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práticas culturais dos jovens - RI UFBA

1. Figura 2 Acentuada declividade do terreno em Cosme de Farias com ocupa o densa e desordenada al m de ruas extremamente CET A AEAEE E UE UE DO DU ENA RR OU Figura 3 Localiza o geogr fica do bairro de Cosme de Farias na cidade de Salvador Balas daiane Sn Figura 4 Obras de constru o da Avenida Bonoc s margens do bairro de Cosme de Farias no final da d cada de 1970 Figura 5 Ruas sem pavimenta o em Cosme de Farias na d cada de 1970 Figura 6 Lajes rampas e escadarias da Rua Lima Teixeira em dire o Avenida BONOCO destina ais QE anta LD da Ea ic Figura 7 Localidades no bairro de Cosme de Farias identificadas pelos Daele ellae AE a io SR E E EENE Figura 8 Vis o geral das reas ocupadas nas encostas Figura 9 Percentual de domic lios de Cosme de Farias com rela o infra estrutura N29 182 essas oasis a Figura 10 Percentual de domic lios em rela o ao n mero de moradores EET DR CR NENE E NA RR A EE Figura 11 Padr o construtivo do bairro com pequenos domic lios sobrepostos maximizando a ocupa o do terreno Figura 12 Distribui o percentual da popula o por faixa et ria em Cosme d Fallas sida iraniana a e a Figura 13 Renda dos respons veis pelo domic lio em Cosme de Farias MES TOA paro Seca a aa SS SS A a Figura 14 N veis de renda salarial em rela
2. 96 Dentre as entidades religiosas os terreiros de candombl se destacam tanto em n mero como tamb m na atua o junto comunidade Diversos desses espa os sagrados s o abertos e compartilham pr ticas com as comunidades onde se situam Alguns deles foram visitados e outros conhecidos nas Feiras de Sa de dos Terreiros de Cosme de Farias Com isto foi poss vel identificar que alguns oferecem servi os e atividades para os jovens do bairro Quanto s entidades cat licas as duas existentes oferecem espa o para realiza o de atividades diversas por m com reservas segundo moradores do bairro importante salientar que em d cadas passadas havia uma importante entidade citada em diversas reportagens dos jornais como a mais antiga entidade colaboradora da rea desde a d cada de 1950 as Obras Sociais Franciscanas OSF MORADORES 1978 Por m as igrejas cat licas abrem espa os para outros grupos a depender de demandas ou projetos institucionais tais como o Instituto Mau o Projeto Buscap Faculdades entre outros As igrejas evang licas representam 34 das institui es religiosas em Cosme de Farias A chegada dessas entidades no bairro ocorreu nas ltimas d cadas ao contr rio dos terreiros e mesmo da Igreja Cat lica que j ali se encontram h mais tempo As evang licas Adventista do S timo Dia Universal Presbiteriana Batista Assembl ia de Deus e Testemunhas de Jeov s o as principais e se dest
3. A maioria das atividades oferecidas para jovens e para a popula o em geral est sendo oferecida por essas entidades sociais culturais e religiosas O Terreiro l Ax Ob Kaiode por exemplo oferece curso de alfabetiza o para jovens 15 a 20 anos no per odo noturno e para crian as 3 a 12 anos durante o dia J o Terreiro Awziidiju ara oferece curso de capoeira para os jovens do bairro duas vezes por semana Tamb m importante perceber a distribui o espacial dessas entidades que percorrem todo o espa o do bairro ao contr rio das entidades governamentais que se situam em reas mais centrais ou ainda fora dos limites do bairro Figura 18 Entre as categorias levantadas em Cosme de Farias se destacam as entidades religiosas Considerando os dados deste levantamento elas representam 49 do total de entidades identificadas Com a presen a dos 36 terreiros cadastrados em levantamento realizado pelo Centro de Estudos Afro Orientais SANTOS 2008 elas totalizam 58 entidades Figura 20 Terreiros CEAO 36 63 Evang licas Cat licas 2 20 34 3 Figura 20 Distribui o das entidades religiosas identificadas em Cosme de Farias n 58 Na pesquisa realizada sobre a situa o das pessoas com defici ncia no bairro observou se que a maior parte das crian as com algum tipo de defici ncia assistida nesses espa os escolinhas ou creches particulares e em casas de vizinhos
4. H uma banaliza o da viol ncia na favela Pensei como isto repercute no bairro Como as pessoas ouvem e pensam sobre isto Neste dia o Programa recebeu um telefonema de um morador da Baixa do Tubo parabenizando o pelo Programa Mago ficou emocionado e disse o rap movimento cultura tudo 4 Durante as pr ticas observadas no bairro encontrei jovens de outros bairros da cidade que transitam com frequ ncia por Cosme de Farias particularmente participando dos eventos que as comunidades organizam 224 A partir disto percebo que a cria o inven o promo o de espa os no bairro e na cidade amplia horizontes para os jovens medida que geram espa os de acolhimento interc mbio e amizade para os jovens das comunidades de pr ticas Os jovens referem com ou sem desconforto situa es de insucesso que experimentaram em suas vidas e atribuem s comunidades respaldo e motiva o para lidarem com estas situa es no resgate destas trajet rias que se reconhecem e s o reconhecidos de um outro modo a partir agora de mudan as carregadas de sentidos Neste reconhecimento as pr ticas s o possibilidades para abertura de novos horizontes no bairro e fora dele para eles e outros jovens O bairro passa a ser um lugar diferenciado um lugar de significado porque nele e atrav s dele que os jovens se reconhecem e constroem alternativas s vicissitudes 225 CONSIDERA ES FINAIS Algum tempo se pa
5. PEGORARO J S Notas sobre los jovenes portadores de la violencia juvenil en el marco de las sociedades pos industriales Sociologias ano 4 n 68 p 276 317 jul dez 2002 PEIRANO M A favor da etnografia Rio de Janeiro Relume Dumar 1995 PEREIRA A B Muitas palavras a discuss o recente sobre juventude nas ci ncias sociais Pontourbe Revista do N cleo de Antropologia Urbana da USP ano 1 Vers o 1 0 2007 Dispon vel em lt www n a u org pontourbe01 PEREIRA a 2007 htlm gt Acesso em 2 ago 2007 PIMENTEL A M Um olhar sobre os olhares uma etnografia do Centro de Refer ncia do Adolescente 2001 Disserta o Mestrado em Sa de Coletiva Instituto de Sa de Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2001 PIZZI J O mundo da vida Husserl e Habermas Iju Uniju 2006 POCHMANN M Juventude em busca de novos caminhos no Brasil In NOVAES R VANNUCHI P Orgs Juventude e sociedade S o Paulo Funda o Perseu Abramo 2004 PREFEITURA coloca no pedestal da pra a o busto do major Cosme Correio da Bahia Salvador 7 mar 1980 Caderno 2 RABELO M C M ALVES P C B SOUZA M A Experi ncia de doen a e narrativa Rio de janeiro Fiocruz 2000 RABELO M C M SOUZA M A Notas da disciplina Fenomenologia e Hermen utica Programa de P s Gradua ao em Ci ncias Sociais Faculdade de Filosofia e Ci ncias Humanas Universidade Federal da Bahia ago 2007 RIBEIRO
6. id ia de pobreza de n o ter direito de n o ter espa o e todos os atributos negativos imputados ao termo Neste sentido ser na favela ser de favela ser favela algo que o macula e dessa m cula ele deseja se livrar As roupas os locais em que transitam e os acess rios podem ser instrumentos que favore am essa vincula o Para esses jovens preciso deixar de ser favela em algum momento poss vel ser diferente poss vel fazer um rap que fale de outras coisas e que transcenda Por m esse rap estilo e curti o tem sido questionado por outros grupos do bairro que defendem um rap agressivo que deve problematizar as quest es do bairro e a situa o de vida da maioria da popula o pobre que ali vive 171 Para esses grupos n o poss vel pensar em rap para as pessoas dan arem e se divertirem sem que pensem a respeito e se conscientizem dos problemas que as cercam A Rapaziada do Morro RM uma banda que representa o morro a favela da Baixa do Tubo a localidade mais precarizada do bairro Acreditam num rap mais agressivo como eles mesmos intitulam o ltimo CD Ainda mais nervoso a coisas assim durante toda a minha vida n passei na cidade no dia a dia que eu ia passando que eu venho passando o que me influencia bastante a o rap que eu acredito que o nico estilo musical hoje em dia que protesta mesmo aqui a gente mais real
7. 2008 p 117 116 blocos como pintor de parede fazer uns bolos ou mesmo outros que n o s o exatamente o que eles gostariam de fazer mas que s o necess rios para a sobreviv ncia Poder se ia incluir nessa categoria tamb m formas de ganhos atrav s da prostitui o seguran a comunit ria os chamados justiceiros do bairro e o tr fico de drogas pr ticas ressaltadas por todos os jovens como possibilidades cada vez mais fortes no bairro mas nem sempre realizadas pelos jovens entrevistados O dinheiro permite a compra de roupas que s o instrumentos importantes para a auto estima mas principalmente para o modo como s o vistos no bairro Tamb m tem contribu do para pagar a constru o da pr pria casa levantando a ou ampliando acessos nos terrenos da fam lia para garantir a privacidade Passo ent o a apresentar os jovens do bairro de Cosme de Farias em Salvador Bahia atrav s de suas hist rias de vida tendo como foco as situa es de conting ncias vividas por eles nessa trajet ria 6 1 OS SENTIDOS DAS VICISSITUDES As narrativas dos jovens coincidem em parte na medida em que relatam acontecimentos da inf ncia e adolesc ncia permeados por conflitos familiares viol ncias aus ncia do aparato institucional e muitas fragilidades Nem sempre esses aspectos s o revelados H algo que fica no lugar do n o dito ou do que necessariamente deve ser ocultado Quando solicito que falem sobre
8. Em uma perspectiva antropol gica mais atual Bucholtz 2002 tra a a trajet ria dos estudos sobre adolesc ncia e juventude ao longo do tempo e identifica o trabalho de Margareth Mead Coming of Age in Samoa de 1928 como o que mais influenciou a vis o essencialista da adolesc ncia predominante no discurso m dico e psicol gico at os dias de hoje A autora mostra a import ncia dos estudos transculturais como possibilidade de contraste entre diferentes posi es e compreens es sobre pr ticas e l gicas dos jovens atualmente Fala em uma antropologia da juventude caracterizada pela a o do jovem A antropologia da juventude caracteriza se pela aten o na a o da popula o jovem a isto interessa n o apenas registrar a expans o das culturas jovens mas as pr ticas culturais e como as identidades emergem nas novas forma es culturais que criativamente combinam elementos do capitalismo global transnacional e da cultura local BUCHOLTZ 2002 p 525 Para Helena Wulff e Vered Amit Talai organizadoras de uma colet nea sobre culturas juvenis em uma perspectiva transcultural os estudos da adolesc ncia se preocupam em como corpos e mentes est o sendo formados para a prepara o de futuros adultos enquanto o estudo da juventude enfatiza o aqui e agora da 35 experi ncia do jovem as pr ticas sociais e culturais atrav s das quais eles formam seus mundos WULFF 1995 BUCHOLTZ 2002 Desse modo a defini o
9. o dos Resultados da Pesquisa Centro de Estudos Afro Orientais CEAO Palestra proferida em 8 de maio de 2007a Reitoria da Universidade Federal da Bahia Salvador Bahia SANTOS J T Os candombl s da Bahia no s culo XXI A Tarde 9 maio 2007b Dispon vel em lt www ceao ufba br gt Acesso em set 2008 SANTOS V L SANTOS C E Adolescentes jovens e aids no Brasil In BRASIL Minist rio da Sa de Secretaria de Pol ticas de Sa de Area de Sa de do Adolescente 254 e do Jovem Cadernos juventude sa de e desenvolvimento Neia Schor Maria do Socorro Tabosa Mota Viviane Castelo Branco Orgs Bras lia 1999 SANTOS J NIOR J D Fatores etiol gicos relacionados gravidez na adolesc ncia vulnerabilidade maternidade In BRASIL Minist rio da Sa de Secretaria de Pol ticas de Sa de Area de Sa de do Adolescente e do Jovem Cadernos juventude sa de e desenvolvimento Bras lia 1999 Neia Schor Maria do Socorro Tabosa Mota Viviane Castelo Branco Orgs SARTI C O jovem na fam lia o outro necess rio In NOVAES R VANNUCHI P Orgs Juventude e sociedade S o Paulo Funda o Perseu Abramo 2004 SCHULTZ A Bases da Fenomenologia In Fenomenologia e rela es sociais Rio de Janeiro Zahar 1979 p 53 76 SCHUMANN Vera O desafio de morar em Cosme de Farias A Tarde Salvador 17 dez 1992 Caderno 1 p 5 SCOTT R P QUADROS M LONGHI M Jovens populares urbanos e g nero na
10. objeto em via de extin o Parte Mana v 3 n 1 p 41 73 1997 SALVADOR F rum Comunit rio de Combate Viol ncia Tabela de mortes por causas externas na Regi o Administrativa de Brotas AR 5 entre 1998 e 2004 Material cedido pelo FCCV em 11 abr 2006 SALVADOR Prefeitura Municipal Plano Suplementar de Interven es PSI Programa Transcol Conv nio EBTU BIRD Salvador s d SALVADOR Prefeitura Municipal Administra o Regional de Brotas AR 5 Lista de Associa es Comunit rias e Culturais do Bairro de Cosme de Farias Salvador Material cedido pela AR 5 em 2005a In dito SALVADOR Prefeitura Municipal Gabinete do Prefeito Coordenadoria de Desenvolvimento Social CDS Informa es Sistematizadas bairros de Baixa Renda v 1 Bairro de Cosme de Farias Salvador maio 1983 SALVADOR Prefeitura Municipal rg o Central de Planejamento Programa de Desenvolvimento Social PRODESO Programa de Urbaniza o Popular bairro de Cosme de Farias set 1977a 258 SALVADOR Prefeitura Municipal rg o Central de Planejamento Programa de Desenvolvimento Social PRODESO Plano de Interven es do bairro de Cosme de Farias dez 1977b SALVADOR Prefeitura Municipal Secretaria Municipal de Sa de Secretaria de Assist ncia Sa de Sistema de Informa o de Aten o B sica Consolidado das Fam lias cadastradas do ano de 2005 do modelo PACS Salvador out 2005b SALVADOR Prefeitura Muni
11. outros geralmente adultos que fazem parte de institui es com algum tipo de poder Por m nesse encontro que os jovens constroem identidades n o fixas ou espec ficas de um grupo de idade mas identidades como repert rio de possibilidades BUCHOLTZ 1999 A quest o do reconhecimento social pelo fato de serem jovens aparece de modo mais evidente na comunidade pol tica embora tamb m apare a de outras formas nas outras comunidades Os jovens fundam um conselho de moradores com uma perspectiva de transformar as rela es sociais entre moradores e lideran as em o outro tendo que dialogar continuamente com a polissemia da alteridade identidade desejada mantida o sujeito visto como o autor de suas palavras e atos H uma dial tica entre mesmidade e ipseidade 2002 p 521 A sociologia da juventude recebeu forte influ ncia da corrente geracional Muitos estudos foram desenvolvidos no intuito de compreender particularidades da juventude como uma fase de vida Esses tiveram nas obras de Eisenstadt 1968 Parsons 1968 teoria da socializa o e Mannheim 1968 teoria das gera es apud PAIS 1996 a base para a compreens o da juventude enquanto um grupo de idade que se contrap e a outro adulto o que foi denominado por Pais 1996 p 38 como descontinuidades intergeracionais PIMENTEL 2001 p 118 100 198 algo que gere mais autonomia e menos assistencialismo Questionam
12. UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE SA DE COLETIVA ADRIANA MIRANDA PIMENTEL PR TICAS CULTURAIS DOS JOVENS UM NOVO OLHAR SOBRE OS JOVENS NO CAMPO DA SA DE Salvador BA 2009 ADRIANA MIRANDA PIMENTEL PR TICAS CULTURAIS DOS JOVENS UM NOVO OLHAR SOBRE OS JOVENS NO CAMPO DA SA DE Tese apresentada ao Programa de P s Gradua o do Instituto de Sa de Coletiva da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial para obten o do t tulo de Doutor em Sa de Coletiva Area de Concentra o Ci ncias Sociais em Sa de sob orienta o do Prof Ordep Jos Trindade Serra Salvador BA 2009 Ficha Catalogr fica Elabora o Maria Creuza Ferreira da Silva P644p Pimentel Adriana Miranda Pr ticas culturais dos jovens um novo olhar sobre os jovens no campo da sa de Adriana Miranda Pimentel Salvador A M Pimentel 2009 265f Orientador a Prof Dr Ordep Jos Trindade Serra Tese doutorado Instituto de Sa de Coletiva Universidade Federal da Bahia l Etnografia 2 Pr ticas Culturais 3 Jovens 4 Conting ncia 5 Bairro I T tulo CDU 572 FOLHA DE APROVA O PR TICAS CULTURAIS DOS JOVENS UM NOVO OLHAR SOBRE OS JOVENS NO CAMPO DA SA DE Tese apresentada ao Programa de P s Gradua o do Instituto de Sa de Coletiva da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial para obten o do t tulo de Doutor em Sa de Coletiva rea de Concentra o Ci nci
13. desenvolvem 30 3 Quais os sentidos e significados dessas pr ticas desenvolvidas pelos jovens no bairro 4 De que modo o bairro na dimens o de territ rio e lugar do vivido pode ser espa o de cria o organiza o de trocas e de conv vio 5 De que modo pr ticas cotidianas a partir do contexto de vida desses jovens seriam possibilidades s conting ncias de vida percebidas por eles 6 Essas pr ticas favorecem mudan as no contexto de vida dos jovens bem como no contexto de vida do bairro para outros jovens Nesse sentido este estudo focaliza o seguinte objeto de pesquisa as pr ticas culturais desenvolvidas em um contexto urbano como resultado das conting ncias vividas pelos jovens e os recursos existentes neste contexto Esse objeto se sustenta no entendimento de que historicamente problemas sociais s o transformados em problemas de sa de grupos populacionais tornam se foco de programas de sa de espec ficos e economicamente interessantes para as ag ncias nacionais e internacionais de sa de assim como pessoas e suas pr ticas v o sendo descontextualizadas de seus mundos e desconsideradas nas a es e interven es neste campo Desse modo proponho me a compreender os sentidos e significados das pr ticas culturais produzidas por jovens moradores de um bairro da cidade de Salvador no intuito de desvelar possibilidades s conting ncias vividas e percebidas por eles E mais especificamente a des
14. mbito rural urbano capitais e interiores do pa s Na pesquisa realizada em 1998 as autoras evidenciam que o catolicismo tem o maior grupo de fi is com 67 4 da popula o brasileira com maioria concentrada nas regi es Norte Nordeste e na faixa et ria acima de 41 anos e de jovens abaixo de 25 anos ALMEIDA E MONTERO 2001 p 93 90 179 Dentro do movimento de Renova o Carism tica existem as chamadas Comunidades de alian a e vida no Esp rito Santo que s o grupos de ora o carism tica Segundo Mariz os participantes dessas comunidades s o leigos que se re nem em um espa o para se dedicar ao louvor adora o ao Sant ssimo evangeliza o cura espiritual e s mais diversas obras sociais 2005 p 253 Segundo a autora os que optam por viver nesse espa o de dedica o exclusiva e divis o de despesas econ micas e a dedicar se s atividades religiosas s o os que fazem parte da comunidade de vida os que continuam a viver com seus familiares e contribuem financeiramente formam a comunidade de alian a A autora refere que existem poucos estudos sobre essas comunidades e mesmo dentro da Igreja ou no pr prio movimento de Renova o Carism tica pouco se sabe a respeito n meros e especificidades Uma caracter stica fundamental das comunidades da RCC que elas s o criadas por jovens ou para jovens J as denomina es evang licas entre elas a Renascer Apost lica em Crist
15. o do Software Arc View GIS 3 2 A partir deste recurso foi montado um Sistema de Informa es Geogr ficas SIG de Cosme de Farias BATISTA e PIMENTEL 2008 Este SIG foi a principal ferramenta utilizada na espacializa o das informa es sobre o bairro A partir dele foram elaborados os diversos mapas tem ticos utilizando a base cartogr fica de Salvador no intuito de visualizar reas de maior degrada o e precariza o do bairro a partir de dados do Censo 2000 IBGE 2000 espacializar entidades existentes no bairro e lugares de uso e pr ticas desenvolvidas pelos jovens Com base no survey foram elaborados instrumentos roteiro de entrevista com os jovens Ap ndice D e roteiro de observa o das pr ticas Ap ndice C Foi elaborado um primeiro roteiro de entrevista a partir de elementos relacionados hist ria de vida do jovem dificuldades e ou preocupa es que identifica em sua vida cotidiana pessoal e do bairro formas de organiza o cria o e desenvolvimento das Esta base foi elaborada pela SEI Bahia e utilizada pelo IBGE na divis o do bairro por setores censit rios a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic lios PNAD 56 pr ticas que realiza locais frequentados e n o frequentados no bairro e na cidade desejos expectativas e projetos de vida futuros entre outros aspectos de cunho explorat rio As entrevistas foram realizadas nas casas dos jovens em locais de pr ticas ou em u
16. p 112 A id ia de carreira moral s faz sentido a partir da compreens o das mudan as de participa o e das cren as posteriores nas quais os sujeitos poder o estar implicados No caso aqui analisado observo que os jovens n o falam das situa es com as quais estiveram envolvidos mas ressaltam a exist ncia do envolvimento Essas situa es no presente passaram a ter outra conota o e ele passa a identific las em outros jovens e a se distanciarem deles como forma de se livrarem do sofrimento O inc modo pelo envolvimento parte dele por m ele se distancia e precisa se diferenciar dos outros que ainda est o envolvidos Eles falam de si mesmos come am a narrar suas hist rias pessoais mas em um dado momento como se falassem de uma outra pessoa quase uma entidade da qual eles n o t m controle H dificuldade para falar com clareza de algo que pode ter acontecido de ruim mas que n o f cil ou conveniente falar e o que acaba importando no discurso que ele foi salvo ou sabe que deve se proteger a cada dia para n o cair novamente na tenta o do pecado das coisas erradas da ang stia Desse modo eles v o minimizando as rela es com os grupos estigmatizados na busca de diferencia o e partem para grupos que o fa am compreender as situa es que os estigmatizam e que facilitam a aceita o de estigmatizado Percebo isso por exemplo entre os jovens convertidos e tamb m entre os jovens do rap
17. um exemplo disto Ele precisa recordar se a todo instante que pecou e pedir perd o uma luta constante Do mesmo modo conheci jovens nas comunidades de renova o que falavam do grupo com orgulho e manifestavam satisfa o pelo pertencimento mas n o deixavam de relatar as experi ncias de padecimento que os levaram at ela Muitas hist rias de uso continuado de lcool e drogas e vida f cil como referiram desencadearam perda de la os familiares e desemprego Nesse sentido o processo de convers o resultou numa grande mudan a de vida Por m interessante observar como as adversidades e tenta es fazem parte desse quadro e devem ali permanecer uma conviv ncia necess ria para que o jovem se mantenha firme na sua escolha e contribua na ajuda aos outros da comunidade Nota se quanto determinadas situa es de desconforto passam a ser ressignificadas nessas comunidades e os jovens conseguem retomar processos de vida e projetos futuros Isto me chama a aten o quando percebo que o campo da sa de do adolescente e jovem tem como objetivo trabalhar projetos de vida por m desconectados das situa es que levaram os jovens a procurar algum tipo de aten o ou mesmo negligenciando essas situa es como parte das experi ncias de vida dos jovens e condi o para que ele possa dar novos sentidos e significados a essas experi ncias Entre algumas comunidades do rap o estilo rapper que se expressa no cabelo
18. 15 manifesta es como o hip hop por exemplo t m contribu do para evidenciar o intenso processo de fragmenta o que vem marcando a din mica sociocultural contempor nea Os jovens falam da primeira vez que ouviram m sicas do Racionais MC quero fazer isso a quero ser como os caras Mago Essa identifica o quase imediata com as letras principalmente porque elas retratavam algo muito semelhante ao que eles viviam na comunidade os aproximou do rap e de outros jovens que tamb m com ela se identificavam Havia dificuldades para acessar os discos dos grupos e rappers mas os jovens ouviam os sons das casas de vizinhos pediam emprestado as fitas cassetes e ainda aqueles que tinham irm os mais velhos eram instigados por eles de alguma forma Muitos eventos ocorreram na Pra a no Fim de Linha do bairro h alguns anos atr s onde grupos de rap se apresentavam espontaneamente e outros jovens praticavam o free style Esses momentos de improvisa o quase uma brincadeira para eles significavam tamb m a possibilidade de descobrir talentos at os pr prios e encontrar parceiros para as futuras bandas que se formaram Uma das comunidades que passo a descrever denomina se Ensino B sico Um aspecto interessante sobre o nome da comunidade a rela o de Mago com a quest o da escola Nas entrevistas e conversas com ele em diferentes momentos not vel a preocupa o com a educa o seja de modo pessoal
19. 1993 SILVA PAIM COSTA 1999 FREITAS et al 2000 MACEDO et al 2001 demonstrando a necessidade de interven es imediatas nesse campo Esses n meros chamam a aten o para a necessidade de uma discuss o mais abrangente no campo da sa de sobre esse grupo e sobre o modo como os jovens v m vivendo nas grandes metr poles Alguns estudos focalizam ainda problem ticas espec ficas de jovens e a import ncia de uma abordagem desses problemas por parte dos profissionais e programas de aten o mais coerente com a linguagem contextos de vida e com as particularidades dos jovens BRASIL 1999 BURAK 2001 HEILBORN et al 2002 AQUINO et al 2003 FAUSTINI et al 2003 MELO et al 2005 Por m mesmo com um discurso que considere os aspectos socioculturais dos jovens ou ainda que transcenda o uso do conceito de risco substituindo o pelo de vulnerabilidade LUZ CASTRO E SILVA 1999 ainda vis vel a rela o entre adolesc ncia e comportamento de risco sa de CARLINI COTRIM et al 2000 Esse aspecto pode ser encontrado tamb m em rela o s tem ticas da gravidez na adolesc ncia SANTOS JR 1999 das DST Aids SANTOS SANTOS 1999 CAMARGO e BOTELHO 2007 ou dos comportamentos ditos de risco por exemplo para o uso de drogas VIEIRA et al 2007 MARQUES et al 1999 que se confundem com a pr pria adolesc ncia caracterizada por conflitos psicossociais busca de auto estima V rios autores entre eles Ayre
20. 2005 p 177 Essa pr tica constitu da das experi ncias de significado e essas se d o sempre com outros Do mesmo modo que algumas pr ticas atuam como formas de resist ncia invisibilidade necess ria ao jovem e s dificuldades de sobreviv ncia tamb m operam como formas de salva o e prote o s tenta es e vicissitudes A id ia de salva o relacionada s pr ticas que os jovens realizam aparece para todas as comunidades acompanhadas no estudo 201 Em um encontro da comunidade Ressuscitados um jovem fala da import ncia da comunidade em sua vida que segundo ele contribuiu para que ele deixasse de beber retomasse o curso de sua vida com a fam lia e retornasse ao trabalho Depois de contar sua hist ria de infort nios diante da comunidade apoiado inclusive pelos outros integrantes ele refere como uma estrada com espinhos no in cio mas que Jesus vai abrindo e deixando o caminho livre para que ele possa passar no final As comunidades da renova o se apresentam para os jovens como lugares de um fazer e de poder ser algo alguma coisa As pr ticas que realizam tais como a evangeliza o as forma es de jovens as obras sociais e os grupos de conviv ncia s o situa es potenciais de troca e solidariedade Essas pr ticas protegem das tenta es e vicissitudes segundo os jovens integrantes As tenta es por eles descritas s o uso de drogas de bebida alco lica sexo fora do casamento
21. 217 Figura 27 _ Improvisa o e criatividade na transforma o do espa o Ensaio da Banda Preto S bio 05 sia caalcu isca mesa casas dra 217 Figura 28 Uso do espa o da cidade Grafite de Anjo 220 Figura 29 Ensaio da Banda Ensino B sico Escola Jo o Pedro dos Santos 220 AR CDS CEAB CEAO CELADE CEPAL COHAB CONDER CSU EBMSP FMLF FUNDAC IBGE NAU OMS ONG OSCIP OSF PDDU PNAD PRODESO PROSAD RA LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS Administra o Regional Coordenadoria de Desenvolvimento Social Centro Especial de Atendimento Bibliogr fico Centro de Estudos Afro Orientais Centro Latinoamericano y Caribeno de Demografia Comiss o Econ mica para Am rica Latina y Caribe Companhia de Habita o Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia Centro Social Urbano Major Cosme de Farias Escola Bahiana de Medicina e Sa de P blica Funda o M rio Leal Ferreira Funda o da Crian a e do Adolescente da Bahia Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica N cleo de Antropologia Urbana Organiza o Mundial da Sa de Organiza o N o Governamental Organiza es da Sociedade Civil de Interesse P blico Obras Sociais Franciscanas Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Pesquisa Nacional por Amostra de Domic lios Programa de Desenvolvimento Social Programa de Sa de Integral do Adolescente Regi o Administrativa RBC
22. CARVALHO IM M PEREIRA G C Segrega o socioespacial e din mica metropolitana In CARVALHO I M M PEREIRA G C Como anda Salvador e sua Regi o Metropolitana Salvador EDUFBA 2006 CARVALHO M J L Entre as malhas do desvio jovens espa os trajectorias e delinqu ncias VIII Congresso Luso Afro Brasileiro de Ci ncias Sociais Coimbra set 2004 Dispon vel em lt www ces fe uc pt lab2004 inscricao pdf painel56 maiajoaoleotecarvalho pdf gt Acesso em 9 jun 2008 243 CASTIEL L D D dalo e os d dalos identidade cultural subjetividade e os riscos sa de In CZERESNIA D FREITAS C M Orgs Promo o da Sa de conceitos reflex es tend ncias Rio de Janeiro FIOCRUZ 2003 2 reimp CASTRO M G Pol ticas p blicas por identidades e de a es afirmativas acessando g nero e ra a na classe focalizando juventudes NOVAES R VANNUCHI P Orgs Juventude e sociedade S o Paulo Funda o Perseu Abramo 2004 CAROS AMIGOS Revista Caros leitores Hip Hop Agosto de 2005 CASTRO M G ABRAMOVAY M Jovens em situa o de pobreza vulnerabilidades sociais e viol ncias Cadernos de Pesquisa n 116 p 143 176 jul 2002 CELESTINO M R us analfabetos trabalhadores e um Major a inser o pol tica e social do parlamentar Cosme de Farias em Salvador 2005 Disserta o Mestrado em Hist ria Social Programa de P s Gradua o em Hist ria Social Universidade Federal da Bahia
23. De algum modo essa nova 139 comunidade de que assumiram participar ocupa um espa o at ent o deixado pela fam lia entre outros espa os vazios deixados no curso de sua vida A seguir apresento um ltimo aspecto que foi regularmente trazido pelos jovens sobre suas vicissitudes as aus ncias 6 1 4 Um Lugar para a Aus ncia A aus ncia aqui se dirige para dois atores particularmente pr ximos vida dos jovens o pai e ou a m e Percebo que para al m de uma vicissitude a aus ncia est diretamente relacionada s rupturas e aos desvios na vida dos jovens Iniciei a discuss o nesse cap tulo por esse ponto especificamente sobre as experi ncias de agress o a partir das rela es dos jovens com seus pais ou com figuras masculinas com as quais conviveram e sobre essas rela es familiares que desenvolvo uma discuss o que busca ressaltar o lugar da fam lia nas narrativas dos jovens sobre suas trajet rias de vida O uso de lcool continuado dos pais e ou companheiros das m es gerando em parte as situa es de conflito com a mulher m e e tamb m com os filhos bem como as situa es de submiss o da m e aceitando as coisas como estavam ou abrindo m o dos filhos levaram os jovens a buscar novos horizontes Em alguns casos n o h registro da figura paterna O pai desconhecido ou foi embora de casa quando o jovem ainda era pequeno ou ainda n o h qualquer registro de que o pai tenha contribu
24. N o tinha quem pegasse o Cesar Maico com seu moinho de vento na roda ele chegava apavorando Voc que tem raz o Toni Di Tempos bons que n o voltar o Tudo come ou como uma brincadeira dan ando e se expressando levando a arte na dan a de rua Do Luiz Anselmo Baixo do Tubo em Cosme de farias em qualquer lugar a gente cria Tinha asfalto era nosso palco Alguns nos reprimindo muitos nos aplaudindo O resto ficaram bons seguidores da cultura Hip Hop Eram adolescentes e chegaram na juventude porque mudaram de atitude Ou am o Rap n o te ilude escute Toni Di hoje eu vejo grupos em cada rua avenidas Todos eles dando seguimento E claro cada um no seu estilo diferente Passando mensagem do cotidiano fatos e acontecimentos Eu lembro como tudo aconteceu Nem tudo foi maravilha os ensaios no CSU Luiz Anselmo No conflito entre grupos algu m conhecido morreu Est vamos n s ramos malandros considerados pela comunidade e respeitados V rias fitas eu vi e nunca me envolvi 223 A coisa ficava no Luiz Anselmo Baixa do Tubo em Cosme de Farias Concorda Jota Neri Sempre n s com nossas letras pedindo paz e harmonia Toni Di ficou simplesmente a lembran a que deixaram aqui Seus nomes ainda falados e respeitados Caras que na g ria diziam n o comia nada No Luiz Anselmo lembro de Bebeto No Campo Velho recordo de Tarzan Na Jaguarari n o podia esquecer de Zinho conhecido como Cabelo Voc le
25. RCC RENURB SEI SETRE SIG SUS Reabilita o Baseada na Comunidade Renova o Carism tica Cat lica Companhia de Renova o Urbana de Salvador Superintend ncia de Estudos Sociais e Econ micos Secretaria Estadual do Trabalho Emprego Renda e Esporte Sistema de Informa es Geogr ficas Sistema nico de Sa de SUM RIO 1 INTRODU O sa aa a ain a Era 16 2 JUVENTUDE E CONTING NCIA NA MODERNIDADE o o 33 3 O ESPA O URBANO PRODU O DE PR TICAS E CONSTRU O DE IDENTIDADES ausupaisases cipa aa a aa a a E da A Ra aa ari 42 4 O PERCURSO ETNOGR FICO eira 48 4 1 PONTOS DE ATERRAGEM saum in ici a aa 50 4 2 ESTRAT GIAS DE INVESTIGA O eeeeeeeeeeeeeeremrenes 54 4 3 SOBRE OS INFORMANTES sera 56 4 4 A FENOMENOLOGIA HERMEN UTICA COMO VIA DE AN LISE 59 5 CONTEXTOS DE DIVERSIDADES A ETNOGRAFIA DE UM BAIRRO 65 5 1 A CIDADE DO SALVADOR UMA HIST RIA DE CONTRASTES 66 5 2 A EXPANS O DA CIDADE E O SURGIMENTO DE COSME DE FARIAS 69 59 O BAIRRO E SEUS OCUPANTES canino dns a apa sd 73 5 4 O BAIRRO TAL COMO SE APRESENTA OFICIALMENTE 81 5 5 COSME DE FARIAS DO PONTO DE VISTA DOS SEUS JOVENS MORADORES carnes saparia rara o a a da pr Das Min CETa 97 6 AS CONTING NCIAS NA VIDA DE JOVENS NARRATIVAS BIOGRAFICAS amianto sans E E EEEE EE 111 6 1 OS SENTIDOS DAS VICISSITUDES sssisnssnnossennenernnnerrrnerttnrnertrnsrrrnnnee 116 6 1 1
26. Salvador 2005 COMISS O ECON MICA PARA AM RICA LATINA Y CARIBE CEPAL Centro Latinoamericano y Caribeno de Demografia CELADE Juventud poblacion y desarrolo em Am rica Latina y el Caribe sintesis e conclusiones Santiago LC G 2004 SES 2816 feb 2000 CERTEAU M A inven o do cotidiano 1 artes de fazer 9 ed Petr polis RJ Vozes 2003 CERTEAU M A inven o do cotidiano 2 morar cozinhar 6 ed Petr polis RJ Vozes 2005a CERTEAU M A cultura no plural 4 ed Campinas SP Papirus 2005b Cole o Travessia do S culo CIRINO Helga Chacina deixa 4 mortos e 5 feridos em Cosme de Farias A Tarde 8 out 2007b Salvador e regi o metropolitana p 4 CIRINO Helga Pol cia desconhece causas de 8 em cada 10 mortes violentas A Tarde 18 dez 2006c Caderno Salvador amp regi o metropolitana p 4 COATES V FRAN OSO L A BEZNOS G W Medicina do Adolescente S o Paulo Sarvier 1998 COSME de Farias ainda uma boa moradia Tribuna da Bahia Salvador 4 maio 1987b Caderno Cidade p 27 COSME de Farias n o foge regra geral Tribuna da Bahia Salvador 24 jul 1987a Caderno 1 p 44 COSME de Farias sofre o drama do abandono A Tarde Salvador 28 jun 1988 Caderno 1 p 4 244 COSME de Farias um bairro dentro do morro Tribuna da Bahia Salvador 13 mar 1988 Caderno Cidade p 86 COSME de Farias na l ngua do povo tradi o e car ncia at o nome do bairro s mbolo
27. Uma nova realidade de galeras de rua de quebra quebras de grupos ligados ao narcotr fico de meninos de rua de vigilantismo policial etc tem cada vez mais colocado em xeque o velho mito do Pa s pac fico Os jovens v m encontrando sem d vida nas representa es associadas a estes universos musicais e sociabilidade que eles promovem o estabelecimento de novas formas de representa o social que lhes permite expressar seu descontentamento opor se tese da n o viol ncia isto de que o Brasil seria uma na o diversa mas n o violenta HERSCHMANN 2000 p 38 39 O movimento se estendeu rapidamente para outros estados do pa s com dimens es diferentes a partir de cada realidade e desse modo chegou a Salvador na Bahia Aqui n o se sabe ao certo como quando e onde o rap come ou exatamente H um estudo sobre o primeiro baile funk em Salvador em 1979 o Black Bahia que acontecia no bairro de Periperi SILVA 1997 e uma publica o de Sansone e Santos 1997 sobre a socioantropologia da m sica baiana que busca compreender as rela es sociais e o sistema etno racial soteropolitano atrav s do estudo da m sica O reggae e o rastafarianismo na cidade tamb m datam do in cio da d cada de 1980 CUNHA 1993 No meu tr nsito pelo bairro de Cosme de Farias ao longo de dois anos conheci algumas bandas de rap as quais acompanhei mais detidamente nesse per odo Em todas as hist rias da cria
28. atrav s da leitura exaustiva do material textual defini ent o alguns grandes temas que norteariam a compreens o dos fen menos Dois grandes temas surgiram a partir da no o de conting ncias aqui colocada como uma categoria te rica a vicissitudes situa es adversas ocorridas nas trajet rias de vida dos jovens Poder se ia tamb m pensar em instabilidades inconst ncias insucessos ou infort nios aspectos constituintes desse mundo S o situa es que de alguma forma pelas suas pr pria caracter sticas tiveram implica es no curso normal de vida dos jovens b possibilidades situa es de enfrentamento que foram encontradas ou lan adas a partir das pr prias vicissitudes salientadas pelos jovens nas suas trajet rias Essas situa es favoreceram favorecem sa das abriram abrem possibilidades tanto materiais quanto simb licas A partir dessas categorias te ricas a priori subcategorias agora emp ricas surgiram Ap ndice E Da id ia de vicissitudes que parte das conting ncias vividas 2 No es como normal ou normalidade foram amplamente discutidas por autores como Canguilhem 2003 Foucault 1998 assim como Becker 1966 na discuss o do comportamento desviante e est o vinculadas a uma perspectiva m dica preocupada em distinguir o que se adequa ou n o sociedade produtiva Deste modo pensar sobre aspectos que fogem condu o de vida normal dos indiv duos implic
29. brinquedos afeto liberdade mas tamb m de dignidade E isso apareceu nos discursos de alguns jovens sobre o passar fome e as necessidades mas tamb m quando presenciam as mortes dos amigos enterrados como se fossem bichos Esses relatos evidenciam as in meras faltas que tamb m constituem a vida dos jovens nesse lugar percebo que as narrativas contemplam exaustivamente situa es de faltas de comida de afeto de solidariedade de divers o de espa os mas j carregam em si uma reflex o sobre os acontecimentos e desdobramentos a respeito delas Como desdobramentos aparecem rupturas e desvios no curso da vida dos jovens As rupturas se apresentam quando eles t m que assumir uma gravidez e mudar de vida mas tamb m quando s o obrigados a sair de casa por conta das situa es de opress o experimentadas Para alguns jovens essas situa es implicaram em mudan as no curso da vida e a partir delas novos modos de acomoda o foram poss veis para outros essas situa es de ruptura conduziram a desvios Os desvios na maior parte das vezes n o foram explicitados pelos jovens e apareceram na forma do n o dito perturbador como assim denominei Os jovens referem que cometeram coisas erradas mas preferem n o explicit las Al m disto buscam se distanciar das situa es e pessoas que t m alguma rela o com aquele momento de vida Procuram se distanciar dessas coisas erradas com o objetivo de se di
30. comunidades selecionadas da seguinte forma a as comunidades do rap formadas pelas bandas Africaminas Preto S bio 05 Vis o Urbana Rapaziada do Morro RM Imp rio Negro N1 e Ensino B sico b as comunidades da renova o formadas pelos grupos Justificados pela F e Ressuscitados e c a comunidade pol tica formada pelo Conselho de Moradores do Alto do Cruzeiro representado por Castor e P lux Ao longo deste cap tulo farei uso dos mapas no intuito de evidenciar a localiza o tr nsito rela es existentes e especificidades dessas comunidades no contexto do bairro Parto ent o em seguida para descrever as comunidades de pr ticas por categorias de orienta o rap renova o e pol tica Salvador LUIS ANSELMO MATATU Imperio Negr perio 5 Visao na U BE di pal do M tatu TEA e RES F AE Pspufehtados Rea ah Tub 0 N he X N WES Gy q Pas J Africaminas U RA od Praca Cosme de Fari Par lack hoy TTA Preto Sabio 05 MEN JC Radio Comunitaria Copacabana Castor e Polux Justificados pela F Ensino Basico Conselho de Moradores do Alto do Cruzeiro Espa os de Pr ticas Escola M Joao Pedro dos Santos a Lugar Rapaziada do Morr Politica w Rap Renovacao DANIEL LISBOA ago Figura 23 Mapeamentos das Comunidades e Espa os de Pr ticas dos Jovens BATISTA e PIMENTEL 2008 159
31. de mais pr ximas da vida e do viver Para Soares vida produtividade a vida produz d exist ncia faz aparecer o que n o era realiza Logo t pico da vida dar luz a diferen a o singular o novo em sentido radical o particular em sentido irredut vel Vida portanto conting ncia acidente acaso 1994 p 23 Para t cnicos e especialistas preciso pensar sobre o que a vida pensar sobre sa de pensar as pr ticas para pessoas como todos n s somos Porque tantas vezes as pr ticas se dirigem para outros como se esses outros n o tivessem qualquer rela o com o que sou Ou ser que n s t cnicos estamos t o distantes do outro que n o somos capazes de pensar sobre seus mundos nesse sentido que preciso pensar em alternativas que gerem mudan as estruturais econ micas e pol ticas Mas preciso conhecer e refletir sobre o que nos faz diferentes o que nos faz iguais o que nos faz pensar em inclus o o que nos torna vulner veis o que nos constitui como pessoas para al m do indiv duo organismo biol gico universal exposto a riscos e definido por um dado discurso social o discurso t cnico cient fico mas que se define pelo conjunto de significa es e rela es determinadas socioculturalmente preciso que o discurso t cnico o discurso da sa de transcenda e v al m que ele problematize os espa os onde se situam os sujeitos de suas a es das ditas pr ticas de s
32. do nem mesmo em rela o sobreviv ncia dos filhos ou manuten o da casa Outros trazem o registro do pai mas relacionado ao uso abusivo de bebida alco lica e consequentemente s agress es m e e aos filhos Por m al m das agress es relevante tamb m falar das aus ncias e dos significados dessas para os jovens O pai esteve ausente e para quase todos est at hoje e eles n o referem m goa ou qualquer sentimento negativo em rela o a eles ao contr rio a maioria dos jovens compreende a dimens o do problema dos pais e revela um sentimento de compaix o Atualmente nas observa es de campo e mesmo em conversas com os jovens percebo que os pais est o envelhecidos doentes sozinhos pobres e ainda usu rios de lcool Alguns pais dependem inclusive da ajuda dos filhos para sobreviver 68 A discuss o sobre os significados das comunidades de pr tica ser assunto para o cap tulo seguinte 140 importante salientar que o uso de lcool continuado um problema caracter stico do bairro de Cosme de Farias H informa es de moradores a quem tive acesso sobre o n mero de pessoas jovens e adultos que fazem uso cont nuo de lcool no bairro H inclusive o sindicato como j foi citado anteriormente Os pr prios jovens relatam como um tipo de lazer no bairro o consumo de lcool nos finais de semana seja nas ruas bares ou mais particularmente no fim de linha Alguns jovens que
33. eles ganham muito dinheiro e visa o capitalismo S o capitalismo A Igreja Cat lica visa isso Porque j cheguei l tamb m como j fiz som na Baixa da Paz no Black Point no Casar o que inclusive j fechou Eu j tentei fazer tamb m na Igreja Cat lica e risos e me cobraram um absurdo l acho que foi uns 400 500 reais A eu nem fui mais l Nem fui mais l n Ent o uma coisa que acontece muito talento aqui no bairro que n o acha lugar pra se apresentar n o acha lugar pra tocar Ent o o que domina mais o que est na televis o e no r dio mas que existe outros movimentos muito fortes no bairro tamb m galera que toca na rua faz um som na laje isso rola muito n o Apesar de tudo isso a Mago 53 As pr ticas femininas e quest es de g nero ser o desenvolvidas ao longo do trabalho 109 O principal problema a falta de investimento que nunca foi feito aqui em lazer Aqui n o tem uma quadra de esporte n o tem um campo de futebol Ent o o investimento no lazer aqui muito escasso t entendendo Aqui o menino tem que jogar bola no meio da pista arriscado o carro pegar Aqui o ndice de desemprego muito grande t entendendo O ndice de informa o do adolescente que se d pro adolescente tamb m n o rola S rola quando a galera do hip hop chega no palco sobe e mesmo assim s vezes perseguido pela pol cia que n o gosta da galera que canta o rap E aqui
34. jovens deve ser entendido como algo que v al m do problema em si que se apresenta mas a partir de uma leitura interpretativa do mundo dos jovens das suas formas de ocupa o nesse mundo e do modo como est o com outros nesse mundo 42 Cap tulo 3 O ESPA O URBANO PRODU O DE PR TICAS E CONSTRU O DE IDENTIDADES A compreens o acerca da cidade e as transforma es que a vida urbana imp e para os indiv duos s o temas recorrentes nas Ci ncias Sociais e deram origem s sub disciplinas Sociologia e Antropologia Urbanas mas tamb m s o frequentes em outras reas do conhecimento como o urbanismo a geografia humana e a sa de p blica Respeitando as especificidades pr prias de cada uma elas t m em comum a preocupa o em compreender o espa o urbano pelo modo como os indiv duos constroem formas de vida poss veis H algum tempo a cidade foi alvo de estudos que colocaram em pauta a reflex o sobre os grupos e suas diferentes formas de sociabilidade a partir do espa o urbano FREITAG 2006 V rios deles se detiveram nos comportamentos de gangues e grupos marginalizados nas cidades americanas em especial nas formas de socializa o e acultura o dos grupos como por exemplo o trabalho de Foote Whyte 2005 1943 citado por Zaluar 2003 Esses trabalhos influenciaram enormemente pesquisas em todo o mundo nas d cadas posteriores com particularidades e questionamentos em alguns casos WACQUANT 2002 e
35. mas eles buscam canais de acesso retomando Certeau 2003 No outro dia o menino tava conversando comigo e disse eu to triste porque a galera ta se contentando com pouco e a for a tudo gente e eu disse tamb m acho velho Eu quero ganhar pelo que eu trabalho eu quero fazer bem e ganhar bem sac Porque est dif cil tenho meu filho que tem despesa moro s e pago aluguel sou separado e pago pens o ent o muita dificuldade para voc t e depois que voc passa isso tudo muito dif cil mas quando voc t em cima do palco massa ali dando aut grafo e depois voc volta pra sua casa depois voc volta pra pegar o buz de novo ta ligado E tem muitas pessoas que investiu no nosso talento Charles Desse modo destaco agora outro aspecto relacionado s pr ticas como forma de resist ncia que se refere garantia de sobreviv ncia com a possibilidade de sonhar Parecem dois opostos e por vezes s o mas os jovens fazem manobras para dar conta de sobreviver e na mesma medida pegar o que sobra e investir no trabalho que lhes d a chance de viver Como diz Charles subir no palco dar aut grafo e depois esperar o buzu para voltar para casa algo simb lico o que permite imaginar como s o as manobras para que continuem com a comunidade e dentro do movimento Em conversa com os integrantes da comunidade eles contam uma recente viagem para S o Paulo para tocar com Arnaldo Antunes um son
36. o dos grupos aparecia uma figura quase lend ria pois n o o conheci de fato chamado Cezar Maiko A primeira vez que ouvi falar dele foi em uma nota no Painel do Leitor da Revista Caros Amigos em agosto de 2005 CAROS AMIGOS 2005 A nota trazia um desconforto do leitor sobre uma mat ria recente a respeito do hip hop nacional que n o destacava nomes importantes do movimento na Bahia Ele declarava a import ncia de uma banda de Cosme de Farias identificando participa es e pr mios do grupo Le es do Rap do qual foi membro e l der em importantes festivais de hip hop nacionais e internacionais De imediato aquela nota me surpreendeu por ter citado o movimento hip hop no bairro 2 Essa publica o contempla estudos de diferentes autores sobre manifesta es culturais no campo da m sica soteropolitana entre os anos de 1980 e 1990 e a rela o dessas manifesta es com a quest o racial Entre as manifesta es est o alguns fen menos que t m ocorrido nos ltimos anos e que t m redimensionado a figura do negro e da Bahia no mundo tais como Timbalada Olodum Muzenza e particularmente o Carnaval 161 Em todos os discursos dos jovens aut nticos representantes do rap atualmente no bairro o nome de Cezar ou as a es desenvolvidas por ele em meados da d cada de 1990 s o colocadas como tendo sido cruciais para a propaga o do movimento e sua continuidade h mais de dez anos em Cosme de Farias Essa
37. o geral das reas ocupadas nas encostas Nota se a topografia irregular e constru es sobrepostas em v rios n veis aproveitando a ruptura dos n veis no terreno Fonte Adriana Miranda Pimentel Pesquisadora Atualmente existem cerca de 9 182 domic lios permanentes sendo que praticamente a totalidade possui abastecimento de rede geral de gua em toda a habita o ou em parte dela ou ainda atrav s de po os ou nascentes O esgotamento sanit rio se d por rede geral de esgoto ou pluvial fossas e valas A coleta de lixo e limpeza urbana tamb m ocorre em 88 4 dos domic lios do bairro e realizada atrav s da Empresa de Limpeza Urbana do Salvador LIMPURB Figura 9 BAHIA 84 2005 Por m espacializando as informa es por setores censit rios do bairro poss vel perceber que h irregularidades nesses percentuais e que existem reas de baixadas de dif cil acesso a caminh es de limpeza onde a coleta quase inexistente e ocorre com a contribui o dos pr prios moradores Isto se evidencia no Alto do Cruzeiro onde o Conselho de Moradores iniciou um projeto de coleta de lixo em parceria com a Limpurb com a participa o dos jovens moradores do bairro com retorno financeiro para os mesmos Domic lios com Domic lios com banheiro Domic lios com Domic lios com Coleta de abastecimento de gua ou sanit rio esgotamento sanit rio rede geral de esgoto ou pluvial Figura 9 Percentual de domic lios de
38. o no bairro com rea livre com algumas rvores e por ser fim de linha dos nibus local de chegada e de partida A Pra a tem seu lugar n o somente para os jovens ela tem uma hist ria no bairro o marco zero Em todos os hor rios do dia ou da noite existem pessoas circulando telefonando comprando batendo papo ou simplesmente esperando o tempo passar Ali tamb m est o os jovens Em alguns hor rios a presen a deles mais numerosa em virtude da localiza o das escolas ao redor da Pra a quando o sol d uma tr gua e come a a se p r neste momento poss vel ver meninos e meninas acomodados nas muretas e bancos da Rua do Campo da Bola para o baba ou com o grupo de skatistas s o os que ficam a jogar conversa fora nas barracas que vendem compact disk CD ou miudezas Quando a noite chega grupos de capoeira passam a compor a paisagem da Pra a que se ilumina nos dias de apresenta o As pessoas come am a chegar de volta do trabalho outras cruzam a Pra a com algum destino e a noite que claramente marca o seu lugar de point os bares se abrem barracas de cachorro quente e pastel passam a funcionar no lugar em que pela manh funcionava a manicure e os meninos se amontoam e ficam por ali esperando quem passa Mas nos ltimos quatro anos a Pra a tem perdido essas caracter sticas porque passa tamb m a ser ponto para venda de droga segundo alguns jovens que comentam que
39. os sociais O hip hop propriamente chegou ao cen rio brasileiro em fins da d cada de 1980 em particular nas reas mais precarizadas de metr poles como S o Paulo e Rio de Janeiro Em S o Paulo ber o do rap nacional concentrou se nas regi es metropolitanas reas de maior industrializa o e de organiza o de movimentos sociais naquele per odo A marca do movimento que mistura m sica dan a e poesia o descontentamento frente s quest es que mobilizam os jovens nessas reas degradadas em especial s diversas formas de viol ncia a que eles est o suscet veis As pr ticas desenvolvidas nesses espa os se constituem como formas poss veis de enfrentamento O break designa a dan a de rua O grafite uma modalidade que se caracteriza pelo uso de muros e espa os urbanos para a pintura de situa es do cotidiano na cidade O scratching uma t cnica utilizada pelo disk jockey DJ para produzir diferentes sons atrav s do manuseio de discos de vinil para frente e para tr s em um gira discos 160 assistimos ao crescente interesse dos jovens por pr ticas culturais que se contrap em ou que pelo menos se colocam em tens o a um certo paradigma da n o viol ncia representa es e modelos que tinham at bem pouco tempo grande e quase exclusiva repercuss o no imagin rio social brasileiro o qual afirmava que todas as classes sociais e ra as conviviam num clima de razo vel harmonia
40. participa o em grupos culturais os jovens t m participado com maior freq ncia de pr ticas em torno de uma determinada manifesta o cultural ou de um estilo cultural espec fico significativo o fato de que quase a metade dos que dizem participar de algum grupo est inserida em grupos culturais o que aponta para a for a mobilizadora das a es organizadas em torno da produ o de sentidos simb licos e identidades coletivas em torno seja de estilos culturais espec ficos seja de atitudes sociais compartilhadas de distintas ordens BRENNER et al 2005 p 209 Estes aspectos j foram levantados h algum tempo por Magnani ao evidenciar que o tipo de lazer escolhido pelos grupos de bairros populares de algum modo ignorado ou traduzido pelas classes dominantes como n o lazer Um lazer que se existe porque possui um significado para aqueles que o praticam 1998 p 19 Ressalta o autor um aspecto que comum em estudos e leituras sobre as popula es pobres as popula es dos bairros perif ricos s o objeto de aten o e interesse quando se organizam em associa es e protagonizam movimentos reivindicativos Outras pr ticas por meio das quais enfrentam o cotidiano n o s o levadas em conta ou ent o s o consideradas obst culos percep o de seus interesses e a uma a o pol tica consequente sua concep o de fam lia tida como conservadora suas tradi es resqu ci
41. por incr vel que pare a nos dias mais religiosos eram os dias que mais acontecia Sexta Feira Santa mesmo toda Sexta Feira Santa rolava uma briga rolava uma briga de minha m e ir pro hospital de minha m e ir dar queixa dele de vizinhos virem apartar a briga de pessoas da rua correr atr s dele pra bater nele por ver ele bater em minha m e Passou um tempo que eu fiquei traumatizado n o podia ver uma pessoa n o podia ver um casal discutindo j come ava a chorar pensava em minha m e que agora E a a gente passou seis anos nisso a meu irm o veio pra c meu irm o era meio rebelde ent o ele voltou a bater em minha m e meu irm o j tomou a frente j quis brigar com ele bateu nele ele bateu em meu irm o e aquilo tudo da na segunda vez que ele tentou brigar com minha m e meu irm o pegou um cabo de vassoura deu na cabe a dele e a cabe a partiu e da ele se separou Da a gente voltou e a teve um dia em Narandiba eu j tinha 9 anos 10 ent o j queria me impor mesmo pra tomar a frente Da rolou uma briga feia mesmo meu irm o quebrou dois copos na cabe a dele copos fortes mesmo assim fez ferimentos graves na cabe a dele Da a gente andou um pouco e foi parar na cozinha e da eu acertei uma paulada bastante forte na cabe a dele e a ele desmaiou a gente at pensou que ele tinha morrido e tudo a ele desmaiou e foi pro hospital Tamb m essa foi a ltima b
42. pr ticas homossexuais cometer delitos o desespero por falta de expectativas e projetos futuros Algumas vezes tamb m est na ordem do n o dito como j foi trazido anteriormente mas que aparece como uma luta di ria uma tenta o que s com a for a de Deus poss vel controlar Ao falar das tenta es de algum modo isso aparece como algo que tamb m os rodeia e que eles precisam ou tentam a cada dia se livrar A pr tica uma forma de salva o A religi o ela um protetor ela protege Protege no que se diz das coisas das drogas do sexo Eu tenho talvez esse obst culo em minha vida eu percebo que Deus ele me chama pra algo pra guas mais profundas N o Deus um deus de hoje Ele esquece dos nossos pecados quando n s nos arrependemos de cora o Com isso quer dizer que quando voc estiver perto da morte Nosso Senhor perdoa tudo N o porque ele sonda os seus conhecimentos Tem um segredo da vida tem at um escritor que diz Voc cai sete levante oito Eu n o posso me acomodar os fracos que se acomodam h os pecadores que pecam Ah que nada n o ag ento n o por isso que eu vivo aqui na orgia por isso que eu fa o isso e aquilo outro porque eu sou fraco Eu n o sou pior do que os outros por m a cada momento eu estou pedindo perd o e lutando para n o pecar N o quer dizer que eu fique caindo caindo pedindo perd o caindo e pedindo perd o Luto luto luto p
43. quando refere que precisa e deseja entrar na universidade seja como valor que agrega a pessoas e situa es vivenciadas comum encontr lo com um caderno na m o relendo tarefas Sansone e Santos 1997 referem que no Brasil particularmente entre as classes populares h um alto consumo de m sica a partir de fitas cassetes piratas por m que n o h registro sobre a dimens o deste consumo Nos dias de hoje j poss vel perceber o volume de CDs piratas que consumido e os quais n o se tem registro sobre a profus o de estilos e gostos musicais difundidos Pr tica dos rappers em que desenvolvida a improvisa o ou o estilo livre em cima de uma batida Isto comum em shows e ensaios em que os rappers se juntam nesse processo de cria o 80 164 escolares ou livros e revistas de onde retira textos para apresenta o dos programas na R dio Com esse nome a banda tem pouco tempo um ano aproximadamente por m todos os integrantes fizeram parte do Le es do Rap iniciada por Cezar Maiko em 1997 Com a ida de Cezar para o Rio de Janeiro Mago resolveu come ar uma nova trajet ria Ele o mais jovem integrante do grupo e era ainda adolescente quando integrou o Le es do Rap cuja trajet ria relata com orgulho eu acho que a gente n o podia mais desistir da banda A gente j teve v rios momentos maravilhosos de estar tocando em v rios lugares maravilhosos de estar tocando com os Raciona
44. que os aproxima a v rias formas de espiritualidade NOVAES 2005 p 264 Entre essas formas est o religi es que t m modificado padr es tradicionais religiosos e favorecido novas possibilidades de ser estar fiel de um modo diferente inovador renovado restaurador Entre eles est o movimento de Renova o Carism tica Cat lica RCC que nasce a partir de um processo de renova o da Igreja Cat lica visto que essa vem perdendo fi is gradativamente nas ltimas d cadas O estudo de Almeida e Montero 2001 mostra como a religi o cat lica embora ainda se mantenha como o maior grupo religioso BRAND O 2004 tem perdido fi is em particular jovens para as religi es pentecostais e neo pentecostais principalmente A Renova o Carism tica surge no Brasil por volta da d cada de 1970 por m os primeiros registros de pesquisadores aparecem apenas no final da d cada de 1990 Alguns autores referem semelhan a com uma religiosidade evang lica por conta das caracter sticas que seus rituais e cren as assumem pouca liturgia e muita m sica e gestos que dinamizam a celebra o nfase na convers o e nos dons espirituais como o poder de cura al m de utilizar assim como os evang licos os meios de comunica o como importante ve culo de propaga o da f cat lica renovada ALMEIDA MONTERO 2001 p 96 8 A pesquisa foi realizada com 3 501 jovens entre 15 e 24 anos em v rias cidades brasileiras de
45. tica Elas guardam entre si alguns aspectos semelhantes s o formadas por jovens em sua maioria foram criadas a partir de situa es colocadas no pr prio contexto do bairro possuem uma rela o direta com os desconfortos experimentados pelos jovens nas suas trajet rias de vida sua produ o est vinculada a essas trajet rias bem como ao contexto do bairro e mobilizam espa os e recursos para o bairro e para outros jovens moradores A essas pr ticas percebo que s o atribu das duas formas de significa o para os jovens podem atuar como t ticas de resist ncia mas tamb m como geratrizes de mudan a As pr ticas como t ticas de resist ncia s o um n o lugar depende do tempo vigiando para captar no v o possibilidade de ganho Tem constantemente que jogar com os acontecimentos para os transformar em ocasi es CERTEAU 2008 p 4 Essas t ticas se apresentam especificamente de tr s formas Em primeiro lugar as comunidades de pr ticas realizam a es que devem inclusive suprir expectativas de adultos e de outras comunidades Por exemplo ser jovem pode gerar desconforto aos adultos no caso queles com quem os jovens dividem espa o e poder no bairro e na cidade e isso aparentemente gera descr dito em rela o capacidade do jovem de dar conta dos compromissos de uma comunidade Por m percebo que os jovens interferem numa din mica preestabelecida e colocam em discuss o o modo como
46. transitava pelo bairro h algum tempo quando de fato entrei no trabalho de campo da pesquisa Assim passei a buscar pessoas de refer ncia como por exemplo moradores com mais de 30 anos de resid ncia no bairro que pudessem informar aspectos relacionados hist ria e particularidades do local al m dos jovens Dois locais foram cruciais para identificar meus pontos de aterragem como refere Pais 1996 a Pra a de Cosme Brotas um distrito do munic pio de Salvador onde se situa o Curso de gradua o no qual eu lecionava Neste per odo desenvolvi atividades de ensino e pesquisa no Curso de Terapia Ocupacional da Escola Bahiana de Medicina e Sa de P blica EBMSP na perspectiva de compreender modos de vida em territ rios urbanos da cidade de Salvador Estas atividades dirigiram se inicialmente na identifica o de pessoas com defici ncia e um mapeamento territorial no bairro de Cosme de Farias orientados pela estrat gia da Reabilita o Baseada na Comunidade RBC 51 de Farias ou o fim de linha como eles dizem e a R dio Comunit ria Copacabana ambos situados no centro do bairro O centro onde tudo come ou e para onde tudo converge S o locais ativos eu poderia dizer lugares como diz Auge o centro onde ficam os bares lojas a Feira Livre a Igreja onde os itiner rios singulares se cruzam e se misturam 2004 p 63 A Pra a um local privilegiado por ser praticamente o nico espa
47. xis e a ela se dirige de forma imediata na busca da constru o compartilhada da Boa Vida AYRES 2004 p 20 Para poucos jovens contar a hist ria mesmo que dura e feia n o tranquilo mas ele o faz porque de certa forma ele percebe que est em outro momento que j superou j perdoou j compreendeu j aceitou Para cada um deles parte dessas hist rias vai sendo reescrita ou revivida de outro modo nas pr ticas que realiza no bairro e sobre elas que agora me proponho a descrever e a pensar 154 CAP TULO 7 O MUNDO DOS JOVENS SABERES E PR TICAS EM COSME DE FARIAS filosofia s come a quando temos a coragem de deixar o nada acontecer Olho no olho com o nada percebemos que n o somos apenas algo real mas que somos criaturas criativas que podem fazer algo brotar do nada Decisivo o ser humano pode experimentar se como lugar onde do nada surge algo e do algo surge o nada A ang stia nos conduz a esse ponto de transi o Ele nos confronta com o ser poss vel que somos todos n s SAFRANSKI 2005 p 204 A no o de pr ticas largamente estudada por diversos autores Ao me debru ar sobre o tema rapidamente me deparei com alguns deles talvez os mais difundidos sobre o assunto tais como Bourdieu 1996 2002 e Certeau 1995 2003 2005 Certeau passou a me interessar mais por conta da discuss o sobre novas possibilidades de uso e de maneiras de fazer que contrariam modos pree
48. 112 apenas algo que pr prio distintivo das biografias de cada um como tamb m atributos pr prios o que se pensa sobre si mesmo e atributos imputados de outros valores reconhecimento afetos que se tem sobre o sujeito Para Ricouer 2000 p 206 o discurso n o nunca para sua pr pria gl ria e sim o que pretende em todos os seus usos levar linguagem uma experi ncia um modo de viver e de estar no mundo que o precede e pede para ser dito Na perspectiva hermen utica a identidade vista como um repert rio de possibilidades das quais se lan a m o a depender da situa o As identidades s o negociadas ativamente e n o existentes a priori como refere Sell 2007 Esses autores citados apontam aspectos complementares que avan am para um entendimento sobre identidade como algo em constru o que depende de outros e das situa es que est o no mundo elementos fundamentais para compreender as trajet rias aqui apresentadas A no o de conting ncias dentro de uma perspectiva fenomenol gica hermen utica amplia a no o de risco e nesta investiga o contribui para redimensionar os ditos problemas de sa de ou problemas dos jovens tal como proposto no campo da sa de As hist rias de vida reconstru das com os jovens possibilitam conhecer as conting ncias ao menos em duas de suas dimens es as imprevisibilidades e as possibilidades no campo dos acontecimentos BRUSEKE 2007 que n o est
49. 8 n 3 p 783 790 2008 FERNANDES A et al Cidade e hist ria moderniza o das cidades brasileiras nos s culos XIX e XX Salvador Edufba 1993 FERNANDES A GOMES M A A de F Idealiza es urbanas e a constru o de Salvador moderna 1850 1920 In FERNANDES A et al Cidade e hist ria moderniza o das cidades brasileiras nos s culos XIX e XX Salvador Edufba 1998 FERNANDES C M Condi es demogr ficas In CARVALHO M M PEREIRA G C Coords Como anda Salvador Salvador Edufba 2006 FERRARI F et al Orgs Sexta Feira 8 Periferia S o Paulo 34 set 2006 264p FERREIRA A B H Dicion rio Aur lio Escolar da L ngua Portuguesa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1988 FOOTE WHITE W Sociedades de esquina Rio de Janeiro Zahar 1943 2005 FOUCAULT M A hermen utica do sujeito 2 ed S o Paulo Martins Fontes 2006 FOUCAULT M Microf sica do poder 20 ed Rio de Janeiro Graal 2004 FOUCAULT M O nascimento da cl nica 5 ed Rio de Janeiro Forense Universit ria 1998 FRAGA Danilo MENDON A Tatiana Os jovens soldados do tr fico A Tarde Salvador p 4 23 abril 2006b FREITAG B Teorias da cidade Campinas SP Papirus 2006 FREITAS E D PAIM J S SILVA L M V COSTA M C N Evolu o e distribui o espacial da mortalidade por causas externas em Salvador Bahia Brasil Cadernos de Sa de P blica v 16 n 4 p 1059 1070 out dez 2000 246
50. Algumas vezes fiquei sabendo desses desvios por outros informantes que conviveram ou tiveram rela es mais pr ximas com eles no passado Essas coisas erradas n o ditas pelos jovens referem se a uso de drogas e lcool porte de arma ilegal e roubos situa es que geram desconforto porque dentro do bairro na 138 conviv ncia com os moradores ao longo de muito tempo n o poss vel esconder h sempre algu m espreita Em Cosme de Farias como em outros bairros de ocupa o irregular a privacidade algo dif cil As rela es para al m do parentesco de vizinhan a e de proximidade n o permitem que algo ocorra sem o conhecimento de outros Alguns trabalhos mostram o significado da vizinhan a nos bairros populares s o rela es de troca de ajuda de conflitos e de muita intimidade SANTOS 2008 TAVARES 2009 As pessoas se conhecem de muito tempo sabem o que se passou com quem se passou porque estava envolvido e o que resultou de tal a o e essa situa o n o permite o esquecimento das coisas erradas Al m disso h a dificuldade de modificar a imagem pregressa o que Goffman denominou de carreira moral A id ia de carreira corresponde pr pria trajet ria percorrida por uma pessoa ao longo da vida Carreira moral como o autor define a sequ ncia regular de mudan as que a carreira provoca no eu da pessoa e em seu esquema de imagens para julgar a si mesma e aos outros 2005 1961
51. Associa o Uni o do Centen rio Sociedade Civil Moradores Conselho de Moradores do Alto do Cruzeiro Sociedade Civil Moradores Espa o Cultural e Recreativo Uma Luta que n o para Sociedade Civil Moradores Movimento Cultural dos Filhos de Oxossi Sociedade Civil Moradores Sociedade Beneficente Recreativa de Cosme Farias Sociedade Civil Moradores Associa o Beneficente Bom Samaritano Sociedade Civil Moradores Centro Odontol gico Dra Michele Sociedade Civil Sa de Consult rio Odontol gico Dra Sonia Tosta Sociedade Civil Sa de 92 Nota se que h uma aparente regularidade na distribui o das entidades por todas as localidades do bairro por m com um predom nio de entidades religiosas predominantemente de doutrina evang lica e de organiza es civis preferencialmente associa es de moradores A partir disso poss vel discutir o universo dessas entidades no mbito da aten o prestada Foi poss vel observar que h muitas queixas e demandas da popula o local sobre a quest o da educa o no bairro Fala se do abandono e inseguran a nas escolas MORADORES 1978 e principalmente da falta de unidades que de m conta da demanda de crian as e adolescentes em idade escolar COSME 1987 COSME 1988 COSME 1992 No bairro existem atualmente cinco escolas mantidas pelo poder p blico municipal e estadual SALVADOR 2007 Al m dessas o Centro Social Urbano Major Cosme de Farias CSU uma instit
52. Elas n o s o opostas ao contr rio se complementam por m apresentam sentidos e significados diferenciados que precisam ser analisados separadamente Para a an lise das trajet rias de vida dos jovens dois processos anal ticos ocorreram de forma simult nea a categoriza o e a an lise das narrativas Quanto ao primeiro processo o volume de dados textuais coletado foi tratado com o aux lio de um software para organiza o e sele o de fragmentos de textos o QSR Nvivo vers o 2 0 Por meio deste foi poss vel analisar o conjunto do material textual a partir de grandes temas inicialmente e desenvolver as categorias e subcategorias de an lise Como j trazido anteriormente foram considerados textos transcri es de entrevistas aprofundadas registro em di rio de campo das observa es conversas informais com jovens ocorridas durante as pr ticas realizadas pela comunidade e programas na R dio Comunit ria al m dos materiais produzidos pelas comunidades tais como letras de m sicas boletins informativos entre outros Quanto ao segundo foi realizada a an lise das narrativas sobre as hist rias de vida de cada jovem como estrat gia interessante para identificar 5 Ao inv s de discutir com profundidade as categorias neste momento do texto tomei como oportuno discuti las em cada cap tulo propriamente onde a an lise ser desenvolvida 64 regularidades e varia es nessas trajet rias A constru o das narra
53. Em um momento quando a banda de Mago cantou a m sica Cosme de Farias Urgente ela disse eu moro na Baixa da Paz localidade citada na letra De imediato lembrei dos coment rios dos jovens sobre os ensaios e encontros que o grupo Le es do Rap promovia na Baixa do Tubo na d cada de 1990 Os jovens que estavam ali fazendo o som eram as crian as que est o hoje assistindo a banda de Mago Figura 29 Percebi no discurso dos jovens que hoje fazem rap o quanto isto de algum modo foi envolvendo e contribuindo nas suas escolhas a partir de coisas que s o suas 13 Notas de Di rio de Campo 2 de mar o de 2008 16h00 Ensaio Ensino B sico na Escola Jo o Pedro dos Santos 221 A comunidade Ensino B sico antiga Le es do Rap canta o bairro de Cosme de Farias A m sica Cosme de Farias Urgente o pr prio hino ao bairro Embora j tenha alguns anos de sua cria o ela fala do bairro cita localidades descreve ruas becos vicissitudes situa o dos moradores mas tamb m as belezas e particularidades de um lugar que n o mudou muito desde sua cria o O que me chamou aten o neste dia foi a presen a de alguns jovens da escola que estavam ali perambulando fumando jogando bola e que foram se acomodando no ch o interessados pelo que estava acontecendo ali S o todos do bairro embora s vezes n o pare am pela dist ncia f sica e simb lica existentes dentro do pr prio bairro A letra
54. FREITAS M V PAPA F C Orgs Pol ticas p blicas juventude em pauta S o Paulo Cortez A o Educativa 2008 FRIGOTTO G Juventude trabalho e educa o no Brasil perplexidades desafios e perspectivas In NOVAES R VANNUCHI P Orgs Juventude e sociedade S o Paulo Funda o Perseu Abramo 2004 GADAMER H G Martin Heidegger e o significado de sua hermen utica da facticidade para as Ci ncias Humanas Confer ncia 3 In FRUCHON P Org O problema da consci ncia hist rica Rio de Janeiro Funda o Get lio Vargas 1998 GADAMER H G O car ter oculto da sa de Petr polis RJ Vozes 2006 GADAMER H G Verdade e m todo Petr polis RJ Vozes 1997 GEERTZ C A interpreta o das culturas Rio de Janeiro ABDR 1989 GEERTZ C O saber local 3 ed Petr polis RJ Vozes 2000 GIDDENS A As conseqii ncias da modernidade Tradu o Raul Fiker S o Paulo Unesp 1991 GIDDENS A Modernidade e identidade Tradu o Pl nio Dentzien Rio de Janeiro Jorge Zahar 2002 GOFFMAN E Estigma Notas sobre a manipula o da identidade deteriorada 4 ed Rio de Janeiro Zahar 1963 1982 GOFFMAN E Manic mios pris es e conventos 7 ed S o Paulo Perspectiva 1961 2005 2 reimp GORDILHO SOUZA Limites do habitar segrega o e exclus o na configura o urbana contempor nea de Salvador e perspectivas no s culo XX Salvador EDUFBA 2000 451p GR NLUND B The civit
55. O que os une ao rap a possibilidade de express o de quest es que s o candentes em suas vidas tais como a viol ncia particularmente a policial o racismo e a exclus o em que vivem nos bairros mais pobres da cidade Isto j foi trazido por Herschmann quando refere o crescente interesse dos jovens pobres de diversas localidades por este estilo musical essa linguagem indica que o rap tem se consolidado n o apenas como uma forma importante de express o art stica mas tamb m de protesto de afirma o de valores significados e etnicidades 2000 p 29 Os grupos do rap pesquisados s o formados por jovens em ampla maioria do sexo masculino sendo cinco formados exclusivamente por homens e um por mulheres Cada grupo possui entre dois a seis membros negros em sua maioria e praticamente todos moradores do bairro de Cosme de Farias As bandas t m em m dia tr s anos de exist ncia com varia es em rela o composi o inicial do grupo H tamb m uma rela o de proximidade entre as bandas que permite trocas parceria e ajuda m tua para a produ o musical de eventos entre outras coisas Os grupos se re nem com certa periodicidade ao longo da semana para realizar ensaios e discutir propostas de shows ou composi es Encontram se na casa de um de seus 166 membros ouvem m sicas experimentam novas bases e trocam informa es Os jovens referem que o trabalho da banda realizado por todos as m s
56. R J Pol tica e juventude o que fica da energia In NOVAES R VANNUCHI P Orgs Juventude e sociedade S o Paulo Funda o Perseu Abramo 2004 RICOUER P Teoria da interpreta o Lisboa 70 2000a RICOUER P Narratividad fenomenologia y hermen utica Analisi n 25 p 189 207 2000b 252 RICOUER P Si mismo como otro Madrid Siglo XXI 1996 RICOUER P Tempo e Narrativa a tr plice mimese In Tempo e narrativa Campinas SP Papirus 1994 p 85 131 v 1 RIOS L F O cavalgar sem sela desafios na promo o da sa de sexual entre homens jovens com pr ticas homossexuais In ADORNO R C F ALVARENGA A T VASCONCELOS M P C Jovens trajet rias masculinidades e direitos S o Paulo Fapesp Edusp 2005 p 163 98 ROCHA Nikas Cosme de Farias uma homenagem merecida A Tarde Salvador p 6 9 jan 1999b RODRIGUES L Pr ticas discursos e sil ncios um estudo sobre o campo das ONSs para a inf ncia adolesc ncia e juventude em Salvador Salvador 2007 Tese Doutorado em Ci ncias Sociais Faculdade de Filosofia e Ci ncias Humanas Universidade Federal da Bahia Salvador 2007 ROSEN G Uma hist ria da Sa de P blica 2 ed S o Paulo Rio de Janeiro Hucitec Abrasco Unesp 1994 SAFRANSKI R Heidegger um mestre da Alemanha entre o bem e o mal S o Paulo Gera o 2005 SAHLINS M O pessimismo sentimental e a experiencia etnogr fica por que a cultura n o um
57. a t nica do trabalho como um todo Isto n o havia sido pensado mas foi uma feliz coincid ncia seria poss vel A no o de ocupa o em principio bastante inc moda Por alguns s culos e at hoje a ocupa o vista comumente como um fazer desprovido de sentido geralmente atrelado queles que n o possuem nenhum lugar de import ncia na sociedade produtiva loucos presidi rios velhos entre outros Desse modo quando ouvimos falar em ocupar algu m dar ocupa o ou algo do tipo de imediato isso nos leva a questionamentos Ao ouvir os jovens acerca da falta de ocupa o no bairro de s bito retomei alguns anos de minha vida Parece algo muito comum a falta de ocupa o Ela aparece nos notici rios de TV e nos meios de comunica o em geral nas falas de policiais de especialistas e de gente comum Dar ocupa o 118 A discuss o sobre ocupa o central entre os terapeutas ocupacionais ao longo de algumas d cadas Esta rea do campo da sa de desenvolveu se a partir de t cnicas e abordagens junto a pessoas com defici ncia portadores de transtornos mentais presidi rios crian as abandonadas entre outros Parte consider vel de sua atua o deu se em institui es asilares do tipo totais GOFFMAN 2001 1961 onde a perspectiva de ocupa o dos internos independente de suas necessidades ou desejos era a finalidade do trabalho institucional Deste modo a quest o da ocupa o na Te
58. acompanhei tamb m se esfor am cotidianamente para n o beber como por exemplo Mago E a est o as hist rias do passado que se reproduzem no presente O alcoolismo antes de ser um problema de sa de um problema social que atinge particularmente os pobres e afeta direta ou indiretamente a vida dos jovens J m e os jovens atribuem valores diferenciados daqueles que referem em rela o ao pai A m e foi a que carregou os filhos e tentou sustent los como p de A ela atribuem a prote o o afeto e os cuidados necess rios quando ainda pequenos mesmo enfrentando dificuldades econ micas e emocionais Por m tamb m atribu da m e a condi o de submiss o e subordina o frente s agress es paternas ou dos companheiros delas e os jovens se ressentem de situa es em que a m e n o enfrentou um conflito em que os exp s a constrangimentos e algumas vezes os deixou ir Depois de retirar a queixa eu voltei pra l Fiquei mais um m s l fazendo as mesmas coisas cuidando do gado e do s tio em Areia Branca Eu acabei discutindo com minha m e Por que Porque minha m e n o tomava nenhuma provid ncia com rela o quilo as agress es do pai Eu n o aceitava ver ela parada de bra os cruzados e a gente sofrendo Lua Da minha m e eu acho se conscientizou mesmo de que se continuasse ia rolar coisa pior Porque meu irm o estava bastante ferido Da minha m e conseguiu traba
59. alto Tamb m o modo como s o vistos pelos outros de forma 210 mais valorizada como os amigos de inf ncia que est o na droga ou aqueles descrentes das suas possibilidades de mudan a No fragmento abaixo Cristiano reconhece a import ncia dos bens materiais como forma de melhorar a auto estima mas tamb m identifica as mudan as no modo de ser e estar no mundo Estas mudan as t m permitido projetar se para o futuro As pessoas sempre jogam cr ticas diretamente em mim quem era Cristiano que usava uma bermuda que custava 20 conto hoje compra bermuda de 100 de 70 usa uma camisa grande usa t nis de marca usa roupa de marca E eu falo exatamente que nossa riqueza n o vem dos bens materiais pra que vale o dinheiro se voc n o pode ajudar outra pessoa n o vale nada n o tem valor nenhum se voc tiver 300 mil na sua conta e se n o puder ajudar ningu m aqueles 300 mil n o vai valer de nada na sua vida entendeu Ent o eu falei a essas pessoas que a mudan a n o s material espiritual a mudan a tem que ser em todos os sentidos Mudei minha forma de me comportar de agir eu era muito impulsivo qualquer coisa eu j queria resolver na m o se tivesse algu m me olhando e eu cismasse eu j queria tirar pergunta Eu me envolvia com v rias mulheres e hoje gra as a Deus eu tenho minha namorada a gente ta perto de se casar criar uma fam lia Antes eu n o tinha esse pensamento agora eu tenho bem dif
60. as coisas acontecem no bairro compreendem as dificuldades buscam outros espa os de interlocu o dentro e fora do bairro e assumem um outro lugar Assim a quest o do reconhecimento 233 social crucial O jovem precisa se legitimar como algu m digno de credibilidade frente aos adultos n o apenas por ser jovem mas principalmente para dividir poder com os adultos e tamb m com outros jovens no bairro Em segundo as pr ticas s o t ticas de resist ncia na medida em que os jovens fazem uso de outras atividades e recursos a partir do que det m como habilidades para investir nas pr ticas como algo para fortalecer a alma E em terceiro na medida em que os jovens fazem uso das comunidades e dos recursos provenientes delas para se protegerem das tenta es as coisas erradas das quais ele cotidianamente deve se recordar mas tamb m das vicissitudes experimentadas no bairro Do mesmo modo as comunidades de pr ticas geram mudan as significativas na vida dos jovens As comunidades favorecem aos jovens modos de lidar com as situa es apropriando se delas Assim s o geratrizes de mudan as na medida em que a promovem espa os no bairro e na cidade b elevam a auto estima dos jovens c e introduzem os jovens no pr prio bairro na cidade e entre outros jovens Assim j que h forte escassez de espa os no bairro espa os n o previamente estabelecidos para determinadas pr ticas tais como lajes
61. baixa renda sem projetos ou sustenta o de normas urban sticas a partir de contratos de compra e venda sem escritura formal do lote e adquiridos com o pr prio propriet rio da terra Entre 1925 e 1940 a partir de pesquisa realizada por Gordilho Souza 2000 j havia ocupa es particularmente em reas planas e de cumeada Desse per odo em diante este tipo de ocupa o por parcelamento informal perdeu espa o para as chamadas invas es em reas de baixadas e encostas em particular no entorno das avenidas de vale como a Bonoc Silva 2006 aponta que Salvador possui de 30 a 40 de sua popula o habitando nessas reas sem qualquer tipo de planejamento sem saneamento b sico e sem drenagem A partir disso poss vel compreender a fala de muitos moradores antigos que vou conhecendo no bairro Eles falam do Pequeno Saldanha atualmente nome de rua na Baixa do Tubo filho de Edinho Saldanha um arrendeiro rico que vendeu muitos terrenos por ali Falam do bairro que naquele tempo alguns t m dificuldade de precisar mas algo entre as d cadas de 1950 e 1970 com muito mato e lama repleto de rvores de frutas escuro e ermo Havia poucas casas uma afastada da outra e ladeiras escorregadias e enlama adas por onde as pessoas desciam com os sapatos nas m os para chegar onde hoje se situa a pra a do bairro Figura 5 O Sr Os rio ao relatar as caracter sticas do bairro entre as d cadas de 1960 e 1970 conta uma hist ri
62. citas ou il citas ou as duas simultaneamente Esse tamb m um ponto controverso entre os jovens sobre o que l cito ou il cito ainda que n o apare a com clareza em seus discursos O que de fato interessante e que pretendo aprofundar diz respeito s alternativas encontradas por eles Dois aspectos foram trazidos nas narrativas dos jovens a ter que realizar qualquer tipo de trabalho e manter a pr pria sobreviv ncia ou das pessoas dependentes e b trabalhar para poder realizar os sonhos Quanto ao primeiro t pico os jovens trabalham geralmente em subempregos ou seja s o office boys fazem pequenos trabalhos de pedreiro ou pintor cuidam de crian as consertam sof s biscates de todos os tipos como eles dizem Alguns prestam servi os em ONGs das quais fizeram ou fazem parte com contratos tempor rios mas a maioria realiza trabalhos que d o algum dinheiro momentaneamente Todos se referem precariedade dessa condi o e n o se orgulham de dizer que realizam esses trabalhos Costumam falar dos locais em que trabalham ou trabalharam em algum momento tais como constru o civil lojas escrit rios empresa de limpeza urbana mas n o da fun o que exerceram ou porventura exercem Por m falam com clareza de que essa a forma encontrada correr atr s das coisas qualquer tipo de correria tem que fazer a correria s o as express es correntes sobre o assunto Quem n o trafica t fazen
63. coisa significa devolver lhe sua dignidade O compreender recupera a vida passada 2 Para Ricouer os linguistas chamam conectores ou shifters que s o procedimentos gramaticais utilizados pelos falantes contidos na estrutura interna da frase O eu sempre o falante que um sujeito singular Significar o que o falante quer dizer 2000a p 24 5 62 A reconstru o do passado obra da imagina o Gra as a este jogo complexo entre a refer ncia indireta ao passado e a refer ncia produtora da fic o a experi ncia humana em sua dimens o temporal profunda n o deixa de ser refigurada COLLINGWOOD apud RICOUER 2000 p 195 O passado sempre pode ser campo para meu futuro porque ele pode ser sempre retomado em uma dire o ent o ele um campo para o futuro E quem o outro O outro n o mais que minha nega o mas algo que pode retomar meus projetos assim como eu Quando eu retomo parte se do pressuposto de que eu j tinha algo RABELO SOUZA 2007 Considero interessante essa id ia de passado e futuro entrela ados para entender a hist ria do jovem e o caminho que ele adota como projeto de vida Assim o processo anal tico foi se constituindo dentro do pr prio fazer etnogr fico e a partir de uma leitura fenomenol gica hermen utica das experi ncias vividas em campo Primeiramente parti de um repert rio te rico como aporte para algumas dire es mas em seguida
64. conhe a a tal ponto que voc n o lute a todo momento Ent o luta a cada dia Prometeu Prometeu serviu o ex rcito e acabado o ano se manteve trabalhando por mais oito anos at que deu baixa N o relata exatamente o porqu da baixa mas refere que passou por muitas situa es viu muitas coisas no Ex rcito Atualmente continua trabalhando como cabeleireiro no mesmo local Ele percebeu ainda muito jovem a sua voca o para o trabalho religioso especialmente para a prega o Entende isso como um chamado do Senhor como se Ele quisesse sempre mais dele E acredita que seu futuro ainda n o est definido Quando n o est trabalhando est em atividades de prega o ou em grupos destinados a ajudar necessitados no bairro Marca na sua fala a necessidade de a cada dia vencer essa tenta o que o persegue Uma luta di ria Em outro momento em conversas informais comigo ressaltou que um dia confessou ao padre seu pecado e foi ali que tudo em sua vida mudou Ele descobriu a for a em Jesus Ele o salvou Em outras passagens da entrevista Prometeu retoma a quest o das coisas erradas como aspectos que foram vividos na inf ncia agora falando de um outro que n o se sabe bem quem No momento da entrevista ele fala da dificuldade que para a Igreja Cat lica dizer para o jovem que ele n o pode ter rela es sexuais com qualquer pessoa Fala contra o uso da camisinha pela igreja a que ele
65. da luta contra a pobreza Jornal da Bahia Salvador 13 jul 1992 Caderno 1 COSME de Farias amplia luta por moradias Tribuna da Bahia Salvador 16 jul 2007 COSTA A C G O adolescente como protagonista In BRASIL Minist rio da Sa de Secretaria de Pol ticas de Sa de Area de Sa de do Adolescente e do Jovem Cadernos juventude sa de e desenvolvimento Organiza o Neia Schor Maria do Socorro Tabosa Mota Viviane Castelo Branco Bras lia 1999 COSTA S R S Uma experi ncia com autoridades pequena etnografia de contato com o hip hop e a pol cia num morro carioca In VELHO G KUSCHNIR K Orgs Pesquisas urbanas desafios do trabalho antropol gico Rio de Janeiro Zahar 2008 CUNHA O M G Fazendo a coisa certa reggae rastas e pentecostais em Salvador Revista Brasileira de Ci ncias Sociais v 8 n 23 p 120 137 1993 CZERESNIA D FREITAS C M Orgs Promo o da Sa de conceitos reflex es tend ncias Rio de Janeiro FIOCRUZ 2008 2 reimp DAMATTA R A casa e a rua espa o cidadania mulher e morte no Brasil 5 ed Rio de Janeiro Rocco 1997 DANNEMANN Maria de F tima Crime assusta morador de Cosme de Farias A Tarde Salvador 9 jan 1999a Caderno 1 p 6 DAYRELL J O rap e o funk na socializa o da juventude Educa o e Pesquisa v 28 n 1 p 117 136 jan jun 2002 DIMITRIADIS G In the clique popular culture constructions of place and the everyday
66. de adolescente e jovem n o parte de uma faixa et ria que vai de 10 a 24 anos que possui caracter sticas pr prias e universalizadas mas de uma perspectiva que comporta a id ia do lugar de onde os jovens falam Para Bucholtz n o h defini es precisas e isso se percebe na variedade de trabalhos produzidos ao redor do mundo que no frigir dos ovos baseiam suas defini es a depender dos interesses pol tico econ micos r tulos como crian a soldado m e adolescente e jovem violento s o socialmente significativos autorizando a interpreta o da cronologia biol gica em termos sociais que podem ser substitu dos de acordo com circunst ncias sociopol ticas 2002 p 527 Bucholtz sustenta que h dificuldades nessa defini o e prop e o uso do conceito ling stico shifter que implica pensar sobre o contexto do falante Desse modo os significados devem partir do local de seu uso Da mesma forma a fun o referencial de juventude n o pode ser determinada antes do seu uso em um contexto cultural particular e seu uso indexa a natureza do contexto no qual invocado Como um J4 J4 Shifter ent o juventude um signo que criado e renovado ao mesmo tempo atrav s das rela es sociais que s o simultaneamente e freq entemente reproduzidas e contestadas 2002 p 527 58 Parte a autora de uma concep o de juventude n o propriamente marcada por limites de idade mas como identidades A ide
67. de Sa de e na comemora o do Dia da Consci ncia Negra Mas tamb m os encontrei a resgatar moradores em dia de chuva fazer festas de Natal para as crian as a articular projetos de limpeza no bairro estruturar um centro de inform tica com outras lideran as no Alto do Cruzeiro enfim eu poderia citar algumas outras atividades em que estavam organizando ou participando Desse modo tamb m passam a estimular outros jovens no bairro para a organiza o de associa es e grupos em outras localidades como vem ocorrendo com dois jovens da Baixa da Paz que conheci recentemente Essa mobilidade se reflete no modo como os g meos transitam e fazem do bairro um lugar O social o foco central quando apresentam as pr ticas realizadas Aparece quase sempre como ajuda s popula es mais pauperizadas do bairro aos jovens viciados s crian as que n o t m perspectivas enfim aparece como forma de mudar este cen rio Do ponto de vista deles o bairro vem mudando particularmente o Alto do Cruzeiro e parte disto fruto destas articula es que fazem dentro e fora dele Teve v rias mudan as Vamos supor l em Cosme de Farias embora algumas lideran as dizem que foi ela entendeu mas aquela Pra a ali foi uma luta nossa toda aquela ali entendeu Ali a quest o do posto de sa de mesmo ali foi uma luta nossa que a gente criou uns programas a de os agentes comunit rios foi uma luta nossa a tamb m que a gente fe
68. de casas pra as bares fundos de casas e a rua v o sendo apropriados para eventos ensaios e reuni es das comunidades Esses espa os passam a ser lugares do ponto de vista antropol gico porque se definem pelo compartilhamento de afli es mas tamb m de afeto entre os jovens S o lugares sobretudo de sociabilidade pois neles que os jovens se reconhecem e vivenciam situa es de prazer Eles declaram a indigna o a raiva as mazelas de um lugar mas ao mesmo tempo as particularidades dele e criam novos espa os lugares que favorecem o conv vio a troca e abrem novos horizontes de possibilidades S o espa os de uso no bairro inventados que promovem a sociabilidade de jovens permitem mudan as no modo como eles se percebem e s o percebidos no bairro e nesse sentido elevam a auto estima E esta uma segunda mudan a que eles experimentam atrav s das pr ticas A auto estima surge pelo reconhecimento externo a partir das mudan as de vida que j se apresentam medida que os jovens passam a pertencer comunidade A pr pria id ia de resgate est vinculada a isso Os jovens resgatam situa es de vida e a partir delas que desenvolvem suas pr ticas Essas pr ticas passam a ter um sentido nas suas vidas porque surgem de algo que dele 234 experimentado por ele e s o essas experi ncias que precipitam mudan as Fazem uso de instrumentos roupas acess rios melhorias da situa o de vida e se dista
69. de pensar na minha fun o como pesquisadora e profissional do campo da sa de As pesquisas cient ficas em geral t m a finalidade de conhecer um fen meno e a partir disso esta pesquisa foi desenvolvida seguindo esta perspectiva Por m h algum tempo e cada vez mais elas objetivam modificar esse fen meno o que at certo ponto interessante Mas quando se trata de pessoas isso se torna mais complicado porque a cada dia algu m levanta um problema e prop e solu es e na maioria das vezes os problemas s o identificados por pessoas que n o t m qualquer rela o com os universos que pretende investigar e assim prop em solu es a partir de um lugar a anos luz de dist ncia das pessoas a quem se destinam Para a fenomenologia o mundo da vida o mundo que foi esquecido pela ci ncia porque essa se distanciou dos sujeitos tal como eles vivem e se percebem A partir disso percebo que existem saberes e fazeres pr prios que s o pouco ouvidos quando o s o Em parte porque os espa os existentes para a escuta est o fechados Para Gadamer a abertura para o outro implica o reconhecimento de que devo estar disposto a deixar valer em mim algo contra mim 1997 p 532 Por conta disso este estudo uma tentativa de abertura dos espa os existentes ou institucionais particularmente da sa de para o que est aparentemente velado o ponto de vista das pessoas sobre suas preocupa es interesses desejos e
70. de um espa o ou institui o Contexto vida cotidiana e para a fenomenologia s poss vel conhec lo a partir da experi ncia de vida dos sujeitos o sentido e significados que os sujeitos atribuem aos acontecimentos aos seus modos de fazer e aos espa os onde 221 vivem Desse modo Cosme de Farias deixa de ser um bairro pobre e com caracter sticas at semelhantes de outros bairros da cidade de Salvador e passa a ser O bairro Cosme de Farias um contexto de diversidades Em um primeiro momento coletei uma s rie de informa es e dados sobre a cidade e especificamente sobre o bairro que denominei de O bairro tal como se apresenta oficialmente A inten o era exatamente conhecer o bairro atrav s dos registros j produzidos mais que isso compreend lo no interior da cidade tal como ela foi sendo ocupada e desvelada Passo ent o a compreender o que caracteriza um bairro pobre e porque pobre pois a pobreza tem ra zes mas tamb m que a pobreza material pois a hist ria do lugar as manifesta es culturais e as pessoas que l se instalaram fazem do bairro um bem simb lico Em um segundo momento passo a descrever o bairro do ponto de vista de seus jovens moradores e esse o momento em que o bairro passa a ser um contexto porque quem fala quem de fato o habita nos seus limites e possibilidades Assim os jovens falam das situa es que mais afetam o bairro S o problemas com
71. disposi es que me est o dadas nesse mundo na atividade cotidiana que o ser se coloca em disposi o SAFRANSKI 2005 p 199 Desse modo o homem algo que se define em um projeto sempre retomado Seu modo de ser poder ser fazer de suas pr prias possibilidades um projeto como diz Gadamer 1998 H um trecho de Safranski representativo do que apresento aqui e que diz assim n o percebo como uma t bua laqueada a porta que eu habitualmente abro Quando estou familiarizado com ela nem a percebo Eu a abro para ir ao meu escrit rio Ela tem seu lugar no meu espa o vital mas tamb m no meu tempo vital ela desempenha determinado papel ritual de meu cotidiano Seu ranger faz parte dele os rastros de seu uso as lembran as que se prendem nela etc Essa porta segundo a express o de Heidegger est dispon vel Se acaso alguma vez surpreendentemente ela estiver trancada e eu bater com a cabe a nela perceberei doloridamente a porta como t bua dura que ela realmente Ent o a porta dispon vel se tornar uma porta simplesmente existente As rela es em que vivemos formam dessa maneira o mundo do que est dispon vel L existe uma rela o de significa o com a qual me familiarizo agindo mesmo sem a conhecer nos detalhes N s vivemos esses significados sem os trazermos expressamente consci ncia S quando ocorre uma perturba o vinda de fora ou da consci ncia esse
72. distanciamento ao pensar sobre a fam lia de outros sobre outros pontos de vista sobre fam lia que n o os pr prios e sair do lugar da culpabiliza o Percebo que para os jovens falar da fam lia particularmente do pai da m e ou de outros que assumiram esse lugar um pouco falar de si do lugar de onde veio o filtro atrav s do qual se come a a ver e a 146 significar o mundo SARTI 2004 p 120 E tamb m a partir dela que se cresce simbolicamente no sentido de que atrav s da fam lia que eu re elaboro minhas experi ncias O modo como pai e m e se apresentam para esses jovens no modo poss vel abriu novas janelas e permitiu a entrada de outros Talvez eles tenham pecado pelas demandas n o supridas em dado momento da vida por m permitiram de algum modo que outras coisas viessem tona por exemplo a abertura de espa o para pr ticas e outros irm os vizinhos desconhecidos que compuseram uma rede de refer ncia para os jovens Nesse sentido al m do pai e da m e com quem os jovens puderam contar em alguns momentos cruciais os irm os tamb m foram importantes A import ncia reside n o em termos de sobreviv ncia ou prote o mas em experi ncias que foram sendo introduzidas tais como a da rua de ritmos e estilos de vida Malcom fala das dificuldades no conv vio com o irm o que s conheceu aos quatorze anos um irm o que ele idealizava por ser mais velho talvez pela aus
73. do Cruzeiro Eu n o vou dizer o nome do armaz m mas tem um dono de armaz m aqui que d a esposa pra interar Castor Parte das cr ticas que fazem s meninas do bairro coincide tamb m com o lugar que colocam as mulheres do bairro Os jovens e tamb m as jovens que falam se colocam dist ncia dessas outras a que se referem O lugar que atribuem aos homens o lugar do n o fazer ou n o ter nada para fazer correr atr s de mulheres e sujeitar se aos v cios s mulheres atribu do o vender o corpo curtir pagode e buscar homens que tenham carro e dinheiro N o vejo como cr tica apenas a esses jovens mas sinto tamb m um desconforto pela situa o que bastante vis vel e vivida por eles no cotidiano do bairro Tamb m percebo que eles n o focalizam os problemas nos indiv duos embora falem deles Pois ao lado das cr ticas est a indigna o pela situa o nesse momento que mais aparece o contexto como algo que refor a este status quo Eles demonstram clareza pelo fato de que poderia ser diferente Eu acho que a educa o os col gios n o tem uma biblioteca n o tem um teatro Bom n o tem lazer aqui n o tem nem espa o pra fazer som n o O maior espa o que tem aqui da Igreja Cat lica Mas at pra tocar na Pra a tem que pedir autoriza o Igreja E pra tocar l dentro tem um espa o muito grande que sempre rola seresta forr na poca de S o Jo o rola forr tamb m
74. do membro da Banda Grupo Assinatura da pesquisadora respons vel 262 AP NDICE C UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE SAUDE COLETIVA ROTEIRO DE OBSERVA O DAS PR TICAS 1 Que pr tica est sendo observada 2 Como surgiu a pr tica Como se deu o uso do espa o para a realiza o desta pr tica 3 Onde ocorre local no bairro localiza o espacial etc Quando 4 Como se caracteriza 5 Quem est presente de informantes 6 Quem participa 7 H mulheres e homens participando Qual a propor o H diferen as na forma de estarem no local e relacionarem se 8 Quem atua Homens e mulheres H diferen as nos seus fazeres co Qual a faixa et ria das pessoas no lugar 10 O que fazem 11 Que recursos do bairro utilizam Que instrumentos utilizam 12 Como transitam no espa o 13 O que a pr tica motiva nos participantes Como se relacionam entre eles 14 Esta pr tica constitui um espa o lugar de jovens no bairro 15 Do que falam os jovens Que aspectos aparecem que possam trazer elementos do cotidiano do bairro Ou da pr pria vida dos jovens 16 H algo de inusitado que implica mudan a ou transforma o no dia a dia dos jovens a partir deste espa o Adriana Miranda Pimentel 263 AP NDICE D UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE SAUDE COLETIVA ROTEIRO DE ENTREVISTA COM JOVENS Sobre o Jovem 2 Dados de Identifica o sexo idade cor ra a naturalida
75. dos espa os de lazer e divers o da seguran a bem como da aten o e considera o s situa es vividas no bairro quanto simb licos que s o os sentidos dessas faltas Intencionalidade um conceito importante na fenomenologia e se define por uma caracter stica da consci ncia de ser consciente de algo de ser dirigida a um objeto MOREIRA 2002 p 84 Intencionalidade implica um envolvimento com um dado objeto em todas as suas dimens es tal qual ele se revela para mim 127 nas trajet rias e escolhas dos jovens Algumas situa es vividas e vivenciadas pelos jovens nas suas trajet rias indicam isso Para Malcom as agress es constantes sofridas pela m e precipitaram a sua sa da de casa que marcou uma ruptura no curso de sua vida e foi acompanhada de alguns infort nios n o revelados na entrevista que o levaram a morar na FUNDAC Ele n o explicita os motivos que o levaram para l Ora diz que n o tinha onde morar e aproveitando a passagem de seu irm o pela institui o este sim cumprindo medida acabou conseguindo um lugar ora diz que cometeu pequenos delitos mas nunca foi pego Por m nessa discuss o o que levanto s o passagens da entrevista onde ele revela a ambiguidade de sentimentos que nutria pela entidade Em dado momento era uma col nia de f rias em outro um pres dio Em parte essa ambiguidade est na saudade dos tempos que l viveu e revela Eu tinha de
76. e de certa forma se refugiam na comunidade o lugar seguro Essa passa a ser um espa o de acolhimento Esta discuss o me fez lembrar de um texto de Ayres 2004 sobre o cuidado nas pr ticas de sa de O autor parte de um relato sobre um atendimento em uma unidade de sa de onde em linhas gerais percebe a dist ncia entre os aspectos t cnicos e os aspectos humanistas que precisam dialogar a fim de que a finalidade da aten o se fa a cumprir Quero dizer com isto que os profissionais da sa de est o cada vez mais distanciados no mundo da vida das pessoas que se prop em atender particularmente dos jovens Neste sentido a busca por outros espa os nem sempre com propostas de responder s demandas mais claramente mas de oferecer 107 Com fregu ncia os praticantes da Renova o Carism tica Cat lica s o questionados pelos evang licos sobre a semelhan a em rela o s suas pr ticas religiosas tais como as pr ticas de cura evangeliza o o uso de canto e gestos durante os rituais religiosos entre outras Esta quest o do acolhimento ressaltada atualmente no campo da sa de particularmente como a o que deve ser valorizada e incrementada nas unidades b sicas de sa de Uma das prerrogativas o fato de que as pessoas n o sentem na unidade de sa de um espa o de confian a e prote o H toda uma discuss o atual sobre n o ades o aos tratamentos evas o do servi o descontinuidade em rela o s
77. e servi os urbanos e que abriga os setores de baixa renda da popula o FERREIRA 2008 101 bairro e a viol ncia algo que tem tocado nesses tempos No discurso de Sara a viol ncia s afeta diretamente a quem por acaso estiver pr ximo dos acontecimentos algo que est distante que de outra pessoa Esse um sentimento ou coloca o comum entre os jovens que acompanhei Em raros momentos em que esse outro tem alguma proximidade com o jovem entrevistado h um sil ncio que acompanha o inc modo ao falar desse outro a partir da situa o de viol ncia presenciada ou falada um inc modo que diz respeito ao evento em si mesmo viol ncia perpetrada proximidade com a pessoa que sofreu a viol ncia pelo seu envolvimento mas tamb m por ter acontecido no bairro em que residem e que estimam O aumento das bocas de fumo no bairro invadindo as casas e ruas de pessoas tal a proximidade que assumem daqueles com quem conversei s o lugares que pela localiza o n o recomend vel transitar livremente ou sem ser observado O consumo cada vez mais cedo de drogas especialmente o lcool por crian as de 10 e 11 anos al m do uso indiscriminado pelos adultos algo recorrente tamb m Assim como Sara outros informantes tamb m referiram a venda de drogas em frente as suas casas o que algo que surpreende em rela o h tempos atr s Ou seja sempre foi de conhecimento dos moradores a venda e o cons
78. elaborou teoricamente e com lacunas Para Heidegger 2006 ser no mundo implica ser mundo N o um ser atrelado ao mundo ou dentro dele mas algo constituinte deste mundo E s poss vel compreend lo a partir do seu ser estar mundo ou seja do modo como constr i possibilidades experimenta e utiliza instrumentos desenvolve cren as e pr ticas que se d o a partir desse mundo Os h fens permitem que se compreenda a indissociabilidade entre ser e mundo que a l gica que orienta toda a perspectiva anal tica deste estudo Parto do princ pio de que n o poss vel compreender as situa es de vida dos jovens sen o pela indissociabilidade entre seus mundos de vida esses sujeitos e 2 Esse mundo da vida cotidiano para a fenomenologia entendido como o mundo das experi ncias A experi ncia num primeiro momento vivida imprecisa mas medida que me debru o sobre ela ou seja que reflito e que a vejo em retrospectiva que posso cham la de significativa SCHULTZ 1979 60 seus fazeres cotidianos Um exemplo disso se aplica neste estudo quanto no o de conting ncia Essa no o orientada pela perspectiva fenomenol gica hermen utica v lida porque permite pensar a indissociabilidade j contida no termo ou seja que algo pode ser e n o ser implica pensar em vicissitudes o que pressup e instabilidades inconst ncias insucessos mas tamb m abertura para possibilidades Ou na linguage
79. em Cosme de Farias t faltando quadras de esporte t faltando uma casa cultural um espa o cultural pra os adolescentes tomar cursos profissionalizantes t faltando seguran a p blica pelo tanto de duas tr s viaturas n o d conta entendeu Os crimes acontecem depois que a pol cia chega entendeu Ent o aqui t faltando um monte de coisa pra poder o bairro melhorar Anjo Nestes fragmentos poss vel perceber que os problemas surgem porque h espa o para que surjam na falta no vazio que aparecem op es e possibilidades nem sempre vi veis mas o que irrompe e com respostas aparentemente mais r pidas Os jovens deixam claro que esses problemas n o s o deles mas de um bairro esquecido e problemas que afligem a todos os moradores direta ou indiretamente Os jovens falam de uma falta de ocupa o que n o a ocupa o pela ocupa o ou alguma coisa para preencher a falta do que fazer como poss veis solu es para esses problemas A ocupa o algo que precisa ter sentido O seu sentido se dar no momento em que este fazer esteja localmente situado e em sintonia com as trajet rias de vida dos jovens Este fazer precisa ressoar sobre suas expectativas sobre suas necessidades e condi es espec ficas para dar encaminhamentos futuros Precisa ser um fazer com significa o desse significado que os jovens falam quando apontam o descaso das institui es e do poder p blico mas
80. entre outros 38 Algumas jovens acompanhadas na pesquisa realizam esse tipo de trabalho no bairro 93 Cosme de Farias possui uma nica unidade de sa de municipal o Centro de Sa de Cardeal da Silva Tabela 1 que pertence ao Distrito Sanit rio de Brotas e foi constru do no ano de 1956 De acordo com informa es coletadas junto a t cnicos da Unidade os atendimentos mais procurados s o Ginecologia e Pediatria al m dos programas especiais para diab ticos e hipertensos Em rela o aos jovens os atendimentos ocorrem preferencialmente a mulheres que buscam a ginecologia ou os servi os de pr natal A propor o de homens que utilizam o servi o m nima necess rio destacar que os dados e informa es sobre atendimentos prestados pelo servi o de sa de n o revelam as necessidades de sa de da popula o local Em rela o aos bitos ocorridos no bairro de Cosme de Farias em 2005 foram registrados 40 bitos por doen as do aparelho circulat rio 30 por neoplasias 15 por doen as metab licas e nutricionais e 15 por afec es do per odo perinatal SALVADOR 2005c Em rela o a causas externas Cosme de Farias o bairro que lidera as estat sticas na Regi o Administrativa 5 com um n mero m dio de homic dios de 16 ocorr ncias entre os anos de 1998 e 2004 e taxa m dia de mortalidade por homic dios de 49 87 SALVADOR 2006 Al m dos dados que v m sendo registrados atrav s dos rg os especializados
81. esses dois modos de ser no mundo Por isto a an lise existencial nunca an lise da subjetividade mas da exist ncia mesma que se d sempre num mundo circundante envolvendo tanto o que entendemos como sociedade como o que entendemos como meio ambiente p 339 A partir disto poss vel perceber as pr ticas como geratrizes de mudan a na vida dos jovens porque elas permitem outros modos de estar ser no mundo num mundo com outros e a partir destes outros Neste fazer com ou seja neste mundo das manualidades em que os jovens usam os instrumentos que est o m o eles tamb m com vivem e se re conhecem e isto passa a ter um novo sentido em suas vidas Neste conv vio neste estar com os jovens definem tamb m outro aspecto crucial para o engajamento nestas pr ticas e mais que isto para sua perman ncia nelas a mudan a em rela o auto estima A auto estima um aspecto bastante tocado pelos jovens das comunidades Ela aparece em dois momentos de seus discursos um antes das comunidades e outro depois delas Antes havia um vazio um n o sentido para a vida Havia uma invisibilidade dentro da fam lia e no bairro A partir da comunidade o jovem passa a ter um respeito um reconhecimento passa a ser visto por outros como um vencedor Isto aparece particularmente entre os jovens das comunidades da renova o mas tamb m do rap e na comunidade pol tica Sentem se diferenciados pois passam a ter uma exist ncia difere
82. eu j tinha vivido como eu lhe falei as pessoas que normalmente passam por essa situa o n com os pais com a fam lia sofre rejei o do pai agress o essas coisas todas influi normalmente numa coisa ruim ela n o vai nunca ter nenhum pensamento bom na vida Como eu mesmo antes de eu entrar na igreja eu tinha muito dio de meu pai entendeu Eu j tinha tentado suic dio tr s vezes eu tinha raiva muita raiva dele de tanta raiva que eu tinha dele eu j bebia aos 13 anos tentei suic dio bebendo tentei cortar os meus pulsos Ent o se eu n o tivesse entrado numa religi o a minha vida hoje eu n o estaria aqui falando com voc porque talvez hoje eu estaria ou viciada demais me entregado bebida ou eu poderia me entregar aos v cios da prostitui o da maconha dessas coisas assim entendeu Que estavam pr ximas no momento mas por eu ter entrado numa religi o ter me apegado a Deus Lua Lua n o mais pertence a uma denomina o religiosa mas ressalta a import ncia dessa experi ncia como algo que lhe deu prote o e suporte no enfrentamento das adversidades Nesse sentido a pr tica teve seu lugar Por m algo me chama aten o ao mesmo tempo em que as pr ticas oferecem suporte elas tamb m reafirmam e mant m avivados os motivos que levaram os jovens convers o A experi ncia de Prometeu j retratada neste estudo sobre o sentimento 208 de ter um espinho que lhe corta a carne
83. ia de Ayres 2005 sobre a no o de projetos de felicidade cuja proposta vai de encontro perspectiva adotada pelo campo da sa de sustentada num ideal de bem estar e normalidade A id ia de projetos de felicidade implica pensar que as experi ncias de vida dos sujeitos s o feitas de situa es indesej veis tamb m e que estas n o podem ser negadas ou evitadas mas sim incorporadas e valoradas em projetos futuros Para os jovens das comunidades do rap isto n o diferente mas h nuances em rela o s comunidades da renova o Ser rapper modifica o modo como eles s o vistos no bairro como s o respeitados pela comunidade como j foi trazido anteriormente mas eles se v em diferenciados em rela o a outros jovens Percebem se mais conscientes mais informados mais articulados com outros jovens e pessoas o que permite a eles se sentirem diferenciados Esta diferen a aparece no momento em que tamb m se apresentam como aqueles que podem resgatar outros jovens do bairro jovens que est o no tr fico na prostitui o em outras paradas como eles dizem Minha m sica traz algo de consci ncia pras pessoas traz informa o al m de trazer algo de consci ncia cultura e informa o a gente t tentando resgatar os amigos e irm os que est o a margem da sociedade sem informa o nenhuma e a gente tenta tamb m resgatar a cultura a auto estima E toda vez que um cantor de rap sobe num palco ele t virando p
84. lugar da dona de casa e de cuidadora especialmente do marido Ele mesmo ressalta a import ncia em assumir a rela o porque ela capaz de lhe prestar cuidados Algumas vezes cheguei na casa e encontrei Sara na cozinha preparando as refei es servindo algo e mantendo se afastada das conversas na 142 sala Parece me que ela de algum modo busca ou melhor escolhe a constru o de uma fam lia agora a fam lia que realmente escolheu Nesse sentido a m e que a entregou a outros pode ser recuperada na m e que deseja ser interessante salientar que boa parte da entrevista de Sara se passou em defini es do que ser adolescente mas particularmente sobre as responsabilidades que se deve ter com um adolescente nos tempos de hoje como diz o que aparentemente a preocupa quando refere o desejo de ter filhos Assim percebo que a aus ncia se revelou no pai que n o cumpriu o esperado papel de pai de mantenedor mas principalmente a figura do agressor Com rela o m e essa se revelou naquela que se submeteu s agress es que n o os defendeu das agress es que permitiu a sa da dos filhos de casa naquela que os deixou e que os entregou a outros Nessas hist rias de aus ncias de rupturas e desvios tal como foi trazido nas narrativas dos jovens h uma dupla face revelando situa es que v o tamb m abrir possibilidades Assim passo a discutir de que modo essas vicissitudes tomaram outra dimens o e
85. mail ppgscOufba br Website www isc ufba br Local e Data Assinatura do participante Assinatura da pesquisadora respons vel 260 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ENTREVISTA COM REPRESENTANTES DE ENTIDADES Eu presidente da institui o tomei conhecimento deste estudo que tem como objetivo conhecer atividades art sticas religiosas e pol ticas realizadas por jovens no bairro de Cosme de Farias e compreender a rela o destas atividades com suas trajet rias de vida O estudo ser realizado com jovens mas tamb m ser necess rio conhecer as institui es e entidades existentes no bairro quanto finalidade participa o de jovens entre outras coisas Para as institui es que participarem deste estudo necess rio saber que a aplica o do question rio n o implica em qualquer risco entidade ou integridade dos seus partipantes assim como ter o total privacidade em rela o s informa es cedidas Al m disto ter o total liberdade para recusarem a participa o no in cio ou em qualquer fase da pesquisa sem qualquer tipo de preju zo institui o Caso ocorra qualquer tipo de dano institui o caber pesquisadora Adriana Miranda Pimentel e institui o respons vel pela pesquisa Instituto de Sa de Coletiva UFBA total responsabilidade sobre o ocorrido cabendo inclusive buscar solu es para o que ocorrer Cabe ainda dizer que este estudo ser muito importa
86. matar dois jovens em uma das passarelas na Av Bonoc Pergunto a respeito e ele me diz que n o s o pessoas conhecidas e no intuito de finalizar a hist ria diz que eram da Jaguarari rua do bairro o que deixava a entender que provavelmente estavam envolvidos pois a rua reconhecida como rea de tr fico Existe tamb m viol ncia pra aqueles tamb m que se envolvem Existe viol ncia pra quem se envolve porque pra quem n o se envolve s uma fatalidade mesmo assim um acidente Quem se envolve infelizmente n muitas vezes morre vai preso fica aleijado O que n o se envolve curte ali conversa anda de ponta a ponta Mago Tem a ver assim a maioria das pessoas que est o morrendo aqui no bairro est o morrendo porque est o envolvidas no tr fico N o est o morrendo pessoas totalmente inocentes s vezes rola de uma bala perdida pegar uma pessoa mas a maioria das pessoas que t o morrendo aqui no bairro s o envolvidas no tr fico Anjo Esses fragmentos chamam a aten o pelo modo como alguns jovens apresentam a situa o Em alguns momentos falam como se fosse quase natural morrer quase como uma puni o pelo envolvimento quase que merecedor Eles tentam se colocar dist ncia Por m percebo que esses acontecimentos afloram novamente em produ es indigna es e protestos Eles se distanciam quando podem identificam a rela o da viol ncia com o tr fico mas ao mesmo tempo atribu
87. me telefonou dizendo apenas que o ensaio havia sido cancelado O que me parece estranho como os jovens n o se pronunciam a respeito destes acontecimentos Como j foi trazido no cap tulo anterior referem que a morte ocorreu devido a envolvimento do jovem com o tr fico e de antem o como se isso bastasse como explica o N o h discuss o n o h emo o aparente e poucos coment rios s o tecidos sobre o assunto Talvez seja sobre isto que Anjo se manifeste quando acompanha os jovens mortos e seus familiares essa aparente indiferen a talvez pela frequ ncia com que t m ocorrido os homic dios ou talvez pelo distanciamento que os moradores do bairro queiram dar na medida que n o se pronunciam sobre as mortes O que eu percebo que sepultar os mortos uma forma de se solidarizar com as pessoas amigos e familiares mas tamb m com as situa es que se apresentam no bairro Talvez por conta disso Anjo seja t o citado por outros informantes porque tamb m solid rio queles sujeitos que desejam um fazer diferente um espa o diferente para habitar H esses dois exemplos o primeiro de Malcom que emblem tico de uma falta material ou seja passar fome e sentir necessidades de alimento a ponto de ter saudade de uma institui o na qual ele presenciou situa es indignantes porque nela que ele tinha acesso a todas as refei es aulas televis o entre outras coisas e o de Anjo para quem condi
88. n o h homem sem Dasein NUNES 2004 p 15 Dasein ou exist ncia significam pois n s n o apenas somos mas percebemos que somos SAFRANSKI 2005 p 190 N o um ser atrelado ao mundo ou dentro dele mas algo constituinte desse mundo E s poss vel compreend lo a partir de seu ser estar no mundo ou seja do modo como constr i possibilidades experimenta e utiliza instrumentos desenvolve cren as e pr ticas que se d o a partir deste Mundo Dasein o ser para quem nunca indiferente seu pr prio modo de ser Ele se faz presente num corpo por m n o apenas corpo Ele existe unicamente na sua concretiza o f tica no seu fazer Estar em ou no mundo implica residir habitar morar Desse modo quando habitamos em algo isso deixa de ser um objeto para n s e se converte em parte de n s invadindo e penetrando nossa rela o com os demais objetos do mundo DREYFUS 1996 Nesse sentido n o poss vel falar do sujeito e dos objetos ou fen menos que o cercam separadamente Os objetos e fen menos est o no mundo em que o ser habita e seu modo de ocupar se deles que o faz existir Sendo o homem est a no mundo com os outros factual hist rico e preocupado porque est condenado a existir sabendo de sua temporalidade O ser a sempre sua possibilidade diz Bruseke 2007 p 76 que cita Heidegger E porque o Ser a sempre essencialmente sua pos
89. na d cada de 1970 Cidades Saud veis que prop e uma ampla discuss o com os setores governamentais e a sociedade civil no desafio de manter a vida e a qualidade de vida nas cidades WESTPHAL 2000 Afirma Adorno 1999 p 23 que a cidade e a vida urbana passam a ter lugar garantido nas reflex es sobre a sa de pois na cidade que os grupos passam a buscar formas de resist ncia quilo que ela proporciona criando estrat gias individuais construindo um territ rio para a individualidade e ainda aponta a import ncia da perspectiva marxista no campo da sa de que contribui para pensar acerca das determina es sociais a que est o sujeitas as popula es com as quais a sa de se preocupa Ao pensar sobre a cidade poss vel desvelar diferen as estruturais e desigualdades na distribui o de recursos que evidenciam a rela o entre produ o material condi es de vida e problemas de sa de Cf PAIM 1994 1997 Por m Adorno 1999 defende uma leitura mais contempor nea sobre essa tem tica que revele outros elementos tais como g nero desigualdades diferen as dicotomia individual coletivo para a compreens o de uma sociedade global Assim ele vai questionar uma express o bastante usual na atualidade qualidade de vida ou Rosen 1994 j apontava a rela o entre problemas de sa de e as mudan as que v o ocorrendo nas cidades ao longo dos s culos Particulariza as transforma es tecn
90. nas entrevistas que mais f cil e prazeroso falar do que eles fazem atualmente daquilo que lhes permitiu estarem ali dando a entrevista ou seja das pr ticas art stica religiosa ou pol tica que realizam no bairro suas m sicas projetos performances atua o esses s o os aspectos que devem ser divulgados Por m o que eu busco conhec los antes das pr ticas que realizam atualmente e nesse ponto que encontro regularidades e tamb m varia es S o hist rias distintas explica es diversas para as situa es vividas No conjunto do material entre entrevistas aprofundadas conversas informais durante as pr ticas ou em caminhadas pelo bairro com pessoas pr ximas a eles nas letras de m sicas entre outras formas percebo que h dificuldade para contar suas hist rias em particular determinadas passagens cruciais para as mudan as nas suas trajet rias 6 1 1 Quanto Mais Apanhava Mais Aprontava narrativas de agress o em busca de significados Malcom tem 22 anos morador de Cosme de Farias e atualmente empregado em uma ONG da qual fez parte atrav s de projetos da Funda o da Crian a e do Adolescente da Bahia FUNDAC Recebe um sal rio m nimo e n o acredita em grandes castelos Na apar ncia um menino franzino pela altura e porte f sico mas com uma express o de quem tem muita hist ria para contar muito observador e quieto mas quando come a a cantar se mostra seguro e co
91. o como algo simplesmente existente Mas no simplesmente existente os significados vividos do dispon vel desapareceram ou perderam as for as S com a transforma o do dispon vel em presente as coisas se tornam objetos no sentido estrito que podem ser investigados em uma postura te rica 2005 p 197 Buscar explica es para as agress es o que move agora a narrativa de Malcom Talvez por conta disso sejam tantas as repeti es ao narrar os conflitos A nfase ao mostrar a quantidade de vezes em que as agress es ocorreram de certa forma justifica a necessidade de um rompimento Na narrativa as agress es foram se sucedendo de forma crescente na inf ncia pela fam lia na adolesc ncia assistindo e depois tentando proteger a m e das agress es e mais tarde pela pol cia Em todas as tr s situa es apresentadas Malcom deixa claro sua incompreens o quanto aos motivos pelos quais as agress es se deram e por conta disso preocupa se em detalhar os motivos O que demonstra ao final o quanto eram absurdas as agress es e talvez por conta disso fosse necess rio gerar motivos para que as coisas tivessem algum sentido Esse talvez seja o momento em que rompe com a m e e vai para a rua L descobre um irm o n o aquele idealizado mas o irm o poss vel a Fundac o rap e algumas respostas s suas 122 quest es Essas respostas ser o explicitadas ao longo do trabalho por exemplo pela leit
92. o para sobreviv ncia encontrar um modo de dar um sentido para a viol ncia que afeta a todos e que passa como se n o afetasse ningu m trazido na sua fala pela pr pria id ia de enterrar como se fosse bicho Ent o para Anjo enterrar com dignidade passa a ser uma estrat gia de solidariedade mas tamb m uma maneira de dar um sentido vida das pessoas que vivenciam isso cotidianamente importante ressaltar que as faltas necessidades ou dificuldades de sobreviv ncia colocadas pelos jovens podem n o ser exatamente aquelas que os t cnicos e especialistas definem como tal Para Ayres na medida em que os indiv duos se ocupam da exist ncia do mundo enquanto quest o sua objetivando o 131 que se particularizam rela es nas quais o necess rio e o n o necess rio tomam forma 1995 p 30 1 Nesse sentido n o poss vel falar em necessidades sem contextualizar de quem para quem e onde se localizam ou at questionar a no o de necessidade t o relevante para o campo cient fico e t o discut vel em tempos de modernidade Eu coloco ainda as diferentes leituras produzidas pelos sujeitos sobre suas necessidades que nas pr prias narrativas j demonstram algo que mas que tamb m pode n o ser Essas necessidades tomam outra forma e desencadeiam novos processos No caso de Anjo lidar com a morte acompanhando a ou acompanhando os envolvidos no sepultamento pode ser um m
93. o perfil das v timas e tend ncias recentes Informe Epidemiol gico do SUS CENEPI mai jun 1993 250 NOVAES R Juventude percep es e comportamentos a religi o faz diferen a In ABRAMO H W BRANCO P P M Orgs Retratos da juventude brasileira an lises de uma pesquisa nacional S o Paulo Funda o Perseu Abramo Instituto Cidadania 2005 NOVAES R VANNUCHI P Orgs Juventude e sociedade S o Paulo Funda o Perseu Abramo 2004 NUNES B Heidegger amp Ser e Tempo RJ Zahar 2004 NUNES D Hist ria urbana de Salvador CD ROM Salvador UNIFACS UNESCO UFBA FAPESB PMS 2007 NUNES M Idiomas culturais como estrat gias populares para enfrentar a viol ncia urbana Ci ncia amp Sa de Coletiva v 10 n 2 p 409 418 2005 NUNES M PAIM J S Um estudo etno epidemiol gico da viol ncia urbana na cidade de Salvador Bahia Brasil os atos de exterm nio como objeto de an lise Cadernos Sa de P blica v 21 n 2 p 459 468 mar abr 2005 O HIP HOP invade a cena cultural carioca Secretaria Municipal das Culturas Governo do Rio de Janeiro out 2003 Dispon vel em lt doweb rio rj gov br sdegi bin om isapi dll gt Acesso em 25 maio 2006 ORGANIZA O Panamericana de Sa de OPAS La violencia juvenil en las Americas estudios innovadores de investigacion diagnostico y prevencion Washington Mar 2000 OS SEGREDOS de Brotas Correio da Bahia Salvador 9 out 2005 Caderno Im
94. orienta es de Deus indicando pessoas com problemas pessoais ou de sa de Especificamente falava em algu m com problemas com o filho e de outra pessoa com problemas com o dente mas n o referia nome ou qualquer indica o Apenas dizia que estava recebendo uma mensagem dif cil de reconhecer Nota do Di rio de Campo O grupo presente se constitui em torno de trinta pessoas entre homens e mulheres Havia muitos jovens e adolescentes em torno de treze e pouco mais de vinte anos mais da metade do grupo presente A outra parcela formada basicamente por mulheres e alguns poucos homens adultos tr s Havia crian as tamb m Senti que todos participavam integralmente com muitas palmas e sorrisos Claro que um ou outro parecia mais quieto ou calado e os jovens quase em maioria se mostravam alegres e brincalh es A coordenadora orientava a sess o momento de dar in cio de tocar mais baixo o viol o e a m sica a ser tocada Mas havia tamb m outros que falavam ou co coordenavam A maior parte do tempo ela orientava para fechar os olhos e orar em can o e falava em tom um pouco mais alto Muito semelhante ao que j observei nos rituais evang licos Apresentaram me aos santos que s o os baluartes da Comunidade como por exemplo S o Francisco Na sala inclusive existem fotografias dos baluartes de Jesus Cristo e uma cruz ao meio bem grande Algumas pessoas portam a b blia sob o bra o e se vestem de modo bastante disciplinad
95. os dos terrenos naquele per odo Ao que contam o bairro era tranquilo apesar dos grandes problemas existentes principalmente a falta de asfaltamento e as prec rias condi es de infra estrutura Dizem que o bom asfalto chegou h menos de 20 anos Ressaltam que de pouco tempo para c tamb m em torno de 20 anos o bairro mudou muito Falam isto principalmente com respeito ao crescimento de moradias nas encostas e baixadas e s quest es relacionadas viol ncia e s drogas Por m tamb m falam de um tempo em que havia particularidades do bairro que s o como distintivos frente a outros tais como o carnaval e o grupo de samba Os Neg es havia um time de futebol Os Selvas exatamente no local chamado O campo dos Selvas onde atualmente est situada a Igreja de Santo Ant nio no fim de linha A feira livre evento principal dos costumes e da economia do bairro resiste h algumas d cadas n o na localidade do Sossego onde se situa hoje mas na pr pria Pra a A Feira o local para onde se dirigem pessoas do bairro aos s bados seja para vender seja para comprar frutas verduras carnes ervas artigos de rituais religiosos roupas e outros produtos um espa o importante e eu presenciei isso ao tentar agendar encontros com as pessoas aos s bados Algumas dessas particularidades perduram at os dias de hoje o que provavelmente incidiu sobre os modos de vida dos moradores do bairro 5 4
96. os infort nios criou os filhos e inventou formas de sustent los e proteg los dentro do que era poss vel Eu nasci aqui mesmo em Cosme de Farias tenho 30 anos e a minha mudan a pessoalmente assim no lado religioso eu sou filho de pais cat licos principalmente da m e meu pai de vez em quando ia s vezes quase nunca ia mas minha m e sempre foi ali e talvez a religi o pra ela fosse um motivo de ref gio porque meu pai bebia muito chegava em casa brigando ent o ela pegava n s quatro quatro filhos contando comigo e levava a gente pra Renova o Carism tica Prometeu Embora Prometeu em momento anterior fale pouco da fam lia e demonstre pouco contato ele aponta esse comportamento da m e como algo que foi crucial para proteg lo assim como foi definidor pela op o religiosa Para Charles a m e efetivamente a guerreira e a ela ele dedicou um CD recente intitulado Ax para Mulheres Minha m e uma guerreira uma rainha uma mulher que criou sete filhos e n o abandonou nenhum Sempre tive que trabalhar as frutas que vendia na Feira foi isso que ela me ensinou a ser um cidad o do mundo Charles Falar da fam lia extremamente complicado e muito comum nos estudos sobre jovens Em perspectivas mais psicologicistas h sempre um lugar reservado para a fam lia no que tange responsabilidade pelos atos dos filhos Para Sarti 2004 necess rio um esfor o de estranhamento um
97. para tal Nesse s tio eu novinha eu tomava conta do s tio todo Eu amadureci muito r pido eu digo porque eu n o tive inf ncia eu n o fui de parar pra brincar com boneca eu n o tive inf ncia exatamente por causa disso Porque assim meu pai foi morar nesse sitio e no per odo que eu tava morando com ele quando minha m e e ele eles brigavam muito sabe aquela briga mesmo de s vezes machucar ela deixar ela quase oito dias de cama quinze dias de cama e meu pai sempre foi muito agressivo certo Ele n o bebia mas ele sempre foi muito agressivo Ent o assim a gente morando nesse sitio ele mudou mais ainda a forma dele ser Quando sa mos de l da Boca do Rio e meu pai resolveu comprar esse sitio l em Areia Branca assim ele j n o era muito calmo sabe Ele mec nico e uma vida corrida aquela batalha tal ele sempre foi muito mulherengo tinha centenas de mulher na rua tinha minha m e e tinha outras hist rias por fora Assim essas mulheres envolvendo problemas espirituais elas faziam coisas que voc sabe que influenciam 128 trabalhos de macumba essas coisas que acabava mexendo entendeu com a cabe a dele Ent o assim a come ou a mudan a Parece que a gente mudou pra um lugar carregado Todos os lados tinha um terreiro de macumba ent o l nesse s tio a gente era cercado n de terreiros de macumba todo canto tinha um Lua Durante a narrativa ela vai apre
98. pobres em especial as mulheres HEILBORN 2002 GUIMAR ES 2005 152 tenho que entrar num pr vestibular fazer um pr vestibular primeiro t fazendo um grupo de estudos mesmo pra depois pensar em t fazendo um vestibular pra entrar numa faculdade A tem uma implic ncia agora n o tenho dinheiro pra t pagando um pr vestibular entendeu n o tenho dinheiro pra t pagando transporte pra ir prum universit rio entendeu eu preciso de dinheiro pra ir pro curso Voc acaba se limitando s dificuldades e acaba n o buscando as futuras Isso que acontece muito por isso que eu digo eu n o sei vai depender muito do que eu t fazendo hoje pra mais tarde eu pensar em uma outra coisa isso Malcom Outro aspecto tamb m interessante refere se motiva o para a realiza o desses trabalhos Para alguns jovens dessa forma que eles conseguem realizar outras coisas como as pr ticas do rap por exemplo com esse dinheiro que eles conseguem comprar equipamentos de som ir a shows alugar est dio para gravar as composi es ou mesmo sem grandes pretens es futuras mas para os momentos de prazer no dia a dia Essa correria necess ria para a sobreviv ncia mas fundamental para colocar em pr tica os sonhos Ent o alguns exemplos de situa es dos jovens com quem eu conversei e ou entrevistei s o bastante emblem ticas um dos jovens tem uma escolinha de futebol no bairro nos finais de
99. poder 8 Os estudos de Clarke e Willis da d cada de 1970 s o representativos e foram citados por Bucholtz 2002 Atualmente a perspectiva dos estudos culturais tem tomado grande relev ncia na produ o de trabalhos sobre os jovens 34 Em uma colet nea organizada por Levi e Schmitt 1996 poss vel conhecer as concep es sobre a juventude ao longo da hist ria da sociedade ocidental e perceber os usos e abusos que se fez dos jovens a partir das necessidades e interesses dos grupos dominantes Essa perspectiva contribui para compreender o lugar que os jovens ocupam em cada sociedade mas tamb m o papel que devem desempenhar deixando claro que a juventude para os autores uma constru o social e cultural Por m em um trabalho recente Pereira 2007 revisa as principais abordagens sobre a juventude dentro das Ci ncias Sociais e destaca diferen as entre elas Ressalta as abordagens que colocam a juventude diretamente relacionada a uma condi o hist rico cultural com caracter sticas pr prias de seu tempo assim como outras que questionam esse ponto de vista e consideram na como algo que se manifesta de forma desigual a depender dos fatores a ela associados tais como classe e g nero Essas perspectivas de compreens o da juventude preocupam se em contextualiz la no seu tempo e espa o no mundo moderno atual Assim n o poss vel falar da juventude sem falar em modernidade e em todos os aspectos a ela vinculados
100. por exemplo dar conta antes de tudo da sobreviv ncia Nesse sentido a id ia de reconhecimento dentro e fora das comunidades passa tamb m pelo vi s da sobreviv ncia 103 Essa discuss o sobre o papel da juventude no cen rio social j foi amplamente apresentada por alguns autores tais como Ari s 1981 Passerini 1996 Groppo 2000 entre outros Eles mostram como os jovens foram passando ao longo da hist ria por pap is distintos na medida da necessidade de cada sociedade em determinado tempo hist rico e foram sendo legitimados medida que provavam ter condi es para determinados empreendimentos 197 A quest o da sobreviv ncia j apareceu no cap tulo anterior ao serem discutidas as diferentes formas que os jovens buscam para ganhar a vida na correria algo que nem sempre interessante para eles mas que lhes permite sobreviver Por m nesse momento a sobreviv ncia retorna para al m do ganho material como ganhos simb licos ou seja sobreviver com dignidade com aquilo que se gosta e se sabe fazer A sobreviv ncia n o simplesmente dar um jeito de passar os dias mas tirar proveito do que h no mundo O que percebo nos jovens das comunidades acompanhadas que eles est o envolvidos no mundo est o engajados e por conta disto percebem o que est ali ao alcance das m os Nem sempre poss vel tocar essas coisas Nem sempre o uso que fazem das coisas o mesmo para o qual a coisa foi criada
101. pr ticas de resist ncia ora como geratrizes de mudan as as quais tal como se apresentaram para mim n o se op em ao contr rio se complementam por m apresentam sentidos diferenciados que precisam ser analisados separadamente 7 2 1 Pr ticas como T ticas de Resist ncia A resist ncia comumente compreendida como algo relacionado oposi o No dicion rio poss vel encontrar defini es que v o nesse sentido for a que se op e a outra luta em defesa oposi o ou rea o for a opressora obst culo empecilho recusa FERREIRA 1988 entre outros tantos sin nimos Na perspectiva fenomenol gica hermen utica a resist ncia implica uma oposi o mas a algo que Ihe tamb m constitutivo que est indissociado daquilo a que se op e Assim a resist ncia a alguma coisa implica considerar a exist ncia de algo que faz parte do meu mundo mas que tamb m gera desconforto o modo como os jovens vivem as experi ncias e padecem com elas mas buscam mecanismos de enfrentamento a partir das possibilidades que est o dadas inclusive por esses 3 Por conta disso se fez necess rio compreender os sentidos e significados das conting ncias nas trajet rias biogr ficas dos jovens ao longo do Cap tulo 6 191 desconfortos Cabe aqui pensar na ubiquidade entre exist ncia e resist ncia n o propriamente pensar sobre a id ia de algo negativo vinculado ao termo resist ncia como algo que se deve evit
102. primeiras pessoas a ali residirem foram o pessoal de macumba e eles tinham as casas muito velhas de madeira e era considerado um povo atrasado Entrevista Sr Os rio Depois passou a chamar se Major C mara morador antigo da regi o anteriormente conhecida como Largo da P lvora E atualmente o nome oficial uma homenagem a Hamilton Lopes homem generoso que n o tinha posses mas muito respeito em Cosme de Farias Era superintendente da Petrobr s e segundo os moradores trouxe muitos benef cios para o bairro como por exemplo o famoso Carnaval de Cosme de Farias De algum modo percebo que existiram pessoas geralmente de posses e com alguma representatividade na cidade que traziam melhorias concediam favores e intercediam sobre os demais Muitas dessas pessoas favoreceram a expans o do bairro arrendando terras para os rec m chegados contribuindo com pequenos favorecimentos e fortalecendo rela es que de algum modo ancoraram as rela es de poder observadas at os dias de hoje o que se percebe por exemplo com a atua o de lideran as do bairro vinculadas a vereadores ou partidos que prestam assist ncia popula o com vistas a favorecimentos futuros segundo o que referem alguns moradores 5 3 O BAIRRO E SEUS OCUPANTES O bairro de Cosme de Farias faz parte da Administra o Regional 5 AR 5 referente ao Distrito de Brotas Localiza se entre os sub distritos de Brotas Matatu e Luis Anselmo SALVAD
103. que belo dos bairros pobres por exemplo a mulher negra e n o apenas as mazelas como de costume mas tamb m como possibilidade de ganhar novos rumos como por exemplo tocar nas r dios da cidade Recentemente uma comunidade lan ou uma m sica cujo objetivo era transcender o bairro A comunidade tem mais de dez anos de trabalho e n o acredita mais em propostas restritas ao bairro Revelam que necess rio fazer um som para que as pessoas curtam que adentre outros horizontes A m sica tem um ritmo mais dan ante e sedutor e a letra fala de uma mulher bela negra e sensual que desejada por um homem Diz assim Deusa diva rainha vem quero sentir a sua calorimetria Deusa do bano emancipada me desperta uma curiosidade rara Melhor os argumentos palavras met foras vou conden la suave simp tica meu instinto minha influ ncia malvada T na minha cara bem clara sem medo e sem receio Quero voc baby quero agora Vem logo vem pra mim vem sem demora Se esque a das horas coisa de mem ria Pois eu quero voc baby quero agora De periferia mas n o faz tudo por dinheiro Se cuida dos p s ao cabelo Meu desejo de tornar em desespero Sem rodeio te amo e te odeio Te quero e te desejo pra suprir os meus desejos Quero voc baby Ensino B sico A m sica melodiosa faz com que a banda acredite no seu sucesso e na possibilidade de ser divulgada rapidamente pela m dia Foi interessante
104. que facilitam o tr nsito dos jovens no bairro e contribuem para a abertura de novos espa os e oportunidades Essas circunst ncias creditam aos jovens modos de acessar o bairro e a cidade gerando mudan as significativas nas suas hist rias pessoais de vida na vida de outros jovens e moradores do bairro al m de operarem na inven o de novos espa os e no uso diferenciado dos j existentes Com esta s ntese dos principais aspectos abordados no estudo busco refletir sobre a rela o aparentemente distante entre modos de vida e sa de dos jovens para al m do discurso das condi es e estilos de vida atentando para as experi ncias de vida das pessoas que pretendemos conhecer e porventura assistir atrav s das pr ticas de sa de Jos Eduardo Soares ATHAYDE et al 2005 trata de um aspecto importante a respeito de explicitar as mazelas dos jovens pobres negros e de periferias das grandes cidades Fala de dupla mensagem pois a partir do momento em que se destacam as situa es de vida desses jovens no intuito de modific las 235 ao mesmo tempo ao destac las tamb m se est municiando aqueles que defendem a repress o a cust dia o tratamento a preven o dos problemas Ou seja eles s o colocados em exposi o para que se possa conhec los e gerar mecanismos para proteg los mas isso tamb m d subs dios s institui es que buscam corrigi los e control los Ao ler esse fragmento n o pude deixar
105. revelada de forma imediata durante a entrevista mas a partir da reconstru o das hist rias pois ao reconstru las os jovens retomam as experi ncias vividas e 121 percebem que elas deixaram um registro Retom las tamb m reviv las por m de outro modo de modo que eles reflitam sobre elas Conforme Heidegger somente pela apropria o do passado que se pode ter posse integral das possibilidades mais pr prias de seu questionamento 2006 p 59 Para Gadamer sermos n s mesmos seres hist ricos significa que a historicidade do ser a humano em seu movimento incessante de expectativas e esquecimento que permite o retorno do passado vida 1998 p 43 Assim as repeti es de Malcom s o momentos de retomar os acontecimentos e refletir sobre eles mas tamb m de dar a eles a dimens o devida pois algum tempo se passou desde ent o e a leitura sobre essas situa es diferente Safranski discutindo o sentido do ser para Heidegger refere algo interessante para esta quest o que acabo de apresentar As rela es em que vivemos formam dessa maneira o mundo do que est dispon vel L existe uma rela o de significa o com a qual me familiarizo agindo mesmo sem a conhecer nos detalhes N s vivemos esses significados sem os trazermos expressamente consci ncia S quando ocorre uma perturba o vinda de fora ou da consci ncia esse contexto vivido se desfaz e as coisas chamam aten
106. s pr ticas por eles produzidas em um contexto determinado 49 Essa escolha metodol gica se deve ao fato de que h um saber pr prio espec fico em cada contexto que relaciona aspectos da vida social urbana H algo de comum em viver em uma metr pole do Nordeste brasileiro mas h algo que local que remete s formas de ocupa o de um espa o s rela es l desenvolvidas e aos recursos e configura o pr prios do lugar Nesse sentido fundamental conhecer um dado espa o do ponto de vista dos sujeitos em quest o os jovens conhecer seus modos particulares de viver e de fazer uso do lugar e buscar compreender os acontecimentos e suas diferentes leituras atrav s da etnografia do espa o onde vivem Para Aug 2004 o lugar antropol gico aquele onde os fazeres acontecem do ponto de vista de quem fala deles e que reconhecido por um outro Para compreender a dimens o das situa es que vivem as pessoas de um lugar preciso inscrever a hist ria do lugar os tra os que o definem e o desenham e as peculiaridades das manifesta es que ali se encerram Nesse sentido a etnografia urbana MAGNANI 2002 busca descrever os espa os da cidade do ponto de vista dos seus habitantes aqueles que est o na maioria das vezes de fora das an lises e preocupa es acerca dos espa os A ocupa o de um espa o se d quando nos referimos a ele de forma significativa Como diz Heidegger as coisas t m seu significa
107. semana a Pra a tamb m lugar para outras coisas Ali ponto para barracas da Feira Livre que se estendem at ela para colocar brinquedo para as crian as como um pula pula para palco quando vai ter festa ou com cio de pol ticos em per odo de elei o e ao mesmo tempo um lugar de passagem Outro local que foi pouco a pouco tornando se tamb m um lugar foi a R dio Comunit ria Copacabana A R dio um espa o de tr nsito de conviv ncia de informa o e de muita circula o de jovens Ela uma iniciativa de um locutor de r dio que h aproximadamente seis anos mant m o espa o e abre para que jovens divulguem seus trabalhos e utilizem o equipamento para a realiza o de programas e atividades diversas A R dio tamb m patrocina trabalhos eventos e iniciativas de v rios jovens do bairro A R dio um lugar e particularmente neste estudo ela assume esse papel porque foi a partir dela que o mundo dos jovens os quais acompanhei no estudo se revelou para mim Meu contato inicial e que com o tempo tornou se mais forte no bairro a ponto de ser meu informante chave foi Mago O conheci na R dio em maio de 2006 e desde ent o acompanho seu programa de rap chamado Luminosidades Repercussivas todas as sextas feiras das 17 s 18 horas O programa foi um espa o para falar da pesquisa para contatar outros jovens e para discuss o de tem ticas tanto que interessam ao movimento hip hop quanto aos jovens drogas v
108. ser interpretados como formas de aliena o medida que o consumo destes instrumentos alimenta v rias ind strias Mas o que interessa neste estudo s o as chamadas t ticas de resist ncia de Certeau que fala de modos de fabrica o artesanais eu diria como aquilo que vai ocorrendo lado a lado s formas estabelecidas de produ o A uma produ o racionalizada expansionista al m de centralizada barulhenta e espetacular corresponde outra produ o qualificada de consumo esta astuciosa dispersa mas ao mesmo tempo ela se insinua ubiquamente silenciosa e quase invis vel pois n o se faz notar com produtos pr prios mas nas maneiras de empregar os produtos impostos por uma ordem econ mica dominante CERTEAU 2008 p 39 205 desse modo que identifico estas pr ticas como formas de resist ncia porque os jovens se apropriam das dificuldades e adversidades fazem uso delas e inventam novas possibilidades e condi es de exist ncia a partir delas S o destas inven es que passo ent o a falar agora Neste sentido a produ o ou melhor o que fabricado por eles atrav s das pr ticas pode transformar seus contextos de vida e redefinir sentidos para trajet rias marcadas por conting ncias 7 2 2 Pr ticas Geratrizes de Mudan as o que se cria que se produz Identifico as pr ticas como geratrizes de mudan a na vida dos jovens medida que a promovem espa os de sociabilidade para o engajam
109. servi os de sa de e educa o ou os estilos de vida que se referem a escolhas h bitos e comportamentos dos indiv duos pertencentes a essa comunidade preciso ir um pouco mais al m Ir al m significa compreender como os sujeitos se organizam nesse espa o o que pensam sobre ele como se ocupam dele como se relacionam nesse e com esse espa o e desse espa o com a cidade de uma forma mais geral Esses indiv duos sofrem as press es externas de todo um processo de massifica o universaliza o e desistoriciza o que global caracter stico da chamada modernidade tardia mas tamb m constroem modos de vida poss veis a partir do espa o local em que essas press es operam A cidade um campo a ser conhecido mas s passa a ter exist ncia a partir dos sujeitos que dela fazem parte das hist rias de vida que l se constroem e desenrolam dos usos e costumes que l se processam e das m ltiplas leituras sobre ela efetuadas Para Magnani 2002 as discuss es sobre a cidade est o no centro de controvertidos debates por m o autor refere que nesse contexto a aus ncia de 66 seus habitantes algo not rio Para ele a centralidade do debate passa pelas quest es econ micas estruturais e arquitet nicas que est o distantes quase sempre dos sujeitos e de seus modos de viver na cidade Afirma ainda que a etnografia uma possibilidade de perto e de dentro de desvendar contextos diversos onde est o inserid
110. situa es dif ceis dos adolescentes sem um conhecimento de seus contextos de vida o que para os autores repercute nas pr ticas de aten o propostas Uma colet nea recente organizada por Adorno et al 2005 busca apontar tem ticas relevantes e pouco abordadas pelo campo da sa de uma delas refere se sexualidade dos jovens Ao inv s de tratar como tema exclusivamente a reprodu o e vincul la apenas ao papel da mulher a proposta orientar os estudos e interven es no sentido de considerar o prazer associado pr tica sexual como um atributo da sexualidade tamb m relativa aos jovens Nesse sentido esses estudos j apontam novas dire es para pensar problem ticas dos jovens sob outro ponto de vista como por exemplo de suas pr ticas sexuais de lazer de rela es de participa o entre outras Em pesquisas realizadas fora do mbito da sa de mas que podem contribuir para o estudo em quest o percebe se que as pr ticas de lazer acontecem de modo distinto entre os jovens Em rela o ao lazer uma pesquisa realizada por Castro e Abramovay 2002 revela que essas atividades s o bastante restritas e dentre as citadas jogar bola ouvir m sica rap ax samba rock e funk tocar em bandas e ensaiar em grupos de pagode reggae e de dan a est o algumas formas de lazer poss veis A pesquisa mostra tamb m a falta de equipamentos de lazer nos bairros e o tr nsito limitado dos jovens pela cidade que se res
111. suas hist rias aparentemente n o h muito a dizer Passam rapidamente pelo local de nascimento trazendo alguns detalhes sobre parentesco e da seguem para as situa es de vida O que particulariza esses relatos a aus ncia de continuidade em rela o aos acontecimentos como se algo precisasse ficar encoberto Percebo que algo aconteceu pelo conjunto da narrativa ou por outras fontes de informa o mas isso n o expresso Mas esse algo encoberto teve consequ ncias na vida desses jovens e por conta disso mudan as ocorreram Essas mudan as participam de um Bolos para um dos jovens entrevistados entendido como biscates modos de ganhar um dinheiro vendendo coisas alugando quartos da casa entre outras coisas para ganhar a vida s vezes tamb m se refere a modos il citos de ganhar dinheiro Ressalto que os entrevistados foram selecionados pelo crit rio das pr ticas que realizam no bairro Este fato pode ter interferido no modo como eles demonstravam interesse para contar a respeito dos seus fazeres mas n o a respeito de algo que possivelmente os macule Por m para Certeau h na narrativa algo sempre que se quer fazer esquecer um silencia a prop sito daquilo que n o fala apud ADAM e REVAZ 1997 p 108 59 117 processo de constru o identit ria n o de uma identidade nica e r gida mas aquelas identidades que se constroem a partir das possibilidades encontradas Percebo
112. tamb m favor vel dizendo que essas pr ticas n o podem ser legitimadas De algum modo a narrativa toca em algo que j foi pronunciado Eu digo que todos n s somos pecadores todos A pr pria B blia diz aquele que n o tiver pecado atire a primeira pedra que quem se diz que n o pecador j est pecando Todos n s pecamos por atos por pensamentos por palavras e por omiss es todos n s pecamos Agora existem pecados mortais e pecados veniais Pecados veniais s o aqueles pecados que a cada dia a gente pensa ou pratica s o pecados que se eu posso falar assim leves Existem pecados mortais aqueles pecados assim de que machuca a pr pria pessoa eu digo o ser humano em si e o pr prio Deus O que seria esses pecados Adult rio prostitui o 136 fornica o que tamb m um pecado Um pecado mais leve aquele que voc conhece que voc sabe que voc tenha consci ncia Um pecado s constatado depois que voc tem a consci ncia Uma crian a um adolescente que faz sexo toa que ningu m nunca chegou pra ele ou que se masturba ningu m nunca chegou pra ele e disse meu filho eu sei que do seu corpo e tudo mas saiba Deus ele sabe o momento esse neg cio de subir pra cabe a uma mentira E o mundo tem investido pesado televis o tem investido pesado nisso Homossexualismo hoje em dia se voc disser a uma pessoa que n o discriminando n o preconce
113. tamb m das entidades que se beneficiam com esse descaso e das in meras faltas a que est o sujeitos por conta disso Nessa descri o do bairro permito que seus jovens moradores se expressem sobre ele se vejam nele e digam o que pensam sobre ele Quais s o os Alguns trabalhos tais como o de Rodrigues 2007 e Santos 2008 evidenciam as trajet rias de jovens que participaram de projetos sociais e mostram como estes projetos foram importantes mas perderam esta dimens o medida que n o possibilitaram encaminhamentos futuros na vida destes jovens por exemplo na aquisi o de um emprego A quest o do fazer especificamente do significado da ocupa o para os jovens ser tema central no cap tulo 7 55 110 problemas do bairro De que modo esses problemas se relacionam e ou afetam a vida Os problemas da viol ncia das drogas e os ligados sexualidade podem ser encarados como problemas dos jovens Ent o pergunto poss vel trat los ou preveni los com pr ticas educativas dirigidas a eles como vem sendo amplamente colocado pelas ag ncias e institui es O pagode a droga o sexo a viol ncia tomam outra dimens o no discurso dos jovens divers o possibilidade de sobreviv ncia e estrat gia para mudar alguma coisa que se tem clareza de n o desejar O bairro esquecido favela e portanto normal que seja assim como eles referem Como descrito um bairro com quase 40 000 habitantes vive
114. tanto pra ela quanto pra mim ela voltar Hoje eu aceito Eu aceitei legal Eu me botei no lugar dela e sei que uma coisa bem dif cil Ent o ela voltou pra c pra Salvador me deixou com a irm dela e eu fui criada pequena de bra o de colo amamentando com a minha tia com a minha m e de cria o P rola P rola ao narrar sua hist ria localiza a gravidez como algo que j fazia parte de sua trajet ria desde a inf ncia Percebe e parece compreender a situa o da m e o que a faz aceitar e buscar alternativas para sua situa o atual Refere n o se arrepender pela gravidez dos filhos e afirma que faria tudo novamente Para ela os filhos proporcionaram mudan as significativas em sua vida e ela identifica mais ganhos que perdas Durante a entrevista conta que em S o Paulo passava boa parte do tempo na rua com rappers locais o que facilitou o interesse e a facilidade para compor e cantar rap Segundo ela n o parava em casa e cometia muitas coisas antes De certo modo parece constatar que esses acontecimentos ou muitas coisas que cometeu tal como a gravidez deram um outro rumo vida Porque pelas coisas que eu cometia antes entendeu h alguns anos atr s eu n o era essa pessoa que eu sou hoje Ent o n o s pelos meus filhos o rap resgatou bastante coisa mesmo P rola Ressalta ter parado de estudar e o quanto isso gera dificuldades por exemplo para conseguir um emprego At
115. trabalhos d o um passo adiante no sentido de considerar os jovens e de conhecer o seu universo de vida para pensar propostas de atua o Como referem Paiva Peres e Blessa 2002 preciso primeiro escutar e decodificar cada grupo cena cen rio e script que promove a vulnerabilidade dos jovens depois aparecer com propostas e informa es que fa am sentido naquele contexto Por m ainda escassa a produ o de pr ticas com jovens em servi os de sa de que utilizem metodologias que considerem os pontos de vista dos jovens aquilo que eles definem como problemas de sa de ou suas preocupa es e seus contextos de vida AGGLETON 2001 Em documentos oficiais j se evidencia a import ncia de ampliar o conceito de adolesc ncia e juventude para al m do enfoque de risco e assim a no o de vulnerabilidades tem sido mais frequentemente recomendada BRASIL 2001 Essa proposta visa priorizar o lugar que a pessoa ocupa acima das suas ditas condutas de risco ou pr ticas de risco por exemplo relacionados ao fen meno da Aids Nesse sentido a no o de vulnerabilidade tem sido cada vez mais empregada por m ainda com uma sobrecarga negativa impl cita na maioria dos trabalhos como afirmam Ayres et al 2003 Uma parte desse novo discurso no campo da sa de possivelmente resultado das contribui es de outros campos do saber que t m apontado novos rumos em rela o aos ditos problemas dos jov
116. uma paisagem n o como mero cen rio MAGNANI 2002 mas como parte constitutiva do mundo no qual habitam os jovens N o poss vel compreender suas hist rias de vida fora desse mundo Assim as conting ncias que comportam vicissitudes e possibilidades ampliam a no o de risco porque n o est o fora do mundo de vida dos jovens s o parte constitutiva do ser no mundo As situa es dif ceis que marcaram suas trajet rias de vida que denominei vicissitudes n o podem ser apenas compreendidas como algo a ser evitado ou que necessariamente determinar a ocorr ncia de danos Para os jovens as vicissitudes se revelam atrav s das agress es experimentadas por eles ao longo da vida assim como as dificuldades enfrentadas em rela o pr pria sobreviv ncia s agress es os jovens explicam da seguinte forma a o agressor pai ou m e viveu a agress o tamb m na sua trajet ria de vida e reproduz esse tipo de comportamento com o filho b as mudan as na vida das pessoas que agridem est o diretamente relacionadas influ ncia do sobrenatural particularmente ligada ao candombl c as agress es serviram como tomada de consci ncia sobre o mundo e 230 isto que move para uma outra forma de lidar com o cotidiano e a criar algo a partir disso Em rela o sobreviv ncia os jovens ressaltam a falta de provimentos essenciais ao seu desenvolvimento e condi es de vida Entre eles referem falta de alimentos roupas
117. 005 2006b LEITE 2002 Magnani 2006b prop e uma discuss o sobre a cidade do ponto de vista de quem nela vive um enfoque de perto e de dentro capaz de permitir tra ar se n o um diagn stico exaustivo dos problemas da cidade ao menos o movimento de alguns processos urbanos e reconhecer as articula es entre suas din micas O autor sinalza a rua como o s mbolo da experi ncia urbana para determinar os tipos de pr ticas associadas a um modo de vida na cidade e ressalta o fato de j n o se falar de rua mas de n o lugar como espa o emblem tico da vida nos grandes centros urbanos Fala tamb m em novas formas de apropria o dos espa os por exemplo dos n o lugares da diversifica o de seus usos e de novos di logos Assim tamb m a defini o de lugar antropol gico de Marc Auge para quem o espa o possui sentido para aqueles que o habitam e princ pio de inteligibilidade para quem o observa 2004 p 51 Esses autores substancializam a id ia que se sustenta na identifica o dos espa os entendidos aqui como lugares que s o constru dos e re significados pelos jovens do uso e dos sentidos que se faz deles e como lugares nos quais poss vel a inven o cria o de pr ticas a partir da apropria o e re apropria o de bens equipamentos locais recursos rela es Essas pr ticas s o signos de mudan a e de constru o de identidades assim como juventude tamb m um signo u
118. 1 16 ago 1990 BATISTA M A PIMENTEL A M Sistema de Informa es Geogr ficas SIG do Bairro de Cosme de Farias Salvador Bahia 2008 BAUER M W GASKELL G Pesquisa qualitativa com texto imagem e som 2 ed Petr polis RJ Vozes 2008 BECKER H S Outsiders studies in the sociology of desviance New York Free Press 1966 BELLENZANI R MALFITANO A P S Juventude vulnerabilidade e explora o sexual um olhar a partir da articula o entre sa de e direitos humanos Sa de e Sociedade v 15 n 3 p 115 130 set dez 2006 241 BERMAN M Tudo que s lido desmancha no ar a aventura da modernidade 19 reimp S o Paulo Companhia das Letras 2003 BONI R D PECHANSKY F Age and gender as risk factors for the transmission of HIV in a sample of drug users of Porto Alegre Brazil Revista Brasileira de Psiquiatria v 24 n 3 p 137 40 2002 BOUDON R BOURRICAUD F Dicion rio cr tico de sociologia S o Paulo tica 1998 BOURDIEU P A juventude apenas uma palavra In Quest es de Sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 BOURDIEU P Coord A mis ria do mundo 4 ed Petr polis RJ Vozes 2001a BOURDIEU P Raz es pr ticas sobre a teoria da a o 3 ed Campinas S o Paulo Papirus 2001b BOURDIEU P Esbo o de uma teoria da pr tica Precedido de tr s estudos de etnologia Cabila Portugal Celta 2002 BOUSQUAT Aylene COHN Am lia A constru o do
119. 14 nov 1987d Caderno Cidade p 8 AYRES J R C M Hermen utica e humaniza o das pr ticas de sa de Ci ncia amp Sa de Coletiva n 10 v 3 p 549 560 2005 AYRES J R C M Necessidade objetividade e o paradoxo metaf sico do conhecimento cient fico Manguinhos v 2 n 1 p 27 45 mar jun 1995 AYRES J R C M O cuidado os modos de ser do humano e as pr ticas de sa de Sa de e Sociedade v 13 n 3 p 16 29 set dez 2004 AYRES J R C M Sujeito intersubjetividade e pr ticas de sa de Ci ncia amp Sa de Coletiva n 6 v 1 p 63 72 2001 AYRES J R C M FRAN A JUNIOR CALAZANS G SALETTI FILHO H O conceito de vulnerabilidade e as pr ticas de sa de novas perspectivas e desafios In CZERESNIA D FREITAS C M Orgs Promo o da Sa de conceitos reflex es tend ncias Rio de Janeiro Fiocruz 2008 BAHIA Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia CONDER Dados sociodemogr ficos do bairro de Cosme de Farias Salvador SIG 2005 BAIRRO completa hoje 280 anos Parque Solar Boa Vista abandonado A Tarde Salvador 12 set 1998b Caderno 1 p 6 BAIRROS esquecidos A Tarde Salvador 7 jun 1998a Caderno 1 p 8 BANDEIRA C SANTANA E L CIRINO H N mero de jovens privados de liberdade aumenta 263 A Tarde 10 mar 2007a Caderno Salvador p 4 BARROS D D Operadores de sa de na rea social Revista de Terapia Ocupacional da USP v 1 n 1 p 1
120. 5 Entidades e Espa os de Pr ticas dos Jovens mapeadas em Cosme de Farias BATISTA e PIMENTEL 2008 A comunidade pol tica ampliou o uso de espa os do bairro nos ltimos tempos devido s articula es e atividades que realizou dentro mas principalmente 111 Projovem um programa do Governo Federal que vem sendo implementado em v rias escolas p blicas do territ rio nacional Na escola Jo o Pedro dos Santos ele se desenvolve atrav s de oficinas de computa o capoeira entre outras permitindo a abertura da escola nos finais de semana e uma participa o mais abrangente de jovens do bairro em atividades extracurriculares 215 fora do bairro Por exemplo os g meos s o membros do F rum de Combate Tuberculose Por conta disto realizaram uma Feira de Combate Tuberculose no bairro na Pra a de Cosme de Farias independente dos rg os de sa de respons veis pelo Distrito Isto uma pr tica que vem ocorrendo com frequ ncia pelos jovens da comunidade pol tica Eles participam de grupos e eventos externos ao bairro passam a represent lo em diferentes inst ncias e desse modo tornam se legitimados e autorizados em mbito local e municipal Alguns espa os dentro e fora do bairro nos quais os encontrei foram atividades diversas realizadas pela e na Igreja Batista do Calv rio na organiza o das Feiras de Sa de dos Terreiros nas reuni es de Conselhos local e distrital nas Confer ncias Municipal e Estadual
121. 7 1 1 As Comunidades do Rap A m sica rap rhythm and poetry mais particularmente o movimento hip hop vem sendo largamente estudada nas Ci ncias Sociais a partir dos anos 1990 O rap um dos elementos que integram o hip hop assim como o break o grafite e o scratching V rios autores emblem ticos tais como Herschmann 2000 Viana 2003 mas tamb m outros de campos de conhecimento diversos WELLER 2000 DAYRELL 2002 LINDOLFO FILHO 2004 HINKEL MAHEIRIE 2007 que se dispuseram a discutir mudan as no modo de vida de jovens a partir do movimento hip hop foram fundamentais para a sua compreens o no cen rio brasileiro Herschmann 2000 fala de uma mudan a de paradigma que vem modificando as faces de um Brasil conhecido at bem pouco tempo ou mascarado por tanto tempo e que passa a ser retratado agora por suas fraturas sociais profundas atrav s de movimentos que surgem com for a no cen rio brasileiro a partir dos anos 1990 por exemplo o hip hop Esse Brasil que agora se apresenta para n s n o t o somente caracterizado por manifesta es culturais tais como o carnaval o samba e o futebol Como diz o autor tamb m o atrav s de outros espa os sociais nos quais se desenvolvem manifesta es culturais de menor dimens o O trabalho de Herschmann pioneiro nesse sentido pela busca de manifesta es tais como o funk e o hip hop que d o voz multiplicidade de subjetividades escondidas nesses espa
122. Avenida Bonoc pude perceber in meros grupos de jovens quase sempre homens sentados nas 19 A id ia de jovens na esquina em reas pobres urbanas foi amplamente desenvolvida no trabalho de Foote White na d cada de 1940 FOOTE WHITE 2005 Seresta um tipo de festa ou bar com m sica ao vivo para dan ar Alguns jovens de Cosme de Farias costumam frequentar serestas em um bar na Avenida Bonoc aos finais de semana 20 58 esquinas vendo quem passa Esta rea mais residencial mais protegida do centro do bairro e a disposi o dos jovens diferente em rela o din mica central N o h tanta circula o de pessoas apenas os do lugar reas de dif cil tr nsito pouco recomendadas pelos moradores para andar sozinho Algumas destas reas s o consideradas por eles como locais de tr fico de drogas Percebo que os jovens transitam pouco pela cidade Alguns mais descolados acabam conseguindo entrar em uma organiza o n o governamental ou projeto Passam a fazer parte de um grupo constroem novas rela es conhecem pessoas de outros bairros e passam a circular Outros s transitam para seus locais de trabalho E a grande maioria convive a maior parte do tempo com as pessoas do bairro pelas ruas do bairro e especificamente na pr pria localidade onde vivem As rela es de amizade acabam acontecendo muito dentro do bairro assim como os namoros Os que conseguem ir al m s o diferenciados pelos demai
123. BGE 2000 necess rio salientar que n o utilizo uma faixa et ria oficialmente reconhecida para classificar os jovens por exemplo do IBGE ou Organiza o Mundial da Sa de H pessoas acima de 24 anos que vivem situa es de vida similares aos que est o abaixo desta idade no bairro Esta discuss o j foi levantada por autores da antropologia que questionam o uso destas classifica es e sugerem uma reflex o maior sobre os contextos de pr ticas vividos por jovens BUCHOLTZ 2002 MAGNANI 2005 18 Estes aspectos ser o desenvolvidos no cap tulo 5 57 Quanto aos jovens acompanhados pelo estudo eu poderia caracteriz los da seguinte forma est o entre 18 e 30 anos afro descendentes moradores de Cosme de Farias e situa es de vida nem sempre agrad veis para serem lembradas As entrevistas em geral come avam do mesmo ponto a identifica o Meu nome Sou rapper grafiteiro office boy locutora da r dio cabeleireiro nascido em Salvador Cosme de Farias tenho 22 24 27 anos Sou filho de dom stica dona de casa diab tica fan tica religiosa Minha principal dificuldade n o ter um trabalho Ao longo da pesquisa tive contato com 45 homens e 7 mulheres O n mero expressivo de homens est relacionado s comunidades de pr ticas identificadas para o estudo Entre as comunidades h um predom nio de homens Em geral observo que as mulheres est o predominantemente nos espa os dom sticos em ati
124. Cosme de Farias com rela o infra estrutura n 9 182 BAHIA 2005 Domic lios com 1a 4moradores 71 Domic lios com i 10 ou mais Domicilio s com moradores 5 a 9 2 21 Figura 10 Percentual de domic lios em rela o ao n mero de moradores n 9164 BAHIA 2005 85 A densidade demografica do bairro percept vel De acordo com os dados do IBGE BAHIA 2005 27 dos domicilios apresentam de 5 a 9 moradores e 71 apresentam de 1 a 4 moradores Estes dados tornam se ainda mais relevantes quando considerado o tamanho diminuto dos domic lios Figuras 10 e 11 a sas Figura 11 Padr o construtivo do bairro com pequenos domic lios sobrepostos maximizando a ocupa o do terreno Fonte Adriana Miranda Pimentel Pesquisadora A distribui o dos moradores por faixa et ria se apresenta com predomin ncia de popula o mais jovem crian as adolescentes e jovens perfazendo um total de quase 50 da popula o total particularmente a faixa de 15 a 24 anos possui um percentual significativo em rela o s demais 22 Figura 12 86 25 a 59 anos 44 60 e mais 7 5 a 24 anos 22 0 a 9 anos 18 10a 14 anos 9 Figura 12 Distribui o percentual da popula o por faixa et ria em Cosme de Farias BAHIA 2005 Em rela o renda da popula o de Cosme de Farias poss vel observar que h um percentual significativo de popula o respons vel pelo domic l
125. F vinculado ao movimento hip hop no bairro Foi atrav s dele que meu contato com a comunidade se deu O nome dJustificados pela F se deve ao fato de alguns integrantes haverem cometido algo no passado que foi aceito ou justificado por Deus a partir do momento em que se converteram Esse algo n o foi explicitado pelo grupo e novamente aparece como algo n o dito e que n o necessita de revela o A comunidade foi criada pelo interesse m tuo dos tr s integrantes insatisfeitos com Outras caracter sticas e aspectos relacionados comunidade ser o desenvolvidos mais adiante neste cap tulo sobre os sentidos e significados das pr ticas Rap gospel uma modalidade musical dentro do rap realizada por integrantes convertidos doutrina religiosa 96 184 outras igrejas que frequentavam em que n o se sentiam legitimados Todos eles j realizavam algum tipo de trabalho com m sica alguns tinham banda mas se sentiam restringidos ao tipo de produ o permitida pela denomina o e pelas possibilidades de articula o da banda fora do mbito da igreja Um dos membros refere que fazia parte de uma banda de rock em outra igreja e era frequentemente controlado quanto as m sicas que compunha e quanto liberdade do grupo para realizar eventos entre outras coisas Ressaltam tamb m o controle de outras doutrinas em rela o indument ria corte de cabelo acess rios e modos de ser dos jovens o que n o oco
126. I em um projeto para crian as rf s um outro conserta sof semana mas pai socia e d aulas de capoeira em uma escola municipal do bairro ou como a maioria dos jovens que conheci pintam casas ou carregam tijolos no intuito de adquirir dinheiro para comprar material para tocar grafitar entre outras pr ticas Assim percebi que esses jovens constru ram suas trajet rias com muitas dificuldades mas tamb m atrav s delas aprenderam a lidar com as dificuldades com grande inventividade Narrar a pr pria hist ria recordar acontecimentos t o dolorosos algumas vezes os fez chorar Em outras vezes eles evitaram ao m ximo retornar aos fatos tangenciando os E em boa parte dos discursos era mais o n o dito que se mostrava Para os que tiveram dificuldade em remontar pr pria hist ria fam lia e acontecimentos relacionados h algo ainda n o resolvido e que incomoda ou ainda que faz muito mal lembrar Ayres 2004 fala sobre as possibilidades que surgem a partir de situa es dif ceis de enfrentar e cita Gadamer 1983 sobre o conceito de sabedoria pr tica 73 Pai social uma atividade realizada por uma pessoa que se dedica assist ncia de crian as e adolescentes moradores de casas lares 153 Um saber conduzir se frente s quest es de pr xis vital que n o segue leis universais ou modos de fazer conhecidos a priori mas desenvolve se como phr nesis isto como um tipo de racionalidade que nasce da pr
127. IL 2001 19 Nesse sentido o termo problema de sa de questionado e colocado entre aspas no presente estudo por conta da dimens o que ele enseja por exemplo na chamada sa de do adolescente PAIS 1996 NADER e GONZ LEZ 2000 HEILBORN et al 2002 A sa de do adolescente sempre pensada a partir dos problemas dos adolescentes e jovens e esses s o medidos dentro de uma l gica normativa A rela o entre sa de doen a e norma desordem e todos os aspectos hist ricos envolvidos no surgimento desses bin mios e das pr ticas e espa os onde se institu ram fundamental para compreender as concep es atuais de sa de e doen a bem como o que venha a ser o problema de sa de dos jovens problemas esses criados a partir das necessidades e interesses de determinados grupos e mais especificamente para atender a categorias com maiores n veis de poder social TEIXEIRA 1996 Nesse sentido h um problema e ele n o est especificamente na sa de dos adolescentes e jovens mas sim no modo como os especialistas definem o que s o problemas e a que categoria eles pertencem Por exemplo em um estudo Nader e Gonz lez 2000 constataram que a busca de solu es para resolver o problema da gravidez na adolesc ncia em uma pequena cidade norte americana foi motivada n o propriamente por uma necessidade local nem dos jovens mas a partir de interesses das ag ncias nacionais ligadas ind stri
128. Mapa da Juventude de S o Paulo Lua Nova S o Paulo Cedec n 60 p 81 96 2008 BRAND O C R Fronteira da f alguns sistemas de sentido cren as e religi es no Brasil de hoje Estudos Avan ados v 18 n 52 p 261 288 2004 BRAND O M A R Origens da expans o perif rica de Salvador Planejamento Salvador v 6 n 2 p 155 172 abr jun 1978 BRASIL Minist rio da Sa de Funda o Osvaldo Cruz Promo o da Sa de Bras lia 1996a BRASIL Minist rio da Sa de Programa de Sa de do Adolescente bases program ticas 2 ed Bras lia 1996b BRASIL Minist rio da Sa de Secretaria de Pol ticas de Sa de rea de Sa de do Adolescente e do Jovem Cadernos juventude sa de e desenvolvimento Neia Schor Maria do Socorro Tabosa Mota Viviane Castelo Branco Orgs Bras lia 1999 BRASIL Minist rio da Sa de rea T cnica de Sa de do Adolescente e do Jovem Manual T cnico de Sa de do Adolescente e do Jovem Vers o preliminar Bras lia 2001 BRENNER A K DAYRELL J CARRANO P Culturas do lazer e do tempo livre dos jovens brasileiros In ABRAMO H W BRANCO P P M Orgs Retratos da Juventude Brasileira An lises de uma pesquisa nacional S o Paulo Funda o Perseu Abramo Instituto Cidadania 2005 242 BRESSANE R Compre o pre o In FERRARI F et al Orgs Sexta Feira 8 Periferia S o Paulo 34 set 2006 p 6 8 BRITO S Org Sociologia da Juventude Rio de Janei
129. O BAIRRO TAL COMO SE APRESENTA OFICIALMENTE O bairro de Cosme de Farias possui uma rea de aproximadamente 84ha com largura de 0 78 km e comprimento de 1 24 km com uma popula o estimada em 35 500 habitantes e densidade m dia de 422 hab ha BAHIA CONDER 2005 Comparando se com os dados de outros bairros apresentados por Fernandes 2006 essa uma rea de extrema densidade Situa se na regi o central da cidade de Salvador em uma rea de cumeada cercada de encostas e baixadas identificadas pelos moradores como as seguintes localidades Alto do Cruzeiro Baixa do Silva Baixa da Paz Sossego Alto do Formoso Baixa do Tubo Campo Velho e Cosme de Farias Figura 7 Algumas dessas encostas possuem ladeiras extremamente ngremes de dif cil acesso para ve culos como caminh es de lixo e de g s e com o 82 per odo das chuvas sofrem risco de desabamento Embora haja controv rsias sobre os limites do bairro o que dificulta a compreens o real de seus indicadores a rea pode ser demarcada pelos bairros ou tamb m subdistritos de Luis Anselmo Brotas Daniel Lisboa e Matatu de Brotas Precisamente esse limite se d pela Avenida de Vale Bonoc que percorre do extremo sul margeando a Pitangueiras a leste do bairro bem como pelo C rrego das Quintas ou a vala da Baixa do Tubo que o separa de Luis Anselmo Figuras 1 e 3 LUIS ANSELMO MATTU BROTAS DANIEL LISBOA Figura 7 Localidades no bair
130. OR 1977b SALVADOR 1983 Figura 3 Est na regi o central da cidade e tem como limites a Avenida M rio Leal Ferreira Avenida Bonoc e o C rrego das Quintas mais conhecido como a vala na Baixa do Tudo oficialmente conhecida como Vale do Matatu um bairro de ocupa o desordenada e irregular situado em uma rea de cumeada com encostas e baixadas encravado no centro da cidade e considerado como um dos bairros mais Notas de Di rio de Campo 20 fev 2006 10h00 no Fim de Linha 74 populosos e problem ticos de Salvador MORADORES 1978 DANNEMANN 1999a Essa descri o bastante simples para exprimir o que o bairro Desse modo fa o uso de minhas observa es de campo que poder o expressar a partir de um olhar de perto e de dentro o bairro em um dado momento de incurs o Salvador LUIS ANSELMO MATATU ENGENHO VELHO DE BROTAS DANIEL LISBOA Figura 3 Localiza o geogr fica do bairro de Cosme de Farias na cidade do Salvador BATISTA e PIMENTEL 2008 As ruas as casas juntas as pessoas nas ruas o sol batendo forte na cabe a j bem cedo por falta de rvores ou espa os vazios esses bairros t m uma vida que pulsa a minha sensa o Ainda cedo e tudo j est t o agitado Esses bairros t m algo de particular como por exemplo em processo de constru o cont nua As casas parecem estar sempre no reboco uma atrelada outra horizontaliza
131. Quanto Mais Apanhava Mais Aprontava narrativas de agress o em busca de significados siii 117 6 1 2 Enterrando Parecendo Bicho formas poss veis para a SODTCVIVONCIA as sas das nadie er i a e DO A Rd 126 6 1 3 Tenho Em Mim um Espinho que eu Carrego na Minha Carne o n o dito que perturba ea 134 6 1 4 Um Lugar para a Aus ncia a 139 6 2 TODO DIA TEM SUA MALDADE CORRENDO EM BUSCA DAS POSSIBILIDADE S gt arara US E 142 7 O MUNDO DOS JOVENS SABERES E PR TICAS EM COSME DE FARIAS siso E A E E A EEA AE 154 7 1 COMUNIDADES DE PR TICAS CONTEXTOS DE PARTICIPA O DOS JOVENS re ii E R E ERE 158 7 1 1 As Comunidades do Rap a 159 7 1 2 As Comunidades da Renova o nee 177 7 1 3 Uma Comunidade Pol tica ra 185 7 2 ALGUMA COISA PRA FORTALECER A ALMA PR TICAS COMO EXPERIENCIA DE SIGNIFICADO a sanaitisa st senaised sia a a dg ra 188 7 2 1 Pr ticas como T ticas de Resist ncia 190 7 2 2 Pr ticas Geratrizes de Mudan as o que se cria que se produz 205 CONSIDERA ES FINAIS eee 225 REFERENCIAS vicce A EEEE a a EA 239 Ap ndice A ROTEIRO ENTREVISTA ENTIDADES 257 Ap ndice B CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 258 Ap ndice C ROTEIRO DE OBSERVA O DAS PR TICAS 261 Ap ndice D ROTEIRO DE ENTREVIS
132. S o Paulo Conta que quando a m e descobriu que estava gr vida j pela segunda vez o pai av de P rola n o permitiu que permacesse em casa e com isso ela foi morar em S o Paulo com uma irm Assim que nasceu P rola a m e a deixou aos cuidados da irm e voltou para Salvador P rola cresceu em S o Paulo com total liberdade concedida pela tia conhecendo tudo que podia nas ruas da cidade e aos doze anos 132 engravidou pela primeira vez aos treze uma nova gravidez N o conseguindo continuar em S o Paulo retorna para Salvador o que a fez parar de estudar retornar casa dos av s e viver de forma prec ria inclusive por n o conseguir emprego que d conta das despesas e necessidades da fam lia Atualmente vive em uma casa em terreno dos av s com a m e padrasto filhos e outras pessoas da fam lia que t m ajudado a se manter Na verdade uma hist ria bem longa bem comprida porque meu av na poca era aquele tipo de av aquele tipo de pai que Filha minha s engravida se estiver casada Ent o minha m e j tinha tido meu irm o mais velho ent o logo depois ela engravidou de mim Meu av n o aceitou Ent o pra esfriar um pouco as coisas minha m e resolveu ficar em S o Paulo com a minha m e de cria o Minha m e biol gica ficou com a minha m e de cria o um tempo A ela me teve s que mesmo assim meu av n o aceitou ficou um tempo assim e resolveu que seria melhor
133. TA COM JOVENS 263 Ap ndice E ORGANOGRAMA DE CATEGORIAS DE AN LISE 265 16 Cap tulo 1 INTRODU O a fadiga que d forma aos seus desejos toma dos desejos a sua forma CALVINO 2006 p 16 Os jovens t m sido cada vez mais enfatizados em estudos e pesquisas no campo da sa de particularmente sobre os problemas relacionados viol ncia e sexualidade Esses estudos focalizam os riscos a que os jovens est o sujeitos e evidenciam comportamentos e atitudes pr prios entre eles e os problemas espec ficos do grupo O n mero alarmante de homic dios de que jovens s o v timas ou perpetradores o aumento significativo nos casos de HIV Aids e de doen as sexualmente transmiss veis DSTs que os atingem assim como a gravidez de adolescentes s o alguns dos principais temas que mobilizam estudos nesse campo nas ltimas d cadas Por m o que se percebe que h poucos estudos que focalizem o ponto de vista do jovem nesse processo levando se em conta o reconhecimento da diversidade e singularidade dos contextos de vida em que est o inseridos e particularmente daquilo que produzido por eles das suas pr ticas cotidianas O presente estudo visa compreender os sentidos e significados das pr ticas culturais produzidas por jovens em um determinado contexto e busca conhecer as conting ncias vividas e percebidas nas suas trajet rias biogr ficas porque parte do pressuposto de que as
134. a o O texto se dirige para uma descri o dos grupos particularmente das pr ticas realizadas por esses grupos Nessa descri o das comunidades ser o contemplados origem caracter sticas atividades desenvolvidas ou formas de realiza o das pr ticas e n veis de participa o dos grupos Selecionei tr s modalidades de pr ticas ou comunidades de pr ticas como denomina Wenger 2001 p 34 entendendo as como aquilo que as pessoas fazem conjuntamente e os recursos culturais que assim produzem Desse modo escolhi cinco bandas de rap duas comunidades religiosas e um conselho de moradores As comunidades de pr ticas para Wenger 2001 devem ter como foco a quest o da participa o social Para o autor participa o n o apenas se define pelo modo como as pessoas juntas realizam atividades em certos locais e com determinadas pessoas mas pela realiza o de a es que visem o envolvimento de maneira ativa em pr ticas de comunidades sociais e na constru o de identidades que ocorram a partir dessas comunidades Isto interessante para pensar sobre as pr ticas e o modo como os jovens delas fazem uso no bairro e fora dele O autor fala em quatro componentes necess rios no processo de conhecer e aprender a significado relacionado ao modo de experimentar as situa es da vida e do mundo como algo significativo b pr tica os recursos hist ricos e sociais os marcos de refer ncia e as perspectivas comparti
135. a Barra e Vit ria os menos abastados aproveitando os espa os vazios constroem bairros pobres formados por casebres SANTOS 1958 ou invas es denomina o referente a ocupa es coletivas que se deram a partir do final da d cada de 1940 GORDILHO SOUZA 2000 Falta maioria dos bairros uma homogeneidade de paisagem e de contexto As exce es s o os bairros extremamente pobres as invas es Alguns bairros centrais justap em uma rea de constru es antigas a outra grande rea de ocupa es irregulares onde prevalece uma popula o pobre e negra que por m desfruta do que ainda resta no seio da cidade como o caso de Cosme de Farias Com a transfer ncia das popula es de alta renda para outros espa os da cidade a popula o de baixa renda foi pouco a pouco ocupando as antigas moradias e as reas de fundo de vales at ent o inacess veis Posteriormente entre as d cadas de 1960 e 1970 com a abertura das avenidas de vale essa popula o seria for ada a ocupar reas perif ricas da cidade CARVALHO PEREIRA 2006 70 Atualmente Salvador a terceira cidade mais populosa do pa s com 2 4 milh es de pessoas residentes conforme os dados do Censo 2000 IBGE 2000 Ainda uma cidade que abriga grande contingente de popula o proveniente do interior do Estado procura de melhores condi es de vida e trabalho Apesar do avan o desse contingente para reas mais afastadas do centro da cidade o
136. a de n o como totalidade mas com o que singular e particular dos locais em que as pessoas que pretende atender assistir de fato existam E para atingir esse objetivo julgo fundamental refletir sobre os lugares e as pr ticas cotidianas dos jovens na rela o 238 com o objeto sa de como forma de compreender vis es e modos de levar a vida nem sempre condizentes e adequados perspectiva do saber t cnico cient fico A pesquisa revelou possibilidades locais de enfrentamento dos jovens s vicissitudes em um bairro pobre da cidade de Salvador Para responder poss vel pergunta acerca das contribui es que este estudo pode fornecer para o campo da sa de e particularmente para os t cnicos e formuladores de pol ticas p blicas para adolecentes e jovens penso que de antem o alguns aspectos desenvolvidos no estudo j est o contemplados como perspectivas da promo o da sa de que j est previsto uma maior articula o de saberes e recursos t cnicos e comunit rios O que este estudo mostra exatamente que h um saber local h modos de fazer locais e que t m modificado as situa es de vida dos jovens a partir das possibilidades e limita es que s o pr prias do local A id ia de promo o da sa de segundo Buss 2003 parte do princ pio de que as a es para a sa de devem a partir da popula o local b dos ambientes de vida das pessoas c de tem ticas para al m das doen as ou danos que afl
137. a todas as comunidades percept vel um antes e um depois O surgimento da comunidade um divisor de guas Para todas nota se que o reconhecimento externo crucial este reconhecimento da fam lia dos vizinhos dos amigos com quem os jovens conviveram ou se deparam no dia a dia do bairro que na verdade revela a mudan a Esta mudan a para os jovens renovados o carisma ou seja O dom que todos t m mas que se revela quando o jovem resgatado Esse carisma precisa ser cuidado e isto ocorre na medida em que o jovem passa a restabelecer coisas da sua vida cotidiana la os familiares emprego rela es sociais entre outras Mas tamb m para ser resgatado precisa abdicar das tenta es e tornar se puro a pureza que eleva a auto estima atrav s de instrumentos valorizados socialmente Esse processo de resgate tamb m se faz medida que o jovem ressignifica suas experi ncias vividas e incorpora estas experi ncias s suas pr ticas por exemplo servindo de espelho para outros jovens n o convertidos Para as comunidades do rap isto tamb m ocorre A quest o do reconhecimento social vis vel particularmente quando eles falam da diferencia o em rela o a outros jovens Eles tamb m se percebem como espelhos para outros jovens medida que superaram as experi ncias de insucesso e transformaram estas em produtos valorizados localmente A comunidade Preto S bio 05 antiga banda Preto Raiz da qual Mago foi
138. a adolesc ncia iniciou se no campo da sa de muito tardiamente em rela o a outros campos do conhecimento como por exemplo a Sociologia e a Antropologia Para a Medicina e a Psicologia apenas a partir de meados do s culo XX PIMENTEL 2001 a no o de crise da adolesc ncia e desta como uma fase de vida problem tica foi base de sustenta o para uma larga produ o de estudos uma produ o que se tornou a mola mestra para a formula o de pol ticas e programas de aten o a adolescentes e jovens a partir da d cada de 1980 Isto se deveu principalmente ao aumento no n mero de pessoas nessa faixa et ria e incid ncia de problemas mais comuns nessa categoria em especial nos pa ses em desenvolvimento Nas ltimas d cadas como se pode perceber nos documentos oficiais das Organiza es de Sa de Mundial e Panamericana do Minist rio da Sa de das Organiza es Civis entre outras PIMENTEL 2001 BURAK 2001 tem aumentado significativamente o n mero de trabalhos nessas reas e tem se revelado a preocupa o com o ambiente de vida dos jovens surgindo estudos que v o se debru ar sobre suas condi es e estilo de vida No Brasil em meados da d cada de 1980 surgiram pol ticas espec ficas para os adolescentes em decorr ncia da situa o de sa de desse grupo exposto s situa es de risco para doen as sexualmente transmiss veis gravidez precoce viol ncias e abuso de drogas O Programa de Sa
139. a de servi os de sa de americana Os autores mostram como mudan as na din mica da cidade por conta da instala o de grandes empresas e neg cios alteraram a vida desses jovens e contribu ram para a eclos o de programas de assist ncia e educa o em sa de n o contextualizados nas necessidades dos jovens Para os autores do estudo esses programas se dirigem aos problemas evidenciados nos estudos epidemiol gicos de mbito nacional e buscam atender aos padr es estabelecidos nacionalmente e n o localmente Em outra discuss o Mattos 2001 ressalta a participa o particularmente na d cada de 1990 das ag ncias internacionais desenhadas pelo governo americano como parte de seu projeto pol tico de hegemonia mundial na orienta o das pol ticas de sa de no Brasil e salienta a oferta de id ias mais do que de A autora define problema de sa de evidenciando a variabilidade nas formas de entendimento do que venha a ser problema Cita Matus 1989 quando define um problema como discrep ncia entre a realidade constatada ou simulada e uma norma aceita ou criada como refer ncia para um determinado ator social apud TEIXEIRA 1996 p 3 20 financiamento feita pelas ag ncias que assim guiam os rumos da sa de nos pa ses em desenvolvimento nem sempre de forma adequada s necessidades e aspira es locais A partir disso se faz necess rio conhecer a emerg ncia da sa de do adolescente A reflex o sobre
140. a em Cristo de doutrina neo pentecostal A escolha pela inclus o do grupo Justificados pela F nessa comunidade e n o de rap se deve rela o que a doutrina religiosa mant m com a origem organiza o caracter sticas e perspectiva da comunidade Antes de apresent las necess rio compreender a estreita rela o entre jovens e religi o Religi o e juventude s o dois temas de grande destaque para os pesquisadores em Ci ncias Sociais Novaes 2005 discute os dados da pesquisa 178 Perfil da Juventude Brasileira realizada em 2004 e revela o lugar que a religi o ocupa na vida dos jovens brasileiros ressaltando a sua import ncia no cotidiano de vida deles atrav s da participa o em grupos de jovens vinculados a igrejas e pr ticas de lazer nos finais de semana predominantemente em missas ou cultos Esse aspecto faz pensar no conservadorismo ou na aliena o dos jovens nos dias de hoje mas Regina Novaes prefere refletir sobre o fen meno que tomou grandes propor es nos ltimos anos agregando cada vez mais jovens em particular em diferentes denomina es evang licas Recuperando o momento s cio hist rico dessa gera o nascida em final dos anos de 1970 a autora faz refer ncia a acontecimentos que marcam estas d cadas um per odo p s industrial p s Guerra Fria com o avan o da informatiza o que tem tamb m aumentado os n veis de desemprego da viol ncia urbana mas ao mesmo tempo
141. a entrada de outras 228 como as bocas de fumo e a prostitui o para o trabalho o pagode para o lazer as esquinas para o tempo livre que se acumulam sem gerar expectativas de futuro As situa es que os jovens vivem no bairro s o locais mas guardam estreita rela o com o que h de mais globalizado na atualidade Esse um aspecto fundamental a ser considerado se desejarmos compreender de fato as reais dimens es do padecimento humano As diferentes formas de viol ncia estreitamente relacionadas ao tr fico de drogas e a explora o sexual apontadas por eles como sendo as situa es que mais afligem o bairro atualmente aparecem em primeiro plano e isso faria qualquer profissional de sa de ou pesquisador pensar s o problemas dos jovens Os jovens por m revelam isto um sintoma Ou seja h muito mais a ser investigado Essas s o situa es que efetivamente mostram alguma coisa mas n o o problema se preferirmos chamar assim claro que podemos receitar um paliativo diagnosticar como virose epidemia o que bastante comum nos dias de hoje quando n o sabemos como se trata e nem mesmo por onde come ar a trata Mas eles identificam aspectos que tanto podem ser interpretados como poss veis fatores que corroboram para a ocorr ncia dessas situa es ou como formas poss veis para san las Desse modo a ocupa o foi o elemento chave que apareceu assim como
142. a entre rappers negros em S o Paulo e rappers turcos alem es em Berlim Caderno CRH n 32 jan jun 2000 WELLER W A presen a feminina nas sub culturas juvenis a arte de se tornar vis vel Estudos feministas Florian polis v 13 n 1 p 107 126 jan abr 2005 WENDEL Bruno Comunidade sitiada Tribuna da Bahia Salvador 14 maio 2008 Aqui Salvador p 1 2 WENGER E Comunidades de pr ctica aprendizaje significado e identidad Barcelona Buenos Aires M xico Paid s 2001 WESTPHAL M F O movimento cidades munic pios saud veis um compromisso com a qualidade de vida Ci ncia amp Sa de Coletiva v 5 n 1 p 39 51 2000 WIKIPEDIA Bonoc Dispon vel em lt http pt wikipedia org wiki Gunuco gt Acesso em 25 jan 2007 WIRTH L O urbanismo como modo de vida In VELHO O Org O fen meno urbano Rio de Janeiro Zahar 1976 p 97 122 WOOD K M Coherent identities amid heterosexist ideologies deaf and hearing lesbian coming out stories In BUCHOLTZ M LIANG A C SUTTON L A Orgs Reinventing identities the gendered self in discourse New York Oxford University Press 1999 WULFF H Introducing youth culture in its own right the state of the art and new possibilities In AMIT TALAI V WULFF H Youth cultures a cross cultural perspective London Routledge 1995 ZALUAR A Gangues galeras e quadrilhas globaliza o juventude e viol ncia In VIANNA H Org Galeras cario
143. a irregular Nesse caso est o Nordeste de Amaralina Pernambu s Cosme de Farias al m das perif ricas comumente chamadas de miolo da cidade como Castelo Branco e Narandiba que apresentam indicadores desfavor veis PAIM et al 1996 p 37 Espinheira faz um corte dividindo a cidade em dois momentos hist ricos o de sua origem e o de hoje Para ele a cidade desde o surgimento j 68 apresentava descuido com rela o a higiene alimenta o e ocorr ncia de doen as N o havia servi os ou especialistas em particular para a popula o pobre que se servia das cren as e da salva o divina At hoje a popula o se v compelida a resolver seus problemas de moradia de sa de de inseguran a entre outros de forma improvisada na luta 1999 p 73 sem respaldo do poder p blico S o os pobres e os negros os que est o margem que aparecem nas estat sticas nacionais como aqueles que mais adoecem os mais vitimados pelas situa es de viol ncia bem como os perpetradores os detentores das piores condi es de vida moradia alimenta o distribui o de renda saneamento educa o sa de seguran a Os desde sempre colonizados como refere o autor poss vel escolher para alguns a forma como chegar Cidade do Salvador por m estando nela n o poss vel enganar se quanto aos problemas estruturais e sociais que ela carrega Salvador congrega o que h de mais velho e mais
144. a meu amigo de moleque a gente se conheceu ele branco assim um cara branco mas com uma ideologia de negro assim Ele se apegou a mim Em certo dia foram roubar ele e n o sei porque eu cheguei assim Ningu m vai roubar o moleque n o o menino meu aquela coisa Ele morava em Matatu e o col gio era em Baixa do Tubo Baixa do Tubo e Cosme de Farias a classe mais baixa de l E os cara n o assaltou ele a quando eu cheguei ele disse Vamos l em minha casa Eu fui Aqui massa a m e dele de boa me tratou hiper bem as irm dele e era um mundo diferenciado assim para um moleque um mundo de fantasia de v deo game som em casa televis o Eu tinha 12 a 13 anos ele me mostrou um mundo encantador Com o tempo eu fui pro meio art stico ele me deu um empurr o tamb m ai eu fui pro meio art stico Ele se casou e virou outra classe e agora virou professor de computa o gr fica Era um moleque que me mostrou um mundo que poss vel voc estar bem S porque voc favela que voc n o vai ter direito de estar mexendo nas m quinas ter dignidade e ter carinho pelas coisas Charles Nessa hist ria narrada por Charles poss vel perceber as diferen as em rela o s experi ncias vividas por jovens mesmo em locais t o pr ximos Mais do que isto o quanto a possibilidade de viver experi ncias novas ter acesso a pessoas e a determinados instrumentos pode ampliar os horiz
145. a mim uma pessoa de refer ncia Ele inicia dizendo minha hist ria assim praticamente normal como todo jovem assim com meus irm os empinando arraia carro de rolim a gente sempre crescendo Num certo momento pergunto sobre o nome com que se apresenta Coveiro que mais que um apelido j que todos o conhecem desse modo O apelido surgiu porque atrav s de pessoas assim vizinhos amigos entes queridos que vieram a falecer a eu tava no enterro eles pediram a fam lia assim no caso pediu um junto ao corpo a eu fui no enterro de um amigo e observei que o coveiro no Cemit rio Baixa de Quintas no caso tava enterrando essa pessoa parecendo que essa pessoa n o simbolizou nada pra ningu m enterrando parecendo bicho parecendo que era um cachorro Ent o eu observei isso ent o eu cheguei eu falei pra mim mesmo que quando morrer amigo meu parente meu pessoas que eu gosto considero eu vou pro enterro e eu mesmo vou enterrar essa pessoa pelo menos eu vou estar enterrando com considera o e sentimento A devido a morrer na trajet ria assim morrer v rias pessoas assim amigos parentes assim at pessoas envolvidas at na vida do crime e eu mesmo sepultar essas pessoas pelo menos eu tava sepultando com respeito e considera o aquela pessoa tanto que eu pegava pra enterrar esse amigo esse parente a fam lia enterrava comigo eu fazia todo o sepultam
146. a pensar sobre a tica do que est em equil brio ao que esperado por esta sociedade Estes aspectos ser o desenvolvidos ao longo do trabalho 63 pelos jovens nas suas trajet rias aparecem aus ncias rupturas e desvios que de um modo geral s o situa es vividas pelos jovens que tiveram desdobramentos tanto no que se refere a implica es e mudan as na vida quanto por terem suscitado oportunidades Entre essas oportunidades ou o que defino no estudo como possibilidades aparecem presen a da fam lia pessoas chave e correria que se definem de um modo geral pelas possibilidades ou ganhos que garantem a sobreviv ncia material dos jovens medida que os jovens experimentam os acontecimentos de vida e deles fazem uso nas atividades que realizam tomam consci ncia desses acontecimentos apropriam se dos instrumentos que est o dispon veis e d o novos significados s suas experi ncias transformando suas formas de exist ncia bem como seus mundos Desse modo as pr ticas dos jovens ou os fazeres inventados ou re criados no e a partir do contexto do bairro se apresentam em duas categorias mais especificas s o pr ticas que se configuram como t ticas de resist ncia apropriando me da express o de Michel de Certeau 2003 j retratada anteriormente e como geratrizes de mudan as ou seja aquelas que tenham mobilizado mudan as na vida dos jovens na de outros jovens do bairro e no pr prio cen rio de Cosme de Farias
147. a perspectiva de Wenger 2001 e para al m dela Isto cada uma dessas comunidades formada por um grupo de jovens que juntos criaram a banda e desenvolvem determinadas pr ticas apropriando se dos recursos existentes internos materiais entre outros que tanto favorecem mudan as nas trajet rias de vida desses jovens diferentes identidades s o constru das a partir dessas pr ticas bem como novos sentidos s suas experi ncias de vida e ao contexto em que vivem Desse modo necess rio conhecer a forma como essas comunidades sugiram no contexto do bairro Tr s fatores precipitaram o surgimento das bandas o acesso mesmo que escasso aos discos e fitas cassetes dos Racionais MC e Gabriel O Pensador em meados da d cada de 1990 aos eventos que ocorriam nos finais de linha do bairro Cosme de Farias e Baixa do Tubo e por ltimo aos encontros informais desses jovens em casas de amigos e ruas do bairro Todas essas situa es emergiram de pr ticas de sociabilidade no bairro Mais precisamente em rela o ao rap e ao grafite os jovens referem que tiveram acesso ao g nero musical atrav s de colegas irm os ou pessoas do bairro que tinham acesso a discos dos Racionais MCs Gabriel O Pensador entre outros menos citados Comecei a escutar Racionais MC Gabriel o Pensador E os 30 segundos que eu escutava de Racionais de Gabriel O Pensador aquilo ia come ando a entrar o hip hop naquela hora assim e comecei a faz
148. a que cita o Candombl do Proc pio no Matatu local antes conhecido como Pedrinhas Um dia eu sa do Candombl e ia subindo tudo mato e escuro Parei em uma bica pra lavar os p s porque naquele tempo a gente tinha que descer com os sapatos nas m os e lavar os p s pra cal ar A eu vi uma pessoa no p de bananeira A eu disse Sai da que eu quero passar v rias vezes E a o vento mexeu a palha e descobri que era a bananeira Entrevista Sr Os rio Esta uma das mais pobres localidades de Cosme de Farias conhecida como Baixa do Tubo como poss vel observar nos mapas 78 Figura 5 Ruas sem pavimenta o em Cosme de Farias na d cada de 1970 Fonte Hospital Evang lico de Salvador Autor desconhecido O Candombl do Proc pio faz parte da hist ria de persegui o aos negros e s religi es de matriz africana na Bahia um aspecto da cultura do lugar que merece destaque neste cap tulo Recentemente tive acesso s fotos de Pierre Verger sobre as persegui es policiais no Candombl do Proc pio Proc pio Xavier de Souza protagonizou uma das hist rias de persegui o aos candombl s em Salvador particularmente em um terreiro situado no Matatu Grande entre os anos de 1919 e 1942 o Il Ogunj LUHNING 1995 6 A partir disso identifico que essa rea do bairro margeada pela Avenida Bonoc foi um local de forte concentra o de negros al m de ser um local de culto africa
149. a tamb m em refletir sobre os acontecimentos e sobre si mesmo A reflex o um ato de retorno a si mesmo mediante o qual o sujeito capaz de captar RICOUER 2000 p 200 um pouco colocar se na perspectiva do outro um pouco olhar sob novos ngulos os acontecimentos vividos E nesse ato de narrar que o sujeito se reconhece Deste modo a identidade localmente produzida e emerge desse ato de narrar BUCHOLTZ 1999 O cen rio apresentado no cap tulo anterior ser o palco para os jovens que nele est o situados Parto ent o atrav s de suas narrativas biogr ficas a apresentar os atores dessa hist ria Uma releitura de Mendes 2002 sobre a obra de Goffman no que diz respeito constru o das identidades refere que o sujeito vai se definindo pelas situa es e implica es vividas e a partir das intera es com o outro Essa intera o favorece o conhecimento sobre si mesmo sobre suas limita es dificuldades e sentimentos em rela o a si pr prio o sentimento de ser considerado ou n o pelos outros de ser ou n o reconhecido como sujeito Mendes recorre express o identidade narrativa de Bakhtin com o intuito de trazer para a discuss o os muitos aspectos envolvidos na constru o do processo identit rio as m ltiplas vozes os m ltiplos di logos as for as que interagem ao mesmo tempo dentro de cada um dos indiv duos em um processo cont nuo e din mico Nesse processo entra em jogo n o
150. a uma etnografia urbana Revista Brasileira de Ci ncias Sociais v 17 n 49 p 11 29 jun 2002 MAGNANI J G C Festa no peda o cultura popular e lazer na cidade 2 ed S o Paulo Hucitec Unesp 1998 MAGNANI J G C O bom e velho caderno de campo Sexta Feira S o Paulo S o Paulo v 1 p 8 11 1997 MAGNANI J G C Os circuitos dos jovens urbanos Tempo Social Revista de Sociologia da USP v 17 n 2 p 173 205 nov 2005 MAGNANI J G C Quando o campo a cidade In MAGNANI J G C TORRES L L Orgs Na metr pole textos de antropologia urbana 2 ed S o Paulo Edusp Fapesp 2000 p 12 53 249 MAGNANI J G C Transforma es na cultura urbana das grandes metr poles In MOREIRA A Sociedade global cultura e religi o Petr polis RJ Vozes 1999b MAGNANI J G C SOUZA B M Orgs Jovens na metr pole etnografias de circuitos de lazer encontro e sociabilidade S o Paulo Terceiro Nome 2007 MARIZ C L Comunidade de vida no Esp rito Santo juventude e religi o Tempo Social Revista de Sociologia da USP v 17 n 2 p 253 273 nov 2005 MARQUES L F DONEDA D SERAFIN D O uso indevido de drogas e a AIDS In BRASIL Minist rio da Sa de Secretaria de Pol ticas de Sa de Area de Sa de do Adolescente e do Jovem Cadernos Juventude Sa de e Desenvolvimento Neia Schor Maria do Socorro Tabosa Mota Viviane Castelo Branco Orgs Bras lia 1999 MATTOS R A A
151. abunda A gente d a luz e fica na escurid o Quando a trai o fere o nosso cora o Mas culturalmente o Brasil n o seria o mesmo Se as mulheres n o estivessem ali no meio Sem a negra a ndia e a branca N o ia ter a miscigena o Todo mundo v que mistura brasileira N o importa cor da pele ou do cabelo J estamos cansadas desse preconceito At um dia Africaminas A m sica ressalta o machismo evidencia situa es que eu j havia percebido ouvido e presenciado no campo tanto em rela o s meninas do rap quanto s que n o fazem parte do movimento a mulher cuidadora aquela das tarefas dom sticas da beleza que enfeiti a para acalentar a car ncia masculina Relembro a m sica de uma comunidade masculina de rap sobre as mulheres Quero voc baby da banda Ensino B sico como contraponto m sica da Africaminas a mesma beleza negra desejada e a servi o dos homens Percebo que nas letras de m sica dos rappers falar de mulher e n o das mulheres pr ximas e conhecidas toma um outro lugar As m sicas evidenciam a for a da mulher negra na Bahia a conquista que as mulheres t m tido na sociedade que mais parece uma mulher idealizada que a real 176 O discurso dos jovens do rap versa para uma mulher independente adepta ao movimento e comprometida com os princ pios do movimento Costumam se interessar pelas mulheres bonitas que fazem coisas e que se posicionam no mund
152. acam tamb m em n meros Elas se distribuem por todo o bairro e em especial ocupam reas consideradas bols es de pobreza como a Baixa do Tubo e o Alto do Cruzeiro Figuras 7 18 e 20 Em alguns casos uma mesma igreja evang lica tem diversos templos distribu dos no bairro como por exemplo a Assembl ia de Deus que est em cinco diferentes localidades Uma informa o relevante acerca das entidades religiosas no bairro diz respeito ao n mero de a es sociais que elas desenvolvem Uma parcela consider vel dessas entidades disponibiliza aos moradores creches cursos de capacita o e profissionalizantes atividades culturais e esportivas distribui o de alimentos entre outras Assim Cosme de Farias possui caracter sticas de um bairro pobre a partir dos dados apresentados mas a pobreza est mais vis vel quando se percebe a aus ncia do Estado no que se refere oferta de equipamentos e servi os para toda a popula o Com isto h espa o para a organiza o de entidades sejam elas religiosas ou da sociedade civil que buscam suprir as necessidades mais b sicas dos moradores algumas vezes em troca de favorecimentos pertencimentos ou alian as 97 Na pr pria hist ria de cria o do bairro poss vel perceber a presen a e import ncia de algumas pessoas de posses que assumiam esse lugar e por conta disso algumas benfeitorias mesmo que paliativas eram realizadas Outro aspecto que chama a aten o o fato d
153. aciona com o que Velho 2003 coloca como um tipo de comportamento adotado por indiv duos que est o fora do padr o esperado socialmente O comportamento desviante implica um ato cometido por um indiv duo que n o atendeu s regras e normas estabelecidas socialmente Espera se que um jovem atinja a maturidade dentro de um certo padr o que implica o t rmino da vida escolar e a entrada no mercado de trabalho n o ter filhos antes de completar o seu desenvolvimento normal ou de possuir uma estrutura m nima para cuidar deles e n o cometer atos considerados de delinqu ncia tais como roubos uso de drogas entre outros 114 Os atos ou comportamentos desviantes geralmente s o explicados a partir de uma vis o individualista e psicologicista e n o s o precedidos de uma ampla discuss o socioantropol gica dos problemas que surgem com a modernidade tampouco compreendidos como aspectos que s o parte do mundo dos jovens nesses contextos particulares de vida Para Becker o desvio criado pela sociedade Os grupos sociais criam o desvio tanto criando as regras cuja infra o constituam o desvio quanto aplicando essas regras a pessoas particulares e rotulando as como outsiders 1966 p 8 9 Logo os desvios aqui entendidos do ponto de vista dos autores acima citados s o situa es n o esperadas socialmente pelos para os jovens tais como interromper os estudos engravidar precocemente praticar furtos e ou roubos e realizar pr ticas s
154. ado um momento no cap tulo seguinte 147 n o manteve uma boa conviv ncia com o pai ao longo do tempo O pai faz uso de lcool continuado e praticante do candombl algo que segundo ele desencadeou v rios processos na fam lia Tempos atr s teve um irm o desaparecido devido a envolvimento com o tr fico e como ele diz a pessoas ligadas ao candombl Desse modo o irm o mais velho uma refer ncia e com quem compartilha quase todos os projetos e situa es da vida interessante como os irm os supriram de algum modo faltas sejam provenientes do pai na maioria das vezes ausente sejam da m e com dificuldades no sustento da casa ou em driblar as agress es sofridas Por m algo que chama a aten o s o as explica es para tais faltas ou mudan as de comportamento atreladas ao candombl Mago como outros jovens faz refer ncia ao candombl ao citar pessoas do seu conv vio que mudaram o comportamento em um dado momento da vida Para ele o pai e o irm o passaram a se envolver com pessoas do candombl o que incorreu no uso mais pronunciado de lcool por parte do pai e em envolvimento com o tr fico no caso do irm o H outros exemplos como a rela o do pai de Lua com Areia Branca lugar segundo ela carregado devido quantidade de terreiros existentes a irm revoltada de Prometeu que mudou o comportamento ap s envolvimento com o candombl assim como o padrasto de Charles tamb m us
155. airro e ou cidade J participou Conte um pouco a hist ria de cria o O que o motivou para formar participar de tal grupo ou atividade Qual a import ncia desta atividade grupo na sua vida Grupos que conhece no bairro art stico culturais teatro dan a musica religiosos pol ticos esportivos que desenvolvem a es na comunidade ou de conviv ncia entre jovens Projeto de vida futuro desejos e perspectivas Adriana Miranda Pimentel 265 AP NDICE E ORGANOGRAMA DE CATEGORIAS DE AN LISE CONTING NCIAS REED PEDE PO gt CONTEXTO VICISSITUDES cs gt POSSIBILIDADES AUS NCIAS 77 gt PRESEN A postes See OCUPA O PESSOAS RUPTURAS DESVIOS a CORRERIA PR TICAS CULTURAIS de DENTE MUDAN A RE CAME SALVA O jjeng auroesnma ACESSIBILIDADE ADULTO SOBREVIV NCIA ESPA OS
156. ais pouco explorados com grandes deslocamentos de popula es pobres Havia um grande interesse em afastar a pobreza para ambientes mais distantes do centro urbano da cidade no sentido de civiliz la torn la refer ncia e orgulho aos olhos dos visitantes Fernandes e Gomes 1993 e Espinheira 1999 destacam o final do s culo XIX e in cio do XX como um per odo que centraliza a necessidade de moderniza o da cidade de torn la civilizada o que significava limpa fluida adequada esteticamente e antes disso branca FERNANDES GOMES 1993 Paim et al 1996 realizaram uma revis o da literatura sobre a constitui o da Cidade de Salvador particularmente sobre sua ocupa o acompanhada de uma an lise das condi es de vida por reas de distribui o populacional e perceberam que h uma rela o entre sa de e estrutura social que remonta aos primeiros anos de surgimento da cidade A posi o que seus habitantes ocupam no espa o as condi es e n veis de possibilidades que disp em e as condi es para o enfrentamento das situa es adversas diferem a partir dos locais em que esses se situam na cidade Nesse sentido reas com melhores condi es de infra estrutura que j no passado correspondiam s reas de popula es de alta renda tais como Gra a Barra Vit ria possuem melhores indicadores globais de sa de enquanto reas com piores condi es de vida foram sendo ocupadas desordenadamente de form
157. alhar como plantonista em hospital passava muitas horas fora de casa mas percebeu as mudan as no filho a tempo Ele faltava s aulas ficava muito tempo nas esquinas do bairro e passou a beber com frequ ncia Ela relata que muitos jovens que conviviam com ele nesse per odo j morreram O filho no entanto passou a ser acompanhado de perto pela m e e segundo ela foi isso que o salvou Percebo que h nos relatos uma vincula o direta do uso de lcool e outras drogas com a quest o das mortes mais propriamente e das diferentes formas de viol ncia que l se desenvolvem Sobre a viol ncia os jovens a colocam num plano muito espec fico ela existe para quem est envolvido com o tr fico Eles 7 As hist rias familiares dos jovens ser o discutidas mais profundamente no cap tulo 6 48 Notas de Di rio de Campo 2 de setembro de 2006 15h00 Casa de D Joana 104 consideram que h uma viol ncia dita acidental ou seja pessoas que s o v timas por um acidente ou fatalidade uma bala perdida um exemplo Existe ainda a viol ncia relacionada ao preconceito que sofrem constantemente por policiais nas batidas constantes por m n o sobre o tipo de viol ncia propriamente que eles tanto discorrem ao falar especificamente do bairro mas sim a quem se destina Um dia de domingo eu me preparava para ir a campo quando recebi um telefonema de um informante Ele me disse para n o ir porque tinham acabado de
158. andidatura para vereador nas pr ximas elei es por Cosme de Farias obviamente Lua n o est mais na R dio e dela n o tenho not cias Pensava em tornar a morar com a av e deixar o companheiro Charles mudou de bairro mas espera retornar a Cosme Recentemente eu o vi cantar em um show no Porto da Barra projeto de ver o na cidade Anjo est bem diferente fisicamente cortou o cabelo usa uma boina e tirou S Cremosinho o nome de um sorvete base de iogurte vendido nos bairros da cidade por pessoas que fazem pedido ao distribuidor e entregam no com rcio local 226 os culos escuros eu o vi na televis o falando do Projeto Grafita Salvador na campanha eleitoral P rola passou a cantar com a banda Ensino B sico por m ainda est desempregada e tem dificuldades para dar conta dos compromissos com o grupo li continua treinando e sonhando com os campeonatos de boxe Mago voltou a fazer os programas na R dio mudou se para um novo c modo na casa e agora vive com a namorada Est fazendo cursos escrevendo m sicas e tocando os ensaios da banda Recentemente me convidou para montarmos um projeto de cultura hip hop em Cosme de Farias Come amos a escrev lo A vida continua para os jovens N o como iniciamos mas sempre de um outro ponto Possivelmente hoje as leituras seriam outras e amanh mais diversas seriam ainda Por m a partir dessas hist rias que pude descrever aqui desses sentidos e significado
159. ao contr rio de danos ampliaram horizontes 6 2 TODO DIA TEM SUA MALDADE CORRENDO EM BUSCA DAS POSSIBILIDADES Em meio a tantas dificuldades vivenciadas e narradas pelos jovens noto que h sempre o outro lado da mesma moeda Os jovens retratam situa es dif ceis marcadas por agress es dificuldades financeiras aus ncia da familia situa es que muitas vezes eles n o compreendem porque ocorreram por m a elas atribuem significados diversos j pontuados acima e assim ao passo que revelam mesmo que com dificuldades cenas que marcaram suas trajet rias tamb m desvendam algo a mais possibilidades A id ia de possibilidades como algo que pode ou n o se revelar a partir das vicissitudes passou a me interessar pelo contato com a fenomenologia hermen utica e pelo pr prio processo etnogr fico Nas trajet rias de vida dos jovens descortinam se infort nios que foram de algum modo re elaborados e transformados em novos modos de ver e conviver com eles sobre as quais inicio aqui alguns desdobramentos 143 Certeau 1980 foi uma das primeiras fontes de refer ncia encontradas para discutir possibilidades em meio a universos t o desprovidos O cotidiano se inventa com mil maneiras de ca a n o autorizada 2003 p 38 diz Certeau e para ele as pessoas comuns a partir das dificuldades que encontram para obter coisas criam e inventam modos de lidar com essas situa es em uma apropria o
160. ar ou enfrentar e sim perceber que aquilo a que resisto tamb m parte de mim constitutivo do meu mundo Nessa perspectiva a exist ncia de algo se d pela pr pria experi ncia de rela o com o outro Desse modo resist ncia nesta an lise deve ser compreendida como a percep o da exist ncia de alguma coisa que faz parte do mundo dos jovens e por conta disto deve ser contemplada e da qual ele faz uso para abertura de novas possibilidades O que apresento aqui se refere ao modo como determinadas pr ticas s o interpretadas como formas de resist ncia no sentido do simbolismo que essas oferecem aos jovens Elas n o se op em a uma situa o propriamente estabelecida mas convivem com estas situa es e mobilam o mundo medida que existem resistem nesse mundo dos jovens Para Certeau 2003 as pr ticas s o compreendidas como t ticas de resist ncia quando se situam contr rias ao que est previamente estabelecido e assim s o possibilidades de grupos menos favorecidos ou em condi o de opress o inventar novos modos de fazer Essa perspectiva bastante interessante e tem seu lugar na an lise Percebo que as pr ticas aqui analisadas se situam como possibilidades encontradas nos contextos de vida dos jovens n o como forma de embate s adversidades mas como brechas que viabilizam formas de exist ncia poss veis sonhos poss veis Desse modo os discursos dos jovens e as observa es de campo me fizeram per
161. ara ensinar crian as e adolescentes do bairro bandas de estilos diferenciados de m sica como pagode partido alto hardcore entre outros estilos al m de grupos de jovens que se re nem de forma mais aleat ria e espor dica para diferentes atividades como dan a teatro para jogar bola andar de skate entre outras atividades Por m as comunidades selecionadas foram escolhidas por apresentarem algumas caracter sticas comuns a priori a grupos com participa o majorit ria de jovens que desenvolvem atividades no bairro criadas a partir de suas pr prias necessidades ou desejos e sem rela o de cria o com institui es formalizadas por 156 exemplo igrejas escolas partidos pol ticos etc b o surgimento dessas pr ticas se deu em estreita rela o com situa es vividas no passado desses jovens c essas atividades provocam situa es ou transforma es no cotidiano incorporam outros jovens e ou moradores do bairro e d o acesso a esses jovens tanto a espa os do pr prio bairro n o transit veis quanto a espa os da cidade Com o tempo fui percebendo tamb m que essas comunidades t m um tempo de exist ncia no bairro Elas surgem a partir de um desconforto com as situa es de vida e as pr ticas das institui es sejam elas governamentais ou da sociedade civil e marcam um lugar diferenciado quando apresentam cr ticas ao modo como as coisas funcionam mas tamb m propostas e pr ticas de transform
162. arecem os ganhos materiais obtidos atrav s das situa es limite em que se encontravam as contribui es de pessoas que surgiram de forma inesperada e a presen a da fam lia O que varia o modo pelo qual os jovens explicam essas circunst ncias s vicissitudes se vinculam as rupturas os desvios e as aus ncias As rupturas s o situa es ou marcos na trajet ria de vida desses jovens que s o definidores para o aparecimento de um outro momento de vida que quebram as expectativas em rela o ao curso da vida e que predisp em ajustes uma nova situa o Por exemplo a sa da de casa por conta da viol ncia paterna na maioria das vezes provocada pelo uso de lcool continuado do pai mudan as cont nuas e precarizadas de moradia uma gravidez precoce e o adoecimento dos pais foram alguns dos elementos trazidos nas entrevistas e aqui definidos como momentos de ruptura Identifico a id ia de ruptura com a de quebra de uma situa o que prevalecia h algum tempo e que de algum modo colocou em quest o a conviv ncia em casa bem como o andamento das atividades esperadas seja por esses jovens sejam aquelas socialmente esperadas por exemplo morar estudar trabalhar divertir se entre outras coisas Desvio tamb m uma subcategoria criada para dar conta de discursos que apontam para fatos situa es ou comportamentos ou seja acontecimentos n o aceitos socialmente ocorridos na vida desses jovens A id ia de desvio se rel
163. arias Figura 6 80 Figura 6 Lajes rampas e escadarias da Rua Lima Teixeira em dire o Avenida Bonoc Essa ocupa o desencadeia uma rede sin rgica que fortalece os v nculos na comunidade gerando uma teia de associativismo como poss vel perceber atrav s do n mero de associa es de moradores Tabela 1 assim como o fortalecimento do com rcio local que cobre as necessidades e condi es de consumo dos moradores dessas reas Esse fato tem uma rela o importante com o tipo de trabalho que muitos adultos e jovens exercem no bairro ou fora dele comumente vinculado presta o de servi os de pedreiro e afins Por exemplo uma caracter stica comum no bairro bater laje ou seja ampliar as habita es verticalmente j que as condi es do terreno e a falta de espa o n o permitem a expans o horizontal A laje um espa o de uso no bairro principalmente para crian as e jovens Por todo o bairro poss vel perceber a cont nua constru o de lajes que tanto atuam como espa o de lazer e para atividades diversas quanto como possibilidade de amplia o futura da casa 3 A laje um aspecto importante nesta descri o e ser retomada mais adiante como um espa o potencial de uso dos jovens deste estudo 81 Conversando com antigos moradores eles falam sobre a vinda para o bairro alguns por conta de j possu rem amigos ou pessoas conhecidas residindo no local outros devido aos bons pre
164. as pr ticas ou a o humana deve ser visto na sua totalidade na totalidade dos discursos que a geraram na sua multivocalidade importante que os contextos onde s o produzidos esses discursos sejam contemplados e que possam interferir na din mica de conhecimento de uma dada realidade Desse modo s o os discursos e fazeres que dar o a t nica compreens o dos fen menos Ricouer entende que a tarefa da hermen utica duplamente reconstruir a din mica interna do texto e restituir a capacidade da obra projetar se ao exterior mediante a representa o de um mundo habit vel RICOEUR 2000b p 205 Ou seja n o poss vel falar de mundo sem a presen a o ser deste mundo 61 com base nessa perspectiva que busco a an lise de narrativa como estrat gia metodol gica no processo de interpreta o das hist rias de vida e pr ticas culturais dos jovens Essa perspectiva crucial para o estudo centrado nas pr ticas cotidianas porque a narrativa pressup e o desenvolvimento de uma a o a leitura que os sujeitos fazem de suas a es cotidianas a partir de um contexto definido que interessa ao estudo S o as pessoas que falam e o significado sempre dado pelo falante RICOUER 2000b A an lise de narrativa coloca o foco nos sujeitos da a o onde essa se desenvolve e em como ela significada por esses sujeitos Ricouer prefere o uso da express o trama conceitual ao termo a o argumentando que o uso do
165. as Sociais em Sa de sob orienta o do Prof Ordep Jos Trindade Serra Salvador 26 de maio de 2009 BANCA EXAMINADORA MARTA CARVALHO DE ALMEIDA Doutora em Sa de Coletiva Faculdade de Medicina da USP RUBENS DE CAMARGO FERREIRA ADORNO Doutor em Sa de P blica Faculdade de Sa de P blica da USP ANA CECILIA DE SOUSA BITTENCOURT BASTOS Doutora em Psicologia Faculdade de Filosofia e Ci ncias Humanas da UFBA LENY BONFIM ALVES TRAD Doutora em Sa de Coletiva Instituto de Sa de Coletiva da UFBA ORDEP JOS TRINDADE SERRA Orientador Doutor em Ci ncias Sociais Faculdade de Filosofia e Ci ncias Humanas da UFBA Aos jovens de Cosme de Farias AGRADECIMENTOS Aos meus pais minha mais terna gratid o A Mil pela generosidade e dedica o nesses dias t o longos e dif ceis que passamos juntos Ao meu filho Rhus pela sua compreens o Com voc tudo mais bonito e divertido As m sicas os ensaios as andan as no bairro voc realmente foi fundamental neste trabalho Ao meu grande amigo Guga Ainda bem que tive a felicidade de lhe conhecer Mais que sua enorme contribui o intelectual agrade o a voc pelo afeto e disposi o durante todo meu percurso A Claudemar Santiago pelas boas conversas encontros e percursos que descobrimos juntos Sem voc este trabalho teria sido muito mais dif cil s amigas e companheiras desta empreitada Tereza Bara na e M rcia Queiroz A lara po
166. as entidades do bairro que buscam suprir necessidades imediatas dos moradores distribuindo colch es cestas b sicas e realizando festas em datas comemorativas com oferta de brindes cadernos e l pis na volta escola brinquedos no Dia das Crian as Festa de Natal entre outras com vistas a privil gios e ganhos futuros Ao contr rio eles defendem uma pr tica pol tica que problematize as quest es mais prementes do bairro contribua para organiza o dos moradores e promova a participa o Isto aparece no discurso de um jovem Enquanto eles tavam no assistencialismo que o modelo deles era aquele modelo que d cobertor pra o frio o colch o e a pronto A gente come ou a conscientizar botar o jornalzinho a participar das confer ncias a brigar de forma diferente t dentro a participar das confer ncias de sa de Eu fui o primeiro O primeiro delegado de uma confer ncia de sa de de do Alto do Cruzeiro porque eles n o participam de confer ncia esses neg cios A comecei a ir pras confer ncias a marcar l posi o a fazer um discurso uma discuss o pol tica Que outra coisa que o sindicato me ajudou foi isso que eu comecei a ver os outros ali tamb m n A comecei a marcar posi o a foi que as pessoas foram me respeitando comecei a usar a tribuna da C mara a reclamar as coisas de meu bairro Vou l direto O PDDU eu fui considerado o s mbolo contra o PDDU eu fui v rias vezes eu fu
167. as of seeing and the design of cities on the urbanism of Richard Sennett 1997 Dispon vel em lt hjem get2net dk gronlund Sennett ny tekst 97kort html gt Acesso em 10 dez 2005 GROPPO L A Juventude ensaios sobre sociologia e hist ria das juventudes modernas Rio de Janeiro Difel 2000 GUIMAR ES N A Trabalho uma categoria chave no imagin rio juvenil In ABRAMO H W e BRANCO P P M Orgs Retratos da Juventude Brasileira An lises de uma pesquisa nacional S o Paulo Funda o Perseu Abramo Instituto Cidadania 2005 GUIMAR ES ROSA J Manuelz o e Miguilim 4 ed Rio de Janeiro Jos Olympio 1970 247 HALL S A identidade cultural na p s modernidade 5 ed Rio de Janeiro DP amp A 2001 HEIDEGGER M Semin rios de Zollikon Ed Medard Boss S o Paulo Educ Petr polis RJ Vozes 2001 HEIDEGGER M Ser e tempo Petr polis RJ Vozes Bragan a Paulista Universit ria S o Francisco 2006 HEILBORN M L et al Aproxima es socioantropol gicas sobre a gravidez na adolesc ncia Horizontes antropol gicos Porto Alegre ano 8 n 17 p 13 45 jun 2002 HERSCHMANN M O funk e o hip hop invadem a cena Rio de Janeiro UERJ 2000 HINKEL J MAHEIRIE K Rap rimas afetivas da periferia reflex es na perspectiva s cio hist rica Psicologia amp Sociedade n 19 p 90 99 2007 Edi o Especial INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTAT STICA Popula o jovem no Brasil a di
168. at gias de controle dos problemas mais evidentes atualmente para esse grupo est distante da perspectiva fenomenol gica hermen utica Em Heidegger sa de e doen a s o apenas modos de ser da presen a conforme Nogueira que afirma a ess ncia do homem sempre se desdobra como potencialidade de responder a motivos de a o que o interpelam ou demandam uma resposta ao mundo Portanto o comportamento humano n o pode ser analisado por refer ncia a causas fisicamente determin veis e a supostos efeitos mensur veis NOGUEIRA 2007 p 432 Define ainda esse autor alguns conceitos importantes em Heidegger como os de ocupa o e preocupa o O primeiro se refere a tarefas realizadas a partir de instrumentos com os quais me ocupo o segundo diz respeito aos outros aos relacionamentos que se d o nesta ocupa o Fala ainda em disposi o relacionando a a humor sentir se bem ou sentir se mal para alguma coisa em possibilidades como o poder ser algo Algo bem interessante que o sentir se mal implica em modos de ser da presen a modificados eu n o deixo de existir por estar doente eu assumo modos de ser modificados na vig ncia do padecimento ocupo me no mundo de outra maneira A ang stia o que move o que faz a presen a se defrontar com suas possibilidades mais pr ximas sair da impessoalidade do mundo cotidiano NOGUEIRA 2006 p 341 Nesse sentido acredito que a enfermidade o dano ou a amea a vida dos
169. bastante evidenciado na literatura sobre os jovens diz respeito dubiedade relativa juventude Ou seja os jovens est o em 186 frequente situa o de contraponto entre subordina o e transgress o conservadorismo e revolu o passividade e atua o aliena o e participa o enfim h sempre uma discuss o no sentido de homogeneizar os jovens e principalmente de qualific los sem uma discuss o pr via sobre o contexto s cio hist rico no qual est o inseridos Deste modo a atua o de jovens em organiza es de bairro pouco difundida mais ainda quando a iniciativa parte dos pr prios jovens Parte disso porque h toda uma nostalgia do que foram os movimentos de jovens que iam s ruas para protestar em favor de causas sociais o que Ribeiro 2004 chama de formas mais totalizadoras e tamb m porque hoje existem outras formas de organiza o e mobiliza o que acontecem a partir de experi ncias mais localizadas e com outras nfases Nesse estudo busco situar uma experi ncia desse tipo o que denomino de comunidade pol tica ou seja um conselho de moradores formado e gestado por jovens A comunidade pol tica como denomino aqui se refere a um Conselho de Moradores do bairro de Cosme de Farias fundado por dois jovens g meos h tr s anos A entidade est situada no Alto do Cruzeiro localidade que sofre mais fortemente os problemas identificados como caracter sticos do bairro viol ncia tr fico
170. ca Antes de emprego e renda tem uma pol tica de para a juventude aqui Ela n o aprende a fazer nada n o tem uma pol tica de incentivo Cosme de Farias tem uma Casa do Trabalhador o dia todo parado a O jovem fica enfiado s em uma hora ou outra carregando material de algu m pra comprar cacha a A hist ria t aqui o pai carregava material o filho n o estudou o filho considerado o burro de carga do pai o cara j t nas drogas h 17 anos J tem um tempo j tem 7 filhos j Castor Os jovens ressaltam a inexist ncia do aparato estatal que quando existe materialmente n o tem significado para eles porque n o assume os objetivos para o qual foi proposto Ou seja os poucos equipamentos governamentais existentes no bairro n o assumem para eles o papel que deveriam S o esses vazios institucionais e ou simb licos que v o ser ocupados por outros espa os e fazeres nem sempre interessantes na vida dos jovens do bairro por exemplo atrav s do uso de drogas e da vincula o ao tr fico Essas hist rias tendem a se reproduzir e alguns jovens lutam contra ela cada um a sua maneira Esse um circuito conhecido por eles pois a maioria referiu ter perdido amigos de inf ncia em mortes relacionadas ao tr fico de drogas D Joana m e de um jovem do rap conta que decidiu produzir a banda do filho quando ele tinha ainda 17 anos porque se viu em uma situa o comum no bairro Ela sa a para trab
171. ca um grupo espec fico mas a constru o desta a partir de outros que fazem parte de seus mundos de vida A identidade tamb m se constitui a partir desses outros Quando os jovens falam de uma aus ncia de reconhecimento sobre suas possibilidades para fazer coisas est o falando de um grupo de pessoas que tem legitimidade para realiz las ou seja est capacitado respons vel ou com mais habilidades Esse grupo est representado pelos adultos Do ponto de vista dos jovens h um conflito entre esses dois grupos ou mundos A discuss o entre juventude e idade adulta sempre fez parte dos estudos sobre a categoria V rios autores se debru aram sobre o tema seja dentro de uma perspectiva geracional ou classista j discutidas em outro estudo PIMENTEL 2001 Tanto a primeira quanto a segunda corrente expressam a problem tica da reprodu o social por m a primeira entende que as formas e conte dos das rela es sociais s o sedimentados de gera o a gera o enquanto a segunda na id ia de reprodu o de classes sociais PAIS 1996 p 44 Eu diria que esses elementos devem ser incorporados nesta an lise sem perder de vista de que nessas rela es entre gera es e classes e nesse fazer que identidades s o produzidas e ressignificadas Esse esclarecimento se faz necess rio na medida em que a t nica das situa es trazidas nas pr ticas se revela sempre em um contraponto entre os jovens e os
172. cas territ rios de conflitos e encontros culturais 2 ed Rio de Janeiro UFRJ 2008 257 ZALUAR A Integra o perversa pobreza e tr fico de drogas Rio de Janeiro FGV 2004 258 AP NDICE A ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA AS ENTIDADES UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE SAUDE COLETIVA ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA AS ENTIDADES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Dados de Identifica o localiza o n mero de membros representantes etc Hist rico de surgimento Finalidade Objetivo Rela o com os jovens do bairro Servi os e ou atividades oferecidos Participa o dos jovens nas atividades oferecidas Dificuldades encontradas na rela o com os jovens Estrat gias desenvolvidas para trabalhar com os jovens e suas poss veis dificuldades Projetos em andamento Adriana Miranda Pimentel 259 AP NDICE B TERMOS DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ENTREVISTAS COM JOVENS Eu conhecimento deste estudo que tem como objetivo conhecer atividades art sticas religiosas i tomei e pol ticas realizadas por jovens no bairro de Cosme de Farias e compreender a rela o destas atividades com suas trajet rias de vida O estudo ser realizado atrav s da observa o destas atividades tais como reuni es dos grupos ensaios de bandas eventos organizados pelos jovens bem como atrav s de entrevistas com eles Estas observa es e entrevis
173. ceber que algumas experi ncias vividas por eles nem sempre bem sucedidas s o por eles transformadas e favorecem a abertura de novas possibilidades S o tr s situa es que mais chamaram a aten o a a invisibilidade do jovem no mundo adulto como forma de limitar as suas possibilidades de poder b as dificuldades de sobreviv ncia como formas de viver c a imin ncia das tenta es e vicissitudes como forma de salva o e prote o Ser reconhecido socialmente implica ser aceito por um outro no caso por um grupo de pessoas e portanto vincula se no o de identidade Prefiro aqui n o 9 A discuss o sobre identidade que julgo interessante para esse estudo aparece em Ricouer 1996 quando o autor define os termos mesmidade e ipseidade como dois aspectos constituintes da identidade Mendes define precisamente esses aspectos a identidade pessoal articula se na dimens o temporal num projeto de vida A identidade mesmidade pode ser caracterizada pela estabilidade que deriva dos h bitos disposi es e identidades adquiridas como alteridades assumidas enquanto membros de certos grupos e comunidades no o de car ter A identidade ipseidade integra a alteridade de tal forma que o indiv duo n o se consegue pensar sem 192 falar de uma identidade jovem ou algum adjetivo espec fico para o grupo pois a no o de identidade dentro de uma abordagem fenomenol gica hermen utica n o impli
174. cio antropologia da m sica baiana SP Dynamis Salvador Ba A cor da Bahia e Projeto S A M B A 1997 255 SILVA V G B SOARES C B As mensagens sobre drogas no rap como sobreviver na periferia Ci ncia amp Sa de Coletiva v 9 n 4 p 975 985 2004 SIMMEL G A metr pole e a vida mental In VELHO O Org O fen meno urbano Rio de Janeiro Zahar 1976 p 11 25 SIMMEL G Quest es fundamentais da sociologia Rio de Janeiro Zahar 1917 2006 SOARES L E Hermen utica breve introdu o In O rigor da indisciplina Rio de Janeiro Relum Dumar 1994 SOUZA C S Percep o e produ o est tica configura o do modo de vida em Novos Alagados no Sub rbio Ferrovi rio de Salvador 2002 Disserta o Mestrado em Ci ncias Sociais Faculdade de Filosofia e Ci ncias Sociais Universidade Federal da Bahia Salvador 2002 TAVARES J S Redes sociais e sa de explorando o universo de fam lias de classe popular e seu entorno comunit rio 2009 Tese doutorado em Sa de Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador Defesa de Tese apresentada no dia 23 abril de 2009 TEIXEIRA C F Planejamento e programa o local da vigil ncia da sa de Salvador nov 1996 Mimeo TRAVERSO YEPEZ M A PINHEIRO V S Adolesc ncia sa de e contexto social esclarecendo pr ticas Psicologia e Sociedade n 14 v 2 p 133 147 jul dez 2002 UM ADVOGADO das mais dif ceis causas no j ri Trib
175. cipal Secretaria Municipal de Sa de Distrito Sanit rio de Brotas Agravos notificados em 2005 de residentes em Cosme de Farias Salvador 2005c In dito SALVADOR Prefeitura Municipal Secretaria Municipal de Sa de Distrito Sanit rio de Brotas Obitos de residentes em Cosme de Farias ano 2005 Salvador 2005d In dito SALVADOR Prefeitura Municipal Secretaria Municipal de Educa o e Cultura Rede de Escolas Dispon vel em lt www smec salvador ba gov br escola rede php gt Acesso em 19 abr 2007 SANCHEZ Z V D OLIVEIRA L G de NAPPO S A Raz es para o n o uso de drogas il citas entre jovens em situa o de risco Revista Sa de P blica V 39 n 4 p 599 605 2005 SANSONE L SANTOS J T Orgs Ritmos em tr nsito s cio antropologia da m sica baiana SP Dynamis Salvador Ba A cor da Bahia e Projeto S A M B A 1997 SANTA ROSA Fernanda Mortes na passarela do Bonoc A Tarde Salvador 10 set 2006a SANTOS Milton O centro da cidade do Salvador Estudo da Geografia Urbana Tese Doutorado em Geografia Humana Universit de Strasbourg Strasboug Fran a 1958 SANTOS J E F Mind the gap cuidado com o v o repercuss es do homic dio entre jovens de periferia da cidade de Salvador Bahia 2008 Tese Doutorado em Sa de Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador Bahia 2008 SANTOS J T Mapeamento dos Terreiros de Candombl de Salvador Semin rio de Apresenta
176. coloca o que tem acontecido de novo nesse campo particularmente com as mudan as em rela o aos discursos de modo a possibilitar mudan as na pr tica na vida dos jovens Um estudo recente de Nunes 2005 identificou a es desenvolvidas em um bairro da cidade de Salvador que se configuram como formas de resist ncia s situa es de viol ncia que ocorrem frequentemente com os jovens nesse local Para a autora estudos em sa de coletiva que ampliem a perspectiva de grupos ou de problem ticas espec ficas como a viol ncia por exemplo para pr ticas culturais localmente situadas podem ser vi veis para leituras culturais do social mais condizentes com as realidades e quest es que se apresentam Em outro trabalho Nunes e Paim 2005 mostram a import ncia do estudo etnogr fico para a compreens o das situa es de viol ncia na cidade de Salvador ressaltando ainda a import ncia do estudo no sentido de revelar a natureza dos homic dios a partir da proximidade com o objeto e buscar os significados ocultos que est o diretamente associados s pr ticas de viol ncia no bairro A preocupa o com o modo pelo qual a sa de vem tratando a tem tica da adolesc ncia e juventude se revela em outros estudos que buscam repensar o 26 modelo e propor novas perspectivas e abordagens dentre esses o estudo de Traverso Yepez e Pinheiro 2002 questiona o modo como profissionais de sa de e de educa o t m enfrentado as
177. comum a cita o do bairro nos principais jornais locais referente a mortes violentas geralmente relacionadas aos jovens ROSA 2006a Recentemente um informante relatou que em um mesmo final de semana ocorreu uma chacina que deixou 7 mortos e 5 feridos na rea central do bairro o fim de linha A mat ria do jornal retratava apenas o incidente do domingo CIRINO 2007b mas um epis dio semelhante ocorrera no s bado deixando mais jovens mortos e feridos Entre os anos de 2006 e 2007 tem crescido o n mero de reportagens relacionadas a mortes violentas de jovens na cidade FRAGA MENDON A 2006b CIRINO 2006c CIRINO 2007a e o perfil das v timas caracter stico das popula es de baixa renda como mostra Heloniza Costa do F rum Comunit rio de Combate Viol ncia Uma em cada cinco dessas mortes corresponde a uma crian a ou adolescente 90 das v timas s o afro descendentes quanto educa o formal predomina a baixa escolaridade com 76 entre 3 Esta discuss o apareceu em diferentes eventos e espa os realizados com a participa o de lideran as do bairro s quais estive presente tais como reuni es do Conselho Local de Sa de Conselho Distrital Feiras de Sa de entre outras Al m disto devo salientar que paralelamente pesquisa realizei outras atividades no bairro tais como professora da disciplina de sa de coletiva supervisora de est gio curricular e pesquisadora pela EBMSP o que me conferiu a possibi
178. contexto vivido se desfaz e as coisas chamam aten o como algo simplesmente existente Mas no simplesmente existente os significados vividos do dispon vel desapareceram ou perderam as for as 2005 p 197 190 Retomando para o que me fez selecionar tais comunidades dentre outras identificadas no bairro necess rio dizer que tais grupos se unem pela dimens o que suas pr ticas tomam nas suas trajet rias e momentos atuais de vida Essa dimens o percebida quando teimam em falar das pr ticas relacionando as s suas hist rias pessoais De antem o torna se dif cil discutir esses fazeres seus sentidos e significados sem recorrer s hist rias pessoais mas poss vel perceber que h regularidades Para Heidegger o sentido do ser est na sua historicidade Desse modo compreender os sentidos das pr ticas realizadas pelos jovens implica recorrer aos processos de constru o dessas pr ticas que para este trabalho se originam das suas pr prias hist rias de vida em um contexto pr prio Nesse sentido medida que os jovens experimentam os acontecimentos e deles fazem uso nas atividades que realizam eles tomam consci ncia desses acontecimentos apropriam se dos instrumentos que est o dispon veis e d o significados s suas experi ncias transformando suas formas de exist ncia bem como seus mundos Desse modo as pr ticas dos jovens no bairro se apresentam a partir de duas perspectivas mais especificamente ora como
179. cores de solo extremamente acidentado e uma beleza natural esplendorosa a capital do Estado da Bahia situada na Regi o Nordeste e foi a primeira capital do Brasil Esse lugar possui uma hist ria que o identifica e que ajuda a compreender muitos aspectos que n o s o percept veis ao olhar desconhecido O que hoje se chama Cidade do Salvador um conjunto de lugares territ rios pr prios que foram sendo constru dos a partir das possibilidades crueldades oportunidades e necessidades dos povos aqui presentes dessa mistura mais que de ra as de diferentes formas de enfrentamento e expropria o que a cidade foi e uma cidade de contrastes e de desigualdades SANTOS 1958 67 ESPINHEIRA 1999 um projeto de ocupa o centrado na segrega o dos grupos de espa os e de domina o econ mica Em pouco tempo a cidade passou a ser apropriada de forma desigual Grandes por es de terras eram concedidas s ordens religiosas os ndios eram desalojados de suas terras de origem grandes casarios passavam a ser constru dos e absorvidos pelos brancos e uma legi o de negros chegava ininterruptamente para servir nas lavouras de cana de a car do Rec ncavo Esse era o cen rio logo no in cio de funda o da cidade Ao longo de quatro s culos a cidade foi absorvendo popula es oriundas de outras localidades do Estado com per odos de fortalecimento e enfraquecimento da economia alargando ruas e abrindo caminhos em loc
180. crever e compreender o bairro destacando os lugares usos tr nsitos e formas de organiza o dos jovens b descrever e compreender trajet rias de vida dos jovens no intuito de identificar conting ncias que possam ter demarcado suas biografias c identificar os diferentes saberes e fazeres dos jovens acerca dos seus desejos perspectivas e vicissitudes e d conhecer e compreender pr ticas que os jovens realizam no bairro bem como os sentidos e significados que elas exercem em seus mundos de vida Assim o cap tulo 2 apresenta uma discuss o te rico conceitual sobre a no o de juventude na perspectiva da antropologia da juventude o que implica pensar os jovens a partir de seus contextos de pr ticas intimamente relacionada quest o da modernidade do ponto de vista do jovem e de seu fazer Assim tamb m a no o de conting ncia discutida como forma de ampliar a no o de risco para uma perspectiva que permita pensar a indissociabilidade entre vicissitudes e possibilidades Esses aspectos s o imanentes vida dos jovens quando se reflete sobre as situa es de vida nas quais est o envolvidos 31 O cap tulo 3 traz a discuss o sobre a relev ncia do espa o urbano na produ o de pr ticas e na constru o de identidades poss veis para os jovens Essa reflex o permite compreender a import ncia do espa o urbano como espa o de cria o inven o e re apropria o a partir dos diferentes usos e tr nsitos realizado
181. d cadas de 1960 e 1970 nas ci ncias sociais BRITO 1968 Autores voltados para uma abordagem geracional da tem tica da juventude tais como Eisenstadt 1976 1956 e mais recentemente Bourdieu 1983 questionam a concep o de juventude nas sociedades modernas do ponto de vista do seu uso instrumental para contemplar exig ncias sociais Nas ltimas d cadas percebe se uma diminui o de publica es que discutam mais fortemente a rela o entre jovens e atua o pol tica H uma preocupa o maior com pol ticas p blicas para jovens FREITAS PAPA 2003 em alguns setores particularmente tais como sa de por exemplo mas n o com enfoque sobre a participa o dos jovens nessas atividades principalmente de atua o pr pria desvinculada institucionalmente Alguns estudos se voltam para a problem tica da participa o dos jovens como algo que havia e que foi perdida nas ltimas d cadas devido ao individualismo e desinteresse dos jovens por atividades desse tipo outros compreendem n veis de participa o que desde a d cada de 1980 tem se dado particularmente atrav s de ONGs RIBEIRO 2004 Algumas explica es para isso sugerem um recrudescimento de iniciativas e formas de organiza o pol tica movimentos sociais movimentos populares movimentos sindicais entre outros que tiveram grande ascens o em per odos passados mas que v m perdendo espa o gradativamente desde a d cada de 1990 Algo que tamb m
182. da m sica traduz um pouco do que j foi trazido neste estudo um pouco do bairro do cotidiano de jovens que l vivem as localidades das particularidades dos lugares dos espa os as pessoas de refer ncia Diz assim isso a Vou relatar aqui nos versos do meu rap Um pouco do dia a dia do bairro onde moro Que n o diferente aparentemente desse colossal mundo perif rico Que eu prefiro chamar de Quilombos atuais Para c que a sutileza do preconceito social racial e cultural nos trouxe Jota Neri e Toni Di convocam a todos que se identificam com a nossa hist ria Cosme de Farias urgente Bom dia estou falando direto do meu bairro mano Cosme de Farias a nossa periferia Aqui n o diferente a nossa geografia A nossa filosofia de vida O dia a dia assim cruel aqui n o azul como se mostra o c u Aqui se cria moda a maioria usa droga vixe Esse um fator problema Aqui n o tem teatro n o tem cinema Mas tem muita mina de esquema Eu to sabendo Toni Di Subi Rua Barral E passando na Rua Direta eu vi No Bar Black Point meus camaradas ali Tomando umas cervejas e ouvindo um som rap Podes crer aqui Cosme de Farias refr o Podes crer correria todo dia refr o Final de Linha movimento intenso todos os dias Madrugada a grande testemunha Temos a Igreja de Santo Ant nio Aonde j se realizaram muitos batizados e v rios matrim nios Ali tinha o bar do reggae que era atra o Sinho com se
183. dade de assumir novos compromissos como por exemplo criar os filhos e outras crian as para ganhar algum dinheiro mas tamb m no lugar que como mulher pobre e negra acaba por assumir nos bairros populares o lugar da vida dom stica em constante enfrentamento com o lugar da rua historicamente destinado aos homens Um exemplo disso eu presenciei entre os pr prios rappers homens quando se referiam s mulheres que freq entam bares no bairro como Mulheres que n o querem nada com a vida evidente que houve uma mudan a na vida de P rola e que h implica es a serem enfrentadas neste processo como para todos os jovens que sofreram algum tipo de ruptura por exemplo ter que sair de casa como j foi trazido anteriormente Desse modo percebo na hist ria de P rola assim como na de outros jovens que essas rupturas deixaram marcas e algumas delas precipitaram a ocorr ncia de comportamentos ou condutas n o aceitos socialmente o que defino aqui como desvio s o fatos ou acontecimentos na vida dos jovens que relacionados as faltas ou s rupturas vividas aparecem como a es que sa ram do que esperado socialmente e mais ainda s o de dif cil aceita o para eles e por conta disto t o dif cil explicit los O desvio ou comportamento desviante como refere Velho 2003 est muito mais ligado a quest es de ordem pol tica que de inadapata o cultural 134 Pensando na cidade de Salvador no bairro de Cosme
184. dades de conviv ncia enfrentamento reflex o resist ncia e transforma o Durante o estudo identifiquei seis bandas de rap que est o em maior expans o Ensino B sico Preto S bio 05 Imp rio Negro N1 Rapaziada do Morro RM Vis o Urbana e Africaminas As primeiras cinco bandas s o compostas totalmente por homens e a ltima por mulheres Acompanhei os grupos em ensaios shows no fim de linha de Cosme de Farias em a es desenvolvidas por eles 8 A pesquisa de Silva 1997 demonstrou que desde o final da d cada de 1970 existiam diferentes espa os de sociabilidade de jovens nos bairros perif ricos da cidade de Salvador tais como Plataforma e Paripe particularmente atrav s de bailes funks Nesse sentido poss vel que essas manifesta es ocorressem em outros bairros em diferentes per odos mediadas pela m sica negra norte americana mas com reinterpreta es do universo afro brasileiro 162 conversas informais com cada grupo e particularmente atrav s de entrevistas aprofundadas com alguns de seus membros Os jovens entrevistados foram escolhidos por terem uma participa o mais atuante nos grupos s o os principais compositores das m sicas operam como atores no sentido da participa o ativa no processo de constitui o da banda de agenciamento e de perspectivas para dar encaminhamentos futuros ao trabalho que realizam Cada uma dessas bandas eu tenho denominado comunidades do rap utilizando me d
185. de religi o local onde reside no bairro tempo no bairro proveni ncia dos pais 3 Fale um pouco da sua hist ria de vida trajet ria 4 Condi es de Vida tipo de moradia renda familiar e pr pria 5 O que faz para viver Trabalho formal ou informal fun o local e tempo de trabalho Como consegue dinheiro 6 Escolaridade grau de escolaridade local onde estuda e ou estudou 7 Rela o com a fam lia e filhos com quem mora estado civil e posse de filhos 8 Rela es afetivas e sexuais Com quem Como lida com isto 9 Como entende a situa o da mulher homem jovem no bairro Como a sua rela o com eles 10 Fale um pouco a respeito das suas dificuldades problemas que voc enfrenta no dia a dia Que coisas te preocupam hoje Sobre o bairro espa o 11 Fale um pouco do seu dia a dia Descrever atividades 12 O que mais gosta de fazer no tempo livre No bairro Na cidade 13 O que acha do bairro 14 Que lugares frequenta no bairro E na cidade Por que 15 O que gosta no bairro 16 Com quem se relaciona no bairro 17 Que problemas enfrenta no bairro Quais principais problemas que voc identifica no bairro 18 Locais onde n o anda no bairro E por que 19 Desenhe sua rota de tr nsito no bairro e ou cidade levar um mapa esbo o 264 Sobre as pr ticas 20 21 22 23 24 Participa de algum grupo banda atividade religiosa pol tica cultural etc no b
186. de Farias e em todos os aspectos j vistos sobre os modos de lidar dos jovens observa se que determinadas condutas e comportamentos n o s o bem vistos ou aceitos e isto que me dirijo a discutir agora 6 1 3 Tenho Em Mim um Espinho que eu Carrego na Minha Carne o n o dito que perturba Algo que me chamou aten o durante as entrevistas foi o car ter de sigilo que ronda determinados problemas ou situa es vividas pelos jovens h tempos atr s alguns dos quais com consequ ncias vividas at os dias atuais para alguns deles Nas narrativas percebo que algo aconteceu e deixou registro mas n o se poss vel falar Os acontecimentos propriamente n o s o explicitados Alguns jovens com muita dificuldade referem por exemplo ter cometido delito por m isso aparece em um discurso entrecortado ora ele n o cometeu ora cometeu pequenos delitos mas n o foi pego ora ele se comportou de determinado modo mas n o considera grave por exemplo pegar coisas de comer no supermercado Eu n o consigo perceber a dimens o que o desvio tem para os jovens Por vezes fico imaginando se foi grave do ponto de vista do que eu pesquisadora de um outro universo sociocultural considero grave Alguns jovens fazem uso de met foras para expressar aquilo que n o pode ser dito Prometeu um jovem de 30 anos cat lico e praticante do movimento de Renova o Carism tica Cat lica Todo o seu discurs
187. de Integral do Adolescente PROSAD apontava como meta a aten o integral aos adolescentes 10 a 19 anos baseando se nos problemas inerentes faixa et ria independentemente dos contextos em que se situavam BRASIL 1996b A partir dos anos 2000 amplia se a aten o para os jovens entre 15 e 24 anos incorporando aspectos contextuais para a compreens o dos problemas desse grupo de idade BRASIL 2001 poss vel que a extens o dos programas de aten o sa de para os jovens tenha ocorrido em primeiro lugar por conta do aumento da viol ncia bem como da incid ncia de casos 3 constante a refer ncia aos estudos de Eric Erikson sobre a crise da adolesc ncia que influenciaram tratados de medicina do adolescente a enfatizar processos relacionados ao crescimento e desenvolvimento e problemas e altera es t picos desta etapa de vida COATES FRAN OSO BEZNOS 1993 21 de HIV Aids e de outros agravos que v m atingindo prioritariamente os jovens em segundo lugar por serem esses agravos de ampla complexidade para serem explicados por abordagens pautadas na no o de adolesc ncia Adorno Alvarenga e Vasconcelos apontam ainda outros fatores que t m contribu do para o aumento e o avan o dos problemas de sa de mais diretamente ligados aos jovens os movimentos sociais da segunda metade do s culo XX o aparecimento da epidemia da Aids o rejuvenescimento da fecundidade o desenvolvimento do me
188. de drogas pobreza condi es prec rias de infra estrutura entre outras Sua sede localiza se em um terreno a casa atual dos pais dos g meos Castor e P lux em um c modo de aproximadamente 6m que fica na frente da casa Visitei o lugar onde pude verificar a exist ncia de um microcomputador algumas cadeiras e objetos espalhados pela sala O Conselho de Moradores do Alto do Cruzeiro teve origem em outra entidade de bairro cujo fundador foi o pai dos g meos Eles contam que a fam lia sempre esteve envolvida com quest es sociais no bairro por influ ncia do pai policial aposentado atualmente que exerceu esse papel atrav s de a es com crian as com jovens buscando melhorias para o bairro atrav s de pr ticas esportivas entre outras Contam os g meos que o pai e outra lideran a fundaram a primeira associa o de moradores em terreno do bairro ocupado para a cria o da sede na qual eles tiveram grande participa o em atividades de comunica o e sociais Isto aconteceu at o dia em que o pai tendo sofrido uma tentativa de assassinato por pessoas ligadas ao tr fico de drogas na rea desistiu da associa o 187 o que incidiu sobre um papel secund rio dos g meos na mesma Parte dessa posi o secund ria diz respeito a diverg ncias dentro da entidade quanto aos reais objetivos de uma associa o de moradores Isto fez com que eles criassem uma nova associa o h tr s anos com uma perspectiva n o assis
189. des particularmente s governamentais Em se tratando dos jovens mas complexo ainda A pr pria unidade de sa de local n o realiza qualquer a o com jovens e tampouco favorece o acesso destes aos espa os sejam internos ou externos por exemplo facilitando a articula o com rg os e entidades Outro aspecto interessante que h oferta de servi os e atividades para jovens em algumas entidades por m os jovens assumem um lugar como meros consumidores passivos Eles se inscrevem quando selecionados passam a frequentar a entidade mas n o 214 h qualquer inser o para al m disto A figura 25 mostra o mapeamento das entidades governamentais religiosas e da sociedade civil das comunidades de pr ticas e dos espa os de uso das comunidades Apenas duas entidades cedem espa o para uso das comunidades uma escola p blica que est vinculada ao Projovem e por conta disto um dos jovens conseguiu articular o uso do espa o nos finais de semana e a R dio Comunit ria que abre espa o para uso dos jovens com bastante frequ ncia Outro aspecto importante refere se ao tipo de espa os que s o utilizados pelos jovens as pr prias casas lajes bares ruas e em alguns casos pouco frequentes igrejas Salvador MATATU ENGENHO VELHO DE BROTAS r Espa o de Praticas dos Jovens Entidades DANIEL LISBOA w Governamental Religiosa j ivil 0 0 1 Kilometers S Sociedade Civil Figura 2
190. dimentos j n o serve para algumas comunidades porque elas passam a ser v timas de policiais que j predispostos viol ncia perseguem os jovens do rap que criticam suas pr ticas Outros dizem que necess rio rever o conte do das m sicas e mudar Ressaltam que muito se falou das mazelas da favela e da mis ria e que agora necess rio falar das belezas das coisas boas cantar m sica pra acalmar o cora o n o m sica pra trazer mais raiva Charles do Imp rio Negro N1 e para que o rap chegue a todos Cristiano fala de um estilo que aponta para novos horizontes O tipo de indument ria e bens que consomem fruto do trabalho de anos que desenvolvem o rap tem essa coisa que tem que ser favelado e a gente n o vai mudar nunca Tem que ser favela favela at morrer mas se for favela at morrer n o 88 Notas de Di rio de Campo 3 de abril de 2007 Grava o do Clip Ensino B sico 170 uma coisa que voc queira pra vida inteira Voc ganhar dinheiro ser o mesmo cara vivendo na mis ria ser favela voc mudar de vida ser favela n o voc pensar pequeno ser favela voc pensar grande e as pessoas n o tinha isso dentro de si A gente vai pro som a gente n o pode ir todo muito arrumado que a gente favela quem disse que a gente n o pode ir todo arrumado A gente n o pode frequentar shopping que a gente favela como que a gente vai conquistar nosso espa o Ainda hoje al
191. do aberto para algo indeterminado Assim as agress es paternas ou policiais as faltas de toda ordem materiais e afetivas s o parte do que mundo Para Costa 2008 falar de conting ncia falar de liberdade do agente porque implica que estamos abertos a um horizonte de identifica es poss veis nossas e do mundo Estas possibilidades aparecem pela presen a agora de um outro modo dos pais pela possibilidade de conhecer pessoas chave que permitiram a inclus o de novos cen rios nas suas trajet rias e pela possibilidade de sobreviv ncia material desses jovens a partir de outras perspectivas ou olhares para essas possibilidades Assim o pai ausente torna se presente no momento em que ensina of cios ao filho A m e ausente pela submiss o s agress es do pai se revela presente no momento em que n o abandona os filhos d prote o e busca possibilidades de mant los mesmo diante das dificuldades Al m disso nessa aus ncia e presen a dos pais a partir de suas dificuldades para lidar com os filhos que se abre a possibilidade para a entrada de pessoas chave na vida dos jovens pessoas que foram cruciais para o contato dos jovens com outros grupos outras perspectivas e espa os onde desenvolver o novas habilidades A correria outra situa o que aparece como possibilidade assumida pelos jovens na medida em que incorporam of cios do pai na manuten o de suas vidas em que assumem trabalhos nem semp
192. do especial para os moradores elas lhes s o conhecidas enquanto outros as estranham 2001 p 39 E isso que a etnografia busca resgatar exatamente a incorpora o desses agentes no espa o das suas pr ticas e olhares sobre ele que j ocorrem por m s o ignorados pelos t cnicos e especialistas de um modo geral O que se busca atrav s do m todo etnogr fico a apreens o das diferentes formas de uso tr nsito saberes e fazeres nos espa os urbanos a partir das possibilidades que os sujeitos encontram e desenvolvem O fazer etnogr fico na cidade busca compreender os fen menos sem separar os sujeitos de seus espa os Desse modo a antropologia urbana pode ser pensada tamb m a partir de uma fenomenologia hermen utica quando permite investigar sujeitos em seus mundos atrav s das experi ncias vividas e ressignificadas por eles nos seus contextos de vida Desse modo passo a descrever meu percurso etnogr fico propriamente no contexto espec fico dos jovens de Cosme de Farias A perspectiva de olhar a cidade e seus habitantes voltada para o estudo em quest o foi escolhida como forma de captar momentos e situa es das pr ticas cotidianas onde os jovens convivem compartilham experi ncias conversam criam sobrevivem e se manifestam de diferentes maneiras Cada territ rio ocupado pelos 50 jovens a partir da disposi o em que est colocado na cidade da hist ria de sua ocupa o da sua configura o dos si
193. do mais aprofundado e esclarecido 59 A partir disto passo ent o a apresentar a perspectiva de an lise que ir conduzir a organiza o e sistematiza o dos dados bem como a leitura e interpreta o do universo em quest o 4 4 A FENOMENOLOGIA HERMEN UTICA COMO VIA DE AN LISE A fenomenologia um movimento importante dentro da filosofia a partir do s culo XX e influenciou fortemente a Antropologia entre outras reas Neste sentido julgo interessante estabelecer um di logo entre as subdisciplinas da Antropologia tais como a antropologia urbana e antropologia da juventude com a perspectiva fenomenol gica hermen utica A fenomenologia inaugura na filosofia um modo de compreender o mundo pelas coisas mesmas A pr pria no o de fen meno significa trazer luz Interessa fenomenologia voltar se s pr prias coisas experi ncia vivida do mundo da vida que sempre um todo que n o pode ser fragmentado Ou seja s poss vel conhecer algo debru ando se sobre esse algo e nesse sentido a fenomenologia acaba muitas vezes num estado de dubiedade com o ideal cartesiano como refere Ricouer 2000 sobre a fenomenologia husserliana Heidegger parte da fenomenologia husserliana e vai al m Entende que a compreens o do mundo n o se d isoladamente porque n o poss vel compreender o mundo sem o ser que habita esse mundo como se ele colocasse em pr tica o que Husserl entre outros importantes sucessores
194. do outro tipo de correria Uns t o vendendo lanche outros t o rifando outros est o vendendo bala no buz t entendendo Cada um t fazendo uma correria outros t o fazendo biscate outros t o trabalhando de diarista outros t o trabalhando de ajudante de pedreiro Anjo 151 Eu no momento estou desempregada Agora eu fa o de tudo um pouco Trabalho como dom stica como diarista como vendedora Fa o um pouquinho de tudo Hoje eu sou baby sitter Cuido de idosos P rola A maioria dos jovens entrevistados n o terminou o ensino m dio e vivencia diariamente as dificuldades para conseguir um trabalho Alguns inclusive nem mesmo com o ensino m dio completo ter o condi o de conseguir um bom emprego pois conhecem o tipo de educa o formal que tiveram e o quanto dif cil competir no mercado com pessoas que possuem melhor forma o As dificuldades s o muitas At mesmo para realizar um curso implica em dinheiro para o transporte p blico Boa parte dos jovens faz percursos a p pela cidade para economizar ou por falta do dinheiro para o transporte Esse um dos motivos pelos quais o bairro bem apreciado por eles pela facilidade de se deslocarem pela cidade Por m para Malcom s o muitas as dificuldades e acreditar em um futuro que vincule estudo e trabalho especializado est cada vez mais distante Eu acho que o que t mais perto de mim o tra eu arranjar um outro trabalho Porqu
195. dois gumes que penetra at a alma que ela entra como uma faca de dois gumes que ela corta dos dois lados H uma diferen a vir o pecado vir os obst culos e voc querer ceder e vir o obst culo o pecado e voc querer mudar Voc lutou Muitos dizem Ah mas a carne fraca Como que a carne fraca se voc deixa ela ser fraca Voc tem desejo a luta da sua carne sua carne quer Prometeu Em aten o aos fragmentos Prometeu usa met foras interessantes A primeira trecho retirado da Biblia tenho um espinho que carrego aqui na minha 137 carne O espinho a culpa que carrega dentro de si por alguma coisa que n o aceita pela Igreja Algo que o faz pedir perd o e lembrar se cotidianamente para n o voltar a pecar A segunda a palavra de Deus uma palavra como uma faca de dois gumes que penetra at a alma ela corta dos dois lados Tanto uma quanto a outra frase dizem respeito a algo que perfura o corpo ou seja algo que deve entranhar se uma marca para que atrav s do corpo fique evidente o pecado cometido tempos atr s Sobre isto remeto a Merleau Ponty 2006 1945 quando afirma que a experi ncia do ponto de vida do outro atrav s do corpo O passado tem vig ncia porque est no corpo eu trago em mim Algo que do passado n o pode voltar a ser tal qual se manifestou l ele se recria a partir dos elementos novos que se apresentam no futuro Assim aos atos cometidos n
196. dores a um n mero maior de linhas de nibus e a locais centrais da cidade como a Lapa Centro e Iguatemi Comecei a fotografar do alto ainda descendo as escadas para tentar mostrar qu o incr vel era chegar daqueles percursos e becos Avenida Bonoc A grande avenida de vale que margeia toda a por o sul do bairro local movimentada de aspecto feio de p ssima arquitetura urbana e com v rias passarelas de ferro cortando a paisagem que ligam localidades a bairros de Brotas tais como Alto do Cruzeiro Campina de Brotas ou Daniel Lisboa entre outros Lembrei me das fotos antigas que retratam a constru o da Avenida ainda na d cada de 1970 segundo Sr Lindolfo vendedor de frutas da Rua Campo Velho que chegou a Salvador para trabalhar na obra Figura 4 2 Notas de Di rio de Campo 3 de mar o de 2006 9h30 Chegando em Cosme de Farias 31 Na Figura 3 as linhas vermelhas destacam essas art rias 32 Notas de Di rio de Campo 12 de abril de 2006 13h30 Alto do Cruzeiro 76 Av Mario Leal Ferreira Bonoc Figura 4 Obras de constru o da Avenida Bonoc s margens do bairro de Cosme de Farias no final da d cada de 1970 Fonte Hospital Evang lico de Salvador Autor desconhecido Em uma entrevista com uma das arquitetas que participou do processo de urbaniza o do bairro em 1977 e posteriormente da legaliza o de posse das terras foi poss vel compreender parte da hist ria Ela refere que naquel
197. dores de uma localidade de uma rua ou ainda de uma travessa A Associa o Beneficente Bom Samaritano um exemplo Segundo seu fundador o incentivo maior para a funda o da associa o foi de proporcionar uma melhoria da estrutura da Rua 18 de Janeiro e assim melhorar a mobilidade e a qualidade de vida da popula o Essa mesma entidade ainda atua como uma ponte entre o poder p blico e os seus associados por exemplo realizando encaminhamentos para aposentadoria invalidez e tempo de trabalho e confec o de documentos Diversas associa es surgem em localidades ou mesmo ruas espec ficas para resolver situa es bem localizadas Por exemplo a Associa o Comunit ria e Cultural da Travessa Norma surge em 1996 a partir da iniciativa de sua fundadora que recebia em sua casa crian as da vizinhan a enquanto as m es trabalhavam A partir da surgiu a necess rio dizer que antes de iniciar a pesquisa nas entidades recorri Administra o Regional de Brotas com vistas a obter informa es mais detalhadas sobre as entidades da sociedade civil de Cosme de Farias Havia uma lista com algumas entidades em torno de oito s quais boa parte n o foi encontrada ou estava inativa 95 necessidade de juntar se a outras pessoas para fundar a associa o A creche funciona recebendo crian as at 7 anos Atualmente existem 124 crian as matriculadas das quais 5 com algum tipo de defici ncia
198. dos jovens como ser poss vel identificar mais adiante 124 dele empolgado pequeno cinco anos Brincando Ah n o vou molhar n o Ah n o vou molhar n o depois eu mudo Brincando esqueceu de mudar E a olha o que aconteceu Ele mudou os girat rios mudou e ficou dois no meio sem dar passagem sem molhar e noite ele chegou Olhe como uma influ ncia maligna uma coisa maligna no fundo do quintal um dos ltimos p s tudo escuro onze horas da noite meu pai chegou e foi justamente naquele p de laranja no meio no meio ali o nico que n o tinha sido molhado Ele abaixou pegou a terra a terra seca Ele levantou aquela terra chamou meus irm os eu tava tomando banho ele pegou a mangueira a mangueira de molhar a planta e ali bateu nos meus irm os Dividiu aquela mangueira em cinco e agrediu os dois bateu nos dois Nisso eu tava tomando banho minha m e disse assim Lua corre seu pai t batendo nos meninos Vai ver o que foi Quando eu me arrumei j tava preparada pra dormir e a cheguei e a ele foi me agredir Lua Parece t o absurdo que no meio da noite o pai tenha ido exatamente no p de laranja que n o estava molhado que a nica possibilidade de explica o algo do sobrenatural Lua reconstr i os acontecimentos atrav s da narrativa e demonstra como j referiu Alves e Rabelo 1999 uma narrativa vivida N o apenas um texto elaborado sobre alguma coisa o contar uma his
199. dos s o atribu dos pelos jovens s pr ticas que realizam porque essas se definem a partir das trajet rias biogr ficas dos jovens bem como dos seus contextos de vida Como j foi exposto no in cio desse cap tulo fa o uso de alguns autores e perspectivas que poder o contribuir para uma an lise mais aprofundada do material nesse sentido que busco 189 um di logo entre a no o de ocupa o em Heidegger e as demais perspectivas adotadas para a compreens o das pr ticas culturais dos jovens A quest o da ocupa o para Heidegger trazida para este estudo entendendo que o modo como os jovens lidam com as adversidades pr prias de seus mundos e fazem uso dos instrumentos que est o dispon veis nesse mundo transformam suas formas de exist ncia N o propriamente a disposi o das coisas no mundo mas o modo como me relaciono com as coisas desse mundo com seus limites e possibilidades que as faz significativas para mim Para Heidegger o Dasein o ser a ou ainda nossa forma de exist ncia significa n o apenas que somos mas que percebemos que somos SAFRANSKI 2005 p 190 Para o autor o Dasein a exist ncia e existir significa ter uma rela o consigo mesmo O ser humano exprime seu pr prio ser na disposi o que um sentimento de situa o nela descobrimos os limites Assim o sentido est ligado ao modo como experimento o mundo como me aproprio dos entes desse mundo e assim abro possibilidades nas
200. e antes o que implicava pr eu t conseguindo um trabalho era que eu n o tinha o ensino m dio completo e a o ano passado eu conclui o ensino m dio completo Ent o j a eu penso que eu posso conseguir um trabalho que antes mesmo minha mulher falava Voc tem que conseguir um trabalho melhor entendeu Eu tenho que conseguir um trabalho melhor a gente tem Mas eu sempre falava a gente n o tem o segundo grau completo ent o n o adianta a gente nem pensar nisso agora tem que pensar primeiro em tirar o segundo grau completo Da que eu j consegui agora eu vou pensar em outro trabalho Ent o minha vis o do futuro muito isso muito ver as coisas que est o pr ximas de mim n o pensar em outra coisa por exemplo faculdade mesmo o que eu tenho que t estudando pra entrar numa faculdade Mas a eu penso por tudo que eu aprendi na escola eu n o vou poder minhas chances s o m nimas de t passando num vestibular entendeu Minhas chances s o m nimas porque eu o que a gente dava agora no segundo ano pra t concluindo s o coisas que eu dava quando tava na s tima s rie Ent o eu penso poxa ent o essas pessoas esses jovens que estudam em col gio particular estudam em col gio modelo vai ter mais chance do que eu pra t passando num vestibular Isso desanima a gente pra querer fazer uma faculdade Eu penso que eu E Alguns autores referem maior dificuldade para conseguir emprego entre jovens
201. e e n o pode ser entendido como signo de irresponsabilidade de fuga ou outras caracter sticas semelhantes imputadas aos jovens Complementa ainda a partir de uma pesquisa italiana que existe uma rela o direta entre jovens que possuem um background cultural mais elevado e a maior ades o cultura do risco 2005 p 63 Outros autores da sa de t m questionado a no o de risco e problematizado sobre o seu uso e profus o nos estudos de forma corrente e descontextualizada CAPONI 2003 CASTIEL 2003 em particular quando se trabalha com a categoria jovem AYRES et al 2003 ADORNO et al 2005 Por m n o h uma discuss o sobre o que faz o risco tomar tamanha relev ncia social Al m disso o termo risco est diretamente vinculado modernidade e a j h uma contradi o At ent o o que prevalecia como verdade sobre o mundo provinha de concep es divinas ou de cren as sobre as coisas A id ia de risco coloca em cena a perspectiva da previsibilidade da consci ncia sobre o que poder acontecer e da capacidade de evitar o infort nio Nas palavras de Luhmann 1988 Voc n o pode viver sem formar expectativas no que toca a eventos contingentes e voc tem que negligenciar mais ou menos a possibilidade de desapontamento Voc negligencia isto porque se trata de uma possibilidade muito rara mas tamb m porque n o sabe mais o que fazer A alternativa viver num estado de incerteza e privar se das expectativas s
202. e fere nove em Cosme de Farias A Tarde p 10 Salvador amp regi o metropolitana LINDOLFO FILHO J Hip Hopper tribos urbanos metr poles e controle social In PAIS J M BLASS L M S Orgs Tribos urbanas produ o art stica e identidades S o Paulo Annablume 2004 LOPES NETO A A Bullying comportamento agressivo entre estudantes Jornal de Pediatria Porto Alegre v 81 n 5 p s164 s172 nov 2005 LUHNING A Acabe com este santo Pedrito vem a mito e realidade da persegui o policial ao candombl baiano entre 1929 e 1942 Revista USP S o Paulo v 28 p 194 220 dez fev 1995 1996 LUZ M T M CASTRO E SILVA R Vulnerabilidade e adolesc ncias In BRASIL Minist rio da Sa de Secretaria de Pol ticas de Sa de Area de Sa de do Adolescente e do Jovem Cadernos Juventude Sa de e Desenvolvimento Neia Schor Maria do Socorro Tabosa Mota Viviane Castelo Branco Orgs Bras lia 1999 MACEDO A C PAIM J S SILVA L M da S COSTA M C N Viol ncia e desigualdade social mortalidade por homic dios e condi es de vida em Salvador Brasil Revista de Sa de P blica v 35 n 6 p 515 522 2001 MAGNANI J G C A antropologia urbana e os desafios da metr pole Revista Tempo Social v 15 n 1 p 81 94 maio 2008 MAGNANI J G C As cidades de tristes tr picos Revista de Antropologia v 42 n 1 2 p 29 45 1999a MAGNANI J G C De perto e de dentro notas par
203. e n o h risco que n o acontece com quem n o est envolvido Eh n o nocivo um bairro trang ilo Em todo lugar tem certo tipo de viol ncia viol ncia nos bairros perif ricos n Mas nada que venha a ser algo com uma preocupa o Porque ali naquela minha rua eh voc sabe que 100 infelizmente hoje a droga predomina n Em todo o mundo a droga predomina E ali na minha rua tinha eh tr fico de drogas certo Logo ali na minha casa certo E certo dia eu tava at saindo da minha casa mesmo quando num momento num atalho assim a pol cia chegou abordando certo as pessoas que tavam vendendo n Eu j vi tamb m muita gente que vendia droga ali apanhar J vi tamb m morto ter morto na hora tiroteio tudo isso Mas nada que viesse que me afetasse n De uma certa forma voc pode at ser afetada indiretamente Por que Porque muitas vezes voc n o procura a viol ncia mas a viol ncia vem at voc De que forma Voc pode t no momento na hora n Se sair um tiroteio voc pode receber uma bala perdida sem t envolvido n Dessa forma a viol ncia pode afetar voc diretamente Mas eu nunca fui afetada gra as a Deus Era mesmo um bairro assim Hoje n o tem mais n o N o se preocupe de entrar ali porque n o tem mais n o viu risos Sara No in cio do fragmento Sara fala de uma viol ncia comum em bairros perif ricos interessante como a id ia de bai
204. e per odo houve interesse em realizar projetos de urbaniza o em determinados bairros populares da cidade como por exemplo Cosme de Farias Foi o Projeto Vale do Camurujipe promovido pela Prefeitura que desapropriou v rias reas entre elas Cosme de Farias O intuito era desapropriar para legalizar as terras e assim beneficiar grandes propriet rios e ocupantes poss vel que essa rea tenha sido privilegiada devido constru o da Avenida Bonoc no mesmo per odo Passadas algumas d cadas o processo continua em uma tentativa de legalizar a posse de terra aos efetivos moradores Mas a gente ainda continua fazendo a legaliza o das terras em Cosme de Farias Falta pouco mais ou menos 30 da rea a maioria j comprou o seu terreno j dono do seu terreno dessa rea que a Prefeitura era dona Porque tem a outra que da Arquidiocese que eu n o sei como o processo de legaliza o E tem uma outra rea pequena que a Prefeitura comprou mas n o incorporou RENURE que foi uma rea que foi ocupada por fam lias desapropriadas de outros bairros por 77 conta do Vale do Camurujipe e foram re locadas l logo no Vale no Vale do Matatu atr s da Escola Olga Figueiredo Entrevista Renurb Cohab Cosme de Farias sofreu um processo de ocupa o denominado parcelamento informal Em linhas gerais acontece em reas da cidade pr ximas a ocupa es antigas que foram sendo ocupadas por popula o de
205. e re apropria o diferenciada daquelas para as quais essas coisas foram criadas Em contato com a obra do autor vejo que h precedentes no modo como constr i sua teoria e a fenomenologia pode ser um deles Heidegger 1927 por exemplo fala que o ser um ser de possibilidades Este ser a presen a que est inteiramente para poder ser Diz que a possibilidade mais elevada que a realidade mas sobretudo o sentido fenomenol gico existencial do poss vel 2006 p 22 e mais que a falta de esperan a por exemplo n o retira a presen a de suas possibilidades sendo apenas um modo pr prio de ser para essas possibilidades 2006 p 309 nesse sentido que observo o modo como os jovens percebem os acontecimentos desfavor veis e d o significados poss veis a eles e tamb m buscam sa das agarram se s oportunidades e transformam suas hist rias Parte destas possibilidades s o as pr ticas que os jovens desenvolvem a partir dos contextos de vida como ser amplamente discutido no cap tulo seguinte A discuss o que desenvolvo agora tamb m se refere a possibilidades por m aquelas que se pronunciaram das pr prias vicissitudes narradas por eles Ou seja h duas perspectivas de pensar as possibilidades no estudo A primeira desenvolvida neste cap tulo refere se s possibilidades encontradas diante das pr prias vicissitudes anteriormente trazidas e est o mais diretamente ligadas sobreviv ncia cot
206. e se sentiu chamada por Deus para ir al m do que j fazia N o tinha como ser freira pois j era casada e tinha dois filhos mas sentia que era vontade de Deus que ela seguisse a voca o religiosa A pedido de um padre ela formou uma primeira comunidade no bairro da Pituba Criou um estatuto para a comunidade e passou a se preparar para assumi la Ficou reclusa em local fechado teve que abdicar de bens e de la os familiares e enfim fez a escolha pela religi o H cinco anos fundou a Comunidade Ressuscitados em Cosme de Farias A comunidade tem sede pr pria mantida pelo grupo onde reside apenas a coordenadora que respons vel pela prepara o das atividades e pela forma o de jovens Ela acolhe os membros no intuito de manter a religiosidade as pr ticas e a forma o espiritual O espa o difere em todos os aspectos da Igreja Cat lica quase um grupo de conviv ncia em uma casa de aproximadamente 30m com sala cozinha quarto dentro do bairro tal qual a dos outros moradores da rua encaixada dentre as Bairro nobre e de classe m dia da cidade de Salvador 181 outras casas com port o baixo e praticamente fazendo parte na rua interessante reparar na localiza o da Igreja Cat lica Santo Antonio no centro do bairro s mbolo de uma tradi o que teima em resistir em rela o localiza o da Comunidade encravada dentro do bairro como muitas entidades religiosas que l se inscrevem No
207. e trabalho no bairro Atualmente tem uma banda de rap que tem avan ado bastante e foi convidado a participar de um projeto Eletrocooperativa na cidade onde ganha um sal rio m nimo e produz m sica Acredita que deve isso ao padrasto Anjo grafiteiro e se orgulha de poder desenvolver a pr tica em um projeto da Prefeitura da cidade o Grafita Salvador Por m refere que por muito tempo trabalhou como pintor e pedreiro pr ticas que desenvolveu com o pai embora n o tenha orgulho delas No caso meu pai pedreiro minha m e sempre trabalhou assim muito em padaria a depois ela ficou muito doente n o p de trabalhar meu pai pelo 145 mesmo fato teve derrame n o p de trabalhar mais A no caso hoje em dia meu pai e minha m e moram comigo e eu praticamente que assumi meus pais e aprendi a profiss o de pedreiro com meu pai mas s trabalho se for pra uma pessoa que tiver algum amigo precisado quiser que eu ajude na casa no caso levantar uma parede isso a eu aprendi com meu pai essa profiss o de pedreiro Tenho profiss o tamb m de pintor lixar essas paradas de pintor sei tamb m outra profiss o tamb m trabalho com tatuagem e piercing praticamente normal como todo jovem assim Anjo Essa presen a tamb m pode ser creditada m e s vezes t o submissa e do ponto de vista dos jovens t o passiva s situa es como foi salientado em se o anterior e que tamb m suportou
208. e trava Eu disse n o tudo bem voc vai chegar l na segunda feira e oferecer o sop o e ter a quarta e quinta o que eles comem Outra coisa ser que Cosme de Farias um bairro que tem situa o emergencial que as pessoas precisa entregar uma sopa Entendeu Embora a gente ap ie que se voc andar no bairro voc v v rias pessoas catando lixo tem gente que vive do lixo l hoje em dia Mas como eu to te falando eu vejo o assistencialismo como uma coisa emergencial uma campanha Agora tem gente que v o emergencial como uma forma de se promover Agora na pr tica dif cil porque voc tem as entidades que s o viciadas voc tem as pessoas que s o viciadas Castor 102 Notas de Di rio de Campo 02 de mar o de 2006 10h00 Reuni o no Centro de Sa de 196 Nesse fragmento eles identificam algumas situa es existentes no bairro e n o negam a necessidade de solu es r pidas mesmo que paliativas como a distribui o de sopa algo que foi observado em evento recente que realizaram na Pra a por m percebem que a pr tica n o pode terminar no emergencial Um dos aspectos que parece sinalizar para isto o que observei nesse mesmo evento quando um dos integrantes da comunidade vinculado Igreja Cat lica e adepto da pr tica de entrega da sopa tamb m passa a participar das discuss es de articula o com outros grupos do bairro Desse modo os jovens tentam fazer valer seus p
209. eca no sert o e pela decad ncia do setor agr cola em reas como o sul da Bahia e o Rec ncavo A partir da a cidade foi sendo ocupada particularmente no final do s culo XIX e fortemente ao longo do s culo XX por popula es oriundas dessas regi es Os moradores a que tive acesso referem ter vindo de outras cidades e ou regi es do Estado com o objetivo de conseguir um emprego Em Salvador exerciam atividades de pouca qualifica o como puxadores de carro a auxiliares de pedreiros e muitos na constru o das avenidas de vale que come aram a ser abertas a partir da d cada de 1970 por toda a cidade como por exemplo a Avenida Bonoc Brand o 1978 refere que grande parte dos moradores de Salvador oriunda do interior do estado por m ressalta que esses moradores ao chegarem cidade foram ocupando desordenadamente v rios locais o que lhes conferiu conhecimento razo vel sobre a cidade e permitiu a ocupa o de uma rea at ent o pouco explorada de forma r pida e eficaz Esses locais est o em constante processo de transforma o seja devido mobilidade dos ocupantes seja pela constante necessidade de amplia o das moradias e benfeitorias Um aspecto interessante em rela o a esse fato que a ocupa o irregular dessas reas provoca um tipo de trabalho ancorado na constru o civil seja da pr pria casa ou de outras do local ou ainda dos espa os coletivos como cria o de rampas cal amentos e escad
210. egundo os quais foi criado Esse estudo etnogr fico constatou um discurso coerente com as formula es e perspectivas governamentais na forma de pensar a sa de dos jovens mas principalmente evidenciou pr ticas e concep es sobre os jovens reais distantes do discurso oficial Para os t cnicos do servi o em estudo o jovem usu rio era quase totalmente desconhecido e ao caracteriz lo ele era igual a todos os outros jovens do Estado da Bahia ou de qualquer outro lugar as mesmas quest es os mesmos desejos os mesmos problemas Ou seja segundo esses profissionais pessoas entre 10 e 24 anos s o considerados adolescentes e jovens logo apresentam as caracter sticas pr prias da faixa et ria em que est o Na vis o dos t cnicos havia um jovem no discurso reconhecido pela sua fase de vida biol gica em processo de transforma o processo esse que implica transtornos e complica es pr prias do sujeito nessa fase o que justificava inclusive a cria o de um servi o espec fico para o grupo Nas pr ticas desenvolvidas e na leitura que faziam dos jovens usu rios do servi o os profissionais tendiam a enquadrar os sujeitos reais nos estere tipos ditados pela literatura cient fica Eram percept veis as fragilidades e incoer ncias nas propostas do Servi o em fun o do desconhecimento de processos e fatores que poderiam estar relacionados aos problemas e condutas que os meninos e meninas expressavam Em g
211. eived in their biographical trajectories because of the assumption that the practices of these experiences occur and the appropriate resources and tools and re appropriate for them in that context The research was conducted in two phases a an ethnography of the neighborhood of Cosme de Farias to describe the context where young people build their biographical trajectories and where they develop their practices b analysis of the narratives of young people on the contingencies experienced by them in their paths of life and their meanings and meanings of cultural practices developed by communities to which they belong This ethnographic study was guided by hermeneutic phenomenological perspective and makes use of different strategies for their development research including a survey implementation of surveys collection of geographical coordinates depth interviews with young people and observation of practice Data analysis was done by different resources and strategies such as software s Arc View and QSR Nvivo 2 0 to geographical information and analysis textual material and the life stories respectively From this we identified some categories that guided the conduct of analysis From the perspective of young people the neighborhood has problems particularly violence directly linked to drug trafficking and drug use and female promiscuity There are problems of young people but problems that affect all who live in the neighborhood and are d
212. elas ruas do bairro Havia d vida em situ los na comunidade do rap ou dos renovados pela particularidade de ser um grupo de rap gospef Por m me dou conta de que os rappers s o convertidos e essa caracter stica falou mais alto no momento em que os conheci melhor Durante as entrevistas com o grupo e com um dos participantes n o tive d vida de que a pr tica se legitima a partir da religi o Ol via Cunha na d cada de 1990 j havia discutido a rela o do movimento rastaf ri com o pentecostalismo em Salvador enfocando as pr ticas do movimento e a produ o cultural a religiosidade dos jovens convertidos Esse trabalho vem ao encontro do que venho acompanhando junto Comunidade Justificados pela F grupo de rap formado por convertidos ao neo pentecostalismo A comunidade Justificados pela F surgiu h dois anos e meio quando seus membros vieram para a Igreja Apost lica Renascer em Cristo situada nas proximidades de Cosme de Farias At ent o cada um deles pertencia a outras denomina es evang licas com as quais n o estavam satisfeitos A igreja se situa s margens do bairro fora dos limites estabelecidos no trabalho Figura 23 A igreja um dos locais onde a comunidade se re ne para ensaios e a es que desenvolvem com outros jovens mas os tr s membros s o moradores de Cosme de Farias e focalizam suas pr ticas no bairro O encontro com essa comunidade se deu atrav s de um jovem l der da Justificados pela
213. ele mesmo deve buscar para se diferenciar Assim mesmo o t cnico ciente das dificuldades e fragilidades em que se encontra a maioria dos jovens na cidade sobrecarrega o com a responsabilidade pelas suas condutas de risco e pelas mudan as que por ser jovem dever ser capaz de engendrar Para Adorno Alvarenga e Vasconcelos 2005 os termos responsabilidade e capacidade constituem a l gica do modelo de aten o aos jovens presente na sa de Na sa de p blica a discuss o sobre juventude reflete por sua vez n o s a hist ria da aten o materno infantil mas a marcada influ ncia do tradicional paradigma biol gico e sua perspectiva de descrever fases da vida o que levou naturaliza o do termo adolesc ncia legitimando a es de sa de espec ficas para determinadas faixas et rias Essa categoriza o tornou se por sua vez refer ncia para o Direito como par metro para fixar modelos de capacidade e responsabilidade Padr es que se estabelecem continuamente por uma normatividade ignorando a pr pria din mica pluralidade contextos e mudan as de vida social ADORNO ALVARENGA VASCONCELOS 2005 p 17 E not vel o uso corrente do termo protagonismo juvenil nesses ltimos anos como uma meta a ser alcan ada no trabalho realizado pelas organiza es sejam elas de sa de educa o ou social que trabalham com adolescentes e jovens COSTA 1999 SERRA e CANNON 1999 BRAS
214. em significados a isto Assim viol ncia e drogas s o dois fen menos indissociados do ponto de vista dos jovens e est o diretamente relacionados ocupa o ou sua falta Ent o o bairro eu me identifico muito apesar de que cresce muito a viol ncia aqui devido at a n o ter uma ocupa o que eu acho que essa ocupa o Este aspecto ser amplamente desenvolvido no cap tulo 7 sobre as pr ticas culturais dos jovens 105 pro jovem ia diminuir um pouco a viol ncia Ent o n o tem ocupa o o jovem s vezes fica na rua n o tem o que fazer e acaba Ali Mago utiliza uma express o muito interessante quando fala sobre essa falta de oportunidades a que est o submetidos ondas devastadoras nas quais est o envolvidos e que operam como se os enfraquecessem como se os carregassem para baixo As pessoas s o acostumadas a dizer Ah que tem muitas barreiras e tal na vida e que isso que n o deixa a gente caminhar pra lugar nenhum Mas eu acho que existe mesmo ondas devastadoras pra jogar a gente na lama n o Ent o muito dif cil muito dif cil mesmo a gente As ondas devastadoras a dificuldade que a gente tem pra entrar numa faculdade por exemplo de a gente conseguir um emprego uma onda devastadora por conta de qu De todo um processo de aliena o tamb m n que existe o tempo n que eu acho que eu perdi tamb m alienado sem fazer nada abs
215. em ter nada com o que substitu las apud GIDDENS 1991 p 38 39 Cada vez mais na sa de se responsabiliza os indiv duos pelas condutas e atitudes que os colocam em risco de morrer e de adoecer em fun o de que h um saber uma racionalidade sobre como se defender dos problemas como se isso fosse suficiente para explicar e solucionar os infort nios Pouco se discute a respeito da rela o entre esses problemas e as novas formas de vida social moderna dentro de um panorama hist rico Mais ainda sobre a necessidade de correr riscos na tentativa de transformar situa es e ampliar possibilidades Nem se pode falar de experi ncias 38 cruciais da vida como por exemplo adoecer Assim questiono sobre o que significa adoecer ou morrer para os jovens que vivem nas cidades brasileiras atualmente Nesta an lise proponho uma discuss o que v al m do bin mio risco perigo e discorra para a no o de conting ncia defendida por Bruseke A partir da perspectiva fenomenol gica hermen utica o autor salienta que a conting ncia abre para a experi ncia humana no mbito social 2007 p 72 e isso implica pensar um processo que n o acontece sem a exist ncia de um outro E observa Em decorr ncia do aumento da complexidade das sociedades modernas resultado da sua diferencia o funcional crescem as op es de a o para cada indiv duo Isso por sua vez resulta no aumento de experi ncias de conting ncias pel
216. ens que tentam compreender os cen rios em que esses se desenvolvem no Brasil e na Am rica Latina CEPAL CELADE 2000 KLIKSBERG 2006 H estudos que buscam mapear do 25 ponto de vista dos jovens as diferentes realidades em que se encontram no Brasil particularmente CASTRO e ABRAMOVAY 2002 BOUSQUAT e COHN 2008 NOVAES e VANUCH 2004 ABRAMO e BRANCO 2005 Outros tentam compreender a dimens o atual das pol ticas p blicas para os jovens nas diferentes esferas em que se circunscrevem assinalando projetos e experi ncias que t m dado certo FREITAS e PAPA 20083 E ainda h estudos particularmente relacionados a an lises socioantropol gicas sobre a juventude que contribuem no sentido de evidenciar o lugar do sujeito do seu discurso sobre sexualidade Aids uso de drogas viol ncias mas tamb m contribuem para incluir outros significados e sentidos a condutas ditas de risco visando uma maior aproxima o da complexidade dos mundos de vida desses jovens ALMEIDA e EUGENIO 2006 JEOL S 2003 SCOTT et al 2002 PEGORARO 2002 Assim fundamental pensar acerca do lugar que o risco ocupa e deve ocupar na vida dos jovens como uma condi o do seu viver e n o como algo que preciso evitar O discurso sobre o adolescente e o jovem visto como um ser que vive em um contexto sociopol tico e cultural a ser considerado nas pol ticas e interven es tamb m tem visado uma mudan a nessa perspectiva A quest o que se
217. entifica o e mapeamento de 54 entidades presentes no bairro al m de algumas nas reas lim trofes Figura 18 Destas oito est o em Luis Anselmo fora dos limites do bairro mas foram mapeadas porque seus usu rios s o predominantemente moradores de Cosme de Farias As entidades foram classificadas em tr s diferentes categorias governamentais religiosas e sociedade civil Figura 18 Tabela 1 A aus ncia do poder p blico not vel quando se considera que apenas 16 das institui es mapeadas pertencem a org os governamentais que est o assim distribu das ensino 5 social 1 sa de 1 de emprego e renda 1 Tabela 1 MATATU ENGENHO VELHO DE BROTAS Entidades DANIEL LISBOA Bb Governamental N Religiosa fS Sociedade Civil o 0 1 Kilometers Figura 18 Espacializa o das entidades mapeadas em Cosme de Farias n 54 BATISTA e PIMENTEL 2008 30 4 25 15 4 N mer 10 Religiosas Figura 19 Distribui o das entidades identificadas em Cosme de Farias por categorias n 54 Sociedade Civil G overnam entais Tabela 1 Perfil das entidades mapeadas em Cosme de Farias n 54 90 DESCRI O Entidade Tipo Col gio Estadual Cosme de Farias Governamental DA namo Escola Conjunto Assistencial Saturnino Cabral Governamental Educa o Escola Municipal Jo o Pedro dos Santo
218. ento como o autor refere implica n o uma restri o ao mundo mas um modo diferenciado de estar nele de se ocupar das coisas do mundo e com os outros Assim doen a ou dano devem ser problematizados a partir de um fazer no mundo e com as pessoas que s o parte desse mundo de que modo esse fazer se realiza onde e com quem Isso a meu ver pensar sa de e doen a como algo indissociado imanente vida das pessoas a partir delas e com elas N o posso pensar os problemas depois pens los sobre 237 os grupos de idade e a partir do modo como esses problemas se apresentam para mim t cnico propor solu es ou rem dios Com essa passagem julgo importante que discuss es mais ampliadas sobre o que sa de adoecimento ou dano tenham espa o entre profissionais e pesquisadores no intuito de transcender s exig ncias do campo Busquei respaldar me em outras reas de conhecimento tais como a Antropologia Sociologia Urbanismo e mais tardiamente a Filosofia por acreditar que a sa de como um campo pr prio de conhecimento tal como evoluiu n o d conta de compreender as dimens es do sofrimento em tempos de modernidade Mais que isso que os sujeitos a depender de seus contextos de vida desenvolvem formas pr prias de fazer coisas e n s exclu mos essas possibilidades de nosso l xico de pr ticas sanit rias Para al m do que foi dito acredito que esse estudo possa contribuir para pensar pr ticas de sa
219. ento com a fam lia Anjo E continua todo mundo me conhece assim A eu uso tamb m um cognome chamado O Senhor da P O Senhor da P v io tem dois significados primeiramente se refere a uma pessoa mais velha como o senhor O Senhor da P em si o coveiro que j viu v rias cenas de sofrimento a pessoa que mais vive com o sofrimento das pessoas atrav s de ver fam lias chorarem m es e irm s num local sagrado que o cemit rio Ent o no caso eu lido com pessoas que em termos gerais roubar traficar digo at pra sobreviver dessa forma e a que entra minha trajet ria de tipo assim luta social entra a revolu o social revolu o cultural pra poder tipo assim resgatar o abismo que n s que estamos a jovens na faixa et ria de 9 a 20 e poucos anos tamos nos envolvendo cada vez mais nas drogas no mundo do crime Anjo Coveiro o apelido de Anjo e merece ser citado no texto pelo significado que assume no conjunto de suas pr ticas 130 Essa rela o com as mortes sofrimentos de fam lias e abismo que Anjo refere fazer parte de sua trajet ria cuja pr tica passa a ser uma forma de luta ainda mais agravada com a morte de um irm o assassinado Essa morte aconteceu em um domingo tarde em que estava sendo planejado um ensaio aberto de bandas de rap algo que tem sido realizado por Anjo com frequ ncia no Alto do Formoso Nesse dia um dos informantes
220. ento e envolvimento de outros jovens do bairro e da cidade b atuam como algo que eleva a auto estima c acessam os jovens ao pr prio bairro e cidade Estes tr s pontos foram centrais na an lise do material e pretendo discutir agora cada um deles com maior profundidade As pr ticas promovem espa os de sociabilidade no bairro e para a maioria das comunidades este modo de estar com outros em situa es prazerosas que vincula o jovem ainda mais ao bairro a outros jovens e ao espa o que criado por eles Este envolvimento se d pelo fato de que os jovens compartilham experi ncias produzem bens materiais e simb licos e favorecem assim outro modo de estar junto neste espa o Os jovens das comunidades da renova o descrevem situa es que foram centrais para a perman ncia nas comunidades Em dado momento de um encontro integrantes da Comunidade Ressuscitados citam a B blia um cap tulo dos ap stolos e o relacionam ao que eles fazem ali Os ap stolos ficavam juntos conviviam entre eles como n s fazemos aqui um espa o de ora o mas tamb m de ajuda m tua de troca A comunidade para eles um espa o de ora o mas tamb m de ajuda m tua Este aspecto tem uma rela o com passagens das hist rias pessoais de alguns jovens S o hist rias de abandono de perdas de solid o E a entra a comunidade que o acolheu onde fez amigos onde preencheu um vazio que havia antes Os jovens das comunidades de
221. er isso direto assim a comecei a evoluir a comecei a encaixar uma letra com a outra rimar uma coisa com a outra a comecei a pesquisar a refletir sobre cultura negra sobre um monte de quest o assim a eu pegava o que eu estudava fazia um resumo e transformava em m sica O que eu via tamb m no dia a dia uma cena de tipo de 7 Para Simmel 2006 a sociabilidade prescinde de prop sitos objetivos ou motiva es pr prias e est diretamente ligada ao prazer que um indiv duo sente ao estar com outro O grupo Racionais MC uma importante banda de S o Paulo surgida na d cada de 90 a quem os jovens do rap imputam grande admira o e respeito Gabriel O Pensador tamb m um rapper carioca da mesma d cada cuja obra foi de grande influ ncia para as bandas de Cosme 78 163 viol ncia de viol ncia policial do cotidiano em si assim que eu via assim eu fazia sempre anota es assim do que eu via depois transformava em m sica Anjo O estilo Racionais MC trazido em muitos momentos por m a agressividade das letras retratando os males que sofre a periferia das grandes cidades que mais se destaca no discurso dos jovens O discurso de Anjo representativo das falas da maioria dos jovens entrevistados quando se refere descoberta do rap Ouvir a m sica ouvir os caras tem provocado mudan as no modo como esses jovens passaram a enxergar o mundo a sua volta Para Herschmann 2000 p
222. ercebo os sentidos de suas pr ticas Al m disto estas pr ticas t m possibilitado novos v os Atrav s delas eles transitam pelo bairro e pela cidade articulam outros grupos e produzem novas identidades medida que as comunidades de pr ticas v o acontecendo nestes espa os pr ticas se desenvolvem e v o tomando uma propor o para al m do que os jovens haviam pensado antes Neste sentido as pr ticas acessam os jovens a novos horizontes a horizontes de possibilidades Atrav s das pr ticas os jovens criam inventam produzem e abrem novos espa os dentro e fora do bairro A cria o inven o acontece atrav s das m sicas e eventos que s o produzidos da parceria que constru da na forma o das bandas e dos espa os de sociabilidade no bairro criados por e para eles al m de outros jovens Este um aspecto crucial neste estudo O bairro como j foi apresentado no cap tulo 5 quase totalmente ocupado por moradia e h poucos espa os para n o dizer nenhum especificamente de lazer cultura esporte ou que estimule a conviv ncia dos jovens Tamb m h entidades por praticamente todo o espa o f sico do bairro a maioria religiosa e da sociedade civil Tanto as organiza es civis e religiosas quanto as governamentais dificultam o acesso destes jovens para atividades art sticas e pr prias destas comunidades de pr ticas Algo que me chamou a aten o diz respeito dificuldade de acesso dos moradores s entida
223. erente Aumenta muito nossa auto estima s pelo fato de a gente chegar em casa com um t nis da hora e ir prum som bem arrumado As pessoas v m a gente de uma forma mais diferente do que via antes isso o espelho das outras pessoas aquele cara o espelho da gente e a gente espelho de outras pessoas algo rec proco Cristiano Interessante observar que para Cristiano as mudan as internas a partir da eleva o da auto estima vieram das mudan as externas Por exemplo poder usar roupas e acess rios incrementados conferem um certo tipo de poder frente s pessoas que o conheceram em outros momentos de vida e servem tamb m como espelho para elas Mas ele reconhece que n o apenas isto que lhe favorece a mudan a Esta se faz tamb m de um para que mudar algo que antecede os instrumentos de que faz uso para a mudan a eu diria de um sentido para mudar Assim percebo que estes jovens assumiram suas trajet rias de vida fazem uso destas trajet rias no modo como articulam com instrumentos espa os e pessoas e a partir disto se projetam N o apenas o que almejam para o futuro mas o sentido das experi ncias vividas que tamb m est colocado neste projeto futuro Nogueira 2008 refere que a ess ncia do homem o projetar se livre e aberto para os fatos do 211 mundo que s o tomados como solicita es s quais o Dasein d resposta na cotidianidade do ser no mundo p 284 Me aproprio tamb m da id
224. eria uma g ria comum no bairro particularmente entre os jovens que expressa a es e fazeres que implicam formas de ganhar dinheiro e sobreviver basicamente Nem sempre s o fazeres prazerosos ou dos quais eles se orgulhem em falar por serem pouco valorizados socialmente mas o que poss vel Mago se refere da seguinte forma Cada dia tem sua maldade ent o eu penso muito no trabalho como eu vou fazer pra ganhar essa grana Esta uma preocupa o aa importante destacar que a correria se destina a pr ticas para ganhar a vida como forma de sobreviv ncia nem sempre satisfat rias e interessantes para os jovens Por m as pr ticas a que se destina o pr ximo cap tulo s o pr ticas diferenciadas nas quais os ganhos se processam em n vel simb lico 150 constante dos jovens Eles sabem que algo precisa ser feito para garantir cada dia A maioria deles n o tem um trabalho formal apenas dois jovens e obviamente n o h como n o pensar diariamente em como fazer para garantir a pr pria sobreviv ncia Novamente Mago expressa da seguinte forma Eu sou aut nomo Tenho renda Vendi alguns bolos Bolo n o roubo nem coisa ruim coisa assim voc tem t fazendo alguns pequenos investimentos vendi uma laje aqui consegui algumas coisas pra vender e pra alugar e outras coisas mais Mago Os bolos s o formas de ganhar a vida de algum modo Nem sempre est claro se s o formas l
225. esse ser um bairro antigo em uma rea central da cidade que comporta tantos problemas tamb m antigos mas que justamente por conta disto abre espa o para problemas de um novo tempo a respeito do bairro nesses novos tempos que os jovens passam a falar a partir de agora 5 5 COSME DE FARIAS DO PONTO DE VISTA DOS SEUS JOVENS MORADORES primeira mirada os bairros pobres das grandes metr poles se confundem pela aparente homogeneidade de seus contornos De algum ponto da Avenida Bonoc ou de bairros vizinhos tenho essa impress o de Cosme de Farias Figura 21 por m medida que adentro um mundo se descortina e mais ainda quando me deparo com os jovens que l conheci Dessa aparente uniformidade na paisagem me dou conta de ruas pessoas e fazeres de um cotidiano que se deve ver de perto e de dentro Figura 22 O bairro que apresento agora n o composto de dados num ricos mapas gr ficos e percentuais mas o espa o vivido Parte das entrevistas e conversas que realizei com os jovens centrou se no bairro particularmente sobre o que gostam o que n o gostam suas maiores dificuldades e o que dizem sobre o local Nesse momento os jovens j n o falam deles propriamente Falam de outros jovens de outros moradores de mulheres e meninas de situa es que parecem observar como espectadores mas que n o os atingem diretamente salvo algumas exce es primeira vista ou primeira provoca o o bairro um luga
226. estilo rap descrevem os primeiros encontros na Pra a e ou casas de amigos onde ficavam ouvindo m sica brincando de criar letras ou improvisando o que eles chamam de free style Estes espa os de troca favoreceram encontrar parceiros conhecer grupos de rap trocar material e formar as comunidades Isto tamb m pode ser observado na comunidade pol tica Os jovens iniciaram suas pr ticas com a es locais e pontuais na localidade do Alto do Cruzeiro encontraram dificuldades e foram abrindo novos espa os no bairro e fora dele com outros jovens Se articularam com lideran as jovens de outros bairros trocaram experi ncias e passaram a integrar espa os que at ent o n o lhe eram conferidos por exemplo na Associa o Cultural de Preserva o do Patrim nio Bantu Acbantu Neste sentido retorno a Simmel autor central na discuss o sobre sociabilidade BOUDON e BOURRICAUD 1993 quando refere que a sociabilidade se d sempre com um outro H interesses pessoais e finalidades espec ficas para certos grupamentos Por m estas formas de estar com devem acompanhar se de um sentimento de satisfa o De estar justamente com outro As pr ticas permitem o conv vio e este revela aspectos que motivam os jovens a permanecer e dar 109 Isto explica por exemplo o crescimento no n mero de jovens convertidos em religi es neo pentecostais algo que j foi sinalizado no estudo bem como no aumento no n mero de jovens no tr
227. exuais que implicam conhecer o sexo de maneira errada ou melhor fazer coisas erradas cujo significado n o acham conveniente explicitar e que ficam no n vel do n o dito Essas situa es terminam sendo incorporadas porque juntas assumem um lugar de transgress o o que significa que na ocorr ncia de ao menos um deles ao jovem imputada uma marca da qual dif cilmente ele ir se livrar e isso n o somente em rela o rea o da sociedade mas principalmente ao que ele carrega como trajet ria de vida As aus ncias s o relatadas pela quase totalidade dos jovens A aus ncia do pai tantas vezes apresentado como alco latra resultado de muitos desvios e rupturas na vida dos jovens No pai est a figura do agressor daquele que n o orientou que permitiu a falta de comida roupas afeto A m e presente na maioria das vezes aparece em falta pela fragilidade e submiss o pela incapacidade de se colocar frente nos conflitos pela dificuldade de mudar Esses aspectos que foram aparecendo nas entrevistas e conversas com os jovens bem como com pessoas da sua rede de pertencimento sugerem pensar na id ia de vicissitudes Dentro das conting ncias apontadas pelos jovens as possibilidades se revelam como uma outra dimens o dessas vicissitudes que marcaram suas trajet rias de vida Por ora importante ressaltar que ao mesmo tempo em que rupturas desvios e aus ncias se deram tamb m se processaram sit
228. favela sofrimento e eles EUA n o falam isso Malcom H dois aspectos interessantes a partir do fragmento acima um deles se refere quest o favela tal como na narrativa de Cristiano Enquanto Cristiano busca mudar essa condi o de indissociabilidade com a favela Malcom ao contr rio v nessa associa o a raz o para a sua identifica o com o rap para o trabalho que produz e mais como identidade Mais que isto necess rio dizer de onde veio e demonstrar certo orgulho n o por ser favela mas por problematiz la como o rap deveria fazer Outro aspecto que est relacionado a isso se refere ao contexto de vida desses integrantes Mago que acredita no rap de estilo reside em uma localidade com as melhores condi es de infra estrutura do bairro mora em uma casa no terreno da fam lia do qual ele faz uso para ganhar algum dinheiro alugando c modos Malcom que defende um rap agressivo ao contr rio mora em uma localidade de maior precariedade do bairro tem uma trajet ria marcada por situa es dif ceis e muita indigna o em rela o ao modo como as coisas est o estabelecidas Mora em casa cedida pelos pais da companheira ganha um sal rio m nimo trabalhando como office boy em uma ONG a mesma em que recebeu treinamento enquanto estava institucionalizado Penso que esses aspectos fazem diferen a no modo como cada comunidade estabelece prioridades pensa o grupo tem expectativas em como produz e
229. ferenciar dos outros jovens e buscar salva o muitas vezes nas comunidades onde desenvolvem as pr ticas Os desvios desdobramentos das vicissitudes deixaram marcas e algumas delas est o fisicamente registradas como a cicatriz deixada depois de uma agress o Outras mesmo n o reveladas guardam um registro simb lico que aparece atrav s da fala um espinho penetra minha carne ou a palavra de Deus corta a alma Ainda com rela o s vicissitudes os jovens revelaram um aspecto importante das suas trajet rias que o lugar das aus ncias do pai e da m e manifestado de maneiras diferentes A aus ncia do pai se apresentou atrav s do uso de lcool continuado que de certo modo foi fator preponderante para as agress es 231 m e e filhos m e fica a aus ncia por ter se submetido s agress es e algumas vezes renunciado aos filhos Esses pap is assumidos pelos pais e evidenciados pelos jovens quando relatam suas trajet rias s o tamb m parte do que ocorre nas rela es entre homens e mulheres no bairro independentemente das idades As vicissitudes ora apresentadas foram nas narrativas dos jovens ressignificadas e tomaram novos contornos no mundo de vida dos jovens O que percebo nas leituras que os jovens fazem sobre elas que ao contr rio de danos suas vidas elas puderam ser tamb m transformadas em canais para a abertura de possibilidades porque o mundo uma id ia de horizonte Nele tu
230. fico de drogas Para Simmel esse processo tamb m opera na separa o daquilo que denominei de conte do e forma da exist ncia social O que autenticamente social nessa exist ncia aquele ser com para e contra com os quais os conte dos ou interesses materiais experimentam uma forma ou um fomento por meio de impulsos ou finalidades Essas formas adquirem ent o puramente por si mesmas e por esse est mulo que delas irradia a partir dessa libera o uma vida pr pria um exerc cio livre de todos os conte dos materiais esse justamente o fen meno da sociabilidade 2006 1917 p 63 110 208 continuidade s comunidades Este conv vio tamb m pautado por um fazer como os pr prios jovens apontaram nos discursos Neste ponto me aproximo da perspectiva fenomenol gica de Heidegger sobre o ser com outros O estar com outros seres se d pelo fazer com pela ocupa o Nogueira 2006 esclarece estes aspectos O ser do Dasein desde sempre se compreende envolvido em dois modos existenciais que se articulam numa unidade e que s o modos de ser do cuidado a a ocupa o que se d no encontro com entes dispostos para uso ou seja entes que est o m o mundo da manualidade b a preocupa o que se d em rela o presen a de outros entes que t m a caracter stica peculiar do Dasein Neste sentido o Dasein jamais est isolado mas surge e se compreende situado numa totalidade criada por
231. foram fundamentais para a produ o de pesquisas que deram sustenta o sociologia e antropologia urbanas no Brasil VALLADARES 2005 Com enfoques diferentes essas disciplinas 10 Louis Wirth autor importante da segunda gera o da Escola de Chicago j referia em 1938 que a cidade n o pode ser apenas definida por um n mero de pessoas e por sua espacializa o mas pelo contexto cultural em que ela surge em como as pessoas se organizam em rela o aos recursos institui es e ofertas dispon veis e criam modos de vida a partir disso o que o autor denomina urbanismo Para ele a cidade vai absorvendo pessoas de outras localidades migrantes formando um todo de ra as de povos e de culturas e o mais favor vel campo de cria o de novos h bridos biol gicos e culturais 1976 p 106 43 forneceram uma base s lida para a constru o de uma perspectiva que coloca a cidade e a reflex o sobre o fen meno urbano no centro das discuss es sobre os problemas de determinados grupos sociais Atualmente as pesquisas realizadas pelo N cleo de Antropologia Urbana NAU da Universidade de S o Paulo USP t m favorecido uma compreens o sobre diferentes modos de vida de jovens em S o Paulo a partir dos seus espa os de inser o A antropologia da ou na cidade vem cada vez mais se debru ando sobre os usos e contra usos que diferentes grupos fazem da cidade e assim vem reeditando formas de vida MAGNANI 2000 2
232. gnificados que a ele v o sendo atribu dos pelos jovens vai se delineando e tomando uma forma A perspectiva do m todo a partir da antropologia urbana prev uma descri o densa do Outro na cidade URIARTE 2003 eu diria nesse territ rio Um exemplo disso o trabalho de Loic Wacquant 2002 que escolhe como campo uma academia de boxe espa o chave para compreender os modos de vida em um bairro negro norte americano O estudo se fundamenta tanto na descri o minuciosa do campo uma academia de boxe em um bairro negro atrav s da observa o participante das pr ticas dos boxeurs das rela es dificuldades estrat gias de sobreviv ncia quanto na an lise sobre os significados dessas pr ticas como possibilidades de vida desses jovens nesse lugar Para o estudo que proponho busco conhecer os lugares de pr ticas em um contexto determinado e percebo que a essas pr ticas se conjugam trajet rias de vida marcadas por conting ncias s quais os jovens atribuem sentidos e significados pr prios 4 1 PONTOS DE ATERRAGEM Minha peregrina o pelo bairro come ou h cinco anos atrav s de uma atividade pr tica da disciplina Sa de Coletiva para a gradua o O bairro foi escolhido por fazer parte do Distrito Sanit rio de Brotas pela exist ncia de um Conselho Local de Sa de e de uma R dio Comunit ria atuantes al m do fato de ser um bairro central da cidade e com condi es de vida bastante prec rias Eu j
233. governamentais escolas unidades de sa de e sociais religiosas e organiza es civis Assim foram aplicadas entrevistas com respons veis pelas entidades Ap ndice A a partir do consentimento livre e esclarecido dos mesmos Ap ndice B a fim de buscar informa es sobre a rela o entre estas entidades e os moradores do bairro particularmente no que se refere aos jovens tais como quantidade de usu rios atividades oferecidas projetos e uso do espa o institucional Estas informa es foram organizadas em tabela e mapeadas geograficamente tal como ser ilustrado e discutido ao longo do trabalho O estudo explorat rio de campo um survey levantou informa es para subsidiar um maior conhecimento sobre o bairro e seus moradores Deste modo levantou se dados secund rios referentes hist ria de ocupa o fotografias antigas 1 O trabalho de campo destinado ao levantamento aplica o de question rios e identifica o das coordenadas geogr ficas relacionados s entidades e equipamentos do bairro foi realizado por bolsistas da pesquisa Mapeando Territ rios a situa o de vida e sa de das pessoas com defici ncia no bairro de Cosme de Farias A pesquisa foi parte das atividades realizadas pelo grupo Modos de Vida e Territ rios Urbanos coordenada pela pesquisadora na Escola Bahiana de Medicina e Sa de P blica EBMSP entre os anos de 2005 e 2008 55 do bairro e entorno artigos dos principais jorna
234. gunda dimens o refere se negocia o de uma empreitada conjunta e implica um processo coletivo de negocia o que definido pelos participantes no pr prio processo de constru o das pr ticas em um regime de responsabilidade m tua A terceira caracter stica de uma pr tica como fonte de coer ncia para a comunidade o desenvolvimento de um repert rio compartilhado que inclui rotinas instrumentos maneiras de fazer relatos gestos s mbolos que eles tenham produzido no pr prio curso da comunidade O autor define repert rio como o conjunto de recursos compartilhados de uma comunidade seu car ter ensaiado e sua disponibilidade para o compromisso com a pr tica Esse repert rio reflete a hist ria de compromisso m tuo assim como os recursos desse compromisso A partir disso parto ent o para caracterizar as comunidades de pr ticas identificadas no bairro particularmente por entender que elas possuem elementos de vincula o entre os participantes em um dado espa o social mas principalmente porque desenvolvem fazeres e saberes que favorecem a constru o de m ltiplas identidades e potencializam processos de mudan a 158 7 1 COMUNIDADES DE PR TICAS CONTEXTOS DE PARTICIPA O DOS JOVENS No intuito de registrar o uso do espa o e as pr ticas produzidas pelos jovens foi realizado um mapeamento das comunidades de pr ticas e dos lugares onde essas s o desenvolvidas A partir do mapa Figura 23 identificam se as
235. guns t m essa cr tica eu n o acho uma cr tica bem construtiva uma cr tica bem destrutiva Cristiano Justificados pela F O discurso de Cristiano mostra uma perspectiva interessante para refletir Dentre os motivos que os levaram para o rap entre outras coisas que ser o relatadas ao longo do cap tulo um a identifica o com o movimento O rap provoca um questionamento sobre as vicissitudes e gera inquieta o Eles partem desse princ pio mas em dado momento outros elementos tamb m entram em cena cantar diante de uma galera ser reconhecido no bairro isso modifica o ponto de vista em dado momento Percebo que com o passar do tempo eles querem mais Descobrem talentos desejam tocar para outros p blicos e al m disto constru ram uma imagem N o mais uma imagem de menino franzino que passou por dificuldades que ningu m dava nada Agora eles passam a ter uma nova identidade ou como referem Bucholtz et al 1999 repert rios de possibilidades a partir de um nome art stico outro modo de vestir uma mudan a de vida certo status no bairro e at fora dele Como Cristiano revela pode frequentar shopping pode andar arrumado pode conquistar espa o Assim porque devo continuar favela Interessante que n o ser de favela ou morar na favela mas quase um bin mio ser favela E de algum modo poss vel pensar que dentro dessa perspectiva faz sentido O seu ser est associado favela
236. h o de lixo n o tem acesso O grupo era formado por jovens entre 15 e 25 anos moradores do bairro que se colocaram diante de mim a pedido dos g meos para relatar a experi ncia no projeto para o qual haviam sido selecionados Os jovens que se apresentavam ali eram diferenciados em compara o aos jovens que acompanhei mais profundamente na pesquisa Pareciam mais empobrecidos em todos os n veis falavam menos e com dificuldade com as palavras n o olhavam diretamente para mim curvavam se e riam envergonhados quando eu perguntava algo e o que julgo preocupante mostravam se agradecidos com a sele o no projeto que duraria apenas um ano Ap s t los conhecido os g meos relataram me as hist rias pessoais de alguns deles situa es de muita precariedade econ mica comuns nos jovens do Alto do Cruzeiro E a partir dessas hist rias os g meos foram desvendando particularidades da localidade onde se situam que v o al m dos problemas caracter sticos de Cosme de Farias e que fazem da comunidade um ve culo para abertura de possibilidades 7 2 ALGUMA COISA PRA FORTALECER A ALMA PR TICAS COMO EXPERI NCIA DE SIGNIFICADO Falar em significados diz respeito ao que Wenger 2001 p 22 refere como a capacidade de experimentar o mundo e nosso compromisso com ele como algo significativo Para esse autor o conceito de pr tica se define pela experi ncia de significado assim interessa compreender que sentidos e significa
237. hist ria parte fundante do percurso que agora descrevo Cezar Maiko mora atualmente no Rio de Janeiro Recentemente moradores do bairro se diziam orgulhosos com a sua presen a em uma telenovela da Rede Record Por m h bem pouco tempo vivia na Baixa do Tubo em condi o bastante prec ria visto como algu m que inovava no bairro Foi o primeiro a levar o break para as ruas do bairro e a fazer ensaios abertos que aglomeravam jovens e outros moradores no fim de linha da Baixa do Tubo Os jovens que acompanho t m em m dia 24 anos e em meados da d cada de 1990 estavam chegando adolesc ncia Lembram de Cezar Maiko especialmente dos ensaios e manifesta es culturais que organizava no Centro Social Urbano Major Cosme de Farias bem como nas ruas do bairro Outros moradores alguns que ainda produzem eventos no bairro ou trabalham com produ o cultural s o mais saudosistas e reconhecem o valor de sua contribui o Tamb m h quem diga do estilo Cezar Maiko algu m com perfil de lideran a preocupado com as realiza es e em declarar seus m ritos Para um dos entrevistados que acompanhei ao longo desse per odo membro da banda Le es do Rap Cezar era quem comandava e os eventos realizados por ele no bairro ressoaram com vigor Parte desse vigor resultou na exist ncia de pessoas envolvidas com produ o cultural atualmente al m dos jovens que a partir dessas experi ncias de sociabilidade encamparam novas possibili
238. ho para depois retornar cidade nas mesmas condi es de vida de antes Conversando com o rapper em sua casa um c modo no alto de uma das longas escadarias comuns do bairro ouvia seu relato e conseguia imaginar o sentido Buzu uma g ria utilizada em Salvador que designa nibus 198 que dava cena estar no palco dando aut grafos e depois pegar o buzu Nesse c modo eu ouvia seu relato e n o podia deixar de reparar ao redor est vamos sentados na cama de solteiro onde dorme em um quartinho de aproximadamente 5m2 com roupas objetos pessoais e entre tantas coisas espalhadas pelo ch o uma panela com arroz nossa frente a porta e uma janelinha de onde espi vamos seu filho de dois anos que estava chegando com um dos membros da banda a nosso pedido para que Charles pudesse me conceder a entrevista Esse cen rio que acabo de apresentar ilustra uma certa contradi o aparente em que o jovem sobrevive em situa es prec rias de vida e dificuldades para se manter mas ao mesmo tempo experimenta situa es que lhe oferecem a possibilidade de sonhar e viver outras coisas Parte das suas composi es fruto dessas contradi es e vicissitudes Uma m sica da banda narra o dia a dia dos trabalhadores do bairro Embora n o tenham tocado em quest es pessoais para falar da m sica percebo que ela reflete o cotidiano da maioria dos jovens de Cosme bem como o cotidiano de alguns membros da banda Char
239. ho e tal N o sei tamb m se porque eu tava bem arrumado parecendo um artista mesmo tava voltando de um som n Ent o eles respeitam eles respeitam muito Eu acho que a pol cia respeita e a comunidade tamb m respeita muito o cara rastaf ri o cara anda em qualquer lugar At bandido n o bole assim em um cara que rastaf ri Mago O cabelo tran ado o estilo rapper o vincula ao movimento A roupa tamb m um instrumento importante S o signos diferenciais que ampliam o tr nsito e uso que fazem do bairro e da cidade Isto permite que pr ticas aconte am Estas pr ticas e usos do espa o favorecem a visibilidade dos jovens e autorizam seu engajamento Deste modo se percebem aceitos protegidos e salvos das tenta es que segundo eles est o por toda parte N o apenas nas comunidades do rap algo que bastante enfatizado pelos autores que discutem o significado no movimento hip hop nas periferias mas tamb m nas comunidades da renova o o traje um diferencial e os identifica no bairro Alguns jovens em particular os evang licos percebem nas roupas uma mudan a de status Falam do modo como s o vistos no bairro do que os vizinhos e amigos de tempos atr s dizem a respeito deles hoje e do quanto ganharam respeito a partir do momento em que passaram a vestir roupas melhores mais caras e de marcas famosas Percebo que estes signos s o formas de prote o sejam s tenta es ou as vicissitudes Poderiam
240. i dito anteriormente os jovens acompanhados trabalham em subempregos ou fazem biscates mas parte do que ganham reservado para manter as comunidades Tudo isto tem um custo e quase sempre retirado de seus pr prios ganhos em atividades na maioria das vezes insatisfat rias Da a gente come ou a vender esse CD pra todo mundo come ou a fazer shows o nico show n o sei se eu falei com voc o nico show que a gente ganhou dinheiro foi cantado pro pessoal da Vega na festa pros trabalhadores o nico show que a gente ganhou dinheiro foi ali foi duzentos reais que a gente ganhou o primeiro show Uma felicidade retada ganhando dinheiro pra quem pagava pra ir cantar n Pra quem n o tinha nem gua mineral n o tinha muitas vezes n o tinha nem transporte pra ir A gente fez pra caramba a gente fez camisas e tudo Malcom 200 Os meios utilizados para tirar algum ganho s o diversos e depende do acesso e tr nsito que cada comunidade alcan a no seu horizonte de possibilidades Os jovens da comunidade pol tica a cada dia transitam por espa os do bairro e da cidade que permitem maiores ganhos e abertura como por exemplo a C mara de Vereadores Secretarias de Estado e Municipais rg os p blicos reuni es e eventos com representantes de entidades e lideran as enfim s o muitos espa os que se abrem Em uma conversa com eles falam que n o se sentem apenas representando o Alto do Cruzeiro mas Cosme de Faria
241. i pra todas as audi ncias Castor Essa participa o que se mostra na representa o do bairro em eventos confer ncias e inst ncias de decis o importantes do ponto de vista pol tico tem gerado desconforto no bairro em particular entre gestores e lideran as Segundo Castor eles se sentem pressionados e colocados em evid ncia pelo fato de n o estarem correspondendo a suas atribui es comum no discurso dos g meos a refer ncia dificuldade que enfrentam para uma maior articula o com coordenadores do Distrito Sanit rio de Brotas dirigentes da Prefeitura e mesmo com lideran as Segundo eles isso se deve ao fato de serem jovens e n o estarem autorizados para tais demandas Tamb m evidenciam seus feitos e o quanto essa autoriza o vem mudando medida que eles t m tomado posi es de destaque e acessado canais de comunica o que at ent o n o existiam para eles e mesmo 101 PDDU a sigla que define o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Foram realizadas audi ncias para discutir o PDDU da cidade de Salvador com participa o de lideran as e representantes na C mara de Vereadores entre eles os g meos representantes do Conselho de Moradores do Alto do Cruzeiro Cosme de Farias 194 para o bairro Fazem quest o de mostrar eventos e mudan as que t m ocorrido a partir do momento em que assumiram posi es em f runs e espa os pol ticos na e da cidade modificando o lugar a
242. icas Observo tamb m que esses autores reconhecem a import ncia de abordagens fenomenol gicas quando ressaltam a experi ncia o fazer cotidiano no modo mais simples e habitual que a vida vivida Desse modo indiscut vel a perspectiva heideggeriana a experi ncia se d no mundo no mundo em que a presen a vive que o mundo da cotidianidade as coisas n o est o em algum lugar elas s o coisas j do meu mundo e o uso que fa o delas n o se d de forma isolada e sim em um contexto de pr ticas alguma coisa o que somente em um contexto determinado e unicamente quando se assume e usa pois o sentido s se d em um contexto s ser um signo para aqueles que habitam esse contexto DREYFUS 1996 contexto aqui como uma rede de refer ncias N o interessa o uso 47 em si mas o contexto do uso e assim no tema em estudo o contexto de vida dos jovens no caso o bairro que me permite compreender as suas pr ticas e essas pr ticas s o mundo quando esse fazer o modo como os jovens fazem uso dos instrumentos se d nesse contexto Logo esse espa o se define a partir do uso dos instrumentos que feito pelos jovens A partir do aqui exposto para uma an lise das pr ticas culturais constru das a partir de um dado contexto urbano leg timo compreender os processos de constitui o do sujeito jovem implicado por uma trajet ria de vida situada localmente Al m disto necess rio identificar processos ident
243. icas a possibilidade de shows de divulga o entre outras coisas por m percebo que existem lideran as na maioria delas A condu o passa por uma pessoa que se mostra mais atuante e articuladora do grupo que quem impulsiona o grupo que determina os caminhos enfim que coloca a banda no cen rio da cidade embora haja um envolvimento de todos Foi poss vel identificar uma discuss o bastante atual no universo do rap mas que se ram fica e se atualiza entre as comunidades do rap em Cosme de Farias A discuss o diz respeito dupla face do rap na atualidade ora como forma de protesto ora como forma de ganhos materiais carros mulheres e simb licos status social um rap de estilo para ser vendido e ampliar fronteiras H uma discuss o pautada em grande medida pelo avan o do rap na grande m dia Esse n o mais um estilo de garotos pobres dos sub rbios e periferias e que fala em nome desses pobres O rap mudou Ganhou o mundo e cada vez mais adeptos inclusive brancos de classe m dia e com prop sitos bem diferentes Ele est na MTV nos carros de garotos de classe m dia nas festas de bacana ele est em qualquer lugar Portanto ineg vel que o movimento passou por transforma es e que os tempos mudaram O rap que est na moda o rap americano dos caras com correntes carros de luxo e lindas mulheres sensuais ao redor N o apenas o rap mas tudo que est a sua volta que provoca dese
244. identifica o de demandas de sa de reprodutiva Revista Brasileira de Estudos de Popula o v 19 n 2 p 209 228 jul dez 2002 SELL M Identidades em devir um processo din mico cont nuo e inacabado Estudos Feministas Florian polis n 15 v 2 p 491 510 maio ago 2007 SENNETT R Carne e pedra o corpo e a cidade na civiliza o ocidental 3 ed Rio de Janeiro S o Paulo Record 2008 SERRA A S L CANNON L R C Pelo andar se faz um caminho Um proposta metodol gica de educa o em sa de para adolescentes In BRASIL Minist rio da Sa de Secretaria de Pol ticas de Sa de Area de Sa de do Adolescente e do Jovem Cadernos juventude sa de e desenvolvimento Neia Schor Maria do Socorro Tabosa Mota Viviane Castelo Branco Orgs Bras lia 1999 SERRA O J T Notas de aula expositiva sobre coleta e an lise de dados n o estruturados Disciplina Semin rios Cr ticos de Pesquisa em Sa de Instituto de Sa de Coletiva Salvador 2007 SILVA J C B J Solos grampeados comprimentos m ximos de grampos nos solos a lesse da falha de Salvador BA Sitientibus Feira de Santana Bahia n 35 p 57 74 jul dez 2006 SILVA L M V PAIM J S COSTA M C N Desigualdades na mortalidade espa o e estratos sociais Revista de Sa de P blica v 33 n 2 p 187 197 abr 1999 SILVA S M O l dico e o tnico no funk do Black Bahia In SANSONE L SANTOS J T Orgs Ritmos em tr nsito s
245. idiana dos jovens Para discuti las utilizo as subcategorias presen a pessoas chave e correria especificamente os usos e leituras que os jovens fazem das situa es dif ceis transformando as tamb m em oportunidades A segunda ser o foco do cap tulo seguinte e versa sobre as pr ticas como possibilidades de ganhos simb licos o que chamarei de pr ticas como algo para fortalecer a alma Retomo ent o para a quest o das aus ncias aspecto que foi trazido no final da ltima se o Para os jovens acompanhados no estudo a aus ncia do pai e sob outra tica a da m e podem ser tamb m reconfiguradas como possibilidades de presen a Foi o modo poss vel dos pais estarem com seus filhos do ponto de vista dos jovens Assim o que regular nas narrativas dos jovens que a falta do pai expressa pela pr pria invisibilidade ou pela aus ncia de afeto ajuda financeira e de 144 di logo tamb m feita de presen a O pr prio sentimento de falta implica que h ou houve uma presen a de algum modo Um n o se d sem o outro Assim nas narrativas em que os pais aparecem n o havia intuito de falar do pai propriamente Eles aparecem quando os jovens falam de seus meios de sobreviv ncia atuais O pai aparece para eles a partir dos seus of cios N o que necessariamente eles o tenham ensinado ao filho mas atrav s do conv vio da experimenta o e algumas vezes da obrigatoriedade de fazer um servi o ou tarefa os j
246. igem a popula o d atrav s de estrat gias diversas e por diferentes executores movimentos sociais governos locais organiza es n o profissionais etc e e com o objetivo de mudan as significativas nos ambientes de vida das pessoas Desse modo o pr prio discurso da sa de j vem evidenciando que a sa de est para al m da identifica o de problemas explica es biom dicas e resolu es pr ticas dentro do seu pr prio campo de atua o Por m na pr tica n s t cnicos e especialistas n o sabemos como fazer de outro modo E ainda quando desejamos fazer de outro modo precisamos correr atr s de um discurso que fa a jus as bases do pr prio campo 239 REFER NCIAS ABANDONO na Ladeira do Silva A Tarde Salvador 20 ago 1997 Caderno 1 p 5 ABRAMO H W BRANCO P P M Orgs Retratos da juventude brasileira an lises de uma pesquisa nacional S o Paulo Funda o Perseu Abramo Instituto Cidadania 2005 ADAM J REVAZ F A an lise da narrativa Lisboa Gradiva 1997 ADORNO R C F A cidade como constru o moderna um ensaio a respeito de sua rela o com a sa de e as qualidades de vida Sa de e Sociedade v 8 n 1 p 17 30 jan fev 1999 ADORNO R C F Capacita o solid ria um olhar sobre os jovens e sua vulnerabilidade social S o Paulo AAPCS 2001 ADORNO R C F ALVARENGA A T VASCONCELOS M P C Jovens g nero e sexualidade rela es em quest o
247. inst ncias de poder na cidade Passaram do lugar do inc modo para um lugar de parceiros come aram a ser ouvidos e procurados para a realiza o de a es no bairro A partir desse momento eu encontrava os g meos em todos os eventos e reuni es relacionados a Cosme de Farias Nos ltimos meses do trabalho de campo percebi que os g meos passaram a compactuar e a negociar propostas e projetos com outras lideran as inclusive advers rias Em uma conversa eles referiram as dificuldades para fazer uma pr tica pol tica diferente no bairro ou seja preciso conviver com o assistencialismo com o tr fico de drogas com a corrup o com a viol ncia enfim isso parte tamb m do local Na experi ncia pol tica e comunit ria v o percebendo que n o h como enfrentar essas situa es como se fossem inimigos porque est o arraigadas fazem parte tamb m do modo de vida das pessoas tamb m na experi ncia cotidiana que v o se dando conta de que estando ali com as pessoas e suas expectativas e lidando com as situa es que se apresentam que ser poss vel identificar novas possibilidades Voc tem que transformar esse assistencialismo com uma a o emergencial entendeu E n o perder o foco de que o que vai resolver a a o Vamos supor n o h uma discuss o pra reas de prioridade Muitas das vezes a a o s pra dizer que teve presente no bairro entendeu E essa discuss o que as vezes a gent
248. io que n o possui rendimento 14 ou com rendimento irregular Figura 13 A Figura 14 mostra os n veis de renda salarial em rela o aos chefes de fam lia poss vel notar que h uma concentra o da popula o economicamente ativa que recebe entre 1 2 e dois sal rios m nimos o que representa mais da metade das pessoas respons veis pelos domic lios o que refor a a percep o de que esta popula o vive em condi es economicamente prec rias Com rendimento 86 Sem rendimento 14 Figura 13 Renda dos respons veis pelo domic lio em Cosme de Farias n 9 164 BAHIA 2005 87 B0 30 0 250 200 150 100 04 03 0 0 5 dis di di db d s d s d s T H O PBP RE B BE PBEBB Figura 14 N veis de renda salarial em rela o s pessoas respons veis pelo domic lio n 7 881 BAHIA 2005 Ainda segundo os dados da pesquisa do IBGE h um percentual relativamente alto da popula o residente no bairro que alfabetizada uma informa o interessante mesmo sabendo que h diverg ncias e controv rsias em rela o ao que se denomina alfabetiza o No entanto quando consideramos os ndices de alfabetiza o por faixa et ria a popula o mais jovem apresenta ndices bastante preocupantes Figuras 15 e 16 Pessoas alfabetiz adas Pessoas n o 89 alfabetizadas 11 Figura 15 N vel de alfabetiza o da popula o de Cosme de Faria
249. iol ncia Mas os jovens particularmente os do rap como P rola ressignificaram a favela Eles n o deixam de falar das mazelas mas inclu ram outros elementos tamb m existentes nela A viol ncia na favela que normal porque sempre existiu estava l distante mas agora ela avan a e se aproxima um amigo de inf ncia um vizinho o irm o de algu m um garoto que por alguma raz o fez a escolha errada Em um primeiro momento est longe mas cresce porque se aproxima de n s A esse crescimento evidenciado vincula se tamb m a falta de op es para os jovens no bairro trabalho lazer forma o s o os que eles mais referem e a falta desses caracteriza os bairros empobrecidos da cidade Por conta disso segundo os jovens cresce tamb m a busca por alternativas e a boca de fumo pode ser uma uma falta do que fazer mas mais que isto As bocas ou grupos organizados t m tamb m suprido outras faltas que n o s dinheiro como bem mostrou o estudo de Athayde et al Os focos da disputa s o o cora o e a cabe a dos jovens n o o bolso at porque a grana muito mais que instrumento de aquisi o de bens e servi os ela em si mesma s mbolo de poder que confere a quem a possui a aura privilegiada que dignifica distingue e valoriza 2005 p 241 Para P lux n o h tantas alternativas para a maioria dos jovens do bairro s tem duas viv ncias ou entra
250. iol ncia meios de comunica o mulher negra juventude r dio comunit ria entre outras Mago quem escolhe os temas e o repert rio musical Na R dio e particularmente no Programa conheci bandas de rap de Cosme de Farias como o RM Rapaziada do Morro o Imp rio Negro N1 Vis o Urbana Africaminas Preto S bio Sindicato um termo comum para grupos de pessoas que fazem uso de lcool continuado em determinadas localidades nos bairros tais como bares ruas pra as etc 53 05 e a pr pria banda de Mago Ensino B sico L tamb m tive contato com bandas de pagode ax e partido alto tais como Evoluz Mistura Atrevida e T Demais Conheci tamb m jovens que apareceram l para divulgar trabalhos como instrutores de esporte do boxe e de basquete Os programas foram gravados assim como as conversas que se desenvolveram no seu curso e registradas em di rio de campo posteriormente No programa tamb m tive acesso a CDs e DVDs de m sicas gravados por bandas locais que contribu ram para conhecer textos elaborados pelos jovens sobre seus pontos de vista do bairro da vida cotidiana de quest es que est o na ordem do dia na vida destes jovens Atrav s da R dio e especificamente com Mago tamb m identifiquei outros grupos e jovens com atividades diversas entre eles jovens ligados a diferentes denomina es religiosas Um grupo de jovens budistas outro da igreja cat lica uma banda de rap gospel evang lico jovens
251. irectly related to the lack of occupation such as work leisure and training for young people In the exhaustive reading of the narratives of young people on their biographical trajectories the notion of contingency is the device to identify possibilities and vicissitudes as aspects that are constitutive Thus aggression and difficulty of material and symbolic survival were founding to the occurrence of disruptions in these paths detours and not explained away by the young particularly the family From these vicissitudes chances are spoken such as a possible presence of the family the emergence of key persons and the possible forms of earnings which would define how the young Among the possibilities opening up young people have ways of confronting the vicissitudes collective called the study as cultural practices These practices are presented as tactics of resistance to situations of discomfort and as a generator of change in the lives of young people In this sense it is important to recognize that there is local knowledge and practices that have meanings and meanings for those who live in these spaces and that the field of health must be open to recognize these possibilities not always known and established his own field of expertise KEY WORDS Cultural practices Youths Contingency District Ethnographic LISTA DE ILUSTRA ES Figura 1 Vista geral do bairro de Cosme de Farias margeado pela Av M rio Leal Ferreira Bonoc
252. iro momento sobre as pr ticas femininas fora das atividades dom sticas Quanto primeira not ria a escassez de trabalhos sobre pr ticas culturais femininas no Brasil WELLER 2005 A autora refere que isto pode levar a pensar na inexist ncia de pr ticas realizadas por mulheres mas acredita mais na hip tese de que h uma invisibilidade em rela o a essas pr ticas Um dos aspectos que aponta para isso se deve precocidade com que as jovens entram no mercado de trabalho se casam e assumem a maternidade Mas em rela o ao universo feminino de Cosme de Farias do ponto de vista dos jovens existem dois lugares mais comuns para as mulheres ou elas est o dentro de casa cuidando de crian as e das tarefas dom sticas o que tamb m valorizado por eles ou est o na rua vendendo o corpo esperando que algu m pague a cerveja e leve para passear de carro Castor As garotas do Africaminas tamb m concordam com isso Por m dizem que dentro do movimento diferente Dizem que s o respeitadas e que recebem muita contribui o dos jovens Mas uma composi o da banda evidencia v rios aspectos importantes que revelam do ponto de vista delas o lugar da mulher negra nesse contexto Porque at um dia o preconceito e o machismo vai existir no conceito das Africaminas Porque somos descendentes de africanas e com muito orgulho que carregamos o DNA dos negros nas veias Queremos nosso espa o na sociedade s
253. is no Fecandum que o maior festival da Am rica Latina Isso a foi muito importante J cantamos no Carnaval j sa mos nos Tambores da Liberdade tocando cantando No dia da Consci ncia Negra participamos duas vezes No palco ali no Terreiro e o outro no da Liberdade at o Pelourinho no palco cantando Ent o nada leva a gente a desistir de cantar e de fazer um som rap principalmente protesto que o que a gente tem o sonho de passar as coisas e a liberdade que eu sempre falo que acho todo mundo tem uma forma de querer passar alguma coisa pras pessoas conhecerem p essa pessoa tem talento essa pessoa eu acho que todo mundo tem alguma coisa pra mostrar e eu penso no rap e na m sica Mago Desse modo ele justifica o fato de ter dado continuidade ao rap passando a integrar outras bandas do bairro na busca de algo que pudesse ser a real proposta de grupo e de produ o Fez parte da banda Preto Raiz atual Preto S bio 05 No momento quem comp e para o grupo Ensino B sico o vocalista e uma das lideran as no sentido de batalhar para o avan o do grupo Foi Mago quem passou a treinar nos equipamentos da R dio Comunit ria com a finalidade de come ar um programa de rap Foi a partir do programa intitulado Luminosidades Repercussivas que identifiquei outros grupos ou melhor as Comunidades do Rap de Cosme de Farias como j trazido no percurso etnogr fico da pesquisa A R dio a partir desse con
254. is da cidade entre 1978 e 2006 planos de urbaniza o de rg os da Prefeitura e Estado atrav s da Superintend ncia de Estudos Sociais e Econ micos SEI Bahia e Funda o M rio Leal Ferreira FMLF bibliografia de autores do urbanismo e geografia sobre processo de urbaniza o e metropoliza o da cidade em especial sobre a rea em quest o bem como bibliografia sobre aspectos socioculturais do bairro Foi necess rio inclusive realizar conversas com pessoas que participaram do processo de legaliza o do solo e de projetos de urbaniza o no bairro bem como com respons veis de rg os municipais por exemplo da Secretaria de Planejamento do munic pio de Salvador Em seguida passei a levantar dados prim rios no sentido de contrastar as informa es oficiais com o ponto de vista dos moradores e em particular dos jovens Foram realizadas conversas informais gravadas e registradas em di rio de campo com antigos moradores do bairro e com os jovens fotografias de ruas localidades lugares de tr nsito pontos de refer ncia entre outros locais Complementarmente s informa es coletadas nas entrevistas foram ainda coletadas coordenadas geogr ficas com utiliza o de um Global Position System GPS Garmin 12 plus das entidades e espa os de pr ticas dos jovens no bairro Estas coordenadas posteriormente compuseram um banco de dados e a seguir foram plotadas em uma base cartogr fica em formato shape file com a utiliza
255. it rios tanto sujeitos a uma dimens o local quanto global Assim penso ser poss vel descrever os usos e tr nsitos dos jovens pelo bairro e na cidade como forma de conhecer e revelar pr ticas desenvolvidas nesses espa os Essas pr ticas tanto v o refletir nas mudan as e deslocamentos nesses locais constituindo t ticas de enfrentamento e de possibilidades a partir das vicissitudes cotidianas do espa o urbano quanto v o incidir sobre as trajet rias desses jovens e atuar na constru o de processos identit rios A quest o da identidade ser aqui tratada tal como Bucholtz et al 1999 revelam como um repert rio de possibilidades na medida em que os sujeitos desenvolvem modos particulares de intera o que as identidades n o s o constru das individualmente mas sim em processos de contesta o e colabora o a partir das experi ncias vividas sempre com outros s o constru das dialogicamente entre os falantes Por conta disso interessa ao estudo focalizar os falantes no caso os jovens Para dar conta dessa dimens o conceitual se faz necess rio o uso do m todo etnogr fico bem como da an lise da narrativa perspectivas orientadas pela fenomenologia hermen utica como pressuposto para a compreens o dos sujeitos em seus contextos de pr ticas 48 Cap tulo 4 O PERCURSO ETNOGR FICO O conhecer n o se d pelo ac mulo de experi ncias e sim pela possibilidade de ser transformado pelas experi ncias que se pr
256. ito do homossexualismo mas n o uma coisa certa Agora se eu vou julgar Eu n o sei o que aconteceu com essa pessoa quando ela era crian a Sou eu Por isso que a Igreja Cat lica no pr prio Direito Can nico ela ama o homossexual Ela s n o ama e s n o aceita as pr ticas Existem pessoas na lgreja Cat lica que s o homossexuais e lutam a cada momento para n o pecar Com isso quer dizer que se ela pecar Deus vai abandonar N o Por isso que temos que pedir perd o Ent o esses pecados que eu acredito que os jovens cometam isso talvez o desejo a luta Prometeu Prometeu locutor na R dio Comunit ria casado e tem uma filha de tr s anos um rapaz negro bonito e apresenta caracter sticas femininas no seu modo de falar e ou gesticular Foi inevit vel pensar na rela o entre a sua sexualidade e a luta incessante para n o cometer pecados Por toda a entrevista aspectos como fornica o prostitui o homossexualismo pr ticas sexuais entre outros foram frequentes e em grande medida com um discurso condenat rio a estas pr ticas S o pr ticas que a igreja n o concorda mas recebe o autor e pretende libert lo Ent o esse lado assim eu fazia isso J fui pra prost bulo j me envolvi com pessoas que eram j fiz muitas coisas erradas At um dia que eu me confessando Por isso que eu digo que a palavra de Deus ela viva e eficaz diz que uma palavra de
257. ividades no bairro como j foi assinalado no percurso etnogr fico Eu os conheci em uma reuni o do Conselho Local de Sa de em 2006 quando ainda apresentavam uma t mida participa o como representantes do bairro Essa trajet ria ser relatada mais adiante porque representa uma forma de enfrentamento dos jovens como entidade pol tica e representativa do bairro e para o bairro A comunidade pol tica participa ativamente das quest es que dizem respeito ao bairro de Cosme de Farias Para os g meos h em Cosme de Farias uma s rie de entidades que funcionam de forma assistencialista ou seja est o sempre oferecendo alguma coisa aos menos favorecidos numa rela o constante de d bitos e favores que n o transformam as condi es de vida do bairro Isto me faz pensar na pr pria hist ria de funda o do lugar em que havia moradores ilustres com alguma renda e posses os quais s o lembrados por beneficiarem o bairro em aspectos essenciais vida dos moradores 188 atualmente O bairro o que os mobiliza que os identifica no cen rio local e da cidade e para ele que dirigem suas pr ticas Em uma visita sede do grupo tive acesso entre outras coisas a um grupo de trabalhadores da limpeza urbana Esse grupo formado por jovens que foram selecionados pela comunidade pol tica atrav s de um projeto da empresa de limpeza urbana e de associa es de moradores de bairros da cidade para localidades onde o camin
258. jo E nesse sentido h uma ind stria massiva incrementando esses sonhos e desejos Para algumas comunidades esse estilo faz parte de uma conquista dos negros que t m direitos e que podem hoje n o s falar em favela ou mis ria mas tamb m assumem outro lugar social e t m acesso a bens de consumo Este tipo de rap tamb m se justifica por falar de outro lado pouco trazido pelos rappers at ent o um som mais melodioso que possa agradar tanto a galera do rap quanto pessoas que n o fazem parte do movimento 8 Bases o nome dado manipula o de fontes musicais eletr nicas ou n o de batidas de outras musicas realizadas pelo Dj disc joquey que suporte para a fala do mestre de cerim nia MC Em texto escrito por Bressane sobre um show de Marcelo D2 na butique Daslu em S o Paulo ele diz assim Tinha uma foto do Malcolm X de bar o numa beca muito louca do lado de umas foto de uns rei de uns figura elegante em cima de uma estante onde a gravata mais na moral custava 400 conto Achei loco o neg o ali tipo s mbolo de status pros Mauricio Tipo encontro de dois mundos mais eu n o vi nada disso Eu vi que as minas da faxina tavam usando roupa de mina da faxina t ligado 2006 p 7 83 167 A id ia tir lo do gueto Nesse sentido fazer uma m sica mais dan ante e que atinja outras pessoas fora do movimento pode ser uma possibilidade de divulg lo para al m dos rappers de trazer o
259. jo e de Big da Comunidade Imp rio Negro N1 e tentava imaginar os percursos que fazem e que fizeram para sentirem se na cidade da cidade O grafite uma forma de interven o na cidade que marca um lugar e ressoa em um outro Assim como os grafites os ensaios e apresenta es das comunidades de rap ressoam no bairro Quinzenalmente na Escola Jo o Pedro dos Santos a comunidade Ensino B sico realiza ensaios abertos nos domingos a tarde Em algumas tardes que estive presente percebi o quanto esses espa os est o ociosos e descuidados enquanto crian as e jovens est o na rua sem espa os sem perspectivas em um bairro como Cosme de Farias Assim tamb m o Centro de Sa de a Casa do Trabalhador o Centro Social Urbano entre outros ARES ar EPs Figura 28 Uso do espa o da cidade Grafite de Anjo Fonte Adriana Miranda Pimentel Pesquisadora 220 Figura 29 Ensaio Ensino B sico Escola Jo o Pedro dos Santos Fonte Adriana Miranda Pimentel Pesquisadora Neste ensaio fotografado acima pensei no quanto poss vel fazer coisas interessantes nestes espa os Assim que cheguei na Escola entrei com receio pois parecia abandonada Figura 29 Quadras sem uso rea livre sem uso e alguns jovens fumando nos muros que a rodeiam do lado de fora Por m quando come ou o ensaio eu reparava nas crian as ali perto especialmente em uma garotinha que prestava aten o s m sicas e parecia gostar da banda
260. l Deus e Amor Alto do Cruzeiro Religiosa Evang lica Igreja Pentecostal Unidas do Brasil Religiosa Evang lica Igreja Universal do Reino de Deus Religiosa Evang lica Igreja Universal do Reino de Deus Vale do Matatu Religiosa Evang lica Sal o do Reino Testemunhas de Jeov Religiosa Evang lica Templo Adventista do 7 dia Religiosa Evang lica Terreiro de Dona Lourdes Aue Te Do Religiosa Candombl Awziidiju ara Religiosa Candombl Il Ax Ob Kaiode Religiosa Candombl R dio Comunit ria Copacabana Sociedade Civil Comunica o Creche Comunit ria Sociedade Civil Educa o Sociedade Beneficente Recreativa dos Moradores do Alto do Sociedade Civil Moradores Cruzeiro ABEMAC Associa o Cultural Beneficente e Recreativa dos Moradores e Sociedade Civil Moradores Amigos da Rua Wenceslau Galo AMAB Associa o de Moradores e Amigos da Rua Gandarela AMAG Sociedade Civil Moradores Associa o de Moradores da Rua Paquet Sociedade Civil Moradores Associa o Religiosa Cultural Beneficente Jifulu Sociedade Civil Moradores Associa o Comunit ria e Cultural da Travessa Norma Sociedade Civil Moradores Associa o Comunit ria Novo Horizonte Sociedade Civil Moradores Associa o Comunit ria Renascente Sociedade Civil Moradores Associa o Comunit ria Unidos do Lar Sociedade Civil Moradores Associa o Nossas M os em A o Sociedade Civil Moradores Associa o Tempero de Negro Sociedade Civil Moradores
261. latos Arquiteta Renurb Cohab Foi realizada uma entrevista com uma arquiteta da Renurb Cohab que participou do Projeto Vale do Camurujipe em fins dos anos 1970 71 qa o do Fora om 409 SIA E A 02009MapLinkTele atas gt S gt nd 4 id EM RB 6P O dy R q igas k r 7 e A I r Y s t gd MR Data das imagens 2 Nov 2008 M 24 L 555456 78m E 8564908 41m S elev 65m Altitude do ponto de vis o 1 39 km Figura 1 Vista geral do bairro de Cosme de Farias margeado pela Av Mario Leal Ferreira Bonoc A linha amarela indica o comprimento de 1 24 km e a vermelha a largura de 0 78 km Fonte Google Earth 2 nov 2008 Teixeira G Tha agy ima z fi ode Ja pu Mj s roez g Ts mm 4 mg 1 Lima Teixeira o E E O al a Pa I E r Ka te f 4 a m g t S 7 el Tvs a SSalustiano im E na O N PA Data das imagens 2 Nov 2008 24 L 555573 55 m E 8564696 37m S elev 35 m Altitude dojponto de vis o 338m Figura 2 Acentuada declividade do terreno em Cosme de Farias com ocupa o densa e desordenada al m de ruas extremamente estreitas Como refer ncia a passarela de pedestre da Av Bonoc seta Fonte Google Earth 2 nov 2008 72 Em 1951 a fazenda foi incorporada Arquidiocese de Salvador e lotes foram vendidos aos interessados Uma outra parte dos lotes foi vendida a empresas privadas vinculadas Prefeitura Somente na d cada de 1960 pas
262. les por exemplo trabalhou na Feira boa parte de sua vida junto m e Desabafo do Trabalhador est em uma 105 p gina do YouTube assim como o clip realizado pela comunidade no bairro Vou dormir vou descansar Cedo eu vou acordar desde cinco da manh J deu tenho que trabalhar Trabalho o dia inteiro O trampo de pedreiro Cansa o dor no corpo no outro dia j estou disposto Muitas dores no corpo Parece que a escravid o nunca vai cessar um pouco Trabalho de pe o vira concreto racha o ch o Muita dificuldade e calo na m o Trabalho redobrado e o dinheiro ele regrado N o sei mais o que fa o nesse mundo de explorado H ta ta ta trabalhador desabafa H ta ta ta trabalhador desabafa J t cansado de trabalhar Desabafo do Trabalhador Imp rio Negro N1 A letra da m sica bastante extensa e descreve detalhadamente as intemp ries do trabalho bra al duro e desgastante que a maioria dos homens das 10 YouTube um s tio de v deos bastante visitado por jovens na internet A banda possui uma p gina no s tio onde apresenta seu trabalho clips m sicas m sicos que apreciam entre outras coisas 199 periferias urbanas realiza O clip assim como a m sica revela uma faceta caracter stica do bairro a de trabalhadores da constru o civil O bairro cresce todo o tempo atualmente para cima porque n o h mais espa o nas laterais Os jovens aprende
263. lhadas que podem sustentar o compromisso m tuo na a o c comunidade as configura es sociais onde a busca de realiza es se define como valiosa e a participa o reconhecida pela compet ncia d identidade como as mudan as que s o produzidas pelas a es desenvolvidas 157 que apreendemos e como criamos hist rias pessoais de vir a ser de mudan as reais no contexto das comunidades WENGER 2001 p 22 Para Wenger 2001 existem ainda tr s dimens es para definir comunidades de pr ticas a o compromisso m tuo dos membros b uma empresa conjunta e c um repert rio compartilhado O primeiro deles implica o compromisso dos integrantes em participar das a es cujo significado negociam mutuamente pode se dizer que esse compromisso favorecer a realiza o das a es que se prop em realizar e para isso necess rio que o compromisso seja possibilitado pois ele que define a afilia o com a comunidade necess rio que haja um trabalho um esfor o e solidariedade para que a comunidade se mantenha Tamb m o autor fala em diversidade do grupo ao inv s de homogeneidade e em distintas rela es de parcialidade Esse compromisso m tuo cria rela es entre as pessoas que n o devem ser entendidas como de harmonia e felicidade ao contr rio implica tens es e conflitos que devem ocorrer em fun o da heterogeneidade do grupo e da diversidade de compet ncias que cada membro assume A se
264. lho e trabalhou durante dois meses A conheceu um rapaz e a gente foi morar com ele e a aconteceu tudo de novo e meu irm o saiu de casa Eu n o me dava bem com ele o companheiro da m e e minha m e cobrava que eu j era grande Tem que arrumar um emprego tem que seguir sua vida aquela press o Um estudo realizado em Portugal sobre a delinqu ncia juvenil revela o perfil dos jovens que cometeram algum tipo de ato infracional e destaca caracter sticas do grupo dom stico de origem 73 5 s o pobres 71 2 fazem uso de lcool e 52 8 referem viol ncia dom stica CARVALHO 2004 Situa o tamb m observada por Santos 2008 141 mesmo todos os dias e a primeira oportunidade que tive eu sa de casa entendeu Malcom Outros jovens que n o conviveram ou que tiveram pouco conv vio com as m es n o demonstram ressentimento durante a entrevista Justificam a aus ncia e declaram afeto s pessoas com quem puderam contar ao longo de suas trajet rias Foi aos nove anos eu vim pra c Voc sabe n pessoa do interior que n o tem condi es de criar e tal a a m e d pra uma pessoa criar Ent o eu tinha j duas irm s que moravam aqui em Salvador n Elas moravam na casa de uma pessoa tamb m Vem pra morar e trabalhar Quando ela me pegou aos nove anos ela que me criou praticamente se eu tinha nove anos Era uma crian a entendeu Mesmo que fosse com a finalidade de
265. lidade de obter informa es dessa natureza 94 analfabetos e Ensino Fundamental As v timas t m ocupa es que exigem pouca qualifica o as armas de fogo s o empregadas em 83 dos casos de homic dios e as v timas residem em reas com condi es prec rias CIRINO 2006c p 4 Essas informa es sobre a situa o de viol ncia no bairro s o fundamentais para compreender alguns aspectos que ser o trazidos ao longo do trabalho comum no bairro a discuss o sobre a falta de organiza o dos moradores Quanto s organiza es sociais n o est claro para a Administra o Regional de Brotas AR 5 o n mero real e a finalidade dessas organiza es Neste trabalho foram identificadas 21 entidades Tabela 1 Figuras 18 e 19 compostas de associa es de moradores por localidades e pessoas representativas e associa es culturais que desenvolvem atividades art sticas recreativas e assistenciais popula o muitas delas surgidas nos ltimos anos Por m os pr prios moradores se queixam por n o saberem ao certo as reais inten es de determinadas associa es de moradores que v o sendo criadas no bairro devido falta de transpar ncia quanto finalidade objetivos e atribui es dessas entidades No entanto not vel que algumas dessas institui es surgem diante da aus ncia do poder p blico para por exemplo responder as demandas imediatas da comunidade que nesse caso pode ser um grupo de mora
266. lives of urban youth Anthropology amp Education Quarterly v 32 n 1 p 29 51 2001 DONNANGELO M C F Sa de e sociedade SP Duas Cidades 1976 DOUGLAS M Pureza e perigo Lisboa 70 1991 DREYFUS H L Ser en el mundo coment rios a la division de Ser y Tiempo de Martin Heidegger Santiago Chile Cuatro Vientos 1996 DUARTE L F D Indiv duo e pessoa na experi ncia da sa de e da doen a Ci ncia amp Sa de Coletiva n 8 v 1 p 173 183 2003 DUBAR C Trajet rias sociais e formas identit rias alguns esclarecimentos conceituais e metodol gicos Educa o e Sociedade v 19 n 62 Campinas abril 1998 245 EISENSTADT E N De gera o a gera o S o Paulo Perspectiva 1956 1976 ESPINHEIRA G Salvador cidade das desigualdades Cadernos do CEAS Salvador Centro de Estudos e A o Social n 184 p 62 79 nov dez 1999 ESQUECERAM o bairro que lembra Cosme de Farias A Tarde Salvador 26 jun 1986 Caderno 1 p 4 ESTEVES JUNIOR M Da realidade do planejamento fragmentista utopia do urbanismo unit rio o medo e o cuidado dos urbanistas na hora da projeta o urbana In ESTEVES JR M URIARTE U M Orgs Panoramas urbanos reflex es sobre a cidade Salvador Edufba 2003 FAUSTINI D T et al Programa de orienta o desenvolvido com adolescentes em centro de sa de conhecimentos adquiridos sobre os temas abordados por uma equipe multidisciplinar Ci nc Sa de Coletiva v
267. lizei Comunidade aconteceu no dia 25 de maio de 2008 s 13h30 de um domingo O grupo se re ne sempre aos domingos tarde para conversar discutir propostas e ensaiar Eventualmente n o se re nem l e sim nos eventos que acontecem nos finais de semana Nesse dia a Igreja estava vazia e tive dificuldade de enxergar atrav s do vidro uma jovem negra de cabelos tran ados e com indument ria de tecidos coloridos quase africanos com quem estabeleci meu primeiro contato Ela n o faz parte da comunidade mas ao me receber informou que 185 tamb m fez parte de bandas na entidade algo que estimulado pela igreja A partir disso foi poss vel compreender algumas particularidades da igreja mas tamb m da comunidade que eu estava procurando A garota que me recebeu me apresentou o espa o da igreja e fotografias que estavam em um mural na parede Nelas sinalizou para mim os bispos fundadores e algumas fotos de uma banda evento organizado pela religi o o Renascer Price A banda evento conhecida e valorizada pelos jovens algo de que se orgulham e a que almejam chegar um dia Isso permite aos jovens a ela e depois comunidade referirem sobre a import ncia da igreja na perspectiva de constru o de uma carreira musical o que em alguns momentos me fez pensar como poss veis explica es para terem se encontrado ali 7 1 3 Uma Comunidade Pol tica A rela o entre juventude e pr tica pol tica foi marcante durante as
268. lmente internados mesmo n o apresentando qualquer altera o ps quica 2006 p 32 Com tudo isso h algo interessante no bairro e que talvez n o seja uma caracter stica apenas dele que a magnitude que certas personagens do passado tomam para o bairro e que se evidencia nos dias de hoje como o caso do Major entre outros H por exemplo uma mesma rua com tr s nomes de personalidades importantes para o bairro porque esses trouxeram benef cios e melhorias tais como o Carnaval o asfalto o auto falante ou ainda o primeiro nibus Para o Sr Os rio A rea de cumeada especificamente pertenceu ao Arcebispado da S e compreendia as reas de Campo Velho Heitor Dias e Baixa do Bonoc SALVADOR s d p 1 reas essas que ser o destacadas adiante Atualmente Pitangueiras o complexo da FUNDAC onde existem unidades de interna o e assist ncia a crian as e adolescentes de Salvador Existe inclusive um programa de incentivo da institui o a adolescentes que desejam residir em Cosme de Farias ao t rmino de cumprimento da medida de interna o Um dos jovens entrevistados participou do Programa 28 73 morador do bairro h 80 anos os nomes se devem aos antigos queles que chegaram primeiro no bairro A rua possui tr s denomina es locais Campo Velho Hamilton Lopes e Major C mara O nome Campo Velho por exemplo foi dado rua mas tamb m localidade no bairro porque as
269. ltural do bairro enfatizando o ponto de vista dos jovens sobre o bairro o que eles identificam como situa es de desconforto infort nios e como peculiaridades pr prias desse espa o O cap tulo 6 apresenta a partir da an lise das narrativas dos jovens a reconstru o de suas trajet rias biogr ficas no intuito de identificar conting ncias entendidas como vicissitudes e possibilidades nas vicissitudes que se circunscrevem rupturas desvios e aus ncias mas tamb m abertura de possibilidades Dentre as possibilidades que se ancoram nas vicissitudes e no contexto de vida dos jovens surge o cap tulo 7 Neste s o relatadas as pr ticas culturais 32 realizadas por comunidades formadas por jovens tais como as do rap renova o e a pol tica o surgimento e as caracter sticas dessas comunidades para ent o compreender os sentidos e significados que essas pr ticas assumem para os jovens nesse contexto espec fico Finalmente o cap tulo 8 traz algumas considera es tecidas com o objetivo de repensar a rela o entre contexto como espa o de uso e de estar com outros trajet rias de vida e pr ticas que favore am um outro olhar do campo da sa de quando relaciona risco a juventude descontextualizando processos e modos diferentes de levar a vida 33 Cap tulo 2 JUVENTUDE E CONTING NCIA NA MODERNIDADE Os estudos sobre a juventude surgem com a pr pria Modernidade Eles se destacam no intuito de c
270. m desde cedo o trabalho de pedreiro como j foi apresentado nas suas trajet rias de vida que para alguns nunca termina Mas os jovens das comunidades acompanhadas atribuem outros sentidos e significados quando fazem das experi ncias de trabalho ou dos ganhos materiais algo para alimentar os sonhos Muitos continuam a realizar esses trabalhos e atrav s deles conseguem comprar ou alugar o equipamento gravar em est dio comprar instrumentos e discos ir para shows e algumas vezes conseguem administrar as formas de ganhos de modo a assumir a pr tica como tamb m uma forma de sobreviver e viver com prazer Isso aconteceu por exemplo com Mago que fez da atividade de pedreiro uma forma de ganhar dinheiro para assumir de fato a banda de rap de maneira ativa Durante o trabalho de campo eu o acompanhei nos finais de semana levantando a casa construindo alguns c modos de tempos em tempos medida que ganhava algum dinheiro para atualmente alug los Desse modo consegue sobreviver e investir no sonho de ver a banda continuar Ele destina parte do tempo para escrever as m sicas encontrar est dios para gravar preparar o material contatar m sicos e Dj articular espa os no bairro para os ensaios divulgar o trabalho no bairro e al m disto sonha com um projeto para jovens no bairro pela via do movimento hip hop V rios jovens de diferentes comunidades rap religiosa ou mesmo pol tica falam das suas dificuldades Como j fo
271. m heideggeriana ser no mundo implica horizonte de possibilidades Uma id ia para compreender a fenomenologia o que Heidegger expressa como mais elevada do que a realidade est a possibilidade de apreend la como possibilidade 2006 p 78 Ent o nesse sentido as experi ncias vividas de possibilidades e vicissitudes podem ser narradas e a partir desta hist ria contada poss vel descortinar mundos Como refere Ricouer La ficci n narrativa como hemos dicho imita la acci n humana en la medida en que contribuye a remodelar esas estructuras y esas dimensiones seg n la configuraci n imaginaria de la trama La ficci n tiene esa capacidad de rehacer la realidade y de modo m s preciso en el marco de la ficci n narrativa la realidad pr xica em la medida en que el texto tiende a abrir intencionadamente el horizonte de una realidad nueva a la que hemos podido llamar mundo Este mundo del texto interviene en el mundo de la acci n para configurarlo o me atrever a a decir para transfigurarlo 2000b p 199 Assim Heidegger 2006 d origem a uma fenomenologia hermen utica segundo a qual a exist ncia humana interpretativa MOREIRA 2002 e a partir desse autor que Ricouer 2000a elabora uma teoria da interpreta o em que o texto pode desvelar mundos e permitir um reconhecimento do ser sobre si mesmo e como ou a partir de um outro 1996 Para Ayres 2001 o processo de compreens o d
272. m shifter que se cria e renova nas rela es produzidas atrav s dessas pr ticas BUCHOLTZ 2002 Richard Sennett a partir de uma perspectiva hist rica retrata a din mica dos corpos humanos no espa o urbano e assinala o modo como esses corpos se colocam como se aproximam se distanciam interagem e como revelam a 44 complexidade da vida nas cidades esses corpos sustentam a resist ncia domina o 2008 p 24 uma resist ncia que marcada pelo modo como os corpos se deslocam se movem como traduzem e manifestam as formas de domina o em um tempo e um espa o determinados Caracter sticas como diferen a diversidade densidade pela mistura de pessoas complexidade impessoalidade grosso modo definem os espa os urbanos Para esse autor alguns aspectos fundamentais devem ser considerados na compreens o da urbanidade que v o al m da cl ssica defini o da arquitetura que contempla o ponto de vista f sico e geogr fico mas n o o dos habitantes das cidades Sennett 2003 refere que os espa os urbanos podem ser compreendidos como espa os e lugares de diversidade em que a diferen a privilegiada onde existe uma concentra o alta densidade de pessoas e de diversidade num mesmo espa o como espa os que contemplam muitas possibilidades a imprevisibilidade e a espontaneidade como o lugar para a experi ncia corporal de encontros com outros corpos com um outro e com limites definidos para a i
273. ma o tem sido oferecido Ao mesmo tempo h um discurso do outro lado geralmente da classe m dia ou dos especialistas em juventude sobre os gostos e estilos destes jovens Gostos nem sempre interessantes e bem vistos por eles Mas afinal eles escolhem ou est o completamente absorvidos por esse padr o de m sica e de atrativos veiculados amplamente na m dia Isto me faz lembrar um ensaio de banda de rap que ocorre no bairro atualmente em um espa o organizado por eles chamado Espa o de Jac no Sossego Fiquei surpresa com as pessoas presentes Jovens de estilo mais descontra do cantando rap e reggae num espa o do bairro que mais parecia uma casa de show em um bairro nobre da cidade Provavelmente os jovens entrevistados sabem disto e percebem que medida que fossem ampliados espa os e oportunidades n o haveria tanto consumo de outros estilos como parece existir atualmente com o pagode quase um monop lio principalmente dentro de bairros mais pobres A cr tica vem dos jovens de forma contundente pois para eles h uma influ ncia ruim das m sicas sem consci ncia e que produzem efeitos perversos nas jovens do bairro A quest o da explora o sexual diretamente relacionada s mulheres jovens segundo eles se vincula ao pagode embora tamb m haja grande incentivo de familiares e moradores do bairro diante da perspectiva de ganho financeiro N o a maioria Mas infelizmente a gente vive numa era Eu sou
274. ma casa alugada para tal a partir de consentimento pr vio dos informantes Ap ndice B Estas entrevistas preliminares foram analisadas e interrogadas de modo a identificar equ vocos pontos a serem aprofundados incompreens es e aspectos n o trazidos pelo entrevistado SERRA 2007 Este procedimento subsidiou novas estrat gias entrevistas e observa es aprofundadas e sistematizadas em determinados locais de maior interesse do estudo os espa os de pr ticas no intuito de cercar o objeto em quest o e aprofundar pontos chave da investiga o 4 3 SOBRE OS INFORMANTES Da popula o total do bairro que pelos dados do Censo IBGE 2000 foi estimada em cerca de 35 500 habitantes 20 tem entre 15 e 24 anos Adicionando a faixa et ria de 10 a 14 s o mais 9 Portanto da popula o total do bairro mais de 10 000 pessoas est o na faixa dos ditos adolescentes e jovens e a grande maioria nesse percentual de afro descendentes com baixo n vel de escolaridade que n o trabalha ou est na categoria de trabalho informal e n o possui renda fixa A maioria vive com os pais ou familiares e j possuem filhos N o se distribuem regularmente pelo bairro Atrav s dos dados do IBGE por setores censit rios foi poss vel perceber que o n mero de jovens maior assim como as condi es de vida s o mais prec rias nas reas de encostas do bairro Este o perfil geral dos jovens de Cosme de Farias a partir dos dados do Censo I
275. maneiras de fazer A fenomenologia busca revelar o que est velado Deixar que as coisas se manifestem como s o sem que projetemos nelas nossas pr prias categorias PEREIRA 2008 Por isso t o dif cil para os profissionais e os especialistas donos de um saber pr prio se abrir para experi ncias e interpreta es de mundo na maioria das vezes contr rias a eles Para Gadamer 1998 a id ia de compreender alguma coisa vai al m de apreender o seu significado descobrir o que est escondido na alma Quando se permite ao outro narrar sua hist ria um campo de possibilidades se abre porque ao narrar ele se debru a sobre os acontecimentos e busca sentidos para as experi ncias vividas Por conta disto nem sempre s o situa es agrad veis pois a 236 experi ncia n o algo que possa ser poupado de algu m e em boa medida desapontam muitas expectativas essa sua ess ncia GADAMER 1997 Para o autor experi ncia pois experi ncia da finitude humana 1999 p 527 medida que experimentamos passamos a ter consci ncia de nossos limites e possibilidades Desse modo pensar a sa de dos jovens pensar sobre limites e possibilidades por m a partir das experi ncias vividas do modo como as experimentam e do uso que fazem daquilo que disp em e mais que isso de como eles vivenciam as situa es desagrad veis e como se disponibilizam frente a elas Neste estudo procurei n o falar em doen a
276. mapa das entidades e espa os de pr ticas no bairro Figura 25 poss vel perceber a dist ncia entre igreja e comunidade Ressuscitados que n o somente espacial mas simb lica S o menos de 300 metros que as separam por m o centro de Cosme de Farias rea privilegiada enquanto o Alto do Formoso uma localidade de dif cil acesso e de maior densidade demogr fica Existe inclusive uma pra a local uma rea bastante adensada em rela o a outras do bairro e com infra estrutura mais prec ria tamb m como se observa pelas informa es do IBGE por setores censit rios Mais que isso a Comunidade est para al m dos limites A u institucionais est interiorizada para seus praticantes Quero dizer com isso que a Comunidade passa a ser um espa o de conviv ncia de afeto de passar um tempo de sociabilidade para os praticantes Atrav s da descri o de uma pr tica realizada pela comunidade ser poss vel compreender os aspectos acima apontados Era segunda feira 19h30 do dia 7 de julho de 2008 anivers rio de cinco anos da Comunidade Ressuscitados Cheguei um pouco atrasada e todos pareciam me esperar reunidos em c rculo em uma sala de aproximadamente cinco metros quadrados Foram acolhedores e sorriam para mim como se estivessem mesmo esperando Deram in cio celebra o cantando uma m sica ao som do viol o tocado pelo filho da coordenadora que n o reside no mesmo local Ele se colocava no cen
277. mas e situa es colocadas no presente H muitos impasses um misto de progresso de querer assemelhar se s grandes metr poles ao lado da boa prov ncia que conforta 69 tentando manter tradi es Nesse contexto ela continua sendo um misto de cores de pessoas de mentalidades de tradi es e de expectativas do novo de abertura e de clausura de belezas e de tristezas uma cidade bastante complexa por m ainda a ser decifrada 5 2 A EXPANS O DA CIDADE E O SURGIMENTO DE COSME DE FARIAS No per odo compreendido entre 1800 e 1890 Salvador j sinalizava um movimento de expans o territorial que iria da costa at o interior da cidade Havia maior densidade populacional nas localidades pr ximas aos Fortes assim como prolongamentos da rea central para o Dique do Toror e v rios povoamentos inclusive Brotas a leste UFBA CEAB 1976 Em 1925 houve o primeiro registro de loteamento na Prefeitura GORDILHO SOUZA 2000 Entre 1932 e 1950 foram aprovados quase quarenta loteamentos de grande import ncia ocupando uma rea de 540 hectares espalhados por diversas reas da cidade sem contrapartida de obras de infra estrutura correspondente gerando problemas que se refletem at hoje A partir de 1940 acontece o grande crescimento da cidade que veio a transformar sensivelmente a paisagem Grandes concess es de terras foram dadas as ordens religiosas os ricos constru ram palacetes e luxuosos apartamentos nos bairros da Gra
278. mbra desses nomes Jota Neri Mica Canoa Os raios do passado prefiro que n o seja lembrado Podes crer aqui Cosme de Farias refr o Podes crer correria todo dia refr o Aqui onde vivo onde moro embalo Cosme de farias vem para o meu lado e conhe a esse bairro A nossa periferia E aquilo mesmo n o muda nada N o tem patifaria A m sica fala do bairro e n o qualquer bairro Cosme de Farias Os jovens falam de um tempo de pessoas que viveram este tempo de algo que passou mas que reconhe o no presente do bairro Assim como os reconhe o a m sica torna tamb m isto poss vel medida que outras pessoas se reconhecem nela e nestes lugares como a expectadora do ensaio deste modo que os jovens acessam o bairro n o apenas fisicamente mas simbolicamente H um pertencimento ao local e ao que do lugar Deste modo as comunidades do rap acessam outros jovens do bairro e de outros lugares da cidade Penso em uma das edi es do Programa Luminosidades Repercussivas de Mago onde ele havia falado algo semelhante na R dio Citou MV Bill importante rapper no cen rio nacional dizendo que as pessoas se comovem mais com as novelas da televis o do que com a vida real Ele refere elas vivem a morte de personagens como se fossem entes da fam lia choram e sentem at vontade de ir ao vel rio delas No entanto as mortes as chacinas na favela n o tocam do mesmo modo e passam at como irreais
279. mens o demogr fica Dispon vel em www ibge gov br Acesso em 26 out 2004 JACOBINA R R De santo S Jo o de Deus a m dico Juliano Moreira an lise hist rica do Manic mio Estatal na Bahia 1930 1937 Revista Baiana de Sa de P blica v 30 n 1 p 19 38 jan jun 2006 JEOL S L Os jovens e o imagin rio da Aids notas para uma constru o social do risco Campos n 4 p 93 112 2003 KELLE U An lise com aux lio de computador codifica o e indexa o In BAUER M GASKELL G Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual pr tico 2 ed Petr polis RJ Vozes 2003 KLIKSBERG B O contexto da juventude na Am rica Latina e no Caribe as grandes interroga es RAP Rio de Janeiro n 40 v 5 p 909 42 set out 2006 KUPERMAN B Um tema fenomenol gico o mundo Cadernos do CEAS Salvador Bahia s d LA MENDOLA S O sentido do risco Tempo Social Revista de Sociologia da USP v 17 n 2 p 59 91 nov 2005 LEITE P R Contra usos e espa o p blico notas sobre a constru o social dos lugares na Manguetown Revista Brasileira de Ci ncias Sociais v 17 n 49 p 115 134 jun 2002 LEVI G SCHMITT JC Hist ria dos jovens S o Paulo Companhia das Letras 1996 v 1 e 2 248 LIMA A Funkeiros timbaleiros e pagodeiros notas sobre juventude e m sica negra na cidade de Salvador Caderno Cedes Campinas SP v 22 n 57 p 77 96 ago 2002 LIMA S Ataque mata um
280. meu orientador Ordep Serra Agrade o muito pela aceita o do trabalho pela liberdade que me propiciou para realiz lo mas principalmente pela sutileza das id ias que me lan ou 7 de repente Miguilim parou em frente do doutor Todo tremia quase sem coragem de dizer o que tinha vontade Por fim disse Pediu O doutor entendeu e achou gra a Tirou os culos p s na cara de Miguilim E Miguilim olhou para todos com tanta for a Saiu l fora Olhou os matos escuros de cima do morro aqui a casa a cerca de feij o bravo e s o caetano o c u o curral o quintal os olhos redondos e os vidros altos da manh Olhou mais longe o gado pastando perto do brejo florido de s o jos s como um algod o O verde dos buritis na primeira vereda O Mut m era bonito Agora ele sabia Olhou M itina que gostava de o ver de culos batia palmas de m o e gritava Guimar es Rosa 1970 p 103 RESUMO O presente estudo visa compreender os sentidos e significados das pr ticas culturais produzidas por jovens em um determinado contexto e conhecer as conting ncias vividas e percebidas nas suas trajet rias biogr ficas porque parte do pressuposto de que as pr ticas surgem dessas experi ncias de vida bem como dos recursos e instrumentos apropriados e re apropriados por eles nesse contexto A pesquisa foi desenvolvida em dois momentos a uma etnografia do bairro de Cosme de Farias a fim de descrever o contexto onde os joven
281. mo subst ncia inibidora da fome e que d sensa o de prazer Tamb m identifico essas dificuldades na inf ncia de poder ser crian a nas narrativas de outros jovens Para Prometeu a brincadeira acontecia na igreja fugindo do pai que fazia uso de lcool continuado para Lua a brincadeira foi cuidar do gado e do ro ado desde cedo A pobreza sempre esteve presente por m em nenhum momento isso aparece com clareza nos discursos dos jovens Eles n o atribuem suas situa es de vida a essas in meras faltas Elas aparecem nas entrelinhas quando contam hist rias a partir dos meus pedidos de esclarecimento sobre determinados acontecimentos Em outro n vel a quest o da sobreviv ncia aparece para Anjo talvez de forma mais complexa acerca dessas necessidades ou faltas Ele tem vinte e poucos anos como prefere dizer um jovem muito citado por outros jovens tanto pelos seus feitos no bairro quanto pela ajuda oferecida a outros jovens Marquei uma entrevista com ele e pretendia realiz la na casa que aluguei no bairro Marcamos no fim de linha e quando o vi fiquei surpresa Anjo negro cabelo estilo black power grande com v rios piercings pelo corpo e um jeito calado e observador que me intimidava Fiquei preocupada em lev lo para casa mas n o houve outro modo Depois em contato com ele em outros espa os e eventos do bairro notei o quanto 129 eu estava movida por preconceitos e Anjo se tornou tamb m par
282. ncia do pai ou figura paterna Ao deparar se com a realidade entrou em contato com um jovem cuja trajet ria foi marcada pela delinqu ncia Por m esse mesmo irm o lhe apresentou o mundo da rua um jeito de ganhar a vida a FUNDAC o rap entre outras coisas sonhava pra caramba com o meu irm o que ia conhec lo cresci sozinho da senti muita vontade de dividir as coisas com ele por ele ser mais velho e eu achar que ele j era um homem j formado sabe t festar me protegendo protegendo a minha m e Da quando ele veio pra c foi totalmente diferente ele era mais baixo do que eu chegou com o cabelo todo amarelo porque l ele dormia na rua algumas vezes brigava com os parentes da gente ele sa a de casa voltava e a vida a vida dele era meio conturbada l em Goi nia Ele chegou voc olhava pra ele voc dizia que ele era menino de rua todo magro com o rosto cheio de sabe aquelas cicatrizes assim pequenas o cabelo todo amarelo meio colorido assim Da foi uma decep o completa pra mim tanto pra mim quanto pra minha m e Malcom Tamb m para Mago foi a figura do irm o que lhe abriu possibilidade de conhecer o rap e constituir uma banda O irm o mais velho foi integrante de uma importante banda de rap na d cada de 1990 do bairro os Le es do Rap e com quem at hoje desenvolve a pr tica Mago perdeu a m e ainda na adolesc ncia e Sobre o Le es do Rap ser dedic
283. nciada dentro e fora de casa Com os jovens da comunidade Ressuscitados eles ressaltam o reencontro com seus familiares que mesmo n o compactuando com suas doutrinas religiosas se mostram orgulhosos com as mudan as na vida do jovem Este antes diz respeito aos comportamentos e posturas que os jovens apresentavam por exemplo os desvios trazidos 209 anteriormente no trabalho que deixaram marcas e registro na sua trajet ria A partir do momento em que experimentaram Deus tudo passou a ser diferente Ent o isso a luta de cada dia o bairro tudo mas a gente tem procurado fazer um trabalho bom nisso pra ajudar as pessoas n Porque o neg cio do Carisma esse resgatar o carisma resgatar o amor de Deus resgatar os jovens Prometeu Este um fragmento de Prometeu sobre o trabalho que realiza na Comunidade Como j foi trazido na sua trajet ria biogr fica ele luta todo momento para n o pecar ou melhor distanciar se das tenta es e conflitos que fizeram parte da sua hist ria A partir do momento em que encontrou o carisma encontrou Deus e foi resgatado O carisma esse dom que precisa ser revelado ele existe para o jovem e para qualquer pessoa por m precisa ser desvelado Essa revela o se d quando ele resgatado porque est longe de si e de Deus medida que resgatado esse carisma se mostra e aparece para ele como algo que seu e que ele precisa cuidar Como seria esse cuidar do pont
284. nciam das situa es e pessoas vinculadas s situa es de desconforto no intuito de se diferenciarem para poderem inclusive ser espelho para elas Nessa diferencia o passam a realizar coisas para ele e para outros e essas coisas seus fazeres geram mudan as em sua vida mas tamb m na vida de outros o que os torna diferentes em um espa o em que antes eram estigmatizados Passo ent o ao terceiro e ltimo aspecto das pr ticas como geratrizes de mudan as que est relacionado ao acesso dos jovens ao bairro e cidade As comunidades de pr ticas t m conhecimento sobre o que o bairro de Cosme de Farias Elas identificam as dificuldades sabem exatamente onde elas residem e fazem dessas dificuldades possibilidades para a mudan a Identificam dificuldades para o uso e o tr nsito no bairro e nos equipamentos e entidades existentes mas come am a utilizar os recursos das pr prias comunidades para acessar novos espa os Assim as m sicas produzidas e os eventos organizados pelas comunidades passam a dar sentido e significado ao bairro e s vicissitudes para os jovens mas tamb m para al m deles Ensaios abertos onde se pode ouvir a m sica que fala do bairro ou dos negros favelados que l se situam eventos sobre a consci ncia negra ou sobre a situa o dos terreiros de candombl reuni es com grupos de jovens do bairro ou apenas a cria o de espa os que jovens do bairro possam fazer uso s o algumas possibilidades
285. nde se encontram os bairros com piores condi es de vida com rede de infra estrutura mais prec ria com menor n mero de equipamentos e que agrega a popula o de mais baixa renda no centro da cidade onde se encontra o espa o mais densamente povoado FERNANDES 2006 em particular nas reas elevadas que teimam em subsistir s press es dos bairros vizinhos de popula o mais abastada o caso de Cosme de Farias por exemplo quando se observa o adensamento populacional do bairro em rela o aos bairros vizinhos bem como a ocupa o vasta e irregular provocando uma aus ncia de reas livres e verdes que possam servir de escape popula o Figuras 1 e 2 Carvalho e Pereira 2006 mostram como esses bairros envoltos em outros de m dia e alta renda subsistem a condi es bem diferenciadas com um tipo de popula o dita popular subproletariada de maioria migrante e com alta concentra o de pretos e pardos Como muitos dos bairros de Salvador Cosme de Farias era originariamente uma fazenda com muitas rvores frut feras Pertencia a uma fam lia de sobrenome Saldanha e posteriormente parte das terras foi arrendada por freiras passando a denominar se Quinta das Beatas comprou da fam lia Saldanha essa grande rea de Cosme de Farias mas n o o bairro todo uma parte do bairro a parte da fam lia Saldanha Era uma fazenda mas j toda ocupada Eu fiz inclusive pesquisa com moradores antigos eu tenho re
286. ndo e verticalizando a paisagem a partir de cada beco que sai da rua principal H muita gente na rua pelos passeios quase sempre inexistentes do ponto de vista do seu uso e particularmente pelas ruas Muitos carros trafegam 75 pelas vias estreitas e labir nticas que circulam por entre o bairro o que me d a sensa o de um certo caos O com rcio grande seja formal ou informal o de barracas nos passeios e ruas e a popula o caminhando em sua maioria a carregar uma sacolinha de pl stico na m o sempre a comprar algo na Feira quase que permanente do bairro As pessoas andam mais despojadas de chinelos bermuda e camiseta de bon me d o a impress o de que n o v o muito longe Da rua principal do nibus observo as vielas e becos que se esparramam quase invis veis do meu ponto de vista Mas a partir do momento que me apercebo de uma ruela um mundo se descortina para mim H m sica alta mais que uma muitas m sicas diferentes H apenas uma via de acesso a grandes ve culos que atrav s da Rua Cosme de Farias a principal do bairro situada no seu centro a partir da Rua Pitangueiras em frente ao Largo de Paranhos via preferencial para nibus e caminh es Mas h tamb m v rias outras vias de acesso comumente utilizadas pelos moradores atrav s das escadarias nas encostas Essas com sa das para a Avenida Bonoc que circunda toda a por o sul e leste do bairro facilitam o acesso dos mora
287. ndo em 84 hectares sem um nico espa o aberto al m da Pra a que inclusive controlado pela Igreja Cat lica Um bairro com indicadores de pobreza e com aus ncia do aparelho estatal n o pode ser desconsiderado nas an lises sobre situa o de vida e sa de de jovens urbanos Cosme de Farias parte de um contexto global mais amplo mas tamb m lugar onde se desenrolam hist rias e pr ticas que o particularizam precisamente singularizam as pessoas desse lugar Ser favela torna se sin nimo de n o ter dignidade mas n o s S o todas faces de uma mesma favela Por m nessa favela termo apenas usado por alguns jovens que eles constru ram suas hist rias de vida e onde projetam identidades Em 2008 houve a reforma da Pra a e para isto foram convocadas lideran as do bairro no intuito de discutirem como realiz la Alguns jovens acompanharam este processo e referiram que a igreja n o consentiu com a coloca o de equipamentos de gin stica e muscula o bem como jogos de mesa para os idosos porque isto poderia incentivar pr ticas n o permitidas pela igreja tais como jogos e exposi o do corpo em pra a p blica 111 Cap tulo 6 AS CONTING NCIAS NA VIDA DE JOVENS NARRATIVAS BIOGR FICAS Vida plenitude de formas riqueza de inven es um oceano de possibilidades t o imprevis vel e aventuresco quando nem precisamos mais do transcendente SAFRANSKI 2005 p 78 Contar a pr pria hist ria implic
288. nidades um estilo de rap que denuncie as chamadas fissuras sociais por que passa a grande maioria dos jovens e a popula o do bairro o rap den ncia o rap protesto ou um estilo que se aproxime do gosto popular que contribua para a divulga o do rap e n o estigmatize os jovens que com ele se identificam Esses elementos me fazem pensar em uma discuss o levantada por Herschmann 2000 sobre a preocupa o de integrantes do movimento com a expans o do rap na grande m dia O autor fala de momentos em que o rap glamourizado pela m dia marcando sua entrada no mercado e agregando muitos postos de trabalho nos eventos crescentes na cidade do Rio de Janeiro particularmente por m ressalta a outra face da demoniza o do rap quando a mesma m dia relaciona os principais acontecimentos violentos da cidade com os bailes e eventos de rap e funk Vejo que h este tipo de ambiguidade no movimento assim como para com seus praticantes Parte disso acredito se deve pr pria 178 discuss o sobre a modernidade Os jovens como outros grupos et rios tamb m vivem em tempos de modernidade o que significa pensar sobre a rela o constante entre o que local e o que global o que trago do meu espa o da minha cultura mas tamb m o que recebo de outras terras e outras culturas Al m disso acredito que os jovens pelas pr prias fragilidades com que viveram at hoje e a falta de perspectivas futuras buscam alternativas e
289. no WIKIPEDIA 2007 importante ressaltar que os terreiros de candombl sofreram persegui es de toda ordem dos s culos XVIII ao XX e recentemente v m sofrendo inclusive das igrejas neo pentecostais SANTOS 2008 p 5 Ao longo do trabalho o candombl ser retomado em diferentes passagens porque faz parte da hist ria do bairro e deste modo se inscreve na hist ria de seus moradores Exposi o no Museu de Arte Moderna da Bahia em agosto de 2006 35 36 79 Um estudo de Santos 2008 identifica outros trabalhos que revelam a magnitude com que os terreiros de candombl foram se instalando na cidade de Salvador Os candombl s j abundavam na cidade e nos sub rbios no s culo XIX SILVA CAMPOS apud SANTOS 2008 um estudo de Pierson dos anos 1930 j ressaltava a presen a de terreiros prioritariamente em reas habitadas por negros e mesti os escuros 2008 p 4 Esse acontecimento pode estar relacionado ao fato de Cosme de Farias ser um dos bairros se n o o bairro com maior n mero de terreiros de candombl da cidade pela sua extens o e concentra o contando com 36 cadastrados em 1 408 identificados na cidade em recente levantamento realizado pelo Centro de Estudos Afro Orientais CEAO SANTOS 2008 V rios autores discutem o processo de povoamento e mobilidade social da popula o de Salvador Sabe se que desde os s culos passados houve um forte processo migrat rio condicionado pela s
290. no mundo da droga ou entra no mundo da cacha a que uma droga tamb m o alcoolismo no meio dos jovens assim um dos maiores O alcoolismo ou o uso de bebida alco lica continuado como ser poss vel perceber no cap tulo que se segue algo j bastante acompanhado por esses jovens ao longo de suas inf ncias Para Athayde et al 2005 h correla o entre pobreza viol ncia baixa auto estima e uso de bebida alco lica e esses fatores favorecem ainda mais a ocorr ncia de outros problemas que afetam particularmente os jovens Algumas situa es colocadas por eles evidenciam a fragilidade do Estado que se reflete no bairro Os jovens n o t m muitas oportunidades e se agarram s que aparecem Algumas situa es como o uso de bebida alco lica continuado parecem fazer parte Favela segundo Ferreira 2008 o conjunto de habita es populares toscamente constru das por via de regra em morros e com recursos higi nicos deficientes Sobre o uso do espa o e seus significados para os jovens destina se o cap tulo 7 108 das hist rias dos moradores do bairro S o situa es que passam de pai para filho e se exacerbam medida que as chances de mudan a diminuem S o muitas hist rias familiares de fracassos e fracassados que os jovens n o querem reproduzir Alcoolismo alcoolismo eu acho que o campe o alcoolismo acompanhando com gera o de emprego e renda que n o tem uma pol ti
291. novo em uma conviv ncia nem sempre pac fica Em alguns locais ainda se encontra o ar interiorano das cadeiras nas cal adas das fogueiras na rua em dia de S o Jo o e do bate papo a rua ainda um espa o de di logo de lazer de jogar conversa fora Do mesmo modo em alguns locais praticamente imposs vel encontrar gente na rua encontrar inclusive cal adas para caminhar ou passeios como se diz aqui Nos lugares com ares do interior aqueles que ainda resistiam em anos passados quando o Sub rbio era um lugar de veraneio calmo e para descansar hoje n o h espa o inclusive para habitar SOUZA 2002 Por m n o preciso cortar a cidade para encontrar essas mesmas caracter sticas em outros bairros Nos bairros mais centrais como por exemplo Cosme de Farias poss vel encontrar reas que sofrem os mesmos problemas e a mesma discrimina o com a facilidade por m de estarem pr ximos dos servi os b sicos e poderem desfrutar de alguns privil gios como poder ir andando para economizar o transporte ou ir para o reggae no Pelourinho para muitos o nico espa o de lazer poss vel na cidade Ao mesmo tempo Salvador uma cidade que abriga cada vez mais gente de fora do Estado e estrangeiros com maior poder aquisitivo que demandam da cidade melhores servi os e recursos Em todas as situa es nota se que costumes h bitos e dificuldades do passado continuam a conviver com os proble
292. nte para profissionais de sa de e jovens no sentido de trazer informa es que possam ajudar na melhoria das a es de sa de para jovens na cidade de Salvador Os resultados da pesquisa dever o ser liberados a qualquer momento a depender do interesse dos participantes da pesquisa Caso ocorra qualquer dano ou despesas com a pesquisa por parte das institui es estas dever o ser ressarcidas A sua participa o em qualquer tipo de pesquisa volunt ria Em caso de d vida quanto aos seus direitos escreva para o Comit de tica em Pesquisa do Instituto de Sa de Coletiva da Universidade Federal da Bahia Endere o Rua Augusto Viana s n 2 andar Campus Universit rio do Canela Salvador Bahia Cep 40110 170 Tels 3263 7418 E mail ppgsc ufba br Website www isc ufba br Local e Data Assinatura do representante da institui o Assinatura da pesquisadora respons vel 261 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO COMPOSITORES DAS BANDAS Eu membro da Banda tomei conhecimento deste estudo que tem como objetivo conhecer atividades art sticas religiosas e pol ticas realizadas por jovens no bairro de Cosme de Farias e compreender a rela o destas atividades com suas trajet rias de vida O estudo pretende conhecer o trabalho que os jovens realizam como por exemplo suas m sicas e performances registrados em CDs e ou DVDs Para as bandas e grupos que participarem deste estudo necess rio saber que
293. ntera o com esse outro GR NLUND 1997 p 4 5 Nesse sentido a cidade um espa o que tanto proporciona o encontro quanto o isolamento que proporciona a singularidade e a diversidade mas tamb m a disputa pela individualidade e o lugar da troca mas tamb m do enfrentamento Certeau refere que a cidade combina gest o e elimina o que tanto um espa o de possibilidades de constru o quanto de rejei o a tudo que n o trat vel e constitui portanto os detritos de uma administra o funcionalista anormalidade desvio doen a morte etc 2008 p 173 e concebe a cidade como um lugar onde h um constante processo contradit rio que se d pelo uso e consumo que os sujeitos fazem dela Assim objetiva explicitar as combinat rias de opera es que comp em tamb m sem ser exclusivamente uma cultura e exumar os modelos de a o caracter sticos dos usu rios dos quais se esconde sob o pudico nome de consumidores o estatuto de dominados o que n o quer dizer passivos ou d ceis O cotidiano se inventa com mil maneiras de ca a n o autorizada CERTEAU 2008 p 38 H algo que se estabelece e assume a predomin ncia sobre os sujeitos mas h algo que desorganiza que vai de encontro l gica do poder Certeau fala em ast cias e combina es de poderes sem identidade sem uma identidade reconhecida 45 pelos valores e poder dominantes Essas outras formas de poder que ocor
294. ntes preconcebido de jovens que n o teriam responsabilidade para assumir Nesse sentido a rela o entre juventude e irresponsabilidade que aparece com mais nfase no discurso desses jovens no intuito de explicar a postura dos adultos lideran as e dirigentes de rg os evidencia o preconceito face caricatura da juventude veiculada socialmente mas tamb m apresenta as dificuldades e conflitos inerentes distribui o de espa o pol tico e posi es de poder no bairro Deveria ser o Distrito ou o Posto de Sa de s que devido a gente ter ido buscar a gente tinha muita dificuldade mesmo pra poder realizar algumas coisas a que a gente fez A gente partiu pra fora A gente come ou Confer ncia Secretaria de Sa de audi ncia com o Secret rio esse neg cio todo a gente quebrou Hoje eu posso te dizer uma coisa infelizmente hoje dentro da sa de a gente tem mais facilidade de buscar algumas coisas pra Brotas do que o pr prio Distrito hoje o Distrito faz quest o de ser parceiro nosso porque antes era dif cil hoje eles fazem quest o de t nos eventos convida a gente hoje a gente prop e 70 dos eventos no Distrito a gente que fez a proposta e correu atr s Castor Nesse fragmento poss vel perceber que eles atravessaram a fronteira do poder Nas incurs es de campo recordo me de uma reuni o para realizar uma Feira de Sa de no bairro com a participa o de v rias lideran as e intere
295. ntidade deve ser a entendida n o da maneira como a Psicologia por longo tempo formulou relacionando a adolesc ncia a uma prolongada busca por identidade nem como um conceito r gido e universalista bastante discutido atualmente A identidade deve ser vista como atua o flex vel e em mudan a mesmo mas n o apenas para os jovens mas para pessoas de qualquer idade BUCHOLTZ 2002 p 532 Nessa nova proposta de abordagem da juventude imprescind vel a discuss o sobre riscos e modernidade Ao falar sobre os modos de vida dos jovens Essa leitura sobre o conceito de identidade se vincula perspectiva de Stuart Hall 2001 para o qual n o poss vel falar em uma identidade fixa e permanente quando h processos r pidos e cont nuos de transforma o na sociedade moderna ou melhor dizendo na modernidade tardia O processo de constitui o como pessoa parte das dimens es macro e micro Macro a que est o todos envolvidos e que n o podem ser negligenciadas nesta an lise mas tamb m das dimens es micro como o grupo familiar a vida no bairro dentro de um determinado tempo e espa o social a partir das hist rias vividas neste contexto e particularmente das intera es que s o constru das ao longo da vida 36 nas cidades atualmente a maioria dos trabalhos refere os problemas como se fossem pr prios dos jovens mas n o s o S o situa es novas que exigem m ltiplas formas de enfrentamen
296. nvencido do que faz Nasceu em Ipia interior da Bahia e veio para Salvador com oito anos N o conheceu o pai que saiu de casa quando ele tinha seis meses de idade Viveu com av s e tios durante esse per odo apanhando com frequ ncia segundo ele por qualquer coisa que fazia A trajet ria de agress es que marca a entrevista de Malcom pode ser compreendida em tr s momentos a um primeiro na inf ncia em Dubar 1998 defende uma perspectiva relacional que articula dois aspectos necess rios compreens o do processo identit rio a trajet ria objetiva mais relacionada s posi es sociais que os indiv duos ocupam durante a vida e a trajet ria subjetiva relacionada a hist ria pessoal vis es de si e do mundo colocadas pelos indiv duos Nesse estudo n o tenho a pretens o de construir mapas que processualmente v o redefinindo essas trajet rias como sugere a autora pois isso n o faz parte dos objetivos do trabalho Por m me ocupo de algumas perspectivas para tentar compreender como os jovens narram essas hist rias e como atribuem significados a situa es que s o recorrentes em muitas delas 118 que era agredido pela m e tios e av porque infringia as normas rigorosas da casa b um segundo durante a adolesc ncia envolvido pelo cen rio de agress es sofridas pela m e dos companheiros c e um terceiro pelas agress es sofridas nas in meras batidas policiais na rua Os trechos a seguir
297. o Por m essa mulher nem sempre a mesma que est em casa com quem estabelece la os mais firmes e em quem aposta para casar Em diferentes situa es do dia a dia as companheiras dos jovens n o est o presentes nos eventos e pr ticas que eles realizam Est o em casa nas tarefas dom sticas Em um evento em que se realizava a grava o do clip da banda Ensino B sico perguntei ao integrante porque a namorada n o estava presente no evento j que ele fez convites a v rias jovens do bairro para participarem e ele disse que n o era espa o para ela Mas ao mesmo tempo h uma cobran a para que as companheiras estejam mais engajadas e comprometidas com os problemas sociais e o trabalho que realizam Algumas vezes na casa dos jovens do rap percebia que as namoradas ou companheiras n o faziam parte das discuss es ou das pr ticas Estavam na cozinha preparando almo o ou em alguma parte da casa e eu mal tinha acesso a elas Percebo que h diferen as quanto ao lugar da mulher da casa e o lugar da mulher da rua e isso aparece quando os jovens falam das jovens do bairro generalizando um padr o que inclui promiscuidade prostitui o e vida f cil Nesse per odo al m da m sica Quero voc baby h um CD do grupo Imp rio Negro N1 intitulado Ax para Mulheres ambos dedicados mulher negra Para o rapper do Imp rio o CD foi realizado em homenagem a grandes mulheres de sua vida como a m e e uma direto
298. o s pessoas respons veis pelo domicilio NS 2881 asa usas ao Ata ie Ma N vel de alfabetiza o da popula o de Cosme de Farias COD E LBA ota ad Ra fe Ap ERR RR a Figura 16 Alfabetiza o por faixa et ria em Cosme de Farias n 28 542 Figura 17 N vel de escolaridade dos respons veis por domic lio em Cosme de Farias MESA aa Can aaa ANSA ade np cu nennen Figura 18 Espacializa o das entidades mapeadas em Cosme de Farias ED aa E ae aa E Figura 19 Distribui o das entidades identificadas em Cosme de Farias por categorias N 54 ana e Ad Rd RE nnn nnn 71 71 74 76 78 80 82 83 84 84 85 86 86 87 87 88 88 89 Tabela 1 Perfil das entidades mapeadas em Cosme de Farias n 54 90 Figura 20 Distribui o das entidades religiosas identificadas em Cosme de Faras D safa Quan SS aa bar sa REE e A E AN Figura 21 Cosme de Farias visto a partir de Campinas de Brotas 98 Figura 22 A Pra a Cosme de Farias e seus habitu s 98 Figura 23 Mapeamentos das Comunidades e Espa os de Pr ticas dos JOVENS as Mia dan sis cada ada es a ida Db PRA a PR 158 Figura 24 Tr nsito de jovens durante a grava o do clip no Bar Black Point 169 Figura 25 Entidades e Espa os de Pr ticas dos Jovens mapeadas em Cosme 215 de Farias Figura 26 Ensaio da Banda Preto S bio 05 Espa o JC
299. o ao longo da narrativa pautado em dar poucas ou nenhuma informa o de sua hist ria pregressa familiar ou pessoal ou das coisas erradas que tenha praticado ou em que tenha se envolvido das quais ele tenta a todo custo se livrar A religi o a forma que encontrou para suportar o sofrimento N o e tamb m algo assim meio que eu j confidenciei mas n o sei por enquanto agora n o Mas tem um espinho como diz Paulo na pr pria B blia que eu carrego aqui na minha carne o que isso Eu tenho um pecado que a gente traz infelizmente quando crian a adolescente conhece as coisas erradamente e quando chega numa fase de maturidade infelizmente a gente se sente preso porque muita liberta o muitas coisas como crian as que j passou por muitas coisas quando era e fica a gente julga muito Ah faz isso faz aquilo mas ningu m sabe o in cio as ra zes Ent o eu tenho algo assim de muita luta entendeu 135 Ent o carrega se cada dia eu uso meu PHN Por Hoje N o at mesmo pelo fato de eu conhecer coisas erradas na vida eu digo assim o lado espiritual e isso a gente tem que viver cada dia porque cada um tem suas fraquezas cada um tem seus traumas cada um na sua fase de adolesc ncia faz coisas que depois com a maturidade descobre que n o t o boa assim ent o voc tem que viver a cada dia lutando at chegar um determinado ponto de vida onde voc se
300. o com saia abaixo do joelho e camisas de manga comprida Por m a maioria jovem se veste sem apresentar restri es com bermudas cal as compridas cabelos soltos etc N o h diferen a na participa o de homens e mulheres embora as mulheres se destaquem mais ao falar Os homens e alguns jovens se mostram mais observadores Por m os sorrisos e o afeto entre eles de forma brincante faz parecer que h ali um espa o de acolhimento e satisfa o O que chamou a aten o para a comunidade foi a rela o que esse espa o tem para os jovens que conheci um espa o em que encontram outros jovens com quem se identificam e compartilham propostas conjuntas Eles realizam pr ticas de ora o evangeliza o de forma o espiritual al m de atividades que se estendem para o bairro a outros moradores como por exemplo distribui o de sopas e alimentos forma o para jovens entre outras de forma mais espor dica Algo bastante enfatizado pela comunidade se refere s dificuldades com a Igreja Cat lica 183 no que se refere ao dogmatismo e limita es impostos pela igreja e que restringem o campo de possibilidades para o que desejam realizar no bairro Tal como a Comunidade Ressuscitados a Comunidade Justificados pela F tamb m um espa o que busca a renova o Eu os conheci atrav s das comunidades de rap do bairro Na verdade conheci Cristiano l der do grupo em ensaios de bandas e s vezes p
301. o pagode Na rua pagode tenha qualquer coisa pagode Tem vezes que fica quatro carros no mesmo lugar tocando pagode como que pode E tamb m falta cultura falta um lugar pra tem a associa o de bairro que muita gente nem viu falar n o sabe quem o presidente ningu m sabe tem quatro associa o de bairro a em cima e ningu m v nada e ningu m v nada alguma coisa s cio educativa alguma coisa cultural algum projeto ningu m v nada Ent o se chega um carro que toca pagode todo mundo vai ouvir pagode e n o tem outra alternativa Agora os amigos influencia todo mundo influencia vai ficar s nessa ai n o tem uma cultura n o tem uma outra cultura pro jovem ficar se espelhando ficar se promovendo principalmente isso que t faltando porque isso fazer cultura Sem cultura gera viol ncia Essa cr tica ao pagode tamb m frequente pois o estilo do ritmo relacionado aos comportamentos particularmente das meninas Falam dos seus gestos gostos tipos de roupas e modos de ser e h certa discrimina o nos discursos Por m no fragmento acima percebo que o pagode no bairro supre a falta Notas de Di rio de Campo 12 de mar o de 2007 15h00 Ensaio de Banda 107 de outras coisas Que outros espa os ou estilos s o oferecidos nos bairros pobres A que canais de r dio televis o e outros meios de comunica o esses jovens pobres t m acesso atualmente na cidade Que tipo de progra
302. o trabalham em favor da valoriza o da pessoa e das rela es pessoais gerando um aumento da auto estima e impulso empreendedor al m de ajuda m tua e o estabelecimento de la os de confian a e fidelidade ALMEIDA 2004 p 21 Desse modo as igrejas neo pentecostais v m crescendo em n mero de fi is e igrejas com diferentes denomina es formadas por um n mero de jovens cada vez maior com predom nio para os de baixa renda e escolaridade A Igreja Renascer Apost lica em Cristo uma das igrejas neo pentecostais que surge no Brasil no ano de 1986 em S o Paulo atrav s da iniciativa de dois bispos que passam a realizar reuni es no pr prio apartamento cujo p blico alvo o jovem A palavra chave restaura o a segunda maior denomina o neo pentecostal brasileira Embora de denomina es diferenciadas essas comunidades possuem em comum um n mero de jovens proporcionalmente maior que outras faixas et rias realizam pr ticas direcionadas para os jovens e centradas no bairro incorporam uma din mica de trabalho e dedica o deles s comunidades dando a eles um sentido de pertencimento e valora o diferenciados em rela o a outros momentos de vida Passo ent o a descrever cada comunidade quanto origem e caracter sticas A Comunidade Ressuscitados possui cinco anos de exist ncia no bairro de Cosme de Farias exatamente na localidade do Alto do Formoso rea que vincula o centro do bairro s encos
303. o a viol ncia o tr fico e uso de drogas e a explora o sexual feminina Para eles essas situa es n o s o problemas dos jovens mas sim problemas que afetam a todos que habitam o bairro de um modo ou de outro Dentre essas situa es de desconforto a viol ncia aflige particularmente aqueles que est o envolvidos com o tr fico de drogas Os envolvidos s o sempre outros conhecidos amigos de inf ncia ou n o dos quais esses jovens se colocam dist ncia como uma forma de diferencia o e prote o A viol ncia aumenta cada dia mais para eles assim como o consumo de drogas inclusive o lcool que h anos passa de pai para filho Outra situa o de desconforto a quest o da explora o sexual que afeta particularmente as mulheres jovens Estas muitas vezes influenciadas pelas m es e mulheres do bairro est o cada vez mais buscando formas de resolu o dos seus problemas financeiros atrav s da venda do corpo Para os jovens acompanhados no estudo isso inclusive fomentado pelo tipo de m sica e estilo pagode fortemente propagado nos bairros pobres da cidade de Salvador atualmente Na ocorr ncia dessas situa es de desconforto os jovens determinam in meras faltas existentes no bairro Os discursos identificam as faltas n o h espa os de lazer n o h possibilidades de trabalho e n o h perspectivas de forma o para os jovens seja no bairro seja na cidade A inexist ncia dessas coisas favorece
304. o ator social 2007 p 72 Assim a nfase no imprevisto no incerto e consequentemente no negativo aumenta em rela o ao seu oposto e isto sugere temor e evita o Nesse ponto o autor relaciona conting ncia ao conceito de risco quando percebe que apenas o aspecto negativo levado em conta n o h abertura para o que h de possibilidades a partir dos acontecimentos ou seja das chances sorte etc Sugere que na gest o do risco preciso que haja espa o para a oposi o existente no pr prio conceito Assim para Bruseke 2007 a no o de conting ncia abarca outras no es inclusive amplia a no o de risco que abriga apenas uma dimens o da realidade Por conta disso busca na no o de conting ncia desde a origem com que o termo foi discutido uma ambiguidade que me parece mais interessante para tratar as quest es que envolvem os jovens na modernidade Assim a no o de conting ncia me leva a pensar em dois aspectos que s o constituintes do termo as vicissitudes e as possibilidades atributos indissoci veis s conting ncias H uma dial tica entre esses dois atributos o que permite compreender no m nimo duas dimens es das situa es de vida enfrentadas pelos jovens atualmente Refere Bruseke Se queremos fazer uma refer ncia ao necess rio e poss vel ao mesmo tempo conting ncia somente pode significar algo necessariamente como mas tamb m poderia ser tamb m diferente Sem a insis
305. o brincando no anivers rio 8 No bairro de Cosme de Farias existem 36 terreiros de candombl cadastrados em recente mapeamento realizado pelo Centro de Estudos Afro Orientais CEAO Interessante notar que o candombl faz parte da hist ria do bairro como j foi sinalizado no cap tulo 5 e tem uma forte dimens o simb lica na vida dos moradores em geral Visitando terreiros no bairro percebo que h uma conviv ncia sutil dos moradores nestes espa os embora velada Quando pergunto a respeito da religi o h poucos coment rios Moradores n o admitem com facilidade a rela o que mant m com os terreiros A Feira de Sa de dos Terreiros no bairro sempre um momento de discuss o e questionamento com outras entidades religiosas e moradores No contato com jovens e crian as que tive no bairro percebi que eles expressam comportamentos variados participam de atividades art sticas educativas entre outras oferecidas pelos terreiros mas n o admitem qualquer v nculo com a religi o crian as ca oam de outras crian as que conhecem ou frequentam terreiros os jovens que acompanhei demonstram estranheza e distanciamento e com frequ ncia remetem ao candombl passagens dif ceis em suas vidas E importante salientar o quanto ainda as religi es de matriz africana sofrem com o preconceito na sociedade brasileira SANTOS 2007 Em diferentes momentos do texto h quest es que remetem presen a do candombl nas trajet rias de vida
306. o de vista dos jovens das comunidades da renova o Cuidar est ligado a melhorias na vida que se expressam atrav s das roupas que vestem da obten o de um emprego do restabelecimento dos la os afetivos e familiares e do reconhecimento externo no bairro Para isto os jovens devem abdicar de algumas coisas tenta es por exemplo e tornarem se obedientes Essa obedi ncia n o requerida pela comunidade mas segundo eles existem regras e normas que contribuem no intuito de n o pecar O manter se puro eleva a auto estima e d condi es de realizar outras coisas para outros jovens inclusive Isto interessante porque percebi que os jovens da comunidade Ressuscitados relatavam suas hist rias do passado com lembran as desagrad veis mas ao mesmo tempo se mostravam felizes pelo fato de estarem puros Embora atentos para as tenta es que est o sempre por perto se sentem protegidos na comunidade medida que suas conquistas s o legitimadas e as mudan as se expressam passam a namorar reconstroem la os familiares conseguem emprego param de usar lcool ou drogas entre outras reveladas por eles Para a comunidade Justificados pela F as mudan as tamb m aparecem por m com algumas diferen as As mudan as elevam a auto estima porque a partir da comunidade eles passam a adotar um estilo de vida valorizado socialmente melhorar no aspecto financeiro e ter projetos de vida futuros que implicam pensar mais alto voar mais
307. o formas de apropria o e re apropria o do espa o correspondem s suas trajet rias pessoais e d o novos significados s leituras sobre sa de problema risco presentes no campo da sa de e modos de levar a vida a partir dos seus pr prios contextos Nesse ponto identifico outro autor que contribui no sentido de localizar grupos ou comunidades de pr ticas como ele as denomina e compreender a din mica interna dessas comunidades a partir do uso que fazem do espa o onde se situam uma perspectiva de an lise dos processos que ocorrem no interior dessas comunidades que compartilham um fazer em dado espa o Para Wenger 2001 a no o de pr tica implica fazer algo mas n o simplesmente algo em si mesmo ou por si mesmo implica fazer algo em um contexto hist rico e social que o que outorga significado ao que fazemos Quando analisa comunidades de pr ticas visa compreender aspectos que unem esse conjunto de fazeres em um dado contexto que se d sempre com outros Desse modo um compromisso m tuo uma ag ncia conjunta e um repert rio compartilhado s o as tr s dimens es que caracterizam essas comunidades Para Wenger esse processo vivido nas comunidades de pr ticas implica negocia o de identidades que se constituem no pr prio fazer com os outros Tanto Wenger 2001 quanto Certeau 1980 2003 assumem perspectivas interessantes e que podem ser complementares na medida em que avan am na compreens o sobre as pr t
308. o passado soma se o peso da culpa atribu da pela Igreja e isso ganha novos contornos Tanto para Merleau Ponty como para Heidegger o sentido de um objeto n o est na representa o que se tem dele mas no engajamento que se tem com a coisa em si Falar em significado falar de um contexto de engajamento de perten a com o outro objeto pois o sentido est atrelado experi ncia Penso no quanto a quest o da sexualidade pode ser o foco da culpa que o rodeia por conta das met foras de que Prometeu faz uso para express la o espinho que carrega na carne e a palavra de Deus que penetra na alma A express o coisas erradas muito frequente entre os jovens entrevistados Para dois jovens religiosos essas coisas erradas ocorreram no passado e embora n o tenham sido explicitadas nas entrevistas eles afirmam a sua exist ncia e demonstram isso no t tulo dado banda de rap gospel que criaram Justificados pela F Essas coisas erradas foram justificadas por Jesus ele aceitou diz Cristiano Aceitar a culpa e evitar o pecado condi o para ser aceito e perdoado por Jesus mas n o elimina o sentimento de ter errado e esse sentimento que inclusive os mant m engajados religi o Outros jovens podem saber que cometeram coisas erradas mas para eles essas s o coisas do passado e hoje outro momento Eles procuram se desatrelar desse passado mas de algum modo isso se revela e tamb m os macula
309. o separadas e sim constitutivas do mundo dos jovens Desse modo fa o uso da no o de vicissitudes um termo apropriado para falar de situa es de vida desfavor veis e tantas vezes amea adoras porque incertas imprevis veis mas que tamb m comporta a id ia de mudan a e transforma o logo de abertura de possibilidades Na perspectiva fenomenol gica pode se pensar na no o de horizonte Assim o que mundo o mundo uma id ia de horizonte indeterminado e comporta um horizonte de experi ncias poss veis de coisas KUPERMAN s d p 40 H nesse horizonte uma imprevisibilidade e h tamb m com isso e atrav s disto um campo de possibilidades Assim passo a apresentar as categorias e subcategorias norteadoras para a an lise das narrativas dos jovens Entre as vicissitudes os jovens destacaram com alguma regularidade em suas narrativas as aus ncias particularmente familiares as agress es especialmente do pai as dificuldades com a pr pria sobreviv ncia durante a inf ncia a perda de pessoas pr ximas como consequ ncia do tr fico de drogas e algo de um 113 passado perturbador que preferem n o revelar Essas vicissitudes desencadearam novos processos na vida desses jovens que s o intitulados aqui rupturas e desvios Por m estas situa es assumem significados e sentidos diferentes para cada um deles No que diz respeito s possibilidades advindas dessas vicissitudes com regularidade ap
310. o uma crian a um adolescente voc ta praticamente tirando da rua tirando o traficante da boca Anjo Al m do trabalho que realiza como rapper Anjo grafiteiro e exp e seus trabalhos pela cidade Encontrei alguns muros grafitados pela cidade o que me permite pensar na pr tica como um tr nsito uma forma de express o e comunica o com outros jovens Fotografei alguns grafites de Anjo em Brotas Rua D Jo o VI Rua Frederico Costa Figura 28 na entrada do bairro de Cosme de Farias mas um dia em uma rua no bairro da Federa o encontrei um grafite de sua autoria com um poema de M rio Quintana Dizia assim Se as coisas s o inating veis ora N o motivo para n o quer las Que tristes os caminhos se n o fora A m gica presen a das estrelas M rio Quintana Espelho M gico Grafite de Anjo Federa o 112 Apenas para lembrar Anjo o Senhor da P o Coveiro trazido no cap tulo 6 219 Esse poema de M rio Quintana mas ele expressa algo que percept vel nos jovens que acompanhei neste estudo e por alguma raz o foi grafitado por Anjo As coisas parecem inating veis mas poss vel desej las e ir em busca delas E que vida seria esta sem a busca sem lan ar se para um horizonte que com certeza abre possibilidades A figura 28 mostra um grafite de Anjo em uma rua da cidade O grafite deixa a sua marca nos muros da cidade Por onde eu passava em Brotas eu reconhecia um grafite de An
311. o uso das m sicas n o implicar em qualquer risco integridade dos grupos assim como ter o total privacidade em rela o s informa es cedidas Al m disto ter o total liberdade para recusarem a participa o no in cio ou em qualquer fase da pesquisa sem qualquer tipo de preju zo ao grupo Caso ocorra qualquer tipo de dano Banda ou Grupo caber pesquisadora Adriana Miranda Pimentel e institui o respons vel pela pesquisa Instituto de Sa de Coletiva UFBA total responsabilidade sobre o ocorrido cabendo inclusive buscar solu es para o que ocorrer Cabe ainda dizer que este estudo ser muito importante para profissionais de sa de e jovens no sentido de trazer informa es que possam ajudar na melhoria das a es de sa de para jovens na cidade de Salvador Os resultados da pesquisa dever o ser liberados a qualquer momento a depender do interesse dos participantes da pesquisa Caso ocorra qualquer dano ou despesas com a pesquisa por parte das bandas ou grupos estes dever o ser ressarcidos A sua participa o em qualquer tipo de pesquisa volunt ria Em caso de d vida quanto aos seus direitos escreva para o Comit de tica em Pesquisa do Instituto de Sa de Coletiva da Universidade Federal da Bahia Endere o Rua Augusto Viana s n 2 andar Campus Universit rio do Canela Salvador Bahia Cep 40110 170 Tels 3263 7418 E mail ppgscODufba br Website www isc ufba br Local e Data Assinatura
312. observar como de fato ao apresentarem a m sica no bairro as pessoas elogiavam e gostavam de imediato da sonoridade Por conta disso a comunidade investiu na produ o de um clip que facilitasse no processo de divulga o O clip de lan amento da m sica foi realizado no Black Point e foi previamente pensado com o intuito de O bar Black Point se localiza no final da Rua Cosme de Farias rua principal do bairro em frente Igreja Adventista um bar com dois andares sendo que Atualmente s atende no andar de baixo pequeno como espa o tem em torno de 15 a 20m onde se instalam de tr s a quatro mesas A decora o feita de cartazes e fotografias dos eventos e grupos art sticos do bairro dentre eles uma apresenta o do Le es do Rap que o dono evidencia com muito orgulho Conheci Gerson o propriet rio a partir de uma discuss o sobre racismo iniciada no programa Luminosidades Repercussivas programa desenvolvido por Mago todas as sextas feiras s 17h00 Gerson discordou do ponto de vista de Mago e nos chamou para um bom bate papo prolongado A 168 mostrar a beleza feminina do bairro da mulher negra t o discriminada na maioria das vezes Notas do Di rio de Campo Vejo que h um princ pio de mudan a de querer adequar uma situa o outra preciso falar da mulher negra valoriz la porque isso algo que faz parte do mundo do rap e da periferia por m poss vel falar de outro modo com no
313. odo de conviver com essas faltas e de fazer disso n o uma necessidade mas um modo de lidar com um modo de ocupa o que d sentido sua exist ncia Para Castor 27 anos presidente do Conselho de Moradores a forma de lidar com a viol ncia se deu atrav s do seu engajamento pol tico Ele presenciou uma tentativa de assassinato do pai que levou doze tiros por ter feito den ncias do tr fico de drogas no Alto do Cruzeiro Esse evento fez com que o pai se calasse e se mantivesse distante das atividades sociais que desenvolvia no bairro Ent o para Castor a partir de uma outra forma de interven o no bairro que ele procura se manifestar e transformar as in meras situa es de faltas e necessidades Por m para outros jovens estas faltas podem levar a processos diversos tais como rupturas s vezes necess rias Nas narrativas dos jovens poss vel identificar rupturas em suas trajet rias de vida que foram determinantes para a ocorr ncia de um outro momento Essas rupturas n o foram acidentais ou acontecimentos deslocados de suas hist rias familiares e ou pessoais foram momentos culminantes que modificaram o curso de suas vidas Por motivos diferentes mas em algum momento com tra os semelhantes as experi ncias de ruptura de Malcom e Lua P rola tamb m evidencia uma trajet ria marcada por situa es de vida dif ceis que precipitaram um rompimento P rola tem 18 anos mora em Cosme de Farias mas nasceu em
314. ol gicas entre os s culos XVIII e XIX enfatizando a Revolu o Industrial 1830 modificando enormemente o panorama das cidades e o modo de vida de seus habitantes se comparados ao perfil das cidades antes desse per odo importante salientar a vasta produ o na Sa de P blica nas d cadas de 1970 e 1980 que seguem uma perspectiva hist rico estrutural a exemplo do trabalho de Donnangelo 1976 29 seria qualidade das vidas Parte dessa qualidade de vida tida como a cria o de espa os protegidos preciso ent o compreender de que forma esses espa os est o organizados qual a disponibilidade de recursos e instrumentos existentes e como poss vel construir modos de vida poss veis pelos jovens na cidade Para o autor assim como um instrumento de poder e controle a cidade tamb m um espa o de possibilidades Essa vis o coincide com a de outro autor que pensa a cidade como um lugar de resist ncia a arquitetura do lugar tentativa de ressemantizar a cidade atrav s da produ o de espa os carregados de sentido em busca da reanima o do genius loci o esp rito do lugar MAGNANI 2006b Nesse sentido cabe compreender a cidade pelo olhar de quem nela vive o modo como os sujeitos v o ocupando transitando e construindo formas poss veis de viver a partir das condi es e estilos mas principalmente a partir das suas rela es das suas formas de organiza o e da sua atua o nestes espa os E
315. olutamente nada sem estudar sem pegar num livro Mago Em outros momentos da entrevista not ria a queixa pelo tempo perdido Ressalta o quanto poderia estar adiante j ter conquistado mais coisas e se compara por vezes com outros jovens do bairro tanto os que j fizeram curso superior quanto os que est o sem fazer nada Quando fala dos jovens envolvidos como se tamb m pensasse em si pr prio Atrav s de outros informantes tomei conhecimento de seu envolvimento em situa es dif ceis como por exemplo uso de drogas e lcool As ondas devastadoras tamb m quase o levaram embora isto n o tenha sido dito por ele Para outros jovens as ondas devastadoras s o mais fortes e realmente devastam O bairro t mais violento Por que t violento Porque tem um monte de homem saindo da adolesc ncia e quando o jovem sai da adolesc ncia quer trabalhar e muitos n o tiveram condi o de estudar pra trabalhar outros nem estudam tem que ficar na boca vendendo crack vendendo maconha vendendo p E aqui tem muito t rolando muito usu rio de droga e o tr fico que rola aqui a maioria quinze a vinte anos tudo se jogando na vida do crime A acontece o qu Anjo A adolesc ncia como fase da vida constru da socioculturalmente uma inven o da modernidade como referem alguns autores Essa inven o possibilitou pensar e tratar essa fase de vida como algo particular com cuidados especiai
316. omos africanas e falamos a realidade A mulher ainda ousada criticada e marginalizada por causa do machismo e ignor ncia de muitos caras Somos v timas de machismo e discrimina o Eles falam que o homem pode e a mulher n o Movimento de minas lutando por justi a e reivindicando nosso espa o 8 O estudo recente de Heilborn et al 2002 tamb m revelou o isolamento de mulheres jovens brasileiras ao espa o dom stico 175 A seu machista v tomar no rabo Condi o de ser mulher numa sociedade aonde o machismo uma realidade Somos mulheres negras Lutando contra o preconceito para conquistar o nosso espa o que de direito O tempo j passou o fator contribuiu para a evolu o das mulheres do Brasil Ao longo dos anos tem sido assim Uma luta intermin vel que parece n o ter fim S predomin ncia o homem escreve a sua hist ria e a da mulher esquecida ou jogada fora Ou foi a mulata aposto que ela foi queimada Estou cansada de ser condicionada Nas margens da sociedade muitas s o afogadas Mas se levando inspira o boca a boca N o vamos morrer cozinhando ou lavando roupa S o mulheres que falam a verdade Estamos lutando por igualdade e oportunidade Sociedade as mina apavorou mentalidade machista n o sustenta o gigol Sexo fr gil assim somos chamadas Mas a nossa beleza te enfeiti a n meu camarada Dependentes e carentes sempre nos procuram pra sentir prazer e nos chamar de vag
317. ompreender os problemas sociais nas grandes metr poles Assim a juventude toma for a no cen rio mundial muito em fun o dos problemas a ela associados como uma categoria compacta e homog nea compreendida como algo universal Isto ocorre particularmente na Sociologia a partir de abordagens mais centradas em grupos e em suas caracter sticas pr prias A chamada sociologia da juventude consolidou se a partir dos estudos sobre grupos juvenis sobre os desviantes e ou marginalizados BECKER 1966 BRITTO 1968 e como subcultura por exemplo os estudos sobre jovens trabalhadores oper rios com os estudos culturais da Escola de Birmingham Mais recentemente a discuss o sobre culturas jovens busca o entendimento sobre a juventude como uma etapa de vida em constru o social PAIS 1996 GROPPO 2000 Essa abordagem segundo Magnani 2005 deve ser considerada nos estudos atuais por m ela ainda relaciona os jovens a um grupamento com caracter sticas espec ficas em um dado momento de vida n o evidenciando suas pr ticas a partir dos espa os em que essas ocorrem Assim como os velhos os jovens s o na maioria das vezes vistos como um grupo com uma faixa et ria definida e com comportamentos e significados espec ficos Bourdieu 1983 destacou a necessidade da sociedade de estabelecer limites claros para o papel dos jovens e dos velhos na sociedade em distintos per odos da hist ria como uma estrat gia de controle e de divis o de
318. ontes e levar a v os mais altos Charles observa a import ncia dessa fam lia e da rede de refer ncia que se abriu a partir desse encontro o quanto isso abriu novas portas e provocou mudan as significativas em sua vida Nessa narrativa aparece tamb m um ponto emblem tico do bairro as dist ncias simb licas dentro de um mesmo local na Baixa do Tubo onde est o os mais pobres os que est o em piores condi es de vida como j foi apresentado no cap tulo anterior ao contr rio dos que est o nas reas centrais do bairro o que eles denominam Cosme de Farias Charles da Baixa do Tubo As circunst ncias de vida de cada jovem nessas localidades fazem diferen a assim tamb m as oportunidades que se lan am a partir de um encontro e as fragilidades que est o postas para jovens que t m pouco ou quase nenhum acesso a bens espa os e recursos Outros jovens tamb m destacam pessoas que nem mesmo se recordam como apareceram ou de onde vieram e que proporcionaram experi ncias distintas 149 dos seus mundos de vida Mago se lembra de um homem da Vasco da Gama com quem mantinha discuss es sobre racismo e tinha acesso a livros a gente foi apresentado a esse cara e esse cara at racista Ele j tinha lido uns tr s mil livros Considerava a gente como se fosse irm o mesmo N o s universal mas de sangue Quando a gente se cumprimentava era abra o beijo assim com carinho n um grande carinho diferente do
319. op e viver RABELO e SOUZA 2007 s p Este estudo pretende transcender outras leituras sobre os jovens tomando como base para an lise o m todo etnogr fico que busca o detalhamento do objeto de pesquisa quando submete conceitos preestabelecidos experi ncia de contextos diferentes e particulares PEIRANO 1995 p 15 e assim objetiva e possibilita compreender uma experi ncia um fen meno da realidade nas suas peculiaridades uma forma de apreender uma rede de significados que v o sendo constru dos ao longo do tempo qual poss vel cnamar de cultura Para Sahlins o estudo da cultura implica compreender a organiza o da experi ncia e da a o humanas por meios simb licos As pessoas rela es e coisas que povoam a exist ncia humana manifestam se essencialmente como valores e significados 1997 p 41 Segundo Certeau a nfase na cultura ocorre quando sujeitos comuns que ele chama de homem ordin rio passam a narrar suas hist rias definem o lugar comum de seus discursos e o espa o an nimo de seu desenvolvimento 2008 p 63 A pesquisa etnogr fica uma forma de saber local de conhecer algo no lugar onde est ocorrendo de apreender uma realidade a partir de outras leituras do real GEERTZ 1989 mas sem perder de vista a dimens o global que por sua vez n o isola nem nega o contexto local Assim este estudo busca compreender os sentidos e significados que os jovens atribuem
320. orienta es profissionais o que demanda discuss es e enfrentamento da situa o Esse aspecto torna se interessante neste estudo visto que o espa o pensado como lugar de resolu o dos problemas de alivio do desconforto e mais pr ximo das demandas da comunidade deveria ser a unidade b sica de sa de Alguns estudos no campo da sa de t m demonstrado o distanciamento que estes equipamentos estabelecem com o bairro e seus moradores TAVARES 2009 Desse modo surgem outros espa os que suprem estas demandas mas que ao mesmo tempo n o mant m qualquer di logo com as institui es de sa de locais 108 207 acolhida e prote o t m sido cada vez maior tanto para outras institui es de diferentes perspectivas quanto para grupos com outros prop sitos Alguns jovens narram a chegada ao grupo e a escolha pela comunidade Parte deles escolheu por conta de um amigo que j fazia parte por algu m que conheceu e se vinculou no grupo pela possibilidade de fazer coisas com as pessoas que conheceu enfim para estar com aquelas pessoas Uma das jovens disse que a pedido de uma amiga que estava sendo obrigada pela m e a ir para a Igreja resolveu acompanh la conheceu pessoas que faziam parte da comunidade e ao final gostou tanto que ficou enquanto a amiga n o retornou mais Entre as comunidades do rap isto tamb m se expressa Os jovens ao relatarem o modo como tiveram contato com o movimento ou
321. orque o maior soldado esse aquele que luta mesmo quando est ferido n Prometeu A pr tica religiosa ou seja as atividades que devem cumprir cotidianamente bem como a consci ncia dos pecados e da necessidade do perd o 202 fazem com que os jovens estejam atentos e protegidos das tenta es Ele esquece dos nossos pecados quando n s nos arrependemos Andr a refere ter tido s ndrome do p nico h alguns anos atr s e caracteriza o problema N o conseguindo sair de casa estar mal em multid es n o ter vontade de fazer nada n o ter projetos ou sonhos Depois que entrou para a Igreja conheceu pessoas integrou uma banda musical conheceu o namorado e passou a se sentir uma outra pessoa Seu projeto de vida casar se com o namorado ir para S o Paulo onde ele mora atualmente e fazer um curso de jornalismo Outra jovem que recentemente deixou a religi o mas se mant m atualmente com uma pr tica bastante atuante na R dio Comunit ria reconhece a import ncia da igreja como um momento de passagem necess rio para um determinado momento da vida por eu ter seguido a religi o foi que eu n o entrei nesse mundo de viol ncia que pra todos que est o aqui hoje entendeu Ent o por eu ter seguido esse caminho a igreja na poca foi que eu n o acabei entrando entendeu N o cheguei a me viciar porque assim toda a situa o que eu j tinha vivido toda a minha hist ria que
322. os fragment rios de uma cultura rural e pr capitalista seus gostos est o descaracterizados por influ ncia dos media seu lazer n o passa de escapismo sua religiosidade fator de aliena o e seus projetos de vida tentativas frustradas de ascens o social MAGNANI 1998 p 27 Com tudo isso existe uma tend ncia atual do campo da sa de de busca de novas perspectivas para compreender problemas mais espec ficos dos jovens e 28 buscar solu es mais condizentes com suas realidades H tamb m paralelamente uma retomada da import ncia do ambiente de vida das pessoas Na d cada de 1970 iniciou se uma discuss o na sa de sobre os espa os de vida das pessoas particularmente sobre os contextos de vida das popula es mas apenas em 1986 com a Confer ncia Internacional sobre Promo o da Sa de em Otawa Canad que se veio a aprofundar um pensar a sa de n o pela via da doen a ou da cl nica mas a partir dos determinantes sociais que condicionam os modos de vida das popula es BRASIL 1996a Desde a Carta de Otawa outros documentos foram publicados novas discuss es em torno da Promo o da Sa de foram realizadas mas h ainda muitos desafios a vencer em particular no que se refere a mudan as de paradigma no campo da sa de que permitam fazer e pensar sa de de um outro modo saindo da esfera m dica e da dicotomia doen a cura PAIM e ALMEIDA FILHO 1998 H tamb m um importante movimento surgido
323. os os sujeitos uma possibilidade de contato com o outro MAGNANI 1999 e um instrumento capaz de buscar o significado da a o social MAGNANI 2006c 5 1 A CIDADE DO SALVADOR UMA HIST RIA DE CONTRASTES Ao dar in cio ao estudo de um bairro na cidade de Salvador de antem o me veio a necessidade de conhecer um pouco mais da hist ria de funda o dessa cidade Transitando pelos trabalhos de Milton Santos ngela Gordilho Gey Espinheira Ana Maria Fernandes entre outros me deparo com particularidades de uma hist ria que se revela pouco a pouco definindo um lugar e modos de vida A breve introdu o a partir das obras descritas acima fornece uma pincelada hist rica ao cen rio que ora pretendo descrever Venho buscando informa es tanto oficiais quanto n o oficiais os pontos de vista dos que vivem nesse lugar para a compreens o do bairro Cosme de Farias Parto inicialmente para compreender a cidade a partir dos dados e informa es j produzidos sobre ela e assim compor um cen rio que favore a a entrada no bairro A cidade do Salvador segundo alguns autores uma cidade de contrastes A beleza e a fei ra a riqueza e a pobreza o jeitinho e a intriga est o presentes em constante paralelismo antes mesmo de sua cria o ESPINHEIRA 1999 FERNANDES GOMES 1993 Fundada em 1549 a mais antiga cidade brasileira e apresenta uma mistura de estilos e concep es urban sticas de gente de todas as
324. os para ensaios das bandas abertos para os jovens do bairro e de outros bairros 3 nv Figura 26 Ensaio da Banda Preto S bio 05 Espa o JC Fonte Adriana Miranda Pimentel Pesquisadora 217 Figura 27 Improvisa o e criatividade na transforma o do espa o Ensaio da Banda Preto S bio 05 Fonte Adriana Miranda Pimentel Pesquisadora Quinzenalmente aos domingos a banda Preto S bio 05 re ne em torno de 20 a 30 pessoas na laje da casa de um integrante e neste intervalo de tempo promove encontros com outras bandas de reggae e rap em um espa o para shows no Sossego trazendo mais de 50 pessoas Figura 26 Participei de alguns destes ensaios e me surpreendi com o que vi espa os cont guos e pouco arejados mas com jovens homens e mulheres dispostos a apreciar as bandas cantando e encontrando amigos V rios jovens que conheci antes e depois destes ensaios referiam no como um lugar do ponto de vista de Aug espa os de sentido para aqueles que o habitam exprime a identidade do grupo porque fundam congregam e unem 2004 p 45 51 Acompanhando um ensaio poss vel perceber a pr tica acontecendo em um espa o improvisado por m com todos os recursos e instrumentos necess rios Figura 27 Os espa os v o sendo revestidos de sentido As casas ruas pra as de localidades a Pra a central do bairro a R dio Comunit ria s o lugares dos jovens Anjo fala da sua luta em tentar resgatar j
325. ou riscos para a sa de dos jovens porque sempre me inquietou a transposi o de problemas sociais para problemas de sa de Tamb m identifiquei no discurso dos jovens as vicissitudes ou situa es de desconforto n o como riscos que devem ser evitados ou que necessariamente poder o acarretar danos vida dos jovens mas como situa es que s o parte da vida desses jovens Essas situa es poder o ou n o acarretar danos s suas vidas Por m o que este estudo revelou que os jovens podem e fazem uso destas vicissitudes no intuito de transformar o que aparentemente estava posto ou estabelecido Fiquei imaginando como seria diferente se houvesse equipamentos que prestassem conta de seus servi os tal como objetivam E ainda se o Estado cumprisse seu papel atrav s de pol ticas p blicas coerentes com as distintas realidades e possibilidades de cada lugar localidade regi o e estados Quantas ent o seriam as possibilidades para os jovens de bairros como Cosme de Farias Para Heidegger o estar doente uma forma privativa do existir Por isso tamb m n o se pode conceber adequadamente a ess ncia do estar doente sem uma determina o suficiente do estar s o 2001 p 74 A doen a um modo modificado de estar no mundo para Nogueira um modo diferente como me entrego a minhas ocupa es e rela es com os outros sob efeito desse emaranhado de sofrimentos NOGUEIRA 2006 p 340 A doen a ou o padecim
326. ovas estrat gias e incurs es Uma destas estrat gias foi a loca o de uma casa no bairro como ponto de refer ncia para encontros e entrevistas bem como para facilitar o acompanhamento da rotina e incurs es em hor rios noturnos Outra estrat gia foi 54 selecionar os grupos para o estudo em quest o ou como prefiro cham los as comunidades de pr ticas A sele o das comunidades de pr ticas ocorreu a partir da perspectiva de Wenger 2001 autor que as definiu e caracterizou no intuito de melhor analis las Para ele as comunidades de pr ticas se definem pela participa o social de seus integrantes Esta participa o implica o compromisso m tuo entre eles a perspectiva de realizar algo em conjunto uma ag ncia e por apresentarem um repert rio compartilhado Al m disto implica a realiza o de a es que visem envolvimento de maneira ativa em pr ticas de comunidades sociais e na constru o de identidades que ocorram a partir destas comunidades A partir destes pressupostos selecionei nove comunidades de pr ticas entre elas seis bandas de rap dois grupos religiosos e uma associa o de moradores todas elas organizadas e mantidas por jovens de Cosme de Farias Nestas comunidades selecionei alguns jovens para realizar entrevistas aprofundadas al m de outros vinculados a elas 4 2 ESTRAT GIAS DE INVESTIGA O Entre as atividades desenvolvidas na pesquisa uma delas refere se ao mapeamento das entidades
327. ovens do bairro Para isto ele cria alguns mecanismos como um ensaio aberto da comunidade de rap Vis o Urbana na 218 localidade do Alto do Formoso Anjo n o pensa em apenas um espa o para ensaio mas um espa o para que outros jovens conhe am o rap e percebam que existem alternativas ao tr fico Penso que seu interesse deve se ao fato de viver em uma localidade mais precarizada como a Baixa do Tubo mas principalmente pelas experi ncias que vivencia cotidianamente relacionadas aos homic dios de jovens no bairro No meu caso eu acho que o que eu sei entendeu sei grafitar e passar isso pra muitas pessoas que estejam interessadas Eu sei cantar hip hop tento passar pra qualquer menino qualquer adulto Eu tenho essa capacidade Eu tenho capacidade pra transformar uma pessoa que nunca teve capacidade pra fazer arte fazer arte Mas s que muitas pessoas que tem dom de fazer muitas coisas n o quer ensinar o seu pr ximo s pensa nele em benef cio pr prio n o ta nem a pra um vizinho n o ta a pra um amigo n o ta a pra ningu m poucas pessoas como eu assim que tentam mudar isso Mas s que a gente n o tem condi es n o tem estrutura porque se a gente tivesse uma estrutura boa a gente ia fazer aqui em Cosme de Farias uma estrutura gigante Tem bastante coisa pra galera e pra ensinar tanto adolescentes como crian as jovens adultos e idosos tamb m Quando voc ta ensinand
328. ovens t m hoje uma profiss o ou pelo menos um ganha p o Algumas hist rias evidenciam isto e podem ser apresentadas como representativas para as hist rias de outros jovens Al boxeur e tem 29 anos Ele fala pouco da fam lia praticamente nada apenas que seu pai era pugilista e lhe ensinou os primeiros golpes aos dois anos de idade No entanto essa a atividade que ele realiza tanto ensinando crian as no bairro quanto treinando para campeonatos e fazendo dessa pr tica tamb m uma forma de sobreviv ncia Refere que n o h di logo entre eles pelo contr rio h muitas diferen as que dificultam uma aproxima o e se mostra ressentido com o pai quando precisou de ajuda ao engravidar uma garota aos 17 anos e n o recebeu Mora atualmente em um terreno da fam lia em um c modo que construiu no andar de cima e preferiu cuidar da filha porque se sente sozinho Outros jovens tamb m ressaltaram a presen a paterna ao assumir um oficio embora nem sempre com orgulho mas atrav s dele que ganham algum dinheiro ou desenvolvem novas estrat gias Mago faz servi os de pedreiro e praticamente ganha dinheiro hoje levantando a casa e alugando partes dela Charles n o conheceu o pai mas conviveu com o padrasto que era m sico e que lhe apresentava todas as manh s estilos e m sicos diferentes como Elza Soares Chico Buarque entre outros Trabalhou alguns anos na feira livre com a m e e realizou outros tipos d
329. pa como ser no mundo Preocupado em agir e fazer e desta forma ocupado com a es e obras o Dasein tamb m cuida de outrem Seja de maneira positiva negativa ou indiferente a exist ncia n o s minha exist ncia mas tamb m a de outro comigo compartilhada num ser em comum Mitsein Ser no mundo o Dasein igualmente ser com os outros tendo nisso uma outra via de acesso ao mundo capaz no entanto de subtrair nos a n s mesmos de englobar nos nessa busca de si em que nos empenhamos como um poder estranho superior an nimo impessoal a gente das Man NUNES 2004 p 17 a partir das experi ncias das pr ticas cotidianas que a presen a se expressa no mundo Assim atrav s das a es pr ticas que os jovens desenvolvem nos seus mundos que tamb m poder o constituir novos horizontes e ampliar possibilidades nesse contexto em que a rela o entre as coisas se esclarece nesse espa o das coisas todas que traz a possibilidade de compreender as pr ticas dos jovens no seu modo de ser com os outros que eu compreendo o seu fazer um fazer que pode implicar em situa es que os coloquem em risco n o por ser pr prio 41 do jovem o que pode significar algo relacionado ao irrespons vel e ou danoso mas como abertura para novas possibilidades A rela o do risco como algo a ser evitado pelo jovem ou algo que separado de seu mundo l gica pela qual a sa de explica e desenvolve estr
330. para o campo da sa de p blica In Jovens trajet rias masculinidades e direitos S o Paulo Fapesp Edusp 2005 p 15 29 AGLEETON P Trabalhando com jovens implica es para a pesquisa e a organiza o de programas Adolesc ncia Latinoamericana v 2 n 3 p 138 147 abr 2001 ALMEIDA R Religi o na metr pole paulista Revista Brasileira de Ci ncias Sociais v 19 n 56 outubro 2004 ALMEIDA M I M EUGENIO F Orgs Culturas jovens novos mapas do afeto Rio de Janeiro Zahar 2006 ALMEIDA R MONTERO P Tr nsito religioso no Brasil S o Paulo em Perspectiva v 15 n 3 p 92 101 2001 ALVES P C B RABELO M C M Significa o e met foras na experi ncia da enfermidade In RABELO M C M ALVES P C B SOUZA IM A Orgs Experi ncia de doen a e narrativa RJ Fiocruz 1999 AMIT TALAI V WULFF H Youth cultures a cross cultural perspective London Routledge 1995 ARIES P Hist ria social da crian a e da fam lia 2 ed RJ LTC 1981 AQUINO E M L et al Adolesc ncia e reprodu o no Brasil a heterogeneidade dos perfis sociais Cadernos de Sa de P blica n 19 Sup 2 p S377 S388 2008 ATHAYDE C MV BILL SOARES L E Cabe a de porco Rio de Janeiro Objetiva 2005 240 AUG M N o lugares introdu o a uma antropologia da supermodernidade 4 ed Campinas SP Papirus 2004 Cole o Travessia do S culo AVENIDA D Jo o VI Tribuna da Bahia Salvador
331. pararam o nibus mandaram a gente descer fizeram um corredor com todos os policiais com oito policiais passamos pelo corredor a gente passava eles batiam Outra vez foi tamb m num nibus Malcom Durante a entrevista com Malcom not rio o tempo que ele destina a detalhar as diferentes formas de agress o sofridas O que h de recorrente nessas agress es que num primeiro momento ele tece algumas justificativas mesmo que pouco explicativas para as agress es que recebe em casa da fam lia e depois pelas agress es que a m e recebe dos companheiros Mas medida que passa a sofrer agress es da pol cia ele passa a n o compreender e a question las Nos momentos em que o acompanhei durante ensaios ou eventos no bairro notava que Malcom era de falar e se mostrar pouco Na maioria das vezes ficava dist ncia observando o movimento ao redor Por m percebo que as suas composi es revelam tudo o que viveu e o que ainda vivencia cotidianamente Durante a entrevista Malcom refere que o rap lhe permite expressar a indigna o que sente com rela o a todas essas situa es Ent o essas coisas me deixavam bastante indignado A situa o da minha m e me deixava indignado a situa o do meu irm o me deixava indignado a situa o ali do lugar que eu tava vivendo a situa o dos jovens mesmo me deixava indignado Malcom A indigna o e uma certa incompreens o pelos acontecimentos passados n o
332. partilharam em um dado momento o mundo dos jovens e deram contribui es que alavancaram seus horizontes Foram amigos ou vizinhos mais velhos moradores do bairro que apresentaram estilos musicais livros ou permitiram que eles ousassem dando vaz o aos seus desejos Essas pessoas para eles fizeram a diferen a As pessoas chave apareceram muitas vezes em momentos lim trofes em que as necessidades se exacerbaram mas foi deste modo que outros horizontes se fizeram poss veis Uma ltima subcategoria que aparece a partir das narrativas denominada correria A correria em parte um modo de falar dos jovens na cidade do Salvador quase uma g ria tal como correr atr s do preju zo ou batalhar tamb m uma express o corrente que sugere a id ia de fazer coisas que modifiquem a situa o atual geralmente relacionada a trabalho remunerado e que implique possibilidade de ganhos como por exemplo trabalhos como ajudante de pedreiro ou de carregar uns A concep o de fam lia adotada neste estudo vai al m de uma vis o naturalizada que entende fam lia como unidade biol gica mas sim como ressalta Sarti um universo de rela es que se delimita pela hist ria que se conta aos indiv duos desde que nascem ao longo do tempo por palavras gestos atitudes ou sil ncios e que ser por eles reproduzida e ressignificada sua maneira dados os distintos lugares e momentos dos indiv duos na fam lia
333. pera es s o combina es que comp em uma cultura pr pria e assim o modo como os sujeitos fazem uso e consomem determinados bens culturais n o necessariamente dentro do padr o para os quais foram criados o que interessa nesse estudo Os sujeitos constroem suas trajet rias a partir das pr ticas cotidianas aproveitam ocasi es para o seu fazer reorganizam estruturas previamente dadas e ressignificam modos de levar a vida n o propriamente compreendidos e aceitos pelos detentores de um tipo espec fico de saber Deste modo identifico a rela o entre o modo de pensar entre as estrat gias utilizadas do ponto de vista de Certeau pelo campo m dico cient fico e as pr ticas cotidianas as t ticas dos jovens a partir dos lugares em que se manifestam como algo que precisa ser conhecido e analisado quando a proposta definir a es e interven es em sa de para os jovens H algo que ocorre nos espa os n o propriamente espa os legitimados como as institui es quando s o criadas com determinados prop sitos que est o distantes da 46 compreens o e aten o dos t cnicos e h outros espa os nem sempre criados com determinada finalidade que s o ressignificados pelos sujeitos A partir disso outros saberes s o produzidos outras l gicas s o permitidas e compartilhadas Interessa aqui a an lise sobre as pr ticas dos jovens entendidas como t ticas utilizadas ou criadas por eles que operam com
334. possibilidades nem sempre da forma desejada mas aquelas que momentaneamente tornam se vi veis O uso que fazem desses instrumentos se d a partir do que eles t m mas tamb m do que poss vel apropriar se Eles t m hist rias marcadas por vicissitudes mas vivem o presente de forma diferenciada e isso resulta em pontos de vista e pr ticas tamb m diferenciados importante compreender essas dimens es no sentido de evitar distor es comuns nos estudos em diferentes reas de conhecimento Nesse sentido o rap em Cosme de Farias n o pode ser compreendido como unidade mas sim como um movimento da cultura Est sob influ ncia de um movimento maior que global que colonizador mas tamb m expressa um movimento de cultura local soteropolitana de um bairro espec fico H diferen as inclusive dentro do bairro como j foi evidenciado em rela o s produ es do rap E h tamb m uma heterogeneidade e conflitos que marcam esse espa o por exemplo em rela o a g nero por exemplo o que se percebe com a comunidade Africaminas formada por mulheres A comunidade Africaminas formada por tr s garotas que t m um repert rio pr prio mas tamb m realizam muitas parcerias com outras bandas como back vocals Suas m sicas falam da condi o da mulher no bairro da rela o com os homens particularizando a condi o racial Durante o trabalho de campo tive dificuldades para encontrar a banda com toda
335. pr ticas surgem dessas experi ncias bem como dos recursos e instrumentos apropriados e re apropriados por eles nesse contexto A no o de conting ncia nesse estudo se define a partir de uma perspectiva fenomenol gica hermen utica que amplia a no o de risco comum no campo da sa de e se constitui a partir de dois aspectos indissoci veis das vicissitudes e das possibilidades que s o ambas imanentes vida dos jovens e constituem o modo como eles v o desenvolver suas pr ticas 17 Os jovens aqui n o s o definidos a partir de uma faixa et ria que vai de 15 a 24 anos ou por caracter sticas espec ficas de um grupo populacional cunhadas pela Medicina e Psicologia ao longo dos tempos mas sim como pessoas que compartilham pr ticas contextualizadas atrav s de seus usos tr nsitos e pertencimentos em um espa o localmente situado na cidade e cuja faixa et ria oscila entre 18 e 30 anos Nesse sentido interessa ao estudo compreender as pr ticas dos jovens atrav s das quais a cultura produzida A proposta deste trabalho surgiu de uma discuss o iniciada em 2001 por meio de uma pesquisa realizada em um servi o de refer ncia do Estado da Bahia para a sa de do adolescente e do jovem PIMENTEL 2001 que buscou conhecer os discursos e pr ticas dos profissionais de sa de a respeito dos jovens dos problemas ali trazidos e a perspectiva daquele servi o no atendimento ao grupo a partir dos princ pios e diretrizes s
336. que a gente v por aqui hoje em dia n As pessoas j n o se abra am as pessoas brigam muito A tipo assim ele passou muito sobre esses caras assim que revolucionaram o mundo tipo Martin Lutter King Malcom X porque o homem branco ele o homem preto em toda a hist ria em tudo quanto lugar Eu acredito que at aqui tamb m o povo sofre o qu uma grande lavagem cerebral N o tem aquele racismo legal mas tem uma lavagem As pessoas est o totalmente alienadas e quem continua no dom nio s o os brancos Ent o ele passava assim essas coisas Mago Esses fragmentos de fala de Mago e Charles ressaltam a presen a de uma pessoa que apresentou novos mundos seus mundos e oportunizou situa es que esses jovens souberam aproveitar Charles a partir do projeto no qual foi introduzido pela fam lia chave passou a integrar diversos projetos na cidade e construir uma carreira art stica Mago l der de uma banda de rap e mant m um programa na R dio Comunit ria cujo objetivo difundir o hip hop mas particularmente discutir temas entre eles racismo condi o da mulher negra viol ncia drogas entre outros Algumas dessas pr ticas foram transformadas em modos de ganhar a vida ou de fazer a correria como eles definem Nesse momento parto para falar de fazeres que nem sempre s o interessantes ou que os jovens se orgulhem em falar mas s o fazeres que lhes proporcionam sobreviver e sonhar Corr
337. que as entrevistas As vicissitudes de cada jovem as caracter sticas de cada comunidade de rap e seus pontos de vista aparecem nas letras e no modo como expressam cada frase ou palavra N o apenas um tema ou letra mais agressiva mas tamb m um jeito de express los a quest o do racismo a dificuldade de ser negro dentro e fora do bairro da viol ncia policial e social do tipo de trabalho exercido por eles da segrega o em rela o ao resto da cidade das dificuldades encontradas para ganhar o dia a cada dia do significado da mulher neste contexto seus desejos e perspectivas que tamb m est o ali Esses elementos n o se encerram aqui mas ser o compartilhados adiante com outros que ressoam das outras comunidades estudadas no intuito de compreender os sentidos e significados dessas pr ticas para os jovens de Cosme de Farias Nesse sentido passo ent o a apresentar o surgimento e caracter sticas das comunidades da renova o 7 1 2 As Comunidades da Renova o Quando falo em comunidades da renova o estou falando em duas comunidades presentes em Cosme de Farias de duas doutrinas diferentes mas coincidentes quanto perspectiva de renova o restaura o que vem sendo adotada pelas tradi es religiosas s quais se vinculam A comunidade Ressuscitados pertence ao movimento da Renova o Carism tica Cat lica e a comunidade Justificados pela F uma banda de rap gospel Igreja Renascer Apost lic
338. que fazem grafite e instrutores de capoeira em entidades do bairro e jovens que integraram um grupo crucial para o desenvolvimento do movimento hip hop em Cosme de Farias o Le es do Rap O HIP HOP 20083 Este grupo influenciou v rios jovens que atualmente desenvolvem trabalhos art sticos e culturais A partir disto foi poss vel tecer uma rede de rela es entre grupos e pessoas que fazem ou j fizeram parte de bandas que se conhecem trabalham juntos de bandas criadas dissolvidas re criadas de grupos de dan a de teatro entre outras manifesta es culturais A partir desses dois locais que se desenham como lugares antropol gicos do ponto de vista de Auge 1994 foi poss vel conhecer pr ticas e locais tais como bares lajes das casas onde ocorrem ensaios de bandas e aulas de percuss o para crian as casas onde acontecem reuni es de grupos religiosos sedes de associa es de moradores espa os pensados e organizados por jovens Nestes lugares ocorrem aulas atividades recreativas esportivas e de trabalho reuni es celebra es eventos Durante algum tempo me detive a conhecer estes grupos e os diferentes espa os por eles constitu dos Todas as observa es e incurs es nestes espa os foram registradas em caderno e di rio de campo sistematicamente al m de fotografias e croquis dos espa os por onde eu circulava e que nem sempre se encontravam mapeados Este material serviu como ponto inicial para an lise de n
339. querer ajuda mas se criou n Sara Sara por exemplo tem uma hist ria diferenciada daquela dos jovens que entrevistei Como se pode ver na sua fala veio ainda crian a para Salvador morar em casa de fam lia como eles dizem por aqui Tem vinte anos completou o ensino m dio e viveu desde os nove anos na casa dessa fam lia onde descobriu e passou a ser praticante da religi o Testemunhas de Jeov Teve pouco contato com a m e durante esse per odo eventualmente a visitava e demonstra ser uma menina tranquila e de poucos amigos Dentre as preocupa es de Sara est o fato de n o conseguir um emprego No per odo em que a conheci estava deixando a religi o por um tempo por conta de um relacionamento amoroso que a igreja n o aprova Sara estava saindo da casa de fam lia e indo morar com o namorado e demonstra tristeza em ser obrigada a fazer essa escolha pois acredita que ir magoar muita gente mas tem projetos de se casar e ter filhos com a pessoa que ama Na entrevista de Sara como um todo not rio o tema fam lia N o h muito a falar da fam lia de origem O pouco que revelou foi a pedido meu Quanto fam lia que a criou tamb m pouco retratou evidenciando apenas o fato de ter conhecido a religi o atrav s dela Por m o discurso se direcionou para a vida nova com o esposo por vezes fez quest o de cham lo desse modo e a import ncia da cria o dos filhos Ressalto que Sara jovem mas assume o
340. r timo tranquilo no qual eles t m muitos conhecidos e onde circulam sem problemas mesmo estes existindo por m parece que nada os afeta diretamente Mas num segundo momento come am a aparecer situa es hist rias desconfortos e queixas nesse momento que identifico as dificuldades encontradas por eles no bairro 98 Figura 21 Cosme de Farias visto a partir de Campinas de Brotas Fonte Adriana Miranda Pimentel Pesquisadora Figura 22 A Pra a Cosme de Farias e seus habitu s Fonte Adriana Miranda Pimentel Pesquisadora 99 Na an lise do material os aspectos mais retratados por eles foram o aumento do uso e do tr fico de drogas a viol ncia de um modo geral e particularmente a policial e um tipo de explora o sexual especificamente relacionada s mulheres mais jovens Por m o que chama a aten o nos discursos o modo como essas situa es s o colocadas diretamente vinculadas s faltas de lazer trabalho forma o perpassando uma id ia de falta de ocupa o Passo ent o a descrever essas situa es que se localizam no cen rio anteriormente apresentado A quest o das drogas est diretamente relacionada ao aumento da viol ncia no bairro bem como falta de oportunidades denunciada pelos jovens acompanhados na pesquisa Eles falam em aumento no consumo de drogas por m destacam a expans o do tr fico na regi o Isto algo muito recente em torno de dois anos atr s H um
341. r exemplo no presente assumindo o lugar de pais companheiros e tamb m de personagens da vida cotidiana Um exemplo disso se encontra na entrevista quando Malcom relatou hist rias de espancamento de mulheres no bairro as vezes cometido pelos pr prios amigos Ressalta o quanto isto o incomoda e faz lembrar a m e Porque eu fico pensando poxa por eu ter visto minha m e apanhar tanto sabe eu poderia hoje muito bem apoiar um colega meu que batesse na namorada dele eu poderia muito bem cometer pequenos delitos e eu poderia at estar cometendo delitos mais graves coisas mais graves por isso que eu digo que isso vai muito da consci ncia N o tive ningu m que chegasse assim pra mim e dissesse Malcom essa vida n o presta n o vale a pena roubar voc tem que ser uma pessoa consciente E quando voc j come a a assistir filme voc v que 126 muitos her is s o bandidos os filmes que a gente v hoje os her is s o bandidos que rouba que mata e depois sai bem com a mocinha e sai bem com o dinheiro A tem essa influ ncia tem a influ ncia da sociedade J discrimina voc j por ser pobre j te discrimina por voc ser negro tem o policial que j bate em voc porque voc pobre porque voc negro J tem o lado do emprego que n o te aceita porque voc negro sabe todas essas coisas influenciam a pessoa Mas eu n o sei por que eu tenho essa consci ncia de que tenho es
342. r todo o carinho e contribui es mesmo que t o distante A Fernanda aluna querida N o faz id ia do quanto me estimulou ao longo destes anos A Flora Oliveira pela enorme contribui o quando eu mais distante estava s bolsistas do Curso de Terapia Ocupacional da Bahiana em particular a Fernanda Reis de Souza T ssia Moreira Adelly Orselli Moraes Carol Andrade Daniela Astolpho Carolina Andrade Flora Borges e Mariana Viana pelo trabalho que realizaram Aos moradores de Cosme de Farias por tudo que me disponibilizaram nesses anos Aos professores Leny Trad B rbara Freitag Gey Espinheira Paulo C sar Alves lara Souza e Miriam Rabelo meus sinceros agradecimentos pelas boas horas de aulas desfrutadas nesses anos Aos professores Leny Trad Ana Cec lia Bastos Rubens Adorno e Marta Carvalho de Almeida meus agradecimentos pela leitura e contribui es ao trabalho A Jorge e Leny pelo momento que eu mais precisava Aos amigos de sempre Edyara Carlo Dinho Z Henrique Jeane Mirela Eliane Cesinha X Carol Mois s Aos queridos Clinger Creuzinha Nunci Neia Marlon Escola Bahiana de Medicina e Sa de P blica onde eu tanto aprendi ao longo desses anos Aos professores do Departamento de Terapia Ocupacional da UFPE pela compreens o nesse momento de mudan a Aos novos amigos que em t o pouco tempo foram t o importantes Werther Ana e Clemens Capes pelo apoio prestado Ao
343. ra de teatro com quem ele vem trabalhando nos ltimos anos em um projeto S o grandes mulheres a m e porque dedicou a vida a cuidar e n o abandonou os filhos a diretora porque acreditou nele e a m e de um amigo que contribuiu para a sua inclus o em um projeto social na inf ncia S o exemplos de mulheres quase ideais As mulheres reais aparecem timidamente em atividades desenvolvidas pelos jovens e quando presentes se mostram pouco participativas Percebo que elas s o as namoradas as que organizam a casa que servem ou est o ali para servir que cuidam das crian as pequenas que tran am os cabelos dos homens que se vestem e se penteiam para agradar para trabalhar como dom sticas em casa de fam lia ou na pr pria casa e ainda que lutam para continuar os estudos Do ponto de vista dos jovens h sempre uma ambig idade declarada sobre as mulheres no bairro a mulher certa e a mulher que bota o homem a perder a religiosa ou a que est 177 bebendo na rua a mulher que se prostitui e a mulher para ter um relacionamento firme a mulher que quer para casar e a para ficar S o poucas as mulheres jovens que se mant m na Pra a Elas est o em maior parte na frente das escolas no Centro de Sa de acompanhando os filhos ou em consultas ginecol gicas e de pr natal comprando algo nas barracas ou no com rcio local ou dentro de casa Percebo que as m sicas e o contato com o movimento me possibilitam algo mais
344. rande medida os t cnicos tentavam homogeneizar os jovens em um grande grupo com faixa et ria caracter sticas e processos atuais definidos 18 A rela o entre adolesc ncia e problema tornou se quase um bin mio para os t cnicos deste Servi o em Salvador Os problemas evidenciados por eles s o os mesmos problemas colocados nos textos oficiais das grandes organiza es de sa de do mundo Particularmente falam da adolesc ncia como se houvesse uma doen a do adolescente que ocorreria movida pelas modifica es no corpo relacionada auto imagem ao avan o em rela o sexualidade busca pela identidade e por um projeto de vida Por m quando falam dos adolescentes e jovens que atendem no Servi o as explica es para os problemas que n o t m respostas r pidas e prontas tomam outra dimens o As explica es se deslocam do sujeito adolescente jovem para as institui es para a desestrutura o das institui es como a fam lia e escola que do ponto de vista do t cnico s o consideradas falidas Nesse sentido aparece a fam lia como a grande respons vel pelos problemas atuais dos jovens bem como a precariedade da escola e o tipo de sociedade em que vivem com todas as implica es relacionadas modernidade E desse modo o discurso transfere a responsabilidade para o jovem que precisa ser ni protagonista de sua hist ria que precisa participar da sociedade de forma atuante algo que
345. rapia Ocupacional alvo de discuss es e an lises entre os especialistas 229 aos desocupados resolveria boa parte dos problemas dos ditos produtivos H uma rela o entre esses pontos de vista e o que os jovens referem aparentemente sobre o normal da favela que isto mesmo Parte disso o trabalho revelou Em Cosme de Farias h comprovadamente uma aus ncia de Estado e isso aparece na escassez de entidades governamentais tais como escolas unidades b sicas de sa de e outros equipamentos sociais e de cultura e na abund ncia de entidades religiosas e de organiza es civis como foi apresentado no mapa das entidades no bairro Nesse caso o bairro pode sim ser considerado favela ou periferia em que comum a precariza o das pol ticas p blicas dando espa o para todo tipo de clientelismos Com isso percebo que os jovens d o o diagn stico mas oferecem tamb m a prescri o que no caso n o uma ocupa o pela ocupa o para desocupados e sim um fazer com sentido Porque n o falta de dinheiro apenas que gera essas situa es mas principalmente falta de espa o de express o de liberdade de afeto de sentido a essas faltas que eles atribuem os problemas que vivenciam cotidianamente no bairro Essas faltas aparecem nas suas trajet rias biogr ficas e v o dar sentido s suas pr ticas para alimentar a alma Ao etnografar o bairro busquei um recorte de
346. raticamente um professor de hist ria Ta dando uma aula de hist ria pro mundo Tanto hist ria do gueto como hist ria do nosso passado Anjo Isto tamb m se assemelha aos jovens da comunidade pol tica O tr nsito em organiza es e diferentes formas de participa o social que assumem vai lhes garantindo um espa o e certa condi o para ajudar outros jovens do bairro Eles tamb m se sentem diferenciados Eu acho que a gente vai ser levado a dar um norte aqui em Brotas A gente est se tornando uma lideran a a gente deixou de ser do Alto do Cruzeiro a gente deixou de ser s de Cosme de Farias entendeu A gente t entrando mais em Brotas a gente hoje tem um espa o dentro de Salvador a gente t ocupando um espa o que talvez logo logo a gente esteja naturalmente sendo a representa o oficial de Brotas entendeu Mas com paci ncia rapaz Esse neg cio de crescer Hoje a gente dialoga com a faculdade coisa que antigamente a gente n o sabia nem 212 que existia Que tinha essa possibilidade pra a gente tentar entendeu Outro dia eu vim aqui e fui ao n vel de ser chamado chamaram a gente pra dar uma palestra imagine A eu tomei um susto imagine A gente n o tem nem o segundo grau ainda e a dar palestra A eu falei eu vou fazer o que l A vamos supor hoje a gente reconhecido como agente social entendeu P lux A auto estima se eleva a partir de algumas situa es espec ficas Par
347. rbanas com 89 2 em 1996 enquanto a Regi o Nordeste apresenta um dos menores ndices de jovens dentre todas as regi es 66 O estudo sugere que isso ocorra em fun o da migra o de jovens do Nordeste para outras regi es do pa s o que ainda bastante frequente Na Bahia particularmente em Salvador assim como em outras metr poles h elevada taxa de crescimento em reas perif ricas da regi o metropolitana Considerando a popula o jovem entre 15 e 24 anos da Regi o Metropolitana de Salvador RMS em 1996 94 5 destes jovens residiam em reas perif ricas e ainda que da popula o de jovens da RMS 83 3 composta de negros 23 Em rela o sa de os jovens do sexo masculino t m sido o alvo das estat sticas sobre taxas de mortalidade por causas externas particularmente homic dios e acidentes de tr nsito PAIM 2006 POCHMANN 2004 Tendo como fonte os dados do Sistema nico de Sa de SUS Pochmann 2004 p 236 relata que no conjunto das causas externas os homic dios respondem por 56 2 das mortes na faixa et ria entre 15 e 24 anos e ocorrem predominantemente em contextos urbanos nas regi es metropolitanas perif ricas das cidades onde o n vel de pobreza e desigualdade preponderante se relacionado a outras localidades Na Bahia alguns estudos salientam a rela o entre viol ncia e desigualdade social destacando as m s condi es de vida das popula es expostas NORONHA DALTRO MENDES
348. rcado e dos circuitos er ticos e a express o da sexualidade passaram a representar novos desafios Acrescenta se a este contexto hist rico um cen rio mundial de transforma es dos modelos tradicionais de emprego de crescimento de rela es informais de trabalho e das economias paralelas Tamb m aumento da cultura do lazer e de produtos que produzem estados alterados de consci ncia 2005 p 27 Esses programas e projetos se expandiram desde ent o atrav s dos servi os governamentais na maioria das vezes especializados PIMENTEL 2001 ou das iniciativas de organiza es n o governamentais ONG organiza es da sociedade civil de interesse p blico OSCIP e de grupos independentes dentre outras propostas Com tantas iniciativas e propostas inovadoras na maioria das vezes desenvolvidas pela sociedade civil e fomentadas por organiza es internacionais o Estado foi pouco a pouco se desresponsabilizando o que se evidencia seja pela escassa oferta de servi os e de condi es m nimas de trabalho que de fato apresentem resultados favor veis nas estat sticas de sa de seja pelo fato de repassar para as citadas organiza es essa responsabilidade com uma inteira permissividade nas a es de aten o ao adolescente e jovem RODRIGUES 2007 O trabalho desenvolvido por essa autora mostra que algumas ONGs em Salvador t m dirigido cada vez mais o trabalho para propostas de aten o sa de dos adolescentes e jovens
349. re satisfat rios para garantir a sobreviv ncia material E essa busca da sobreviv ncia que por sua vez garantir chances para desenvolverem outras pr ticas tema central do estudo dessa forma que os jovens retomam suas hist rias e refletem sobre elas a medida que escolhem o que falar silenciam reproduzem situa es se emocionam reinscrevendo essas hist rias e produzindo novos sentidos e significados para elas 232 Esses novos sentidos e significados dados s vicissitudes v o compor um novo universo de possibilidades agora tomadas como pr ticas para fortalecer a alma As pr ticas s o como diz Certeau 2003 as maneiras de fazer desenvolvidas pelos jovens a partir das situa es experimentadas nas suas trajet rias de vida assim como no e pelo contexto no qual est o envolvidos atrav s dessas pr ticas nesse poder ser nas possibilidades de uso que fazem dos espa os dos instrumentos de que disp em das suas trajet rias de vida e dos significados que atribuem a esses elementos do seu mundo que eles encontram sentido para a exist ncia nesse fazer as pr ticas como algo que fortalece a alma que ele encontra sentido Dentre as maneiras de fazer relatadas pelos jovens foram selecionadas nove comunidades de pr ticas ou seja grupos que se re nem com um objetivo comum dentre outras caracter sticas seis comunidades de rap duas comunidades de renova o religiosas e uma comunidade pol
350. re suas trajet rias biogr ficas a no o de conting ncia foi o dispositivo para identificar vicissitudes e possibilidades como aspectos que lhes s o constitutivos Desse modo as agress es e dificuldades de sobreviv ncia material e simb lica foram fundantes para a ocorr ncia de rupturas nessas trajet rias desvios n o explicitados pelos jovens e aus ncias particularmente da fam lia A partir dessas vicissitudes possibilidades se pronunciaram como as formas poss veis de presen a da fam lia de ganhos que os jovens definem como correria e o aparecimento de pessoas chave Entre as possibilidades que se abrem os jovens experimentam formas coletivas de enfrentamento das vicissitudes denominadas no estudo pr ticas culturais Essas pr ticas se apresentam como t ticas de resist ncia s situa es de desconforto e como geratrizes de mudan a na vida dos jovens Nesse sentido importante reconhecer que h um saber e pr ticas locais que possuem sentidos e significados para aqueles que vivem nesses espa os e que o campo da sa de precisa estar aberto para reconhecer essas possibilidades nem sempre conhecidas e estabelecidas pelo seu pr prio campo de atua o Descritores Pr ticas culturais Jovens Conting ncia Bairro Etnografia ABSTRACT This study aims to understand the meanings of cultural practices and meanings produced by people in a given context and seeks to know the constraints encountered and perc
351. rem nas entrelinhas s o as pr ticas cotidianas A teoria das pr ticas cotidianas aparece para extrair do seu ru do as maneiras de fazer que majorit rias na vida social n o aparecem muitas vezes sen o a titulo de resist ncias ou de in rcias em rela o ao desenvolvimento da produ o s ciocultural CERTEAU 2008 p 17 a partir da no o de pr ticas cotidianas de Michel de Certeau 2003 que venho buscando di logo para compreender as maneiras de fazer dos jovens em um dado contexto urbano as possibilidades de enfrentamento ou como refere o autor as t ticas de resist ncia s vicissitudes urbanas Interessa aqui compreender quais jovens vivem nesses espa os e os significados atribu dos por eles ao modo de vida poss vel nesses locais Ainda para Certeau as pr ticas s o maneiras de fazer cotidianas que v o sendo disseminadas ao longo do tempo mas que n o s o reconhecidas ou validadas nos discursos correntes e em particular pelo saber cient fico S o formas de resist ncia que se faz acontecer nas entrelinhas da hist ria por seres an nimos a partir de t ticas silenciosas e sutis 2003 p 39 como que clandestinas em meio ao que est estabelecido Essas pr ticas ocorrem como t ticas que segundo o autor se apresentam como formas de fazer n o validadas socialmente s o opacas na sociedade mas leg timas como formas de enfrentamento de manipula o e de altera o da ordem Essas variadas o
352. remetem a descri es destas situa es vividas Tipo o que a gente chama hoje pegar morcego os carros passavam a gente corria atr s pongava em cima sabe Isso pequeno isso com uns cinco a sete anos apanhava muito por isso tamb m n o sei nem como eu aprendia isso n o sei nem de onde vinham essas influ ncias Da quando quebrava alguma coisa dentro de casa apanhava se demorasse de fazer alguma coisa apanhava Ent o por apanhar muito aprontava muito tamb m Tem coisas que eu fico me recordando como que eu fazia isso Minha m e mandava eu comprar p o que no interior comprava assim a vara de p o a no caso tirava o miolo todo do p o sabia que ia apanhar da minha m e eu sabia mas eu fazia a chegava em casa apanhava com a vara de p o apanhava com outras coisas tamb m e mais Por isso que eu digo apanhar demais n o educa entendeu porque por mais que eu apanhava mais eu aprontava mesmo sabendo que ia apanhar mais uma vingan a ela me batia ent o eu aprontava Malcom Ele justifica as agress es da m e com o fato de que ela tamb m foi educada dessa forma e refere isso mostrando exaustivamente o quanto apanhou de todos os familiares com quem conviveu na inf ncia eu relaciono essa forma de minha m e educar pelo fato de ela tamb m ter sido educada assim Minha av tamb m muito rigorosa Quando eu morava no interior apanhava mais da minha av do q
353. renova o t m em maior e menor grau relatos que fazem uma ponte direta destes estados de solid o e desesperan a com o 1 Notas de Di rio de Campo 7 de julho de 2008 20h00 Reuni o da Comunidade Ressuscitados 206 encontro com a comunidade que os salvou n o apenas das situa es dif ceis mas que o salvou da solid o constante o relato de que estavam tristes deprimidos sem ningu m para contar e atrav s da comunidade isto mudou se sentem felizes com vontade de viver e com planos para o futuro Questiono se isto acontece apenas no interior da comunidade O que me intriga quanto s rela es fora dela ou de entidades religiosas s quais pertencem Eles referem que n o t m problemas na conviv ncia com n o crist os ou pessoas de outra religi o mas referem algumas dificuldades que incidem sobre o respeito s regras ou cren as e mesmo quanto s escolhas religiosas Falam das discord ncias com outras doutrinas em particular dos conflitos entre evang licos e cat licos da Renova o Carism tica Tamb m da dificuldade com a pr pria fam lia pois entre os jovens acompanhados quase a maioria n o pertence mesma denomina o ou tradi o religiosa de seus pais Durante os encontros com os jovens percebi que a comunidade acaba inclusive preenchendo um espa o que seria destinado fam lia Os jovens tiveram ou t m dificuldades com os pais vivenciam ainda muitas situa es de desconforto em casa
354. reporta a Goffman 1961 2005 sobre a postura que os internos de institui es totais assumem quando tentam tirar ganhos desses locais apesar das circunst ncias desagrad veis em que se encontram 128 relacionando via meninos tamb m planejando roubar alguma coisa l dentro vi planejar e executar mesmo roubo de videocassete televis o via muitas brigas l dentro tamb m tinha muitos monitores batendo em jovens l dentro Malcom Essa experi ncia na Fundac se relaciona a outras faltas experimentadas por Malcom algumas delas comuns a meninos que vivem parte do tempo nas ruas Ele revela os tipos de roubos que fazia na maioria das vezes a supermercados Pegava chocolates biscoitos recheados e brinquedos Refere que n o sabe porque mas ele s pegava coisas doces Ent o eu me alimentava praticamente s de biscoito recheado s de biscoito recheado e algum outro doce que eu sabia eu tinha na cabe a que a car alimentava entendeu Ent o era sempre coisas doces n o era salgadas n o Ent o eu fiquei algum tempo fazendo isso roubar biscoito pra t pra t aguentando mesmo Malcom interessante notar nessa narrativa que parte do discurso se prop e a justificar atrav s do s o fato de roubar doces e objetos pouco importantes como brinquedos que socialmente talvez n o carreguem o peso de grave delito Por m tamb m revela um aspecto interessante que a necessidade do a car co
355. resenciadas e ou vividas que desencadearam novos processos As agress es na maioria das vezes acompanhadas pelo uso de lcool continuado do pai ou do companheiro da m e fizeram parte da vida cotidiana dos jovens durante a inf ncia parte da adolesc ncia e para alguns prevalece at hoje s agress es paternas s o atribu dos significados diferentes em um dos casos relacionado ao candombl como j foi apresentado em outros ao uso de lcool Em outros casos n o h propriamente o interesse em compreender ou explicar os atos do pai ou dos companheiros da m e mas o que enfatizado o lugar que a m e ocupa na situa o o comportamento submisso da m e que eles atribuem s dificuldades financeiras dificuldade de impedir a situa o fraqueza ou mesmo por escolha pr pria e que algumas vezes precipitaram a sa da do filho de casa Elas algumas vezes fugiam da situa o e se refugiavam com os filhos por exemplo na igreja como a m e de Prometeu at que o efeito da bebida passasse e o pai se acalmasse O que penso ser interessante para a an lise que nem o pai ausente na maioria das vezes nem a m e que por vezes pareceu aceitar a situa o s o colocados em lugar de r us por esses jovens Ao contr rio mesmo com dificuldade para compreender as atitudes dos pais eles buscam explica es e lan am m o dessas experi ncias e dos significados a elas atribu do nas novas situa es que surgem po
356. riga Ai depois desse dia a gente realmente se separou Malcom Este detalhamento das agress es na narrativa de Malcom expressa um segundo momento de sua entrevista A m e agredida e aceita conviver com isto Num certo momento ela decide mudar mas novamente outros conflitos ocorrem e ela abre m o do filho Neste momento ele sai Por m ele n o se livra de agress es Agora elas v m da pol cia 120 J apanhei j tr s vezes de policiais Eu tava cantando rap cantando com o pessoal ia passando um policial na viatura ia passando e eu cantando mesmo ai o cara disse cara cante baixo a porque os policial pode vir abordar a gente Da a viatura j tinha passado uns sete a oito metros da gente A eu falei Rapaz eles n o v o abordar a gente porque primeiro a gente n o deve nada a gente n o t fazendo nada de errado e depois tamb m s tem um policial na viatura Outra viol ncia que eu sofri foi em Cajazeiras VIII porque a gente tinha mania de encontrar todo mundo e fazer pitbox O som com a boca pitbox E da a gente vinha fazendo isso num nibus a gente tava vindo no caso de um show que teve l a a viatura passou viu a gente fazendo isso viu aquela roupa largada aquelas roupas e tudo da passou a viatura fechou o nibus disse que era pra gente parar de fazer aquilo porque tava incomodando os passageiros s tinha tr s passageiros que tavam com a gente A
357. rinc pios e posi es pol ticas outro modo de fazer pol tica local e ao mesmo tempo garantir um lugar nesse espa o de disputa e de reconhecimento particularmente de prova o por serem jovens Essa quest o sobre a prova o tamb m aparece para as comunidades do rap por m a partir de outra perspectiva A prova o nesse caso passa pelo reconhecimento interno das comunidades de rap assim como pelo movimento como um todo Para as comunidades do rap h muito que fazer para dar conta das exig ncias das outras comunidades e da pr pria exig ncia de fazer um trabalho de qualidade As letras a originalidade do som o tom de contesta o a qualidade do material produzido CD DVD divulga o entre outras coisas necess rio como forma de diferenciar se de outras bandas que s querem sucesso e ganhar dinheiro H uma exig ncia de credibilidade entre os rappers Por conta disto percebo que os ensaios das bandas s o levados a s rio importante a qualidade do equipamento o tipo de m sica que ser apresentada e a performance do grupo Outras comunidades s o convidadas e participam ativamente atrav s de parcerias nas m sicas de canjas das bandas convidadas e do free style com outros rappers Interessa o ponto de vista das comunidades sobre a produ o e a qualidade do espa o que est o promovendo Por m para que a produ o seja satisfat ria e reconhecida dentro do movimento h muito que galgar como
358. ro Zahar 1968 v 1 Il II e IV BRUSEKE F J Risco e conting ncia Revista Brasileira de Ci ncias Sociais v 22 n 63 p 69 80 fev 2007 BUCHOLTZ M Youth and cultural practice Annu Rev Anthropology n 31 p 525 52 2002 BUCHOLTZ M et al Reinventing identities the gendered self in discourse New York Oxford University Press 1999 BURAK S D Comp Adolescencia y juventud en Am rica Latina Cartago Libro Universitario Regional 2001 BUSS P M Uma introdu o do conceito de promo o da sa de In CZERESNIA D FREITAS C M de Orgs Promo o da Sa de conceitos reflex es tend ncias RJ Fiocruz 2008 2 reimp CALVINO As cidades invis veis 2 ed S o Paulo Companhia das Letras 2006 6 reimp CAMARGO B V BOTELHO L J Aids sexualidade e atitudes de adolescentes sobre prote o contra o HIV Revista Sa de P blica v 41 n 1 p 61 68 fev 2007 CANGUILHEM G O normal e o patol gico 6 ed rev Rio de Janeiro Forense Universit ria 2006 CAPONI S A sa de como abertura ao risco In CZERESNIA D FREITAS C M de Orgs Promo o da Sa de conceitos reflex es tend ncias Rio de Janeiro FIOCRUZ 2008 2 reimp CARLINI COTRIM B GAZAL CARVALHO C GOUVEIA N Comportamentos de sa de entre jovens estudantes das redes p blica e privada da rea metropolitana do Estado de S o Paulo Revista de Sa de P blica v 34 n 6 p 636 45 dez 2000
359. ro de Cosme de Farias identificadas pelos moradores BATISTA e PIMENTEL 2008 O bairro possui uma topografia bastante irregular tendo sido ocupado inicialmente na cumeada onde poss vel observar constru es e moradias em melhores condi es de uso e at mais antigas bem como a localiza o da maior parte dos equipamentos servi os e com rcio local J nas encostas e baixadas encontram se habita es e infra estrutura em condi es mais prec rias SALVADOR 1977b Figura 8 Dados cedidos pela Conder BAHIA 2005 compilados a partir das informa es do IBGE possibilitam conhecer o bairro a partir da sua divis o em 36 83 setores censit rios O IBGE trabalha com mais de 500 vari veis por setor censit rio fornecendo informa es mais precisas e atualizadas sobre cada sub rea do bairro tais como faixa et ria da popula o renda salarial escolaridade condi es de infra estrutura entre outras O bairro tido como um dos mais problem ticos da cidade e mesmo com algumas interven es recentes por exemplo do Programa Bahia Azul n o houve mudan as significativas segundo relato dos moradores ABANDONO 1997 um bairro de contrastes encravado no seio da cidade com dif cil acesso a servi os e possibilidades existentes como as encontradas em bairros pr ximos que possuem caracter sticas bastante diferenciadas em rela o a ele BAIRROS 1998 DANNEMANN 1999a a TF n A Figura 8 Vis
360. roupas com brilho e sensuais cabelos bem penteados e ou tran ados e maquiagem elementos necess rios para a filmagem O evento durou boa parte da noite e se estendeu para outros locais no partir da descobri que o Black Point um espa o importante para os jovens pois foi palco de muitos ensaios e festas das comunidades de rap do bairro Atualmente os encontros e eventos no bar est o mais escassos parte por conta das den ncias quanto ao excesso de ru do pr ximo a resid ncias parte por conta das situa es de viol ncia que segundo ele t m aumentado O bar foi citado por v rios jovens como espa o de uso para o lazer em especial nos finais de semana Notas de Di rio de Campo 15 de setembro de 2006 18h60 Programa Luminosidades Repercussivas Insisto em pontuar sobre o lugar que destinado mulher no bairro algo j trazido no Cap tulo 5 sobre o ponto de vista dos jovens sobre o bairro 85 169 intuito de apresentar cen rios da cidade de Salvador que pudessem dar outro tom ao velho ar de favela mis ria comum no rap Figura 24 Tr nsito de jovens durante a grava o do clip no Bar Black Point Fonte Adriana Miranda Pimentel Pesquisadora A partir disso ressalto outro aspecto que evidenciado pelos jovens sobre o lugar que o rap ocupa para as comunidades O modo agressivo com letras que remetem repress o policial por exemplo que coloca os grupos em situa es dif ceis e cria muitos impe
361. rre na Renascer O pr prio nome e os anseios da banda indicam as motiva es para a sua cria o desejam levar o trabalho que realizam para outros jovens que tal como eles vivenciam ou vivenciaram situa es dif ceis o que fazem tocando em igrejas da pr pria denomina o mas tamb m em outras e realizando projetos e atividades para jovens em Cosme de Farias e em outros bairros da cidade Nesse sentido eles se sentiram confort veis na igreja e com liberdade para exercerem as atividades do grupo como gostariam sendo inclusive estimulados a isso A comunidade costuma se reunir na sede da igreja espa o reservado para eles aos domingos tarde mas tamb m em outros dias da semana A igreja tem um sal o grande logo na entrada com palco e al m disto salas para reuni es uma delas dedicada s crian as quando os pais est o em atividades na institui o O grupo atualmente formado por dois homens e uma mulher entre 16 e 25 anos N o possui CD ainda mas est atualmente investindo na produ o do primeiro trabalho Suas m sicas versam sobre quest es relacionadas import ncia de Jesus Cristo em sua maioria mas tamb m trazem outros temas atuais como viol ncia situa es do cotidiano no bairro O grupo tamb m realiza a es de evangeliza o trabalhos na comunidade inclusive com jovens e para jovens chamado Projeto Amar e tem um projeto de m sica no fim de linha de Cosme de Farias Uma das visitas que rea
362. rro pobre e afetado por essas situa es incorpora o termo perif rico quando n o pela sua localiza o na cidade H a todo tipo de adjetiva es que est o atreladas ao termo tais como territ rio f sico bairros regi es etc redes de sociabilidade manos boys galera etc enunciados e pr ticas culturais raps sambas programas de r dio etc mas tamb m a objeto de pol ticas p blicas prec rias limitantes subjugadoras e por vezes arrasadoras ou de pr ticas domesticadoras e assistencialistas pseudo piedosas de algumas entidades ou do clientelismo de certos representantes de comunidades e o que n o dizer de imagens redutoras homogeneizantes e estigmatizadoras produzidas em muitas reportagens romances e filmes que olham a periferia de fora e de cima e que s t m olhos para a priva o e destrui o FERRARI 2006 p 4 Nesse sentido muito do que ocorre em Cosme de Farias permite design lo como periferia essa periferia descrita pelo autor que tamb m foi descrita acima nas sess es anteriores Por m h outra forma de pensar a periferia ampliando os espa os para sujeitos de discursos e pr ticas criativos transformadores inquietantes Para que assim seja h que se deixar falar o que toca no dia a dia do 42 Periferia do grego periphereia circunfer ncia Numa cidade a regi o mais afastada do centro urbano em geral carente em infra estrutura
363. s n 32 264 BAHIA 2005 88 O n vel de escolaridade da popula o economicamente ativa chefes de fam lia muito baixo no bairro Cerca de 1 4 desta popula o n o tem instru o formal ou tem menos de um ano de estudo e ainda mais da metade dos chefes de fam lia cursaram apenas o curso prim rio ou seja os primeiros quatro anos de estudo Figura 17 Pessoas alfabetizadas de 25 a 59 anos 50 Pessoas alfabetizadas de 15 a 24 anos 27 Pessoas E alfabetizadas de Pessoas 60 e mais alfabetizadas de 6 Figura 16 Alfabetiza o por faixa et ria em Cosme de Farias n 28 542 BAHIA 2005 Respons veis com curso prim rio 57 Respons veis com curso ginasial D Respons veis com curso superior pasa 6 Respons veis com curso de E Respons veis com alfabetiza o de mestrado ou adultos Respons veis sem doutorado 1 instru o e menos de 0 lano de estudo 24 Figura 17 N vel de escolaridade dos respons veis por domic lio em Cosme de Farias n 3 734 BAHIA 2005 89 Em Cosme de Farias est um quinto da popula o total do Distrito de Brotas que possui 193 000 habitantes de acordo com o Censo 2000 BAHIA 2005 um bairro populoso e com vastas demandas em rela o a melhoria nas condi es de vida que determinem melhores condi es de infra estrutura educa o e sa de prioritariamente No presente estudo foi realizado um levantamento que resultou na id
364. s pelos seus habitantes Incorpora se tamb m a essa discuss o perspectivas de an lise das pr ticas culturais que favore am um entendimento sobre as transforma es e mudan as por que passam os jovens na constru o de identidades como repert rio de possibilidades O cap tulo 4 exp e o percurso da pesquisa apresentando o m todo etnogr fico como forma de dar vaz o aos discursos e experi ncias dos jovens no bairro traz uma exposi o dos pontos de aterragem ou seja os espa os onde se deu a entrada em campo bem como o reconhecimento dos jovens acompanhados no estudo apresenta as estrat gias metodol gicas tais como t cnicas e recursos utilizados e a perspectiva de an lise do material A fenomenologia hermen utica definida como uma via de an lise seja como orienta o constru o etnogr fica seja na an lise de narrativas para a compreens o das trajet rias biogr ficas dos jovens Os cap tulos 5 6 e 7 se destinam compreens o das rela es que se estabelecem entre o bairro como um contexto de vida os jovens e seus afazeres ou pr ticas culturais porque essas s o apropria es e re apropria es das trajet rias dos jovens assim como do contexto onde se situam No cap tulo 5 uma etnografia do bairro de Cosme de Farias est o descritos os aspectos oficiais e n o oficiais como a hist ria de funda o e ocupa o tendo como par metro a cidade do Salvador e o perfil sociodemogr fico e cu
365. s Governamental Educa o Escola Municipal Lelis Piedade Governamental Educa o Escola Olga Figueiredo de Azevedo Governamental Educa o Casa do Trabalhador Governamental Emprego e Renda Centro de Sa de Cardeal da Silva Governamental Sa de Centro Social Urbano Cosme de Farias CSU Governamental Social e Educa o Igreja de Santo Antonio Religiosa Cat lica Igreja S o Francisco Religiosa Cat lica Assembl ia de Deus Religiosa Evang lica Assembl ia de Deus Cosme de Farias Religiosa Evang lica Assembl ia de Deus Rua Irapu Religiosa Evang lica Assembl ia de Deus Vale do Matatu Religiosa Evang lica Casa da Ben o Religiosa Evang lica Casa da Ben o Alto do Cruzeiro Religiosa Evang lica Casa da Ben o Vale do Matatu Religiosa Evang lica Congrega o Presbiteriana Nova Alian a Religiosa Evang lica Igreja Adventista do 7 dia Vale do Matatu Religiosa Evang lica Igreja Batista do Calv rio Religiosa Evang lica Igreja Evang lica Assembl ia de Deus Religiosa Evang lica continua Tabela 1 Perfil das entidades mapeadas em Cosme de Farias n 54 Continua o DESCRI O Entidade Tipo Igreja Evang lica Mission ria Deus Forte Religiosa Evang lica Igreja Internacional das Gra as de Deus Religiosa Evang lica Igreja Pentecostal Deus e Amor Religiosa Evang lica Igreja Pentecosta
366. s ag ncias internacionais e as pol ticas de sa de nos anos 90 um panorama geral da oferta de id ias Ci ncia amp Sa de Coletiva Rio de Janeiro v 6 n 2 p 377 389 2001 MEAD M A jovem de Samoa e seu grupo de idade In BRITO S Org Sociologia da juventude a vida coletiva juvenil Rio de Janeiro Zahar 1968c v 3 MELO E M et al Projeto Meninos do Rio mundo da vida adolesc ncia e riscos de sa de Cadernos de Sa de P blica v 21 n 1 p 39 48 jan fev 2005 MENDES J M O O desafio das identidades In SANTOS B de S Org A globaliza o e as ci ncias sociais S o Paulo Cortez 2002 Cap 13 MERLEAU PONTY M Fenomenologia da percep o S o Paulo Martins Fontes 1994 MORADORES do bairro de Cosme de Farias queixam se do abandono em que se acham A Tarde Salvador 18 dez 1978 Caderno 1 p 8 MOREIRA D A O m todo fenomenol gico da pesquisa S o Paulo Pioneira Thomson 2002 NADER L GONZALEZ R J The framing of teenage health care organizations culture and control Cult Med Psychiatry n 24 p 231 58 2000 NOGUEIRA R P A sa de da Physis e a sa de do Dasein em Heidegger Physis Revista Sa de Coletiva v 17 n 3 p 429 450 2007 NOGUEIRA R P Para uma an lise existencial da sa de Interface Comunica o Sa de e Educa o v 10 n 20 p 333 45 jul dez 2006 NORONHA C V DALTRO M E P MENDES C M C Viol ncia e mortalidade na Bahia
367. s as integrantes P rola refere que uma das integrantes se casou e teve filho e a outra conseguiu emprego fixo o que dificulta os encontros e ensaios da banda Ela mesma refere dificuldades tendo que cuidar de dois filhos pequenos e n o tendo trabalho remunerado Para as bandas masculinas a Africaminas existe mas aparece pouco no cen rio local Eles questionam o tipo de produ o feminina que evidencia uma cr tica acirrada ao machismo mas ao mesmo tempo atrelada aos homens no que se refere independ ncia da banda Um dos 8 Como foi levantado no cap tulo anterior as perspectivas futuras dos jovens v o sendo tolhidas medida que se deparam com as dificuldades do dia a dia com a concorr ncia pelos postos de trabalho e nesse sentido s o os fazeres cotidianos que os fortalecem e fornecem subs dios para pensar o futuro 174 integrantes de uma comunidade refere Espera dos homens e faz cr tica ao machismo Charles Essa discuss o sobre o lugar da mulher no bairro j foi sinalizada em outros momentos deste estudo e levanta algumas reflex es Uma delas foi apontada no percurso etnogr fico sobre as dificuldades para encontrar pr ticas culturais femininas no bairro Outra reflex o aparece no lugar da m e e mulher para os jovens ao longo de suas trajet rias de vida aquela que cuida e que sustenta o papel de m e dentro das possibilidades mas suportando as agress es de forma submissa E um terce
368. s constru ram suas trajet rias biogr ficas e desenvolvem suas pr ticas e b a an lise das narrativas dos jovens sobre as conting ncias experimentadas por eles nas suas trajet rias de vida bem como sobre os significados e sentidos das pr ticas que desenvolvem atrav s das comunidades s quais pertencem Este estudo etnogr fico foi orientado pela perspectiva fenomenol gica hermen utica e lan ou m o de diferentes estrat gias de investiga o para seu desenvolvimento entre elas um survey aplica o de question rios coleta de coordenadas geogr ficas entrevistas aprofundadas com jovens e observa o das pr ticas A an lise dos dados se processou atrav s de diferentes recursos e estrat gias tais como o emprego dos softwares Arc View para espacializa o dos dados georreferenciados QSR Nvivo 2 0 para an lise do material textual e an lise de narrativa a partir das entrevistas em profundidade com os jovens A partir disso foram identificadas algumas categorias que nortearam a condu o da an lise Do ponto de vista dos jovens o bairro apresenta problemas particularmente a viol ncia associada diretamente ao tr fico e uso de drogas e a explora o sexual particularmente feminina que n o s o problemas dos jovens e sim problemas que afetam a todos que vivem no bairro e est o diretamente relacionados falta de ocupa o trabalho lazer e forma o para os jovens Na leitura exaustiva das narrativas dos jovens sob
369. s e at mesmo Brotas A cada encontro que participam mais um espa o e lugar lhes s o conferidos Com algumas comunidades do rap isto tamb m ocorre por m h diferen as em rela o hist ria pregressa do grupo e s rela es existentes no bairro Percebo que as comunidades do rap das reas mais centrais do bairro com uma rede de apoio fam lia e amigos mais ampliada t m maiores chances de ganhos e de abertura de espa os no bairro Isso tamb m tem a ver com o tempo de perman ncia do grupo e o grau de visibilidade que ele tem no bairro e se poss vel fora dele importante o n vel de investimento compra de instrumentos musicais tipo de est dio para grava o tempo de uso do est dio e de equipamentos acesso a m dias e contatos externos entre outras coisas que pelo que pude observar tamb m diferenciado para as bandas mais centralizadas Percebo que as possibilidades aumentam medida que os jovens ampliam suas redes de apoio que s o constru das a partir da intera o que possuem no bairro pelo n vel de rela es e formas de organiza o particularmente determinadas pelas comunidades das quais fazem parte As pr prias pr ticas desenvolvidas pela comunidade permitem a abertura de espa os e tr nsitos Esses aspectos s o ressaltados por Magnani quando afirma que o espa o no qual os jovens interagem n o deve servir como mero cen rio e sim como um produto da pr tica social acumulada desses agentes
370. s e desacreditados pelos familiares que de algum modo invalidam suas conquistas e desejos Assim se caracterizam os jovens com quem estabeleci contato atrav s dos ensaios conversas informais e em diferentes espa os ou ainda durante as pr ticas observadas Esse primeiro contato possibilitou identificar alguns jovens com quem mantive um acompanhamento mais aprofundado at o final da investiga o Foi com esses jovens tr s mulheres e nove homens que realizei entrevistas aprofundadas cuja tem tica central foi a trajet ria biogr fica bem como outros aspectos relacionado s pr ticas que puderam ser melhor desenvolvidos atrav s desta t cnica A escolha desses jovens ocorreu a partir do pr prio campo de pesquisa particularmente do percurso etnogr fico realizado a priori S o jovens que participaram mais ativamente do percurso inicial evidenciando as comunidades existentes no bairro relatando hist rias e particularidades dos lugares mas principalmente pela rela o que assumem com as comunidades de pr ticas S o eles Mago Anjo Lua P rola Sara Malcon li Prometeu Charles Castor P lux e Cristiano Estes nomes s o fict cios no intuito de preservar a identidade dos informantes mas mant m uma rela o direta com elementos trazidos nas suas trajet rias ou na rela o com a pesquisadora No cap tulo 6 estes jovens ser o apresentados quanto a suas hist rias de vida o que permitir conhec los de mo
371. s et al 2003 e Adorno 2001 t m apontado o crescente uso da no o de vulnerabilidade no o de risco em grande parte dos estudos atualmente Esta mudan a prev um deslocamento da leitura sobre os problemas de sa de de determinados grupos que v da responsabiliza o individual para uma leitura sobre a situa o geradora destes problemas como bem o acesso aos servi os b sicos a condi es favor veis de vida aos aspectos sociais pol ticos e culturais nos quais estes grupos e indiv duos est o envolvidos 24 e de separa o dos v nculos familiares ou ainda sobre viol ncia e comportamento juvenil LOPES NETO 2005 Entretanto outros estudos tamb m avan am ao mostrar que disponibilidade de informa o sobre drogas e boa intera o familiar especialmente a presen a da m e na vida do jovem contribuem para o n o uso de drogas em reas de maior exposi o SANCHEZ et al 2005 assim como o acesso a programas de informa o n o moralistas e mais contextualizados na realidade dos jovens tem favorecido a ado o de pr ticas sexuais mais seguras entre eles PAIVA et al 2002 H tamb m mudan as apresentadas em estudos recentes que mostram que determinados problemas de sa de mais comumente relacionados aos adolescentes e jovens como por exemplo a rela o entre uso de drogas e soropositividade para o HIV t m ocorrido com mais frequ ncia em pessoas acima de 30 anos BONI PECHANSKY 2002 Esses
372. s para as situa es de vida de cada um que acredito ser poss vel chegar a algumas considera es O cen rio o bairro de Cosme de Farias Ele n o mais um bairro pobre dentre tantos outros de uma cidade nordestina medida que me debru o sobre ele passa a ser O Bairro Durante a pesquisa muitos ouviram falar dele como nunca antes o olhar e a escuta atentos para descobrir uma nova informa o uma particularidade uma not cia E claro que essa abertura em todos os sentidos me levou a um horizonte de possibilidades No in cio eu queria conhecer aqueles jovens de um lugar seus modos de vida o que pensavam sobre seus problemas de sa de mas principalmente de que lugar eles vinham Isso surgiu dos resultados da disserta o PIMENTEL 2001 como j foi trazido na introdu o do trabalho Eu queria conhecer os ditos contextos de vida desses jovens porque entendia que era poss vel outro modo de pensar sa de e qualidade de vida das pessoas independente dos grupos de idade E a quest o era falamos tanto de contextos de conhecer as pessoas ou situa es a partir do contexto sociocultural mas afinal do que estamos falando Quando falo em contexto o que mesmo que eu quero com isto Para al m dos estudos mais comumente realizados no campo da sa de contexto n o deveria ser sin nimo de dados e informa es estat sticas geogr ficas e ou populacionais ou ainda um conjunto de caracter sticas
373. s que pudessem mediar a passagem para a vida adulta Embora haja cr ticas sobre o 106 discurso da adolesc ncia uma adolesc ncia criada mais para preencher o vazio de institui es do que de fato transformar a situa o de vida dos jovens atualmente e particularmente no Brasil a adolesc ncia poderia ser ressignificada com o prop sito de ampliar possibilidades aos jovens Para Athayde et al ocorre no Brasil um fen meno contr rio os meninos e meninas pobres t m cada vez mais encurtada essa fase de vida e ingressam na vida adulta tal como em outras culturas em tempos atr s prontos para a guerra 2005 p 211 Na falta de outros recursos e espa os de sociabilidade forma o condi es e afeto h espa o para o tr fico para o prazer atrav s do lcool e outras drogas e para a viol ncia como estrat gias tamb m de sobreviv ncia Nesse sentido a falta do que fazer uma express o constante H o consenso para a maioria dos entrevistados de que a solu o para as situa es que mais afligem os jovens do bairro seria a cria o de espa os que promovessem cultura lazer esporte e forma o Quase a totalidade deles apresenta um discurso que remete a isso Eu acho a falta de cultura por mais que digam que pagode uma cultura n o uma cultura de t envolvendo as pessoas pra um pensamento mais cr tico o pagode n o uma cultura falta muita cultura Voc t em Cosme de Farias chega um carr
374. sa vis o em rela o as coisas n o sei explicar realmente da onde surgiu e porque N o sei talvez se minha vida fosse trang ila se eu tivesse sido bem alimentado na inf ncia se minha m e n o brigasse com meu pai se eu tivesse uma vida boa talvez poderia dar muito errado hoje eu penso Por ver muitos assim tamb m por ver muitos agora t virando quase que normal agora n filhinhos de papai tarem batendo n tarem maltratando as pessoas Eu penso que se eu tivesse essa vida talvez eu n o tivesse essa consci ncia Malcom Malcom utiliza com certa frequ ncia o termo consci ncia Para a fenomenologia toda consci ncia consci ncia de algo Ela constitu da de a es com as quais visa algo Ela n o coisa mas algo que d sentido s coisas e esse sentido n o constatado mas se interpreta essa consci ncia intencional que faz o mundo aparecer como fen meno como significa o Desse modo Malcom toma consci ncia das situa es vividas no momento em que d sentido a elas e faz uso disto para outras coisas Esse fragmento de fala introduz tamb m outro elemento que foi ressaltado pelos jovens nas suas trajet rias de vida que a quest o da sobreviv ncia 6 1 2 Enterrando Parecendo Bicho formas poss veis para a sobreviv ncia Na leitura dos textos produzidos aparecem elementos tanto materiais por exemplo a quest o da sobreviv ncia que se expressa nas faltas do alimento
375. sem manter qualquer v nculo com institui es de sa de governamentais que possam fiscalizar e ou avaliar essas a es Sobre esse aspecto importante perceber como determinados problemas de sa de e ou de grupos populacionais s o colocados em destaque e como A adolesc ncia definida em grande parte dos textos da rea da sa de como uma etapa de vida entre a inf ncia e a fase adulta marcada por um complexo processo de crescimento e desenvolvimento biopsicossocial E importante ressaltar que a incorpora o dos aspectos psicol gico e social recente e se substancializa nos problemas do adolescente que em geral mesmo com a no o de vulnerabilidade vincula se fortemente aos riscos da gravidez infec o pelo HIV AIDS e uso e abuso de drogas vinculados aos comportamentos do adolescente BRASIL 2001 p 6 7 22 rapidamente esses problemas evidenciados motivam a cria o de institui es para interven o uma observa o j amplamente documentada por Canguilhem 2006 1943 e Foucault 1998 1980 Existe na sociedade uma necessidade de se relacionar a doen a a uma condi o de anormalidade e a sa de normalidade como se isso pudesse ser assim t o facilmente relacion vel o que se reflete na vis o de que tudo aquilo que desorganiza ou que sai da norma social deve ser tratado restaurado reabilitado A partir da Canguilhem prop e uma defini o de sa de e doen a que implica a cria o de uma no
376. sentando o pai Ele nunca foi calmo mas com a mudan a de moradia ficou menos calmo ainda Ela explica que poderia ser pelo tipo de vida e trabalho que ele levava mas indica no discurso algo que parece mais forte para a mudan a de atitude a influ ncia de mulheres que faziam trabalhos de macumba A presen a do candombl algo recorrente em algumas explica es para as mudan as de comportamentos que alteraram a vida familiar Por vezes ela fala do lugar e das coisas que aconteceram novamente remetendo a esp ritos algo sobrenatural para explicar as mudan as no comportamento do pai al m dos acontecimentos de agress o que foram se sucedendo Em outro trecho ela insiste nisto parecendo refor ar a influ ncia de for a espiritual Nessa agonia ele agredia minha m e ele agredia meus irm os j me agrediu tamb m v rias vezes fisicamente Um belo dia por um p de laranja que n o tinha sido molhado ele chegou e o p de laranja tava seco eu nunca me esque o desse dia foi no anivers rio de meu irm o Foi quinze de janeiro de oitenta e sete Ele chegou e eu tinha tomado conta de todo o sitio n Cuidado do gado passado a comida do gado na m quina pra dar a comida pra eles os porcos galinhas patos tudo Eu tinha cuidado de tudo Deixei a planta o s pra meu irm o mudar aqueles negocinhos que muda aquele chuveirinho n que roda assim deixei pra eles mudarem E a o que foi que houve Meu irm
377. sentimento coletivo de que o bairro n o mais o mesmo Para um dos jovens informantes o tr fico um sintoma Ele diz isso associando hist rias de mortes de jovens no bairro que por vezes n o parecem ter sentido e que passam sempre pela mesma explica o briga de traficantes como se isso explicasse tudo e pusesse fim hist ria importante falar tamb m de minhas impress es Eu passei a frequentar o bairro em 2003 e a pesquisa com jovens foi iniciada em 2005 At final de 2006 e in cio de 2007 pouco se falava de viol ncia Ela existia mas entre meados de 2007 e 2008 tem crescido em import ncia por conta de v rias mortes ocorridas noticiadas e pr ximas de todos n s jovens e pesquisadora Nesse ltimo ano tive not cias de morte de jovens atrav s de telefonemas dos informantes de notici rios sobre chacinas no bairro de parentes das pessoas que acompanho em diferentes pr ticas que l realizo pesquisas e interven o al m das entrevistas Um domingo de 2008 me preparando para ir a um ensaio de rap no Alto do Formoso organizado por Anjo recebi um telefonema de um informante cancelando o ensaio por conta do assassinato de um jovem Esse fato me mobilizou na pesquisa Me senti mais pr xima da viol ncia no bairro Isto provoca nos jovens que acompanho uma preocupa o pelo que eu penso a respeito do bairro Est o sempre me contando os acontecimentos e do mesmo modo me afirmando que normal qu
378. sibilidade que ele pode em seu 40 ser isto sendo escolher se ganhar se ou perder se ou ainda nunca ganhar se ou s ganhar se aparentemente 1993 apud BRUSEKE 2007 p 76 77 O que faz desse argumento algo interessante para a proposta em estudo o entendimento do Ser como ser de possibilidades de poder ser que faz escolhas a partir das possibilidades e nesse sentido livre claro que as escolhas nesse universo de possibilidades t m tamb m seus limites por m esses n o est o dados As possibilidades v o al m do que n s podemos imaginar e do que utilizamos Quando se pensa nos riscos a que os jovens est o suscet veis veem se os riscos como algo pr prio dos jovens mas n o como algo que faz parte do mundo deles e que t m significados pr prios para eles a partir de seus mundos ou seja de que modo o risco constituinte desse mundo e por conta disto instrumento para pr ticas cren as e modo de estar no mundo e com outros nesse mundo preciso pensar sobre o fato de que o risco imanente vida constituinte do mundo da presen a A presen a o modo de ser do existente humano A exist ncia o modo de ser do ente que o homem A presen a s se concretiza no seu fazer Ela se situa numa conjuntura que para Heidegger 2006 entendida como um contexto de pr ticas a es familiaridade atividades etc O Dasein n o habita o espa o ele espacializa abre o espa o que ocu
379. sobre o que produzido Malcom faz quest o de fazer um rap diferente agressivo e que fa a a diferen a para as pessoas A comunidade a qual pertence a Rapaziada do Morro criticada em alguns momentos e at incomoda outras comunidades pela postura que assume As m sicas s o duras e contundentes A m sica de abertura do CD Ainda mais nervoso come a com tiros A cada rajada de tiros entra uma frase e ao final muitos tiros se seguem 172 Tiros O policial contente sopra o cano do seu rev lver Tiros Sou sobrevivente sou sobrevivente Tiros Triste fim triste fim Tiros Depois das elei es n o passamos de lixo Tiros Plantou trairagem amanh colhe balas Tiros E larga logo esse oit o c ta pensando o que Tiros Dem nio de farda s vem fazer m e chorar Tiros Dem nio de farda s vem fazer m e chorar Muitos tiros Aqui favela favela Rapaziada do Morro A letra da m sica traz aspectos j tocados pelos jovens ao longo do trabalho e que merecem aten o a quest o da sobreviv ncia em meio viol ncia policial a rela o da m e com a constata o da morte dos filhos aspectos que denunciam as situa es vividas na favela nesse rap den ncia que os jovens acreditam e que parte indissoci vel do contexto em que vivem isso que o rap precisa vocalizar H com isso dois aspectos que est o em discuss o e que at causam certo estranhamento entre as comu
380. sou a chamar se Cosme de Farias por m a ocupa o da rea j ocorria desde a d cada de 1930 NUNES 2007 A mudan a do nome do bairro se deu em homenagem ao Major Cosme de Farias ilustre morador do bairro jornalista v rias vezes vereador da cidade e deputado estadual o r bula era conhecido por sua proximidade com a popula o mais empobrecida que auxiliava nas quest es jur dicas apesar de n o ter forma o em direito COSME 1999b considerado o Advogado dos Pobres Sua fama se deve tamb m ao trabalho que desempenhou contra o analfabetismo CELESTINO 2005 e a discrimina o social Apesar da ins gnia ele n o era Major Ganhou o t tulo de amigos A autora refere que o jornalista foi um dos primeiros a desencadear discuss es sobre temas que n o estavam na ordem do dia na m dia Um dos exemplos foi uma den ncia sobre a situa o de interna o de adolescentes infratores em Pitangueiras em 19372 Para a autora o jornalista utilizava a imprensa escrita com o fim tamb m de reivindicar melhorias ajudar pessoas e expor situa es de desconforto social pol tico e econ mico que envolviam a popula o da cidade Tamb m foi conhecido pela sua influ ncia pol tica Em discuss o sobre as transforma es do manic mio estatal na Bahia Jacobina salienta a relev ncia do Major no internamento de indigentes assim como sua presen a como solicitante de habeas corpus em favor de v rios internos que eram judicia
381. ssa perspectiva busca abarcar a positividade dos espa os onde est o os sujeitos ditos vulner veis no sentido da reapropria o que eles fazem desses espa os e favorece o pensar as vicissitudes dos jovens do ponto de vista dos espa os em que vivem de como eles fazem a leitura desses espa os das dificuldades enfrentadas e do uso que fazem dos recursos e possibilidades desse ponto de vista que busco compreender quem o jovem dessa cidade a partir da realidade de um bairro que poder dizer algo sobre o que ser morador da cidade de Salvador o que viver sob determinadas condi es e possibilidades nessa cidade Essa preocupa o em conhecer a situa o de sa de das popula es ou de grupos populacionais espec ficos torna fundamental iniciar uma discuss o que parta do coletivo popula o em dire o ao sujeito jovem e de sua singularidade com base nos espa os vividos A id ia sair do eixo adolesc ncia problema para a dimens o do jovem de sua maneira de fazer de seu lugar Entendendo essas pr ticas como a es que os jovens desenvolvem no espa o onde vivem e a partir dele que podem incidir em mudan a tanto das suas trajet rias pessoais quanto desses pr prios espa os questiono 1 Quais seriam as conting ncias desejos e perspectivas percebidas pelos jovens a partir de suas trajet rias e contextos de vida 2 Que pr ticas s o realizadas pelos jovens do bairro como e por que se
382. ssados A discuss o era sobre um modo diferente de realizar a Feira que comumente acontece com oferta de servi os j oferecidos pela unidade de sa de no intuito de mobilizar a popula o para pr ticas preventivas A cr tica que se fazia era sobre a escassa participa o de pessoas e entidades do pr prio bairro que pudessem tamb m compor esse espa o na perspectiva de fazer dele algo mais que a simples recomenda o de condutas preventivas aos problemas de sa de definidos quase sempre pelas institui es de sa de Isso mobilizou muitas discuss es e ao final as reuni es foram sucessivamente esvaziadas particularmente pelos dirigentes de sa de Depois de uns dias a Feira de Sa de aconteceu exatamente nos moldes tradicionais trailer com consultas ginecol gicas oferecido por um hospital privado da cidade conveniado com o SUS distribui o de folhetos informativos sobre preven o ao HIV Aids tuberculose e c rie dent ria aferi o de press o arterial e divulga o de servi os 195 prestados pela unidade de sa de 2 A partir da poss vel compreender que n o apenas o fato de ser jovem que dificulta processos de mudan a mas principalmente de modificar estruturas e processos j estabelecidos h tanto tempo No discurso dos g meos o reconhecimento das institui es e lideran as no bairro se deu no momento em que desistiram de conflitar internamente e passaram a transitar e articular com outras
383. ssou desde que iniciei esta pesquisa Continuei no bairro mesmo depois de finalizado o trabalho de campo e at hoje ainda me sinto l Recordo me da experi ncia etnogr fica de Loic Wacquant 2002 em Corpo e Alma livro em cuja leitura compartilhei avidamente a sensa o de estar em campo de estar pr xima e distante tantas vezes mais pr xima que distante Os jovens continuam l mas suas hist rias se inscrevem no bairro e assim eternizam um modo de ser um tempo e um lugar O bairro j outro Tudo caminha e como diz o poeta o tempo n o p ra e nele que tudo se compreende Para Heidegger a interpreta o do tempo como o horizonte poss vel de qualquer compreens o do ser O sentido do ser tempo apud SAFRANSKI 2005 p 188 Assim vai transcorrendo a vida dos jovens de Cosme de Farias Sara parou de frequentar a Igreja Ap s meses distante do namorado tornaram a viver juntos Ainda est desempregada mas juntos resolveram vender Cremosinho Cristiano largou o emprego e decidiu investir no rap Seu sonho montar um est dio e fazer m sica Prometeu continua no Ex rcito como cabeleireiro e locutor na R dio Comunit ria mas acredita no seu potencial como pregador e para isso tem realizado v rios cursos Castor e P lux os g meos est o trabalhando na Secretaria Municipal de Educa o se vincularam a um partido pol tico que tem proporcionado alguns ganhos e assim investem numa poss vel c
384. stabelecidos de uso e ocupa o das coisas Em seguida conheci outros autores no campo da antropologia urbana como Magnani 2005 2006 2007 cujas categorias buscam compreender essas pr ticas a partir do tr nsito e dos usos que as pessoas fazem no do espa o urbano Conheci uma perspectiva da antropologia da juventude com a qual me identifiquei mais rapidamente Bucholiz 2002 incorpora uma perspectiva hermen utica no momento em que pensa as pr ticas culturais a partir dos significados atribu dos pelos falantes no caso os jovens nos seus contextos de pr ticas Recentemente tive acesso a outro autor que contribuiu para este estudo pela formula o de uma proposta de an lise das pr ticas especificamente a partir do que ele denominou comunidades de pr ticas WENGER 2001 Todos esses autores entre outros citados no texto de algum modo subsidiaram esta pesquisa e 155 foram cruciais para a minha reflex o sobre as pr ticas culturais dos jovens do bairro de Cosme de Farias Por m a aproxima o com a fenomenologia hermen utica especialmente com a obra de Heidegger propiciou pensar n o apenas as pr ticas dos jovens em si mas o sentido dessas pr ticas Assim a compreens o das pr ticas ou das ocupa es como denomina Heidegger 2006 p 92 se d pelo pr prio modo de ser no mundo entendendo essa express o como um modo intencional de se ocupar de algo ligado pela unidade de um sentido ou seja as pr
385. t ncia na necessidade seria inexplic vel o sucesso da ci ncia moderna e da t cnica moderna A ci ncia exata refere se a regularidades contidas no pr prio Ser apresenta se na forma de leis cient ficas e abre caminho sua manipula o t cnica BRUSEKE 2007 p 75 39 E complementa A grande met fora da conting ncia o pl stico que demonstra a plasticidade daquilo que Ser pl stico significa ser cientificamente transparente e acess vel s manipula es t cnicas O pl stico a J4 realiza o de uma possibilidade o pl stico uma possibilidade que emerge de estruturas determinadas por padr es que seguem suficientemente regras causais A conting ncia ent o muito mais do que o acaso a aleatoriedade ou o risco que o indiv duo corre quando se encontra com um perigo inesperado A conting ncia abra a estes conceitos e faz deles somente um aspecto de uma realidade pl stica determinada e livre no mesmo momento BRUSEKE 2007 p 75 Desse ponto parto assim como Bruseke para relacionar essa gest o do risco e conting ncia ao sentido do Ser em Heidegger particularmente ao pensar sobre o mundo dos jovens Para Heidegger 2006 ser no mundo implica ser mundo Os h fens nas constru es da express o ser no mundo designam uma liga o indissol vel No n o significa a inclus o em alguma coisa mas o seu envolvimento em algo N o h sujeito sem mundo
386. t ria mas uma narrativa vivida H um trecho da entrevista transcrito ao longo de duas p ginas em que Lua detalha uma persegui o do pai a ela acompanhada de agress es f sicas e que determinou sua sa da de casa Ela expressa a ang stia das agress es a dificuldade de compreend las e busca poss veis explica es para os acontecimentos por exemplo a partir da rela o entre o lugar e as pessoas com quem o pai se relaciona ambos vinculados macumba um lugar carregado Mais tarde na entrevista descubro a rela o de Lua com a doutrina evang lica especificamente com a Igreja Universal do Reino de Deus que a salvou e favoreceu a aceita o destas situa es vividas por ela Para Lua e Malcom por exemplo as sucessivas agress es levaram a momentos limites em que era necess rio uma mudan a mesmo n o t o satisfat ria principalmente pela condi o financeira importante salientar que ambos tinham menos de quinze anos quando tiveram que romper com a fam lia e mudar de vida 2 O estudo de Santos revelou que 8 6 dos terreiros sofrem com a intoler ncia por parte de outras entidades religiosas A Igreja Universal do Reino de Deus foi a mais mencionada sobre essa quest o por 46 lideran as de terreiros 2007 p 13 125 Esses acontecimentos revelam algo comum nas trajet rias dos jovens que conheci no bairro Cada um com sua hist ria pessoal de vida mas com experi ncias de agress es p
387. tas n o implicam em qualquer risco sa de ou integridade dos jovens participantes da pesquisa Al m disto os jovens convidados a participarem ter o total liberdade para recusarem a participa o no in cio ou em qualquer fase da pesquisa sem qualquer tipo de preju zo pessoa Aos jovens que aceitarem participar eles ter o garantida toda e qualquer forma de privacidade em rela o s suas informa es Caso ocorra qualquer tipo de dano a ele caber pesquisadora Adriana Miranda Pimentel e institui o respons vel pela pesquisa Instituto de Sa de Coletiva UFBA total responsabilidade sobre o ocorrido cabendo inclusive buscar solu o para o que ocorrer Cabe ainda dizer que este estudo ser muito importante para profissionais de sa de e jovens no sentido de trazer informa es que possam ajudar na melhoria das a es de sa de para jovens na cidade de Salvador Os resultados da pesquisa dever o ser liberados a qualquer momento a depender do interesse dos jovens Caso ocorra qualquer dano ou despesas com a pesquisa por parte dos jovens estes dever o ser ressarcidos A sua participa o em qualquer tipo de pesquisa volunt ria Em caso de d vida quanto aos seus direitos escreva para o Comit de tica em Pesquisa do Instituto de Sa de Coletiva da Universidade Federal da Bahia Endere o Rua Augusto Viana s n 2 andar Campus Universit rio do Canela Salvador Bahia Cep 40110 170 Tels 3263 7418 E
388. tas que se dirigem Baixa do Tubo Figuras 7 e 23 N o houve uma explica o propriamente para o nome por m a coordenadora ressalta 180 que todos ali foram ressuscitados O termo ressuscitar segundo Ferreira 1988 sugere fazer voltar vida reviver ressurgir renovar escapar de grande perigo A partir desses outros termos poss vel perceber a rela o da comunidade com um espa o que se prop e diferente de alguma coisa que possibilite a transforma o e ainda a prote o Meu acesso comunidade Ressuscitados se deu atrav s de Prometeu jovem que conheci na R dio Comunit ria Copacabana Prometeu faz um programa de variedades na R dio todos os s bados pela manh um excelente locutor e que chama a aten o pela orat ria Acompanhando o nos programas soube do seu pertencimento Comunidade o que me fez visit la e conhec la mais profundamente assim como outros jovens que a frequentam A comunidade agrega mais de quarenta participantes semanalmente em atividades de ora o forma o de crian as adolescentes e jovens assim como semin rios e atividades fora da sede Entre os participantes em grande maioria est o os jovens totalizando dois ter os do grupo A comunidade surgiu h oito anos da iniciativa de uma mulher sua atual coordenadora primeiramente no bairro da Pituba Essa senhora conta que sempre foi religiosa participante da Igreja Cat lica e sempr
389. tato de Mago passou a ser tamb m um espa o de pr tica e tr nsito mais acentuado das comunidades do rap Uma destas Comunidades o Imp rio Negro N1 Um dos seus integrantes conta seu processo de descoberta do rap aos treze anos ouvindo uma fita cassete 81 Conferir na figura 23 a R dio Comunit ria como espa o de pr tica 165 de algum grupo de S o Paulo Isso ocorreu por volta de 1995 Segundo ele a mesma m sica que o estimulou a ouvir e escrever rap tamb m estimulou tantos outros jovens mas por conta da repress o policial a muitos deles nesse per odo boa parte desistiu de andar adiante Esse fato tamb m trazido por outros jovens e bandas a respeito dos eventos que aconteciam na Pra a Mesmo quando estavam apenas juntos nas esquinas da Pra a cantando e improvisando os jovens experimentaram situa es de repress o policial Esses eventos ensaios abertos s vezes com palco ou mesmo em alguns equipamentos do bairro que cediam espa o para os shows como o Centro Social Urbano aglutinavam muitos jovens e fizeram hist ria em Cosme de Farias Tamb m outras pessoas com mais de quarenta anos atualmente e que viveram esse per odo em Cosme de Farias contam com orgulho o que era o bairro e qu o importante foram essas manifesta es para o surgimento de bandas n o apenas de rap na comunidade Esses foram momentos cruciais para que os jovens se conhecessem e constitu ssem uma rede de parceiros do rap
390. tencialista mas sim inovadora no bairro Castor refere sua vincula o ao sindicato dos ferrovi rios quando tinha dezesseis anos o que lhe permitiu desenvolver outro modo de fazer pol tica no bairro Critica a forma como outras entidades se relacionam com os moradores fazendo doa es de colch es e cestas b sicas visando interesses pol ticos futuros e diz que tentam rebater isso atrav s de uma pr tica de articula o pol tica Participam de organiza es e eventos estrat gicos tais como representa es no Conselho de Or amento Participativo da cidade Conselho Distrital de Sa de Confer ncias Municipais e Estaduais de Sa de Conselho de Seguran a P blica F runs Associa es Tuberculose de Terreiros de Candombl entre outras Organizam eventos no bairro tais como Feiras de Sa de dos Terreiros de Sa de dos Homens de Combate Tuberculose campanhas de vacina o e participam com frequ ncia de iniciativas realizadas por outras organiza es e lideran as em Cosme de Farias Referem que h em torno de 80 associados na entidade de maioria jovem incluindo a diretoria Por m percebo que s o eles os representantes do Conselho em quase a totalidade dos eventos e f runs a que tive acesso com algumas exce es que recentemente v m se manifestando Meu contato com os g meos se deu em diferentes momentos ao longo de todo o trabalho de campo O contato com eles foi intenso porque realiz vamos outras at
391. termo a o implica pensar o agir determinado por uma motiva o apenas como algo linear Observa que existem circunst ncias em torno dessas a es que s o negligenciadas normalmente e s o exatamente elas que v o definir significados aos fazeres Desse modo pensar em trama conceitual ou seja no conjunto destes atores envolvidos ou como o autor denomina na rela o de intersignifica o entre todos os agentes e acontecimentos necess rio para uma compreens o pr tica vinculada compreens o narrativa do fen meno 1994 p 88 89 Mais do que isto para o autor tudo que se conta acontece em um tempo 1994 p 190 Um texto produzido medida que uma hist ria narrada por um sujeito em um dado espa o e em um tempo definido Para Ricouer o tempo torna se tempo humano na medida em que articulado de um modo narrativo e que a narrativa atinge seu pleno significado quando se torna uma condi o da exist ncia temporal 1994 p 85 Esta narrativa constru da a partir das experi ncias desses sujeitos percebidas temporalmente As experi ncias pessoais s o narradas e desse modo a hist ria vai sendo reconstru da medida que os sujeitos da hist ria v o refletindo sobre ela medida que contam e v o tecendo significados para ela Adam e Revaz 1997 chamam de mobilar o mundo ou seja narrar construir um mundo num tempo e num lugar Para Safranski 2005 p 414 refletir sobre alguma
392. ticas s o indissoci veis dos mundos dos jovens Para compreend las preciso se debru ar sobre seu mundo sobre o mundo onde o jovem e sendo se ocupa das coisas que tamb m s o parte desse mundo de forma significativa As pr ticas culturais s o portanto modos de fazer s o ocupa es o encontro do ser com o uso que ele faz daquilo que est m o dos instrumentos de que disp e Por m nesse uso que identifico formas poss veis dos jovens no mundo que implica formas de fazer e transforma es a partir do seu uso Essas pr ticas que se apropriam dos instrumentos que est o dados no mundo podem atuar como formas de enfrentamento ou de resist ncia s vicissitudes vivenciadas pelos jovens bem como podem atuar como geratrizes de mudan a no intuito de criar inventar outras formas poss veis que precipitem mudan as na vida dos jovens Desse modo inicio com uma descri o das pr ticas identificadas no bairro particularmente a art stica a religiosa e a pol tica e dentre elas especificamente as bandas de rap os grupos de doutrinas renovadas da Igreja Cat lica e Evang lica Neo Pentecostal respectivamente Renova o Carism tica Crist e Renascer Apost lica em Cristo e um conselho de moradores s quais denominarei de comunidades de pr ticas importante destacar que existem no bairro outros grupos que realizam pr ticas diversas grupos de capoeira que utilizam o espa o das escolas p blicas p
393. tivas pessoais se d mediante reflex o sobre as experi ncias vividas sempre levando em conta que uma interpreta o poss vel e que vai ser re interpretada tamb m por outro Essas hist rias s o olhares e leituras poss veis a partir da intera o com o pesquisador com o contexto em que se deu a narrativa e do modo como o informante foi tocado pelo ato de contar suas experi ncias importante salientar que a narrativa um instrumento que faz emergir n o apenas o sujeito que fala e seu campo de intera es mas o contexto local e global no qual est situado WOOD 1999 Deste modo convido todos a conhecerem essa etnografia que se inicia a partir de agora 65 Cap tulo 5 CONTEXTOS DE DIVERSIDADES A ETNOGRAFIA DE UM BAIRRO O voyeur aquele que v a cidade na sua multiplicidade no todo mas n o a v ao mesmo tempo e o caminhante que em baixo onde ele invis vel e dentro de um todo quase indissoci vel do que a cidade nele que haveria a condi o de saber o que se passa o que faz a multid o vista no todo no alto para a cidade CERTEAU 2003 1980 p 169 z Para a compreens o de uma cidade e de sua din mica necess rio aprofundar se nos espa os micro sociais nas intera es e reflex es poss veis com os habitantes desses espa os Muito al m de compreender as condi es de vida de uma comunidade no que se refere infra estrutura b sica como moradia saneamento alimenta o
394. to para as quais s o necess rios conhecimentos cada vez mais diferenciados e flexibilidade para lidar com eles A modernidade tardia ou p s modernidade para alguns LYOTARD 1985 apud GIDDENS 1991 produz novas formas de vida e imp e aos sujeitos condi es que os aproximam em todo o mundo mas que tamb m os afastam dos aspectos mais sutis e caracter sticos do cotidiano de cada um GIDDENS 1991 Marshall Berman 2003 busca na express o tudo que s lido desmancha no ar uma forma de entendimento sobre o que representa atualmente viver a modernidade e tudo que a caracteriza que ao mesmo tempo que anula fronteiras e diminui dist ncias tamb m desagrega e distancia O moderno algo que vincula o novo o crescimento a transforma o a acelera o um misto de viver no passado e no futuro com profundas contradi es em todos os n veis do humano como se todas as estruturas as fortifica es de um passado n o distante tivessem desmoronado ao passo que tamb m se esfor am por existir Passa se de um tempo a outro sem certezas em grande confus o a respeito do que nosso do que local e do que mais geral ou global Falar das metr poles das grandes cidades tamb m falar desse paradoxo que implica viver o local e ao mesmo tempo o global como aspectos distintos quando n o s o Mesmo vivendo as imposi es de valores de mercadorias de espa os e objetos visto como universalizados h tamb m
395. tran ado ou bem cortado roupas folgadas e de griffe bon s e t nis de marcas famosas s o atributos que favorecem a prote o na rua seja dos bandidos seja da pol cia Isto n o vale para todas as comunidades do rap pois h discord ncias Para algumas delas esses acess rios estimulam as batidas policiais exatamente por reconhecerem se do no rap o que motivo de conflito com policiais Por m para Mago e Cristiano ser do rap favorece o respeito e a confian a Percebo que h outros elementos envolvidos nisso que n o apenas o estilo rapper mas particularmente o tipo de roupa que vestem Vestir se bem implica status mas tamb m funciona como um modo de ser reconhecido respeitado eu diria de algum modo como prote o contra a viol ncia policial At a pol cia mesmo se comporta de outra forma n quando v uma pessoa que cria cabelo porque bandido n o usa cabelo grande por causa da identidade porque sen o ia ser muito f cil pegar esse bandido assim Bandido usa cabelo Ent o tem essa coisa assim depois que eu comecei a criar cabelo eu senti essa diferen a de policiais me abordando enquanto eles me abordavam v rias 204 vezes enquanto eu tinha o cabelo na nuca era uma coisa preconceituosa mesmo assim J passei por certos lugares j fui enquadrado Tanto de assim maltratado n como tamb m com cabelo me trataram muito bem me pediram desculpa v desculpando nosso trabal
396. tringe ao bairro onde moram Mais uma pesquisa essa realizada pelo Projeto Juventude Instituto Cidadania CASTRO e ABRAMOVAY 2002 revelou aspectos semelhantes ao estudo anterior com algumas especificidades Em primeiro lugar a aus ncia de atividades culturais e espa os de lazer principalmente em reas mais pobres das cidades brasileiras Ficar em casa em geral a alternativa para a ocupa o do tempo livre da maioria dos jovens por m h diferen as entre g neros O estudo mostra que h uma propens o entre as mulheres de ficar em casa em atividades dom sticas e no cuidado com crian as e que a pr tica de encontrar amigos menor entre as jovens BRENNER et al 2005 p 184 relatam que os dados evidenciam no que se refere ao g nero a tradicional divis o socioespacial no espa o p blico enquanto as mulheres est o mais circunscritas ao espa o dom stico e t m menor mobilidade para praticar atividades extrafamiliares Por m Weller 2005 afirma que o que h uma escassez de 27 estudos sobre as manifesta es pol tico culturais femininas para se chegar a tal afirma o e n o propriamente que essas manifesta es n o existam Brenner et al 2005 referem que 85 de jovens entre homens e mulheres responderam que n o participam de qualquer tipo de grupo e dentre os que referiram participar 4 essa pr tica est relacionada a atividades religiosas e ainda um dado de extrema import ncia quanto
397. tro do c rculo tocando todo o tempo e orientado pelas indica es da senhora segunda m sica pedia s pessoas que se virassem para algu m do lado e ficassem de frente olho no olho para cantar Fiquei com Prometeu jovem integrante dessa comunidade que me convidou a participar do anivers rio O ritual se passou todo em canto e algumas pausas para ora es Ave Maria e a Ora o para o Anjo da importante lembrar como j foi trazido no Cap tulo 4 que a Igreja Cat lica de Cosme de Farias foi um espa o de refer ncia para os moradores na d cada de 1950 L existe ainda a Obras Sociais Franciscanas OSF que no passado realizava trabalho social de grande relev ncia para o bairro mas atualmente tem pouca atua o entre os moradores No bairro quase todas as localidades apresentam um espa o quase que central que n o foi ocupado por moradia e que os moradores fazem uso para festas reuni es ensaios de bandas entre outras coisas S o espa os que pela pr pria configura o e uso acabam tendo significado de pra a ou largo Cumpre salientar que a coordenadora do grupo optou por um tipo especial de consagra o Saiu de casa e passou a residir na Comunidade Essa atitude comum entre adeptos das Comunidades de Vida como refere Mariz 2005 93 94 182 Guarda A coordenadora tamb m chamava a aten o para pessoas presentes que porventura estivessem com dificuldades como se ela recebesse
398. u rio de lcool e v tima de muitos problemas que ele n o quis comentar Todos s o referidos como pessoas que tiveram algum tipo de envolvimento com o candombl e a partir da que os jovens justificam as mudan as insatisfat rias no curso de vida das fam lias tais como perdas ou aus ncia dos pais importante notar que essa refer ncia ao candombl como algo que modificou certa situa o mais ou menos acomodada na fam lia pode servir tamb m como uma explica o ou expressar a falta de uma para situa es de conflito que s o intr nsecas s rela es familiares SARTI 2003 A aus ncia ou a presen a poss vel de pais m es e irm os de forma diferenciada para cada jovem favoreceu o aparecimento de pessoas chave em suas trajet rias de vida S o pessoas do conv vio dos jovens que os salvaram em determinados momentos dif ceis como por exemplo uma vizinha que n o deixava Malcom ser agredido pela fam lia ou a m e de um garoto que Charles conheceu na 7 Esta rela o que os jovens fazem dos problemas com o candombl mereceria maior aprofundamento visto que h uma s rie de signos e significados relacionados ao bairro a comportamentos e situa es no decorrer do estudo que se mostraram bastante expl citas e que exigiriam um outro tratamento 148 rua que lhe proporcionou conviver com pessoas de outra classe social ampliando assim seu universo de possibilidades Sandro mesmo er
399. u cravinho agradava a multid o Em frente Carlinhos com seu cachorro quente Um batalhador gente igual a gente 222 Na rua do GueriGueri nasci e cresci ali Do 73 n o me esqueci tive muitos amigos que infelizmente eu perdi Tenho muitos amigos o que me faz feliz Aqui tem Rua da Cor ia Rua Heitor Dias Alto do Formoso Alto do Cruzeiro e na Rua do Sossego tem pessoas com talento Na Baixa do Silva mano na Baixa da Paz Cosme de Farias assim aqui Quando voc entra mano n o quer mais sair Perif rico e suburbano vem ver pra conferir Eu vou por l pela Jaguarari Parceiros todo dia h mais de uma d cada estamos juntos nessa correria No Rio S o Paulo ou aqui em Salvador No bairro de Cosme de Farias a nossa periferia Muitos que se foram n o curtiram o natal ser bandido n o compensa O crime o mal Na rua do crime eu n o segui fiz o contr rio E hoje estou aqui O caminho mais curto perigoso obscuro n o futuro Jota Neri me diz a como que est Luiz Anselmo que tamb m faz parte desse time aqui Podes crer aqui Cosme de Farias refr o Podes crer correria todo dia refr o A nossa periferia E aquilo mesmo n o muda nada n o tem patifaria A nossa periferia mano correria todo dia E como j falei Cosme de Farias assim aqui Lembrei quando vi pela primeira vez D Alan C sar Maico J M Cabelinho dan ando com seu Break se contorcendo arrepiando
400. ua es completamente distintas que implicaram cria o inven o de possibilidades dentre elas a presen a da familia e de pessoas chave e a correria uma categoria nativa que indica a busca de formas de sobreviv ncia material 115 Mesmo com tantas necessidades e aus ncias de diferentes dimens es os jovens admitem uma forma em que a fam lia se fez presente Percebe se isso nas narrativas dos jovens acerca do trabalho ou de formas de ganhar a vida Muitos deles realizam trabalhos de pedreiro de pintor ou pr ticas esportivas por conta dos pais que lhes passaram o of cio Eles se sentem recompensados por isso e neste sentido creditam ao pai a import ncia do ato A presen a da fam lia se revela em grande medida atrav s da m e aquela que assumiu o barco lhe deu dire o e n o deixou que parasse de andar e mesmo com as dificuldades notoriamente reveladas com rela o m e a ela que devem a prote o a sobreviv ncia e o afeto Os irm os mais velhos tamb m t m parte nesse lugar por terem mostrado possibilidades e caminhos influenciado gostos e estilos e lhes propiciado dar continuidade ao que n o fizeram ou n o puderam fazer Outra subcategoria que aparece aqui denominada pessoas chave Esta subcategoria refere se a pessoas que ajudaram ou foram cruciais para a mudan a na trajet ria desses jovens not rio nos relatos a presen a de pessoas na maioria das vezes sem grau de parentesco que
401. ualmente retornou aos estudos pela televis o e consegue algum dinheiro cuidando de crian as na vizinhan a P rola rapper e conta sempre com ajuda de outros rappers do bairro para manter a banda e 133 continuar no movimento como eles dizem Por m segundo informantes ela n o consegue levar a banda frente nem dar conta dos compromissos com os grupos Embora n o se pronuncie sobre isto e refira manter se no movimento percebo que ter tido os filhos t o precocemente teve implica es na sua vida atual seja para conseguir trabalho seja para dar continuidade banda dentre outras coisas Essa quest o foi amplamente estudada por Heilborn et al 2002 quando mostram que de fato adolescentes pobres s o mais prejudicadas com a gravidez elas interrompem progressivamente os estudos t m maiores dificuldades para conseguir emprego al m de arcarem com os cuidados da casa e filhos muitas vezes sem a colabora o dos companheiros O estudo ressalta uma caracter stica de adolescentes pobres que a internalidade das mulheres em rela o casa Ao contr rio dos homens elas se mant m a maior parte do tempo em casa em atividades dom sticas e a gravidez agrava ainda mais esse fen meno Percebo que P rola anseia continuar com suas atividades de antes como fazer rap e transitar pelos espa os do bairro predominantemente freq entados por homens mas encontra dificuldades Essas dificuldades residem na necessi
402. ue dela apanhava dela quando minha av chegava apanhava tamb m e a quando o av chegava apanhava tamb m dependendo do que eu fiz quando o tio chegava apanhava tamb m Malcom Ao chegar a Salvador Malcom viveu parte de sua vida com a m e e os companheiros que ela teve Com o filho ainda pequeno a m e passou a morar com companheiros que tamb m a espancavam Com isso presenciou cotidianamente as agress es Ela n o conseguia trabalho o que resultava na dificuldade para fixar moradia Mudaram de casa in meras vezes por n o conseguirem pagar o aluguel Aos quatorze anos passa a conviver tamb m com um irm o que n o conhecia at 119 ent o pois ele vivia em Goi nia tendo sido deixado assim que nasceu aos cuidados de parentes porque a m e n o podia cuidar A trajet ria do irm o e de Malcom se confundem a partir de ent o quando t m que conviver com as agress es sofridas pela m e Ele conta incont veis vezes a hist ria de agress es do companheiro m e de forma ininterrupta Era sempre em dia de festa nos dias mais religiosos e evidencia sua participa o nestes conflitos de forma crescente Ele ficava traumatizado mas o tempo foi passando e com a chegada do irm o acostumado com brigas foi a gota d gua A partir desse dia tudo mudou e a vida n o voltou a ser como antes Era dia de festa eu sabia que ia rolar briga eu sabia que ela ia apanhar N o sei por que mas
403. ui o estatal que cede espa o para uma creche e escola infantil mantidas pela Prefeitura um dos poucos equipamentos p blicos dessa natureza para crian as de at 10 anos em um bairro onde mais de 27 da popula o composta de crian as e adolescentes Tabela 1 Figura 12 No bairro h apenas uma escola de ensino m dio para atender 22 da popula o em idade escolar de jovens acima de 15 anos Ou seja a grande maioria desses jovens ou abandona os estudos ou busca escolas situadas em outros bairros o que resulta em uma grande evas o e abandono da escola por motivos econ micos Figuras 14 e 16 Com a defasagem de equipamentos p blicos prevalecem no bairro as escolinhas e creches particulares localizadas nas pr prias resid ncias ou ainda formas espec ficas de cuidado s crian as atrav s do pagamento de vizinhas e casas de moradores que oferecem esse servi o como mais uma forma de trabalho local Al m de ceder espa o f sico para a creche e escola infantil o CSU um dos equipamentos governamentais que presta servi o de apoio social aos moradores mas est situado fora dos limites do bairro Figura 18 A Casa do Trabalhador situada na rea central do bairro uma entidade governamental vinculada Secretaria Estadual do Trabalho Emprego Renda e Esporte SETRE e presta servi os a popula o de todo o Distrito de Brotas Entre os servi os prestados est o cursos profissionalizantes de inform tica oficinas
404. um pouco conservador entendeu A eu vejo aqui a pr pria m dia t incentivando as meninas aqui o pagode t incentivando as meninas aqui a expor o corpo a colocar a beleza em prioridade A pr pria dificuldade de emprego aqui n o tem uma vis o de mulher independente Tem uma vis o de uma mulher que quer um cara que banque mas ela n o quer um relacionamento s rio ela quer um relacionamento que aquela coisa toda muito dif cil aqui A voc v muita explora o do corpo Tem uma filha duma mulher aqui que ela t com 12 anos j com doen a ven rea que a m e j tentou curar ela e n o conseguiu curar ainda Vive pra cima e pra baixo pra 51 Notas de di rio de campo 13 04 2008 16h00 Ensaio de Banda Explora o sexual se define por uma rela o de mercantiliza o explora o domina o e abuso poder do corpo de crian as e adolescentes oferta por exploradores sexuais mercadores organizados em redes de comercializa o local e global mercado ou por pais ou respons veis e por consumidores de servi os sexuais pagos demanda BELLENZANI e MALFITANO 2006 apud LEAL 2003 p 8 108 curar ela e n o conseguiu ainda N o foi pelo dinheiro e sim pelo fato da ignor ncia Achou que o menino ia dar as coisinhas a ela Na rua onde moro mesmo na 12 de Setembro eu acho que 90 das meninas ali geralmente utilizam o corpo como fonte de renda Aqui no bairro mesmo no Alto
405. uma forte press o dos lugares do territ rio habitado de hist rias e vidas que resistem e se empenham num movimento tamb m contr rio Assim os jovens se v em envolvidos em diferentes situa es que se transformam continuamente e os colocam prova Pais defende que a efemeridade est presente no modo de exist ncia dos jovens nos gostos nas escolhas nos usos e explora o dos espa os O autor relaciona os estilos juvenis ao barroco um conjunto de categoriza es que excitam fortemente a ordem do sistema submetendo a a turbul ncias flutua es e desestabiliza es 2006 p 15 S o essas desestabiliza es inconst ncias e conting ncias pr prias da vida moderna e dos sujeitos que nela vivem que t m sido constantemente interpretadas como problemas ou situa es de risco sa de dos jovens O risco objeto de discuss o dos autores em Ci ncias Sociais que questionam a rela o quase natural entre risco e seguran a de vida H um consenso entre eles quanto 37 iman ncia do risco pr pria vida assim como do bin mio risco perigo que indica algo puramente negativo Pais 2006 identifica o risco como algo que se localiza na vida do jovem e do qual ele faz uso nas leituras e posi es sobre seus comportamentos diante das situa es que enfrenta La Mendola entende que o risco uma condi o da vida individual e social e precisa ser interpretado e n o evitado N o um atributo da juventud
406. umo de drogas no bairro mas n o t o pr ximo e t o na cara dura como eles dizem O tr fico T o tendo mais lucro Cada dia mais Cada vez mais N o Por enquanto n o Qualquer lugar que voc vai voc acha mesmo pessoas at te oferecendo mesmo na cara dura ent o Apesar de que pra algumas pessoas normal entendeu a normalidade da favela mesmo Antes era bem melhor Antes tinha mas n o era a mesma coisa como t hoje Traficante hoje t tendo bastante lucro bastante lucro S o crian as s o pr adolescentes s o adolescentes s o adultos Crian as mesmo Voc v meninos de 8 9 10 anos voc v usando mesmo na cara dura Ent o isso que acontece um dos problemas grandes daqui P rola 43 Sobre isto tamb m fala Santos 2008 quando evidencia o lugar da favela para os jovens um lugar de ambival ncias e oposi es mas de enraizamento e repleto de significados As bocas de fumo no bairro ocorrem em moradias pr prias ou casas abandonadas onde jovens se re nem para organizar o com rcio de drogas tais como crack coca na e maconha Em uma incurs o com jovens lideran as do bairro eles sinalizaram no m nimo cinco bocas situadas somente dentro do Alto do Cruzeiro 44 102 Do mesmo modo que Sara em rela o viol ncia P rola ressalta que o tr fico faz parte a normalidade da favela Ser favela tamb m sin nimo de pobreza e v
407. una da Bahia Salvador 4 maio 1987a Caderno Cidade p 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA UFBA CEAB Evolu o urbana de Salvador Salvador UFBA 1976 URIARTE Urpi Montoya Antropologia urbana problemas e contribui es In ESTEVES JUNIOR M URIARTE U M Orgs Panoramas urbanos reflex es sobre a cidade Salvador EDUFBA 2008 VALLADARES L P Org A Escola de Chicago impacto de uma tradi o no Brasil e na Fran a BH UFMG RJ IUPERJ 2005 VELHO G Org Desvio e diverg ncia 8 ed Rio de Janeiro Zahar 2008 VIANNA H Org Galeras cariocas territ rios de conflitos e encontros culturais 2 ed Rio de Janeiro UERJ 2008 VIEIRA D L RIBEIRO M ROMANO M LARANJEIRA R R lcool e adolescentes estudo para implementar pol ticas municipais Revista de Sa de P blica v 41 n 3 p 396 403 2007 256 VIGNOLI J R Vulnerabilidad y grupos vulnerables un marco de referencia conceptual mirando a los j venes Santiago de Chile CEPAL ago 2001 Serie Poblaci n y Desarrollo 17 WACQUANT L A Zona In BOURDIEU P Coord A mis ria do mundo 4 ed Petr polis RJ Vozes 1997 WACQUANT L Corpo e alma notas etnogr ficas de um aprendiz de boxe S o Paulo Relume Dumar 2002 WACQUANT L Os condenados da cidade estudos sobre marginalidade avan ada 2 ed Rio de Janeiro Revan FASE 2001 WELLER W A constru o de identidades atrav s do hip hop uma an lise comparativ
408. ura e pelos modos de apropria o que fez dessas situa es na continuidade da sua vida Desse modo elementos do passado v m tona no presente para tomarem outra dimens o no futuro Lua tamb m recupera algumas situa es dif ceis vividas na inf ncia e no seu discurso percebo uma busca de explica o uma garota alegre despojada e sem problemas aparentes para dar entrevista mas ao narrar acontecimentos passados sobre conflitos familiares se mobiliza frente a eles Ao recordar passagens de um conflito se emociona pede desculpas e mostra uma cicatriz no corpo da agress o sofrida pelo pai Passo agora a apresent la Lua uma garota de 22 anos Foi criada pela av paterna a maior parte do tempo mas o per odo em que viveu com os pais n o foi uma experi ncia muito agrad vel uma garota muito bonita locutora da R dio Comunit ria bastante comunicativa e extrovertida Tamb m tem hist ria de agress o em casa particularmente pelo pai por m conta que nem sempre foi assim Refere que o pai nunca foi calmo mas mudou completamente de atitude com a fam lia a partir do momento em que houve uma mudan a do bairro da Boca do Rio para um s tio em Areia Branca Ela conta que desde ent o tudo mudou tamb m em sua vida tornou se outra pessoa mais agitada e todas as situa es a partir da desencadearam novos processos Conta em detalhes as agress es do pai com ela m e e irm os e sugere algumas explica es
409. va roupagem e elementos que possam agradar a um p blico maior Do mesmo modo percebo na letra da m sica que a mulher negra e bela da periferia mas n o a mesma que faz tudo por dinheiro algo que eles costumam falar das mulheres do bairro Essa mulher que agora homenageada se cuida dos p s ao cabelo ou seja n o aquela descuidada que vive nas periferias mas ao mesmo tempo continua a mesma que deve suprir os desejos do homem Percebo que h uma ambiguidade que se revela no desejo de mudar de fazer diferente mas ainda atrelado a modos de pensar e fazer socioculturalmente estabelecidos No dia de grava o do clip Figura 24 percebi uma atmosfera bem peculiar o bar estava decorado com tecidos vermelhos ressaltando furos por toda parte colocados no teto do bar pouca luz e cervejas sobre a mesa Havia uma agita o grande particularmente dos membros da banda Eles tinham um tempo curto para gravar o m ximo poss vel em virtude do custo do equipamento que era alugado A galera do rap compareceu e participou ativamente do processo Alguns convidados amigos da comunidade trouxeram seus carros limpos e lustrados pois eles tamb m fariam parte do clip Para compor o cen rio ideal foram convidadas garotas do bairro com boa presen a que fariam encena es com os membros da banda enquanto cantavam Elas apresentavam as seguintes caracter sticas de maioria negra altas com tra os marcantes
410. va norma o que caracteriza a sa de a possibilidade de ultrapassar a norma que define o normal moment neo a possibilidade de tolerar infra es norma habitual e de instituir normas novas em situa es novas 2006 1943 p 148 E assim como a doen a evidenciada para ser conhecida e tratada a desordem e a diferen a tamb m o s o mas em espa os definidos Desse modo tamb m a juventude vai se tornando categoria relevante para diferentes grupos de pesquisas ONGs entidades civis religiosas para a m dia um grupo de destaque em pa ses de todo o mundo NADER e GONZALEZ 2000 No Brasil a quest o do jovem vem ganhando propor es ainda maiores tanto na esfera pol tica CASTRO 2004 como nas esferas econ mica e social FRIGOTTO 2004 POCHMANN 2004 e devido a sua grande dimens o demogr fica 34 milh es de pessoas entre 15 e 24 anos de acordo com o Censo 2000 IBGE 2004 NOVAES E VANNUCHI 2004 um grupo hoje em evid ncia Uma recente publica o do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica IBGE sobre a popula o jovem brasileira revela que apesar do aumento em n meros absolutos a taxa de crescimento vem diminuindo a partir do ano 2000 quando se analisa uma s rie hist rica de censos demogr ficos evidencia tamb m o percentual de jovens em reas urbanas 78 de maioria feminina e negra Mostra ainda que a propor o de jovens residentes na Regi o Sudeste maior nas reas u
411. veis p 77 PAIM J S Condi es de vida viol ncias e exterm nio In CARVALHO I M M PEREIRA G C Coords Como anda Salvador Salvador Edufba 2006 PAIM J S ALMEIDA FILHO N de Sa de Coletiva uma nova sa de p blica ou campo aberto a novos paradigmas Revista de Sa de P blica v 32 n 4 p 299 316 ago 1998 PAIM J S SILVA L M V da COSTA M C N PRATA P R C SAR A L M Condi es de vida e sa de da popula o da cidade de Salvador Relat rio parcial do Projeto An lise da situa o de sa de do Munic pio de Salvador segundo condi es de vida Salvador ISC UFBA 1996 In dito PAIS J M Buscas de si expressividades e identidades juvenis In ALMEIDA M l M EUGENIO F Orgs Culturas jovens novos mapas do afeto Rio de Janeiro Zahar 2006 PAIS J M Culturas juvenis Portugal Imprensa Nacional Casa da Moeda 1996 251 PAIS J M BLASS L M S Orgs Tribos Urbanas produ o art stica e identidades S o Paulo Annablume 2004 PAIVA V PERES C BLESSA C Jovens e adolescentes em tempos de aids reflex es sobre uma d cada de trabalho de preven o Psicologia USP S o Paulo v 13 n 1 p 55 78 2002 PASSERINE L A juventude met fora da mudan a social Dois debates sobre os jovens a It lia fascista e os Estados Unidos da d cada de 1950 In LEVI G SCHMITT JC Hist ria dos jovens S o Paulo Companhia das Letras 1996 v 2
412. vez ou outra h hist rias de acerto de contas entre grupos ou devedores de drogas e nesses dias a Pra a se esvazia H motoqueiros encapuzados que rondam a Pra a procura de algu m Mas h tamb m os delegados da comunidade Cf CIRINO 2007b Segundo lideran as s o jovens que por quest es de status e ou por falta de dinheiro assumem esse posto 13 Costuma se falar em fim de linha o local onde os nibus permanecem ao finalizarem os percursos que se destinam ao bairro Mais que isto o Fim de Linha um espa o de sociabilidade de v rios grupos e moradores do bairro E um espa o de refer ncia e que ser destacado em diferentes momentos do trabalho Baba uma g ria em Salvador que designa o jogo de futebol informal que ocorre entre amigos e conhecidos 52 rondando as ruas pela noite guardando reas determinadas e exterminando outros jovens que estejam incomodando moradores do bairro Eles referem que estes jovens s o patrocinados pela pr pria comunidade muitas vezes os pr prios comerciantes do bairro Mas a Pra a tamb m lugar de antigos moradores passarem o tempo Foi l que conheci Sr Os rio com 96 anos e morador de Cosme h 80 anos Conheci Deise simp tica usu ria da Pra a e segundo ela membro do sindicato Ali os membros do sindicato dormem se re nem bebem juntos e v em o tempo passar lugar de cortar o cabelo de fazer as unhas de fazer neg cios Nos finais de
413. vidades de cuidado ou ainda em atividades escolares J os homens est o na rua a fazer algum trabalho geralmente como ajudantes de pedreiros office boy cozinheiros enfim atividades pouco valorizadas por eles Nas falas dos jovens aparentemente n o h muito o que dizer sobre a pr pria vida Demonstram n o dar muita import ncia em falar da pr pria vida mas quando come am se soltam e t m muito a dizer Falam da falta de emprego e de renda da necessidade mais que vontade de voltar a estudar por perceberem que n o conseguem emprego e das in meras dificuldades que t m no dia a dia Dizem que n o h no bairro quem ainda sonhe em fazer faculdade Muitas vezes eles aconselham um jovem a deixar de estudar caso consigam arrumar um emprego a escola est sempre l o emprego n o Por m percebo que h exce es e h jovens que tanto pensam quanto t m investido em cursos pr vestibulares oferecidos pelo Estado o Faz Universit rio por exemplo O lazer e o tempo livre s o feitos de quase todo o tempo n o h o que fazer e n o h dinheiro para ir parte alguma Alguns jovens referem que o lazer no bairro f cil de ver s o os jovens na esquina nas ruas sem nada pra fazer est o na Pra a para encontrar amigos em alguma seresta ou ainda comer gua como eles chamam fazer uso de bebida alco lica Em alguns momentos andando pelas enormes escadarias que descem para os vales Baixa do Tubo ou
414. vocalista um exemplo do que digo O repert rio da banda bastante diverso Eles tocam m sicas de bandas conhecidas como O Rappa do Rio de Janeiro e de rap como MV Bill Mas tem muitas composi es pr prias cuja tem tica central a quest o racial Todos os integrantes s o negros A quest o da cor algo que aparece com frequ ncia o negro favelado a mulher negra a cor negra aparece necessariamente quando se fala em problemas de um grupo no caso os pobres e de um bairro como Cosme de Farias A banda Preto S bio 05 canta m sicas que fala do menino do tr fico de drogas da batida policial que eles sofrem frequentemente por serem negros dos namoros proibidos pelo tipo de cabelo do negro das mazelas da 213 pobreza que em grande parte est o entre os negros A quest o racial central para todas as comunidades do rap Nos pr prios nomes das comunidades isto j aparece Imp rio Negro N1 Africaminas e Preto S bio 05 No repert rio onde mais se expressa principalmente a rela o entre negro pobreza viol ncia e injusti a Ao contr rio de outras bandas que conheci no bairro como as de pagode e partido alto estes aspectos s o trazidos de forma candente e cr tica pelas comunidades do rap E o que parece ser interessante que as m sicas mobilizam os jovens a compor mas tamb m outros a ouvir e prestigiar Ao final dos ensaios os jovens falam das m sicas e comentam como elas surgiram Neste momento p
415. z entendeu A houve algumas mudan as que a gente n o um defeito at que a gente tem assim vamos supor a gente realiza muitas coisas acaba n o registrando entendeu Castor Para os jovens do Conselho as mudan as vieram de muitos espa os de negocia o Referem alguns frutos das pr ticas que realizam tais como levar o Programa de Agentes Comunit rios de Sa de para a localidade do Alto do Cruzeiro 216 providenciar o conserto de equipamentos da unidade b sica de sa de fazer parte do grupo de discuss o para a reforma da Pra a levar o projeto de limpeza urbana para a localidade organizar eventos no Alto do Cruzeiro como festas e a es pontuais como por exemplo encaminhar pessoas para fazer a carteira de identidade S o estas pr ticas que ampliam possibilidades inclusive acessam os jovens em diferentes espa os sociais Neste sentido as comunidades inventam formas de ocupa o e uso dos recursos a partir do que j existe no bairro e tamb m fora dele mesmo que na maioria das vezes n o estejam acess veis a eles Assim dos v os livres que se formam por entre casas e ruas a comunidade pol tica transforma em espa os para festas comemorativas pequenas feiras de sa de e cidadania entre outras pr ticas A Pra a espa o que todas as comunidades usam para show ensaios de bandas Feiras e eventos diversos Das lajes e espa os ainda em constru o nas casas criam se cen rios perfeit
416. zessete ia fazer dezoito A chegavam umas pessoas Cinco horas da manh acordava tinha que acordar Cinco e meia tinha refei o oito horas tinha caf da manh nove horas tinha merenda alguma coisa assim doze horas tinha almo o tr s horas tinha mais uma merenda um lanche seis horas tinha a janta e dez horas da noite tinha o caf da noite entendeu Ent o nesse tempo engordei pra caramba Da eu me sentia numa col nia de f rias foi timo at hoje sinto um pouco saudade de l entendeu Que tinha quadra tinha campo tinha bola tinha televis o tinha audit rio tinha umas professoras tamb m que davam aulas variadas matem tica portugu s faziam brincadeiras com a gente ent o era timo Malcom Nesse discurso poss vel perceber que as benesses oferecidas pela institui o deram conta de algumas faltas vividas ao longo de sua vida mesmo que 16t como descreve abaixo estivessem em um contexto desfavor ve porque o local Pitangueiras no caso n o era muito grande s tinha ch ver umas oito alas era tipo pres dio mesmo tinha port o com cadeado as camas eram de cimento com colch o mesmo com tipo um arm rio de cimento do lado tipo pres dio mesmo vi tamb m monitores que abusavam de meninos tamb m vi jovem sair tamb m de l e n o voltar porque morreu via tamb m meninos que compravam o monitor pra levar meninas tamb m l pras alas pra t se Este fato me

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