comprometimento Isso garante o respeito do m dico e juntos v o cuidar do paciente Mostrar conhecimento ter certeza de que v o conhecer e valorizar nosso trabalho os m dicos prestam aten o nisso Trabalhar em equipe trabalhar em conjunto n o um em cada sala em conjunto Planejando tudo em equipe garantindo a troca de experi ncia Conhecer as outras reas do trabalho em sa de isso vai garantir uma colabora o do outro profissional Heloisa Enfermeira 136 N o s a preocupa o em abrir espa o para o trabal
206. lva A es integradas de sa de AIS por que n o dois passos atr s Cad Sa de P blica abr jun v 2 n 2 p 167 183 1986 A crise na sa de p blica e utopia da sa de coletiva Salvador Casa da Qualidade Editora 2000 PASTORE Elenice ROSA Luisa Dalla 4 presen a da mulher nos cuidados em sa de Semin rio Internacional Fazendo G nero 7 G nero e Preconceitos Florian polis 2006 Dispon vel em lt http www fazendogenero 7 ufsc br artigos D Dalla Rosa Pastore 27 pdf gt Acesso em 18 maio 2007 PEDROSA Jos Ivo dos Santos Consenso e diferen as em equipes do Programa de Sa de da Fam lia Revista de Sa de P blica v 3 p 303 311 2001 Aten o B sica e o controle social em sa de um di logo poss vel e necess rio Revista Brasileira Sa de da Fam lia Ano VIII Edi o Especial Nov 2007 Bras lia Minist rio da Sa de 2007 PELLIANO Maria Programa de Sa de da Fam lia In Semin rio de experi ncias internacionais em sa de da fam lia Bras lia DF Relat rio Final Bras lia DF 1999 PEREIRA Maria Jos Bistafa MISHIMA Silvana Martins FORTUNA Cinira Magali et al Assist ncia domiciliar produzindo subjetividades e possibilidades de re cria o do trabalho em sa de Escola de Enfermagem de Ribeir o Preto USP 2002 Dispon vel em lt http www proceedings scielo br s php script sci arttext amp pid MSC000000005200200010 042 amp Ing en amp nrm abn gt Acesso 30
207. m lia Interface Botucatu 2007 11 23 515 529 Dispon vel em lt http www scielo br sci elo php Script sci arttext amp pid S1414 32832007000300009 gt Acesso em maio 2008 FRANCO T lio MERHY Emerson PSF Contradi es e novos desafios Confer ncia Nacional de Sa de Campinas UNICAMP 1999 FREIDSON E 1978 La Profesi n M dica Barcelona Ediciones Pen nsula IN RIBEIRO Jos M SCHARAIBER Lilia B A autonomia e o trabalho em medicina Cad Sa de P blica Rio de Janeiro v 10 n 2 1994 Dispon vel em lt http www scielo br scielo php script sci arttext amp pid S0102311X1994000200006 amp Ing en amp nrm iso gt Acesso em 04 Set 2007 FREIRE Paulo Educa o como pr tica para a liberdade 17a Edi o Rio de Janeiro Paz e Terra 1986 A Pedagogia do Oprimido Rio de Janeiro Paz e Terra 2002 p 68 Pol tica e Educa o ensaios 7 ed S o Paulo Cortez 2003b Pedagogia da Autonomia saberes necess rios pr tica educativa S o Paulo Paz e Terra 2005 GABRIEL Carla Gruzman TEIXEIRA Luiz Antonio Espa o biodescoberta uma exposi o interativa em biologia Hist cienc saude Manguinhos Rio de Janeiro v 6 n 2 1999 Dispon vel em lt http www scielo br scielo php script sci arttext amp pid S0104 59701999000300008 amp lIng en amp nrm iso gt Acesso em 20 jul 2008 GIL C lia Regina Rodrigues Aten o prim ria aten o b sica e sa de da fam lia sinergias e si
208. m busca de aten o sa de e principalmente com a inadequada forma o de profissionais de sa de que deveriam estar prontos a buscar solu es na rea de sa de No entanto est o disputando espa os de poder entre os seus pares Por outro lado n o s o m dico que tem dificuldades em trabalhar em equipe parece que os profissionais de maneira geral precisam rever seus espa os de trabalho e a necessidade da parceria constru da no cotidiano A conviv ncia na equipe traduz se num meio f rtil para os jogos de poder onde expressa a identidade dos sujeitos atrav s de seus saberes discursos e a es e por outro lado esta conviv ncia evidencia tens es e acordos onde os profissionais muitas vezes assumem princ pios normatizadores do seu cotidiano no trabalho sem que sejam discutidos a priori As entrevistas apontam para o entendimento de que ainda o campo da sa de parece estar restrito classe m dica como se a sociedade desse essa classe um poder que na maioria das vezes interfere numa rela o mais aberta do m dico com a enfermagem Ao longo da hist ria da medicina as pessoas acreditavam que s o m dico detinha o saber e o enfermeiro que iniciou seu trabalho nas guerras sem precisar frequentar escola apenas seguia as orienta es m dicas ou seja n o tinha forma o era um mero auxiliar do m dico que ditava com o seu conhecimento o que deveria ser feito com o paciente Nessa perspectiva podemos identificar
209. m como premissa o esfor o para a organiza o do trabalho pol tico que passo a passo abra caminho para a conquista de sua liberdade e de seus direitos VASCONCELOS 1998 p 43 Quando n o se efetiva o cuidado nos servi os de sa de os usu rios tendem a reclamar do desinteresse e falta de responsabilidade dos profissionais e servi os ao seu redor gerando inseguran a desinforma o e sentimento de desamparo O m dico e a enfermeira que participam de uma equipe de sa de devem atuar como facilitadores do processo de cuidado Esse cuidado para Peterlini 2004 assumindo a dimens o de cuida intera o dessa forma deve proporcionar diferentes canais de interlocu o entre o ser cuidado e os demais profissionais identificando como agentes do cuidado o indiv duo a fam lia e o cuidador 104 O cuidado costuma ser visto como uma divis o de trabalho tradicional entre homens e mulheres onde dimens es da diferencia o dos g neros na sociedade est o postas de forma a evidenciar rela es que n o devem ser assumidas igualmente por homens e mulheres os homens se preocupam com dinheiro carreira id ias e progresso mostram que se preocupam com o trabalho que realizam os valores que t m e o sustento de suas fam lias As mulheres cuidam de suas fam lias vizinhos e amigos e o fazem ao realizar o trabalho direto de cuidar O percurso prossegue assim os homens se preocupam com coisas mais importantes enquanto
210. m dificultando a pr pria pr tica interdisciplinar no contexto deste estudo A pr pria organiza o das atividades na ESF pode ser o ponto neur lgico dessa rela o quando referida a divis o social e sexual do trabalho e nesse caso ao inv s de estar modificando a cl ssica hierarquia em termos de cuidar saber e fazer estaria convivendo com pr ticas carregadas de muitas ambigi idades A metodologia baseou se em uma pesquisa de campo de natureza qualitativa a partir das entrevistas com 10 profissionais da ESF na cidade de Curitiba e sua Regi o Metropolitana no per odo de janeiro a mar o de 2008 Este estudo relevante no sentido de despertar a reflex o sobre o processo de trabalho em sa de na perspectiva do cuidado e das pr ticas e concep es que est o sedimentando a ESF colocando disposi o da sociologia resultados desta an lise no sentido do aprofundamento das quest es relacionadas a g nero Palavras chave estrat gia de sa de da fam lia equipe interdisciplinar cuidado rela es de g nero e poder ABSTRACT This work is a sociological study on the relations of work of doctors and nurses that works in the Family Health Strategy FHS that operates the population s health care based on the principles foreseen for Brazil s Unified Health System SUS FHS aims to promote and rearrange the health care operation for the families through health monitoring and team work This study has the objective to understand the mea
211. m outro patamar na equipe Carla Enfermeira O m dico utiliza em sua fala uma terminologia muito espec fica e t cnica que a popula o n o consegue decifrar sem que perceba estabelece uma rela o de poder rela o de autoridade baseada num saber que s dele inibindo os pacientes frente uma conversa t o dif cil de traduzir Como se a medicina fosse pensada pela maioria dessa categoria n o como uma pr tica social onde tudo ganha sentido Mas sim como uma medicina de sentido nico que permite utilizar um saber como forma de curar a doen a cujo sucesso parece depender de um conhecimento te rico que se pode aprender nos livros conhecimento pass vel de ser aprendido nos cursos de aperfei oamento e capacita o onde as incertezas podem ser redimidas e o desconhecimento apresenta uma finitude Ent o no espa o da ESF seria interessante que a medicina fosse vista como uma pr tica social que muito mais do que aplicar conhecimentos te ricos na promo o preven o e cura da doen a O trabalho junto a equipe em alguns momentos parece esvaziar se dada a constante inadequa o de alguns profissionais para assumir o cuidado no meio familiar Com a equipe tudo bem mas s vezes a rela o com os m dicos dif cil alguns nos v em como capacho risos Fa o meu trabalho e entendo que esta rela o precisa ser revista N o quero resolver os problemas do mundo mas minha experi ncia mostra que com
212. m particular n o de natureza puramente religiosa o pr ncipe deve praticar a erradica o da bruxaria o her tico refrat rio n o verdade mas autoridade a da religi o que ele recebeu cujos princ pios se permite submeter ao seu pr prio Ju zo e por conseguinte do poder temporal que n o tolera que se discuta o que tido por definido Em um mundo profano em que a verdade parece estar cada vez mais ao alcance do ju zo individual de cada um a o status pol tico da heresia est portanto inextricavelmente ligado ao da multid o Combater a hidra da heresia significa combater a multitude de v rias cabe as a multiplicidade de opini es particulares que desafiam as pretens es unificadoras do poder temporal de fornecer a nica resposta racional quest o da coexist ncia pac fica das particularidades que constituem o g nero humano VARIKAS 2003 p 179 180 72 baseado no discurso sobre a fam lia em prol da amamenta o materna e cuidados especiais para as crian as visando criar v nculos entre m es e filhos e entre os c njuges no interior da casa A mulher como m e teve sua imagem valorizada apenas como estrat gia para a aceita o do m dico na intimidade dom stica uma naturaliza o do feminino Contrapondo no imagin rio social a id ia de que a mulher incapaz de negociar pensar produzir dada a intempestividade pr pria da sua natureza Ou ent o o fato de que como ela n o
213. m rela o a muitas trocas e responsabilidades que n o s o partilhadas nem pelos membros da fam lia nem pela sociedade em geral e nem o que mais grave pelos servi os de sa de O cuidado surge na sociedade sempre em momentos cr ticos Florence Nightingale 1820 1910 representante da nova enfermagem em 1854 parte de Londres para a Turquia cen rio da guerra da Crim ia Comprometida com a responsabilidade de sua profiss o assume o cuidado e em dois meses consegue reduzir a mortalidade de 42 para 2 No Brasil o cuidado est presente na cultura e h bitos populares e ind genas somente profissionalizado em meados do s culo XIX na Europa A constru o da identidade masculina e feminina na fun o de cuidadores possui uma caracter stica din mica posta no tempo e espa o no entanto estudos demonstram que existe uma seletividade para a escolha do sexo feminino para desempenhar a fun o de cuidadora O cuidado em sa de deveria ser pensado como tarefa de todos assumido sem nenhuma forma de desigualdade no momento de planejar as tarefas Ouvir o que a comunidade quer contar significa acolher esta comunidade e isto significa trabalho da equipe O acolhimento uma maneira de cuidar desta popula o uma maneira de garantir o di logo para a educa o em sa de educa o popular que n o visa criar sujeitos subalternos educados sujeitos limpos polidos alfabetizados bebendo gua fervida comendo farinha de soja Te
214. m suas cren as valores e significados Implica tamb m considerar que o objeto das ci ncias sociais complexo contradit rio inacabado e em permanente transforma o O desafio aqui foi compreender o entendimento dos m dicos e das enfermeiras em rela o s atividades do seu cotidiano seu significado seu lugar simb lico e pr tico e a interdisciplinaridade isso significou considerar nesses sujeitos a sua cren a sua cultura e os seus valores Evidenciando tamb m que tanto o objeto das ci ncias da sa de como o das 40 ci ncias sociais extremamente contradit rio e em fregiente processo de mudan a ao mesmo tempo denota a necessidade de assumirmos o car ter compreensivo interpretativo que s vezes significa assumir a seletividade do pensamento a ambigiidade dos sentidos e as tens es entre a reprodu o das estruturas simb licas suas rupturas e significa es Conhecer esta realidade aponta para um momento de exposi o dessa pesquisadora onde se corre riscos mas que tamb m permite possibilidades de tirar proveito da discuss o refletindo sobre poss veis erros Kuhn 1994 fala do pesquisador como homo acad micus que gosta do acabado do bem feito no entanto apresenta suas pesquisas na sua grande confus o permitindo a oportunidade do entendimento sobre qual o verdadeiro processo na elabora o de uma pesquisa onde ocorrem muitas ren ncias embara os e hesita es O processo de an lise qualitativa u
215. m vista garantir a atua o de v rios profissionais no processo do cuidado e da promo o da qualidade de vida de seus usu rios tendo como um dos objetivos identific los com suas caracter sticas bio psico sociais O problema exatamente identificar qual a concep o de cuidado e sob a responsabilidade de quem na equipe da ESF ficar esta a o Permitindo tamb m pensar sobre o significado dessa atividade quando se passa pelo crivo das rela es entre as profiss es entre os membros da equipe e pelo crivo da divis o sexual do trabalho e da ordem simb lica generificada que fundamenta as rela es de poder Exatamente o poder aqui estabelecendo um jogo um jogo para definir quem det m esse poder Neste caso a an lise de Scott 1994 de extrema relev ncia pois evidencia a necessidade de entendermos como ocorre a constru o das hierarquias entre os g neros Realizado atrav s de um estudo dos processos das causas m ltiplas da ret rica do discurso tentando entender o que elas significam Partir deste pressuposto significa interpretar tamb m como os significados subjetivos e coletivos nas rela es entre homens e mulheres foram constru dos Ao analisar a pol tica da 64 ESF que aparentemente se pretende neutra embora n o o seja quando trabalham em equipe homens e mulheres que se encontram diariamente Observa se que interagem muito pouco tornando o trabalho possivelmente fragmentado evidenciando a exist n
216. ma tempestade e todos os jacar s e piranhas que estavam logo ali bem ao lado daquele pequeno barco que nos conduziu a uma outra cidade Se o barco virasse era o fim ir para a margem seria o encontro com alguma on a qualquer ou ser devorado pelos jacar s que n o s o poucos nessa regi o tudo por que aquele m dico n o quis assumir o risco de fazer uma cesariana Foi um momento de muito medo mas tamb m de reflex o sobre o compromisso profissional Denise Enfermeira coordenadora ESF A estas condi es concretas identifica se a divis o do trabalho a desigualdade no trabalho e os diferentes graus de autonomia profissional o que para Oliveira 2006 tamb m est relacionada a intera o entre os agentes envolvidos no trabalho em sa de Denise demonstra em sua pr tica a busca do comprometimento da clareza sobre a postura 126 profissional a defini o de espa os de autoridades e saberes assim como a possibilidade da autonomia t cnica Mas em detrimento da qualidade existe uma demanda existem os procedimentos as serem realizados que fazem parte de um planejamento movido por metas que se coadunam com os recursos financeiros que vir o ou n o de acordo com esta produ o Estas falas completam a id ia que acabamos de expor Numa regi o de 4000 mil pessoas n o vai ficar mais do que 5 pessoas doentes agudos num dia Esses 4 ou 5 voc pode atender Independente da demanda que voc tem Mas dif cil por
217. mbiguidades da pr tica As inquieta es que levam a constru o deste cap tulo partem de alguns estudos sobre a divis o sexual do trabalho e da experi ncia narrada possibilitando aqui refletir sobre o tema desta pesquisa O objetivo nesta parte do estudo construir uma an lise acerca das rela es de g nero no trabalho entre m dicos e enfermeiras para conhecer que tipo de pr ticas elas expressam no que tange a divis o sexual do trabalho Com isso compreender como se constitui historicamente e no cotidiano das a es desses profissionais na ESF as concep es sobre o cuidado e se o fazer profissional demarcado por alguma ordem simb lica referida a g nero Apresento a narrativa dos sujeitos da pesquisa sobre os caminhos que os conduziram ao trabalho na rea da sa de especificamente na ESF Fa o a exposi o dessa maneira procurando visibilizar esses profissionais atrav s da sua fala de suas hist rias e de recorda es sobre a sua forma o e experi ncias profissionais tendo como objetivo apresentar quem s o os sujeitos deste estudo Nas considera es finais retomo as id ias centrais desenvolvidas com o intuito de responder indaga o norteadora e aos objetivos propostos Apresento algumas reflex es como resultado do processo de investiga o somado a outras concep es e estudos j realizados sobre o tema Finalizo com a indica o de questionamentos que surgiram em rela o ao contexto atual da ESF no s
218. mem como perfeito para assumir o p trio poder tendo direito vida ou morte de sua esposa e filhos vistos como o simbolo da for a do mal um ser imperfeito Ari s 1978 refere a pouca afetividade no interior da casa no espa o privado as trocas afetivas eram realizadas fora da fam lia no mbito de um meio quente e denso que era composto pelos vizinhos amigos amos criados velhos mulheres crian as e homens O autor ressalta que na fam lia poucas pessoas podiam percorrer todas as etapas da vida sendo que o ndice de mortalidade infantil era grande impedindo uma interpreta o mais ampla do ciclo da vida do indiv duo O s culo XVIII vai apresentar grandes mudan as no cen rio econ mico social pol tico e cultural da sociedade A virada do s culo XVIII sob os ausp cios do ide rio Iluminista marca a constitui o de um novo sujeito aquele regido pela raz o e pela vontade senhor de um mundo desencantado e portanto um mundo carente de ser conquistado pelos atributos individuais A verdade agora lapidada pelo sujeito da raz o configura um dom nio que tem na ci ncia seu fundamento leg timo MOREIRA 1999 p 55 Em meio a tantas transforma es interessa nos enfocar a separa o entre duas esferas da vida social a esfera p blica e a esfera privada tendo em vista apresentar algumas situa es produzidas nas rela es de g nero no terreno dos afazeres dom sticos Frente realidade descrita
219. mo leitura e escrita educa o e vergonha ficaram marginalizadas as intera es sociais eram feitas oralmente e somente alguns tinham o poder sobre os segredos teol gicos e intelectuais A fam lia cumpria a fun o de assegurar a transmiss o da vida dos bens e dos nomes mas n o implicava em envolvimentos afetivos e n o tinha id ia de sua fun o educativa As casas na Europa ocidental dos s culos XV ao XVII abrigavam patr es crian as e um grande n mero de empregados e aprendizes que formavam um verdadeiro grupo social Essa casa grande desempenhava uma fun o p blica n o havia locais separados para a vida privada e a profissional e tudo se passava nos mesmos c modos REGEN 2005 p 1 Em Ari s 1978 o papel da fam lia e da linhagem depende das condi es sociais do momento A autoridade do pr ncipe no s culo XIII fortalece a fam lia conjugal refor ando a autoridade do pai e o poder do marido e a justificativa se dava por conta da organiza o da sociedade centrar se no princ pio da autoridade Badinter 1985 refere se a este per odo como um longo reinado da autoridade paterna e marital o que segundo Foucault imbrica numa rela o que se utiliza do poder como uma estrutura vertical centrada no Estado atingindo a popula o um micro poder presente nas rela es sociais est em todas as partes apresentando desigualdades de posses e posi es Poder exercido nas rela es desiguais entre hom
220. munica o XXIV Congresso Brasileiro de Ci ncias da Comunica o Campo Grande MS 2001 LOBO Elizabeth Souza O trabalho como linguagem o g nero do trabalho In uma quest o de g nero org Albertina de Oliveira Costa e Cristina Bruschini Rio de Janeiro Editora Rosa dos Tempos Funda o Carlos Chagas 1992 LOURO Guacira Lopes G nero sexualidade e poder In LOURO G L G nero sexualidade e educa o Petr polis Vozes 1997 Epistemologia feminista e teoriza o social desafios subvers es e alian as In ADELMAN Miriam SILVESTRIN Celsi Br nstrup Orgs Colet nea G nero Plural Curitiba Editora UFPR 2002 mariano Segredos e Mentiras do curr culo Sexualidade e g nero nas pr ticas escolares In Luiz Heron Silva org A escola cidad no contexto da globaliza o Petr polis Vozes 1998 MACHADO Maria Helena M dicos Organiza es de Sa de e tica Revista Brasileira de Educa o M dica Rio de Janeiro v 24 n 1 jan abr 2000 Dispon vel em lt http www abemeducmed org br rbem pdf volume 24 1 medicos organizacoespdf gt Acess em 04 set 2007 MAIA M OSORIO C Trabalho em sa de em tempos de biopoder Arquivos Brasileiros de Psicologia Am rica do Norte 5620 04 2006 MARIANO Silvana Aparecida O sujeito do feminismo e o p s estruturalismo Rev Estud Fem Florian polis v 13 n 3 2005 Dispon vel em lt http Ayww scielo br scielo php script sci arttext
221. na de fam lia uma especialidade um espa o que a pol tica de sa de oferece n o pode ser um trabalho provis rio E exatamente sobre isso que falam nossos entrevistados ou seja sobre a necessidade da valoriza o desse profissional desse espa o a ser constru do Assim esse novo m dico deve trabalhar para construir parcerias faz visitas domiciliares realiza seu trabalho voltado para a aten o b sica e de preven o de doen as Tudo isso em conson ncia com o que prev o MS em rela o necessidade de se mudar a cultura do modelo anterior com trabalho meramente curativo e trabalhar com a equipe para estimular a popula o assumir as a es de promo o da sa de Buscar a igualdade de g nero nas rela es de trabalho na ESF como garantia da democratiza o da sociedade exige uma nova postura exige uma mudan a de posi es e atitudes que se relaciona diretamente com a revis o de pol ticas Representa repensar a forma como organizamos e viabilizamos as pr ticas de aten o sa de da popula o Assim poss vel afirmar a partir dessa investiga o que os pressupostos da interdisciplinaridade no trabalho da ESF podem estar modificando a cl ssica hierarquia em termos de cuidar saber e fazer Essa disserta o constitui se como um espa o de reflex o no sentido de resignificar a qualidade do atendimento realizado no campo da sa de no setor p blico Reconhecemos as nossas dificuldades e limita es no
222. nada se configura como trabalho em equipe Em outros termos embora apresentem diversas interpreta es aqui ser um profissional da ESF significa saber trabalhar em equipe assumir uma responsabilidade que urge ser questionada Para que se possa atingir os princ pios da ESF e assim segundo Merhy utilizar se dos diversos conhecimentos que cada profissional de sa de det m para que os diversos saberes se articulem em um emaranhado de saberes Para que em rela es intercessoras com os usu rios possam produzir o cuidado articulando seus n cleos de compet ncia espec ficos com a dimens o de cuidador que qualquer profissional de sa de det m MERHY 1998 p 113 150 CONSIDERA ES FINAIS Para desenvolver esta investiga o exploramos duas dimens es a o resgate da hist ria da constru o da pol tica brasileira de assist ncia Sa de buscando retratar a constru o do SUS e a implanta o da ESF Visibilizando atrav s de estudos j realizados sobre o tema e a an lise dos discursos oficiais o esfor o investido pelo Estado no sentido de garantir atrav s dessa pol tica p blica de sa de a qualidade de vida da popula o reorientando assim o modelo de aten o e gest o b a capta o da narrativa de um total de 10 profissionais sendo 5 m dicos homens e 5 enfermeiras mulheres inseridos na ESF em Curitiba e a sua Regi o Metropolitana Atrav s dessa narrativa buscamos compreender nas rela es de trabalho
223. nais enfermeiras e a figura da mulher m e que a ltima adquiriu sua base te rico pr tica informalmente e transmitida de mulher para mulher a desmistifica o de muitos atos e pr ticas relacionadas cura mulher caberia fazer o menor este fazer era o cuidado ou seja a higiene dos doentes a limpeza do ambiente papel considerado sujo impr prio para o fazer do m dico Vindos de fam lias ricas nas quais eram ensinados a n o tocar nos doentes BADINTER 1986 Segundo Silva e Kirschbaum 1998 o exerc cio profissional de enfermagem est ligado s caracter sticas femininas e de cuidado aos pacientes e em muitos casos podem ser associados tamb m a algum exerc cio religioso desta profiss o como por exemplo encontrado em casas de repouso e centros hospitalares regidos por alguma ordem cat lico religioso Mesmo quando encontramos freiras nos servi os de administra o hospitalar elas est o em esferas cujas l gicas organizacionais e est ticas s o de concep es tradicionais hierarquizadas em pr ticas masculinas Este exerc cio impulsionado por valores ideol gicos religiosos serve igualmente para fundamentar o exerc cio feminino ligado aos cuidados da sa de O lado masculino da Igreja desempenhado por bispos padres e freis esta ligado fun es de organiza o e ger ncia estrutural e financeira ou mesmo em fun es cl rico paroquiais de ajuda e aconselhamento espiritual Enquanto que o fem
224. nal de Sa de Conselho Estadual de Sa de e Conselho Municipal compostos por representantes do governo dos profissionais de sa de dos prestadores de servi os e dos usu rios A a o dos Conselhos fundamenta se nas discuss es das Confer ncias de Sa de que ocorrem cada quatro anos nas tr s esferas de governo tendo em vista avaliar a situa o de sa de no pa s 52 A Constitui o Federal BRASIL 1988 define o SUS atrav s do artigo 198 evidenciando que as a es e servi os p blicos de sa de fazem parte de uma rede regionalizada e hierarquizada que seguem diretrizes que contemplam a descentraliza o o atendimento integral desenvolvendo a es preventivas com cuidado especial aos servi os assistenciais sa de da popula o fundamentada na participa o da comunidade Esse artigo obedece aos princ pios organizativos e doutrin rios resultado de um longo processo hist rico e social que buscou transformar as condi es de sa de da popula o brasileira prevendo a universalidade ao acesso aos servi os de sa de em todos os n veis de assist ncia assim como a garantia da equidade Rever os princ pios e diretrizes do SUS tem o objetivo de problematizar o discurso sobre a democratiza o e participa o da comunidade preconizada nesses princ pios doutrin rios Ao contr rio do discurso a pol tica de sa de no Brasil tem apresentado uma forma verticalizada de desenvolver suas atividades pontuando medi
225. ndo a fala de alunos quando relatam situa es do cotidiano na ESF no qual est o inseridos profissionalmente Assim a minha op o por estas categorias profissionais m dicos e enfermeiras ocorreu devido a presenciar mais uma vez discuss es muito acirradas sobre esta rela o por parte dos meus alunos Inspirando me assim a pesquisar sobre o tema no sentido de melhor compreender e tentar explicitar atrav s de uma an lise sociol gica este conflito do qual me falam com tanta frequ ncia alguns profissionais inseridos na ESF A op o de enveredar por essa senda tamb m est relacionada com a minha necessidade de aprofundar o conhecimento sobre os conceitos de g nero como um referencial anal tico iniciado por meio da participa o em disciplinas durante o Curso de Mestrado ministradas pela professora Dra Marlene Tamanini no per odo de efetiva o dos cr ditos necess rios para elabora o da disserta o Ao aceitar os novos desafios que foram se impondo no momento que ingressei no mestrado n o imaginava que caminhos t o diferentes e muitas vezes t o exaustivos teria que percorrer um longo esfor o de investiga o precisava ser feito para a elabora o da disserta o Destarte com base nas discuss es sobre as teorias feministas tive a oportunidade de repensar o trabalho da equipe de sa de percebendo que muito se tem discutido sobre a a o junto das fam lias no entanto pouco se tem produzido em rela o a divis
226. necessidade de envolvimento por parte dos profissionais com a comunidade Na medida em que avan amos em nossa an lise visualizamos como se estruturam as desigualdades de participa o para m dicos e enfermeiras percebendo algumas contradi es na forma o m dica por exemplo quando n o privilegia o preparo profissional para atuar em equipe e dificilmente junto ESF Assim identificamos que algumas das dificuldades na ESF est o relacionadas necessidade de capacita o dos profissionais para participarem da mudan a desse modelo assistencial 153 A organiza o dos processos de trabalho no interior da ESF evidencia ainda o poder t cnico e pol tico dos profissionais m dicos em geral o trabalho ainda realizado de maneira fragmentada A mudan a nas a es em sa de requer reelaborar essas pr ticas problematizar como est o sendo produzidas e quais s o as concep es que as traduzem em a es de sa de Os resultados demonstram a perman ncia da hierarquiza o dos processos e do trabalho da enfermagem e da medicina no interior da ESF mas h ind cios de uma poss vel transforma o da pr tica assistencial resultado do novo enfoque interdisciplinar na complementaridade das a es assim como em rela o a postura profissional Entrevistados m dicos e enfermeiras apontam para essa mudan a que parece estar sendo constru da por parte daqueles que est o realmente comprometidos em democratizar o cuidado em sa d
227. nerabilidade e da precariedade das condi es de vida Em meio s mudan as a fam lia vem perdendo gradativamente sua capacidade de funcionar como amortecedor da crise como espa o de prote o de seus membros afetando as condi es de vida da maioria da popula o bem como o pr prio organismo familiar De outro lado valores afetivos confian a e reconhecimentos que j n o passam pela id ia de partilhar o mesmo teto v m sendo ressaltados 30 A uni o de pessoas do mesmo sexo tem recebido certa prote o que adv m de uma constru o jurisprudencial e doutrin ria que flexibilizaram o conceito de fam lia para abranger os casais homossexuais com ou sem filhos No Brasil essa quest o n o havia sido enfrentada pela via legislativa A Lei Maria da Penha apresenta um avan o em rela o ao Direito Civil legislado em seu art 5 permite uma interpreta o de reconhecimento da entidade familiar entre pessoas do mesmo sexo BRASIL 2006 81 3 A CONSTRU O DO CAMPO ANAL TICO NA RELA O G NERO E DIVIS O SEXUAL DO TRABALHO Esse cap tulo se ap ia em trabalhos relativos problematiza o dos conceitos de g nero e trabalho tentando compreender como as rela es de g nero acontecem no cotidiano especialmente no espa o do trabalho da equipe da ESF Orientar esse estudo segundo a categoria g nero justifica se pelo fato de entender que esta forma de an lise desvela signos dados s rela es sociais e principalme
228. ngularidades do contexto brasileiro Cad Sa de P blica jun 2006 vol 22 no 6 p 1171 1181 Dispon vel em lt http www scielosp org pdf csp v22n6 06 pdf gt Acesso em 14 jun 2007 165 GIORDANI Rubia Carla Formighieri A Experi ncia Corporal na Anorexia Nervosa uma abordagem sociol gica Disserta o de Mestrado Universidade Federal do Paran Programa de P s Gradua o em Sociologia 2004 GOIDANICH M rcia Sa de mental na rede p blica possibilidade de inser o psicanal tica 2001 vol 21 n 4 Bras lia Psicologia ci ncia e profiss o p 26 33 GROSSI Miriam HEILBORN Maria Luiza RIAL Carmen Entrevista com Joan Wallach Scott In Revista Estudos Feministas Rio de Janeiro IFCS UFRJ v 6 n 1 p 114 124 1998 KUHN Thomas S A estrutura das revolu es cient ficas S o Paulo Perspectiva 1994 HIRATA Helena Divis o sexual do trabalho o estado das artes pp 273 289 In H Hirata Nova divis o sexual do trabalho Um olhar voltado para a empresa e a sociedade Cole o Mundo do Trabalho S o Paulo Boitempo Editorial 2002 Flexibilidade Trabalho e G nero GEDISST CNRS Santiago 1999 Mimeo Tecnologia forma o profissional e rela es de g nero no trabalho Revista Educa o amp Tecnologia V 6 n 1 p 144 146 Curitiba CEFET PR HIRATA Helena Daniele KERGOAT Novas Configura es da Divis o Sexual do Trabalho Cadernos de Pesquisa v 37 n
229. nings attributed to the contents of the tasks and the sexual division of work within gender and power dynamics in the work of doctors men and nurses women that perform in the FHS as for the proposal of interdisciplinarity on the practices of the care in the familiar environment To achieve this it intends to identify how gender relations between medical professionals men and nurses women are built over the meanings attributed to the contents of the tasks foreseen for the FHS To determine if these relations demarcate hierarchizing and different practices among these professionals as for the performing of their functions and the production of knowledge To understand how this constitutes both historically and in daily basis the subject matter of the actions of doctors and nurses within the FHS and the concepts on care and if they are demarcated by some symbolic order related to gender that weakness the possibility of a interdisciplinary work To analyze how the the activities are made flexible and hierarchized in daily basis of a health team to know what kind of practices these activities express concerning the sexual division of work To achieve this it is developed and articulated in the methodology of this work some hypotheses based on purpose that the power is part of a range of organized and hierarchized relations it is possible then to perceive that inlaid in the interdisciplinary discourse can exist a relation of power and subordination mar
230. nova vis o sobre o cuidado em sa de seu trabalho tinha a perspectiva da humaniza o do atendimento Sandra Enfermeira coordenadora ESF Nos servi os p blicos o trabalho em equipes parece ocorrer de forma fragmentada onde profissionais de diversas reas de conhecimento desenvolvem suas atividades sem que haja uma defini o sobre a proposta de trabalho que est vinculado ao objeto comum As a es em sa de carecem de serem articuladas pelo que contam os entrevistados pelo que j pudemos observar e ouvir de outros profissionais as a es se perdem ou se diluem por se justaporem ou se confrontarem N o se identifica a colabora o que converge para objetivos de uma dada situa o buscando a complementaridade numa rela o rec proca Muitos colegas chegam muito inseguros no SF n o demonstram conhecimento t cnico Isso comum pra todo mundo a seguran a no agir profissional vem no cotidiano na pr tica profissional Essa equipe especial poderia ser formada por profissionais que est o comprometidos com a comunidade com os seus pacientes todos com um s objetivo Vejo a necessidade de termos no SF um psic logo e um assistente social que pertencesse mesmo a equipe n o profissionais que atuam em situa es emergenciais mas que estivessem l todo dia uma equipe que soubesse fazer a parceria com as escolas locais isso muito importante Fabiana Enfermeira Quando esta entrev
231. nsar o processo pelo qual uma norma corporal assumida apropriada adotada uma vincula o desse processo de assumir um sexo com a quest o da identifica o e com os meios discursivos pelos qual o imperativo heterossexual possibilita certas identifica es sexuadas e impede ou nega outras identifica es Esta matriz excludente pela qual os sujeitos s o formados exige a produ o simult nea de um dom nio de seres abjetos aqueles que ainda n o s o sujeitos mas que formam o exterior constitutivo relativamente ao dom nio do sujeito O processo de constru o que contrap e a id ia de uma identidade fixa presente no indiv duo ou em um referencial te rico anal tico do qual emergem todas as outras defini es Esse o caminho que permite a desconstru o do modelo tradicional Butler 2003 questiona se g nero uma constru o quem executa essa constru o Se g nero constru do ele n o constru do por um eu ou um n s que se coloca antes fora que n o tenha sido sujeitado a uma atividade de generifica o Trata se mais de um lugar de disputa pol tica assim o sujeito que se faz a si mesmo sempre de alguma forma o eu que seleciona dentre in meras possibilidades e que constitu do por elas Desse ponto de vista o eu n o situado mas constitu do por posi es e essas posi es n o s o meros produtos te ricos mas s o princ pios organizadores totalmente embutidos de pr tica
232. ntar o campo da produ o simb lica com seu poder estruturante mas n o se pretende com isso perder a dinamicidade e o engendramento de significados contidos na experi ncia A op o desse tema de estudo surge da inquieta o a despeito da maneira como as rela es entre m dicos e enfermeiras se efetivam no tocante aos cuidados com a sa de no cotidiano do trabalho A constru o do objeto de an lise come ou com base em observa es que venho fazendo no trabalho junto equipe de sa de desde o primeiro emprego 1985 em Londrina PR num hospital como Assistente Social Utilizarei a primeira pessoa do singular neste momento do texto e cap tulo referente aos procedimentos metodol gicos por entender que apresento aqui um relato da constru o desse estudo a partir da minha trajet ria profissional evidenciando alguns aspectos que inspiraram a elabora o do mesmo No restante da disserta o a primeira pessoa do plural foi utilizada em decorr ncia de que a constru o dos caminhos te ricos e metodol gicos da investiga o foi um processo coletivo compartilhado com minha orientadora autores e suas teorias com a troca de experi ncias com colegas do mestrado professores REZENDE 2008 p 16 21 Esta experi ncia permitiu observar que a rela o entre os profissionais que ali estavam m dicos e enfermeiras parecia evidenciar demarca es de poder estabelecendo posi es assim tricas entre hom
233. nte ao modo de ser do indiv duo na sociedade Desta forma poss vel identificar g nero como uma categoria anal tica fundamental no entendimento das desigualdades entre homens e mulheres localizados num determinado contexto social e hist rico possibilitando na realidade emp rica a compreens o da forma como as rela es sociais se organizam Nos ltimos 50 anos do s culo XX nosso planeta foi o cen rio de grandes transforma es que em ritmo veloz trouxeram conceitos e novidades desconhecidas Uma transforma o t o grande que interferiu nas rela es entre homens e mulheres rela es onde a mulher come ou a fazer parte nos mais variados setores no trabalho pol tica nos centros educacionais nas ci ncias O olhar sobre o feminino rompeu paradigmas e ela participou da constru o de novos sujeitos sociais Na sequ ncia apresentamos uma discuss o a respeito da divis o sexual do trabalho para tanto discutimos o conceito de g nero e cuidado 3 1 A DIVIS O SEXUAL DO TRABALHO E O CONCEITO DE CUIDADO 3 1 1 G nero A origem dos estudos de g nero pode ser creditada s lutas que se seguiram aos movimentos sociais dos anos 60 de modo especial s mobiliza es de 1968 ocorridas em v rios pa ses da Europa e nos Estados Unidos marcados por questionamentos sobre esses novos agentes sociais GROSSI 1998 Surge na Europa Ocidental a urg ncia de um movimento contestat rio o feminismo reivindicando nas primeiras d
234. nto social consolidou se na 8 Confer ncia Nacional de Sa de em 1986 na qual pela primeira vez mais de cinco mil representantes de todos os seguimentos da sociedade civil discutiram um novo modelo de sa de para o Brasil O resultado foi garantir na Constitui o por meio de emenda popular que a sa de um direito do cidad o e um dever do Estado AROUCA 1998 p 1 8 As A es Integradas de Sa de AIS foram estabelecidas em maio de 1984 primeira iniciativa de co gest o e de universaliza o da aten o sa de Uma nova estrat gia de reformula o do Sistema Nacional de Sa de de extrema import ncia para o processo de descentraliza o da sa de 50 A 8 Confer ncia foi tamb m resultado do processo de reformas pelas quais passava o pa s e da discuss o realizada atrav s de muitas confer ncias municipais e estaduais Segundo Mendes 1999 essa Confer ncia teve como desdobramento um conjunto de trabalhos t cnicos elaborados pela Comiss o Nacional de Reformas Sanit rias influenciando significativamente a partir de 1987 a implanta o do SUDS e a elabora o da Constitui o brasileira BRASIL 1988 Ap s um ano de instaura o da Nova Rep blica a convoca o da Assembl ia Nacional Constituinte a implanta o do Plano Cruzado que entre outras medidas congelou pre os e acabou com a infla o o pa s vivia um intenso processo de mudan as e esperan as BERTONE 2002 p 76 Esse momento foi
235. ntre homens e mulheres Nota se que existem rela es hier rquicas e de subordina o retomando a divis o cl ssica entre o trabalho manual e o intelectual A enfermeira ainda supre e complementa as a es do m dico O m dico ainda visto pela sociedade como detentor de um saber cient fico ancorado no racionalismo do s culo XVIII e no positivismo do s culo XIX Gera desta forma o estabelecimento de rela es de poder decorrentes de representa es existentes no imagin rio social sobre o saber m dico 154 Identifica este profissional m dico num n vel de superioridade aos demais agentes da equipe tamb m porque o relaciona a uma condi o diferenciada possuidor do capital simb lico tamb m relacionado ao fato de que apenas uma parcela restrita da popula o consegue ter acesso a um curso de medicina Essas condi es efetivas t m um significado muito determinante na pr tica interdisciplinar nesse contexto A mudan a do modelo tradicional n o ocorre porque ainda tem gerado na distribui o e organiza o das tarefas desigualdades de g nero no espa o de trabalho Dessa forma a hierarquiza o nas rela es g nero demonstra espa os determinados socialmente ou seja na investiga o que realizamos junto a rg os oficiais como IBGE Conselhos das categorias profissionais entre outros pudemos verificar como homens e mulheres se apresentam distribu dos nos espa os de trabalho Refor ando a concep o de que
236. o A necessidade precoce de fazer uma renda comecei a trabalhar tarde com 26 anos a idade m nima de um m dico se formar nunca menos que 23 Estava interessado em priorizar a minha vida acad mica fazendo uma boa resid ncia a renda do residente muito baixa em vista de ter um perfil com mais responsabilidade a quest o financeira me impediu de me dedicar a resid ncia Trabalhei no PSF em Guarulhos 1997 assim ir para o PSF era garantir uma renda financeira f cil com um m dico que tem forma o incompleta sem um a especializa o Essa a opini o da maioria dos enfermeiros da comunidade de sa de dos profissionais em rela o ao m dico no PSF Onde ele faz uma poupan a e tenta fazer uma especializa o N o um objetivo tornar se m dico do PSF deveria ser um per odo de trabalho at a resid ncia S que voc v que os anos v o passando e como no Brasil assim a poupan a faz parte de uma utopia social William M dico A pol tica social nos anos 90 desencadeou a implanta o de programas que potencializaram muitos empregos e renda no setor p blico A escolha pelo trabalho realizado na ESF evidenciada na fala desses m dicos entre outras est relacionada ao fato de identificarem este espa o como promissor Assim como o fato de que alguns entrevistados compartilham a id ia de que na ESF existe a possibilidade da reorganiza o da aten o sa de apontando para a aceita o ideol gica em rel
237. o que nos levou a investigar estas duas categorias e principalmente o porqu de m dicos homens e enfermeiras mulheres Partindo da nossa experi ncia profissional no trabalho com equipes de sa de tanto quanto na rela o com esses profissionais em sala de aula pudemos constantemente observar que na rea da enfermagem a presen a feminina sempre foi maior Enquanto que na rela o com m dicos na sala de aula vindos da ESF parece existir um n mero reduzido de m dicas mulheres e em sua grande maioria a presen a de homens parece representar essa categoria Importante ressaltar aqui que o conflito n o est relacionado quantidade mas sim relacionado s pr ticas de inser o da forma o e das concep es Assim sendo a escolha se deu tamb m por identificarmos nas equipes entre outras quest es uma rela o bastante conflituosa que historicamente vem sendo delineada e que tivemos a oportunidade de observar A pesquisa de campo e os dados da realidade estudada mostraram que investigar os m dicos e as enfermeiras e n o as m dicas e os enfermeiros grifos nossos estavam diretamente ligados com as rela es concretas da realidade do trabalho nas equipes de sa de Embora acreditemos que o campo amplo da enfermagem tomado em seus habitus e concep es faz as pr ticas de tal modo que seriam essas representa es colocadas em curso independente de estarmos falando de homens ou mulheres enfermeiras Ter homens em espa o de trab
238. o a consulta de enfermagem e o trabalho de educa o em sa de Conhecendo cada vez mais as fam lias identificando os problemas da comunidade Desenvolvendo a es de promo o de sa de e preven o de doen as Garantindo o v nculo com os pacientes e comunidade de modo geral e principalmente orientando sobre o cuidado com a sa de pessoas Heloisa Enfermeira A mulher apesar do constante avan o e moderniza o da sociedade permanece distante do espa o dedicado a ci ncia Parece que este processo est na presente na sua pr pria socializa o Desde menina direcionada para assumir tarefas vistas como femininas mesmo entrando no espa o acad mico esbarra em problemas causados pela dificuldade de escolhas entre fam lia filhos e sua carreira profissional Na fala de algumas das entrevistas evidente a forma como a devo o a voca o a sensibilidade e o envolvimento s o relacionados como premissa para assumirem postos no mundo do trabalho e espa o 120 acad mico N o estabelecem nenhum tipo de cr tica quando assumem pap is e atividades normatizadas como femininas A enfermeira tem ainda o estigma de ter uma profiss o assumida por mulheres em sua maioria s vezes acho que confundem os pap is e acabamos fazendo muitas coisas que n o precisaria ser enfermeira e sim mulher apenas Fazemos tudo com muita dedica o e compromisso preciso ter muito desprendimento e idealismo Numa sociedade pens
239. o assalariado para as mulheres casadas Desta concep o vai surgir o conceito de m e cuidadora aquela que respons vel pelo cuidado no lar ou seja o cuidado dom stico s crian as aos doentes e aos velhos associado figura da mulher m e que desde sempre foi curandeira e detentora de um saber informal de pr ticas de sa de transmitido de mulher para mulher mesmo que admitamos por exemplo que as constru es das identidades masculinas e femininas no trabalho s o m veis e variam no tempo e no espa o fato analisado por diferentes estudiosos a indu o do processo de institucionaliza o capitalista do trabalho na sa de seletividade de um tipo ideal de cuidadora PASTORE ROSA 2006 p 4 As cuidadoras na sua origem est o referidas a Segunda Grande Guerra com a dizima o de muitas fam lias algumas iniciativas de reorganiza o familiar come aram a surgir KARSCH 1998 Dentre elas a no o de casa lar que abriga mulheres e crian as sem fam lia come ou a ser utilizada Uma casa ou lar podem ser entendidos como um espa o utilizado como abrigo que utiliza refer ncias f sicas ou afetivas entre seus integrantes 80 que possuem como o de se restaurarem as rela es afetivas e humanizadoras institucionais KASRCH 1998 No s culo XX a revis o do conceito de fam lia no novo c digo civil brasileiro BRASIL 2000 representou uma tentativa de igualdade entre homem e mulher e dentro des
240. o do trabalho luz das teorias de g nero nesse campo Ao fazer o levantamento te rico sobre o meu tema encontrei muitos estudos sobre as rela es no interior do Hospital ou como a enfermagem e a medicina constru ram historicamente suas a es em rela o aos pacientes ou ainda o trabalho da ESF com fam lias na comunidade Discute se a rela o medicina e enfermagem mas n o especificamente as a es de cuidado fundamentado pelos estudos feministas a falta de pesquisas neste campo foi um dos fatores determinantes para escolha deste objeto de an lise Dessa forma engajei me em tentar compreender como essas rela es entre m dicos e enfermeiras tem se dado quando atuam na ESF em virtude do que preconiza os seus 7 nos r q r r ma r Cursos referentes Estrat gia de Sa de da Fam lia Sa de Coletiva Sa de P blica Educa o em Sa de entre outros ofertados para enfermeiras m dicos dentistas psic logos assistentes sociais e demais profissionais desta rea 23 princ pios em contraposi o as dificuldades historicamente evidenciadas entre estas duas categorias profissionais Essas rela es de poder no espa o do trabalho em sa de o enfrentamento cotidiano entre determinadas categorias profissionais e especialidades no meu estudo entre m dicos e enfermeiras geravam imensa curiosidade como entender as diferen as entre profissionais atrav s da sociologia Como esses profissionais se inserem e se mob
241. o e sim em diversas culturas e nas mais variadas esferas sejam simb licas pol ticas e econ micas ainda de modo m ltiplo e com diversidade de conte dos Em contrapartida a essa universalidade que os movimentos femininos gays e l sbicas propuseram a cria o de novos comportamentos mentalidades e perspectivas outras formas de subjetividades para as rela es entre os sexos criticando o modelo ocidental branco heterossexual LOURO 1998 Essas novas experi ncias permitiram pensar outras formas de experimenta o dos corpos dos prazeres dos desejos mas sobretudo levaram para dentro desses temas a epistemologia dos estudos de g nero numa perspectiva anal tica do poder que visava integrar um conjunto de experi ncias negligenciadas ou tornadas invis veis visto que elas eram usualmente colocadas na esfera dom stica A partir de abordagens que tomam em conta uma perspectiva mais foucaultiana constroe se um exame mais abrangente e relacional sobre as formas de reprodu o de poder no interior das rela es de g nero Tal ferramenta possibilita maior visibilidade das micro rela es 85 G nero passa ent o a ser entendido n o como um poder central e unificado e sim em constela es dispersas e desiguais encontra se inserido em uma microf sica do poder que se constitui em diversos campos de for as sociais Para Scott 1990 g nero o elemento constitutivo das rela es sociais baseado em diferen as perc
242. o em todos os n veis da experi ncia m dica entre os sintomas que significam e a doen a que significada entre a les o e o mal que ela assinala A nova cl nica da cl nica das esp cies para uma cl nica do olhar O olhar que produz conhecimento m dico conhecimento este com toda uma linguagem pr pria conhecimento cient fico veiculado atrav s do discurso que sustenta o pensar cl nico que permite o diagn stico olhar mais aprofundado que v a doen a com mais naturalidade 16 nas A na E i Procedimentos m gicos ligados s pr ticas di rias em rela o a doen a vista como resultado de for as sobrenaturais como esp ritos maus que tomavam conta do corpo fazendo com que os doentes fossem abandonados mutilados ou mortos 45 Foucault 1994 permite analisar a espacializa o terci ria denominando a como o conjunto dos gestos pelo qual a doen a em uma sociedade envolvida medicamente investida isolada repartida em regi es privilegiadas e fachadas ou distribu da pelos meios de cura organizados para serem favor veis Ao referir se a espacializa o Foucault aponta o hospital e a civiliza o como lugares artificiais onde a doen a corre o risco de perder seu aspecto essencial Para o autor o lugar natural desta seria o lugar natural da vida a fam lia onde se encontra o afeto e o desejo de cura Talvez este seja um dos significados do direcionamento atual da ESF ao realizar o seu trabalho no domic
243. o esse espa o Acho que esse espa o deveria ser assumido por administradores e gestores Por que o enfermeiro j tem aquele chav o de 1900 e muito antigamente aquela richa entre m dicos e enfermeiros Enfermeiro na grande maioria uma pessoa que quis fazer medicina n o passou e fez enfermagem Poxa Aquele cara m dico e ganha 3 vezes mais do que eu Sou enfermeira j que eu sou chefe eu vou ferrar aquele cara Ai n o d espa o para o m dico n o d voz ativa para o m dico toma se todas as decis es entre eles mesmo da equipe Sentam e re nem e dizem voc vai fazer isso N o sentam e perguntam o que voc acha da gente fazer assim ou assado O que voc acha de fazermos um programa assim Tomam se as decis es e isso que n s vamos fazer Orra n o sentam n o conversam Tinha que sentar o enfermeiro o psic logo fisioterapeuta 119 fonoaudi logo e o m dico e discutir o que n s podemos fazer Qual o nosso objetivo Guilhermo M dico A an lise dessa fala permite identificar como a hierarquia e o poder est o presentes nas rela es cotidianas evidenciando que o dom nio do espa o na ESF parece ser da enfermeira numa nova estrat gia de organiza o Possivelmente construindo um novo estatuto e status da profiss o Esta mudan a de alguma maneira tem gerado ressentimentos insatisfa es preconceitos por parte do m dico em sua grande maioria ainda est vinculado ao modelo anterior on
244. o para lidar com o indiv duo em sua totalidade inserido em seu meio social e em sua comunidade Ao analisarmos o discurso de uma d cada atr s de uma unidade formadora de m dicos poss vel identificar que ainda este discurso est desvinculado da realidade basta observar o que se prop e em rela o forma o O curso m dico de gradua o visa forma o de profissionais que estejam habilitados a prevenir diagnosticar e tratar as doen as prevalentes da popula o sejam capazes de estabelecer boa rela o com os pacientes e com os demais integrantes da equipe de sa de desenvolvam conduta tica adequada tenham pensamento cr tico saibam raciocinar cientificamente e adquiram capacidade de auto instru o estejam aptos a desenvolver se com aproveitamento em cursos de especializa o mestrado ou doutorado UFRJ 1997 p 24 Partindo desse entendimento onde o trabalho do m dico ou da enfermeira na ESF deveria ser pensado como um espa o de democratiza o dos saberes e da participa o da popula o suscita desta forma um questionamento esse espa o pode estar demarcado por Relat rio do Semin rio Internacional Os desafios do ensino da Aten o B sica na Gradua o em Medicina Bras lia julho 2007 Dispon vel em lt http www sbmfc org br News Media 3830d790 Relat WC3 B3rio 20Se min CI A Irio 20Internacional 20AB 20e 20Gradua C3 A7ACI A30 pdf gt Acesso em 13 dez 2007 63 desigualdades
245. o que a tend ncia s melhorar Se a gente est empenhado em ajudar e eles querem ser ajudados n o tem como n o ter uma boa rela o Essa rela o m dico paciente na SF um campo que cresce muito voc com o paciente numa rela o al m de m dico a popula o enxerga isso Fabr cio M dico 145 Acho que ainda a imagem do m dico meio n o gosto de dizer assim Mas endeusada Ainda esse poder sobre a sa de e doen a um referencial de status que a categoria insiste em manter A id ia do m dico de fam lia vem tentar modificar essa imagem levando o profissional para dentro das moradias no interior dos problemas da popula o Isso o que d sentido ao nosso trabalho essa aproxima o com a fam lia e comunidade mostrando que do pr prio paciente que podem surgir as melhores solu es sobre as suas condi es de sa de O SF ter sucesso quando todos os profissionais assumirem essa postura que desvela o mito que apresenta a equipe como fundamental no cuidado sa de sem respaldar nenhuma categoria em detrimento da outra sem repetir o modelo das diferen as t o patentes na nossa sociedade Francisco M dico Na figura do m dico uma mitifica o que por vezes o responsabiliza por implementar novas pr ticas de sa de junto popula o Esse modelo de assist ncia centrado na pessoa do m dico predominou por muito tempo por isso a popula o ainda faz refer ncia superior
246. obre a import ncia de se pensar a respeito daquele que pratica ci ncias como uma pessoa que adquiriu certa cultura que teve a oportunidade de estudar de ser formado que foi fabricado no contato com um grupo e com ele aprendeu e compartilhou experi ncias jamais identificado como detentor do conhecimento Conhecedor de um conjunto de pr ticas de habilidades de conhecimentos materiais e sociais ele faz parte de uma comunidade de uma escola de um pa s jamais deve ser visto dono da verdade A id ia da ESF vem tentar modificar essa imagem levando o profissional para dentro das moradias no interior dos problemas da popula o Isso o que d sentido ao trabalho essa aproxima o com a fam lia e comunidade mostrando que do pr prio paciente que podem surgir as melhores solu es sobre as suas condi es de sa de A ESF ter sucesso quando desvelar esse mito apresentar a equipe como fundamental no cuidado sa de sem respaldar nenhuma categoria em detrimento da outra sem repetir o modelo das diferen as t o patentes na nossa sociedade O m dico aprendeu desde sempre a t cnica de evita o do outro numa atitude distante como um ser inating vel Hoje o caminho a partilha a parceria a 135 divis o a troca de saberes n o h mais lugar para essa medicina do Olimpo A imagem do m dico meio n o gosto de dizer assim Mas endeusada Ainda esse poder sobre a sa de e doen a um referencial de s
247. obre o trabalho e seus significados de modos muito diferentes em termos de valor em se tratando de m dicos e enfermeiras Essas pr ticas de cuidado ao acionarem um contexto e uma ordem de conte dos e representa es sobre o cuidar que historicamente tem se voltado para o feminino fixam uma determinada representa o cultural que n o pode ser compreendida fora das rela es de poder que as constitu ram e constituem a partir desse regime de verdade situado nas concep es do que antes se configurava como Programa de Sa de da Fam lia e agora como Estrat gia de Sa de da Fam lia que focamos o nosso objeto de investiga o Quando se referem ao Programa Sa de da Fam lia em seus estudos os autores ainda utilizam a express o programa e n o estrat gia como citam os profissionais das equipes de BRASIL Lei Org nica da Sa de n 8080 de 19 de setembro de 1990 Disp em sobre as condi es para promo o prote o e recupera o da sa de a organiza o e o funcionamento dos servi os correspondentes e d outras provid ncias Di rio Oficial da Rep blica Federativa do Brasil Bras lia 1990 15 sa de Tentando compreender um pouco sobre a denomina o utilizada em rela o ao Programa Sa de da Fam lia verificamos que muitos trabalhos falam no PSF como estrat gia da Aten o Prim ria Sa de os termos Aten o Prim ria Sa de e Aten o B sica aparecem como sin nimos mas nos autores que ma
248. olocam suas tarefas nessa adequa o pr tica experi ncia compreendida e reproduzida na sociedade e portanto o que ela faz carece de reflex o te rica e capacidade anal tica Apesar de alguns contextos e exig ncias de trabalho terem se modificado ainda existem rela es de poder desigualdades e concep es naturalizadas A organiza o das atividades na ESF pode ser o ponto neur lgico dessa rela o quando referida a divis o social e sexual do trabalho em virtude do trabalho feminino possivelmente perder o estatuto de trabalho valorizado socialmente e em contrapartida o trabalho do m dico segue vinculado ao conceito de Doutor ainda quando ele tenha s a gradua o Pressupostos da interdisciplinaridade no trabalho da ESF poderiam estar modificando a cl ssica hierarquia em termos de cuidar saber e fazer 1 2 OBJETO E O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA A primeira fase desse estudo foi a revis o bibliogr fica sobre a teoria de g nero cuidado e a divis o sexual do trabalho realizada a partir das disciplinas cursadas durante os dois primeiros semestres no mestrado Essas disciplinas foram o caminho revelador que permitiram o entendimento de g nero como uma categoria til de an lise Tamb m as discuss es as leituras e o posicionamento das docentes dessa linha foram decisivos para um novo olhar sobre o cen rio a ser analisado Na sequ ncia o estudo sobre a hist ria das pol ticas de sa de no Brasil Na continuidade o
249. om seus clientes Tronto mostra que cuidar uma atividade localizada em g nero tanto no mbito do mercado como na vida privada evidenciando que as mulheres acabam assumindo ocupa es geralmente que envolvem cuidados Como se houvesse a possibilidade de dividir os pap is tradicionais de homens e mulheres afirmando que em nossa sociedade os homens tenham cuidado com e as mulheres cuidem de Cuidar de adquire significado moral quando se assume a atribui o da responsabilidade de cuidar de algu m alguma coisa ou de alguns grupos ent o essa atividade 105 acaba por refletir se as obriga es sociais atribu das a quem cuida e sobre quem faz essa atribui o A autora refere que essa moralidade pode afetar a intera o com outros agentes moralmente aut nomos e as rela es entre os que cuidam e os que s o cuidados s o frequentemente rela es entre desiguais nas quais existe alguma depend ncia Para cuidar preciso conhecer as necessidades alheias conhecimento esse que vem dos outros das suas necessidades como por exemplo O procedimento adequado da enfermeira diante de um paciente que n o quer acabar uma refei o depende do conhecimento de suas condi es m dicas de seus h bitos e prefer ncias TRONTO 1997 p 191 Ser atento para poder ver claramente os interesses da pessoa que est sendo cuidada o que envolve muito empenho de tempo e esfor o Cuidar arriscado na medida em que no engajar se demais
250. omamos a constru o do PSF a partir do que Foucault 1979 refere a respeito dos dispositivos tradicionais que utiliza para construir uma vis o abrangente da hist ria e retra ar o passado Da seu empenho em desconstruir o pressuposto do ser como o simult neo sujeito e objeto da hist ria em que se baseia a hist ria cont nua Assim tentar compreender determinadas situa es desse contexto para poder refletir as pr ticas atuais Entre os anos 60 e 70 o Brasil como outros pa ses da Am rica Latina foi intensamente influenciado pelo movimento chamado de Medicina Comunit ria Dois projetos nessa linha o da Universidade de Bras lia e em seguida o Curso Experimental da Universidade de S o Paulo foram exemplos que n o frutificaram porque inevitavelmente contrariavam interesses pessoais ou de grupos SILVA 2003 Em 1974 o munic pio de Porto Alegre iniciou uma experi ncia inovadora na aten o sa de da popula o que contou com a parceria da Secretaria de Sa de Estadual e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul na cria o da Unidade de Sa de S o Jos do Murialdo Esta unidade trabalhou com os conceitos de aten o continuada s fam lias nos postos de sa de e nos domic lios com popula o adscrita O xito dessa experi ncia pioneira serviu para a cria o de outras unidades na cidade inclusive com a migra o de m dicos 56 residentes e profissionais de sa de treinados na pr pria unidade d
251. omprometida com mudan as mais efetivas que atendam as necessidades de sa de da popula o GIL 2006 p 1180 Essa perspectiva se insere nas transforma es sobre a nova concep o de sa de coletiva tendo em vista a preven o e promo o da sa de promo o entendida como um progresso nas estrat gias da aten o em sa de na medida em que sua abordagem desloca o foco do indiv duo para os atores coletivos como a cidade a escola a f brica o meio ambiente LEFEVRE 2000 Antes da Sa de da Fam lia diante de qualquer problema a pessoa corria imediatamente para o hospital atitude que deixava as emerg ncias lotadas Atualmente cada equipe da ESF respons vel por uma rea de abrang ncia explica Claunara Mendon a diretora do Departamento de Aten o B sica do Minist rio da Sa de Portal da sa de Dispon vel em lt http 189 28 128 100 portal aplicacoes noticias noticias detalhe cfm co seq noticia 5 1697 gt Acesso em 14 jul 2008 17 Estrat gia de Sa de da Fam lia que se institui organiza e divulga s fam lias mais precisamente s mulheres m es um conjunto de ensinamentos sobre o cuidado Quando nos referimos s mulheres m es estamos relacionando este fato s pesquisas sobre popula o e suas condi es de vida segundo a Pol tica Nacional de Assist ncia Social PNAS 2005 Identificamos que vem ocorrendo um fen meno de mudan as no que se refere fam lia apresentando a mulher como a pro
252. onstru es sociais presentes nas rela es humanas Para a autora homens e mulheres s o mais que uma cole o de indiv duos biologicamente distintos pertencem sim a grupos sociais que est o engajados em uma rela o social espec fica as rela es sociais de sexo e nesse contexto existe uma base material que o trabalho A modernidade trouxe a possibilidade de uma nova imagem sobre a mulher em virtude de que antes do s culo XVIII pensava se no modelo de sexo nico ou seja o sexo masculino sexo superior perfeito onde o feminino era identificado como g nero masculino inferior LAQUER 2001 Iniciam se estudos que trouxeram quest es relativas ao lugar do feminino nas rela es sociais evidenciando que o conceito de rela es sociais de g nero precisa ser compreendido de maneira global localizando o em todos os lugares e em todos os n veis do social Nessa perspectiva para uma melhor compreens o da problem tica revisitamos o tema da invisibilidade do trabalho feminino utilizamos alguns estudos que demonstram a divis o sexual do trabalho como objeto de pesquisas em diversos pa ses Segundo Hirata 2007 foi primeiro na Fran a depois na Inglaterra e na sequ ncia na Alemanha onde se produziu o campo Foi no in cio dos anos 70 impulsionado pelo movimento feminista que surgiram as primeiras teorias sobre o tema da divis o sexual do 31 O feminismo realiza uma cr tica modernidade apontando para uma nova forma de
253. or e a necessidade de cuidar do outro numa atitude naturalizada como feminina 157 Algumas mulheres escolhem a sua profiss o relacionando quest es biol gicas no caso as enfermeiras referem ser afetuosas ter uma voca o que est ligada ao amor ao saber cuidar isso essencializado no emocional e psicol gico mais do que no biol gico que seria nasceram para isso N o relacionando ao conhecimento cient fico consequ ncia disso o trabalho da enfermagem foi desqualificado historicamente al m de mal remunerado A atividade da mulher ainda permanece em reas como educa o servi os pessoais de sa de ou de educa o Na fala dos m dicos a forma o relacionada necessidade de ter um sal rio que garanta sua subsist ncia e da sua fam lia estudos demonstram a diferen a salarial entre homens e mulheres As raz es que levam os homens m dicos a tornarem se m dicos est o relacionadas preocupa o com aspectos financeiros de forma muito diferente das mulheres ao escolherem a enfermagem como a op o profissional De que lugar falam esses sujeitos Falam de um mundo constitu do por duas sociedades a dos homens e a das mulheres mundos diferentes onde o entendimento sobre a vida e o trabalho parece emanar de lugares diferentes de uma forma o que n o a mesma para meninos e meninas Os estudos de g nero evidenciam esse entendimento quando nos anos 80 discutiu se o Feminismo da Diferen a diferen a cultural e
254. ott 1990 p 4 faz relevante an lise ao afirmar parece me que o lugar das mulheres na sociedade n o um produto direto do que ela faz mas o significado que suas atividades adquirem atrav s da intera o social concreta Nesse contexto Foucault 1999 refere se a esse poder como um poder disciplinar instrumento de saber que n o consegue destruir o indiv duo mas estabelece o controle de seu corpo O poder como um conjunto de institui es e aparelhos garantidores da sujei o dos cidad os em um estado determinado n o est na forma de regra tamb m n o um sistema de domina o derivada de um elemento ou grupo sobre o outro que pode atravessar a sociedade Para o autor o corpo n o ser somente vigiado mas controlado no seu comportamento sua a es seu pensamento com pr ticas sutis O ser humano que entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha o desarticula e o recomp e FOUCAULT 2000 p 119 Ele refere se tamb m a uma precau o metodol gica que devemos ter para n o tomar o poder como um fen meno de domina o maci o e homog neo de um indiv duo sobre os outros de um grupo sobre os outros de uma classe sobre as outras mas ter bem presente que o poder desde que n o seja considerado de muito longe n o algo que se possa dividir entre aqueles que o possuem e o det m exclusivamente e aqueles que n o o possuem e lhe s o submetidos O poder deve ser analisado como algo que circu
255. parecia esvair se no tumultuado cotidiano acad mico Aos colegas de turma pela alegria e as boas risadas que juntos compartilhamos pelo conv vio e pela troca de experi ncias id ias e utopias Da mesma forma Daniela e Michele pelas parcerias inesquec veis no per odo do cumprimento das disciplinas A Sueli funcion ria da P s Gradua o por sua incans vel dedica o cuidado e aten o A todos os meus amigos da Tuiuti especialmente ao meu anjo da guarda que torcem por minhas pequenas conquistas e pelo apoio fundamental em todos os momentos que se fizeram necess rio A liberdade nem sempre est na evid ncia de uma muralha a ser derrubada de um direito a ser conquistado N o est necessariamente na viol ncia de um enfrentamento e na exalta o que ele suscita Ela est tamb m uma vez derrubadas as pris es e dissolvidas as autoridades numa exig ncia interior no ideal de uma inven o da pr pria vida numa aten o ativa aguda participante em todos os seus epis dios numa vigil ncia que nos leva a recusar os compromissos os pap is de figura o em imagens de felicidade pr constru das A liberdade continua sendo no entanto um desafio essencial a merecer todos os nossos cuidados Se o esquecemos ou desdenhamos ainda nos arriscamos a morrer de outro modo n o nos transes de uma imposs vel fa anha mas sem brilho amorda ados pelo conformismo e o t dio embrutecidos pelas preocupa es sobreca
256. pe Eu acho isso no m nimo temer rio uma generaliza o que n o verdade primeiro temos que ver o q trabalhar na Unidade de Sa de A falta da organiza o completa e tamb m equ vocos na organiza o do PSF com uma diretriz muito t nue que ainda n o se afastou do esp rito do ambulat rio N o houve a forma o para o trabalho em equipe esta capacidade forjada na personalidade do profissional com a pr tica e muitas vezes no trabalho em equipe aprendemos atrav s de erros e acertos William M dico Esse aprendizado deveria ocorrer como um processo desde a forma o acad mica que se traduz e se completa no cotidiano A problem tica que envolve a forma o desses profissionais para trabalhar na ESF sup e ainda a inadequa o dos curr culos gerando o despreparo para assumirem este espa o O desconhecimento e compreens o das diretrizes na ESF evidentes na portaria que rege as a es de m dicos e enfermeiros tem rela o frequente com o poss vel fracasso na realiza o das tarefas do cotidiano desse trabalho Quando falamos da dificuldade do trabalho em equipe de sa de estamos falando de uma crise na medicina que envolvem a tica aos servi os prec rios preocupa o maior com o diagn stico do que com a cura do paciente uma rela o com o trabalho em sa de 133 perpassada pelo mercantilismo competi o entre os profissionais da sa de conflitos entre m dicos e os cidad os que est o e
257. pe Hist ria Social da Crian a e da Fam lia Rio de Janeiro Zahar 1978 AROUCA Ant nio S rgio da Silva O dilema preventivista Contribui o para a compreens o e cr tica da medicina preventiva Tese de Doutorado Faculdade de Ci ncias M dicas da Universidade Estadual de Campinas UNICAMP Campinas 1975 Reforma sanit ria Sanitarista Biblioteca Virtual S rgio Arouca Fiocruz 1998 Dispon vel em lt http bvsarouca cict fiocruz br sanitarista0S html gt Acesso em 14 jul 2007 O eterno guru da Reforma Sanit ria RADIS Comunica o em Sa de Funda o Oswaldo Cruz N 3 Rio de Janeiro 2002 VILA Maria Bet nia Cidadania direitos humanos e direitos das mulheres In Bruschini Cristina Unbehaum orgs G nero Democracia e Sociedade Brasileira S o Paulo FCC ED 34 2002 BADINTER Elisabeth Um Amor Conquistado o Mito do Amor Materno Tradu o Waltensir Dutra Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 BARBOSA Regina Helena Sim es Mulheres reprodu o e AIDS as tramas da ideologia na assist ncia sa de de gestantes HIV Doutorado Funda o Oswaldo Cruz Escola Nacional de Sa de P blica 2001 Dispon vel em lt http portalteses cict fiocruz br transf php seript thes chap amp id 00006703 amp lIng pt amp nrm isso gt Acesso em 17 set 2007 BARROS Myriam Lins de org Fam lia e Gera es Rio de Janeiro FGV Editora 2006 BERTONE Arnaldo Agenor As id ias e as pr ticas a constru
258. profissionais p 728 A estas condi es concretas est inserida a divis o do trabalho a desigualdade no trabalho os diferentes graus de autonomia profissional a diversa legitimidade t cnica e social dos v rios saberes implicados Dessa forma o trabalho em equipe sup e a intera o entre os agentes envolvidos buscando o entendimento e reconhecimento de autoridades e saberes assim como a possibilidade da autonomia t cnica E exatamente nestas a es que talvez seja poss vel identificar um ponto de ruptura com o discurso da interdisciplinaridade apresentando neste cen rio rela es conflitivas implicando nas diferen as entre os pap is profissionais que deveriam assumir m dicos e enfermeiras homens e mulheres quando trabalham em conjunto Ao estudar a quest o do poder no trabalho em equipe como um elemento importante nas rela es entre m dicos e enfermeiras recorremos a Saffioti quando afirma que N o se est de forma alguma afirmando que as mulheres s o santas Ao contr rio elas participam da rela o de viol ncia chegando mesmo a desencade la Nem por isto por m a mulher det m o mesmo poder que o homem Trata se de uma correla o de for as que muito raramente beneficia a mulher Socialmente falando o saldo negativo da viol ncia de g nero tremendamente mais negativo para a mulher que para o homem SAFFIOTI 1994 p 446 Assim a elabora o do conceito de g nero passa pela
259. que estas a es podem ser realizadas na Unidade de Sa de da Fam lia e no domic lio dos usu rios caso seja necess rio Deve haver nesta atua o uma articula o com os demais n veis de aten o do sistema de sa de do munic pio A aten o est centrada na fam lia entendida e percebida a partir do seu ambiente f sico e social o que vem possibilitando s equipes de sa de da fam lia uma compreens o ampliada do processo sa de doen a e da necessidade de interven o que vai al m das pr ticas curativas FRANCO MERHY 1999 2 2 2 Princ pios e diretrizes da Sa de da Fam lia 2 O Sistema nico de Sa de SUS completa 20 anos em 2008 e em comemora o aos 15 anos de implanta o da Estrat gia Sa de da Fam lia ser realizada a II Mostra Nacional de Produ o em Sa de da Fam lia no per odo de 05 a 08 de agosto de 2008 em Bras lia DF O evento promovido pelo Departamento de Aten o B sica Secretaria de Aten o Sa de Minist rio da Sa de tem por objetivo incentivar divulgar e valorizar o trabalho das mais de 27 3 mil Equipes de Sa de da Fam lia que atendem mais de 88 milh es de brasileiros Dispon vel em lt http www abrasco org br imprimir php opcao pagina principal gt Acesso em 01 maio 2008 58 A ESF dirigida n o somente para cura mas principalmente para um trabalho de promo o da sa de impulsionou a troca de um modelo de aten o com foco na assist ncia curativa e no sistema hospit
260. que n o identifico por exemplo no nosso conselho t o distante t o avesso s mudan as acho tamb m que esse o meu maior erro n o vejo o perigo em nada e sigo em frente sempre J sofri amea a de morte de paciente bandido e fui defendida por outro tamb m bandido traficante L a teoria muito diferente da pr tica um outro mundo n o existe a Lei e sim as suas pr prias leis outra forma de organiza o Meu papel como enfermeira impulsionar minha equipe apesar da dificuldade salarial que desmotiva desfaz o esp rito de equipe No entanto a minha for a sempre maior e estou sempre pronta para garantir a sa de daquela popula o que sou respons vel Denise Enfermeira coordenadora da ESF a rela o de trabalho entre os profissionais da equipe da ESF deveria ser de maior comprometimento cumplicidade e intera o para que o resultado fosse melhor popula o atendida com mais qualidade dentro daquilo que de direito do usu rio Mas sil ncio nem sempre as pessoas est o dispon veis para esse tipo de envolvimento Fabiana Enfermeira 4 3 O cuidado que desafia A minha experi ncia de quase ndia onde conheci outra cultura outra forma de viver que nada aqui pode ser comparado ao que vi tamb m a minha experi ncia em outro PSF que foi uma boa escola tudo isso constituiu a minha trajet ria meu 128 crescimento como enfermeira e profissional da sa de
261. que o servi o p blico o pr prio MS exige que dados n meros isto atrapalha um pouco porque isso deixa a rela o m dico e enfermeiro desgastado por que ele precisa fazer o volume e vai cobrar do m dico que voc tem que atender mais N o tem que atender qualidade tem que atender quantidade encher papel encher n mero Garantir a tal da produtividade se bem que m dico n o est muito preocupado com a produtividade que infimamente no nosso sal rio Acho at bom isso um lado positivo Guilhermo M dico Eu organizo a minha semana com consultas de cl nica m dica consultas generalistas nas quais eu atendo pessoas de todas as idades de ambos os sexos de todos os problemas O que eu puder resolver em 80 das vezes e o que n o d para resolver eu fa o um encaminhamento para o especialista fa o tamb m a promo o de sa de atrav s de grupos de diabetes hipertens o grupos de gestantes Eu gosto muito de fazer palestras Onde eu penso na pessoa analisando o contexto que ela vive como que a sa de dela saber como a sua vida para montar a palestra e poder contribuir ou seja atingir a vida dele com a minha palestra N o adianta eu s chegar l falar isso isso e isso risos tem que saber falar a linguagem dele nos moldes dele onde est o inseridos Fabr cio M dico Pode se observar no depoimento desses entrevistados apesar da forte press o sobre a produ o demanda e norma
262. quenos na fam lia a propor o das que realizam trabalhos dom sticos de 93 3 com m dia de 22 5 horas semanais trabalhadas em casa SOARES 2007 99 situa o de emprego e quando conseguem entrar na situa o de emprego t m mais possibilidade de entrar num emprego prec rio como o de tempo parcial por exemplo e n o o de trabalho em tempo integral qualificado com possibilidades de carreira e de promo o HIRATA 2004 p 147 Estudos sobre g nero e trabalho em rela o ao papel desempenhado pelas mulheres trabalhadoras tem demonstrado em maior percentual que os homens ainda s o identificados como respons veis em prover a casa e para a mulher um papel secund rio complementando esta renda O grande desafio segundo Kergoat 1987 conseguir articular esse caminho para que as mulheres se tornem vis veis e posteriormente para que o grupo se torne objeto sociol gico e principalmente para que possa ser examinado fundamental aprender a raciocinar em termos de rela es sociais e nesse sentido o que se prop e que se estude o trabalho feminino em termos de rela es sociais com seu corol rio as pr ticas sociais onde rela o significa contradi o antagonismo luta pelo poder recusa a considerar que os sistemas dominantes capitalismo e patriarcado s o totalmente determinantes e que as pr ticas sociais apenas refletem essas determina es As rela es sociais de sexo est o presentes numa base ma
263. r que tipo de pr ticas elas expressam no que tange divis o sexual do trabalho c compreender como se constitui historicamente e no cotidiano o conte do das a es de m dicos e enfermeiras e se as concep es sobre o cuidado e o conte do dessas a es s o demarcadas por alguma ordem simb lica associada a rela es desiguais de poder gerando dificuldades pr pria proposta da interdisciplinaridade Essas foram as hip teses elencadas a partir dos objetivos propostos O poder faz parte de uma gama de rela es organizadas poss vel que embutido no discurso de transversalidade e respeito s diversas ci ncias possa existir uma rela o de poder e subordina o pautada por rela es assim tricas de g nero Estaria a ESF considerando se seu car ter interdisciplinar gerando pr ticas e saberes hierarquizados a partir das rela es desiguais entre homens e mulheres O significado do trabalho feminino faz parte de uma realidade de g nero que se constitui a partir do entendimento de que ser mulher significa estar pronta para o ato de cuidar Ent o para desenvolver esta tarefa n o h a necessidade de nenhuma forma o ou seja a mulher n o precisa frequentar uma faculdade para assumir certas 30 atividades que s o desenvolvidas no cuidado com as fam lias da ESF poss vel que como enfermeira a mulher siga em seu trabalho refor ando essas representa es partilhadas socialmente e as mesmas concep es c
264. ra Mendes 1999 o modelo de sa de do Canadense que mais influenciou a pol tica p blica de sa de no pa s principalmente na promo o e preven o da sa de Em 1980 no Chile foi implantado o modelo de sa de familiar baseado na continuidade do cuidado com a aten o para toda a fam lia em todas as etapas do ciclo vital na forma integral de incluir todos os n veis de aten o por m enfatizando a promo o e a preven o no enfoque biopsicossocial porque se promoveu a mudan a do paradigma biom dico para um enfoque hol stico no cuidado personalizado sendo por m a fam lia a unidade de aten o SILVA 2003 Segundo Ord nez 1995 em 1984 Cuba implantou o Programa M dico de Fam lia que n o estabelecia uma rela o de subordina o entre os diferentes n veis ao inv s disto representando uma verdadeira interface de rela es de apoio e fortalecimento Conceituam a aten o prim ria como parte de uma totalidade da qual fazem parte consideram o mbito de a o do m dico da fam lia o principal respons vel pelo sucesso obtido na sa de da popula o O SUS est inserido no contexto das pol ticas p blicas de seguridade social que abrangem al m da Sa de a Previd ncia e a Assist ncia visto como a maior pol tica de inclus o social do Brasil O sistema desenvolve a es e servi os que devem ser realizadas em conson ncia com as pol ticas e diretrizes aprovadas por Conselhos de Sa de Conselho Nacio
265. rdurou at a d cada de 20 Na d cada de 1930 o pa s apresentaria grandes transforma es em rela o ao desempenho do Estado no sentido de discutir mudan as em rela o aos direitos sociais os trabalhadores contavam apenas com benef cios previdenci rios garantidos por empresas e caixas de aposentadorias e pens es CAPS Cabendo a grande parcela da popula o trabalhadora buscar os servi os p blicos de sa de ou ao atendimento dos profissionais liberais em virtude de estar exclu da dos benef cios citados A pol tica nacional de sa de previa um atendimento restrito tamb m eram limitados os recursos financeiros para garantir o funcionamento de sua estrutura organizacional Entretanto ressaltam o car ter restrito desta pol tica Restrito porque a amplitude de sua cobertura populacional era limitada como tamb m eram limitados os aspectos t cnicos e financeiros de sua estrutura organizacional Esta crise no atendimento em sa de n o ocorreu s no Brasil identificada em pa ses centrais originada por dois conflitos postos no estado de bem estar social e a na forma mecanicista da medicina curativa Por essa raz o o surgimento da proposta de uma nova forma de desenvolver o trabalho em sa de da popula o visando o bem estar da comunidade modificando o atendimento pautado na doen a modelo curativo valorizando a transforma o da percep o m dica sobre o conceito de sa de e de doen a Cabendo assim ao Sistema nico
266. re como o processo de consolida o do status e do poder que se hierarquiza na rela o entre esses profissionais A concep o socialmente partilhada de que o cuidado com a sa de da responsabilidade do m dico evidenciando a divis o tradicional do trabalho entre pensar relacionado ao diagn stico a receita m dica ao rem dio e fazer relacionado a limpar ensinar cuidar Essas quest es s o estruturadas na cultura das organiza es e na organiza o do servi o Tamb m s o concep es socialmente partilhadas Isso tamb m diz respeito ao questionamento frequente se preciso estudar para cuidar mais do que isso diz respeito ao espa o do di logo e da autonomia entre as profiss es Esse depoimento permite considerar que tamb m a educa o pode ser a respons vel pelas diferen as e desvantagem entre mulheres e homens no mundo do trabalho gerando preconceitos e vulnerabilidades o que impulsiona necessidade de se rever as pol ticas p blicas voltadas para a mulher Dando continuidade a an lise do conte do das falas dos sujeitos tendo em vista analisar que caminhos levaram esses profissionais para a rea da sa de ou seja que concep es est o imbricadas nessas escolhas e que podem estar referidas a g nero interdisciplinaridade e poder segue se em frente com a exposi o sobre a forma o profissional e os caminhos para a contrata o Alguns entrevistados apontam para poss veis mudan as nas pr ticas prof
267. rgicas e procedimentos para fins de diagn sticos IV encaminhar quando necess rio usu rios a servi os de m dia e alta complexidade respeitando fluxos de refer ncia e contra refer ncia locais mantendo sua responsabilidade pelo acompanhamento do plano terap utico do usu rio proposto pela refer ncia V indicar a necessidade de interna o hospitalar ou domiciliar mantendo a responsabiliza o pelo acompanhamento do usu rio VI contribuir e participar das atividades de Educa o Permanente dos agentes comunit rios de sa de Auxiliares de Enfermagem Auxiliar de Consult rio Dent rio e T cnico em Higiene Dental VII participar do gerenciamento dos insumos necess rios para o adequado funcionamento da Unidade de Sa de da Fam lia Superando o conceito de sa de anterior Reforma Sanit ria que influenciava a forma de organiza o do sistema e o servi o popula o privilegiando o atendimento m dico individual e hospitalar e a assist ncia m dica curativa em detrimento das a es de sa de p blica de car ter preventivo e coletivo Em junho de 2007 Yves Talbot professor de Medicina Familiar do Departamento de Gest o e Pol ticas de Sa de da Universidade de Toronto Canad esteve em Bras lia participando do Semin rio Internacional Os desafios do ensino da Aten o B sica na Gradua o em Medicina BRAS LIA 2007 62 Na ocasi o apresentou se o desafio da qualifica o profissional para essa
268. rimentando GIORDANI 2004 p 89 Canguilhem 2002 discute a import ncia de estudar a sa de paralelamente ao estudo sobre a doen a Ao analisar a rela o m dico paciente parece que o m dico n o sente tanto a necessidade de encontrar o significado de sa de e doen a em decorr ncia de que a sua preocupa o outra que est ligada aos fen menos vitais Qual afinal o entendimento que se tem sobre a doen a Para Canguilhem O estado patol gico ou anormal n o a consegi ncia da aus ncia de qualquer norma A doen a ainda uma norma de vida mas uma norma inferior no sentido de que n o tolera nenhum desvio das condi es em que v lida por ser incapaz de se transformar em outra norma O ser vivo doente est normalizado em condi es bem definidas e perdeu a capacidade normativa a capacidade de instituir normas diferentes em condi es diferentes CANGUILHEM 2002 p 146 Dessa forma o profissional da sa de pode reconhecer a dimens o humana do relacionamento com os pacientes necess rio pensar neste relacionamento de maneira a encontrar caminhos que conduzam transforma o destas contradi es na busca de um trabalho social que segundo Luchesi 1991 permita ao sujeito desvendar e utilizar se das pr prias condi es da sociedade para trabalhar criticamente pela sua transforma o Segundo a Portaria N 648 BRASIL 2006 s o atribui es comuns a todos os profissionais na ESF I
269. rodu o demanda e normas a preocupa o em tratar os pacientes efetivamente como seres humanos Indiv duos possuidores de direitos e anseios atendendo o que prev o MS com a humaniza o na assist ncia integral sa de garantindo a resolubilidade dos problemas trazidos pela popula o Os entrevistados demonstram a consci ncia cr tica da responsabilidade diante de seu trabalho junto comunidade Expressam realiza o profissional no trabalho junto ESF mesmo quando se referem aos problemas em rela o ao perfil das fam lias que s vezes atendem No caso das enfermeiras estas destacam a valoriza o profissional expressadas pela comunidade comentam o aumento da auto estima principalmente quando s o capazes de realizar um trabalho de parceria junto ao m dico que parece valorizar essa possibilidade O estudo nos permitiu compreender que o espa o de reconhecimento do m dico torna se cada vez mais distante daqueles que constru ram a hist ria da medicina Reconhecimento relacionado magia e depois arte hoje aponta para um novo entendimento que passa por grande tens o na medida em que n o mais centraliza o atendimento em sa de 160 focado na figura do m dico Questiona se atualmente a valoriza o da tecnologia e a capacidade sem limites da medicina de erradicar as doen as questiona se a domina o corporativa de alguns m dicos que ainda tentam no interior da equipe manter seu status de poder A medici
270. rofissional relacionadas ao processo de forma o tamb m qualifica o de cada categoria no sentido da discuss o sobre o processo de trabalho na ESF Desafio imbricado a proposta pedag gica da ESF que exige no cotidiano da equipe a coopera o a complementaridade o processo de discuss o frequente na tomada de decis es o planejamento constante assim como a clareza sobre a necessidade de se assumir responsabilidades compartilhadas A especializa o uma exig ncia do mercado mas tamb m uma necessidade pessoal de buscar melhor qualifica o para assumir a responsabilidade na ESF A qualifica o como meio de formar esse novo profissional que opta por fazer uma vida dentro da sa de p blica e n o s na iniciativa privada criando assim a possibilidade de ampliar a aten o sa de da popula o como um todo 117 Paim 2000 refere se ao profissional da sa de como aquele que tem a capacidade de an lise do contexto em rela o s pr ticas que realiza compreende a organiza o e gest o do processo de trabalho em sa de tolerante e sabe manter uma rela o de di logo durante o conflito Sai da faculdade e iniciei o curso de SF sai muito cru muito sem saber como trabalhar n o conhecia o mercado de trabalho Eu precisava fazer um curso surgiu a id ia de fazer a especializa o em SF Tenho pretens es de ingressar na rea acad mica fazer mestrado Vou ter que fazer uma resid n
271. rregada Carla Enfermeira Nessa fala a possibilidade de problematizar a forma o profissional e a centraliza o de a es junto enfermagem demarca a fragilidade da proposta interdisciplinar a demanda interna muito grande talvez por essa raz o as enfermeiras refiram se a sobrecarga de trabalho necessidade de dividir as tarefas burocr ticas Por outro lado fica evidente nas entrevistas com as enfermeiras um comprometimento muito grande com o trabalho o que representa assumir uma carga excessiva de responsabilidade nas tarefas cotidianas ambulatoriais e administrativas Assim tamb m assumindo a responsabilidade com as a es que tem como objetivo construir o v nculo com a comunidade e pela maior parte das atividades administrativas Al m da demanda a sobrecarga de trabalho pode ser agravada pelo fato de que nem sempre os profissionais da equipe t m clareza das suas fun es e responsabilidades Mas existe a possibilidade da equipe como um todo estar sendo sobrecarregada com a responsabilidade de desenvolver a es de cuidados a muitas fam lias o que acaba por 125 comprometer a qualidade das a es que deveriam desenvolver Os relatos subseguentes evidenciam esta situa o As tarefas s o institu das o sistema exige que voc fa a um volume de consultas Muita demanda sendo que essa demanda n o da sua rea J come a com erro voc tem que atender a tudo Temos que distribuir voc trab
272. rregados de tarefas entorpecidos por falat rios telef nicos alucinados por um mundo que nos escapa dia ap s dia Anestesiados Chantal Thomas 1999 Liberdade somos dignos de ser livres RESUMO Esta disserta o um estudo sociol gico sobre as rela es de trabalho de m dicos e enfermeiras da Estrat gia de Sa de da Fam lia ESF que desenvolve o atendimento em sa de da popula o baseada nos princ pios previstos pelo Sistema nico de Sa de SUS A ESF tem em vista a promo o e o reordenamento do atendimento da aten o em sa de junto fam lia atrav s da vigil ncia sa de e do trabalho em equipe Este estudo tem como objetivo compreender os significados atribu dos aos conte dos das tarefas e a divis o sexual do trabalho inserida em din micas de g nero e de poder no trabalho de m dicos homens e enfermeiras mulheres que atuam na ESF no que se refere proposta de interdisciplinaridade sobre as pr ticas do cuidado no meio familiar Nessa perspectiva busca identificar como se constr i as rela es de g nero e se elas s o capazes de demarcarem diferentes pr ticas e concep es em rela o generifica o do conte do das tarefas e sobretudo a categoria cuidado entre profissionais m dicos e enfermeiras no que se refere ao exerc cio das fun es previstas pela ESF analisar as concep es sobre o conte do do trabalho que a ESF precisa desenvolver no fazer profissional e como ocorre a fl
273. ru o que vem desmontar a l gica interna das categorias expondo as suas limita es este m todo permite para v rios autores a cr tica ao universalismo forma essencialista bin ria e racionalista originada no iluminismo Scott procura articular as rela es historicamente determinadas para al m das diferen as de sexos mas principalmente uma categoria que objetiva encontrar sentido para esta diferen a SCOTT 1998 A autora refere a import ncia das contribui es entre a hist ria das mulheres como campo de estudo e o movimento feminista O que se verifica que os estudos feministas inicialmente refletiam descri es das condi es de vida e de trabalho das mulheres falando sobre as desigualdades entre os sexos num tom de den ncia sobre a opress o das mulheres Enquanto constru o social g nero n o pode ser visto como verdade absoluta tipo a mente o eu o conhecimento constitu do socialmente e o que se pode saber depende dos contextos e pr ticas sociais Para evidenciar este car ter basicamente social das diferen as fundamentadas no sexo g nero indica uma rejei o do determinismo biol gico impl cito no uso de termos como sexo ou diferen a sexual O termo g nero enfatizava igualmente o aspecto relacional das defini es normativas da feminilidade Aquelas que estavam preocupadas pelo fato de que a produ o de estudos sobre mulheres de maneira demasiado estreita e separada utili
274. s inserido em um campo de complexas rela es sociais sexuais e tnicas MARIANO 2005 Na mesma dire o Nicholson 2000 nos adverte que n o podemos fazer do corpo um porta cabides forjando novos fundacionismos J para Butler 2003 a categoria sexo pertence a um sistema de heterossexualidade compuls ria que claramente opera atrav s da reprodu o sexual compuls ria Sendo as defini es biol gicas de macho e f mea produtos de toda uma matriz heterossexual o que acaba por manter essa matriz encoberta de uma cr tica radical Escolher viver ou usar certo tipo de corpo implica um mundo de estilos corporais j estabelecidos Por outro lado a escolha de um g nero significa interpretar normas de g nero recebidas de forma a identificar o g nero como um projeto que permite renovar a hist ria cultural das condi es corp reas BUTLER 1987 A autora refor a que este ato uma tarefa que estamos nos esfor ando sempre em assumir desde o come o Esse problema segundo pressupostos marxistas pode ser entendido como o da constitui o social da identidade pessoal e por implica o identidade de g nero Assim poss vel escolher o g nero n o apenas dentro das condi es culturalmente dispon veis mas no cotidiano na rua e no mundo Assim este g nero est relacionado ao fato de estarmos sendo constantemente constitu dos por outros de modo que somos identificados por um g nero que outros v em em n s ou nos atribuem B
275. s uma preocupa o em tratar os pacientes efetivamente como seres humanos com seus direitos sua hist ria seus anseios No entanto a sobrecarga uma constante nessa fala isto porque se vem tentado modificar as pr ticas sem que haja maior n mero de profissionais atuando na ESF A concep o de atender o doente e despach lo com uma receita na m o t m sido extremamente criticada cada vez mais se imp e o trabalho humanizado com vistas a dar resolubilidade clientela atendida Resolubilidade e a es voltadas educa o em sa de no sentido de garantir a promo o e preven o da sa de como princ pio elementar da ESF No depoimento abaixo poss vel verificar essa preocupa o As tarefas ainda s o muito verticalizadas em decorr ncia das diferen as salariais que acabam definindo essa hierarquia Tem muita coisa que chega pronto pra mim sem que eu pe a risos Por mais que tente fazer parte da rotina das tarefas 127 continuam trazendo quase tudo pronto Como se a gente repetisse o modelo do in cio do Hospital onde alguns profissionais eram considerados superiores aos outros Tudo isso est acabando na medida em que se fortalece a import ncia da equipe mas leva ainda um tempo para mudar o panorama do SF Acho que as enfermeiras est o muito sobrecarregadas como sempre estiveram Ser que esse problema est na forma o No descompromisso profissional Na falta de entendimento do que significa trab
276. s como essas que pretendem contribuir para a forma o da consci ncia cr tica da popula o e mais especificamente da fam lia possibilitando a aquisi o de pr ticas que visem promo o da sua pr pria sa de e sa de da sua comunidade A es desenvolvidas junto da equipe interdisciplinar incentivando o auto cuidado tentando romper com o atendimento em sa de centrado na doen a Nesse esp rito configuram se as quest es e os objetivos dessa pesquisa que aqui se apresenta por meio do seu objetivo geral construir uma compreens o sobre os significados atribu dos aos conte dos das tarefas e sobre as rela es de g nero e de poder no trabalho de m dicos homens e enfermeiras mulheres que atuam na Estrat gia de Sa de da Fam lia no que se refere a proposta de interdisciplinaridade sobre as pr ticas do cuidado no meio familiar Os objetivos espec ficos se voltam para os desafios de a identificar como se constr i as rela es de g nero e se elas s o capazes de demarcarem diferentes pr ticas e concep es em rela o generifica o do conte do das tarefas e sobretudo a categoria cuidado entre profissionais m dicos e enfermeiras no que se refere ao exerc cio das fun es previstas pela ESF b analisar as concep es sobre o conte do do trabalho que a ESF precisa desenvolver no fazer profissional e como ocorre a flexibiliza o e a hierarquiza o das atividades no cotidiano da equipe de sa de para conhece
277. s e da morte Os maiores problemas de sa de que as sociedades enfrentaram sempre estiveram relacionados com a vida em comunidade na Gr cia 443 a C encontramos relatos de m dicos que percorriam as cidades prestando assist ncia s fam lias de casa em casa orientando as ROSEN 1994 E nesta busca do enfrentamento da doen a que a medicina vem reiventando se desde os prim rdios da civiliza o A medicina moderna fixou sua pr pria data de nascimento no final do s culo XVIII propondo a reorganiza o do espa o manifesto e secreto que se abriu quando um olhar milenar se deteve no sofrimento dos indiv duos FOUCAULT 1994 Verifica se assim o rejuvenescimento da percep o m dica a ilumina o viva das cores e das coisas sob o olhar dos primeiros cl nicos Este olhar deixa de ser redutor e assim torna se poss vel organizar em torno do ser humano uma linguagem racional Possibilitando a experi ncia cl nica numa reordena o formal e em profundidade deixando no passado teorias e sistemas permitindo assim identificar o indiv duo atrav s de um discurso de estrutura cient fica A cl nica revela uma nova estrutura evidenciando segundo Foucault um estatuto local que situa o ser da doen a com suas causas e seus efeitos em um espa o tridimensional Assim podemos presenciar um novo di logo entre o m dico e o doente onde lhe d i Permitindo a rela o do significante com o significado que se redistribui e ist
278. s materiais e arranjos institucionais aquelas matrizes de poder e discurso que me produzem como sendo vi vel Com efeito esse eu n o seria um eu pensante e falante se n o fosse pelas pr prias posi es a que me oponho pois elas as que sustentam que o sujeito deve ser dado de antem o que sustentam que o discurso um instrumento ou reflex o desse sujeito j fazem parte do que me constitui BUTLER 1998 p 24 Para Butler 1998 os sujeitos que instituem a es s o eles mesmos efeitos institu dos de a es anteriores e o horizonte em que n s agimos est a como uma 91 possibilidade constitutiva de nossa capacidade de agir As condi es nas quais os corpos materiais sexuados tomam forma est o relacionadas sua exist ncia possibilidade de serem apreendidos e sua legitimidade Contrap e portanto o dualismo que por um lado faz uma reifica o do g nero e da identidade e da categoria mulher X mulheres dentro da matriz heterossexual para pensar a constru o vari vel da identidade como pr requisito metodol gico Fazendo uma releitura da lei estruturalista e da narrativa que explica a produ o da diferen a sexual que se centra na fixidez e na universalidade presumida da lei e atrav s de uma cr tica geneal gica busca expor seu poder de generatividade inadvertida e auto anuladora BUTLER 2002 Para Kehl 1998 em Deslocamentos do Feminino recebemos ao nascer a marca da diferencia o sexu
279. s no setor de sa de em todo o pa s o Movimento de Reforma Sanit ria lidera os impulsos de mudan as nas pol ticas de sa de envolvendo ainda funcion rios p blicos professores universit rios sindicalistas e associa es profissionais A participa o da comunidade na gest o e controle do sistema de sa de atrav s de conselhos nos n veis nacional estadual e municipal passa a ser uma das metas propostas a partir da VIII Confer ncia Nacional de Sa de em 1986 da qual participaram muitos membros das redes movimentalistas bem como destacadas lideran as investidas de saber t cnico competente ou de mandatos eletivos DOIMO 1995 p 113 Para a autora o Movimento de Sa de no Brasil o mais bem sucedido movimento reivindicativo de a o direta no que se refere institucionaliza o de canais legais de controle e participa o em pol ticas p blicas Este processo foi baseado em modelos internacionais que evidenciavam o trabalho nesta rea respaldando a promo o da sa de como um dos objetivos cada vez idealizados pelos governos atuais Arouca ao referir se Reforma Sanit ria evidencia que estava em curso uma reforma democr tica n o anunciada ou alardeada na rea da sa de A Reforma Sanit ria brasileira nasceu na luta contra a ditadura com o tema Sa de e Democracia e estruturou se nas universidades no movimento sindical em experi ncias regionais de organiza o de servi os Esse movime
280. s novas fun es na ESF Talbot referindo se principalmente aos m dicos que s o em sua maioria formados com vis o centrada nos hospitais buscando especializa es vendo a realiza o profissional a partir de pr ticas privadas de sucesso Asseverava que muitos deles n o conhecem o trabalho de uma equipe de Sa de da Fam lia Durante sua fala no Semin rio tentou dirigir o manejo da suas transpar ncias sem resultado uma ajuda lhe foi oferecida ao que ele fez um coment rio humor stico bem ilustrativo realidade vivenciada pelas equipes no cotidiano do PSF Eu prefiro ter o controle Eu sou m dico Eu n o gosto de trabalhar em equipe Uma brincadeira que possui um cunho de verdade pois poss vel que uma grande parte dos m dicos que participam da ESF talvez n o d em conta de atingir os objetivos do trabalho em equipe Talbot ressaltou algumas caracter sticas que deveriam fazer parte do m dico de fam lia afirmando que s o cl nicos qualificados que representam um recurso social para uma comunidade definida o trabalho do m dico deve ser fundamentado na Medicina de Fam lia que baseada na comunidade a rela o m dico paciente o preceito central do m dico de fam lia Afirma ainda que o m dico de fam lia n o pode ser uma mistura formada por peda os de um pediatra de um ginecologista de um cl nico de um sanitarista de um cirurgi o Talbot diz que este m dico um outro profissional que deve ser preparad
281. s rela es sociais de sexo acabam problematizando a divis o sexual do trabalho possibilitando assim ampliar a pr pria no o de trabalho Trazendo a tona import ncia do rompimento com a identifica o do trabalho masculino como universal exigindo uma reflex o mais ampla e assim conduzindo o foco nas rela es sociais pontuando classe e sexo social Apesar do avan o das tecnologias na sociedade contempor nea poss vel que a divis o sexual do trabalho permane a acentuando o dom nio da esfera tecnol gica pelos homens e o entendimento da incompetente t cnica por parte da mulher Como se fosse poss vel dizer que existem trabalhos de homens e trabalhos de mulheres onde o trabalho de homem tem mais valor que o trabalho da mulher Mais uma vez o dualismo hierarquizado se mant m e a atitude das mulheres parece ser o de aceita o Como as mulheres foram muito bem treinadas para agientarem um ritmo intenso e um ac mulo de atividade muitas delas mesmo percebendo o peso da carga colocada sobre os seus ombros acha o normal SAMPAIO 2007 Hoje como coordenadora percebo grande valoriza o da profiss o no nosso munic pio Atualmente identifico atrav s da consulta de enfermagem que a popula o j n o valida tanto este espa o que era s do m dico A enfermeira ouve explica orienta tem paci ncia para esclarecer d vidas e os usu rios valorizam esta forma de atuar preferindo em muitos casos serem atendidos pelo
282. se s culo com a Revolu o Industrial esse cen rio aponta novo quadro Com a sa da dos trabalhadores dos campos e a sua concentra o nas cidades aconteceram mudan as na vida social que exigiram novas necessidades tais como a constru o dos hospitais de esgotos escolas controle do lixo doen as entre outros Desta forma garantir a assist ncia da popula o e destas novas necessidades significaria tamb m beneficiar as cidades que dela necessitavam seguindo o objetivo maior que seria o de aliviar o Estado Tardiamente auxiliando na efic cia de Pol ticas P blicas que come am a ser ordenadas tendo em vista retirar a benevol ncia ou seja o car ter de caridade e filantropia 46 em rela o assist ncia sa de verifica se os primeiros movimentos em rela o sa de como um direito do cidad o tentando assim garantir a sa de das fam lias principalmente dos trabalhadores Torna se evidente cada vez mais concep es sobre a necessidade de uma medicina ligada ao Estado que fosse capaz de praticar uma pol tica de assist ncia uma fun o nacional Garantindo cuidados gratuitos assegurados por m dicos que o governo indenizaria pagando lhes as rendas eclesi sticas Uma medicina garantida pelo Estado que deveria controlar e impedir a a o de charlat es uma prote o legal visando cura Ou seja uma promessa de atendimento individual uma garantia de assist ncia familiar dos cuidados no domic lio ten
283. sentir se mal a doen a revela uma situa o que envolve um estado de extrema expropria o o sujeito que sofre e uma rede de micro poderes onde a recep o triagem o primeiro elo PEDROSA 2007 p 19 Para o autor integrando os atos de cuidado que a Estrat gia de Sa de da Fam lia se materializa por meio dos programas de assist ncia farmac utica odontol gica sa de mental idoso adolescentes sa de direitos sexuais e reprodutivos entre outros Propiciando assim momentos de educa o permanente para a equipe de sa de tendo em vista que a educa o um processo de di logo n o deve simplesmente transferir saber trata se de um encontro de sujeitos que buscam compreender a significa o dos significados 54 problematizar o processo de trabalho diante da pol tica e de suas regras permitindo a recria o de tecnologias para pr ticas mais eficazes Para Dalcuche 2006 a ESF a despeito de constituir estrat gias adequadas ao enfrentamento da extens o de cobertura e da corre o de iniquidades quando tomadas como a es nicas e isoladas do conjunto de outras necessidades em sa de tornam se impr prias e ineficientes Para as mulheres esses programas buscam apenas potencializar os servi os de assist ncia b sica sa de pr natal planejamento familiar e preven o do c ncer de colo por exemplo prov vel que o Brasil orientando se por modelos externos em decorr ncia de muitos fa
284. sfera da sexualidade entre outros fatores BARROS 2006 p 10 Assim a fam lia vista como um espa o de depend ncias onde poss vel construir a autonomia tendo tamb m a fun o de ajuda na constru o das identidades pessoais A fam lia para Bruschini 1988 pode ser identificada como a uma unidade de produ o e de reprodu o b unidade de reprodu o e consumo c unidade com la os de consangiiinidade d unidade de solidariedade afeto e prazer e pessoas que dividem o mesmo teto e a mesma cozinha f local da rela o dial tica entre domina o e submiss o g rede de parentesco independente da moradia conjunta h espa o de socializa o reprodu o ideol gica e conflito etc Esta perspectiva segundo Bruschini chama a aten o sobre o modelo de fam lia que se tem utilizado para falar das fam lias brasileiras principalmente os grupos mais desfavorecidos s cio economicamente Esta reflex o fundamental no sentido de compreender como as mulheres assumem a responsabilidade como cuidadoras que possivelmente s o requisitadas nas pr ticas dom sticas de cuidados a sa de pela ESF 79 Badinter 1992 comenta que a masculinidade pode ser medida pelo compasso do sucesso ressaltando que este sucesso lhes provoca poder e admira o Para os homens esta uma expectativa totalmente aceita em decorr ncia de que desde crian a ensinado a lidar com esta imagem como se fosse superior mulher nas rel
285. sociedade 71 Deixando clara a divis o sexual de pap is sociais afirmando que o lugar da mulher n o junto a ci ncia mas sim em seu lar submissa ao marido Nota se atrav s destas afirma es do s culo XIX e inicio do s culo XX que havia uma tentativa de provar que a diferen a entre homens e mulheres era natural identificando a imagem da mulher relacionada instabilidade uma instabilidade amea adora Portanto interven es como a educa o e o trabalho na vida desta poderiam modific la ou mesmo perverter a diferen a Ser natural n o significava ser definitivo ou estar garantido RODHEN 2003 As mulheres eram descritas na literatura m dica como seres estranhos que poderiam perverter a organiza o social no entanto eram vistas como fundamentais para o estabelecimento da ordem em decorr ncia da sua capacidade como procriadoras trazendo vida novos seres acabavam por cumprir o ideal de renova o das gera es conservando a humanidade Rodhen evidencia que nesse periodo os homens poderiam desenvolver um grau ilimitado de eleva o mental j as mulheres estariam presas a um est gio menos evolu do Para Scott 2002 esta id ia se justifica porque os homens eram por natureza seres morais completos melhores representantes do ser humano as mulheres n o eram bem assim o conceito de indiv duo abstrato articulado como a base de um sistema de inclus o universal Este sistema mantido como um padr
286. ssando em resid ncia vai galgando outros espa os faz uma especialidade e quando voc chega l na frente no caso com a minha especialidade no meu caso 112 vascular voc se torna um empregado dos conv nios e tem que ficar correndo atr s do dinheiro dos conv nios Ahhh Ganha se dinheiro com isso Mas e a satisfa o pessoal Eu ficava de 6 da manh s 10 da noite todo o dia operando varizes ou amputando p diab tico ou fazendo uma outra cirurgia arterial Onde est a satisfa o pessoal Eu n o fiz medicina para isso Eu vi o trabalho de medicina da fam lia fui num Congresso disso achei muito bacana e falei eu quero fazer isso Joguei a cirurgia vascular de lado e estou investindo nisso Guilhermo M dico A consci ncia da constru o da vida profissional revelando que essa trajet ria tamb m refere a satisfa o pessoal que est presente na maioria dos depoimentos N o sei exatamente quando me decidi ser m dico o que eu sei que tinha muita clareza do trabalho que teria pela frente Segui este caminho sabendo que para ser m dico preciso ter uma boa dose de generosidade ser extremamente estudioso e disciplinado saber que ter que estudar o resto da sua vida e fun o do progresso da ci ncia que n o p ra N o pensar s em ganhar dinheiro Saber que ser m dico significa estar de plant o 24 horas abrir m o de sua privacidade e at de contato com a sua fam lia Jo o M dic
287. star modificando a cl ssica hierarquia em termos de cuidar saber e fazer Apesar das dificuldades pontuadas poss vel visualizar nos resultados a manuten o dos processos anteriores na distribui o e organiza o das tarefas da enfermagem e da medicina no entanto h ind cios de uma poss vel transforma o das a es no cotidiano da equipe da ESF Os resultados finais dessa an lise apontam necessidade da aquisi o de pr ticas e tecnologias para ampliar a escuta garantir o trabalho em equipe qualificando o v nculo e as interven es nas rela es de m dicos e enfermeiras referenciando a import ncia da gest o para dar suporte ao trabalho na ESF A implanta o da ESF n o garante a mudan a do modelo assistencial centrada na doen a medicalizante esta transforma o depende da maneira de se produzir o cuidado assim como est imbricada nas a es cotidianas e na maneira como os profissionais assumem as tarefas revendo a tend ncia em assumirem posturas que vem refor ar a hierarquiza o e subordina o nas rela es de trabalho A transforma o nas rela es de trabalho n o acontecer como um passe de magia Os profissionais entrevistados refor am a exist ncia de hierarquias preconceitos dificuldades 159 nas rela es entre g neros apontam em suas experi ncias anteriores a exist ncia de equipes na qual tamb m predominava o poder do n vel superior sobre o n vel m dio da categoria m dica sobr
288. ste ltimo depoimento desloca a posi o da queixa em rela o a enfermagem potencializando a descoberta do trabalho conjunto Mesmo n o sendo uma mudan a efetiva na organiza o do trabalho essa fala mostra a possibilidade do desenvolvimento do trabalho coletivo Retomando a Portaria 648 verifica se que devem ser uma das premissas do processo de trabalho da Sa de da Fam lia a a o interdisciplinar que integra reas t cnicas e profissionais de diferentes forma es buscando dessa forma valorizar os diversos saberes e pr ticas na perspectiva de uma abordagem resolutiva possibilitando v nculos compromisso e respeito profissional Nos depoimentos que se seguem a compreens o dos entrevistados sobre o trabalho em equipe que ainda est por ser constru do com base no que prev os princ pios da ESF assim como a Portaria 648 Equipe formada por profissionais que tivessem uma forma o comprometida com preparar pessoas para trabalhar com a realidade de nossas comunidades o que identifico em alguns profissionais o total despreparo para enfrentar os grandes problemas que a popula o te apresenta como no caso de comunidades extremamente violentas O trabalho em equipe de Sa de da Fam lia torna se muito dif cil quando se tem um m dico que j est quase por se aposentar ele vem para a 37 Portaria 648 S o caracter sticas do processo de trabalho da Sa de da Fam lia V Trabalho interdisciplinar e em equipe
289. sua fala de suas hist rias e de recorda es sobre a sua forma o e experi ncias profissionais Inspira se na id ia de que o tempo nada dispersar sem reconstitu lo em uma unidade recomposta promessa de que o sujeito poder atrav s da consci ncia hist rica se apropriar de todas essas coisas FOUCAULT 1997 p 14 Coisas que est o mantidas dist ncia pela diferen a restaurando assim o seu dom nio sobre elas tendo a possibilidade de encontrar o que o autor chama de sua morada Dividimos esse cap tulo de maneira a evidenciar as informa es constru das a partir do campo onde se verifica muitas facetas de an lise a construir para recompor a unidade do tema Tentando assim desvelar as dimens es exigidas pelas rela es imbricadas nos objetivos a que se prop e este estudo numa tentativa de sistematizar a narrativa e identificar as rela es generificadas que ocorrem na ESF Visando tamb m responder a seguinte pergunta que gerou a necessidade de realizar esta pesquisa As rela es do trabalho de m dicos homens e enfermeiras mulheres que atuam na ESF evidenciam subordina o e poder marcados pelas desigualdades entre homens e mulheres ou a caracter stica interdisciplinar lhes permite novas rela es Nessa perspectiva passaremos a examinar a o significado que diz respeito s pr ticas de cuidado no meio familiar e que se engendram por meio do modo como cada indiv duo faz seu caminho de inser o
290. t http www scielo br scielo php script sci arttext amp pid S010230982006000200009 amp Ing en amp nrm iso gt Acesso em 22 Maio 2008 BRUSCHINI Maria Cristina LOMBARDI M L A bipolaridade do trabalho feminino no Brasil contempor neo Cadernos de Pesquisa Julho n 110 pp 67 104 2000 BUTLER Judith Problemas de g nero feminismo e subvers o da identidade Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2003 Fundamentos contingentes o feminismo e a quest o do p s modernismo In BESSA Karla Adriana Martins org Cadernos Pag Campinas N cleo de estudos de G nero UNICAMP v 11 p 11 42 1998 BUSTAMANTE Vania TRAD Leny A Bomfim Cuidando da sa de de crian as pequenas no contexto familiar um estudo etnogr fico com fam lias de camadas populares Ci ncia sa de coletiva Rio de Janeiro v 12 n 5 2007 Dispon vel em lt http www scielosp org scielo php script sci_arttext amp pid S1413 81232007000500014 amp Ing es amp nrm iso gt Acesso em 13 Set 2007 CANGUILHEM Georges Escritos sobre la medicina Buenos Aires Amorrortu 2004 O Normal e o Patol gico Rio de Janeiro Forense Universit ria 2002 CARVALHO Inai Maria Moreira de ALMEIDA Paulo Henrique de Fam lia e prote o social S o Paulo em Perspectiva Abril 2003 vol 17 n 2 p 109 122 CUTATIT Raul Notas explicativas In Gest o da Mudan a Organizacional volume 4 Marcos Kisil colabora o de T nia R G B Pupo
291. ta o e indicando a possibilidade do desenvolvimento pessoal As dificuldades vividas no dia a dia em rela o a precariedade de sistemas de refer ncia dos servi os de apoio com diagn stico e medicamentos para garantir o tratamento em muitas equipes de sa de da fam lia representam um grande problema que 114 podem gerar insatisfa o e descren a na possibilidade de desempenhar o trabalho de acordo com os princ pios que regem as a es em sa de do sistema p blico de sa de O aspecto econ mico parece nessa situa o ser um dos elementos geradores dos conflitos iniciais destas categorias quando se v em trabalhando juntos na ESF As falas sobre a diferen a salarial entre m dicos e enfermeiras ver anexo C evidenciam a justificativa apresentada decorrentes da responsabilidade do m dico e pela pr pria valoriza o no mercado de trabalho O aspecto sal rio como apontado por Hirata 2002 como elemento gerador de desigualdades tamb m fonte de tens es na ESF Se tem um concurso para enfermeiros tem 800 900 profissionais para fazer a prova Para m dico se houver 10 vagas ter 8 10 12 m dicos N o s o todos que est o indo para isso Guilhermo M dico O m dico de fam lia ganhou muito espa o com o SF tem sido muito procurado nos concursos p blicos dizem que alguns munic pios pagam at 10 mil reais Quase sempre o maior sal rio nos concursos do m dico no interior isso fica muito ev
292. tade de fazer alguma coisa para mudar o que vi durante essa perda Trabalhei como banc ria ganhava bem sei que jamais vou ficar rica trabalhando como enfermeira mas n o foi o sal rio que importou naquele momento e sim a realiza o profissional que s a enfermagem trouxe Denise Enfermeira coordenadora ESF Observamos na fala de Sandra e Denise que tamb m as situa es de sofrimento familiar acabaram influenciando a op o pela profiss o evidenciando uma sensa o de impot ncia no enfrentamento da doen a do pai e da irm que lhes s o t o importantes 110 Impot ncia enquanto ser humano e busca da profiss o como que reparando uma lacuna na vida de tantas pessoas que n o s o ajudadas cuidadas Em primeiro lugar pela realiza o pessoal em ajudar pessoas e na sequ ncia por participar das lutas pelo espa o da profiss o desde o tempo da gradua o Acompanhando as reivindica es dos direitos da categoria a d cada de 80 foi um per odo de grandes realiza es para a legisla o da profiss o Se o enfermeiro quer ter seu espa o garantido nas a es de sa de precisa estar atento buscando sempre com a categoria melhores condi es para desenvolver seu trabalho Fabiana Enfermeira Por outro lado ainda se identifica na fala de Fabiana que a enfermagem permanece muito idealizada indicando satisfa o profissional em detrimento de sal rio e motiva o para assumir a responsabilid
293. tatus que a categoria insiste em manter Esse saber idolatrado que pertence ao m dico parece uma coisa do s culo XVIII Francisco M dico 4 5 O trabalho em equipe A percep o sobre a oportunidade do conhecimento cient fico que o trabalho em equipe proporciona pode ser uma possibilidade para a mudan a em rela o a interdisciplinaridade pois os profissionais est o aprendendo com os usu rios e com os colegas de equipe Essa din mica de troca de saberes faz com que se mantenham informados numa din mica de interesse do crescimento profissional Trabalhar em equipe passa a ter um significado uma import ncia que se relaciona ao conhecimento Conhecimento que se amplia em fun o das diferentes reas do saber cient fico que se inter relacionam a partir da forma de ser de cada um com opini es diferentes com personalidades e modos de ser que os tornam nicos naquele contexto Como exemplifica essas falas Sim perfeitamente poss vel quando a gente pega um caso at pico dentro da nossa unidade que n o um atendimento simples Temos que parar pensar s vezes pegar um livro estudar sentar com a sua equipe para discutir esse caso s vezes a gente precisa pegar a opini o de um profissional que n o faz parte da equipe um especialista que vem pra ajudar Tudo depende da disposi o para resolver os problemas O meu compromisso com a solu o do problema do paciente O motivo da exist ncia do SF a reso
294. te contexto A fam lia apontada como elemento chave n o apenas para a sobreviv ncia dos indiv duos mas tamb m para a prote o e a socializa o de seus componentes transmiss o do capital cultural do capital econ mico e da propriedade do grupo bem como das rela es de g nero e de solidariedade entre gera es forma tradicional de viver e uma inst ncia mediadora entre indiv duo e sociedade a fam lia como espa o de produ o e transmiss o de pautas e pr ticas culturais e como organiza o respons vel pela exist ncia cotidiana de seus integrantes produzindo reunindo e distribuindo recursos para a satisfa o de suas necessidades b sicas CARVALHO ALMEIDA 2003 p 109 Para Carvalho 2003 dentre alguns dos fen menos que traduzem as modifica es na organiza o tradicional das fam lias estariam o aumento da propor o de domic lios formados por idosos vi vos mas tamb m entre adultos jovens que expressariam novo a redu o do tamanho das fam lias a fragiliza o dos la os matrimoniais com o crescimento das separa es e dos div rcios o incremento da propor o de casais maduros sem filhos e a multiplica o de arranjos que fogem ao padr o da t pica fam lia nuclear sobretudo de fam lias com apenas um dos pais e em especial das chefiadas por mulheres sem c njuge No entanto no processo de privatiza o dos riscos que remete aos indiv duos e s fam lias o enfrentamento da vul
295. tem vis o objetiva perde se em detalhes insignificantes nos processos mais amplos de condutas planejadas no que de fato interessa para se ter poder e visibilidade Ao construir a sua imagem como moralmente inst vel ela tamb m n o saberia lidar com atividades acad micas e ou profissionais que exigem suposta clareza e precis o ent o o m dico tornou se uma esp cie de conselheiro t o respeit vel como o padre o pastor ou os pr prios membros mais velhos da fam lia Ao tornar se um aliado da mulher nos assuntos relativos aos filhos o m dico teve acesso a outros assuntos espec ficos s mulheres como a gravidez o parto o puerp rio e as queixas ginecol gicas MARTINS 2005 p 652 Tanto para Canguilhem 2002 como para Foucault 1994 as mudan as no campo da medicina enquanto saber fazer do s culo XIX evidenciam o discurso m dico como fundado na experi ncia cl nica e sua rela o direta com as ci ncias biol gicas asseverando a extrema soberania do novo olhar da pesquisa cient fica no conhecimento sistematizado sobre o corpo humano nesta cren a sobre o saber m dico e a import ncia do trabalho no interior da fam lia que ao longo dos anos foi sendo cada vez mais delineada originando na atualidade a aten o em sa de onde h extrema valoriza o do espa o familiar como espa o privilegiado do processo de trabalho em sa de A fam lia como foco desta aten o Para Foucault esse espa o de trabalho no c
296. terial ou seja na divis o sexual do trabalho onde est o presentes a hierarquiza o e o poder Hirata 2002 discute o conceito de divis o sexual do trabalho considerando as v rias dimens es do trabalho que est o relacionadas as quest es sociais da vida econ mica da organiza o e da subjetividade Esta id ia vinculada a possibilidade de buscar esta compreens o a partir das an lises e do referencial te rico de g nero que est o se multiplicando e possibilitando em diferentes reas do conhecimento uma visibilidade maior das rela es sociais singulares que informam n o apenas desigualdades mas hierarquias nas rela es de poder entre homens e mulheres mulheres e mulheres em diferentes contextos sociais BRUSCHINI COSTA 1992 No caso das rela es entre os homens e mulheres estas s o vividas e pensadas enquanto rela es entre o que definido como masculino e feminino os g neros SOUZA LOBO 1992 p 260 neste sentido a divis o sexual do trabalho um dos l cus das rela es de g nero E o uso do g nero como categoria anal tica constr i ao mesmo tempo uma rela o social simb lica sem estabelecer uma mec nica de determina o Este coloca em jogo a pr pria redefini o da rela o de trabalho Dessa maneira exp e uma situa o de discrimina o dentro de uma cultura masculina denunciando al m de desigualdades legais em rela o ao homem uma diferen a cultural que desvaloriza a figura
297. tilizado foi o da hermen utica dial tica que contempla uma abordagem cr tica dos resultados da pesquisa tendo em vista uma an lise interpretativa Para Minayo a hermen utica se ocupa da arte de compreender textos podendo ser textos que se referem biografias narrativas entrevistas documentos livros artigos dentre outros Na hermen utica a linguagem nunca considerada transparente permitindo ou n o se chegar a um entendimento sobre o objeto de estudo atrav s da hermen utica que se pode compreender o mundo social ou seja atrav s da hermen utica que parece surgir a possibilidade de uma interpreta o mais aproximada da realidade A autora comenta que a leitura de qualquer realidade constitui um exerc cio de reflex o sobre a liberdade humana n o existe determina o total dos acontecimentos e nada e nem ningu m est ai por causa do outro Para a autora o m todo hermen utico dial tico permite que se coloque a fala tentando entend la a partir do seu interior e no campo em que produzida A hermen utica como uma pr tica interpretativa pode ter seus procedimentos assim resumidos Buscar as diferen as e as semelhan as entre o contexto do autor e o contexto do investigador Explorar as defini es de situa o do autor que o texto ou a linguagem em an lise permite o mundo da cotidianidade onde se produz o discurso o par metro da an lise pois o nico mundo poss vel do consenso d
298. to como facilitador para a promo o da sa de Trabalha com a constru o da autonomia da humaniza o do direito informa o na rela o de co responsabilidade e 4 Pr tica educativa que dever refletir a qualidade da rela o profissional constru o de novo modelo de atendimento Os profissionais dever o capacitados para incorporar o acolhimento e a orienta o como pr tica cotidiana da assist ncia Aumento do grau de co responsabilidade na produ o de sa de e de sujeitos Humaniza SUS Dispon vel em lt http portal saude gov br saude area cfm id area 1342 gt Acesso em 28 ago 2008 152 confian a E na fala das enfermeiras se identifica uma mudan a de paradigma quando imprime a valoriza o do seu trabalho e incentiva a mudan a de atitude por parte do m dico em alguns momentos matizando uma poss vel conquista profissional Esse estudo nos levou a compreender que a ESF traz a fam lia para o centro da pol tica p blica de sa de vendo a como agente capaz de contribuir para a melhoria da sa de da popula o Tenta atrav s das pr ticas de educa o em sa de realizadas pelos membros da equipe modificar o entendimento da popula o sobre o processo de sa de e doen a A ESF prop e uma vis o mais hol stica e humana no entanto percebemos no segundo ponto analisado um grande descompasso entre o discurso que o SUS faz e o que realmente concretiza quando se refere ESF sendo realizada por uma equipe de sa d
299. to em minhas observa es a ponto de lev lo para sala de aula tendo em vista refletir sobre a o do m dico Um Golpe do Destino t tulo original The Doctor produzido em 1991 EUA com muitos elogios da cr tica reunindo a diretora Randa Haines e o ator Willian Hurt M dico famoso acometido por c ncer se v na condi o de paciente Suportando a dor e o sofrimento se d conta da sua postura como profissional que sempre se colocou como superior aos colegas e pacientes Vivendo ansiedades desperta para a compaix o e o entendimento do trabalho em equipe e a partir do processo de tratamento modifica sua conduta 25 Esse filme causou alguns desentendimentos em sala quando reunidos m dicos as e enfermeiras os na condi o de alunos eles discutiam estas rela es de forma a n o confirmar as dificuldades no cotidiano Como que tentando velar uma contradi o presente no dia a dia A enfermagem confirma o enfrentamento e a desigualdade sobre como s o tratadas j os m dicos afirmavam n o existir essa desigualdade nem pela condi o do sexo muito menos pela profiss o A sociedade que naturalmente fazia esta distin o mas no dia a dia isto era apenas falta de maturidade de algumas colegas Por outro lado na condi o de aluna do mestrado numa discuss o em sala de aula ao utilizar o exemplo do filme acabei criando uma pol mica junto ao grupo Trazer o exemplo de filme naquela situa o n o permitia uma
300. to jovens e solteiras o trabalho das mulheres cumpria obriga es familiares quando casadas e m es era tomado como um sinal de dificuldades econ micas no lar Assim aglomeradas em trabalhos de mulheres agrupadas em sindicatos de mulheres a sua situa o tornou se mais uma demonstra o da necessidade de reconhecer e restaurar as diferen as naturais entre os sexos No final do s culo XIX com a expans o dos setores comerciais e de servi os empregavam se mulheres jovens solteiras nas reparti es p blicas empresas e companhias de seguro onde eram contratadas como secret rias datil grafas e escriturarias Os correios preferiam mulheres para a venda de selos as companhias de telefones e tel grafos empregavam operadoras femininas lojas e armaz ns recrutavam vendedoras hospitais organizavam equipes de enfermeiras e as escolas preferiam as professoras Assim o tipo de trabalho mudou mas isso n o mudou a rela o entre trabalho e casa para as trabalhadoras Houve um deslocamento maci o do servi o dom stico abriram se oportunidades profissionais para as mulheres da classe m dia como as professoras enfermeiras encarregadas de f bricas assistentes sociais Mesmo assim as mulheres eram associadas ao trabalho barato embora nem todo ele fosse apropriado para as mulheres nos discursos de poca SCOTT 1991 p 453 96 O dom stico para a mulher pobre transformou se numa possibilidade de trabalho Ela n o livre no
301. tores mas principalmente por caracter sticas sociais econ micas culturais entre outras acabe por invalidar pr ticas que nada se identificam com a nossa realidade Segundo o Departamento de Aten o B sica DAB os resultados alcan ados em 2007 somam um total de 27 324 Equipes de Sa de da Fam lia implantadas em 5 125 munic pios pauta se nos princ pios do SUS de universalidade integralidade e equidade e tem a vigil ncia sa de como norteadora de suas pr ticas Atingiu desta forma uma cobertura populacional de 46 6 da popula o brasileira o que corresponde a cerca de 87 7 milh es de pessoas BRASIL 2007 Em dezembro do mesmo ano no Paran segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Sa de CNES atingiu se 1 563 equipes de ESF implantadas em 373 munic pios Sendo que em Curitiba na Regi o Metropolitana de Curitiba segundo MS Sistema de Informa o de Aten o B sica SIAB identifica se 245 ESF dessas 159 encontram se na capital A ESF desenvolve a es atrav s da equipe interdisciplinar de sa de visando reordenar a aten o sa de priorizando as a es de promo o prote o e recupera o da sa de de indiv duos e fam lias de forma integral Verificam se a es que prev em o estabelecimento de v nculo e comprometimento com vistas humaniza o do atendimento popula o adscrita privilegiando a es quantitativas que tem como objetivo atender com qualidade a popula o que dela
302. tre outras tarefas a visita domiciliar uma das atividades fundamentais na ESF e de acordo com a portaria GM n 648 de 29 03 2006 no seu anexo 1 s o atribui es comuns a todos os profissionais da equipe realizar o cuidado em sa de da popula o adscrita prioritariamente na unidade de sa de no domic lio e nos demais espa os comunit rios escolas associa es entre outros quando necess rio Tamb m consta como uma das atribui es espec ficas do Agente Comunit rio de Sa de acompanhar por meio de visita domiciliar VD todas as fam lias e indiv duos sob sua responsabilidade de acordo com as necessidades definidas pela equipe BRASIL 2006 Na ESF n o est definido par metro para a frequ ncia de visita domiciliar para os profissionais da equipe no entanto esta uma tarefa que deveria ser assumida por todos de acordo com as necessidades da clientela adscrita bem como da programa o de atividades estabelecida em comum acordo com todos os membros da equipe O que segundo a portaria citada refere a participa o de todos nas atividades de planejamento e avalia o das a es da equipe a partir da utiliza o dos dados dispon veis No entanto na fala de alguns entrevistados identifica se no cotidiano da ESF uma pr tica totalmente diferenciada Quem est l mandando no m dico um enfermeiro Eu n o tenho nada contra o enfermeiro S que eu acho que n o a pessoa mais adequada para estar dominand
303. uando se tratava de falar em p blico ou ser escolhida como representante do grupo elas sempre eram esquecidas e cabia lhes em geral o papel de secret rias e ajudantes de tarefas consideradas menos nobres como fazer faixas ou panfletar GROSSI 1998 p 2 Essa invisibilidade de atua o pol tica das mulheres militantes iria desencadear todo um processo de conscientiza o e mudan as radicais no comportamento p blico quanto no mbito privado Na vida privada uma das maiores revolu es possivelmente foi no campo da subjetividade mais precisamente no sexual quando a virgindade deixa de ser um valor fundamental o que Grossi vai destacar ao falar que o casamento come a a ser amplamente questionado e se come a a pensar mais coletivamente no ocidente que o sexo poderia ser fonte de prazer n o apenas destinado a reprodu o da esp cie humana GROSSI 1998 p 2 a partir desta problem tica que desenvolvem se os debates em torno do que se configurou como sendo os estudos da condi o feminina gerando assim o desafio de discutir a quest o de g nero multiplicaram se os estudos feministas em diversos aspectos apesar de alguns ainda permanecerem com o vi s conservador hier rquico advindo do patriarcado 84 marcado particularmente pelas abordagens marxistas no entanto buscam a compreens o da vida feminina tentando romper com as concep es tradicionais O patriarcado est na primeira onda do feminismo marcado p
304. ue ocupam VILA 1995 apud RODHEN 2003 p 208 Faz se necess rio lan ar um questionamento poss vel dizer que a desigualdade de g nero tome conta das rela es entre m dicos e enfermeiras no cotidiano das equipes da ESF poss vel pensar que a interdisciplinaridade da proposta da ESF sofra enormes rupturas contrapostas ao campo de an lise g nero j que sob esse olhar revela se a continuidade de estruturas desiguais de poder e o recrudescimento de formas desiguais de divis o sexual do trabalho Para analisar estas rela es de poder retoma se Foucault 1999 quando trata do tema da Sociedade Disciplinar implantada a partir dos s culos XVII e XVIII que consiste basicamente num sistema de controle social um conjunto de t cnicas que pretendia sujeitar os indiv duos tornando os d ceis teis e obedientes Parte de uma hierarquia gerada do poder central que se multiplica numa rede de poderes interligados Desse modo os indiv duos s o catalogados tendo o objetivo de melhor control los representando assim saber diretamente relacionado ao poder Como estaria acontecendo a sociedade disciplinar na ESF Conforme Deleuze 2006 identifica se nestas rela es o estabelecimento de for as relacionadas ao poder saber pontuando a desqualifica o de conhecimentos acumulados pelas mulheres e que levou a sua substitui o na teoria e na pr tica por m dicos de sexo masculino que tiveram como parte dos seus grandes projetos d
305. um salarinho mas eles n o abra am a causa no interior h muita rotatividade e esta pode ser uma das raz es s um tempo que passam por l at a fazer a especialidade Fabr cio M dico Tamb m a falta de acompanhamento da coordena o e principalmente pela falta da forma o espec fica para atuar na ESF s o elementos obstaculizantes do trabalho Evid ncia clara da vulnerabilidade da organiza o da pr tica assistencial da equipe pontuando a necessidade da capacita o permanente dos profissionais Deixando mais uma vez patente a urg ncia dos espa os formadores de adequarem se s transforma es que se imp e para o novo modelo A narrativa destaca a fr gil supervis o que deveria fortalecer a nova divis o de tarefas e a integra o dos diversos profissionais em rela o aos cuidados e a promo o da sa de Acho que toda essa dificuldade hist rica est na forma o do m dico e da enfermagem desde que se pensou a nossa forma o No entanto acredito que daqui uns 10 ou 15 anos ser diferente Estaremos aqui novamente e vamos falar sobre como essa rela o mudou por que est caminhando pra isso A forma o atual tem procurado rever esse endeusamento do m dico alguns m dicos rec m formados j demonstram outra vis o outro perfil necess rio ter uma orienta o na sua forma o para o trabalho em equipe N o podemos generalizar alguns s o diferentes sabem como trabalhar
306. uma esp cie de pr requisito em concursos p blicos Francisco M dico Aqui os entrevistados apresentam situa es que est o diretamente ligadas com a autonomia profissional e na sequ ncia com as rela es que eles estabelecem entre si Talvez o fato de alguns serem concursados represente uma forma diferente de como se reconhecem entre si os membros da equipe que igualmente s o concursados A discuss o a respeito da forma o principalmente da forma o do m dico tem apresentado suas falhas apontando a necessidade para a capacita o a ser desenvolvida Do m dico de fam lia se espera que seja capaz de desenvolver de habilidades de um cl nico geral que atenda demanda tendo capacidade de encaminhar casos que n o se resolvem na unidade de sa de bem como apresentar resolutividade Por outro lado se espera que seja capaz de sair de seu lugar privilegiado inserindo se na equipe de maneira a interagir numa rela o 118 dial gica e democr tica A jornada de oito horas tamb m vem modificar o paradigma anterior onde o m dico podia atender seus paciente em menor tempo e ir embora da unidade As escolhas e percep es est o imbricadas s mudan as necess rias que os entrevistados pontuam em rela o sua forma o Referem se as dificuldades que enfrentam no espa o de trabalho em decorr ncia da proposta de mudan a do modelo hegem nico centrado na medicina 4 2 Os conte dos das tarefas no cotidiano En
307. umir as responsabilidades do lar e da maternidade foram consideradas culpadas pelos flagelos sociais e pelo esfacelamento da fam lia e sociedade Qual o impacto do trabalho assalariado no corpo feminino e sua capacidade de desempenhar as fun es materiais e familiares Qual tipo de trabalho adequado para a mulher Essa era uma das quest es chaves que atormentavam m dicos juristas e educadores Para Scott 1991 a hist ria da separa o entre o lar e o trabalho conforme tratada pela maioria dos historiadores enquanto resultado de desenvolvimento hist rico inevit vel e resultado da natureza seleciona e organiza a informa o de modo a obter certo efeito um efeito que sublinha as diferen as biol gicas e funcionais entre homens e mulheres legitimando essas diferen as como base para a organiza o social Assim a hist ria da mudan a do lar para o local de trabalho baseia se num modelo esquem tico de transfer ncia da produ o da quinta para a f brica da ind stria dom stica para a manufatura de atividades artesanais e comerciais em pequena escala para empresas capitalistas em grande escala No entanto as mulheres j trabalhavam regularmente fora de casa antes da industrializa o e a transfer ncia da grande maioria da popula o assalariada feminina n o se deu do trabalho no domic lio para o trabalho fora de casa mas de um tipo de trabalho para outro Antes da Revolu o industrial as mulheres trabalhavam fora de c
308. upa o social mantendo o exerc cio m dico como uma 17 A Confer ncia Internacional sobre Cuidados Prim rios de Sa de ocorreu em Alma Ata capital do Cazaquist o em 12 de setembro de 1978 organizada pela ONU Organiza o da Na es Unidas e a UNICEF Fundo das Na es Unidas de Prote o Crian a evidenciando a a o urgente de todos os governos e os que trabalhavam na rea da sa de visando promover a sa de de todos os povos do mundo 49 atividade de troca diminuir o custo da aten o m dica mantendo o processo de medicaliza o e de tecnifica o do cuidado melhorar as condi es de vida das popula es mantendo a estrutura social AROUCA 1975 p 170 Posteriormente incorporaram se ao movimento vieram outros segmentos da sociedade como centrais sindicais movimentos populares de sa de e alguns parlamentares na sequ ncia atrav s das A es Integradas de Sa de AIS tendo a oportunidade de efetivamente participar no planejamento e na administra o do setor sa de como um todo mediante a cria o dos rg os colegiados gestores CIS Conselho Interinstitucional de Sa de CRIS Conselho Regional Interinstitucional de Sa de e CIMS Conselho Interinstitucional Municipal da Sa de O movimento da Reforma Sanit ria buscou a melhor adequa o da garantia de sa de da popula o A mobiliza o em torno dos problemas sociais no in cio da d cada de 80 n o s favorece o debate sobre as reforma
309. utler 2003 refere o fato de se falar em uma matriz de g nero que institui e sustenta o sujeito n o significa afirmar que existe uma matriz singular e determinista como na proposta que se estabeleceu entre cultura e natureza evidenciando que g nero como constru o prev que a cultura age sobre uma natureza como se fosse uma superf cie passiva fora do social Por outro lado n o se pode afirmar que existem estruturas tais como a cultura ou o discurso ou o poder que ocupam o lugar gramatical do sujeito De acordo com essa vis o o discurso ou a linguagem ou o social tornam se personificados e nessa personifica o a metaf sica do 90 sujeito reconsolidada A constru o nessa perspectiva um ato que acontece uma vez e cujos efeitos est o fixados Butler 2003 fala que a materialidade do sexo n o um simples fato biol gico efeito dissimilado do poder Assim o sexo uma categoria normativa que produz circunscreve e regula o corpo permitindo ou interditando certas identifica es para produzir um corpo sexuado culturalmente intelig vel O sexo uma norma atrav s da qual algu m se torna vi vel o que qualifica um corpo Pensar os corpos diferentemente parte de uma luta conceitual e filos fica Assim a constru o do sexo n o mais como um dado corporal sobre o qual o construto de g nero artificialmente imposto mas como uma norma cultural que governa a materializa o dos pr prios corpos repe
310. uz e quem recebe assim o profissional de sa de durante o exerc cio de sua atividade precisa manter uma rela o humanizada com seus pacientes Um encontro entre dois sujeitos o fluxo das emo es flui entre ambos criando uma rela o entre dois sujeitos e n o entre o profissional e o doente 92 O trabalho em sa de est relacionado processo de produ o do cuidado MERHY 1995 fundado numa intensa rela o interpessoal que sugere o v nculo entre os envolvidos para a garantia do sucesso no tratamento Pensar o trabalho em sa de significa problematizar uma quest o mais ampla que divis o social do trabalho como elemento fundamental da desigualdade entre os sexos rela es sociais de sexo e divis o sexual do trabalho s o duas proposi es indissoci veis que formam um sistema A reflex o em termos de rela es sociais de sexo ao mesmo tempo anterior e posterior reflex o em termos de divis o sexual do trabalho Ela preexistente como no o mas posterior como problem tica preexistente pois foi uma aquisi o do feminismo por meio da emerg ncia de categorias de sexo como categorias sociais de mostrar que os pap is sociais de homens e mulheres n o s o produto de um destino biol gico mas que eles s o antes de tudo constru es sociais que t m uma base material KERGOAT 1996 p 19 Para a autora a divis o sexual do trabalho n o o resultado de um destino biol gico mas sim de c
311. vam Discutir quest es do cotidiano em equipe uma atitude fundamental porque enriquece o conhecimento da equipe sobre os problemas do paciente sem falar que esta atitude facilita a resolu o dos problemas apresentados pelo paciente Isso tamb m envolve a tica nos estudos de caso quando precisamos discutir as necessidades do paciente Cada membro d a sua opini o dando sugest es para melhores estrat gias no atendimento e tratamento N o vejo dificuldades em discutir esses casos com os colegas acho que o grande problema est na falta de tempo que dispomos para realizar essas discuss es Heloisa Enfermeira Esta compreens o sobre a organiza o das pr ticas significa garantir a troca de informa es mantendo a clareza sobre as a es desenvolvidas ou seja garantir que todos falem a mesma l ngua na ESF Trabalhem juntos a partir dos mesmos objetivos priorizando momentos onde a equipe se encontra para planejar discutir e avaliar o processo de trabalho Assim quando essa equipe se encontra pode discutir os valores associados s percep es e pr ticas sobre o masculino e o feminino que fazem a divis o social e sexual do trabalho bem como sobre a sa de a doen a a fam lia e a quem destinar o cuidado Valoriza e conhece cada profissional compreende que cada um traz a sua contribui o a partir da sua rea espec fica de conhecimento trabalha no sentido da compreens o sobre a divis o e o conte do
312. vedora da fam lia Da d cada passada at 2002 houve um crescimento de 30 da participa o da mulher como provedora familiar Em 1992 elas eram refer ncias para aproximadamente 22 das fam lias brasileiras e em 2002 passaram a ser refer ncia para pr ximo de 29 das fam lias Esta tend ncia de crescimento ocorreu de forma diferente entre as regi es do Pa s e foi mais acentuada nas regi es metropolitanas Em Salvador 42 2 das fam lias tinham na mulher sua refer ncia Em Bel m eram 39 8 e em Recife 37 1 Entre as Grandes Regi es o Norte apresentava a maior propor o de fam lias com este perfil 33 4 e o Sul a menor 25 5 das fam lias cuja pessoa de refer ncia era a mulher BRASIL 2005 p 28 Essa quest o nos leva a anunciar uma rela o importante desse trabalho que a sua din mica referida fam lia embora o seu foco n o esteja voltado a analisar as a es daquilo que se faz nessas fam lias e a quem realmente se dirigem as a es Vinculadas essas concep es pr pria no o de cidadania da ESF ela nos leva a apreender os modos pelo qual a materialidade do cuidado se expressa e se torna intelig vel no interior do trabalho do cuidar da sa de Este estudo relevante no sentido de despertar a uma reflex o sobre o processo de trabalho em sa de na perspectiva do cuidado e das pr ticas e concep es que est o sedimentando a ESF colocando disposi o da sociologia resultados desta an lise
313. vista como uma unidade formada de seres humanos que cuidam de si pr prios e de outros e esta forma de cuidar varia de acordo com os padr es sociais onde est inserida tendo a ver com as necessidades de cada indiv duo vivem a vida a partir do parentesco mas n o se confundem com ele Fam lia como estrutura universal presente na sociedade humana se forma pela combina o destas rela es SARTI 1993 Compreender um pouco desse espa o uma tentativa de entrar e interpretar a vida que est por tr s dos muros e que a ESF ter que atravessar para desenvolver o seu trabalho Para tanto faz se necess rio identificar as mudan as que fazem parte de seu cotidiano identificar os seus novos valores e cren as desvelar desta maneira uma hist ria que envolve a realidade atual Com base na perspectiva do trabalho desenvolvido por m dicos e enfermeiras fundamental a compreens o desse mundo cheio de s mbolos significados saberes e pr ticas que nascem na cultura de origem assim como nas experi ncias do dia a dia no contexto do qual faz parte A fam lia vista na ESF como unidade b sica da sociedade sendo que s o reconhecidas as diversas formas de fam lia a partir de sua cultura de seus valores e cren as Identificam se neste conceito as mudan as na vida familiar oriundas da transforma o demogr fica e socioecon mica Pensar a fam lia atual representa conhecer os problemas relacionados extrema pobreza que enfrentam t
314. volvem a doen a e a cura por parte da popula o e incentivando atrav s da educa o em sa de um envolvimento 139 profissional e da comunidade numa rela o de co responsabilidade Dando nfase na sa de e no controle desta pela sociedade construindo o empoderamento atrav s das informa es em sa de no sentido de assumirem juntos pai m e filhos enfim de todos os elementos da fam lia a responsabilidade sobre a sa de desse n cleo social N o basta ter uma equipe na unidade de sa de se n o houver compromisso compet ncia dedica o s vezes acho que a medicina perde esse espa o Ser que esse problema no descompromisso profissional Veja isso Perdemos um paciente que veio a bito na semana que estivemos em sua casa Ver morrer uma crian a e nada poder fazer muda o rumo da certeza dessa medicina que faz e acontece Voc se d conta que um nada que todo seu conhecimento zero e voc n o pode trazer de volta a vida daquela criaturinha t o delicada Est ai o sentido da vida e no nosso caso o sentido do trabalho em sa de que nessas horas pode ser respaldado na for a de uma equipe que se une para dar conta do inevit vel do finito Trabalhar com uma equipe de profissionais de verdade representa ter ch o num momento como esse Sempre que discutimos alguns casos nos damos conta de como lidar com a sa de doen a do adulto muito mais f cil que da crian a Francisco M dico E
315. xa o problema n o fazem a preven o A educa o em sa de ent o Dif cil inseriilo em programas em palestras visitas domiciliares e principalmente saber o que tem q fazer nas visitas domiciliares ai muito complicado de fazer o m dico se inserir Carla Enfermeira As entrevistas tamb m demonstraram as dificuldades para o trabalho em equipe pela falta de comunica o entre os profissionais ou pela grande rotatividade de alguns membros em decorr ncia de que determinados profissionais identificam a ESF como um espa o que ir o ocupar por tempo pr estabelecido Principalmente no interior esta situa o frequente Os profissionais v o para cidades menores em busca de experi ncia profissional trabalham certo tempo e da retornam para as suas cidades ou procuram os grandes centros urbanos buscando outras oportunidades no mercado assim como pela necessidade de continuarem a estudar O Programa de SF tem 14 anos de exist ncia ele est muito novo est engatinhando ainda Agora que os profissionais est o se preocupando em se especializar nisso agora que gente est correndo atr s dessa especializa o de profissionaliza o n o que n s sejamos maus m dicos mas infelizmente o mercado brasileiro como um todo est muito pobre de profissionais nessa rea O 131 que acontece que m dicos rec m formados assim como aconteceu comigo entram ali para ocupar um espa o para passar o tempo e ganhar
316. zaram o termo g nero para introduzir uma no o relacional em nosso vocabul rio anal tico Segundo esta vis o as mulheres e os homens eram definidos em termos rec procos e n o se poderia compreender qualquer um dos sexos por meio de um estudo inteiramente separado SCOTT 1990 p 72 Atualmente pensar g nero requer considerar a simbologia de masculino e feminino no mbito sexual inferindo dimens o da constru o social e do que representa o sexo Discutir g nero tamb m significa problematizar a cultura Neste cen rio Mathieu 1991 ir mostrar como as culturas trabalham adapta es sistem ticas isso diferente de validar a 89 cultura como linear nos mais variados tempos hist ricos Ou seja validar comparando tempos hist ricos trata se de considerar as ambigiiidades sistematiza es adaptativas dentro da pr pria cultura Para a autora as sociedades manipulam a realidade biol gica do sexo conforme o efeito da diferencia o social assim a defini o biol gica de sexo pode construir a hierarquiza o do g nero ou a experi ncia com o g nero pode fazer o sexo Hoje as teorias foram para a al m dessa base fixa do corpo sobre a qual a cultura trabalha autoras p s estururalistas como Butler Kraus Varikas mostram como o pr prio sexo pode ser editado constru do problematizado TAMANINI 2006 O pr prio sujeito n o um ponto de partida mas dinamicamente o efeito das determina es culturai

Elizabeth Hartog Estrategia Saude Familia

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