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flaviadesousa - EICOS

1. Viol ncia urbana seguran a p blica e favelas o caso do Rio de Janeiro atual Cad CRH online 23 59 283 300 2010 ISSN 0103 4979 doi 10 1590 S0103 49792010000200006 Dispon vel em http www scielo br scielo php script sci_abstract amp pid S010349792010000200006 amp Ing pt amp nrm isok amp tl ng pt SILVA L amp LEITE M Viol ncia crime e pol cia o que os favelados dizem quando falam desses temas Soc estado online 22 3 545 591 2007 ISSN 0102 6992 doi 10 1590 S0102 210 69922007000300004 Dispon vel em http www scielo br scielo php script sci abstract amp pid S0102 69922007000300004 amp Ing pt amp nrm iso amp tIng pt SILVER R C HOLMAN E A MCINTOSH D N POULIN amp M GIL RIVAS V Nationwide longitudinal study of psychological responses to September 11 JAMA 288 10 1235 44 2002 STREY M Psicologia social Contempor nea Petr polis RJ Vozes 2010 SOARES G amp BORGES D A Cor da Morte IN Revista Ci ncia Hoje 35 209 p 26 2004 SOARES L Seguran a p blica presente e futuro Estudos Avan ados 20 56 91 106 2006 ____ Criminalidade urbana e viol ncia O Rio de Janeiro no contexto internacional n o paginada In Criminalidade Urbana e Viol ncia o Rio de Janeiro e o Contexto Internacional S rie Textos de Pesquisa ISER Rio de Janeiro 1993 SOARES B LEMGRUBER J MUSUMECI L RAMOS S ET AL Unidades de Pol cia Pacificadora O que pensam os poli
2. O que os traficantes faziam pelos moradores Ajudavam com dinheiro G s Rem dio Festa Os moradores recorriam aos traficantes para pedir ajudar Em que situa o Podemos falar que existia um lado positivo no tr fico Qual era Na sua favela tinha baile funk Como era O que voc achava disso Com que frequ ncia voc ouvia tiros Como reagia a esses momentos Eram frequentes os conflitos entre os comandos Qual era a fac o que ocupava sua favela 218 Como voc fazia para se proteger nos momentos de conflito O que voc precisou aprender para lidar com o tr fico e com as caracter sticas de cada fac o O que voc dizia aos seus filhos sobre a presen a do tr fico Voc ensinava como deveriam agir Como se sentia em rela o proximidade dos seus filhos com o tr fico e as armas Voc acha que a conviv ncia com o tr fico facilita o consumo de drogas e o envolvimento com o crime Voc conheceu pessoas que se envolveram com o tr fico Como voc se sentia quando passava perto de traficantes e das bocas de fumo Teve algum epis dio em que voc precisou falar com os traficantes Como foi Como voc se sentiu Voc j sofreu viol ncia por parte dos traficantes Seus filhos e familiares viram Como ficaram Conhece algu m que sofreu Que situa es limite voc viveu causado por esta conviv ncia com o tr fico O que mais amea ava voc naquela poca De que tinha medo
3. um point destinado a pessoa l l de baixo Tanto que que cobra se at um valor um valor muito alto pra entrar Ent o realmente pras pessoa l de baixo e voc v taxis e mais taxis e voc v que s o pessoas l de baixo e morador n o participa Evanir 67 anos pastor casado 1 filha Nas imedia es desses eventos a presen a de visitantes gerou um aumento nas vendas para o com rcio localizado na Pra a do Cant o que passou a receber um p blico com maior poder aquisitivo OTS 2012 O p blico que frequenta as festas no Santa Marta formado em sua maioria por jovens de classe m dia dos bairros que ficam no entorno da favela Esses eventos fazem parte majoritariamente de festas organizadas por blocos do carnaval Os eventos realizados na favela s o divulgados como uma forma alternativa de divers o em oposi o s casas de festa tradicionais Jurema 65 anos esclarece que os bares que ficam ao redor da quadra tamb m tocam m sica nos dias de evento o que permite a ela um lazer com baixo custo V fico l bebendo L agora o point Os bacana vai pra l Os garoto bota o som O pessoal da rua vai pra l Aqui na quadra Agora os bacana aluga ali S vem gente bonita Eu vou l s pra ver gente bonita Jurema 65 anos dona de casa 2 filhos Jurema 65 anos faz refer ncia a uma parte do morro conhecida como Cant o local conhecido anteriormente pela concentra o de traficantes Ap
4. O controle das fac es sobre algumas favelas pode ser constatado em 1996 durante a grava o do clipe do cantor Michael Jackson na favela Santa Marta A produ o do cantor precisou pedir autoriza o ao ent o Dono do morro o traficante Marcinho VP para entrar na favela e realizar o trabalho BARCELLOS 2003 A d cada de 1990 ficaria marcada ainda na hist ria das favelas cariocas pelos arrast es nas praias Not cia do dia 18 de outubro do ano de 1992 no Jornal Nacional retrata as imagens que ficariam marcadas na mem ria dos brasileiros Rapidamente as gangues tomam conta da areia Uma parede humana avan a sobre os banhistas Pavor e inseguran a Sem que se saiba de onde come a uma grande confus o O p nico toma conta da praia As pessoas correm em todas as dire es s o mulheres crian as pessoas desesperadas procura de um lugar seguro A viol ncia aumenta quando gangues rivais se encontram Este grupo cerca um rapaz que cai na areia e espancado A pouco metros dali outro bando avan a sobre a quadra de v lei Os jogadores se afastam da quadra e correm para proteger as barracas mulheres e crian as Dois policiais apenas dois chegam at a praia Jornal Nacional 1992 Os arrast es mudaram a percep o da viol ncia na cidade do Rio de Janeiro Quando a viol ncia atinge as praias reduto dos turistas antes protegidos do perigo o medo se propaga e inaugura se a di
5. o para uma certa cultura de briga que estaria especificadamente ligada aos bailes funk Jailson de Souza e Silva 2005 esclarece que existem outras formas violentas de agrupamento de jovens que n o t m liga o com o tr fico de drogas Uma delas conhecida como galeras com identifica o territorial Esse tipo de grupo formado por moradores 154 comuns que buscam identifica o e orgulho atrav s da vestimenta dos bailes e das brigas com outras galeras em bailes funks Outra limita o imposta s festas e eventos a redu o do volume do som ap s determinado hor rio Existe uma lei estadual do sil ncio decreto lei n 126 de 10 de maio de 1977 que legisla sobre a polui o sonora e n o define um limite de hor rio para que se desligue o som de festas particulares A lei delimita o n mero de decib is permitidos e afirma que qualquer pessoa pode recorrer autoridade competente para fazer cessar o barulho quando se sentir incomodado Fabiane 34 anos relata que os policiais delimitam o volume do som de todas as festas ainda que n o existam queixas contra o barulho A gente pode dar festa Para gente dar festa a gente tem que pedir autoriza o pra eles mas se eles v o l se d duas horas tr s horas assim se a gente quiser continuar com a festa a gente tem que diminuir o som Eles deixa at tal hora mas se passar eles pede pra baixar Fabiane 34 anos dona de casa cas
6. viol ncia estrutural oriunda das desigualdades sociais que o estigma e a atua o policial geram e justificam 22 2 1 Porque a favela n o pode ser comunidade As UPPs objeto de estudo desta disserta o est o instaladas em 33 localidades do munic pio do Rio de Janeiro que historicamente s o reconhecidas como favelas por seus moradores e pelo restante da cidade O governo do estado do Rio de Janeiro em sua comunica o oficial afirma que a pol tica atende a comunidades o termo favela n o utilizado As favelas do municipio que receberam Unidades de Pol cia Pacificadora entre 2008 e 2013 s o Morro Santa Marta Zona Sul Cidade de Deus Zona Oeste Jardim Batam Zona Oeste Babil nia e Chap u Mangueira Zona Sul Pav o Pav ozinho e Cantagalo Zona Sul Ladeira dos Tabajaras e Morro dos Cabritos Zona Sul Morro da Provid ncia Centro da Cidade Morro do Borel Zona Norte Morro do Andara Zona Norte Morro da Formiga Zona Norte Morro do Salgueiro Zona Norte Turano Zona Norte Macacos Zona Norte S o Jo o Matriz e Quieto Zona Norte Coroa Fallet e Fogueteiro Centro da Cidade Escondidinho e Morro dos Prazeres Centro da Cidade Complexo de S o Carlos e Mineira Centro da Cidade Rocinha Zona Sul Vidigal e Ch cara do c u Zona Sul Mangueira e Morro do Tuiuti Zona norte Alem o Pedra do Sapo Zona Norte Fazendinha Zona Norte Nova Bras lia Zona Norte Adeus e Ba
7. Alguns avan os foram feitos no sentido de determinar porque a exposi o a um evento traum tico determina o desenvolvimento do TEPT em alguns indiv duos e n o em outros consenso que assim como a maior parte das psicopatologias a probabilidade de desenvolver ou se recuperar do TEPT depende do contexto social em que o sujeito est inserido A exist ncia ou n o de apoio social antes e depois do evento traum tico um dos fatores que definem o n vel de vulnerabilidade para desenvolver e se recuperar do TEPT CHARUVASTRA amp CLOTTRE 2008 Ao longo do processo natural de recupera o a intensidade do medo diminui e o indiv duo experimenta um maior equil brio emocional O apoio social pode acelerar o processo de recupera o ao enviar uma mensagem de que existem membros do grupo social que se importam com o bem dos demais Dessa forma o indiv duo percebe que poss vel confiar em outras pessoas e sua percep o do mundo ganha uma representa o positiva que propaga um senso de seguran a O contr rio tamb m verdadeiro se n o encontrar apoio social o indiv duo que desenvolveu TEPT pode reafirmar sua cren a na hostilidade do mundo e aumentar seu n vel de medo CHARUVASTRA amp CLOITRE 2008 Os resultados de diversas pesquisas indicam haver uma rela o entre exist ncia de apoio social e a presen a ou aus ncia de sintomas de esquiva e isolamento social em indiv duos com TEPT Essa informa o relevante
8. ent o menos a vis o deles talvez esse ano como eles ver a formatura eles tenham outra consci ncia porque a cabe a desse povo daqui muito devagar Jurema 65 anos dona de casa 2 filhos Por sua vez os jovens entrevistados por j estarem empregados e serem pais de fam lia acreditam que essas oportunidades v o mudar o futuro das crian as Em comum todos os moradores entrevistados sabem da exist ncia de in meras atividades aulas de m sica cursos de eletricistas aulas de inform tica caminhadas reuni es para discutir problemas locais Sabem igualmente que estas s o gratuitas e de forma geral n o exigem requisitos para a participa o Entretanto ainda quando t m interesse no tema envolvido n o se mobilizam para participar das atividades realizadas pelos movimentos sociais n o buscam informa es e desconhecem os atores envolvidos e o conte do das atividades 138 Exemplo desse quadro o caso de Fabiane 34 anos que ouviu por terceiros sobre os cursos e n o buscou informa es diretamente mas agora os curso que tem pra fazer l na cl nica da fam lia parece muito curso ali o que pareceu eu queria fazer mas o que apareceu eu ouvi que foi mais pra homem assim neg cio de eletr nica essas coisas assim pra mim eu n o sei porque eu gosto de fazer assim culin ria assim forno e fog o lavar passar cozinhar eu gosto assim Fabiane 34 anos casada dona de casa 3 fil
9. es a p por policiais sem que armas fossem disparadas esculachos e duras ambas g rias para revistas desrespeitosas e intimidadoras feitas pela pol cia e agress es f sicas em via p blica Continuando seu relato sobre a situa o atual do tr fico de drogas no Santa Marta Alessandro 34 anos revela Eu acho que nem os cara da UPP t m no o disso n o t m Mas melhora Quando isso come ou eu comecei a ver os caras vive mais Antes da UPP morreu um dia cinco de uma vez s tudo garoto de menos de vinte anos Entrou a UPP nunca mais morreu ningu m no morro At pro traficante a qualidade de vida dele melhorou tamb m Tu pode ver que a realidade T m pessoas que vai falar pra tu T sendo sincero melhorou S piora quando eles s o preso mas ficam l no morro atoa Ver pol cia sai correndo Antes n o pol cia via fugindo dava um tiro na cabe a e acabou Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos A aus ncia de registro de v timas letais de arma de fogo no Santa Marta ap s a implanta o da UPP um dado divulgado pela secretaria de seguran a p blica Em decorr ncia da pr tica comum de oculta o de cad veres em favelas acrescentei nas entrevistas uma pergunta sobre a aus ncia de confrontos e de mortos Todos os entrevistados avaliaram que efetivamente n o tem havido tais ocorr ncias Deve se ressalvar que essa indaga o foi acrescentada com o objetivo de verifi
10. ltimo funcionava como extens o a todos os moradores da favela do estigma de criminoso ainda que estes convivessem com os criminosos por falta de op es O estigma conforme o descrito pelos entrevistados gerava a es discriminat rias por parte dos demais setores da sociedade como a recusa em empregar moradores de favelas e o apoio por parte da sociedade a a es violentas e abusivas das for as policiais A viol ncia oriunda do dom nio territorial exercido pelo tr fico de drogas representada pelos moradores entrevistados atrav s da imagem de um sequestro onde estes se sentiam ref ns dos traficantes Nessa condi o os entrevistados apresentavam um n vel baixo de seguran a psicol gica em raz o da imprevisibilidade de a es violentas Como mecanismo de defesa alteravam seu estilo de vida evitavam andar em determinadas regi es da favela limitavam o hor rio de suas atividades e evitavam completamente algumas atitudes como convidar moradores de favelas ocupadas por fac es rivais que ocupava o Santa Marta na poca Na presente disserta o considerou se a viol ncia oriunda do tr fico de drogas como atividades de uma ordem social espec fica conceituada e nomeada por Lu s Ant nio Machado 2000 2008 2010 da Sociabilidade Violenta As a es dos participantes dessa ordem se baseiam no uso da for a o que faz com que a nica rela o poss vel com os moradores seja a de domina o O conceito d
11. s UPPs do que os idosos que em geral buscam sossego Com a diminui o da viol ncia e a recupera o das pra as internas novas possibilidades de lazer surgiram A minha irm mais nova ela tem costume de sair e voltar de madrugada Antes voc n o fazia uma coisa dessa Minha irm hoje ela sai vai pra uma festa e volta 2 horas da manh e sobe a p porque essa hora o telef rico j parou Para meia noite E ela sobe tranquila Antes ou voc descia pra uma festa e voc dormia na rua ou voc n o ia pra festa Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho Tr s entrevistadas relataram que em decorr ncia da aus ncia de confrontos e de pontos de venda de droga v o a outras partes do morro e ficam mais tempo na rua Esse aumento na mobilidade interna representa nesses casos a possibilidade de se desfrutar de lazer na comunidade em que residem e com baixo custo Porque agora a gente pode ficar at tarde se a gente quiser ficar o dia todo a noite toda no meio da rua assim bebendo conversando pode Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos Os moradores afirmaram que a seguran a para ficar na rua e nos espa os comuns como quadras e pra as gerou uma nova op o de lazer O mesmo acontece com a percep o de que podem usufruir de lazer fora da comunidade e voltar em seguran a para casa Os moradores demonstram insatisfa o por terem perdido outras op es de lazer como os bailes funks festas
12. sentiu Voc j foi abordado pela pol cia Como foi O que voc achava quando a pol cia entrava na favela Qual a repress o mais temida Militar Bope Mil cia Caveir o Por qu Que cr ticas voc fazia sobre o trabalho da pol cia Ap s a instala o da UPP voc acha que a rela o da pol cia com os moradores mudou 220 4 A UPP Quando foi instalada a UPP na sua favela Como foi a instala o da UPP Voc se lembra desse dia Poderia descrev lo Onde estava Com quem O que voc achou na poca O que sentiu Por qu Como os traficantes reagiram not cia da instala o da UPP Houve conflito O que voc esperava que acontecesse ap s a UPP Quais eram as suas expectativas Como os moradores reagiram entrada da UPP Eles gostaram O que mudou no seu dia a dia Como era seu dia e seus afazeres antes da UPP E depois como ficou Seus hor rios Suas preocupa es Seu sono Seu tempo E de sua fam lia Passou a fazer coisas que n o fazia antes Deixou de fazer coisas que fazia antes Seus planos para o futuro mudaram Como voc percebe que a UPP afetou tamb m seus vizinhos 221 Como foi a conviv ncia com a pol cia no in cio Voc notou alguma mudan a Como a atua o da pol cia O que voc precisou aprender e ou fazer para lidar com a presen a da pol cia O que voc acha que a instala o da UPP significou para a sua favela Houve algum
13. 2012 O Governo do Estado afirma que existem 8 592 policiais trabalhando nas 33 UPPs instaladas at junho de 2013 O Instituto de Seguran a P blica ISP divulgou que no ano de 2012 cinco policiais foram mortos enquanto trabalhavam em UPPs enquanto no restante da cidade apenas dois policiais morreram em servi o no mesmo per odo De forma geral as mortes de policiais nas UPPs foram causadas por disparos feitos por traficantes durante rondas policiais Esse dado indica a continuidade da presen a de traficantes nas favelas com UPPs No entanto parece estar em curso uma mudan a na estrutura e na forma de atua o do tr fico de drogas nas favelas com UPPs Ainda que mantenha a venda de droga no varejo 10 O Instituto de Seguran a P blica ISP Relat rio Tem tico Bala Perdida referente ao ano de 2012 Instituto Brasileiro de Pesquisa Social IBPS 2010 FGV l Dispon vel no site oficial do Governo do Rio de Janeiro http www upprj com 36 o tr fico de drogas n o realiza mais o dom nio territorial armado Essa mudan a gerou rf os do tr fico alguns adolescentes que trabalhavam em fun es menos importantes dentro da estrutura do tr fico e que se encontram vagando pelas favelas com UPPs SOARES 2012 RAMOS 2011 A atua o dos movimentos sociais nas favelas com UPP tem igualmente sofrido altera es A principal delas est associada ao papel das associa es de moradores que antes da
14. Creche Posto de sa de cl nica da fam lia Coleta de lixo H asfalto Ilumina o p blica O que voc acha que est faltando Qual a maior dificuldade enfrentada pelos moradores Como a sua rotina Voc trabalha Sa para divertir se Onde os moradores costumam ir Voc tem filhos Se sim Como a vida das crian as e jovens dentro da favela Quando seus filhos eram menores com quem os deixava para trabalhar Ou se tem atualmente filhos menores quem fica com eles para trabalhar Como a rotina deles 2 Experi ncia com o tr fico 217 Esta comunidade sempre teve viol ncia Como era O que mudou com o tempo Com que idade quando voc come ou a perceber a presen a do tr fico Como era o tr fico nesse in cio Voc os conhecia Eram moradores do local Nessa poca a conviv ncia com o tr fico mudava a sua vida de alguma forma Voc se lembra como era a rela o dos traficantes com os moradores Os traficantes faziam alguma coisa pelos moradores Ajudavam em algo Dinheiro G s Sua fam lia lhe disse como deveria agir na presen a de traficantes Voc notou alguma diferen a entre os traficantes de hoje e os de sua inf ncia Qual Como os identifica Nesses ltimos anos como era a atua o do tr fico na sua favela O que eles faziam O Tr fico interferia no seu dia dia Como Era diretamente ou indiretamente Como era rela o dos traficantes com os moradores
15. E tamb m onde segundo os entrevistados se localizam as fam lias em situa o de pobreza extrema Atr s da esta o 91 5 fica a sede da UPP do Santa Marta que foi constru da originalmente para ser uma creche mas nunca tendo sido usado para esse fim transformou se em sede da UPP Nesse pr dio s o oferecidos cursos aos moradores Perto da esta o e da sede da UPP fica o campinho um campo reformado pela prefeitura que conta com grama sint tica ilumina o e grades de prote o Esse local era conhecido anteriormente por ser muito perigoso diversas mortes e torturas s o narradas pelos entrevistados como tendo acontecido nesse local poss vel acessar esse trecho do morro pelo bairro de laranjeiras o que torna poss vel subir materiais para a constru o das casas por ali tamb m que costumavam acontecer confrontos entre a pol cia e os traficantes Outros pontos que se destacam na favela s o a associa o de moradores a quadra da escola de samba G R E S Mocidade Unida do Santa Marta tr s quadras para pr ticas de esporte as diversas igrejas evang licas as creches a Creche da Pequena Obra Nossa Senhora Auxiliadora a Creche Comunit ria Santa Marta a Creche Comunit ria Mundo Infantil a Creche Comunit ria Vinde Menino duas minas de gua uma na parte baixa a esquerda e outra na parte alta e um po o direita utilizados pelos moradores quando n o existia fornecimento regular de gua A casa de um
16. Vin cius 24 anos desempregado 1 filho Tanto Vivian 23 anos quanto Vin cius 24 anos s o jovens e pais Se considerarmos que sua inf ncia e sua adolesc ncia est o temporalmente mais pr ximas do que para os demais entrevistados poss vel compreender a presen a da compara o entre sua inf ncia e a dos filhos Destaca se ainda a import ncia que d o liberdade para brincar 103 fato n o citado pelos demais entrevistados Vivian 23 anos foi criada em uma fam lia s de mulheres com av sua m e sua irm e sua tia Os adultos saiam para trabalhar ela frequentava a escola pela manh e era respons vel por cuidar da casa e fazer comida para a fam lia Dessa forma o nico tempo que lhe sobrava para brincadeiras era a parte da noite per odo em que se iniciavam os conflitos armados N s crian as e adolescente j tinha uma responsabilidade em casa A gente tinha que colocar um arroz no fogo As meninas arrumar a casa e deixar tudo arrumado Ent o quando a m e chegava do trabalho que era o momento da gente sair pra brincar Ent o era sempre cinco e meia seis horas as vezes sete horas e era justamente o hor rio que come ava tudo tem dia que as crian as ficam aqui ontem mesmo uma e vinte da manh as crian as tavam aqui brincando A m e t dentro de casa mas t olhando Quando eu ia poder brincar at uma e vinte da manh na rua A meu esposo fala caramba essas crian as t o fazendo m
17. abordagem midi tica dada viol ncia no estado do Rio que constantemente representada como uma guerra entre os bandidos e a pol cia entre morro e asfalto entre o mal e o bem A cada novo epis dio de viol ncias as manchetes dos jornais utilizam a met fora de uma guerra para descrever a situa o da cidade LEITE 2005 Com isso o estigma territorial sobrep e se aos estigmas universais da pobreza e da ra a WACQUANT 2001 Ao definir estigma Goffman 1988 destaca que o termo denotava inicialmente uma marca f sica que revelasse aos demais algum atributo muito importante de seu portador para que todos se afastassem O sujeito estigmatizado carrega alguma caracter stica que inibe o contato dos demais Em oposi o os indiv duos normais seriam os que n o apresentam nenhuma caracter stica que contrarie as expectativas sociais prevalentes 2 A partir dessa conceitua o de estigma importante ressaltar a exist ncia de duas condi es de pessoas estigmatizadas os desacreditados e os desacredit veis O primeiro grupo diz respeito s pessoas cujo estigma pode ser facilmente percebido O segundo grupo por sua vez teria estigmas que n o s o imediatamente percebidos dependendo de algum n vel de informa o GOFFMAN 1988 Situa o similar ocorre com os moradores de favelas cujo estigma ligado ao territ rio pode ser ocultado em outros locais Assim ao informar seu endere o o mor
18. ambiente todos os res duos que podem vir a prejudicar a sa de OMS 2003 Entre as atividades consideradas como saneamento b sico est o abastecimento de gua sistema de esgoto coleta e remo o do lixo A aus ncia de sistema de esgoto e os problemas com a coleta de lixo foram relatados como expectativas n o realizadas pelo programa da UPP e maior obst culo qualidade de vida dos entrevistados atualmente Do esgoto e ali n s pagamos esgoto mas o esgoto continua a c u aberto a c u aberto Infelizmente o que me decepciona ali isso Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3filhos A cobran a sobre o esgoto come ou a existir ap s a regulariza o do fornecimento de gua ocasi o em que a empresa CEDAE trocou os encanamentos e criou um sistema de drenagem Esse sistema acabou se transformando em escoadouro de esgoto e lixo que ficam a c u aberto 146 gua tem que pagar porque gua e esgoto essa vala que voc viu ai Jurema 65 anos dona de casa 2 filhos O Governo do estado afirma ter instalado rede de esgoto no morro Santa Marta incluindo liga es de esgoto em 1 500 resid ncias Entretanto o esgoto permanece a c u aberto ao longo das vielas e as valas termo pelo qual as redes de drenagem s o conhecidas pelos moradores est o repletas de lixo Os moradores entrevistados consideram que a exist ncia das valas uma prova da aus ncia de rede de esgoto e que
19. amp EVANSON 2011 COSTA 2004 61 O controle exercido pelos traficantes sobre os moradores constitui uma amea a ao futuro da cidadania na medida em que sobretudo em cidades como o Rio de Janeiro esse controle interfere na possibilidade de cr tica ou de den ncia Como o tr fico fica permanentemente na favela o potencial de controle sobre a vida dos moradores maior o que restringe a possibilidade de manifesta o contr ria Os direitos individuais como a liberdade de express o ficam absolutamente tamponados pela lei do sil ncio que se traduz na m xima Se falar morre e representa uma grande restri o din mica social da favela minando os la os de confian a entre os vizinhos SILVA 2004 2008 LEITE 2008 PERLMAN 2010 Al m disso a presen a do tr fico de drogas limita substancialmente o direito de ir e vir dos moradores de favelas que em muitos casos n o podem visitar amigos e familiares em favelas com fac es rivais aceitar ofertas de emprego ou pegar nibus que cruzem regi es dominadas por outras fac es O inverso acontece com as pessoas que n o moram nas favelas que s o impedidas de entrar na favela sem que algum morador as acompanhe com risco de serem interceptadas por traficantes e at morrer Logo a domina o desse territ rio restringe a efetividade do direito de ir e vir do conjunto dos cariocas A situa o dos moradores mais dram tica pois sua rotina di ria afeta
20. blica que n o respeitavam sua condi o de cidad o tratando os como bandidos em potencial A presen a da pol cia temida na favela 46 MELLO amp CUNHA 2011 ALVES amp EVANSON 2011 PERLMAN 2010 OLIVEIRA amp CARVALHO 1993 MISSE 1997 SOARES 2012 A atua o policial estava pautada em um padr o militarizado com incurs es b licas que geravam altas taxas de letalidade sem que isso significasse uma desestrutura o real do tr fico que voltava cena assim que a incurs o da pol cia terminava CANO 2012 SOARES 2012 Diante dos in meros casos de a es violentas e arbitr rias por parte da pol cia a rela o da mesma com a sociedade passou a se basear na desconfian a tra o que na maior parte das ocorr ncias desencoraja a popula o a realizar o registro da ocorr ncia ou pedir aux lio COSTA 2004 O descr dito das antigas pr ticas de seguran a p blica ajuda a entender a receptividade com que a sociedade carioca vem acolhendo a instala o de Unidades de Pol cia Pacificadoras UPPs nas favelas mas certamente n o explica inteiramente o comportamento Outro fator premente para entender a popularidade do programa que os ndices de criminalidade nos bairros com UPPs apresentaram quedas significativas desde a sua instala o CANO 2012 Esse efeito pode ser visto no Mapa da Viol ncia com o ranking de homic dios entre as capitais do pa s realizado pelo Instituto Sangari Os
21. de liberdade e de diminui o do estigma poss vel gra as ao fim do dom nio territorial e das incurs es policiais A pesquisa indica ainda que a n o implementa o do componente UPP social comprometeu o alcance de v rios determinantes sociais de sa de e o combate viol ncia estrutural Esta ltima mantida pela aus ncia de servi os p blicos b sicos e pela atua o policial que mesmo apresentando mudan as significativas na redu o da corrup o e da viol ncia continua atuando com base nas rela es pessoais A compreens o das UPPs requeriu a an lise do territ rio onde a pol tica desenvolvida At junho de 2013 todas as UPPs foram instaladas em favelas Esse dado levanta outras quest es como a pr pria defini o do que seria uma favela se algum espa o pode ou n o deixar de ser favela e se a favela uma comunidade O resultado dessas discuss es contribui para a tese defendida nesta disserta o ao definir que o uso do termo favela o mais tico e mais representativo da realidade observada In meros autores LEEDS amp LEEDS 1978 VALLADARES 2005 SILVA 2008 ZALUAR amp ALVITO 2007 PERLMAN 2010 apontam que o uso do termo comunidade para designar as favelas cariocas inadequado porque n o contempla a hist ria das favelas suas especificidades enquanto forma de habita o e sua heterogeneidade interna Al m disso as favelas apresentam um conjunto especifico de determinantes soc
22. es de sa de a aus ncia de servi os de qualidade gerava interrup es a rotina dos moradores Fabiane 34 anos chama aten o paras as dificuldades que enfrentava por viver sem fornecimento regular de gua e luz Faltava muita luz e a gente toda vez que um ia na rua vinha com vela Porque a gente quando dava quatro hora j tava sem luz Direto tinha vez que a gente 142 ficava o que um m s sem gua A gente ficava direto sem gua tinha que ficar carregando pegando fila la pra tudo quanto canto carregar gua A gente passava a noite toda sem luz Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos Questionada sobre a qualidade do fornecimento de luz atualmente Vivian 23 anos afirma que a parte alta do morro sofre mais com as interrup es no fornecimento e que ainda assim o reestabelecimento da energia r pido Funciona Quando chove forte que s vezes alguma rede desliga As vezes n o Toda vez que chove sempre a nossa rede do lado de c Mas assim o servi o da Light muito r pido Se a gente liga em uma hora eles v m consertar e a gente j tem luz Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho O impacto da cobran a da conta de luz no or amento dom stico foi muito maior no caso dos entrevistados que pagam aluguel Vivian 23 anos revelou que seu padr o de vida foi afetado pelas novas contas e que atualmente se esfor a para economizar luz A luz apesar de ser uma coisa ileg
23. lia Minist rio da Sa de 2001 BRASIL Minist rio da Sa de As Cartas da Promo o da Sa de MS Bras lia 2002 BRASIL Minist rio da Sa de Plano Nacional de Redu o de Acidentes e Viol ncias Bras lia Minist rio da Sa de 2005 BRESLAU N CHILCOAT H KESSLER R amp DAVIS G Previous exposure to trauma and PTSD effects of subsequent trauma results from the Detroit Area Survey of Trauma IN Am J Psychiatry 156 6 902 7 1999 CAHILL L The neurobiology of emotionally influenced memory implications for understanding traumatic memory IN Ann NY Acad Sci 821 238 46 1997 CAHILL L GORSKI L amp LE K 2003 Enhanced human memory consolidation with postlearning stress interaction with the degree of arousal at encoding Learn Mem 10 4 270 74 Cardozo BL Bilukha OO Crawford CAG 2003 CANO I O Uso da For a Letal pela Pol cia do Rio de Janeiro os Fatos e o Debate Arch Interdisciplinar Rio de Janeiro 1999 CANO I Pol ticas de seguran a p blica no Brasil tentativas de moderniza o e democratiza o versus a guerra contra o crime IN Rev int direitos human online 3 5 136 155 ISSN 1806 6445 doi 10 1590 S 1806 64452006000200007 2006 Org Os Donos do Morro Uma Avalia o Exploratoria do Impacto das Unidades de Policia Pacificadora UPPs no Rio de Janeiro F rum Brasileiro de Seguran a P blica 2012 CARRETEIRO T Sofrimentos sociais em debate Psicologia U
24. o ocorreu O aumento da visibilidade pol tica que o projeto trazia para Vice Governadora come ou a amea ar os interesses do ent o Governador na sucess o do cargo Como forma de reduzir a import ncia pol tica dos Mutir es n o houve libera o de recursos para contrata o e treinamento de policiais o que comprometeu a continuidade do programa SOARES 2012 Ap s a exonera o do Subsecret rio no ano 2000 o projeto foi remodelado e relan ado com o nome de Grupamento de Policiamento em reas Especiais GPAE deixando de contemplar pol ticas p blicas intersetoriais O GPAE foi instalado nas favelas do Pav o Pav ozinho e Cantagalo e obteve apoio dos moradores devido ao afastamento de cerca de 70 dos policiais por desvios de conduta COSTA 2004 SOARES 2012 Nos anos seguintes os GPAEs foram instalados no morro da Babil nia e Chap u Mangueira Provid ncia Gard nia Azul Rio das Pedras e Caval o e Estado em Niter i Os PPCs e os GPAEs continuam a existir em v rias favelas cariocas Entretanto n o alcan aram resultados significativos na redu o da corrup o e dos casos de viol ncia policial Por isso n o alteraram a percep o negativa da pol cia MELLO amp CUNHA 2011 Ap s a sa da do ent o governador Anthony Garotinho para concorrer s elei es presidenciais de 2002 Benedita da Silva assumiu o Governo do Estado por 9 meses e manteve sob o nome Ocupa o Social um programa semelhante
25. o utilizada pelo tr fico para designar funcion rios que buscam e levam drogas para clientes Que antigamente eles n o aceitavam traficante novo Eu me lembro que quando eu quis me meter no meio eu tinha onze anos Eu queria ser avi o eles n o deixava entrar Onze anos eles n o deixava entrar N o menor tu quer dinheiro Toma dinheiro menor mas aqui tu entra n o Eles n o deixava Mas de um tempo pra c eles come aram a incentivaram os garoto porque eles descobriram que os garotos morrem por eles Essa a diferen a Antes eles n o permitia At noventa e dois eles n o permitia depois disso a Eu no tr fico me envolvi com treze anos doze passei a ser avi o com catorze anos eu fui efetivado Fui efetivado Trabalhei como tesoureiro e eu tirava plant o 24 horas No tr fico assim n 24 horas Tirava plant o 24 horas Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos 98 Os moradores entrevistados narram que a mudan a de atitude dos traficantes da velha guarda para os mais novos vai al m da permiss o para que crian as e adolescentes entrassem para o tr fico Inclui a diminui o da ajuda financeira aos moradores uso de armas de longo alcance como fuzis e metralhadoras a ostenta o de armas e drogas a ostenta o de roupas e objetos de marcas e o in cio das torturas e de pr ticas mais violentas como vemos abaixo Eu lembro uma vez Um dia que meu irm o quebrou
26. problemas similares Como fatores comuns s duas favelas devem se ressaltar a aus ncia de fornecimento regular de gua e luz anterior a instala o das UPPs a aus ncia de c digos de endere amento postal CEP a aus ncia de saneamento b sico parcial ou completa a exist ncia de valas de esgoto a c u aberto e a prec ria coleta de lixo a divis o do territ rio por vielas e becos estreitos em raz o da ocupa o desordenada a impossibilidade de acesso de ve culos em grande parte do territ rio o dom nio territorial por fac es criminosas anterior instala o das UPPs as poucas op es de lazer e as moradias em situa o de risco de deslizamentos Essa compara o esclarece que apesar das diferentes dimens es o Santa Marta tem in meros aspectos estruturais e funcionais que o fazem representativo das demais favelas cariocas Para realizar uma an lise dos determinantes sociais que influenciam a qualidade de vida e a sa de dos moradores da favela Santa Marta necess rio compreender as disposi es 88 especifica do ambiente como as estruturas e servi os presentes e os atores envolvidos na a um 25 regula o do espa o Por isso segue uma descri o da favela A favela Santa Marta localiza se no morro Dona Marta no bairro de Botafogo na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro O principal acesso favela feito pela Rua S o Clemente atrav s da Pra a Corumb que fica direita da rua
27. s a instala o da UPP esse local foi revitalizado e transformado em uma pra a nomeada de Pra a do Cant o Eu quase nem ia pra l com medo do que ia acontecer Tinha medo deles mesmo e dos de fora Eu num bebia aqui Bebia l pra baixo Dali eu passava igual um foguete eu hein Quando que o pessoal podia ficar ali parado Tira uma noite fica ali Cheio de gente Era l que o bicho pegava a guerra come ava l se n o come ava no pico Jurema 65 anos dona de casa 2 filhos Como Jurema 65 anos n o participava dos bailes funk realizados na quadra antes da instala o da UPP para ela o aluguel da quadra para um evento que n o vai incluir pessoas do Santa Marta n o representou uma perda Ao contr rio levou revitaliza o do local e seguran a para frequentar bares dentro da comunidade Para ela o fato de tocar funk atrai viciados em droga e atrapalha os moradores que querem se divertir Por sua vez Vin cius 24 anos que costumava frequentar os bailes funk aponta as 156 proibi es como ponto negativo da instala o da UPP Outros dois moradores que costumavam frequentar bailes atribu ram a proibi o conduta violenta dos frequentadores Cano 2012 aponta que a posi o de cada morador frente s proibi es ligadas ao lazer nas favelas com UPP um dos fatores que determina a avalia o do projeto Assim os jovens teoricamente mais atingidos pelas restri es seriam mais contr rios
28. s do pertencimento ao grupo Essas imagens s o especialmente sedutoras para os jovens pobres que se encontram em uma situa o de invisibilidade e baixa auto estima ATHAYDE ET AL 2005 O tr fico subir e descer a comunidade ter muito adolescentes e crian as envolvido com o tr fico e eles eram podemos dizer assim os her is os dolos dos garotos Os traficantes tinham sempre meninas andavam bem vestidos sa ram na m dia Michael Jackson teve que pedir autoriza o pra eles para estar aqui Evanir 67 anos pastor casado 1 filha Outro forte motivo que os entrevistados sempre associam aos outros abordados a magnitude de controle territorial que o tr fico conseguiu A visita do cantor Michael Jackson se tornou um s mbolo do reconhecido externo do poder local dos traficantes As falas de Alessandro 34 anos e Evanir 67 anos fazem refer ncia import ncia simb lica que o tr fico representava para as crian as e adolescentes Certamente isso n o explica porque algumas crian as entravam para o tr fico e outras n o o que para Souza e Silva 2005 deve ser analisado com uma perspectiva plurifatorial que contemple as redes sociais em que esses adolescentes est o inseridos e suas caracter sticas subjetivas A crian a cresce com isso Minha m e faz Meu pai faz porque que eu n o vou fazer A tu formou um ser humano assim Ai ah meu tio bandido Ah minha m e enche a bola daquele bandido Ah meu
29. se voc bandido ou trabalhador homem ou mulher Ent o tem seus pr s e seus contras Vin cius 24 anos desempregado solteiro 1 filho Eu achei que houve aquela resist ncia aquela coisa forte entrando assim porque a gente n o conhecia eles e eles n o nos conhecia Ent o aquela coisa quem s o eles Quem entendeu Pra eles tamb m todo mundo era bandido ent o a revista era muito forte Todo mundo revistava todo mundo aquela coisa toda Mas por algumas pessoas que eles achavam suspeita n o todos os moradores Evanir 67 anos pastor casado 1 filha Os moradores entrevistados retratam que com o fim do dom nio territorial do tr fico os policiais passaram a suspeitar dos moradores principalmente de homens jovens N o houve relato de discrimina o racial na postura adotada pelos policiais Tampouco houve 163 relatos de abordagem as mulheres Nesse cen rio a postura desrespeitosa adotada por alguns policiais em revistas nas favelas descrita por Vin cius 24 anos como esculachar antes direcionada aos traficantes foi estendida para os homens jovens cuja apar ncia associada de traficantes J j vi trataram mal morador Equivocos s porque o garoto tava sem chinelo achava que era tamb m Entendeu J entrar num lar sem pedir permiss o ent o isso tudo conflitante Evanir 67 anos pastor casado 1 filha Esse tipo de atua o policial reflete um preconceito em r
30. ticas dos moradores de favelas Esse quadro em que a cidadania dos moradores mediada pelo estigma territorial integra a viol ncia estrutural onde quest es sociais pol ticas e econ micas fazem com que exista uma distribui o desigual de recursos e de sofrimento social FARMER 1999 MINAYO 1994 A viol ncia estrutural pode ser exemplificada pela falta de interesse de profissionais como m dicos e professores em atuar nesses locais e pela aus ncia de servi os p blicos e privados prestados no restante da cidade coleta de lixo rede de esgoto fornecimento de luz e gua entrega de produtos internet fornecimento de canais de televis o a cabo etc entre outros H ind cios de uma transforma o em curso no campo das representa es sobre favelas Segundo Ign cio Cano 2012 ap s a instala o das UPPs um movimento de entrada de turistas e de cariocas n o moradores de favelas come ou a ser notado nas favelas com UPP Esse fen meno pode ser nomeado como entrada da cidade na favela e seria revelador de uma nova dualidade baseada n o na dualidade favela asfalto mas em uma diferencia o entre favelas pacificadas e favelas que ainda n o t m UPPs isso entre as favelas seguras para se visitar e aquelas que ainda continuam como territ rios proibidos Essa nova dualidade representa uma diminui o no estigma territorial associado s favelas pacificadas Para o morador dessas favela
31. veis MEIRELHES 2008 Por essa raz o a participa o social as atividades realizadas pelos movimentos sociais locais e as a es do programa UPP Social foram analisadas em rela o aos poss veis efeitos nos Determinantes Sociais da Sa de e no aumento da participa o social Por ltimo foi conferido foco especial rela o entre os moradores entrevistados e os policiais da UPP bem como a aspectos gerais da gest o dessa pol tica Esse recorte foi feito em raz o do hist rico de viol ncia e corrup o policial nas favelas observado na revis o te rica Esse hist rico foi considerado como parte de um cen rio de viol ncia estrutural onde a atua o policial constru a desigualdades sociais que por sua vez geravam medo e sofrimento nos moradores Os moradores entrevistados reconhecem grandes transforma es na atua o policial como a diminui o da viol ncia e da corrup o Reclamam entretanto da invas o da a o policial em quest es que excedem os limites da sua compet ncia Ademais a a o policial reconhecida por sua heterogeneidade discriminando determinados grupos com perfil pr ximo aos dos traficantes Essa caracter stica uma continuidade da forma de atua o que as for as policiais empregavam no Santa Marta antes da UPP com nfase em rela es pessoais e no desrespeito aos direitos dos moradores de favelas identificados como criminosos Conclui se assim que a atua o dos policiais da UP
32. 2006 como a possibilidade quase 2 5 vezes maior de mortalidade infantil entre filhos de m es com at 3 anos de estudo comparativamente quela entre os filhos de m es com oito anos ou mais de estudo UNICEF 2006 Um marco da implementa o do aspecto social dos DSS foi a defini o de sa de presente na Constitui o da Organiza o Mundial de Sa de OMS 1946 que define sa de como um estado de bem estar f sico mental e social n o consistindo somente na aus ncia de enfermidades ou de doen a Apesar do avan o esse aspecto social n o foi aprofundado no per odo p s guerra onde pa ses colonizadores difundiram o modelo m dico focado em alta tecnologia e a es verticais de combate a epidemias A OMS implementou em 1950 uma campanha de erradica o da mal ria que consistia na pulveriza o de DDT como forma de matar o vetor do mosquito o que se mostrou ineficiente A inefic cia de campanhas baseadas em a es verticais em col nias africanas e a necessidade de atendimento fora dos centros urbanos levou comunidades e profissionais Pesquisa realizada pelo Movimento Rio Como Vamos 51 de sa de a buscar um modelo de sa de alternativo Um dos trabalhos comunit rios exitosos surgiu na China na d cada de 1950 e ficou conhecido como m dicos dos p s descal os focado na preven o no mbito do qual os profissionais viviam nas comunidades em que trabalhavam Outras iniciativas
33. Berkeley University of California Press 1999 FARMER P An Anthropology of Structural Violence IN Partner to the poor A Paul Farmer Reader ed Haun Saussy Berkeley Univ of California Press 2010 350 75 2010 FGV Avalia o do impacto do policiamento comunit rio na Cidade de Deus e no Dona Marta 2009 FIRJAN IETS Pesquisa nas Favelas com Unidades de Pol cia Pacificadora da Cidade do Rio de Janeiro Resultado Consolidado 2010 FOA E B Psychosocial therapy for posttraumatic stress disorder IN J Clin Psychiatry 67 Suppl 2 40 45 2006 FREUD S Al m do Princ pio de Prazer In Freud S Edi o Standard Brasileira das Obras Psicol gicas Completas de Sigmund Freud 2 ed Rio de Janeiro Imago 1987a v 18 1987 204 A Etiologia da Histeria In Freud S Edi o Standard Brasileira das Obras Psicol gicas Completas de Sigmund Freud 2 ed Rio de Janeiro Imago 1987c v 3 1987 FLEURY S Militariza o do social como estrat gia de integra o o caso da UPP do Santa Marta Sociologias Porto Alegre ano 14 no 30 mai ago 2012 p 194 222 2012 FREWEN P A amp LANIUS R A Toward a psychobiology of posttraumatic self dysregulation reexperiencing hyperarousal dissociation and emotional numbing IN Ann NY Acad Sci 1071 110 24 2006 FRIDMAN L Morte e vida favelada In Silva L Org Vida Sob Cerco viol ncia e rotina nas favelas do Rio de Janeiro Rio de Janeiro
34. Desenvolvimento Econ mico e Social do Rio de Janeiro que dentre suas diretrizes apresentava o respeito aos direitos humanos o fim da toler ncia viol ncia policial e a proibi o de opera es sem mandado judicial em favelas COSTA 2004 Apesar de inovadora a pol tica de seguran a do governo Brizola n o gerou uma diminui o da criminalidade Sua pol tica de defesa dos direitos humanos e de combate arbitrariedade policial coincidiu com a entrada da coca na no estado e o in cio da organiza o do tr fico de drogas na cidade o que apesar de ser resultante de in meros fatores continua sendo associado proibi o das antigas pr ticas repressivas que a pol cia realizava nas favelas PERLMAN 2010 O fracasso da pol tica de seguran a evidenciada pela fala do ent o comandante da pol cia militar 42 certo que falhamos N o conseguimos implantar o modelo democr tico que defend amos N o soubemos prender traficantes sem invadir barracos sem colocar em risco a vida de terceiros n o soubemos fazer a pol cia investigar para prender n o soubemos fazer a pol cia entender que a sua principal tarefa era aprender a n o matar Cerqueira como citado em Costa 2004 p 134 O segundo mandato de Leonel Brizola 1991 94 foi marcado por uma grande eleva o nos ndices de viol ncia que alcan aram a taxa de 60 homic dios por 100 mil habitantes O crescente sentimento de inseguran a da popula o gerou
35. Essa analise relevante para esta disserta o pois mapeia os preju zos sa de ocasionados pelo contato com o tr fico sobre diferentes etapas da vida dos moradores come ando pela amea a vida das crian as locais passando pelo comprometimento dos la os de vizinhan a e parentesco e gerando ainda uma experi ncia de sofrimento relacionada ao papel dos pais O fim da domina o territorial exercida pelo tr fico foi narrado pelos entrevistados como principal raz o para o aumento dos n veis de seguran a psicol gica Estes afirmam ainda que a melhoria na qualidade de vida e a diminui o no risco de morte atingiu a todos os moradores da favela inclusive os traficantes No entanto a percep o da diminui o da viol ncia n o eliminou o medo de que a rela o de domina o territorial do tr fico se reestabele a Tampouco desarticulou os quadros ps quicos estabelecidos Foi examinado o hist rico de sa de dos entrevistados e seu acesso ao SUS o que revelou uma grave desaten o do sistema de sa de local aos danos em sa de associados viol ncia e proposta da Pol tica Nacional de Promo o da Sa de Foram observadas ainda desigualdades sociais sintom ticas do quadro hist rico de viol ncia estrutural como a aus ncia de servi os p blicos b sicos As interven es intersetoriais relacionadas UPP pela prefeitura e demais esferas de governo consistem na instala o de uma rede de fornecimento de
36. Henriques a nova classifica o da maior import ncia O que n s queremos promover uma reflex o sobre o conceito de favela O caso da Provid ncia no Centro bem ilustrativo Ela ser reurbanizada e daqui a pouco n o haver sentido de classific la assim E isso sem preju zo da hist ria da tradi o e da identidade da Provid ncia considerada a primeira favela do Brasil Globo 2011 Desde seu surgimento a favela tem sido definida n o por suas especificidades mas por suas car ncias em rela o a um ideal urban stico europeu oriundo de classes sociais hegem nicas SOUZA E SILVA 2011 S o evidentes nas novas defini es de comunidade urbanizada e de ex favela resqu cios de uma vis o da favela como problema social Alba Zaluar 2007 elucida esse ponto A favela passou a chamar se comunidade sem s lo por sua grande diversidade interna socioecon mica religiosa cultural Ou seja afirmar que a favela deixa de existir a partir do momento em que a infraestrutura urbana instalada implica retirar da categoria favela todo o arcabou o cultural e hist rico constru do ao longo de mais de 100 anos e reduzi la car ncia de servi os e de infraestrutura Significava ignorar ademais o papel da favela na constru o s cio identit ria do pa s O Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica IBGE respons vel pela realiza o do recenseamento nacional aponta no Censo
37. M P KOSS P G amp WOODRUFF W J Deleterious effects of criminal victimization on women s health and medical utilization IN Arch Intern Med 151 342 47 1991 LANE S Orgs Psicologia Social O homem em movimento S o Paulo Brasiliense 1984 LANE S O que psicologia social 11 Ed S o Paulo Brasiliense 1986 LEEDS A amp LEEDS E A Sociologia do Brasil Urbano Rio de Janeiro Zahar Editores 1977 LEEDS E Coca na e poderes paralelos na periferia urbana brasileira amea as democratiza o em n vel local In Zaluar A amp Alvito M Orgs Um s culo de favela Rio de Janeiro Editora FGV 1998 LEE JONG WOOK speech to the 57th World Health Assembly 17 May 2004 LEITE M amp BIRMAN P Orgs Um mural para a dor movimentos c vico religiosos por justi a e paz Porto Alegre UFRGS Pronex CNPq 2004 LEITE M Viol ncia inseguran a e cidadania reflex es a partir do Rio de Janeiro In Fernanda Lopes de Carvalho Org Carvalho F L org Rugidos e sussurros mais promessas do que a es S rie Observat rio da Cidadania Rio de Janeiro IBASE IBASE 2005 v 9 p 66 70 2005 Viol ncia risco e sociabilidade nas margens da cidade percep es e formas de a o de moradores de favelas cariocas In Silva L Org Vida Sob Cerco viol ncia e rotina nas favelas do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Nova Fronteira 2008 206 LLORENTE A ESCOBEDO R ECHANDIA C amp RU
38. Mestrado em Psicossociologia de Comunidades e Escologia Social EICOS Instituto de Psicologia Universidade Federal do Rio de Janeiro 2009 DAVIDSON J R amp FOA E B eds Posttraumatic Stress Disorder DSM IV and Beyond Washington DC IN Am Psychiatr Press 1992 DAVIDSON J R STEIN D J SHALEV A Y amp YEHUDA R Posttraumatic stress disorder acquisition recognition course and treatment IN J Neuropsychiatry Clin Neurosci 16 2 135 47 2004 DE GIROLAMO G amp MCFARLANE A C The epidemiology of PTSD a comprehensive review of the international literature IN Ethnocultural Aspects of Posttraumatic Stress Disorder Issues Research 203 and Clinical Applications ed AJ Marsella MJ Friedman ET Gerrity RM Scurfield pp 33 85 Washington DC Am Psychol Assoc 1996 DE JONG J KOMPROE I H VAN OMMEREN M EL MASRI M amp ARAYA M ET AL Lifetime events and posttraumatic stress disorder in 4 postconflict settings JAMA 286 555 62 2001 DEMO P Metodologia em Ci ncias Sociais S o Paulo Atlas 1989 De Souza E Comportamento humano numa vila global uma perspectiva p s moderna construtiva sobre psicologia comunit ria do terceiro mundo IN Psicol Reflex Crit 11 1 1989 Acesso em 11 de dezembro de 2012 DI RIO OFICIAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ANO XXXVII N 0005 parte 1 Sexta feira 7 de Janeiro de 2011 PODER EXECUTIVO DIENER E Most people are happy IN Psycholo
39. Nacional sobre Determinantes Sociais da Sa de Mat ria de Capa Radis n 45 Acesso em 6 de junho de 2006 Dsipon vel em http www ensp fiocruz br radis 45 capa 06 html Pol tica Nacional de Promo o da Sa de 2006 MONTEIRO C VELHOS E NOVOS MALES DA SA DE NO BRASIL A Evolu o do Pa s e de suas Doen as Hucitec Nupens USP S o Paulo 2003 MORAIS M Uma an lise da rela o entre o Estado e o tr fico de drogas o mito do poder paralelo IN Ci ncias Sociais em Perspectiva 5 8 117 136 2006 MOREIRA M Nem Soldados nem Inocentes Jovens e Tr fico de Drogas no Munic pio do Rio de Janeiro Disserta o de Mestrado para obten o do t tulo de Mestre em Ci ncias na rea de Sa de P blica Programa de P s Gradua o da ENSP Fiocruz Rio de Janeiro Brasil 2000 NAVARRO V Produ o e estado de bem estar O contexto pol tico das reformas Lua Nova 28 29 157 199 1993 NEMEROFF C B BREMNER J D FOA E B MAYBERG H S NORTH C S amp STEIN M B Posttraumatic stress disorder a state of the science review IN Journal Psychiatr Res 40 1 1 2 2006 NILSEN O Community health promotion concepts and lessons from contemporary sociology Health Policy 36 167 183 1996 NORTH CS SPITZNAGEL EL SMITH EM A prospective study of coping after exposure to a mass murder episode IN Ann Clin Psychiatry 13 2 81 87 2001 Observat rio de favelas OIT Caminhada de crian as adolescente
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41. Os demais entrevistados afirmaram que evitavam recorrer ao tr fico por temer os resultados desse contato Tinha uma poca que eles interferiam nas brigas de casais Isso era muito ruim ent o se o marido e a mulher brigasse e o marido bate se na mulher se a mulher fosse l o que acontecia muito disso o que hoje normalmente a gente vai numa delegacia d parte do esposo Aqui era o contr rio A mulher ia at a boca de fumo d parte Sempre acontecia do esposo levar uma surra sei l quebrar uma perna pro cara apreender a li o e se a mulher que tra sse o esposo a mulher tinha a cabe a raspada Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho Esse tipo de interfer ncia do tr fico na resolu o de conflitos era uma esp cie de contra partida pelo anonimato que os moradores ofereciam ao n o realizar den ncias LEEDS 1998 Representava um distanciamento entre os moradores e as vias formais de seguran a que n o podiam ser acionadas ainda que para a resolu o de quest es pessoais Levar a pol cia para a favela era uma atitude conflitante com os interesses do tr fico o que era compreendido por todos os moradores como uma esp cie de regra oculta 183 Com a instala o da UPP os moradores perderam a atua o do tr fico como inibidor de crimes comuns Essa refer ncia gerava um sentimento de seguran a ainda que este fosse pontual circunscrito a certas situa es e impregnado de contradi es j
42. Voc deixou de fazer algo por conta do tr fico e dos conflitos O que Como era sua mobilidade Como as pessoas de fora enxergavam o lugar onde voc mora Era realmente assim Seus amigos e familiares se sentiam seguros para te visitar Voc acha que a presen a do tr fico interferia na qualidade vida dos moradores Como Voc acredita que os moradores eram prejudicados por viver em um lugar que tinha tr fico de drogas Como 219 Como era ter que conviver com o tr fico Qual era o peso disso na sua vida Enfim o que significa viver em um lugar com tr fico de drogas Sempre pensou assim ou quando passou a pensar assim 3 Experi ncia com a pol cia Como a pol cia reagiu ao in cio do tr fico na sua favela Voc se lembra A pol cia ia muito a sua favela Existia algum tipo de confronto com os bandidos Como era a atua o da pol cia na sua favela O que voc achava disso Como era a rela o da pol cia com os moradores Algu m ligava Em que situa o A sua fam lia lhe dizia como voc deveria agir em rela o entrada da pol cia na favela Nos ltimos anos como era atua o da pol cia O que eles costumavam fazer Como era a rela o da pol cia com os bandidos Como era a rela o da pol cia com os moradores Como a pol cia tratava os moradores Algu m ligava pra pol cia Em que situa o Teve algum epis dio em que voc precisou falar com os pol cias Por qu Como voc se
43. a perna eles deram o dinheiro do taxi pro meu irm o ir e voltar do Miguel Couto mais o dinheiro do rem dio Ajudavam bem mais antigamente N o sei de uns tempo pra c eles deixaram de ajudar Ficaram mais ego sta Eu acho que com o tempo antigamente com 12 a 15 anos eles ajudavam bem mais Vin cius 24 anos desempregado 1 filho Todos os entrevistados conheceram crian as e adolescentes menores de 15 anos que foram assassinados por pertencer ao tr fico Exemplifica A maioria deles estudaram comigo cresceram comigo era assim rumos totalmente diferentes Voc v crian as que brincou com voc chupou o mesmo picol que voc tomar um rumo diferente da vida e muitos deles hoje que estudou comigo que participou de col nia de f rias aqui tem uma grupo ECO que promove uma col nia de f rias muitos deles que tiveram na col nia comigo muitos deles j n o t o mais vivos hoje Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho A col nia de f rias organizada no Santa Marta desde a d cada de 1980 pelo Grupo Eco foi citada por todos os entrevistados como uma das nicas op es de lazer que as crian as e adolescentes do morro dispunham tamb m atrav s da aus ncia na col nia que os jovens e adultos contabilizam os amigos que morreram foram presos ou expulsos do morro Barcellos 2003 narra em seu livro Abusado O Dono do Morro que o traficante Marcinho VP durante a adolesc ncia teria participado de of
44. adv m de um sentimento de extrema impot ncia quando todos os sistemas de valores e cuidados que fazem parte da identidade do indiv duo s o subjugados por uma for a maior A origem do evento traum tico pode ser uma cat strofe natural ou mesmo uma a o humana HERMAN 1997 71 Assim o evento traum tico pode ser conceituado por duas caracter sticas principais sua imprevisibilidade e incontrolabilidade SHALEV 1996 A incontrolabilidade do fen meno traum tico al m de propiciar elemento adicional de p nico aspecto central na caracteriza o do trauma porquanto implica numa inexist ncia de recursos externos e internos para a resolu o saud vel da situa o geradora C MARA 1999 Entretanto a ocorr ncia de um evento que contenha essas duas dimens es n o suficiente para definir um estado traum tico A percep o da v tima fundamental Mesmo diante de um evento com grande potencial traum tico poss vel que o indiv duo n o o perceba como tal de forma a n o se gerar o trauma C MARA 1999 CHARUVASTRA amp CLOITRE 2008 Frente a um acontecimento com caracter sticas traum ticas o indiv duo por lan ar m o de ferramentas de significa o que anulem essas caracter sticas Por exemplo o morador que volta do trabalho e se encontra diante de um intenso tiroteio pode se ater a sua f compensando a falta de uma prote o f sica e a sua impot ncia frente ao evento por meio da cren a de q
45. ao Mutir o da Paz que 45 aliava as ocupa es policiais oferta de servi os p blicos OST 2012 Com a elei o em 2003 da Governadora Rosinha Garotinho o projeto foi encerrado Em 2 de junho de 2002 a morte do jornalista Tim Lopes durante uma reportagem na favela Vila Cruzeiro gerou grande como o social A resposta do governo foi uma ca a aos respons veis atrav s das velhas incurs es pontuais da pol cia na favela Com exce o dos programas citados a atua o da pol cia nas favelas cariocas tem sido historicamente caracterizada pelo uso da viol ncia por abusos e pelo desrespeito aos moradores Soares 2012 esclarece como o apoio pol tico a a es de enfrentamento pode em ltima inst ncia aumentar os casos de corrup o policial As Pol ticas de seguran a adotadas no estado do Rio de Janeiro estimularam a brutalidade policial e n o atuaram sobre os mecanismos de controle interno e externo e de gest o efetiva na ponta Refiro me aos governos Moreira Franco 87 90 Marcelo Alencar 95 98 Garotinho p s mar o de 2000 at 2002 Rosinha 2003 2006 e Cabral 2007 at hoje salvo nas UPPs Crimes policiais ou foram tolerados ou tratados como casos individuais mesmo quando envolveu chefes de pol cia um dos quais hoje condenado dirigiu a pol cia civil fluminense durante 7 anos A liga o entre viol ncia policial e corrup o d se do seguinte modo quando se confere ao policial na ponta licen
46. arte culin ria ent o gerou emprego ingl s ingl s espanhol N s agora aqui temos diversas ONGs que trabalha na comunidade que trabalha com crian a trabalha com os idosos trabalha com adolescente temos trabalho de uma ONG uma cooperativa de costura fotografia temos hoje o trabalho do CETEP aqui na comunidade Evanir 67 anos casado Pastor 1 filha Come ou esses cursos e a FAETEC tamb m que bem ali na entrada da comunidade foi bem mais depois da UPP eu n o sei se j tinha e depois com a chegada da UPP deu uma refor ada mas tamb m foi uma coisa que sobressaiu muito depois da UPP Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho Apesar de reconhecer que a diversifica o das atividades oferecidas pelos movimentos locais algo positivo para a comunidade a maior parte dos moradores entrevistados relata desinteresse em participar das atividades Todos os moradores entrevistados apontam a falta de participa o social como uma caracter stica local Afirmam ainda que comum que os moradores se mobilizem no in cio das atividades e desistam ao longo do processo 137 Todo curso que voc d aqui eu j fiz tudo quanto curso todo curso que se d aqui eles n o conseguem completar eles n o v o at o fim com tudo aqui em tudo aqui eu t fazendo porque antes eu n o tinha essa oportunidade com tudo aqui dentro sem voc precisar colocar o p do lado de fora Tiihhhh come a com dez termina com
47. blicas necess rias ao exerc cio da cidadania plena que garanta o desenvolvimento tanto social quanto econ mico O artigo 1 do decreto lei define ainda os crit rios de sele o dos locais de implanta o das UPPs comunidades pobres de baixa institucionalidade e alto grau de informalidade em que a instala o oportunista de grupos criminosos ostensivamente armados afronta o Estado Democr tico de Direito A formaliza o do projeto das UPPs se baseia em decretos publicados posteriormente instala o da primeira unidade na favela Santa Marta O decreto lei 41 650 de 21 de janeiro de 2009 cria a UPP Outro decreto lan ado no dia seguinte define uma gratifica o de R 500 00 aos policiais lotados em UPPs Apenas dois anos depois em decreto de 6 de janeiro de 2011 foi delimitada a estrutura b sica do projeto Isso significa que as UPPs foram implementadas sem que o projeto contasse com uma estrutura normativa CANO 2012 FLEURY 2012 O Artigo 1 do decreto vincula as UPPs a uma pol cia de proximidade enquanto o artigo 6 do mesmo decreto define que os policiais lotados em UPPs devem ter forma o em Direitos Humanos e na doutrina de Pol cia Comunit ria Esses dois artigos refletem a baixa institucionaliza o do projeto que al m de ter sido formalizado ap s a implementa o apresenta diverg ncias graves como a associa o ao modelo de policiamento comunit rio CANO 2012 O mesmo decreto de
48. comandante o que pode em alguns casos culminar em a es com car ter personalista e sem respaldo legal Ao se referir UPP os entrevistados na maior parte do tempo fazem uma distin o temporal baseada na mudan a de comandantes relatando caracter sticas e avalia es distintas do programa UPP que eu gostei muito foi a da Priscila Aquela uma grande mulher Caraca essa mulher representou Foi ela que botou a orde aqui Ela num tinha medo de ser feliz Ela ia na casa dos outros ela ia pra conversar pra resolver Mulher miudinha mas danada A for a da mulher muito maior n Era muito bom com ela aqui Com ela foi muito bom achei a for a da mulher fora de s rio Nossa ela representou Ela botava a lei nego xingava ela 173 Vagabundo xingava ela Dava ali a moral at neles Jurema 65 anos dona de casa 2 filhos Ao analisar a UPP Jurema 65 anos se refere a uma fase de dois anos que vai do in cio da UPP at mar o de 2011 em que gostou do trabalho da UPP Quando esta era comandada pela capit Priscila Azevedo e chama esta fase de UPP da Priscila poss vel perceber que a efici ncia do trabalho da UPP foi atribu da exclusivamente postura da comandante Caracter sticas como a proximidade com os moradores e o combate firme criminalidade s o atribu das antiga Comandante e lembradas como parte da fase inicial de implanta o da UPP Enquanto tinha a Priscila l sabe aquele gar
49. conhecido pelos traficantes como morador como pessoa de bem e a exist ncia de f em Deus O reconhecimento da condi o de morador n o representava garantia de que o resultado da intera o com os traficantes seria positivo Isso dependia do humor dos traficantes e podia acabar em castigos para todos os envolvidos fossem moradores ou n o Por essa raz o os moradores evitavam o contato com os traficantes e tamb m buscavam apoio emocional na religi o Vin cius 24 anos revela que existia uma rela o de confian a estabelecida sobre o fato de conhecer os traficantes o que reduzia sua percep o do risco envolvido na intera o cotidiana ou seja conferia um grau de seguran a psicol gica 166 Porque tipo assim voc conhece n Porque tipo assim o bandido aquele n o o cara mal que vem de outro mundo a crian a com que voc cresceu A confian a maior Vin cius 24 anos solteiro desempregado Ifilho Vivian 23 anos esclarece que em algumas situa es o fato de ser conhecido pelos traficantes propiciava mais do que uma sensa o de seguran a podia determinar a perman ncia ou n o da fam lia na favela Como a minha m e tem uns sobrinhos que eles eram traficantes ent o a gente assim tinha muito medo disso acontecer Mas gra as a Deus como a minha m e era muito antiga na comunidade e ela pegou o in cio da guerra e l no in cio inicio mesmo o chefe conhecia a fam l
50. d cadas diversas estrat gias foram utilizadas pela Secretaria de Seguran a do Estado no combate viol ncia oriunda do tr fico de drogas Exemplos s o o aumento do n mero de incurs es policiais e da viol ncia empregada o uso do ex rcito para ocupar favelas e vias de acesso o aumento da verba destinada compra de armamento e de materiais usados nessas incurs es como caveir es helic pteros blindados e dispositivos de voo n o tripulado Essas estrat gias n o alcan aram xito na diminui o da criminalidade no Estado do Rio de Janeiro Ao contr rio aumentaram os ndices de homic dio e se multiplicaram os epis dios em que traficantes demonstravam for a b lica ALVES amp EVANSON 2011 Diante do fracasso das pol ticas tradicionais no controle da criminalidade e da viol ncia surgiu espa o para reformas e propostas inovadoras COSTA 2004 Emerge a ideia de que um novo paradigma democr tico de seguran a p blica pode ser estabelecido no Brasil com maior aten o preven o o surgimento de novos atores e a no o de pol cia comunit ria que compatibiliza efici ncia com respeito aos direitos humanos CANO 2006 COSTA 2004 O policiamento comunit rio foi originalmente aplicado no estado no in cio dos anos de 1990 no governo Moreira Franco como uma proposta de aproxima o da pol cia com a comunidade Foi criado um centro integrado de policiamento comunit rio que objetivava mediar a rela o da popul
51. da poca Voltou a trabalhar na rua Vai ficar vivendo de cinquenta reais T trabalhando at hoje na farm cia o da parte da manh Tem jeito de bandido N o tem Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos importante ressaltar que os moradores entrevistados quando se referiam aos ex traficantes que est o atualmente trabalhando sempre os chamavam de traficantes A identifica o como traficante n o parece desaparecer quando esses indiv duos abandonam o tr fico de drogas e come am a trabalhar em atividades legais Deve se salientar que o papel dos traficantes na favela era muito mais amplo e complexo do que a venda de drogas no varejo Enguanto portadores da ordem social da sociabilidade violenta eles desempenhavam um papel de domina o sobre os moradores SILVA 2004 A for a que garantia essa domina o e os c digos utilizados para identificar o grupo que dominava ainda podem ser identificados pelos moradores nos ex traficantes Condutas associadas ao tr fico de drogas como uso de drogas g rias especificas do tr fico ter realizado crimes graves como assassinatos ou torturas amizades com outros traficantes todas essas caracter sticas fazem com que continuem sendo identificado como traficantes Os moradores temem que diante do fim da UPP as redes de informa o e de apoio que o tr fico mant m nas favelas ainda possam funcionar o que permitiria a restaura o do lugar desses ex traficantes na d
52. de 2010 a exist ncia de 763 aglomerados subnormais na cidade do Rio de Janeiro totalizando 1 393 314 milh es de habitantes ou 22 03 dos moradores da cidade Tais resultados apontam que o Rio de Janeiro seria a cidade brasileira com maior popula o vivendo em aglomerados subnormais O IBGE utiliza o conceito de aglomerado subnormal para se referir a conjuntos de no m nimo 51 domic lios carentes de servi os p blicos essenciais ocupando ou tendo ocupado at per odo recente terreno de propriedade de terceiros e estando dispostos em geral de forma desordenada e densa Essa defini o de aglomerados subnormais vaga Dispon vel em http oglobo globo com rio cidade do rio ganha 44 ex favelas 2764079 26 Apesar de o termo ser interpretado como sin nimo contextual de favela a categoria n o engloba favelas de menor porte ou conjuntos habitacionais urbanizados que s o socialmente considerados como favelas GONDIM apud SOUZA E SILVA 2010 O IBGE justifica o uso do termo aglomerados subnormais apontando que a denomina o utilizada em seus licenciamentos precisa ser ampla do contr rio n o contemplaria as diversidades culturais e geogr ficas do pa s GUEDES 2011 Enquanto pesquisa acad mica este trabalho tem al m de um prop sito cientifico um compromisso tico para com os indiv duos e o local estudado O uso do termo favela para designar uma forma de habita o especifica aponta a
53. de acesso favela Rua Marechal Francisco de Moura Todos os moradores passam por ali porque o sinal de transito da rua principal Rua S o Clemente fica na altura da pra a Essa pra a pequena mas muito bem conservada n o h lixo no ch o existem equipamentos novos de gin stica que fazem parte de um projeto da prefeitura para idosos h um parquinho com terra para as crian as com balan o e algumas gangorras e a ilumina o boa A pra a conta ainda com um quiosque de informa es tur sticas da prefeitura do estado comum que pequenas barracas de comida sejam montadas na pra a ou ao seu redor dentre as mais comuns est o a de cachorro quente e de a a Durante o dia ambulantes vendem bebidas doces e salgadinhos Normalmente a esquina em que a pra a se encontra com a Rua Marechal Francisco de Moura o primeiro ponto em que se avistam policiais da UPP do Santa Marta com ou sem um carro estacionado De dois a quatro policiais ficam nesse ponto A Rua Marechal Francisco de Moura sobe o p do morro em curvas cercada por pr dios de tr s a cinco andares com muros baixos e cercas de alum nio O espa o das cal adas m nimo suficiente apenas para que uma pessoa passe de cada vez comum que os dois lados da rua estejam repletos de carros estacionados porque n o h como estacionar na favela restando assim rua de acesso Os pedestres costumam andar pelo meio da rua Diversas barracas de comida de rua su
54. de cidad o e na sua auto imagem dos moradores HONNETH 2003 Sem estimulo participa o social na vida comunit ria os avan os em termos de sa de e qualidade de vida alcan ados ap s a instala o da UPP sejam eles frutos de investimento direto do estado ou n o podem ser comprometidos Os entrevistados reconhecem que os policiais extrapolam os limites de sua atua o ao estipular regras de conviv ncia Por outro lado os moradores apresentam longo hist rico de domina o pelo tr fico sofrimento com corrup o e viol ncia policial e sentimento de impunidade direcionado tanto a policiais quanto a traficantes Por conseguinte os entrevistados aceitam se submeter a um n mero maior de a es policiais desde que testemunhem que os policiais marque firme em cima de vagabundo e n o sejam corruptos Esse cen rio o mesmo que explica porque os entrevistados n o conseguem imaginar o Santa Marta sem a UPP e sem dom nio do tr fico Houve uma redu o da viol ncia estrutural que engloba a diminui o do estigma territorial a melhoria da qualidade dos servi os a diminui o da corrup o policial e o fim da domina o territorial exercida pelos traficantes Por outro lado a atua o dos policiais da UPP refor a a viol ncia estrutural ao conservar um tratamento desigual a 198 determinados grupos de moradores A viol ncia policial passou a ser dirigida a determinados grupos que passaram a sofrer com a
55. de sa de baseadas na comunidade surgiram ao redor do mundo com foco na educa o e na preven o em sa de Algumas dessas pol ticas iam al m dos DSS e enfrentavam quest es como estrutura pol tica e rela es de poder como problemas de sa de associados a rela es de g nero As estrat gias de sa de baseadas na comunidade ganharam reconhecimento internacional pelos resultados alcan ados em regi es pobres IRWIN amp SOLAR 2005 Na d cada de 1970 os Determinantes Sociais da Sa de ganharam destaque no Movimento de Promo o da Sa de que surgia no Canad a partir da divulga o do documento conhecido como informe Lahore A New Perspective on the Health of Canadians Atrav s deste identificaram se o meio ambiente e o estilo de vida como duas das principais causas de mortalidade no Canad O informe favoreceu ainda a realiza o da I Confer ncia Internacional sobre Cuidados Prim rios de Sa de 1978 conhecida como confer ncia de Alma Ata que foi fundamental para resgatar o paradigma social da sa de e para o estabelecimento do conceito de Determinantes Sociais da Sa de Sua declara o defendia a proposta de Sa de para Todos no ano 2000 O idealizador do programa Halfdan Mahler Diretor Geral da OMS em 1973 dizia que o programa Sa de para Todos tem como premissa tanto a remo o de obst culos para a sa de ou seja o fim da desnutri o da ignor ncia da contamina o de gua doce e de habita
56. desse tipo de viol ncia mais vi vel do que a dos crimes cometidos pelos traficantes A entrada da pol cia nas favelas pontual o que permite que em sua aus ncia exista uma rea o por parte dos moradores Policiais criminosos s o mais facilmente identificados e dezenas de processos contra policiais j foram levados a Julgamento H ainda a possibilidade de os casos de abusos policiais gerarem grande repercuss o p blica o que favorece as chances de que as autoridades os averiguem adequadamente N o se quer dizer com isso que inexistam riscos ao denunciar a es cometidas por policiais mas que nestas circunst ncias h uma possibilidade maior de identifica o den ncia e puni o Farias 2008 O Estado uma institui o na qual os cidad os t m representatividade A pol cia tem um estatuto e obrigada a manter uma ouvidoria o Minist rio P blico confere suporte s a es de investiga o Apesar de serem frequentes os crimes cometidos por agentes estatais contra os moradores de favelas estes constituem desvios de norma e os moradores podem manifestar seu desagrado COSTA 2004 N o se pode alegar o mesmo em rela o ao tr fico de drogas Nessas organiza es os moradores n o t m 64 representatividade real apenas residem no mesmo territ rio em que a institui o opera A es que desrespeitem os direitos constitucionais e os humanos s o a forma normal de atua o e os moradores n o t
57. determinado o conceito de qualidade de vida tem vari veis subjetivas incalcul veis MINAYO 2000 O campo psicol gico trabalha com o pressuposto de que o bem estar subjetivo o que leva cada indiv duo a valorizar aspectos diferentes em sua avalia o sobre a pr pria qualidade de vida Assim a percep o sobre a pr pria qualidade de vida engloba a an lise de crit rios externos ao sujeito como a virtude assim como a an lise subjetiva sobre a satisfa o pessoal e a predomin ncia de emo es positivas sobre as negativas DIENER 1996 2003 2 A dificuldade de operacionaliza o desse conceito a principal cr tica a sua ado o Nenhum instrumento seria capaz de captar todas as varia es mundiais dos conceitos de qualidade de vida Outra quest o chave o uso desses instrumentos para decidir acerca da aloca o de recursos governamentais nesse caso surge uma das principais cr ticas ao conceito qual ser o conceito de qualidade de vida utilizado como base na elabora o de instrumentos de pesquisa ou de pol ticas p blicas ALMEIDA 2000 MINAYO 2000 A integra o dos conceitos de DSS e de qualidade de vida na constru o de pol ticas p blicas intersetoriais no Brasil avan ou pouco nos ltimos anos Houve avan os pontuais no reconhecimento da import ncia das a es intersetorias na promo o de sa de A Pol tica Nacional de Promo o da Sa de 2006 definiu a viol ncia enquanto DSS Outro exe
58. do que o dobro da registrada em favelas que n o contam com as UPPs 28 A Funda o Get lio Vargas 2011 divulgou resultados semelhantes em pesquisa realizada no complexo de favelas do alem o onde o indice de aprova o a atua o policial foi de 66 9 Para mais informa es http upprj com wp 7 Para mais informa es http www bbc co uk portuguese noticias 2011 02 110223 pesquisa alemao jc shtml 33 A instala o da UPP rompe com a din mica do confronto entre a pol cia e os grupos criminosos Consequentemente a presen a de armamento ostensivo e a incid ncia de casos de bala perdida s o reduzidas o que resulta em um sentimento de seguran a SILVA 2010 CANO 2012 CUNHA 2010 O Instituto de Seguran a P blica ISP divulgou o Relat rio Tem tico Bala Perdida referente ao ano de 2012 em que aponta uma redu o de 68 5 no n mero de v timas de balas perdidas de 2007 para 2011 na cidade do Rio de Janeiro Segundo Ign cio Cano 2011 essa redu o pode ser atribu da ao fim dos tiroteios nas favelas com UPPs No site oficial das UPPs mantido pelo Governo do Estado est o listados 15 parceiros da iniciativa privada desde empresas nacionais de grande porte Natura a entidades internacionais Consulado Geral dos Estados Unidos Governo do Estado 2012 Dentre os principais investimentos do setor privado nas favelas com UPPs est o as iniciativas da Federa o das Ind strias do Estad
59. do saco e queimava Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos Quem n o obedecia cortava estrangulava Todo mundo ficava sabendo Evanir 67 anos Pastor casado 1 Filha Uma coisa meio absurda cara Aquele campo que tu passou aquele campo cheirava a sangue aquele campo ficou deserto Passou um per odo anos que ele ficou deserto S passava pra ir trabalhar porque tinha que passar Ficou deserto aquele campo era de barro Tu via aquele neg cio verde no ch o que era sangue Ficou um tempo que aquilo ali ficou terr vel Mas Deus mudou a nossa hist ria gra as a Deus Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos O tr fico de drogas se utilizava da viol ncia para punir trai es internas crimes comuns e para punir moradores que infringisse alguma de suas regras Os moradores chamam esses fatos de castigo Das raz es que levavam um morador a receber um castigo est o dela o conhecida tamb m por ser X 9 envolvimento de qualquer nivel com policiais 109 N go perdia dedo n go levava paulada a pior coisa que tem tu cair na m o do bandido pra apanhar Antes a menina namorava com pol cia ela tinha a cabe a raspada peito de fora s de calcinha andando no morro imagina isso eopaiea m e tem que andar atr s vendo Eu prefiro minha filha namorar com o pol cia do que bandido sem sombra de d vida Ah sua filha t namorando com policial problema dela e da Vai enc
60. e afirma que pagar um ato de cidadania Agora gostei Melhorou Em compensa o agora tem at luz no caminho T m umas que queima eles v m botar de novo mas agora a gente t pagando tamb m gua e luz E tamb m a gente t achando que a gente n o paga essa luzinhas que fica do lado de fora que eles botaram A gente tamb m t pagando ali pouca coisa mas a gente paga Esgoto tamb m tem que pagar que na gua vem escrito gua e esgoto e a gente t pagando tamb m E a gente tem que pagar pra melhoria da gente tamb m a gente tem que colaborar Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos A contribui o sobre a ilumina o inaugura um investimento e no caso da Fabiane 34 anos a percep o de que se est investindo em melhorar a pr pria vizinhan a A instala o da UPP representou o fim das liga es clandestinas de luz gua e TV a cabo o que aumentou a qualidade dos servi os que os moradores recebem embora tenha um impacto na economia dom stica dos moradores e nos pre os praticados no com rcio local Esse impacto foi mais amplamente percebido pelos moradores que pagam aluguel A regula o do abastecimento de gua representa um avan o em termos de saneamento b sico pois garante que a gua n o vai ser contaminada pelo esgoto no caminho at as resid ncias Al m disso a gua fornecida pela CEDAE passa por um processo continuo 145 de an lise de qualidade Esse quad
61. e social As pessoas com TEPT s o mais suscet veis a div rcios viol ncia dom stica dificuldades na cria o dos filhos depress o mudan as frequentes de trabalho problemas com a justi a pouca satisfa o com a vida e outros problemas psicol gicos ou de sa de JORDAN ET AL 1992 KOSS ET AL 1991 SCHNURR amp GREEN 2004 WALKER ET AL 2003 Por conseguinte esse transtorno constitui um importante problema de sa de p blica Para que se possa identificar o TEPT necess rio que o evento traum tico a rea o do sujeito e os sintomas preencham determinados requisitos O Manual Diagn stico e Estat stico de Transtornos Mentais DSM IV 1994 refer ncia no estudo da sa de mental define que o evento traum tico deve ter as seguintes caracter sticas 74 Os sintomas podem manifestar se em qualquer faixa de idade e levar meses ou anos para aparecer Eles costumam ser agrupados em tr s categorias a Reexperi ncia traum tica pensamentos recorrentes e intrusivos que remetem lembran a do trauma flashbacks pesadelos b Esquiva e isolamento social a pessoa foge de situa es contatos e atividades que possam reavivar as lembran as dolorosas do trauma c Hiperexcitabilidade ps quica e psicomotora taquicardia sudorese tonturas dor de cabe a dist rbios do sono dificuldade de concentra o DSM IV Am Psychiatr Assoc 1994 Al m da presen a desses sintomas o diagn stico de TEPT deve considerar
62. es n o higi nicas quanto a solu o de problemas puramente m dicos e que a forma de se alcan ar esses objetivos era ado o da aten o prim ria sa de BUSS 2003 A aten o prim ria sa de APS representava uma recomenda o da OMS para que os pa ses em desenvolvimento fizessem uma reconfigura o do sistema de sa de inspirada nas experi ncias baseadas na comunidade como os m dicos dos p s descalcos modelo implementado na china A APS era considerada parte do desenvolvimento social comunit rio o que inclui a transfer ncia de recursos para as comunidades pobres e rurais abandono da depend ncia de m dicos e enfermeiros e a inclus o de membros da comunidade no sistema de sa de Assim este seria o primeiro contato dos indiv duos com o sistema de sa de nacional O desenvolvimento da APS fez com que as a es Para mais informa es Horn J S Medicina para Milh es A experi ncia Chinesa Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1979 52 intersetoriais em sa de fossem difundidas ganhando uma unidade na OMS VEGA amp SOLAR 2005 Esse contexto impulsionou a realiza o da I Confer ncia Internacional sobre Promo o da Sa de 1986 organizada pela OMS que originou a Carta de Ottawa BUSS 2003 documento que se tornaria refer ncia para o Movimento de Promo o da Sa de ao definir Promo o da Sa de como o processo de capacita o da comunidade para atua
63. fam lia algumas tinha parente na Baixada ou outras comunidades mas at saber qual era comunidade se era uma fac o que podia subir Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filhos A expuls o das fam lias de traficantes da fac o que foi destitu da do comando do morro afetava a todos os moradores uma vez que afetava os la os de amizade e solidariedade constitu dos entres os vizinhos Tu imagina o cara falava sai agora Tu tinha que sair n o dava tempo de tirar nada S com uma trouxa na cabe a e se dava pra tirar ia morar na pra a Tinha que descer do jeito que tava E ficava na pra a at arrumar um lugar pra voc ir chorando era uma inferno um verdadeiro inferno Conheci v rios Eu moro aqui a um temp o Jurema 65 anos dona de casa 2 filhos Por outro lado as incurs es policiais tamb m eram vista como momento de risco pelos moradores que temiam as balas perdidas oriundas do confronto entre policiais e traficantes a possibilidade de serem confundidos com traficantes acusa es baseadas em 113 provas forjadas revistas violentas e interrogat rios policiais sobre as atividades do tr fico que poderiam resultar em retalia es por parte deste N o de manh cedo eu lembro que era meu primeiro dia de trabalho Trabalhava at aqui na farm cia A primeiro dia de trabalho era tinha que t aqui oito hora sete e meia cheia de pol cia no morro Como que eu ia chegar explicar pro m
64. favelas sob dom nio de grupos criminosos que o risco de vida associado a diversas atividades cotidianas faz com que praticamente todos os aspectos da vida fujam do controle dos moradores O simples ato de sair para trabalhar pode ser impossibilitado por um tiroteio Mesmo o ato de falar determinada g ria pode expor o morador a um castigo o que afeta a confian a m tua entre vizinhos DACACH 2009 Tal ambiente oferece poucas condi es para o estabelecimento de um sentimento de seguran a psicol gica A redu o do sentimento de seguran a psicol gica significa que o sujeito questiona sua capacidade de agir no mundo o que o deixa ainda mais vulner vel ao trauma EGGER 2011 Freud 1987 definiu a experi ncia traum tica como uma carga de energia n o simbolizada que invade o aparelho ps quico sem que o sujeito esteja preparado para elaborar tal viv ncia colocando assim em risco o pr prio funcionamento da psiqu A repeti o das mem rias traum ticas seria uma rea o quilo que mesmo estando presente no aparelho ps quico n o foi elaborado e por isso n o faz parte das cadeias associativas Em outras palavras o trauma pode ser compreendido como a impossibilidade de interpretar categorizar e integrar mem ria uma experi ncia devastadora Cada indiv duo vai ter uma resposta um limiar traum tico especifico que depende da capacidade subjetiva de elaborar determinados eventos PERES 2005 O trauma psicol gico
65. grupo especifico os jovens e adultos do sexo masculino com perfil pr ximo aos dos traficantes locais especialmente afetado pela viol ncia estrutural Essa disserta o sugere portanto que al m das atividades desenvolvidas pelos policiais da UPP como cursos recreativos e esportivos para crian as e adolescentes sejam incorporados projetos de aproxima o dos policiais com outros grupos de moradores Seria fundamental a elabora o de um projeto que 1 informasse aos moradores e aos policiais sobre seus direitos e garantisse sua observ ncia 2 desse ci ncia aos moradores e aos policiais dos limites da atua o policial 3 difundisse informa es acerca dos meios dispon veis para realizar den ncias em caso de abuso policial 4 estabelecesse mecanismo transparente para a investiga o e puni o de pr ticas abusivas entre os policiais e 5 desse publicidade a todas as a es de diversas gamas desenvolvidas no mbito da UPP Iniciativa de semelhante envergadura colaboraria para a redu o da viol ncia estrutural e do medo do reestabelecimento da rela o de domina o do tr fico de drogas sobre os moradores na medida em que 199 atenderia os grupos mais afetados e que daria conta das principais vulnerabilidades do projeto Por ltimo enfatizamos a import ncia de que o projeto UPP Social seja implementado no Santa Marta e nas demais favelas atendidas pela UPP mapeando e empregando as a es intersetoriais ne
66. inclu das na Constitui o Federal de 1988 ainda hoje vigente Isso possibilitou que os princ pios defendidos pela OMS fossem incorporados no Sistema nico de Sa de SUS Quatro anos depois surgiu o Programa de Sa de da Fam lia PSF primeiro programa no pa s inspirado nos conceitos de Promo o da Sa de BUSS amp CARVALHO 2009 O PSF representa uma reorienta o do sistema de sa de brasileiro para a implementa o da aten o prim ria sa de APS A unidade do PSF a porta de entrada do sistema de sa de baseado na comunidade com a contrata o e treinamento de moradores como agentes de sa de tal como os princ pios da APS A estrat gia prioriza a preven o e Promo o da Sa de com atendimento nas unidades e nas resid ncias e est presente em diversos munic pios brasileiros BUSS amp CARVALHO 2009 A implementa o da APS sofreu uma retra o nas d cadas de 80 e 90 nos pa ses em desenvolvimento devido redu o dos gastos estatais ocasionados pela ado o de um paradigma neoliberal Consequentemente foi amplamente aplicada a aten o prim ria seletiva APS Seletiva uma vers o limitada e de menor custo da aten o prim ria abrangente defendida pela OMS A APS seletiva visava concentra o de recursos em poucas a es com alto custo benef cio Na pr tica isso representava um abandono do ideal de sistema de sa de defendido pela OMS que inclu a uma transforma o das
67. informa es sobre os recursos investidos na gest o do projeto das UPPs http www upprj com index php o que e upp 34 O Estado tamb m criou um projeto com medidas sociais para as favelas com UPPs nomeado de UPP Social foi lan ado em agosto de 2010 ou seja quase dois anos ap s a primeira UPP ter sido instalada A UPP Social coordena a es intersetoriais da prefeitura em favelas com UPP assim como a es integradas com o governo estadual e o federal O programa tem como objetivos contribuir para a consolida o do processo de pacifica o e a promo o da cidadania local nos territ rios pacificados promover o desenvolvimento urbano social e econ mico nos territ rios efetivar a integra o plena dessas reas ao conjunto da cidade UPP SOCIAL 2012 A UPP Social foi coordenada pela Secretaria de Estado de Assist ncia Social e Direitos Humanos SEASDH ent o sob o comando do Secret rio Ricardo Henriques Um acordo entre o Governo do Estado e a Prefeitura do Munic pio do Rio de Janeiro fez com que o Secret rio e o programa fossem transferidos para a prefeitura Em 4 de janeiro de 2011 o programa passou a ser coordenado pelo Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos IPP rg o de planejamento estrat gico e produtor de informa es e estudos sobre o munic pio MELLO amp CUNHA 2011 Entre as principais cr ticas feitas pela comunidade cient fica brasileira ao projeto das UPPs est o aquel
68. informa o sobre o PSF Santa Marta http www psfsantamarta com 50 da sa de um dos pilares dessa proposta que compreende a interdepend ncia entre condi es sociais e condi es de sa de Atualmente a Comiss o Nacional de Determinantes Sociais da Sa de conceitua os DSS como desigualdades na situa o de sa de decorrentes das condi es sociais em que as pessoas vivem Exemplo dessa desigualdade o fato de as favelas apresentarem uma taxa de mortalidade infantil 3 27 vezes maior do que a da 6 Regi o Administrativa da cidade onde est o bairros como Ipanema e S o Conrado O ndice de homic dios entre homens de 15 a 24 anos 4 6 vezes superior na Rocinha do que na G vea Entre as m es moradoras das favelas 22 t m at 20 anos nos bairros vizinhos a taxa de 5 42 A expectativa de vida de um morador da Rocinha observado atrav s do ndice de Desenvolvimento Humano IDH de 67 33 anos enquanto a de seus vizinhos da G vea podem ultrapassar os 80 anos Esses exemplos demonstram que a falta de investimentos nos DSS como saneamento b sico e condi es de moradia t m como efeito uma menor expectativa de vida para os moradores de favelas Nesse cen rio poss vel perceber que a favela sofre com uma viol ncia estrutural que atinge variados DSS e compromete a expectativa de vida local Outro exemplo da influ ncia dos DSS na qualidade de vida e na sa de da popula o apontado pela UNICEF
69. limita aus ncia de contato com n o moradores de favelas Afeta igualmente a confian a entre vizinhos se constituindo em uma lei do sil ncio SILVA 2004 2008 Outra singularidade da sociabilidade violenta sua organiza o hier rquica As fac es t m v rios l deres formando uma hierarquia horizontal o que gera atua es personalistas por parte dos chef es do tr fico inclusive com ataques de uns contra outros PERLMAN 60 2010 As diversas fac es disputam o territ rio das favelas o que aumenta a vulnerabilidade dos moradores dado que a cada novo chefe do morro estes precisam aprender um novo c digo de conduta determinada pela personalidade o estilo da lideran a e a filosofia pessoal do chefe do tr fico LEEDS 1998 Diante do conceito de sociabilidade violenta e da conforma o que ela toma nas favelas cariocas poss vel realizar uma an lise sobre as pol ticas de seguran a p blica que n o se limite diminui o dos ndices de viol ncia Soares 2012 aponta que as pol ticas de seguran a geralmente se baseavam em incurs es pontuais nas favelas Logo que estas acabavam o tr fico se reestabelecia Ao combater o crime e n o a domina o territorial as for as policiais n o conseguiam desarticular as condi es para demonstra es de for a as disputas internas e a domina o que a sociabilidade violenta exercia sobre os moradores Sem essa desarticula o a in
70. ltimos levantamentos apontam que o Rio de Janeiro caiu do segundo lugar em 2000 para o d cimo s timo em 2010 A taxa de assassinatos por 100 mil habitantes encolheu de 51 0 para 26 2 homic dios por 100 mil habitantes sendo o per odo entre os anos de 2008 e 2010 coincidente com a instala o das UPPs respons vel pela queda de mais de 20 no n mero de homic dios na cidade do Rio de Janeiro Para Luiz Eduardo Soares 2012 as UPPs representam assim como os programas Mutir o da Paz e o GPAE uma substitui o do modelo de incurs es b licas nas favelas que custavam muitas vidas e n o representavam grandes preju zos ao tr fico As UPPs se enquadrariam em um modelo em que se tem seguran a p blica durante 24 horas sem que a pol cia se retire Essa similaridade tamb m exp e o programa das UPPs s mesmas tens es que levaram extin o dos programas anteriores a degrada o da PM Para o referido autor preciso esclarecer que as UPPs assim como qualquer outro programa de seguran a p blica s alcan ar o um avan o significativo na seguran a p blica do estado do Rio de Janeiro se houver a compreens o de que o problema n o se l Dispon vel em http www sangari com mapadaviolencia 47 restringe ao tr fico de drogas uma vez que este se sustentou sobre uma rede de corrup o policial Para que ocorra uma grande mudan a na seguran a p blica no estado as UPPs deveriam ser complement
71. m como materializar sua insatisfa o Nesse cen rio a instala o das UPPs tem como um dos seus objetivos devolver popula o local a paz e a tranquilidade p blicas necess rias ao exerc cio da cidadania plena que garanta o desenvolvimento tanto social quanto econ mico O termo devolver utilizado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro n o contempla o trabalho dos movimentos sociais e a participa o comunit ria na luta por melhores condi es de vida nas favelas Os movimentos sociais e os moradores do Santa Marta foram respons veis pela conquista de todos os bens e servi os p blicos existentes no interior da favela Santa Marta at a implanta o da UPP como creches espa o cultural r dio comunit ria associa o ambulat rio e jornal FLEURY 2012 A quest o do dom nio territorial exercido pelos traficantes n o se restringe aus ncia das condi es para o exerc cio pleno da cidadania por parte dos moradores A priva o de direitos para al m de seus efeitos na limita o da autonomia pessoal tem reflexos na auto imagem dos moradores diante do restante da sociedade A qualidade de cidad o est intimamente ligada forma como os sujeitos v o se colocar e se sentir diante da sociedade HONNETH 2003 Assim n o se trata apenas de garantir o exerc cio da cidadania mas tamb m da maneira pela qual esse processo se desenvolver com ou sem o reconhecimento da participa o dos moradores na
72. moradores n o priorizam aspectos da seguran a definidos pela comunidade e n o t m estrutura descentralizada aspectos presentes nesse tipo de policiamento Ao contr rio as UPPs s o centralizadas e baseadas em uma estrutura hier rquica r gida a interlocu o com a comunidade acontece atrav s de encontros espor dicos entre o Comandante das unidade e os moradores e n o existe perspectiva de que os moradores participem das decis es sobre as prioridades em seguran a p blica Isso se reflete na atua o dos policiais e na exclus o dos moradores das decis es sobre a comunidade CANO 2012 31 Entre as especificidades dessa pol tica est o o emprego de policiais rec m formados sem hist rico de corrup o reuni es epis dicas entre os comandantes das UPPs e a popula o a proposta de uma ocupa o social por meio de um grupo de projetos denominados UPP Social a defini o de um Comandante para cada UPP substituindo o controle por parte do Batalh o da rea e o foco no fim do dom nio territorial e n o no fim do tr fico de drogas RAMOS 2011 CANO 2012 Os objetivos do projeto foram formalmente definidos no Decreto lei no 42 787 de 6 de janeiro de 2011 promulgado pelo governador dois anos ap s a instala o da primeira unidade a consolidar o controle estatal sobre comunidades sob forte influ ncia da criminalidade ostensivamente armada b devolver popula o local a paz e a tranquilidade p
73. nio territorial dos traficantes foi o fator principal para isso No caso estudado o fim do dom nio territorial significou tamb m o fim da rela o de domina o dos traficantes sobre os moradores eixo central da viol ncia da Sociabilidade Violenta Esta disserta o evidenciou que a conviv ncia com os criminosos era um dos principais fatores influenciando o estigma territorial do qual sofriam os moradores o qual por sua vez legitimava a es policiais violentas e abusivas e desqualificava as demandas e den ncias dos moradores 189 O fim do dom nio territorial exercido pelo tr fico de drogas tamb m representou o fim dos confrontos sejam entre traficantes seja destes com a pol cia o que resultou no fim das mortes por assassinato no Santa Marta Essa implica o fundamental para a melhoria da qualidade de vida pois aponta que a pr pria continuidade da vida esta sendo assegurada Diminuiu assim o risco de vida a que estavam expostos os moradores e seus familiares que hoje n o temem serem v timas de balas perdidas Deve se destacar ainda a diminui o do estresse e do sofrimento provocado pela percep o de que se est em risco e pelas perdas de familiares amigos e vizinhos A pesquisa revela que a UPP conseguiu alterar das seguintes maneiras os Determinantes Sociais de Sa de do Santa Marta queda dos n veis de criminalidade amplia o da liberdade individual enfraquecimento do estigma territorial melhoria d
74. o conceito de sa de foi ampliado O termo Promo o da Sa de passou a se referir por um lado a um conjunto de valores relacionados vida paz sa de equidade participa o democracia cidadania e ao desenvolvimento por outro lado hoje concerne uma combina o de estrat gias visando a atingir os determinantes sociais da sa de a es do Estado pol ticas p blicas saud veis da comunidade refor o da a o comunit ria dos indiv duos desenvolvimento de habilidades pessoais do sistema de sa de reorienta o do sistema BUSS 2006 Atualmente o conceito de qualidade de vida incorporou os preceitos do movimento de promo o da sa de e os determinantes sociais de sa de Maria Cec lia Minayo 2000 conceitua qualidade de vida como uma no o eminentemente humana que tem sido aproximada ao grau de satisfa o encontrado na vida familiar amorosa social e ambiental e pr pria est tica existencial Pressup e a capacidade de efetuar uma s ntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade considera seu padr o de conforto e bem estar O termo abrange muitos significados que refletem conhecimentos experi ncias e valores de indiv duos e coletividades que a ele se reportam em variadas pocas espa os e hist rias diferentes sendo portanto uma constru o social com a marca da relatividade cultural Minayo 2000 p 8 56 Por ser cultural e historicamente
75. o da UPP Na ocasi o da ocupa o do morro por for as policiais os entrevistados apontam que foram surpreendidos e que s tiveram no o do que se tratava ao assistir a telejornais Verifica se um padr o onde os moradores s o exclu dos das decis es sobre a favela em que vivem Deve se ressalvar que a instala o das UPPs seguintes do Santa Marta foram anunciadas com anteced ncia No entanto a Secret ria de Seguran a P blica n o divulga informa es sobre o futuro de nenhuma das UPPs 185 importante ressaltar que a defini o de Promo o da Sa de engloba a participa o dos moradores no processo de melhoria de sua qualidade de vida e sa de e especifica que estes dever o ter informa es e ferramentas para agir em prol da sua pr pria sa de e da sa de da comunidade a qual pertencem Fica evidente dessa forma que a falta de informa es e garantias sobre a continuidade da UPP afeta a qualidade de vida e a sa de dos moradores e impede que estes se articulem na promo o da mesma Al m disto a falta de informa es e de participa o dos moradores nas discuss es sobre o futuro das UPPs compromete a sa de psicol gica destes por aumentar a percep o subjetiva do risco envolvido em cada intera o com os policiais ou a cada vez que os moradores entrevistados percebem a presen a de tr fico de drogas Os moradores entrevistados apontam que a aus ncia de garantias sobre a perman ncia da UPP seu pr
76. op es de lazersisveasteiiasinnasiciasiinatintiasinss 152 4 3 Rela o dos moradores com os policiais da UPP 158 4 3 1 A seguran a de conhecer e ser reconhecido por policiais da UPP 166 4 3 2 Implica es da gest o da UPP use Dag O e fa 173 4 3 3 A resist ncia UPP e a confian a entre vizinhos 178 4 3 4 Criminalidade na UPP do Santa Marta rien 180 4 3 5 A Copa do Mundo e as Olimp adas do Brasil como marco da continuidade das VP a A os a A TR A A eS 184 DADO sau es A AN A AR A NG EREE 187 Sobre a qualidade de vida e sa de na favela Santa Marta cccscccccceeeeeeeeetneeeeeeeees 187 O Referencias citadas seach es i ee tes oe a ee ec dA bee teat 201 7 1 Consentimento Informado de Entrevista para Disserta o de Mestrado 214 TZ Roteiro de CMC VISE A sita Mort sedan areais apra a RR e A a 215 10 11 Cap tulo 1 Os efeitos da UPP na sa de e na qualidade de vida dos moradores da favela Santa Marta Em 2012 a cidade do Rio de Janeiro passou do sexto lugar no ranking nacional de homic dios para o vig simo terceiro lugar A queda pode ser associada implanta o em dezembro de 2008 de uma pol tica de policiamento permanente nas favelas chamada de Unidades de Pol cia Pacificadoras UPPs CANO 2011 Em decorr ncia da diminui o das taxas de criminalidade do grande destaque que as UPPs t m na m dia e da propaganda governamental
77. os que t o l h mais tempo que a gente j tem at um relacionamento amizade s o tranquilo E Ah Ent o voc acha que os policiais mais antigos s o mais tranquilos que os novos A Os que t o l mais tempo Muito melhor E Mas assim mais tempo de antes da UPP A N o mais tempo na UPP Foram colocados h mais tempo Os que ia antes n o sabia quem era quem Agora eles sabem a hora que tu desce Eu j tomei dura de policial porque ele n o me conhecia nunca te vi no morro Porque eu trabalho Agora tem muita diferen a Hoje eles conhece Tem um relacionamento Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Nesse caso Alessandro 34 anos se sente seguro n o em raz o de reconhecer e confiar que seus direitos ser o respeitados e sim porque confia na rela o que tem com os policiais da UPP Confia que os policiais da UPP o reconhecer o como um morador e tamb m como trabalhador Esse reconhecimento restaura a fronteira entre traficantes e moradores enfraquecida ap s a instala o da UPP em raz o da transforma o na forma de atua o do tr fico Diante da aus ncia de porte de arma e da inten o dos traficantes de se manterem an nimos as diferen as entre um morador e um traficante foram reduzidas fazendo com que todos os moradores jovens ficassem sob suspeita para os policiais da UPP A seguran a oriunda de ser reconhecido como morador t o limitada enquanto recu
78. pode ajudar a enriquecer as teorias sobre viol ncia urbana e Promo o da Sa de ao salientar a necess ria intersetorialidade que as pol ticas nessas reas devem apresentar A fim de compreender o contexto em que surgiu esse programa de policiamento a revis o te rica contemplou tamb m os estudos sobre favelas e viol ncia urbana que abordavam as condi es de vida dos moradores Para entender a complexidade da rela o entre a seguran a e a sa de psicol gica dos moradores de favelas com UPPs a revis o te rica incluiu refer ncias da psicologia sobre a viol ncia o estigma o estresse e o trauma Para mais informa es sobre BCS http g1 globo com bahia noticia 2012 01 mais uma base comunitaria de seguranca e inaugurada em salvador html informa es sobre Paran seguro http g1 globo com parana noticia 20 1 2 03 londrina vai receber primeira unidade parana seguro do interior html Informa es sobre a UPP Ga cha http Amirante globo com noticias 2013 02 24 pagina331851 shtml Informa es sobre o Territ rio de Paz http www canoas rs gov br site home pagina idDep 30 id 86 18 Antecedentes da pesquisa Pode se dizer que os antecedentes dessa disserta o se encontram em uma tentativa de analisar e expor a realidade em que cresci Vivi em uma rua de acesso a uma favela por dezenove anos Aos seis anos j era capaz de reconhecer o que era um AR 15 sabia distinguir entre fogos e tiros e como proceder
79. que mais amea a voc hoje De que tem medo O que voc gostaria de perguntar aos outros entrevistados que como voc tamb m moram em favelas com UPP E voc como responderia essa pergunta Posso entrar em contato novamente para esclarecer alguma d vida ou se ainda ficar alguma pergunta Este contato pode ser por telefone 223
80. que os moradores viviam Vivia mais tenso n A probabilidade de tu viver menos era maior Bem maior o risco da bala perdida e aconteceu uma poca de eu descer pra trabalhar s ando atrasado Eu desci e eu tinha um guarda chuva grande eu descia com ele nas costas Certa vez eu descendo quando passei perto da casa daquela minha tia o helic ptero apareceu O cara mandando eu deitar vira vira Minha v saiu Entrou na frente n o n o a quando minha v tirou era o guarda chuva Eu n o sabia se ele queria que eu virasse pra ele somente v ou pra atirar Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos As falas de Alessandro 34 anos e Vin cius 24 anos ilustram como a es cotidianas a exemplo de ir para o trabalho geravam n veis elevados de estresse A pol cia n o era vista como uma fonte de prote o e sim como mais um agressor do qual os moradores 114 precisavam manter dist ncia e eventualmente se defender Os in meros atos de corrup o abuso e viol ncia policial testemunhados pelos moradores fizeram nos desacreditar da pol cia que segundo Jussara s vinham busca o deles e deixava matar pra depois entrar Os entrevistados apontam que a pol cia desrespeitava os moradores tratava a todos como criminosos e era especialmente violenta com os traficantes a quem extorquia espancava De acordo com os entrevistados quando se tratava de traficantes a pol cia frequentemente atira
81. realizadas pela Funda o Get lio Vargas http direitorio fgv br node 2507 e pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social http www ibpsnet com br index php pesquisa 2009 13 inspirados pelo conv vio com presos pol ticos instauraram regras de ajuda m tua Fora das cadeias o Comando Vermelho foi gradativamente concentrando suas a es no tr fico de drogas Esse tipo de crime precisava de pontos fixos o que resultou no controle armado sobre o territ rio das favelas Dissid ncias dentro dessa fac o originaram outras fac es que disputavam o dom nio territorial das favelas cariocas em epis dios que ficaram conhecidos pelos moradores da cidade como guerras Os moradores de favelas passaram a ter de lidar com a presen a do tr fico de drogas a disputa entre fac es e os confrontos com a pol cia LEEDS 1998 ALVES amp EVANSON 2011 FARIAS 2008 VALLADARES 2009 PERLMAN 2010 Nas favelas cariocas a viol ncia urbana deixou de ser o somat rio de crimes comuns se constituindo em um conjunto de pr ticas que caracterizam uma nova ordem social Esse quadro gera uma contiguidade entre duas ordens sociais distintas Estas s o a ordem social formal representada pelo monop lio legitimo da for a pelo Estado e a ordem social da sociabilidade violenta que se organiza pelo uso da for a e tem os traficantes como portadores Os moradores de favelas est o inseridos nas duas ordens sociais Ent
82. rela o tem tica da favela Os entrevistados acreditam que a imagem propagada pela m dia foi a de que o Santa Marta teria se tornado um timo lugar para se viver o que mascara os demais problemas N o obstante os problemas remanescentes a diminui o nos ndices de criminalidade melhorou os n veis de seguran a psicol gica dos moradores que se sentem mais seguros porque avaliam que n o existiriam mais confrontos armados torturas e assassinatos na favela reconhecem que n o houve assassinatos e crimes graves ap s a instala o da UPP sabem que os traficantes que permanecem na favela n o portam armas acreditam que seus familiares amigos ou vizinhos envolvidos com o tr fico de drogas tamb m correm menos risco de vida avaliam que seus filhos est o em um ambiente seguro e que n o ser o aliciados pelo tr fico testemunham uma conduta menos violenta e menos corrupta por parte dos policiais da UPP percebem a entrada de turistas na favela s o conhecidos pelos policiais como moradores de bem n o s o reconhecidos pelos traficantes como amigos dos policiais e acreditam que seus im veis foram valorizados e por isso t m condi es de ter uma nova fonte de renda O aumento na seguran a psicol gica e as melhorias nos DSS como a amplia o da oferta de servi os de sa de n o resolveram os danos sa de psicol gica como traumas e TEPT gerados pelo quadro anterior de viol ncia A exist ncia de um ambie
83. s pra vigiar porque existia muito disso de colocar o flagrante e dizer que era nosso ent o at nisso a gente tinha que ter muito cuidado Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho Na fala de Vivian percebe se que as crian as e adolescentes n o s compreendiam os c digos locais relacionados contiguidade territorial de duas ordens sociais distintas como criavam estrat gias para minimizar os danos causados por essa conjuntura Vin cius 24 anos quando indagado sobre sua inf ncia narra que um dia ouviu traficantes dando uma ordem de que ningu m podia subir o morro e come ou a descer o morro em dire o contr ria sua casa que ficava no pico at que foi encontrado por sua m e no caminho 102 A inf ncia e adolesc ncia dos jovens e adultos entrevistados coincidiram com o per odo que o tr fico de drogas local passava por uma transforma o Os moradores reconhecem o per odo posterior a 1985 como o momento em que o tr fico passou a ser operado por crian as e adolescentes No in cio a participa o era limitada a cargos de menor import ncia como avi o e olheiro respons veis respectivamente por levar cargas de drogas e avisar da entrada da pol cia ou de pessoas estranhas na favela Ap s alguns anos o posto de dono do morro come ou a ser disputado entre traficantes da velha guarda e um grupo de adolescentes nascidos no morro Ao mesmo tempo o tr fico passa a ter acesso
84. se explica pelo baixo valor dos alugu is em rela o aos valores praticados no restante da zona sul da cidade do Rio de Janeiro Al m disso o custo de residir na favela menor devido inexist ncia de tributos como IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano taxa de inc ndio e taxas de condom nio O interesse de pessoas que antes n o moravam em favelas narrado como prova da valoriza o do lugar Hoje at pessoa da rua quer morar aqui Tem pessoa de rua morando no morro Teve um senhor l que ele queria alugar a minha casa a parte de cima Alugo alugo n o porque aqui eu posso parar meu carro aqui em cima n o vou pagar IPTU N o vou pagar isso Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Jailson de Souza e Silva 2010 ressalta que a favela representa mais do que um espa o residencial um local onde s o criados c digos e uma cultura ligada identifica o territorial Por isso o Estado n o deveria permitir que a for a do mercado imobili rio colocasse em risco a perman ncia dos moradores sob o risco de que ocorra uma remo o branca com a sa da dos mais pobres e uma altera o do perfil social da favela Os moradores entrevistados n o conhecem casos de moradores que tenham sa do do Santa Marta por n o conseguir arcar com o aumento do valor dos alugu is Entretanto reconhecem a chegada de novos moradores e a crescente dificuldade em conseguir casas para alugar
85. tamb m aumentou a seguran a psicol gica destes Nesse cen rio o tr fico conferia queles reconhecidos como moradores algumas permiss es gerais como o direito de entrar e transitar na favela sem ser interceptado e outras mais restritas como fazer reclama es e eventualmente ser atendido at a chance de poder argumentar diante de senten as de morte e brigas entre moradores Como eu tava te falando tinha alguns que eram os ajudantes deles que era mais marrento gostava de fazer abuso com as meninas e tudo mais Mas era s a gente chegar e conversar com o chefe deles que eles abaixavam a bola Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho Entretanto essa seguran a oriunda do reconhecimento da condi o de morador tinha limita es Pois n o retirava os moradores de uma posi o de domina o imposta pelo conv vio com os traficantes portadores da ordem social nomeada de sociabilidade violenta SILVA 2004 2008 Essa posi o de domina o era conservada atrav s de demonstra es de for a como torturas e execu es que passavam aos moradores a ideia de que a insubordina o poderia ser letal SILVA E LEITE 2008 O reconhecimento n o evitava que os moradores fossem obrigados a acatar decis es do tr fico como abrigar em suas casas traficantes N o garantia tampouco que estes deixariam de correr 168 risco de vida fato comprovado com o relato de dois entrevistados que tiveram de sair
86. tr fico praticamente desapareceu no in cio do programa Por esse motivo os moradores entrevistados preferem comandantes mais r gidos e presentes pois acreditam que estes poderiam agir mais rapidamente frente s a es do tr fico de drogas Quando manifestam sua aprova o a determinado comandante est o tamb m informando que tipo de atua o esperam dos policiais da UPP o que certamente est ligado a um combate continuo e firme do tr fico de drogas A personaliza o do programa das UPPs seja atrav s da postura do Comandante da unidade seja de atitudes pontuais dos policiais afeta a credibilidade que os moradores t m no programa e faz com que estes temam pela volta do tr fico de drogas Al m disso a exist ncia de atitudes personalistas por parte dos policiais que extrapolam a compet ncia da autoridade policial exp e a necessidade de se reavaliar as estrat gias de treinamento e forma o dos quadros atuantes nas UPPs 4 3 3 A resist ncia UPP e a confian a entre vizinhos A pr tica de atitudes preconceituosas ou desrespeitosas por alguns policiais foram A A 66 bs A 2 justificadas por tr s moradoras como sendo uma rea o resist ncia de parte dos moradores instala o da UPP Essa resist ncia foi caracterizada como um movimento de parte dos moradores em sua maioria mulheres e adolescentes que inclui agress es verbais e f sicas aos policiais e picha es em muros da favela com f
87. trabalho Ocupa o de s tios urbanos marcados por um alto grau de vulnerabilidade ambiental Alta concentra o de negros pardos e pretos e descendentes de ind genas de acordo com a regi o brasileira e cidade Alta incid ncia de situa es de viol ncia sobretudo a letal acima da m dia da cidade Rela es de vizinhan a marcadas por intensa sociabilidade com forte valoriza o dos espa os comuns como lugar de conviv ncia Souza e Silva 2011 p 13 27 Assim consideramos que a defini o de favelas transcende a aus ncia de programas de infraestrutura Trata se de um modelo cultural e historicamente rico de habita o Por conseguinte sustentamos que ainda h sentido em chamar as favelas como tal pois a despeito das melhorias em infraestrutura e da presen a de programas do Estado esta ainda constitui uma forma especifica de habita o Adotamos por isso essa denomina o na presente pesquisa 2 2 O surgimento e evolu o das fac es do tr fico de drogas no Rio de Janeiro Ao longo da d cada de 1970 o aparecimento da primeira fac o criminosa no estado do Rio de Janeiro o Comando Vermelho inicio um processo que culminaria posteriormente na transforma o da favela em um ponto do com rcio de varejo de drogas A ditadura militar entrava em seu per odo mais repressivo com a instaura o da Lei de Seguran a Nacional LSN atrav s do Decreto Lei 898 de 29 de setembro de 1969 Esta classificava presos po
88. um comerciante possa ser tornar um agente Bradesco Expresso CNPJ e faturamento de 3 mil reais mensais OST 2012 Por se tratar da primeira UPP a UPP Santa Marta foi instalada antes que houvesse uma formula o de sua contrapartida social nomeada de UPP Social Esse projeto tem como objetivo complementar a instala o da UPP e promover a integra o da favela cidade ao centralizar os servi os e programas da prefeitura nas favelas com UPP A UPP social 49 s foi implantada no Santa Marta tr s anos ap s a instala o da UPP Antes disso entretanto diversas a es sociais foram implementadas pela Prefeitura do Rio de Janeiro no Polo Social Padre Velloso Esse pr dio abriga tr s secretarias diferentes Secretaria Municipal de Sa de e Defesa Civil CF Santa Marta Secretaria de assist ncia Social CRAS Pd Velloso e a Secretaria de Envelhecimento Saud vel e Qualidade de Vida Casa de Conviv ncia Pd Velloso O Polo abriga ainda a Clinica da Fam lia Santa Marta que se identifica como um Posto de Sa de da Fam lia PSF Em outro pr dio localizado no acesso do morro est instalada a FAETEC que oferece cursos t cnicos aos moradores A sede da UPP localizada no alto do morro tamb m oferece cursos e atividades de lazer a crian as e adolescentes FLEURY 2012 Para a compreens o da complexidade do objeto de pesquisa deste projeto importante considerar que cada UPP est instalada em uma favela difere
89. vel de uma personaliza o Essa associa o entre a efici ncia da atua o dos policiais da UPP do Santa Marta e a Comandante Priscila Azevedo est presente na fala de idosos e adultos Os jovens reconhecem uma diminui o no n mero de rondas policiais e na motiva o dos policiais para coibir o tr fico de drogas sem contudo associar essa mudan a troca de Comandantes 174 Um dos principais diferenciais da pol tica das UPPs a exist ncia de um comandante local para cada unidade Ao contr rio do policiamento que era feito anteriormente n o h submiss o ao batalh o que faz o policiamento do bairro em que a favela est inserida O comandante da UPP se submente ao comando geral das UPPs OST 2012 A rela o entre os moradores e policiais muda de uma UPP para outra principalmente em fun o das diferentes condutas adotadas pelos Comandantes CANO 2012 Os moradores entrevistados preferem comandantes que se fa am presentes com aten o especial a qualquer nova movimenta o do tr fico de drogas Atribuem essa prefer ncia percep o de que existe um contraste com a atitude corrupta da PM antes da UPP Dessa maneira o comandante que faz um controle r gido sobre todos os eventos e todos os frequentadores da favela visto como eficiente O nico caso de agress o policial relatado durante as entrevistas foi direcionado a um traficante e narrado como uma atitude positiva por parte da pol cia que e
90. viol ncia interpessoal recorrente t m maior risco de desenvolver o transtorno KING ET AL 1995 O fim da exposi o a esse tipo de viol ncia tem igualmente papel fundamental para a diminui o dos sintomas recorrentes do TEPT Esse transtorno quando n o tratado pode trazer consequ ncias sa de f sica psicol gica e social como aumento da viol ncia dom stica e a depress o Esses dados contribuem para a discuss o proposta por esta disserta o ao salientar a import ncia da promo o de um ambiente menos violento como forma de preven o de quadros de TEPT mas tamb m como forma de tratamento dos indiv duos que j desenvolveram o transtorno Consideramos ainda os debates sobre a integra o das favelas cidade tanto sobre o aspecto do estigma territorial quanto da cidadania dos moradores O estigma territorial faz com que a conviv ncia com criminosos transforme todos os moradores de favelas em suspeitos GOFFMAN 1988 Um dos efeitos da estigmatiza o dos moradores de favelas o apoio por parte de diversos setores da sociedade s a es abusivas e violentas das for as pol cias LEITE 2008 O estigma afeta igualmente a sa de dos moradores ao gerar situa es discriminat rias como a n o contrata o para uma vaga de trabalho e ao causar sofrimento oriundo da pr pria percep o de que se v tima de um estigma CARRETEIRO 2003 Dessa forma al m da viol ncia urbana os moradores est o expostos
91. 0 das 1 287 resid ncias tiveram seus refrigeradores trocados por novos e 695 passaram por reformas nas redes el tricas Al m disso oito mil duzentas e trinta e quatro l mpadas foram distribu das FGV 2012 Em raz o da aus ncia de CEPs C digo de Endere amento Postal at junho de 2013 apenas as contas de luz eram entregues nas casas O restante das correspond ncias continuava a ser entregue na associa o de moradores MELLO amp CUNHA 2011 Dentre as cr ticas ao programa lideran as locais reclamam da disparidade entre as responsabilidades financeiras que os moradores tiveram que assumir e a qualidade de alguns servi os prestados Como exemplo deve se mencionar a inexist ncia de rede esgoto e coleta de lixo completa que gera uma infesta o de ratos FLEURY 2012 Ap s a regulariza o de alguns servi os houve mudan as no com rcio local como a implanta o de uma filial da rede Casa amp V deo na Pra a do Cant o Outra grande mudan a a instala o de um posto de atendimento avan ado do Banco Bradesco que faz concess o de cr dito e conta com um caixa eletr nico Os demais servi os banc rios como a abertura de contas e o recebimento de pagamentos s o realizados em com rcios locais intitulados Bradesco Expresso At 2012 tr s comerciantes locais adotaram o Bradesco Expresso Nas favelas com UPPs as taxas banc rias oferecidas aos moradores s o menores assim como as exig ncias para que
92. 3 27 1999 ISSN 0102 8839 doi 10 1590 S0102 8839 1999000400003 BENCHIMOL J Pereira Passos um Haussmann tropical a renova o urbana da cidade do Rio de Janeiro no inicio do s culo xx Rio de Janeiro Secretaria Municipal de Cultura 1990 BUSS P Promo o da Sa de e Sa de P blica Rio de Janeiro ENSP 1998 P Qualidade de Vida e Sa de Recife S o Paulo Abrasco 2000 201 BUSS P Promo o da sa de e qualidade de vida IN Ci nc sa de coletiva online 5 1 163 177 2000 ISSN1413 8123 doi 10 1590 S1413 81232000000100014 P Una Introducci n al concepto de promoci n de la salud In Czeresnia D y Freitas C M Promoci n de la Salud conceptos reflexiones tend ncias Buenos Aires Lugar Editorial 2000 P amp Carvalho A Desenvolvimento da promo o da sa de no Brasil nos ltimos vinte anos 1988 2008 2009 IN Ci nc sa de coletiva online 14 6 2305 2316 ISSN 1413 8123 doi 10 1590 S1413 81232009000600039 BURGOS M Dos parques prolet rios ao Favela Bairro In Zaluar A amp Alvito M Um s culo de favela Rio de Janeiro Editora FGV 2006 BURKE P Viol ncia social e civiliza o Braudel Papers 12 1 8 2005 BRAVEMAN P Health Disparities and Health Equity Concepts And Measurement IN Annual Review of Public Health 27 167 194 2006 BRASIL Minist rio da Sa de Pol tica Nacional de Redu o da Morbimortalidade por Acidentes e Viol ncias Bras
93. 9 RAMOS 2011 Esse quadro esclarece os motivos que levam Evanir 67 anos a acreditar que a exist ncia de uma rela o de familiaridade entre policiais e moradores t o importante que deveria ser priorizada ainda que isso significasse um risco maior de corrup o policial Eu acho que buscar mais gerar essa confian a ser comunidade Acho que troca se muito as pessoas N o sei se isso positivo se positivo se negativo medo que pode haver at corrup o nesse sentido e tudo Mas acho que ser comunidade eu acho que isso muito importante Ter um v nculo de amizade por outro lado isso pode ser ruim de dar corrup o mas isso muito bom porque j sabe quem quem Evita confronto Evita brigas Torna se ambiente familiar no ser comunidade muito importante Eu daria essa sugest o n que eles se aproximassem mais se oferecesse mais para a comunidade T sempre sol cito n Ent o isso seria muito interessante pra nossa comunidade Evanir 67 anos pastor casado 1 filha Evanir 67 anos revela que diante de uma escolha a aus ncia de corrup o policial seria preterida face seguran a de saber se conhecido dos policiais Aparentemente a aus ncia de casos de corrup o e a mudan a de postura de parte do efetivo policial narrados pelos 172 moradores n o suficiente para gerar uma rela o de confian a m tua entre policiais e moradores Estudos realizados sobre outros mode
94. As fac es criminosas funcionavam com uma estrutura b sica Existia um chefe local conhecido como dono do morro o frente do morro dono da boca que realizava a administra o do tr fico local e estabelecia e aplicava regras locais Costumava existir ainda um n cleo de chefes mais experientes da fac o criminosa em sua maioria presidi rios que eram consultados para decis es mais importantes Dessa forma as fac es criminosas se apoiavam nas disputas por novos territ rios atrav s da alian a entre donos de diferentes favelas em guerras que entraram para a hist ria da cidade como as disputas do Comando Vermelho com outras fac es pelo controle do tr fico de drogas no morro Santa Marta na d cada de 1990 A viol ncia oriunda dos conflitos entre fac es e destas contra a pol cia chegou a n veis alarmantes nos anos de 1990 Disputas internas geraram a cria o de outros grupos criminosos Do Comando Vermelho CV originou se o Comando Vermelho Jovem CV jovem do Terceiro Comando TC nasceram o Terceiro Comando Jovem TC 29 Jovem o Terceiro Comando Puro TCP e a Amigos dos Amigos ADA FARIAS 2008 Uma das consequ ncias dessa pulveriza o da estrutura do tr fico de drogas foram as disputas entre fac es pelo dom nio dos pontos de vendas ou em outras palavras pelo dom nio do territ rio da favela que passa agora a ter um Dono
95. BIO M Violencia homicida y estructuras criminales en Bogot IN Sociologias 2002 online 8 172 205 ISSN 1517 4522 LLOYD DA TURNER RJ Cumulative adversityand posttraumatic stress disorder evidencefrom a diverse community sample of young adults IN Am J Orthopsychiatry 73 381 91 2003 MARTINS J Exclus o social e a nova desigualdade S o Paulo Paulus 1997 MARTEL R Pactos comunit rios e prote o em San Salvador 2010 IN Tempo social online 22 2 17 38 ISSN 0103 2070 MATTOS R A Aldeia do Mal o Morro da Favela e a constru o social das favelas durante a Primeira Rep blica Disserta o de Mestrado Faculdade de Hist ria da Universidade Federal Fluminense 2004 MEIRELES A C Ac o de forma o efectuada na Administra o Regional de Sa de do Norte IP no mbito do Internato M dico de Sa de P blica 2008 Portal de Sa de P blica MEIRELLES Z amp GOMEZ C Rompendo com a criminalidade sa da de jovens do tr fico de drogas em favelas na cidade do Rio de Janeiro IN Ci ncia amp Sa de Coletiva 14 5 1797 1805 2009 MELLO D Health promotion through participatory research in poor communities in Brazil Trabalho apresentado no 9 Congress of The International Association of Health Policy Montr al Uruguai 1996 MENDES R Cidades saud veis no Brasil e os processos participativos os casos de Jundia e Macei Tese de Doutorado Faculdade de Sa de P blica da Universida
96. Certamente a retirada ou altera o da forma de atua o do tr fico considerando o protagonismo que estes tinham no cotidiano da favela deve ser levada em conta na forma o dos valores compartilhados pela vizinhan a Para n o incorrer em generaliza es fundamental considerar que na mesma favela centenas de crian as e adolescentes cresceram sem ter envolvimento com o tr fico ao longo de d cadas independentemente da presen a do tr fico ATHAYDE ET AL 2005 Para al m da influ ncia da presen a do tr fico na forma o de valores das crian as e dos demais moradores da favela deve se ressaltar que a inf ncia na favela significou para a gera o de crian as nascidas nas d cadas de 1980 e 1990 um conv vio continuo com confrontos e situa es de extrema viol ncia Como revela Vivian 23 anos ao narrar uma inf ncia marcada pelo medo com diversos epis dios em que sentiu que a integridade f sica de sua fam lia estava em risco 101 Minha m e tava entrando porque ela tinha ido na porta fazer alguma coisa quando come ou Porque muita das vezes isso era muito normal de come ar a guerra do nada e a gente n o t preparado ent o a minha m e tava entrando no momento que o traficante correu querendo entrar na casa da minha m e e minha m e fechou a porta Como eu te disse a minha m e fazia isso Eu tinha muito medo de perder a minha m e porque ela enfrentava e a minha m e fechou a porta e ele tentou for a
97. Flavia de Sousa Moura Pol ticas de Seguran a e Sa de A Unidade de Pol cia Pacificadora na favela Santa Marta Rio de Janeiro Disserta o apresentada ao Programa de P s Gradua o em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requisito parcial obten o do grau de Mestre em Psicossociologia Orientadora Maria Cec lia de Mello e Souza Rio de Janeiro 2013 M929 Moura Flavia de Sousa Pol ticas de seguran a e sa de a unidade de pol cia pacificadora na favela Santa Marta Rio de Janeiro Flavia de Sousa Moura Rio de Janeiro 2013 220f Orientadora Maria Cec lia de Mello e Souza Disserta o mestrado Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Psicologia Programa de P s Gradua o em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social EICOS 2013 1 Favelas Aspectos sociais Rio de Janeiro RJ 2 Comunidade Organiza o Rio de Janeiro RJ 3 Rio de Janeiro RJ Condi es sociais 4 Unidade de Pol cia Pacificadora I Souza Maria Cec lia de Mello e II Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Psicologia CDD 307 76098153 Flavia de Sousa Moura Pol ticas de Seguran a e Sa de A Unidade de Pol cia Pacificadora na favela Santa Marta Rio de Janeiro Disserta o apresentada ao Programa de P s Gradua o em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social da Universidade Fe
98. GER ET AL 2004 DAVIDSON ET AL 2004 FOA 2006 NEMEROFF ET AL 2006 Esses estudos demonstram que existe um componente emocional no TEPT uma incapacidade de lidar adequadamente com mem rias emotivas intensas Ou seja o indiv duo n o consegue conviver com uma mem ria sem que est lhe cause sintomas psicol gicos e f sicos Esses sintomas podem incluir reviv ncia hipervigil ncia esquiva e perda de sensibilidade CAHILL 1997 CAHILL ET AL 2003 FREWEN amp LANIUS 2006 KAZUI ET AL 2000 PITMAN amp DELAHANTY 2005 PITMAN ET AL 2006 QUIRK ET AL 2006 RAUCH ET AL 2006 ROTHBAUM amp DAVIS 2003 SHIN ET AL 1984 Inicialmente vinculava se o TEPT apenas aos casos de guerra e viol ncia extrema DSM III 1980 A evolu o das pesquisas no campo dos transtornos de ansiedade levou a descoberta de evid ncias de que o TEPT um doen a mental com alta incid ncia na popula o Verificou se tamb m que o evento traum tico desencadeador do transtorno pode ser algo comum como um acidente de carro ou uma doen a grave Apesar dos altos ndices de exposi o a esse tipo de eventos a preval ncia de TEPT rara em compara o ao n mero de eventos traum ticos TERENCE ET AL 2006 73 Os indicadores de incid ncias de doen as mentais apontam que o TEPT est entre os cinco transtornos mais comuns na popula o mundial Em ordem de incid ncia est o em primeiro lugar os casos de depress o em segundo lugar as des
99. Green 1990 A exposi o prolongada a eventos com potencial traum tico ao longo da vida aumenta a probabilidade de transtornos psiqui tricos como a depress o KESSLER ET AL 1999 2005 72 C MARA 1999 Al m disso estudos recentes apontam que cerca de 15 das pessoas que experimentam eventos traum ticos relacionados viol ncia extrema desenvolvem transtorno de estresse p s traum tico TEPT 2 9 1 A rela o entre o Transtorno de Estresse P s Traum tico e a viol ncia urbana O desenvolvimento de Transtorno de Estresse P s traum tico TEPT uma das poss veis consequ ncias ps quicas da experi ncia de um evento traum tico Esse transtorno classificado como um dist rbio de ansiedade onde o indiv duo se recorda da mem ria traum tica e revive a experi ncia com a mesma intensidade de sofrimento e de angustia que o epis dio traum tico provocou VARELLA 2011 Sua defini o est relacionada s sequelas emocionais observadas nos ex combatentes da primeira guerra mundial A partir da Segunda Guerra Mundial ficou definido que se tratava de uma nova categoria de adoecimento ps quico O TEPT foi retratado nos diversos manuais de doen as mentais sob diferentes t tulos inserido na categoria de transtornos de ansiedade DSM 1952 Ap s a guerra do Vietn cunhou se o termo TEPT DSM HI CID 9 In meros pesquisadores se dedicaram conceitua o do Transtorno de Estresse P s Traum tico BALLEN
100. M Exterm nio violenta o e banaliza o da vida IN Cadernos de Sa de P blica 10 1 199 212 1994 CZERESNIA D Org Promo o da Sa de conceitos reflex es tend ncia Rio de Janeiro Editora Fiocruz 2003 COSTA A Entre a lei e a ordem viol ncia e reforma nas pol cias do Rio de Janeiro e Nova York Rio de Janeiro Editora FGV 2004 COMISS O NACIONAL DE DETERMINANTES SOCIAIS DA SA DE AS CAUSAS SOCIAIS DAS INIQUIDADES EM SA DE NO BRASIL Relat rio Final 2008 CUNHA N Entre O Formal E O Informal A Produ o Dos Espa os De Favela No Rio De Janeiro Trabalho apresentado na 27 Reuni o Brasileira de Antropologia realizada entre os dias 1 e 4 de agosto de 2010 Bel m Par Brasil CUNHA N amp MELLO M Novos conflitos na cidade A UPP e o processo de urbaniza o na favela 2011 CUNHA O Cinco vezes Favela Uma reflex o In Velho G amp Alvito Marcos Org Aventura sociol gica Rio de Janeiro Zahar 1996 CHARUVASTRA A amp CLOITRE M Social Bonds and Posttraumatic Stress Disorder Institute for Trauma and Resilience New York University School of Medicine New York New York 10016 IN Annu Rev Psychol 2008 59 301 328 CHESNAIS J Histoire de la violence en Occident de 1800 anos jours Paris Robert Laffont Editor 1981 DACACH S G Pr que rimar amor e dor Maternidade e viol ncia urbana a situa o limite de filhos envolvidos no tr fico de drogas Disserta o
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102. N PSYCHIATRIC ASSOCIATIO DSM IV TR Manual de diagn stico e estat stica das perturba es mentais 4 ed texto revisto J N Almeida trad Lisboa Climepsi Editores trabalho original publicado em 2000 ALMEIDA N O conceito de sa de ponto cego da epidemiologia IN Revista Brasileira de Epidemiologia Vol 3 N 1 3 ALVES M amp EVANSON P Living in the crossfire Favela Residents Drug Dealers and Police Violence in Rio de Janeiro Philadelphia TEMPLE 2011 ATHAIDE C amp BILL M V Meninos do Tr fico Rio de Janeiro Editora Objetiva 2007 ARENDT H Sobre a viol ncia Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2010 BALLENGER J DAVIDSON J LECRUBIER Y NUTT D MARSHALL R ET AL Consensus statement update on posttraumatic stress disorder from the international consensus group on depression and anxiety IN J Clin Psychiatry 65 Suppl 1 55 62 2004 BARCELLOS C Abusado O dono do Morro Dona Marta Rio de Janeiro Record 2003 BAUMAN Z Comunidade A Busca por Seguran a no Mundo Atual Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 2003 Vidas Desperdi adas Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 2004 BAL A amp JENSEN B Post traumatic stress disorder symptom clusters in Turkish child and adolescent trauma survivors IN European Child amp Adolescent Psychiatry 16 7 449 457 2007 BEATO F Pol ticas p blicas de seguran a e a quest o policial S o Paulo Perspec online 13 4 pp 1
103. Nacional de Promo o da Sa de oferecem sustenta o an lise proposta por esta disserta o avaliar o alcance intersetorial das UPPs quanto a sua capacidade de atingir os Determinantes Sociais da Sa de A primeira UPP foi instalada em 20 de novembro de 2008 na favela Santa Marta na cidade do Rio de Janeiro Nessa ocasi o o que parecia mais uma ocupa o policial na favela Santa Marta se transformou um m s depois na primeira Unidade de Pol cia Pacificadora UPP Os moradores foram surpreendidos pela mudan a de estrat gia da pol cia que decidiu implementar uma base fixa de policiamento O xito dessa iniciativa no contexto da elei o da cidade como sede dos Jogos Ol mpicos e da Copa do Mundo levou formula o de um novo modelo de pol tica de seguran a p blica que em uma primeira etapa expulsasse o tr fico de drogas das favelas e em seguida instalasse uma unidade permanente de policiamento MELLO amp CUNHA 2011 A implanta o das UPPs apesar de n o ser a primeira iniciativa de policiamento permanente em favelas COSTA 2004 sem d vida a que alcan ou maior apoio social Os principais diferenciais dessa pol tica s o emprego de policiais rec m formados como forma de evitar a corrup o nfase no controle do territ rio comando descentralizado e o envolvimento dos policiais com as comunidades OST 2012 Atualmente a UPP engloba ainda proposta de implementa o de um projeto chamado UPP soc
104. Nova Fronteira 2008 FRISCHTAK C amp MANDEL B Crime House Prices and Inequality The Effect of UPPs in Rio Federal Reserve Bank of New York Staff Reports Staff Report no 542 2012 FURTADO M Promo o da Sa de e seu alcance biopol tico A nfase no discurso da autonomia Disserta o de Mestrado UFRJ Rio de Janeiro Brasil 2010 GUARESSHI P tica In Strey M Psicologia social Contempor nea Petr polis RJ Vozes 2010 GEERTZ C Uma descri o densa Por uma teoria interpretativa da cultura In A Interpreta o da Cultura Rio de Janeiro Zahar 1978 GEERTZ C A interpreta o das culturas Rio de Janeiro LTC 1989 GOFFMAN E Estigma Notas sobre a Manipula o da Identidade Deteriorada 4 Ed Ed LTC 1988 GOHN M Movimentos Sociais e Educa o S o Paulo Vozes 1992 GOHN M Movimentos Sociais no Brasil na era da participa o 1978 1989 In Teoria dos Movimentos Sociais S o Paulo Edi es Loyola 4 ed 2004 GOHN M Movimentos Sociais e ONGs no Brasil na era da globaliza o In Teoria dos Movimentos Sociais S o Paulo Edi es Loyola 2004 4 ed 2004 GOMES A Ideologia e trabalho no Estado Novo In Pandolfi Dulce Orgs Representado o Estado Novo Rio de Janeiro FGV 1999 GREEN B Defining Trauma Terminology and Generic Stressor Dimensions IN Journal of Applied Social Psychology v 20 n 20 p 1632 1642 1990 HARBURG E ERFURT J CHAPE C HAUENSTEI
105. O 92 apoiava a m xima de que botar o ex rcito na rua seria a nica forma de resolver o problema da viol ncia na cidade COSTA 2004 ZALUAR amp ALVITO 1998 Em 2002 o ex rcito foi convocado para garantir a seguran a das elei es Em 2006 fuzis foram furtados de um quartel gerando uma opera o conhecida como asfixia que envolveu a ocupa o de 13 favelas durante oito dias at que as armas reaparecessem Em 2007 militares ocuparam o morro da Providencia para garantir a seguran a do Programa Cimento Social No ano seguinte militares que trabalhavam na opera o sequestraram tr s jovens moradores e os entregaram aos bandidos de uma favela dominada pela quadrilha rival que dominava a 43 Provid ncia Os tr s garotos foram torturados por horas e em seguida executados FARIAS 2008 COSTA 2004 Em maio de 2007 com a aproxima o dos Jogos Pan Americanos uma opera o policial no complexo de favelas do Alem o deixou mais de 76 pessoas feridas gravemente e 46 mortos dos quais 19 eram crian as de menos de 12 anos Durante cerca de dois meses os moradores ficaram sem fornecimento regular de gua ou de luz e as escolas permaneceram fechadas ALVES amp EVANSON 2011 O fracasso da opera o e a mobiliza o social diante dos in meros casos de viola o dos direitos dos moradores atestam a inefici ncia do modelo de enfrentamento adotado pela pol cia at ent o Ao longo das tr s ltimas
106. Os moradores reagem com certo estranhamento possibilidade de n o saber quem s o seus novos vizinhos fato que n o acontecia antes da UPP como exemplifica Vin cius 24 anos Para mais informa es site oficial da SEGOV http www rj gov br web guest principal 150 Tem gente que voc acha que visitante muita gente mas n o mora no morro e nunca nem vi Antes tu n o via isso Vin cius 24 anos desempregado casado 1 filho A especula o imobili ria n o representou para os moradores entrevistados que vivem em casas alugadas uma amea a Entretanto ap s quatro anos da instala o da UPP todos afirmam que o perfil dos moradores est mudando fato que incomoda parte dos moradores e motivo de orgulho para outros como Alessandro 34 anos que narra o interesse de n o moradores de favela como prova da valoriza o do lugar Por outro lado o censo de 2010 aponta que dos 1176 domic lios do Santa Marta apenas 219 s o alugados Nesse cen rio a especula o imobili ria vista como algo positivo pelos moradores que possuem casa pr pria Para estes a possibilidade de alugar parte dos im veis garante uma nova fonte de renda como vemos no relato a seguir A vizinha aqui a mo a duas casa mas a ela alugou as duas Ela mora aqui em frente casa do Alessandro mas s que ela duas casas Ela aluga a parte de baixo e parte de cima mas s que ela mora aqui do lado porque as pess
107. P Tipo assim muita gente pode visitar assim a discrimina o acabou muito quer v Antes pessoas como voc mesmo que mora aqui embaixo n o passava nem perto num t dizendo de voc mas n o passava nem perto esses dia era 10 horas da noite tinha duas aluna do col gio Santo Ign cio descendo o morro coisa que voc n o via antes da UPP Tira foto hoje mesmo eu tava descendo tinha um grupo n o sei se era de lutadores descendo o morro isso n o existia Mudou mudou muito antigamente isso era na poca da minha m e se voc falasse que morava no Dona Marta fosse provavelmente n o conseguiria aquela vaga de emprego hoje em dia voc j consegue Mas agora mudou muito isso Vin cius 24 anos desempregado solteiro 1 filho poss vel observar que os relatos s o de grande sofrimento individual Entretanto a narrativa demonstra clareza quanto origem do estigma o local de moradia Esse estigma relacionado ao local de moradia tem como caracter stica a possibilidade de poder ser omitido fazendo com que os sujeitos sejam desacredit veis Assim o sujeito tem consci ncia de que est ou n o sendo discriminado porque ele informou seu estigma Recai sobre ele n o s o fato de viver em um local estigmatizado como a decis o de enfrentar esse fato e sofrer uma discrimina o ou renegar de forma preventiva seu local de origem reafirmando o estigma GOFFMAN 1988 Sofri muito Eu vou dizer um preconceito ime
108. P refor a a viol ncia estrutural ao tratar determinados grupos de maneira discriminat ria e mais violenta Assim o presente cap tulo pretende ilustrar em que medida a instala o da UPP afetou os DSS e a percep o dos moradores sobre a pr pria sa de e qualidade de vida assim como a maneira como esta se relaciona com a instala o da UPP 96 4 1 Sob dom nio do tr fico 4 1 1 O reflexo da proximidade com o tr fico na inf ncia A exposi o viol ncia e s atividades do tr fico de drogas foram relatadas como fator de risco principalmente para crian as e adolescentes Os moradores entrevistados acreditam que a atua o do tr fico de drogas no per odo anterior UPP comprometeu a sua inf ncia bem como a de seus filhos pois restringia a liberdade para brincar representava risco maior de vida gerava medo e pr ticas de defesa ainda na primeira inf ncia e culminava na morte prematura de amigos e vizinhos Por outro lado afirmam que a presen a do tr fico inaugurava para crian as e adolescentes locais uma possibilidade de obter status social e dinheiro A valoriza o social do pertencimento ao tr fico e de suas atividades era assimilada por crian as e adolescentes locais que desejavam ingressar na organiza o ainda que reconhecessem o elevado risco de vida Ao longo das entrevistas os depoimentos revelam mem rias de inf ncia mediadas pelos c digos da viol ncia local que aproximavam crian as de exp
109. SP 14 3 57 72 2003 CARVALHO J Cidadania no Brasil O longo caminho Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2008 Introdu o In Pandolfi D amp Grynszpan M Org A favela fala depoimentos ao CPDOC Rio de Janeiro Editora FGV 2003 CARVALHO M As UPPs e as associa es de moradores de favelas no Rio de Janeiro conflitos e novas configura es Trabalho apresentado na IX Reuni o de Antropologia do Mercosul 10 a 13 de julho de 2011 Curitiba PR 2011 CAMPOS G W ET AL Avalia o de pol tica nacional de promo o da sa de IN Ci ncia amp Sa de Coletiva 9 3 745 749 2004 202 C MARA J Transtorno de estresse p s traum tico caracter sticas cl nicas e sociodemogr ficas em policiais militares e suas fam lias disserta o Recife Universidade Federal de Pernambuco 1999 Transtorno de estresse p s traum tico formula o diagn stica e quest es sobre comorbidade IN Revista Brasileira de Psiquiatria 2001 23 4 221 8 2011 CAPRARA A An hermeneutic approach to health disease relationship IN Cad Sa de P blica 19 4 923 931 2003 COELHO M Narrativas da viol ncia a dimens o micropol tica das emo es Mana online 16 2 265 285 ISSN 0104 9313 2010 CONSTITUTION OF THE WORLD HEALTH ORGANIZATIOn OMS 1948 CRONICK K Community subjectivity and intersubjectivity IN American Journal of Community Psychology 30 4 529 544 2002 CRUZ NETO O amp MINAYO
110. Sociais do Governo Federal com renda familiar mensal por pessoa menor ou igual a meio sal rio m nimo t m direito Tarifa Social que reduz ou isenta do pagamento dependendo do n mero de Quilowatts de energia gastos A luz melhorou S que os pre o t abusivo Pra Light que num ganhava nada ela num acha que ela t querendo muito Entendeu Eu n o porque eu tenho a tarifa social Eu sou sozinha ent o num gasto Mas tem gente que t gastando 100 entendeu muito Jurema 65 anos dona de casa 2filhos A empresa de fornecimento de energia el trica adotou uma estrat gia de marketing que se baseava em incentivos como o fornecimento de instala es e aparelhos que gastam menos energia no momento da regulariza o do fornecimento Ela tamb m doou geladeiras para quem quisesse trocar por uma geladeira econ mica Doou pra toda comunidade Foi um festival de geladeira na comunidade Todo mundo que quisesse geladeira teria Trocava as velhas pelas novas e teve tamb m eles tamb m instalaram chuveiro tamb m chuveiros novo para a comunidade e fizeram tamb m as instala es el tricas dentro da comunidade totalmente de gra a Ent o houve uma troca da Light claro a vis o comercial mas a comunidade beneficiou Evanir 65 anos pastor casado 1 filha Outra mudan a no que se refere aos servi os dispon veis no Santa Marta foi a entrada de empresas de televis o a cabo Ah Fornecimento de canal de televis o
111. Terra 1977 Favela Four Decades of living on the Edge in Rio de Janeiro New York Orford 2007 PERES J Achados dos estudos com neuroimagem no transtorno de estresse p s traum tico In CAMINHA R M ed Transtorno do Estresse P s traum tico da neurobiologia cogni o S o Paulo Casa do Psic logo 2005 Trauma e supera o o que a Psicologia a Neuroci ncia e a Espiritualidade ensinam S o Paulo Roca 2009 Petersen A amp Lupton D The new public health health and self in the age of risk London Thousand Oaks New Delhi Sage Publications 1996 PITMAN R K amp DELAHANTY D L Conceptually driven pharmacologic approaches to acute trauma CNS Spectr 10 2 99 106 2005 PITMAN R K GILBERTSON M W GURVITS T V MAY F S amp LASKO N B ET AL Clarifying the origin of biological abnormalities in PTSD through the study of identical twins discordant for combat exposure IN Ann NY Acad Sci 1071 242 54 2006 PROMOCAO DA SAUDE E PREVEN O DE RISCOS E DOEN AS NA SAUDE SUPLEMENTAR MANUAL T CNICO Ag ncia Nacional de Sa de Suplementar 2 ed rev e atual Rio de Janeiro ANS 2007 QUIRK G J GARCIA R GONZALEZ F Prefrontal mechanisms in extinction of conditioned fear IN Biol Psychiatry 60 4 337 43 2006 RAUCH S L SHIN L M amp PHELPS E A Neurocircuitry models of posttraumatic stress disorder and extinction human neuroimaging research past present an
112. a o a a es intersetoriais vinculadas a UPP aumentaram ap s a regulariza o dos servi os de fornecimento de gua e luz Os moradores entrevistados acreditaram que o governo iria resolver todos os problemas de infraestrutura b sica da favela Atualmente as expectativas iniciais de que a instala o da UPP fosse acompanhada de uma grande transforma o urban stica na favela se transformaram em frusta o que objetivamente relatada quando os entrevistados falam da aus ncia de saneamento b sico e da falta de investimentos na reforma das casas que se encontram no pico do morro Para os entrevistados a aus ncia de a es intersetorias na favela compreendida como uma falha do projeto das UPPs que deveria representar uma transforma o urban stica ampla Todavia os moradores entrevistados acreditam que as UPPs favorecem as a es da iniciativa privada no Santa Marta as quais segundo eles n o seriam poss vel sem a garantia da seguran a local que a UPP representa Por isso associam todas as melhorias de infraestrutura e servi os UPP e se referem UPP como uma mudan a na aten o que o Estado confere a favela como um todo O mesmo acontece quando se referem aos movimentos sociais Os entrevistados acreditam que a viol ncia desencorajava o trabalho de volunt rios na favela A multiplica o de projetos sociais e da oferta de vagas em suas atividades associada instala o da UPP e considerada um dos principais b
113. a o aos seus objetivos expectativas padr es e preocupa es MINAYO 2000 ALMEIDA 1999 A viol ncia enquanto Determinante Social da Sa de tamb m definida socialmente atrav s da percep o subjetiva e simb lica de cada indiv duo que avalia um determinado ato como violento ou n o SOARES ET AL 1993 COMO CITADO EM MINAYO 2000 Deve se considerar ainda que os DDS s o interligados Uma perspectiva etnogr fica permite contemplar essa interrela o entre determinantes e dimens es distintas do cotidiano das pr ticas e da vis o de mundo dos entrevistados Assim realizando o estudo etnogr fico da qualidade de vida em uma favela Santa Marta com Unidade de Pol cia Pacificadora buscou se compreender o ponto de vista dos moradores sobre sua qualidade de vida ap s a instala o da UPP Tentou se entender igualmente as pequenas mudan as no cotidiano dos moradores que guardam o significado real das altera es em sua vida social e privada O m todo etnogr fico permite a utiliza o de t cnicas variadas MORSE 1995 Nessa pesquisa foram utilizadas as seguintes t cnicas observa o participante entrevista semiestruturada em profundidade e pesquisa em fontes prim rias Segundo Vasconcelos 2002 p 218 a observa o participante possibilita o acesso a dados de dom nio mais privado e a capta o de sutilezas e aspectos subjetivos dos indiv duos e grupos A iniciativa de fazer a observa o pa
114. a o das favelas com a pol cia o Posto de Policiamento Comunit rio PPC O PPC contava com cinco policiais em postos localizados em favelas COSTA 2004 Outro programa inovador aconteceu durante o governo de Anthony Garotinho sob comando da subsecret ria de pesquisa e cidadania coordenada por Luiz Eduardo Soares 44 e com apoio da Vice Governadora Benedita da Silva O programa denominado Mutir o da Paz inclu a a a o do Bope para recuperar territ rios informa o sobre a entrada da pol cia para evitar confrontos policiamento comunit rio voltado para resolu o de problemas policiamento 24 horas por dia a instala o de uma unidade da PM e a es sociais envolvendo diversas reas do governo Luiz Eduardo Soares 2012 aponta que as concep es presentes no projeto Mutir o da Paz s o id nticas s implementadas nas UPPs dez anos depois O Mutir o da Paz foi implementado por dez meses na favela Pereir o em Laranjeiras no ano de 1999 SOARES 2012 No mesmo ano a favela Santa Marta recebeu o projeto a ocupa o permanente da pol cia durou cerca de quatrocentos dias diminuiu o volume de venda de drogas e os tiroteios Ap s o fim do projeto em mar o de 2000 os pontos de venda de droga voltaram a ser disputados em uma guerra entre as fac es Comando Vermelho e Terceiro Comando BARCELOS 2003 Os morros da Formiga e do Jacarezinho seriam os pr ximos a receber o programa Mutir o da Paz fato que n
115. a o do mesmo As UPPs s o extremamente positivas por mais que haja problemas Os problemas s o e ser o naturais porque a realidade complexa as a es sociais tardam e os policiais mesmo diferentes de seus colegas acabam contagiados pela corpora o De todo modo enquanto houver acompanhamento de movimentos sociais e da m dia e enquanto a presen a policial for t o permanente e numerosa quanto nas reas nobres da cidade uma UPP ser infinitamente melhor para a democracia e os direitos humanos do que o poder arbitr rio armado de um grupo qualquer Soares 2012 Em rela o a uma das condi es citadas por Soares 2012 para o sucesso das UPPs o n mero do efetivo policial empregado nas UPPs e sua perman ncia no local deve se observar pesquisa feita em treze UPPs CANO 2012 De acordo com esta a raz o de policiais para cada 1 000 habitantes de 18 2 PMs um n mero sete vezes maior que a m dia do Estado que de 2 3 PMs por 1 000 habitantes Al m disso o efetivo policial das UPPs respeita o n mero m nimo de cem PMs por unidade e a raz o de PMs por 1 000 habitantes maior em favelas pequenas ou seja o n mero de PMs n o aumenta em propor o direta com o n mero de moradores Esses dados apontam que se as UPPs instaladas em favelas de grande porte obtiverem xito em reduzir a criminalidade com efetivo policial proporcionalmente menor o programa seria assim mais eficiente em favelas maiores CANO
116. a UPP Pra que pra ele t ali Mas ele j pensou atr s dessa UPP o que ele ia sair lucrando num foi por que ele era bonitinho porque os pobres t o morrendo n o porque eles querem mais que morra tudo t igual Chico An sio quero que pobre se exploda Jurema 65 anos dona de casa 2 filhos Vivian 23 anos por sua vez afirma que seu aluguel aumentou em cinquenta reais ap s a instala o da UPP e que acha justo pagar um pouco mais j que agora pode usar a laje e o beco como espa os de lazer sem se preocupar com a seguran a Fabiane 34 anos afirma que os alugueis triplicaram desde a instala o da UPP e que isso levou os propriet rios a investirem nos im veis segue a sua fala Tinha gente que alugava por cento e cinquenta Era bem mais barato mas tamb m as pessoas reforma a casa Hoje 450 Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos 149 A Secretaria de Estado de Governo do Rio de Janeiro divulgou dados sobre a valoriza o imobili ria no Santa Marta As informa es apontam para um aumento de 200 no valor dos alugueis praticados na parte alta do morro e de 74 na parte baixa do morro Ost 2012 afirma que essa diferen a foi maior na parte alta do morro onde se concentravam os traficantes e os confrontos e consequentemente os im veis estavam proporcionalmente mais desvalorizados Com a diminui o da viol ncia o baixo custo de vida na favela come ou a atrair pessoas de fora Isso
117. a armamento de maior porte e a realizar castigos como demonstra o de for a Essa transforma o pode ser ilustrada com a morte de vinte e dois amigos envolvidos com o tr fico de drogas narradas ao longo de seis entrevistas 4 1 2 Seguran a para os pais Quando questionados sobre sua qualidade de vida todos os moradores entrevistados apontaram como um dos principais fatores de melhoria a percep o de que seus filhos est o mais seguros atualmente Essa an lise englobava uma compara o com as pr prias experi ncias de inf ncia e adolesc ncia marcadas pela viol ncia O fim do aliciamento de crian as e adolescentes pelo tr fico de drogas foi citado juntamente com a diminui o do risco de sofrer balas perdidas como fatores que trazem tranquilidade s experi ncias de maternagem e patenagem Vivian 23 anos e Vin cius 24 anos analisam a inf ncia de seus filhos em compara o com suas pr prias experi ncias de inf ncia enfatizando que as limita es e riscos experimentados por eles em virtude da viol ncia n o ocorrem mais T bem mais tranquilo Com certeza porque antes voc n o podia deixar crian a L gico eu brincava Num t dizendo mas num podia deixar assim brincando Qualquer momento podia ter tiro Hoje em dia n o pode deixar a crian a brincando a vontade N o tem risco de come ar uma guerra um tiroteio uma invas o Voc antes ia trabalhar ficava preocupado em deixar seu filho
118. a moradora que foi reformada por um programa de televis o Caldeir o do Huck tamb m uma refer ncia citada aos turistas e visitantes Conforme se sobe a favela a p poss vel perceber que o com rcio diminui at ser inexistente na rea do pico No restante do morro as lojas comerciais costumam ter dimens es pequenas e ficam espremidas entre as casas com a porta em dire o s vielas e ruas Existem lan houses padarias lanchonetes pizzarias sal es de beleza e lojas de material de constru o Os com rcios que exigem um n vel maior de formaliza o como farm cias ainda n o s o encontrados no Dona Marta Os becos e as vielas do Dona Marta s o estreitos formados em grande parte por escadarias e em muitos pontos s poss vel passar uma ou duas pessoas de cada vez A proximidade entre as casas e entre as pessoas na rua uma importante marca local comum que moradores deixem as portas das casas abertas e que usem o degrau que fica na porta das casas para sentar Como o espa o interno da favela limitado na maior parte do tempo as crian as brincam no meio do caminho na proximidade de suas casas Em raz o da limita o de espa o a escola Escola Municipal M xico e a cl nica Cl nica da Fam lia Santa Marta que atendem os moradores se encontram fora da favela 92 Em termos de estrutura a favela Santa Marta conta com um sistema de ilumina o p blica composto por luzes instaladas nas pared
119. a mudan a depois da instala o da UPP Quais foram Qual a mais importante na sua opini o Sua favela recebeu algum servi o novo Houve alguma melhoria na infraestrutura local Voc s j receberam a UPP social O que pensa sobre isso Houve alguma promessa nesse sentido O que os moradores esperam que seja feito Que mudan as ocorreram na sua vida E agora como est a sua vida O que est fazendo Tem alguma coisa que voc faz agora que n o podia fazer antes Por qu Acha que a sua vida de certa forma ficou mais tranquila Como Voc se sente mais seguro hoje Por qu Voc percebe o mesmo com os outros moradores Voc acha que a imagem da favela onde mora mudou Como as pessoas reagem quando diz que mora 14 O que voc sente a respeito Voc acha que essa imagem da favela pacificada verdadeira Como anda a conviv ncia dos policiais com os moradores atualmente O que voc diria para um morador de favela sem UPP sobre sua experi ncia O que deseja para a favela onde voc mora Qual o seu sonho em rela o a esse lugar 222 Quando pensa na UPP que pensamentos lhe v m cabe a Suas expectativas sobre a UPP est o se concretizando Depois desse tempo mudou alguma coisa na forma como voc v a UPP Voc mudaria alguma coisa na UPP O que Como Voc a favor da continuidade da UPP Por qu Voc ainda percebe a presen a dos traficantes Se sim essa presen a faz voc pensar o que O
120. a para matar o que difere do exerc cio da leg tima defesa ou da defesa da vida de terceiro com recurso extremo for a letal confere se a ele ao mesmo tempo licen a para n o matar negociando a vida e a liberdade do suspeito Cria se assim uma moeda que rapidamente se inflaciona atraindo mais e mais operadores e investimentos Soares 2012 A exist ncia de um padr o violento e corrupto na atua o da pol cia militar no Estado do Rio de Janeiro se tornou um obst culo ao combate s fac es criminosas Exemplo disso a pr tica das pris es n o registradas nas delegacias que funcionavam como um sequestro os traficantes ficavam presos dentro do carro da pol cia at que o pagamento exigido fosse feito pelas fac es Se os policiais e os demais membros do tr fico local chegassem a um acordo os traficantes eram soltos novamente nas favelas do contr rio a pris o era efetuada Essa pr tica se tornou comum nas favelas cariocas a ponto de fazer parte da previs o de gastos na contabilidade do tr fico ATHA DE ET AL 2007 A pr tica de entrar nas resid ncias sem mandado judicial parte desse padr o de atua o e ficou conhecida como p na porta H ainda casos recorrentes de corrup o policial onde moradores observavam extors es e venda de prote o e de armamento ao tr fico Foi acirrada assim a desconfian a dos moradores contra a pol cia que j existia em raz o das a es de seguran a p
121. a qualidade de servi os de gua e luz fortalecimento da oferta de cursos profissionalizantes e de vagas de trabalho aumento da oferta de servi os de sa de instala o da cl nica da fam lia do Santa Marta redu o do n vel de estresse da vizinhan a e aumento do n mero de horas de lazer nos espa os p blicos da favela Os entrevistados apontam que as transforma es nos DSS como obras de infraestrutura e instala o de novos servi os se multiplicaram no primeiro ano da UPP Subsequentemente o ritmo do progresso das a es estatais foi gradativamente sendo reduzido at que a situa o se manteve praticamente inalterada no tocante aos DSS ao longo do ano de 2012 Ainda assim as melhorias alcan adas em alguns DSS significam uma diminui o nas desigualdades sociais em sa de e foram atribu das pelos entrevistados UPP mesmo quando se tratavam de a es da iniciativa privada Os moradores entrevistados acreditam que a UPP cria condi es para que a es de outros setores da sociedade possam ocorrer pois volunt rios de ONGs e empresas n o temem mais as interven es do tr fico de drogas em suas atividades Outras expectativas dos moradores n o foram atendidas Tratam se de quest es estruturais como saneamento b sico seguran a das moradias e o fim do tr fico de drogas Diminu ram igualmente as op es de lazer em virtude do encarecimento dos custos da participa o nos eventos e das regula es impostas pe
122. a rea o do indiv duo no momento do evento traum tico Essa rea o deve conter sentimentos de medo horror sensa o de estar indefesa acompanhados ou n o de outros sentimentos VARELLA 2011 Deve se observar ainda que diferentes tipos de eventos traum ticos representam n veis diferentes de risco para o desenvolvimento do transtorno Eventos traum ticos causados por outros seres humanos apresentam maior potencial para o desencadeamento do TEPT O DSM IV aponta que em casos de TEPT gerados por eventos causados por a o humana o transtorno pode apresentar caracter stica duradoura e sintomas especialmente severos Al m disso estudos realizados com v timas de cat strofes naturais e acidentes apontam que a remiss o dos sintomas ocorre em um tempo significativamente menor do que nos casos de TEPT desencadeados por viol ncia interpessoal CHARUVASTRA amp CLOITRE 2008 Pesquisa realizada por Shalev amp Freedman 2005 em um comunidade israelita com v timas de acidentes de carro e de atos terroristas revelou que a preval ncia de TEPT nas v timas de atos terroristas era o dobro do encontrado em v timas de acidentes automobil sticos Diversos estudos apontam que menos de 10 dos casos de TEPT s o decorrentes de traumas de natureza n o humana dos quais 5 teriam alguma associa o com uma inten o humana KILPATRICK amp RESNICK 1992 MARCH 1992 KESSLER ET AL 1999 Diversos estudos sugerem a exist ncia de uma c
123. acabada fracasso da seguran a p blica 2007 Estud av online 21 61 31 49 ISSN 0103 4014 doi 10 1590 S0103 40142007000300003 ____ Exclus o e Pol ticas P blicas Dilemas Te ricos e Alternativas Pol ticas 2007 IN Rev bras Ci Soc online 12 35 ISSN 0102 6909 Dispon vel em http www scielo br scielo php script sci abstract amp pid S0102 6909 1997000300003 amp Ing pt amp nrm iso amp tIng pt A guerra sem fim em alguns bairros do Rio de Janeiro IN Sociedade Brasileira para o Progresso da Ci ncia 2007 Disponivel em http www cienciaecultura bvs br scielo php script sci pdf amp pid S000967252002000100019 amp Ing en amp nrm isso Ziegler M F Greenwald M H DeGuzman M A amp Simon H K Posttraumatic stress responses in children Awareness and practice among a sample of pediatric emergency care providers 2005 Pediatrics 115 5 1261 1267 213 7 Anexos 7 1 Consentimento Informado de Entrevista para Disserta o de Mestrado Meu nome Fl via de Sousa Moura estou fazendo uma pesquisa para o mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ e gostaria de pedir que voc participasse de uma entrevista A pesquisa tem como objetivo analisar em que medida a implanta o das UPPs nas favelas cariocas trouxe melhorias na qualidade de vida dos moradores assistidos Como morador de uma favela que recebeu uma Unidade de Pol cia Pacificadora voc est sendo convidado a participa
124. acificadora CPP PMERJ Nesse quadro poss vel observar que a instala o das UPPs se concentra nas zonas sul e norte da cidade regi es que v o receber os eventos da Copa de 2014 e da Ol mpiada de 2016 Apenas duas UPPs foram instaladas na zona oeste da cidade Desse conjunto de 33 unidades 32 UPPs foram instaladas em favelas sob dom nio do tr fico de drogas e uma UPP foi institu da em rea sob dom nio de mil cias CANO 2012 Para Luiz Eduardo Soares 2012 fundamental que o programa n o se limite s reas nobres da cidade e seja expandido s favelas dominadas por mil cias Apesar do sucesso e da r pida difus o das UPPs os moradores associam a motiva o para o programa aos eventos esportivos que a cidade sediar Copa do Mundo de 2014 e Olimp adas de 2016 Existe um temor de que ap s os eventos as UPPs ser o retiradas o que mina a confian a entre os moradores de favelas e o Estado condi o fundamental para o desenvolvimento da cidadania FLEURY 2012 OST 2012 Luiz Eduardo Soares 2012 defende ainda que o futuro das UPPs depende de sua institucionaliza o e do fim da gest o especial que o programa recebe do Governo onde policiais s o contratados treinados rapidamente e recebem uma gratifica o Esse sistema especial inviabiliza que as UPPs se universalizem e tenham sustentabilidade 40 duas qualidades fundamentais para que o programa se torne uma pol tica p blica de fato Para ta
125. ada 3 filhos Os entrevistados n o sabem definir qual seria o hor rio exato em que o som das festas precisa ser reduzido ou desligado Essa quest o parece depender dos policiais que est o de plant o no dia de cada festa e n o h regra definida Fica evidente que as medidas s o decididas pelo comando da UPP de forma unilateral O nico padr o identificado pelos moradores nas limita es impostas s festas se refere proibi o do estilo de m sica conhecido como funk proibid o Os entrevistados relatam que quando esse tipo de m sica toca os policiais pedem para que o som seja desligado Unica coisa que eu acho que os meninos bota o som e eles v o l e manda abaixar mas tamb m eles querem botar funk e ali aqueles garoto que usa fica tudo cercando por ali a queima o filme de quem quer fazer um lazerzinho Jurema 65 anos dona de casa 2 filhos Al m das limita es realiza o de festas particulares e de bailes funks as op es de lazer foram restringidas quando uma parcela dos empreendedores da comunidade come ou a alugar a quadra para a realiza o de eventos voltados para os turistas e moradores do asfalto FLEURY 2012 Exemplificado no trecho a seguir Todo s bado tem um point de jovem um point de jovem classe m dia s vezes eu fico contando quantos t m Na quadra da escola de samba aos s bados s 155 vezes eu conto n o t m pessoas do Santa Marta no point de s bado porque
126. adas pela refunda o da institui o policial SOARES 2012 2 4 1 UPP Santa Marta A favela Santa Marta fica localizada no morro Dona Marta no bairro de Botafogo Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro Sua ocupa o foi iniciada na d cada de 1920 por trabalhadores contratados para as obras de amplia o do Col gio Santo In cio Nas d cadas seguintes o morro recebeu fluxo migrat rio das regi es Norte e Nordeste do pa s bem como trabalhadores vindos do Vale do Para ba MELLO amp CUNHA 2011 FLEURY 2012 H uma disputa simb lica em rela o ao nome da favela o nome Santa Marta teria origem na imagem de uma santa levada at o pico do Morro por uma moradora Posteriormente foi criada uma capela no local Algumas d cadas depois a imprensa come ou a chamar a favela de Dona Marta nome do morro onde se situa O nome foi reproduzido pelos moradores de religi o evang lica numa tentativa de desassociar a favela do nome da santa cat lica Essa troca pode ser vista em documentos oficiais da prefeitura MELLO amp CUNHA 2011 A presente disserta o utilizar o nome Santa Marta por ser este o nome original da favela Considerada como projeto piloto a UPP do Santa Marta teve origem em uma ocupa o policial iniciada no dia 20 de novembro de 2008 Essa ocupa o ocorreu sem que os moradores soubessem de sua finalidade Um m s depois a primeira UPP foi instalada no dia 19 de dezembro de 2008 com um efetivo de mais d
127. ador de favelas pode informar o bairro e n o especificar o local para evitar que seja identificado como favelado Goffman 1988 afirma ainda a exist ncia de uma categoria de indiv duos chamados informados Estes seriam pessoas normais que por raz o especial compartilham parte da vida do estigmatizado e nutrem por ele certa aceita o O informado mant m alguma rela o social com o estigmatizado o que leva a sociedade a perceb los como uma unidade O resultado dessa percep o no caso da favela seria a extens o do estigma 66 dos criminosos para seus familiares ou n cleo social pr ximo vizinhos moradores da mesma favela Assim a conviv ncia com traficantes interpretada como coniv ncia e torna todos os moradores criminosos de uma cumplicidade que s existe enquanto mito e que se soma aos demais estigmas que estes possam carregar como o estigma de pobreza e o racial O estigma pode ser observado tamb m na forma de apoio a a es abusivas do ponto de vista humanit rio e legal por parte do bra o estatal O exemplo mais sintom tico a ado o de uma met fora da guerra que coloca a favela como inimigo e justifica a ado o de medidas extremas Qualquer men o pol tica de direitos humanos e de respeito aos direitos civis dos moradores dessas localidades interpretada como irrelevante A sociedade concede diariamente a permiss o para matar a determinados grupos consideran
128. ados foram identificados corretamente seus sintomas e ofertado tratamento adequado Houve uma falha na identifica o e na abordagem do TEPT tanto nas unidades convencionais do SUS quanto na Cl nica da Fam lia local A desaten o aos quadros de TEPT agravada porque a Cl nica foi instalada em um local com hist rico violento e os casos de TEPT identificados ao longo desta disserta o eram acompanhados de um conjunto cl ssico de sintomas com ampla dura o 8 A Cl nica da Fam lia Santa Marta um Programa de Sa de da Fam lia PSF e tem como intuito a implementa o da aten o b sica sa de no territ rio atendido O PSF se diferencia das demais unidades do SUS pela nfase concedida a promo o e preven o em sa de 130 4 2 3 Efeitos do turismo na percep o do estigma territorial Os efeitos psicol gicos da viol ncia tamb m podem ser observados nos relatos dos moradores sobre a es discriminat rias que sofriam Todos os entrevistados que exerceram ou exercem atividades profissionais fora do Santa Marta relataram uma percep o de que sofreriam preconceito se informassem seu local de moradia O preconceito foi relatado como motivo de muito sofrimento individual Relataram ainda uma percep o de sua diminui o relacionada ao livre acesso de turistas e n o moradores de favelas Essa diminui o foi relatada como um ganho em rela o qualidade de vida comunit ria associado instala o da UP
129. al pra mim que moro de aluguel pesa muito Pesa porque muito nebulizador que a gente usa com ele ent o assim pagar aluguel e pagar conta de luz que s vezes vem cinquenta sessenta reais pesa Mas enfim uma coisa que n o tem como correr Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho As taxas sociais ou tarifas especiais implementadas pela empresa fornecedora de energia el trica a Light tiveram um prazo definido Fleury 2012 observa que a tarifa social em muitos casos uma forma de viabilizar que os moradores de favelas com UPP possam arcar com esses novos encargos Foi dif cil Mexeu no or amento Voc que tinha um or amento 70 reais No come o come ou com 15 reais depois 25 35 40 Hoje n vel Hoje t 80 mas foi feito um acordo com a Light A Light quando veio ela informou que pagaria apenas uma taxa simb lica hoje n as pessoas j sentem no bolso porque paga 80 70 120 principalmente aqueles que t m ar condicionado Aqueles que t m padaria birosca paga se at mais Paga se duzentos Evanir 67 anos pastor casado Ifilha Sabrina Ost 2012 aponta que a regulariza o do fornecimento de gua e luz gerou uma eleva o do custo de consumo interno na favela Santa Marta com o agravante de que os pre os praticados no com rcio local j eram maiores em raz o de seu perfil com rcio de 143 pequeno porte Atualmente apenas moradores inscritos no Cadastro Unico para Programas
130. am como motivos para sua maior confian a na rela o com os policiais a conduta policial menos corrupta e violenta e o relacionamento cordial com moradores que s o reconhecidos como pessoas de bem N o h refer ncias sobre direitos de cidadania o maior fator de seguran a depende de uma circunst ncia inst vel onde o morador se sente seguro ao conhecer e ser reconhecido pelo policial Observe se que a rela o dos moradores com a pol cia tem um hist rico complexo onde os moradores nunca se sentiram protegidos e respeitados Ao contr rio testemunharam in meros casos de corrup o e viol ncia policial Os entrevistados compreendiam a pol cia como um poss vel agressor e por isso utilizavam in meras estrat gias para lidar com a viol ncia policial A principal delas era evitar o contato com a pol cia Se habituaram ainda a observar se policiais estavam forjando provas contra eles 193 A pesquisa reflete ainda que existe uma continuidade nos padr es de discrimina o empregados pelos policiais da UPP com a es dirigidas a moradores jovens do sexo masculino Por exemplo o trato dos policiais com os moradores influenciado pela perman ncia de estigmas relacionados com que seria o perfil de um traficante homens jovens que falam com g rias e ouvem m sicas funk e hip hop De acordo com as considera es dos entrevistados os policiais tratam de forma respeitosa moradores que n o se enquadrem nesse perfil ou
131. an a a eventos traum ticos em especial na modula o dos sentimentos de medo e de seguran a CHARUVASTRA amp CLOITRE 2008 Na popula o adulta apesar dos homens estarem mais expostos a eventos traum ticos as mulheres s o aparentemente mais suscet veis ao desenvolvimento do TEPT Essa maior suscetibilidade pode ser oriunda de uma diferen a de g nero observada no car ter dos eventos traum ticos a que est o expostos homens e mulheres As mulheres s o mais vulner veis viol ncia interpessoal e esta como citado anteriormente o tipo de evento traum tico com maior chance de provocar o TEPT BRESLAU ET AL 1999 O evento traum tico por seu car ter incontrol vel e imprevis vel gera em uma perspectiva cognitiva um questionamento sobre a capacidade individual de prever os acontecimentos e de se manter em seguran a no mundo A resultante dessa inseguran a o medo que mant m o ciclo de sintomas do TEPT Nos casos de evento traum tico provocado por uma viol ncia interpessoal ocorre uma transforma o nos n veis de seguran a que o indiv duo tem em rela o continuidade da sua vida A reincid ncia de eventos traum ticos um fator de risco para o desenvolvimento de TEPT Ou seja indiv duos que foram expostos a eventos traum ticos seguidos t m maior predisposi o a desenvolver o transtorno especialmente se o evento traum tico for um tipo de viol ncia interpessoal LLOYD amp TURNER 2003 76
132. an a e planos para o futuro Dentre esses fatores os efeitos do dom nio do tr fico de drogas sobre o territ rio das favelas e seus moradores foram analisados prioritariamente por constitu rem um obst culo melhoria de diversos determinantes sociais da sa de dos moradores Al m disso a domina o exercida pelo tr fico funcionava como eixo central da viol ncia estrutural ao refor ar o estigma territorial e servir de justificativa para a es policiais violentas por parte das for as pol cias Os efeitos da proximidade com o tr fico foram considerados pelos moradores como sendo especialmente graves na inf ncia e na adolesc ncia em raz o da maior vulnerabilidade dessas faixas et rias imagem do tr fico como meio de se obter status social e dinheiro situa o que pode culminar com a morte precoce Esse cen rio revela que a domina o do tr fico tinha um n vel maior de complexidade que atingia os valores compartilhados pelos moradores ao ponto da participa o neste chegar a ser objeto de desejo O envolvimento com o tr fico foi narrado como um dos piores efeitos da domina o pois compreendida pelos moradores como um aliciamento covarde que levaria os jovens a morrer na linha de frente do tr fico por falta de experi ncia Esse 94 contexto influenciava as experi ncias de maternagem e paternagem dos moradores que temiam pela seguran a dos filhos por terem vivenciado a morte de amigos e familiares
133. ando se sentem lesados financeiramente 148 Os entrevistados apontam ainda outra raz o para se revoltar com a aus ncia de esgoto o disp ndio de recursos em obras consideradas por eles como de menor import ncia como a reforma de pra as As obras realizadas no Santa Marta t m origens em diferentes esferas da Administra o como as obras do PAC realizadas pelo governo federal e as instala es de encanamento feitas pela CEDAE e pelo governo do estado N o obstante os moradores entrevistados associam a totalidade das obras UPP Apontam o esgoto a c u aberto como um exemplo de uma gest o ruim do governo do estado e uma falha da UPP 4 2 6 Novas possibilidades O impacto da instala o da UPP na especula o imobili ria dentro do Santa Marta foi citada por todos os entrevistados Os entrevistados que possuem casa pr pria comemoram a perspectiva da valoriza o de seu patrim nio e fazem planos de ofertar parte de suas casas para a loca o No entanto o aumento dos alugu is visto como um peso pelos entrevistados que n o t m casa pr pria Jurema 65 anos afirma que este o pre o que os moradores pagam pela UPP ou pela seguran a que tem hoje A voc paga o pre o disso Qual o pre o que n s tamos pagando Esses alugueis caro a a Telemar Telemar j tinha a veio a Light tamb m entrou A todo mundo t querendo Porque ningu m t fazendo nada de gra a Voc entendeu Tudo bem o governo botou
134. aneiro Editora FGV 2005 VALLADARES L A g nese da favela carioca A produ o anterior s ci ncias sociais 2000 IN Rev bras Ci Soc online 15 44 05 34 ISSN 0102 6909 VARELLA D Transtorno de Estresse P s traum tico 2011 Dispon vel em http drauziovarella com br wiki saude transtorno do estresse pos traumatico VAZ L Dos corti os s favelas e aos edif cios de apartamentos a moderniza o da moradia no Rio de Janeiro An lise social IN Revista do Instituto de Ci ncias Sociais da Universidade de Lisboa 1994 VENTURA Z Cidade Partida S o Paulo Companhia das Letras 1994 VOGELGESANG G How leader interactional transparency can impact follower psychological safety and role engagement Unpublished doctoral dissertation University of Nebraska 2007 WALKER E A KATON W RUSSO J CIECHANOWSKI P NEWMAN E amp WAGNER A W Health care 2003 IN Annu Rev Clin Psychol 2006 2 161 197 POSTTRAUMATIC STRESS DISORDER 197costs associated with posttraumatic stress disorder symptoms in women Arch Gen Psychiatry 60 369 74 212 WERTHEIN J Um novo perfil para a seguran a internacional no s culo XXI Correio Brasiliense Bras lia O Popular Jornal do Tocantins Tocantins 2000 Acesso em 13 de abril de 2006 Dispon vel em http www unesco org br noticias opiniao artigow 2000 artigowy mostra documento WAISELFISZ J Mapa da viol ncia III os jovens do Brasil juventude viol ncia e ci
135. anquilo Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Atualmente o significado de ser conhecido como morador como fonte de seguran a psicol gica e f sica pode ser observado nas falas dos entrevistados quando estes se referem a sua rela o com os policiais da UPP Os moradores conferem grande peso rela o social como fonte de seguran a psicol gica e f sica no trato cotidiano com os policiais da UPP Esse comportamento representa a continuidade de um c digo utilizado anteriormente no di logo com o tr fico de drogas O fato de pode ser reconhecido ter um relacionamento cordial ou at um la o de amizade com os policiais da UPP compreendido como fator de prote o pelos moradores pois garantiriam que estes n o sejam confundidos com traficantes e por isso sejam eximidos de revistas e atitudes desrespeitosas por parte dos policiais Como vemos no exemplo a seguir 169 Olha os que t o antigo l eles j conhecem todos os morador Eles n o mexem com quem n o tem nada a ver Tem uns antigo l que se ele mexer com a pessoa e tu passar e falar que absurdo eu vou te catucar e falar ele sabe o que t fazendo Agora os novo eles quer mostrar trabalho A eles se confunde um pouco como aconteceu com meu amigo Wuendeu Pegaram jogaram tudo da bolsa dele no ch o e depois queriam que ele arrumasse Ele falou e teve que arrumar porque ele falou e o cara ainda achou que ele tava errado mas
136. anta Marta na Zona Sul do Rio de Janeiro trouxe melhorias na qualidade de vida e na sa de dos moradores Como orienta o te rica buscou se respaldo no conceito ampliado de sa de defendido pelo paradigma de Promo o da Sa de com nfase na influ ncia dos Determinantes Sociais de Sa de na qualidade de vida dos moradores Utilizamos a metodologia etnogr fica por esta permitir a investiga o do conjunto de sentidos e s mbolos do cotidiano para o grupo pesquisado e a conex o entre os Determinantes Sociais de Sa de Concluiu se que a pol tica conseguiu alterar alguns Determinantes Sociais de Sa de do Santa Marta no que se refere aos n veis de criminalidade de liberdade individual e de estigma territorial Entretanto a pesquisa indica que como esta pol tica n o foi implementada de forma intersetorial como proposta com o componente UPP social v rias quest es de infra estrutura como saneamento b sico n o foram atendidas A diminui o nos ndices de criminalidade melhorou os n veis de seguran a psicol gica dos moradores N o reverteu todavia os danos sa de psicol gica gerados pelo quadro anterior como traumas e TEPT que necessitam de um tratamento especializado Deve se ressaltar que estes fatores n o est o inclu dos entre os objetivos do programa das UPPs A Para mais informa es http g globo com bahia noticia 2012 0 1 mais uma base comunitaria de seguranca e inaugurada em salvador html e htt
137. anto fen meno social marcada pelas desigualdades sociais e por outros fen menos sociais como a viol ncia Dessa forma a pobreza e a viol ncia se somam em uma equa o capaz de transformar a experi ncia e o sentido da maternidade e da paternidade A inf ncia e a adolesc ncia dos filhos passam a ser relacionadas a sentimentos de impot ncia incompet ncia medo e sofrimento quando pais n o conseguem prover os bens materiais que o tr fico oferece Tive dois filho homem Voc n o sabe o que eu vivi Vivia correndo Largava a panela da madame no fogo Corria no col gio pra ver se tava l Vivia numa loucura s na minha cabe a E ali era muito f cil o cara mandar ele fazer alguma coisa Ele precisava dum sapato que eu n o tinha dinheiro pra d Ele precisava de uma roupa entendeu isso que eu t te falando Jurema 65 anos dona de casa 2 filhos 106 Jurema 65 anos deixou seu emprego como dom stica para poder tomar conta do filho que estava fazendo favores para o tr fico Tornou se esteticista para ter uma carga hor ria de trabalho flex vel Essa atitude n o conseguiu evitar o envolvimento do filho mas demonstra a propor o que a necessidade de proteger os filhos de um poss vel aliciamento tomava Eles falava que ia matar ele mesmo que n o podia roubar na boca que ele sabia e eu ali gritando At empurrar eu empurrei Voc v o que m e faz Eu batendo boca com vagabundo Podia ter atirado
138. ao Governo e s UPPs Cano 2012 aponta que as cr ticas feitas por moradores de favelas com UPP inclusive ao programa s o sintom tica de um paradoxo do sucesso do programa em aumentar a liberdade de express o Os moradores afirmam que n o existe mais dom nio territorial por parte do tr fico o que retira o medo de guerras entre fac es e de confrontos com a pol cia Esse cen rio aumenta a liberdade de ir e vir dos moradores e a liberdade de express o representando um avan o em termos de qualidade de vida direitos humanos e cidadania Entretanto a falta de garantias sobre a continuidade da UPP diminui a seguran a psicol gica dos moradores e faz com que continuem tomando cuidados para n o ser conhecido como X 9 Esses cuidados ficam evidentes quando decidem ocultar o nome dos traficantes vivos em suas narrativas e t m receio de que os vizinhos os associem como amigos dos policiais Existe ainda uma resist ncia a conversas ou entrevistas sobre a UPP em locais p blicos Quatro das seis entrevistas realizadas ao longo desta 118 disserta o aconteceram em locais p blicos entretanto os entrevistados escolheram esses lugares para evitar que familiares e amigos ouvissem suas declara es Deve se salientar que tamb m quando os moradores querem fazer cr ticas UPP evitam abordar o tema com estranhos e com pesquisadores Os entrevistados n o relataram temer que policiais tomassem ci ncia de sua postura c
139. ara os moradores o impacto da aus ncia de liberdade de ir e vir e de express o era maior pois invadia sua rotina di ria Isso exemplificado na fala de Fabiane 34 anos que narra sua rea o s torturas Era muito ruim se voc visse era horr vel fazer o que Se a gente falasse alguma coisa a gente ia at ser feito o mesmo com a gente tamb m tinha que v e ficar quieto se a gente ficasse um grupinho comentando a eles ia t comentado de que De nada n o tinha que disfar ar por causa disso mas agora n o tem mais perigo de nada n o Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos A fala de Evanir 67 anos fornece outro exemplo de como a domina o territorial exercida pelo tr fico e as pol ticas de seguran a p blicas anteriores afetavam a seguran a f sica e por consequ ncia a seguran a psicol gica dos moradores Teve outra vez tamb m que aconteceu comigo tamb m Eu nunca esque o Foi a primeira ocupa o que teve aqui foi com a Benedita Benedita e Garotinho Benedita era respons vel pela rea social Garotinho veio A Benedita que teve essa ideia de ocupa o Ela veio e tal que ela morava no Chap u Mangueira e tal A veio com ocupa o social Isso que as pessoas ficavam com medo no in cio da UPP De acontecer que nem da Benedita a p veio a pol cia e todo mundo e os cara tr fico todo foram embora n Um per odo Depois voltaram a algu m me chamou pra d uma
140. ara sair a gente tinha que participar da passeata de qualquer forma nem que chegasse atrasado no trabalho Ent o muita gente sabendo disso que foi falado durante toda a semana algumas pessoas n o voltaram pra casa dormiram no servi o pra n o ter que participar e n o chegar atrasado no servi o Eu vim pra casa e falei n o eu vou descer no meu hor rio de trabalho Foi at televisionado na poca S que quando desceu eu a minha irm e outras pessoas eu lembro que os moradores que desceram mais cedo cinco horas da manh que descia mais cedo antes da hora da passeata foram parados l embaixo com eles com peda o de pau falando se tentar passar a gente vai bater a gente tem ordem do chefe pra bater Falava s vai descer na hora da passeata e vai participar da passeata Ent o eu lembro que na poca a minha madrinha ela desceu porque ela trabalhava na f brica de grampo Ent o ela pegava muito cedo e ela tentou descer e eu vi que ela voltou Quando eu tava arrumada pro trabalho ela disse olha nem tenta porque fulano de tal me parou Eles t o com peda o de pau imenso e disse que o morador que tentar descer vai apanhar Quando foi oito horas da manh eles liberaram o caminho mas l embaixo tinha um cord o de isolamento de gente lideradas por eles pra n o deixar morador nenhum furar o bloqueio pra ir trabalhar Tinha que participar da passeata ent o os moradores que n o era a favor daquilo ficava
141. as coisas com eles Evanir 67 anos pastor casado 1 filha Passei o que uns quatro cinco dias fora do morro at conseguir eu conseguir falar com a pessoa respons vel at eu ter certeza que eu podia ir falar com ele Alessandro 34 anos desempregado separado 3 filhos 167 Na medida em que o uso desses recursos garantiram a resolu o de conflitos e a redu o da viol ncia a que os moradores estavam sujeitos estes passaram a representar uma fonte de seguran a psicol gica e f sica ainda que parcial aos moradores A seguran a psicol gica e a f sica se influenciam mutuamente uma vez que a seguran a psicol gica o somat rio subjetivo dos riscos que um indiv duo corre a cada atividade Dessa forma a manuten o da integridade f sica de um sujeito ao longo do tempo sua seguran a f sica vai influenciar seu n vel de seguran a psicol gica KARK amp CARMELI 2009 EGGERS 2011 Vamos portanto nomear de seguran a f sica todos os ganhos em seguran a que n o sejam da ordem psicol gica como a seguran a habitacional que a fam lia de Vivian 23 anos conseguia por ser reconhecida pelos traficantes como moradores de boa ndole ou a pr pria sobreviv ncia que Alessandro 34 anos e Evanir 67 anos lograram assegurar ap s desenrolar com os traficantes Reconheceremos que o recurso de desenrolar utilizado para garantir seguran a f sica dos moradores ao garantir menos riscos de vida
142. as favelas cariocas Na metade da d cada de 1990 o Estado do Rio de Janeiro era o estado brasileiro com maior ndice de homic dios e registrou 60 9 homic dios por 100 mil habitantes A regi o metropolitana do Estado alcan ou a taxa de 70 6 homic dios por cem mil habitantes que ultrapassava em muito a m dia nacional da poca de 23 8 homic dios por 100 mil habitantes SANGARI 2012 Al m das elevadas taxa de homic dios algumas especificidades da viol ncia no estado do Rio de Janeiro fizeram com que ele se destacasse no cen rio da seguran a p blica nacional e internacional como estado com maiores problemas para controlar a viol ncia 13 Para mais informa es sobre a instala o dos TP http www canoas rs gov br site home pagina idDep 30 id 86 4 Para mais informa es sobre a instala o das BCSs atarde uol com br bahia materias 148 1 165 porto seguro recebe base comunitaria de seguranca Informa es sobre a instala o das UPSs http globotv globo com rpc bom dia parana v lodrina recebe unidade parana seguro 2285621 S Para mais informa es sobre a instala o das USC MA http Amirante globo com noticias 2013 02 24 pagina331851 shtml 41 Dentre essas caracter sticas podemos citar controle de territ rios por grupos criminosos uso de armamento utilizado em guerras por parte dos traficantes a exist ncia de diversas fac es criminosas HENRIQUES amp RAMOS 2010 Historicamente a pro
143. as que apontam as seguintes caracter sticas negativas 1 a militariza o da vida cotidiana que se reflete no controle policial sobre diversos aspectos da vida na favela como exemplificado pela proibi o de festas 2 o esvaziamento do papel pol tico das associa es de moradores pois com a necessidade de autoriza o do comando das UPPs para a realiza o de atividades nas favelas estas entidades seriam privadas de sua fun o como mediadores entre os moradores e o Estado 3 a especula o imobili ria p s UPP e a regulariza o das cobran as de luz e gua que estariam elevando o custo de vida e impedindo os moradores antigos de continuar na favela 4 o poss vel branqueamento das favelas em consequ ncia da eleva o dos custos de vida e da especula o imobili ria 5 a perman ncia de traficantes e a continuidade do tr fico de drogas nas favelas 6 o uso dos termos pacifica o e comunidade pacificada na propaganda oficial do governo SILVA 2011 MELLO amp CUNHA 2011 SOUZA E SILVA 2011 35 Pn ys Bus i 10 Entretanto devem se observar os indices de criminalidade e as pesquisas sobre as UPPs feitas desde a instala o das mesmas at junho de 2013 Estas apontam para a redu o do territ rio controlado pelos traficantes e do n mero de homic dios conflitos armados e demais crimes CANO 2012 RAMOS 2011 Soares 2012 faz um balan o do programa comparativamente realidade anterior instal
144. asfalto e o mundo da favela afetam se mutuamente Uma produ o cultural da favela como o funk faz sucesso em toda a cidade da mesma 67 forma que eventos em outras partes da cidade repercutem nas favelas SOUZA E SILVA 2003 Perlman 1977 acrescenta que a pobreza e a riqueza s o interdependentes assim como a cidade e a favela esta ltima crucial para que as outras regi es da cidade funcionem tal como a conhecemos Os shoppings da zona sul Shopping Rio Sul Shopping da G vea Fashion Mall Shopping Leblon s o um exemplo Para que possam funcionar certamente a proximidade de uma favela com enorme quantidade de m o de obra barata deve ser levada em considera o Os efeitos do estigma territorial sobre os direitos dos moradores de favelas n o foram reduzidos pela integra o econ mica e cultural Diante da impossibilidade de enfrentar o crime organizado e da desqualifica o social das reinvindica es dirigidas ao Estado s resta a cada morador de favelas se dedicar a uma limpeza simb lica cotidiana Trata se de um esfor o de tentar se desvincular do estigma lan ando m o de sua pr pria hist ria de vida comprovando fazer parte do ideal de pessoa de bem trabalhador e crist o a fim de conquistar frente sociedade o direito de ser respeitado e de ter direitos SILVA 2008 Dessa forma para assegurar sua cidadania os moradores de favelas precisam provar que apesar de viver
145. assinadas Al m disso os meninos preferem ficar dentro de casa a realizar atividades recreativas em outras partes do morro Eles n o gostam de ficar l em cima n o porque eles tem medo Eu falei n o n o tem perigo mais mas eles n o gosta Eles vai assim no campo ficar um pouquinho quando vai com o pai Mas quando pra ir de bondinho soltar l na cinco eles vai fica um pouquinho e desce Eles tem medo Mas eu j falei que n o t mais perigoso antes era agora n o mais Eu falei faz uma atividade l capoeira jud tem um mont o de coisa l eles n o quer Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos O filho da Fabiane 34 anos interrompeu a entrevista e justificou seu medo Contou que certa vez quando tinha cerca de 8 anos ao passar pelo local que evita atualmente viu sua m e desmaiar ao encontrar um cad ver no caminho M e no dia da festividade tamb m quando a gente foi descer pra comemora o da igreja batemo de frente com um homem morto com tiro nas costas minha m e desmaiou Ronaldo 14 anos estudante A m e confirma a hist ria mas continua n o associando a esquiva dos meninos com esse epis dio Apenas repete que n o h mais raz o para medo O pai das meninos associa o comportamento dos filhos pregui a e diz que uma desculpa para n o fazer os cursos e que os dois n o gostam de estudar O rendimento escolar dos meninos n o bom Um deles j repetiu de ano duas v
146. assiste tiroteios ou ouve seu som Fica evidente que existem limita es sobre o impacto da redu o da viol ncia no seu quadro psicol gico Jurema aponta a precariedade do atendimento que recebeu no SUS como meses de espera para marca o de consultas e a necessidade de perder um dia de trabalho para conseguir atendimento como motivos para sua falta de motiva o em buscar tratamento Al m disso a abordagem oferecida para seu quadro de TEPT no SUS 127 foi sempre medicamentosa o que a fez acreditar que n o precisava voltar ao m dico uma vez que tinha acesso medica o calmante Outra entrevistada Fabiane 34 anos tinha epis dios de desmaios ou tonturas sempre que presenciava cenas de viol ncia Relata tamb m que era comum sua press o subir e sentir dores na nuca quando tinha tiroteio Era direto Quatro hora da tarde uma vez ela tava na escola e eu com ele pequeninho e com a outra pequeninha eu desesperada A liguei pras minhas irm pras minhas irm ir buscar ela que ela era a tarde era pequena A elas tinha ido pro passeio A eu desesperada porque como que eu ia descer Minha press o ia subindo j come ava dar dor na nuca ficava gelada era um mal estar N o tinha como descer com eles dois pequeno Ele era pequeno e ela tamb m Era rec m nascida A eu liguei pras minhas irm pra ir busca ela A elas trouxe ela aqui Fabiane dona de casa casada 3 filhos Fabiane 34 an
147. astraram os moradores que recebem a visita dos agentes de sa de esporadicamente O Governo do Estado criou o programa UPP social para reunir uma s rie de a es sociais nos territ rios com UPP e com isso promover uma maior integra o da favela com a cidade No Santa Marta a UPP social s realizou sua primeira reuni o em 2011 tr s anos ap s a instala o da UPP FLEURY 2012 A prefeitura do Estado do Rio de Janeiro assumiu em 2011 o programa UPP social que foi renomeado de UPP Social Carioca Seu objetivo atual reunir os projetos sociais da prefeitura e promover a es sociais e 135 culturais MELLO amp CUNHA 2011 Os moradores entrevistados entretanto desconheciam as a es da UPP social e a confundiam com a es promovidas pelo sistema S SESI SENAI De forma geral os moradores acreditam que a UPP social realizou um programa conhecido como A o da Cidadania onde poss vel tirar documentos fazer exames e participar de atividades culturais Ou seja os moradores entrevistados quando reconheceram a UPP social associaram na a a es pontuais de outros projetos Ainda que desconhe am o programa UPP Social e seus objetivos os entrevistados esperam que a UPP enquanto pol tica p blica n o se limite esfera da seguran a p blica As UPPs foram representadas ao longo das entrevistas como uma forma tardia de o governo realizar seu papel no espa o da favela As expectativas dos entrevistados em rel
148. at Junho de 2013 Unidade de Pol cia Pacificadora Regi o da cidade Data de instala o Santa Marta Zona Sul 19 12 08 Cidade de Deus Zona Oeste 16 02 09 Jardim Batam Zona Oeste 18 02 09 Babil nia Chap u Mangueira Zona Sul 10 06 09 Cantagalo Pav o Pav ozinho Zona Sul 23 12 09 Tabajaras Cabritos Zona Sul 14 01 10 Provid ncia Centro da cidade 26 04 10 Borel Zona Norte 07 06 10 Formiga Zona Norte 01 07 10 Andara Zona Norte 28 07 10 38 Salgueiro Zona Norte 17 09 10 Turano Zona Norte 30 09 10 Macacos Zona Norte 30 11 10 S o Jo o Matriz Quieto Zona Norte 31 01 11 Coroa Fallet Fogueteiro Centro da cidade 25 02 11 Escondidinho Prazeres Centro da cidade 25 02 11 S o Carlos Centro da cidade 17 05 11 Mangueira Tuiuti Zona Norte 03 11 11 Vidigal Ch cara do C u Zona Sul 11 01 12 Nova Bras lia Zona Norte 18 04 12 Adeus Baiana Zona Norte 11 05 12 Alem o Pedra do Sapo Zona Norte 30 05 12 Chatuba Zona Norte 27 06 12 F Sereno Zona Norte 27 06 12 Fazendinha Zona Norte 09 07 12 Parque Proletario Zona Norte 28 08 12 39 Vila Cruzeiro Zona Norte 28 08 12 Rocinha Zona Sul 20 09 12 Jacarezinho Zona Norte 16 01 13 Manguinhos Zona Norte 16 01 13 Barreira do Vasco Tuiuti Zona Norte 12 04 13 Caju Zona Norte 12 04 13 Cerro cor Zona Sul 03 06 13 Fonte Coordenadoria de Pol cia P
149. ategoria de eventos que fere o senso de humanidade e por isso provocaria uma mobiliza o psicol gica maior do que um ataque vida do sujeito King et al 1995 verificou em sua pesquisa com ex combatentes que presenciar outros seres humanos sendo cruelmente feridos ou mortos gera um conflito psicol gico maior do que ser ferido ou ser amea ado de morte A exposi o a atrocidades e viol ncia extrema um fator de risco para o desenvolvimento do TEPT que difere em 75 intensidade das situa es em que a pr pria vida do sujeito posta em risco Essa diferen a se deve ao significado evolutivo que o pertencimento social tem para os seres humanos o que faz com que presenciar atos de crueldade represente n o s um perigo como um risco de rompimento das regras de conviv ncia social e a quebra do senso de seguran a que se obt m do pertencimento a uma sociedade KING ET AL 1995 Existem ainda outros fatores de risco relacionados ao desenvolvimento do TEPT Crian as e adolescentes apresentam maior vulnerabilidade do que a popula o adulta no que tange exposi o a eventos traum ticos Isso se deve imaturidade dos processos cognitivos Em raz o da maior facilidade de acesso as pesquisas t m privilegiado os adultos o que gera uma lacuna sobre as diferen as entre o TEPT infantil e adulto ZIEGLER ET AL 2005 BAL amp JENSEN 2007 Sabe se que o v nculo entre o adulto cuidador e a crian a influencia a resposta da cri
150. biane 34 anos dona de casa casada 3 filhos As guerras entre fac es s o lembradas como per odos em que as crian as ficavam trancadas dentro de casa sem poder brincar na rua Vivian 23 anos aponta que a tem tica da viol ncia era apropriada pelas crian as de sua gera o que imitavam os confrontos que assistiam Olha dentre muitas brincadeiras a mais comum entre as crian as era pol cia e ladr o Era arminha de peda o de cano Era arminha de madeira que as pr prias crian as fabricavam Eles viam na m o dos traficantes e faziam uma replica praticamente igual a coisa mais comum de acontecer era isso Vivian 23 anos dona de casa casada Ifilho Uma das resultantes dessa proximidade das crian as com as opera es do tr fico de drogas era a possibilidade de envolvimento com o tr fico de drogas ainda durante a inf ncia e a pr adolesc ncia Vale ressaltar que a partir da segunda metade da d cada de 1990 houve uma altera o nas pr ticas do tr fico de drogas que at esse ponto n o permitiam o envolvimento de crian as e adolescentes em suas atividades Algumas raz es como o baixo custo de uma crian a em casos de extors es policiais e sua capacidade de obedecer sem questionamentos levaram a contrata o de crian as pelo tr fico SOUZA E SILVA 2005 Um dos entrevistados Alessandro 34 anos vivenciou essa transforma o nas regras do tr fico Em 1992 ele foi recrutado como avi o denomina
151. bom que todos saibam como a realidade da favela porque v o voltar para seus estados de origem e multiplicar a informa o Ign cio Cano 2012 nomeia a entrada de n o moradores e turistas nas favelas ap s a implanta o das UPPs como entrada da cidade na favela Esse fen meno representaria a diminui o do estigma territorial associado s favelas com UPP e o surgimento de uma dualidade entre favelas pacificadas e favelas sem UPP As ltimas ainda carregariam o estigma territorial Esse cen rio tem reflexos na auto imagem dos moradores diante do restante da cidade o que influencia a forma como estes ir o se posicionar enquanto cidad os 4 2 4 Os movimentos sociais e a participa o social no Santa Marta Em seus relatos os entrevistados apontam que as atividades vinculadas aos movimentos sociais e de assist ncia social se multiplicaram na favela Santa Marta ap s a instala o da UPP O crescimento desse tipo de a o n o significou necessariamente o fortalecimento dos movimentos sociais locais uma vez que estes deixaram de ser consultados ou de intermediar a maior parte das a es estatais e da iniciativa privada Os moradores entrevistados reconhecem a atua o dos movimentos sociais atrav s da crescente oferta de cursos profissionalizantes e de cunho recreativo o que n o aumentou a participa o dos mesmos A favela Santa Marta assim como outras favelas cariocas teve como primeira forma de urbani
152. brutal uma vez que as caracter sticas das favelas facilidade para encontrar esconderijo f cil controle das vias de acesso e aus ncia do Estado proporcionam condi es favor veis para o com rcio de drogas COSTA 2004 PERLMAN 2010 Os moradores de favelas enquanto grupo social encontram se mais expostos viol ncia urbana Para Luiz Antonio Machado da Silva 2004 a viol ncia urbana n o apenas o somat rio de a es criminosas Deve ser analisada atrav s de suas pr ticas especificas e n o como um desvio da norma legal A viol ncia urbana no Rio de Janeiro evidenciaria a coexist ncia nas favelas de duas ordens sociais distintas A primeira a ordem social da 58 sociabilidade violenta da qual os traficantes seriam portadores que teria a for a como princ pio de organiza o A segunda a ordem social convencional relacionada ao emprego leg timo da viol ncia por parte do Estado com fins de manuten o da ordem A ordem social convencional indica que o controle da for a de monop lio do Estado para fins de controle e prote o social por outro lado a sociabilidade violenta faz igualmente uso da for a para estruturar suas pr ticas SILVA 2004 2008 A exist ncia da sociabilidade violenta n o implica a deslegitima o da ordem social convencional o que obriga os moradores de favelas a participar de duas ordens sociais distintas Ao obedecerem uma norma do Estado podem infringir uma l
153. car os n veis de viol ncia a que estavam expostos os moradores N o existia a inten o de questionar sobre a vida dos traficantes No entanto o bem estar de familiares e amigos foi considerado parte fundamental da percep o que o sujeito tem sobre sua pr pria qualidade de vida 124 Ramos 2011 cita a fala de uma capit comandante de uma UPP da Zona Sul colhida em uma entrevista para explicar a rela o dos policiais da UPP com os traficantes O que mais me intriga s o os meninos que ficam na escada Eu passo de manh e eles est o sentados na escada passo de tarde eles est o na escada Eu vou embora noite e eles continuam na escada Eles est o esperando o qu J est na hora de eles entenderem que v o ter que arranjar outra coisa pra fazer Comandante de uma UPP da zona da Sul da cidade nome n o identificado na entrevista Essa fala aponta que a conviv ncia da pol cia com traficantes ou ex traficantes seria corriqueira e pouco violenta o que foi narrado pelos entrevistados Como exemplifica Fabiane 34 anos De vez em quando que os pol cia passa corre atr s desses menino a porque esses menino j t vendendo droga de novo que n o pra ter Come aram a vender de novo t o vendendo Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos Esse cen rio sugere que o ato de traficar no Santa Marta n o representaria mais o mesmo risco de vida uma vez que n o existem mais confrontos arma
154. cas intersetoriais Como demonstra Evanir 67 anos o programa conseguiu que as 117 lideran as do tr fico sa ssem do morro mas n o conseguiu desarticular o dom nio sobre o territ rio Vale ressaltar que mesmo diante do risco de vida que correu ao declarar seu apoio a programa Mutir o da Paz Evanir se ofereceu para participar catorze anos depois da entrevista realizada para a produ o desta disserta o Quando questionado sobre o porqu dessa decis o ele explicou que n o concedeu entrevistas no in cio da UPP Esperou que o programa tivesse anos de dura o Quatro anos depois ele acredita que o tr fico n o tem mais o controle do territ rio e que por isso n o poderiam amea lo novamente Acrescentou ainda que participa de diversas atividades vinculadas UPP como festas e cursos Sua posi o demonstra como foi invertida a rela o entre a seguran a f sica e a psicol gica a qual sustentava o dom nio do tr fico sobre os moradores anteriormente Ap s v rios anos sem amea a integridade f sica dos moradores o n vel de seguran a psicol gica de Evanir 67 anos aumentou o que permitiu que ele participasse da entrevista sem ter medo Os moradores entrevistados demonstram um menor n vel de preocupa o e estresse associado s atividades di rias Apresentaram ainda in meras cr ticas ao tr fico de drogas a fac es especificas aos diferentes chefes do tr fico local pol cia militar
155. cess rias para tratamento dos DSS fundamentais como saneamento b sico e seguran a das resid ncias Assim ser poss vel otimizar o potencial das UPPs para Promo o da Sa de dos moradores Os resultados expostos ao longo desta disserta o exp em a necessidade de pesquisas futuras sobre os efeitos da implementa o da UPP Social nos DSS nas diferentes favelas atendidas pela UPP Assim como dos crit rios de defini o utilizados para definir a distribui o de a es da UPP Social em cada favela 200 6 Refer ncias citadas ABRAMO H Considera es sobre a tematiza o social da juventude no Brasil IN Revista Brasileira de Educa o S o Paulo n 5 6 maio dez p 25 36 N mero Especial sobre Juventude e Contemporaneidade 1997 ABRAMO H amp BRANCO A Retratos da juventude brasileira an lises de uma pesquisa nacional S o Paulo Instituto Cidadania Ed Funda o Perseu Abramo 2005 ABREU M A Reconstruindo uma hist ria esquecida origem e expans o inicial das favelas do Rio de Janeiro IN Espa os e Debates Revista de Estudos Regionais e Urbanos S o Paulo XIV 37 34 46 1994 AYRES J FRAN A JR CALAZANS G SALETTI H O conceito de vulnerabilidade e as pr ticas de sa de novas perspectivas e desafios In Czaresnia E Freitas CM Eds Promo o da Sa de pp 116 138 Rio de Janeiro 2003 A MAGIC MOMENT FOR THE CITY OF GOD IN The economist Acesso em 10 de junho de 2010 AMERICA
156. cia de participa o dos moradores nas decis es na desconfian a m tua na atua o heterogenia dos policiais em rela o ao tipo de abordagens na falta de regras claras que inibam atua es personalistas por parte dos policiais na falta de conhecimento de direitos por parte dos moradores na presen a de traficantes na favela pela falta de garantias na continuidade do programa e no controle policial sobre aspectos n o policiais da vida cotidiana Ainda assim em raz o do temor de que o reestabelecimento de uma rela o de domina o com o tr fico reverta os ganhos em qualidade de vida os moradores expressam o desejo de que a presen a policial seja intensificada com nfase no combate venda de drogas Os entrevistados s o capazes de enumerar de forma objetiva os problemas presentes nas UPP e as poss veis solu es para o projeto entretanto desqualificam a opini o de moradores que criticam o programa porque desejam seu fim Estes s o associados ao tr fico de drogas e vistos com desconfian a A desconfian a entre vizinhos pode ser observada tamb m na recusa dos entrevistados em falar da UPP nos espa os p blicos da favela Seu receio principal era que os elogios pol tica e aos policiais chegassem ao conhecimento de traficantes o que segundo eles certamente culminaria em retalia es caso a UPP acabe Por esse motivo existe ainda o receio de falar com a m dia e com pesquisadores o qual s ultrapassado diante d
157. ciais Centro de Estudo de Seguran a e Cidadania Rio de Janeiro Brasil 2011 SILVA J amp URANI A Crian as no narcotr fico um diagn stico r pido Bras lia Organiza o Internacional do Trabalho OIT 108p 2002 SILVA J Reconhecimento e subcidadania ou o que ser gente Lua Nova 59 51 73 2003 SILVA J Adeus Cidade Partida Rio de Janeiro IETS Rio de Janeiro v 5 p 25 28 2003 SILVA J Favelas al m dos estere tipos Democracia Viva Rio de Janeiro v 22 p 11 16 2004 SILVA J Org Crian as no narcoplantio e tr fico de drogas Bras lia v 1 94p 2004 Viol ncia nas comunidades e nas ruas At quando In Fundo das Na es Unidas para a Inf ncia UNICEF Org Direitos Negados a viol ncia contra a crian a e o adolescente no Brasil Brasilia Athalaia Gr fica e Editora v p 96 115 2005 SILVA J amp BARBOSA J L Favela alegria e dor na cidade Rio de Janeiro Editora SENAC Rio X Brasil 232p 2005 SILVA J An lise da Viol ncia contra a Crian a e o Adolescente segundo o ciclo de vida no Brasil 1 ed S o Paulo Global v nico 299p 2005 As Unidades Policiais Pacificadoras e os novos desafios para as favelas cariocas IN Semin rio Aspectos Humanos da Favela Carioca LeMetro Laborat rio de Etnografia Metropolitana IFCS UFRJ 2010 Dispon vel em www observatoriodefavelas com br SILVA R amp SIMON C Sobre a diversidade de sentidos de comunida
158. cimento territorial obrigat rio CANO 2012 que fazia com os moradores em especial os jovens evitassem sair de suas favelas Mesmo n o pertencendo as fac es criminosas os moradores incorporavam os c digos utilizados por elas e compreendiam favelas dominadas por fac es diferentes da que ocupava seu local de moradia como um local onde eles seriam tratados como inimigos SOUZA E SILVA 2005 O que 115 desencorajava a ida a outras favelas A entrada de visitantes ainda que n o moradores de favelas dominadas por fac es rivais era restringida pelo tr fico de drogas Ningu m subia porque os pr prios traficantes paravam no caminho tu n o daqui Porque depois de um certo tempo eles acabam conhecendo os moradores Ent o v um rostinho diferente eu j vi casos de eu t subindo a escada e pararem OPA vai aonde Vou visitar meu parente Quem teu parente ent o dava o nome at eles saberem nem que fosse apelido at eles saberem quem era o morador e se realmente tava indo ali visitar o morador Sen o v que t andando de bobeira na comunidade porque eu acho que j deve ter acontecido disso de colher informa o deles pra levar pra outro Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho Essa regula o territorial exercida pelo tr fico restringia a liberdade dos moradores assim como a do conjunto da cidade que tampouco podia entrar na favela Leeds 1998 Strozemberg 2010 P
159. cinco quatro com dois Do que eu comecei s tem eu fora que outros come aram que j tinha o segundo grau j tinha o fundamental mas queria fazer de novo porque esqueceu que come ou comigo s eu Jurema 65 anos dona de casa 2 filhos Adultos e idosos entrevistados reconhecem que as atividades oferecidas representam oportunidades para a juventude do Santa Marta Al m disso acreditam que o motivo para a baixa participa o a pregui a e a falta de objetivos dos adolescentes porque segundo eles os jovens n o querem nada Os entrevistados apontam ademais a gratuidade e o fato das atividades ocorrerem no morro como fatores de descr dito S o pregui oso se fosse pago eles queriam fazer Infelizmente em comunidade muita coisa num dada valor porque de gra a d o valor a luz porqu Porque paga sai do bolso S o poucas as pessoas que aproveita as oportunidade os que sabe aproveitar Tem um pessoal l que faz m sica um toca violino outro toca outro aproveitaram a oportunidade De artes marciais ali de m sica na laje do Michael Jacson ali era o posto Ded agora lugar de cultura Alessandro 34 anos separado ambulante 3 filhos Porque eles acharam eles pensaram na cabe a de muitas pessoas daqui eles acham que o curso como um curso num um col gio de verdade como o Santi In cio o col gio de verdade porque eles pensam que o col gio n o de verdade voc entendeu
160. co agora vem gente de tudo quanto canto vem os turista a sobe de bonde vai em tudo quanto canto tira foto do morro Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos Os moradores demonstram muito orgulho em citar os mais variados tipos de visitantes que a favela tem recebido ultimamente de figuras da pol tica turistas nacionais e internacionais Ressaltam ainda detalhes como o fato dos turistas entrarem sem guias e durante a noite O desejo de n o favelados de conhecer a favela compreendido como prova da seguran a local e s mbolo da diminui o do preconceito que sofriam Os turistas por sua vez s o atra dos pela arquitetura singular da favela pela vista da cidade e do Cristo Redentor pela est tua constru da em homenagem ao cantor Michael Jacson por atra es musicais como rodas de samba e bailes funk Esse interesse externo contribui para a valoriza o do local da cultura e de seus moradores O turismo proporciona assim a inclus o da favela entre as atra es tur sticas da cidade Os moradores entrevistados apontam um incremento na sua sociabilidade relacionada a trocas de experi ncias com turistas do Brasil e do Mundo Alessandro 34 anos acredita que os turistas concordam com suas demandas por saneamento b sico pois observa 133 v rios deles tirando fotos das valas Em algumas dessas ocasi es j conversou com turistas dos estados de Minas Gerais e de Recife Acrescenta que acha
161. constru o de sua cidadania e dos efeitos deste na auto imagem dos moradores HONNETH 2003 A instala o da UPPs assim como outros programas voltados paras as favelas tem como objetivo propiciar uma maior integra o da favela no tecido urbano da cidade e consequentemente gerar condi es para o exerc cio da cidadania pelos moradores Se bem sucedidos esses esfor os podem gerar efeitos na auto imagem dos moradores atrav s da diminui o dos estigmas territoriais o que poderia alterar a forma com que esses sujeitos se relacionam com o restante da sociedade CANO 2012 2 8 O estigma como viol ncia simb lica Muitos fatores se somaram para que a favela fosse concebida socialmente como a conhecemos dentre estes a ideia de que a favela lugar de precariedade de n o pagamento de taxas e impostos de ocupa o ilegal da terra de informalidade No 65 entanto o que parece ter sido definitivo para a forma o da atual concep o hegem nica da favela foi a sua visibilidade como local controlado por bandidos SOUZA E SILVA 2011 A contiguidade territorial com os criminosos transforma todos os moradores em potenciais criminosos aos olhos da sociedade ROCHA 2008 O estigma de moradia que acompanha a favela e seus moradores faz com que estes n o tenham acesso s mesmas condi es de vida que os demais habitantes Diariamente negado a eles o direito seguran a LEITE 2005 Esse estigma alimentado pela
162. crian a em casa Fabiane 34 anos dona de casa Nesse contexto o medo de sofrer repres lias do tr fico por manter contato com os policiais maior em moradores que j se sentiam amea ados pelo tr fico antes da instala o da UPP S o moradores que temiam ser alvo de alguma puni o e mais do que isso se sentiam humilhados e incomodados com o papel subalterno em que estavam colocados na rela o com o tr fico Destacam se nesse grupo os que tinham familiares usu rios de drogas e n o concordavam com a participa o destes no tr fico de drogas como Vivian 23 anos que se dizia ref m do tr fico e temia pela integridade f sica de toda a fam lia em decorr ncia do envolvimento de familiares com o tr fico Outro aspecto tem influenciado atualmente a rela o dos moradores em especial aqueles do sexo masculino com os policiais O fim do uso de armas por parte dos traficantes e o abandono da postura defensiva sobre o territ rio faz com que a diferen a entre quem seria apenas um morador e quem estaria nas escadas traficando seja t nue Esse fato inaugura uma quest o retratada por Vin cius 24 anos em rela o abordagem da pol cia aos moradores Alguns policiais chegam conversam outros acha que voc mora no morro bandido Antes o policial j sabia quem era bandido quem era trabalhador Respeitava quem tinha que respeitar e esculachava quem tinha que esculachar Hoje em dia alguns n o t o nem a
163. d future IN Biol Psychiatry 60 4 376 82 2006 RAMOS S Respostas brasileiras viol ncia e novas media es o caso do Grupo Cultural AfroReggae e a experi ncia do projeto Juventude e Pol cia IN Ci ncia amp Sa de Coletiva 11 Sup 1303 1311 2007 209 Trajet rias no tr fico jovens e viol ncia armada em favelas cariocas 2011 Dispon vel em http www uva br trivium edicoes edicao i ano iiii artigos tematicos trajetorias do traficojovens e violencia armada em favelas cariocas pdf RIO DE JANEIRO ESTADO Decreto lei n 126 de 10 de maio de 1977 Di rio Oficial do Estado do Rio de Janeiro PODER EXECUTIVO RIO DE JANEIRO ESTADO Decreto lei 41 650 de 21 de janeiro de 2009 Di rio Oficial do Estado do Rio de Janeiro PODER EXECUTIVO RIO DE JANEIRO ESTADO Decreto n 30 870 09 de 12 de julho de 2009 Di rio Oficial do Estado do Rio de Janeiro PODER EXECUTIVO RIO DE JANEIRO ESTADO Decreto lei no 42 787 de 6 de janeiro de 2011 Di rio Oficial do Estado do Rio de Janeiro PODER EXECUTIVO ROCHA L Uma favela sem tr fico Os limites da a o e da opress o do tr fico In Silva L Org Vida Sob Cerco viol ncia e rotina nas favelas do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Nova Fronteira 2008 ROTHBAUM B O amp DAVIS M Applying learning principles to the treatment of post trauma reactions IN Annu NY Acad Sci 1008 112 21 2003 SANDRO G amp VLAHOV D Urban Health Evidence Cha
164. da O controle exercido pelas fac es criminosas n o compromete s os direitos de cidadania dos moradores de favelas alcan a tamb m todos os habitantes da cidade especialmente quando prejudica os sistemas e processos democr ticos Em diferentes momentos as campanhas eleitorais foram mediadas pela negocia o de candidatos com traficantes que permitiam o acesso de alguns pol ticos favela e proibiam o dos demais LEEDS 1998 STROZEMBERG 2010 A atua o do tr fico ao longo das elei es de dif cil mensura o pois n o existia uma associa o clara entre as fac es e os candidatos A interven o das fac es sobre a cidadania pode inclusive estar oculta sob a forma de um impedimento da aplica o da lei como questiona Pedro Strozemberg 2010 Ser que a lei eleitoral tem significado semelhante nos espa os da cidade A campanha da lei seca realizada em todo territ rio nacional tamb m praticada no interior das favelas Algu m tem receio de ser multado na favela por dirigir falando no telefone ou andar sem cinto de seguran a Isso sem falar nos servi os e garantias da entrega de cartas transporte legal recolhimento de lixo etc A perversa combina o entre baixa institucionalidade social 24 rae 2 Bois Sie fo KS R Para mais informa es sobre a interfer ncia das mil cias e do tr fico de drogas nas elei es no Estado do Rio de Janeiro http veja abril com br noticia brasil f
165. da produ o de funk chamada de proibid o feita para exaltar as fac es criminosas seus l deres e seus feitos o que configura crime de apologia ao tr fico de drogas e j resultou na pris o de diversos MCs Como toda produ o cultural o funk carrega marcas de sua hist ria Certamente o patroc nio das 33 Reportagem noticia a pris o de 4 funkeiros que disponibilizaram funk proibid o na internet http oglobo globo com rio policia prende quatro funkeiros acusados de fazerem apologia ao trafico do alemao 2910195 153 fac es criminosas e o uso que estas fazem do funk como hino ajudou na divulga o desse ritmo Isso n o significa que o mesmo se limite a esses fatores O funk enquanto produ o cultural mais do que os usos que foram feitos dele ao longo dos anos O Comando da UPP do Santa Marta come ou a autorizar a realiza o de alguns bailes funk depois de dois anos Tr s semanas atr s eu e minha esposa come amo a conversar pra ver se a gente volta Teve Mc Marcinho l no morro Baile ficou lotado mas um baile tu v um evang lico no baile complicado n O povo que que tu t fazendo aqui T aqui vim matar a saudade do baile Mas lotado S teve um pessoal l do meio fumando maconha mas quando a pol cia entrou acabou a gra a Que aconteceu O baile ficou lotado n o teve confus o Teve confus o no final O baile acabou O pessoal ficou do lado de fora come ou a b
166. dadania Bras lia DF UNESCO Instituto Ayrton Senna 2002 WHO Health For All in the 21st Century Geneva WHO 1998 WACQUANT L Deadly symbiosis When ghetto and prison meet and mesh Punishment amp Society 3 1 95 133 2001 WIEVIORKA M Pour comprender la violence l hypoth se du sujet IN Soc estado 1998 online 19 1 21 51 ISSN0102 6992 WIRTZ PW HARRELL AV Effects of postassault exposure to attack similar stimuli on long term recovery of victims J 1987 IN Consult Clin Psychol 55 10 16 ZALUAR A Teleguiados e chefes juventude e crime Religi o e Sociedade 15 54 67 1990 Juventude Sa de e Seguran a P blica no Pa s Estudos e Pesquisa 148 1994 Condom nio do Diabo as classes populares urbanas e a l gica do ferro e do fumo Rio de Janeiro Editora da UFRJ 1995 A globaliza o do crime e os limites da explica o local In Velho G amp Alvito M Orgs Cidadania e viol ncia pp 48 68 Rio de Janeiro Editora UFRJ 1996 Exclus o e Pol ticas P blicas dilemas te ricos e alternativas pol ticas IN Revista Brasileira de Ci ncias Sociais 12 35 29 47 1998 Gangues galeras e quadrilhas globaliza o juventude e viol ncia In Vianna H Galeras cariocas territ rios de conflitos encontros culturais Rio de Janeiro Editora UFRJ 1997 ZALUAR A amp ALVITO M ORGS Um s culo de favela Rio de Janeiro Editora FGV 1998 ZALUAR A Democratiza o in
167. das resid ncia no Santa Marta Segundo o decreto o morro foi considerado rea de especial interesse de social Por isso todas as constru es precisariam de alvar da prefeitura Apenas um morador entrevistado tinha conhecimento da proibi o e s a considerava v lida para novas constru es n o para reforma das casas Ao longo da vig ncia do decreto Alessandro 34 anos construiu o segundo andar de sua casa Jurema fez uma reforma na parte externa de sua casa Vivian iniciou a constru o de sua casa no segundo andar da casa de sua m e Nenhum dos moradores foi informado sobre a necessidade de autoriza o da prefeitura Uma casa em constru o foi demolida pela prefeitura nas proximidades da localidade conhecida como laje do Michael Jackson esse fato narrado pelos moradores como um fato isolado de covardia da prefeitura A valoriza o dos alugueis interpretada pelos moradores como uma fase boa que deve ser aproveitada Existe a cren a de que a valoriza o ser ainda maior no futuro em raz o dos eventos internacionais que a cidade abrigar Nesse contexto os moradores entrevistados que vivem de aluguel planejam construir suas casas e os moradores que j possuem casas pr prias sonham em conseguir atrav s do aluguel uma outra renda muitas vezes superior ao seu sal rio mensal Conseguir uma renda extra ou a primeira fonte de renda tamb m uma quest o de sa de A Carta de Ottawa defi
168. de PSICO Porto Alegre PUCRS v 36 n 1 pp 39 46 jan abr 2005 SHALEV A Predictors of PTSD in Injured Trauma Survivors A Prospective Study IN American Journal of Psychiatry v 153 n 2 p 219 225 1996 SHALEV A Y amp FREEDMAN S PTSD following terrorist attacks a prospective evaluation IN Am Journal Psychiatry 162 6 1188 91 2005 SCHNURR P P amp GREEN B L Understanding relationships among trauma posttraumatic stress disorder and health outcomes In Trauma and Health Physical Health Consequences of Exposure to Extreme Stress ed PP Schnurr BL Green pp 217 43 Washington DC Am Psychol Assoc 2004 SHEEHY G New passages mapping your life across time New York Ballantine Books 2003 211 SHINN M LEHMANN S amp WONG N W Social interaction and social support J IN Soc Issues 40 4 55 76 1984 SPRADLEY J The Etnographic Interview Nova Iorque Holt Rinehart amp Winston 1979 SPRADLEY J Participant Observation Nova Iorque Holt Rinehart amp Winston 1980 SUBRAMANIAN S BELLI P amp KAWACHI I The Macroeconomic Determinants Of Health IN Annual Review of Public Health 23 287 302 2002 SZWARCWALD C L amp CASTILHO E A 1998 Mortalidade por armas de fogo no Estado do Rio de Janeiro Brasil uma an lise espacial IN Revista Panamericana de Salud P blica 4 3 161 170 1998 STROZEMBERG P Algu m tem receio de ser multado na favela IN Obse
169. de de S o Paulo Universidade de S o Paulo S o Paulo Brasil 2000 MENDES E V Uma agenda para a sa de S o Paulo HUCITEC Mies M 1983 Towards a methodology for feminist research In G Bowles amp R D Klein Eds Theories of Women s Studies London Routledge Kegan amp Paul 1996 MICHEL M Mercados ilegais redes de prote o e organiza o local do crime no Rio de Janeiro IN Estudos Avan ados 21 61 2007 MIGUEL L 3 D political representation elements for an amplified theory of political representation IN Rev bras Ci Soc 18 51 2003 MINAYO M organizadora Bibliografia comentada da produ o cient fica brasileira sobre viol ncia e sa de Rio de Janeiro Editora Panorama Agudelo SF 1990 La violencia un problema de salud publica que se agrava en la regi n Boletin Epidemiologico de la OPS 11 1 7 1990 M A Viol ncia na Adolesc ncia Um Problema de Sa de P blica In Cadernos de Sa de P blica 6 3 Fiocruz Rio de Janeiro 1991 M O Desafio do Conhecimento Pesquisa Qualitativa em Sa de S o Paulo Editora Hucitec 1994 MINAYO M A Viol ncia Social Sob A Perspectiva Da Sa de P blica IN Cadernos De Sa de P blica Fiocruz Rio De Janeiro V X N 1 P 7 18 1994 Org O Impacto Da Viol ncia Sobre A Sa de 4 ed Rio De Janeiro IN Cadernos De Sa de P blica V X 224p 1994 MINAYO M amp ASSIS G Sa de e viol ncia na inf ncia e na a
170. de diferentes reas frequentemente utilizam o termo comunidades para se referir ao local em que realizaram o estudo As favelas pela heterogeneidade de atores e problemas sociais que concentram t m sido alvo de pesquisas de v rios campos ao longo das ltimas d cadas A conceitua o do termo comunidades em estudos acad micos na maior parte das vezes n o contempla uma an lise cr tica sobre esse termo ou sobre a hist ria do lugar Agrupam se sob o termo comunidades desde aldeias de pescadores favelas Esse uso do termo comunidade tem suas ra zes em uma ideia de comunidade naturais baseadas em la os sangu neos e ou em uma delimita o geogr fica Tal concep o n o representa o car ter pol tico que a participa o comunit ria alcan ou exemplificado em seu uso como estrat gia de sa de SILVIA amp SIMON 2005 Em seu surgimento a psicologia comunit ria definia o termo comunidade de forma gen rica como um local fora do consult rio onde psic logos poderiam desenvolver seus projetos Motivados pela reflex o sobre o papel do psic logo nas comunidades in meros autores NILSEN 1996 PETERSEN E LUPTON 1996 SAWAIA 1996 CRONICK 2002 questionaram as expectativas de participa o comunit ria que se constroem a partir dessa defini o geogr fica de comunidade e ressaltaram o car ter contextual e processual das rela es que constituem uma comunidade Atualmente a psicologia comunit ria compreende que o ter
171. defesa dos direitos humanos com a busca de solu o para os problemas de infraestrutura das favelas Em 28 1985 frente s den ncias de atua o violenta da pol cia as incurs es policiais nas favelas foram proibidas PERLMAN 2010 COSTA 2004 No quinqu nio 1985 1990 ocorreu o in cio das a es do narcotr fico organizado nas favelas do Rio LEITE 2008 ZALUAR 1998 ALVES amp EVANSON 2011 VALLADARES 2009 PERLMAN 2010 A favela passa ent o de apenas um problema urban stico a um espa o marcado pela viol ncia Essa transforma o alterou a representa o que a sociedade tem sobre a favela e por consequ ncia as pol ticas dirigidas a esse espa o Com a entrada do Rio de Janeiro na rota de narcotr fico internacional de coca na as favelas tornaram se ponto de distribui o e com rcio de drogas Ap s alguns anos brigas internas por pontos de vendas de drogas levaram cria o de uma nova fac o criminosa o Terceiro Comando TC Os comandos de traficantes inimigos passaram a disputar violentamente territ rios chegando a proibir os moradores de reas dominadas pelos seus inimigos de cruzar os limites do seu per metro mesmo para visitar amigos ou parentes ZALUAR 2007 PERLMAN 2010 A partir desse momento as favelas ficaram conhecidas no Brasil e no mundo pelos in meros casos de viol ncia o que trouxe significativas dificuldades vida j estigmatizada dos moradores de favelas
172. deral do Rio de Janeiro como parte dos requisitos para obten o do grau de Mestre em Psicossociologia Aprovada em 31 de Maio de 2013 por Prof Dra Maria Cec lia de Mello e Souza Orientadora UFRJ Prof Dr Lu s Antonio Machado da Silva Doutor em Sociologia UFRJ UERJ Prof Dr Ja lson de Souza e Silva Doutor em Sociologia UFF Rio de Janeiro 2013 Resumo Moura Flavia de Sousa Pol ticas de Seguran a e Sa de A Unidade de Pol cia Pacificadora na favela Santa Marta Rio de Janeiro Disserta o Mestrado em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social EICOS Instituto de Psicologia Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2013 A domina o territorial exercida pelas fac es criminosas nas favelas cariocas desde a d cada de 1970 gerou altos ndices de viol ncia Isso se refletia diretamente na sa de e na qualidade de vida dos moradores que lidavam com interrup es na rotina di ria com grande potencial letal e traum tico No ano de 2008 a instala o da primeira Unidade de Pol cia Pacificadora UPPs na favela Santa Marta diminuiu os ndices de criminalidade local Ap s quatro anos 33 favelas no Rio de Janeiro receberam UPPs que se tornaram uma pol tica de seguran a p blica com reconhecimento nacional Essa disserta o teve por objetivo analisar a partir da perspectiva dos moradores em que medida a implanta o da Unidade de Pol cia Pacificadora UPPs na favela S
173. desconfian a policial ap s a instala o da UPP Considerando as rela es de parentesco e vizinhan a todos os entrevistados s o afetados pela viol ncia policial de forma indireta Al m disso os moradores s o diretamente afetados pelas formas de exclus o que se mant m na favela com a aus ncia de saneamento b sico Assim pode se afirmar que a viol ncia estrutural permanece Somadas a falta de espa os para participa o social a falta de implementa o da UPP Social as a es policiais que invadem a esfera privada e mant m o cunho discriminat rio a continuidade do tr fico de drogas o aumento do custo de vida e a falta de garantias sobre a perman ncia da UPP podem fazer com que a longo prazo os problemas associados pelos moradores UPP se tornem maiores que os benef cios Ao longo desta disserta o evidenciou se que os moradores jovens adultos e idosos vivenciaram d cadas de viol ncia Os efeitos dessa experi ncia s o observados em sua vida atrav s de seus quadros cl nicos seus medos e valores Os moradores entrevistados foram alvo da viol ncia policial da viol ncia urbana e da viol ncia estrutural Sentiram se por muito tempo desassistidos pelas pol ticas de seguran a p blica e continuam vivendo em uma rela o de desconfian a m tua com os policiais ressentindo se da falta de garantias sobre a perman ncia da UPP e da pouca participa o nas decis es sobre a favela Dentre os moradores um
174. deu o que expliquei Tem alguma pergunta Voc quer participar 214 Concorda com a grava o e com a anota o da entrevista Local e Data Assinatura da entrevistada 0 Assinatura da mestranda Contato Contato 7 2 Roteiro de entrevista Dados pessoais 215 Nome Entrevistado Nome pelo qual conhecido Endere o Favela Telefone para contato E mail Local e data de nascimento Sexo Estado civil Ocupa o Local de emprego trabalho Cargo Tem carteira assinada Estudou at que s rie Mora com quem parentesco e havendo filhos idades Quem contribui para a renda familiar Ocupa o destas pessoas Religi o da fam lia de origem Religi o atual praticante Casa pr pria ou alugada 216 Que aparelhos eletrodom sticos e eletr nicos existem na sua casa quantidade de cada Ra a etnia definida pelo entrevistado Ra a etnia definida pela entrevistadora Voc nasceu nesta comunidade Caso negativo em que ano veio morar aqui Com que idade Voc pode me contar a hist ria da comunidade em rela o viol ncia e como te afetou e ainda afeta at hoje Como era nesta poca O que mudou desde ent o Como foi crescer aqui O que voc mais gosta na vida que tem na favela O que voc menos gosta Como a favela em que voc mora um morro Horizontal ou vertical Quais s o os servi os dispon veis Voc s tem escola
175. di es cr nicas de sa de que mesmo diante de momentos de tranquilidade n o regrediam Dois entrevistados relataram melhora no seu quadro de hipertens o e problema nos nervos em decorr ncia da diminui o da viol ncia Jurema 65 anos foi v tima de bala perdida ainda na adolesc ncia Posteriormente ficou cerca de 40 anos evitando passar pelo local onde foi atingida Apresenta um quadro cl nico compat vel com Transtorno de Estresse P s Traum tico Cr nico com diversas estrat gias de esquiva tonturas pesadelos e taquicardias associadas mem ria do trauma Fez uso de diversas medica es ao longo desse per odo com e sem acompanhamento psiqui trico Com o passar do tempo precisava de calmantes para 126 conseguir dormir Afirma que parou de buscar ajuda m dica porque o tratamento n o fazia efeito e fazia com que ela perdesse um dia de trabalho Eu vinha subindo Eu tinha uns 14 anos Assim que eu cheguei do col gio interno vinha passando A bala pegou aqui e saiu aqui tenho verdadeiro terror Quando come ava eu tremia tanto Come ava a tremer nervosa Eu n o conseguia N o conseguia me controlar Botava qualquer um que tivesse do meu lado Fiquei apavorada Tinha verdadeiro pavor de parar naquela escada Eu passava ali ou passava l por tr s e quando tinha guerra eu no meu emprego j tremendo o corpo inteiro s de pensar que tinha que volta pra casa que eu tinha um filho que tava dependo d
176. diante da falta de limites atua o policial SOARES 2012 Somadas a viol ncia urbana oriunda da conviv ncia com a sociabilidade violenta a viol ncia simb lica representada pelo estigma territorial e a viol ncia policial se constitu am como obst culos efetiva o dos direitos de cidadania dos moradores de favelas Seja porque o tr fico de drogas restringia o direito de ir e vir ou porque a pol cia desrespeitava os direitos dos moradores ao invadir casas sem autoriza o ou porque o estigma fazia com que os n o favelados associassem todos os moradores de favelas a bandidos e apoiassem o direito de matar da pol cia o resultado era um comprometimento da qualidade de vida e das condi es para o exerc cio da cidadania Esse contexto revela um quadro de viol ncia estrutural definido por Minayo 1994 como viol ncia gerada por estruturas organizadas e institucionalizadas naturalizada e oculta em estruturas sociais que se expressa na injusti a e na explora o e que conduz opress o dos indiv duos No que se refere s favelas cariocas as desigualdades sociais e os mecanismos de opress o foram incorporados ao cotidiano dos moradores gerando vulnerabilidade e uma distribui o desigual do sofrimento em rela o com o restante da cidade seja este puramente m dico como uma bala perdida ou social como o resultante do estigma e da falta de servi os b sicos A viol ncia estrutural afeta a sa de dos
177. dirigem a esses traficantes e pedem a quantidade desejada Enquanto o comprador aguarda o traficante busca a droga no local onde fica escondida e entrega para o comprador Esse novo formato de venda de drogas nas favelas impossibilita o reconhecimento dessa pr tica pelo visitante uma vez que n o poss vel distinguir quem estaria vendendo drogas e quem estaria apenas caminhando pela favela 2 Entrevista publicada no site da Ag ncia Brasil em 08 08 2011 Dispon vel em http agenciabrasil ebc com br noticia 201 1 08 08 ainda existe trafico de drogas no complexo do alemao diz general responsavel pela seguranca na regiao 123 Viu como o bandido l O cara sentado a menina gordinha minha sobrinha sobrinha da minha esposa Ele o marido da minha cunhada n o faz nada pra ningu m Aquele garoto um milagre ele tomou um tiro de fuzil na cabe a tomou um tiro no bra o Antes tu via o moleque com fuzil desde tamanho Eu falei pra tu essa a a boca do Santa Marta Pra tu v tu vai querer comprar alguma coisa ali tu vai pedir o garoto O garoto vai mandar tu esperar ele vai sumir no beco daqui a pouco ele volta Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos O novo formato de venda de drogas reduz consideravelmente o risco envolvido nessa pr tica uma vez que n o implica o porte de armas ou o conflito com grupos rivais e com a pol cia Os nicos tipos de viol ncia relatados foram persegui
178. do morro porque foram amea ados de morte por traficantes locais O car ter limitado dessa seguran a pelo reconhecimento n o reduzia sua import ncia uma vez que esta havia se tornado juntamente com a exist ncia de f em Deus uma das poucas fontes de seguran a psicol gica a que os moradores tinham acesso Assim a condi o de morador de familiar ou amigo de um morador foi incorporada aos c digos locais e se tornou um argumento utilizado por moradores para se proteger das a es do tr fico Assim alguns moradores adotaram pr ticas cotidianas baseadas nessa ideia Como exemplifica Alessandro Mas tinha aquela velha pr tica que toda vez que eu ia levar algu m l eu fazia quest o de passar na boca quando n o conheciam iai esse aqui amigo t dava uma apresentada n o tranquilo t com o Ale pode subir porque as vezes dif cil porque as vezes tu t com uma pessoa e o cara cisma Como aconteceu com meu tio Levou o pessoal aqui da rua chegou l n o falou nada com ningu m Os caras bateram no meu tio o pessoal aqui pensou que o pessoal era pol cia passaram mal momento o pessoal daqui tem at um que taxista o Cristiano passou mal momento apanhou de bobeira Eu n o fazia quest o de passar onde tava e falava v te mostrar onde a boca AH N o n o vou te mostrar a l apresentava esse fulano s pra pessoa olhar ah n o t com o Ale pode subir pode subir tr
179. do tal atitude a mais adequada sen o tardia j que o estigma da favela vem de longa data FRIDMAN 2008 comum que as manifesta es de moradores de favelas sejam interpretadas pela m dia e pela popula o n o favelada como apoio criminalidade Outro exemplo da exist ncia de um estigma territorial est na aceita o social da ideia de Zuenir Ventura 1994 do Rio de Janeiro como uma cidade partida Apesar da enorme dist ncia entre a realidade social das favelas e dos bairros nobres a cidade se encontra social econ mica e politicamente integrada com a favela SILVA 2008 SOUZA E SILVA 2011 VALLADARES 2005 ALVES amp EVANSON 2011 PERLMAN 1977 A maior parte dos moradores de favelas trabalha e consome fora da favela o que denota uma integra o na divis o social do trabalho GOMES 1999 PERLMAN 1977 O mesmo se pode dizer sobre a descri o das favelas como guetos tantas vezes cantada em letras de funk e rap Loic Waquant 2001 descreve o gueto como uma cidade dentro de outra um territ rio que carrega um estigma e ao mesmo tempo permite a cria o de uma identidade forte Para o autor ainda que a favela apresente essas duas caracter sticas n o constitui um gueto pois as favelas mesmo estando social e simbolicamente segregadas n o surgiram da hostilidade externa e n o se configuram como um instrumento institucional tal qual as cadeias e os campos de concentra o Embora distantes o mundo do
180. dolesc ncia IN Jornal de Pediatria 70 263 266 1994 207 MINAYO M ET AL Fala galera juventude viol ncia e cidadania no Rio de Janeiro Bras lia UNESCO Instituto Ayrton Senna Funda o Ford Funda o Osvaldo Cruz e Garamond 1999 MINAYO M amp SOUZA R Viol ncia para todos IN Cad Sa de P blica 9 65 78 1993 MINAYO M Viol ncia um Velho Novo Desafio para a Aten o Sa de IN Revista Brasileira de Educa o M dica Rio de Janeiro 29 1 2005 MINAYO M Viol ncia um problema para a sa de dos brasileiros introdu o In Souza E R Minayo M C S organizadores Impacto da viol ncia na sa de dos brasileiros Bras lia Editora do Minist rio da Sa de 2005 poss vel prevenir a viol ncia Rev C S Col 1999 4 1 7 24 15 Brasil Minist rio da Sa de Secretaria de Vigil ncia em Sa de Impacto da viol ncia na sa de dos brasileiros Bras lia Minist rio da Sa de 2005 MISSE M Mercados ilegais redes de prote o e organiza o local do crime no Rio de Janeiro Estud av 2006 online 21 61 139 157 ISSN 0103 4014 doi 10 1590 S0103 40142007000300010 MINIST RIO DA SA DE DO BRASIL XVIII Confer ncia Nacional de Sa de Relat rio Final Bras lia Minist rio da Sa de 1986 MINIST RIO DA SAUDE DO BRASIL A Promo o da Sa de Carta de Ottawa Declara o de Adelaide Declara o de Sundsvall Declara o de Bogot Bras lia 1996 ENSP Comiss o
181. dos Tem uma frase l que t escrito que o rapaz escreveu pode at pacificar mas a volta vai ser triste Entendeu O rapaz que escreveu chamei ele e conversei tu tem essa mentalidade Tu t vivendo cara Tu pode t vendendo a e vivendo cara mas n o n o Eu cara tu t vivendo pensa Marcelo tu t vivendo De repente se n o tivesse a UPP tu j tava morto Mas mas Mas o que Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Todos os entrevistados afirmaram ter amigos ou familiares envolvidos com o tr fico de drogas Entretanto Alessandro 34 anos foi o nico dos entrevistados que incluiu diretamente a qualidade de vida dos traficantes na sua avalia o sobre a UPP indicando que a vida de seus amigos e de um familiar moradores e traficantes melhorou porque estes correm menos risco de vida Um de seus amigos est trabalhando durante o dia em uma farm cia e traficando a noite Fabiane 34 anos informou que dois primos que trabalhavam na boca come aram a trabalhar na constru o civil Os demais entrevistados preferiram n o relatar a situa o e localiza o de seus familiares envolvidos com o tr fico 125 O tr fico de drogas apesar de seu car ter ilegal era uma fonte de trabalho e renda ambos importantes Determinantes Sociais da Sa de A informalidade dessa atividade a aus ncia de direitos trabalhistas e o alto risco de vida envolv
182. dos de seus atos Diversos estudos apontam uma correla o entre a exist ncia de seguran a psicol gica e a criatividade KARK amp CARMELI 2009 EGGERS 2011 O conceito de seguran a psicol gica predominantemente usado no campo da psicologia organizacional e em terapias de grupos visando a maximizar o potencial interacional do grupo Entretanto esse conceito pode ser aplicado na leitura de processos sociais em diferentes tipos de comunidade EGGERS 2011 Rogers 1961 defende ainda a ideia de que a seguran a psicol gica uma condi o necess ria para o desenvolvimento do sujeito que se encontra em terapia 70 Um ambiente que ofere a condi es para que o sujeito se sinta seguro ir gerar condi es de sa de psicol gica e f sica uma vez que o sujeito ser capaz de se expressar sem que isso envolva estresse continuo A seguran a psicol gica aumenta a capacidade de concentra o e favorece a busca por ajuda em situa o de risco Em um grupo social importante que os lideres sejam capazes de agir de forma transparente para que os demais membros do grupo possam se sentir seguros para expor suas vulnerabilidades ainda que n o saibam o que ir acontecer Dessa maneira existir confian a para que ocorra uma troca saud vel de informa o entre os membros do grupo o que pode levar resolu o de conflitos e ao desenvolvimento do grupo EGGER 2011 EDMONDSON 2004 VOGELGESANG 2007 O que se observa em
183. dos nas favelas com UPP em especial na favela Santa Marta CANO 2012 devem ser consideradas tamb m em termos de sa de psicol gica e f sica por diminuir a exposi o a eventos de viol ncia interpessoal A redu o da viol ncia associada s UPPs estaria alcan ando dessa forma um dos objetivos da Pol tica Nacional de Promo o da Sa de a preven o de fatores determinantes e ou condicionantes de doen as e agravos sa de 78 79 Cap tulo 3 O estudo etnogr fico O olhar dos moradores do Santa Marta sobre a sua vida O trabalho de campo da pesquisa etnogr fica foi realizado no Rio de Janeiro no per odo de junho a agosto de 2012 A escolha do m todo etnogr fico empregado nesta disserta o se deve tentativa de abordar a cultura na sua pluralidade de dimens es analisando tamb m o aspecto simb lico elemento organizador das redes de significados que informam a vida dos indiv duos o que permitiria alcan ar a vis o dos moradores sobre a pr pria qualidade de vida GEERTZ 1989 Essa escolha se deve tamb m ao car ter subjetivo e dif cil operacionaliza o dos conceitos de qualidade de vida e viol ncia O conceito de qualidade de vida uma constru o s cio hist rica subjetiva MINAYO 2000 A Organiza o Mundial da Sa de OMS 1986 conceituou a qualidade de vida como a percep o do indiv duo de sua posi o na vida no contexto da cultura e do sistema de valores em que vive e em rel
184. e 100 policiais A UPP tem como principio a ocupa o permanente do territ rio que ocorre atrav s de rondas e da presen a de uma unidade fixa de policiamento conhecida como sede da UPP Al m da sede outros pequenos postos de policiamento s o estabelecidos ao longo da favela A repercuss o do programa atraiu autoridades artistas internacionais e turistas que visitam o Santa Marta desde o lan amento do programa CANO 2012 FLEURY 2012 MELLO amp CUNHA 2011 A UPP Santa Marta como o projeto nomeado pelo Governo do Estado teve tr s comandantes at junho de 2013 A primeira Comandante da UPP Santa Marta foi a Capit Priscila Azevedo conhecida por estabelecer uma rela o de proximidade com os 48 moradores FLEURY 2012 A Capit Priscila deixou o comando da UPP em mar o de 2011 para assumir um cargo na coordenadoria das UPPs MELLO amp CUNHA 2011 O Capit o Rodrigo Andrada assumiu o comando da UPP at o final de 2011 At Junho de 2013 a UPP Santa Marta estava sob o comando do Tenente Gabriel Cavalcanti As primeiras mudan as na estrutura da favela Santa Marta foram a regulariza o dos servi os de luz gua e TV a cabo al m da disponibiliza o de uma rede de internet sem fio gratuita Como parte do processo de regulariza o do fornecimento de luz a Light nomeou os becos e vielas e numerou as resid ncias a fim de que fosse poss vel entregar as contas em cada casa Como estrat gia de marketing 81
185. e de ambiente social mais extenso t m implica es diretas e constantes na sa de Os indiv duos n o s o afetados da mesma forma pelas condi es ambientais ainda assim n o se pode reduzir os efeitos do ambiente na sa de a caracter sticas individuais TAYLOR amp REPPETTI 1997 Viver em vizinhan as com altos n veis de estresse tem sido associado a maior incid ncias de casos de hipertens o HARBURG ET AL 1973 Essa correla o entre caracter sticas de uma vizinhan a e a sa de de seus moradores levou operacionaliza o do conceito de vizinhan as com altos n veis de estresse Estas s o caracterizadas como locais com baixo desenvolvimento socioecon mico alta densidade populacional e n veis elevados de criminalidade e estresse HARBURG ET AL 1973 Taylor amp Reppetti 1997 definem ambiente saud vel como aquele que fornece seguran a e oportunidade para a integra o social Dessa forma o ambiente que n o saud vel n o oferece seguran a e impede as rela es sociais em diferentes n veis Seguran a psicol gica a percep o subjetiva do risco interpessoal envolvido em uma decis o e ou situa o Um indiv duo que se sente seguro psicologicamente capaz de agir em seu grupo social sem que isso gere n veis elevados de estresse Teoricamente o ato de tomar uma decis o cotidiana n o deveria infringir medo ou estresse ao sujeito pois este conheceria seu grupo social e seria capaz de prever os resulta
186. e e a paternidade se tornavam uma experi ncia de sofrimento onde pais limitados por sua condi o econ mica pressionados pelos desejos e necessidades dos filhos e amedrontados com o poder do tr fico criavam estrat gias para tentar evitar que o pior acontecesse DACACH 2008 Os moradores entrevistados cujos filhos ainda est o sobre seus cuidado acreditam que ficou mais f cil criar filhos no Santa Marta ap s a instala o da UPP Enfatizam o al vio de poder deixar crian as e adolescentes andando livremente pelo morro sem ter 107 que se preocupar com a possibilidade de sofrer uma bala perdida ou de que sejam assediados A UPP relatada pelos pais como fonte de tranquilidade porque representa o fim dos tiroteios das guerras entre fac es e das incurs es policiais Al m disso ao impedir o dom nio territorial exercido pelo tr fico e ser representada como uma vit ria da pol cia pela m dia a UPP desarticula parte do status social atrelado ao pertencimento ao tr fico 4 1 3 Vida entre guerras Ao longo das entrevistas os moradores caracterizaram fatos da vida cotidiana como experi ncias que geravam risco e medo por exemplo buscar os filhos na escola apresentar o namorado fam lia ir para o trabalho O momento de maior tens o era a troca de fac es chamadas de invas o que inclu am dias de confronto e a expuls o de fam lias ligadas fac o expulsa O segundo momento mais te
187. e e concentrem a es sobre a tem tica da viol ncia necess rio desenvolver projetos espec ficos de abordagem e tratamento dos moradores de favelas que sofrem com quadros de trauma e TEPT provocados pela viol ncia As raz es que geram uma diminui o nos n veis de seguran a psicol gica dos moradores tamb m sofreram altera es ap s a instala o da UPP S o hoje a perman ncia do tr fico de drogas as trocas dos policiais da UPP a aus ncia do sistema de puni es do tr fico para crimes comuns a presen a de sintomas de TEPT a falta de garantias formais da perman ncia da UPP e o aumento do custo de vida A pesquisa demonstrou que a percep o de seguran a dos moradores vai muito al m da presen a ou aus ncia de viol ncia f sica Destacam em sua avalia o aspectos psicol gicos como estresse e sociais como o preconceito Da mesma forma o que estes entendem por viol ncia mais abrangente do que a resultante dos crimes inclui principalmente a rela o de submiss o ao tr fico a desconfian a na atua o da pol cia e as a es discriminat rias Os moradores entrevistados retratam a viol ncia como um cen rio em que est o dominados pelo tr fico de drogas e se sentem abandonados pelo 192 Estado atrav s da aus ncia de investimentos na favela e da postura agressiva e discriminat ria da pol cia e rejeitados pela sociedade Por essa raz o quando reconhecem a volta do tr fico de drogas ap
188. e em profundidade com moradores da favela Santa Marta Para tal foi utilizado o roteiro de entrevista que se encontra anexo a esta disserta o As entrevistas foram gravadas transcritas codificadas e analisadas com o aux lio do programa ATLAS TI Devido ao car ter atual das UPPs foi usada como t cnica de pesquisa a consulta ao que Vasconcelos 2002 define como recursos e fontes prim rias todo material que n o recebeu um tratamento anal tico e que geralmente constitu do pelos registros cotidianos e regulares nas organiza es e vida pessoal grupal e social dos indiv duos Assim foi empregado material oriundo de diferentes m dias jornais blogs de moradores de favelas sites oficiais do Governo do Estado do Rio de Janeiro e sites de organiza es n o governamentais para tomar conhecimento de fatos ligados instala o das UPPs nas favelas A an lise das fontes prim rias foi fundamental para a compreens o dos objetivos da UPP das atividades promovidas pelas UPP das ocorr ncias envolvendo os pol cias e moradores de favelas com UPPs e da repercuss o e reprodu o do projeto das UPPs 81 3 1 Cuidados ticos Os dados coletados na pesquisa s o informa es que podem comprometer a seguran a dos participantes uma vez que estes relatam testemunhos de crimes e abuso policial al m de sua opini o em rela o ao tr fico de drogas e UPP Por esse motivo foram tomados os seguintes cuidados ticos a
189. e mim em casa sem saber o que tava acontecendo com eles Quando chegava que tinha c n o sabia como meu cora o parecia que ia sair pela boca Eu pensava que tinha que subir pra casa Meu cora o parecia que ia sair por aqui Tenho pavor de arma Aquelas arma grande Era pavoroso Era horroroso C imagina o mapa do inferno Parou Tiro voc n o ouve mesmo Rola um t xico Pode at rolar Mas tiro a gente num ouve n o Menina eu tava com o sistema nervoso Eu acho que eu num chegaria nem a idade que eu t Eu tremia tanto tanto tanto que se num tinha n go acabava botando voc com tanto medo eu entrava em p nico verdadeiro p nico Jurema 65 anos dona de casa dois filhos Jurema 65 anos afirma que depois de dois anos do fim dos tiroteios come ou a passar mais tempo na rua e caminhar pela escadaria onde foi baleada Relata tamb m que n o faz mais uso de calmantes Diversos estudos apontam que a reincid ncia de eventos traum ticos de mesma natureza ou que carregam aspectos semelhantes ao evento original tem liga o com a cronicidade do Transtorno de Estresse P s Traum tico O contr rio tamb m verdadeiro na aus ncia de eventos da mesma natureza os sujeitos que sofrem de TEPT tendem apresentar melhoras na intensidade dos sintomas WIRTZ amp HARRELL 1987 Apesar de apresentar uma melhora significativa Jurema 65 anos ainda tem epis dios de perda de mem ria de fala confusa e de tremores quando
190. e ordem social da Sociabilidade Violenta foi utilizado nesta disserta o por sua instrumentalidade em dar conta do quadro relatado pelos entrevistados comparativamente abordagem do tr fico de drogas como um tipo de viol ncia urbana originada do ato de infringir a lei O conceito de Sociabilidade Violenta implica uma nova compreens o de quais seriam as caracter sticas de uma pol tica de seguran a p blica eficiente A esta n o bastaria combater o crime deveria tamb m remover as condi es para que os traficantes enquanto portadores dessa ordem social utilizem a for a e estabele am a rela o de domina o sobre os moradores 188 Para analisar os efeitos da viol ncia estrutural na sa de dos moradores entrevistados o paradigma de Determinantes Sociais da Sa de foi utilizado como orienta o te rica Esta disserta o prop s assim uma an lise da UPP sob a tica do paradigma da Promo o da Sa de a qual evidenciou o car ter fundamental das a es intersetoriais na promo o de condi es para a sa de dos moradores Dessa forma a programa UPP Social anexado ao projeto das UPPs com o intuito de concentrar a es intersetoriais das tr s esferas de governo nas reas atendidas por UPPs foi considerado de extrema relev ncia As UPP s t m entre seus objetivos devolver popula o local a paz e a tranquilidade p blicas necess rias ao exerc cio da cidadania plena que garanta o desenvolvimento tan
191. e uma s rie de medidas preventivas como conhecer os intermediadores do contato que nomes sejam ocultados na publica o e que as conversas sejam feitas em local de sua escolha Os efeitos da instala o da UPP na qualidade de vida dos moradores variaram de acordo com o perfil de cada um deles Quem mora na parte alta do morro vivenciou a maior especula o imobili ria Por ser esta a regi o que mais sofria com a viol ncia foi tamb m a que apresentou maior valoriza o dos im veis Os idosos apontaram um 195 incremento em suas atividades de lazer por conta da seguran a dos espa os comuns da favela Os moradores que vivem em casas alugadas foram os que mais sofreram com o impacto das novas tarifas de gua e luz no or amento dom stico Os mais jovens fazem parte de um grupo que visto com desconfian a pelos policiais por isso sofrem mais revistas tamb m esse grupo que teve suas op es de lazer reduzidas pelas limita es do comando da UPP aos bailes e festas Os moradores que se identificam como funkeiros ou participantes do movimento Hip Hop fazem parte de um grupo que visto com desconfian a pelos policiais o que os torna alvo da maior parte das revistas policiais Em comum nenhum dos entrevistados vislumbra a possibilidade de que a favela possa ficar simultaneamente sem a UPP e sem dom nio do tr fico Para eles o fim da UPP significa necessariamente a retomada do dom nio de uma fac o criminosa e a vo
192. e utilizem do termo comunidade Outro marco na utiliza o do termo comunidade adv m da presen a da igreja cat lica nas favelas o sentido de comunidade de base se difundiu como inst ncia de comunh o dos diferentes atrav s dos valores morais BIRMAN 2008 VALLADARES 2005 Atualmente a lei complementar n 111 de 01 02 2011 Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustent vel do Munic pio do Rio de Janeiro estabelece no artigo 234 as seguintes defini es de favela e comunidades urbanizadas Favela rea predominantemente habitacional caracterizada por ocupa o clandestina e de baixa renda precariedade da infraestrutura urbana e de servi os p blicos vias estreitas e alinhamento irregular aus ncia de parcelamento formal e v nculos de propriedade e constru es n o licenciadas em desacordo com os padr es legais vigentes Comunidade Urbanizada aquela que tenha sido objeto de programas de urbaniza o integrada tais como Favela Bairro PROAP Bairrinho Programa de Acelera o do Crescimento PAC e outros similares cujo projeto tenha garantido a implanta o de infraestrutura b sica equipamentos p blicos e n veis de acessibilidade satisfat rios ou que por esfor o pr prio de seus moradores e a es p blicas diversas ao longo do tempo conseguiu alcan ar uma situa o bastante satisfat ria de urbaniza o Sistema de assentamentos de baixa renda SABREN Instituto Pereira Passos dispon vel
193. eber beber beber N o tem com quem brigar Briga um com o outro entendeu N s somos amigos Vamo brigar rapidinho Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos os policiais n o gosta de briga aqui dentro do morro Eles pararam at de fazer por causa da briga Agora eles voltaram mas j t come ando a brigaiada de novo os pessoal bebe a um fica jogando piada pra outro rival aqui rival ali A vai cantando uns funk a vai falando sabe A tem gente que n o gosta a parte pra porrada Nunca briguei assim em baile quando eu vou com ele quando eu vou com ela ou com as minhas irm eu venho embora sen o fico na minha m e mesmo Eu n o brigo n o As vezes a gente sai at de perto as pessoas discutindo a gente sai at de perto porque a gente vai pra se divertir As pessoas quer brigar por isso que s vezes n o tava tendo mais nada aqui no morro por aqui s em baile mesmo que tem briga S no baile quando pagode n o tem briga quando forr aqui na birosca n o tem briga S em baile porque canta esses funk assim porque antigamente esses funk da minha poca de baile era timo N o falava um palavr o N o falava nada Agora esses a agora fala tudo que tem que falar Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos Alessandro 34 anos e Fabiane 34 anos narram eventos de briga que acontecem em virtude do abuso de lcool e da exist ncia de rivalidades Ambos chamam aten
194. eceeeeeeessseeeeeceeeeeseeetees 82 3 2 1 As etapas da PESQUISA wi2csiucecdscssstsdyscncdacecebsasayadnsanascebcaadvaiveds necabcondyesssvansastedes 82 Di 2d ADSM CW ISL AMOS RR RR RR RS RR Aa E Enasi 84 J2 Ne COMUNICADO Corais SR ie a ck ees ne 88 Capitulo eee EE lac eased ve aa ieee ani Re ane A eh ass ck ities as ae 94 Qualidade de vida na favela Santa Marta eee eeessscccceceeeeeseesenaeeeeeeeeeeeseeeenaeeeeeeees 94 4 10D COUMMGNUG LI ANICO sssrinin iare R S R oa 97 4 1 1 O reflexo da proximidade com o tr fico na inf ncia eeeeeeeeeeeeereeeeeree 97 4 1 2 Seguran a para os pais Sassi acasos sadios b nisi tag nuibqas tada gas 103 4 1 3 Vida ntre guerras sara AD DA SD Maaass 108 4 2 Determinantes Sociais da Sa de c n er reeerarererceeeeree 119 4 2 1 E a qualidade de vida dos traficantes l o 119 4 2 2 Efeitos da UPP nos hist ricos de sa de dos moradores 126 4 2 3 Efeitos do turismo na percep o do estigma territorial 131 4 2 4 Os movimentos sociais e a participa o social no Santa Marta 134 4 2 5 Os dois lados da regulariza o dos servi os sseccecceeeeeeeeeetteeeeeeeeeeeeees 141 4 2 5 1 Saneamento b sico e coleta de lixo iria 146 4 2 6 Novas possibilidades se 04s ssicneaiogdgatiaaansnesesadagedassaanedesacenesantegeaaanaaes se cagaaada 149 4 2 1 As transforma es nas
195. edo mas uma faca de dois gumes Mas com a UPP o peso a favor Tem isso se voc vai derrubar uma casa alguma coisa vai ficar Ah vai derrubar Bum essa coluna ficou mas a maioria caiu mas a nica desvantagem essa Desvantagem n o que eu falo que morro com traficante tamb m tem estupro que morre estuprador em morro Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos A fala de Alessandro 34 anos indica que este n o se sente seguro de que os policiais iriam proteg lo de outras modalidades de crime uma vez que n o existem mais os castigos aplicados pelo tr fico Em alguns trechos de sua fala Alessandro 34 anos pondera que essas modalidades de crime existiam antes entretanto eram punidas com a morte o que fazia com que a pratica de crimes na favela tivesse um custo muito maior Fabiane 34 anos revela que antes os casos de roubo que aconteciam na favela eram punidos pelo tr fico com o corte de dedos ou da m o e que todos os moradores sabiam disso Os menino aqui do morro eles matava arrancaram a cabe a arrancava os dedo O menino aqui do lado ele pegou o dinheiro deles o Alessandro tava l em cima no campinho carregando material da obra A ele viu dando a machadada e arrancando esses dedo aqui do menino Ele de vez de falar que pegou o dinheiro os menino falou se voc quisesse o dinheiro voc chegava em cima da gente e perguntava voc podia me arrumar tanto que eu t precisando N
196. ei imposta pelo tr fico expondo se a retalia es O contr rio tamb m verdade Al m disso os moradores ficam no meio do confronto dos representantes ou portadores dessas duas ordens policiais e criminosos SILVA 2004 2008 A forma de participa o dos moradores na sociabilidade violenta a submiss o imposta pelo tr fico atrav s de in meras demonstra es de for a SILVA 2004 2008 especialmente torturas e crimes cru is frequente que se decapitem bandidos de outras fac es surras de pernas de tr s s o em geral usadas para repreender viciados em d vida com a boca e moradores que por algum motivo contrariaram regras do tr fico jacar s s o utilizados para torturar e dar fim a corpos O micro ondas provavelmente a t cnica de tortura mais utilizada pelo tr fico ALVES amp AVANSON 2011 consiste em colocar uma pessoa dentro de v rios pneus e atear fogo Outros castigos s o identificados como pr ticas comuns do tr fico raspar a cabe a de mulheres que infringiram alguma regra obrigar quem esteja vestindo roupas de cores Not cia do dia 04 11 2010 mostra foto da cabe a do traficante conhecido como Paraz o que havia sido jogada na avenida Edgar Romero no bairro de Madureira nas proximidades do morro do Cajueiro como forma de intimidar a fac o rival que havia invadido o morro da serrinha Dispon vel em http noticias r7 com rio de janeiro noticia
197. eitinho Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos Em uma entrevista o General Carlos Sarmento respons vel pelas tropas que ocuparam o Complexo do Alem o e o Complexo da Penha durante a implanta o das UPPs reconheceu a exist ncia em outras favelas com UPPs do com rcio de drogas nos moldes do relatado por Alessandro imposs vel acabar com o tr fico porque t m os rf os que trabalhavam para o tr fico e tamb m os rf os dependentes de drogas A gente ainda identifica um pequeno tr fico dentro das comunidades para atender esse consumo Mas n o mais um dep sito Ali n o mais a base log stica do tr fico Esse depoimento corrobora a narrativa de Alessandro 34 anos afirmando que os traficantes viciados e nesse caso traficantes viciados estariam mantendo um com rcio de pequenas dimens es para suprir o v cio As falas dos entrevistados e a observa o realizada ao longo desta pesquisa apontam que o com rcio de drogas no varejo na favela Santa Marta passou a ser realizado de forma pulverizada sem um local especifico por adolescentes que j trabalhavam nas bocas de fumo antes da UPP Estes entretanto n o portam armas n o t m um local fixo para venda da droga e evitam carregar drogas a fim de n o serem enquadrados na categoria conhecida como flagrante policial que constituiria prova de crime de tr fico de drogas Dessa forma as pessoas interessadas em comprar drogas se
198. eito positivo como a UPP n o foi implementada de forma intersetorial como proposta com o componente UPP social visando a atingir v rios determinantes sociais de sa de e mesmo apresentando mudan as significativas na redu o da corrup o e da viol ncia policial a atua o dos policiais da UPP ainda se baseia nas rela es pessoais Ou seja permanece a exclus o social e a viol ncia estrutural que s o fundamentais na produ o da vulnerabilidade no campo da sa de Atualmente o Brasil tem cerca de 6 de sua popula o ou seja 11 4 milh es vivendo em aglomerados subnormais categoria utilizada desde 1991 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica IBGE para definir favelas e moradias pobres O Rio de Janeiro o quinto estado em propor o de habitantes morando em favelas Cerca de 22 1 393 314 mil dos 6 milh es e 241 mil habitantes da cidade do Rio de Janeiro moram em favelas IBGE 2010 das quais cerca de 50 s o dominadas por organiza es criminosas que se dedicam ao tr fico de drogas NUPEVI 2010 O surgimento das fac es criminosas a partir da d cada de 1970 transformou a realidade das favelas cariocas que se tornaram a sede das atividades dessas organiza es e por consequ ncia da viol ncia urbana A primeira fac o criminosa o Comando Vermelho surgiu nas penitenciarias no per odo da ditadura militar quando presos comuns Para mais informa es sobre pesquisas
199. ela o aos moradores de favela e seu modo de agir ou vestir se como andar sem camisa e de chinelos ter cabelo pintado e cantar funks Nessa conjuntura a atua o policial refor a o estigma associado aos favelados ao inv s de contribuir para ameniz lo Apenas um dos entrevistados fez refer ncia a uma no o de direito quando falou de sua rela o com os policiais Come amo a v muita pol cia mas depois come ou aquela rotina de pol cia subindo e descendo subindo e descendo subindo e descendo e o cara falando que tudo ia ser com mandato Tudo vai ser com mandato Se tiver n o abra se n o tiver Eles come aram eles mesmo a ensinar como dever amos nos comportar que ia pedir autoriza o Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Alessandro 34 anos se refere s instru es que os moradores receberam durante as reuni es com os comandantes da UPP de que os policiais n o tinha autoriza o para invadir as casas e que tudo seria feito dentro da lei Entretanto Evanir 67 anos afirma ter presenciado policiais da UPP invadindo casas sem autoriza o dos moradores e Vivian 23 anos se diz insegura diante da possibilidade dos policiais tratarem seu sobrinho como bandido apenas por sua apar ncia ou idade Eu por exemplo tenho um pouco de receio por causa do meu sobrinho se acontecer alguma coisa dentro da comunidade de alguns garotos mexer com a UPP e meu sobrinho t passando na ho
200. elos policiais ent o com a poca atual sobre Comando do Tenente Gabriel Cavalcante identificada pelos moradores como uma atua o mais desatenta dos policiais e com a volta da venda de drogas Al m disso os moradores acreditam que a troca constante de policiais atrapalha o combate ao tr fico uma vez que os policiais n o conhecem bem a favela e seus moradores Outra cr tica relacionada postura adotada pelos policiais atualmente diz respeito aleatoriedade de suas a es Alessandro 34 anos faz refer ncia em sua fala a um determinado plant o ou seja a um grupo de policiais que s o escalados para trabalhar juntos em determinados dias e que diante de uma brincadeira de alguns moradores teriam come ado a agir de forma autorit ria Um certo plant o que os cara l do morro chama ele de o plant o do vai mamar o bonde A o que acontece se tu tiver a infelicidade de cantar essa m sica na hora que eles tiver passando vai ter problema Vai mamar o bonde vai mamar o bonde CANTA Esses funk doido E isso acontece e 176 chega a ser engra ado e eu nem sabia disso Quando eu fui na festa l tava tocando essa m sica Os cara chegaram e acabaram com a festa Acabou a festa a eu por que A o cara falou n o porque o apelido dele vai mamar o bonde Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos A situa o narrada por Alessandro 34 anos em que um po
201. em mim Eu sei que minha irm mandou chamar a m e do cara A ela chegou l Veio irm dele Veio todo mundo A pediu pra aliviar num matar A ele mandou d uma surra e expulsar ele Eu j tava era doida jogada l no ch o chorando agarrada no meu filho e ele falando pra eu n o deixar ele morrer Meu Deus muito sofrimento nem sei como eu ainda t viva Jurema 65 ano dona de casa 2 filhos Jurema 65 anos experimentou o que os outros entrevistados mais temiam sofreu ao assistir o filho se tornar usu rio de drogas e ser amea ado de morte Casos como o de Jurema 65 anos funcionavam para seus vizinhos como um alerta do que poderia acontecer Assim como para ela ouvir uma amiga narrando a morte do filho pelo tr fico servia de alerta e tormento do que poderia acontecer com seu filho O medo de n o conseguir evitar que o filho se envolvesse com o tr fico de drogas protagonizava a experi ncia de maternidade Em um segundo momento consumada o ingresso dos filhos nas fac es o temor era o de que isso levasse morte Eu conheci uma vez uma amiga que morava ali n l embaixo na rua e ela me disse mataram meu filho ali onde voc mora Sabe e eu vendo a l grima da minha amiga descer Eu chega me arrepiei todinha Falei meu Deus tenha miseric rdia Eu senti como se fosse no lugar dela Ela chorando e falando meu unico filho Jurema 65 anos dona de casa 2 filhos Nesse cen rio a maternidad
202. em um territ rio estigmatizado e de conviver com grupos criminosos merecem o mesmo acesso cidadania que os demais moradores da cidade O exerc cio dessa limpeza simb lica n o garante que o sujeito vai estar livre de sofrer a es discriminat rias baseadas na exist ncia de um estigma territorial Essas a es geram um sentimento de desvaloriza o e humilha o que equivale a uma viol ncia simb lica uma vez que desqualifica o sujeito e seus c digos sociais e culturais Apesar do car ter p blico da maior parte das a es discriminat rias que em geral ocorrem em institui es como a escola os indiv duos afetados raramente exp em seus sentimentos Dessa forma a percep o do pr prio estigma torna se uma experi ncia de sofrimento solit rio CARRETEITO 2003 Os efeitos do estigma sobre a sa de e a qualidade de vida dos moradores de favelas s o incalcul veis n o apenas pelo sil ncio das v timas mas tamb m por ser dif cil comprovar as a es discriminat rias Estas v o desde vagas de trabalho negadas at a aus ncia de m dicos nos postos localizados dentro de favelas CARRETEIRO 2003 O estigma se constitui assim como mediador da produ o e conserva o das desigualdades sociais uma vez que este tem como um de seus efeitos o apoio a a es discriminat rias aos moradores de favelas como o uso de caveir es apenas nessas regi es Ao mesmo 68 tempo o estigma desqualifica as demandas e cr
203. enef cios dessa pol tica Maria da Gl ria Gohn 2004 define os movimentos sociais como Ja es s ciopol ticas constru das por atores sociais coletivos pertencentes a diferentes classes e camadas sociais articuladas em certos cen rios da 136 conjuntura socioecon mica e pol tica de um pa s criando um campo pol tico de for a social na sociedade civil Os movimentos geram uma s rie de inova es nas esferas p blicas estatal e n o estatal e privada participam direta ou indiretamente da luta pol tica de um pa s e contribuem para o desenvolvimento ou transforma o da sociedade civil e pol tica Gohn 2004 251 Diante dessa defini o de movimentos sociais deve se ressaltar que a participa o social importante em dois n veis em primeiro lugar por representar uma forma de reivindicar e conseguir investimentos para as comunidades populares em segundo ao constituir uma forma de exerc cio da condi o de cidad o de direitos assegurando consequentemente a representatividade de diversos atores sociais no cen rio pol tico do pa s Estrada 2006 Os moradores entrevistados se referiam aos movimentos sociais como se estes fossem fontes de recursos principalmente de atividades educacionais cursos profissionalizantes e de atividades de lazer Cursos profissionalizante depois que a UPP veio temos curso de mec nico el trica cabelereiro tudo Aqui no p do morro curso de cozinha
204. ente os objetivos de uma pol tica de seguran a p blica eficiente que seriam n o s o combate ao crime mas tamb m a desarticula o dos princ pios que sustentam a domina o imposta por essa nova ordem social Para entender a complexidade dos efeitos da instala o de uma pol tica de policiamento permanente sobre a sa de dos moradores importante conhecer o hist rico das pol ticas de seguran a p blica do Estado do Rio de Janeiro em favelas Este demonstra que as poucas iniciativas baseadas em estrat gias preventivas de policiamento comunit rio obtiveram xito Foram por m descontinuadas por quest es pol ticas Paralelamente diversos autores BEATO FILHO 1999 CANO 2006 COSTA 2004 SOARES 2012 apontam a inefic cia das pol ticas de seguran a p blica repressivas baseadas em incurs es pontuais e agressivas nas favelas Destacam ainda elevados n veis de corrup o e viol ncia na atua o policial Nesse contexto as UPPs se constituem como a pol tica de seguran a p blica de car ter preventivo com maior dura o sucesso e extens o j implementada na hist ria do Estado do Rio de Janeiro Considerando a expectativa de que a pol tica das UPPs seja mantida e o hist rico de a es violentas e corruptas por parte da for a policial fundamental avaliar os efeitos da conviv ncia constante com os policiais na rotina dos moradores assim como nos seus n veis de seguran a Observamos para isso diver
205. entrevista porque sabia que eu tinha uma posi o muito diferente muito liberal na quest o disso do que eu achava da comunidade Eu achava que tinha que ter interven o do 116 poder p blico mesmo e eu declarava isso nas reuni es a a pessoas falou porque eles precisava de um a Globo de uma posi o diferente Mas naquele momento acho que eu nunca tinha falado na televis o nunca tinha dado entrevista acho que eu fiquei muito empolgado A veio a Globo o RJ veio entrevistar A perguntou o que achava da ocupa o A eu falei Acho bom acho que tem que ter essa ocupa o ocupa o social n o s da pol cia tem que continuar Olha eu fui o unico que dei essa declara o mas caiu a ficha s quando eles foram embora Falei caramba A eu entrei dentro de casa falei que loucura que doidera que eu fiz acabou com a minha fam lia acabei com meu minist rio acabei com tudo A tinha um companheiro meu aqui comecei a chorar falei caramba acabou tudo Falei meu Deus do c u essa entrevista n o pode sair no RJ Sabe um torcedor querendo que o time fa a um gol Eu fiquei que o meu time que n o pudesse tava acreditando que aquela entrevista n o ia d certo n o n o vai sair meu nome Deus me ajuda Olha aquele dia Deus n o ouviu minha ora o A todo mundo tamo aqui na comunidade Santa Marta a primeira ocupa o na zona sul Acho que foi 98 n a tal vamos ouvir agora
206. eri ncias extremamente violentas Alessandro 34 anos assistiu quando crian a pessoas sendo torturadas e assassinadas no mesmo espa o que dispunha para brincar com os amigos Essa situa o de proximidade com a viol ncia tornava uma brincadeira de crian a em uma mem ria com grande potencial traum tico P e em cima um monte de madeira uns pneu micro ondas triste demais triste de ver e eu cresci com isso A maioria dos moleques cresce com isso Ou ent o t l o cad ver l em cima A gente ia v Ficava dando paulada no cad ver Essa era a nossa brincadeira Ah foi pegar a pipa olhou pra baixo pra pegar a pipa o cara morto Primeiro aquele choque Ah a ficava olhando olhava a ia l via que o cara tava com um t nis no p opa rolou um t nis Rolava um t nis a a bermuda m e lava pra mim que eu ganhei A minha m e lavou nem sabia Eu j fiz muito isso a realidade meus pais era viciado n o comprava pra mim Quando os cara n o tirava os t nis eu pegava brincava de ficar dando paulada brincava de ficar achando ossada ficar jogando bola com ossada Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos A gente cresceu assim a quando come a a dar um tiroteio eu j fico com medo porque desde pequeno que a gente fica vendo isso troca de tiro com pol cia ali por cima era muito escuro a via assim era porco comendo ia 97 matando e deixando os porco comia os corpos por ai Fa
207. es das casas em dire o s vielas e becos O sistema ainda tem alcance insuficiente e comum encontrar pontos de ilumina o com l mpadas queimadas e regi es sem nenhum ponto instalado As obras de urbaniza o realizadas na favela alargaram e pavimentaram algumas vielas entretanto faltam ainda corrim es em trechos ngremes e em alguns desn veis Uma grande escadaria que fica na lateral do morro a muitos metros de altura est sem grade de prote o em diversos trechos A rede de esgoto incompleta encontra se aberta em v rios pontos que s o chamadas pelos moradores de valas fazendo com que a gua da chuva se misture com o esgoto gerando mau cheiro e vazamentos Existe ainda um problema com o lixo os funcion rios da empresa de limpeza urbana Comlurb fazem a limpeza das ruas mas n o recolhem o lixo dom stico diretamente nas casas Os moradores precisam caminhar com o lixo at lixeiras instaladas ao longo da favela Dependendo do local esse percurso pode ser longo e poss vel perceber que parte das sacolas de lixo dom stico jogada nas valas de esgoto o que gera um problema de infesta o de ratos e baratas Essa descri o visava a respaldar a an lise dos resultados da pesquisa de campo ao expor diferentes aspectos ambientais da vida na favela Santa Marta Destacam se entre as informa es reunidas a infraestrutura local a diferen a entre o com rcio dispon vel na parte alta e baixa do mor
208. es n o pode descer mas agora agora t podendo subir sobe direto e ningu m fala nada n o Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos 132 A entrada de turista n o era limitada apenas em raz o do estigma territorial e do preconceito em rela o aos moradores existia outro impedimento o dom nio territorial exercido pelo tr fico importante ressaltar que a entrada de turista motivo de orgulho para os moradores s poss vel porque o dom nio territorial por parte do tr fico n o existi mais O fim desse obst culo ao livre acesso de pessoas ao morro parece alimentar um ciclo onde cada visitante ou entrega realizada ajuda a diminuir o estigma que por sua vez faz os moradores se sentirem menos discriminados A presen a dos turistas e o livre acesso de n o moradores parece funcionar como um indicativo da credibilidade da UPP como sugere a fala de Fabiane 34 anos Segundo ela sua percep o sobre a continuidade da UPP mudou depois que passou a ver a entrada de n o moradores no Santa Marta Eu acreditava que ela n o ia durar muito ai a come ou a mudar veio muita gente ai turista antes n o vinha n o vinha turista n o vinha muita coisa assim esses pessoal a pra vender vassoura cloro essas coisa assim apareceu um monte de gente a pra vender as coisa Mas a eu vi que vai durar bastante Antes eles ficava com medo porque assim eles n o vinha de outro morro assim eles meio que implicava um pou
209. esse em participar Diante da afirmativa de um dos moradores seu contato telef nico foi entregue pesquisadora Esse morador foi anfitri o da pesquisadora no Santa Marta foi o primeiro entrevistado e indicou o segundo entrevistado Sucessivamente cada entrevistado apresentou outros moradores para participar das entrevistas Foram empregados intermediadores porque ao longo do trabalho de campo os moradores se recusavam a falar sobre a UPP com uma pesquisadora desconhecida 82 A sele o dos entrevistados respeitou os seguintes crit rios O primeiro foi a defini o de tr s faixas et rias jovens 18 24 anos adultos 24 60 anos e idosos a partir de 60 anos Foram entrevistados um homem e uma mulher de cada faixa et ria a fim de contemplar as perspectivas de ambos os g neros e diversas gera es sobre a qualidade de vida local O terceiro crit rio estabelecido foi entrevistar moradores que s o crias da favela ou seja que morem nessa comunidade desde que nasceram Essa escolha se deve ao v nculo identit rio desenvolvido com a comunidade e ao fato dessa categoria de moradores ter passado todo o tempo de suas vidas naquele territ rio assim sua percep o sobre a pr pria qualidade de vida estaria ligada s mudan as que aquele territ rio sofreu ao longo do tempo O quarto crit rio utilizado foi aus ncia de v nculos pol ticos e ou partid rios Esse crit rio se faz necess rio por serem as UPPs uma das p
210. estionada sobre a interfer ncia dos traficantes nas agress es afirma que por seu marido ter envolvimento com o tr fico os outros n o interferiam na rela o deles Quando chegou eu tava lavando roupa ali no tanque que ficava ali atr s O vizinho aqui parou pra conversar Quando ele viu eu rindo j veio pra cima do vizinho deu um pux o no meu cabelo me botou pra dentro de casa As crian a chorava Ele vira bicho A eu tenho uma colega aqui de cima que a filha dela estuda com a minha mais velha Ela ouviu os grito Foi e ligou l na UPP A eles vieram aqui comecei a passar mal achei que ele ia enfrentar eles O policial entrou aqui Falou que n o podia mais bater em mulher no 180 morro Pegou a arma e ele gritando que aqui n o entrava Eu desmaiei chamaram l minha m e A eles perguntou se eu queria que ele sa sse e eu falei pra ele que queria mas depois disso n s separou Ele foi l pra cima Gra as a Deus t uma ben o Antes vivia um inferno aqui esses rem dio tudinho a foi ele Foi perturba o na minha cabe a Era tipo que nem uma perturba o que fazia ele assim Agora gra as a Deus que isso acabou Tem vez que ele briga mas n o bate mais n o Depois da UPP teve s essa vez que a pol cia entrou aqui Foi s depois disso a que eu tive paz porque o pol cia falou se bater vai pra cadeia na hora Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos As mulheres ocupam uma posi o
211. eu patr o que no meu primeiro dia de trabalho cheguei atrasado Ai esquiva daqui esquiva dali desce com calma direitinho cheguei antes das oito Vin cius 24 anos desempregado 1 filho Os moradores entrevistados do sexo masculino relatam que eram constantemente tratados como suspeitos pela pol cia circunst ncia ainda mais frequente caso o indiv duo tivesse algum tipo de v cio em drogas ou familiares com envolvimento com o tr fico Al m disso os moradores precisavam agir com cautela a fim de evitar que os traficantes n o pensassem que estavam colaborando com a pol cia de alguma forma Para se defender das abordagens policiais os moradores entrevistados faziam uso de v rias estrat gias como negar ter qualquer informa o em rela o ao tr fico seguir familiares e amigos abordados pela pol cia para evitar que ficassem a s s com os policiais seguir os policiais durante as revistas s resid ncias como forma de evitar que provas fossem forjadas e deixar de realizar queixas pol cia Evitavam ainda estar no lugar errado e na hora errada Fabiane Esse cen rio impregnava de estresse a vida cotidiana Fabiane 34 anos narrou que de certa feita ao descer para trabalhar seu pai se aproximou do corpo de um traficante assassinado para ver de quem se tratava quando foi confundido pela pol cia com um membro da fac o local Seu pai foi espancando e desmaiou Alessandro 34 anos exemplifica o estado de tens o em
212. exist ncia de uma hist ria e de tra os culturais espec ficos das favelas cariocas Algumas dessas caracter sticas como a heterogeneidade presente no perfil dos moradores a diversidade religiosa social e cultural a aus ncia de unidade organizacional e a falta de objetivos em comum afastam a favela do conceito de comunidade utilizado na psicologia comunit ria Como parte singular do processo de ocupa o e urbaniza o da cidade do Rio de Janeiro a favela ainda um importante referencial identit rio Residir em uma favela representa para os moradores uma experi ncia de pertencimento que pode se tornar parte de suas identidades Por isso o uso do termo favela nesta disserta o atende a crit rios ticos como o respeito aos tra os culturais e hist ricos do grupo pesquisado atrav s dos quais visa se ao reconhecimento do papel das favelas e de seus habitantes na sociedade brasileira bem como sua preserva o Este estudo utilizar a seguintes caracter sticas para conceituar favelas Insufici ncia hist rica de investimentos do Estado e do mercado formal principalmente o imobili rio o financeiro e o de servi os Forte estigmatiza o s cio espacial especialmente inferida por moradores Apropria o social do territ rio com uso predominante para fins de moradia Ocupa o marcada pela alta densidade de habita es conjunto da cidade N veis elevados de subemprego e informalidade nas rela es de
213. ezes Quando questionada se os filhos teriam falado sobre o medo de andar pela favela a m e diz que os dois tem muitos pesadelos sobre tiroteios Os filhos da Fabiane 34 anos ficaram sozinhos em presen a de um cad ver enquanto a m e encontrava se desmaiada Certamente para uma crian a presenciar um cad ver morto de forma violenta e ainda ter de lidar com o fato de seu cuidador reagir com um desmaio representa uma carga de estresse elevada O trauma infantil tem caracter sticas especificas dentre estas uma forte liga o com as rea es do adulto cuidador Assim a possibilidade que uma crian a desenvolva um trauma maior quando esta percebe que o adulto cuidador reage ao evento com medo intenso Ampliam se as sensa es de medo e desamparo naturalmente associadas a eventos traum ticos CHARUVASTRA amp CLOITRE 2008 Crian as e adolescentes s o mais vulner veis ao desenvolvimento de TEPT em raz o da imaturidade de seu sistema cognitivo Diante de um evento traum tico as crian as contam com menos mecanismos 129 de modula o de sentimentos do que os adultos ZIEGLER ET AL 2005 BAL amp JENSEN 2007 CHARUVASTRA amp CLOITRE 2008 Os dois meninos nunca consultaram psic logos ou psiquiatras Apresentam sintomas que se encaixam no crit rio diagn stico de TEPT como comportamento de esquiva dificuldades de concentra o e pesadelos Ao contr rio do caso de Jurema 65 anos os filhos de Fabiane 34 ano
214. fico de drogas representava o segundo maior temor dos pais entrevistados Esse temor manifestava se de forma diferente para pais de meninas e de meninos No caso das meninas a preocupa o dos pais come ava quando a menina criava corpo e passava a ser cobi ada pelos adolescentes locais envolvidos com o tr fico de drogas Hoje em dia voc n o cria uma filha sabendo como aconteceu com a minha filha Minha filha com doze anos j tinha corpo Vagabundo segurando a m o dela vagabundo olhando com outro olhar Tu criava uma menina Vagabundo ia l O dono do morro ia l e dizia aquela ali minha ningu m mexe Ningu m mexia S esperava crescer iludia a menina Ah Voc vai ser a dona a primeira dama do morro A menininha nova Ah Primeira dama primeira dama Como tem o M rcio VP l uma porrada de filho Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Alessandro 34 anos explicita em sua fala que o temor dos pais n o era relacionado apenas ao ass dio dos traficantes s meninas Havia tamb m o receio de que a filha se deixasse seduzir pelo status social que um relacionamento com o chefe do tr fico local 105 representava O tr fico funcionava nesse contexto como uma fonte de benef cios simb licos e afetivos que refor avam a auto imagem dessas jovens e representava uma sensa o de poder ATHAYDE ET AL 2005 Mas claro n o tem essa preocupa o Por exemplo hoje as crian as fica
215. fine quatro etapas para a instala o da UPP I INTERVEN O T TICA Primeira etapa em que s o deflagradas a es t ticas preferencialmente pelo Batalh o de Opera es Policiais Especiais BOPE pelo Batalh o de Pol cia de Choque BPChoque e por efetivos deslocados dos CPA com o objetivo de recuperarem o controle estatal sobre 32 reas ilegalmente subjugadas por grupos criminosos ostensivamente armados II ESTABILIZA O Momento em que s o intercaladas a es de interven o t tica e a es de cerco da rea delimitada antecedendo o momento de implementa o da futura UPP III IMPLANTA O DA UPP Ocorre quando policiais militares especialmente capacitados para o exerc cio da pol cia de proximidade chegam definitivamente comunidade contemplada pelo programa de pacifica o preparando a para a chegada de outros servi os p blicos e privados que possibilitem sua reintegra o sociedade democr tica Para tanto a UPP contar com efetivo e condi es de trabalho necess rios ao adequado cumprimento de sua miss o IV AVALIA O E MONITORAMENTO Nesse momento tanto as a es de pol cia pacificadora quanto as de outros atores prestadores de servi os p blicos e privados nas comunidades contempladas com UPP passam a ser avaliados sistematicamente com foco nos objetivos sempre no intuito do aprimoramento do programa Decreto lei no 42 787 de 6 de janeiro de 2011 Di rio Oficial do Estado do Ri
216. giada Apontam ainda que o Governo deveria realizar melhorias nas resid ncias e n o retir las Entretanto nenhum morador entrevistado se envolveu na mobiliza o contra as remo es ou conhece o andamento das discuss es a respeito do tema O aumento na oferta de cursos e atividades recreativas n o gerou aumento na participa o social dos moradores entrevistados e de suas fam lias Estes apontam entretanto grande interesse em participar das decis es sobre as a es da UPP e do governo no Santa Marta especialmente sobre a aloca o de recursos e a delimita o de regras para conviv ncia di ria Os entrevistados afirmam que n o foram consultados por exemplo a respeito das obras do PAC que criaram e reformaram pra as obras que os moradores acreditam n o representar as atuais prioridades urban sticas Os moradores entrevistados gostariam que os investimentos se concentrassem na melhoria do saneamento b sico e na reforma das casas que ficam no pico do morro Um dos entrevistados afirmou ter participado de um conselho urban stico formado por ONGs e lideran as locais cuja exist ncia era desconhecida pelos demais entrevistados A falta de um mecanismo amplo de participa o dos moradores nas decis es sobre as transforma es urban sticas e de car ter regulat rio gera insatisfa o nos entrevistados que se sentem exclu dos de delibera es que afetam seu cotidiano Ocasiona igualmente um subaproveitamento dos recurs
217. gical Science 7 181 185 1996 The involving concept of subjective well being The multifaceted nature of happiness Advances in Cell Aging and Gerontogy 15 187 219 2003 DOMENACH J La violencia p 33 45 In La Violencia y sus Causas Unesco Paris 1981 EDMONDSON A Psychological Safety trust and learning in organizations A group level lens IN Trust and Distrust in Organizations Dilemmas and approaches eds R M Kramer and K S Cook pp 239 272 New York Russell Sage Foundation 2004 ENGELS F Health In N Black D Boswell A Gray S Murphy amp J Popay Eds Health and Disease pp 61 65 Milton Keynes Open University Press 1984 EGGERS J Psychological Safety Influences Relationship Behavior Research Notes 2012 ESTRADA N Caminhos para resolver a vida Significados e alternativas de participa o em uma comunidade popular da zona oeste do Rio de Janeiro Disserta o Mestrado em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social Instituto de Psicologia Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2006 FARR R The rootsf of modern social psychology 1872 1954 Orford Blackwell Publishers 1996 FARIAS J Da asfixia reflex es sobre a atua o do tr fico de drogas nas favelas cariocas In Silva L ORG Vida sob Cerco viol ncia e rotina nas favelas do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Nova Fronteira 2008 FARMER P Infections and Inequalities The Modern Plagues
218. gua e luz na constru o de uma rede de escoamento de esgoto e na implanta o da coleta de lixo Esta disserta o analisou as no tocante a seu potencial de promo o da sa de Deve se ressaltar que os moradores n o demonstraram conhecer a UPP social projeto que seria respons vel pela integra o desse tipo de a es Al m disso houve discrep ncias entre as informa es sobre a rede de saneamento b sico do Santa Marta O governo do Estado afirma ter realizado tal obra enquanto os entrevistados reclamam que o esgoto segue a c u aberto vers o esta que foi constatada ao longo das observa es participantes Esse cen rio demonstra que sem a implanta o da UPP social alguns dos mais importantes DSS n o foram alcan ados pela UPP ou seja as desigualdades produzidas pela viol ncia estrutural permanecem Por outro lado a import ncia de a es intersetoriais para a melhoria da sa de ainda que espont neas pode ser observada atrav s do turismo que segundo os entrevistados tem 95 um papel fundamental n sua percep o da seguran a local pois representaria a diminui o do estigma O conceito de Promo o da Sa de al m de prever a responsabilidade de outros setores da sociedade sobre a promo o da sa de especifica a import ncia da participa o do indiv duo e da comunidade na melhoria da pr pria sa de e prev o acesso a recursos como a informa o para promover a capacita o acerca das op es saud
219. h Se tu tinha um parente tu corria risco parente no tr fico tem que ouvir piada nem todo mundo tem sangue de barata n Alessandro 34 ano vendedor ambulante separado 3 filho Vivian 23 anos revela que foi surpreendida por uma troca de comando que aconteceu enquanto ela estava em uma festa Quando retornou o morro j era comandado por outra fac o Essa troca de comando era especialmente tensa para os moradores que tinham familiares envolvidos com alguma fac o Nas madrugadas acontecia muito da gente ficar naquela tens o toda porque a gente sabia que tava tendo invas o e nas casas ao lado os traficantes tavam batendo e tavam arrobando porque queria a pessoa que tava no outro grupo e de manh a gente sabia a not cia entrou na casa da fam lia tal Fulano n o tava Mandou a fam lia sair Isso tinha muito Teve uma poca que muitas casas ficaram vazias por conta disso Tinha muitas casas vazias por conta disso porque n o era uma coisa est vel que entrava uma fac o e ficava dois tr s anos Ficava seis meses oito meses Muitas das vezes acontecia as vezes o mais tardar um ano ficava e logo depois tinha outra ent o a fam lia que saia e depois a outra fac o quando entrava botava de volta Depois tinha que sair de novo Ent o ou era fac o de uma lado ou era de outro Sempre tinha alguma fam lia saindo e isso era a parte mais triste que eu via porque nem todas as fam lias tinham pra onde ir Nem todas as
220. hos Ao longo da observa o participante pude constatar que efetivamente foram oferecidos cursos de culin ria em pelo menos duas ocasi es diferentes no Santa Marta Essa situa o evidencia que a falta de participa o social ainda quando esta se limita participa o em um curso algo mais profundo como a aus ncia de uma cultura de participa o E como tal deve ser analisada como parte de um processo de transforma o dos movimentos sociais no Brasil e das formas de mobiliza o e participa o social preciso compreender que a trajet ria dos movimentos sociais no Brasil desde o in cio do s culo XX apesar das in meras vit rias locais como creches e nacionais como aprova o de leis sofreu uma crise na d cada de 1980 Essa Crise alterou significativamente o modus operandi dos movimentos sociais e conduziu a uma diminui o da milit ncia e da mobiliza o p blica Concomitantemente ocorreu a entrada de algumas lideran as para o setor p blico o que levou desestabiliza o de determinados movimentos GOHN 2004 Quest es econ micas impulsionaram os movimentos para uma reorganiza o institucional e a uma revis o das suas a es Alguns sucumbiram outros tiveram que reduzir o campo de atua o ou trabalhar a partir dos programas sociais do governo ou ag ncias financiadoras As dificuldades financeiras levaram a uma maior profissionaliza o e a reorienta o das a es para a ade
221. hospital Vin cius 24 anos desempregado 1 filho Todos os entrevistados relatam que houve uma mudan a em rela o atua o da pol cia Evanir 67 anos aponta que essa mudan a se deve ao fato de n o haver mais um conflito no territ rio de maneira que n o h necessidade de atitudes mais violentas por parte da pol cia Hoje n o hoje n o acontecem mais essas revistas Tem algumas coisas algumas formas deles mas n o como aquela poca mais n o tem mais N o n o porque antes os pr prios garotos eles entravam nas casas das pessoas a casa que tivesse aberta os garotos entravam Tanto se os garotos entravam eles tamb m iam entrar Eles suspeitavam que entrou naquela casa ent o eles iam naquela casa procurar os garotos que correram pra l As pol cias faziam isso Evanir 67 anos pastor casado 1 filha 159 E hoje tem uma conversa Esse o lado bom Antes se a pol cia tivesse que fazer alguma coisa com voc n o importa a hora eles iam fazer e n o importa Hoje em dia n o Vin cius 24 anos desempregado solteiro I filho A fala de Vin cius 24 anos revela que os policiais da UPP t m uma postura menos violenta com rela o aos moradores fato que foi confirmado por todos os moradores entrevistados Quando questionados sobre sua rela o com os policiais da UPP dois entrevistados relataram que tem medo de se aproximar dos policiais e posteriormente sofrer repres lias por par
222. ht Tive at problema com vizinho por causa disso s vezes tu t fazendo uma festinha quer que tu pare a festa quer que tu pede autoriza o para fazer a festa entendeu Meio absurdo Tem coisa que d pra relevar um pouquinho n Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Eles policiais da UPP quer que pede autoriza o pra tudo Eu acho que tem coisa que um exagero tamb m Poderia ser mais flex vel Vin cius 24 anos desempregado solteiro 1 filho Os moradores entrevistados demonstram insatisfa o e revolta com a regula o das festas particulares o que consideram uma medida invasiva e sem prop sito Algumas regras foram impostas aos moradores sem que houvesse espa o para discuss o como a necessidade de pedir autoriza o previamente e de encerrar a festa em hor rio determinado Esse procedimento mais r gido quando se refere ao baile funk que foi inicialmente proibido por sua associa o com o tr fico de drogas e atos criminosos FLEURY 2012 Nenhuma restri o foi imposta ao samba em nenhuma das favelas com UPPs Ocorre que ambos os ritmos m sicas tiveram e t m em algumas favelas cariocas seus eventos patrocinados e organizados por grupos criminosos no caso do samba os bicheiros Apesar de amplamente difundido pela cidade inclusive em eventos promovidos pela prefeitura o funk continua a carregar um grande estigma de m sica marginal Vale ressaltar que parte consider vel
223. ia e sabia que era de uma indole boa Vivian 23 anos dona de casa casada 3 filhos Essa possibilidade de dialogar com os traficantes conhecida pelos moradores como desenrolar e na maior parte dos casos se baseia na condi o de morador pessoa de ed bem trabalhador Esse recurso utilizado pelos moradores uma forma de ajustamento necessidade de conviver com duas ordens sociais diferentes que visa a minimizar os riscos envolvidos na rela o com o tr fico Outro grupo de recursos utilizados pelos moradores reside no emprego de uma postura defensiva com a preven o de confrontos e ado o de uma fronteira simb lica de atitudes associadas ao tr fico como fumar maconha Trata se de uma forma de afirmar sua condi o de trabalhador e pessoa de bem Os dois tipos de recurso se interligavam constituindo as formas de lidar com a viol ncia que atingia aos moradores e seus familiares LEITE 2008 Dessa forma o morador ao manter uma imagem que agregasse as condi es de morador pessoa de bem trabalhador que n o x 9 aumentaria suas chances de conseguir reduzir danos que o encontro com os traficantes pudessem acarretar Dois moradores entrevistados conseguiram reverter senten as de morte ap s desenrolar com o tr fico que deu permiss o para que ambos voltassem a viver no morro Gastei um tempo fora depois vim como diz na g ria desenrolar ess
224. iais da sa de como defici ncia de saneamento b sico baixa escolaridade e menor taxa de emprego formal Dessa maneira o uso do termo favela mais tico por representar historicamente esse conjunto de DSS uma arquitetura especifica e os estigmas que est o associados a esse territ rio Assim para analisar os efeitos da UPP na sa de e na qualidade de vida dos moradores atendidos deve se fundamentalmente reconhecer a favela e suas especificidades Por tomar em considera o a multissetorialidade dos Determinantes Sociais da Sa de na favela Santa Marta esta disserta o defende que a es inter setoriais s o indispens veis para melhorar os DSS dos moradores 20 A recusa da m dia e de outros setores da sociedade de empregar o termo favela se deve em parte ao estigma territorial que foi associado a essa forma de habita o desde o seu surgimento Nas ltimas d cadas a domina o territorial exercida pelos traficantes nas favelas se configurou como seu fator discriminat rio principal SOUZA amp SILVA 2010 Silva 2008 prop e que no caso das favelas cariocas a viol ncia seria resultante do surgimento de uma nova ordem social Essa interpreta o da viol ncia urbana contribui para a compreens o dos efeitos da conviv ncia com os traficantes sobre a vida dos moradores de favela pois segundo essa teoria haveria uma rela o de domina o constante pela for a Essa defini o de viol ncia altera consequentem
225. ial na abordagem policial Os moradores convivem com os policiais nos espa os comuns da favela como o bonde a birosca os becos e as pra as Todos os entrevistados relataram trocar cumprimentos como bom dia e boa tarde com os policiais Apenas um dos entrevistados relatou ter uma rela o de amizade com um policial da UPP A presen a de traficantes na favela gera medo de repres lias e citada como nico motivo pelo qual os moradores evitam se aproximar dos policiais Como parte do cuidado em n o ser associado aos policiais evita se manter conversas p blicas prolongadas e convid los para festas e para o interior das resid ncias Apesar disso os encontros entre policiais e moradores s o parte da rotina e n o geram medo mesmo para os grupos compreendidos pelos moradores como visados pelos policiais Isso se deve em parte baixa frequ ncia de abordagens abusivas por parte dos policiais da UPP e tamb m ao hist rico de pouca viol ncia empregada nessas ocasi es Quando relatam a exist ncia de abusos na abordagem policial e a exist ncia de um tratamento diferente em rela o aos homens jovens os moradores entrevistados n o se referem a risco de vida ou mesmo de sofrer agress es f sicas 165 As abordagens dos policiais da UPP compreendidas como abusivas pelos moradores se referem a revistas realizadas na frente de outros moradores acompanhadas de falas agressivas e de gesto
226. ial que tem como objetivo promover a cidadania e o desenvolvimento local ao integrar a es intersetoriais de diferentes esferas governamentais 17 Ap s a instala o da UPP alguns servi os p blicos como luz gua e coleta de lixo foram regularizados na favela Santa Marta Surgiram ainda diversos servi os sociais como a Cl nica da Fam lia e cursos profissionalizantes Somadas essas transforma es e as constantes not cias de que a favela estava segura atra ram turistas nacionais e internacionais al m de pol ticos e artistas MELLO amp CUNHA 2011 O sucesso da UPP do Santa Marta impulsionou a multiplica o do projeto O site oficial da UPP mantido pela prefeitura do Estado do Rio de Janeiro aponta que 1 5 milh o de cariocas vivem nos 221 territ rios onde est o instaladas as 33 UPPs A repercuss o nacional fez com que a ideia das UPPs fosse rapidamente replicada em outros estados At junho de 2013 quatro estados t m pol ticas de seguran as p blicas inspiradas no modelo das UPPs S o estes Maranh o Paran Bahia e Rio Grande do Sul A r pida e abrangente difus o desse modelo de pol tica de seguran a refor a a necessidade de se compreender seus efeitos na qualidade de vida e na sa de dos moradores de reas atendidas Espera se que esta pesquisa contribua para a reflex o sobre como pol ticas p blicas de seguran a podem impactar a sa de e a qualidade de vida individual e coletiva Tal olhar
227. iana Zona norte Chatuba Zona Norte F Sereno Zona Norte Parque Prolet rio Zona Norte Vila Cruzeiro Zona Norte Jacarezinho Zona Norte Manguinhos Zona Norte Caju Zona Norte Barreira e Tuiuti Zona Norte Cerro Cor Zona Sul A favela reconhecidamente um espa o social heterog neo o que torna inadequado o termo comunidade LEEDS amp LEEDS 1978 VALLADARES 2005 SILVA 2008 PERLMAN 2010 Leeds amp Leeds 1978 criticam o uso da palavra comunidade e sugerem a utiliza o do termo localidade uma vez que a primeira pressup e uma unidade de organiza o enquanto o termo localidade se refere simplesmente ao local de resid ncia dos indiv duos N o haveria nesse caso a certeza da exist ncia de um sentimento de pertencimento a uma comunidade apenas a possibilidade de sua forma o Nesse contexto o uso recorrente do termo comunidade pelo estado e pela sociedade pode mascarar quest es sobre a organiza o interna das favelas e suas rela es com o restante da cidade ademais de ocultar os conflitos internos que fazem desta uma estrutura frequentemente mais atomizada do que comunit ria VALLADARES 2005 Para mais informa es http upprj com wp page_id 20 23 Um exemplo disso seria a exist ncia de uma burguesia favelada que controlaria os recursos dentro da favela SILVA 1967 Deve se considerar tamb m que pesquisas acad micas
228. iares de traficantes que temiam pela pr pria vida e por seus familiares quando ocorriam trocas de fac es Os entrevistados apontam que o risco envolvido nesta atividade diminuiu drasticamente devido ao formato de atua o que os traficantes adotaram ap s a instala o da UPP A alta taxa de mortalidade relacionada atividade do tr fico de drogas fez com que todos os entrevistados tenham uma lista mental de amigos e familiares mortos Ao longo das entrevistas foram contabilizados um total de vinte e dois mortos por conta do envolvimento com o tr fico no c rculo social pr ximo dos seis moradores entrevistados 119 Deve se enfatizar que ainda que os entrevistados tenham mencionado mais de uma vez o mesmo caso de assassinato este s foi contabilizado uma nica vez O menor n mero de assassinatos citados por um entrevistado foi de quatro e o maior citado por Alessandro 34 anos foi de oito amigos e familiares mortos Como eu perdi meu primo perdi muitos amigos na poca Muita gente morria O Samarone esse rapaz que eu falei eu e ele descia todo dia junto todo dia junto ele trabalhava em vila Isabel A m e n o quis entregar o irm o os cara foram l e mataram ele Eram tr s irm os dois eram traficante e um n o Samarone n o era o Samarone o Lip o e o Marrom a mataram o Samarone porque a m e n o quis entregar que o Lip o tava dentro do arm rio ela n o quis entregar Foram l e mataram a depois
229. icinas oferecidas pelo grupo vencendo inclusive um concurso de desenho Foi no tr fico por m que ele encontrou uma fonte de renda Em um cen rio de pobreza o tr fico era reconhecido na favela como uma fonte acess vel para se conseguir reconhecimento e bens materiais ATHAYDE ET AL 2005 A entrada no tr fico de drogas narrada pelos moradores como a realiza o de um desejo Segundo Fabiane 34 anos os meninos de sua gera o eram tudo doido para entrar na boca 99 Esse desejo motivou Alessandro 34 anos a insistir com o chefe do tr fico local durante dois anos at ter sua entrada permitida A quest o do tr fico na comunidade que voc passa a ter o bandido como her i Tu olha aquela ilus o o cara t andando armado o cara t muito bem arrumado o carca andando cheio de dinheiro O cara andando cheio de mulheres o cara pode fazer tudo e essa influ ncia do tr fico a grande maioria que t no tr fico n o porque o cara tem tend ncia a ser n o n o porque ele se iludiu Infelizmente onde o tr fico manda voc n o tem aquela op o de escolha Ele cresce com aquilo O amigo entra o tio entra quando tu v ele j t ali Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Deve se ressaltar que as imagens utilizadas para representar o tr fico como cercados de mulheres muito bem armado s o repletas de refer ncias masculinidade que seria alcan ada atrav
230. icy This dissertation aimed to assess to what extent the establishment of the Pacifying Police Unit UPP in the Santa Marta favela in the Zona Sul neighbourhood of Rio de Janeiro brought improvements to the standards of living and health of its inhabitants from their perspective The theoretical framework is grounded on the broader concept of health upheld by the Health Promotion paradigm stressing the influence of Social Determinants of Health on the standards of living of favela residents The ethnographic method was used so as to enable the analysis of the meanings and symbols of daily life for the favela residents as well as the connection between the social determinants of health The UPP policy impacted some Social Determinants of Health in Santa Marta with regard to crime rates individual freedom and territorial stigma However our research indicates that since this policy has not been implemented with an intersectorial approach as planned with the Social UPP as a component several structural problems remain to be addressed such as basic sanitation and household security The decrease in crime rates has improved the level of psychological safety experienced by favela residents Nevertheless it has failed to redress the damage to psychological health inflicted by the preceding conditions of violence such as traumas and PTSD which require special treatment These aspects are not included among the objectives of the UPP program UPP polici
231. idade Tenho medo da repres lia que vai ser n Muitas pessoas Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Alessandro 34 anos n o acredita na continuidade das UPPs em grandes favelas como a Rocinha e o Complexo do Alem o entretanto fala que seus vizinhos acham que o mesmo n o ocorreria no Santa Marta Por outro lado Vivian 23 anos tem receio que a instala o de novas UPPs possa diminuir o n mero de pol cias nas primeiras unidades e consequentemente possibilitar o retorno do dom nio da fac o criminosa 4 A instala o da UPP na Rocinha ocorreu em 20 09 2012 35 A instala o das UPPs no complexo de favelas do Alem o ocorreu em 30 05 2012 184 Olha em rela o a continuar eu gostaria muito que isso permanece mas eu tenho esse receio s vezes eu at falo que isso vai acontecer de que vai chegar uma hora que as autoridades n o vai ter tantos policiais para abrir tantas UPPs em tantas comunidades Em tantas regi es que em algum momento as primeiras comunidades que foram pacificadas vai ficar Como eu posso dizer Sem prote o dos policiais que o meu receio ou meu medo que um dia as fac es v o voltar pras primeiras UPP Porque a vis o que eu tenho o Dona Marta acho que foi a primeira comunidade pacificada a vis o que eu tenho que a quantidade de policiais que tinha no in cio foi t o reduzida t o reduzida e os traficantes t o sendo t o combatidos em outras comunidades q
232. ido comprometiam a sa de e a qualidade de vida dos moradores que nela estavam envolvidos Assim as transforma es na forma de atua o do tr fico ap s a instala o da UPP ao reduzirem a letalidade envolvida nessa atividade favoreceram a sa de e a qualidade de vida dos traficantes Os moradores cujos familiares e amigos n o se desligaram do tr fico demonstraram que o envolvimento com o tr fico n o tem mais o mesmo significado tanto para os traficantes como para sua fam lia e amigos N o existe mais o receio de que estes morram por vender drogas ou de que suas fam lias possam sofrer algum tipo de retalia o por parte de outra fac o ou da pol cia Dessa forma a transforma o na forma de atua o do tr fico de drogas ap s a instala o da UPP diminui o risco de vida envolvido na atividade do tr fico o que reduziu o n vel de medo e estresse de amigos e familiares dos envolvidos 4 2 2 Efeitos da UPP nos hist ricos de sa de dos moradores O estado geral de sa de dos moradores entrevistados foi analisado como fator fundamental para sua qualidade de vida Em especial buscou se identificar doen as relacionadas ao aumento do estresse como a hipertens o e transtornos psicol gicos Nos hist ricos de sa de os moradores entrevistados relataram per odos em que sofreram com picos de estresse quadro que se repetia diante de guerras entre fac es e testemunhos de crimes Alguns entrevistados entretanto narraram con
233. ima no o de seguran a que os moradores tinham baseada no fato de serem conhecidos pelos traficantes e de estes respeitarem a condi o de morador era perdida A nova fac o via a todos os moradores com desconfian a investigava liga es com a fac o anterior e expulsava moradores At que se restabelecesse algum v nculo de conhecimento entre os membros dessa nova fac o e os moradores estes ltimos ficam sem uma das nicas fontes de seguran a de que dispunham Os moradores relatam a sensa o de instabilidade e inseguran a que sentiam comparando a atua o da fac o invasora que n o estaria preocupada com a integridade dos moradores com a atua o da pol cia Nesse contexto a entrada da fac o invasora era pior que fac o local porque n o tinha la os com os moradores e era pior que a pol cia porque n o se preocupavam em atingir moradores Porque a pol cia eles at atiravam mas n o era pra matar e nem atirava a esmo ah Vou atirar pra tudo quanto lado Mas a outra fac o quando entrava sim a ordem era atirar atirar pra matar nem que entrasse na casa de algu m Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filhos Pol cia ela entra pra matar bandido a outra fac o ela entra pra matar bandido e a pol cia vai depois e onde eles v o entrar E ali se caso a pol cia chega morre todo mundo Era era a guerra Por que ali ningu m sabia quem 112 era ningu m o cara invadia hoje e aman
234. in meras investiga es acad micas foram realizadas sobre o tema A maioria destas tem como objeto de pesquisa a a o policial as transforma es urban sticas nas favelas p s instala o das UPPs e as a es do programa UPP social Entretanto n o enfatizam a viol ncia a seguran a e a pol tica das UPPs com o enfoque da sa de abordagem conferida ao longo da presente pesquisa Esta disserta o investigou a partir do ponto de vista dos moradores em que medida a implanta o da UPP trouxe melhorias na qualidade de vida e na sa de dos habitantes de favelas Fundamenta se teoricamente nos campos da Promo o da Sa de e dos Determinantes Sociais de Sa de conceitos utilizados como refer ncia pela Organiza o Mundial de Sa de e pelo Minist rio da Sa de Brasileiro em seus programas de sa de BUSS 2012 A pesquisa etnogr fica de que se trata nesta disserta o foi realizada na favela Santa Marta entre os meses de junho e de agosto de 2012 O sucesso e a dimens o que as UPPs alcan aram se devem a resultados expressivos na diminui o dos ndices de viol ncia da cidade do Rio de Janeiro CANO 2012 O Laborat rio de An lise da Viol ncia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro divulgou em seu relat rio tem tico anual sobre a ocorr ncia de v timas de bala perdida que 88 pessoas foram v timas de balas perdidas em 2011 contra 236 v timas em 2008 redu o de 68 5 desde a implanta o das UPPs O relat rio a
235. in mica de domina o Esse quadro esclarece porque se referem a eles como traficantes que trabalham Esse fen meno de sa da dos jovens do tr fico de drogas se intensificou ap s a implanta o das UPPs Entretanto preciso considerar que o tr fico de drogas na cidade do Rio de Janeiro j enfrentava uma queda nos lucros em compara o com as d cadas anteriores Essa crise se deve em parte entrada de drogas sint ticas no mercado e pela transforma o na clientela A viol ncia afastou a classe m dia e o mercado interno das favelas tem menor poder aquisitivo As vendas de varejo do tr fico de drogas passaram nos ltimos anos de cargas caras de coca na a pedras de crack que s o vendidas a tr s reais Somado a esse cen rio a instala o das UPPs representou grande preju zo econ mico s fac es do tr fico que dominavam as favelas atendidas A crise do tr fico de drogas no varejo nas favelas do Rio deixou v rios rf os do tr fico S o jovens ex 122 traficantes que ficaram nas favelas ocupadas pela UPP e que n o t m mais uma ocupa o RAMOS 2011 Fabiane 34 anos exemplifica esse movimento Que os menino crescia j queria entrar na boca de fumo j quer se envolver Os meus primos s o tudo assim desse neg cio assim A agora que eles t o vendo que isso n o futuro pra eles n o d mais dinheiro a fica andando a no morro at aparecer bico A eles t o trabalhando dir
236. incipal fator de estresse e medo 186 Cap tulo 5 Sobre a qualidade de vida e sa de na favela Santa Marta O projeto das UPPs alcan ou sucesso internacional ao reduzir os ndices de criminalidade das favelas atendidas Ao longo de quatro anos de sua exist ncia a UPP constituiu se como a mais bem sucedida pol tica de seguran a p blica de n o enfrentamento da hist ria da cidade do Rio de Janeiro SOARES 2012 In meros estudos est o em curso com o objetivo de compreender diferentes aspectos dessa pol tica como a opini o dos policiais que atuam nas UPPs e as altera es no com rcio local Existe entretanto uma lacuna no que diz respeito aos efeitos das UPPs sobre a sa de e a qualidade de vida dos moradores Essa lacuna faz se mais grave pelo fato de a pol tica atender cerca de 1 5 milh o de habitantes em 33 UPPs na cidade do Rio de Janeiro e ter sido copiada em outros quatro estados brasileiros com pequenas altera es Esse estudo evidenciou que os moradores entrevistados sofriam com diferentes fontes de viol ncia que juntas comprometiam a cidadania dos moradores geravam transtornos psicol gicos e outras doen as cr nicas ademais de elevados n veis de estresse medo e sofrimento Com respeito a esse tema Paul Farmer 2010 aponta para o fato de que Aos investigadores sociais em sa de deve caber por raz es que s o inseparavelmente cient ficas pol ticas e ticas a incorpora o da explora o das fo
237. indiv duos ao limitar as possibilidades de a o dos afetados e gerar sofrimento FARMER 1999 A vulnerabilidade e as limita es que a viol ncia estrutural imp e aos moradores comprometem sua seguran a f sica e psicol gica pois ainda que n o sejam alvos diretos da viol ncia urbana experimentam piores condi es de vida e a percep o subjetiva de estar em risco Apesar dos n meros crescentes de v timas de balas perdidas e outros danos sa de a viol ncia na favelas cariocas foi historicamente abordada por pol ticas de seguran a p blica em detrimento de pol ticas que apresentassem alcance intersetorial Por essa raz o essa disserta o buscou os estudos sobre seguran a p blica e viol ncia urbana Por outro lado considerou as defini es de sa de e qualidade de vida da OMS que ultrapassam a simples aus ncia de doen a e prop em como uma de suas condi es a Paz 15 A viol ncia afeta a sa de e a qualidade de vida dos moradores em dois n veis O primeiro refere se ao impacto na qualidade de vida dos indiv duos pelas les es f sicas ps quicas e morais que a viol ncia acarreta conforme exemplificado pelos in meros casos de balas perdidas de traumas e de Transtorno de Estresse P s Traum tico TEPT associados ao aumento da criminalidade e pelas exig ncias de aten o e de cuidados dos servi os m dicos e hospitalares O segundo consiste no fato de a viol ncia atingir os temas tratados no concei
238. ingular o que gera resultados muito espec ficos ao grupo estudado sendo restrito o alcance dos dados As favelas t m hist rias espa os f sicos e culturais diferentes o que por sua vez implica uma rela o diferente com a pol cia e com a pr pria UPP A escolha da favela a ser pesquisada foi efetuada com base na presen a de diferentes fatores Dentre estes em termos de acessibilidade foi considerada a presen a de projetos sociais que pudessem mediar o contato da pesquisadora com os moradores e de infraestrutura que facilitasse o acesso da pesquisadora e a seguran a do local Como crit rio te rico buscou se uma favela em que a UPP estivesse instalada a mais tempo Essa escolha se baseia na exist ncia de um consenso nos estudos sobre estresse e trauma a respeito dos efeitos positivos da exposi o a ambientes n o violentos como parte do processo de recupera o dos pacientes Considerando esses crit rios a favela Santa Marta foi escolhida Em compara o com as demais favelas cariocas a favela Santa Marta considerada de pequeno porte com 3 913 habitantes Censo 2010 Localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro foi a primeira favela a receber uma UPP Em compara o com a favela da Rocinha reconhecida no Censo de 2010 como a favela mais populosa do pa s com 69 161 habitantes a favela Santa Marta cerca de vinte vezes menos populosa Apesar da enorme diferen a nas dimens es a favela Santa Marta e a Rocinha enfrentam
239. inham suas vidas colocadas em 108 risco viviam sobre enorme estresse emocional e tinham seus direitos de cidadania comprometidos A extens o desses efeitos pode ajudar a compreender porque os moradores ainda falam sobre a viol ncia O tr fico realizava uma regula o da vida cotidiana atrav s de in meras demonstra es de for a como execu es cru is que eram testemunhadas pelos moradores rotineiramente como vemos abaixo Esse homem que morreu eles arrancaram esse dedo aqui dele e botaram na testa dele a o corpo tava dum lado e cabe a do outro e eles jogando futebol A eu falei gente eles t o jogando futebol com a cabe a de uma boneca Quando eu fui ver era a cabe a de uma pessoa Eu tava indo pra rua Eu achava que era boneca porque eles n o podem ver boneca que vai chutando n o eu vi cabelo pensei que era cabe a de boneca Quando eu vi falei gente o que que voc s t o chutando Quando eu olhei assim era a cabe a de uma pessoa mesmo Ela tamb m viu A botaram era um dedo que tava enfiado l dentro da testa do homem e o corpo de um lado e cabe a do outro Eu falei gente a cabe a t aqui e o corpo t aonde tava l do outro lado da pra a A gente via assim cabe a cortada Eu fui ver Era at conhecido esse homem Eles n o deixava enterrar n o Eles matava Quando n o queimava eles matava e deixava l Os porco comia ou jogava por dentro da mata eles picotava assim Botava dentro
240. instala o da UPPs centralizavam a media o entre os interesses dos moradores e os diferentes rg os estatais Atualmente as obras e os servi os realizados n o partem de uma demanda local e n o passam pela a intermedia o das associa es Os l deres comunit rios permaneceram os mesmos e ainda s o alvo de desconfian a por parte dos policiais que os associam com o tr fico de drogas CANO 2012 Um exemplo da atua o dos movimentos sociais s o campanhas e cartilhas sobre direitos humanos e abordagem policial criadas e divulgadas por diferentes organiza es em favelas com UPP Apesar de contar com grande apoio social e midi tico o programa das UPPs corre o risco de se desgastar frente s tens es cotidianas entre policiais e moradores Especial aten o deve ser conferida aos jovens principal alvo de revistas e das restri es de lazer impostas pela UPP Se n o forem criadas bases para um di logo entre os policiais das UPPs e os moradores como f runs e reuni es frequentes existe o risco de que se reproduzam rela es similares s estabelecidas anteriormente com o tr fico e as mil cias no que se refere ao autoritarismo RAMOS 2011 Os policiais da UPP t m assumido um papel disciplinador sobre a vida cotidiana dos moradores que ultrapassa a defesa do territ rio Essas interven es se baseiam em uma ideia de ordem o que manifesta o pressuposto de que os favelados s o avessos ordem Essa postura su
241. is vontade para falar fora da favela Ao longo da pesquisa foram realizados outros quatro encontros com Alessandro dois encontros em sua casa um no seu trabalho o ltimo na igreja Alessandro 34 anos apresentou Vin cius 24 anos A entrevista com Vin cius 24 anos aconteceu em um restaurante e ao longo da pesquisa foram realizados tr s encontros com Vin cius na Pra a Corumb na rua e no local onde trabalha Com Vivian 23 anos a entrevista foi feita em sua resid ncia ao longo da pesquisa foram realizados dois encontros na igreja e na rua com Vivian 23 anos Jurema 65 anos foi indicada por Alessandro 34 anos que a conhece desde crian a A entrevista foi realizada na igreja onde frequenta aulas do telecurso Ao longo da pesquisa foram realizados dois encontros com Jurema na igreja e na casa dela O pastor Evanir 67 anos se ofereceu para ser entrevistado quando soube por um membro da igreja da realiza o da pesquisa A entrevista foi realizada na igreja onde trabalha como pastor e ao longo da pesquisa foram realizados 4 encontros tr s encontros na igreja e um na rua com o pastor Evanir 67 anos Tabela 2 Perfil dos entrevistados 84 Faixa et ria Ocupa o Estado Civil Escolaridade Vivian Jovem 23 Dona de casa Casada N vel m dio anos completo Vin cius Jovem 24 Desempregado Solteiro Ensino anos m dio completo Fabiane Adulta 33 Dona de casa Casada Ensin
242. isso fazer aquilo Tem pessoa que tem pinima com a pol cia Alguns n o gosta da pol cia Agora a pol cia quer te dar uma geral o cara quer agir com ironia Voc t sendo ir nico comigo como algumas vez j falaram tem pessoa que n o gosta mesmo Dessas tr s coisas uma gostar da bagun a Ah pode sair Ah vai ter baile aqui Desculpa O que eu vou falar vai ser meio pesado mas o cara tinha liberdade de pegar uma menina e transar com a menina no meio do caminho Hoje em dia se transar e a pol cia passar vai preso filho Agora o pessoal gostava de bagun a baile na segunda baile na ter a baile na quarta aquela coisa ningu m dormia Ali perto da quadra ningu m dormia e tinha que trabalhar por causa disso Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Nesse quadro os entrevistados desacreditam os vizinhos que falam mal da UPP como se isso significasse necessariamente algum n vel de envolvimento com o tr fico ou o desejo de viver em territ rio sem leis No grupo de entrevistados cinco moradores s o a favor da continuidade da UPP e uma moradora diz n o se importar com eventual fracasso da UPP Entretanto todos s o 179 cr ticos a diversos aspectos do programa como a falta de obras de urbaniza o a imposi o de regras vida cotidiana pelos policiais a continuidade do tr fico de drogas entre outros problemas citados ao longo desta disserta o Fica evidente que os morado
243. iviaram Eu acho que se eles tivessem 175 apertando um pouco mais estaria melhor mas Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Eu acho que poderia ter mais ronda policial pelo menos duas por dia de repente uma pela manh e uma tarde O que eu vejo troca de plant o Deu tal hora troca o plant o Meia noite troca o plant o O n mero de policiais eu acho que reduziu muito porque t havendo outras pacifica es em outras comunidades ent o o que t acontecendo isso t dando um espa o para a droga entrar mais forte N o arma n o viol ncia mas as drogas t tendo muito espa o pra isso Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho N o no come o ficava Todo lugar voc via um policial Hoje em dia n o voc v um aqui outro l Acredito que ali embaixo no come o tem muito porque ali j tinha um DPO j um postozinho pra achar que t salvo mas passou dali continua um pouco a realidade e hoje t a mesma coisa Vin cius 23 anos desempregado 1 filho A gente sobe a noite de carro de moto eles n o param mais Eles parava pra perguntar pra onde que t indo onde mora mas agora eles n o perguntam n o Eles agora tamb m n o pergunta mais nada n o Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos As falas indicam uma compara o entre os primeiros anos ap s a instala o da UPP Comando da Capit Priscila com nfase nas pr ticas de ronda e revista realizadas p
244. ixava ela ir l pra cima mesmo A quando o pai chegava eu pedia pra ir l buscar Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos 104 O grande temor dos pais entrevistados era a integridade f sica dos filhos o medo da bala perdida Alessandro 34 anos revelou que a filha telefonava para ele no trabalho chorando com medo dos tiroteios e pedia que ele voltasse logo para casa Tranquilidade n D uma tranquilidade danada por exemplo hoje em dia Eu saiu eu e a minha esposa tamo procurando se entender Quando a gente sai eu tenho a tranquilidade de deixar minha filha em casa porque problema com o tr fico n o tem Eu sei que n o vai ter um guerra Por exemplo imagina se explode uma guerra eu com minha esposa na rua e meus filho em casa E hoje em dia eu tenho certeza Posso sair tranquilo Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos O fim dos tiroteios e da possibilidade de uma guerra entre fac es ou de confronto com a pol cia s o apontados pelos entrevistados como fontes de tranquilidade Olha hoje em dia com a entrada da UPP melhorou muito porque tu n o tem aquela preocupa o de meu filho t ali mas daqui a pouco pode ter um tiroteio Daqui a pouco pode chegar o helic ptero da pol cia Mas hoje em dia tranquilo Eles ficam no caminho brincando sem problema nenhum Vin cius desempregado solteiro 1 filho A possibilidade que crian as e adolescentes fossem aliciados pelo tr
245. l as UPPs precisam se institucionalizar como parte integrante da PM entretanto isso significaria expor um programa bem sucedido aos problemas estruturais das pol cias Enquanto uma favela tem UPP as demais continuam sofrendo com incurs es violentas corrup o policial e mil cias Os interesses contr rios dentro da institui o da Pol cia dificultam a universaliza o das UPPs para incluir as favelas sob dom nio das mil cias Assim a nica solu o seria refundar as pol cias SOARES 2012 A grande repercuss o das UPPs e de seus resultados fez com que esse modelo de seguran a p blica fosse reproduzido em outros estados Em 2009 o Governo Ga cho inaugurou os Territ rios da Paz TP Em 2011 foi implantado no Estado da Bahia com o nome de Base Comunit ria de Seguran a BCSs Em junho de 2013 o estado contava com doze bases Em 2012 o Governo do Estado do Paran tamb m adotou o modelo sob o nome de Unidade do Paran Seguro UPSs At junho de 2013 doze unidades haviam sido instaladas Em 2013 o Governo do Estado do Maranh o inaugurou o sob o nome de Unidade de Seguran a Comunit ria do Maranh o USC MA Essa r pida difus o do modelo das UPPs aumenta substancialmente o n mero de indiv duos contemplados pela pol tica e acentua a necessidade de compreender sua influ ncia sobre quest es intersetoriais como a qualidade de vida dos moradores 2 3 Hist rico das pol ticas de seguran a p blica n
246. l o que pode aumentar os n veis de seguran a psicol gica dos moradores e facilitar den ncia de abusos Seria importante que paralelamente a essa medida os moradores recebessem informa es sobre seus direitos e que novas vias de denuncia fora da sede da UPP fossem abertas Outro ponto presente na an lise dos entrevistados a insatisfa o quanto s restri es impostas pelo comando da UPP que s o exemplificadas pelo inc modo de ter que pedir autoriza o para festas ou ter que limitar o volume e o tipo de m sica que escutam Regras que s s o impostas pela pol cia no espa o da favela e variam de acordo com os policiais que est o de plant o S o consideradas pelos entrevistados como medidas 194 exageradas e sem prop sito por n o representarem um anseio dos moradores nem tampouco um incremento seguran a local A falta de participa o dos entrevistados na tomada de decis es sobre as regras de regula o da vida cotidiana o fato de essas decis es serem tomadas sem base legal pelos comandantes da UPP exp e o risco de que estes ocupem em parte o lugar de Dono do Morro CANO 2012 Isso representaria ademais um preju zo sa de dos moradores que est intrinsicamente ligada aos n veis de autonomia e de participa o da comunidade nas decis es sobre a vida local Segundo as concep es dos moradores entrevistados a conviv ncia com os policiais apresenta tens es baseadas na aus n
247. l ticos e comuns na mesma categoria de amea a seguran a nacional Entre 1969 e 1975 o governo militar colocou presos pol ticos em sua maioria estudantes e intelectuais na penitenci ria C ndido Mendes junto com prisioneiros comuns oriundos majoritariamente de classes sociais mais pobres e de favelas Esse contato viabilizou a transmiss o para os presos comuns de conhecimento sobre a ideologia a estrutura organizacional e as pr ticas dos presos pol ticos Entre outras coisas os presos comuns aprenderam a fazer greves de fome para mobilizar a opini o p blica e a pensar coletivamente como ao reunir recursos atrav s de vaquinhas para financiar fugas e comprar bens de higiene Nomeados de O coletivo os presos comuns foram novamente inseridos em outras penitenci rias onde ficaram conhecidos como Leis de seguran a e come aram a implantar c digos de conduta com puni es e contribui es para a vaquinha Diante disto as autoridades carcer rias decidiram dispersar o grupo enviando seus membros para diferentes penitenci rias A decis o surtiu o efeito contr rio e disseminou as ideias do Coletivo fazendo com que estes recebessem o nome de Falange Vermelha que deu origem ao Comando Vermelho PERLMAN 2010 LEEDS 1998 FARIAS 2008 Com o in cio da abertura pol tica Leonel Brizola foi eleito governador do estado do Rio de Janeiro em 1982 Brizola prop s uma agenda social baseada na
248. levador abrindo e fechando a porta e perguntando se algu m vai descer naquela esta o A rela o dos moradores com esses funcion rios costuma ser respeitosa Alguns os conhecem por nome e comum que agrade am ao sair alguns dizendo valeu outros dando boa noite seguido do nome do funcion rio Todos os funcion rios s o moradores do Santa Marta 90 O bonde funciona em dois trechos da esta o 1 at a 3 onde necess rio fazer uma transfer ncia para outro bonde que segue at as esta es 4 e 5 Esses trechos ficam parados para manuten o de forma alternada nas segundas e ter as feiras assim sempre h um dos trechos em funcionamento Os moradores reclamam que o bonde tem ficado cada vez mais tempo sem funcionar Outro relato d conta de que s vezes o bonde para entre as esta es e os moradores precisam sair e fazer o percurso pela escada de emerg ncia que fica esquerda do bonde As esta es do bonde se constitu ram em importantes pontos de refer ncia para os moradores e comum ouvir que tal morador mora perto de determinada esta o medida que se sobe tem se uma vista excepcional de diversos pontos da cidade como o Cristo Redentor Quando se anda de bonde durante o dia poss vel perceber melhor as obras do PAC Programa de Acelera o do Crescimento Uma delas s o os pr dios que ficam logo ao lado do bonde constru dos para abrigar moradores em situa o de risco Eles s o pintados exte
249. lguma coisa ainda tem N o aos moradores mas alguma pessoa que ainda faz alguma coisa com eles ou que n o de acordo com eles essas coisas todas Por isso que eu falo se o combate s drogas fosse um pouco maior n o sei se isso acabaria Acaba que a gente fica um pouco descrente disso A pr pria droga acaba trazendo a viol ncia entre eles infelizmente por causa desse medo no in cio eu soube de hist rias N o presenciei N o testemunhei mas terceiros vieram falar que pessoas que tavam tendo um relacionamento de dar um bom dia de conversar um pouco mais mesmo que fosse conversa inocente foram chamadas O n o quero isso t exagerando Eu acredito que 160 se houver a oportunidade da fac o voltar eu acho que muita gente ou vai ser chamada pra conversar ou vai ter algum outro tipo de castigo como eles chamam Mas que vai haver acredito que sim Eu acho que isso bem prov vel que aconte a porque eu acho que muitos moradores n o t m um relacionamento maior com a UPP por causa disso Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho Mudou bastante mas tipo assim como que posso dizer mudan as t m l gica mas tipo assim s vai sumir as armas Entendeu meio contradit rio Tipo assim mudou l gico o que eu falei que mudou num mentira Por m a mudan a como que eu posso dizer referente ao tr fico n o mudou S tirou as armas o traficante mesmo Referente ao tr fico n o mudou
250. lica nas favelas cariocas a UPP no contexto da Promo o da SANde saias coals tte cdeta eosin a ianea aie o E ia aisis 20 2 1 Porque a favela n o pode ser cCOMUNIGAE eee cece eeeeteeeceeeeeeeeeeentneeeeeeeeeeeeeees 23 2 2 O surgimento e evolu o das fac es do tr fico de drogas no Rio de Janeiro 28 2 3 Hist rico das pol ticas de seguran a p blica nas favelas cariocas 41 2 4 Um balan o das UPPS orsetto trenet a e andado aeaaeae 31 24A UPP Santa Manhas eo e e E E E E e E E s 41 2 5 O Movimento de Promo o da sa de os Determinantes Sociais de Sa de e o contexto brasile onssa e aee a a e a aaa e eaa a entia 50 2 6 O que a Sociabilidade Violenta representa ssesseeseesesesseessereeseesssressersssees 57 2 7 Entraves cidadania dos moradores de favelas ccccceceeeseeeeetneeeeeeeeeeeeeees 61 2 8 O estigma como viol ncia SIMBO CA e ampeaa duras sadmaras de rradnari quado papa dia quando 65 2 9 As v timas ignoradas da viol ncia o desenvolvimento do trauma e do TEPT 69 2 9 1 A rela o entre o Transtorno de Estresse P s Traum tico e a viol ncia urbana SS Ca Ou 73 Capitulo Dy cas hay nenne CA E SS SE SS ST EEL an 80 O estudo etnogr fico O olhar dos moradores do Santa Marta sobre a sua vida 80 IO Gita ANOS CLICOS esene a a PERU RS RD PRE E RS RR DRDS BERRO PURO DER 82 3 2 A pesquisa de campo e os ENtrEVIStAdOS ce cecceeessssenecc
251. licial interrompe uma festa por conta de uma insinua o quanto a sua masculinidade ilustra qu o personalista pode ser a atua o dos policiais da UPP A despeito do interesse ou n o dos donos da festa de provocar o referido policial colocando essa m sica o ato de toc la por si s n o se configura raz o para impor o encerramento de uma festa Revela ainda que a atua o dos policiais da UPP s vezes se baseia em motiva es puramente pessoais para al m das ja criticadas atitudes baseadas na ideia de ordem que se desvinculam do combate ao crime e invadem a rotina dos moradores FLEURY 2012 Exemplos desse tipo de atua o s o a defini o sobre o volume do som em festas e a limita o da opera o de moto t xis em favelas com UPP Quando as decis es sobre a regula o de aspectos da vida cotidiana das favelas s o tomadas de forma unilateral e sem base legal existe o risco de que o Comandante da UPP assuma em parte o papel de Dono do Morro CANO 2012 Nesse caso o apoio concedido pelos entrevistados a uma postura r gida por parte dos comandantes da UPP que inclui uma valida o de agress es a traficantes pode levar invas o da a o policial em diversos aspectos da vida cotidiana Em agosto de 2012 o Governo do Estado do Rio de Janeiro criou um servi o de Disque Den ncia exclusivo para informa es relativas s UPPs nomeado de Disque UPP e com garantias de anonimato dos denunciantes O ser
252. llenges and Directions Annu Rev Public Health 26 341 65 Acesso em 2011 Dispon vel em www periodicos capes gov br Scheper hughes N 1992 Death without Weeping The Violence of Everyday Life in Brazil Berkeley University of California Press 2005 SAWAIA B B Comunidade a apropria o cient fica de um conceito t o antigo quanto a humanidade In R H F Campos Org Psicologia social comunit ria da solidariedade autonomia 6 ed Rio de Janeiro Vozes 1996 SILVA E IMPRENSA E PROCESSOS DE PRODU O DA VERDADE REPRESENTA ES MIDI TICAS DAS UNIDADES DE POL CIA PACIFICADORA UPPs NO RIO DE JANEIRO BRASIL Trabalho apresentado no Congresso Luso Afro Brasileiro de Ci ncias Sociais Universidade Federal da Bahia UFBA Salvador 7 a 10 de agosto de 2011 SILVA L A pol tica na favela IN Cadernos Brasileiros Rio de Janeiro v 9 N 3 P 35 47 maio jun 1967 SILVA L A continuidade do problema da favela In Oliveira L Org Cidade hist ria e desafios Rio de Janeiro Editora FGV 2002 Sociabilidade violenta por uma interpreta o da criminalidade contempor nea no Brasil urbano 2004 Soc estado online 19 1 53 84 ISSN 0102 6992 doi 10 1590 S0102 69922004000100004 Org Vida Sob Cerco viol ncia e rotina nas favelas do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Nova Fronteira 2008 AFINAL QUAL A DAS UPPS Dispon vel em www observatoriodasmetropoles ufrj br em 2010
253. lo comando da UPP As quest es n o contempladas pela UPP compreendem Determinantes Sociais da Sa de considerados fundamentais pela OMS como o saneamento b sico respons vel pela redu o da mortalidade infantil e transmiss o de doen as Essas quest es s o compreendidas pelos entrevistados como falhas do projeto das UPPs 190 Os moradores entrevistados n o conhecem o projeto UPP Social e n o s o capazes de identificar seus objetivos e a es Entretanto associam a melhoria nas condi es b sicas de vida como um dever do governo e a UPP como uma forma tardia do governo olhar para a favela Por isso ao identificar a UPP como s mbolo da presen a do governo reconhecem que a pol tica est incompleta A demora na implanta o do projeto UPP social no Santa Marta que s teve sua primeira reuni o dois anos ap s a instala o da UPP justificada pelos respons veis pelo programa atrav s da necessidade de atender primeiro outras favelas com UPPs que segundo eles teriam pior infraestrutura OST 2012 A falta de uma implanta o efetiva do programa UPP social fez com que a UPP n o alcan asse quest es intersetoriais importantes o que por sua vez significa que a viol ncia estrutural n o foi combatida Os moradores denunciam que a instala o da UPP n o resolveu todos os problemas estruturais da favela e temem que essas quest es sejam esquecidas Esse temor se deve ao protagonismo que a viol ncia tinha em
254. localiza a casa Eles varre o caminho t m uns que bonzinho que at pega mas t m outros que n o pega As vezes quando a gente t na rua desce com o lixo a eles t varrendo e leva Mas a gente que tem que levar a gente leva todo dia Fabiane 34 anos dona de casada 3 filhos Para mais informa es http oglobo globo com rio morro dona marta primeira favela com upp sofre com esgoto 6855247 147 Alessandro 34 anos acredita que a dist ncia entre as casas e os locais destinados a deposito de lixo um dos motivos para que alguns moradores joguem lixo nas valas Dentro n o assim dentro da comunidade Por exemplo tu pega teu lixo Por exemplo tu conheceu minha casa Tu pega teu lixo e desce at o bonde at a primeira esta o Tem gente que pega e joga na vala Outros joga no mato Eu n o prefiro pegar e deixar l Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Essa estrutura como eu j falei a quest o do lixo muito s ria na comunidade A quest o do lixo gera doen as Temos um ndice muito grande de tuberculose As pessoas muita at j teve tuberculose pneumonia bact rias algumas crian as gr vidas isso muito s rio nico problema que temos do lixo ainda Acho que n o foi urbanizado ainda a mente do povo Eu acho que anos e anos jogando lixo Viu o bisav jogando lixo Viu o av Viu a m e Viu o pai Ent o eu acho que uma quest o de tempo A cult
255. los de policiamento permanente como os GPAEs revelam que a perman ncia dos mesmos policiais na favela faz com que a pol cia e os moradores se reconhe am o que reduz o peso dos estere tipos na rela o entre policiais e moradores e garante um controle social m tuo MORALES amp CANO 2007 Faz se necess rio enfatizar que os moradores entrevistados n o relataram temer agress es ou riscos pr pria vida quando falaram de sua rela o com a pol cia Ao contr rio relataram uma rela o cordial muito menos violenta e corrupta por parte dos policiais da UPP em compara o com os policiais que atuavam em incurs es na favela antes da UPP Os homens jovens entrevistados se sentem seguros quanto a sua integridade f sica temem entretanto humilha es e revistas agressivas Assim sentem se seguros psicologicamente desde que sejam conhecidos pelos policiais como morador e trabalhador Mulheres e idosos n o temem por si mas por seus filhos e demais familiares que se enquadrem no perfil de homens jovens com h bitos associ veis ao de um funkeiro ou de um rapper Nesse caso n o preciso vincula o real a grupos ou a movimentos o reconhecimento feito atrav s de roupas g rias e m sicas 4 3 2 Implica es da gest o da UPP A postura dos Comandantes da UPP um dos fatores que definem a credibilidade dos moradores no que se refere ao programa De acordo com os entrevistados a gest o da UPP muda conforme seu
256. lta das guerras entre fac es Dessa forma n o questionam o policiamento constante pois acreditam que ele fundamental para evitar o pior Em seu hist rico de vida os jovens e adultos entrevistados apontam que desde suas primeiras mem rias a favela era dominada por fac es criminosas com exce o de pequenos per odos Os idosos conheceram a favela antes do dom nio das fac es mas j presenciaram na inf ncia a a o de bandidos e da pol cia Todos os entrevistados viveram as duas ltimas d cadas sob dom nio do tr fico e sem a es de seguran a p blica efetivas o que pode ajudar a compreender porque n o acreditam na possibilidade de que o Santa Marta possa ficar sem a UPP e sem o dom nio de fac es criminosas Al m disso os moradores entrevistados apontam como justificativa para a necessidade de manuten o da UPP a continua o dos mesmos padr es de viol ncia domina o das fac es criminosas viol ncia policial aus ncia de pol tica de seguran a p blica eficiente e estigma territorial que vivenciaram no passado em outras regi es da cidade Nesse cen rio a falta de garantias da continuidade da UPP e a exist ncia de favelas que ainda vivenciam o dom nio de fac es criminosas e a es pontuais e violentas da pol cia geram inseguran a nos moradores entrevistados Fica evidente que a seguran a psicol gica dos moradores entrevistados depende tamb m das condi es de seguran a nas demai
257. m mais tempo na rua At me preocupa que fica na rua mas fica pra l e pra c dez hora onze hora tal N o tem esse medo mais V o mexer com a minha menina O garoto vai se misturar Isso dessa preocupa o acabou Evanir 67 anos pastor casado 1 filho O receio dos pais de que os filhos fossem aliciados estava baseado na percep o de que n o podiam oferecer o status social e os bens materiais que o tr fico oferecia A quest o que eles viam um ajudante do tr fico com um t nis Nike com uma camisa de marca Eles achavam que esse era o caminho porque eles iam andar bem arrumados Ia ter dinheiro na m o pra ter tudo do bom e do melhor la ter dinheiro pra botar uma coisa de primeira linha dentro de casa Isso contribuiu muito muito muito Teve uma poca que eles usavam muito cabelo pitando de loiro ent o as crian as que estavam passando da fase de adolescente pra fase adulta achavam que tinha tamb m que entrar naquela onda Ent o vinha sempre um que soprava no ouvido e levava junto Era um tal de olha leva um neg cio ali pro um cliente Come a assim eu te dou um t nis A vai passa eu te dou uma camisa Quando voc via um dois meses aquela crian a crian a j tava segurando uma arma e foi assim que eu perdi muitos colegas e muitos amigos Assim rapazes que fez a primeira primeira comunh o junto Vivian 23 anos dona de casa casada Ifilho Dacach 2008 aponta que a maternidade enqu
258. ma pesquisa com traficantes tanto pelo car ter ilegal de suas atividades quanto pela dificuldade de garantir a seguran a dos pesquisadores Dessa forma n o se conhecem os desdobramentos da instala o das UPPs nas redes de tr fico de drogas e na vida dos traficantes que continuam morando nas favelas com UPPs 120 Luiz Eduardo Soares 2012 acredita que parte dos traficantes s o for ados a sair das favelas com UPP o que ter como efeito secund rio uma restrutura o do formato do tr fico de drogas Na medida em que as UPPs v o sendo implantadas e desalojam grupos de traficantes elas involuntariamente for am a moderniza o do tr fico a qual garantir sua perman ncia e elevar seu lucro aumentando a expectativa de vida de seus operadores e reduzindo a carga pol tica que se lhes op e Soares 2012 Assim a atividade do tr fico de drogas se tornaria menos perigosa No caso da UPP do Santa Marta esse quadro parece ser verdadeiro Fabiane 34 anos afirmou que o ex dono do morro e outros traficantes fugiram para outra favela quando a UPP foi instalada Al m disso os moradores entrevistados afirmam que ap s a instala o da UPP o tr fico de drogas no Santa Marta alterou sua forma de atua o sem interromper as vendas de droga no varejo Rola um t xico Pode at rolar mas tiro a gente num ouve n o Se tem t no sapatinho N o t o exposto como antigamente Parecia feira Jurema 65 ano
259. mido de acordo com os entrevistados consistia nas incurs es policiais que ocorriam de forma inesperada e com maior frequ ncia do que as invas es Os moradores entrevistados precisavam assim realizar suas tarefas di rias tendo de lidar com um contexto de confronto armado intenso em que precisavam se proteger da a o de diferentes fac es criminosas da a o policial e dos riscos oriundos da associa o com qualquer um desses grupos Os entrevistados relatam esses per odos como sendo repletos de estresse e medo e tamb m como momentos em que experimentaram menos seguran a psicol gica Apesar de afirmarem que n o existem confrontos na favela desde a instala o da UPP em dezembro de 2008 quatro anos depois o discurso dos moradores ainda se concentra na narrativa dos epis dios de viol ncia criminal e policial que faziam parte de suas rotinas Silva e Leite 2008 apontam que a nfase quase obsessiva de relatos sobre viol ncia nos discursos de moradores de favelas uma evid ncia de que a repeti o n o levou a banaliza o desses atos pelos moradores Todos os entrevistados apresentaram muita clareza de detalhes nos fatos narrados mesmo que estes tenham ocorridos a dezenas de anos fato que deve ser considerado com mais uma prova de que a viol ncia n o foi banalizada Seja pelo dom nio do tr fico pelas guerras entre fac es pelas incurs es da pol cia a favela os moradores eram sempre prejudicados Estes t
260. mo comunidades se refere a espa os simb licos em que o sujeito tem possibilidade de participar e pertencer onde interesses individuais s o compartilhados e se tornam interesses coletivos A constru o de comunidades compreendida como um processo relacional que ocorre socialmente e subjetivamente e culmina em um compartilhamento de valores e interesses na busca por melhores condi es de vida SILVIA amp SIMON 2005 Luiz Antonio Machado 2008 afirma que apesar dos esfor os da m dia que insiste em usar a palavra comunidades o termo favela ainda o termo nativo no caso do Rio de Janeiro O autor ressalta que a refer ncia ao local de moradia como uma comunidade por moradores de favelas pode ser compreendida como parte de uma limpeza simb lica em uma tentativa de proclamar a exist ncia de uma rede de sociabilidades e valores positivos na favela A grande contradi o que a utiliza o do termo ao passar a ideia de 24 comunh o pode criar a confus o de que a conviv ncia for ada dos moradores com os bandidos uma rela o normal de vizinhan a em que la os de afeto e de solidariedade estariam presentes O termo comunidade tamb m comumente utilizado no sentido eufem stico nas rela es dos de fora com os moradores Com inten o de n o agredir o interlocutor escolhe n o usar express es estigmatizadas como favela e favelado comum que pol ticos e jornalistas s
261. morreu o Marrom e no final morreu o Lip o Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos A perda de familiares amigos e vizinhos gerava sofrimento e revolta nos entrevistados que fazem quest o de salientar a injusti a presente nessas mortes Al m disso o fato de boa parte dos assassinatos ocorrerem em locais e situa es que faziam parte do dia a dia dos entrevistados diminu a sua seguran a psicol gica A longo prazo o grande n mero de assassinatos comprometia ainda o c rculo de apoio social dos entrevistados H uma lacuna nas pesquisas sobre as UPPs referente aos traficantes N o se sabe se estes permanecem nas favelas e como isso acontece As categoriza es utilizadas nas pesquisas acad micas relativamente aos atores presentes nas favelas morador pol cia traficante l der comunit rio em muitos casos n o contemplam a possibilidade de que um sujeito possa desempenhar mais de um papel Em geral as pesquisas inclusive este trabalho se focam em dois atores os moradores e os policiais Isso exclui a perspectiva dos traficantes sobre o processo de instala o das UPPs Essa exclus o parece estar ligada ideia difundida pela m dia de que a instala o das UPPs culminou na expuls o dos traficantes poss vel que os pesquisadores tenham privilegiado os moradores enquanto grupo estudado em detrimento dos traficantes moradores Deve se considerar tamb m a dificuldade metodol gica em realizar u
262. mplo a Comiss o Nacional de Determinantes Sociais da Sa de CNDSS declarou que melhorar as condi es de moradia em favelas seria fundamental para que o pa s alcance progressos na sa de CNDSS 2005 Todavia esses avan os n o levaram cria o de pol ticas p blicas intersetoriais sobre viol ncia e sa de Apesar disso deve se considerar que decis es em qualquer setor das pol ticas p blicas podem ter consequ ncias sobre os determinantes sociais da sa de da popula o independentemente de haverem sido criadas sob uma tica propositalmente intersetorial ALMEIDA 2000 MINAYO 2000 2003 2005 2 6 O que a Sociabilidade Violenta representa Desde a modernidade a viol ncia um tema abordado prioritariamente nos estudos de direito seguran a p blica e movimentos sociais No setor de sa de a viol ncia constava na Classifica o Internacional de Doen as CID da Organiza o Mundial de Sa de OMS sob a denomina o Causas Externas que inclu a acidentes suic dios e homic dios Esse quadro vem se transformando desde a d cada de 1960 quando diversos 57 estudos do setor de sa de apontaram a relev ncia dos casos de agress o no quadro da mortalidade infantil Em seguida o movimento feminista chamou a aten o para os casos de viol ncia de g nero A entrada da tem tica da viol ncia na pauta do setor de sa de foi conclu da na d cada de 1980 ap s a ado o de uma defini o ampliada d
263. na internet em http portalgeo rio rj gov br sabren index html Segundo o conceito de favela utilizado pelo Sistema de Assentamentos de Baixa Renda SABREN da Prefeitura o Morro da Formiga o Morro do Andara o Morro do Cantagalo e o Morro Santa Marta j n o seriam favelas mas comunidades urbanizadas por terem recebido obras do Programa de Acelera o do Crescimento PAC e do Programa Favela Bairro Similar o caso do Morro do Salgueiro favela carioca famosa presente inclusive nos recenseamentos oficiais de 1920 VALLADARES 2005 poca em que as favelas ainda n o haviam sido reconhecidas oficialmente Por ocasi o da consulta do dia 29 de janeiro de 2013 o Morro do Salgueiro n o aparece no SABREN em nenhuma das suas categorias favelas comunidades urbanizadas e loteamentos 25 5 de A a O Jornal O Globo RIO em mat ria publicada no dia 29 de maio de 2011 sob o t tulo Cidade do Rio ganha 44 ex favelas relata a consequ ncia dessa nova defini o de favela Dois rg os da prefeitura a Secretaria municipal de Habita o SMH e o Instituto Pereira Passos IPP fizeram estudos e chegaram conclus o de que 44 delas deixaram de ser favelas porque j contam com servi os b sicos id nticos aos desfrutados por moradores do asfalto Na lista da prefeitura est o nove comunidades da Zona Sul como Dona Marta Botafogo Cerro Cor Cosme Velho e Vidigal Para o presidente do IPP Ricardo
264. na quadra e festas particulares Mencionam igualmente que os valores cobrados nos eventos realizados na quadra da escola de samba local inviabilizam o ingresso dos moradores da favela e reduzem suas op es de lazer A restri o da realiza o de bailes funks agrada aos idosos mas fonte de reclama o de jovens e adultos que a percebem como um ponto negativo da instala o da UPP Em comum todos se revoltam com as restri es que os policiais imp em s festas particulares como 157 redu o do som e da dura o do evento Essas restri es s o desprovidas de car ter legal e n o s o impostas s resid ncias que ficaram fora da favela 4 3 Rela o dos moradores com os policiais da UPP Dois fatores parecem influenciar a credibilidade do projeto das UPPs junto aos entrevistados Um deles refere se seguran a local o outro consiste na atua o dos policiais da UPP Todos os moradores entrevistados afirmam ter uma boa rela o com os policiais da UPP Todavia dois fatores foram citados como um empecilho a uma maior aproxima o a presen a de traficantes na favela e a desconfian a dos policiais sobre determinados grupos de moradores Al m disso o grupo pesquisado conferiu grande import ncia manuten o de uma rela o cordial ou at de amizade entre os moradores e os policiais da UPP S o especialmente valorizadas as atitudes de rever ncia cotidiana e de solidariedade exemplificadas nas falas a segui
265. ne renda entre as oito condi es b sicas para a sa de pois esta permite a melhoria nas condi es de vida Os moradores entrevistados pretendem utilizar a renda oriunda do aluguel para pagar planos de sa de comprar computadores e custear f rias em fam lia Dessa forma a especula o imobili ria pode contribuir para aumentar a renda das fam lias e melhoras sua condi o de vida Em contrapartida as fam lias ter o que viver em espa os menores 4 2 7 As transforma es nas op es de lazer As op es de lazer dentro do morro Dona Marta sempre foram reduzidas se restringindo a eventos nas duas quadras e ao uso do campinho e da pra a Os entrevistados relataram que seu tempo de perman ncia nas reas comuns da favela aumentou o que representa uma op o de lazer gratuita atribu da por eles ao fim do dom nio territorial do tr fico de 152 drogas Por outro lado relatam que a seguran a local foi respons vel por atrair pessoas de fora da favela para os eventos realizados na quadra da escola de samba o que elevou o custo dessa op o de lazer e reduziu a participa o dos moradores Estes relatam ainda que desde a instala o das UPPs todos os eventos e festas precisam de autoriza o do Comando da UPP O que eu acho que t mudando muito isso Eles UPP t o interferindo at demais Por exemplo tu t ouvindo um som P eu concordo que chega um certa hora a pessoa tem que ouvir um som mais lig
266. ng has significantly reduced police corruption and violence yet it has preserved a number of old features in their relationship with the residents Considering the lack of an intersectorial approach integrated with the UPP policy structural violence which is rooted more deeply than urban violence continues and is further compounded by the police which still operates based on personal relations Lista de siglas ADA Amigo dos Amigos fac o do trafico de drogas carioca BCS Base Comunit ria de Seguran a Bope Batalh o de Opera es Especiais CV Comando Vermelho fac o do trafico de drogas carioca TC Terceiro Comando fac o do trafico de drogas carioca TCP Terceiro Comando Puro fac o do trafico de drogas carioca OMS Organiza o Mundial da Sa de OPAS Organiza o Pan americana de sa de APS Aten o Prim ria Sa de APS seletiva Aten o Prim ria Seletiva UPPs Unidades de Pol cia Pacificadora UPS Unidade do Paran Seguro SUS Sistema nico de Sa de PNPS Pol tica Nacional de Promo o da Sa de TEPT Transtorno de Estresse P s Traum tico Sum rio ATAPI Ua ta facade nee jecacta NERO EEE ERR BROS E E A RU RRNRDE E AS E BRUCE GENRE RE SRS DER RR 12 Os efeitos da UPP na sa de e na qualidade de vida dos moradores da favela Santa Marta Fr ERR AG CS A A SR GG aa 12 Cap tulo 2 isa ints Ga aaa GR Ca a e GALA GAA GARG 20 A viol ncia urbana e a seguran a p b
267. no final da passeata esperando com que tudo aquilo acabasse para poder passar e ir trabalhar Ent o por isso que eu digo que o que eu me sentia era isso ref m dessa situa o porque ou a gente fazia ou a gente era castigado de alguma forma Nem sempre era assim mas tinha o momento deles impor e a gente tinha que fazer Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho 111 As guerras entre fac es que s vezes culminavam na invas o e na troca de comando local foram retratadas como momento de maior tens o pelos moradores Porque outra fac o quando vem n o pessoa l do morro pessoa de fora Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Era os daqui com outro morro a invadia era tiroteio direto o medo mais era esse Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos Uma coisa que marcou uma vez era cinco horas da tarde Foi 2005 uma plena segunda segunda Era dia de semana plena cinco hora da tarde Os cara falando que ia invadir o morro subir pra invadir o morro quem tava na rua Eu tava bastante longe de casa s que n o teve muito tiroteio porque era cinco hora da tarde Ent o aquele desespero de voc chegar em casa Corri mas n o adianta quando tu t nervoso tudo fica mais A chave n o encaixa A casa nunca chega O cansa o ganha ent o foi esse dia Vin cius 23 anos desempregado 1 filho A entrada de outra fac o representa um momento de instabilidade onde a m n
268. nso Quantas vezes eu fui comprar eletrodom stico ai onde que Dona Marta Ah L n o entrega a gente s entrega aqui Entendeu Hoje em dia vai at l em cima Muitas pessoas diziam quando vier algu m falar com voc at aqui no trabalho mesmo n o fala que tu mora no Dona Marta fala que tu mora aqui em Botafogo n o sempre fiz quest o de falar moro no Santa Marta moro no Santa Marta Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos 131 Alessandro 34 anos aponta que houve uma mudan a nas pr ticas do com rcio local que hoje faz entregas dentro do Santa Marta Essa mudan a pode ou n o significar a redu o do preconceito que a vizinhan a tem em rela o favela Uma hip tese que a redu o dos ndices de criminalidade e a presen a da pol cia possam ter diminu do o medo que os comerciantes tinham de sofrer um assalto o que n o garante que o preconceito em rela o aos moradores diminuiu Entretanto para Alessandro 34 anos o ato corriqueiro de comprar um m vel deixou de representar um momento de discrimina o e sofrimento o que faz com que este n o se sinta discriminado Hoje n o o Santa Marta morar no Santa Marta hoje semelhante morar na Disneyl ndia morar nos Estados Unidos morar em Paris porque a m dia est no Santa Marta C v que hoje as pessoas tem orgulho de dizer mora onde Moro no Santa Marta mas uns 10 anos atr s 20 anos atr s ningu m falava at
269. nte com hist ria e infraestrutura distintas das demais H em cada uma rela o diferente com os traficantes distintos n veis de dom nio territorial e viol ncia e com a pol cia casos de viol ncia policial e corrup o o que afeta diretamente a qualidade de vida que os moradores tinham antes e depois da instala o das UPPs Para os prop sitos desse trabalho em rela o instala o da UPP no Santa Marta escolhemos delimitar como objeto de pesquisa a perspectiva dos moradores em rela o a sua qualidade de vida e sa de Essa escolha foi baseada no hist rico de viol ncia que a favela apresentava nas duas d cadas anteriores com v rias guerras entre fac es rivais BARCELOS 2003 nos estudos sobre o impacto da viol ncia na sa de e na import ncia conferida as a es intersetoriais na Promo o da Sa de BUSS 2012 2 5 O Movimento de Promo o da sa de os Determinantes Sociais de Sa de e o contexto brasileiro Como orienta o te rica este trabalho se embasar no paradigma dos Determinantes Sociais da Sa de que redefiniu o conceito de sa de ressaltando a import ncia das condi es socioambientais Atualmente este paradigma embasa o movimento de promo o da sa de que a estrat gia central do Minist rio da Sa de brasileiro para promover melhorias na qualidade de vida da popula o A intersetorialidade da quest o 17 Para mais informa es http uppsocial org 8 Para mais
270. nte isso n o aconteceria O oi o boa tarde o boa noite at em rela o eles tentam ganhar as crian as Apertam as m os das crian as As crian as brincam muito de bola aqui e aqui atr s tem uma base deles ent o quando eles passam acaba que eles convivem no dia dia porque eles v o na padaria Eles v o na birosca comprar uma Coca Cola ou alguma coisa pro uso deles di rio e tem crian a no caminho s vezes brincando Eles pegam o pi o rodam pi o com a crian a Jogam uma bolinha Ent o eles tentam ter um relacionamento bom com a comunidade Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho Em sua analise os moradores entrevistados apontam ainda que os policiais desempenham atualmente um papel importante na sa de dos moradores Os policiais auxiliam os moradores nos deslocamentos at a rede de sa de mais pr xima Antes da instala o da UPP essa atividade era realizada pelo tr fico de drogas que pagava t xis para levar moradores at o hospital e comprava rem dios LEEDS 1999 Dessa foram a atua o policial promove o acesso sa de e inibe o uso por parte dos traficantes desses servi os como moeda de troca Ajudam levam no pr prio carro deles pessoas para ganhar beb pessoas que t o doente oferece ajuda Evanir 67 anos pastor casado 1 filha Ajudam a hora que for Se tiver passando mal tiver ca do quebrado o bra o c vai l na UPP que eles colocam no carro e levam pro
271. nte mais 191 seguro exemplificada entre outras coisas pela redu o dos casos de viol ncia dom stica fundamental para a preven o de novos casos de TEPT e para a recupera o dos indiv duos que j desenvolveram o transtorno mas que podem evitar que o quadro se torne cr nico No entanto o TEPT necessita de um tratamento especializado WIRTZ amp HARRELL 1987 CHARUVASTRA amp CLOITRE 2008 Os moradores entrevistados e os familiares destes que apresentam um quadro cl nico compat vel com TEPT n o receberam tratamento psicol gico O n o tratamento do TEPT tem como implica o que uma parcela dos moradores entrevistados continue revivendo atrav s de sintomas a viol ncia e o medo que sentiam antes da instala o da UPP Al m disso como apontam os estudos sobre TEPT abordados nas refer ncias te ricas os moradores que apresentam quadro de TEPT est o mais suscet veis a sofrer outros danos sa de f sica e psicol gica como a depress o e a viol ncia dom stica Esse quadro revela que a Cl nica da Fam lia do Santa Marta que segue o paradigma da aten o prim ria sa de defendido pelo movimento de Promo o da Sa de n o realizou uma abordagem adequada dos quadros psicol gicos gerados pela viol ncia Sugere se por consequ ncia que a Estrat gia Sa de da Fam lia e os demais dispositivos do SUS localizados em regi es com UPPs incorporem as diretrizes da Pol tica Nacional de Promo o da Sa d
272. ntos em igrejas evang licas a shows de bandas de forr H tamb m v rias lixeiras cor de laranja da empresa de limpeza urbana Comlurb paradas embaixo da esta o 1 do bonde S o de um tipo comum que pode ser puxado pelos lixeiros e t m rodinhas Para acessar a esta o do bondinho preciso subir uma rampa cercada de grades que se parece muito com o acesso s esta es de trem do estado Embaixo da rampa alguns moradores criaram um min sculo bar fechando o v o que fica embaixo da rampa e montando uma esp cie de barraco de madeira Ao longo da rampa forma se a fila espera do bonde Como o trajeto pequeno a espera n o costuma demorar mais do que dez minutos 2 O plano inclinado chamado pelos moradores de bonde ou bondinho Conta com 5 esta es que s o conhecidas por sua numera o Seu trajeto de uma extremidade outra dura cerca de 10 minutos A estrutura do bonde dividida em dois compartimentos um deles para transportar pessoas e o outro para transportar cargas O uso do bonde gratuito e n o h a necessidade de nenhum tipo de identifica o ou contabilidade de passageiros Um funcion rio fica dentro do bonde e controla o n mero de pessoas e a abertura das portas O bonde se parece com um elevador panor mico e tem bancos de um lado e barras para segurar presas aos teto como as dos trens Comporta cerca de 20 pessoas por viagem Um funcion rio de uma empresa terceirizada fica em cada e
273. o anos fundamental completo Alessandro Adulto 34 Ambulante Separado Ensino anos fundamental completo Jurema Idosa 65 Dona de casa Solteira Ensino anos fundamental completo Evanir Idoso 67 Pastor Casado Ensino anos m dio completo Apesar de quatro das entrevistas terem sido realizadas em locais p blicos a pedido dos entrevistados duas provid ncias foram tomadas para garantir a privacidade dos mesmos No bar e no restaurante sentamos em mesas afastadas dos demais frequentadores e na igreja foi solicitada autoriza o do Pastor para realizar as duas entrevistas em um hor rio em que n o houvesse atividades 85 O primeiro entrevistado foi Alessandro 34 anos evang lico nascido e criado no Santa Marta Atualmente encontra se separado da esposa com quem tem tr s filhos Vive na regi o conhecida como pico em uma casa pr pria de dois andares que divide com a ex esposa e os filhos N o concluiu o ensino m dio porque precisava trabalhar para sustentar a fam lia At hoje o nico respons vel pela renda dom stica Trabalha como ambulante em uma esquina da zona sul h mais de dez anos por isso sua renda vari vel Antes exerceu diversas ocupa es ajudante de pedreiro a ougueiro Desempenhou ainda a fun o de tesoureiro do tr fico local Alessandro revelou que sua entrada para o tr fico foi muito natural pois seus pais sempre foram usu rios de drogas e o pai teria inclu
274. o conceito de sa de MINAYO 1999 A partir da d cada de 1990 a OMS e a OPAS passaram a tratar diretamente a viol ncia como um problema de sa de mundial Em uma confer ncia sobre o tema viol ncia e sa de a OPAS apontou que A viol ncia pelo n mero de v timas e pela magnitude de sequelas org nicas e emocionais que produz adquiriu um car ter end mico e se converteu num problema de sa de p blica em muitos pa ses OPAS 1994 Nas ltimas d cadas a viol ncia urbana tornou se um dos mais complexos fen menos sociais relacionados sa de p blica no Brasil O Banco Interamericano de Desenvolvimento estima que 3 3 do Produto Interno Bruto brasileiro s o gastos com custos diretos da viol ncia Quando se incluem os gastos indiretos esse valor pode chegar a 10 do PIB brasileiro MINAYO 2000 Em 2001 o Minist rio da Sa de criou a Pol tica Nacional de Redu o de Acidentes e Viol ncia que situava as viol ncias no Brasil como um grande problema de sa de p blica Essa conceitua o era justificada pelos agravos sa de que s o atendidos no sistema SUS e pelos demais que mesmo n o passando pelo sistema de sa de s o de conhecimento da sociedade e de suas institui es A viol ncia urbana n o aleatoriamente difusa pelo espa o urbano concentrando se em alguns poucos locais e agrupamentos SILVA 2008 No caso brasileiro no interior das favelas que ela pode ser sentida na sua forma mais
275. o de Janeiro ANO XXXVII N 5 Parte I Sexta feira 7 de Janeiro de 2011 Entretanto na pr tica a instala o das UPPs se divide em tr s momentos Em um primeiro est gio o governo anuncia as favelas que ir o receber a UPP a fim de que n o existam confrontos com os traficantes locais Posteriormente o BOPE Batalh o de Opera es Especiais ou as For as Armadas entram nas favelas para reestabelecer o dom nio territorial processo que pode durar meses antes do est gio final em que a sede da UPP inaugurada e a pol cia militar passa a se ocupar do policiamento A fase de avalia o e monitoramento n o foi totalmente implementada CANO 2012 At junho de 2013 o Governo do Estado do Rio de Janeiro n o divulgou o modelo ou o resultado de avalia es feitas nas UPPs Outro ponto relevante da estrutura formal do projeto abordado no artigo 6 do mesmo decreto em que se define que os policiais lotados em UPPs devem ser rec m formados Essa medida objetiva reduzir os n veis de corrup o ao selecionar policiais que ainda n o est o habituados a pr ticas de corrup o CANO 2012 Silva amp Leite 2008 apontam que os casos recorrentes de corrup o policial geravam desconfian a nos moradores de favelas O Instituto Brasileiro de Pesquisa Social IBPS divulgou em dezembro de 2010 pesquisa que sugere que esse quadro pode estar mudando Os resultados indicam que a confian a na PM em sete favelas com UPP 60 mais
276. o do Rio de Janeiro FIRJAN que em parceria com a Prefeitura desenvolve cursos e treinamentos voltados formaliza o dos neg cios e ao empreendedorismo FLEURY 2012 Al m disso o sistema FIRJAN desenvolve projeto de educa o e sa de que atenderam at dezembro de 2011 54 mil moradores de 15 favelas com UPP Outro importante investimento realizado pela holding brasileira EBX que investir R 80 milh es R 20 milh es por ano no projeto das UPPs Esses recursos s o destinados gest o do programa e cria o e conserva o da infraestrutura das unidades Governo do Rio de Janeiro 2012 As empresas respons veis pelo fornecimento de gua e luz na cidade do Rio de Janeiro criaram programas de regulariza o do fornecimento para as favelas com UPPs e implementaram tarifas sociais No caso da CEDAE n o h previs o para que a tarifa seja extinta No caso da Light o desconto reduzido em 2 a cada m s at sua eventual extin o FGV 2012 A Light criou ainda o programa Comunidade Eficiente em que os moradores de favelas com UPP recebem geladeiras novas instala es el tricas e l mpadas fluorescentes como forma de diminuir o consumo A contrapartida dessas iniciativas est na aquisi o de milhares de novos clientes e na interrup o do roubo de energia que certamente gerava um preju zo significativo 8 Lista de parceiros do projeto das UPPs http www upprj com index php parceiro Para mais
277. o longo do trabalho de campo os entrevistados foram informados sobre os riscos e os cuidados ticos envolvidos na pesquisa e consultados atrav s do Termo de Consentimento Informado sobre sua disposi o para participar da mesma as grava es das entrevistadas e as anota es feitas no di rio de campo foram destru das ap s a transcri o todos os dados levantando ao longo da pesquisa foram mantidos em um nico computador que n o compartilhado e que tem o acesso mediado por senha os nomes dos participantes foram ocultados nesta disserta o nomes fict cios foram criados para preservar o anonimato e a seguran a dos entrevistados Outro cuidado diz respeito escolha do local para a realiza o das entrevistas Os moradores entrevistados escolheram o local em que se sentiam mais seguros para falar sobre o tr fico de drogas e sobre a atua o da pol cia Dois entrevistados escolheram realizar as entrevista fora da favela n o querendo que seus vizinhos soubessem que est o ir o E 66 A 33 participando de uma entrevista sobre este tema Apontam que paredes t m ouvido e que ainda existem traficantes na favela 3 2 A pesquisa de campo e os entrevistados 3 2 1 As etapas da pesquisa A sele o dos moradores entrevistados come ou com um contato da pesquisadora com um conhecido que atuou em um projeto social local Esse contato divulgou a pesquisa entre os participantes do projeto questionou se algu m teria inter
278. o precisava pegar ele escondeu de baixo dessa casa aqui de tijolo A depois de muito tempo ficou sem os dedos que ele veio falar que tava escondido Ele precisou apanhar Ficar sem o dedo cortado o dedo para depois falar Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos 182 Na fala dos entrevistados percebe se certa desconfian a em qualquer formato de policiamento que n o seja t o r gido quanto s puni es antes implementadas pelo tr fico Ign cio Cano 2012 apontam que essa aus ncia do dono do morro e de suas puni es um dos fatores por tr s do aumento no n mero de registro de ocorr ncias nas reas com UPP Outro fator seria o n o registro de ocorr ncias antes da instala o da UPP por medo de uma rea o do tr fico Para os moradores entrevistados os castigos do tr fico representavam em diferentes situa es um empecilho para que houvesse um sentimento de seguran a psicol gica Em outros casos como na puni o de crimes comuns o efeito era o oposto Parte da seguran a psicol gica de que os moradores dispunham antes da UPP advinha da certeza de que todos naquela regi o sabiam que um crime cometido na favela n o ficaria impune Dessa forma os moradores n o temiam roubos a pedestres dentro da favela por exemplo A viol ncia na favela era protagonizada pelo tr fico e pela pol cia Um dos entrevistados apontou que os moradores recorriam ao tr fico para resolver problemas pessoais
279. oa vem a n o tem aluguel a ela vai e aluga Mas tamb m acho que quatrocentos e cinquenta o aluguel Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos Os moradores reconhecem que o n mero de casas dispon veis para loca o no morro n o atende demanda crescente Motivados por isso dois moradores entrevistados planejam ampliar suas casas para posteriormente dividi las e alugar uma das partes Alessandro 34 anos exemplifica esse projeto Absurdamente meus planos era aquela parte de baixo que sala uma cozinha grande banheiro que ainda t fazendo obra Ainda vou fazer Minha inten o era fazer em cima Vou acabar pra minha fam lia morar em cima e alugar embaixo Aquele valor ali em baixo Eu fazendo ela Dividindo direitinho o quarto eu consigo arrumar mais seiscentos reais Tem morro ai tu vai na vila do Joao tu arruma casa com 2 andar tr s quarto sala cozinha banheiro isso por duzentos reais no m ximo O cara arruma trezentos e cinquenta Agora l aluga tudo Tem uma menina l perto da minha casa voc ficou parada perto da porta dela um espacinho m nimo menor que aqui no bar duzentos e cinquenta reais que ela pegando dinheiro qualquer cantinho agora N go quer fazer quitinete Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos 151 Vale ressaltar que em julho de 2009 a Prefeitura do Estado do Rio de Janeiro atrav s do Decreto n 30 870 09 proibiu a constru o e reforma
280. orcas de seguranca irao as ruas para evitar voto de cabresto no rio 62 pouco reconhecimento de direitos pelos moradores e pelo Estado e aus ncia de espa os de dialogo marcam um processo ainda limitado da democracia em espa os de favela Strozemberg 2010 p 69 Um exemplo significativo da limita o da democracia nas favelas o controle do tr fico de drogas sobre as associa es de moradores Estas que no passado agiam como mediadores entre o Estado e os moradores hoje sofrem quase todas interfer ncias das fac es criminosas SILVA amp LEITE 2008 Leeds 1998 afirma que os traficantes tamb m ocupam outras fun es como demonstra o trecho a seguir A troca de prote o e do anonimato que a comunidade venha a oferecer aos traficantes ela pode esperar receber uma s rie de servi os como seguran a interna dinheiro para ambul ncia ou taxi at o hospital dinheiro para rem dios sopa dos pobres creches festas infantis em ocasi es especiais e outras verbas de emerg ncia ema casos de extrema priva o Apenas uma parcela menor da comunidade pode receber benef cios financeiros diretos desse sistema previdenci rio alternativo criado pelo tr fico de drogas mas a comunidade em geral se beneficia do sistema de seguran a interno propiciado pelo grupo de traficantes Na maioria das favelas e conjuntos populares delitos como roubo estupro e outros tipos de viol ncia interpessoal costumam ser comba
281. ordens de d ficit de aten o e hiperatividade em terceiro lugar as fobias especificas em quarto lugar a fobia social e em quinto lugar o TEPT KESSLER ET AL 2005 Entretanto poss vel supor que a incid ncia de TEPT seja ainda maior uma vez que os estudos e a produ o da ind stria farmacol gica s o significativamente maiores em rela o s doen as que est o no topo da lista o que pode facilitar a busca por assist ncia m dica e consequentemente exacerbar a participa o nos indicadores TERENCE ET AL 2006 O grande n mero de pesquisas feitas em diferentes continentes sugere que apesar da influ ncia da cultura e da estrutura social sobre o curso de desenvolvimento do TEPT este n o um fen meno apenas ocidental Altos n veis de preval ncia de TEPT foram observados em estudos realizados em pa ses n o ocidentais como Arg lia Camboja Gana Eti pia e Alb nia N o houve diferen a entre os fatores de risco encontrados nos pa ses ocidentais e nos demais DE JONG ET AL 2001 As taxas de preval ncia de TEPT s o maiores em pa ses subdesenvolvidos entretanto os fatores de risco permanecem os mesmos DE GIROLAMO amp MCFARLANE 1996 No Brasil n o existem indicadores sobre preval ncia de TEPT na popula o Em raz o dos elevados ndices de viol ncia urbana se sup e que a preval ncia na popula o seja alta FREITAS 2008 O TEPT tem consider veis consequ ncias na sa de f sica psicol gica
282. ores das favelas do Rio de Janeiro tentam lidar com a contiguidade territorial inescap vel com os bandos armados ligados ao com rcio de drogas ilegais com o ass dio violento da pol cia e das mil cias e com a profunda desconfian a que essa proximidade provoca principalmente entre as popula es que n o moram nessas localidades Sem esquecer que tamb m entre os pr prios moradores a confian a m tua fica abalada Viver em tais circunstancias deriva em uma experi ncia de confinamento territorial produzido por eventos fora de controle em graus e intensidade muito maiores do que aquela que atinge o conjunto da popula o da cidade igualmente assoberbada por epis dios violentos que se repetem sem cessar Silva 2008 p 13 Para sobreviver a essa situa o os moradores tiveram de aprender os c digos da nova ordem social uso de fogos de artificio para sinalizar entrada da pol cia siglas das fac es fronteiras entre duas fac es rivais nomes dos chefes e gerentes do morro SILVA 2000 Quase todos os temas de conversa dos moradores sofrem interfer ncias dessa ordem social sejam os que envolvem a submiss o direta imposta pelos traficantes ou assuntos da vida cotidiana que aparentemente n o dizem respeito a estas esferas de atividade DACACH 2008 O preju zo liberdade de express o uma das piores consequ ncias da implanta o da sociabilidade violenta enquanto ordem social Em especial porque esse dano n o se
283. os p blicos que s o alocados em obras com menor interesse da popula o 140 4 2 5 Os dois lados da regulariza o dos servi os Os moradores entrevistados s o un nimes ao afirmar que a regulariza o dos servi os de fornecimento de gua e luz melhorou sua qualidade de vida Ap s a regulariza o dos servi os os moradores passaram a pagar tarifas simb licas relativas ao consumo de luz e gua A tarifa paga tem aumentado gradativamente o que tem impactado principalmente o estilo de vida dos moradores que vivem em casas alugadas Alguns moradores entrevistados acreditam que a tarifa praticada na favela deveria ser menor uma vez que anteriormente as empresas n o recebiam nada pelo servi o Diante da cobran a obrigat ria os moradores assumem uma postura cr tica em rela o qualidade do servi o Os servi os urban sticos que usualmente s o fornecidos pelo Estado como luz e saneamento b sico foram instalados inicialmente no Santa Marta assim como em outras favelas atrav s de mutir es organizados pelos primeiros moradores As liga es clandestinas de luz conhecidas como gato consistiam de uma emenda de fio ligada a uma fonte regular de fornecimento Com a multiplica o das resid ncias aumentou tamb m o n mero de liga es clandestinas Apenas cerca de 10 dos moradores tinham liga es regulares de luz A distribui o de gua no Santa Marta tinha uma singularidade Com intuito de apr
284. os afirma que come ou a apresentar press o arterial alta e sintomas como tonteira e tremedeira depois de um per odo em que o morro esteve em guerra no in cio da d cada de 1990 Quando questionada sobre a continuidade dos tiroteios na favela Fabiane 34 anos associou o t rmino dos mesmos a melhoras em seu quadro de hipertens o N o mais n o Depois que fizeram a UPP no dia teve muito tiro mas agora n o t tendo mais n o Nem tomo mais rem dio pra press o t bem calmo agora Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos Fabiane 34 anos afirma que sua press o arterial est controlada e por isso o m dico dispensou a medica o Atualmente faz tratamento psiqui trico Afirma desconhecer seu diagn stico Diz que sempre teve problema nos nervo e por isso recebeu encaminhamento para o psiquiatra Segundo ela atualmente ainda faz uso de calmantes por conta de discuss es com o marido Todo seu tratamento foi feito em diferentes unidades do SUS em nenhum dos centros em que foi atendida Fabiane foi questionada sobre sua rela o com a viol ncia Tampouco os profissionais da Cl nica da Fam lia do Santa Marta que fazem visitas regulares a sua fam lia abordaram a quest o da viol ncia As dois filhos mais velhas de Fabiane 34 anos se recusam atualmente a fazer os cursos oferecidos na sede da UPP em raz o da localiza o As meninas teriam visto neste local 128 corpos de pessoas ass
285. os e reconhecida por todos atrav s da col nia de f rias realizada desde a d cada de 1980 Al m destas institui es com v nculo religioso prestam servi os como oferta de tratamento a dependentes qu micos doa o de cestas b sicas e atividades educacionais e recreativas Ap s a instala o da UPP os movimentos sociais locais receberam in meras propostas de parcerias o que gerou aumento nas atividades educacionais oferecidas aos moradores Como a es vinculadas instala o da UPP registra se ainda a realiza o de cartilhas sobre direitos humanos e viol ncia policial OST 2012 Luiz Eduardo Soares 2012 aponta que os movimentos sociais t m papel fundamental na fiscaliza o e den ncia das formas de atua o dos policiais das UPPs o que garante a qualidade do programa Outra mudan a no cen rio dos movimentos sociais locais ap s a instala o da UPP foi a diminui o do seu papel de interlocutor nas a es do Estado na favela Com o fim do controle territorial pelo tr fico os diversos setores da administra o p blica se aproximaram da favela sem buscar o aux lio da associa o de moradores Exemplo significativo foi a instala o de um Polo social que re ne diversos servi os sociais da Prefeitura nas proximidades do morro Dentro do Polo est localizada a Cl nica da Fam lia do Santa Marta Durante sua implanta o os profissionais que l trabalham realizaram o mapeamento das resid ncias e cad
286. os que n o foram expostos novamente a est mulos relacionados ao trauma apresentaram altos n veis de estresse e a manuten o dos sintomas ao longo do estudo Os resultados desse estudo evidenciam a import ncia para a recupera o dos indiv duos que desenvolveram TEPT de pol ticas p blicas que atuem na diminui o dos n veis de viol ncia Os casos de TEPT s o um problema de sa de p blica cujo tratamento n o se restringe ao setor de sa de Sabe se que esse transtorno est ligado especialmente aos casos de viol ncia interpessoal Assim pol ticas intersetoriais que contribuam para a diminui o dos casos de viol ncia no pa s estariam atuando no principal fator desencadeador do TEPT Al m de prevenir novos casos a diminui o nas taxas de criminalidade e de demais eventos violentos como os n meros de acidentes de tr nsito auxilia na recupera o dos indiv duos que j apresentam o transtorno Os sujeitos que desenvolvem TEPT necessitam de atendimento especializado que pode se dar por diversas correntes psicoterap uticas No entanto existe um consenso na comunidade cientifica mundial de que o sucesso do tratamento est relacionado s condi es ambientais em que os indiv duos est o inseridos Deve se prioritariamente evitar a reincid ncia de eventos traum ticos que tenham correla o com o evento original e oferecer apoio social CHARUVASTRA amp CLOITRE 2008 As quedas nos ndices de viol ncia observa
287. os entrevistados tinham e t m com o tr fico de drogas para melhor compreender sua rela o com os policiais da UPP Ambas as entrevistadas tinham familiares envolvidos com o tr fico de drogas Vivian 23 anos tem primos e tios no tr fico nenhum deles em posi o de ger ncia ou chefia v rios viciados em drogas Vivian 23 anos narra uma inf ncia permeada pelo medo de que outra fac o expulsasse sua fam lia do morro e das constantes revistas policiais sua casa Fabiane 34 anos por sua vez tinha o marido em um cargo de chefia do tr fico primos e tios em diferentes fun es e outro familiar o qual foi dono do morro por muito tempo Fabiane 34 anos apresenta ainda um grau de parentesco com o atual gerente da boca de fumo do Santa Marta Fabiane 34 anos n o narra nenhum medo envolvendo o tr fico ou a pol cia fazendo uma distin o entre as consequ ncias do dom nio do tr fico e este e diz que sempre foi respeitada por todos os meninos Porque se a UPP sair da n o vai ter mais tiroteio os menino v o poder voltar porque eles aqui do morro sempre respeitou a gente Eles era muito eu tamb m gosto deles eles nunca fez mal assim pra gente tamb m Eu gosto 162 deles mas se UPP n o sair deixa por a mesmo N o pra mim n o faz diferen a n o Os menino voltando ou a UPP a n o faz diferen a nenhuma O importante a gente ter o acesso livre pra andar dentro da comunidade deixar as nossas
288. os moradores os moradores n o eu n o tenho nada a declarar e tal isso outro tamb m n o teve mas teve um morador muito especial que falou eu falei n o pelo amor de Deus N O Pastor Evanir ah que isso a pronto Foram atr s de mim A bateram na minha porta bum bum bum Pastor tem que ir embora tem que descer os cara tr fico t o esperando o senhor l no morro imita voz masculina Porque eles sa ram e foram pra outro morro n Vou levar o senhor a pro outro morro O senhor falou aquelas coisa ai O morro todo t sabendo O senhor uma pessoa de influ ncia O morro todo vai ficar teleguiado com a palavra do senhor e n o pode acontecer isso na comunidade Ent o o senhor vai ter que sair do morro A eu inventei um monte de coisa Foi terr vel Evanir 67 anos pastor casado 1 filha Evanir 67 anos teve de sair do morro Ficou escondido at que seus amigos conseguissem convencer o chefe do tr fico local de que ele n o teve inten o de prejudic lo Esse tipo de negocia o conhecida como desenrolo e foi o que garantiu a seguran a f sica de Evanir que pode retornar ao morro depois de obter autoriza o do Evanir 67 anos se refere em sua fala a uma pol tica de seguran a p blica conhecida como Mutir o da Paz Esse programa durou cerca de um ano no Santa Marta e apresentava os mesmo objetivos das UPPs ocupa o pac fica do territ rio e entrada de pol ti
289. ostar na minha filha Encostar na minha filha vai ter que encostar em mim Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos A domina o exercida pelo tr fico tinha dois n veis o f sico e o psicol gico A consci ncia de que estavam sujeitos a castigos que poderiam colocar em risco a integridade f sica e moral de toda a fam lia comprometia o n vel de seguran a f sica dos moradores Como a seguran a psicol gica a percep o do risco envolvido nas atividades di rias do sujeito tamb m era afetada Dessa forma o testemunho dos crimes violentos das torturas e da humilha o presentes em alguns dos castigos representava para os moradores um alerta do que poderiam sofrer em intera es com o tr fico Al m disso gerava baixos n veis de seguran a psicol gica o que garantia a submiss o dos moradores for a da ordem social representada pelos traficantes Quando questionados sobre como sentiam ao ter que conviver com o tr fico de drogas Vivian 23 anos e Alessandro 34 anos afirmaram que a presen a do tr fico de drogas fazia deles ref ns N o sei se bem essa palavra mas eu acho que ref m Ref m Ent o assim na poca eu me sentia assim ref m deles porque al m de voc conviver com a qualquer momento ter uma guerra um tiroteio e voc n o ter liberdade voc n o poderia passar por cima da lei deles Porque eles tinha leis dentro da comunidade ent o voc tinha que pre
290. oto que falou mal da Priscila Porque a Priscila pegava duro Neg cio de festa ela pegava duro T tendo uma festa T tendo proibid o Ela ia l parou Se botar m sica decente vai ter festa Do contr rio n o tem ah Saiu um garoto da pris o a j t fazendo merda Algu m ligava e denunciava Onde que ele mora No outro dia ela tava l 6 se tu fizer besteira eu vou te prender Aconteceu isso com o garoto ficou andando l amea ando os outros armado O nico depois da UPP ficou andando armando Foram l e prenderam ele Nem a m e dele vai visitar ele Falou n o quer tomar jeito Deixa l A gente desacreditamos um pouquinho por causa da Priscila Ela saiu Por que tiraram ela Quando a Priscila t l nego chama ela de mam e a mam e t a a 6 bora meter o p Ah agora botaram um cara atual Comandante da UPP Tenente Gabriel Cavalcanti l O cara s vai l quando tem festa que vai chamar aten o O cara que t l o capit o que t l s pra isso Antes funcionava funcionava Minha filha t l Eu cheguei Eu s olho era assim Nego n o gostava da Priscila porque ela pegava duro Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos O relato do Alessandro 34 anos revela que a falta de consist ncia na atua o dos comandantes da UPP altera a percep o dos moradores sobre a efici ncia do programa o que refor a uma imagem de que a UPP enquanto programa seria pass
291. oveitar o declive acentuado do morro os moradores instalaram os canos de gua sobre as resid ncias com fluxo de cima para baixo aproveitando a localiza o do reservat rio de gua que ficava no topo do morro Durante os tiroteios o encanamento era perfurado pelas balas Os furos nos canos ficaram conhecidos como chuveirinhos BARCELLOS 2003 Ap s a instala o da UPP uma das principais mudan as que ocorreram na din mica interna do Santa Marta se refere regulariza o do fornecimento de gua e de luz Antigamente as pessoa n o pagava luz pagava gato net Hoje em dia eu pago luz feliz Muitas pessoas paga luz feliz porque Porque quando dava seis sete hora da noite at oito hora da noite acabava a luz Eu tinha que ir com alicate pra casar gato de outro canto todo dia poca de ver o ent o A minoria que Dados fornecidos pela companhia de fornecimento de energia do Estado do Rio de Janeiro Light 141 reclama a minoria T bom n o falta luz no morro Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3filhos Al m da baixa qualidade do fornecimento de energia as liga es clandestinas de luz representavam risco de vida N o s devido ao fato de os moradores n o terem treinamento ou material de seguran a para realizar instala es el tricas mas tamb m pelo risco de inc ndios causados por curtos circuitos Evanir 67 anos contou ter presenciado inc ndios que ocorreram em virt
292. p gl globo com parana noticia 2012 03 londrina vai receber primeira unidade parana seguro do interior html Acesso em 16 de maio de 2012 atua o dos policiais da UPP reduz significativamente a corrup o e a viol ncia policial por m vem preservando antigas caracter sticas no que tange s rela es com os moradores Considerando a falta de uma abordagem intersetorial integrada UPP a viol ncia estrutural mais profundamente enraizada que a viol ncia urbana continua e inclusive refor ada pela pol cia que permanece atuando com base nas rela es pessoais Abstract Moura Flavia de Sousa Pol ticas de Seguran a e Sa de A Unidade de Pol cia Pacificadora na favela Santa Marta Rio de Janeiro Disserta o Mestrado em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social EICOS Instituto de Psicologia Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2013 The territorial domination exerted by criminal factions in the favelas of Rio de Janeiro since the 1970s has generated high levels of violence impinging directly upon the health and quality of living of its residents who had to deal with interruptions in their daily life with significant lethal and traumatic potential In 2008 the implementation of the first UPP Pacifying Police Unit in the Santa Marta favela decreased local crime rates Four years later 33 favelas in Rio de Janeiro have received UPPs which became a nationally acclaimed public security pol
293. pai fala que aquele legal as meninas tu vai querer ser o que Trabalhador que nego no morro chamava de ot rio Eu n o cheiro Experimentei maconha n o gostei Nunca fui de beber Sa pra noite Do jeito que eu sai eu voltava Bebia um monte de coca 100 cola refrigerante alguma coisa O pessoal me chamava de ot rio Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Ap s sair do tr fico aos dezoitos anos Alessandro 34 anos afirma que era visto como ot rio pelos outros jovens da favela Alessandro 34 anos reconhece o papel da fam lia na forma o das crian as entretanto fala de uma representa o compartilhada por parte da vizinhan a que enxergava quem obtinha ganhos modestos como trabalhador como ot rio em compara o aos ganhos obtidos pelo tr fico Essa desvaloriza o do trabalho formal se somava s demonstra es de for a do tr fico produzindo uma imagem sedutora Nesse contexto a instala o da UPP impede o dom nio territorial dos traficantes a ostenta o de armas e as demonstra es de for a Por conseguinte reduziu a capacidade do tr fico de reproduzir imagens que o simbolizavam como fonte de poder e status social Agora com a UPP muda o conceito Antes na brincadeira de pol cia e ladr o todo mundo queria ser ladr o Agora eu vejo os moleques brincando que s o do Bope Eu sou BOPE Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos
294. para me proteger S o dessa poca as minhas primeiras mem rias de assassinatos e corrup o policial na porta de casa Redigi boa parte dessa disserta o de mestrado ao som de tiros de fuzil Diante disso concentrei me nos estudos sobre favela Participei por tr s anos de um grupo de pesquisa coordenado pela Professora Maria Cec lia de Mello e Souza sobre a atua o de lideran as comunit rias em favelas no Rio de Janeiro o que me possibilitou conhecer a din mica social de favelas de v rias regi es da cidade Nos anos de 2008 e 2009 atuei como educadora popular nos projetos sociais vinculados ao Programa Nacional de Seguran a P blica com Cidadania Pronasci projeto desenvolvido pelo Minist rio da Justi a como estrat gia de enfrentamento criminalidade no pa s No Estado do Rio de Janeiro o Pronasci foi implementado em 28 favelas Minhas experi ncias pessoais e profissionais em diferentes favelas do Rio de Janeiro sempre tiveram a viol ncia como pano de fundo A cada dia aprofundava se em mim a percep o de que a viol ncia era n o s uma barreira para cidadania efetiva dos moradores de favelas mas tamb m um preju zo consider vel para a sa de destes 19 Cap tulo 2 A viol ncia urbana e a seguran a p blica nas favelas cariocas a UPP no contexto da Promo o da Sa de Os efeitos da UPP na sa de dos moradores da favela Santa Marta consistem especialmente na percep o de seguran a psicol gica
295. ponta ademais para uma redu o na incid ncia de confrontos em favelas o que possibilita menos v timas letais e embargos vida cotidiana Apesar dessas evid ncias as UPPs n o t m sido abordadas nas pesquisas acad micas sob a tica da sa de Existe assim uma lacuna nos estudos sobre as UPPs que n o contemplam seus efeitos na sa de e na qualidade de vida dos moradores As defini es de sa de e qualidade de vida propostas pela OMS estabelecem 12 diversos determinantes sociais como condi es para a sa de o que representa uma afirma o do car ter multissetorial das quest es de sa de Al m de propor um novo enfoque sobre as UPPs esta disserta o visa a apresentar o ponto de vista dos moradores sobre os efeitos da instala o da UPP em sua qualidade de vida A m dia privilegia os gestores dessa pol tica e as pesquisa cientificas realizadas por grandes institui es se concentram na aprova o ou n o da mesma pela sociedade carioca Pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social 2011 apontam uma aprova o a UPP superior a 70 entre moradores de favelas com UPP e sem UPP e de cerca de 90 dos n o moradores de favelas Nesta pesquisa os dados qualitativos indicam a percep o por parte dos moradores de uma maior seguran a psicol gica liberdade e diminui o do estigma perspectiva que possibilitada pelo fim do dom nio territorial e das incurs es policiais Apesar desse ef
296. por isso eles estariam pagando por uma obra que n o foi realizada Al m disso temem que diante do protagonismo que a viol ncia tinha na imagem da favela a UPP seja compreendida como a solu o de todos os problemas e ofusque as quest es estruturais que ainda n o foram resolvidas Ap s a instala o da UPP a prefeitura encarregou a Comlurb de fazer o servi o de coleta de lixo Aquilo que poderia significar um avan o uma vez que a favela teria o mesmo servi o que os demais bairros representou para os entrevistados que residem na parte alta do morro a perda de um servi o Fabiane 34 anos narra que anteriormente os garis comunit rios retiravam as sacolas de lixo na casa dos moradores e levavam at a parte baixa do morro Hoje em dia apesar de contar com a limpeza das vias realizada pelos garis da Comlurb os pr prios moradores precisam caminhar todos os dias carregando sacolas com lixo at a entrada da favela N s t nhamos os garis comunit rios que passava e recolhia o lixo e levava l pra baixo Eu acho que eles eram da prefeitura Acho que a prefeitura que pagava eles Eles tiraram os gari comunit rio e agora colocaram mesmo os garis da comlurb mas eles n o recolhem as bolsas de lixo A gente que levar at as esta es e coloca l nos containes pra depois eles pegarem Vivian 23 anos dona de casa casada Ifilho Esse trajeto inteiro de escadarias e pode levar at 15 minutos dependendo de onde se
297. porque os sintomas de esquiva social est o presentes nos casos de TEPT cr nico ou seja os indiv duos que contam com apoio social teriam menos chance de desenvolver a forma cr nica do transtorno NORTH ET AL 2001 SILVER ET AL 2002 Uma pesquisa que acompanhou durante 14 anos ex combatentes com TEPT revelou que os indiv duos que mantiveram um bom relacionamento com a comunidade apresentaram maiores ndices de remiss o dos sintomas ao longo do estudo Por outro lado os indiv duos que n o mantinham la os de vizinhan a apresentaram maior preval ncia de TEPT cr nico KOENEN ET AL 2003 Esses dados evidenciam a import ncia do di logo e da confian a m tua entre vizinhos como forma de lidar com a ang stia e o medo presentes no TEPT e diminuir o efeito dos sintomas No caso das favelas dominadas por fac es criminosas a confian a m tua entre vizinhos afetada pela lei do sil ncio imposta pelos traficantes e pelo temor de ser conhecido como x 9 g ria usado para designar os delatores A experi ncia 77 traum tica em muitos casos o testemunho de um crime revelar sentimentos e contar como esse epis dio ocorreu pode significar um risco de vida Wirtz amp Harrell 1987 observaram que os indiv duos com TEPT que foram expostos ao ambiente ou a situa es pr ximas ao evento traum tico original sem sofrer outro trauma apresentaram diminui o dos sintomas ap s seis meses Em compara o os indiv du
298. posi o de pol ticas p blicas de seguran a no Brasil um movimento pendular oscilando entre a reforma social e a dissuas o individual Sabemos que as reformas na estrutura social s o postergadas e por conseguinte as pol ticas p blicas pendem para a criminaliza o individual BEATO FILHO 1999 As pol ticas de seguran a do estado do Rio de Janeiro no ltimo s culo s o basicamente reativas e baseadas na repress o mais do que na preven o Com frequ ncia os governos reagem diante dos casos com repercuss o p blica adotando uma resposta de curto prazo sem obter redu o significativa nos ndices de criminalidade Al m da falta de planejamento o modelo tradicional sofre com uma forma o de profissionais deficiente com a heran a autorit ria com os abusos dos direitos humanos e com a corrup o institucional N o obstante muitos defensores desse paradigma repressivo continuam defendendo n o s a continua o mas a intensifica o das velhas pol ticas CANO 2006 COSTA 2004 No Estado do Rio de Janeiro a maior mudan a no quadro da seguran a p blica se deu ap s o processo de redemocratiza o O ent o governador Leonel Brizola estabeleceu o controle civil das pol cias e criou o Conselho de Justi a Seguran a P blica e Direitos Humanos que reuniu diversas institui es governamentais e civis visando reestrutura o das pol ticas de seguran a Leonel Brizola instituiu ademais o Plano de
299. pra pedir emprego as pessoas n o falavam falava eu moro em botafogo Evanir 67anos pastor casada 1 filha Nesse cen rio a presen a de turistas e da m dia parece contribuir para a diminui o do preconceito ou pelo menos da percep o que os moradores t m sobre o seu local de moradia e a exist ncia de um estigma Deve se considerar que a valoriza o do local de moradia em contraposi o ao estigma parece ter reflexos positivos na autoestima dos moradores Nem subiam hoje eu falo e a gente ri muito com isso eles tinham que subir aqui antes realmente assim rolava um preconceito muito grande n o sei se era um preconceito ou uma precau o porque todo mundo que morava em favela naquela poca era bandido era traficante era assaltante era isso ou aquilo eu j presenciei muito disso dos meninos da minha comunidade que n o faziam parte que n o pretendiam fazer parte porque gra as a Deus um boa parte deles tomou um rumo bom da pessoa na rua achar que e n o querer o filho andando junto Mudou muito Hoje tem turista que sobe sozinho j sabe as esta es que vai soltar e sobe sozinho Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho N o n o assim preconceito era medo mesmo as pessoa vinha as vezes ficava na rua ai d pra subir a a gente d a gente sobe e desce Porque eles quer vender as coisas mas ficava com receio de subir e acontecer alguma coisa de ter tiroteio e el
300. qua o as demandas governamentais com objetivos bem especificados e prazos desviando se de a es de mobiliza o da popula o Projetos pontuais foram priorizados em detrimento de a es de est mulo a uma postura cr tica da popula o GOHN 1997 O impacto da reorienta o dos movimentos sociais ao longo das ltimas tr s d cadas passando da mobiliza o da popula o a uma postura cr tica at a participa o em Parceria realizada entre a UPP Santa Marta e o projeto SESI Cozinha Brasil classes em janeiro de 2011 139 projetos tem ticos pontuais ecoa at os dias de hoje sob a forma da baixa participa o social Essa desmobiliza o demonstra que os movimentos sociais est o intrinsicamente ligados a valores de cidadania e dependem destes como motiva o para existir Ainda que a participa o social esteja limitada a projetos pontuais necess ria uma postura consciente do papel de cidad o de direitos para motiv la Com a baixa participa o social os moradores perdem voz para reivindicar seus direitos O cen rio pol tico local fica enfraquecido e os movimentos sociais locais esvaziados Exemplo desse cen rio a amea a de remo o dos moradores que vivem no pico do morro Os moradores entrevistados demonstram revolta e solidariedade quando falam das remo es acreditam que esta motivada pela especula o imobili ria e pelo interesse de empres rios pela localiza o privile
301. que aquele espa o oferece para o desenvolvimento social de cada indiv duo Os adultos participam em geral do mercado de trabalho o que leva sa da da comunidade e ao confronto com outras condi es de vida Al m disso encontram se na 83 fase da forma o de uma nova fam lia o que faz deles em parte respons veis pela qualidade de vida de terceiros A faixa et ria entre jovens e idosos de 24 aos 60 anos foi adotada como refer ncia para a sele o dos adultos que ser o entrevistados Em rela o aos idosos selecionados foi considerada a faixa et ria delimitada pelo Minist rio da Sa de a partir de 60 anos Os idosos t m mem rias de diferentes momentos da hist ria da comunidade assim como de sua pr pria qualidade de vida nesses contextos o que lhes proporciona uma perspectiva hist rica sobre a qualidade de vida naquela favela 3 2 2 Os entrevistados A proposta da pesquisa foi explicada aos entrevistados que logo indicavam outros vizinhos Ao longo do trabalho de campo contei com a ajuda de um morador posteriormente entrevistado que me guiou pela favela em duas ocasi es apresentando os principais pontos O contato com esse morador foi feito atrav s de um colega psic logo que o conhecia por ter participado de projetos sociais locais Alessandro foi meu anfitri o no trabalho de campo A entrevista com Alessandro aconteceu em bar pr ximo ao seu local de trabalho porque este afirmou ficar ma
302. que j s o conhecidos que s o dispensados de revistas e de abordagens com armas Dessa maneira os moradores entrevistados apontam que se sentem mais seguros quando s o reconhecidos pelo nome e cumprimentados pelos policiais do que quando a rela o impessoal Apesar de relatarem que a conduta policial pouco violenta e que n o temem por sua integridade f sica fica evidente que a postura dos policiais conserva um padr o discriminat rio e de enfrentamento similar ao utilizado pela pol cia na favela antes da UPP Assim os moradores n o confiam que sua condi o de cidad o ser suficiente para garantir sua seguran a Preferem ser reconhecidos pelos policiais e evitar o perfil estigmatizado para n o sofrer revistas abusivas Espera se das for as policiais que tratem a todos os cidad os da mesma forma Do contr rio a atua o dos policiais da UPP refor aria estigmas ao empregar um tratamento desigual com determinados grupos de moradores Ou seja a atua o dos policiais da UPP contribui para a continua o da viol ncia estrutural onde agentes do Estado reproduzem desigualdades sociais Morales amp Cano 2007 apontam que a manuten o dos policiais em outras experi ncias de policiamento comunit rio se mostrou eficaz na redu o da desconfian a m tua pois permitia uma familiaridade que dissolvia estere tipos e permitia um controle m tuo Se o mesmo grupo de policiais for mantido a familiaridade ser poss ve
303. quitetura local Ao valorizar diferentes aspectos da favela como a vista a arquitetura da favela e a m sica o turismo contribui para a valoriza o da favela como uma forma de habita o nica de seus moradores e da cultura local Esse fen meno de entrada da cidade na favela CANO 2012 contribui para a cria o de uma representa o menos estigmatizada sobre a favela que faz com que as favelas com UPP sejam compreendidas como espa os seguros de visitar Essa nova representa o amplamente refor ada pelos moradores que apontam um acr scimo na sua auto estima e um sentimento de orgulho associado ao local em que vivem Esse resultado revela ainda que a es intersetoriais como o turismo ainda que n o sejam governamentais t m efeito positivo na sa de dos moradores Esta disserta o evidenciou que o sofrimento ps quico oriundo da viol ncia era um preju zo qualidade de vida e sa de dos moradores t o grande quanto os danos f sicos Se por um lado as instala es prec rias de luz geravam risco de inc ndio por outro a consci ncia de que se estigmatizado gerava sofrimento e vergonha Revelou ainda que in meros DSS melhoraram com a instala o da UPP principalmente no primeiro ano dessa pol tica Nos anos seguintes n o foram feitas melhorias na infraestrutura local fazendo com que os benef cios experimentados pelos moradores fossem consequ ncias das mudan as iniciais como a qualidade dos ser
304. r Mudou n ga mudou Eu vejo que tudo conviv ncia n cara Voc ver policiais que sabe d uma boa tarde uma boa noite Sabe indicar alguma coisa entendeu Trata bem trata E a gente tamb m trata melhor eles porque antes n o podia falar com eles tu falar com pol cia tu era considerado qual o cara t falando com pol cia por qu E E nesse in cio voc acreditava que ia dar certo A N o acreditava mesmo n o E Quando que voc come ou a acreditar que a coisa ia mesmo adiante A Cara quando come ou a colocar policiais novos Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos A atua o dos policiais da UPP analisada em compara o com a atua o dos Pms que realizavam o policiamento antes da UPP A principal diferen a aponta pelos moradores a conviv ncia cordial com exemplificam a seguir Eles policiais da UPP passa fala com a gente D um bom dia Antes nem olhavam Eles s n o gosta n o quer ver briga aqui dentro nem em casa nem no caminho Eles n o gosta n o briga n o A quando tem briga dentro de casa ou no caminho eles vai leva pergunta porque a briga t brigando porqu Eles n o gosta de briga dentro do morro Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos 158 por exemplo quando a gente sobe no bonde e eles t o armados eles n o sobem no mesmo compartimento que a gente Eles sobem no compartimento de bagageiro Se fosse antigame
305. r na melhoria da sua qualidade de vida e sa de incluindo uma maior participa o no controle deste processo O texto aponta para a intersetorialidade do campo da sa de ao anunciar oito condi es para a sa de paz abrigo educa o alimenta o renda um ecossistema est vel recursos adequados justi a social e equidade IRWIN amp SOLAR 2005 BUSS 2000 A Carta de Ottawa 1986 p 1 define ainda que a sa de o maior recurso para o desenvolvimento social econ mico e pessoal assim como uma importante dimens o da qualidade de vida Posteriormente a Organiza o Mundial da Sa de 1986 definiria a qualidade de vida como a percep o do indiv duo de sua posi o na vida no contexto da cultura e do sistema de valores em que vive e em rela o aos seus objetivos expectativas padr es e preocupa es Desta forma o conceito de sa de est inter relacionado ao de qualidade de vida a condi o geral de sa de do indiv duo contribuir para que ele tenha uma boa qualidade de vida o que por sua vez crucial para se ter sa de BUSS 2000 2006 Entre os seus postulados a Carta de Ottawa defende que os servi os de sa de n o se limitem a cuidados de preven o curativos e de reabilita o e se orientem para a Promo o da Sa de Afasta se assim do paradigma sa de doen a e compreende a sa de como recurso para a vida Reconhece o papel do indiv duo e da comunidade na melhoria da pr pria
306. r tica s UPPs no entanto Vinicius 24 anos afirmou que prefere n o falar da UPP perto da fam lia e de amigos porque muito criticado ao falar mal da pol tica Dessa forma seja por medo de sofrer repres lias do tr fico ou de ser mal interpretado ao criticar a UPP a confian a m tua entre vizinhos permanece abalada Outro fator que afeta a seguran a psicol gica dos moradores entrevistados atualmente o conhecimento sobre as a es de diferentes fac es criminosas no restante da cidade A continua o em outras regi es dos mesmos padr es de domina o e de viol ncia experimentados no passado pelos entrevistados faz com que estes n o consigam vislumbrar a possibilidade de que a favela possa ficar sem a UPP e sem o dom nio do tr fico simultaneamente Os moradores acreditam que essa ideia absurda e s o un nimes aos afirmar que isso nunca ser poss vel Nesse cen rio a multiplica o das UPPs ou de outras a es que garantam o fim da domina o territorial de fac es criminosas no restante da cidade seria de extrema import ncia para aumentar os n veis de seguran a psicol gica dos moradores 4 2 Determinantes Sociais da Sa de 4 2 1 E a qualidade de vida dos traficantes Deve se considerar que os traficantes tamb m residiam na favela e tinham la os de parentesco e amizade com os outros moradores Essas rela es foram representadas ao longo das entrevistas como fonte de estresse e medo para os famil
307. r a porta n o tia deixa eu entrar deixa eu entrar deixa eu entrar tia e a minha m e falou aqui voc n o vai entrar se voc quiser ir l pra tr s e se esconder atr s da casa tu pode ir E eu lembro que depois que deu uma acalmada esse traficante voltou pra xingar a minha m e e a minha m e ela n o baixa a cabe a pra nada ent o ela tamb m discutiu ela falou porque o chefe de voc s n o faz uma coisa dessas Eles foge pro mato Eles d o o jeito deles Eles n o entra na casa de morador porque que eu ia abrir minha porta pra voc dai foi uma discuss o muito feia e eu fiquei naquele dia eu pensei pronto agora que ele vai dar um tiro na minha m e Vivian 23 anos casada dona de casa 1 filho Por ter familiares envolvidos com o tr fico de drogas Vivian 23 anos revela que seu maior temor quando crian a era que sua fam lia fosse expulsa da favela quando outra fac o invadia o morro Pelo mesmo motivo temia a presen a da pol cia Sua casa sofria constantes revistas policiais circunst ncia em que as crian as participavam de uma estrat gia para defender a fam lia de uma poss vel corrup o policial Outra coisa tamb m que era muito comum era eles colocarem flagrante para dizer que era da pessoa e que tava dentro daquela casa Como n s j sab amos disso at n s adolescentes e crian as entrava dois tr s Cada um ia para um canto a gente se dividia e ia atr
308. r desta pesquisa Como parte do estudo sua contribui o ser a participa o em uma entrevista sobre a instala o da UPP e como afeta o dia dia dos moradores A entrevista pode ser realizada em local de sua prefer ncia na comunidade ou em outro local em que voc se sinta mais confort vel importante que saiba que cada entrevista pode durar cerca de 3 horas e que a mesma ser gravada Voc tem a liberdade de interromper a entrevista em qualquer momento e se recusar a responder a qualquer pergunta A participa o na pesquisa pode trazer algum risco a voc uma vez que a pesquisa aborda quest es relativas ao tr fico de drogas e a atua o da pol cia Todos os nomes e refer ncias locais citados ao longo das entrevistas ser o omitidos e trocados S ter o acesso sua entrevista o grupo de pesquisadores e o orientador da pesquisa A entrevista ser gravada e transcrita com codinomes Ap s a transcri o a grava o ser destru da Somente eu e o professor orientador da pesquisa ter o acesso aos dados Para a publica o e divulga o da pesquisa tamb m ser o utilizados codinomes o qual n o permitir a identifica o dos participantes nem das outras pessoas mencionadas Uma vez que o estudo estiver conclu do voc receber uma c pia do projeto final Depois de defendida a tese estar dispon vel na internet e na biblioteca da UFRJ A pesquisa n o trar nenhum benef cio direto a voc Voc enten
309. ra Porque infelizmente ainda existe como eu te falei algumas pessoas dentro da comunidade que contra a UPP Ent o teve uma poca que eles jogavam pedra na UPP que eles xingavam alguns policiais e a acabou que alguns policiais Por exemplo se tem uma crian a de treze anos meu sobrinho por exemplo Ele uma crian a de treze 164 anos que parece que ele tem quinze anos ent o por conta de terem acontecido esses epis dios das pessoas agredirem os pol cias da UPP e jogarem pedras no policiais eles olham muito essas crian as grandes e j ficam com medo Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho E poss vel perceber na fala de Vivian 23 anos o temor de ter o sobrinho confundido com um bandido pois o hist rico de confrontos entre a pol cia e os traficantes faz com que os policiais desconfiem e sejam mais intimidadores com homens jovens Dessa maneira forma se um quadro de desconfian a m tua A rela o dos policiais com os moradores difere em rela o a g nero e idade Os moradores reconhecem um esfor o por parte dos policiais em conquistar a confian a das crian as atrav s de brincadeiras e de um tratamento carinhoso Mulheres e idosos tamb m s o tratados com cordialidade e raramente s o alvos de revistas Entretanto os homens jovens s o tratados com desconfian a e se configuram como alvo de revistas e abordagens agressivas Os moradores entrevistados n o identificam discrimina o rac
310. rabt rio de Favelas 2009 O que favela afinal Org Jailson de Souza e Silva Rio de Janeiro 2010 TARLOV A Social Determinants of Health The sociobiological translation In Blane D Brunner E amp Wilkinson R Eds Health and social organization pp 71 93 2006 London Routledge TAVARES H ET AL Favela multim dia um tour virtual pelas comunidades pacificadas pela pol cia numa s rie especial do jornal O Globo 2010 IN Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunica o XV Congresso de Ci ncias da Comunica o na Regi o Sudeste Vit ria ES 13 a 15 de maio de 2010 TAYLOR S amp REPETTI R Health Psychology What is an Unhealthy Environment and How Does It Get Under the Skin 1997 IN Annu Rev Psycho 48 411 47 Acesso em 2011 TERENCE M KEANE D MARSHALL amp CASEY T Posttraumatic Stress Disorder Etiology Epidemiology and Treatment Outcome IN Annual Review of Clinical Psychology Vol 2 161 197 Volume publication date April 2006 DOI 10 1146 annurev clinpsy 2 022305 095305 THIOLLENT M Metodologia da Pesquisa A o S o Paulo Cortez 1988 THORNE B You still takin notes Fieldwork and problems of informed consent IN Social Problems 27 3 284 297 1980 VASCONCELOS E Complexidade e Pesquisa Interdisciplinar Epistemologia e Metodologia Operativa Petr polis RJ Vozes 2002 VALLADARES L A inven o da Favela Rio de J
311. rar no Santa Marta Foi ainda na adolesc ncia atingida por uma bala perdida na entrada da favela Depois desse epis dio come ou a apresentar sintomas de TEPT que se agravaram ao longo do tempo Teve dois filhos com pais diferentes os quais nunca auxiliaram financeiramente Trabalhou como dom stica boa parte da vida e exerceu ainda a fun o de esteticista sempre sem carteira assinada Por esse motivo n o recebe aposentadoria e depende dos filhos Seu filho mais novo se envolveu com o tr fico de drogas e se tornou dependente qu mico Esse per odo foi relatado como de extremo sofrimento Atualmente o filho evang lico e sustenta a m e Somente ap s a terceira idade conseguiu concluir o ensino fundamental e cursar o ensino m dio Mora sozinha em casa pr pria na parte baixa do morro e participa de in meros cursos de forma o e atividades culturais oferecidos por ONGs O ltimo morador entrevistado foi Evanir 67 anos Evanir casado e tem uma filha Vive em casa pr pria com a fam lia na parte baixa do morro e se dedica exclusivamente a igreja Revelou que temia por sua seguran a quando era chamado pelos traficantes para mediar julgamentos O mesmo acontecia em rela o seguran a da filha que era assediada por traficantes Em uma ocasi o foi amea ado de morte pelo gerente do tr fico o que o for ou a deixar o morro por um per odo 87 3 2 3 A comunidade A metodologia etnogr fica busca o significado s
312. ras problem ticas para o campo da sa de que devem ser analisadas contornadas e ou defendidas Uma dessas quest es a dif cil operacionaliza o dos conceitos de qualidade de vida e paz analisados nesta disserta o a partir do conceito de seguran a psicol gica que permite operacionalizar em n vel subjetivo a tranquilidade oriunda dos estados de paz e seguran a A seguran a psicol gica o c lculo subjetivo do risco envolvido nas a es cotidianas o que inclui uma an lise da seguran a f sica do sujeito e se constitui em um importante indicador da percep o individual da seguran a local Assim os n veis de seguran a psicol gica 16 possibilitam uma an lise da sa de e da qualidade de vida KARK amp CARMELI 2009 EGGERS 2011 Os conceitos de sa de e qualidade de vida defendidos pela OMS e pelo paradigma da promo o da sa de foram incorporados ao Sistema nico de Sa de SUS brasileiro Atualmente a Promo o da Sa de o paradigma principal do campo da sa de no Brasil situa o que foi consolidada com a cria o da Pol tica Nacional de Promo o da Sa de PNPS Essa pol tica defende a intersetorialidade e tem entre seus objetivos a preven o viol ncia o incentivo a uma cultura de Paz e a diminui o dos determinantes das desigualdades em sa de IRWIN amp SOLAR 2005 BUSS 2000 2012 BUSS amp CARVALHO 2009 Esses conceitos de sa de e qualidade de vida incorporados a Pol tica
313. rases desafiadoras Questionada se os policiais tratavam aos moradores de forma respeitosa Fabiane 34 anos explica essa rela o 178 Respeita Tem uns que respeita mas tem outros que n o Porque tem vez que o morador que passa e joga piada que xinga Eles respeita mas cabe tamb m ao morador respeitar Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos Quando questionados sobre o fato de alguns moradores n o gostarem da UPP os entrevistados tendem a desacreditar essas pessoas Em primeiro lugar afirmam que os moradores que s o contra a UPP teriam algum n vel de envolvimento com o tr fico Eu acho que s o pessoas que teve ou tem at hoje envolvimento com o tr fico At fam lias at mulheres voc vai encontrar dizendo a palavra a UPP o Caralho E eu escuto isso de mulheres de garotas que eu sei que gostaria que ainda tivesse porque tem namorado essa coisa toda infelizmente Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho Ha ainda associa es da resist ncia a UPP com um gosto pela bagun a pela aus ncia de cumprimento das leis produzida pelo dom nio do tr fico Como vemos na fala de Alessandro 34 anos Cara a cabe a de cada um complicado compreender Eu vejo do seguinte ponto de vista muitas pessoas tinha um envolvimento tinha um parente envolvido a tinha um certo poder Outras pessoas perderam a liberdade Antigamente tinha vagabundo mas tinha liberdade de ir pra baile fazer
314. rela es de poder IRWIN amp SCALI 2005 IRWIN amp SOLAR 2005 No contexto brasileiro o neoliberalismo levou a medidas como ajuste fiscal e a diminui o do aparato do Estado o que afetou a implementa o do Sistema nico de 54 Sa de SUS O SUS tinha entre seus princ pios as recomenda es da OMS como o emprego da ATP abrangente Ao longo das d cadas de 1980 e 1990 no entanto o modelo reduzido de ATP a sa de prevaleceu No Brasil a ATP seletiva foi empregada por ONGs como a Pastoral da Crian a em campanhas de combate mortalidade infantil atrav s dos quatros pilares monitoramento do crescimento hidrata o oral aleitamento e imuniza o Estrat gia GOBI Growth Monitoring Oral Rehydration Breastfeeding e Immunization IRWIN amp SOLAR 2005 BUSS 2000 Essa estrat gia gerava resultados positivos mas n o alcan ava todos os DSS Atualmente a Promo o da Sa de o paradigma de pol tica p blica hegem nica no campo da sa de no Brasil FURTADO 2010 Em mar o de 2006 foi publicada no Di rio Oficial a Pol tica Nacional de Promo o da Sa de PNPS A referida pol tica representa um resgate as refer ncias preconizadas pela Carta de Ottawa BRASIL 2002 e promove a amplia o e qualifica o das a es de promo o da sa de propondo iniciativas caracterizadas pelos seguintes atributos integralidade equidade responsabilidade sanit ria mobiliza o e participa o social inter
315. res envolvidos com uma fac o rival que dominava o morro Em raz o da viol ncia mudou de resid ncia ap s casar e morou um ano fora do morro Voltou ao Santa Marta depois da UPP e teme que o tr fico retorne Fabiane 34 anos foi a quarta moradora entrevistada E casada tem tr s filhos e mora com a fam lia em casa pr pria Diz que evang lica afastada da igreja Nasceu e cresceu 86 no Santa Marta Engravidou aos 15 anos e foi for ada a casar pelo pai Desde ent o cuida da casa e da cria o dos filhos Foi v tima de viol ncia dom stica ao longo de toda a vida o que gerou in meras complica es m dicas e psicol gicas Come ou a apresentar press o arterial alta e sintomas de TEPT ap s um per odo em que duas fac es estavam em guerra pelo dom nio do morro Suas filhos apresentam sintomas similares Fabiane afirmou que v rios membros da sua fam lia t m envolvimento com o tr fico e por esse motivo n o tinha medo dos meninos que sempre a respeitaram Apesar disso sofria com os confrontos e as mortes Afirma que seu primo e o pai de seu cunhado que trabalhavam no tr fico de drogas teriam come ado a trabalhar em obras depois da instala o da UPP A quinta entrevista foi feita com Jurema 65 anos cat lica criada no Santa Marta at a idade de 7 anos quando relatou ter sido raptada e for ada a trabalhar como dom stica em um casa Na idade de 14 anos a m e a reencontrou e ela voltou a mo
316. res entrevistados percebem diferen as entre os moradores que apoiam os objetivos das UPPs e fazem cr ticas buscando seu aperfei oamento e aqueles que criticam porque querem a sa da da UPP 4 3 4 Criminalidade na UPP do Santa Marta Quando questionados sobre a qualidade de vida alguns moradores relataram temer que a incid ncia de crimes comuns aumentasse diante da aus ncia dos castigos que o tr fico empregava Apenas dois entrevistados apontaram a diminui o dos casos de viol ncia dom stica e a definiram como um fator positivo da instala o da UPP Por exemplo diminuiu o n mero de viol ncia contra a mulher As mulheres quando o esposo t batendo elas ligam pra UPP olha t acontecendo isso Evanir 67 anos pastor casado 1 filha A instala o da UPP parece ter facilitado o cumprimento de algumas leis como a lei Maria da Penha por exemplo As falas dos dois entrevistados revelam que parte dos moradores j sente segura para fazer den ncias pol cia E o mais importante essas den ncias foram atendidas A capacidade de buscar ajudar sintom tica da exist ncia de um ambiente que oferece seguran a psicol gica ou seja o indiv duo consegue se expressar sem que isso seja fonte de estresse continuo ou risco de vida EGGER 2011 EDMONDSON 2004 VOGELGESANG 2007 Fabiane 34 anos afirma que s parou de sofrer agress es do marido ap s a instala o da UPP pois o mesmo passou a temer a pris o Qu
317. res est o dispostos a conceder e podem culminar em um caso de desacato policial CANO 2012 171 A posi o de submiss o dos moradores aos policiais demonstra que ainda que j n o existam mais duas ordens sociais compartilhando o mesmo territ rio a rela o dos moradores com a ordem social oficial representada pelo Estado n o mediada pela no o de cidadania A atua o policial n o tem car ter homog neo e impessoal discriminat ria por exemplo no tratamento concedido a moradores que n o s o imediatamente reconhecidos especialmente homens e jovens Essa heterogeneidade evidencia que a conduta policial ainda influenciada por uma postura de enfrentamento a determinados grupos Essa postura agravada por representar a continuidade de um risco maior de vida aos indiv duos do sexo masculino na faixa et ria jovem que moram nas favelas Trata se do grupo mais vulner vel a morte por assassinato na cidade do Rio de Janeiro Entre jovens do sexo masculino a taxa de homic dios quatro vezes maior 100 por 100 mil habitantes do que a m dia da cidade 27 por 100 mil habitantes quando a cor da pele negros e o territ rio favelas e sub rbios s o considerados a taxa de homic dios passa para 250 por 100 mil habitantes Os moradores entrevistados relataram n o haver distin o na atua o policial em rela o a cor da pele O mesmo n o acontece em rela o ao sexo idade e a gostos musicais DACACH 200
318. retanto na sociabilidade violenta sua participa o se d atrav s da submiss o SILVA 2004 2008 Entre os principais pr ticas da sociabilidade violenta nas favelas est o torturas e execu es p blicas consumo e venda de drogas na porta das resid ncias exibi o de armas de fogo cria o e imposi o de regras locais limita o do direito de ir e vir e da liberdade de express o e disputas pelo controle do territ rio MEIRELLES amp GOMES 2008 ALVES amp EVANSON 2011 Fora das favelas essas pr ticas foram retratadas pela m dia em epis dios que se tornaram famosos como a execu o do Jornalista Tim Lopes por traficantes na favela Vila Cruzeiro A viol ncia urbana aprofundou o estigma territorial que reca a sobre a favela e seus moradores desde o surgimento fazendo com todos fossem considerados suspeitos O estigma territorial justifica uma permiss o para matar concedida pela sociedade s for as policiais se tornando uma pe a fundamental para a produ o de um tratamento desigual por parte da pol cia FRIDMAN 2008 A atua o da for a policial nas favelas cariocas se baseou historicamente em incurs es pontuais e violentas que n o inviabilizavam o tr fico de drogas A inefici ncia desse modelo de pol tica de seguran a p blica levou a sociedade a exigir medidas ainda mais r gidas e violentas por parte do 14 Estado Os casos de corrup o e viol ncia policial se multiplicaram
319. retratadas atrav s das falas dos moradores nesse texto 4 3 5 A Copa do Mundo e as Olimp adas do Brasil como marco da continuidade das UPPs Os moradores entrevistados acreditam que a realiza o das Ol mpiadas na cidade seja um dos fatores que motivaram a instala o das UPP Dessa forma duvidam da continuidade do projeto ap s as Ol mpiadas Eu acho que s vai durar mesmo at 2016 depois da olimp ada pra mim s vai durar at 2016 como tem muita gente que acha que vai durar bastante tempo mas num sei eu acredito que s at 2016 Vin cius 24 anos desempregado solteiro 1 filho As desconfian as em rela o as motiva es do Governo para criar e manter o projeto das UPPs transformou as Ol mpiadas de 2016 em uma grande quest o para as favelas cariocas Para alguns dos entrevistados as Ol mpiadas s o um marco temporal que pode ou n o comprovar a falta de seriedade do projeto das UPPs Eu acho que depois da Olimp ada vai ser sombrio L na minha comunidade acho que nem tanto mas em outras comunidade ai Uma hora isso n o vai pra frente Na Rocinha n o teoria s um pingo N o tem como botar uma UPP na Rocinha N o tem como botar uma UPP no Morro do Alem o N o tem como Poderia sim pegar essa monte de pessoal do ex rcito que n o faz nada e vai l trabalhar um pouquinho Eu acho que depois da Olimp ada a m scara vai cair Ali o povo tem certeza que n o acaba mas as outras a real
320. rgem a partir da metade da rua conforme a favela se aproxima De com rcio maior a rua conta com uma casa lot rica e alguns bares A rua vai se estreitando at ser cortada pela Rua Jupira a essa altura se forma um largo direita a Rua Jupira d acesso pra a do cant o e quadra da escola de samba local esquerda fica a esta o do plano inclinado conhecido pelos moradores como bonde ou bondinho Seguindo adiante pelo largo fica a escadaria que um dos principais acessos favela A escadaria que d acesso favela cercada lateralmente por pequenos bares e 5 Mapa virtual da favela Santa Marta realizado pelo projeto Rede Jovem Wikimapa pode ser acessado no endere o http wikimapa org br mapeados community_id 5 2 A favela Santa Marta localiza se no morro conhecido como Dona Marta em uma rea nobre da cidade do Rio de Janeiro pr ximo aos famosos bairros de Copacabana e Ipanema 89 lanchonetes e leva pra a Santa Marta De l poss vel acessar tr s vielas que sobem a favela em dire es diferentes comum que policiais da UPP fiquem ao longo da escadaria onde existe um posto da UPP No largo de acesso ao bonde e escadaria poss vel avistar a favela que limitada lateralmente direita pelo plano inclinado e esquerda por um muro constru do em 2009 pelo governo do Estado para impedir a expans o da favela Nesse largo existem faixas penduradas anunciando desde cursos e eve
321. rincipais pol ticas p blicas do governo do estado atualmente Dentre os seis entrevistados foram selecionados dois jovens dois adultos e dois idosos em uma composi o que contemplou um entrevistado de cada sexo por faixa et ria A distribui o dos entrevistados se deve ao interesse em captar diversas perspectivas sobre o fen meno estudado not rio que diferentes faixas et rias t m rotinas e interesses distintos bem como uma percep o diferenciada do que seria qualidade de vida Essa diferen a tamb m observada em rela o ao risco de desenvolvimento do Transtorno de Estresse P s Traum tico maior entre crian as e jovens ZIEGLER ET AL 2005 BAL amp JENSEN 2007 Assim essa distribui o propiciou um mapeamento mais amplo das percep es da qualidade de vida do grupo pesquisado Em termos de idade o conceito de juventude ser considerado como uma categoria fundamentalmente sociol gica como um momento de transi o da inf ncia para a vida adulta que se refere ao processo de prepara o para que os indiv duos assumam o papel social do adulto ABRAMO 1997 OPAS 1984 A sele o dos jovens pesquisados para al m da faixa et ria dos 18 aos 24 anos surge a partir da constata o da exist ncia de necessidades e demandas espec ficas dessa etapa da vida ABRAMO amp BRANCO 2005 Os jovens por exemplo t m mem rias recentes de como foi crescer naquele ambiente e representam as esperan as e possibilidades
322. rmas de sofrimento social e de viol ncia estrutural nas investiga es que tomam como tema a experi ncia da doen a do trauma ou do sofrimento Farmer 2010 Os efeitos da viol ncia sobre a qualidade de vida dos moradores estendiam se para al m dos momentos em que estes lidavam com a viol ncia urbana Os moradores entrevistados sofriam com a viol ncia estrutural que englobavam v rias formas de viol ncia como o dom nio exercido pelos portadores da Sociabilidade Violenta a viol ncia policial a viol ncia simb lica oriunda do estigma territorial e a falta de servi os e pol ticas p blicas Soares B Lemgruber J Musumeci L Ramos S et al 2011 Unidades de Pol cia Pacificadora O que pensam os policiais Centro de Estudo de Seguran a e Cidadania Rio de Janeiro Brasil 37 Ost S 2012 O Mercado Sobe A Favela Um Estudo sobre o Santa Marta P s UPP Disserta o de Mestrado em Administra o Funda o Get lio Vargas Escola Brasileira de Administra o P blica e de Empresas Rio de Janeiro Brasil 187 de qualidade O conceito de viol ncia estrutural re ne os danos sa de f sica e psicol gica gerados por desigualdades sociais e rela es de poder historicamente incorporados ao cotidiano de popula es pobres FARMER 1999 Nas favelas cariocas a viol ncia estrutural mantida pela articula o entre a submiss o imposta pelo tr fico a viol ncia policial e o estigma territorial Este
323. rnamente de salm o e parecem bem novos Internamente os apartamentos s o pintados e t m pisos de cer mica As portas dos apartamentos ficam de frente para o bonde e costumam ficar abertas Devido proximidade e velocidade reduzida com que o bonde trafega poss vel ver com clareza o interior dos apartamentos Conforme se sobe a estrutura das resid ncias da favela piora No pico do morro existem barracos de madeira apoiados no morro e suspensos por t buas A esta o 4 do bonde fica na altura de um dos mais famosos pontos da favela a laje em que o cantor Michael Jackson filmou um v deo clipe em 1996 A filmagem aconteceu na laje do ent o posto de sa de Ded que era ent o mantido por um ONG e hoje se transformou na Casa de Cultura Ded Ap s a morte do cantor uma est tua e um mural foram colocados em sua homenagem no local que ficou conhecido pelos moradores como laje do Michael Jackson Esse ponto recebe muitos turistas principalmente nos finais de semana e feriados A presen a de turistas mais comum durante o dia A maior parte deles contrata guias locais e sobe a favela de bonde junto com um grupo mas poss vel avistar turistas nacionais subindo a favela sem a companhia de guias H muitas informa es na internet sobre o local e o acesso atrav s do bonde f cil A esta o 5 do bonde leva regi o conhecida como pico onde se encontram as resid ncias mais prec rias em termos estruturais
324. ro a atividade do turismo quest es ligadas acessibilidade e ao transporte como as aus ncias de vans e moto taxis comuns a outras favelas e a exist ncia do bonde e a disposi o das casas Essas informa es s o relevantes por oferecer dados sobre a rotina dos moradores e sobre os principais DSS da sa de a que est o expostos 93 Cap tulo 4 Qualidade de vida na favela Santa Marta Neste cap tulo ser o apresentados os resultados sobre a percep o dos entrevistados de sua qualidade de vida ao longo do tempo Ser conferida especial aten o aos efeitos da instala o da UPP sobre as oito condi es para a sa de definidas pela Carta de Ottawa paz abrigo educa o alimenta o renda um ecossistema est vel recursos adequados Justi a social e equidade IRWIN amp SOLAR 2005 BUSS 2000 A OMS 1986 definiu a qualidade de vida como a percep o do indiv duo de sua posi o na vida no contexto da cultura e do sistema de valores em que vive e em rela o aos seus objetivos expectativas padr es e preocupa es Considerando esta defini o foi conferido foco aos Determinantes Sociais de Sa de como acesso educa o saneamento b sico op es de lazer condi o das habita es entre outros Para tal foram analisados hist rico de sa de perfil familiar hist rico da rela o com o tr fico de drogas e com a pol cia valores pessoais fontes de medo e preocupa o fontes de segur
325. ro representa um avan o em termos de Determinantes Sociais da Sa de No caso do fornecimento de T V a cabo a realiza o dos gatos significava uma rela o de clientela entre os moradores e o tr fico de drogas Por outro lado a op o regularizada implica um custo muito maior A entrada de empresas de TV a cabo e telefonia somados regulariza o do fornecimento de luz e gua elevaram consideravelmente o custo de vida na favela FLEURY 2012 Para lidar com esse aumento no custo de vida os moradores relataram algumas estrat gias como deixar de ter TV a cabo em casa ou diminuir o n mero de cervejas que tomam no fim de semana Todos os entrevistados afirmaram que est o conseguindo arcar com as novas despesas Para compreender a import ncia que os moradores conferem ao pagamento das contas como forma de adquirir direitos FLEURY 2012 deve se considerar que a aus ncia de pagamento de taxas por servi os no espa o da favela foi um dos fatores da forma o da representa o hegem nica da favela como uma no o de aus ncia de subcidadania SOUZA E SILVA 2010 H uma preocupa o de que essa cidadania n o se restrinja formaliza o do papel de cliente dos moradores com as empresas mas inclua tamb m investimento p blico nas diferentes reas como o saneamento b sico FLEURY 2012 4 2 5 1 Saneamento b sico e coleta de lixo O saneamento uma dos mais importantes DSS na medida em que retira do meio
326. rso na rela o com os policiais quanto era para lidar com o tr fico Atualmente sua efic cia depende da perman ncia dos mesmos policiais na UPP Diante de um policial novo Alessandro 34 anos n o tem o mesmo n vel de seguran a psicol gica Esse quadro sugere que pode estar se reproduzindo entre os policiais da UPP e os moradores a mesma 170 din mica que existia entre os traficantes e os moradores uma rela o de seguran a psicol gica e f sica parcial que se baseia nas rela es pessoais Observam se as seguintes caracter sticas nas falas dos entrevistados baixa frequ ncia de refer ncias a direitos relatos de abuso policial e imposi o unilateral s vezes personalista de limites vida cotidiana dos moradores Existe por m a diferen a de que atualmente essa rela o tem origem na desconfian a dos policiais sobre determinados grupos de moradores e no enfraquecimento das fronteiras vis veis entre moradores e traficantes como o fim do porte de armas Ademais essa postura n o conservada pelo medo dos moradores de que a insubordina o leve morte mas por uma combina o de fatores primeiro os moradores sentem que suas vidas melhoraram com a instala o da UPP segundo os casos de abuso s o pontuais e n o representam um padr o terceiro os casos de abuso relatados n o geravam risco de vida ou danos s rios a sa de quarto o n vel de seguran a psicol gica dos moradores aumentou com a ins
327. rticipante explica se pela necessidade de mapear o campo estudado a fim de obter subs dios para as entrevistas que foram realizadas 80 Ao longo das tr s primeiras visitas a favela uma delas acompanhada por um morador e outras duas sozinha observei diversos aspectos da vida cotidiana como o perfil dos moradores a rela o dos moradores com os policiais da UPP o acesso de n o moradores favela a atua o do tr fico de drogas as obras de urbaniza o as novas instala es de gua e luz o turismo os meios de transporte dispon veis e as vias de acesso e o tipo com rcio e demais institui es presentes Essa observa o participante contribuiu para o mapeamento das especificidades da favela Santa Marta e do modus operandi dos policiais da UPP assim como das intera es dos moradores com os policiais e com as demais institui es e com rcios locais Os dados colhidos ao longo das observa es participantes serviram tamb m de base para a formula o das entrevistas Posteriormente a entrevista foi utilizada para descobrir retomar e aprofundar dados sobre a experi ncia dos moradores com a UPP Seu emprego est em permitir ao morador discorrer livremente sobre sua vida em uma favela com UPP Assim a entrevista semiestruturada foi usada de forma a permitir a coleta de informa es sobre a vida na favela e os significados da presen a dessa pol tica p blica Foram realizadas 6 entrevistas abertas semiestruturadas
328. s uma possibilidade de ter uma identidade territorial positiva o que pode influenciar sua sa de e qualidade de vida 2 9 As v timas ignoradas da viol ncia o desenvolvimento do trauma e do TEPT Apesar do reconhecimento da viol ncia enquanto problema de sa de p blica os aspectos sociocultural e simb lico da viol ncia urbana dificultam o entendimento e a mensura o de seu efeito subjetivo a n vel individual e coletivo Logo os danos f sicos sa de s o mais facilmente notados pela sociedade e pelo estado do que seu efeito psicol gico O dano ps quico causado pela viol ncia n o agrupado nas estat sticas criminais da mesma forma que os casos de bala perdida Nunca saberemos quantas pessoas foram traumatizadas ou passaram a sofrer de depress o e de outros transtornos psicol gicos em decorr ncia da viol ncia Assim resta nos supor que para cada homic dio registrado existem centenas de v timas silenciosas que sofreram com altos n veis de estresse por ter 69 ouvido tiros ou por ter de lidar com a dor da perda de familiares e vizinhos assassinados de forma violenta Essas s o manifesta es do terror psicol gico a que est o expostos os moradores de favelas TAYLOR amp REPPETTI 1997 A comunidade em que se vive um dos quatro ambientes sociais fundamentais para a sa de psicol gica Isso implica dizer que juntamente com as rela es familiares de trabalho e de amizade as rela es de vizinhan a
329. s n o apresentaram diminui o nos sintomas ao longo do tempo Esse quadro demonstra que para eles as sequelas ps quicas oriundas dos anos vividos em um ambiente violento n o desapareceram com a queda dos ndices de viol ncia Nenhum dos moradores entrevistados possui planos de assist ncia m dica privada Os entrevistados tampouco conseguiram um tratamento adequado para seu quadro cl nico nas diferentes unidades do SUS em que buscaram atendimento Os quadros de TEPT identificados ao longo desta disserta o n o receberam tratamento psicoterap utico nas unidades do SUS em que foram atendidos Deve se ressaltar que a produ o cient fica sobre TEPT BALLENGER ET AL 2004 DAVIDSON ET AL 2004 FOA 2006 NEMEROFF ET AL 2006 recomenda que a abordagem correta a esse transtorno deve contemplar psicoterapias de prefer ncia com incentivo forma o de grupos de apoio Demonstra se ademais a falta de aplica o das propostas presentes na Pol tica Nacional de Promo o da Sa de como a concentra o de a es sobre a tem tica da viol ncia Existe uma Clinica da Fam lia no Santa Marta cujos agentes de sa de visitam os moradores entrevistados periodicamente A Cl nica da Fam lia uma unidade de aten o prim ria sa de e como tal deveria identificar as quest es de sa de da localidade e encaminhar para tratamento multidisciplinar quando necess rio Apesar disso em nenhum momento do atendimento aos entrevist
330. s parou de andar armado Continua a mesma coisa Vende o que tem que vender Faz o que tiver que fazer mas vai ter mudan a Vin cius 24 anos desempregado solteiro 1 filho Percebe se nas falas de Vivian 23 anos e Vin cius 24 anos que a presen a dos traficantes e a exist ncia de amea as geram medo de retalia es e inibem a aproxima o dos moradores com os policiais da UPP A presen a de traficantes e a continua o do tr fico de drogas n o s o interpretadas pelos moradores como a exist ncia de um ato criminoso isolado e sim como a possibilidade de reestrutura o de uma rela o de domina o A an lise feita pelos moradores das atividades do tr fico vai ao encontro do conceito de sociabilidade violenta pois confere s pr ticas do tr fico um car ter especifico que se distingue do crime comum Esse cen rio ressignifica a import ncia do combate ao tr fico em favelas com UPP Alessandro 34 anos por sua vez afirma que as amea as dos traficantes n o s o consideradas pelos moradores Tem uma frase l que t escrito que o rapaz escreveu pode at pacificar mas a volta vai ser triste Eles fala N s vai voltar n vai fazer e acontecer Que vai voltar nada Nego num t nem ouvindo mais Pessoal olha e fala que eles s o uns pobre coitado S o os famosos sem sem futuro nenhum Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 1 filho Entretanto em outro momento da entrevis
331. s dona de casa 2 filhos N o tem arma no morro N o tem mais arma no morro Mas aquilo A realidade do Dona Marta aquela agora os cara vende N o mexe com ningu m Eles continua com aquela ideia que v o voltar N o v o voltar Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3filhos Um dos entrevistados Alessandro 34 anos ex tesoureiro de uma fac o criminosa e tem familiares e amigos que atuam no tr fico local Em virtude de sua convers o religi o evang lica aproxima se de traficantes com a inten o de convert los Quando perguntado se acreditava que o n mero de moradores envolvidos com tr fico havia diminu do Alessandro 34 anos revela detalhes sobre o atual cen rio do tr fico de drogas no Santa Marta Tem muito traficante trabalhando A obra as obras do PAC a maioria s o traficantes Eles trabalha trabalham N o tem outro jeito Vai ficar recebendo cinquenta reais por semana Alguns t o l porque s o viciado e a facilidade de ganhar dinheiro acabou O cara ainda viciado ent o ele vende a noite Tem um negocinho De manh ele trabalha pra sustentar a fam lia Depois eu vou te mostrar uma pessoa que era que tu vai falar que n o acredita O 121 Vin cius sempre trabalhou O outro que te apresentei sempre trabalhou Mas tem outro que trabalha aqui de manh que n o Ele veio pra aqui desesperado Dri preciso arrumar um trabalho esse neg cio de UPP no morro Ele era
332. s a instala o da UPP os moradores n o a interpretam apenas como um crime isolado mas como uma possibilidade de que se reorganize a antiga rela o de domina o do tr fico e de omiss o do estado viol ncia na favela Essa rea o dos moradores entrevistados permite afirmar que a interpreta o proposta por Silva 2008 para a viol ncia urbana nas favelas cariocas se mostrou condizente com a realidade observada Atualmente a percep o de seguran a dos moradores inclui uma an lise das rela es entre os policiais e os moradores que compreende experi ncias de vizinhos e familiares Nessa an lise os moradores enfatizam positivamente a a o policial como ferramenta para suprir lacunas em quest es de sa de A rela o dos entrevistados com os policiais apresenta resqu cios da din mica social que existia com o tr fico de drogas com nfase nas rela es pessoais Os policiais da UPP prestam atualmente servi os que o tr fico de drogas tradicionalmente se encarregava como ajuda para socorrer pessoas doentes at o hospital resolu o de conflitos entre vizinhos e interven o em casos de viol ncia dom stica Deve se salientar que essas a es promovem uma melhor qualidade de vida na favela e removem uma oportunidade para grupos criminosos estabelecerem uma rela o de troca com a popula o local A pol cia pode assim promover sa de e estabelecer uma rela o positiva com os moradores Os moradores relat
333. s de tr nsito a Promo o do desenvolvimento sustent vel e a Preven o da viol ncia e est mulo cultura de paz A inclus o da preven o viol ncia e estimulo paz como uma das tem ticas privilegiadas pela PNPS faz com que as UPPs cujo objetivo a promo o da paz sejam tamb m avaliadas nesta disserta o segundo seu potencial para se tornar uma a o de Promo o da Sa de Na Assembl ia Mundial da Sa de de 2004 o Diretor Geral da Organiza o Mundial da Sa de Lee Jong Wook prop s a cria o de uma comiss o para recomendar pol ticas p blicas de sa de e de outros setores que promovam interven es visando melhoria das condi es de sa de e diminui o das iniquidades Uma dos aspectos mais essenciais da justi a nas rela es humanas a promo o do acesso igualit rio s condi es que facilitam a sa de O objetivo de Alma Ata de fornecer Sa de para Todos estava certo assim como os princ pios b sicos da aten o prim ria sa de acesso igual participa o da comunidade e abordagens intersetoriais para a melhoria das condi es de sa de Esses princ pios precisam ser adaptados ao contexto atual Lee Jong Wook 2004 Diretor Geral da OMS A recomenda o foi seguida pelo governo brasileiro que em mar o de 2005 decidiu pela cria o da Comiss o Nacional sobre Determinantes Sociais em Sa de CNDSS Transcorridos mais de vinte anos da divulga o da Carta de Ottawa
334. s e jovens na rede do tr fico de drogas no varejo do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2006 O que favela afinal Organizador Jailson de Souza e Silva Rio de Janeiro 2009 ORGANIZA O PAN AMERICANA DA SA DE Carta de Ottawa In Confer ncia Internacional sobre Promo o da Sa de Ottawa Dispon vel em http www opas org br promocao uploadArq Ottawa pdf 1986 208 Munic pios Cidades Saud veis Acesso em 16 de maio de 2012 Dispon vel em http www opas org br coletiva temas cfm id 28 amp Area Conceito 2006 Las condiciones de salud en las Am ricas OPAS Public Cient 1 524 Washington D C 1990 Health Promotion and Equity Declaration of the International Conference on Health Promotion Santa F de Bogota WHO World Health Organization 1992 ORGANIZACAO PAN AMERICANA DE SAUDE VIOLENCIA Y SALUD RESOLUCION N XIX WASHINGTON D C Opas 1994 ORGANIZACAO MUNDIAL DA SAUDE CUIDADOS PRIMARIOS DE SAUDE Alma Ata Fundo das Na es Unidas para a Inf ncia 1979 Relat rio mundial sobre viol ncia e sa de Bras lia OMS Opas 2002 Salud Mundial Genebra OMS 2003 Ost S O MERCADO SOBE A FAVELA Um Estudo sobre o Santa Marta P s UPP Disserta o de Mestrado em Administra o FUNDA O GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRA O PUBLICA E DE EMPRESAS Rio de Janeiro Brasil 2012 PERLMAN J O Mito da Marginalidade favelas e pol tica no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Paz e
335. s favelas Por conseguinte urgente estender a todas as favelas a es de seguran a p blica que visem retomada desses territ rios a exemplo da UPP Deve se destacar que a visita de turistas ao Santa Marta foi representada pelos moradores entrevistados como o maior s mbolo de que a favela est segura e de que vivem agora em 196 um lugar bom Os resultados demonstram que o turismo funciona como o oposto de uma a o discriminat ria que recordaria a exist ncia de um estigma e traria sofrimento e isolamento ao indiv duo O turismo funciona trazendo a lembran a di ria aos entrevistados de que o local em que vivem est seguro o que eles percebem como uma mensagem de aprova o pessoal pois as pessoas de fora da favela podem ver que aqui tem coisa legal tem pessoas trabalhadoras Alessandro Al m disso os moradores entrevistados apontam um aumento em sua sociabilidade atrav s da intera o com turistas de v rias regi es do Brasil e do mundo Essa intera o proporciona aos moradores uma experi ncia de inclus o pois seu lugar de moradia faz parte das atra es tur sticas da cidade A maior parte dos turistas atra da pela proposta de conhecer pela primeira vez o interior de uma favela como um lugar ex tico existem ainda o atrativo da vista local para o monumento do Cristo Redentor a visita ao local de grava o do clipe do cantor Michael Jackson a realiza o de bailes e de rodas de samba e a ar
336. s intimidadores como apontar armas e exigir determinada a o ao inv s de pedir S o casos em que policiais ordenaram que um morador retirasse os sapatos ou camisa e jogaram objetos no ch o ao inv s de pedir para olhar bolsas Esse tipo de abordagem retratada como uma humilha o principalmente porque antes era direcionada aos traficantes Assim os moradores acreditam que est o sendo tratados como bandidos 4 3 1 A seguran a de conhecer e ser reconhecido por policiais da UPP Os moradores entrevistados mencionaram o fato de policiais da UPP esculacharem moradores em especial homens jovens que n o s o conhecidos por eles como moradores trabalhador ou pessoa de bem Esse comportamento guarda tra os compar veis din mica que os moradores mantinham com o tr fico que conferia aos moradores um tratamento melhor do que o reservado a pessoas de fora da favela Por sua vez os moradores compreendem que a forma de resolver o problema da desconfian a dos policiais lan ar m o de dois recursos que utilizavam antes para lidar com a viol ncia Esfor am se para se tornar conhecidos como morador de bem ao mesmo tempo em que evitam serem identificados como pr ximos aos policiais com medo de sofrer repres lias do tr fico Ao longo da pesquisa dois fatores foram citados como capazes de gerar algum n vel de seguran a psicol gica e f sica na rela o dos moradores com os traficantes o fato de ser
337. s traficante e decapitado e cabeca e jogada na avenida mais movimentada de madureira 20101104 html DD ms E 5 Tipo de madeira resistente vendida com 3 metros normalmente usada na constru o de casa para sustentar as lajes Not cias do dia 03 09 2008 e 07 04 de 2011 mostram a apreens o de dois jacar s na favela da Cor ia e dois na favela de Manguinhos os animais eram supostamente alimentados com corpos de bandidos rivais Dispon vel em http g1 globo com Noticias Rio 0 MUL74676 1 5606 00 html e http noticias terra com br brasil noticias 0 01504989 EIS5030 00 Rio PM apreende jacares em operacao na tfavela de Manguinhos html 59 proibidas a descer o morro nu ou em roupas ntimas expulsar da favela sem deixar que a pessoa retire seus pertences MEIRELLES amp GOMES 2008 Essas pr ticas tiveram in cio ap s a transi o de uma velha guarda do tr fico para uma segunda gera o de traficantes A primeira seria cria de uma favela e por isso teria liga es afetivas com o lugar Sua imagem aproximava se da ideia de um malandro protetor da favela A segunda gera o de traficantes seriam os portadores da ordem social fundamentada no uso da for a e n o estariam comprometidos com os moradores SILVA 2000 2008 Luiz Ant nio Machado da Silva 2008 enumera as circunst ncias em que vivem os moradores das favelas dominadas por fac es criminosas na cidade do Rio de Janeiro os morad
338. sa de e prev o acesso a recursos como a informa o para capacit los sobre op es saud veis ORGANIZA O MUNDIAL DA SA DE CARTA DE OTTAWA 1986 BRASIL 2002 MEIRELHES 2008 A Carta de Ottawa institucionalizou internacionalmente o modelo canadense de Promo o da Sa de propondo cinco campos centrais de a o 1 elabora o e implementa o de pol ticas p blicas saud veis 2 cria o de ambientes favor veis 53 sa de 3 refor o da a o comunit ria 4 Desenvolvimento de habilidades pessoais 5 reorienta o do sistema de sa de De acordo com esse documento Promo o da sa de o nome dado ao processo de capacita o da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e sa de incluindo uma maior participa o no controle deste processo Para atingir um estado de completo bem estar f sico mental e social Assim a promo o da sa de n o responsabilidade exclusiva do setor sa de e vai para al m de um estilo de vida saud vel na dire o de um bem estar global Carta de Ottawa 1986 p 1 Nos ltimos 20 anos ocorreu um r pido e abrangente desenvolvimento do conceito de Promo o da Sa de no Brasil Paralelamente I Confer ncia Internacional sobre Promo o da Sa de teve lugar no Brasil a VII Confer ncia Nacional de Sa de Bras lia 1980 que incorporou os conceitos elencados na Carta de Ottawa O processo transcorreu a tempo de que tais concep es fossem
339. scuss o sobre a necessidade de controlar o acesso de grupos espec ficos s praias CUNHA 1991 Ao longo dessa d cada as favelas ficaram tematizadas pela viol ncia e seus moradores passaram a ser vistos como uma amea a aos demais bairros VALLADARES 2005 Exemplo dessa conjuntura foi o fato de durante a Confer ncia das Na es Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento de 1992 CNUMAD conhecida como Eco 92 ter se convocado o ex rcito a ocupar ruas e v rias favelas da cidade a fim de garantir a seguran a dos Chefes de Estado Nas d cadas seguintes reproduzem se est rias sobre chef es e guerras contra fac es rivais fundam se atividades profissionais como a do vapor a do avi o e a do gerente da boca O tr fico de drogas na cidade do Rio de Janeiro passa a ter um dos maiores e mais caros arsenais de armas do pa s o que faz dele um dos maiores respons veis pelas les es provocadas por ferimentos bala ZALUAR 2002 30 Em dezembro de 2008 por ocasi o da candidatura da cidade a sede dos jogos Ol mpicos de 2016 e de parte da Copa do Mundo de 2014 a primeira Unidade de Pol cia Pacificadora foi instalada no morro Santa Marta no munic pio do Rio de Janeiro At junho de 2013 33 favelas na cidade do Rio de Janeiro receberam UPPs em sua maioria localizadas ao redor de reas tur sticas e dos locais de realiza o dos referidos eventos internacionais Outras centenas de favelas continuam
340. ser o subalterna dos moradores na sociabilidade violenta continuava a representar um preju zo cidadania dos mesmos 2 7 Entraves cidadania dos moradores de favelas A contiguidade territorial com organiza es criminosas por si s representa uma grande barreira efetiva o dos direitos de cidadania uma vez que as liberdades individuais est o sujeitas ao ju zo do tr fico e os sistemas e processos democr ticos n o s o garantidos Al m deste outros fatores configuram um entrave qualidade de vida dos moradores de favelas Exemplos s o a viol ncia policial os estigmas que recaem sobre os moradores e a aus ncia de servi os p blicos Somado fragilidade das a es estatais de prote o aos direitos o conjunto desses obst culos relega os moradores de favelas a uma condi o de vulnerabilidade social com acesso parcial aos direitos de cidadania LEITE 2008 SOARES 2012 Essa condi o reflete um quadro de viol ncia estrutural onde desigualdade sociais foram historicamente constru das FARMER 1999 S o exemplos dessa situa o a precariedade de transporte p blico dentro das favelas ou o impedimento por parte do tr fico do controle das liga es de energia e gua nas favelas Os conflitos armados fazem com que os poucos servi os p blicos presentes nas favelas como escolas e postos de sa de sejam fechados por quest es de seguran a situa o que se repete a cada nova guerra entre fac es ALVES
341. setorialidade informa o educa o e comunica o sustentabilidade ORGANIZA O MUNDIAL DA SA DE CARTA DE OTTAWA 1986 BRASIL 2002 O Minist rio da Sa de atrav s da Pol tica Nacional de Promo o da Sa de especifica tr s objetivos relevantes para a discuss o proposta por esta disserta o Prevenir fatores determinantes e ou condicionantes de doen as e agravos sa de Estimular a ado o de modos de viver n o violentos e o desenvolvimento de uma cultura de paz no pa s Valorizar e ampliar a coopera o do setor da sa de com outras reas de governos setores e atores sociais para a gest o de pol ticas p blicas e a cria o e ou o fortalecimento de iniciativas que signifiquem redu o das situa es de desigualdade PNPS 2006 p 15 Fica evidente nesses objetivos a necessidade de aprofundar os conhecimentos acerca da intersetorialidade de pol ticas de seguran a p blica como as UPPs Esse o caso principalmente nas discuss es referentes ao alcance dessa pol tica no mbito dos DSSs ou seja no que tange diminui o das desigualdades e promo o da sa de e da qualidade de vida O Documento prop e ainda uma concentra o de a es sob sete tem ticas Alimenta o saud vel Pr tica corporal atividade f sica Preven o e controle do tabagismo Redu o da morbimortalidade em decorr ncia do uso abusivo de lcool e outras drogas Redu o 55 da morbimortalidade por acidente
342. sive utilizado a pr pria casa para venda de drogas durante alguns per odos da sua inf ncia Alessandro decidiu entrar para o tr fico para vingar a morte de um dos seus primos durante uma tentativa de invas o do morro por outra fac o do tr fico de drogas Afirma que esteve envolvido com o tr fico dos 12 aos 18 anos per odo em que exerceu diferentes fun es como olheiro seguran a da boca e tesoureiro Conta com orgulho que teria conseguido seu ltimo cargo quando um gerente da boca percebeu que ele era bom em contas e aprendia r pido Alessandro afirma que s conseguiu sair do tr fico porque sua esposa o levou para a igreja evang lica Vin cius 24 anos foi o segundo morador a ser entrevistado cat lico tem um filho de dois anos e vive com a m e da crian a em uma casa alugada na altura da esta o 3 do bonde Concluiu o ensino m dio e afirma que n o consegue trabalhar de carteira assinada por n o enxergar de um dos olhos Por conta disso trabalha fazendo bicos como servente de obras A terceira entrevistada Vivian 23 anos casada e tem um filho dois anos Mora em uma casa alugada no lado esquerdo do morro na altura da esta o 4 O marido de Vivian trabalha na constru o civil Vivian completou o segundo grau e trabalhou como bab at ficar gr vida Atualmente se dedica cria o do filho Vivian cresceu no Santa Marta Na inf ncia temia retalia es do tr fico a sua fam lia por ter familia
343. sob o dom nio de fac es criminosas e de grupos milicianos sofrendo opera es espor dicas da pol cia Esta disserta o buscou respaldo no hist rico de surgimento e consolida o do modelo de tr fico de drogas presente nas favelas cariocas bem como em seus desdobramentos na vida cotidiana dos moradores das favelas e de toda a cidade Objetiva se com isso compreender como a viol ncia enquanto fen meno social impactava a qualidade de vida e a sa de dos moradores e como a viol ncia mudou ou n o com as UPPs 2 4 Um balan o das UPPs As Unidades de Pol cia Pacificadora come aram a ser instaladas em 2008 como parte de um plano de reforma urbana orientado para a candidatura do Rio de Janeiro sede das Olimp adas de 2016 e da Copa do Mundo de 2014 MELLO amp CUNHA 2011 O projeto foi inspirado em experi ncias internacionais de ocupa o territorial como o caso de Medel n FLEURY 2012 Segundo o afirmado pelo Secret rio de Seguran a P blica Jos Mariano Beltrame as unidades de pol cia seguem o modelo de policiamento comunit rio e visam a levar a paz s comunidades MELLO amp CUNHA 2011 Recentemente houve uma troca de terminologia no material de divulga o oficial das UPPs no lugar de policiamento comunit rio encontra se o termo pol cia de proximidade As UPPs n o devem ser consideradas um tipo de pol cia comunit ria pois n o contam com uma estrutura de interlocu o com os
344. social de maior vulnerabilidade para casos de viol ncia interpessoal seja no mbito privado ou no p blico BRESLAU ET AL 1999 A reincid ncia de casos de viol ncia interpessoal aumenta as chances de que o indiv duo desenvolva Traumas e Transtorno de Estresse P s Traum tico Dessa maneira a redu o dos casos de viol ncia dom stica deve ser compreendido como um ganho em termos de sa de f sica e psicol gica O dom nio territorial exercido anteriormente pelos traficantes se configurava como um obst culo ao cumprimento das leis porque o simples fato de ligar para a pol cia representava risco de vida LEEDS 1998 STROZEMBERG 2010 Como pode ser percebido na fala de Alessandro 34 anos A pessoa ligava Tinha guerra A pessoa pegava celular e ligava num desespero Mas s vezes se tu ligasse a pol cia ia fazer o que Tinha algu m que ia ser morto pelo tr fico A pol cia ia fazer o que que nem aqui tu liga pra pol cia T tendo uma confus o aqui no meu pr dio eles v o chegar uma hora depois Uma hora depois a pessoa j tinha sido morta A pol cia n o tinha acesso porque sabia que ia ter repres lia e voc n o ia ligar com medo da pol cia chegar l e dizer foi telefone tal que ligou liga l pra saber quem Tinha assim toda essa dificuldade n N o fala com a pol cia N o fala com pol cia Se perguntar qualquer coisa tu n o sabe pra evitar de problemas Quest o n o era nem sobreviver era evi
345. sos aspectos das UPPs como seus fundamentos seus objetivos e suas especificidades seu hist rico a formaliza o da pol tica a estrutura das unidades e o perfil dos policiais em servi o seu modelo de instala o parcerias com a iniciativa privada resultados e cr ticas associados a ela e especialmente a es intersetoriais do estado associadas UPP como a es do projeto UPP social 21 As UPPs ser o avaliadas sob a tica da promo o da sa de Nesse sentido cabe examinar em que medida as UPPs promovem a seguran a e a sensa o de seguran a psicol gica que vital para a sa de Na Pol tica Nacional de Promo o da Sa de a intersetorialidade e o combate viol ncia s o priorizados Tendo em vista que a viol ncia gera problemas de sa de tais como traumas e TEPT cabe avaliar se tais problemas desapareceram com a UPP Nesse contexto faz se necess rio compreender em que medida a viol ncia afetava a sa de e a qualidade de vida dos moradores No campo psicol gico diversos autores BALLENGER ET AL 2004 DAVIDSON ET AL 2004 FOA 2006 NEMEROFF ET AL 2006 se dedicaram investiga o dos quadros de trauma psicol gico derivados de experi ncias de viol ncia interpessoal Dentre estes os casos de Transtorno de Estresse P s Traum tico se destacam como principal efeito psicol gico da viol ncia por sua alta incid ncia na popula o mundial As pesquisas sobre TEPT apontam que os indiv duos expostos
346. star muita aten o se voc n o ia passar por cima dessa lei Teve uma poca eu n o lembro qual era a fac o essas coisas todas Muitas das vezes existia regras e leis deles que a gente n o sabia Por exemplo tinha uma g ria na poca que era usada em outras fac es que a aqui n o podia ser usada ent o nem brincando a gente podia dizer uma coisa dessas de N S A GENTE n o podia usar aqui Era umas coisas muito doida Eu n o lembro bem das leis que eles ipu na poca mas existia Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho 110 O que me incomodava era o poder exagerado do tr fico uma coisa muito exagerada um poder que eles n o tinha mas que julgava ter isso me incomodava muito As vezes era um tr fico irregular abuso de uma pessoa que n o tinha nada e outras abuso de pessoa com autoridade Tu fica ref m nesse meio pedir a Deus 6 pai d livramento sega o le o em nome de Jesus Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Vivian 23 anos revela que o tr fico de drogas for ou moradores a participar de uma reinvindica o que era deles Ent o teve uma poca que eu trabalhava de baba a todo mundo dizia amanh tem uma passeata e tal Mas essa passeata eles aproveitavam para fazer a manifesta o deles atrav s de moradores que tem muitos que era do lado deles e a a gente que ia descer para o trabalho n o podia passar do cord o de isolamento da passeata P
347. stava finalmente sendo firme com o tr fico aquilo ali de vez em quando voc passa aqueles garoto t o apanhando da pol cia N o tem flagrante nenhum A pol cia vai levar preso pra que Ent o d uns tapa neles chega a ser engra ado me bate n o tio sou seu tio 66 E toma lhe porrada senhor senhor t no c u e toma pancada D pena chega ser engra ado Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Nenhum dos entrevistados fez men o necessidade dos policiais tratarem bem ou seja respeitarem os direitos dos traficantes Entretanto apesar de aprovarem abordagens agressivas a traficantes os moradores temem ser confundidos ou est pr ximo a estes no momento da abordagem Quando questionados sobre a forma de atua o dos policiais quatro entrevistados reclamaram que houve uma redu o no n mero e no n vel de rigidez das rondas policiais Essa redu o na opini o deles estaria motivando o aumento da venda de drogas na favela Eles ficam l em cima ficam na entrada Ali na escadaria que voc desceu na tua esquerda tem um posto de pol cia N o sei se voc reparou Eu despedi de voc de um lado tem o neg cio da tinta coral do outro tem o posto Tem l embaixo ali no canto no outro caminho do canto e l perto de casa Mas antes eles andava muito Hoje em dia andar pra que A gente anda os cara volta depois Aliviaram muito al
348. stenta a proibi o de festas e bailes funks Ainda que estes ocorram em eventos promovidos pelo Estado em outras localidades nas favelas com UPP qualquer festa precisa de autoriza o FLEURY 2012 Luiz Ant nio Machado 2010 afirma que o fato de a pol cia poder definir unilateralmente o que seria ordem p blica e a 12 Para informa es sobre a Cartilha Popular do Santa Marta criada em parceria do Coletivo vis o da Favela e a Comiss o de Direitos Humanos da ALERJ http global org br programas cartilha popular do santa marta abordagem policial Informa es sobre a campanha Somos da Mar e Temos Direitos criada em parceria do Observat rio de Favelas da Anistia Internacional e da organiza o Redes da Mar http observatoriodefavelas org br 37 interfer ncia desta defini o na vida cotidiana produzem resist ncia por parte de uma parcela dos moradores O autor aponta a exist ncia de uma outra tend ncia onde moradores procuram os policiais como autoridade local para que estes resolvam situa es que n o s o relacionadas fun o policial Existe assim o risco de que as UPPs concentrem um poder pol tico administrativo antes exercido pelas associa es de moradores At junho de 2013 trinta e tr s favelas haviam recebido UPPs O quadro a seguir mostra a localiza o e a data de instala o de cada unidade Tabela 1 Datas de Instala o das Unidades de Pol cia Pacificadora
349. ta pondera sobre o que aconteceria caso a UPP fosse encerrada 161 Tenho tenho medo da repres lia que vai ser n Muitas pessoas Mas eu tenho esse receio ainda tenho esse receio ainda Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos Fabiane 34 anos afirma que a presen a dos traficantes n o interfere na sua decis o de manter um relacionamento cordial com os policiais da UPP A passa d um bom dia uma boa tarde n o vai matar ningu m Mas a t depois os menino aqui do morro vai falar que t fechando com pol cia Gente um bom dia e o boa tarde a gente n o se nega pra ningu m Eu falo quer falar um bom dia um boa tarde eu dou N o vai me quebrar N o vai me faltar nada pra falar Eu falo Falei assim se algu m passa por voc s e d um bom dia uma boa tarde responde porque eu n o vou criar um filho pra ser mal educado com as outras pessoas Eu dou um bom um boa tarde Eles fala tudo bem Brinca com as crian a Eu n o tenho esses problema n o Fabiane 34 anos dona de casa casada 3 filhos Nas falas de Vivian 23 anos e Fabiane 34 anos percebe se uma diferen a nas rea es possibilidade de sofrer uma retalia o por parte do tr fico de drogas Enquanto Vivian 23 anos evita manter um relacionamento com os policiais da UPP Fabiane 34 anos recomenda aos filhos que sejam educados com os policiais e n o temam retalia es preciso considerar a rela o que
350. tala o da UPP quinto a presen a da UPP associada a obras de infraestrutura e fornecimento de servi os com melhor qualidade Deve se ainda observar o quase inexistente acesso a vias de den ncia e por ltimo os moradores que se posicionam contr rios a UPP s o desacreditados interna e externamente Alguns desses fatores podem ser percebidos na fala de Alessandro 34 anos que demonstra a import ncia da rela o interpessoal com os policiais bem como a baixa frequ ncia das a es abusivas e seu car ter pouco violento Eu pessoalmente s tive problema com um que era novo Na poca sempre de arrog ncia Eu sem camisa s de short Ele mandando eu levantar a camisa Eu rapaz t sem camisa Eu voltando do treino que eu fa o artes marciais Ele querendo que eu levantasse a camisa eu sem camisa e ele achou que isso foi ironia Me obrigou a deitar Foi o nico problema que eu tive mas nenhum Isso j tem pra mais de tr s quatro anos de UPP l e eu nada mais pra falar Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3 filhos O caso narrado por Alessandro 34 anos exp e uma situa o em que os policiais exigem obedi ncia s suas ordens ainda que arbitr rias A rela o entre moradores e policiais permeada por uma desconfian a m tua que gera tens es Estas s o uma esp cie de negocia o entre a obedi ncia esperada pelos policiais da UPP que tentam impor sua autoridade e a que os morado
351. tar problemas De repente o cara n o ia fazer nada mas o cara ia na tua casa Ta esculhambar teu pai A gente j pensava assim ai meu pai A gente tinha essa coisa n o fale nada Alessandro 34 anos vendedor ambulante separado 3filhos No entanto Alessandro 34 anos fala de seu receio de que a incid ncia de outras modalidades de crime aumentem no morro 181 O nico receio que eu tenho que eu at pulei essa parte que quando tinha o tr fico no morro a chance de estrupo era menor o perigo Roubo n o tinha roubo tinha sempre teve tanto que morria no morro porque roubou Ent o o medo hoje esse Eu quando vou sair e quando a m e dos meus filhos vai sair tem eu e uns vizinho l que a gente fala quando um sai o outro olha a casa do outro valeu A gente crescemos junto Isso entendeu N o tinha teve uma vez que tinha dois cara andando pra l e pra c eu s olhando dois cara nordestino Nada contra nordestino que minha fam lia olhei aqui assim os cara olhando as menina eu qual o problema meu irm o O cara H Qual o seu problema n o n o t olhando muito o que Tu pol cia A outra vizinha o que foi Alessandro N o que tem uns cara olhando as crian a aqui muito Daqui a pouco veio um vizinho veio outro daqui a pouco tinha um monte O cara nunca mais apareceu vai l que um cara desse segura uma menina e a Esse o m
352. te do tr fico de drogas A continuidade do tr fico de drogas no morro e sua nova forma de atua o venda em pequenas quantidades por meninos que n o portam armas foram relatadas por todos os entrevistados As falas dos moradores entrevistados e a observa o realizada ao longo desta pesquisa apontam o fim do dom nio territorial exercido pelo tr fico de drogas ainda que alguns traficantes permane am na favela e que exista venda de drogas A instala o da UPP obstaculizou o exerc cio de demonstra es de for a necess rias para manter a rela o de domina o sobre moradores e coordena o entre os portadores da ordem social da sociabilidade violenta SILVA 2004 2008 No entanto Vivian acredita que a presen a dos traficantes na favela ainda que estes n o estejam armados afeta a rela o dos moradores com os policiais da UPP Olha eu acredito que melhorou porque junto com a UPP veio algumas obras que facilitou um pouco a comunica o mas eu acredito que ainda hoje o morador tenha receio de ter uma comunica o maior com o policial porque arma n o mas eu vou ser hip crita em dizer que n o existe droga que n o exista ainda alguns sabe Ent o eu acho que ainda n o existe essa comunica o maior com a UPP com os policiais da UPP por conta disso Porque as coisas n o acabam do dia pra noite T m alguns ainda por aqui A gente sabe de uns burburinhos que eles d o uma chamada d o um corretivo a
353. tia 63 Internacional a Justi a Global e o Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petr polis lan aram a Campanha contra o Caveir o que denunciava a forma indiscriminada com que o carro blindado da pol cia militar era utilizado nas favelas e exigia o fim dessas incurs es A campanha n o surtiu efeitos e o Caveir o continuou a ser amplamente usado O Batalh o de Opera es Especiais BOPE tamb m acusado por associa es locais de entrar em favelas com os auto falantes do Caveir o transmitindo amea as como O Caveir o veio buscar a sua alma O que Deus constr i o Caveir o destr i N o adianta correr o Caveir o vai te pegar ROCHA 2008 Outro grave exemplo da falta de prote o aos direitos dos moradores de favelas denunciado por Alves amp Evanson 2011 em entrevista com o presidente Luiz In cio Lula da Silva Os autores declararam que o Batalh o de Opera es Especiais da Pol cia Militar BOPE estaria usando em suas opera es um tipo de faca chamada O Corvo usada para torturas durante a ditadura militar chilena que permite rasgar o abd men das v timas de um extremo ao outro de forma que todos os rg os sejam expostos O pr prio Presidente da Rep blica respondeu Est tudo no filme Tropa de Elite ALVES amp EVANSON 2011 Embora seja verdade que as for as policiais cometem in meros abusos contra a popula o favelada a puni o
354. tidos com a es igualmente violentas por parte do dono que pode impor sua pr pria forma de justi a Leeds 1998 p 243 Tal conjuntura fez com que se propagasse o mito da exist ncia de um poder paralelo protagonizado pelos traficantes Essa concep o foi amplamente divulgada pela m dia e se incorporou representa o da favela que passou a ser entendida como um espa o dominado por outro poder VALLADARES 2005 Entretanto o dom nio territorial das fac es criminosas n o atribui aos moradores a prote o social e a representa o pol tica caracter sticas do Estado de Direito Os moradores n o participam de uma nova forma de governo Por m encontram se sem acesso a in meros direitos de cidadania garantidos pela Constitui o como a seguran a A realiza o de pequenos servi os e favores aos moradores como a compra de rem dios e botij es de g s n o passa de uma barganha para conseguir o m nimo de apoio local Em nada se aproxima da garantia de servi os sociais e de prote o que s o de responsabilidade do Estado Tampouco existe por parte dos traficantes ressalvas quanto a agredir torturar ou matar moradores frente mais remota men o de trai o ou de desobedi ncia a uma de suas regras LEEDS 1998 PERLMAN 2010 Os moradores de favelas est o sujeitos ainda a in meros abusos cometidos pela autoridade policial Em 2006 diversas institui es que atuam em favelas como a Anis
355. to social quanto econ mico Como orienta o te rica usamos o conceito ampliado de sa de defendido pelo paradigma da Promo o da Sa de pela Organiza o Mundial da Sa de e incorporado no Brasil pelo Sistema nico de Sa de e pela Pol tica Nacional de Promo o da Sa de Compreendendo seguran a paz e cidadania como condi es para a sa de dos moradores objetivou se analisar em que medida a instala o da UPP melhorou a qualidade de vida e a sa de dos moradores entrevistados IRWIN amp SOLAR 2005 BUSS 2000 Para realizar uma aprecia o dos estados de paz e seguran a utilizou se o conceito de seguran a psicol gica que contempla a percep o subjetiva do risco envolvido em cada a o A seguran a psicol gica tem na seguran a f sica um par metro constituindo uma ponte entre as experi ncias f sicas e as psicol gicas KARK amp CARMELI 2009 EGGERS 2011 Observou se que a maneira como os moradores entrevistados analisam a UPP e sua pr pria qualidade de vida hoje frequentemente comparativa em rela o vida que levavam sob dom nio do tr fico Essa compara o tende a enfatizar a amplia o da liberdade ilustrada por listas de hoje eu posso com atividades que antes eram evitadas e g deixar crian as brincando na rua proibidas pelo tr fico ou fugiam do controle dos moradores Segundo as considera es dos entrevistados sua qualidade de vida melhorou significativamente e o fim do dom
356. to ampliado de sa de como a qualidade de vida MINAYO 2000 MINAYO 2005 O conceito de qualidade de vida defendido pela Organiza o Mundial da Sa de 1986 a percep o do indiv duo de sua posi o na vida no contexto da cultura e do sistema de valores em que vive e em rela o aos seus objetivos expectativas padr es e preocupa es Partindo dessa conceitua o a presente disserta o defende que a instala o da UPP pode gerar efeitos distintos na qualidade de vida dos moradores em raz o das diferentes inser es dos mesmos sejam estes jovens ou idosos mulheres ou homens por exemplo at orienta es religiosas Estes estariam assim expostos a diferentes Determinantes Sociais de Sa de como acesso a educa o o que por sua vez influenciaria sua qualidade de vida e sa de IRWIN amp SOLAR 2005 BUSS 2000 2012 BUSS amp CARVALHO 2009 A influ ncia de determinantes sociais na sa de foi prenunciada na Carta de Ottawa que definiu oito condi es para a sa de paz abrigo educa o alimenta o renda um ecossistema est vel recursos adequados justi a social e equidade A Carta se tornou refer ncia para o Movimento de Promo o da Sa de por anunciar que a sa de n o responsabilidade exclusiva do setor de sa de e abrange diversos DSS ligados vida da comunidade como a seguran a a educa o e o saneamento b sico IRWIN amp SOLAR 2005 BUSS 2000 Essa conceitua o traz out
357. tv a cabo Se voc quer voc liga l pra net pra sky e pede N o tem nada de privil gio que vai pagar mais barato n o Antes era gato net E Quem fazia Era morador Ah Rsrsrs bandido morador o cara do som mas o tr fico que era dono resolveu colocar e distribuir pra todo mundo e cobrar Vin cius 24 anos desempregado 1 filho Com a instala o da UPP o fornecimento ilegal de TV a cabo conhecida como gato net foi interrompida Alessandro 34 anos afirmou que gasta o dinheiro que usava para pagar o gato net com as novas cobran as pelo fornecimento de luz e da gua 144 Vin cius 24 anos e Evanir 67 anos chamam aten o em suas falas para o direito que t m a partir do momento em que se tornam clientes das empresas que fornecem luz e gua Melhorou a gente paga a luz mas pelo menos melhor N o inst vel inst vel que nem do gato A gua num fica acabando toda hora Como a gente paga a gente tem o direito de reclamar se n o tiver Vin cius 24 anos desempregado solteiro 1 filho Ent o urbanizou N s hoje temos sistema de luz onde j estamos exercendo a cidadania Pagamos conta de luz Tamos pagando conta de gua n o foi f cil isso porque anos e anos sem pagar luz Evanir 67 anos pastor casado 1 filha Os moradores demonstram uma clara no o de seu papel de clientes e se sentem com direito de exigir um servi o de boa qualidade Evanir 67 anos vai al m
358. ude das liga es clandestinas de luz J tivemos tr s casas que come aram a pegar fogo a todo mundo come ou a ajudar isso depois aconteceu no meio do morro a depois a casa pegou fogo a a outra tamb m pegou fogo todos os barracos Evanir 67 anos pastor casado 3 filhos Todas as resid ncias do Santa Marta tiveram refeita a liga o externa de energia Os moradores tamb m receberam l mpadas com menor consumo de energia e tiveram reformada a rede el trica interna A precariedade presente nas liga es de gua tamb m gerava riscos sa de As liga es eram feitas de forma amadora com in meras emendas e vazamentos que comprometiam a qualidade da gua Evanir 67 anos aponta que os casos de diarreia em crian as e idosos eram frequentes A Unicef e a OMS afirmam que a diarreia provocada por aus ncia de saneamento adequado a segunda maior causa de morte em crian as de O a 5 anos no mundo O abastecimento de gua parte das atividades de saneamento o que a torna uma importante DSS dos moradores O contato ou a ingest o direta de gua contaminada por esgoto pode gerar in meras doen as O fornecimento regular de gua vem acompanhado de an lises da qualidade da gua realizadas pela companhia de fornecimento do Estado CEDAE Nesse quadro a troca das instala es de fornecimento de gua e a regulariza o do servi o significam uma redu o nas desigualdades em sa de local Al m das quest
359. ue Deus o est guardando Essa certeza diminuiria a possibilidade de um trauma O trauma pode ser conceituado tamb m no referente sua frequ ncia e dura o de acordo com as seguintes categorias epis dico com um nico evento imprevis vel cumulativo com eventos que se repetem de forma previs vel e cont nuo com exposi o continuada ao trauma exemplo campos de concentra o Green 1990 estabelece oito tipos de eventos que carregam consigo os maiores potenciais traum ticos 1 Amea a vida ou integridade corporal 2 inj ria ou les o f sica severa 3 inj ria ou les o f sica intencional considerada subcategoria da anterior com a diferen a de que parece possuir maior potencial patog nico quando o dano deliberado 4 exposi o ao degradante a se incluindo o testemunhar situa es de morte a manipula o de cad veres entre outras 5 perda s bita e violenta de pessoa querida 6 testemunhar ou ser confrontado com a viol ncia a pessoas queridas 7 ser informado da exposi o a subst ncias nocivas 8 causar a morte ou les o severa a outrem considerando situa es relacionadas ao trabalho como o policial por exemplo Green citado em C mara 1999 p 7 Os moradores de favelas dominadas por organiza es criminosas estariam expostos possibilidade de trauma continuo pois est o ininterruptamente em contato com os seis primeiros eventos com potencial traum ticos descritos por
360. ue vai chegar uma hora que eles v o perceber que a primeira comunidade a segunda comunidade t t o carente que eles v o voltar essa sensa o que eu tenho Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho As proje es dos entrevistados sobre o futuro da UPP demonstram incertezas quanto continuidade do projeto Falam com ang stia e medo da falta de garantias da perman ncia da UPP Como forma de lidar com esses sentimentos cada morador cria hip teses para a continuidade ou n o do programa Essas proje es consideram o tamanho da favela o n mero de policiais da UPP as opera es do tr fico a instala o de novas UPPs informa es sobre outras UPPs e not cias divulgadas pela m dia Para os moradores a nica certeza que o fim da UPP culminaria necessariamente na volta do dom nio territorial do tr fico que iniciaria uma fase de repres lias a todos que apoiaram a UPP Enquanto permanecem sem garantias da continuidade do programa os entrevistados duvidam das inten es do governo que segundo eles estaria fazendo a UPP para gringo ver Para S nia Fleury 2012 essa falta de garantias aos moradores da perman ncia da UPP prejudica o exerc cio do papel de cidad o uma vez que a confian a no Estado condi o fundamental para o exerc cio da cidadania A falta de garantias atuais da continuidade da pol tica agravada por se tratar de um padr o Os moradores tampouco foram informados da instala
361. uito barulho E eu falo olha antes o barulho delas do que outros barulhos Hoje em dia um rem dio pra mim dormir Essa coisa da liberdade principalmente das crian as de ir e vir muito bom Eu falo se na minha poca tivesse isso Eu acho que eu teria aproveitado bem mais a minha inf ncia muito muito mesmo Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho Quando questionados sobre a inf ncia de seus filhos ou seja sobre suas experi ncias de maternidade e paternidade todos os entrevistados narraram experi ncias de medo Enquanto fen meno social a viol ncia se torna o cen rio onde pais desempenham seu papel DACACH 2005 Os pais se dedicavam antecipa o dos riscos que os filhos corriam e media o da inf ncia frente realidade violenta Fabiane 34 anos passava mal com crises de hipertens o quando seus filhos estavam fora de casa e acontecia algum tiroteio Quando eles corria atr s dos menino eles j ia j corria dando tiro O problema era esse Falava ai m e deixa eu brincar do lado de fora Eu falava n o quando isso a melhorar Voc quer brincar Chama tuas amiguinhas pra c Pode fazer a bagun a que quiser mas brinca dentro de casa Ai daqui a pouco ligava pra m e de um ou eu mesma ia levar porque tinha que ir levar porque n o dava A tinha uma que morava ali em cima outra do lado N o dava pra ela ficar l em cima na casa e pra descer era tiroteio N o de
362. uma press o social pela interven o do governo federal no estado o que viria a se concretizar em 1992 na emblem tica opera o do ex rcito ao longo da Conferencia ECO 92 COSTA 2004 Em 1995 foi implementada no Rio de Janeiro uma pol tica de seguran a p blica baseada no enfrentamento que incentivava atrav s de uma gratifica o o policial que se engajasse em a es violentas Essa gratifica o ficou conhecida como gratifica o faroeste e elevou consideravelmente os n veis de viol ncia empregados pela pol cia Nesse ano a pol cia carioca matou em confrontos 358 civis enquanto a pol cia estadunidense registrou ao longo do ano de 1990 no pa s inteiro 385 civis mortos em confrontos A taxa de mortes por habitante em confrontos com a pol cia carioca foi aproximadamente 50 vezes superior CANO 1999 COSTA 2004 Sob influ ncia do sucesso da ECO 92 o ex rcito seria novamente chamado em 1994 e em 1995 a participar de uma a o conjunta com a pol cia a Opera o Rio com o objetivo de coibir o tr fico de drogas e armas Trinta e cinco favelas foram cercadas e ou ocupadas Em junho de 1999 houve nova estrat gia semelhante de ocupa o durante a Cimeira do Rio que trouxe cidade autoridades de pa ses europeus e latino americanos COSTA 2004 A ideia de que existe uma guerra contra o crime se difundiu pela sociedade que saudosa da sensa o de seguran a alcan ada ao longo da EC
363. ura do lixo aqui ainda muito ruim As pessoas jogam muito lixo na vala e as vala n o d o conta H todo esse lixo que o pr prio morador coloca na comunidade Temos muito rato ainda muitas baratas ainda Evanir 67 anos pastor casado 1 filha Os moradores entrevistados demonstraram grande revolta com o fato do esgoto permanecer a c u aberto Denunciaram ainda que as obras para melhorias nos servi os e na infraestrutura local intensas no per odo de dois anos ap s a instala o da UPP foram diminuindo at o ponto de quase estagna o no ano de 2012 Temem assim que os problemas estruturais da comunidade sejam esquecidos pelas autoridades governamentais que propagam a ideia de que a favela se tornou um timo lugar para viver As reclama es s o justificadas com o pagamento da taxa referente rede de esgoto presente nas contas de gua O mesmo n o acontece em rela o coleta de lixo que n o cobrada Ainda que existam reclama es essa s o mais amenas e n o fazem refer ncia a um direito sendo s vezes direcionadas conduta individual culpabilizando outros moradores pela situa o Fica evidente que h uma percep o de que o pagamento das contas inaugura um direito A favela permaneceu tantos anos sem receber investimentos em bens p blicos que mesmo diante do preju zo enfrentado pela coleta de lixo ineficaz n o h cr ticas Os moradores reagem com revolta aus ncia de servi os qu
364. va para matar ao inv s de prender Ainda que a seguran a f sica dos moradores n o estivesse em risco todos os dias a consci ncia da alta incid ncia de epis dios violentos reduzia a seguran a psicol gica dos moradores A aus ncia de seguran a psicol gica provocado por essa conjuntura social ressignificava desde a rotina cotidiana momentos importantes da biografia dos moradores O namoro de Vivian ganhou uma nova dimens o em raz o do local de moradia de seu namorado uma favela dominada por uma fac o rival Como revela na fala a seguir Eu quando namorava meu esposo ele morava em Bonsucesso no Morro do Adeus complexo Ent o aqui na poca era uma fac o rival Ent o quando eu trouxe ele pra conhecer minha fam lia eu trouxe at no almo o do meu tio eu tinha receio de dizer de onde ele era Vivian 23 anos dona de casa casada 1 filho A fala de Vivian 24 anos revela que a falta de seguran a psicol gica a fazia desconfiar at mesmo de pessoas do seu c rculo familiar A falta de seguran a psicol gica atrapalhava as rela es sociais porque comprometia a confian a m tua entre vizinhos Sem seguran a psicol gica o indiv duo questiona sua capacidade de avaliar situa es e de buscar ajuda o que o exp e ao trauma psicol gico Outro exemplo dos efeitos da viol ncia na seguran a psicol gica dos moradores era o medo que tinham de frequentar outras favelas O dom nio territorial gerava um perten
365. vi o funciona atrav s do n mero 21 2334 7599 Entretanto nenhum dos moradores entrevistados tinha conhecimento sobre o Disque UPP A nica forma utilizada pelos entrevistados para se comunicar com a UPP eram liga es para o telefone de sua sede e apenas para realizar den ncias sobre crimes N o houve refer ncias a den ncias feitas sobre a atua o policial Quando questionados sobre o que pensam a respeito da afirma o do Governo Estadual de que o Santa Marta estaria pacificado dois entrevistados fizeram ressalvas relacionadas perman ncia do tr fico de drogas 177 C me pegou bem mas t em termo Porque tem o t xico Faz sinal com a m o como se fosse fumar um cigarro Jurema 65 anos dona de casa 2 filhos Eu acho que falta acabar a droga apesar que eu acho que isso ilus o s em sonho isso vai acontecer Eu acho que em qualquer comunidade pacificada que n s formos hoje e dizer naquela comunidade ali n o existe droga por que eu acho que vai existir mas se isso acontecer se essa coisa de haver mais rondas dos policiais se tiver um combate maior a isso a sim A ia ser pacificado mesmo Vivian 23 anos dona de casa 1 filho Os moradores demonstram que suas expectativas em rela o ao programa das UPPs n o se limitam ao fim do dom nio territorial e diminui o da viol ncia A continuidade do tr fico de drogas identificada como uma falha na gest o atual da UPP uma vez que o
366. vi os de gua e luz Os entrevistados demonstram um maior n vel de seguran a psicol gica entretanto n o houveram a es 197 focadas no tratamento daqueles que ainda apresentam danos sa de psicol gica ligados viol ncia Fica evidente entretanto que os entrevistados esperam mais melhorias em infraestrutura e servi os do que as UPPs trouxeram para o Santa Marta Os moradores revelam desconhecer a exist ncia de qualquer a o da UPP Social no Santa Marta Sem presen a de a es intersetoriais fundamentais para a melhoria de diversos Determinantes Sociais da Sa de a exposi o a condi es desiguais de sa de parte da viol ncia estrutural se mant m Os moradores entrevistados relataram que n o eram consultados sobre as a es do comando da UPP e do governo no Santa Marta Observa se ainda que o aumento da oferta de projetos sociais n o representou acr scimo na participa o social dos moradores entrevistados e de suas fam lias A participa o social um dos pilares mais importantes da Promo o da Sa de pois a ferramenta de multiplica o de informa o sobre sa de e garante a participa o dos indiv duos nas decis es comunit rias para a melhoria da sua pr pria sa de Deve se ressaltar ainda que a participa o dos moradores no processo de conquista dos direitos de cidadania t o importante quanto o pr prio fato de usufruir do direito pois tem efeitos no reconhecimento da condi o
367. za o a mobiliza o dos moradores atrav s de mutir es para constru o de escadarias e a distribui o de gua e luz Essa forma de mobiliza o social perdeu for a nas favelas medida que as necessidades b sicas foram atendidas e que programas governamentais como o Favela Bairro promoveram obras de urbaniza o OST 2012 A reinvindica o por melhores condi es de vida foi levada adiante por pequenos grupos de moradores que se uniram na administra o da associa o de moradores e de poucas institui es sem fins lucrativos H ainda movimentos sociais e ONGs formados por n o moradores que se instalam na favela ou fazem parcerias com institui es locais para implementar projetos sociais Assim a atua o dos movimentos sociais teve um importante papel nas conquistas de bens e servi os p blicos 134 Atualmente existem diversos movimentos sociais locais importantes no Santa Marta como a associa o de moradores a r dio comunit ria o grupo ECO e a associa o comercial OST 2012 Dentre estes os mais atuantes s o a associa o de moradores e o grupo ECO Os entrevistados relatam que associa o de moradores presta diversos servi os aos moradores que v o desde a distribui o das correspond ncias e o registro das resid ncias distribui o de vagas para cursos profissionalizantes O grupo ECO por sua vez a segunda institui o mais importante na favela na opini o dos moradores entrevistad

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