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IMPACTOS DA INSERÇÃO EM ESCOLAS DA REDE PRIVADA DE

1. e a base pessoal tamb m que eles d o no desenvolvimento pessoal muito importante porque voc v que voc pode ir al m voc v que voc tem mais capacidade voc consegue enxergar mais a sua caracter stica O seu eu mesmo Eu n o tinha antes uma vis o t o abrangente mas portugu s reda o em si super importante uma mat ria que super visada aqui no Bom Aluno porque voc ter o conhecimento da l ngua portuguesa o b sico a mat ria fundamental que a gente tem aqui Trecho da entrevista com C sar A atividade que focaliza os h bitos de estudos organiza o tempo destinado ao estudo de cada mat ria bem como trabalha a capacidade do jovem de estudar com barulho j que nas classes populares a pr tica de manter um cantinho silencioso onde os jovens possam estudar inexistente Muitas vezes devido falta de espa o nas resid ncias os jovens dormem na sala ou dividem o quarto com os demais familiares Nessas casas a sala normalmente junto da cozinha e a televis o fica sempre ligada A falta de recursos financeiros faz da televis o uma das poucas fontes de lazer Os membros das camadas mais desfavorecidas t m outras necessidades mais urgentes do que providenciar um lugar exclusivo para o estudo Da a necessidade de aprender a abstrair os ru dos que acompanham a hora de estudo dos jovens Desenvolvimento pessoal Bourdieu observa que a avalia o escolar vai muito al m de uma simples
2. persistentes maneiras de ser que se manifestam nas pr ticas nos comportamentos nas opini es dos indiv duos podendo variar em fun o do momento no percurso biogr fico e em fun o do contexto de socializa o LAHIRE 2004b 26 27 15 afirmativo s o mudan as no cotidiano familiar S o mudan as nas pr ticas socializadoras S o mudan as nas pr ticas culturais Como fica a vida desses jovens que agora transitam entre duas l gicas socializadoras diferentes e ou contradit rias Como esses jovens vivem essa nova experi ncia escolar A sua rede de sociabilidade sofreu rupturas e ou continuidades De que maneira as a es do Programa Bom Aluno conseguem reduzir as diferen as culturais de classe Buscando esclarecer essas indaga es realizou se uma pesquisa qualitativa A escolha dessa metodologia atende demanda de compreender e descrever as rela es que s o tecidas desde a inser o dos jovens adolescentes nesse novo ambiente social e que devido sua complexidade s foram pass veis de an lise via uma abordagem qualitativa Com respeito a essa escolha Deslauriers e K risit 2008 131 esclarecem que O pesquisador localiza no tempo e no espa o os momentos em que as estrat gias dos atores se evidenciam conjuntamente e tamb m re ne as perspectivas at ent o manifestadas enquanto inten es individuais Desde ent o n o s o mais regularidades que ret m a aten o mas as crises que se estabelecem
3. NOGUEIRA Maria Alice et al A Constru o da Longevidade e da Excel ncia Escolar em Fam lias de Diferentes Meios Sociais Processos e pr ticas de escolariza o Relat rio Final de Pesquisa para o OSFE Belo Horizonte 2006 Fronteiras desafiadas a internacionaliza o das experi ncias escolares Educ Soc online 2008 vol 29 n 103 p 355 376 NOGUEIRA Maria Alice ABREU Ramon Fam lias populares e escola p blica uma rela o dissonante In Educa o e Revista Belo Horizonte v 39 2004 p 41 60 NOGUEIRA Maria Alice NOGUEIRA Cl udio A sociologia da Educa o de Pierre Bourdieu Limites e contribui es Educa o amp Sociedade Campinas v 78 p 15 36 2002 Bourdieu e a Educa o Belo Horizonte Aut ntica 2006 189 NOGUEIRA Maria Alice A rela o Fam lia escola na contemporaneidade fen meno social interroga es sociol gicas An lise Social Revista do Instituto de Ci ncias Sociais da Universidade de Lisboa Lisboa v XI n 176 p 563 578 3 trimestre 2005 Fam lias de camadas m dias e a escola bases preliminares para um objeto em constru o In Educa o e Realidade trabalhos apresentados no GT Sociologia da Educa o da ANPED Caxambu 1995 p 9 25 Elites econ micas e escolariza o um estudo de trajet rias e estrat gias junto a um grupo de fam lias de empres rios de Minas Gerais Belo Horizonte Faculdade de Educa o da UFMG 2002 Tese concurs
4. A m e da jovem disse que ela n o exige nada dos pais porque o Programa fornece uniforme t nis e mochila mais o material did tico Mas por a filha estar frequentado um espa o social de poder aquisitivo mais alto ela s vezes pede um t nis novo uma mochila diferente uma coisinha ou outra Ela relatou um epis dio sobre fazer interc mbio tema que apareceu tamb m em outras entrevistas e que hoje visto como uma nova dimens o da realidade 105 contempor nea que marca as trajet rias escolares de jovens oriundos de meios sociais favorecidos NOGUEIRA AGUIAR RAMOS 2008 A m e de Vanda conta que seu cunhado ofereceu uma viagem de interc mbio para a filha pelo Rotary Clube mas os pais tinham que dar a resposta em 24 horas pois essa oportunidade tinha surgido de ltima hora e por isso n o havia muito tempo para poder pensar no assunto A fam lia achou que ainda n o era hora de ficar longe da filha mas se houver outra oportunidade e a filha quiser eles n o ir o impedi la de ir Vanda como seus colegas bolsistas considera poder participar do Programa Bom Aluno como algo muito especial Ela acha que o Programa n o uma coisa estanque A partir do momento em que se entra para essa fam lia o bolsista ter sempre o apoio dela Ela cita como exemplo a liberdade que os pais t m de poder conversar com as coordenadoras e psic logas que est o sempre disposi o Ela acha importante a man
5. ou a estudar para ter sucesso segundo a capacidade familiar de ajudar a crian a a realizar os objetivos que lhe s o fixados O jovem lembra que a mudan a de escola n o afetou muito sua rela o com seus antigos colegas mas contrariando o que ele diz a m e afirma que ele n o tinha rela o com os colegas da escola Ant nio explica que tem de estudar muito para se manter na m dia e a m e comenta que ele est com 70 de aproveitamento nas mat rias com exce o de ingl s e matem tica mat rias em que ele obteve melhores notas Com rela o constru o de uma rede de relacionamentos o jovem diz ter feito logo de in cio amizade com tr s colegas e que eles se tornaram melhores amigos Eles estavam sentados pr ximos a ele no in cio do ano letivo e a amizade 88 se fez por proximidade Os tr s jovens vieram de escolas particulares acrescenta Ant nio Ele j foi convidado a ir casa dos jovens mas nunca os convidou para ir sua casa Ant nio n o tem o costume de sair noite mas j foi a algumas festas de anivers rio de colegas e demonstra uma certa insatisfa o quando o pai vai busc lo cedo a festa tem parab ns quando ele vai nem chegou a hora ainda O pai que n o tem carro fica esperando a hora em que o filho quer ir embora da festa e algumas vezes o pai de algum colega que acha muito longe para pai e filho irem para casa de nibus leva Ant nio para casa Com rela o m
6. se tornar professora de Qu mica e por mais que as pessoas falem que ela deveria estudar Engenharia Qu mica ela n o quer abrir m o desse sonho Segundo sua m e ela uma jovem determinada e esfor ada e luta por aquilo que quer A m e lembra que logo ap s sua entrada no Alc ntara a filha parecia que estava esmorecendo ela apresentava sinais de cansa o e a m e muito preocupada dizia filha que caso ela n o quisesse continuar no Programa a fam lia daria total apoio A filha parecia ter entrado para o ex rcito o ritmo era fren tico e apesar de todas as dificuldades a filha disse que daria conta O tempo foi passando e a jovem foi amadurecendo Hoje ela consegue acompanhar tudo e tornou se vice presidente de sua turma Na sua nica tarde livre ela fica na escola para ajudar as colegas nas mat rias em que elas est o com dificuldade Vanda faz um relato impressionante sobre sua admira o pelos professores Ela descreve essa admira o assim E eu amo professor eu sempre gostei da figura de professor eu sempre admirei muito Ent o para mim se professor j tem o pr requisito eu adoro ou ent o ele tem que ser muito ruim para desconstruir essa imagem comigo Porque eu gosto de professor ent o eu tenho total liberdade claro com os que me permitem ter liberdade mas a maioria tem ent o brinco converso se tenho d vida vou l trecho da entrevista com Vanda realizada no dia 13 de maio de 2010
7. 125 S nia tamb m elegeu o espa o Bom Aluno como ideal e considera as pessoas de l como uma grande fam lia Um ajuda o outro e n o tem preconceito afirma a jovem prontamente Ela acha que seus colegas bolsistas s o mais acess veis e que ela tem mais liberdade com eles do que com sua m e Ela conversa v rios assuntos com eles sem ficar constrangida Como exemplo ela disse que aqui a gente se sente mais vontade para falar as coisas porque todo mundo compreende todo mundo est no mesmo patamar Ela diz que na escola particular ela n o tem liberdade de ficar falando sobre sua vida ou de como sua casa simples Ela disse que fica constrangida e que prefere ficar calada por n o se sentir vontade para falar de coisas que remetem sua origem Ela continua dizendo que no Programa Bom Aluno todo mundo da mesma classe social e isso normal Por exemplo n o ter isso em casa normal mas se eu falo com eles com os colegas do Dom Assis Oh o que isso Para se autoincentivar a jovem diz que pensa no retorno que isso lhe trar Ela acredita que no futuro tudo ir ser compensado Vai ser uma coisa boa A voc vai poder relaxar voc vai poder fazer o que voc quiser vai ter mais tempo para tudo isso A gente tem que batalhar agora a gente tem que garantir o nosso futuro agindo agora no presente A dura rotina de S nia n o permite que ela fa a qualquer trabalho dom stico A m e
8. Esses estudos que foram realizados tanto na Fran a como no Brasil detectaram a presen a de jovens pertencentes s camadas desfavorecidas em ambientes de alto n vel acad mico reservado em outros tempos aos jovens pertencentes s classes m dias altas TERRAIL 1990 LAURENS 1992 LAHIRE 2004 PORTES 1993 2001 SILVA 1999 BARBOSA 2004 VIANA 2007 ALMEIDA 2006 LACERDA 2006 PIOTTO 2007 SOUZA 2009 TAR BOLA 2010 Assim o cen rio j n o o mesmo de outrora e hoje alguns jovens de origem popular s o aut nomos e donos de seu pr prio destino Esses jovens n o se 14 curvaram ao veredito de sua classe social e tiveram trajet rias escolares distintas das de seus pares A rela o fam lia escola tem sido abordada com profundidade pela Sociologia da Educa o focando principalmente as fam lias populares Sabe se de antem o que as l gicas que regem essa rela o nas fam lias das camadas populares s o diferentes das l gicas que regem a rela o das fam lias pertencentes as classes m dias Os autores que abordaram essa problem tica THIN 2006 QUEIR Z 2004 LAHIRE 2004 acabaram por detectar a presen a de v rios elementos que conjugados propiciam a educa o longeva de jovens pertencentes aos meios desfavorecidos N o h entretanto uma f rmula nica de sucesso escolar mas sim v rias combina es que resultam das mais variadas disposi es familiares A problem tica aqui introduz
9. instrutor ou de colaborador Nas palavras dos autores Dessa forma as ONGs 60 passam a planejar e desenvolver a es de assessoria aos setores p blicos ou ainda adotam a luta pelo acesso e qualifica o dos servi os p blicos de ensino voltados para os interesses populares OLIVEIRA HADDAD 2001 78 As experi ncias bem sucedidas que foram desenvolvidas pelos movimentos sociais passam para dentro das escolas p blicas coroando assim o alcance de mais uma de suas demandas que era justamente fazer com que o Estado assumisse o papel de provedor de servi os de qualidade para a popula o OLIVEIRA e HADDAD 2001 Assim sendo tem se verificado ao longo do tempo a presen a de v rias entidades sem fins lucrativos no campo da educa o Elas atuam nos espa os em que o Estado tem pouca ou quase nenhuma participa o em regime de parceria com o Estado ou at mesmo sem nenhum v nculo Segundo Oliveira e Haddad 2001 80 Na sociedade brasileira tamb m vem crescendo o interesse da parte dos grupos empresariais e do capital em geral nos rumos e no controle das orienta es e do atendimento educacionais H uma prolifera o de institutos e funda es de empresas privadas constitu das muitas delas com base nas isen es fiscais quase todas mantendo a educa o como uma das suas atividades principais A forte presen a do capital no plano das a es sociais e da educa o em particular demonstra duas faces co
10. volunt ria Cada professor a livre para deixar de participar da pesquisa a qualquer momento bem como para se recusar a responder qualquer quest o espec fica sem qualquer puni o D Nem os as outros as professores as nem qualquer funcion rio do programa incluindo coordenadoras diretor e vice diretor ter o conhecimento sobre quais professores as se recusaram a participar do estudo evitando qualquer poss vel implica o E Este estudo envolver grava o de udio durante as entrevistas Apenas os pesquisadores ter o acesso a esses registros Todas as fitas de udio ser o destru das ap s o per odo de 4 quatro anos F Este estudo envolve riscos m nimos ou seja nenhum risco para a sa de mental ou f sica al m daqueles que o a s professore a s encontram normalmente em seu dia a dia G O a s professores as s o livres para deixar de participar da pesquisa a qualquer momento 3 Esta se o indica que voc est dando seu consentimento para que a pesquisa seja realizada na sua escola Eu li e compreendi as informa es fornecidas e recebi respostas para qualquer quest o que coloquei acerca dos procedimentos de pesquisa Eu entendi e concordo com as condi es do estudo como descritas Eu entendo que receberei uma c pia assinada deste formul rio de anu ncia Eu voluntariamente dou minha anu ncia realiza o da pesquisa na escola sob minha dire o Portanto concordo com tudo que est escrito
11. Isso acontece duas vezes na semana pois nos outros dias o jovem tem aulas no Programa e n o almo a em casa O jovem toma um nibus e leva 25 minutos para chegar at o Alc ntara e 40 minutos para voltar para casa Ele vai e volta sozinho As tarefas escolares s o cumpridas com sua supervis o e ela sabe cada detalhe da vida escolar de todos os quatro filhos Ela os acorda controla a execu o dos deveres de casa controla o barulho enviando os filhos que n o t m deveres de casa para fazer para a casa onde morava a sogra e que agora se encontra vazia Essa casa que uma esp cie de anexo localizado no mesmo p tio da casa da fam lia serve de lugar de entretenimento para os irm os que j terminaram seus deveres de casa L se encontram uma televis o e um computador A m e tamb m controla o conte do que os filhos acessam na internet controla o tempo de televis o a que os filhos podem assistir e acrescenta que normalmente o jovem Ant nio gosta de assistir ao desenho animado do Pica Pau ela quem determina o hor rio em que ele e que todos devem ir dormir No meio de tudo isso ela vende suas revistas na lojinha Sobre isso Lahire 2004 29 afirma que Os pais sacrificam a vida pelos filhos para que cheguem aonde gostariam de ter chegado ou para que saiam da condi o sociofamiliar em que vivem os efeitos sobre a escolaridade da crian a podem variar segundo as formas para incitar a crian a a ter sucesso
12. Regi o Administrativa 1991 2000 Barreiro 188 60 254 06 Centro Sul 1 119 02 1 584 28 Leste 379 48 491 20 Nordeste 315 41 429 02 Noroeste 352 30 472 43 Norte 204 18 274 90 Oeste 436 11 634 71 Pampulha 514 65 680 15 Venda Nova 188 82 268 86 Belo Horizonte 414 94 557 44 RMBH 309 03 394 34 Fonte Atlas do Desenvolvimento Humano na RM Belo Horizonte Organiza o Ger Indicadores SMAPL SMPL PBH Metodologia Raz o entre o somat rio da renda per capita de todos indiv duos e o n mero total desses indiv duos A renda per capita de cada indiv duo definida como a raz o entre a soma da renda de todos os membros da fam lia e o n mero de membros da mesma 85 4 2 Ant nio No meu bairro as pessoas os meninos do meu bairro ficam mais na rua e no col gio n o n o ficam brincando na rua trecho da entrevista com Ant nio Ant nio um jovem de apenas 13 anos alto para sua idade e aparentemente t mido Ele est cursando o 9 ano do Ensino Fundamental no Col gio Alc ntara e est na mesma sala que outra jovem do Programa Ele foi entrevistado logo ap s C sar e quando chegou sala onde as entrevistas estavam acontecendo me pareceu pouco vontade O jovem Antonio se autoclassificou como de cor ra a branca no question rio e caso n o se soubesse nada sobre sua origem ele poderia ser mais um jovem das classes m dias transitando pelos corredores da escola de ingl s onde funciona o Programa Comecei a conversa expli
13. a foto de cada aluno O que ocorreu durante as entrevistas foi que eles falaram em geral sobre o comportamento dos bolsistas do Programa Bom Aluno comparado ao comportamento de outros bolsistas Abaixo seguem alguns trechos dessas entrevistas l gico que num grupo de 250 alunos voc n o vai querer se dar bem com 249 voc n o vai querer ter um relacionamento igual com 249 E bvio eu n o diria panelinhas mas os grupos naturais nada de segrega o n o nada de segmenta o Simplesmente identifica o de valores muitas vezes 146 de gosto mas dentro disso totalmente normal Trecho da entrevista com um professor do Dom Assis E ainda Eles se integram t o bem eles interagem aqui na escola eu j tinha comentado com voc os meninos t m pouqu ssima recebem os novatos muito bem eles n o est o preocupados de onde a pessoa vem quem o pai ou a m e eles querem conhecer o outro e a gente eu n o vejo essa distin o n o s o reconhecidos Tanto que eu procuro n o saber quem do Bom Aluno quem bolsista a gente acaba sabendo porque isso n o faz parte da nossa escola Da forma que a gente cria os meninos cria assim educa Eles est o acostumados porque a gente quer que eles sejam ticos eles sejam fraternos que eles convivam com todos respeitando as diferen as a gente claro que tem um caso n o vejo espec fico porque aquele aluno bolsista e ent o ele foi rejeitado ou foi
14. a gente assim semana de prova eu pergunto hoje ela tem prova Trecho da entrevista com a m e de Vanda Pela declara o de C lia 158 Eles controlam minha m e principalmente sabe quando eu tenho prova os dias e tal ela s pergunta voc estudou para a prova Mas o hor rio que eu vou estudar eu que controlo Trecho da entrevista com C lia A m e de C lia por sua vez mais para ela porque para mim como n o trabalho tenho muito tempo livre mas para ela eu tenho que ficar administrando o tempo dela Trecho da entrevista com a m e de C lia Controle da apar ncia da alimenta o da frequ ncia escola e do desempenho acad mico pelo PBA As fam lias mostraram que o Programa supervisiona a alimenta o a sa de a frequ ncia escola e o desempenho acad mico dos seus filhos Ent o temos uma situa o um pouco inusitada uma institui o que supervisiona os pais que por sua vez supervisionam os filhos prov vel que essas fam lias se sintam acolhidas pelo Programa Seria algo como ter um parceiro com quem contar nos bons e nos maus momentos nessa etapa de escolariza o dos filhos Por motivos que variam desde o temor de perder a bolsa at o orgulho de mostrar como cuidam bem de seus filhos e como interiorizaram as demandas do Programa esses pais colaboram para que essa parceria ocorra da melhor maneira poss vel Abaixo o trecho da entrevista ilustra uma m e que ap
15. es foram preciosas para a compreens o deste objeto de pesquisa Ao Olinto e Vera da Funda o Jo o Pinheiro pela ajuda na confec o dos mapas Ceres Prado pela ajuda com a tradu o do franc s para o portugu s RESUMO O presente trabalho busca investigar o fen meno da presen a de jovens oriundos das camadas populares em escolas privadas de alto prest gio acad mico e social recrutados na escola p blica em fun o de seu bom desempenho escolar pelo Programa Bom Aluno de Belo Horizonte Assim sendo este estudo tratou de identificar vest gios de impactos dessa nova experi ncia escolar na rede de sociabilidade e na profici ncia escolar dos jovens bem como no cotidiano e nas pr ticas culturais das fam lias A pesquisa tamb m buscou identificar de que maneira o Programa Bom Aluno contribuiu para diminuir as diferen as sociais e culturais de classe entre os bolsistas e os colegas da escola particular Foram estudados sete casos de alunos que est o matriculados em escolas privadas classificadas em primeiro e segundo lugares no exame do ENEM 2008 em Belo Horizonte Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e question rios Os resultados desta pesquisa apontam para significantes impactos na rede de sociabilidade desses jovens A escola tornou se palco de converg ncia e diverg ncia entre duas culturas a das camadas populares e a das camadas favorecidas Fronteiras sociais foram s o cruzadas novas
16. isso no caso de o jovem n o entrar para um curso superior e ser filho nico A escola marca o ritmo das fam lias estrutura os hor rios independente de a m e trabalhar fora ou n o O peso dessa rotina varia de acordo com o sentido que cada fam lia atribui escolariza o Controle do emprego do tempo hora das refei es hora do lazer hora de estudar hora de descansar Uma ordem moral dom stica que se baseia em no es de bom comportamento no respeito s regras na necessidade de se esfor ar e de perseverar faz aumentar as chances de se ter uma boa escolariza o Sendo assim a estrutura cognitiva da crian a que desenvolvida junto fam lia pode estar em conson ncia com aquela que requerida pela escola afirma Lahire 2004 Os trechos das entrevistas abaixo ilustram como o controle do tempo que exercido pela m e sobre ele est em total conformidade com as novas demandas da escola Primeiro eu chego do col gio em torno de 6h50 e assisto TV at 7h30 Depois eu lancho e fa o dever de casa Ficou mais dif cil ficou mais corrida a vida na minha casa No outro col gio n o era tanta correria agora tenho referindo se s atividades no Programa que estudar mais para as provas e minha m e fica fazendo o almo o e tenho que ficar almo ando e estudando ao mesmo tempo Minha m e me acorda no dia que tenho Bom Aluno e para dormir l gico depende do dia nos dias de semana ela me manda dor
17. metr ou com combust vel juntamente com o deslocamento de um adulto para levar ou buscar o jovem parece algo invi vel no caso de isso vir a se tornar uma demanda constante Com efeito dois dos jovens que est o cursando o 2 ano do Ensino M dio relataram frequentar grupos de jovens das igrejas localizadas no pr prio bairro Ambos contaram sair nos finais de semana ap s os cultos com membros desses grupos Os outros cinco jovens n o mencionaram participar de grupos religiosos 139 Muito pouco livre livre ele n o tem referindo se falta de tempo do filho porque ele vai para a igreja e fica na igreja de manh volta para a igreja noite ele fica ensaiando teatro no s bado e domingo Trecho da entrevista com a m e de C sar Na declara o feita por outro aluno porque eu saio mais com o pessoal da minha igreja mas eles n o controlam eu saio com quem eu quiser Trecho da entrevista com M rio E ainda ele vai missa de manh aos domingos tem o catecismo de manh depois do catecismo nem sei mais como chama isso perseveran a n o sei na igreja cat lica at os 14 15 anos ele vai l para depois fazer a Crisma E o nico lugar que ele vai sozinho Trecho da entrevista com a m e de Ant nio Como essas institui es religiosas se encontram perto das moradias dos bolsistas a possibilidade de eles constitu rem grupos de conviv ncia com pessoas do mesmo bairro ou de bairros pr xim
18. ncia para socorrer a s v tima s Ela tem o Ensino M dio completo Seu hor rio de trabalho 12 36 ou seja dia sim dia n o O pai de S nia que vive n o muito longe da casa da filha motorista de ambul ncia e tem o Ensino M dio incompleto A fam lia declarou viver com uma renda que fica entre 2 e 5 sal rios m nimos Na casa da fam lia vivem S nia a sua m e o beb e o novo marido da m e Eles vivem em uma casa que fica no lote da av de S nia O bairro onde a fam lia mora faz parte da Regi o Metropolitana de Belo Horizonte por m o bairro pertence a outro munic pio Segundo informa o contida no site da Prefeitura de Belo Horizonte essa regi o faz parte do Barreiro A dist ncia entre essa regi o e a regi o Centro Sul de mais ou menos 30 km A jovem leva 1h30 para chegar at a escola e toma dois nibus Para retornar ela leva 2h30 e tamb m toma dois nibus A m e n o a acompanha at o ponto de nibus A jovem toma o nibus bem cedo pela manh e se encontra com C lia e com outra colega do Bom Aluno em um ponto de nibus mais adiante Na 122 volta ela vem no nibus com a m e de uma colega a colega e C lia Quando ela volta de carro com a m e de C lia ela espera pelo pai ou pela m e na casa dessa jovem at que um deles a busque de carro A m e e o pai de S nia possuem carro A jovem chega muito tarde sua casa S nia est em seu primeiro ano de escola particular Apesar de os j
19. proximidade geogr fica de suas resid ncias Tudo indica que essa intera o tem como marca a espontaneidade e a descontra o j que h uma simetria no que diz respeito classe social Santos 1994 15 afirma que quanto mais sim trico o grupo de pares mais est vel e permanente sua rela o de amizade Os depoimentos abaixo corroboram tal afirma o Hoje na escola muitos S alguns do Bom Aluno porque tenho contato com o M rio e o primeiro contato que eu tive a primeira pessoa com quem eu conversei Hoje ele superamigo meu meu melhor amigo l do col gio e a gente sempre se entrosou muito bem tanto que inicialmente eu e o M rio quando fomos para o Dom Assis a gente n o era da mesma sala A gente tinha que fazer amigos l a gente fez uma rede de amigos supergrande e geralmente acontece isso a gente consegue envolver muita gente nas amizades Trecho da entrevista com C sar E ainda Aqui tamb m a gente fala que a gente muito amiga ent o aqui tamb m muito bom A gente tem um di logo bem aberto a gente conta tudo o que a gente sabe realmente aqui o que mais tem no o do nosso mundo e do nosso dia a dia referendo se rede de amizades feita com os colegas do Programa Trecho da entrevista com C lia Para Simmel 2006 69 Esse car ter democr tico s pode ser realizado no interior de um estrato social j que muitas vezes uma sociabilidade
20. s aulas e quando tinha feriados chorava por ter que ficar em casa Os tr s filhos sempre tiraram as melhores notas da sala acrescenta a m e Por n o trabalhar fora a m e de Vanda sempre pode acompanhar a vida escolar dos filhos e disse que sempre foi muito exigente com eles Ela lembra com carinho que quando o dever de casa sa a feio ela arrancava a folha e fazia os filhos repetirem tudo de novo Essa senhora parece extremamente jovem e se apresenta com muita desenvoltura apesar de ter pouca escolaridade Ela recorda que sempre imprimiu muita disciplina na cria o de seus filhos A rotina era fazer os exerc cios da escola primeiro e depois descansar ou brincar Os brinquedos que o marido comprava ficavam no arm rio e s sa am s sextas feiras Tinha hora para tudo Ela acha que tudo que seus filhos conseguiram foi por m rito deles Ela diz que nunca deixou de comparecer s reuni es da escola e sempre olhava os cadernos dos filhos A fam lia tinha a enciclop dia Barsa e a m e aprendeu a pesquisar para ajudar os filhos O servi o da casa que ficava acumulado era deixado em segundo plano A jovem senhora acha importante o acompanhamento da vida escolar dos filhos mas frisa n o poder fazer nada por eles caso eles n o queiram Vanda construiu uma rede de sociabilidade que ultrapassa as paredes da sala de aula Ela tamb m convive com pessoas de outras salas e at de outros anos Ela dorme na casa de amigas em dias de fest
21. seguido de vestibular A jovem bolsista acha que os colegas da escola antiga n o ligam para as notas est o cansados de ir aula e v o escola somente para zoar 98 Com rela o a um poss vel preconceito de classe Eliana afirma nunca ter percebido nada por parte das novas colegas mas lembrou que todas as colegas t m cabelos lisos e que j escutou um grupo de meninas falando de seu cabelo cacheado Ela acha que n o era preconceito de classe e ressalta que a maioria das pessoas n o sabe que ela bolsista Tenho como hip tese que Eliana n o atentou para o fato de que ao criticarem seu cabelo essas colegas j demonstram preconceito com qualquer outro tipo de cabelo que n o seja liso Eliana conta ter sido muito bem acolhida pelas fam lias de suas colegas e que essas fam lias a admiram muito e a t m como exemplo para seus filhos j que ela sempre tira notas um pouco mais altas do que as das amigas Ela acredita que o pessoal do Alc ntara mais inteligente e mais bem informado do que o pessoal da Professor Cassiano e acha que ser um bom aluno no Alc ntara vale mais do que ter dinheiro Os pais confirmam o fato de as colegas estarem sempre ligando para Eliana a fim de esclarecer d vidas quanto aos trabalhos escolares A m e lembrou que sempre h m es de colegas pedindo que a deixe dormir na casa delas para que ela possa estudar com as filhas mas nem sempre isso poss vel A sociabilidade de Eliana pare
22. 2002 Em outras palavras tudo que se tem que se aprendeu como se o indiv duo carregasse consigo essa bagagem por onde ele fosse Tudo indica que sem essa bagagem cultural essas fam lias t m dificuldades em desfrutar o que esses espa os que s o destinados ao p blico das classes m dias t m a oferecer As camadas desfavorecidas t m seus gostos ntimos suas prefer ncias suas aptid es seus modos de se expressar e suas formas de pensar o futuro decorrentes de uma constru o do social em que as pr ticas culturais leg timas aparentemente n o est o inclu das As hip teses para a aus ncia dessa fatia da popula o nesses espa os v o desde a falta de recursos financeiros juntamente com a dist ncia a ser percorrida acrescida do cansa o decorrente de uma longa semana de trabalho pesado Somada a tudo isso a falta de esquemas de a es disposi es para desfrutar o que esses espa os t m a oferecer parece explicar a aus ncia dessas fam lias nos espa os destinados cultura leg tima 5 5 O papel do Programa Bom Aluno na redu o das diferen as culturais de classe O quinto e ltimo eixo de an lise trata de observar se as a es do Programa ajudaram a diminuir as diferen as culturais de classe e caso afirmativo de que maneira isso se manifestou no comportamento dos jovens Faz parte da proposta do Programa Bom Aluno ministrar cursos complementares no contraturno da escola de portugu s matem tica e
23. A casa de M rio bem pequena e fica nos fundos de outra casa da av paterna que por sua vez fica nos fundos de um bar Tudo parecia muito organizado nessa pequenina casa N o havia nada fora do lugar A m e de M rio me recebeu sozinha e disse que o filho estava estudando em seu quarto Ao longo da entrevista percebi que as minhas perguntas pareciam um pouco sem sentido para essa jovem senhora entretanto ao final da entrevista descobri que muitas de suas pr ticas foram fundamentais para o xito escolar do filho 109 A m e de M rio terminou o Ensino M dio pela EJA em 2008 e o pai cursou somente at a 7 s rie do Ensino Fundamental A irm mais velha terminou o Ensino M dio aos 17 anos fez vestibular em uma faculdade particular do interior passou e teve que abandon la por falta de recursos Ela no momento da entrevista estava procurando trabalho porque quer voltar para a faculdade mas precisa de um emprego para poder pagar as mensalidades A m e trabalha como costureira de lingerie aut noma e faz faxina em uma casa de fam lia duas vezes por semana O pai aposentado pelo SUS porque tem problema de sa de e faz hemodi lise Segundo a m e de M rio eles se descombinaram e por isso n o vivem mais juntos A av paterna do jovem ajuda nas despesas da fam lia porque o pai usa sua aposentadoria para comprar rem dios No question rio M rio respondeu que ele a m e e a irm vivem com uma rende de 1
24. Escuta se todo tipo de coment rio Observa se uma euforia por parte dos que esperam Os pais que procuraram se informar com os jovens que j participam do Programa sobre os detalhes da pr xima etapa agora tratam de dividi los com seus filhos As fam lias dos jovens que tardam em terminar as provas demonstram uma certa tens o Elas procuram saber dos v rios volunt rios a raz o da demora Aos poucos elas come am a invadir o espa o reservado aos jovens candidatos e aos volunt rios em busca de informa o Os pais se re nem em pequenos grupos para avaliar as chances dos filhos e de outros participantes que eles conhecem do col gio do filho ou da vizinhan a Coment rios como aquele menino muito inteligente ele vai passar eu sou vizinha dele ou apesar de ser pequenininha ela tima aluna s o ouvidos a todo instante Aos poucos as fam lias v o uma a uma abandonando o p tio da escola Termina a primeira etapa A din mica de grupo Na segunda etapa os 80 primeiros colocados na prova escrita participam de uma din mica de grupo e os que se sobressaem nessa etapa se classificam para a terceira etapa que consiste em uma entrevista com a fam lia e com o jovem Essa din mica acontece nas instala es do Programa localizadas na regi o Centro Sul de Belo Horizonte Para a realiza o dessa din mica os jovens s o distribu dos em grupos de dez Para cada grupo necess ria a presen a de dois profissiona
25. a 2 sal rios m nimos O sonho de cursar o ensino superior parece sempre ter feito parte dos planos desse jovem A m e confirma isso dizendo que o filho quando mais novo queria ser advogado Mas ao lhe ser perguntado sobre qual seria a carreira que ele gostaria de seguir hoje ele respondeu estar em d vida entre Engenharia Mecatr nica ou Biologia As profiss es mais cl ssicas como advogado m dico ou engenheiro parecem habitar o imagin rio das fam lias populares como profiss es de prest gio M rio como todos os outros jovens entrevistados sofreu abusos verbais quando frequentava a escola p blica pelo fato de ser um bom aluno Ele lembra que os colegas o chamavam de nerd mas que os amigos de verdade se agrupavam para estudar e jogar futebol Nas palavras do jovem sempre tem aqueles de esp rito de repugn ncia se referindo aos jovens que o criticavam Ele completa a fala sobre os tempos de escola p blica dizendo que uma professora ao saber de sua ida para o Dom Assis disse Aproveita mesmo a chance escola p blica n o d camisa para ningu m hoje em dia O jovem diz n o ter mais tempo para estar com todos os amigos da antiga escola e s socializa com os que moram perto de sua casa Ele sai com os amigos da igreja nos finais de semana ou com os jovens do Programa M rio gosta de visitar os primos e sempre que pode vai casa dos tios A m e disse que ele sempre Educa o de Jovens e Adultos 110
26. a apresentou a outra jovem e logo j formaram um grupinho de tr s S nia e uma colega eram novatas a outra n o Por se sentirem exclu das as jovens decidiram fazer amizade com os meninos por julgar que eles seriam mais f ceis de conquistar Hoje S nia diz conhecer todos os colegas da sala Em um semestre ela j foi uma vez ao shopping com as colegas e acaba de ser convidada para ir primeira festa de 15 anos que acontecer em um tradicional clube frequentado pelas classes m dias altas altas de Belo Horizonte na semana seguinte entrevista A m e relata que a filha gosta muito de suas novas amigas e que ela at j conseguiu um vestido emprestado de uma prima para ir tal festa Ela dormir na casa de uma colega e ir ao sal o de beleza juntamente com essa colega para 123 arrumar o cabelo A m e de S nia diz que as amigas da filha s o supersimples e que n o t m metideza com roupa a gente que pobre que fica com essa frescura as ricas s o todas simples O sofrimento pelo qual S nia est passando parece ter tido origem em uma l gica de racioc nio mais ou menos assim eu consegui entrar no Dom Assis que era um sonho uma escola renomada e tem professores excelentes logo devo conseguir entrar em uma boa universidade e poder cursar Engenharia Ambiental ou Computa o E agora n o consigo tirar boas notas para me manter l Logo o problema est comigo sou incompetente Para
27. a escola particular desde 2007 outros tr s desde 2009 e uma jovem se encontrava em seu primeiro ano de escola particular Essa jovem adiou sua mudan a de escola que teoricamente poderia ter acontecido em 2009 e continuou frequentando a escola p blica em um turno e as aulas oferecidas pelo Programa no outro Em 2010 ela se sentiu preparada para ingressar na escola particular de sua escolha Assim sendo quando eu a entrevistei ela se encontrava naquele novo ambiente havia quatro meses Uma outra jovem cursou o 8 ano em uma das escolas parceiras do Programa e no ano seguinte pediu para ser transferida para a escola na qual se encontrava matriculada desde 2008 Em rela o renda familiar sabe se de antem o que para ingressar no Programa Bom Aluno a renda per capita da fam lia n o deve ultrapassar um sal rio m nimo Portanto estamos diante de um grupo pertencente s classes de baixa renda As resid ncias desses jovens se encontram em bairros populares da Regi o Metropolitana de Belo Horizonte RMBH distantes da regi o Centro Sul da cidade onde est o localizados os dois col gios particulares frequentados por esses jovens Em rela o ra a cor utilizou se o crit rio de autoclassifica o do question rio aplicado no qual havia cinco categorias utilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica IBGE negro pardo branco amarelo e ind gena Como resultado cinco jovens se autodeclararam brancos e
28. a gente n o pensava O jovem acha que as noites mal dormidas valem a pena bem como o esfor o e que essa oportunidade foi enviada por Deus para que ele tivesse a chance de mudar sua vida Ele pretende ajudar outras pessoas a alcan ar o n vel que ele alcan ou e que isso ser no final sua grande recompensa 113 TABELA 5 Caracter sticas Socioecon micas Economia Renda familiar per capita em R de agosto de 2000 Belo Horizonte 1991 2000 Regi o Administrativa 1991 2000 Barreiro 188 60 254 06 Centro Sul 1 119 02 1 584 28 Leste 379 48 491 20 Nordeste 315 41 429 02 Noroeste 352 30 472 43 Norte 204 18 274 90 Oeste 436 11 634 71 Pampulha 514 65 680 15 Venda Nova 188 82 268 86 Belo Horizonte 414 94 557 44 RMBH 309 03 394 34 Fonte Atlas do Desenvolvimento Humano na RM Belo Horizonte Organiza o Ger Indicadores SMAPL SMPL PBH Metodologia Raz o entre o somat rio da renda per capita de todos indiv duos e o n mero total desses indiv duos A renda per capita de cada indiv duo definida como a raz o entre a soma da renda de todos os membros da fam lia e o n mero de membros da mesma 4 6 C lia Eu acho que o que me chamou a aten o que eles na hora do almo o eles arrumam a mesa porque l em casa n o tem esse costume porque todo mundo est em lugar diferente trecho da entrevista com C lia C lia chegou calmamente sala de entrevista por m seu semblante indicava que
29. a m e de C lia E ainda 150 A cama dele ele quem arruma Lavo as roupas passo As gavetas ele que mant m organizadas mesmo porque tem falta de espa o o copo que ele usa ele lava prato e s vezes n o d tempo porque ele sai correndo mas todo mundo tem suas obriga es aqui em casa Trecho da entrevista com a m e de Ant nio Embora possamos pensar que arrumar o quarto e fazer a cama sejam tarefas f ceis vale lembrar que os jovens das classes m dias n o possuem essas obriga es Arrumar a casa gasta tempo e energia e sempre uma atividade a mais Ficou claro que alguns jovens acabam ajudando suas m es nas tarefas dom sticas e at mesmo com a renda caso de Eliana que ajuda a m e a enrolar salgados por acharem que fica muito pesado para elas Os trechos das entrevistas abaixo ilustram essas observa es s vezes a minha m e pede para lavar vasilha arrumar meu quarto Quinta feira por exemplo tem prova na sexta As vezes eu costumo ajudar porque eu n o consigo eu fico vendo ainda mais enrolar salgados ela se acha devagar eu n o acho s que ela fica desesperada quando n o consegue por exemplo em uma hora ela enrola 20 coxinhas ela fica desesperada n o tem tempo n o sei o qu A eu vou l ajudo s que quando eu fui ajudar n o tinha prova j tinha passado acho que ela liberaria Trecho da entrevista com Eliana Pela declara o de C sar Sempre ajudei desde meus oit
30. ao museu daquela cidade e isso fez com que a m e tivesse vontade de conhecer mais sobre esses espa os Por fim ao lhe ser perguntado se gostaria de acrescentar mais alguma informa o a m e de C lia relata que pelo fato de a filha ficar at mais tarde s segundas feiras na escola ela procura ir de carro at l para busc la Caso contr rio a filha chega em casa muito tarde e que para amenizar essa rotina pesada ela tamb m leva a filha de carro na manh seguinte O pai reclama que ela n o pode ficar fazendo isso porque gasta gasolina mas a m e disse que recebe ajuda de seus pais para pagar a gasolina Ela conta que todos os seus irm os trabalham e que somente ela n o tem renda Diante disso sua fam lia a ajuda bastante Ela afirma que far tudo que estiver ao seu alcance para manter a filha estudando no Col gio Dom Assis Ela termina agradecendo a Deus por ter dado essa oportunidade a seus filhos TABELA 6 Caracter sticas Socioecon micas Economia Renda familiar per capita em R de agosto de 2000 Belo Horizonte 1991 2000 Regi o Administrativa 1991 2000 Barreiro 188 60 254 06 Centro Sul 1 119 02 1 584 28 Leste 379 48 491 20 Nordeste 315 41 429 02 Noroeste 352 30 472 43 Norte 204 18 274 90 Oeste 436 11 634 71 Pampulha 514 65 680 15 Venda Nova 188 82 268 86 Belo Horizonte 414 94 557 44 RMBH 309 03 394 34 Fonte Atlas do Desenvolvimento Humano na RM Belo Horizonte Organiza o G
31. atr s s o alunos que fazem que a gente n o tem que ficar fez para casa n o fez Trecho da entrevista com uma professora do Alc ntara Aliado a uma boa vontade por parte dos jovens todo esse esfor o por parte do Programa tende teoricamente a contribuir para que os bolsistas n o s tenham xito escolar como sobrevivam socialmente nesse espa o t o distinto do de sua origem social O Bom Aluno nos preparou bastante para a escola particular eles d o dicas de conviv ncia mesmo com todo mundo Voc s t m que ter isso isso e isso s vezes em rela o a uma ajuda que voc precisa na sala eles falam voc tem que ver se voc n o est tendo uma conviv ncia muito boa com os alunos eles falam tem que ver se o seu jeito de ser ou se da turma mesmo Vai melhorando o seu desenvolvimento pessoal com essas aulas que a gente tem no col gio Em rela o nota tamb m voc com a autoestima baixa e eles te colocam para cima n o voc vai estudar mais voc precisa de ajuda Tem aula particular Porque a pessoa entra na escola particular vive com a autoestima baixa isso e aquilo vai continuar 175 na mesma e acaba prejudicando a pessoa Com uma ajuda um incentivo maior voc acaba tendo for a de vontade e querendo seguir em frente Se voc gosta de uma coisa voc d conta A gente mesmo conversa com eles s vezes eu n o consigo resolver e eles tentam n o vamos tentar
32. busca apreender a desigualdade social como algo din mico ou seja como o resultado de lutas cotidianas nas quais os indiv duos e grupos se posicionam a partir de uma percep o sobre o lugar que podem e devem ocupar no mundo Tudo indica que o investimento na educa o al m de conquistas profissionais e econ micas vale tamb m para conquistas de novas posi es na escala da hierarquia social Por outro lado essa luta que se trava no interior de nossa sociedade em busca de espa os melhor qualificados n o acontece sem sofrimento Para Terrail 1994 um tr nsfuga de classe algu m que por pertencer a dois mundos n o se sente mais vontade em nenhum Principalmente quando esses mundos quase n o t m nada em comum Essa mudan a para uma posi o superior na hierarquia social via aquisi o de um diploma faz com que a exist ncia desse indiv duo seja permeada pela solid o e pelo isolamento Lahire 2001 afirma que esses 184 sentimentos n o s o vis veis no comportamento dessas pessoas e que isso n o revelado em uma primeira conversa Esse sentimento de contradi o est na viv ncia que elas t m de todo esse processo Para finalizar menciono uma das v rias indaga es que surgiram ao longo deste estudo S o elas 1 Quais possibilidades elementos dessa experi ncia fizeram diferen a na vida desses jovens 2 O pre o a pagar para ter uma boa escolariza o passa for afastar se dife
33. com a turma da escola A filha recentemente voltou de uma excurs o a Petr polis onde ela visitou um museu Segundo a m e de S nia ela achou superinteressante A m e e o atual marido n o frequentam cinemas e quando perguntado a ela se pudesse escolher entre visitar um museu uma exposi o de arte ir ao teatro ou assistir a um show de m sica ao vivo ela optou pelo ltimo Ela afirma que acha que a frequ ncia a esses espa os traz conhecimento S nia costuma ir ao cinema com suas amigas do Programa que moram nas imedia es de seu bairro TABELA 7 Caracter sticas Socioecon micas Economia Renda familiar per capita em R de agosto de 2000 Belo Horizonte 1991 2000 Regi o Administrativa 1991 2000 Barreiro 188 60 254 06 Centro Sul 1 119 02 1 584 28 Leste 379 48 491 20 Nordeste 315 41 429 02 Noroeste 352 30 472 43 Norte 204 18 274 90 Oeste 436 11 634 71 Pampulha 514 65 680 15 Venda Nova 188 82 268 86 Belo Horizonte 414 94 557 44 RMBH 309 03 394 34 Fonte Atlas do Desenvolvimento Humano na RM Belo Horizonte Organiza o Ger Indicadores SMAPL SMPL PBH Metodologia Raz o entre o somat rio da renda per capita de todos indiv duos e o n mero total desses indiv duos A renda per capita de cada indiv duo definida como a raz o entre a soma da renda de todos os membros da fam lia e o n mero de membros da mesma Parque p blico localizado no centro da cidade de Belo Horizonte e on
34. como ndices reveladores do momento em que a ordem social antiga n o existe mais e em que se opera a mudan a social 1 1 Percursos metodol gicos Os sujeitos da pesquisa A sele o dos jovens participantes do Programa Bom Aluno deu se a partir da escolha das duas escolas particulares mais bem colocadas no ENEM 2008 na cidade de Belo Horizonte Sendo assim sete dos oito jovens que estavam matriculados nessas duas escolas no ano de 2010 participaram desta pesquisa Portanto foram duas jovens que estavam cursando o 9 ano do Ensino Fundamental e dois jovens que estavam cursando o 2 ano do Ensino M dio no Col gio Dom Assis e uma jovem e um jovem que estavam cursando o 9 ano do 30 Programa Bom Aluno uma entidade n o governamental que oferece bolsas de estudo a jovens bons alunos de origem popular em escolas de alto n vel acad mico Exame Nacional do Ensino M dio 5 Os nomes das duas escolas particulares s o fict cios 16 Ensino Fundamental e uma jovem que estava cursando o 2 ano do Ensino M dio do Col gio Alc ntara Logo temos um grupo formado por quatro meninas e tr s meninos com idades entre 13 e 16 anos Todos os jovens s o oriundos de escolas p blicas e passaram na prova de sele o do Programa Bom Aluno A descri o desse processo de sele o est detalhada no cap tulo 2 Na ocasi o da entrevista que ocorreu durante os meses de maio e junho de 2010 tr s dos sete jovens j frequentavam
35. comportamento que existem nos dois espa os socializadores e sempre procura analisar o que melhor para ele O jovem parece gostar muito dessa experi ncia pois afirma adorar conhecer novas pessoas e suas leis nas aulas de sociologia que M rio diz aprender a analisar sua situa o e afirma dizendo gosto muito O espa o do Programa considerado por ele como a jun o dos dois mundos O jovem diz que por ele e seus colegas serem de uma mesma origem social frequentando um espa o destinado aos jovens de outra classe social fica mais f cil entender o que ele e os colegas est o vivendo M rio vai al m e afirma que o espa o onde o Programa funciona o lugar onde a gente se sente mais tranquilo para agir com mais express o sem ser discriminado Acho que o Bom Aluno seria o meio termo entre os dois mundos Em sua fala percebe se uma autocobran a com rela o aos resultados acad micos Ele reconhece que poderia melhor los mas mesmo assim trata essa chance como a chance de sua vida e que devido a ela vai mudar totalmente sua hist ria de vida Como resultado dessa oportunidade aponta primeiramente para a possibilidade de uma melhora de vida do ponto de vista financeiro no campo social cita a oportunidade de conhecer e se socializar com outros tipos de pessoas no mbito familiar diz que n o tem mais aquele olhar egoc ntrico que tinha antes e que olha para a fam lia de outra ma
36. cultural Pr ticas escolares familiares de classes m dias O que a escola faz s fam lias Diferen as de classes nas pr ticas de cria o dos filhos o estudo de Lareau Estudos sobre fronteiras sociais O TERRENO DA PESQUISA O terceiro setor no Brasil no s culo XXI O Programa Bom Aluno de Belo Horizonte PBA O novo ambiente Col gio Dom Assis tradi o em educa o Alc ntara um novo col gio destinado s classes intelectuais SETE PERFIS JOVENS POPULARES E SUAS FAM LIAS C sar Ant nio Eliana Vanda M rio C lia S nia ELEMENTOS DA NOVA EXPERI NCIA ESCOLAR A rede de sociabilidade Vari veis que impactaram ainda impactam no desempenho 13 15 17 24 24 27 30 35 40 42 46 54 54 63 75 75 77 79 79 85 92 100 108 113 121 128 128 147 5 3 5 4 5 5 escolar Impactos no cotidiano das fam lias Impactos nas pr ticas culturais das fam lias O papel do Programa Bom Aluno na redu o das diferen as culturais de classe CONSIDERA ES FINAIS REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS AP NDICES 155 170 171 180 185 192 13 1 INTRODU O Para que o ator n o possa j dar se a ilus o da unidade de si mesmo de uma relativa coer ncia identit ria e para que a contradi o principal apare a sob a forma de uma dupla identidade de uma conversa o interna entre diferentes segmentos do Eu Berger e Lucmann ter lhe sido necess rio vive
37. das camadas populares e com bons resultados acad micos parece ter sido motivo de tanta admira o por parte dos 82 colegas do Dom Assis e de seus familiares N o demorou muito para ele ser convidado pela fam lia de um colega para ir morar na casa deles Nessa casa que fica situada na regi o Centro Sul moravam o jovem e a empregada que revezava nas estadias com a m e que era de Te filo Otoni cidade localizada na regi o Norte de Minas Gerais A fam lia queria que C sar fosse uma boa influ ncia para o filho nos estudos e queria facilitar a vida do jovem bolsista no que diz respeito viagem di ria que ele tinha que fazer para chegar ao col gio A estadia nessa casa durou um ano Em seguida C sar se mudou para a casa da irm desse jovem casada e sem filhos pelo simples fato de ela querer ajud lo A sua estadia nessa segunda casa foi de seis meses Em seguida ele foi morar na casa da av que fica situada em uma regi o mais pr xima de onde est localizada sua escola Demonstrando bastante habilidade C sar foi construindo um grupo permanente de estudos de mais ou menos quatro jovens Eles sempre que podiam se reuniam para estudar O fato de C sar estar naquele momento vivendo na regi o Centro Sul o ajudou bastante a frequentar festas nos finais de semana jogos de futebol e sa das com os novos amigos O jovem diz que faz quest o de levar os amigos de seu bairro s festas do col gio e que os amigos do col gio os re
38. de gente simples chego l e fico ouvindo as pessoas falando eu fui n o sei onde comprei uma roupa est perfeito vou fazer interc mbio para Londres ano que vem S o coisas diferentes que eu n o vou ouvir no meu bairro E o vocabul rio por exemplo eu fa o uma hist ria com essa minha amiga est deste tamanho a gente est terminando j eu dei para a minha prima ler e tem palavras que eu uso no Alc ntara e que a minha prima nunca ouviu o vocabul rio mais simples que a gente usa l Deixe me ver o que mais roupa com certeza Tem uma coisa bolsa essas coisas s v bolsa da Kippling estojo da Kippling culos da Kippling tudo de marca na Professor Cassiano n o Tem uma coisa que muito diferente m sica por exemplo M sica na Professor Cassiano s hip hop m sica no Alc ntara s internacional ningu m gosta de m sica nacional ax funk todo mundo odeia isso As vezes eu falo de ax e as pessoas falam que horror e tal Isso muito diferente eu consigo por exemplo eu n o converso com as amigas da Professor Cassiano a mesma coisa que eu converso com as do Alc ntara As vezes tem coisas que eu tenho liberdade de falar com as da Professor Cassiano por exemplo deixe me ver n o estou lembrando Mas coisa banal que eu posso falar na Professor Cassiano se eu falar no Alc ntara v o achar meio estranho As vezes at algumas g rias que eu costumava falar na Professor Cassiano eu cheguei e
39. de material escolar O aluno quem diz quando n o precisa mais da ajuda com o fornecimento desse ou daquele item A programa o anual do PBA conta com um semin rio de tema livre uma aula inaugural para os jovens e suas fam lias um churrasco de confraterniza o e uma festa de encerramento do ano letivo No segundo eixo denominado Desenvolvimento Pessoal inicia se um trabalho no 7 ano do Ensino Fundamental que se estende at o ensino superior Trata se nesse eixo de implementar nos participantes comportamentos necess rios sua plena adapta o a novos conceitos entrada no Programa mudan a de escola adapta o ao ensino m dio e superior informa o e vis o cr tica a respeito de seu contexto social e de sua fase de desenvolvimento DI RIO 2007 185 Essa conscientiza o acontece por meio de debates reflex es e realiza es de a es pr ticas atrav s de a es volunt rias dentro e fora do PBA Aos alunos beneficiados Di rio 2007 186 ressalta que cabe a tarefa de auxiliar outros bons alunos da mesma forma que foram ajudados O terceiro e ltimo eixo de a o do Programa se d em torno da fam lia O PBA convida os pais a participarem do processo de escolariza o dos filhos por meio de reuni es encontros individuais e palestras com o objetivo de capacitar e envolver as fam lias Para que o aluno tenha al m do preparo acad mico uma inser o cultural o Programa proporcion
40. de participar da pesquisa a qualquer momento bem como para se recusar a responder a qualquer quest o espec fica sem qualquer puni o K Nem os as outros as professores as nem qualquer funcion rio do Programa incluindo coordenadoras diretor e vice diretor ter o 195 conhecimento sobre quais professores as se recusaram a participar do estudo evitando qualquer poss vel implica o L Este estudo envolver grava o de udio Apenas os pesquisadores ter o acesso a esses registros Todas as fitas de udio ser o destru das ap s o per odo de 4 quatro anos M Este estudo envolve riscos m nimos ou seja nenhum risco para a sa de mental ou f sica al m daqueles que o a s professore a s encontram normalmente em seu dia a dia N O a s professores as s o livres para deixar de participar da pesquisa a qualquer momento 3 Esta se o indica que o Programa Bom Aluno est dando seu consentimento para que a pesquisa seja realizada na sede do mesmo Eu li e compreendi as informa es fornecidas e recebi respostas para qualquer quest o que coloquei acerca dos procedimentos de pesquisa Eu entendi e concordo com as condi es do estudo como descritas Eu entendo que receberei uma c pia assinada deste formul rio de anu ncia Eu voluntariamente dou minha anu ncia realiza o da pesquisa no programa sob minha dire o Portanto concordo com tudo que est escrito acima de de 2010 Assinatura do a ge
41. de uma clivagem do eu de um conflito interno central que organiza e embara a cada momento de exist ncia LAHIRE 2001 54 Em seu livro O homem plural as molas da ac o Lahire 2001 discorre sobre como acontece a constru o dos h bitos e dos esquemas de a o que ir o acompanhar o ator em sua travessia pelo espa o social A abordagem de tal tema relevante para este estudo uma vez que estamos diante de sete trajet rias de jovens bolsistas que pela via escolar passam a frequentar um universo socializador totalmente distinto do de sua origem e que exige a apreens o de novos h bitos bem como de novos esquemas de a o Em muitos casos esses novos h bitos e esquemas de a o n o ser o necessariamente contradit rios aos j apreendidos podendo coexistir lado a lado de forma harmoniosa e ser acionados conforme demanda do contexto social J em outros no caso de contextos com valores simb licos muito diferentes quando h conflito entre os novos e antigos h bitos e ou esquemas de a o h a possibilidade da clivagem do eu podendo levar a uma exist ncia permeada pelo sofrimento Assim sendo Lahire 2001 chama a aten o para o erro de se fazer dessa clivagem do eu um paradigma geral para a interpreta o de situa es como a dos jovens bolsistas aqui pesquisados e lembra que como todo ator plural os tr nsfugas de classe n o s o exce o O que os diferencia a consci ncia que
42. de v rias classes sociais diferentes No primeiro m s passou um m s que a gente conviveu a gente passou a jogar bola no time do col gio e logo ap s eu fui para a casa dele a m e dele disse que queria me conhecer porque ele contou um pouquinho da minha hist ria para ela e ela falou que queria muito me conhecer Hoje em dia ela para mim praticamente uma m e eu tenho muito amor por ela eu sempre durmo na casa deles vou a festas que eles convidam Trecho da entrevista com C sar Dois dos sete jovens explicitaram a proximidade dos assentos na sala no primeiro dia de aula como facilitadora da forma o de amizade Essa socia o 132 que se iniciou de forma despretensiosa vem a confirmar o que Simmel 2006 diz sobre o fato de as significa es objetivas das personalidades n o terem peso na hora da socia o ou seja ao se sociarem com os jovens bolsistas os colegas n o sabiam de seus m ritos individuais Eles come aram a se relacionar pelo simples prazer de ter a companhia um do outro Quando eu entrei tinha que sentar naquela ordem de chamada da turma ent o um colega que eu sentava do lado eu sentava pertinho dele s que ele saiu do col gio ent o a gente vai fazendo amizade pela proximidade Acho que por proximidade que eu criei essas amizades Trecho da entrevista com M rio Este trecho tamb m exemplifica o exposto acima N o achei dif cil n o sei dizer isso porque foi
43. diferen a aprendi sozinha praticamente Quando eu sa da Professor Cassiano e entrei no Alc ntara eu j consegui captar tudo isso eu posso fazer aqui e n o posso fazer l trecho da entrevista com Eliana A entrevista iniciou se logo ap s uma breve explica o dos objetivos da pesquisa Eliana rapidamente articulou suas respostas sem necessidade de mais esclarecimentos indicando uma maturidade incomum para uma jovem de apenas 14 anos Em breve eu descobriria que ela n o uma jovem t pica de sua idade 35 Nome fict cio da ltima escola p blica frequentada por Eliana 93 Eliana tem 14 anos e est no 9 ano do Ensino Fundamental do Col gio Alc ntara O pai vigilante em uma empresa e a m e aposentada ainda trabalha como promotora de vendas expondo produtos variados ou fazendo salgadinhos para fora A renda mensal do casal fica entre 2 e 5 sal rios m nimos O pai terminou o ensino m dio e cursou no ano de 2009 um semestre de Engenharia Civil em uma faculdade particular A m e possui ensino m dio incompleto Eliana filha nica do casal Eles moram em uma casa pr pria localizada nos fundos de uma casa no bairro Jo o Pinheiro na regi o Noroeste de Belo Horizonte Ela tem cabelos longos cacheados e aparelho nos dentes e se autodenominou parda no question rio no item cor ra a A pele do rosto demonstra as consequ ncias das transforma es em jovens nessa faixa et ria e denuncia o pertencimento a
44. dois pardos Essa vari vel n o foi levada em conta nesta pesquisa Em rela o ocupa o do pai de cada aluno obtive a seguinte configura o um pai aposentado por problemas de sa de um contador nico pai com profiss o n o bra al um serralheiro um motorista de nibus um motorista de ambul ncia um auxiliar de servi os de uma escola p blica e um vigilante e0 Programa Bom Aluno s oferece bolsas aos jovens cuja renda familiar per capita n o ultrapasse o equivalente a um sal rio m nimo 17 Em rela o ocupa o da m e de cada aluno por sua vez obtive a seguinte configura o uma m e aposentada salgadeira promotora de produtos uma faxineira costureira uma dona de casa artes uma dona de casa vendedora de produtos variados uma auxiliar de servi os de uma escola p blica uma dona de casa propriet ria de uma banca de revistas e uma t cnica em enfermagem do SAMU Esses resultados mostram o baixo n vel de escolaridade desses pais contrastando com o n vel de escolaridade dos pais dos jovens colegas das escolas particulares relevante fazer men o a isso por ser a escolaridade um dos fatores mais importantes na aquisi o do capital cultural de um indiv duo A rede de sociabilidade desses jovens provavelmente sofrer efeitos dessa baixa escolaridade dos pais j que segundo Santos 1994 2 a disponibilidade dos amigos uma consequ ncia direta da posi o f sica e da localiza o dos ind
45. ela estava se sentindo pouco vontade C lia tem 14 anos e est cursando o 9 ano no Col gio Dom Assis Ela se parece com uma jovem t pica da sua idade e poderia ser mais uma moradora de um bairro da regi o Centro Sul de Belo Horizonte Por j ter experimentado uma situa o semelhante durante a entrevista com um dos bolsistas tratei de ter uma conversa menos formal e mais descontra da para que ela se sentisse mais confort vel Consegui um pouco de 114 abertura por parte de C lia somente a partir do meio da entrevista A jovem se autoclassificou no item cor ra a como branca Na visita casa da jovem para realizar a entrevista com a fam lia fui recebida pela m e de C lia que abriu o port o da casa e mais uma vez me vi diante de uma bela jovem senhora De cor clara vestida de uma maneira bem jovial ela me convidou para entrar por um p tio garagem de onde se podia ver o ve culo da fam lia A casa da fam lia de C lia fica situada a 25 km da regi o Centro Sul de Belo Horizonte e denominada pela prefeitura de regi o do Barreiro A casa diferentemente das outras casas visitadas muito agrad vel espa osa arejada e clara Ela possui muitas janelas e apesar de poucos m veis tudo parecia novo De fato depois de conversar com a m e soube que eles tinham se mudado para essa casa h apenas um ano A m e de C lia iniciou a entrevista contando que sempre sonhou em dar uma educa o de melhor qualidade para o
46. entre membros de diferentes estratos sociais se torna algo contradit rio e constrangedor A igualdade resulta da elimina o por um lado do que inteiramente pessoal e por outro lado do que inteiramente material ou seja daquilo que a socia o encontra previamente como seu material e do qual se despe de sua condi o de sociabilidade O depoimento a seguir refor a essa ideia No Bom Aluno todo mundo praticamente como se fosse uma fam lia todo mundo amigo na escola particular mesmo que voc n o queira se excluir acaba sendo exclu do por algu m Voc n o tem aquela liberdade Trecho da entrevista com a m e de S nia 131 de ficar falando demais sobre a sua vida tipo l em casa muito simples isso isso isso porque voc acaba sendo constrangida Nesse caso voc n o fala muito n o tem essa porque todo mundo da mesma classe social e isso normal Por exemplo n o ter isso em casa normal mas se eu falo com eles oh o que isso Trecho da entrevista com S nia Tr s dos jovens explicitaram que se juntaram a outros jovens novatos e formaram uma rede social que posteriormente abrigou outros jovens n o novatos S o eles M rio C lia e S nia todos alunos do Dom Assis Os outros quatro n o especificaram se os novos amigos eram tamb m novatos Como as redes de sociabilidade j se encontravam formadas no in cio do ano letivo os novatos se agruparam com ou
47. estuda tarde ela estuda e n o tem tempo para me ajudar Minha m e nunca chegou a impor mas ela falava que depois quando eu estivesse na 7 s rie eu ia ter que fazer arrumar a casa para ela S que eu entrei no Alc ntara fui salva pelo gongo porque eu n o tive mais tempo Trecho da entrevista com Eliana A m e de Eliana por sua vez E ainda eu n o a tiro para me ajudar em nada porque j muito apertado eu sei que ela tem que estudar e se eu tir la para fazer tarefa de casa vou estar prejudicando a A minha prefer ncia que ela estude Ela arruma mas s vezes quando ela levanta e vai tomar banho eu j arrumo para adiantar para ela para n o sair atrasada tamb m Mas s vezes eu dou a ela o quarto Eliana hoje voc limpa o seu quarto O dia que ela est mais folgadinha eu deixo o quarto dela para ela arrumar Trecho da entrevista com a m e de Eliana N o porque n o tenho muito tempo e minha m e fala comigo melhor voc estudar do que ajudar porque ela d conta de fazer o trabalho dom stico sozinha S quando eu estou toa mesmo n o tenho nada para fazer que eu ajudo Trecho da entrevista com C lia Todos os sete jovens relataram que fazem suas camas pela manh e que limpam seus quartos na medida do poss vel Eles tamb m relataram principalmente as meninas que sempre que podem ajudam as m es a cozinhar ou limpar a casa e n o demonstraram descontentamento com
48. falei no Alc ntara e ficou meio estranho n o estou lembrando agora Mas as meninas do Alc ntara s o bem ricas e por exemplo t m tudo que querem v o para onde querem ir vestem s roupas de marca na Professor Cassiano n o as meninas s o mais simples tudo mais largadinho Trecho da entrevista com Eliana Quando eu sa da Professor Cassiano e entrei no Alc ntara eu j consegui captar tudo oh isso eu posso fazer aqui e n o posso fazer O Bom Aluno ajudou muito mas eu conseguiu compreender sozinha Se uma pessoa me perguntar como ser que um rico age eu vou l e mais ou menos nesse n vel Com a experi ncia que estou ganhando eu amo ter experi ncia eu me sinto orgulhosa de mim Eu consigo captar o melhor dos dois mundos diferentes Trecho da entrevista com Eliana 177 O jovem bolsista parece descrever abaixo exatamente o que Terrail 1990 denomina de tr nsfuga de classe Essa sensa o de n o pertencimento a qualquer meio e simultaneamente de pertencimento a dois meios pode em princ pio dar a ideia de que esse indiv duo atingiu uma posi o de conforto por saber se comportar em dois ambientes socialmente distintos mas tenho como hip tese que no fundo esse jovem deixou de pertencer a seu meio de origem e sabe que nunca pertencer ao outro meio social Uma vez feita essa reflex o a vida pode seguir acompanhada de um constante esfor o acrescida de uma pitada de sofrimento Hoje e
49. formas de mobiliza o por parte dessas fam lias e descrevem as estrat gias por elas usadas PORTES 1993 LACERDA 2006 ALMEIDA 2006 SOUZA 2009 Por outro lado alguns desses estudos apontam para a aus ncia de uma mobiliza o familiar com estrito sentido e para a inexist ncia de um projeto escolar de longo prazo mas percebem a presen a da fam lia na transmiss o dentre outros de valores positivos sobre a necessidade da escolariza o dos filhos e destacam a import ncia da realiza o do trabalho escolar das fam lias caracterizado pelo apoio afetivo e pela aten o dispensada aos filhos durante suas trajet rias escolares VIANA 1998 SILVA 1999 PORTES 2001 PIOTTO 2007 A mobiliza o do pr prio jovem foi identificada por todos os autores como sendo imprescind vel na constru o dessas trajet rias Viana 1998 ressalta que esses percursos s o constru dos aos poucos e s o marcados pela autodetermina o dos sujeitos Cada etapa conclu da serve de est mulo para 26 iniciar a pr xima Assim de forma lenta e progressiva eles v o desenhando as trajet rias que os levar o ao ensino superior A import ncia das viv ncias sociais nessas trajet rias ou seja da inser o desses jovens em redes de rela es sociais formadas dentro de sua pr pria comunidade foi assinalada pelos estudos de Portes 1993 2001 Viana 1998 Silva 1999 Almeida 2006 Piotto 2007 e Souza 2009 A presen a de
50. incentivaram a cria o de entidades interessadas somente nos incentivos fiscais e nos apoios financeiros que beneficiassem somente a elas fazendo disso um emprego rent vel Vale lembrar o caso que se tornou um esc ndalo nacional em 2001 quando o ent o diretor da Legi o da Boa Vontade desviou os recursos dessa organiza o promovendo o pr prio enriquecimento Falconer 1999 45 demonstra no QUADRO 1 os resultados das poss veis combina es entre o p blico e o privado 57 QUADRO 1 Combina es Poss veis entre P blico e Privado AGENTES FINS SETOR Privados para Privados Mercado P blicos para P blicos Estado Privados para P blicos Terceiro Setor P blicos para Privados corrup o Hoje o terceiro setor se expandiu para diversos outros setores diferentes do inicial que era o da caridade Fazendo uma busca r pida na internet cito como exemplo alguns dos novos campos de atua o desse tipo de organiza o Assist ncia Inf ncia Assist ncia 3 Idade Combate ao C ncer Combate s Drogas Combate Viol ncia Combate Viol ncia Contra a Mulher Direitos do Consumidor Educa o Direitos Humanos Defesa do Consumidor Assist ncia a Deficientes Esportes para Deficientes Defesa do Eleitor Inclus o Digital Inclus o Social Preven o e Tratamento de C ncer Meio Ambiente Seguran a Digital Responsabilidade Social Preven o da Aids Preven o de Acidentes de Tr nsit
51. isso Todos afirmaram que as m es preferem que eles estudem a trabalhar na casa Parece que todas as fam lias incorporaram essa tarefa a mais para que seus filhos gastem suas energias com os estudos s vezes a minha m e ia trabalhar cedo e eu levantava cedo e arrumava a casa toda a casa ficava limpinha Minha m e chegava nossa voc passou pano na casa arrumou a casa Trecho da entrevista com S nia 161 Frequ ncia a outros espa os de sociabilidade A cada ano a escola insere a crian a em uma nova rede de sociabilidade PERRENOUD 1987 149 Mesmo que a amizade entre os colegas de classe seja mantida existem os novos alunos os novos professores e os novos funcion rios Periodicamente essas redes s o reconstru das Tamb m as fam lias veem suas redes de sociabilidade alargadas medida que aumenta a frequ ncia no espa o escolar e por vezes se veem na companhia dos pais dos colegas nas festas e nas reuni es promovidas pela escola No caso das fam lias dos bolsistas essa mudan a de estabelecimento escolar por parte dos filhos acaba por causar certo inc modo N o somente os outros pais s o de uma classe social diferente mas tamb m os diretores os professores e os coordenadores o que nos remonta a Lareau 2003 que observou um sentimento de desconforto por parte dos indiv duos das classes trabalhadoras nas intera es com pessoas que simbolizam autoridade como no caso da escola na figura de seus profe
52. livre dos pais e dos irm os O contato com parentes acontecia somente em poca de festas ou em datas comemorativas mas na ordem de prioridades ficava atr s das competi es esportivas Na segunda l gica Lareau 2003 observou que as fam lias populares ofereciam amor conforto alimenta o e seguran a aos seus filhos mas n o tomavam para si a tarefa do desenvolvimento dos seus talentos especiais As liga es com os familiares eram profundas e os eventos comemorativos tinham grande import ncia As crian as tinham bastante tempo livre devido s poucas atividades extraescolares Essas fam lias priorizavam o uso das diretivas em detrimento do exerc cio do racioc nio e em algumas das casas estudadas davam mais nfase disciplina f sica Se considerarmos que a classe social tem um impacto consider vel no ritmo di rio da vida familiar ent o poder amos nos perguntar qual seria o significado desses eventos e de que forma essas rotinas familiares transmitem vantagens e desvantagens s crian as especialmente as que j est o na escola Os processos sociais que diferenciam essas fam lias promovem pr ticas que de alguma forma oferecem recursos s crian as e que em longo prazo e fora do ambiente familiar ser o percebidos como desiguais A preocupa o com o uso da l ngua nas fam lias de cultivo orquestrado demonstrada na disposi o em dialogar com as crian as propiciando o enriquecimento do vocabul rio ex
53. mudou ou seja j n o vai mais Com rela o a teatro ela diz que a ltima ida foi nos anos 1990 Eles mencionam que at as idas aos parques j n o acontecem mais 100 TABELA 3 Caracter sticas Socioecon micas Economia Renda familiar per capita em R de agosto de 2000 Belo Horizonte 1991 2000 Regi o Administrativa 1991 2000 Barreiro 188 60 254 06 Centro Sul 1 119 02 1 584 28 Leste 379 48 491 20 Nordeste 315 41 429 02 Noroeste 352 30 472 43 Norte 204 18 274 90 Oeste 436 11 634 71 Pampulha 514 65 680 15 Venda Nova 188 82 268 86 Belo Horizonte 414 94 557 44 RMBH 309 03 394 34 Fonte Atlas do Desenvolvimento Humano na RM Belo Horizonte Organiza o Ger Indicadores SMAPL SMPL PBH Metodologia Raz o entre o somat rio da renda per capita de todos indiv duos e o n mero total desses indiv duos A renda per capita de cada indiv duo definida como a raz o entre a soma da renda de todos os membros da fam lia e o n mero de membros da mesma 4 4 Vanda Eu sou representante de turma sou vice somos duas representantes e isso j mostra que eles confiam em mim trecho da entrevista com Vanda Assim que me encontrei com Vanda percebi que estava diante de uma jovem diferente de qualquer outra jovem de sua idade e de sua classe social A facilidade de se expressar a rapidez com que conclu a suas respostas e sua capacidade de reflex o fizeram com que eu descrevendo seu perfil optasse
54. mundo s eu tenho que saber a hora de falar Uma coisa que me chateia s vezes quando eu saio de casa com um problema e chego na escola e tem uma amiga que est reclamando de uma coisa que ela n o precisava reclamar uma futilidade que eu acho triste para ela N o para mim porque ela n o sabe o que ela tem e s vezes as pessoas n o conseguem ver Eu fiquei feliz quando um amigo meu falou assim Nossa depois que eu te conheci eu passei a dar mais valor s coisas porque voc s vezes tem um monte de problemas e consegue superar e a gente reclama demais E tem uns que n o conseguem ver isso e eu n o fico assim voc est errado Porque isso n o vai mudar a cabe a A pessoa est inserida num mundo como eu vou fazer com que ela tenha uma vis o diferente se ela n o conhece o outro lado trecho da entrevista com Vanda realizada no dia 13 de maio de 2010 grifo meu O conhecimento sobre alguns espa os relacionados a atividades culturais ficou claro no discurso dessa m e Ao longo da entrevista ela citou o Museu da L ngua Portuguesa em S o Paulo o Pal cio das Artes a Bienal do Livro e o local onde ela acontece mas afirmou frequentar poucos eventos dessa natureza A filha gosta muito de ir ao teatro e ao cinema mas n o pode fazer isso com frequ ncia por falta de recursos Os dois filhos gostam de ir ao cinema Ela afirma que ela e o marido s saem para se divertir quando est o no interior visitando parentes El
55. muro ou uma cerca s o percebidas por quem se encontra dentro e fora delas De um modo geral estudos que tratam de fronteiras sociais s o realizados com o intuito de desvendar como s o formadas essas fronteiras como elas s o mantidas atualizadas cruzadas ou mesmo como s o utilizadas em forma de prote o de classe como elas servem de espa o de troca de exclus o e de segrega o o que as fazem percept veis e no caso de serem invis veis o que as tornam vis veis MERKLEN amp SAINT MARTIN 2010 Outros estudos investigam como uma cultura de classe passada de gera o em gera o ou como uma identidade de classe criada e transmitida internamente entre os membros de um grupo WEIS 2010 Ao conferir educa o um papel central na forma o das fronteiras sociais Merklen amp Saint Martin 2010 apontam para a import ncia da educa o fora do ambiente escolar ou seja em institui es culturais em institui es que d o refor o escolar e no seio da fam lia sendo este ltimo o lugar no qual se constroem 47 as matrizes mais importantes para a forma o de um sentimento de pertencimento a uma classe social Nas palavras dos autores na rela o entre a educa o nas fam lias e a produ o das fronteiras que s o aprendidos os c digos sociais com os quais o indiv duo gerencia as rela es sociais com as quais confrontado Essa aprendizagem permite n o apenas uma integra o com a soc
56. na etapa da din mica de grupo pude observar a intera o entre os participantes e a facilitadora Essa etapa aconteceu nas instala es do Programa Com o roteiro da din mica nas m os pude acompanhar o desenvolvimento do trabalho Tentei ao m ximo minimizar os efeitos de minha presen a de maneira a n o interferir no processo Ao final dessa etapa troquei observa es com a psic loga do grupo Minha ltima observa o aconteceu durante o processo das entrevistas que seguiram um roteiro semiestruturado de perguntas para melhor conhecer os candidatos e suas fam lias Essa etapa tamb m aconteceu nas instala es do Programa Foram designadas duas pessoas para cada entrevista uma psic loga juntamente com uma professora ou a gerente do Programa juntamente com uma professora Em minha sala est vamos eu e uma psic loga Recebi instru es de como preencher o question rio que avaliava as entrevistas que foram conduzidas por essa psic loga Ao final de cada encontro n s duas troc vamos opini es sobre os itens da entrevista e discut amos sobre os aspectos que mais chamaram a nossa aten o Posteriormente a coordena o do Programa se reuniu para analisar cada caso usando as informa es contidas nos itens que foram preenchidos durante as entrevistas Eu n o participei dessa etapa Vale ressaltar que fui para essa aventura sem saber ao certo o que estava para acontecer e como eu deveria me comportar Ainda tenho a se
57. o Os jovens selecionados entram no Programa no in cio do 7 ano do Ensino Fundamental e ainda frequentando suas respectivas escolas p blicas iniciam no contraturno das aulas cursos de portugu s matem tica ingl s al m de h bitos de estudo e desenvolvimento pessoal Ao final desse primeiro ano o Programa consulta as fam lias dos participantes com o objetivo de saber se o a filho a quer fazer o exame de sele o das escolas parceiras Caso a fam lia e o a jovem estejam interessados em fazer o s exame s um dos crit rios utilizados para a escolha da nova escola a localiza o j que o Programa tenta minimizar o tempo de deslocamento dos estudantes Os professores tamb m auxiliam nessa escolha levando em considera o o perfil de cada jovem e da escola escolhida Para isso o Programa procura combinar o perfil do estudante com o perfil acad mico e social da escola child matching Os gr ficos 1 a 6 a seguir apresentam o perfil dos estudantes com rela o a idade sexo etapa escolar distribui o entre escolas p blicas e particulares escolha por curso universit rio e inser o no Ensino Superior 72 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos GR FICO 1 Distribui o por idade dos 101 alunos do Programa Bom Aluno em 31 12 2010 Fonte Programa Bom Aluno Belo Horizonte MG 80 70 60 50 40 30 20 10 B Feminino Masculin
58. o conservadora a escola privilegia 34 os alunos detentores desse capital que s o justamente os jovens provenientes das classes sociais mais favorecidas fazendo com que os exclu dos tomem para si a raz o da exclus o ou usando as pr prias palavras do autor E fazem com que o sistema de ensino amplamente aberto a todos e no entanto estritamente reservado a alguns consiga a fa anha de reunir as apar ncias da democratiza o com a realidade da reprodu o que se realiza em um grau superior de dissimula o portanto com um efeito acentuado de legitima o social BOURDIEU 2007 223 Transportando essa leitura que Bourdieu 2007 faz sobre a exclus o de jovens desprovidos de capital cultural do interior do sistema de ensino para o caso dos bolsistas do Programa Bom Aluno como explicar a perman ncia desses jovens em um ambiente de alta demanda de capital cultural Em que medida poderia o PBA transmitir conhecimentos e habilidades que deveriam em tese ser adquiridos originalmente no espa o social familiar Essa aprendizagem tardia se daria com muito esfor o e sofrimento E foi baseado em sociedades com forte diferencia o social como no caso do Brasil que Lahire se distanciou de Bourdieu ou de outro ponto de vista dialogou com a teoria de Bourdieu ampliando a quando descreve a inf ncia e a adolesc ncia como pocas importantes na vida dos indiv duos pocas essas que s o marcadas por per odos de socializ
59. ou seja de ter direito a ter direito Eles se sentem merecedores de aten o n o tendo medo de se colocarem em situa o de destaque J nos meios populares essa autora n o observou esse tipo de sentimento O que ela detectou foi um sentimento por parte dessas crian as que era o de n o se sentirem merecedoras de aten o por parte de pessoas que simbolizavam autoridade como a figura de um professor de um m dico ou de uma assistente social Um dos bolsistas entrevistados relata perceber como outros bolsistas que n o s o do Programa comportam se na escola particular Inicialmente sim d para perceber que eles referindo se aos bolsistas se sentem bastante deslocados s vezes eles s o mais quietos mais calados n o se envolvem muito com as pessoas mas os alunos ali do Dom Assis se interagem facilmente e sempre est o buscando pessoas para estarem vindo para o conv vio vindo para uma discuss o para o debate Naturalmente esses alunos esses outros bolsistas se integram aos alunos porque isso acaba acontecendo Trecho da entrevista com C sar A pr pria Eliana traz tona um comportamento interiorizado pelo padr o de socializa o de sua classe de origem o professor de hist ria brinca muito e fica falando na aula de Revolu o por exemplo voc sabe como pobre quando v que tem alguma coisa fica assim Ah eu fico meio quieta e tal E muito diferente Trecho da entrevista com Elia
60. particular Quando entrevistei S nia ela me deu detalhes dos arranjos que tinha feito para comparecer sua primeira festa de 15 anos Ela n o conseguia esconder seu contentamento Esse convite parecia um passaporte para a entrada nesse novo ambiente A jovem n o somente foi convidada a ir a uma festa como tamb m foi convidada a passar a noite na casa da colega devido falta de 46 Patio Savassi um shopping localizado bem pr ximo ao Col gio Dom Assis Ele est localizado na regi o Centro Sul de Belo Horizonte 142 transporte para voltar para casa Caso a colega n o a tivesse convidado para passar a noite na casa dela S nia n o poderia ter comparecido festa Fui convidada agora para uma festa de 15 anos amanh noite e minha colega falou voc mora longe ent o vamos l para casa a gente encontra na minha casa a gente se arruma l e minha m e leva e depois busca a eu vou para a casa dela amanh Peguei emprestado com a minha prima um vestido que bate no joelho n o muito chique Amanh vou fazer minhas unhas cabelo ou eu vou arrumar amanh cedo que sexta feira ou depois da escola Como eu vou para a casa da minha colega ela j marcou o sal o l perto Eu perguntei a ela se era muito caro ela falou que n o deve ser muito caro de repente Trecho da entrevista com S nia Atrav s dos depoimentos constatei uma mobiliza o mais intensa por parte das fam lias e
61. per odo de um ano nos Estado Unidos Em 2008 outro jovem foi enviado pelo mesmo per odo ao M xico Atualmente uma jovem se encontra na Dinamarca Em Belo Horizonte s o nove as escolas parceiras que oferecem bolsas de estudo integrais O Rotary Clube BH oferece de dois em dois anos uma bolsa de estudos no exterior com dura o de um ano a um aluno do Programa Pelo programa de interc mbio da UFMG um jovem estudante de psicologia ir em breve viver por seis meses no Texas EUA onde cursar disciplinas na Baylor University Esse interc mbio contar tamb m com recursos do PBA H tamb m interc mbios que n o contam com a parceria ou com o aux lio financeiro do Programa Uma jovem estudante de engenharia de produ o ir estudar por seis meses na Brown University localizada no estado de Massachussettes EUA Ela foi selecionada em um concurso realizado em sua institui o de ensino superior patrocinado pelo Banco Santander O processo de divulga o acontece durante um encontro entre representantes do Programa e as respons veis pelas unidades metropolitanas A e B da cidade de Belo Horizonte A abertura do processo seletivo ent o anunciada e os envelopes contendo uma carta e uma ficha de inscri o s o entregues s gerentes das regionais da Secretaria Estadual de Ensino que os encaminham dire o das escolas supervisionadas por elas Atualmente o Programa j conhecido por muitos dos dirigentes das e
62. pessoas externas ao grupo familiar que agem como um tutor trazendo informa es sobre os estabelecimentos de ensino p blico de qualidade ou mesmo auxiliando na compreens o sobre o sistema de ensino para assuntos relativos escolariza o foi observada pelos estudiosos desse tema Observou se que a influ ncia dessas pessoas foi fundamental para o xito escolar desses jovens Com efeito observa se o uso do termo sucesso escolar nos estudos nacionais TAR BOLA 2010 SOUZA 2009 PIOTTO 2007 ALMEIDA 2006 LACERDA 2006 PORTES 2001 SILVA 1999 VIANA 1998 PORTES 1993 com dois sentidos o primeiro no sentido de longevidade escolar para designar o ingresso do aluno normalmente com alguns ou com muitos anos de atraso em um lugar pouco prov vel em uma institui o de ensino superior Essas trajet rias s o consideradas longevas j que os jovens oriundos dos meios populares em sua maioria t m em comum o abandono ou a interrup o de sua escolariza o antes mesmo do t rmino do ensino fundamental O segundo al m de denominar a chegada do aluno a uma institui o de n vel superior denomina o ingresso em cursos de grande prest gio acad mico e social conhecidos por terem um processo de sele o rigoroso sem atraso de idade sendo beneficiado ou n o por algum programa de inclus o Os autores que pesquisaram o tema ao darem nfase nessa ou naquela pr tica n o desconsideraram as outras pelo contr r
63. resolver esse problema tentar resolver mesmo O ingl s e a parte de desenvolvimento pessoal Porque antes eu era muito t mida bom um desenvolvimento Se conhecer mesmo e isso acaba melhorando a sua conviv ncia com todo mundo Trecho da entrevista com S nia E ainda Para n o ter vergonha n o mentir Chegar a falar quem voc mesmo onde voc nasceu onde voc mora quem s o seus pais Isso ajudou muito Trecho da entrevista com Eliana Aquisi o de novas disposi es Neste ltimo t pico retomo Lahire 2001 e sua teoria da a o social N o que esses jovens por terem adquiridos novos h bitos e novas disposi es sejam portadores de m ltiplas identidades mas podemos nos referir a eles como portadores de m ltiplas disposi es resultante do conv vio em uma sociedade com fortes diferen as sociais A fam lia deixa de ter o monop lio da educa o leg tima de seus filhos e outras inst ncias socializadoras como a escola a igreja ou o grupo de pares acabam tamb m por contribuir para a interioriza o de novos h bitos Assim sendo os jovens acionam seus esquemas de a o que eles julgam adequados de acordo com o contexto social em que se encontram Assim sendo parece que a inser o em mundos sociais t o distintos do de origem acaba gerando um distanciamento por parte do filho em rela o fam lia ou mesmo um estranhamento por parte da fam lia em rela o ao filho Abaixo o depoimen
64. s d O Programa Bom Aluno realiza seu trabalho com os participantes a partir de tr s eixos de a o o Eixo de Desenvolvimento Acad mico o Eixo de Desenvolvimento Pessoal e o Eixo da Fam lia 65 No primeiro eixo de a o potencializa se a escolariza o paralelamente educa o formal quando s o ministrados cursos complementares de portugu s matem tica ingl s e h bitos de estudo e desenvolvimento pessoal Para os jovens que acabaram de ingressar no Programa e est o no 7 ano do Ensino Fundamental na escola p blica essas aulas acontecem quatro vezes por semana com uma carga hor ria de 12 horas semana sempre no contraturno da escola Quando os jovens passam para o 8 ano do Ensino Fundamental a carga hor ria dessas mesmas mat rias baixa para 9 horas semana no regime de tr s vezes por semana No 9 ano do Ensino Fundamental introduz se a mat ria Leitura Viva mant m se as aulas de ingl s e de desenvolvimento pessoal totalizando uma carga hor ria de 6 horas semana Nesse ano n o h portugu s matem tica nem h bitos de estudo No 1 e no 2 ano do Ensino M dio os jovens mant m a carga hor ria de seis horas com aulas de ingl s desenvolvimento pessoal e produ o de texto No 3 ano do Ensino M dio os jovens v o ao Programa uma vez por semana e t m aulas de ingl s produ o de texto desenvolvimento pessoal e t cnicas de relaxamento sendo que as tr s ltimas atividades s o ministradas de qu
65. sele o nem da atra o pessoal pelo contr rio a disponibilidade dos amigos uma consequ ncia direta da localiza o f sica e da posi o dos indiv duos na hierarquia social SANTOS 1994 2 Esse soci logo afirma que o pertencimento a grupos de amizades importante para a compreens o da realidade e que via conversa os indiv duos elaboram conceitos e categorias necess rios para a decodifica o do mundo em que vivem Dessa maneira os s mbolos adquirem significados bem como os processos sociais O gosto de cada indiv duo se faz refletir no gosto do grupo A amizade importante pelo sentimento de identidade que ela proporciona SANTOS 1994 93 Nessa socia o n o se busca algo objetivo concreto mas sim a satisfa o moment nea dos envolvidos s qualidades pessoais que caracterizam o indiv duo em uma sociedade n o se atribui o valor que elas t m fora dessa rela o N o h espa o para grandes demonstra es de autonomia e singularidade Para que isso aconte a Simmel 2006 atribui o uso do sentido do tato que trata de regular as demonstra es de caracter sticas pessoais como a cordialidade o bom humor e o carisma Tamb m nessa socia o o eu e suas ambi es cedem espa o para o impessoal Nas pr prias palavras desse soci logo em termos de significa es objetivas significa es que tem seu centro fora do c rculo de a o riqueza posi o social erud
66. seu desempenho cair e por mais que o Programa tivesse explicado que isso aconteceria a frustra o enorme e eles e suas fam lias n o sabem bem como lidar com isso Acho que muda de ano para ano porque ano passado eu tinha muita dificuldade em geografia achava muito dif cil S que esse ano eu estou indo bem e estou tendo muita dificuldade em portugu s porque eu tenho dificuldade em interpreta o mais dif cil para mim Trecho da entrevista com C lia Pela declara o da m e de C lia porque at ela se adaptar com o col gio ela chegava s vezes chorando que estava sentindo muita dificuldade porque estudava uma menina que n o precisava estudar e tirava nota boa estudava estudava 149 e porque as provas do Dom Assis tem que interpretar n o aquela coisinha f cil Trecho da entrevista com a m e de C lia S nia se culpa por seu fraco desempenho em interpreta o de texto e n o consegue ver como melhoras seus resultados Afinal foi dada a ela a chance e ela n o est conseguindo Essa jovem como produto de socializa o das classes populares n o se acha capaz de conseguir tal feito Lareau 2003 observou o pouco uso do di logo e da argumenta o em fam lias dos meios populares e lembra que o uso dessas ferramentas fomenta a reflex o e o racioc nio Talvez a falta dessa pr tica na vida de S nia possa ser um dos elementos explicativos para suas dificuldades Discorrerei
67. sua orienta o estar envolvida Professores as da escola sob a sua dire o est o sendo convidados a participar de uma pesquisa que visa a analisar e identificar os impactos da inser o em um novo ambiente escolar de alto n vel acad mico destinado s classes sociais mais elevadas sobre jovens oriundos das camadas populares que s o participantes do Programa Bom Aluno A Em caso de d vida a dire o da escola poder entrar em contato com as pesquisadoras respons veis por meio dos telefones e endere os eletr nicos fornecidos neste termo Informa es adicionais podem ser obtidas no Comit de Etica em Pesquisa COEP da Universidade Federal de Minas Gerais pelo telefone 31 3409 4592 e mail coep prpq ufmg br ou pelo endere o Avenida Ant nio Carlos 6 627 Unidade Administrativa Il 2 andar sala 2005 Campus Pampulha Belo Horizonte MG CEP 31270 901 2 Esta se o descreve os direitos dessa institui o como participante desta pesquisa A Qualquer pergunta acerca da pesquisa e de seus procedimentos poder ser feita aos pesquisadores respons veis em qualquer est gio da pesquisa e tais quest es ser o respondidas B A participa o confidencial Apenas os pesquisadores respons veis ter o acesso sua identidade No caso de haver publica es ou apresenta es 193 relacionadas pesquisa nenhuma informa o que permita a identifica o ser revelada C A participa o
68. tempo esses sentimentos foram se dissipando dando lugar a um sentimento de conquista Com rela o manuten o dessas redes de relacionamento parece ter pesado entre outros fatores o forte capital escolar desses jovens Com efeito os antigos la os de amizade foram se dissipando devido falta de tempo dos jovens que agora t m de se dedicar com mais afinco aos estudos bem como a exposi o a novas informa es acabou por modificar os interesses dos alunos bolsistas participantes do Programa Por outro lado apesar de estabelecerem uma rela o de amizade com os novos colegas os jovens se veem impedidos de participar nesses grupos com intensidade Os motivos principais s o a dist ncia entre as moradias dos bolsistas e 181 a regi o onde os colegas moram e consequentemente onde passam o tempo livre juntos e a falta de recursos financeiros para patrocinar essa conviv ncia Com base nesses fatores acima mencionados constatou se que os jovens passam a se sentir parte dos dois meios e ao mesmo tempo em alguns casos de nenhum deles A aquisi o de disposi es que permitem que esses jovens deslizem por esse novo espa o social pode em princ pio gerar uma sensa o de pertencimento mas em longo prazo ela pode desaparecer dando lugar a um sentimento de distanciamento do mundo de origem e de aproxima o de um novo mundo que parece se afastar a cada passo dado pelos jovens rumo sua conquista Sobre a profici nci
69. um estudo sobre a constru o do papel das organiza es sem fins lucrativos e do seu campo de gest o 1999 Disserta o Mestrado em Administra o Faculdade de Economia Administra o e Contabilidade Universidade de S o Paulo S o Paulo 1999 Online Dispon vel em www rits org br estudos teste ce home intro cfm Acesso em nov 2010 FERRAREZI Elisabete Roseli A reforma do marco legal do terceiro setor no Brasil A cria o da Lei das OSCIP Lei 9 790 99 2007 308 p Tese Doutorado em Sociologia Departamento de Sociologia Universidade Nacional de Bras lia Bras lia 2007 Online Dispon vel em www repositorio bce unb br Acesso em Nov 2010 Folder do Instituto Bom Aluno do Brasil s d Belo Horizonte 187 FRAN A J nia Lessa VASCONCELLOS Ana Cristina de Manual para Normaliza o de Publica es T cnico Cient ficas Colabora o de Maria Helena de Andrade Magalh es e Stella Maris Borges 8 Ed Belo Horizonte Ed UFMG 2009 FUNDA O JO O PINHEIRO FJP de Belo Horizonte Belo Horizonte 2011 FUNDAPE Funda o Danilo Pena Dispon vel em http www gene com br fundape Acesso em nov 2010 GENTILI P amp SILVA T T da orgs Escola S A Quem ganha e quem perde no mercado educacional do neoliberalismo Bras lia CNTE 1996 p 20 21 GUERRA et al orgs Classe m dia desenvolvimento e crise Atlas da nova estratifica o social no Brasil In NOGUEIRA M A Class
70. verdade um ano depois me mudei Trecho da entrevista com Vanda E ainda Ainda mais que com algumas referindo se s amigas que eu moro perto eu as conhe o desde que eu nasci ent o eu tenho mais liberdade No Programa Bom Aluno e no meu bairro porque no meu bairro como eu conhe o h muito tempo tenho meus amigos Trecho da entrevista com C lia Santos 1994 92 assinala que nem a vizinhan a nem outro contexto social pode isolado constituir se como o nico fator condicionante no processo de forma o da amizade Assim sendo embora os jovens frequentem outros espa os socializadores como o da nova escola pesa o fato de essa fatia espec fica da popula o reunir caracter sticas como a de n o possuir um meio de transporte e morarem em regi es distantes que acabam promovendo uma conviv ncia social mais frequente com pessoas que moram pr ximas s suas casas Saio com uma amiga assim mas nem tanto que mora l perto de casa e uns tr s que tamb m moram l no bairro que eu falei para voc que eles tamb m eram da mesma escola A que eu comecei a ter mais contato com eles at que gerou esse v nculo de amizade Trecho da entrevista com S nia O fator objetivo local de moradia parece pesar na constitui o das redes de sociabilidade nas camadas populares e em particular dos jovens investigados Com a car ncia econ mica em que vivem despender as economias com passagem de nibus
71. verifica o de aprendizagem incluindo um verdadeiro julgamento cultural e at mesmo moral dos alunos Cobra se que os alunos tenham um estilo elegante de falar de escrever e at mesmo de se comportar que sejam intelectualmente curiosos interessados e disciplinados que saibam cumprir adequadamente as regras da boa educa o NOGUEIRA e NOGUEIRA 2002 21 C sar exemplifica o que aprendeu durante as aulas ministradas no Programa ao longo dos ltimos seis anos sentar com postura ereta n o jogar lixo fora da lixeira ter consci ncia ecol gica e at mesmo levantar o dedo na hora de fazer uma pergunta ou seja regras de uma boa educa o 174 Acaba sendo um pouco que natural mas dentro da sala de aula os professores do Bom Aluno pedem para ter uma postura mais correta na sala voc est com a coluna mais ereta n o s porque bonito mas porque fundamental para o seu crescimento para voc n o ter uma disfun o na sua coluna ou coisa do tipo Voc come a a aprender essas coisas voc come a a se portar melhor Quando voc vai perguntar eles te mostram que necess rio voc levantar o dedo esperar o outro falar o outro fala e depois voc fala isso vai acontecendo naturalmente durante as aulas os professores v o falando essas dicas essas coisas e isso acaba te influenciando no dia a dia Uma coisa importante que acontece tamb m que o Bom o Aluno d muito incentivo preserva o da naturez
72. vivia a vida social dessa regi o da cidade Ele ia para shoppings jogava futebol e ia a festas com os colegas A partir do momento em que ele foi morar com a av na regi o Oeste princ pio de 2010 ele se voltou mais para as atividades que acontecem naquela regi o A igreja o teatro e o grupo de dan a da igreja o churrasco ap s os cultos com os amigos da par quia a namorada da igreja enfim sua vida social parece girar em torno de seus locais de moradia A entrada de C sar no Programa n o causou nenhuma mudan a na vida cultural dessa fam lia A m e afirma n o gostar de ir a museus e sim ao teatro 2 Trocador de nibus 31 Programa de Educa o Profissional do Governo de Minas Gerais que distribui bolsas de estudo para a Educa o Profissional de N vel T cnico Dispon vel em www educacao mg gov br 2 Times da 1 divis o do futebol mineiro 84 prefer ncia provavelmente originada pelo fato de ela trabalhar em uma escola Ela afirma gostar tamb m de show ao ar livre quando o tipo de m sica popular brasileira dos anos 1970 ou serestas Ela diz que o atual marido n o gosta de nada disso A leitura que ela faz sobre a frequ ncia a eventos dessa natureza Eu acho bom porque voc aprende volta para casa mais alegrinha com a cabe a mais levinha TABELA 1 Caracter sticas Socioecon micas Economia Renda familiar per capita em R de agosto de 2000 Belo Horizonte 1991 2000
73. 167 distantes Nada relativo escolariza o e nova rede de sociabilidade dos jovens acontece perto de suas casas Essa mudan a afeta praticamente todos os membros da fam lia uma vez que eles se revezam na tarefa de acompanhar os filhos e os irm os quando julgam necess rio at o ponto do nibus de levar at casa do colega de buscar na casa do colega de levar at festa ou de buscar nas festas de madrugada Esse movimento n o acontece sem gerar custos econ micos de energia e de disp ndio de tempo Se n o a passagem de nibus para ir visitar um colega a gasolina para levar a uma festa ou a um encontro no shopping ou mesmo para levar o jovem escola pela manh depois de uma longa noite de estudos Fora esse custo adicional as fam lias se veem compelidas a elaborar uma log stica de modo a minimizar o tempo de espera que o jovem sofre seja na escola seja nos locais de lazer A m e de Vanda relata como a casa se movimenta em torno dos deslocamentos da filha isso em tudo l em casa desde quando at nas coisas que algu m pode ajud la todo mundo se movimenta para isso Para levar para buscar final de semana se ela tem aula todo mundo ajuda no que pode Porque ela precisa at para desenvolver algum trabalho todo mundo Existe porque n o tem como principalmente porque todos os amigos dela da escola moram para o lado do Centro Belvedere Graja aquela regi o da escola Ela teve uma
74. 284 7724 9104 8724 tamb m poder acionar o Comit de Etica da UFMG Av Ant nio Carlos 6 625 Unidade Administrativa Il 2 andar Sala 2005 fone 3409 4592 e mail coep prpq ufmg br Assinatura do participante Local Data Orientadora da pesquisa Prof Maria Jos Braga Viana Pesquisadora correspons vel Ana Beatriz Ratton Ferreira 199 AP NDICE V TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO S FAMILIAS Prezado a Senhor a As pesquisadoras da Faculdade de Educa o da Universidade Federal de Minas Gerais Prof Maria Jos Braga Viana e Ana Beatriz Ratton Ferreira mestranda t m o prazer de convid lo a a participar da pesquisa Impactos da inser o em escolas da rede privada de alto prest gio acad mico sobre jovens populares e suas fam lias O Programa Bom Aluno de Belo Horizonte O objetivo dessa pesquisa identificar e analisar os impactos da entrada nesse novo ambiente escolar sobre alunos seus filhos que s o participantes do Programa Bom Aluno de Belo Horizonte e sobre suas fam lias Essas influ ncias ser o observadas na rede de sociabilidade do aluno amizades em seu n vel de desempenho notas e em sua experi ncia escolar mais geral em suas pr ticas culturais ida a museus exposi es etc bem como no modo de educar de suas fam lias Esses alunos seus filhos por terem se destacado como bons alunos da escola p blica foram selecionados para participar do Progr
75. A 3 M dia de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade 2000 UDHs do munic pio de Contagem Com indica o da localiza o dos bairros onde moram as fam lias dos jovens bolsistas FIGURA 4 M dia de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade 2000 UDHs do munic pio de Ibirit Com indica o da localiza o dos bairros onde moram as fam lias dos jovens bolsistas GR FICO 1 Distribui o por idade dos 101 alunos do Programa Bom Aluno em 31 12 2010 GR FICO 2 Distribui o por sexo dos 101 alunos do Programa Bom Aluno em 31 12 2010 GR FICO 3 Distribui o por etapa escolar dos 101 alunos do Programa Bom Aluno em 31 12 2010 GR FICO 4 Distribui o de 50 alunos do Programa Bom Aluno em escolas p blicas e col gios particulares em 30 12 2010 GR FICO 5 Cursos universit rios escolhidos por 51 alunos do Programa Bom Aluno em 30 12 2010 GR FICO 6 Inser o dos 51 alunos universit rios do Programa Bom Aluno no Ensino Superior em 30 12 2010 50 51 52 53 72 72 73 73 74 74 LISTA DE TABELAS TABELA 1 Caracter sticas socioecon micas Renda familiar per capita em R de agosto de 2000 Belo Horizonte MG Destaque para as regi es administrativas Centro Sul e Noroeste TABELA 2 Caracter sticas socioecon micas Renda familiar per capita em R de agosto de 2000 Belo Horizonte MG Destaque para as regi es adminis
76. Ana Beatriz Ratton Ferreira Gontijo IMPACTOS DA INSER O EM ESCOLAS DA REDE PRIVADA DE ALTO PREST GIO ACAD MICO SOBRE JOVENS POPULARES E SUAS FAM LIAS o Programa Bom Aluno de Belo Horizonte Belo Horizonte Minas Gerais Faculdade de Educa o da UFMG 2011 Ana Beatriz Ratton Ferreira Gontijo IMPACTOS DA INSER O EM ESCOLAS DA REDE PRIVADA DE ALTO PREST GIO ACAD MICO SOBRE JOVENS POPULARES E SUAS FAM LIAS o Programa Bom Aluno de Belo Horizonte Disserta o apresentada ao Programa de P s Gradua o da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obten o do t tulo de mestre em Educa o Linha de Pesquisa EDUCA O ESCOLAR institui es sujeitos e curr culos Orientadora Prof Dr Maria Jos Braga Viana Belo Horizonte Minas Gerais Faculdade de Educa o da UFMG 2011 Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educa o Programa de P s Gradua o Disserta o intitulada IMPACTOS DA INSER O EM ESCOLAS DA REDE PRIVADA DE ALTO PREST GIO ACAD MICO SOBRE JOVENS POPULARES E SUAS FAM LIAS o Programa Bom Aluno de Belo Horizonte de autoria da mestranda ANA BEATRIZ RATTON FERREIRA GONTIJO analisada pela banca examinadora constitu das pelos seguintes professores Prof Dr Maria Jos Braga Viana Prof Dr Cl udio Marques Martins Nogueira Prof Dr T nia de Freitas Resende Belo Horizonte 25 de agosto de 2011 Aos bons al
77. Belo Horizonte e ocupa uma rea de 13 mil metros quadrados Fazem parte desse complexo um gin sio duas quadras poliesportivas laborat rios de f sica de qu mica dois laborat rios de inform tica e dois de biologia A equipe docente formada por 138 professores e coordenadores e por 139 profissionais colaboradores O col gio implementou h mais de 10 anos o Projeto Gratuidade Educacional que inicialmente tinha como finalidade atender jovens e adultos carentes que trabalhavam nas proximidades da regi o Centro Sul Hoje o projeto atende 329 jovens oriundos tamb m das regi es Leste e Oeste fornecendo material did tico uniformes oficinas de cunho de cidadania e refor o escolar As bolsas s o oferecidas para ingresso no 1 ano do Ensino Fundamental at o 1 ano do Ensino M dio O n mero de bolsas por ano varia de acordo com o n mero de vagas dispon veis O col gio tem planos de aumentar o n mero de atendidos Para participar do Gratuidade Educacional o jovem interessado deve se inscrever no projeto e participar do processo de sele o que o col gio aplica para todos os candidatos carentes ou n o Posteriormente os profissionais do col gio fazem a visita domiciliar para atestar a car ncia do jovem aprovado para ent o dar continuidade ao processo de sele o 77 Segundo levantamento feito do local de moradia dos jovens matriculados no 9 ano do Ensino Fundamental e no 2 ano do Ensino M dio 60 dessas f
78. CANDIDO 1969 116 O conte do desse tipo de socia o n o somente o social bem prov vel que a significa o objetiva de ser um bom aluno desempenhe sim um papel de peso na constitui o de grupos de sociabilidade Os pr prios jovens falam com um certo orgulho da maneira como s o tratados pelos colegas e por seus familiares Exemplo disso o depoimento abaixo Eu fui acolhida muito bem tratada os pais dela me admiram muito porque a gente tem mais ou menos as mesmas notas s que as minhas s o um pouquinho melhores que as dela a eles ficam falando voc estuda de manh e de tarde voc tira muita nota boa viu Siga o exemplo dela E e tamb m j fui casa de uma muito ruim a a m e dela chegou e perguntou Quem tomou recupera o a Todo mundo levantou a m o eu n o e ela nossa est vendo siga a exemplo Trecho da entrevista com Eliana poss vel que para as fam lias das classes m dias intelectuais fatores como a classe de origem das amizades dos filhos n o sejam levados em considera o quando o que est em jogo a conquista de uma boa escolariza o da prole O objetivo dessas fam lias bem claro e tudo que possa contribuir para 129 seu alcance v lido O caso de C sar que foi convidado a morar com a fam lia de um colega que precisava de incentivo para estudar ilustra bem essa hip tese Uma vez que a gerente do Programa estava me per
79. D 2001 J no final da d cada de 1970 e no in cio da de 1980 esses grupos de trabalho expandem suas a es para al m dos muros da igreja cat lica Com bastante experi ncia acumulada e com a ades o de novos atores esses grupos saem s ruas e se reconfiguram como associa es de bairro movimento negro movimentos de mulheres movimentos de luta por moradia terra e trabalho e movimentos sindicais n o oficiais OLIVEIRA e HADDAD 2001 Ainda segundo esses autores as experi ncias educacionais promovidas pelas ONGs n o se ativeram apenas s quest es educativas Elas chegaram at o plano cultural e simb lico desse segmento desfavorecido da popula o quando ent o come aram a trabalhar as rela es de g nero ra a e etnia A luta pela instala o de uma rede de ensino p blico de qualidade para a popula o de baixa renda foi tamb m outra bandeira levantada por esses grupos Outras classes da sociedade j usufrufam desse benef cio que foi de certa forma relegado aos movimentos sociais quando o p blico era o das camadas populares Com a democratiza o da escolariza o no Pa s Oliveira e Haddad 2001 lembram que naquele momento o pr prio Estado precisou dessa m o de obra especializada e que ela se encontrava dispon vel justamente entre os membros da sociedade civil j que eles atuavam nos movimentos sociais como os de alfabetiza o de adultos de escolas comunit rias e de creches seja na figura de
80. Ela comentava comigo falava o meu irm o fica me perguntando coisas bobinhas A ele come ou e falou m e eu quero fazer um cursinho para passar no CEFET MG eu quero estudar no CEFET MG Porque quando ela passou para o Dom Assis ele come ou a ficar em cima de mim querendo ir para uma escola particular ele queria tamb m estudar A come ou porque eu n o quero ficar naquela escola mais porque aquela escola n o d eu quero outra escola e meu marido falou vou ver Porque o sal rio que ele ganha n o certo e filho sempre a gente tem que comprar uma coisinha aqui outra ali Trecho da entrevista com a m e de C lia Um exemplo curioso foi o do pai de Eliana vigilante de uma empresa que ingressou em uma faculdade de baixo prest gio acad mico e relatou como a filha se sentia orgulhosa em contar para as colegas que seu pai era estudante de engenharia Como o destino dos indiv duos pertencentes s classes populares o curso superior particular o pai de Eliana n o escapou dele E como tamb m comum o abandono do curso superior pago por jovens populares por falta de recurso o pai de Eliana tamb m n o fugiu regra Eu passei na faculdade estava fazendo engenharia n o consegui pagar e tive que sair Ano passado 2009 primeiro semestre Isso por incentivo de um primo meu fiz passei em engenharia fiquei quatro meses n o consegui pagar Ela ajudou referindo se filha N s convers vamos muit
81. a 4 livros por m s 3 livros por m s 2 livros por m s 1 livro por m s menos de 1 livro por m s nenhum livro por m s
82. a es m ltiplas denominadas por Berger e Luck 2004 de prim ria e secund ria Durante esses per odos al m da influ ncia da fam lia as crian as incorporam uma pluralidade de disposi es advindas das in meras intera es com indiv duos ou grupos sociais fortemente distintos entre si LAHIRE 2001 E esse indiv duo que traz consigo um esquema de socializa o heterog neo que transita de um campo social para outro ora acionando com destreza seus esquemas de a o de h bitos mais familiares ora incorporando novos esquemas de a o com estranheza que ser o ator desta pesquisa Assim sendo Lahire 2004 28 continua Como uma disposi o o produto incorporado de uma socializa o expl cita ou impl cita passada ela s se constroi atrav s da dura o isto mediante a repeti o de experi ncias relativamente semelhantes A incorpora o de h bitos ou de disposi es discursivas mentais perceptivas sens rio motoras apreciativas n o se realiza de uma s vez 35 E vai mais al m ao afirmar a transferibilidade de um esquema ou de uma disposi o bastante relativa e a transfer ncia ocorre melhor quando o contexto de mobiliza o est mais pr ximo em seu conte do e estrutura do contexto inicial de aquisi o LAHIRE 2004 29 Desse modo o autor vai dando vida ao seu conceito de disposi o afirmando que ela se constitui de uma repeti o sistem tica e p
83. a o acontece em longo prazo e para uma jovem de apenas 12 anos idade que tinha quando entrou para o Programa n o era poss vel vislumbrar um futuro que justificasse tal sofrimento A m e instru da pela coordena o do Programa procurava incentiv la da maneira que podia e j se preparava para lidar com aquilo que estava por vir A jovem com pouca compreens o sobre aquele momento se fechou para o mundo do Dom Assis A partir do momento em que as notas foram melhorando e que a rotina j tinha sido internalizada C lia come ou a se abrir e as coisas come aram a fluir Atualmente C lia se encontra inserida em uma nova rede de amizades e tenho como hip tese que isto tenha acontecido devido ao distanciamento cultural do seu mundo de origem que come a a ficar evidente Ela conta que naquele ano 2010 come ou a frequentar um shopping localizado na regi o Centro Sul com as novas colegas Por causa disso a m e tem que se deslocar at essa regi o deixar C lia e depois busc la O combinado que C lia deve ligar para a m e com meia 116 hora de anteced ncia sua partida do shopping para que ela tenha tempo de chegar at aquele local e encontrar C lia ainda na companhia de suas amigas O esfor o e o planejamento por parte dessas fam lias se fazem necess rios para que esses jovens que moram t o distantes da regi o Centro Sul possam conviver socialmente com seus novos colegas A jovem afirma nunca ter convida
84. a Como as fam lias desses jovens convivem com seus filhos Tradu o sob minha responsabilidade Gradation no original 1 Conceito utilizado por Bourdieu Habitus se refere a um conjunto de disposi es incorporadas pelo indiv duo principalmente na inf ncia 46 que recebem um tipo de educa o fora de casa e outra dentro de casa Estar o essas fam lias prontas para se adaptar a essa nova realidade 2 7 Estudos sobre as fronteiras sociais O mundo social balizado marcado dividido N o se trata de um espa o homog neo em que indiv duos e cidad os circulariam livremente Pelo contr rio limites e postes e s vezes tamb m malas e caixas de papel o marcam as trajet rias delimitam os deslocamentos e organizam os encontros Essas linhas mais ou menos vis veis mais ou menos evidentes constituem aquilo que chamamos de fronteiras sociais MERKLEN amp SAINT MARTIN 2010 9 O uso de estudos que t m como tema as fronteiras sociais que demarcam nossos deslocamentos pertinente nesta pesquisa pelo fato de os jovens bolsistas cruzarem diariamente tais fronteiras Esses alunos passam a frequentar durante grande parte do dia espa os socializadores com c digos de comportamento vestu rio gosto musical destinos tur sticos poder aquisitivo escolariza o dos pais e forma de se expressar distintos dos de sua origem Esses espa os s o delimitados por essas fronteiras que apesar de n o serem demarcadas por um
85. a por exemplo praticamente todos os alunos do Bom Aluno n o jogam lixo no ch o eles jogam numa cesta de lixo Voc come a a preservar mais limpo o local onde voc mora onde voc est dentro de uma sala de aula por exemplo Eles recomendam que voc tenha mais organiza o que voc n o deixe suas coisas jogadas que voc mostre que diferente Porque muitos alunos de classe m dia n o se importam com essas coisas deixam jogadas sujas e muitas vezes diferente quando um bolsista do Bom Aluno chega e mant m mais organizado Por exemplo a minha experi ncia foi essa porque eu sempre deixava dobradas as minhas roupas guardadas separadas em sacolas quando n o estavam limpas e isso fazia diferen a Muitas aulas eles falam sobre higiene sobre cuidados que voc tem que ter coisas assim Essa parte de educa o eu para mim tive grande crescimento porque eu sempre tive uma base em casa minha m e sempre me educou muito bem mas com essa educa o do Bom Aluno eu pude compreender coisas a mais pude me envolver mais facilmente em qualquer lugar que eu estivesse Trecho da entrevista com C sar Uma das professoras entrevistadas nota um comportamento diferenciado por parte dos bolsistas e faz o seguinte coment rio Eles valorizam mesmo A quest o da valoriza o pura valoriza o Eles valorizam aquilo que a escola oferece s o alunos que a gente n o tem problema de disciplina s o alunos que correm
86. a atividades de acesso a teatros cinemas exposi es de arte ou de hist ria museus bem como visitas a feiras do livro As excurs es promovidas pelas escolas parceiras para outros estados ou para as cidades hist ricas tamb m fazem parte do plano cultural do PBA Temas transversais s o trabalhados nas aulas complementares ministradas pela equipe do Programa sendo os principais 9 ano Drogas 1 ano Ensino M dio Gravidez Zero 2 ano Ensino M dio Orienta o Profissional 3 ano Ensino M dio Administrando o Potencial e Decis o do Curso Universit rio Tamb m no ltimo ano o Programa proporciona visitas s principais mostras organizadas pelas universidades de Belo Horizonte 67 A equipe do PBA formada por profissionais remunerados pelo Instituto Severino Ballesteros e distribu da da seguinte forma uma diretora geral que possui um cargo n o remunerado uma gerente uma psic loga e uma psic loga pedagoga uma professora de matem tica f sica uma professora de portugu s produ o de texto e duas professoras de ingl s O professor de qu mica e a professora de t cnicas de relaxamento s o aut nomos ou seja s o contratados quando h demanda H tamb m o servi o de uma psic loga volunt ria BOM ALUNO s d O Bom Aluno conta com um programa de interc mbio em parceria com o Rotary Clube de Belo Horizonte e j enviou tr s jovens ao exterior Em 2006 um jovem foi selecionado para viver por um
87. a de estudos tudo isso via informa o de seus filhos A capacidade dessa m e de processar as informa es trazidas pelos filhos e utiliz las em benef cio pr prio remete capacidade que as fam lias das classes m dias t m no momento de avaliar os melhores estabelecimentos p blicos de ensino Van Zantem 2007 relata em seu estudo que as fam lias das classes m dias utilizam os mesmos instrumentos de coleta de dados e de t cnicas de an lises utilizados pelos pesquisadores Entretanto os crit rios de an lise desses dados atendem a seus interesses pessoais 92 TABELA 2 Caracter sticas Socioecon micas Economia Renda familiar per capita em R de agosto de 2000 Belo Horizonte 1991 2000 Regi o Administrativa 1991 2000 Barreiro 188 60 254 06 Centro Sul 1 119 02 1 584 28 Leste 379 48 491 20 Nordeste 315 41 429 02 Noroeste 352 30 472 43 Norte 204 18 274 90 Oeste 436 11 634 71 Pampulha 514 65 680 15 Venda Nova 188 82 268 86 Belo Horizonte 414 94 557 44 RMBH 309 03 394 34 Fonte Atlas do Desenvolvimento Humano na RM Belo Horizonte Organiza o Ger Indicadores SMAPL SMPL PBH Metodologia Raz o entre o somat rio da renda per capita de todos indiv duos e o n mero total desses indiv duos A renda per capita de cada indiv duo definida como a raz o entre a soma da renda de todos os membros da fam lia e o n mero de membros da mesma 4 3 Eliana Eu consegui aprender muito r pido a
88. a escolar dos jovens esta pesquisa constatou que a mudan a de estabelecimento causa ao longo do primeiro ano uma queda no rendimento acad mico Os jovens que eram excelentes alunos nas escolas particulares assim que entram para a escola particular n o conseguem manter a mesma qualidade quanto ao desempenho acad mico o que acaba gerando frustra o e sofrimento Depois o jovem tende a aprender a lidar com as exig ncias da nova escola e retoma o bom desempenho Por fim acontece a acomoda o Dos sete jovens pesquisados quatro se encontram com notas altas um se encontra com notas aceit veis e dois com notas baixas Alguns fatores contribuem para o bom desempenho escolar do bolsista como a import ncia que a fam lia atribui escolariza o O bom desempenho da maioria dos jovens conta com o apoio da fam lia que parece ter interiorizado pr ticas escolares similares s pr ticas adotadas pelas classes m dias Dentre os sete casos estudados apenas uma jovem se deparou com condi es familiares pouco favor veis aos estudos Essa bolsista luta para superar tais condi es que nem sempre s o pass veis de ser super veis A entrada de um filho para a escola segundo Perrenoud 1987 altera a rotina das fam lias por pelo menos doze anos A necessidade de organizar a vida dos filhos em torno da hora de se levantar de estudar de almo ar de fazer as tarefas de casa de assistir televis o de sair com os amigos de ir dormir de
89. a estipulada pelo ISMART O Bolsa Talento acontece em S o Paulo na capital em Sorocaba e em Cotia e na cidade do Rio de Janeiro No Projeto Alicerce os alunos selecionados participam de um curso preparat rio de dois anos no contraturno da escola de origem que acontece em 1 Todas as informa es foram retiradas do site www ismart org br e atualizadas pela pedagoga respons vel pelo escrit rio do ISMART na cidade de S o Paulo 1 Renda de no m ximo R 1 020 00 per capita 62 uma das escolas particulares parceiras e que ministrado pelos pr prios professores dessa escola Esses professores s o remunerados pelo ISMART O objetivo preparar os alunos para o ingresso no Ensino M dio em uma das escolas particulares participantes do projeto O Instituto oferece bolsas de estudos que incluem mensalidade material escolar alimenta o e transporte Para conseguir entrar no Bolsa Talento o jovem que concluiu o curso preparat rio via Projeto Alicerce faz a prova de sele o em um dos col gios parceiros e no caso de xito ingressa no primeiro ano do Ensino M dio com bolsa de estudo integral que inclui mensalidade material escolar alimenta o e transporte H tamb m a possibilidade de ingressar no Bolsa Talento sem ter feito o preparat rio de dois anos Nesse caso segundo a pedagoga do Instituto o jovem precisa ter um perfil bem diferenciado al m de um alto potencial acad mico Ao longo dos dois anos de curso prepara
90. a filha para o Programa o filho mais velho que tamb m era um bom aluno mas que n o gostava de estudar como C lia teve uma rea o muito interessante Assim que a irm entrou para o Dom Assis ele n o quis mais ficar na escola p blica A m e relata que depois de o filho escutar as novidades trazidas pela irm sobre seu novo col gio o jovem n o quis ficar para tr s Ele tamb m queria ir para uma escola particular e como a fam lia n o tinha maneiras de arcar com as despesas de uma escola particular o jovem se virou e conseguiu se matricular em um cursinho preparat rio para o COLTEC CEFET Por m na sua primeira tentativa ele n o passou em nenhum dos exames de sele o Diante disso ele conseguiu se matricular em uma escola estadual de alto prest gio acad mico no turno da noite e depois de muito insistir convenceu a m e a pagar mais um ano de cursinho preparat rio A m e conta que ele passava o dia no cursinho e noite ia para a escola Ao final do segundo ano o jovem conseguiu passar nas duas provas e hoje cursa T cnico em Mec nica no CEFET e pretende fazer vestibular para Engenharia Mec nica Esse epis dio ilustra uma das transforma es sofridas pela fam lia de C lia desde sua entrada no Programa Como j relatado anteriormente por outros jovens entrevistados C lia era chamada de nerd por seus colegas em sua antiga escola Ela nunca se sentiu ofendida e acha que n o sofria preconceito por par
91. a levaram em casa A jovem diz n o precisar de se preocupar em comprar presentes porque sabe que o pessoal vai entender e conclui que o que pesa mesmo a falta de transporte Com rela o comunica o di ria com as colegas conta que essas a contatam muito mais do que ela as contata e que faz uso constante do MSN Os pais de Eliana pediram para ela n o utilizar por muito tempo o telefone fixo para falar com suas colegas logo ela tem de esperar suas amigas ligarem para ela no seu celular Para fazer os trabalhos de grupo ela se desloca at a casa de uma amiga quando poss vel ou as amigas v o at a sua casa Conta que muitas vezes tem que realizar sozinha a sua parte do trabalho em grupo por n o poder se deslocar at a casa do colega onde est sendo realizado o trabalho em grupo Eliana gosta de estudar com um grupo reduzido de colegas por achar que rende mais e para isso utiliza a biblioteca da escola Quando perguntado a ela como se sentia transitando em dois mundos socialmente t o diferentes ela respondeu prontamente que sabia que a partir do momento em que pusesse os p s no Alc ntara ela estaria em um mundo completamente diferente do seu e que j dominava perfeitamente levou mais ou menos dois meses para aprender as regras desse novo mundo Ela acha estranho as pessoas falarem que n o existe diferen a entre os mundos sociais mas afirma que no seu bairro ningu m fala sobre interc mbio em Londres sobre a
92. a se manter na m dia Devido s grandes exig ncias da escola e do Programa M rio diz n o ter que fazer nenhuma tarefa dom stica a n o ser arrumar sua cama A m e confirma isso e acrescenta que caso ela n o esteja em casa o filho lava alguma lou a ou passa um pano no ch o mas n o sua obriga o Ela prefere que ele se dedique ao m ximo aos estudos Quando perguntado a ela se existe um cantinho para o filho estudar a m e diz que sim que ele estuda no quarto e s vezes no sof da sala Ela afirmou que a casa muito tranquila e ningu m faz barulho e que n o tem m sica alta J M rio reclama que a m e e a irm o incomodam bastante entrando em seu quarto com frequ ncia para perguntar alguma coisa Ele lamenta o fato de ter que ficar bravo com elas e diz que elas n o compreendem que ele precisa se concentrar M e e filha acabam achando que ele se sente superior por fazer parte do Programa e acham que ele n o quer conversar com elas Apesar de a m e de M rio possuir pr ticas educativas que possibilitaram ao jovem construir disposi es que 111 contribu ram para ele se tornar um bom aluno h um conflito quanto ao significado do que venha a ser propiciar um ambiente tranquilo para estudar M rio acha natural transitar em dois mundos socialmente distintos pois saiu muito cedo da escola p blica Ele tinha apenas 11 anos e diz que cresceu muito com essa mudan a de escola Ele afirma perceber as diferen as de
93. a vida Fazendo oposi o a esses dois debates temos os seguidores da escola bourdiesiana que veem nas estrat gias nada menos que disposi es de classe adquiridas nos meios sociais de pertencimento Elas n o s o decis es pensadas ou 7 Nome fict cio da ltima escola p blica que essa jovem frequentou 3 Os nomes dos col gios particulares onde os pesquisados estudam s o fict cios 36 pesadas nem t o pouco impessoais ou seja n o s o decorrentes de uma determina o estrutural As estrat gias s o o resultado bvio da incorpora o de capitais que foram interiorizados ao longo de uma exist ncia Para esta pesquisa utilizar se esse conceito Ao trazer para esta pesquisa no es sobre as pr ticas escolares familiares associadas s classes m dias traz se tamb m a vis o sobre a natureza das pr ticas pelas quais a educa o dos jovens bolsistas ser regida Se a proposta do Programa Bom Aluno a de patrocinar uma escolaridade de alto n vel a seus participantes faz se necess rio por parte do Programa lan ar m o de estrat gias de educa o utilizadas pelas fam lias de classes m dias que s o detentoras dos melhores desempenhos educacionais do Pa s Para compreender quais s o elas e como s o utilizadas cito o estudo de Nogueira 1995 que focaliza os resultados de pesquisas sobre a rela o de fam lias das camadas m dias com a escola naquele per odo e o estudo de Nogueira 2010 213 que aborda a
94. acha que a filha fica muito cansada e n o tem tempo nem mesmo de arrumar seu pr prio quarto S nia diz que somente quando tem tempo ela ajuda a m e na limpeza da casa mas que isso n o obrigat rio A reflex o que S nia faz de sua inser o no Programa bastante madura Ela conta que est adquirindo mais conhecimento mais responsabilidade mais chance de entrar em uma universidade e que sente que est amadurecendo muito r pido Ela pondera que sem essa oportunidade ela iria talvez fazer um cursinho para poder exercer alguma profiss o mais inferior Apesar de a jovem afirmar que a m e n o se interessa por seus estudos percebi que essa m e acompanha sua maneira a vida escolar da filha Ela sabe que as provas come am s 18h e que acontecem s sextas feiras que a filha tem quarenta minutos para fazer cada prova e que o Dom Assis ficou em segundo lugar no ranking do ENEM na cidade de Belo Horizonte em 2008 Al m disso ela sabe que toda segunda feira a filha tem o 6 hor rio e acrescentou que na quinta feira 126 daquela semana S nia ficaria at mais tarde na escola fazendo prova e que as aulas normalmente terminam s 18h40 Quanto s pr ticas culturais desse casal n o consegui identificar qualquer mudan a impacto desde a entrada da jovem no Programa A m e confessou nunca ter ido a museus ou ao teatro mas conta que a filha j foi ao teatro do Parque Municipal e tamb m j foi ver pe as
95. acima ro de de 2010 Assinatura do Diretor Assinatura do a Coordenador a Pedag gico a Pesquisadora Eu garanto que este procedimento de consentimento foi seguido e que eu respondi a quaisquer quest es que o participante colocou da melhor maneira poss vel de de 2010 Orientadora da Pesquisa Pesquisadora correspons vel Prof Dr Maria Jos Braga Viana Ana Beatriz Ratton Ferreira FAE UFMG AP NDICE Il SOLICITA O DE AUTORIZA O PARA REALIZA O DE PESQUISA NO PROGRAMA BOM ALUNO A pesquisadora Ana Beatriz Ratton Ferreira aluna do curso de Mestrado em Educa o Conhecimento e Inclus o Social da Faculdade de Educa o FAE da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG e a sua orientadora Professora Dr Maria Jos Braga Viana FAE UFMG solicitam a autoriza o da dire o do Programa Bom Aluno para a participa o de seus professores neste estudo intitulado Impactos da inser o em escolas da rede privada de alto prest gio acad mico sobre jovens populares e suas fam lias o Programa Bom Aluno de Belo Horizonte Pesquisadora respons vel Prof Dra Maria Jos Braga Viana mj bragaterra com br fone 31 3661 1954 Pesquisadora correspons vel Ana Beatriz Ratton Ferreira beratton Quai com br fones 31 3284 7724 9104 8724 1 Esta se o fornece informa es acerca do estudo no qual os jovens participantes do Programa Bom Aluno estar o envolvidos Professores as do programa
96. ade de status entre os envolvidos Assim sendo Simmel 2006 considera a sociabilidade como algo artificial por entender que quando o indiv duo deixa de revelar o seu aspecto pessoal por inteiro h uma deforma o de sua imagem plena Nas palavras do autor Se a socia o sobretudo intera o ent o o caso mais puro de socia o aquele que ocorre entre iguais Pela sua natureza ela precisa criar seres humanos que se desapegam de seus conte dos objetivos e que assim modificam seu significado interno e externo para se tornarem sociavelmente iguais E o jogo do faz de conta faz de conta que todos s o iguais e ao mesmo tempo faz de conta que cada um igualmente honrado SIMMEL 2006 71 Tanto Santos 1994 como Simmel 2006 apontam para a igualdade simetria entre os indiv duos como uma das caracter sticas mais relevantes da socia o e de sua perman ncia prolongada No caso do presente trabalho destaco a import ncia dessa caracter stica da sociabilidade pelo fato de os jovens pesquisados serem oriundos dos meios populares ou seja de meios sociais distintos do de seus colegas e de consequentemente serem portadores de um status diferenciado A conversa pura jogada fora somente como est mulo para sustentar esse encontro a forma de sociabilidade mais difundida Se porventura o assunto torna se pol mico n o se trata mais de algo soci vel ou seja se a conversa deixar de ter um
97. ado requer cidad os globalizados O estudo de Nogueira et al 2008 aborda a dimens o que esse apelo tem atualmente nos meios sociais mais favorecidos no que diz respeito ao valor que o elemento internacional agrega na educa o dos filhos As autoras sugerem que al m de ser um ingrediente fundamental de investimento no patrim nio cultural a internacionaliza o distingue um grupo de outro e refor a suas fronteiras quanto ao volume de capital econ mico e cultural Vale lembrar que o Programa Bom Aluno disponibiliza uma vaga de interc mbio a cada dois anos para seus participantes via Rotary Clube Por fim percebe se o surgimento de uma nova problem tica a participa o invasiva dos pais no que diz respeito aos projetos e planos dos filhos Isso parece enfraquecer a meritocracia e fortalecer a parentocracia educacional quando os pais realizam seus desejos atrav s dos projetos que tra am para seus filhos BROWN 1999 Em outras palavras Os resultados escolares de um aluno estariam se tornando cada vez mais dependentes dos recursos financeiros e da capacidade estrat gica de seus pais e cada vez menos de seu valor escolar que num regime mais assentado na meritocracia recebia forte influ ncia dos recursos culturais dos pais NOGUEIRA 2010 223 40 2 5 O que a escola faz s fam lias O t tulo acima importado do trabalho de Perrenoud 1987 traduz um dos eixos de an lise desta pesquisa que o de descr
98. ai acha que o diferencial da filha justamente o fato de ela estar se preparando em tempo integral para ter uma vida melhor que a dele e ressalta que enquanto a pessoa est dormindo ou brincando ela a filha est na outra escola Programa Bom Aluno aprendendo Por fim Eliana confessa que n o imagina sua vida sem a presen a do Programa Bom Aluno e j tentou imaginar como seria se n o tivesse passado na sele o do Programa Chegou conclus o de que n o saberia nem metade do que sabe agora se ainda estudasse em uma escola p blica A imagem negativa de uma escola p blica parece habitar o imagin rio desses jovens bolsistas Foi comum escutar em suas falas alguma coisa a esse respeito Como os demais colegas Eliana queixou se da falta de tempo para sair com os parentes rever os antigos amigos ou para fazer qualquer outro tipo de atividade Ela a jovem que chega mais r pido escola gastando de nibus somente trinta minutos para ir um nibus e cinquenta minutos para voltar Ela vai e volta sozinha A fam lia afirmou n o ter o h bito de frequentar museus mesmo depois da entrada da filha no Programa A m e conta que j visitou dois museus e alega que por falta de tempo e de dinheiro acaba n o pensando nisso O pai cita uma visita ao Museu Ab lio Barreto e lembra que a filha j visitou museus at em Ouro Preto A m e diz que antes de se casar ia ao cinema nos fins de semana e que depois do casamento tudo
99. ais limitada acho que o ambiente escolar n o proporciona para ele uma vis o que ele pode ir al m de formar apenas para passar de ano Muitas vezes a escola p blica n o te d a no o de que voc tem que aprender aquilo Eu s sei que a vis o bem limitada Trecho da entrevista com M rio No depoimento de C sar abaixo nota se claramente como as v rias exposi es que ele vem sofrendo alteraram seus esquemas de a o Ao sofrer uma nova socializa o os esquemas de a o de C sar parecem estar tentando se acomodar de maneira a n o entrar em conflito A aparente negocia o entre os novos e os antigos esquemas h bitos indica que o jovem est tentando um ajuste entre eles de forma a evitar o sofrimento Provavelmente eu teria arrumado algum trabalho de aprendiz alguma coisa um curso tipo ASPRON ou CESAN cursos profissionalizantes e provavelmente eu n o estaria dando tanta import ncia como dou hoje ao estudo Eu n o saberia a import ncia de uma leitura o quanto bom aprender de verdade mesmo para voc recolher aquilo para a sua sabedoria provavelmente eu n o daria tanta import ncia assim Aquele C sar tinha um sonho de talvez um dia ser cientista ser f sico alguma coisa assim mas tamb m tinha o sonho de ser jogador de futebol que eu amava ainda amo mas n o como antes Eu tinha um super sonho de ser jogador um atleta isso ficou para tr s mas o sonho ainda de ser algo relacionado a exatas ain
100. al em que essa fatia da popula o vivia A igreja cat lica serviu de espa o em que grupos chamados de Comunidades Eclesiais de Base se reuniam e guiavam seus estudos b blicos sob a luz da Teologia da Liberta o Os temas das pautas variavam desde sa de alfabetiza o moradia at produ o e organiza o atendendo demanda do momento O pensamento pedag gico de Paulo Freire desenvolvido anteriormente 59 ao per odo da ditadura foi naquele momento a grande inspira o para que atrav s dos movimentos de cultura popular ideias de cunho pol tico pudessem ser disseminadas entre a popula o carente Essa fra o da popula o come ava a se enxergar como um grupo com caracter sticas e demandas singulares Sobre o trabalho desenvolvido por esses grupos Oliveira e Haddad 2001 76 fazem o seguinte coment rio Como se pode imaginar o trabalho desenvolvido n o tinha visibilidade p blica Era uma a o militante realizada em um n vel microssocial que se desenvolvia em sigilo e sob o sil ncio da censura e da repress o impostas pelo regime militar O ent o regime autorit rio n o dava abertura para cr ticas O que se via nas escolas era a dissemina o de uma teoria educacional que reproduzia a ideologia dominante que tinha o objetivo dentre outros de preservar a ordem entre as classes existentes N o havia espa o para qualquer discuss o que pudesse vir a desconfigurar aquela ordem social OLIVEIRA e HADDA
101. ala de C sar ilustra essa dificuldade Convidei uma vez era um pouco mais distante ficava um pouco mais dif cil da gente se encontrar mas j foi sim uma vez ele foi minha casa um outro amigo meu o super gente fina tamb m que foi o segundo que eu tive contato no col gio ele chegou a ir uma vez minha casa e teve um outro que foi tamb m foi bem recente eu comecei a conversar com ele no ano passado super gente fina tamb m Ele sabia j a gente j tinha conversado sobre v rias coisas ele j sabia que eu morava mais distante num bairro mais humilde e ele falou que n o tinha problema nenhum a gente acabou indo l e estava um pouco de noite ficou um pouquinho dif cil para eles voltarem acabaram se perdendo um pouquinho mas foi bem tranquilo O que fica mais acess vel para todo mundo referindo se ao local de encontro aqui na regi o Centro Sul o P tio Savassi Trecho da entrevista com C sar A amizade importante pelo sentimento de identidade que ela proporciona SANTOS 1994 93 e no caso deste estudo parece que esses jovens ficam sempre margem de se sentirem totalmente pertencentes ao novo grupo de relacionamento Tudo indica que isso se deve constante aus ncia deles nos encontros que acontecem nos finais de semana O simples fato de ser convidado para uma festa requer um planejamento detalhado por parte dos jovens e seus familiares bem como por parte do colega da escola
102. am lias dos bolsistas aqui pesquisados j se encontram impactadas de alguma forma pela presen a da escola a mudan a de estabelecimento de ensino sofrida por seus filhos poder modificar ou n o essa rotina ou em outras palavras essa mudan a poder alterar ou n o a maneira como essas fam lias j vivem a escolariza o de sua prole Nas palavras de Perrenoud Mesmo o que ela a escola faz a cada uma delas as fam lias em particular uma realidade mut vel e ambivalente a rela o com a escola pode flutuar ao sabor dos acontecimentos familiares ou escolares e evoluir durante o desenvolvimento das crian as ao longo da trajet ria escolar Pode soar contradit rio alguns pais vivem a escola ao mesmo tempo como uma necessidade frustrante e estressante sob certos aspectos e como estruturante liberadora e positiva sob outros aspectos Essa ambival ncia aumenta se a fam lia tem filhos que vivem experi ncias escolares contrastantes Podemos a partir de agora descrever o que a escola faz s fam lias de outra forma que n o sob as cores de uma infinita diversidade e de singularidades indescrit veis PERRENOUD 1987 983 Sendo imposs vel para a Sociologia da Educa o dar conta de tudo o que a escola faz s fam lias devido aos fatores acima mencionados ela consegue ainda assim explicar uma grande parte dessas mudan as impactos quando se leva em conta 1 a posi o da fam lia na hierarquia social condi o de cul
103. am lias vivem na regi o Centro Sul de Belo Horizonte onde o ndice de Desenvolvimento Humanos IDH 0 914 O IDH do bairro onde a institui o est localizada 0 949 Os IDHs das regi es onde vivem os quatro jovens que estudam nessa institui o s o respectivamente 0 829 e 0 780 3 3 2 Alc ntara um novo col gio destinado s classes intelectuais O col gio onde tr s dos jovens pesquisados estudam foi fundado em 2003 por tr s irm os de origem popular e egressos do ITA Segundo um deles que o diretor de ensino o col gio tem como objetivo o fornecimento de servi os a uma classe espec fica da sociedade que formada por membros das classes m dias intelectualizadas O diretor conta que o col gio atrai um p blico homog neo o que facilita bastante manter o alto n vel acad mico Ainda segundo ele para quatro vagas ofertadas somente uma preenchida o que demonstra que o col gio poderia ter mais alunos se o objetivo ficasse somente em preencher o n mero de vagas ociosas Metade das vagas ocupada por jovens provenientes do interior de Minas Gerais e por alguns jovens de outros estados Nos anos iniciais a clientela formada na sua maioria por jovens da capital j nos anos finais essa propor o chega a ser de 60 de jovens provenientes do interior do estado O col gio possui turmas a partir do 6 ano do Ensino Fundamental at o 3 ano do Ensino M dio totalizando 900 alunos O grupo que dirige o col
104. ama Bom Aluno PBA patrocinado pela ONG Instituto Severino Ballesteros A coleta de informa es ser feita por meio de entrevistas com os jovens participantes do programa com suas fam lias com professores do Programa Bom Aluno e com os professores das escolas particulares Essas entrevistas que ser o feitas de prefer ncia na casa dos jovens ser o gravadas em udio e o material coletado ficar sob guarda dos pesquisadores em local seguro na Faculdade de Educa o da UFMG Os locais e hor rios das entrevistas ser o combinados com os senhores respeitando sua disponibilidade e prefer ncia Ao entrevistado n o caber nenhum custo com a pesquisa Gostar amos de esclarecer que o uso do material coletado ser destinado exclusivamente realiza o dessa pesquisa e que sua identidade ficar assegurada por meio de uso de um nome fict cio Vale ainda ressaltar que estamos dispon veis para qualquer esclarecimento no decorrer da pesquisa e que voc tem a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da mesma Caso concorde em participar da pesquisa favor preencher seu nome e assinar abaixo Nome pai m e ou respons vel Assinatura Comit de tica em pesquisa Av Ant nio Carlos 6 627 Unidade Administrativa Il 2 andar Campus Pampulha Belo Horizonte MG CEP 31270 901 Telefones 3409 4592 Orientadora Prof Maria Jos Braga Viana Telefone 3661 1954 Mestranda Ana Beatriz Ratton Ferr
105. anismos internacionais para se manterem tinham em contrapartida que desenvolver projetos apresentar cronogramas prestar contas de gastos e para que tudo isso pudesse ocorrer de forma mais eficiente v rias dessas organiza es criaram uma estrutura formal semelhante estrutura de uma empresa privada Dessa maneira foram se estabelecendo no Pa s as organiza es sem fins lucrativos tamb m denominadas de organiza es do terceiro setor que vieram a se institucionalizar na d cada de 1990 quando saem da esfera puramente de assist ncia social e ganham novos campos como o da educa o e do meio ambiente O Estado que ent o se encontrava em um contexto incipiente de democracia p s ditatorial GENTILI 1996 logo se v obrigado a fazer mudan as no seu papel de provedor de garantias m nimas de vida digna como afirmam Draibe e Henrique 1998 que definem o Estado de Bem estar Social como sendo aquele Estado que garante tipos m nimos de renda alimenta o sa de habita o e educa o a todos os cidad os n o como caridade mas como direito pol tico A Constitui o Federal de 1988 reorienta o papel do Estado a esse respeito que deixa de ser o respons vel direto pelo desenvolvimento econ mico e social pela via de produ o de bens e servi os para fortalecer se na fun o de promotor e regularizador desse desenvolvimento Brasil 1995 Consequentemente a figura do terceiro setor aparece como parceira do Estad
106. ar meu tempo grande parte do meu tempo para estudar trecho da entrevista com M rio M rio se apresentou para a entrevista no corredor das instala es do Programa Na realidade eu j tinha passado por ele e n o o associei ao meu entrevistado Ele n o parece um jovem da sua idade que normalmente alegre e descontra do Ele se mostrou diferente dos outros jovens que eu j havia entrevistado M rio possui um semblante mais fechado Ele aparenta ter mais idade do que tem talvez por sua trajet ria de vida A fala desse jovem bolsista mansa e quase inaud vel Ele fala pausado e muito articulado Ele utiliza um vocabul rio muito requintado at mesmo para os jovens da sua idade pertencentes s classes m dias Suas coloca es s o totalmente coerentes com sua trajet ria e ele se mostra bastante sens vel a isso M rio tem 16 anos e est cursando o 2 ano do Ensino Fundamental no Col gio Dom Assis No question rio ele se autodenominou branco Ele vive com a m e e uma irm mais velha em uma casa que pertence av paterna O pai de M rio separado da m e e vive na casa de sua m e que est situada no mesmo lote que a casa de M rio A fam lia vive na regi o Oeste de Belo Horizonte O bairro onde mora a fam lia fica bastante afastado da regi o Centro Sul onde est localizado o Col gio Dom Assis M rio toma dois nibus e leva 45 minutos para chegar escola e para voltar toma um nibus e leva uma hora
107. arada na hip tese de que as diferentes maneiras que o indiv duo possui de sentir de ver e de agir de alguma forma s o resultados de experi ncias socializadoras passadas que resultaram em caracter sticas disposicionais propens es inclina es h bitos tend ncias persistentes maneiras de ser LAHIRE 2004 27 33 No caso deste estudo tudo indica que as disposi es dos jovens participantes se constitu ram em um ambiente sociocultural de classes populares ou seja com todas as limita es socioculturais pertinentes a essa classe social quando comparadas a uma classe social mais favorecida Assim sendo ser interessante observar o comportamento dessas disposi es uma vez que seus propriet rios os jovens pesquisados passam a frequentar um espa o socializador diferente daquele no qual as primeiras disposi es foram incorporadas Ir o elas as disposi es conseguir se ajustar ao novo contexto Uma disposi o pode se reconstruir em um contexto diferente do contexto inicial de aquisi o Poder o elas ser colocadas em estado de vig lia suspensas Poder o elas se enfraquecer se inibir Confrontadas com disposi es mais fortes poder o essas ser consequentemente incorporadas Algumas disposi es podem desaparecer perante um trabalho sistem tico de contrassocializa o Poder o novas disposi es mesmo que contradit rias viver lado a lado em harmonia Lahire 2004 descreve as m ltiplas disposi
108. aram passagens sobre cada um deles como o fato de quem teve a maior queda na profici ncia escolar durante os primeiros meses quem se recuperou mais r pido as fragilidades e os pontos fortes de cada um Fato curioso que uma professora dos dois professores entrevistados do Alc ntara sabia que os tr s eram bolsistas o outro n o Eliana uma adolescente muito madura ela tem as coisas na mente muito claras para ela e ela deixa isso transparecer A gente percebe que ela conhece essas duas realidades e d conta de diferenciar uma da outra mas ela consegue se adequar at mesmo para se sair melhor aproveitar melhor o meio em que ele est de acordo com o momento e a situa o Eu percebo que isso vai muito pela maturidade que ela tem e n o que ela queira se sobressair em rela o a um ou a outro Mas na hora em que ela est dentro de sala no Alc ntara a gente percebe que ela uma aluna do Alc ntara assim como outro qualquer Mas n s professores que sabemos da realidade de onde ela vem porque ela vem para estar aqui como ela est a gente percebe que a realidade dela no dia a dia n o essa coisa que eu n o vejo com o Ant nio Trecho da entrevista com uma professora do Alc ntara A contribui o que essa professora d abaixo revela outra faceta da presen a desses jovens nesse novo espa o socializador que vem a ser o fato de em vez da jovem bolsista revelar pouco ou nada de sua realidade ela traz para
109. arda dos pesquisadores em local seguro na Faculdade de Educa o da UFMG Voc n o ter nenhum gasto com a sua participa o na pesquisa e tamb m n o receber pagamento pelo mesmo Voc tem o direito de n o querer participar ou de sair do estudo a qualquer momento A sua identidade ser mantida em sigilo Os resultados do estudo ser o sempre apresentados como o retrato de um grupo e n o como o de uma pessoa Dessa forma voc n o ser identificado quando o material coletado for utilizado seja para prop sitos de publica o cient fica ou educativa sendo sua privacidade assegurada atrav s da utiliza o de outros nomes ou termos Caso surjam quaisquer problemas al m de poder entrar com contato com a orientadora respons vel da pesquisa Prof Maria Jos Braga Viana 3661 1954 9181 7585 e com a correspons vel Ana Beatriz Ratton Ferreira 31 3284 7724 9104 8724 tamb m poder ser acionado o Comit de Etica da UFMG Av Ant nio Carlos 6 625 Unidade Administrativa Il 2 andar Sala 2005 fone 3409 4592 e mail coep prpq ufmg br Assinatura do participante Local Data Assinatura da orientadora da pesquisa Prof Maria Jos Braga Viana Assinatura da pesquisadora correspons vel Ana Beatriz Ratton Ferreira 197 AP NDICE IV TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO AOS RESPONSAVEIS Prezado a Senhor a Seu sua filho a est sendo convidado a a participar da pesquisa Impactos da inse
110. arentemente n o sabia que seu filho deveria ter sido liberado do trabalho dom stico Acaba relatando que o liberou dessas tarefas ap s a visita da psic loga pedagoga do Programa Antes no in cio n o quando estava s no Bom Aluno e no in cio do Dom Assis n o falei o que voc sujar voc lava At o dia em que a psic loga pedagoga do Programa foi fazer entrevista l em casa e ele estava arrumando cozinha Era timo para ajudar a fazer faxina junt vamos n s dois Entrevista com a m e de C sar E ainda 159 Ligam para c para saber quando vai ao m dico e se ele n o vai aula eles ligam para saber o porqu est o sempre ligando Trecho da entrevista com a m e de M rio A m e de Ant nio faz uma avalia o positiva desse acompanhamento Ela fica sabendo de coisas que o filho n o conta O Programa parece contar com o apoio das fam lias tanto que se precisam de algo acabam por contar com a ajuda das fam lias e vice versa Eu avalio que muito importante para principalmente porque ele passa mais tempo fora do que em casa O acompanhamento do Bom Aluno importante por isso eles me d o acesso a algumas informa es deles O Ant nio est assim eles ligam para mim est conversando demais na sala de aula Esse ano parece que ele est melhorzinho mas ano passado ela me ligou est conversando demais tem que conversar com ele olha a letra dele e i
111. as Indicadores de resultados de projetos sociais 1999 On line Dispon vel www rits org gestao ge jul99 cfm Acesso em nov 2010 VAN ZANTEN Agnes Reflexividad y elecci n de la escuela por los padres de las clases medias en Francia Revista de Antropologia Social n 16 p 245 278 2007 VIANA Maria Jos Longevidade Escolar em Fam lias Populares algumas condi es de possibilidade Goi nia Universidade Cat lica de Goi s 2007 As pr ticas socializadoras familiares como locus de constitui o de disposi es facilitadoras de longevidade escolar em meios populares Educ Soc Campinas v 26 n 90 2005 Dispon vel em http Avww scielo br Acesso em nov 2010 VILLAS Sara Formas de sociabilidade entre alunos de uma escola de ensino m dio t cnico 2009 228 p Disserta o Mestrado em Educa o Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2009 WEIS Lois Social class and schooling In Apple Michael W BALL Stephen J GANDIN Luis Armando Orgs The Routledge International Handbook of the Sociology of Education 1 ed Oxon England Routledge 2010 ZAGO Nadir Processos de escolariza o nos meios populares as contradi es da obrigatoriedade escolar In NOGUEIRA Maria Alice ROMANELLI Geraldo ZAGO Nadir orgs Fam lia e escola Trajet rias de escolariza o em camadas m dias e populares 2 Ed Petr polis Vozes 2000 p 17 48 Os jovens em busca de um ensino q
112. as das fam lias como o tempo que as crian as passam em frente a televis o quais s o as influ ncias da escolariza o dos pais no cotidiano dos filhos ou mesmo o tempo utilizado pelas fam lias nas visitas aos parentes Kingston 2000 apud LAREAU 20083 afirma em seus estudos que o comportamento dos pais pertencentes s diferentes classes sociais n o produz ao menos de forma evidente diferen a na rela o com a rotina di ria dos filhos Entretanto a autora conseguiu mapear em seu estudo realizado por meio de m todos etnogr ficos diferen as na rotina di ria de fam lias de classes m dias e populares Contradizendo Kingston Lareau demonstra que os estilos parentais de fam lias de diferentes grupos sociais resultam em diferentes comportamentos por parte dos filhos comportamentos esses que em longo prazo podem trazer benef cios para uns e desvantagens para outros A autora nomeia dois tipos de l gica usada pelas fam lias estudadas pais de classe m dia usam a l gica do cultivo orquestrado enquanto pais de classes trabalhadoras e pobres usam a l gica do crescimento natural Com rela o primeira l gica observou se a preocupa o com o uso da linguagem o exerc cio 43 di rio do racioc nio e o di logo como instrumento de disciplina Tamb m se observou o envolvimento dos filhos em muitas atividades extraescolares mesmo quando ambos os pais trabalhavam fora de casa sacrificando muitas vezes o tempo
113. as fam lias O Cap tulo 5 tem por foco a descri o e a an lise mais profunda dos dados coletados Nele busca se descrever o que foi inicialmente o objeto deste estudo as mudan as e os impactos gerados desde a inser o de jovens provenientes das camadas desfavorecidas em ambientes de alto n vel acad mico O tratamento dos dados foi organizado em cinco eixos de an lise a rede de sociabilidade a profici ncia escolar dos jovens o cotidiano das fam lias as pr ticas culturais das fam lias e o papel do Programa Bom Aluno na redu o das diferen as sociais e culturais de classe Finalmente s o feitas as considera es finais sobre este trabalho Tentou se nesse t pico sintetizar dentro do poss vel os resultados dessa in dita experi ncia escolar Tamb m foram expostos os limites que o tempo imp s e as restri es de uma pequena amostra como essa de sete casos S o sugeridas novas incurs es nesse rico campo emp rico que agora faz parte da realidade da educa o brasileira 24 2 CONTRIBUI ES DE DIFERENTES ESTUDOS PARA A CONSTRU O DO OBJETO Neste cap tulo busquei dialogar com estudos que contribu ram para a compreens o do objeto desta pesquisa que procurou vest gios de impactos mudan as na rede de sociabilidade e na profici ncia escolar dos jovens participantes do Programa Bom Aluno PBA bem como no cotidiano e nas pr ticas culturais dessas fam lias A pesquisa tamb m buscou identificar de que mane
114. as porque elas querem sempre ficar juntas O pai ou um dos irm os a busca nas festas e a m e conta que o irm o mais velho fez quest o de comprar um vestido novo para que Vanda fosse sua primeira festa de 15 anos As amigas de Vanda frequentam cinemas em shoppings da regi o Centro Sul da cidade e Vanda sempre que pode as acompanha A leitura que Vanda faz da oportunidade de fazer novas amizades em uma escola particular a seguinte imposs vel viver sem amigos e eu gosto de gente eu n o sei viver sozinha E eu sou muito aberta eu gosto de amar e de ser amada ent o amizade para mim muito importante E eu fiz amizades fiz colegas tamb m Eu acho que amizade uma coisa que a gente constr i pouco a pouco mas eu sou comunicativa eu gosto de conversar ent o para mim n o dif cil me apresentar para as pessoas As experi ncias que eu tive foram maravilhosas eu tive muita sorte de chegar eu estudei em dois col gios no primeiramente e depois no Alc ntara e nos dois eu tive experi ncia tima de contato construtivo de alegria sempre Problema de turma de picuinha teve normal isso a gente sempre tem do santo n o 103 bater mas n o tive grandes problemas de amizades trecho da entrevista com Vanda realizada no dia 13 de maio de 2010 Quando perguntado a ela se ser uma boa aluna no Alc ntara era importante para agregar amigas e atrair a simpatia dos professores ela respondeu assim Eu acho que l
115. as respostas s o claras e objetivas Ela relata que a mudan a de escola n o afetou a amizade com as antigas colegas a nica coisa foi que o tempo de conviv ncia diminuiu No seu ltimo ano de escola p blica C lia foi homenageada por seus professores que ficaram felizes por sua conquista A m e conta que a filha nunca tinha perdido uma m dia e que no primeiro bimestre na escola particular ela perdeu tr s m dias A rotina da filha mudara totalmente Ela estudava estudava e n o conseguia m dia recorda a m e Acordava s cinco horas da manh passava o dia fora voltava para casa noite e n o tinha mais tempo para brincar com as amigas na rua C lia n o tinha motivos para estar feliz C lia s come ou a construir uma nova rede de relacionamentos a partir do segundo ano letivo no Dom Assis O fato de a jovem ter sempre se relacionado com as amigas da antiga escola e que essa conviv ncia n o acontecia somente na escola mas tamb m nos finais de semana depois da escola na casa dela das amigas e das primas pode ser uma explica o para a pouca abertura que C lia teve na constru o de uma nova rede social As fam lias das amigas de C lia s o todas conhecidas de sua fam lia Os parentes de C lia tamb m moram no mesmo bairro que ela Quando perguntado a ela por que foi t o dif cil fazer novas amizades ela prontamente respondeu que simplesmente n o queria ter sa do de sua escola O retorno do investimento na educ
116. asa escola Essa mudan a de endere o somente durante os dias da semana fez com que C sar se livrasse dessa dura rotina 153 Dez e meia da noite a que ele ia estudar fazer dever at meu marido ficava assim voc n o acha que est tarde para ele dormir Eu falei mas ele tem que fazer os deveres ele sabe ele tem consci ncia Porque ele falava j madrugada ele via pela greta da porta que a luz ainda estava acesa Minha m e s vezes fica preocupada porque tr s horas da manh est o C sar acordado estudando ele fica at as quatro mas ele s tomou banho e foi para a escola Ele tem que fazer isso enquanto novo porque depois n o vai conseguir Trecho da entrevista com a m e de C sar J S nia afirma que parte de suas dificuldades est ligada ao fato de n o ter tempo suficiente para estudar A coordena o do Programa tem ajudado como pode ministrando aulas particulares das mat rias em que a bolsista est com mais dificuldade S nia tem queixado de dores de cabe a que a impedem de estudar Os depoimentos abaixo ilustram bem isso Algumas coisas tamb m que me prejudicam que antes eu n o tinha isso e ficar lendo frequentemente eu n o tenho muito tempo o tempo que eu tenho que ler livro essas coisas no nibus isso prejudica eu tenho dor de cabe a todo dia acabo me prejudicando N o s no nibus mas tem dia que eu durmo muito tarde e acordo cedo para vir para o Bom Aluno ent o eu
117. asos estudados uma queda no rendimento escolar alt ssima a exig ncia acad mica das duas escolas particulares classificadas entre as dez primeiras escolas no ENEM 2008 no Brasil focalizadas neste estudo de se esperar que o jovem sinta se frustrado no primeiro semestre do seu ingresso ou at mesmo durante o primeiro ano Apesar de o Programa preparar os bolsistas durante um ano antes de seu ingresso na escola particular o verdadeiro baque s acontece quando os jovens come am de fato a frequentar a nova escola A prepara o oferecida pelo Programa abrange desde as mat rias cl ssicas como portugu s matem tica ingl s e reda o at a parte de higiene pessoal postura aquisi o de novos h bitos de estudo e desenvolvimento pessoal em que s o abordados temas como a diferen a de classe social entre os bolsistas e os novos colegas C sar descreve como foi sua chegada ao Dom Assis Inicialmente eu tive certo baque porque foi o primeiro contato eu tive um pouco de dificuldade mas foi s no 1 trimestre A partir do 2 trimestre eu consegui me destacar mais Em geral as turmas s o um pouco grandes no Dom Assis no per odo em que eu entrei tinha 35 alunos e eu ficava entre os 10 primeiros com as melhores notas Fazia sim certa diferen a o Bom Aluno tamb m no caso Trecho da entrevista com C sar A jovem Eliana explica abaixo que a prepara o dada pelo Programa foi muito importante para sua entra
118. bito Ela se diz muito disciplinada quanto execu o de suas obriga es 119 A hora de dormir est associada ao t rmino do dever de casa A m e controla a hora de a filha se levantar pela manh bem como se ela j estudou para as provas O hor rio do resto das atividades controlado pela pr pria jovem Os hor rios da casa giram em torno dos hor rios da filha At os passeios nos finais de semana s o programados de acordo com a agenda escolar da jovem As orienta es recebidas por C lia durante o ano de prepara o ofertado pelo Programa foram importantes para que a jovem n o se sentisse t o despreparada ao entrar para a nova escola Ela conta que sem esse apoio n o seria poss vel vencer tantas barreiras Ela exemplifica essa afirma o dizendo saber de antem o que mesmo pertencendo a outra classe social as colegas iriam gostar dela da mesma forma e que n o seria por isso que ela n o iria fazer amizades ou que ela pr pria deveria se excluir do conv vio com as colegas Sobre as notas ela afirma que j sabia que elas iriam baixar no primeiro semestre e que depois naturalmente tudo iria melhorar mas pelo que pude perceber no princ pio da entrevista a jovem C lia sofreu muito quando suas notas ca ram Orgulho foi o adjetivo mais citado pelos jovens para definir o que eles sentem por eles mesmos C lia n o foi exce o Ela se diz orgulhosa por sua conquista e grata ao Programa s vezes quando se
119. brigada As letras s o pequeninas mas grande a intensidade com que expresso minha gratid o e admira o a estas pessoas Maria Jos suas preciosas contribui es feitas de uma maneira t o democr tica me acompanhar o pelo resto da vida Maria Alice obrigada pelas orienta es t o precisas T nia por ter me dado o empurr o inicial pois sem ele nada disso teria acontecido Maria Cristina Gouv a por ter me mostrado o caminho das pedras Ao Cl udio por aceitar o convite de participar da minha banca Andr a Zica pelas v rias contribui es Fl via colega colaboradora e acredito agora uma amiga D bora obrigada pela aten o e pelo carinho Agrade o tamb m pelas substitui es Stephania querida colega grande pesquisadora Ao Neiton obrigada pelos momentos de descontra o minha querida m e por ter tido toda a paci ncia do mundo durante os meus momentos de impaci ncia Ao meu pai por ser um exemplo de disposi o s minhas irm s e ao meu irm o por serem pessoas que nunca desistem Monique my best friend always pela compreens o da import ncia desse tempo de dedica o a esta pesquisa Ao Marcus amigo de discuss es profundas e s vezes rasas mas descontra das s amigas Renata e Tereza por proporcionarem o tempo que eu precisei para concretizar esse sonho s professoras do Programa Bom Aluno Carla F tima e Margareth suas observa
120. bservado um desconforto nas crian as dessas classes nos momentos de intera o com as institui es dominantes Finalmente n o parece estar em quest o a prefer ncia de uma l gica em detrimento da outra mas sim um balan o entre duas l gicas socializadoras que simultaneamente transmitem vantagens e desvantagens para os filhos A autora conclui que indiv duos vivem suas vidas de acordo com uma estrutura social e explica que o termo estrutura social usado nesse contexto diz respeito a uma regularidade de padr es de intera o muitas vezes nas formas de 45 organiza o social LAREAU 2003 14 Nos v rios estudos sobre sucesso escolar a posi o dos pais na hierarquia social um forte indicador desse sucesso mas Kingston em seu livro The Classless Society afirma n o perceber uma evid ncia clara da liga o entre comportamento e classe social Muitos pesquisadores reconhecem a exist ncia de diferen as no n vel educacional dos pais nas posi es que eles ocupam no trabalho nos diferentes sal rios que recebem e na forma de educar os filhos mas essas diferen as s o vistas como uma forma de grada o e combinadas com outras vari veis resultam em desigualdades maiores ou menores Para eles n o h exist ncia de padr es de comportamento que associados a diferentes classes sociais produzem um resultado esperado A autora se apoia na teoria de Bourdieu ao afirmar que indiv duos provenien
121. ca nos fundos de outra casa Vanda conta que a casa tem infiltra es e que seus pais sofrem por n o ter um cantinho com a cara deles Atualmente ela tem seu pr prio quarto mas at dois anos atr s dividia o quarto com seus irm os O cantinho de estudos fica no pr prio quarto e Vanda diz que normalmente a casa tem um ambiente favor vel para estudar mas reclama dos vizinhos que colocam m sica alta e que a atrapalham por n o terem educa o Aos domingos a fam lia se re ne para se divertir e Vanda diz que pelo fato de j estar estressada com tantos deveres chega a ser at meio grossa na forma de pedir sil ncio A casa possui um computador que usado pelos tr s filhos A m e relata que Vanda sempre gostou de estudar Na antiga escola frequentava sempre a sala dos professores e se relacionava mais com eles do que com seus colegas Por causa disso as colegas zombavam dela e diziam que ela n o passava de uma nerd e uma puxa saco A m e lembra que ela sempre exigiu muito da escola e questionava os professores e o comportamento da escola Ela 38 Programa Universidade Para Todos que tem como finalidade a concess o de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de gradua o em institui es privadas de educa o superior 3 A regi o Riacho Novo Santa Cruz Industrial um agrupamento de bairros pertecentes grande regi o do Eldorado da cidade de Contagem 102 nunca gostou de faltar
122. cando os motivos que me levaram a fazer a pesquisa e fiz quest o de gastar mais tempo nessa introdu o j que percebi seu desconforto Assim que iniciei as perguntas notei que pouco conseguiria conhecer da hist ria de Ant nio As perguntas que eu tinha elaborado eram prontamente 1 pai 4 respondidas com sim n o num hum ou n o sei Muitas vezes eram apenas respostas monossil bicas repetindo basicamente a ltima palavra da minha pergunta e eu n o tinha um plano B A entrevista seguiu engessada com pouca compreens o das perguntas ou melhor com uma compreens o literal delas nada subjetiva A primeira entrevista tinha ido al m das minhas expectativas e eu n o estava preparada para entrevistar um aluno com esse perfil Mas ele existia e estava sentado minha frente Somente depois de ler a entrevista de Ant nio v rias vezes consegui fazer uma leitura bastante rica de suas respostas As v rias tentativas que fiz com o intuito de relax lo foram in teis e tenho certeza de que aquele momento para ele parecia n o ter fim Eu n o consegui imprimir um ambiente agrad vel e de confian a como acontecera na primeira entrevista e ap s aquele momento me senti bastante frustrada No entanto depois de ter visitado a casa de Antonio e ter entrevistado a m e do jovem imagino ter conseguido um relato coerente com seu momento de vida A casa da fam lia de Ant nio est localizada na regi o Oeste
123. ce ser facilitada por ela ter um capital escolar forte e em uma escola onde esse capital muito valorizado a jovem parece estar bem munida Mas nem sempre foi assim Os pais de Eliana lembram que no in cio do ano letivo 2009 ela voltava para casa muito triste porque achava que n o conseguia acompanhar o ritmo de estudo exigido pela escola mas mesmo assim eles sempre a incentivaram a continuar tentando Hoje eles n o se arrependem do que fizeram A oportunidade de estar estudando em uma escola de alto n vel acad mico faz com que Eliana se dedique ao m ximo aos estudos Ela diz que os colegas n o d o valor oportunidade que eles t m e acha que n o tem ningu m que d mais valor a essa oportunidade do que ela Ciente da diferen a que faz ter estudado em uma boa escola na hora de fazer vestibular ela j se imagina cursando medicina para se tornar cirurgi pl stica Ela confessa n o aguentar mais esperar a hora de cursar tal especialidade Quando o assunto a expectativa dos pais Eliana demonstra um pouco de preocupa o Diz ter um pouco de medo tamanha a confian a que eles depositam nela O pai que vigilante sonha em ter uma casa em Alphaville condom nio de luxo localizado a 30 km do centro de Belo Horizonte destinado 99 principalmente s classes m dia alta alta Mesmo assim faz planos para dar uma vida melhor aos pais e acha que qualquer coisa que puder dar j vai ajudar muito a vida deles O p
124. cebem muito bem C sar lembra que depois de um m s no novo col gio ele j conversava praticamente com todo mundo da sala Alguns amigos j foram casa do jovem que naquela ocasi o se localizava muito distante da regi o Centro Sul de Belo Horizonte Ele considera seus amigos super gente fina e parece ter uma rela o bastante afetuosa com eles O jovem que segundo sua m e cuida muito bem de sua higiene e da organiza o de seus objetos pessoais arranca elogios de membros das fam lias das classes m dias por onde passa A m e contou com muito orgulho que a dona da casa onde ele morou por um per odo se mostrava encantada com a organiza o de C sar e sempre dizia que ele era muito limpinho Durante a entrevista com a m e de C sar pude perceber que a rela o m e filhos conflituosa Naquele momento todos os irm os de C sar estavam morando com a av que acabara de perder um filho baleado na cabe a com seis tiros A nica filha a terceira na fratria trabalha em um consult rio m dico e no momento da entrevista estava no curso T cnico em Enfermagem Ela teve uma filha ainda muito jovem e hoje a nica que vive com a m e 83 A m e relatou per odos de muita incompreens o por parte de C sar durante um per odo de depress o pelo qual ela passou Ela diz que se afastou dos filhos e do atual marido e que realmente n o queria a companhia de ningu m Isso parece ter refletido em C sar qu
125. cial e sim que se inserem na esfera de car ter microssociol gico Nasce ent o a cnamada sociologia das rela es fam lia escola que em pequenas unidades de an lise recria toda a experi ncia educacional do indiv duo e aponta para os fatores que provavelmente contribu ram para a sua longevidade escolar NOGUEIRA et al 2006 A literatura brasileira j conta com importantes estudos sobre esse tema Contrariando estatisticamente o destino normalmente reservado aos jovens provenientes desses meios esses estudos mostram que alguns desses jovens trilham outro destino que sabidamente reservado aos filhos das camadas sociais mais favorecidas Entretanto observou se nesses estudos que a classe social deixa de dar o veredito final quanto trajet ria escolar desses jovens e aponta para exist ncia de um novo sujeito que dentre outros fatores tem autonomia relativa para decidir sobre seu futuro NOGUEIRA 2005 Os elementos comuns encontrados por autores brasileiros na constitui o dessas trajet rias improv veis teses e disserta es podem ser classificados segundo Souza 2009 dessa forma a fam lia como esfera fundamental a mobiliza o dos indiv duos em seus percursos escolares at picos e o papel de outras inst ncias sociais de refer ncia A fam lia aparece ocupando um lugar central nesse processo por atribuir um sentido positivo escolariza o Alguns autores apontam para diversas
126. cipal Estadual Federal Maior parte em Escola Privada Escolas Comunit rias Outros 12 Voc foi aprovado nos outros exames de sele o das escolas particulares Sim N o Em que escola s voc foi aprovado 13 Quais foram os motivos que o levaram a escolher a escola atual 14 Voc repetiu algum ano durante o ensino fundamental Sim N o Qual is ano s voc repetiu 205 15 Voc j frequentou ou frequenta algum curso de idiomas N o Sim de ingl s Sim de espanhol Sim de franc s Sim de outra l ngua estrangeira 16 Em que estabelecimento voc frequentou ou frequenta o curso de l ngua estrangeira 17 Qual foi o per odo anos em que voc realizou tal curso Ano de in cio Ano de t rmino 18 Qual a escolaridade do seu pai Nenhuma Ensino Fundamental incompleto Ensino Fundamental completo Ensino M dio incompleto Ensino M dio completo Ensino Superior incompleto Ensino Superior completo P s gradua o Mestrado Doutorado 19 Qual a profiss o do seu pai 20 Qual a escolaridade da sua m e Nenhuma Ensino Fundamental incompleto Ensino Fundamental completo Ensino M dio incompleto Ensino M dio completo Ensino Superior incompleto Ensino Superior completo P s gradua o Mestrado Doutorado 21 Qual a profiss o da s
127. colar uniforme e transporte por m n o foi encontrado no site pesquisado nenhuma refer ncia sobre aulas de prepara o ou de acompanhamento da maneira como acontece no ISMART e no Bom Aluno ISMART O Instituto Social Para Motivar Apoiar e Reconhecer Talentos ISMART foi criado em 1999 com o objetivo de estimular o desenvolvimento pleno de jovens com bom desempenho acad mico provenientes das camadas desfavorecidas O primeiro projeto implantado pelo Instituto foi na cidade do Rio de Janeiro em 2000 quando ajudou 23 jovens a ingressar em escolas t cnicas federais Em 2004 o Instituto expandiu suas atividades para a cidade de S o Paulo por meio de dois novos projetos o Alicerce e o Bolsa Talento que juntos atendiam 65 jovens Desde ent o as parcerias se estenderam para as cidades de Fortaleza CE S o Jos dos Campos SP Sorocaba SP e Cotia SP O Projeto Alicerce direcionado para os jovens com alto potencial de aprendizagem que estejam cursando o 7 ano de Ensino Fundamental em escolas p blicas ou particulares desde que provenientes de fam lias com a renda m xima estipulada pelo ISMART Esse projeto acontece em S o Paulo capital S o Jos dos Campos SP e Rio de Janeiro capital J o Projeto Bolsa Talento se destina aos jovens com alto potencial de aprendizagem que estejam cursando o 9 ano do Ensino Fundamental em escolas p blicas ou privadas desde que provenientes de fam lias com a mesma rend
128. com cursos de matem tica na UFMG em uma das Olimp adas da qual participaram OBMEP Apesar de o jovem ter provas e ou atividades na escola aos s bados pela manh ele quer fazer o curso de matem tica que ganhou na UFMG que tamb m acontece aos s bados durante o dia e fazendo um enorme esfor o consegue conciliar as duas atividades s voltando para casa no final da tarde A m e prepara um lanche para ele e seu irm o se alimentarem durante a jornada j que eles s recebem tickets da UFMG para o almo o Contra a vontade da m e que acha que o filho est fazendo muitas atividades Ant nio e seu irm o parecem possuir um querer que supera todos os obst culos de classe Nas palavras de Lahire 2004 285 Estes casos se mostram pela regularidade pela linearidade dos resultados como fatos excepcionais Todas as crian as parecem ter interiorizado precocemente por raz es de singular economia socioafetiva que a an lise sociol gica das rela es de interdepend ncia tenta reconstituir o sucesso escolar como uma necessidade interna pessoal um motor interior Sobre a presen a de mais bolsistas em seu col gio Ant nio diz n o saber da exist ncia de mais nenhum Fora Eliana que est em sua sala e do Programa Bom Aluno ele diz que somente uma professora sabe que ele bolsista O jovem se 33 Olimp ada Brasileira de Matem tica das Escolas P blicas 90 relaciona apenas com tr s referidos colega
129. com mais detalhes sobre o estudo de Lareau 2003 adiante Portugu s Porque em todas as provas exige muita interpreta o e eu vejo voc sabe a mat ria todinha igual hist ria voc sabe a mat ria todinha o professor s vezes coloca um enunciado l na prova na quest o e voc fica assim como assim O que ele est querendo dizer Voc sabe a mat ria mas responde errado porque voc interpretou a quest o errado ent o voc tem que ter um portugu s muito bom e eu tenho dificuldade em interpreta o n o sei como melhorar isso Eu leio mas com o tempo mesmo Isso est me prejudicando bastante Trecho da entrevista com S nia Dispensa de tarefas dom sticas Todos os sete jovens entrevistados afirmaram ser encarregados de arrumar suas camas e seus quartos Somente Ant nio al m de arrumar sua cama tem como tarefa di ria arrumar as camas de seus tr s irm os e a de seus pais A organiza o das gavetas tamb m de sua responsabilidade Os outros jovens ajudam quando podem Os pais expressaram claramente durante as entrevistas que a prioridade dos estudos Sendo assim as tarefas dom sticas s o delegadas a outros integrantes da fam lia Ela arruma a cama dela agora ela fica mesmo por conta de estudar Eu prefiro que fique eu falo vai estudar porque tem que estudar bem antes n o s na prova tem que ler e eu falo j estudou Fico mais deixando que ela estude Trecho da entrevista com
130. como isso pode acontecer em uma casa com pouco ou nenhum espa o silencioso A m e de Ant nio tem o Ensino M dio completo e j tentou vestibular tr s vezes h vinte anos Ela dona da lojinha de revistas e com isso ajuda nas despesas da fam lia O pai contador de uma entidade religiosa de Belo Horizonte que fica localizada na Pra a da Liberdade regi o Centro Sul da cidade A renda declarada no question rio fica entre 2 e 5 sal rios m nimos Ant nio o terceiro de quatro irm os O irm o mais velho que tem 19 anos est cursando o 5 per odo de Engenharia Qu mica na UFMG Ele foi aprovado em 7 lugar aos 17 anos e n o fez cursinho preparat rio Ele egresso do CEFET A irm tem 17 anos e passou na UFMG para Psicologia para o 2 semestre de 2010 Tamb m n o fez cursinho A mais jovem tem 8 anos e sonha entrar para o Programa Bom Aluno aos 11 anos ou seja quando estiver no 6 ano A m e de Antonio uma senhora bem disposta e muito din mica Na realidade ela mais me pareceu uma regente de orquestra do que uma t pica m e de fam lia das classes populares Ela parece reger a casa a lojinha e seus quatro filhos sem permitir que nenhum membro de sua orquestra desafine uma corda 87 Com rela o s tarefas dom sticas Ant nio est encarregado de arrumar todas as camas da casa e arrumar suas gavetas Ele tamb m tem que assumir o lugar da m e na lojinha na hora em que ela tem que fazer o almo o dele
131. crito no Conselho Municipal dos Direitos da Crian a e do Adolescente e tem o t tulo de Utilidade P blica Estadual Posteriormente adquiriu o Atestado de Funcionamento do Minist rio P blico e em 2009 pediu o cancelamento de inscri o da OSCIP filiando se ao Conselho Nacional de Assist ncia Social CNAS Atualmente o Instituto Severino Ballesteros que j possui o t tulo de Utilidade P blica Estadual aguarda o parecer de reconhecimento pelo Minist rio da Justi a do t tulo de Utilidade P blica Federal Ao se inscrever no Conselho Nacional de Assist ncia Social uma entidade pode solicitar a isen o do recolhimento da cota patronal do INSS de seus 21 Dona Maria Thereza vi va do Senhor Severino Ballesteros e Maria Claudia filha deles 64 funcion rios o que implicar uma economia de 12 no pagamento de seus tributos O cancelamento do registro de OSCIP se justifica pelo fato de o Programa Bom Aluno de Belo Horizonte contar somente com os recursos pessoais das fundadoras do Instituto Severino Ballesteros No caso de entidades que utilizam recursos provenientes do Estado o registro de OSCIP faz se necess rio Hoje o Programa Bom Aluno Belo Horizonte conta com a participa o de cento e um alunos sessenta e oito meninas e trinta e tr s meninos Dezessete alunos est o no 8 ano do Ensino Fundamental dezesseis no 1 ano do Ensino M dio dezessete no 3 ano do Ensino M dio e cinquenta e um na universidade E
132. da cidade de Belo Horizonte O bairro onde vive essa fam lia tem uma parte com mais 86 infraestrutura do que a outra Existem ruas largas com casas de melhor qualidade e existem vielas por onde os carros n o podem passar com casas mais simples Pois em uma dessas vielas que o jovem Ant nio e sua fam lia moram Na frente da casa da fam lia encontrei uma lojinha que vendia revistas e jornais A loja estava cheia de revistas de ci ncias curiosidades esportes jornais revistas de fofocas entre outros g neros A presen a daquela lojinha em uma viela parecia n o combinar com aquela regi o Logo descobri que a loja pertencia m e da Ant nio Atr s de um port o de garagem existe um pequeno p tio onde ao final dele se encontra a casa do jovem Ant nio Ela n o tem frente para a rua mas tamb m n o de fundos Moram ali seis pessoas da mesma fam lia Ant nio divide o quarto com o irm o e a irm mais velhos A mais jovem dorme no sof da sala Os pais ocupam o outro quarto da pequena casa H poucas janelas na casa As paredes da sala s o cobertas por medalhas que os jovens conquistaram em Olimp adas de Matem tica F sica e Qu mica Os dois rapazes j foram receber pr mios no Rio de Janeiro e em Recife das m os do Presidente Lu s In cio Lula da Silva A pequena irm sonha em poder colocar alguma medalha na parede junto com as dos irm os na estreita mesa da cozinha que o jovem estuda e de se perguntar
133. da na escola particular e conclui n o ter aprendido nada de hist ria enquanto estudava na escola p blica A enorme demanda de uma escola de prest gio acad mico faz com que se tenha a sensa o de que n o se sabia nada antes de ingressar nesse estabelecimento de ensino Foi muito mais tranquilo com o Programa Bom Aluno se eu tivesse entrado sem o Bom Aluno seria muito diferente O Bom Aluno me deu uma prepara o muito boa porque em rela o mat ria vim muito defasada porque na Professor Cassiano eu n o aprendi quase nada aprendia o que eu queria e conseguia pegar mas de hist ria n o sei de nada dessas mat rias para baixo fui ver hist ria na 7 e 8 ent o quando o professor 148 falava lembram dessa mat ria N o n o lembro Hist ria com certeza Hist ria muito dif cil chego para uma amiga minha de escola p blica e falo como hist ria Fechei hist ria No Alc ntara imposs vel em hist ria voc tem que dar tudo de voc n o quest o por exemplo qual o nome do rei E tudo contextualizado ele n o quer saber s isso No Alc ntara n o superficial voc tem que aprender entender a fundo profundo mesmo No Alc ntara d o muita curiosidade n o ficam s na mat ria superficial v o a fundo mesmo essa at uma diferen a de escolas particulares como o Alc ntara porque eles d o muito a fundo Trecho da entrevista com Eliana Cada jovem apontou uma ou mais mat rias como s
134. da vive Trecho da entrevista com C sar poss vel que em um primeiro momento os jovens se afastem da antiga rede de sociabilidade atra dos pelo novo universo que se abre diante deles Em seguida ao voltar para o conv vio da antiga rede de rela es impregnados de novos h bitos e de novos esquemas de a o eles os jovens j n o se sentem t o 44 ASPRON Associa o Profissionalizante do menor de BH CESAM Centro Salesiano do Menor 137 atra dos por aquele universo de origem ficando dif cil para esses jovens encontrar um lugar confort vel que seja a interse o entre os dois universos A manuten o dos la os com o mundo de origem Os depoimentos colhidos durante as entrevistas apontam que a proximidade geogr fica das casas dos jovens bolsistas das casas de seus amigos pode ser um dos fatores respons veis pela a manuten o dessas antigas redes de amizade Quatro jovens afirmaram que ainda convivem com pessoas residentes no pr prio bairro Outro fator respons vel por essa manuten o parece ser a frequ ncia a uma institui o religiosa do bairro Uma jovem relatou que mant m fortes la os de amizade com pessoas da sua rua e com pessoas que vivem nas proximidades de sua resid ncia Ela contou que essas jovens costumam frequentar sua casa nos finais de semana e que ela tamb m frequenta a casa dessas amigas Por m a m e dessa jovem diz que os encontros entre a filha e essas amigas diminu ram bastante e q
135. de est localizado o Teatro Francisco Nunes 127 5 ELEMENTOS DA NOVA EXPERI NCIA ESCOLAR Este cap tulo que est subdivido em cinco eixos de an lise dedica se a descrever e a analisar os impactos da nova experi ncia escolar dos jovens entrevistados nos Col gios Dom Assis e Alc ntara 1 na rede de sociabilidade dos jovens bolsistas pesquisados 2 na profici ncia escolar 3 no cotidiano das fam lias 4 nas pr ticas culturais Finalmente avaliar se de que maneira o Programa Bom Aluno consegue reduzir as diferen as culturais e sociais de classe na vida desses jovens 5 1 A rede de sociabilidade Descrevo a seguir as maneiras reiteradas pelos jovens pesquisados com rela o forma o da nova rede de sociabilidade os motivos que os levaram ao distanciamento do antigo grupo de amigos bem como os impedimentos de uma participa o mais intensa no novo grupo de rela es Tentarei tornar intelig veis esses movimentos que ocorreram nas redes de sociabilidade A forma o de novos grupos de amizade A an lise dos dados emp ricos obtidos atrav s das entrevistas aponta para alguns crit rios promovedores da forma o de novos grupos sociais Dentre eles o forte capital escolar o pertencimento ao Programa Bom Aluno o fato de ser novato e a proximidade dos assentos no primeiro dia de aula foram mencionados pelos jovens e por suas fam lias como facilitadores da constru o de novas redes de sociabilidade No ca
136. dentro da escola aspectos de sua realidade prov vel que a presen a de Vanda tenha causado mais impacto na vida de seus colegas do que o contr rio Eu percebia que ela tirava isso de uma forma mais tranquila Ela tentava trazer muito mais da realidade dela para c do que a Eliana Ela colocava muito para os meninos assim tr s dias da semana de manh eu n o posso fazer trabalho eu n o posso isso eu n o posso aquilo porque eu tenho que prestar servi o para a creche Ela contava isso para a gente e para os meninos que ela brincava com as crian as menores at mesmo em uma forma de retribui o digamos assim Pelo menos isso na 9 s rie agora que o ritmo dela de Ensino M dio j mais pesado eu n o sei como ela est lidando com isso E os meninos respeitavam muito isso Ent o s vezes ela vinha cheia de boneco boneca bicho de pel cia e tal o que isso Ah porque eu tive que ir para a creche Trecho da entrevista com uma professora do Alc ntara 145 Outra novidade revelada durante uma entrevista foi o fato de um professor apesar de conhecer os bolsistas pelo nome conforme acima mencionado n o ter conhecimento da origem humilde deles at voc ter me falado quem eram os alunos eu n o tinha percebido nada nenhum tipo de tra o que diferenciasse nem em rela o ao tratamento dos colegas com eles porque eu acho que at de voc estar num ambiente controlado que a escola uniforme voc
137. dificar o meu econ mico como ainda continua modificando o meu pessoal mesmo para eu crescer Trecho da entrevista com C sar O depoimento de Eliana mostra como ao adquirir novos h bitos que s o pertinentes a uma outra classe social ela se distancia de seu meio e por mais que ela tente ela n o consegue transmitir para as pessoas de seu grupo de origem o que foi apreendido no espa o da escola particular Acredito ser essa vontade que Eliana tem de ensinar sua prima a falar ingl s apenas um ind cio de uma tentativa de aliviar a solid o que os tr nsfugas de classe experimentam 179 Eu me sinto diferente n o superior Mas me sinto com uma carga de conhecimento que vai me ajudar e vou passar para eles eu tenho que passar Eu comecei a dar aulas de ingl s para a minha prima eu tento passar o que eu aprendo para eles muitas vezes n o d certo porque eles n o t m a mente mais aberta muito fechado muito naquilo ali n o conseguem ver dos dois lados Eu me sinto diferente Trecho da entrevista com Eliana Para finalizar penso que o depoimento abaixo resume boa parte do que se queria apurar sobre as a es que o Programa promove no sentido de diminuir as diferen as culturais de classe Eu n o via para frente eu n o sa a da 8 s rie quando eu estava na 5 ou na 6 s rie Trecho da entrevista com Vanda 180 CONSIDERA ES FINAIS Este trabalho teve por objetivo identificar os impactos e ou a
138. disposi es foram adquiridas e outras foram desativadas No in cio dessa nova experi ncia a profici ncia escolar dos jovens afetada seja pela condi o cultural de classe dessas fam lias seja pela dist ncia percorrida diariamente at a escola A rotina dom stica da fam lia tem de se ajustar entre outras coisas s demandas dos novos hor rios escolares Esses jovens agora tr nsfugas de classe s o o produto do confronto entre l gicas socializadoras diferentes a familiar e a escolar PALAVRAS CHAVE fam lias de camadas populares escolariza o entidade n o governamental escola p blica e privada fronteiras sociais ABSTRACT The present work attempted to investigate a new phenomenon yet to be explored by the Sociology of Education which consists in the presence of students from the working class families in private schools sponsored by a nongovernmental organization NGO These schools are known in the community for their high academic achievement and social prestige From this wide theme this work focused on identifying traces of the impact changes on the social networking of the students as well as on their academic performance resulting from this new school experience This research also attempted to analyze how the Programa Bom Aluno contributed to reduce class cultural differences between the holders of the scholarship and their private school classmates The schools where the students are now studyi
139. do suas amigas para ir a sua casa C lia relatou que j foi casa das colegas para assistir a filmes e que elas j foram ao boliche juntas Outro universo O das classes m dias come a a fazer parte da vida de C lia C lia relata que ap s a viagem que fez com sua escola a Petr polis ela conheceu mais pessoas Ela conta que umas amigas foram apresentando outras e que as colegas de turma do ano anterior tamb m foram apresentando outras amigas sem contar com a amizade das colegas da turma atual A jovem parece se sentir mais vontade na nova escola apesar de ainda passar os finais de semana brincando com suas primas e antigas amigas do seu bairro Ela frisa que ningu m sabe que ela bolsista e acha que se soubessem n o faria a menor diferen a Ela diz que as novas amigas a tratam muito bem s o afetuosas se abra am mas que ela tem mais liberdade de conversar sobre certos assuntos com suas amigas do bairro e acrescenta que as colegas da ex escola n o s o t o calorosas como as do Dom Assis elas n o ficam se abra ando explica C lia A m e contou que ela j fala em festas de 15 anos e em viagens para a Disney e que inclusive participou da filmagem de um v deo de uma colega que vai ser exibido em uma festa O pai preocupado com o fato de n o ter recursos para financiar tais eventos pediu para que a m e tirasse essas ideias da cabe a dela A m e lembra que o Programa trabalha as diferen as de classe social co
140. dos jovens que estavam cursando o 9 ano do Ensino Fundamental do que as dos jovens do Ensino M dio Quando entrevistei os bolsistas do 2 ano do Ensino M dio pude perceber que esses encontros de finais de semana j n o aconteciam com tanta frequ ncia Os bolsistas mais velhos j tinham constru do novas redes de relacionamento no entorno de suas resid ncias seja com o pessoal da igreja do bairro ou com parentes que moram perto Dentre os v rios fatores que incidem influem condicionam e estruturam a natureza da amizade SANTOS 1994 3 a situa o financeira parece vir no topo da lista No Brasil o lazer dos jovens das classes m dias dos grandes centros urbanos acontece dentro dos shoppings onde est o localizadas as salas de cinema e as pra as de alimenta o Sabe se o quanto caro ir a um cinema e depois comer algo em qualquer um dos shoppings localizados na regi o Centro Sul de Belo Horizonte O mesmo acontece quando o programa ir a uma festa Existe o custo do presente do sal o de beleza da roupa e do transporte Os depoimentos abaixo ilustram as dificuldades que os bolsistas encontram para se manter dentro dessas redes de amizade e esse ano tem a viagem de formatura no acampamento MR em Sapucaia de Minas l no Sul de Minas Meu av pagou Por exemplo referindo se s festas de anivers rio dependendo da pessoa sei que nem precisa dar presente mas eu gosto de dar S que s ve
141. e evas o escolar erradica o do analfabetismo educa o de jovens e adultos educa o infantil at a educa o de jovens com grande potencial acad mico A Constitui o Federal de 1988 oficializou a participa o de entidades dessa natureza no campo da educa o quando cita em seu Artigo 6 a educa o como direito social dos cidad os e complementa no Artigo 205 que al m de direito de todos dever do Estado e da fam lia podendo contar com a colabora o da sociedade para o desenvolvimento da pessoa No Artigo 209 a CF 88 acrescenta que a educa o livre iniciativa privada desde que obede am s seguintes condi es cumprimento das normas gerais da educa o nacional e autoriza o e avalia o de qualidade pelo poder p blico Assim sendo as entidades privadas do segundo ou do terceiro setor que executarem atividades relacionadas ao ensino devem de acordo com o Artigo 214 da CF 88 estar em conson ncia com os objetivos das pol ticas nacionais conduzindo assim a erradica o do analfabetismo a universaliza o do atendimento escolar a melhoria da qualidade de ensino a forma o para o trabalho e a promo o human stica cientifica e tecnol gica do Pa s BAZOLI 2007 Tendo como pano de fundo a ditadura no Brasil pequenas organiza es se constitu ram com o objetivo de promover a defesa dos direitos humanos e a educa o popular al m de criar uma vis o cr tica da condi o soci
142. e elogios de todos que conhecem sua fam lia Segundo ela a fam lia conhecida no bairro e com frequ ncia outras m es querem saber como ela consegue fazer com que os filhos sejam t o estudiosos Ela pondera que se eles n o quisessem ela n o poderia fazer nada Ela atribui esse xito ao fato de seus filhos serem muito curiosos A m e relatou que a fam lia se relaciona com os parentes mas n o mencionou nada quanto a se relacionar com pessoas fora do n cleo familiar Essa fam lia muito diferente de outras fam lias das camadas mais desfavorecidas totalmente voltada para os estudos A m e diz que todos adoram estudar e que uns ajudam os outros Ela faz a seguinte observa o se voc quiser fazer alguma maldade com o Ant nio s falar Voc n o vai escola hoje Ela continua sua fala sobre a import ncia dos estudos e diz N o tem jeito de voc fazer st Grupo de rock famoso na d cada de 1980 comandado por Fred Mercury 91 nada sem estudar sem focar no estudo tem que seguir n o pode parar Os filhos parecem ter incorporado a disposi o de estudo que esse casal possui A falta de recursos materiais foi substitu da pelo apoio incondicional proporcionado pelos pais O investimento parece quase que planejado e a utilidade de um diploma sempre lembrada Apesar de o pai de Ant nio ficar fora o dia inteiro ele quem leva os filhos para passear nos finais de semana A m e conta que o marido
143. e forma eles se utilizam da cultura PBA como facilitador dessa mudan a A prepara o de um ano dada pelo PBA foi suficiente para que a entrada em um mundo t o distinto do de sua origem fosse a mais tranquila poss vel Voc acha que seria poss vel que esses jovens entrassem em um col gio particular sem a ajuda do PBA O PBA ajudou voc a compreender as novas regras da escola particular Qual mat ria exige um maior empenho por parte do aluno para se manter no n vel de profici ncia que a escola particular exige Como o PBA ajuda sua fam lia Seus h bitos de estudo modificaram ap s a entrada no Programa De que forma Como voc se v hoje ap s a entrada no Programa em rela o a ser um jovem de origem popular frequentando uma escola de alto n vel acad mico E antes Como voc se via em sua escola de origem O que o PBA lhe proporciona que voc mais gosta E do que voc menos gosta O que o PBA lhe proporciona que voc acha fundamental para estar em um col gio particular O que mais mudou em sua vida ap s a entrada no Programa S o mudan as positivas negativas Explique 202 Entrevista com os professores do Programa Bom Aluno 1 PBA mediador das diferen as de classe O PBA tem como um dos objetivos capacitar as fam lias dos bolsistas para que estas atuem de forma mais ativa nessa nova fase de vida de seus filhos De que maneira O PBA decodifica para essas fam lias os c digos escolare
144. e sentiu um certo abandono por parte da m e j que ele relatou ter morado mais de um ano na casa de um colega e posteriormente na casa da irm desse colega A m e comenta com orgulho sobre uma senhora que chama C sar de meu filho e que sempre o tem em sua casa e diz que todos querem ter o C sar como filho O irm o mais velho de C sar que naquele momento trabalhava como Agente de Bordo havia parado de estudar ap s concluir o Ensino M dio mas recentemente conseguiu uma bolsa de estudos pelo PEP para o curso de T cnico em Eletr nica e tem planos de se dedicar integralmente aos estudos O segundo irm o tinha trancado a Faculdade de Educa o F sica e estava trabalhando em uma escola que oferecia Ensino Fundamental e Ensino M dio T cnico e por estar trabalhando na rea de inform tica dessa escola foi beneficiado com uma bolsa integral de estudos para o curso de T cnico em Inform tica Paralelamente ao trabalho e ao estudo esse jovem estava investindo tamb m na carreira de rbitro de futebol A m e demonstrou se orgulhar disso e chegou a se emocionar durante a entrevista quando relatou a emo o de v lo apitando um jogo entre Cruzeiro e Am rica A m e lembra que seus filhos nunca tomaram bomba e que ela sempre foi muito en rgica com eles Nas entrelinhas do relato de C sar pude perceber que enquanto ele estava morando na casa de um amigo da escola na regi o Centro Sul de Belo Horizonte ele
145. egi o Centro Sul de Belo Horizonte A seguir descrevo momentos do dia da prova de sele o de 2009 dos quais participei J bem cedo as fam lias v o chegando ao local por v rios meios de transporte Nota se a presen a de v rios membros de uma mesma fam lia como irm os menores irm os maiores m e pai e at mesmo de parentes Os candidatos se apresentam bem penteados e bem vestidos S o muito jovens Eles t m entre 10 e 12 anos Ap s a explica o dada pela gerente do Programa a uma multid o que se encontra reunida no p tio da escola a emo o toma conta dos pais que ao se despedirem dos filhos abra ando os carinhosamente e desejando lhes de todas as maneiras muita sorte Os pequenos se encaminham para suas devidas salas H volunt rios em cada porta de sala todas elas sinalizadas Os pais se dispersam pela escola e para fora de seus port es H disposi o deles gua refrigerante e biscoitos Algumas fam lias se re nem com os atuais participantes do 69 Programa para saber um pouco mais sobre a proposta do Programa Pequenos grupos s o formados por todo o p tio da escola Ao final da primeira prova os jovens candidatos podem sair para beber ou comer algo e em seguida iniciar a segunda parte da prova Algum tempo depois come am a sair os primeiros candidatos Os pais v o ao encontro dos jovens e abra ando os carinhosamente Eles querem saber detalhes sobre o que se passou atr s daquelas portas
146. egunda feira que ela tem o 6 hor rio eu procuro buscar Toda segunda eu a busco na escola O dia que vai uma aula a mais outro hor rio al m do normal vamos supor na quarta feira ela sai do Dom Assis s 6h50 at que ela chegue aqui fica muito tarde ela acorda s cinco horas da manh a eu procuro busc la nesse dia Mas ela vai mais de nibus mas na ter a feira ela tem reda o de manh no Dom Assis eu vou com o carro e a levo de manh para facilitar um pouco Ela at fica querendo que eu a busque mais vezes e meu marido fala n o pode C lia ficar buscando porque s vezes ela fica cansada Eu busco umas duas vezes na semana volto para buscar referindo se quando a filha vai a um shopping localizado na regi o Centro Sul com as amigas Mas como se diz ela teve essa oportunidade a gente tem que dar valor e fazer o m ximo que puder A gente que sabe mesmo o que a gente tem que fazer n o f cil mas a minha m e tamb m muito boa para mim Meus pais no que eles podem eles me ajudam tamb m Porque eu acho que se f ssemos s eu e meu marido muita coisa seria imposs vel Trecho da entrevista com a m e de C lia A mobiliza o em torno das chegadas e das sa das da filha tamb m relatada pelos pais de Eliana O pai comenta que mais f cil para as colegas da filha ir at a sua casa para estudar ou at mesmo para lev la a algum evento porque segundo afirma ele esse povo te
147. ei pelo instrumento que melhor atende a essas perguntas o question rio Os question rios foram entregues aos jovens durante a fase das entrevistas e posteriormente algumas semanas mais tarde foram recolhidos pela psic loga pedagoga do Programa Os dados obtidos nos v rios itens do question rio n o foram pass veis de uma an lise detalhada mas foram sim usados na descri o do perfil dos jovens e de suas fam lias cap 3 Como j foi mencionado 21 anteriormente estamos diante de um grupo bastante homog neo no que diz respeito ao aspecto socioecon mico e cultural O instrumento contendo 57 quest es objetivas e semiabertas encontra se no ap ndice VII Observa o Minha participa o que se deu de forma despretensiosa acabou por contribuir com informa es importantes que ser o descritas no cap tulo 2 Abaixo descrevo sucintamente como ela aconteceu No dia da prova escrita que aconteceu nas instala es de uma escola p blica localizada na regi o Centro Sul de Belo Horizonte fui presenteada com uma camiseta do Programa de maneira que os participantes da sele o bem como seus familiares podiam me identificar e se necess rio pedir ajuda ou esclarecimento sobre alguma quest o Juntamente com v rios professores volunt rios e alunos do Programa Bom Aluno ajudei na prepara o do material na organiza o do lanche na sinaliza o das placas nas portas das salas onde as provas seriam realizadas
148. eira Telefone 3284 7724 9104 8724 200 AP NDICE VI ROTEIRO B SICO PARA AS ENTREVISTAS Entrevistas com os jovens estudantes do programa 1 Breve question rio dados objetivos Principal ocupa o dos pais pai m e ou respons vel Escolaridade dos pais pai m e ou pessoa que exerce o papel materno paterno N mero de irm os e localiza o na fratria Renda mensal familiar Local de moradia Quantidade de pessoas que moram no domic lio incluindo voc Escola s que voc frequenta na rede privada Escola s que voc frequentou na rede p blica 2 Quanto rede de sociabilidade A mudan a para uma escola particular afetou a rela o com seus amigos da antiga escola Caso afirmativo como E com seus amigos do bairro Caso afirmativo de que maneira e Se houve mudan a esta mudan a tamb m afetou a rela o com seus parentes e Como seus antigos colegas da escola p blica veem voc hoje estudante de uma renomada escola particular E como seus antigos professores o veem Na escola particular voc fez novas amizades Foi f cil Quem s o seus novos amigos Voc j foi convidado a ir casa deles delas Voc j os convidou a ir sua casa Voc frequenta os eventos da escola Com quem voc fica nesses eventos Na hora do recreio intervalo com quem voc fica Voc sai no final de semana com a turma do col gio Voc frequenta shoppings com essa turma Voc vai s festas c
149. eira como esses jovens tratam essa oportunidade como eles se sentem frequentando um espa o socializador t o distinto do de sua origem e de que forma o Programa Bom Aluno atua como mediador nessa nova etapa de vida desses jovens Para realizar esse estudo solicitamos a sua especial colabora o para responder s entrevistas que ser o gravadas em udio e que dever o ser realizadas no momento e no local de sua conveni ncia O material coletado gravado ficar sob guarda dos pesquisadores em local seguro na Faculdade de Educa o da UFMG O a senhor a n o ter nenhum gasto com a sua participa o no estudo e tamb m n o receber pagamento pelo mesmo A sua participa o muito importante e volunt ria Voc tem o direito de n o querer participar ou de sair do estudo a qualquer momento A sua identidade ser mantida em sigilo Esclarecemos que os resultados do estudo ser o sempre apresentados como o retrato de um grupo e n o como o de uma pessoa e que dessa forma o a senhor a n o ser identificado quando o material for utilizado seja para prop sitos de publica o cient fica ou educativa Esclarecemos finalmente que sua privacidade ser assegurada atrav s da utiliza o de nomes fict cios Caso surjam quaisquer problemas al m de poder entrar com contato com a orientadora respons vel da pesquisa Prof Maria Jos Braga Viana 3661 1954 9181 7585 e com a correspons vel Ana Beatriz Ratton Ferreira 31 3
150. eira como o Programa lida com o aluno quando ele n o tira notas boas dizendo que primeiramente busca se sempre saber se o jovem est com algum problema e se ele est precisando de ajuda A jovem descreve a oportunidade que est tendo com essas palavras Tenho 16 anos um curto espa o de vida e posso afirmar com certeza que a melhor coisa que aconteceu na minha vida foi o Bom Aluno porque eu sempre gostei de estudar gostava de aprender E a coisa que eu tinha mais raiva que eu reclamava do col gio era chegar em casa e falar m e hoje eu n o aprendi nada O professor n o deu aula direito os alunos n o estavam prestando aten o a gente n o conseguiu aprender Para mim at hoje eu odeio ir para a escola e n o aprender Ent o ter oportunidade de crescer como estudante e depois que eu vi que era poss vel o meu olhar para o mundo se expandiu Tudo que hoje eu sonho os meus sonhos de antes mudaram porque hoje eu sonho mais porque eu sei que eu posso alcan ar mais E muito bom porque eu sei que eu posso aprender e pelo estudo eu posso chegar eu posso fazer muita coisa Isso para mim uma preciosidade meu maior tesouro o que eu aprendo essa oportunidade trecho da entrevista com Vanda realizada no dia 13 de maio de 2010 nesse espa o chamado por ela e pelos participantes bolsistas de Bom Aluno que Vanda e seus colegas se sentem melhor Ela sabe que as pessoas est o vivendo situa es semel
151. elacionam se com os colegas das v rias atividades organizadas que s o normalmente da mesma idade mas que variam a cada come o de uma nova atividade A intera o com v rios adultos faz parte dessa rotina j que h instrutores t cnicos tutores e outros pais envolvidos no processo Com isso as crian as aprendem a dialogar com adultos a terem suas demandas atendidas e a serem tratados como clientes O tempo livre das fam lias que cultivam o crescimento natural maior do que os das fam lias de classes m dias j que geralmente essas crian as n o participam de atividades organizadas pelos pais As crian as controlam seu tempo livre por m alguns limites s o estabelecidos pelos adultos como por exemplo at onde podem ir fora de casa e a que horas devem voltar para casa Essas crian as iniciam suas brincadeiras sem a interven o de adultos visitam parentes assistem televis o quando querem e preparam seu pr prio lanche A l gica usada pelas fam lias de classe m dia parece atender aos requisitos das institui es dominantes apesar dos sacrif cios que ela gera desenvolvendo nos filhos um sentimento de ter direito a J nas classes trabalhadoras e pobres os padr es de cultivo identificados apontam esfor os para superar os v rios desafios gerados pela falta de recursos econ micos deixando os filhos desenvolverem se naturalmente Em consequ ncia disso durante a pesquisa feita por Lareau foi o
152. eles possuem de todo o processo Socializados sucessivamente mas em parte tamb m simultaneamente em universos em que os h bitos de gosto s o diferentes e mesmo socialmente opostos os tr nsfugas de classe oscilam de maneira permanente e por vezes mentalmente extenuante entre dois h bitos e dois pontos de vista LAHIRE 2001 55 No caso deste trabalho os jovens come am a frequentar o novo universo socializador a partir dos 10 11 anos de idade e sobre isso Lahire 2001 afirma que nesse per odo a aprendizagem e o ajuste de esquemas conforme o novo contexto acontecem sem grandes sofrimentos pois a crian a desenvolve a habilidade de ter controle sobre ela mesma Lahire 2001 argumenta contra o conceito de unicidade do ator em uma sociedade com forte diferencia o social e discorre sobre as condi es que levam 32 pluraridade Desde muito cedo todos s o expostos a socializa es diversas ou seja heterog neas do ponto de vista cultural e material Decorrente disso cada ator incorpora os mais variados h bitos e esquemas de a o esquemas sens rio motores esquemas de percep o de aprecia o e de avalia o Desse modo tais h bitos ou esquemas s o adquiridos no seio familiar na conviv ncia com a bab na creche na pr escola na escola com os amigos do bairro no trabalho no clube ou na igreja sendo que no seio da fam lia que se constroem os h bitos e os esquemas de a o que se
153. em rela o a seus colegas da escola particular como se houvesse uma nota que persistisse em desafinar Assim sendo A amizade menos livre do que algumas vezes parece existem claras limita es f sicas e sociais al m das ps quicas que condicionam as oportunidades de se eleger uma amizade SANTOS 1994 3 A seguir trechos do depoimento de uma m e ilustram a afirma o desse autor igual no caso da C lia as meninas falam muito de viagens ao exterior Vai ter uma em janeiro e as meninas falam muito de ir e ela come ou a falar comigo ah que eu estou com vontade de ir E meu marido fala comigo para tirar isso da cabe a dela porque a gente vive como estava te falando o que eu posso fazer eu fa o mas tem coisas que eu n o Trecho da entrevista com a m e de C lia N o de se estranhar que os jovens do 2 ano do Ensino M dio mencionaram frequentar bem menos os espa os de lazer destinados aos jovens das classes m dias O custo n o s financeiro como emocional muito pesado para eles e para suas fam lias A rede de sociabilidade dos jovens na vis o dos professores dos col gios particulares 144 As entrevistas com os professores revelaram ainda mais sobre a rede de sociabilidade dos jovens pesquisados Os dois professores entrevistados do Col gio Alc ntara sabiam exatamente quem eram os tr s jovens em quest o Eles sabiam suas notas sabiam quem eram seus amigos e relat
154. em Betim de uma amiga e um leva e outro busca tudo longe e a gente se mobiliza mesmo desde que seja para ela sair como para ir para a escola Trecho da entrevista com a m e de Vanda A m e de C lia n o conta com a ajuda de familiares pois o marido motorista de nibus e trabalha fora o dia inteiro O irm o de C lia que menor de idade se encontra estudando no CEFET e est sempre fora de casa A m e conta com a companhia das outras colegas da filha no trajeto de ida para a escola e conta com a presen a da m e de uma colega no trajeto de volta para casa Essa m e tamb m diz contar com a ajuda financeira de seus pais Ela parece desenhar sua rotina di ria em torno dos deslocamentos da filha Durante a semana na quarta e na quinta ela acorda s 5h horas porque tem o Bom Aluno Ela acorda s 5h a gente sai daqui umas 5h40 mais ou menos Eu a levo at o ponto de nibus Ela pega o nibus e vai para a esta o tem uma esta o de nibus tem outra menina a e a S nia agora elas estudam no Bom Aluno e no Dom Assis e elas v o de nibus Eu a coloco no nibus aqui e ela e as tr s se encontram elas v o para o 168 Bom Aluno e voltam juntas A m e de uma delas como trabalha no centro as traz todos os dias Eu encontro com ela no ponto do nibus Ela me d um toque quando vai atrasar e eu j fico no ponto esperando ela chegar As vezes eu busco mas para levar ela vai de nibus mas s
155. em distantes da maioria de seus novos amigos ser interessante observar como essa rela o de sociabilidade se comportar Para finalizar Santos 1994 aponta as diferen as entre coleguismo e amizade Para ele o contexto que vai definir No momento em que a frequ ncia a esse contexto deixa de existir o coleguismo se extingue ou seja essa frequ ncia a esse determinado local com um determinado objetivo que faz com que as pessoas estabele am uma rela o de coleguismo J uma rela o de amizade pode continuar a existir mesmo que o contexto em que ela nasceu seja extinto Isso n o implica necessariamente ter que preservar essa amizade para o resto da vida mas dependendo de fatores como posi o na estrutura social grau de educa o e idade ela pode se prolongar por um bom tempo 2 3 Esquemas de a o disposi es e capital cultural No caso daqueles a que chamamos segundo as situa es os tr nsfugas de classe os bolseiros e que sa ram das suas condi es sociais de origem pela via escolar trata se de uma clara oposi o entre duas grandes matrizes de socializa o contradit rias o universo familiar e o 31 universo escolar cujos valores simb licos s o socialmente diferentes no caso de uma sociedade hierarquizada prestigioso desvalorizado alto baixo dominador dominado que leva a heterogeneidade dos h bitos dos esquemas de ac o incorporados a organizar se sob forma
156. ementos cl ssicos como renda e acesso a bens de consumo com a capacidade de gera o e manuten o da riqueza a prazo mais longo NERI 2008 25 No primeiro elemento temos acesso universidade p blica ou privada acesso a escola de qualidade privada a elementos da rea de Tecnologia da Comunica o e da Informa o como computadores conectados internet al m da renda corrente a renda permanente estimada a partir de caracter sticas s ciodemogr ficas fixas como sexo idade regi o etc mas especialmente estoque de educa o mergulhar nos detalhes da sua determina o por exemplo ir al m da estat stica de acesso a educa o mas ver quanto se paga pela mesma agregar a intera o dos diversos componentes e monitor los ao longo do tempo NERI 2008 25 grifo meu Percebe se um enorme esfor o por parte de todos os segmentos da sociedade na tentativa de definir um grupo social marcado por uma forte segmenta o interna que vai do office boy at o diretor da empresa segundo Quadros 1991 apud NOGUEIRA 1995 13 Assim sendo no atual mercado escolar que se constituiu da massifica o do ensino no Brasil na d cada de 1980 vale a compra de todos os bens que garantam a manuten o da posi o dessa classe na hierarquia social ou at mesmo uma ascens o Nogueira 2010 refor a a tese de que esse trabalho requer energia disposi o conhecimento do sistema escolar e atitudes preventivas
157. empre com o hor rio certinho regulamentado para voc estar estudando para voc estar se empenhando em casa fora do col gio E que eu n o tinha antes uma vis o t o abrangente mas portugu s reda o em si superimportante uma mat ria que supervisada aqui no Bom Aluno porque voc ter o conhecimento da l ngua portuguesa o b sico a mat ria fundamental que a gente tem aqui Modificaram bastante antes eu n o tinha hor rio espec fico para estar fazendo os deveres ou mesmo para estar me preocupando para estudar a mat ria em si eu n o estudava a mat ria em si apenas fazia deveres e prestava aten o na aula e ap s a entrada no Bom Aluno eu percebi que quando voc reserva o tempo para estar fazendo a leitura de algum livro para estar analisando novamente as mat rias superfundamental isso mudou na minha vida Trecho da entrevista com C sar Por serem bons alunos em suas escolas p blicas ou seja comprometidos com a aprendizagem o que o Programa pretende ministrando aulas complementares de portugu s ingl s e matem tica potencializar o conhecimento que eles j possuem e prepar los para os exames de sele o das escolas que acontecem no final do 7 ano Sendo assim ao serem admitidos nos exames de sele o dessas escolas os jovens j se sentem merecedores de frequentar aquele espa o j que o crit rio de entrada igual para todos independentemente da classe social 173
158. endo as mais dif ceis na nova escola A reflex o que Vanda faz de seu desempenho acad mico bastante madura Abaixo trecho da leitura que Vanda faz sobre as mat rias em que ela tem mais dificuldades Eu acho que as mat rias de escrita s o as mais dif ceis Porque a matem tica tem gente que tem facilidade e tem gente que tem dificuldade dependendo da base a sua dificuldade pode ser suprida porque voc consegue aprender Agora a escrita hist ria e geografia eu praticamente n o tinha eu n o lembro Biologia s o ci ncias que voc tem que se lembrar de coisas anteriores que eu at tenho facilidade matem tica n o tive problema Mas isso da escrita quem n o escrevia bem quem n o teve uma boa prepara o em matem tica em geografia biologia Tem gente que se lembra das coisas da 5 s rie hoje eu n o lembro porque n o era bem ensinado era uma coisa ou decoreba ou passava no quadro n o era explicado para n s Ent o em biologia eu tive dificuldade hist ria eu me esforcei demais geografia ainda em alguns col gios particulares meio decoreba porque s o mat rias que voc precisa de uma carga anterior que vai acumulando e isso costuma dar mais trabalho Trecho da entrevista com Vanda Alguns jovens como C lia apontam as dificuldades que est o tendo como dificuldades pessoais O sofrimento desses jovens grande pelo fato de terem sempre sido excelentes alunos e de um dia para o outro veem
159. equ ncia os pais enunciam suas expectativas por meio de f rmulas vagas como Eu gostaria que ele fosse t o longe quanto pudesse o mais longe poss vel o quanto ele puder etc Essas observa es frequentes exprimem o desejo dos pais de ver seus filhos continuarem os estudos mesmo sem poder fixar objetivos precisos Isso ocorre porque os pais conhecem mal as diferentes etapas da carreira escolar e principalmente porque nunca est o seguros de que os filhos poder o dar sequ ncia durante muito tempo a sua escolaridade THIN 1998 138 No caso desta pesquisa os pais dos jovens bolsistas do Programa n o demonstraram qualquer inten o em encorajar seus filhos a possuir um diploma de curso t cnico Entretanto no caso de S nia conforme mencionado anteriormente a fam lia e a jovem j tinham como segundo plano a possibilidade de fazer um curso t cnico em uma institui o federal de alto n vel acad mico n o sem demonstrar sofrimento quanto a ter que seguir essa op o Mudan a igual eu falei vou ter conhecimento bem maior do que essas pessoas que est o l referindo se aos antigos colegas da escola p blica mais responsabilidade vou amadurecer mais cedo e essa oportunidade s vezes eu nem tivesse oportunidade de fazer faculdade porque s vezes eu iria fazer o qu Cursinho para poder fazer n o sei exercer alguma profiss o mais inferior Trecho da entrevista com S nia A m e de S nia mostrou se
160. er Indicadores SMAPL SMPL PBH Metodologia Raz o entre o somat rio da renda per capita de todos indiv duos e o n mero total desses indiv duos A renda per capita de cada indiv duo definida como a raz o entre a soma da renda de todos os membros da fam lia e o n mero de membros da mesma 121 4 7 S nia Ela disse que as meninas s o super simples n o tem metideza com roupa a gente que pobre que fica com essa frescura as ricas s o todas simples trecho da entrevista com a m e de S nia A ltima jovem entrevistada foi S nia Ela est cursando o 9 ano do Ensino Fundamental no Dom Assis e tem 14 anos Ela se autoclassificou no item cor ra a do question rio como branca S nia parece ser uma jovem muito simp tica Ela n o demonstrou desconforto por m eu logo saberia que ela se encontra em um momento de muito sofrimento A jovem chorou durante a entrevista N o foi imediatamente que eu soube o que estava se passando com essa jovem Em princ pio a entrevista transcorreu da mesma maneira como transcorreu com os outros entrevistados As mesmas perguntas foram feitas a ela e at certo momento eu escutava mais ou menos o que eu j tinha escutado nas outras entrevistas A m e de S nia est casada pela segunda vez e teve um beb h seis meses Ela T cnica em Enfermagem e trabalha no SAMU Sua rotina de trabalho se resume em aguardar os chamados de urg ncia quando ent o ela embarca na ambul
161. ercendo a habilidade de debater criando nos filhos um sentimento de ter direito de ser ouvido pelos adultos desenvolvendo a habilidade de persuadir ao demandar algo cultivando as habilidades cognitivas e sociais assim exercitando o racioc nio diariamente J nas fam lias de classes trabalhadoras e pobres a pouca import ncia dada ao uso da l ngua n o propicia debates e nem o uso do racioc nio n o se desenvolve nas crian as o sentimento de ter direito a algo e nem de serem ouvidas pelos adultos Desenvolve se ent o um sentimento de inferioridade e limita o quando engajados em di logos com as pessoas consideradas autoridades como professores policiais agentes do servi o social e m dicos Assim essas crian as n o se veem merecedoras de qualquer aten o por parte dos adultos Percebem se distantes e incapazes de fazer qualquer demanda 44 A preocupa o com o tempo livre pelas classes m dias produz uma rotina fren tica na vida dessas fam lias As atividades s o geralmente organizadas pelas m es que acreditam muitas vezes na import ncia delas no desenvolvimento da confian a no desenvolvimento da sensibilidade musical e da postura dos filhos Ao fazerem esportes esses filhos aprendem a competir e a trabalhar em equipe a ganhar e a perder com eleg ncia Esses in meros compromissos levam pais e filhos a exaust o e quando as crian as t m algum tempo livre n o sabem bem de que forma us lo Os filhos r
162. es gostam muito de dan ar Caracter sticas Socioecon micas Economia TABELA 4 Renda familiar per capita em R de agosto de 2000 Belo Horizonte 1991 2000 Regi o Administrativa 1991 2000 Barreiro 188 60 254 06 Centro Sul 1 119 02 1 584 28 Leste 379 48 491 20 Nordeste 315 41 429 02 Noroeste 352 30 472 43 Norte 204 18 274 90 Oeste 436 11 634 71 Pampulha 514 65 680 15 Venda Nova 188 82 268 86 Belo Horizonte 414 94 557 44 RMBH 309 03 394 34 Fonte Atlas do Desenvolvimento Humano na RM Belo Horizonte Organiza o Ger Indicadores SMAPL SMPL PBH 107 Metodologia Raz o entre o somat rio da renda per capita de todos indiv duos e o n mero total desses indiv duos A renda per capita de cada indiv duo definida como a raz o entre a soma da renda de todos os membros da fam lia e o n mero de membros da mesma Riacho Novo Santa Cruz Industrial a regi o onde Vanda vive com sua fam lia na cidade de Contagem que faz parte da RMBH O Atlas de Desenvolvimento Humano aponta essa regi o como uma sub regi o do Eldorado A renda dessa sub regi o no ano de 1991 era de R 257 41 e no ano de 2000 de R 372 44 108 4 5 M rio Minha fam lia n o entende muito isso quando eu estou estudando eles entram toda hora no meu quarto me chamando e eu falo e eles acham que estou com raiva deles que n o sou acess vel Muitas vezes acho que eles n o entendem isso de eu ter que dedic
163. es incorporadas por um indiv duo n o como parte de um sistema coerente e harmonioso mas sim como parte de um sistema com m ltiplas disposi es incorporadas contradit rias ou n o no decorrer das v rias socializa es que esse indiv duo sofre ao longo da vida Com efeito esse autor se apropria da teoria do soci logo Pierre Bourdieu transformando a no seu interior propondo uma nova maneira de se pensar o sucesso e o fracasso escolar Bourdieu pressup e utilizar a no o de capital cultural sendo que o volume deste capital varia entre as camadas sociais para determinar previamente a carreira escolar dos jovens A no o de capital cultural foi concebida com o intuito de explicar a rela o entre desempenho escolar e classe social Com efeito a escola contempor nea promove a exclus o de maneira branda e suave de jovens provenientes de fam lias desprovidas desse capital por ela demandado BOURDIEU 2007 Esse capital cultural transmitido no espa o social familiar pode ser identificado no indiv duo sob forma de cultura geral que segundo Bourdieu seria indispens vel para a compreens o dos conte dos escolares Essa cultura geral se traduz nas habilidades lingu sticas no conjunto de t tulos escolares da fam lia no comportamento em espa os socializadores no gosto no modo de se vestir na cultura geral em mat ria de arte bem como na informa o que os familiares possuem sobre o sistema escolar Com sua fun
164. es m dias e escola novas perspectivas de an lise Curr culos sem Fronteiras online 2010 vol 10 n 1 p 213 231 HOGGART Richard 1970 La Culture du pauvre In O Homem Plural As Molas da Ac o Lisboa Instituto Piaget 2001 IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica Dispon vel em http ioge gov br Acesso em nov 2010 INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCA O AN SIO TEIXEIRA INEP Dispon vel em http Avww inep gov br Acesso em nov 2010 Instituto Tecnol gico de Aeron utica ITA Dispon vel em http Anww ita br Acesso em nov 2010 IOSCHPE Evelyn Berg org 3 Setor desenvolvimento social sustentado Rio de Janeiro Paz e Terra 1997 IPEA Pobreza e riqueza no Brasil metropolitano Comunicado da Presid ncia n 7 agosto 2008 ISMART Instituto Social Para Motivar Apoiar e Reconhecer Talentos Dispon vel em http Avww ismart org br Acesso em nov 2010 KAUFMANN Jean Claude L entretien compr hensif Paris ditions Nathan 1996 KELLERHALS Jean e MONTANDON Cl op tre 1991 Milieu social interactions familiales et styles ducatifs Neuch tel Delachaux et Niestl LABACHE Lucette SAINT MARTIN Monique Fronteiras trajet rias e experi ncias de rupturas Educ Soc online 2008 vol 29 n 103 p 333 354 188 LACERDA W M G Fam lias e filhos na constru o de trajet rias pouco prov veis o caso dos iteanos Tese Do
165. esta amp Almeida 2008 ao pensar a desigualdade social no Brasil concentraram seus estudos na compreens o da forma o dos processos que parecem estar na base dos modos de vida das fam lias gerando consequentemente diferen as em rela o escolaridade e constru o de fronteiras sociais Em seu estudo as autoras utilizaram a no o de fronteira social e fronteira simb lica como algo mais din mico e perme vel do que a no o de desigualdade normalmente o faz chamando a aten o para os processos de domina o e explora o que as constroem PRESTA ALMEIDA 2008 403 Assim sendo privilegiou se discutir a g nese dessas fronteiras simb licas que fundam para os pr prios indiv duos o territ rio dos poss veis e dos imposs veis do desejo e do indesejado e assim por diante PRESTA ALMEIDA 2008 403 Ao tentar compreender melhor a raz o da manuten o da desigualdade social brasileira as autoras sinalzam que al m de as trajet rias serem determinadas em sua maioria pelo que j se sabe sobre isso ou seja pela trajet ria do grupo familiar e por seus patrim nios acumulados ainda sobra espa o para outras possibilidades que determinam ou determinar o certas trajet rias sociais No que tange a import ncia desse trabalho para esta pesquisa destaca se a no o de experi ncias educativas que vista como o trilho por onde passar o trabalho socializador efetuado pelas fam lias esc
166. estudos de pessoas de 25 anos ou mais de idade Est o neles localizadas as regi es onde moram os jovens e suas fam lias e os dois col gios particulares E 5 006 39 7 00 a 9 99 E 19 003 13m FIGURA 1 M dia de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade 2000 Todas as UDHs da RMBH Fonte Atlas do Desenvolvimento Humano na RM Belo Horizonte Funda o Jo o Pinheiro FJP 51 M rio Eliana e C sar Ant nio Legenda C lia FIGURA 2 M dia de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade 2000 Todas as UDHs da RMBH Com indica o da localiza o dos bairros onde moram as fam lias dos jovens bolsistas Fonte Atlas do Desenvolvimento Humano na RM Belo Horizonte Funda o Jo o Pinheiro FJP 52 Legenda FIGURA 3 M dia de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade 2000 UDHs do munic pio de Contagem Com indica o da localiza o dos bairros onde moram as fam lias dos jovens bolsistas Fonte Atlas do Desenvolvimento Humano na RM Belo Horizonte Funda o Jo o Pinheiro FJP 53 Bs E 5 00 a 6 39 E 100298 E 10 00 313 1 FIGURA 4 M dia de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade 2000 UDHs do munic pio de Ibirit Com indica o da localiza o dos bairros onde moram as fam lias dos jovens bolsistas Fonte Atlas do Desenvolvimento Humano na RM Belo Horizonte Funda o Jo o Pinheiro FJP No cap tulo subsequente discorre
167. ever e analisar os impactos e ou as mudan as que a entrada de jovens bolsistas em uma escola particular de alto n vel acad mico causa no cotidiano de suas fam lias O autor listou e descreveu detalhadamente uma s rie de efeitos impactos comuns decorrentes da entrada de uma crian a na escola sobre a fam lia bem como sobre ela pr pria Para esse autor o futuro de uma fam lia est ligado em grande parte ao que se passa durante a escolariza o de seus filhos A rotina de uma fam lia guiada teoricamente por pelo menos uma d cada sem falar das fam lias que t m filhos em intervalos maiores ou filhos que prolongam sua escolariza o atrav s de cursos de especializa o mestrado ou doutorado pelas exig ncias impostas pela escola como hor rios disciplina despesas e pelas tens es que ela causa A passagem pela escola nem sempre vivida da mesma forma por seus usu rios e seus familiares Ela pode despertar tristeza alegria frustra o humilha o e conflito Mas para a maioria das fam lias a escolariza o est totalmente integrada ao seu cotidiano a ponto de n o se perceber o quanto suas vidas s o diariamente impactadas pelas obriga es diretas e indiretas que ela gera Assim sendo Perrenoud 1987 lista em seu detalhado estudo os doze eixos complementares pelos quais se pode analisar as poss veis influ ncias da escola sobre a fam lia bem como em sua rotina Portanto a escola influencia 1 o emprego do temp
168. exclu do pelos colegas Trecho da entrevista com um professor do Dom Assis A contribui o dessas entrevistas serviu tamb m para mostrar que cada estabelecimento lida com seus alunos de maneira diferente Isso pode afetar a maneira como os bolsistas constroem suas redes de sociabilidade 5 2 Vari veis que impactaram e ainda impactam na profici ncia escolar Neste t pico discorro sobre as vari veis que impactaram ou ainda impactam na profici ncia dos jovens bolsistas A mudan a de uma escola p blica para uma escola particular de alto n vel acad mico causou nos casos aqui estudados queda no desempenho escolar em um primeiro momento Outras vari veis quando somadas tamb m afetaram o desempenho dos bolsistas As tarefas dom sticas gastam tempo e s o cansativas As horas gastas com os deslocamentos deixam os jovens cansados e com pouco tempo para estudar A falta de entendimento por parte de alguns familiares prejudica a qualidade do tempo de estudo e por fim o pertencimento de classe demonstrou que alguns desses jovens n o se sentem com direito de pedir esclarecimentos no caso de uma d vida durante a aula 147 Mudan as de ritmo e de exig ncia escolares O fato de esses jovens bolsistas serem excelentes alunos nas escolas p blicas de onde vieram e onde cursaram o ensino fundamental n o significa que eles ser o automaticamente excelentes alunos nas escolas particulares A mudan a de estabelecimento causou nos c
169. f cil fazer eles sentavam do meu lado eu conversava com eles e eles ficaram logo amigos Trecho da entrevista com Ant nio Entretanto tenho como hip tese que o bom desempenho escolar serviu para a manuten o dessas redes ou at mesmo como um bilhete de entrada em outras redes de sociabilidade Digo isso com base na quest o da simetria j mencionada anteriormente SANTOS 1994 Parece que em princ pio para fazer parte de qualquer rede de amizade n o se leva muito em conta o pertencimento de classe mas conforme discorrerei mais adiante a manuten o dessa amizade que nesse caso foi estabelecida pela proximidade n o depende somente desse crit rio Ela leva em considera o mesmo que de modo inconsciente aspectos diretos que v o desde a localiza o f sica da pessoa na hierarquia social at mesmo a possess o de um forte capital escolar Em um ambiente escolar em que quem n o faz parte de uma rede de relacionamentos visto como um p ria alguns jovens lan am m o de estrat gias inusitadas Exemplo disso foi o relato de uma jovem que diz ter se unido a outras duas jovens que como ela sentiam se exclu das pela turma e esse pequeno grupo sociou se aos meninos por achar que era mais f cil conquist los do que conquistar as meninas Posteriormente esse grupo foi se ampliando e novas integrantes se associaram a ele Nenhum dos outros seis entrevistados mencionou estrat gia semelhante a essa A seguir essa jovem re
170. fez carteirinha da biblioteca p blica para todos os filhos e por trabalhar a metros da biblioteca sempre traz livros para casa As crian as cresceram frequentando a biblioteca p blica recorda a m e O pai tamb m respons vel por levar as filhas a snows ao ar livre que acontecem nas pra as de Belo Horizonte e elas s gostam de m sica popular brasileira Segundo a m e as m sicas t m que ter letra Com rela o frequ ncia a espa os culturais como museu teatro e exposi es a m e de Ant nio responde que a fam lia j foi sim a museus e teatros mas faz tr s anos que ela a m e deixou de ir a esses eventos por falta de tempo Ela diz que seus filhos frequentam museus via escolas e que est o sempre participando de promo es pelo r dio para concorrer a ingressos para ir ao cinema Ela lembra que quando mais jovem costumava ir com o marido assistir s pe as de teatro das quais a irm participava mas o marido dormia o tempo todo Hoje em dia cabe ao pai levar os filhos ao teatro quando a entrada gr tis mas ele ainda costuma dormir durante as pe as conta ela O conhecimento dessa m e sobre o sistema escolar fora do comum Seus filhos fazem um relat rio di rio sobre tudo que se passa em suas escolas Ela sabe detalhes n o s sobre o funcionamento do Ensino Fundamental M dio e Superior bem como quais s o as melhores escolas p blicas onde est o localizadas quais cursinhos d o bols
171. fim em si mesma para ser o ve culo para se chegar a uma conclus o ou para se fundamentar um ponto de vista isso n o se caracteriza mais como uma forma pura de sociabilidade SIMMEL 2006 30 Com rela o ao conte do de uma conversa n o que ele deva ser vazio entediante desinteressante deve at mesmo ser o contr rio de tudo isso desde que n o atraia para si todas as luzes dos holofotes Assim sendo A maneira pela qual os grupos se formam e se separam e o modo pelo qual a conversa surgida por impulso ou oportunidade se desenvolve aprofunda se ameniza se e termina numa reuni o social fornecem uma miniatura do ideal de sociedade que se poderia chamar de liberdade de associa o Se todas as converg ncias e diverg ncias devem ser fen menos rigorosamente proporcionais a realidades internas numa reuni o social elas existem sem tais realidades e nada resta al m de um fen meno que obedece s pr prias leis formais de um jogo cuja gra a fechada em si mesma revela esteticamente a mesma propor o que a seriedade da realidade exige em termos ticos SIMMEL 2006 78 Sendo ent o a posi o na hierarquia social um dos fatores mais importantes para a forma o e a manuten o dos la os de amizade claro que posta de forma inconsciente consequentemente o lugar de moradia e a situa o socioecon mica dos indiv duos deve influir nessa rela o Como os jovens participantes desta pesquisa moram b
172. fundamentar essa hip tese me baseei na seguinte declara o da jovem quando lhe foi perguntado se a m e se sentia orgulhosa dela Ela tem vez que eu chego em casa quando tiro nota ruim chego falando sou burra sou burra e fico chorando a tarde inteira Ela fala assim Voc muito inteligente e me coloca para cima As vezes eu mostro para ela uma nota e choro e ela Credo As meninas tiram nota boa e voc n o A eu fico naquela coisa tenho que tirar nota boa trecho da entrevista com S nia Em outro trecho ela conta sobre a admira o que os colegas t m por ela Eles me admiram igual a minha amiga ela sabe que eu sou esfor ada sabe o tanto que eu estudo que sou do Bom Aluno estudo aqui no Dom Assis Ela fica assim Voc mora longe como voc consegue Ela me elogia bastante As vezes eu tiro uma nota baixa e ela fica assim N o acredito Por que voc estuda muito mais que eu e tira nota mais baixa do que eu Ela fica desse jeito trecho da entrevista com S nia realizada no dia 20 05 2010 A sa de de S nia come a a dar ind cios de que algo n o vai bem A m e conta que ela tem dores de cabe a todos os dias e que isso nunca havia acontecido antes A jovem relata chorando que com tantas atividades e morando t o distante do col gio e do Programa acaba tendo que estudar dentro do nibus e que isso pode estar causando a dor de cabe a Ela estuda por pelo menos tr s horas diar
173. gio tamb m possui um pr vestibular que conta hoje com 1 800 alunos Segundo informa es contidas no site do col gio o seu crescimento se deu gra as constante melhoria da qualidade dos servi os prestados e aos bons resultados obtidos nos vestibulares mais concorridos da cidade e do Pa s O col gio tem dificuldade em encontrar jovens carentes que preencham os requisitos de conhecimento para a concess o de bolsas e segundo afirma o 3 Ag informa es foram retiradas do site e atualizadas pelo diretor de ensino dessa institui o 20 Instituto Tecnol gico de Aeron utica uma institui o de ensino superior do Comando da Aeron utica localizado em S o Jos dos Campos S o Paulo O ITA possui um dos processos de sele o mais rigorosos do Pa s 78 diretor de ensino a institui o possui hoje entre 25 a 30 jovens bolsistas A mensalidade para o ano letivo de 2011 de R 748 00 setecentos e quarenta e oito reais para o Ensino Fundamental e de R 928 00 novecentos e vinte e oito reais para o primeiro ano do Ensino M dio O col gio busca estimular em seus alunos a cr tica ao conhecimento a criatividade e a consci ncia pol tica juntamente com o desenvolvimento da a o social A institui o tamb m visa a desenvolver em seus alunos a disciplina e a persist ncia caracter sticas que s o necess rias realiza o plena do ser humano de acordo com sua proposta pedag gica Ainda como parte desse projeto i
174. guntando se era inconveniente para mim porque o pai de um amigo dele falou C sar est muito dif cil para voc fica aqui na minha casa se voc puder Porque fica tarde da noite dez horas da noite voc sai do Dom Assis e vai para Contagem E s vezes eu brigava eu n o queria que o C sar ficasse na casa dos outros eu achava que estava amolando mas depois o colega dele n o queria estudar o C sar tentava faz lo estudar a ele conversou com o pai mas ele n o quer estudar ele ficou um ano assim e mais um per odo enorme tamb m na casa do O teve c ncer e o C sar acordava de madrugada para ajudar o a estudar Trecho da entrevista com a m e de C sar Pude observar que as fam lias dos jovens bolsistas que antes ficavam sem saber como lidar com as brincadeiras de mau gosto sofridas por seus filhos nas escolas p blicas agora contam como os filhos despertam admira o nos novos colegas e em suas fam lias Em um ambiente de valoriza o do bom rendimento escolar seus filhos s o moeda forte Os trechos de depoimentos abaixo servem como exemplo E ainda Os meninos ligam para c Ant nio voc fez aquele trabalho assim No ano passado este ano menos porque os meninos se dividiram Ant nio voc fez aquele trabalho Voc sabe resolver aquilo E ainda tem o que gosta de matem tica e o Ant nio fica mostrando nisto aqui que meu irm o ganhou medalha E os men
175. h uma diferen a social muito grande e se ele n o tiver uma auto estima elevada uma estrutura ele n o consegue explica a psic loga pedagoga Com efeito Merklen amp Saint Martin 2010 11 ressaltam que ao apreender as fronteiras sociais os indiv duos se preparam para participar do jogo social para concorrer e cooperar com os membros de outros grupos Com a concorr ncia escolar em alta ap s a expans o da escolariza o no Brasil ocorrida na d cada passada a classe m dia aposta em diferenciais para valorizar o diploma de seus filhos seja patrocinando cursos no exterior cursos de 12 Tradu o sob minha responsabilidade 48 especializa o cursos universit rios de ponta cursos de MBA car ssimos coaching dentre outros Al m disso a utiliza o de v rias estrat gias para a manuten o da classe como morar em lugares frequentados por pessoas da mesma classe social e a aposta pesada no capital social para posicionar seus filhos no mercado de trabalho tamb m faz parte das pr ticas das classes m dias alta Como ficam ent o os jovens das classes desfavorecidas se o tal diploma t o sonhado j n o basta A escola n o tem nenhum poder sobre o mercado de trabalho e logo os indiv duos mais desprovidos de recursos veem acontecer diante de seus olhos o que Bourdieu 1998 chamou de desvaloriza o dos diplomas O sofrimento agora maior porque foi dada a chance e esse indiv duo fracassou Pr
176. hantes a que ela est vivendo l que ela e seus colegas discutem pol tica conversam sobre como fazer para salvar o mundo comentam as lutas das gera es passadas entre outros temas Citando as palavras da jovem eles tamb m t m vis es parecidas com as minhas a gente discute a gente cresce N o me vejo sem os meus amigos do Bom Aluno sem os 106 meus professores do Bom Aluno porque a gente se completa a gente aprende tem quatro anos vai fazer cinco no fim do ano que eu estou no Bom Aluno N o tem um dia que eu sa eu sa diferente eu sa mudada eu sa melhor a cada dia Isso essencial eu cresci muito eu sou uma pessoa melhor por estar aqui e isso muito bom um ponto muito bom trecho da entrevista com Vanda realizada no dia 13 de maio de 2010 Essa jovem com jeito meigo e fala de adulto descreve como se sente transitando em dois mundos socialmente distintos com essas palavras s vezes dif cil principalmente quando uma pessoa de um mundo est em desacordo n o entende o outro Porque eu a partir do momento em que eu conheci os dois mundos eu estou assim eu vivo em um mundo sou de um mundo passo a conhecer outro e eu tenho que respeitar esse outro porque eu sou o diferencial nele Ent o conheci tem coisas que eu concordo tem coisas que eu n o concordo mas eu sei a hora eu sei que eu n o posso questionar tudo Se eu quero mudar alguma coisa me integrar num
177. husettes o Massachusetts Institute of Technology MIT uma das universidades americanas de maior prest gio acad mico 63 Para viabilizar o trabalho desenvolvido com esses jovens o ISMART conta com o apoio e o investimento de um grupo de institui es parceiras e de indiv duos O ISMART atende jovens dos 12 at os 22 anos quando terminam o curso superior O Instituto possui um escrit rio matriz na cidade de S o Paulo e um escrit rio filial na cidade do Rio de Janeiro 3 2 O Programa Bom Aluno de Belo Horizonte PBA O Instituto Severino Ballesteros foi fundado por Dona Maria Thereza Ginocchi Ballesteros e sua filha Maria Claudia Ballesteros Rezende em homenagem ao Senhor Severino Ballesteros imigrante espanhol de origem humilde que chegou ao Brasil em 1928 sem estudo e sem recurso Fundado em Belo Horizonte no ano de 2002 o instituto funciona como entidade mantenedora do Programa Bom Aluno de Belo Horizonte PBA INSTITUTO SEVERINO BALLESTEROS s d A primeira unidade do PBA foi criada em Curitiba h 14 anos por dois empres rios paranaenses e hoje conta com seis unidades em diversas cidades do Pa s e desde 1997 quando foi avaliado e reconhecido pelo MEC faz parte do Programa Acorda Brasil BOM ALUNO s d Em 2002 quando iniciou as atividades em Belo Horizonte o Programa se inscreveu no Conselho Municipal de Assist ncia Social e em seguida se enquadrou na categoria de OSCIP O Programa tamb m est ins
178. i o fama capacidades excepcionais e m ritos individuais n o desempenham qualquer papel na sociabilidade SIMMEL 2006 67 N o se traz para essa socia o os dramas da vida pessoal ou a euforia de uma experi ncia vivida O indiv duo engaja nessa rela o com parcim nia com discri o com suas caracter sticas pessoais dominadas sendo capaz de se comportar apenas como mais um elemento desse encontro O car ter democr tico dessas socia es s pode ser exercitado no interior de uma mesma fatia das camadas sociais segundo afirma Simmel 2006 que observa nos casos de socia es entre estratos sociais distintos o risco de se tornar algo constrangedor 29 A igualdade como vimos resulta da elimina o por um lado do que inteiramente pessoal e por outro lado do que inteiramente material ou seja daquilo que a socia o encontra previamente como seu material e do qual se despe em sua condi o de sociabilidade SIMMEL 2006 69 Tal afirma o de grande import ncia para esse estudo uma vez que os jovens pesquisados se encontram nesse momento inseridos em novas redes de sociabilidade na escola formadas por jovens pertencentes s diversas fatias das classes m dias Para evitar qualquer desequil brio ou tens o na rela o de sociabilidade e promover uma intera o homog nea das partes os indiv duos devem segundo Simmel 2006 se despir de seu conte do objetivo garantindo uma iguald
179. ia de ver sua m e participando das reuni es da escola O fato de ela participar das reuni es do Bom Aluno e n o participar das reuni es do Dom Assis pode estar ligado ao medo de ser repreendida pela dire o do Programa ou pelo fato de se sentir constrangida em frequentar um novo ambiente social De qualquer maneira a n o presen a da m e de S nia nas reuni es do col gio parece estar contribuindo para o sofrimento da filha Agora ela ajuda mais mas nem tanto porque tem reuni o de escola a minha m e desinteressada n o vai Aqui no Bom Aluno ela vem quando pode mas reuni o de escola no Dom Assis ela n o vai E ter a feira dos alunos do Programa eu falei m e vai que importante o primeiro ano em que estou l ela n o n o vou porque os hor rios deles s o muito igual quatro horas da tarde a reuni o Acho que pregui a mesmo Eles n o se preocupam N o meu pai se preocupa Trecho da entrevista com S nia Tempo de deslocamento casa escola Dois dos sete jovens apontaram o tempo de deslocamento como um fator que dificulta uma maior dedica o aos estudos Acrescido a isso o cansa o proveniente da longa jornada di ria faz com que esses jovens tenham pouca qualidade de tempo de estudo C sar foi convidado a morar na casa de um colega que vive na regi o Centro Sul de Belo Horizonte Seu tempo dentro do nibus era de aproximadamente quatro horas somando o tempo de ida com o de volta c
180. iamente dentro do nibus em movimento Adicionado a isso a fam lia n o parece cooperar na constru o de um ambiente adequado para ela estudar A mesa onde ela estuda fica no centro da pequena sala onde tamb m fica a televis o e onde est localizada a cozinha que aberta para a sala A irm zinha chora muito a televis o est sempre ligada e tem sempre conversa Ela confessa j ter ido estudar 124 sentada no passeio da rua por n o conseguir se concentrar em meio a tanto barulho A m e por outro lado afirmou que a casa muito tranquila para estudar Como j relatado em outras entrevistas S nia tamb m sofreu preconceito por parte das colegas do antigo col gio A m e contou emocionada que as colegas queriam bater em sua filha porque ela era muito participativa A filha chegava chorando em casa por sofrer agress es verbais A m e j se preparava para ir conversar com a dire o da escola quando finalmente as colegas pararam de importunar S nia A fam lia parece estar sofrendo muito com a atual situa o da jovem e o Programa est procurando ajudar a diminuir esse sofrimento Existe j uma estrat gia para que S nia n o perca o ano letivo Caso as notas continuem baixas ela voltar para a escola p blica no meio do ano e far a prova de sele o para o CEFET no final do ano letivo Isso poder vir acompanhado de uma sensa o de fracasso S nia se queixou de que a m e n o participa de sua vida escolar e q
181. ica o exposto acima Um pouco porque agora que eu estou estudando muito n o estou tendo tempo de sair e eles me ligam voc est dando mais prioridade para os seus estudos do que para a gente Eles falam desse jeito Quando eu posso eu ligo para eles mas eu chego em casa tarde vou fazer minhas coisas e acabo me esquecendo e n o d tempo de ficar ligando e batendo papo com amigo mais Trecho da entrevista com S nia E ainda s vezes ela ia pra casa das coleguinhas sentava na rua com as meninas e ia conversar dia e noite Ela chega aqui por volta de umas oito e meia mais ou menos vai fazer os deveres que todo dia tem e vai dormir l por volta das onze da noite No outro dia j levanta vai estudar porque est muito puxado Trecho da entrevista com a m e de S nia z Em um momento de vida quando o tempo escasso percebe se a necessidade de organizar as prioridades Nas falas acima os jovens abrem m o dos encontros com seus antigos colegas em nome dos estudos No trecho da entrevista com S nia os antigos colegas demonstram estar chateados por terem sido preteridos pelos estudos mas ela n o Durante as entrevistas n o observei grandes descontentamentos devido ao distanciamento da antiga rede de rela es por parte dos bolsistas poss vel que eles encarem esse afastamento como parte do processo da busca por uma escolariza o de melhor qualidade A emerg ncia de interesses diferentes na vida dos j
182. iciativa privada o artigo 7 da LDB 96 diz o seguinte O ensino livre iniciativa privada atendidas as seguintes condi es cumprimento das normas gerais da educa o nacional e do respectivo sistema de ensino Il autoriza o de funcionamento e avalia o de qualidade pelo Poder P blico IIl capacidade de autofinanciamento ressalvado o previsto no art 213 da Constitui o Federal Os sete jovens populares pesquisados como se descreveu anteriormente s o egressos de institui es de ensino de iniciativa p blica e por interm dio de um Programa passam a frequentar institui es de ensino de iniciativa privada que s o normalmente destinadas aos jovens provenientes das classes m dias alta de Belo Horizonte e do interior de Minas Gerais Quatro desses jovens est o matriculados em uma institui o confessional sem fins lucrativos e tr s deles em uma institui o laica Ambas alcan aram os melhores resultados no ENEM 2008 na capital mineira A descri o do novo ambiente foi feita com base nas informa es contidas no site oficial de cada uma delas Os nomes reais dessas institui es foram omitidos 3 3 1 Col gio Dom Assis tradi o em educa o Segundo o site oficial do col gio onde estudam quatro dos jovens pesquisados trata se de uma institui o com mais de cem anos de exist ncia refer ncia de excel ncia em educa o e forma o humana e religiosa Em 1950 o col gio foi tra
183. ida singular na literatura brasileira jovens que s o o produto de uma determinada cultura de classes populares inseridos em um ambiente socializador destinado a jovens que s o por sua vez produto de outra cultura de classe Essa mudan a de contexto escolar n o poderia acontecer sem impactos ou transforma es na vida desses jovens e na de suas fam lias O abismo entre esse novo contexto socializador e o antigo se mostrou colossal e essa travessia tocou parentes amigos e at mesmo vizinhos desses jovens bolsistas O caminho que essas fam lias agora seguem n o o mesmo de outras pertencentes mesma classe social A mudan a n o tem volta Mesmo que esse jovem volte a frequentar uma institui o educacional destinada s classes populares ele n o ser mais o mesmo Ele trar consigo experi ncias socializadoras que foram incorporadas aos seus repert rios de esquemas de a o ficando registradas em sua personalidade Sendo esse campo emp rico pouco explorado muitas foram as minhas indaga es mas tendo em vista o pouco tempo destinado a uma disserta o de mestrado centrei minha investiga o em torno das seguintes quest es a entrada de um jovem oriundo das camadas de baixa renda em uma escola particular de alta reputa o acad mica produz modifica es nas disposi es familiares E caso o o Segundo Lahire disposi es s o propens es inclina es h bitos tend ncias
184. ida familiar s o abordados como a vida social e escolar do jovem as caracter sticas pessoais do jovem a maturidade a situa o financeira os motivos que levaram os pais a preencher a ficha de inscri o bem como os motivos que levaram o jovem a querer participar do Programa MANUAL T CNICO DO INSTITUTO BOM ALUNO s d Ressalta se que o perfil do aluno e da fam lia que orientam e determinam a escolha do candidato para seu ingresso no Programa MANUAL T CNICO DO INSTITUTO BOM ALUNO s d 40 Uma visita feita casa dos alunos selecionados para uma melhor avalia o da estrutura familiar e confirma o de car ncia As observa es feitas durante essa visita s o adicionadas s outras no banco de dados do aluno 71 Etapa Final De posse de todo o material de cada aluno que chegou at essa etapa da sele o ficha de inscri o prova escrita parecer da din mica da entrevista individual da entrevista com a fam lia e da visita domiciliar a equipe t cnica do Programa e a diretora do Instituto Severino Ballesteros se re nem com uma psic loga do Programa Bom Aluno de Curitiba que conhece bem esse processo e n o est emocionalmente envolvida com os candidatos para analisar o hist rico de cada jovem O n mero de candidatos nessa etapa gira em torno de 25 O n mero de alunos que entra para o Programa gira em torno de 20 por ano de sele o MANUAL T CNICO DO INSTITUTO BOM ALUNO s d A prepara
185. iedade global enquanto indiv duo mas tamb m a integra o com a sociedade por meio do pertencimento a um grupo e da diferencia o de outros grupos MERKLEN SAINT MARTIN 2010 11 No caso de um jovem oriundo das classes populares a obten o de um diploma em uma renomada universidade n o seria suficiente para ele cruzar com naturalidade as fronteiras sociais Estariam nesse diploma embutidas todas as disposi es que um indiv duo necessita ou seja que uma sociedade com forte diferencia o de classes exige para a aquisi o de uma boa posi o profissional Se por um lado a escola seria o lugar onde as chances s o igualmente distribu das entre todos ela por outro lado respons vel pela manuten o das desigualdades Tanto que ap s sa rem das escolas onde estudavam p blicas os jovens pesquisados neste estudo passam parte do dia melhorando os ensinamentos que obtiveram naquelas escolas a gente faz todo um trabalho de reeduca o escolar com esses alunos a gente ensina a estudar a se organizar a ter estrat gias de estudos a administrar o tempo observa a psic loga pedagoga do PBA O Programa Bom Aluno ministra aulas de portugu s matem tica ingl s f sica produ o de texto entre outras oferecendo tamb m aulas de desenvolvimento pessoal nas quais se trabalha a autoestima a motiva o para que o aluno possa se manter no Programa e nas escolas particulares Porque
186. inas tiram nota boa e voc n o A eu fico naquela coisa tenho que tirar nota boa Trecho da entrevista com S nia Citando Bourdieu 2007 o sofrimento dessa jovem agora maior porque foi dada a ela a chance e ela fracassou 5 4 Impactos nas pr ticas culturais das fam lias O quarto eixo de an lise procurou verificar se houve algum impacto ou alguma mudan a nas pr ticas culturais das fam lias ap s a inser o do filho em um espa o social marcado pelo grande ac mulo de capital cultural Tais pr ticas se referem presen a dessas fam lias em espa os leg timos de cultura como teatro concertos musicais e exposi es de arte Minha hip tese era de que os jovens bolsistas poderiam adquirir disposi es relacionadas a pr ticas culturais que motivaram suas fam lias a frequentar espa os a elas destinados Entretanto n o foi poss vel confirmar tal hip tese Sendo assim elaborei posteriormente algumas hip teses que ser o mencionadas mais adiante e que poderiam justificar a aus ncia dessas fam lias nesses espa os culturais 171 De acordo com Bourdieu 2007 o capital cultural institucionalizado decorre principalmente da posse de diplomas J o capital cultural na sua forma incorporada decorrente de uma cultura geral traduzida no gosto em mat ria de arte no dom nio da l ngua culta no uso da l ngua na moda na culin ria nos gestos corporais e na decora o NOGUEIRA e NOGUEIRA
187. ingl s Os jovens bolsistas tamb m contam com aulas de desenvolvimento pessoal e de h bitos de estudo J no segundo ano de Programa a mat ria leitura viva acrescentada mant m se o ingl s e o desenvolvimento pessoal A matem tica e o portugu s deixam de ser oferecidos Nos dois primeiros anos de Ensino M dio o 172 ingl s e o desenvolvimento pessoal s o mantidos e acrescentam se aulas de produ o de textos No 3 ano do Ensino M dio acrescentam se s atividades j existentes t cnicas de relaxamento Essas aulas s o ministradas por profissionais contratados pelo Programa Aulas no contraturno ingl s portugu s h bitos de estudos A Sociologia da Educa o de Bourdieu se notabiliza justamente pela diminui o que promove do peso do fator econ mico comparativamente ao cultural na explica o das desigualdades escolares NOGUEIRA e NOGUEIRA 2002 21 Com efeito o Programa trata de oferecer a seus jovens bolsistas conhecimentos considerados leg timos pela escola e que s o necess rios para obter xito nela S o ensinamentos que v o desde as mat rias cl ssicas at o modo de se sentar em sala de aula A base que o Bom Aluno d muito importante fundamental n o s em portugu s matem tica ou ingl s s o base para o ensino at a base pessoal que eles d o a forma de voc estudar que tem a mat ria h bitos de estudos que eles ensinam uma forma de estudar para voc estar ali s
188. ino Fundamental e que eles j se fecharam em pequenos grupos Ela relata que demorou um pouco para encontrar suas verdadeiras amigas e para isso passou por v rios grupinhos O fato de Eliana se autodenominar t mida parece no m nimo curioso Ela gosta de falar tem facilidade de se expressar madura e isso fica claro quando relata que no 2 ano de Alc ntara fez quest o juntamente com outras amigas de acolher os novatos O pai tamb m possui a mesma facilidade de se expressar que a filha e possui um vocabul rio bastante requintado e pouco condizente com sua ocupa o Tenho como hip tese que a frequ ncia de um semestre em uma faculdade mesmo que de baixo prest gio acad mico tenha contribu do para enriquecer sua maneira de falar A m e tamb m se expressa bem mas demonstra um pouco de timidez A ltima palavra fica sempre com o pai A fam lia parece em sintonia com rela o educa o da filha e para isso demonstra total disponibilidade para ajud la no que for preciso Diz fazer se necess rio um sacrif cio financeiro para que ela n o se sinta mal em rela o s colegas A participa o deles em todas as reuni es da escola e do Programa Bom Aluno d ind cios da forte aposta da fam lia na educa o da filha visando a um retorno em longo prazo coisa incomum nas camadas populares O pai inclusive j 95 vislumbra um interc mbio para a filha Segundo o estudo de Nogueira et al 2008 a internaciona
189. inos ficam curiosos para fazer perguntas E eles tamb m t m um n vel muito bom no Alc ntara dois ou tr s mas nenhum deles participou da olimp ada Trecho da entrevista com a m e de Ant nio J aconteceu de uma coleguinha dela pedir para ela ficar at mais tarde na escola para ajud la a estudar certa mat ria Eu estava trabalhando passava l e ficava esperando E o diferencial por causa dela mesmo que ela conseguiu com certeza s vezes ela praticamente professora Elas ligam para c para perguntar qualquer dificuldade Ela chegou aqui o telefone n o para mais Trecho da entrevista com os pais de Eliana O pertencimento ao Programa Bom Aluno constituiu outro fator a ser considerado como facilitador na forma o de novos grupos sociais Assim que terminei as entrevistas percebi que paralelamente forma o de uma nova rede de amizades no col gio particular ocorreu tamb m a forma o de uma rede de relacionamento entre os participantes do Programa Quatro bolsistas que moram em regi es pr ximas relataram fazer programas juntos nos finais de 130 semana como ir ao cinema ou simplesmente sair para se encontrar Com as meninas do Bom Aluno elas sempre v o em shoppings com a C lia com a com as outras meninas l A rela o entre esses jovens aparentemente n o tem como fator o forte capital escolar e sim o pertencimento de classe aliado
190. inze em quinze dias quando h um rod zio entre elas Os alunos do 2 ano de Ensino M dio recebem orienta o profissional dentro das aulas de desenvolvimento pessoal Essas aulas complementares seguem um planejamento pedag gico e acad mico e visam a preparar o aluno para aquisi o efetiva da compet ncia nesses conte dos afirma a gerente do Programa As aulas de ingl s iniciam se no 7 ano do Ensino Fundamental no n vel b sico e levam o aluno ao terminar o 3 ano do Ensino M dio a ser capaz de se comunicar nessa l ngua O aprimoramento do ingl s feito concomitantemente ao curso universit rio Ao final o aluno faz a prova para aquisi o do certificado de profici ncia da l ngua inglesa da Universidade de Cambridge Inglaterra ou da Universidade de Michigan EUA Os cursos de ingl s parceiros s o o Britain o Greenwich Schools e o Mai Funcion rios BOM ALUNO s d Quanto aos universit rios os encontros acontecem uma vez por m s com uma das psic logas do Programa As aulas de ingl s passam a ser ministradas por escolas especializadas parceiras O aluno escolhe a escola que fica mais pr xima de sua rota Tamb m nessa fase o Programa incentiva a busca da autonomia por parte dos participantes e apoia a busca de coloca o em programas de est gio O Programa passa a atender s necessidades espec ficas de cada jovem A ajuda 66 varia desde o fornecimento de vale transporte a alimenta o at a compra
191. io ressaltaram que todas elas est o presentes com maior ou menor intensidade para serem conjugadas entre si com o objetivo de produzir tais possibilidades de sucesso escolar Com efeito ao serem conjugadas com outras pr ticas t m como resultado produtos distintos que mereceram an lises distintas Pr ticas como o conformismo com as regras do jogo escolar um olhar positivo por parte das fam lias sobre a import ncia da escolariza o a busca de informa o sobre o funcionamento da rede escolar de forma a utiliz la mais efetivamente e o uso de viol ncia f sica ou amea a de seu uso como forma de 27 demonstra o de cuidado e zelo pela educa o dos filhos aliadas a vari veis como interrup o da escolariza o em v rios momentos mudan as constantes entre estabelecimentos de ensino por diferentes motivos e condi es financeiras das fam lias desfavor veis promoveram a entrada de jovens pertencentes s camadas de baixa renda na universidade PORTES 1993 A pertin ncia da retomada dos estudos realizados no contexto nacional serve como ponto de partida para esta pesquisa por examinar casos de trajet rias escolares bem sucedidas nas camadas populares No entanto tenho como hip tese que a trajet ria dos jovens bolsistas do Programa Bom Aluno dever se distanciar da trajet ria dos jovens retratados nos estudos brasileiros a partir do 6 ano do Ensino Fundamental adentrando por um terreno ainda desconhecid
192. ira o Programa Bom Aluno contribuiu para diminuir as diferen as culturais de classe entre os bolsistas do PBA e os colegas da escola particular Tomei como ponto de partida os trabalhos realizados no contexto nacional que investigaram as trajet rias de jovens provenientes das camadas desfavorecidas rumo a cursos superiores com o objetivo de apreender o papel da fam lia a presen a de outras inst ncias sociais de refer ncia durante essa trajet ria e a imprescind vel mobiliza o individual que essa empreitada requer 2 1 Estudos sobre sucesso escolar nos meios populares no contexto brasileiro As express es meios populares camadas populares camadas de baixa renda e camadas desfavorecidas s o usadas no presente estudo para designar grupos que ocupam as posi es que se situam na base da pir mide social porque est o em situa o desfavor vel no que tange distribui o das formas de riqueza que num dado momento hist rico constituem fatores de classifica o social os bens econ micos os bens culturais o poder Sua condi o social portanto marcada pela inseguran a submiss o despossess o SOUZA 2009 20 Desde a d cada de 1980 a Sociologia da Educa o vem apresentando estudos que n o se inserem mais em uma esfera de car ter macrossociol gico que analisa as trajet rias escolares como um fen meno pautado pelo determinismo da 25 estrutura so
193. ira simples Micro ondas M quina de lavar roupa M quina de lavar lou a Banheiro 28 Al m de estudar o que voc faz nas horas vagas em ordem de maior frequ ncia T 2 3 29 Voc assiste televis o durante a semana Sim N o 30 Com que frequ ncia voc assiste televis o durante a semana Menos de 1 hora por dia De 1 a2 horas por dia De2a4 horas por dia De4a6 horas por dia Mais de 6 horas por dia 31 Voc assiste televis o nos finais de semana Sim N o 32 Com que frequ ncia voc assiste televis o nos finais de semanas Menos de 1 hora por dia De 1 a 2 horas por dia De2a4 horas por dia De4a 6 horas por dia 207 Mais de 6 horas por dia 33 Quais s o seus tr s canais e ou programas preferidos gipas 2 3 34 Voc utiliza o computador e a internet Sim N o 35 Com que frequ ncia Menos de 1 hora por dia De 1 a2 horas por dia De2a4 horas por dia De4a6 horas por dia Mais de 6 horas por dia 36 Qual o principal lugar em que voc acessa o computador internet Lan house Casa de parentes ou amigos Outros 37 Escreva os tr s principais usos que voc faz da internet e ou do computador 2 2 3 38 Escreva as tr s principais p ginas que voc acessa na internet 1 2 3 39 V
194. is do Programa sendo um deles uma psic loga As atividades s o feitas usando materiais como sucatas jornais usados canetas r gua l pis tesoura cola papel colorido e outros Essas din micas 70 buscam avaliar nos jovens a presen a de algumas caracter sticas que o Programa aponta como importantes S o elas participa o colabora o socializa o assertividade iniciativa combatividade estrutura emocional respeito e adequa o Al m das caracter sticas acima mencionadas a capacidade de lideran a e a criatividade s o valorizadas pelo PBA pois indicam alunos expoentes que poder o ser destaques em seu desenvolvimento MANUAL T CNICO DO INSTITUTO BOM ALUNO DO BRASIL s d 29 Ap s o t rmino dessa etapa os profissionais envolvidos redigem as impress es sobre os candidatos seguindo os itens impressos nas fichas atribuindo pontos para cada caracter stica observada nos jovens Entrevista e visita domiciliar O processo seletivo continua com uma entrevista com os pais ou respons veis e uma entrevista com os candidatos na sede do Programa A dura o de 40 minutos com os respons veis de 15 minutos com os participantes e de 15 minutos para as anota es das impress es gerais Essa etapa conta sempre com a presen a de uma psic loga do Programa a fim de poder avaliar a estrutura emocional do aluno e de sua fam lia Tamb m nessa etapa que se conferem os dados das fichas de inscri o Aspectos da v
195. isation familiale pour le capital scolaire in Dubet Fran ois org in Ecole familles le malentend Paris Textuel 1997 p 45 58 SOUZA Jo o Vicente Silva Alunos de escola p blica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul portas entreabertas 2009 200 p Tese Doutoramento em Educa o Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2009 SOUZA Maria do Socorro Neri Medeiros de Do seringal universidade o acesso das camadas populares ao ensino superior p blico no Acre 2009 207 p Tese Doutoramento em Educa o Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2009 TAR BOLA Felipe de Souza Quando o ornitorrinco vai universidade trajet rias de sucesso e longevidade escolar pouco prov veis na USP escolariza o e forma o de habitus de estudantes universit rios das camadas populares 2010 409 p Disserta o Mestrado em Educa o Universidade de S o Paulo S o Paulo 2010 TERRAIL Jean Pierre Destins ouvriers La fin d une classe Paris PUF 1990 La sociologie des interactions famille cole in Soci t s Contemporainses 25 1997 p 67 88 THIN Daniel Para uma an lise das rela es entre fam lias populares e escola confronta o entre l gicas socializadoras Revista Brasileira de Educa o Editora Autores Associados v 11 n 32 2006 p 211 225 Quartiers populaires L cole et les familles Lyon PUL 1998 191 VALARELLI Leandro Lam
196. iv duos na hierarquia social Portanto temos compartilhando um mesmo espa o socializador sete jovens provenientes das camadas desfavorecidas filhos de pais com baixa escolaridade e com ocupa es bra ais com exce o de um pai vivendo distante dos bairros onde se encontram as novas escolas inseridos em escolas de alto n vel acad mico em que os colegas s o pertencentes s classes m dias alta estes ltimos sendo filhos de pais com alta escolaridade e com profiss es intelectuais ou empresariais Com efeito vemos que as diferen as nos n veis socioecon mico e cultural entre essas fam lias propiciam dados que respondem investiga o acerca dos efeitos mudan as que a frequ ncia simult nea a esses dois mundos acarreta na vida desses jovens bolsistas 1 2 A coleta de dados O tipo de objeto a ser estudado aqui proposto fez com que eu utilizasse intencionalmente duas t cnicas de coleta de dados o question rio e a entrevista A observa o direta que se deu durante partes do processo de sele o do Programa n o foi em princ pio planejada Foi consequ ncia de um convite feito pela ger ncia 18 do Programa Bom Aluno para que eu presenciasse partes das etapas da sele o que ocorre a cada dois anos Em 2009 aconteceu uma sele o e coincidentemente eu acabara de entrar para o Programa de Mestrado Entretanto somente o meu objeto de estudo os participantes do Programa Bom Aluno tinha sido definid
197. l a import ncia de frequentar esse tipo de espa o A fam lia faria algum sacrif cio financeiro para comprar entradas para algum evento dessa natureza Que tipo de divers o a fam lia as pessoas da fam lia separadamente frequenta m Isso mudou depois da entrada de seu sua filho a no Programa 204 AP NDICE VII QUESTION RIO SOCIOECON MICO E CULTURAL 1 Nome 2 Idade 3 Data de nascimento 4 Sexo M F 5 Assinale a alternativa que identifica sua cor ou ra a Negro Pardo Branco Amarelo Ind gena 6 Onde voc nasceu BH Grande BH Interior de MG Outro estado Outro pa s 7 Qual o local de sua resid ncia atual Cidade Bairro 8 Voc fez Educa o Infantil Sim N o 9 Marque o tipo de estabelecimento em que voc estudou no Ensino Fundamental 1 a 4 s rie Todo em Escola P blica Municipal Estadual Federal Todo em Escola Privada Maior parte em Escola P blica Municipal Estadual Federal Maior parte em Escola Privada Escolas Comunit rias Outros 10 Nome do s estabelecimento s em que voc estudou no Ensino Fundamental 12 a 4 s rie 11 Marque o tipo de estabelecimento em que voc estudou no Ensino Fundamental II 5 a 6 s rie Todo em Escola P blica Municipal Estadual Federal Todo em Escola Privada Maior parte em Escola P blica Muni
198. lata sua experi ncia 133 No come o no primeiro dia de aula eu entrei Ai meu Deus como vai ser Eu morrendo de medo No primeiro dia eu conheci uma menina e a gente come ou a conversar e depois a gente come ou a conversar com os outros foi f cil Fic vamos eu essa menina que eu conversei primeiro e a outra novata uma n o a que eu comecei a conversar n o era novata mas a outra era Come ou sempre as tr s exclu das e a gente come ou a igual eu falei com as duas fazer amizade com menino mais f cil Vamos nos aproximar mais dos meninos porque menino n o tem aquela coisa igual menina ah n o vou conversar com ela porque ela metida n o vou conversar com ela porque ela feia n o vou conversar com ela aqueles hem hem de menina Como menino n o tem isso tudo mais f cil Hoje a gente tem o nosso grupinho de amigos mas a gente n o se exclui Eu converso com todo mundo claro que tem as meninas mais patricinhas que n o v o muito com a minha cara e eu tamb m n o vou muito com a cara delas s o cinco pessoas na sala mas eu me relaciono com todo mundo Trecho da entrevista com S nia Ao se agrupar com outras duas colegas exclu das essa jovem j formara um grupo e por mais que elas se sentissem sem grupo elas ao partirem para conquistar os meninos estavam apenas aumentando o n mero de membros de sua rede de sociabilidade Pelo relato acima a jovem parece se relacionar bem com o
199. lecionava hist ria A escolha dos professores foi feita atrav s de uma pesquisa oral entre os jovens do Programa Eles eram considerados pelos jovens do Programa como os professores mais pr ximos e contribu ram com valiosas informa es Conv m explicitar que tamb m entrevistei tr s professoras e a psic loga pedagoga do Programa Bom Aluno com o intuito de conhecer um pouco mais sobre a din mica das aulas no contexto do Programa saber como elas percebiam os jovens e como elas se sentiam trabalhando com esse p blico Esses encontros foram longos e por vezes acabaram virando mais uma conversa entre amigas Duas entrevistas foram carregadas de emo es fazendo com que a entrevistadora tamb m se comovesse Secundariamente foi feita uma consulta com a gerente do Programa sobre as notas desses jovens que foram utilizadas para efeito de compara o da profici ncia acad mica em rela o aos colegas de turma Question rio No que concerne a informa es sobre condi es sociais e econ micas das fam lias dos alunos entrevistados s caracter sticas pessoais dos jovens ao local de moradia escolaridade dos pais s escolas p blicas frequentadas anteriormente escolha da escola particular ao uso da internet como meio de adquirir conhecimento e como meio de comunica o s prefer ncias culturais como estilos de m sica e filme ao uso do tempo livre e leitura de jornais e revistas bem como ao uso da biblioteca opt
200. liza o da escolariza o uma das marcas das trajet rias escolares de jovens provenientes das fatias mais altas das classes m dias Eliana descreve suas amigas como ricas por m simples Ela constantemente convidada a ir casa delas tendo que na maioria das vezes declinar do convite atribuindo a isso o fato de o pai n o ter carro O pai diz que quando pode reveza com a m e na hora de buscar a filha na casa de alguma colega e afirma que na maioria das vezes os pais das amigas buscam a filha na casa da fam lia Nas pr prias palavras do pai A maioria das vezes eles levam e buscam esse povo tem carro A distin o entre n s e eles se faz clara nessa declara o do pai Mas isso n o parece interferir na amizade que Eliana estabeleceu com um grupinho de meninas pois sempre que poss vel os pais de uma das colegas a buscam em casa e a levam para caminhar domingo de manh em volta da Lagoa da Pampulha O espa o da escola frequentemente utilizado para os encontros com as amigas por ser de f cil acesso para ela A jovem fala com tristeza de n o poder frequentar algumas das atividades que a escola promove quando essas acontecem fora da sede da escola devido ao problema de deslocamento e somado a isso o custo de certas atividades simplesmente n o cabe no or amento dom stico O pai de Eliana lembra que no in cio ele e a m e ficavam preocupados em interagir com os outros pais nas reuni es da e
201. luno conforme combinado com a gerente do Programa Com um grande sorriso estampado no rosto ele me deixa mais vontade do que eu o deixo Ele tem 16 anos e est cursando o 2 ano de Ensino Fundamental do Col gio Dom Assis No question rio ele se autoclassificou como pardo no item ra a cor C sar o ca ula de uma fratria de quatro irm os O jovem come a a narrar sua trajet ria com 2 Os nomes dos jovens s o fict cios 2 As idades dos jovens pesquisados s o relativas poca da coleta de dados ou seja entre maio e junho de 2010 Ano em que est o matriculados na escola 2 A ordem da apresenta o dos jovens seguiu a ordem cronol gica das entrevistas 29 A nomea o das regi es utilizadas nesta disserta o foi retirada do site da Prefeitura de Belo Horizonte www pbh gov br 80 desembara o fazendo algumas reflex es conforme as perguntas C sar deixa transparecer em sua fala um dom nio artificial da l ngua Ele chegou a se corrigir algumas vezes trocando palavras populares por outras polidas de forma a tornar seu discurso mais elaborado As respostas foram controladas tensas na sua forma gramatical revelando a utiliza o de uma l ngua emprestada Para Bourdieu 2008 o momento da entrevista revela o ponto m ximo da tens o subjetiva por conta de sua sensibilidade particular tens o objetiva Nas palavras desse autor tal comportamento revela um habitus lingu stico que
202. m Belo Horizonte s o nove as escolas parceiras que oferecem bolsas de estudo integral Desde 2005 a sele o dos alunos feita a cada dois anos A taxa de evas o de aproximadamente vinte por cento e acontece principalmente por motivo de mudan a de cidade pelas fam lias O Programa tem como objetivo Incentivar pedag gica e economicamente bons alunos de baixa renda por meio de sua capacita o educacional e t cnico profissional bem como habilit los nos aspectos de cidadania e solidariedade para que se tornem agentes de transforma o de sua situa o socioecon mica e da desigualdade social existentes no Brasil MANUAL TECNICO DO INSTITUTO BOM ALUNO DO BRASIL s d Al m disso o Programa oferece apoio psicopedag gico do 7 ano do Ensino Fundamental at o t rmino do ensino superior material did tico livros uniforme alimenta o lanche e almo o transporte atividades extras como idas ao teatro cinema e excurs es e no contraturno da escola ministra cursos complementares de portugu s matem tica ingl s reda o e interpreta o de texto As condi es necess rias para que o aluno possa ingressar no PBA s o estar cursando o 6 ano do ensino fundamental em uma escola p blica morar na regi o metropolitana de Belo Horizonte pertencer a uma fam lia de baixa renda renda de no m ximo um sal rio m nimo per capita ter boas notas ser ass duo e acima de tudo demonstrar vontade de aprender BOM ALUNO
203. m carro Ele enfatiza estar com pessoas de classes distintas quando se refere s fam lias das colegas da filha de esse povo ou seja n o o meu povo Esse movimento em torno dos deslocamentos foi observado com mais frequ ncia nas fam lias das meninas Lidando com a frustra o Ao ser selecionado para participar do Programa Bom Aluno n o est no script desse jovem a possibilidade de algo n o sair conforme o programado Os jovens demonstram se orgulhosos de suas conquistas e suas energias s o recarregadas a cada etapa vencida Eu me sinto muito honrada porque eu consegui com meu esfor o Eu batalho sou dedicada agrade o muito a Deus por ter me dado essa oportunidade pelo Bom Aluno tamb m e estou batalhando para conseguir permanecer l porque muito dif cil eu sou aluna do col gio l tem o por m das notas Trecho da entrevista com S nia 169 Thin 1998 fala da contradi o encontrada no discurso de algumas fam lias populares entre seguir uma carreira longa ou ter uma forma o t cnica Algumas dessas fam lias gostariam de ver seus filhos cursando algo de maior prest gio do que um curso t cnico No entanto a vis o turva ou seja pouco clara de at onde esse filho poder chegar e at mesmo o que ele conseguir ao final de tantos anos se dedicando sua forma o faz com que o cobi ado diploma de curso superior se torne algo pouco palp vel Nas palavras do autor Com muita fr
204. m dia eu n o me sinto tanto assim Eu me sinto mais confort vel no meio simples mas eu n o me sinto s do meio simples como se fosse no meio entre um e outro como se fosse nos dois Ent o n o uma coisa s de um ou s de outro Eu acho bem interessante s vezes eu fico olhando falando nossa bem diferente E bem diferente mesmo voc fica ali naquele meio fica entre os dois Trecho da entrevista com C sar Eliana explica como se sente Eu me vejo assim bem diferente porque elas t m peles perfeitas porque v o a dermatologistas toda semana fazem tratamento eu n o fazem academia eu n o diferente mas eu consigo superar tudo isso Eu tenho muita coisa para oferecer que elas n o t m eu n o consigo lembrar um exemplo agora mas tem muita coisa que eu sei de experi ncia minha muitas vezes quando a gente fala de coisa que eu vivi na escola p blica eu dou minha opini o eu j tenho experi ncia Eu me vejo um pouco diferente Depois que eu entrei l eu peguei h bito de vi sobre maquilagem sobre m sica sobre um monte de coisas Eu consigo me enturmar porque eu corro atr s e procuro me informar para o caso de algu m me questionar eu n o falar que n o sei Eu vou l procuro porque se algu m me perguntar eu sei concordo ou discordo Trecho da entrevista com Eliana Nem sempre as m ltiplas disposi es incorporadas decorrentes da imers o nesse novo universo s o necessariamente fonte de s
205. m lado as entrevistas constituem uma porta de acesso s realidades sociais apostando na capacidade de entrar em rela o com as outras Do outro essas realidades sociais n o se deixam facilmente apreender sendo transmitidas atrav s do jogo e das quest es das intera es sociais que a rela o de entrevista necessariamente implica assim como do jogo 19 complexo das m ltiplas interpreta es produzidas pelos discursos POUPART 2008 215 Parti para o campo emp rico com a ansiedade de uma jornalista em sua primeira entrevista As t cnicas de entrevista tinham sido lidas exaustivamente ZAGO 2003 KAUFMANN 1996 BOURDIEU 1997 e a perspectiva era de um bom come o Por m essa primeira entrevista foi refeita no ano de 2011 por eu achar que pouco foi aproveitado daquele encontro Meu escutar n o estava sintonizado nas entrelinhas e sim nas grandes falas Minhas perguntas estavam engessadas decoradas n o sa am do script n o se transformavam Assim a cada entrevista que eu realizava minha escuta tornava se mais agu ada minha capacidade de ler as express es e os gestos aumentava os sil ncios eram escutados e respeitados fazendo com que eu tirasse o m ximo que a t cnica permitisse daquele momento Conhecer a t cnica foi apenas o in cio dessa etapa Com a pr tica fortaleci a teoria As entrevistas com os sete alunos aconteceram na sede do Programa Bom Aluno que fica situada na regi o Centro Sul de Belo Hori
206. m os jovens e que na realidade a filha n o pede nada apenas comenta A m e de C lia est pensando em conseguir um emprego fixo para fazer uma festa de 15 anos para a filha nos moldes de uma que seu irm o fez para sua sobrinha Observou se nessa fam lia mais do que nas outras uma mobiliza o para atender s novas demandas da filha Ao lhe ser perguntado sobre o que mais tinha chamado sua aten o quando ela foi casa de uma das novas amigas C lia respondeu que foi o fato de que eles na hora do almo o arrumam a mesa Ela explica que na sua casa a fam lia n o almo a junto e que n o se arruma a mesa Em sua casa ela come na cozinha lugar onde aconteceu a entrevista e onde est localizada a mesa de 117 refei o Ela finaliza sua resposta acrescentando que bem diferente mesmo porque at os costumes das minhas amigas que moram perto de mim s o diferentes dos da escola bem diferente mas eu lido com isso Para se comunicar com suas colegas C lia usa o MSN e o telefone fixo mais nada completa ela Ela tamb m faz uso do computador durante os finais de semana quando sua prima dorme em sua casa A m e diz controlar o tempo e o conte do do uso do computador A m e e o pai controlam o n vel de ru do da casa propiciando um ambiente favor vel aos estudos A filha agora tem um quarto s para ela At um ano atr s ela e o irm o dividiam o mesmo quarto A m e conta que com a entrada d
207. mas tem coisas igual voc est falando sobre estar numa escola particular ent o uma mochila um t nis sempre todo mundo se ajuda Todo mundo ali para fazer o melhor para ela A primeira festa de 15 anos que ela foi foi o meu menino mais velho que deu o vestido para ela Trecho da entrevista com a m e de Vanda Pela declara o da m e de M rio No come o eu achei que ele ia me cobrar demais cobrar t nis de marca roupa de marca tudo de marca mas foi diferente ele compreende eu falo com ele que eu n o posso ele me pede as coisas porque ele tem que pedir porque ele n o trabalha mas n o com aquela exig ncia Se eu puder eu dou se n o puder n o dou Ele pede alguma coisa mas sempre n o com aquela exig ncia Agora mesmo est me pedindo um MP4 Eu vou dar para ele anivers rio dele dia 7 agora e eu vou dar para ele Trecho da entrevista com a m e de M rio A m e de C lia por sua vez Com certeza porque tem um gasto a mais a gente tem que fazer o esfor o da gente O que eu puder fazer me esfor o daqui e dali igual ela foi a uma viagem agora ela foi para Petr polis e adorou O Bom Aluno pagou mas acaba que a gente teve que comprar uma mala para ela a gente tem tamb m que fazer um pouco de esfor o para n o ficar tamb m Trecho da entrevista com a m e de C lia A fam lia de Ant nio se mostrou orgulhosa em poder contribuir com a educa o do filho O pai o nico ent
208. meio tudo assim lavar e passar que eu fa o muito Igual agora no caso da minha av em nenhum momento a minha m e chegou para mim e falou filha voc vai para casa d uma ajeitada para mim Mas eu tinha consci ncia n o ia deixar a minha m e chegar em casa noite cansada e arrumar a casa Eu tenho consci ncia que eu tenho que fazer a minha parte Trecho da entrevista com Vanda Condi es des favor veis para estudar aus ncia e incompreens o da fam lia Cinco dos jovens entrevistados expressaram com frustra o a falta de coopera o entendimento por parte da fam lia no momento de promover um ambiente silencioso e prop cio para estudar Nota se que as fam lias populares sentem se de alguma forma compelidas a contribuir com a escolariza o de sua prole e segundo Thin 1998 por motivos que v o desde evitar que sejam estigmatizados pelos outros pais at que sejam mal vistos pelos pr prios representantes legais da escola Ao n o possu rem as l gicas exigidas pela escola e pelos professores e sim possu rem l gicas que tiveram como matriz geral o ponto de vista popular sobre a escola conforme afirma Queiroz 1995 apud NOGUEIRA ABREU 2004 47 essas fam lias acabam por n o corresponder s expectativas dos professores s vezes eu estudo quando s para ler algum livro ou revisar mat rias no caderno mas em geral eu estudo mesmo na sala fazendo meus exerc cios porque d para
209. mesmo de transgredi las Ainda quanto a esse respeito as autoras afirmam Embora os modos de percep o e os processos de constru o e de transgress o de fronteiras dependam muito das condi es estruturantes pr vias eles podem tamb m se dever em alguns casos em grande parte a disposi es dos atores experi ncias educativas acontecimentos desencadeadores pouco previs veis e aos contextos vari veis nos quais os atores se inscrevem LABAHE MARTIN 2008 335 Em A Distin o 1997 Bourdieu classifica as fronteiras sociais como resultado de lutas que acontecem dentro de campos espec ficos com o objetivo de obter uma melhor classifica o sendo que concomitantemente algu m ser desclassificado Indo mais al m Labache amp Martin 2008 apontam para o fato de que a constru o dessas fronteiras pode acontecer no n vel de uma categoria como a da fam lia ou pode se dar no n vel individual estando esta ltima associada a rupturas Quando se d na escala de um grupo ela servir para refor ar o contorno deste grupo que j se encontra em uma posi o conquistada Mas quando se d em escala individual ela vem carregada de significados como o da descontinuidade do rompimento do distanciamento do grupo de origem Sendo assim diante da necessidade de recome ar esses indiv duos se veem incitados a transgredir fronteiras 50 Seguem abaixo os mapas das regi es contendo a m dia de anos de
210. mir mais cedo que nos outros dias Tipo quando na sexta feira eu 157 tenho prova a minha m e fala hoje voc vai estudar para voc se dar bem de manh A eu vou l fa o a tarefa e vou estudar Se tem algum programa que eu vejo na televis o minha m e me deixa assistir no final de semana Trecho da entrevista com Ant nio E ainda Controlo porque eu sei como a gente estudar em casa cheia n o d certo Mas controlo sim Pode sentar l pode deitar l um pouquinho e esperar o Ant nio fazer o para casa tenho que controlar n o tem jeito E tudo organizadinho na hora certa como falei para voc ele chega aqui aquele lazerzinho aquele descansinho que ele tem assiste o que ele gosta o Pica Pau se n o me engano come alguma coisa e eu pergunto tem dever E uma briga mas a gente tenta controlar porque s vezes est na hora de dormir e falo gente desliga essa televis o Ah me deixa ver Ele gosta muito de um programa me esqueci a falo Ant nio j deu dez horas amanh voc tem Bom Aluno O dia que ele vai s para o Alc ntara tarde eu deixo ele acordar um pouquinho mais tarde uma hora mais tarde mas sempre tem que estudar para prova tem que fazer um trabalho eu controlo na medida do poss vel eu controlo Todo dia eles me d o o relat rio completo ele prega ali quando tem alguma circular que ele tem que igual prova toda sexta feira tem eu falo Ant nio vai es
211. n o t o assim que sempre tem algu m que voc consegue conversar melhor com aquela pessoa e eu n o notei uma coisa t o diferente Mas no in cio eu ficava assim Ficava preocupada quando falava que tinha uma reuni o s vezes eu falava vai para o marido Mas ele tamb m n o gosta muito de ir prefere que eu v A princ pio parece que tem uma blindagem que s o pessoas inacess veis s que depois voc est na mesma rea voc se torna igual Trecho da entrevista com os pais de Eliana Depois de frequentar algumas reuni es e de muita ang stia antes de cada encontro o casal chegou conclus o de que se a filha estuda nesse col gio porque ela merece Entretanto esse nunca ser um ambiente de descontra o para esse casal e provavelmente o alargamento de sua rede de sociabilidade n o passar por essas pessoas A princ pio quando voc est conversando com algu m que j entrou no ambiente eu j estou aqui dentro ele j vai me olhar e falar assim se est aqui dentro porque pode estar teve acesso E a voc j come a a achar que est melhorando as coisas est o melhorando Das reuni es que eu fui eu conversei muito pouco conversei com um pai que estava ao meu lado um que estava direita e outro que estava esquerda referindo se s reuni es no Alc ntara Trecho da entrevista com os pais de Eliana Or amento dom stico Perrenoud 1987 afirma que nesse dom
212. n o descanso muito e n o tenho disposi o para estudar no outro dia No outro dia eu j durmo e acordo com dor de cabe a Tem que ter um tempo de estudo No Dom Assis eles falam o professor coordenador nosso ele marcou uma entrevista com os novatos e falou o tempo m nimo que voc s t m que estudar para estar no Dom Assis o tempo m nimo de voc s tr s horas por dia Eu falei n o tem jeito eu n o tenho esse tempo Trecho da entrevista com S nia Os outros cinco jovens n o mencionaram o tempo de deslocamento como sendo algo que influenciasse no desempenho escolar Medo de se expor direito a ter direito Para Lareau 20083 a sintonia entre a escola e as classes m dias bem maior do que com as classes populares Em sua pesquisa etnogr fica realizada com fam lias das classes trabalhadoras e com fam lias das classes m dias a autora descreve a exist ncia de modos distintos de cria o dos filhos nesses dois universos familiares O que ela percebeu em seu estudo foi a exist ncia de um padr o de cria o nas classes m dias que ela denomina de cultivo orquestrado e de outro 154 comum entre as fam lias dos meios desfavorecidos que ela denomina de crescimento natural Tais estilos acabam por fazer com que o indiv duo das classes m dias no caso da pesquisa de Lareau os filhos dessas fam lias interiorizem um sentimento de ter direito a intervir em seu pr prio interesse
213. n o tem muita dimens o de qual a realidade que est por tr s do aluno Mas eu n o consegui nada nenhum tipo de defasagem de nenhum desses tr s citados Trecho da entrevista com um professor do Alc ntara Para outra das professoras Ela tem um astral muito legal Ela tem uma seguran a muito boa uma autoestima fant stica Eu acredito que a nica quest o f sica de preconceito que ela possa ter sofrido realmente em rela o ao cabelo Mas por ser uma menina de classe social mais baixa ou por n o ter l pis importado mochila isso jamais Inclusive ela faz parte de um grupo que geralmente s o tr s ou quatro duas delas s o meninas de uma classe social muito avantajada tem uma japonesinha que filha de um juiz que mora em Alphaville tem muito dinheiro todo ano vai para o exterior e tudo Ela faz parte do grupo di rio dela e elas lidam muito bem entre elas Trecho da entrevista com uma professora do Alc ntara E ainda N o s o acanhados A Vanda pergunta sempre que tem uma d vida o que raro porque ela uma menina excelente muito boa de servi o O Ant nio tamb m Trecho da entrevista com uma professora do Alc ntara J no Col gio Dom Assis devido ao grande n mero de alunos e devido grande presen a de outros bolsistas os professores n o sabiam exatamente quem eram os alunos em quest o O que ajudou na identifica o foi o fato de eles poderem consultar um programa de notas no qual h
214. na J S nia n o se sente no direito a ter direito de perguntar ao professor no caso de uma d vida preferindo perguntar ao colega Para essa jovem a intera o com o s mbolo de autoridade que pode estar relacionado com a figura do professor acompanhada de uma sensa o de desconforto ou pode ser tamb m por medo de se expor em um ambiente que ela n o se julga merecedora de frequentar 155 Um pouco porque s vezes voc tem uma d vida que banal e eu fico com um pouco de vergonha em perguntar porque os alunos de escola particular s o praticamente nerds Ent o voc tem uma d vida boba e acaba perguntando mais para os seus amigos do que para o professor Trecho da entrevista com S nia Esta pesquisa mostrou que apesar de terem sido socializados nos meios populares os outros jovens introjetaram o direito a por exemplo como o direito a fazer perguntas em sala de aula conforme depoimentos de alguns professores Desempenho escolar dos jovens bolsistas em rela o turma Trato de verificar aqui o n vel de profici ncia dos jovens bolsistas em rela o turma da escola particular Para isso consultei a dire o do Programa bem como ouvi depoimentos dos professores das escolas particulares D o conta de acompanhar d o conta de corresponder tanto Vanda Eliana e Ant nio S o meninos que j entram com uma m dia alta porque aqui n o sei se voc sabe no Alc ntara tem a m dia indi
215. ncentivam se a intera o e a participa o democr tica do alunado nas atividades proporcionadas pelo col gio bem como a valoriza o da tica da forma o da atitude e da utiliza o do saber cient fico e tecnol gico A dire o do col gio ressalta que tem como meta contribuir para o desenvolvimento social moral intelectual e cultural do Pa s O col gio est localizado na regi o Centro Sul da capital mineira e conta com 70 professores muitos deles egressos das camadas populares segundo afirmou o diretor de ensino O col gio possui dois pr dios totalizando 14 500 metros quadrados de constru o Um pr dio abriga as turmas do 6 ano do Ensino Fundamental at o 2 ano do Ensino M dio e o outro inaugurado no final de 2010 abriga o 3 ano do Ensino M dio e as turmas do pr vestibular O complexo possui duas bibliotecas com computadores para acesso internet laborat rios de f sica qu mica e biologia tr s salas de estudo com cabines individuais sala de artes e de xadrez A rea esportiva tem al m de quadras piscina e vesti rios As duas unidades funcionam nos turnos da manh e da tarde Segundo levantamento feito sobre o local de moradia dos jovens matriculados no 9 ano do Ensino Fundamental e no 2 ano do Ensino M dio 60 dessas fam lias vivem na regi o Centro Sul de Belo Horizonte onde o IDH 0 914 O IDH do bairro onde est localizado o col gio 0 941 Os IDHs dos bairros onde vivem os tr s j
216. neira M rio acha que tudo que ele faz hoje ter um peso no seu futuro A entrada de M rio em uma universidade ser um marco em sua fam lia nuclear Ele diz que uma prima se formar em breve e que ele ser o segundo a cursar uma faculdade M rio lembra que a fam lia veio do interior que ela est sofrendo uma mudan a de mentalidade e que sua gera o mudar a dire o da trajet ria dessa fam lia Os pais de M rio apesar de separados acompanham a vida escolar do filho intensamente A m e sabe dizer os hor rios e os dias das atividades do filho e sempre procura saber como ele se saiu nas provas Ela sempre frequenta as reuni es do Programa e da escola e quando n o pode ir o pai vai A fam lia vive a vida escolar do filho junto com ele O jovem diz que o pai cobra dele um bom 112 desempenho escolar e se sente ofendido caso M rio n o o comunique sobre alguma atividade como por exemplo uma prova Ao lhe ser perguntado como ele acha que seria sua vida sem o Programa O jovem responde que n o consegue se imaginar trilhando outro caminho Ele acha que as coordenadoras do Programa n o poderiam ter escolhido escola melhor para ele Ele diz gostar muito do Col gio Dom Assis pelo fato de os professores n o estarem preocupados com notas e sim se os alunos v o sair de l como pessoas melhores do que quando entraram Ele atribui a escolha dessa escola s coordenadoras do Programa e afirma que elas t m uma capacidade muito g
217. ng were ranked first and second places on the National Exam 2008 ENEM in the city of Belo Horizonte The data was collected by interviews and by an applied questionnaire The results indicated significant impact in the social network of the students School has become the place of convergence and divergence between two cultures from the working class and from the middle classes Many social boundaries have been crossed new dispositions have been acquired and many others have been shut off In the beginning the students school proficiency is affected by the long daily ride to school as well as by the social and cultural class condition of their families whose domestic life have changed in order to meet the new demands These students now called class transfuges are the confrontation product between two different socialization logics familial and scholarly KEY WORDS working class families school NGO private and public schools social boundaries 1 French term used by Sociologist Jean Pierre Terrail 1990 to name an individual who experienced social class mobility through the acquisition of a diploma LISTA DE ILUSTRA ES FIGURA 1 M dia de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade 2000 Todas as UDHs da RMBH FIGURA 2 M dia de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade 2000 Todas as UDHs da RMBH Com indica o da localiza o dos bairros onde moram as fam lias dos jovens bolsistas FIGUR
218. nio A estrutura da escola In PEREIRA Luiz FORACCHI Ana Elisa M Educa o e sociedade leituras de sociologia da educa o S o Paulo Nacional 1969 CROZIER G et al White middle class parents identities educational choice and the urban comprehensive school dilemmas ambivalence and moral ambiguity British Journal of Sociology of Education In NOGUEIRA M A Classes m dias e escola novas perspectivas de an lise Curr culos sem Fronteiras online 2010 vol 10 n 1 p 213 231 DESLAURIERS Jean Pierre K RISIT Mich lle O delineamento da pesquisa qualitativa In A Pesquisa Qualitativa Enfoques epistemol gicos e metodol gicos Petr polis Vozes 2008 DI RIO Z nia Maria Bom Aluno O Brasil precisa deste talento In FARFUS D ROCHA M C orgs CARON A at al Inova es Sociais Curitiba SESE SENAI UNINDUS 2007 p 175 192 DRAIBE S nia HENRIQUE Wiln s Welfare State crise e gest o da crise um balan o da literatura internacional Revista Brasileira de Ci ncias Sociais n 6 fev 1998 DURU BELLAT Marie L Inflation Scolaire Les Desilusions de La M ritocratie Paris Editions Du Seuil 2006 ELIAS Norbert A sociedade dos indiv duos Rio de Janeiro Zahar 1994 ESPSTEIN J SANDERS M Connecting Home School and Community In Handbook of the Sociology of Education Plenum Publishers New York 2000 p 285 306 FALCONER Andr s Pablo A Promessa do terceiro setor
219. nio que as fam lias sentem o peso da escolariza o e no caso desta pesquisa o peso indireto grifo meu de uma escolariza o de alto n vel j que os custos diretos s o por conta da entidade patrocinadora Teve uma poca que sim teve porque o C sar falava m e estou precisando de t nis assim e come ou a querer escolher Falamos conversamos teve uma vez que meu filho comprou um t nis para ele de mais de R 200 00 eu falei voc louco Mas n s vamos pagar m e Eu falei voc vai pagar sozinho porque n o mandei voc comprar Eu falei n o vou fazer isso porque hoje quer isso e amanh quer outra coisa E enquanto voc est pagando ainda as presta es de um ele vai querer outro n o vai dar Fizemos ele entender que n o dava ele entendeu direitinho e hoje quando ele v um colega comprando uma camisa igual do amigo dele de R 300 00 no shopping ele acha um absurdo Ele fala 163 com R 300 00 eu vou no shopping Oiapoque e compro um tanto Trecho da entrevista com a m e de C sar Mesmo com o Programa custeando as despesas diretas com a escolariza o dos jovens como uniforme completo material escolar transporte alimenta o e viagens o conv vio com colegas pertencentes s classes mais favorecidas desperta o desejo de possuir algo que fa a com que eles tenham uma sensa o de pertencimento a esse outro universo At nas condi es de material dela que o Bom Aluno fornece tudo
220. no encaminhamento dos jovens at as salas de prova e na entrega do material Ouvi atentamente a chamada para a prova que foi feita pela gerente do Programa por um microfone seguida das informa es sobre o que deveria acontecer nas pr ximas horas e de sugest es de como os familiares e acompanhantes poderiam passar o tempo de espera Durante o intervalo entre as provas de portugu s e matem tica colaborei com a distribui o do lanche organizando as mesinhas que ficavam espalhadas por toda a escola Na segunda parte da prova continuei a visitar as v rias salas e substitu professores que necessitavam se ausentar por algum tempo Respondi a v rias perguntas dos jovens participantes da sele o e pude observar express es de ansiedade naqueles rostos t o jovens N o podia imaginar que minha presen a nesses momentos trouxesse informa es t o preciosas para esse estudo Quando os primeiros jovens come aram a sair os familiares que at ent o estavam passeando pela bela regi o no entorno da escola come aram a se reunir no p tio A expectativa que tomou conta dessas fam lias naquele momento indescrit vel Os abra os e afagos as v rias perguntas feitas ao mesmo tempo deixaram os jovens j cansados de uma longa manh de prova emocionados e 22 atordoados O mito da aus ncia da participa o das fam lias populares na escolariza o de seus filhos tem suas exce es e eu me encontrava diante dessa exce o J
221. no col gio os professores n o Acho que vai pela sua postura Tem alunos que t m notas incr veis mas que n o t m uma postura Eu n o admito ter uma m postura em sala eu n o gosto eu gosto de ter uma postura adequada de uma boa aluna Eu fui assim a minha vida inteira s vezes quando eu fa o alguma coisa errada quando eu converso quando eu deixo de cumprir com alguma tarefa eu me castigo por isso E acho que as pessoas gostam de mim pelo o que eu sou Se elas acham isso uma qualidade elas v o se aproximar isso n o pr requisito ter notas boas acho que se elas gostam de mim pelo o que eu sou e eu sou assim gosto de ter essa postura trecho da entrevista com Vanda realizada no dia 13 de maio de 2010 A rotina da fam lia foi alterada drasticamente com a ida de Vanda para a escola particular A m e conta que at a filha aprender o caminho da sede do Programa ela a acompanhava e a esperava a manh inteira Ela lembra que foi muito bem acolhida pela dona de uma loja onde ela ficava sentada na porta esperando at o final das aulas da filha Hoje quando o pai termina o servi o ele vai para a porta da escola e fica esperando por algumas horas at a sa da da filha Nos dias em que isso n o poss vel a m e se desloca at o ponto do nibus onde a filha desce para que a jovem n o caminhe at a casa sozinha Ela toma um nibus para ir at a escola e leva em torno de 40 minutos Na volta devido ao tr nsi
222. novas perspectivas de an lise Nogueira 2010 retoma o tema e argumenta que uma das raz es para se aprofundar nas pesquisas sobre essa fatia de classe decorrente da mudan a de olhar sobre ela por parte da comunidade cient fica nessas ltimas d cadas e sobretudo devido ao seu crescimento mete rico no per odo 2004 2008 IPEA 2008 Nogueira 2010 volta a discorrer sobre os v rios conceitos que os autores utilizam para definir classes m dias e com o intuito de ajudar nessa compreens o vale citar um desses conceitos Ao se estudar a classe m dia preciso lembrar a associa o entre classes m dias e consumo t o comum na literatura pois esse consumo de padr o acima do popular um recurso central na forma o da identidade dessa classe GUERRA et al 2006 17 Convertendo esse conceito em pr tica tudo indica que a classe m dia est gastando seus recursos em pesados investimentos escolares Com o crescimento da economia nacional aumentou tamb m a popula o pertencente a 38 essa classe social Em decorr ncia de tais mudan as a concorr ncia para conseguir uma vaga em uma universidade de prest gio ficou ainda mais acirrada e consequentemente ficou mais dif cil obter uma coloca o privilegiada no mercado de trabalho Ainda sobre como definir a classe m dia o estudo intitulado A nova classe m dia coordenado por Neri 2008 prop e uma maneira inovadora de medir essa classe combinar el
223. nsa o de poder ter tirado mais proveito desses momentos mas verdade que n o sabia bem o qu coletar Quero deixar bem claro que minhas observa es feitas nesses momentos n o foram sistematizadas e n o seguiram um roteiro Foram observa es que em princ pio serviriam para alargar o conhecimento do campo emp rico e que ao longo da pesquisa transformaram se em material de grande valor Admito que sem elas v rias lacunas deste estudo poderiam n o estar preenchidas Al m desta introdu o a presente disserta o composta por quatro cap tulos numerados de 2 a 5 No Cap tulo 2 s o abordados estudos que serviram para uma compreens o mais ampla do objeto de estudo proposto sendo que estes serviram como eixos te ricos que nortearam as an lises dos dados emp ricos coletados 23 No terceiro cap tulo faz se uma breve descri o sobre entidades n o governamentais descreve se o Programa Bom Aluno detalhadamente e s o apresentados os principais aspectos das duas escolas particulares frequentadas pelos jovens bolsistas no que diz respeito estrutura f sica ao n mero de alunos e proposta pedag gica No Cap tulo 4 os sete jovens pesquisados e suas fam lias s o caracterizados na forma de perfis Por meio de question rios tra ou se o perfil socioecon mico e cultural do grupo e por meio de entrevistas foram descritas caracter sticas que permitissem ao leitor dar vida a esses sujeitos e su
224. nsferido do interior para a capital mineira e hoje conta com 3 500 2 Ag informa es foram retiradas do site da escola e atualizadas pela Assistente de Servi o Social dessa institui o 76 estudantes do 1 ano do Ensino Fundamental ao 3 ano do Ensino M dio A mantenedora do col gio reverte os recursos financeiros captados em atividades sociais e em melhorias para os setores educacionais e socioassistenciais A mensalidade para o ano letivo de 2011 de R 626 43 seiscentos e vinte e seis reais e quarenta e tr s centavos para o Ensino Fundamental e de R 846 71 oitocentos e quarenta e seis reais e setenta e um centavos para o primeiro ano do Ensino M dio Al m de seguir as orienta es da LDB n 9394 96 Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e do Ensino M dio e as orienta es do Conselho Estadual de Educa o ainda segundo afirma o site o col gio que pauta sua proposta pedag gica na forma o humana baseada nos princ pios ticos da autonomia responsabilidade solidariedade e do respeito ao bem comum Quanto aos princ pios pol ticos refor a os direitos e deveres da cidadania o exerc cio da cr tica e do respeito ordem democr tica Quanto aos princ pios crist os dissemina se o conceito da paz e da solidariedade e no que diz respeito aos princ pios est ticos incentiva se a criatividade e a diversidade art stica e cultural O col gio est localizado na regi o Centro Sul de
225. ntradit rias De um lado tal envolvimento aponta para um importante compromisso social de parte do capital compromisso fundamental em sociedades como a brasileira com elevada concentra o de renda e consider vel desn vel social Mas ao mesmo tempo aponta tamb m para um crescente descomprometimento do setor p blico com a educa o correndo se o risco de rompimento de um dos aspectos mais importantes na constru o da democracia social brasileira O risco avaliado por esses autores de o pr prio Estado se afastar das responsabilidades de ser o provedor desse tipo de servi o que foi conquistado depois de muita luta por parte da sociedade civil Em pesquisa feita pela internet encontram se dois programas educacionais que n o somente patrocinam a educa o de jovens com bom desempenho acad mico provenientes das camadas populares mas que tamb m oferecem prepara o acad mica e social para o ingresso e a perman ncia no novo ambiente escolar S o eles o Instituto Social para Motivar Apoiar e Reconhecer Talentos ISMART e o Programa Bom Aluno Em Belo Horizonte a Funda o Danilo Pena FUNDAPE mantenedora da Incubadora de Talentos oferece a menores carentes que apresentem timo 61 desempenho escolar bolsas de estudos para cursar o Ensino M dio em dois col gios de Belo Horizonte e posteriormente em universidades A FUNDAPE arca com todas as despesas necess rias vida acad mica do jovem como material es
226. ntre outras gera grande mobiliza o por parte dos pais que temem causar constrangimentos para o jovem na escola e no caso deste estudo no Programa As fam lias dos participantes do Programa Bom Aluno j tinham uma rotina di ria estabelecida em torno das necessidades de cada filho que j se 182 encontrava na escola e de uma hora para outra veem seu cotidiano alterado por uma nova realidade que acaba de se instalar dentro de seus lares as exig ncias da nova escola mais as do Programa A reorganiza o da rotina em torno dessas novas demandas exige que as fam lias lancem m o de estrat gias por exemplo em rela o ao controle do tempo e aos constantes deslocamentos dos filhos Os pais dos jovens se veem frequentando espa os sociais destinados s camadas m dias os irm os e irm s se mobilizam em busca de uma escolariza o de melhor qualidade e ou mesmo em dar continuidade aos estudos a fam lia se v as voltas com despesas n o planejadas geradas indiretamente por essa inser o e as m es t m de lidar com o ac mulo do trabalho dom stico decorrente da libera o do filho para que este dedique seu pouco tempo livre aos estudos Sobre mudan as nas pr ticas culturais dessas fam lias o estudo mostrou que pouco aconteceu nesse campo Essas fam lias que j vivem uma vida financeira prec ria n o podem dispor de recursos para financiar atividades dessa natureza As perguntas feitas durante as sete entrevistas revela
227. ntrevistas com o meu filho a Declaro ainda que li as informa es contidas neste documento antes de assinar este termo de consentimento que toda a linguagem utilizada na descri o desse estudo foi satisfatoriamente explicada e que recebi respostas para todas as minhas d vidas Caso surjam quaisquer problemas al m de poder entrar com contato com a orientadora respons vel da pesquisa Prof Maria Jos Braga Viana 3661 1954 9181 7585 e com a correspons vel Ana Beatriz Ratton Ferreira 31 3284 7724 9104 8724 tamb m poder acionar o Comit de Etica da UFMG Av Ant nio Carlos 6 625 Unidade Administrativa Il 2 andar Sala 2005 fone 3409 4592 e mail coep Oprpq ufmg br Assinatura do pai m e ou respons vel legal Local Data Orientadora da pesquisa Prof Maria Jos Braga Viana Pesquisadora correspons vel Ana Beatriz Ratton Ferreira 198 AP NDICE IV TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO AOS PROFESSORES Prezado a Professor a O a senhor a est sendo convidado a a participar da pesquisa Impactos da inser o em escolas da rede privada de alto prest gio acad mico sobre jovens populares e suas fam lias o Programa Bom Aluno de Belo Horizonte que visa a identificar e analisar os impactos da inser o em um ambiente escolar de alto n vel acad mico destinado s classes sociais mais favorecidas sobre alunos participantes do Programa Bom Aluno A entrevista abordar temas como a man
228. o GR FICO 2 Distribui o por sexo dos 101 alunos do Programa Bom Aluno em 31 12 2010 Fonte Programa Bom Aluno Belo Horizonte MG 73 60 n srme E 51 50 40 GR FICO 3 Distribui o por etapa escolar dos 101 alunos do Programa Bom Aluno em 31 12 2010 Fonte Programa Bom Aluno Belo Horizonte MG 12 10 8 7 6 4 4 4 4 2 E 1 ea 0 Du T T T T T T T EI T 1 E lt m g o a S uu L v pe o 2 o o g e 2 dO EAEE A eI FEE Edge q sas UEL E E 2 o S a O 9 O o q 8 a 5 5 o o 8 T o GR FICO 4 Distribui o de 50 alunos do Programa Bom Aluno em escolas p blicas e col gios particulares em 30 12 2010 Fonte Programa Bom Aluno Belo Horizonte MG 74 GR FICO 5 Cursos universit rios escolhidos por 51 alunos do Programa Bom Aluno em 30 12 2010 Fonte Programa Bom Aluno Belo Horizonte MG 30 20 15 AEI 10 E E Aan Ca Prouni UFMG Cefet Bolsa UEMG Funda o Integral Jo o Pinheiro GR FICO 6 Inser o dos 51 alunos universit rios do Programa Bom Aluno no Ensino Superior em 30 12 2010 Fonte Programa Bom Aluno Belo Horizonte MG 75 3 3 O novo ambiente Segundo a LDB n 9 394 de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as diretrizes e bases da educa o nacional existem dois tipos de institui es educacionais a p blica e a privada Quanto exist ncia da in
229. o Cidadania entre outros O vigor com que esse tipo de organiza o conquistou o Brasil demonstrado nos v rios setores em que elas podem ser encontradas Fica a pergunta de como o Brasil se tornou um terreno t o receptivo para a implementa o de tais organiza es Quando o tema o terceiro setor encontramos uma variedade de conceitos e de nomenclaturas Dentre eles cito os que foram comumente encontrados nos artigos e textos utilizados nesse estudo Organiza o N o Governamental ONG Associa o Brasileira de ONGs Abong Organiza es sem fins lucrativos Organiza es Sociais OS Rede de Informa o para o Terceiro Setor RITS Grupo de Institutos Funda es e Empresas GIFE Organiza es da Sociedade Civil OSC e Organiza es da Sociedade Civil de Interesse P blico OSCIP sendo que cada uma delas tem uma forma singular de atuar em parceria com o Estado 58 O terceiro setor e a educa o Os programas educacionais patrocinados pelo terceiro setor surgiram no Brasil no final dos anos 1990 quando se deu in cio implementa o dos programas de responsabilidade social nas grandes empresas do Pa s H atualmente no Brasil in meros programas educacionais destinados a atender s v rias demandas relacionadas educa o das fam lias de baixa renda Eles variam desde complemento refor o escolariza o de crian as e jovens com dificuldades de aprendizagem educa o em per odo integral combat
230. o porque muita coisa eu j tinha n o diria esquecido mas estava adormecido e como ela estava mexendo com muitas coisas em matem tica muita coisa ela ajudou E at um orgulho em falar meu pai est fazendo isso Querendo ou n o tem algumas profiss es que s o cl ssicas e engenharia uma delas Entrevista com o pai de Eliana Conhecimento do sistema escolar Outra mudan a percebida nas fam lias foi o conhecimento adquirido pelas mesmas a respeito do sistema escolar As v rias reuni es que o Programa e que a escola promovem aliadas s informa es que os jovens trazem para casa acabam por capacitar os membros da fam lia sobre o sofisticado sistema escolar brasileiro Centro Federal de Educa o Tecnol gica de Minas Gerais 166 A desenvoltura em usar termos relativos ao sistema de ensino como ENEM se mostrou em v rias conversas As fam lias se apoderaram deles e os usam com muita propriedade Sabem quais s o as universidades de maior prest gio e discorrem sobre suas etapas de sele o Tem as informa es quando tem reuni o falam sobre as coisas igual do ENEM falam tudo Acho que vai ajud lo muito a entrar numa universidade atrav s das provas e ele ter uma base melhor pode escolher um col gio melhor teve a ajuda do Bom Aluno Esse ano ele vai fazer a prova do ENEM e pode ter notas melhores e com isso o ENEM vai valer para a UFMG na primeira etapa acho que com isso ele passando na primeira e
231. o Eu ainda n o tinha escolhido os eixos a serem analisados Mesmo assim aceitei participar de partes do processo de sele o para conhecer melhor o funcionamento do Programa embora eu n o portasse comigo uma lente de aumento que me permitisse examinar com profundidade qualquer aspecto dessa etapa Era como se eu estivesse olhando uma cidade onde eu acabara de chegar do alto de um pr dio A minha presen a no dia da prova escrita na din mica de grupo e nas entrevistas com os jovens e suas fam lias foi fundamental para a compreens o das formas de participa o das fam lias populares na escolariza o de seus filhos A descri o dessas observa es ser tratada com mais detalhes no cap tulo 2 Assim sendo tais procedimentos me possibilitaram uma maior proximidade com os pesquisados e a soma deles serviu para preencher lacunas que uma ou outra t cnica n o preencheria e fez com que eu apreendesse a realidade desses jovens e de suas fam lias de uma forma mais abrangente Na ocasi o em que finalizei essa etapa a de coleta de dados pude perceber o quanto tinha apoderado me da realidade desses jovens e de suas fam lias sem deixar de sentir que poderia ter apreendido mais se o tempo permitisse Entrevista Poupart 2008 215 considera a entrevista como um meio de dar conta do ponto de vista dos atores sociais e de consider lo para compreender e interpretar as suas realidades e faz a seguinte afirma o De u
232. o da popula o pagamento da d vida externa desemprego polui o ambiental e problemas pol ticos Fragilzado em parte pela inefici ncia dos servi os fundamentais o chamado Estado de Bem estar Social o Welfare State chega ao fim nos pa ses europeus As reformas sofridas por esses pa ses chegaram at os pa ses da Am rica Latina na d cada de 90 trazendo em seu bojo a ideia de reconfigura o do papel do Estado A ocupa o do espa o p blico por atores privados com finalidade p blica e o anacronismo da legisla o brasileira para atender a essa nova realidade Rela o Anual de Informa es Sociais um instrumento de coleta de dados do Minist rio do Trabalho e Emprego 55 FERRAREZI 2007 12 possibilitaram a reforma da legisla o que diz respeito ao terceiro setor na agenda governamental do Pa s Falconer 1999 iii revela que o terceiro setor aparece n o mais em forma de Santas Casas de Miseric rdia e de obras sociais como era tradicionalmente conhecido mas como uma nova e grande promessa de renovar o espa o p blico o resgate da solidariedade e da cidadania a humaniza o do capitalismo e se poss vel a supera o da pobreza Durante o governo militar 1964 1985 paralelamente s organiza es de cunho pol tico j existiam organiza es que desenvolviam projetos sociais junto s comunidades carentes Tais organiza es que dependiam do financiamento e do envio de verbas por org
233. o anos eu acho nas tarefas dom sticas como lavar vasilha lavar banheiro Minha m e nunca julgou se era tarefa para mulher sempre se est dentro de casa est sujando tem que ajudar a limpar tamb m Ainda assim eu continuo a ajudar dentro de casa Trecho da entrevista com C sar Vanda demonstrou se sentir bem em ajudar a m e com as tarefas dom sticas Para ela isso n o representa um peso Ela relata que durante suas f rias assume praticamente sozinha a limpeza da casa e o preparo das refei es Enquanto os jovens das classes m dias est o viajando para as praias brasileiras ou para o exterior ou at mesmo fazendo um interc mbio de f rias para melhorar a flu ncia em uma l ngua estrangeira os jovens pertencentes s classes populares se ocupam em ajudar os familiares nas tarefas da casa quando acontece alguma coisa por exemplo minha av ficou mais de duas semanas internada ela foi para casa na ter a feira agora porque ela quebrou o f mur e teve que ficar no hospital um temp o Ent o minha m e n o estava em casa na segunda que o dia que eu vou para casa almo ava trocava de roupa e arrumava cozinha fazia o jantar ajudava o meu pai qualquer coisa que precisar fazer eu sei fazer tudo Se a minha 151 m e puder fazer ela faz porque realmente n o sobra muito tempo para isso Eu arrumo cozinha eu gosto de cozinhar ent o nas f rias fazer o jantar o almo o arrumar a casa lavar banheiro
234. o em uma escola particular t o forte E antes Como ficaram os estudos dos outros filhos que n o est o no Programa O comportamento do filho bolsista mudou em rela o ao que fazer no tempo livre que ele tem O filho foi dispensado de alguma tarefa dom stica para poder estudar Existe um cantinho de estudo para ele A fam lia controla o n vel de barulho quando ele est estudando A fam lia controla o tempo de TV a que ele assiste A fam lia controla as sa das dele Os amigos A fam lia controla o tempo de repouso A fam lia j frequentou festas reuni es na nova escola E do PBA A fam lia teve de apertar o or amento para atender s necessidades do filho Algum dos pais respons veis voltou a estudar depois do ingresso desse jovem no Programa A fam lia vista por vizinhos e parentes como uma fam lia especial As pessoas tratam seu filho diferentemente De que forma o PBA ajuda voc s a compreender as regras da nova escola Seria poss vel isso acontecer sem a ajuda do programa Como voc avalia a ajuda do programa nessa nova fase de vida de seu filho O que mudou em sua casa desde a entrada do filho no Programa Pr ticas culturais frequ ncia a espa os culturais A fam lia tem costume de ir a museus Exposi es Shows Cinema Teatro Concertos ao ar livre Como foi essa experi ncia Gostaria de repeti la A fam lia fazia isso antes da entrada do jovem no Programa Qua
235. o familiar 2 o seu relacionamento com o espa o 3 o or amento despesas diretas indiretas 4 as tarefas o trabalho escolar a apresenta o do filho na escola 5 o controle social que ela exerce sobre a crian a 6 a sua a o educativa 7 a evolu o do futuro dos filhos 8 a rotina 9 a autoimagem decorrente dos resultados das avalia es escolares 10 a prote o de sua vida privada 11 sua rela o com o futuro e suas estrat gias diante da armadilha escolar 12 a sua inser o social nas diversas redes de rela o Sem deixar de citar os diversos tipos de estruturas familiares o autor considerou como fam lia em seu trabalho o grupo dentro do qual a crian a ou o T tulo original do trabalho em franc s Ce que l ecole fait aux familles 41 jovem vive e em que se encontra pelo menos um adulto respons vel por sua educa o e por sua escolariza o Assim sendo o autor explica existem fam lias diferentes em sua estrutura e em sua composi o e mais diferentes ainda com rela o sua condi o de vida a seus valores e a seu modo de funcionamento a escola n o saberia fazer a mesma coisa com fam lias t o diferentes PERRENOUD 1987 93 Com efeito a escola age sobre cada fam lia de forma particular sendo que essa forma est sujeita a mudan as que variam de acordo com acontecimentos dentro ou fora das fam lias ou acontecimentos ligados escola Lembrando que as f
236. o na execu o de servi os de car ter p blico na forma de organiza es de sociedade civil sem fins lucrativos e come a a se espalhar pelo Pa s cumprindo essas e outras fun es que o Estado jamais p de cumprir devido extens o territorial e diversidade socioecon mica da popula o e como essas organiza es 56 n o visavam ao lucro diferentemente de outras organiza es n o encontraram nenhuma resist ncia por parte da popula o Para muitos autores como L lis 2007 tais mudan as s o parte do processo de contra reformas utilizadas como estrat gia de supera o da crise do capitalismo mediante o processo de constitui o do Estado Amplo e arrefecimento dos Estados Restritos que vem fomentando a interse o das esferas p blica e privada A jun o dessas esferas se torna imprescind vel solidifica o da conjuntura de liberdades irrestritas ao mercado tendo como objetivo atender s exig ncias postas pelo capital nessa fase de reestrutura o produtiva necess rias ao desenvolvimento dos mecanismos de aumento da produtividade capitalista A implementa o da Lei n 9 637 de 15 de maio de 1998 que cria as organiza es sociais e da Lei n 9 790 de 23 de mar o de 1999 que cria a figura das Organiza es da Sociedade Civil de Interesse P blico OSCIP e institui o termo parceria ilustra bem esse momento A autora ressalta que tais leis quando na mira de pessoas inescrupulosas
237. o p blico para Professora Titular Classes m dias e escola novas perspectivas de an lise In Curr culos sem Fronteiras online 2010 vol 10 n 1 p 213 231 OLIVEIRA Anna Cynthia HADDAD S rgio As organiza es da sociedade civil e as ONGS de educa o In Cadernos de Pesquisa Funda o Carlos Chagas n 112 p 61 83 2001 Dispon vel em http www scielo br Acesso em nov 2010 PEREIRA Adriana da Silva Alves Sucesso escolar de alunos dos meios populares mobiliza o pessoal e estrat gias familiares 2005 213 p Disserta o Mestrado em Educa o Pontif cia Universidade Cat lica de Minas Gerais 2005 PEROSA Graziela Perroni A aprendizagem da diferen a classe g nero e corpo em uma escola para meninas Cadernos Pagu Campinas n 26 p 87 111 2006 PERRENOUD Phillipe Ce que Pecole fait aux familles inventaire In MONTANDON Cl op tre PERRENOUD Philippe Entre parents et enseignants um dialogue impossible Berne Peter Lang 1987 PIOTTO D bora Cristina As exce es e suas regras estudantes das camadas populares em uma universidade p blica 2007 361 p Tese Doutoramento em Psicologia Universidade de S o Paulo S o Paulo 2007 PORTES cio Trajet rias e estrat gias escolares do universit rio das camadas populares 1993 248 p Disserta o Mestrado em Educa o Universidade Federal de Minas Gerais 1993 Trajet rias escolares e vida acad mica dos estudante
238. o pela Sociologia da Educa o um terreno no qual a educa o de jovens bons alunos oriundos dos meios populares est sob a tutela de uma entidade n o governamental com estrat gias de educa o associadas s fam lias de classes m dias 2 2 As rela es de sociabilidade Tendo como um dos eixos norteadores desta pesquisa a hip tese de que os jovens participantes do Programa Bom Aluno sofram impactos mudan as em sua rede de sociabilidade ao frequentarem um novo ambiente socializador busquei antes de mais nada contribui es de autores que tratam do tema sociabilidade para melhor compreender seu significado bem como sua dimens o Para isso utilizei Georg Simmel que em 1917 publicou o livro Quest es fundamentais de sociologia obra cl ssica da sociologia e F lix Requena Santos que escreveu Amigos y redes sociales elementos para uma sociologia de la amistad em 1994 Assim sendo na vis o do primeiro autor A socia o portanto a forma que se realiza de in meras maneiras distintas na qual os indiv duos em raz o de seus interesses sensoriais ideais moment neos duradouros conscientes inconscientes movidos pela causalidade ou teleologicamente determinados se desenvolvem conjuntamente em dire o a uma unidade no seio da qual esses interesses se realizam SIMMEL 2006 60 28 Para o segundo autor A amizade n o somente uma quest o dependente da livre escolha das pessoas nem da
239. oc gosta de escutar m sica Sim N o 40 Com que frequ ncia voc escuta m sica Menos de 1 hora por dia 1 a 2 horas por dia 2 a 3 horas por dia Mais de 3 horas por dia lt lt 41 Seu s estilo s musical ais preferidos 1 2 3 42 Seu s cantor es grupo s de m sica preferido s 1 2 3 208 43 Voc gosta de assistir a filmes Sim N o 44 Normalmente voc assiste a filmes Em casa DVD v deo No cinema Assisto igualmente em casa e no cinema 45 Com que frequ ncia voc vai ao cinema Mais de 1 vez por m s 1 vez por m s Menos de 1 vez por m s 46 Que estilo s de filmes voc prefere T A 3 47 Cite o nome de tr s filmes de que voc gostou muito 1 2 3 48 Voc costuma ler algum jornal Sim N o Qualis 49 Voc costuma ler alguma revista Sim N o Qualis 50 Voc costuma ler hist ria em quadrinhos Sim N o Qualfis 51 Voc costuma ler livros de literatura ou romance Sim N o Cite o nome de dois livros que voc leu e gostou 52 Voc costuma ir biblioteca Nunca Apenas para fazer trabalhos em grupo Para fazer pesquisas escolares Para pegar livros emprestados independentemente da exig ncia da escola 57 Com que frequ ncia voc faz empr stimos de livros na bibliotec
240. ofrimento Parece que OS jovens tiram proveito de seu grande repert rio de esquemas de a o e os utilizam com propriedade Esses novos h bitos ajudam a ver a vida sob outro ngulo e ampliam as formas de reflex o M rio d inteligibilidade a esse fen meno nesta passagem porque eu cresci muito com esse conhecimento e que eu posso perceber as diferen as de comportamento que existem entre os dois meios as semelhan as e as diferen as e procuro analisar o que seria melhor para mim e carregar aquilo comigo para analisar o que acontece Eu gosto muito 178 dessa experi ncia de conhecer outras leis principalmente depois que a gente come ou a ter as aulas de sociologia que eu pude ver que aquilo l uma mat ria para a gente poder analisar essas coisas que acontecem gosto muito A quest o da vis o de mundo Depois que a gente entra na escola particular a nossa vis o de mundo se amplia A gente come a a pensar de outros ngulos que outrora a gente n o pensava Acho que a vis o de futuro um dos pontos mais positivos Trecho da entrevista com M rio Lahire 2001 39 acrescenta o fato de que a aquisi o de alguns esquemas de a o apreendidos em certo contexto social pode gerar uma situa o de contradi o dependendo do novo contexto no qual o indiv duo se encontra O caso de C sar que aparentemente foi submetido a um princ pio de socializa o conflituoso no espa o pelo qual ele agora transita parece il
241. olas e outras institui es com destino forma o das fronteiras simb licas PRESTA amp ALMEIDA 2008 13 Coaching o termo usado em um processo que visa definir os objetivos profissionais e pessoais dos participantes Ele conduzido por um coach treinador para apoiar os coachees clientes 49 As autoras tamb m fazem uma rela o entre os modos de participa o da fam lia na organiza o dos investimentos quanto ao futuro de seus filhos e estrutura de seus patrim nios e ressaltam a import ncia de compreender como esses jovens absorvem e tratam tais investimentos PEROSA 2006 Por fim ressaltam a figura do veredito escolar com rela o ao desempenho dos jovens como tendo grande peso na forma de investimento de tais patrim nios A no o de fronteira se faz importante para compreens o dos discursos dos jovens desta pesquisa que se autorreferem como n s e se referem aos colegas da escola como eles Sendo assim Labache amp Martin 2008 definem bem essa no o quando dizem que as fronteiras permeiam cada passo da vida do indiv duo delimitando os contornos das categorias sociais por um lado e por outro servindo como lugar comum em que acontecem as trocas e os encontros entre seus membros As autoras discorrem sobre trajet rias que resultaram de experi ncias que tocaram os limites das fronteiras sociais seja no sentido de mant las para n o sofrer desclassifica o de cruz las ou at
242. om eles Voc telefona com frequ ncia para eles Voc tem celular Voc estuda na casa de colegas Faz trabalho em grupo com eles Descreva como voc se sente transitando em dois mundos socialmente t o distintos As regras de comportamento dos jovens de classe m dia s o diferentes das regras de comportamento dos jovens de classe popular Voc j sofreu algum tipo de preconceito Caso afirmativo como voc se sentiu 3 Elementos da nova experi ncia escolar Como voc vive essa oportunidade de estudar em uma escola particular Como seus colegas da escola particular tratam a experi ncia escolar caso a tratem diferentemente de voc Como voc se veria hoje sem essa oportunidade O que voc acha que ela oportunidade de estudar em uma escola particular vai trazer de mudan as em sua vida E na vida da sua fam lia Como voc era tratado pelos antigos professores Os professores da nova escola s o acess veis Esclarecem suas d vidas Tratam voc da mesma forma que tratam os outros colegas Voc frequenta os eventos sociais da escola Na sua opini o a nova escola promove um bom relacionamento entre professores e estudantes Voc tem acesso aos coordenadores Voc percebe algum tratamento diferenciado pelos professores por ser um bolsista 201 E por parte dos colegas Elementos da vida dom stica Voc divide seu quarto com algu m Voc tem um cantinho para estudar um lugar silencioso Ca
243. os grande A frequ ncia a v rios espa os socializadores simultaneamente conforme afirma Lahire 2001 faz com que o ator tenha que constantemente ajustar seus esquemas de a es Assim sendo tenho como hip tese que as disposi es adquiridas em espa os como o da igreja sejam semelhantes s adquiridas no espa o familiar o que favorece a continuidade desses encontros que se tornam menos extenuantes prov vel que a igreja apare a como um espa o de interse o entre o espa o familiar e o novo espa o escolar Em duas das sete entrevistas os jovens citaram esse espa o como sendo o de maior frequ ncia durante os finais de semana Uma socia o restrita no novo grupo A dist ncia que separa os bairros dos jovens pesquisados dos bairros onde vivem os novos colegas e consequentemente onde acontecem os encontros entre os colegas da escola particular apareceu juntamente com as dificuldades financeiras vividas por essas fam lias como os fatores que mais impedem uma conviv ncia mais ampliada com o novo grupo O trajeto de nibus longo Se a fam lia possui carro o custo da gasolina levado em conta Quando h um encontro a que o jovem deseja realmente ir h 140 uma mobiliza o por parte dos membros das fam lias em torno de quem vai lev lo e busc lo e de que maneira isso acontecer Cinco dos jovens entrevistados disseram j ter dormido na casa de algum colega para viabilizar algum encontro Doi
244. ovens do Programa normalmente entrarem para a nova escola no in cio do 8 ano n o sendo isso uma regra S nia por n o ter passado na prova de sele o do Dom Assis preferiu aguardar mais um ano e acabou entrando em 2010 Durante o ano de 2009 ela continuou na escola p blica em um turno e frequentou as aulas do Programa no contraturno juntamente com seu grupo de entrada no Programa No final daquele ano ela fez prova de sele o em tr s escolas e passou em duas O sonho de entrar para o Dom Assis tinha se realizado N o demorou muito para S nia perceber que o col gio escolhido por ela iria lhe causar muito sofrimento A mudan a para a escola particular foi muito aguardada por essa jovem A prepara o foi feita de acordo com a proposta do Programa e a forma o de uma rede de amizades ocorreu tranquilamente As antigas amigas come aram a se queixar de que a jovem n o tinha mais tempo para elas e S nia percebeu que na realidade n o tinha mais tempo nem para ela mesma De acordo com o relato da m e a filha estuda estuda e estuda mas n o suficiente para conseguir as m dias O Programa contratou professor particular para ministrar aulas de refor o e cuida para que a jovem esteja bem psicologicamente Nada disso parece resolver o problema das notas de S nia S nia conta que estava apreensiva no primeiro dia de aula Na verdade ela conta que teve medo mas logo no primeiro dia ela fez amizade com uma jovem que
245. ovens foi outro motivo que pode ter propiciado o afastamento de seus antigos grupos de relacionamento A inser o deles em um mundo cheio de novos atrativos e de novas oportunidades parece preencher a lacuna causada pela falta dos antigos amigos Para Lahire 2001 esse o momento de aquisi o de novas disposi es e da constru o de novos h bitos que dever o acompanhar esses bolsistas na travessia por esse novo espa o social Os jovens demonstraram disposi o para a aquisi o de novos h bitos conforme este trecho retirado de uma entrevista 135 A gente j combinou de ir ao boliche shopping mesmo ou ir casa delas assistir filme bem diferente mesmo porque at os costumes das minhas amigas que moram perto de mim s o diferentes dos da escola E bem diferente mas eu lido com isso acho que no futuro eu vou conseguir um emprego muito melhor estou aprendendo ingl s agora e isso muito bom para mim Acho que tamb m ir ao cinema porque eles v o muito ao shopping e v o a cinema a maioria gosta s de internacional tipo de m sica e como eles sabem ingl s eles tamb m sabem cantar muito bem Trecho da entrevista com C lia Ao apreender novos h bitos novos esquemas de a o Lahire 2001 diz que em muitos casos ambos podem viver pacificamente lado a lado Alguns velhos h bitos podem ser colocados em repouso outros podem ser colocados em a o medida que solicitados A cli
246. ovens pesquisados que estudam nessa institui o s o respectivamente 0 781 0 841 e 0 841 19 4 SETE PERFIS JOVENS POPULARES E SUAS FAM LIAS Este cap tulo tem como objetivo descrever os jovens tr s homens e quatro mulheres pesquisados bem como suas fam lias Os jovens ser o caracterizados quanto idade escolariza o lugar na fratria aspira es quanto a carreira profissional socializa o na nova escola e apreens o de novas disposi es Com rela o s fam lias estas ser o caracterizadas quanto a ocupa o escolariza o renda capacidade de propiciar um ambiente favor vel aos estudos comprometimento com as normas do Programa Bom Aluno expectativas quanto ao futuro dos filhos e descri o das pr ticas culturais As entrevistas com os jovens bolsistas aconteceram na sede do Programa Bom Aluno que fica situada nas instala es de uma escola de ingl s localizada na regi o Centro Sul de Belo Horizonte A ger ncia dessa escola de ingl s cedeu algumas salas de aula para os professores e coordenadores poderem ministrar as aulas e se reunir com os pais J para o contato com as fam lias o local variou entre as resid ncias das fam lias e as casas das av s dos jovens 4 1 C sar Antes ele ficava moreninho de tanto jogar futebol e depois foi ficando branquinho de tanto estudar trecho da entrevista com a m e de C sar C sar aguardava a entrevista na secretaria da sede do Programa Bom A
247. pai n o deixa esse neg cio de transporte a gente n o tem carro e fica dif cil Esse ano eu vou com certeza se eu achar algu m para eu ir junto porque fica meio dif cil para ir de nibus A primeira vez que eu sa sozinha com as minhas amigas foi h tr s semanas que eu fui ao shopping e ao cinema Minha m e custou a deixar mas deu foi a primeira vez ao Diamond perto da escola j me chamaram para tanta festa que acho que nem v o me chamar mais porque cada dia eu dou uma desculpa porque eu nem pe o mais para a minha m e porque eu sei que ela n o vai deixar porque vai falar quem vai te levar Tem que comprar roupa tem que comprar presente e n o d Ent o eu nem pe o mais Me chamam e eu falo eu tenho outra coisa n o vai dar Me chamam muito mas eu nunca vou Agora transporte o que pesa muito Trecho da entrevista com Eliana 4 Diamond um shopping localizado bem pr ximo ao Col gio Alc ntara Ele est localizado na regi o Centro Sul de Belo Horizonte 141 Outro ponto observado nos depoimentos foi a quase aus ncia dos colegas nas casas dos bolsistas pelo mesmo motivo a dist ncia Por m dois jovens relataram a presen a de colegas em suas resid ncias Uma jovem que mora relativamente perto da regi o Centro Sul contou ter sempre colegas estudando em sua casa Outro jovem j recebeu a visita de dois colegas Cinco jovens nunca receberam visitas dos colegas da nova escola Abaixo a f
248. por utilizar suas pr prias palavras para que nada fosse perdido Vanda tem 16 anos e estuda no Col gio Alc ntara Ela est cursando o 2 ano do Ensino M dio Ela se autoclassificou como branca no item cor ra a do 101 question rio aplicado a todos os jovens Antes de entrar para o atual col gio Vanda passou por outro col gio de reputa o acad mica m dia e no ano seguinte o Programa decidiu transferi la para o Alc ntara Isso foi no in cio do 8 ano do Ensino Fundamental A fam lia de Vanda composta pelo pai que serralheiro e trabalha sem carteira assinada pela m e que dona de casa e faz artesanato para complementar a renda da fam lia e por dois irm os mais velhos O mais velho est 8 e o outro faz curso de terminando o curso de Administra o na PUC pelo PROUN T cnico em Eletr nica como bolsista e j trabalha A renda da fam lia declarada no question rio fica entre 2 e 5 sal rios m nimos A m e de Vanda tem o Ensino Fundamental completo e o pai o Ensino Fundamental incompleto A entrevista com a m e de Vanda aconteceu na casa da av materna pelo fato de naquele momento a av estar se recuperando de uma cirurgia e necessitar dos cuidados da m e de Vanda A fam lia da jovem n o possui casa pr pria e mora em uma regi o chamada Riacho Novo Santa Cruz Industrial que fica em Contagem cidade localizada a mais ou menos 30 km do centro de Belo Horizonte em uma casa alugada que fi
249. preitada 37 acompanham as tarefas de casa verificam o aprendizado das li es atrav s de novas explica es dos conte dos aplicados em diferentes contextos investem em jogos e brincadeiras com o intuito de sistematizar o conhecimento frequentam reuni es de pais na escola e acatam os conselhos dados pelos professores Al m disso esses pais contribuem com informa es valiosas na constru o e na manuten o de uma rede de informa es sobre os bastidores das escolas da sala de aula dos filhos como por exemplo qual professor melhor e quem s o os melhores e os piores alunos da sala controlam as notas dos filhos conferem os rankings e avaliam as possibilidades de sucesso que o filho possa ter nessa ou naquela escola Com rela o ao tempo livre essas fam lias o preenchem com atividades culturais como aulas de l ngua esportes artes m sica e dan a e aproveitam tais encontros que acontecem normalmente semanalmente para estabelecer la os de amizade com outros pais que poder o fornecer novidades que ser o utilizadas para enriquecer sua rede de informa o Com rela o ao tempo de televis o essas fam lias se esfor am ao m ximo para evitar que seus filhos se tornem usu rios deste passatempo e investem na transmiss o do gosto pela leitura atrav s da compra de livros e da frequ ncia a bibliotecas j que eles pr prios t m internalizada essa pr tica Em seu artigo intitulado Classes m dias e escola
250. que s o provenientes do incessante trabalho por parte dessas fam lias Van Zanten 2007 chama a aten o para esse cen rio palco de fortes mudan as sociais do qual est emergindo uma classe m dia mais armada no que diz respeito a conceitos e estrat gias quanto inser o no mercado de trabalho e com refer ncia ao mercado escolar As classes mais baixas antes exclu das do ensino m dio e superior se veem agora beneficiadas por essas mudan as Por sua vez as classes m dias est o prolongando sua perman ncia nas institui es de ensino e via meios de comunica o est o tendo mais acesso a informa es 39 cient ficas Com efeito de posse de um conhecimento maior e de certa familiaridade com conceitos cient ficos essas classes fazem uso pr prio dessas informa es incluindo os resultados de investiga es feitas pelos soci logos da educa o Essa classe social que se define como dona de seu pr prio destino capaz de tra ar estrat gias de a o para n o se submeter s press es sociais Isso se traduz no campo da educa o em desenhar um sofisticado percurso escolar para seus filhos baseado em conhecimentos da psicologia e da sociologia Tal percurso ser racionalmente planejado observando as caracter sticas individuais decorrentes da experi ncia cultural infantil VAN ZANTEN 2007 O apelo internacionaliza o parece uma estrat gia que resulta em bons frutos j que um mundo globaliz
251. que voc quer fazer faculdade Que horror Eu vou trabalhar Chega no Alc ntara o que voc vai fazer depois do 3 ano Faculdade disso daquilo vou viajar tentar interc mbio n o sei o qu Trecho da entrevista com Eliana A mudan a f sica de contexto vem acompanhada de uma mudan a das for as que regem o novo contexto A possibilidade de adquirir novas disposi es que poder o levar esses jovens a ocupar uma posi o na hierarquia social superior a de sua fam lia faz com que eles ativem ou desativem suas reservas de 136 compet ncias de habilidades e de saberes LAHIRE 2001 77 O xito ao longo dessa trajet ria depende da utiliza o equilibrada dessas capacidades A seguir M rio demonstra que as for as que regem seus passos n o s o as mesmas que regem os de sua irm Muita gente na escola p blica n o pensa em estudar raro voc ver um ou outro o neg cio deles ir para a aula para zoar s ficar fazendo bagun a zoar Eles pretendem conseguir um emprego mas n o querem estudar Eles n o t m isso em mente s que eu vejo mais isso na escola particular porque na escola p blica eles n o ligam n o est o nem a Posso te dizer isso pelo exemplo que eu tenho l em casa a minha irm estudou em escola p blica e mais velha que eu e ela formou h uns dois tr s anos e ela n o quis ingressar na faculdade Acho que a vis o de um estudante da escola p blica muito m
252. r o em escolas da rede privada de alto prest gio acad mico sobre jovens populares e suas fam lias o Programa Bom Aluno de Belo Horizonte que tratar de identificar e analisar a nova experi ncia escolar de jovens das camadas populares em um ambiente destinado s classes sociais mais favorecidas Para realizar esse estudo solicitamos a colabora o de seu sua filho a para participar de entrevistas que dever o ser realizadas no local e na hora de melhor conveni ncia para ele a e que ser o gravadas em udio O material gravado ficar sob guarda dos pesquisadores em local seguro na Faculdade de Educa o da UFMG Ele a n o ter nenhum gasto com a participa o nesse estudo e tamb m n o receber pagamento pelo mesmo Ele a tem o direito de n o querer participar ou de sair do estudo a qualquer momento A identidade dele a ser mantida em sigilo Os resultados do estudo ser o sempre apresentados como o retrato de um grupo e n o como o de uma pessoa Dessa forma ele a n o ser identificado quando o material for utilizado seja para prop sitos de publica o cient fica ou educativa A privacidade dele a ser assegurada atrav s da utiliza o de outros nomes ou termos Eu pai m e ou respons vel legal pelo jovem estudante do Col gio Dom Assis em Belo Horizonte MG declaro que fui consultado a pela correspons vel pelo projeto de pesquisa Ana Beatriz Ratton Ferreira e concordo com a realiza o de e
253. r experi ncias de socializa o inteiramente particulares Geralmente este ter sido obrigado a submeter se de maneira bastante precoce a experi ncias socializadoras sistematicamente contradit rias A situa o pode ser interna num s universo e g dupla opress o exercida no pr prio seio do universo familiar e n o necessariamente representada pelo pai e pela m e ou por em cena dois grandes universos contradit rios e g o universo familiar popular e o universo escolar no caso dos bolseiros alunos internos de col gios admitidos gratuitamente que se tornar o tr nsfugas de classe LAHIRE 2001 53 A presen a de jovens oriundos das camadas populares em estabelecimentos de ensino da rede privada por meio de bolsas de estudos n o parece algo novo em nossa sociedade muito pelo contr rio j se tem not cia dessa pr tica desde que foram fundadas as primeiras escolas confessionais no Pa s A pesquisa que deu origem a esta disserta o de mestrado tratou de analisar uma situa o pouco abordada pela Sociologia da Educa o no Brasil a presen a de jovens oriundos das camadas populares em escolas particulares de alto n vel acad mico patrocinada por uma organiza o n o governamental Um conjunto de pesquisas produzidas no campo da Sociologia da Educa o durante as ltimas quatro d cadas afirmou que o simples pertencimento a uma classe social n o suficiente para selar o destino escolar de um jovem
254. ram que n o est no horizonte dos membros dessas fam lias a frequ ncia a espa os destinados a praticas culturais como cinema teatro concertos e exposi es de arte Quanto s a es que o Programa Bom Aluno promove com o objetivo de capacitar o jovem para frequentar uma escola de alto prest gio acad mico a pesquisa revelou o seguinte a inser o e a perman ncia do jovem nesse novo ambiente seriam mais penosas sem as a es desse Programa N o que ela tenha sido tranquila e sem sofrimento mas as pr ticas do Programa por exemplo permitiram ao jovem se recuperar da queda inicial do rendimento escolar com mais rapidez As aulas de h bitos de estudos acabaram por organizar a aloca o do tempo dos jovens com rela o ao estudo de cada mat ria bem como a estudar com barulho As discuss es promovidas durante as aulas de desenvolvimento pessoal permitiram e ainda permitem aos jovens debater sobre sua inser o no novo ambiente Os jovens consideram essas aulas uma importante ferramenta na constru o dessa reflex o O que n o se sabe se no fundo os jovens convivem pacificamente com essas diferen as P de se inferir atrav s de alguns depoimentos que as conquistas feitas por esses jovens s o acompanhadas de algum sofrimento O caso da jovem Eliana que mencionou que as colegas t m peles lindas porque v o ao dermatologista e ela n o ou que nos dias de chuva ela se 183 molha toda esperando pelo nibus enq
255. rande de escolher as escolas que melhor se encaixam no perfil de cada bolsista Sobre sua rede de sociabilidade M rio diz que essa foi constru da em cima de uma rela o de ajuda m tua entre os colegas Os grupos de estudos foram se formando e os participantes foram ajudando uns aos outros Eles est o sempre em contato via telefone celular O jovem bolsista parece ser muito independente e sai de casa sem pedir a permiss o dos pais Ele acrescenta que sempre teve autonomia para tudo mas se chega tarde em casa e os pais sabem que ele tem prova no dia seguinte ele repreendido Sobre a vida cultural da fam lia a m e de M rio diz que quando estava cursando a EJA teve a oportunidade de visitar alguns museus citou o Museu dos Escravos e alguns museus de Ouro Preto Ela lembra que quando era solteira ia ao cinema e ao teatro Depois que terminou o Ensino M dio 2008 nunca mais foi a qualquer evento dessa natureza Ao final da entrevista M rio menciona outra vez ser um grande sortudo por ter tido a oportunidade de participar do Programa de poder conviver em dois meios sociais diferentes e de ser capaz de analisar o que acontece em um e o que acontece no outro e absorver o melhor de cada um Ele relata que o que mais mudou em sua vida foi a vis o de mundo e acha isso um ponto positivo Diz que se sente bem sabendo que tem o apoio de uma psic loga do Programa e que a gente come a a pensar de outros ngulos que outrora
256. re os outros pais entrevistados a ter cursado o ensino superior ele contador se ofereceu para pagar uma atividade proposta pela escola para o filho prov vel que essas fam lias se sintam bem contribuindo com o que podem para com a escolariza o da prole Ei Shopping popular localizado na regi o central da cidade de Belo Horizonte 164 sexta feira ele vai a um esqueci tenho que olhar na circular mas mais baratinho j d para cobrir o meu marido falou n o o Bom Aluno j cobriu uma coisa esse a Trecho da entrevista com a m e de Ant nio Os pais de Eliana demonstraram fazer algum sacrif cio para que a filha n o se sinta diferente das colegas O pai da jovem parece ter o sonho de ver sua filha frequentando os sal es de festa da cidade mas como comum nas fam lias das classes mais desfavorecidas n o faz nenhum planejamento para isso Ele encarrega o destino disso pois a precariedade financeira em que vivem n o permite esse tipo de arranjo O or amento j apertado Ele j enxugado Ent o s vezes a gente n o atende o pedido dela de comprar alguma coisa porque s vezes n o d mesmo Mas sabe aquele neg cio que a gente se vira nos trinta referindo se ida da filha a uma festa a gente se vira e d certo Eu n o diria comprar mas pelo menos alugar um referindo se compra de um vestido Com certeza frequentando os sal es de festa de Belo Horizonte Quem
257. rei brevemente sobre o aparecimento das organiza es n o governamentais no Brasil em seguida descreverei os estabelecimentos de ensino nos quais os jovens pesquisados se encontram matriculados e finalmente apresentarei o Programa Bom Aluno de Belo Horizonte que patrocina a educa o dos sete jovens atores deste estudo 54 3 O TERRENO DA PESQUISA Ao contr rio do que se imagina o surgimento de organiza es sem fins lucrativos no Brasil n o teve origem na d cada de 1990 por ocasi o da confer ncia ECO 92 sediada no Rio de Janeiro mas sim bem antes dela Em 1991 segundo a RAIS 4 1991 do Minist rio do Trabalho j se contabilizavam 200 mil organiza es no Brasil Este cap tulo cont m breve relato sobre como se deu o nascimento das organiza es sem fins lucrativos no Pa s seu envolvimento no campo educacional e mais especificadamente retrata as organiza es que se prop em a educar jovens com grande potencial acad mico provenientes das camadas populares Por fim descreve as duas institui es educacionais nas quais os sete jovens pesquisados participantes do Programa estudam 3 1 O terceiro setor no Brasil Com o final da ditadura nos anos 1980 o Brasil se viu diante de problemas internos que eram tamb m caracter sticos de um per odo p s 23 Guerra Mundial quando v rios pa ses sofriam das mesmas enfermidades economia fragilizada escassez de alimentos pobreza conflitos tnicos e religiosos aument
258. renciar se das pr ticas pertinentes s classes populares Tendo essas e outras indaga es acerca do tema aqui tratado a ser respondidas acredito que a realiza o de outros estudos a partir deste possa ser de grande valia para a compreens o dos casos de bom desempenho escolar nos meios populares 185 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS ALMEIDA W A O esfor o cont nuo estudantes com desvantagens socioecon micas e educacionais na USP Disserta o Mestrado Faculdade de Filosofia Letras e Ci ncias Humanas Universidade de S o Paulo S o Paulo 2006 BARBOSA M A Estudantes de classes pobres na universidade p blica um estudo de depoimentos em psicologia social Disserta o Mestrado Instituto de Psicologia Universidade de S o Paulo 2004 BAZOLI Thiago Nunes Descentraliza o Estatal o terceiro setor como executor das atividades fundamentais do Estado sa de educa o e assist ncia social 2007 135 p Disserta o Mestrado em Organiza es e Desenvolvimento UNIFAE Centro Universit rio Curitiba 2007 Online Dispon vel em www fae edu curitiba BERGER Peter LUCKMANN Thomas 1986 La Construction sociale de la r alit In LAHIRE Bernard Retratos Sociol gicos disposi es e varia es individuais Porto Alegre Artmed 2004 BOUDON Raymond Ordem social e efeitos perversos In NOGUEIRA M A Elites econ micas e escolariza o um estudo de trajet rias e estrat gias junto a
259. renova o te rica por que passou nas duas ltimas d cadas a problem tica sociol gica da rela o classes m dias escola luz tanto das novas din micas sociais quanto dos avan os que afetaram o pensamento sociol gico nesse per odo sem deixar de revisitar as pr ticas escolares associadas as classes m dias alta Em seu artigo intitulado Fam lias de camadas m dias e a escola bases preliminares para um objeto em constru o Nogueira 1995 tenta responder a duas quest es antes de entrar no cerne do tema do artigo S o elas por que estudar as camadas m dias e o que s o classes m dias Esclarecidas tais quest es a autora mergulha no universo das pr ticas que regem essa rela o trazendo tona dados importantes que ilustrar o esta pesquisa As fam lias das fatias das classes m dias que dependem da escolariza o para assegurar sua posi o na estrutura social ou at mesmo para conquistar um lugar de maior prest gio nela se tornam verdadeiras profissionais dessa arte A raz o para esse fen meno virar quase uma profiss o que ele requer muita disposi o energia conhecimento do sistema escolar capacidade de organiza o e de controle de atualiza o de abdica o de compet ncia pedag gica de meios financeiros e acima de tudo de tempo De posse de todos esses trunfos essas fam lias que s o normalmente representadas pela figura da m e que se p e frente dessa em
260. rente Assinatura do a Coordenador a Pedag gico a Pesquisadora Eu garanto que este procedimento de consentimento foi seguido e que eu respondi a quaisquer quest es que o participante colocou da melhor maneira poss vel de de 2010 Orientadora da Pesquisa Pesquisadora correspons vel Prof Dr Maria Jos Braga Viana Ana Beatriz Ratton Ferreira FAE UFMG AP NDICE Ill TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO AOS ALUNOS Prezado a aluno a Voc est sendo convidado a a participar da pesquisa Impactos da inser o em escolas da rede privada de alto prest gio acad mico sobre jovens populares e suas fam lias o Programa Bom Aluno de Belo Horizonte que visa a identificar e analisar os impactos da inser o em um novo ambiente escolar de alto n vel acad mico destinado s classes sociais mais favorecidas sobre voc que aluno participante do Programa Bom Aluno Ser o realizadas entrevistas no lugar e no hor rio de sua conveni ncia que ser o gravadas em udio e que buscar o compreender como voc s jovens participantes do PBA tratam essa oportunidade como se sentem frequentando um espa o socializador distinto do de sua origem e de que forma os professores do Programa Bom Aluno atuam como mediadores nessa nova etapa de suas vidas Para participar desse estudo solicitamos a sua especial colabora o para responder s entrevistas O material gravado em udio ser coletado e ficar sob gu
261. rolongada e que pode ser refor ada por solicita o cont nua ou pelo contr rio pode enfraquecer por falta de treinamento LAHIRE 2004 28 No caso dos jovens bolsistas investigados observa se a transfer ncia de disposi es na incorpora o de novas formas de agir em novos contextos sociais quando a jovem Eliana diz Eu consegui aprender muito r pido a diferen a aprendi sozinha praticamente Quando eu sa da Professor Cassiano e entrei no Alc ntara eu j consegui captar tudo isso eu posso fazer aqui e n o posso fazer l 2 4 Pr ticas escolares familiares de classes m dias A no o de pr tica bem como a de estrat gia tem sido objeto de debates e at mesmo de controv rsia entre estudiosos da Sociologia da Educa o Para alguns autores como kKellerhals amp Montandon 1991 esses termos considerados sin nimos s o tratados apenas como express es que caracterizam os meios para atingir um determinado fim ou melhor para denominar todo um modo de conduta das fam lias com rela o escolariza o de sua prole Por outro lado para os seguidores da corrente de pensamento conhecida como neo individualista RAYMOND BOUDON 1979 apud NOGUEIRA 2002 o sujeito social age livre e conscientemente em suas tomadas de decis o que s o resultados de um balan o racional e intencional de cada op o dispon vel quando se avalia a rentabilidade que esta ou aquela decis o ter em su
262. rvir o de base para os que vierem sucessivamente ou concomitantemente Eles podem ser homog neos ou contradit rios dependendo do contexto em que foram adquiridos e s o empregados conforme as demandas das diferentes situa es em que seus portadores se encontram No caso de jovens com sucesso escolar improv vel n o h somente uma mudan a f sica de contexto Segundo Lahire 2001 h tamb m uma mudan a das for as que agem sobre os atores e a sobreviv ncia nesse novo contexto depende da capacidade de adapta o de cada um O autor lembra que Da natureza dos contextos que somos levados a atravessar depende o grau de inibi o ou de recalcamento de uma parte mais ou menos importante da nossa reserva de compet ncias de habilidades de saberes das quais somos portadores LAHIRE 2001 77 Em seu livro Retratos Sociol gicos disposi es e varia es individuais publicado no Brasil em 2004 Lahire analisa a trajet ria de oito indiv duos na tentativa de testar empiricamente a validade e a pertin ncia relativas aos conceitos de disposi o compet ncia apet ncia transferibilidade LAHIRE 2004 20 e afirma que uma disposi o uma realidade reconstru da que como tal nunca observada diretamente Portanto falar de disposi o pressup e a realiza o de um trabalho interpretativo para dar conta de comportamentos pr ticas opini es etc LAHIRE 2004 27 A no o de disposi o est amp
263. s De que maneira o PBA atua como respons vel por esses jovens perante a escola particular O PBA envia algum de seus professores funcion rios para reuni es na escola particular Caso afirmativo o PBA repassa aos pais o que foi discutido nessas reuni es Decodifica essas mensagens De que maneira o PBA trabalha as diferen as de classes com seus jovens bolsistas Existe algum tipo de apoio psicol gico para esses jovens Caso afirmativo esse apoio dado em grupo ou individualmente O PBA promove incentiva visitas a eventos culturais para seus bolsistas Caso afirmativo com qual frequ ncia O PBA percebe algum impacto que a frequ ncia a eventos culturais causa em seus jovens E nas fam lias Como o PBA ajuda financeiramente seus participantes Sem a presen a do PBA seria poss vel que esses jovens frequentassem uma universidade de prest gio Como s o tratadas as mudan as no campo emocional desses jovens Qual a percep o que os jovens t m dessa oportunidade Como os jovens veem o PBA na vida deles O PBA pede a esses jovens alguma coisa em troca dessa oportunidade Ex bom comportamento comprometimento com o estudo etc Entrevista com os professores das escolas particulares 1 Vis o do professor sobre os jovens bolsistas O bolsista do PBA vem preparado para ingressar nesse novo espa o t o diferente do de sua origem O bolsista do PBA trata essa oportunidade diferentemente dos outros bol
264. s colegas de sala e se demonstra satisfeita por fazer parte de um s lido grupo de amigos ficando bem claro o quanto a amizade importante dentro de uma organiza o social Segundo Santos 1994 4 Junto com os amigos adquirimos certos significados dos acontecimentos e dos processos sociais Tudo indica que para S nia o pertencimento a uma rede de amigos far com que essa inser o nesse novo ambiente socializador seja menos dolorosa O distanciamento da antiga rede de sociabilidade Todos os sete jovens relataram que a falta de tempo devido s novas demandas da escola particular e do Programa bem como a emerg ncia de novos interesses fizeram com que os encontros com os antigos colegas das escolas p blicas praticamente acabassem Uma nica jovem diz que manteve o antigo c rculo de amizades durante o primeiro ano de escola particular por morar bem pr ximo da casa das antigas colegas e pelo fato de as m es dessas colegas serem amigas do bairro 134 N o afetou nada eu ainda converso com eles muito Eles sempre me chamam para voltar para l v los s que eu nunca tenho tempo De manh eu tenho aqui aulas no Programa Bom Aluno e eles estudam de manh agora n o tenho tempo de ir eu tenho que estudar porque eu tenho prova toda sexta feira e tem semana que s bado tamb m Nunca tenho tempo sempre tenho que ficar estudando ou aqui no Bom Aluno Trecho da entrevista com Eliana Este trecho tamb m exemplif
265. s deveres escolares restringindo o tempo que passam diante da televis o A falta de autonomia dos filhos parece ser motivada pelo excesso de controle da m e Ela se refere ao filho sempre no diminutivo e diz que ele um pimentinha igual ao Denis Pimenta do desenho animado Ela afirma que seus filhos s o muito humildes e que nunca pediram nada que eles os pais n o pudessem dar 89 A rotina da casa gira em torno das necessidades dos filhos A m e cuida de tudo para que a prole n o descuide de seus deveres Ela acha que o tempo ficou mais apertado depois que Ant nio entrou para o Programa Tudo est mais corrido afirma ela Para organizar melhor sua vida a m e de Ant nio diz que vai colar todas as circulares que ela recebe tanto do Programa como da escola particular em um quadro para que ela n o se esque a de nada Lahire 2004 25 faz a seguinte afirma o sobre a conduta de certas fam lias como a de Ant nio o universo dom stico atrav s da ordem material afetiva e moral que reina ali a todo instante pode desempenhar papel importante na atitude da crian a na escola A fam lia pode constituir um lugar decente um tipo de santu rio de ordem de ordena o relativamente fechado sobre si mesmo Quanto s suas expectativas Ant nio diz que no momento ele se esfor a para tirar boas notas e continuar no Programa Ele e seu irm o mais velho foram contemplados
266. s e parece n o querer expandir sua rede de sociabilidade Os jovens se falam pelo telefone fixo e Ant nio nunca sai com eles para al m dos muros da escola a n o ser para uma ou outra festinha de anivers rio Curiosamente a m e relatou que Ant nio juntamente com alguns amigos formou no ano passado um grupo de rock e que o filho estava sempre escutando e cantando as m sicas de um antigo CD que ela possu a do Queen A ideia de formar um grupo de rock foi abandonada nesse ano 2010 pois os colegas n o estavam mais na mesma sala Sobre a vis o que os colegas e professores tinham dele na antiga escola Ant nio responde que eles o achavam inteligente e que o elogiavam bastante Ele afirma que fazia parte de um grupinho de colegas e que eles tamb m eram esfor ados e que sempre jogavam futebol juntos Aparentemente esse conv vio ficava somente dentro das instala es da escola Sobre os detalhes do funcionamento do Programa Bom Aluno Ant nio afirma saber pouco Ele n o soube responder se o Programa ajuda sua fam lia financeiramente Ele acha que aprendeu a estudar mais com as aulas ministradas pelo Programa e se esfor a mais nos estudos Ele gosta da atual escola porque o ensino melhor mas acha a antiga escola mais legal A leitura que a m e faz do trabalho do Programa com os jovens bolsistas que o Bom Aluno padroniza o menino igual aos outros A m e se orgulha de sua prole e diz que sempre receb
267. s filhos Ela recorda que sabia o nome dos tr s grandes col gios que ficam situados ao longo da Av Amazonas local por onde passava de nibus Ela nunca tirou esse sonho de cabe a mas sabia que aquilo estava totalmente fora de suas possibilidades Ela chegou a ir at uma escola de ingl s para tentar matricular os filhos mas diante do pre o teve que desistir Ela nunca tinha ouvido falar do Dom Assis mas agora quando l sobre as escolas que foram melhores classificadas no ENEM ela identifica o Dom Assis e fica orgulhosa de ter uma filha estudando l Consegui construir um perfil mais apurado de C lia depois que entrevistei sua m e Ela ao contr rio da filha foi muito aberta e fez uma leitura bastante precisa do momento que a filha estava vivendo O pai de C lia motorista de nibus e a m e dona de casa Ela complementa a renda com a venda de cosm ticos e roupas No momento da entrevista poca de Copa do Mundo ela vendia camisetas do Brasil O pai de C lia tem o Ensino Fundamental incompleto e a m e tem o Ensino M dio completo A renda da fam lia declarada no question rio foi de 2 a 5 sal rios m nimos O av materno de C lia cedeu a atual casa para a fam lia morar Ela foi reformada durante tr s anos para ficar do jeito que eu a conheci esse mesmo av que ajuda a fam lia nas despesas Avenida que atravessa v rias regi es da cidade de Belo Horizonte 115 A jovem bolsista fala pouco por m su
268. s mudan as que a entrada de um jovem oriundo das camadas populares em uma escola de alto prest gio acad mico pode causar em sua rede de sociabilidade em sua profici ncia escolar na rotina dom stica e nas pr ticas culturais de sua fam lia O estudo tamb m prop s investigar se as pr ticas do Programa Bom aluno contribu ram para diminuir as diferen as culturais e sociais de classe entre os bolsistas e seus colegas da escola particular A t tulo de conclus es vou retomar aqui sucintamente esses impactos Foram pesquisados sete jovens quatro meninas e tr s meninos que se encontravam matriculados nos dois col gios classificados em primeiro e segundo lugares no ENEM 2008 na cidade de Belo Horizonte e suas fam lias Duas meninas estavam cursando o 9 ano do Ensino Fundamental e dois meninos estavam cursando o 2 ano do Ensino M dio no col gio aqui denominado por Dom Assis Uma menina e um menino estavam cursando o 9 ano do Ensino Fundamental e uma menina o 2 ano do Ensino M dio no col gio denominado aqui por Alc ntara As mudan as sofridas nas redes de sociabilidade dos bolsistas podem ser manifestadas nas formas de constru o de grupos de amizade nas formas de inser o em redes de sociabilidade j constitu das e no afastamento dos antigos grupos sociais A forma o de um novo grupo de conv vio aconteceu em alguns casos permeada de sentimentos de inferioridade desconfian a e medo do desconhecido Ao longo do
269. s pobres da UFMG um estudo a partir de cinco casos 2001 267 p Tese Doutorado em Educa o Universidade Federal de Minas Gerais 2001 POUPART Jean A entrevista de tipo qualitativo considera es epistemol gicas te ricas e metodol gicas In A Pesquisa Qualitativa Enfoques epistemol gicos e metodol gicos Petr polis Vozes 2008 PRESTA Suely ALMEIDA Ana Maria F Fronteiras imaginadas experi ncias educativas e constru o das disposi es quanto ao futuro por jovens dos grupos 190 populares e m dios Educa o e Sociedade Campinas vol 29 n 103 p 401 424 maio ago 2008 RAIS Rela o Anual de Informa es Sociais Minist rio do Trabalho e Emprego Dispon vel em http www rais gov br Acesso em nov 2010 ROCHEX Jean Yves Le sens de l exp rience scolair Paris PUF 1995 SAINT MARTIN Monique GHEORGHIU Mihai Dinu orgs Education et fronti res sociales un grand bricolage Paris Michalon 2010 SANTOS F lix Requena Amigos y redes sociales elementos para uma sociologia de la amistad Madrid Centro de investigaciones sociol gicas 1994 SILVA Jailson de Por que uns e n o outros caminho de estudantes da mar para a universidade 1999 166 p Tese Doutoramento em Educa o Pontificia Universidade Cat lica do Rio de janeiro Rio de Janeiro 1999 SIMMEL Georg Quest es fundamentais de sociologia Rio de Janeiro Zahar 2006 SINGLY Fran ois de La mobil
270. s relataram nunca ter dormido na casa de colegas Uma jovem nunca saiu noite com as novas colegas E ainda Depende do evento porque quando foi a festa junina mas eu n o podia ir porque era muito longe Os outros eventos acho que j fui O pai do j me buscou porque n o tinha como meu pai ir E meu pai vai me buscar em outros Trecho da entrevista com Ant nio porque foi na casa dele e ele me buscou eu dormi na casa dele com o meu amigo e depois eu voltei para casa Trecho da entrevista com M rio Pela declara o da jovem A gente foi no P tio Savassi porque todo mundo mora l perto quando eu quero ir embora eu ligo para ela e ela me busca porque eu moro no Barreiro Quando eu saio ela vem de nibus mas quando eu estou indo para a escola eu vou com as meninas de nibus A gente j combinou de ir ao boliche shopping ou mesmo ir casa delas assistir filme alguma coisa Trecho da entrevista com C lia Conforme mencionado anteriormente a presen a dos bolsistas nos encontros promovidos pelos colegas durante os finais de semana requer uma mobiliza o por parte de todos os membros da fam lia De acordo com os depoimentos colhidos eles s o sempre convidados para as festas mas nem sempre podem comparecer o que gera um sentimento de frustra o A gente sempre passa na casa da outra e as outras tamb m me chamaram s que a maioria das vezes meu
271. s roupas que comprou em tal e tal loja e que pobre por n o ter o que dizer fica meio calado quando escuta esse tipo de conversa referindo se a ela mesma Eliana ressalta outra diferen a entre os dois mundos sociais nos quais ela transita no que diz respeito ao aspecto cultural Ela lembra ter dado uma hist ria que escreveu juntamente com sua melhor amiga do Alc ntara como parte de uma MSN Messenger um programa de computador muito utilizado pelos jovens que permite que o usu rio converse on line com outro usu rio 97 tarefa escolar para uma prima ler e diz que ela a prima nunca tinha ouvido falar de certos termos utilizados pelas duas escritoras A jovem acha que o pessoal das escolas p blicas usa um vocabul rio muito simples Com rela o maneira de vestir conta que os colegas gostam de usar roupas e acess rios de marca uma mochila b sica de uma determinada marca em uma vitrine de uma loja de um shopping situado na regi o Centro Sul custa em torno de R 350 00 e que na Professor Cassiano n o se usa nada disso A prefer ncia musical diferenciada dos jovens parece ser algo que tamb m chama a aten o de Eliana uma vez que ela afirma que na escola particular os colegas gostam de m sica internacional e que ningu m gosta de ax ou funk estilos de m sicas muito populares entre jovens das camadas mais desfavorecidas Os atuais colegas se dizem horrorizados quando Eliana menciona essas categorias m
272. scola pois eles consideravam essas pessoas diferentes mas com o passar do tempo o pai chegou conclus o de que se a filha teve acesso a esse espa o porque ela foi aceita logo eles n o deveriam ser tratados como diferentes Em seguida afirma que depois disso as coisas foram melhorando e que a ideia de que essas pessoas eram blindadas e inacess veis foi desaparecendo Sobre frequentar festas e eventos nos finais de semana Eliana demonstra total insatisfa o com a postura dos pais que n o a deixam sair noite por falta de transporte Diz ter de inventar alguma desculpa sempre que convidada para uma festa e que j n o sabe mais o que dizer s colegas Acha que nunca mais na vida ter tantas oportunidades de ir a festas de 15 anos hoje muito comuns entre 3 Lagoa cercada por casas pertencentes s fam lias das classes m dia alta alta onde as pessoas fazem caminhadas localizada na regi o da Pampulha 96 as jovens das classes m dias e classe alta que fazem de suas festas verdadeiros espet culos e sente que est perdendo muito com isso A dire o do PBA conta Eliana j falou em uma das reuni es com os pais da import ncia de deixar os filhos participarem das festinhas dos colegas mas at o dia da entrevista Eliana s tinha ido festa da melhor amiga que foi no Boliche Cosmic localizado na regi o Centro Sul de Belo Horizonte Para isso os pais de outra amiga a buscaram e
273. scola p blica localizada na regi o Oeste O pai tamb m auxiliar de servi os atualmente licenciado do trabalho devido a problemas de sa de e segundo a m e alco latra e n o toma conhecimento de nada O padrasto motorista de caminh o A renda mensal declarada por C sar no question rio fica entre 2 e 5 sal rios m nimos e dela vivem de duas a tr s pessoas A m e tem o Ensino M dio completo e o pai tem o Ensino Fundamental incompleto 81 O jovem contou que atualmente est morando na casa da av devido ao longo trajeto que tinha que percorrer para ir da casa de sua m e at a escola A m e lembra que quando ele ainda vivia com ela ele se levantava de madrugada e pegava o nibus das cinco horas No princ pio ela o acompanhava at perto da escola pois pegava o mesmo nibus para ir trabalhar e lembra que os dois iam dormindo durante a viagem que durava at duas horas tanto na ida como na volta A m e de C sar diz que ele costumava estudar at de madrugada depois da longa jornada di ria pois via pela greta da porta que a luz ainda estava acesa quando ele ainda morava com ela Ela lembra que ele sempre foi diferente na escola por ser muito estudioso e que ele n o gostava de assistir televis o mas sim de passar o dia lendo dicion rios e enciclop dias Ela diz ter lutado muito para conseguir uma escola particular para o filho pois as professoras das escolas p blicas por onde ele tinha pa
274. scolas p blicas coordenadores orientadores e professores que pessoalmente solicitam as fichas de inscri o Outra forma de divulga o feita pelos pr prios jovens que j participam do Programa em suas comunidades ou nas antigas escolas em que estudaram 68 Em 2011 as representantes do Programa apostam na divulga o nas escolas p blicas municipais onde nunca conseguiram espa o para esse trabalho O processo de sele o O processo de sele o consiste em tr s etapas Na primeira etapa feita uma sele o de mais ou menos 250 alunos entre os que se inscreveram previamente A m dia de inscritos por ano fica em torno de 750 Essa sele o feita com base em uma minuciosa an lise de cada ficha de inscri o quando se atribui uma pontua o a diversos itens tais como escolaridade dos pais n mero de provedores na fam lia quem s o os provedores tipo de resid ncia pr pria aluguel e se for alugada qual o valor pago pelo aluguel qual o valor da conta de luz e se algu m da fam lia possui meio de transporte Quanto ao jovem candidato avalia se seu hist rico escolar e seu boletim sempre levando em considera o a assiduidade s aulas e o desempenho escolar Em seguida os candidatos selecionados s o submetidos a provas escritas de portugu s matem tica e reda o elaboradas pelos profissionais do PBA de Belo Horizonte Essas provas acontecem na sede de uma escola estadual que fica localizada na r
275. sensibilizada com o sofrimento da filha e j comentava sobre o plano de salva o do ano escolar Ela quer muito continuar no Dom Assis ela gosta de l se enturmou muito com o pessoal de l Eu acho que vale a pena mas a gente vai fazer a experi ncia l e se ela tirar nota ruim l ela vai ter que voltar para a p blica sen o ela vai tomar bomba Ela n o pode tomar bomba l dentro Trecho da entrevista com a m e de S nia 170 A jovem se culpa por n o estar conseguindo manter a m dia exigida pela escola e isso parece diminuir a possibilidade de uma ascens o social via diploma de curso superior Conforme j mencionado em outras passagens S nia a jovem que gasta mais tempo dentro do nibus e que j chegou a estudar sentada no passeio da rua por n o encontrar um ambiente silencioso dentro de casa A m e n o frequenta as reuni es do Dom Assis apesar dos apelos da filha Os estudos no campo da Sociologia da Educa o j apontaram para uma s rie de condi es que podem levar ao sucesso escolar em meios populares No caso dessa jovem tudo indica que ela se encontra em uma situa o n o favorecedora de sucesso escolar Tem vez que eu chego em casa quando tiro nota ruim chego falando sou burra sou burra e fico chorando a tarde inteira Ela referindo se m e fica n o fica assim voc muito inteligente e me coloca para cima As vezes eu mostro para ela uma nota e choro e ela credo S nia as men
276. sente cansada e sem tempo ela diz que pensa que isso trar recompensas para seu futuro e que v essas mudan as como positivas Sobre o espa o Bom Aluno ela o considera um lugar onde o di logo bem aberto onde os colegas comentam sobre como eles est o se sentindo realmente aqui o que mais tem no o do nosso mundo e do nosso dia a dia acrescenta a jovem Apesar de todo esfor o e sofrimento C lia concluiu que vale a pena O balan o que a m e de C lia faz sobre o atual momento da filha que ela no primeiro ano letivo da escola particular parecia meio receosa e que parecia estar com um escudo Ela acrescenta que a filha nesse ano 2010 parecia bem menos tensa A m e acha que no ano anterior ela tinha colegas e que nesse ano ela j tinha amigas A m e quando leva a filha at a casa de alguma amiga faz quest o de saber quem e dependendo da oportunidade chega at a conversar com a m e da colega Sobre as pr ticas culturais da fam lia fora as idas Bienal do Livro com os filhos a m e de C lia diz que n o frequenta nenhum espa o que abriga eventos 120 dessa natureza Nem ela nem o marido nunca foram ao teatro a exposi es a museus s uma vez no interior e tampouco foram a shows musicais Os filhos frequentam as salas de cinema da cidade mas os pais n o A filha que tinha recentemente chegado de uma viagem a Petr polis com o col gio contou sobre a visita que fez
277. sistas De que maneira Quando o professor fica sabendo que um jovem bolsista ele muda suas expectativas em rela o a ele Que tra o comum voc percebe nos bolsistas do Bom Aluno Como voc avalia a presen a desse jovem em um espa o t o distinto do dele Positiva positiva com ressalvas negativa Por ser essa escola uma escola confessional como ela prepara seus alunos para conviver com jovens de diferentes classes sociais como os bolsistas Os colegas da escola tratam esses jovens da mesma forma que tratam seus colegas que s o da mesma classe social O bolsista do PBA se socializa com a turma Tem bom tr nsito com os colegas Participa de panelinhas no intervalo Ser um bom aluno tirar boas notas facilita para ser aceito pelos colegas O PBA j o contatou para alguma reuni o Voc j conheceu algum membro da fam lia J fez reuni o com algum deles Como esse jovem se comporta em sala de aula Ele interessado Ele conversa Faz perguntas Ele t mido e faz perguntas fora da sala de aula em particular Ele pede ajuda de monitoria De que maneira ele se expressa formal informal Faz bom uso da linguagem Na sua vis o de que maneira o PBA ajuda esses jovens 203 N vel de profici ncia em rela o classe As notas dos bolsistas est o dentro da m dia da sala Entrevista com as fam lias dos bolsistas 1 Cotidiano da fam lia Qual a import ncia de ter um filho estudand
278. so espec fico deste estudo o forte capital escolar dos bolsistas na falta de outros atrativos que s o normalmente decorrentes da classe de origem apresentou se como sendo o fator que mais pesou na constitui o das redes de 128 relacionamento As rela es sociais apresentam se sob uma variedade de formas afirma Santos 1994 1 e nas rela es sociais que os sentimentos de identidade e de pertencimento a um grupo s o fortalecidos Em col gios de alto prest gio acad mico o bom rendimento escolar de um jovem pode render lhe um status que em outras comunidades acad micas seja algo totalmente desconsiderado chegando ao ponto segundo depoimento dos pr prios jovens entrevistados de ser motivo de desprezo por parte dos colegas C ndido 1969 115 afirma que esses grupos que s o espec ficos da vida escolar fundam se na pr pria atividade dos educandos e dependem quase sempre da sua ades o consciente O mesmo autor caracteriza esse tipo de socia o desta forma S o intelectuais os agrupamentos constitu dos em vista do aprendizado e cultivo geral da intelig ncia De tipo difuso os grupos de colegas que se unem para repetir e esclarecer a mat ria constituindo parte integrante do aprendizado e prolongando a atividade da sala de aula que deste modo penetra superf cies mais amplas da intelig ncia e da sensibilidade de vez que os alunos se agrupam a segundo afinidades mais estreitas
279. so voc precise de sil ncio para estudar como as pessoas sua volta fazem Voc ajuda nas tarefas dom sticas Caso afirmativo quais s o essas tarefas Quem faz as tarefas dom sticas para voc estudar caso isso seja necess rio E antes de entrar para a escola particular voc fazia as mesmas tarefas Voc assiste TV Qual o seu hor rio de assistir TV Seus pais se preocupam com a quantidade de TV a que voc assiste Seus pais respons vel controlam suas sa das Voc tem hora para voltar para casa Seus pais respons vel controlam com quem voc sai Voc tem hora para ir dormir acordar E nos fins de semana Seus pais respons vel controlam seu tempo de estudo Seus pais respons vel acompanham sua rotina de estudo Por exemplo sabem quando voc tem prova ou quando est preparando um trabalho Pr ticas culturais De que tipo de atividade cultural voc mais gosta E antes Qual a atividade cultural mais popular entre seus amigos da antiga escola E entre os amigos da escola particular Voc j foi a algum museu Exposi o Voc j foi ao Pal cio das Artes Caso afirmativo o que achou da experi ncia Voc gostaria de poder frequentar esses espa os com mais frequ ncia O PBA incentiva as pr ticas culturais De que maneira Que tipo de atividade cultural voc gostaria de frequentar com mais assiduidade Como voc v os jovens se relacionando com a cultura de hoje De qu
280. sob a sua dire o est o sendo convidados a participar de uma pesquisa que visa a analisar e identificar os impactos da inser o em um novo ambiente escolar de alto n vel acad mico destinado s classes sociais mais elevadas sobre jovens oriundos das camadas populares e que s o participantes do Programa Bom Aluno B Em caso de d vida a dire o do Programa Bom Aluno poder entrar em contato com as pesquisadoras respons veis por meio dos telefones e endere os eletr nicos fornecidos neste termo Informa es adicionais podem ser obtidas no Comit de Etica em Pesquisa COEP da Universidade Federal de Minas Gerais pelo telefone 31 3409 4592 pelo e mail coep prpq ufmg br ou pelo endere o Avenida Ant nio Carlos 6 627 Unidade Administrativa II 2 andar sala 2005 Campus Pampulha Belo Horizonte MG CEP 31270 901 2 Esta se o descreve os direitos do Programa Bom Aluno como participante desta pesquisa H Qualquer pergunta acerca da pesquisa e de seus procedimentos poder ser feita aos pesquisadores respons veis em qualquer est gio da pesquisa e tais quest es ser o respondidas A participa o confidencial Apenas os pesquisadores respons veis ter o acesso sua identidade No caso de haver publica es ou apresenta es relacionadas pesquisa nenhuma informa o que permita a sua identifica o ser revelada J A participa o volunt ria Cada professor a livre para deixar
281. ssado sempre disseram que ele era diferente e precisava de mais desafio A m e do jovem diz que antes ele era moreninho de tanto jogar futebol e que agora est branquinho de tanto estudar O relato de C sar sobre a entrada no Col gio Dom Assis foi cheio de observa es curiosas Ele conta que tinha preconceito em rela o aos jovens das classes m dias porque escutava rap tipo de m sica que jovens das camadas desfavorecidas gostam de escutar e que fala sobre as desigualdades sociais e acrescenta que nunca tinha se relacionado com pessoas dessa classe social e que achava que os colegas iriam menosprez lo O jovem relata que seu primeiro contato no Dom Assis se deu com outro novato e que ele era de boas condi es financeiras e era proveniente de uma escola particular do interior de Minas Gerais Os dois logo se tornaram bons amigos e nas palavras de C sar e eu vi que era totalmente normal era basicamente eu conversando com um amigo quase de inf ncia do meu bairro mesmo A m e de C sar lembra que por volta do final do primeiro semestre na nova escola o filho chegou em casa chorando e disse que a escola era muito dif cil e que ele n o estava conseguindo acompanhar a turma Ela recorda que o incentivou a continuar e se prontificou a conversar com a gerente do Programa caso ele n o conseguisse passar de ano para que o filho pudesse ser transferido para outra escola O fato de C sar ser um jovem proveniente
282. sso me ajuda porque Trecho da entrevista com a m e de Ant nio J o depoimento dos pais de Eliana atesta que eles contam com o acompanhamento do Programa para que a filha n o se desvie do caminho rumo conquista do diploma de um curso superior Parece que as fam lias se preocupam em n o prejudicar os filhos ou em n o criar uma situa o de constrangimento perante os funcion rios do Programa Da decorre uma vigil ncia acirrada sobre a vida dos filhos Eu acho que tem outro lado que mais importante porque apesar de tudo que minha esposa falou o acompanhamento passo a passo eles n o deixam os meninos desviar de forma alguma orienta es Trecho da entrevista com os pais de Eliana Aumento das tarefas dom sticas para os familiares Por outro lado ao liberarem os filhos das tarefas dom sticas essas m es veem seu trabalho dom stico aumentar chegando ao ponto de sofrerem cr ticas por parte dos familiares Mesmo assim isso n o tira o nimo dessas fam lias de seguirem com suas vidas ap s essas mudan as 160 O valor dado a uma educa o de qualidade e chance que seus filhos tiveram de fazer parte do Programa supera qualquer dificuldade que venha surgir ao longo do processo s vezes gente da minha fam lia fala a Eliana n o te ajuda em nada e normalmente minha m e explica ela n o tem tempo de me ajudar ela chega da escola tarde e n o d para fazer nada de manh ela
283. ssores A inser o em um novo ambiente de sociabilidade toma formas que variam de fam lia para fam lia afirma Perrenoud 1987 154 Por vezes os pais n o querem prejudicar o filho mas demonstram certo receio em se relacionar com outros pais A m e de C lia relatou ter conversado brevemente com a m e de uma colega da filha quando esta chegou casa da amiga para assistir a um filme O pai de Eliana relatou ter conversado longamente na porta de sua casa com o pai da colega da filha quando este foi lev la para estudar No trecho da entrevista abaixo os pais de Eliana demonstraram preocupa o antes da primeira reuni o do Alc ntara Eles n o se achavam merecedores de ter uma filha estudando em uma escola como o Alc ntara n tido como o padr o de socializa o sofrido pelas classes populares LAREAU 2003 produz indiv duos que n o se sentem no direito de ter algo como o acesso a uma escolariza o de alta qualidade Fomos Foi um coquetel teve a palestrante foi um coquetel Foi tipo uma reuni o de in cio Teve a reuni o para falar dessa viagem que eles v o fazer da formatura Eu s vezes me preocupava at se vai ter reuni o de pais eu me preocupava em ir e interagir muito com essas pessoas diferentes a gente fica receosa at para falar At o assunto 162 diferenciado Eu n o tenho assunto igual ao deles meio complicado mas depois de participar de algumas reuni es eu vi que
284. suas colegas do Dom Assis n o vivem somente para estudar Ela diz que elas saem para fazer programas e que sabem dosar estudo e divers o A jovem parece tamb m saber dosar essas duas medidas j que agora ela consegue fazer um pouco de cada atividade sem sacrificar nenhuma delas O equil brio das notas de C lia evidente quando em uma entrevista com o coordenador do Dom Assis ele afirmou que ela faz parte da m dia alta da turma O sonho de fazer faculdade sempre esteve presente na vida de C lia e quando perguntado a ela sobre o que gostaria de estudar na universidade ela disse que gostava de biologia mas que n o tinha muita certeza sobre essa escolha Ela afirma adorar ingl s e que no in cio quando entrou para o Dom Assis teve muita dificuldade e que diante disso o Programa disponibilizou uma professora de refor o para atend la depois da aula A m e tamb m ressaltou que o ingl s muito importante para a filha Sobre sua participa o nas tarefas dom sticas C lia afirmou ser encarregada somente de arrumar sua cama Ela comenta que a m e acha melhor ela se concentrar nos estudos j que ela m e n o trabalha e tem tempo suficiente para cuidar da casa A m e diz que ela lava alguma vasilha quando tem tempo ou quando a m e n o est em casa mas ressaltou que n o obriga o dela Sobre o tempo de televis o a jovem diz que praticamente s assiste a um pouquinho quando chega da escola e que j perdeu esse h
285. t rio e durante o Ensino M dio os alunos participam de plant es de d vidas de monitorias e do Programa Aluno Tutor com o objetivo de aprimorar a aprendizagem Os jovens contam com o acompanhamento de uma equipe de psic logos e pedagogos do ISMART Tanto os jovens participantes do Projeto Alicerce quanto do Bolsa Talento participam de palestras com profissionais de diferentes reas assim como de atividades de enriquecimento cultural As fam lias tamb m participam de atividades que s o desenvolvidas especialmente para elas Entre 1999 e 2010 o ISMART atendeu 852 alunos Em 2010 eram 529 os alunos beneficiados com bolsas e hoje o Instituto conta com 607 bolsistas sendo que 125 deles est o em universidades p blicas ou universidades privadas de excel ncia FGV IBMEC 8 PUC MACKENZIE e um aluno est no MIT Os cursos superiores mais escolhidos pelos jovens s o Engenharia s Direito Medicina Administra o Economia Ci ncias Biol gicas e Farm cia De acordo com informa o dada pela pedagoga do ISMART nunca houve caso de evas o no ensino superior J em rela o aos jovens que se encontram cursando o Ensino Fundamental e o Ensino M dio alguns poucos alunos foram desligados do Instituto por n o cumprir algum dos crit rios de manuten o da bolsa 17 Funda o Get lio Vargas 18 Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais 19 Universidade Presbiteriana Mackenzie Localizada na cidade de Cambridge Massac
286. tapa as outras ele vai ter mais Trecho da entrevista com a m e de M rio Outra constata o da pesquisa foi a de que os membros da fam lia que t m sua vida escolar redirecionada pela inser o de um irm o ou irm em uma escola da rede privada acabam por descobrir quais s o as escolas p blicas de maior excel ncia acad mica ou onde est o localizados os melhores cursinhos preparat rios para ingressar no CEFET ou no COLTEC e posteriormente na UFMG A fam lia de Ant nio mostrou ter profundo conhecimento dos caminhos oferecidos pela rede p blica de ensino para chegar UFMG A m e discorreu sobre esse tema em frente a todos os filhos O irm o mais velho de C lia ao dizer para a m e que n o queria ficar para tr s recorreu s aulas noturnas no contraturno de um cursinho que dava bolsas de estudo para se preparar melhor para o ingresso em um curso t cnico federal de alto n vel acad mico Deslocamentos uma mobiliza o familiar Conforme j mencionado anteriormente as fam lias dos bolsistas t m que enfrentar um desafio o de conviver com os deslocamentos Neste t pico os deslocamentos ser o abordados sob outra perspectiva Eles acontecem porque a escola nova distante do bairro onde vivem essas fam lias A casa dos colegas distante do bairro Os lugares de encontro entre os colegas como os shoppings s o distantes do bairro As festas que acontecem noite s o realizadas em lugares
287. te das amigas Ela acha que tudo n o passava de brincadeira C lia retirava semanalmente livros na biblioteca da antiga escola e quando acontecia de ser feriado no dia da retirada C lia chegava em casa chorando A disposi o para leitura dessa jovem era tamanha que a bibliotec ria da escola duvidava de que ela daria conta de ler um livro inteiro de uma semana para outra Mas ela sempre deu conta relata a m e 118 A m e de C lia lembra que sempre acompanhou os estudos dos filhos Ela sempre frequentou as reuni es da escola verificou os cadernos conferiu os deveres de casa e administrou o tempo dos filhos Essa m e que vem de uma fam lia na qual ningu m ainda entrou para o ensino superior se organiza juntamente com outras m es que t m seus filhos no Programa no arranjo dos deslocamentos das jovens Pela manh ela acompanha a filha at o ponto do nibus A filha se encontra no pr ximo ponto de nibus com mais duas colegas do Bom Aluno para seguirem viagem juntas Na volta a m e de uma dessas jovens volta com elas no nibus porque ela a m e trabalha na regi o Central da cidade ficando f cil para se unir s estudantes Por j estar escuro a m e de C lia fica esperando um sinal via celular que indica que ela j pode ir para o ponto de nibus esperar pela filha C lia leva uma hora para chegar escola e toma um nibus Na volta ela leva duas horas e tamb m toma um nibus C lia afirma que
288. ter uma postura melhor porque no meu quarto n o tenho uma mesa uma cadeira em que eu possa estar sentado para ficar mais concentrado ali geralmente na sala As vezes um pouco dif cil porque o meu padrasto e minha m e querem ver televis o ent o eles veem mas mesmo assim eu consegui aprender isso mesmo com um barulho ao lado estou conseguindo centrar ali no que estou fazendo Trecho da entrevista com C sar E ainda s vezes minha irm que fica chorando demais e acaba desconcentrando a gente Eu falo por favor faz sil ncio m e Eles n o resolvem n o teve um dia que eu at fui para a rua estudar fazer o para casa na rua fui mesmo sentei na porta de casa e fui fazer tinha televis o choro tudo Trecho da entrevista com S nia 152 Pela declara o de M rio Minha fam lia n o entende muito isso quando eu estou estudando eles entram toda hora no meu quarto me chamando e eu falo e eles acham que estou com raiva deles que n o sou acess vel que eu estudo no Bom Aluno mas n o sou acess vel Muitas vezes acho que eles n o entendem isso de eu ter que dedicar meu tempo grande parte do meu tempo para estudar Trecho da entrevista com M rio Para S nia a jovem que vem enfrentando dificuldades na nova escola a m e n o participa nem um pouco de sua escolariza o A jovem que demonstrou estar sofrendo por n o estar conseguindo manter um bom desempenho escolar no Dom Assis gostar
289. tes de meios sociais diferentes s o socializados diferentemente e que nessa socializa o que se desenvolve nas crian as algo espont neo denominado por ele de habitus Tamb m a partir dessas experi ncias na inf ncia que as crian as adquirem seu capital cultural que ser usado como vantagem na escola e no futuro na hora de conseguir uma boa coloca o profissional j que institui es como escola e empresas valorizam as mesmas pr ticas culturais Ent o se transportarmos a l gica do crescimento natural descrita por Lareau para a realidade dos jovens participantes do Programa Bom Aluno todos oriundos das classes trabalhadoras e pobres podemos ent o supor que eles est o em desvantagem dentro do ambiente escolar no qual est o atualmente inseridos Poderia ent o o PBA minimizar essa desvantagem e atuar como uma fam lia de classe m dia na vida desses alunos Ao disponibilizar aulas de nata o inform tica ingl s aulas de refor o t cnicas de reda o desenvolvimento pessoal matem tica portugu s visita a museus idas a concertos e cinemas e at mesmo disponibilizar um programa de interc mbio para o exterior estariam esses jovens aptos a competir em p de igualdade com os jovens das classes m dias Quando os jovens ingressam no Programa no 7 ano do Ensino Fundamental muitas dessas habilidades j n o deveriam estar incorporadas Poder amos falar de uma aprendizagem tardi
290. to da m e de C sar demonstra que ela percebe uma diferen a no comportamento do filho C sar n o parece ser o mesmo de seis anos atr s Ele se afastou dos princ pios que socialzaram seus pais e consequentemente dos que socializaram seus irm os Agora sua vida regida por outros esquemas de a o adquiridos em outro contexto social 176 O comportamento dele hoje totalmente diferente a educa o a maneira de falar a maneira de se comportar a maneira de observar as coisas Que mudou mudou muito nesse sentido mas o C sar j era um menino quieto calado muito comportado n o precisou apanhar S a maneira de ele ser a educa o h diferen a Trecho da entrevista com a m e de C sar Eliana demonstra articular o passado incorporado com o presente contextual de maneira que ela possa sobreviver com o m nimo de sofrimento no ambiente da escola particular Tenho como hip tese que ela age da mesma maneira quando chega em seu bairro ou seja ela coloca em cena os h bitos pertinentes aquele ambiente Ela ilustra bem nesse longo depoimento que transcrevo abaixo o que Lahire 2001 diz sobre a pluralidade dos indiv duos E ainda Eu me sinto a partir do momento em que eu ponho o p no p tio do Alc ntara estou em um mundo completamente diferente do meu mesmo que a gente fale que mentira n o existe isso de dois mundos claro que existe Claro que existe mesmo Eu saio do meu bairro por exemplo
291. to do final do dia ela chega a levar mais de uma hora de nibus Vanda nunca espera pelo nibus sozinha O pai ou a m e sempre a acompanham A fam lia se mostrou inteiramente mobilizada com as sa das de Vanda Eles se organizam entre levar e buscar Todos participam Quanto realiza o das tarefas dom sticas a m e de Vanda relatou que a filha s est encarregada de arrumar o pr prio quarto mas quando ela pode e isso acontece na maioria das vezes durante as f rias ela faz um bolo faz o jantar limpa a cozinha lava roupa e as passa tamb m Sobre o pouco tempo livre que a filha tem a m e conta que ela gosta de fazer as unhas arrumar o cabelo sobrancelhas assistir a um filme ficar no computador e conversar com as colegas 104 A leitura que a m e faz sobre a fase que a filha est vivendo bastante interessante Ela acha que a filha por pertencer a outra camada social est na realidade ajudando as pessoas do col gio O fato de a filha ser uma jovem com muita disciplina e muito motivada para estudar acaba motivando as colegas a estudar Ela e seu marido nunca acharam que a escola fosse demais ou que a filha estava sendo de menos A fam lia parece viver essa situa o da maneira como pode Todos se ajudam A m e nunca deixou de ir s reuni es a n o ser no dia do enterro do pr prio pai Ela guarda tudo que o Programa distribui durante as reuni es todos os pap is O sonho de Vanda
292. todo habitus de classe do qual ele constitui uma dimens o ou seja de fato a posi o ocupada sincr nica e diacronicamente na estrutura social Essa hipercorre o continua o autor umas das v rias estrat gias utilizadas pelo locutor como forma de se apropriar da uma l ngua que ele julga ser a leg tima O sonho de ser jogador de futebol comum entre os jovens dos meios populares deu lugar ao sonho de estudar Engenharia Mecatr nica C sar conta que sonhava em estudar em Harvard quando mais jovem e no momento da entrevista estava participando de um processo de sele o de um programa de interc mbio Ele estava entre os finalistas e acabara de chegar de uma din mica de grupo que aconteceu em S o Paulo Ele sonha com uma oportunidade de poder morar no exterior A entrevista com a m e de C sar aconteceu na casa da av materna que fica localizada na regi o Noroeste de Belo Horizonte e onde o jovem estava morando naquele momento Essa entrevista somente aconteceu na quarta tentativa pois na v spera do primeiro encontro a atual sogra da m e tinha falecido J na segunda tentativa a m e se esqueceu do compromisso depois houve mais um cancelamento devido a uma consulta m dica e por fim n s nos encontramos no dia e hora marcados Eu ligava na v spera de todos os encontros e s ent o era informada de que ela n o poderia comparecer A m e de C sar separada do pai dele e trabalha como auxiliar de servi os em uma e
293. trativas Centro Sul e Oeste TABELA 3 Caracter sticas socioecon micas Renda familiar per capita em R de agosto de 2000 Belo Horizonte MG Destaque para as regi es administrativas Centro Sul e Noroeste TABELA 4 Caracter sticas socioecon micas Renda familiar per capita em R de agosto de 2000 Belo Horizonte MG Destaque para a regi o administrativa Centro Sul TABELA 5 Caracter sticas socioecon micas Renda familiar per capita em R de agosto de 2000 Belo Horizonte MG Destaque para as regi es administrativas Centro Sul e Oeste TABELA 6 Caracter sticas socioecon micas Renda familiar per capita em R de agosto de 2000 Belo Horizonte MG Destaque para as regi es administrativas Centro Sul e Barreiro TABELA 7 Caracter sticas socioecon micas Renda familiar per capita em R de agosto de 2000 Belo Horizonte MG Destaque para as regi es administrativas Centro Sul e Barreiro 84 92 100 107 113 120 126 1 1 1 2 2 1 2 2 2 3 2 4 2 5 2 6 2 7 3 1 3 2 3 3 3 3 1 3 3 2 4 1 4 2 4 3 4 4 4 5 4 6 4 7 5 1 5 2 SUM RIO INTRODU O Percursos metodol gicos A coleta de dados CONTRIBUI ES DE DIFERENTES ESTUDOS PARA A CONSTRU AO DO OBJETO Estudos sobre sucesso escolar nos meios populares no contexto brasileiro As rela es de sociabilidade Esquemas de a o disposi es e capital
294. tros novatos Ao longo do tempo esses jovens acabaram por encontrar seus pares conforme atestam os depoimentos abaixo E ainda No primeiro ano foi mais dif cil N o sei acho que porque eu gostava muito dos meus amigos da outra escola e n o gostei de ser mudada N o gostei em rela o a amizades a acho que eu fiquei muito fechada no primeiro ano mas depois do meio do ano eu comecei a me abrir mais e fiz novos amigos S o pessoas que algumas eu conheci na minha sala e essas pessoas j conheciam outras e foram me apresentando Quando eu viajei para Petr polis h pouco tempo conheci muita gente tamb m Trecho da entrevista com C lia Fiz novas amizades sim foi um pouco dif cil porque eu cheguei com um pouco de preconceito porque eu n o tinha nenhum contato Era mais o que eu ouvia nas letras de rap alguma coisa assim ent o voc chega um pouco receoso achando que as pessoas v o te tratar mal ou algo do tipo mesmo que o Bom Aluno j tinha dado algumas refer ncias falaram que as pessoas te tratam muito bem mas mesmo assim cheguei um pouco receoso O meu primeiro contato foi com um aluno novato de condi es boas ele estava chegando e come ou a conversar assim e eu vi que era totalmente normal era basicamente eu conversando com um amigo quase de inf ncia do meu bairro mesmo Ele veio de Te filo Otoni l do interior era de um col gio particular mas mesmo assim ele convivia com pessoas
295. tudar o qu para amanh Acompanho eu achei que n o ia conseguir acompanhar porque no Alc ntara muito detalhezinho muita circular tudo tem circular No outro antigo col gio que era mais era estadual n o que n o tinha as circulares tinha mas as coisas eram mais espa adas No Alc ntara s o muitas atividades e o Ant nio quer participar de tudo Eu falei Ant nio pelo amor de Deus Trecho da entrevista com a m e de Ant nio Reiterando Lahire 2004 as formas de autoridade familiar s o importantes pois a escola prim ria repleta de regras que exigem de seus alunos no es de disciplina para uma melhor assimila o do que a escola prop e ensinar Quando em conson ncia com os regimes disciplinares da escola essas formas podem contribuir para o bom desempenho acad mico quando opostas podem acarretar dificuldades para as crian as O depoimento abaixo demonstra como as fam lias investigadas no caso da fam lia de Vanda controlam tudo relativo vida escolar de seu filho A casa gira em torno dos hor rios dela porque se ela vai chegar e eu n o estou em casa tem que ter outro para busc la no ponto Se ela vai meu marido busca Cada um se ajuda e n o sacrif cio A gente faz porque s o as condi es que a gente tem para ajud la j que ela precisa L em casa a gente assim um ajudando o outro o mais velho tem um ritmo de estudo trabalha pode chegar a comida est pronta L
296. tura de classe 2 as regras impl citas ou expl citas do funcionamento do grupo familiar 3 as experi ncias concretas vividas na escola xito integra o relacionamento com os professores ambiente da sala de aula e do estabelecimento escolar Mas salienta o autor mesmo dentro de uma mesma classe social a escolariza o afetar as fam lias de diversas formas ou seja poss vel encontrar 42 jovens com sucesso escolar nas camadas populares da mesma forma que poss vel encontrar jovens com fracasso escolar nas camadas m dias e alta 2 6 Diferen as de classes nas pr ticas de cria o dos filhos o estudo de Lareau Annette Lareau soci loga norte americana realizou um estudo etnogr fico com doze fam lias que tinham crian as de nove e dez anos A pesquisa que foi realizada em duas escolas situadas em duas cidades dos Estados Unidos teve in cio em dezembro de 1993 e durou at 1997 Posteriormente essa pesquisa se tornou um livro intitulado Unequal Childhooas class race and family life Os estudos realizados pela autora 2003 sobre evid ncias de diferentes pr ticas associadas rotina di ria dos filhos n o apontavam at ent o para as din micas da vida familiar das diferentes classes sociais N o se distinguiam com clareza quais eram as din micas internas dos lares que poderiam produzir vantagens na educa o dos filhos O foco dos diversos estudos j realizados estava nas pr ticas isolad
297. ua m e 22 Voc habita em Resid ncia pr pria dos pais ou familiares Resid ncia alugada Outro 23 Quantas pessoas moram na sua casa incluindo voc 34 Que pessoas moram na casa Pai M e Av s Tios Irm os Quantos 25 Qual a renda mensal do seu grupo familiar somat rio da renda de todas as pessoas que moram na sua casa incluindo sal rio mensal renda de alugu is pens es dividendos etc Menos de 1 sal rio m nimo De 1 a 2 sal rios m nimos De 2 a 5 sal rios m nimos De 5 a 10 sal rios m nimos De 10 a 15 sal rios m nimos wno 206 De 15 a 20 sal rios m nimos De 20 a 40 sal rios m nimos De 40 a 60 sal rios m nimos Acima de 60 sal rios m nimos 26 Quantas pessoas incluindo voc vivem da renda mensal do seu grupo familiar n o incluir empregados dom sticos 20U3 40u5 60u7 80u9 Acima de 10 27 Indique a quantidade em unidades de cada um dos itens de servi os ou conforto dom stico dispon veis em sua resid ncia se voc n o possuir algum dos itens escreva o n mero zero QUANTIDADE ITENS Televis o em cores V deocassete DVD Microcomputador Aparelho de som Assinatura de TV a cabo Internet banda larga Internet discada Telefone fixo Telefone celular Autom vel Geladeira duplex Gelade
298. uanto as colegas v o para casa de carro contribui para essa afirma o A an lise dos depoimentos revelou que o espa o de conviv ncia criado pelo Programa proporciona uma agrad vel sensa o de compreens o m tua representando um mundo ideal para esses jovens Esses ltimos sabem como os colegas se sentem porque tamb m est o tendo experi ncias semelhantes Segundo o depoimento de M rio o espa o Bom Aluno ideal porque a interse o dos dois mundos a saber o de sua origem e o da escola particular Mas Hoggart 1970 quem expressa melhor como se sente um indiv duo que passa por tais experi ncias Ao chegar todas as noites em casa ap s terem cruzado v rias fronteiras sociais esses jovens j n o olham mais para o seu universo com os mesmos olhos de outrora Ao ter acesso a outras formas de dizer de ver e de sentir n o poss vel n o se sentir de alguma forma tocado transformado e ao mesmo tempo tamb m dif cil esquecer o elo indefect vel familiar e afectivo que liga pais e filho HOGGART 1970 164 Ao trazer para a nova escola particularidades de seu meio e ao levar para sua casa particularidades de outro meio o jovem acaba por usar essa experi ncia educativa como ferramenta que permite re construir suas fronteiras sociais Retomo aqui a no o fronteira social segundo Almeida et al 2010 11 A no o de fronteira social por sua vez tem sido utilizada como ferramenta que
299. udan a de escola Ant nio respondeu que imaginou que a nova escola fosse bem mais dif cil com rela o s exig ncias acad micas do que na realidade Quando perguntado a ele sobre as diferen as que observou quando conheceu a casa de um colega que fica localizada na mesma regi o da cidade que a casa dele mas em um bairro de classe m dia ele respondeu que o apartamento do colega era pequeno como a casa dele e que l tinha tudo que ele tinha em casa Sobre as diferen as de comportamento entre os jovens da antiga escola e a atual escola Ant nio diz que os antigos colegas faziam mais bagun a em sala de aula Referindo se s diferen as dos jovens do seu bairro e do seu col gio atual ele afirma que seus vizinhos brincam na rua e que seus colegas n o Ao final ele afirmou que em seu col gio tem gente com condi o financeira melhor do que em seu bairro O controle da vida de Ant nio e de seus irm os pela m e se faz n tido quando ela diz que assim que ele chega em casa no final do dia ela prepare seu lanche deixa o assistir a seu desenho animado preferido e depois supervisiona seu para casa Assim que ele termina suas tarefas escolares j hora de ir dormir A m e controla o tempo de repouso dos filhos e diz que nos finais de semana ela os deixa dormir um pouco mais Para Lahire 2004 25 os pais das camadas populares podem exercer um controle indireto da escolaridade dos filhos controlando o tempo consagrado ao
300. udos O pai explica que o tom da conversa da casa baixo e que n o gosta de nada alto se o bot o do volume da TV passa do 10 eu j fico nervoso Eliana tem uma mesa 94 de estudos no quarto onde fica sua TV e seu som O pai diz que quando sai para trabalhar cedinho encontra uma pilha de livros ao lado da cama da filha Dos antigos amigos da Escola Professor Cassiano Eliana afirma que eles n o t m ideia sobre o que vem a ser estudar no Alc ntara s sabem que uma escola particular mas isso j suficiente para eles a chamarem de louca por ter de estudar demais A jovem relata com carinho uma cena que se passou na Escola Professor Cassiano quando a ent o professora de portugu s ficou sabendo que ela ia para o Alc ntara e come ou a pular de alegria gritando Nossa uma aluna minha vai para o Alc ntara Quanto passagem da escola p blica para a escola particular Eliana diz que se sentiu envergonhada no princ pio por n o saber direito como era o novo espa o e aponta para o fato de que no Alc ntara os jovens t m preconceito contra os novos alunos ou seja eles n o acolhem bem os novatos ao contr rio de sua ltima escola onde se recebiam os novos colegas de bra os abertos chegando ao ponto de se fazer uma excurs o com eles os novatos pelas depend ncias da escola A leitura de Eliana sobre isso que a maioria dos alunos do Alc ntara j est l desde o 7 ano do Ens
301. ue pouco sabe sobre suas atividades acad micas Ela diz que somente informa m e sobre os resultados das provas A m e n o participa das reuni es do col gio e isso deixa a filha muito triste S nia diz que acha que a m e tem pregui a e desinteressada mas a m e afirma n o ir a reuni es da escola por n o ter tempo Quanto s reuni es do Programa Bom Aluno a m e ou o pai sempre comparece A jovem mostrou ter uma rela o de muito carinho com o pai que sempre procura saber como est o suas notas Ela n o precisa dar muitas explica es para a m e quando sai com o pai e n o tem hora para voltar A m e disse que a filha muito ajuizada e que ela pr pria estipula o hor rio de voltar para casa mesmo quando est com suas amigas Alguns elementos do perfil dessa jovem parecem com o dos outros bolsistas Muito disciplinada ela n o precisa de ningu m para acord la pela manh ou para dizer a que horas ela deve ir dormir Ant nio uma exce o acredito eu mais por imaturidade do que por incapacidade de controlar seu descanso Ela sempre foi tima aluna segundo a m e Ao contr rio dos colegas do Programa que ajudam os colegas da escola particular nas mat rias em que eles t m mais dificuldade S nia ajudada pelos colegas do Programa nas mat rias em que ela n o est se saindo bem O ingl s apareceu mais uma vez como uma disciplina de prest gio e a jovem diz orgulhosa que j melhorou muito nessa mat ria
302. ue a jovem come ou a dar ind cios de querer participar de programas com as colegas do novo col gio Tr s jovens n o mencionaram sobre uma socia o com pessoas do bairro Os amigos de verdade n o mas com certeza muitos contatos que eu tinha quando estudava em escola p blica eu perdi n o tenho muito tempo para v los mas tem alguns amigos que eu preservo bastante moram perto da minha casa e sempre estou mantendo contato com eles Com a maioria dos meus colegas eu perdi o contato Trecho da entrevista com M rio O fato de muitas fam lias pertencentes a essa classe social n o disporem de meios de transporte e no caso de possu rem pesa a quest o do custo do combust vel na vizinhan a que as redes de sociabilidade acabam sendo constru das Santos 1994 17 lembra que os indiv duos pertencentes s classes trabalhadoras t m outros modelos de sociabilidade diferentes em rela o amizade e que eles cumprem uma fun o mais importante vizinhan a nas classes m dias n o atribu da a mesma import ncia como nas classes populares Com pouca op o em mat ria de transportes coletivos que normalmente t m sua frequ ncia diminu da nos finais de semana os moradores 138 de um bairro acabam por tecer suas redes de rela o no entorno de suas resid ncias conforme o depoimento desta bolsista Enquanto eu morava no mesmo bairro n s nos v amos no bairro convers vamos mas eu me mudei dois anos depois na
303. ue rentabilize as chances escolares IN 25 Reuni o Anual da ANPEd Caxambu 2002 A entrevista e seu processo de constru o reflex es com base na experi ncia pr tica da pesquisa in ZAGO Nadir et al Perspectivas qualitativas em sociologia da educa o Rio de Janeiro DP amp A 2008 ZEROULOU Zahia La r ussite scolaire des enfants d immigr s l apport d une approche en termes de mobilisation in Revue fran aise de sociologie XXIX 1988 p 447 470 192 AP NDICES AP NDICE SOLICITA O DE AUTORIZA O PARA REALIZA O DE PESQUISA NOS COL GIOS Participantes A pesquisadora Ana Beatriz Ratton Ferreira aluna do curso de Mestrado em Educa o Conhecimento e Inclus o Social da Faculdade de Educa o FAE da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG e a sua orientadora Professora Dr Maria Jos Braga Viana FAE UFMG solicitam a autoriza o da dire o da escola para a participa o de seus professores neste estudo intitulado Impactos da inser o em escolas da rede privada de alto prest gio acad mico sobre jovens populares e suas fam lias o Programa Bom Aluno de Belo Horizonte Pesquisadora respons vel Prof Dra Maria Jos Braga Viana mj bragaDterra com br fone 31 3661 1954 Pesquisadora correspons vel Ana Beatriz Ratton Ferreira beratton Quai com br fones 31 3284 7724 9104 8724 1 Esta se o fornece informa es acerca do estudo no qual a escola sob
304. um grupo de fam lias de empres rios de Minas Gerais Belo Horizonte Faculdade de Educa o da UFMG 2002 Tese concurso p blico para Professora Titular BOURDIEU Pierre A escola conservadora desigualdades frente escola e a cultura In NOGUEIRA Maria Alice CATANI Afr nio Orgs Escritos de educa o Petr polis Vozes 1998 p 39 64 Compreender In Bourdieu Pierre org A mis ria do mundo Petr polis Vozes 1997 0 693 732 economia das Trocas Ling sticas O que Falar Quer Dizer S o Paulo Editora da Universidade de S o Paulo 2008 Os exclu dos do interior In NOGUEIRA Maria Alice CATANI Afr nio Orgs Escritos de educa o Petr polis Vozes 2007 p 217 227 A distin o cr tica social do julgamento S o Paulo Edusp Porto Alegre RS Zouk 2007 BRASIL Constitui o 1988 Constitui o da Rep blica Federativa do Brasil promulgada em 5 de outubro de 1988 Cont m as emendas constitucionais posteriores Bras lia DF Senado 1988 BRASIL Presid ncia da Rep blica Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado Novembro 1995 Online Dispon vel em www planalto gov br Acesso em nov 2010 186 BROWN P The third wave education and the ideology of parentocracy British Journal of Sociology of Educaction In Classes m dias e escola novas perspectivas de an lise In Curr culos sem Fronteiras online 2010 vol 10 n 1 p 213 231 C NDIDO Ant
305. uma fam lia com poucos recursos econ micos j que hoje em dia est o dispon veis no mercado v rios tratamentos para a pele que amenizam as marcas da adolesc ncia O fato de Eliana estudar agora em uma escola particular parece ter afetado um pouquinho a maneira como seus parentes a tratam Ela afirma que eles a tratam melhor do que tratam as outras primas Ela atribui isso ao seu constante esfor o em rela o aos estudos o que causa grande admira o por parte de seus familiares Os pais tamb m se sentem orgulhosos de terem uma filha estudando em uma escola particular e dizem que sempre se questionam para saber como conseguiram isso Eles se dizem despreocupados em rela o educa o da filha e acrescentam que nunca precisaram mand la estudar Com rela o a cursar uma faculdade o pai acha que seria mais complicado sem o Programa Bom Aluno e que a nica op o de Eliana seria tentar a UFMG A m e relata que a rotina da casa gira em torno dos hor rios da filha e sabe as atividades escolares de cada dia da semana Tamb m disse que o pouco tempo livre que a jovem tem dedicado aos estudos Ela afirma ter liberado Eliana de todas as tarefas dom sticas pois acha que fazer tarefas dom sticas pode atrapalhar os estudos da filha s vezes quando a jovem tem um tempinho a m e a deixa arrumar o pr prio quarto A pesada rotina de estudos amenizada com a colabora o dos pais que propiciam um ambiente favor vel aos est
306. unos do Programa Bom Aluno de Belo Horizonte que diariamente atravessam as diversas fronteiras sociais que separam e classificam as pessoas de nossa sociedade com a coragem e a disposi o de grandes guerreiros Ao Bayard meu eterno amor e admira o AGRADECIMENTOS Nesta p gina dedico me a agradecer o apoio incondicional que o Programa Bom Aluno ofereceu a esta pesquisa Cla dia mantenedora Daisy gerente Andr ia psic loga pedagoga e Layla psic loga devo toda minha gratid o Sem d vida esta pesquisa n o poderia ter sido realizada sem a ajuda dessas pessoas Elas n o s abriram as portas do Programa como contribu ram ativamente na marca o das entrevistas juntamente com os cancelamentos no contato com os jovens pesquisados e suas fam lias na entrega dos question rios no recolhimento dos question rios na disponibiliza o das salas para as entrevistas bem como providenciando todas as informa es de que eu necessitei ao longo desse per odo A coordena o do Programa permitiu minha presen a durante partes da etapa de sele o no dia da prova escrita nas din micas de grupo e nas entrevistas com os candidatos e com suas fam lias para que eu pudesse ter uma vis o do funcionamento desse processo O Programa forneceu todos os dados relativos vida acad mica dos estudantes que foram utilizados nesta pesquisa bem como os gr ficos aqui apresentados Deixo aqui registrado o meu muito o
307. usicais Durante a entrevista p de se perceber que Eliana apresenta caracter sticas de um tr nsfuga de classe Ela domina o modo de conduta dos dois mundos e por ter ingressado na escola particular aos 12 anos n o parece ter de fazer esfor o para se comportar de maneira aceit vel pelos dois grupos Ela afirma saber do que falar com cada grupo de amigos e diz ter mais liberdade com as antigas amigas da Professor Cassiano Lembra ser amiga de filhas de pessoas importantes como a filha de um deputado e a sobrinha de um estilista de fama internacional Sabe cada viagem que esses pais ou parentes fazem para o exterior e as relata com grande desenvoltura Pa ses como a Turquia a Inglaterra e outros parecem fazer parte de seu vocabul rio Na escola particular Eliana adquiriu disposi es de classe m dia como a de falar sobre outros pa ses com os colegas Ela diz que aprende muito conversando com as pessoas que j viajaram para fora e diz gostar de pegar uma informa o aqui e outra l Tamb m durante as aulas os professores falam muito dos EUA e da Europa e ela acha que se estivesse na Escola Professor Cassiano n o teria aprendido nada disso Quanto vis o de futuro ressalta que os jovens da Escola Professor Cassiano t m como objetivo parar de estudar no 9 ano do Ensino Fundamental e que eles querem arranjar um emprego o mais r pido poss vel ao passo que os colegas do Alc ntara t m como plano fazer interc mbio
308. ustrar bem como o indiv duo plural tem a capacidade de colocar em repouso certos esquemas de a o e de incorporar novos que s o contradit rios aos antigos impedindo que ele se torne ref m de suas disposi es prim rias Nas palavras do jovem Eu me olho com olhos bem diferentes Eu vejo que tenho mais capacidade que o que eu achava antes sobre mim eu vejo que posso sempre estar indo mais al m meio voc dizer talvez seja um pouco de orgulho mas eu sinto orgulho de mim mesmo porque vi que eu pude chegar mais longe eu vejo que posso chegar mais longe Muitas vezes a gente sai a gente vai para shopping ao cinema ou marca uma pelada desculpe marca um futebol para descontrair a gente sempre sai vai para lugares diferentes Com certeza vai ter mudan a econ mica isso para mim tamb m essa oportunidade de estudar num col gio particular com um ensino muito bom acabou quebrando alguns preconceitos que eu trazia desde muito tempo por exemplo que gente que tem mais condi es esnobam ou pisam nos que s o mais humildes Isso s vezes enraizado de pequeno por algum fato que aconteceu algum ocorrido e eu tinha isso em mim Talvez um preconceito que eu nem tinha no o que eu tinha realmente s fui perceber isso quando fui para o col gio e me senti inicialmente inferior Ali eu vi que o que importa o ser humano a qualidade dele o que ele pode contribuir com o outro modificou totalmente pode mo
309. utorado Faculdade de Educa o Universidade Federal Fluminense Niter i 2006 LAHIRE Bernard Retratos Sociol gicos Disposi es e varia es individuais Porto Alegre Artmed 2004 Sucesso Escolar nos Meios Populares As Raz es do Improv vel S o Paulo Ed tica 2004 O Homem Plural As Molas da Ac o Lisboa Instituto Piaget 2001 LAREAU Annette Unequal childhoods class race and family life Los Angeles University of California Press 2008 LAURENS Jean Paul 1 sur 500 La r ussite scolaire en milieu populaire Toulouse Presses Universitaires du Mirail 1992 L LIS rsula Adelaide de Pol ticas e pr ticas do terceiro setor na educa o brasileira no contexto de reconfigura o do estado 2006 344 p Disserta o Mestrado em Pol ticas P blicas e Gest o em Educa o Faculdade de Educa o Universidade Federal de Uberl ndia Uberl ndia 2007 Online Dispon vel em http www bdtd ufu br Acesso em nov 2010 Manual T cnico do Instituo Bom Aluno do Brasil Curitiba s d MERKLEN Denis SAINT MARTIN Monique Fronti res socials divisions mouvements In Education et fronti res sociales un grand bricolage Paris Michalon 2010 p 9 24 MONTANDON Cl op tre PERRENOUD Philippe Entre parents et enseignants um dialogue impossible Berne Peter Lang 1987 NERI Marcelo C rtes coord 2008 A nova classe m dia RJ CPS IBRE Funda o Get lio Vargas
310. vagem do eu pode surgir quando no novo contexto socializador os novos h bitos esquemas de a o s o contradit rios aos j existentes fazendo assim com que a exist ncia do ator seja permeada pelo sofrimento N o foram observadas durante as entrevistas pistas de que esteja acontecendo essa clivagem Tudo indica que a presen a desses jovens nesse novo espa o socializador promove inicialmente um afastamento por parte dos jovens da antiga rede de rela es por estar esse espa o carregado do novo do desconhecido e por esses jovens estarem experimentando uma sensa o de pertencimento Todo mundo l inteligente bem informado diferentemente da Professor Cassiano nome fict cio dado antiga escola p blica Eu converso sobre tudo a gente fala sobre m sica sobre estudar fala sobre outros pa ses tamb m sobre muita m sica A gente gosta muito de falar sobre pa ses sei l a gente fala muito sobre pa ses a gente fala dos Estados Unidos da Europa Eu aprendo muito com as pessoas de l no momento final de aula aprendo muita coisa muito bom coisas que eu nunca aprenderia na Professor Cassiano experi ncias de gente que j foi para l e para c Eles v o falando e eu vou pegando informa es d para pegar muita informa o legal Na Professor Cassiano ah n o aguento mais vou sair na 8 n o quero estudar n o quero saber de nada Eles chegam para mim por
311. vidual a m dia da turma e a m dia geral Trecho da entrevista com uma professora do Alc ntara Vanda Eliana e Ant nio se encontram na m dia alta entre os colegas do Alc ntara C sar e S nia no momento da entrevista encontravam se na m dia baixa M rio na m dia C lia na m dia alta Todos os quatros jovens est o matriculados no Dom Assis 5 3 Impactos no cotidiano das fam lias O terceiro eixo de an lise trata de descrever os impactos e ou as mudan as percebidas no cotidiano das fam lias dos bolsistas ap s a entrada do filho em uma escola particular de alto n vel acad mico Para Lahire 2004 a fam lia e a escola constituem redes que quando se complementam geram situa es de sucesso escolar ou quando n o se 156 complementam podem gerar situa es de fracasso escolar sendo esta ltima condi o a mais comum de se encontrar nos meios populares Acredito que as fam lias aqui pesquisadas por fazerem parte do seleto grupo de fam lias das camadas desfavorecidas em situa o de sucesso escolar j fa am uso de pr ticas que estejam em conson ncia com as pr ticas educativas da escola O que se tentou observar ent o foram os impactos e ou as mudan as que ocorreram no cotidiano dessas fam lias ap s a entrada do filho em uma escola de alto n vel acad mico Para Perrenoud 1987 o simples fato de uma crian a entrar na escola j causa mudan as na rotina de uma fam lia por pelo menos nove anos
312. visitava os parentes mas devido falta de tempo diminuiu bastante essas visitas Com os colegas do Dom Assis M rio diz j ter ido a algumas festas de 15 anos mas n o gostou do que viu Ele diz que n o gosta de frequentar as festas dos jovens do col gio n o porque ele n o goste de seus colegas mas sim pelo que acontece nessas festas quando eles bebem Mas fora as festas com bebidas M rio j foi a festas da escola visitou shoppings com os amigos e segundo a m e n o perde uma viagem do col gio Ele diz j ter dormido na casa de colegas mas nunca convidou um amigo para ir sua casa Ele raramente sai noite com os colegas da escola devido dist ncia de sua casa Quanto mudan a da escola p blica para a particular M rio lembra que n o foi t o dif cil como ele imaginou Como havia v rios jovens tamb m novatos eles se agruparam por estar sentados pr ximos uns dos outros e foram construindo grupos de amizade bastante s lidos Ele afirma transitar com facilidade entre os v rios grupos de amigos que construiu e diz que eles sempre se encontram para estudar Ele acha importante que uns possam ajudar os outros porque no Dom Assis voc tem que ralar muito para voc chegar na m dia Tamb m M rio passou o primeiro ano de escola particular tentando tirar boas notas e mesmo com o Programa Bom Aluno ministrando aulas no contraturno da escola para potencializar o conhecimento ele teve que se esfor ar muito par
313. viver ver Jamais eu deixaria que ela fosse de qualquer jeito A gente faz o sacrif cio Trecho da entrevista com os pais de Eliana Inspira o para outros membros da fam lia A presen a desses jovens em um espa o de alto n vel acad mico acarretou mudan as vis veis principalmente no comportamento dos irm os Segundo os relatos dos entrevistados a express o mais usada foi que ele s n o queria m ficar para tr s Em quase todas as fam lias algu m se mobilizou para conseguir uma educa o de melhor qualidade ou algu m voltou a estudar C sar e C lia ilustram bem isso em seus depoimentos abaixo Eu sei que meus irm os est o se empenhando mais n o sei se pelo meu exemplo mas meus irm os agora est o batalhando mais por um curso Um est fazendo um curso t cnico agora e ele nem pensava nisso antes meu outro irm o est fazendo faculdade de sistemas Isso acabou mudando e mostra que importante o estudo muito importante Trecho da entrevista com C sar E ainda Ele come ou a ver a diferen a dela ainda mais que ela foi para o Dom Assis a gente j come ou a conhecer a escola ele est bem frente dela 165 referindo se ao ano escolar ela ensinava ingl s para ele e ainda falava comigo m e eu fico at com d do meu irm o porque ele fica me perguntando e n o tem no o nenhuma Ela pegou uma prova dele e falou que uma coisa que um exerc cio para ela e ele errou muitas coisas
314. zes compro uma lembrancinha isso n o problema Trecho da entrevista com Eliana Regi o da cidade de Belo Horizonte com maior IDH e onde est o localizadas as duas escolas particulares frequentadas pelos jovens pesquisados A regi o concentra os melhores shoppings da cidade e onde vive a maioria dos colegas das escolas particulares 143 E ainda Vou normalmente a gente vai pro shopping mesmo para um cinema para sentar um pouquinho Normalmente eu saio prejudicada porque a gente vai para o Diamond porque o que todo mundo prefere e o mais longe Perto da escola Na hora do almo o vamos pro Diamond A normalmente vai para l porque o mais acess vel para todo mundo a a gente vai para o Diamond Trecho da entrevista com Vanda Pela declara o da m e de uma das alunas Ela uma pessoa muito tranquila ano passado mesmo foi festa de 15 anos o ano inteiro aquelas festas mais chiques Tinha as que ela dava para ir porque n o d para ir a todas mas sempre ia quando dava de madrugada meus meninos buscavam meu marido buscava Trecho da entrevista com a m e de Vanda De acordo com Santos 1994 53 os fatores que influem o processo de forma o da amizade baseiam se na similaridade da posi o econ mica na educa o formal na idade etc dos amigos Portanto temos nessa rela o um fator de n o similaridade que a posi o econ mica dos jovens bolsistas
315. zonte e dentro do poss vel seguiram o roteiro previamente preparado Esse contato serviu para conhecer melhor os jovens e seu capital cultural de que maneira eles avaliavam sua experi ncia escolar at aquele momento quais eram seus h bitos de estudo antes e depois do ingresso no Programa e v rias perguntas foram formuladas sobre sua rede de sociabilidade As entrevistas duraram em m dia 45 minutos Sa de alguns encontros com uma sensa o de vazio de outros com uma sensa o de dever cumprido As entrevistas com as sete fam lias na maioria das vezes com as m es com exce o de uma entrevista que contou com a presen a do pai e da m e foram realizadas nas casas dos alunos com exce o de duas fam lias que optaram por me atender na casa da av materna devido dist ncia de suas casas Em todos os encontros fui muito bem recebida e senti que essas pessoas gostavam de falar da presen a do a filho a no Programa No final todas as fam lias me convidaram para tomar um cafezinho e uma delas tinha assado um bolo para me esperar As entrevistas realizadas com os quatro professores das escolas particulares foram realizadas nas sedes dos dois col gios Elas tiveram dura o m xima de 40 minutos j que os professores encontravam se no intervalo entre 20 uma aula e outra Foram realizadas quatro entrevistas duas no Alc ntara e duas no Dom Assis Tr s dos quatro professores lecionavam matem tica e uma professora

IMPACTOS DA INSERÇÃO EM ESCOLAS DA REDE PRIVADA DE

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