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Texto da Dissertação de Mestrado

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1. Als ca ra ef IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO S A matso grofe Fig 17 Diagrama do laudo necrosc pico 4491 92 4 5 OS IRM OS Os numerosos ferimentos das v timas fatais do Carandiru foram descritos nos laudos necrosc picos as fotografias dos corpos registram com nitidez a marca do sofrimento em suas faces mas a dor de Durvalino Serpas dos 109 Santos e Marlene Marques que perderam seus dois filhos no mesmo dia sob circunst ncias brutais s mesmo eles que conhecem Em 06 de Outubro de 1992 o Jornal O Estado de Minas publicou uma reportagem onde presos sobreviventes da cela 416 E narram sobre como teriam sido efetuadas as mortes pelos policiais evidente que poca em que relataram os fatos inclusive para um jornal de outro Estado Minas quando ainda estavam presos jamais poderiam supor qu o aut ntico se fariam seus relatos quando considerados com base nas descri es dos respectivos laudos necrosc picos Segundo um deles 15 homens nus foram tirados da cela 416 E Estava escuro a gua do ch o se misturava com sangue dos outros detentos mortos M os sobre a cabe a s o obrigados a ficar junto parede Quatro policiais militares um com metralhadora e os outros com facas e carabinas dizem que todos n o v o sair vivos Um deles tira uma faca da bota e d um golpe nas costas de Valmir Marques dos Santos de 24 anos ladr o de carros e avisa Agora voc s v o ver como se mata
2. Jaccoud e Mayer 2008 Neste sentido criou se uma cadeia de evid ncias entre a problem tica evid ncias de execu o e as observa es obtidas a partir dos documentos selecionados de maneira a formular uma explica o sobre o fen meno observado A fase de an lise dos dados obtidos foi tamb m permeada por elementos te ricos base te rica que reuniu informa es pertinentes quest o formulada depreendidos da doutrina e estudos cient ficos previamente selecionados em plataformas de artigos m dicos e da rea de sa de Elsevier e PubMed al m de outros indicados pelos autores lidos ou ainda pela busca incidental de algum t pico que exigia melhor compreens o A experi ncia da pesquisadora na rea de sa de tamb m permeou a an lise Essa gama de elementos permitiu uma melhor compreens o dos fatos de forma que a a o policial foi ganhando contornos mais precisos possibilitando inferir sobre os atos de execu o perpetrados pelos policiais Com efeito realizar infer ncias descritivas comp s boa parte do trabalho de an lise dos dados De acordo com Epstein e King 2002 Infer ncia o processo de utilizarmos os fatos que conhecemos para aprender sobre o que desconhecemos Ou ainda como apresentado por Pires Confrontar o mundo com o conhecimento que temos dele Pires 2008 Dessa forma a partir da observa o de um objeto espec fico laudos necrosc picos foram tra adas infer ncias
3. o direta com o tipo de arma que disparou o proj til feita an lise por microsc pico em laborat rio mas a compara o depende da exist ncia da arma suspeita Uma explica o sucinta do procedimento Quando se disp e da arma suspeita um novo disparo feito dentro de um tanque de testes com gua O novo proj til disparado obtido sem a incid ncia de outras deforma es em sua superf cie As ranhuras desse proj til s o comparadas pelo microsc pio com as ranhuras do proj til removido do corpo da v tima se elas coincidem a arma suspeita foi a utilizada no crime Esse procedimento poss vel pois as raias do cano de uma arma estrias helicoidais que promove um efeito rotat rio e a precis o dos mesmos quando o proj til impulsionado atrav s do cano da arma mesmo que seja de alma lisa imprime suas marcas no proj til que em geral tem uma textura mais male vel Essas ranhuras s o espec ficas de cada arma s o micro detalhes que n o s o poss veis de serem reproduzidos por duas armas distintas como uma impress o digital que n o existem duas iguais A possibilidade de recupera o de proj teis a partir dos restos mortais das v timas apresentada num estudo de caso realizado na Faculdade de Odontologia de Pernambuco de acordo com o estudo em junho de 2007 foi requisitado pela ju za titular da comarca de Patos na Para ba ao N cleo de Medicina e Odontologia Legal da referida Universidade
4. por arma branca afiada faca estilete ou lan a ferimentos de defesa em geral s o verificados como cortes paralelos nos dedos ou na palma das m os ou ainda como fraturas dos ossos do carpo metacarpo digitais ou amputa es em regi o do metacarpo resultantes da tentativa da v tima de apreender ou afastar a arma do agressor Se o bra o erguido para proteger a face o antebra o tamb m pode ser lesado Em casos de ferimentos provocados por arma branca como um objeto sem corte e r gido ex barra de ferro os ferimentos em geral s o notados como abras es ou contus es no dorso das m os pulsos antebra os e bra os dependendo da for a dos golpes e capacidade de resist ncia da v tima Lacera es s o menos comuns e em geral podem ser observadas sobre proemin ncias sseas Di Maio amp Di Maio 2001 Assim como a eleva o do s bra o s feita instintivamente na defesa da cabe a e face os membros inferiores s o elevados para proteger rg os vitais do tronco notadamente quando a v tima foi jogada ao ch o Mohite et al 2013 tamb m avaliou ferimentos de defesa presentes em mortes causadas por homic dio 205 casos pelo uso de diferentes tipos de armas brancas Neste estudo a incid ncia de ferimentos de defesa em ataques homicidas foi vista em 44 4 das v timas em 30 8 dos casos feridas de defesa estavam presentes em mais de uma parte do corpo Mais uma vez observou se a preponder ncia de
5. Jos Elias Miranda 4488 92 da Silva Juarez dos Santos 4489 92 Regi o do cr nio entrada parietal D Jos Bento da Silva 4492 92 Bra o direito Neto Jos Ronaldo Vilela 4493 92 T rax 1 n dega 1 considerando somente o da Silva relat rio pois o diagrama apresenta 2 ferimentos entrada dorsal D n o descritos no laudo Luiz Granja da Silva 4494 92 Cr nio 1 t rax 1 pelo menos 2 isso porque Neto o ferimento item c consta no diagrama mas foi omitido no laudo Lucas de Almeida 4495 92 Perna E 1 gl teo D 2 Claudio do 4498 92 Regi o do t rax 3 n o h indica o dos Nascimento da respectivos ferimentos de sa da e nem Silva recupera o Tab 10 Laudos que se mantiveram alojados nos corpos e respectivos locais Um dos passos na investiga o de um homic dio pelo uso de uma arma de fogo a determina o do tipo e calibre do proj til fatal se ele se mant m no corpo ou recuperado na cena do crime e esteja em estado de conserva o suficiente para permitir o exame Neste sentido para a identifica o do proj til necess ria sua remo o do corpo O tipo de proj til por exemplo um proj til 177 de chumbo exclui definitivamente o uso de certos modelos de armas e por outro lado indicaria geralmente o emprego apenas de um revolver ou pistola nico tiro exceto no caso de cartuchos calibre 22 Wiard 1932 O n mero e aspecto de ranhuras na superf cie do proj til uma indica
6. amea a o oficial deve continuar atirando at perceber que ele n o capaz de continuar a ser uma amea a com suas ar Eid a oes O mesmo entendimento partilhado por Di Maio que afirma que um indiv duo pode suportar um ferimento de arma de fogo em rea vital como o cora o e ainda envolver se em atividade f sica Menciona o caso de um jovem que ap s ser baleado no lado esquerdo do peito por uma espingarda calibre 12 foi capaz de correr cerca de 20 metros antes do colapso e morte Os fragmentos do proj til afirma literalmente trituraram seu cora o contudo ele ainda foi capaz de correr antes de entrar em colapso indicando que um indiv duo pode agir mesmo sem atividade card aca por um curto per odo pois o fator limitante para a consci ncia o suprimento de oxig nio para o c rebro somente quando n veis insuficientes de oxig nio para o c rebro se instalam que a inconsci ncia ocorre Os dados apresentados por Di Maio conferem com os mencionados por Newgard de que um indiv duo pode permanecer consciente por 10 a 15 segundos antes de cair mesmo quando nenhum sangue bombeado para o c rebro Di Maio 1999 Di Maio 1999 afirma que o ex rcito dos Estados Unidos tem realizado uma s rie de estudos envolvendo situa es de confronto armado O mais aplic vel de acordo com o autor foi o estudo da WDMET Wound Data and 81 Munitions Effectiveness Team sobre a Guerra do Vietn Este estudo concluiu qu
7. apresentado como t cnicas do policiamento t tico empregadas com o objetivo de produzir m xima lesividade no advers rio e sua morte no menor tempo poss vel execu o s o compat veis com os achados descritos nos laudos necrosc picos das v timas do Carandiru bem como a tentativa das v timas de se defenderem com nica ferramenta que dispunham no momento seus pr prios corpos Classicamente o corpo humano divide se em cabe a pesco o tronco e membros A cabe a corresponde extremidade superior do corpo estando unida ao tronco por uma por o estreitada o pesco o J a por o do tronco compreende o t rax e o abdome com as respectivas cavidades tor cica e abdominal A cavidade abdominal prolonga se inferiormente na cavidade p lvica Quanto aos membros dois s o superiores ou tor cicos e dois inferiores ou p lvicos Dangelo e Fattini 2002 A posi o para as descri es anat micas uma posi o padr o n o importando portanto como no caso do presente estudo que o cad ver esteja sobre a mesa em dec bito dorsal com o dorso acoplado mesa dec bito ventral com o ventre acolado mesa ou dec bito lateral de lado as descri es s o feitas considerando o indiv duo em posi o anat mica Dangelo Fattini 2002 53 A partir da posi o anat mica padr o poss vel estabelecer os planos anat micos e localizar qualquer estrutura do corpo e relacion las com outras Porrero e
8. arenoso Diante da narrativa do laudo onde a regi o das costas apresentou hematomas intensos poss vel inferir que Paulo Antunes Reis foi submetido ao denominado corredor polon s sendo intensamente espancado na regi o dorsal e que estava Revista Veja Acervo Digital Edi o 1257 de 14 de outubro de 1992 pg 24 107 nu quando escorregou pela presen a do leo caindo de costas no ch o onde o leo misturado a poeira que ali se encontravam aderiram pele Considerando os relatos dos presos sobreviventes no momento em que Paulo escorregou no leo at pelos golpes que recebia nas costas n o conseguiu passar pelo corredor polon s e caiu No momento em que caiu sua senten a foi a pena capital Foi executado por disparos perpetrados pelos policiais militares Destaque se que o laudo necrosc pico n o faz qualquer men o de escoria es paralelas na regi o dorsal que s o os tradicionais sinais de arrasto Logo depreende se que a presen a de leo e p nas costas de Paulo n o foram decorrentes circunst ncias de arrasto do corpo ap s a morte at porque a subst ncia nas costas do cad ver est uniformemente distribu da conforme bem representado no diagrama do laudo 4491 92 demonstrado a seguir 108 rea com subst ncia oleosa SECRETARIA DA SEGURAN A P BLICA DEPARTAMENTO ESTADUAL DE POL CIA CIENT FICA 0 Q cm INSTITUTO M a LA RE 5 O LEGAL FLS 4 eve tes
9. o da forma e localiza o dos ferimentos perfuro incisos em regi o anterior e posterior do Corpo CA Ferimentos 3 4 e 5 cauda de escoria o para baixo C3 ferimentos 6 e 7 cauda de escoria o para cima Contudo os laudos nos contam mais Valmir Marques dos Santos de fato tinha um irm o Claudemir Marques que tamb m foi morto em 02 10 1992 podendo se inferir das informa es de qualifica o dos laudos 352 92 e 4450 92 respectivamente tratar se de seu irm o pois ambos apresentam a mesma 114 filia o local de nascimento e idade de 23 anos mas n o h como saber se eram g meos por n o constam as datas de nascimento Mas o aspecto mais intrigante deste caso n o somente o fato de serem irm os permanecerem presos juntos ou at de suas mortes terem ocorrido simultaneamente no mesmo dia O mais intrigante em meio a centenas de disparos de arma de fogo efetuados pelos policiais naquela tarde ambos tenham morrido pelo mesmo mecanismo traum tico tal qual conclui o laudo de Claudemir a morte sobreveio em virtude de Hemorragia Interna Aguda Traum tica produzida por agente perfuro cortante O fato de Claudemir irm o de Valmir ter sido morto tamb m por agente perfuro cortante arma branca quando mais de uma centena de outros presos morreram por disparos de arma de fogo traz coer ncia s declara es dos sobreviventes da cela 416 E em 06 10 1992 O mesmo militar volta e pega um
10. 32 Comando de ordens simples e enf ticas s o a terceira etapa da confronta o Ordens emitidas como Pare Vire se Largue a arma Deite se promovem um fator de controle psicol gico sobre o infrator de maneira que aumenta a efetividade de qualquer for a f sica aplicada concomitante 4 agarrar o infrator pelos punhos e cotovelos e retir lo da rea de confronta o 52 De acordo com Parsons a quinta etapa decisiva pois caso o policial n o trabalhe ou pratique regularmente com a es t ticas defensivas melhor que esse agente n o participe das etapas seguintes que requerem o in cio de for a mais agressiva 21 Charles Thibodeau consultor de estrat gias e procedimentos de seguran a professor e escritor co autor no texto mencionado que aplicado ao programa do CPO Certified Prote o Officer CPO administrado pela IFPO Funda o Internacional para Prote o de Oficiais Christopher Hertig professor do Dep de Ci ncias do Comportamento no York College na Pennnsylvania ministra cursos de seguran a planejamento e preven o de crimes 40 Nesta situa o o policial pode se ferir e ferir outros aplicando se uma for a maior do que necess ria em outras palavras far uso de for a excessiva O autor apresenta que a maneira de reverter os efeitos negativos de P nessa equa o introduzir o elemento T treinamento onde se tem E I T I E ou seja Intelec
11. De acordo com o laudo necrosc pico foram observados dois ferimentos com caracter sticas de entrada de proj til de arma de fogo estando a v tima de costas em rela o ao atirador O proj til que penetrou o cr nio e transfixou seu c rebro foi desferido por tr s atingindo regi o posterior da cabe a occipital tal qual relato Ferimento de entrada por proj til de arma de fogo em regi o occipital esquerda com penetra o no cr nio de tr s para frente com encontro de proj til em regi o frontal esquerda O laudo revela que o proj til foi recuperado na por o frontal frente esquerda do cr nio de Marcos transfixou a massa encef lica de tr s para frente e ali permaneceu alojado at sua remo o pelos legistas Esse ferimento causou traumatismo cr nio encef lico que foi a causa do bito Ocorre que um segundo ferimento por arma de fogo foi observado com entrada no dorso de sua m o esquerda saindo pela palma da mesma m o tal como descreve o relat rio do laudo Ferimento caracter stico de entrada de proj til de arma de fogo em regi o dorsal de m o esquerda com orif cio de sa da em regi o palmar 50 4 Laudo Necrosc pico n 4486 realizados pelos legistas Fl vio Cavallante e Jo o Fel cio Miziara Filho 5 Laudo Necrosc pico n 4486 op Cit 87 Ressalte se que o laudo relata sobre dois ferimentos e n o sobre dois proj teis inferindo se que o mesmo proj til que transfixou o
12. Fonte http www sff net people sanders rrdws3 html Como se v com exce o do Fuzil M 16 todas as armas mencionadas na den ncia utilizavam muni o com calibre nominal de 9mm que o mesmo calibre expresso em polegadas 38 estudado por Berryman et al Ressalte se que referido estudo considera os calibres di metros dos proj teis e n o as armas utilizadas Logo se o menor di metro de ferimento de entrada que o calibre de proj til 38 p de produzir em cr nios conforme verificou Berryman foi de 8 13mm infere se que os proj teis 9mm utilizados como muni o das respectivas armas mencionadas na den ncia de acordo com o estudo n o poderiam ter provocado o ferimento de 6mm no cr nio de M rio dada inclusive a significativa diferen a de 2mm a menos no di metro do ferimento Conforme assinalou Berryman et al 1995 Nossa experi ncia indica que o di metro de alguns ferimentos de entrada no osso do cr nio aproxima se muito do calibre conhecido do proj til Considerando o estudo realizado a experi ncia do autor as informa es do laudo necrosc pico 362 92 e que dentre as armas portadas pelos policiais conforme den ncia somente o Fuzil M 16 utiliza muni o calibre 101 nominal di metro de 5 56 mm as demais s o municiadas com calibre 9mm poss vel inferir que a Os proj teis calibre 9mm n o poderiam ter provocado o ferimento de 6mm de di metro no cr nio de M rio b
13. University of Chicago Law Review 69 1209 Copy at http mp iZkzG9 FAHNING Jos R S Doria Irio Jr Carvalho Rafael F Coimbra Pablo A M Manual de Opera es de Choque Pol cia Militar do Esp rito Santo Comando de Policiamento Ostensivo Metropolitano 1 Edi o Vit ria ES 2012 FERREIRA Aur lio B H Novo Dicion rio da L ngua Portuguesa 2 edi o editora Nova Fronteira Rio de Janeiro 1986 p 1199 FERREIRA Luisa M A Machado Marta R de A Machado Ma ra Rocha Massacre do Carandiru vinte anos sem responsabiliza o Novos Estudos CEBRAP n 94 Impresso p 05 29 2012 187 FIGUEIREDO A M Freire H Lana R L Profiss es da Sa de bases ticas e legais Revinter Rio de Janeiro 2006 FINKBEINER W E Ursell C P Davis L R Autopsy Pathology A Manual and Atlas 2 edi o editora Elsevier Saunders Philadelphia 2009 FLACKER Martin L Missile Caused Wounds Division Of Military Trauma Research Institute Report No 231 Letterman Army Institute Of Research Presidio Of San Francisco California 94129 April 1987 FRAN A G V 2008 Medicina Legal 8 Edi o Rio de Janeiro Guanabara Koogan GAPSKI Priscila Resumo de Medicina Legal Medicina Universidade Federal do Paran 2008 Dispon vel em http xa yimg com ka groups 22142557 1751068683 name Medicina GIRALDI Nilson M todo Giraldi Tiro Defensivo Na Preserva o Da Vida T pico 33 Poder de Parada Arma de
14. a e armas de fogo os respons veis pela aplica o da lei n o usar o armas de fogo contra pessoas excetuado os casos de leg tima defesa do policial ou de terceiros contra amea a iminente de morte ou ferimento grave para impedir a perpetra o de crime grave que envolva s ria amea a vida para efetuar a pris o de algu m que represente tal risco e resista autoridade e isso apenas nos casos em que outros meios menos lesivos revelem se insuficientes para atingir tais objetivos Para cumprir sua miss o as autoridades respons veis pela aplica o da lei exercem os poderes b sicos que lhes s o conferidos por Lei tais como captura deten o busca e apreens o o uso da for a e de armas de fogo No entanto o uso da for a s legitimado em situa es previstas em lei e o uso intencional de armas de fogo s poder ser feito quando estritamente inevit vel prote o da vida Os procedimentos operacionais militares ou policiais sejam quais forem seus nomes ou for as engajadas precisam ser compat veis com as normas internacionais referentes ao uso da for a No que se refere ao uso da 22 De acordo com o artigo 10 do C digo de Conduta para os Funcion rios Respons veis pela Aplica o da Lei adotado pela Assembleia Geral das Na es Unidas no dia 17 de dezembro de 1979 atrav s da Resolu o n 34 169 a express o encarregados da aplica o da lei refere se a todos os executores da lei nomea
15. dentre as armas mencionadas em den ncia o Fuzil M 16 municiado com proj til calibre nominal 5 56mm o que mais se aproxima do di metro de ferimento no cr nio de M rio com 6mm Outra pesquisa que merece men o pois agrega aos estudos de Berryman et al foi realizada aqui mesmo no Brasil pelo Departamento de Odontologia Forense e Departamento de Morfologia da Universidade de Campinas por Matoso et al 2014 Os autores realizaram uma compara o da morfologia dos ferimentos de entrada provocados pelos proj teis de arma de fogo 40 Calibre Smith amp Wesson calibre 380 e 9mmx19mm Luger no cr nio humano por an lise computacional an lise de elementos finitos De acordo com os autores a morfologia de um ferimento de entrada arma de fogo pode n o s indicar a dire o do proj til e trajet ria mas tamb m o tipo de muni o e arma usada Para a realiza o do estudo os autores digitalizaram dados de um cr nio humano real por tomografia computadorizada para obten o de uma imagem tridimensional 3D da superf cie das estruturas sseas Os proj teis foram disparados por simula o computacional contra a regi o da glabela do cr nio entre as sobrancelhas uma dist ncia de 10 cm com incid ncia perpendicular Os autores compararam a morfologia externa dos ferimentos de entrada causados pelos tr s proj teis dos calibres mencionados e os resultados computacionais mostraram tra os diferentes O proj
16. leg tima defesa considerando que a presen a dos c es visa exatamente evitar tal situa o Fig 39 O c o recebe o comando de seu guia que est agachado e sem arma empunhada saindo frente dos policiais para atacar e ou desarmar suspeitos Fonte http pixshark com german shepherd attacks owner htm Figuras 40 e 41 Na sequ ncia o c o policial ataca o suspeito que empunha uma arma Pela for a de tra o de sua mand bula o animal consegue imobilizar o bra o e at derrubar o suspeito ao ch o Fonte https gilmercountyfreepress wordpress com Contudo os dois ferimentos lacero contusos relatados no laudo necrosc pico de Reginaldo Ferreira Martins localizavam se em regi o dorsal esquerda costas e n o em seus bra os Com efeito se as mordeduras n o 136 se encontravam em regi o dos bra os indica que Reginaldo n o estava armado Por outro lado como mencionado anteriormente os c es s o adestrados para diferentes a es como farejar drogas ataques mas tamb m capturas Se o suspeito estiver tentando a fuga o c o ir persegui lo at alcan a lo momento em que salta sobre seu alvo efetuando mordeduras por tr s Com a for a do impulso busca derrubar o suspeito ao ch o Fig 42 As imagens apresentam o treinamento de c es policiais Como se v na figura esquerda no procedimento de captura o c o salta e morde a regi o dorsal do suspeito pr ximo ao seu ombro direito Na
17. ncia tecidual pelo efeito de tra o a pele foi arrancada e suas bordas s o irregulares Fonte http adldasletras com br Com um faro peculiar obediente e inteligente o c o da ra a pastor alem o utilizado pela pol cia em diversos pa ses do mundo O motivo da sele o que os animais atravessam situa es que exigem for a psicol gica e vigor f sico durante opera es que podem custar a vida dele ou de seu guia Os c es s o treinados para agir em diversas situa es desde farejamento de drogas ataque e captura de suspeitos Atrav s de comandos de voz e sinais proferidos por seu guia o animal entende qual a o deve executar Imagens de treinamentos militares em canis apresentam com clareza que diante de amea as de arma branca ou de fogo o c o vai frente de seu guia e ataca o suspeito sendo capaz de imobilizar o bra o do agressor desarm lo e at derrub lo ao ch o Se os c es acompanhavam os policiais nos diversos pavimentos caso algum preso realmente se encontrasse armado ele seria de imediato atacado e desarmado pelos c es o que fragiliza a teoria apresentada 6 Patos 1 Not cias Policiais Militares do 15 e da 46 Cia participam de treinamento com c es do Canil de Patos de Minas reportagem de Vanderlei Gontijo disponibilizada em 21 10 2014 Acess vel em http Avww patos1 com br noticias n Wu8r0gXQ1 Ufsthash xADxNBYr dpuf 135 pelos policiais de que atiraram contra os presos em
18. para que procedesse ao exame de exuma o de um cad ver falecido e sepultado quatro anos antes com a finalidade de localizar projeteis em seu corpo para instruir a respectiva a o penal A exuma o foi realizada em 19 07 2007 no Cemit rio P blico da cidade de Patos na Para ba Porto et al 2013 De acordo com o estudo a exuma o apresentou xito na recupera o de dois proj teis al m de permitir a observa o direta de um ferimento de entrada presente no cr nio da v tima 35 No caso das armas portadas na invas o do Pavilh o 9 o Fuzil M 16 seria exclu do pois sua muni o de uso exclusivo militar portanto encapsulada 178 Fig 68 O cr nio da v tima exumada apresentou ferimento circular compat vel com ferimento de entrada Fonte Porto et al 2013 A Necropsia P s exuma o a Import ncia dos Peritos Oficiais Um Relato de Caso http Anww derechoycambiosocial com revistaO32 a necropsia pos pdf Fig 69 Proj teis de arma de fogo recuperados durante exuma o Fonte Porto et al 2013 A Necropsia P s exuma o a Import ncia dos Peritos Oficiais Um Relato de Caso http www derechoycambiosocial com revista032 a necropsia pos paf 179 No caso do Carandiru as armas utilizadas pelos policiais foram extraviadas de maneira que o procedimento de confronto microbal stico tornou se invi vel n o pela anterior alega o de oxida o mas a partir do paradeiro das armas No entanto
19. reas escolhidas para os disparos s o condizentes com atos de execu o No caso de Cl udio o disparo cujo proj til atingiu a regi o mamilar esquerda teria sido suficiente para o xito letal posto que esse proj til de acordo com o laudo transfixou o cora o e lobo superior esquerdo do pulm o produzindo maci a hemorragia no pulm o esquerdo hemot rax Mas o atirador n o tinha como saber naquele momento o grau de lesividade produzido por aquele tiro e aplicou o que aprendeu em seus treinamentos t ticos que o proj til que atinge regi o cef lica oferece maior efetividade de produzir a incapacita o imediata e disparou contra a cabe a de Cl udio 125 SECRETARIA DA SEGURAN A P BLICA FI UUCOL DEPARTAMENTO ESTADUAL DE POL CIA CIENT FICA in INSTIJUTO M DICP LEGAL RG 6412 92 364 2 Ea EE Fig 30 Diagrama do laudo necrosc pico n 364 92 de Claudio Jos de Carvalho Al m de Cl udio alguns laudos necrosc picos informam que outras formas de execu es foram perpetradas contra os detentos n o somente o uso da arma de fogo Quando se observam os relat rios e diagramas n tido que os policiais se valeram da oportunidade para colocarem em pr tica t cnicas especiais que aprenderam em seus treinamentos t ticos afinal poucas s o as situa es em que o exerc cio t tico pode ser feito com seres humanos vivos O uso da faca um deles 126 No Manual de Treinamento F sico Militar e L
20. sessenta de seus subordinados Os homens do canil com 16 c es tamb m participaram da retomada do pavilh o 9 Eu n o subi apenas parte dos meus homens exatamente os integrantes do canil com seus animais e alguns oficiais nossos Eles portavam metralhadoras e dois atiraram 8S Embora j fosse do conhecimento comum a presen a de c es ra a pastor alem o no interior do pavilh o 9 na data dos fatos a declara o do Capit o Marcos Marinho n o deixa d vidas de que os referidos c es n o s mantinham a vig lia dos presos rendidos no p tio mas acompanharam os policiais na retomada dos 5 pavimentos Destaque se que os oficiais do canil segundo a declara o portavam metralhadoras e atiraram Que v rios presos sofreram mordeduras dos c es tamb m conhecido e admitido pelos pr prios policiais Eram c es pastores e sua principal caracter stica a guarda eventualmente eles s o treinados para o ataque eles podem ter mordido algu m mas matar n o N o sou idiota de dizer que um cachorro vai entrar numa fila de homens e n o vai morder algu m Mesmo o parecer m dico legal da Faculdade de Medicina da Universidade de S o Paulo elaborado em aten o solicita o do Dr Paulo S rgio Pinheiro indicava que dentre os 106 casos de presos sobreviventes 8 Declara o do Capit o Marcos Marinho extra da do livro Vozes do Carandiru H Borreli e K F Rodrigues S o Paulo Ja
21. til calibre 40 da Smith amp Wesson causou uma ferida circular irregular o proj til 9 mm x 19 mm Luger causou uma ferida triangular irregular e o proj til calibre 380 causou um ferimento irregular triangular 5 De acordo com Matoso et al os ferimentos causados por proj teis de armas de fogo podem assumir diferentes formas devido diversidade de muni o no que diz respeito forma e massa velocidade dist ncia do tiro e ngulo de entrada do proj til 102 evidente que as sens veis diferen as na forma dos ferimentos s o melhor visualizadas em ambiente digital Contudo interessa a esse estudo a conclus o dos autores de que as diferentes morfologias dos ferimentos de entrada est o relacionadas com a energia cin tica de cada proj til Ou seja as informa es fornecidas pelo fabricante indicaram que o proj til calibre 40 da S amp W apresentou maior energia cin tica por isso produziu o ferimento de forma mais circular que os demais proj teis Fig 13 Simula o computacional dos disparos do calibre 40 Smith amp Wesson 9 mmxi9mm Luger e calibre 380 contra regi o glabelar do cr nio Fonte Matoso RI Freire AR Santos LS M Daruge Junior E Rossi AC et al 2014 Comparison of Gunshot Entrance Morphologies Caused by 40 Caliber Smith Wesson 380 Caliber and 9 mm Luger Bullets 4 q l mtaa GI ceg pyiaanaariass f hip IY i H amaai ENA amo ni gt Figure 7 von M
22. 1546 92 4475 92 4 Regi o p bica 349 92 4444 92 2 Flanco direito ou esquerdo 350 92 4434 92 4479 92 3 Umbilical 353 92 1 Gl tea direita ou esquerda 353 92 355 92 365 92 364 92 1534 92 1538 92 1793 92 1794 92 1795 92 4458 92 2x 4468 92 4474 92 2x 4482 92 4493 92 4495 92 2x 18 169 Inguinal direita ou esquerda 367 92 1 Lateral abdome direito ou 1536 92 1 esquerdo Abdome anterior direito ou 1547 92 1 esquerdo Il aca direita ou esquerda 4434 92 1 Hipog strica 4444 92 1 TOTAL 37 Tab 8 Distribui o dos ferimentos descritos em laudo em regi o do abdome e cintura p lvica Outro aspecto abordado durante a pesquisa foram os ferimentos de defesa cuja a presen a em membros superiores em geral indica proximidade e dom nio do agressor estado de consci ncia da v tima e tentativa de defender se e ou proteger reas vitais como a cabe a O gr fico a seguir inclui somente os ferimentos perfuro contusos observados em regi es dos bra os antebra os e m os dorso e palmar das v timas conforme relatados nos laudos Ferimentos em Membros Superiores Total 81 Gr fico 2 Distribui o de ferimentos de defesa observados nas regi es dos membros superiores Conforme apresentado no gr fico a incid ncia de ferimentos em bra o esquerdo 34 significativamente maior do que em no bra o direito 15 e em outras regi es dos membros superiores Esses dados alinham se com os achados dos est
23. Direito mencionada anteriormente traduz um enunciado geral de liberdade uma proibi o geral de atos de arbitrariedade do Estado em face de seus titulares neste sentido pessoas em situa o de c rcere ainda que restritas na liberdade de ir e vir t m o direito fundamental de serem livres do arb trio perpetrado por agentes do Estado Dessa concep o decorre que a interven o em direitos fundamentais da pessoa sob cust dia tais como vida incolumidade f sica e n o ser submetido atos de arbitrariedade requerem o permissivo constitucional equivalente por parte do Estado necessidade pautando o equil brio entre os direitos do custodiado e os interesses do Estado que permitem o uso da for a proporcionalidade Considerando as diretrizes da ONU sobre o Uso da For a Letal em situa o de rebeli o em pres dio como no epis dio do Carandiru os policiais enquanto funcion rios respons veis pela aplica o da lei dispunham de 24 Comit Internacional da Cruz Vermelha International Committee of the Red Cross Viol ncia e Uso da For a Arquivo Agosto de 2009 235 O legislador constituinte excepciona exarando expressamente no inciso XLIX do artigo 5 no sentido de refor ar esse direito assegurando aos presos o respeito integridade f sica e moral 43 discricionariedade para a escolha de meios para alcan ar a finalidade de debelar a rebeli o Nesse processo a pondera o quanto adequa
24. Estado de S o Paulo novembro de 1992 LEAL Lucas P F Ferreira Milagres Ant nio A import ncia do laudo pericial m dico na forma o do entendimento do ju zo an lise de casos de suposta m pr tica m dica em Cirurgia Geral Dispon vel em http Avww revistas usp br sej article viewFile 57257 60239 LEITE Dinaldo de Lima Miziara H lcio Luiz Aut psia Cl nica e Aut psia Forense Semelhan as e Diverg ncias Universidade Cat lica de Bras lia 2009 Dispon vel lt http Awww cpgls ucg br arquivosupload 1 file v 20mostra 20de 20produo 20ci e ntifica saude 45 pdf MACHADO Antonio de Alcantara Quest es Pr ticas de Medicina Legal Il Ferimento por arma de fogo orificio de entrada e sa da de proj til calibre do proj til Revista da Faculdade de Direito de S o Pualo V 28 1932 Dispon vel em www revistas usp br rfdsp issue view 5331 MACHADO Marcello Lavenere Marques Jo o B Azevedo Hist ria de um Massacre Casa de Deten o de S o Paulo Editora Cortez S o Paulo 1993 MAIDEN Nicholas Ballistics reviews mechanisms of bullet wound trauma Forensic Science Medicine and Pathology September 2009 Volume 5 Issue 3 pp 204 209 dispon vem em http link springer com article 10 1007 s12024 009 9096 6 no access true MALTHUS Fonseca Galv o Esgorjamento Universidade de Bras lia Faculdade de Medicina Coordena o de P s Gradua o Dispon vel http www malthus com br mg total asp id 121 MANUAL D
25. Porte Para Policiais Pol cia Militar do Estado de S o Paulo Dispon vel http Awebcache googleusercontent com search q cache UtEGWg9MW FIOJ www esmp sp gov br eventos passados giraldi oqueeometodo doc amp cd 4 amp hl pt BR amp ct clnk amp gl br GODHI S Mittal GS Kukreja P Gunshot Injury in the Neck With an Atypical Bullet Trajectory Journal of Maxillofacial amp Oral Surgery 2011 10 1 80 84 doi 10 1007 s12663 010 0124 6 GRAY A Richard Harrison William H Couves Cecil M Howard John M Penetrating Injuries To The Chest Clinical Results In The Management Of 769 Patients American Journal oj Surgerv Volume zoo November 1960 HARVEY E N Butler E G McMillen J H Puckett Secondary damage in wounding due to pressure changes accompanying the passage of high velocity missiles W O War Med Surgical Journal February 1947Volume 21 Issue 2 Pages 218 239 http www surgjournal com article 0039 6060 47 90180 3 abstract HEYNS Christof Report of the Special Rapporteur on extrajudicial summary or arbitrary executions Human Rights Council Twenty fifth session United Nations A HRC 26 36 General Assembly 1 April 2014 Dispon vel em http Awebcache googleusercontent com search q cache e0Y CwlvsLQJ www ohchr org E N HRBodies HRC RegularSessions Session26 Documents A HRC 26 36 en doc 20 amp cd 1 amp hl pt BR amp ct clnk amp gl br HISSA Jehuda Freunda Maya Tzipi Kahanab The forensic expert withess An issue of
26. Quinta sess o e prote o de todos os direitos humanos direitos civis pol ticos econ micos sociais e culturais incluindo o direito ao desenvolvimento Assembleia Geral das Na es Unidas Abril 1 de 2014 45 do processo e execu o da senten a al m de exercer a devida dilig ncia para prevenir a viol ncia entre os presos Alston 2010 Entretanto mesmo com as medidas de preven o sempre que ocorrer a morte do detento conforme j mencionado no t pico das mortes sob cust dia h indica o de que o corpo seja submetido ao exame necrosc pico pois mortes de indiv duos sob a cust dia do Estado ser o sempre suspeitas at que seja afastada essa hip tese pelo legista devendo ser aplicado conforme as diretrizes das Na es Unidas o Protocolo de Minessota 2 3 O PROTOCOLO DE MINESSOTA Nas ltimas d cadas a despeito da expans o dos casos de execu es arbitr rias desaparecimentos torturas f sicas e psicol gicas praticadas em alguns governos em todo o mundo cujas pr ticas foram particularmente prevalentes em regimes militares antidemocr ticos e repressivos de pa ses em desenvolvimento implicando em variados graus de participa o do Estado entidades nacionais e internacionais de combate aos abusos de direitos humanos organizaram esfor os no sentido de documentar publicar e prevenir tais viola es Reiter et al 1986 Contudo a atua o dos grupos nacionais dentre m dicos e profissionais
27. RO SA12 992 Fig 24 Laudo necrosc pico n 4450 92 de Claudemir Marques As setas em vermelho foram acrescidas para indicar o sentido dos ferimentos F1 e F2 sentido horizontal O ferimento na regi o do hipoc ndrio direito F3 apresenta sentido vertical ascendente apontando em dire o ao ombro direito da v tima exatamente como s o feitos os treinamentos militares denominado ataque ao figado que ser detalhado no caso a seguir 118 Quanto s mortes executadas por arma branca destaque se ainda o caso de Edilson Alves da Silva laudo necrosc pico 4454 92 Edilson era natural de Pernambuco onde trabalhava como lavrador Em S o Paulo foi preso e cumpria pena no Pavilh o 9 do Carandiru Embora o relat rio do laudo necrosc pico seja bastante conciso o caso chama aten o pela fatalidade de um nico golpe de arma branca de apenas 1 cent metro de extens o na regi o do hipoc ndrio direito regi o abdominal direita De acordo com o laudo o diminuto ferimento perfuro cortante foi t o preciso que foi capaz de transfixar a art ria aorta de Edilson provocando intensa hemorragia interna caracterizada pela descri o de extenso hematoma retro peritoneal transfixa o da aorta abdominal que foi a causa de sua morte Observando se conjuntamente o diagrama do laudo 4454 92 nota se que o ferimento em regi o do hipoc ndrio direito assume caracter sticas semelhantes ao ferimento na mesma regi o observado
28. a respectiva toler ncia a perdas de volume sangu neo Newgard verificou que a taxa de sobreviv ncia pelo tempo de cinco minutos ou mais de indiv duos que foram alvejados no t rax ou abdome foi de 64 e de indiv duos que foram alvejados no pesco o ou cabe a foi de 36 Devido a capacidade dos mecanismos fisiol gicos de compensa o e da toler ncia do organismo humano moderadas perdas sangu neas e at ao relativo tempo de sobreviv ncia com capacidade de resposta dos indiv duos alvejados em diferentes reas vitais Newgard chega s seguintes conclus es transcritas na ntegra z Quantas vezes necess rio atirar contra um agressor antes de ele ser incapacitado Embora situa es de confronto armado variem tremendamente a resposta 80 correta claramente continuar atirando tanto quanto um oficial acreditar que ele ainda amea ado pelo seu advers rio Um oficial em situa o de amea a vida deve mirar e atirar tantas rodadas quanto for taticamente poss vel Nenhum limite absoluto pode ser estabelecido desde que o oficial n o tem como saber se os rg os atingidos pelos disparos tiveram seus tecidos destru dos e se mecanismos de compensa o ir o permitir que o agressor continue a ser uma amea a O oficial n o tem como determinar se o agressor est ponto de sofrer um colapso imediato ou continuar a agir por mais 4 5 10 ou mais segundos o quanto o agressor manter se como uma
29. a exig ncia de proporcionalidade nos casos em que a for a letal usada intencionalmente logo a prote o da vida o nico permissivo legal para o uso da for a letal Um detento em rebeli o ou fuga que n o apresenta nenhum perigo imediato vida de terceiros n o pode ser morto mesmo que isso signifique danos ao patrim nio ou fuga do detento Quando as Na es Unidas estabelecem protocolos internacionais que visam regulamentar formas de prote o aos direitos humanos fundamentais como o mencionado protocolo do Uso da For a e Armas de Fogo pelos Funcion rios Respons veis pela Aplica o da Lei porque existe a no o de que determinados direitos como vida e integridade f sica de indiv duos sob cust dia do Estado s o reiteradamente desconsiderados pelos Estados parte A obriga o do Estado n o apenas coibir e processar policiais e agentes por homic dios praticados mas tamb m de prevenir mortes e de responder eficazmente para as causas dessas mortes O conte do espec fico das obriga es do Estado inclui assegurar uma supervis o eficaz da pris o e monitoramento garantir aten o sa de adequada e apropriada s necessidades dos detentos garantir registros precisos dos detidos andamento 26 Christof Heyns o atual Relator Especial Sobre Execu es Extrajudiciais Sum rias ou Arbitr rias das Na es Unidas Human Rights Council Conselho de Direitos Humanos Promo o da Vig sima
30. a si mesma buscando proteger reas vitais do corpo Sheikh et al 2009 Numa rea o de defesa a v tima ergue o s bra o s para repelir o ataque do agressor ou agarrar a arma do crime por isso em geral tais ferimentos s o encontrados na face anterior das m os dedos e antebra os mas podem eventualmente ser encontrados nos bra os nas costas e at em membros inferiores dependendo da posi o da v tima e do agressor e se no momento da agress o algum dos membros superiores da v tima estiver restringido Alguns autores diferenciam os ferimentos de defesa como resultantes de meios ativos e passivos da v tima se proteger Sendo meios ativos aqueles que demonstram que a v tima tentou agarrar a arma neste caso em geral os ferimentos s o observados nos dedos e palmas das m os Meios passivos se referem ferimentos presentes no dorso das m os antebra os ou nas pernas devido rea o instintiva da v tima Mohite et al 2013 A presen a de ferimentos de defesa em casos de morte violenta sugestiva de homic dio de imensa import ncia para o exame necrosc pico pois indica a tentativa da v tima de se defender mas tamb m a preponder ncia do agressor Com base na presen a de tais les es poss vel considerar se a v tima estava consciente se era capaz de compreender o ataque e de oferecer alguma resist ncia durante a agress o Chattopadhyay e Sukul 2012 Contudo mesmo nos casos em que a v tima se encon
31. br nquios e o es fago por o do tubo digestivo que comunica a faringe com o est mago Treinamentos policiais t ticos conhecem bem o potencial letal de ferimentos por arma de fogo desferidos na regi o do mediastino rea que denominam centro de massa ensinando que quando um policial faz uso da for a letal a inten o deve ser de cessar o comportamento de amea a do 65 advers rio o mais r pido poss vel Ron Avery chefe da Academia de Tiro Pr tico e membro do Conselho Consultivo do Force Science Institute na Universidade de Minessota EUA assevera Atirar em dire o ao centro de massa do advers rio geralmente considerado a primeira op o mais eficaz porque a parte superior do tronco combina uma concentra o de reas vitais e grandes vasos sangu neos dentro da maior rea alvo do corpo Avery 2007 Um estudo realizado na Universidade Militar de Ci ncias da Sa de em Bethesda Maryland nos Estados Unidos em colabora o com o Comando de Opera es Especiais dos Estados Unidos sobre o perfil e localiza o dos ferimentos fatais de combate concluiu que ferimentos na regi o da cabe a e do tronco predominavam dentre os mortos Os ferimentos penetrantes por arma de fogo na regi o da cabe a e no tronco s o de uma letalidade terr vel sendo de 78 e 72 respectivamente sendo que a morte ap s o ferimento penetrante mais comumente relacionada les o do sistema nervoso ce
32. cabe a tenha sido golpeada Sintomas como convuls es v mitos em jato e perda da consci ncia s o indicativos da evolu o do trauma em regi o da cabe a que ocorrem em momento posterior ao trauma Significa que ainda que a v tima tenha sobrevivido agress o policial num primeiro momento n o se pode descartar a hip tese de que algumas destas v timas possam ter desenvolvido complica es decorrentes dos ferimentos contundentes que sofreram e eventualmente tenham evolu do ao bito nos dias ou semanas que seguiram ao epis dio traum tico sem que isso tenha sido relacionado ou computado como v tima fatal do Massacre do Carandiru O parecer prossegue relatando que em 13 casos os detentos foram v timas de agente perfuro contundente proj til de arma de fogo e mordedura de c o V timas por ferimentos cortantes 2 corto contundentes 2 e perfuro 14 Referido Parecer M dico Legal encontra se como Anexo no Livro Hist ria de um Massacre Casa de Deten o de S o Paulo dos autores Marcello Laven re Machado e Jo o Benedito de Azevedo Marques S o Paulo Cortez 1993 148p 34 cortantes 3 Mesmo que esses ferimentos n o tenham sido fatais no momento em que foram infligidos h de se considerar a susceptibilidade da v tima com um ferimento exposto o ambiente insalubre e altamente contaminado no qual sucederam os fatos e ainda a demora na presta o de atendimento m dico Complica es do quadro cl nico como
33. calibre 38 revolver marca Taurus calibre 357 o Fuzil M 16 4 armas e as submetralhadoras Beretta 9 mm e HKMP 5 O porte de referidas armas pelos policiais dentro do Pavilh o 9 confirmado por declara o do pr prio Capit o Salgado 54 Berryman ressalta que alguns fatores devem ser considerados na estimativa do calibre do proj til tais como larga variedades de calibres dispon veis algumas cujos os calibres s o muito pr ximos ou id nticos alvos intermedi rios no trajeto do proj til exist ncia de fraturas junto ao ferimento e se o ferimento tangencial alterando a forma do ferimento 99 No t rreo o Mascarenhas foi pela esquerda e eu pela direita Os presos gritavam l de cima Gamb vai morrer tua m e vai chorar em cima do teu caix o Coisas que s o comuns numa situa o como aquela Meu grupo estava com aquele uniforme tradicional camuflado e boina Us vamos revolver Magnum 38 e submetralhadora Berreta 9mm Tamb m t nhamos um fuzil de assalto leve M 16 de fabrica o americana calibre 5 56 mm Quem portava essa arma era o tenente Armando virei para o tenente Armando que estava com o fuzil M 16 e falei D cobertura e ele come ou a disparar tum tum tum tum Os presos tinham colocado fogo nos colch es e arm rios Eu dei ao todo uns cinco tiros Em m dia n s fizemos um c lculo e saiu cinco a seis tiros por policial O Armando deu mais porque estava com o fuzil O re
34. calibre pequeno pode ser letal se atingir certas regi es do corpo No entanto a incapacita o imediata ocorre apenas se o proj til atingir a parte superior do sistema nervoso central compreendendo o c rebro e medula espinhal cervical Outra maneira de causar danos aos tecidos do sistema nervoso central de forma indireta Proj teis de arma de fogo embora s vezes n o atinjam diretamente a medula cervical podem atrav s do mecanismo de cavita o tempor ria em reas pr ximas provocar les es traum ticas pelo deslocamento repentino e violento da medula dentro do canal espinal produzindo um efeito semelhante um cabo que est sendo cortado interrompendo a comunica o Maiden discute ainda sobre a incapacita o r pida que difere da imediata pois obtida num per odo de poucos minutos pela destrui o ou colapso do sistema circulat rio atrav s da ruptura de vasos sangu neos e rg os maci os no tronco Isso conduz redu o de oferta de oxig nio ao c rebro por hemorragia severa impossibilitando as atividades do sistema nervoso central 3 2 ALVO EM REGI O DO PESCO O Na regi o cervical pesco o encontram se estruturas neurais musculares vasculares glandulares e do trato aero digestivo uma por o estreitada que une a cabe a ao tronco e altamente flex vel permitindo que a cabe a possa virar e dobrar em sentidos diferentes Os limites anat micos cervicais s o determinados em sua p
35. com detalhes alguns casos em que os policiais desferiram golpes de facas e baionetas em detentos que agonizavam ou j mortos alvejados por proj teis de arma de fogo Dentre esses casos destaque se Jovemar Paulo A Ribeiro 27 anos natural de Minas Gerais O laudo nos conta que ele era jovem tinha boa constitui o f sica olhos castanhos cabelos pretos e lisos Jovemar em 02 10 1992 foi morto com dois proj teis de arma de fogo em regi es vitais sendo um penetrante na regi o do cr nio reg parietal esquerda desferido de tr s para frente e um proj til que penetrou em regi o posterior esquerda do pesco o seguindo igualmente a trajet ria de tr s para frente indicando que foi alvejado pelas costas Contudo o laudo registra que seu corpo apresentou tamb m Ferimento perfuro inciso 7 de mais ou menos 5 cent metros de extens o bordas regulares penetrante e transfixante em abdome em flanco direito na altura do s timo espa o intercostal Destaque se que armas brancas improvisadas pelos presos tais como artefatos manuais espadas feitas com cantoneiras de metal canos de ferro conquanto possam perfurar contundir e at cortar tecidos humanos n o apresentam condi es de provocar ferimentos com bordas regulares tal como descrito no relat rio do respectivo laudo pois disso depende um instrumento que apresente ponta e gume afiados simples ou duplo tais como facas lan as ou baionetas como as utiliz
36. considerada privilegiada para obten o de incapacita o imediata porque permite a penetra o do proj til no cr nio e massa encef lica com maior facilidade favorecendo que o sistema nervoso central do advers rio seja atingido Al m de ser uma rea naturalmente cavit ria na regi o do nariz h presen a de cartilagens que oferecem menos 131 resist ncia ao proj til do que a solidez do tecido sseo Conforme o laudo necrosc pico o proj til produziu ferimento de entrada em regi o infraorbit ria esquerda com sa da em regi o cervical posterior Em outras palavras atingiu pouco abaixo do olho esquerdo de Alex O relat rio informa que o proj til fraturou ossos da face e tamb m a base do cr nio ou seja atravessou o cr nio impactando do lado posterior do cr nio e produzindo fratura em sua base Houve portanto efetividade do disparo em produzir les o ao sistema nervoso central caracterizando a t cnica adotada pelo policiamento t tico denominada de poder de parada ou stopping power conforme discutido no cap tulo 3 SECRETARIA DA SEGURAN A P B I LICA DEPARTAMENTO ESTADUAL DE POL CIA CIENTIFICA INSTITUTO M DICO LEGAL Daeth rawea o j MA va m Cs evja DE aos viraa Fig 37 Diagrama do laudo necrosc pico 4472 92 Alex Rog rio de Ara jo 132 4 7 OS C ES O tenente coronel Luiz Nakaharada comandava o 3 Batalh o de Choque e no dia dos fatos estava com
37. cumpre destacar conforme j sinalizado no cap tulo 3 que outros recursos t m sido desenvolvidos e aplicados na rea forense tal qual os estudos de morfologia de impactos de proj teis disparados computacionalmente em cr nio ou mesmo o estudo apresentado por Berrymann atrav s da compara o do di metro dos ferimentos desferidos em cr nio por diferentes calibres de proj teis Ambos estudos indicam caminhos alternativos para melhor elucida o dos casos onde a v tima foi atingida no cr nio Ainda no sentido de sinalizar que os estudos forenses notadamente em bal stica t m se desprendido dos m todos tradicionais cumpre fazer men o do estudo realizado por Langley 2007 do departamento de antropologia da Universidade do Tennessee O estudo descobriu que poss vel determinar a trajet ria que um proj til seguiu atrav s do t rax pelas evid ncias fraturas depress es fragmentos de ossos deslocados na dire o da trajet ria deixadas sobre os ossos que indicam a dire o do disparo CAP TULO 6 CONCLUS O A presente pesquisa assumiu como objetivo compreender quais s o as evid ncias de execu o dos detentos durante a ostensiva da pol cia militar em 02 10 1992 a partir da observa o de segunda ordem realizada sobre os 111 laudos necrosc picos do Carandiru Para tanto como pesquisa emp rica apoiou se num conjunto de dados qualitativos e quantitativos extra dos diretamente dos laudos necrosc picos
38. demais direitos se estabelecem e ganham sentido No caso de indiv duos presos tal direito assume dupla acep o que o Estado se abstenha de intervir proibi o de matar sobre essa liberdade permanecer com vida e ao mesmo tempo estabelece um dever de prote o para que a esfera dessa liberdade vida n o seja atingida O legislador constituinte atento a exig ncias de um Estado de Direito e s circunst ncias de maior vulnerabilidade do indiv duo preso em rela o a esse direito atribuiu especial aten o que n o fora dispensada nem mesmo ao cidad o comum Conforme exarado no inciso XLIX do artigo 5 assegurado aos presos o respeito integridade f sica e moral Significa que se o Estado tem indiv duos sob sua cust dia direta sua responsabilidade por determina o constitucional ainda maior N o somente 27 lhe vedado intervir no status libertatis vida dos presos como se torna sua obriga o proteger tal direito estendendo se inclusive a assegurar lhes a integridade f sica e moral Diante desses pressupostos apresentados o epis dio do Carandiru ocorrido em ambiente de vig ncia da Constitui o Federal de 1988 com a morte de pelo menos 111 detentos produzidas por representantes do pr prio Estado e sob circunst ncias claras de abuso e dolo n o se trata somente do mais grave incidente de viol ncia policial j registrado contra presos em solo nacional como normalmente de
39. descritivas sobre as mortes dos detentos As regras de infer ncia tra adas pelos autores Epstein e King s o universais isto aplicam se a qualquer rea do conhecimento em qualquer parte do mundo e em qualquer tempo Morosini 2013 As compara es e infer ncias entretanto n o puderam ser feitas exclusivamente a partir dos dados coletados em tabela Esses dados foram teis e relevantes para a elabora o das tabelas apresentadas no cap tulo 5 entretanto para as 23 infer ncias em determinadas situa es era necess rio voltar leitura dos laudos Isso porque muitas das infer ncias foram surgindo conforme se desenvolvia a an lise dos dados ou a partir da contribui o de algum elemento te rico Como ensinam Deslauries e K risit o objeto da pesquisa se constr i progressivamente a partir da intera o dos dados coletados com a an lise que deles extra da e n o somente luz da literatura sobre o assunto Deslauries e K risit 2008 1 5 CONTRIBUI O PARA A COMUNIDADE ACAD MICA Pesquisas emp ricas buscam a aferi o da realidade objetiva mas na atual conjuntura tais pesquisas ganham um sentido novo de utilidade no qual longe de adotar um conhecimento neutro e insens vel o que se espera a produ o de um conhecimento criativo solid rio e com uma incr vel capacidade de escuta em rela o a todos aqueles e aquelas que sofrem Pires 2008 N o h d vidas que a perspectiv
40. disparo efetuado curta dist ncia tal qual o observado em regi o frontal cabe a indicando oportunidade de proximidade do atirador em rela o Claudio poss vel inferir que os ferimentos provocados por tiros de rasp o n o foram perpetrados no momento de proximidade do atirador caso contr rio teriam sido efetivos como foi o proj til que atingiu sua cabe a e igualmente apresentariam sinais de tatuagem e esfuma amento Assim infere se que quando os policiais come aram a atirar dentro da cela Claudio tentou se esquivar dos disparos sendo inicialmente atingido pelos tiros de rasp o e possivelmente por outros dois tiros relatados mas n o fatais na regi o da n dega esquerda e parte posterior da coxa direita pois esses proj teis de acordo com o laudo seguem a mesma trajet ria de tr s para frente Cl udio j ferido teria se escondido embaixo da cama motivo pelo qual relutou em sair daquele local Independente da inexist ncia de exame bal stico o laudo informa claramente que o trajeto sentido vetorial dos demais ferimentos de entrada a saber regi o do t rax esquerda mamilar face anterior da coxa esquerda e face anterior da perna esquerda inclusive o mencionado ferimento na cabe a todos foram desferidos no sentido de frente para tr s e de cima para baixo ou seja os disparos foram efetuados de n vel acima do corpo de Cl udio indicando que o mesmo estivesse deitado ou mesmo ajoelhad
41. duo e indica o dos respectivos laudos necrosc picos 5 3 FERIMENTOS POR ARMA DE FOGO EM REGI O DO TRONCO A regi o do tronco conforme apresentado no cap tulo 4 inclui o t rax e abdome Trata se de uma grande rea alvo e portanto oferece menor margem de erro na precis o do disparo al m das cavidades tor cicas e abdominais conterem diversos rg os e vasos veias e art rias calibrosos essenciais para 163 a fun o vital Contudo na regi o do t rax que os treinamentos t ticos em incapacita o imediata com armas de fogo est o focados Conquanto exista certa pol mica em torno da efetividade dos disparos perpetrados na regi o do t rax em produzir incapacita o imediata notadamente em rela o ao tempo necess rio segundos poucos minutos com possibilidade de rea o do advers rio atingido consenso que ferimentos perfuro contusos produzidos por proj teis de arma de fogo na regi o tor cica apresentam potencial intr nseco para produzir maci a perda de sangue pela les o direta ao cora o pulm es e vasos sangu neos principais da regi o veias e art rias pulmonares cava superior e aorta O cora o localizado em posi o mais ou menos central mais esquerda do t rax com o tamanho de uma m o adulta fechada em punho tamb m n o se trata de um alvo f cil No entanto reas adjacentes como o pulm es e vasos calibrosos podem ser atingidos produzindo o colapso circulat rio e
42. escondeu numa pilha de corpos mesmo recebendo uma facada no p esquerdo segurou o grito e sobreviveu A despeito da crueza que o relato sobre a a o policial evoca depreende se que um relato eventual prestado por familiar de preso h pelo menos vinte anos coaduna com dados observados em alguns laudos necrosc picos de forma a trazer explica o para os casos em que os cad veres apresentaram ferimentos por proj teis de arma de fogo em reas vitais como cabe a pesco o e tronco mas tamb m ferimentos perpetrados por arma branca De acordo com o Ac rd o 01498319 proferido pelo Tribunal de Justi a de S o Paulo no recurso de apela o criminal 105 368 0 4 00 Nessa primeira fase de atua o os grupos de Policiais declinados mataram e tentaram matar mediante disparos de proj teis de armas de fogo e emprego de instrumentos perfuro cortantes facas estiletes e baionetas os detentos infra elencados Conforme destaca o relator do ac rd o facas e baionetas embora consideradas armas de baixa energia fazem parte do equipamento do 87 Ramos Hosmany O Pavilh o 9 Paix o e morte no Carandiru p 254 68 Jornal Folha de S o Paulo publicada em 05 10 1992 6 Arma brancas s o mais detalhadas no cap tulo 140 policiamento t tico Esses instrumentos s o recursos que o policial faz uso em situa es de falta ou redu o de muni o ou confronto corporal direto Os laudos necrosc picos relatam
43. especial para isso Um deles o chamado de expansivo ponta oca ou EXPO Embora proj teis de v rios calibres possam ser EXPO isso n o significa que todos tenham poder de parada necess rio possuir energia suficiente para isso O fato de um proj til ser EXPO n o aumenta a sua energia em rela o a um proj til comum que tenha o mesmo peso e a mesma velocidade logo ap s a sa da do cano O que 74 refere ao uso da arma de fogo para gerar incapacita o f sica e mental imediata do advers rio de produzir qualquer risco adicional ou ferimentos a outros Patrick 1989 FBI Academy Porque o poder de parada e incapacita o imediata abordam o mesmo fen meno este problema tamb m relevante para as ag ncias de aplica o da lei FBI Karger 1985 De acordo com a Unidade de Treinamento de Armas de Fogo do FBI Firearms Training Unit Stopping Power ou incapacita o imediata o nico objetivo de qualquer disparo de arma de fogo na aplica o da lei e constitui a raz o para as decis es relativas armas muni es calibres e treinamento dos policiais Patrick 1989 Nos treinamentos t ticos o agente ensinado sobre a rea do corpo a ser alvejada al m do tipo de arma e muni o a ser utilizada como elementos importantes para o xito da incapacita o imediata e cita exemplos um proj til que atravessa o sistema nervoso central com qualquer calibre de
44. ferimentos e a aus ncia de ferimentos de defesa em bra os m os ou antebra os da v tima indique que n o houve luta corporal como seria na luta entre presos mas predomin ncia do agressor e ainda que os tr s golpes desferidos contra Claudemir como relata o laudo n o se apresentaram afastados entre si aleatoriamente mas objetivava atingir regi es vitais regi o pr xima ao cora o f gado pulm o e ba o reas uma vez feridas com potencial de provocar hemorragia interna maci a sendo essa a causa da morte e que isso pressup e um m nimo de conhecimento de anatomia aplicada ao treinamento militar Em que pese tudo isso os policiais militares foram absolvidos pela morte de Claudemir e de seu irm o Valmir Marques entre outros somente porque eles foram mortos pelo mecanismo de trauma arma branca embora conforme infere se neste estudo tenham sido tamb m executados pelos policiais Os policias foram absolvidos pelas mortes perpetradas por arma branca a pedido do pr prio Minist rio P blico porque tais mortes foram atribu das agress o entre presos A despeito que alguns presos possam ter efetivamente lutado entre si Valmir e Claudemir n o apresentaram qualquer ferimento de defesa ativa ou passiva em membros superiores o que seria esperado em caso de luta onde a v tima est consciente e tenta afastar poss veis golpes ou tomar a arma branca do agressor Ademais a aus ncia de outros ferimentos t pico
45. ferimentos de defesa no lado esquerdo 37 4 quando em compara o ao lado direito 24 2 do corpo da v tima Contudo neste estudo incluiu se os membros inferiores e outras regi es do corpo e n o somente membros superiores como fez Sheikh et al 2009 Quando a observa o incluiu outras regi es do corpo ferimentos de defesa foram notados em ambos os lados em 38 54 dos casos aproximando se do estudo de Chattopadhyay e Sukul que foi de 31 51 O diferencial do estudo de Mohite et al 2013 que foi observado que a incid ncia de ferimentos defesa nas v timas relaciona se ao maior n mero de golpes Por exemplo de todas as v timas que foram mortas por esfaqueamento a maior incid ncia de ferimentos de defesa 75 foi observada em v timas que apresentavam 10 ou mais golpes O mesmo foi constatado em v timas de arma branca sem corte Ferimentos de 70 defesa estavam presentes em 48 6 dos casos que haviam sido alvejadas por mais de 4 golpes Mohite et al 2013 Estudos que observam exclusivamente ferimentos de defesa em v timas de homic dio por arma de fogo n o foram encontrados Prajapati entretanto observou 193 cad veres v timas de homic dio pelo uso de instrumentos mec nicos machado facas instrumentos pontiagudos e armas de fogo encaminhados para exame de necropsia na Faculdade de Medicina de Surat durante os anos de 2004 a 2005 Embora a taxa de homic dios por arma de fogo tenha sido baixa 4 22
46. forenses foi moldada por condi es peculiares de cada pa s e a falta de uniformidade nos procedimentos de investiga o incluindo os exames de necropsia levou em alguns casos indetermina o das causas e n mero de mortes e dos respons veis pelos crimes Reiter et al 1986 At meados dos anos de 1980 o testemunho ocular e depoimentos de v timas com exce o da fotografia ocupavam lugar preferencial na documenta o de viola o dos direitos humanos Cyr 2008 O motivo que ap s a Segunda Guerra os testemunhos do Holocausto eram t o impactantes e enraizados que haviam se tornado um modelo para todas as formas de discurso traum tico a resposta e a responsabilidade dentro do campo contempor neo de direitos humanos Shaffer e Smith apud Cyr 2008 2 De acordo com Randy B Reiter M V Zunzunegui e Jose Quiroga a participa o do Estado em viola es aos direitos humanos pode se dar de forma ativa envolvendo diretamente agentes do Estado ou passiva falhando na prote o de cidad os ou custodiados contra a es de grupos privados ou militares Reiter et al 1986 p 628 46 Contudo a partir de 1984 o Dr Clyde C Snow e sua equipe de profissionais forenses mudariam definitivamente a maneira de examinar e documentar tais viola es atrav s de seus trabalhos junto Comiss o Nacional sobre Desaparecidos CONADEP na Argentina mas esse n o foi um fato isolado Nos anos que se seguiram esfor o
47. imagem direita os c es tamb m atacam por tr s e as mordeduras s o efetuadas na regi o das costas Fonte https gilmercountyfreepress wordpress com Os laudos nos contam portanto que Reginaldo estava de costas quando foi atacado pelo c o possivelmente correndo em algum dos corredores tentando se refugiar da a o policial O animal o perseguiu e efetuou duas mordeduras em regi o de suas costas pr ximo ao seu ombro esquerdo Isso explica as les es lacero contusas no local e ao mesmo tempo aus ncia de outros ferimentos externos ou internos na regi o do t rax e abdome pois tais ferimentos mantiveram se n vel de les o externa Ao mesmo tempo Reginaldo empurrado ao ch o rendido pelo c o Quando os policiais se aproximam portando as metralhadoras mencionadas pelo Capit o Marinho Reginaldo est ca do no ch o pois o laudo informa que os ferimentos de entrada 4 6 e 7 desferidos em 137 rajada na perna direita seguem sentido ascendente ou seja seguem de baixo para cima sugerindo que Reginaldo estivesse deitado O ferimento 7 atinge seu joelho direito dessa forma ele n o tem como fugir novamente Apesar dos ferimentos na perna direita est consciente O laudo nos apresenta que dois ferimentos de arma de fogo foram perpetrados pela por o frontal da parte superior do corpo de Reginaldo um deles embora atingisse a regi o da cabe a penetrou a pouco abaixo da mand bula direita e alojou se em
48. mas 3 ferimentos a saber o proj til que penetrou regi o parietal esquerda n o gerou ferimento de sa da e tamb m n o foi removido pelos legistas j que n o h relatos sobre isso o que atingiu a regi o auricular esquerda saiu em regi o parietal direita e o proj til que penetrou em regi o frontal esquerda saiu em regi o mandibular Outro exemplo em que a observa o exclusiva dos diagramas poderia conduzir a desacertos o diagrama do laudo necrosc pico n 355 92 de Elias O Costa de 19 anos A foto obtida antes do exame necrosc pico expressa parcialmente o que o laudo n 355 92 representou um dos mais severos casos de politraumatismo do epis dio do Carandiru Fig 55 Fotografia do corpo de Elias O Costa anexa ao laudo n 355 92 antes de ser submetido exame necrosc pico em 03 10 1992 75 Politrauma designa que um mesmo indiv duo sofreu diversos tipos de ferimentos resultantes da a o de for as externas exemplo for a cin tica de determinado evento sobre seu corpo Por exemplo v tima dentro de um ve culo que sofre capotamento poder apresentar ferimentos diversos desde contus es tor cicas e concuss o cerebral pela a o da for a cin tica como fraturas pelo impacto do ve culo com objeto fixo ou ainda ferimentos corto contusos provocados por fragmentos do vidro quebrado do carro 148 O diagrama do laudo em comento apresenta uma legenda criada pelos legistas que efetuaram o exame n
49. muni o suscept vel de ser imediatamente incapacitante mesmo um calibre 22 que penetra o c rebro ir causar imediata incapacita o na maioria dos casos mas isso n o significa que o agente deve utilizar o calibre 22 e treinar disparos na cabe a como alvo principal nem sempre o oficial ter a oportunidade de disparar um tiro preciso e direcionado cabe a do sujeito por isso o treinamento apropriado inclui diferencia um proj til comum ogival ponta plana canto vivo etc de um EXPO a rapidez com que transmite e distribui sua energia no corpo da pessoa atingida O EXPO o faz com muito mais rapidez e efic cia provocando uma explos o de energia no interior do corpo humano que se irradia para todos os lados Mas se n o possuir energia suficiente n o ter poder e parada isto n o imobilizar o agressor imediatamente O proj til mais comum para policiais desenvolvido especialmente para policiais a pedido do FBI com poder de parada o EXPO calibre 40 S amp W Basta um ou dois impactos desse proj til no garraf o do agressor para imobiliz lo imediatamente E se n o atingir ponto mortal n o o matar Giraldi 2013 15 disparos orientados ao centro de massa do advers rio Patrick 1989 Embora a concep o de poder de parada tenha sido apropriada pelas academias de pol cia proj teis de arma de fogo com potenci
50. na v tima Claudemir ou seja ferimento perfuro cortante em regi o abdominal direita altura do f gado em sentido vertical ascendente apontando em dire o ao ombro direito da v tima Se os laudos necrosc picos s o elaborados para prover embasamento cient fico aos fatos ent o tais evid ncias n o podem ser reduzidas mera eventualidade mas admitidas como o que de fato s o provas Caso a descri o de um nico e preciso ferimento perfuro cortante de apenas 1 cent metro no abdome de Edilson provocado por instrumento perfuro cortante com l mina afiada posto que foi capaz de perfurar pele m sculos perit nio e transfixar a aorta n o fosse admitido como evid ncia suficiente da a o policial quando comparado com o treinamento militar no procedimento denominado ataque ao f gado conforme apresentado em ilustra o a seguir a a o policial fica mais n tida 119 Fig 25 T cnica militar denominado ataque ao f gado A faca estocada na altura do f gado com faca empunhada com pegada reversa Fonte Manual de Campanha Treinamento F sico Militar Lutas Uso da Faca Ex rcito Brasileiro 3 edi o 2002 De acordo com a t cnica apresentada no Manual de Campanha Treinamento F sico Militar e Lutas usa se a pegada reversa da faca ap s a introdu o deve ser executado um corte obl quo ascendente em dire o ao ombro direito do advers rio para esse ataque o fio da l mina deve ficar
51. no lapso de dias ou semanas que se seguirem aos fatos Note se que quando se adota uma concep o mais abrangente sobre o que se considera morte sob cust dia conforme apresentado o estudo que contemple a evolu o cl nica das v timas de les es corporais no per odo p s trauma eventualmente oferece potencial de elevar o n mero de v timas fatais No caso do Massacre do Carandiru at pelo nome consignado ao epis dio as aten es naturalmente convergiram para aquilo que chamou aten o de forma mais imediata e impactante os 111 mortos Entretanto a desconsidera o a respeito de como evolu ram as v timas de les es corporais na poca dos fatos traz implica es claras a primeira que se d lugar d vida sobre o n mero efetivo de v timas fatais decorrentes da a o policial ainda que sejam as fatais remanescentes a segunda relativa ao processo penal pois na 37 hip tese de que algum destes casos tenha evolu do para o bito seriam necess rios aditamentos na den ncia alterando se a tipifica o de les o corporal em homic dio qualificado A terceira implica o refere se aos familiares pois na hip tese aventada teriam conhecimento da real causa da morte e poderiam requerer as respetivas indeniza es 2 2 O USO DA FOR A LETAL N o era uma rebeli o para fuga n o havia funcion rios como ref ns 7 O trabalho de agentes da pol cia no cumprimento da lei envolve risco
52. no t rax ou abdome nem mesmo de rasp o e que Reginaldo n o teria sofrido espancamento ou golpes de arma branca nestas regi es porque durante exame interno observou se pulm o direito e esquerdo peric rdio e cora o ntegros sem sinais de hemot rax N o h sinais de hemoperit nio f gado ba o rim e bexiga ntegros Contudo de acordo com o diagrama do laudo Reginaldo apresentou dois ferimentos lacero contusos na regi o dorsal esquerda regi o das costas Embora o laudo n o mencione suas dimens es pela representa o gr fica verifica se que foram ferimentos expressivos Ferimentos lacero contusos implicam em les o dos tecidos mais superficiais em geral na pele mas h casos mais profundos que atingem os m sculos que ocorrem por mecanismos contundentes de compress o tra o ou estiramento da pele produzindo solu es de continuidade destrui o da integridade do tecido 134 O exemplo cl ssico desse tipo de ferimento na medicina legal exatamente a mordedura do c o Pela for a de tra o da boca e dentes do animal os tecidos da pele e m sculos s o rasgados ou arrancados deixando um ferimento com aspecto de lacera o com presen a de retalhos e bordas n o regulares Esse tipo de ferimento pode ser mais superficial pele ou profundo m sculos e tend es Fig 38 A imagem apresenta ferimento lacero contuso provocado por mordedura de c o Destaque se que h perda de subst
53. o necessidade e proporcionalidade dos meios empregados n o se tratavam de uma decis o monocr tica do ex Governador Fleury ou de seu Secret rio de Seguran a Pedro Franco de Campos nem tampouco dos Oficiais da Pol cia Militar presentes no local mas de uma exig ncia para a legitimidade permissivo legal da a o policial com uso de for a letal bem como seus resultados No cap tulo 4 destaca se a afirma o do ex Governador Fleury com rela o ao epis dio do Carandiru A invas o foi adequada Contudo conforme mencionado anteriormente no Estado de Direito a medida adequada aquela que alcan a a finalidade debelar a rebeli o oferecendo prote o ao preso cust dia Porque n o haviam ref ns amea a imediata vida de terceiros possibilidade de fuga dos presos e n o se encontrava em risco a seguran a p blica o uso da for a letal n o foi adequado Por sua vez o crit rio da necessidade do uso da for a letal tamb m n o se perfez pois esse exige que dentre os meios adequados seja escolhido aquele que intervenha de maneira menos intensa Alexy 2012 Note se que o meio adequado pautado pela necessidade que a situa o apresenta Conforme Thiboudeau e Hertig 2010 o uso da for a progressivo e somente se justifica permissivo constitucional a utiliza o de um meio mais intenso se o anterior fracassou O uso da for a letal como meio se atingir uma finalidade debelar rebeli o
54. o tipo e forma do crime no sentido de caracterizar viola o aos direitos humanos A recomenda o de que o laudo indique a causa a forma local e hora da morte assim como qualquer padr o ou pr tica que possa ter provocado a morte Protocolo de Minessota Cap III A falha em detectar caracterizar e divulgar atos de execu o para a comunidade internacional um dos principais obst culos presta o de justi a para OS casos que ocorreram no passado e para a prevenir que n o ocorram no futuro Reiter et al 1986 2 Ficha Informativa Sobre Direitos Humanos n 11 Rev 1 ACNUDH p g 16 52 CAP TULO 3 O CORPO HUMANO COMO ALVO O estudo do corpo humano e seus limites um dom nio ainda n o superado por vezes m dicos s o surpreendidos com a capacidade do ser humano em suportar ferimentos em reas vitais e ainda apresentar alguma reatividade Os progressos da ci ncia e conhecimento da anatomia e fisiologia trouxeram evidente contribui o medicina no sentido de preservar a vida do homem contudo esses conhecimentos tamb m podem ser utilizados para sua destrui o Este cap tulo trata sobre a cl ssica divis o do corpo humano em quatro partes principais cabe a pesco o tronco e membros quais estruturas rg os e fun es est o envolvidos com cada uma delas e porque algumas reas tornam se preferenciais na mira de um atirador que intenciona o xito letal ou incapacita o imediata Ser
55. os ferimentos Considerando o objetivo dos policiais em obter a incapacita o imediata dos detentos quando os feridos por arma de fogo em regi o cervical s o relacionados com os feridos em regi o cef lica potencializando o xito letal foram observados 18 casos 23 37 dentre os feridos em regi o cef lica 77 que apresentavam os dois tipos de ferimentos atingindo portanto concomitante duas reas de incapacita o cabe a e pesco o num total de 45 ferimentos de entrada por proj teis de arma de fogo quando consideradas as duas reas incidindo nestes indiv duos 161 N do N N Total Individual Laudo necrosc pico Ferimentos Ferimentos cabe a e pesco o Cervical Cabe a 1 1533 92 2 1 3 2 1537 92 1 1 2 3 1538 92 1 1 2 4 1539 92 1 2 3 5 1543 92 1 1 2 6 1788 92 2 2 4 7 1792 92 1 2 3 8 1793 92 1 1 2 9 4435 92 1 1 2 10 4445 92 1 1 2 11 4456 92 1 1 2 12 4466 92 1 3 4 13 4467 92 1 1 2 14 4468 92 1 2 15 4469 92 2 1 3 16 4476 92 1 2 3 17 4477 92 1 1 2 18 4487 92 1 1 2 Total 21 24 45 Tab 5 Distribui o do n mero de ferimentos observados em regi o cervical e cef lica e respectivos laudos necrosc picos Total de ferimentos considerando as duas reas incidindo no mesmo indiv duo Conforme j discutido anteriormente as reas da cabe a e pesco o por suas caracter sticas inerentes se consideradas isoladamente j oferecem certo n vel de complexidade para serem a
56. os ferimentos de entrada e de sa da Enquanto alguns indicavam a entrada como um pequeno c rculo com um ponto preto no centro e sa da 145 somente um ponto preto outros indicavam entrada com c rculo sem preenchimento e sa da um c rculo preenchido em preto outros ainda indicavam entrada com um X e sa da com um c rculo logo a interpreta o isolada dos sinais designados nas legendas dos diagramas facilmente poderia conduzir desacertos Importa ressaltar que a aus ncia de padroniza o das legendas e representa es dos ferimentos quando somados observa o exclusiva dos diagramas sem a devida compara o com as descri es dos relat rios dos laudos podem conduzir resultados inexatos sobre os laudos necrosc picos das v timas do Carandiru E j x E 4 Pi SECRETARIA DA SEGURAN A P BLICA e Mb Yo 3 DEPARTAMENTO ESTADUAL DE POL CIA CIENT FICA FLS pe i INSTITUTO M DICO LEGAL Fig 53 Diagrama do laudo necrosc pico n 4488 92 de Jos Elias Miranda da Silva 146 O diagrama acima n o apresenta qualquer legenda e os ferimentos de entrada e sa da na regi o da cabe a n o est o representados de maneira espec fica al m de apresentarem se muito pr ximos Neste caso a simples observa o do diagrama sem analisar as informa es do relat rio do laudo poderia levar o observador concluir sobre a exist ncia de 4 ferimentos de entrada de proj til de arma de fogo no entanto o relat
57. outro preso pelo bra o exatamente o irm o de Santos Claudemir Marques de 23 anos Marques tamb m morto Conforme ser detalhado frente ainda que alguns presos dispusessem de armas brancas improvisadas de feitio manual tais como canos de ferro peda os de vidro ou objetos pontiagudos de madeira ou outro material r gido esse tipo de instrumental conquanto possam perfurar e contundir tecidos humanos n o s o dotados de fio de corte logo n o poderiam provocar ferimentos com bordas n tidas e regulares tais como demonstrado na Fig 20 onde a aproxima o dos rebordos do ferimento perfuro inciso apresenta as caracter sticas do instrumental utilizado Claudemir foi morto com tr s ferimentos perfuro incisos arma branca sendo um ferimento pouco acima da rea do cora o peitoral esquerda outro em regi o anterior do t rax esquerdo e um terceiro ferimento em regi o do abdome direita altura do f gado De acordo com o laudo todos os ferimentos foram desferidos de frente para tr s da esquerda para direita e de cima para baixo com bordas n tidas e regulares afastadas entre si e bicaudadas 115 Conforme o laudo necrosc pico indica Claudemir n o foi morto por qualquer arma improvisada pois seus tr s ferimentos apresentavam bordas n tidas e regulares portanto instrumental com fio de corte Contudo diferente de seu irm o Claudemir n o foi morto pela a o perfuro incisa de uma faca
58. pequeno equ voco em rela o ao conte do do relat rio E2 ou 88 entrada foi designado na regi o palmar e S2 sa da na regi o do dorso da m o esquerda sendo na verdade o contr rio E2 no dorso e S2 na palma da m o conforme relat rio do laudo SECRETARIA DA SEGURAN A P BLICA R 6412 99 DEPARTAMENTO ESTADUAL DE POL CIA CIENT FICA INSTITUTO M DICO LEGAL Zene De RAM SE lt UYD ERL LENA o PRC em ee ade ta a EVEN mma y i a Figura 6 Representa o gr fica diagrama referente ao laudo n 4486 A hist ria de presos que naquela tarde de 02 10 1992 foram abordados por policiais no Pavilh o 9 dentro de suas celas sendo determinado que ficassem em posi o de rendi o deitados com as m os atr s da nuca e a seguir foram alvejados por disparos de arma de fogo na situa o em que se encontravam foi contada por presos sobreviventes e irm s da pastoral carcer ria h mais de vinte anos quando n o imaginavam que os laudos necrosc picos registravam a hist ria de Marcos e outros que como ele morreram rendidos Ap s a morte dentre os fen menos cadav ricos que se instalam o resfriamento e rigidez do corpo preservam a posi o em que a v tima morreu por isso quando os cad veres come aram a ser encontrados e recolhidos pelos pr prios presos sobreviventes mantinham as posi es em que foram mortos Marcos jamais soube quem efetuou o disparo porque seu rosto estava voltado p
59. pios gerais para a preven o de mortes e investiga es m dico legais adequadas que foram elaborados e em seguida aprovados pelo Conselho Econ mico e Social das Na es Unidas e da Assembleia Geral em 1989 Em 1991 a ONU publicou o Manual de Efetiva Preven o e Investiga o de Execu es Extrajudiciais Arbitr rias e Sum rias que incluiu os princ pios e uma s rie de diretrizes para fornecer orienta o t cnica para a realiza o de investiga es al m de um Protocolo sobre a realiza o do exame de necropsia e um modelo para a exuma o e an lise de restos mortais Cordner e Mckelvie 2002 A necessidade de um protocolo cient fico internacional para a investiga o de mortes e realiza o de aut psias em casos de viola o de direitos humanos vinha sendo reconhecida por v rios anos Desde de 1984 JL Thomsen observara que o exame dos cad veres estava sendo praticada sem diretrizes e defini es comuns que facilitaram a documenta o e a comunica o dentre os profissionais protocolo de Minessota cap ll Contudo n o basta a exist ncia de um protocolo das Na es Unidas com rela o s diretrizes e procedimentos que devem ser adotados no momento do exame necrosc pico e produ o da documenta o de v timas de viola es de direitos humanos preciso que sejam divulgados e promovidos dentro da comunidade cient fica de maneira que se possa contar com as compet ncias locais no momento em que t
60. que a rea na linha das sobrancelhas entre os olhos do tamanho aproximado de um cart o de visita considerada o alvo de ouro para produzir incapacita o imediata porque nessa rea o proj til encontra menos resist ncia de estruturas sseas pela cavita o natural da regi o orbital olhos e estrutura nasal que cont m cartilagens permitindo que o proj til penetre o cr nio com maior facilidade nessa rea lacerando tecido cerebral e fraturando a base do cr nio Para melhor elucida o da rea alvo de ouro para o objetivo de incapacita o imediata e reas pr ximas que foram alvejadas pelos policiais com objetivo de atingir o sistema nervoso central c rebro e tronco cerebral 155 penetrando pela cavidade cr nio ocular Conforme ilustram as imagens que seguem Fig 59 A rea delineada ao centro do rosto indica o alvo exato da cavidade cr nio ocular As linhas mais suaves ao redor indicam reas adjacentes ou muito pr ximas Fonte http www newamericantruth com 2015 0 1 handgun stopping power Base do c rebro Tronco cerebral Fig 61 Perspectiva lateral de proj til de arma de fogo que penetra a regi o cr nio ocular atingindo diretamente o c rebro ou tronco cerebral Fonte http Awww sciencepicture co images 0504 Huma n Brain html Fig 60 A imagem mostra uma perspectiva simult nea da por o externa e interna do cr nio onde poss vel observar que o c rebro se apresenta
61. regi o do queixo esquerda n o sendo portanto ferimento fatal O ferimento de entrada em seu bra o direito indica que Reginaldo possivelmente percebeu o momento do disparo e tentou proteger sua face sendo atingido tamb m aquele bra o Um ltimo disparo de arma de fogo perpetrado contra a parte posterior da cabe a de Reginaldo medial da regi o occipital o objetivo incapacita o imediata tamb m o nico proj til respons vel por sua morte observamos les es de trajeto decorrentes da progress o de E3 com divuls o e destrui o de tecido encef lico Causa da morte traumatismo cr nio encef lico por agente perfuro contundente 138 SECRETARIA DA SEGURAN A P BLICA DEPARTAMENTO ESTADUAL DE POL CIA CIENT FICA INSTITUTO M DICO LEGAL S Joeifiit gt 53 salot E gt a i O o Fig 43 Diagrama do laudo necrosc pico 1531 92 Reginaldo Ferreira Martins 139 4 8 CONFIRAM SE EST O MORTOS 7 Os policiais espetavam os corpos empilhados com facas e baionetas para ver se estavam realmente mortos 88 Marcos Jos dos Santos em entrevista ao Jornal Folha de S o Paulo publicada em 05 10 1992 informava que comparecera no domingo 4 que seguiu aos fatos no Carandiru em busca de informa es sobre seu cunhado preso no Pavilh o 9 Encontrando o na enfermaria retransmitiu o que ouviu de seu familiar que s sobreviveu porque se
62. relat rios e diagramas e reuniu os a outros documentos conforme descrito no cap tulo metodol gico de forma a compor o corpus emp rico da pesquisa Apoiou se tamb m em elementos da doutrina e 180 experi ncia da pesquisadora criando se uma cadeia de evid ncias entre a problem tica e as observa es realizadas a partir dos documentos selecionados de maneira formular uma explica o sobre o fen meno observado infer ncias Com rela o ao objetivo dos policiais em produzir incapacita o imediata execu o aos detentos desde de que adentraram o Pavilh o 9 esse ficou evidenciado quando fizeram o uso da for a letal como primeira op o de a o considerando a quantidade de armas 138 armas que os policiais denunciados portavam e tipos de armamentos incluindo fuzis e submetralhadoras utilizadas contra os detentos Conforme apresentado neste estudo a utiliza o da for a letal era incompat vel e desproporcional com a miss o de debelar uma rebeli o onde n o haviam ref ns e nem perigo iminente a vida de terceiros conforme determina os princ pios do uso da for a e de armas de fogo das Na es Unidas Logo a for a letal foi aplicada de forma intencional no sentido de produzir a morte dos detentos Esse aspecto tamb m ficou evidenciado a partir dos relat rios e diagramas dos laudos pela aplica o de t cnicas dos treinamentos t ticos policiais sobre os detentos cujo objetivo obter a incapacita o
63. respirat rio Logo o atirador ciente de que um disparo no t rax n o tem o mesmo potencial incapacitante que um disparo no meio do cr nio n o hesitar em desferir mais disparos na regi o do tronco buscando maximizar o xito letal pela multiplicidade de ferimentos que intensificam a perda de sangue hemorragia Portanto esses dois aspectos mencionados tratar se de uma rea alvo mais ampla e potencial para incapacita o imediata menor do que a cabe a s o motivos para se encontrar um maior n mero de disparos perpetrados na regi o do tronco Esse o quadro que os laudos necrosc picos do Carandiru relatam A presente pesquisa observou que dentre 102 v timas fatais que foram alvejadas por arma de fogo em 88 casos que representam 86 27 dos feridos por arma de fogo proj teis atingiram a regi o do tronco t rax mais abdome produzindo um total de 183 ferimentos sendo 146 na rea toraco lombar e 37 na regi o abdominal e cintura p lvica regi o da bacia e genitais Para apresentar os resultados dos ferimentos na regi o do tronco de maneira mais elucidativa estes foram divididos em ferimentos toraco lombares 82 Os laudos necrosc picos cujas as v timas n o foram alvejadas por proj til de arma de fogo conforme os relat rios dos laudos perfazem um total de 9 v timas Os respectivos n de laudos s o 347 92 348 92 352 92 1789 92 1791 92 4441 92 4450 92 4454 92 4473 92 164 regi o do t rax e lombar e a
64. rio descreve Notamos a ferimento perfuro contuso em regi o parietal esquerda b ferimento perfuro contuso em regi o auricular esquerda e correspondendo ferimento perfuro contuso em regi o parietal direita entrada e sa da c ferimento perfuro contuso em regi o frontal esquerda e correspondendo ferimento perfuro contuso em regi o mandibular entrada e ATO err sa da Fig 54 Apresenta o parcial e ampliada do diagrama do laudo necrosc pico n 4488 92 Note se que enquanto a observa o isolada do diagrama poderia fazer concluir pela exist ncia de 4 ferimentos de entrada ao mesmo tempo uma leitura menos atenta do relat rio poderia levar o observador a crer pela exist ncia de 5 ferimentos de entrada na regi o cef lica simplesmente pela utiliza o do termo e correspondendo ferimento perfuro contuso Conforme se l nos itens b e c do trecho exarado do laudo Isso contudo n o 147 significa que se trata de um outro ferimento de entrada Implica somente que os legistas est o descrevendo que o ferimento de sa da conquanto tenha caracter sticas distintas dos de entrada tamb m considerado um ferimento perfuro contuso e se est relatando sua localiza o local por onde saiu o proj til Logo o n mero correto de ferimentos de entrada de arma de fogo na regi o cef lica do laudo n 4488 92 Jos Elias Miranda da Silva n o de 4 e tampouco 5 ferimentos
65. subdural agudo Fig 2 Les es contundentes provocadas por objeto observado durante necropsia do detento alargado cil ndrico cassetete na regi o dorsal do mencionado por Lasso Fonte corpo do detento mencionado por Lasso Fonte http scielo isciii es pdf cmf n58 atlas pdf http scielo isciii es pdf cmf n58 atlas pdf 33 Sob essa perspectiva e admitindo que mortes sob cust dia incluem os casos de bitos dentro ou fora do hospital que decorrem nos dias ou semanas que sucedem ao evento traum tico ao qual o custodiado foi submetido implica considerar que n mero de mortos no epis dio do Carandiru possa efetivamente ter superado os 111 O parecer m dico legal sobre os laudos necrosc picos do Carandiru elaborado sob a coordena o do Prof Dr Marco Segre da Faculdade de Medicina da Universidade de S o Paulo realizado em 27 de novembro de 1992 apresenta o n mero de 106 casos de detentos sobreviventes que foram submetidos ao exame pericial De acordo com o parecer dos 106 casos 74 casos foram v timas de agentes contundentes Conforme apresentado no caso descrito por Lasso et al 2009 isso inclui coronhadas cassetetes pauladas objetos e mecanismos capazes de contundir sem perfurar ou cortar a pele Esse tipo de ferimento dependendo da intensidade dos golpes pode gerar fraturas les es em rg os internos e hematomas nas reas do corpo atingidas inclusive les o intracraniana conforme descreveram os autores caso a
66. tais casos inclusive de origem criminosa somente como motivo de sa da do sistema prisional brasileiro ao lado de situa es como fugas solturas e indultos Quando os dados do INFOPEN n o trazem nenhuma informa o adicional sobre os casos de bitos de origem criminosa isso permite inferir todo tipo de viol ncia perpetrada entre presos agentes penitenci rios e tamb m policiais nos 253 2 casos registrados de morte por criminalidade de indiv duos do sexo masculino no per odo mencionado 2008 2012 11 INFOPEN Minist rio da Justi a Departamento Penitenci rio Nacional Sistema Integrado de Informa es Penitenci rias Esplanada dos Minist rios Bloco T Edif cio sede 70064 900 Bras lia DF http portal mj gov br 12 Com fins de compara o as mortes sob cust dia no mesmo per odo de 2008 2012 na Inglaterra e pa s de Gales apresentou um total de 904 mortes em situa o de c rcere o n mero de mortes mais significativos foram por suic dio 299 casos e causas naturais 560 casos Contudo do total de mortes chama a aten o as decorrentes de homic dios representaram somente 6 dos casos Dados obtidos da ONG brit nica INQUEST que trabalha na presta o de consultoria gratuita a pessoas e familiares enlutados em raz o de mortes sob cust dia sendo totalmente independente do governo http Avww inquest org uk statistics deaths in prison 31 bitos Criminais Suic dios Acidentais Naturais 2
67. um ladr o Os detentos come am a rezar e imploram para n o morrer Santos com as m os no ferimento levado para o corredor ao lado e seus 14 companheiros de cela ouvem seus gritos O mesmo militar volta e pega um outro preso pelo bra o exatamente o irm o de Santos Claudemir Marques de 23 anos tamb m ladr o de carros Marques tamb m morto Valmir Marques dos Santos nascido em S o Paulo tinha 23 anos Foi morto durante a invas o da pol cia militar no Carandiru em 02 10 1992 O laudo necrosc pico concluiu O examinado veio a falecer por Hemorragia Interna Aguda Traum tica devido a a o de agente perfuro cortante De acordo com o laudo foram 7 golpes por arma branca assim distribu dos 110 O examinado apresenta 7 ferimentos perfuro incisos sendo 1 a n vel craniano 5 a n vel tor cico e 1 a n vel abdominal Os ferimentos da cabe a e do abdome foram desferidos na por o frontal da v tima e os ferimentos do t rax desferidos contra por o dorsal ou seja pelas costas A coer ncia do relato dos sobreviventes proferido h mais de vinte anos com o que nos conta o laudo sobre a morte de Valmir j notada quando os presos descrevem morte por faca retirada da bota do policial e n o por qualquer outro dispositivo por exemplo com baionetas ou arma de fogo como foi a maioria Outro aspecto coerente o relato de um primeiro golpe por faca nas costas de Valmir e
68. 003 p 13 19 CHATTOPADHYAY Saurabh Sukul Biswajit Pattern of defence injuries among homicidal victims Egyptian Journal of Forensic Sciences Volume 3 Issue 3 September 2013 p 81 84 C DIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCION RIOS RESPONS VEIS PELA APLICA O DA LEI Adotado pela Assembleia Geral das Na es Unidas em 17 de dezembro de 1979 atrav s da Resolu o n 34 169 dispon vel em http Awww camara gov br sileg integras 931761 pdf COELHO Carlos Alberto de S Jorge Jr Jos Jarjura Manual t cnico operacional para os m dicos legistas do Estado de S o Paulo CREMESP Conselho Regional de Medicina do Estado de S o Paulo S o Paulo 2008 COMIT INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA International Committee of the Red Cross Viol ncia e Uso da For a Arquivo Agosto de 2009 Dispon vel em https Awww icrc org eng resources icrc archives CORDNER Stephen e Mckelvie Helen Developing standards in international forensic work to identify missing persons Dezembro 2002 Vol 84 No 848 International Committee of red Cross COTTA Francis Albert Protocolo de Interven o Policial Especializada uma experi ncia bem sucedida da Pol cia Militar de Minas Gerais na Gest o de Eventos de Defesa Social de Alto Risco Revista Brasileira de Seguran a P blica Ano 3 Edi o 5 Ago Set 2009 p 52 65 186 CREECH Oscar Jr Pearce Charles W M Stab And Gunshot Wounds Of The ChestDiagnosis And Treatment New Orleans Louisiana A
69. 008 135 53 20 2 2009 128 123 18 7 2010 113 31 5 r 2011 131 22 15 11 2012 142 24 13 5 Total 649 253 71 32 Tabela 1 N mero e classifica o dos bitos de indiv duos do sexo masculino no sistema prisional brasileiro no per odo de 2008 2012 Com efeito embora o termo mortes sob cust dia conduza ideia de que se refere somente s mortes que ocorrem dentro de uma pris o tamb m s o consideradas sob cust dia as mortes que ocorrem enquanto um indiv duo est detido em uma delegacia ou em estabelecimento de aplica o de medida de seguran a Abrange ainda mortes advindas durante a captura dentro de um ve culo da pol cia ou durante a execu o da pena ou interna o em um hospital Mesmo que a morte sobrevenha dias semanas ou meses ap s algum incidente que envolva o custodiado qualifica se como morte sob cust dia Dolinak et al 2005 De acordo com Edgardo Lasso qualquer morte de indiv duos privados de liberdade deve ser considerada suspeita at que essa hip tese possa ser afastada devendo para tanto o cad ver ser submetido avalia o de especialistas da medicina forense Lasso et al 2009 partilha da concep o de que mortes sob cust dia inclui todas as mortes ocorridas durante a captura deten o transporte dentro 13 Edgardo Lasso m dico legista do Morgue Judicial do Panam no Instituto de Medicina Legal e Ci ncias Forenses do Panam Participou de aut psias re
70. 2 4443 92 4452 92 4472 92 Orbital Direita 3 4447 92 4452 92 4476 92 153 Occipital Esquerda 7 355 92 351 92 1787 92 4440 92 4465 92 4466 92 4486 92 Occipital Direita 3 4453 92 4484 92 4485 92 Occipital M dia 10 1531 92 1539 92 2x 1543 92 1793 92 4451 92 4456 92 4483 92 4484 92 4497 92 Temporal Parietal 2 351 92 4431 92 dir esquerda Retro auricular direita ou 9 1529 92 4437 92 2x 4457 92 4462 92 esquerda 4469 92 4474 92 4477 92 4488 92 Mandibular direita ou 6 1531 92 1788 92 1795 92 4459 92 2x esquerda 4479 92 Geniana 1 1534 92 Malar direita ou esquerda 7 1544 92 4461 92 2x 4464 92 4466 92 4478 92 4479 92 Mastoidea direita ou 3 1544 92 1792 92 1794 92 esquerda Parietal Direita 5 4436 92 4447 92 4480 92 4489 92 4494 92 Parietal M dia 1 4460 92 Parietal Esquerda 5 4445 92 4449 92 4470 92 4488 92 4489 92 Nasal 2 4438 92 4457 92 Boca ou l bios 6 4440 92 4457 92 4458 92 4467 92 4471 92 4476 92 Bucinadora bochecha 1 4481 92 Total 116 n laudo reincide se atingido em de uma rea Tabela 2 Distribui o de ferimentos perfuro contundentes por rea atingida da cabe a arma de fogo O resultado quantific vel de feridos na regi o da cabe a no total de 77 bem como o total de proj teis que atingiram a rea 116 foram acuradamente observados dos relat rios dos laudos necrosc picos e revisados comparando se tamb m com os diagra
71. 54 casos 32 53 apresentaram ferimentos de defesa em regi o do bra o antebra o e m os E o tipo mais comum de les o defensiva ferida foram os ferimentos incisos 48 30 seguido por contus o 18 52 e lacera es 16 67 Prajapati 2010 Mesmo ferimentos de entrada perfuro contusos provocados por proj teis de arma de fogo podem apresentar se como ferimentos de defesa se a v tima percebendo que o proj til pode atingi la na regi o da cabe a instintivamente erguer os bra os para se proteger Em geral a presen a de ferimentos de defesa implica na proximidade do agressor v tima Vij K et al 2012 Sabe se que a observa o e registro da presen a de ferimentos de defesa no corpo da v tima notadamente em casos de morte violenta com suspeita de homic dio faz parte das atribui es do legista por todos os motivos j expostos indicam proximidade e preponder ncia do agressor o estado de consci ncia da v tima e sua tentativa de defesa e a indica o de homic dio Entretanto no caso dos 111 laudos necrosc picos do Carandiru isso exce o Ainda que os laudos registrem a presen a de ferimentos tais como escoria es cortes les es perfuro contusas nos dedos m os antebra os e bra os al m de membros inferiores ferimentos de defesa chamam aten o pelo sil ncio quando em nenhum dos laudos feita qualquer men o sobre ferimentos defensivos Para os prop sitos deste trabalho foram con
72. 63 92 4462 92 4464 92 4465 92 4466 92 4467 92 4468 92 4469 92 4470 92 4471 92 4472 92 4478 92 Xixi o xo Mix ox Mix o xo x Xi ox ox K K K a a a al K K a l l x x Xixi a a KI K a a a a a l a a X X X X X X X X X X X X X X 173 4474 92 X 4475 92 X X 4476 92 X X X 4477 92 X X 4478 92 X X 4479 92 X X 4480 92 X X 4481 92 X X X 4482 92 4483 92 X 4484 92 X X X 4485 92 X X X 4486 92 X 4487 92 X X X 4488 92 X X 4489 92 X X 4491 92 X X 4492 92 X X 4493 92 X X 4494 92 X X 4495 92 X 4496 92 X X 4497 92 X 4498 92 X X X Total 77 87 41 20 41 Tab 9 Distribui o do n do laudo e rg os lesados Dos dados obtidos pela observa o dos 111 laudos necrosc picos verifica se que os rg os mais lesados foram os pulm es 87 e o c rebro 77 respectivamente Seguido pela les o ao cora o e grandes vasos 41 e ao f gado com 20 casos Destaque se que essa an lise inclui n o somente os ferimentos perpetrados por arma de fogo mas tamb m os desferidos por arma branca De qualquer forma os rg os observados representam rg os vitais e raros s o os casos onde somente um destes foi atingido a maior preval ncia como se observa na tabela de dois a tr s rg os vitais lesados por indiv duo Considerando que 77 dentre os 111 laudos observados registram les o cerebral pode se inferir que efetividade da incapacita o imediata objetivada pelos polic
73. 99 BEERS Dean Beers Karen S Reviewing and Comprehending Autopsy Reports Forensic Magazine outubro novembro de 2013 edi o digital Dispon vel em 185 http www forensicmag com sites forensicmnag com files Reviewing 20and 20Comprehending 0AutopsyY 20Reports pdf BERRYMAN H E Smith O C Symes S A Diameter of Cranial Gunshot Wounds as Function of Bullet Caliber Journal Forensic Science 1995 Sep 40 5 751 4 PubMed dispon vel em http www ncbi nlm nih gov pubmed 7595316 BEYER JC Ed Wound Ballistics Washington D C Office of the Surgeon General Dept of the Army 1962 BIONDI Eduardo e Cardoso In Pr Hospitalar GRAU Grupo de Resgate e Aten o s Urg ncias e Emerg ncias 1 ed Barueri Manole 2018 BISILLIAT Maureen Aqui Dentro P ginas de uma Mem ria do Carandiru Imprensa Oficial de S o Paulo S o Paulo 2003 BOOTH Wayne C Colomb Gregory G Williams Joseph M A Arte da Pesquisa Tradu o Henrique A Rego Monteiro Martins Fontes S o Paulo 2008 BORELLI H lvio Rodrigues Karina Florido Vozes do Carandiru Editora Jaboticaba 1 Edi o S o Paulo 2007 BOURDIEU F Pierre Li es da Aula aula inaugural proferida no Coll ge de France em 23 de abril de 1982 S o Paulo tica 2001 CHAMPION Howard R Bellamy Ronald F Roberts Colonel P Leppaniemi Ari A Profile of Combat Injury The Journal of Trauma Injury Infection and Critical Care Volume 54 Number 5 2
74. Brasil um armamento que opera a g s alimentado por carregador com seletor de fogo ou seja tem capacidade para disparar rajadas de tr s tiros ou disparar em modo semiautom tico Rifles de assalto um termo gen rico para designar uma arma port til com cano raiado fuzis e carabinas Uma carabina apresenta um cano de at 18 polegadas tem auto carregamento e grande capacidade de disparos por rodada 20 ou mais o carregador destac vel e os disparos autom ticos Di Maio 1999 59 Fig 50 Fuzil M 16 Fonte http www areamilitar net directorio alig aspx nn 145 Dentre as submetralhadoras destaque se a HK MP5 9mm que conforme a den ncia era portada por 9 policiais incluindo o Coronel Ubiratan Guimar es uma arma de alta qualidade versatilidade pois no modo autom tico permite rajadas e no modo semiautom tico um tiro a cada vez que o gatilho pressionado Permite tamb m pequenas rajadas de 2 e 3 tiros A confiabilidade pela precis o de um nico tiro que a arma confere A muni o 9 mm Parabellum amplamente usada em ambos pistolas e submetralhadoras isso produz um perfil com o tipo de proj til encamisado metal que se assemelha ao do 38 especial Flacker 1987 A MP 5 foi adotada por pol cias e for as militares ao redor do mundo incluindo a pol cia alem a pol cia brit nica o FBI e tamb m no Brasil Popenker 2010 Fig 51 HK MP5 9mm Fonte https 1911guns wordpress com tag te
75. E ARMAMENTO E MANUSEIO SEGURO DE ARMAS DE FOGO Poder Judici rio Tribunal de Justi a do Estado do Amazonas Diretoria do F rum Ministro Henoch Reis Dep sito P blico 2012 Dispon vel em www tjam jus br index php option com docman amp task doc MANUAL DE CAMPANHA Treinamento F sico Militar Lutas C 20 50 Minist rio da Defesa Ex rcito brasileiro Dispon vel em http Avww cciex eb mil br 2014 index php manuais e regulamentos MANUAL DE TIRO DAS ARMAS PORT TEIS Fuzil Minist rio da Defesa Ex rcito brasileiro 2008 MATOSO Ivo R Freire Alexandre R Santos Leonardo S de Mello Daruge Eduardo Junior Rossi Ana Cl udia Prado Felippe Bevilacqua Comparison of Gunshot Entrance Morphologies Caused by 40 Caliber Smith amp Wesson 380 Caliber and 9 mm Luger Bullets A Finite Element Analysis Study PLOS ONE Vol 9 Issue 10 October 2014 Dispon vel em http www researchgate net publication 267744458 MCQUIRTER Joseph L Rothenberg Stephen J Dinkins Gracie A Kondrashov Vladislav Manalo Mario Todd Andrew C Change in Blood Lead Concentration up to 1 Year after a Gunshot Wound with a Retained Bullet American Journal of Epidemiology Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health Vol 159 No 7 2004 Medicine Science Law 45 2005 pp 244 248 190 MIRZA Farhat H Memon Akhtar A Adil Syeda Ezz e Rukhshan Paryar Hamid Ali Audit of custodial deaths in Karachi An autopsy based study Department o
76. FUNDA O GETULIO VARGAS ESCOLA DE DIREITO DE S O PAULO NANCI TORTORETO CHRISTOV O OS 111 LAUDOS NECROSC PICOS DO CARANDIRU EVID NCIAS DE UMA EXECU O S O PAULO 2015 NANCI TORTORETO CHRISTOV O OS 111 LAUDOS NECROSC PICOS DO CARANDIRU EVID NCIAS DE UMA EXECU O S o Paulo 2015 Disserta o de Mestrado apresentada ao Programa de Mestrado Acad mico da Escola de Direito de S o Paulo da Funda o Getulio Vargas para obten o do t tulo de Mestre em Direito Campo de conhecimento Direito e Desenvolvimento Linha de pesquisa Institui es do Estado Democr tico de Direito Orientadora Profa Dra Ma ra Rocha Machado Christov o Nanci Tortoreto Os 111 Laudos Necrosc picos do Carandiru Evid ncias de uma Execu o Nanci Tortoreto Christov o 2015 193 fls Orientador Maira Rocha Machado Disserta o mestrado Escola de Direito de S o Paulo da Funda o Getulio Vargas 1 Casa de Deten o de S o Paulo 2 Pris es S o Paulo SP 3 Massacres 4 Laudos periciais Machado Maira Rocha Il Disserta o mestrado Escola de Direito de S o Paulo da Funda o Get lio Vargas III T tulo CDU 343 811 816 1 NANCI TORTORETO CHRISTOV O OS 111 LAUDOS NECROSC PICOS DO CARANDIRU EVID NCIAS DE UMA EXECU O Disserta o de Mestrado apresentada ao Programa de Mestrado Acad mico da Escola de Direito de S o Paulo da Funda o Getulio V
77. Hurl 2005 Pelos planos anat micos poss vel tamb m descrever a localiza o de les es de natureza traum tica tal qual se verifica nos 111 laudos necrosc picos em estudo O corpo humano em termos de planos de sec o pode ser dividido tamb m em metades direita e esquerda denominado plano mediano A sec o do corpo feita por planos paralelos ao mediano por sua vez uma sec o sagital paralela sutura sagital do cr nio Nos planos verticais h ainda um tangente ao ventre denominado plano ventral ou anterior e outro tangente ao dorso denominado dorsal ou posterior Os planos horizontais s o aqueles que atravessam o corpo de forma perpendicular ao plano mediano dividindo o corpo em parte superior cranial e inferior caudal Dangelo e Fattini 2002 PLANO FRONTAL TRASNVERSAL PLANO SAGITAL mediano Fig 46 Planos de sec o da anatomia humana Fonte http Ayww cksu com vb archive index php t 325696 p 2 html s f56ec89b4cd20f45321 5efc7210832cd A men o das principais divis es do corpo e quais estruturas anat micas ossos rg os tecidos as comp em e algumas das fun es que exercem importa na compreens o do porqu determinadas reas do corpo s o mais visadas como alvo tais como cabe a regi o cef lica pesco o e o t rax 54 O corpo humano est constantemente sujeito diversas for as mec nicas como a gravidade da resist ncia da gua e do ar para exercer mov
78. Junior A Li es de Medicina Legal Companhia Editora Nacional 1961 ALMEIDA M C de et al Correla o diagn stica anatomocl nica Aferi o retrospectiva do diagn stico cl nico em necropsias Rev Sa de P blica S Paulo 23 285 91 1989 ALSTON Philip Report of the Special Rapporteur on extrajudicial summary or arbitrary executions Human Rights Council Fourteenth session General Assembly Distr General 20 May 2010 http www2 ohchr org english bodies hrcouncil docs 1 4session A HRC 14 24 pdf APHTLS Atendimento Pr Hospitalar ao Traumatizado PHTLS NAEMT tradu o Renata Scavone et al 72 ed Rio de Janeiro Elsevier 2011 AVERY Ron Force Science News 66 New Tests Show Deadly Accuracy amp Startling Speed Even Inexperienced Shooters Can Achieve In Shooting Cop Force Science Institute February 2007 dispon vel em http www forcescience org fsnews print fsnews66 pdf AZEVEDO Liliana S Sales Segmenta o e Reconstru o 3D de Tecidos Animais em Imagens Histol gicas Monografia de Mestrado em Engenharia Biom dica Porto 2012 FEUP Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto BAILEY BJ Johnson JT Newlands SD Head and neck surgery otolaryngology 4 Philadelphia Lippincott Williams and Wilkins 2006 BANDARRA Enio Pedone Sequeira J lio Lopes Tanatologia fen menos cadav ricos transformativos Revista de educa o continuada CRMV SP volume 2 Fasc culo 3 p 072 076 S o Paulo 19
79. Sob a Urna O Governador de S o Paulo acoberta as mortes na Casa de Deten o do Carandiru para evitar o desgaste do PMDB no dia das Elei es Edi o 1257 de 14 de outubro de 1992 p 27 44 Jornal O Estado de S o Paulo Caderno Cidades Comiss o vai Justi a Acusar Respons veis Edi o de 04 10 1992 p 26 45 Pedro Franco de Campos ent o Secret rio de Seguran a P blica do Estado de S o Paulo em entrevista publicada no Jornal Folha de S o Paulo em 05 10 1992 T tulo Secret rio ainda n o sabe se houve abuso 84 EL 4 N a ZA F UN Do r Fig 4 Foto parcial dos cad veres nas posi es em que foram encontrados pela per cia no sagu o e salas cont guas hall e gr mio no segundo pavimento do P 9 Neste local o perito estimou em 90 cad veres Fonte Foto n 15 s fls 58 do laudo de per cia criminal do Instituto de Criminal stica de S o Paulo realizada pelo perito Osvaldo Negrini Neto Em vista preliminar os 111 laudos necrosc picos apresentam uma imensidade de informa es distribu das em 381 p ginas ou laudas Tal qual pe as de um quebra cabe a os dados isolados n o conferem uma imagem do todo mas quando reunidas as pe as que se encaixam gradativamente vai se formando um n tido cen rio Como um livro que pode ser dividido em cap tulos a exibi o da hist ria contada pelos laudos pode ser dividida em atos alguns deles s o apresentados a seguir 4 1 A RENDI O Pouco
80. TAMENTO ESTADUAL DE POL CIA CIENT FICA INSTITUTO M DICO LEGAL rs 00858 Ra 6412 92 a 11 server dt E esa Fig 27 Laudo Necrosc pico n 4454 92 Edilson Alves da Silva 121 4 6 A EXECU O Eu cheguei l e nenhum preso queria conversar comigo comecei a perguntar de meu filho e os detentos respondiam que ele estava vivo na Unidade de Terapia Intensiva das Cl nicas Salete acompanhada de seu outro filho de 17 anos continuou na busca at que um detento lhe fez um relato tr gico Claudio havia se escondido debaixo da cama de sua cela para fugir das balas da Pol cia Militar e a PM falou Ou voc sai ou voc morre Ele demorou para sair debaixo da cama e foi fuzilado Maria Salete Cacilha de Carvalho estava em casa no dia 02 10 1992 e soube pela televis o sobre a rebeli o no Carandiru Quando as not cias foram divulgadas pela m dia seu filho Cl udio Jos de Carvalho de somente vinte anos possivelmente j estava morto mas ela s soube disso dois dias depois quando compareceu visita no domingo e um companheiro de cela de Claudio lhe contou como foi sua morte O relat rio do exame necrosc pico do corpo de Cl udio confere credibilidade declara o do preso sobrevivente que dividia a cela com ele Quando o companheiro de cela relatou que Claudio havia se escondido debaixo da cama de sua cela para fugir das balas da Pol cia Milita evidentemente que n o poder
81. a 77 cavidade permanente permite visualizar Quanto mais r pido o fluxo de energia cin tica maior o impulso dado aos tecidos vizinhos cavidade permanente e maior ser a cavidade tempor ria Dur o 2012 e Fragmenta o O proj til ap s penetrar o corpo humano pode sofrer deforma es e fragmenta es Proj teis de ponta macia chumbo ou com cortes verticais na ponta fragmentam se no momento do impacto Esse fen meno pode ampliar os efeitos da cavidade tempor ria aumentando a gravidade do ferimento porque os estilha os do proj til atingem uma rea maior do que o proj til s lido e sua energia rapidamente dispersada aos tecidos adjacentes A respeito da incapacita o imediata alguns artigos produzidos por instrutores e oficiais do FBI s o claros no sentido de promover a efetividade dos ferimentos que os proj teis de armas curtas rev lveres ou pistolas podem causar em determinadas reas do corpo Proj teis incapacitam imediatamente por danos ou destrui o de sistema nervoso central ou ainda quando provocam uma perda de sangue letal hemorragia intensa Ao ampliar os componentes que causam ferimento ou aumento dos efeitos destes dois mecanismos a possibilidade de incapacita o tamb m aumenta Patrick 1987 Thomas A Perroni ex instrutor do FBI ao discorrer sobre a teoria anat mica do Stopping Power afirma que s h dois lugares no corpo humano em que poss vel obter a in
82. a conjuntiva e regi o mastoide Tenuto 1945 Fig 9 Foto p s necropsia laudo n 362 92 exibida parcialmente A colora o roxa nos olhos indica hematoma palpebral p s traum tico Diferente da hist ria relatada anteriormente M rio Gon alves Silva tentou se defender com o recurso que dispunha no momento seu bra o esquerdo Os dois ferimentos de entrada de proj til de arma de fogo observados no bra o e no antebra o esquerdo de M rio infere se que s o compat veis com ferimentos de defesa Ferimentos de defesa resultam da rea o imediata e instintiva da v tima em proteger reas vitais do corpo diante de uma amea a ou perigo No caso em comento M rio estava em frente ao atirador como ser detalhado a seguir e tentava proteger seu rosto dos disparos A rea o de defesa pressup e v tima consciente e capaz de reconhecer o momento do ataque De maneira 52 Revista de Medicina da USP Considera es sobre o Traumatismos Cr nio Encef licos edi o de Dezembro de 1945 p 493 94 instintiva a v tima ergue o s bra o s para se proteger ou repelir o ataque do agressor por isso em geral tais ferimentos s o encontrados na palma das m os face anterior dos bra os e antebra os Conforme apresentado no cap tulo 3 alguns estudos t m apontado como no caso de M rio maior incid ncia de ferimentos de defesa em membro superior esquerdo antebra o e bra o pela proximidade imediata ao agressor qu
83. a 24 sinalzam os locais de sa da respectivamente aos proj teis n 1 3 4 5 6 7 9 10 11 12 e 13 Os proj teis n 2 e 8 conforme laudo encontravam se alojados no corpo da v tima e foram recuperados raz o pela qual n o existem ferimentos de sa da que correspondam a estes proj teis Outro caso que exemplifica a exig ncia da leitura dos relat rios e compara o com os diagramas se verifica ainda no laudo n 1793 92 de Cosmo Alberto dos Santos Referido laudo exigia maior aten o A descri o dos ferimentos perfuro contusos s o feitas por suas caracter sticas portanto nem todos s o indicados pelos termos entrada ou sa da embora isso tenha sido observado tamb m em outros laudos O diferencial que a descri o dos ferimentos n o segue necessariamente o sentido cabe a aos p s e embora se utilize letras para design los a descri o n o mantem a ordem alfab tica Ocorre que dos 7 ferimentos perfuro contusos entrada por proj til de arma de fogo que a v tima efetivamente sofreu por uma op o dos legistas n o descrita no relat rio somente o ferimento b com entrada de proj til em regi o dorsal esquerda 7 O ferimento b descrito da seguinte forma no laudo b ferimento perfuro contuso de formato circular situado na regi o dorsal esquerda medindo seis mil metros de di metro com as caracter sticas dos ferimentos produzidos por entrada de bala c ferimento perfuro contuso de form
84. a de utilidade e solidariedade da presente pesquisa se relaciona com os encarcerados de maneira geral mas um desafio maior se apresenta aos pesquisadores que integram o ambiente acad mico e cient fico trazer visibilidade quilo que est encoberto ou que se tornou invis vel seja pela sua excessiva evid ncia ou pela recusa de ver o indesej vel Como lembra Bourdieu Uma boa parte do que o soci logo trabalha para descobrir n o est escondido muitas das realidades ou rela es que ele p e a descoberto n o s o invis veis ou o s o apenas no sentido de que elas cegam os olhos o trabalho necess rio para produzir luz do dia a verdade e para fazer que ela uma vez produzida seja reconhecida esbarra nos mecanismos de defesa que tendem a assegurar uma verdadeira denega o Bourdieu 2001 24 A par de tal desafio e sobretudo norteada por uma reflex o tica a presente pesquisa pretende contribuir para a literatura acad mica n o somente pelo seu objeto laudos necrosc picos relativamente in dito mas tamb m pelo m todo com que a pesquisa foi realizada observa o de 2 ordem Desejando tamb m suscitar discuss es sobre os dados e infer ncias aqui apresentados bem como a produ o de mais pesquisas sobre o tema 25 CAP TULO 2 A MORTE EM PRIVA O DE LIBERDADE Os detentos no Estado de direito t m suas vidas sob a cust dia do governo estadual que deve proteg las Paulo S rgi
85. a presen a de sinais defesa em membros superiores dos cad veres conforme relataram os laudos Ao lado disso as armas os tipos e a forma como foram perpetrados os ferimentos nos detentos durante a ostensiva policial foram ficando cada vez mais n tidos e assumindo caracter sticas das opera es t ticas policiais de incapacita o imediata denominada poder de parada stopping power cujo o objetivo produzir a morte do advers rio atingindo estrategicamente alvos espec ficos do corpo como a cabe a pesco o e o tronco com potencial de incapacita o vari vel compreendendo desde les o ao sistema nervoso central alvejando se o c rebro e medula espinal reg do pesco o ou pelo colapso circulat rio provocado por hemorragia maci a atingindo se cora o pulm es e grandes vasos art rias O quadro te rico das t cnicas de incapacita o imediata e as evid ncias de sua aplica o nos corpos examinados pelos legistas s o apresentadas no cap tulo 3 13 A constata o a partir dos laudos necrosc picos da aplica o de t cnicas de incapacita o imediata pelos policiais que objetivaram produzir o xito letal permitiu que fossem realizadas diversas infer ncias que s o apresentadas ao longo da pesquisa especialmente no cap tulo 5 como evid ncias de execu o Um tratamento quantitativo dos dados obtidos disposto em tabelas e gr ficos no cap tulo 5 onde se apresenta tamb m os cad veres que de acordo com os l
86. a receber uma abordagem mais policial e menos militar A ideia de opera es especiais cede lugar ao conceito de a es t ticas e em alguns estados brasileiros os grupos especiais de pol cia passaram de Comandos de Opera es Especiais para Grupos de A es T ticas Especiais como foi o caso de S o Paulo Minas Gerais Para ba e Rio Grande do Sul Cotta 2009 35 A pioneira na sistematiza o de procedimentos foi a Pol cia Militar do Estado de S o Paulo com a NI 3 EM PM 003 32 1977 seguida pela Diretriz PM 001 1 1987 RPP Diretriz de Opera es PM3 004 2 89 que fixou as normas para emprego da Cia PM constitu da por Grupos de A es T ticas Especiais Gate interagindo no Sistema Operacional PM especialmente no resgate de ref ns localizados visando a preserva o da ordem p blica Cotta 2009 72 Dentre as t ticas empregadas destaque se as opera es de choque que o policiamento militar ostensivo passou a designar como ocorr ncias de alta complexidade ou eventos de defesa social de alto risco caracterizando tais eventos como crises dada a imprevisibilidade compress o do tempo e amea a a vida Fahning et al 2012 No mbito dos eventos cr ticos Fahning elenca dois principais a obstru o de vias p blicas em dist rbios civis e rebeli o em pres dios Os eventos cr ticos s o compreendidos como aqueles que extrapolam o poder de resposta individual dos rg os que comp em o S
87. a reposi o vol mica e nem de sangue e o volume perdido restaurado fisiologicamente pelo organismo Classe II hemorragia que representa a perda de 15 a 30 da volemia Ser o ativados os mecanismos compensat rios e o indiv duo ir apresentar batimentos card acos entre 100 a 120 bpm e aumento da frequ ncia respirat ria de 20 a 30 mrpm Instala se grau moderado de ansiedade e na maioria dos casos a reposi o de cristaloides ringer e expansores necess ria Classe III hemorragia severa perda de 30 a 40 da volemia O indiv duo apresenta todos os sinais cl ssicos de perfus o inadequada taquicardia 120 a 140 bpm taquipn ia 30 a 40 mrpm confus o mental e altera o do n vel de consci ncia pulso filiforme e palp vel apenas em art rias centrais e queda importante da press o arterial sist lica A reposi o vol mica requer cristaloides e sangue e cont nuo controle da press o arterial Classe IV este grau de perda vol mica maior do que 40 apresenta risco de morte imediata Pode ser considerado como um evento pr terminal pois o colapso circulat rio maior do que os mecanismos de compensa o a menos que sejam tomadas medidas agressivas de reposi o vol mica e de sangue com localiza o e controle do foco de sangramento a morte ocorrer em poucos minutos Biondi 2013 67 3 4 FERIMENTOS DE DEFESA Ferimentos de defesa s o aqueles que resultam da rea o imediata e instintiva da v tima de salvar
88. a sobrevivente cujo exame m dico legal foi realizado 8 dias ap s o epis dio do Carandiru Mesmo tendo a v tima passado por atendimento pr vio no Hospital do Mandaqui o laudo relata Ferimento t pico de entrada de proj til de arma de fogo de um por dois cent metros de rea na regi o lombar de sua linha m dia onde se visualiza o proj til encrustado superficialmente Segue ainda o relato sobre ferimentos perfuro contusos em coxa esquerda e perna direita sem que haja men o dos respectivos orif cios de sa da dos proj teis ou remo o cir rgica Logo depreende se do relat rio do laudo 21 211 92 que os proj teis se mantiveram alojados no corpo da v tima sem que isso fosse considerado qualquer agravante sa de do detento em quest o N o existem informa es sobre a evolu o do quadro cl nico deste detento Daniel Soares laudo 21 221 92 tamb m foi baleado durante a invas o da pol cia no Pavilh o 9 e foi submetido uma cirurgia de grande porte denominada laparotomia para explora o de proj teis na cavidade abdominal no Hospital Mandaqui e ficou internado por somente 2 dias antes de voltar deten o O exame m dico legal foi realizado em 10 10 1992 ap s o 16 O laudo 21 211 92 de exame de corpo de delito de Lu s Carlos dos Santos Silva encontra se s fls 1031 dos autos do processo da CPI instaurado junto Assembleia legislativa de S o Paulo 36 atendimento m dico pr vio Os fer
89. abdominal 143 policiais desferiram lhe um ltimo golpe faca ou baioneta em regi o abdominal que provocou a hemorragia intra abdominal pois seu cora o naquele momento ainda batia N o poss vel dizer se foi utilizado a faca ou baioneta porque o laudo n o traz elementos suficientes para isso mas sabe se que o instrumento utilizado era afiado e com gume pois o laudo relata ferimento penetrante e transfixante com bordos regulares de 5 cm sem contudo descrever a forma do ferimento se mono ou bicaudado SECRETARIA DA SEGURAN A P BLICA FLS A gt DEPARTAMENTO ESTADUAL DE POL CIA CIENT FICA WRG 62 2763 IN gi gnata ga dida ci a a id un p un p wn a Fig 45 Diagrama do laudo n 4445 92 Jovemar Paulo Alves Ribeiro 144 CAP TULO 5 INFER NCIAS DESCRITIVAS E DADOS QUANTITATIVOS A an lise dos dados representa uma etapa fundamental do processo de investiga o cient fica e de compreens o do fen meno estudado sobretudo no campo da pesquisa emp rica tamb m um momento de reflex o sobre o que eles significam e sua aplica o para responder pergunta da pesquisa Conforme mencionado no cap tulo 3 a observa o dos 111 laudos necrosc picos ofereceu a obten o de diferentes tipos de dados desde qualifica o e caracter sticas pessoais complei o f sica dos detentos mortos como quantidade localiza o e tipo de ferimentos perpetrados rg os atingidos indica o das respec
90. adas pelos policiais 70 O laudo n 4445 92 realizado no IML Central 71 Conforme ser apresentado no Cap Ferimento perfuro inciso um ferimento provocado por arma branca compat vel com facas lan as baionetas 72 Laudo Necrosc pico n 4445 92 elaborado pelos legistas Flavio Cavallante e Jo o Fel cio Miziara Filho 141 Fig 44 Foto n 28 s fls 72 do laudo da per cia criminal Tais artefatos foram apresentados per cia pela diretoria do pres dio somente em 07 10 1992 O artefato ao centro da foto trata se de uma faca improvisada feita com friso de degrau de escada Como poss vel observar s o instrumentos grosseiros improvisados sem gume ou fio Por outro lado ainda que se refutasse a evid ncia de que tais artefatos s o ineptos produzirem ferimentos com bordas definidas e regulares no corpo da v tima o laudo necrosc pico n 4445 relata que Jovemar foi v tima de dois tipos de armas de fogo e arma branca Indica tamb m que os ferimentos letais por arma de fogo e o ferimento de regi o abdominal flanco direito por arma branca foram perpetrados em momentos distintos mas consecutivos Neste sentido n o h como os ferimentos perfuro incisos terem sido perpetrados por outro preso previamente A explica o reside no fato de que os disparos de arma de fogo indicam v tima de costas em rela o ao atirador e de frente quanto ao ferimento perfuro inciso penetrante e transfixante de abdome a
91. ade de informa es que foram sistematizadas e examinadas junto a outros documentos como a den ncia apresentada pelo Minist rio P blico depoimentos de v timas sobreviventes o laudo da per cia da pol cia civil al m publica es que relatam sobre os fatos e not cias extra das de jornais e revistas A reuni o desses elementos e sua an lise permitiu uma melhor compreens o sobre a a o policial naquela tarde de 02 de outubro de 1992 ganhando contornos mais precisos e possibilitando inferir sobre os atos de execu o perpetrados pelos policiais Palavras Chave Carandiru Laudo Necrosc pico Execu o ABSTRACT The episode known as Carandiru Massacre resulted in at least 111 dead inmates Their bodies were underwent thru autopsies by the Forensic Institute in S o Paulo generating its reports Since they were drafted the forensic reports already recorded a range of data on victims and on the injuries that presented invaluable potential study The second order observation conducted on those 111 forensic reports generating a variety of information that has been systematized and examined comparing with other documents such as the complaint lodged by the prosecution testimony of surviving victims the civilian police s reports expertise plus publications reporting on the facts and extracted news from newspapers and magazines The meeting of these elements and their analysis allowed a better understanding of the police action tha
92. adotados em Incidentes Cr ticos que envolvessem ref ns 13 tentativa de autoexterm nio rebeli es em pres dios localiza o e desativa o de artefatos explosivos entre outros Ventura 1987 Vasconcelos 1990 Monteiro 1991 Cotta 2008 A influ ncia do FBI na literatura e procedimentos dos grupos t ticos das policias brasileiras patente nos manuais de treinamentos das academias militares e refer ncias que os doutrinadores fazem conceitos e t cnicas desenvolvidas por essa Ag ncia de Investiga o dos Estados Unidos como se depreende O conceito de crise adotado pela Academia Nacional do FBI Federal Bureau of Investigation dos Estados Unidos sendo ent o definido como Um evento ou situa o crucial que exige uma resposta especial da pol cia a fim de assegurar uma solu o aceit vel Doria e Fahning 2008 Novamente fazemos men o alguns dos primeiros estudiosos do gerenciamento de crises Monteiro 1994 e De Souza 1995 que tamb m explicitam em seus trabalhos o conceito de gerenciamento de crise utilizado pela Academia Nacional do FBI nos Estados Unidos o processo de identificar obter e aplicar recursos necess rios antecipa o preven o e resolu o de uma crise Doria e Fahning 2008 Ocorre que dentre as a es t ticas foi introduzido nas academias de pol cia brasileiras pelo FBI o Stopping Power ou poder de parada que se 38 Cursos de tiros d
93. ais viola es ocorrem Dados estat sticos revelam que poucos s o os casos de mortes sob cust dia que s o 49 encaminhados ao exame necrosc pico negligenciando dessa forma as causas da morte n o investigada De acordo com o estudo de Mirza et al 2012 a partir do registro de 145 425 necropsias realizadas entre 1993 e 2004 nos Estados Unidos apenas 202 casos foram identificados e examinados como mortes sob cust dia representando somente 0 14 do total Na ndia durante o per odo de 2000 2004 havia somente 70 casos identificados como mortes sob cust dia 14 casos por ano Em Karachi no Paquist o onde os autores desenvolveram o estudo durante o ano de 2006 de 1 864 aut psias realizadas em v rios centros em Karachi apenas 10 foram identificadas como mortes sob cust dia Mirza et al 2012 Ressalte se que os dados do estudo realizado por Mirza et al s o retrospectivos por isso dependem das informa es dos relat rios dos laudos necrosc picos Nesse aspecto evidencia se a import ncia do exame e seu registro no laudo necrosc pico na obten o de dados Contudo depreende se que a verifica o das causas e circunst ncias das mortes n o t m sido concomitantes sua ocorr ncia mas geral em momento posterior Mirza et al 2012 informam que no Paquist o algumas organiza es n o governamentais tais como a Comiss o de Direitos Humanos tem estudado os casos de mortes atrav s das informa es dos la
94. al de incapacita o imediata de um alvo humano n o uma ideia recente Em 1914 Louis A Lagarde professor e m dico cirurgi o do ex rcito americano em seu livro Ferimentos Por Arma De Fogo Como Eles S o Infligidos Suas Complica es e Tratamento relata o poder de parada de armas de fogo de vital import ncia em certas ocasi es Porque o poder de parada de nosso revolver Colt s calibre 38 tem falhado em numerosas ocasi es nas Filipinas e em outros lugares o Departamento de Guerra instituiu um Conselho em 1904 composto pelo Coronel John T Thompson do Departamento de Artilharia e por um m dico o pr prio Lagarde para conduzir uma s rie de testes com proj teis de diferentes tamanhos peso e caracter sticas para determinar sobre o proj til que deveria ter o poder de parada e efeito de choque curtas dist ncias necess ria para uma pistola no servi o militar Lagarde 1914 Cumpre destacar que os estudos de Lagarde foram desenvolvidos para os prop sitos do Departamento de Guerra do Ex rcito Americano e por essa raz o os testes de stopping power ou poder de parada das armas de fogo n o ficaram adstritos ferimentos letais em reas vitais que produzissem incapacita o imediata como atualmente compreendido Lagarde estudou profundamente os efeitos dos proj teis em articula es e estruturas sseas e o tipo de ferimentos que poderiam produzir nas estruturas anat micas respons vei
95. alizadas em presos que morreram durante e dias depois em decorr ncia de ferimentos sofridos no epis dio de fuga em massa na prov ncia do Panam em outubro de 2007 32 da pris o e at mesmo no hospital depois do indiv duo ter sofrido alguma enfermidade ou trauma Lasso et al 2009 descreve o caso de um detento que participou de uma fuga em massa ocorrida em outubro de 2007 numa penitenci ria do Panam Durante os procedimentos de buscas dos fugitivos um dentre os detentos recapturados foi interrogado por policiais dentro do pr prio estabelecimento prisional Contudo ap s alguns dias esse detento come ou a sentir se mal e morreu subitamente no trajeto at o hospital A alega o da pol cia foi de que o detento durante a tentativa de fuga havia ca do de uma rvore No entanto durante o exame pericial foram encontradas evid ncias de les es traum ticas perpetradas por objeto contundente distribu das por todo o corpo da v tima Conforme descreve Lasso et al 2009 Ao retirar as algemas m ltiplas les es contundentes foram observadas no t rax anterior e abdome superior Iguais les es foram observadas na regi o dorsal Muitas destas corresponderam a les es com padr o consistente com objeto cil ndrico alongado barra da pol cia As les es mais graves estavam no cr nio A causa da morte foi hematoma subdural agudo secund rio a traumatismo craniano Lasso et al 2009 Fig 1 Hematoma
96. alves 4463 92 2 Regi o do cr nio 1 t rax 1 pelo menos Caetano 176 Carlos Ant nio 4464 92 Regi o do cr nio 1 t rax 2 Silvano dos Santos Osvaldo Moreira 4467 92 Regi o do cr nio l bio 1 regi o do t rax 3 Flores Paulo Roberto da 4469 72 Dos 6 projeteis que atingiram a v tima Luz somente 1 foi recuperado no cr nio os demais n o apresentaram sa da nem foram removidos pesco o 2 t rax 1 ombro E 1 coxa E 1 Josanias Ferreira 4471 92 Regi o do t rax 1 entrada mam ria direita de Lima e hipoc ndrio direito 1 abdome Antonio Quirino da 4475 92 Dos 5 projeteis que atingiram a v tima 1 saiu Silva reg Escapular E outro foi recuperado na cavidade tor cica Logo 3 permaneceram alojados 1 ossos face e 2 na cavidade tor cica Jos Domingues 4476 92 Regi o do cr nio o laudo menciona Duarte projeteis impactados ossos da face e base Carlos de C sar de 4477 92 Regi o do cr nio 1 pesco o 1 et rax 1 O Souza nico ferimento de sa da descrito do bra o E N o h men o de remo o dos demais Marcos S rgio Lino 4478 92 Regi o do cr nio 1 t rax 2 de Souza Lu s Enrique Martin 4479 92 Regi o abdominal projetil entrada Flanco D Paulo Rog rio Luiz 4480 92 Dos 3 proj teis que atingiram a v tima de Oliveira nenhum relato feito sobre ferimentos de sa da ou remo o de proj teis Cr nio 1 e t rax 2 Valdemir Pereira 4487 92 Pesco o 1 t rax 1 da Silva
97. ando como suporte den ncia do s respons vel eis e reunindo provas em face do s suspeito s de forma a colaborar com as atividades judiciais 51 O objetivo que o laudo necrosc pico seja eficaz na especificidade do tipo de viola o aos direitos humanos e lance luz sobre casos em que se deseja o acobertamento de provas e responsabilidades afastando a impunidade que continua a ser a principal causa da perpetua o de viola es dos direitos humanos 28 Casos de execu es sum rias com diversas v timas como no caso do Carandiru de acordo com o protocolo devem ser direcionados para legistas experientes e desvinculados do Estado como uma entidade potencialmente envolvida porque a imparcialidade um dos pressupostos fundamentais para o sucesso da investiga o Minessota Cap IV Dentre os objetivos do Protocolo de Minessota al m do esclarecimento da causa e circunst ncias da morte que representem viola es aos direitos humanos o laudo necrosc pico deve indicar sempre que poss vel o liame entre a o do suspeito e os ferimentos da v tima Ademais a descri o de que a morte resultado de ato homicida cumpre ao legista apresent la de forma expl cita e n o impl cita al m de registrar no laudo qualquer padr o compat vel com atos de execu o verificados no cad ver Por isso o Protocolo de Minessota recomenda que o legista da necropsia deve adotar procedimentos no sentido especificar
98. ando o tiro na regi o do sistema nervoso central que o policial provoque massivo sangramento provocando buracos no cora o ou nas principais art rias do tronco Ressalta contudo que mesmo ap s o cora o ter sido atingido h oxig nio suficiente dentro do c rebro por um per odo de 10 a 15 segundos para guiar uma a o volunt ria do agressor Perroni 1987 No mesmo sentido Ken Newgard fazendo uma an lise dos mecanismos de compensa o da fisiologia humana ressalta a capacidade de o organismo tolerar significativas perdas sangu neas Apresenta que pelos mecanismos de compensa o um indiv duo jovem pode suportar a repentina perda de at 25 do volume de sangue circulante em posi o supina sem perda da consci ncia e sem outros efeitos mais significativos ou seja somente progredindo para perdas de sangue acima desse percentual cerca de 1 litro quando os mecanismos de compensa o n o fossem mais suficientes para manter uma adequada oxigena o do c rebro e cora o o quadro poderia evoluir para condi o de choque irrevers vel e morte 37 Di Maio no mesmo sentido afirma que a perda de sangue repentina provoca interfer ncias com a atividade quando ultrapassa 20 a 25 do fornecimento total de sangue A vida amea ada com perdas a partir de 40 do volume total de sangue A taxa de sangramento a quantidade de perda de sangue a natureza da les o e o corpo de resposta fisiol gica determina o mome
99. antes de direitos humanos pol ticos presos sobreviventes Minist rio P blico e at mesmo pela pol cia Cada um destes interlocutores apresenta sua vers o partid rios e contr rios a o policial se polarizam defendendo a perspectiva pela qual observam os fatos Contudo n o dif cil notar em ambos os lados alguns excessos e tamb m omiss es nas narrativas sobre o que ocorreu naquela tarde de sexta feira 2 de outubro de 1992 dentro do Pavilh o 9 alcunhado pela maioria de Massacre do Carandiru Os relat rios dos 111 laudos necrosc picos das v timas do Carandiru neste sentido se apresentam n o como um relato considerado isento mas aquele que traz conte do cient fico a partir da observa o direta dos corpos das v timas realizada pelos legistas permitindo extrair dos relat rios n o somente dados mas estabelecer compara es e realizar infer ncias Cumpre ressaltar contudo que mesmo ap s todos esses anos e diante de tantas narrativas depreende se que o detalhamento de como exatamente tudo aconteceu possivelmente nunca ser conhecido pois muitas evid ncias foram destru das ou adulteradas na pr pria cena dos crimes outras se perderam com a manipula o dos cad veres da cena do crime antes da chegada da per cia ou no decorrer do inqu rito e instru o processual tais como o paradeiro de mais de uma centena de proj teis extra dos dos corpos das v timas durante os respectivos exames necrosc p
100. ao Jornal O Estado de S o Paulo edi o de 04 10 1992 Paulo S rgio Pinheiro na data da entrevista ent o professor de ci ncias pol ticas da Universidade de S o Paulo e membros da Comiss o Teot nio Vilela de Direitos Humanos 26 2 1 MORTES SOB CUST DIA DO ESTADO No Estado de Direito todos os cidad os de uma determinada comunidade assumem diante do Estado um status de sujei o Implicando portanto em um posicionamento estar destes para com aquele Por conseguinte dessa rela o sujeito Estado surge a necessidade de se estabelecer um espa o de liberdades status libertatis do sujeito ou seja uma esfera livre na qual negado o dom nio e interfer ncia do Estado denominada liberdades fundamentais Toda liberdade fundamental do sujeito em rela o ao Estado por sua vez protegida diretamente por no m nimo um direito declarado na Constitui o Federal conhecido como garantias fundamentais liberdades juridicamente protegidas Da depreende se que liberdades e direitos fundamentais n o se confundem porquanto as primeiras referem se ao status do sujeito estar em rela o ao Estado e os ltimos ao que o sujeito possui ter em rela o ao Estado direitos O direito vida conquanto n o seja um direito absoluto dada a exist ncia de situa es de sua restri o e tenha preval ncia em rela o aos demais pela aus ncia de hierarquia entre direitos fundamentais certo que a partir dele que os
101. apresentados os 111 laudos necrosc picos objeto do presente estudo Minha sincera gratid o aos professores que compuseram a banca examinadora notadamente ao professor Roberto A C Campos al m das professoras Maira Machado e Marta Machado j mencionadas que por seus conselhos trouxeram imensa contribui o n o s para esta pesquisa mas para minha vida profissional e acad mica Desejo ainda agradecer Carolina Cutrupi pela prontid o em enviar documentos que foram importantes ao desenvolvimento desta pesquisa e Cristiane Sam ria G da Silva que desde a primeira entrevista sempre torceu muito por mim apresentando constante disposi o em ajudar os alunos do mestrado em tudo que precis ssemos e dispensando sempre um atendimento atento e gentil Aos meus queridos Nelson Nathan e Annelize agrade o as ora es a ren ncia e a paci ncia Agrade o a Deus autor e consumador de minha f e de um amor que jamais ter fim RESUMO O epis dio conhecido como Massacre do Carandiru culminou em pelo menos 111 detentos mortos Seus corpos foram submetidos ao exame necrosc pico pelo Instituto M dico Legal em S o Paulo gerando os respectivos laudos Desde que foram elaborados os laudos necrosc picos j registravam uma gama de dados sobre as v timas e sobre os ferimentos que apresentavam com inestim vel potencial de estudo A observa o de segunda ordem realizada sobre os 111 laudos necrosc picos gerou uma diversid
102. ara o ch o e suas m os cruzadas atr s da nuca mas o atirador sabia do potencial lesivo que um disparo na regi o posterior da cabe a poderia produzir como de fato tal ferimento foi a causa do bito conforme conclui o laudo Circunst ncias de rendi o no momento em que foi morto tamb m s o sugestivas no laudo necrosc pico 4470 92 de Ant nio de Silva Souza 24 anos Dois proj teis atingiram seu corpo um penetrou seu cr nio regi o parietal a esquerda e o segundo transfixou seu bra o esquerdo tal como descrito Apresentando os seguintes ferimentos perfuro contusos o 1 de aproximadamente um cent metro com bordas de contus o e enxugo em regi o parietal esquerda o 2 transfixante de bra o esquerdo constatamos hemorragia e lacera o cerebral e proj til em massa encef lica Mas antes de ser morto em decorr ncia de traumatismo cr nio encef lico provocado pelo proj til que atingiu sua cabe a o laudo nos conta que Ant nio foi agredido Isso porque durante o exame interno os legistas constataram hematomas no retroperit nio e mediastinais em outras palavras observaram presen a de sangue na cavidade abdominal 90 Depreende se do relat rio do laudo que nenhum dos ferimentos por arma de fogo relaciona se com tal sangramento considerando que o proj til 1 estava alojado dentro da caixa craniana e o proj til 2 transfixou entrada e sa da o bra o esquerdo Logo poss vel infe
103. argas Linha de pesquisa Institui es do Estado Democr tico de Direito DATA DE APROVA O BANCA EXAMINADORA Profa Dra Ma ra Rocha Machado Profa Dra Marta R A Machado Prof Dr Riccardo Cappi Prof Dr Roberto A C Campos Ao pastor Silas da Silva Melo por sua resignada miss o de levar a liberdade de Cristo aos encarcerados do Carandiru em tempos em que ningu m se lembrava deles AGRADECIMENTOS Agradecer expressar publicamente o reconhecimento da import ncia de pessoas e ou institui es na vida de algu m ou ainda o que elas deliberadamente fizeram em seu favor Um agradecimento pode ser declarado em determinada ocasi o ou evento mas isso de certa forma torna ef mero o reconhecimento que fica adstrito quele momento Por isso o que desejo registrar aqui n o somente meus agradecimentos mas meu sentimento de profunda gratid o pois gratid o implica reconhecer em estado permanente que uma realiza o como da presente pesquisa s se tornou poss vel pelo investimento trabalho dedica o e paci ncia de v rios protagonistas que contribu ram de diferentes formas De in cio agrade o Escola de Direito da Funda o Get lio Vargas em S o Paulo por apresentar um Programa de Mestrado em Direito que se diferencia n o s pela qualidade mas de forma singular pelo empenho em oferecer condi es ao mestrando para o desenvolvimento da pesquisa Desde o estabelecimento de conv nio
104. ato estrelado situado na face externa do hemit rax direito medindo oito mil metros de di metro com as caracter sticas de sa da de bala b1 O item c como se v refere se descri o de sa da do mesmo ferimento Na sequ ncia o relat rio vai descrever como item d o ferimento do joelho mas que no diagrama identificado como F e F1 como se l d ferimentos perfuro contusos transfixantes do joelho esquerdo F e F1 150 sa da em regi o de face externa de hemit rax direito foi apresentado no diagrama com sua trajet ria vista pela frente e pelas costas Isso evidentemente n o implica na exist ncia de mais um ferimento mas t o somente que era necess ria a leitura do relat rio para entender a representa o gr fica dos ferimentos Caso a observa o ficasse restrita ao diagrama o c mputo de 8 ferimentos de entrada conforme fica sugestivo pelo diagrama estaria equivocado tratando se de somente 7 ferimentos SECRETARIA DA SEGURAN A P BLICA FLS cl DEPARTAMENTO ESTADUAL DE POL CIA CIENT FICA RG 64 2 92 INSTITUTO M DICO LEGAL Fig 57 Diagrama do laudo necrosc pico 1793 92 151 A esta altura o leitor talvez se pergunte o porqu de levantar e discutir hip teses que poderiam suscitar lapsos na an lise dos laudos necrosc picos A raz o simples Em momento posterior ao levantamento dos dados para a realiza o desta pesquisa a pesquisadora se deparou com o parecer reali
105. audo da pol cia civil sempre que necess rio foram colhidas amostras da cali a das cavidades e submetidas exame qu mico residuogr fico para chumbo e ou cobre O laudo necrosc pico 362 92 nos conta uma hist ria compat vel com as execu es mencionadas por Azevedo Marques Mario Gon alves da Silva paulista 32 anos estava em frente ao policial que o matou Foi atingido com cinco disparos de arma de fogo dois deles penetraram sua cabe a Entre anjos 51 Jo o Benedito Azevedo Marques em entrevista concedida Revista F rum no artigo A trag dia 20 anos depois edi o de novembro de 2012 Reportagem de Glauco Faria e Igor Carvalho Dispon vel em www revistaforum com br blog 2012 11 a tragedia 20 anos depois Azevedo Marques procurador da Justi a aposentado advogado e coautor do livro Hist ria de um Massacre casa de Deten o de S o Paulo com primeira edi o em 1993 93 e serpentes imagens contrastantes tatuavam o lado esquerdo de seu corpo curiosamente o mesmo lado em que o bra o antebra o e coxa foram atingidos O hematoma palpebral bilatera descrito no relat rio do laudo conhecido como sinal de guaxinim indica a for a do impacto do proj til que fraturou seu cr nio e transfixou seu c rebro Esse sinal tem valor diagn stico e ocorre ap s eventos traum ticos onde h fratura no cr nio e o sangue extravasado procura regi es de maior declive atingindo assim as zonas superficiais como a p lpebr
106. audos mantiveram projeteis de arma de fogo alojados nos corpos e potencial de recupera o de evid ncias Uma s ntese dos principais achados da pesquisa em rela o a a o policial e os detentos mortos apresentada como conclus o no cap tulo 6 14 CAP TULO 1 M TODO 1 O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA A presente pesquisa tem sua origem a partir das reuni es do N cleo de Estudos de Crime e Pena da Escola de Direito da Funda o Get lio Vargas em S o Paulo Em uma das reuni es do N cleo durante o primeiro semestre de 2013 havia certa expectativa com rela o ao desfecho da primeira etapa de julgamentos no m s de abril que levara ao Tribunal do J ri 26 policiais militares denunciados como r us pelo Massacre do Carandiru Em determinado momento das discuss es foi sugerido por um membro do N cleo que fossem apresentados pesquisadora deste estudo por sua atua o pr via na rea de sa de as c pias dos 111 laudos necrosc picos extra das dos autos do requerimento 6412 92 que deu origem Comiss o Parlamentar de Inqu rito CPI pela Assembleia Legislativa do Estado de S o Paulo Desde a observa o preliminar os laudos necrosc picos das v timas do Carandiru j apresentavam um grande potencial para a realiza o de uma pesquisa emp rica conforme proposto no programa de Mestrado Acad mico da Escola Uma simples pergunta feita pela orientadora deste estudo foi decisiva O que os laudos nos contam sobre o q
107. bdominais abdome e cintura p lvica Conforme apresentado na figura que segue Fig 63 Regi o toraco lombar Inclui posterior do t rax e lombar A rea Fig 64 Regi o anterior do t rax imi m amarelo compreendida para observa o dos delimitada pelo tra o en a areo ferimentos por arma de fogo Os ferimentos da regi o tor cica delimitada pelo tra o em amarelo e incluem a essa regi o O tra o em inclui a rea dos gl teos vermelho delimita a Regi o abdominal e cintura p lvica Note que inclui toda regi o do quadril A tabela a seguir demonstra a distribui o de ferimentos relatados nos laudos em regi o toraco lombar conforme a rea delimitada nas figuras 63 e 64 O total de ferimentos em cada regi o e os respectivos laudos tamb m s o apresentados As regi es muito pr ximas ou que representam a rea card aca est o destacadas com um asterisco Ferimentos Tor cicos e Lombares toraco lombar Dorsal esquerda Dorsal direita Escapular esquerda infra supra Escapular direita infra supra N Laudo respectivo Total 346 92 1793 92 1794 92 4442 92 4459 92 4464 92 2x 7 1547 92 1790 92 3x 4481 92 4491 92 6 349 92 2x 350 92 355 92 1530 92 4433 92 4440 92 4458 92 4472 92 4476 92 4485 92 11 4435 92 4436 92 4437 92 165 Mam ria esquerda Mam ria direita Peric rdio Peitoral direita Peitoral esquerda Precordial Cla
108. bdominal Transfixa o traum tica de f gado com presen a de hemoperitoneo de mais ou menos 4 mil mililitros totais O laudo revela portanto que a hemorragia intra abdominal de Jovemar cerca de 4 litros provocada por ferimentos com arma branca em regi o abdominal compat vel com presen a de atividade card aca e decorrente do ferimento perfuro inciso Infere se que ap s os disparos contra o pesco o e cabe a de Jovemar que conforme laudo o proj til transfixou a massa encef lica seu sistema nervoso central foi atingido e ele apresentou se imediatamente irreativo Conquanto ele estivesse ca do e n o apresentasse nenhuma rea o conseguinte aos disparos com inten o de conferir se ele j estaria morto 74 O abdome dividido em dois espa os cavidade peritoneal e espa o retroperitoneal Quando ocorre a penetra o do perit nio as armas brancas lesionam mais frequentemente o f gado 40 o intestino delgado 30 o diafragma 20 e o c lon 15 PHTLS 2011 A presen a de hemoperit neo significa que o legista observou presen a de sangue ou co gulos na cavidade peritoneal No corpo humano em geral circula uma quantidade de sangue de cerca de 5 litros num adulto de 70 Kg Quando o laudo revela que identificou a presen a de cerca de quatro litros de sangue na cavidade abdominal significa que quase a totalidade de sangue circulante da v tima foi perdido do espa o intravascular para a cavidade
109. bilidade do Instituto M dico Legal Como rg o t cnico e diretamente ligado Pol cia Civil de S o Paulo foi oficialmente criado pela Lei n 18 de 7 de abril de 1886 Nos anos da d cada de 50 passou de Servi o M dico Legal do Estado Instituto M dico Legal IML do Estado de S o Paulo O laudo necrosc pico composto pelo relat rio do exame de necropsia e pelo diagrama que a representa o gr fica dos achados entretanto documentos complementares podem integrar o laudo por exemplo fotografias do corpo exames de imagem radiografias e ainda exames laboratoriais A investiga o do cad ver realizada pelo legista e o relat rio 17 produzido disponibiliza um conjunto de dados tanto de natureza cognitiva como probat ria Skrum e Ramsay 2007 ensinam que o laudo necrosc pico deve ser capaz de responder cinco quest es elementares 1 A causa da morte Cabendo ao legista apresentar a s causa s mediata s e imediata s da morte 2 Os meios e circunst ncias da morte Nesta fase o legista diferencia se a morte decorreu por ato homicida suicida natural ou acidental e ainda quais meios e ou artefatos foram utilizados para o xito letal 3 O lugar A cena onde o corpo foi encontrado eventualmente pode n o ser o local onde ocorreu a morte Sinais e vest gios no cad ver podem indicar onde a morte ocorreu e se o corpo foi removido 4 Indiv duos a v tima nessa fase o laudo descreve caracter sticas de i
110. boticaba 2007 p 78 79 84 Vozes do Carandiru Op cit p 79 85 Na oportunidade da elabora o do parecer em 27 11 1992 o Dr Paulo Sergio Pinheiro atuava como Coordenador Cient fico do N cleo de Estudos e Viol ncia da Universidade de S o Paulo 133 com les es corporais que tamb m se submeteram exame pericial 9 deles haviam apresentado ferimentos por mordeduras de c es Entretanto silencia com rela o aos laudos necrosc picos casos fatais n o contabilizando nenhum cad ver que apresentasse tais ferimentos Considerando que os c es participaram da opera o de retomada de todos os pavimentos juntamente com os policiais conforme relata o Capit o Marinho quando nos deparamos com dados que apresentam somente presos sobreviventes com mordeduras de c es depreende se que longe da hip tese de que nenhum dos mortos tamb m tenha sofrido mordeduras o exame pericial nestes casos reconheceu a natureza do ferimento e mecanismo do trauma pela men o da v tima sobre o ataque Logo a conclus o t cita de que nenhum dos 111 mortos apresentou ferimentos por mordedura de c es indica inexatid o notadamente quando observado o laudo necrosc pico n 1531 92 de Reginaldo Ferreira Martins de 23 anos Reginaldo foi alvejado com 7 proj teis de arma de fogo sendo 2 em regi o da cabe a 1 em bra o direito e os demais 4 em perna direita O laudo indica portanto que n o houve nenhum ferimento de arma de fogo
111. bre 380 um leitor atento poderia perguntar se tratam se da mesma coisa A resposta seria sim no que se refere ao di metro do proj til cerca de 9 mm e a resposta seria n o no que se refere ao peso e comprimento do proj til Isso porque ambos possuem o mesmo di metro 9mm mas pesos e comprimentos diferentes O calibre 380 mais leve e mais curto a ilustra o abaixo elucida bem as diferen as Fig 15 Proj teis calibre 38 e 380 Fonte http gundata org blog post 38 special vs 380 acp O estudo de Berryman et al ocupa se dos di metros dos proj teis dentre eles calibre 38 logo poss vel aproxim lo ao estudo da morfologia dos ferimentos realizado por Matoso et al 2014 que estudou calibre 380 mesmo di metro de 9mm No estudo de Berryman o calibre 38 ou 9mm diferenciou se dos demais produzindo ferimentos de di metro maior no cr nio m nimo de 8 13mm por isso a conclus o j mencionada de que um ferimento de 6mm no laudo 362 92 n o poderia ser produzido por esses proj teis 104 No estudo de Matoso et al o calibre 40 diferenciou se dos demais estudados 380 e 9mm pela sua energia cin tica produzindo um ferimento mais circular A conclus o apresentada pelos autores de que proj teis de maior energia cin tica produzem ferimentos de forma mais circular Neste sentido o Fuzil de assalto M 16 com seu calibre 5 56mm operado a g s embora n o tenha integrado o estudo d
112. capacita o imediata 1 A cavidade cr nio ocular rea na por o anterior da cabe a na linha da sobrancelha rea entre os olhos do tamanho aproximado de um cart o de visita 2 Coluna cervical superior A partir da base do c rebro at regi o superior do pesco o rea da garganta De acordo com Perroni ambas as reas acima mencionadas quando alvejadas por um proj til ir o inativar o sistema nervoso central incapacitando o 78 agressor imediatamente Perroni ressalta que embora algumas escolas indiquem o alvo humano na faixa da cintura p lvica ele n o defensor dessa rea exatamente porque ferimentos nessa regi o n o incapacitam imediatamente Durante seus treinamentos argumentava que se uma galinha pode correr por alguns minutos mesmo sem sua cabe a do que seria capaz um homem com cerca de 90 quilos com um ou dois proj teis desferidos no t rax ou cintura p lvica decidido a lutar Adrenalina completa o autor uma droga poderosa e mesmo com proj teis desferidos diretamente no cora o a incapacita o poderia levar cerca de 15 segundos tempo em que o agressor poderia reagir e provocar outros danos Acrescenta que com exce o dos proj teis que atingem o c rebro ou da medula espinhal superior o conceito de uma confi vel e reprodut vel incapacita o imediata stopping power de um alvo humano por ferimentos de proj teis na regi o do tronco um mito Sugere que falh
113. com os achados dos estudos de Sheikh 2009 Chattopadhyay e Sukul 2012 e Mohite 2013 comentados no cap tulo 4 que encontraram nos cad veres submetidos ao exame de necropsia maior incid ncia de ferimentos de defesa em membro superior esquerdo possivelmente pela proximidade imediata ao agressor com a arma empunhada pela m o direita destro onde o bra o esquerdo utilizado como um primeiro meio de defesa Ferimentos perfuro contusos que evidenciaram proximidade do atirador conhecidos como a queima roupa foram notados pela descri o dos legistas quanto presen a de bordas enegrecidas bem como presen a de zona 182 de tatuagem e ou esfuma amento Tais ferimentos s o descritos respectivamente nos laudos n 4471 92 367 92 4455 92 364 92 4466 92 e 4462 92 Quanto aos ferimentos produzidos por arma branca embora sejam armas consideradas de baixa energia este estudo apresentou pelo menos 4 casos respectivamente aos laudos n 4472 92 4454 92 4450 92 e 352 92 onde se evidenciou que os golpes desferidos nos corpos dos detentos expressavam o emprego de t cnicas militares para obten o de xito letal pelo uso de arma branca esgorjamento cervical ataque ao cora o e ao f gado Evid ncias manifestas pelo tipo de ferimento perfuro cortante produzido bordas n tidas e regulares que demandam uso de instrumentos com l mina afiada e tamb m pela localiza o dos ferimentos rea card aca pesco o e do f gad
114. competency Forensic Science International Volume 168 Issues 2 3 24 May 2007 P 89 94 188 HOLLERMAN JJ Fackler ML Coldwell DM Ben Menachem Y Gunshot wounds Bullets ballistics and mechanisms of injury Americam Journal Roentgenology 155 685 690 1990 Dispon vel em http Anww ajronline org doi abs 10 221 4 ajr 155 4 2119095 HOUAISS Ant nio Villar Mauro de Salles Dicion rio Houaiss de L ngua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2001 HUMAN RIGHTS WATCH Prison Project Prison Massacres The following table lists the worst known incidents of prison violence of the last few decades dispon vel em http www hrw org legacy advocacy prisons killings htm JACCOUD M Mayer R A observa o direta e a pesquisa qualitativa In POUPART Jean et all A pesquisa qualitativa enfoques epistemol gicos e metodol gicos Petr polis Vozes 2008 pp 254 294 JHAMAD Akhilesh R Sikary A Kumar T Millo Analysis of Custodial Deaths in New Delhi A 13 Years Study Journal of Indian Academy of Forensic Medicine January March 2014 Vol 36 p 19 22 JORNAL FOLHA DE S O PAULO Governo De S o Paulo J Admite Rever o Saldo de Mortes na Chacina Edi o de 05 10 1992 Caderno 1 Massacre na Deten o Reportagem de Cl udio Julio Tognolli Edi o 05 10 1992 P 12 JORNAL O ESTADO DE S O PAULO Caderno Cidades Comiss o vai Justi a Acusar Respons veis Edi o de 04 10 1992 p 26 Massacre deixa 111 Pr
115. de uma autoridade mas antes refere se s obriga es impostas ao Estado de guardar em seguran a e proteger o indiv duo preso Neste sentido o termo Mortes sob Cust dia revela se um paradoxo onde mortes provocadas ou consentidas de indiv duos presos que est o sob a cust dia do Estado suscitam considerar duas possibilidades a O Estado de Direito embora pressuposto do regime democr tico desde sua declara o pela Constitui o Federal de 1988 permanece somente como um ide rio na medida em que n o tem efetivamente regulado o status sujeito Estado de todos os indiv duos da comunidade brasileira exig ncia inerente ao Estado de Direito Os representantes do Estado por sua vez n o foram preparados para compreender o que significa e nem como proceder no Estado de Direito e n o se sentem respons veis por sua aplica o Logo tais 5 Trata se de um protocolo da ONU sobre o uso da for a letal e ser discutido com mais detalhes no t pico a seguir 8 O Dr Akhilesh R Jhamad professor adjunto do Departamento de Medicina Forense e Toxicologia do AIIMS All India Institute Medical Sciences em Nova Delphi India 7 Novo Dicion rio Aur lio da L ngua Portuguesa 2 Edi o Editora Nova Fronteira Rio de Janeiro P 515 8 Novo Dicion rio Aur lio da L ngua Portuguesa op cit p 515 29 representantes ignoram os valores elementares do Estado de Direito e portanto inaptos a avaliar as implica es qu
116. depois apareceram policiais militares e mandaram que os seis presos se despissem e colocassem as m os na cabe a e que aleatoriamente com as armas encostadas nas costas foram escolhidos tr s presos para sa rem do xadrez que quando o depoente e seus dois companheiros faziam a curva do corredor ouviram 85 disparos de arma de fogo dentro do xadrez que habitavam que estando os seis presos da porta do xadrez com a porta entreaberta apareceu o choque que mandou que tr s colegas seus fossem despidos enquanto outros tr s ficassem de roupas que a escolha foi assim Voc s tr s e voc s tr s que em seguida os tr s presos sem roupa entre os quais o depoente sa ram e logo que sa ram da cela ouviram os disparos que p de ver quando entrou na cela 375 E que neste xadrez havia tr s presos cad veres com as m os cruzadas atr s da nuca e tr s com as m os cruzadas atr s das costa 47 Pela manh duas irm s da pastoral carcer ria Isabel Oliveira e Maria Em lia Gomes Ferreira sa ram do pres dio informando que a pol cia tinha acabado de descobrir treze corpos e que alguns estavam com as m os para tr s metralhados 8 A ideia de que nenhum preso iria se despir voluntariamente diante de policiais j indica posi o de dom nio destes em rela o aos presos Mas a situa o de vulnerabilidade e rendi o dos presos quando abordados pelos policiais refor ada pelo fato de mui
117. do 15 e da 46 Cia participam de treinamento com c es do Canil de Patos de Minas reportagem de Vanderlei Gontijo disponibilizada em 21 10 2014 Acess vel em http www patos1 com br noticias n Wu8r0gXQ 1 Ufsthash xADxNBYr dpuf PATRICK Urey W Handgun Wounding Factors and Effectiveness FBI Academy Firearms Training Unit Quantico Virg nia July 1989 PAYNE JAMES Jason Busuttil Anthony Smock William S Forensic Medicine Clinical and Pathological Aspects Cambridge University Press London 2003 PERRONI Tom Handgun Stopping Power Firearms Training FBI Academy Quantico Virginia July 14 1989 PIRES lvaro A Pesquisa Qualitativa Enfoques Epistemol gicos e Metodol gicos Petr polis Ed Vozes 2008 Amostragem e pesquisa qualitativa ensaio te rico e metodol gico PORRERO Juan A Garc a Hurl Juan M Anatomia Humana McGraw Hill Interamericana Madrid 2005 191 PRAJAPATI Pranav Sheikh M l Patel Shyam A study of homicidal deaths by mechanical injuries in Surat Gujarat Journal Indian Acad Forensic Medicine 32 2 2010 PRINC PIOS B SICOS SOBRE A UTILIZA O DA FOR A E DE ARMAS DE FOGO PELOS FUNCION RIOS RESPONS VEIS PELA APLICA O DA LEI Oitavo Congresso das Na es Unidas para a Preven o do Crime e o Tratamento dos Delinquentes 1992 Dispon vel em http Awww dhnet org br direitos codetica codetica diversos funclei html RAMOS Hosmany O Pavilh o 9 Paix o e
118. dominal de acordo com o que foi observado nos laudos necrosc picos n o foi a rea preferencial dos atiradores posto que conhecem o potencial anat mico e fisiol gico dos alvos do corpo humano Destaque se contudo uma incid ncia elevada de disparos perpetrados na regi o dos gl teos cintura p lvica num total de 18 ferimentos com rela o s demais reas do abdome que superam com boa margem at os ferimentos perpetrados em regi o do f gado hipoc ndrio direito com 4 ferimentos Esse fen meno apresenta uma explica o Conforme mencionado no cap tulo 4 a regi o da cintura p lvica embora uma rea pol mica dentre os 168 especialistas t ticos quanto ao potencial de incapacita o imediata uma das reas consideradas pelos treinamentos t ticos policiais para incapacita o do indiv duo pela fratura da pelve e ou les o aos vasos il acos Logo observa se que a incid ncia desses ferimentos na regi o dos gl teos objetiva atingir a cintura p lvica n o se tratando de disparos aleat rios e sim no sentido de obter incapacita o Fig 67 Ilustra a regi o da pelve bacia A Crista il aca 2 Acet bulo 3 s nfise p bica 4 Art ria il aca Distribui o dos ferimentos por arma de fogo descritos em laudo em regi o do abdome cintura p lvica REGI O DO ABDOME N Laudo Total ATINGIDA Hipoc ndrio direito 346 92 1532 92 1795 92 4471 92 4 Hipoc ndrio esquerdo 353 92 1537 92
119. dorso da m o esquerda de Marcos e saiu pela regi o palmar tamb m penetrou o cr nio e transfixou o c rebro perdendo dentro do compartimento craniano sua energia cin tica que n o foi suficiente para produzir ferimento de sa da do proj til permanecendo alojado na por o frontal esquerda do cr nio Corrobora tal evid ncia quando a m o esquerda que apresenta o ferimento em dorso mesmo lado em foi observado o ferimento de entrada do proj til occipital esquerda Cabe destacar que a hip tese do ferimento em dorso da m o esquerda se tratar de ferimento de defesa fica descartada neste caso pois ferimentos de defesa pressup e v tima consciente e em condi o de visualizar e de tentar repelir ou proteger se da agress o Quando a v tima se encontra de costas o momento do ataque inesperado e a v tima n o capaz de reagir imediatamente Ademais ferimentos de defesa em geral s o encontrados em regi o palmar dos dedos e antebra o conforme j discutido no cap tulo 3 Fig 5 Ilustra a posi o de rendi o com m os atr s da nuca A seta n o representa o ngulo assumido na trajet ria do proj til mas as estruturas penetradas dorso da m o esquerda e regi o occipital E O diagrama do respectivo laudo n 4486 apresenta o local do ferimento de entrada em regi o occipital esquerda E1 e local onde o proj til ficou alojado EP1 A representa o do ferimento em m o esquerda contudo apresentou um
120. dos ou eleitos que exer am poderes de natureza policial especialmente o poder de efetuar deten es ou pris es Nos pa ses em que os poderes policiais s o exercidos por autoridades militares uniformizadas ou n o ou por for as de seguran a do Estado a defini o de encarregados da aplica o da lei dever incluir os agentes desses servi os Dispon vel em http www camara gov br sileg integras 931761 pdf 23 Conforme Art 9 Dos Princ pios B sicos Sobre O Uso da For a e Armas de Fogo pelos Funcion rios Respons veis pela Aplica o da Lei 42 for a o Estado definido como uma entidade soberana composta de uma popula o um territ rio e uma estrutura governamental naturalmente portador de direitos e obriga es perante o Direito Internacional por conseguinte respons vel pelos atos de seus funcion rios quando est o exercendo suas fun es oficiais ou na qualidade de agentes de fato CICV 2009 Em qualquer caso o uso letal intencional de armas de fogo s poder ser feito quando estritamente inevit vel prote o da vida e obedecendo crit rios da necessidade e proporcionalidade sob pena do uso da for a letal configurar crime nos termos do artigo 7 Os governos dever o assegurar que o uso arbitr rio ou abusivo da for a e de armas de fogo por respons veis pela aplica o da lei seja punido como delito criminal de acordo com a legisla o em vigor A ideia do Estado de
121. e embora a cabe a e pesco o constituam apenas 6 5 da superf cie do corpo os ferimentos por arma de fogo nesta regi o foram respons veis por 37 2 dos ferimentos fatais O t rax com 13 da superf cie do corpo foi a regi o do corpo atingida em 36 4 dos casos de bitos e o abdome com 10 6 da superf cie do corpo representaram 9 2 dos ferimentos letais Di Maio acrescenta que em sua experi ncia em casos de homic dios de civis 40 dos ferimentos fatais envolvem o c rebro cerca de 25 envolvem o cora o 25 envolvem a aorta ou outros vasos sangu neos principais e 10 relacionam se com v sceras e rg os s lidos por exemplo pulm es f gado e rim Di Maio 1999 Neste sentido verifica se que h consenso dentre os autores Perroni Newgard e Di Maio quanto ao sistema nervoso central cabe a ser o alvo preferencial para se produzir incapacita o imediata mas reconhecem tamb m tratar se de uma rea reduzida onde o alvo torna se mais dif cil e que neste caso a regi o do tronco se apresenta como alternativa no sentido de que podem ser desferidos diversos proj teis provocando a incapacita o por colapso circulat rio 82 CAP TULO 4 O MASSACRE DO CARANDIRU AS HIST RIAS QUE OS LAUDOS CONTAM Durante vinte e dois anos a hist ria do mais grave epis dio de viol ncia policial em ambiente carcer rio nacional tem sido recontada pelos mais diversos interlocutores desde imprensa especialistas milit
122. e fogo port teis de pequeno porte rev lveres espingardas escopetas submetralhadoras e metralhadoras Dentre os 120 policiais militares denunciados pelos crimes cometidos durante a invas o do Pavilh o 9 a den ncia apresenta em suas fls 1 24 a descri o individualizada das armas de fogo portadas pelos respectivos policiais alguns portavam mais de uma arma No geral os rev lveres predominaram sendo 60 rev lveres da marca Taurus calibre 38 os rev lveres calibre 38 da marca Rossi totalizaram 40 armas Logo pelo menos 100 rev lveres calibre 38 adentraram o Pavilh o 9 naquela tarde Ainda na categoria rev lver conforme a den ncia 9 rev lveres 357 da marca Taurus tamb m eram portadas pelos policiais Rev lveres s o armas que apresentam um cilindro girat rio que cont m v rias c maras e cada uma cont m um cartucho O cilindro rodado mecanicamente para alinhar cada c mara sucessivamente com o pino de disparo e tambor A ponta de chumbo do proj til produz o seu ferimento quase exclusivamente pelo mecanismo de esmagamento e ruptura de tecido A m xima cavidade tempor ria de di metro 20 maior do que a feita pelo calibre 22 apesar de que a sua velocidade ser 40 menor Flaker 1987 O rev lver 357 marca Taurus utiliza um proj til de ponta macia ou ponta oca hollow point de maneira que se achata no momento do impacto Esta expans o adquirida pelo achatamento do proj til em forma de cogumelo
123. e isso tem trazido para v rios segmentos da sociedade notadamente para o sistema penal carcer rio b O sistema penal carcer rio diante do c mputo de mortos tem apresentado de maneira prof cua o potencial de transformar penas de restri o de liberdade em penas capitais portanto esse sistema n o ser considerado um fracasso se a perspectiva for eliminar ou reduzir de forma ativa ou passiva o excedente de determinados grupos da popula o notadamente negros e pobres e por essa raz o esse sistema subsiste no Brasil h d cadas sob a mesma proposta Sempre que um indiv duo morre em circunst ncias de cust dia do Estado seja qual for a causa da morte h presun o de responsabilidade do Estado Entretanto um n vel elevado de responsabilidade decorre dos casos de morte em raz o da a o violenta de agentes do pr prio Estado que tem a obriga o n o apenas para coibir e reprimir crimes por seus agentes ou outras autoridades mas tamb m de prevenir mortes e responder eficazmente s causas dessas mortes Alston 2010 As causas de mortes de indiv duos sob cust dia do Estado podem ter origens distintas abrangendo desde a morte n o violenta como por exemplo mortes naturais pelo cont gio aquisi o ou evolu o de doen as como os suic dios e mortes por eventos acidentais no ambiente prisional como as mortes Philip Alston Relator Especial sobre Execu es Extrajudiciais Sum rias ou arbitr
124. e morfologia diferencia se tamb m do calibre 38 ou 9mm por dispensar uma energia cin tica muito superior inferindo se que igualmente ao calibre 40 por sua alta energia cin tica pode produzir um ferimento de caracter stica mais circular conforme observado no cr nio de M rio ORMANCE AMMUNITION t 9x17mm 91 GR COPPER FMJ 50 CARTRIDGES G NX Fig 16 A figura ilustra a diferen a de peso entre os calibres 38 e 380 expressos na embalagem pelo fabricante Fonte http gundata org blog post 38 special vs 380 acp O curioso que tanto a den ncia como o relat rio do Ac rd o 01498319 da apela o criminal n 105 368 0 4 00 s fls 9 apelante Ubiratan Guimar es j ventilavam essa hip tese do disparo no cr nio de M rio ter sido perpetrada pelo fuzil M 16 valendo se de outras evid ncias mas conduzindo s mesmas conclus es tal qual se l ki A autoria dos referidos bitos atribui se ao Capit o Ronaldo Ribeiro dos Santos e componentes de sua equipe individuada anteriormente De efeito atuaram em tal pavimento disparando as armas que portavam com unidade de des gnios todos dispararam Diga se ainda que al m 105 das condutas restarem ligadas ao fato material pelo nexo de causalidade certo que cada um concorrente teve ci ncia de contribuir para a realiza o da obra comum Nesse mesmo contexto criminoso incluem se os Tenentes Eduardo Esp sito e Maur cio Marche
125. e traz a arma empunhada pela m o direita destro e utilizados como um primeiro meio de defesa Fig 10 Ilustra a eleva o do bra o esquerdo como rea o imediata agress o Fonte http www fotosearch com br CSP992 K13092789 Com efeito o relat rio do laudo revela Identificamos ferimentos de seis mil metros de di metro circulares bordos invertidos com orlas de contus o e enxugo nas seguintes reas 1 Frontal direita 2 Mentoniana esquerda 3 Bra o esquerdo 4 Antebra o esquerdo 5 Coxa esquerda Todos os cinco ferimentos acima descritos de acordo com a conclus o dos legistas assumiram trajet ria de frente para tr s O ferimento 1 frontal direita seguiu de frente para tr s em sentido horizontal saindo em regi o occipital esquerda regi o frontal cabe a o ferimento 2 em regi o do mento queixo esquerda igualmente seguiu de frente para tr s transfixando na horizontal estrutura ssea do mento e saindo em regi o cervical esquerda atr s do pesco o O ferimento 3 do bra o esquerdo tamb m apresentou trajet ria do proj til em linha reta de frente para tr s saindo pela regi o posterior do bra o 95 esquerdo O ferimento 4 do antebra o esquerdo seguiu de frente para tr s de cima para baixo saindo em dorso da m o esquerda e o ferimento 5 em coxa esquerda tamb m seguiu trajet ria de frente para tr s de baixo para cima sendo encontrado o proj til em regi o pr
126. ecrosc pico com a indica o dos tipos e locais dos diferentes tipos de ferimentos infligidos v tima Desde escoria es hematomas fratura e tamb m os ferimentos perfuro contusos de entrada e sa da de proj til conforme segue CRETARIA DA SEGURAN A rUDLILA s i DEPARTAMENTO ESTADUAL DE POL CIA CIENT FICA m N0b56 INSTITUTO M DICO LEGAL R 6412 92 Fig 56 Diagrama do laudo necrosc pico 355 92 de Elias O Costa 76 Os legistas respons veis pelo laudo necrosc pico 355 92 foram Dr Luciano Jos Bas lio da Silva e Dr Rubens Eidman 149 Uma observa o imediata e menos acurada do diagrama sem a leitura do respectivo relat rio poderia levar um observador a concluir que a v tima foi atingida por mais de 20 proj teis de arma de fogo Contudo esse seria um erro grosseiro a respeito dos dados apresentados pelos laudos Como mencionado cada legista desenvolveu seu estilo para indicar os ferimentos nos diagramas e cada sinal designado at mesmo a ordem da numera o da cabe a aos p s t m um sentido e relev ncia para o exame necrosc pico e para a indica o da s causa s da morte N o h d vidas que os n meros 1 a 24 referem se ferimentos perfuro contusos No entanto ferimentos de sa da tamb m s o considerados perfuro contusos Logo o n mero de proj teis que efetivamente atingiram Elias O Costa s o somente os indicados nos n meros de 1 a 13 Os ferimentos que correspondem aos n meros 14
127. efensivos em treinamentos da Pol cia Militar de S o Paulo fazem men o expressa do Stopping Power como se depreende do manual de tiro defensivo na preserva o da vida m todo Giraldi t pico n 33 intitulado poder de parada arma de porte para policiais que assim ensina todos os proj teis matam mas nem todos t m poder de parada Ter poder de parada quando ao atingir o corpo humano imobilizar de imediato o agressor e sua a o de morte contra a sua v tima mas se n o atingir ponto mortal n o o matar Todo proj til em movimento carrega consigo determinada energia tamb m chamada de pot ncia Quando atinge o corpo humano al m do ferimento que causa furo e que poder provocar a morte tamb m transfere para esse corpo parte ou o total da sua energia De modo simples pode se dizer que a energia de um proj til o resultado da multiplica o do seu peso pela sua velocidade logo ap s a sa da do cano N o basta um proj til possuir energia suficiente para ter poder de parada necess rio que ele transfira toda essa energia o mais rapidamente poss vel para o corpo atingido Se ele transfixar o corpo ainda levar consigo parte dessa energia a que ficar no corpo n o ser suficiente para provocar o poder de parada imobilizar o agressor Para transferir toda a sua energia para o corpo humano imediatamente o proj til precisa ter velocidade e peso compat veis e formato
128. egies Emerging Trends Langford Lane Oxford Elsevier Inc 2010 THOMSEN JL The role of the pathologist in human rights abuses J Clin Pathol 2000 53 569 572 PubMed Dispon vel em http www ncbi nim nih gov pubmed 1 1002757 VIJ K Garg A Sandhu SS Langeh S Bakshi Medicolegal implications of defence wounds J Punjab Acad Forensic Med Toxicol 2012 12 1 54 6 WALKER Samuel Katz Charles The police in America An introduction New York McGraw Hill Humanities Social Sciences amp World Languages 2004 ISBN 0 07 294478 1 WIARD Seth Source Application of Ballistics in Legal Cases The American Journal of Police Science Vol 2 No 2 Mar Apr 1931 pp 174 178 Published by Northwestern UniversityStable URL http Avww jstor org stable 1147242Accessed 01 04 2015 17 01 UTC YAMIN Al cia Ely Health Ethnic Cleansing and Other Lies Combining Health and Human Rights in the Search forTruth and justice in the Former Yugoslavia Revista Health and Human Rights Vol 2 2011 193
129. elicti o motivo pelo qual a elimina o ou oculta o de corpos pr tica comum dos executores No caso da Argentina milhares de pessoas foram consideradas desaparecidas quando de fato haviam sido executadas e seus corpos queimados lan ados ao mar ou enterrados em valas comuns com uma nica ins gnia NN ou Ningun Nombre Payne James et al 2003 E porque os crimes consubstanciam se no corpo dos executados o laudo do exame necrosc pico a exuma o destes fatos substanciais Esse documento se torna essencial no trabalho internacional de prote o aos direitos humanos Nos direitos humanos contempor neos h dois usos relacionados ao exame do corpus delicti no interesse da acusa o da justi a e no interesse da mem ria e da repara o O primeiro uso depende do fato de que o corpo realmente o corpo de um crime e n o apenas um corpo morto e se as causas e as circunst ncias da morte s o estabelecidas em detalhes suficientes para apontar para um criminoso o segundo depende de identifica o quando o cad ver trazido do anonimato e da incerteza dos fatos possibilitando os familiares reconduzirem suas vidas e ou requererem indeniza o Laqueur 1999 Um exemplo da contribui o para elucida o dos fatos e da identifica o da v tima pelo corpus delicti descrita por Thomas Laqueur no caso a seguir um policial do esquadr o de choque durante a poca do apartheid na frica do Sul confesso
130. ento no relat rio do laudo que o distinguia de outros tipos de ferimentos e assim era poss vel comput lo como um ferimento produzido por faca por exemplo Em contrapartida les es como escoria es hematomas e fraturas eram designados n o por suas caracter sticas mas por sua nomina o exemplo Observamos escoria es em regi o dorsal direita ou ainda hematoma em regi o orbital esquerda Contudo ferimentos de entrada por arma de fogo ainda que incidindo na mesma v tima em determinadas situa es poderiam ganhar um significado diferente dos demais tal qual os ferimentos perfuro contusos que foram observados em regi o palmar da m o esquerda das v timas que evidenciavam ferimentos de defesa Esse processo exigia dois momentos de tratamento qualitativo primeiro no reconhecimento pela descri o do legista de tratar se de ferimento de entrada de arma de fogo e segundo de qualific lo como um ferimento que apresentava caracter sticas compat veis com ferimentos de defesa S ap s essas etapas era poss vel comput lo como um ferimento de entrada de arma de fogo quantitativo mas tamb m inferi lo como ferimento de defesa qualitativo e ao mesmo tempo quantitativo pois o crit rio de se tratar de ferimento de defesa tamb m foi computado Les es aos rg os internos das v timas cuja tabela apresentada no cap tulo 5 submeteram se processo semelhante mas em alguns casos exigia a dedu
131. er de estar sempre sob total controle a come ar do pr prio agente policial quando exposto a situa es de grande press o que requerem o autocontrole z que pode ser demonstrado sob a equa o C I E onde C controle o resultado do Intelecto prevalecendo sobre as Emo es E Quando se introduz o elemento P problema o efeito a invers o da equa o onde I E P E Emo es ent o passam a controlar o intelecto 1 19 De acordo com o artigo 3 dos Princ pios para uso da for a por entidades policiais das Na es Unidas o aperfei oamento e a distribui o de armas incapacitantes n o letais devem ser avaliados com cuidado visando minimizar o perigo para as pessoas n o envolvidas devendo o uso de tais armas ser cuidadosamente controlado 20 Kevin Parsons nos anos 80 desenvolveu um roteiro denominado confronta o cont nua servindo como um guia para agentes policiais quando espec ficas aplica es de for a s o apropriadas Embora Parsons reconhe a que determinadas situa es podem alterar a sequ ncia das etapas pontua a exist ncia de pelo menos 12 delas 12 A presen a do oficial de pol cia o primeiro passo na confronta o De acordo com Parsons a simples presen a do policial j demanda uma comunica o n o verbal e certo controle psicol gico do infrator 2 A comunica o do policial com o infrator atrav s de questionamentos e persuas o ir aumentar o controle policial da situa o
132. er uma corros o severa destes objetos que diferente da mera oxida o Com efeito ainda que os proj teis recuperados a partir dos cad veres das v timas do Carandiru tenham se extraviado depreende se dos laudos necrosc picos os casos em que proj teis se mantiveram alojados nos corpos Em qualquer tempo que se entender pela necessidade de exuma o de restos mortais das v timas do Carandiru e ou recupera o de evid ncias infere se que fragmentos e ou proj teis de arma de fogo de acordo com os laudos poder o ser investigados nos seguintes casos Nome N Laudo N de proj til eis rea do corpo que o proj til alojado s permaneceu alojado Ad o Luiz Ferreira 1788 92 1 Fragmentos de proj til em regi o mandibular de Aquino esquerda Jos Carlos da 4434 92 1 Regi o toraco lombar Silva Jos Carlos Inajosa 4435 92 1 Regi o do cr nio Rogerio Presaniuk 4447 92 2 Regi o do cr nio Jos C cero Angelo 4452 92 3 Regi o do cr nio dos Santos Gabriel Cardoso 4453 92 1 Regi o da coxa esquerda dos 4 proj teis Clemente que penetraram o corpo 3 foram recuperados sendo este o nico que o laudo silencia infere se que ficou alojado Nivaldo Barreto 4457 92 2 Regi o da face Pinto Roberto Alves 4459 92 2 Regi o toraco lombar Vieira Sandoval Batista 4460 92 1 Regi o do cr nio da Silva Mauro Batista Silva 4461 92 4 Regi o do cr nio 2 regi o do t rax 1 e coxa esquerda 1 Valter Gon
133. erno de forma que o ar n o pode ser conduzido de forma adequada aos pulm es ou ainda pela intensa hemorragia instabilidade hemodin mica provocada pela sec o ou destrui o de grandes vasos como as art rias car tidas ou veias jugulares de maneira que o enc falo n o ser suprido com oxig nio suficiente comandar os demais sistemas do corpo 3 3 ALVO EM REGI O DO TRONCO Como mencionado anteriormente o tronco compreende o t rax e o abdome com as respectivas cavidades tor cica e abdominal O t rax tem a forma de um cilindro oco estruturado por 12 pares de costelas e m sculos intercostais peitorais maiores e menores serr teis e grande dorsal que fornecem prote o aos rg os da cavidade tor cica tais como pulm es e cora o respons veis pela respira o e bombeamento do sangue Existem outras estruturas presentes na cavidade tor cica envolvidas no processo de respira o como o diafragma m sculo em forma de c pula aderido por o inferior do t rax a traqueia os br nquios que transportam o ar inspirado para o interior dos pulm es e na expira o para o ambiente e tamb m a pleura parietal uma membrana fina que recobre os pulm es Os pulm es ocupam as por es direita e esquerda da cavidade tor cica entre eles no centro do t rax h uma rea chamada mediastino onde localiza se v rias estruturas anat micas como o cora o os grandes vasos art ria aorta e veia cava a traqueia os
134. es Conforme den ncia 14 destas armas adentraram o Pavilh o 9 durante a a o policial A Beretta Modelo 12 uma submetralhadora Parabellum calibre 9 x 19 mil metros projetado por Beretta O seu tamanho relativamente curto cerca de 660 mil metros e a 58 velocidade inicial de fogo 380 metros por segundo Com maior precis o a 200 300 metros A arma tem uma op o de fogo seletivo permitindo uma escolha de nico tiro ou fogo totalmente autom tico Pesa em torno de 3 2 kg sem muni o com uma capacidade de 20 30 40 tiros por rodada Trata se de uma arma considerada de m dia energia j que sua velocidade inicial gira em torno de 300 m s Armas de alta energia s o as assumem velocidade superior a 600 m s como os fuzis PHTLS 2011 Fig 49 Submetralhadora Beretta calibre 9mm Fonte https www mar mil br cgcfn cmat armamentos leves smtrtaurus htm No interesse deste trabalho cumpre fazer men o dos fuzis de assalto tais como M 16 de calibre 5 56 mm Trata se de arma de alta energia de uso exclusivo militar A velocidade do proj til alcan a 948 m s conforme a den ncia oferecida pelo Minist rio P blico era portado por pelo menos 4 policiais durante a ostensiva no Carandiru Esse fuzil deriva do AR 15 apresentando um cano de alma raiada acima de 18 polegadas e foi muito utilizado durante a guerra do Vietn uma das principais armas das for as armadas dos Estados Unidos tamb m utilizada por militares no
135. es dados s o compat veis com as orienta es de especialistas Di Maio Newgard e Perroni apresentadas no cap tulo 4 que sustentam que na impossibilidade de alvejar a cabe a o tronco a rea opcional do atirador pelo potencial que ferimentos por arma de fogo tem de produzir o colapso circulat rio e respirat rio no alvejado Notou se que nessa regi o a rea card aca foi especialmente mirada pelos policiais onde foram desferidos 63 proj teis de arma de fogo considerando a por o anterior e laterais e ainda 20 que indicavam o objetivo de atingir a rea card aca perpetrados pela regi o das costas considerando as reas escapular omoplata e dorsal esquerda A incid ncia de cad veres com ferimentos em rg os vitais tais como o c rebro j mencionado 77 pulm es 87 cora o 41 f gado 20 e grandes vasos 41 por sua vez expressam o sucesso do lugar do tiro shot placement bem como o xito no objetivo de incapacita o dos detentos Quanto presen a de ferimentos de defesa em membros superiores dos detentos que evidenciam a preponder ncia do agressor em rela o v tima assim como tentativa da mesma de afastar ou se proteger da agress o iminente de acordo com os laudos necrosc picos 81 proj teis de arma de fogo atingiram os membros superiores das v timas sendo a incid ncia de ferimentos em bra o esquerdo 34 significativamente maior do que em no bra o direito 15 esses dados alinham se
136. esentado no cap tulo 2 1 Trata se de uma figura de linguagem meton mia que consiste em empregar um termo por outro no qual existe rela o de sentido ou afinidade substituindo o lugar pela pessoa ou a pessoa pelo o que ela faz Ex estou lendo Machado de Assis 12 Ainda no capitulo 2 apresentado de maneira sucinta o Protocolo de Minessota no sentido de divulg lo dentro da comunidade cient fica como diretriz das Na es Unidas sobre a realiza o de exames necrosc picos Os 111 laudos necrosc picos por sua vez desde que foram elaborados nos dias que se seguiram aos fatos j apresentavam evid ncias de como foram efetuadas as mortes naquela tarde de 02 de outubro de 1992 revelando uma gama de informa es com inestim vel potencial de estudo Com efeito o valor dos laudos necrosc picos enquanto registro das execu es perpetradas pelos policiais parece ter sido subestimado durante todos esses anos Muitas das hist rias sobre o que ocorreu dentro do Pavilh o 9 em 02 10 1992 contadas pelos mais diversos interlocutores ao longo de mais de vinte anos ganharam espa o em livros e na m dia mas quando comparadas aos relatos dos legistas nos laudos e respectivos diagramas essas hist rias ganham contexto Algumas delas s o apresentadas no cap tulo 4 Durante a observa o dos 111 laudos necrosc picos a situa o de rendi o e impot ncia qual se encontravam os detentos foi especialmente evidenciada pel
137. esos Mortos Edi o de 04 10 1992 JORNAL PARAN ONLINE Fam lias de Presos v o Justi a Mem ria de 10 anos do Massacre do Carandiru Publicada em 01 10 2002 dispon vel em http Avww parana online com br editoria cidades news 26322 KARGER B Penetrating gunshots to the head and lack of immediate incapacitation Wound ballistics and mechanisms of incapacitation International Journal Legal Medicine July 1995 1995 10853 61 Dispon vel em http www ncbi nlm nih gov pubmed 8547159 LANGLEY N R An Anthropological Analysis of Gunshot Wounds to the Chest Journal of Forensic Sciences 52 532 537 doi 10 1111 1556 4029 2007 00413 x 2007 dispon vel em http www ncbi nlm nih gov pubmed 17456078 LAQUEUR Thomas Laying their dead to rest Editorial extract from 1999 Darwin lecture delivered last month at the University of Cambridge dispon vel lt http www timeshighereducation co uk features laying their dead to rest 145326 article LASSO Edgardo Varela VL Pachar JV Muerte traum tica de personas privadas de libertad descripci n de un caso Atlas De Patolog a Forense Cuad Med Forense 15 58 outubro de 2009 dispon vel em http scielo isciii es pdf cmf n58 atlas paf 189 LAUDOS NECROSC PICOS DO INSTITUTO DE MEDICINA LEGAL DE S O PAULO Autos da Comiss o Parlamentar de Inqu rito Requerimento 6412 92 V timas do Carandiru Comiss o Parlamentar de Inqu rito CPI pela Assembleia Legislativa do
138. f Forensic Medicine Journal Pakistan Med Assoc 62 752 2012 MOELLER Hans Georg Luhmann Explainded From souls to systems Illinois Open Court 2006 MOHITE PM Mohite DP Dixit PG Anjankar AJ Keche AS Autopsy Evaluation of Defence Wounds in Homicidal Death in Central India Journal Forensic Research 4 205 doi 10 4172 2157 7145 1000205 2013 MOROSINI F bio pref cio in Epstein Lee Pesquisa emp rica em direito livro eletr nico as regras de infer ncia Lee Epstein Gary King S o Paulo Direito GV 2013 Cole o acad mica livre 7 Mb PDFT tulo original The rules of inference V rios tradutores NEGRINI Osvaldo Laudo Pericial da Pol cia Civil de S o Paulo Autos da Comiss o Parlamentar de Inqu rito Requerimento 6412 92 Carandiru Comiss o Parlamentar de Inqu rito CPI pela Assembleia Legislativa do Estado de S o Paulo novembro de 1992 No 1 Human Rights and Health Professionals NOONAN E Margaret Carson E Ann Prison and Jail Deaths in Custody BJS Statisticians U S Department of Justice Office of Justice Programs Bureau of Justice Statistics December 2011 NCJ 236219 O JORNAL DO BRASIL A a o da tropa de choque da pol cia militar paulista para controlar anteontem tarde a rebeli o de presos amotinados no Pavilh o 9 na Casa de Deten o durou cerca de meia hora mas resultou em um verdadeiro massacre 2 ed Domingo 04 10 1992 p 26 PATOS 1 NOT CIAS Policiais Militares
139. faca O corte deve ser iniciado na altura da articula o do maxilar com os ossos da face medial do pesco o prosseguindo at o maxilar oposto Deve se ter o cuidado de com o bra o esquerdo provocar a flex o do pesco o para a retaguarda e com a m o bloquear a boca e nariz do inimigo semelhante t cnica anterior De acordo com a t cnica portanto a m o direita do policial que dever efetuar o corte no pesco o do advers rio iniciando o deslizamento da l mina pela rea medial e prosseguindo para a lateral do pesco o Ao bra o esquerdo cumpre flexionar o pesco o do advers rio e manter o posicionamento de retaguarda A t cnica visa provocar maci a hemorragia sangramento no advers rio atrav s da sec o de grandes vasos como jugular e car tida de maneira que al m do extravasamento de sangue tamb m ir comprometer a circula o de sangue para o enc falo sistema nervoso central O laudo nos conta portanto como tudo aconteceu Com uma faca de uso militar empunhada em sua m o direita o policial aproxima se de Alex abordando o pelas costas com seu bra o esquerdo traciona sua cabe a para tr s enquanto a m o cobre lhe a boca e o nariz ato cont nuo com a m o direita desfere lhe um primeiro golpe diretamente no cora o Mantendo a posi o e desencravando a faca do peito de Alex segue agora com pegada direta da faca a altura de seu pesco o e desfere lhe um segundo golpe cortando o do centro
140. ferecendo uma alternativa os m todos tradicionais compara o proj til e arma suspeita a partir da observa o dos ferimentos nos cr nios da v timas d Os proj teis que se mantiveram alojados nos corpos das v timas e at mesmo os cr nios das v timas que foram alvejadas nesta regi o oferecem grande potencial de estudo e tamb m de produ o de novas evid ncias em recupera o s perdidas pelo extravio de projeteis e armas A presente pesquisa espera que mesmo diante das limita es que o presente estudo tenha contribu do a evidenciar os atos de execu o perpetrados pelos policiais militares durante a invas o do Pavilh o 9 e suscitado a import ncia do aperfei oamento e ainda de futuras investiga es a respeito dos laudos necrosc picos e de como foram perpetradas as mortes dos detentos em 02 10 1992 no epis dio denominado Massacre do Carandiru 184 REFER NCIAS LIVROS TESES DISSERTA ES E ARTIGOS ABRAH O J R R et Al Manual de Defesa com Facas C mara Brasileira do Livro S o Paulo 1962 ADKINS Robert L DiMaio Vincent Fackler Martin L Goddard Stan Lindsey Douglas Marshall Evan Peters Carroll Smith O Brien C Wound Ballistic Workshop 9mm vs 45 Auto September 1987 Dispon vel https Awww ncjrs gov App Publications Abstract aspx id 253695 ALEXY Robert Teoria dos Direitos Fundamentais Trad Virg lio Afonso da Silva 2 edi o Malheiros S o Paulo 2012 ALMEIDA
141. ferida com ele capaz de contundir Silva 2009 Instrumentos perfuro cortantes como o pr prio nome revela perfuram e cortam ao mesmo tempo agindo por mecanismos de press o e sec o Em geral s o instrumentos que apresentam uma ponta fina e tamb m um ou mais lados com l mina de corte tal como por exemplo uma espada Por fim os instrumentos corto contundentes n o possuem qualidades de penetra o ou perfura o mas sim de cortar e contundir dependendo mais uma vez do emprego de uma for a externa para produzir os ferimentos seu mecanismo de a o pela press o e deslizamento Exemplos cl ssicos desse tipo de instrumento s o o machado e a enxada Fran a 2008 Arma de fogo um dispositivo que impele um ou v rios proj teis atrav s de um cano pela press o de gases em expans o produzidos por uma carga propelente em combust o As armas de fogo dividem se em dois grupos m dia e alta energia As armas de m dia energia s o os rev lveres e alguns rifles cuja a velocidade do proj til de cerca de 300 m s Armas de alta energia s o as que impelem proj teis com velocidades superiores 600 m s como o fuzil PHTLS 2011 31 Manual de Armamento e Manuseio Seguro de Armas de Fogo Poder Judici rio Tribunal de Justi a do Estado do Amazonas Diretoria do F rum Ministro Henoch Reis Dep sito P blico 2012 56 Di Maio 1999 ensina que dentre as armas de fogo h cinco categorias gerais de armas d
142. ferirem ao epis dio n o como O atentado terrorista ocorrido mas por sua data O Onze de Setembro Coincid ncia ou n o essa data tamb m marcou a inaugura o da Casa de Deten o de S o Paulo Carandiru em 1956 pelo ent o Governador J nio Quadros um anexo constru do para ampliar a capacidade de reclus o do projeto original Contudo o mais intrigante foi o nome escolhido para as novas instala es Flam nio F vero Talvez a maioria das pessoas n o saiba mas ele foi um not vel m dico legista em S o Paulo disc pulo de Oscar Freire e desenvolveu prof cua atividade acad mica na rea de medicina legal N o se sabe porque esse nome foi atribu do Casa de Deten o talvez a hist ria ironicamente j preparava o cen rio do que seria anos mais tarde o palco do mais grave epis dio de viol ncia policial contra detentos em solo nacional que culminaria em pelo menos 111 corpos colocados sob a fria mesa dos exames necrosc picos do Instituto de Medicina Legal de S o Paulo O saldo de mortos e os m ltiplos ferimentos perpetrados nas v timas sugeriam que o uso da for a letal pela pol cia militar foi a primeira op o para debelar a rebeli o com o patente objetivo de produzir a morte de detentos que se encontravam sob a cust dia do Estado Um quadro conceitual que discute esses aspectos bem como uma concep o mais abrangente de mortes sob cust dia adotada por especialistas da Medicina Legal apr
143. fesa caso fosse real impedimento para os exames n o suscitaria motivo para o paradeiro destes objetos Ademais os proj teis recuperados dos corpos das v timas assim como as armas uma vez que sob a cust dia do Estado no DIPO Departamento de Inqu ritos Policiais sofreram a oxida o caso o 84 O sumi o dos mais de cem proj teis extra dos dos corpos dos cad veres do Carandiru foi divulgado em 28 01 2018 cerca de somente um m s antes do primeiro julgamento no Tribunal do J ri no F rum da Barra Funda em S o Paulo Os proj teis estavam no Dipo Departamento de Inqu ritos Policiais rg o para o qual s o remetidos todos os inqu ritos e com eles as provas dos distritos da capital o rg o fica no segundo andar do F rum Criminal da Barra Funda zona oeste de SP As armas utilizadas pelos policiais durante a invas o do Carandiru tamb m se encontravam sob cust dia do Estado entretanto tais armas estavam entre os lotes que foram furtados em 2012 dentro do F rum Criminal da Barra Funda O fato s veio ao conhecimento p blico em fevereiro de 2014 175 acondicionamento destes n o fosse adequado de qualquer forma apontando para a responsabilidade do Estado Contudo ainda que algum grau de oxida o se instalasse nos proj teis para apagar as ranhuras observ veis por microsc pio que marcam o proj til enquanto atravessa o cano da arma entre outras caracter sticas inerentes de cada proj til teria de ocorr
144. forense pdf SCHAFFER Kay Smith Sidonie Conjunctions Life Narratives in the Field of Human Rights Biography Volume 27 N 1 2004 pp 1 24 10 1353 bio 2004 0039 Dispon vel em https muse jhu edu login auth 0 amp type summary amp url journals biography v027 27 1schaffer html SCHWAR T G Loubser J D Olivier J A The forensic ABC in medical practice A practical guide Pretoria Haum 1988 1 2 192 SHEIKH Mohammed Iliyas Prajapati Pranav Kaushik Vijay Defense wounds in homicidal deaths Journal Indian Acad Forensic Medicine 31 1 2009 SHKRUM Michael J Ramsay David A Forensic Pathology of Trauma Common Problems for the Pathologist Humana Press Inc New Jersey 2007 SILVA L cia S B Vales Les es Por Armas Brancas Relev ncia M dico Legal Disserta o em Medicina Legal Instituto De Ci ncias Biom dicas Abel Salazar Universidade do Porto 2009 STAMPA Inez T S Netto Rodrigo de orgs Arquivos da repress o e da resist ncia comunica es do Semin rio Internacional Documentar a Ditadura Rio de Janeiro Arquivo Nacional Centro de Refer ncia Mem rias Reveladas 2013 323 p TENUTO Rolando A Bindo Guida Filho Considera es Sobre Traumatismos Cr nio Encef licos Revista de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de S o Paulo Dezembro 1945 THIBODEAU T Charles Hertig A Christopher Use of Force The Professional Protection Oficcer Practical Security Strat
145. ia imaginar que o laudo necrosc pico registra este momento Notamos ferimentos perfuro contusos de forma el ptica medindo sete mil metros em seu maior eixo com invers o de bordas posteriormente ao eixo cabe a p s na regi o gl tea esquerda e na regi o temporal direita caracterizados 4 como tiros de rasp o 81 Jornal Folha de S o Paulo Caderno 1 Massacre na Deten o Reportagem de Cl udio Julio Tognolli Edi o 05 10 1992 P 12 62 Not cia publicada pelo Jornal Paran Online Fam lias de Presos v o Justi a Publicada em 01 10 2002 referente mem ria de 10 anos do Massacre do Carandiru Dispon vel em http www parana online com br editoria cidades news 26322 122 Os ferimentos descritos pelo legista como tiros de rasp o com forma el ptica s o aqueles cujo o trajeto do proj til produziu um ferimento externo no corpo da v tima sem contudo penetr lo motivo pelo qual sua forma em geral el ptica e n o circular caracter stico da entrada do proj til Fig 28 Ferimento provocado por proj til de arma de fogo caracterizado como tiro de rasp o Como se observa embora exista a les o rea de contus o n o houve penetra o do proj til no tecido produzindo ferimento com formato el ptico Fonte http g1 globo com espirito santo noticia 2014 03 idosa e vitima de bala perdida no hospital das clinicas em vitoria html A presen a de ferimentos perfuro cont
146. iais foi de 69 36 Isso se considerada a les o isolada ao c rebro 174 Cada les o rg o vital indicado na tabela portanto quando associada a les es de outros rg os vitais evidentemente indica o objetivo dos policiais em maximizar o potencial para incapacita o imediata dos ferimentos perpetrados contra os detentos 5 4 CAD VERES COM PROJ TEIS ALOJADOS E POSSIBILIDADE DE RECUPERA O DE EVID NCIAS Conforme referido no cap tulo 1 o laudo da per cia criminal do Instituto de Criminal stica de S o Paulo relata sobre evid ncias que foram destru das na pr pria cena dos crimes e sinaliza a manipula o dos cad veres antes da chegada da per cia Assim o paradeiro de mais de uma centena de proj teis extra dos dos cad veres durante os respectivos exames necrosc picos n o pode ser admitido como um mero incidente da fase instrut ria do processo O extravio de evid ncias dentro do Pavilh o 9 em 02 10 1992 al m dos proj teis e das armas usadas pelos policiais tem como cerne obstar o liame da a o de policiais espec ficos com os detentos mortos resultado numa trajet ria que conduza autoria dos crimes Se provid ncias foram tomadas no sentido de desaparecer com proj teis e armas isso indica que a materialidade delitiva era vi vel produ o de provas atrav s do exame bal stico confronto microbal stico entre proj teis e armas A suposta oxida o de proj teis e armas como alegado pela de
147. icos ou ainda no momento 38 De acordo com o laudo de per cia criminal do Instituto de Criminal stica de S o Paulo realizado por Osvaldo Negrini Neto e conclu do em 03 11 1992 o local dava n tidas demonstra es de que fora violado e conquanto observadas dezenas de marcas de disparos de arma de fogo nas paredes das celas corredores e depend ncias como barbearia sagu o nenhum nico proj til ou estojo foi encontrado no local laudo fls 40 39 De acordo com os 111 laudos necrosc picos observados cerca de 120 proj teis teriam sido recuperados dos corpos dos cad veres e encaminhados ao Instituto de Criminal stica de S o Paulo Atualmente o destino destes proj teis n o conhecido 83 em que celas paredes e corredores do Pavilh o 9 foram submetidas cuidadosa limpeza antes do exame da per cia criminal Diante de imagens amplamente divulgadas pela imprensa nos dias que se seguiram aos fatos com dezenas de cad veres empilhados recobertos de sangue exibindo in meros ferimentos por arma de fogo tratar se de um massacre era uma constata o quase imediata para a maioria tanto da imprensa como da opini o p blica No entanto representantes do Estado como o Ex Governador Luiz Ant nio Fleury e seu Secret rio de Seguran a P blica Pedro Franco de Campos minimizavam o epis dio e manifestavam p blico apoio a o da pol cia A invas o foi adequada Na verdade o que havia l den
148. imediata execu o atingindo preferencialmente o sistema nervoso central Essas evidencias s o manifestas pelo elevado n mero de detentos feridos por arma de fogo em regi o da cabe a 77 e ainda pelo n mero de proj teis que penetraram o cr nio 116 sendo que 46 dos proj teis atingiram a por o anterior da cabe a Somando a esses dados observou se que dentre os 77 que foram atingidos na cabe a 27 foram alvejados precisamente na diminuta rea tamanho de um cart o de visita denominada de cr nio ocular rea considerada privilegiada para obten o da incapacita o imediata pela cavita o natural das regi es orbital e nasal reduzindo a resist ncia de estruturas sseas no trajeto do proj til e viabilizando acesso direto ao c rebro e base do cr nio A regi o do pesco o que abriga a medula espinal e integra o sistema nervoso central tamb m foi alvo dos policiais perfazendo 31 16 dos casos de feridos por arma de fogo Em 18 casos houve associa o de ferimentos em regi o da cabe a e regi o do pesco o potencializando o xito letal 181 Ainda em rela o ao objetivo de incapacita o dos detentos a regi o do tronco por ser rea de grandes vasos e rg os vitais como cora o pulm es e f gado conforme apresentado neste estudo observou se que nesta regi o foram desferidos pelo menos 183 proj teis de arma de fogo onde 86 27 dos detentos atingidos por arma de fogo foram alvejados 88 casos Ess
149. imentos e est preparado para absorver o impacto de algumas destas for as devido resist ncia da sua estrutura esquel tica e elasticidade de tecidos como pele e m sculos Contudo quando a intensidade da for a energia de impacto excede a capacidade de tecidos humanos resistirem ou se adaptarem ocorre a les o Disso depreende se que o trauma adv m da libera o e transfer ncia de uma energia ao corpo humano acima de sua capacidade de resist ncia Na presente pesquisa os corpos das 111 v timas encaminhadas ao exame necrosc pico apresentaram ferimentos traum ticos perpetrados essencialmente por instrumentos mec nicos consubstanciados em dois tipos de armas armas brancas e armas de fogo Instrumentos mec nicos s o divididos de acordo com as caracter sticas que imprimem s les es classificando se em instrumentos perfurantes cortantes contundentes perfuro cortantes e instrumentos corto contundentes arma branca e instrumentos perfuro contundentes esses compat veis com arma de fogo Fran a 2008 Arma branca todo o objeto ou instrumento dotado de uma l mina ou outra superf cie cortante perfurante ou corto contundente capaz de produzir les es corporais de gravidades distintas internas e ou externas Fran a 2008 Destaque se que tais instrumentos n o possuem potencial lesivo em si dependendo que uma for a externa seja aplicada ao instrumento ou sobre o corpo para produzir os ferimentos
150. imentos pelos proj teis de arma de fogo lhe renderam duas incis es cir rgicas de 10 cm na regi o abdominal e 5 cm na inguinal esquerda al m da debilidade que a perda de sangue o procedimento cir rgico e a alta precoce promoveram Contudo o relat rio do laudo indica um ferimento de entrada de arma de fogo em gl teo direito cujo o proj til se manteve alojado Como se v o potencial para uma m evolu o cl nica deste caso nos dias semanas e at meses que seguiram ao epis dio do Carandiru alta No entanto a evolu o deste caso tamb m desconhecida Quanto gravidade das les es os legistas que procederam a per cia dos sobreviventes de acordo com o parecer mencionado indicavam que 2 detentos apresentavam les es graves e outros 8 dependiam de exames complementares para uma indica o mais precisa N o h contudo informa es adicionais e nem mesmo o seguimento destes casos para conhecimento de como evolu ram O que aconteceu com os 2 detentos com ferimentos graves e se os exames complementares aos 8 detentos que deles dependiam realmente foram realizados n o poss vel afirmar O que se deseja destacar portanto que incidentes traum ticos com m ltiplas v timas notadamente quando envolvem indiv duos sob cust dia do Estado como foi o do Carandiru requerem uma abordagem mais cautelosa antes que se apresentem somente os resultados imediatos pois eventualmente outras v timas fatais surgir o
151. imentos perpetrados mas sua contribui o para as respectivas causas da morte al m dos dados de qualifica o das v timas Assim conforme iam sendo obtidos os dados quantitativos a partir da observa o dos laudos estes eram lan ados por nome e n mero de laudo individualmente em Tabela de Excel 1 3 SISTEMATIZA O DOS DADOS A observa o de segunda ordem sobre os 111 laudos necrosc picos gerou uma diversidade de informa es que necessitavam ser sistematizadas por isso os dados qualitativos e quantitativos foram lan ados em tabela pr pria criando uma base de dados para serem tratados e analisados Os dados que foram distribu dos pela qualifica o inclu ram nome idade filia o sexo ra a local de nascimento n do laudo complei o f sica do 21 cad ver vestimenta local e data do exame Foram tamb m lan ados dados relativos s causa s da morte reas do corpo atingidas cabe a pesco o t rax abdome e membros presen a de cicatrizes anteriores ferimentos de entrada e sa da de arma de fogo presen a de ferimentos produzidos por arma branca fraturas rg os internos lesados presen a de proj teis alojados no corpo proj teis recuperados outras les es hematomas escoria es sinais de arrasto destacamento epid rmico etc presen a de sinais de defesa sinais tanatol gicos e nome dos legistas respons veis pelos laudos Nem todos os dados produzidos e selecionados para constar
152. in situ dentro da cavidade com aferi o do peso e medidas se necess rio Este exame inclui tamb m a avalia o da trajet ria de proj teis extens o das les es por armas brancas e de fogo al m da identifica o dos ferimentos de entrada e sa da de proj teis Durante o exame interno amostras dos rg os internos s o coletadas para o exame anatomopatol gico Beers e Beers 2013 A realiza o de exames toxicol gicos eventualmente tamb m pode ser necess ria Ap s essas fases o relat rio apresenta as discuss es dos achados as conclus es e causa s da morte S o tamb m apresentadas as respostas aos quesitos elaborados no cabe alho do formul rio do laudo Em geral os exames necrosc picos s o realizados por dois legistas que assinam o relat rio final Dessa forma a realiza o do exame necrosc pico contribui para o esclarecimento dos fatos e determina a s causa s da morte atrav s de evid ncias cient ficas 1 2 ETAPA DA PRODU O DE DADOS Quando lvaro Pires ensina que h duas maneiras de produzir dados ou provas emp ricas o qualitativo e o quantitativo Pires 2008 est salientando que um pesquisador que se prop e a realizar uma pesquisa baseada em observa es do mundo tem diante de si desde o momento inicial uma escolha sobre a forma como ir tratar os dados interessante notar que Pires apresenta dados ou provas como intercambi veis o que trouxe sentido imediato presen
153. infec es tromboses t tano e necroses nos dias ou semanas que seguiram aos fatos n o podem ser descartadas apresentando se como causa secund ria de evolu o ao bito p s evento traum tico Em especial as v timas sobreviventes de ferimentos perfuro contusos provocados por proj teis de arma de fogo podem desenvolver complica es espec ficas Aqueles que foram submetidos remo o cir rgica dos proj teis no p s operat rio imediato ou tardio podem desenvolver embolias e ou infec es mas aqueles cujo o proj til n o chegou a ser removido podem desenvolver uma lenta mas fatal intoxica o por chumbo isso porque quantidades t xicas de chumbo podem ser absorvidas a partir de proj teis ou fragmentos de proj teis que permanecem no corpo Pesquisadores da Universidade de Medicina de Los Angeles Calif rnia em parceria com o Instituto de Sa de P blica em Cuernavaca no M xico estudaram a evolu o e preval ncia de concentra es de chumbo no sangue associadas com les es por arma de fogo a partir de um Centro de Trauma em Los Angeles Os autores acompanharam durante o primeiro ano ap s a les o a evolu o de 451 indiv duos v timas de ferimentos por arma de fogo onde os proj teis permaneceram retidos no corpo Eles determinaram os n veis de chumbo no sangue nos pontos m dios de tempo de 0 a 3 dias de 3 a 17 dias com 3 semanas e com 3 6 e 12 meses Observaram uma eleva o do n vel de chumbo n
154. ises stress distribution and wounds in both orbital roofs of the skull model after each shooting simulation A FMJ FP 40 S B FMJ RN 9x19 mm Luger C FMJ RN 380 doi 10 1371 journal pone0111192 9007 Fig 14 Da esquerda para direita os cr nios exibem diferentes formas de ferimentos Note se a caracter stica mais circular do calibre 40 Smith amp Wesson cr nio 1 e a forma triangular do calibre 9 mm x19 mm Luger cr nio 2 e calibre 380 cr nio 3 Fonte Matoso RI Freire AR Santos LS M Daruge Junior E Rossi AC et al 2014 Comparison of Gunshot Entrance Morphologies Caused by 40 Caliber Smith Wesson 380 Caliber and 9 mm Luger Bullets A pesquisa de Matoso et al permite tamb m algumas infer ncias a partir da observa o do laudo necrosc pico 362 92 M rio Gon alves da Silva Como apresentado no estudo os proj teis calibres 380 e 9 mm apresentaram ferimentos com morfologia semelhante ou seja mais triangular e irregular O 103 ferimento no cr nio de M rio Gon alves Silva descrito como circular e definido Ainda que se argumentasse que tais diferen as n o s o bem vis veis a olho nu importa ressaltar que esses dois calibres 380 e 9mm que se assemelham na morfologia do ferimento produzido por infer ncia j haviam sido afastados de terem atingido o cr nio de M rio a partir das conclus es do estudo de Berryman et al 1995 Considerando que Berryman et al 1995 analisou o calibre 38 e n o o cali
155. istema de Defesa Social e portanto necessitam de interven es integradas especiais com a utiliza o de equipamentos armamentos tecnologias e treinamentos especializados para o restabelecimento da paz social Cotta 2009 Contudo havia a necessidade de sistematizar os procedimentos embasando os em referenciais te ricos e conferindo lhes cientificidade Cunhou se aos conhecimentos obtidos de Gerenciamento de Crises e no Brasil obras sobre o assunto come aram a ser publicadas a partir da d cada de 90 D ria e Fahning 2008 As a es chamadas t ticas especiais receberam influ ncia direta da literatura norte americana em moldes ditados pelo FBI Ag ncia de Investiga o Federal dos Estados Unidos De fato a influ ncia democr tico liberal norte americana nas institui es pol ticas econ micas e sociais brasileiras abrangeu muito al m de treinos em a es t ticas policiais tal influ ncia foi motivada desde o p s segunda guerra por uma pol tica norte americana de aproxima o com os pa ses da Am rica Latina denominada teoria da moderniza o contudo uma forma de manter a Am rica do Sul sob sua tutela Como lembra Francis A Cotta Nos finais dos anos 80 e in cio da d cada de 90 sob influ ncia da literatura norte americana nomeadamente da Academia Nacional do FBI e do Departamento de Pol cia de Nova lorque surgem as primeiras produ es brasileiras sobre os procedimentos policiais a serem
156. ito em produzir ferimentos perfuro contusos entrada no pesco o dos detentos em 24 casos Esse n mero representa uma incid ncia de 31 16 dentre os que morreram em decorr ncia da a o de agente perfuro contundente proj teis de arma de fogo num total de 27 proj teis que atingiram a regi o cervical rea considerada de incapacita o imediata caso atinja a medula espinal Na sequ ncia a tabela apresenta as reas do pesco o alvejadas considerando que a regi o cervical possui outras dimens es al m da anterior e posterior bem como o total de ferimentos em regi o cervical de acordo com o que foi observado nos laudos necrosc picos rea do pesco o atingida N laudo necrosc pico Total de ferimentos perfuro correspondente contusos entrada na rea Regi o cervical anterior 1533 92 2x 1539 92 direita ou esquerda 4435 92 4444 92 4487 92 6 160 Regi o cervical lateral direita Regi o cervical lateral esquerda Regi o cervical posterior esquerda Regi o cervical posterior direita Regi o antero externa esquerda Cervical mediana Contorno cervical esquerdo base pesco o TOTAL 1537 92 1543 92 4432 92 4448 92 4468 92 4477 92 1538 92 1786 92 4456 92 4466 92 4467 92 4469 92 2x 1788 92 1792 92 4445 92 4446 92 4439 92 1788 92 1793 92 4476 92 27 proj teis Tab 4 Distribui o de ferimentos no pesco o por reas atingidas e respectivos n meros dos laudos que descrevem
157. j teis produziram igualmente ferimentos perfuro contusos entrada de 6mm conforme se l Identificamos ferimentos de seis mil metros de di metro circulares bordos invertidos com orlas de contus o e enxugo 97 pac fico que a determina o do calibre de um proj til torna se especialmente relevante em casos de homic dios onde o proj til foi extraviado e que a an lise dos di metros dos ferimentos perpetrados por proj teis de arma de fogo seja de entrada ou sa da estudo que compete bal stica terminal Como dizia Alc ntara Machado Assim pelo s exame da ferida n o se poder precisar o calibre da bala que a produziu Sabe se apenas que com as armas modernas o di metro do orif cio de penetra o em regra menor que o di metro do proj til Machado 1932 Contudo estudos como o desenvolvido por Berryman et al 1995 no Centro de Medicina Forense da Universidade do Tennessee em Memphis seguem no entendimento de que existem casos em que o di metro do ferimento de entrada sugere o calibre do proj til tais como no cr nio Berryman et al afirma que casos em que o ferimento de entrada do proj til no osso do cr nio circular e bem definido oferecem indica es sobre o calibre do proj til que o provocou Foram examinados 35 cr nios submetidos necropsia forense com as caracter sticas descritas com o objetivo de estabelecer a rela o do di metro do ferimento e o calibre do p
158. lara o manifesta h mais de vinte anos sem que o seu declarante soubesse desvela informa es intrigantes contidas no laudo necrosc pico de Paulo Reis Antunes n 4491 92 uma explica o plaus vel para a presen a de leo e p arenoso nas costas da v tima era um desafio pois al m dos ferimentos por arma de fogo na por o anterior do t rax apresentava tamb m intensos hematomas somente na regi o dorsal O cad ver de Paulo Reis Antunes de acordo com o laudo estava despido no momento do exame e apresentou 4 ferimentos de entrada de proj til de arma de fogo com di metro de cerca 9mm sendo 3 na regi o do t rax 1 deles em regi o paramamilar esquerda pr ximo ao cora o e 1 no bra o direito Quanto subst ncia oleosa nas costas o laudo descreve Na regi o dorsal observamos a presen a de subst ncia de colora o enegrecida e aspecto brilhante uniformemente aderida pele sugerindo subst ncia oleosa misturada com p arenoso E prossegue Durante o procedimento de incis es adicionais de pele e partes moles de regi o dorsal para a procura e resgate de proj teis observamos hematomas subjacentes da rea descrita no item 2 e hematomas intensos e esparsamente distribu dos na regi o O que o laudo descreve uma acentuada quantidade de sangue sob a pele abrangendo a regi o dorsal notadamente onde externamente foi observada a presen a de subst ncia escura e oleosa misturada p
159. lateral direita mesmo lado em que empunha a faca destro Sangrando abundantemente e j desfalecendo o policial solta o corpo de Alex que cai ao 130 ch o mantendo posi o ventral abdome em contato com o ch o Neste momento possivelmente um segundo policial que est com a arma de fogo engatilhada adianta se e efetua um disparo nas costas de Alex regi o escapular esquerda esse proj til transfixa seu t rax saindo pela regi o anterior do t rax mamilar esquerda a mesma rea onde foi desferido o golpe de faca Alex j est morto mas os policiais querem ter certeza Por isso com a bota de seus p s desviram o corpo de Alex que agora assume posi o dorsal com as costas encostada no ch o e de frente para os policiais Num ato de finaliza o desnecess ria o policial aplica a t cnica que aprendeu sobre incapacita o imediata Mira com precis o uma pequena rea do rosto de Alex conhecida como rea de ouro para o objetivo de incapacita o que a cavidade cr nio ocular e dispara Trata se de uma rea na regi o da face na linha da sobrancelha rea entre os olhos do tamanho aproximado de um cart o de visita tal qual apresenta a ilustra o Fig 36 A cavidade cr nio orbit ria identificada pelo tra o em vermelho Trata se de uma rea dimunuta da face que exige treinamento e precis o para alvej la por arma de fogo Fonte WWww sciencepicture com A cavidade cr nio ocular uma rea
160. lato acima esclarece que armas como revolver Magnum 38 submetralhadora Berreta 9mm e fuzil de assalto M 16 de calibre 5 56 mm n o s foram portadas pelos os policiais como efetuaram disparos com tais armas O calibre da arma vale dizer o di metro interno do cano denominado calibre real e calibre do proj til o di metro externo do proj til designado como calibre nominal De acordo com Hugo Cordeiro instrutor de tiro da Pol cia Federal os proj teis utilizados pelos revolveres 38 e tamb m pelo 357 Magnum embora exista uma variedade de fabricantes e formas de designa o s o todos semelhantes quanto ao seu calibre nominal ou seja di metro do proj til que gira entre 355 e 357 cent simos de polegada cerca de 9 mm Cita ainda algumas das armas que usam muni o 9mm Parabellum submetralhadoras 5 Declara o extra da do Livro Vozes do Carandiru dos autores H lvio Borelli e Karina Florido Rodrigues Capitulo A Invas o p g 64 e 65 5 Hugo Cordeiro agente Federal h 35 anos e instrutor de armamentos e tiros na Policia Federal Artigo Tudo Sobre Calibres divulgado no site em 02 05 2014 Dispon vel em www instrutordetiro com 100 como H amp K MP5 Beretta Taurus arma padr o das For as Armadas e Pol cias Civis e Militares do Brasil gt 38 9mm 380 Magnum Special Fig 12 Os proj teis apresentados acima possuem o mesmo di metro 9mm o que muda o comprimento e o peso
161. logo atr s da cavidade cr nio ocular Fonte http www sciencepicture co images 0504 Human Brain html Da observa o dos laudos necrosc picos verificou se que dentre os 77 casos que apresentaram ferimentos perfuro contusos por arma de fogo na 156 regi o da cabe a 27 cad veres apresentaram ferimentos de entrada de proj til de arma de fogo nessa diminuta rea da por o cef lica ou pontos muitos pr ximos representando 35 06 dos ferimentos da cabe a onde penetraram um total de 34 proj teis O xito do shot placement ou lugar do tiro como denominam os treinamentos t ticos no caso dos 34 proj teis que atingiram essa rea especifica e adjac ncias s o compat veis com disparos feitos por agentes policiais que conhecem o potencial letal incapacita o imediata dos disparos que penetram o cr nio pela rea cr nio ocular Incompat veis portanto com disparos aleat rios ou de repentina necessidade de leg tima defesa Com rela o ao xito da incapacita o imediata conforme os dados obtidos dos laudos necrosc picos verificou se que dos 27 detentos que foram alvejados na cavidade cr nio ocular ou bem pr ximo a ela com exce o de 3 casos todos apresentaram algum tipo de les o encef lica em diferentes graus de severidade desde edema e hemorragia cerebral at macera o do c rebro associada com hematomas e fraturas do cr nio ou seja houve efetividade em atingir o sistema nervoso cent
162. lvejadas Entretanto quando se considera essas duas reas e um mesmo indiv duo apresenta 2 3 ou at 4 ferimentos perpetrados por arma de fogo observando estas regi es do corpo 162 conforme demonstrado na tabela anterior poss vel inferir o objetivo de produzir a incapacita o imediata execu o nos detentos alvejados A tabela abaixo apresenta a distribui o de ferimentos na regi o do pesco o por indiv duo e n mero do respectivo laudo De acordo com os relat rios dos laudos o m ximo de ferimentos na regi o do pesco o observados no mesmo indiv duo de 2 dois ferimentos Alinhando se neste sentido com o parecer da Universidade de S o Paulo j mencionado Contudo o total de ferimentos em regi o cervical apresentados no parecer de 31 ferimentos A presente pesquisa conforme apresentado na Tab n observou um total de 27 ferimentos por proj til de arma de fogo em regi o do pesco o distribu dos em 24 v timas conforme tabela abaixo N de Ferimentos em N Laudo Necrosc pico Total Regi o Cervical por Correspondente Individuo 1539 92 4435 92 4444 92 4487 92 1537 92 1543 92 01 4432 92 4448 92 4468 92 4477 92 1538 92 1786 92 4456 92 4466 92 4467 92 1792 92 4439 92 4445 92 4446 92 1793 92 4476 92 21 1533 92 1788 92 4469 92 02 3 Total 24 v timas Tab 6 Distribui o de ferimentos perfuro contusos entrada de proj til de arma de fogo em regi o do pesco o por indiv
163. m o calibre 22 equivale 5 58mm e o calibre 25 equivale 6 35 mm Em seu estudo Berryman et al observou que o di metro m ximo de ferimento em cr nio produzido pelo proj til calibre 22 foi de 10 92mm enquanto que o maior di metro de ferimento provocado pelo proj til 25 foi de 9 14mm Por outro lado o menor di metro de ferimento provocado pelo calibre 38 foi de 8 13mm O relat rio do laudo necrosc pico de M rio permite algumas infer ncias a partir do estudo de Berryman et al Como j destacado os legistas documentam ter identificado cinco ferimentos circulares de seis mil metros de di metro isso inclui os dois ferimentos que atingiram a cabe a mais especificamente o proj til que atingiu a regi o frontal direita penetrando o cr nio Ap s incis o bimastoide vertical expusemos a calota craniana onde observamos que o proj til 1 penetrou o cr nio A informa o de que houve a exposi o do cr nio durante o exame interno onde os legistas observaram que o proj til penetrou e transfixou o cr nio nos indica que o ferimento de entrada p de ser observado diretamente no cr nio pelos legistas durante o exame interno da cabe a Por outro lado n o obstante o n mero de 120 policiais denunciados pelas mortes de 111 presos a den ncia aponta individualmente somente 6 tipos de armas portadas pelos policiais durante a invas o do Pavilh o 9 entre essas os revolveres marcas Taurus e Rossi
164. ma de fogo na regi o da cabe a das v timas Dos 111 laudos necrosc picos observados 77 69 36 foram 78 O parecer m dico legal o realizado pela Universidade de S o Paulo j mencionado no Cap tulo 2 desta pesquisa e que consta como Anexo no livro Hist ria de um Massacre Casa de Deten o de S o Paulo de Machado Marcello Lavenere Marques Jo o B Azevedo Editora Cortez S o Paulo 1993 152 alvejados na regi o da cabe a num total de 116 proj teis de arma de fogo que penetraram a regi o cef lica das v timas Parietal Temporal Fig 58 Cr nio em perspectivas diferentes Fonte http www sciencepicture co sear ch skull 2Bbones 1 html TABELA DE DISTRIBUI O DE FERIMENTOS PERFURO CONTUNDENTES POR REA ATINGIDA DA CABE A ARMA DE FOGO REA DA CABE A ATINGIDA N FERIMENTOS N DOS LAUDOS NECROSC PICOS NA REA RESPECTIVOS AOS FERIMENTOS Frontal 10 367 92 362 92 363 92 364 92 1535 92 1794 92 4438 92 4487 92 4488 92 4489 92 Fronto Parietal Esquerda 1 366 92 Fronto Parietal Direita 1 346 92 Mento queixo 4 365 92 362 92 1546 92 4474 92 Temporal Direita 11 361 92 364 92 1533 92 1537 92 1547 92 1792 92 4433 92 4435 92 4453 92 4462 92 4475 92 Temporal Esquerda 6 365 92 1536 92 1546 92 1788 92 4466 92 4468 92 Parot dea Esquerda 1 1538 92 Zigom tica direita ou 4 1795 92 4436 92 4452 92 4463 92 esquerda Orbital Esquerda 7 355 92 363 92 1529 92 1795 9
165. mas A cabe a conforme ilustrado na Fig 58 permite ser observada de v rios ngulos tridimensional n o somente nos planos anterior frente e posterior atr s Como demonstrado na Tabela de distribui o dos ferimentos a rea da cabe a foi alvejada em todas suas dimens es Contudo observa se predomin ncia de ferimentos nas reas que se relacionam por o anterior da regi o cef lica Frontal orbital nasal zigom tica mandibular malar bucal geniana bucinadora e mento 53 ferimentos As regi es laterais da cabe a tais como temporal parietal auricular parot dea e mastoidea direita ou esquerda na sequ ncia foram as mais 154 alvejadas num total de 43 ferimentos A por o posterior da cabe a que conforme a tabela indicada pela regi o occipital m dia direita ou esquerda foi a menos atingida em compara o demais com um total de 20 ferimentos observados Distribui o dos 116 ferimentos da cabe a por reas atingidas Por o anterior Por es laterais E Por o posterior Gr fico 1 Apresenta o da distribui o dos ferimentos na regi o da cabe a por reas atingidas Ao lado desses resultados considerando que a por o cabe a face oferece uma rea reduzida de alvo para o atirador foi observado em quantos casos a regi o atingida foi exata ou muito pr xima de uma rea ainda menor a cavidade cr nio ocular conforme destacada no cap tulo 4 e mencionada por Perroni
166. me ue mam terem emma o rir side 29 Fig 8 Representa o gr fica diagrama do laudo 4470 A identifica o dos ferimentos foi legendada no canto superior direita pelos legistas 92 4 2 DE JOELHOS Algo que nos chamou a aten o foi a quantidade de marcas de tiros nas paredes com menos de 1 20 metro Se juntarmos esse dado com outro que o fato de 70 dos presos terem morrido com tiros na cabe a ou no t rax perceberemos que muitos foram executados enquanto estavam de joelhos imobilizados portanto Azevedo Marques Azevedo Marques como integrante da Comiss o de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana que visitou o Pavilh o 9 poca dos fatos e conversou pessoalmente com presos sobreviventes relata sobre a execu o de presos ajoelhados dentro de suas celas com esteio n o s nos depoimentos que ouviu mas na evid ncia de marcas nas paredes das celas produzidas pelo impacto de proj teis de arma de fogo em altura menor de 1 20 metros No mesmo sentido o laudo da per cia criminal elaborado pelo perito Osvaldo Negrini Neto informa s fls 26 que foram observadas cavidades nas paredes das celas X 9373 E com alturas vari veis entre 0 40 a 1 70 metros com respingos de sangue humano e na cela X 9501 E s fls 31 observou uma cavidade no fundo com altura de 1 20m Para distinguir se as marcas nas paredes foram produzidas por impacto de proj til de arma de fogo conforme consta s fls 36 do l
167. merican Journal of Surgery Volume 105 Volume 105 April 1963 DADA Mahomed A Ansari Naseem A Origins of The postmortem examination in diagnosis DANGELO J G FATTINI C A Anatomia b sica dos sistemas org nicos 2 ed Rio de Janeiro Atheneu 2002 DEL PRIORI Mary Lucy Murray A hist ria do corpo e a Nova Hist ria uma aut psia Revista USP edi o n 23 S o Paulo 1994 p 48 55 DESLAURIERs Jean Pierre K risit Mich le O delineamento de pesquisa qualitativa In Poupart Jean et alli A pesquisa qualitativa enfoques epistemol gicos e metodol gicos Tradu o Ana Cristina Nasser Petr polis RJ Vozes 2008 DIMAIO V J amp DiMaio D Forensic Pathology Nova York 2 Edi o CRC Press 2001 DIMAIO Vincent J Gunshot Wounds Practical Aspects of Firearms Ballistics and Forensic Techniques 2 edi o CRC Press New York 1999 DOLINAK D Lew E Matshes E Death in custody In Dolinak D Matshes E Lew E editors Forensic Pathology Principles and Practice Oxford UK Academic Press 2005 pp 299 DORIA Irio Jr Fahning Jos R S Curso de Gerenciamento de Crises Modulo 1 2008 SENASP MJ https cidadaossp files wordpress com 2009 06 gerenciamentocrises completo paf DUR O Carlos Pintolli Rui O Que Ortopedista Deve Saber Sobre Bal stica Terminal Revista Portuguesa de Ortop Traumatologia Vol 20 no 2 Lisboa jun 2012 EPSTEIN Lee and Gary King 2002 The Rules of Inference
168. mericana de Direitos Humanos qualificou os como uma s rie evidente de esfor os para destruir as provas que pudessem servir para identificar os policiais respons veis de cada morte em particular e confundir a evid ncia das circunst ncias em que ocorreram Relat rio 34 00 da CIDH 2000 Referido protocolo admite que embora a maioria dos pa ses disponha de um sistema que estabelece os procedimentos de investiga o em casos de mortes em circunst ncias incomuns ou suspeitas frequentemente esses procedimentos s o abusivos ou desrespeitados particularmente onde a morte sugestiva de ter sido causada pela pol cia o ex rcito ou outros agentes do governo Minessota protocolo Cap Il M dicos legistas que trabalham para autoridades em pris es ou em campos militares notadamente quando s o convidados examinar casos de mortes sob cust dia est o sujeitos tenta o ou s o implicitamente demandados de omitirem em seus relat rios evid ncias que envolvam agentes do Estado Thomsen 2000 O protocolo apresenta um roteiro para as investiga es e recomenda componentes imprescind veis a constar no laudo necrosc pico dentro dos padr es adotados pela comunidade forense em mbito internacional Recomenda que a necropsia seja instrumento n o s de identifica o da v tima e determina o da causa forma local e hora da morte mas tamb m capaz de recuperar e preservar o material probat rio relacionado com a morte atu
169. minado esgorjamento Significa uma les o cervical lateral e ou anterior produzida por instrumento cortante ou corto contundente Malthus 1996 Esgorjamento uma deriva o da palavra gorja original do franc s gorge que significa garganta Aur lio 1986 Trata se portanto de um corte de profundidade vari vel na parte anterior do pesco o provocado por instrumento perfuro cortante faca do centro 127 para as laterais direita e ou esquerda do pesco o cervical anterior A figura abaixo ilustra o tipo de ferimento Fig 31 Esgorjamento cervical produzido por Fig 32 O pesco o uma rea bastante arma branca faca A imagem apresenta vascularizada art rias e veias calibrosas corte ferimento perfuro inciso com passam pelo pesco o car tidas e jugular para extens o desde por o antero medial do prover a circula o do sangue para a cabe a A pesco o at lateral esquerda Fonte ilustra o apresenta os vasos seta preta http Avww onlinejets org article asp issn 0 car tida comum seta vermelha jugular interna e 974 2700 year 2013 seta amarela jugular externa Fonte http Awww masterfile com em search fse No caso de Alex a l mina deslizou do centro para a direita do pesco o e o ferimento na altura do cora o mam ria esquerda perfurou seu pulm o esquerdo e tamb m o cora o Espa o intercostal Fig 33 A ilustra o apresenta a rea golpeada facada que perfurou o cora
170. morte no Carandiru Editora Gera o Editorial S o Paulo 2008 REITER Randy B Zunzunegui M V Quiroga Jos Guidelines for Field Reporting of Basic Human Rights Violations Human Rights Quarterly Vol 8 No 4 nov 1986 pp 628 653 Published by The Johns Hopkins University Press Article DOI 10 2307 762196 RELAT RIO N 34 00 DA COMISS O INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS Caso 11 291 Carandiru Brasil 13 de abril 2000 Dispon vel em http cidh oas org annualrep 99port Brasili 1291 htm REVISTA ADVENTISTA MAIS DESTAQUE O outro lado do Carandiru Uma li o de liberdade Por Andr Marujo 23 abril 2013 Dispon vel em http Avww maisdestaque com br REVISTA F RUM A trag dia 20 anos depois Reportagem de Glauco Faria e Igor Carvalho Edi o de Novembro de 2012 Dispon vel em www revistaforum com br blog 2012 11 a tragedia 20 anos depois REVISTA VEJA Cad veres Sob a Urna O Governador de S o Paulo acoberta as mortes na Casa de Deten o do Carandiru para evitar o desgaste do PMDB no dia das Elei es Acervo Digital Edi o 1257 de 14 de outubro de 1992 p 24 27 REZENDE J Marcondes Laudar Laudado Revista de Patologia Tropical v 39 n 3 2010 Dispon vel em http www revistas ufg br index php iptsp SANTOS Agostinho Medicina Legal e Tanatologia Forense Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Dispon vel em http www nhu ufms br bioetica textos morte 20e 200 20morrer tanatologiay 20
171. na tabela tem relev ncia para o prop sito de identificar evid ncias de execu o contudo Epstein e King ensinam que Independentemente do tipo de dado empregado toda a pesquisa emp rica procura atingir um dentre tr s fins ou mais tipicamente alguma combina o deles coletar dados para o uso do pesquisador ou de outros resumir dados para que sejam facilmente compreendidos e fazer infer ncias descritivas ou causais o que envolve usar os dados que observamos para aprender sobre os dados que queremos levantar Epstein e King 2002 Com efeito os dados que n o tiveram aplica o direta para os prop sitos desta pesquisa se espera que possam ser de utilidade para futuras pesquisas 1 4 AN LISE DOS DADOS Reunir os dados que ir o compor o corpus emp rico da pesquisa j se refere ao trabalho de an lise preliminar vale dizer aqueles que tra am uma rela o com o objeto de estudo Na presente investiga o al m dos laudos necrosc picos foram examinados outros documentos como a den ncia apresentada pelo Minist rio P blico depoimentos de v timas sobreviventes o laudo da per cia da pol cia civil al m de alguns livros que relatam sobre os fatos e not cias extra das de jornais e revistas Como lembram Jaccoud e Mayer 22 a observa o figura sistematicamente ao lado das outras t cnicas de coleta do material qualitativo tais como entrevistas os relatos de vida ou ainda a pesquisa documental
172. nas ne Ra Lair aa LES as ada aa 68 3 5 Poder de Parada Stopping Power Como Estrat gia de Execu o 72 CAP TULO 4 O MASSACRE DO CARANDIRU AS HIST RIAS QUE OS LAUDOS CONTAM sas as A ORA SA A EEEE r Ent 85 Dl AR CNOI O spagoatis an nie ua dSho ADD e ODAS DEDOS REGRAS GR SONS DR A RO da 85 4 24 DB JOBINOS Ls sa santas ndr aca re a E i 93 4 3 O PUZI de ASSINO ps srta qem ic canina a dd ii A ia SE E Y 97 44A O Corredor POIONMOS arranoen AE a AEE AAE AAt Taeao i 106 a RS RD OS MAOS in re e eee PIN E a E A A RP e 109 4 6 A EXecU O na SAD dass Desabafo e a a os e 122 T OE COS EEE E A A E A AA A 133 4 8 Confiram se est o Mortos sarcnsassinaaiaa asi Ga a de a Sd 140 CAP TULO 5 INFER NCIAS DESCRITIVAS E DADOS QUANTITATIVOS 145 5 1 Ferimentos por Arma de Fogo em Regi o da Cabe a 152 5 2 Ferimentos por Arma de Fogo em Regi o do Pesco o 159 5 3 Ferimentos por Arma de Fogo em Regi o do Tronco 163 5 4 Cad veres com Proj teis Alojados e Possibilidade de Recupera o de Evid ncias ii eeeeeeeaeaearereaaaaaaanarareeaaaananea 175 CAP TULO 6 CONCLUS O eternas 180 REFER NCIAS ias Sr E EE 185 INTRODU O Ap s o atentado s torres g meas em Nova York no ano de 2001 a data 11 de Setembro ficou globalmente conhecida como um marco da trag dia desde ent o comum ouvir as pessoas se re
173. ndividualiza o do cad ver complei o f sica ra a sexo cor idade altura etc e identifica o vestimentas objetos pessoais impress es digitais exame da arcada dent ria etc b autor es identifica o de poss veis respons veis pela morte vest gios encontrados no corpo ou pelos meios adotados 5 Tempo O exame do corpo deve estimar o tempo de morte considerando sinais que se manifestam ap s a morte cronotanatologia tais como resfriamento do corpo rigidez cadav rica livores fase da decomposi o entre outros A morte definida como a cessa o total e permanente das fun es vitais mas quando se refere ao tempo de morte importante destacar que embora possa ser feita uma estimativa da hora da morte essa n o se d num nico momento mas onde tem in cio um processo que ir se desdobrar ao longo do tempo Na perspectiva m dico legal este processo vai se estender no tempo e d lugar ao aparecimento de um conjunto de fen menos ap s a morte Gapski 2008 Os relat rios de aut psia seguem uma estrutura geral constitu da por dados de qualifica o e identifica o do cad ver local data e hora da realiza o do exame breve hist rico descri o do exame externo do cad ver da cabe a aos p s complei o f sica ferimentos cicatrizes tatuagens a 18 condi o do corpo e estimativa do tempo de morte O exame interno consiste num procedimento cir rgico que analisa rg os
174. nst ncias onde ela n o autorizada f provoca o do sujeito pelos policiais para reagir agressivamente criando motivo para uso da for a 9 deliberada agress o ou infli o de dor sujeitos depois que eles j est o presos ou rendidos dentre outros O estudo mencionado identifica o que a experi ncia j tem mostrado que a for a letal tem sido aplicada em circunst ncias em que seu uso n o autorizado O direito internacional dos direitos humanos delimita bem o tema e autoriza aos agentes policiais o uso da for a letal somente onde ela necess ria para proteger a vida 41 Em setembro de 1990 por ocasi o do oitavo Congresso das Na es Unidas sobre a Preven o do Crime e o Tratamento dos Delinquentes foram adotados os Princ pios B sicos sobre o Uso da For a e Armas de Fogo pelos Funcion rios Respons veis pela Aplica o da Lei do qual o Brasil signat rio A express o respons veis pela aplica o da lei refere se a todos os executores da lei nomeados ou eleitos que exer am poderes de natureza policial Referido documento estabelece que no cumprimento das suas fun es os respons veis pela aplica o da lei devem valer se de meios n o violentos antes de recorrer ao uso da for a e armas de fogo O recurso s mesmas s aceit vel quando os outros meios se revelarem ineficazes ou incapazes de produzirem o resultado pretendido Art 4 De acordo com os princ pios sobre o uso da for
175. ntal occipital ou temporal esquerda ge FRONTAL Soo PARIET Fig 52 Ossos da face e cr nio Fonte https fisioterapri wordpress com tag cranio face anatomia fisioterapia ossos A caixa craniana protege o enc falo que se divide em tr s segmentos principais 1 o c rebro que uma estrutura extremamente complexa formado por bilh es de neur nios pesa em m dia 1 160 g no homem e 1 030 g na mulher Uma cisura profunda divide o em dois hemisf rios esquerdo e direito A superf cie do c rebro dividida em quatro reas lobos a lobo frontal desempenha fun es como mem ria e intelig ncia anal tica b lobo temporal 61 audi o c lobo occipital vis o d lobo parietal motilidade e sensibilidade 2 O cerebelo que controla a coordena o e o equil brio 3 O tronco cerebral ou istmo que controla diversas fun es vitais tais como respira o e frequ ncia card aca O SNC Sistema Nervoso Central formado pelo enc falo e medula espinal localiza se exatamente no esqueleto axial cr nio e coluna vertebral sendo respons vel pela recep o de est mulos relacionados aos sentidos audi o vis o olfato paladar e tato e de onde partem comandos s fun es vitais do organismo ex respira o e batimentos card acos e fun es de resposta aos est mulos ex m sculos e gl ndulas Na regi o da cabe a encontra se tamb m a face que formada por estruturas sseas tais c
176. nto de ferimento a incapacita o e morte isto pode variar de segundos a horas Di Maio 1999 19 Por essa raz o afirma Newgard que o nico m todo confi vel de incapacita o humana com proj teis de arma de fogo erradica o do funcionamento do sistema nervoso central SNC especificamente o c rebro e a medula espinhal cervical e completa que h dois caminhos para alcan ar o objetivo da incapacita o 1 Trauma direto no Sistema Nervoso Central com destrui o dos tecidos 2 Aus ncia de oxigena o do c rebro resultante de hemorragia intensa e queda da press o sangu nea Newgard sustenta que proj teis de arma de fogo desferidos contra o c rebro s o comumente ensinados como causa de incapacita o imediata contudo mesmo que isso seja verdade na maioria dos casos e na experi ncia do autor s vezes proj teis que atingem a por o do lobo frontal do c rebro que controlam fun es n o vitais tais como mem ria e pensamento anal tico n o ir o incapacitar de imediato o alvo humano e assevera Os nicos ferimentos que resultam em imediata incapacita o s o aqueles que causam destrui o de mat ria cerebral essencial tais como tronco cerebral e medula espinhal cervical que controlam fun es vitais b sicas tais como respira o e batimentos card acos Durante um estudo que comparou o tempo de sobreviv ncia de indiv duos que receberam ferimentos por arma de fogo em reas vitais e
177. ntos por regi o 166 Como se v a incid ncia de ferimentos nas reas que classicamente s o compreendidas como rea card aca e adjac ncias elevada apresentando um total de 63 ferimentos quando considerados os pontos destacados na tabela com o asterisco O que j denota um alvo preferencial dos policiais militares durante a invas o do Pavilh o 9 Ocorre que se observando a distribui o dos ferimentos na regi o do t rax algo mais chama a aten o e por isso merece destaque Como mencionado anteriormente o cora o localiza se em posi o centro lateral esquerda do t rax protegido por uma estrutura denominada caixa tor cica costelas e osso esterno conforme ilustra a figura a seguir Fig 65 Ilustra a posi o do cora o dentro da caixa tor cica observada em perspectiva frontal Note a posi o centro lateral esquerda do cora o Fonte http www sciencepicture co images 3017 The Cardiovascular System html O que se deseja destacar que o cora o fica localizado dentro da caixa tor cica em posi o centro lateral esquerda como classicamente apresentado mas exatamente por sua posi o central pode ser alvejado com disparos perpetrados tamb m pelas costas Isso fica evidenciado na observa o dos laudos necrosc picos onde verificou se uma elevada incid ncia de ferimentos nas regi es compreendidas em escapular esquerda dorsal esquerda intercostal e omoplata esquerdo 20 feriment
178. ntral ou hemorragia Cerca de 80 dos que morreram por hemorragia apresentavam ferimentos penetrantes na regi o do tronco Champion et al 2003 Dentre as consequ ncias imediatas de disparos contra a regi o do tronco destacam se o colapso circulat rio e ou respirat rio Efeitos fisiol gicos que resultam de ferimentos penetrantes no t rax s o basicamente a comprometimento da ventila o pneumot rax hemot rax les o do par nquima pulmonar ou diafragma b redu o do d bito card aco causado por redu o do sangue circulante decorrente de hemorragias no espa o pleural nas feridas abertas ou na cavidade intra abdominal ou ainda por tamponamento card aco ac mulo de sangue no saco peric rdico membrana que envolve o cora o por ferimentos que atingem diretamente o cora o Creech et al 1963 66 A hemorragia que decorre de ferimentos traum ticos que atingem a regi o do tronco local de grandes vasos e rg os como cora o pulm es e f gado e ba o podem conduzir ao choque e morte em poucos minutos pelo colapso circulat rio que impede a perfus o dos tecidos pelo sangue resultando numa disfun o celular choque Os graus de choque v o de leve severo dependendo do percentual de volume de sangue perdido para o meio extra vascular Na circunst ncia de hemorragia provocada por evento traum tico ferimento por arma de fogo a evolu o do quadro de choque mesmo com os mecanismos compensat ri
179. o 124 Destaque se que o proj til desferido contra a cabe a de Cl udio sugere um disparo de finaliza o da execu o sendo o nico dos 8 disparos 2 de rasp o e 6 efetivos que apresentou caracter sticas de tiro curta dist ncia Cumpre esclarecer que um nico disparo de finaliza o poss vel mesmo que fossem utilizadas submetralhadoras tais como Beretta 9 mm e HKMPS5 que atiram em regime autom tico rajadas e semiautom tico um tiro de cada vez Neste sentido poss vel inferir que o disparo contra a cabe a de Cl udio tenha sido o ltimo uma vez que disparos nas pernas ou n degas tais quais foram observados e relatados no laudo seriam in teis ao prop sito do atirador que obteve o xito em atingir diretamente a cabe a da v tima Ainda que se refutasse todas as infer ncias apresentadas uma evid ncia subsiste at o momento irrefut vel Dentre os 111 mortos Cl udio integra um seleto grupo de somente 6 onde os respectivos laudos destacam disparos curta dist ncia descrevendo caracter sticas do ferimento com zona de esfuma amento tatuagem ou bordos enegrecidos Dos 6 mencionados 3 incluindo Cl udio apresentaram disparos curta dist ncia na regi o cef lica exemplo do laudo n 4471 onde o disparo foi na boca e laudo n 4462 com tiros desferidos diretamente no ouvido auricular esquerda e cabe a temporal direita nestes casos irrefut vel que a proximidade do atirador e
180. o Por exemplo a descri o pelo legista que durante o exame interno 20 das cavidades abdominal ou tor cica observou a presen a de intenso hemot rax ou hemoperit nio quando associado ao trajeto do proj til indicava n o somente a presen a de grande quantidade de sangue nestas cavidades mas os rg os que o proj til ou arma branca atingira internamente tal como pulm es cora o e f gado Da mesma forma a descri o de macera o do c rebro hematoma subdural ou fratura de base de cr nio eram indicativos de les o ao sistema nervoso central Conforme ressaltado no cap tulo 5 para a obten o acurada dos dados a observa o de todos os relat rios era imprescind vel Ainda que os diagramas representa o gr fica dos laudos tamb m s o considerados como fonte de dados a observa o isolada destes sem compara o com o relat rio poderia conduzir inexatid o das informa es Embora os diagramas tenham uma proposta de facilitar a visualiza o do n mero de ferimentos localiza o em alguns casos at o trajeto do proj til os legistas escolheram formas muito peculiares para diferenciar por exemplo os ferimentos de entrada e de sa da N o se observou uma padroniza o para legendar os ferimentos Logo a interpreta o isolada dos sinais designados nos diagramas facilmente poderia conduzir desacertos Por fim os dados qualitativos inclu ram n o s localiza o e tipo de fer
181. o S rgio Pinheiro ent o Coordenador Cient fico do N cleo de Estudos da Viol ncia da Universidade de S o Paulo Conclu do em 27 de novembro de 1992 sob a dire o do Dr Marco Segre chefe do Departamento Participaram do parecer Prof Dr Romero Munhoz Carlos Alberto S Coelho Juarez Oscar Montanaro Dr M rio Jorge Tsuchiya Renato de Macedo Pereira e Sergio Belmiro Acquesta Fonte Machado Marcello Lavenere Marques Azevedo Jo o Benedito Cortez S o Paulo 1993 P 121 a 133 158 4463 92 4464 92 4465 92 4467 92 4468 92 4469 92 4470 92 4471 92 4472 92 4475 92 4477 92 4478 92 4480 92 4481 92 4483 92 4485 92 4486 92 4487 92 44 casos 4494 92 4497 92 2 351 92 355 92 365 92 362 92 363 92 364 92 1529 92 1531 92 1539 92 1544 92 1546 92 1788 92 1792 92 1794 92 4436 92 4437 92 4438 92 4440 92 4447 92 4453 92 4459 92 4461 92 4462 92 4474 92 27 casos 4476 92 4479 92 4484 92 3 1795 92 4452 92 4457 92 4466 92 4488 92 4489 92 06 casos TOTAL 77 casos TAB 8 Distribui o de ferimentos de arma de fogo na regi o da cabe a por indiv duo 5 2 FERIMENTOS POR ARMA DE FOGO EM REGI O DO PESCO O Ferimentos perfuro contusos perpetrados por arma de fogo em regi o do pesco o possuem alto potencial letal Conforme mencionado no cap tulo 4 na regi o cervical encontram se importantes estruturas como medula espinal grandes vasos jugular e car tidas a tamb m a traqueia A les o a qual
182. o al m destes ferimentos expressarem at mesmo a empunhadura da arma sentido do corte conforme treinamento militar que se depreendeu dos manuais apresentados Estas s o as evid ncias observadas a partir dos relat rios e diagramas dos laudos compat veis com atos de execu o realizados pelos policiais militares representando dessa forma conclus es diretas deste estudo a partir da quest o proposta Contudo existem tamb m conclus es decorrentes secund rias a partir do estudo realizado algumas delas s o apresentadas a seguir a O n mero documentado de 111 mortos atrav s dos exames necrosc picos no epis dio do Carandiru pode eventualmente ser majorado quando se adota uma concep o mais abrangente do que significa mortes sob cust dia do Estado de acordo com especialistas da medicina legal conforme apresentado na presente pesquisa b As mortes perpetradas por armas brancas respectivamente aos laudos n 4472 92 4454 92 4450 92 e 352 92 conforme apresentado neste estudo n o foram perpetradas por outros presos mas por policiais militares 183 c Estudos apresentados nesta pesquisa da Universidade do Tennessee Berryman et al 2009 e tamb m da Unicamp Matoso et al 2014 indicam que atualmente a an lise do ferimento perfuro contuso no cr nio da v tima pode trazer indica es tanto sobre o tipo de arma como do proj til utilizado no crime logo existem outras formas de se produzir evid ncias o
183. o incluindo os membros superiores regi o das costas e membros inferiores Em estudo semelhante com fins de determinar a incid ncia e o padr o espec fico de ferimentos de defesa Sheikh 2009 observou os cad veres de 193 v timas de homic dios encaminhadas para o exame necrosc pico Ferimentos de defesa que envolviam especificamente os membros superiores foram notados em 54 casos 27 98 abrangendo as m os bra os e antebra os correspondendo ao instinto natural da v tima de erguer o s bra o s para se defender do ataque e proteger rg o vital como o c rebro Sheikh 2009 Em conclus o que apoia os estudos de Chattopadhyay e Sukul 2012 notou igualmente que o lado mais comum para os ferimentos de defesa na v tima encontrava se do lado esquerdo 40 74 seguido por 31 51 em que foram observadas les es em ambos os lados e 27 75 somente do lado direito De acordo com o estudo a m o antebra o e bra o esquerdo das v timas apresentaram maior incid ncia de ferimentos de defesa pela proximidade imediata ao agressor que traz a arma empunhada pela m o direita destro e utilizados como um primeiro meio de defesa O tipo de ferimento de defesa observado na v tima traz tamb m uma ideia sobre a arma do crime utilizada As caracter sticas dos ferimentos de defesa que se apresentam nas m os antebra os cotovelos e bra os ser o distintas dependendo do tipo de arma Por exemplo quando a v tima foi agredida 69
184. o Pinheiro 1992 3 A realidade de que pelo menos 111 detentos foram mortos sob a cust dia do Estado durante a a o policial no Carandiru suscita uma reflex o a respeito do status do preso em face do Estado num ambiente de Estado de Direito Esse cap tulo apresenta alguns aspectos dos deveres e absten es que cumprem ao governo decorrentes dessa rela o bem como uma concep o mais abrangente de cust dia conforme a adotada por especialistas da Medicina Legal que envolve a morte de pessoas em priva o de liberdade incluindo o que ocorre durante a captura transporte dentro da pris o e at mesmo em um hospital ou depois do custodiado sofrer uma doen a ou trauma Lasso 2009 Com base nessa concep o ser o apresentadas algumas implica es para o epis dio do Massacre do Carandiru Na segunda parte do cap tulo o Uso da For a Letal discutido sob a perspectiva dos princ pios b sicos sobre o uso da for a e armas de fogo pelos funcion rios respons veis pela aplica o da lei adotados pelas Na es Unidas que prev o uso da for a letal por agentes do Estado estritamente nas situa es em que se requer prote o vida Sob a recomenda o da ONU de que mortes sob cust dia devem ser consideradas suspeitas at a elucida o de sua s causa s ao final do cap tulo ser apresentado o Protocolo de Minessota um roteiro para as investiga es sobre a morte e exame necrosc pico das v timas 3 Em entrevista
185. o e o pulm o esquerdo de Alex Fonte hittp wvww masterfile com em search fsession 14 26355123331 amp id 1426355122892 amp color amp colour key 128 Considerando os dois ferimentos perpetrados por faca na rea do cora o e pesco o de Alex cumpre agora apresentar as t cnicas do uso da faca conforme os treinamentos t ticos militares As fotos e o texto explicativo foram extra dos do pr prio Manual de Treinamento F sico Militar e Lutas Fig 34 Apresenta a t cnica denominada Ataque ao Cora o Fonte Manual de Campanha Treinamento F sico Militar Lutas C 20 50 Na t cnica Ataque ao Cora o utiliza se a faca com pegada reversa estilo punhal Esta t cnica tem o inconveniente de quando for desferido o golpe a faca atingir um osso costelas bloqueando a penetra o Como se v a t cnica ensina empunhadura da faca e sentido do golpe com penetra o da l mina no sentido horizontal e n o vertical exatamente para que a l mina penetre nos espa os entre as costelas intercostais e n o atinja diretamente o osso arcos costais Ainda sobre o uso da faca o treinamento apresenta tamb m a t cnica denominada Corte da Jugular e da Car tida 129 Rj Fig 35 Uso da Faca T cnica do Corte da Jugular e da Car tida Fonte Manual de Campanha Treinamento F sico Militar Lutas C 20 50 A t cnica do Corte da jugular e da car tida feita com pegada direta da
186. o sangue de 220 mg dl em 81 dos casos ap s 3 meses e em 85 dos casos ap s 6 meses Notaram que os n veis de chumbo no sangue aumentaram conforme o tempo e n mero de fragmentos retidos no corpo e os casos onde houve fraturas pelo impacto do proj til ou este encontrava se alojado pr ximo aos ossos ou articula es a concentra o de chumbo no sangue foi 15 As raz es para um proj til de arma de fogo n o ser removido do corpo da v tima s o diversas desde a inacessibilidade do proj til por estar impactado em ossos ou musculatura aus ncia de quadros hemorr gicos por n o estar representando iminente risco de morte custo e risco x benef cio ou simplesmente por decis o m dica 35 30 maior que os demais casos e que mesmo ap s 12 meses houve uma preval ncia persist ncia de n veis elevados de chumbo no sangue de 2 6 McQuirter et al 2004 Embora o objeto deste estudo n o seja os laudos de exame de corpo de delito dos detentos sobreviventes realizados pelo IML os aspectos mencionados at aqui ampliam a perspectiva pela qual mortes sob cust dia precisam ser observadas e eventualmente podem alterar o n mero de v timas fatais Neste sentido vale a men o de dois casos dentre os foram submetidos exame de corpo de delito como v timas de les es corporais do Carandiru que ilustram o estudo de McQuirter et al 2004 apresentado Um deles refere se ao laudo 21 211 9218 de Lu s Carlos dos Santos Silva v tim
187. ojeto de Lei 4 471 12 de autoria dos deputados Paulo Teixeira do PT SP F bio Ricardo Trad do PMDB MS e Prot genes Pinheiro do PC do B SP encontra se pronto para pauta no Plen rio da C mara dos Deputados desde 10 04 2014 Fonte http nww camara gov br proposicoesWeb fichadetramitacao idProposicao 556267 39 O projeto prev tamb m a substitui o dos termos autos de resist ncia ou resist ncia seguida de morte por les o corporal decorrente de interven o policial e morte decorrente de interven o policial Cabe ressaltar que o termo for a policial envolve a es espec ficas consideradas apropriadas a cada situa o desde comandos verbais persuas o controle psicol gico do infrator restri o f sica utiliza o de algemas aplica o de armas de efeito moral g s lacrimog nio granadas explosivas de luz e som com finalidade de provocar desorienta o moment nea de suspeitos armas n o letais 1 balas de borracha Taser e como recurso extremo somente em situa es onde h risco iminente vida do policial ou terceiros o uso da for a letal Logo em situa es de confronto o uso leg timo da for a progride em conformidade s intera es entre a pol cia e suspeito s e balizam as decis es sobre qual for a ser aplicada se um n vel falhar ou se as circunst ncias mudarem o n vel de for a redefinido Como ensinam Thibodeau e Hertig 2010 o uso da for a policial t
188. omo cavidade orbital regi o dos olhos ossos zigom ticos ma s do rosto maxilar e mand bula O couro cabeludo a camada mais externa que recobre a cabe a visando proteger o cr nio e tal como a face uma regi o intensamente vascularizada e mesmo pequenas les es podem gerar sangramentos intensos Com efeito a cabe a re ne o comando de fun es vitais do organismo e por essa raz o apresenta se como uma rea alvo preferencial nas t cnicas do stopping power ou poder de parada procedimento t tico policial com utiliza o de armamento de fogo com inten o de obter incapacita o efetiva e imediata do advers rio execu o conforme ser detalhado mais frente A rea do corpo atingida um fator relevante no potencial de um proj til de arma de fogo provocar a incapacita o imediata Conforme ensina Maiden A cabe a seguida pelo tronco s o as reas mais vulner veis sendo a incapacita o resultante da destrui o do sistema nervoso central c rebro ou medula ou ainda pela destrui o de rg o maci o destrui o com hemorragia maci a Maiden 2009 32 Nicholas Maiden professor na disciplina de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Adelaide Austr lia 62 Maiden explica que a incapacita o determinada pela severidade do dano causado nas estruturas anat micas que o proj til penetra e afirma que mesmo um proj til de calibre 22 que considerado um
189. or o inferior pela incisura supraesternal ou f rcula margem superior da clav cula e pela s tima vertebra cervical A por o superior pela borda inferior da mand bula o pice do processo mastoide e da protuber ncia occipital externa Caniello 2003 33 Cavita o tempor ria detalhadamente discutida no t pico que trata sobre o poder de parada ou stopping power 63 No pesco o localizam se rg os importantes tais como laringe es fago gl ndulas tireoide e paratireoide al m de estruturas com art rias veias nervos vasos linf ticos traqueia e v rtebras A coluna cervical feita de 7 v rtebras cervicais denominadas C1 a 07 A regi o do pesco o por ser altamente complexa em termos de estruturas anat micas e fun es fisiol gicas que desempenha escapa proposta desse trabalho uma abordagem mais aprofundada mas no interesse dessa pesquisa cumpre destacar que les es traum ticas no pesco o provocadas por arma branca ou projeteis de arma fogo s o potencialmente fatais A traqueia es fago art rias car tidas e vertebrais coluna cervical e medula espinhal nervo fr nico e do plexo braquial s o todos vulner veis a serem lesionados pelo trauma no pesco o Cada uma delas uma estrutura vital cuja les o pode trazer consequ ncias devastadoras Bailey 2006 Ferimentos por arma de fogo no pesco o e regi o maxilo facial est o associados com alta morbidade e mortalidade devido a anatomia comple
190. os A incid ncia de ferimentos por arma de fogo nessas reas espec ficas das costas n o casual mas o resultado de disparos cujo atirador conhece o potencial da rea para alvejar o cora o pois da mesma maneira que a energia cin tica do proj til capaz de 167 atravessar os tecidos e penetrar o cora o em posi o frontal o mesmo ocorre quando a v tima se encontra de costas Fig 66 A imagem ilustra as regi es escapular esquerda dorsal esquerda intercostal e omoplata esquerdo em destaque pelo circulo em vermelho Representa acesso rea card aca porem com disparos efetuados pelas costas Na cavidade abdominal como j discutido encontram se diversos rg os est mago f gado intestino ba o p ncreas etc onde localizam se tamb m os grandes vasos aorta e cava Embora o f gado por exemplo seja um rg o bastante vascularizado potencial para sangramento e essencial para a fun o vital para o objetivo de incapacita o imediata n o se apresenta como alvo preferencial pois a hemorragia decorrente de ferimentos perfuro contusos por proj teis de arma de fogo no f gado demandam alguns minutos antes do colapso circulat rio j a art ria aorta embora calibrosa e principal uma vez rompida provoca hemorragia r pida e maci a Contudo encontra se dentro da cavidade abdominal sua flexibilidade invisibilidade e estreiteza tornam na um alvo dif cil e incerto motivos pelos quais a cavidade ab
191. os ir depender da quantidade de ferimentos ou da vaz o do fluxo de sangue podendo o indiv duo conforme o grau de choque apresentar sintomas desde ansiedade ou confus o mental at inconsci ncia O pulso torna se fraco e r pido a press o arterial cai e a frequ ncia respirat ria aumenta O corpo ativa mecanismos para compensar a perda de sangue A press o sangu nea e a perfus o de sangue para os tecidos diretamente relacionada com o d bito card aco e com a resist ncia vascular sist mica principalmente o t nus vasomotor dos vasos sangu neos no sistema vascular perif rico Como mencionado a efic cia dos mecanismos compensat rios do corpo ir depender da quantidade de ferimentos e velocidade da perda do sangue para o meio extra vascular Caso o ferimento localize se em uma art ria como a aorta ou sejam v rios os ferimentos com diversos pontos de sangramento a vaz o de sangue ser mais r pida desencadeando grau severo de hemorragia e choque seguido de morte 34 Os graus de choque classificam se conforme o volume da perda de sangue para o meio extra vascular A classifica o de choque feita de acordo com o Comit de Trauma do Col gio Americano de Cirurgi es Classe o volume de perda vol mica corresponde 15 da volemia O indiv duo n o apresenta altera es significativas na frequ ncia card aca e respirat ria e na press o arterial Em geral essa perda de volume de sangue n o chega a exigir
192. os motins restando em pelo menos 244 duzentos e quarenta e quatro dos presos mortos 4 Human Rights Watch Prison Project Prison Massacres Lista dos piores incidentes conhecidos de viol ncia nas pris es das ltimas d cadas The table lists the worst known incidents of prison violence of the last few decades 28 Al m do rep dio internacional o que os eventos mencionados t m em comum com o epis dio do Carandiru n o somente o saldo acima de 100 mortos ou a for a letal aplicada por agentes do Estado em desconformidade com as diretrizes das Na es Unidas sobre o Uso da For a e Armas de Fogo pelos Funcion rios Respons veis pela Aplica o da Lei mas o fato de que as v timas no momento em que foram mortas encontravam se sob a cust dia do Estado Cust dia definida como qualquer momento em que a liberdade de ir e vir de uma pessoa lhe negada pela aplica o da lei imposta por uma autoridade abrangendo desde a captura transporte fase inquisitorial persecu o penal senten a e confinamento prisional Jhamad et al 2014 Cust dia entretanto mais do que isso Desde sua origem do latim custodiae a palavra custodia significa lugar onde se guarda alguma coisa com seguran a e custodiar do latim custodiare significa proteger ter em seguran a Logo estar sob cust dia do Estado n o se relaciona somente ao status do indiv duo cuja a liberdade de ir e vir sofre restri es por imposi o
193. oximal da coxa esquerda Logo pela trajet ria descrita em que todos os proj teis seguiram de frente para tr s poss vel inferir que M rio estava consciente em frente ao atirador e portanto seria capaz de perceber o momento dos disparos erguendo seu bra o esquerdo em dire o ao rosto na tentativa de protege lo que restou alvejado por dois proj teis Mas qual seria afinal a evid ncia de que M rio foi morto de joelhos O fato de dois proj teis que atingiram sua cabe a e tamb m o proj til que atingiu seu bra o esquerdo conforme laudo terem seguido sentido horizontal sem oscila es de maneira que a altura da arma empunhada na altura da cintura do atirador encontrava se num plano equivalente regi o superior do corpo de M rio uma tese atraente contudo n o se disp e das respectivas alturas do atirador e da v tima Fig 11 Posi o inicial relativa ao uso do fuzil O atirador fica de frente para o alvo com os p s afastados entre si a uma dist ncia correspondente largura dos ombros A m o auxiliar segura a placa do guarda m o A m o que atira segura o punho do fuzil na altura da cintura com o cano voltado para frente Manual Tiro das Armas Port teis Fuzil Minist rio da Defesa Ex rcito brasileiro 2003 96 A evid ncia que sugere um posicionamento da v tima de joelhos bem mais simples do que a sofistica o de um estudo bal stico ela encontra se quase como um detalhe do laudo ma
194. para ser leg timo deve contemplar uma realiza o n o apenas em face das possibilidades f ticas meios mas tamb m das jur dicas Alexy 2012 Ante a inexist ncia de risco iminente de outras vidas terceiros o uso da for a letal se apresenta desproporcional porquanto a interven o no direito fundamental vida exige a simult nea satisfa o de direito fundamental equivalente Destaque se que o princ pio em comento exige que a for a letal n o pode ser utilizada intencionalmente apenas para proteger a ordem p blica ou 44 para servir outros interesses semelhantes Por exemplo n o pode ser utilizado para dispersar protestos para efetuar uma pris o ou para salvaguardar outros interesses como a propriedade Christof Heyns ressalta que al m dos crit rios de adequa o necessidade e proporcionalidade o uso da for a letal requer embasamento jur dico suficiente Esse pressuposto n o cumprido se a for a letal for aplicada fora da estrita previs o legal ou se a lei interna n o est de acordo com as normas internacionais sobre o uso da for a e armas de fogo Acrescenta ainda que a for a letal pode ser aplicada apenas na busca de um objetivo leg timo O nico objetivo que pode ser leg timo quando for a letal usada salvar a vida de uma pessoa ou protege la de ferimentos graves que a coloquem em risco de morte Heyns 2014 Na pr tica isso significa que apenas a prote o vida pode cumprir
195. pois suas les es como descritas s o bicaudadas ou seja o instrumental al m de ponta possui duplo lado de corte tal qual os ferimentos produzidos por lan as ou baionetas Fig 22 Baioneta adaptada em arma AK47 Como se observa trata se de instrumento de ponta e duplo fio de corte A depress o sulco no centro da baioneta favorece a hemorragia interna em vez de extravasamento do sangue externamente http pt dreamstime com foto de stock baioneta de g cabida ao rifle de g image 46055937 7 single edge double edge PER 5 s Knife wound knife wound Fig 23 esquerda ferimento perfuro inciso bicaudado Ambas extremidades apresentam cauda de escoria o compat vel com instrumento de ponta e fio de corte duplo Na imagem direita o molde apresenta forma do ferimento bicaudado em compara o ao ferimento monocaudado Fonte https www google com br search q sharp double edge instrument amp es A despeito das informa es contidas no relat rio e o diagrama do laudo 4450 92 indicarem sobre tr s golpes desferidos por instrumento com ponta e duplo gume afiados contra Claudemir n o compat veis portanto com os artefatos grosseiros e improvisados encontrados no Pavilh o 9 atribu dos ao 116 uso dos presos e apresentados ao perito Osvaldo Negrini em 07 10 92 pelos pr prios policiais e ainda que os golpes foram desferidos com a v tima posicionada de frente ao agressor conforme sentido vetorial dos
196. por exemplo arremesso de uma lan a em dire o ao indiv duo ou quando este cai sobre ela De qualquer forma quando em compara o armas de fogo armas brancas s o consideradas de baixa energia Os instrumentos perfurantes s o objetos com ponta fina pontiaguda cil ndrica de comprimento vari vel e de di metro transverso reduzido Atuam por 2 Al m da mec nica a energia pode estar presente em outras formas f sicas tais como a energia qu mica t rmica el trica ou de radia o PHTLS 2011 30 A ferida pode ser amplamente definida como uma perturba o da continuidade dos tecidos produzidos pela for a mec nica externa Mohite et al 2013 55 press o ou percuss o num determinado ponto corporal agulhas pregos punhais Dentre os instrumentos perfurantes incluem se ainda os de ponta e gume tais como facas navalhas e espadas os de ponta e duplo gume punhais e lan as e os de ponta e arestas flechas e setas Silva 2009 Os instrumentos cortantes possuem um ou mais lados afiados gumes e agem por mecanismo de deslizamento sobre os tecidos como por exemplo o bisturi num procedimento cir rgico J os instrumentos contundentes s o aqueles que agem em determinada rea corporal por press o compress o ou distens o dentre outras formas Como exemplo pode se mencionar um indiv duo sofre um golpe de martelo na cabe a Esse instrumento em geral n o consegue perfurar tecidos mas a for a des
197. que j ferido retirado da cela sendo conduzido at o corredor onde ouviram seus gritos Facas s o instrumentos arma branca que possuem ponta e gume Neste sentido s o dotados de uma l mina e gume afiado de maneira que com a ponta perfuram e com o bordo afiado l mina cortam os planos superficiais e ou profundos do corpo da v tima agindo por press o e sec o No corpo da v tima poss vel observar ferimentos de forma linear com bordos regulares aus ncia de vest gios traum ticos em torno da ferida predom nio da profundidade sobre a largura e presen a de cauda de escoria o Fran a 2008 Dentre as caracter sticas do ferimento produzido por instrumento dotado de l mina nica e gume afiado como uma faca a presen a de cauda de escoria o monocaudado sinal cl ssico produzida na epiderme no instante que precede a a o final do instrumento sobre a pele Desse modo a cauda de escoria o observada na extremidade distal do ferimento inciso onde o instrumento cortante foi afastado do corpo 111 Dorso ou espinha Ponta Punho Fio de corte Fig 18 A imagem apresenta as partes que comp em a faca arma branca Fonte http repositorio aberto up pt bitstream 10216 20050 2 Tesemestradoluciavales2009 pdf Figura 19 Ferimento monocaudado a extremidade direita corresponde ao lado da l mina formando a cauda de escoria o
198. quer destas estruturas por proj til de arma de fogo coopera com o objetivo da incapacita o do indiv duo tornando a v tima suscept vel hemorragia severa pela les o aos vasos oxigena o insuficiente para o c rebro pela hemorragia e les o traqueia que conduz o ar at os pulm es ou interrup o dos est mulos nervosos enviados pelo sistema nervoso central pela les o na medula espinal ou ainda pelo efeito de todas as les es juntas dependendo do trajeto do proj til A rea do pesco o tamb m uma regi o cujo o alvo representa um desafio exigindo bons equipamentos e precis o do atirador obtida nos treinamentos t ticos Isso porque trata se de uma por o mais curta e estreita do corpo em compara o aos demais segmentos corp reos A menos que o 159 atirador tenha confian a em sua habilidade de alvejar o pesco o a op o de alvo para desferir os disparos shot placement s o as reas maiores como o tronco Fig 62 A regi o cervical apresenta uma forma cil ndrica A observa o dos ferimentos na regi o considera perspectivas diferentes do pesco o Da esquerda para direita as figuras ilustram as perspectivas anterior posterior e laterais do pesco o Fonte http www sciencepicture co images 3474 Anatomy of the Face html C nscios do potencial letal de ferimentos desferidos por arma de fogo na regi o cervical policiais militares durante a retomada do Pavilh o 9 alvejaram e obtiveram x
199. ral Sobre os ferimentos por arma de fogo em regi o da cabe a cumpre ainda considerar os resultados apresentados pelos pareceres m dico legal emitidos pelos Departamentos de Medicina Legal da Universidade de S o Paulo e da Universidade Estadual de Campinas Independentemente dos crit rios que um observador utilize quanto a localiza o dos ferimentos perpetrados por arma de fogo na regi o da cabe a se estes encontram se em por o anterior ou posterior e ainda que n o considere que a regi o cef lica possua outras dimens es laterais isso n o interfere no c mputo dos ferimentos observados individualmente e tamb m no total observado nos demais laudos necrosc picos em outras palavras se o ferimento encontra se na frente ou atr s o n mero mantem se invari vel 79 As exce es referem se aos laudos n 4443 92 4459 92 e 4481 92 que embora as v timas tenham sido atingidas por disparos em regi es pr ximas rea cr nio ocular respectivos proj teis ou ficaram alojados em ossos da face ou n o chegaram a penetrar o cr nio 157 O parecer da Universidade de S o Paulo 8 emitido em 27 de Novembro de 1992 relativo ao n mero de ferimentos por arma de fogo na regi o da cabe a observados nos laudos necrosc picos do Carandiru apresenta resultados que consideram o n mero de ferimentos por indiv duo indicando a exist ncia de 58 casos com 1 at 5 ferimentos de entrada em regi o da cabe a somente na por o an
200. resulta em duplica o do di metro do proj til dentro do corpo e aumenta em quatro vezes o potencial de les o interna do proj til nos tecidos Al m disso quando o proj til perde sua forma aerodin mica dentro do corpo reduz a possibilidade de transfixa o mantendo se no corpo que ir absorver toda a energia dispensada aumentando o potencial lesivo Flacker 1987 57 Full Metal Jacket Hollow Point rx Semi jina 7 38 Special Fig 47 Apresenta da esquerda para direita respectivamente os proj teis denominados ponta oca semi jaquetado e encapsulado Fonte https 191 1guns wordpress com tag termos tecnicos Fig 48 A imagem esquerda apresenta muni o deformada ap s o disparo A imagem direita muni o ponta oca ou hollow point Fonte https 191 1guns wordpress com tag termos tecnicos No que se refere produzir a incapacita o imediata a LEAA Law Enforcement Alliance of America desenvolveu um estudo para avaliar a efetividade dos rev lveres em produzir incapacita o e concluiu que as armas que utilizam proj teis que se achatam no momento do impacto ponta macia ou oca s o mais incapacitantes por produzir uma cavidade tempor ria mais ampla e rasa do que proj teis que produzem uma cavidade tempor ria mais estreita e profunda como os proj teis encapsulados Patrick 1989 As submetralhadoras Beretta 9mm tamb m integravam o arsenal de armamentos portados pelos policiais militar
201. rias do Conselho de Direitos Humanos das Na es Unidas cumpriu mandato por um per odo de seis anos 2004 2010 1 Margaret E Noonan e Ann Carson realizaram junto ao Departamento de Justi a dos Estados Unidos Office of Justice Programs Bureau of Justice Statistics um levantamento em pres dios estaduais e cadeias locais pelo n mero e causas de mortes de encarcerados no per odo dos anos 2000 2009 e conclu ram que o suic dio 29 e doen as do cora o 22 foram as principais causas de mortes nas cadeias locais correspondendo por mais da metade 51 de todas as mortes em cadeias Morte pelo uso de droga ou intoxica o alco lica 7 foi a terceira maior causa isolada de morte em cadeias entre 2000 e 2009 e outras causas de morte foram respons veis por cerca de 5 das mortes durante este per odo Destacou o acentuado decl nio de mortes relacionadas com a Aids em rela o aos anos anteriores que apresentou a maior queda em mais de metade 54 Quanto aos pres dios observaram que durante o per odo estudado houve uma redu o de 20 no n mero de mortes e que as mortes relacionadas com a Aids apresentaram um decl nio de 65 Doen as do cora o 26 e c ncer 23 foram as principais causas de mortes relacionadas com a doen a nas pris es respondendo por quase metade 49 de todas as mortes entre 2001 e 2009 A doen a hep tica foi a terceira causa de morte em pris es representando 7 de todas as mortes As mortes por in
202. rir que outro mecanismo contundente n o descrito no laudo provocou os sangramentos dentro do abdome da v tima Infere se que M rio foi agredido na regi o do abdome por chutes socos ou outro instrumento contundente antes de ser morto pois a conclus o do laudo apresenta que a causa da morte foi traumatismo cr nio encef lico provocado por proj til de arma de fogo mas para que ocorra um sangramento ativo tal qual se instalou no abdome da v tima pressup e se que ainda exista atividade card aca O sangue extravasado permaneceu cumulado hematoma na cavidade abdominal ap s a morte e foi observado pelos legistas O proj til que transfixou seu bra o esquerdo penetrando regi o posterior do bra o e saindo pela regi o posterior do antebra o pr ximo ao cotovelo conforme diagrama do laudo sugere bra os erguidos pr ximos cabe a e cotovelos dobrados atingindo o bra o esquerdo pr ximo ao cotovelo o ferimento na cabe a regi o parietal do mesmo lado do bra o ferido lado esquerdo Fig 7 A imagem n o representa a real trajet ria assumida pelos proj teis somente ilustra a infer ncia apresentada ao laudo n 4470 91 SECRETARIA DA SEGURAN A P BLICA RG ar OE APIR DEPARTAMENTO ESTADUAL DE POL CIA CIENT FICA C j INSTITUTO M DICO LEGAL OE NHADA 4 o lt A to 4 PA o eA tec cu 4 qa O A r r MOD DEPC SEBS IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO S A parse ramanea em f Ei to
203. rmos tecnicos O potencial lesivo de armas de fogo n o depende somente da arma mas da velocidade e massa do proj til que ir determinar a quantidade de energia cin tica dispensada no alvo Como mencionado anteriormente a les o resulta da energia for a mec nica aplicada e tamb m da capacidade de absor o resist ncia do corpo alvejado A capacidade de resist ncia depende das caracter sticas dos tecidos mais el sticos ou n o das dimens es f sicas de um rg o e da presen a ou aus ncia de estruturas anat micas que ofere am 60 maior prote o e restri o por exemplo estruturas sseas como o cr nio e costelas da caixa tor cica Maiden 2009 3 1 O ALVO EM REGI O CEF LICA Na regi o cef lica cabe a encontra se o cr nio que composto por diversos ossos que durante o desenvolvimento do indiv duo se fundem em uma nica estrutura onde pequenas aberturas forames na base do cr nio permitem a passagem de vasos sangu neos e nervos cranianos Na por o anterior do cr nio encontra se os ossos frontal esfenoide e etmoide na por o m dio lateral os ossos temporais nas laterais superiores os ossos parietais e na base do cr nio o osso occipital PHTLS 2013 Esses ossos do cr nio d o nome s regi es onde se encontram e s o mencionadas pelos legistas nos laudos observados para localiza o dos ferimentos por exemplo ferimento perfuro contuso em regi o parietal direita regi o fro
204. roj til Para fins de compara o escolheram os casos em que o calibre do proj til que penetrou o cr nio era conhecido respectivamente proj teis calibre 22 16 casos calibre 25 8 casos e calibre 38 11 casos com o crit rio de que os casos escolhidos n o apresentassem nenhuma indica o dos ferimentos terem sido produzidos por fragmentos de proj teis O estudo verificou que os ferimentos de entrada no cr nio produzidos pelo calibre proj til 38 foram significativamente maiores dos que os produzidos pelos calibres 22 e 25 e que entre esses dois ltimos nenhuma diferen a relevante foi observada ainda que o di metro dos ferimentos provocados por proj teis 25 tenham sido menores do que os de calibre 22 Cumpre salientar que no Brasil e nos Estados Unidos o calibre de um proj til representado por cent simos de polegadas assim o calibre 38 tem a sua nota o correta como sendo 0 38 zero ponto trinta e oito ou simplesmente 38 ou seja 38 cent simos de polegada Para a convers o destes calibres para 53 Jurista e escritor formado pela Faculdade de Direito da Universidade de S o Paulo Em 1931 escreveu um artigo para revista de Direito da USP sobre Quest es Pr ticas sobre Medicina Legal Ferimento por Arma de Fogo Orif cio de Sa da e Entrada de Proj til calibre de Proj til 98 o sistema m trico basta multiplic los por 25 4 uma polegada 25 4 mm logo 0 38 x 25 4 9 65 mm ou 9m
205. roj til no seu caminho atrav s do tecido a rapidez com que a energia perdida a elasticidade e coesividade do tecido Di Maio 1999 O estiramento dos tecidos corp reos durante a cavita o tempor ria deve se s suas propriedades el sticas que tendem a retornar sua posi o original Em contraste com o efeito no tecido el stico a cavita o tempor ria pode contribuir substancialmente para lesar tecido inel stico tal como o c rebro Este o caso de ferimentos perfuro contusos por proj teis desferidos na cabe a Karger 1985 O fen meno da cavita o tempor ria significativo porque tem o potencial de ser um dos fatores mais importantes na determina o da extens o de ferimento em um indiv duo A gravidade provocada pela distens o tempor ria relaciona se tamb m com a densidade e proximidade com determinadas estruturas anat micas por exemplo se no trajeto o proj til se deparar com uma estrutura r gida como grandes ossos a severidade da les o frequentemente aumenta Holerman et al 1990 Cavidade Permanente a cavidade produzida ap s o colapso da cavidade tempor ria a por o vis vel da destrui o tecidual O proj til devido sua alta energia esmaga e rompe os tecidos por onde passa deixando um t nel cavidade permanente cujas paredes s o deslocadas por ondas de press o em dire o radial e sentido centr fugo Em geral a rea de les o deixada pela cavita o tempor ria maior do que
206. s e por isso disp em de autoridade legal para usar a for a em diversas situa es autodefesa prote o dos cidad os para vencer resist ncias ou tentativas de fuga na efetiva o de uma pris o ou obter o controle de uma situa o potencialmente perigosa Walker e Katz 2002 quando considerados esses aspectos n o h d vidas que o uso da for a por vezes necess rio aplica o da lei Contudo o uso da for a letal estritamente circunscrito notadamente pelo direito internacional dos direitos humanos Nessa perspectiva a for a letal admitida a necess ria para proteger a vida Assim o grau e adequa o da for a aplicada pela pol cia ficam sujeitos a um criterioso escrut nio para aferir no caso concreto o limite do que razo vel e do que excessivo Inicialmente o uso da for a n o somente a letal por agentes da pol cia pressup e o descumprimento da lei e resist ncia de alguma natureza por 17 Agente penitenci rio presente na data dos fatos em entrevista ao Jornal O Estado de S Paulo p ginas da edi o de 04 de outubro de 1992 pag 26 38 parte de um indiv duo ou de um grupo O artigo 284 do C digo de Processo Penal claro a esse respeito N o ser permitido o emprego de for a salvo a indispens vel no caso de resist ncia ou de tentativa de fuga do preso A a o policial por sua vez implica no uso da for a de forma controlada e progressiva observando o
207. s com institui es para a concess o de bolsas de estudo como da Funda o M rio Simonsen assim como pelo aprimoramento na l ngua inglesa conforme me foi propiciado durante um ano ou ainda pela exist ncia dos n cleos de estudo e pela proximidade do corpo docente aos alunos Desejo destacar a fundamental contribui o da Funda o Carlos Chagas pela concess o de bolsa ao longo de um per odo de quase tr s anos abrangendo a fase preparat ria do Mestrado no ano de 2012 e durante todo o per odo de desenvolvimento da pesquisa 2013 2014 De forma especial manifesto minha gratid o aos professores do Mestrado a come ar de minha orientadora Profa Ma ra Rocha Machado por partilhar de seu tempo ideias experi ncia e conhecimento direcionando esse trabalho com tal leveza que um caminho que parecia rduo tornou se brando de trilhar Quero expressar minha gratid o professora Luciana Gross Cunha por sua vis o acad mica pela confian a depositada conselhos e aten o dispensada Sou muito grata aos professores que participaram de minha forma o em especial os professores Jos Garcez Ghirardi Dimitri Dimoulis e Ronaldo Porto sendo eles mesmos exemplos de voca o e erudi o Agrade o ao N cleo de Estudos sobre o Crime e a Pena da Escola de Direito da FGV SP particularmente a professora Marta Machado que atrav s do N cleo me proporcionou a oportunidade de conhecer mais sobre o Carandiru onde tamb m me foram
208. s de um confronto corporal entre presos como hematomas cortes ferimentos contusos pauladas ou socos nos corpos de Valmir e Claudemir tamb m militam contra a tese de que as mortes deles foram provocadas por outros presos Contudo o relat rio do Ac rd o de Apela o 105 368 0 4 0 que absolveu o coronel Ubiratan Guimar es em abissal disson ncia com as evid ncias que os laudos necrosc picos apresentam assim profere 80 Conforme consta s fls 72 do laudo da per cia criminal foram entregues pelos policiais ao perito Osvaldo Negrini em 07 10 1992 armas e artefatos que supostamente teriam sido encontrados dentro do Pavilh o 9 ap s os fatos 117 Est provado nos autos que v rios presos se mataram entre si No julgamento o Minist rio P blico admitiu ao menos nove dessas mortes reduzindo o n mero de v timas atribu das PM para 102 Walter de Almeida Guilherme relator da Apela o 105 368 0 4 0 em Ac rd o de absolvi o do coronel Ubiratan Guimaraes em 15 02 2006 Qualquer que seja a prova nos autos qual o relator Desembargador Walter de Almeida Guilherme faz men o esta certamente n o considera as evid ncias relatadas pelos legistas nos laudos necrosc picos de v timas como Valmir e Claudemir Marques os irm os A SEGURAN A P BLICA DEPARTAMENTO ESTADIS de o yso SECRETARIA DA SEC E TE A STADUAL DE POLICIA CIENT FICA lt FLS 048 4 E INSTITUTO ME DICO LEGAL
209. s na verdade n o aleatoriamente descrito Observamos escoria es pequenas nos dois joelhos descreveram os legistas N o fossem os depoimentos de sobreviventes e as evid ncias apresentadas pela per cia criminal igualmente ressaltados por Azevedo Marques dentre eles a presen a de cavidades nas paredes das celas com alturas vari veis entre 0 40 1 70m e outra precisamente com 1 20m as escoria es nos joelhos de M rio poderiam passar sem nenhuma relev ncia at porque outros cad veres apresentaram escoria es em diversas partes do corpo notadamente em regi o das costas e regi o ventral atribu dos aos procedimentos de arrasto dos corpos Contudo n o esse o caso de M rio Com exce o do hematoma em regi o dos olhos j discutido e dos ferimentos de entrada e sa da dos proj teis a aus ncia de outros ferimentos pelo corpo onde se destaca t o somente as escoria es nos dois joelhos traz um significado relevante a inferir que M rio esteve de joelhos em superf cie relativamente spera pois as escoria es s o pequenas e que possivelmente foi lhe determinado que se movesse estando nesta posi o o que gerou o atrito e produziu as escoria es Ademais de acordo com o laudo o cad ver encontrava se despido no momento do exame necrosc pico 4 3 O FUZIL DE ASSALTO O laudo 362 92 ainda nos traz ainda outro aspecto da hist ria de M rio que vale ser destacado Todos os pro
210. s pela locomo o pois de acordo com as estrat gias de guerra um soldado ferido e impedido de locomover se mobiliza muito mais outros soldados do que se estivesse morto Na perspectiva do policiamento t tico a incapacita o imediata tem conota o de produzir xito letal e n o se relaciona unicamente com a rea alvejada do corpo do advers rio mas consiste na combina o de mecanismos que potencializam os ferimentos Patrick 1989 tais como Penetra o O proj til capaz de atravessar tecidos do corpo humano de maneira eficaz enquanto os rompe ou os destr i 76 Cavidade Tempor ria A natureza e a gravidade de um ferimento por arma de fogo dependem da velocidade e caracter sticas do proj til e dos tecidos pelos quais o proj til atravessa As caracter sticas do proj til s o inerentes massa forma e constru o e s o em parte conferidas pela arma velocidade longitudinal e rotacional A cavidade tempor ria causada pelo proj til que transfere sua energia cin tica ao tecido com o qual ele entra em contato provocando o estiramento radial das paredes formando uma cavidade que representa uma rea maior que a rea de sec o do proj til que ir ondular cerca 5 a 10 mil simos de segundo antes de retornar posi o anterior e resultar como uma cavidade permanente A localiza o dimens o e a forma da cavidade tempor ria num organismo dependem da quantidade de energia cin tica perdida pelo p
211. s princ pios da necessidade e proporcionalidade A arma de fogo neste sentido ser sempre o ltimo e inevit vel recurso ser aplicado No cumprimento das suas fun es os respons veis pela aplica o da lei devem se valer de meios n o violentos antes de recorrer ao uso da for a e armas de fogo O recurso s armas s aceit vel quando outros meios se revelarem ineficazes ou incapazes de produzir o resultado pretendido Contudo com alguma frequ ncia noticiado pela imprensa confrontos entre policiais e suspeitos ou presos onde a for a letal aplicada pela pol cia justificada pelo mecanismo de resist ncia seguida de morte Essa ret rica oficial temerosa e desloca normas jur dicas claras inclusive de mbito internacional sobre o uso de for a letal que estipulam que admitido pol cia efetuar disparos de armas de fogo apenas quando evidente que um indiv duo est prestes a matar algu m fazendo da for a letal proporcional e n o h outro meio dispon vel para deter o suspeito fazendo a for a letal necess ria Pela iniciativa e reivindica o do movimento negro do Brasil o Projeto de Lei 4 471 12 8 que tramita na C mara dos Deputados prop e altera es no C digo de Processo Penal dentre elas no artigo 284 mencionado estipulando crit rios para a apura o de mortes e les es corporais decorrentes das a es de agentes do Estado tais como policiais militares 18 O Pr
212. s semelhantes ocorreram no Chile Filipinas Guatemala e El Salvador Cordner e Mckelvie 2002 A experi ncia a base cient fica e efic cia do trabalho dessas equipes alicer aram a expans o da ci ncia forense e conseguinte investiga o sobre os crimes Payne James et al 2003 Fig 3 Clyde Snow apresentando evid ncias de ferimentos de arma de fogo nos cr nios das v timas durante o julgamento de membros da Junta Militar no caso o cr nio projetado de Liliana Pereyra Buenos Aires 24 de abril de 1985 Foto Daniel Muzio Fonte http www forensic architecture org theme osteobiographies A atua o do Dr Clyde e sua equipe durante o julgamento de membros da Junta Militar na Argentina e outros pa ses da Am rica Latina marcaram de maneira definitiva a import ncia do exame do cad ver ou restos mortais das v timas nas investiga es de viola es aos direitos humanos Neste sentido em casos de execu es sum rias civis o exame do cad ver assumiu proemin ncia na investiga o de tal viola o aos direitos humanos Laqueur 1999 O corpo leva sobre si as marcas da viol ncia Quando o depoimento isolado de uma testemunha reunido com a evid ncia de um cr nio perfurado por um proj til n o se est diante de uma figura vazia ou arbitr ria Cyr 2008 nem de um truque ret rico da acusa o se est diante do corpus delicti ou corpo de delito 47 A comunica o que evoca o corpus d
213. se Rodrigues ambos do 3 BPChg que aderiram ao grupo e fizeram uso de fuzis M 16 contra detentos Dentre os Mortos com ferimentos produzidos por instrumento perfuro cortante e ou por proj til de arma de fogo do 3 pavimento 2 andar 55 M rio Gon alves da Silva 4 4 O CORREDOR POLON S Eu passei no corredor da morte duas vezes Descendo em dire o ao p tio e voltando Subiram na minha frente umas 80 pessoas e eu ouvi o grito da morte delas Ouvi gritos que at hoje ecoam na minha mente Jacy de Oliveira Declara es prestadas por sobreviventes vinte anos ap s o Massacre do Carandiru tais como de Jacy de Oliveira e tamb m algumas feitas na poca dos fatos como a de Milton Abrah o de 29 anos preso no Pavilh o 9 em entrevista revista Veja publicada em 14 de Outubro de 1992 informavam que ap s a varredura dos policias em todos os pavimentos os presos sobreviventes eram conduzidos para o p tio mas para alcan ar as escadas eles tinham que passar por um Corredor Polon s onde eram agredidos por chutes e coronhadas e lembra 58 O outro lado do Carandiru Uma li o de liberdade Revista Adventista Mais Destaque por Andr Marujo em 23 abril 2013 Jacy de Oliveira ficou preso 11 meses e 4 dias no Carandiru por suspeita de roubo sendo liberado por falta de provas 106 Tinha leo no ch o e eles mandavam agente correr se o cara ca sse morria Essa dec
214. seguido do exame externo e interno do corpo Ao final da parte descritiva h a discuss o dos achados e conclus o sobre a s causa s da morte e tamb m a resposta aos quatro quesitos que constam no caput do formul rio Os dados da observa o inicial s o complementados pelo legista por representa o gr fica diagrama do corpo do cad ver que comp e o laudo necrosc pico como um mapeamento que utiliza sinais c rculos tra os setas etc e cores preto e branco al m de legendas para demonstra o dos locais de ferimentos sentido vetorial dos proj teis de arma de fogo e outros achados que o observador de primeira ordem entender relevantes No plano epistemol gico a observa o de segunda ordem adotada nessa pesquisa se prop s a observar como os legistas observaram os 111 cad veres do Carandiru encaminhados ao Instituto M dico Legal de S o Paulo Trata se de observar o modo de observar do primeiro observador Moeller 2006 registrado nos laudos Nessa fase procedeu se observa o das 381 p ginas que comp em os 111 laudos necrosc picos obtendo se dados qualitativos e quantitativos que ser o detalhados no t pico sobre a produ o dos dados 2 Tanatologia Forense o componente da medicina legal que est ligado aos fen menos da morte interessando lhe o estudo minucioso do cad ver Gapski 2008 16 1 1 O OBJETO DA OBSERVA O OS LAUDOS NECROSC PICOS Conforme apresentado no t pico anterior a ferramen
215. sharp edge A extremidade esquerda o dorso da faca sem corte dull edge Fonte https forensicmd files wordpress com Figura 20 Ferimento perfuro inciso monocaudado provocado por objeto de l mina nica e gume faca A aproxima o dos rebordos permite a identifica o do ngulo sem corte superior e o ngulo do corte inferior Fonte https forensicmd files wordpress com 201 1 07 sharp edged and pointed instrument injuries1 pdf 112 O diagrama do laudo necrosc pico de Valmir Marques dos Santos apresenta claramente na ilustra o e legenda a presen a de ferimentos monocaudados Ocorre que os ferimentos de n meros 3 4 5 6 e 7 respectivamente na regi o dorsal regi o das costas embora sejam todos monocaudados os de n meros 6 e 7 apresentam diferen a n o na forma mas no sentido da empunhadura da faca pelo agressor No diagrama a cauda de escoria o dos ferimentos 6 e 7 direcionada para cima sentido cef lico e nos ferimentos 3 4 e 5 a cauda de escoria o direcionada para baixo sentido pod lico Esse aspecto de grande relev ncia pois numa sequ ncia de 5 facadas como se apresentam na regi o dorsal de Valmir caso fossem desferidas no mesmo momento o agressor teria que trocar o lado da faca efetuando os golpes que resultaram nos ferimentos 3 4 e 5 com a l mina da faca voltada para baixo e os golpes que resultaram nos ferimentos 6 e 7 com a l mina
216. siderados ferimentos de defesa a presen a de ferimentos perfuro contusos em regi es das m os dedos palma e dorso antebra os bra os ombros e membros inferiores pernas e 71 p s Embora seja admiss vel que nem todos esses ferimentos registrados nos laudos relacionem se diretamente com ferimentos de defesa certo que a natureza e localiza o dos ferimentos descritos trazem forte indica o 3 5 PODER DE PARADA STOPPING POWER COMO ESTRAT GIA DE EXECU O Desde o final da d cada de 1970 a maioria das pol cias militares brasileiras especializou parte dos seus efetivos para o atendimento de situa es denominadas de defesa social de alto risco consistindo em a es que extrapolassem o poder de resposta do patrulhamento preventivo cotidiano Assim foram criados grupos especiais inseridos nos batalh es de pol cia de choque para interven es em situa es que envolvessem o combate a guerrilhas sequestros confrontos armados e atos terroristas Cotta 2009 Esses grupos especiais receberam treinamentos de t ticas e t cnicas oriundas do modelo das For as Armadas A forma o era militar e o foco estava na prote o do Estado e na manuten o da Ordem P blica tendo como suporte a doutrina da Seguran a Nacional A partir da Constitui o de 1988 os eventos cr ticos que demandavam a atua o de tais grupos perdem gradativamente sua conota o pol tico ideol gica e passam
217. signado mas de um dos mais graves atentados contra o Estado de Direito quando este somente florescia no Brasil 1992 essencial que os fatos ocorridos no Carandiru n o fiquem adstritos a um entendimento de a o isolada e discricion ria da pol cia militar de S o Paulo cuja viol ncia aplicada trouxe efeitos desastrosos aparteada de qualquer outro significado mais abrangente A gravidade dos fatos e o momento em que ocorreram desafia reflex o sobre as implica es que o epis dio traz at os dias de hoje para o Estado de Direito no Brasil e conseguinte para sistema penal carcer rio Algumas consequ ncias alcan am mbito internacional De acordo com o observat rio de direitos humanost Human Rights Watch desde 1992 o epis dio do Carandiru ocupa o 3 lugar em n mero de mortos no ranking dos 10 piores casos conhecidos de viol ncia nas pris es em todo o mundo nas ltimas d cadas ao lado de eventos como da pris o militar de Tadmor ao norte de Damasco na S ria que por determina o do Presidente Hafez al Asad em 27 de Junho de 1980 membros das for as da Brigada de Defesa sob o comando de Rifaat al Assad executaram cerca de 500 quinhentos presos e tamb m da rebeli o que envolveu tr s pres dios no Peru de forma integrada nas cidades de Lima e Callao ocorridas em 18 de Junho de 1986 quando o governo peruano declarou a regi o dos pres dios como zona de guerra e convocou as for as armadas para reprimir
218. t took on the afternoon of October 2nd 1992 gaining more precise contours and allowing inferences about the implementing acts perpetrated by the police KEYWORDS Carandiru Autopsy report Execution SUM RIO INTRODU O sen a Sd 12 CAPITULO 1 METODO 0 SE oii a 15 1 0 Desenvolvimento da Pesquisa rrenan 15 1 1 O objeto da observa o Os laudos necrosc picos 17 1 2 Etapa da produ o de dados jsisissuaiataadosaaia si lhasaadsozasab a dass Debeba meiiqua crendo cada 19 1 3 Sistematiza o dos dados ias Rs ba das ED DESA tas 21 1 4 An lise dos dados cs a epiimadisisasi sedan di oxasiadao Leu mpntn sda Ein CLA ng IS ra EUA ae a da 22 1 5 Contribui o para a comunidade acad mica ie 24 CAP TULO 2 A MORTE EM PRIVA O DE LIBERDADE i 26 2 1 Mortes sob Cust dia do Estado aaa 27 2 2 O Uso da For a Letal are an LSD a ag fd 38 2 3 O Protocolo de MINSSSOLA asmpemizmpiisiars tri feciiri raca mesada pi cd nnen 46 CAP TULO 3 O CORPO HUMANO COMO ALVO eee 53 3 1 Alvo em Regi o Ceflalica ui es teta as ral sas sronb a ao Ainso ala des lp dp aa 61 3 2 Alvo em Regi o do PESCO O se santanipeatarsdenias seg doses inapLta de cespita ds ad daua dada urades 63 3 3 Alvo em Regi o do RONCO carssassiaatos os ps pel iapdnds sSaleqUai atgudoSE Dal abandono pa Panda 6 ta 65 3 4 Ferimentos de Defesa eroa ad era
219. ta utilizada para a obten o dos dados foi a observa o de segunda ordem No entanto preciso esclarecer que o objeto dessa observa o s o os laudos produzidos pelos legistas e n o o cad ver Por essa raz o ainda que de forma mais sucinta cumpre uma explica o sobre o que s o os laudos necrosc picos Etimologicamente a palavra laudo prov m do latim audare que significa enaltecer exaltar De laudare derivam louvar em portugu s e lodare em italiano Houaiss 2001 O juiz encarregado de julgar ou proferir uma senten a era chamado de juiz louvado ou simplesmente louvado por extens o sem ntica a qualifica o de louvado estendeu se aos rbitros e peritos O termo laudo tem sido usado em rela o ao parecer de especialistas quanto exames necrosc picos exames de imagem por exemplo radiografias ou tomografias e registros gr ficos Rezende 2010 Na medicina forense o laudo necrosc pico o parecer que resulta de uma aprecia o t cnica realizado pelo m dico legista perito com a finalidade de contribuir com as autoridades policiais ou judici rias na verifica o dos fatos que envolvem a morte n o natural sendo um meio de prova admitido no direito no qual o perito sob o compromisso da verdade auxilia no esclarecimento de um fato considerado relevante para o pronunciamento do rg o judicante Figueiredo et al 2006 No Estado de S o Paulo as atividades de necropsia forense s o de responsa
220. te pesquisa emp rica quando se prop e a apresentar evid ncias de morte por execu o a partir de dados extra dos dos laudos necrosc picos As palavras de Pires entretanto n o significam que um pesquisador deva restringir sua pesquisa determinado tipo de dados vale dizer exclusivamente qualitativo ou quantitativo Neste estudo a observa o dos relat rios e diagramas dos laudos permitiram a produ o dos dois tipos de dados simultaneamente os qualitativos a partir das descri es dos legistas quanto s diversas caracter sticas pessoais das v timas bem como de seus ferimentos e 19 causa da morte e os dados quantitativos que foram depreendidos a partir dos dados qualitativos Por exemplo o n mero de ferimentos perfuro contusos provocados por proj til de arma de fogo em determinada v tima na maioria dos laudos n o se encontrava registrado de forma expl cita mas impl cita Era necess rio primeiro observar os termos que o legista utilizou para descrever o ferimento para compreender que se referia a ferimentos de entrada ou mesmo de sa da de proj til de arma de fogo para depois ent o comput los como um ou outro tipo quantificar Em geral os ferimentos de entrada eram descritos como ferimento perfuro contuso circular com rea de contus o e enxugo bordas invertidas Assim tamb m se procedeu com rela o aos ferimentos perfuro cortantes produzidos por arma branca A descri o do ferim
221. terior distribu dos da seguinte forma 1 ferimento 36 casos 2 ferimentos 15 casos 3 ferimentos 6 casos 4 ferimentos 0 e 5 ferimentos 1 caso Considerando somente a regi o posterior da cabe a segundo o parecer este observou 37 casos com 1 at 2 ferimentos sendo 1 ferimento observado em 25 casos e 2 ferimentos em 6 casos No total de ferimentos em regi o da cabe a por arma de fogo referido parecer apresenta o n mero de 126 ferimentos sabido que em alguns laudos o mesmo indiv duo apresenta ferimentos tanto em regi o anterior como posterior da cabe a contudo a presente pesquisa n o identificou nenhum caso com 4 ou 5 ferimentos por arma de fogo na regi o da cabe a Cumpre esclarecer que o m ximo de ferimentos na cabe a por arma de fogo no mesmo indiv duo de acordo com os laudos necrosc picos observados foi de 3 ferimentos Neste sentido a Tabela a seguir apresenta a distribui o de ferimentos encontrados na regi o da cabe a por indiv duo conforme an lise dos dados colhidos dos respectivos laudos N FERIMENTOS NA CABE A POR N DO LAUDO RESPECTIVO TOTAL INDIVIDUO 1 346 92 361 92 366 92 367 92 1533 92 1534 92 1535 92 1536 92 1537 92 1538 92 1543 92 1547 92 1787 92 1793 92 4431 92 4433 92 4435 92 4443 92 4445 92 4449 92 4451 92 4456 92 4458 92 4460 92 80 Parecer M dico Legal da Faculdade de Medicina de Universidade de S o Paulo emitido sob solicita o do Dr Paul
222. tingindo o f gado al m da proximidade do agressor em rela o v tima que o ferimento por arma branca requer Infere se que os ferimentos perfuro incisos por arma branca foram 73 A forma como eram produzidos tais artefatos pode ser encontrada no livro Aqui Dentro P ginas de uma Mem ria do Carandiru de Maureen Bisilliat p 157 142 desferidos consecutivos aos ferimentos perfuro contusos por arma de fogo em regi o do cr nio c rebro e pesco o grandes vasos e medula espinal superior Projeteis de arma de fogo que atingem o cr nio e o pesco o do mesmo indiv duo em regra ser o fatais se n o houver socorro imediato Mesmo quando interrompido o comando de fun es vitais porque o Sistema Nervoso Central enc falo foi atingido por um mecanismo el trico e aut nomo do m sculo card aco o cora o pode ainda que de maneira d bil manter as contra es e bombeamento do sangue por poucos minutos Nesse caso a parada card aca n o imediata s les es do c rebro mas uma consequ ncia e posterior ao colapso do Sistema Nervoso Central e choque hemorr gico pelo sangramento intra abdominal e dos vasos do pesco o At que a parada card aca ocorra um ferimento penetrante agudo por arma branca em regi o vascularizada como o f gado tal como relatado no laudo provocar sangramento intra abdominal ativo o que registra o relat rio do laudo necrosc pico com rela o ao exame interno em regi o a
223. tivas causas de morte dentre outros Para o prop sito de verifica o sobre as evid ncias de execu o observ veis nos 111 Laudos Necrosc picos do Carandiru nem todos os dados obtidos tais como qualifica o conferiam o potencial de tornarem se evid ncias somente determinadas categorias de dados como por exemplo dos ferimentos produzidos por arma de fogo e arma branca reas atingidas e caracter sticas das les es apresentavam tal qualidade e sob a exig ncia de uma cuidadosa abordagem e revis o Os resultados desta pesquisa que se apresentam quantific veis como o n de ferimentos perfuro contusos por arma de fogo em regi o da cabe a s o frutos de um tratamento qualitativo onde a leitura de todos os relat rios se fazia imprescind vel posto que os ferimentos de entrada de arma de fogo que revelam o n mero de proj teis que atingiram as v timas raramente eram dispostos de forma expl cita como ferimento de entrada e sim descritos por suas caracter sticas perfuro contuso circular bordas invertidas rea de contus o e enxugo etc Paralelo a isso a simples observa o dos diagramas representa o gr fica dos laudos como fonte de dados poderia conduzir inexatid o dos resultados Embora os diagramas tenham uma proposta de facilitar a visualiza o do n mero de ferimentos localiza o em alguns casos at o trajeto do proj til os legistas escolheram formas muito peculiares para diferenciar
224. to sobre Emo es como se viu igual Controle Thibodeau e Hertig 2010 enfrentam ainda uma quest o peculiar a este trabalho a acusa o de agentes policiais pelo uso excessivo da for a e lembra que a aplica o da for a depende de quatro elementos capacidade perigo iminente inten o e impedimento e que desde uma defesa preliminar o agente dever ser capaz de responder as seguintes quest es 1 Tinha o agressor a capacidade de ferir o policial ou terceiros 2 Estava o policial ou terceiros em iminente perigo de serem feridos 3 O agressor demonstrou inten o de ferir algu m 4 Estava o policial impedido de esquivar se ou de aplicar outras a es de defesa controle que conduziram ao uso da for a letal E completa se o oficial n o puder responder afirmativamente todas essas quest es ele ter s rios problemas para justificar o uso da for a aplicada Thibodeau e Hertig 2010 examinando alguns casos que geram responsabilidade por uso excessivo de for a policial concluiu que as les es produzidas ou responsabiliza o do policial comumente envolvem a o uso pela pol cia de qualquer for a onde o suspeito n o oferece nenhuma resist ncia b uso negligente de for a normalmente n o letal mas que conduz morte ou les es graves c excessiva for a como rea o resist ncia do sujeito aos comandos do policial d infli o intencional de dor como puni o sum ria e uso da for a letal em circu
225. tos de defesa Logo poss vel inferir que os ferimentos perfuro contusos observados em membros superiores de acordo com os laudos necrosc picos refletem sen o todos mas de maneira significativa a tentativa de defesa das v timas do Carandiru Por fim na tabela a seguir apresenta se um quadro geral onde se considera os 111 laudos necrosc picos quanto efetividade dos disparos perpetrados contra as v timas e respectivos rg os internos lesados 83 Al m do laudo 4486 92 os laudos 4466 92 e 4486 92 tamb m apresentam descri o de ferimentos em regi o do dorso das m os 171 N Laudo C rebro Pulm o Cora o F gado Grandes vasos abdome 346 92 X X 347 92 348 92 349 92 350 92 351 92 X 352 92 353 92 354 92 K K K a a a 355 92 X 361 92 365 92 366 92 367 92 362 92 363 92 364 92 1529 92 1530 92 1531 92 1532 92 X X A o DX a x x 1533 92 1534 92 1535 92 1536 92 Xixi XxX K K a 1537 92 1538 92 1539 92 1542 92 1543 92 1544 92 1545 92 1546 92 K K a a l KI K a a a l a 1547 92 1786 92 X 1787 92 1788 92 X 1789 92 1790 92 1791 92 1792 92 K K a a l 1793 92 172 1794 92 1795 92 4431 92 4432 92 4433 92 4434 92 4435 92 4436 92 4437 92 4438 92 4439 92 4440 92 4441 92 4442 92 4443 92 4444 92 4445 92 4446 92 4447 92 4448 92 4449 92 4450 92 4451 92 4452 92 4453 92 4454 92 4455 92 4456 92 4457 92 4458 92 4459 92 4460 92 4461 92 44
226. tos terem sido alvejados dentro das celas alguns deles deitados com face voltada para o ch o dec bito ventral e com as m os cruzadas atr s da nuca ou das costas conforme os relatos colacionados acima 46 Depoimento de Nivaldo Batista de Oliveira detento sobrevivente do Pavilh o 9 prestado ao Conselho de Defesa da Pessoa Humana em 22 10 1992 nas depend ncias do Carandiru Fonte Hist ria de Um Massacre Casa de Deten o de S o Paulo Machado e Marques 1993 p 110 47 Depoimento de Douglas de Jesus Gon alves detento sobrevivente do Pavilh o 9 Op Cit P 115 48 Jornal O Estado de S o Paulo 111 Mortos no Maior Massacre da Hist ria do Brasil Edi o de 04 10 1992 Caderno Cidades P 25 Dispon vel em http acervo estadao com br pagina 19921004 36145 nac 0025 cid 1 not 86 Marcos Rodrigues Melo 21 anos era um jovem saud vel de cabelos pretos e olhos castanhos em seu peito exibia a tatuagem de P gaso um cavalo alado da mitologia grega que indica liberdade e for a Um drag o e um escorpi o estampavam seu bra o direito Mas as imagens que marcam o corpo de um preso n o buscam estilo mas a comunica o Representam um universo enigm tico feito para ser interpretado somente por aqueles que convivem o ambiente carcer rio Em geral indicam personalidade crimes cometidos entrada e sa da em algum grupo ou ainda a hierarquia na pris o Contudo outras duas marcas no corpo de Marcos revelam como foi sua morte
227. toxica o homic dio ou acidentes foram as causas menos comuns de mortes contabilizando cerca de 2 das mortes nas pris es Noonan e Carson 2011 N o existem estudos semelhantes realizados no Brasil 30 que decorrem de atos de viol ncia referindo se aos casos de homic dios entre presos perpetrados por agentes penitenci rios e tamb m os resultantes da a o da pol cia O Departamento Penitenci rio Nacional DEPEN apresenta relat rios semestrais sobre o perfil da popula o em estabelecimentos prisionais de todos os estados da Federa o Mesmo com relat rios semestrais a hip tese de subnotifica o existe pois ao observar os relat rios constata se que nem todos os estados respondem semestralmente a todos os quesitos Dados obtidos do Sistema Integrado de Informa es Penitenci rias InfoPen no ltimo relat rio divulgado at dezembro de 2012 apresentam que no Brasil haviam 548 000 mil presos no sistema prisional e delegacias de pol cia Considerando os dados dos ltimos 5 anos 2008 2012 disponibilizados pelo DEPEN depreende se que 1077 pessoas morreram em estabelecimentos prisionais em todo o Brasil pres dios delegacias centro de deten o provis ria sob cust dia do Estado sendo que deste total 1005 s o do sexo masculino O Sistema Integrado de Informa es Penitenci rias InfoPen n o apresenta nenhum detalhamento sobre os casos de bito classificados como criminais apresentando
228. tre consciente um ataque inesperado ou perpetrado por tr s da v tima n o d a ela a chance de se defender casos em que os ferimentos de defesa podem estar ausentes Neste sentido embora a presen a de ferimentos de defesa constitua forte evid ncia em favor de homic dio a aus ncia de tais ferimentos n o descarta a hip tese de a o homicida Chattopadhyay e Sukul professores do Departamento de Medicina Forense da Faculdade de Medicina em Kolkata em Bengala na ndia ao 68 estudarem o padr o de ferimentos de defesa durante 5 anos com a realiza o de 5 697 necropsias das quais 189 foram v timas de homic dio por arma branca notaram a presen a de ferimentos de defesa em 90 casos 47 61 que se apresentaram de forma diversa desde escoria es contus es lacera es e les es incisas Verificaram que os membros superiores foram mais comumente usados para autodefesa compondo um total de 62 dos casos 79 4 Ferimentos nas costas 14 1 e nos membros inferiores 6 5 tamb m foram notados Em 63 dos casos 70 os ferimentos de defesa foram observados somente em um lado do corpo unilateral sendo o lado esquerdo o mais afetado 43 casos No que se refere aos membros superiores a regi o do antebra o e das m os foram as que mais sofreram os ferimentos Nas circunst ncias em que as v timas foram empurradas para o ch o e atacadas por mais de um agressor ferimentos de defesa foram notadas em v rias partes do corp
229. tro era um confronto de quadrilhas muito bem armadas Luiz Ant nio Fleury O termo massacre n o serve para definir o que ocorreu na sexta feira passada na Carandiru essa palavra muito pesada ela carrega um grau de julgamento de algo que sequer foi investigado Pedro Franco de Campos 40 A modifica o da cena do crime e limpeza pr via ao exame da per cia criminal dentro do Pavilh o 9 mencionada pelo perito Osvaldo Negrini no laudo pericial s fls 40 e menciona a inobserv ncia aos artigos 6 e 169 do C digo de Processo Penal que preveem que o local onde houver sido praticada a infra o a autoridade providenciar para que n o se altere o estado das coisas at a chegada dos peritos 4 O Jornal do Brasil publicou em 04 10 1992 a not cia A a o da tropa de choque da pol cia militar paulista para controlar anteontem a tarde a rebeli o de presos amotinados no Pavilh o 9 na Casa de Deten o durou cerca de meia hora mas resultou em um verdadeiro massacre Fonte Jornal do Brasil 2 ed Domingo 04 10 1992 p 26 42 O Jornal O Estado de S o Paulo publicou em 04 10 1992 em primeira p gina not cias sobre o evento ocorrido no Carandiru sob a seguinte manchete Massacre Deixa 111 Presos Mortos O Jornal Folha de S o Paulo Publicou em 05 10 1992 sobre o caso Carandiru com o T tulo Governo De S o Paulo J Admite Rever o Saldo de Mortes na Chacina 43 Revista Veja Cad veres
230. u a uma s rie de assassinatos mas isso n o era verdade o suficiente para as autoridades ou para as fam lias das v timas O acusado ent o conduziu uma equipe de investigadores para uma fazenda abandonada e l patologistas forenses descobriram o corpo de uma mulher enterrado em posi o de agachamento era claro o orif cio onde o proj til entrou em seu cr nio e uma ruptura irregular em seu osso da maxila onde saiu em um necrot rio as ma s do rosto altas eram o sinal revelador os pais puderam ent o fazer uma identifica o Laqueur 1999 Desde que a ci ncia forense se tornou um marco nas investiga es de viola es aos direitos humanos ocorreram mudan as institucionais e 48 processuais inspiradas na fus o do corpus delicti e vest gios materiais com o depoimento pessoal Parte desses esfor os de ativistas de direitos humanos e de m dicos forenses desde a d cada de 1980 t m sido o de estabelecer protocolos de investiga o forense de maneira a aperfei oar a utiliza o da documenta o produzida junto aos tribunais Entre 1984 e 1988 um grupo de direitos humanos nos Estados Unidos denominado Advogados de Minnesota para os Direitos Humanos consultou especialistas forenses de uma s rie de pa ses e elaborou o Protocolo para Prevenir Execu es Arbitr rias atrav s Investiga o Adequada da Morte e Autopsia conhecido como Protocolo de Minnesota O Protocolo de Minnesota foi incorporado aos princ
231. udos necrosc picos de v timas sob cust dia como forma de aferir viola es aos direitos humanos Na Austr lia Inglaterra Sri Lanka e ndia as mortes sob cust dia t m sido investigadas com rela o tortura A Comiss o Interamericana de Direitos Humanos quanto ao epis dio do Carandiru considerou como um Massacre ser analisado luz dos crit rios estabelecidos nos Princ pios relativos a uma Eficaz Preven o e Investiga o das Execu es Extrajudiciais Arbitr rias ou Sum rias Relat rio 34 00 da CIDH 2000 ou seja o Protocolo de Minessota Sob a perspectiva do protocolo mencionado os atos de execu o que provocaram a morte de 111 detentos no Carandiru interessam n o somente justi a criminal p tria mas ao cen rio internacional Ao lado disso as viola es 50 ocorridas no evento do Carandiru n o ficam adstritas somente s 111 vidas arbitrariamente ceifadas s o evidenciadas tamb m na cena do crime em que determinou se a remo o dos corpos do local onde originalmente foram executados arrastando e amontoando os cad veres dispersando os vest gios presentes nos corpos assim como no momento em que a cena foi adulterada tendo celas e corredores que continham sangue lavados e vest gios de proj teis removidos ou ainda quando foi protelada a libera o do Pavilh o 9 para o in cio dos trabalhos da per cia A despeito dos atos do Estado que sucederam s execu es a Comiss o Intera
232. udos de Sheikh 2009 Chattopadhyay e Sukul 2012 e Mohite 170 2013 comentados no cap tulo 4 que encontraram nos cad veres submetidos ao exame de necropsia preponder ncia de ferimentos de defesa em membro superior esquerdo possivelmente pela proximidade imediata ao agressor com a arma empunhada pela m o direita destro onde o bra o esquerdo utilizado como um primeiro meio de defesa Ainda que fossem levantadas d vidas quanto aos ferimentos em membros superiores expressarem diretamente a tentativa de defesa das v timas do Carandiru e n o somente disparos que atingiram aleatoriamente os membros superiores a incid ncia de 44 ferimentos s em bra o e antebra o esquerdos conforme os estudos apresentados em face de somente 25 ferimentos em bra o e antebra o direito j fala por si Caso os ferimentos fossem resultado de disparos aleat rios poderiam estes serem observados incidindo de forma equilibrada nos dois membros ou ainda incidindo mais no bra o e antebra o direito Contudo n o foi isso que os laudos necrosc picos observados apresentam Ressalte se ainda que mesmo que os ferimentos no dorso das m os nem sempre representem ferimentos de defesa como no caso do laudo 4486 92 analisado no cap tulo 1 esses ferimentos representam somente 3 casos incluindo os laudos 4466 92 e 4486 92 Os demais ferimentos na regi o das m os 4 foram observados na regi o palmar rea caracter stica da presen a de ferimen
233. ue aconteceu no Massacre do Carandiru A partir desta reflex o inicial a constru o da pesquisa percorreu um longo caminho em alguns momentos se avan ava em outros era preciso retroceder mas sem perder o foco Neste sentido a presente pesquisa s se tornou poss vel pela inestim vel colabora o de professores e tamb m pela contribui o de pesquisadores em todo o mundo que disponibilizaram suas pesquisas e relevantes estudos cient ficos com o nobre intuito de somarem comunidade acad mica A pesquisa utiliza como ferramenta principal a observa o dos laudos necrosc picos De maneira geral a observa o dos fen menos qualquer que seja a sua natureza constitui o n cleo de todo procedimento cient fico Jaccound e Mayer 2008 15 Assim sob os 111 laudos necrosc picos coexistem ao menos duas perspectivas de observa o a de primeira e de segunda ordem Moeller 2006 Nos limites da presente pesquisa a observa o de primeira ordem se refere ao exame do cad ver pelo olhar t cnico do m dico legista O exame implica em observa o dos segmentos corp reos cabe a pesco o tronco e membros em sua por o externa al m do exame das cavidades internas regi o abdominal e tor cica e da caixa craniana Os dados s o registrados pelo observador de primeira ordem de forma descritiva iniciando por um breve hist rico a presen a dos sinais tanatol gicos evid ncia de morte a descri o da vestimenta
234. usos caracter sticos de tiros de rasp o no corpo de Cl udio sugerem que ele teria tentado esquivar se dos disparos efetuados pelos policiais Contudo os ferimentos de rasp o considerados isoladamente poderiam n o ser suficientes para conduzir tais conclus es No entanto o laudo necrosc pico informa a presen a de ferimento de entrada de proj til de arma de fogo em regi o frontal esquerda cabe a com zonas de tatuagem e esfuma amento caracterizando tiro de curta dist ncia ou seja os legistas registram que o ferimento desferido contra a cabe a de Cl udio foi com o cano da arma muito pr ximo pele indicando conseguinte proximidade do atirador v tima A zona de tatuagem tipicamente resultante da impacta o e impregna o de part culas de p lvora incombustas que n o se queimaram localiza se volta do orif cio de entrada e n o facilmente removida com simples lavagem com gua A zona de esfuma amento produzida pelo dep sito de fuligem da p lvora resultantes da combust o da carga propelente ao redor do orif cio de entrada do proj til esta fuligem incorporada superficialmente pele ao redor do orif cio de entrada 123 Fig 29 Ferimento perfuro contuso em regi o frontal direita por arma de fogo curta dist ncia com presen a de zona de tatuagem e esfuma amento Fonte http Awnww badanpalhares med br casos e projeteis caso eprojeteis introducao him Se houve
235. utas l se Neste cap tulo s o apresentadas t cnicas de como se destr i o advers rio com facas porretes garrotes S o de grande valia para o combate pois podem existir ocasi es em que n o se disponha de uma arma de fogo e a faca pode representar um importante instrumento de combate bem como se pode usar diversos meios para destruir seu inimigo Se n o for destru do o inimigo ele o destruir Portanto no combate corpo a corpo n o existem regras e todos os artif cios s o v lidos para sobrepujar o inimigo Tais assertivas remetem diretamente ao laudo necrosc pico 4472 92 A v tima Alex Rog rio de Ara jo de 22 anos O laudo nos conta que Alex quando foi morto n o se encontrava em m os de amadores mas de policiais militares muito bem treinados Em seu corpo foram observados quatro ferimentos distintos faca 2 e arma de fogo 2 e cada um deles reflete o treinamento militar t tico De acordo com o laudo necrosc pico Alex sofreu dois ferimentos perpetrados por arma branca Notamos ferimentos por arma branca facada em regi o mam ria esquerda e esgorjamento cervical direita Como se l o pr prio laudo j especifica que os dois ferimentos foram provocados por faca e que um dos ferimentos mam ria esquerda atingiu diretamente seu cora o e pulm o esquerdo O segundo ferimento se apresentou como um profundo corte do centro lateral direita do pesco o o que deno
236. vicular e infra ou supra clavicular direita ou esquerda Esterno retro ou paraesternal Lombar Hemit rax esquerdo Hemit rax direito T rax lateral esquerdo T rax direita Paravertebral direita ou esquerda T rax anterior esquerdo Infra supra Omoplata esquerdo Regi o axilar direita ou esquerda Intercostal esquerda TOTAL 349 92 367 92 367 92 2x 364 92 1538 92 1539 92 1542 92 2x 1544 92 2x 1545 92 1546 92 4438 92 4444 92 4453 92 4457 92 4461 92 4481 92 4482 92 4491 92 4492 92 4495 92 23 365 92 1534 92 1539 92 4459 92 44693 92 44 62 92 2x 4471 92 4475 92 3x 4482 92 4484 92 4491 92 4492 92 15 350 92 2x 2 350 92 1533 92 4439 92 3 354 92 1792 92 4481 92 3 354 92 2x 361 92 1532 92 1534 92 1535 92 4439 92 2x 4446 92 9 351 92 354 92 361 92 365 92 1533 92 4448 92 4451 92 4460 92 4463 92 9 361 92 1529 92 1545 92 4480 92 4487 92 4488 92 6 1530 92 2x 1547 92 2x 1 788 92 1790 92 4434 92 2x 4440 92 4465 92 4493 92 11 1539 92 1786 92 4442 92 4447 92 2x 4459 92 4461 92 4464 92 2x 4467 92 4480 92 4489 92 4493 92 4494 92 4498 92 3x 17 4447 92 4459 92 4467 92 4477 92 4478 92 2x 4494 92 2x 8 1543 92 1 1547 92 1 4443 92 2x 2 4449 92 4485 92 2 4455 92 1 4458 92 4466 92 4467 92 4469 92 4496 92 5 4466 92 1 146 Tab 7 Distribui o de ferimentos em regi o toraco lombar com os respectivos laudos e total de ferime
237. voltada para cima Essa possibilidade embora n o possa ser totalmente descartada n o comum em geral o agressor desfere golpes seguidos e no mesmo sentido A hip tese mais sugestiva que os golpes tenham sido desferidos em momentos diferentes confluindo com os testemunhos dos presos sobreviventes onde Valmir teria recebido os golpes 6 e 7 inicialmente e ferido mas ainda consciente foi conduzido at o corredor onde recebeu os golpes facadas restantes e quando puderam ouvir seus gritos Momentos distintos de golpes de faca ficam sugestivos quando a v tima apresentou ferimentos tamb m na por o anterior do corpo na face e abdome Entretanto ainda que isso fosse refutado como evid ncia o pr prio laudo cuida de esclarecer que os sentidos vetoriais trajetos dos ferimentos tamb m s o distintos Enquanto os ferimentos 3 4 e 5 seguem o mesmo sentido vetorial ou seja foram desferidos de cima para baixo de tr s para frente e da esquerda para direita os ferimentos 6 e 7 foram desferidos de baixo para cima tr s para frente mas da direita para a esquerda Ou seja nos dois ltimos ferimentos n o foi s o lado da l mina que mudou como vimos mas tamb m o sentido em que vinham sendo desferidos os golpes nestes ltimos de baixo para cima e da direita para esquerda 113 INSTITUTO M DICO LEGAL a Dema TATO emou toca L 35 227 HENCO LES SID Fig 21 Diagrama do Laudo 352 92 Indica
238. voltado para o antebra o do militar e Ro t Pegada Reversa Foto 7 Foto E Caracter stica A faca segura pelo cabo com a ponta voltada para o baixo ou para o cotovelo dissimulada com o fio principal voltado para o lado oposto do bra o O polegar pode estar estacionado no pomo da faca foto 7 ou envolvendo o cabo foto 8 A empunhadura invertida da nfase ao corte como ataque prim rio podendo ser seguida de uma estocada como ataque secund rio Restringe o alcance da arma por m dificulta que uma pessoa desarmada consiga efetuar o controle da mesma O Fig 26 A ilustra o acima apresenta a pegada reversa da faca Foi mantida a descri o original conforme apresentado no Manual Fonte Abrah o J R R et Al Manual de Defesa com Facas C mara Brasileira do Livro S o Paulo 1962 120 O diagrama do laudo abaixo refor a a tese de que a abordagem policial foi feita pelas costas de Edilson estocando a faca em sentido vertical ascendente na regi o de seu f gado hipoc ndrio direito tal qual a t cnica apresentada na ilustra o O corte linear no queixo sugere que o movimento do bra o direito do policial com a faca empunhada pode ter permitido que a l mina passando pr ximo ao rosto de Edilson ferisse seu queixo por ser mais proeminente ou ainda no momento em que seu corpo se projetava ao ch o logo ap s a estocada e a retirada da faca do abdome SECRETARIA DA SEGURAN A P BLICA i 3 DEPAR
239. xa e presen a de v rias estruturas vitais na regi o Na verdade s o raros os casos em que a trajet ria de uma bala atravessa a regi o do pesco o e n o danifique quaisquer estruturas vitais Gondhi et al 2011 O pesco o possui muitas estruturas vitais confinadas numa rea estrita do corpo por isso o potencial de eventos traum ticos conduzirem fatalidade As principais art rias do pesco o s o as car tidas comuns e as principais veias que retornam o sangue da cabe a e do rosto s o as veias jugulares internas e externas Destaque se que o tipo e extens o dos danos dependem do tipo de arma utilizada arma branca ou de fogo No caso de arma de fogo os ferimentos dependem de v rios fatores tais como massa velocidade trajet ria do proj til e tamb m da dist ncia do atirador Dependem tamb m da energia cin tica que transferida ao tecido com o qual o proj til entra em contato forma o da cavidade tempor ria e permanente que ser discutido a seguir Existe uma gama de possibilidades de ferimentos letais que podem ser produzidos pela utiliza o de arma branca ou de fogo na regi o cervical seja pela destrui o direta e imediata de determinada estrutura como no caso de 64 sec o da medula espinal cervical ou pelas consequ ncias da les o estruturas do pesco o como por exemplo lacera o ou deslocamento da traqueia ou ainda pelo edema provocado pelo edema incha o e sangramento int
240. zado pela Universidade de S o Paulo onde os laudos necrosc picos e tamb m os de les o corporal do epis dio do Carandiru s o objetos de observa o Embora este estudo tenha sido apresentado na forma de parecer m dico legal este quantifica seus resultados de maneira que a considera o deste estudo pr vio se faz necess ria no momento da an lise dos dados ao menos quanto aos elementos de observa o comuns o que ser feito concomitante divulga o dos dados resultados da presente pesquisa 5 1 FERIMENTOS POR ARMA DE FOGO EM REGI O DA CABE A Alinhando se com as indica es dos treinamentos t ticos policiais apresentados no cap tulo 4 que objetivam causar incapacita o imediata num alvo humano produzindo ferimentos letais pelo disparo de proj teis de arma de fogo em reas vitais do corpo humano como a regi o da cabe a os m ltiplos ferimentos perfuro contusos observados e descritos pelos legistas nos laudos necrosc picos nesta rea espec fica do corpo permitem inferir o objetivo de execu o A rea da cabe a e a face oferecem uma reduzida rea alvo de somente 5 89 quando comparada com a rea oferecida pelo restante do corpo Lagarde 1914 indicando que n o uma regi o f cil de ser alvejada sem a considera o de crit rios t ticos e treinamento muito menos por disparos aleat rios Os dados obtidos revelam uma incid ncia elevada de ferimentos perfuro contusos provocados por proj teis de ar

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