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Ana Rita Valinho dos Santos Marques

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1. Goffman E 1986 Stigma New York Simon Schuster Goffman E 1996 A Representa o do Eu na Vida Cotidiana Petr polis Vozes Goul o J 2008 Porque est o IDT debaixo de fogo Toxicodepend ncias Ano 14 n 1 Lisboa 2008 pp 3 6 Helman C G 1994 Cultura sa de e doen a 2 Ed Porto Alegre Artes M dicas Herzelich C 1973 Health and illness a social psychological analysis London Academic Press Imperatori E Giraldes M R 1982 Metodologia do planeamento da sa de manual para uso em servi os centrais regionais e locais Lisboa Escola Nacional de Sa de P blica Instituto da Droga e da Toxicodepend ncia 2005 Plano Estrat gico 2005 2008 Reinser o Lisboa IDT Instituto Portugu s da Droga e da Toxicodepend ncia 2002 Relat rio Anual 2001 A situa o do pa s em mat ria de drogas e toxicodepend ncias Actividades Desenvolvidas Vol 2 Lisboa IPDT Jodelet D 1989 Repr sentations sociales un domaine en expansion in D Jodelet dir Les repr sentations sociales Paris Presses Universitares de France Jodelet D 2001 Representa es Sociais fen meno conceito e teoria Paris Presses Universitares de France Ana Rita Valinho dos Santos Marques 187 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Lipiansky E 1992 Repr sentations sociales et id ol
2. The effects of harm reduction in Amsterdam in European Addiction Research 1 pp 92 98 Braga M C 1996 Relat rio Parecer 17 CNECV 96 sobre Liberaliza o da Droga e Despenaliza o do Seu Consumo Lisboa Conselho Nacional de tica para as Ci ncias da Vida Cabrero G 1988 La Integrati n Social de Drogodependentes Minist rio de Sanidad y Consumo Madrid pp 24 30 251 Ana Rita Valinho dos Santos Marques 181 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Capucha L 1998 Exclus o Social e Acesso ao emprego Paralelas que podem convergir Sociedade e Trabalho n 3 MTS Lisboa pp 61 69 Capucha L coord 1998 Rendimento M nimo Garantido Avalia o da Fase Experimental Minist rio do Trabalho e da Solidariedade Centro de Investiga o e Estudos de Sociologia Lisboa Carqueja H 2000 Doen a e Toxicodepend ncias Toxicodepend ncia Ano 6 n 3 Lisboa SPTT pp 83 85 Carvalho J N 1991 Preven o do abuso do lcool e drogas nos jovens Porto Instituto Nacional de Investiga o Cient fica Carroll M 1994 Cocaine and Crack Springfield Castel R Coppel A 1991 Les contr les de la toxicomanie in Ehrenberg A org Individus Sous Influence Paris ditions Esprit Cobb C Rixxford C 1998 Lessons learned from the history of social indicators Redefi
3. Tratar Ana Rita Valinho dos Santos Marques 109 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal as toxicodepend ncias numa abordagem cognitiva significa aceitar que processos de decis o quer para a manuten o ou suspens o de consumos de drogas s o poss veis de serem controladas pelo indiv duo em algumas circunst ncias Afirma o autor que aceita que as val ncias associadas s cogni es do processo de decis o podem ser formuladas motivacionalmente e influenciadas no processo terap utico idem 2000 p 56 Patr cio 2002 p 114 descreve o Tratamento do toxicodependente como uma interven o integrada nas v rias reas do indiv duo Segundo o autor o m dico que trata o doente ajuda o para que se efectue o plano terap utico N o tem que policiar nem pode usar os medicamentos como um colete de for as qu mico para controlo do doente Refere ainda que os consumidores est o a ficar mais velhos a idade m dia aumentou de 20 25 anos para os 30 De facto nem a comunica o social escapa e tamb m tem direito a recados e reparos por parte do autor perante um consumismo esp rio por vezes promovido sem dignidade natural que tamb m as subst ncias psicoactivas sejam promovidas como bem de consumo idem 2002 p 92 Num trabalho conjunto Pereira e Pires 2004 p 51 reflectem acerca da toxicodepend ncia e do seu Tratamen
4. Valores s cio pol ticos inLu s Fran a cord Portugal Valores Europeus Identidade Cultural Lisboa Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Ana Rita Valinho dos Santos Marques 195 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Vala J 1993c Representa es sociais no quadro dos paradigmas e met foras da psicologia social in An lise Social Vol XXVIII n s 123 124 pp 887 919 Vala J 2002 Representa es sociais e psicologia social do conhecimento quotidiano in J Vala e M Monteiro Eds Psicologia Social Lisboa Funda o Calouste Gulbenkian pp 457 502 Van ser Stel J 1998 Manual de Preven o lcool drogas e tabaco Estrasburgo IPDT Vieira C 1981 Informar os jovens sobre droga Apresentado nas 1 Jornadas de Preven o Prim ria Porto Watt N F D et al 1995 The life course of psychological resilience A phenomenological perspective on deflecting life s slings and arrows The Journal of Primary Prevention vol 15 p 3 Wagner W 1994 Descri o explica o e m todo na pesquisa das representa es sociais in Jovchelovitch S Guareschi P orgs Textos em Representa es Sociais Petr polis Vozes Wagner W Elejabarrieta F 1994 Representaciones sociales in J Francisco Morales coord Psicologia Social Madrid McGraw Hill Wa
5. de diminuir os sofrimentos sequelas das atitudes de risco Patr cio 2002 p 214 Desta forma existem estruturas que suportam este tipo de interven o como Gabinetes de Apoio a toxicodependentes sem enquadramento s cio familiar Centros de Acolhimento Centros de Abrigo Pontos de Contacto e de Informa o Espa os M veis de Preven o de doen as infecciosas Programas de Substitui o em baixo limiar de exig ncia Programas de Troca de Seringas Equipas de Rua e Programas para consumo vigiado Compete ao Instituto da Droga e da Toxicodepend ncia garantir a unidade intr nseca da concep o do planeamento da gest o da fiscaliza o e da Ana Rita Valinho dos Santos Marques 83 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal avalia o das estruturas s cio sanit rias e programas de Redu o de Riscos e Minimiza o de Danos no dom nio da droga e da toxicodepend ncia 4 4 A POL TICA DA REINSER O SOCIAL DOS TOXICODEPENDENTES O conceito de Reinser o carece de uma defini o concreta de um quadro te rico claro De acordo com Cabrero 1988 a Reinser o visa dotar o indiv duo das ferramentas necess rias para ultrapassar a sua depend ncia e poder reintegrar se no seu pr prio contexto Neste sentido segundo o autor trata se de um processo que come a quando o consumidor de drogas decide iniciar um Tratamento aprofunda se a partir do momen
6. medida que a circula o de drogas aumentava assistia se a uma mudan a de atitudes em rela o s mesmas e deste modo foi se alterando a interpreta o pol tica do seu uso e do fen meno em geral As interven es pol ticas e legislativas evolu ram para uma vis o cada vez mais plural e integrada e foram tomadas nesta ptica uma s rie de medidas psicossociais terap uticas e legislativas Em finais de 1975 j depois da revolu o de 25 de Abril e talvez porque at aqui as quest es de car cter social eram absolutamente negadas e desqualificadas em Di rio de Governo cria se o CEJ Centro de Estudos da Juventude e posteriormente o CEPD e o CIJD Centro de Investiga o Judici ria da Droga no Decreto Lei n 745 75 A contesta o social nomeadamente nas camadas mais jovens resultou na reac o do Legislador Note se que viv amos num contexto de contesta o acima de tudo a um regime ditador e obsoleto e uma guerra colonial j sem sentido para ningu m Segundo Poiares est vamos perante um outro paradigma o paradigma cl nico psicossocial A generaliza o do discurso especializado aos menos especializados do t cnico ao volunt rio faz parte da mesm ssima ofensiva obscurantista que senta volta da mesma mesa m dicos e pol cias Dias 1995 p 17 Aquele que consumia drogas tinha portanto um Tratamento especializado por parte da judici ria e ainda por parte dos m dicos A orienta o ag
7. o realiza se uma conceptualiza o te rica sobre o objecto droga o indiv duo toxicodependente as respostas institucionais e o papel dos t cnicos nesta rea Apresenta se uma outra dimens o importante neste estudo que diz respeito s representa es sociais da droga e do indiv duo toxicodependente real ando se o papel da sociedade como factor determinante na constru o social do objecto a subst ncia droga e o indiv duo toxicodependente Ana Rita Valinho dos Santos Marques 4 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Assim o percurso desta investiga o come ou com uma revis o bibliogr fica n o apenas pelo interesse de conhecer o que j foi dito pelo sobre o objecto universo pesquisado mas por descortinar as caracter sticas destes O objectivo passou por perceber as concep es anteriores sobre o objecto de estudo a droga e as toxicodepend ncias e o imagin rio social do grupo e ou da sociedade em que se inserem forneceram parte do terreno no qual as representa es sociais germinam favorecendo a identifica o das ancoragens Segue se com a apresenta o da resenha hist rica das pol ticas sociais e das respostas institucionais em torno do objecto droga e do toxicodependente percorrendo as diferentes reas de interven o Preven o Tratamento Reinser o Social e Redu o de Riscos e Minimiza o de Danos Por fim reflecte se sobre
8. o das reas priorit rias e estrat gias de interven o no mbito da Preven o Prim ria das toxicodepend ncias em articula o com outras entidades nomeadamente associa es privadas sem fins lucrativos Na sua concretiza o os Planos Municipais tiveram em conta as especificidades locais definidas em fun o da elabora o inicial de um diagn stico local que remetia para as necessidades de implementa o de estrat gias preventivas intr nsecas a cada realidade local Face ao diagn stico local a autarquia estabelecia parcerias com entidades que possibilitassem o desenvolvimento de projectos de Preven o Prim ria nas reas detectadas pelo diagn stico local como priorit rias O objectivo geral dos Planos Municipais de Preven o Prim ria das Toxicodepend ncias consistiu em incentivar o envolvimento da sociedade civil no sentido de se desenvolver um trabalho articulado na rea da Preven o Prim ria em parceria com as autarquias Os Planos Municipais definiram prioritariamente quatro reas de interven o Preven o em meio familiar Preven o em meio escolar Preven o em espa os recreativos de lazer e desportivos e Preven o junto de jovens em situa o de abandono escolar As reas priorit rias de interven o trouxeram consigo perspectivas estruturantes que constituem a base sobre a qual um novo modelo de desenvolvimento foi sendo desenvolvido De facto os Planos Municipais vieram a revelar se
9. o de opi ceos sint ticos os opi ides Quando se utiliza um medicamento opi ide para Substitui o pretende se reduzir ou anular quer a nsia para o consumo conhecida por craving quer Ana Rita Valinho dos Santos Marques 142 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal o aparecimento de algum sintoma de priva o factores que s o respons veis pela eventual reca da opi cea com hero na O Programa de Substitui o com Metadona proporciona um melhor acesso aos cuidados um acompanhamento m dico mais regular uma diminui o do n mero de injec es endovenosas de risco e uma melhor Reinser o Social com diminui o das actividades delinquentes O conjunto destas consequ ncias permite a Redu o dos Riscos associados ao consumo de drogas e consequentemente a Minimiza o de Danos associados infec o pelo HIV Nem todas as pessoas que aderem ao Tratamento t m os mesmos objectivos Algumas querem parar definitivamente os consumos outras procuram reduzir ou tentar controlar o seu uso Algumas iniciam a Metadona pensando que ir o necessitar desta indefinidamente outras sentem que s a ir o utilizar por um curto per odo de tempo A dura o do per odo de Tratamento deve respeitar o espa o de tempo necess rio efectiva o de mudan as significativas na vida da pessoa Actualmente em Portugal e na Europa co existem dois tipos de programas os qu
10. 2003 Di rio da Rep blica N 89 15 04 2003 I S rie A Ausloos G 1996 A Compet ncia das fam lias Tempo caos processo Lisboa Climepsi Editores Ana Rita Valinho dos Santos Marques 180 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Bardin L 1977 An lise de Conte do Lisboa Edi es 70 Lda Bachmann C Coppel A 1989 Le dragon domestique Deux si cles de relations tranges entre Occident et la drogue Paris ditions Albin Michel Becker H S 1963 Outsiders Studies in the Sociology of Deviance Nova Iorque The Free Press Berger P L Luckmann T 2003 A constru o social da realidade tratado de sociologia do conhecimento Petr polis Vozes Berridge V Depend ncia hist ria dos conceitos e teorias in Edwards amp Lader A natureza da depend ncia de drogas Porto Alegre Artes M dicas 1994 pp 13 34 Billig M Condor S Edward D Gane M Middleton D Radley A 1988 Ideological dilemmas a social psychology of everyday thinking London Sage Borges F C Filho C H 2004 Alcoolismo e Toxicodepend ncia Manual t cnico 2 Lisboa Climepsi Editores Bouhnik P 1998 Le syst me de vie des usagers de drogues dures Approche d Ethno Sociologie comprehensive Toxicodepend ncia Ano 4 n 3 Lisboa SPTT pp 49 56 Burning E Brussel G V 1995
11. A respeito da constru o social a que o conceito de droga obedece chamam nos aten o dois peritos da OMS Organiza o Mundial de Sa de A problem tica da Droga sofre de h muito tempo a esta parte de uma extrema confus o terminol gica e apesar de diversas tentativas da OMS em estabelecer uma nomenclatura comummente admitida numerosos s o os termos que permanecem com acep es muito dissemelhantes segundo os utilizadores Para tomar plenamente consci ncia da dimens o socio cultural do fen meno menos importante tentar estabelecer sem nenhuma garantia de sucesso ali s defini es universalmente admitidas que se deveriam empregar do que tomar resolutamente o h bito por um lado de escrutinar o modo como todos n s nos servimos regularmente dos termos relativos droga por outro de estarmos conscientes das implica es escondidas das nossas escolhas de palavras e dos pressupostos que estas escolhas fazem trair mas que n s somos reticentes em confessar Edwards e Arif 1982 p 18 Room 1985 p 133 destacava tr s grandes abordagens na an lise da depend ncia das drogas uma primeira entendendo a como um dado emp rico concebendo a como uma doen a um v cio moral ou o produto de uma deficiente aprendizagem social e Ana Rita Valinho dos Santos Marques 11 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal explicando a atrav s de factores biol gicos
12. A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal A organiza o do sistema societal em que se insere o sistema da droga torna este conceb vel como um sistema de vasos comunicantes em que o accionamento privilegiado de um tipo de controlo corresponde ao enfraquecimento dos restantes Erickson 1993 Os anos 90 s o marcados por um extraordin rio refor o dos hetero controlos em Portugal quer na vertente repressiva quer na vertente medicalizada consequ ncia do p nico moral que se abateu na sociedade portuguesa em rela o droga Os governos t m feito da droga uma prioridade mobilizando investimentos crescentes em meios organizacionais log sticos e humanos das pol cias para este fim procedendo a constantes agravamentos das san es penais dos crimes relacionados com a droga e dotando um dos poucos servi os verticalizados existente no Minist rio da Sa de o Instituto da Droga e da Toxicodepend ncia IDT de uma rede alargada de Centros de Atendimento a Toxicodependentes CAT s em quase todas as capitais de Distrito e em alguns concelhos em torno das grandes cidades O aparecimento da SIDA nos anos oitenta conduziu a uma nova vis o da toxicodepend ncia Face fal ncia expl cita dos mecanismos repressivos e cl nicos do combate droga tem se vindo a verificar uma crescente percep o da necessidade de se equacionarem novas respostas que passam pela introd
13. Ter um objecto que seja polimorfo isto que possa aparecer sob diferentes formas na sociedade e que tenha valor para as pessoas Existir um grupo social a quem se referenciam isto o conjunto de sujeitos que comunicam entre eles sobre o objecto de representa o que partilham a representa o e que contribuem para a sua produ o colectiva O envolvimento que as pessoas possuem em rela o ao objecto da representa o que lhe permite a identidade social na sua rela o com o seu grupo de perten a A identidade em fun o das representa es do seu grupo e que permite a sua coes o pela partilha de uma representa o comum Existir uma din mica social que permite as rela es do grupo com os outros grupos sociais existir interac o social Existir press o no grupo para controlar e regular a actividade dos seus membros individualmente o que Moliner 1996 citando Deconchy 1984 chamava a ortodoxia dos grupos Nesta perspectiva verifica se que as representa es possuem um car cter social quer por serem extensivamente partilhadas quer porque s o elaboradas no decurso das Ana Rita Valinho dos Santos Marques 27 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal interac es sociais atrav s de dois processos essenciais a objectiva o e a ancoragem que como diz Billig 1988 s o concomitantes e interrelacionais Moscovici aponta dois momentos essenc
14. The International Journal of the Addictions 16 8 1305 1372 OEDT Observat rio Europeu da Droga e da Toxicodepend ncia 1998 Linhas Orientadoras para a Avalia o de Ac es de Preven o da Toxicodepend ncia Observat rio Europeu da Droga e da Toxicodepend ncia Lisboa Ana Rita Valinho dos Santos Marques 190 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal OEDT Observat rio Europeu da Droga e da Toxicodepend ncia 2004 Relat rio anual A evolu o do fen meno da droga na Uni o Europeia e na Noruega Luxemburgo Servi o das Publica es Oficiais das Comunidades Europeias OMS Organiza o Mundial de Sa de 1995 CID 10 OMS Tradu o Centro Colaborador da OMS para Classifica o de Doen as em Portugu s 2 Ed S o Paulo Editora da Universidade de S o Paulo OMS Organiza o Mundial de Sa de 1995 Lexicon of alcohol and drug terms OMS G nova Patr cio L 1995 Droga de Vida Vida de Droga Lisboa Bertrand Editora Patr cio L 1996 Droga de Vida Vida de Droga Lisboa Bertrand Editora Patr cio L 1997 Face Droga como reJagir Lisboa Edi o SPTT Patr cio L 2002 Drogas para que se saiba Lisboa Figueirinhas Pereira O G Pires J R 2004 Prometeu Liberto Itiner rios de Droga em Medicin Comportamental Lisboa Medialivro Actividades Editoriais S A Pinazo
15. mais problem tica e come a aqui segundo Poiares o paradigma da criminalidade Estamos entre 1970 e 1975 e a droga surge no discurso pol tico pela primeira vez e verificam se alguns casos problem ticos de consumos em jovens das grandes cidades Lisboa Porto e Coimbra O Woodstock portugu s veio um pouco mais tarde 1972 em Vilar de Mouros e surge como o princ pio da transgress o dos jovens portugueses As campanhas de Preven o ao consumo dividiam as mesmas paredes que valorizavam os soldados no Ultramar tal como j foi referido o poder lan ou ent o a campanha Droga Loucura Morte servida pela colagem maci a de cartazes de fundo negro salpicada com iniciais LSD tendo como imagem central uma caveira Poiares 1995 p 23 Poiares refere que se estava a fazer campanha de Preven o para o consumo mas como consegu ncia acabou por se publicitar o pr prio consumo pois este era ainda quase inexistente na nossa cultura A contesta o social que se vivia nesta altura foi entendida pelo poder como um resultado de actos de loucura cometidos por causa da droga era uma forma de desvalorizar e desacreditar as reivindica es que vinham de todo o lado Assim nesta fase considerava se no mesmo momento o aspecto cl nico e o policial Era aqui considerado o acto do consumo pela primeira vez e a pessoa que o fazia era punida A l gica que ent o se configurava j n o era mercantil fiscal introduzira se agora o paradigma crimin
16. o H t cnicos que consideram que o Tratamento implica uma dimens o biol gica e psicol gica A interven o social considerada como complemento e nunca numa perspectiva socioterap utica 45 anos a trabalhar h 15 anos no IDT Para al m de se tratar de equipas multidisciplinares com curr culos diferentes o t cnico um ser social com viv ncias conceitos preconceitos valores pap is sociais que inconscientemente influenciam as modalidades de interven o que utilizam Os problemas dos toxicodependentes s o multidimensionais e complexos tendo necessariamente que merecer uma abordagem biopsicosocial e o social n o pode ser dissociado mas inserido no mbito de uma estrutura de Tratamento Os enfermeiros referem que as representa es sociais influenciam as modalidades de interven o N o por acaso que diferentes t cnicos t m posi es diferentes em situa es que apresentem os mesmos crit rios de interven o E esta observa o realizada pelos pr prios utentes em Tratamento quando pedem para mudar de terapeuta por saberem que estes tomam decis es diferentes em problem ticas id nticas 40 e 31 anos a trabalhar respectivamente h 15 e 6 anos no IDT Importa destacar um discurso bastante reflexivo de um dos enfermeiros Na sua perspectiva a interven o est condicionada por factores externos como as orienta es e op es pol ticas o trabalho multidisciplinar e a partilha d
17. sua vida mesmo assim ele sente se doente e incapaz de trabalhar neste espa o que o modelo biom dico e tradicional se tornou insuficiente e redutor N o basta identificar altera es som ticas e arranj las para tratar pessoas o processo de cura envolve muito mais do que simplesmente um Tratamento biol gico cir rgico ou f sico qu mico Reis 1998 p 47 A doen a ent o ao mesmo tempo uma realidade social e individual e est muito pr xima de um momento crucial das nossas vidas a morte ou a possibilidade de lhe escapar A amea a de morte constante nas doen as ditas mais graves mas o sentimento de lhe escapar de a vencer torna nos um pouco imortais ou at um pouco deuses Ao contr rio do que o modelo mais cl ssico concebia n o o nosso corpo que est doente como se fosse uma entidade separada de n s somos n s que estamos doentes Ent o estar doente n o simplesmente uma situa o ou experi ncia biol gica ou f sica com efeito estar doente percepcionar ou experienciar o corpo no contexto da exist ncia individual Reis 1998 p 47 Antes da pessoa doente procurar um m dico ela j iniciou uma constru o de significados para a sua doen a atrav s das altera es percebidas e sentidas no corpo Na presen a do m dico ou do terapeuta o doente que ainda n o o j tem a sua narrativa constru da sobre os sintomas e poss vel doen a um discurso pontuado por m
18. subvers o e por isso crime pelo que este per odo considerado por Poiares 1999 como estando orientado pelo paradigma criminal utilizar drogas passava a ser de modo expl cito um factor criminalmente tipificado que exigia puni o Ap s o 25 de Abril de 1974 verifica se uma propaga o dos consumos Com a descoloniza o e consequente regresso a Portugal de muitos retornados das ex col nias v rias pessoas que regressaram a Portugal consumiam drogas como a liamba d se a instala o de um mercado de drogas ainda que embrion rio O mercado p blico de venda de drogas geralmente cannabinoides a erva a liamba o haxixe encontra nalguns jovens os clientes privilegiados num per odo p s revolucion rio cheio de acontecimentos pol ticos e de incentivos para a emancipa o de estilos de vida que contradizem os modelos cl ssicos da sociedade portuguesa A droga transforma se num fen meno de rua estabelecendo se em locais caf s ruas e pra as onde se encontravam os consumidores e onde se realizavam as transac es de droga Em 1976 lan ada uma segunda campanha O flagelo da liamba A rela o do consumo de liamba a um flagelo n o se baseia em estudos que comprovem a sua veracidade trata se antes de uma vontade pol tica de ordem de estabilidade de regenera o do corpo social Agra 1993 p 37 que escolhe a droga como sin nimo de um caos revolucion rio que necess rio fazer para
19. 1986 a qual alimenta a constru o do pr prio drogado O conhecimento e o tratamento das quest es relacionadas com o consumo de subst ncias psicoactivas colocam se decisivamente num plano multidimensional e apelam para uma abordagem interdisciplinar prov vel mesmo que uma produ o transdisciplinar que se arrisque nos interst cios das tradi es de estudo e de interven o resulte melhor do que uma simples adi o de saberes constitu dos numa base disciplinar Qualquer que seja no entanto o n vel de articula o de saberes visado o facto que em Portugal a investiga o nesta rea tem tica se apresenta estritamente segmentada de acordo com crit rios disciplinares e institucionais As raz es para esta orienta o podem ser elencadas e talvez elas n o sejam muito diferentes das situa es que se conhecem noutras reas N o por isso que este esfor o de invent rio deixaria de se justificar Ana Rita Valinho dos Santos Marques 3 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal No entanto n o podemos evidentemente ignorar que a especializa o dos olhares e das compet ncias a eles associados tem permitido um aprofundamento progressivo de determinadas zonas do conhecimento e da interven o O nosso prop sito antes de criar uma oportunidade e gostar amos de iniciar um percurso que permita enriquecer os conhecimentos consegui
20. A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal b A mesma subst ncia ou outra relacionada consumida para aliviar ou evitar os sintomas de abstin ncia 3 A subst ncia frequentemente consumida em quantidades superiores ou por um per odo mais longo do que se pretendia 4 Existe desejo persistente ou esfor os sem xito para diminuir ou controlar a utiliza o da subst ncia 5 despendida grande quantidade de tempo em actividades necess rias obten o por exemplo visitar v rios m dicos ou conduzir para longas dist ncias e utiliza o da subst ncia por exemplo cadeia de fornecedores e recupera o dos seus efeitos 6 S o abandonadas importantes actividades sociais ocupacionais ou recreativas devido utiliza o da subst ncia 7 A utiliza o da subst ncia continuada apesar da exist ncia de um problema persistente ou recorrente f sico ou psicol gico provavelmente causado ou exacerbado pela utiliza o da subst ncia por exemplo utiliza o de coca na apesar da exist ncia de uma depress o induzida pela coca na ou manuten o do consumo de lcool apesar do agravamento de uma lcera devido ao consumo deste APA 1996 p 185 O outro instrumento cl nico universalmente reconhecido para a identifica o da depend ncia o ICD da OMS Na 10 e ltima revis o define a s ndrome de depend ncia nos seguintes termos Co
21. Fleming 2005 apresentou num artigo um modelo te rico cl nico sobre a dor mental onde enquadra as toxicodepend ncias Durante um processo de psicoterapia psicanal tica alguns dos seus pacientes falam em vazio existencial ou de um constante sofrimento porque se instalou uma profunda tristeza no seu dia a dia Segundo a autora os testemunhos de muitos dos seus pacientes remetiam n o para representa es mentais mas para buracos mentais vazios uma esp cie de rasg es no tecido mental por onde se tinham escoado os conte dos E mais frente refere este mesmo sofrimento ou dor profunda mas nos toxicodependentes nele a dor mental apresenta se em travesti sob a forma de dor f sica num corpo mal tratado ou num corpo em estado de ressaca O que os consumidores trazem s o as suas dores ps quicas mas silenciadas sob o efeito de ant dotos qu micos poderosos que a mascaram sob a capa de uma total nega o de qualquer sofrimento ps quico numa presun o de invulnerabilidade e de cren a de estarem para al m da dor mental idem 2005 p 5 Para a autora a dor mental do toxicodependente insaci vel de uma necessidade que nunca ser satisfeita A procura da droga uma forma de controlar esta dor e de alguma forma a atenuar A autora termina afirmando que os pacientes dependentes desde muito cedo sofreram car ncias muito intensas quer devido a perdas de figuras fundamentais para o seu crescimento quer devido a car
22. Por outro lado torna se relevante salientar que na opini o dos diferentes t cnicos as mudan as que ocorreram em torno da droga e do toxicodependente quer pela forma como a sociedade em geral foi lidando e gerindo este fen meno quer como o pr prio governo foi agindo est o fortemente condicionadas pelas representa es sociais do fen meno Estes t cnicos tamb m reflectem que muitas vezes s o as pr prias modalidades de Ana Rita Valinho dos Santos Marques 165 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Tratamento que existem que influenciam a forma como a droga e o toxicodependente encarado Assim encontramos afirma es como os t cnicos com valores sociais tradicionais t m mais dificuldade em aceitar Programas de Substitui o bem como consumos durante o per odo de Tratamento De uma forma geral os t cnicos com valores mais tradicionais s o mais exigentes na mudan a dos padr es de consumo e tendem a valorizar menos as pequenas mudan as ganhos que n o sejam a cessa o de consumos os t cnicos com um discurso proteccionista da condi o de toxicodependente aqueles que tendem a compreender o consumo como consequ ncia de rela es familiares disfuncionais tendem a usar estrat gias que infantilizam o utente e que o desresponsabilizam dos actos de consumo os t cnicos com um discurso assente na autonomia tendem
23. Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal PARTE I ENQUADRAMENTO TE RICO E POL TICO DA PROBLEM TICA EM ESTUDO 1 ROTEIRO CONCEPTUAL DAS NO ES DE DROGA E DE TOXICODEPEND NCIA O mundo das drogas f rtil em voc bulos que sofrem eles pr prios fen menos de acultura o que levam a que lhes sejam atribu das conota es diversas consoante o contexto Uma das manifesta es da varia o simb lica e da diversidade da tem tica da droga retira se dos diferentes sentidos dos conceitos centrais deste campo a saber droga drogas e toxicodepend ncia S o no es utilizadas em diferentes momentos e situa es que parecem constituir a todos os que se lhes referem instrumentos lingu sticos de acesso a uma nica realidade No entanto a an lise hist rica dos usos de drogas permite nos identificar diferentes significados e conota es Uma caracter stica do campo da droga o esbatimento dos marcos de refer ncia epistemol gicos do conhecimento que se enuncia sobre a mesma O discurso e a ac o profissional s o o resultado de uma din mica hist rica composta por op es ideol gicas te ricas e metodol gicas 1 1 A NO O DE DROGA Tribut ria da heran a grega do termo Pharmak n a Organiza o Mundial de Sa de definiu droga como Qualquer subst ncia que uma vez mais introduzida num organismo vivo pode modificar uma ou v rias das suas fun es Paes de Sou
24. S Ferrer X 2002 Etiologia y prevenci n del abuso de drogas en adolescentes y j venes Toxicodepend ncias Ano 8 n 1 Lisboa SPTT pp 35 43 Pires R P 1999 Uma teoria dos processos de integra o in Sociologia Problemas e Pr ticas n 30 Lisboa ISCTE pp 9 54 Pires M I V 2000 T xico exclus o a exclus o social pela toxicodepend ncia Estudo Psico Social da caracteriza o da popula o toxicodependente dos agregados benefici rios do RMC em quatro freguesias da cidade do Porto Porto Faculdade de Psicologia e Ci ncias de Educa o do Porto Ana Rita Valinho dos Santos Marques 191 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Poiares C A 1995 A legisla o Penal e a Droga Contribui o Para uma An lise do Discurso do Legislador Toxicodepend ncias Ano 1 n 3 Lisboa Edi o SPTT pp 17 29 Poiares C A 1998 As drogas il citas Consumo Incrimina o e Desculpabiliza o Toxicodepend ncias Ano 4 n 3 Lisboa Edi o SPTT pp 57 66 Poiares C A 1999 Contribui o para uma an lise hist rica da Droga Toxicodepend ncias Ano 5 n 1 Lisboa Edi o SPTT pp 3 12 Poiares C A 2000 Descriminaliza o construtiva e interven o juspsicol gica no consumo das drogas ou recuperar o tempo perdido Toxicodepend ncias Ano 6 n 2
25. Toxicodepend ncias Ano 5 n 3 Lisboa SPTT pp 3 9 Ribeiro J S 2001 Tornar se Toxicodependente Op o ou Fatalidade Toxicodepend ncias Ano 7 n 3 Lisboa SPTT pp 73 78 Rogiers X 1993 Metodologia da Recolha de Dados Fundamentos dos M todos de Observa es de Question rios de Entrevistas e de Estudo de Documentos Lisboa Instituto Piaget Artes Gr ficas Room R 1985 Dependence and Society British Journal of Addicction 80 133 139 Rosa A S 1988 Sur usage des associaations libres dans V tude des repr sentations sociales de la maladie mentale Connexions 51 Rome Universit de Rome Santos A 2000 Do outro lado da esperan a Instituto Cam es Lisboa Universidade do Sagrado Cora o de Jesus Schutz A 1976 The social world and the theory of social action in Alfred Schutz Collected Papers II Studies in social theory The Hague Martinus Nijoff Schuckit M 1991 Drug and Alcohol Abuse A Clinical Guide to Diagnosis and Treatment de Plenum Medical Book Company New York Seibel S Toscano J 2001 Conceitos b sicos e classifica o geral das subst ncias psicoactivas S o Paulo Atheneu Ana Rita Valinho dos Santos Marques 194 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Servi o de Preven o e Tratamento da Toxicodepend ncia 2000 Relat rio de Activi
26. Tratamento Preven o redu o de riscos e de danos reinser o Por outro lado as estrat gias utilizadas na sua maioria n o s o exclusivas do Tratamento da problem tica da toxicodepend ncia 40 e 34 anos a trabalhar respectivamente h 15 e 8 anos no IDT De qualquer forma na rea da psicologia as interven es parecem estar claramente definidas e s o identificadas e reconhecidas no discurso dos pr prios t cnicos S o os pr prios a referirem que existem Estrat gias de interven o psicoterap utica dirigidas fase de motiva o para o Tratamento ex entrevista motivacional estrat gias de interven o psicoterap utica na fase de Preven o da reca da ex modelo cognitivo Ana Rita Valinho dos Santos Marques 159 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal comportamental de Preven o da reca da Em qualquer fase do processo terap utico podem ser utilizadas interven es psicoterap uticas de orienta o comportamental cognitiva construtivista construcionista e ou de inspira o psicanal tica assim como a terapia familiar Estas interven es terap uticas podem ser efectuadas em consulta individual ou em grupo 40 anos a trabalhar h 15 anos no IDT Outro dos psic logos refere que assenta a sua interven o essencialmente no modelo sist mico devolver a decis o ao utente responsabilizar pelo comporta
27. apresentam esclarecendo que as drogas n o proibidas s o potencialmente t o perigosas no seu conjunto como as drogas proibidas Comit Consultatif National d tique 1994 Ana Rita Valinho dos Santos Marques 10 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Prop e nos deste modo uma defini o de raiz t cnica para droga explicitando as diferentes finalidades que podem servir em fun o dos seus usos tais como resultam da apropria o pelas pessoas Chamaremos droga a uma subst ncia agindo sobre o sistema nervoso central e que consumida pelos seus efeitos neurops quicos quer sejam num fim recreativo para o prazer explorat rio por curiosidade utilit rio para melhor suportar a fadiga para atenuar a dor para melhor dormir para acalmar a sua ansiedade para ficar menos deprimido etc A fronteira entre o uso terap utico medicamento prescrito por um m dico e o uso n o terap utico frequentemente fluida por causa da import ncia da auto medica o e ou do desvio de produtos terap uticos para outros fins necess rio notar que a maior parte das drogas tanto as que s o actualmente il citas opi ceos coca na LSD como as que s o de uso corrente caf tabaco lcool t m ou tiveram em medicina usos terap uticos em dose definida e com indica es definidas Comit Consultatif National d tique 1994
28. cnica e financeiramente durante dois anos 4 4 2 PROGRAMA VIDA EMPREGO O Programa Vida Emprego foi criado pela Resolu o do Conselho de Ministros n 136 98 de 4 de Dezembro e faz parte do quadro das medidas activas de emprego e forma o O seu objectivo potenciar a Reinser o Social e profissional de toxicodependentes em fase final de Tratamento como parte integrante e fundamental do processo de reabilita o A concretiza o do Programa passa pelo desenvolvimento de ac es que incidem nas vertentes da informa o orienta o e forma o profissional bem como da integra o s cio profissional designadamente atrav s da cria o de medidas espec ficas de apoio sua integra o s cio profissional O Programa dirige se a toxicodependentes em idade activa que se encontrem ou tenham terminado processos de Tratamento quer em Comunidade Terap utica quer em Regime Ambulat rio incluindo os toxicodependentes em processo de Tratamento no quadro do sistema prisional devidamente enquadrados pela entidade de Tratamento ou estabelecimento prisional e desenvolve se com recurso a 5 medidas espec ficas Media o para a Forma o e o Emprego Est gio de Integra o S cio profissional Apoio ao Emprego Pr mio de Integra o S cio profissional Apoios ao Auto emprego Neste sentido Ramos 2003 p 296 refere que O plano Nacional de Emprego PNE tem como prioridade melhorar a empregabilidade e a integra o s
29. composi o do agregado familiar por cada pessoa maior at segunda 100 por cada indiv duo maior a partir do terceiro 70 por cada indiv duo menor 50 e a soma dos rendimentos daquele agregado Para efeitos de determina o do montante da presta o do RSI considera se o total dos rendimentos il quidos do agregado familiar independentemente da sua origem ou natureza nos 12 meses anteriores data de apresenta o do requerimento e n o apenas no ltimo m s como acontecia com o RMG Apenas entram para o c lculo 80 dos rendimentos de trabalho deduzidos os montantes referentes s contribui es obrigat rias para os regimes de seguran a social Durante o per odo de concess o do RSI apenas s o considerados 50 dos rendimentos de trabalho De maneira a real ar a componente social introduziram se apoios especiais Assim sendo o montante acrescido quando existirem no agregado familiar pessoas portadoras de defici ncia f sica ou mental profunda pessoas portadoras de doen as cr nicas e pessoas idosas em situa o de grande depend ncia Esta componente tamb m tem como objectivo conceder apoios maternidade Nos termos do art 18 do Decreto Lei n 13 2003 de 21 de Maio o programa de inser o tem subjacente o relat rio social e dele devem constar os apoios a conceder assim como as obriga es assumidas pelo titular do direito ao RSI e se for caso disso pelos restantes membros do seu agregado fami
30. gica psicol gica hist rica e social do problema e neste enquadramento evoluiu se de uma perspectiva em que ao toxicodependente se propunha como objectivo a cura atrav s da paragem dos consumos para uma concep o mais pr xima do cuidar que implica uma interven o cont nua que se adeque s necessidades de cada fase desabitua o terap utica de Substitui o e reinser o e apelando as reas da sa de quando nos confrontamos com as situa es de co morbilidade psiqui trica ou de Tratamento de doen as infecciosas Quando um profissional se envolve no projecto de Tratamento de uma pessoa toxicodependente procura compreender essa pessoa nas suas formas de estar de sentir de gerir ou sobreviver para a ajudar a promover mudan as que ambos entendam necess rias N o trata apenas sintomas provocados pelo uso ou pela falta priva o aguda de droga mas interv m em diferentes reas desde a patologia f sica patologia mental Desta forma a sua actua o vai desde a psicofarmacologia socioterapia reinser o apoio fam lia Preven o da reca da e redu o de riscos 4 3 A POL TICA DA REDU O DE RISCOS E MINIMIZA O DE DANOS O princ pio do pragmatismo que complementa na Estrat gia Nacional de Luta Contra a Droga aprovada pela Resolu o do Conselho de Ministros n 46 99 de 22 de Abril o princ pio do humanismo leva ao reconhecimento da import ncia de se desenvolverem programas e medidas que co
31. ideias delirantes ou convuls es Rosa 1998 p 30 Segundo Pereira e Pires 2004 p 23 Toxicodepend ncias s o doen as toxicodependentes s o doentes Entre uma e outra asser o h certamente pontes de contacto mas h tamb m um abismo epistemol gico Lida se com as toxicodepend ncias no plano das cren as e dos conceitos lida se com os toxicodependentes no seio do encontro entre pessoas A doen a em si complexa e por isso necessita de m ltiplas abordagens pois o pr prio conceito tem v rias interpreta es logo a interven o ou Tratamento tamb m integrador de v rios saberes Os v rios saberes v o introduzindo os seus discursos a sua narrativa sobre o toxicodependente e o seu Tratamento Quando o toxicodependente ingressa num servi o de Tratamento especificamente ele atendido por um conjunto de t cnicos de sa de enfermeiro m dico psiquiatra psic logo e assistente social Tenta se dar resposta a todas as reas do indiv duo de uma forma integrada e global Durante alguns anos Carlos Amaral Dias Teresa Nunes Vicente Lu s Patr cio Nuno F lix da Costa Nuno Miguel R gio Mendon a Jos Manuel Almeida e Costa entre outros foram nomes de refer ncia para o estudo e compreens o da toxicodepend ncia mas acima de tudo dos toxicodependentes Consider mos que teria todo o interesse Ana Rita Valinho dos Santos Marques 102 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s
32. mbito da contesta o pac fica dos valores tradicionais Considerando o uso abuso de medicamentos vemos nesta poca uma transforma o face ao significado do uso de Ana Rita Valinho dos Santos Marques 41 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal subst ncias Embora ainda se mantenha o significado do consumo de medicamentos como uma necessidade para eliminar o sofrimento f sico e ou psicol gico o mesmo consumo adquire agora tamb m o significado de aumentar as capacidades tanto f sicas como psicol gicas Este significado vai manter se at actualidade A partir dos anos Setenta do s culo passado assiste se ao aumento do consumo de subst ncias como a hero na e coca na Progressivamente decorrendo dos anos Sessenta o consumo de subst ncias deixa de estar associado a um grupo com determinada ideologia mas passa a assumir uma dimens o mais individualizada neste contexto de uso individualizado de subst ncias que aparece a politoxicomania consumo simult neo de v rias subst ncias representada pela figura do junky Assim desde os anos Sessenta nos EUA e consequentemente na Europa que determinados aspectos que caracterizam a sociedade ocidental exercem influ ncia no uso de subst ncias psicoactivas e na forma como se encaram ou mesmo na forma como se julgam estes consumos e as pessoas que os fazem At agora j foram referidos aspectos com
33. o duas dimens es que apesar de satisfazerem duas necessidades diferentes s o complementares no processo de autonomia face medida O percurso desta pol tica social tem de ser encarado como um processo onde se v o atingindo diferentes patamares e onde se v o exigindo recursos sucessivamente mais complexos Para a maioria dos benefici rios e para a maior parte da popula o a primeira imagem do RSI a presta o pecuni ria A experi ncia retrata a import ncia do RSI quer pelo seu montante como tamb m pelo facto de estabilizar e assegurar um rendimento s fam lias atingidas pela instabilidade econ mica Ana Rita Valinho dos Santos Marques 94 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Desta forma segundo um estudo para o Minist rio da Seguran a Social e do Trabalho Avalia o de impactes do rendimento m nimo garantido 2001 2002 s o propostas algumas recomenda es que s o essenciais para as popula es em situa o de fragilidade Neste sentido deve se refor ar o car cter regular da presta o de maneira a garantir a sobreviv ncia di ria e a satisfa o das necessidades b sicas s assim as pessoas mais carenciadas poder o estruturar os seus modos de vida atrav s de uma organiza o mais aut noma da vida quotidiana e desenvolver a sua auto estima A ideia de que o recebimento da presta o RSI uma via de subs dio depend ncia deve
34. o obra do indiv duo mas emanam de um poder moral que o ultrapassa quer o imaginemos misticamente sob a forma de Deus quer dele fa amos uma concep o mais temporal e mais cientifica Durkheim 1898 p 197 Mas as representa es sociais foram conceptualizadas por Moscovici 1989 a para captar a mudan a social a partir das interac es sociais em torno da din mica de grupos pelo que compreendem as representa es que designou por pol micas as que s o disputadas entre grupos e se v o construindo e desconstruindo em fun o da conflitualidade social que marca as rela es sociais Ao analisarmos a droga luz das representa es sociais temos que ter presente que se refere a um objecto sujeito a uma press o para a hegemonia Vala 1993 a Trata se de um objecto sujeito a uma forte regula o social vertida num quadro normativo muito r gido estabelecido escala planet ria que segrega uma categoriza o social muito Ana Rita Valinho dos Santos Marques 31 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal estereotipada e opera uma estrita reserva de evid ncia que delimita um firme consenso funcional Deste modo ser de colocar a hip tese que em rela o droga as representa es sociais estejam pr ximas do conceito de representa es colectivas de Durkheim fruto daquele mecanismo de constru o do consenso social As representa es so
35. para o estudo da toxicodepend ncia os pressupostos epistemol gicos e metodol gicos do estudo positivista bio m dico da doen a a depend ncia est ali para ser observada trata se de definir com rigor os instrumentos metodol gicos para esse efeito Mas as evid ncias emp ricas dos enunciados cient ficos da depend ncia nem por isso deixam de suscitar algumas interroga es a Traduzir um uso regular de uma subst ncia psico activa um uso toxicomaniaco Por exemplo pesquisas emp ricas transversais identificam dois grandes padr es de uso regular da hero na o cont nuo di rio e o descont nuo Costa e Oliveira 1997 Localizar o ambos a toxicodepend ncia b Os crit rios cl nicos de depend ncia s o identificadores desta patologia para qualquer subst ncia psicoactiva Por exemplo o consumidor de whisky e ou tabaco que corre a cidade do Porto de ponta a ponta de madrugada para encontrar esta subst ncia visto como toxicodependente tal como o jovem de Vila Real que se desloca ao Porto expressamente para se abastecer no Bairro da S E as pessoas que utilizam tranquilizantes de forma ritualizada para conseguirem dormir s o toxicodependentes Dificilmente encontraremos repostas a estas quest es no terreno isto atrav s das pr ticas quotidianas profissionais e outras que permitam distinguir ci ncia e saber comum sempre invocada pelo meio profissional que interv m no campo da droga O
36. psicol gicos ou psicossociais uma segunda mantendo a depend ncia como um dado salienta a import ncia dos factores socio culturais na sua produ o uma terceira desloca se das conceptualiza es da depend ncia como um dado emp rico e problematiza a como uma constru o socio cultural que nos diz mais sobre as estruturas de pensamento de uma dada ordem social do que sobre a natureza ou realidade da experi ncia individual Neste sentido Thomas Szasz 1994 dizia nos que da mesma maneira que n o a Qu mica que pode esclarecer a santidade da gua benta tamb m n o se pode encontrar resposta sobre o que s o drogas perigosas na Farmacologia ou na Bioqu mica As drogas tornam se mais santas ou mais mpias em fun o dos cerimoniais sociais O objecto droga constr i se em fun o dos padr es institucionalizados que organizam a sua apropria o social os quais se formam reproduzem e se transformam nas e atrav s das rela es sociais dotadas de sentido que se estabelecem entre o actor da droga e esta e entre o actor da droga e os outros Nos padr es institucionalizados que caracterizam as manifesta es associadas s drogas classifica se o poder classificat rio dos outros o qual se transcreve n o apenas em pesadas regula es formais mas tamb m em todo o aparato simb lico socialmente difundido por diferentes meios e nas atribui es de sentido quotidiano que nos p
37. realidade que elaborado a partir de determinados quadros de apreens o do real mais at se virmos a representa o social como compreendendo um sistema de valores de no es e de pr ticas relativas a objectos sociais permitindo a estabiliza o do quadro de vida dos indiv duos e dos grupos constituindo um instrumento de orienta o da percep o e de elabora o de respostas contribuindo para a comunica o dos membros de um grupo ou de uma comunidade Moscovici 1969 temos em suma que as representa es sociais s o teorias impl citas acerca de objectos sociais relevantes e tal como constituem uma modalidade de conhecimento que serve a apreens o avalia o e explica o da realidade na perspectiva apresentada por Vala 1993 a Em 1961 Moscovici sugeria que os indiv duos e os grupos produzem sobre si pr prios sobre os outros e sobre o que os rodeia interpreta es nas diferentes situa es A estes modelos avaliativos que articulam informa es a que os indiv duos t m acesso bem como atitudes em rela o aos objectos se convencionou chamar de representa es sociais N o obstante o interesse da no o e as discuss es que suscita desde h mais de um quarto de s culo a sua especificidade continua por estabelecer a realidade das representa es sociais mais f cil de ser apercebida do que o pr prio conceito Moscovici 1976 A teoria das representa es sociais constru da no in cio dos ano
38. s a 1 Guerra Mundial A coca na desaparece por altura da recess o dos EUA em 1929 que se reflectiu obviamente em Portugal Em rela o hero na as refer ncias remetem d cada de Trinta com Reinaldo Ferreira no papel de Rep rter X tamb m nesta altura segundo Salvado Ribeiro 1999 que a pol cia come a a observar os fen menos de tr fico e consumo de drogas nomeadamente junto de prostitutas Considerando o caso dos cannabin ides o consumo destes emerge desde o in cio da guerra colonial 1961 O primeiro festival de m sica em Vilar de Mouros em 1972 onde compareceram milhares de jovens semelhan a do que aconteceu em Woodstock 1968 a primeira demonstra o colectiva de consumo de liamba e em menor escala Ana Rita Valinho dos Santos Marques 45 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal de LSD De notar que na Europa as mudan as socio pol ticas v m a acontecer na sequ ncia dos EUA e em Portugal o consumo de subst ncias nestes per odos tamb m se reveste de um car cter ideol gico de contesta o ao regime pol tico guerra colonial e ao sistema de valores institu dos Para os portugueses a droga parecia n o existir exceptuando se as seguintes situa es se existisse era nas col nias ultramarinas entre os marginais ou em pequenas quantidades por uma quest o de curiosidade Por outras palavras ou se negava simplesm
39. tica que arrasou as barreiras dos saberes a sua pluridisciplinaridade tudo p e em causa gerando a desordem incluindo no espa o da penalidade Poiares 1998 p 63 Nesta altura prev se a suspens o da pena e obriga o do Tratamento embora segundo este autor existam ainda muitas ambiguidades ou seja se no artigo 40 existe a puni o e o castigo mais frente outros artigos 41 42 43 47 e 53 preferem o Tratamento Ainda segundo Poiares idem depois de tantos ensaios e ambiguidades estamos em presen a de um crime antecipadamente objecto de desculpabiliza o o que decorre do car cter patol gico que lhe assinalado desde 1975 bem como da frequ ncia com que se regista nas sociedades contempor neas Sendo assim o crime meramente consequ ncia da doen a e por isso o mesmo doente poder optar por se tratar e assim ficar com a pena suspensa Trata se de certa forma da psicologiza o da legisla o ou seja visa se a compreens o do comportamento do criminoso que deixa de o ser pois assume se como doente e assim entendido Todos levantamos a mesma quest o ser delinquente ser doente ser ambos O que fazer At h pouco tempo manteve se o mesmo paradigma ou seja manteve se a centralidade na pessoa significando que o acto de consumo penalizado mas n o a pessoa Interessa compreender para explicar o consumidor e sua patologia Inclu ram se assim no discurso do Legislador outros sa
40. ticas m dicas toxicomanias e a promo o do exerc cio da cidadania in Ascelard G Avessos do Prazer drogas aids e direitos humanos Rio de Janeiro Editora Fiocruz Deconchy J P 1984 Systemes de croyances et repr sentations ideologiques in S Moscovici Ed Psychologie Sociale Paris Presses Universitaires de France pp 331 355 Dias C A et al s d Interven es em toxicodepend ncias do C E D ao C A T C 1997 1997 Coimbra Dias C A 1979 Estudos sobre a Droga Ed Afrontamento Dias C A Vicente T N et al 1980 Z Encontro Sobre Terapias Institucionais Curia Comunica es Dias C A Vicente 1995 Ascens o e queda dos toxicodependentes ou a democracia da mentira Lisboa Fenda Ana Rita Valinho dos Santos Marques 183 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Doise W 1990 Les repr sentations sociales in Ghiglione R Bonnet C Richard J F Ed Trait de Psychologie Cognitive vol 3 Cognition Repr sentation Communication Paris Dunot pp 111 174 Doise W Clemence A Lorenzo Cioldi F 1992 Repr sentations sociales et analyses de donn es Grenoble Presses Universitaires de Grenoble Domingo C 1985 El Uso De Drogas En La Juventud Publicaciones de Juventud y Sociedad Durand G 1994 L Imaginaire Essai sur les sciences et la philosophie de l im
41. vemos aparecer o consumo de medicamentos afastado do seu uso adequado barbit ricos tranquilizantes diversos misturados com lcool um tipo de toxicomania de pobre que significa para o futuro uma vida desprovida de sentido mas tamb m de futuro Aumentam tamb m os politoxicodependentes e as subst ncias deixam de ser um meio para se conseguir alguma coisa mas se constitu rem como um fim em si O jovem com uma imagem algo distante da do junky consome drogas n o por representar determinada ideologia como uma procura interna de uma maior sensibilidade mas como fuga a uma realidade na qual n o se consegue integrar afectiva e cognitivamente e projectar se no futuro A sociedade contempor nea protagoniza v rios paradoxos sendo um deles o facto de por um lado n o permitir a integra o de subst ncias no seu equil brio marginalizando e descriminalizando as e tudo o que elas representam mas por outro lado estimulam implicitamente a utiliza o de meios que ser o necessariamente subst ncias que permitam aumentar o desempenho e a rentabilidade de cada um Nas fam lias assiste se ao aumento das clivagens entre gera es generation gap acotovelando se solid es e vazios internos Vale a pena referir que a gera o adulta desta fase foram os jovens que nos anos 60 recusaram todo o sistema de valores vigentes Os filhos desta gera o jovens dos anos 80 sofrem a aus ncia de refer ncias e procuram nas atrav
42. 1998 diz nos que independentemente do tipo de toxicodepend ncia o Tratamento dos toxicodependentes deve ser encarado como um processo complexo de re arranjos por etapas nos quais os diversos recursos dispon veis se complementam e se articulam indo ao encontro das verdadeiras necessidades destes doentes Desta forma este autor defende que n o h uma resposta universal para a problem tica da toxicodepend ncia nem um modelo comum de Tratamento que se ajuste a todos os toxicodependentes Neste sentido existe uma multidisciplinaridade de respostas que v o desde as Comunidades Terap uticas CT Unidades de Desabitua o UD e Centros de Dia CD Os pressupostos desta investiga o tra aram partida objectivos limitados N o pois nem era a sua inten o uma avalia o global de todos os problemas respeitantes toxicodepend ncia e muito menos daqueles que se prendem pr tica a saber a interven o pluri preventiva O projecto de cuidar a toxicodepend ncia levanta infalivelmente a quest o das representa es sociais que fazem mutuamente o terapeuta e o seu doente A legisla o e a pr pria estrutura de Tratamento referem que o toxicodependente um doente que precisa de ser tratado A sociedade no seu discurso hist rico cultural vai afirmando alguma dupla mensagem em rela o ao toxicodependente Os peritos v o se questionando e pensando o sofrimento dos toxicodependentes e dando orienta es a quem tr
43. 2003 1 873 57 73 A 2004 1 792 75 83 A 2005 1 766 68 74 A TOTAL 21 531 1 054 732 99 105 Fonte Informa o elaborada pela autora a partir de dados recolhidos em relat rios de actividades do ex SPTT e IDT Ainda n o se encontravam em funcionamento Encerrou em 1997 Pela leitura do quadro n 5 facilmente se consta que semelhan a da evolu o do n mero de consultas e do n mero de doentes admitidos nos CAT s quadro n 3 tamb m nas Unidades de Desabitua o Comunidades Terap uticas e Centros de Dia se observa um crescimento dos doentes em tratamento No entanto destaca se que o incremento do n mero de utentes em tratamento nestas estruturas evolui medida que a capacidade de resposta aumenta ou seja de acordo com a abertura de novas Unidades Ana Rita Valinho dos Santos Marques 148 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Importa ainda salientar que os dados referentes ao n mero de utentes em tratamento em Unidades de Desabitua o Comunidades Terap utica e Centro de Dia s o regulados pela capacidade de lota o destas estruturas Por outro lado nas Comunidades Terap uticas sendo os projectos terap uticos de longa dura o cerca de um ano a capacidade de resposta fica condicionada por per odos de tempo longos ficando por isso as unidades sem camas dispon veis C mara citado por Lowenstein et al
44. Europeia est integrado em Tratamentos de Substitui o sendo a Metadona o medicamento mais prescrito Os estudos desenvolvidos no mbito dos consumidores problem ticos de drogas t m demonstrado que o Tratamento de Substitui o de opi ceos viabiliza a manuten o do contacto do indiv duo com a unidade prestadora de cuidados diminui o risco de infec es por exemplo SIDA e a Hepatite e melhora o seu estado geral de sa de reduz a criminalidade relacionada com as drogas e ajuda os a reinserirem se na sociedade OEDT 2004 Os opi ceos s o subst ncias depressoras ou sedativas do sistema nervoso central S o conhecidos o pio e os seus derivados a morfina a hero na e os opi ceos sint ticos que s o usados com indica o terap utica como a Petidina o LAAM Levoalfa acetil metadol actualmente j n o utilizada em Portugal a Buprenorfina e a Metadona A Metadona foi desenvolvida por farmac uticos alem es durante a Segunda Guerra Mundial para ser utilizada como analg sico Foi utilizada pela primeira vez com dependentes de opi ceos no Hospital Pris o de Sa de P blica norte americano em Lexington Kentucky como agente de desintoxica o Constatou se que a Metadona era melhor do que a morfina para uso cl nico por ser mais barata ser administrada por via oral e de efeito mais duradouro do que a morfina Marlatt 1999 No Tratamento da depend ncia de hero na pode ser adequada a utiliza
45. Lisboa Edi o SPTT pp 7 16 Poiares C A 2001 Varia es sobre a Droga Toxicodepend ncias Ano 7 n 2 Lisboa Edi o SPTT pp 67 75 Porot A 1971 Las Toxicomanias Barcelona Oikos Tau trad Ana Raba a Lisboa Not cias 1989 Portugal Minist rio do Trabalho e da Solidariedade Instituto para o Desenvolvimento Social 2001 2002 Avalia o de impactes do Rendimento M nimo Garantido Instituto para o Desenvolvimento Social Estudos Lisboa Presid ncia do Conselho de Ministros 1999 Estrat gia Nacional de Luta contra a Droga 2 Ed Lisboa Imprensa Nacional da Casa da Moeda Presid ncia do Conselho de Ministros 2000 Relat rio Anual A situa o do pa s em mat ria de drogas e toxicodepend ncias em 1999 Instituto Portugu s da Droga e da Toxicodepend ncia Lisboa Quartilho M 2001 Cultura Medicina e Psiquiatria Coimbra Quarteto Ana Rita Valinho dos Santos Marques 192 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Quintas J 2000 Consumos de Drogas realidades e representa es sociais Toxicodepend ncias Ano 6 n 3 Lisboa SPTT pp 29 42 Quivy R Campenhoudt L 1997 Manual de Investiga o em Ci ncias Sociais Lisboa Gradiva Ramos C 2005 Economia Social Inclus o e Responsabilidade Social e Empresarial Investiga o e Debate Servi o Soci
46. Marques 169 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal neste ponto de reflex o que Portugal se permitiu avan ar favorecendo as condi es necess rias cria o de uma nova estrutura org nica o Projecto Vida Este apresentou se como uma estrutura inovadora n o s a n vel nacional mas tamb m a n vel europeu criando pela primeira vez a figura do Coordenador Nacional a quem competia a coordena o de medidas de combate droga em Portugal Numa perspectiva de manifesta o do fen meno os anos 80 inauguram uma poca de crescente preocupa o social com respeito s drogas especialmente no que se refere hero na Com a hero na surgem novos problemas sociais nomeadamente o HIV SIDA Perante estas circunst ncias evolui se para uma nova tomada de consci ncia nacional face complexidade do fen meno das drogas passando a considerar se a necessidade de uma interven o mais pragm tica numa linha pol tica de Redu o de Riscos e Minimiza o de Danos na verdade luz das transforma es sociais dos anos 80 que Portugal evolui qualitativamente no mbito da droga conferindo abordagem indiv duo consumidor uma realidade biopsicossocial que se manifesta no per odo entre 1983 e 1999 A partir desta data a ac o pol tica intensificou se resultando no refor o de meios de interven o no mbito das drogas o qual conduziu cria o do
47. Quadro Prevenir 4 4 2 Programa Vida Emprego 4 4 3 O Rendimento Social de Inser o 4 4 4 Outras medidas na rea da Reinser o Social 5 O papel dos t cnicos na problem tica das toxicodepend ncias 5 1 O conceito de doen a e suas significa es 5 2 A toxicodepend ncia e a concep o dos especialistas 5 2 1 Os profissionais de sa de e a droga 6 A sociedade face aos toxicodependentes 13 pi 34 34 36 37 37 45 52 66 74 81 84 86 87 89 96 98 98 102 113 120 IH PARTE METODOLOGIA AN LISE E DISCUSS O DOS RESULTADOS 7 Metodologia da investiga o 7 1 Objectivos da pesquisa 7 2 Metodologia 7 3 Caracteriza o dos participantes da pesquisa 8 An lise e discuss o dos resultados 8 1 Apresenta o e discuss o de dados quantitativos que caracterizam a evolu o das Respostas Institucionais na rea da Sa de 8 2 Apresenta o e discuss o dos resultados obtidos a partir das entrevistas 9 Conclus o e Considera es Finais 10 Bibliografia Anexos Anexo 1 Gui o de Entrevista 124 124 124 125 130 132 140 135 150 168 179 197 ndice de Quadros Quadro n 1 Perfil dos t cnicos por n s entrevistados Quadro n 2 Abertura por anos 1986 a 2005 das estruturas do IDT que d o resposta ao fen meno da toxicodepend ncia Quadro n 3 Evolu o do n mero de Primeiras Consultas Consultas de Segui
48. Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal incluir o discurso dos peritos dos especialistas na toxicodepend ncia alguns dos que pensam e escrevem sobre o Tratamento do toxicodependente A pr tica no terreno segue muitas vezes as orienta es destes autores Uma das primeiras pessoas a escrever sobre o que a toxicodepend ncia em Portugal foi o Prof Doutor Carlos Amaral Dias Em finais dos anos 70 j com algum tempo de experi ncia como Director no CEPD de Coimbra actual CAT referia a import ncia de se entender intensamente o momento da adolesc ncia na problem tica do consumo O autor afirmava ent o que sendo a toxicomania moderna um problema epid mico com a sua origem e as suas inter rela es com a evolu o do conceito cultural de adolesc ncia qualquer jovem debru ado sobre as suas pr prias dificuldades se torna um aditivo potencial 1979 p 15 Para o autor a droga aparentemente escondia toda a psicopatologia da adolesc ncia o encontro destes dois jovem e droga assumia uma rela o de depend ncia e de destrui o As m es destes jovens eram vistas como hiper protectoras cobrindo com essa atitude uma rejei o inconsciente 1979 p 24 Ou ainda tendo uma alian a de tal forma forte com o filho desqualifica muitas vezes o pai que se mant m distante Esta aus ncia da figura paterna prejudica o desenvolvimento do adolescente que tanto necessita das identifica es
49. Residenciais com estada prolongada para toxicodependentes O investimento efectuado com as entidades privadas decresceu em 1996 para 61 2 aumentando neste ano o investimento em equipamento da rede p blica em 77 7 De referir tamb m o alargamento consider vel dos Programas de Substitui o com Metadona ou LAAM principalmente a partir de 1997 Neste ano a Metadona encontrava se dispon vel em 25 CAT s e o LAAM em 12 CAT s No entanto a administra o destes programas encontrava se dispon vel em v rios Centros de Sa de Hospitais e 3 estabelecimentos prisionais Mais tarde em 1998 foi homologado o protocolo de colabora o entre o Servi o de Preven o e Tratamento da Toxicodepend ncia a Ordem dos Farmac uticos e a Associa o Nacional das Farm cias no mbito do Programa de Substitui o Narc tica com Cloridato de Metadona atrav s do Aviso n 10 514 98 2 s rie Este documento tendo presente o entendimento que o toxicodependente deve ser encarado como algu m que carece de apoio e assist ncia m dica impondo se portanto que todos os esfor os caminhem no sentido da sua recupera o enquanto indiv duo e enquanto membro de uma sociedade que tamb m preciso proteger veio permitir o alargamento das estruturas de sa de vocacionadas para a administra o de Metadona Em Portugal por recomenda o do Infarmed em comunica o de 21 12 2000 o LAAM deixou de ser prescrito a novos doentes Esta medida deve se
50. Servi o de Preven o e Tratamento da Toxicodepend ncia SPTT representando um salto qualitativo do pensamento politico do combate droga No final dos anos 90 o evidente aumento do consumo de drogas em Portugal veio exigir um esfor o da pol tica interna ao n vel da Preven o Prim ria do consumo de drogas Tal pol tica veio a manifestar se na cria o em 1999 de uma nova estrutura o Instituto Portugu s da Droga e da Toxicodepend ncia IPDT necess ria ao restabelecimento da efic cia e operacionalidade dos dispositivos de combate droga Deste modo o IPDT veio complementar a interven o preventiva do SPTT assegurando a estabilidade e efic cia das ac es preventivas que o problema da droga exige Ana Rita Valinho dos Santos Marques 170 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal As quest es estrat gicas portuguesas estiveram sempre em articula o conjunta com as quest es estrat gicas europeias revelando uma identidade pr pria entre dois p los nacional e europeu Neste sentido no ano 2000 foi aprovado no Conselho Europeu o Plano de Ac o da Uni o Europeia Contra as Drogas que veio complementar as orienta es produzidas pela Estrat gia Nacional e pelo Programa do XIV Governo Constitucional em mat ria de drogas e toxicodepend ncias De forma complementar foi posteriormente aprovado o Plano de Ac o Nacional Contra a Droga e a Toxico
51. Sociais e Pol ticas em Portugal A Buprenorfina vulgarmente conhecida por Subutex um narc tico usado para o Tratamento de depend ncia opi cea usado como substituto dos efeitos da hero na e outros opi ceos Esta subst ncia pode ser receitada depois de se terem efectuado testes ter sido feita uma avalia o completa e de se ter identificado a depend ncia de opi ceos A Buprenorfina prescrita na forma de um comprimido que se dissolve debaixo da l ngua tomada uma vez por dia e normalmente no in cio dada sob supervis o A Buprenorfina funciona substituindo o efeito da hero na e de outros opi ceos numa pessoa dependente Este medicamento tamb m tem um efeito Antagonista sobre outros narc ticos opi ceos Em doses mais elevadas este efeito antagonista pode reduzir o risco de consumo compulsivo de outros opi ceos O Tratamento inicia se por um processo de titula o o que permite que se consiga uma dose suficiente sem que o utente fique anestesiado e sem que sinta sintomas opi ceos de ressaca A Buprenorfina pode tomar se por per odos curtos ou mais longos Pode fazer parte de um programa de redu o ou pode ser mantida por per odos longos de tempo O programa de Tratamento negociado individualmente com o utente e o terapeuta para se assegurar que se est a verificar a redu o do uso de drogas il citas e uma melhoria no estado de sa de Os Programas de Substitui o obedecem a um conjunt
52. a manifesta es comportamentais Para se fazer o diagn stico eram necess rios pelo menos a presen a de tr s destes factores APA 1993 p 167 Esta no o cl nica de depend ncia n o se refere origem do fen meno sendo apenas descritiva e extensional e ao adoptar o crit rio da estrita comprova o comportamental para o padr o desadaptativo da utiliza o de subst ncias procura abranger a diversidade de situa es emp ricas que manifestar o a centralidade das subst ncias psicoactivas na vida das pessoas A ltima revis o do DSM o DSM IV de 1994 manteve a armadura conceptual da s ndrome de depend ncia mas restringiu a defini o a 7 sintomas exigindo a ocorr ncia de pelo menos 3 para o diagn stico A defini o actual de depend ncia no DSM a seguinte Padr o desadaptativo da utiliza o de subst ncias levando a d fice ou sofrimento clinicamente significativo manifestado por tr s ou mais dos seguintes ocorrendo em qualquer ocasi o no mesmo per odo de 12 meses 1 Toler ncia definida por qualquer um dos seguintes a Necessidade de quantidades crescentes de subst ncia para atingir a intoxica o ou efeito desejado b Diminui o acentuada do efeito com a utiliza o continuada da mesma quantidade de subst ncia 2 Abstin ncia manifestada por qualquer um dos seguintes a S ndrome de abstin ncia caracter stica da subst ncia Ana Rita Valinho dos Santos Marques 14
53. a s droga s e a s toxicodepend ncia s e a concep o dos especialistas que actuam nesta rea J a parte II de acordo com a proposta desta disserta o passa por investigar as Representa es Sociais dos T cnicos e as Pol ticas em Portugal em torno da s droga s e da s toxicodepend ncia s Foi necess rio encontrar uma abordagem metodol gica que permitisse atingir os objectivos propostos Neste sentido esclarecem se os aspectos metodol gicos delimita se o campo de investiga o e faz se uma an lise e apresenta o dos resultados obtidos Com o objectivo de descrever e compreender a evolu o fenomenol gica das drogas do indiv duo toxicodependente e do papel dos t cnicos que interv m nesta rea opta se como fundamento metodol gico pela metodologia qualitativa objectivando se sempre que se justifique pela metodologia quantitativa dados quantific veis representativos do fen meno da droga em Portugal Existem v rios estudos epidemiol gicos que exploram uma diversidade de correlatos psicossociais do consumo de drogas Estes estudos que cont m uma significativa observa o psicossociol gica percorrem fins etiol gicos s o metodologicamente individualistas e fundam se no individualismo da rela o sujeito subst ncia o que conduz nomeadamente a que as disposi es cognitivas sejam observadas exclusiva ou primordialmente em torno do objecto droga desvalorizando se as articula es com o sistema d
54. a sistematizar as subst ncias t xicas e os seus princ pios activos Por outro lado especialmente neste s culo que determinadas subst ncias fazem a sua entrada nas artes e letras contribuindo para a sua divulga o e fasc nio para al m de se Ana Rita Valinho dos Santos Marques 38 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal come ar a falar do uso n o terap utico isto do uso de subst ncias numa vertente recreativa O s culo XIX traz nos pelo seu desenvolvimento econ mico cient fico t cnico e art stico o debate sobre o uso de subst ncias come ando a delimitar se o debate sobre o seu uso l cito ou il cito No entanto foi a descoberta dos princ pios activos de certas subst ncias a inven o da seringa e agulha hipod rmica e a sua utiliza o na administra o de certas subst ncias psicoactivas enquadrados numa conjuntura econ mica e social proveniente da revolu o industrial das rela es internacionais entre as grandes pot ncias da explos o demogr fica da migra o de grandes grupos populacionais do surgimento da classe oper ria entre outros acontecimento que caracterizam este s culo que vieram alterar profundamente o equil brio que se tinha conseguido manter durante v rios s culos entre as drogas e o Homem Ao longo do s culo XX assistimos a grandes mudan as sociais pol ticas e econ micas O aumento da popula o cont
55. afirmam que o indicador em princ pio uma manifesta o observ vel e mensur vel das componentes do conceito Todo e qualquer cidad o tem as suas opini es sobre muitos assuntos e naturalmente tamb m sobre as quest es da toxicodepend ncia e da droga Sobre esta problem tica as pessoas t m as suas opini es por vezes bem diversas ou d spares desde as chamadas bocas at s opini es mais elaboradas Face ao fen meno da droga todo e qualquer cidad o tem que estar informado todos os actores sociais assim como todos os profissionais Necessariamente os profissionais de sa de t m que estar bem informados j que t m uma miss o a cumprir que assenta em promover a sa de dos cidad os Ana Rita Valinho dos Santos Marques 151 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal A primeira quest o colocada tinha como objectivo perceber se existe uma rela o entre as representa es sociais que os diferentes t cnicos t m sobre a interven o no Tratamento da toxicodepend ncia e se estas influenciam as modalidades de interven o que utilizam Quadro n 6 Dimens es Indicadores Sem ntica associada s drogas Na atribui o protot pica do consumidor de droga Nas cren as sobre o uso de drogas Cren as valores e Nas atribui es explicativas da toxicodepend ncia atitudes Em inten es comportamentais atrav s das atitudes
56. ainda neste per odo que Poiares intitula de paradigma cl nico psicossocial no in cio dos anos 80 ap s uma avalia o dos resultados dos dispositivos a actuar no terreno que se conclui que o crime n o a via para uma solu o do problema Se em 1976 se optou pela cria o de um organismo policial aut nomo da Pol cia Judici ria com o objectivo fundamental de investigar este tipo de crimes a experi ncia nacional e internacional encarregou se de demonstrar n o ser essa a solu o adequada Decreto Lei n 365 82 de 8 de Setembro de 1982 Ainda a acrescentar que se at aqui se falava em Ana Rita Valinho dos Santos Marques 57 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal momentos p s cura neste momento referem se graves e frustrantes reca das Decreto Lei n 365 82 de 8 de Setembro de 1982 caso se rejeitem estas pessoas de novo na sociedade da a necessidade de se promover a sua Reinser o Social Por outro lado o toxicodependente era visto como um doente mas todos os dispositivos criados para levar a cabo o seu Tratamento estavam sob a directa responsabilidade do Minist rio da Justi a Em meados da d cada de 80 do s culo passado verificou se uma mudan a de cen rio com o aparecimento deste problema como um fen meno p blico principalmente relacionado com a juventude e n o privado como sucedia at data A partir de 1983 o toxic
57. ao facto do Comit de Especialistas Farmac uticos da Ag ncia Europeia de Avalia o do Medicamento ter tido conhecimento da ocorr ncia de 10 casos de perturba es card acas com risco de vida em doentes tratados com esse medicamento Relat rio de Actividades do SPTT 2000 De acordo com a resolu o da Presid ncia do Conselho de Ministros 1999 a consci ncia nacional de que a toxicodepend ncia uma doen a e sua necess ria respeitabilidade como um direito constitucional conduziu o Estado Portugu s a assumir Ana Rita Valinho dos Santos Marques 78 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal um papel priorit rio nesta rea garantindo o acesso ao Tratamento a todos os toxicodependentes que desejassem tratar se O Tratamento afigura se assim como uma forma de Preven o Secund ria que contribui para a redu o dos consumos para a protec o da sa de p blica e em casos mais particulares para a seguran a de pessoas e bens Face aos diversos modelos de Tratamento necess rio garantir as condi es de qualidade dos servi os prestados e investir num sistema de avalia o que traduza a efic cia ou n o e os resultados da aplica o dos v rios modelos de Tratamento e que por outro lado facilite uma redefini o de projectos ou cria o de novos m todos de Tratamento Contudo a avalia o sendo uma etapa basilar e indissoci vel de qualquer
58. aqui o discurso por vezes incoerente do pol tico sobre o toxicodependente era necess rio um saber espec fico sobre a mat ria Em 1999 foi aprovada uma Estrat gia Nacional de Luta contra a Droga Pretendia se uma avalia o dos resultados do respectivo programa ao longo do tempo Se at aqui as estrat gias eram mais ou menos impostas externamente merec amos agora um espa o de reflex o para interven o mais adequada nossa cultura Finalmente o Poder reconhece a profunda injusti a de se enviar para as pris es pessoas cujo nico delito seria o acto do consumo Segundo Poiares existe uma triangula o que envolve 3 actores o Legislador o Transgressor e o Aplicador Deste tri ngulo resulta uma comunica o entre os diferentes p los que relacional ou seja din mica e bidireccional Desta comunica o resultar mudan as na perspectiva do Legislador provocando assim diferentes discursos legislativos ao longo do tempo Na verdade no que tange droga o discurso do Transgressor captado pelo Aplicador acabou ao longo dos tempos por ser remetido ao Legislador suscitando altera o da racionalidade punitiva num primeiro tempo 1983 1993 e a indaga o do saber num segundo momento 1999 2000 Poiares 2000 p 12 Ana Rita Valinho dos Santos Marques 62 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal As leis podem ser reformuladas devido a este tipo
59. as categorias sociais que a tornam um objecto social n o decorrem apenas da estrita rela o indiv duo subst ncia mas fundam se numa constru o social pela qual as subst ncias se transformam em droga isto num objecto de que se partilham efeitos culturalmente induzidos As apropria es significativas da droga e a reac o da sociedade Estado institui es grupos e sujeitos sociais em rela o a este objecto produzem a defini o social da droga e todas as categorias simb licas e materiais que a classificam organizam e fazem circular nos padr es de institucionaliza o objectivada do problema droga Deste ponto de vista a droga n o um objecto objectivo mas um objecto objectivado em padr es institucionais decorrente do duplo processo de subjectiva o de rela es objectivas e objectiva o das rela es subjectivas Nesta medida a evid ncia de que a droga que faz o drogado constitui se como uma banalidade emp rica sob a qual se encobre o facto das defini es nomeadamente das categorias mentais que nos d o acesso e nos auxiliam a pensar e a agir em rela o Ana Rita Valinho dos Santos Marques 122 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal droga produzirem se nas rela es sociais mediadas por subst ncias psicoactivas ontologizadas A droga assim constru da tanto pelos pr prios os que com ela se relacionam
60. as drogas como por exemplo tamanho cores cheiro etc nem mencionar os perigos correndo o risco de agu ar a curiosidade Este era um modelo que pretendia questionar a usual partilha de experi ncias de ex toxicodependentes que a convite das escolas contavam aos meninos as suas aventuras e desventuras no mundo da droga No modelo apresentado pela equipa que trabalhava na Preven o Prim ria com o Dr Carlos Vieira defendia se que a qualidade Ana Rita Valinho dos Santos Marques 105 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal da informa o transmitida dependeria das compet ncias afectivas do orador ou especialista Foi ent o neste congresso apresentado um modelo informacional de Preven o das drogas junto dos jovens dos 15 aos 30 anos levado a cabo pelo CEPD de Coimbra Vieira 1981 p 3 Os anos 90 trazem novas publica es e um pouco mais a sul Lu s Patr cio psiquiatra e Director do CAT das Taipas estudou este fen meno J em meados de 1990 escrevia Droga de vida Vida de Droga sendo um livro quer para t cnicos quer para qualquer outra pessoa com preocupa es sobre este tema O pr prio autor num cap tulo dirigido s fam lias refere a necessidade ou at mesmo a obriga o dos pais se informarem sobre a droga e de n o se esconderem sobre um falso ref gio que a ignor ncia O toxicodependente j n o surge t o
61. atinge todas as cidades e j chegou s aldeias envolve adolescentes e jovens invade fam lias desestruturadas e fam lias com h bitos de tradi o irrepreens vel afecta todos os estratos sociais todas as profiss es todas as religi es todas as pessoas Algumas tentativas de explica o do fen meno escondem se nos problemas gerados pela sociedade em que vivemos e sugerem como factores decisivos da sua prolifera o o valor excessivo do aspecto econ mico instabilidade individualismo imediatismo degrada o dos padr es familiares falta de motiva o por parte dos jovens e tempos livres desocupados O fen meno das toxicodepend ncias tem gerado uma enorme preocupa o no seio da sociedade mobilizando a bem como aos sucessivos Governos para o encontrar de solu es eficazes na sua ac o Ana Rita Valinho dos Santos Marques 51 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 4 ENQUADRAMENTO HIST RICO DAS POL TICAS SOCIAIS E DAS RESPOSTAS INSTITUCIONAIS EM TORNO DO OBJECTO DROGA E DO TOXICODEPENDENTE Perceber como o toxicodependente encarnou e assumiu v rios pap is entender como uma cultura foi agindo perante este fen meno Segundo Poiares 1995 p 19 a constru o de leis criminais um acto s cio cultural assente na valora o de condutas classificando as como J citas il citas ou normais anormais O estudo hist rico da legisl
62. caracter sticas No mbito da sua actua o prosseguiu com o Projecto Viva a Escola com o Projecto de F rias desenvolveu o projecto piloto de Preven o Espec fica das Toxicodepend ncias e um Projecto de Preven o da Infec o pelo HIV SIDA na Comunidade Escolar Aprender a Prevenir Para al m destes desenvolveu um Programa de Promo o de Compet ncias Sociais espec fico de Preven o Prim ria de comportamentos desajustados em meio escolar dirigido a um grupo alvo de crian as e adolescentes e um Projecto de Anima o Teatral e Express es Desde 1994 que o Minist rio da Educa o em colabora o com o Minist rio da Sa de desenvolveu um projecto piloto de Rede Nacional de Escolas Promotoras de Sa de RNEPS integrando se em termos de pressupostos e objectivos na Rede Europeia de Escolas Promotoras de Sa de Era seu objectivo motivar e capacitar t cnicos e outros agentes educativos para intervirem no mbito da educa o para a sa de incentivar e criar condi es de promo o da sa de dos jovens considerando como reas priorit rias a alimenta o a sexualidade a sa de oral a seguran a o uso e abuso de subst ncias l citas e il citas a SIDA a vacina o e a hepatite B Para al m do referenciado foi tamb m criado em 1993 no mbito do Projecto Vida e em articula o com o Minist rio da Educa o PPES o Projecto PATO Preven o lcool Tabaco e Outras
63. cio 1997 s o um recurso para a defesa social para o Tratamento da pessoa e para a promo o da dignidade do utente O programa de Metadona o mais desejado por todos os utentes pelas caracter sticas que este f rmaco apresenta e pela sua gratuitidade O Cloridato de Metadona produz depend ncia e como tal est sujeito a medidas de controlo e verifica o existem normas e regras definidoras do setting terap utico chegada do utente s unidades de Tratamento Ana Rita Valinho dos Santos Marques 144 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Este tipo de Tratamento alvo de muitas cr ticas A maioria das pessoas fica reticente a este tipo de Tratamento por se tratar de uma depend ncia com um agonista que igualmente produz depend ncia Para muitos a Metadona trata se de mais uma droga No entanto o SPTT actual IDT considerava que a universalidade dos Tratamentos por este narc tico ficava a dever se ao seu comportamento farmacocin tico caracterizado por ptima capacidade de absor o e efic cia por via oral baixa toxidade lenta metaboliza o longa durabilidade progressiva capacidade bloqueadora da euforia provocada pela hero na e fraco poder sedativo o Tratamento de elei o que evita a dezenas de milhar de dependentes permanecer no consumo de t xicos ao mesmo tempo que consegue manter os consumidores em condi es sociais confort veis
64. cio profissional de pessoas em situa o de desvantagem face ao mercado de trabalho nomeadamente os ex toxicodependentes combatendo a descrimina o de que s o alvo Ana Rita Valinho dos Santos Marques 87 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal O Programa Vida Emprego incorpora o conceito de media o enquanto estrat gia de ac o no acompanhamento de percursos de Reinser o s cio profissional A articula o de base comunit ria que se estabelece entre os indiv duos tratados e o mercado de trabalho a montante e a jusante dos percursos de inser o prepara os toxicodependentes em Tratamento para assumirem a responsabilidade de um emprego e as institui es empregadoras para os acolher acompanhar e responsabilizar A prepara o dos empregadores t o importante como atestar que os toxicodependentes est o em condi es de assumir a responsabilidade de um emprego nesta din mica que passa pela negocia o acompanhamento e supervis o dos casos que se confere credibilidade ao Programa As organiza es e as empresas surgem como um parceiro indispens vel nestes processos Sem o seu envolvimento e participa o todos os investimentos realizados nas fases anteriores do Tratamento s o infrutuosos As empresas com pr ticas de responsabilidade social podem estar mais receptivas ao envolvimento em iniciativas deste tipo e a integrarem nos quadros de pesso
65. com interven o em meio escolar e implementado nas escolas do primeiro ciclo do ensino b sico Baseando a sua interven o no modelo dos Programas de Promo o das Compet ncias Pessoais e Sociais teve por finalidade Ana Rita Valinho dos Santos Marques 70 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal ensinar as crian as a estabelecer rela es adequadas com os outros promover e manter o seu bem estar e a protegerem se face a comportamentos desadequados em geral e ao consumo de drogas em particular Propunha se ainda formar professores e educadores de inf ncia em metodologias interactivas que permitissem desenvolver as capacidades individuais e as compet ncias sociais das crian as Ainda numa l gica de programas em meio escolar a Pol cia de Seguran a P blica PSP tem vindo a desenvolver um programa de ac o concreta e preventiva da criminalidade e delinqu ncia designado Programa Escola Segura abrangendo desde o ensino b sico ao ensino superior No sentido de refor ar as interven es na rea da Preven o da toxicodepend ncia em 1988 foram criados dois servi os de linha telef nica de ajuda Linha Aberta em Lisboa e no Porto que posteriormente se vir o a designar de Linha Vida A ent o Linha Aberta surgiu como ponte entre o p blico em geral e as institui es que intervinham na rea da toxicodepend ncia Prim ria Secund ria e Terci ri
66. com o fen meno da toxicodepend ncia depende das suas representa es sobre o uso de subst ncias sobre os pr prios utilizadores e sobre a fun o social que essas subst ncias desempenham Quanto preval ncia de determinadas subst ncias que s o usadas em determinados momentos hist ricos estas transforma es n o se referem s subst ncias em si mas fun o social que elas representam As representa es sociais n o se formam num vazio nem se inscrevem no dom nio do imagin rio fantasista As representa es sociais formulam se a partir de um processo de rela o entre o conhecimento dispon vel j representado e uma realidade dispon vel Esta realidade dispon vel circula atrav s de muitos canais meios de comunica o fam lia amigos entidades cred veis experi ncia pr pria etc os quais s o seleccionados e hierarquizados na sua ordem de import ncia pelo indiv duo no processo de tratamento da informa o A teoria das representa es sociais na reformula o psicossociol gica de Serge Moscovici 1976 ergue se sob um paradigma te rico construtivista Rejeita conceber o conhecimento como a capta o emp rica de um mundo real exterior aos sujeitos e sustenta que o que se conhece n o a realidade em si porque esta inacess vel mas a realidade moldada por quadros de refer ncia mental Ana Rita Valinho dos Santos Marques 2 A s Droga s e a s Toxicodepend nci
67. com o pai Quase pod amos designar este tipo de patologia como a doen a dos pais cintilantes ou pirilampos que aparecem e desaparecem com muita frequ ncia O autor chamava a estes jovens os filhos da m e meramente porque o pai n o estava presente nas identifica es e vida destes Est vamos nos anos 70 e ainda o mesmo autor referia que a droga nos surgia como um problema cultural no seu espa o social t cnico e afectivo idem p 30 A import ncia dada neste livro quest o do estudo e compreens o da problem tica da adolesc ncia deve se como o autor v rias vezes refere popula o que recorria ao Centro de Estudos e Profilaxia da Droga CEPD e que eram todos jovens ou em grande maioria adolescentes Era neste momento da vida ou do seu desenvolvimento que aparentemente existia espa o para o consumo de drogas Falava se do surgimento de um novo tipo de drogados pois novas drogas estavam tamb m a circular Eram as chamadas actuais toxicomanias O autor afirmava na altura que a droga um pouco como a delingu ncia seria a recusa dos actuais valores da sociedade e subjacentemente uma dificuldade de integra o no Mundo dos Pais Ana Rita Valinho dos Santos Marques 103 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal A droga para al m de uma doen a sobretudo um sintoma de um mal maior idem p 36 O problema da toxicomania de
68. da execu o das san es mediante a apresenta o peri dica dos consumidores toxicodependentes perante servi os de sa de cujo regime importa fixar NVivia se ent o o per odo de descriminaliza o do consumo de droga Se o toxicodependente era considerado um enfermo ent o deveria ter a escolha de se poder tratar O Legislador optou por impor uma coima no Decreto Lei de 30 2000 de Novembro ao consumo e ainda motivar o toxicodependente a aceitar o Tratamento Se o consumidor toxicodependente aceitar sujeitar se ao Tratamento a comiss o faz a necess ria comunica o ao servi o de sa de p blico ou privado escolhido pelo consumidor o qual ser informado sobre as alternativas dispon veis Lei n 39 2000 de 29 de Novembro Esta Lei apresenta um texto repleto de artigos que reafirma a necessidade de motivar o Tratamento da pessoa consumidora S o uma nova forma de punir impondo medidas substitutivas da puni o todas elas centradas na escolha do indiv duo O Estado obrigado a proteger estes cidad os e a sua sa de e eles podem escolher livremente ser condenados ao Tratamento Em 2000 existiam dois organismos dentro da al ada do Minist rio da Sa de mas com fun es diferentes o SPTT encarregue do Tratamento do toxicodependente com todos os dispositivos criados para esse efeito CAT Centros de Dia Comunidades Terap uticas Unidades de Desintoxica o etc e o IPDT focalizado em especial para a Preve
69. de M dio Limiar de exig ncia t m como um dos objectivos viabilizar e garantir a liga o do doente com as unidades de sa de manter o seu contacto com os profissionais de sa de e reduzir os seus comportamentos de risco Pretende se tamb m trabalhar a motiva o do utente para evoluir para um programa terap utico de alto limiar Existe uma maior toler ncia em rela o a algum incumprimento de regras pr estabelecidas incluindo consumos raros e espor dicos de hero na e ou outras drogas Patr cio 1997 Programas de Baixo Limiar de exig ncia constituem programas com uma marcada vertente de car cter bio psico social que se desenvolvem com o objectivo de diminuir os efeitos negativos associados ao consumo de subst ncias psico activas quer a n vel individual quer a n vel colectivo S o programas que t m objectivos marcadamente sociais e de sa de p blica Os utentes integrados neste tipo de programas na maioria dos casos mant m o consumo de drogas embora as pr ticas associadas ao consumo e outros comportamentos se alterem Constitui objectivo imediato e fundamental a Redu o de Riscos e Minimiza o de Danos para o pr prio e para a sociedade Os utentes inseridos em programa de Substitui o opi cea de baixo limiar recorrem frequentemente s unidades m veis carrinhas embora seja frequente a sua inclus o em Programas de Substitui o opi cea PSO que decorrem nos CAT s Na opini o de Lu s Patr
70. de tornar acess veis os servi os que possam ajudar quem abusa da droga de modo a promover a redu o de riscos para a sua sa de e para a sa de p blica N o de estranhar por isso que os programas e estruturas s cio sanit rias tenham por base o desejo ltimo de potenciar o Tratamento mediante a procura de uma maior aproxima o entre os potenciais utentes dessas estruturas e os v rios servi os de Tratamento Se um consumidor de drogas homem ou mulher n o consegue ou n o quer renunciar ao consumo de drogas deve se ajud lo a Reduzir os Danos que causa a si mesmo e aos outros Burning e Van Brussel 1995 As abordagens em mat ria de Redu o dos Riscos e Minimiza o de Danos consistem em procurar modificar o comportamento dos consumidores de drogas a fim de diminuir os riscos nos casos em que n o poss vel impedir o consumo ou conseguir a abstin ncia A adop o de modos de consumo sem perigo ou de menor risco faz parte dessas abordagens assim como iniciativas destinadas a prestar ajuda e assist ncia aos toxicodependentes doentes ou socialmente exclu dos captando a sua confian a motivando os para Tratamento Ana Rita Valinho dos Santos Marques 82 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Se todas as pessoas em geral correm riscos no decurso da sua vida os toxicodependentes est o sujeitos a riscos acrescidos que resultam da rela o que eles esta
71. do conhecimento que se formula em rela o s mesmas Helman 1994 p 184 cita um estudo feito na d cada de 80 em Inglaterra que apurou junto de uma amostra de pacientes que enquanto 80 dos entrevistados concordava que a hero na fosse uma droga menos de 50 classificaram a morfina os tranquilizantes e os son feros como tal e ainda menos de 1 3 deles considerava a aspirina como droga Do ponto de vista sociol gico importa evidenciar esta constru o social das categorias utilizadas para definir a droga Recolocam o contexto hist rico e social como determinante nas defini es de droga nos efeitos das drogas no comportamento relacionado com as drogas e na experi ncia com as drogas o facto da droga ser considerada dura ou leve medicinal ou abusiva adicta ou ben fica fundamentalmente determinado pela pol tica e n o pela farmacologia Mitchell 1990 p 5 Uma concep o distinta da fixada pela vis o convencional consta de um documento institucional que teve um grande impacto quando foi publicado Relat rio de 23 11 94 do Comit Nacional Consultivo franc s de tica para as Ci ncias da Vida e da Sa de sobre as toxicomanias Neste documento refere se que a distin o entre as drogas l citas e il citas n o repousa em nenhuma base cient fica quer sob o ponto de vista do seu modo de ac o dos seus efeitos sobre o sistema nervoso central ou dos riscos que
72. do das pr prias entrevistas A investiga o qualitativa aceita as sensibilidades p s modernas reconhecendo que o mundo povoado por m ltiplas hist rias convivendo entre si apesar das diferen as Talvez por esta raz o a investiga o qualitativa tamb m um reino de diversidade onde se escondem m ltiplos paradigmas ainda em desenvolvimento num espectro multidimensional e pluralista Assim optou se pela realiza o de entrevistas junto dos t cnicos que trabalham no Instituto da Droga e da Toxicodepend ncia como m todo de recolha da informa o A op o pelas entrevistas semi estruturadas partiu do princ pio de que a conversa o um dos espa os privilegiados do surgimento da representa o social e que este tipo de instrumento apesar das suas limita es o que se aproxima de estabelecer algo Ana Rita Valinho dos Santos Marques 127 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal semelhante a uma conversa Ao longo desta investiga o n o houve necessidade de realizar um pr teste j que o que se pretendia era perceber o discurso dos diferentes t cnicos sobre o objecto em estudo Por outro lado a revis o bibliogr fica e conceptual permitiu nos ultrapassar esta fase e passarmos automaticamente para a aplica o das entrevistas Assim realiz mos algumas quest es t picos que eram importantes serem abordados ao longo das entrevistas anexo n
73. drogas e do olhar que a sociedade foi assumindo em torno dos toxicodependentes com base nos objectivos definidos para esta investiga o que se evolui para as principais conclus es organizadas em torno de dois temas as Pol ticas das drogas e as respostas institucionais e a vis o dos t cnicos que trabalham directamente em torno desta problem tica O quadro pol tico normativo constru do dimens o internacional a partir de 1909 e progressivamente transposto para os espa os nacionais constituiu o factor condicionador da ac o levada a cabo pelos diferentes Estados com vista solu o do problema das subst ncias drogas ilegais e dos seus utilizadores toxicodependentes Em Portugal o fen meno das drogas pelo per odo compreendido entre 1970 e 2004 aparece associado a um conjunto de dispositivos legais e estrat gias desenhadas Neste sentido a evolu o das pol ticas das drogas em Portugal e as mudan as da sociedade portuguesa tiveram de ser observadas simultaneamente pois para al m de estarem inter relacionadas n o se podem compreender separadamente Foi a partir de 1970 que os problemas associados ao uso abuso de drogas em Portugal se come aram a fazer sentir A droga assumiu por si um claro significado social dando suporte s teorias que a entendiam como um factor causador de desordem social Esta interpreta o veio a ser complementada em 1976 ao identificar se uma abordagem epid mica para
74. e a mobiliza o da sociedade civil para o problema Em 1993 foi promulgada a Lei da droga pelo Decreto Lei n 15 93 de 15 de Janeiro que confere ao problema das drogas um mbito mais sanit rio A necessidade de alargar o Tratamento a um mbito nacional e dada a import ncia dos organismos aut nomos com flexibilidade e poder suficientes para actuar nesta rea origina a elabora o do Projecto de Lei Org nica do SPTT Decreto Lei n 43 94 de 17 de Fevereiro e consequente revis o pelo Decreto Lei n 67 95 de 8 de Abril que fixou a sua estrutura final Ana Rita Valinho dos Santos Marques 60 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Com o aprovar de uma Estrat gia Nacional de Luta Contra a Droga pela Resolu o do Conselho de Ministros n 46 99 de 26 de Maio d se uma mudan a significativa na abordagem dos fen menos da droga e da toxicodepend ncia que passa a ser mais global abrangente e integradora das suas diversas vertentes incluindo a vertente sanit ria Verifica se assim que na aplica o das leis da droga descobrimos n o apenas um poder que se exerce mas um saber que se produz retroagindo sobre esse mesmo poder Agra 1998 p 58 Poder e Conhecimento entrecruzam se e influenciam se mutuamente dando lugar a mudan as nos olhares sobre o acto do consumo e o consumidor O Fen meno da droga afirma se acima de tudo como uma problem
75. escolar Viva a Escola O projecto Viva a Escola criado em 1990 teve os seguintes objectivos proporcionar condi es controladas para a viv ncia de sentimentos de prazer emo o e risco desenvolver capacidades que permitam assumir a n vel individual e colectivo os princ pios de promo o da sa de construir climas de escola cooperativos din micos e estimulantes desenvolver comportamentos de autonomia responsabilidade e sentido cr tico Ana Rita Valinho dos Santos Marques 69 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Mais tarde em 1993 o artigo 70 do Decreto Lei n 15 93 de 22 de Janeiro veio definir as compet ncias do Minist rio da Educa o nas actividades de Preven o Prim ria ficando desta forma a coordena o de projectos de Preven o do consumo de lcool e subst ncias psicotr picas a n vel escolar com incid ncia espec fica na Preven o do consumo de drogas sob a responsabilidade do Minist rio da Educa o atrav s do Programa de Promo o e Educa o para a Sa de PPES Este programa teve por objectivos formar t cnicos avaliar o programa e represent lo em reuni es nacionais e internacionais e organizar actividades nacionais O programa descentralizado a n vel das autoridades escolares regionais e locais previa a adapta o das orienta es centrais em cada escola de acordo com as suas necessidades e
76. face regula o social da droga P nico moral Alarme social Centrada no indiv duo toxicodependente Modalidades de RR PD Orientada pelas pol ticas institucionais Interven o a Condicionada por factores externos A partir da an lise cuidada do discurso de cada um dos t cnicos podemos concluir que todos os t cnicos referem que as representa es sociais sobre o fen meno influenciam a sua interven o No discurso dos m dicos encontra se uma preocupa o centrada num modelo m dico de leitura do fen meno Estes t cnicos consideram que efectivamente se passou de um modelo jur dico moral para um modelo m dico sanit rio Por outro lado salientam que a medicina tem progressivamente reivindicado a obrigatoriedade do acompanhamento m dico e farmacol gico dos indiv duos toxicodependentes Estes t cnicos referem que passou se de um paradigma de aus ncia total de Tratamento farmacol gico para se passar a um quadro de uma multiplicidade de respostas farmacol gicas que passam pelos diferentes Programas de Substitui o 58 e 43 anos a trabalhar respectivamente h 20 e 12 anos no IDT Ana Rita Valinho dos Santos Marques 152 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Um dos psic logos 34 anos a trabalhar h 8 anos no IDT refere que o investimento p blico na rede de presta o de servi os de Trata
77. fen meno do uso de subst ncias uma heran a do s culo XIX a revis o da literatura e a an lise de escritos hist ricos e cient ficos permite nos constatar que este fen meno traz consigo pelo menos cinco s culos de hist ria A reflex o cuidada sobre as rela es entre as subst ncias e os seus consumidores assim como do papel que desempenham ao longo da hist ria da humanidade permite a compreens o da emerg ncia do fen meno da toxicodepend ncia como produto do desenvolvimento de uma sociedade Desde sempre o uso de subst ncias acompanhou o desenvolvimento da humanidade As subst ncias adquiriram ao longo da Hist ria uma fun o capital no interior do tecido social nos seus m ltiplos aspectos religioso cient fico est tico hedonista t cnico e militar Em culturas ancestrais as subst ncias representavam o meio atrav s do qual o Homem preenchia a necessidade de se relacionar com n veis transcendentais da sua exist ncia remetendo as ang stias e vit rias de um povo para essa dimens o Pode se dizer que da Antiguidade at ao final da Idade M dia as fun es religiosa e m dica estavam concentradas na mesma pessoa que tratava dos males do corpo e da alma aspecto que veio a ser transformado a partir do momento em que se d a separa o das diferentes ci ncias que abordam diferentes dimens es do Homem Os recursos que a natureza t o generosamente deu ao Homem o c nhamo a papoila os cogumelos alucin
78. interven o colide com o construto vivencial do toxicodependente que passa muitas vezes e de uma maneira extraordinariamente sensibilizadora para quem trata por diversas tentativas fracassadas de Tratamento intercalando com reca das por vezes consecutivas A avalia o dos resultados finais de um Tratamento passa certamente como contributo da experimenta o de v rios modelos terap uticos o que se reflecte numa dificulta o individual de cada momento Esta forma de olhar o Tratamento concorre com a estrat gia de redu o de danos pelo que a partir dos CAT s se pretende conseguir a paragem ou a redu o dos consumos superando o s ndrome de priva o ou a prescri o da terap utica de Substitui o Desta forma garante se o acompanhamento psicoterap utico e o apoio social com vista Reinser o Social do toxicodependente com a cria o do Programa Vida Emprego Importa ainda destacar a articula o entre o SPTT e outras entidades p blicas e privadas que a partir de acordos de coopera o assumiu extrema import ncia para o bom funcionamento de todo o sistema de Tratamento de toxic manos Foi decisiva e particularmente necess ria a colabora o de todos os servi os p blicos unidades privadas que prestavam servi o nesta rea No decurso do ano 2000 verificaram se v rios desenvolvimentos na pol tica nacional relativamente s drogas e toxicodepend ncias no seguimento da aprova o da An
79. ncia s Pol ticas Sociais e de Sa de Representa es Sociais e T cnicos de Sa de Abstract The aim of this work is understanding social representations and political options about drug s and drug addiction s in Portugal The drug phenomenon persists and progresses challenging and shaking the established codes and symbols of the modern normative science It escapes and transcends our semiotic descriptive analytical explications therapeutics and political law conceptual frames Nevertheless it is broadly consensual the need of a wide broad perspective and multidisciplinary view in the treatment and intervention programs In this way the aim of this investigation is to expose some of the constructs around the concepts and understanding the different political options that in Portugal were assumed along the growing of this phenomenon On the other hand it s our aim to understand the social representations of the professionals that work in this field and open new routes to explain the way they work and the way they think about drug s and drug addiction s Before getting to the speech and social representations of the professionals that work in this area drug addiction s the author made an overview about the cultural expression that sustains the construction of the meaning of this phenomenon until nowadays the laws political options and a view of our society At the end it is possible to prove that the speech an
80. ncias no plano das necessidades vitais para o seu desenvolvimento psicol gico Muitos outros autores escreveram e pensaram sobre este problema Acima de tudo estas mesmas reflex es s o de quem no seu dia a dia se senta e escuta pessoas com este problema O IDT tem uma filosofia que incentiva os seus t cnicos a escrever numa revista que especificamente publica artigos quer nacionais quer internacionais sobre o tema Revista Toxicodepend ncias Todos os servi os que enquadram o IDT recebem Ana Rita Valinho dos Santos Marques 111 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal gratuitamente uma revista para cada t cnico Ser que estes discursos estas formas de falar sobre os toxicodependentes influenciam os pr prios t cnicos E os pr prios t cnicos ser que influenciam os seus pacientes a pensarem sobre si Ana Rita Valinho dos Santos Marques 112 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 5 2 1 Os PROFISSIONAIS DE SA DE E A DROGA A toxicodepend ncia em si mesma pode ser analisada luz de diversas vertentes e modelos sistematizados por Nowlis Marques 1982 p 12 1 o modelo tradicional jur dico moral em que as medidas policiais e coercivas est o no primeiro plano Aqui aqui reivindica se um grande significado subst ncia droga entenda se as drogas ilegais A no
81. nua os movimentos migrat rios continuam e acentua se em determinados per odos o que permite uma transculturalidade entre diferentes povos e as clivagens sociais v o se agravando A n vel pol tico com as devidas consequ ncias em toda a sociedade verificam se dois conflitos escala mundial para al m de conflitos nacionais e internacionais e mudan as de regimes pol ticos em todo o mundo No entanto tamb m ao longo deste s culo que o conhecimento cient fico tem um grande incremento em muitas reas cient ficas nomeadamente nos campos da farmacologia e medicina Na primeira metade do s culo XX para al m de assistirmos ao in cio do desenvolvimento de subst ncias semi sint ticas e sint ticas tamb m se verificam esfor os no sentido de regulamentar a produ o distribui o e consumo de determinados produtos Os EUA assumem quase sempre a lideran a destes processos especialmente pela tentativa de concretizar a ideia de um mundo completamente abst mio Para al m das problem ticas sociais j existentes de s culos anteriores em rela o ao lcool ao tabaco pio morfina e coca na que v o originar v rias regulamenta es internacionais e nacionais Ana Rita Valinho dos Santos Marques 39 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Na Europa e nos EUA procuram se resolver problemas m dicos e sociais derivados do consumo de v rias subst ncias a
82. numa obra intitulada Public opinion in Ashmore e Del Boca 1981 Na concep o do autor que se traduz na c lebre frase The world outside and the pictures in our heads os homens n o respondem directamente realidade H um mundo interposto entre o sujeito e a realidade Ana Rita Valinho dos Santos Marques 34 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal O primeiro estudo experimental sobre estere tipos foi conduzido por Katz e Braly em 1993 e apresentava como objectivo investigar os atributos associados a diferentes grupos inter tnicos sendo os resultados interpretados como um retrato das orienta es culturais da poca Am ncio 1989 Segundo este autor as dimens es dos estere tipos podem ser avaliadas quanto aos conte dos tra os a uniformidade menor n mero de tra os que re ne o maior consenso a intensidade desejabilidade social associada aos tra os e a direc o n mero de tra os favor veis e desfavor veis Cauthen Robson e Kraus 1971 in Am ncio 1989 Ashmore e Del Boca 1981 p 38 prop em uma defini o de estere tipos como A set beliefs about the person attributes of a group of people e quanto aos estere tipos sexuais acrescentam a no o de estrutura the structured set of beliefs about the person attributes of women and ofa men Para Ashmore e Del Boca 1981 p 39 os stereotypes funct
83. o no ano de 2005 uma em Coimbra e outra em Lisboa O IDT disp e tamb m atrav s de conven es com Institui es Privadas de Solidariedade Social IPSS e outras Organiza es Privadas mais de 56 unidades 2005 distribu das pelo Territ rio Nacional devidamente Licenciadas e Convencionadas Existem ainda Comunidades Terap uticas licenciadas pelo IDT mas que n o beneficiam de conven o De acordo com a Portaria n 484 2003 as Unidades de Desabitua o UD s o Unidades Especializadas s quais compete realizar o Tratamento de s ndromes de priva o em toxicodependentes enviados pelos CAT sob responsabilidade m dica em regime de internamento Este Tratamento de curta dura o cerca de 6 7 dias Quando existe uma falta de capacidade de resposta atempada das Unidades P blicas ou por conveni ncia do utente proposto o internamento em UD convencionadas Estas estruturas est o orientadas para internamentos de curta dura o para Tratamento de s ndrome de priva o em toxicodependentes que n o o conseguem fazer em ambulat rio Em 2005 o IDT dispunha de 5 unidades deste tipo uma no Porto uma em Coimbra uma em Olh o e duas em Lisboa Tem tamb m conven es com cl nicas de Desabitua o privadas Ana Rita Valinho dos Santos Marques 138 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal No Relat rio de Actividades 2001 do ex SPTT
84. o sempre as representa es de qualquer coisa para algu m exprimindo deste modo uma s ntese entre um objecto e um sujeito Os valores societais mudam recombinando se num movimento duradouro entre passado e presente indiv duos e institui es formais e informais Neste sentido as novas gera es constituem se como uma vanguarda muitas vezes em confronto com os guardi es de uma tradi o assumida pelas velhas gera es As representa es sociais os valores e as mem rias hist ricas tendem a diluir se quando fluem em processos de socializa o pluralista e diferencialista tendo tamb m como efeito m ltiplas rupturas materiais e simb licas que conduzem exclus o social O que confere distintividade teoria das representa es sociais na s ntese que opera entre elementos psicol gicos e sociol gicos a organiza o de um instrumental te rico que conjuga as marcas sociais do cognitivo e as condi es cognitivas do funcionamento de um pensamento social amplamente partilhado As virtualidades deste conceito encontram se na apreens o das din micas que acompanham as representa es sociais como processo e como produto numa rela o insepar vel dependente do sujeito do objecto e do seu contexto inicial Na sociologia cl ssica as teorias do equil brio social em que repousa a coes o dos agregados humanos dependem da domin ncia e da transmissibilidade das representa es sociais Neste pressuposto
85. para as pol ticas das drogas conduzindo cria o do Gabinete Coordenador do Combate Droga GCCD do Centro de Investiga o e Controle da Droga CICD e do Centro de Estudos da Profilaxia da Droga CEPD reestruturando deste modo as primeiras estruturas legalmente criadas em 1975 Com o pacote legislativo de 1976 abriu se um novo quadro de oportunidades pol ticas anunciadoras de uma perspectiva de continuidade de an lise e interpreta o do fen meno da droga discurso este direccionado para a descriminaliza o do consumo de drogas Contudo esta vontade apenas se vem a concretizar no ano 2000 Durante o ano de 1982 Portugal sofreu nova reestrutura o pol tico governativa que conduziu inevitavelmente a uma mudan a da traject ria pol tica e das estruturas existentes no campo das drogas e das toxicodepend ncias manifestando se na cria o do Gabinete de Planeamento e de Coordena o do Combate Droga GPCCD Reorganiza se assim o GCCD e o CEPD e integra se o CICD na Sec o Central de Investiga o de Estupefacientes da Pol cia Judici ria O valor da norma jur dica reguladora do sistema pol tico conduziu Portugal no referido per odo necessidade de alinhar o direito portugu s em mat ria de drogas pelas conven es internacionais instituindo uma perspectiva cl nica ressocializadora relativa ao consumo de drogas e uma forte repress o respeitante ao tr fico Ana Rita Valinho dos Santos
86. por ex menos centrada na abstin ncia e mais dirigida melhoria da qualidade de vida Tamb m fui tentando perceber em que tipo de interven o Preven o Tratamento e ou redu o de danos me sentia mais motivada e obviamente fui investindo mais em determinadas reas nas quais tenho maiores expectativas de efic cia Penso tamb m que o trabalho na toxicodepend ncia principalmente na rea do Tratamento muito desgastante o que pode ir alterando de um modo negativo as cren as de auto efic cia dos t cnicos 40 anos a trabalhar h 15 anos no IDT Segundo a perspectiva de um dos enfermeiros que trabalham com esta problem tica a sua interven o perspectivada como redutora o que condicionar for osamente a efic cia da sua interven o Neste sentido encontramos afirma es como considero as redutoras e padronizadas o que poder por em causa a sua efic cia Penso que fundamental quebrar com modos de fazer padronizados que n o t m em conta a individualidade de cada um Os cuidados de enfermagem s o caracterizados por Os enfermeiros n o t m um instrumento de colheita de dados padronizado pelas unidades do IDT Tamb m n o existem os Planos de Cuidados de Enfermagem fundamentais para garantir a sua execu o e continuidade dos mesmos pelos restantes enfermeiros e permitir a sua avalia o 40 anos a trabalhar h 15 anos no IDT Ana Rita Valinho dos Santos Marques 162 A s Dr
87. problema Quando se trata de m todos de Tratamento logo se reconhece a sua ampla diversidade que envolve sobretudo as comunidades terap uticas e outras institui es assistenciais num trabalho interventivo que oferece ao toxicodependente um suporte de Tratamento da sua depend ncia que vai desde as desabitua es f sicas em ambulat rio ou internamento s psicoterapias de diversos modelos individuais ou grupais terapia familiar aos internamentos de longa dura o em Comunidade Terap uticas passando pela utiliza o de f rmacos Antagonistas Naltrexone ou Agonistas Metadona LAAM e Buprenorfina Esta nova constru o de imagem pol tica na vertente do Tratamento permitiu ao Centro Regional Norte o protagonismo da pol tica global do m todo de Programa de Substitui o opi cea a Metadona A aplicabilidade do programa de Tratamento de toxicodependentes com opi ceo substituto Cloridrato de Metadona iniciou se no Porto com Iduino Lopes Este programa foi apenas administrado na regi o norte de Ana Rita Valinho dos Santos Marques 14 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 1977 a 1990 A este respeito refere Almeida Santos 2000 p 98 que durante anos mais de um milhar de jovens ia e creio que vai ainda regularmente quele Centro receber por ingest o o que evitava desde logo o risco de cont gio ligado s drogas inject veis a su
88. problema de sa de O Projecto Vida nasceu suscitado pelo agravamento do problema do consumo abusivo de drogas e tr fico il cito em Portugal que se temia ter tend ncia para aumentar rapidamente Consistindo num plano integrado que visa diminuir a incid ncia e preval ncia da droga e dando corpo s recomenda es de Viena possuidor de m ltiplas directivas Preven o Tratamento inser o social e conten o do tr fico exigindo esta abrang ncia a colabora o de diferentes Minist rios Administra o Interna Justi a Educa o Defesa Sa de Emprego e Seguran a Social e Juventude para que todas as pessoas possam ter projectos de futuro e um estilo de vida saud vel Os Centros de Atendimento a Toxicodependentes CAT v m substituir os CEPD s e um pouco por todo o pa s surge um local de apoio e Tratamento ao toxicodependente onde o acesso mais f cil Muitos outros dispositivos s o criados nesta altura e que caracterizam a complexidade e diversidade do fen meno assim como a pr pria interven o Desde a Preven o dita Prim ria na altura com o surgimento do Ana Rita Valinho dos Santos Marques 59 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Projecto Vida ao Tratamento e posterior inser o na sociedade o toxicodependente tem apoio e pode recorrer a esse mesmo apoio para se tratar Em 1989 no seguimento das iniciativas anteriores e com b
89. que os diferentes t cnicos t m sobre a interven o no Tratamento da toxicodepend ncia e se estas influenciam as modalidades de interven o que utilizam Caracterizar as estrat gias de Tratamento que se conhecem e utilizam Caracterizar as cren as de auto efic cia das suas interven es Em que medida a avalia o permite adequar a interven o As representa es sociais sobre o fen meno da toxicodepend ncia condicionam os discursos dos t cnicos Ana Rita Valinho dos Santos Marques 199
90. s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 7 3 CARACTERIZA O DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA O estudo das representa es sociais de um objecto se numa primeira abordagem exige uma caracteriza o dos sujeitos pois destes a linguagem a ser estudada numa segunda inst ncia necess rio a articula o com as condi es sociais hist ricas e culturais Quadro n 1 Perfil dos t cnicos por n s entrevistados N de anos a trabalhar Categoria Idade Local de Sexo na problem tica da Profissional Anos Trabalho toxicodepend ncia M dico 58 Masculino Leiria 20 anos M dico 43 Feminino Lisboa 12 anos Psic logo 34 Masculino Braga 8 anos Psic logo 40 Feminino Porto 15 anos Assistente 45 Feminino Braga 15 anos Social Assistente 35 Masculino Porto 9 anos Social Enfermeiro 31 Feminino Braga 6 anos Enfermeiro 40 Masculino Viana do Castelo 15 anos Psicossocial 30 Feminino Guimar es 8 anos Psicossocial 39 Feminino Lisboa 16 anos A determina o dos sujeitos a serem entrevistados neste caso dois m dicos dois psic logos dois t cnicos de servi o social dois enfermeiros e dois t cnicos psicossociais n o foi aleat ria Esta defini o foi realizada de forma a encontrarmos um grupo metodologicamente representativo do universo considerado os t cnicos e as diferentes categorias profissionais que desenvolvem a sua actividade na rea do T
91. sem urg ncia de terem de procurar droga O Naltrexone era um Antagonista sem efeitos Agonistas e tinha um tempo de semi vida longo Habitualmente era induzido ap s estar resolvido o s ndrome de abstin ncia A estabiliza o decorria pela segunda semana e o per odo de manuten o m dio era de seis meses a um ano Para consolidar o sucesso a psicoterapia e a socioterapia deviam acompanhar o Tratamento ajudando o doente a inverter a desorganiza o da sua vida provocada pela toxicodepend ncia Este tipo de Tratamento alternativo cujo encargo era bastante elevado era suportado pelo utente ou fam lia embora passado algum tempo por vezes meses fosse reembolsado pelo Minist rio da Sa de em 40 No entanto nos finais de 2001 in cios de 2002 face a alguns estudos realizados a este f rmaco e ap s a morte de alguns indiv duos sem se ter a garantia de que a administra o deste f rmaco possa ter contribu do para a sua morte a Naltrexone come a a ser retirada dos programas terap uticos e gradualmente come a a ser utilizada a Buprenorfina Todos os outros utentes cujo quadro cl nico psicol gico social e at mesmo a depend ncia e experi ncia de Tratamentos passados n o tivessem indica o para esta modalidade de Tratamento eram encaminhados para o programa do narc tico substituto Cloridato de Metadona Ana Rita Valinho dos Santos Marques 145 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es
92. ser combatida pois na maioria das situa es estes rendimentos surgem como indispens veis sendo o nico meio de subsist ncia para determinados grupos que dificilmente encontram as condi es para se tornarem aut nomos Outra recomenda o surge do facto dos benefici rios beneficiarem do montante da presta o em detrimento da dimens o de inser o do RSI Desta forma deve se intensificar o papel dos benefici rios nos programas de inser o concedendo lhes o estatuto de construir a medida e n o como meros receptores da mesma ou seja este tipo de medida social deve ir ao encontro das necessidades de cada benefici rio Deve ser feita uma reflex o sobre a forma como os indiv duos se comportaram e que estrat gias mobilizaram para sobreviver at ao momento em que requereram o RSI porque as propostas de solu o que o pr prio sugere de maneira a resolver os seus problemas ser o certamente mais adequadas do que outras quaisquer Outra proposta que o estudo nos d a de que se deve alargar a fase de negocia o no tempo de maneira a tornar compat veis as necessidades do indiv duo e a medida Para uma medida ser bem sucedida necess rio fazer um diagn stico e adequar os recursos aos projectos de vida das popula es Este esfor o exige um conhecimento aprofundado dos recursos existentes e uma reflex o sobre as lacunas em termos de respostas adequadas de forma a permitir alcan ar novas respostas e rentabilizar os
93. situa o de sa de em particular os modos como estes afectam as rela es com as outras pessoas e os v rios passos que tem de percorrer para resolver a situa o O mesmo autor inclui ainda todos os significados do sintoma para al m do mau estar pois afirma que existem significados da ordem da cultura e do contexto social H sintomas espec ficos que adquirem um car cter de marca ou carimbo em determinadas pocas hist rico culturais Como o caso da tuberculose da lepra etc Ainda segundo Quartilho 2001 p 80 existem doen as que implicam associa es simb licas com consequ ncias no modo como os doentes se v em a si pr prios e tamb m na forma particular como s o olhados discriminados ou rejeitados pelas outras pessoas e institui es A pr pria pessoa internaliza e incorpora as met foras e o simbolismo que acompanha a doen a Exemplo disso Quartilho 2001 faz refer ncia a um debate pol tico de campanha eleitoral para as presidenciais americanas em que um dos candidatos o mais fraco em termos de sondagens afirmava com toda a clareza que os seropositivos viviam o castigo de Deus porque ou tinham sido prom scuos sexualmente ou drogados Mereciam ficar doentes O HIV e a toxicodepend ncia s o por norma as doen as mais conotadas negativamente Assumem se como uma esp cie de declara o de guerra contra os valores convencionais perpetuada por estilos de vida imorais Ana Ri
94. sociais reenviam o sujeito para as suas perten as pessoais e para as actividades de comunica o possuindo dessa forma uma funcionalidade e efic cia social Ana Rita Valinho dos Santos Marques 26 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Para Moliner 1996 existem condi es pr vias que parecem estar na origem das representa es sociais V Em primeiro lugar os sujeitos s o incapazes de compreender a complexidade total do objecto quer por a informa o estar dispersa quer por existirem barreiras sociais e culturais que n o lhe permitem aceder s informa es que poder o ser verdadeiramente teis para a representa o do objecto em quest o Em segundo lugar a posi o espec fica que os sujeitos ocupam no seu grupo social impede os de se focalizarem no objecto e de terem dele uma vis o global Em terceiro lugar os grupos exercem press es sobre os seus membros para seguirem as opini es dominantes de modo a estabilizar o universo dos conhecimentos dos sujeitos relativos ao objecto da representa o Assim aqui colocam se dois problemas um relativo previs o do aparecimento das representa es sociais em determinadas condi es sociais o outro de utilizar as representa es para analisar uma determinada situa o O que leva a que para ser considerada uma representa o social s o necess rias cinco condi es Moliner 1996 V
95. uma parte significativa da popula o mundial n o s nos pa ses denominados pouco desenvolvidos como tamb m naqueles cujas economias exibem h longos per odos de tempo padr es de crescimento sustentado O problema das disparidades de rendimento surge como um alvo de pol ticas sociais Como tal focando o caso portugu s o Rendimento Social de Inser o nasce como uma tentativa de inverter o problema Tentando conciliar objectivos de equidade e de efici ncia o RSI tenta garantir padr es m nimos de qualidade de vida a pessoas carenciadas ao mesmo tempo que procura que isso n o as Ana Rita Valinho dos Santos Marques 89 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal estimule inactividade mas sim sua inser o na sociedade e na vida activa caso tenham capacidades a desenvolver nesse sentido Ao longo dos tempos sobretudo no s culo XX as sociedades aprenderam que era necess rio institucionalizar a solidariedade a partir de mecanismos de redistribui o do rendimento que permitissem pelo menos atenuar as desigualdades com o objectivo de preservar a dignidade humana manter a coes o social e de garantir que as pessoas mais pobres tenham acesso a um limiar m nimo de recursos que lhes permita satisfazer as necessidades mais b sicas ao n vel da educa o sa de habita o e outras Neste sentido em 1997 foi introduzido em Portugal um programa de com
96. uticos e constitu do uma bebida feita a partir das sementes A poca medieval referenciada como tendo sido um per odo em que m dicos religiosos e charlat es recorrem incessantemente s subst ncias de forma aleat ria Muito conhecimento produzido mas a aus ncia de m todo e conhecimento cient fico criou um ambiente de mist rio e misticismo volta das subst ncias referenciadas devido s suas propriedades sobre o comportamento humano A poca do S culo XV ao XVIII caracterizada pelos Descobrimentos e pela grande expans o comercial entre as diferentes culturas a Ocidente e a Oriente Sa dos da poca medieval verificam se grandes transforma es s cio culturais que tornam o mundo Ana Rita Valinho dos Santos Marques 37 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal ocidental mais receptivo adop o de um uso inovador das subst ncias E neste per odo que tamb m se come a a preconizar um discurso cient fico ou pelo menos assistimos a uma transforma o de um per odo de obscurantismo medieval para um per odo de abertura entusi stica ao conhecimento cient fico As caracter sticas do uso de subst ncias nesta poca o fen meno ainda n o um problema da sociedade Bachmann e Coppel 1989 exceptuando o caso mais espec fico do lcool No entanto devido s transforma es sociais religiosas e pol ticas verifica se um
97. 0 destacaram se os acordos de coopera o celebrados pelos Centros Regionais Servi os Sub Regionais de Seguran a Social com Apartamentos de Reinser o Social Durante o ano 2000 surgiram novos acordos que tinham por objectivo a Reinser o Social de toxicodependentes denominados de respostas inovadoras dois dos quais para Comunidades de Inser o e um para um Centro de Apoio a Toxicodependentes exclu dos e sem abrigo Numa linha conclusiva sobre a quest o da Reinser o Social em Portugal logo se percebe que embora j existisse nos per odos de 1970 a 1974 e de 1975 a 1982 intencionalidade pol tica esta s assumiu real import ncia estrat gica durante o per odo de 1983 a 1999 A partir deste per odo a din mica pol tica na rea da Reinser o construiu se numa linha de continuidade conduzindo formula o de novas interven es e rela es institucionais No per odo de 2000 a 2004 a Reinser o reequacionada avan ando numa linha interventiva assim trica pol tica de descriminaliza o do consumo Ana Rita Valinho dos Santos Marques 97 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 5 O PAPEL DOS T CNICOS NA PROBLEM TICA DAS TOXICODEPEND NCIAS 5 1 O CONCEITO DE DOEN A E SUAS SIGNIFICA ES A Legisla o diz que o toxicodependente doente o pr prio sistema de interven o ou seja os CAT est o sob a al ada do Minist rio
98. 1 Neste caso as entrevistas foram gravadas para posterior transcri o integral ou seja n o foram apenas as palavras proferidas que tivemos em conta mas as hesita es gaguejos correc es repeti es risos pausas e sua dura o Assim a an lise dos processos discursivos teve como pressuposto apreender e relacionar as transforma es que foram dando forma ao objecto nas articula es dos temas e das formas O tratamento das transcri es pressup s a leitura exaustiva e atenta de cada entrevista Esta leitura veio permitir a progressiva emers o do investigador no material facilitando a demarca o de temas e a capta o das suas transforma es ao longo do processo discursivo N o esteve em quest o separar temas em compartimentos estanques mas captar na entrevista o encadeamento do que ia sendo abordado as formas pelas quais se dava a abordagem e as transforma es que se iam operando Depois partiu se para a realiza o do Tratamento comparativo dos discursos procurando captar n o s as vari ncias e invari ncias mas sobretudo ind cios da reconstru o selectiva do objecto e da sua inser o em contextos pr prios aos valores modelos e s mbolos caracter sticos s perten as e refer ncias dos sujeitos dos n cleos figurativos ou imagin ticos de diferentes ordens presentes no conjunto do material dando contorno ao objecto de estudo O tratamento comparativo do processo discursivo de entrevista
99. Droga toda a subst ncia que ao ser usada pelos indiv duos provoque em alguns deles um s ndrome de depend ncia percebido pelo pr prio pelos seus grupos ou pela sociedade como tal O aparecimento da s ndrome de depend ncia depende das propriedades farmacol gicas da subst ncia ao interagir com um organismo vivo Esta defini o tem duas importantes implica es a primeira que h muitas subst ncias que s o drogas te ricas quer dizer que se fossem utilizadas poderiam provocar s ndrome de depend ncia Tais drogas te ricas n o s o drogas de um ponto de vista social e n o t m nem deveriam ter por raz es preventivas interesse a n o ser o da investiga o toxicol gica A segunda s o as propriedades farmacodin micas de uma subst ncia as que determinam a sua inclus o na categoria droga pelo facto de provocar s ndromes de depend ncia reais e observ veis em indiv duos concretos e no nosso meio socio cultural A defini o social de droga a que consta desde logo das normas sociais que regularam gradualmente durante os v rios s culos proibir um conjunto de subst ncias psicoactivas denominadas narcotics em ingl s e stup fiants em franc s invocando a sua nocividade intr nseca libertando outras de tal rotulagem sob a fundamenta o de que s se tornam nocivas por um mau uso do homem Ana Rita Valinho dos Santos Marques 8 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Represent
100. Durkheim 1898 procurou perceber a influ ncia da consci ncia colectiva e a sua fun o modelizadora sobre a natureza dos la os sociais Para este autor a anomia representa a desagrega o de valores e a aus ncia de refer ncias no plano das Ana Rita Valinho dos Santos Marques 24 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal representa es sociais Esta situa o de anomia pode levar experimenta o de novas viv ncias sociais revestidas de formas parassacras Durkheim dizia em 1912 O valor que n s atribu mos ci ncia depende em suma da ideia que possu mos colectivamente acerca da natureza e do seu papel na vida isto significa que o valor exprime um estado de opini o Partindo de uma refer ncia ao pr prio Durkheim Moscovici 1976 explica nos que uma representa o social uma organiza o de imagens e de linguagem na medida em que real a e simboliza os actos e situa es que s o ou que possam ser comuns para n s Moscovici prossegue afirmando que o papel da representa o social de modelar aquilo que nos vem do exterior a representa o social produz e determina comportamentos d sentido aos est mulos que nos rodeiam e atribui significado s respostas que lhes devemos dar Trata se de uma modalidade espec fica do conhecimento que tem por fun o a elabora o dos comportamentos e da tamb m a fun o de comunica o entre os
101. FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO Ana Rita Valinho dos Santos Marques A S DROGA S E A S TOXICODEPEND NCIA S REPRESENTA ES SOCIAIS E POL TICAS EM PORTUGAL DISSERTA O DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E INSER O SOCIAL APRESENTADA FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO SOB A ORIENTA O DA PROFESSORA DOUTORA MARIA DA CONCEI O RAMOS PORTO 2008 Nota Biogr fica Licenciada pela Universidade Aut noma de Lisboa em Ci ncias Sociais Sociologia variante de Medicina e Sa de De 1 de Dezembro de 1997 a 29 de Fevereiro de 2000 exerceu fun es de soci loga na Comunidade Vida e Paz Institui o Particular de Solidariedade Social sem fins lucrativos IPSS destinada ao acolhimento e reabilita o de indiv duos Sem Abrigo O trabalho desenvolvido na Quinta do Esp rito Santo Comunidade Residencial assentou na Coordena o T cnica do Centro Coordena o dos Cursos de Forma o Profissional e Coordena o da Preven o e Tratamento da Toxicodepend ncia Em 1 de Mar o de 2000 ingressou na Direc o Regional do Norte do Servi o de Preven o e Tratamento da Toxicodepend ncia DRN SPTT como T cnica Superior de 2 Classe do Regime Geral rea de Sociologia A 1 de Mar o de 2000 iniciou fun es no Centro de Informa o e Acolhimento CIAC Norte Em Julho de 2000 passou a dividir a actividade profissional entre o Centro de Informa o e Acolhimento e o Ga
102. Leis de 1927 de 1970 de 1983 de 1993 e de 2002 Ana Rita Valinho dos Santos Marques 52 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Apenas entre 1960 e meados dos anos 70 que o consumo de drogas passou a ser um problema digno de registo no discurso do Legislador Antes de se penalizar o consumo il cito de drogas condenava se apenas o com rcio ilegal destes produtos Poiares defende este momento como fazendo parte do paradigma fiscal e que iria de 1914 at 1970 Historicamente abrangeu um per odo longo desde a Primeira Rep blica Ditadura Militar e ainda o per odo do Estado Novo quer na vers o salazarista quer na de Marcelo Caetano Durante este per odo n o era tido em conta o acto de consumo nem a pessoa que o fazia mas sim o controlo do com rcio desses produtos As leis criadas em Portugal espelhavam movimentos internacionais que empurravam os nossos Legisladores nesse tipo de orienta o A droga colocada como mercadoria comercial e fiscal cujo com rcio deve ser fiscalizado pelo Estado sem que se haja procedido ao desenho jur dico social do perfil do consumidor limitando se o Legislador a prever a posterior regulamenta o dos aspectos em que a droga se situa no contexto farmac utico nomeadamente no que concerne venda e distribui o de coca na morfina e hero na e seus sais Poiares 1995 p 22 No primeiro per odo o consumo em si me
103. NESCO 1980 A Reinser o Social contribui para a efic cia do Tratamento conduzindo realiza o pessoal e ao restabelecimento das redes sociais de suporte no sentido da estabilidade cl nica emocional e social do indiv duo o processo atrav s do qual o indiv duo reestrutura a sua personalidade e a sua vida desenvolvendo compet ncias de autonomia e responsabilidade capazes de o valorizar enquanto membro til sociedade O Tratamento dos toxicodependentes s termina com a sua Reinser o na sociedade ONU 1987 As dimens es da Reinser o Social dos toxicodependentes englobam diferentes reas como habita o incentivar e apoiar o consumidor na procura de uma habita o atrav s da mobiliza o de respostas adequadas educa o proporcionar pessoa o acesso ao n vel acad mico adequado para o seu processo de integra o social forma o potenciar a capacidade de trabalho preparando para a integra o laboral emprego desenvolver a capacidade de desempenhar um trabalho remunerado mant lo e crescer profissionalmente sa de aprender a valorizar e cuidar da sa de como fonte de prazer e Ana Rita Valinho dos Santos Marques 85 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal bem estar participa o e cidadania participar enquanto cidad o de plenos direitos e deveres capacitar para a gest o de tempo livre de forma planificada satisfa
104. Schutz 1976 e Moscovici 1961 consideram que s uma pequena parte do nosso stock de tipifica es deriva da observa o directa do mundo a maior parte prov m do stock de conhecimentos dispon veis para os actores sociais Estes acumulam o seu conjunto de conhecimentos com o objectivo de cumprir os seus projectos que depender o da biografia individual de cada um das suas situa es concretas e das ac es dos outros actores nessas situa es Moscovici por outro lado acentua o papel e a ac o dos grupos sociais na modela o e no sentido dado comunica o e ac o A teoria das representa es sociais configura se como um meta modelo de an lise ou um modelo supra ordenado sendo necess rio recorrer s defini es conceptuais mais espec ficas considerando de igual forma o prop sito da investiga o Vala 1993 a Assim as representa es sociais dever o ser entendidas como um conceito articulador dos seguintes conceitos de m dio alcance Estere tipos e Atribui es Merton 1970 p 16 definiu as teorias de m dio alcance como sendo Teorias que ficam a meio do caminho entre as estreitas hip teses de trabalho e as amplas especula es que envolvem um esquema conceptual do qual se espera conseguir um certo grau de uniformidade na conduta social empiricamente observada Ana Rita Valinho dos Santos Marques 33 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol tica
105. a es Sociais e Pol ticas em Portugal Esta hierarquia normativa das drogas foi sendo legitimada por correntes dominantes no campo cient fico no sentido de atribuir s drogas ilegais as propriedades de depend ncia e as disfun es individuais e sociais associadas em contraposi o com a inofensividade das legais Em 1957 o Comit de Peritos das Drogas que produzem Adi o da Organiza o Mundial de Sa de OMS considerou necess rio distinguir entre drogas produtoras de h bitos e drogas produtoras de adi o Um manual de um farmacologista franc s cuja primeira edi o foi publicada em 1953 mas que ainda hoje circula em constantes reedi es adopta esta distin o reservando as grandes toxicomanias para as drogas ilegais e as toxicomanias menores para um certo n mero de pequenas servid es familiares perante algumas subst ncias inofensivas na sua utiliza o habitual e moderada lcool tabaco ch caf Porot 1989 p 14 A pol mica gerada pela natureza ideol gica desta separa o entre h bito e adi o levou a que seis anos depois o mesmo Comit de Peritos recomendasse a substitui o dos termos h bito e adi o por depend ncia no o esta que apagava a distin o farmacol gica entre drogas l citas e il citas entre drogas medicinais e estupefacientes Escohotado 1992 p 123 atendendo a que depend ncia deixava de ser estritamente a qualidade da droga mas
106. a o sobre as drogas coloca nos numa postura evolutiva ou diferenciada n o s na forma como o poder vigente resultando daqui a elabora o das leis reage aos problemas sociais neste caso ao toxicodependente mas tamb m numa perspectiva do conhecimento e teorias dominantes do momento O conhecimento e ac o costumam andar acompanhados Quartilho 2001 p 114 de acordo com o construcionismo social logo podem existir v rias formas de ver o mundo e outras tantas de compreender a realidade Assim os v rios conceitos de toxicodependente inicialmente toxic mano outras vezes adicto analisados historicamente correspondem s v rias formas de abordar e tratar essas mesmas pessoas ao longo do tempo Sendo assim as v rias formas de ver o toxicodependente ou de o tratar ou punir s o aqui analisadas apenas como momentos em que determinadas comunidades interpretativas com mais influ ncia determinavam aquela verdade sobre aquelas pessoas ou seja a verdade depende da constru o mais sofisticada e melhor informada sobre a qual existe um consenso generalizado em cada poca hist rica Quartilho 2001 p 114 A aplica o das leis da Droga em Portugal n o foi aleat ria mas revela uma liga o a todo o panorama societal interno e um jogo entre as modalidades legislativas e as modalidades do fen meno A evolu o aplicativa das leis da droga pode ser caracterizada em cinco grandes quadros de refer ncia
107. a em particular De car cter informativo define se como um servi o telef nico especial prestando esclarecimentos imediatos despistagem de problemas e seu encaminhamento para os servi os adequados De forma complementar entendeu se criar um servi o apartado com id nticos objectivos distinguindo se pela oportunidade que oferecia queles que pretendiam o contacto escrito ou telef nico Ap s a cria o do SPTT em 1990 a Preven o das toxicodepend ncias passou a ser realizada atrav s dos Centros de Informa o e Aconselhamento CIAC s Os CIAC s constitufam se como um pilar e um suporte complementar restante interven o cl nica e psicossocial do SPTT nomeadamente na rea da forma o desenvolvida para t cnicos de institui es p blicas e privadas que articulavam com os servi os do SPTT Tendo como rea de interven o a Preven o de comportamentos de risco na adolesc ncia nomeadamente do consumo nocivo de drogas psicoactivas tinham por objectivo fortalecer os factores protectores dos jovens procurando facilitar a sua integra o social e o seu desenvolvimento psicossocial Ana Rita Valinho dos Santos Marques 71 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Dando continuidade ao leque de actividades e estrat gias pol ticas de actua o em Preven o Prim ria foram criados em 1997 os Programas Quadro Prevenir e Reinserir tendo por objectivo envo
108. a Rita Valinho dos Santos Marques 79 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Estrat gia Nacional de Luta Contra a Droga definindo se como prioridade a garantia de acesso a Tratamento de todos os toxicodependentes que desejam tratar se Coube ao SPTT a prossecu o deste objectivo Neste sentido durante o ano 2000 este organismo continuou as actividades referentes cria o e instala o de novas unidades e ao redimensionamento de outras j existentes de modo a optimizar as condi es de acesso s diferentes modalidades de Tratamento Desta forma prezou o princ pio de funcionamento em rede dando continuidade abertura de consultas descentralizadas em organismos externos do SPTT O SPTT numa l gica de refor o da interven o na rea das drogas imprimiu a partir do ano 2000 uma din mica determinada pela constitui o de diferentes parcerias designadamente com outros Servi os de Sa de Autarquias Locais Direc o Geral dos Servi os Prisionais Comiss o Nacional de Luta Contra a SIDA Para al m destas foram estabelecidas conven es com organiza es n o governamentais Actualmente a rea de interven o central tem como horizonte n o um modelo que se disponha exclusivamente abstin ncia mas sim um modelo compreensivo do toxicodependente numa traject ria que vai do primeiro pedido de ajuda ao momento em que o consumo de subst ncias deixa de s
109. a consci ncia entre os diferentes t cnicos que actuam na rea da toxicodepend ncia que no momento de definir a identidade profissional e o papel que devem desempenhar na sociedade muito mais importante examinar a situa o hist rica do fen meno e as necessidades dos indiv duos que pedem ajuda do que estabelecer o mbito espec fico de cada rea disciplinar Assim em rela o quest o do papel destes t cnicos no contexto actual do fen meno da toxicodepend ncia e das drogas antes de perguntarmos sobre as suas pr ticas profissionais devemos voltar nossa aten o para o contexto sem presumir que o facto Ana Rita Valinho dos Santos Marques 177 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal de fazermos parte dele o torna suficientemente conhecido ou que nele viver o converte automaticamente no referente de nossa actividade profissional Poder se afirmar que todas as profiss es na nossa sociedade encontram se ao servi o da ordem estabelecida e que nesse sentido o papel destes t cnicos n o uma excep o O objectivo desta investiga o foi o de brevemente lan ar algumas quest es relativas s representa es sociais da droga e da toxicodepend ncia e o de analisar as pol ticas e os discursos dos t cnicos que interv m directamente nesta problem tica Assim face aos resultados obtidos pensamos existirem e terem se aberto espa os reflexivos sobr
110. a de 70 por via do poder pol tico publicada uma nova lei substantiva das drogas Decreto Lei n 420 70 de 5 de Setembro que assenta numa perspectiva criminalizadora do utilizador de drogas o consumo passa a ser punido com pris o at 2 anos claramente apoiada na necessidade de Portugal aderir s conven es internacionais Entre 1970 e 1975 Portugal passa por numerosos acontecimentos de ordem social econ mica e pol tica A droga come a a estar associada a acontecimentos que colocam em causa a ordem social estabelecida greves movimentos estudantis insatisfa o nas for as armadas relativamente guerra colonial e ao mesmo tempo que referenciada como loucura e morte neste per odo antes do 25 de Abril de 1974 que em Portugal surge a primeira campanha publicit ria contra a droga que associa as palavras Droga Loucura Morte consubstanciada no cartaz de fundo preto salpicada com iniciais LSD tendo como imagem central uma caveira Tal como refere Fernandes 1993 esta campanha poder ser responsabilizada pelo aliciamento ao uso de drogas despertando a Ana Rita Valinho dos Santos Marques 47 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal aten o para algo que verdadeiramente era ainda inexistente entre n s Devido contesta o pol tica e social da poca ao regime conservador vigente antes de 1974 o consumo de drogas era associado
111. a desvalorizar as dificuldades que alguns toxicodependentes sentem na constru o de um processo de recupera o por outro lado alguns utentes tendem a sentir estes t cnicos como pouco dispon veis e envolvidos no processo de Tratamento Psic logo 34 anos a trabalhar h 8 anos no IDT mudan a de paradigma no entendimento do fen meno altera os discursos e as pr prias pr ticas Assistente Social 45 anos a trabalhar h 15 anos no IDT a cria o de dispositivos de actua o ao n vel da toxicodepend ncia e a utiliza o de determinadas estrat gias de Tratamento est o intimamente ligadas s representa es sociais existentes sobre o fen meno por parte do senso comum da popula o em geral as pol ticas de interven o n o s o s baseadas no conhecimento cient fico mas tamb m no impacto que determinadas estrat gias ter o a n vel p blico M dico 43 anos a trabalhar h 12 anos no IDT relativamente escolha das estrat gias pelos t cnicos penso que estas t m a ver com os crit rios definidos mas claro que associamos determinado perfil de indiv duo ou de situa o a cada estrat gia de interven o o que se poder traduzir pelas representa es que temos de determinados consumidores de drogas com percursos mais ou menos semelhantes ex pensamos mais na utiliza o de Tratamento de Substitui o em sujeitos com percurso longo nos c
112. a dose de Metadona Uma droga ministrada de gra a pelo pr prio Estado Neste contexto foi frequentemente expressa a falta de apoio por parte do Governo Investiga o Cl nica e Epidemiol gica na Depend ncia da Droga salientando se a necessidade de sensibilizar os Governos para uma planifica o mais eficiente e uma programa o mais cuidada nesse mbito quer a n vel nacional quer a n vel regional Desta forma em Portugal cada Centro Regional baseava a sua linha de actua o num m todo nico de Tratamento facto que levou tend ncia de uma clientela espec fica Cada Centro pela sua autonomia assumiu modelos institucionais diferentes linguagens e realidades diferentes O aparecimento na Consulta Externa de casos exigindo um Tratamento intensivo e em regime fechado impulsionou a abertura do Sector de Internamento destinado a acolher os dependentes graves que frequentando a Consulta Externa careciam de Tratamento intensivo em regime fechado Em 21 de Junho de 1978 anunciada a cria o da primeira Comunidade Terap utica para toxicodependentes do pa s fundada pela Direc o Regional de Coimbra do Centro de Estudos da Profilaxia da Droga que posteriormente vir a designar se de Comunidade Terap utica Arco ris Funcionou como val ncia do Centro de Atendimento a Toxicodependentes CAT Em Janeiro de 1997 foi lhe conferida autonomia administrativa A Comunidade Terap utica para toxic manos do Centro de E
113. a e Controle Social Porto Observat rio Permanente da Seguran a Vol I e II Fernandes L 1999 A administra o de hero na em Zurique Olhares Seguros Observat rio Permanente de Seguran a do Porto Ferraz F O et al 1996 Atitudes perante o consumo de drogas perspectivas de estudantes professores e m dicos in Toxicodepend ncias Ano 2 n 2 pp 57 67 Ferrer X et al 1993 Los padres en la prevenci n del abuso de drogas enfoques experi ncias y resultados em v rios pa ses Vitoria Semin rio Internacional sobre privenci n de las drogodependencias y papel de la fam lia Fisher D G et al 1997 Parental influences on substances use gender differences and stage theory Journal of Drugs Education pp 37 49 Fleming M A 2005 Dor Mental e Toxicodepend ncia Toxicodepend ncias vol 1 Lisboa Edi es IDT pp 3 13 Fortin M F 2003 O processo de investiga o da concep o realiza o 3 Ed Loures Lusoci ncia Fr javille J et al 1977 Os jovens e a droga Porto R s Editora Giddens A 1989 A constitui o da sociedade 1 Ed e 2 Ed 2003 S o Paulo Editora Martins Fontes Ana Rita Valinho dos Santos Marques 186 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Giddens A 1991 As consequ ncias da modernidade 1 Ed S o Paulo Editora UNESP
114. a legisla o do rendimento social de inser o e da sua efic cia social A implementa o do programa no terreno cabe s Comiss es Locais de Acompanhamento que analisam caso a caso Uma das grandes virtudes desta medida a sua actua o local e a tentativa de coordena o das pol ticas dispon veis nos diversos dom nios de uma mesma base Estes dom nios s o as chamadas reas de inser o estando previstas ac es no mbito do emprego da forma o profissional da educa o da sa de da ac o social e da habita o Uma vez que o RSI pretende ser um apoio tempor rio o acordo de inser o celebrado entre o titular da presta o e os indiv duos que integram o seu agregado familiar e a Comiss o Local de Acompanhamento envolvido no processo dever procurar solu es de inser o social que privilegiem uma futura autonomia do agregado familiar O financiamento desta presta o pecuni ria e respectivos custos efectuado por transfer ncia do Or amento do Estado nos termos previstos na Lei de Bases da Seguran a Social H outras disposi es na regulamenta o do RSI que tentam evitar o tipo de inefici ncia atr s referido e promover a inser o social dos benefici rios Com efeito o Rendimento Social de Inser o associa uma presta o pecuni ria de apoio ao rendimento com um programa de inser o negociado entre os benefici rios e as Comiss es Locais de Acompanhamento Esta rela o tem em considera
115. a maior abertura ao conhecimento aprofundado de novas subst ncias explorando e desenvolvendo o seu potencial comercial quer utilizando as para fins terap uticos quer recreativos A aceita o ou rejei o social do uso de determinadas subst ncias est muito sujeita representa o comercial que determinado governo ou imp rio poder ter sobre essas subst ncias para al m da representa o que tem para outras estruturas de poder como amea a ou moda para o clero nobreza e burguesia O s culo XIX um per odo de grande crescimento econ mico mundial e consequentes mudan as sociais O consumo de subst ncias aparece enquadrado no contexto de desenvolvimento das grandes pot ncias econ micas nomeadamente a Inglaterra a Fran a e os EUA A industrializa o maci a que tem in cio nos finais do s culo anterior faz se acompanhar de imensa mis ria resultante de um processo demasiado r pido criador de clivagens e diferen as sociais abissais Este processo que exigiu mudan as ao n vel de desenvolvimento socio econ mico dos v rios pa ses remete nos para uma reflex o sobre o papel das guerras o aumento da riqueza interna comercial de cada pot ncia e as movimenta es demogr ficas entre as pot ncias e as suas col nias Ao mesmo tempo o desenvolvimento cient fico e tecnol gico exerce uma grande influ ncia no que se refere ao uso terap utico de determinadas subst ncias Pela primeira vez se come a a conhecer e
116. a primeira a de focar a aten o sobre as institui es oficiais j pouco numerosas e pouco financiadas a segunda a de insistir na estigmatiza o oficial quando ela n o fatal o que permite esquivar os factores individuais da segrega o Ana Rita Valinho dos Santos Marques 121 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Devemos quebrar a dupla corrente de exclus o que aparece entre a sociedade e os drogados gra as a uma abordagem pragm tica dos actores sociais e dos desviantes abordagem cujo conte do v uma ac o individual m dica e psicol gica junto dos drogados Y uma ac o colectiva com a finalidade de aumentar a toler ncia e a criatividade dos estigmatizadores e dos estigmatizados de tornar claros os verdadeiros valores culturais avaliados e sobretudo vividos e conseguir uma melhor responsabilidade por parte dos adultos e dos adolescentes A representa o social do toxicodependente que oscila entre a v tima e o culpado influi na forma como tratado como v tima a tend ncia fazer o que ele nos pede como f z Aeae a PEA culpado a tend ncia rejeit lo Talvez a forma mais correcta seja v lo como a pessoa que sofre A sociedade traduz sentimentos amb guos por um lado o t o almejado combate contra a toxicodepend ncia e por outro o desd m e a estigmatiza o destes indiv duos no dia a dia A droga e todas
117. a s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Com esta investiga o pretende se essencialmente ver a forma como as pessoas se apoderam da enorme diversidade dos discursos em torno da droga e do toxicodependente em confronto com o conhecimento concreto e diferencial da sua realidade Isto pretende se dar uma resenha da forma como a sociedade e as diferentes institui es se criam e se organizam simbolicamente em torno deste fen meno A teoria sobre a qual se regem as sociedades contempor neas ensina a conhecer o consumidor de droga como um dependente portador de uma doen a e um delinquente Neste sentido circulam todo um conjunto de teorias de autoria das mais diversas fontes de poder pol ticas c vicas cient ficas t cnicas assimiladas e sedimentadas pelo senso comum que procuram legitimar a proscri o social da droga luz daquelas categoriza es fundando se nas realidades emp ricas que emergem da pr pria reserva de evid ncia criada pelo regime pol tico social que governa a droga O instrumento mais importante da codifica o institucional da droga a linguagem que consolida aquela objectiva o Nesta medida o drogado o toxicodependente n o deriva apenas de um estatuto identit rio gerado na rela o do indiv duo com a droga mas tamb m de uma identidade constru da pelos outros e reproduzida institucionalmente a identidade virtual de Goffman
118. abalha lado a lado num processo de escuta no terreno Promover a sa de e o bem estar na sua dimens o f sica psicol gica familiar e social uma atitude de Preven o do abuso de drogas e da toxicodepend ncia M dicos enfermeiros psic logos assistentes sociais e outros profissionais devem e podem intervir na promo o da sa de Ana Rita Valinho dos Santos Marques 149 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 8 2 APRESENTA O E DISCUSS O DOS RESULTADOS OBTIDOS A PARTIR DAS ENTREVISTAS fundamental compreender que o Tratamento consiste na aplica o de medidas m dicas psicol gicas pedag gicas familiares e sociais Foi com base neste pressuposto que decidimos entrevistar os t cnicos que trabalham directamente no Tratamento do toxicodependente Desta forma fundamental perceber quais as suas representa es sociais sobre o sujeito toxicodependente e sobre o objecto da droga A utiliza o da entrevista como instrumento de recolha de informa o serviu para obter uma maior riqueza e diversidade pois vinha directamente do discurso do pr prio t cnico Ausloos 1996 p 36 afirma que o comportamento do terapeuta p s moderno n o deve continuar a proceder de um ponto de vista pessoal Em vez de se afirmar no seu orgulho deve alimentar se de humildade Foi nesta postura que a investigadora se colocou durante as entrevis
119. ade do servi o oferecer as respostas cl nicas que os utentes reclamam M dico 43 anos a trabalhar h 12 anos no IDT Ana Rita Valinho dos Santos Marques 161 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal J para outro dos psic logos a sua efic cia passou por diferentes fases que estiveram directamente relacionadas com a sua maneira de perspectivar o Tratamento dos toxicodependentes e por outro lado nas suas pr prias expectativas face recupera o dos toxicodependentes acredito na efic cia de qualquer uma das interven es que utilizo embora por vezes acredite pouco na organiza o dos servi os que proporcionam estas interven es As cren as relativamente efic cia da minha interven o foram se alterando ao longo do meu percurso de trabalho na rea da toxicodepend ncia Numa fase inicial apresentava grandes expectativas relativamente minha interven o na problem tica sem grande capacidade de fazer o balanceamento do impacto da interven o psicol gica nas variadas situa es Depois passei por uma fase de maior desmotiva o e talvez uma quase descren a na interven o psicol gica no fen meno Mais recentemente penso que fui conseguindo adequar as minhas expectativas s expectativas motiva es e compet ncias dos indiv duos tendo uma vis o diferente da efic cia da interven o
120. adolescente como referido anteriormente e j n o denominado de toxic mano Como diz Lu s Patr cio A toxicodepend ncia uma doen a e natural que a pessoa pouco informada imagine que basta tirar a droga e o doente fica curado tamb m necess rio que a pessoa reaprenda a viver Patr cio 1995 p 235 Em 1995 Dias dizia que envolvido num discurso sobre si cabe ao toxicodependente uma dupla tarefa livrar se do Mal e livrar nos do Mal pela convers o aos valores que traiu nas suas pr ticas 1995 p 13 Numa reflex o inquietante e inovadora o autor levanta quest es volta da droga e afirma que esta une ide logos sem ideologia fornecendo lhes um objecto comum Para o autor todos os chamados toxicoterapeutas se deveriam pensar mas acima de tudo reflectir para um toxicodependente come ar de novo e ignorar a sua toxicodepend ncia seria o mesmo que iniciar a audi o de um concerto no 2 andamento idem 24 Este era um livro de alguma forma desconcertante e que obrigava todos os peritos da toxicodepend ncia a pensar verdadeiramente sobre o Tratamento destes homens e mulheres A droga como s mbolo da mis ria de viver t o s o s mbolo e testemunho do Homem in cur vel sintoma bastardo do seu im Jposs vel desejo de cura idem p 36 Ana Rita Valinho dos Santos Marques 106 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Socia
121. age Paris Hatier Durkheim 1898 Representa es individuais e representa es colectivas in Durkheim Sociologia Pragmatismo e Filosofia Porto R s Editora Durkheim 1984 A Divis o do Trabalho Social Lisboa Editorial Presen a Durkheim 2001 O Suic dio Estudo Sociol gico Editorial Presen a 8 Ed Echebarria A Fdz Guede E Sanjuan C Valencia J F 1992 Social representations of drugs causal judgement and social perception in European Journal of Social Psychology vol 22 pp 73 84 Edwards G Arif A Hodgson R 1982 Nomenclature and Classification of Drug and Alcohol related problems a WHO memorandum Bull World Health Organ Erickson P G 1993 The law social control and drug policy models factors and Processes in The International Journal of the Addictions 28 12 pp 1155 1176 Ehrenberg A 1991 Le culte de la performance Paris Calmann Levy Ana Rita Valinho dos Santos Marques 184 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Ehrenberg A 1996 Comment vivre avec les drogues Questions de recherche et enjeux politiques in Communications n 62 pp 5 26 Escohotado A 1992 Hist ria General de las Drogas vol 3 Madrid Alianza Editorial Farate C 1996 Risco relacional e consumo de drogas no in cio da adolesc ncia A complementaridade das a
122. ais se houver toler ncia social perante a mesma e patol gica em caso contr rio neste sentido que a causa etiol gica da toxicodepend ncia pode ser examinada menos pelo estrito uso de droga e mais pela Ana Rita Valinho dos Santos Marques 16 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal rigidez do consenso social relativamente aos comportamentos de consumo Macquet 1994 p 79 83 Maria Isabel Andrade 1994 p 8 t cnica de Preven o Prim ria autora de um manual editado em Portugal sobre a droga apresenta nos a depend ncia nos seguintes termos Embora as drogas s por si n o constituam um problema a rela o que uma pessoa tem com determinado produto que decide da maior ou menor frequ ncia com que este vai ser consumido o simples facto de existirem e de produzirem um determinado tipo de sensa es vai ser determinante para o risco de depend ncia De contr rio como explicar o fen meno tab gico e o enorme consumo de toda a esp cie de bebidas alco licas Os discos e os clips psicad licos de m sica ensurdecedora A pornografia sexual e a devassid o A exalta o da velocidade o culto da viol ncia Ou ainda a obsess o pela hero na ou o haxixe e toda a esp cie de alucin geneos e estimulantes Este texto esclarece substantivamente o padr o comportamental referido na esfera cl nica explicitando claramente a alian a entre ordem cl
123. al Maio 2005 Edi o Comemorativa Especial 10 anos pp 133 175 Ramos C 2003 Ac o Social na rea do Emprego e da Forma o Profissional Universidade Aberta Lisboa Ramos N 2004 Psicologia Cl nica e da Sa de Universidade Aberta Lisboa Ramos P coord 1987 Reinserci n Social y Drogodependencias in Nieva Lafuente in La Reinserci n Social en el Marco Municipal Asociaci n para el Estudio y Promoci n del Bienestar Social Madrid Reis J C 1998 O Sorriso de Hip crates A integra o dos processos de sa de e doen a Lisboa Editor Ass rio Bacelar Relat rio Anual 2005 A Evolu o do Fen meno da Droga na Europa Luxemburgo Servi o de Publica es Oficiais das Comunidades Europeias Relvas A P 1996 O ciclo vital da fam lia perspectiva sist mica Porto Edi es Afrontamento Ribeiro J S 1995 Depend ncia ou Depend ncias Incid ncias hist ricas na formaliza o dos conceitos Toxicodepend ncias Ano 1 n 3 Lisboa SPTT pp 5 13 Ana Rita Valinho dos Santos Marques 193 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Ribeiro J S 1996 0 papel da ansiedade no processo de recupera o dos toxicodependentes Toxicodepend ncias Ano 2 n 3 Lisboa SPTT pp 5 13 Ribeiro J S 1999 Contributo para a hist ria dos consumos de drogas em Portugal
124. al utilizar as drogas passara a ser de certo modo expl cito um facto criminalmente tipificado reclamando castigo Poiares 1995 p 24 Cada vez que algu m era apanhado a consumir a pena ia de 6 meses a 2 anos e remetia para o C digo Penal de 1886 que referia que quer o alco lico quer outros intoxicados deveriam ser imediatamente isolados do meio ou internados como cumprimento de uma pena Assistiu se neste tempo hist rico legislativo a uma dupla descontinuidade na qualifica o do consumo de drogas passando se em primeiro lugar da ptica fiscal e comercial droga mercadoria no o criminalizadora droga delito mas Ana Rita Valinho dos Santos Marques 54 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal descontinuidade tamb m em rela o concep o em vigor no Oriente droga doen a a qual s penetrar no continente nos finais de 1975 e em 1976 Agra 1998 p 52 Os anos de 1970 e 75 foram em rela o a esta problem tica espec fica tempos de transi o de mudan a de olhar semelhan a do que sucedeu nos restantes pa ses europeus o consumo de subst ncias estupefacientes e produtos psicotr picos ganhou uma amplitude assinal vel avolumando os problemas relacionados com esses consumos levando a que os sucessivos governos tentassem legislar para diminuir a sua prolifera o e encontrar respostas para este novo fen meno Assim
125. al indiv duos com traject rias de vida de desfavorecimento proporcionando lhes oportunidades de emprego gratificantes em contextos e situa es de trabalho que promovam o seu desenvolvimento pessoal e social Por outro lado com facilidade estas empresas implementam actividades de apoio e acompanhamento daqueles que s o trabalhadores da empresa e t m problemas prevenindo a exclus o social O Programa Vida Emprego tem se revelado fundamental ao processo de inser o dos toxicodependentes traduzindo se numa resposta que pode garantir o sucesso do investimento feito nas fases anteriores de Tratamento Na integra o de toxicodependentes mereceram particular destaque os programas gerais de emprego e forma o nomeadamente a medida Empresas de Reinser o criada pela Resolu o do Conselho de Ministros n 104 96 de 09 de Julho e definida pela portaria 348 A 98 de 18 de Junho dispondo se a um conjunto diversificado de solu es para a integra o ou reintegra o s cio profissional de pessoas desempregadas com base em actividades dirigidas a necessidades sociais n o satisfeitas pelo normal funcionamento do mercado Fazendo parte das pol ticas activas de emprego e de Ana Rita Valinho dos Santos Marques 88 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal revers o dos recursos utilizados em medidas passivas aquelas solu es tendem inser o de pessoas desemp
126. amavam representa es colectivas Outras representa es resultam do desenvolvimento da circula o de conhecimento e ideias pertencentes a subgrupos que est o em contacto mais ou menos estreito Cada subgrupo cria a sua pr pria vers o e partilhaa com os outros Estas s o representa es emancipadas com um certo grau de autonomia relativamente interac o dos segmentos da sociedade T m uma fun o complementar visto que resultam do interc mbio e partilha de um conjunto de interpreta es ou s mbolos S o sociais em virtude da divis o de fun es e por for a da informa o associada e coordenada pelos seus meios As representa es sobre a doen a mental pertencem a esta categoria aqui os conceitos e experi ncias dos m dicos profissionais param dicos e os leigos est o associados com as da popula o Por fim existem representa es geradas no decurso do conflito social da controv rsia social e a sociedade no seu todo n o as partilha S o determinadas por rela es antagonistas entre os seus membros e planeadas para serem mutuamente exclusivas Estas representa es pol micas devem ser vistas no contexto de uma oposi o ou luta entre grupos e s o frequentemente expressas em termos do di logo com um interlocutor imagin rio A representa o social do Marxismo em Fran a por exemplo circulou em Ana Rita Valinho dos Santos Marques 30 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e P
127. apoios adaptados sua situa o pessoal que contribuam para a satisfa o das suas necessidades essenciais e que favore am a progressiva inser o laboral social e comunit ria Art 1 Cap tulo I Decreto Lei n 13 2003 de 21 de Maio Os destinat rios do RSI s o todos aqueles indiv duos e fam lias que se encontrem numa situa o grave de car ncia econ mica Para serem titulares do direito ao rendimento social de inser o os indiv duos t m que ter idade igual ou superior a 18 anos ou inferior se tiverem menores na sua depend ncia ou no caso de mulheres gr vidas n o podem auferir rendimentos ou presta es sociais pr prios ou do conjunto dos membros que comp em o agregado familiar superiores aos definidos na presente lei devem fornecer os meios de prova necess rios verifica o da situa o da car ncia econ mica possuir resid ncia legal em Portugal e por ltimo devem assumir o compromisso de subscrever e prosseguir um programa de inser o social legalmente previsto atrav s da disponibilidade activa para o trabalho para a forma o ou para outras formas de inser o que se revelem adequadas O valor da presta o encontra se Ana Rita Valinho dos Santos Marques 92 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal indexado ao valor legalmente fixado para a pens o social O seu montante igual diferen a entre o valor do RSI correspondente
128. as t m as suas opini es por vezes bem diversas ou d spares desde as chamadas bocas at s opini es mais elaboradas Face ao fen meno da droga o cidad o deveria estar informado os actores sociais deveriam estar informados e os profissionais de sa de t m necessariamente que estar minimamente informados At porque t m um mandato social promover a sa de dos cidad os Face dimens o e destrutividade do fen meno da droga as suas interven es devem ser firmes corajosas e humildes Os profissionais de sa de devem participar na constru o de solu es para fazer face ao sofrimento das pessoas numa perspectiva global e n o apenas construir meras respostas parciais isoladas desarticuladas porventura oportunas mas por vezes oportunistas onerosas e sem futuro Interven es apenas orientadas pela boa vontade do homem interven es meramente apoiadas na for a de vontade interven es que se limitam aplica o de simples e parciais t cnicas terap uticas interven es que se limitam apenas tentativa de aplica o de uma pol tica repressiva ou mesmo de uma pol tica laxista a hipocrisia e a falta de seriedade inerente ao homem levaram a que o fen meno tenha adquirido a actual e enorme dimens o apesar de todas as declara es pol ticas conhecidas Mas certamente porque o homem tamb m promove resist ncia dissemina o do fen meno porque o homem tamb m defende outras culturas o fen meno
129. ase na aquisi o de novos conhecimentos o conceito de Preven o tem evolu do na sua especificidade selectiva em rela o ao uso e abuso de drogas para uma concep o mais ampla e alargada o da educa o para a sa de Segundo Carvalho 1991 usualmente define se Preven o como um tipo de interven o que se realiza no per odo pr patog nese quer atrav s de medidas destinadas a promover o estado de sa de quer mediante o estabelecimento de processos de protec o espec fica contra agentes patol gicos Ana Rita Valinho dos Santos Marques 66 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Nos finais dos anos 1970 a n vel internacional o maior e priorit rio investimento era feito na rea da Preven o Prim ria atrav s de medidas informativas pedag gicas formativas Os programas de informa o eram determinados pelas caracter sticas do p blico alvo tendo presente a problem tica concreta da toxicodepend ncia e comunidade de grupos considerados As actua es pedag gicas tendiam para programas de educa o sobre drogas integrados no curr culo escolar programas de educa o sanit ria e programas sobre desenvolvimento psicossocial do indiv duo A actua o comunit ria pretendeu sobretudo aumentar na comunidade os conceitos sobre as diferentes drogas e consequ ncias do seu consumo e abuso sua rela o com outras subst ncias tais como lcool
130. ase na experi ncia do Centro das Taipas criaram se os CAT s Centro de Atendimento a Toxicodependentes estando um sediado em Lisboa Taipas outro no Porto Cedofeita e um no Algarve Faro pela Portaria 74 89 de 2 de Fevereiro sendo estes centros especializados na Preven o Tratamento recupera o e Reinser o Social dos toxicodependentes No entanto a necessidade de reorganizar coordenar e desenvolver estendendo a outras regi es os diversos centros de Preven o e Tratamento da toxicodepend ncia levou cria o por parte do Minist rio da Sa de de um organismo aut nomo que tivesse flexibilidade suficiente para responder no momento pr prio s necessidades podendo articular e complementar as suas fun es com outros organismos estatais ou n o estatais o SPTT Servi o de Preven o e Tratamento da Toxicodepend ncia pelo Decreto Lei n 83 90 de 14 de Mar o no qual foram integrados os centros que pertenciam ao Minist rio da Justi a O CEPD e respectivos centros regionais do Norte do Centro de Lisboa e Vale do Tejo e do Sul bem como os novos centros criados pelo Minist rio da Sa de o centro da Taipas e extens es em Lisboa CAT do Porto e CAT do Algarve Em 1990 algumas da 30 medidas do Projecto Vida foram reestruturadas conduzindo cria o da Comiss o Interministerial e do Conselho Nacional Com estas mudan as pretendia se um maior compromisso pol tico no plano da mitiga o do fen meno
131. bate pobreza denominado de Rendimento M nimo Garantido RMG Cumpriu se embora tardiamente a recomenda o de 1992 do Conselho de Ministros da Uni o Europeia para que todos os Estados Membros reconhecessem o direito fundamental dos indiv duos a recursos e presta es suficientes para viver em conformidade com a dignidade humana Portugal foi o pen ltimo pa s da Uni o Europeia a adopt lo Segundo Ramos 2005 o Rendimento M nimo Garantido criado em Portugal em 1996 e aplicado a partir de 01 07 1997 que visa a promo o da coes o social estabelece uma presta o do regime n o contributivo da seguran a social e um programa de inser o com o objectivo de garantir aos indiv duos e seus agregados familiares quer recursos para a satisfa o das suas necessidades fundamentais quer uma progressiva inser o social e profissional O RMG baseava a sua interven o num princ pio de solidariedade nacional apresentando se como um direito de cidadania A implementa o deste tipo de medidas apresentava algumas caracter sticas inovadoras Em primeiro lugar o RMG garantia o direito subsist ncia de todos os que n o t m recursos independentemente do motivo ou de terem alguma vez contribu do para o sistema de seguran a social Esta componente vem reafirmar o papel protector do Estado no dom nio da subsist ncia Em segundo lugar pelo facto deste direito ser acompanhado de uma contrapartida de esfor o de i
132. belecem com as drogas que reflecte para al m das consequ ncias a curto m dio e longo prazo da doen a de adi o per si tamb m determinados estilos de vida que habitualmente est o associados s Toxicodepend ncias Para Patr cio 1997 estes riscos habitualmente s o de tipo f sico ps quico de mbito familiar associados parentalidade escolares financeiros e econ micos criminais e jur dico penais sociais associados ao pr prio Tratamento e ainda associados a pseudotratamentos praticados por pessoas sem a necess ria compet ncia Os danos s o os que ocorrem sobre a Sa de da pessoa toxicodependente e os que eventualmente envolvem outras pessoas com quem interage e g transmiss o de doen as infecto contagiosas Assim as pol ticas de Redu o de Riscos e de Danos em Toxicodepend ncia s o as pol ticas que visam reduzir estes mesmos riscos e minimizar os danos resultantes da doen a do consumo de drogas e de estilos de vida pouco saud veis Em rela o aos toxicodependentes e seus familiares pessoas significativas este autor ainda advoga que h que informar como diminuir ou anular os sofrimentos uma adequada informa o pode ajudar a n o agravar as situa es at porque a ignor ncia uma m companhia Patr cio 2002 p 213 214 Assim concordamos com este autor quando nos diz que A interven o precoce na Redu o de Riscos uma forma eficaz de diminuir os danos
133. beres mas acima de tudo as Ci ncias do Comportamento que descodificavam e traduziam os actos transgressores do Ana Rita Valinho dos Santos Marques 61 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal toxicodependente Na verdade o Direito que constitui o discurso do Poder destinado a assegurar a gest o da ordem e das desordens sociais tem se evidenciado crescentemente como Ci ncia normativa do comportamento recorrendo ao Saber no sentido de obter linhas explicativas das condutas de transgress o Poiares 2000 p 9 O Legislador agora alimentado pelo saber do Psic logo O fen meno droga instalou de tal forma a inseguran a e questionou a rigidez dos saberes que trouxe consigo uma necessidade de compreender internamente o homem e seus actos O toxicodependente no discurso pol tico convenientemente era intitulado de doente mas na pr tica havia uma incoer ncia ainda era penalizado pelo acto de consumir Em 1983 e 1993 o Legislador deambulou entre estes dois p los de modo indefinido e indefin vel refugiando se no simbolismo Poiares 2000 p 10 Ora se por um lado eram chamados de doentes porque os mandavam para a pris o por consumos N o se podem negar os n meros de detidos consumidores que todos conhecemos Daqui resulta a necessidade de dar voz ao pr prio actor ou Transgressor Investigar compreender e explicar era agora norma para a interven o N o cabia
134. binete de Apoio T cnico GAT da Direc o Regional Norte A partir da extin o do Servi o de Preven o e Tratamento da Toxicodepend ncia passou a integrar o quadro de pessoal da Delega o Regional Norte do Instituto da Droga e da Toxicodepend ncia IDT como T cnica Superior de 2 Classe da carreira T cnica Superior de Regime Geral ramo de Sociologia desempenhando as fun es no Servi o de Coordena o e Apoio T cnico Desde 25 de Maio de 2007 foi nomeada t cnica superior de 1 classe da carreira t cnica rea de planeamento contencioso forma o e gest o do quadro de pessoal transit rio do Instituto da Droga e da Toxicodepend ncia Actualmente integra a equipa multidisciplinar do N cleo de Apoio T cnico da DRN do IDT IP assumindo a fun o de Coordena o das reas Transversais Sistemas de Informa o Investiga o Forma o e Alcoologia Desde 01 de Outubro de 2003 tamb m professora na Escola Profissional de Tecnologia Psicossocial do Porto Todo o conhecimento autoconhecimento Boaventura Sousa Santos 1987 2001 Um Discurso sobre as Ci ncias Porto Afrontamento AGRADECIMENTOS Parece que cheguei ao fim de mais esta etapa da minha vida Uma etapa bastante solit ria como habitual neste tipo de trabalhos acad micos Uma etapa em que aprendi muito mas acima de tudo em que percebi que quanto mais se estuda um assunto menos parece saber se sobre ele que de facto a aprend
135. bito da sua funcionalidade comunicacional o tempo de vida do indiv duo que abarca o processo de socializa o e Ana Rita Valinho dos Santos Marques 29 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal onde se firma a conduta estrat gica pela qual os sujeitos se apoiam em propriedades estruturais do sistema para os reproduzir ou transformar e a longa dura o das institui es onde se depositam os conte dos culturais cumulativos das sociedades Quanto mais os sujeitos absorvem os objectos no tempo longo dos padr es culturais institucionalizados mais coercivo surgir o n vel simb lico no p lo oposto encontram se as representa es re constru das nas interac es quotidianas Moscovici 1988 p 220 221 distinguiu sob estes distintos tempos da contextualidade das pr ticas sociais tr s tipos de representa es sociais Presumivelmente existem tr s formas das representa es se tornarem sociais dependendo das rela es entre os membros do grupo As representa es podem ser partilhadas por todos os membros de um grupo altamente estruturado um partido uma cidade ou uma na o sem terem sido produzidas pelo grupo Estas representa es hegem nicas prevalecem implicitamente em todas as pr ticas simb licas ou afectivas Parecem ser uniformes e coercivas Reflectem a homogeneidade e estabilidade que os soci logos franceses tinham em mente quando lhes ch
136. bordagens cl nicas e epistemol gicas do risco aditivo Porto Disserta o de candidatura ao grau de Doutor em Ci ncias M dicas apresentada ao ICBAS do Porto Farate C 1997 O acto do consumo e o gesto que consome Risco relacional e consumo de drogas no in cio da adolesc ncia Lisboa Climpesi Editores Fatela J 1991 Drogues et ambivalences de la subjectivit in Alain Ehrenberg dir Individus sous influence drogues alcools m dicaments psychotropes Paris Edi es Esprit F lix Ant nio Bag o 14 06 2002 Proposta da Lei sobre o Rendimento Social de Inser o Fernandes L 1993 Territ rios Psicotr picos Agra C Ed Dizer as Drogas Ouvir as Drogas Porto Radic rio Fernandes L 19984 Os Princ pios de Exclus o da Droga Ara jo H G Mota P Seixas P C orgs N s e os Outros Porto Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia Fernandes L 1998b O S tio das Drogas Etnografia das Drogas numa Periferia Urbana Lisboa Editorial Not cias Ana Rita Valinho dos Santos Marques 185 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Fernandes L 1990 Os P s Modernos ou a Cidade o Sector Juvenil e as Drogas estudo te rico metodol gico e pesquisa de terreno Universidade do Porto Porto Fernandes L Neves T 1997 e 1999 Periferias Urbanas Sentimento de Inseguran
137. caba por nos orientar na interpreta o da realidade de forma t o mais coerciva quanto mais hegem nica se configurar O conhecimento e o Tratamento das quest es relacionadas com a droga e o sujeito toxicodependente colocam se decisivamente num plano multidimensional e apelam para uma abordagem interdisciplinar prov vel mesmo que uma produ o transdisciplinar que se arrisque nos interst cios das tradi es de estudo e de interven o resulte melhor do que uma simples adi o de saberes constitu dos numa base disciplinar Qualquer que seja no entanto o n vel de articula o de saberes visado o facto que em Portugal a investiga o nesta rea tem tica se apresenta estritamente segmentada de acordo com crit rios disciplinares e institucionais As raz es para esta orienta o podem ser elencadas e talvez que elas n o sejam muito diferentes das situa es que se conhecem noutras reas N o por isso que este esfor o de invent rio deixaria de se justificar No entanto n o podemos evidentemente ignorar que a especializa o dos olhares e das compet ncias a eles associados tem permitido um aprofundamento progressivo de determinadas zonas do conhecimento e da interven o O nosso prop sito foi criar uma oportunidade que permitisse enriquecer os conhecimentos conseguidos ao n vel de cada campo disciplinar com aqueles conseguidos pelos outros Com esta investiga o constatou se que existe um
138. carreta Por fim sente se o dramatismo N o h uniformidade no processo de tomada de decis es relativas conten o do fen meno em si Ora se defende o controle ora se defende a liberaliza o Sousa 1996 Ana Rita Valinho dos Santos Marques 123 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal PARTE II METODOLOGIA AN LISE E DISCUSS O DOS RESULTADOS 7 METODOLOGIA DA INVESTIGA O 7 1 OBJECTIVOS DA PESQUISA De acordo com a primeira parte desta investiga o a droga e todas as categorias sociais que a tornam um objecto n o decorrem apenas da estrita rela o indiv duo subst ncia mas emergem numa constru o social pela qual as subst ncias se transformam em droga ou seja num objecto de que se partilham efeitos culturalmente induzidos Os conhecimentos sobre a droga e o toxicodependente constroem se a partir de um processo de subsun o das inerentes ncoras emp ricas do objecto em causa no mbito das representa es sociais que produzem e fazem circular o conhecimento dessa realidade Neste sentido temos como objectivo analisar as representa es sociais da droga e da toxicodepend ncia e a forma como os pr prios t cnicos que interv m na rea da toxicodepend ncia a problematizam e conceptualizam As representa es sociais s o marcadas por uma componente funcional significativa na medida em que interferem nos processos cognitivos do sujei
139. ciais necessitam de se corresponder com alguma regularidade externa no sentido cient fico de entidade objectiva A sua verdade e racionalidade resulta da rela o entre o conhecimento representado e a evid ncia dispon vel e n o da rela o entre o conhecimento e o mundo Wagner e Elejabarrieta 1995 p 819 Uma quest o que se coloca em rela o observa o emp rica das representa es sociais relaciona se com os instrumentos conceptuais que permitem aceder ao repert rio simb lico definidor das mesmas A teoria das representa es sociais utiliza conceitos desenvolvidos pela tradi o psicol gica a um n vel individual nomeadamente da Cogni o Social categoriza o atribui o prot tipos mas n o os trata fragmentadamente e descontextualizadamente Envolvendo o accionamento de mecanismos cognitivos de racionaliza o categoriza o atribui o protot pica de estereotipa de atribui o explicativa cobrindo as dimens es descritiva avaliativa e explicativa do pensamento as representa es sociais articulam todos estes conceitos de forma integrada em teorias impl citas que instauram uma consist ncia no relacionamento social do indiv duo proporcionando lhe um entendimento sobre o mundo As representa es sociais operam uma tradu o macro redutiva de formas de entendimento justifica o e racionaliza o a n vel colectivo para n veis mentais individuais que por isso mesmo n o podem ser
140. ciedade Programa os canais pelas quais a exterioriza o produz o mundo objectivo Objectiva este mundo por meio da linguagem e do aparelho cognitivo baseado na linguagem isto ordena o em objectos que ser o apreendidos como realidade em seguida interiorizado como verdade objectivamente v lida no curso da socializa o Desta maneira o conhecimento relativo sociedade uma realiza o no duplo sentido da palavra no sentido de apreender a realidade social objectivada e no sentido de produzir continuadamente esta realidade Berger e Luckmann p 94 Os grupos de toxic manos encontram se estigmatizados e considerados como fen menos desorientadores Assim privilegia se a criminalidade e os comportamentos desviantes destes grupos ao ponto de neles se querer encontrar a sua pr pria ess ncia H entre rotulador e rotulado uma din mica das condutas que se fundamenta em todo um jogo dial ctico das representa es rec procas Ana Rita Valinho dos Santos Marques 120 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Para Becker 1963 o desvio n o uma qualidade particular do acto comprometido por uma pessoa mas sim a consequ ncia da aplica o feita pelos outros de regras e de san es a um culpado O desviante aquele a quem o r tulo foi aplicado com sucesso Esta orienta o leva nos a interrogar nos sobre os diferentes parceiros intervenientes
141. clivagens sociais neste contexto social que passada uma d cada do armist cio o consumo de subst ncias psicoactivas continua a crescer e come a se a constatar que a idade dos novos dependentes come a a descer surgindo uma nova forma de toxicodepend ncia associada agora delinqu ncia juvenil Embora retratando a sociedade inglesa o filme Quadrophenia de Franc Roddan 1979 documenta a agitada exist ncia de bandos de jovens rivais que se enfrentam nas ruas de Brighton pretensamente defendendo conceitos diferentes de m sica e de comportamentos sociais A m sica motos sexo e anfetaminas est o na base desta viol ncia numa cidade industrial com o quadro de uma sociedade de consumo que se veicula um discurso pouco claro face s subst ncias que cada vez mais aniquila o indiv duo em fun o do social com uma nova gera o desejosa de mudar os valores institu dos que entramos nos anos 60 A d cada de Sessenta do s culo passado foi especialmente dram tica nos EUA com a Guerra do Vietname e v rias convuls es sociais que tiveram a sua g nese nas situa es j referidas anteriormente No que se refere ao consumo de subst ncias existem v rias vertentes a O uso abuso de medicamentos ansiol ticos e estimulantes por uma faixa da sociedade integrada e instalada face ao status quo b A entrada dos opi ceos nos guetos dos EUA c O uso de subst ncias alucinog neas pela camada juvenil universit ria no
142. como instrumentos estrat gicos fundamentais e essenciais pol tica da Preven o Prim ria das toxicodepend ncias constituindo se como os projectos que mais requereram das Unidades de Preven o participa o activa e avalia o qualitativa Ana Rita Valinho dos Santos Marques 73 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 4 2 A POL TICA DO TRATAMENTO O saber armazenado ao longo dos ltimos anos a muta o r pida da realidade da toxicodepend ncia o tipo de subst ncias consumidas os contextos dos consumos e as caracter sticas dos consumidores a evolu o permanente dos conceitos e das modalidades terap uticas fazem da rea do Tratamento um espa o capaz de se flexibilizar para se adaptar permanentemente s solicita es e s mudan as que ocorrem a todo o momento De uma primeira fase de atendimento psiqui trico de algum insucesso passou se para uma abordagem psicoterap utica de orienta o anal tica iniciada em 1978 pelo CEPD do centro Coimbra Neste seguimento e aquando da cria o dos Centros de Estudos de Profilaxia da Droga em 1976 em Portugal as ac es na rea do Tratamento abriram uma nova consci ncia nacional baseada numa supravaloriza o da depend ncia em rela o s subst ncias psicoactivas e sua desabitua o entendendo que o simples acto de extinguir a depend ncia f sica conduziria a bom porto resolu o do
143. compreens o das formas de categoriza o e inser o dos sujeitos nos contextos sociais Ana Rita Valinho dos Santos Marques 36 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 3 ASPECTOS HIST RICOS CULTURAIS E SOCIAIS DO USO DE SUBST NCIAS PSICOACTIVAS 3 1 DA ANTIGUIDADE CL SSICA AT AOS NOSSOS DIAS A partir da leitura da bibliografia o que ressalta de comum entre diferentes artigos a utiliza o de subst ncias psico activas tanto em contextos religiosos como m dicos sendo ainda referido em alguns textos a sua utiliza o recreativa Existem refer ncias aos registos b blicos nos quais as subst ncias est o ligadas quer ao seu uso recreativo quer terap utico Na Antiguidade Cl ssica v rias civiliza es usavam subst ncias como vinho c nhamo mirra pio e coca trazidas actualmente ao conhecimento cient fico pelo que com certeza muitas outras subst ncias e seus derivados naturais ter o funcionado quer como medicamento quer como mediador nos rituais religiosos e s mbolos de uma identidade cultural Na Idade M dia S culos X ao XV embora este per odo esteja caracterizado temporalmente a partir do s culo X poss vel ver descritas na literatura algumas notas relativas a per odos anteriores Por exemplo o pio foi introduzido na ndia e na China atrav s dos rabes cerca do s culo VIIIX sendo o seu uso limitado a fins terap
144. ctos do Tratamento dos toxicodependentes os m dicos preambulavam as suas respostas com senten as do tipo Como m dico Na medicina Os estudos m dicos Para a medicina Neste sentido estes t cnicos referem que o aumento do n mero de toxicodependentes e a infec o pelo v rus da SIDA obrigaram a redefinir os programas de Preven o e Tratamento da toxicodepend ncia Na sua opini o o m dico preocupa se em perceber a linguagem do doente discriminar as verdadeiras etiologias e compreender as viv ncias da pessoa que procura ajuda Contudo salientam que a capacidade de interven o dos m dicos pode ser bastante limitada se n o forem enquadrados em equipas pluridisciplinares que incluam um suporte t cnico diferenciado j que o seu papel no Tratamento dos toxicodependentes passa muito por um paradigma dominado por modelos puramente organicistas e as possibilidades de realizar outro tipo de interven es s o muito limitadas uma vez que existe uma enorme falta destes t cnicos no servi o A maioria dos utentes dos CAT s est abrangida pelos chamados Programas de Substitui o tomando Metadona ou Buprenorfina quase parecendo que n o h mais alternativas o que n o verdade existem programas de desabitua o domicili rio ou em internamento e paragens de consumo base de subst ncias Antagonistas Mas estas abordagens exigem um acompanhamento mais caro multidiscipl
145. d ncia ou doen a Este parece ser um bom exemplo dos caminhos metodol gicos que podem ser percorridos aos a priori que comandam este campo A necessidade de uma tipologia de carreiras de toxicodependentes emerge da reac o tend ncia comum tanto nas discuss es profissionais como nas populares acerca do abuso de droga e particularmente da toxicodepend ncia de narc ticos para olhar indiv duos t o dependentes como pertencendo a uma classe ou a um grupo mais ou menos homog neo Esta assump o de uniformidade por vezes expl cita como nas discuss es nos jornais a respeito do heroin mano mas a maior parte das vezes est impl cita como nas pesquisas envolvendo o delineamento dos dependentes e dos n o dependentes atrav s de respostas dadas a testes psicol gicos Nurco et al 1981 p 1306 Ana Rita Valinho dos Santos Marques 21 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 2 A TEORIA DAS REPRESENTA ES SOCIAIS As representa es sociais s o um dom nio particularmente problem tico Apesar de ser dif cil encontrar uma defini o consensual para o conceito de representa o social necess rio que exista um conjunto n tido de ideias delimitadoras dos espa os te ricos por onde se move a defini o de representa o social Se concebermos a representa o social como um processo de constru o social da
146. d the intervention practices are very well conditioned by the different social representations of drug addicton However behind an apparent consensus different discourses and representative practices emerge which are conditioned by policies laws and by the educational academical background of the interviewed professionals Key words Drug s Drug addiction s Social and Health Policies Social Representations Health Professionals ndice O Introdu o da Problem tica e Objectivos da Pesquisa I PARTE ENQUADRAMENTO TE RICO E POL TICO DA PROBLEM TICA EM ESTUDO 1 Roteiro conceptual das no es de droga e de toxicodepend ncia 1 1 A no o de droga 1 2 A no o de toxicodepend ncia 2 teoria das representa es sociais 2 1 Representa es sociais e atribui es 2 2 Representa es sociais e estere tipos 2 2 1 Fun es sociais dos estere tipos 3 Aspectos hist ricos culturais e sociais do uso de subst ncias psicoactivas 3 1 Da Antiguidade Cl ssica aos nossos dias 3 2 O fen meno da droga em Portugal 4 Enquadramento hist rico das pol ticas sociais e das respostas institucionais em torno do objecto droga e do toxicodependente 4 1 A pol tica da Preven o 4 2 A pol tica do Tratamento 4 3 A pol tica da Redu o de Riscos e Minimiza o de Danos 4 4 A pol tica da Reinser o Social dos toxicodependentes 4 4 1 Programa
147. da desviantes mas obedecendo a formas de adapta o racionais que aspiram a uma integra o Diferentes investiga es feitas nos EUA Nurco et al 1981 e por exemplo mais recentemente em Fran a Bouhnik 1998 revelaram a sua heterogeneidade de pap is e traject rias sociais que recobrem aqueles que centram a sua vida em torno do consumo de drogas ilegais onde a par dos derrotados coexistem os competentes os integrados e outras personagens com percursos mais ou menos prec rios Mas um programa de investiga o articula se em torno de uma estratifica o de n veis de pr tica te rica O que significa que apesar da abordagem sociol gica poder recusar os priori das investiga es epidemiol gicas ter que dispor de indicadores conceptuais que lhe permitam aceder aos seus objectos de estudo podendo este definir se como o das pr ticas toxicodependentes Ent o a que conceito recorrer Uma solu o pragm tica que acompanha a elasticidade do fen meno mas que n o anula a formula o de um quadro te rico com n veis de refer ncia mais abstractos foi adoptada por exemplo por Dan Waldorf no seu estudo sobre as pr ticas de consumo de coca na nos EUA no final dos anos 80 Neste estudo Waldorf 1991 p 39 40 adoptou no es descritivas associadas aos problemas relacionados com a coca na que Ana Rita Valinho dos Santos Marques 20 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Repre
148. da Sa de Antes de verificarmos o que dizem os especialistas da toxicodepend ncia interessa ent o reflectir um pouco sobre o conceito de doen a ou doente Sournia 1992 p 18 numa an lise hist rica da medicina refere que a no o de doen a diferente de um povo para outro e de gera o para gera o aqui normalidade ali inquieta o dor considerada toler vel por um grupo necessidade de hospitaliza o noutro esterilidade ou enfermidade aceite entre uns e rejeitada por outros Neste sentido Kleinman 1978 1980 1992 e Good 1977 1988 Zempl ni 1985 in Ramos 2004 p 103 a doen a culturalmente constru da no sentido de que a forma como a percebemos e como lidamos com ela baseada nas nossas explica es de doen a nos sistemas de valores e nas posi es sociais que ocupamos havendo no mundo e nos diferentes sistemas de valores e nas posi es sociais que ocupamos e nos diferentes sistemas culturais uma grande variedade de representa es de sa de e doen a uma pluralidade de recursos aos cuidados e diferentes modelos explicativos de sa de e doen a Ser doente implica incorporar essa mesma doen a como se a sua identidade fosse constru da nesse pressuposto o que se passa com o toxicodependente ser doente implica que todo o seu funcionar todo o seu ser ser em fun o disso e do que simbolicamente isso acarreta Ser toxicodependente portanto implica a constru o de u
149. da sua fam lia Ana Rita Valinho dos Santos Marques 84 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal As v rias defini es de Reinser o anunciam pontos comuns apesar de que temos certeza que n o h um modelo ou conceito nico No entanto importa real ar alguns elementos centrais quando se fala de Reinser o Y um processo de socializa o ou ressocializa o do indiv duo Y um processo de reestrutura o pessoal e recupera o da auto imagem Y um processo de constru o de um projecto de vida satisfat rio e sustent vel v Implica a fam lia e a pr pria comunidade onde o consumidor se insere V A comunidade ter que ser um aliado activo em todo este processo A Reinser o Social afigura se fundamental no processo de Tratamento Enquanto forma de Preven o da reca da permite ao indiv duo perspectivar se no futuro e uma etapa basilar na aquisi o e reaquisi o de aptid es sociais pessoais e profissionais dif cil afirmar quando que o indiv duo que teve um percurso de toxicodepend ncia est curado Efectivamente at existem modelos de Tratamento que consideram que n o existe cura em toxicodepend ncia Um indiv duo toxicodependente est sempre em Tratamento nunca deixa de ser toxicodependente Os Programas de Reinser o devem iniciar se no momento de iniciar o Tratamento e continuar na fase p s Tratamento U
150. dades do SPTT 2000 Lisboa SPTT Sheva Maia 2005 Perspectivas Te rico Metodol gicas em representa es sociais Pref cio Moscovici S Editora Universit ria UFPB Jo o Pessoa Para ba Brasil Spink M J P 1994 A medicina e o poder de legitima o das constru es sociais de igualdade e diferen a Uma reflex o sobre cidadania e g nero in A Cidadania em Constru o Uma Reflex o Transdisciplinar M J P Spink org S o Paulo Cortez Soares A 2001 Uma proposta integrativa na terapia cognitiva da toxicodepend ncia Toxicodepend ncias Ano 7 n 2 Lisboa SPTT pp 29 49 Souza F Edson A 1993 An lise de representa es sociais in Mary Jane Spink org O Conhecimento no Cotidiano as Representa es Sociais na Perspectiva da Psicologia Social S o Paulo Editora Brasiliense Sournia J C 1992 Hist ria da Medicina Lisboa Editions La Decouverte Instituto Piaget Szasz T 1994 La pers cution rituelle des drogu s boucs missaires de notre temps le contr le d tat de Ia pharmacop e Paris Les ditions du L zard 1974 Tajfel H 1982 Social psychology of intergroup relations Annual Review of Psychology pp 1 39 Vala J 1993a Representa es sociais para uma psicologia social do pensamento Social in J Vala M Monteiro eds Psicologia Social Lisboa Funda o Calouste Gulbenkian Vala J 1993b
151. de interac o entre Legislador Aplicador e Transgressor Exemplo disso o limite m nimo para a pena em anos por tr fico De seis anos passou para quatro em 1993 Assim todos os actores envolvidos Legislador Aplicador e Transgressor tocam se e modificam os seus discursos O que os liga ou ainda a forma de comunicarem entre si tem muito em conta os Saberes de que se servem nomeadamente as Ci ncias do Comportamento Humano portanto deste tri ngulo comunicacional desta rela o que v o surgindo outras mudan as nas Leis ou na forma de se ver o toxicodependente A 5 de Fevereiro de 1999 pelo Decreto Lei n 31 d se a cria o do Instituto Portugu s da Droga e da Toxicodepend ncia no entanto durante um curto espa o de tempo o Projecto Vida e o IPDT desenvolveram a sua actividade concomitantemente No ano seguinte a 18 de Maio de 2000 atrav s do Decreto Lei n 90 verificou se uma altera o da Lei Org nica do IPDT que pressupunha a fus o de um organismo com o outro Este organismo tinha como objectivo organizar toda a mat ria de Preven o Prim ria do consumo de drogas e da toxicodepend ncia incluindo a interven o na comunidade o apoio de iniciativas p blicas e privadas de informa o e forma o a recolha e Tratamento da informa o a avalia o de pol ticas e a promo o da investiga o cient fica Com a lei n 30 2000 de 29 de Novembro s o criadas as Comiss es para a Dissuas o da Tox
152. defende a Preven o da toxicodepend ncia mais do que evitar que um grupo alvo se inicie no percurso das drogas sobretudo o questionar das raz es que o levam a tal e uma interven o dirigida s quest es de fundo que conduzem mais do que experimenta o perpetua o do comportamento e cria o da rela o psicol gica com a s subst ncia s Com o Projecto Vida a Preven o Prim ria passou a ser considerada rea priorit ria e uma forma de abordagem precoce dos problemas junto dos grupos alvos espec ficos As ac es implementadas no mbito da Preven o Prim ria contemplaram para al m da comunidade escolar toda a comunidade em geral e jovens n o escolarizados Neste sentido o Gabinete do Alto Comiss rio atrav s da sua rea operacional entendeu promover programas integrados nas reas da sa de educa o fam lia juventude comunidade e meio laboral visando a redu o do consumo de subst ncias t xicas Ana Rita Valinho dos Santos Marques 68 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal estrat gias de informa o educa o e forma o espec fica aos profissionais de sa de e outros agentes educativos Com car cter de continuidade dos programas preventivos de 1979 nomeadamente do Programa de Professores Mediadores o Minist rio da Educa o cria nos anos 80 conjuntamente com o Projecto Vida o Programa Professores Operadore
153. depend ncia Horizonte 2004 Estas iniciativas correspondendo ao ponto mais elevado de estabilidade pol tica na hist ria das drogas em Portugal conduziram a ac o governativa a uma nova intencionalidade pol tica no per odo de 2000 a 2004 Foi de facto com as altera es do quadro de consumos nos finais dos anos 90 que o sistema pol tico arriscou a possibilidade de em 2000 alimentar uma nova din mica expressa na descriminaliza o do consumo de drogas Esta evolu o efectiva da abordagem do fen meno permitiu superar as descontinuidades e retrocessos sofridos no passado Neste sentido e ainda no per odo de 2000 2004 procedeu se ao balan o da Estrat gia Nacional com vista prepara o de uma nova Estrat gia imposta pelos padr es europeus Poder se deste modo concluir que a evolu o da pol tica das drogas em Portugal entre 1970 e 2004 permitiu gerar intencionalidade pol tica atrav s de novas possibilidades novos objectos de an lise produzir mudan as e sobretudo reconstituir o real atrav s de uma permanente revis o de conceitos posi es e estrat gias pol ticas Deste modo analisar e compreender as pol ticas das drogas em Portugal pelo per odo entre 1970 e 2004 foi sobretudo descrever uma traject ria que se iniciou com a decad ncia de um modelo repressivo 1979 e terminou na domin ncia de um modelo de descriminaliza o do consumo de drogas 2004 Fez parte do nosso prop sito d
154. directamente como pelos outros os que com ela se confrontam e muitas vezes se afrontam a partir de um complexo de significa es que segregam um espa o discursivo uma linguagem um conhecimento funcional que organiza todo o tipo de pr ticas sociais que se relacionam com este objecto A droga um objecto a que se tem acesso atrav s das representa es e em que a representa o da droga cria ao mesmo tempo a imagem e o seu referente Aceder droga n o pode ser assim encarado como um acto passivo mero reflexo na consci ncia de um objecto ou de um conjunto de ideias A teoria das representa es sociais ao focalizar a pilotagem colectiva emersa no contexto social geradora de um conhecimento funcional constitui uma apropriada ferramenta te rica que nos d conta da produ o de sentido que constr i a droga Hoje a toxicodepend ncia considerada pela Medicina Sa de P blica e pelas ci ncias sociais uma doen a de cariz social geradora de disfun o social A reac o da sociedade face ao consumo de subst ncias t xicas passa por tr s fases distintas ignor ncia alerta e dramatismo controle ou liberaliza o Primeiro verifica se alguma ignor ncia e o consumo vai sendo permitido Depois face ao elevado n mero de pessoas a utilizarem as drogas e manifestarem se dist rbios da personalidade d se a fase do alerta A sociedade passa a sentir se afectada pelo desequil brio que o acentuado n mero de consumidores a
155. dores A massifica o do consumo de drogas nas sociedades contempor neas e as regularidades sociais formadas na expans o destes consumos problem ticos deram relevo s explica es centradas no social que relacionam estes comportamentos com fen menos como o s problemas de desorganiza o social proveniente s da urbaniza o da sociedade o desemprego a pobreza as m s condi es habitacionais as discrimina es sociais as culturas juvenis e os valores que orientam as pr ticas Nas ltimas d cadas t m existido v rias quest es em rela o ao Tratamento na rea do abuso e depend ncia de subst ncias Ser que este funciona Como se estrutura De acordo com o Expert Committee on Drug Dependence WHO 1998 2000 in Borges e Filho 2004 a palavra Tratamento relaciona se com o processo que tem in cio quando os indiv duos que abusam de subst ncias psicoactivas entram em contacto com um prestador de sa de ou com qualquer outro servi o comunit rio e que pode continuar atrav s de uma sucess o de interven es espec ficas at que seja atingido o mais alto n vel de sa de e de bem estar Ana Rita Valinho dos Santos Marques 114 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Todo e qualquer cidad o tem as suas opini es sobre muito assuntos e naturalmente tamb m sobre as quest es da sa de Tamb m sobre a problem tica da droga as pesso
156. dos ao n vel de cada campo disciplinar Em Portugal e n o s a sociedade preocupa se com a droga Encontramos os dados mais d spares do problema droga Os n meros n o falam por si por este facto apesar dos resultados quantitativos que podemos encontrar e que passaremos a analisar no ponto relativo an lise e discuss o dos resultados a nossa preocupa o assenta numa preocupa o da pr pria sociedade Quem s o os toxicodependentes Mas o que a droga A que se deve a toxicodepend ncia Qual o papel dos t cnicos que trabalham na rea da toxicodepend ncia entre muitas outras quest es que poderiam ser aqui formuladas Uma op o tomada aquando do recorte do objecto de estudo relaciona se com o facto de n o termos pensado em subst ncias concretas como o haschiche a hero na ou a coca na por exemplo mas em fun o de uma categoria gen rica que a droga designadamente as ilegais Ao definirmos a subst ncia e o papel dos t cnicos face ao toxicodependente tivemos em conta que o prop sito deste estudo visa estudar as representa es sociais dos t cnicos que actuam nesta rea e os discursos que estes foram produzindo ao longo das diferentes pocas Com o objectivo geral de descrever e compreender a evolu o fenomenol gica das respostas institucionais e dos diferentes t cnicos em torno da droga e da toxicodepend ncia esta investiga o assume duas partes essenciais Na parte I desta investiga
157. droga n o ter adquirido uma dimens o ainda maior Um profissional de sa de seja m dico enfermeiro psic logo cl nico farmac utico assistente social fisioterapeuta terapeuta ocupacional t cnico psicossocial etc pelo facto de o ser n o deixa de ser pessoa igual e diferente do seu semelhante Mas pelo facto de ser profissional de sa de tem uma responsabilidade social particular e dever assumi la participar na melhoria da condi o de sa de da pessoa que nele confia O mandato social que tem e a fun o que deve exercer n o podem servir para culpabilizar ou explorar emocionalmente ou financeiramente os seus semelhantes doentes ou familiares destes Ana Rita Valinho dos Santos Marques 115 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Se pretender ajudar os outros se tem responsabilidades no Tratamento de doentes tem que ter sempre presente que tamb m pessoa E naturalmente que n o pode fazer discrimina es quando o seu semelhante tem problemas de toxicodepend ncia Tem sido crescente o n mero de profissionais de sa de que mostram interesse pela compreens o das toxicomanias contempor neas mas h que reconhecer que a grande maioria ainda n o usufruiu de suficiente informa o ou forma o nesta rea Tal falha n o pode justificar que muitas destas pessoas se mantenham alheias a este fen meno nem como profissionais nem como cidad os
158. e esta problem tica Termina assim esta investiga o mas n o o espa o de reflex o Ana Rita Valinho dos Santos Marques 178 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 10 BIBLIOGRAFIA Abric J C 1989 L tude exp rimentale des repr sentations sociales in D Jodelet Les repr sentations sociales Paris Presses Universitaires de France pp 187 203 Abric J C 1994 Pratiques sociales et representations Paris Presses Universitaires de France Agra C 1993 Dizer a Droga Ouvir as Drogas estudos te ricos e emp ricos para uma ci ncia do comportamento aditivo colab Teixeira J M Negreiros J Fernandes L Porto Instituto de Ci ncias Sociais do Comportamento Desviante Agra C 1995 Da Raps dia Sinfonia epistema Os modos elementares do pensamento das drogas Toxicodepend ncias Ano 3 n 3 Lisboa SPTT pp 47 59 Agra C 1998 Entre droga e crime Actores espa os traject rias Lisboa Editorial Not cias Akers R L 1991 Addiction the troublesome concept in The Journal of Drug Issues 21 4 pp 7771 793 Am ncio L 1989 Factores Psicossociol gicos da Discrimina o da Mulher no Trabalho Disserta o de doutoramento n o publicada Lisboa ISCTE American Psychiatric Association APA 1993 Manual Diagn stico e Estat stica das Perturba es Mentais Odivelas E
159. e ou justi a assumem uma responsabilidades social que surge no mbito do papel fulcral que as pr prias institui es t m vindo a assumir nas sociedades de hoje na procura de solu es para os problemas sociais emergentes e para o bem estar geral das popula es Parece assumir cada vez mais relevo a ideia de que dependem em grande parte da ac o das institui es os n veis de desenvolvimento dos Ana Rita Valinho dos Santos Marques 133 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal pa ses Esta ac o e este papel das institui es incorpora a dimens o de responsabilidade social relativamente aos saberes que se conhecem e re produzem em torno dos diferentes objectos ou problem ticas em estudo N o f cil para uma s rea disciplinar de an lise perceber a exist ncia num mesmo sujeito do delinquente da v tima e do doente numa tripla conex o que s pode ser entendida se observada luz da interdisciplinaridade e da pluridisciplinaridade Hoje em dia pode dizer se igualmente que existe uma politoxicodepend ncia isto o consumo de v rias subst ncias em simult neo com os medicamentos psicotr picos a terem tamb m um grande peso No entanto o haxixe sem d vida o mais consumido seguindo se os tranquilizantes barbit ricos anfetaminas hero na e coca na estando o consumo desta ltima a aumentar bastante A passagem do consumo
160. e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal toxicodepend ncias nos sectores social e privado e fiscalizar o cumprimento desses requisitos Desenvolver promover e estimular a investiga o e manter um sistema de informa o sobre o fen meno das drogas e das toxicodepend ncias que lhe permita cumprir as actividades e objectivos enquanto membro do Observat rio Europeu da Droga e da Toxicodepend ncia OEDT Assegurar a coopera o com entidades nacionais e internacionais nos dom nios da droga do lcool e das toxicodepend ncias As suas principais reas de interven o s o a Preven o Tratamento Redu o de Riscos e Minimiza o de Danos Reabilita o Dissuas o Investiga o e monitoriza o Forma o e Rela es Internacionais Passamos agora a apresentar a evolu o das respostas que existem na rea da toxicodepend ncia Importa antes de mais salientar que existem quatro modalidades de resposta designadamente A Unidades P blicas que s o Unidades que integram a Rede Nacional de Unidades de Tratamento do IDT B Unidades Privadas que s o todas as Unidades de presta o de cuidados de Sa de na rea da toxicodepend ncia s quais foram atribu das pelo ZDT licen as de funcionamento S estas unidades podem aceitar toxicodependentes em Tratamento Decreto Lei n 16 99 de 25 Janeiro e Decreto Lei n 13 93 de 15 Janeiro C Unidades Privadas Convencionadas tendo
161. e acordo com esta perspectiva o indiv duo toxicodependente dever ter a liberdade de decidir entre tratar se ou n o Na ptica de um dos psic logos entrevistados o Tratamento e as estruturas de Tratamento est o demasiado orientadas para programas que exigem a suspens o de consumos isto tem que ver com o modelo m dico da cura e da doen a cria se muitas vezes uma autoridade cl nica sobre o desejo individual tem que suspender os consumos n o reconhecendo o direito individual a desejar traject rias alternativas 34 anos a trabalhar h 8 anos no IDT Na ptica da maioria dos entrevistados a pr pria lei org nica e o regulamento interno do pr prio Instituto da Droga e da Toxicodepend ncia mant m a separa o entre Tratamento Reinser o Social e Redu o de Danos reificando um preconceito antigo aa Ana Rita Valinho dos Santos Marques 156 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal A segunda quest o tinha como objectivo perceber se os t cnicos conhecem utilizam e identificam as diferentes estrat gias de Tratamento Quadro n 7 Dimens es Indicadores Programas de Substitui o Interven es Psicoterap uticas Socioterapia Modalidades de Programas Livres de Drogas Tratamento Tratamento em Ambulat rio Unidades de Desabitua o Comunidades Terap uticas Centro de Dia Apartamento
162. e consumo que envolvem um sem n mero de medicamentos facilmente acess veis popula o Neste sentido consideram que necess rio realizar sistematicamente uma avalia o do pedido e das respostas que se apresentam Entre todos os t cnicos encontramos afirma es como permite adequar o programa de Tratamento s necessidades dos utentes m dicas sociais M dico 43 anos a trabalhar h 12 anos no IDT permite corrigir as op es terap uticas permite generalizar as boas pr ticas M dico 58 anos a trabalhar h 20 anos no IDT a avalia o da interven o sempre necess ria e pertinente para percebermos a adequa o das estrat gias utilizadas e conhecermos os resultados da nossa interven o e para aperfei oarmos a pr tica Relativamente interven o na rea das toxicodepend ncias parece me que esta tem sido uma quest o esquecida n o existindo uma avalia o s ria consistente e com continuidade do trabalho efectuado Psic logo 40 anos a trabalhar h 15 anos no IDT fundamental reflectir as Ana Rita Valinho dos Santos Marques 164 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal pr ticas dada a complexidade do fen meno torna se fundamental avaliar permanentemente as nossas pr ticas Avaliar para compreender para reflectir as pr ticas e reformular os procedimentos Enfermei
163. e cren as e valores sociais Ana Rita Valinho dos Santos Marques 5 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Esta investiga o n o est direccionada nem para os pr prios nem para os potenciais Dirige se aos outros forma como os t cnicos conceptualizam a subst ncia droga os seus utilizadores toxicodependentes assim como o seu papel nesta traject ria Neste sentido temos como objectivo responder s seguintes quest es V Perceber se existe uma rela o entre as representa es sociais que os diferentes t cnicos t m sobre a interven o no Tratamento da toxicodepend ncia e se estas influenciam as modalidades de interven o que utilizam Indicar as estrat gias de Tratamento que se conhecem e utilizam Caracterizar as cren as de auto efic cia da interven o dos t cnicos que trabalham na rea da sa de em torno da problem tica da toxicodepend ncia Explicitar em que medida a avalia o das pr ticas dos t cnicos permite adequar a interven o Perceber em que medida as representa es sociais sobre o fen meno da toxicodepend ncia condicionam os discursos dos t cnicos de sa de que interv m nesta rea Por fim na conclus o sistematizam se algumas conclus es gerais com base nos principais resultados desta investiga o Ana Rita Valinho dos Santos Marques 6 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s
164. e investiga o perscrutar incisivamente sobre os aspectos relacionados com o fen meno das drogas na esfera nacional e determinar em que medida as representa es sociais da droga e da toxicodepend ncia t m potenciado a influ ncia da evolu o das pol ticas das drogas em Portugal Baseada na evid ncia Ana Rita Valinho dos Santos Marques 171 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal hist rica o caminho percorrido reflecte o que na actualidade question vel e real num contexto din mico complexo e reformador do axioma pol tico nacional procurando contribuir para uma melhor compreens o do fen meno das drogas em Portugal nomeadamente das suas continuidades interrup es revis es e previs es ao longo das diferentes pocas O debate p blico multidisciplinar sobre a compreens o do fen meno da toxicodepend ncia e sobre linhas de orienta o da interven o sobre o mesmo deu origem ao documento Estrat gia Nacional de Luta contra a Droga Resolu o do Conselho de Ministros n 46 99 DR I S rie de 26 de Maio de 1999 Neste documento para al m da import ncia que se d internacionaliza o do fen meno e conjuga o de estrat gias e pol ticas internacionais sobre a toxicodepend ncia que est o consagrados no princ pio da coopera o internacional h a inclus o do princ pio da Preven o que preconiza a primazia das interven es pr
165. e saberes assim como a experi ncia profissional que foi adquirindo ao longo dos anos Este t cnico refere que a minha representa o social sobre a toxicodepend ncia foi se modificando com o tempo devido a factores como a forma o recebida a experi ncia profissional a partilha com outros t cnicos a mudan a de directrizes e politicas assim como factores pessoais e sociais amadurecimento como pessoa comunica o social conviv ncia com outras perspectivas Esta modifica o na representa o social sobre a toxicodepend ncia modificou naturalmente a minha perspectiva sobre a interven o no Tratamento e a interven o como profissional Penso assim que a representa o social que tenho sobre o Tratamento influenciou em cada momento a minha escolha Ana Rita Valinho dos Santos Marques 154 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal no modelo de interven o mais apropriado tendo criado e amadurecido uma representa o que embora se possa enquadrar na representa o de outros t cnicos considero ser pessoal 31 anos a trabalhar h 6 anos no IDT E tamb m os t cnicos psicossociais reproduzem um discurso em que se evidencia o papel do t cnico nesta problem tica Neste sentido a par de considerarem que a sua interven o sujeita s representa es sociais que t m sobre o fen meno estes referem O t cnico dever pensar imparc
166. e se desenvolvem em locais fixos tais como Comunidades Terap uticas CAT s Farm cias Centros de Sa de Estabelecimentos Prisionais e outras institui es e os que decorrem da actividade de equipas de sa de que se deslocam em carrinhas devidamente apetrechadas Unidades M veis Em fun o do tipo e manuten o do consumo abusivo de drogas os Programas de Substitui o Opi cea PSO com Metadona podem ainda classificar se em alto m dio e baixo limiar de exig ncia em fun o dos objectivos do Tratamento ajustados a cada pessoa Programas de Alto Limiar de exig ncia nos programas de alto limiar o objectivo fundamental a abstin ncia a aus ncia total de consumo de subst ncias psicoactivas Este tipo de programa implica uma aceita o de regras e crit rios claros que incluem a frequ ncia obrigat ria peri dica a consultas m dicas e ou psicoterap uticas controlo peri dico de pesquisa de metabolitos na urina outras an lises laboratoriais e a abstin ncia de outras drogas para al m Ana Rita Valinho dos Santos Marques 143 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal da hero na O incumprimento do compromisso assumido pode resultar na exclus o do programa Estes programas podem decorrer durante anos dependendo este factor do tempo que o utente necessita para estabilizar a gest o da sua vida Patr cio 1997 p 320 Programas
167. e tend ncias semelhantes que a procura de novos doentes Quadro n 4 Evolu o do n mero de doentes por Programa de Substitui o Opi cea METADONA 1 830 Do oC 4 088 ME 5 343 7 598 Eos Co io 10 157 1 987 9 765 10 438 11 315 Fonte Informa o elaborada pela autora a partir de dados recolhidos em relat rios de actividades do ex SPTT e IDT 7 2001 9 664 527 7 O LAAM deixa de ser ministrado O A Buprenorfina ainda n o era ministrada O Tratamento com administra o de medicamentos est banalizado em Portugal podendo distinguir se o Tratamento de Substitui o e o Tratamento com Antagonistas At 1997 desconhece se o n mero de utentes segundo os Programas de Substitui o Ana Rita Valinho dos Santos Marques 141 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal De acordo com a OEDT 2004 actualmente s o mais de 25 os consumidores de opi ceos na Uni o Europeia que integram Programas de Substitui o de opi ceos De 1999 a 2003 o n mero de indiv duos que recebem este tipo de Tratamento cresceu de 320 000 para 410 000 Portugal apresenta dados que revelam uma expressiva evolu o do n mero de indiv duos em Tratamento com Substitui o em 1997 2 115 toxicodependentes e em 2005 15 832 indiv duos As estimativas apontam tamb m para o facto de que um ter o dos toxicodependentes com consumos problem ticos de opi ceos na Uni o
168. ecto ou situa o As representa es s o determinadas pelo vivido do sujeito pelo sistema social e ideol gico em que este se insere e pelo tipo de la os entre ele e o sistema social Ou seja s o condicionadas pela combina o de experi ncias individuais e a totalidade das circunst ncias sociais uma aproxima o que se prende apenas com factores observ veis mas que acentua as dimens es simb licas e as significa es Moscovici 1984 O campo da droga dominado do saber cient fico ao senso comum das pr ticas institucionais s interac es quotidianas por explica es estruturais e determin sticas assentes num conhecimento que invoca a sua valida o em factos emp ricos objectivos mas que se firma antes de mais na instaura o de ordens normativas convencionais Ana Rita Valinho dos Santos Marques 173 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal constru das com maior ou menor consenso pelos poderes s cio pol ticos O problema da toxicodepend ncia um dos mais complexos para os v rios profissionais m dicos psic logos soci logos pol ticos e economistas dado o seu impacto n o s sobre cada indiv duo mas tamb m sobre a sociedade e o equil brio de cada pa s Mais do que qualquer outra doen a social o abuso de drogas interessa a um grande n mero de disciplinas e de servi os Tem repercuss es sobre todos os aspectos da vida
169. efic cia maior transpar ncia e uma maior exig ncia e rigor na atribui o e fiscaliza o Alteram se a filosofia e as regras para se gastar melhor com quem efectivamente mais carece de apoio E procura se melhorar a fiscaliza o para distribuir com mais qualidade social Ant nio Bag o F lix proposta da Lei sobre o Rendimento Social de Inser o 14 06 2002 Assim sendo o RSI vem refor ar a natureza social do Rendimento M nimo Garantido pois vai no sentido de promover a inclus o dos mais carenciados os mais vulner veis os mais fragilizados e aqueles em rela o aos quais a pobreza afecta de forma mais severa A justi a social refor a se apoiando diferentemente aquilo que desigual e n o em igualizar o que carece de Tratamento diferenciado idem Por outro lado vem real ar o car cter transit rio da presta o penalizando de forma mais severa o incumprimento dos compromissos assumidos pelos titulares e benefici rios bem como qualquer comportamento considerado abusivo ou fraudulento e introduzindo condi es mais restritas ao acesso e manuten o do direito presta o por isso termina com a renova o autom tica do direito instituindo a necessidade de apresenta o de meios de prova legalmente exigidos para renovar o direito ao RSI e ao n vel da fiscaliza o Ana Rita Valinho dos Santos Marques 91 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Po
170. em vista a cria o de uma Rede Nacional de Unidades de Tratamento Unidades Terap uticas Cl nicas de Desabitua o e Centros de Dia estabelece se que o Estado atrav s do IDT dever estabelecer conven es com unidades privadas de sa de com ou sem fins lucrativos visando proporcionar Tratamento a todos os que o queiram e que para tal tenham indica o cl nica Despacho Conjunto n 261 A 99 D R II s rie n 70 de 24 03 99 D Unidades Privadas n o Convencionadas que s o Unidades Licenciadas pelo IDT mas que n o beneficiam de conven o O enfoque desta an lise assenta na al nea A j que foi necess rio delimitar o nosso objecto Ana Rita Valinho dos Santos Marques 136 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Quadro n 2 Abertura por anos 1986 a 2005 das estruturas do IDT que d o resposta ao fen meno da toxicodepend ncia E pes Ea E 3 NAT N cleo de Atendimento a Toxicodependentes Fonte Informa o elaborada pela autora a partir de dados recolhidos em relat rios de actividades do ex SPTT e IDT Ainda n o se encontravam em funcionamento Pela leitura do quadro n 2 poss vel observar as Unidades prestadoras de cuidados de sa de que o toxicodependente tem ao seu dispor Facilmente se constata que o n mero de Centros de Atendimento a Toxicodependentes aumentou significativamente desde 1996 J no Projec
171. em risco de se perder em determinadas situa es Costa 1995 Neste tipo de Tratamentos a vontade demonstrada pelo indiv duo em reduzir os riscos para a sua sa de modifica a sua rela o com a droga conseguindo deste modo reconstituir o contexto socioafectivo e laboral viabilizando assim a mudan a desejada No in cio esta pode constituir apenas uma redu o na quantidade e frequ ncia dos consumos ou uma alternativa via de administra o de droga injectada n o fundamental nem emergente a abstin ncia imediata r pida e definitiva O pr prio indiv duo com o apoio da equipa multidisciplinar encontrar o momento para viver sem drogas Ana Rita Valinho dos Santos Marques 147 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Quadro n 5 Evolu o do n mero de Doentes em Tratamento em Unidades de Desabitua o Comunidades Terap uticas Centros de Dia e Servi o de Atendimento Permanente Ano Unidades de Comunidades Conros de Dia Resvi o Asend Desabitua o Terap uticas Permanente 1987 116 e 534 1988 311 2 3 197 1989 342 a a 6 071 1990 325 54 13 260 1991 509 66 10 500 1992 558 58 9 408 1993 621 71 7 730 1994 721 65 9 594 1995 1 086 65 13 694 1996 1 220 76 13 649 1997 1 370 69 68 11 468 1998 1 405 62 76 Encerrou em 1997 1999 1 885 63 106 A 2000 1 939 67 83 A 2001 1 852 72 80 A 2002 1 840 66 89 A
172. ente a entrega da gest o desta a uma estrita responsabilidade individual Assim os m dicos aderem predominantemente medicaliza o dos cuidados da toxicodepend ncia o que n o evidenciado no discurso dos outros t cnicos das diferentes categorias profissionais Contudo todos os t cnicos aceitam a ades o a uma pol tica de Tratamentos diversificados os Tratamentos de Substitui o e com consensualidade os programas de Redu o de Riscos e Minimiza o de Danos Por outro lado alguns t cnicos manifestam um pensamento que privilegia uma abordagem individual e liberal do problema droga Desde logo aderem cren a da soberania do indiv duo sobre o seu corpo rejeitando a cren a social do cont gio e aderindo cren a individualista da capacidade de escolha do indiv duo em rela o droga Por m conforme salienta e exemplifica Moscovici com os mais insignificantes objectos do nosso quotidiano Moscovici 1989 as disposi es s cio cognitivas de interpreta o da realidade s o decisivas nas nossas orienta es de ac o Ora Ana Rita Valinho dos Santos Marques 176 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal constituindo a droga uma objectiva o lingu stica dos padr es de comunica o a representa o social da droga emerge como um categorial unificador independentemente da singularidade da situa o com que nos confrontemos e que a
173. ente o fen meno ou se circunscrevia a uma dimens o aceit vel porque socialmente pequena e porque sin nimo de uma condi o sub humana tamb m ela minorit ria Urbano 1994 Em Portugal o avan o do consumo de drogas foi r pido surgiu a explos o e com ela a politoxicodepend ncia De um fen meno praticamente desconhecido o consumo de drogas ilegais adquiriu nas ltimas tr s d cadas uma preocupa o crescente At aos anos 60 o consumo de produtos estupefacientes esteve manifestamente circunscrito a elites sendo o registo dessa informa o medianamente consistente At ao in cio da d cada de 70 a droga n o constituiu nem uma refer ncia colectiva nem um problema social Portugal pa s vin cola por excel ncia a tradi o de usos e abusos de subst ncias psicotr picas ficou at este per odo praticamente confinada s bebidas alco licas Mas esta uma droga que usa nome pr prio e n o entra no dom nio da ilegalidade Fernandes 1997 1999 Em termos gerais o panorama portugu s quanto ao fen meno da toxicodepend ncia actualmente muito semelhante ao da maioria dos pa ses ocidentais nomeadamente no que diz respeito ao n mero crescente de toxicodependentes vis vel atrav s de indicadores como tr fico consumo tratamento repress o e justi a penal De igual forma existe a tend ncia m ltipla para a a utiliza o das chamadas drogas duras particularmente a hero na b a descida da faixa et
174. epend ncia Centrada na Redu o de Riscos e Minimiza o de Danos Centradas no Motiva o para o Tratamento indiv duo Traject rias de consumos toxicodependente O tipo de pedido efectuado pelo utente Mais uma vez a partir da an lise das diferentes entrevistas foi poss vel perceber que os t cnicos t m perspectivas diferentes ora contextualizadas no pedido do utente e em toxicodependentes com traject rias de consumo prolongado ora na dimens o da experi ncia que o pr prio t cnico foi adquirindo e por outro lado influenciadas pelos caminhos orienta es pol ticas seguidas pelos pr prios servi os No discurso dos m dicos de um dos psic logos e de um dos assistentes sociais encontramos afirma es como sinto me mais capaz de ajudar indiv duos com uma longa carreira de consumos e de baixo limiar de exig ncia mais f cil e eficaz intervir com utentes cujo pedido mutuamente acordado terapeuta e utente sem armadilhas Psic logo 34 anos a trabalhar h 8 anos no IDT mais til intervir em contextos declarados em que o terapeuta assume a responsabilidade das decis es cl nicas e comunica ao utente M dico 58 anos a trabalhar h 20 anos no IDT importante criar espa os em que os utentes expressem as cr ticas interven o Assistente Social 35 anos a trabalhar h 9 anos no IDT a ades o ao Tratamento depende da capacidade vont
175. er o objectivo central da sua vida e que passa por um conjunto de etapas importantes que s o j por si terap uticas O Tratamento assim compreendido como um processo din mico e complexo que n o aponta apenas para a paragem do consumo Avalia se a partir do conjunto de mudan as que v o ocorrendo na vida do indiv duo mudan as psicossociais melhoria das suas rela es com os envolventes re investimento nos estudos ou trabalho ruptura com padr es de comportamento anti social transforma es psicol gicas capacidade de se envolver com mais estabilidade e continuidade em rela es afectivas sentidas como gratificantes maior autonomia e capacidade de conhecimento de si pr prio modifica es na sa de f sica capacidade de identificar precocemente os sintomas ou a manifesta o de uma determinada patologia e consequentemente procurar a ajuda de t cnicos de sa de prevenindo se assim a degrada o do indiv duo e o risco de Ana Rita Valinho dos Santos Marques 80 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal propaga o das doen as infecto contagiosas em especial a SIDA hepatites e tuberculose S uma interven o que considere as diferentes reas de vida do indiv duo os aspectos psicol gicos de hist ria de vida familiares sociais e laborais poder levar ao sucesso terap utico O Tratamento do toxicodependente reflecte a complexidade biol
176. esenvolver uma voca o mais social e relaciona o modelo da identidade social com as fun es de diferencia o e justifica o Uma outra quest o que se coloca a rela o entre teorias impl citas e os estere tipos Assim aquelas s o A hyphotetical cognitive structure often held nonconsciously that comprises the attributes of personality that the individual believes others to posses and the set of expected relations ie inferencial relations between these attributes Ashmore e Del Boca 1981 p 40 Na especifica o dos estere tipos sexuais relacionadas com as teorias impl citas da personalidade os autores afirmam que The structured sets of inferential relations that think personal attributes to the social categories female and male Ashmore 1981 critica as inconsist ncias sobre os estere tipos sexuais e conclui que uma significante parte do problema a falta de uma an lise conceptual Considera que a maioria dos estudos est o voltados para delimitar os conte dos relacionados ao masculino e ao feminino Da a necessidade de se pensar numa teoria our first goal was to understand steretypes as cognitive structures involved in the perception of individuals and groups we began by relating them to the social psychological construct implicit personality theory Ashmore 1981 p 39 A conex o te rica entre estere tipos e teorias impl citas da personalidade pode resultar numa possibilidade de
177. eventivas junto da comunidade e de determinados grupos alvo No mbito do princ pio humanista ainda se continua a reconhecer a toxicodepend ncia como doen a responsabilizando o Estado na concretiza o do direito constitucional sa de por parte dos cidad os e no combate exclus o social Em complemento ao princ pio humanista o princ pio do paradigma refere a redu o de danos como estrat gia de minimiza o dos riscos associados ao consumo O que inovador nesta estrat gia em rela o aos documentos anteriores que ainda enquadrado dentro do modelo biopsicossocial sobressai a import ncia da Preven o Prim ria da Reinser o Social e da Redu o de Danos Por outro lado a sua aplicabilidade deu origem integra o do Projecto Vida no Instituto Portugu s da Droga e da Toxicodepend ncia Decreto Lei n 90 2000 DR I s rie n 115 de 18 de Maio de 2000 ao debate parlamentar sobre a descriminaliza o do consumo cujo documento oficial foi publicado em Novembro de 2001 Parece ent o que teremos que analisar a forma como temos encarado o fen meno das drogas e dos toxicodependentes mais como um significado constru do socialmente do que propriamente um olhar sobre o crime a v tima ou o doente Ana Rita Valinho dos Santos Marques 172 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Segundo Quartilho 2001 o construtivismo coloca o
178. ficiente Arte Design e Publica es Lda 3 ed revista American Psychiatric Association APA 1996 Manual de Diagn stico e Estat stica das Perturba es Mentais 4 Ed Tr Lisboa Climepsi Editores Ana Rita Valinho dos Santos Marques 179 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal American Psychiatric Association APA 2002 Manual de Diagn stico e Estat stica das Perturba es Mentais 4 Ed Tr Lisboa Climepsi Editores Andrade M I 1994 A Face Oculta das Drogas Porto Porto Editora Ashmore R D Del Boca F K 1981 Conceptual Approaches to Stereotypes and Stereotyping in D L Hamilton Ed Cognitive Processes in Stereotyping and Intergroup Behavior Hillsdale NJ Lawrence Erlbaum Associates Pub Assembleia da Rep blica 1990 Di rio da Rep blica Artigo 3 do Decreto Lei n 83 90 de 14 de Mar o Assembleia da Rep blica 1994 Di rio da Rep blica N 40 17 02 1994 I S rie A Assembleia da Rep blica 1995 Di rio da Rep blica N 84 08 04 1995 I S rie A Assembleia da Rep blica 1997 Di rio da Rep blica N 57 08 03 1997 I S rie A Assembleia da Rep blica 1999 Di rio da Rep blica N 30 05 02 1999 I S rie A Assembleia da Rep blica 2002 Di rio da Rep blica N 27 29 11 2002 I S rie A Assembleia da Rep blica
179. ga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Milheiro J 1999 Loucos s o os Outros Lisboa Edi es Asa SA Mitchell C N 1990 The Drug Solution Regulating Drugs According to Principies of Efficiency Justice and Democracy Otava Carleton University Press Moliner P 1996 La Dynamique des Representation Sociales Collection Vies Sociles Press Universitaires de Grenoble Montaniri L 2004 Outubro Dezembro Peritos atentos s diferen as entre os sexos nos servi os de Tratamento Drugnet Europe Boletim de not cias do Observat rio Europeu da Droga e da Toxicodepend ncia Moreira A S P Camargo B V Jesuino J C N brega J S R 2001 Tornar se Toxicodependente Op o ou fatalidade Toxicodepend ncias Ano 7 n 3 Lisboa SPTT pp 73 78 Morel A Boulanger M Herv F Tonnelet G 2001 Preven o das toxicomanias 1 Ed Lisboa Climepsi Morel A et al 1998 Cuidados ao toxicodependente Lisboa Climepsi Editores Moscovici S 1961 La psychanalyse son image et son public Paris Presses Universitares de France Moscovici S 1969 Group as as a Polarizer of attitudes in Journal of Personality and Social Psycology vol 12 n 2 pp 125 135 Moscovici S 1976 Social influence and social change Londres Academic Press Moscovici S 1984 The phenomenon of social
180. geneos entre outras foram sendo utilizados das mais variadas formas para lidar com a doen a com o sofrimento com a morte S o exemplos a utiliza o do c nhamo do pio da coca como produtos naturais com utiliza o terap utica O uso de subst ncias tamb m adquire uma fun o na dimens o est tica como poderemos ver especialmente a partir Ana Rita Valinho dos Santos Marques 1 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal do s culo XVII nas artes letras e m sica Digamos que atrav s do uso de subst ncias os artistas conseguiram apreender o infinito o para so artificial voando para al m da sua exist ncia de comuns mortais Al m disso tamb m n o se pode descurar a dimens o hedonista do uso de subst ncias permitindo a experiencia o sempre que se desejar obter prazer Ainda a fun o que as subst ncias desempenharam a n vel militar presente ao longo da Hist ria com relatos desde a Antiguidade at actualidade sendo um dos exemplos paradigm ticos a 2 Guerra Mundial O fen meno da toxicodepend ncia come a a ser conceptualizado a partir do momento em que o uso de subst ncias deixa de ser um meio um ve culo de comunica o e passa a ser um fim uma necessidade de viver alienado e por conseguinte o lado vis vel de um mal estar relacional do indiv duo consigo pr prio e com o mundo A forma como determinada sociedade encara e lida
181. gumas drogas legais que afirmam a droga como estando sujeita Ana Rita Valinho dos Santos Marques 175 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal escolha do homem e que reconhecem no regime de proibi o a origem de boa parte da delinqu ncia Quanto dimens o explicativa das representa es sociais da toxicodepend ncia assiste se a uma sobreposi o de diversos modelos reveladora da partilha generalizada do paradigma multidimensional na explica o do fen meno Nos psic logos sobressai o modelo psicol gico nos assistentes sociais enfermeiros e t cnicos psicossociais evidenciam se sobretudo os modelos psicossocial de sa de p blica e sociocultural e nos m dicos o modelo m dico e o sanit rio Deste modo o modelo de explica o assumido por estes t cnicos pensado ao n vel do indiv duo e do modo como este enfrenta as tarefas de ajustamento social explicando a toxicodepend ncia pela conjuga o da desadapta o social do indiv duo com o poder hed nico da droga Por fim no que respeita s orienta es atitudinais h um consenso quanto defesa do modelo da abstin ncia no campo da Preven o Prim ria quanto inscri o da toxicodepend ncia na rea da sa de quanto ao m rito da medicaliza o da toxicodepend ncia quanto assump o de uma responsabilidade colectiva na recupera o da toxicodepend ncia rejeitando simetricam
182. homem numa perspectiva relacional e defende que os significados tamb m s o constru dos culturalmente A narrativa neste sentido constitui uma ponte entre a experi ncia individual e a cultura O conhecimento assim e segundo esta corrente socialmente constru do e toma forma atrav s do discurso Em tom de conclus o diremos ent o que o conceito de droga e de toxicodependente foi sendo constru do atrav s do tempo de correntes te ricas movimentos pol ticos de cultura para cultura enfim de fam lia para fam lia e de pessoa para pessoa como se v nos resultados da nossa investiga o Atrav s da legisla o pode se observar o percurso dos significados de toxicodependente ou foxicodepend ncia Este percurso nunca foi uma rela o pac fica ou at pacificadora entre Legislador e toxicodependente A toxicodepend ncia s passou a registar um espa o na legisla o pois aparentemente a droga quebrou a fronteira daquele pequeno grupo de classe mais alta Deixou de ser uma pequena extravag ncia de uma classe que o podia fazer e chegou a todas as fam lias mesmo s mais carenciadas Neste sentido por representa o entende se o produto e o processo duma actividade mental pela qual um indiv duo ou um grupo reconstroem o real com que se confrontam e lhe atribuem uma significa o espec fica Abric 1989 Ela ent o um conjunto organizado de opini es atitudes cren as e informa es que se referem a um obj
183. iais no processo de constru o e de solidifica o das representa es sociais s o eles o momento da objectiva o e da ancoragem A objectiva o um processo pelo qual se d uma figura espec fica ao conhecimento sobre o objecto tornando quase tang vel o conceito abstracto Moscovici apresenta um modelo formal de capta o da objectiva o mas haver que atender que quando se analisa uma representa o social o objectivo n o tanto detectar e configurar qual o seu n cleo figurativo mas estudar que elementos concentram a significa o do objecto representado e como se articula essa significa o com a pr tica quotidiana no interior dos grupos sociais Wagner e Elejabarrieta 1995 p 831 A ancoragem o outro processo que possibilita a forma o das representa es sociais Situa se a montante e jusante da objectiva o e consiste na incorpora o cognitiva do objecto representado num observat rio de categorias e imagens conhecidas isto em integrar o estranho num sistema de pensamento social pr existente De um modo geral este processo respons vel pelo enraizamento ou como o pr prio nome indica ancoragem social da representa o Segundo Moscovici 1984 ancorar classificar e denominar guardando este processo muita similitude com os processos de categoriza o social Mas as representa es sociais configuram se simultaneamente como estruturas estruturantes e tamb m como estr
184. ialmente e como tal intervir do mesmo modo Claro que as representa es sociais e os estudos sociol gicos sobre a problem tica orientam a sua interven o mas o t cnico n o poder generalizar e dever orientar a sua interven o centrando o indiv duo na mesma Afinal o que se pretende o bem estar e a recupera o da qualidade de vida do indiv duo 39 e 30 anos a trabalhar respectivamente h 16 e 8 anos no IDT Na perspectiva dos diferentes t cnicos as modalidades de interven o nesta rea foram evoluindo o modelo de interven o evoluiu do modelo jur dico para o modelo m dico sendo que o consumo de subst ncias passou a ser considerado como uma desordem mental doen a abandonando a ideia de crime e ou acto il cito actualmente a toxicodepend ncia essencialmente uma doen a da vontade Desta forma o pr prio discurso dos t cnicos transformou se no mesmo sentido das pol ticas sociais que foram emergindo ou seja as abordagens de interven o e a filosofia adjacente t m variado e evolu do consoante a pol tica ora numa perspectiva criminalizadora ora numa perspectiva cl nica e ressocializadora Destaca se ainda que na perspectiva dos t cnicos sobretudo os psic logos consideram que hoje em dia continua a existir uma sobrevaloriza o do Tratamento do toxicodependente numa perspectiva m dica a valoriza o dos aspectos m dicos e em alguns sectores a sua exclus
185. ico sob este modelo enfatizam se os factores de natureza individual filiados no funcionamento intra ps quico como conducentes toxicodepend ncia Cabem neste modelo as explica es que privilegiam as fragilidades psicol gicas o stress a depress o as ang stias os d fices de Ana Rita Valinho dos Santos Marques 113 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal funcionamento ps quico a baixa auto estima a baixa toler ncia frustra o ou mesmo a estrutura da personalidade 4 o modelo psicossocial o contexto aqui concebido em termos de influ ncia exercida sobre o utilizador pela atitude e pelo comportamento de outras pessoas seja individualmente ou em grupos sociais como a fam lia Este modelo tamb m privilegia uma explica o centrada no indiv duo mas distingue se do psicol gico pelo facto de conceber o indiv duo luz das interac es sociais que moldam e determinam os seus comportamentos de abuso de drogas Os factores micro sociais como conducentes toxicodepend ncia relacionam se com os disfuncionamentos familiares com a press o do grupo de pares ou com falhas no processo de aprendizagem de compet ncias sociais 5 e o modelo s cio cultural em que subst ncias espec ficas ganham o seu significado e import ncia sobretudo pela maneira segundo a qual uma dada sociedade define o seu uso e os seus utiliza
186. icodepend ncia Com este Decreto Lei introduziu se um novo paradigma de entendimento do fen meno da toxicodepend ncia a descriminaliza o continuando a penalizar se o consumo a responsabilizar se as pessoas mas deixando se de criminaliz las perante o simples consumo Esta altera o n o veio mais do que reafirmar aquilo que j era uma pr tica dos tribunais portugueses Mais tarde o Decreto Lei n 130 A 2001 de 23 de Abril veio regulamentar a ac o das comiss es Atrav s do Decreto Lei n 183 A 2001 de 21 de Julho aprova se o Regime Geral das Pol ticas de Preven o e Redu o de Riscos e Minimiza o de Danos com vista a diminuir a propaga o das doen as infecto contagiosas e a prevenir a marginalidade social Ana Rita Valinho dos Santos Marques 63 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Em diferentes anos como por exemplo 1970 1982 1983 e 1993 em que podemos encontrar legisla o espec fica sobre esta problem tica o toxicodependente visto como um doente embora ainda penalizado pelo consumo Apenas a partir de 1999 2000 se retira a penaliza o do consumo e prop e se a escolha ao pr prio Transgressor de um Tratamento O Legislador d espa o de escolha volunt ria ao Tratamento Ap s o Decreto Lei de 2001 a Portaria 540 2001 de 28 de Maio de 2001 dizia O artigo 19 da citada lei prev no entanto a possibilidade de suspens o
187. igo surge recheado de quest es relacionadas com o conceito de doen a sofrimento Para o autor a doen a surge com uma s rie de sintomas e sinais que aparecem como consequ ncia de factores etiol gicos A procura da cura geradora de algum sofrimento Acrescenta ainda uma provoca o dizendo que todos procuram cura para o sofrimento ao chamar lhe doen a N o h cura para o sofrimento nem h cura para a vida assim como n o h cura para a morte O sofrimento perde a sua dimens o existencial para ganhar um valor patol gico e psicopatol gico e o m dico ocupa o lugar do m stico ou do xam na tentativa de interpretar e reorganizar o sofrimento De uma forma quase inquietante termina dizendo que na sua opini o as depend ncias toxicodepend ncias apenas s o consideradas doen as porque v o contra os valores morais dominantes na sociedade Para ele a pr pria toxicodepend ncia n o uma doen a um Tratamento em si Entender a toxicodepend ncia para al m da perspectiva psicanal tica ou at din mica sempre foi mais dif cil mas Nuno F lix da Costa 2000 p 55 deixa nos um bom testemunho num artigo da Revista Toxicodepend ncias Para o autor depend ncia de drogas entendida mais como uma disfun o motivacional em continuidade com outros processos motivacionais normais do que como uma doen a na assun o biol gica do termo ou do que como um fen meno cultural a ser abordado sociologicamente
188. inalidade mobilizar a sociedade civil para a constitui o de Ana Rita Valinho dos Santos Marques 76 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal I P S S s e O N G s que pudessem colmatar as lacunas existentes ao n vel dos servi os de recupera o e Tratamento de toxicodependentes O Gabinete do Alto Comiss rio promoveu cursos de forma o especializada no dom nio das toxicodepend ncias a t cnicos intervenientes ou interessados Para al m destes o Gabinete teve ainda por objectivo apoiar casos individuais de toxicodependentes com car ncias econ micas e sociais atrav s de um Fundo de Emerg ncia criado para esse fim Poder se falar em tr s fases que resumem as v rias vertentes do Tratamento das toxicodepend ncias corporizadas em v rios tipos de institui es e unidades de Tratamento CEPD Norte Centro e Sul e Centro das Taipas Uma vertente psiqui trica com insist ncia no Tratamento biol gico uma vertente psicoterap utica e uma vertente institucional espec fica que consiste em Casas de Introdu o Unidades Terap uticas e Casas de Sa da Na opini o de Neto 1987 embora estas val ncias possam ser algo conflituosas tamb m elas se complementaram Assim os Centros de Desintoxica o F sica podem ser tamb m Casas de Entrada e funcionar como Comunidades Terap uticas de curta dura o Em Portugal as Comunidades Terap uticas come aram a entrar por
189. inar e com uma componente de psicoterapia Um dos enfermeiros no discurso sobre a sua pr tica de interven o refere que a estrat gia que utiliza principalmente a rela o de ajuda Pretendo identificar as necessidades espec ficas do toxicodependente quer para a mudan a que promova a recupera o da depend ncia quer para a preserva o da integridade f sica psicol gica e social A rela o de ajuda permite me adaptar a interven o fase do Tratamento em que o utente se encontra e dar resposta s necessidades espec ficas 31 anos a trabalhar h 6 anos no IDT Por m outro dos enfermeiros pondera que as estrat gias utilizadas s o as mais adequadas s finalidades a que se destinam no entanto considera que ainda n o respondem s especificidades das novas problem ticas de consumos Penso que existem respostas adequadas para os heroin manos mas temos urgentemente que investigar os novos contextos com que nos deparamos e existe ainda uma escassez de Ana Rita Valinho dos Santos Marques 158 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal respostas integradas e adaptadas s novas realidades de consumos 40 anos a trabalhar h 15 anos no IDT J para o assistente social a sua interven o passa por quest es biopsicossociais Jestimular a autonomiza o e emancipa o do indiv duo atrav s da mudan a das c
190. indiv duos Esta elabora o consiste segundo Moscovici 1976 na passagem que poder amos considerar um pouco brusca entre o laborat rio da ci ncia e o laborat rio da sociedade no que se refere ao estudo do conhecimento No nosso caso interessa nos identificar a forma como assumida dita e pensada a quest o da toxicodepend ncia pela nossa sociedade A entrada neste laborat rio da sociedade sup e tomar em considera o o processo de comunica o Atrav s do processo de comunica o poss vel acompanhar a g nese das imagens e dos vocabul rios sociais as suas rela es com as regras e os valores dominantes componentes de uma linguagem definida a palavra da sociedade a palavra das classes dos diferentes grupos sociais As representa es sociais s o conjuntos din micos em movimento O seu papel de produ o de comportamentos e de rela es com o meio ambiente de ac o que vai modificando os mesmos comportamentos que vai modelando o real Os grupos sociais Ana Rita Valinho dos Santos Marques 25 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal enriquecem desta maneira a sua pr pria realidade colectiva e individualmente a passagem do exterior para o interior que vai passar novamente para o exterior atrav s do mundo da conversa atrav s do discurso propriamente dito do senso comum Assim transmitem se as inf
191. interpretados como inst ncias individuais mas pelo contr rio como disposi es compartilhadas por sujeitos sociais Wagner 1994 Atendendo que as representa es sociais s o uma modalidade de pensamento vertida no conhecimento social do quotidiano isto s o teorias pr ticas funcionais percorrendo diversos itiner rios mentais a n vel individual ancorados num contexto social n o existe Ana Rita Valinho dos Santos Marques 32 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal um procedimento metodol gico estandardizado para lhes aceder Pelo contr rio os estudos de representa es sociais t m se dispersado por todas as possibilidades de produ o de conhecimento de um sujeito individual ou colectivo guiando se por uma tarefa b sica que a de explicitar elementos de sentido isolados ou combinados em constructos representacionais produzidos mantidos e extintos em fun o de condi es sociais espec ficas vividas por indiv duos e grupos Souza Filho 1993 p 113 Mas assim como um objecto pode ser alvo de uma pluralidade de representa es cada ac o n o portadora de apenas um significado Ao constitu rem um sistema de interpreta o as representa es sociais propiciam a atribui o de sentidos aos objectos e acontecimentos deste modo que a experi ncia no mundo social surge aos indiv duos como normal vulgar e partilhada
192. ion on one hand to summarize and organize knowledge about social groups and on the other to guide behavior with respect to groups and individual group members p 39 Portanto atribuem aos estere tipos assim como Tajfel 1982 uma fun o de discrimina o e de orienta o de comportamentos Em Am ncio 1989 encontra se a seguinte defini o de estere tipos Enquanto processo cognitivo eles permitem simplificar a informa o complexa e vari vel do meio social atrav s de uma organiza o e sistematiza o dos componentes relevantes dessa informa o Por outro lado representam uma organiza o espec fica de um sistema de cren as e de valores com suficiente autonomia para resistir informa o incongruente e contradit ria Ana Rita Valinho dos Santos Marques 35 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 2 2 1 FUN ES SOCIAIS DOS ESTERE TIPOS As fun es sociais dos estere tipos segundo Tajfel 1982 s o em primeiro lugar a cria o e a preserva o de ideologias de grupo para explicar e justificar uma variedade de ac es sociais e em segundo lugar o seu papel em ajudar a preservar ou criar diferencia es positivamente valorizadas dum grupo em rela o a outros grupos sociais Tajfel nesta referida obra estabelece um paralelo entre a fun o de justifica o dos estere tipos e a atribui o causal assumindo que esta deve d
193. is e Pol ticas em Portugal Ainda em meados dos anos 90 no X Encontro das Taipas Nuno Miguel Psiquiatra no SPTT actual IDT reflectia sobre os 10 anos de funcionamento das Taipas Dizia o autor que sabiam que o Tratamento de um toxicodependente era um processo longo com reca das frequentes e que era extremamente vantajoso que o toxicodependente pudesse manter ao longo de todo o processo a rela o com um terapeuta m dico ou psic logo Miguel 1997 p 40 Tamb m Jo o Salvado Ribeiro 1996 p 10 elabora um estudo sobre os conceitos de depend ncia em termos hist ricos S o as teorias da psican lise que primeiro fazem uma abordagem s quest es de depend ncia nomeadamente com Freud que j nos finais do s culo XIX alerta para o fen meno de depend ncia relacionado com o tabaco a coca na o lcool e a morfina Refere ainda o contributo mais actual de Wursmser que resumidamente caracteriza os toxic manos com os tra os seguintes deficit de defesas contra os afectos patologia do super eu e do ideal do eu hipo simboliza o auto destructividade gratifica o regressiva crise narc sica O autor termina concluindo que acima de tudo a depend ncia f sica e ou psicol gica continua a ser um desafio que as toxicodepend ncias colocam s ci ncias bio psico sociais J C ndido Agra 1998 p 7 dirigiu uma investiga o te rica Droga e Criminalidade na Universidade do Porto
194. ividade na leitura do fen meno retirou ao toxicodependente a possibilidade de se achar actor do acto de consumo alguns utentes incorporam o discurso de doente como se tratasse de um comportamento involunt rio assim sendo o sucesso do Tratamento depende da compet ncia dos Ana Rita Valinho dos Santos Marques 155 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal t cnicos em manipular os psicof rmacos e as psicoterapias de suporte e n o tanto do interesse motiva o intr nseca do consumidor 34 anos a trabalhar h 8 anos no IDT Na opini o de outro dos entrevistados a excessiva concentra o do poder m dico na compreens o do fen meno favoreceu o florescimento de uma ind stria de Tratamento multiplica o de centros de ajuda Assistente Social 35 anos a trabalhar h 9 anos no IDT Desta forma hoje em dia no discurso dos pr prios t cnicos ainda somos confrontados com o facto do Tratamento do toxicodependente ainda estar muito veiculado ao modelo m dico E dentro desta perspectiva h t cnicos que consideram que falta reconhecer o direito ao consumo e favorecer a emerg ncia de associa es de consumidores o indiv duo respons vel pela decis o de consumo a cultura judaico crist favorece a emerg ncia de um discurso de culpa que n o ajuda a constru o de autonomia Psic logo 34 anos a trabalhar h 8 anos no IDT D
195. izagem um longo processo infind vel mas sempre inebriante Compete me tamb m registar os meus sinceros e indefect veis agradecimentos Professora Doutora Maria da Concei o Ramos por ter acreditado e acolhido o meu projecto para orientar Pelo seu rigor profissionalismo efici ncia e amizade foi a melhor orientadora que alguma vez julguei encontrar A todas as pessoas que aceitaram participar nesta investiga o pelas valiosas contribui es ofertadas que tornaram a minha pesquisa bem mais interessante Em terceiro lugar ou talvez em outro lugar tenho que agradecer minha fam lia em especial minha m e por todo o carinho e apoio que me deram em mais esta travessia N o posso deixar ainda de agradecer a todos os meus amigos que t o bem compreenderam as minhas aus ncias em termos profissionais e pessoais Aos amigos que me ajudaram mesmo sem darem conta do quanto Aos meus amigos que aguardam as minhas visitas prometidas e adiadas h tempos A todas as pessoas que me incentivaram principalmente nos momentos mais dif ceis Resumo O objectivo desta disserta o de Mestrado perceber a s droga s e a s toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal O fen meno droga persiste e progride desafiando abalando e subvertendo todos os c digos institu dos pela ci ncia positiva e normativa da modernidade Ele escapa e transcende os nossos quadros conceptuais semi tico sina
196. l Esta pesquisa testemunha o recurso a estas diferentes gavetas de conhecimento Os resultados destas entrevistas evidenciam uma certa oscila o representacional no papel dos t cnicos e nas suas pr ticas enquanto profissionais Por m podemos afirmar que nos diferentes discursos n o parecem evidenciar se pr ticas de Tratamento opostas e ou antag nicas mas parece sobressair que na quest o do Tratamento da toxicodepend ncia factores individuais como por Ana Rita Valinho dos Santos Marques 174 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal exemplo a forma o de base dos pr prios t cnicos est o fortemente presentes nas suas pr ticas e modalidades de interven o Destes discursos sobressai que a droga pensada com uma certa uniformidade isto a subst ncia em si Assim face subst ncia parece evidenciar se aquilo que se designa de objectiva o e ancoragem A partir dos discursos produzidos pelos diferentes t cnicos constatou se um extenso rol de afirma es que assentam em que para pensar a droga significa reflectir sobre os seus efeitos limite A objectiva o lingu stica consubstancia se desde logo nas tr s categorias mais associadas droga depend ncia e doen a A an lise da sem ntica associada droga permitiu perceber que esta tamb m pensada como medicamento o que n o pode deixar de se filiar na heran a hist rica Nestes di
197. l tico descritivo anal tico explicativo terap utico e jur dico pol tico contudo consensual o reconhecimento da necessidade de pluralidade disciplinar para a abordagem e interven o neste campo complexo tem tico Neste sentido o intuito desta investiga o expor alguns construtos em torno destes conceitos e perceber as diferentes pol ticas que t m acompanhado o fen meno em Portugal Por outro lado tamb m temos como prop sito perceber as representa es sociais sobre a s droga s e a s toxicodepend ncia s assumidas pelos t cnicos que interv m nesta problem tica e abrir espa os para outras formas de entendimento destes conceitos Antes de chegar ao discurso ou representa es sociais dos t cnicos que trabalham na rea da toxicodepend ncia a autora percorreu outras reas da nossa cultura que contribu ram para a constru o do significado de droga e de toxicodepend ncia nos dias de hoje a legisla o as pol ticas e o olhar da pr pria sociedade No final desta pesquisa foi poss vel concluir que o discurso e as pr ticas dos t cnicos que trabalham nesta rea s o condicionados pelas diferentes representa es sociais da toxicodepend ncia Contudo por detr s de um aparente consenso emergem diversos discursos e pr ticas representativas condicionadas pelo contexto das pol ticas legisla o em vigor e pela forma o de base dos pr prios t cnicos Palavras chave Droga s Toxicodepend
198. lativas ao controlo da oferta Na mesma data criado na depend ncia da Presid ncia do Conselho de Ministros pelo Decreto Lei n 790 76 de 5 de Novembro o Gabinete Coordenador do Combate Droga GCCD para tentar organizar as iniciativas e medidas a colocar em pr tica coordenando e integrando as ac es dos dois centros acima citados Em 1978 dois anos ap s a sua legisla o os CEPD s passam a funcionar nomeadamente o do Norte o do Centro e o do Sul Ap s 5 anos de actividade o GCCD passa a designar se Gabinete de Planeamento e de Coordena o do Combate Droga GPCCD O discurso do Legislador entre 1975 e 1982 foi radicalmente mudando e da pura penaliza o ou castigo passaram a usar se express es como flagelo social dando in cio a um entendimento do fen meno como de um alastramento quase epid mico ou contagioso ou ainda outras express es como combate droga ou ainda luta contra a droga entendendo necessitar se de alguma viol ncia na abordagem e na respectiva Ana Rita Valinho dos Santos Marques 56 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal erradica o da coisa droga ou do dealer Se at aqui quem consumia drogas era intitulado de toxic mano passa se a intitular o consumidor de toxicodependente Durante este per odo o discurso n o coerente e ora se refere a viol ncia necess ria para a erradica o do problema no
199. ldorf D Reinarman C Murphy S 1991 Cocaine Changes the Experience of Using and Quitting Filad lfia Temple University Press Woody G E Cacciola et al 1992 Desipramine treatment of cocaine dependence in methadone maintained patients Archives of General Psychiatry p 49 WHO 1998 Expert committee on Drug Dependence 30 repor Geneva WHO Ana Rita Valinho dos Santos Marques 196 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal WHO 2000 Guide to drug abuse epidemiology 35 repor Geneva WHO Zinberg N 1984 Drug set and setting The basic for controlled intoxicant use New Haven Yale University Press Ana Rita Valinho dos Santos Marques 197 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Anexo 1 Gui o de Entrevista Ana Rita Valinho dos Santos Marques 198 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal HIP TESES PARA O ESTUDO DAS REPRESENTA ES SOCIAIS EM TORNO DA DROGA E DA TOXICODEPEND NCIA DOS T CNICOS QUE TRABALHAM NO INSTITUTO DA DROGA E DA TOXICODEPEND NCIA As modalidades e as estrat gias de Tratamento s o influenciadas pelas representa es sociais que os t cnicos t m do fen meno QUEST ES DE BASE PARA AS ENTREVISTAS Identificar se existe uma rela o entre as representa es sociais
200. liar Estas ac es devem consubstanciar se em aceita o de trabalho ou de forma o profissional frequ ncia do sistema educativo ou de aprendizagem participa o em programas de ocupa o ou outros de car cter tempor rio que favore am a inser o no mercado de trabalho ou satisfa am necessidades sociais comunit rias Um dos grupos alvo a que se destina esta medida s o os chamados orupos portadores de especiais desvantagens tais como os deficientes os ex reclusos ou os toxicodependentes O objectivo neste caso o de criar factores de integra o que permitam entre outros fins o acesso ao emprego a pessoas que s o normalmente marginalizadas ou sobre as quais recai um estigma social que n o lhes permite ter as mesmas taxas de actividade do resto da popula o Ana Rita Valinho dos Santos Marques 93 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal O RSI conferido pelo per odo de 12 meses podendo ser renovado mediante a apresenta o dos meios de prova legalmente exigidos para a renova o Cessa quando n o se verificarem os requisitos e condi es de atribui o na falta de celebra o do programa de inser o no caso de entregarem falsas declara es e por morte do titular A Comiss o Nacional de Rendimento Social de Inser o o rg o que trata do acompanhamento da actividade desenvolvida e da avalia o da execu o d
201. lo sucesso nos anos 90 das disigner drugs entre os jovens subst ncias que quebram o isolamento e promovem o relacionamento interpessoal Numa tentativa de compreens o do fen meno da toxicodepend ncia face ao alarmismo actual tamb m o cinema tem explorado temas que lhe est o associados tais como a juventude a viol ncia a marginalidade a m sica o sexo Para al m de todas estas quest es n o podemos ainda esquecer o papel que as drogas ainda desempenham em todo o mundo num contexto macro econ mico em sociedades com economias destru das subdesenvolvidas onde existe fome e guerra o exemplo dos pa ses da Am rica do sul nos quais a coca continua tal como nos Incas e posteriormente com os Espanh is a ser um meio para lidar com a fome e horas cont nuas de trabalho Outro exemplo na sia o da Birm nia onde fam lias inteiras trabalham nos campos de cultivo da papoila para obter alguns rendimentos de sobreviv ncia pois na forma como se procura compreender e lidar com todas estas situa es cada vez mais dif ceis e complexas que se vai verificar uma progressiva maior dificuldade na delimita o da fronteira entre as subst ncias e consumos l citos e il citos Ao longo de todas estas d cadas a crescente complexidade do fen meno da toxicodepend ncia e o medo generalizado face a ele acabam por legitimar por parte de todos os governos e pol ticos o recurso a todo o tipo de mecanismos de cont
202. lver toda a sociedade civil no combate droga apoiando programas nos dom nios da Preven o Prim ria e Terci ria O Programa Quadro Prevenir PQP destinou se a apoiar t cnica e financeiramente entidades p blicas ou privadas sem fins lucrativos com interven o na rea da Preven o Prim ria das toxicodepend ncias Este apoio resultou da pretens o de melhorar a qualidade de interven o no mbito da Preven o Prim ria identificando como grupos alvo priorit rios as crian as jovens jovens adultos professores fam lias e t cnicos ligados a esta rea de interven o Na continuidade dos objectivos delineados para o PQPI o PQPII destinou se a apoiar e a promover o desenvolvimento de projectos no dom nio da Preven o Prim ria das toxicodepend ncias A sua concess o e apoio financeiro t cnico foi concedido atrav s de concurso promovido pelo IPDT salientando deste modo uma nova abordagem na rea da Preven o das drogas e das toxicodepend ncias Puderam candidatar se ao POPII as Institui es Particulares de Solidariedade Social IPSS miseric rdias mutualistas e outras entidades particulares sem fins lucrativos cujas finalidades estatu rias inclu ram a promo o da sa de o desenvolvimento social a cultura e o desporto Este programa visou sobretudo apoiar iniciativas que pretendessem informar educar e formar a n vel pessoal e social os cidad os especialmente crian as e jovens com vista a desen
203. m ac es de Reinser o s cio profissional com o objectivo de integrar o indiv duo com problemas de toxicodepend ncia que se encontrasse em fase de Tratamento ou j o tivesse conclu do Neste contento em 1997 surge o Programa Quadro Prevenir que tinha como pressupostos o desenvolvimento de projectos na rea da Reinser o Social de toxicodependentes quer por entidades p blicas quer por entidades particulares sem fins lucrativos A Preven o das drogas e das toxicodepend ncias baseia se numa estrat gia global de actua o tendo em conta a especificidade dos grupos alvo a abranger Desta forma visa Ana Rita Valinho dos Santos Marques 86 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal a modifica o de factores que facilitam o consumo de drogas potenciando factores protectores e inibindo factores de risco atrav s da promo o de estilos de vida saud veis em diferentes contextos sociais Com base nestes pressupostos e do saber adquirido a partir do Programa Quadro Prevenir I foi poss vel aprofundar e melhorar o Programa Quadro Prevenir II Esta medida insere uma nova abordagem na rea da Preven o das drogas e das toxicodepend ncias impulsionando interven es direccionadas para reas ou grupos espec ficos fam lia jovens em situa o de abandono escolar meio escolar grupos espec ficos espa os de lazer meio prisional e Programa Escolhas apoiadas t
204. ma o Profissional IEFP desenvolveu dois tipos de interven o no mbito da toxicodepend ncia designadamente a integra o s cio profissional de ex toxicodependentes e a forma o informa o Numa preocupa o conjunta o Minist rio do Trabalho e da Solidariedade apoiou ac es propostas por Institui es Particulares de Solidariedade Social IPSSs Tamb m o Instituto de Reinser o Social apoiou projectos no dom nio da toxicodepend ncia essencialmente no que respeita Reinser o Social Apoiou como Entidade Promotora no mbito do Programa Quadro Reinserir o Projecto Capacitar para a Integra o direccionado para jovens e adultos com problemas de toxicodepend ncia e que se encontram em contacto com o aparelho da justi a o Projecto Espa o Vida que tinha por objectivo encaminhar para grupos de auto ajuda indiv duos com problemas de toxicodepend ncia e suas fam lias foi ainda parceiro no Projecto Salvar um Toxicodependente no Projecto Afirmar no Projecto Casa Gabinete de Atendimento Fam lia e por fim no Projecto CORJEC Comunidade de Jovens em Caminhada Ana Rita Valinho dos Santos Marques 96 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal No que se refere s ac es concretas desenvolvidas pela Direc o Geral da Solidariedade e da Seguran a Social no mbito da Reinser o Social durante o ano de 200
205. ma identidade baseada na ideia do que isso representa criminoso v tima mentiroso inocente doente etc Mesmo que por vezes existam v rios pap is que entrem em conflito ou sejam contradit rios Ana Rita Valinho dos Santos Marques 98 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Sendo a identidade co constru da analogicamente na rela o com o outro ser doente implica tamb m ser co constru do nessa rela o O outro tamb m o v e o descreve de determinada forma que vai influenciando em como o doente se v ou o toxicodependente se v Ser ent o a constru o do significado de ser toxicodependente socialmente constru do E porque ser que com algumas doen as o diagn stico se incorpora na pr pria identidade da pessoa Nunca se ouviu ningu m dizer eu sou cancro no pulm o ou sou um AVC Por outro lado h outras doen as que definem a pr pria pessoa sou seropositivo sou alco lico sou toxicodependente Se reflectirmos um pouco como se a pessoa que est por detr s do r tulo fosse menos relevante do que o pr prio diagn stico que lhe d o nome o diagn stico torna se a pr pria pessoa Quartilho 2001 p 79 acerca da defini o de illness afirma que algo que a pessoa tem e n o que um rg o da pessoa possa ter e acrescenta que constitu da pela resposta subjectiva do indiv duo de seus familiares e conhecidos sua
206. ma que estas assumiram foram consequ ncia dos posicionamentos te ricos preliminares que sustentam estas op es justificando as Ana Rita Valinho dos Santos Marques 131 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 8 AN LISE E DISCUSS O DOS RESULTADOS Antes de iniciarmos esta pesquisa verific mos que por exemplo a legisla o foi evoluindo em torno do consumidor de drogas e actualmente declara o de doente e encaminha o para Tratamento Analis mos o que as artes desde o teatro m sica literatura nos foram transmitindo ao longo dos tempos atrav s das heran as deixadas pelos v rios artistas ou pe as de arte Tamb m nos confront mos com o que os especialistas t m escrito e pensado acima de tudo sobre o objecto droga e o indiv duo toxicodependente Assim com o presente cap tulo visamos realizar uma an lise e discuss o dos resultados obtidos Neste sentido Jos Manuel Almeida e Costa 1996 p 63 diz O que se tem feito at agora a partir do momento em que se decidiu ser o drogado um doente logo irrespons vel foi fazer mais de mais ou seja se a doen a progride h que aumentar os cuidados curativos e aumentar a Preven o n o uma Preven o da doen a cuja etiologia se desconhece ou conhece apenas superficialmente mas da diminui o dos medos que os n o doentes t m do Fen meno A legisla o e a pr pria e
207. meadamente o tr fico ora se transforma o consumidor num doente sem deixar de ser um delito o uso il cito da droga coloca delicados problemas jur dicos na medida em que conduz a um enfraquecimento e at a uma escraviza o da vontade que tendencialmente transmuda o infractor num doente nessa medida imune ou pouco menos a uma imputa o de culpa Decreto Lei n 792 76 de 5 de Novembro de 1976 Parece iniciar se aqui a nomea o do toxicodependente como pessoa doente que necessita de Tratamento e a lei prev essa puni o tratar se E ainda neste paradigma que se come a a recolher outros saberes de outras reas para al m do Direito neste delicado dom nio h de ter se em conta a experi ncia alheia e a que n s pr prios fomos sedimentando sempre de um ngulo o mais poss vel cl nico e sociol gico Decreto Lei n 792 76 de 5 de Novembro de 1976 Pode se ainda verificar a m xima viol ncia e penaliza o para o traficante mas consequentemente a desresponsabiliza o do pr prio consumidor que o procura No que concerne ao traficante h antes de mais que defini lo e encar lo como um dos principais inimigos da sociedade moderna e que puni lo at sua eficaz neutraliza o N o podemos continuar a deixar destruir os nossos filhos para que um punhado de malfeitores continue a lucrar com a sua fraqueza a sua doen a ou a sua morte Decreto Lei n 797 76 de 5 de Novembro de 1976
208. mento evitar moralizar mas pontuando as regras estabelecidas e mutuamente acordadas 34 anos a trabalhar h 8 anos no IDT Importa real ar que apesar dos t cnicos psicossociais conseguirem identificar as diferentes estrat gias de Tratamento que existem n o conseguem explicar o seu papel nesta problem tica assim como n o apresentam as modalidades de Tratamento que utilizam Esta uma quest o que merece particular aten o j que poder traduzir os constrangimentos que estes t cnicos sentem na sua interven o ao n vel da problem tica da toxicodepend ncia Por outro lado importa salientar que o perfil e as fun es dos t cnicos psicossociais ainda s o relativamente recentes o que poder estar relacionado com as dificuldades em perceberem efectivamente as suas fun es 30 e 30 anos a trabalhar respectivamente h 16 e 8 anos no IDT Ana Rita Valinho dos Santos Marques 160 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal A terceira quest o tinha por objectivo caracterizar as cren as de auto efic cia da interven o dos diferentes t cnicos Quadro n 8 Dimens es Indicadores Conduzidas por ideologias e paradigmas pol ticos e institucionais Orientadas na rela o terap utica Centradas no Objectivos terap uticos papel do T cnico Interven es redutoras e padronizadas Expectativas face ao fen meno da toxicod
209. mento de consumidores de drogas incluindo os centros de Tratamento protocolados est directamente associado ao alarme social deste tipo de patologias Assim podemos perceber que mesmo para quem trabalha directamente nesta problem tica este fen meno continua ainda muito veiculado ao p nico moral e ao alarme social gerado em torno desta problem tica e desta forma as respostas institucionais s o o resultado do p nico que se foi criando J na perspectiva de outro psic logo 40 anos a trabalhar h 15 anos no IDT o discurso centra se no papel t cnico isto a interven o passa pelo o que deve nortear a escolha das modalidades de interven o a utilizar s o os crit rios de inclus o e as guide lines existentes para cada Tratamento e devemos e penso que tentamos ser o mais criteriosos poss vel mas as representa es sociais tamb m influenciam de um modo mais ou menos consciente o processo de escolha Contudo entre os diferentes t cnicos destaca se o facto de que as representa es que estes t m sobre as interven es parecem variar de acordo com a forma o de base e com o n vel de interven o no fen meno parecendo evidenciarem se diferen as significativas entre os discursos dos m dicos psic logos e assistentes sociais e at entre os t cnicos que trabalham no Tratamento ou na Redu o de Risco e Minimiza o de Danos assim como pelas pol ticas de interven o
210. mento dos doentes No entanto a efic cia da sua interven o deve centrar se essencialmente sobre o acompanhamento adequado a cada indiv duo particularmente tendo em conta a especificidade de cada profiss o cada t cnico deve tentar abstrair se de estere tipos e intervir n o segundo as suas cren as mas segundo cada individuo e as suas necessidades Ana Rita Valinho dos Santos Marques 163 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Quadro n 9 Dimens es Indicadores Permite adequar pr ticas Estabelecer adequar reformular e redefinir objectivos Avalia o terap uticos Avaliar resultados Reflectir pr ticas Relativamente quarta quest o tinha como objectivo perceber em que medida a avalia o permite adequar a interven o podemos concluir que todos os t cnicos consideram a avalia o necess ria de modo a poder adequar e a reformular as suas pr prias praticas de interven o Por m importa salientar que na perspectiva destes t cnicos a quest o da avalia o tem sido colocada para segundo plano Destaca se que os m dicos referem que hoje em dia somos obrigados a realizar formas de interven o mais profundas e alargadas at pelas mudan as registadas no tipo de consumos Do abuso de subst ncias como barbit ricos hipno indutores psico estimulantes registado na d cada de 80 pass mos para padr es d
211. mento e Doentes Activos Quadro n 4 Evolu o do n mero de doentes por Programa de Substitui o Opi cea Quadro n 5 Evolu o do n mero de Doentes em Tratamento em Unidades de Desabitua o Comunidades Terap uticas Centros de Dia e Servi o de Atendimento Permanente Quadro n 6 Rela o entre as representa es sociais que os diferentes t cnicos t m sobre a interven o no tratamento da toxicodepend ncia e se estas influenciam as modalidades de interven o que utilizam Quadro n 7 Perceber se os t cnicos conhecem utilizam e identificam as diferentes estrat gias de tratamento Quadro n 8 Caracterizar as cren as de auto efic cia da interven o dos diferentes t cnicos Quadro n 9 Perceber em que medida a avalia o permite adequar a interven o Quadro n 10 Perceber em que medida as representa es sociais sobre o fen meno da toxicodepend ncia condicionam os discursos dos pr prios t cnicos A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 0 INTRODU O DA PROBLEM TICA E OBJECTIVOS DA PESQUISA A presente investiga o surge integrada no Mestrado de Desenvolvimento e Inser o Social realizado na Faculdade de Economia da Universidade do Porto O tema desta disserta o de Mestrado centra se na s droga s e a s toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Apesar da ideia de que o
212. mesmo autor na poca repare se que a obra foi elaborada nos anos 70 acentuavam e agravavam as condi es para a difus o e o alastrar da epidemia da droga junto dos adolescentes Agravavam a tend ncia para a depress o juvenil Para Dias o Tratamento do toxic mano teria que ter em conta que a droga um sintoma entre outros do mal estar e da depress o no adolescente e que o Tratamento individual deve sobretudo restabelecer as possibilidades de crescimento encarando somente interven es mais pesadas quando a depend ncia e habitua o s o realmente incomport veis idem p 56 Esta obra coloca o sofrimento interno do indiv duo como pilar do Tratamento da toxicodepend ncia Retira o do papel de criminoso ou delinquente e recoloca o na Ana Rita Valinho dos Santos Marques 104 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal necessidade de Tratamento ou seja de ajuda para o seu problema de consumo de drogas Em 1980 publicado um livro resultado de um grupo de trabalho sob o tema I Encontro Sobre terapias Institucionais Os temas abordados variavam entre a toxicodepend ncia o alcoolismo e interven es na inf ncia Referiam reflex es sobre as diferentes experi ncias como interven o em ambulat rio ou internamento de longa dura o Teresa Nunes Vicente apresentava uma reflex o sobre a interven o terap utica nos jovens que recorriam a
213. n o do consumo envolvendo e responsabilizando toda a sociedade civil para esse efeito Existem ainda outros dispositivos que promovem a sa de dos indiv duos que escolhem continuar a consumir s o os dispositivos ligados Redu o de Riscos e Minimiza o de Danos As Equipas de Rua v o ao encontro do toxicodependente de rua que opte por Ana Rita Valinho dos Santos Marques 64 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal n o ir aos CAT s em que a sua situa o de toxicodepend ncia est totalmente instalada h longos anos S o acima de tudo pessoas que perderam todos os v nculos que at ent o os ligavam comunidade em geral a fam lia o trabalho os amigos e ainda a institui o de sa de assim uma forma de recriar v nculos pelo menos inicialmente com os t cnicos deste servi o m vel mas acima de tudo criar v nculos com a sua pr pria sa de reaprender a cuidar de si e do seu corpo Estes dispositivos incluem duas vertentes uma ser ent o a de proteger a sa de dos pr prios indiv duos e da comunidade fazer com que o consumo n o traga mais consequ ncias em termos da sua sa de a outra vincula os Estados ao estabelecimento de condi es em que o consumo n o acarrete uma segunda gera o de danos designadamente atrav s do consumo vigiado cujo objectivo reside no incremento da assepsia no uso intravenoso e dos programas de troca de se
214. n as se experienciam Novas express es come am a surgir nomeadamente ao referirem se ao toxicodependente n o como doente mas como cidad o Presentemente uma nova forma de interven o mais global PORI Plano Operacional de Respostas Integradas se come a a delinear Se at aqui Tratamento Preven o e Redu o de Riscos estavam separados entre si por dispositivos espa os e normas diferentes hoje a interven o dever ser integradora de todas as reas e da mais global ou sist mica se quisermos A ideia de grupos de especialistas ou peritos da rea da toxicodepend ncia vai deixar de fazer sentido e de uma forma local envolvem se os recursos da comunidade n o s para um melhor diagn stico da situa o mas tamb m para uma responsabiliza o de todos nesta forma de intervir Muito h a fazer e como todas as mudan as a que temos assistido n o s o f ceis de aceitar esta tamb m n o o ser de certeza como ser agora o consumidor de drogas visto pelo Legislador e como se ver ele pr prio Recorrendo met fora utilizada por Poiares 2001 acerca do tri ngulo comunicacional que resultar daqui Ser que o toxicodependente deixa de ser doente e passa a ser cidad o Que consequ ncias para o discurso do Legislador 4 1 A POL TICA DA PREVEN O Na d cada de 1970 a Preven o Prim ria apresentava se como uma rea de pouca relev ncia para a pol tica da toxicodepend ncia Ao longo dos tempos e com b
215. na a desabitua o feita com a ajuda de medicamentos Dado este per odo como terminado o utente acompanhado psicol gica e ou socialmente com o fim de prevenir a reca da e tentar ajudar o indiv duo na resolu o de outros problemas Segundo Patr cio 1996 p 163 o Tratamento de um toxicodependente implica o desenvolvimento de um projecto terap utico isto de medidas articuladas umas com as outras atitudes m dico psicol gicas e sociais centradas sobre a pessoa doente mas n o s S o necess rias tamb m modifica es no meio ambiente do doente A natureza e contexto social do toxicodependente s o verdadeiramente importantes no processo de Tratamento Sair do mundo da droga implica mudar de rela es sociais Lowesnstein et al 1998 p 81 A intensidade desta mudan a est relacionada com o tipo de consumo e o tipo de inser o A estabiliza o por parte do toxicodependente est mais assegurada se este mantiver la os afectivos e sociais fora do mundo da droga ou se conseguir restabelec los Quando tal n o acontece o utente pode ser encaminhado para internamentos de curta dura o cerca de 7 a 10 dias chamados de Unidades de Desabitua o ou de longa dura o em Comunidades Terap uticas cerca de meio ano a um ano e meio Nos internamentos de curta dura o apenas se ultrapassa o s ndrome Ana Rita Valinho dos Santos Marques 117 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Represen
216. necessita de ter um m nimo de conhecimentos sobre diversas mat rias para poder intervir de forma minimamente adequada Sendo terapeuta tem que se assumir como profissional de Ana Rita Valinho dos Santos Marques 116 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal sa de nem pol cia nem padre nem juiz t o somente um profissional de sa de com um mandato social e com todo o respeito pelo doente deve ajud lo a tratar se Para tal tem que compreender tem que o ouvir tem que elaborar a sua hip tese diagn stica e procurar aplicar a sua hip tese terap utica n o deixando de intervir na promo o da redu o de riscos e danos Nesta rea s o diversas as press es a que est o sujeitos os profissionais de sa de Estes t m que estar conscientes que trabalhar em toxicodepend ncias n o tarefa f cil mesmo um trabalho muito exigente sujeito a m ltiplas press es internas e externas Para melhor as ultrapassar pois vantajoso estar consciente dessas press es Posteriormente fase do acolhimento essencial neste percurso de Tratamento surge a fase da negocia o do Tratamento pois este tem de ser esclarecido debatido negociado e consentido pelo utente Quando se decide por um Tratamento livre de drogas a desabitua o f sica iniciada usualmente em regime de ambulat rio pelo utente No caso do toxicodependente consumir hero
217. nica e ordem moral numa am lgama de biofarmacologia moral necess ria para a explica o e compreens o da toxicodepend ncia A defini o cl nica de toxicodepend ncia n o um guia que possa ser utilizado fora do seu quadro de ac o Introduz uma multiplicidade de crit rios de identifica o que luz da proscri o social o fen meno parece n o exigir Mesmo no campo da investiga o m dica um outro ramo a Epidemiologia adopta uma outra conceptualiza o simplificada assente em no es emp ricas ligadas aos padr es de consumo frequ ncias tempos e modos de administra o tipos de drogas donde extrai por vezes implicitamente e n o explicitamente o conceito de toxicodepend ncia Uma investiga o epidemiol gica cl ssica realizada em Fran a nos anos 70 tratou de esclarecer este ponto N o se fez grande caso da no o de depend ncia Pela experi ncia os sintomas de depend ncia principalmente da depend ncia ps quica parecem bastante imperiosos e subjectivos e comportam com toda a evid ncia uma Ana Rita Valinho dos Santos Marques 17 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal infinidade de graus Preferimos reter neste livro para definir o toxic mano a no o de uso regular de um ou mais produtos t xicos suficiente a nosso ver e sempre objectiva Fr javille et al 1977 p 6 A epidemiologia transporta
218. ning Progress San Francisco Comas D 1985 El uso de drogas en la juventud Barcelona Publicaciones de Juventud y Sociedad S A Comit Consultatif National d Ethique pour l s Sciences de Ia Vie et de Ta Sant 1994 Rapports du comit consultatif national d thique pour les sciences de la vie et de la sant sur la toxicomanie Avis n 43 23 de Novembro Costa J 1995 Contentamento e prazer para uma perspectiva psico antropol gica das toxicodepend ncias Toxicodepend ncias Ano 2 n 1 Lisboa SPTT pp 3 20 Ana Rita Valinho dos Santos Marques 182 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Costa J 1996 A depend ncia da depend ncia c rculos estranhos e c rculos viciosos Toxicodepend ncias Ano 2 n 1 Lisboa SPTT pp 81 90 Costa N F et al 1996b Tratamento da toxicodepend ncia estudo sagital de 1995 Toxicodepend ncias Ano 2 n 3 Lisboa SPTT pp 39 53 Costa N F Oliveira F F 1997 Avalia o do programa Diz n o a uma seringa em segunda m o atrav s de um inqu rito aos utilizadores Toxicodepend ncias Ano 3 n 2 Lisboa SPTT pp 23 40 Costa N F 2000 Aspectos Cognitivos do Tratamento de toxicodependentes ou a sa de como um estado incompleto de bem estar Toxicodepend ncias Ano 6 n 2 Lisboa SPTT pp 55 65 Cruz M S 2000 Pr
219. njunto de fen menos do comportamento cognitivos e fisiol gicos que se desenvolvem ap s o consumo repetido da subst ncia em quest o entre os quais se contam caracteristicamente os seguintes um poderoso desejo de tomar a droga uma deteriora o da capacidade para auto controlar o consumo da mesma a persist ncia do uso apesar das consequ ncias nocivas uma maior prioridade dada utiliza o da droga que a outras actividades e obriga es um aumento da toler ncia droga e por vezes um estado de abstin ncia por depend ncia f sica OMS 1995 p 305 Como se pode verificar o ICD disp e globalmente dos mesmos crit rios de diagn stico do DSM apenas se distinguindo na enuncia o do comportamento de nsia pela droga Ana Rita Valinho dos Santos Marques 15 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal craving Por m o pr prio DSM salvaguarda que embora n o especificado como crit rio a nsia forte desejo subjectivo de utiliza o de subst ncia provavelmente experimentada pela maioria sen o por todos os sujeitos com depend ncia de subst ncias APA 1996 p 180 Perguntar se ent o o porqu da omiss o do craving no DSM Talvez se encontre a resposta a esta quest o no manual do psiquiatra Marc Schuckit 1991 p 24 um dos redactores do DSM A depend ncia tamb m chamada habitua o ou uso compulsivo implica
220. no fen meno Assim certamente que o tipo de interven o em que cada t cnico investe mais estar certamente influenciada pelas representa es individuais assim como pelas representa es colectivas dos t cnicos com a mesma forma o de base e ou do mesmo servi o Nesta perspectiva acrescenta se ainda que na opini o de um dos entrevistados da rea da psicologia as altera es ao longo do tempo das representa es sobre o fen meno e sobre as interven es t m certamente influenciado a escolha e o investimento em diferentes modalidades de interven o que t m ganho mais relevo devido mudan a ao n vel das representa es sociais dos t cnicos e dos dirigentes que trabalham no fen meno como por exemplo a mudan a nas representa es sociais dos t cnicos em rela o s pr ticas de Redu o de Danos no sentido de uma maior valoriza o desta interven o 40 anos a trabalhar h 15 anos no IDT Ana Rita Valinho dos Santos Marques 153 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal J para quem assistente social o seu papel tamb m fortemente influenciado pelas representa es sociais sobre o fen meno Contudo no seu discurso parece evidenciar se uma falta de reconhecimento do seu trabalho nesta problem tica j que s o os pr prios a referirem que o seu papel encarado como uma fragmenta o da interven
221. no processo de rotular e as condi es nas quais se exerce O papel dos n o desviantes aparece nos sendo t o importante como o dos desviantes e Becker 1963 concede um lugar particular aos empreendedores morais na defini o das normas Como sublinham alguns autores o que cria a diferen a n o o facto de alguns passarem ao acto e outros se absterem mas sim o facto de alguns serem estigmatizados e outros n o A rotulagem social um processo selectivo O estere tipo do toxic mano assim como o do delinquente criminal n o uma pura cria o acidental e gratuita desempenha um papel duplo de bode expiat rio Permite cristalizar volta da imagem estereotipada do toxic mano a hostilidade e a ansiedade A estigmatiza o de bodes expiat rios uma v lvula de seguran a que desalastra os estigmatizadores de tens es provenientes das suas pr prias tend ncias para a toxicomania um substituto inconsciente da san o que os estigmatizadores queriam oferecer a si pr prios H um deslocamento da fonte de tens o e o estigmatizado torna se um objecto simb lico cujo desaparecimento ou san o encontrar simbolicamente o sossego procurado O detentor do poder tem uma capacidade de exclus o ou legitima o muito importante O indiv duo passa a ser desviante a partir do momento em que visto e tratado como tal por aqueles que t m o poder de o fazer O conceito operat rio de segracionismo tem fraquezas
222. nser o o Estado est se a comprometer a apoiar as situa es de ruptura de rendimentos perante um esfor o pessoal e familiar de Reinser o Social e ou Ana Rita Valinho dos Santos Marques 90 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal profissional Em terceiro lugar era uma medida territorializada isto as decis es eram tomadas a n vel local Segundo Ant nio Bag o F lix 2002 quando Ministro da Seguran a Social e do Trabalho na sua apresenta o da proposta da Lei sobre o Rendimento Social de Inser o O Estado apela a uma estrutura de parceria alargada para que se encontrem os recursos de inser o garantindo o rendimento m nimo assistindo se simultaneamente a uma territorializa o das pol ticas de protec o social e a um alargamento da base de responsabilidade colectiva no encontrar e accionar recursos face exclus o social Desde 1996 a experi ncia demonstrou que o RMG foi aplicado com muitas defici ncias Passados cinco anos de vig ncia do RMG tornou se necess rio repensar alguns pontos desta medida n o pondo em causa a sua bondade social e muito menos os objectivos que visou atingir mas tornou se necess rio modificar o que estava mal ou o que funcionava deficientemente desta forma que se prop e o Rendimento Social de Inser o de modo a aprofundar o car cter social da presta o e ao mesmo tempo conferindo lhe maior
223. ntribuam para a Redu o de Riscos e a Minimiza o de Danos do consumo de drogas Nessa mesma Estrat gia Nacional assume se desde logo que n o se trata de desistir do Tratamento dos toxicodependentes mas sim de Ana Rita Valinho dos Santos Marques 81 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal estruturar um novo tipo de interven o que seja complementar das estrat gias de Preven o Prim ria de Tratamento e de Reinser o tamb m objectivo inalien vel a procura de preserva o das condi es de sa de da sociedade para o que se devem desenvolver todas as medidas tendentes redu o da procura de drogas Estes princ pios basilares t m vindo a ser prosseguidos tanto ao n vel da sua concretiza o pr tica como ao n vel de enquadramento jur dico e de compromissos nomeadamente pela aprova o dos 30 Objectivos na Luta contra a Droga e a Toxicodepend ncia e posterior aprova o do Plano de Ac o Nacional de Luta contra a Droga e a Toxicodepend ncia Horizonte 2004 A comunidade internacional tem tamb m reconhecido a necessidade de se adoptarem novas abordagens nomeadamente quanto melhoria da assist ncia a quem abusa de drogas tal como se refere na Resolu o n 43 3 aprovada pela Comiss o de Estupefacientes da ONU na sua 45 sess o em Mar o de 2000 onde se assume que os Estados membros devem definir estrat gias de multiplicar e
224. o temos o aumento do consumo das anfetaminas devido s depend ncias criadas durante a 2 Guerra Mundial nos soldados porque sendo sintetizadas por laborat rio permitem uma maior confian a nos produtos e s o mais baratas Por outro lado a maior disponibilidade destas subst ncias e a larga publicidade que caracteriza as anfetaminas como euforizante seguro energ tico mental e cura para problemas como depress o fadiga e redu o de peso Outra nova situa o que emerge do p s guerra inicialmente nos EUA e depois na Europa a cria o do estatuto de adolescente O adolescente uma constru o social Ana Rita Valinho dos Santos Marques 40 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal que teve in cio nesta poca e que se prolonga at aos dias de hoje Devido ao desenvolvimento econ mico e social posterior ao conflito os jovens da gera o do p s guerra apresentam se como completamente diferentes gera o anterior Numa sociedade que estimula o consumismo havia necessidade de dinamizar a economia ap s a recess o provocada pela 2 Guerra os jovens sempre insatisfeitos e desejosos de mudar o mundo com recursos econ micos provenientes do bolso parental s o os potenciais consumidores podendo mesmo este termo ser interpretado no duplo sentido Este facto associado cont nua migra o de m o de obra da Europa para os EUA aumenta e consolida as
225. o aceita o generalizada do consumo de bebidas alco licas a aus ncia de projectos sociais comuns na sequ ncia de uma contesta o com vista a uma transforma o da sociedade que permitiu a exist ncia de um sistema de valores r gidos a guerra do Vietname considerada uma causa que contribuiu para o aumento do consumo de subst ncias a mis ria e marginaliza o das minorias tnicas aumentando o isolamento dos indiv duos e os vazios internos O fen meno da toxicodepend ncia come a nesta fase a crescer em termos da sua complexidade At agora o consumo de subst ncias era visto pela sociedade como caracter stico de grupos perfeitamente delimitados como por exemplo c rculos de artistas ou pessoas exc ntricas grupos marginais ou mesmo minorias tnicas Com a mediatiza o deste fen meno atrav s da comunica o social aumenta a percep o da sua dimens o e complexidade levando o p nico do desconhecido ao mundo ocidental Partimos assim para os anos Oitenta e Noventa do s culo passado com uma nova realidade face ao consumo de subst ncias Durante os anos oitenta assiste se a um Ana Rita Valinho dos Santos Marques 42 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal cont nuo aumento do consumo de variadas subst ncias como os cannabinoides hero na e coca na barbit ricos benzodiazepinas e lcool Se por um lado a hero na a droga mais consumida
226. o conhecimento em extens o de fen menos e com base neste prop sito que vamos apresentar alguns resultados que foram recolhidos a partir dos diferentes relat rios de Actividades do ex Servi o de Preven o e Tratamento da Toxicodepend ncia e do Instituto da Droga e da Toxicodepend ncia Esta informa o s foi poss vel ser obtida pelo privil gio que a pr pria investigadora teve uma vez que na sua pr tica profissional quotidiana respons vel pelo Tratamento destes dados j que desde 2000 trabalha no N cleo de Apoio T cnico do Instituto da Droga e da Toxicodepend ncia Podemos de uma forma reduzida desenhar os estudos em apenas dois tipos quantitativo ou qualitativo A op o tomada para este estudo foi a de um caminho qualitativo pois estes baseiam se na presun o de que a realidade socialmente constru da Quartilho 2001 p 45 Na perspectiva deste autor neste tipo de metodologia as pessoas n o ser o um n mero ou uma vari vel mas sim uma hist ria pessoas num determinado contexto social e cultural N o uma escolha de o mais certo ou o mais indicado mas sim e com certeza que poder ter a ver com as escolhas da pr pria investigadora em termos te ricos Escolher a metodologia qualitativa significa seguir alguns passos ou seja utilizar um tipo de ferramenta para recolha de informa o que ser diferente da metodologia quantitativa Esta recorre a uma ferramenta que a an lise de conte
227. o de procedimentos onde s o especificados o medicamento a utilizar a popula o a que se destina o tipo de Tratamento e administra o do f rmaco a dura o do programa os crit rios de admiss o e de exclus o o modelo psicoterap utico escolhido e as pessoas respons veis pelo programa familiares do indiv duo e elementos da equipa de sa de N o existe um crit rio rigoroso para a admiss o nos Programas de Substitui o no entanto podemos dizer que os crit rios mais imperiosos s o ter mais de 18 anos de idade ter an lises positivas para o HIV gravidez v rios anos de toxicodepend ncia com v rias tentativas de outros Tratamentos falhadas doen a mental evid ncia de doen a grave e aus ncia ou inconst ncia de apoio familiar Ana Rita Valinho dos Santos Marques 146 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Estes Tratamentos t m como base a perspectiva que nega definitivamente a dicotomia tudo ou nada Apesar de a abstin ncia continuar a constituir um objectivo em todas as abordagens o timing e percurso do Tratamento subjectivo e estreitamente personalizado n o existindo f rmulas m gicas e generalistas No dom nio da recupera o do toxicodependente fundamental investir em estrat gias de Preven o de reca das Nesse contexto a abstin ncia deve ser considerada com prud ncia e como um equil brio inst vel sempre
228. o dom nio da Ana Rita Valinho dos Santos Marques 67 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal toxicodepend ncia encaminhar casos em que se considerasse necess ria uma interven o a n vel da Preven o Secund ria e eventualmente Terci ria e canalizar eventuais pedidos de esclarecimento ou de forma o de pais abordados conjuntamente com os t cnicos do CEPD Segundo Dias s d dada a curta exist ncia do CEPD n o foi poss vel estabelecer crit rios rigorosos para uma avalia o satisfat ria sistem tica e permanente s ac es empreendidas em meio escolar bem como de outras interven es preventivas realizadas As equipes de Preven o Prim ria do CEPD e n o s aparecem como tentativa ainda incipiente de sensibilizar e informar formar a fim de se evitarem os fen menos cada vez mais correntes de empolamento especula o dramatiza o sensacionalismo e not ria deturpa o canalizadas a n vel pessoal grupal e dos mass media Na d cada de oitenta do s culo passado o conceito de Preven o assumiu uma nova dimens o definindo se como todo o conjunto de ac es que se destinam a intervir num est dio em que o indiv duo ainda n o entrou em contacto com a droga visando evitar que esse encontro se d ou ainda em termos mais latos evitar que tendo havido esse contacto o uso ocasional se torne regular e abusivo A este prop sito Melo 2002
229. o fen meno da droga Localizado neste espa o temporal o fen meno come ou a ser constru do como um problema nacional escala mundial com enorme gravidade e extens o A pr pria sucess o de acontecimentos pol tico institucionais econ micos e s cio culturais levou Portugal a abordar o fen meno da droga numa perspectiva criminalizadora baseada num modelo jur dico moral internacionalmente ultrapassado Ana Rita Valinho dos Santos Marques 168 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal pelo per odo compreendido entre 1970 e 1974 Posteriormente o per odo de 1975 a 1982 veio oferecer a Portugal a possibilidade de corrigir a din mica pol tico repressiva que perdurava at data no dom nio das drogas Marca este per odo uma ruptura com o modelo anterior a 1974 produzindo novas significa es e interac es do fen meno das drogas Este processo de mudan a conduziu a remodela es de natureza cl nico policial para o problema da droga consolidando a efic cia de um modelo psicossocial Historicamente situado em 1975 este modelo coincidiu com as transforma es s cio hist ricas e legais que permitiram a cria o legal das primeiras estruturas governamentais de combate ao consumo e tr fico de droga Centro de Investiga o Judici ria da Droga CIJD e o Centro de Estudos da Juventude CEJ Em 1976 Portugal adere a um modelo estrutural tripartido
230. o seu servi o Centro de Estudos da Profilaxia da Droga de Coimbra A referida autora considerava que toda a sua interven o se baseava no postulado de escuta do outro permitindo que o adolescente re na sobre o terapeuta os afectos ligados s figuras parentais o que lhe vai eventualmente possibilitar uma experi ncia emocional correctora sublinhando por outro lado a import ncia de contraatitude do terapeuta que deve ser constantemente analisada Vicente et al 1980 p 100 Ainda na mesma reflex o a autora referia a import ncia da presen a de um m dico na equipa Ficava assim assegurada a interven o m dica embora a autora considerasse que para o adolescente o m dico era algu m a quem se recorria para responder s quest es do seu corpo A rela o institucional poderia come ar a partir de uma queixa som tica Segundo a autora caminhamos hoje para um equil brio em que a posi o do m dico enquanto m dico e enquanto suporte fantasm tico dos conflitos institucionais se vai progressivamente melhor integrando idem p 102 Ainda na d cada de 80 discutia se Preven o Vieira 1981 num congresso sobre a Preven o Prim ria no Porto questionava se se era ou n o prejudicial informar os jovens sobre a droga Algumas notas foram retiradas desse congresso os jovens s devem ter informa o sobre drogas quando o desejarem e dever ser muito objectiva N o se deveria referir aspectos concretos sobre
231. objecto em causa 2 Identificar a variabilidade das representa es sociais em fun o dos grupos observados m dicos psic logos assistentes sociais enfermeiros e t cnicos psicossociais 3 Dissecar a rela o entre dimens es das representa es sociais comparando eventuais correla es entre os modos de pensar as drogas e as atitudes sociais e as evolu es pol ticas e institucionais que foram emergindo ao longo das v rias pocas Ana Rita Valinho dos Santos Marques 125 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 7 2 METODOLOGIA Segundo Fortin 2003 p 131 a fase metodol gica consiste em precisar como o fen meno em estudo ser integrado num plano de trabalho que ditar as actividades conducentes realiza o da investiga o Neste cap tulo pretende se descrever o conjunto de m todos e t cnicas que nos guiaram no processo de pesquisa de forma a dar resposta quest o de investiga o M todo uma palavra de origem grega Methodos que significa caminho para Levando nos a pensar nas diferentes op es de estudo que o investigador pode fazer perante o seu objecto de estudo Em qualquer investiga o sistem tica ou pesquisa cient fica a defini o do objecto a ser investigado das vias metodol gicas ou dos caminhos e estrat gias de abordagem que se fazem necess rias e dos sujeitos ou dos elementos com os quais se proce
232. ocasional ao abuso e at depend ncia n o devida a uma causa nica mas sempre uma combina o da personalidade do consumidor do meio social em que est inserido e da subst ncia consumida acesso Uma circunst ncia s por si n o suficiente para explicar o desenvolvimento de uma depend ncia mas antes a combina o de factores de risco individual e social combinados Ana Rita Valinho dos Santos Marques 134 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 8 1 APRESENTA O E DISCUSS O DE DADOS QUANTITATIVOS QUE CARACTERIZAM A EVOLU O DAS RESPOSTAS INSTITUCIONAIS NA REA DA SA DE O car cter il cito do consumo destas drogas aliado sua forte estigmatiza o social pol tica etc torna o acesso a esta popula o de consumidores com a finalidade de realiza o de estudos epidemiol gicos bastante dif cil e limitado O recurso a m ltiplas fontes de informa o correspondendo a pontos de contacto ocasionais desta popula o com os sistemas sociais formais existentes Servi os de Sa de Servi os Sociais Servi os de Justi a Prisionais ONG s etc tem sido uma das formas utilizadas para minimizar alguns dos problemas nomeadamente o da representatividade associados a estas dificuldades Existir sempre contudo uma popula o oculta de consumidores de drogas il citas implicando a necessidade de se fazerem estimativas de consumo de d
233. odependente assume a centralidade das leis Segundo Poiares 1998 p 60 estamos perante um novo paradigma biopsicossociol gico no qual se evidencia um novo quadro de refer ncia constitu do por preocupa es de compreens o cient fica dos actores sociais envolvidos no processo Legislador Aplicador e Transgressor O toxicodependente dever ent o ser tratado e reenviado sociedade ou melhor deve ser reinserido na comunidade em substitui o da atitude criminalizadora do acto em si do consumo A mesma pessoa que h uns tempos atr s era vista como um delinquente neste momento passa a ser um enfermo que necessita de cuidados especiais de sa de com vista ao Tratamento e posterior inclus o na sociedade No seguimento do Decreto Lei n 430 83 uma d cada depois reescrevia se o consumidor de drogas sancionado pela lei vigente de maneira quase simb lica procurando se que o contacto com o sistema formal da justi a sirva para incentivar ao Tratamento na hip tese de ter sido atingido pela toxicodepend ncia Decreto Lei n 15 93 de 22 de Janeiro de 1993 Refere ainda este artigo a dist ncia que dever amos ter em rela o a formas de intervir como a Holanda onde os consumos de droga n o seriam proibidos na pr tica Acreditava se que o mais importante da interven o seria o aspecto da sa de do toxicodependente e a sua motiva o para o Tratamento logo a vertente jur dica seria o de se considerar como mai
234. oga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Por outro lado outro dos enfermeiros centra a sua efic cia no estabelecimento de objectivos claramente definidos afirmando que a efic cia da interven o depende principalmente do objectivo estabelecido O estabelecimento de objectivos espec ficos e realistas que s o definidos conjuntamente com o utente facilita a sua concretiza o Quando a interven o fracassa identifico como causas poss veis a discord ncia entre o objectivo estabelecido pelo t cnico e o objectivo do pr prio utente e a dificuldade no estabelecimento de uma rela o de ajuda terap utica falta de empatia por alguma das partes de respeito ou de disponibilidade para a rela o 31 anos a trabalhar h 6 anos no IDT De acordo com a perspectiva de um dos assistentes sociais a avalia o da sua efic cia recai sobretudo no sucesso que se atinge ao n vel da redu o de risco e minimiza o de danos Penso que se controla o fen meno trata se o problema em alguns sujeitos mas sobretudo reduz se riscos e danos 35 anos a trabalhar h 9anos no IDT Mais uma vez na opini o dos t cnicos psicossociais as cren as de auto efic cia recaem nas necessidades do indiv duo que procura e decide tratar se Uma grande parte dos t cnicos considera que a efic cia da sua interven o assenta essencialmente no sucesso do Trata
235. ogas il citas baixava Nida Deglon et al 1994 in Lowenstein et al 1998 Ana Rita Valinho dos Santos Marques 119 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 6 A SOCIEDADE FACE AOS TOXICODEPENDENTES Quando se fala de toxicodepend ncia nem sempre se tem em conta as diferen as entre sub grupos e indiv duos O problema da droga tornou se t o global que a tend ncia para se esbaterem as diferen as entre os toxicodependentes parece crescer em propor o com a ideia de um eles cimentada pela impress o de que volta da droga se estruturou um modo de vida apar ncia linguagem etc A produ o do saber sobre a droga obedece a um processo de constru o do conhecimento analisado por Berger e Luckman 2003 enquanto processo sujeito a uma activa elabora o significativa constantemente incorporada em padr es de objectiva o institucional sancionados atrav s da legitima o O que a sociedade admite como conhecimento vem a ser coextensivo com o cognosc vel ou de qualquer modo fornece a estrutura dentro da qual tudo aquilo que ainda n o conhecido chegar a ser conhecido no futuro Este o conhecimento aprendido no curso da socializa o e que serve de media o na interioriza o pela consci ncia individual das estruturas objectivadas do mundo social Neste sentido o conhecimento situa se no cora o da dial ctica fundamental da so
236. ogies Analyse conceptuelle in Aebischer V Deconchy J P Lipiansky E Eds Id ologies et repr sentations sociales Suisse Delval Lowenstein W et al 1998 A Metadona e os Tratamentos de Substitui o Lisboa Climepsi Editores Lucchini R 1985 Drogues et soci t essai sur la toxicod pendance Fribourg Editions Universitaires Macedo T 2000 Contributo das neuroci ncias para a compreens o da toxicodepend ncia Toxicodepend ncias Ano 6 n 3 Lisboa SPTT pp 3 16 Macquet C 1994 Toxicomanies ali nation ou Styles de Vie Paris L Harmattan Magalh es L 2000 A doen a a dor de Existir Toxicodepend ncias Ano 6 n 1 Lisboa SPTT pp 9 14 Marlatt A G et al 1999 Redu o de danos estrat gias pr ticas para lidar com comportamentos de alto risco Porto Alegre Artes M dicas Sul Marques A P 1982 Toxicodepend ncia e Sociedade Organiza o Revista Psicologia Vol II n 3 e n 4 Edi o A Regra do Jogo Melo R 2002 Os Qu s e os Porqu s da Preven o Prim ria da Toxicodepend ncia Toxicodepend ncias Ano 8 n 2 Lisboa SPTT pp 23 28 Merton R K 1970 Sociologia teoria e estrutura S o Paulo Mestre Jou Miguel N 1997 Toxicodepend ncia uma perspectiva Toxicodepend ncias Ano 3 n 1 Lisboa SPTT pp 25 30 Ana Rita Valinho dos Santos Marques 188 A s Dro
237. ois problemas essenciais o consumo e o acesso ilegal aos produtos condicionado pelos pre os super inflaccionados A droga aparece cada vez mais como uma entidade m gica de propriedades demon acas que infecta o corpo social responsabilizando a pela origem de outras quest es sociais nomeadamente a inseguran a urbana e a criminalidade Face a este cen rio o poder pol tico foi respondendo com medidas legislativas nomeadamente com leis substantivas Decreto Lei n 430 83 de 13 de Dezembro e Decreto Lei n 15 93 de 22 de Janeiro que veio permitir que se privilegiasse mais o Tratamento do que a puni o separando se claramente as figuras de traficante e consumidor desaparecendo igualmente o Tratamento compulsivo dos toxicodependentes Destaque se que o presente diploma prev que a pris o preventiva n o imposta ao arguido que tenha em curso um programa de Tratamento de toxicodepend ncia salvo se existirem em concreto necessidades cautelares de especial relev ncia O sistema de controlo de droga distribui se por tr s tipos de controlo Castel e Coppel 1991 p 238 os hetero controlos entregues pela sociedade ao aparelho repressivo e ao aparelho m dico os controles sociais promovidos pelas inst ncias agenciadoras da socializa o fam lia escolas igreja associa es e os auto controles atrav s do que Giddens 1991 designa pela monitoriza o reflexiva da ac o Ana Rita Valinho dos Santos Marques 49
238. ol ticas em Portugal diversas vers es cada uma delas moldada pela pol mica social entre crentes e n o crentes comunistas e liberais etc Estas distin es enfatizam a transi o do conceito de representa o colectiva como uma vis o uniforme para uma vis o diferenciada das representa es sociais a qual est mais pr xima da nossa realidade Os contrastes entre diferentes esp cies de rela es sociais s o mais significativos do que aquele entre o elemento social e individual Isto precisamente o que eu quis real ar pela escolha que fiz das palavras Uma representa o muda inguestionavelmente de uma esfera para a outra quando toma forma e o ponto de vista do observador joga uma parte importante Mas estas transforma es s o um sintoma crucial do estado da sociedade Como se depreende as representa es designadas por Moscovici como hegem nicas correspondem s representa es colectivas caracterizadas por Durkheim como impositivas Se com efeito talvez possamos contestar que todos os fen menos sociais sem excep o se imp em ao indiv duo do exterior a d vida n o se afigura poss vel no que diz respeito s cren as e s pr ticas religiosas s regras da moral aos in meros preceitos do direito isto no que se refere s manifesta es mais caracter sticas da vida colectiva Todas elas s o expressamente obrigat rias Ora a obriga o a prova de que essas formas de agir e de pensar n o s
239. ol e a utiliza o de certas subst ncias com fins m dicos apropriados APA 1993 p 165 frequente assinalar se que a toxicodepend ncia uma condi o estranha s sociedades tradicionais e que s emerge nas sociedades contempor neas Lucchini 1985 p 138 Nas sociedades tradicionais registaram se sempre utiliza es diversificadas de drogas algumas hoje proibidas mas sob uma ritualiza o simb lica e enquadradas socialmente na maior parte das situa es como suporte a cerimoniais religiosos e pr ticas m gicas A toxicodepend ncia em contrapartida um fen meno moderno que representa uma descontinuidade com as pr ticas colectivas ou individuais sob sancionamento da comunidade que caracterizavam os usos de drogas nas sociedades tradicionais A toxicodepend ncia inscreve se numa utiliza o privatizada das drogas como um meio qu mico proporcionador da desmultiplica o do eu no mbito de um processo de individualiza o o uso de drogas uma das formas da experi ncia moderna de liberdade Fatela 1991 p 53 Neste quadro a toxicodepend ncia representa uma exacerba o individualista da liberdade compreendendo pr ticas de ruptura com os la os sociais os quais nas condutas extremas figurativamente expressas pelo heroin mano des socializado representam a experi ncia tr gica da supera o ilimitada de si no seu pr prio mundo sem outro conforme a defini o ontol gica
240. omentos emo es e sintomas que o pr prio pensa serem importantes para que o m dico confirme a sua doen a O seu conceito de doen a ou sa de leva o a fazer a selec o dos temas na sua narrativa na presen a do m dico O m dico por seu lado foi treinado para reconfigurar ou traduzir a narrativa do doente a partir das suas teorias m dicas Cruz 2000 p 121 E o diagn stico que vai confirmar a doen a e ao mesmo tempo confirmar o papel de doente pessoa que est sua frente Ana Rita Valinho dos Santos Marques 101 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 5 2 A TOXICODEPEND NCIA E A CONCEP O DOS ESPECIALISTAS O termo inicial toxicomania foi posteriormente substitu do pelo termo toxicodepend ncia e ainda depois pela express o adi o muita usada nos ditos modelos anglo sax nicos ou Narc ticos An nimos Para os psiquiatras a DSM apresenta uma listagem de crit rios que lhes serve de instrumento de trabalho para uniformizar os crit rios de diagn stico Perturba es Relacionadas com Subst ncias engloba neste Manual as perturba es relacionadas com o consumo de uma droga de abuso incluindo o lcool com os efeitos secund rios de um medicamento ou com a exposi o a um t xico Os sintomas mais frequentemente associados s o as altera es da cogni o ou do humor embora possam tamb m estar presentes ansiedade alucina es
241. ondi es de vida promovendo o desenvolvimento de capacidades sociais colectivas ou individuais a tr s n veis cognitivo do conhecimento fornecendo informa o relacional facilitando o desenvolvimento das rela es interpessoais e grupais organizativo promovendo a interac o entre cidad os e organiza es 45 anos a trabalhar h 15 anos no IDT Os psic logos caracterizam a sua interven o centrada no sujeito no indiv duo que pede ajuda e que decide entrar num processo de Tratamento Contudo estes t cnicos consideram que muitas vezes s o confrontados com diferentes dificuldades na sua interven o vivenciadas quer pelas diferentes modalidades de respostas que existem quer pelas diferentes subst ncias que se consomem quer pelas caracter sticas individuais dos pr prios toxicodependentes Neste sentido referem que pertinente referir a dificuldade que existe em definir os limites das interven es terap uticas na toxicodepend ncia o termo Tratamento engloba v rias ac es e interven es dos t cnicos em situa es de abuso e depend ncia de diferentes drogas e de diferentes indiv duos em fases diversas do percurso na sua depend ncia e na sua vida Da que as estrat gias utilizadas podem ser muito diversas dependendo da situa o e do individuo em quest o Muitas vezes deparamo nos com uma dificuldade em definir os limites entre as interven es no fen meno
242. onhecem verdadeiramente o que fazer como fazer optando em regra pela continua o do estabelecido com pequenas variantes locais Afirma ainda o mesmo autor que a pr pria cultura em que vivemos d sentido ao consumo ela promove a droga sem o dizer Como uma esp cie de narcisismo cultural que vai cada vez exigir mais e mais mas que por vezes exige a quem na inf ncia pouco Ana Rita Valinho dos Santos Marques 108 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal teve Esta cultura que Milheiro descreve como uma cultura que apenas inclui os ganhadores aniguila a auto estima dum n mero cada vez maior de pessoas que passam a exclu dos mentais sociais culturais sem nada lhes dar em troca idem 1999 p 177 O drogado nega os afectos negativos ao consumir deixa por uns breves momentos de ser aquele que perde que sente a dor de ser pequeno Acrescenta ainda que o homem de hoje para sobreviver s exig ncias da cultura mant m se numa postura onde nem pequeno nem adulto s o eternos adolescentes Viver desta forma como adolescentes pode se adiar a responsabilidade e a responsabiliza o Na actual adolesc ncia retardada os jovens que o s o tempo demais s o muito bons candidatos a toxicodependentes enquanto isso decorre idem 1999 p 181 J Carqueja 2000 p 83 e 84 reflecte sobre se as toxicodepend ncias realmente doen as O seu art
243. onjunto de procedimentos que t m como objectivo a produ o de um texto anal tico no qual se apresenta o corpo textual dos documentos recolhidos de um modo transformado assim poss vel estabelecer um conjunto de tarefas que constitu ram o processo anal tico b sico isto a an lise pressup s um processo de redu o de dados partiu se de um conjunto amplo e complexo de dados para chegar a elementos manipul veis que permitissem estabelecer rela es e obter conclus es Assim uma das primeiras tarefas foi efectuar a separa o dos dados em unidades relevantes e significativas Dimens es esta divis o da informa o em dimens es realizou se em fun o do tema abordado A identifica o e classifica o das dimens es consistiu em examinar as entrevistas de modo a encontrar nelas determinadas componentes tem ticas que permitissem classific las numa determinada categoria de conte do Depois de encontradas as dimens es passou se identifica o dos indicadores Este processo de redu o dos dados teve como objectivo simplificar a informa o Cobb e Rixford 1998 apontam um indicador como referente a um conjunto de estat sticas que pode servir enquanto met fora de um fen meno que n o directamente mensur vel reconhecendo que no entanto o termo usado muitas vezes com menor precis o para significar qualquer dado que se relaciona com condi es sociais No entanto Quivy e Campenhoudt 1997
244. onsumos e nos Tratamentos e com algum n vel de degrada o Psic logo 40 anos a trabalhar h 15 anos no IDT penso que o que acontece n o s que as representa es sociais Ana Rita Valinho dos Santos Marques 166 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal condicionam a escolha das modalidades de Tratamento mas tamb m que a utiliza o de determinadas tipologias de Tratamento segundo crit rios espec ficos influenciam as representa es existentes sobre as estrat gias de Tratamento que nem sempre se baseiam em evid ncia cient fica Enfermeiro 40 anos a trabalhar h 15 anos no IDT o nosso discurso enquanto t cnicos a forma que temos de comunicar com o utente e com os outros t cnicos a nossa representa o social sobre o fen meno influ ncia o que se transmite e como se transmite As palavras utilizadas e a mensagem que envolvem reflectem sempre a nossa perspectiva em rela o ao que tentamos transmitir Psicossocial 39 anos a trabalhar h 16 anos no IDT Ana Rita Valinho dos Santos Marques 167 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 9 CONCLUS O E CONSIDERA ES FINAIS Esta investiga o percorreu toda uma traject ria s cio hist rica legal estrutural e fenomenol gica visando o conhecimento da evolu o e tend ncia das pol ticas das
245. ora claramente pluridisciplinar congregando as vertentes jur dico penal m dica e psicossocial Efectivamente o toxicodependente ainda um delinquente mas n o apenas um delinquente Agra 1998 p 53 Ana Rita Valinho dos Santos Marques 55 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal O Decreto Lei n 745 75 de 31 de Dezembro cria na Presid ncia do Conselho de Ministros o Centro de Estudos da Juventude CEJ e o Centro de Investiga o Judici ria da Droga CID O primeiro tinha como compet ncia o estudo dos problemas ligados ao uso da droga particularmente o do Tratamento m dico social do toxic mano enquanto que a actividade do CIJD pautava se pela prossecu o das actividades de investiga o fiscaliza o e repress o criminal nesse dom nio Neste per odo as ac es governamentais estavam sob a tutela do Minist rio da Justi a colocando se a t nica do problema na subst ncia e no seu consumo Dando continuidade aos objectivos de suster e de inverter a situa o no dom nio das drogas s o estruturadas organicamente pelo Decreto Lei n 791 76 de 5 de Novembro o Centro de Estudos da Profilaxia da Droga CEPD que veio a substituir o CEJ constituindo se como respons vel pelas quest es relativas redu o da procura e o Centro de Investiga o e Controle da Droga CICD por substitui o do CIJD respons vel pelas quest es re
246. orma es as conven es e os h bitos do grupo passam a estar confirmados Situamo nos aqui ao n vel do aclaramento impl cito das normas As atitudes ordenam se os valores s o ajustados mas finalmente atrav s das frases que se d a sua explica o A consci ncia hist rica uma manifesta o do que Durkheim designava por consci ncia colectiva que se traduz por for as sociais favorecedoras da liga o dos indiv duos entre si e cada um destes com a colectividade problem tica que tem preocupado autores t o distintos como Jean Jacques Rousseau Du contrat Social com o conceito de vontade geral de Gilbert Durand Les Structures Anthropologiques de L imaginaire ou Serge Moscovici Psychologie Social com o conceito de representa es sociais A densidade memorial da consci ncia hist rica pode ser um indicador de consist ncia e reprodutibilidade social entre as gera es Um mesmo objecto pode ser alvo de uma pluralidade de representa es e de estruturas representacionais pelo facto de a estas estarem associadas clivagens como socio econ micas educativas e outras Estas d o corpo a uma rela o espec fica entre um sujeito com um objecto pois est o na base de uma actividade de constru o de modeliza o e de simboliza o Como s o factores colectivamente produzidos reflectem a situa o os projectos as estrat gias e os handicaps de um determinado grupo Assim as representa es
247. orma o elaborada pela autora a partir de dados recolhidos em relat rios de actividades do ex SPTT e IDT N o h dados A evolu o dos novos doentes nas estruturas da rede p blica de Tratamento da toxicodepend ncia permite nos sobretudo ter uma no o da evolu o da procura de Tratamento nestas estruturas os CATs por parte desta popula o Considera se novo doente em cada ano todo aquele que procura os servi os de um determinado CAT pela primeira vez na vida Ana Rita Valinho dos Santos Marques 140 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Assim pela an lise do quadro n 3 facilmente constatamos que nos per odos em estudo se observa um aumento significativo de novos doentes Este facto tamb m est relacionado com a abertura de diferentes CAT s Considera se doente activo em cada ano todo aquele que teve pelo menos uma consulta nesse ano O n mero de doentes activos tem vindo a aumentar o que implica uma maior reten o dos doentes nos servi os e como tal nas consultas J no que se refere s consultas de seguimento antes de mais torna se relevante salientar que estas correspondem a consultas realizadas por m dicos psic logos assistentes sociais enfermeiros e t cnicos psicossociais A an lise da evolu o do n mero de consultas de seguimento durante o per odo em an lise evidencia que o n mero destas consultas assum
248. ossibilitam aceder a estas realidades Ana Rita Valinho dos Santos Marques 12 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 1 2 A NO O DE TOXICODEPEND NCIA O conceito de toxicodepend ncia est intimamente associado ao conceito de droga e sujeito constru o social desta No campo cient fico o conceito de depend ncia tem sofrido constantes redefini es nos ltimos 30 anos Nos anos 60 a OMS recomendou a substitui o dos termos h bito e adi o pelo termo depend ncia vindo a definir esta como um estado ps quico e por vezes f sico caracterizando se por modifica es comportamentais que compreendem sempre uma compuls o na administra o da droga de forma cont nua ou peri dica Edwards e Arif 1982 p 19 J nos anos 80 na sequ ncia das investiga es de Griffith Edwards sobre alcoolismo a OMS adoptou o conceito de s ndrome de depend ncia como entidade nosol gica composta por um grupo inter relacionado de sintomas cognitivos comportamentais e fisiol gicos repousando na distin o entre depend ncia fisiol gica estados de adapta o do organismo caracterizados pelos sintomas de toler ncia e priva o e a depend ncia psicol gica correspondente a um estado emocional de necessidade Edwards et al 1982 O conceito de s ndroma de depend ncia constitui se como a base fundamental para as defini es cl nicas de
249. que Alain Ehrenberg 1991 p 13 nos d de toxicomania Nesta ptica poder se o aplicar ao toxicodependente de fim de percurso as categoriza es feitas por Durkheim 2001 para os suic dios que Ana Rita Valinho dos Santos Marques 19 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal denominou de ego sta e an mico isto s mbolo da desafilia o absoluta e da ruptura com qualquer tipo de regula o social Por m alguma interven o sociol gica na abordagem do fen meno da droga tem revelado variabilidade da inscri o simb lica e social das pr ticas que reservam um lugar central para o consumo de drogas Isto distintamente do suic dio que encerra uma realidade emp rica incontorn vel a morte a toxicodepend ncia uma manifesta o capilar que adquire configura es individuais e sociais diversas estando a capta o destas dependente do olhar representacional Se o epidemiologista e o cl nico a sujeitam categoria de doen a o ponto de vista sociol gico poder n o lhe conferir autonomia como objecto de conhecimento e observ la mergulhada nas pr ticas sociais As an lises sociol gicas que se recusaram a analisar a toxicodepend ncia descontextualizadamente descobriram que as pr ticas toxicodependentes n o s o uniformes isto nem sempre s o desintegradoras e an micas inserindo se frequentemente em modos de vi
250. que se pode retirar da firme evid ncia emp rica a respeito da toxicodepend ncia que apesar da sua no o poder ser reformulada mais ou menos abstractamente de forma mais descritiva ou de forma mais avaliativa valorativa o que emerge um objecto muito precioso n o s o as subst ncias psicoactivas em todo o seu espectro mas as drogas ilegais A introdu o do cap tulo Perturba es pela utiliza o de subst ncias psicoactivas do DSM III R da APA um exemplo cient fico muito esclarecedor a este respeito Na nossa sociedade a utiliza o de certas subst ncias Ana Rita Valinho dos Santos Marques 18 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal em determinadas circunst ncias para modificar o humor ou o comportamento geralmente considerada normal e apropriada Tal utiliza o inclui o consumo social de lcool no qual a maioria dos americanos adultos participa habitualmente e a utiliza o de cafe na como estimulante no caf ou no ch Esta classe de diagn stico diz respeito aos sintomas de inadapta o comportamental associadas utiliza o mais ou menos regular de subst ncias psicoactivas que afectam o sistema nervoso central Tais situa es s o aqui encaradas como perturba es mentais e dever se o por conseguinte distinguir da utiliza o n o patol gica de subst ncias psicoactivas como o consumo moderado de lco
251. r A consciencializa o da exist ncia de uma nova desordem exige por outro lado a introdu o de respostas especializadas Com base no suposto aumento de consumos criam se nesta poca os organismos de combate s drogas donde saem os primeiros especialistas portugueses repartidos pela vertente policial e m dico psicol gica Gerado o alarme e criadas as respostas burocr tico repressivas face a um problema praticamente inexistente e com escassas implica es a n vel social a droga adquire as condi es para se estabelecer como problema social Por outro lado medida que os jovens v o contactando com as drogas o fen meno torna se vis vel e as expectativas Ana Rita Valinho dos Santos Marques 48 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal sociais sobre a emin ncia de um flagelo t m os seus primeiros sinais confirmat rios Fernandes 1990 p 214 A partir da d cada de 80 do s culo passado os padr es de consumo alteram se com a introdu o de um mercado de venda de hero na Fernandes 1993 com base nos seus estudos etnogr ficos constata que esta nova fase ent o caracterizada por um novo produto hero na novos actores sociais os junkies e concomitantemente os vendedores de retalho dealers um mercado e um novo tipo de territ rio bairros sociais e zonas desfavorecidas As drogas passam a levantar os seus d
252. ratamento no Instituto da Droga e da Toxicodepend ncia I D T contrastado por crit rios apontados na literatura pertinentes como mobilizadores de eventuais Ana Rita Valinho dos Santos Marques 130 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal diferen as sexo idade tempo de trabalho na rea da toxicodepend ncia a trabalhar em diferentes Centros de Tratamento do IDT de modo a podermos encontrar as diferen as entre o centro e a periferia Na evolu o da investiga o n o foi casual a op o pela constitui o de grupos metodologicamente representativos homog neos Estas op es decorreram de como se definiu tanto o objecto quanto os sujeitos A determina o do n mero destes ltimos esteve relacionada com a caracteriza o coerente do universo e de como se articula o objecto teoricamente Foi desnecess rio como tal questionarmo nos se o n mero de sujeitos era o suficiente para uma investiga o cient fica tivemos portanto foi que reflectir sobre o que que dava consist ncia cient fica investiga o Isto de que forma se circunscreve o objecto que exig ncias te ricas traz esta circuncis o de que modo se caracterizam os sujeitos que caminhos e que estrat gias s o pertinentes e coerentes ao objecto aos sujeitos e t m condi es de viabilidade para o pesquisador Neste sentido o n mero de sujeitos a dura o das entrevistas a for
253. recursos existentes indispens vel conhecer o territ rio local nomeadamente os grupos desfavorecidos de maneira a ter uma dimens o comunit ria dos problemas e das solu es e preciso entender o benefici rio no seu contexto de ac o familiar comunit rio laboral s cio cultural e verificar a adequa o das respostas ao conjunto do Ana Rita Valinho dos Santos Marques 95 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal sistema de ac o em que este se insere A temporalidade da inser o deve ser repensada como um elemento estruturante dos programas de inser o a desenvolver tendo em conta os percursos de vida dos indiv duos os factores de ordem cultural tica em fun o das pr prias condicionantes ao n vel do mercado de trabalho 4 4 4 OUTRAS MEDIDAS NA REA DA REINSER O SOCIAL Ainda no mbito da Reinser o Social a Direc o Geral de Ac o Social desenvolveu em 1996 acordos de coopera o em particular com Comunidades Residenciais de Estada Prolongada e Apartamentos de Reinser o Em 1997 definiu acordos de coopera o para a cria o de Equipas de Apoio Social Directo Centro de Acolhimento aos Sem Apoio no mbito da toxicodepend ncia e problemas derivados com a seropositividade HIV SIDA delinqu ncia e ruptura familiar Centro de Conv vio Juvenil e Servi o de Atendimento Para al m destes apoios o Instituto de Emprego e For
254. referia se que os Centros de Dia CD s o estruturas que constituem uma interface entre o Tratamento e a Reinser o Promovem atrav s do recurso a actividades ocupacionais l dicas pedag gicas e terap uticas o processo de ressocializa o e de treino de compet ncias sociais a par do processo de Tratamento A Portaria n 484 2003 n o lhes faz qualquer refer ncia Estas unidades especializadas constituem um ponto de liga o entre o Tratamento e a Reinser o envolvendo a aprendizagem de um modo de vida diferente das anteriores viv ncias pondo ao dispor do toxicodependente actividades terap uticas educativas formativas e ocupacionais O IDT dispunha em 2005 de 3 unidades deste tipo uma no Porto e duas em Lisboa Existem ainda outros Centros de Dia em Unidades Privadas Ana Rita Valinho dos Santos Marques 139 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Quadro n 3 Evolu o do n mero de Primeiras Consultas Consultas de Seguimento e Doentes Activos Novos Doentes Consultas de Ano Total Doentes Activos Seguimento 1986 981 gt 11565 12 546 1987 2 657 Co 253m 28 029 1989 4 524 oC 49697 54 221 1990 4 236 oC 5220 56 438 1 s s gt Bao 6sass 1903 ass i oro mo 194 szo gt soo osso 195s 740 gt 125549 133009 19 oss gt 1203 imn9s2 1997 9 183 19822 207 405 Fonte Inf
255. regadas e conjuntamente satisfa o de necessidades sociais entre outras de apoio s fam lias s escolas de valoriza o do patrim nio natural urban stico e cultural N o dispensando a articula o com outras medidas da nova gera o de pol ticas sociais e de desenvolvimento do mercado social de emprego as Empresas de Inser o foram um instrumento importante de combate pobreza e exclus o social Das Empresas de Inser o pretendia se a melhoria das condi es de empregabilidade de pessoas relativas aos grupos mais desfavorecidos face ao mercado de trabalho atrav s da profissionaliza o da aquisi o de um curr culo profissional de h bitos de trabalho em organiza o de eleva o de autoconfian a e melhoria da imagem dessas pessoas Estas Empresas permitiram ainda a cria o de emprego na satisfa o de necessidades sociais e no desenvolvimento econ mico e social das comunidades locais onde se inserem A institucionaliza o das Empresas de Inser o seguiu as directrizes do Conselho Europeu do Luxemburgo respeitantes cria o de emprego escala local na economia social e nas novas actividades ligadas s necessidades ainda n o satisfeitas pelo mercado contribuindo assim atrav s do est mulo ao mercado social de emprego para a cria o de novas oportunidades para desempregados 4 4 3 O RENDIMENTO SOCIAL DE INSER O As disparidades de rendimento s o um problema que afecta
256. repr sentations in R M Farr e S Moscovici Ed Social Repr sentations Cambridge Cambridge University Press Ana Rita Valinho dos Santos Marques 189 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Moscovici S 1988 Notes towards a description of social repr sentations in European Journal of Social Psychology Vol 18 pp 211 250 Moscovici S 1989 Des repr sentations collectives aux repr sentations sociales Les repr sentations socialles Paris Presses Universitares de France Moscovici S 2000 Social representations Explorations in social psychology Oxford Polity Moscovici S 2003 A Representa o Social da Psican lise Rio de Janeiro Zahar Nahas G G Frick H C 1986 Une politique de la drogue pour l poque actuelle in Bulletin des stup fiants Vol 38 n s 1 e 2 pp 3 14 Nahas G G 1990 Drogue et soci t Paris Masson Neto D 1987 Percurso Terap utico do Toxic mano ou Reflex es sobre o Tratamento de Toxicodependentes em Portugal Alcoolismo e Toxicodepend ncias Trabalhos apresentados nas Segundas Jornadas de Sa de Mental do Algarve Faro pp 185 190 Nowlis H 1979 A Verdade sobre as Drogas Lisboa Gabinete Coordenador do Combate Droga Nurco D et al 1981 Addict Carreers I A New Typology II The First Ten Years II Trends across Time
257. representativa que define a natureza dos est mulos e o significado das respostas que se lhes d Trata se de um acto activo que reconstr i um dado seguindo um duplo processo conceptual e figurativo como enuncia Moscovici atrav s do qual o pensamento torna o objecto tang vel numa figura e remete o para uma constela o conceptual dando lhe uma significa o Esta fun o pr tico social de figura o do mundo de organiza o significante do real torna as representa es sociais a n vel simb lico como que programadoras da interpreta o do mundo assim como orientadoras de comportamentos e pr ticas sociais Nesta medida as representa es sociais s o tamb m designadas por teorias sociais pr ticas Vala 1993 a porque produzem conhecimentos e n o s o meros reflexos da realidade s o constru das na interac o e na comunica o quotidiana e contribuem para a orienta o de pr ticas e para constitui o das rela es sociais e dos seus quadros institucionais Ana Rita Valinho dos Santos Marques 23 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Distintamente dos valores e das ideologias que s o sistemas simb licos muito gen ricos e abrangentes inseridos em padr es de pensamento mais duradouros transmitidos geracionalmente Lipiansky 1992 as representa es sociais n o existem sem sujeito e sem objecto espec fico as representa es sociais s
258. resultando daqui um livro O autor inicia a obra com quest es de alguma forma perturbadoras e nada inocentes Ironicamente ou n o afirma que todos identificam de uma maneira geral a droga flagelo com a causa primordial das tormentas sociais As esferas pol ticas jur dica moral e medi tica identificaram durante d cadas o fen meno da droga ao mais estranho e perigoso inimigo da vida boa e da boa ordem O estudo tinha como objectivo definir a rela o entre a droga e o crime Interessante conclus o do estudo que se contrap e ideia do senso comum que declarava haver uma causalidade linear entre droga e crime Concluindo fica sem efeito essa tese simplista segundo a qual as drogas il citas desencadeariam viol ncia e seus consumidores um perigo para a sociedade As pr prias transforma es hist ricas Ana Rita Valinho dos Santos Marques 107 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal da criminaliza o da droga em Portugal d o sinal de uma progressiva compreens o impl cita de exist ncia dessa densidade entre a droga e o crime idem 1998 p 9 Lub lia Magalh es psic loga e psicanalista no CAT das Taipas num artigo resultado de um Encontro sobre Toxicodepend ncia afirmava que a doen a a dor de existir e para isso n o h cura Para a terapeuta deixar as drogas deixou de ser priorit rio talvez o paciente alguma vez as decida dei
259. ria dos consumidores c a generaliza o do consumo a todos os estratos socio econ micos Ana Rita Valinho dos Santos Marques 46 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal semelhan a dos restantes pa ses ocidentais em Portugal a droga na actualidade um tema social complexo alvo privilegiado de curiosidade e de preocupa o dos cidad os As leis publicadas em Portugal sobre o consumo e com rcio de drogas surgiram sob o impulso e no decorrer de compromissos internacionalmente assumidos pelo Estado As primeiras leis da droga em Portugal remetem segundo Poiares 1999 ao paradigma fiscal durante o per odo de 1914 a 1970 Verifica se a elabora o de v rias leis que tentam ir implementando os acordos internacionalmente assumidos por Portugal nomeadamente nas Confer ncias de Xangai 1909 e de Haia 1911 1912 nas quais o com rcio de subst ncias fiscalizado pelo Estado e n o h refer ncia a um perfil do consumidor At ao termo dos anos Sessenta o consumo de drogas ainda n o representava um problema grave nem ao n vel da sa de p blica nem em termos sociais Os consumos estavam delimitados a uma elite que n o entrava em conflito com a ordem institu da n o necessitava de recorrer a crimes para assegurarem o consumo e talvez por isso a lei n o incriminava directamente o acto de consumir drogas Os primeiros sinais de alerta d o se na d cad
260. ringas que foram introduzidas entre n s como forma de obstar propaga o das doen as infecto contagiosas Poiares 2001 p 71 Quem trabalha ou est perto desta realidade assiste a pessoas despidas de qualquer tipo de dignidade pessoal com SIDA hepatites por vezes tuberculose a viver na rua quase sem se reconhecerem como pessoas confirma a import ncia destes espa os por vezes vitais para cada uma daquelas pessoas Talvez seja uma forma de lhes reconhecer a sua exist ncia de os respeitar e de lhes dar algum sentido de cuidado de amparo Pela necessidade de se integrar na mesma institui o Preven o Tratamento Redu o de Danos e Reinser o deu se a fus o do SPTT com o IPDT evitando a exist ncia de respostas descentradas criando um nico organismo IDT Instituto da Droga e da Toxicodepend ncia atrav s do Decreto Lei n 269 A 2002 de 29 de Novembro e reorganiza as estruturas de coordena o do combate droga e toxicodepend ncia pelo Decreto Lei n 1 2003 de 06 de Janeiro a partir destas disposi es o fen meno encarado numa perspectiva global e multidisciplinar Actualmente e depois de algumas mudan as na estrutura do Tratamento nomeadamente a fus o entre o SPTT e o IPDT resultando num nico Instituto o IDT Ana Rita Valinho dos Santos Marques 65 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal outras muda
261. rmatividade classificadora das drogas que apresenta as drogas ilegais como intrinsecamente danosas em contraposi o com as legais consideradas inofensivas serve para classificar os comportamentos que se relacionam com as mesmas na ptica do bem e do mal Privilegiando este modelo a subst ncia d grande import ncia acessibilidade mesma e por conseguinte aos agentes promotores desta disponibilidade os traficantes criminosos A via de acesso toxicodepend ncia neste modelo ser a quebra moral da pessoa e ou o seu car cter delinquente S o indiv duos tendo uma tend ncia marcada para o desvio que jogam um papel central na origem e expans o das toxicomanias Nahas 1990 p 103 2 o modelo m dico ou de sa de p blica os utilizadores de drogas devem ser tratados e curados como se se tratasse de um problema puramente m dico O modelo d igualmente uma grande import ncia subst ncia droga como o agente activo propulsionador da toxicodepend ncia As explica es cient ficas com base na neurobiologia aditiva das drogas acolhem se sobre este modelo O consumo de drogas seja por motivo dos seus esfor os positivos isto o prazer e as sensa es agrad veis que causam seja por motivo dos seus esfor os negativos isto os sintomas fisicamente dolorosos que a sua priva o gera induz a um comportamento estereotipado orientado para um consumo cada vez mais intensivo 3 O modelo psicol g
262. ro 31 anos a trabalhar h 6 anos no IDT considero a avalia o como uma fase fundamental para adequar a interven o A avalia o cont nua da interven o permite reflectir sobre o que pode ser melhorado e o que n o est a ser eficaz 31 anos a trabalhar h 6 anos no IDT a an lise o confronto de ideias e de saberes a reflex o permite nos elaborar quadros de refer ncia rectificar lacunas planear e adequar novas interven es Psic logo 34 anos a trabalhar h 8 anos no IDT Relativamente ltima pergunta esta tinha como objectivo perceber em que medida as representa es sociais sobre o fen meno da toxicodepend ncia condicionam os discursos dos pr prios t cnicos Quadro n 10 Dimens es Indicadores O olhar sobre o fen meno Discursos dos evolu o dos conceitos em torno do fen meno t cnicos A evolu o das respostas e dos discursos institucionais Enquadramento social do olhar sobre o fen meno A partir da an lise das diferentes entrevistas podemos chegar conclus o de que o discurso dos t cnicos fortemente influenciado pelas representa es sociais que t m sobre o fen meno Por outro lado destaca se que a maior parte dos t cnicos independentemente da categoria profissional considera que as pr prias estrat gias de Tratamento utilizadas est o fortemente condicionadas pela forma como encaram o fen meno
263. rodu o e de reprodu o dos sistemas sociais A regularidade dos sistemas sociais decorre da incorpora o ao n vel simb lico e normativo das rotinas quotidianas que conduz por um lado reprodu o dessas pr ticas e por outro expectativa que os outros tamb m o fa am Neste sentido Pena Pires 1999 p 35 define integra o social como os modos de incorpora o dos actores individuais em novos quadros de interac o em consequ ncia de epis dios de mudan a social e de deslocamentos intra sistema de ordem ciclos geracionais ou mobilidade social ou inter sistemas de ordem migra es Entende estes modos como processos em que os actores participam activa e motivadamente com hist rias diferenciadas e poderes desiguais accionando reproduzindo ou transformando os sistemas de regras sociais estruturadores da interac o de forma a reparametrizarem a sua inclus o na ordem interactiva Esta reparametriza o acontece em momentos e situa es cr ticas onde a regularidade e a rotiniza o das pr ticas sociais s o total ou parcialmente abaladas Uma fase de adapta o negocia o e aceita o na nova ordem social surge como elemento que acompanha o processo de socializa o com repercuss es ao n vel da personalidade dos actores como resultado de quadros e estruturas normativas diferentes As institui es que trabalham na rea das drogas e da toxicodepend ncia quer sejam as ligadas sa d
264. rogas recorrendo a m todos e modelos estat sticos diversos Assim delimit mos a nossa investiga o aos servi os prestados pelo Instituto da Droga e da Toxicodepend ncia uma vez que pensamos ser este o que poder garantir uma maior representatividade da nossa an lise Por outro lado tornou se extremamente relevante realizar um diagn stico relativamente aos servi os actividade prestada pelo pr prio Instituto da Droga e da Toxicodepend ncia porque pensamos que esta leitura poder dar suporte e consist ncia aos discursos produzidos pelos pr prios t cnicos que trabalham nesta institui o O Instituto da Droga e da Toxicodepend ncia tem por miss o promover a redu o do consumo de drogas l citas e il citas bem como a diminui o das toxicodepend ncias As principais atribui es assentam nos seguintes pressupostos Apoiar o membro do Governo respons vel pela rea da sa de na defini o da estrat gia nacional e das pol ticas de luta contra a droga lcool e toxicodepend ncias e sua avalia o Planear coordenar executar e promover a avalia o de programas de Preven o de Tratamento de Redu o de Riscos e Minimiza o de Danos e de Reinser o Social Apoiar ac es para potenciar a dissuas o dos consumos de subst ncias psicoactivas Definir os requisitos para licenciamento de unidades de presta o de cuidados de sa de na rea das Ana Rita Valinho dos Santos Marques 135 A s Droga s
265. role desde a interven o cl nica psicossocial at repress o pol tico jur dica e econ mica Ana Rita Valinho dos Santos Marques 44 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal 3 2 O FEN MENO DA DROGA EM PORTUGAL Este ponto pretende abranger fundamentalmente aspectos do fen meno da toxicodepend ncia em Portugal nos finais do s culo XIX e em particular no s culo XX remetendo para aspectos pol ticos sociais e legislativos que atravessam estes per odos Salvado Ribeiro 1999 re ne num artigo v rias refer ncias sobre a hist ria dos consumos em Portugal no ltimo quartel do s culo XIX e durante o s culo XX Em rela o ao pio o consumo deste restringe se nestes per odos a uma elite de escritores e artistas protagonistas de movimentos liter rios e art sticos semelhan a do que acontecia em Fran a O autor faz refer ncia a obras de Almeida Garrett Frei Lu s de Sousa E a de Queir s O Mist rio da Estrada de Sintra Ramalho Ortig o e por fim Fernando Pessoa no seu heter nimo lvaro de Campos O Opi rio Em todas estas obras est bastante patente que os autores conheciam bem as caracter sticas psicoactivas do pio A coca na que veio substituir a depend ncia do pio associada tal como na Inglaterra a um estilo de prostitutas de luxo A moda da coca na atinge o seu auge nos anos 20 ap
266. rtugal estabeleceu se com o RSI um sistema complementar de fiscaliza o por sorteio de incid ncia aleat ria e periodicidade regular Outra inova o prende se com o facto de ter sido criado um novo sistema de responsabiliza o que possibilitam as Institui es Particulares de Solidariedade Social IPSS de participarem no processo de desenvolvimento de ac es de inser o inerentes ao RSI celebrando protocolos com as entidades distritais da Seguran a Social tendo como objectivo o envolvimento da pr pria sociedade no processo de inclus o dos benefici rios Institu do pelo Decreto Lei n 13 2003 de 21 de Maio o Rendimento Social de Inser o vem substituir a Rendimento M nimo Garantido define se como uma medida de pol tica visando garantir s fam lias mais pobres um rendimento que lhes permita aceder por um lado a um n vel m nimo de subsist ncia e de dignidade e por outro a condi es e oportunidades b sicas para o in cio de um percurso de inser o social O RSI composto por duas vertentes uma consiste numa presta o pecuni ria a outra est relacionada com um programa de inser o s cio profissional que os benefici rios s o obrigados a subscrever excepto em geral por motivos de idade ou sa de Por outras palavras pode se descrever o RSI como uma presta o inclu da no subsistema de solidariedade e num programa de inser o de modo a conferir s pessoas e aos seus agregados familiares
267. s 60 por Serge Moscovici a partir da reformula o psicossociol gica do conceito durkheimiano de representa es colectivas ao focalizar a pilotagem cognitiva emersa no contexto social Ana Rita Valinho dos Santos Marques 22 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal geradora de um conhecimento funcional constitui uma apropriada ferramenta te rica que nos d conta da produ o de sentido que constr i a droga As representa es sociais consistem num sistema de conhecimento sobre objectos determinados que tem por fun o apreender avaliar e explicar a realidade Moscovici nunca apresentou uma defini o de representa es sociais e pertence investigadora Denise Jodelet 1989 p 36 aquela que mais amplamente citada uma forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo um alcance pr tico e concorrendo para a constru o de uma realidade comum a um conjunto social A teoria das representa es sociais nasceu e desenvolveu se sob a gide de um novo paradigma das rela es entre o indiv duo e a sociedade o conhecimento e a ac o Vala 1993 c A teoria abandona a distin o cl ssica entre sujeito e objecto O est mulo e a resposta s o indissoci veis A resposta de um sujeito n o reac o a um est mulo externo porque em grande parte o est mulo est contido na resposta Conhecer um objecto pressup e uma actividade
268. s com o objectivo de dar apoio s escolas no mbito da informa o sensibiliza o forma o relativa tem tica da Preven o das Toxicodepend ncias Este programa era respons vel pela execu o dos Programas de Preven o das Toxicodepend ncias ou seja competia aos Professores Operadores diagnosticar as necessidades problemas das comunidades educativas e identificar os recursos humanos e materiais existentes nas escolas e no meio envolvente Competia lhes ainda sensibilizar as estruturas das escolas para a inclus o de um Programa de Preven o no seu Projecto Educativo colaborar com as outras estruturas com objectivos confluentes promover forma o no mbito da Preven o e avaliar todas as ac es e programas de Preven o desenvolvidos por outras entidades e ou servi os exteriores ao Minist rio da Educa o Ao longo da d cada de noventa e visando prosseguir os objectivos fixados pelo Programa Nacional da Preven o das Toxicodepend ncias Projecto Vida foram desenvolvidos em Portugal alguns programas de redu o da procura Tendo em conta a evolu o dos problemas ligados toxicodepend ncia e reestrutura o do Projecto Vida o Minist rio da Educa o atrav s do despacho 96 ME 90 de 19 de Junho nomeia um respons vel sectorial pelo Projecto Vida e constitui um Grupo de Trabalho que permitiu o lan amento do Projecto Piloto de Preven o Prim ria n o espec fica relativo s toxicodepend ncias em meio
269. s de Reinser o Social Programas de Redu o de Riscos e Minimiza o de Danos Modelo M dico Pr ticas de Modelo centrado no indiv duo sujeito toxicodependente Interven o que Modelo Biopsicossocial utilizam Modelo Psicossocial Modelo assente na Sa de P blica A partir da an lise de todas as entrevistas foi poss vel concluir que todos os t cnicos t m uma vis o de que a sua interven o dever ser numa perspectiva integradora da interven o e conseguiram identificar as diferentes modalidades de Tratamento que actualmente existem designadamente psicoterapias de apoio individual grupo e familiar socioterapia Tratamento livre de drogas Tratamento de Substitui o Antagonista Metadona e Buprenorfina Centro de Dia internamento em Comunidades Terap uticas Apartamentos de Reinser o Social e Programas de Redu o de Riscos e Minimiza o de Danos A partir da leitura das entrevistas realizadas junto dos m dicos constata se que estes t cnicos n o consideram saber mais sobre drogas que os profissionais de outras reas mas n o aceitam colocar em quest o a motiva o ontol gica da sua disciplina melhorar a vida prevenir o sofrimento adiar a morte Na maior parte das vezes em que Ana Rita Valinho dos Santos Marques 157 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal foram questionados sobre os mais diversos aspe
270. s do consumo de subst ncias quer l citas quer il citas Enquanto os adultos procuram subst ncias externas como o lcool ou medicamentos ansiol ticos anti depressivos para lidar com os seus vazios internos que ficaram ap s a revolu o os seus filhos criados numa aus ncia de valores t m as suas tarefas desenvolvimentais da adolesc ncia e prossecu o de um projecto de vida dificultadas usando o consumo de subst ncias il citas como muleta para apoiar na constru o de um futuro Futuro esse que n o de uma ilus o de independ ncia pois o jovem fica preso solu o que encontra tornando se cada vez mais dependente dos pais mais incapaz de crescer interiormente de estabelecer rela es de intimidade com outros enfim de se tornar adulto todas as dimens es que este estatuto lhes permite Ana Rita Valinho dos Santos Marques 43 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Outro paradoxo que numa sociedade onde pelos m dia sabemos quase tudo o que acontece em directo onde se diminuem as dist ncias pela Internet a aldeia global as dificuldades na comunica o entre as pessoas que est o pr ximas aumenta Cada vez mais se necessita de meios para comunicar nos quais o face a face seja evitado onde as pessoas n o se exponham relativamente s suas fragilidades porque dos fracos n o reza a Hist ria Talvez seja este um dos motivos pe
271. s em Portugal 2 1 REPRESENTA ES SOCIAIS E ATRIBUI ES As representa es sociais s o definidas como sendo um conjunto de conceitos afirma es e explica es constru do dentro de uma din mica social segmentada por diferentes grupos sociais Moscovici 1961 Desta forma poss vel relacionar o conceito de representa o com o de atribui o Segundo Vala 1993 a esta rela o pode ser estudada em dois planos Primeiro num plano de metarrepresenta o do homem onde as explica es dadas ao comportamento obedecem a uma norma representativa de um modelo universal do homem Dentro deste modelo as explica es obedecem norma social de internalidade Beauvois 1984 in Vala 1993 Esta norma deve ser entendida a partir de uma teoria impl cita sobre a pessoa pessoa heter noma definida no interior da comunidade de perten a versus pessoa aut noma referenciada ao modelo liberal e iluminista Sampson 1989 in Vala 1993 Num outro plano as argumenta es e explica es que s o dadas aos diversos fen menos sociais implicam no accionamento das teorias constru das colectivamente 2 2 REPRESENTA ES SOCIAIS E ESTERE TIPOS Les repres ntations sociales sont toujours des prises de position symboliques organis es de mani res differentes par exemple comme des opinions des attitudes ou des st r otypes Doise 1990 p 228 O conceito de estere tipo foi introduzido por Lippmann em 1922
272. s sociais objectivas sistemas ideol gicos associados a estas inser es como produzindo afinidades electivas para usar o termo Weberiano relativamente s representa es sociais que assim s o por aquelas influenciadas Uma terceira posi o estuda as representa es sociais enquanto mobilizadas pelas identidades sociais e as rela es inter grupais Como todo o conhecimento social as representa es sociais sobre a droga s o geradas socialmente na uni o entre a configura es socio estruturais expressas em posi es sociais e em valores normas e institui es de que os indiv duos s o portadores e pelo menos reproduzem nas suas consci ncias discursivas e pr tica para usar a terminologia de Giddens e b as reelabora es significativas do objecto droga produzidas pelos indiv duos nas interac es sociais nos processos de comunica o fruto das din micas situacionais do quotidiano e das experi ncias vividas Esta articula o entre sociedade e indiv duo que subjaz na conceptualiza o do contexto de produ o das representa es sociais estar tamb m dependente do objecto de estudo em causa A contextualiza o do objecto ter que ser apreendida no espa o social em que as pr ticas decorrem o qual sintetiza diferentes temporalidades que seguindo Giddens 1994 p 28 se distribuem por tr s dimens es a dura o da experi ncia quotidiana onde as representa es sociais se realimentam no m
273. s um instrumento motivador para o Tratamento do pr prio consumidor exercendo aqui um valor simb lico Acreditava se que assim o consumidor seria motivado ao Tratamento atrav s deste mesmo Ana Rita Valinho dos Santos Marques 58 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal simbolismo da legisla o Seria o contributo do Legislador para a problem tica da toxicodepend ncia desmotivando os consumos com a amea a da penaliza o As altera es na pr tica legislativa est o claramente reflectidas no Decreto Lei n 430 83 de 13 de Dezembro que separa as figuras do traficante e consumidor desaparecendo do panorama legislativo o Tratamento compulsivo dos toxicodependentes H com esta legisla o uma resposta bem diferenciada quest o do estatuto do toxicodependente declarado pela primeira vez e de uma forma inequ voca como sendo um doente Envolvido nesta l gica o Governo em exerc cio criou o Projecto Vida em 1987 pela Resolu o do Conselho de Ministros n 23 87 de 21 de Abril e o Centro das Taipas a primeira unidade do Minist rio da Sa de exclusivamente direccionada para o Tratamento de toxicodependentes pelo Decreto do Governo n 20 A 87 de 12 de Junho Ao atribuir a responsabilidade pelo Tratamento a este Minist rio o Governo reconhece a necessidade de separar as vertentes oferta e procura e de considerar o consumidor como um indiv duo com um
274. s veio permitir que se chegasse capta o dos momentos da objectiva o e da ancoragem das representa es do objecto droga e do toxicodependente considerando os nos ind cios presentes nos discursos Ana Rita Valinho dos Santos Marques 128 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal A interpreta o n o foi autom tica nem f cil Ela n o aconteceu automaticamente ao fim da an lise de dados Ela teve que ser preparada com detalhe e anteced ncia caso contr rio n o t nhamos material para interpretar Assim a consist ncia te rica n o podia faltar uma vez que se trabalha sempre a partir de uma refer ncia conceitual e foi preciso apoiarmo nos nela para a interpreta o Por outras palavras os conceitos da teoria vieram clarificar as respostas que fomos obtendo junto dos t cnicos entrevistados preciso dominar os conceitos e conhecer as aplica es pr vias dos mesmos de modo a ser poss vel chegar a conclus es relevantes e pertinentes sobre o objecto em estudo As s nteses a que se p de chegar pela considera o do processo discursivo pretende dar conta das marcas do sujeito no social no mesmo movimento pelo qual o social marca aqueles que o fazem e constituem Por fim importante salientar que a interpreta o tamb m ela sofre os condicionalismos de quem a faz Ana Rita Valinho dos Santos Marques 129 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia
275. sa 1987 p 48 Esta a defini o que a droga recebe no campo t cnico farmacol gico que abarca quer as drogas ilegais quer os medicamentos quer os produtos alimentares Nos ltimos 40 anos do s culo passado com o aumento dos consumos de drogas ilegais assistiu se a uma mudan a deste nome do campo cient fico para o social atrav s de uma opera o que o desloca para uma aplica o restrita e simultaneamente para um Ana Rita Valinho dos Santos Marques T A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal n vel de nomea o mais concreto Restrita porque utiliza o nome apenas para um grupo de subst ncias psicoactivas as ilegais Um n vel de nomea o mais concreto porque a aplica indistintamente para referenciar qualquer subst ncia ilegal operando se atrav s da produ o lingu stica uma unidade simb lica e material Se hoje a codifica o socio cultural de droga a de drogas ilegais para tanto contribuiu o pr prio campo t cnico que procurou fundamentar cientificamente a distin o normativa entre drogas legais e ilegais Nahas 1990 p 19 por exemplo metaforizou de uma forma muito incisiva esta distin o comparar a coca na ao lcool comparar as cataratas do Ni gara a uma torneira mal fechada Face a esta enorme diversidade de conceitos o soci logo Domingo Comas 1985 p 23 definiu droga nos seguintes termos
276. sas Com apoio psicoterap utico ou s cio terap utico e a poio m dico de cl nica geral e consultadoria em psiquiatria artigo 3 Decerto Regulamentar n 42 93 de 27 de Novembro Em finais dos anos 70 o Estado abriu 27 camas em Comunidades Terap uticas 15 em Coimbra e 12 em Lisboa que funcionaram intermitentemente em Lisboa e em Coimbra como modelo que inclu a medica o e psicoterapia individual No seguimento da abertura da Comunidade Terap utica Arco ris criada em 1979 a Unidade de Crian as em Risco URC que veio a funcionar at 1988 iniciativa esta pioneira em Portugal Face s exig ncias desta realidade e ensaiados os mais diversos procedimentos para o Tratamento da depend ncia das drogas chegou se conclus o assertiva que estas atingem as reas consideradas nobres e diferenciadas do ser humano como o pensamento a vontade as emo es etc Esta situa o complexa para quem a carrega para quem a sofre bem como para quem se candidata a trat la Neste contexto estabeleceram se novas directrizes a considerar nos objectivos terap uticos a diminui o de consumos a altera o da via de administra o das subst ncias a redu o de comportamentos de risco a melhoria da sa de f sica e psicol gica e do funcionamento s cio profissional e familiar a redu o da onda de crimes e a passagem da depend ncia a consumos ocasionais Nesta linha de interven o o Projecto Vida teve como f
277. scursos emerge um pensamento consensual quanto qualifica o da droga como agente patol gico derivado das suas propriedades intr nsecas muito contribuindo para esta absolutiza o patog nica da droga a partilha da cren a dominante da escalada farmacol gica Por m encontrou se uma representa o em que se entende que se a droga perigosa mais perigosa se torna pelo regime social que a governa manifestando deste modo cren as e atitudes que se op em normatividade dominante Deste modo extraiu se uma expressiva rota de colis o com os valores dominantes baseada numa avalia o da droga em si mas numa avalia o cr tica dos seus enquadramentos pol ticos e sociais facto que transparece nas correla es positivas que se obtiveram entre as cren as cr ticas quanto ao regime social da droga e a atitude pol tica abolicionista No que respeita s cren as de auto efic cia da interven o destes t cnicos sobre as drogas parece evidenciar se uma certa assump o aos fundamentos das conven es sociais transcritas nomeadamente no regime normativo da droga j que no seu discurso ainda que inconscientemente sobressai que o sucesso da sua interven o parece recair em grande parte na abstin ncia de consumos de drogas il citas Em oposi o a estas cren as identificou se uma outra constela o que apresenta a droga de forma mais ambivalente e da qual fazem parte as cren as que atribuem uma maior nocividade a al
278. se por respeit veis raz es n o querem agir pelo menos n o podem ignorar esta realidade contempor nea Um profissional que pretende re agir dever procurar compreender o sofrimento inerente pessoa toxicodependente e toxicodepend ncia dever procurar compreender como evit lo como ele surge como ele mantido ou alimentado como trat lo como minimizar as suas consequ ncias funestas Por vezes essa compreens o torna se bastante dif cil at pelo facto de a pessoa consumidora esteja ou n o dependente viver com frequ ncia numa situa o de ambival ncia face ao consumo isto quer e n o quer consumir drogas quer e n o quer deixar as drogas ou ainda quer consumir mas sem estar dependente As dificuldades de separa o das drogas perduram enquanto a droga ocupa espa os importantes no viver de quem as usa seja na viv ncia ps quica na viv ncia f sica ou na viv ncia social Quando as condi es de vida da pessoa n o apenas as condi es materiais mas tamb m as psicol gicas familiares relacionais etc agravam a qualidade de vida do indiv duo quando a pessoa tem uma droga de vida maior o risco de entrar numa vida de droga Face problem tica das drogas cada caso um caso e um profissional de sa de dever procurar compreender a globalidade da forma do sofrer e do viver do doente N o deve limitar se apenas dimens o do seu sofrimento f sico Para tal
279. senta es Sociais e Pol ticas em Portugal utilizou na an lise qualitativa a que submeteu os casos estudados Atendendo extravag ncia do conceito de depend ncia na literatura cient fica n o pod amos simplesmente perguntar aos consumidores de droga Voc s s o toxicodependentes e retirar a informa o v lida que n o fosse a auto percep o Mesmo que pergunt ssemos alguns que o deveriam ser haveriam de neg lo enquanto outros que n o deveriam s lo haveriam de dizer que eram Al m disso atendendo aos surpreendentes graus de controle exibidos pelos nossos respondentes n o sentimos que se justificasse assumir que a mera quantidade do uso margem dos seus aspectos qualitativos era uma preocupa o v lida para a depend ncia N o seremos capazes por isso de dizer o que quer que seja de definitivo sobre a depend ncia da coca na per si Em vez de isso escolhemos desagregar os v rios elementos da depend ncia em problemas concretos relacionados com a coca na a respeito dos quais pud ssemos inguirir mais directamente Esta abordagem oferece m todos e medidas claras e l mpidas que nos permitem avaliar uma difusa classe de problemas relacionados com a coca na que poderiam ser perdidos se os procur ssemos apenas sob a subjacente entidade de doen a A nossa assump o ent o que nem todas as perturba es que o consumo pesado de coca na pode criar s o meras manifesta es de adi o depen
280. smo de drogas estupefacientes ou psicotr picas n o era considerado il cito e portanto um crime A droga neste per odo o objecto nuclear e os il citos relacionados com drogas s o quase sempre encarados como transgress es aduaneiras Neste seguimento sob a lei n 1687 de 9 de Dezembro de 1927 o problema da droga legislado como um problema fiscal nomeadamente no que concerne ao seu com rcio sendo a droga representada como mercadoria com implica es para a sa de p blica por um lado e para o uso privado dos prazeres por outro havendo tamb m nesta data a descoberta de uma realidade at a desconhecida do Legislador o doente viciado Neste per odo instalou se uma dial ctica entre droga mercadoria e droga prazer sem que no entanto se tenha definido uma concep o jur dico social do perfil do consumidor Com a legisla o dos anos 70 do s culo passado esta d vida dissipada sendo o toxicodependente visto pela lei como um delinquente rompendo com o paradigma fiscal at a vigente Durante este per odo a droga surge pela primeira vez como objecto do Ana Rita Valinho dos Santos Marques 53 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal discurso pol tico As drogas il citas tornaram se mais vis veis e iniciou se um processo de dissemina o do fen meno que at esta data era praticamente inexistente em Portugal A fase seguinte
281. ssar a investiga o exige a explicita o dos pressupostos te ricos que a norteiam S o estas refer ncias que balizam a delimita o do objecto a ser investigado definem os caminhos mais pertinentes para a sua apreens o estabelecem o universo e os sujeitos da pesquisa nos seus espa os tempos e rela es Esta pequena introdu o revela nos os caminhos percorridos ao longo desta investiga o Este percurso e as estrat gias adoptadas n o foram aleat rios ou neutros nem t o pouco op es aprior sticas Assim existiu sempre um esfor o de coer ncia entre a teoria e os pressupostos da mesma tal como foram delimitados como garantia de consist ncia pr pria investiga o Nesta investiga o n o fomos alheios a alguns dados quantitativos j que pensamos que poder o contribuir para um aprofundamento da nossa an lise Assim poder se o encontrar os dados relativos aos utentes em Tratamento ao longo dos diferentes anos nas estruturas que pertencem ao Minist rio da Sa de Com efeito alguns objectos de investiga o sugerem a utiliza o de m todos e t cnicas de car cter mais quantitativo Ana Rita Valinho dos Santos Marques 126 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal quando o universo em estudo muito vasto A l gica extensiva caracterizada pelo uso dominante de t cnicas quantitativas A sua principal vantagem o facto de permitir
282. strutura de Tratamento diz que o toxicodependente um doente que precisa de ser tratado A sociedade no seu discurso hist rico cultural vai afirmando alguma dupla mensagem em rela o ao toxicodependente Os peritos v o se questionando e pensando o sofrimento dos toxicodependentes e suas fam lias e dando orienta es sociedade em geral sobre esta problem tica Ao n vel da droga e da toxicodepend ncia as institui es que d o resposta a esta problem tica t m um duplo papel Por um lado s o os mecanismos reguladores do fen meno e por outro lado devem dar resposta ao pr prio sujeito que as procura quer seja o doente que procura Tratamento quer seja a sua fam lia quer seja a sociedade em geral Ana Rita Valinho dos Santos Marques 132 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal As institui es s o apresentadas por Giddens 2003 como sistemas de pr ticas com maior extens o espacio temporal e que por poderem ter um maior dom nio sobre as regras e os recursos apresentam uma maior capacidade para produzir mudan as Aqui o poder aparece n o como um recurso em si mesmo ou como tipos de conduta espec ficos mas como a ac o que disp e de recursos e meios atrav s dos quais as rela es transformadoras s o incorporadas nas pr ticas sociais As regras e os recursos est o na base da produ o e reprodu o social e s o simultaneamente os meios de p
283. studos da Profilaxia da Droga destinava se a dependentes previamente atendidos e seguidos a n vel de consulta externa que pressup em internamento Dias s d p 28 baseava a sua teoriza o etiol gica de toxicomania num internamento de longa dura o desmedicalizado nos seus fundamentos e vocacionado para a interpela o constante dos seus membros capitalizando assim os recursos de toda a institui o para a melhoria das rela es inter e intra subjectivas Nesta Comunidade permanecia a valoriza o do Ana Rita Valinho dos Santos Marques 75 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal trabalho e das actividades grupais bem como das decis es a tomar quer no que respeita a quest es organizacionais quer se trate da avalia o de ocorr ncias que pudessem colidir com as normas institucionais e que poderiam resultar na aplica o de puni es que poderiam ir at expuls o da comunidade Esta valoriza o est tamb m ela associada ao processo de ressocializa o do jovem toxicodependente Cria se assim um microssistema social baseado na interac o grupal no qual se pretende a transforma o do estilo de vida dependente e a reabilita o bio psicossocial do sujeito Legalmente as Comunidades Terap uticas ou Comunidades Residenciais s o definidas como unidades de internamento para estadas prolongadas habitualmente sem recurso regular a terap uticas medicamento
284. surgia da incapacidade de um indiv duo em dosear o consumo de qualquer tipo de droga No final dos anos 60 do s culo passado este aparente distanciamento cient fico da classifica o normativa vem a ser recuperado atrav s do conceito de psicotoxidade Distintamente das drogas legais as ilegais segundo a corrente dominante t m uma propriedade s o psicot xicas isto s o in teis socialmente e s s o procuradas para influir indevidamente no comportamento e na consci ncia Quem define o uso indesej vel das drogas s o as conven es sociais A constru o social produzida pelas normas sociais que v o sendo aprovadas internacionalmente e aos n veis nacionais d um atributo a subst ncias psicoactivas que resulta dos enunciados das pr prias conven es sociais conduzindo deste modo a uma reifica o Ana Rita Valinho dos Santos Marques 9 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal da droga limitada a propriedades intrinsecamente nocivas porque indevidamente usadas isto revelia da lei e do controle m dico As conven es sociais e a constru o social da droga n o s tra am fronteiras entre drogas como definem os usos terap uticos ou outros como inclusivamente enunciam as pr prias fun es subjectivas prosseguida pelas drogas S o os valores sociais que ao normalizarem ou estigmatizarem o uso das drogas fornecem as bases
285. t ria e saud vel fam lia e rela es consolidar a rede de rela es familiares e sociais justi a apoiar na resolu o de situa es legais que dificultem o processo de reinser o A este prop sito Ramos 2003 refere que as pol ticas sociais devem ter como objectivo responder s situa es de desigualdade social na sua maioria relacionadas com situa es de pobreza e de exclus o social como a maior parte dos casos de toxicodependentes estes indiv duos carecem de protec o social De acordo com a autora a protec o social dever facilitar por um lado mecanismos que visem particularmente a previd ncia e por outro um conjunto de ac es de car cter mais social ou mais assistencial que respondam a situa es de car ncia e necessidade Tendo subjacente o conceito de Reinser o Social passamos a destacar os principais programas que deram resposta a este eixo do fen meno da toxicodepend ncia e do indiv duo toxicodependente 4 4 1 PROGRAMA QUADRO PREVENIR Nos anos 90 o Projecto Vida utilizou uma estrat gia de interven o que se adequou ao processo de Reinser o Social do toxicodependente propondo se ajust lo aos dispositivos legais a novas estrat gias e din mica subjacente s diferentes institui es que se imiscu am neste dom nio Desta forma de acordo com a Resolu o do Conselho de Ministros 2000 o Projecto Vida tentou desenvolver a execu o de projectos que desenvolvesse
286. ta es Sociais e Pol ticas em Portugal de abstin ncia ficando para uma longa etapa o Tratamento da depend ncia psicol gica Nas Comunidades Terap uticas realiza se um processo de socializa o grupal reaprendendo a viver sem drogas em ambiente protegido Nos utentes em que se verifique falta de recursos econ micos para se efectuar o pagamento nestas comunidades e nos internamentos de curta dura o a Seguran a Social e ou o IDT podem comparticipar Contudo e apesar de muitos esfor os de todos os profissionais evidenciam se por vezes sinais de consecutivos insucessos nos Tratamentos anteriormente referidos Pode acontecer tamb m que o indiv duo se sinta incapaz de abandonar o consumo de hero na Nestas situa es frequente optar se pelo designado Tratamento de Substitui o regularmente com Metadona ou Buprenorfina Nestes Tratamentos trata se de substituir a depend ncia de um opi ceo ilicitamente consumido pelo uso medicamentoso de um opi ceo legal Patr cio 1996 p 180 Desta forma o desejo e vontade da droga ilegal fica reduzido ou mesmo anulado Estes Tratamentos s o feitos a longo prazo em ambulat rio destina se a heroinodependentes Normalmente em simult neo o utente vai fazendo Tratamento psicol gico e ou social reorganizando a sua vida Quando se verifica uma boa e consistente evolu o do utente as doses come am a ser reduzidas com o objectivo de cessar o medicamento No entanto es
287. ta Valinho dos Santos Marques 99 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal pela promiscuidade e pela influ ncia nociva de minorias estigmatizadas que incluem habitualmente os homossexuais as prostitutas os imigrantes e os toxicodependentes Quartilho 2001 p 80 Por outro lado ser doente implica que os outros que o rodeiam reconhe am o seu mal estar que haja um consenso nos significados dos sintomas para que o seu papel de doente lhe possa ser concedido um direito seu e com certeza de uma forma muito pessoal vai dinamizando o apoio e aten es necess rios Funciona para pequenos momentos que se est doente mas torna se mais complicado na situa o de doen as prolongadas ou na cristaliza o do papel de doente Ficar doente por momentos poder ser pequeno outra vez no verdadeiro sentido do cuidar dos mimos Ficar doente ou assumir esse papel durante muito tempo por vezes ficar com bloqueios no crescimento ou nos processos de autonomia Interessa tamb m em termos de conceito fazer uma abordagem evolu o do modelo biom dico ao modelo actual que o biopsicossocial na forma como v em a doen a e o doente No modelo biom dico da medicina a doen a vista como um desvio ou um mau funcionamento da biologia do corpo Para este modelo o corpo continha a doen a nunca as pessoas como se o corpo fosse parte separada da pessoa Era no corpo humano que se b
288. tabaco e medicamentos melhorar a comunica o interpessoal entre pais filhos e professores estimular actividades extra curriculares que motivassem os jovens bem como ajudar ao desenvolvimento s cio econ mico e cultural da comunidade com a participa o de todos Na continuidade de uma pol tica de Preven o das toxicodepend ncias foi a 24 de Abril de 1979 estabelecido com o apoio da UNESCO um acordo entre o Minist rio da Educa o e Investiga o Cient fica MEIC e o Gabinete Coordenador do Combate Droga GCCD visando um Plano de Preven o Prim ria das Toxicodepend ncias no Meio Escolar ensinos preparat rio e secund rio mediante ac es de forma o e informa o Com o objectivo de dar uma resposta elaborada e programada a toda a problem tica da droga a experi ncia piloto do Plano de Preven o Prim ria das Toxicodepend ncias em Meio Escolar pretendeu provocar a mudan a de comportamento e atitude face ao fen meno da droga por via da forma o informa o de Professores Mediadores que por sua vez actuariam junto dos restantes professores e de outras estruturas escolares auxiliares m dico escolar e pais Estes Professores Mediadores tinham por fun o estabelecer a liga o entre o CEPD e as escolas analisar os casos e os pedidos oriundos do corpo docente intervir em ac es de informa o junto de outros professores e alunos quando solicitadas realizar actividades informativas formativas n
289. tas Como se nada soubesse sobre o assunto sempre com curiosidade dando assim espa o para que de facto a ajudassem a perceber o fen meno e a forma como ele perspectivado pelos t cnicos Segundo Rogiers 1993 p 22 a entrevista um m todo de recolha de informa es que consiste em conversas orais individuais ou de grupos com v rias pessoas seleccionadas cuidadosamente a fim de obter informa es sobre factos ou representa es cujo grau de pertin ncia validade e fiabilidade analisado na perspectiva dos objectivos da recolha de informa es Depois das entrevistas realizadas fez se a transcri o na ntegra de cada uma delas previamente gravadas A an lise de conte do mais uma das ferramentas da metodologia qualitativa Segundo Bardin 1977 p 104 an lise de conte do sempre de ordem sem ntica Estes passos que se t m vindo a dar tiveram sempre presentes algumas quest es Qual representa o social que os t cnicos que trabalham na rea da toxicodepend ncia t m do indiv duo e da pr pria subst ncia Qual a rela o entre as respostas institucionais e Ana Rita Valinho dos Santos Marques 150 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal as representa es sociais do fen meno Estas quest es guiaram toda a recolha de informa o e respectiva an lise das entrevistas A an lise de conte do pode considerar se como um c
290. te Tratamento apresenta tamb m algumas limita es destina se apenas a consumidores de hero na ou outros opi ceos se o toxicodependente consumir outras drogas estas fazem efeito e ele continua a consumir e ainda se estiver medicado com baixas doses e consumir hero na esta faz efeito A Redu o de Danos deve acompanhar todo o percurso de Tratamentos do toxicodependente Pretende se assim melhorar a qualidade de vida dos toxicodependentes de acordo com as suas necessidades Tenta se minimizar os efeitos negativos de drogas atrav s de estrat gias sociais sanit rias e terap uticas Reduzir o cont gio de doen as como a SIDA e a hepatite C estimular o uso do preservativo fomentar a higiene nos consumos e a utiliza o dos servi os m dicos b sicos s o objectivos fundamentais destes programas Fesh 2005 Ana Rita Valinho dos Santos Marques 118 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Em qualquer modalidade de Tratamento o objectivo deve consistir em evitar as altern ncias efeitos de picada sintomas de abstin ncia que refor am a toler ncia Lowenstein et al 1998 A posologia administrada deve ser suficientemente razo vel para evitar a toma de outras subst ncias para al m das prescritas Alguns estudos demonstraram at que Tratamentos com doses mais altas apresentavam melhores resultados pois a taxa de abandono era menor assim como o consumo de dr
291. tem incid ncias jur dicas m dicas psiqui tricas religiosas pedag gicas econ micas culturais e pol ticas Lesa a sa de e o bem estar dos indiv duos das fam lias e da sociedade em geral Para lutar contra este fen meno portanto indispens vel instaurar uma colabora o a todos os n veis entre disciplinas e servi os Com esta pesquisa emp rica propusemo nos analisar as representa es sociais dos t cnicos que trabalham na rea do Tratamento da toxicodepend ncia Sendo este um objecto que participa das primeiras linhas da agenda pol tica e social das sociedades contempor neas particularmente afectado por aquilo que Giddens 1989 designa por dupla hermen utica isto a circula o em duplo sentido entre o saber profissional e o saber profano Por outras palavras neste campo como a hist ria nos revela Escohotado 1992 e Berridge 1994 a produ o do saber dos corpos t cnicos e cient ficos combina num solo representacional do objecto que o molda com uma maior ou menor intensidade em fun o da combinat ria em que se apresenta com os crit rios l gico racionais pr prios daquela modalidade de conhecimento Contudo a droga sendo um objecto socialmente dramatizado provoca diversos tipos de comprometimentos a que nenhum profissional est imune Tal conduz a que os cientistas e os t cnicos possam recorrer a mais do que uma resposta para a dita quest o inclusivamente no exerc cio deste seu pape
292. to que come a a construir a sua autonomia a sua capacidade de comunica o e de identifica o a valores sociais m nimos e operativa quando o indiv duo capaz de desenvolver a sua vida em sociedade sem conflitos abertos com esta garantindo capacidades de rela o exercendo uma actividade ocupacional ou laboral e integrando o seu meio social ou outro adequado s suas caracter sticas pessoais Segundo uma outra perspectiva Ramos 1987 in Nieva a Reinser o o processo de vincula o efectivo e activo realidade cultural econ mica e social que o indiv duo realiza ap s um per odo de crise com a mesma Neste sentido o que importa que o indiv duo se vincule a um meio social determinado onde possa desenvolver se como pessoa e cidad o com direitos e deveres A Reinser o n o mais do que estabelecer comunica es entre os consumidores de drogas e o resto da sociedade com o objectivo de lhes proporcionar acesso aos factores de identidade social De acordo com Capucha 1998 p 61 n o se trata apenas de aceder a um determinado rendimento trata se tamb m de possuir condi es para estabelecer um projecto de vida construir um estatuto e uma identidade social alimentar uma imagem positiva de si pr prio alargar as redes de sociabilidade manter uma rela o com institui es e servi os colectivos adquirir direitos sa de e protec o social e sentir se dono do seu pr prio destino e do
293. to de Lei Org nica do SPTT Decreto Lei n 43 94 de 17 de Fevereiro e consequente revis o pelo Decreto Lei n 67 95 de 8 de Abril se apontava para a necessidade de uma unidade especializada de atendimento por distrito Ana Rita Valinho dos Santos Marques 137 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Os Centros de Atendimento de Toxicodependentes CAT s s o unidades de Tratamento em regime ambulat rio em que se presta cuidados globais a toxicodependentes individualmente ou em grupo Estas unidades especializadas existem em todos os distritos num total de 45 Unidades no ano 2005 As equipas que integram os CAT s s o constitu das por m dicos psic logos enfermeiros t cnicos de servi o social e t cnicos psicossociais que em regime ambulat rio apoiam toxicodependentes nas v rias modalidades de Tratamento e Reinser o Social A Portaria n 484 2003 refere que as Comunidades Terap uticas CT s o Unidades Especializadas s quais compete prestar cuidados a toxicodependentes que necessitem de internamento prolongado com apoio psicoterap utico e socioterap utico sob supervis o psiqui trica Pode se dizer que historicamente as CT t m sido Unidades com programas livres de drogas embora prevendo uma interven o m dica sempre que pertinente e necess rio O IDT disp e de 3 unidades p blicas deste tipo uma em Matosinhos em Instala
294. to de acordo com a experi ncia dos autores Os m dicos sempre tentaram tratar a doen a enquanto que os doentes querem o al vio desta As toxicodepend ncias s o doen as os toxicodependentes doentes O facto de as toxicodepend ncias serem doen as comportamentais isto pertencerem a um grupo heterog neo de processos patol gicos que s o originados mantidos ou agravados por comportamentos recorrentes do doente tem importantes implica es te ricas e pr ticas que s o decisivas para o planeamento da Preven o para assegurar a efic cia do Tratamento e para orientar a recupera o Manter a quest o da toxicodepend ncia como doen a comportamental uma vantagem pois unifica a situa o cl nica Para a medicina mais tradicional as doen as s o diferentes mas na vertente comportamental ela a mesma para todos Para Pereira e Pires os toxicodependentes desejam sempre o imposs vel aliviar o sofrimento continuando a consumir Quando procuram Tratamento adoptam o objectivo contradit rio tudo Ana Rita Valinho dos Santos Marques 110 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal fazem para serem eles a controlar o Tratamento idem 2004 p 90 Para os autores ajudar toxicodependentes implica olhar e questionarmo nos os profissionais ter o que se perguntar se o que est o a exigir do paciente bom para eles ou para o pr prio terapeuta
295. to e em que orientam a forma como se processa a informa o Por outro lado as representa es sociais influenciam o sujeito a agir de determinada forma em rela o ao objecto em quest o neste caso a droga e o sujeito toxicodependente De acordo com Abric 1994 pode considerar se que em determinadas situa es as representa es sociais orientam as pr ticas especialmente se os sujeitos disp em de algum grau de autonomia de ac o e desempenham tarefas complexas Outra quest o que se coloca a de saber em que medida nos t cnicos de sa de existem caracter sticas espec ficas que os diferenciam ou n o da sociedade em geral na forma como encaram o objecto droga e o toxicodependente Ser que estes t cnicos possuem um conjunto de motiva es espec ficas para desempenharem a sua actividade que os Ana Rita Valinho dos Santos Marques 124 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal diferencia da sociedade em geral Ou pelo contr rio ser que a sua atitude perante esta problem tica que conduz aos discursos e s pr ticas sociais e quotidianas que se observam e na forma como evoluem No quadro desta problem tica pudemos assim sistematizar como objectivos desta investiga o os seguintes 1 Conhecer as representa es sociais da droga e da toxicodepend ncia nos diferentes t cnicos profissionais de sa de que se confrontam privilegiadamente com o
296. toxicodepend ncia que foram adoptadas tanto no ICD International Classification of Diasses da OMS Organiza o Mundial de Sa de como do DSM Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders da APA American Psichiatric Association Woody e Cacciola 1992 Nos anos 80 assiste se a uma orienta o no meio cl nico psiqui trico no sentido de abandonar o crit rio firme da depend ncia fisiol gica como condi o para o diagn stico da toxicodepend ncia Carroll et al 1994 Alguns autores interpretam esta atitude como um acto pol tico e ideol gico no sentido da etiquetagem patol gica dos Ana Rita Valinho dos Santos Marques 13 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal consumidores de cannabis e coca na atendendo a que a primeira n o gera depend ncia f sica e a segunda apresenta reduzidos sintomas fisiol gicos de abstin ncia Akers 1991 Assim a revis o de 1987 do DSM deixou de incluir pela primeira vez os crit rios de depend ncia fisiol gica como condi o necess ria para o diagn stico da depend ncia Este facto exprime uma ruptura uma altera o qualitativa na conceptualiza o cl nica da depend ncia O DSM seguindo a orienta o da classifica o da OMS acaba por adoptar um conceito de depend ncia comportamental vertida numa identifica o de 9 sintomas sendo tr s reportados a manifesta es fisiol gicas e os restantes
297. trav s da procura de medidas legislativas quer internacionais quer nacionais O facto que os EUA para al m de tomarem quase sempre a lideran a destes processos as legisla es de qualquer pa s sobre a produ o distribui o e consumo de subst ncias s o sempre uma aplica o de leis acordadas internacionalmente Nos anos Trinta do s culo passado a Sociedade das Na es cria o primeiro Comit de Peritos encarregado de definir a toxicomania e as subst ncias suscept veis de levar toxicomania At segunda Guerra Mundial verificam se assim muitas medidas legislativas que tentam regulamentar a produ o distribui o e o consumo de subst ncias psicoactivas levando proibi o do consumo de v rias subst ncias psicoactivas como a cannabis a coca na o pio a morfina e a hero na A Segunda Grande Guerra viria a desempenhar um papel determinante na evolu o da hist ria das drogas marcando o fim do ciclo das drogas naturais e semi sint ticas e o in cio do ciclo das drogas sint ticas Com o fim da 2 Guerra Mundial os EUA torna se o pa s iniciador de todas as modas toxic manos e dos fen menos sociais concomitantes Dias 1980 O per odo do p s guerra traz consigo v rias situa es novas com que a sociedade tem que aprender a lidar Em rela o s subst ncias verifica se tanto na Europa como nos EUA um aumento de consumo assim como a emerg ncia de novos padr es de consumo Por outro lad
298. u o de medidas que visam assegurar condi es sanit rias do uso das drogas e o controle social dos consumidores Estas perspectivas defendidas por diversos especialistas motivam quer a adop o de Campanhas de Preven o quer a discuss o p blica de quest es controversas como a liberaliza o das drogas pelo menos as consideradas mais leves a sua descriminaliza o o uso terap utico e a eventual cria o de locais de distribui o controlada de droga Nos anos 90 do s culo passado continua a assistir se ao aumento do consumo e tr fico da hero na a dita droga dura mais consumida em Portugal Mas surgem as novas drogas produzidas em laborat rio como o ecstasy que tal como a primeira tem graves repercuss es f sicas e psicol gicas para os seus utilizadores Fernandes 1990 p 290 Ana Rita Valinho dos Santos Marques 50 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Segundo Jo o Goul o 2008 a toxicodepend ncia j foi a primeira preocupa o dos Portugueses era o em 1997 pelo que foi colocada na primeira linha das prioridades pol ticas Hoje fica se pelo 13 lugar no ranking das prioridades pol ticas Em suma a toxicodepend ncia com o car cter epid mico que hoje conhecemos constitui um dos problemas mais paradigm ticos dos nossos dias Raro o dia em que nos m dia n o lemos uma not cia sobre este fen meno uma realidade tr gica que
299. uma necessidade psicol gica e ou f sica droga A depend ncia psicol gica uma caracter stica de todas as drogas de abuso e centra se na necessidade de droga pelo utilizador de modo a atingir um n vel m ximo de funcionamento ou sentimento de bem estar Este um item subjectivo quase imposs vel de quantificar objectivamente sendo assim de utilidade limitada para chegar ao diagn stico Se existe um relativo consenso no sentido do craving ser a manifesta o central da 8 depend ncia Ribeiro 1995 a tradi o positivista bio m dica levou a APA a n o o explicitar como crit rio torneando esta aparente incoer ncia atrav s de uma enuncia o comportamental sintom tica daquele estado Aqui reside o ponto nevr lgico das defini es m dicas de depend ncia Deixando subentendidas as causas da depend ncia na biofarmacologia da droga mas n o as explicitando optam por objectivar esta atrav s de crit rios comportamentais os quais para servirem de guias identifica o da patologia implicam uma demarca o avaliativa dos comportamentos que n o s o normais e patol gicos Revela se deste modo que a defini o cl nica da toxicodepend ncia sob uma aparente empiricidade um conceito constru do em torno da demarca o de normalidade efectuada pelas conven es sociais s poss vel a qualifica o da manifesta o dita patol gica no contexto sendo os tra os norm
300. uscava a causa de todas as doen as como se fosse uma m quina que apresentava uma avaria O corpo seria ent o visto e analisado de uma forma coisificada distante de qualquer liga o aos afectos ou emo es etc Pode dizer se que este modelo de causa linear est em crise e que nos ltimos anos se tem assistido a algumas cr ticas dando espa o ao aparecimento de outros modelos como o caso do biopsicossocial e do hol stico Este ltimo visa uma abordagem global da pessoa dando nfase ao aspecto relacional m dico doente O primeiro defende a inclus o das dimens es biol gica social e psicol gica da pessoa A partir deste momento inclui se um aspecto quase curativo que a rela o m dico doente V rios autores t m se questionado sobre os conceitos normal sa de e patol gico doen a e at que ponto est o ou n o ligados s significa es pessoais e s normas sociais e culturais As interpreta es ou as significa es da pessoa sobre o seu estado de sa de t m um papel extremamente importante na avalia o do mesmo O que Ana Rita Valinho dos Santos Marques 100 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal normal influenciado por crit rios subjectivos ou idiossincr ticos e mesmo culturais Reis 1998 p 47 Por vezes mesmo depois do m dico tranquilizar o seu paciente de lhe dizer que tudo ir correr bem que pode voltar
301. uturas estruturadas Spink 1994 Na sua faceta de produto as representa es sociais emergem como campos estruturados e consubstanciados no que Pierre Bourdieu designou por habitus a matriz de percep es e de avalia es Nesta dimens o extraem se os conte dos de conhecimento representacional indesligavelmente reportados s suas condi es sociais de produ o isto ao contexto social em que emerge circula e se transforma Conforme assinala uma equipa de investigadores da Universidade de Gen ve a an lise das regula es efectuadas pelo meta sistema social no sistema cognitivo que Ana Rita Valinho dos Santos Marques 28 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal constitui o estudo propriamente dito das representa es sociais tanto como os seus la os com posi es espec ficas num conjunto de rela es sociais explicitadas Doise et al 1992 p 15 Referir os factos sociais de forma o transforma o das representa es sociais convoca as diferentes concep es que recorrem ao seu uso Vala 1998 Assim h quem entenda que o sujeito que transporta representa es simples suporte de estruturas estando sujeito a determinismos estruturais que tornam aquelas meras reprodu es simb licas destas sob forma de esquemas de pensamento j socialmente estabelecidos Numa outra posi o consideram se as vari veis socio estruturais inser e
302. veria ser analisado sob tr s diferentes pontos de vista pelo lado do pr prio toxic mano das Institui es de Tratamento e ainda sob o prisma da sociedade O pr prio toxic mano nega o que do seu mundo interno est intrinsecamente ligado depend ncia Nega totalmente quest es ligadas sua inf ncia como pertinentes para os seus consumos Quanto s Institui es ligadas ao Tratamento segundo Dias os t cnicos veiculam na rela o com o drogado um pouco como a fun o de s ntese do Eu na vida mental entre a realidade interna do cliente e a exig ncia social face efic cia da institui o em si idem p 41 Do ponto de vista da sociedade existe aparentemente um evitamento ao conflito nomeadamente ao luto edipiano Este autor prop e ainda com esta obra um modelo de compreens o toxicomania e depress o na perspectiva individual e social O autor segue a via da perda do objecto no adolescente ou seja o luto Os jovens ao passarem a adolescentes come am a alterar a imagem que t m dos pais e que se manteve durante a inf ncia o que lhe permitir investir noutras rela es nomeadamente a do grupo de pares o processo de adolesc ncia consistiria fundamentalmente na capacidade de desinvestimento das liga es de depend ncia narc sicas que uniram a crian a aos pai e na capacidade de reinvestimento e de reobjectualiza o subsequentes idem p 52 As quest es sociais ainda segundo o
303. via pervertida Onde os servi os oficiais n o conseguiram suprir o deficit existente come aram a aparecer organiza es privadas algumas geridas basicamente por ex toxicodependentes e outras confessionais isto dando uma forma confessional ao programa terap utico A evolu o na rea do Tratamento deveu se nos anos 1990 ao Servi o de Preven o e Tratamento da Toxicodepend ncia SPTT sob tutela do Minist rio da Sa de institui o respons vel pela Preven o Secund ria da toxicodepend ncia em Portugal O SPTT organismo dotado de autonomia t cnica e administrativa com personalidade jur dica e patrim nio pr prio com sede em Lisboa dispunha para a prossecu o das suas atribui es artigo 3 do Decreto Lei n 83 90 de 14 de Mar o de cinco Direc es Regionais Norte Centro Lisboa e Vale do Tejo Alentejo e Algarve que coordenavam as seguintes unidades operacionais Centros de Atendimento a Toxicodependentes CAT s e eventuais Extens es Unidades de Desabitua o Centros de Dia Comunidades Terap uticas e Centros de Informa o e Aconselhamento CIAC s Ana Rita Valinho dos Santos Marques TT A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal Em bom rigor e no que concerne ao Tratamento a grande preocupa o pol tica recaiu sobre a cobertura efectiva do pa s at 1996 com Centros de Atendimento a Toxicodependentes CAT s e Comunidades
304. volver estilos de vida positivos saud veis e aut nomos envolvendo e implicando a participa o activa dos envolvidos no projecto de mudan a A tend ncia de organiza o das pol ticas em Portugal em mat ria de drogas e toxicodepend ncias observou uma tend ncia para o incremento de planos de ac o e sistemas de coordena o No sentido de dar cumprimento ao estipulado no Plano de Ac o de Luta Contra a Droga e a Toxicodepend ncia Horizonte 2004 coube ao IPDT a tarefa de assumir uma atitude proactiva em mat ria de Preven o Prim ria dotando os servi os regionais e autarquias locais de responsabilidade na promo o e articula o das interven es em toxicodepend ncia a n vel local Desta forma o IPDT Ana Rita Valinho dos Santos Marques 72 A s Droga s e a s Toxicodepend ncia s Representa es Sociais e Pol ticas em Portugal estabeleceu parcerias e assinou protocolos com diversas autarquias constituindo se desta forma os designados Planos Municipais de Preven o Prim ria das Toxicodepend ncias PMP s Os Planos Municipais resultaram de uma articula o conjunta entre o poder central e o poder local num reconhecimento da necessidade de se atingir um maior grau de efic cia efici ncia e equidade das interven es preventivas na rea das toxicodepend ncias Os PMP s vieram deste modo assegurar o envolvimento e responsabiliza o das autarquias locais e da sociedade civil na defini
305. xar definitivamente Sentir se bem na sua pele e na vida uma quest o muito mais complexa cuja nfase dever ser colocada durante o Tratamento do toxicodependente A autora termina dizendo que quando falamos de cura apenas podemos estar a referir nos a uma coisa capacidade de pensar de saber de conhecer de caminhar de indagar Ou seja como diria Bion a cura tem de ser a doen a da curiosidade 2000 p 14 Numa vis o diferente e de alguma forma questionando os conceitos e significados da toxicodepend ncia Jos Manuel de Almeida Costa pergunta Se os drogados s o doentes porque que os hospitais n o os tratam se n o s o porque que os tratam como tal logo irresponsabilizando os 1996 p 84 O autor prop e algumas altera es nomeadamente das narrativas sobre a toxicodepend ncia levantando a quest o de que corremos o risco da pr pria solu o se tornar um problema para a toxicodepend ncia Como se tiv ssemos a tend ncia de aplicar mais do mesmo discurso de uma forma cega e desatenta Jaime Milheiro psiquiatra e psicanalista remete nos para a reflex o do que foi feito na toxicodepend ncia durante os ltimos 20 anos O autor diz que o discurso muito centrado na doen a pode levantar algumas quest es pois muitos deles n o s o doentes Aparentemente segundo Milheiro 1999 p 175 vivemos numa cultura da trag dia Invadidos e pressionados os governos afadigam se mas desc

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