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SILVA, Tathyane Gleice da. Uma análise institucional da relação de

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1. No geral a idade delas variou entre 22 e 35 anos Deram entrada na AMUL por volta da 242 at a 372 semana gestacional Reia morava na capital Demetra e Helena na Regi o Metropolitana as demais no interior do Estado O grau de instru o variou do analfabetismo ao Ensino T cnico Completo Artemis era estudante e Demetra Helena e Nik trabalhavam fora da resid ncia como t cnica em enfermagem auxiliar de administra o e auxiliar de estamparia respectivamente A condi o econ mica foi de um a quatro sal rios m nimos algumas recebiam o apoio financeiro de outros membros da fam lia ou benef cios do Governo Hera Nik e Pala eram casadas as demais estabeleciam rela o consensual sendo que todas moravam com o pai do beb Quanto vida reprodutiva Hera e Pala havia engravidado de outro beb h menos de dois anos enquanto Reia tinha mais de cinco anos de intervalo gestacional Demetra Hera Nik e Pala possu am hist ria anterior de aborto Al m disso quatro das usu rias j portavam doen a obst trica ou problemas cl nicos antes da gravidez atual cardiopatia diabetes mellitus tipo A1 trombose ou tero bicorno E O itiner rio terap utico das usu rias variou de nove a 44 dias todas receberam visita familiar durante a hospitaliza o incluindo visita e telefonema do pai do beb preciso esclarecer ainda Art mis e Demetra tiveram um internamento antecessor na AMUL durante a gesta o atual mas
2. es internas entre as gestantes para descumprir o institu do Elas se comportavam s vezes de maneira agressiva com a equipe quando n o se isolavam sentindo se sem voz diante da Organiza o Entre as sa das encontradas pelas usu rias listam se o sil ncio a mentira a desobedi ncia os insultos as chantagens e amea as de morte al m do apelo ao transcendental Enquanto isso sufocados pela din mica estressante de trabalho os profissionais de sa de reagiam psicologicamente nas disputas interativas e no adoecimento mental Em rela o ao sistema englobante o problema pareceu ser reflexo das diferen as de habitus entre a equipe de sa de e as usu rias Esses dois grupos tinham formas de pensar agir e sentir diferentes Algumas usu rias j davam entrada na AMUL cientes de que seus cuidadores tinham bens simb licos e materiais de maior valor do que os dela O campo social da AMUL estava diversificado de uma maneira que um n o conseguia pensar al m do que sua classe lhe autorizava E os grupos de usu rias e de profissionais de sa de ficavam com a sensa o de que a gente explica eles elas acham que a gente entendeu est falando de outra maneira e diz N o N o assim Assim cada grupo lutava por conquistar o reconhecimento do outro como uma forma de mediar o conjunto de suas contradi es Para tanto algumas usu rias desenvolviam diferentes a es para conquistar a aten o e o afeto da equipe
3. o da rela o de cuidado este estudo busca assim perceber suas media es sua singularidade ou seja as formas em que o grupo social da AMUL cria essa trama interativa Embora o pensamento de Castoriadis 2007 possibilita de fato entender a figura da gestante de alto risco e sua equipe de sa de como criadores sociais protagonistas da hist ria particular e coletiva Mas tamb m n o podemos desconsiderar os limites disso motivo da pesquisa ter feito uso do conceito de habitus proposto por Bourdieu 2007 2009 Atrav s da no o de habitus poss vel questionar na rela o de cuidado de que aqui se trata a influ ncia das diferen as de classe entre a equipe de sa de e a gestante de sa de isto pelas distin es de suas formas de enxergar a realidade pois de se posicionar nela 2 2 2 4 O habitus nas Organiza es De etimologia grega hexis foi o termo usado pela filosofia aristot lica no sentido de estado adquirido e determinante do car ter moral influenciando sentimentos e condutas humanas Tom s de Aquino traduziu para habitus do verbo herbare a predisposi o que o homem tem para o crescimento O termo foi usado pela psicossociologia sendo Pierre Bourdieu quem o tornou um conceito primordial contra as dicotomias entre indiv duo sociedade e objetivo subjetivo SETTON 2002 O habitus foi visto como apropriado para explicar as condutas e as atitudes de qualquer grupo social mas esse conceito
4. sa de das gestantes e reduzir a mortalidade materno infantil Em 2004 o Brasil assinou o Pacto Nacional pela Redu o da Mortalidade Materna e Neonatal focando a preserva o dos direitos humanos de mulheres e seus beb s Algumas das estrat gias estabelecidas pelo Pacto foram praticar o acolhimento ao parto ampliar os centros de partos normais garantir aten o humanizada ao aborto organizar o acesso e adequar a oferta de servi os promover educa o permanente aos profissionais envolvidos com a aten o obst trica e neonatal Em suma o SUS possui ferramentas racionalizadas para a humaniza o do pr natal ao puerp rio Nas bases preventivas h t cnicas de avalia o de riscos entendendo se que toda gravidez mesmo sendo um evento natural necessita do mapeamento no pr natal das condi es de risco Todavia falhas das Rede B sica de Sa de inibem a identifica o precoce e un nime dos riscos gestacionais MS 2004 Percebe se o avan o hist rico nas normas do SUS quanto aten o obst trica com iniciativas institu das de humaniza o gestante e pu rpera Promover sa de s gestantes de alto risco soa assim como promover acolhimento digno mulher e ao rec m nascido percebendo a usu ria como sujeito e o beb como um sujeito em forma o atrav s de uma significa o poliss mica do corpo grav dico Ent o n o se pode desconsiderar neste estudo sobre a rela o de cuidad
5. doida 4h 02 20 09 2009 Pesquisa de Satisfa o 4h 03 24 09 2009 Impaci ncia 4h 04 26 09 2009 solidariedade e medo de retalia o 4h 05 27 09 2009 A briga 4h 06 30 09 2009 tu passa mal l fora 4h 07 03 10 2009 Ma ezinha 4h 09 04 10 2009 Efeito Domin 4h 10 05 10 2009 A paciente n o minha 4h 11 07 10 2009 O galeto escondido 4h 12 09 09 2009 Qual foi o PIG de teu beb 4h 13 14 10 2009 A garrafa 4h 14 23 10 2009 Nada de mais 4h 15 25 10 2009 O inqu rito 4h 16 26 10 2009 O jogo de dama 4h 17 27 10 2009 empatia e acolhimento 4h 18 28 10 2009 Chegou a hora 19 28 10 2009 Visita 4h 20 29 10 2009 Ci me entre usu rias 3h 21 31 10 2009 Impaci ncia 2 22 31 10 2009 A troca de plant o 23 31 10 2009 O jogo de domin 4h 24 01 11 2009 O medo 4h 25 02 11 2009 Socorre aqui lh 26 05 11 2009 Prediletas 4h 27 06 11 2009 Tricotando 4h 28 21 11 2009 Abra o 4h 29 22 11 2009 O lanche 4h Anexo D Carta de Anu ncia Eu CPF e RG profissional de sa de respons vel pela AMUL PE autorizo a aluna Tathyane Gleice da Silva
6. em cima da bola ainda Ai meu Deus se eu tiver que ficar em cima dessa bola risos Como se nota Art mis desconhecia a funcionalidade da bola que tem por objetivo minimizar a dor do trabalho de parto uma das maiores preocupa es da gestante Ela temia a dor do parto normal por isso torcia para viver um parto ces rea e em contradi o expl cita entre os dom nios afetivo e pol tico n o se predispunha ao procedimento cl nico Por efeito a bola ganhava uma significa o imagin ria social dissociada dos benef cios terap uticos Um quinto desconhecimento detectado referiu se s diferen as entre o parto normal e a ces rea Elas n o sabiam dos benef cios que um parto normal poderia causar ao seu beb Diferenciavam os tipos de parto apenas com as vari veis dor e tempo de recupera o da mulher Em contrapartida Helena sugeriu que se elas soubessem sobre esses benef cios poss vel que seu comportamento evitativo para com o parto normal fosse minimizado Helena Todo mundo sabe que a melhor coisa o natural Eu sei assim que o parto normal r pido a recupera o muito r pida J o ces reo j mexe mais tem que tomar anestesia local ou geral tem que tomar a tal da raque a recupera o tem que ser bem demorada tem que ter repouso n o isso Isso pr voc E para o teu beb Pr o meu beb Eu n o sei Oxe como Tu acredita que eu n o sei Agora tu me fizesse
7. sociedade e aos grupos sociais medida que unem seus significados aos seus significantes isto o simb lico ao s mbolo Tomando como exemplo o SUS esta institui o de sa de associa o conjunto de suas representa es em uma logomarca oficial uma cruz azul de origami Essa liga o s foi poss vel atrav s de algumas opera es simb licas que inclu ram seus princ pios e suas diretrizes O s mbolo ent o n o o SUS em si mas d representatividade ao mesmo Os detalhes desse s mbolo t m uma refer ncia racional justificado no institu do mas essa justificativa n o toda Castoriadis 2007 explicou que a escolha de um s mbolo n o aleat ria nem toda determinada pela l gica racional A explica o racional deixa res duos um furo no sentido psicanal tico A outra face da explica o simb lica A cruz de origami diz mais do que quer dizer assume uma l gica pr pria reflexo do simbolismo da vida social brasileira e as implica es da sa de p blica Mas nunca ser poss vel dizer de fato a ess ncia mesma da escolha desse s mbolo isso porque a institui o al m de ser escrita no simb lico ela tamb m uma inst ncia 66 imagin ria E Castoriadis 1999 esclareceu o que est posto na realidade institucional s o as manifesta es do imagin rio instituinte da sociedade n o a coisa em si que manifestam Esse imagin rio pertence ao campo de cria o s cio hist rica Assim ele cr
8. AMUL sustentava de certo modo o mal estar das usu rias em torno dessas expectativas Todas as gestantes de alto risco revelaram sintomatologias ansiog nicas nesse per odo com condutas de enfrentamento das mais diversas Depois do parto o estado de estresse era minimizado ou acentuado dependendo da rela o de cuidado vivida com a equipe Tais especificidades foram aqui analisadas como tend ncias psicossociol gicas da trajet ria de hospitaliza o porque envolviam rela es de for as dial ticas estabelecidas entre o desconhecimento das usu rias F1 o habitus em torno da expectativa do trabalho de parto e do parto F2 a singularidade da Sala de Pr parto F3 a pol tica de parto normal agenciada por imposi o em contraponto s formas de transgress o das usu rias F4 ainda as performances das pr ticas de cuidado F5 Notou se que as rela es estabelecidas entre essas for as estavam implicadas diretamente no lugar que a usu ria ocupava na Organiza o e na ideia que a pu rpera passava a ter do hospital Ao todo esta pesquisa identificou as tend ncias decrescente oscilante e constante Cada uma delas ser apresentada primeiro de modo sint tico apenas para que se perceba a din mica contradit ria das tend ncias psicossociol gicas Logo ap s sua descri o ficar poss vel o detalhamento de cada for a dial tica atuante que as comportam a Tend ncia Decrescente Esta a tend ncia da Repres
9. E Atalanta recebeu amostras de anticonceptivos sem ficar atenta indica o do tratamento medicamentoso Tomou o rem dio at mesmo depois de passada a validade e engravidou Esta m e insinuou como insuport vel a ideia de que seu capricho de se ver gr vida nem que fosse pela ltima vez se tornasse causa de uma doen a incur vel no filho Sentia culpa mas amenizava este sentimento com o analfabetismo pois seu lugar alienado A fragilidade de sua autonomia servia aqui como um ganho secund rio Estava com 28 anos na quinta gesta o quando a Unidade B sica encaminhou a usu ria Maternidade Dia da AMUL Durante o pr natal constatou que al m de soropositiva adquiriu Diabetes Gestacional do tipo A2 Na 372 semana de gesta o foi encaminhada Emerg ncia Obst trica para internamento na EGAR Em menos de 24h na Emerg ncia foi Sala de Pr parto para aguardar vaga na enfermaria No dia seguinte foi EGAR onde come ou a fazer parte desta pesquisa e passou 19 dias at retornar Sala de Pr parto para interrup o da gravidez Teve parto ces rea o beb de sexo masculino nasceu com 3 670Kg e Apgar 9 10 Ap s 23 dias na AMUL a d ade m e beb recebeu alta 5 1 1 3 Demetra Demetra 28 anos residia em S o Louren o da Mata Regi o Metropolitana de Recife era t cnica de enfermagem cat lica n o fumava nem usava lcool ou outras drogas Sua menarca foi aos 15 anos e a coitarca aos 1
10. Enquanto os profissionais criavam uma expectativa pelo retorno uma foto uma mensagem uma visita qualquer bem simb lico que lhe propiciasse legitimidade e sentido a sua vida profissional Essa repercuss o ocorria na medida em que o afeto caracterizava o estilo dos profissionais de sa de cuidarem das usu rias seja nos gestos de segurar a m o da gestante sentar junto ao leito perguntar e escutar como elas se sentiam pedir permiss o para examin las torcer para que o parto desse certo solicitando calma questionando se estavam estressadas buscando discutir rela o terap utica ou no simples boas vindas se precisar de mim estou aqui neste plant o de hoje viu me chame conte comigo para o que voc precisar como costumava dizer Dafne O afeto permitia que o itiner rio terap utico tivesse uma tend ncia psicossociol gica descrente apesar do confronto cont nuo entre o institu do e o instituinte Por m esse mesmo afeto podia ser determinante para que a tend ncia se estabilizasse reencenando ativamente as experi ncias primitivas do sujeito seus temores de perda de amor Era desse modo que as ang stias de hospitaliza o refletiam uma ang stia anterior de ordem imagin ria e ficavam simbolizadas no sentimento de dio e de ressentimento de algumas usu rias que se viam coibidas a assumir no hospital seu estilo de vida n o se percebendo valorizadas pelo Outro luz de Castoriadis 2006 considera s
11. Isso est de acordo com o conceito de Organiza o que foi apresentado no cap tulo anterior e que se constitui na din mica de respostas s media es Para que uma Organiza o seja entendida nesta perspectiva imprescind vel analisar as rela es entre as contradi es dial ticas dos la os sociais que mant m a pr pria Organiza o Nessa complexidade perceber a rela o m tua que tamb m estabelecida entre os dom nios de media o Ao se analisar o entrela amento das contradi es e de suas inst ncias mediadoras entende se a maneira da Organiza o disfar ar suas pr prias tens es como um sistema coerente e controlado A fim de entender essa din mica Pag s 1993 recomendou o uso de gr ficos de interpreta o uma t cnica capaz de operacionalizar a estrutura o das rela es acima referidas Com o gr fico sugere que se identifique primeiro a contradi o dominante onde as unidades de registro est o centradas Depois que se delimitem os subtemas construindo hip teses te ricas e confrontando as Esta pesquisa usou a t cnica construindo um gr fico para cada participante A t tulo de exemplo encontra se em Anexo F a c pia ilustrativa do gr fico de Nik Para a montagem dos gr ficos seguiram se os princ pios Leituras flutuantes das transcri es grifando se os trechos que mantinham algum elo com a rela o de cuidado As unidades foram escolhidas e relacionadas at serem esta
12. Na 402 semana gestacional Helena foi readmitida sendo encaminhada Sala de Pr parto O parto foi ces rea o beb nasceu com 3 620Kg Apgar 8 10 e recebeu alta do Alojamento Conjunto Por m a m e apresentou sangramento abundante retornou Sala de Pr parto para vigil ncia cl nica depois UTI Mesmo de alta o beb permaneceu no hospital ficando junto a outros beb s que tamb m aguardavam a recupera o de sua m e Ap s 44 dias em AMUL considerando os dois internamentos houve alta materna 6 1 1 5 Hera Hera 25 anos procedente de Paudalho Zona da Mata pernambucana n o concluiu o Ensino M dio dona do lar cat lica n o fumava nem usava lcool ou outras drogas Sua menarca foi aos 15 anos e a coitarca aos 20 Aos 23 anos casou se indo morar em casa de aluguel de alvenaria com gua tratada energia el trica dois quartos O esposo era caminhoneiro por isso s se encontravam poucas vezes ao m s Sua renda mensal n o fixa era de quatro sal rios m nimos Hera passava o dia cuidando dos pais que eram doentes Ap s dois anos de vida conjugal Hera e o esposo planejaram a primeira gesta o Na 242 semana gestacional a usu ria apresentou sangramento e procurou a AMUL descobrindo se portadora de tero Bicorno logo depois abortou Ficou 35 dias internadas na AMUL vividos como uma tortura muito grande psicol gica Aquilo mexeu comigo Desenvolveu quadro depressivo no per odo de lu
13. experi ncia materna O autor assinala que nessas circunst ncias cabe ao servi o de psicologia hospitalar verificar as situa es conflitivas frente gravidez ao parto e maternidade em geral considerando o estado de alto risco Ainda favorecer o trabalho interdisciplinar viabilizando rela es humanas mais saud veis entre a equipe de sa de e a usu ria Afinal fun o de todos os membros da equipe viabilizar o acolhimento e um espa o atrav s do qual a usu ria sinta se vontade para compartilhar suas ideias acerca da sa de materna e fetal n o s com o psic logo mas sim com a equipe de sa de A diferen a que o psic logo estabelecer uma avalia o do estado ps quico da usu ria e far uso de t cnicas de interven o psicol gica apropriadas a diminuir a ansiedade da usu ria ou a encoraj la frente aos procedimentos m dicos gesta o de alto risco e ao puerperio Durante a pesquisa no entanto a AMUL revelou uma disposi o coletiva em silenciar a voz da usu ria de modo que parecia haver uma gest o coletiva do sil ncio Questiona se aqui a fun o do n o dito compactuado nesse imagin rio social Duas explica es foram poss veis a esta pesquisa estando uma relacionada outra Baseando se no modelo sociomental entende se que a demanda e o desamparo dos pacientes reativa o desamparo e a demanda de amor n o satisfeitos dos atendentes PAG S 2001 Ent o prov vel que n o possibili
14. fim de n o ser transformado em heresias ou pr ticas pag s Sendo assim na Idade M dia os hospitais hospitale ou Domus Dei eram casas religiosas onde se amparavam os doentes por via de tratamento sanit rio e profil tico compondo se de ferramentas dual sticas de cuidado O Clero figura principal da pr tica de cuidado acompanhava os doentes do esp rito enquanto os medicus eram respons veis por tratar os acometidos dos males do 25 corpo principalmente no final da Idade M dia com a funda o da Escola de Medicina de Salerno na It lia Em geral os medicus os sacerdotes e as irm s hospitaleiras estavam sujeitos ao cont gio caracterizando o ato penitencial de seu servi o caritativo A estrutura era desigual e discriminat ria na Europa os tratamentos dos servos eram mais longos com administra o de medica es pouco onerosas J a hospitaliza o da nobreza era de curto prazo com medicamentos mais efetivos SAUNIER 1985 Na Idade Moderna o hospital foi um espa o de recolhimento e prote o populacional caritativo filantr pico assistencialista e excludente alimentado pela pol tica de desigualdades Os doentes de baixo poder aquisitivo foram rotulados como portadores de doen as contagiosas devendo ser exclu dos da sociedade que lhe ofertava compaix o Nesse per odo a clientela do hospital compunha se de indigentes prostitutas moribundos e loucos todos concebidos em condi es terminais despojado
15. interesse um investimento relacionado libido do latim illusio o mesmo que estar envolvido em um jogo Isto significa que fazer ci ncia seria fazer parte de um jogo social levando o a s rio ao se implicar nele e reconhecer o valor do jogo em si e o valor do conjunto de seus alvos Pelo inverso na indiferen a o sujeito n o notar o que est posto em jogo tampouco a delimita o das estrat gias de seu campo l dico o cient fico As contribui es da literatura permitiram me supor que clarificar este jogo corresponderia trazer luz uma parte invis vel do objeto de estudo seu n o dito Durante todo o processo que leva o objeto passar do estado vis vel ao invis vel o cientista levado a se engajar na busca pelo conhecimento Isso aconteceria porque a pesquisa se constitui de alteridade uma coprodu o guiada pela t tica do pesquisador Subjetivamente envolvido o cientista depara se com um furo no saber buscando assim escapar desse desconhecimento E ao refletir suas implica es j nos primeiros passos da pesquisa o cientista inicia a an lise da invisibilidade do fen meno estudado Ent o a implica o da pesquisadora influenciou de partida sua escolha pela AMUL como Organiza o participante do presente estudo Justifica se assim a import ncia de que este engajamento seja detalhado o que ser feito a partir de agora atrav s de tr s n veis de implica o BARBIER 1985 o psicoafeti
16. o caso do corpo de volunt rios do exemplo acima O terceiro momento entrecruza e serve de media o para as contradi es institucionais sancionando a rela o entre a a o imposta e a a o idealizada dando origem singularidade organizacional ou seja ao conjunto de suas a es poss veis Pode se imaginar uma Unidade de Refer ncia criando artif cios pr prios de regula o e pr ticas para dar 5 conta de um n o todo universal sem se paralisar na desordem Esse pensamento dial tico contribui com a an lise de um estudo da natureza deste que tem um objeto complexo como a rela o de cuidado pois leva compreens o de que a intera o entre a equipe de sa de e a gestante de alto risco est demarcada por um jogo de contradi es que diz respeito n o apenas aos sujeitos singulares mas tamb m ao sistema institucional de que faz parte Na sua din mica dial tica esses momentos s o insepar veis e justificam que as institui es compartilham entre si de um sistema discursivo Afinal as singularidades 59 institucionais est o limitadas a um conjunto de a es que respeitam o prop sito organizacional Seguindo o mesmo exemplo da visita familiar at mesmo quando uma Organiza o se v impedida de aceitar esse dispositivo por raz es epidemiol gicas ela pode aceitar algum elemento mediador afinal o apoio da rede social acreditado pelas institui es de sa de como valoroso para a recupera
17. o de uma pessoa hospitalizada Por mais distintos que sejam os complexos organizacionais em sua arquitetura e din mica eles se agrupam em algum ponto em comum do sistema social como a ideologia de que o usu rio digno de qualidade na assist ncia Recapitulando o momento da universalidade d condi es para a institui o exercer seu poder sobre o social assim relativizando a autonomiza o do sujeito A universalidade leva a Organiza o a agir sim como um sistema de pr ticas totalit rias que s o necess rias vida social como explica Pag s 1993 Uma Organiza o hospitalar tem um conjunto de tarefas com controle de normas apoiado nas decis es pol ticos institucionais influenciadas pela cultura pelo jogo de poder e interesses tamb m por ideologias dominantes com o princ pio de promover sa de e salvar vidas Os indiv duos ent o assumem a l gica oficial sobre a sa de por conseguinte s o capturados pelas hierarquias pelo corporativismo pelo mercado que legitimam o corpo social O hospital define se pelos servi os que presta mas em relevo pelos modelos comportamentais que produz e reproduz a fim de manter sua norma social Na organiza o h um sistema educativo que vigia a aplicabilidade das normas na divis o de trabalho na produtividade e nas rela es de poder O usu rio de um hospital no momento em que atendido torna se recept culo desse sistema educativo que oficializa o modelo de sa de hosp
18. o do Parto NAP IAS s o as ninfas associadas a vales colinas e depress es sendo assim se aproximam das oreades Fazem parte do cortejo do deus Apolo junto a sua carruagem Segundo a mitologia s o dific is de ver porque est o escodidas atr s de arvores de vales PROFISSIONAL DE SA DE NAP IA observadora silenciosa NINFA NEREIDA Ninfas do mar gentis e generosas PROFISSIONAL DE SA DE NEREIDA democr tica sofre com as falhas da AMUL SUS NINFA PEG IA As ninfas que habitam as nascentes PROFISSIONAL DE SA DE PEG IA dedicada busca novos conhecimentos APENDICE C Trajet ria das Usu rias na AMUL As trajet rias est o ilustradas neste ap ndice com o objetivo de facilitar a leitura dos n veis de an lise qualificados neste pesquisa Foi proposital sua disposi o em forma de espiral porque o estudo baseado na An lise Institucional entende que o itiner rio terap utico das oito usu rias da AMUL foi constru do com muitas das e voltas que nunca paravam no mesmo ponto A cada novo servi o onde as usu rias eram admitidas a rotina trazia algo de semelhante dos setores antecedentes bem como algo de espec fico Al m disso algumas usu rias retornaram para os mesmos setores em determinadas situa es A ideia se orientou na perspectiva de Pich n Rivie re 2005 que discute a intera o grupal atrav s de uma espiral dial tica atrav s da qual o sujeito e os grupos sociais est o em m tua rela o
19. ria tal como se v no Positivismo Sociol gico fazendo do pesquisador um recept culo da realidade Ali s a realidade algo extr nseco a ele e algo de que ele precisaria se apropriar O sil ncio do pesquisador social seria portanto ponto de partida e ess ncia metodol gica dos estudos sobre os fatos sociais Esta no o objetivista perdurou at o final do s culo XX quando se observaram os preju zos da neutralidade axiol gica Enquanto o cientificismo constitu a as a es sociais revelia dos valores do observador e da experi ncia popular era provocada uma cis o entre o cotidiano e o saber racional assim negligenciando a conting ncia dos fatos sociais Inclusive Matos 2009 explicou essa problem tica como um dos obst culos aos avan os das pol ticas p blicas j que a ci ncia se excluiu de dialogar com o saber popular N o que a implica o do pesquisador seja da ordem do senso comum mas igualmente se alia a quest es subjetivas que ultrapassam a racionalidade e nela se apresentam Para Morin 1990 a dicotomia entre sujeito e objeto elabora sistemas fechados enrijecidos e tautol gicos impedidos de visualizar a dinamicidade contradit ria do real Bourdieu e Passeron 2009 salienta que se desconsiderou o contradit rio da pr pria gratuidade das a es humanas Aponta ainda que o cientista est envolvido de interesses havendo um m nimo de motivo para a elabora o de um problema de pesquisa Afinal
20. uma situa o de equil brio puro na vida com rela es humanas harm nicas como proclama a l gica funcionalista da escolha racional que est na base da psicologia organizacional mais tradicional O Paradigma da Complexidade mostra que a organiza o e a desorganiza o comp em os fen menos sociais de maneira que as rela es entre os sujeitos s o contextualizadas e impulsionadas nesse jogo dial tico Complexidades s o assim sistemas onde os fen menos se relacionam de modo quantitativo e qualitativo por intera es n o controladas e contradi es mediatizadas Para Morin o pensamento complexo se estrutura em tr s princ pios complementares a O princ pio dial gico revela que os fen menos s o antag nicos compostos por dualidades que se negam e se complementam Por exemplo viver implica seguran as e inseguran as satisfa es e insatisfa es b O princ pio da recursividade diz que os fen menos se constituem da reciprocidade entre causa e efeito n o de sua linearidade A coisa produtora em dado momento pode ser a coisa produzida em outro O social produto e produ o das intera es humanas sendo o homem auto organizativo c O princ pio hologram tico mostra que os fen menos interagem em um sistema onde o todo e a parte s o comunicantes e intercessores Assim os atores sociais s o partes de um todo organizacional mas cada ator tem em si a representa o do todo um n o pode ser entendido
21. 22 dias Helena 31 anos 242 sem Jaboat o PE Regi o Metropolitana de Recife Ensino M dio e N vel T cnico em Marketing Parceiro pai do beb irm s pais INSS dos pais 3a4 sal rios m nimos Separou do 1 marido Nenhum Nenhum 1 filho Trombose Outubro 2009 e Janeiro 2010 44 dias Hera 25 anos 272 sem Paudalho PE Mata Norte Ensino M dio incompleto Do lar Esposo irm s 3a4 sal rios m nimos Casada Aborto devido tero bicorno lt 01 ano tero Bicorno Brida Amni tica Outubro a novembro 2009 21 dias Nik 29 anos 28 sem Caruaru PE Agreste Central Ensino M dio Incompleto Auxiliar de Estamparia Esposo tias 2a3 sal rios m nimos Casada Aborto espont neo 04 anos Ruptura das membranas Setembro 2009 9 dias casa das m es canguru Pala 35 anos 34 sem Xexeu PE Mata Sul Ensino Fundamental 1 Do lar Esposo sogra 1 m nimo Abortos espont neos lt 01 ano Disfun o Card aca Hipertens o arterial Novembro 2009 15 dias R ia 29 anos Recife PE Capital Ensino Fundamental 1 Do lar Parceiro pai do beb m e irm 1a2 sal rios m nimos Solteira Hipertens o 06 anos Hipertens o Gestacional S
22. Art mis Uma insulinodependente desde a inf ncia ela tinha uma experi ncia de horizontalidade em sa de antes de conhecer a AMUL dizendo se pessoa respons vel com os seus cuidados cl nicos Tinha feito parte de um grupo de encontro peri dico e educativo fornecido por um centro especializado nos cuidados aos usu rios diab ticos onde aprendeu junto com sua m e como conviver com a diabetes mellitus de forma saud vel Ao chegar na AMUL aceitava a conduta da equipe dizendo que esta conduta estava de acordo com aquilo que ela j sabia sobre sua doen a No entanto na fase puerperal a equipe avaliou a necessidade de alterar alguns procedimentos para o controle glic mico N o aceitando a ideia Art mis exp s sua discord ncia mas esses atores usu ria acompanhante e equipe n o conseguiram escutar um ao outro minando os discursos pr prios Art mis Depois que eu tive beb eles n o querem que eu tome insulina n o prescreveram mais pr mim Ai eu acho ruim fico impaciente porque se eu tenho esse problema h 10 anos eu SEI do medicamento que eu preciso tomar J falei com a equipe mas eles dizem que sabem o que est o fazendo Eu fico com raiva querendo dizer umas coisas 151 Porque a gente explica eles acham que a gente entendeu de outra maneira e diz N o N o assim Ai fica ruim porque a gente n o vai t discutindo com m dico Como eu to dizendo eu acho que eles p
23. BOURDIEU 2009 o agenciamento do sujeito na sa de e o controle social FOUCAULT 2004 2008 Como o objeto de estudo foi a rela o de cuidado o estudo contou com a participa o de oito usu rias e oito profissionais de sa de de um centro de refer ncia hospitalar As t cnicas utilizadas para a constru o dos dados foram entrevistas observa o de campo e an lise de documentos que tiveram como m todos te ricos a an lise do sistema dial tico MAX PAG S 1993 e a an lise institucional sincr nica BARBIER 1985 Os resultados evidenciaram que antes de engravidarem essas gestantes j adjudicavam ao beb um lugar de agressividade Logo viviam a gravidez com medo de morte devido ao quadro cl nico mas tamb m com o sentimento de culpa somado situa o de estresse pelo cotidiano hospitalar e pela psicodin mica gestacional e puerperal Todavia nem sempre encontravam na equipe de sa de o suporte afetivo necess rio para ressignificar o lugar dado ao beb e diminuir o sofrimento A rela o de cuidado era fragmentada com posturas centradas na usu ria e outras que lhe impediam o processo de protagoniza o em sa de compondo assim as especifica es da pr tica social da Organiza o hospitalar neste trabalho entendidas por habitus Por efeito as usu rias apresentaram tr s tend ncias psicossociol gicas na trajet ria de hospitaliza o nas quais preponderou 1 rela o de amor com a Organiza o 2 rela o de re
24. CPF 04275496477 e RG 6335911 SSP PE regularmente matriculada no Mestrado em Psicologia do Programa de P s gradua o em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco sob a orienta o do Prof Dr A cio Matos a realizar o estudo que faz parte da disserta o de mestrado que a mesma desenvolve no supracitado programa sobre a rela o de cuidado entre a equipe de sa de e a gestante de alto risco no cotidiano de um hospital maternidade Estou ciente de que as informa es colhidas atrav s desta pesquisa ser o estritamente confidenciais Por m estou de acordo com que os dados cient ficos desde que n o sejam identificados poder o ser usados em congressos e publica es pois s assim ser o compartilhados com outros centros de estudo Ainda fica claro que esta colabora o n o implica custos financeiros nem emprego de recursos materiais ou humanos por parte de nossa institui o Profissional respons vel pela AMUL Local e data Anexo E Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Fui convidado a a participar da pesquisa Uma an lise institucional da Rela o de Cuidado entre a Equipe de Sa de e a usu ria de uma Unidade Hospitalar de Gesta o de Alto Risco de Pernambuco para assim contribuir com a elabora o de uma disserta o de Mestrado em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco UFPE A pesquisa prop e se a investigar o modo como se estrutura e se manifesta a rela o de cu
25. Como se nota as usu rias acabavam sendo inseridas nesse jogo das rela es de trabalho onde as contradi es dial ticas eram vividas de forma intensa E a equipe de sa de n o demonstrou perceber as falhas do outro como reflexo da fragilidade coletiva Havia do contr rio uma tend ncia em apontar a culpa do semelhante livrando a pr pria pele da responsabilidade perante as desordens da AMUL Por efeito se as usu rias j tendiam a transgredir ao universal mais ainda o faziam quando as falhas do sistema eram apresentadas atrav s dos problemas interativos da Organiza o Mas como este trabalho se foca na Complexidade a an lise detectou ainda a rela o de coopera o e afeto como mediadores dos conflitos interpessoais da equipe de sa de Nereida Eu sofri muito quando eu cheguei aqui ai foi que eu conheci um m dico que pediu minha ajuda ai eu disse me ajude pr eu aprender que eu lhe ajudo tamb m ai ele come ou a me ensinar Ai foi que eu levantei a cabe a enfrentei e aturei MUITO Al m dos conflitos interacionais a equipe se queixou da sobrecarga de trabalho Nereida A gente aqui bom bril bom bril Aqui muito desgastante a gente admite paciente vai buscar paciente no ber rio vai buscar o beb no ber rio que as meninas do ber rio n o traz A gente d alta no momento que d alta tem que parar porque tem uma paciente que t precisando da assist ncia a a gente tem que
26. Cr ticas sociol gicas das pr ticas m dicas modernas Petr polis Rio de Janeiro Vozes 2003 MATOS A cio Gomes de FONTES Breno Limites da democracia Recife Universit ria UFPE 2008 Fundamentos de cidadania na sa de na perspectiva do reconhecimento caminhos de pesquisa In MARTINS Paulo Henrique PINHEIRO Roseni Org Avalia o em sa de na perspectiva do usu rio abordagem multric ntrica Rio de Janeiro CEPESC IMS UER J Recife Editora Universit ria UFPE S o Paulo ABRASCO 2009 p 131 8 BEZERRA Raphael NASCIMENTO Wagner do A cidadania como solidariedade c vica na esfera p blica a luta pela estima In MARTINS Paulo Henrique PINHEIRO Roseni Org Avalia o em sa de na perspectiva do usu rio abordagem multric ntrica Rio de Janeiro CEPESC IMS UERJ Recife Editora Universit ria UFPE S o Paulo ABRASCO 2009 p 159 70 MATOS A cio Gomes de Organiza o Social de base Reflex es sobre significados e m todos Bras lia Abar 2003 Determinantes sociais em sa de em busca de um olhar diferenciado In MARTIN Paulo Henrique PINHEIRO Roseni Org Avalia o em sa de na perspectiva do usu rio abordagem multtric ntrica Rio de Janeiro CEPESC IMS UER J Recife Editora Universit ria UFPE S o Paulo ABRASCO 2009 p 347 69 O desafio do conhecimento Pesquisa qualitativa em sa de 92 edi o revista e aprimorada S o Paulo Hucitec 2006 MINIST RIO DA SA DE
27. Hera ela a m dica vai achar que besteira minha eu tenho vergonha de falar que eu estou com medo Em parte isso pode estar relacionado dist ncia disposicional no sentido de Bourdieu e Passeron 2009 entre a m e e a equipe de sa de A figura da m dica por mais que representasse para Hera uma doutora muito boa era tamb m situada pela usu ria como algu m que tinha bens simb licos e materiais mais valorosos do que a gestante Hera refor ava no seu relato suas limita es macrossociol gicas e sugeria expor seu lugar de submiss o atrav s do significante doutora como j dito no t pico de an lise anterior Por outro lado os relatos de viv ncia sugeriram que a pr pria equipe de sa de n o tinha o habitus de estimular nas gestantes a verbaliza o de seus temores e fantasias acerca do parto Sendo assim quando as usu rias e profissionais de sa de conseguiam estabelecer um di logo sobre o assunto a conversa tendia a se restringir aos procedimentos terap uticos Demetra Eu s disse a ela m dica s fa a um favor pr mim me d uma anestesia s no finalzinho Ela disse n o sem d vida nenhuma nem se preocupe eu falo com o anestesista E pronto acabou o me do Como revela o depoimento de Demetra a AMUL estava disposta a colaborar com o bem estar das gestantes readequando as interven es cl nicas s necessidades emocionais das usu rias que assim conseguiam ext
28. PRESID NCIA DA REP BLICA BRASILEIRA Lei 8 080 Bras lia 1990 Dispon vel em portal saude gov br Acesso aos 26 12 2009 s 12 03h Gesta o de alto risco Manual T cnico Bras lia 2000 Programa Nacional de Humaniza o da Assist ncia Hospitalar Bras lia 2001 Dispon vel em www portalhumaniza org br Acesso em 22 09 2005 Gestante de alto risco sistema estadual de refer ncia hospitalar gestante de alto risco Bras lia Minist rio da Sa de 2001 Dispon vel em www bvsms saude gov br Acesso aos 21 06 2008 s 20 42h O Minist rio da Sa de adverte Doulas fazem bem sua sa de Parto Aborto e Puerp rio Assist ncia Humanizada Mulher Bras lia Minist rio da Sa de 2001 Secretaria de Aten o Sa de Departamento de A es Program ticas Estrat gicas Pacto nacional pela redu o da mortalidade materna e neonatal Vers o aprovada na reuni o da Comiss o Intergestores TRIPARTITE realizada em 18 03 04 Bras lia Minist rio da Sa de 2004 Dispon vel em www saude gov br Acesso aos 29 01 2009 s 16 12h Plano nacional de pol ticas para as mulheres Bras lia Secretaria Especial de Pol ticas para as Mulheres 2004a Dispon vel bvsms saude gov br Acesso 21 06 2008 s 20h Pol tica Nacional de Humaniza o a humaniza o como eixo norteador das pr ticas de aten o e gest o em todas as inst ncias do SUS Bras lia Minist rio da Sa de 2004b Dispon
29. Pierre A economia das trocas simb licas 52 ed S o Paulo Perspectiva 1998 O poder simb lico Tradu o de Fernando Tomaz 112 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007 5 PASSERON Jean Claude A reprodu o Elementos para uma teoria do sistema de ensino Tradu o Reynaldo Bair o 22 ed Petr polis Vozes 2009 BRAZELTON Berry O desenvolvimento do apego Tradu o Dayse Batista Porto Alegre Artes M dicas 1988 174 CAILL Alain Reconhecimento e sociologia Revista Brasileira de Ci ncias Sociais S o Paulo ANPOCS v 23 n 66 fev 2008 CAMAROTTI Maria do Carmo Maternidade mitos e desejos In BERNARDINO Leda Mariza Fischer ROHENKOHL Cl udia Mascarenhas Fernandes Org O beb e a modernidade abordagens te rico cl nicas S o Paulo Casa do Psic logo 2002 p 35 50 CAMPOS E S Hist ria e evolu o dos hospitais Rio de Janeiro Minist rio da Educ Sa de Departamento Nacional de Sa de 1944 CASTORIADIS Cornelius Feito e a ser feito As encruzilhadas do labirinto V Tradu o Lilian do Valle Rio de Janeiro DP amp A 1999 Uma sociedade deriva Entrevistas e debates 1974 1997 Tradu o Cl udia Berliner S o Paulo Ideias e Letras 2006 A institui o imagin ria da sociedade Tradu o de Guy Reynaud 5 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2007 COELHO Maria Thereza D vila Dantas FILHO Naomar de Almeida Conceitos de sa discursos contempor neos de re
30. Programa de P s gradua o em Psicologia da UFPE que influenciou sua vis o de mundo e de sujeito muito antes do mestrado quando fazia parte da gradua o desse Departamento desenvolvendo pesquisas de inicia o cient fica Tamb m o estudo foi instigado pelo c rculo profissional da mestranda aproximando a de discuss es que inclusive algumas foram trazidas no cap tulo anterior a respeito da Humaniza o em Sa de Materna e Neonatal Essa foi a tem tica tamb m de atividades de tutoria e consultoria promovidas pelo MS em 2009 e in cio de 2010 nas quais a mestranda se inseriu Ainda o estudo mobilizou se pelos anseios dela doc ncia Em s ntese houve uma articula o t cnico cient fica entre a pesquisa a escuta cl nica no hospital e os projetos de vida da pesquisadora O terceiro n vel de seu investimento revelou a coer ncia do estudo com a linguagem cient fica historicamente situada e com o campo social da pesquisadora atuante na rea de Sa de P blica Como exposto no cap tulo um nosso objeto e tema de pesquisa s o pertinentes na atualidade em que o esp rito coletivo parece inibido no campo social sendo v lidas pesquisas atentas s quest es da coletividade e da autonomia assim investindo em pol ticas p blicas A pesquisadora n o se isentou de interiorizar tais exterioridades institucionais envolvendo se no sistema de cren as e valores de seu tempo s cio hist rico Isso atende ao que disse Minayo 2006 o s
31. SUS garantir que o usu rio seja informado sobre riscos e agravos de sua sa de sobre o potencial dos servi os prestados seus limites e formas de utiliza o A desinforma o percebida como aquilo que impede a participa o comunit ria favorece a aliena o dos usu rios no sistema busca de atendimento inadequada aos n veis de complexidade superlota o de servi os aumento or ament rio O SUS j produziu milhares de documentos informativos campanhas publicit rias confer ncias entre outros dispositivos pedag gicos e a popula o ainda desconhece suas diretrizes e princ pios 9 E a 4 E Os t picos anteriores deste cap tulo demonstram um pouco disso trocas de experi ncias gratificantes e solid rias O fato que essas a es s o realizadas por grupos espec ficos de atendimento De qualquer maneira j revelam como poss vel a forma o de uma sociabilidade solid ria em sa de exemplos assim provam que a democracia n o toda parlamentar O desafio social est na amplia o dessas a es E o espa o pensado aqui como local de exerc cio das pr ticas sociais humanizadas o hospital maternidade voltado sa de da gestante de alto risco Inserido no campo da Sa de da Mulher atribu do a esse hospital o exerc cio de respeitar as diferen as das gr vidas como pontua vila 2003 nas suas condi es de promo o de sa de com a es humanizadas abordando a sexualidade e reprodu o como
32. Sala de Pr parto e Alta hospitalar neonatal Casa das M es Alta hospitalar materna Trajet ria 07 Pala da Maternidade Dia Alta hospitalar na AMUL 15 dias Maternidade Dia Unidade B sica 122 gesta o so Emerg ncia Alta hospitalar materna e neonatal Alojamento Sala de Pr Conjunto parto Figura 08 R ia de outro Hospital maternidade Alta hospitalar na AMUL 23 dias Maternidade de baixo risco Se Sala de Pr parto Maternidade Dia Alojamento Conjunto Alta hospitalar materna e neonatal ANEXO A Modelo do Aviso Anexado Capa dos Prontu rios das Usu rias ATEN O PACIENTE PARTICIPA DE PESQUISA DE MESTRADO EM PSICOLOGIA COM A PESQUISADORA TATHYANE SILVA POR FAVOR EM CASO DE PREVIS O DE ALTA OU DE TRANSFER NCIA DA PACIENTE PARA OUTRA UNIDADE DESTE HOSPITAL PR PARTO PARTO UTI SIGO ETC COMUNICAR PESQUISADORA PELO TELEFONE 9676 1950 GRATA PELA COLABORA O TATHYANE SILVA PSIC LOGA CRP 02 13 307 ANEXO B Protocolo Observacional Descritivo Data de Observa o Tempo de Observa o Pesquisadora Observadora Setor Observado Cena Observada Acontecimento Descri o do Cen rio Relato descritivo do Acontecimento Anexo C Lista de Computa o dos Epis dios Observacionais Registro Observacional Data da Observa o Epis dio Tempo Total na data de Observa o 01 19 09 2009 T
33. Significados e justificativas dos codinomes dos atores sociais da pesquisa 3 5 1 As entrevistas As entrevistas foram realizadas com usu rias e profissionais de sa de entre setembro de 2009 e maio de 2010 Foram n o estruturadas individuais e audiogravadas Sendo n o estruturadas sua condu o deu se por meio da escuta cl nica da pesquisadora Houve um diferencial nas entrevistas com as usu rias Cada usu ria foi entrevistada por v rias vezes sendo feito assim um acompanhamento de sua trajet ria desde a admiss o na EGAR at a alta hospitalar materna Devido ao car ter sequencial destas entrevistas oportunizando s protagonistas relatarem v rios epis dios de sua viv ncia extra hospitalar e hospitalar ser o chamadas a partir de agora de relatos de viv ncia 3 5 1 1 Os Relatos de Viv ncia das Usu rias A utiliza o de relatos de viv ncia justificou se nos detalhes pr prios do comportamento emocional de usu rios hospitalizados A Psicologia Hospitalar afirma que o processo de hospitaliza o acentua no sujeito hospitalizado uma tend ncia instabilidade emotiva que acompanha consonante ou discrepante qualidade dos acontecimentos cotidianos como visita familiar not cia de diagn stico ou progn stico entre outros fatores O estado emocional do usu rio depende de sua estrutura ps quica em conjunto com esses aspectos circunstanciais ANGERAMI CAMON 1995 De parte da suscetibilidade a disto
34. Unidade por motivo gestacional Art mis foi a nica que desconhecia o servi o Mas todas afirmaram ter dado entrada nesta Organiza o de sa de com uma ideia positiva em rela o ao hospital bom escola refer ncia e especialista em crian a mesmo nenhuma delas tendo referido nesse momento a compet ncia da AMUL no campo da Sa de da Mulher Os adjetivos indicaram a expectativa das usu rias quanto qualidade do atendimento sugerindo que a imagem sobre a Organiza o servia como motivo de esperan a para com a sa de e a vida do beb tamb m como um mediador da aceita o inicial a respeito do internamento Pala Achei ruim no ato do encaminhamento eu n o queria vir ai depois comecei a botar na cabe a melhor pr mim suspiro o melhor pr mim eu vou Eu j tinha escutado falar que um hospital bom Eu resolvi vir Ainda a imagem social da AMUL foi indicada no poder de escolha de algumas usu rias que decididamente optaram por ser acompanhada neste hospital como fizeram Helena Reia Hera e Demetra Elas deram sinais de seu protagonismo em sa de ao usar de estrat gias espec ficas para ser inserida nesta Organiza o hospitalar Helena iniciou seu pr natal na Rede Suplementar de Sa de Sua expectativa era vivenciar o parto normal mas a m dica obstetra do Plano de Sa de buscou induzi la a planejar uma cesariana Esta conduta m dica fragilizou o la o de con
35. XVIII e XIX revelaram um saber especializado e objetivo o que favoreceu vis o naturalista adotando se o modelo da homologia sexual sob a no o de feminino como imperfei o Foi adjudicado ao corpo da mulher as qualidades de perigoso e fr gil estando as doen as da mulher determinadas pelo aparelho sexual E as mudan as fisiol gicas da gravidez dividiram posi es cient ficas entre este corpo revelar ou n o um estado doentio principalmente quando em alto risco gestacional MARTINS 2004 Aos poucos foi poss vel Ci ncia perceber que o corpo da mulher gr vida n o se reduz fun o biol gica devendo ser focado na pessoa n o nos rg os Czeresnia 2007 apontou a mudan a conceitual a partir da epidemiologia no S culo XIX que posicionou o outro como entidade periculosa sob a materializa o do corpo humano Mas surgiu no S culo XX ainda segundo esta autora um movimento de contrarreforma do corpo como um todo interferindo na significa o social dada ao corpo gr vido Teria sido a partir da Biologia Molecular que a causa da doen a inclu a fatores ambientais psicossociais e epidemiol gicos de riscos A g nese da doen a foi relacionada ao estilo de vida do indiv duo desde ent o responsabilizado pelo pr prio estado de sa de E a gen tica estabeleceu novos esclarecimentos sobre as malforma es fetais e infertilidades No mais as Ci ncias da Sa de e as Ci ncias Humanas dialogaram atrav s
36. admiss o na AMUL press o contradit ria exercida pela l gica da humaniza o do parto e essas perfomances de cuidado que sinalizavam muito mais a produ o de depend ncias em sa de do que a constru o de autonomia Em suma a nota 9 revelou os estilos interativos dos grupos sociais da AMUL que o foco de nosso terceiro n vel de an lise 5 3 TERCEIRO N VEL Os estilos interativos dos grupos sociais da AMUL Deixamos para discutir este dom nio estrutural grupal como ltimo tema de reflex o sobre o campo institucional mediatizante da AMUL porque esse o dom nio resultante das duas inst ncias anteriores na acep o de Barbier 1985 mas principalmente por ter sido visto como basilar para a an lise de nosso objeto de estudo a rela o de cuidado Verificou se que as viv ncias maternas assumiam uma influ ncia direta no modo como a m e se colocava para o beb no per odo gestacional bem como pensavam sua condi o de gr vida de alto risco Dessa maneira elas buscavam a AMUL suplicando uma melhora cl nica orientando se pelos dispositivos de acesso e acessibilidade do hospital Mas o modo como a vida social constru a se na Unidade de Refer ncia era respons vel pelo bem estar ou mal estar das usu rias do ponto de vista interativo Todas as quest es at aqui explicadas foram elementos da trama interativa hospitalar dizendo respeito s formas e aos conte dos das rela es sociais da Maternidade Por
37. ao beb Psican lise sa de educa o Cole o 12 Inf ncia S o Paulo Casa do Psic logo 2006 p 183 189 GLOSS RIO POLISS MICO Propriedade de uma palavra com v rios sentidos usada nas discuss es sobre sa de para indicar uma perspectiva de sa de e doen a perpassada pela multiplicidade de sentidos cultural psicol gico social biol gico Portanto esta perspectiva poliss mica foca a alteridade na produ o de sa de II IRM S HOSPITALEIRAS O mesmo que enfermeiras medievais HI TOCOGINECOLOGIA ci ncia estabelecida pela jun o da ginecologia e da obstetr cia IV OXITOCINA horm nio produzido pelo hipot lamo e que tem por fun o estimular contra o muscular uterina durante o parto e a eje o do leite durante a amamenta o Cf wikipedia org V FORC PS Instrumento utilizado pela obstetr cia para extra o do feto quando a contra o natural n o suficiente Geralmente indicado nos casos em que beb muito grande ou quando o parto de alto risco Cf Wikip dia org VI N VEIS DE ASSIST NCIA O SUS est organizado na descentraliza o dos servi os ao visualizar as necessidades espec ficas de sa de do usu rio Assim est operacionalizado nos n veis prim rio secund rio e terci rio de assist ncia VII PEDAGOGIA TRADICIONAL Perspectiva pedag gica centrada no professor como dono de saber entende o processo de aprendizagem pela transmiss o verti
38. da psicossom tica que diz ser as patologias org nicas desencadeadas ou ativadas por motivos subjetivos Por exemplo como consta em Baptista e Dias 2010 a Psicologia da Sa de ganha for a na d cada de 1970 em sintonia com pol ticas nacionais de sa de com orienta o para o estilo de vida das pessoas seu contexto e a organiza o da pr tica do cuidado de si de maneira que a subjetividade come a a fazer parte do universo das discuss es sobre sa de e doen a O psicossocial tornou se cada vez mais pauta das quest es de Sa de P blica Apesar disso Czeresnia ibid frisou como necess rio mais outra reviravolta sem ntica para que se construam alteridades em Sa de ampliar o corpo contextualizado para corpo hist rico cultural pautado na intera o e na conting ncia dos sujeitos Essa nova perspectiva de sa de e doen a faz parte de um movimento anticonservador sobre o corpo humano demarca o tempo poliss mico o corpo da gr vida seria hist rico cultural simbolizado atrav s das intera es vividas pela mulher Analisar a qualidade de seu campo interativo vem sendo defendido como um recurso apropriado para se definir e redefinir de a terap utica do sujeito Situados os tr s tempos simb licos do corpo da mulher gr vida vale percorrer um pouco o itiner rio da Organiza o de sa de voltada para a gestante 1 2 O itiner rio do hospital maternidade e seus aspectos macrossociais O hospital maternidade no Br
39. da tocoginecologia comparado a outras especialidades m dicas que ela manteve inicialmente a l gica do mist rio e do milagre quanto ao nascimento do beb tendo assim nascido implicada de valores socioculturais No in cio houve m dicos que receitavam leo santo para evitar as dores de cabe a da gestante prevenindo maus partos Sob influ ncia sociol gica e filos fica este saber passou a questionar o Estado sobre a responsabilidade dele para com a sa de da mulher contribuindo com as reconstru es s cio hist ricas sobre o feminino e a capacidade reprodutiva MARTINS 2004 2005 As reformula es tra am a import ncia de que esses complexos Organizacionais como os hospitais maternidades construam uma rela o horizontal adjacente a das parteiras no sentido de serem acolhedores mulher usu ria Os problemas dos servi os de sa de quanto ao cuidado com a mulher gr vida levaram a um movimento de retomada da presen a do saber popular na parturi o como ocorre no programa de doulas Em 2001 em S o Paulo houve o primeiro curso de forma o de doulas no Brasil Elas s o acompanhantes do parto que ofertam apoio emocional a mulher antes durante e ap s o parto Antes s o respons veis por informar gr vida sobre os procedimentos do parto e favorecer a elabora o de suas expectativas com rela o ao parto Prestam informa es educacionais sobre o parto e o p s parto Como s o familiarizadas com os procedim
40. de cada usu ria foi vivido por meio de contradi es Organizacionais de maneira a atingir a qualidade de vida na hospitaliza o logo da rela o materna Essa afirma o se baseia no que conceberam Conde e Figueiredo 2005 sobre os efeitos da sintomatologia ansiog nica ou depressiva materna Embora a ansiedade seja um estado psicol gico comum ao processo gestacional o problema quando ela intensa porque pode comprometer a sa de da d ade m e beb Segundo os autores as emo es maternas interferem no comportamento fetal com consequ ncias para o desenvolvimento cognitivo motor e emocional do beb no per odo grav dico no puerperal e ao longo de sua hist ria de vida A pr pria Art mis n o conseguia deixar o beb confort vel nas horas de amamenta o Portanto o fato desta pesquisa ter identificado as tend ncias psicossociol gicas e seus fatores causais aponta a necessidade de na pr tica se encontrar formas para a minimizar o estresse vivido at a Sala de Pr parto b enfraquecer as tend ncias oscilante e a constante com o objetivo de evitar maiores complica es na vida materno infantil A presente pesquisa n o tem a pretens o de fazer recomenda es pr ticas mas detalha esses fatores percebidos e aqui considerados como for as dial ticas 5 2 2 1 O desconhecimento F1 Vimos que o beb da gestante de alto risco era deposit rio do dio mas tamb m do amor materno de maneira que as usu r
41. de heteronomia encontravam for as para se consolidarem enquanto grupo atrav s da afetividade A pr tica de afeto da equipe de sa de era o que favorecia o sentimento de perten a grupal Ao que parece Dafne trazia um diferencial s usu rias a sensa o de que eram cuidadas em sua condi o de mulher Outro aspecto do grupo eram as pr ticas solid rias que se davam isoladas Era comum uma usu ria aconselhar a outra indicando um processo de identifica o Aqui retomamos a ideia de Barbier 1985 expressa no cap tulo anterior desta pesquisa de que as rela es humanas s o constitu das de interesse Ajudar a outra seria ajudar a si mesma Demetra s vezes uma se deprime ai uma vem ap ia a outra mulher vai dar tudo certo n o sei o que Tentam passar uma autoconfian a APAGAR aquela imagem do sofrimento Uma tenta ajudar a outra De igual modo elas eram c mplices ao transgredir as normas do sistema hospitalar O grupo ficava em estado de gozo quando conseguia provar se menos docilizado ordem 159 social no sentido de Foucault 2008 Um exemplo disso foi um lanche de galeto dentro da enfermaria s escondidas da equipe sob o aux lio dos visitantes Nesse momento de an lise pode se dizer que o controle da AMUL entrava em contradi o com o desejo das usu rias de correr altos riscos porque elas tinham uma dieta mas ao escapar dos olhos da equipe alimentavam se do
42. dimens es da vida democr tica 1 5 A mulher gr vida de alto risco no discurso da PNH Como j descrito a Sa de da Mulher nasceu restrita biologia da gravidez e do parto sendo isto reflexo do estere tipo social feminino m e educadora e dom stica Com a amplia o de seu papel social no Brasil a mulher foi sendo declarada sujeito de direitos Por igual raz o tornou se impreter vel a reorganiza o de a es em sa de para contemplar a garantia dos direitos sexuais e reprodutivos e atender as v rias necessidades de sa de das usu rias O SUS defendeu as mulheres como protagonistas apontando as responsabilidades sociopol ticas perante as dificuldades de sa de E se incumbiu de enfrentar e reduzir o mal estar social quanto desigualdade e discrimina o por g nero e ra a prezando as v rias esferas da vida das mulheres vila ibid alertou que superar as heran as autorit rias e patriarcais da pr tica de sa de voltada mulher demanda antes democratizar o cotidiano construir um novo imagin rio social sobre rela es sexuais vida reprodutiva rela es amorosas e cidadania tra ar intersec es entre Sa de Pol ticas P blicas e vida social 1 Em capitulo constitucional dos direitos e deveres individuais e coletivos decretou se que homens e mulheres t m os mesmos direitos perante a Lei Tamb m foi afirmada uma prote o gestante no que se refere aos termos de direitos sociais e de previd ncia s
43. do contr rio ele se torna um caos sem norma n o h estrutura social prov vel que uma das dificuldades na efetiva o da humaniza o em sa de seja as formas imperativas das a es em sa de Nesse sentido a OMS 1996 destacou que preciso n o usar o protocolo de parto normal de modo prescritivo cabendo equipe de sa de considerar como a mulher simboliza esse tipo de parto O parto normal de fato humanizado caso viabilize o exerc cio de cidadania da gestante e seu poder decis rio sobre o pr prio corpo Assim n o se trata apenas de minimizar o tecnicismo mas tamb m de estimular a participa o ativa da mulher no processo do parto como se pode observar nas narrativas de H racles e de Helena Her cles Eu sou um defensor do parto normal mas se for normal Helena Eu n o quero cesariana mas se n o tem jeito n o der pr fazer normal eu n o queria que for asse Entendeu O significante parto for ado era transmitido entre gera es de usu rias assim ganhando consist ncia principalmente por ser estabelecido com causa na realidade Art mis Eu fiquei muito nervosa sentindo muita dor e tava sentindo que n o ia conseguir que n o ia ter ele normal eu botava for a e n o conseguia Teve at uma hora que eu pedi doutora pelo amor de Deus a senhora n o tem como fazer esse parto ces reo n o Ai ela soltou at uma piadinha se voc tiver um
44. do processo de Organiza o da sociedade civil a Organiza o de base a Organiza o de massa e a Organiza o pol tica e institucional As Organiza es de base integradas por pequenos grupos com maior autonomia porque conseguem elaborar hist rias individuais e coletivas sustent veis S o os grupos comunit rios os la os de vizinhan a e outras rela es de proximidade que comp em a base social lugar onde ocorre a forma o da consci ncia cidad constitu da a partir dos v nculos democr ticos e solid rios movidos pela reflex o coletiva Em outro n vel est o as Organiza es de massa onde o individual dilu do na sua singularidade diante da energia coletiva representam as mobiliza es sociais em que os membros lutam por uma causa pluralista de modo impessoal Suas condutas s o alimentadas por processos de lideran a e por ideologias E o terceiro n vel s o as Organiza es de car ter institucional cujo exemplo a Organiza o da nossa pesquisa a AMUL Elas se formalizam em contratos sociais e apropriam se de ideologias o que lhes garantem certo grau de estabilidade Portanto analisar um fen meno Organizacional como a rela o de cuidado entre a equipe de sa de e a gestante de alto risco hospitalizada partir da no o de atores sociais como diretamente implicados nos processos de media o que fornecem a durabilidade da Organiza o onde est o inseridos E isso implica em analisar os sentidos dive
45. em um movimento repressor do corpo singular Toda essa tens o revela um cen rio apelativo s rela es complexas no cotidiano da pr tica de cuidado em sa de N o somente isso pois como sinalizam Martins Matos e Fontes 2008 digno afirmar que o discurso democr tico um dos discursos que impulsionam os avan os da Sa de P blica ao revisitar as pr ticas humanas Sendo assim os mesmos autores reconhecem que n o se trata de desvalidar a compet ncia da medicina a miss o coletiva encorp la a outras fontes de saber para que respondam juntos ao corpo biopsicossocial Ap s esse resgate hist rico social e pol tico circunscrevendo a constitui o da assist ncia em sa de voltada gestante fica pertinente voltar discuss o de superar o reducionismo biol gico do corpo gr vido Para isso necess rio olhar a sa de da mulher gr vida em sua dimens o social como possibilita o Paradigma da Promo o de Sa de 1 3 O paradigma da Promo o de Sa de Este paradigma abre caminhos para se pensar e criar novos sentidos em torno da mulher do corpo grav dico na inten o declarada de visualiz la como uma cidad que fez a escolha de se tornar m e em um momento espec fico de sua vida social Nesse sentido a sa de da mulher gr vida um fen meno social Martins 2009 explicam que pensar a sa de como fen meno social reconhec la como uma constru o da vida social incluindo os bens materiais e sim
46. estando sozinha com a pesquisadora a portas fechadas Esses dois exemplos mostram a rela o de cuidado marcada por a es n o criativas sem espa o para a reflex o e cr tica do sujeito Mas importa esclarecer que a autonomia tamb m depende de um processo heteron mico Para Castoriadis 2007 a heteronomia social tamb m necess ria para a conviv ncia uma vez que o sujeito precisa do discurso do outro como condi o para elaborar um discurso supostamente seu Os relatos das usu rias indicaram que quando o acolhimento orientava os la os sociais na AMUL a heteronomia da rela o de cuidado tornava se positiva ao engajamento das usu rias na terap utica t tulo de exemplo Nik come ou seu discurso na terceira pessoa e termina na primeira pessoa ao perceber o acolhimento da profissional de sa de que se revela como uma porta voz de toda equipe Nik Ela enfermeira disse se acalme n o se preocupe a gente t aqui a gente vai fazer tudo o que for poss vel para que seu beb Se tiver que interromper mas quanto mais tempo conseguir que ele fique na minha barriga aqui melhor tanto bom pr ele quanto bom pr mim Eu fiquei mais tranquila Nik exp e n o o acolhimento mas tamb m o afeto como uma for a mediadora na rela o de cuidado da AMUL Mesmo que demarcasse depend ncias na rela o com o outro o afeto foi visto como determinante na qualidade do itiner rio das usu rias
47. fam lia e da mulher tamb m muito bom o lugar que eu voltaria novamente pr ter N o deixou de ter aquela coisa toda antes n Mas c Tend ncia constante J Art mis e Atalanta embora tenham ido Sala de Pr parto do mesmo modo que as anteriores finalizaram o trajeto hospitalar dirigindo AMUL os sentimentos de raiva e dio como poss vel perceber na tend ncia hipot tica de estresse ilustrada na Representa o Gr fica 05 Representa o Gr fica 05 Tend ncia Psicossociol gica Constante da Trajet ria de Hospitaliza o EGAR C Sala de Pr parto e Sala de Parto Estado de Estresse das Usu rias Alojamentos Enfermaria de Infectados e UTI Admiss o 5 15 20 25 30 Alta em em EGAR AMUL Tempo de Internamento dias A experi ncia de parto de Art mis foi muito sofrida desde ent o n o conseguindo mais confiar na equipe de sa de da AMUL Viveu uma trajet ria puerperal estressante no hospital devido s lembran as de um parto ruim rela o de transfer ncia desenvolvida com a equipe e as interfer ncias de sua pr pria m e que estava sendo a acompanhante Assim como Art mis Atalanta passou a n o se sentir acolhida pelos profissionais de sa de Diferentemente Atalanta guardava boas lembran as de seu parto reconhecendo a compet ncia e a aten o da equipe de parto No entanto na fase puerperal deparou se com profissionais que n o de dispunham a ajud la ta
48. gr vida de alto risco tende a construir uma autoimagem de fracasso com dificuldades na elabora o de sua maternalidade Apresenta intensificada dificuldade de adapta o emocional quando comparada s gestantes de baixo risco O estado de alto risco gestacional suscita fantasias de morte e destrui o na mulher podendo indicar complica es de estrutura ps quica com preju zo dos la os afetivos nos diferentes grupos sociais como na viv ncia da hospitaliza o Ainda que a interna o seja vetor dos cuidados obst tricos a mulher pode tom lo como estressante o que pode comprometer o processo de maternagem por efeito na constitui o do beb enquanto sujeito em forma o TEDESCO 1997 COSTA 2002 ZEN 2006 Sittner DeFrain e Hudson 2005 acrescentaram que o estado de alto risco grav dico tanto pode interferir no psiquismo da mulher quanto provocar um impacto psicossocial na din mica familiar Eles verificaram a vulnerabilidade das fam lias a altera es de conduta indicadoras do momento de crise e estresse devido ao sentido que o grupo familiar constr i acerca da viv ncia do alto risco gestacional Esse problema somente acentua a fun o mediadora dos profissionais de sa de na aten o mulher e ao seu campo social Sendo assim para finalizar o cap tulo importa aprofundar nossa reflex o sobre a rela o de cuidado entre a equipe de sa de e a gestante de alto risco hospitalizada dando nfase ao fato do pr
49. invoca o inconsciente que o sujeito faz a um Outro Agora chegamos ao momento da discuss o em que apropriado explicar o que Castoriadis 2007 concebeu como plano individual da autonomia do sujeito Quando o beb est na rela o prim ria com sua m e vive um estado de heteronomia constitutiva alienado na rela o com o Outro que exerce uma fun o imagin ria a fun o materna Depois surge um processo de diferencia o mais precisamente demarcada pela interdi o que exerce a presen a paterna Tal diferencia o entre o discurso do sujeito e o discurso do Outro necess ria do contr rio o indiv duo estar condenado a ficar fora da realidade em simbiose com a m e no estado a hist rico A partir dessa diferencia o que a fun o paterna promove o sujeito assume um discurso que acredita ser dele pr prio simultaneamente segue sob o dom nio do discurso paterno que exerce uma fun o 14 A iji A Em psican lise l se grande outro simb lica determinando o que a realidade e o desejo do sujeito Diferenciado o sujeito acredita que o discurso pr prio resulta exclusivamente de sua vontade individual Por concordar que uma parte significativa do discurso do Outro registrado no inconsciente Castoriadis 2007 pontuou que a l gica psicanal tica situa o advento do sujeito social aut nomo envolvido no discurso do outro semelhante mas tamb m se diferenciando do mesmo a partir de confl
50. isso as singularidades das gestantes e a inser o delas no cotidiano da AMUL estavam relacionadas com os estilos interativos dos grupos sociais da 156 AMUL Os dados apontaram que esses estilos centrais neste terceiro n vel de an lise eram constitu dos a partir a das implica es da psicodin mica da gravidez e do puerperio na rela o de cuidado b da din mica dos grupos sociais da AMUL C e da fun o paterna da Unidade de Refer ncia 5 3 1 As implica es da psicodin mica da gravidez e do puerperio na rela o de cuidado Essas implica es foram identificadas a partir da observa o do modo como a equipe de sa de concebia as usu rias Levava se em conta na assist ncia da AMUL as condi es emocionais socioecon micas e culturais das usu rias Por outro lado alguns profissionais de sa de compreendiam que as gestantes de alto risco eram as mais vulner veis emocionalmente entre todas as usu rias da AMUL como se observa na fala de Hesp ride desconsiderando assim os aspectos psicodin micos da fase puerperal Hesp ride As usu rias de EGAR s o ansiosas n o a maioria Isso de perfil na verdade medo No Alojamento Conjunto est o mais tranquilas com rela o EGAR dificilmente aparece uma problem tica est o sofrendo menos talvez Na Enfermaria de Infectados elas sofrem pouco est o mais preocupadas com a situa o delas hoje Este depoim
51. isso n o paralisa a cientificidade do trabalho inversamente pode ser til comunica o cient fica como o diz Barbier 1985 Assumir as implica es foi um modo de se autorizar ao risco da pr xis escolhendo os instrumentos necess rios para trabalhar o objeto Tomar ci ncia dessa dimens o foi inevit vel para observar suas expectativas diante dos caminhos metodol gicos seguidos policiando seus conhecimentos pr vios sobre o contexto estudado e do qual ela faz parte independente da pesquisa Trabalhando com beb s prematuros encontrava se com as m es na fase puerperal escutando suas insatisfa es ambiguidades e ang stias Na pesquisa ela apenas antecipou esse encontro pois as mulheres s o as de mesmo perfil Portanto foi quase que imposs vel deixar de estabelecer alguma expectativa mas se direcionou curiosidade pelo desconhecido que tamb m lhe companheiro na pr tica assistencial E n o esteve sozinha neste processo assumindo sua implica o hist rico existencial Neste segundo n vel ficou claro que a pr tica de pesquisa um investimento coletivo que revela uma hist ria de vida no espa o cient fico Alves Mazzoti e Gewandsznajder 1998 refor am que o saber constru do atrav s dos di logos feitos e refeitos entre o sujeito o objeto e a presen a de Um terceiro comunidade acad mica cultura sociedade entre outros sistemas Enquanto sujeito social a pesquisadora adequou se s normas do
52. na AMUL 5 2 2 5 4 O Afeto na rela o de cuidado Desde a entrada hospitalar o afeto entre a usu ria e a equipe de sa de tinha implica es na aceita o situacional das gestantes quanto ao internamento hospitalar fortalecendo as emocionalmente ou n o Elas afirmaram que um gesto de carinho de preocupa o palavras de cumplicidade a faziam se sentir menos angustiadas na sua trajet ria de hospitaliza o A afetividade criava espa o para proje es identifica o e transfer ncia Atalanta sintetiza isso no relato abaixo sobre sua rela o com Dafne a profissional mais citada nesta pesquisa pelas usu rias Atalanta o jeito dela Dafne tem um jeito especial um jeito doce E de uma pessoa carente tamb m ela tem um jeito de uma pessoa sofrida E ela brinca com a gente demais alisa que s a barriga da gente Atalanta projetava a pr pria car ncia nesta profissional e se identificava nela carente tamb m que mantinha uma rela o de proximidade com as usu rias em geral assim representando no campo social da AMUL pr ticas solid rias isoladas E era tamb m atrav s do afeto que o m dico tocoginecologista conquistava a aceita o da m e para ser examinada pelo mesmo Na AMUL as gestantes de alto risco usaram v rias estrat gias para fugir do atendimento dos m dicos homens como esconder a dor para ele n o a examinar incluindo nisso as quest es morais envolvendo a problem ti
53. na parede logo na porta de entrada de EGAR s vistas de todos se comprovava que apesar dos pesares muitos beb s nasciam vivos e saud veis Ent o o quadro parecia estruturar o universo simb lico daquele grupo social No quadro estavam fotos de m es beb s e equipe de sa de quase em todas as imagens havia sorrisos no rosto Estava ali materializada a acumula o de um capital de reconhecimento tanto que os profissionais se diziam insatisfeitos quando a usu ria de quem eles tanto cuidaram n o eternizava a gratid o atrav s do quadro Hamadr ade n o trouxe sequer uma foto uma mensagem como aquele poema lindo de Art mis Voc viu que poema bonito Vale destacar todo s mbolo tem por fun o fazer apelo ao simb lico e n o diz apenas o que est posto em seu conte do sendo formado por uma cadeia de significantes de modo que um sentido est sempre remetido a outro Nesse jogo o s mbolo uma forma de construir sentidos vida e emitir um apelo de reconhecimento social BOURDIEU PASSERON 2009 E o reconhecimento no n vel da fantasia uma fun o atrav s da qual o sujeito se sente um sujeito amado Sua necessidade de reconhecimento prov m desta situa o uma reafirma o de amor submetendo se revoltando se chamando a aten o quanto mais o sentimento de identidade for fr gil mais isso acontece PAGES 1993 p 134 Para ilustrar que o quadro de EGAR n o apenas de fotos
54. nas m os direita de Atena sendo a personifica o da vit ria f USU RIA NIK Quando na Enfermaria de Infectados sentia se uma vitoriosa porque seu filho mesmo prematuro havia nascido e evolu a bem na UTI Neonatal Isso lhe dava nimo para continuar enfrentando o processo de hospitaliza o DEUSA PALA Deusa virgem padroeira das artes dom sticas da sabedoria e da guerra Palas nasceu j adulta quando Zeus teve uma forte cefal ia e mandou Hefaistos o deus ferreiro desse lhe uma machadada na cabe a da saiu Palas Atena Sob a prote o dessa deusa floresceu Atenas em sua poca urea Dizia se que ganhou a devo o dos atenienses quando presenteou a humanidade com a oliveira rvore principal da Gr cia USU RIA PALA m e e dom stica devota fam lia Quando crian a foi v tima da explora o do trabalho infantil Presentou o marido com uma filha menina com que eles tanto sonhavam DEUSA R IA da profecia de que Cronos seria destronado por um dos filhos este passou a engolir todos os filhos assim que nasciam R ia decidiu que isto n o ocorreria com o sexto filho Assim quando Zeus nasceu Reia escondeu o numa caverna no monte Ida em creta ao cuidado dos assistentes curetes deu a Cronos uma pedra enrolada em panos Este comeu pensando ser o filho USU RIA R IA O primeiro parto de R ia lhe fez matar a primeira filha na medida em que n o conseguia am la Na gravidez do filho mesmo n o
55. ncia em sa de como o o problema da despersonaliza o do usu rio na hist ria dos cuidados nos hospitais E o fato da realidade associava se s fantasias de retalia o da usu ria por ter desobedecido a sua m e ao engravidar Sentir se aprisionada na AMUL levou a ao desespero Diante do que insistia em permanecer no mesmo a AMUL manifestava suas inquietudes filos ficas revelando uma disposi o a mudan as situacionais e focadas na qualidade da Sa de P blica A institucionaliza o do Saber humanizado em sa de foi n tida na acessibilidade da AMUL que acumulava readapta es com fins de atender s diferentes necessidades das usu rias assim garantindo os princ pios do SUS Entre as estrat gias Organizacionais de acessibilidade podem ser citadas a a hiperestrutura da AMUL os servi os eram rigorosamente demarcados segundo a realidade cl nica das usu rias conforme exposto na descri o do contexto de investiga o no cap tulo anterior b as reformula es da ordem de atendimento o hospital incorporou um sistema de identifica o de usu rias classificando as de acordo com sua urg ncia cl nica de atendimento reorganizando a fila de espera como recomenda o SUS c o dispositivo de alta provis ria a Unidade autorizava alta de poucos dias s gestantes que estivessem em estado de estresse o que era feito dependendo das condi es org nicas da usu ria e tinha o objetivo de fortalec la emocion
56. nem de palavras escritas segue em poema o que a protagonista Art mis exp s no quadro ap s sua alta hospitalar Quando ser Uma pergunta constante que Aqui no 4 andar Repete se sempre Todos os dias a d vida Onde a resposta uma surpresa para cada um Ansia de ver ouvir Novidades sobre filhos filhas Dicas truques para quando chegarem Amar amar acima de qualquer coisa Risos e l grimas quando realmente chegou a hora Art mis Ao que parece atrav s do poema Art mis quebra sutilmente o sil ncio da AMUL Na ordem do dito est o agradecimento e uma forma de fortalecer as demais gestantes que chegam ao quarto andar onde fica a EGAR na AMUL E parece impl cito nessa cria o seu desejo materno sua luta contra a m e devoradora que ela tinha bem como ela insinua emitir um apelo de reconhecimento equipe de sa de Ao dizer que houve risos e l grimas quando de fato ela p de encontrar seu beb da realidade poss vel que estivesse tamb m desabafando sobre o que passou em seu itiner rio terap utico na AMUL Depois de sua experi ncia de parto a tend ncia psicossociol gica de Art mis foi de estado de estresse constante indicando a insatisfa o que ela mesma assinara na avalia o de satisfa o de usu rio usada pelo hospital no momento da alta Seu poema sim de gratid o mas n o somente de gratid o parece ser tamb m de s plica para que a Unidade de Refer ncia escu
57. nem o usu rio p blico alvo profissional de sa de e usu rias s o protagonistas de a o em sa de Nessa perspectiva a recomenda o do MS 2009 que a equipe de sa de compreenda os significados que a mulher gr vida elabora junto fam lia sobre a gesta o estando ciente de que o contexto gestacional influencia o desenvolvimento da gravidez e da constru o da maternalidade tarefa atrav s da rela o de cuidado acolher a biografia da gestante com oferta de suporte afetivo a esta mulher E Romano 1999 alertou que exercer um trabalho em equipe n o simples requer dos sujeitos disponibilidade a negocia es Afinal a rela o de cuidado constru da atrav s de jogos de identifica o e afinidades crises de confian a jogos de poder entre outros aspectos s cio interacionais Ao longo deste cap tulo observam se dificuldades encontradas pelos atores sociais para o exerc cio de sua autonomia em sa de o que residem em quest es sociopol ticas da constru o do Saber em sa de Quanto s gestantes de alto risco as dificuldades tamb m se esbarram nos simbolismos dados ao corpo demarcando inclusive conflitos pol ticos internos 45 institui o como os desacertos entre parteiras e os obstetras Nesse contexto s cio hist rico a rela o de cuidado pensada como uma ferramenta terap utica que deve a todo custo se desfazer das falhas dos sil ncios das disputas Mas e
58. o sua tica profissional e suas orienta es aos cuidados com a sa de da mulher assim conquistando a confian a da popula o no que toca ao saber em obstetr cia e ginecologia Em contrapartida isso fez do processo gestacional parto e puerp rio um evento hospitaloc ntrico apoderado pela masculinidade pelo cient fico e pelo instrumental VIEIRA 2002 BARRETO 2008 Nesse momento o corpo gr vido era um corpo exclusivamente biol gico como abordado antes Houve um processo de ruptura da arte de partejar como de responsabilidade de parteiras Em 1922 a Escola de Enfermagem Ana Neri incluiu na grade curricular a disciplina enfermagem obst trica a partir de ent o n o demorou para que o curso de parteiras fosse extinguido LIMA 1997 Neste in cio de s culo 91 5 dos partos ocorrem em hospital ou em espa os equipados pela obstetr cia humanizada Mesmo assim estima se existir 29 partos domiciliares assistidos por parteiras leigas nas zonas rurais atuando sem apoio dos servi os de sa de que sequer t m no o do n mero preciso delas MS 2004 A Al m disso o conhecimento obst trico a Ci ncia da Mulher a Ginecologia por influ ncias europeias dedicou se a ultrapassar as quest es restritamente anatomocl nicas em di logo com o arcabou o da natureza feminina sinalizando o compromisso social do discurso m dico cient fico incluindo se em debates sobre g nero ra a e fam lia O diferencial
59. o de alto risco e hospitaliza o A rela o de cuidado um tipo de rela o humana uma trama interativa constru da entre o sujeito cuidado e o sujeito cuidador que juntos s o influenciados por seu contexto psicossocial Assim esta rela o revela o que h de particular e de universal no estilo interativo desses sujeitos e regulada pela Organiza o onde eles est o inseridos atrav s do v nculo que esta mant m com os sujeitos interferindo no modo deles inventarem seu cotidiano ENRIQUEZ 1997 2001 MARTINS 2009 Considera se gesta o de alto risco aquela em que a vida ou a sa de da m e e ou do feto indicam maiores chances de sofrer complica es do que a m dia das experi ncias gestacionais MINIST RIO DA SA DE 2000 E a hospitaliza o foi aqui 1 Neste trabalho toda vez que o termo Organiza o e seus derivados estiverem escritos com a primeira letra em mai sculo estar referindo se estrutura hospitalar uma Organiza o do setor sa de Quando em min sculo ter o sentido comum da palavra uma ordena o regular pr pria de algo organizado associado constitu do entendida enquanto um evento psicossocial pois envolve processos objetivos e subjetivos como burocracias e rela o de afeto respectivamente que sustentam o itiner rio da pessoa hospitalizada na trama interativa com seus cuidadores ANGERAMI CAMON 1995 No conjunto desses conceitos optei por desenvolver uma an lise dial tic
60. o de falta E ela s o faz porque tamb m deseja essas mesmas coisas Ela inventa uma situa o de amor incondicional propondo se como objeto de amor e como amante buscando saciar a falta que ela e o indiv duo recalcam O que a Organiza o mais faz segundo Pag s 1993 p 178 uma chantagem de amor a fim de ser o objeto de investimento amoroso do indiv duo Mas tamb m uma m quina de ang stia Ao fazer altas exig ncias ao indiv duo relacionadas carga hor ria de trabalho e rendimento financeiro entre outros aspectos ela mesma se exp e possibilidade de fracasso Como sa da desenvolve um sistema de controle muito consistente com formaliza es protocolos atualizados demarca es hier rquicas n tidas aperfei oamento de seus staffs Ent o quando uma Organiza o exige o cumprimento de normas n o sua obedi ncia que ela est impondo mas por tr s disso o amor do outro PAGES 1993 Assim as pr ticas sociais mantidas dentro de uma Organiza o como uma rela o de cuidado s o constitu das por dispositivos acordos instrumentos de a o que escondem e evidenciam o tempo inteiro seus n o ditos psicol gicos tanto o da Organiza o quanto de seus indiv duos e grupos Desse modo ela consegue atrair os indiv duos o inverso a colocaria merc das particularidades dos indiv duos n o podendo ter mais do que objetivos tempor rios Nesse sentido que as Organiza
61. o demarcou o surgimento do Sistema nico de Sa de SUS Vale ent o refletir a partir deste ponto de discuss o os alcances e limites do SUS bem como suas iniciativas em prol da sa de da gestante de alto risco tendo em vista que a presente pesquisa est centrada nesta usu ria 1 4 O SUS surgimento avan os e fragilidades As normativas de Sa de P blica no Brasil ao contr rio de antes consideram a dimens o social da enfermidade revelando uma abertura aos questionamentos das Ci ncias Humanas Segundo Spink e Corr a 2007 a Psicologia colaborou com isso propondo visualizar a subjetividade do sujeito e suas multidimens es Para Fontes e Martins 2008 a Sociologia favoreceu o entendimento de sa de como fen meno produzido pelas intera es complexas da vida social Mas houve mesmo uma conjuntura s cio hist rica prop cia revolu o do sistema de sa de brasileiro reconfigurando suas bases conceituais De um lado o movimento sanitarista era oneroso com suas medidas de recupera o da doen a De outro surgiu a ideia de promo o e preven o prim ria em sa de com menor custo financeiro Inspiradas no processo de redemocratiza o brasileira estas ltimas foram ent o racionalizadas para reduzir os riscos de adoecimento da popula o Como uma das estrat gias de base a descentraliza o dos servi os de sa de foi constitu da em 1988 Nesta Constitui o o SUS foi fundado como pol tica de interesse s
62. objeto de seu desejo buscando ser reinserida em AMUL a todo custo continuar assim ocupando um suposto lugar de privil gio j que ela pr eles importante Na dimens o oculta de uma estrat gia administrativa o sistema informatizado de cadastro a AMUL provocava em Reia a fantasia de ser um sujeito desejado Por outro lado conseguir merecer esse amor era quase imposs vel s Deus pois a pol tica de admiss o esbarrava se com o caos social em mat ria de Sa de P blica Nesse patamar econ mico a contradi o oculta de Reia revela a dificuldade da AMUL em dar conta da demanda social perante o limite de custos para cumprir por completo sua raz o de exist ncia e acolher s necessidades de sa de da popula o Apesar da contradi o com o dom nio ideol gico o hospital conseguia mediar o conflito ao contar com o servi o de triagem Quando Reia percebe isso estabelecida uma rela o de liga o expl cita ela decidiu ir a outro hospital provisoriamente e procurar a AMUL somente em estado de sofrimento com as dores do parto Passamos ent o a uma ordem pol tica a demanda social grande a Sa de P blica deficit ria mas a AMUL contava com diversos mecanismos de admiss o pois se tratava de uma Organiza o que exercitava seu compromisso com a Sa de E a inst ncia pol tica mant m rela o de liga o oculta com o plano afetivo porque Reia internalizava que a equipe de sa de de AMUL e
63. para que possamos melhor questionar a trama relacional que vem sendo escrita e vivida pelas gestantes de alto risco no espa o de hospitaliza o 2 2 3 O fundamento metodol gico da An lise Institucional Em sintonia com os referenciais te ricos acima expostos a pesquisa usou a An lise Sincr nica do Campo Dial tico da Institui o nos Grupos e nas Organiza es orientando uma abordagem da An lise Institucional de Inspira o Sociol gica com foco na an lise do processo organizacional institucionalmente situado no contexto hospitalar BARBIER 1985 Ela sincr nica porque est sociologicamente embasada em procedimentos que priorizam a estrutura contradit ria da realidade social atrav s da objetiva o e da interpreta o desta realidade historicamente situada E dial tica porque seu m todo d conta da rela o de for as entre o instituinte e o institu do no processo de institucionaliza o No geral seu prop sito reconhecer decodificar e decifrar a singularidade do campo institucional no qual as contradi es s o mediatizadas com foco nos processo de media o das contradi es instaladas Ao conseguir cumprir esta meta este m todo te rico leva compreens o da complexidade das pr ticas desenvolvidas pelos grupos sociais em quest o BARBIER 1985 Para realizar esse objetivo procura se articular tr s campos de an lise na estrutura conceitual intitulada como a Teoria do Tri ngulo em Ci ncia
64. parar tudo pr descer com a paciente ir l embaixo pr ela passar na portaria Quando a gente t subindo chega mais outra pra descer tamb m que j tinha assinado alta A gente leva exame pr laborat rio coleta classifica o de RN lida com m e e beb Aqui muuita coisa pr uma pessoa s A gente o que Oito paciente e oito RN tem que fazer os procedimentos com os dois Aqui a gente bota pr d peito faz palestras tamb m quem vinha era o banco de leite o que fosse de peito com a m e era com a m e Ai sobrou pr gente Veio ordem ai a gente faz palestra do banco de leite enfaixa mama leva papel de leite que era tamb m do banco de leite leva papel prescrito de leite pr os beb s do lact rio d orienta o s vezes eu vou tirando o jelcro ai eu digo pera m ezinha porque as vezes a gente tem que informar o setor aos familiares Porque l embaixo diz t l no 5 mas n o diz o nome do setor ai a gente sente pena do visitante que vem de longe n o conhece o hospital ai fica rodando o hospital Ai a gente diz n o pera Eu vou olhar no computador ai quando a gente vai ver Eita Vou tirar o jelcro Se eu for fazer uma lista do que a gente faz aqui A gente sobrecarregado Na sala de aula que eu me lembre n o era pr gente lavar a paradeira hoje a gente quem lava porque iss
65. pela dupla Nereida colega de trabalho assim aparentando se tratar de um problema individual Talvez tivesse sido mesmo uma dificuldade gerada por algum confronto pessoal resultante de um epis dio de estresse no trabalho ou pelo estilo interpessoal de cada uma dessas profissionais de sa de No entanto os dados insinuaram que independente do que serviu para dar in cio desaven a ela estaria representando a inseguran a do grupo social diante do novo que al m de desconhecido tratava se de uma irm capaz de ser eleita pelo Outro Isso foi interpretado a medida que Nereida diz nada ter sido feito colega perseguidora mesmo que seus atos de trai o estivessem claros para v rios membros da equipe Ou seja a perseguidora provavelmente realizava o desejo do grupo sendo uma porta voz do sentimento de inveja e de medo que perpassava o imagin rio social No entanto a situa o ficou t o insuport vel porque a porta voz agiu de modo intenso de maneira que suas condutas se tornaram XXXV reprov veis socialmente ela acabou se tornando o bode expiat rio sendo rejeitada pelo grupo at este encontrar uma forma sutil de livra se daquela profissional Fala se aqui de ci mes entre os iguais de um mesmo setor mas tamb m foi constatado entre os setores sendo o alvo do amor n o mais o chefe imediato e sim a Organiza o de sa de o que caracter stico no modelo sociomental de Pag s 1993 Pegeia Aqui a
66. plano pr cobrir seu ces reo Ai eu fiquei na minha n n o disse nada Ai muito tempo depois ela disse n o vamos pr sala de parto Fui n Chegando l ela tentaram tamb m pr que eu tivesse normal Eu senti muita dor n o consegui ent o ela tentou com um ferro Eu sentia quando ela puxava ele descia mas na mesma hora ele subia como se fosse sair pela boca Sensa o horr vel No uultimo minuto quando acho que ela viu que eu n o conseguia n o vou fazer ces reo agora Observa se nitidamente o campo dial tico dessa experi ncia de Art mis envolvendo as inst ncias afetiva econ mica e pol tica No dom nio afetivo Art mis n o estava preparada para vivenciar a experi ncia de um parto normal ela mesma dizia que n o ia ter ele normal Isso fez sentido quando observado a constru o de sua maternalidade em que o significante mal formado demarcava o lugar de seu beb quem ela tanto amava mas quem ela tanto temia devido ao tabu estabelecido sobre a gravidez de uma diab tica insulinodependente As problem ticas em torno de sua maternalidade entravam em contradi o com a pol tica do parto normal de AMUL talvez pela maneira como Art mis tomava para si o significante normal do parto E na situa o de estresse vivida entre a profissional e a usu ria o conflito foi mediado pela inst ncia econ mica atrav s de um jogo de manipula o e chant
67. que Hesp ride chamou de melhoria social n o nutricional Ainda as pr ticas solid rias de alto risco que as gestantes exerciam eram s vezes reguladas pelos conflitos internos da AMUL Como indica o epis dio abaixo a equipe de sa de tamb m exercia o cuidado sob a for a social da Organiza o que no sentido de Pag s 1993 provocava no n vel psicol gico dos profissionais uma estrutura conflitante entre a ang stia de morte perder o emprego e o prazer agressivo persegui o de um ideal RO 4 Epis dio solidariedade e medo de retalia o Uma t cnica sai de um leito estressada e diz pesquisadora Tanto que eu aviso isso fun o da gente e elas fazem Se algu m pegar vai sobrar pr mim Elas sabem que n o pode Agora t com raiva T o r pido eu sai para pegar as coisa quando eu voltei ela tava segurando a outra no banheiro Disse que s queria ajudar mas n o pode acontecer isso Se acontece alguma coisa com o beb dela Pronto as duas descem e de quem vai ser a culpa A culpa vai ser minha ningu m quer saber n o Ainda bem que ningu m viu Isso nos leva a refletir sobre o funcionamento do grupo de profissionais da AMUL 5 3 3 A din mica do grupo de profissionais de sa de A din mica da equipe de sa de foi aqui abordada com foco em suas rela es de trabalho Analisar este t pico tem tico serviu para explicar a rela o de cuidado estabelecida com o grupo de u
68. que a rela o de cuidado se dava na domin ncia da vontade do outro impedindo s usu rias participarem das decis es sobre seu pr prio corpo E a pr pria equipe revelava na especializa o de seus servi os uma heteronomia do grupo de profissionais Quando Napeia uma t cnica de enfermagem percebia nas usu rias uma necessidade de apoio psicol gico n o tomava a iniciativa de compartilhar suas observa es com a equipe Atribu a como tarefa exclusiva dos profissionais de ensino superior avaliar as necessidades de atendimento das m es isentando se desta tarefa Napeia Tem v rias pacientes que precisam de apoio psicol gico s vezes o pr prio m dico solicita ou a pr pria enfermeira mas eu nunca assim cheguei Eu nem pergunto porque tem psic logo n no hospital Possivelmente ao n o se engajar no trabalho interdisciplinar Napeia se protegia dos efeitos das trocas profissionais Ao dizer que tinha psic logo no hospital seu discurso insinua que chamar em nome pr prio o profissional de psicologia seria apontar a responsabilidade dele reconhecer as falhas do outro e as pr prias falhas Expor suas ideias defend las seria correr o risco de vivenciar contesta es E ao se aprisionar nos limites de seu trabalho ela acabava n o se assumindo uma protagonista na promo o de sa de coletiva Vale dizer ao narrar sua intera o com os colegas de trabalho Napeia baixava o tom de voz quase que sussurrando mesmo
69. rias fez esse espa o ser simbolizado como o lugar do desamparo intensificando ainda mais ang stia das m es As tend ncias sugerem isto resultante do sentimento de pavor experimentado a partir do que o grupo de m es projetava nesta Sala E para suportar o mal estar como uma forma de se defender da realidade e explic la as usu rias criaram o mito da Sala de Pr parto que assim tinha um papel na vida ps quica e social do grupo de m es Nas conversas paralelas nos encontros das vizinhan as dos leito da EGAR elas contavam piadas deformavam hist rias reais interpretando ao seu modo o que poderia est acontecendo na Sala O tom de brincadeira parecia uma forma de se defenderem do medo e da inseguran a que eram compartilhadas na cria o de suas hist rias Era assim que o fantasma da Sala ganhava vida aquele pr parto HOR R VEL deixa a gente l sozinha diz pode ficar a em cima dessa bola E as estrat gias usadas pelas usu rias para enfrent lo eram as seguintes a Quando conseguiam escapar aos olhos da equipe elas visitavam suas colegas que estavam na Sala com o intuito n o s da visita em si ato de solidariedade mas tamb m de conferir a realidade da Sala de Pr parto Hera As do 4 andar foi me visitar no pr parto Teve uma que chegou a me perguntar o que eu achava do pr parto Ai eu disse a ela que tava muito agitado ali N o pelo atendimento mas
70. sei tomar j tom autorit rio T tomando o rem dio J to tomando tom s rio Mas ela come ou at a falar mais comigo quando ela passa oi Atalanta Bom dia T pr ximo n T chegando o dia Eu digo Essa mulher t doida pr se livrar de mim risos Vai Eu n o vejo a hora tamb m A postura de renegociar o v nculo se tornava estranha Atalanta que n o tinha o habitus dessa experi ncia discutir uma rela o afetiva De imediato ela reagiu com satisfa o quando o riso apareceu na 92 linha do depoimento dela ainda que seguido de tons de ironia e desdenha No geral a quest o do afeto do direito em sa de de se posicionar e ser escutado resultavam na satisfa o das usu rias como se nota no epis dio pesquisa de satisfa o RO 2 Epis dio Pesquisa de Satisfa o Havia quatro m es ao redor da mesa de atividades Patr cia comenta que respondeu um question rio de satisfa o de usu rio E eu escrevi tudinho que eu achava A gente tem que dar uma nota de O a 10 E eu dei a nota Coloquei 9 para a equipe dos m dicos Eles s o muito bons E faz uma express o facial duvidosa A nota 9 um nota quase toda deixa n o dita uma insatisfa o do desejo Talvez o 1 do sil ncio de Patr cia esteja remetido s ambiguidades que foram discutidas neste segundo n vel de an lise desde as desapontamentos e congru ncias no processo de
71. ser pensado focando a an lise da contradi o dial tica da rela o de cuidado da AMUL Trata se de uma matriz cultural sistema de disposi es dur veis transpon veis e inevit veis atrav s do qual a lei social incorporada Essa matriz determina o modo em que as pessoas pensam agem e sentem sua realidade Desde modo o estilo de vida de cada indiv duo est limitado ao social sendo a sociedade determinante dos comportamentos do indiv duo Por exemplo a maneira como usu rias de sa de vivem seu cotidiano hospitalar denuncia a classe social de que ela faz parte uma vez que sua estrutura social mentalizada O estilo interacional da usu ria reconheceria para Bourdieu 2009 uma trajet ria pessoal que est inscrita em um campo social espec fico O habitus assim um princ pio de socializa o e de individua o tendo algumas propriedades espec ficas um dispositivo contextualizado pois as aptid es sociais das pessoas est o situadas no tempo no lugar e na distribui o de poder Apresenta pontos de coer ncia e coes o pois ele atinge v rios dom nios do cotidiano o social est expresso no jeito de se vestir na maneira de falar nas escolhas pol ticas de um indiv duo E mesmo que dur veis e inevit veis essas disposi es podem apresentar pontos de incoer ncia levando o pr prio social a alter lo o que explica as inova es da sociedade e o fato de que o objeto padr o de uma classe social hoje pod
72. serem esses problemas geridos pelos desarranjos da hist ria de vida da mulher com efeitos no lugar subjetivo dado ao beb Assim as oito gestantes de alto risco depositavam no filho atributos representativos de um mal do corpo O beb ocupava um lugar fal faro Significando agressivamente a condi o de falta da mulher tornando se fonte intensa de desprazer para essa m e Na teoria psicanal tica o beb sempre o significante da falta uma presen a material que inscreve a imagem de uma falta DOR 1997 como j esclarecido no cap tulo da problem tica Quanto s usu rias em foco sofriam com as falhas de seu pr prio corpo como se sentissem o beb como prova da possibilidade de uma falta eterna prov vel que tenha sido esse o motivo de Demetra confundir o beb com o verme do bucho d gua como ela mesma nomeou Resgatando as viv ncias maternas percebe se que o beb era sin nimo de trai o de morte materna de malforma o de perda por aborto Atalanta gerou o filho como s mbolo de uma trai o reprodutiva oriunda da imposi o de seu parceiro que queria ser pai a todo custo Art mis tinha o filho como representante do risco de morte materna sendo a rela o m e beb amea ada pela diabetes Inclusive ela expressou o medo de que o filho nascesse MAL formado por tr s da refer ncia ao aspecto org nico sinalizava outro tipo de malforma o os desarranjos interativos que ser
73. setores onde as gestantes da pesquisa foram assistidas durante a hospitaliza o E se buscou abarcar certa multidisciplinaridade Como ilustra a Representa o Gr fica 01 houve 18 recusas em participar do estudo 14 usu rias alegaram inseguran a quanto ao uso dado assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE ou desconforto porque a pesquisadora era uma psic loga No caso dos profissionais um deles afirmou n o se sentir vontade para ser entrevistado e os demais alegaram indisponibilidade de hor rios Ao todo participaram oito profissionais de sa de E das 16 usu rias que assinaram o TCLE apenas oito compuseram a amostra Havendo o prop sito metodol gico de mais de um contato com cada usu ria foi usado um documento em prontu rio Anexo A para obter apoio da equipe de sa de Por m esta nem sempre informava pesquisadora sobre a mudan a intersetorial ou a alta hospitalar das usu rias da pesquisa Ent o n o aconteceram mais de uma entrevista com sete das usu rias Este problema foi resolvido somente quando as usu rias passaram a avisar por telefone suas transfer ncias ou previs o de alta E ocorreu uma desist ncia pois a usu ria se sentiu prejudicada por uma a o da pesquisadora junto a um profissional de sa de Esta pediu ao profissional para esperar o t rmino da entrevista com a m e e somente depois realizar a avalia o da usu ria Chateado o profissional demorou a atender a gest
74. significante do falo da m e ele significante de sua condi o de falta Em algumas situa es esse beb significa a falta de modo intensivo tornando se terror fico assim em psican lise se diz que se tratar de um beb fal faro XXIX INFANTILISMO estado psicopatol gico em que o indiv duo se comporta como um beb ou uma crian a assim se defendendo de uma ideia que evoca grande ang stia XXX RACIONALIZA O Mecanismo inconsciente mais comum em uma situa o frustrante O indiv duo usa de argumentos racionais que fundamentem sua realidade assim evitando a ang stia XXXI HOSPITALISMO Quadro psicol gico desencadeado no internamento hospitalar caracterizado por despersonaliza o introspec o isolamento tristeza instabilidade emocional desorienta o espacial e temporal Seus fatores de causa s o o tempo prolongado de hospitaliza o e a precariedade do apoio da rede social XXXII REDE SUPLEMENTAR DE SA DE Rede privada que pode usar das orienta es do SUS XXXIII PORTA VOZ Aquele que desvela verbalmente uma dificuldade vivida pelo grupo e que os demais integrantes n o tomam a iniciativa em dizer O porta voz tem o talento de falar em nome do grupo mesmo que todos os integrantes n o tenham consci ncia disso Cf PICH N RIVI RE O processo grupal 7a ed S o Paulo Martins Fontes 2005 XXXIV ARBITR RIO CULTURAL constructo estabelecido por um grupo social expressa os interesses simb li
75. usem da imagina o criativa e n o se sintam reprimidos 65 pelas regras Organizacionais Isso se a Organiza o lhe der abertura para introduzir o n o can nico repetindo na diferen a para a express o espont nea e inventiva para romper com o j estabelecido e elaborar novas configura es interativas Se a Organiza o assume o imagin rio motor ela possibilita a autonomia dos indiv duos e portanto sente se insegura Afinal como dito no in cio deste cap tulo o sujeito aut nomo capaz de acionar a coletividade para reformular as normas Sendo imagin rio motor a Organiza o corre o risco de ser outra reformulada sendo imagin rio enganador ela controla a liberdade dos indiv duos e se mant m no dom nio camuflando as pr prias car ncias como diz o modelo sociomental Nessa complexidade a Organiza o reflete sua din mica institucional 2 2 2 3 O simb lico e o imagin rio das pr ticas sociais Um pensamento central na teoria de Castoriadis 1999 2006 2007 que as sociedades est o alienadas s suas institui es que exercem sobre aquelas uma fun o vital mas tamb m as sociedades s o capazes de inventar e reinventar tanto as institui es quanto a si mesmas o que ele chama de campo s cio hist rico em que as institui es se localizam e regulamentam as pr ticas sociais Um dos motivos disso que as institui es s o desenvolvidas enquanto um sistema simb lico Elas d o sentido
76. 1 A CONSTRU O DO CAMPO DA SA DE P BLICA HUMANIZADA GESTANTE DE ALTO RISCO 1 1 Ostr s tempos simb licos do corpo da mulher gr vida 1 2 O itiner rio do hospital maternidade e seus aspectos macrossociais 1 3 O paradigma da promo o de sa de 1 4 O SUS surgimento avan os e fragilidades 1 5 A mulher gr vida de alto risco no discurso da PNH 1 6 O ser m e e as subjetividades em volta da gesta o de alto risco 1 7 A rela o de cuidado no cen rio de hospitaliza o 1 8 A quest o e os objetivos da pesquisa 2 A ABORDAGEM TE RICA 2 1 O sujeito social aut nomo 2 2 An lise Institucional 2 2 1 O fundamento epistemol gico da An lise Institucional 2 2 2 O fundamento te rico da An lise Institucional 2 2 2 1 As institui es 2 2 2 2 As Organiza es 2 2 2 2 1 A Organiza o como sistema sociomental 2 2 2 2 2 A Organiza o como sistema cultural simb lico e imagin rio 2 2 2 3 O simb lico e o imagin rio das pr ticas sociais 2 2 2 4 O habitus nas Organiza es 2 2 3 O fundamento metodol gico da An lise Institucional 3 ATRAJET RIA METODOL GICA 3 1 Escolha metodol gica 3 2 Contexto de investiga o 3 3 Crit rios de Elegibilidade dos atores sociais de AMUL 3 4 O perfil dos participantes 3 4 1 Usu rias 3 4 2 Profissionais de Sa de 3 5 Instrumentos de Operacionaliza o 3 5 1 As entrevistas 3 5 1 1 Os Relatos de Viv ncia das Usu rias 3 5 1 2 As entrevistas com o
77. 9 anos Desde o in cio da adolesc ncia tinha uma vontade intensa de ser m e Aos 25 anos engravidou do segundo parceiro sexual sofrendo um aborto devido a ocorr ncia de Mola Hidatiforme Aos 28 anos estabeleceu uma segunda rela o consensual com um colega de profiss o t cnico de enfermagem O casal residia na casa da m e de Demetra A casa de alvenaria tinha dois quartos saneada e com energia el trica A renda familiar era de dois sal rios m nimos No in cio da vida marital o parceiro cobrou lhe um filho Demetra recusou a ideia mas para diminuir os conflitos conjugais sup s haver um per odo de desintoxica o fantasia que lhe viabilizou a aceitar racionalmente a interrup o do anticoncepcional Sem ajuda psicol gica ela n o conseguiu ressignificar sua maternalidade antes de engravidar outra vez e se defendeu inconscientemente negou a gesta o fazendo tratamento contra o verme do bucho d guo J na Maternidade Dia convivia com o medo de que o feto se transformasse na Mola Dra meu beb ainda t com PLETO Foi diagnosticada doen a no sistema urin rio com indica o de tratamento com nefrologia no puerperio Encaminhada Emerg ncia Obst trica ficou em torno de 24h na Sala de Pr parto aguardando vaga na enfermaria Ap s a primeira semana em EGAR Demetra recebeu alta hospitalar Na 312 semana gestacional a Maternidade Dia diagnosticou proteinuria e pr eclampsia em Demetra Foi hos
78. AMUL o mediatizante das coisas expl citas das normas e o mediatizado da ordem do n o dito das antinormas Enquanto as unidades de discurso estavam sendo escolhidas ocorria a decodifica o e o reconhecimento do campo institucional mediatizante da AMUL Este campo compunha a 94 realidade objetiva com a identifica o da pol tica e da pr tica em sa de do hospital Dizia respeito ao que a Organiza o tinha de mais evidente suas a es provis rias desenvolvidas entre a for a do institu do e do instituinte A coer ncia provis ria do campo institucional mediatizante foi decodificada e reconhecida na transversalidade dessas vertentes Houve assim uma compreens o da dial tica do objeto de estudo montando se o sistema de contradi es da rela o de cuidado na AMUL Chegou se ao quinto princ pio do Gr fico de Interpreta o com tais t picos de an lise a A hist ria de vida e a hist ria gestacional das usu rias b A rela o m e beb c O ser gestante de alto risco na vis o das usu rias d O acesso ao servi o e a acessibilidade do servi o e As tend ncias psicossociol gicas das trajet rias de hospitaliza o f O grupo de usu rias g A rela o de trabalho h A fun o paterna da AMUL Faltava encontrar o campo institucional mediatizado Para isso os temas foram agrupados nos tr s n veis de an lise defendidos em Barbier 1985 psicobiol gico hist rico social e estrutural gru
79. DSON DP Effects of high risk pregnancies on Families Maternal Child Nurs 2005 marc april vol 30 n 2 p 121 6 SPINK Mary Jane MATTA Gustavo Correia A pr tica profissional Psi na Sa de P blica configura es hist ricas e desafios contempor neos In SPINK Mary Jane Org A psicologia em di logo com o SUS Pr tica profissional e produ o acad mica S o Paulo Casa do psic logo 2007 SETTON Maria da Gra a Jacintho A teoria do habitus em Pierre Bourdieu uma leitura contempor nea Revista Brasileira de Educa o n 20 Maio agosto 2002 p 60 70 Dispon vel em www anped org br Acesso em 09 03 2009 s 13 52h STERN Daniel N A constru o social de base O panorama da psicoterapia pais beb Porto Alegre Artes M dicas 1997 TEDESCO Jos J lio de Azevedo Aspectos emocionais da gravidez de alto risco In TEDESCO Jos J lio de Azevedo ZUGAIB Marcelo QUAYLE Julieta Org Psicossom tica em Obstetr cia 12 ed S o Paulo Atheneu 1997 v 1 p 99 108 Org A gr vida suas indaga es e as d vidas do obstetra 12 ed S o Paulo Atheneu 2000 VIEIRA E M A medicaliza o do corpo feminino Rio de Janeiro Ed Fiocruz 2002 WINNICOTT Donald Os beb s e suas m es S o Paulo Martins Fontes 2006 ZEN Elo sa Troian NUNES M nica Ferreira Interven es precoces na gesta o de alto risco preven o em sa de mental In MELGA O Rosely Gazire Org A tica na aten o
80. EIROZ M P Varia es sobre a t cnica de gravador no registro da informa o viva S o Paulo T A QUEIROZ 1991 REP BLICA FEDERATIVA BRASILEIRA Constitui o da Rep blica Federativa do Brasil 1988 Dispon vel em www planalto gov br Acesso aos 27 04 2010 s 07 16h 178 REZENDE FILHO Montenegro Obstetr cia Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2010 FERREIRA Ricardo Franklin CALVOSO Genilda Garcia GONZALES Carlos Batista Lopes Caminhos da Pesquisa e Contemporaneidade Revista Reflex o e Cr tica 2002 Vol 15 n 02 p 243 250 Dispon vel em www scielo br Acesso aos 04 05 2008 s 20 18h RODRIGES Heliana de Barros Conde Sejamos realistas tentemos o imposs vel Desencaminhando a psicologia atrav s da An lise Institucional In JAC VILELA Ana Maria FERREIRA Arthur Arruda Leal PORTUGAL Francisco Teixeira Hist ria da Psicologia Rumos e Percursos Rio de Janeiro Nau 2007 p 515 63 ROMANO Bellkiss W Princ pios para a pr tica da psicologia cl nica em hospitais S o Paulo Casa do Psic logo 1999 SALES L a Maria Martins Entre o fasc nio e o horror um estranhamento na cl nica m e e beb Revista estilo da cl nica V 5 n 8 USP S o Paulo 2000 SAUNIER Annie A vida quotidiana nos hospitais da Idade M dia In LE GOFF Jaques Org Do lado dos doentes As doen as tem hist ria tradu o Laurinda Bom Portugal Terramar 1985 p 203 72 SITTNER BJ DE FRAIN J HU
81. Ent o eu cheguei aqui no domingo e o beb veio sair na ter a JE muitas mulheres chorando com rela o do parto normal Eu vi que elas tavam sofrendo e ao mesmo tempo felizes Eu n o me sentia bem com aquilo Foi uma experi ncia muito dif cil A partir do relato de Hera poss vel afirmar que a AMUL se deparava com a norma a vontade de segui la e a necessidade de readapt la Ou seja o que lhe era poss vel resultava das contradi es dial ticas que atuavam em torno da Sala de Pr parto E dominada pelas institui es que lhe davam sentido sa de educa o pol ticas de direitos humanos a AMUL seguia engajada na tarefa de fazer o bem ao investir na pol tica de parto normal humanizado como o princ pio central da Organiza o Por m n o percebia que sua maneira de praticar a humaniza o do parto institu a um poder simb lico dominante gerando nas usu rias e nos profissionais de sa de rea es defensivas contra as imposi es institucionais como se detalha no t pico abaixo 5 2 2 4 A pol tica de parto normal da imposi o s formas de transgress o F Como explicado no cap tulo tr s a tens o entre o institu do e o instituinte o motor da vida social As pessoas n o se moldam em prescri es estas normativas servem sim de par metros mas a realidade sempre exige readapta es Par metros como os da Sa de s o necess rios para a organiza o do Sistema
82. Esta tend ncia vivida por Demetra e Helena a da Representa o Gr fica 04 Representa o Gr fica 04 Tend ncia Psicossociol gica Oscilante da Trajet ria de Hospitaliza o Estado de Estresse das Usu rias Admiss o em EGAR EGAR Co Sala de Pr parto e Sala de Parto CO Alojamentos Enfermaria de Infectados UTI 10 15 20 25 Tempo de Internamento dias Nesta tend ncia a etapa entre EGAR e a Sala de Pr parto ou Sala de Parto foi experimentada de forma semelhante tend ncia decrescente A diferen a foi que Demetra e Helena se revelaram mais ansiosas em EGAR do que as usu rias da tend ncia anterior sendo as duas gestantes que mais discordaram da conduta de parto normal junto com Art mis quem realizou a terceira tend ncia Outra distin o ocorreu no p s parto quando a for a Fs aliada F provocaram o estado de estresse Todavia as usu rias encontravam profissionais que agiram em sentido contr rio facilitando a qualidade de hospitaliza o delas atrav s de escuta e do acolhimento Ao final da hospitaliza o as usu rias recordavam se dos epis dios de desconforto interativo dando sinais de ressentimento mas tamb m reconheciam a AMUL como um lugar onde podiam encontrar amparo e sa de Demetra no ltimo relato Realmente aqui um lugar acho que dos melhores pr se ganhar um beb O cuidado deles a aten o em cima de voc o tempo todo realmente aqui amigo da
83. L detalhando se as contradi es e os processos mediadores 5 2 2 As tend ncias psicossociol gicas da trajet ria de hospitaliza o Tr s estilos de trajet ria de hospitaliza o foram evidenciados ao longo desta pesquisa revelando as configura es da rela o de cuidado na AMUL O estado de estresse das usu rias no cotidiano hospitalar desde a admiss o at o momento da alta serviu como refer ncia para delimitar esses estilos Foi considerado como estado de estresse um conjunto de rea es que as usu rias apresentavam como impaci ncia irritabilidade insatisfa es constantes cobran as por alta hospitalar facilidade de desentendimentos e agress es verbais dirigidas equipe necess rio ainda esclarecer n o se aplicou para isso nenhuma escala de estresse mas o tratamento qualitativo dos relatos e dos comportamentos observados permitiu identificar os momentos de mudan a no estado emocional das usu rias Observou se que o trajeto de entrada na Emerg ncia era influenciado pelas preocupa es antes descritas medo de perder o beb de morrer sentimento de incompet ncia materna entre outras quest es No decorrer da estadia no hospital elas tendiam a evitar a transfer ncia para a Sala de Pr parto As expectativas do trabalho de parto e do parto eram vividas com ansiedade e pavor n o s pelo conte do subjetivo que pr prio da experi ncia de dar luz Esta pesquisa verificou que a din mica interativa da
84. RISCO DE PERNAMBUCO Comiss o Examinadora e SADC A Prof Dr A cio Marcos Medeiros Gomes de Matos 1 Examinador Presidente Prof Dr Isabela Cristina A N C Coutinho 2 Examinador Polls Ay of Dr Jaileila de Ara jo Santos 3 Examinador Recife 26 de agosto de 2010 Dedico esta produ o cient fica a duas m es ilustres In memorian Dona Joana minha bisav paterna uma parteira leiga de Pesqueira e de Po o Contou me vov Carminha que bisa Joana era uma parteira de muito bom cora o e bastante respeitada na sua comunidade Em troca de seus servi os costumava receber agrados como galinhas vivas mas os recusava quando a fam lia tinha maior necessidade financeira do que a dela Certa vez tirou a pr pria saia branca para uso da m e e do beb aos quais assistiu por testemunhar que n o tinham enxoval Naquele dia Dna Joana voltou para casa apenas com sua an gua disfar ada pela blusa Por meados da d cada de 50 ela teria sido chamada a prestar seus servi os quando percebeu que o beb estava atravessado recomendando gestante que procurasse imediatamente o m dico da cidade porque seria aquele um parto perigoso e que n o iria saber conduzir Ao saber disso o obstetra da cidade ficou admirado pela intui o da parteira em perceber que aquele era um parto de alto risco Ent o foi convidada a auxiliar na maternidade de Pesqueira por m n o pode f
85. U AN LISE INSTITUCIONAL DA RELA ENTRE A EQUIPE DE SA DE E A USU RIA DE UMA HOSPITALAR DE GESTA O DE ALTO RISCO D Tathyane Gleice da Silva UMA AN LISE INSTITUCIONAL DA RELA O DE CUIDADO ENTRE A EQUIPE DE SA DE E A USU RIA DE UMA UNIDADE DE REFER NCIA HOSPITALAR EM GESTA O DE ALTO RISCO DE PERNAMBUCO Disserta o apresentada ao Programa de P s Gradua o em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para a obten o do grau de Mestre em Psicologia Orientador Prof Dr A cio Marcos de Medeiros Gomes de Matos RECIFE 2010 Silva Tathyane Gleice da Uma an lise institucional da rela o de cuidado entre a equipe de sa de e a usu ria de uma unidade de refer ncia hospitalar em gesta o de alto risco de Pernambuco Tathyane Gleice da Silva Recife O Autor 2010 200 folhas Il fig tab Disserta o mestrado Universidade Federal de Pernambuco CFCH Psicologia 2010 Inclui bibliografia ap ndice e anexos 1 Psicologia 2 Gestantes Riscos de sa de 3 Cuidados 4 Autonomia T tulo CDU 2 ed UFPE BCFCH2010 148 CDD 22 ed UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CI NCIAS HUMANAS PROGRAMA DE P S GRADUA O EM PSICOLOGIA CURSO DE MESTRADO UMA AN LISE INSTITUCIONAL DA RELA O DE CUIDADO ENTRE A EQUIPE DE SA DE E A USU RIA DE UMA UNIDADE DE REFER NCIA HOSPITALAR DE UMA GESTA O DE ALTO
86. UL vivia a constante luta de garantir a perman ncia de seu status em sa de deparando se com o caos social E se readaptava mas o m ximo que podia exercer era o n o todo da pol tica afinal as usu rias revelavam resist ncias Segundo Matos 2009 valeria ao SUS ampliar os questionamentos e revis es sobre suas ferramentas educativas a fim de uma maior incorpora o de seus princ pios pela sociedade brasileira j que estas parecem destoarem da realidade dos grupos sociais para os quais os princ pios do SUS t m sido dirigidos Quanto a esta pesquisa verificou se que a AMUL fazia altos investimentos para realizar o melhor pelas usu rias em mat ria de sa de humanizada mas acaba assumindo uma posi o extremamente dominante com um estilo de cuidado sentido pelas usu rias como impositivo um cuidado for ado normal Em decorr ncia as usu rias se assustavam com esse estilo de humanizar e desconheciam seus pr prios direitos e responsabilidades em sa de enquanto viviam conflitos intensos na constru o de sua maternalidade com o beb que gestavam Os dados sugeriram que a linguagem da AMUL n o estava adequada linguagem das usu rias para que elas pudessem interiorizar a exterioridade deste servi o Nesse sentido a equipe de sa de se percebia pressionada a cumprir s normas da AMUL na medida em que as usu rias caminhavam na contram o dessa norma Dificuldades interativas assim surgiram movidas por pactua
87. Um deles adveio de minhas experi ncias profissionais com o M todo Canguru voltado aos cuidados do beb prematuro mas iniciado j no apoio s gestantes de alto risco Em minha pr tica junto s m es desse beb deparava me com os sentimentos antag nicos das parturientes para com o hospital maternidade onde trabalho Essas m es revelavam nos atendimentos psicol gicos o sentimento de amor e de dio que dirigiam ao hospital Desta maneira eu quis estudar a rela o de cuidado vivida pelas gestantes de alto risco no intuito de ampliar minha vis o na assist ncia uma vez que tais antagonismos me As discuss es recentes da rea T cnica da Crian a no Minist rio da Sa de reformularam o nome do M todo M e Canguru para M todo Canguru fazendo refer ncia ao papel da fam lia nos cuidados com o beb E vem sendo assinalada a import ncia deste M todo ser visualizado j nos cuidados sa de da mulher gr vida de alto risco Esta ideia foi assinalada nos Cursos de Capacita o para o M todo Canguru em 2009 2010 nos diferentes Centros de Refer ncia do territ rio nacional remeteram s disciplinas da Gradua o especificamente Psicologia Institucional e Psicologia Social das Organiza es Atrav s delas entendi que a rela o estabelecida entre o indiv duo e a Organiza o sustentada por uma rede de contradi es sendo tarefa do profissional de psicologia questionar os jogos contradit rios atu
88. a s vezes d at uma certa afli o S falam do beb A equipe 100 mas s que o que n o me agrada que eu to aqui por causa da minha perna minha prioridade agora a minha perna n o o meu beb Tudo aqui relativo crian a Relativo mulher tamb m trata n o pode chegar e dizer que eles maltratam que eles tratam tamb m muito bem mas a crian a sempre em primeiro lugar sil ncio Assim Helena transpareceu assumir uma sujei o diante do discurso do outro Elas se posicionavam e eram posicionadas como n o detentoras de Um saber sobre sua sa de Helena Eu sou leiga n o posso falar eu n o estudei medicina Parecia dif cil criar um espa o para a efetiva o de uma pr tica centrada na usu ria Havia por parte dos profissionais de sa de uma iniciativa em dialogar mas os atores sociais envolvidos m es e equipe de sa de n o conseguiam exercer de fato um di logo onde o sujeito pudesse questionar o discurso do outro dando abertura para as negocia es A comunica o n o dava abertura para se construir uma fala pr pria o que confirma Martins e Pinheiro 2009 Demetra tinha a sensa o de que a equipe demonstrava zelo disposi o a conversar mas que dificilmente iria mudar de opini o principalmente quando se tratava do tipo de parto a ser realizado Nesse cen rio quando os profissionais de sa de informaram Demetra que iriam iniciar a e
89. a o de viver sua primeira gravidez Todavia n o deixou de fantasiar a morte nas expectativas do parto Embora esta fantasia seja uma estrat gia ps quica comum a toda mulher no processo gestacional no caso de Pala ocorria de modo intenso e obsessivo Na 272 semana gestacional apresentou cefaleia persistente Procurou o servi o onde fazia o pr natal mas a Organiza o estava em greve e sugeriu que a usu ria fosse Emerg ncia da AMUL que diagnosticou pr eclampsia Ap s tr s dias em terap utica medicamentosa Reia recebeu alta da Emerg ncia sendo encaminhada Maternidade Dia Posteriormente em imin ncia de eclampsia e em trabalho de parto prematuro ficou reinternada por nove dias na Emerg ncia Obst trica sendo transferida EGAR Ao sentir dor em baixo ventre Reia foi encaminhada Sala de Pr parto No dia seguinte superou os sintomas e retornou EGAR Na 29 semana gestacional voltou a apresentar sinais de pr eclampsia superou outra vez os sintomas e recebeu alta de EGAR Na 362 semana gestacional retornou Emerg ncia Obst trica seguindo em poucos minutos Sala de Pr parto onde viveu o parto normal O beb nasceu com 3 705Kg Apgar 8 9 A d ade foi ao Alojamento Conjunto recebendo alta ap s 02 dias O percurso de Reia em AMUL contabilizou 24 dias considerando os dois internamentos 3 As hist rias singulares destas usu rias em torno da maternalidade inclu ram os relatos da vida extra
90. a Identificar as poss veis contradi es e os processos de media o que circulam e organizam a vida social de uma Unidade de Refer ncia Cap tulo 2 A ABORDAGEM TE RICA Este sujeito ativo que evoca estabelece objetiva olha e coloca dist ncia Ele olhar e suporte do olhar pensamento e suporte do pensamento atividade e corpo ativo corpo material e corpo simb lico CASTORIADIS 2007 p 127 2 0 A ABORDAGEM TE RICA Visando alcan ar os objetivos delineados no cap tulo anterior com foco na trajet ria terap utica de pessoas singulares decidimos estabelecer como fundamento de base a concep o de sujeito social desenvolvida por Castoriadis 2007 Esta tomada de decis o definiu nosso posicionamento psicossociol gico diante da quest o problema deste trabalho Ora para este autor a articula o do sujeito individual e o do sujeito coletivo na rela o de cuidado por exemplo inscreve se na perspectiva social que compreende as singularidades das gestantes de alto risco e da equipe de sa de mas tamb m as contradi es que sustentam a Unidade de Refer ncia onde esses atores sociais est o inseridos Isso significa olhar o institucional da rela o de cuidado um caminho baseado na An lise Institucional referencial dial tico psicanal tico e sociol gico capaz de situar o sujeito como produto e como produtor do espa o social Sendo assim este cap tulo come a esclarecendo o
91. a como voc est Me fala como est sendo o dia de hoje aqui para voc Importa esclarecer a condu o dos relatos de viv ncia dependiam de dois aspectos O primeiro deles a disponibilidade circunstancial da protagonista em algumas ocasi es os relatos foram adiados porque a usu ria estava dormindo ou com mal estar f sico ou na expectativa de encontrar a m dica para reavalia o cl nica ou simplesmente sem vontade de conversar no momento O segundo era o evento de transfer ncia intersetorial as usu rias eram procuradas assim que a pesquisadora tomava ci ncia da transfer ncia cl nica recebendo a informa o da equipe de sa de ou da pr pria usu ria que telefonava para a pesquisadora Algumas vezes a pesquisadora soube do evento ao realizar visita espont nea no local de investiga o Mesmo assim nem todas as usu rias foram escutadas em todos os setores onde estiveram internadas De qualquer maneira elas fizeram refer ncia ao seu cotidiano em cada setor por onde passaram Em alguns casos foi necess rio realizar em EGAR mais de um relato de viv ncia com o objetivo de melhor colher as informa es porque a pesquisadora decidiu ser mais cautelosa na apura o dos fatos no primeiro contato com as m es tendo em vista o estado emocional dessas gestantes de alto risco E um dos relatos foi interrompido devido fragilidade emocional da gestante a pesquisadora voltava em outra ocasi o para dar continuidade
92. a A gente diz mulher toma esse rem dio pro teu bem Se tu n o tomar vai acabar indo pr Sala de Pr parto Ai elas tem medo e num instante tomam risos Em suma o fantasma da Sala de Pr parto resultava das fantasias de castra o da mulher mas era acentuado pelo desconhecimento das usu rias sobre o parto humanizado pelos problemas macrossociais vividos pela AMUL e o sil ncio praticado pela mesma Vale esclarecer essas for as foram muito mais evidentes at a hora do parto contribuindo para a fase crescente de estresse das usu rias desde a entrada na AMUL at a transfer ncia Sala de Pr parto E esse conjunto de for as que definiram o sistema dialetizado da Sala mantinha rela o com a pr tica de cuidado exercida no hospital que se seguia ao momento da alta Ent o a partir de agora ser dada uma maior aten o s performances desta pr tica que explicou os comportamentos sociais atrav s dos habitus da Organiza o 5 2 2 5 As performances das Pr ticas de Cuidado Fs Foram chamadas de performances da pr tica de cuidado uma for a dial tica resultante de um conjunto de a es interativas que ora colaboravam ora desfavoreciam autonomia dos atores sociais focados neste estudo As performances identificadas foram o foco na usu ria o direito em sa de a heteronomia da rela o de cuidado e a rela o de afeto Observou se sua influ ncia direta nas tend ncias psicossociol gicas
93. a Organiza o garantia seu lugar de objeto de identifica o e de amor na ambiguidade entre o prazer e a ang stia vivida por esses grupos sociais Desde a admiss o atrav s de suas estrat gias de acesso as usu rias submetiam se s formas de regula o hospitalar A pr pria Helena almejava n o experimentar de um parto for ado e manteve o plano de sa de por essa raz o como uma possibilidade de fuga dos cuidados da AMUL Entretanto a usu ria acabou vivendo de fato nas palavras dela aquilo que todo mundo fala do parto da AMUL Esta usu ria e os demais protagonistas da pesquisa sugeriram que a Organiza o assumia um controle inconsciente sobre os mesmos A AMUL fez isso para sobreviver minimizar suas pr prias car ncias garantir que os indiv duos lhe fossem devotos e a amassem Por fim chegamos s repercuss es do sistema de contradi o que apresentamos nesse momento como uma conclus o institucional situada na pesquisa aqui desenvolvida 5 4 REPERCUSS O INSTITUCIONAL A Pol tica de Reconhecimento Social na Rela o de Cuidado Essa repercuss o diz respeito ao campo institucional mediatizado que sustentava a rela o de cuidado entre a equipe de sa de e as usu rias da AMUL o que foi interpretado como impl cito nas complexidades expostas at aqui por meio dos tr s n veis de an lise A repercuss o institucional a ser apresentada neste momento foi analisada como relativa estrutura instit
94. a dessa rela o de cuidado Afinal no ambiente hospitalar esta rela o contextualizada por processos objetivos e subjetivos organizados por ambiguidades e antagonismos pr prios ao sistema Organizacional PAGES 2001 Salienta se a vis o dial tica serviu como um novo olhar sobre os processos Organizacionais diferenciado da vis o funcionalista que orientou a psicologia nesse campo centrada na harmonia e no equil brio da din mica do sistema social A vis o que orientou este trabalho est embasada epistemologicamente na Filosofia da Complexidade explicada por Edgar Morin 1990 E permite compreender a Organiza o hospitalar como uma estrutura constitu da por rela es psicossociais tendo assim um car ter contradit rio Por exemplo uma Organiza o de sa de pode provocar nas pessoas a sensa o de seguran a e acolhimento atrav s de seus dispositivos tecnol gicos e humanos em simult neo e de forma antag nica provocar a sensa o de inseguran a e desamparo nos atores sociais envolvidos por raz o de algumas das caracter sticas desses mesmos dispositivos Uma contradi o como esta implica a m xima psicanal tica de que toda rela o humana conflitiva marcada por amor e dio Acreditando nisso questionei a contradi o dial tica da rela o de cuidado presente no campo da Sa de da Mulher no que diz respeito a assist ncia gestante de alto risco hospitalizada Essa escolha tem tica teve v rios motivos
95. a noticia mas a usu ria rejeitou inicialmente o filho pois temia a evolu o do quadro cl nico e a reprova o materna Esconderam a gravidez at o primeiro trimestre Ao saber sua m e ficou desesperada A gesta o foi ent o desenvolvida por ressentimentos e medo de retalia o Art mis foi AMUL na 33 semana gestacional com encaminhamento da Rede B sica Chegou Emerg ncia com epis dio de hipoglicemia e ficou internada Na primeira quinzena de hospitaliza o teve alta com retorno programado Na 372 semana gestacional retornou AMUL quando foi inserida na pesquisa vivendo uma trajet ria da EGAR ao Alojamento Conjunto O beb nasceu por cesariana com 4 230Kg e Apgar 8 9 Ap s 32 dias dos dois internamentos m e e beb receberam alta definitiva 32 n m EnA A As patologias citadas nas Viv ncias Maternas est o descritas em Ap ndice A 33 A P as a pa A Em Ap ndice C encontra se a ilustra o de seu itiner rio terap utico na AMUL Inclusive os trajetos das demais usu rias tamb m est o a desenhados 106 5 1 1 2 Atalanta Atalanta 28 anos residia em Itamb Mata Norte de Pernambuco dona do lar analfabeta n o tinha religi o n o fumava nem usava lcool ou outras drogas Sua menarca foi aos 15 anos e aos 16 anos poca de sua coitarca foi expulsa de casa porque estava gr vida Perdeu o primog nito que faleceu por consequ ncia da prematuridade Se
96. a ordem da consci ncia mas por serem metaf ricos enunciam conte dos que n o s o notados pelo narrador Ao construir a narra o o sujeito diz o que pensa em dizer e desvela o que n o sabe sobre seu espa o social O sujeito narra supondo falar em discurso pr prio mas seu discurso se fundamenta nas trocas sociais que ele estabelece com o outro o sujeito faz refer ncia ao discurso do outro seu grupo social Em s ntese o discurso que expresso como particular o discurso pr prio do sujeito denuncia na narrativa de sua hist ria vivida o campo sociocultural e suas formas de produ o das pr ticas cotidianas DE CERTEAU 2000 CASTORIADIS 2007 Portanto a experi ncia vivida pelas usu rias e pelos profissionais de sa de no contexto hospitalar foi entendida como uma pr tica relativamente individual ou seja pr tica igualmente coletiva 3 2 Contexto de investiga o AMUL foi escolhida como participante da pesquisa por ser uma Organiza o social do setor hospitalar voltada ao ensino pesquisa e extens o comunit ria contratualizada pelo Minist rio da Sa de Desse modo uma Organiza o que aprimora cada vez mais seus investimentos t cnico cient ficos garantindo seu perfil de hospital humanizado amigo da E Informa es colhidas nos documentos de publica o e no censo interno da AMUL crian a e amigo da mulher Levou se em conta na escolha pela Organiza o tamb m o fato deste hosp
97. a paciente NORmal sem ser de alto risco Eu tenho medo porque isso um neg cio perigoso ai pr meu transtorno ontem escutei uns gritos a mo a tinha morrido justamente disso hipertens o ai pronto eu fiquei mais nervosa ainda 118 Nesse contexto surgia o sentimento de n o perten a como um recurso inconscientemente que elas utilizavam para se defender de sua realidade cl nica No exemplo abaixo Atalanta fala da gravidez de alto risco como se n o estivesse vivendo a Atalanta Gravidez de alto risco deve ser ruim n o deve ser bom Deve ser muito triste saber que vai passar por uma cirurgia e que t arriscado E isso aparecia disfar ado na pouca clareza das usu rias sobre sua realidade cl nica Atalanta A diabetes de alto risco N o eu nem imaginava Helena Ser que eu to com alto risco mesmo Foi contradit rio que elas n o soubessem que seu problema cl nico era de alto risco pois a leitura dos prontu rios e a observa o de campo somadas an lise dos relatos de viv ncia evidenciaram que os profissionais de sa de informavam diariamente a todas as oito gestantes desta pesquisa sobre o estado de sa de gestacional delas Pode se at contra argumentar que h uma diferen a entre receber uma informa o e compreend la principalmente em se tratando de pessoas de universo sociocultural distintos como os m dicos e as usu rias da AMUL Ainda assim
98. a um parto ces reo Que me livrasse daquela dor que eu n o queria sentir A equipe tentaram com um comprimido sem sucesso Quando voc tem uma probabilidade de funcionar dois comprimidos tr s no m ximo E o meu foram seis pr l Nenhuma colicazinha eu senti Eu dizia ai Meu Deus agora vai N o poss vel N o deixa n o Jesus deixa n o Eu pedia a Deus como uma m e pede alguma coisa desesperadamente a um filho quando ele t no caminho errado e que ele saia Eu dizia Jesus n o vai funcionar N o vai funcionar Ai eles olhavam Ah Gra as a Deus t fechado Eita vamos botar mais um A m dica disse que s era cinco ainda VEIO outro vamos tentar botar o sexto Esse quem sabe esse Eu digo N o Ai Jesus s falta mais um Eu comecei a pedir pedir pedir Ele me ouviu t vendo Foi falha de indu o eles botaram O conjunto dessas a es talvez estivesse relacionado ao arbitr rio cultural da maternidade que parecia circular nas a es da equipe de sa de Embora percebesse o sofrimento das usu rias parecia focar sua pr tica de sa de na dimens o materna como dito por Helena assim nem sempre compreendendo as ambiguidades afetivas das gestantes Hamadr ade Tem umas pacientes como Demetra superdif cil Diferente de outra paciente que s pensa no beb porque quando a gente t gr vida a gent
99. aber cient fico est em fun o da vida devendo favorecer alternativas de a es sociais cabendo ao pesquisador falar como cidad o Nesse contexto foi observada a interpenetra o dos tr s n veis de engajamento a fim de n o incorrer na descaracteriza o de sua pr tica cient fica A implica o da pesquisadora se concentrou no estado de fus o dos tr s n veis estando a mestranda envolvida do ponto de vista sist mico e libidinal Mesmo assim houve momentos tensos entre a implica o hist rica existencial e a estrutural profissional Por quest es particulares sua carreira a vida no trabalho e na pesquisa delimitaram pontos contradit rios E isso acabou edificando sua rela o com a AMUL saiu de um lugar 100 supraidealizado para o que uma idealiza o consciente somente constru da quando a posi o cient fica lhe fez experimentar intensamente uma ambiguidade afetiva Os dados tamb m promoveram momentos opositores entre o segundo e o terceiro n vel aos revelarem problem ticas contrastantes da filosofia profissional da mestranda Em certas ocasi es ela chegou a interferir no contexto social pesquisado alterando o guiada pela fus o dos dois primeiros n veis Como exemplo disso no segundo relato de viv ncia de Demetra ela estava em crise psicol gica apresentando infantilismo porque n o via seu beb desde o parto estando o neonato sob cuidados intensivos e a m e na Sala de Pr parto aguar
100. ado entre a norma social e sua antinorma Isso explica a forma o de grupos organizados em que os membros tra am um objetivo em comum e lutam juntos para alcan lo focando as causas coletivas constru das num ambiente de autonomia De maneira semelhante Morin 1990 pensa a autonomia como um fen meno que depende de condi es socioculturais e da apropria o da linguagem realizada pelo sujeito Afirmou que a autonomia exercida pela compet ncia do sujeito em tomar decis es conscientes sobre a pr pria vida em negocia o com sua coletividade E observou a contrapartida enquanto o sujeito se disponibiliza a negociar com o social preciso que este tenha condi es de agenciar as negocia es Nessa linha de racioc nio Foucault 2008 argumenta que a sociedade controla o sujeito assumindo sobre o mesmo uma for a global de repress o dificultando que ele fale em nome pr prio e consiga questionar o sistema de poder centralizador A l gica do poder social minimiza a for a pol tica do sujeito tornando o d cil aos interesses da sociedade A disciplina ent o aparece como um dispositivo de controle das a es humanas sem impedir que o homem produza a pr pria realidade Sendo assim o sujeito um transmissor do poder deixando se dominar mas tamb m resiste s imposi es sociopol ticas e isso permitido em uma medida que n o esgote as for as do sistema dominante Essa problem tica permite questio
101. ados Foi observado que esse grupo de gestantes requer um tratamento mais especializado pois alguns dos casos n o se dissolvem na assist ncia prim ria mas demandam a es complexas dos n veis secund rio ou terci rio com equipe multidisciplinar 1 Ver Ap ndice A sobre Fatores de Riscos Gesta o de Alto Risco 124 u Xani Vide Introdu o p 16 Nesse sentido nasceu em 1998 o Mecanismo de Apoio Implanta o dos Sistemas Estaduais de Refer ncia Hospitalar Gestante de Alto Risco buscando se uma moderniza o no atendimento demanda das gestantes Foram criados centros de refer ncia secund rios e terci rios em cada estado brasileiro organizando e hierarquizando os n veis de complexidade em aten o a tais gestantes Esses servi os possuem tais estrat gias pol ticas e de gest o a servi o de pr natal e de planejamento familiar b postura de escuta e acolhimento nas a es c informatiza o dos servi os de informa o d moderniza o da central de vaga e de sistema de regula o e comit de mortalidade materna e neonatal f garantia de equipamentos m dico hospitalares espec ficos e seus materiais permanentes g amplia o de leitos em UTI neonatal pedi trica e adulta al m de unidades intermedi rias de ber rio h mecanismos de monitoramento e avalia o permanentes i implanta o ou implementa o de Casa das Gestantes de Alto Risco como recurso facultativo de apoio s nec
102. adro de alto risco grav dico as usu rias ficavam em estado de choque e com sentimento de inferioridade vendo se uma estranha entre as mulheres E se reconheciam fragilizadas psicologicamente por essa raz o Demetra Foi uma coisa chocante Hera Quando o m dico disse que eu tinha tero bicorno eu me senti arrasada diferente das outras mulheres Ent o isso abaixou muito minha autoestima Voc fica transtornada N o f cil saber que tem uma gesta o de alto risco Isso meche com o psicol gico da gente Deste modo elas experimentavam um medo de morte sofrendo por antecipa o preocupadas com a pr pria sa de a sa de do beb e sua din mica familiar principalmente quando a realidade Organizacional denotava os perigos reais de uma gravidez de alto risco Hera A gente curte mas fica com aquele medo de que possa vir a acontecer alguma coisa Art mis Ser que eu vou perder esse beb ALTO risco ai eu s pensava besteira que eu ia perder ou ent o que ia nascer com probleminha Pala Eu penso muita coisa sorri e enxuga as l grimas Penso de morrer e deixar meus fi Muita coisa mesmo passa em minha cabe a voz de choro Mas alguma vez a m dica j te disse que teu problema traz riscos de morte Nunca Che gou a falar mai com certeza corre n sil ncio Com certeza corre muito risco tom de voz baixo Reia Sou paci ente grave n Se eu fosse um
103. agem se voc tiver um plano Assim foi definida uma rela o de cuidado centrada no parto normal n o na usu ria que passou a assumir uma posi o de sujei o Fiquei na minha Todavia o beb acabou lutando contra as imposi es da realidade quando ela puxava ele descia mas na mesma hora ele subia como se fosse sair pela boca Ao que indica o relato m e e beb n o estavam prontos para a viv ncia de parto normal devido s fantasias anteriormente constru das acerca do parto do beb e da sa de da mulher Mas n o podemos tomar esse exemplo como nico distintivo da conduta da 145 equipe na Sala de Pr parto pois outras usu rias desta pesquisa se sentiram fortalecidas nesse setor justamente pela postura acolhedora da equipe Como H racles diz Her cles N o que a gente s fa a o parto normal a todo custo A gente primeiro tenta o parto normal e se a gente avaliar que tem que ser ces reo que n o h condi es da paciente ter o beb normal dependendo das condi es dela a gente faz a cesariana imediatamente Os dados possibilitaram perceber ainda que a Sala de Pr parto da realidade funcionasse exatamente como a Sala de Pr parto idealizada as usu rias viveriam ainda assim apavoradas por causa do simbolismo dado pr pria experi ncia de parto No entanto as press es institucionais vividas pela AMUL pelos profissionais de sa de em efeito domin pelas usu
104. alidade a partir das interioriza es simb licas que o social lhe obriga a fazer involuntariamente Isso seria a viol ncia simb lica e o te rico exemplifica que o Estado o detentor do monop lio de uma viol ncia simb lica leg tima XVII IDEOLOGIA Sistema de representa o articulado sistema de valores por aqueles que det m o poder Tem o poder de persuas o produzida pela institui o a fim de ocultar suas ambiguidades A ideologia tem a fun o primordial de garantir a domina o permitindo a um complexo Organizacional ocupar lugar leg timo e significativo na vida de seus integrantes Cf Pag s 1993 produto e produtora das sociedades hist ricas d coer ncia s condutas humanas medida que repetida e interiorizada Cf Enriquez 1997 Ex de ideologia a filosofia de uma Organiza o XVIII PROJE O mecanismo de defesa inconsciente atrav s do qual os atributos pessoais sentidos como insuport veis consci ncia s o atribu dos ao outro XIX IDENTIFICA O um dos conceitos fundamentais em psican lise a identifica o situa o entre o indiv duo e seus la os sociais Em Psicologia das massas e an lise do eu Freud explica este conceito como a manifesta o do primeiro la o afetivo entre o beb e a m e A 180 partir desta identifica o prim ria marcada pela simbiose etapa fundante para a constitui o do eu ideal Freud demais processos de identifica es do s
105. almente d o sistema de internamento social algumas usu rias n o apresentavam necessidade cl nica de internamento hospitalar mas suas condi es socioecon micas a colocavam em situa o de vulnerabilidade com alto risco sa de gestacional de modo que a equipe m dica optava por manter a gestante hospitalizada sob um enfoque preventivo e uma no o de sa de ampliada e a permiss o de visita do pai do beb fora do hor rio padr o de visita familiar o hor rio de visita do companheiro da usu ria era individualizado coerente com as condi es de visita o dele f a garantia de perman ncia da m e junto ao beb a AMUL contava com a Casa das M es que de car ter facultativo nas normas al m disso a Enfermaria de Infectados e o Alojamento Conjunto davam suporte quando a Casa estava lotada Neste t pico tem tico constatou se que a AMUL investia na qualidade da assist ncia voltada Sa de da Mulher e que algumas das usu rias apresentaram certa autonomia no seu direcionamento Unidade de Refer ncia Por outro lado for as de depend ncia atuavam no processo de autonomiza o sejam geradas pela pr pria AMUL ou pelo arcabou o psicossocial das gestantes Portanto vale aprofundar essa ambiguidade enquanto uma caracter stica associada aos dom nios de acesso e acessibilidade do sistema Esse aprofundamento ser desenvolvido atrav s da an lise da trajet ria de hospitaliza o das usu rias na AMU
106. amentos e levantar quest es Tamb m sou grata por sua dedica o cordialidade delicadeza sensibilidade e disposi o s usu rias e aos profissionais de sa de deusas ninfas e her i que se disponibilizaram a compartilhar comigo afetos e ideias confiando me hist rias preciosas que me levaram a novos saberes e garantiram o conte do deste estudo E ao hospital que aceitou participar da pesquisa s tocoginecologistas que apoiaram o estudo no processo de anu ncia Aos amigos que me estimularam a concorrer vaga de mestrado Tha s Lins Ed lvio Leandro Telma Avelar Luiz Felipe e Z lia Alves Thais sua companhia nas leituras de Maturana fez a diferen a em meio s coloca es cordiais e incentivadoras de Dona Tereza Lins Ed lvio sou grata pelas palavras de reanima o pelo seu bom colo amigo desde as origens 1 per odo de gradua o aos ltimos par grafos desta disserta o at os pr ximos cap tulos de minha hist ria de vida Telma professora maternal orientadora e amiga minha gratid o a voc peculiar por ter apresentando me o Maravilhoso Mundo da Pesquisa em Psicologia De igual modo ao GEOP UFPE Grupo de Estudos e Orienta o Psicopedag gica pelas pesquisas que desenvolvemos no passado Duplamente a Luiz Felipe meu anjo protetor e Z lia Alves preciosos amigos Voc s me propiciaram nas discuss es psicanal ticas e nos jantares inigual veis beira m
107. ante enquanto folheava uma revista de cosm ticos Percebendo esta din mica a m e se recusou a estabelecer qualquer outro di logo com a pesquisadora apesar das tentativas de reaproxima o Representa o Gr fica 01 Fluxograma de capta o dos participantes na execu o da EGAR Identifica o dos atores socias usu rias acompanhantes equipe de sa de burocratas voluntariado e pesquisadora PROFISSIONAIS DE SA DE Crit rios de Inclus o e Exclus o diversidade disciplinar identifica o em prontu rio observa es de campo USU RIAS Crit rios de Inclus o e Exclus o M dica staff orientou na leitura do prontu rio hospitalar N o Eleg veis Eleg veis n o quantificado 12 N o Eleg veis Eleg veis Aceitaram Recusaram Recusaram E ici Aceitaram co oo participar participar 08 04 Termo de Termo de Consentimento Livre e Consentimento Livre Esclarecido e Esclarecido Perdas de Desist ncia a dados 01 Usu rias da 07 Profissionais de sa de da pesquisa 08 pesquisa 08 3 4 O perfil dos participantes 3 4 1 Usu rias Oito usu rias participaram do estudo reconhecidas aqui pelos seguintes codinomes a fim de preservar sua imagem Atalanta Artemis Demetra Helena Hera Nik Pala e Reia A hist ria de vida de cada uma ser descrita no pr ximo cap tulo Por ora ilustra se na Tabela 01 sua caracteriza o sociodemogr fica e hist ria cl nica
108. antes nessa din mica Para compreender isso entrei em contato com as teorias de Max Pag s 1993 e Eug ne Enriquez 1997 que desenvolveram estudos na linha da An lise Institucional de orienta o psicanal tica Esses autores entendem que estudar os fen menos sociais da Organiza o requer um olhar que articule o sistema social e o sistema ps quico incluindo aquilo que est evidente e o que est impl cito em sua din mica Percebi esta orienta o psicossociol gica como apropriada para se investigar os conflitos do processo de hospitaliza o da mulher em uma circunst ncia peculiar al m de estar hospitalizada encontrar se em alto risco gestacional E me lancei a construir um estudo que promovesse um espa o de fala s usu rias e aos profissionais de sa de Deste modo estive atenta ao fato de que enquanto eles verbalizassem seu cotidiano em nome pr prio expressariam as particularidades da Organiza o hospitalar Nessa trajet ria metodol gica foi necess rio considerar a Pol tica Nacional de Humaniza o PNH que recomenda acolher integralmente a hist ria de cada mulher gr vida a partir do relato que ela traz devendo ser inclu do nesta narrativa o que a equipe de sa de percebe a respeito Tal estrat gia um caminho para reconfigurar a rela o de cuidado em sa de por servir de incentivo para as usu rias se perceberem correspons veis na produ o de sa de BRASIL 2005 Pelo exposto justifica s
109. ao trabalho S no caso de Helena ele relatou seu cotidiano hospitalar por duas vezes no Alojamento Conjunto ocorrendo o segundo relato em per odo de reiterna o daquele Alojamento ap s per odo de hospitaliza o em UTI Obst trica na fase puerperal 8 Esta usu ria recebeu a primeira alta hospitalar no m s de outubro 2009 retornando Maternidade Dia onde ficou at dezembro 2009 Em acordo com a pesquisadora a usu ria permaneceu na pesquisa Por meio de contato telef nico a pesquisadora confirmou a previs o de data do reinternamento sendo seguidamente informada pela usu ria sobre o nascimento do beb E foram constru dos seus ltimos Relatos de Viv ncia Os mesmos descritos nas p ginas 75 e 76 86 A Tabela 04 especifica o n mero de relatos que as usu rias constru ram com a pesquisadora em cada setor Salienta se o relato n o foi produzido nos setores onde a pesquisadora n o chegou em tempo estando os locais indicados na cor cinza Tamb m nos setores onde n o as usu rias n o foram internadas sendo escrito n o admitida Tabela 04 N mero de Relatos de Viv ncia conforme setor da AMUL Servi os da AMUL Usu rias EGAR Salade Salade Alojamento Alojamento SIGO UTI Pr Parto Conjunto Tardio Obst trica parto Atalanta 01 N o N o N o admitida admitida admitida Art mis N o N o N o admitida admitida admitida Demetra N o 01 N o N o admitida admit
110. ar o prazer de refletir a vida atrav s dos Semin rios Lacanianos Sou grata por terem estendido seus bra os brincando de convocar me como mais um na admir vel dupla e entendido minha aus ncia na saudosa mesa de estudos assim que o mestrado se fez realidade reservando meu lugar em suas lembran as como a sua Tati Ao Prof Wilher Nogueira pelas vezes em que nos encontramos por acaso no CFCH reativando as mem rias da gradua o enquanto r amos de meus desesperos no mestrado A Jo o Cavalcanti e Alda Ara jo porque foram atenciosos geis nas informa es e nos processos cordiais pacientes e acolhedores Em destaque pelo estilo alegre de Alda Espero ter sido perdoada pela unanimidade com que interrompi seus hor rios de almo o A Jorge Depto de Sociologia por disponibilizar de modo t o gentil por interm dio do Prof A cio o banco bibliogr fico do N cleo de Cidadania e Mudan a NUCEM sobre o SUS s professoras Dr Jaileila Ara jo e Karla Adri o pelas contribui es na qualifica o refinando o quadro metodol gico da pesquisa Ao Colegiado pelo empenho diante do Curso tamb m pelas avalia es e decis es tomadas com rela o a esta pesquisa Fernanda Pedrinho e Ju Brasilino pela responsabilidade em que nos representar junto ao Programa mantendo a turma informada sobre as decis es do Colegiado Em destaque Fernanda pela atitude tica digna de rever ncia enquan
111. aria de praticar eram algumas vezes dissociados Her cles O que que elas usu rias querem Aten o Mas s vezes a gente n o tem condi es de dar tanta aten o explica uma vez duas vezes tr s vezes Ai a gente desiste e vai ver as outras que est o graves As for as instituintes relacionadas a fatores macrossociais afetavam o exerc cio da humaniza o em AMUL que acumulava bens simb licos e materiais com o objetivo de atender ao que se preconizava como uma pr tica humanizada em sa de A Sala de Pr parto possu a salas espec ficas aos n veis de urg ncia cl nica das usu rias usava m sica ambiente e outra estrat gias para tornar o parto uma experi ncia menos sofrida poss vel A equipe de sa de era formada por profissionais especializados no cuidado a gestantes de alto risco e que abra avam a causa da pr tica de parto normal e humanizado Por m os motivos apontados acima impediam a realiza o do que era idealizado Por efeito as usu rias viviam situa es de sofrimento que seriam evitadas caso o problema macrossocial n o ocorresse Her cles Parto normal humanizado muito bonito de se ver saud vel n s aqui somos defensores do parto normal Hera N o gostei do pr parto Assim n o pelo atendimento dos m dicos Mas em ver muito sofrimento E eu passei por um sofrimento tamb m Como j tava sem vida eu tive que colocar o rem dio pr sair espont neo
112. as rela es humanas Este estudo reconhece tais diferen as principalmente a partir do que acontecia nas rela es de trabalho da AMUL que refletiam um mal estar de um sistema de disposi es As usu rias se posicionavam seguindo o arbitr rio cultural de que com a equipe de sa de n o se pode falar sobre os sentimentos e as emo es j que n o se t m tempo para uma conversa Em paralelo observou se nos discursos dos profissionais diversos conflitos na rela o entre os iguais queixas de persegui es trai es fofocas nos la os interativos Eram pr ticas heteron micas em sa de no sentido de Castoriadis 2007 Ao que sugeriu a an lise institucional realizada neste estudo as dificuldades encontradas na rela o de cuidado da AMUL s o reflexos das mudan as sociais em espec fico das reformula es das pol ticas de Sa de P blica Em outras palavras da contradi o b sica entre o desejo de cumprir o ideal e se ver impedido de realiz lo A rela o de cuidado na pr tica de sa de da AMUL tendia a ser uma rela o de comunica o e de afeto mas que estava impossibilitada de dar abertura autonomia das usu rias Essa evid ncia fez men o ao estilo regulador da AMUL tanto em rela o s m es quanto aos profissionais de sa de A Unidade de Refer ncia possibilitava uma autonomia relativa aos profissionais estando ela mesma orientada pela ordem do simb lico quanto aos ideais em sa de o SUS A AM
113. asias de morte e o sentimento de culpa Entender os aspectos psicol gicos relacionados s viv ncias maternas possibilitou compreender em paralelo seu fundamento sociol gico Este primeiro n vel de an lise constatou que as gestantes de alto risco davam entrada na AMUL 120 angustiadas pelo modo como sua maternalidade vinha sendo constru da de maneira que seu contato com a Unidade de Refer ncia fazia um apelo aos cuidados org nicos de mesmo modo a um fortalecimento emocional no sentido de reposicion las diante de sua gravidez e do futuro beb Era mesmo preciso compreender o que havia de singular nas narrativas das usu rias tomando as pr prias gestantes de alto risco como ponto de partida para melhor investigar a rela o de cuidado no hospital dessa maneira foi poss vel pensar diferentemente o segundo n vel de an lise que se inicia abordando as quest es sociopol ticas em torno do lugar que a gestante foi ocupando na AMUL 5 2 SEGUNDO N VEL A inscri o das usu rias nos servi os da AMUL Os estilos de inscri o das usu rias dizem respeito ao n vel s cio hist rico desta an lise Eles s o discutidos aqui atrav s da dial tica mantida no acesso ao servi o na acessibilidade do servi o e nas tend ncias psicossociol gicas da trajet ria de hospitaliza o dessas m es Juntos os tr s temas denotaram o contexto da rela o de cuidado tamb m seus efeitos Segue se com a caracteriza o do aces
114. asil teve sua origem na encruzilhada entre a hegemonia das parteiras e a hegemonia m dica sob a influ ncia europeia revelando se tamb m aqui as tens es entre o saber cient fico e o popular em sa de Para melhor entendimento vale apontar antes um pouco da hist ria das Organiza es de sa de no Ocidente As primeiras pr ticas ocidentais de assist ncia sa de foram realizadas por civiliza es antigas antes de Cristo no formato de aux lio a enfermos e desamparados com tratamentos gratuitos e de fundamento religioso H registros de que Mois s legislador do povo Hebreu ampliava suas orienta es interferindo na higiene individual familiar e comunit ria prescrevendo nos casos de doen as contagiosas mas tamb m com instru es voltadas s mulheres durante a menstrua o gravidez e ao puerperio CAMPOS 1944 Das primeiras civiliza es n o h registro sobre complexos hospitalares Uma das primeiras dessas organiza es foi descrita por Her doto ao se referir a mercados p blicos onde doentes informavam suas doen as popula o recebendo dela sugest es de cura Na Gr cia Antiga o primeiro hospital foi um templo religioso Diante do grande n mero de enfermos que iam ao local pedir cura a Deus sacerdotes reformaram a estrutura f sica para melhor acolher os doentes dispondo fontes de guas terap uticas no novo espa o ibid E o conhecimento m dico da Antiguidade foi guardado nos mosteiros medievais a
115. auto organiza o de cada um desses discursos Em rela o de liga o expl cita insinuam tamb m a expectativa de um projeto voltado sa de mental do profissional de sa de e s suas rela es de trabalho Por ltimo expressamos ser este trabalho cient fico um investimento situado no tempo e no espa o pois as conclus es n o s o fechadas Sua contribui o na pr tica de sa de est em salientar a import ncia de que a rela o de cuidado com as gestantes de alto risco seja repensada pelos profissionais de sa de E no campo acad mico pode contribuir com a percep o de que a An lise Institucional de fato uma perspectiva apropriada para se analisar diferentes realidades sociais como foi a escolhida neste trabalho REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS ALMEIDA Marizabel O sil ncio em psican lise Trabalho apresentado no caf da manh Escola Lacaniana da Bahia 18 de agosto de 2007 Dispon vel em www elb br org Acesso aos 09 08 2010 s 13 57h ALVES MAZZOTI Alda Judith GEWANDSZNAYDER Fernando O m todo nas ci ncias naturais e sociais Pesquisa quantitativa e qualitativa 1 ed S o Paulo Thomson Pioneira 1998 ANGERAMI CAMON Valdemar Augusto Psicologia hospitalar pioneirismo e as pioneiras O doente a psicologia e o hospital S o Paulo Pioneira Thomson Learning 1995 p 01 27 VILA Maria Bet nia Direitos sexuais e reprodutivos desafios para as pol ticas de sa de In Cadernos de Sa
116. autonomia das usu rias em escolher a AMUL e a depend ncia delas para com a Organiza o Uma depend ncia desencadeada por fatores estressores relacionados a sua produ o de sa de s experi ncias pr vias e constru o de sua maternalidade Nesse conjunto era mediada por elementos desagregadores o reconhecimento da Unidade era vivido por Reia como reativa o de uma experi ncia dolorosa e que acusava o risco de seu fracasso ou por elementos agregadores Helena procurou a Unidade porque entendia que esta praticava a humaniza o em Sa de Por outro lado o estilo de admiss o interferia decisivamente no posicionamento da gestante de alto risco dentro da AMUL Quando Art mis saiu da Emerg ncia Obst trica e foi direcionada Sala de Pr parto por motivo de n o haver vaga em EGAR essa transfer ncia se deu de maneira que a usu ria sentiu se desprotegida e desprovida de autonomia Art mis A primeira impress o eu disse meu Deus do C u eu vou ficar presa aqui dentro Primeiro quando eu entrei ela funcion ria disse logo 125 n o entra isso n o entra aquilo nem celular entra nem nada Ai eu fiquei agoniada aqui dentro deste hospital que n o conhe o ningu m Essa descri o de Art mis aponta que apesar das condutas da AMUL em cumprimento s recomenda es da Pol tica de Humaniza o escapava tamb m a esta Organiza o a es impregnadas de uma pr tica tradicional na assist
117. avam atuando como Fz e Fs por m o apoio que as pu rperas recebiam da equipe foi capaz n o apenas de minimizar os desconfortos delas no ambiente hospitalar como lhes permitiu concluir sua trajet ria de hospitaliza o com uma ideia positiva sobre a AMUL como se percebe nas falas de Nik comparando se seu primeiro e ltimo relato Nik no primeiro relato Eu fiquei t o desesperada quando soube que vinha para a AMUL Depois eu disse n o l deve ser bom E logo no primeiro dia que eu cheguei ela enfermeira veio conversou comigo sabe me deixou mais calma o que mais te acalmou Quando ela disse a mim que eu n o me preocupasse que eu aqui ia est sendo bem acompanhada que qualquer coisa que acontecesse eles estavam aqui para se responsabilizar n Foi Ela disse assim n o fique nervosa se voc ficar nervosa pior se acalme n o se preocupe a gente ta aqui Elas s o muito atenciosas aqui Nik no ltimo relato Me cansou um pouco suspiro o que eu venho passando a minha trajet ria Uma coisa em cima da outra Nessa trajet ria qual a imagem que fica pr voc do hospital Que foi bom eu tenho uma imagem boa do hospital Se algu m falar agora eu vou poder dizer assim n o um hospital bom pr gestante pr crian a esta parte eu conhe o Foi tudo muito bom aqui b Tend ncia Oscilante
118. b licos dos la os interativos Trata se da amplia o da no o de sa de abrangendo alimenta o moradia saneamento b sico meio ambiente trabalho renda educa o transporte lazer acesso a bens e servi os essenciais Lefevre e Lefevre 2004 acrescentam que esta nova l gica nega a dualidade simpl ria entre sa de doen a A doen a passa a ser entendida como uma den ncia dos desarranjos sociais agindo na dial tica com a sa de devendo a patologia ser socialmente enfrentada com medidas de cuidado pluralista Em suma a coletividade foi acionada de maneira que a sa de se torna um fen meno poliss mico resultante da articula o entre o org nico o psicol gico e a participa o pol tica Sendo assim a Declara o Universal dos Direitos Humanos imprimiu um conceito renovado de sa de que seguidamente apareceu na Constitui o brasileira Art 196 A sa de direito de todos e dever do Estado garantido mediante pol ticas sociais e econ micas que visem redu o do risco de doen a e de outros agravos e ao acesso universal e igualit rio s a es e servi os para sua promo o prote o e recupera o REP BLICA BRASILEIRA 1988 E a Lei Org nica 8 080 de 1990 entende sa de como de responsabilidade p blica envolvendo a autonomia das pessoas na defesa de sua integridade E isso em termos de assist ncia implica uma pr tica de sa de que considere a condi o humana do outro Essa nova concep
119. belecidas a contradi o geral tema de domin ncia o amore o dio dirigidos AMUL e alguns subtemas Classifica o dos subtemas agrupando os ou diferenciando os s inst ncias econ mica pol tica ideol gica e afetiva Essa classifica o teve com refer ncia a contradi o geral que foi posicionada no centro da folha do gr fico Identifica o de dois tipos de rela o entre os temas ou de liga o concord ncia causalidade ou de contradi o Identificou se ainda se cada rela o era expl cita no discurso ou era impl cita e inferida pela pesquisadora Leitura e reflex o acerca de cada gr fico analisando um a um sendo este momento o in cio do aprofundamento te rico sobre os dados de pesquisa Os gr ficos foram ent o comparados entre si demarcando dois conjuntos de gr ficos os das usu rias e o dos profissionais de sa de E foram comparados aos registros de observa o e aos documentos Para que fique claro o estabelecimento das rela es entre os temas exemplifica se com um fragmento da entrevista de Reia Reia Minha filha pegar uma ficha aqui s Deus Eu vim pr pegar a ficha tinha que chegar aqui cedinho ai pronto S que eu n o sinto esse sintoma hipertens o de l pr c eu j vou pr triagem mais f cil Pr voc pegar uma ficha pr fazer o pr natal muito dif cil aqui Muito dif cil S se for socorrida na AMUL se n o dif cil Ai
120. ca de g nero Por m Hera teve uma viv ncia de atendimento diferente com um m dico que para examinar esta usu ria pediu sua permiss o conversou com a mesma perguntando como ela se sentia emocionalmente Este profissional terminou o atendimento desejando sa de ao beb tamb m m e Por isso ap s a consulta Hera falou ter quebrado o tabu dentro de si e acrescentou Hera ele um tranquilizante foi muito acalmante Como toda rela o composta de ambiguidades os profissionais e as usu rias tamb m experimentavam instabilidades afetivas na rela o de cuidado mas alguns profissionais se dispunham a discutir rela o terap utica o que pareceu positivo Atalanta A doutora nem bom dia ela me dava O sorriso dela o mesmo um sorriso aguado E eu acho que ela n o teve paci ncia comigo hoje Quando ela chegar eu tava at dizendo as meninas quando a doutora chegar amanh eu vou dar as costas pr ela Ou ent o vou sair vou descer pr l pr baixo porque ela me disse uma coisa que eu n o gostei O que N o riso acanhado segredo meu Dias depois Ela vinha eu nem ligava Tu estavas chateada Fooi Ai depois de 3 dias ela veio Ela veio me atender veio ela e outra Ai ela disse como que voc t Atalanta tom risonho depois da nossa chatea o Eu to bem tom s rio Ficou com raiva foi Eu n o E a insulina t tomando Eu
121. cal eu lhe ensino e voc aprende Tamb m chamada de pedagogia autorit ria VIII MORTALIDADE MATERNA Segundo a OMS referendada pela Federa o Internacional de Ginecologia e Obstetr cia a morte de uma mulher durante a gesta o ou at 42 dias ap s o t rmino desta independentemente da dura o ou da localiza o da implanta o do ovo por qualquer causa relacionada ou agravada pela gesta o ou por medidas tomadas em rela o a ela REZENDE 2010 p 1107 IX RAZ O DE MORTALIDADE MATERNA Como dif cil calcular o valor da mortalidade real da mortalidade materna usa se um coeficiente O c lculo uma raz o do n mero de mortes maternas n mero de nascido vivos multiplicado por 100 000 O valor subestimado REZENDE 2010 p 1107 X REDE B SICA DE SA DE Pertence ao n vel prim rio de complexidades em sa de conta com uma assist ncia de unidades como o Programa de Sa de da Fam lia PSF Cf www saude gov br XI BABY BLUES Quadro sindr mico com altera es emocionais da pu rpera indicando um estado depressivo brando e transit rio Acontece em torno do terceiro dia segunda semana p s parto com sinais de fragilidade hiperemotividade altera es no humor inseguran a e sentimento de incapacidade BRASIL 2005 XII DEPRESS O P S PARTO Quadro cl nico severo e agudo um agravamento do baby blues Os sintomas s o tristeza profunda mudan as bruscas de humor indisposi o doen a
122. ceber visita familiar ocorre nisso a nega o da universalidade Assim a totalidade da norma parcial comportando brechas para a desobedi ncia c O momento da Singularidade a concretiza o institucional atrav s da media o entre o institu do e o instituinte enquanto refer ncias abstratas a realidade das institui es sua objetiva o provando que a negativa da norma n o torna invi vel o funcionamento da sociedade Mesmo que as usu rias n o recebam visita familiar o hospital pode encontrar outras estrat gias que minimizem o sofrimento dessas protagonistas como fornecer um corpo de volunt rios para realizar tarefas ocupacionais com as usu rias Na jun o desses momentos percebe se que em toda norma h o que poss vel de ser cumprido a universalidade e o que n o se submete realiza o o descumprido Entende se por exemplo que o sistema de sa de funciona entre o direito social do usu rio e o que possibilidade realizar na esfera social e em particular na esfera p blica A legisla o e as pol ticas em sa de acabam assim n o sendo aplic veis na ntegra na pr tica de sa de por mais que pare am apropriadas realidade diversos fatores sociais pol ticos econ micos culturais que se apresentam como instituintes terminam por minar essa universalidade Ainda assim a exce o da norma viabiliza a a o de elementos que ir o mediar formas sociais singulares como
123. cionar minha gratid o aos meus anjos do mestrado Rafa obrigada pelos estudos parceria encorajamento Paula agrade o as visitas na minha casa a postura prestativa e paciente os palpites as palavras de for a e f por ter aberto docilmente a porta de sua resid ncia com aqueles bons lanches de final de tarde junto com sua poodle e compartilhado comigo nossas reuni es de Orienta o Eu pude contar muito com sua presen a at mesmo na revis o textual deste trabalho Tinha que ser voc fomos verdadeiramente duas irm s na rela o com nosso orientador Ludmila Sousa pela cumplicidade e pux es de orelha na reta final do mestrado foi confortante nossa identifica o Lud Guardo comigo seus c micos telefonemas recoberto por seu particular senso de humor e mais do que isso sua disposi o a fazer o bem s minhas chefas de trabalho porque compreenderam minhas necessidades de mestranda Andrea Escheverria Deborah Foinquinos Dra Geisy Lima Dra Tarciana Duque Em especial a minha chefa Yara Alencar pelo apoio significativo na ltima fase deste trabalho Mais ainda Deborah Foinquinos por suas supervis es cl nicas no come o do mestrado suas delicadas e acertadas interven es ressoam em mim como inspira o e ideal pela disposi o a ajudar levando me a um dos cl ssicos de Eug ne Enriquez amiga de trabalho Janaina Viana pelas renegocia es quanto s nossas tarefas na assist ncia neona
124. cos e materiais dos grupos Os grupos e as classes sociais mant m rela es de for a a partir do sistema de arbitr rios culturais que eles mesmos definem Cf Bourdieu e Passeron 2009 XXXV BODE EXPIAT RIO Aquele que assume no grupo o papel de culpado respons vel em err ncia Por outro lado esse bode expiat rio age em fun o do grupo representando aquilo que o grupo tem de mais agressivo e por n o suportar reconhecer em si mesmo escolhe inconscientemente algu m que se dispunha a faz lo E no plano da realidade o bode o bandido da hist ria Cf PICH N RIVIERE O processo grupal 7a ed S o Paulo Martins Fontes 2005 XXXVI SIL NCIO Do latim silentiu substantivo masculino 1 estado de quem se cala 2 priva o de falar 3 interrup o de correspond ncia epistolar 4 taciturnidade 5 interrup o de ru do calada 6 sossego calma paz 7 sigilo segredo 8 aqui como interjei o para mandar calar ou impor sossego Cf FERREIRA Aur lio Buarque de Holanda Novo Dicion rio Aur lio Rio de Janeiro Nova Fronteira 1988 AP NDICES AP NDICE A Fatores de Riscos Gesta o de Alto Risco Z O funcionamento biopsicossocial da mulher inevitavelmente alterado no proce gestacional A gesta o tem um desenvolvimento fisiol gico mas ela implica condi es de risco sa de da mulher e do feto O MS entende que toda gesta o de risco mas as diferencia em gravid
125. cutar tanto a usu ria quanto os profissionais de sa de seria um caminho eficaz para analisar em seus discursos as contradi es dial ticas da rela o de cuidado que estabeleciam no cotidiano da AMUL a Unidade de Refer ncia estudada As narrativas desses atores sociais foram estudadas como Como dito no primeiro cap tulo desta disserta o p x este um conceito trazido por Minayo 2006 o significado do codinome foi exposto na fundamenta o te rica Vide nota de rodap p 62 uma constru o sociol gica com foco no ciclo de vida hospitalar de cada um e nas subjetividades de seu grupo social incluindo suas incompletudes contradi es e ambival ncias Assim buscamos manter coer ncia com o Paradigma da Complexidade que entende o corpo individual como um espa o de inscri o do social ao expor os limites coletivos e o imagin rio dos grupos Importa esclarecer que optamos pelo uso de narrativas porque elas apresentam a vantagem de ser inerente vida humana pois o homem tem a necessidade de narrar hist rias recordar acontecimentos organiz los ao construir sua vida individual e coletiva Eis o motivo das narrativas h muito serem empregadas enquanto m todo de investiga o por v rios saberes como psicologia e ci ncias sociais QUEIROZ 1991 BAUER 2005 Principalmente nossa escolha pelas narrativas partiu da ideia de que a a o de relatar complexa os relatos surgem como uma express o d
126. da justificando a doen a pela neglig ncia materna quanto aos h bitos alimentares da filha E passou a superproteger Art mis construindo com a mesma uma rela o de heteronomia No geral elas se tornaram c mplices no tratamento e sua m e se dedicou exclusivamente filha Nesse percurso como se a protegesse e punisse proibia Art mis de engravidar A m e de Art mis usava a diabete para coibir o poder de escolha da filha sobre o pr prio corpo Segundo a usu ria a rela o materna ficou intoler vel Aos 19 anos de idade cinco anos ap s sua menarca Art mis estabeleceu a primeira rela o sexual e fugiu de casa com o namorado um agente de sa de O casal residia em casa de aluguel de alvenaria com dois quartos saneada e abastecida por energia el trica e hidr ulica Sua renda era de um sal rio m nimo somada ajuda financeira da fam lia s escondidas os dois compactuavam da vontade de ter um filho Art mis dividia se entre atender s imposi es da m e e ao pr prio desejo materno al m de almejar satisfazer o companheiro Ela convivia com as amea as da m e Art mis n o deveria engravidar sen o morreria Nesse jogo engravidar era romper o pacto materno e assim cortar seu pr prio cord o umbilical j que se sentia sufocada na rela o simbi tica com a m e O casal negava socialmente sua vontade de ter um filho e n o se preveniam Engravidaram negando que tivessem planejado o beb O pai ficou feliz com
127. da trajet ria de hospitaliza o das usu rias desse modo contribuindo com os posicionamentos das m es nos servi os da AMUL assim com o estilo do engajamento delas na sua produ o de sa de 5 2 2 5 1 Foco na usu ria Os t picos tem ticos anteriores descreveram comportamentos sociais em que o foco parecia est no parto normal n o na usu ria E essas a es n o eram gerais pois tamb m existiam na AMUL condutas diferentes acolhedoras e focadas na usu ria com a preocupa o de tranquiliz las e esclarec las sobre sua sa de como disse Pegeia Mesmo assim as usu rias tinham a expectativa de algo a mais como insinuou Helena Pegeia Eu sempre explico para as pacientes as complica es que podem surgir elas sabem tudinho a gente explica tudo pr elas Helena As pessoas aqui lhe compreendem Acho que n o A equipe muito gente boa mesmo s o competentes atenciosos conversam com a gente n mas n o sei O mas n o sei sinalizava algo de n o dito e n o vivido No geral as entrelinhas do discurso das usu rias sugeriam a expectativa destas serem escutadas na condi o de 148 mulher n o apenas em sua condi o materna Helena mesmo se queixou de que a assist ncia em sa de na AMUL era focada na sa de do beb e n o simultaneamente na sa de da mulher N o se sentia alvo da pr tica de cuidado mas uma coadjuvante Helena A assist ncia muito grande pr crian
128. dados da entrevista tamb m servindo para melhor contextualizar a realidade estudada assim objetivando uma melhor compreens o do campo social em que se estabelecia o cotidiano hospitalar das gestantes Foi escolhida a observa o participante por ser um dispositivo que tende a minimizar problemas advindos da presen a do observador como um estranho e garante o crit rio interacional da pesquisa BOURDIEU 1998 MINAYO 2006 Com a permiss o dos atores sociais envolvidos a pesquisadora integrou se s cenas observadas ao participar de atividades ocupacionais corriqueiras rotina do setor conforme o interesse circunstancial das usu rias envolveu se em jogos interativos tal qual o jogo de domin assistiu TV com as mesmas ou apenas ficou conversando com algumas delas na mesa de atividades do grupo de volunt rios do hospital Baseando se em De Certeau 2000 a pesquisadora fez uso de protocolo observacional descritivo dos acontecimentos Anexo B elegendo se para cada descri o uma cena situacional Ao total foram registrados 29 epis dios do cotidiano hospitalar conforme lista em Anexo C E os registros tiveram como foco as intera es gestante de alto risco gestante de alto risco gestante de alto risco profissional de sa de e profissional de sa de profissional de sa de 3 5 3 A coleta documental A coleta documental incluiu os dispositivos burocr ticos para encaminhamento da trajet ria terap
129. dando vaga na enfermaria A pesquisadora ent o interrompeu o relato de viv ncia e levou a usu ria at a UTI Neonatal Vale dizer foi inevit vel pesquisadora promover apoio psicol gico em algumas circunst ncias da constru o dos dados pois a pesquisa inclu a atores sociais em condi es vulner veis do ponto de vista emocional gr vidas de alto risco hospitalizadas Mesmo assim quando o fez ela n o perdeu de vista os pormenores investigativos O que acontecia que os protagonistas desta pesquisa criaram uma rela o de troca multidimensional As gestantes e os profissionais de sa de reconheceram o espa o de desabafo e de acolhimento durante as entrevistas E a pesquisadora tamb m foi pega por efeitos terap uticos no processo do estudo E nesse clima de troca informou equipe de sa de sobre a necessidade de algumas usu rias obterem apoio psicol gico hospitalar Pelas implica es descritas as produ es dessa pesquisa ganhou transitoriedade como solicitaram Ferreira Calvoso e Gonz les 2002 evocou uma verdade contextualizada nas conting ncias que qualificaram o momento dessa produ o cient fica Os interesses e os desejos da mestranda dialogaram com o problema de pesquisa influenciando a representa o da realidade pesquisada e resultando dela Segundo Morin 1990 n o h objeto que se identifique com a realidade sem a interfer ncia do sujeito de modo que as pr ticas de objetiva o englobam o conh
130. de E suas rea es relacionavam se aceitabilidade do parceiro com rela o paternalidade exceto no caso de Art mis que sua rejei o pareceu ter rela o direta com o modo como a usu ria convivia com a diabetes mellitus Somente Demetra n o apreciou de imediato o sexo do filho A amostra somou um total de dois beb s do sexo feminino e seis do masculino A via de parto de Nik Pala e Reia foi normal enquanto as demais vivenciaram a cesariana Acrescenta se que todos os beb s nasceram vivos e que dois deles precisaram de suporte da Unidade Canguru dirigindo se da sala de parto UTI Neonatal o beb de Hera e o de Nik Atalanta 5 3 0 AMUL Aceita o Aceita o Ces rea 1 0 0 Unidade B sica Felicidade Rejei o Ces rea Demetra 2 0 1 AMUL Felicidade Nega o medo Ces rea Helena 1 0 0 AMUL Aceita o Felicidade medo Ces rea 2 0 1 AMUL plano de sa de Medo Medo Ces rea 2 0 1 Unidade B sica Felicidade Felicidade Normal 10 7 2 AMUL Aceita o Aceita o Normal 3 2 0 Maternidade de baixo risco Felicidade Desespero Normal 3 4 2 Profissionais de Sa de Os oito profissionais receberam os seguintes nomes fict cios Dafne H racles Dr ade Hesp ride Hamadr ade Napeia Nereida e Pegeias Foram um m dico obstetra uma nutr
131. de P blica Rio de Janeiro vol 19 n 2 2003 p 465 469 Dispon vel em www libertadeslaicas org mx Acesso aos 01 06 2008 21 29h BACHELARD Gaston Forma o do esp rito cient fico Rio de Janeiro Contraponto 2002 BADINTER Elizabeth Um amor conquistado O mito do amor materno Tradu o Waltensir Dutra Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 BARBIER Ren Pesquisa a o Institui o educativa Tradu o Estela dos Santos Abreu Rio de Janeiro Jorge Zahar 1985 BAPTISTA Adriana Said FURQUIM Patr cia Maria Enfermaria de obstetr cia In BAPTISTA Makilim Nunes DIAS Rosana Righeto Psicologia hospitalar teoria aplica es e casos cl nicos 22 ed revisada e ampliada Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2010 p 154 175 BAUER Martin Entrevista Narrativa In BAUER Martin GASKELL George Pesquisa qualitativa com texto imagem e som Um manual pr tico Petr polis Vozes 42 ed 2005 p 91 111 BONET Octavio et al Situa o centrada rede e itiner rio terap utico o trabalho dos mediadores In MARTINS Paulo Henrique PINHEIRO Roseni Org Avalia o em sa de na perspectiva do usu rio abordagem multric ntrica Rio de Janeiro CEPESC IMS UER Recife Editora Universit ria UFPE S o Paulo ABRASCO 2009 p 241 50 BOTEGA Neury Jos Rea o doen a e hospitaliza o In BOTEGA Neury Jos Org Pr tica psiqui trica no hospital geral Porto Alegre ArtMed 2006 p 43 59 BOURDIEU
132. de a car A renda familiar era de um sal rio m nimo resultante do servi o no canavial Tinha sete filhos vivos todos do sexo masculino mas sofreu dois abortos ao longo de suas viv ncias gestacionais A usu ria n o planejava outra gravidez desistindo da ideia de 112 ter uma menina mas ela e o esposo n o se preveniam sexualmente Ao se descobrir gr vida novamente a fam lia recebeu a not cia com muita alegria Na 202 semana gestacional a Unidade B sica encaminhou Pala Maternidade por constatar a cardiopatia da usu ria Na 352 semana esta m e foi transferida Emerg ncia para internamento Em EGAR sentia saudades dos filhos e sofria com a dissocia o entre a vida no Engenho e a no hospital mas contou com o apoio do marido Nesse per odo come ou a fazer parte da pesquisa Em trabalho de parto Pala foi encaminhada Sala de Pr parto onde apresentou desconforto respirat rio Dizia se apavorada tinha medo de morrer e n o poder mais ver seus filhos Foi entrevistada nesta ocasi o quando manteve contato telef nico com sua fam lia conversando com os familiares como se fosse uma despedida Seu parto foi normal e sem intercorr ncias A d ade m e beb foi encaminhada ao Alojamento Conjunto e passadas 48h de observa o receberam alta hospitalar 6 1 1 8 Reia Reia 29 anos da Regi o Metropolitana de Recife estudou at o Ensino Fundamental 1 dona do lar cat lica n o fumava nem usava dro
133. de aten o em sa de Assim eles favoreceram esquematizar as tend ncias psicossociol gicas da trajet ria de hospitaliza o das usu rias o que subsidiou a reflex o sobre a interatividade do grupo social estudado c O n vel da interatividade entre a equipe de sa de e as usu rias foi o da dimens o estrutural grupal onde se verificou os pormenores da rela o de cuidado Notou se que associado aos fatores socioculturais os comportamentos das usu rias no hospital refletiam o processo de elabora o da maternalidade e seus la os sociais constru dos dentro da AMUL Em paralelo os conflitos interpessoais da pr pria equipe de sa de estabeleciam uma situa o de estresse no trabalho assim fragilizavam a percep o dos m ltiplos sentidos das condutas das usu rias No conjunto dos vetores que se alinharam a esta quest o a rela o de cuidado pareceu indicar a fun o paterna que a AMUL assumia com as usu rias e a equipe de sa de A vida hospitalar pareceu movida por uma fragmenta o da pr tica de cuidado dividida entre a es centradas na usu ria e condutas que prejudicavam a possibilidade desta se situar como sujeito na produ o de sa de A exposi o da an lise seguiu esta sequ ncia a fim de destacar a performance interacional da AMUL como inscrita em um sistema dial tico Vale esclarecer a realidade Organizacional n o apresentou tal ordena o mas esta serviu para avan ar nossas ideias analisando as r
134. de comunica o e aprendizagem em um processo que admite ordens e desordens Esse pensamento apropriado aos estudos focados em An lise Institucional como o nosso Trajet ria 01 Art mis da Unidade B sica Alta Hospitalar na AMUL 32 dias Unidade B sica Pr parto Sala de Parto Emerg ncia Alojamento Conjunto Alta hospitalar materna e neonatal Alta com retorno programado Casa 13 dias Trajet ria 02 Atalanta da Maternidade Dia Alta hospitalar na AMUL 25 dias DD Sala de Pr parto Maternidade Sala de Parto Alojamento Conjunto Trajet ria 03 Demetra da Maternidade Dia Alta hospitalar na AMUL 22 dias PRM Maternidade Alta hospitalar materna e neonatal Trajet ria 04 Helena da Maternidade Dia Alta hospitalar na AMUL 44 dias Alta hospitalar materna Alta hospitalar neonatal Plano de Sa de Sala de Pr parto e Sala de Parto Alojamento Conjunto Maternidade Emerg ncia 1 dia Trajet ria 05 Hera da Maternidade Dia Alta hospitalar na AMUL 21 dias 12 gesta o Pr natal na 22 gesta o Emerg ncia Unidade B sica e aborto Maternidade Dia em AMUL Alta hospitalar Alojamento Canguru v Alta hospitalar E neonatal Sala de Pr parto Alojamento Conjunto C Sala de Parto o Trajet ria 06 Nik da Unidade B sica Alta hospitalar na AMUL 9 dias 22 gesta o 5 Emerg ncia Unidade B sica me i
135. de sujeitos aut nomos em sa de atrav s de ferramentas terap uticas como comunica o v nculo afetivo acolhimento e la os de solidariedade Nesse sentido defende as rela es horizontais entre gestores equipe de sa de e usu rios posicionando os como protagonistas e produtores de sa de coletiva nos diversos n veis de assist ncia MS ibid Sete anos ap s a PNH observam se suas a es de aprimoramento do SUS como a execu o de projetos terap uticos nos v rios n veis de assist ncia em sa de valorizando a condi o de sujeito do usu rio Contudo muito ainda precisa ser feito para que o SUS seja de fato centrado no usu rio Segundo o MS 2009 o acolhimento nem sempre adequado a valoriza o do trabalho em sa de continua prec ria e os v nculos est o fragilizados com rela es submissas ao poder m dico Matos 2009 apontou ainda dissocia es institucionais entre o que preconizado pelo SUS e o cotidiano das pr ticas de sa de a a pr tica preventiva os la os de confian a o protagonismo e a intersetorialidade n o acontecem como recomendados b as condi es da vida social n o coincidem com o acesso s informa es de sa de ou seja a linguagem usada pelo Sistema ainda n o se adequa ao universo simb lico dos usu rios sendo isso um ru do not vel para impossibilitar o di logo e a incorpora o de uma sa de humanizada E a popula o continua desconhecendo os princ pios e as diretr
136. dela aquela gente boa Ela foi chegando como se dissesse quem manda aqui sou eu O papel de l der de delator e de c mplice eram estabelecidos mas o sentimento de perten a grupal s foi observado nos momentos em que o grupo se via em risco de perder o afeto da equipe Segundo Atalanta as usu rias estabeleceram uma esp cie de quadrilha organizada contra uma usu ria que foi desrespeitosa com Dafne Atalanta As meninas tudinho gosta muito de Dafne dizem N o fale mal dela n o Muitas meninas da fica braba Teve uma dessa cama aqui tava fazendo um exame de garrafa pr encher a garrafa de urina Ai ela discutiu com o marido Dafne veio d um conselho a ela n N o fa a isso com seu marido n o tenha paci ncia voc vai pr casa Ai ela disse agora eu vou mijar pr tu beber caf de noite Disse na frente dela e ela n o disse nada Ai as meninas ficaram tudinho arrevoltada tudo com raiva A menina foi simbora daqui as meninas nenhuma falaram com ela Porque Dafne uma pessoa muito legal n o s porque ela dessa enfermaria aqui n o Ela legal pr essa pras pr todas as mulher aqui Segundo Castoriadis 2006 a coletividade inventa a si mesma seus pensamentos suas maneiras de agir tamb m o limiar entre seu querer e seu dever Isso porque o coletivo a a o compartilhada negociada em conjunto Muito embora as usu rias de EGAR tendessem rela es
137. dito da popula o com a efetividade de um servi o que se anuncia democr tico como argumentam Martins Matos e Fontes 2008 Segundo os mesmos a desesperan a parece resultar da hist ria social de corrup es com um sistema educacional que boicota a reflexividade dos sujeitos provocando uma esp cie de desencanto social frente ao ideal democr tico Ainda que a democracia no Brasil seja um fen meno irrevers vel para esses autores eles reconhecem a car ncia social de instrumentos mais apropriados amplia o dos jogos democr ticos ultrapassando os da condi o representativa parlamentar Por m a situa o do SUS n o t o tr gica ao considerar a hist ria da Sa de P blica sendo o pr prio SUS uma conquista social t tulo de exemplo conforme Martins Bezerra e Nascimento 2009 h unidades de sa de que conseguem no seu cotidiano favorecer aos usu rios a apropria o dos dispositivos do SUS H servi os que contam com grupos voltados a facilitar a rela o de cuidado e a participa o em sa de A diferen a desses grupos que suas atividades regulares de orienta o educativa s o somadas ao estabelecimento de la os interativos entre os usu rios Esses servi os tem a singularidade de promover a es centradas no grupo comunit rio conseguindo assim estimular um processo de negocia es entre os atores sociais Sua pr tica de cuidado realizada atrav s do favorecimento de Uma das diretrizes do
138. do para o processo de socializa o da sa de como denota seus tr s princ pios MS 1990 a Universalidade como a sa de direito humano fundamental deve ser garantido ao usu rio o acesso universal e indiscriminado nos diferentes n veis de complexidade da assist ncia de acordo suas necessidades individuais e coletivas Qualquer brasileiro tem o direito de acessar as a es e projetos do SUS com qualidade no servi o incluindo promo o preven o tratamento e reabilita o b Equidade este princ pio define que o SUS atua sem privil gios ou preconceitos reduzindo e erradicando as desigualdades j existentes na aten o sa de brasileira Prev que Governo sociedade civil comunidade cient fica e outras lideran as sociais comunguem da efetiva o de pr ticas igualit rias em sa de devendo existir uma distribui o equ nime entre servi os profissionais e recursos de trabalho Os servi os de sa de devem prezar por a es justas conforme as car ncias individuais e coletivas dos usu rios e seu grau de complexidade Busca se tamb m extinguir situa es de exclus o social no que tange a grupos negros ciganos ou de orienta es sexuais das mais diversas c Integralidade questiona se a pr tica de sa de focada na doen a e o usu rio visto no plano individual grupal e institucional abarcando sua singularidade e seu contexto de vida fam lia comunidade A assist ncia aglutina a es in
139. do por processo de fertiliza o patol gico assume uma forma maligna Geralmente ap s a ocorr ncia a mulher necessita de um tratamento quimioter pico As causas s o m ltiplas Nesses casos ignorada a exist ncia de gesta o sendo omitido o registro de nascimento e o de interrup o gestacional 34 EO m r E E Foram listadas as doen as obst tricas e complica es cl nicas apresentadas pelas usu rias da pesquisa NEFROPATIA Doen as do sistema urin rio tem como causa altera es fisiol gicas hormonais durante a gravidez que um estado fisiol gico que aumenta o risco de ascens o da bact ria Isso est associado s altera es fisiol gicas dos rins A bacteri ria assintom tica frequente Na gravidez h aumento do rim que permanece no puerperio A doen a detectada pela elimina o de proteinuria albulminuria hematuria PLACENTA PR VIA Insere total ou parcialmente no segmento inferior do tero principal causa de sangramento no terceiro trimestre Associada a parto pr termo e morbimortalidade acentuada TRABALHO DE PARTO PREMATURO Indicador com maior incid ncia de mortalidade perinatal e mais da metade da morbidade O parto pr termo classificado atrav s da idade da gravidez na qual ele ocorre Dividido em tr s grupos PARTO PRETERMO ESPONT NEO com membrana ntegras PARTO PRETERMO POR ROTURA prematura das membranas pr termo e PARTO PRETERMO indicado por raz es maternas ou f
140. e Ela vivenciava conflitos interpessoais no ambiente de trabalho atrav s do amor do dio e da inveja refletindo um sistema sociomental hospitalar que Pag s 2001 nomeou de repressivo defensivo A Organiza o tinha um estilo autorit rio marcante e os profissionais desenvolveram comportamentos defensivos que atingiam a qualidade de sua rela o com os usu rios tamb m a sa de dos profissionais Em suma o modelo sociomental mostra a fam lia como uma institui o que est na base da estrutura o inconsciente e da estrutura social implicada em outras institui es sociais Nessa conjuntura a Organiza o sobrevive como uma extens o da institui o familiar ativando no indiv duo seus complexos familiares Isso s refor a a ideia que posteriormente Enriquez 1997 desenvolveu sobre a Organiza o como segue abaixo 2 2 2 2 2 A Organiza o como sistema cultural simb lico e imagin rio Na leitura de Enriquez ibid a Organiza o um sistema cultural porque oferece uma estrutura de valores e normas ou seja no espa o Organizacional circula uma rede de significa es s cio historicamente produzida e que legitima a Organiza o na medida em que os indiv duos aceitam e incorporam essa rede Ent o sua estrutura operacional com os regimes de cargos carreiras pap is a cumprir e condutas aparentemente estabilizadas diz da estrutura cultural da Organiza o situada no tempo e resultante da a o co
141. e a rela o de cuidado como o objeto desta pesquisa Eis um objeto hist rico social pois se sustenta de um lado nas redes discursivas da Organiza o tais como pol ticas de sa de a no o de usu rio de equipe e do feminino no mbito hospitalar de outro nas pr ticas concretas que animam o cotidiano de suas enfermarias O diferencial desta pesquisa que n o apenas reconhece os fen menos emocionais ou psicossom ticos da mulher em circunst ncias de gravidez de alto risco mas busca focar um ponto n o muito abordado pelos saberes que atuam na Sa de as quest es institucionais que sustentam a rela o de cuidado entre essa gestante e a equipe de sa de 3 Za zoe Eis a abordagem te rico metodol gica que embasou a presente pesquisa pertencente ao campo da psicossociologia que assume um olhar dial tico Isto ser esclarecido no cap tulo dois deste trabalho Aliamo nos tend ncia de pesquisa qualitativa em Sa de o que recente no Brasil A Medicina ainda se concentra na epidemiologia nem sempre abrangendo os aspectos sociais da sa de como se nota na Literatura Latino Americana e do Caribe em Ci ncias da Sa de LILACS Not vel o investimento da Enfermagem em pesquisas sobre a rela o de cuidado como consta na Biblioteca Virtual em Sa de no Scielo e no Google Acad mico Por m em seus limites epistemol gicos aborda a rela o de cuidado no plano comunicacional no ato vis vel do acolhimento o
142. e adiante n o mais ser seu signo de identifica o e estar sob as esquematiza es de outro campo social Por exemplo quando um profissional de sa de convive com usu rios de condi es socioculturais diferentes da sua e busca minimizar essas disparidades na pr tica de cuidado corre o risco de ser discriminado pelos seus colegas devido ao uso de uma linguagem inadequada ao seu campo social O habitus estrutura se assim por determina es historicamente situadas como um capital acumulado 68 que est na base da hist ria social dos indiv duos Isso pode ajudar a entender porque duas mulheres gr vidas hospitalizadas em um mesmo servi o por igual tempo de internamento e condi es econ micas semelhantes nem sempre usam as mesmas estrat gias de a o A teoria do habitus disposicional ou seja localiza os indiv duos no seu campo social esclarecendo de outra forma a autonomia relativa das pessoas Enquanto Castoriadis 2007 acredita na possibilidade do sujeito inventar para si um outro espa o social Bourdieu e Passeron 2009 entende que essa inven o est limitada aos pr prios interesses econ micos pol ticos e ideol gicos que constituem as estruturas simb licas da classe qual pertence cada grupo de indiv duos sujeitados s suas fronteiras de significa es Para que tenha essa fun o lim trofe o habitus resulta de dois processos simult neos e complementares a interioriza o do social e a incorpo
143. e no d cimo minuto ap s o nascimento considerando cinco sinais objetivos do rec m nascido frequ ncia card aca respira o t nus muscular irritabilidade reflexa e tom da pele A pontua o dada de O a 10 O beb ent o avaliado sem asfixia Apgar de 8 a 10 com asfixia leve Apgar de 5 a 7 com asfixia moderada Apgar de 3 a 4 e asfixia grave Apgar de 0 a 2 O Apgar j n o determinante nas condutas pedi tricas pois um beb que nasce sem asfixia pode vir a apresentar problemas cl nicos nos primeiros dias p s nascimento Cf www wikipedia org XXV GANHO SECUND RIO vantagem pr tica que pode ser alcan ada atrav s de uma doen a No relato de Atalanta o analfabetismo a defendia da ideia de se tornar a respons vel pela poss vel doen a do filho O analfabetismo tornava se contraditoriamente vantajoso do ponto de vista ps quico XXVI BEB IMAGIN RIO beb das fantasias maternas na ordem inconsciente Ela n o tem no o deste beb mas de sua semelhan a que o beb imaginado pensado XXVII DENEGA O um mecanismo de defesa inconsciente caracterizado pela nega o da nega o Quando Art mis diz eu n o queria aceitar n o ela primeiro nega que queria aceitar depois nega essa negativa de modo que o que est n o dito seria eu queria aceitar O que fica claro quando ela relata seu desejo de ser m e e a coer o sofrida XXVIII FAL FARO Todo beb o
144. e parto recebendo medicamentos para indu o ou inibi o do mesmo Comporta 19 leitos sendo 14 deles para atender s gestantes de alto risco e os demais para as de baixo risco Em casos de superlota o usu rias ficavam neste setor aguardando vaga nas enfermarias Sala de parto onde ocorrem partos cir rgicos ou n o com m dia de 5 000 partos anuais Alojamento Conjunto composto por 9 salas totalizando 33 leitos voltado s pu rperas e seus rec m nascidos Onde h todo um trabalho de estimula o do contato pele a pele m e beb e da amamenta o livre Alojamento Tardio setor composto por 09 leitos espec fico aos casos em que a m e j est de alta mas seu beb ainda necessita de interven o pedi trica hospitalar Enfermaria de Infectados espa o de 11 leitos onde s o assistidas gestantes com quadro infeccioso em fase p s cir rgica sendo estas usu rias oriundas de quaisquer servi os internos do hospital Unidade de terapia Intensiva Obst trica composta por 12 leitos exclusivos para gestantes e pu rperas de alta gravidade cl nica Casa das M es instalada nas depend ncias da AMUL possu a sala cozinha 05 quartos 18 camas sendo 02 su tes 02 banheiros terra o e rea de servi o Alojava as usu rias de alta hospitalar que tinham seus beb s internados na UTI Neonatal E este rg o hospitalar contava com uma estrutura operacional hierarquizada co
145. e que essas contradi es que montaram as tend ncias psicossociol gicas integravam e davam sentido ao cotidiano que a vida da AMUL nas condi es exaustivas de trabalho com indiv duos vivendo a tens o para cumprir com as metas Organizacionais tamb m sendo presente nesse cotidiano o estilo das pessoas constru rem e reconstru rem suas viv ncias E pelas considera es apresentadas essa pesquisa recapitula que a As a es interativas entre a gestante de alto risco e a equipe de sa de no contexto da hospitaliza o est marcada pela heteronomia b O lugar que a gr vida de alto risco exerce no cotidiano de um hospital circula entre o de corpo biol gico a tentativas isoladas de situ las como sujeito social O modelo de cuidado preconizado por uma Unidade de Refer ncia inevitavelmente est fadado a ser n o todo pois o estilo da pr tica de cuidado objetivado em sua vida cotidiana a poss vel at ent o diante do discurso imperativo que orienta a vida em sociedade E as contradi es e os processos de media o que circulam e organizam a vida social da AMUL insinuam A expectativa de seus grupos sociais constru rem uma pr tica centrada na usu ria dando abertura para as negocia es entre os discursos da AMUL o discurso da usu ria e da equipe de sa de E uma pr tica em sa de centrada na usu ria come aria pela consci ncia criativa quanto condi o de descontinuidade composi o e
146. e s pensa no beb da gente n Portanto era dif cil AMUL realizar uma pr tica com a usu ria centrada Segundo Bonet et al 2009 construir essa pr tica permitir lhe o direito de se posicionar como engajado no desenho de seu cuidado em sa de E essa permiss o n o apenas aceitar o 150 discurso do outro mas tamb m estimular o discurso desse outro encoraj lo enquanto se percebe que esse mesmo discurso situacional do momento singular do indiv duo Enxergar as gestantes e as pu rperas como pessoas capazes de decidir sobre sua hist ria tornar os saberes da equipe e do paciente compartilhados reconhecer seus limites e complementaridades ainda oportunizar um estado de devir da rela o Apoiando se nos discursos ilustrados neste t pico de an lise poss vel afirmar a preponder ncia de pr ticas que dificultavam o exerc cio do direito das usu rias ao protagonismo em sa de 5 2 2 5 2 Direito em sa de A quest o do direito em sa de diz do exerc cio de cidadania do usu rio do SUS de sua postura em buscar informa es sobre a pr pria sa de sendo garantido tamb m ao mesmo construir seu itiner rio terap utico na negocia o com profissionais de sa de fam lia e outros atores sociais de sua vida Quanto trajet ria constru da na AMUL pelas usu rias observou se que a participa o delas no seu processo de sa de acontecia de forma limitada Exemplifica se isso com a experi ncia de
147. ecimento cient fico e o popular incluindo o mundo simb lico do pesquisador Amparada pela teoria a pesquisadora lan ou se curiosidade consciente de sua busca por reconhecimento e da possibilidade de fracasso O lance do jogo cient fico foi dado no intuito de transgredir o h bito de interditar a invisibilidade Cap tulo 5 A AN LISE INSTITUCIONAL DA RELA O DE CUIDADO NA AMUL O olhar que observa s manifesta suas virtudes em duplo sil ncio o relativo das teorias das imagina es e de tudo o que constitui obst culo ao imediato sens vel e o absoluto de toda linguagem que seria anterior ao vis vel Na densidade desse duplo sil ncio as coisas vistas podem ser finalmente ouvidas e ouvidas apenas pelo fato de que s o vistas FOUCAULT 2004 p 118 19 5 AN LISE INSTITUCIONAL DA RELA O DE CUIDADO NA AMUL Depois de discutir teoricamente o objeto de estudo e os dispositivos metodol gicos escolhidos para seu tratamento nesta pesquisa s o apresentados os resultados em torno da rela o de cuidado na AMUL e a an lise institucional desenvolvida Salienta se que nesta an lise do sistema da rela o de cuidado n o optamos por focar a individualidade de cada troca social di tica como se fossem estudos de caso Nossa decis o foi analisar os acontecimentos interativos do grupo social em foco constitu do por usu rias e equipe de sa de considerando os como protagonistas da pr tica de c
148. emplo sobre como as mulheres elaboram suas expectativas do parto e que tipo de parto est o predispostas a escolher o sil ncio da Organiza o n o pareceu indicar um sil ncio de escuta no sentido psicanal tico ALMEIDA 2007 O sil ncio de escuta aquele que se disp e a escutar em sil ncio o sil ncio do outro semelhante assim possibilitando que o semelhante seja um sujeito de fala Nas discuss es at aqui expostas seja um sujeito aut nomo criativo consciente O que a AMUL insinua fazer o sil ncio de quem se cala tomado pelo desprazer Afinal o que pareceu estar circulando o tempo inteiro nesta an lise de dados foi a luta entre o investimento da AMUL pela vida pela sa de e o dito institu do a resist ncia das usu rias a superlota o etc Ent o para evitar a pr pria morte diante das faltas do sistema social parece que faltava 164 palavra AMUL que ficava muda calando os profissionais de sa de e as usu rias que j chegavam Organiza o assumindo pr ticas sociais heteron micas Enquanto o dito institu do era materializado no sil ncio a AMUL se impulsionava a retraduzir do social as pr ticas de heteronomia e n o centradas na usu ria Em contrapartida as for as de depend ncia mesmo sendo respons veis pela instabilidade ou estabilidade da tend ncia psicossociol gica da trajet ria de hospitaliza o das gestantes garantiam que o poss vel se realizasse na AMUL Assim
149. en o de com las Dessa maneira ele venceu a competi o casando se com Atalanta Como Hep mene se esqueceu de glorificar a Afrodite o casal foi transformado em le es para puxas carros USU RIA ATALANTA Atalanta tinha uma vida prom scua ap s algumas desilus es amorosas at aceitou manter uma terceira rela o consensual O companheiro recusava se a usar preservativos Ap s algum tempo Atalanta descobriu ter contra do o HIV e o esposo negava que tivesse a doen a DEUSA DEMETRA chamada de deusa m e teve sua filha Pers fone raptada por Hades Ficou desesperada por isso saiu como uma louca sem rumo sem comida nem bebida Demetra tamb m conhecida como a deusa das esta es do ano das colheitas ensinando aos homens a cuidarem da terra e planta es Ap s ter sido separada de sua filha n o mais cultivou a terra condenando o solo esterilidade Devido situa o ca tica da terra Zeus pediu a Hades que devolvesse Pers fone Hades ent o ofereceu um rom Pers fone Ao comer do fruto ela foi condenada a ficar apenas alguns per odos com a m e sempre retornando ao encontro de Hades USU RIA DEMETRA Era reconhecida como uma mulher que desejava muito engravidar ser m e Ap s o parto ces reo Demetra foi separada de seu filho devido s condi es cl nicas maternas e neonatais Ela ficou na Sala de Pr parto aguardava vaga na UTI Obst trica enquanto o filho foi UTI Neonatal Demetra e
150. enizar o social porque a doen a passou a ser vista como problema geral da popula o com a es de massa verticalizadas impositivas e centradas no diagn stico e na medica o Em linhas gerais a Sa de P blica surgiu enquanto ag ncia moral e cient fica secretamente econ mica sustentada na governamentalidade do capitalismo A pauta o discurso m dico era a morbidade urbana e uma vigil ncia m dica de todo um conjunto de disposi es de constru es e de institui es FOUCAULT 2008 p 201 Todavia neste per odo alguns fatores contribu ram para denegrir a imagem social dos hospitais infec o hospitalar terap utica dispendiosa superlota o dificuldades no acesso ao servi o e na efic cia do tratamento Assim os hospitais foram direcionados a um processo de reforma especializado os m dicos tornaram se respons veis direto pelo controle da sa de a rede hospitalar foi voltada aos tratamentos complexos Todavia essas reformas eram burocr ticas econ micas e espaciais aprisionadas na vis o biol gica e na moral burguesa FOUCAULT ibid como ocorreu no Brasil Por raz es conservadoras at a primeira metade do s culo XIX n o havia uma unidade hospitalar brasileira que dividisse seus servi os por g nero sexual Ali s nem se tinha m dicos especializados nas doen as das mulheres A Obstetr cia uma ci ncia m dica que Segundo Rezende 2010 enfrentou o desconhecimento das parteiras sobre a
151. ensam que a pessoa louca ou ent o um BURRO Mainha at explicou a gente sabe de TUDO Eu preciso da insulina eu j fiquei em coma uma vez Seu discurso revela como a postura da equipe fazia Art mis se sentir n o participativa de seu saber desconstruindo seu estilo de cuidar da sua sa de Como ela diz preferiu n o discutir com a equipe Com raiva impaciente sua sa da era fazer chantagens e amea as equipe Recordava se do momento em que entrou em estado de coma verbalizando o epis dio dirigindo aos profissionais toda a responsabilidade sobre os efeitos que as mudan as terap uticas tivessem sobre o corpo dela Por outro lado Art mis dizia saber de TUDO sobre sua terap utica mas desconhecia que a fase puerperal implicaria em mudan as ao seu tratamento Ela mesma se questionava disso mas n o encontrava respostas na equipe Nem Art mis entendia que o puerperio era causa de uma mudan a da insulinoterapia nem a equipe conseguiu construir na rela o de cuidado um espa o para que esses mal entendidos fossem dissolvidos Art mis Ser que por que eu tive beb N o sei mas tamb m acho que n o o que que tem a ver n s porque eles acham que tem que ser do jeito deles Estudaram tanto Nereida Art mis achava que ia ser aquela quantidade de insulina pro resto da vida Quando ela tomava aquilo ali ela n o era uma m e O direito em sa de est diretamente ligado a
152. enta o Gr fica 03 e vivida por Hera Nik Reia e Pala Representa o Gr fica 03 Tend ncia Psicossociol gica Decrescente da Trajet ria de Hospitaliza o EGAR CD Sala de Pr parto e Sala de Parto E Alojamentos Enfermaria de Infectados UTI Estado de Estresse das Usu rias E ao sadio O al if aid Admiss o 5 10 15 20 25 30 Alta em em EGAR Tempo de Internamento dias AMUL As gestantes de alto risco viviam a hospitaliza o em EGAR desesperadas perante a ideia de que seriam transferidas Sala de Pr parto um setor que tinha para essas usu rias uma conota o negativa E isso provocava tanto desconforto nas gestantes que elas tendiam a evitar ou adiar o evento por exemplo omitindo a sensa o de dor e mentindo nas avalia es de rotina da equipe Percebeu se que o simbolismo desta Sala resultava da rela o de contradi o dial tica estabelecida entre as for as Fa F2 Fa F4e Fs Ainda assim as pr prias performances da rela o de cuidado Fs fortaleciam as usu rias que se disseram acolhidas pela equipe de EGAR descrita como atenciosa legal e que conversava com a gente Mas n o era somente essa for a contr ria Fs que as faziam conviver com o medo diante da ideia de internamento na Sala de Pr parto As usu rias criticavam certa imposi o no cuidado da AMUL e assim desenvolviam formas de transgredir norma Organizacional F4 A imposi o tinha o ato infrator c
153. ental permite compreender que a rela o entre indiv duo e Organiza o est condicionada por fatores materiais morais econ micos e ideol gicos fortalecida pelo la o psicol gico Isso porque tanto a Organiza o quanto o indiv duo s o estruturados por la os inconscientes do imagin rio e por refer ncias simb licas no plano organizacional O que d sentido s estruturas psicol gicas individuais e as estruturas sociais s o as media es das contradi es que produzem a economia dos conflitos estabelecendo espa os de conviv ncia fundados pelas normas institu das mas XVIII e identifica o com tamb m em ideologias de onipot ncia em processos de proje o os modelos de refer ncia Assim as estruturas psicol gicas individuais e as estruturas sociais assumem uma influ ncia dial tica uma sobre a outra E a Organiza o exerce sobre o indiv duo uma influ ncia social enquanto manipula seu inconsciente Essa manipula o ocorre quando ela refor a as ansiedades e ang stias mais arcaicas do sujeito relacionadas s experi ncias com seus pais e ao mesmo tempo oferece os meios de defesa contra essas angustia frequentemente associados a processos de ades o cada vez mais efetivos O indiv duo deseja a onipot ncia a seguran a afetiva a 62 satisfa o completa no amor Por esse motivo ela consegue manipul lo toca no seu ponto fraco no que ele luta por n o reconhecer em si mesmo sua condi
154. ento parece est sustentado no mito do amor materno BADINTER 1985 as usu rias da EGAR eram as que conviviam com a possibilidade de perder o filho e as nicas que n o conheciam o beb da realidade Entender as quest es psicodin micas puerperais para al m do que diz o mito da maternidade poderia ent o redirecionar a vis o de Hesp ride Ainda explicar alguns comportamentos das usu rias como sinalizando um apelo equipe para uma interven o psicol gica como se ilustra no depoimento de Napeia Napeia Tem umas pacientes que falam com voc direitinho depois ela quer atingir voc Elas falam mal de uma colega sua faz o jogo Ai EU VOU EMBORA Eu j sou a v tima dela Acontece muito isso aqui 157 Elas fazem muito esse jogo tanto de enfermeira quanto de m dico Eu n o sei o que elas querem ganhar com isso Eu n o entendo Desconhecendo essa psicodin mica Napeia notava essas m es como falsas e dif ceis de conviv ncia n o conseguindo exercer uma pr tica de sa de centrada nas usu rias N o se trata aqui de generalizar as transgress es das m es como causa de um mal estar ps quico relativo maternalidade A an lise apenas aponta problemas na rela o de cuidado advindos desse desconhecimento por parte da equipe de sa de Um dificuldade que se somava s din micas interativas das usu rias e dos profissionais no cotidiano hospitalar 5 3 2 A din mica do grupo de u
155. entos de assist ncia ao parto elas tem compet ncia para orientar a mulher o acompanhante al m de usar t cnicas diversas de al vio da dor no trabalho de parto No p s parto a doula visita a fam lia para orienta es no cuidado com o beb Est sendo discutido atualmente no Sistema nico de Sa de SUS uma pol tica de inclus o do parto domiciliar no SUS A discuss o est embasada na estimativa do Minist rio da Sa de de que esteja ocorrendo no Brasil em torno de 40mil partos por ano orientados por parteiras Cf www saude gov br 7 Winnicott 2006 afirmou que as parteiras mantinham uma rela o de proximidade com as gestantes perpassada por quest es afetivas e que sabiam usar a rela o para amparar a gr vida na hora do parto seja respeitando o tempo de independ ncia da mulher seja permitindo sua depend ncia no trabalho do parto Por tolerar isso as parteiras favoreciam condi es saud veis de parturi o Isto em grande parte uma quest o de senso comum de saber harmonizar a necessidade com a a o adequada ou a ina o deliberada p 67 30 Assim como as parteiras h uma hierarquia entre as doulas H as doulas leigas semelhantes s parteiras leigas E as doulas comunit rias tamb m conhecidas como institucionais geralmente trabalham como volunt rias de unidades de sa de da rede p blica Elas t m a fun o de apoiar as mulheres que chegam ao hospital maternidade assim n o con
156. epercuss es da rela o de cuidado impl citas na articula o dos n veis vide Figura 02 A pol tica de reconhecimento simbolizada em AMUL assim surgiu como nossa conclus o institucional relacionada aos n o ditos institucionais de acordo com o olhar psicossociol gico adotado neste trabalho Representa o Gr fica 02 Os tr s n veis centrais de an lise e suas repercuss es A inscri o NA singularidades das usu rias J Expl cito das Usu rias nos servi os O VET Y T A interativos dos grupos sociais da AMUL Impl cito A rela o de cuidado e sua pol tica de reconhecimento no universo organizacional da AMUL 5 1 PRIMEIRO N VEL As singularidades das usu rias As gestantes de alto risco foram percebidas como sujeitos singulares que constru am sua maternalidade influenciada por seu universo microssociol gico marcado por conflitos familiares Este mesmo universo revelou o posicionamento das usu rias diante da rela o com o beb no per odo gestacional e acerca do alto risco gestacional Para compreender esta quest o iremos primeiro conhecer um pouco da vida dessas m es 5 1 1 Viv ncias Maternas 5 1 1 1 Art mis Art mis 21 anos era de Arcoverde regi o do Paje Pernambucano estudava o 2 ano do Ensino M dio cat lica dona do lar n o fumava nem usava lcool ou outras drogas Aos 12 anos soube da Diabetes Mellitus Tipo 1A 2 Sua m e sentiu se culpa
157. eriorizar sua interioridade Todavia sua equipe de sa de parecia de algum modo compactuar com o sil ncio havendo nisso algumas repercuss es Se houve a conduta da anestesia s no finalzinho sup e se que estava claro que a usu ria tinha medo da dor E a nica estrat gia de cuidado utilizada foi a promessa de uma conduta medicamentosa de analgesia o que de imediato surtiu um efeito acabou o me do Por m esse me do n o tinha apenas rela o com a dor f sica estava tamb m remetido ao simb lico Ent o o sentimento persistiu mesmo a usu ria sabendo de que seria anestesiada Pode se notar isso no comportamento de outra usu ria que n o foi acompanhada nesta pesquisa Ela era companheira de quarto de Demetra e decidiu delatar a colega procurando secretamente a pesquisadora Companheira de quarto de Demetra Demetra n o tava bem dizia que todo mundo aqui ruim ficava o tempo todo reclamando falando do parto Depois que ela falou contigo ela j ficou melhor mais tranquila mas ainda n o tava bem falando que tava com medo do parto muito ansiosa A gente dava conselho a ela dizia que ia dar tudo certo que ela entregasse a Deus Ai quando a m dica disse que ia interromper ela ficou bem melhor Quando a m dica falou com ela ela chorou tanto com a m dica que eu at senti vontade de chorar junto Agora ela est melhor t sorrindo mas eu acho que ela ainda n o est en
158. es recusam a morte como uma necessidade vital produzindo os pr prios valores e ideias e lutando para que os atores sociais os incorporem E isso controla a autonomia do indiv duo de modo que este aos poucos se percebe que pensa e sente a sua vida em conformidade com a Organiza o Comparando essa teoria com a de Castoriadis 2007 poss vel dizer que a Organiza o articula uma rela o de heteronomia com os indiv duo Pag s 1993 nomeia isso de personalidade emprestada assumida pelo indiv duo Ou seja seu discurso n o um discurso pr prio mas o discurso de um outro incorporado Muito embora o modelo sociomental foi elaborado para explicar o funcionamento das empresas hipermodernas ele serve de refer ncia para um tipo de Organiza o como a AMUL Afinal a AMUL um sistema organizado com divis es de trabalho e uma filosofia de vida assume o posto de refer ncia em sa de como ser melhor descrito no cap tulo 63 seguinte Usar esse referencial para analisar uma Organiza o de sa de pertinente e o pr prio Pages 2001 entendeu isso dispondo se a realizar uma consultoria em uma unidade hospitalar atividade que resultou em um modelo sociomental hospitalar Nesse trabalho ele verificou que o contato cotidiano dos profissionais de sa de com o sofrimento a morte e a demanda dos usu rios reativava seus conflitos infantis arcaicos sendo isso determinante para as condutas interativas da equipe de sa d
159. essidades assistenciais destas gestantes em caso de precisarem de acompanhamento prolongado na Organiza o de sa de sendo esta casa estruturada em rea f sica pr pria dispondo de equipe de sa de na rotina di ria MS 2001b Estas Organiza es s o institu das pela PNH visando a autonomiza o da mulher em condi o de gravidez de alto risco Mas a Sa de voltada s gr vidas e pu rperas em geral depara se com muitas defici ncias evidentes com fatos de expressivo agravamento Sa de VIII P blica como a mortalidade materna Esse um problema que denuncia a d bil qualidade de vida social Entre 2000 e 2005 o Nordeste obteve um acr scimo da raz o de mortalidade materna de 57 a 67 mortes maternas para cada 100 000 beb s nascidos vivos sendo o de maior ndice comparado s demais regi es O Sudeste foi o de menor raz o com uma queda de 48 a 40 bitos maternos para cada 100 000 MS SUS DASIS SIM 2008 apud REZENDE 2010 E as principais causas de tais bitos s o as mesmas consideradas evit veis se a mulher tiver acesso a servi os de sa de qualificados estados hipertensivos infec o hemorragia e complica es no aborto REZENDE ibid A mortalidade materna um problema social e ocorre no mundo todo conforme a realidade social de cada pa s Portanto entre os Objetivos do Mil nio lan ados em 2000 pela OMS a serem alcan ados at 2015 foram definidas as seguintes metas melhorar a
160. estudo bibliogr fico Revista Latino americana de Enfermagem vol 9 n 4 julho 2001 p 62 67 Dispon vel em www eerp usp br rlaenf Acesso em 18 06 2006 s 01 30h HELMAN Cecil G Defini es Culturais de anatomia e fisiologia Cultura sa de e doen a 4 ed Porto Alegre ArtMed 20083 p 30 47 LACAN Jacques Escritos Tradu o Vera Ribeiro Rio de Janeiro Jorge Zarhar 1998 Os complexos familiares Rio de Janeiro Jorge Zahar 2002 LEFEVRE Fernando Ana Maria Cavalcanti LEFEVRE Promo o de Sa de A nega o da nega o Rio de Janeiro Vieira e Lente 2004 LIMA KMR Maternidade Leila Diniz 1994 1996 nascimento de um novo profissional de sa de disserta o Rio de Janeiro RJ Funda o Instituto Oswaldo Cruz Instituto Fernandes Figueiras 1997 LOURAU Ren A an lise institucional Petr polis Vozes 1975 LUZ Madel Therezinha As institui es m dicas no Brasil Institui o e estrat gia de hegemonia 22 ed Rio de Janeiro Graal 1979 MARTINS Ana Paula Vosne Vis es do feminino a medicina da mulher nos s culos XIX e XX Rio de Janeiro Fiocruz 2004 A ci ncia dos partos vis es do corpo feminino na constitui o da obstetr cia cient fica no s culo XIX Estudos Feministas Florian polis vol 13 n3 setembro dezembro 2005 p 645 665 Dispon vel em www scielo br Acesso 18 09 2008 s 21 00h MARTINS Paulo Henrique Contra a desumaniza o da medicina
161. etais TROMBOEMB LICA VENOSA Trombose Venosa Profunda Forma o de trombo sanguineo no interior do m sculo com co gulos causada pela redu o da velocidade do fluxo venoso no membro inferior provocada pela compress o de veias pelo tero gr vido TERO BICORNO Bicorne Altera o cong nita que se especifica pela m forma o da parede uterina de modo que se estabelece uma membrana divis ria de diversos tamanhos delimitando o espa o do tero em dois lados Algumas mulheres por tal raz o chegam a ter seu tero subdividido em dois Na gesta o pode haver indica o de tratamento cir rgico ou costura do colo do tero para evitar o rompimento precoce da bolsa com expuls o fetal comum ocorrer parto prematuro ou aborto espont neo precoce ou tardio V RUS DA IMUNODEFICI NCIA HUMANA HIV Transmitido pelo contato sexual por transmiss o vertical perinatal ou exposi o ao sangue ou produtos sangu neos infectados A fase prim ria da doen a pode ser assintom tica e durar por ano A progress o da doen a pode acarretar na AIDS A gesta o da soropositiva tem consequ ncias maternas e neonatais O sistema imune afetado pelas altera es fisiol gicas da gesta o mas se controlados outros fatores n o afeta o progn stico das mulheres HIV assintom ticas Piores resultados obst tricos quando o v rus associado a outros fatores H riscos de infectar o beb outros riscos parto prematuro amamen
162. etembro 2009 23 dias Acrescenta se as oito m es experimentaram conflitos familiares e instabilidades na rela o afetiva com o beb durante o processo gestacional Conforme Tabela 02 foi estabelecida uma caracteriza o da hist ria materna das usu rias com foco no beb atual Art mis e Helena estavam gr vidas pela primeira vez Demetra Hera e Nik encontravam se na segunda gesta o Reia na terceira Atalanta na quinta e Pala na d cima Todas procuraram a assist ncia pr natal logo que tomaram ci ncia da gravidez Quatro realizaram seu pr natal na AMUL valendo destacar que Helena manteve dois tipos de acompanhamento pr natal naquele hospital p blico e na rede particular Art mis e Nik fizeram o acompanhamento na unidade b sica de sua cidade Somente Reia fez o pr natal em outro hospital maternidade do Estado por n o conseguir vaga no ambulat rio da AMUL Aquelas que faziam pr natal em AMUL foram encaminhadas pela Maternidade Dia hospitaliza o As outras tr s chegaram Emerg ncia de AMUL com encaminhamento de prontos socorros de sua cidade de origem E Reia procurou Emerg ncia da AMUL espontaneamente com inten o declarada de viver seu parto nesta Organiza o Nenhuma planejou a gravidez atual embora o desejo de gerar um beb fosse citado como sempre presente com excess o de Pala e Reia Quando souberam da gravidez seus sentimentos variaram da rejei o felicida
163. eto de estudo que s cio hist rico e constru do de interatividade A mestranda e o processo de pesquisa foram aqui vistos como interdependentes a primeira foi um ator social presente na produ o de um saber que implicou em uma produ o cient fica que este estudo Portanto a pesquisadora influenciou o trajeto metodol gico e a interpreta o dos dados Os resultados e as conclus es da pesquisa foram entendidos como uma verdade situada na media o entre o estilo cient fico da pesquisadora e seu conhecimento sobre o tema Esta atitude est de acordo com Martins 2009 para quem a an lise psicossociol gica de um contexto gerado por atores sociais exige figurar o pesquisador como um dos protagonistas implicados nesse cen rio principalmente se o estudo for relacionado s pr ticas interativas Sendo assim nosso objeto de estudo a rela o de cuidado entre a equipe de sa de e a gestante de alto risco justificou a import ncia de tratar a implica o da pesquisadora como um conte do do conhecimento Esta forma de proceder em pesquisa diiferencia se do objetivismo radical que pratica a exclus o do cientista Segundo Bourdieu 2009 Bachelard 2002 e Minayo 2006 ao excluir as motiva es do cientista na produ o de saber guiando se pela obsess o da verdade absoluta o cientificismo defende que o universo seria regido por uma l gica cl ssica regular e simplificada A exclus o sustenta uma pedagogia autorit
164. eu tentei mas eu n o consegui Ai eu disse Ah Eu vou fazer na outra Maternidade mesmo depois eu venho pr c quando for ter Pronto Eu n o arriscava ir a uma maternidade que n o tivesse os equipamento que aqui tem Voltei para a AMUL Porque quando eu venho eu venho com dor contra es tudinho j com delata o eu acho que ou eles me transferem s se eles n o me conhecer n porque eu tenho meu prontu rio aqui desde os 9 anos Ai pronto fica tudo arquivado E isso timo A prioridade n Porque assim n o ela j teve esse aqui n tudinho eu sei que aqui sei l Uma coisa t o estranha pr mim n o sei nem explicar estranho O que que seria estranho Incrivel Eu cheguei aqui desse menino tinha meu nome h 9 anos atr s ela puxou no computador tava l eu disse que coisa Eles guarda n uma coisa ent o isso ai pr eles importante porque eles deixa l arquivado Voc ainda t nesse lugar N o Tava l nome de pai tudo Voc faz s o b sico pronto A sua mesma ficha continua Mas tamb m vixe Maria aqui voc s morre se tiver de morrer Eu acho assim porque muito bem cuidam muito bem de voc muito m dico s o muito atenciosos com esse caso principalmente Poxa a gente n o tem sossego no quarto A tem tica desta unidade de registro foi a contradi o de domin ncia A usu ria tinha a Organiza o como
165. ez de baixo risco quando seu desenvolvimento saud vel e gravidez de alto risco aquela em que a vida ou a sa de da mulher ou de seu beb indicam maiores chances de sofrer complica es quando comparada m dia das gesta es E uma gravidez de alto risco pode se transformar em de baixo risco e vice versa MS 2000 Portanto o MS adverte a avalia o de riscos em toda gravidez no acompanhamento pr natal sendo mister que se considere as diferentes esferas da vida da gestante para um mapeando seguro dos fatores geradores de risco A avalia o objetiva condutas preventivas para a usu ria orient la para evitar as chances de sofrer alto risco ou tra ar mecanismos interventivos que extingam reduzam ou paralisem o estado de alto risco S o diversos os fatores de risco gestacional ainda mais considerando as diferen as regionais do Brasil mas foi poss vel ao MS ibid listar alguns fatores predisponentes ao alto risco na gravidez de todas as gestantes brasileiras Delimitaram se quatro grupos de fatores a serem lidos interligados Caracter sticas individuais e condi es sociodemogr ficas desfavor veis baixa escolaridade dificuldades no relacionamento amoroso atividade trabalhista que exige esfor o f sico da mulher ou a exponha a fatores de estresse e tenha uma carga hor ria intensa 17 lt idade da mulher gt 35 altura lt 1 45m 35 kg gt peso gt 75 kg depend ncia de drogas il citas Hist ria reproduti
166. fer ncia cient fica Revista Hist ria Ci ncias Sa de Manguinhos Rio de Janeiro vol 9 2 315 33 maio ago 2002 Dispon vel em www scielo br Acesso em 22 03 2009 s 06 26h CONDE Ana FIGUEIREDO B rbara Ansiedade na gravidez implica es para a sa de e desenvolvimento do beb e mecanismos neurofisiol gicos envolvidos Sociedade Portuguesa de Pediatria 2005 COSTA Idelvania Geraldina As percep es da gravidez de risco para a gestante e as implica es familiares Revista Ga cha de Enfermagem Porto Alegre v23 n1 p 30 46 janeiro 2002 Dispon vel em www ufrgs br Acesso em 24 08 2008 s 14 31h CRAVEUL Jean A ordem m dica Poder e impot ncia do discurso m dico Tradu o Col gio Freudiano do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Brasiliense 1983 CZERESNIA Dina Interfaces do corpo integra o da alteridade no conceito de doen a Revista Brasileira de Epidemiologia 2007 v 10 n 1 p 19 29 DE CERTEAU Michel A inven o do cotidiano Artes de fazer Tradu o Ephraim Ferreira Alves 142 ed Petr polis Vozes 2000 DEL PRIORE Mary A mulher na hist ria do Brasil Ra zes hist ricas do machismo brasileiro A mulher no imagin rio social Lugar de mulher na hist ria Cole o Repensando a hist ria S o Paulo Contexto 1994 DOR Joel Estruturas e cl nica psicanal tica Rio de Janeiro Taurus 1997 DUBY Georges PERROT Michelle Dir A Hist ria das Mulheres no Ocidente t
167. fian a terap utica levando Helena a almejar ser acompanhada na AMUL ciente do reconhecimento social da Unidade quanto titula o de Amigo da Crian a O acontecimento mostrou uma negativa do discurso preconizado sobre a humaniza o do parto e nascimento ao revelar que a pr tica do parto normal mesmo sendo a mais defendida em termos de qualidade de sa de da popula o ainda se esbarra com o discurso mercadol gico da medicina Por m o fato tamb m expressou a autonomia inicial da usu ria em decidir sobre o pr prio corpo 122 interiorizando de modo consciente o discurso da humaniza o em sa de provavelmente movida pela sua rela o de amor com o beb E ciente da dificuldade em conseguir vaga na Maternidade Dia pelo procedimento padr o de entrada Helena usou da pr tica do clientelismo para ter acesso Unidade de Refer ncia uma pr tica que inclusive p e em quest o o compromisso dos profissionais de sa de com os princ pios do SUS PEN Helena meu marido tem um conhecido aqui ai disse vamos l v se consegue um encaixe na AMUL Ai pronto a gente conseguiu porque o certo para a consulta ser porque quem consegue o cadastro daqui h UM M S mas no mesmo dia que ele falou com um amigo me consultei Curiosamente seu acompanhamento pr natal na AMUL revelou uma contradi o institucional A humaniza o do parto normal foi sentida por Helena como algo impositivo uma p
168. gas il citas apenas ingeria bebida alco lica embora interrompia o consumo ao constatar sua gravidez Sua menarca foi aos 13 anos e coitarca aos 14 anos Da primeira rela o consensual teve tr s filhas todas em AMUL Na primeira gesta o teve um parto dif cil por causa da eclampsia E ficou ressentida com a primog nita que foi educada e amada pela av materna Segundo Reia seu companheiro n o era bom marido nem bom pai Ent o ela decidiu pela separa o e retornou a casa da m e passando a trabalhar como dom stica Na segunda rela o consensual com um funcion rio de restaurante ela foi morar em casa de aluguel com dois quartos com suporte el trico e hidr ulico A renda familiar era pouco mais de um sal rio m nimo Os dois mantinham um v nculo harmonioso at que o parceiro passou a cobrar um filho a Reia A usu ria recusava se a engravidar usando anticoncepcional Em discord ncia seu parceiro n o usava preservativo escondia a medica o de Reia e n o fornecia dinheiro para a compra do rem dio Ela permaneceu lutando contra as imposi es dele justificando o trauma resultante da primeira gravidez E se desesperou com a not cia da terceira 113 gravidez ao contr rio do companheiro que reagiu com felicidade era o primeiro filho dele Reia s aceitou a gravidez aos poucos quando percebeu que ele se tornou c mplice e afetuoso acompanhando a nas consultas pr natais Com isso ela tinha a sens
169. gem que ultrapassou as explica es psicol gicas articulando se a outros saberes como o social o pol tico o psicanal tico e o hist rico possibilitando um novo modo de perceber a vida humana BARBIER 1985 RODRIGUES 2007 A An lise Institucional teve seu marco hist rico no movimento de contesta o que eclodiu na Fran a em Maio de 68 e se expandiu por todo o mundo em defesa dos direitos sociais e questionando as discrimina es a corrup o e a ditadura com o objetivo de 1 Na perspectiva psicossociol gica Organiza o diferente de institui o A primeira a estrutura f sica envolvendo a burocracia e as rela es interpessoais A segunda s o as pol ticas e os discursos que sustentam a Organiza o Por exemplo uma Unidade de Refer ncia uma Organiza o do setor sa de sendo sustentada por v rias institui es como fam lia a pol tica de humaniza o os Direitos da Crian a o discurso da maternidade etc As duas ser o melhor explicadas ainda neste cap tulo no t pico do fundamento te rico 16 Maio de 68 ocorreu em 22 03 1968 Foi um movimento revolucion rio materializado na greve geral estudantil e de trabalhadores oper rios franceses aproximando etnias culturas e classes sociais frente a uma ideologia reformista Seu decl nio foi devido a for as pol ticas do partido comunista de orienta o stalinista mas sua a o instituinte remodelou o espa o cient fico em especial as rou
170. gica A nossa inten o aqui analisar a rela o entre o sujeito e a institui o como fez Bourdieu que estudou a viol ncia simb lica da institui o educacional desenvolvendo nesse esfor o te rico o conceito de habitus usado nesta pesquisa e que ser esclarecido ainda neste cap tulo Como se nota a an lise institucional possibilita desenvolver an lises em diversos realidades organizacionais o que justifica a op o te rica desta pesquisa que analisa a interatividade na AMUL No geral as quatro correntes s o avaliadas na literatura como respons veis por evidenciar a institui o como uma entidade discursiva e ideol gica diferenciando a da materialidade organizacional Esse caminho proposto pela an lise institucional nos permite aprofundar a rela o que os homens mant m com as institui es 2 2 2 1 As institui es Com base na refer ncia te rica da An lise Institucional conceitua se o que est sendo compreendido por institui o o que ajudar ao entendimento sobre as contradi es institucionais que sustentam uma Organiza o Do latim institutio as institui es condicionam a exist ncia da sociedade tendo a fun o de manter e transmitir um Estado ao regulamentarem e orientarem os la os sociais Como dito antes que os la os sociais s o ancorados por ambiguidades afetivas e envolvem quest es primitivas as institui es acabam tamb m cumprindo um papel antag nico camuflar e expor os c
171. hecendo as gestantes antes para um pr vio trabalho educacional Geralmente n o tem forma o na rea de sa de mas s o treinadas pela equipe hospitalar Como geralmente as mulheres chegam ao hospital sem a presen a de acompanhante as doulas ofertam suporte afetivo e educacional no trabalho de parto durante o parto e no p s parto Para o MS 2001 o trabalho das doulas complementar a o da equipe de sa de sendo eficaz no apoio familiar Al m disso entre os benef cios do trabalho das doulas s o citadas a queda das taxas de cesarianas da dura o do trabalho de parto das anestesias do uso de oxitocina e de f rceps Por m o setor sa de n o tem condi es sociopol ticas atuais de definir a presen a das doulas nas unidades de sa de como uma rotina Os conflitos at aqui descritos em torno da assist ncia obst trica refletem as tens es institucionais do setor sa de em geral ao se evidenciar a necessidade urgente da presen a do sujeito no cen rio da Sa de P blica Conforme Martins 2003 o individualista parasita social do capitalismo acabou percebendo a car ncia social de uma individualidade reflexiva No espa o da medicina oficial indiv duos ficaram frustrados insatisfeitos e inseguros exigindo um sistema de sa de solid rio e pluralista De um lado h uma for a reivindicando a presen a do sujeito criativo em sa de De outro lado outra for a coibindo o plano afetivo da sociedade moderna
172. hospitalar mas tamb m seu cotidiano vivido na AMUL relacionando se esses contextos O universo macrossociol gico das gestantes de alto risco incluindo condi es de educa o habita o e renda somavam se s vari veis microssociol gicas la os de afeto desejo materno e paterno hist ria amorosa que acentuavam nessas mulheres seu estado de fragilidade emocional durante a gesta o Isso j evidente na literatura sobre o assunto mas o que a pesquisa apontou em paralelo foi uma singularidade em torno do que as gestantes de alto risco em geral depositavam subjetivamente no beb 5 1 2 A rela o m e beb na gravidez Aborda se aqui uma rela o materna em que n o h ainda o beb da realidade ele est em processo de forma o n o sendo pois um beb sujeito Todavia poss vel falar do feto como um sujeito em constitui o capaz de reagir ativamente aos est mulos intrauterinos apresentando como respostas rea es motoras afetivas e anat mico fisiol gicas O que ocorre na medida em que essa rela o de afeto t o original perpassada pela realidade biopsicossocial da mulher gr vida Ou seja o beb de que aqui se fala j deposit rio dos sentidos que sua m e lhe dirige E tratar desse assunto supor entre outros aspectos a implica o da imagem materna elaborada pela mulher desde sua inf ncia Destacamos a pesquisa permitiu pensar mais precisamente a rela o m e beb a partir do impacto da
173. ia dele Nessa fase as mulheres est o suscet veis ao baby blues depress o p s parto ou a quadros ansiosos MS 2005 Diante de tais vulnerabilidades e da vis o s cio hist rica de que o corpo feminino era essencialmente suscet vel a doen as a gravidez foi impregnada pelo sentido de riscos O desconhecimento cient fico sobre o funcionamento do corpo da mulher o discurso da f crist e o pensamento patriarcal contribu ram para a presen a dos mitos no cotidiano das gr vidas A parturi o a maternidade e a maternidade de alto risco foram dotadas de valores socioculturais MARTINS 2004 HELMAN 2003 Segundo Del Priore 1994 na Idade Moderna o saber popular justificava a gravidez de alto risco atrav s dos fen menos da natureza capazes de interferir no corpo grav dico vulner vel aos riscos do ambiente segundo as cren as Ainda havia uma explica o de ordem religiosa os partos chamados desgra ados eram vistos como um castigo divino punindo se as mulheres que tinham pr ticas sexuais err neas na tica social Nesse aspecto moral as pr ticas sexuais eram vistas como causa de danos grav dicos por m a gestante era orientada a apenas moderar a atividade n o deixando o marido em abstin ncia sexual Do ponto de vista cient fico ainda h imprecis es na caracteriza o dos riscos gestacionais apesar da classifica o de risco descrita pelo SUS Segundo Gomes et al 2001 o sent
174. ia o social atrav s do anonimato coletivo com algumas condi es como a inscri o das significa es imagin rias sociais Essas significa es d o sentido vida e morte individual reeditando historicamente o social constitu do de tradi o e passado As institui es e as significa es imagin rias s o assim coerentes mas incluem as lutas internas entre a contradi o imagin ria social instituinte e a imagin ria social institu da O imagin rio social instituinte ocultado pela a o da heteronomia social Assim pensar a institui o entender o processo de aliena o condi o para a autonomia das institui es da luta de for as que o social se impulsiona para o novo e exerce no plano da singularidade do sujeito uma auto institui o uma reedi o da realidade Assim por mais que o institu do mine a inventividade ela encontrar express o na for a do sujeito coletivo Em suma as pr ticas sociais s o desenvolvidas dentro de campo simb lico e imagin rio E esta leitura psicossociol gica permite situar o cuidado como uma significa o imagin ria social que foi sendo reestruturada ao longo da hist ria dando sentido e identidade vida no setor sa de A rela o de cuidado nessa l gica uma pr tica social que tem a caracter stica de ser dial tica situada entre o institu do e o instituinte do setor sa de Ao buscar analisar as contradi es dial ticas e os processos de media
175. iais uma predisposi o a funcionarem em conformidade inst ncia institu da Nesse estado de aliena o for as ocultas surgem na tend ncia de negar o j estabelecido em confronto com o mesmo provocando um estado de instabilidade Essas for as instituintes s o as da contesta o no 55 momento em que o sujeito se evidencia em processo de autonomiza o diante de seu ambiente social A criatividade ou o mal estar dos grupos sociais diante desse cen rio dialetizado depende do processo de media o entre o universal e o particular da vida em sociedade Esse processo pode ser mais consciente racional quando os grupos conseguem investir na autonomia dos indiv duos tomando consci ncia das descontinuidades de a es grupais Ou ent o o processo de media o pode gerar um sistema social preponderantemente manipulado em que os grupos se posicionam de modo dependente A l gica de contradi es foi usada para compreender o dinamismo da Unidade de Refer ncia que aceitou participar deste estudo e que a partir de agora chamaremos de AMUL Diante dos investimentos t cnico cient ficos nacionais no campo da sa de da mulher gr vida de alto risco apontados no cap tulo anterior este estudo levanta um questionamento sobre as contradi es e as media es da rela o de cuidado Este um problema presente na perspectiva te rica da An lise Institucional como se notar no t pico seguinte e que acompanhou o desenv
176. ias se submetiam a uma rotina de hospitaliza o com o objetivo de produzir sa de para o filho Todavia quando o hospital solicitava a 133 corresponsabilidade das m es na produ o de sa de elas desconheciam os princ pios e as diretrizes do SUS Ali s sua participa o em sa de era demarcada pela aliena o As gestantes assinavam um termo de admiss o na AMUL afirmando estarem cientes de seus deveres e direitos em sa de embora n o soubessem quais seriam os mesmos Declaro estar ciente dos direitos e deveres durante o per odo de internamento de acordo com as Normas de Rotina da AMUL apresentando plena concord ncia ao mesmo e compromisso formal de respeito s disposi es nele contidas inclusive alta administrativa trecho do documento hospitalar Pala Seu eu tenho direitos aqui Sei n o quais s o os meus direitos n o Um problema que confirma uma das maiores dificuldades do SUS conseguir com que os usu rios interiorizem os princ pios e diretrizes como exposto no primeiro cap tulo desta disserta o A pr pria Helena reconheceu que nunca buscou ler informa es sobre o SUS afirmou n o gostar nem ter o h bito de leitura embora tivesse f cil acesso internet Disse que lia apenas o que lhe interessava indicando que ler sobre os direitos em sa de n o seria um bem simb lico de peso no seu campo social Foi somente durante a hospitaliza o que a tem tica fez parte de seus interesses revela
177. icar porque era analfabeta E vov Carminha minha av paterna quem me acolheu de bra os abertos em sua casa durante a constru o de meu mestrado E quem entre tantos cafezinhos que tom vamos noite descreveu me detalhadamente as hist rias gestacionais de nossa fam lia falando me dos altos riscos dos desafios e dos encantos de suas maternidades Coincidentemente contou me tamb m suas experi ncias grav dicas na d cada de 50 como usu ria do mesmo hospital maternidade onde eu constru os dados para este trabalho detalhando me os prim rdios da humaniza o desta Unidade de Sa de Atrav s das contradi es que me confiou sem nem se dar conta proporcionou me dar outros sentidos s nossas historias familiares e cotidianas AGRADECIMENTOS Eu n o sei dizer quem eu sou sem que me recorde de voc Se da minha vida eu sou o sujeito voc o adjetivo Voc me empresta qualidade Pe F bio de Melo 2007 A Deus por cada conquista de minha vida Aos meus pais e a meus irm os por me inspirarem a buscar novos caminhos fazendo me sentir e entender a fam lia como o eixo de minha vida Taciana e Baninho sou grata pela aposta que fizemos e que nessa etapa de minha trajet ria demos a iniciativa para realizar A minha especial matriz de apoio na escolha do curso do vestibular nos diversos momentos da gradua o e neste mestrado na minha vida cotidiana a meu amigo de f meu
178. icionista uma enfermeira e cinco t cnicas de enfermagem Quanto experi ncia profissional foram classificados em J nior tempo de atua o lt 2 anos Pleno 2 anos gt tempo de forma o lt 10 anos e s nior tempo de forma o gt 10 anos conforme Tabela 03 Tabela 03 Caracteriza o das Profissionais de Sa de AMUL Recife 2009 2010 Caracteriza o das Profissionais de Sa de Codinome Sexo Especialidade Experi ncia Profissional Dafne T cnica de Enfermagem Pleno Tocoginecologista S nior T cnica de Enfermagem J nior Nutricionista Pleno T cnica de Enfermagem Pleno T cnica de Enfermagem S nior T cnica de Enfermagem Pleno Enfermeira Pleno H racles Dr ade Hesp ride Hamadriade Napeia Nereida Pegeias ninjnmin imni iS m 3 5 Instrumentos de Operacionaliza o Segundo Minayo 2006 a escolha metodol gica precisa articular os pressupostos epist micos ao desenho de operacionaliza o incluindo nesse cont nuo a criatividade reflexiva do investigador Assim entre setembro de 2009 e junho de 2010 foram realizadas entrevistas observa o de campo e an lise documental sendo esses instrumentos adaptados realidade da pesquisa 26 E 5 7 a PPE Foram sete codinomes de ninfas gregas e um codinome de her i grego com o objetivo de garantir a preserva o da imagem dos participantes como se fez no caso das usu rias Vide Ap ndice B
179. ida admitida Helena 02 N o N o admitida admitida Hera N o 01 N o admitida admitida Nik N o N o N o N o admitida admitida admitida admitida Pala N o N o N o N o admitida admitida admitida admitida Reia N o N o N o N o admitida admitida admitida admitida Subtotal 0 01 02 0 Total 23 3 5 1 2 As entrevistas com os Profissionais de Sa de As entrevistas com os profissionais ocorreram de setembro de 2009 a maio de 2010 Cada profissional foi entrevistado uma vez em servi o com dura o de 30 a 60 minutos de acordo com a disponibilidade do protagonista Inclusive uma das entrevistas foi 87 interrompida o entrevistado precisou atender uma urg ncia cl nica permanecendo ocupado nela at o final do expediente dando se continuidade a seu discurso em outra data E um profissional n o permitiu a audiograva o mesmo tendo sido explicado o tipo de estudo e a forma da entrevista Neste caso a entrevista foi manuscrita A quest o de partida dessas entrevistas foi Pelo que voc observa no seu cotidiano de trabalho fala me sobre duas coisas o modo como a gestante de alto risco se comporta no hospital e como a equipe de sa de reage diante desses comportamentos da usu ria 3 5 2 A observa o de campo De setembro a dezembro de 2009 ocorreu a observa o de campo em EGAR com total de 112h de carga hor ria de car ter complementar aos
180. idado entre a equipe de sa de e a gestante de alto risco durante o processo de hospitaliza o O meu papel na pesquisa ser o de atrav s de entrevista fornecer informa es teis compreens o dessa rela o de cuidado Fui informado a de que a presente pesquisa n o oferece risco minha sa de f sica e ou mental E que poderei desistir de participar no momento em que desejar sem que isso me cause nenhum preju zo financeiro ou moral Bem como poderei impedir que trechos do meu discurso sejam usados Tamb m fui esclarecido a que todas as informa es dadas por mim durante a pesquisa ser o utilizadas apenas com fins cient ficos assim se houver a publica o delas a minha identidade ser mantida em sigilo Tendo compreendido tudo o que me foi explicado acerca da pesquisa de meu papel nela de meus direitos e de minha responsabilidade concordo participar de livre e espont nea vontade Para isso dou o meu consentimento sem que qualquer constrangimento ou imposi o me obrigue a tal Tathyane Gleice da Silva pesquisadora respons vel endere o Universidade Federal de Pernambuco Centro de Filosofia e Ci ncias Humanas telefone 96761950 e mail tathyanesilva O gmail com Anexo F Modelo de Gr fico de Interpreta o Gr fico produzido pela pesquisadora na an lise das entrevistas de Nik na busca pelos t picos tem ticos desta pesquisa
181. ido do alto risco gestacional mant m um perfil quantitativo e organicista merecendo ser pensado na articula o de v rias disciplinas para uma melhor avalia o dos riscos gestacionais Czeresnia 2007 concorda e discute a import ncia do profissional de sa de favorecer gestante a constru o de sentidos criativos para sua experi ncia grav dica de modo a que fa a escolhas compartilhadas sobre seu corpo Segundo a autora enquanto a medicina controla os picos hipertensivos cabe equipe fornecer atrav s da rela o de cuidado um espa o de escuta e acolhimento para que a gestante encontre do ponto de vista subjetivo vide Ap ndice A Fatores de Riscos Gesta o de Alto Risco outras formas de enfrentar sua realidade que n o seja correndo o risco de morrer ou de matar seu beb Do contr rio evitar os riscos de modo autorit rio e organicista incorrer o perigo de agrav lo Se correr riscos servir ao sujeito como uma sa da inconsciente para lidar com sua realidade seja ao menos na condi o de ganho secund rio o risco tem assim um fator de prote o subjetiva ainda que de forma prejudicial Pois livrar o sujeito bruscamente dessa sa da psicol gica sem lhe oferecer alternativas tamb m uma forma de piorar seu estado de sa de Ent o erradicar ou minimizar as condi es de risco de um usu rio requer procedimentos que permitam estabelecer negocia es Para isso vale tomar ci ncia de que a
182. ioso foi aquela enfermaria onde continuaram os curativos em cirurgia aberta por tr s dias Recebeu alta na mesma data que a filha saiu do ber rio O trajeto em AMUL totalizou 21 dias de hospitaliza o materna 6 1 1 6 Nik Nik 25 anos oriunda de Caruaru Agreste Central de Pernambuco Ensino M dio incompleto trabalhava em f brica de estamparia cat lica n o fumava nem ingeria bebida alco lica tampouco consumia drogas il citas Sua menarca foi aos 11 anos e a coitarca aos 19 anos Aos 20 anos vivenciou um aborto sem causa esclarecida Ap s tr s anos casou se com o quarto parceiro sexual Morava com o marido em casa de alvenaria alugada de dois quartos com suporte hidr ulico e el trico O casal trabalhava no ramo de tecelagem tendo a fam lia uma renda mensal de menos de dois sal rios m nimos Mantinha com o esposo um la o de cumplicidade compartilhando seu medo de engravidar outra vez Apesar das medidas anticonceptivas aos 25 anos Nik engravidou Embora n o tivesse planejado o beb para aquele momento ficou em estado de felicidade Decidiu abandonar o emprego devido s condi es de seu trabalho que lhe expunha a produtos qu micos e exigia esfor o f sico Cada vez mais se sentia ansiosa pela chegada do filho tanto devido ao medo de perd lo quanto angustiada por estar sem trabalhar Na 31 semana grav dica apresentou sangramento vaginal sendo encaminhada de uma policl nica de Car
183. ir lhe sua fun o devoradora de castra o Os dados mostraram que o ci me surgia n o s da constata o do sucesso do outro tamb m do refor o social de seu insucesso Pegeia afirmou que o setor onde trabalhava trata muito bem as usu rias o que se confirmou nas observa es de campo Por m a sabotagem foi um fen meno que contribu a com o t tulo l muito caquiado O setor de fato tinha uma compet ncia ao acolhimento em contradi o garantia a durabilidade de sua imagem social ao acusar as fragilidades do outro O discurso de Napeia explica isso quando as usu rias saiam do setor de Pegeia e davam entrada em outros servi os Napeia L no outro setor elas equipe de sa de dizem pr s pacientes ah l mais rigoroso n o sei o que N o pr elas falarem isso pr s pacientes Voc a paciente j fica assustada j fica com medo mas por que Porque algumas pessoas n o s o todas dizem coisas pra elas ah ali pior Ai j cria uma imagem As usu rias mesmo falaram eu to com medo porque as meninas l em cima s o brabas Eu j digo o contr rio se elas chegam n o n o se preocupe porque as meninas s o timas Do jeito que aqui l Ou talvez at melhor E quando um era atingido pela rivalidade imagin ria do outro gerava se um ciclo de disputas do jeito que aqui l Ou talvez at melhor
184. irm o camarada JC Aquele que me inspirou a um mestrado ao meu orientador Prof A cio Matos pela sua paci ncia inigual vel sincera e constante respeitando sempre meu ritmo de aprendizagem oferecendo me palavras leves e apaziguadoras quando eu precisei iluminando meus pensamentos com seu olhar psicossociol gico diante da realidade por ter sido meu mediador na teoria e na pr tica pelas suas avalia es dadas ao meu texto por seu estilo compreensivo e sua disponibilidade surpreendente nas f rias em feriados e dias santos Minutos de orienta o pareciam horas pelas in meras contribui es que surgiam de seu jeito simples e inteligente de ver as coisas mediante sua eleg ncia cient fica e humana que desde a gradua o eu admiro N o posso deixar de dizer ainda por me levar ao encontro com as ideias de Castoriadis Conseguimos chegar disserta o professor superando as pedras no meio de meu caminho E jamais eu teria chegado aqui sem o apoio do senhor Gostaria de ter aproveitado mais mas me consolo acreditando que tudo foi infinito enquanto durou e perdurar para sempre em mim Meu eterno muito obrigada professora Brena Melo tocoginecologista que trabalha no mesmo hospital onde a pesquisa foi desenvolvida por ter aceitado colaborar com o estudo acompanhando o de perto exercendo para mim uma fun o de coorientadora Seu apoio foi valioso sempre pronta para sugerir encaminh
185. iro qual a que eu tinha atendido antes Eu olhei para minha colega e disse paci ncia a gente perdeu o controle c As fragilidades da Rede de sa de quanto s condutas de parto para gestantes de alto risco aliadas s quest es de ordem tico profissional e ao arbitr rio 142 cultural de que o parto ces rea por ser indolor seria a melhor op o da mulher Her cles Existe ainda um problema que infelizmente de ordem tico profissional A gestante vai a um hospital l fora ou ao m dico que est l no posto Aquele m dico se esquece de que quem vai decidir o parto somos n s quem estamos aqui quando a gente vai avaliar o caso dela Mas ele adianta e diz porque ela de alto risco vou encaminhar voc pr AMUL que l eles v o fazer uma cesariana em voc A ela chega aqui pronta pr isso e a gente diz parto normal Ai ela fica como Confusa Ai n o gosta se desespera reclama de tudo diz que n o gosta daqui Outra coisa a pr pria fam lia diz isso uma quest o cultural a m e coloca na cabe a dela que melhor ces reo Esses fatores atingiam diretamente a rela o de cuidado na Sala de Pr parto O pr prio H racles enfatizou perceber a grande necessidade de acolhimento das parturientes naquele setor tamb m disse de sua disposi o em acolh las Por m segundo o m dico o acolhimento poss vel AMUL e o que a equipe gost
186. ist ncia hospitalar era um servi o marginalizado voltado ao miser vel e ao infeliz Como a doen a acusou o caos s cio Cf http Avww dichistoriasaude coc fiocruz br iah P verbetes stcasaba htm Acesso aos 05 10 2009 s 20 18h 26 demogr fico a pobreza foi utilizada como justificativa para a necessidade de uma reorganiza o do espa o social Foi assim que moral burguesa categorizou os pobres nomeando uma parcela deles de ociosos volunt rios outra de desempregados involunt rios Esse crivo da ociosidade minimizou a leitura sacralizada da pobreza e a culpa social diante da mis ria formando m o de obra barata Ainda a ascens o s cio econ mica era projetada como uma garantia para que o indiv duo financiasse os custos do pr prio tratamento m dico Segundo Foucault 2004 houve uma alian a entre as necessidades industriais de produ o o fen meno do adoecimento do pobre o imperativo do trabalho e a pr tica m dica Deste modo no S culo XVIII a Fran a deu in cio gest o participativa em Sa de dissimulando os interesses burgueses Nesse jogo conflitivo o hospital voltava se mais sa de da popula o do que normatividade pois o movimento higienista investiu na sa de do corpo f sico para melhoria das condi es de vida do corpo social A assist ncia deixava de ser caritativa e se tornava dever da pol cia m dica que usaria de estrat gias disciplinares para higi
187. ital maternidade compor uma hiperestrutura de aten o gestante de alto risco do pr natal ao acompanhamento ambulatorial p s parto compondo v rios setores importante compreender essa divis o dos servi os porque a an lise institucional desta pesquisa considerou os trajetos de hospitaliza o das usu rias nesses servi os a Maternidade Dia Espa o ambulatorial voltado s gestantes de alto risco com sistema de interna o 24h para realizar exames cl nicos e avalia o m dica Atende mensalmente mais de 500 mulheres com complica es na gravidez Emerg ncia uma triagem obst trica de onde as gestantes s o encaminhadas ou n o ao internamento hospitalar Atendia uma m dia di ria de 80 usu rias Enfermaria de Gesta o de Alto Risco EGAR rea composta por 28 leitos distribu dos em 08 salas Uma delas era espec fica da Medicina Fetal com 04 leitos Ent o 24 leitos seriam para as gr vidas com outras doen as cl nicas que n o a malforma o fetal As gestantes provinham da emerg ncia ou de outras enfermarias do hospital assim que diagnosticado o alto risco grav dico com indica o de internamento Dos crit rios de admiss o exemplificam se trabalho de parto prematuro pr eclampsia e infec o urin ria O setor atende em m dia 150 usu rias mensalmente Sala de Pr parto Sala de prepara o para o parto As mulheres que ficam neste setor geralmente estavam em trabalho d
188. italar e todo seu conjunto de sentidos constru dos historicamente Nesse passo propor o que o sistema global gerencia as rela es interpessoais hospitalares depara se com for as instituintes e cria a singularidade do servi o O hospital incorpora o modelo reivindicado pela sociedade enquanto oscila entre a norma e o desejo de transgredi la O jogo de for as que busca negar a norma central em Lourau 1985 e sinaliza um estilo de pensar a vida social Um estilo que optamos para pensar a rela o de cuidado que a gestante de alto risco vivencia na AMUL Um sujeito social necessita dessa negativa para que construa sua autonomia ainda que relativamente Isso porque s o as negocia es do jogo contradit rio que estruturam a singularidade das pr ticas sociais orientadas pelo sistema de poder da Organiza o 2 2 2 2 As Organiza es A Organiza o um sistema de autoridade atrav s do qual as institui es pol ticas XVII s o expressas produzidas e significadas formada pela divis o de trabalho ideol gicas pelas rela es cotidianas de for a das lutas impl citas e expl citas e das estrat gias dos atores envolvidos ENRIQUEZ 1997 p 81 Assim ela sustentada por contradi es dial ticas o que faz da Organiza o um objeto complexo no sentido dado por Morin 1990 Para Matos 2003 pode se distinguir tr s n veis diferenciados complementares e imbricados na estrutura
189. itos de identidade inseridos na trama social O sujeito ent o fica sob o dom nio do Outro social como uma extens o das fun es materna e paterna inicialmente estabelecidas Sem negar o discurso do outro a forma o do sujeito aut nomo passa pelo esfor o de construir um olhar cr tico sobre aquele discurso na busca de constituir um discurso pr prio e assim dar sentido vida singular E conceitua a autonomia como meu discurso deve tomar o lugar do discurso do Outro de um discurso estranho que est em mim e me domina fala por mim Esta elucida o indica de imediato a dimens o social do problema pouco importa que o Outro de que se trata no in cio seja o outro estreito parental por uma s rie de articula es evidentes o par parental remete finalmente sociedade inteira e sua hist ria CASTORIADIS 2007 p 124 At porque a sociedade mantida por media es de conflitos imagin rios sendo o imagin rio social um dominante do discurso do sujeito Quando este discurso toma o lugar do discurso do Outro social h a autonomia individual ponto de partida para uma autonomia coletiva Esta surge quando o sujeito elabora um discurso seu a partir do reconhecimento do discurso do outro tamb m da capacidade de questionar esse discurso externo Nesse processo aut nomo o sujeito preocupa se com o social e a constr i um novo discurso o discurso renovado uma constru o coletiva atrav s do conflito instaur
190. itu da pela esperan a de criar BACHELARD 2002 p 05 LISTA DE ILUSTRA ES Representa o Gr fica 01 Fluxograma de capta o dos participantes Representa o Gr fica 02 Os tr s n veis centrais de an lise e suas repercuss es Representa o Gr fica 03 Tend ncia Psicossociol gica Decrescente Representa o Gr fica 04 Tend ncia Psicossociol gica Oscilante Representa o Gr fica 05 Tend ncia Psicossociol gica Constante LISTA DE TABELAS Tabela 01 Caracteriza o das usu rias conforme fatores de alto risco gestacional AMUL Recife 2009 2010 Tabela 02 Caracteriza o da Hist ria Materna das Usu rias tendo em vista o beb atual AMUL Recife 2009 2010 Tabela 03 Caracteriza o das Profissionais de Sa de AMUL Recife 2009 2010 Tabela 04 N mero de Relatos de Viv ncia com as usu rias conforme setores da AMUL LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Amigo da Mulher Nome fict cio da Unidade de Refer ncia que participou do estudo Enfermaria de Gesta o de Alto Risco MS Minist rio da Sa de OMS Organiza o Mundial de Sa de PAISM Programa de Aten o Integral Sa de da Mulher PNH ou Humanizasus Pol tica Nacional de Humaniza o REHUNA Rede Nacional pela Humaniza o do Parto e Nascimento SUS Sistema nico de Sa de UTI Unidade de Terapia Intensiva TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido SUM RIO RESUMO ABSTRACT INTRODU O
191. izes deste Sistema assim n o se posicionando como protagonista da sa de Os indiv duos n o assumem a sa de como uma quest o social de responsabilidade coletiva Ao contr rio a institui o p blica de sa de sentida pela popula o brasileira como um servi o voltado aos exclu dos do sistema social Matos 2009 constatou no PSF uma fragiliza o da autoestima dos usu rios que disseram usar o SUS por falta de alternativa N o tendo condi es financeiras de pagar um plano de sa de submetiam se a uma assist ncia deficit ria gratuita e voltada aos pobres Por outro lado o conjunto das normativas do SUS permite mudan as cont nuas nas a es desse Sistema Segundo o MS 2009 o modelo de gest o participativa prev a es pedag gicas e avaliativas em sa de a fim de tornar as ferramentas do SUS mais apropriadas aos usu rios e profissionais Em parte isso abre a possibilidade para o desenvolvimento de uma cidadania ampliada Por outro lado a constru o de cidadania n o depende s de investimentos educativos no sentido da pedagogia tradicional requer mais profundamente uma mudan a de atitude social Antes mesmo do SUS Luz 1979 j alertava que viabilizar um ambiente f sico e interpessoal seguro ao usu rio exige principalmente rever as condi es da popula o se apropriar produzir e reproduzir vida coletiva E um problema possivelmente relacionado s dificuldades de efetiva o do SUS o descr
192. jeito estruturado na rela o conflituosa entre duas inst ncias o id e o superego O id a inst ncia do desejo inconsciente e absoluto onde h a m xima do prazer designado por Freud 1920 como o princ pio do prazer O superego surge como a inst ncia que se contrap e ao id apresentando a norma social como princ pio da realidade demarcada por limites e puni es O ego como sujeito singular ent o constitu do na media o desse conflito sentir prazer na realiza o do pr prio desejo em contraposi o aos limites da repress o social O ego representa assim uma inst ncia resultante da negocia o ele garante a forma o da sociedade ao permitir que o sujeito obede a ao social mas tamb m se aproxime de algo que fa a uma representa o do desejo Em outras palavras o consciente insinua o que antes era desejo inconsciente Eis uma conceitua o basilar de nossa pesquisa ao acreditarmos que o espa o ps quico e social onde se manifestam essas contradi es e media es precisa ser entendido na sua complexidade seja pelas refer ncias inconscientes que constituem o imagin rio dos atores sociais seja pelas rela es simb licas que se sedimentam no espa o social Por isso desenvolver o conceito de autonomia nesse contexto te rico trabalhar o universo e a linguagem onde se processa o desenvolvimento do indiv duo social Esse universo permite ao inconsciente se manifestar na inscri o do sujeito e
193. la desde a adolesc ncia sonhava em ter um beb Demetra precisou ver com os pr prios olhos que ele estava vivo na realidade ignorando a partir de ent o os sentimentos dirigidos a um beb mola hidatiforme Esses aspectos subjetivos interferiam no modo como as gestantes de alto risco se dirigiam ao beb em forma o Elas se referiam comumente ao mesmo com pronome de tratamento demonstrativo esse beb essa do bucho Inclusive a filha de Pala n o tinha nome pr prio at a alta hospitalar Notou se certo distanciamento relacional com o beb Em parte esses mecanismos pareciam recursos para as m es se protegerem do beb imagin rio Por outro lado n o se pode excluir desta an lise que esse distanciamento relacional devia se tamb m s influ ncias socioculturais O que ficou n tido no discurso de Pala a mais desfavorecida economicamente entre as usu rias deste trabalho Ela sentia vergonha de dirigir a palavra no espa o hospitalar ao nascituro e desconhecia a import ncia dos investimentos afetivos maternos na fase grav dica para o desenvolvimento do beb Pala Conversar com a do bucho Eu n o Ela n o entende risos Mas ser que ela sente alguma coisa E eu sei Acho que n o A as pessoa vai dizer oxe ela doida conversando s a riso Recorde se a rela o materno fetal importa para a qualidade do desenvolvimento do beb e da crian a Estudos como o de Conde e Fig
194. letiva Isso porque os indiv duos da Organiza o se comportam tendo como refer ncia o modelo de socializa o que ela lhe prescreve Os indiv duos cumprem o modelo pois o sentem como uma condi o de perman ncia no corpo Organizacional Dessa maneira a Organiza o estabelece sua pr pria identidade o que garante que os seus funcion rios e sua clientela a percebam com clareza e aceitem as determina es que ela imp e um sistema simb lico porque para garantir que seus membros incorporem de fato a rede de significa es que ela imp e a Organiza o convoca mitos e institui rituais Por exemplo pode narrar continuamente sobre a figura de um her i escolhido pela mesma e que viver na mem ria coletiva como dispositivo de sedu o que liga o indiv duo ordem Organizacional O her i o ritual ou o mito s o assim um sistema de legitima o atrav s do qual a estrutura Organizacional se oferece como objeto de desejo do outro que ent o lhe incorpora e se empenha orgulhosamente a cumprir a fun o que ela lhe designou A Organiza o cria seu sistema simb lico principalmente quando ela se v amea ada a fim de n o esmorecer ela controla o indiv duo no plano afetivo e no intelectual Ao convocar um sistema simb lico ela sensibiliza o indiv duo que j seduzido comporta se em conformidade com a Organiza o Ao mesmo tempo esses s mbolos s o expressos por um arranjo conceitual que leva os membros da O
195. lhan a da Virgem Imaculada Concep o Ou como corpo do pecado semelhan a de Eva Corpo sa de doen a e gravidez receberam o crivo da santidade e do pecado sob a perspectiva criacionista A mulher gr vida era socialmente reconhecida se fosse casada Por outro lado o corpo da gr vida podia ser visto como prova do pecado quando associado aos maus comportamentos sexuais da mulher de modo que os problemas de sa de advindos do processo gestacional eram explicados como castigo divino CAMAROTTI 2002 Essa distin o foi efetiva uma vez que a explica o religiosa no Ocidente agia de forma repressora para com o corpo da mulher ao atribuir o tom de impureza ao ato sexual No processo de ruptura com as explica es sobrenaturais a ci ncia apropriou se do discurso de que a atividade sexual tinha como fim a procria o O modelo sexo procria o foi o modelo bin rio do patriarcalismo limitando o lugar social da mulher reprodu o Nesse patamar a l gica da ci ncia diferenciou se da l gica do cotidiano e acabou produzindo uma assist ncia repressora em sa de ao negligenciar a autonomia da mulher sobre o pr prio corpo LUZ 1979 COELHO FILHO 2002 HELMAN 2003 VILA 2003 No tempo biol gico a repress o da religi o foi substitu da pela repress o da ci ncia que simbolizou o corpo da mulher gr vida como estritamente org nico Como diz Rezende 23 2010 os tratados de obstetr cia dos S culos
196. lheres no Hospital S o Crist v o Por m as gr vidas n o aderiram ao servi o e as mulheres hospitalizadas portavam de enfermidades dissociadas do processo grav dico Ele foi fechado devido baixa ades o insalubridade a pouca ventila o e aos riscos bacteriol gicos Ap s 1880 com o advento da Bacteriologia foi poss vel controlar febres puerperais entre os processos infecciosos o que possibilitou o desenvolvimento dos hospitais e sua credibilidade social Sendo assim em 1893 foi inaugurado o Hospital Santa Isabel equipado com enfermarias femininas em local isolado do centro urbano separando o espa o das gestantes das pu rperas com quadro infeccioso Em 1910 houve a inaugura o do primeiro hospital maternidade brasileiro a Maternidade Clim rio de Oliveira em Salvador Bahia J em 1911 no Rio de Janeiro foi institu da a Escola Brasileira de Obstetr cia criada por Fernando Magalh es 1878 1944 Ainda assim a clientela continuava rara pois as parteiras permaneciam atuantes e o pudor com o corpo impedia mulheres de procurarem a assist ncia com m dicos homens Ali s havia dentro da pr pria medicina uma discrimina o no que se refere ao m dico ginecologista e obstetra Este era um of cio considerado indigno devido a sua tradi o feminina apropriado s pr ticas dom sticas Apesar disso alguns m dicos passaram a usar de interven es educativas por meio de peri dicos informando sobre sua fun
197. lizou tal interven o por duas vezes quando avaliou a urg ncia subjetiva e verificou que n o havia outro psic logo naquela Organiza o Em outro caso percebeu no conte do do relato uma necessidade psicoter pica envolvendo a rela o da usu ria com sua filha mais velha que estava em casa Uma problem tica que inclusive se relacionava viv ncia do alto risco grav dico Como a necessidade se apresentou voltada interven o ambulatorial sugeriu usu ria procurar um servi o de psicoterapia infantil e emitiu encaminhamento psicol gico ao caso Ao final da pesquisa cada gestante recebeu uma encaderna o com as transcri es de seus relatos A capa foi intitulada Meus relatos no nascimento de meu beb seguida de uma foto da usu ria no hospital e de um trecho de suas narrativas Por exemplo Minha expectativa era o meu beb gra as a Deus t tudo normal com ele A contracapa constava uma identifica o Relato de nome da usu ria durante sua hospitaliza o na AMUL onde nasceu aos data seu beb nome do beb fruto de sua rela o conjugal com nome do pai e uma dedicat ria da pesquisadora Somente Atalanta e Pala n o receberam este material A primeira por ela ser analfabeta n o iria poder ter controle sobre o que estava transcrito Quanto Pala ela recebeu alta antes da pesquisadora concluir as transcri es e o n mero de telefone que ela forneceu estava inoperante C
198. m um mundo das representa es simb licas que servem de base para a regula o social tamb m para garantir n veis satisfat rios de realiza o individual e coletiva Ao insistir em vir tona as fantasias inconscientes do campo imagin rio encontram sa das de express o atrav s do campo simb lico o da representa o do imagin rio Por isso mesmo cada s mbolo produzido pelo sujeito um documento normativo um estilo de conduta est inscrito em uma cadeia de significantes dizendo o que sugere dizer e camuflando o que n o pode ser dito abertamente Um significante est sempre fazendo refer ncia a outro significante sempre circulando ao redor do n o dito que permanece oculto Essa cadeia n o se fecha ficando em torno de algo que a raz o n o d conta e que em certa medida simbolizado Portanto o campo simb lico permite ao sujeito se tornar engajado questionar e dar sentido vida ser sujeito de linguagem o falante LACAN 1998 E foi este o motivo do simb lico ter sido essencial ao nascimento das rela es sociais como a que pretendemos estudar nesta pesquisa a rela o de cuidado Nessa conjuntura entende se que o indiv duo como sujeito social constitu do em raz o da presen a manifesta da rela o entre sujeitos LACAN ibid p 529 Quando diz isso Lacan n o est falando apenas da rela o entre um sujeito e outro sujeito no plano da realidade muito mais refere se
199. manos da AMUL que assinou a carta de Anu ncia Anexo D Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE Anexo E As usu rias do estudo revelaram se vulner veis fragilidade emocional chorando durante os relatos de viv ncia dependendo dos conte dos que evocavam como a vontade pela alta as saudades dos filhos mais velhos o medo de perder o beb Portanto a 89 pesquisadora manteve se atenta a adequar suas quest es em observ ncia ao estado psicol gico da usu ria por vezes dispondo de palavras de fortalecimento para restabelec la emocionalmente assim dando continuidade ao relato ou o interrompendo Para aprofundar os conte dos relatados pelas usu rias a pesquisadora emitia perguntas conforme o tempo subjetivo da rela o de pesquisa assim respeitando a vontade da protagonista em n o responder certas quest es Uma usu ria podia estar mais receptiva a falar sobre a vida conjugal do que outra uma delas somente aos poucos ficava mais prop cia a verbalizar sobre sua rela o com o beb e assim por diante E como j sinalizado no cap tulo anterior a pesquisadora acionou a equipe de sa de da AMUL sugerindo interven o psicol gica hospitalar para as usu rias que indicavam a necessidade desse apoio emocional Tamb m sugeria pr pria gestante buscar o apoio cl nico usando da mesma conduta quando esta mesma solicitava o suporte psicol gico Ainda assim a pesquisadora rea
200. maternidade Ai minha doutora disse Se aumentar a press o a gente volta pra AMUL mas continua baixa tudinho voc faz o pr natal aqui Eu continuei l MAS EU DIZIA A ELA Meu filho eu vou ter na AMUL Quando for no final eu quero que a senhora me encaminhe pra AMUL 123 Para Reia a AMUL era o nico hospital que lhe inspirava confian a no trabalho de parto tendo em vista o quadro de hipertens o gestacional dela Ainda seu discurso indicava uma diferencia o dos n veis de complexidade em sa de Aliada a tal distin o surgia seu la o de amor para com o hospital Reia A AMUL s atende caso grave Eu gosto muito daqui Na contrapartida a gestante estabelecia uma rela o de depend ncia assim lutando por se manter na Unidade A An lise sugeriu que Reia necessitava da AMUL como condi o para esta m e n o falhar na hora do parto Em outras palavras ela temia fracassar perante o alto risco desse momento de corte e perda simb lica Essa rela o de depend ncia foi possivelmente instaurada na Sala de Parto quando teve sua primeira filha Recordou se de que quase n o conseguira sobreviver naquele parto precisando de cuidados intensivos no puerperio imediato A frase que lhe teria marcado foi dita pela obstetra fa a for a m e sen o morre voc e sua filha A fun o simb lica desta frase resultou no sofrimento intenso de Reia Nove anos depois quando na posi o de narradora
201. mposta pelas seguintes especialidades medicina psicologia enfermagem e nutri o 3 3 Crit rios de Elegibilidade dos atores sociais de AMUL e a composi o da amostra A sele o dos participantes visou heterogeneidade dos casos no sentido de alcan ar uma abordagem ampla das singularidades institucionais Portanto foram estabelecidos alguns crit rios de inclus o para 2 Esta casa prevista como facultativa pela pol tica de humaniza o do parto e nascimento tendo como objetivo garantir a constru o do v nculo m e beb minimizando a separa o nos primeiros per odos de vida garantindo uma qualidade de tratamento ao rec m nascido AMUL disp e a casa para m es do interior do Estado As da capital recebem ajuda de custo para transporte urbano 76 a As usu rias gestantes de EGAR que os nomes constavam no censo no momento de constru o da pesquisa A sele o foi realizada atrav s dos prontu rios considerando o tempo de gesta o gt 24 semanas idade acima de 12 anos e que estivessem internadas na EGAR da AMUL sem perspectiva de alta Da primeira lista de gestantes selecionadas escolheu se aleatoriamente contemplar as diversidades de quadros cl nicos para que o estudo n o se especificasse a uma patologia cl nica mas condi o de alto risco gestacional Contava se ainda com a disponibilidade da usu ria em participar do estudo Os profissionais aqueles que trabalhavam na AMUL nos mesmos
202. mpouco ser mediadores da rela o m e beb conforme avaliado no discurso da usu ria Come ou ent o a se sentir desconfort vel no ambiente da AMUL Sua rela o com a equipe foi ficando cada vez mais dif cil principalmente ao se deparar com as fragilidades das rela es de trabalho da pr pria equipe de sa de como ser explicado no terceiro n vel de an lise desta pesquisa Pelo exposto a sensa o de aprisionamento desencadeada na poca da admiss o hospitalar e o medo de morte mantido no percurso de hospitaliza o foram transformados no sentimento de dio para com o hospital no per odo da alta Atalanta no primeiro relato O atendimento aqui bom as enfermeiras aqui s o tima Tudo aqui bom agora que ningu m gosta de ficar PRESA ningu m gosta de ficar internada ai todo mundo acha chato porque um dia aqui parece com um ano Ai fica muito dif cil Atalanta no ltimo relato Por que falo diferente do que falava antes riso ir nico L embaixo ainda era melhor o atendimento com toda derrota ainda era melhor O atendimento p ssimo aqui Vixe N o sei pr que Em casa eu tenho quem me ajude Aqui n o Oxe N o vejo a hora de sair daqui e ir me bora Pr mais nunca mais meu Deus pr se internar aqui eu quero mais nunca Vixe N o foi como eu pensei foi ruim demais foi muito diferente As tend ncias psicossociol gicas mostraram que o itiner rio
203. n health and social control FOUCAULT 2004 2008 The study s object was the care relationship and had the participation of eight users and eight health professionals from a hospital center of excellence The following techniques were used to collect data interviews field observation and analysis of documents whose theoretical methods were analysis of the dialectic system MAX PAG S 1993 and synchronic institutional analysis BARBIER 1985 The results evidenced that these women already awarded to their babies a place of aggressiveness even before becoming pregnant Hence they experienced their pregnancy fearing death due to their clinical condition and also felt guilty these feelings were summed to a stressful situation accruing from the hospital routine and the gestational and puerperal psychodynamic However they did not always find in the health team the necessary affective support to help them to re signify the baby s place and consequently diminish suffering The care relationship was fragmented with postures focused on the users and other postures that impeded them to be protagonists in the health process which composed a habitus around care Consequently the users presented three psycho sociological tendencies concerning the hospitalization experience preponderated 1 the relationship of love with the Organization 2 the resentment s relationship 3 the rejection and hatred and which was directed by the user to the hospital Ass
204. nar a funcionalidade do SUS Mesmo este Sistema vir encaminhando uma negativa disciplinariza o do espa o m dico com o lema da autonomia e protagoniza o do sujeito tem tamb m revelado defici ncias Pode se questionar nisso os interesses de manuten o hegem nica do Saber em sa de com suas formas de regular a liberdade do usu rio em contraposi o for a que visa a autonomiza o do sujeito em sa de A reflex o feita at aqui sobre o sujeito aut nomo e as rela es de for a do social permite questionar se a rela o de cuidado em sa de tem sido praticada de maneira a favorecer a autonomia da gestante de alto risco em situa o de internamento hospitalar A pesquisa foca essa quest o vendo que o conceito de sujeito aut nomo em Castoriadis 2007 tem aproxima es com a perspectiva de usu rio centrado em sa de Esta perspectiva embasa a rela o de cuidado como uma rela o intersubjetiva unindo o saber profissional e tecnol gico tamb m os desejos e a demanda do outro PINHEIRO SILVA J NIOR 2009 p 40 E o cuidado integral requer a participa o ativa dos atores sociais incluindo gestores profissionais de sa de e usu rios preocupados com o bem estar dos indiv duos e dos grupos Estes s o vistos nas normas do SUS como aqueles que merecem ter garantido o direito de emitir ju zos sobre quais seriam suas pr prias necessidades em sa de sendo ent o posicionados como outro sujeito e n o como outro
205. nde se limitam os enunciados da fala O ponto de contribui o deste estudo est em escutar os equ vocos do discurso as contradi es desse jogo interativo que diz respeito s manifesta es do inconsciente Ao pretender nesta introdu o dar uma ideia do conjunto de que trata a pesquisa para favorecer a leitura dos cap tulos que seguem sublinho que a tem tica do estudo situa um processo de reformula es institucionais que vem agenciando de forma s cio hist rica as pr ticas focadas na sa de da mulher gr vida Neste contexto o primeiro cap tulo apresenta a problem tica da pesquisa S o abordados nesse momento os seguintes temas a a institucionaliza o da Sa de P blica e a quest o da hegemonia m dica levando em conta a no o de controle social em Michel Foucault 1926 1984 b as novas configura es da Sa de como a proposta de trabalho em equipe incluindo a Pol tica Nacional de Humaniza o PNH c as orienta es desta Pol tica ao atendimento gestante de alto risco d a articula o entre o lugar que a mulher m e ocupa na sociedade e a psicodin mica da gravidez focando a gravidez de alto risco e as quest es da rela o de cuidado no processo de hospitaliza o com a perspectiva de sa de centrada no usu rio A partir de tais reflex es foi estabelecida a quest o de pesquisa que levou aos objetivos expostos no final do cap tulo O cap tulo dois explana a abordagem te rica em que foi
206. ndo que a Sa de n o tem sido na pr tica uma causa coletiva no sentido de Castoriadis 2007 Helena s teve interesse em conhecer o Sistema ao se ver precisando dele ou seja para resolver seus interesses pessoais Vale ainda pontuar o segundo desconhecimento observado foi as usu rias n o saberem da exist ncia da Carta do usu rio do SUS sobre os direitos e deveres do cidad o em Sa de MS 2006 Isso confirmou o que Matos 2009 argumenta sobre a defici ncia dos recursos lingu sticos usados pelo SUS para a publica o de suas diretrizes e a es E desconhecer os direitos em sa de implicava na depend ncia das usu rias para com a AMUL gerando nelas a ideia de receberem um favor Hera relatou que seus direitos em sa de eram garantidos pela AMUL porque os profissionais estavam de prontid o enquanto ela ficava s de repouso motivo pelo qual n o podia reclamar A usu ria sinalizou um antagonismo em sua no o de direito porque precisava dos cuidados da equipe decidiu silenciar o que pensava sobre a mesma com receio de perder os cuidados recebidos Seguiu a hospitaliza o com muita obedi ncia sentindo vergonha diante dos profissionais com sentimento de inferioridade para com todos que ela nomeava de doutora 134 Observou se que o desconhecimento delas acerca do SUS influenciava as significa es imagin rias constru das em torno do hospital As usu rias internalizavam que a operacionaliza o do cuidado es
207. nesta pesquisa Reia relatou aquele epis dio com muito sofrimento choro e pedido para n o continuar a falar sobre o assunto O sentido que a gestante deu a essa frase indicou certa intoler ncia entre a autonomia de dar luz a um beb e a din mica vida morte Provavelmente estava inserido nisso a constru o da maternalidade de Reia a ponto dela desenvolver para com a AMUL uma rela o de amor e dio Reia era grata Organiza o por lhe garantir a vida mas a usu ria tamb m guardava um ressentimento por se sentir aprisionada AMUL Ter um filho para Reia era sin nimo de hipertens o arterial por decorr ncia de precisar da AMUL onde viveu uma experi ncia de parto que nomeou como horr vel A dualidade pareceu evidente no preenchimento da ficha de entrada na Emerg ncia Ao se dirigir recep o Reia n o precisou dizer todos os seus dados cadastrais mas apenas confirm los ou corrigi los porque AMUL tinha seu nome no cadastro de usu rias do servi o A usu ria inicialmente se surpreendeu com o poder de organiza o instrumental e a capacidade de acolhimento da Unidade de Refer ncia Reia Eu j tenho meu prontu rio aqui desde os 9 anos Ai pronto fica tudo arquivado o que te representa esse arquivamento timo A prioridade n Porque assim n o ela j teve esse aqui n tudinho eu sei 124 que aqui sei l Uma coisa t o estranha pr mim n o sei nem explicar estra
208. nho O que estranho Incrivel Eu cheguei aqui desse menino tinha meu nome h 9 anos atr s ela puxou no computador tava l eu disse que coisa Eles guarda Ent o isso pr eles importante porque eles deixa l arquivado Voc ainda t nesse lugar N o Tava l nome de pai tudo Voc faz s o b sico sua mesma ficha continua Por outro lado ter o privil gio de ser reconhecida como usu ria da AMUL atrav s de uma identidade na Sa de soou estranho a Reia Em parte pode se questionar se ela n o seria acostumada com gestos como esse na sua vida cotidiana de perceber que tem um outro que lhe arquiva na mem ria porque Reia importante Talvez ainda tenha sido confuso perceber que esse gesto partira de uma Organiza o p blica em sa de levando em conta as defici ncias hist ricas deste setor Al m disso o gesto acolhedor parecia sufocante pois reafirmava o aprisionamento que ela havia institu do para com a AMUL Reia se sentia sufocada pelo reconhecimento de usu ria da AMUL uma vez que a rela o vivida com Unidade a fazia reeditar uma experi ncia dolorosa e n o ressignificada at ent o motivo pelo qual a gestante se empenhara para que seus partos s ocorressem nesta Maternidade Reia POR MEDO s queria ter aqui Fazia o pr natal naquela maternidade mas minhas contra o do pr parto eu corria pr qui No geral formava se ent o uma unidade entre a
209. ntrole sobre o n o dito que lhe escapa palavra como j explicado no in cio deste cap tulo Sendo assim o sistema tamb m composto por contradi es ocultas da ordem do n o dito Nesse sistema contradit rio composto por temas expl citos e impl citos h contradi es dominantes centrais nas narrativas e nas pr ticas sociais do narrador Logo as contradi es dominantes s o refer ncia de uma cadeia de contraposi es e de elementos mediadores provando que todo sistema articulado entre organiza es e desorganiza es como Morin 1990 explica em sua filosofia da complexidade O m todo dial tico consegue identificar as rela es entre essa contradi o e seus elementos mediadores operantes no sistema que esteja sendo investigado PAG S ibid Seu ponto de partida a delimita o das unidades de discurso palavras frases par grafos das unidades intencionais dos temas de an lise O car ter de intencionalidade justifica se no fato desses trechos de narrativa indicarem potencialmente em suas entrelinhas os conflitos conscientes e inconscientes do sistema Por isso mais do que identificar as unidades de discurso preciso clarificar seu encadeamento as rela es que elas mant m 91 entre si O que s ocorre se as rela es forem entendidas como uma resposta s contradi es do discurso por efeito das pr ticas sociais n o como uma coisa ou um conjunto de dados isolados
210. ntrou em crise psicol gica apresentou 35 da g Cf www wikipedia org www mundodosfilosofos com br infantilismo Na pesquisa fez um apelo pesquisadora que levou Demetra ao encontro com o beb At receber alta hospitalar Demetra ficou periodicamente encontrando se com o beb sempre retornando Sala de Pr parto Quando houve a alta materna o beb foi ao Alojamento Tardio DEUSA HELENA filha de Zeus representa a mais bela do mundo Helena casa com Menelau e termina fugindo com Paris dando in cio guerra de tr ia O relacionamento foi J protegido para sempre por Afrodite e Apolo USU RIA HELENA Helena viveu quase 11 anos com o marido em poucos meses ap s a separa o fica gr vida do namorado com quem desejava viver para sempre DEUSA HERA considerada a deusa mais excelsa das deusas Era irm de Zeus e mulher oficial dele Protegia o matrim nio ciumenta sabia da infidelidade de Zeus S n o teve ci mes de Hermes filho e Maia amante de Zeus pela intelig ncia deles Era vaidosa quis ser mais bonita que Afrodite sua inimiga Ostenta nas m os um rom s mbolo da fertilidade sangue e morte USU RIA HERA sempre valorizou o casamento dizia se muito ciumenta sentindo se insegura suspeitava da infidelidade do marido um caminhoneiro seu maior sonho era ser m e sofreu um bito devido tero bicorno passando a ter medo de nunca mais poder gerar um filho DEUSA NIK Ela est sempre
211. o risco se a gente lida com a paciente e com o beb como que a gente vai pegar na paradeira Ai a gente ver que as coisas n o por a H racles Eu tenho que dar conta de gestante de doutorando de residente tudo ao mesmo tempo No geral esse sistema psicol gico coletivo acabava tendo efeitos som ticos os profissionais estavam adoecendo e apelavam ajuda H racles Toda manh p s plant o da AMUL o dia da minha ressaca toda vez eu tenho dor de cabe a Com tudo isso sabe o que me aconteceu ano passado Adoeci Nereida Tem colegas aqui que t o a base de depressivo Oxe aqui a gente diz que o bloco do rivotril Eu mesmo eu n o tinha varizes nas minhas pernas nem roca eu era Agora eu to roca de vez em quando d uma depress o em mim porque aqui muita press o Napeia Seria importante que a gente tivesse uma psic loga A din mica desses dois grupos o de usu rias e o de profissionais de sa de dizem diretamente da fun o que a Organiza o exerce no psicol gico individual e grupal como segue 6 3 4 A fun o Paterna de AMUL Para discutir sobre a fun o paterna que a AMUL exercia sobre seus grupos sociais usu rias e equipe de sa de vamos retomar a discuss o do in cio do segundo n vel da an lise quando se discutiu sobre o sil ncio Organizacional como um mecanismo de regula o das pr ticas sociais Quando a AMUL n o se questiona por ex
212. o as subjetividades em torno da gesta o de alto risco e o lugar da equipe de sa de na PNH os dois temas ainda necess rios nesta problem tica para que possamos a partir desse conjunto de ideias apontar a quest o problema da pesquisa 1 6 O Ser m e e as subjetividades em volta da gesta o de alto risco Algumas simbologias do corpo da mulher gr vida foram explanadas no in cio deste cap tulo Agora a reflex o ser em torno das significa es sociais da maternidade observando se o modelo idealizado do ser m e uma refer ncia de ternura incondicional Este assunto nos facilitar perceber as subjetiva es da gestante de alto risco Segundo Badinter 1985 at o s culo XX ser m e ou educadora eram condi es que promoviam realiza o pessoal e reconhecimento da sociedade Outros autores apontam que isso estava ancorado em interesses sociopol ticos Duby Perrot e Thebaud 1991 esclareceram que a Igreja exaltou na mulher a virtuosidade da aptid o procriadora assim mantendo os princ pios do cristianismo na educa o das crian as Del Priore 1994 apontou 40 a vertente econ mica a valoriza o da natalidade gerou abandono de crian as por efeito o reconhecimento social das fam lias de cria o e m o de obra barata ou gerou mortalidade materna e infantil devido precariedade assistencial do pr parto ao puerp rio e vida neonatal Para vila 2003 o conservadorismo nutriu o bin mi
213. o da mulher gr vida focando suas complexidades s cio hist ricas 1 1 Os tr s tempos simb licos do corpo da mulher gr vida O modo como o Ocidente situa o corpo da mulher gr vida est intr nseco nas representa es simb licas das pr ticas da vida privada e coletiva Ao longo da hist ria os saberes popular religioso e cient fico capturaram linguisticamente este corpo impregnando o de cren as e valores na fronteira entre a coisifica o do corpo feminino e a condi sujeito da mulher Isso fica n tido na abordagem dos tr s tempos simb licos dados ao grav dico tempo mitol gico tempo biol gico e tempo poliss mico No tempo mitol gico o processo reprodutivo da mulher era explicado atrav s elementos sobrenaturais como a influ ncia da lua e do vento A simbologia m tica torna se a refer ncia para a minimiza o dos mist rios do corpo humano da diferen a entre sexos gravidez e parto por exemplo Vale dizer as sociedades arcaicas convocavam os mitos a fim de significar a realidade assim minimizar a ang stia humana diante do desconhecimento Os mitos t m essa fun o organizar as experi ncias do cotidiano Pois o mist rio em torno do corpo gr vido possibilitou o desenvolvimento de explica es po ticas sobre o mesmo a ponto de associar a mulher gr vida m e natureza MARTINS 2005 No advento do cristianismo o corpo gr vido foi simbolizado como corpo sagrado seme
214. o exerc cio de autonomia Como se nota nos t picos tem ticos expostos at agora a constru o da autonomia estava fragilizada na AMUL As negocia es aconteciam em situa es isoladas e n o toda como foi na circunst ncia em que Demetra conseguiu acordar com a equipe uma anestesia para al vio da dor at mesmo se seu parto fosse normal Ainda assim o sil ncio estabelecido entre esses atores sociais impediu que esta negocia o avan asse em outras circunst ncias da trajet ria de Demetra No geral a submiss o ao discurso do outro preponderava de modo que a hetoronomia era central na rela o de cuidado da AMUL 5 2 2 5 3 A heteronomia na rela o de cuidado Nas situa es onde o sujeito anula o pr prio discurso a heteronomia est vivida ao extremo sob a aliena o no discurso do outro Castoriadis 2007 Na AMUL um dos aspectos que pareciam contribuir com a aliena o das usu rias nos servi os era o modo como se demarcavam suas transfer ncias intersetoriais As usu rias eram transferidas sem a informa o sobre como funcionava o local para onde estavam sendo encaminhadas Nesses setores elas se sentiam uma estranha leigas da rotina interna de cada servi o Helena Ningu m explicou n o S falou A enfermeira chefe foi quem 1A disse assim que aparecer vaga na enfermaria voc desce T certo N o perguntei mais nada Depois eles me trouxeram pr c Isso mostra
215. o sexo procria o impondo uma sujei o mulher que tinha sua sexualidade inibida por dispositivos culturais para s se devotar ao dom da maternagem e dos servi os dom sticos Para Stern 1997 a gravidez promove uma nova organiza o ps quica denominada de constela o da maternidade Neste estado a gestante posiciona se em tr s discursos em sua rela o com a pr pria m e questionando o tipo de m e que teve quando crian a um discurso pr prio tendendo a questionar seu estilo materno tamb m um discurso com o beb Essa trilogia comp e assim o eixo da viv ncia materna permitindo mulher efetuar uma reelabora o mental e experimentar novas tend ncias transit rias de a o Por ora vale detalhar as rea es emocionais t picas ao per odo gestacional MS 2005 No primeiro trimestre a mulher apresenta muito mais instabilidades afetivas com dualidades na aceita o da gravidez comum ela desejar e simultaneamente n o desejar ter o beb devido a suas fantasias ps quicas e s preocupa es reais a respeito das mudan as de sua vida ap s a chegada do filho Desta maneira surgem ansiedades t picas acompanhadas de irritabilidade e altera es org nicas como n useas e sonol ncias No segundo trimestre a gestante come a a perceber os movimentos fetais evidenciando sua condi o materna o que lhe favorece idealizar o beb atribuindo sentidos ao mesmo supondo seu estilo de personalidade o
216. objeto Igualmente Castoriadis ibid diz que esse outro sujeito um projeto revolucion rio poss vel de ser realizado apesar das t cnicas de heteronomia do sistema social Vimos no cap tulo anterior que esta no o de sujeito em sa de foi um salto nas pol ticas p blicas Acrescenta se aqui que a no o de sujeito social aut nomo representa o salto epistemol gico em rela o s teorias psicol gicas tradicionais no ramo das Organiza es definido pela emerg ncia da An lise Institucional 2 2 A An lise Institucional Frequentemente a preocupa o das pesquisas organizacionais de cunho funcionalista foca se na efetividade do trabalho humano e na produtividade econ mica As Organiza es eram pensadas pela psicologia do S culo XIX at os nossos dias atrav s de uma leitura reducionista dos comportamentos humanos e de sua adequa o funcionalidade empresarial Entre as d cadas de 1960 e 1970 surgem tend ncias alternativas em conson ncia com os movimentos de contesta o pol tica e cultural na Europa nos Estados Unidos e na Am rica do Sul Uma dessas tend ncias se desenvolve sob a orienta o da An lise Institucional demarcando uma ruptura epistemol gica como um olhar revolucion rio com base na vis o dial tica da realidade questionando conceitos fundamentais tais como autonomia linguagem o papel social do indiv duo a articula o entre Organiza o e institui o Nascia assim uma aborda
217. ocesso de hospitaliza o j ser um fator de vulnerabilidade emocional 1 7 A rela o de cuidado no cen rio de hospitaliza o Apesar dos esclarecimentos acima sobre a subjetividade da gestante de alto risco n o foram encontradas na literatura especifica es sobre os comportamentos desta mulher 43 durante o internamento hospitalar em uma Unidade de Refer ncia Mesmo assim como a pesquisa situa esta m e em sua condi o de usu ria do setor sa de apropriado pensar o que acontece do ponto de vista psicol gico com uma pessoa em processo de hospitaliza o Isso permitir melhor entender a rela o de cuidado em seu contexto hospitalar ampliando a vis o sobre a especificidade a que nos propomos investigar Vimos nos t picos anteriores a mudan a conceitual das pol ticas p blicas acerca da sa de E isso se relacionou ao aprimoramento da no o de sujeito que o SUS defende como um protagonista esta vis o a perspectiva de sa de centrada no usu rio O doente convidado a exercer sua autonomia na produ o de sa de sair do lugar de sujei o antes adjudicado no setor sa de ROMANO 1999 Entretanto o processo de hospitaliza o em si mesmo dificulta um projeto de autonomia em sa de Inevitavelmente o per odo de internamento configura se um tempo de suspens o desconexo do ciclo vital do sujeito Hospitalizado o usu rio exerce uma nova fun o dentro de seu ciclo de vida submeter se a rotinas e n
218. ocial Institu a se a condi o cidad da mulher ainda que n o constassem neste documento quaisquer especificidades sobre seus direitos a um servi o de sa de de qualidade e capacitado para as necessidades femininas Foi em 2000 que uma Emenda Constitucional alterou alguns artigos acrescentando assegurar os recursos m nimos para financiar a es e servi os p blicos de sa de em favor ao atendimento da mulher Cf BRASIL Constitui o Federal Bras lia 1988 Dispon vel em www senado gov br sf legislacao const con1988 Acesso em 03 04 2010 s 12 02h 37 Em 1984 antes da institucionaliza o do SUS foi criado o Programa de Assist ncia Integral Sa de da Mulher PAISM questionando as a es verticais em sa de e j propondo um olhar diferenciado s mulheres Naquele momento o PAISM n o obteve muitas conquistas No in cio do s culo XXI o programa adotou os princ pios de humaniza o e de qualidade na aten o em sa de focou a satisfa o e a autonomia das usu rias em respeito diversidade socioecon mica e cultural buscando aproximar a sa de da realidade local delas Entre suas metas o PAISM estabeleceu ampliar qualificar e humanizar a aten o integral sa de da mulher no SUS MS 2004 p 62 3 Em 1993 foi criada a Rede Nacional pela Humaniza o do Parto e Nascimento REHUNA formada pela sociedade civil organizada profissionais de sa de e de outras reas al m de executores de pol ticas
219. ocial cabendo ao Poder P blico o dever de regulamentar fiscalizar e controlar as a es e servi os em sa de Com sua institui o em 1990 esse sistema apresentou a meta de reduzir as disparidades regionais na aten o em sa de para que as pr ticas fossem acess veis e igualit rias s diversas camadas sociais As inst ncias de Governo assim deveriam compactuar da nova l gica com corresponsabilidade partindo da vis o de que o fundamento do SUS seus atores sociais entendendo se como ator social aquele que participa da reformula o do planejamento do monitoramento e controle do SUS MS 2009 Tratava se de um projeto de reorganiza o pol tico administrativa direcionando o poder da federa o para uma rede participativa onde as tr s esferas do governo interviriam de modo interdependente conforme suas especificidades e compet ncia hier rquica A descentraliza o ent o surgiu com o objetivo de reduzir as disparidades regionais para melhor adequa o do SUS ao universo sociocultural dos usu rios E a assist ncia foi distinta em n veis de baixa m dia e alta complexidade para enfrentamento dos problemas de sa de da popula o brasileira Fundou se a Rede B sica em sa de como o Programa Sa de da Fam lia PSF tamb m as assist ncias secund rias e terci rias como hospitais maternidades especializados s gr vidas de alto risco e aos beb s prematuros No geral o SUS foi consagrado um modelo diferencia
220. ociated with all these interactive difficulties were identified in the health team with its vertical relationships and relationships of dependency amidst stress at work The Organization s paternal function was central in these problems in its way of controlling the autonomy of users and health professionals Still this social group was mediated by a recognition policy that seemed implicit to Organizational contradictions ensuring that even though isolated joint health practices were implemented This study is expected to help improving health practices directed to high risk pregnant women Keywords high risk pregnant woman care relationship institutional analysis autonomy Habitus INTRODU O Esta pesquisa foi definida na interse o entre a Psicologia da Sa de a An lise Institucional e a Obstetr cia Teve o objetivo geral de analisar a din mica da rela o de cuidado entre a equipe de sa de e a gestante de alto risco de uma Unidade de Refer ncia de Pernambuco focando suas repercuss es na qualidade do processo de hospitaliza o da usu ria A ideia foi investigar para al m do que se evid ncia no plano emp rico com aten o no que h de impl cito neste tipo de relacionamento incluindo seus equ vocos discursivos Assim esclare o de partida que a equipe de sa de e esta gestante s o os atores sociais que d o sentido ao presente trabalho configurado em tr s conceitos b sicos rela o de cuidado gesta
221. olvimento desta produ o cient fica 2 2 2 O fundamento te rico da An lise Institucional Pode se falar em fundamentos te ricos da An lise Institucional devido diversidade de correntes An lise Institucional Socioanal tica Esquizo an lise Sociopsican lise Institucional e An lise Institucional de Inspira o Sociol gica BARBIER 1985 Elas t m em comum uma epistemologia dial tica uma leitura supra disciplinar com nfase para o foco s cio hist rico da sociologia e da antropologia e para as refer ncias subjetivas da psican lise tudo isso associado a uma postura politicamente engajada com a autonomia dos sujeitos individuais e coletivos Esse engajamento pode resultar ou em uma atitude de pesquisa a o dirigida para apoiar grupos e movimentos sociais em suas a es pol ticas ou na preocupa o de engajamento em uma an lise cr tica sem um compromisso imediato com a mudan a social Foi nesta ltima perspectiva que pudemos justificar essa pesquisa como um estudo acad mico comprometido com uma an lise cr tica do quadro em quest o sem um 17 Este o nome fict cio escolhido com o prop sito de preservar a imagem da Organiza o de sa de participante A escolha do codinome faz alus o ao t tulo Hospital Amigo da Mulher 56 compromisso objetivo com uma interven o ativa De acordo com Rodrigues 2007 este aspecto caracter stico de uma pesquisa de An lise Institucional de Inspira o Sociol
222. om fins de facilitar o protagonismo do usu rio No entanto o processo de inser o da equipe de sa de nos espa os de atendimento esbarrou com o lugar tenente da medicina que se posicionou com a alma professoral de Bachelard 2002 tra ando a hegemonia do discurso m dico focado no corpo biol gico Moretto 2001 esclarece todavia que o m dico precisa em alguma medida silenciar a fala do sujeito enfocando o sintoma n o o sofrimento subjetivo desse sintoma do contr rio n o traduzir um diagn stico nas queixas do usu rio tampouco definir um tratamento necess ria uma cota de exclus o para que se estabele a o la o m dico terap utico O problema que a medicina foi ao extremo negou a obviedade desta rela o que ela mesma produzira a rela o de cuidado em sa de Para Clavreu 1983 o m dico e o doente acabaram vivenciando um la o incapaz de estabelecer negocia es porque o tratamento do doente era focado na cura da doen a resumindo o doente ao corpo fisiopatol gico Mas diante das reformula es pol ticas em sa de a equipe de sa de incluindo nela o m dico foi convocada a trabalhar na horizontalidade do Saber construindo alternativas para se viver a cidadania na rela o de cuidado O discurso m dico n o poderia mais agir isoladamente vendo se que onde s opera a ordem m dica um caos humano MORETTO ibid p 66 E o SUS conceituou que a equipe n o recurso humano
223. omo contrapartida causando prazer nas usu rias que se sentiam vingadas pelo tempo de hospitaliza o e suas discord ncias para com a AMUL As expectativas do trabalho de parto e do parto envolviam o medo das usu rias de perder a pr pria vida e a do beb al m da fantasia de vir a sofrer com condutas agressivas da Sala de Pr parto Essa fantasia era possivelmente alimentada pelo mecanismo de proje o j que a experi ncia de parto evocava suas experi ncias arcaicas mas a an lise revelou que se devia tamb m ao refor o da realidade Ent o o pico de tens o das usu rias pareceu ser atingido no ato do encaminhamento Sala de Pr parto Em algumas ocasi es isso chegava a contagiar o grupo social da AMUL Por exemplo Hera ficou t o fragilizada emocionalmente na hora desse encaminhamento a ponto de mobilizar v rios profissionais de sa de de servi o geral e administrativo al m de outras usu rias Todos ficaram apreensivos com faces de preocupa o ao redor dela que estava chorosa e na maca aguardando o elevador Foi evidente a compaix o e os gestos solid rios dirigidos Hera No entanto a ideia negativa que tinham sobre aquele servi o foi desmistificada quando as usu rias se depararam com a humaniza o da equipe da Sala de Pr parto e de Parto As insatisfa es irritabilidades e inseguran as das usu rias foram cada vez mais sendo minimizadas no puerperio imediato Vale dizer que for as contr rias continu
224. onflitos e as viol ncias da sociedade Este autor esclareceu que as institui es s o constitu das de uma rede tensa de significa es que legitimam e d o sentido a uma Organiza o Essa rede possui um saber incontest vel e se representam como um ideal da sociedade sendo imprescind vel que os indiv duos e os grupos interiorizem este saber Por exemplo o SUS possui como um princ pio que a sa de um direito de todos Esse saber a causa de exist ncia do SUS de modo que se a sa de n o for mais entendida como um direito universal essa institui o de sa de n o 18 Cf Lourau 1975 Barbier 1985 Rodrigues 2007 far mais sentido O SUS ent o luta no seu cotidiano para que os indiv duos e os grupos assumam em seus comportamentos a m xima de direito universal sendo isso imprescind vel para a legitimidade do Sistema Ent o as institui es s o reprodutoras dos comportamentos sociais em fun o de uma atividade educativa autorit ria no sentido de causar no outro a necessidade de tomar o saber institucional como o ideal da vida individual e coletiva O que est por tr s disso a fun o paterna da institui o ou seja sua maneira de fazer interdi es de instaurar as regras regulando o pensar o sentir e o agir das pessoas As institui es exercem uma esp cie de viol ncia simb lica disfar ada no sentido de Bourdieu 2007 com o lema de estarem a favor do bem despertando o amor dos indi
225. ontudo todas foram orientadas a procurar a pesquisadora caso tivessem interesse de acessar o material 3 Somente ap s perder o contato com esta usu ria a pesquisadora percebeu que poderia ter fornecido uma c pia audiogravada 90 3 8 Estrutura o para a an lise de dados O primeiro passo de organiza o dos dados foi o processo cuidadoso de transcri o das entrevistas A pesquisadora ouviu por v rias vezes os relatos atenta s entona es de voz e aos equ vocos de linguagem verificando j nesse in cio algumas das contradi es do discurso dos participantes a respeito da rela o de cuidado E como esse trabalho buscava analisar essas contradi es e seus processos de media o o m todo te rico que se mostrou apropriado foi a An lise Sincr nica do Campo Dial tico da Institui o nos Grupos e nas Organiza es BARBIER 1985 como justificado no cap tulo anterior Mas sua pertin ncia metodol gica s foi v lida ap s ser desenvolvido o estudo dial tico do sistema como descrito em Pag s 1993 Segundo este autor uma narrativa tecida por contradi es discursivas que se relacionam e s o organizadas atrav s de processos mediadores que equilibram o sistema sociomental e mant m a coer ncia do discurso no plano da explicita o ou seja na ordem do que dito conscientemente Mas essas contradi es n o se limitam ao plano racional porque o indiv duo fala o que quer dizer e n o estabelece co
226. ormas hospitalares conviver com estranhos sofrer a evid ncia real e imagin ria de perdas como da sa de do conv vio familiar da privacidade do seu estilo de vida ROMANO ibid N o se pode deixar de considerar a atua o de v rios fatores hist ria pessoal cren as circunst ncias sociais estrutura psicol gica apoio familiar ambiente hospitalar significado constru do socialmente sobre sua hospitaliza o e quadro cl nico Entra em jogo nesse momento alguns mecanismos psicol gicos tais como nega o culpa autodeprecia o medo de morte e de repres lia raiva pelo estado de depend ncia O usu rio reage tanto ao perigo real intercorr ncia cl nica quanto a uma amea a no n vel da fantasia E a equipe corre o risco de ser contaminada por essas quest es se n o perceber que o usu rio deposita nela temores esperan as e fantasias Ele geralmente espera encontrar na equipe uma capacidade de maternagem atrav s de uma rela o que alivie as fantasias de destrui o incitadas pelo adoecimento tornando as suport veis ou de paternagem em uma rela o investida de controle dos perigos externos e h bil para fortalecer o usu rio BOTEGA 2006 Portanto o recurso para a hospitaliza o ser vivida de modo criativo o apoio social de maneira que cabe ao hospital assegurar um ambiente de acolhimento ANGERAMI CAMON ibid A necessidade de tal ambiente justifica a presen a da equipe enquanto cuidadora c
227. p blicas em sa de Entre os objetivos da Rede listam se incentivar as mulheres a aumentar sua autonomia e poder de decis o sobre seu corpo e seu parto e resgatar pr ticas humanizadas tradicionais de parto e nascimento aliadas aos conhecimentos t cnicos tamb m cient ficos sistematizados e comprovados Uma de suas estrat gias de a o foi implantar as a es do Programa de Assist ncia Integral Sa de da Mulher PAISM quanto humaniza o da assist ncia gesta o parto e puerperio A REHUNA trata se de uma proposta de amplia o at mesmo dentro da pr pria assist ncia voltada s quest es da gravidez e do parto reestruturando servi os para que promovam sa de mulher com mais qualidade tecnol gica e humana Nesse sentido foi identificado um grupo de mulheres com necessidades espec ficas de acompanhamento gestacional suscet veis a um desenvolvimento grav dico adverso por motivos particulares ou decorrentes de algum agravo em sa de S o gestantes que sofrem de alto risco gestacional devido alguns fatores intercomunicantes tais quais caracter sticas individuais e condi es sociodemogr ficas desfavor veis hist ria reprodutiva anterior doen a obst trica na gravidez ou intercorr ncias clinicas Destaca se o conceito de gesta o de alto risco revela certo reposicionamento da assist ncia de sa de voltada a esse p blico provocando as equipes de sa de na reelabora o de sua pr tica de cuid
228. pagens da An lise Institucional Cf Rodrigues 2007 53 promover mudan as sociais Atrav s de interven es de grupo propunha a constru o de sujeitos preocupados com a causa coletiva cr ticos reflexivos de sua realidade sujeitos conscientes aut nomos A An lise Institucional constitui se assim uma postura epistemol gica te rica e metodol gica de base psicossociol gica E se mostra v lida a investiga es focadas nas pr ticas sociais como o caso do presente trabalho de pesquisa 2 2 1 O fundamento epistemol gico da An lise Institucional Para fazer uma leitura dial tica da realidade estudada partimos do referencial epistemol gico baseado na Filosofia da Complexidade desenvolvida por Morin 2002 com base no qual fundamentamos a An lise Institucional que tratou da rela o de cuidado como um objeto complexo estruturado por uma s rie de contradi es que se expressam nas condutas nos sentimentos e nas ideias dos atores sociais envolvidos nesse tipo de relacionamento humano Morin 1990 argumenta que as ambiguidades s o a ess ncia da din mica do cosmo Os elementos do universo assumem entre si conflitos inevit veis reunindo simultaneamente dissocia es e complementaridades Para este autor a din mica social que envolve as contradi es entre as estruturas institu das da sociedade e a sua contesta o por importantes segmentos sociais est na base das mudan as e dos avan os sociais N o h
229. pal Este autor argumentou que a demarca o dos n veis necess ria a todo estudo dial tico sobre grupos sociais pois esses grupos tem a caracter stica de se inscrever nos n veis aqui abordados Atrav s desse nivelamento a pesquisadora conseguiu perceber um ponto de explica o diferenciado nos gr ficos Esse ponto sinalizou algo da ordem do n o dito assim fazendo a pesquisa destacar a suposta estrutura institucional englobante mais significativa para a institui o mediatizante Ficou ent o decifrado o campo institucional mediatizado Algo deste campo foi interpretado nas entrelinhas do sistema dial tico da rela o de cuidado ampliando um pouco a leitura da institui o mediatizante decodificada em AMUL Foi a trajet ria descrita neste cap tulo que levou s reflex es das p ginas que o seguem 31 Estes n veis foram explicados no cap tulo anterior o da Fundamenta o Te rica Vide p 68 Cap tulo 4 A IMPLICA O DA PESQUISADORA NA PESQUISA O poeta um fingidor Finge t o completamente Que chega a fingir que dor A dor que deveras sente Fernando Pessoa 4 0 A IMPLICA O DA PESQUISADORA NA PESQUISA Antes de apresentar a an lise dos dados justificamos a import ncia de perceb la influenciada pelo discurso de um outro a pesquisadora Pensar sua implica o na pesquisa faz jus ao tipo de an lise que nos dispomos a realizar focada na contradi o dial tica de um obj
230. parou se do parceiro estabeleceu outra rela o consensual mas revoltada com os enganos amorosos optou pela vida prom scua at os 24 anos quando engravidou outra vez Aceitou manter um terceiro relacionamento consensual Ele era dezessete anos mais velho do que ela conclu ra o Ensino Fundamental 1 e trabalhava como descarregador em armaz m de a car A renda familiar advinda do armaz m e do Benef cio Bolsa Fam lia somava um sal rio m nimo A casa de alvenaria onde moravam com os dois filhos possu a liga o el trica e hidr ulica com dois quartos A rotina de vida de Atalanta voltava se aos servi os dom sticos e a sua devo o maternagem Aos 27 anos teve a quarta gesta o e descobriu ser portadora do v rus da imunodefici ncia humana HIV Atalanta entendeu a soropositividade como uma maldi o resultante de uma vida errada que teve O companheiro dizia se n o portador mas se recusava a usar preservativos de modo que Atalanta n o entendia a raz o do marido correr tamanho risco passando a fantasiar que isso seria uma prova de amor A usu ria procurou um ginecologista na Unidade B sica Na consulta soube da presen a de v rios cistos em seu tero e que isso lhe impediria de engravidar Apesar de se dizer conformada com o fato ela foi a outro servi o de sa de para nova consulta como se buscando por uma negativa como ocorreu de fato O segundo m dico informou que ela poderia sim engravidar outras vezes
231. pecializado gestante de alto risco seria de autoria da AMUL atribuindo Organiza o um car ter benevolente em paralelo ignorando que suas ferramentas cumpriam normas de pol ticas p blicas em sa de aliadas aos avan os t cnico cient ficos da AMUL e das Ci ncias da Sa de Em paralelo as gestantes julgavam inadequadamente outros n veis de assist ncia queixando se da incompet ncia deles Esse foi o terceiro desconhecimento identificado Demetra AMUL tem a MELHOR assist ncia Pala L Unidade B sica um bando de burro n o sabe tratar caso grave A posi o queixosa de Pala pode estar relacionada descren a das usu rias nos servi os p blicos no sentido exposto por Martins Matos e Fontes 2008 e refor ada talvez pelo despreparo de alguns profissionais de sa de da Rede B sica Al m dos direitos e dos n veis de complexidade o quarto desconhecimento foi apontado com rela o s abordagens previstas na Pol tica de Humaniza o ao Parto e Nascimento por efeito elas acabavam desdenhando algumas ferramentas terap uticas usadas pela AMUL com fins de um atendimento ao parto humanizado Art mis N o tem a sala do pr parto l embaixo n Dizem que tem mulher que fica l sofrendo muito e os m dicos nem liga deixa l A bola ou n o a bola n o sei que bola essa que as mulher fica em cima dessa bola e a m dica diz v minha filha N o t na hora ainda n o Pode ficar a
232. pela Anemia nutricional defici ncia de ferro ou perda aguda de sangue BRIDA AMNI TICA Rompimento da membrana amni tica a membrana que reveste a parte interna da bolsa Pode envolver alguma parte do corpo do feto deformando ou mais gravemente causando amputa o Quando avaliado imin ncia de amputa o do feto a estrat gia cl nica interven o cir rgica fetal Em alguns casos define se a indu o do nascimento prematuro DIABETES MELLITUS Patologia metab lica disfun o na secre o ou a o da insulina resulta em hipoglicemia ou hiperglicemia Mortes fetais s bitas eram comuns nas gesta es de mulheres insulino dependentes al m de macrossomia fetal ou pr eclampsia Atualmente o bito fetal pode ocorrer caso a gr vida diab tica n o tenha um acompanhamento pr natal adequado a suas necessidades cl nicas pois rara morte s bita se os n veis de glicose da gestante forem controlados Tipo 1A doen a auto imune incid ncia de 5 10 usualmente leva defici ncia absoluta de insulina de in cio Juvenal as usu rias s o conhecidas como insulino dependentes Diabete mellitus gestacional _2A intoler ncia glicose s no per odo gestacional retornando ao normal no p s parto imediato CARDIOPATIA MATERNA Causa principal da mortalidade materna Inclusive h casos que apresentam risco fetal Das complica es durante a gravidez come am na verdade antes da concep o quando deve se alerta
233. pelas circunstancias b Quando eram examinadas as usu rias tendiam a mentir ou a omitir seus sintomas na inten o declarada de adiar a hora da transfer ncia Nik Eu estava com a dor calada risos Ai eu digo n o n o adianta dizer nada agora eu vou descer e vou ficar l sozinha Quando ir Sala era inevit vel a rea o biol gica por um fator cl nico estado de sono profundo parecia se aliar tamb m as defesas inconscientes Demetra N o N o quero descer para a Sala de Pr parto E ficava com desculpa e n o queria descer n o Desci de novo mas eu tava t o assim que apagou tudo Fiquei dois dias dormindo acordei quando eu vim dar conta onde que eu to Era feriado n o tinha ningu m naquela Sala s tinha eu Oxente voltei pr c de novo Comecei a chorar chorei chorei chorei E fiquei chorando e as m dicas viam t com dor Eu disse n o N o era dor era desespero de novo aqui eu n o acredito eu n o aceito ficar aqui de novo n o Nesse cen rio sem se dar conta a equipe de sa de colaborava para a perman ncia do mito e negativa da norma ou seja com as formas de transgredi la Quando as usu rias recusavam a medica o a dieta um procedimento a equipe tendia a fazer chantagens Percebiam o medo delas com rela o Sala de Pr parto e usavam no como uma isca para efetivar a pr tica de cuidado Nereid
234. pitalizada ficou tr s dias na Sala de Pr parto novamente espera de vaga em EGAR Evoluiu com pr ecl mpsia e sangramento vaginal ficando em EGAR por 13 dias per odo em que come ou a fazer parte desta pesquisa Foi outra vez Sala de Pr parto mas se constatando alarme falso voltou logo enfermaria solicitando que a transfer ncia Sala de Pr parto n o mais ocorresse pois lhe angustiava ainda mais A equipe respeitou o pedido baseando se na gravidade Ela permaneceu em EGAR at a interrup o gestacional Ap s v rias tentativas de est mulo ao parto normal a equipe transferiu a gestante Sala de Pr parto depois Sala de Parto O beb nasceu de parto ces rea com 2 110Kg Apgar 6 8 sendo encaminhado UTI Neonatal enquanto a pu rpera voltou Sala de Pr parto com indica o de ser medicada na UTI Obst trica onde n o havia vaga no ensejo Em 48h a d ade foi ao Alojamento Tardio Os dois internamentos contabilizaram 25 dias na AMUL 6 1 1 4 Helena Helena 30 anos oriunda de Jaboat o Regi o Metropolitana de Recife t cnica em Marketing trabalhava como auxiliar de administra o cat lica ex fumante de nicotina usava bebida alco lica n o consumia drogas il citas Teve sua menarca aos 12 anos e a coitarca aos 14 Sem se preocupar com doen as sexualmente transmiss veis recusava se ao uso de preservativo em suas rela es sexuais com o objetivo de engravidar Casou se com o seg
235. quando ainda n o faziam parte da pesquisa Quanto Hera Pala e Reia viveram hist ria de internamento anterior no setor de obstetr cia da AMUL Para a escolha dos nomes a pesquisadora se inspirou na hist ria das deusas gregas comparando as com a hist ria de vida das participantes e com a rela o de pesquisa Vide Ap ndice B 2 vide Ap ndice A Descri o dos fatores de risco para gravidez de alto risco 25 Idem Quadro 01 Caracteriza o das Usu rias sua An lise de Risco Gestacional e tempo de hospitaliza o URHSTGAR Recife 2009 2010 Artemis Arcoverde PE Ensino M dio M e sogra la Solteira Setembro 21 anos Paje incompleto e parceiro sal rios a outubro pr f 362 sem Estudante pai do m nimos Nenh m Diabetes 2009 beb Nenhum Mellitus Tipo A1 15 dias 1 filho 13 dias de alta provis ria 17 dias Atalanta Itamb PE Analfabeta Parceiro Bolsa I sal rio Solteira 12 filho foi Diabetes Novembro 28 anos Mata Norte Do lar pai do Fam lia m nimo prematuro Gestacional e 2009 beb HIV 25 dias 372 sem mortalidade perinatal Demetra S o Louren o Ensino M dio M e tia 2a3 Solteira Hipertens o Outubro 28 anos da Mata PE e T cnico parceiro sal rios Aborto Gestacional 2009 32 sem Regi o T cnica de pai do m nimos devido mola doen a do Metropolitana Enfermagem beb e sistema urin rio de Recife Colegas de hidatiforme Trabalho
236. que significa a autonomia do sujeito social Em seguida exp e os fundamentos epistemol gico te rico e metodol gico da An lise Institucional Feito isto haver condi es para se descrever o desenho metodol gico da presente pesquisa a ser apresentado no cap tulo quatro 2 1 O sujeito social aut nomo Antes de qualquer coisa necess rio estabelecer o protagonismo que m profissionais de sa de e gestores exercem no contexto da Organiza o estudada Para i vamos iniciar esses referenciais estabelecendo as bases te ricas que fundamentam o conceito de sujeito social nos planos individual e coletivo Como acenado na introdu o acima o sujeito social aut nomo aquele que tem sua vida socialmente inscrita nas institui es sociais com abertura e iniciativa para as reconstruir Nessa concep o a condi o de sujeito n o implica em liberalismo ou descompromisso social mas em uma constru o individual e coletiva socialmente engajada individualmente consciente De acordo com Castoriadis 2007 o sujeito social aut nomo aquele que toma decis es conscientes sobre si mesmo e sobre a realidade a partir de suas rela es sociais E isso ocorre justamente porque a autonomia uma constru o individual e coletiva Para que essa quest o seja melhor entendida preciso esclarecer ainda que o sujeito em Castoriadis ibid inspira se na vis o psicanal tica de sujeito conforme a teoria freudiana segundo a qual o su
237. querendo ficar gr vida percebeu se amando o beb decidindo nome lo como seu primeiro beb primeira gesta o EQUIPE DE SA DE NINFA DR ADE De acordo com uma antiga lenda cada dr ade nascia junto com uma rvore da qual ela exalava A dr ade vivia em uma rvore ou pr xima dela quando a rvore era cortada ou morta a deusa tambem morria Os deuses puniam quem matassem as rvores PROFISSIONAL DE SA DE DR ADE boa mas guardava uma tristeza depois de uma experi ncia dif cil na AMUL n o conseguiu mais ser a mesma NINFA DAFNE Era filha do rei Pneu Apolo acertou Dafne com uma flecha de chumbo que fez a ninfa rejeitar seu amor Apolo por m come ou a persegui la com uma flexa de Eros Cansada com a situa o pediu ao pai ajuda ent o foi transformada em loureiro Apolo disse Se n o podes ser minha mulher ser s minha rvore sagrada PROFISSIONAL DE SA DE DAFNE apaixonada e devota s usu rias NINFA HESP RIDE Possuia um pomar que tinha ma s de ouro s mbolo da fertilidade do solo PROFISSIONAL DE SA DE HESPER DE acolhedora NINFA HAMADR ADES nascem com as rvores devendo proteg las e partilhar o destino PROFISSIONAL DE SA DE HAMADR ADES acompanha o ritmo do grupo HER I H RACLES Na mitologia grega era uma semideus filho de Zeus e Alcmena Ele considerado o mais celebre de todos os her is s mbolo do homem de luta PROFISSIONAL DE SA DE HER CLES defensor da Humaniza
238. r es tempor rias de conceitos e sentimentos das usu rias para com o grupo hospitalar foram estabelecidos os Relatos de Viv ncia A fim de ser percebido o estado psicol gico das usu rias nos epis dios do internamento incluindo seu trajeto intersetorial elas foram acompanhadas desde a EGAR ao p s parto nas circunst ncias de observa o para a alta hospitalar materna ou j na condi o desta alta Em setembro de 2009 com o apoio de uma tocoginecologista da EGAR elencou se um grupo de gestantes de alto risco conforme os crit rios de inclus o idade gestacional sanidade mental condi o cl nica do beb motivo de internamento Desta sele o nem todas participaram do estudo repetindo se o procedimento por mais quatro vezes A ltima sele o ocorreu em novembro de 2009 e uma das usu rias selecionadas em outubro A explica o encontra se na p gina 77 de 2009 foi acompanhada at fevereiro de 2010 quando recebeu alta definitiva no p s parto No geral os Relatos de Viv ncia duraram em torno de 40 a 60 minutos cada O primeiro contato com a usu ria era feito em EGAR na ocasi o em que ela assinava o TCLE e dava in cio ao Relato a partir da proposta Me fala sobre teu dia a dia aqui no hospital A cada novo setor da AMUL para onde a usu ria fosse encaminhada a entrevistadora procurava a participante para registrar outro relato de viv ncia E lan ava a proposta sequencial E
239. r s usu rias um ambiente hospitalar o mais acolhedor poss vel com tecnologia de ponta e alternativas de parto humanizado de excel ncia No entanto a for a institu da relacionada ao parto normal e a instituinte vontade das m es de viverem o parto ces rea eram ent o negociadas com os instrumentos terap uticos poss veis AMUL falo com o anestesista N o pareceu vi vel uma coloca o semelhante a Demetra o que voc tem pensado sobre seu parto Uma pergunta como esta geraria um di logo que poderia levar a mesma conduta de busca pelo anestesista mas n o se fechar nisso tornando se um di logo aberto no sentido de Morin 1990 prop cio constru o da autonomia coletiva em sa de E no movimento de compreender e dar sentido vida na Organiza o as usu rias usavam da estrutura significante parto for ado normal que orientava suas disposi es sociais Esse significante era compartilhado ganhava for a e durabilidade no grupo como se verifica no Registro de Observa o n mero 9 intitulado Epis dio Efeito Domin RO 9 Epis dio Efeito Domin A observadora jogava domin com tr s gestantes No decorrer do jogo outra m e se aproxima e as quatro come am a falar que n o gostariam de ter seu beb na AMUL por causa do hist rico de morte dos beb s A observadora solicita esclarecimento Elas dizem que h muitos partos que passam da hora por ficar tentando o parto normal e q
240. r tica autorit ria na Sa de P blica Isso a deixou em posi o intermedi ria entre aderir assist ncia nesta Unidade ou proposta de cobertura privada para cesariana Sua hist ria gestacional foi ent o marcada pela duplicidade na assist ncia Helena eu queria mesmo ficar sem o plano parar de pagar Mas tamb m eu morro de medo de chegar na hora de ter a crian a eu tamb m vejo esse lado s vezes o m dico for a muito fazer normal A sobrinha do meu marido tem problema at hoje por causa disso Demorou demais for ou muito ai quando nasceu teve falta de oxig nio Ainda quanto dificuldade de vaga na Maternidade Dia e o interesse das usu rias em fazer parte dos cuidados da Organiza o Reia estabeleceu um pacto mantido por nove anos com a ginecologista que acompanhava os pr natais de Reia em outro hospital maternidade a m dica deveria encaminh la AMUL quando Reia estivesse em trabalho de parto Ou a pr pria usu ria nessas condi es iria diretamente Emerg ncia da Unidade O acordo servia gestante como uma suposta garantia e autoriza o para dar luz na AMUL afinal tratava se de uma rela o de confian a terap utica Reia Pr pegar uma ficha aqui s Deus Ai eu disse Ah Vou fazer na outra Maternidade mesmo depois eu venho pr c quando for ter Ai venho pr triagem mais f cil O que foi que eu fiz Fiz o pr natal na outra
241. r risco em futura gesta o Elementos decisivos para caracterizar a doen a card aca na gesta o arritmias ou sopro aumento da rea card aca perdas sangu neas que acompanham o parto normal DESLOCAMENTO PREMATURO DA PLACENTA Separa o da placenta precocemente em gesta o de gt 20 semanas causa de sangramento vaginal est associado a morbidade e mortalidade perinatal O risco materno est associado a hemorragia histerectomia e outros HIPERTES O CR NICA Doen a causada pelos n veis tensionais podendo na gravidez causar complica es maternas e fetais incluindo pr eclampsia descolamento prematuro da placenta crescimento intra uterino restrito parto pretermo e natimortalidade dividida em leve Press o arterial lt 180 X 110 mmHg e grave Press o arterial gt 180 X 110 mmHg A pr eclampsia pode ser constitu da tanto pela hipertens o grave quanto pela hipertens o leve associada a outros sinais cl nicos e laboratoriais Os sinais mais caracter sticos s o ganho excessivo de peso edema das m es e rosto aumento de press o arterial Pode progredir para eclampsia com quadros convulsivos generalizados As consultas pr natais devem ser individualizadas com per odos curtos de retorno Usu ria com pr eclampsia deve ser hospitalizada uma pr eclampsia pode surgir associada a uma s ndrome nefr tica MOLA HIDATIFORME Tumor placent rio do grupo das doen as trobobl sticas gestacionais causa
242. ra o da persona social Nesse sentido que esclarecer o conceito de habitus requer ao menos sinalizar sua atua o no espa o de disposi es sociais O espa o social quem retraduz continuamente as tomadas de posi o dos indiv duos atrav s da intermedia o do habitus Um espa o social constitu do por classes que est o em constante constru o individual e coletiva envolvendo a coopera o e o conflito Os conflitos s o oriundos das diferen as nas representa es desenvolvidas nesse espa o constitu das por distin es capitais e simb licas E cada um toma para si uma posi o social e luta na inten o de conservar ou transformar seu espa o social Analisar a rela o de cuidado como um sistema dial tico importante observar a influ ncia do campo social nos antagonismos presentes na vida da Organiza o A no o de habitus foi necess ria an lise institucional conduzida nesta pesquisa Esse conceito foi utilizado em contraposi o no o de sujeito social aut nomo considerando que este ltimo teria a capacidade de questionar o Outro como representante de uma classe social e desenvolver um projeto pr prio para se determinar a si mesmo aberto trocas sociais seguro e inseguro das ideias que tem CASTORIADIS 2006 Esta foi a perspectiva em que se contextualizou a rela o de cuidado na pesquisa recebendo este objeto de estudo um tratamento metodol gico ancorado na An lise Institucional
243. ra boa e que os equipamentos eram eficazes assim lutava por merecer o amor da Unidade de Refer ncia Por m foi formada a contradi o expl cita do dom nio afetivo Mesmo acreditando que a AMUL protege guarda a usu ria na mem ria e atenciosa Reia sentiu como excessivo e perigoso se manter no lugar de objeto de desejo Ela n o tinha sossego sentia se sufocada com a vigil ncia dos profissionais e controlada pelo sistema de arquivamento que a AMUL possu a Sua autonomia estava sob o controle da AMUL logo o v nculo entre a Organiza o e a usu ria ganhou sua parcela de desamor tanto que Reia n o conseguia nem explicar o desconforto por ter sua ficha completa na posse do outro Nesse sistema complexo que explana o limiar entre o amor e o dio os paradoxos eram mediados pelo atalho que Reia estabeleceu com fins de comover a AMUL e conseguir vaga Ligada explicitamente a essa media o afetiva agia a media o ideol gica a AMUL era competente e comprometida em cuidar do outro E estruturadas essas rela es verificou se nesta unidade intencional de Reia a presen a do tema a fun o paterna da Organiza o Como se nota os procedimentos deste estudo n o se limitaram constata o emp rica indo em busca das contradi es subjacentes Por esse mesmo motivo e tendo como base as orienta es de Barbier 1985 a leitura dos gr ficos subsidiou nossa An lise Sincr nica ao encontro dos dois campos institucionais da
244. rabalho Foi prazeroso competir com voc quem terminaria a li o primeiro Aquela fuga aventureira curta e edificante em dire o ao Museu da Santa Casa de Miseric rdia em Salvador BA particularmente ao por o onde foi uma das primeiras enfermarias femininas do Brasil Foi inspirador observar aquelas escadas que davam acesso ao subsolo de uma antiga Sacristia e imaginar o passado da Sa de da Mulher no Brasil Biblioteca do CFCH pela qualidade do acervo e apoio de seus bibliotec rios Ao Depto de Psicologia da UFPE por tudo o que j vivi e aprendi nas salas de aula nos laborat rios na copa do 92 andar nos corredores durante os ltimos 10 anos Sou grata a todos os atores sociais que se fizeram presen a na elabora o deste trabalho o mesmo se integrou minha vida como uma renova o do juramento feito em 2007 E assim viu no outono a primavera Descobriu que no conflito que a vida faz crescer Que o verso tem reverso Que o direito tem o avesso Que o de gra a tem seu pre o Que a vida tem contr rios Que a saudade um lugar que s chega quem amou E o dio uma forma t o estranha de amar E o perto tem dist ncias E o esquerdo tem direito E a resposta tem pergunta sil E que o amor come a aqui No contr rio que h em mim E que a sombra s existe quando brilha alguma luz S quem soube duvidar Pode enfim acreditar Pe F bio de Melo QUE A curiosidade subst
245. ravam no sentimento de n o perten a e na nega o uma forma de enfrentar sua realidade e a culpa sentida Helena N o acho que eu seja de gravidez de alto risco Art mis S vim pr c pr prevenir se caso ele precisar de UTI Neonatal na hora do parto por causa de hipoglicemia S por isso Em complemento a racionaliza o surgia como uma forma inconsciente de refutar ideia de viverem um quadro de alto risco como demonstra Helena Helena N o acho que sou de alto risco Eu acho que s to aqui porque n o tem leito pr mim porque to gestante tenho que ficar aqui Se eu n o tivesse gr vida tava em outro lugar Agora pode ser que o medicamento que eu tomo pode afetar a crian a Por isso que de instante em instante eles a equipe podem t nesse policiamento E as usu rias esqueciam a especificidade de EGAR n o se evidenciando nos relatos de viv ncia desorienta o espacial por tempo prolongado de internamento ou quadro de XXXI hospitalismo Apenas se esqueciam ou diziam nunca terem sabido o nome do local onde estavam internadas sabendo apenas de que era uma enfermaria para gr vidas da AMUL Hera N o me lembro do nome dessa enfermaria Em s ntese nem sempre as usu rias se reconheciam no estado de alto risco grav dico tampouco a especificidade do setor onde estavam internadas Usavam de mecanismos como nega o racionaliza o e esquecimento minimizando as fant
246. rganiza o a pensar a es que movimentem a vida Organizacional garantindo os interesses pol tico econ micos dela Enriquez 1997 E um sistema imagin rio porque exerce um poder sobre o aparelho ps quico dos indiv duos sendo atrav s desse sistema imagin rio que os dois sistemas acima funcionam Especificamente as organiza es usam de um imagin rio enganador ela captura os indiv duos no ponto de fragilidade ps quica ENRIQUEZ ibid Os indiv duos carregam feridas do ponto de vista inconsciente necessitando de reconhecimento estando carentes de amor Sendo assim a Organiza o se oferece como protetora uma m e benevolente e nutriz atendendo as demandas de seus membros atingindo os no que eles t m de mais primitivo em outras palavras ocupando a totalidade de seu espa o ps quico Reeditando a promessa de atender ao apelo deles ela os domina e mostra sua outra face uma m e devoradora e um pai castrador sufocando os perversamente Enriquez ibid acrescenta que restou Organiza o agir atrav s do imagin rio enganador porque n o apenas o indiv duo que se sente carente e desprotegido diante dos riscos sociais tamb m ela a organiza o tem suas fragilidades O que ocorre que ela domina antes que seja dominada Temerosa da perda de amor ela sente perigoso exercer um imagin rio motor BARBIER 1985 ENRIQUEZ ibid A fun o imagin ria motora de uma Organiza o d abertura para que os indiv duos
247. rgentes que circulam na vida de uma Organiza o como a AMUL Em outra palavras perceber que a cena do dito e a cena do n o dito confundem se sendo a justificativa dessa confus o 61 apresentada por Pag s 1993 atrav s do modelo sociomental tamb m por Enriquez 1997 que aborda a Organiza o como um sistema cultural simb lico e imagin rio ENRIQUEZ 1997 Esses dois pensamentos complementares s o esclarecidos a partir desse ponto 2 2 2 2 1 A Organiza o como sistema sociomental Pag s ibid ao analisar os processos organizacionais em empresas multinacionais que ele mesmo designou de hipermodernas refere se exist ncia de uma autonomia particularmente entre aqueles dirigentes de mais alto n vel Sua teoria especifica que a contradi o autonomia controle da autonomia condiciona a sobreviv ncia do complexo Organizacional Sua diferen a com rela o aos demais te ricos utilizados neste estudo o fato de ter aprofundado a an lise do ponto de vista psicanal tico com rela o domina o psicol gica que a Organiza o exerce sobre os indiv duos com fins de transform los em dispositivos reprodutores dela capazes de mant la funcionando Ele desenvolveu assim uma refer ncia te rica a um sistema sociomental que lhe permite entender as intera es entre os indiv duos e a Organiza o particularmente til an lise das rela es de poder Esta leitura complexa do sistema sociom
248. s 27 complica es do parto a discrimina o de g nero as crendices populares incluindo a no o de que a gravidez e o trabalho de parto n o demandariam aten o m dica especializada As parteiras eram especialistas no cuidados com a sa de das mulheres respons veis no tratamento de doen as relacionadas sexualidade e genit lia feminina Geralmente eram mulheres casadas ou vi vas de v rias classes sociais e que tinham essa atividade como um dom e of cio duradouro Especialistas na gravidez parto e puerp rio orientavam sobre amamenta o ciclo menstrual eram peritas de exames para investigar a virgindade prescreviam ervas para complica es puerperais atuavam em caso de morte materna batizavam natimortos e em pocas de epidemias atendiam a todas as pessoas enfermas independente de g nero A Organiza o das parteiras detinha um saber emp rico sobre a arte da cura transmitido entre gera es atrav s de sua rede de solidariedade feminina marcada pelos padr es socioculturais e construindo uma rela o horizontal com sua clientela Foi ainda uma Organiza o escravocrata pois algumas hospedaram negras na sua casa e em troca alugavam nas como amas de leite BARRETO 2008 A obstetr cia come ou a ser reconhecida socialmente atrav s da ascens o da ci ncia m dica no S culo XX tamb m da acusa o de que as parteiras seriam feiticeiras aborteiras ignorantes no saber formal sobre o corpo e respon
249. s veis por mortalidades materno neonatais Declarou se um front de guerra no Rio de Janeiro e em Salvador entre o saber e a ignor ncia perpassando na disputa conte dos moralistas patriarcais e positivos Enquanto isso a gravidez e o parto oscilavam entre ser um evento natural ou fisiopatol gico Em paradoxo os m dicos acabavam buscando orienta es com as parteiras como vetor resultante das defici ncias das academias de sa de VIEIRA 2002 Como resultante houve um processo de oficializa o da arte de partejar As parteiras dividiram se em ocasionais as que ministravam partos esporadicamente e as de profiss o Estas ltimas subdvidiram se em a leigas que detinham apenas o conhecimento emp rico sensorial b examinadas que haviam submetido se prova de t tulo avaliada por cirurgi es Recebiam uma carta de autoriza o para partejar emitida por um organismo fiscalizador em sa de o Fisicatura mor c diplomadas as que cursaram obstetr cia na Faculdade de Medicina ibid O primeiro curso de partos foi em 1832 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro aberto a candidatas a parteiras e a estudantes de medicina Por ser um curso te rico houve 28 reivindica es de aulas pr ticas na disciplina de gesta es patol gicas para o exerc cio supervisionado do acompanhamento gestacional ausculta o obst trica e toque Ent o em 1876 foi criada a primeira enfermaria especial de partos e doen as de mu
250. s Humanas a O campo psicobiol gico a dimens o da individualidade do desejo das particularidades do humano Nesse campo o homem biologia raz o e inconsci ncia b O campo estrutural grupal a dimens o que expressa a sociabilidade do homem campo onde se organizam as rela es sociais incluindo os pap is sociais e a pr tica de reconhecimento Aqui evidenciam se os produtos as pr ticas e dos discursos dos grupos e suas organiza es c O campo hist rico social a dimens o da transversalidade dos fatores econ mico pol tico e ideol gico Este o campo institucional o da c lula simb lica do grupo social pois neste campo onde se encontram as contradi es insol veis os contrapontos macrossociais Barbier ibid esclarece que as experi ncias concretas dos grupos sociais s o especificadas atrav s da instabilidade da interconex o e da rela o dial tica mantida por 70 esses tr s n veis de an lise sendo que o segundo deles se expressa como uma singularidade objetiva na aglutina o dos demais Entender essa din mica essencial para a compreens o de que a An lise Sincr nica possibilita ao trabalhar os grupos sociais no n vel de suas produ es cotidianas mas tamb m no patamar de suas invisibilidades Sendo assim a An lise Sincr nica busca reconhecer e decodificar as coisas vis veis o campo institucional mediatizante e as coisas ocultas o campo institucional media
251. s de assist ncia material e espiritual Essa Organiza o era um morredouro ritual de passagem para a morte o foco n o era a cura mas a caridade a assist ncia hospitalar era um espa o digno para leigas e religiosas salvarem a pr pria alma e a dos hospitalizados SAUNIER 1985 FOUCAULT 2008 No Brasil a primeira Organiza o hospitalar foi a Santa Casa de Miseric rdia de Salvador fundada em 1549 institu da pela coroa portuguesa funcionava sem aux lio do governo em condi es sanit rias desumanas sendo um complexo mantido como filantropia social e congrega o de fi is CABRAL s d Outros hospitais foram sendo constru dos no Rio de Janeiro e no Recife mantidos pela Igreja pelo ex rcito ou pela benefic ncia portuguesa No geral tais Organiza es acolhiam pobres rf os viajantes e m es solteiras FERREIRA 2008 Como se observa esses hospitais n o eram uma Organiza o m dica Foi no S culo XVIII que na Fran a os m dicos mantiveram o controle da vida p blica e privada detendo o saber em sa de e fazendo da medicina o fundamento do hospital Tal reformula o deu se pelas artimanhas do mercado O crescimento da industrializa o acentuou um processo n o planejado de migra o urbana por conseguinte a desigualdade social qualificou o sentido de doen a Signo da aus ncia a enfermidade foi vista como efeito da falta de trabalho de alimenta o de cuidados de felicidade A ass
252. s pacientes s o tratadas como ladies os outros setores dizem s pacientes l muito caquiado com voc s dizem que muito caquiado aqui N o caquiado n o porque aqui realmente a gente trata muito bem H muita ciumeira entre um setor e outro 161 O ci me pode ser explicado atrav s de uma contradi o oculta entre a ordem afetiva e a pol tica Recorde se de que a AMUL hiperestruturada com segmentos terap uticos espec ficos s usu rias prestando atendimento do pr natal ao p s parto Assim cada setor tinha seus objetivos espec ficos a cumprir com sua cota de autonomia no n vel hier rquico uma vez que cada setor tinha o poder relativamente restrito de definir suas regras E a AMUL cobrava de cada servi o condutas de excel ncia que se aproximasse ao m ximo do modelo de comportamento social que ela estabelecia No entanto cada setor deparava se com as normas da AMUL e os impedimentos dessas regras trabalhando no n vel da possibilidade cumpria se o melhor que lhe era poss vel cumprir como j mencionado em t picos tem ticos acima O cumprimento n o todo da norma que est na dom nio pol tico gerava uma contradi o com o dom nio afetivo inseguran a na rela o entre os profissionais e a AMUL Esta inseguran a traduzia o ci me dirigido ao outro semelhante quando este se destacava Nesse momento talvez estivesse em a o uma amea a do imagin rio social a AMUL poderia dirig
253. s profissionais de sa de 3 5 2 A observa o de campo 3 5 3 A coleta documental 3 6 A qualidade situacional das informa es 3 7 Aspectos ticos 3 8 Estrutura o para a an lise de dados 4 A IMPLICA O DA PESQUISADORA NA PESQUISA 5 A AN LISE INSTITUCIONAL DA RELA O DE CUIDADO NA AMUL 5 1 PRIMEIRO N VEL As singularidades das usu rias 5 1 1 As viv ncias maternas 5 1 1 1 Art mis 5 1 1 2 Atalanta 5 1 1 3 Demetra 5 1 1 4 Helena 5 1 1 5 5 1 1 6 Nik 5 1 1 7 Pala 5 1 1 8 Reia 5 1 2 Arela o m e beb na gravidez 5 1 3 O ser gestante de alto risco na vis o das usu rias 5 2 SEGUNDO N VEL A inscri o das usu rias nos servi os da AMUL 5 2 1 O acesso ao servi o e a acessibilidade do servi o 5 2 2 As tend ncias psicossociol gicas da trajet ria de hospitaliza o 6 2 2 1 O desconhecimento 6 2 2 2 O habitus em torno da expectativa do trabalho de parto e do parto 6 2 2 3 A singularidade da Sala de Pr parto 6 2 2 4 A pol tica de parto normal entre a imposi o e as formas de transgress o 6 2 2 5 As performances das pr ticas de cuidado 6 2 2 5 1 Foco na usu ria 6 2 2 5 2 Direito em sa de 6 2 2 5 3 A heteronomia da rela o de cuidado 6 2 2 5 4 O afeto na rela o de cuidado 6 3 TERCEIRO NIVEL Os estilos interativos dos grupos sociais da AMUL 6 3 1 As implica es da psicodin mica da gravidez e do puerperio na rela o de cuidado 6 3 2 A din mica do gr
254. s psicossom ticas sensa o de incapacidade de cuidar do beb desinteresse por este pensamentos suicidas e homicidas com rela o ao beb necess rio acompanhamento especializado e complementar com psiquiatra e psic logo BRASIL 2005 XIII MATERNALIDADE Processo de constru o do ser m e come a antes da concep o j nas primeiras experi ncias da menina ao brincar de faz de conta Segue na hist ria da gravidez do puerperio e prossegue ao longo da vida XIV HETERONOMIA Sujei o lei exterior ou vontade de outrem aus ncia de autonomia Lacan 1998 afirmou que a heteronomia faz do Outro aquele de quem sou mais apegado do que a mim j que no seio mais consentido de minha identidade comigo mesmo ele que me agita Na rela o prim ria necess rio que haja a aliena o do sujeito para que ele consiga depois estabelecer demandas ao outro Eis o motivo desta heteronomia ser constitutiva XV INSTITUI O Conjunto de normas e regras estabelecidas para a satisfa o de interesses coletivos Cf LAROUSSE Dicion rio da L ngua Portuguesa Nova Cultural S o Paulo 1992 XVI VIOL NCIA SIMB LICA Bourdieu 2007 trabalha com a no o de reprodu o social em que as pessoas est o submetidas a um universo de simboliza es delimitadas por sua classe social O espa o dos estilos de vida das pessoas exerce um ato impositivo de vis o de mundo de maneira que cada individuo interpreta sua re
255. s usu rias diante da not cia da gravidez Como j esclarecido eram gr vidas com problemas na hist ria gestacional anterior ou com uma dificuldade psicoafetiva para engravidar Assim o estado de choque que elas ficavam perante a not cia da gravidez e as ambiguidades emocionais desenvolvidas em torno do beb imagin rio seriam apenas constitutivas do desenvolvimento gestacional caso as experi ncias obst tricas anteriores n o tivessem deixado tamanhas marcas subjetivas Hera Quase que eu enlouque o Porque eu fiquei com muito medo de passar por essa situa o novamente do bito fetal Ent o assim fiquei naquele suspense At pensei em tirar A indisposi o inicial quanto not cia da gravidez uma problem tica subjetiva pr pria do processo de se tornar m e Enquanto uma mulher deseja ser m e depara se inconscientemente com a negativa desse desejo BRAZELTON 1988 A contradi o provoca lhe o medo de que algo ocorresse sa de do beb antag nico ao medo de livrar se do filho e a ansiedade era uma resultante desse circuito A mulher sofre entre querer e n o querer o beb adaptando se pr pria realidade grav dica e puerperal A fala de Art mis ilustra isso Vi ey n o queria aceitar n o sem se dar conta ela insinua o que ao proferir a denega o n o poderia ser dito pois a afirmativa iria ferir o excesso de amor de sua pr pria m e Em geral a an lise dos dados indicou
256. salienta se que essas usu rias estavam cientes de que as gestantes hospitalizadas na AMUL conviviam com o risco de perder o beb ou ao menos de que ele nascesse prematuro Ainda elas diziam que o motivo de terem procurado a AMUL foi o estado de alto risco gestacional Reia Eu sabia do alto risco que eu tinha meu filho eu vou ter na AMUL Tamb m elas sinalizavam uma para a outra essa condi o cl nica como se observa no epis dio tu passa mal l fora ROC 6 Epis dio tu passa mal l fora A pesquisadora jogava dama com uma usu ria Uma t cnica de enfermagem pediu licen a para interromper e aferir a press o da gestante Somente quando a t cnica se afastou aproximou se uma m e e disse irritada n o aguentar tanto tempo dentro da AMUL estava pensando em fugir A parceira de jogo da pesquisadora aconselhou mulher tem paci ncia tu doida tu vai simbora a tu passa 119 mal l fora n o chega nem l embaixo na pra a risos Te aqueta ai pede a Deus Fazer o que se a gente precisa ficar aqui Vem jogar joga a com ela que eu j t cansada O epis dio mostra que tomar consci ncia do fato era angustiante Salienta se a parceira da pesquisadora parecia interessada no jogo de damas at reconhecer o motivo de sua hospitaliza o e desistir da brincadeira Interpreta se ent o que as usu rias se isentavam transitoriamente de um saber sobre seu alto risco grav dico E encont
257. se caminho da Psicologia com suas palavras de incentivo e seus gestos marcantes vov Carminha por compreender minhas ansiedades minhas crises minhas necessidades de estudo ofertando me palavras de conforto com seu cuidado e sua sabedoria anci V a senhora se tornou uma verdadeira fortaleza para mim nesse curso do mestrado tia Gra a agrade o suas ora es alegria cobran as de visita tendo sempre torcido por mim ofertando seu sorriso e seu abra o tia Nen m meu exemplo inspirador na batalha pela qualidade de vida agrade o sua prontid o a me hospedar em sua casa um p de serra por excel ncia dizendo me estou torcendo por voc viu Thyane tia Beth pela virtude em rir da vida sendo minha tia m e irm cumadre amiga e nessa mistura calorosa ter sido um bom est mulo disserta o E tia Dete pelas ora es e torcida na reta final A minha princesinha Beatriz por sua intelig ncia emocional seu jeitinho carinhoso e sapeca sempre me trazendo a gra a infantil Sem saber o que significa mestrado ela me enchia de vida com suas graciosidades at mesmo na hora de me cobrar a companhia Pedi a Jesus pr sonhar com minha madrinha ai n o que sonhei Sonhei com a senhora no computador A Wesley pois sua inoc ncia suas curiosidades infantis sua dedica o na tabuada e seu desejo de se tornar um leitor amenizaram minha tens o nos ltimos segundos deste t
258. sem o outro tampouco sem as institui es que lhe constituem e lhe s o dependentes Para o pensamento complexo esses princ pios s o complementares indissoci veis e interdependentes Servem para explicar a vida social o sujeito e sua coletividade Possibilitam juntos entender que a autonomia do sujeito se produz na din mica de desintegra es e de liga es haja vista o sujeito moriniano tem fun o autopoi tica Ele um aglomerado de complexidades um sistema auto organizado reflexivo sistema em aberto criador de novos saberes medida que enfrenta lutas entre for as opositoras As rela es humanas s o assim contradit rias constru das entre a ordem e a desordem Como a Organiza o constitu da dessas rela es h na sua base os mal entendidos e as incompletudes circunscritas pelo sistema social com seus imprevistos repeti es e irregularidades A completude desta m quina uma aspira o constitu da por verdades e n o verdades Nas vicissitudes das complexidades que os indiv duos os grupos e as organiza es toleram a desordem sendo esse grau de toler ncia o que viabiliza a tomada de iniciativas inaugurais na busca pela regularidade MORIN 1990 Isso pode ser compreendido atrav s da l gica das situa es mediatizadas que Barbier 1985 explica Para este autor as pr ticas sociais resultam da domin ncia das institui es sobre o indiv duo e sobre o grupo dando aos atores soc
259. situada a autonomia como uma constru o coletiva do sujeito social perspectiva que deu sentido ao trabalho Eis um olhar consonante com os fundamentos epistemol gicos te ricos e metodol gicos que orientam a An lise Institucional vis o psicossociol gica assumida neste estudo O inconsciente um dos conceitos fundamentais da psican lise uma inst ncia ps quica n o acess vel o isso que escapa consci ncia do sujeito Da ordem do insabido a inst ncia do desejo do imposs vel de ser decifrado Ainda assim o inconsciente manifesta se na realidade atrav s dos equ vocos do discurso do sujeito Quando um sujeito fala n o expressa somente o que pretende dizer seu discurso deixa escapar algo da ordem do n o dito que faz men o ao conte do do inconsciente mas n o ele pr prio KAUFMANN 1996 O cap tulo tr s detalha a trajet ria da pesquisa com a descri o dos dispositivos metodol gicos escolhidos clarificando se a maneira que a abordagem dial tica adotada facilitou a an lise dos dados No cap tulo quatro com a implica o da pesquisadora esclare o a marca o pol tica de meu posicionamento neste trabalho uma reflex o primordial considerando tratar se de uma pesquisa psicossociol gica No cap tulo cinco os resultados s o expostos atrav s de categorias tem ticas que possibilitaram imprimir a an lise institucional da rela o de cuidado entre a equipe de sa de e a
260. so e da acessibilidade 5 2 1 O acesso ao servi o e a acessibilidade do servi o O acesso ao servi o foi caracterizado inicialmente pelas formas em que se deu a entrada hospitalar das usu rias da AMUL Os mecanismos de admiss o foram viabilizados por diferentes Redes Sociais os la os familiares os c rculos de amizade a vida profissional os PSFs e organiza es hospitalares Helena e Nik relataram que sua fam lia tinha experi ncias anteriores de tratamento em AMUL hist rias reativadas na sua entrada hospitalar Nik foi ainda encaminhada por outros servi os de sa de para a AMUL assim como Atalanta Art mis Pala e Reia Hera e Demetra foram incentivadas a procurar a AMUL por uma amiga e pelo c rculo profissional respectivamente Vale esclarecer a porta de entrada foi a Maternidade Dia ou a Emerg ncia Obst trica Atalanta Demetra Helena Hera Pala e Reia fizeram o pr natal na Maternidade 121 Dia da AMUL sendo encaminhadas pelo ambulat rio Emerg ncia Obst trica para fins de internamento Helena manteve duplicidade de acompanhamento na AMUL e no Plano de Sa de As demais Art mis e Nik realizaram o pr natal na Rede B sica de sua cidade de proced ncia sendo transferidas Emerg ncia da AMUL em situa o de urg ncia cl nica Esse processo de entrada revelou a imagem social que cada usu ria portava sobre a AMUL Demetra Hera Pala e Reia j tinham experi ncias anteriores de internamento na
261. sse movimento de virar a p gina atrav s de um ideal de harmonia na rela o de cuidado n o tem sido garantia da efetiva o da PNH apesar de seus sucessos apontados nesta contextualiza o Sendo assim a presente pesquisa faz um convite olhar de frente as contradi es que possam existir na rela o de cuidado e a partir disso refletir sobre seus processos de media o No interesse de aprofundar o assunto nossa pesquisa foi desenvolvida atrav s de uma quest o norteadora a partir da qual definimos nosso objetivo geral e os espec ficos 1 8 Quest o e objetivos de pesquisa Quest o de pesquisa Quais as contradi es e os processos de media o da rela o de cuidado entre a equipe de sa de e a gestante de alto risco no cotidiano de sua hospitaliza o em uma Unidade de Refer ncia Objetivo Geral Analisar a din mica da rela o de cuidado entre a equipe de sa de e a gestante de alto risco de uma Unidade de Refer ncia de Pernambuco focando as repercuss es dessa rela o na qualidade do processo de hospitaliza o da usu ria Objetivos Espec ficos a Descrever as a es interativas entre a gestante de alto risco e a equipe de sa de no contexto da hospitaliza o b Descrever o lugar que a gr vida de alto risco exerce no cotidiano de um hospital c Comparar o modelo de cuidado preconizado por uma Unidade de Refer ncia com o estilo da pr tica de cuidado objetivado em sua vida cotidian
262. ssentimentos 3 rejei o e dio dirigidos pela usu ria ao hospital Associado a isso identificaram se dificuldades interativas da equipe de sa de com suas rela es verticais e de depend ncia em meio ao estresse no trabalho E a fun o paterna da Organiza o de sa de mostrou se central nesses problemas em seu modo de controlar a autonomia das usu rias e dos profissionais de sa de Ainda assim esse grupo social era mediado por uma pol tica de reconhecimento que apareceu impl cita s contradi es Organizacionais garantindo mesmo que isoladas a efetiva o de pr ticas solid rias em sa de No geral espera se que o estudo possa interessar para o aprimoramento das pr ticas em sa de voltadas gestante de alto risco Palavras chave gestante de alto risco rela o de cuidado an lise institucional autonomia habitus ABSTRACT Aiming to contribute to Women s Health this social health study is situated in the interface of Health Psychology Institutional Analysis and Obstetrics It aimed to analyze the contradictions of the care relationship between the hospitalized high risk pregnant woman and the your health team For that the theoretical foundation included the Paradigm of Complexity MORIN 1990 the Sociomental Model MAX PAGES 1993 Theory of Instances ENRIQUEZ 1991 1997 the concept of autonomy as a revolutionary project CASTORIADIS 2007 the concept of Habitus BOURDIEU 2009 the subject s agency i
263. stimula o do trabalho de parto esta m e disfar ou o acordo mas lutou sozinha as escondidas para ir em dire o contr ria aos investimentos da equipe de sa de Segundo Demetra o discurso da equipe de sa de era dominante e focado no biol gico Demetra Porque elas sempre dizem que eles querem o melhor E o melhor pr eles pr recupera o o normal independente da sua opini o porque ele vai pela evolu o do seu corpo Se voc evoluir pr um parto normal vai ser normal Mesmo que voc n o queira de jeito nenhum mas se o colo abrir direitinho tiver evolu o ele lhe colocar no sorinho Eles v o at 149 o fim mesmo que voc n o queira Eu preferi me colocar disposi o deles Vamos tentar normal Eu digo vamo E a equipe de sa de iniciou uma terap utica medicamentosa para estimular o trabalho de parto Todavia essa disposi o de Demetra foi relativa Como ela imaginava que a equipe n o lhe escutaria a m e disfar ou a concord ncia garantindo sua posi o de usu ria que n o dava problemas mas decidiu pedir socorro inst ncia transcendental Demetra Eu aceitava ficar tudo direitinho mesmo assim pedindo a Deus Tava mais confiante em Deus ele iria me ouvir porque eu sabia que os homens n o a ligar pr mim pr o que eu ia falar Ai eu digo s tem uma pessoa que pode me ouvir E eu pedia suplicando olhando pro c u Meu Deus me conced
264. su rias Na AMUL as usu rias estavam alojadas em pequenas enfermarias de tr s com excess o de uma com cinco leitos Durante o dia assistiam televis o participavam de atividades ocupacionais com o grupo de voluntariado dormiam eram examinadas pela equipe e algumas recebiam visita familiar Caracterizava se por ser um grupo transit rio conforme o tempo de hospitaliza o e fragmentado os la os afetivos respeitavam uma l gica dos pequenos guetos constitu dos por afinidades tamb m pela proximidade espacial das enfermarias Com tal fragmenta o os subgrupos n o tinham for a pol tica no seu espa o coletivo at porque as usu rias n o se organizavam como grupo sujeito em que as pessoas agem com um objetivo em comum de modo coletivo Ou seja quando havia alguma insatisfa o as m es compartilhavam entre si mas as observa es de campo n o percebeu nenhum movimento de criar um di logo consistente em conjunto com a equipe de sa de Eram ent o grupos heter nomos com trocas interativas prec rias Demetra A conviv ncia aqui muito raro A gente fala aqui pouquinho t aqui por que o que a m dica disse Mesmo assim havia a delimita o de pap is nos grupos Helena contou que foi recepcionada na AMUL por uma usu ria uma l der autorit ria do grupo que se imp s no primeiro contato provocando inseguran a na usu ria da pesquisa Helena Aquela menina chegou com aquele jeit o assim
265. su rias reflexo do v nculo afetivo que os profissionais de sa de mant m com a Organiza o como defende Enriquez 1991 A equipe de sa de queixou se do espa o relacional inseguro estabelecido na AMUL A trai o a inveja e o ci me foram citados como suas experi ncias interativas presentes na vida de trabalho de modo que o sil ncio tornava se a sa da para a preserva o individual Napeia A maternidade jogo viu Entre as colegas voc faz de conta que nem entende que voc n o v A maternidade BOMBA viu Ah muita coisa se a gente for levar s rio a gente se machuca muito 160 Por um lado essas disputas pareciam representar outra cena a experi ncia realizada pelo sujeito primitivo quando se via diante de seus semelhantes Dentro de um setor os profissionais disputavam entre os iguais o amor de sua chefia imediata assim envolvidos no complexo de intrus o Segundo Lacan 2002 o irm o sentido como um rival um intruso que se torna objeto de todo interesse do sujeito Isso ficou claro na admiss o funcional de Nereida Enquanto se adaptava rotina da AMUL ela se deparou com um outro semelhante que lhe era traidor Nereida n o entendia o porqu a colega de trabalho tanto lhe perseguia Nereida Eu sofri muito quando eu cheguei aqui uma colega come ou a me prejudicar Eu ficava chorando cheguei a pedir pr sair daqui Importa dizer essa problem tica era vivida
266. ta o aumento da idade materna AP NDICE B Significados e Justificativas dos Codinomes dos Atores Sociais da Pesquisa A escolha dos codinomes para os atores sociais desta pesquisa considerou a rela o interpessoal de pesquisa a hist ria de vida das usu rias e o estilo de cuidado dos profissionais Optou se por nomes da mitologia grega porque tem muitos conflitos entre o sagrado e o profano No caso dos profissionais foi escolhido nomes de ninfas gregas por serem protetoras simbolizando a fun o cuidadora da equipe Como houve um homem que participou da pesquisa foi escolhido para o mesmo o nome de um her i grego GESTANTES DE ALTO RISCO DEUSA ART MIS Deusa da ca a dos animais selvagens Era uma deusa alta destacava se pelas ninfas que a acompanhavam Sempre portava arco e flecha Existia contradi es nos pap is que lhes eram atribu dos tanto era deusa da ca a quanto protetora dos partos USU RIA ART MIS Vivia uma rela o de disputas com a m e que lhe proibia de engravidar Nessa contenda com a m e ficou gr vida realizando seu maior desejo Na AMUL teve contratempos com a equipe DEUSA ATALANTA Essa deusa corria muito r pido Segundo a profecia se ela se casasse seria amaldi oada Para dificultar a profecia seu pai ordenou que ela se casasse com quem a vencesse Apaixonado Hep mene pediu ajuda a Afrodite que orientou ao mesmo jogar tr s ma as com o objetivo de que Atalanta parasse na int
267. tal a partir de minhas disponibilidades de hor rio no Canguru Vicentina Barbosa e Socorro Trindade porque nas eventualidades de nossa vida no trabalho estreitamos nossos la os e estudamos juntas sobre as Equipes de Sa de e a Pol tica de Humaniza o Obrigada por suas valiosas contribui es na teoria e na pr tica Carmem Guimar es pois me incentivou a conhecer o movimento das doulas do Brasil Dra Geisy Lima uma pediatra m e ao me influenciar na escolha desta tem tica de estudo Quando eu redesenhava o projeto voc me presenteou com a pergunta Por que voc n o estuda as gesta es patol gicas Tamb m pelas ricas oportunidades que me proporcionou em 2009 2010 foram momentos mpares que apontaram lacunas no meu conhecimento permitindo me reavaliar minha pr tica e conquistar la os profissionais atrav s do investimento institucional pela humaniza o da sa de dos beb s pr termo Cida provid ncia do Canguru pela solicitude apoio burocr tico e esp rito samaritano Cec lia Dr Fernando Menezes e Camila pelo papel exercido nos processos de meu afastamento tempor rio da assist ncia hospitalar A minha amiga nutricionista Marcela Moreira por seu estilo contagiante humilde corajoso e parceiro Obrigada pela energia positiva e por me abrir os olhos em v rias ocasi es A Pe Vicente Laurindo Marlene e Clerinaldo porque me impulsionaram nes
268. tamentos Organizacionais que geravam contraditoriamente uma imagem negativa acerca da Sala de Pr parto um espa o terap utico rico para o exerc cio da humaniza o em sa de Rezende 2010 afirma o preparo de parto como um processo psicossom tico e reconhece que ferramentas de cuidado como a qualidade da rela o entre o profissional de sa de e a gr vida s o eficazes para a mulher melhor enfrentar seu medo diante da expectativa do parto Por m a maneira como a pol tica de parto normal humanizado era incorporada pela AMUL em contradi o com seus limites na efetiva o da norma fragmentava o espa o de escuta para com as usu rias E o desconforto delas diante da imposi o servia como uma das for as instituintes dirigidas Sala de Pr parto assim contribuindo com a singularidade deste setor 5 2 2 3 A singularidade da Sala de Pr parto F3 Al m da resist ncia das gestantes ao parto normal fatores macrossociais impediam AMUL do cumprimento total da universalidade H racles enumerou alguns fatores de causa da parcialidade da norma a A superlota o contribu a para prejudicar a qualidade do atendimento atingindo emocionalmente o profissional que se via em situa o de impot ncia Her cles Eu me sinto impotente E j aconteceu aqui da gente perder o controle da situa o infelizmente Era muita mulher gr vida em trabalho de parto tudo na mesma hora eu j n o sabia mais quem atender prime
269. tar um espa o de escuta sobre as expectativas em torno do parto podia ser um mecanismo inconsciente que os profissionais de sa de estabeleciam para n o se deparar com os pr prios conflitos infantis arcaicos Isso foi constatado quando Dafne reconheceu que a pr tica de cuidado em EGAR estimulava a mem ria desta t cnica de enfermagem sobre a pr pria experi ncia gestacional Dafne Engravidei e passei por momentos muito dif ceis Aqui eu fa o todo um retrospecto do que aconteceu 139 A segunda explica o relaciona se id ia de que toda Organiza o est altura do inconsciente PAGES 1993 prov vel que o sil ncio desses atores sociais estivesse sendo garantido tamb m por AMUL como uma estrat gia singular da Organiza o para mediar as pr prias quest es imagin rias A pr tica do parto normal era a miss o pol tico ideol gica desta Unidade que interiorizava os princ pios da humaniza o do parto e nascimento assegurando sua identidade social de Amigo da Crian a sob o poder simb lico assumido pelo SUS como indicou H racles H racles uma press o sim com certeza Eles MS pressionam a AMUL E a AMUL pressiona a gente E eu sou um defensor do parto normal humanizado O habitus em torno do desejo de cumprir a norma partos ces reas lt 40 revelou que a AMUL tamb m vivenciava uma inseguran a ps quica em torno da hora do parto prov vel que permitir aos a
270. te e fale negocie ajude na constru o de uma autonomia mesmo que relativa Cap tulo 7 CONSIDERA ES FINAIS Pesquisar constitui uma atitude e uma pr tica te rica de constante busca e por isso mesmo tem a caracter stica do inacabado provis rio e do inacabado permanente MINAYO 2006 p 47 7 Considera es Finais Acompanhar o itiner rio hospitalar das oito gestantes de alto risco desde sua admiss o at a alta materna foi o mesmo que acompanhar a constru o de um grupo social situado no tempo e no espa o da AMUL Constatou se que o estilo de inser o das m es na Unidade de Refer ncia era influenciado diretamente n o s pelo modo como pensavam a gravidez de alto risco o beb e a equipe de sa de mas tamb m pela maneira como eram posicionadas na pr tica de cuidado A rela o de cuidado foi entendida como uma inst ncia contradit ria sistema mediatizado que tinha sua singularidade demarcada pelas for as institu das e instituintes que agiam sobre esse contexto hospitalar No geral os dados analisados sugeriram que a rela o de cuidado na AMUL est movida por uma s rie de afinidades e desentendimentos entre as pessoas E essa quest o parece remeter ao problema da diferen a de classes sociais do modo como Bourdieu 2009 esclarece Segue se o racioc nio deste autor de que negar as implica es da divis o de classe de um espa o social negar os princ pios de diferencia o n
271. tendendo a gravidade do quadro dela Como se nota nesse discurso Demetra encontrava se insegura diante da expectativa do parto N o tendo encontrado na AMUL um espa o de escuta atrav s do qual ela pudesse ressignificar sua representa o de parto projetou na equipe a figura do mal Ela se tranquilizou diante da conduta m dica de interromper a gesta o e usar a anestesia mas prov vel que a usu ria tenha sentido isso como alternativa para por um fim na sua situa o de estresse j que sua fantasia de um parto sofrido n o pode ter sido desmistificada Salienta se ainda que o enunciado todo mundo aqui ruim teria sido afirmado por Demetra mas atrav s de outra usu ria que se mobilizara a repassar pesquisadora tal depoimento A delatora sentiu vontade de chorar junto e supunha que as coisas ainda n o 138 se mantinham claras Isso revela que ao delatar ela se posicionava como porta voz do grupo X de usu rias daquela Unidade Talvez Demetra n o era a nica que estava apavorada Em suma nem as usu rias tomavam a iniciativa de solicitar da equipe um espa o de di logo sobre o assunto nem a equipe tinha consci ncia das expectativas das usu rias De acordo com Baptista e Furquim 2010 nas enfermarias de gesta o de alto risco as gestantes apresentam comportamentos tempor rios ou permanentes frente hospitaliza o associados a toda hist ria de vida e expectativas com rela o ao parto e
272. terligadas de enfoque preventivo e curativo individualizado e coletivo O foco o usu rio em sua totalidade biol gica cultural econ mica e psicossocial Atualmente esses princ pios s o os desafios da pr tica pois est o condicionados a uma mudan a de cultura na sa de p blica do Brasil que ainda tem influ ncias da hegemonia m dica da precariedade reflexiva da popula o e do adoecimento dos profissionais de sa de devido ao estresse no trabalho Em 2003 esses problemas justificaram a implanta o da Pol tica Nacional de Humaniza o PNH enquanto ve culo primordial para se enfrentar os pontos de inaplicabilidade do SUS em paralelo para que as pessoas se vejam como correspons veis da produ o de sa de coletiva Importa clarificar a humaniza o uma atitude que favorece a autonomia dos sujeitos garantindo atendimento de qualidade com uma participa o integrada entre gestores t cnicos pacientes e fam lia Os atores sociais comp em desta maneira uma rede de constru o dos la os de cidadania A tarefa mudar a cultura de aten o aos usu rios e a de gest o do processo de trabalho construir atitudes ticas est ticas e pol ticas que vejam o sujeito como protagonista de sua hist ria de vida situada na coletividade MS 2004b Nesse sentido a PNH transversal e questiona as verticalidades as desigualdades e as discrimina es sociais Seus princ pios s o criar e garantir a constru o
273. tiva o de experi ncias arcaicas destas m es As m es relataram a expectativa da experi ncia da dor do parto e o medo da passagem do beb pelo rg o reprodutor feminino Demetra Todo mundo tem medo da dor eu tenho medo da passagem aquela cabecinha saindo Ai Meu Deus aquilo ali deve ser horr vel Segundo Freud 1925 1926 a experi ncia do parto vivido como um evento traum tico de repercuss es ps quicas contundentes Para o autor o parto reedita na mulher ang stias primitivas de desintegra o reativando a experi ncia de um corte simb lico Assim a prepara o para o parto tamb m um momento de prepara o para lidar com a ang stia pela amea a de uma perda anterior Nesse sentido interpreta se que as rea es emocionais vividas pelas usu rias foram apropriadas sua circunst ncia psicobiol gica Mas os dados evidenciaram outra quest o As gestantes contavam com a prontid o da equipe de sa de de EGAR que se colocava em alerta para fornecer s mesmas o suporte terap utico necess rio em caso de complica es cl nicas E cada usu ria contava com seu profissional de refer ncia que as atendia diariamente Apesar dessas garantias as gestantes demonstraram n o se sentirem vontade para compartilhar suas expectativas do parto com a equipe de sa de Por exemplo Hera imaginava que seu profissional de refer ncia iria desvalorizar os sentimentos e as ideias dela acerca do parto
274. tizado Primeiro reconhece a singularidade do grupo social estudado suas produ es provis rias resultantes de um processo de media o entre o instituinte e o institu do que atuam na articula o dos tr s campos acima descritos esse primeiro momento que permite compreender o fato social investigado decodificando o Campo Institucional Mediatizante composto por um conjunto de institui es intermedi rias que estabelecem rela es de for a entre o instituinte e o institu do e que s o percebidas nas produ es cotidianas do grupo social O segundo momento o da decifra o do Campo Institucional Mediatizado o campo oculto do processo dial tico do n o dito da Organiza o como esclarece Barbier 1985 Orientando nos nesta perspectiva focamos as singularidades da rela o de cuidado vividas no contexto hospitalar enxergando a gr vida de alto risco como usu ria da institui o SUS O que justifica nosso fundamento epistemol gico te rico e metodol gico assumir nesta pesquisa o compromisso da psicologia com o social referenciando se no processo de reflex o das pol ticas p blicas voltadas Sa de da Mulher Este foi o compromisso situado ao longo deste trabalho que buscou dar conta da an lise das experi ncias interativas cotidianas de uma Unidade de Refer ncia percebendo o processo dial tico do cuidado em sa de aquilo que costumeiramente n o dito Em outras palavras a trajet ria de nossa pesq
275. to N o procurou suporte psicol gico para enfrentar o per odo de crise e como sa da ps quica foi morar pr ximo a casa de seus pais Aos dois meses de luto esqueceu de usar o anticoncepcional por efeito 110 engravidou outra vez Em choque o casal recusou inicialmente o beb O desejo materno e paterno eram antag nicos ao medo de um novo aborto Acompanhada na Maternidade Dia sua gravidez desenvolvia se sem intercorr ncias Hera renovou as esperan as ao descobrir que gestava uma menina Ap s um ato sexual na 272 semana gestacional procurou a Emerg ncia Obst trica apresentando sangramento vaginal Al m do tero bicorno foi diagnosticada brida amni tica al m de avaliada a amea a de trabalho de parto prematuro Ap s 28h na Emerg ncia foi transferida para EGAR Na mesma semana desta admiss o a usu ria aceitou participar da pesquisa Os epis dios de dor foram recorrentes com persist ncia do sangramento vaginal No 5 dia em EGAR a usu ria foi Sala de Pr parto onde afirmou sentir medo de perder o beb que nasceria prematuro revivendo as experi ncias anteriores naquela mesma Sala Ap s quatro dias na Sala de Pr parto foi indicado o parto ces rea A filha de Hera nasceu com 1 540Kg Apgar 4 8 sendo encaminhada UTI Neonatal A m e foi ao Alojamento Conjunto onde ficou por 8 dias fazendo tratamento de infec o pois n o havia vaga na Enfermaria de Infectados Ap s superar o quadro infecc
276. to representante de turma e protetora das finais da turma 3 Obrigada por sua solidariedade Aos amigos revisores de texto Ana Luiza Correia Auryneide Alves Ed lvio Leandro Jos Clerinaldo Ju Lucena Ludmila Sousa e Paula Houly Ros ngela F lix mestre em Letras por ter feito a revis o final do texto Aos professores do mestrado pelos novos conceitos que me propiciaram por cada ato pedag gico em meio aos esfor os em contribuir com os projetos t o diversos da turma mostrando a possibilidade de di logo entre tantas psicologias Aos colegas da encantadora 32 turma de mestrado em Psicologia da UFPE pelo clima cont nuo de parceria pelas trocas de conhecimento pelas sugest es bibliogr ficas pelas palavras de apoio pelas caronas pelos bastidores no Pai D gua no Cinema da Funda o no Alto da S no Recanto da V rzea e no Chef Plat o E pelos inesquec veis e mails de saideira criando um espa o virtual de terapia de grupo Distintamente turma AI 2009 disciplina An lise Institucional pelas discuss es calorosas pelo setting grupal que ficar comigo para sempre nas lembran as e em minha pr tica Psi E turma da disciplina Intera o Social e Desenvolvimento Humano atrav s da qual pude conhecer Jerome Bruner e a riqueza te rico metodol gica das Narrativas de Hist ria de Vida em meio aos adocicados lanches coletivos N o poderia deixar de men
277. tores sociais dialogarem sobre as expectativas de parto das gestantes seria correr o risco de que elas se posicionassem como sujeitos aut nomos e viessem a cobrar o direito de escolha pelo parto ces rea Nesse caso a autonomia das usu rias n o seria uma vantagem para a Organiza o que al m dos benef cios sa de das gestantes objetivava a durabilidade de seu bem simb lico o t tulo de hospital humanizado Perder esse t tulo causaria sofrimento na ang stia pela aus ncia do amor do Outro SUS E a AMUL n o se dava conta dessas problem ticas subjetivas que experimentava junto com as usu rias e os profissionais de sa de durante as expectativas do parto o sil ncio era um mecanismo de controle da liberdade do outro Her cles Aqui o parto normal imposto a ela usu ria ela n o tem escolha Em sua autonomia controlada as usu rias sentiam a imposi o do parto normal Helena O m dico for a muito fazer normal E eu queria que fosse um parto normal mas n o um parto for ado normal Em suma o sil ncio foi um mecanismo observado no plano individual e institucional como recurso de manuten o do n o dito Por tr s do sil ncio das usu rias e dos profissionais de sa de escondia se algo que n o poderia via tona por representar uma 140 amea a conviv ncia na Organiza o causando instabilidades Isso justifica o fato da observa o de campo ter constatado que a AMUL se empenhava em oferece
278. tulo original Storia Delle Donne Tradu o de Cl udia Gon alves e Egito Gon alves Cole es Afrontamento S o Paulo Ebradil 1991 ENRIQUEZ Eug ne O trabalho da morte nas institui es In Ka s Ren Org A institui o e as institui es estudos psicanal ticos Tradu o Joaquim Pereira Neto S o Paulo Casa do Psic logo 1991 p 53 80 A organiza o em an lise Tradu o Francisco de Rocha Filho Petr polis Vozes 1997 FERREIRA Let cia Correia Magalh es O poder das organiza es hospitalares Admnistradores hospitalares fantoches da hegemonia hier rquica m dica Disserta o apresentada na Faculdade Novo Horizonte Belo Horizonte Faculdade Novo Horizonte 2006 FOUCAULT Michel O nascimento da cl nica Tradu o de Roberto Machado 62 ed Rio de Janeiro Forense Universit ria 2004 Microf sica do poder Tradu o de Roberto Machado 252 ed Rio de Janeiro Graal 2008 FREUD Sigmund Al m do princ pio do prazer Cole o das Obras Completas de Freud Tradu o Christiano Monteiro Oiticica Rio de Janeiro Imago 1920 O id e o ego Cole o das Obras Completas de Freud Tradu o Christiano Monteiro Oiticica Rio de Janeiro Imago 1923 Inibi o sintoma e ansiedade Pequena Cole o das Obras Completas de Freud Tradu o Christiano Monteiro Oiticica Rio de Janeiro Imago 1925 1926 GOMES Romeu et al Os sentidos do risco na gravidez segundo a obstetr cia um
279. u caracter sticas f sicas A mulher tende neste per odo a introspec o passividade e reorganiza o da representa o de si e do pr prio corpo havendo a possibilidade de experimentar altera es no desejo e desempenho sexual J no terceiro trimestre s o intensas as expectativas para com o parto o medo da dor e da morte al m de ansiedade As idealiza es sobre o beb diminuem um recurso inconscientemente protetivo para que a mulher tenha condi es de construir uma rela o de amor com o filho n o se frustrando com o beb da realidade diferente do beb sonhado na fase antecedente Nesse per odo final as gr vidas costumam dizer que querem apenas que o filho venha com sa de n o importando as caracter sticas f sicas dizendo aceit lo do jeito que ele vier E o sentido que ela elabora sobre sua gravidez tem efeitos em sua sa de puerperal bem como na constitui o org nica e ps quica do beb considerando se que a 41 maternalidade da mulher caracterizada por sua postura diante das necessidades do neonato SALES 2000 No puerperio a mulher est ainda mais vulner vel psiquicamente Ela mant m a rela o simbi tica com o beb mas vivencia o luto do corpo grav dico e a frustra o por n o recuperar de imediato o corpo pr gestacional Estranha a separa o m e beb enquanto sente medo de se perder na depend ncia com o filho n o mais recuperando seu estilo de vida anterior exist nc
280. uaru para a Emerg ncia da AMUL Nesta Emerg ncia onde passou 24h foi diagnosticado Amnorrexe Prematura A usu ria seguiu EGAR no mesmo dia em que come ou a fazer parte desta pesquisa Nik mantinha uma postura correspons vel com sua produ o de sa de seguindo todas as orienta es m dicas Todavia n o foi poss vel conter satisfatoriamente a perda do l quido amni tico Em paralelo a gesta o precisou ser interrompida por causa da infec o urin ria de Nik A m e foi transferida Sala de Pr parto depois Sala de Parto para realiza o da cesariana Seu beb nasceu com 1 730Kg e Apgar 8 9 e foi levado UTI Neonatal enquanto Nik esteve na Enfermaria de Infectados Ap s alta materna cumprindo quatro dias de hospitaliza o Nik continuou na AMUL por quase um m s acompanhando seu beb na Unidade Canguru 6 1 1 7 Pala Pala 35 anos vivia em Xexeu Mata Sul de Pernambuco cat lica cursou incompleto o Ensino Fundamental 1 dona do lar n o fumava nem consumia lcool ou outras drogas Sua menarca foi aos 12 anos e sua coitarca aos 14 anos com o mesmo parceiro com quem estabeleceu vida conjugal Os dois constru ram uma vida pacata eram parceiros e mantinham um conformismo diante da realidade social segundo o depoimento de Pala O casal residia em casa de alvenaria com abastecimento hidr ulico e el trico de dois quartos O im vel pertencia usina onde seu esposo era cortador de cana
281. ucional englobante mais significativa da AMUL expressando de forma dissimulada o confronto entre o particular e o universal desta Unidade de Refer ncia A partir desta decifra o chegamos onde nos propusemos analisar as contradi es da 165 rela o de cuidado pois essas contradi es dial ticas estavam n o somente na visibilidade dos grupos sociais da AMUL mas remetidas a outra cena das tramas interativas da AMUL onde se expressam as contradi es do imagin rio social do hospital maternidade em foco Por tr s de todo material coletado neste estudo insinuava se algo em comum aqui entendido como uma pol tica de reconhecimento social que se pareceu mediar todas as contradi es da Organiza o Os profissionais de sa de e as usu rias pareciam fazer apelo constante ao reconhecimento do outro buscando ser objeto de desejo do desejo do Outro Nik E foi logo no primeiro dia que eu cheguei que ela enfermeira conversou comigo me deixou mais calma Ai tanto que no outro dia ela j sabia meu nome sorriso tom de satisfa o j ficava chamando pelo meu nome Olha ai ta vendo j estou conhecida riso Quando as usu rias sentiam que o outro n o lhe dirigia o olhar ou seja n o oferecia nem ofertava amor elas eram tomadas pelo desprazer Atalanta Essa outra m dica nem bom dia ela me dava O sorriso dela o mesmo um sorriso aguado Ela me disse uma coisa q
282. ue se pudessem mudar de hospital no momento do parto prefeririam ter o beb em outro lugar depois retornar AMUL para a hospitaliza o puerperal Todas riram e foi feito l e l Os significantes imagin rios sociais em torno da Sala de Pr parto orientava os comportamentos das usu rias inclusive levou Helena a modificar suas ideias com rela o ao parto Ela foi admitida em EGAR querendo o parto normal mas recebeu a primeira alta desejando uma cesariana inclusive pensando em desistir dos cuidados da AMUL Helena Eu tava com outro conceito que ia ser normal e acabou se melhor fazer uma cesariana por mais que eu queira ser normal Porque tenho medo de chegar na hora e ficar essa agonia sei l sobre press o n o sei Pr voc ter uma id ia eu queria ter o parto normal mas eu n o quero mais Quero ter meu filho optar pela m dica mesmo de cirurgia marcada do plano de sa de Essas quest es justificam de certa forma a intensifica o do estresse no itiner rio da admiss o em EGAR Sala de Pr parto como ilustraram as tend ncias psicossociol gicas 141 anteriormente apresentadas Quanto mais as usu rias se aproximavam da hora do parto seus comportamentos e suas narrativas sugeriam uma maior desorganiza o emocional Uma rea o esperada do ponto de vista psicol gico devido aos aspectos inconscientes em torno da cena do parto mas que se mostrou refor ada por compor
283. ue eu n o gostei O que N o riso acanhado segredo meu O segredo de Atalanta parece ganhar um sentido maior do que ela mesma percebe Ela sentia que a profissional n o dirigia um olhar de desejo pois a rela o terap utica era constru da atrav s da constata o da falta de amor eu n o gostei No entanto a mesma profissional foi capaz de tomar a iniciativa de favorecer a usu ria quebrar seu sil ncio e falar Atalanta Ai depois de tr s dias ela veio Ela veio me atender veio ela e outra Ai ela disse como que voc t Atalanta tom risonho depois da nossa chatea o Mas ela come ou at a falar mais comigo quando ela passa oi Atalanta Bom dia T pr ximo n T chegando o dia A m dica n o falou sozinha mas com o apoio de uma fun o terceira veio ela e outra no movimento de buscar em equipe o reconhecimento de Atalanta que se surpreendeu mesmo negando seu prazer diante do reconhecimento do outro Atalanta Essa mulher t doida pr se livrar de mim risos Vai Eu n o vejo a hora tamb m De acordo com Martins 2008 as trocas interativas insinuam recursos de luta por reconhecimento social por efeito de sobreviv ncia no espa o institucional E como forma de materializar essa luta as usu rias e a equipe de sa de constru ram um s mbolo de sua pol tica de reconhecimento social um quadro de fotografias Assim atrav s das imagens fixadas
284. ueiredo 2005 apontaram que as situa es de grande estresse pr natal e quadro de ansiedade materna elevada no per odo gestacional podem comprometer o estado de sa de da mulher bem como o do beb O neurocomportamento fetal pode ser atingido pela sintomatologia ansi gena da m e com altera o morfol gica fisiol gica e do funcionamento cerebral do feto a longo prazo do beb e da crian a Trabalhar a rela o afetiva m e nascituro apontado como um dos caminhos para amenizar ou erradicar tais comprometimentos Nesse sentido destaca se a import ncia de uma avalia o continuada dessa rela o que se desenvolve em EGAR Em suma os significantes que as usu rias depositavam subjetivamente no beb revelaram o antagonismo da rela o materna influenciado por problemas biopsicossociais pr prios da vida dessas mulheres Como veremos no t pico seguinte a constru o da maternalidade incluindo os sentidos atribu dos ao beb tamb m envolvia os significantes em torno da condi o de risco gestacional e do setor onde estivessem hospitalizadas 5 1 3 O Ser gestante de alto risco na vis o das usu rias Neste t pico tem tico o foco ser o impacto vivido pelas mulheres ao constatarem sua condi o de alto risco gestacional al m do que j vimos sobre a liga o entre o impacto frente not cia da gravidez e os simbolismos atribu dos ao nascituro Ao receberem um diagn stico que apontava o qu
285. uidado da AMUL E do conjunto desses acontecimentos delimitamos tr s n veis centrais de an lise a O n vel das singularidades das usu rias referiu se dimens o psicobiol gica de nossa an lise sendo descrita a hist ria de vida das gestantes de alto risco incluindo sua rela o de afeto com o beb e os sentidos que elas davam a sua condi o grav dica Foi evidente que essas viv ncias maternas de algum modo delimitavam o estilo interativo das usu rias frente aos profissionais de sa de Portanto a compreens o deste n vel de an lise foi fundamental para se qualificar o posicionamento delas durante sua hospitaliza o na AMUL b O n vel da inscri o das usu rias nos servi os da AMUL explanou a dimens o s cio hist rica do sistema de cuidado desta Organiza o Nesse patamar foi identificado o acesso ao servi o o processo de admiss o das gestantes de alto risco na AMUL tamb m os elementos constitutivos e constituintes da Organiza o como sua imagem social e as articula es com outros servi os de sa de Em paralelo foi observada a acessibilidade da AMUL isto sua capacidade de adapta o s necessidades das usu rias Inspirando se em Pinheiro e Martins 2009 este estudo n o poderia desconsiderar estes dois dispositivos institucionais porque eles dizem da inser o do usu rio no SUS e englobam vari veis como acolhimento v nculo integra o e estrat gias de fluxo nos n veis
286. uisa detalhada no cap tulo seguinte montou se na ideia de que A An lise Institucional visa trazer luz as condi es institucionais de exist ncia de qualquer tema ou problema a cada momento desprende se dos campos de interven o institu dos cl nico escolar laboral comunit rio de sa de de sa de mental para gerar inventar campos de an lise desnaturalizadores Assim procedendo tenta talvez o imposs vel esse desencaminhamento voltado constru o coletiva da autonomia e da liberdade RODRIGUES 2007 p 560 Cap tulo 3 A TRAJET RIA METODOL GICA A metodologia constitui uma pr tica te rica pensada BOURDIEU 1972 3 0 A TRAJET RIA METODOL GICA Como afirmado anteriormente a trajet ria desta pesquisa foi um jogo cient fico No mesmo buscamos usar instrumentos de investiga o que de fato nos permitisse uma an lise dial tica das tramas interativas de um hospital maternidade voltado assist ncia de alto risco gestacional Foi assim que o presente estudo de perfil qualitativo caracterizou se uma pesquisa social em sa de que compreendeu o fen meno sa de doen a em sua interface com os m ltiplos atores sociais que comp em o campo material e simb lico das institui es da Organiza o e dos indiv duos Um conceito que circundou as escolhas e o caminho te rico metodol gico seguido 3 1 Escolha metodol gica Na defini o deste m todo cogitou se que es
287. ujeito com diferentes objetos de amor ao longo da vida KAUFMANN 1996 XX COMPLEXOS FAMILIARES Embora Pag s 1993 refira se apenas ao Complexo de dipo o termo aqui foi usado no sentido de englobar todos os complexos que se apresentam no processo de estrutura o ps quica o complexo de desmame o de dipo e o de intrus o esclarecidos por Lacan 2006 O primeiro diz respeito ao trauma que o desmame provoca ao instaurar uma primeira ruptura imagin ria entre o beb e a m e O segundo diz respeito ang stia resultante da amea a de castra o que a fun o do pai delimita assim impondo a perda do amor materno E o terceiro quando a presen a de um irm o reencena os traumas anteriores porque o irm o outro semelhante mostrar se um rival que amea a a reincid ncia da perda anterior Lacan ibid diz que esses complexos s o organizativos da institui o familiar XXI Herbare Ter possuir XXII IMPLICA O Em ci ncias humanas o engajamento pessoal e coletivo do pesquisador em e por sua pr xis cient fica em fun o de sua hist ria familiar e libidinal e de seu projeto s cio pol tico em ato BARBIER 1985 p 120 XXIII LIBIDO Fonte de energia investimento impulso vital para a auto preserva o da vida humana FREUD 1920 XXIV APGAR Escala ou ndice de Apgar um teste desenvolvido pela Dra Virg nia Apgar norte americana para avaliar o estado ativo do beb no primeiro no quinto
288. uma pergunta que ningu m nunca me fez Esse tempo todo eu s pensei em mim Infelizmente Infelizmente Porque eu n o pensei no meu filho porque se eu vou ter tudo bem maravilha pr mim E meu filho O que vai ser com ele Vou ter que pensar nele tamb m N o n o Agora voc me pegou Deixou com uma pulga atr s da orelha Como ser que vai ser pro meu filho uma cesariana Eu sei que no parto normal tamb m complicado pelo tempo de ficar esperando perder l quido essas coisas oxig nio Eu fiquei preocupada Se perguntar doutora ai n o parto normal Se ela tivesse aquela disponibilidade de chegar e falar tudo isso No geral o desconhecimento das usu rias mantinha uma rela o de liga o com as fantasias em torno do parto e contribu a para sua aliena o no contexto hospitalar Isso somava se cultura da AMUL quanto ao parto normal o que ser explicitado no pr ximo t pico tem tico Como veremos essa cultura interferia diretamente no processo de preparo de parto delimitando a maneira das gestantes se posicionarem na Unidade 5 2 2 2 O habitus em torno da expectativa do trabalho de parto e do parto F Analisar o habitus em torno das expectativas das m es acerca do trabalho de parto e do parto referir se a seus modos de pensar agir e sentir tamb m considerando as disposi es da equipe de sa de frente ao assunto E um dos pontos sugestivos nesta an lise foi a rea
289. undo parceiro sexual fixo aos 19 anos um la o marital que durou quase 11 anos de sua vida sem filhos Helena afirmou que nunca viu naquele parceiro a figura do pai de seu beb Aos 30 separou se do marido e namorou o colega de trabalho um frentista Novamente n o usou preservativo justificando que era est ril mesmo sem diagn stico m dico a respeito Invejava as mulheres que eram m es Foi no in cio da nova rela o amorosa que ela decidiu fazer um Plano de Sa de com cobertura de parto dizendo se preocupada com um problema de sa de em sua mama Recusou se a procurar o SUS por acreditar na morosidade deste Sistema Questiona se se a pressa de Helena seria mesmo com rela o ao 109 tratamento mam rio Disse n o ter planejado a gravidez mas no terceiro m s de namoro o casal estava gr vido de um menino e aceitando a parentalidade O parceiro foi morar na casa dos pais de Helena casa de alvenaria abastecida de energia el trica saneada de tr s quartos A renda familiar era de quatro sal rios m nimos Helena fez o pr natal no Plano de Sa de e na Maternidade Dia simultaneamente Na 242 semana gestacional a Emerg ncia da AMUL diagnosticou trombose venosa profunda ficando Helena hospitalizada na UTI Obst trica Seguiu EGAR poca em que foi inserida na pesquisa Ap s quinze dias EGAR emitiu alta definitiva gestante que permaneceu na Maternidade Dia com planejamento de reinterna o no trabalho de parto
290. upos de usu rias 6 3 3 A din mica do grupo de profissionais 6 3 4 A fun o paterna da AMUL 6 4 REPERCUSS O INSTITUCIONAL A Pol tica de Reconhecimento Social na rela o de cuidado CONSIDERA ES FINAIS 8 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS GLOSS RIO AP NDICE AP NDICE A Fatores de Riscos Gesta o de Alto Risco AP NDICE B Significados e Justificativas de Codinomes dos Atores Sociais da Pesquisa AP NDICE C Trajet ria das Usu rias na AMUL ANEXOS ANEXO A Modelo do Aviso Anexado Capa dos Prontu rios das Usu rias ANEXO B Protocolo Observacional Descritivo ANEXO C Lista de Computa o dos Epis dios Observacionais ANEXO D Carta de Anu ncia ANEXO E Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ANEXO F Modelo de Gr fico de Interpreta o RESUMO A fim de contribuir com a Sa de da Mulher esta uma pesquisa social em sa de situada na interface entre a Psicologia da Sa de a An lise Institucional e a Obstetr cia Seu objetivo foi analisar a din mica da rela o de cuidado entre a gestante de alto risco e sua equipe de sa de focando as repercuss es desta rela o na qualidade do processo de hospitaliza o da usu ria Para isso a base te rica englobou o Paradigma da Complexidade MORIN 1990 o Modelo Sociomental MAX PAGES 1993 a Teoria das Inst ncias ENRIQUEZ 1991 1997 o conceito de autonomia como projeto revolucion rio CASTORIADIS 2007 o conceito de Habitus
291. usu ria de uma Unidade de Refer ncia em gesta o de alto risco Por ltimo apontam se algumas considera es finais na tentativa de arrematarmos algumas implica es do presente estudo Cap tulo 1 A CONSTRU O DO CAMPO DA SA DE P BLICA HUMANIZADA GESTANTE DE ALTO RISCO Os homens foram individual e coletivamente esse querer essa necessidade esse fazer que de cada vez se deu um outro objeto e atrav s disso uma outra defini o de si mesmo A humanidade aquilo que tem fome CASTORIADIS 2007 p 163 1 0 A CONSTRU O DO CAMPO DA SA DE P BLICA HUMANIZADA GESTANTE DE ALTO RISCO Entendemos nosso objeto de estudo a rela o de cuidado como um fen meno s cio hist rico constru do na rela o contradit ria entre o poder das normas e a for a das a es sociais anticonservadoras sendo esse jogo de contradi es fundamental para a singularidade da Sa de P blica Isso significa dizer que as mudan as da pr tica de cuidado em sa de apresentam dimens es micro e macroestruturais da institucionaliza o do Saber em Sa de incluindo as mobiliza es pol ticas ideol gicas econ micas e psicossociais Como nosso interesse foi focar a rela o de cuidado entre a equipe de sa de e a gestante de alto risco concebendo os como atores sociais que se sustentam e se apropriam das Organiza es de sa de escolhemos come ar refletindo sobre as significa es sociais dadas ao corp
292. utica levantamento da estrutura operacional do rg o termo de internamento hospitalar prontu rios e materiais publicit rios da AMUL A pesquisadora conseguiu uma c pia xerocada ou impressa desses materiais exceto os prontu rios que foram lidos v rias vezes para melhor se entender a trajet ria das usu rias sua hist ria cl nica e condi es de sa de durante a hospitaliza o Tamb m identificou os momentos em que a equipe fazia refer ncia aos comportamentos e ao estado emocional das usu rias 3 6 A qualidade situacional das informa es Os conte dos das entrevistas e dos relatos de viv ncia foram analisados como situacionais delimitados pela rela o de pesquisa entre a pesquisadora e os protagonistas inscritos no cen rio das enfermarias de AMUL Os dados foram constru dos por tais atores sociais conservando se a figura da mesma pesquisadora Esta procurou deixar os participantes o mais vontade poss vel no curso da coleta respeitando a disponibilidade de cada um Na validade interna dos dados buscou se certo grau de heterogeneidade nas informa es Ainda cada sujeito foi visualizado como protagonista do SUS e as infer ncias a respeito de seus discursos foram orientadas pela vis o psicossocial 3 7 Aspectos ticos O estudo adequou se s Normas da Resolu o 196 96 do Conselho Nacional de tica em Pesquisa e Conselho Nacional de Sa de Foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa em Seres Hu
293. v duos que passam a assumir uma submiss o amorosa suficiente para a institui o cumprir de fato o que cobi a o reconhecimento social Sendo caracterizadas por uma rede simb lica as institui es tem caracter stica dial tica isto constituem se de for as contradit rias S o demarcadas pela ordem do institu do das normas prescritas e pela ordem do instituinte que diz respeito negatividade dessas normas seu potencial de sua contesta o O defensor dessa ideia foi Castoriadis 2007 que afirmou ser a institui o da ordem do vivido pois mereceria uma an lise do sistema de significa es contradit rias de temas econ micos funcionais simb licos e imagin rios inscritas no imagin rio social Para Lourau 1975 essas significa es podem ser entendidas como c lulas discursivas que se visualizam nos tr s momentos institucionais compreendidos aqui como centrais de toda a reflex o desta pesquisa a O momento da Universalidade as institui es s o sociais e montadas por ideias universais e abstratas vis veis nas Leis da Organiza o Por exemplo que todo usu rio de sa de tem direito visita familiar uma senten a universal presente nas pol ticas de humaniza o em sa de e que orienta a rotina de vida hospitalar O momento da Particularidade a exce o das normas aplicada na vida do sujeito Se por algum motivo interno ou externo ao hospital uma gestante em espec fico for impedida de re
294. va anterior morte perinatal explicada ou inexplicada neonato malformado prematuro ou com crescimento retardado abortamento habitual esterilidade ou infertilidade intervalo entre gesta es menor do que dois anos e maior do que cinco anos nuliparidade e multiparidade s ndrome hemorr gica ou doen a hipertensiva cirurgia uterina anterior Doen a obst trica na gravidez atual desvio do crescimento uterino n mero de fetos e volume do l quido amni tico trabalho de parto prematuro e gravidez prolongada ganho ponderal inadequado pr eclampsia e eclampsia amniorrexe prematura hemorragia de gesta o isoimuniza o bito fetal Intercorr ncias cl nicas nefropatias cardiopatias endocrinopatias hemopatias hipertens o arterial epilepsia doen as infecciosas doen as autoimunes ginecopatias pneumopatias Algumas mulheres podem superar tais dificuldades no acompanhamento pr natal no n vel prim rio de complexidade em sa de Outras necessitar o da interven o hospitalar no n vel secund rio e terci rio de assist ncia gestante de alto risco como aconteceu com as usu rias desta pesquisa Identificando esses fatores poss vel tra ar as estrat gias de promo o de sa de para a m e e seu feto Das doen as obst tricas e complica es cl nicas algumas s o aqui esclarecidas com base em Rezende 2010 ANEMIA Redu o na concentra o de hem cias e de hemoglobina no sangue caracterizada
295. vel em bvsms saude gov br Acesso em 21 06 2008 s 20 43h Pr natal e Puerp rio aten o qualificada e humanizada manual t cnico Bras lia Minist rio da Sa de Secretaria de Aten o Sa de 2005 Dispon vel em bvsms saude gov br Acesso em 21 06 2008 s 21 28h Carta dos direitos dos usu rios da sa de Bras lia Minist rio da Sa de 2006 O SUS de A a Z garantindo sa de nos munic pios 32 ed Bras lia Minist rio da Sa de 2009 480 p MORETTO Maria L via Tourinho Medicina e psican lise O que pode um analista no Hospital S o Paulo Casa do Psic logo 2001 p 61 95 MORIN Edgar Introdu o ao pensamento complexo Tradu o Dulce Matos 2 ed Paris Epistemologia e Sociedade 1990 MORITA Chitose MARX Lore Cec lia BENTO Paula Ricci Humaniza o reflex es sobre o cuidar e o cuidados IN MEZZOMO A et al Fundamentos da humaniza o hospitalar uma vis o multiprofissional Santos Local 2003 p 84 93 Organiza o Mundial de Sa de OMS Maternidade Segura Apoio durante o parto Assist ncia ao Parto Normal um guia pr tico 1996 Dispon vel em www abcdoparto com br Acesso aos 20 08 2009 s 22h PAGES Max org O Poder das Organiza es S o Paulo Atlas 1993 O sistema sociomental hospitalar In ARA JO Jos Newton Garcia de CARRETEIRO Tereza Cristina Org Cen rios sociais e abordagem cl nica Belo Horizonte Escuta 2001 p 245 60 QU
296. viram de cen rio para sua gravidez Demetra tamb m significava o beb como suposto MAL formado pass vel de se tornar Mola Hidatiforme E o peso desse atributo foi revelado na primeira express o dela diante do filho na incubadora ele t o inofensivo como se o primeiro encontro entre m e e beb contrariasse toda a simbologia antes produzida em torno do feto Em contraposi o s fantasias acerca de um beb agressivo havia o desejo de ser m e Afinal Atalanta resumia sua vida arte de maternar e precisava de mais um beb para dar provas de que o HIV n o lhe roubaria sua feminilidade Art mis insistia em se libertar de sua m e ao buscar construir a pr pria fam lia Helena passou 11 anos de sua vida procura de algu m que pudesse ser o pai de seu beb Hera e Nik buscavam ser iguais a outras mulheres procriadoras Pala sonhava em ter uma menina Reia encontrava no beb as chances de reconstruir sua hist ria familiar Ent o essas usu rias conviviam com o sentimento de culpa j que o pr prio corpo materno colocava em risco a sa de do filho que elas tamb m amavam Nesse sentido Demetra teve experi ncia de crise ps quica no p s parto imediato quando a fantasia de ter XXIX um filho morto levou a usu ria ao infantilismo O beb verme do bucho d gua 116 merecia morrer Todavia a suspeita de realiza o do desejo de morte era insuport vel e acentuava sua culpa pois e
297. vo o hist rico existencial e o estrutural profissional O primeiro diz da cota libidinal da pesquisadora e de suas quest es de transfer ncia na e pela investiga o Diz de seu desejo inconsciente na investidura cient fica N o h d vidas de que as afeta es da pesquisadora atravessaram o rumo deste estudo semelhante ao que ocorre na cl nica O analista al m de refletir acerca do lugar simb lico que ocupa pensa no que pode ser o pr prio desejo Em resumo o que quer a pesquisadora uma mulher solteira que ainda n o tem filho ao estudar uma maternidade de alto risco Esta quest o circundou todo seu desempenho no mestrado uma psic loga que se deu conta de seu interesse pelo campo materno infantil no Ensino M dio seguindo na gradua o com certa curiosidade cient fica acerca da vida fetal Nesse per odo teve acesso informa o de que as institui es se montam sob a gide das fun es materna e paterna assim como o compreende a abordagem psicossociol gica E aglutinou seus interesses no campo da psicologia hospitalar especificamente nos cuidados com beb s prematuros N o por coincid ncia busca tornar se mestre na an lise das complexidades interativas de um hospital maternidade especializado em alto risco gestacional Empenhada no suposto encontro com o saber sobre a rela o de cuidado as quest es intraps quicas da pesquisadora tamb m fizeram parte da trajet ria desse estudo Circunscrever

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