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A greve da oficina de chumbo - Tribunal Regional do Trabalho da 4ª

1. A afirma o dessa identidade tamb m est diretamente ligada s greves Al m de servirem de canal de express o e reivindica o de uma classe trabalhadora amorda ada e arrochada durante o regime militar as paralisa es do trabalho tiveram o importante papel de delimitar fronteiras entre concep es sindicais diferenciadas aponta Mattos S Realmente alguns dos movimentos deflagrados contribu ram para dar visibilidade a lideran as que tiveram posteriormente papel expressivo tanto na pol tica regional quanto na nacional Um exemplo no mbito ga cho o l der dos banc rios Ol vio Dutra Determinante para o relevo desse dirigente e de sua categoria no movimento sindical ga cho foi a massiva greve de 15 dias em 1979 na qual 16 dirigentes foram presos e quatro tiveram o mandato cassado entre eles o pr prio Dutra O movimento motivou a interven o do governo no sindicato durante 10 meses Apesar de ser encarada como um fracasso com rela o ao aspecto econ mico tal greve foi vista como um marco para o movimento sindical ga cho Por m em meio s lutas e s estrat gias que dividiam as esquerdas havia ainda a presen a marcante dos sindicalistas conservadores que tinham tomado boa parte das y a haan AN 5 74 dire es sindicais durante o per odo ditatorial A for a de tais grupos n o pode ser subestimada No mesmo 1978 em que as greves metal rgicas do ABC marcaram o surgimento do novo sindicalismo
2. Na poca da greve e na poca da entrevista diretora de teatro sobrinha neta do poeta Mario Quintana RODRIGUES Osvaldo Gomes Depoimento 8 de agosto de 2005 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro 45 minutos Na poca da greve presidente do sindicato dos motoristas Na poca da entrevista motorista aposentado e comerciante SILVA Ant nio Adair Ferreira da Depoimento 26 de setembro de 2005 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre dois cassetes sonoros 1 hora e 45 minutos Na poca da greve trabalhador gr fico linotipista da Caldas J nior Na poca da entrevista gr fico aposentado e advogado Foi presidente do sindicato dos gr ficos entre 1988 e 1990 SILVA Nilton Schergl dae VARGAS Jo o Alberto Depoimento 9 de maio de 2006 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro uma hora Na poca da greve trabalhadores gr fico Silva era tip grafo e Vargas linotipista Na poca da entrevista trabalhadores gr ficos 222 SOUZA Jo o Borges de Depoimentos 25 de maio de 2003 e 10 de setembro de 2005 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre tr s cassetes sonoros 3 horas Na poca da greve jornalista editor de pol tica da Folha da Tarde Na poca da entrevista jornalista aposentado VILLAS BOAS DOS SANTOS Marcelo Depoimento 21 de junho de 2006 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro uma
3. O que alimentou esta estrat gia no entanto foi o senso de justi a ou de injusti a interiorizado pelos trabalhadores a consci ncia legal de seus direitos 4 FORTES Alexandre N s do Quarto p 409 410 535 GANHAMOS a greve Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 7 de fevereiro de 1984 Grifo meu ASJPRGS C pia deste boletim integra o anexo II desta pesquisa 210 A an lise do processo jur dico da greve da Caldas J nior suscitou quest es acerca da legisla o e da conjuntura hist rica da Justi a do Trabalho naquele per odo O exame desses aspectos nos levou a identificar uma s rie de circunst ncias que tornava poss vel e fact vel a op o pela sa da judicial por parte dos grevistas Por m este caminho foi constru do a partir de uma consci ncia dos direitos pr pria dos trabalhadores na qual a no o de legalidade era um elemento essencial Esta compreens o legalista percept vel em outros epis dios da hist ria brasileira e j evidenciada por outros pesquisadores parece ter um importante sentido pragm tico Se o ideal por Justi a move os trabalhadores e angaria legitimidade a seus movimentos de protesto a percep o dos benef cios concretos se d associada ao enquadramento legal A perman ncia desta consci ncia legal no per odo do novo sindicalismo evidenciada n o apenas por este caso espec fico mas tamb m por estudos quantitativos que apontam o crescimento do
4. CAMPILONGO Maria Assunta Corpo e simb lico enunciados representa es matrizes e cartografias de risco Sa de Porto Alegre v 1 p 5 18 1996 CARDOSO Adalberto Moreira A d cada neoliberal e a crise dos sindicatos no Brasil S o Paulo Boitempo 2003 224 CARVALHO Amilton Bueno de Direito alternativo na jurisprud ncia S o Paulo Acad mica 1993 CATTANI Antonio David A a o coletiva dos trabalhadores Porto Alegre SMCultura Palmarinca 1991 Greves um instrumento pol tico trabalho apresentado no GT Classe Oper ria e Sindicalismo no 8 Encontro Anual da ANPOCS em outubro de 1984 Porto Alegre Iespe CDS 1984 Movimento sindical o permanente desafio da renova o Ensaios FEE Porto Alegre v 14 n 2 p 667 686 org Sindicalismo A o reflex o Caxias do Sul EDUCS 1990 CATTANI Antonio D e HOLZMANN Lorena orgs Dicion rio de Trabalho e Tecnologia Porto Alegre UFRGS 2006 CHAGAS Em lio e NABARRO Ed lson SINDICATO dos gr ficos de Porto Alegre 73 anos de luta Publica o comemorativa Porto Alegre Sindicato dos Gr ficos 2002 CHALHOUB Sidney Trabalho lar e botequim o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da belle poque S o Paulo Brasiliense 1986 CHAUVEAU Agn s e T TARD Philippe org Quest es para a hist ria do presente Bauru Edusc 1999 COCKBURN Cynthia Brothers Male dominance and technological change Londres Pluto P
5. apurada sobre a natureza do objeto ou seja a greve em si Ressalvo por m que o enfoque n o pretende ser exaustivo Afinal a primeira dificuldade em estudar greves a complexidade deste objeto capaz de exaurir o espa o completo de uma pesquisa como esta O que se pretende antes avan ar a compreens o 75 para al m do senso comum permitindo uma aproxima o mais rica e complexa do tema e possibilitando o surgimento de novas quest es Para come ar como definir a greve Em linhas gerais trata se de uma paralisa o coletiva de trabalhadores com vistas a obter o atendimento de alguma s reivindica o es ou vantagem ns seja m ela econ mica s pol tica s ou social is Mas esta aparente simplicidade s existe nas palavras como bem lembrou Michelle Perrot A greve s simples na defini o t o marcada pela economia pol tica que lhe d o dicion rio a cessa o do trabalho isto uma folga um vazio um branco na linha cont nua da produ o Fen meno pouco valorizado pela economia pol tica neocl ssica que baseia suas concep es na no o de harmonia natural entre capital e trabalho o tema teve import ncia destacada nas reflex es dos autores anarquistas e marxistas Para os anarquistas a greve a principal forma de a o direta ou seja de luta aut noma e consciente do operariado atrav s da greve que as massas recebem sua educa o revolucion ria e come am
6. es da categoria 1945 e 1956 em Porto Alegre e 1963 em Rio Grande PETERSEN A T T CAD E M P et al Op cit 86 representantes da categoria eram a redu o de horas de trabalho nas ind strias gr ficas a conquista de um sal rio profissional seguro contra acidentes de trabalho e a constru o de casas pelo ent o IAPI Instituto de Assist ncia e Previd ncia dos Industri rios A milit ncia pol tica das lideran as da categoria que se estendeu das duas gest es de Quintana para as tr s de Wilson Borba Lima no sindicato dos gr ficos de 1957 a 1964 contrastava com uma preocupa o desta c pula com a baixa participa o dos associados nas assembl ias e o elevado n mero de solicita es de desligamento de s cios creditados a princ pio a um aumento moment neo das mensalidades Em seu depoimento para esta pesquisa Euclydes Bento da Cruz ex presidente do sindicato dos gr ficos entre 1973 a 1987 e impressor desde o in cio dos anos 40 salientou a preponder ncia dos linotipistas sobre os demais of cios da categoria Cruz parece ter sentido fortemente esta ascend ncia por duas raz es era impressor e n o era comunista Ao folhear uma publica o comemorativa aos 73 anos do sindicato onde havia refer ncia a Borba Lima Cruz comentou Esse Wilson Borba Lima aqui era linotipista Eram vamos dizer assim eram os mais importantes Os linotipistas eram os donos da categoria Ess
7. o articula o sindical crescente no per odo Observa como se deu o relacionamento entre estes sindicatos e os apoios e 7 Nome dado pelos trabalhadores oficina de composi o tipogr fica da Caldas J nior 40 solidariedades obtidos pelo movimento refletindo sobre algumas caracter sticas do novo sindicalismo O uso da lei como instrumento de resist ncia o cerne do ltimo cap tulo Nele depois de fazer um relato detalhado dos caminhos jur dicos seguidos pelos grevistas discuto a lei de greve ent o vigente e sua aplica o O papel dos chamados operadores do Direito ju zes e advogados e suas peculiaridades no in cio dos anos 80 s o abordados bem como a vis o da alternativa legal como estrat gia poss vel aos sindicalistas A disserta o inclui ao final dois anexos uma cronologia do movimento e c pias de boletins de greve 41 Cap tulo I A greve uma vis o geral A dignidade que resta a quem trabalha sem sal rios a greve Extra do do texto Fome no Natal mas com dignidade publicado no jornal Den ncia edi o extra especial sobre a greve na Caldas J nior dezembro de 1983 O objetivo deste primeiro cap tulo apresentar em linhas gerais os principais eventos que constitu ram o acontecimento enfocado na presente disserta o e elaborar uma reflex o sobre a trajet ria e a import ncia da Empresa Jornal stica Caldas J nior no estado A partir deste apanhado s
8. o com as conjunturas do poder pol tico Fundada em 1895 pouco mais de um m s depois do fim da Revolu o Federalista pelo jornalista sergipano Francisco Ant nio Vieira Caldas J nior pelo m dico M rio Totta e pelo gr fico e jornalista Jos Paulino Azurenha a empresa marcou a ascens o no Rio Grande do Sul do chamado jornalismo informativo moderno em detrimento do jornalismo pol tico partid rio e do liter rio Desde seus prim rdios o Correio do Povo se apresentou ao p blico como rg o de nenhuma fac o partid ria que n o se escraviza a cogita es de ordem subalterna Era um peri dico organizado em moldes capitalistas respons vel pela montagem da primeira rotativa e das quatro primeiras linotipos no estado Cultivava uma imagem de distanciamento das discuss es pol ticas um jornal equidistante e equilibrado nas palavras de Breno Caldas mas n o abria m o de sua influ ncia expressa ao longo do s culo XX em epis dios como o apoio Revolu o de 103 SEGUIN des HONS Andr de Le Br sil Presse et histoire 1930 1985 Paris Editions L Harmattan 1985 p 187 104 A propriedade dos principais meios de comunica o do Brasil pertence a fam lias como os Mesquita O Estado de S o Paulo os Marinho Rede Globo e jornal O Globo os Frias Folha de S Paulo os Civita Editora Abril e no Rio Grande do Sul os Sirotsky Rede Brasil Sul 105 SEGUIN des HONS Op cit Ainda nest
9. o estatal e seu impacto na consci ncia e na organiza o dos trabalhadores brasileiros gerou um consenso corporativo nos estudos sobre o trabalho no pa s Isto se configura observa em uma explica o do vasto arcabou o legal trabalhista nacional e da lei geralmente n o como uma constru o cultural mas como 555 487 um reflexo direto de uma a o intencional do Estado burgu s Em estudo da organiza o dos oper rios do ABC paulista ele encontrou frequentemente momentos nos quais a a o do Estado teve resultados inesperados e mesmo paradoxais 8 contrariando a id ia de seu controle onipotente sobre os trabalhadores Da mesma forma em pesquisa sobre os oper rios dos servi os portu rios da Companhia Docas de Santos Fernando Teixeira da Silva mostrou como a lei foi utilizada enquanto arena de enfrentamento entre patr es e empregados sobretudo de 1937 a 1945 na vig ncia do Estado Novo portanto Silva observou que a exist ncia da Justi a do Trabalho ampliava o espa o de manobra dos trabalhadores N o se trata ressaltou de afirmar uma suposta neutralidade da Justi a ou negar seu car ter classista mas de lembrar que assim como a exist ncia da lei sua aplica o requer um 485 CARDOSO A M Op cit p 150 486 Idem ibidem p 156 487 FRENCH J Afogados p 32 488 Idem ibidem O estudo sobre o ABC FRENCH John O ABC dos oper rios lutas e alian as de classe em S o P
10. 27 Cockburn que estudou o impacto entre os gr ficos da passagem da linotipia para a fotocomposi o nos jornais londrinos dos anos 70 fotocomposi o e uso da inform tica na impress o n o podem ser vistas separadamente elas s o parte de uma pol tica de controle Nesta perspectiva a mudan a t cnica no setor gr fico que coincide com o movimento grevista aqui examinado evidencia um momento extremamente significativo para os trabalhadores atingidos por ela n o apenas por envolver quest es materiais objetivas como sal rio e emprego mas por que se refere tamb m identidade de trabalhadores especializados e ciosos de seu saber de of cio caso dos gr ficos Quanto s rela es de domina o trabalho com a perspectiva de que a pol tica de controle na Caldas J nior se apoiava tanto na concess o de benef cios materiais sal rios mais altos do que os pagos no mercado adiantamentos quanto na mitifica o da figura do empres rio Breno Caldas Tal mitifica o se produzia a partir de uma s rie de artif cios como apari es freq entes junto a autoridades pol ticas nas p ginas de seus jornais e o recurso continuado a mecanismos simb licos e materiais na rbita interna da produ o como o uso exclusivo da caneta verde e do t tulo de doutor Para a an lise da pol tica paternalista vigente na empresa vali me da no o de teatraliza o da domina o desenvolvida por E P Thompson e que alicer
11. Breno era um bom patr o Excelente patr o Se fazia as assembl ias da Caldas J nior num dia espec fico diferente do resto da categoria E o que acontecia Doutor Breno chegava O que foi resolvido na categoria Foi tanto por cento T eu dou isto e mais um pouquinho 8 FORTES A N s do Quarto p 179 Grifos do autor 9 Idem ibidem p 207 20 GALVANI W Um s culo Com a morte de Caldas J nior a empresa passou a ser administrada pela vi va Dolores Alcaraz Caldas m e de Breno e pelo irm o dela Joaquim Alcaraz A dire o financeira e a ger ncia ficaram a cargo de Jo o Obino O comando editorial do Correio do Povo oscilou entre Em lio Kemp Francisco Leonardo Truda Alexandre Alcaraz irm o de Dolores e Joaquim Fernando Caldas filho primog nito do primeiro casamento de Caldas J nior e F bio de Barros Breno Caldas passou a responder pela chefia de reda o em 1929 pela secretaria da reda o em 1931 e pela dire o da empresa em 1935 num processo crescente de centraliza o do poder em suas m os 21 FORTES A N s do Quarto p 207 A discuss o sobre as pr ticas paternalistas na Caldas J nior ser retomada e ampliada no pr ximo cap tulo 2 SILVA N e VARGAS J Op cit 3 FRAGA J e SILVA S Op cit 224 SILVA A Op cit Trecho maior do mesmo depoimento foi citado na Introdu o 93 Mitificado o patr o aparece tamb m em algumas narrativas como mediador
12. Em rela o categoria que mais realizou paralisa es naqueles tr s anos no Rio Grande do Sul a constru o civil 10 Re des dia RA Ji 153 das 29 greves tiveram como reivindica o o pagamento de sal rio ou 13 atrasados e portanto adequado inserir o movimento da Caldas J nior tamb m motivado por atrasos salariais nesta tend ncia geral de mobiliza es do trabalho no per odo sendo imposs vel negar lhe as injun es econ micas A quest o entretanto reside em perceber os limites desta leitura como explica o do passado Ser ela suficiente Ao estudar os motins da fome na Inglaterra do s culo XVIII E P Thompson criticou a redu o da an lise social a um diagrama relacionando desemprego infla o e perturba o social de forma direta Ele atribuiu ao reducionismo econ mico crasso uma vis o redutora do homem econ mico A obje o que esse diagrama se empregado de forma pouco inteligente pode nos levar a concluir a investiga o exatamente no ponto em que adquire interesse cultural ou sociol gico s rio estando com fome o que 2 que as pessoas fazem Como o seu comportamento modificado pelo xn9154 costume pela cultura e pela raz o N o se trata por certo de negar a import ncia da an lise econ mica mas criticar a redu o da explica o a um economicismo prim rio Em rela o a esta pesquisa e parafraseando o historiador brit nico a pergunta poder
13. Mas o Francisco Ant nio Caldas n o 298 Pai E quando falava com terceiros o velho Uma hist ria contada pelos jornalistas em tom de anedota mostra como Caldas incentivava o uso do doutor e fazia uma utiliza o d bia de sua autoridade Os leiteiros botavam gua no leite A Secretaria Municipal da Sa de autuou os leiteiros que de v rias zonas da cidade tinham posto gua no leite O doutor Breno tinha um rebanho de vacas leiteiras e fornecia leite para a Corlac N o era antes da Corlac era outro nome Mas era a empresa do estado E como era fornecimento para o estado a Secretaria da Sa de investigou e descobriu que tinham posto gua no leite Para aumentar a produ o todo mundo faz Bom ent o foram autuados aqueles leiteiros que faziam isto A a secretaria mandou a rela o para o Correio do Povo publicar E o Correio do Povo foi publicar a lista dos leiteiros autuados E estava l num dos primeiros lugares da lista Breno Caldas A o cara na oficina marcou doutor Breno Caldas E saiu no Correio do Povo Foi impresso E o doutor Breno que era muito esperto em vez de ficar enraivecido com aquilo pegou o papel e botou na mesa dele com tampo de vidro Botou embaixo do vidro A quando iam l pedir para n o sair uma not cia ele dizia Como que eu vou evitar que saia Olha aqui A hist ria tem a inten o primeira de reiterar a suposta imparcialidade do Corre
14. Na Caldas J nior a crise econ mica parece ter ru do as bases da ades o oper ria a um sistema muito semelhante A discuss o sobre a articula o sindical ancora se sobretudo nos autores j citados anteriormente quando abordei a quest o do novo sindicalismo O enfoque da disserta o como foi dito volta se ao momento especifico no qual ocorre o movimento grevista na Caldas J nior per odo de institucionaliza o e de defini o identit ria dos grupos envolvidos com o processo de renova o do sindicalismo Tal defini o implicava embates com outras correntes em especial nos encontros nacionais que procuravam criar uma articula o conjunta para o movimento Segundo Santana o momento era de concorr ncia entre projetos pol ticos e sindicais no interior dos setores de esquerda no Brasil As greves tinham papel essencial neste contexto Como mostrou Mattos em rela o ao sindicalismo carioca a partir de meados da d cada de 80 ser novo no NA E asd 42 sindicalismo era tamb m e talvez principalmente fazer greves Tal processo n o era como j abordado isento de ambigiidades A pr pria articula o dos movimentos requeria por vezes a uni o com grupos opostos No caso da greve da Caldas J nior a articula o sindical reuniu correntes pol ticas de espectro bastante variado o que determinou tamb m caracter sticas peculiares do movimento Thompson a refer ncia b sica na abordagem da quest o j
15. e novos sindicalistas das entidades de classe envolvidas na articula o do movimento de resist ncia O problema foi enfocado no cap tulo IV onde empreendi de in cio um apanhado sobre os conflitos pol ticos dos diversos grupos sindicais no final dos 70 e in cio dos 80 Procurei mostrar as profundas cis es entre tend ncias antes aliadas bem como o papel ainda decisivo das lideran as conservadoras frente de muitas entidades de classe na poca Em rela o aos tr s sindicatos envolvidos no movimento da Caldas J nior tanto jornalistas quanto rodovi rios passavam por mudan as em suas c pulas Os primeiros por m vinham de administra es comunistas j empenhadas em alinhar se a uma perspectiva de mobiliza o e organiza o de classe numa postura de forte e aberta oposi o ao regime militar Os rodovi rios por outro lado tinham amargado uma c pula n o s conservadora mas tamb m estreitamente ligada aos rg os de seguran a e ao governo durante a ditadura Ainda na oposi o os novos l deres dos motoristas haviam conseguido realizar uma greve extremamente significativa na capital ga cha em 1979 O novo grupo que assumiu o sindicato dos jornalistas ao contr rio era associado jocosamente a uma imagem de irresponsabilidade os porra loucas e ainda n o havia afirmado na pr tica sua combatividade A dire o do sindicato dos gr ficos posicionava se do lado conservador voltad
16. o e a oficina de chumbo Em rela o aos rodovi rios o contato parece ter sido mais indireto Ao ser entrevistado para esta pesquisa Osvaldo Rodrigues ex presidente do sindicato da categoria contou que n o participou da mobiliza o anterior greve tendo sido chamado pelos l deres dos jornalistas e gr ficos por telefone Eles j estavam com o movimento pronto Quando eu entrei aderi ao movimento de forma solid ria Tentando segurar o rodovi rio Mas eles j estavam h meses trabalhando em cima desse 401 N jy gua E processo Rodrigues compareceu assembl ia decisiva na oficina de chumbo e defendeu a paralisa o mas guarda do movimento uma recorda o melanc lica Infelizmente n o fui bem sucedido na greve dos motoristas da Caldas J nior A maior parte furou a greve Teve medo entendeu A empresa estava quebrando quebrando e o pessoal tinha medo Porque o desemprego o maior fantasma do trabalhador Desemprego o maior fantasma Outros trabalhadores ao contr rio t m uma lembran a muito viva da import ncia dos discursos do l der rodovi rio nas assembl ias especialmente naquela que definiu pela greve Era o Galo Eu me lembro muito bem Nesta assembl ia estavam s jornalistas os gr ficos e alguns administrativos O Galo entrou e disse assim Olha eu n o me reuni com a minha categoria N s estamos marcando uma assembl ia para a meia noite l no garaj o setor de transporte
17. o em editar tais normas revela um esfor o de legitima o do regime de exce o pelos meios jur dicos Esfor o de legitima o que se d tamb m pela edi o da autorit ria lei 4 330 submetida ao arcabou o da democr tica Constitui o de 46 A op o inicial do regime por manter formalmente a Constitui o anterior mesmo modificando a pelos atos institucionais e a pressa em regular as greves impedia paradoxalmente que as paralisa es do trabalho fossem sumariamente banidas da legalidade formal Portanto fiel sua l gica interna e coerente com o ordenamento constitucional vigente a lei mantinha uma margem de legaliza o dos movimentos t o acanhada que se dava ao 473 Em Thompson a legitimidade da domina o vista como parte de um jogo ret rico e ideol gico que visa a sustentar o poder dos dominantes mas que por conter a sua pr pria l gica pode ser usada contra eles 4 Trecho da frase proferida pelo ent o ministro Jarbas Passarinho na reuni o do Conselho de Seguran a Nacional que decidiu pela instaura o do AI 5 em 1968 A reuni o foi gravada Passarinho comenta a frase e a reuni o em entrevista ao jornalista Deigma Turozi da Ag ncia Brasil dispon vel no site lt http w ww radiobras gov br especiais Golpe64 golpe64 jarbas htm gt Acesso em 24 05 05 45 FAUSTO B op cit p 481 Sobre o AI 14 ver tamb m SILVA ngela Moreira Domingues da Ditadura militar e repress o legal a pena
18. o trabalhista 1 SOARES M F Op cit p 38 502 Idem ibidem p 88 89 198 dispomos nem sempre a lei autorit ria foi utilizada contra os movimentos grevistas parecendo nos que o Estado a reservava para uso em momentos em que a mobiliza o crescia amea ando as bases do regime gt i No julgamento de v rios diss dios decis es tomadas pelo TRT foram fortemente contestadas pelos empres rios No diss dio de 1980 dos oper rios da constru o civil por exemplo o sindicato patronal recorreu ao TST contra a decis o do tribunal regional de conceder 8 de produtividade aos trabalhadores os patr es queriam 4 aplicar 15 de periculosidade a quem exercesse atividade em andaimes n o era pago a ningu m e adicional de 50 para as horas extras as ind strias pagavam 25 Go No ano de 1980 em sess o presidida pelo juiz Pereira Leite ent o vice presidente do TRT ele ocupou a presid ncia entre 1983 e 1985 as empresas de papel papel o e corti a de Porto Alegre foram condenadas a pagar uma indeniza o s oper rias quando n o houvesse creche no local de trabalho e a ceder tempo para amamenta o em cada turno de trabalho No ano seguinte o procurador regional do Trabalho Carlos Renato Goldeschmidt anunciou que recorreria ao TST contra v rias decis es do TRT porque segundo ele elas feriam as leis em vigor As decis es eram tornar equivalentes economicamente o Fundo de Garantia por Tempo de Servi
19. 472 Idem ibidem p 356 189 no campo jur dico a legitima o fortalecimento da domina o pela lei e a limita o do arb trio dos dominantes O Direito assim uma arena complexa onde se travam batalhas com repercuss es important ssimas em outros mbitos sociais e n o deve ser entendido numa perspectiva reducionista que n o ilumine as diversas possibilidades dadas pelas variadas esferas da lei em especial sua constitui o formal e sua aplica o pr tica Pode se falar em dom nio da lei no per odo da ditadura militar brasileira evidente que n o se ignora aqui a rotina de arbitrariedades desmandos e autoritarismo vigentes no per odo nem as centenas de mortos e desaparecidos nos por es da ditadura Mas importante lembrar que o regime militar n o foi uma poca sem leis Os atos de cassa o e interven o na vida civil o cerceamento dos direitos a repress o aos sindicatos foram tema da extensa legisla o do Poder Executivo a partir de 1964 Mesmo quando mandou s favas os escr pulos de consci ncia fechando o Congresso e outorgando se poderes excepcionais o governo o fez atrav s de uma lei o AI S Eram legisla es arbitr rias nem sempre cumpridas formalmente a pena de morte institu da pelo AI 14 1969 para os casos de guerra externa psicol gica adversa revolucion ria ou subversiva nunca chegou a ser executada apesar de vigir informalmente nos por es mas a preocupa
20. Cortez 1982 MIGUEL Lu s Felipe Retrato de uma aus ncia a m dia nos retratos da hist ria pol tica do Brasil Revista Brasileira de Hist ria S o Paulo ANPUH v 20 n 39 2000 MOIS S Jos lvaro Qual a estrat gia do novo sindicalismo In MOIS S Jos lvaro et al Alternativas populares da democracia Brasil anos 80 Petr polis S o Paulo Vozes Cedec 1982 p 11 39 Greve de massa e crise pol tica S o Paulo Polis 1978 MONATTE Pierre Em defesa do sindicalismo In WOODCOCK George org Os grandes escritos anarquistas Porto Alegre L amp PM 1990 228 MUNAKATA Kazumi legisla o trabalhista no Brasil S o Paulo Brasiliense 1984 O lugar do movimento oper rio In IV Encontro regional de Hist ria de S o Paulo 1980 Araraquara Movimentos sociais Anais do IV Encontro regional de Hist ria de S o Paulo Araraquara ANPUH UNESP 1978 v 1 p 61 81 NASCIMENTO Amauri Mascaro Coment rios lei de greve S o Paulo LTR 1989 NEFFA Julio C sar Crisis y emerg ncia de nuevos modelos productivos In LA GARZA Enrique Los retos te ricos de los estudios del trabajo hacia el siglo XXI Buenos Aires Clacso 1999 p 69 115 PACHECO Eliezer Moreira Sindicato e projeto pedag gico a organiza o e as lutas dos professores p blicos estaduais do Rio Grande do Sul 1945 1991 Disserta o mestrado em Hist ria IFCH UFRGS Porto Alegre 1993 PAOLI Maria Celi
21. a Federa o dos Trabalhadores na Constru o e do Mobili rio do Rio Grande do Sul conseguiu reunir 10 mil trabalhadores ga chos que lotaram o Est dio Beira Rio em Porto Alegre para homenagear o presidente Ernesto Geisel no 1 de maio Os oper rios presentes receberam cada um um bauru e um 1 MATTOS M B Novos e velhos p 74 372 Idem ibidem p 220 33 SILVA S I M Op cit p 111 119 374 O pr prio uso deste adjetivo pode provocar confus o j que a partir de 1983 ele passa a ser utilizado pelos combativos juntamente com o termo pelego tamb m em rela o aos antigos aliados os integrantes da Unidade Sindical Um exemplo o texto publicado no jornal Em Tempo sobre o congresso de cria o da CUT no qual h refer ncia divis o do movimento sindical novamente puxada por pelegos not rios pelegos reformados e seus acompanhantes os sindicalistas do Partido Comunista Brasileiro AYALA Luci MORAES Regis e OLIVEIRA Elvira Manobra criminosa para quebrar o ascenso do movimento Em Tempo S o Paulo n 176 18 a 31 de agosto de 1983 p 8 9 CDS NPH Portanto cabe um esclarecimento sob o adjetivo conservadores me refiro aqui s dire es sindicais n o identificadas com grupos de esquerda ou com o movimento de renova o do sindicalismo caracterizadas por pr ticas de ades o ao regime militar e ou um assistencialismo burocr tico 152 iogurte e assistiram ao show do cant
22. a Justi a do Trabalho tomaria decis es importantes em rela o aos funcion rios da Caldas J nior chegando ao ponto de um jornal paulista afirmar num t tulo que o Judici rio garantia a greve Examinando um outro 435 Irm o de Carlos Ara jo l der do VAR Palmares grupo de resist ncia armada ditadura militar e posteriormente deputado pelo PDT o advogado Luiz Heron Ara jo foi um dos nomes mais destacados da advocacia trabalhista ga cha nas d cadas de 70 e 80 Foi preso pol tico pris o domiciliar exilado e presidiu a Associa o Ga cha de Advogados Trabalhistas Agetra Recebeu indeniza o como preso pol tico durante o regime militar o nome de Heron consta do Acervo da Luta contra a Ditadura ver site lt http www acervoditadura rs gov br indenizacao htm gt Acesso em 16 07 06 Era casado com a tamb m advogada trabalhista Olga Ara jo Morreu em 1988 Diplomado em Direito no ano de 1957 Burmeister foi advogado de v rias categorias de trabalhadores eletricit rios motoristas radialistas engenheiros jornalistas psic logos telef nicos metrovi rios e trabalhadores nas ind strias da alimenta o entre outros tendo sido colega de escrit rio do advogado Tarso Genro Genro foi posteriormente prefeito de Porto Alegre pelo PT em 1993 1997 e 2001 2002 presidente nacional do PT em 2005 ministro da Educa o em 2004 das Rela es Institucionais em 2006 e da Justi a em 2007 Em 1993 Burmeister ocupo
23. anos Antes disso havia integrado diretorias anteriores da entidade por sete anos Suas gest es s o identificadas com uma preocupa o preponderante com a gest o administrativa da entidade Nascido em Porto Alegre de uma fam lia de nove irm os filho de um carteiro e de uma dona de casa come ou a trabalhar aos 14 anos mas somente aos 18 foi admitido como auxiliar de impressor na Livraria do Globo Depois de aprender o of cio transferiu se para a Livraria Continente onde permaneceu por 30 anos A partir de 1965 come ou a fazer parte das diretorias do sindicato Foi entrevistado em sua casa em 2004 Na poca contava com 81 anos No ano seguinte Euclydes faleceu 14 RODRIGUES Osvaldo Gomes Depoimento 8 de agosto de 2005 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro 45 minutos Nascido na pequena cidade de S o Francisco de Assis pr xima a Alegrete em 1 de novembro de 1942 Rodrigues veio para Porto Alegre no in cio da adolesc ncia e come ou a trabalhar como motorista em 1965 depois de ter servido tr s anos no Ex rcito onde aprendeu o of cio Foi um dos l deres da greve de 1979 dos rodovi rios de Porto Alegre um dos movimentos mais importantes ocorridos naquele ano de retomada da mobiliza o sindical no estado e no pa s Assumiu a presid ncia do sindicato dos motoristas em 1983 permanecendo no poder por seis anos seguidos dois mandatos No meio sindical sua trajet ria considerada hoje b
24. coisa esse sim esse que o nosso Eles botaram todo mundo para a rua ele n o fez coisa nenhuma Ele s prejudicou Eu sempre fui muito cuidadoso jamais eu gostei de precipita o Eu para fazer uma coisa tenho que analisar muito bem para ver se n o vai dar preju zo para a categoria N o interessa o 4407 Euclydes interessa a categoria Cruz tinha enormes restri es n o s a movimentos grevistas como tamb m uni o com os jornalistas n o s pela rivalidade tradicional entre os of cios mas tamb m por suas idiossincrasias pessoais tal como ficou flagrante em seu depoimento A gente ia numa assembl ia de jornalistas sei l convidado s dava bandalheira entre aquelas mulheres aquelas gurias l Terminava em besteira e besteira E eu n o gostava A 4 CATTANI A D Movimento sindical p 672 47 CRUZ E Op cit 163 gente ia perder um enorme tempo com aquela turma l as gurias s dizendo nome feio Era uma anarquia A ades o dos gr ficos no entanto era vital para o sucesso da greve pois eles controlavam uma etapa industrial essencial do processo de produ o jornal stico Al m disso em termos institucionais o dirigente conservador era visto pelos sindicalistas como algu m capaz de conferir respeitabilidade ao movimento conforme recorda Loir Gon alves isso a a gente pisava em ovos Porque o seu Euclydes e a dire o do sindicato dos gr ficos tinham na poca
25. com fotocomposi o diminuindo a quantidade de trabalho e consegiientemente a remunera o destes profissionais Como recorda Ant nio Adair Bom a foi indo manda um embora manda outro diminui a carga hor ria em resumo chegou uma poca que porque diminuiu a nossa parte no jornal n s faz amos uma jornada de cinco seis horas E o grande problema que ocorreu para n s o seguinte todos recebiam por produ o Com exce o de uns bem antigos tinha gente trabalhando l desde 1940 entraram guris e sa ram j com 60 70 anos Os mais antigos tinham vamos botar em valores de hoje R 50 por dia e mais o que ele produzisse 3 SILVA N e VARGAS J Op cit H lio Pereira Ribas foi presidente da entidade por tr s gest es 1965 1967 1967 1969 1969 1972 todas ela tendo como 1 secret rio Euclydes Bento da Cruz 24 COCKBURN C Op cit p 94 265 SILVA A A Op cit 107 Segundo Adair o setor de impress o tamb m sofreu com o corte de funcion rios Al m disso o final da implanta o do novo sistema em 1983 coincidiu com o in cio dos atrasos salariais na Caldas J nior Os gr ficos portanto viviam um momento muito dif cil amea ados de demiss o tendo seu status rebaixado e sofrendo atrasos salariais No caso dos linotipistas a elite da categoria ainda sobrepunha se a diminui o de trabalho e a consegiiente redu o salarial A pergunta de que modo estas conting ncias afetaram a constru
26. d a onna a a a a a a EE Ta 212 Fontes e bibliosrafia nn ii C a a 219 Anexo L Cronolofid eenean O a a 232 Anexo II Reprodu es de boletins de greve io 240 10 Abreviaturas dos acervos consultados APCE Arquivo pessoal Clarice Esperan a APJBS Arquivo pessoal Jo o Borges de Souza APRW Arquivo pessoal Rubens Weyne ASJPRGS Acervo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul ASTIGPA Acervo do Sindicato dos Trabalhadores nas Ind strias Gr ficas de Porto Alegre ATRTA4 Acervo do Tribunal Regional do Trabalho TRT da 4 Regi o BFabico Biblioteca da Faculdade de Biblioteconomia e Comunica o Social da UFRGS Bibeco Biblioteca da Faculdade de Ci ncias Econ micas da UFRGS BDir Biblioteca da Faculdade de Direito da UFRGS CDS NPH Centro de Documenta o do Sindicalismo abrigado no N cleo de Pesquisa Hist rica do IFCH UFRGS MCSHJC Museu de Comunica o Social Hip lito Jos da Costa 11 Lista de gr ficos 1 Crescimento da infla o 1978 1985 sssoma e sanaiios anadata ls Gg ana ainda asa eia a gta pai 68 2 Greves Brasil RS 1978 1985 uesaeaiasaarasinas ssa caga taraa Dotada ds nn daa das nni 69 Lista de ilustra es Figura 1 Brigada Militar impede acesso dos grevistas ao pr dio da Caldas J nior no 1 dia de greve Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 13 12 83 ASIPROS sa A
27. da Zero Hora Ent o ele tinha uma certa isen o mas era presidente do sindicato e era cobrado a toda hora E o Jo o que Me lembro quando tinha algum rolo que precisava decidir alguma coisa o que fazer amanh a gente chamava o Jo o Souza o Jo o Aveline o Remi a Vera Spolidoro que j estava militando no PT neste tempo tamb m ela 123 Outro l der do movimento Loir Gon alves manifesta contudo seu desagrado em rela o a esta forma de luta por m ressalvando sua inten o justa e associando a paradoxalmente a um sindicalismo mais avan ado Perguntado como funcionou a mobiliza o conjunta dos sindicalistas ele respondeu Ent o s vezes eu me surpreendia Via algu m atirar um tijolo em um vidro quebrar um p ra brisa Eu n o faria isto N o era da minha Mas aquilo era um sindicalismo mais avan ado Era o pessoal do sindicato dos motoristas Rodovi rios n Mas eles j tinham hist ria A hist ria sindicalista deles era mais evolu da que a nossa Ent o este tipo de manifesta o para mim era novidade N o tinha assistido e nem ia continuar participando nesses limites Mas a finalidade era justa era impedir que o jornal na poca circulasse GON AVES M L Op cit 4 BURMEISTER L Op cit A Libelu era uma corrente de origem estudantil trotskista conhecida tamb m por Organiza o Socialista Internacionalista OSI que ingressou no PT em 1981 169 ia para l o
28. de 1984 ASJPRGS SOUZA Jo o Borges de Depoimento setembro de 2005 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre dois cassetes sonoros 1 hora e 45 minutos Nascido em 23 de dezembro de 1933 em Pelotas 52 Na inten o aparente de guardar e modelar a mem ria do acontecimento Souza elaborou em 1984 um relato breve da situa o p s greve Quando fui entrevist lo em 2005 ele me repassou a narrativa escrita juntamente com os documentos de que dispunha Reproduzo a a seguir Em fins de mar o in cio de abril pessoas que n o haviam aderido greve algumas delas signat rias de manifesto de apoio empresa e seu diretor presidente come am a cobrar seus sal rios na Justi a Afinal d o se conta que a nica maneira de receberem alguma coisa Assim s o ajuizadas reclamat rias de Lauro Quadros e T nia Carvalho apresentadores de r dio e de TV entre outros alguns com fun es em mais de um ve culo da EJCJ Empresa Jornal stica Caldas J nior No dia 30 de abril editores n o grevistas da Folha da Tarde come am a se articular para tamb m cobrar na Justi a do Trabalho As informa es sobre a situa o da empresa s o as piores poss veis Dia 27 n o foi fornecido vale s deram Cr 10 mil para a oficina porque os recursos dispon veis tiveram de ser usados para pagar gasolina Na semana anterior j ocorrera o mesmo tendo o dinheiro sido usado na compra de papel Em rela o a este re
29. definida por ele como a 25 CRUZ E Op cit 88 s E d 206 liberta o da categoria gr fica do estado em que se encontrava Foi o homem que mais tempo permaneceu como presidente do sindicato dos gr ficos porto alegrense 14 anos 2 Os oper rios da Caldas J nior Se a imagem da categoria gr fica correspondia historicamente a de uma vanguarda oper ria tanto pelo contato com o saber letrado quanto pela milit ncia socialista e comunista pode se indagar o quanto esta idealiza o corresponde identidade dos trabalhadores que exerciam a profiss o dentro da Caldas J nior Como veremos a seguir a pr tica do of cio na empresa relacionava se muito mais valoriza o de um status do que propriamente da tradi o de lutas A oficina de composi o gr fica da Caldas J nior com 38 linotipos era um campo de trabalho importante para os profissionais da rea nos anos 70 Quando a empresa editava tr s jornais Folha da Manh Folha da Tarde e Correio do Povo as m quinas permaneciam ocupadas praticamente da manh noite Turmas de gr ficos se revezavam para preparar os originais produzidos pelas reda es Eram em torno de 60 oper rios durante o dia e outros 60 durante a noite al m de um grupo especial com cerca de 40 homens no fim de semana No outro setor a impress o mais uma centena de gr ficos labutava para elaborar o produto final os jornais Havia ainda a pr impress o respons vel
30. desde os combativos passando pela esquerda tradicional e at os dirigentes identificados com posturas mais conservadoras e assistencialistas As greves do per odo n o apenas reivindicavam direitos mas tamb m se constitu ram em acontecimentos vitais para estabelecer posi es na arena sindical conforme j demonstrado por Mattos Ao analisar os movimentos grevistas de 1979 no Rio de Janeiro este autor observa que as greves tiveram a fun o de demarcar as fronteiras entre concep es sindicais diferenciadas que embora tendo a confundi las as auto representa es como oposi es divergiam profundamente na forma como encaravam o papel dos sindicatos na transi o democr tica e portanto na forma como nan 159 valorizavam a pr pria greve No entanto as diversas formas como esses movimentos aconteceram no pa s nem sempre obedeceram s inten es pol ticas iniciais das milit ncias sindicais Se alguns movimentos demarcaram fronteiras outros precisaram ignor las para serem viabilizados Esse parece ser o caso da greve da Caldas J nior Afinal as c pulas dos tr s sindicatos envolvidos na paralisa o jornalistas gr ficos e rodovi rios colocavam se em lados diversos do cen rio pol tico sindical Esse distanciamento n o impossibilitou a uni o durante o movimento Surge a mais um problema de pesquisa como era na pr tica o relacionamento das diferentes correntes sindicais nos momentos
31. dio coletivo ocorrida em 23 12 83 Processo TRT 9217 83 26 C pia da ata de audi ncia no TRT processo de diss dio coletivo ocorrida em 24 12 83 Processo TRT 9217 83 27 C pia de trecho da decis o tomada pelo presidente do TRT Jo o Ant nio Pereira Leite em 26 12 83 garantindo direitos aos grevistas Processo TRT 9217 83 VERS ES anteriores e posteriormente modificadas do texto do relat rio ASJPRGS RELAT RIO do Banco Central 1985 Banco Central do Brasil Bras lia Bibeco RESOLU ES do 1 Congresso Nacional da CUT ocorrido em 24 25 e 26 de agosto de 1984 In CUT 20 anos 1983 2003 Resolu es da Conclat e dos Congressos e Plen rias da CUT S o Paulo Funda o Perseu Abramo CUT 2003 CD ROM 220 2 Jornais e revistas consultados Boletim do Dieese S o Paulo 1983 e 1984 Bibeco Coojornal Porto Alegre 1976 a 1982 BFabico e CDS NPH Correio do Povo Porto Alegre 1964 a 1984 MCSHJC e CDS NPH Den ncia Porto Alegre 1983 APCE Di rio do Sul Porto Alegre 26 e 27 de setembro de 1987 APCE Em Tempo S o Paulo 1983 e 1984 CDS NPH O Estado de S o Paulo Folha de S Paulo S o Paulo dezembro de 1983 SJPRGS O Globo Jornal do Brasil Rio de Janeiro dezembro de 1983 SJPRGS Folha da Tarde Porto Alegre 1970 e 80 MCSHJC Revista Imprensa S o Paulo setembro de 1989 BFabico Revista Isto S o Paulo abril de 1980 site Funda o
32. e i 463 da lei e intimidar os participantes das greves do pa s com sua aplica o rigorosa Por m a seguran a e a freq ncia com que o Executivo empunhava a 4 330 como arma contra grevistas nem sempre eram vistas com bons olhos no Judici rio No in cio de abril de 1980 numa decis o encarada poca como surpreendente o TRT paulista decidiu que n o cabia ao tribunal decretar a legalidade ou ilegalidade da greve dos metal rgicos do ABC e do interior de S o Paulo De acordo com reportagem publicada na revista Isto um dos fatores que teriam pesado na decis o foi uma amea a anterior feita pelo mesmo Murilo Macedo de interven o nos sindicatos a partir de uma declara o de ilegalidade que ele considerava favas contadas no tribunal Ouvido pelo jornalista um juiz teceu cr ticas a essas leis antijur dicas que n o se podem aplicar e a atitude de ministros como Murilo Macedo que dizem previamente que a interpreta o vai ser essa e tal Dessa forma a decis o do TRT paulista foi interpretada i A ias e A pela imprensa como uma forma de reafirmar a autonomia do Judici rio A decis o pressupunha por m a volta imediata ao trabalho com a aceita o de uma proposta conciliat ria apresentada pelos ju zes Mas os trabalhadores n o ficaram satisfeitos e continuaram parados O tribunal ent o mudou de posi o e em novo Julgamento declarou a greve ilegal A senten a abriu caminho para violenta r
33. exatamente pela diminui o da vis o retrospectiva HOBSBAWM Eric O presente como hist ria In Sobre Hist ria S o Paulo Companhia das Letras 1998 p 243 255 33 marcada muito mais pelo sil ncio e pelo medo do que pela revolta N o dif cil para mim que fui adolescente nos anos 80 entender que o futuro naquela poca relacionava se fortemente id ia de renova o construir novos ideais iniciar uma vida nova investir em um tempo novo Em rela o ao objeto como j afirmei um dos fatores que me atraiu foi a proximidade com a minha experi ncia de jornalista Tal viv ncia torna mais simples aparentemente o entendimento de processos de trabalho e de fun es pr prias desta rea de produ o a compreens o das rela es internas dentro de uma empresa jornal stica o acesso s fontes Mas n o ignoro por outro lado as dificuldades e limita es que essa proximidade pode causar principalmente em rela o a vis es comprometidas com uma certa constru o her ica da mem ria daquele movimento e daquele per odo Parece me que a forma mais honesta e produtiva de lidar com esta situa o explicit la Segundo Hobsbawm quando n o escrevemos sobre a Antigiiidade cl ssica ou o s culo XIX mas sobre nosso pr prio tempo inevit vel que a experi ncia pessoal desses tempos modelem a maneira como os vemos e at a maneira como avaliamos a x evid ncia qual n s n o obstante nos
34. ia seria tomada por voto secreto c dulas sim e n o especifica a lei 4 A mesa apuradora da vota o seria presidida por membro do Minist rio P blico do Trabalho ou por algu m designado pelo procurador geral do Trabalho ou procuradores regionais 5 Se a decis o fosse por greve a diretoria do sindicato notificaria o empregador por escrito dando lhe prazo de cinco dias para o atendimento das reivindica es e informando o dia m s e hora do in cio da greve com intervalo m nimo de cinco dias S Sra a 55461 nas atividades consideradas acess rias e 10 dias nas fundamentais Presidente da Rep blica ind strias de interesse da seguran a nacional NASCIMENTO A Op cit p 14 e 101 102 Este autor defende que todo o aparato legal em rela o a greves durante o per odo militar n o foi cumprido apesar de estar vigente Sobre direito de greve na legisla o brasileira ver tamb m DUARTE NETO Bento Herculano Direito de greve aspectos gen ricos e legisla o brasileira S o Paulo LTR 1992 e MELLO Maildes Alves de A greve no Direito Positivo Brasileiro Porto Alegre S ntese 1980 Anteriormente a lei 4 330 considerou fundamentais as atividades nos servi os de gua energia luz g s esgotos comunica es transportes carga ou descarga servi o funer rio hospitais maternidade venda de g neros aliment cios de primeira necessidade farm cias e drogarias hot is e ind
35. levantados a partir da documenta o Logo a seguir farei um esfor o de compreens o destas evid ncias tentando ampliar a an lise para o contexto mais amplo e dialogando com as refer ncias te ricas Algumas informa es referentes tramita o 176 jur dica j foram apresentadas rapidamente nas p ginas anteriores por m ser o aprofundadas a seguir 1 Os caminhos da legalidade Estas primeiras p ginas se constituir o numa descri o por vezes rida do processo judicial relativo greve da Caldas J nior reconstru do a partir da documenta o Sem querer estender as decis es tomadas pelos envolvidos neste acontecimento para al m de seu contexto espec fico pretendo por m compreend las no interior de um conjunto de determina es econ micas pol ticas e culturais As experi ncias humanas reunidas neste evento n o est o soltas no ar Ocorrem em um momento hist rico peculiar agem sobre as estruturas e ao mesmo tempo sofrem as limita es impostas por elas Para realizar esta an lise necess rio tatear por um campo disciplinar diverso tentando desvendar a l gica e os procedimentos dos encaminhamentos jur dicos A principal dificuldade que o processo original da greve foi destru do pelo Tribunal Regional do Trabalho da 4 Regi o TRT 4 assim como a maioria daqueles processos que tramitaram no per odo Restou o ac rd o a senten a do julgamento que faz abundantes refer ncias aos docu
36. magnanimidade do final do ano GALVANI W Um s culo p 404 2 Conforme texto publicado em jornal editado pelos grevistas a empresa pagava os sal rios em duas parcelas uma no dia 15 e outra no dia 30 de cada m s passando posteriormente aos dias 10 e 25 DO COME O ao fim s promessas Den ncia Porto Alegre n 28 edi o extra especial dezembro de 1983 p 2 ASJPRGS 280 Uma an lise dos processos de diss dio coletivo dos jornalistas ga chos nos per odos de 1962 1963 e de 1965 1979 aponta como principais reivindica es da categoria reajuste salarial concess o de abono por tempo de servi o q inq nio di rias para viagens sal rio profissional jornada de trabalho f rias de 30 dias estabilidade provis ria para delegado sindical e para gestante No diss dio de 1966 h um indicativo que comprova o relato dos depoentes gr ficos j apresentado no cap tulo 2 sobre a diferencia o da pol tica salarial da Caldas J nior em rela o a outras empresas e tamb m aos jornalistas Naquele ano diante da reivindica o dos trabalhadores de um aumento salarial de 120 a Caldas J nior concedeu 67 ndice significativamente superior ao do Jornal do Com rcio 37 e ao do Jornal do Dia e da Revista do Globo 32 5 Os diss dios de 1973 e de 1974 pedem equipara o dos sal rios dos jornalistas ga chos que prestam servi os em jornais diferentes o que comprova a desigualdade salarial do setor PETERSEN A
37. n o pode por m fazer ignorar a participa o das demais categorias na greve flagrante nas assembl ias conjuntas e nos documentos legais sempre assinados pelos tr s sindicatos 7 Ver os livros do autor citados na nota 3 Na poca da greve o sindicato dos jornalistas tinha o nome de Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre Como medida simplificadora os sindicatos ser o a partir de agora nomeados neste trabalho como sindicato dos jornalistas sindicatos dos gr ficos e sindicato dos rodovi rios 35 As fontes sindicais permitem acompanhar a greve em seus desdobramentos quase di rios e os esfor os dos grevistas para angariar apoios Ao pesquisador por m deve estar clara a sua fun o inicial de propaganda obrigando a uma relativiza o das informa es ali dispon veis Al m disso tal material foi produzido por militantes Para contrabalan ar essa perspectiva tive acesso a trechos de um di rio de um grevista n o militante que podem ajudar a observar a posi o do trabalhador comum al m dos depoimentos colhidos oralmente Um contraponto necess rio a essa documenta o o material publicado na chamada grande imprensa os pr prios ve culos da Caldas J nior e outros jornais e revistas O cuidado a bvio Geralmente reportagens sobre greves na grande imprensa refletem o interesse das classes patronais por m em uma paralisa o deste tipo a grande imprensa o patr o Portanto especialme
38. ncia do gr fico e por outro uma certa revanche simb lica contra os jornalistas detentores de maior status social como trabalhadores intelectuais e de n veis salariais mais altos O caso j me tinha sido contado informalmente por um porteiro do jornal em que eu trabalhava Zero Hora ex funcion rio da Caldas J nior depois que relatei em linhas gerais minha pesquisa Tamb m havia aparecido na fala de Cruz Numa ocasi o a gente fez um movimento para pedir aumento E reunimos o pessoal o pessoal concordou vamos l E a nesse meio tempo se meteram os jornalistas Queriam pedir aumento tamb m para eles N o tem problema mas voc s s o voc s n s somos n s E a gente pediu e n s gr ficos fomos atendidos O doutor Breno chegou e disse os gr ficos est o atendidos a partir de tal dia tem 30 Agora tal categoria e tal categoria n o foram agraciados sic Porque eles eram meio desunidos Mas a gente conseguiu Ent o como eu digo eu n o tenho queixas do doutor Breno A vieram brigar com a gente o resto do pessoal Por que que voc s aceitaram Porque n s pedimos Ent o houve sempre aquele ci me Mas na verdade jornalista n o dava bola para gr fico Ent o a nossa turma que era gr fico se uniu N s sempre levamos vantagem Levamos vantagem ainda porque os jornalistas tinham sal rios bem superiores A gente tem de fazer for a por n s que somos mais sacrificados e eles que fa
39. nica coisa que a gente queria saber algum problema At algum direito a gente queria saber ia l levava a carteira para o Euclydes Cruz o H lio Pereira Ribas A gente ia l perguntava eles passsavam aquela conversa na gente O sindicato tinha os advogados isso era bom tamb m que a percentagem parece era 10 os advogados do sindicato cobravam E ent o era f cil a gente colocar na Justi a a gente reivindicar alguma coisa Ferpunta Mas ali no ch o de f brica era voc s por voc s Sim Na quest o da transforma o t cnica a omiss o do rg o de representa o de classe contrasta com a atitude dos sindicatos gr ficos londrinos citados por Cockburn L a ruptura foi negociada em termos de garantia de manuten o de empregos e de treinamento dos antigos funcion rios Em Londres quem quisesse permanecer teria um emprego de qualquer tipo Na Caldas J nior o desemprego era a principal perspectiva A certa altura a mudan a era inevit vel e contra ela a busca de alternativas parece ter sido puramente individual por exemplo aprendizagem do novo of cio com perman ncia na Caldas J nior ou sa da da empresa e busca de outro emprego em gr ficas que ainda mantinham o velho sistema As vagas para gr ficos j come avam a escassear no mercado No caso dos linotipistas a progressiva extin o ainda tinha um agravante cada vez mais partes dos jornais cadernos editorias passaram a serem feitas
40. no entanto de casos de adesismo ditadura entre a categoria exposto em KUSHNIR Beatriz C es de Guarda Jornalistas e Censores do AI 5 Constitui o de 1988 S o Paulo Boitempo 2004 323 Sobre jornais alternativos ver KUCINSKI B Op cit 324 Conforme KUCINSKI B idem p 106 Segundo o autor a Coojornal foi n o s a maior cooperativa de jornalistas jamais formada no Brasil como tamb m o primeiro projeto de organiza o jornal stica ampla que adotou a doutrina cooperativista como fundamento de sua atividade e procurou adapt la a uma pr xis jornal stica A Coojornal chegou a ter 100 pessoas trabalhando regularmente em seus projetos e a editar tr s dezenas de publica es boletins e revistas de empresas al m de seu jornal mensal e de uma ag ncia de not cias A cooperativa tinha cerca de 400 associados mas sucumbiu devido press o do governo militar sobre os anunciantes crise financeira e s brigas internas entre grupos pol ticos Em 1983 quatro jornalistas foram presos por ordem da Justi a Militar responsabilizados pelo fato do Coojornal ter publicado uma reportagem anos antes sobre a guerrilha do Araguaia Ver tamb m MAR AL J B Op cit 325 Um dos primeiros diretores de reda o deste peri dico e que se tornaria a seguir editor da Coojornal Elmar Bones integrou a equipe pioneira da revista Veja em S o Paulo De acordo com Bones a proposta da Folha da Manh era inovar na Caldas J nior
41. o e a mudan a In SORJ B et al Sociedade e Pol tica no Brasil p s 64 2 ed S o Paulo Brasiliense 1984 17 SADER Eder Quando novos personagens entram em cena Rio de Janeiro Paz e Terra 1988 21 Ricardo Antunes que toma as greves como principal ind cio da transforma o do sindicalismo nacional embora admitindo um quadro de refluxo do movimento grevista entre 1980 e 1983 em compara o com o final da d cada anterior A imagem de ruptura ajudou a fermentar a mobiliza o contra o governo solidificou o uso do termo novo relacionado a este sindicalismo mobilizador e contribuiu fortemente para a desvaloriza o da atua o sindical pr 64 Por m a vis o de renova o perdeu de perspectiva as continuidades Quando estas ficaram claras com a manuten o da estrutura sindical na Constitui o de 1988 surgiu a decep o A Constitui o aprovada e promulgada no momento em que o novo sindicalismo j estava institucionalizado no pa s previu a manuten o da necessidade de reconhecimento do sindicato pelo Estado da unicidade sindical das contribui es sindicais obrigat rias e da estrutura da Justi a do Trabalho Tais mecanismos legais urdidos no primeiro governo Vargas s o o alicerce de uma estrutura sindical que mina o movimento dos trabalhadores na opini o de Armando Boito Jr e teriam sido aprovados diante da omiss o aus ncia dos constituintes ligados CUT Boito J nior ident
42. o ex presidente Get lio Vargas SEM PALAVRAS Veja S o Paulo 27 de junho de 1984 p 27 APCE LOPES J S L A tecelagem p 35 123 general Flores da Cunha a quem se opunha baixar o tom de voz d cadas depois voltaria ao Pal cio para um almo o em homenagem a outro poderoso o general M dici era o nico convidado sem gravata em traje 302 esporte No espa o restrito da reda o a posi o de mando n o necessitava de exibi es t o perempt rias quanto as encenadas publicamente Elas tinham car ter mais cotidiano e sutil e intervinham diretamente no ambiente de trabalho a partir de sinais facilmente identific veis como a caneta verde S ele podia usar caneta verde Se alguma coisa estivesse com caneta verde era porque era ele quem tinha escrito lembra uma jornalista Um texto rabiscado nesta cor denotava que as cr ticas anota es censuras ou elogios l cunhados vinham de Caldas O verde atuava assim no sentido de diferenciar a leitura do patr o qualificando a Para os jornalistas do Correio do Povo e da Folha da Tarde a caneta verde transmitia um poder irrecorr vel o poder de liberar ou de vetar uma mat ria Ningu m podia usar a tinta verde na empresa Porque a tinta verde era uma forma de identificar que tinha passado pela mesa do doutor Breno e que o doutor Breno aprovava ou n o Sim ou n o A respeito da caneta verde a sobrinha do poeta Mario Quintana Elena Quint
43. o l gica necess ria que permite cultura dominante numa dada forma o social cumprir sua fun o pol tico ideol gica de legitimar e sancionar um determinado regime de domina o Os meios de comunica o articulam a compreens o social da realidade por meio da defini o de sentidos poss veis para a experi ncia Seu papel portanto central na sociedade contempor nea e baseia se no reconhecimento de sua legitimidade para a produzir significa es Adotar esta perspectiva permite ir al m da constata o da import ncia da Caldas J nior e do pr prio movimento grevista aqui enfocado como mero reflexo da penetra o do Correio do Povo na sociedade ga cha possibilitando entender a forma pela qual a empresa construiu seu espa o de legitimidade e credibilidade e como os grevistas tentaram justamente atingi la nesse aspecto Outro ponto a ser destacado diz respeito transforma o no processo de trabalho aqui encarada n o como mera mudan a tecnol gica in cua mas como integrante de uma estrat gia de fortalecimento patronal em detrimento da perda de controle por parte do trabalhador Em rela o ao progresso tecnol gico Marx j havia apontado que poder se ia escrever toda uma hist ria dos inventos que a partir de 1830 surgiram apenas como armas do capital contra motins de oper rios A mobiliza o dos trabalhadores fermentada pela perda de controle sobre o trabalho gr fico entre fins do s culo
44. o retomados os problemas citados na introdu o e que ser o alvo de an lise nesta pesquisa bem como discutidas as quest es te ricas relativas ao estudo das greves A id ia facilitar o entendimento do acontecimento pelo leitor e permitir ao pesquisador uma maior liberdade na posterior divis o anal tica do objeto Para isto tento conjugar uma narra o dos eventos com a discuss o te rica necess ria ao exame do tema O cap tulo est dividido em cinco partes Na primeira a partir de uma imagem espec fica o cerco empresa efetuado pela Brigada Militar durante a paralisa o reflito sobre o alcance do movimento A seguir empreendo a narra o dos diversos epis dios relacionados greve em ordem cronol gica seguida pela an lise do percurso e do significado da Caldas J nior no Rio Grande do Sul Logo depois discuto uma id ia aventada nas fontes e que merece a meu ver uma reflex o espec fica a percep o da inevitabilidade do movimento Por fim fa o um apanhado das possibilidades de abordagem das greves como objetos de estudo 42 1 O cerco no Centro Figura 1 Brigada Militar impede acesso dos grevistas ao pr dio da Caldas J nior no 1 dia de greve Fonte Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 13 de dezembro de 1983 ASJPRGS Amanhecer de uma ter a feira 13 de dezembro de 1983 Dezenas de policiais militares cercam o edif cio que ocupa uma quadra inteira ent
45. pessoal de qualquer jeito Funcionavam aquelas greves muito mal Eles que falavam Fizeram um discurso muito bonito Noutro dia greve A a minha categoria eu Euclydes fiquei 29 dias em greve S voltei porque o presidente do sindicato mandou que retorn ssemos porque sen o n s amos perder nossos direitos Eu era novo na Livraria Continente A greve foi em 1953 e eu tinha entrado em 47 E eu n o podia perder o emprego Retornamos sem nenhum tost o no bolso Ficamos 29 dias em greve sem ganhar um tost o Eu rec m casado tinha casado em 51 Dois anos s naquela luta com crian a pequena e tudo N s fomos Quando retornamos pensei comigo v o botar a gente na rua Mas n o N o nos colocaram na rua Eu era gente de peso profissionalmente falando Tinha eu e mais dois O resto todo mundo entrou de greve nos primeiros dias no terceiro uns j foram trabalhar quando foi em 10 dias todo mundo trabalhando S eu e mais tr s de greve Que vergonha que chato n A gente passou mal que n o queira saber Mas a terminou a greve pensei que iam me botar na rua Que me botar na rua que nada Eles tinham muito respeito foi muito bom foi uma das empresas que eu mais gostei de trabalhar Eles consideraram respeitaram muito N s ramos trabalhadores ass duos e competentes Cruz lembrou da greve her ica da categoria como algo prejudicial O medo de perder o emprego e a falta de recursos sem nen
46. que escreve em nome dos n o grevistas Na p gina 3 da Folha da Tarde tamb m publicada nota semelhante intitulada Porque n o paramos e assinada por v rios jornalistas que n o aderiram greve Breno Caldas comunica DRT que demitir todos os funcion rios grevistas por justa causa Assembl ia decide pela continua o do movimento 21 Nota na capa do Correio e da Folha da Tarde anuncia que a empresa deliberou demitir por justa causa todos os que se afastaram do trabalho desde a semana anterior e partiram para o improp rio o desrespeito e a viol ncia Grevistas come am a receber em casa telegramas neste sentido Assembl ia dos jornalistas decide que cada membro ga cho da categoria deve contribuir com um dia de sal rio para o fundo de greve Processo de diss dio encaminhado pelos advogados dos tr s sindicatos ao TRT que notifica a empresa para reuni o no dia 23 Funcion rios pedem pagamento dos sal rios atrasados recolhimento do FGTS recolhimento Previd ncia Social das parcelas descontadas dos funcion rios e garantia de que n o haver puni es Encontro dos grevistas com o senador Carlos Alberto Chiarelli 22 Grevistas promovem um piquete de Natal na Rua Caldas J nior Conflito entre trabalhadores paralisados e brigadianos e entre fura greves e grevistas Presidente do sindicato dos jornalistas se re ne com chefe do Estado Maior da Brigada Militar Show dos m sicos Cl udio Levitan e B
47. rias quando motivada pela falta de pagamento de sal rio nos prazos previstos em lei ou pelo n o cumprimento de decis o proferida em diss dio coletivo que tenha transitado em julgado Citando explicitamente a falta de pagamento de sal rios e o n o cumprimento de decis o de diss dio coletivo o artigo foi interpretado tradicionalmente pelos juristas e advogados como um aval para a legaliza o das greves nestas situa es Mas isto n o as eximia do cumprimento dos prazos e requisitos os quais sempre eram alvo de debate nos tribunais Entra a um outro aspecto da lei a institui o Assim como qualquer outra norma jur dica a 4 330 n o era auto aplic vel A decis o sobre a legalidade ou n o de uma paralisa o e sobre a aplica o das garantias disponibilizadas aos grevistas cabia Justi a do Trabalho em especial aos tribunais regionais rg os que julgavam os diss dios coletivos 476 BANC RIOS amea am banqueiros Zero Hora Porto Alegre 28 10 1966 p 6 MCSHJC Sobre o n mero de greves durante a ditadura ver COLOMBO Neli Terezinha Fornari O sindicalismo urbano no RS 1964 1979 Porto Alegre Iespe PUCRS s d Segundo esta autora depois do golpe o sindicato dos banc rios sofreu duas interven es at o final dos anos 60 em 1964 e em 1968 Sobre a greve dos banc rios ver SILVA S I M Op cit p 41 100 101 47 Um exemplo a greve dos funcion rios da Maxwell Eletr nica Comercial
48. s 21 horas de ontem Com apenas 4 votos contr rios a decis o foi de paralisar totalmente as atividades por 3 dias numa advert ncia empresa e manter se em assembl ia geral perma nente Caso a dire o da EJCJ n o pague os sal rios nesse per odo a paralisa o poder ser por tempo indeterminado No come o da assembl ia dirigentes dos sindicatos dos jornalistas motoristas e gr ficos relataram aos funcion rios o resultado do encontro que pouco antes tiveram com o diretor presidente Breno Caldas que se limitou a renovar o pedido de mais um prazo para colocar em dia os sal rios O empres rio disse que estavam sendo ultimadas gest es para obten o de dinheiro para a normaliza o financeira da empresa que n o tem pago sal rios inclusive de setembro para alguns trabalhadores Gr ficos motoristas e jornalistas dis seram que estavam cansados de dar novos prazos empresa desde maio quando os sal rios mensais come aram a atrasar surgiu a proposta de paralisa o imediata Foi aprovada com a exig ncia para a vol ta ao trabalho da atualiza o integral dos sal rios para todos os funcion rios e de garantia de emprego FOLHA N O SAI Imediatamente ap s ningu m mais trabalhou Todos os setores aderiram ao movimento sendo que apenas alguns funcion rios patronais permaneceram em atividade E o fato do Correio do Povo ter sa do com apenas 16 p ginas e bastante atrasado s duas h
49. trabalhadores no movimento grevista O respeito ao enquadramento jur dico pode ser lido como uma das argumenta es utilizadas pelos dirigentes sindicais para promover a paralisa o Conforme o andamento do movimento o escudo protetor da Justi a tornou se cada vez mais um objetivo para os grevistas sem sal rios demitidos por justa causa atacados nas p ginas dos jornais Segundo Villas B as Tudo o que pudesse fazer a gente fazia S n o fazia mais piquete porque n o tinha nem o que piquetear Era uma greve que tava indo Ela come ou forte tal Se a gente n o tivesse obtido a legalidade talvez a coisa mais importante que eu v dizer seja isto a greve ia morrer por inani o Pergunta Se tornou uma meta final No final a coisa se tornou quase uma briga jur dica Nos d em uma sa da 4 5H tamb m Ao analisar o recurso aos meios jur dicos por parte dos trabalhadores brasileiros French observa a disposi o destes em optar pela lei mesmo sem respeit la caso n o tenham escolha Em muitos aspectos esse tipo de atitude revela como funciona o c lculo pragm tico dos mais fracos Para qualquer grupo social sempre melhor se voc tem a lei e o poder ao seu lado Se voc s puder ter um dos dois o poder evidentemente prefer vel lei Se voc n o tem o poder entretanto n o se discute que a lei ainda inquestionavelmente melhor do que nada 520 CALDAS J nior urgente 3 A greve
50. 213 concorr ncia que apartava as duas categorias O uso da oficina de chumbo configura se como uma estrat gia dos militantes para envolver os trabalhadores titubeantes numa l gica de solidariedade entre todos os funcion rios da empresa Se produziu alguns resultados no entanto esta t tica n o conseguiu cimentar uma uni o duradoura e massiva entre os trabalhadores separados em categorias distintas A instabilidade da profiss o e o engajamento t mido da entidade de classe dos gr ficos na defesa de seus interesses refor ou para muitos um posicionamento estrat gico individual em detrimento da luta coletiva O segundo conjunto de interroga es relacionava se com a forma pela qual a crise econ mica abriu fraturas no sistema de domina o na Caldas J nior e na imagem do empres rio Breno Caldas Para isto o terceiro cap tulo buscou aprofundar a an lise do paternalismo vigente na empresa Centralizado na pessoa de Caldas a autoridade patronal era mitificada por meio de elementos teatrais como o uso constante do doutor o recurso caneta verde e as apari es p blicas do empres rio com autoridades pol ticas O acesso direto ao patr o contribu a para legitimar a domina o paternalista permitindo por vezes a desautoriza o parcial das chefias intermedi rias refor ando o poder direto e pessoal de Caldas Tal liga o era percebida por m pelos trabalhadores como reconhecimento de seus direitos e de seu valor p
51. 426 447 RODRIGUES Iram J come org O novo sindicalismo vinte anos depois Rio de Janeiro Vozes 1999 Sindicalismo e pol tica a trajet ria da CUT S o Paulo Scritta 1997 RODRIGUES Le ncio M Conflito industrial e sindicalismo no Brasil S o Paulo Difel 1966 As tend ncias pol ticas na forma o das centrais sindicais In BOITO JR Armando org O sindicalismo brasileiro nos anos 80 S o Paulo Paz e Terra 1991 P 11 42 ROJAS Fernando e PALACIO Germ n Tecnologia de la inform cion uma nueva estrat gia capitalista de subordinaci n de los trabajadores Cuadernos de Economia Universidad Nacional de Col mbia Bogot n 11 p 17 73 R DIGER Francisco Tend ncias do jornalismo Porto Alegre UFRGS 2003 SADER Eder Quando novos personagens entram em cena Rio de Janeiro Paz e Terra 1988 SALLES Telma Bessa Trabalho e reestrutura o produtiva o caso da Volkswagen em S o Bernardo do Campo S o Paulo Annablume Fapesp 2002 SANDOVAL Salvador Os trabalhadores param Greves e mudan a social no Brasil 1945 1990 S o Paulo tica 1994 SANTANA Marco Aur lio Pol tica e Hist ria em disputa o novo sindicalismo e a id ia de ruptura com o passado In RODRIGUES Iram J come org O novo sindicalismo vinte anos depois Rio de Janeiro Vozes 1999 Vis es da domina o Revista de Hist ria Mariana n 7 p 227 228 1997 SCHMIDT Benito Bisso coord Hist ria e
52. 50 mil Cr 30 mil Cr 15 mil e at Cr 5 mil A CORDA rebenta no lado do mais fraco Den ncia edi o extra especial Porto Alegre dezembro de 1983 n 27 p 4 ASJPRGS Para se ter uma id ia dos valores o sal rio m nimo na poca era de Cr 23 568 00 vigente desde 1 de novembro de 1982 tendo sido reajustado em 1 de maio de 1983 para Cr 34 776 00 Minist rio do Trabalho e Emprego Evolu o do sal rio m nimo legisla o Dispon vel em lt http www mte gov br sal min default asp gt Acesso em 22 01 07 328 SOUZA J B Op cit 32 OLIVEIRA E Q Op cit 30 FOME NO Natal mas com dignidade Den ncia edi o extra especial Porto Alegre dezembro de 1983 n 27 p 3 Destaque no original ASJPRGS 134 A rea o a situa es como essa que denotavam uma aparente indiferen a da empresa diante da pen ria dos trabalhadores veio na forma de manifesta es que foram conformando a experi ncia da fila de vales e a consci ncia da necessidade de uma a o comum Tais estrat gias podiam emergir por meio do logro uma vez n s fizemos l uma t tica que era o seguinte o cara entrava na fila ia l recebia e entrava na fila de 331 f saa O rc a ate re novo ou pela afirma o direta da insatisfa o o pessoal come ou com o chamado palma o Bater palmas Na hora em que tu recebia o vale o pessoal come ava a bater palmas Um dos epis dios mais significativos ocorreu em 27
53. 8 Defendiam a unicidade sindical um Ea asa ca O sindicato nico por ramo de produ o e por base territorial entre outras propostas Embora nos primeiros encontros tivesse havido uma identifica o de posi es entre os grupos no sentido de ampliar a participa o e o espa o dos trabalhadores na sociedade brasileira paulatinamente ocorreu uma separa o Discord ncias a respeito do papel das oposi es sindicais e a cria o do PT em 1980 acabaram por unir oposi es e aut nticos formando o autodenominado bloco combativo contr rio Unidade Sindical O marco para a separa o desses blocos foi a organiza o da Comiss o Nacional Pr CUT eleita na I Confer ncia Nacional da Classe Trabalhadora Conclat realizada em Praia Grande SP no m s de agosto de 1981 A confer ncia reuniu 5 247 delegados de 1 126 entidades sindicais e pretendia discutir em profundidade Direito do Trabalho previd ncia social pol tica agr ria pol tica salarial e econ mica problemas nacionais sindicalismo e formas de luta No entanto os debates se focaram no tema da pol tica sindical A reportagem de um jornal alternativo ga cho descreve o evento com tom cr tico deixando entrever o quanto as discuss es pol ticas foram centrais no encontro Sindicalismo foi o tema que consumiu a maior parte do tempo e das diverg ncias entre os participantes Mesmo assim n o se discutiu nada al m da forma o da Comiss o
54. 880 e volume 5 p 1018 1026 ATRT4 Sobre a liquida o dos d bitos da Caldas J nior com o Banrisul ver tamb m CALDAS J NIOR formaliza acordo com o Banrisul Zero Hora Porto Alegre 21 de dezembro de 1984 p 26 MCSHJC Tendo como fonte nota oficial da presid ncia do Banrisul esta reportagem afirma que al m do pagamento de Cr 12 bilh es em moeda corrente Caldas comprometeu se judicialmente a escriturar cinco glebas de terra de sua propriedade em Gua ba em nome do banco e a pagar as custas processuais e honor rios de peritos avaliadores bem como do advogado da empresa 61 Estadual da Educa o para proceder a reforma de 523 escolas ga chas O mesmo valor correspondia ao patrim nio total de uma empresa como a Metal rgica Triches que vivia um ano de grande sucesso em 1984 com o xito de vendas de produtos da 128 O total da d vida financeira da Caldas J nior citada nestes documentos Linha Enxuta superava as vendas totais Cr 31 bilh es ou 500 mil pe as feitas em 1984 pela F brica de M veis Florense ent o a empresa l der entre os fabricantes de m veis de cn 129 madeira do estado em faturamento e patrim nio Os n meros n o incluem os d bitos com fornecedores de mat ria prima especialmente papel e equipamentos al m da d vida trabalhista Em fevereiro de 1983 um m s antes dos sal rios dos funcion rios come arem a ser atrasados a Caldas J nior foi acionada judicialmente pelo Ban
55. A disserta o enfoca o movimento grevista ocorrido na Empresa Jornal stica Caldas J nior em Porto Alegre entre fins de 1983 e in cio de 1984 motivado por atrasos salariais A greve durou 56 dias e acabou por ser declarada legal pela Justi a do Trabalho com base na lei 4 330 legisla o poca apelidada de lei antigreve pelos dirigentes sindicais O trabalho discute como este acontecimento se tornou poss vel a partir do exame de suas caracter sticas espec ficas entre elas a uni o de tr s categorias de trabalhadores jornalistas gr ficos e rodovi rios relacionando o com a an lise do contexto sindical da poca marcado pela emerg ncia e institucionaliza o do chamado novo sindicalismo A investiga o busca examinar quatro quest es centrais a rela o entre a mudan a tecnol gica verificada no setor gr fico e a mobiliza o grevista a ruptura das rela es de domina o de car ter paternalista no n vel da produ o a articula o poss vel entre os tr s sindicatos envolvidos e a quest o jur dica Palavras chaves greves reestrutura o produtiva rela es de domina o novo sindicalismo Justi a do Trabalho ABSTRACT The present dissertation focus on the strike movement that took place at Caldas J nior News Company in Porto Alegre between late 1983 and early 1984 motivated by belated wage payments The strike lasted 56 days and it was declared to be legal by the Superior Labor Court base
56. Banc rio Sindicato dos Banc rios de Porto Alegre 21 de dezembro de 1983 ASJPRGS 8 Em nota publicada na capa de jornais ga chos em 16 de dezembro de 1983 as seguintes entidades declararam apoio greve sindicatos dos Banc rios dos Radialistas dos Metal rgicos dos Trabalhadores na Ind stria do Petr leo de Bebidas do Vestu rio da Alimenta o e dos Assistentes Sociais de Porto Alegre dos Arquitetos dos Engenheiros dos Eletricit rios e dos Advogados do Rio Grande do Sul Metal rgicos de Canoas do Papel e Papel o de Gua ba Metal rgicos e Cal adistas de Novo Hamburgo federa es dos Arquitetos dos Banc rios dos Metal rgicos e da Alimenta o do Rio Grande do Sul Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul Fracab IAB CUT CET Conclat Cedepo Associa o Pr Federa o dos Assistentes Sociais Intersindicais de Porto Alegre do Vale do Sinos Comiss o dos Direitos Humanos da Assembl ia Legislativa Movimento Socialista de Cultura Sindical do PDT Feminino do PMDB A o da Mulher Trabalhista da Juventude Socialista de Justi a e Direitos Humanos PT e Comiss o de Justi a e Direitos Humanos da OAB PARALISA O DOS funcion rios da Empresa Jornal stica Caldas J nior Nota Zero Hora Porto Alegre 16 de dezembro de 1983 p l ASJPRGS 2 ANO NOVO sem sal rio Boletim da Comiss o Mobiliza o da Caldas Jr Porto Alegre 2 de janeiro de 1984 ASJPRGS No boletim de 5 de janeiro os grevistas
57. Caldas Antes do advento das dificuldades a Caldas J nior era considerada uma tima empregadora com sal rios satisfat rios e uma pol tica de concess o de empr stimos e adiantamentos aos funcion rios Mais do que isto a empresa cultivava a imagem de uma fam lia onde o patr o era o pai benevolente e os funcion rios seus filhos de quem se esperava lealdade e gratid o Entre os gr ficos por exemplo as assembl ias de diss dio dos trabalhadores da Caldas J nior ocorriam em dias separados daquelas do conjunto da categoria iz porque o reajuste concedido era sempre diferente e maior de acordo com o testemunho dos 155 In GERMANO E MARONA L et al Op cit 156 Conforme o livro de presen as nas assembl ias ASTIGPA O sindicato n o disp e das atas das assembl ias desta poca 71 empregados do das outras empresas Vale a pena ouvir as palavras de Ant nio Adair que na poca da greve era linotipista da Caldas J nior e tesoureiro do sindicato dos gr ficos Fazer greve era coisa que nunca se pensava na Caldas J nior at porque o sistema do doutor Breno era assim se o sindicato fazia uma negocia o de diss dio eu participei de v rias ele chegava l na reuni o trocava id ia levava l o bra o direito dele como se chamava na poca o chefe do Departamento Pessoal hoje gerente de Recursos Humanos p p p em meia hora j fechava a negocia o Ou seja se fazi
58. Chalhoub chama a aten o por m que n o basta pensar na domina o em uma sociedade capitalista apenas como controle social imposto Segundo o autor a vis o de mundo das classes populares cont m e acrescida continuamente de elementos que as tornam n o s objetos do controle social mas tamb m sujeitos de seu pr prio controle Reside neste ltimo aspecto talvez a principal sutileza da domina o de classe numa sociedade capitalista aqueles que s o objeto de explora o econ mica se sentem na maior parte do tempo como se fossem os principais autores de suas pr prias vidas Nesta perspectiva essencial identificar como a classe trabalhadora contribui para sua domina o como a reelabora e que elementos de sua cultura facilitam a reprodu o das rela es sociais Da mesma forma Santana ressalta a domina o como rela o ou seja seu car ter de processo interacional Em artigo no qual discute as contribui es de cl ssicos como Marx Weber e Bourdieu o soci logo observa que a domina o sup e uma correla o de for as na qual um dos p los da rela o realiza seus interesses na orienta o das a es do outro utilizando mecanismos objetivos e subjetivos podendo incluir graus diversos de viol ncia E neste processo observa Santana onde o p lo dominante nunca consegue realizar plena e totalmente seus interesses coer o e afeto caminham juntos O orgulho em rela o casa
59. Lauro Hagemann n o me lembro se ele vinha acho que n o Quem vinha era o Aveline E era esse grupo mais pesado que decidia os 425 encaminhamentos O grupo mais pesado era composto tanto pelos novos quanto pelos velhos sindicalistas que tentavam a partir de sua atua o dirimir os conflitos vigentes no interior do pr prio movimento dos trabalhadores N o se verifica aqui portanto uma partidariza o exterior ao sindicato mas uma discuss o que opunha diferentes alternativas para a luta dentro dele O que as evid ncias mostram de qualquer forma que as fronteiras entre os diversos grupos sindicais em disputa na poca podiam se tornar porosas nos momentos de a o coletiva dos trabalhadores Diante de um movimento considerado politicamente importante as pr ticas acabavam sendo conjuntas e os antigos sindicalistas sabiam fazer valer a sua experi ncia indicando caminhos e alternativas O significado da greve rapidamente transcendeu as raz es econ micas que lhe davam legitimidade e alcan ou um patamar pol tico Tornou se um embate contra uma empresa da qual o ve culo mais expressivo era considerado um dos s mbolos do conservadorismo ga cho o Correio do Povo e que tinha frente um empres rio que havia apoiado abertamente o golpe de 64 Esse significado e essa import ncia n o passaram ao largo do movimento sindical do fim da ditadura tampouco das lideran as da greve Houve um pool de sin
60. Lopes na ind stria t xtil pernambucana nos anos 50 se transformou num aparente paradoxo Violentamente criticada pelo movimento sindical combativo que ent o emergia a lei 4 330 n o deixou de ser utilizada por lideran as aut nticas a seu favor quando houve oportunidade O pr prio crescimento das demandas individuais nos anos 90 como indicado por Cardoso tende a relativizar a id ia de um distanciamento dos trabalhadores brasileiros na poca em rela o ao arcabou o legal trabalhista distanciamento este tradicionalmente empunhado como bandeira de luta do novo sindicalismo e diversas vezes apontado como caracter stica dos novos sindicalistas O soci logo ressalta que muitos das conquistas dos trabalhadores no per odo foram direitos legais tornados direitos contratuais por for a da a o coletiva Tanto a cr tica feroz legisla o quanto a sua utiliza o quando convinha tinham por m o mesmo objetivo ampliar e garantir os direitos dos trabalhadores numa sociedade de tradi o extremamente autorit ria e excludente O c lculo pragm tico dos mais fracos alimentava uma estrat gia que tamb m servia para aumentar a visibilidade e a influ ncia pol tica de representantes dos trabalhadores no jogo social conforme French Como classe social os trabalhadores brasileiros sempre souberam que as classes dominantes t m de ser pressionadas para reconhec los como cidad os O novo sindicalismo sur
61. No in cio da d cada seguinte iniciou sua carreira como estagi rio da Folha da Tarde passando a seguir a trabalhar como rep rter policial do mesmo jornal Em meados dos anos 70 Baldasso ganhou uma bolsa de estudos para estudar na Fran a onde permaneceu tr s anos Quando voltou ao pa s o jornalista foi empregado pela R dio Ga cha e posteriormente pela Zero Hora em 1977 Permaneceu no jornal por 22 anos at sua morte em 1999 MORRE na Capital o jornalista Remi Baldasso Zero Hora Porto Alegre 20 de agosto de 1999 p 61 MCSHJC 382 GON ALVES M L Op cit 155 claramente relacionado afirma o de uma identidade dos novos sindicalistas definidos em rela o s pessoas mais tradicionais vincula o essa j observada em n vel nacional por Mattos De resto tal concep o tamb m estava expressa no informativo de divulga o do programa da chapa no qual os candidatos defendiam um sindicato independente da vincula o aos partidos pol ticos que seja livre de liga es com as reas oficiais Os integrantes desta chapa recordam que eram chamados de porra loucas devido sua juventude e por serem muito ativos na mobiliza o Cabe ressaltar que embora a lembran a seja referida de forma bem humorada pelas testemunhas tal express o tem uma conota o negativa Um porra louca algu m que por defini o age de maneira inconseqiente louca irrespons vel O grupo se apre
62. Os pr prios conselhos de administra o das empresas acham natural reduzir os sal rios e escandaloso n o serem obedecidos O trabalho cl ssico de Perrot prop e a interpreta o das greves enquanto momentos de express o das rela es capital trabalho e da constitui o da identidade de grupos sociais Nesta perspectiva s o pistas importantes os insultos e as amea as as palavras de ordem a agressividade dos discursos contraposta a atos de submiss o o uso 177 Idem ibidem p 16 178 Idem ibidem p 318 17 Idem ibidem p 30 180 Idem ibidem p 271 81 Idem ibidem p 274 79 Bo o car ter ritual das das palavras que esconde e mistifica tanto quanto revela manifesta es aliado sua fun o de press o Todos os elementos citados revelam se indicativos da transgress o de um limite da domina o patronal al m dele que a greve adquire a sua legitimidade simb lica Recentemente St phane Sirot estendeu o m todo de Perrot a um per odo maior propondo uma hist ria social das greves na Fran a nos s culos XIX e XX Ele se debru ou sobre a rela o entre o fen meno e o universo social compreendendo a paralisa o do trabalho como um destes eventos confrontados sem cessar ao todo social e que em contrapartida contribuem para coloc lo em evid ncia Segundo o autor O conflito reivindicativo a express o de um modo de cultura e de autonomia oper ria e depois mais amplamente
63. Paulo 290 sindicatos urbanos 237 rurais e 15 federa es ga chas O novo presidente Remi Baldasso integrou a dire o da Central Estadual de Trabalhadores CET eleita em 1983 com coordena o de Paulo Paim Sindicato dos Metal rgicos de Canoas e a primeira dire o estadual executiva da CUT regional eleita em 1984 que tinha como presidente Jos Fortunati sindicato dos banc rios Al m dos jornalistas a reportagem do Em Tempo tamb m contabilizava a favor do bloco combativo a mudan a na dire o do Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodovi rios do Rio Grande do Sul No entanto as circunst ncias desta segunda disputa foram extremamente diferentes N o s pelo tamanho do col gio eleitoral 1 011 jornalistas contra 30 mil motoristas mas pela situa o pol tica da entidade Enquanto que no sindicato dos jornalistas os comunistas imprimiam desde meados dos 70 uma pol tica de oposi o ao regime militar o sindicato dos rodovi rios era comandado desde 1977 por Othelo Oliveira da Silva ex condutor de bondes e ex presidente do sindicato da Carris Companhia Mista de Transportes Coletivos de Porto Alegre um dirigente conservador que tinha liga es not rias e muito pr ximas com os rg os de seguran a Em 1980 foram divulgadas cartas suas enviadas ao Dops Delegacia da Ordem P blica e Social respons vel pela repress o pol tica no Rio Grande do Sul agradecendo pelo rg o ter envia
64. Perseu Abramo 2002 Proclamando leis metendo o pau e lutando por direitos In LARA Silvia Hunold e MENDON A Joseli Maria Nunes Direitos e Justi a no Brasil Ensaios de Hist ria Social Campinas Unicamp 2006 p 379 416 GALVANL Walter Um s culo de poder os bastidores da Caldas J nior Porto Alegre Mercado Aberto 1995 Olha a Folha amor trai o e morte de um jornal Porto Alegre Sulina 2002 GERMANO Erika MARONA Leonardo et al O dia em que o jornal n o saiu a greve que parou o Correio do Povo Trabalho apresentado na disciplina de Hist ria da Imprensa no Brasil Departamento de Comunica o Social PUCRJ Rio de Janeiro maio de 2003 GINZBURG Carlo O queijo e os vermes S o Paulo Companhia das Letras 1987 O nome e o como troca desigual e mercado historiogr fico In A microhist ria e outros ensaios Lisboa Rio de Janeiro Difel Bertrand Brasil 1989 p 171 178 GOMES ngela de Castro Cidadania e direitos do trabalho Rio de Janeiro Jorge Zahar 2002 Os direitos do trabalho em in cio do s culo XXI depoimento de Arnaldo Sussekind Hist ria Oral S o Paulo n 5 p 71 87 junho 2002 ENTREVISTA com Arnaldo Sussekind Entrevista concedida a Angela de Castro Gomes e Maria Celina D Araujo Estudos Hist ricos Os anos 20 Rio de Janeiro v 6 n 11 p 113 127 1993 226 GORZ Andr org Cr tica da divis o do trabalho S o Paulo Martins Fontes 1980 GRAFTON Ant
65. Prefeitura de Porto Alegre 1998 p 216 412 Idem ibidem p 216 218 Assinaram a carta sete sindicatos metal rgicos banc rios vestu rio propagandistas jornalistas petr leo e energia el trica 154 elas o Sindicato dos Banc rios de Porto Alegre que j se revelava a principal lideran a dos aut nticos no estado Na Conclat Hagemann foi eleito para integrar o grupo da Executiva Nacional da Comiss o Nacional pr CUT com Ol vio e Org nio Rott da Federa o dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul Como j vimos a partir da atua o dessa comiss o que ocorreu a ruptura entre o bloco da Unidade Sindical do qual fazia parte o PCB e os demais grupos ligados ao PT neste momento que se desenrola o processo sucess rio de 1983 no sindicato dos jornalistas com a disputa entre uma chapa ligada situa o Hagemann e outra de oposi o formada por um grupo de jovens militantes a maioria sem experi ncia sindical alguns deles vinculados a setores de esquerda e ao PT Entre as propostas desta ltima chapa estavam a amplia o da discuss o interna dentro da entidade a cria o de comiss es profissionais e de conselhos de reda o De seus integrantes apenas o candidato a presidente Remi Baldasso havia participado antes de uma diretoria do sindicato como suplente na gest o de Hagemann Em depoimento o fot grafo Loir Gon alves candidato a vice na chapa mostra a polariza o
66. SOUZA J B Op cit 283 Processos 1806 a 1861 84 15 Junta de Concilia o e Julgamento da Justi a do Trabalho em Porto Alegre impetrado em 18 09 84 ATRTA4 4 Pauteiro o jornalista respons vel por elaborar a pauta ou seja a lista de assuntos com o tipo de enfoque pretendido que os rep rteres do jornal devem cobrir investigar apurar e transformar em mat ria diariamente 116 com vencimentos em torno de Cr 250 000 revisores recebendo Cr 250 000 00 e outros a metade disso al m de um fot grafo contratado por Cr 215 000 00 e um rep rter por Cr 197 000 00 patamares muito inferiores aos dos outros profissionais citados acima A estas discrep ncias salariais soma se a pr tica indiscriminada do duplo emprego outro ind cio da exist ncia de vencimentos insatisfat rios Se a generaliza o em rela o aos sal rios aponta para uma idealiza o do passado ela tamb m revela o quanto era crucial na interioriza o da domina o a mitologia de 87 2 g E E prosperidade que cercava a empresa e nos obriga a investigar mais a fundo os mecanismos subjetivos que garantiam a ades o oper ria Examinando o cotidiano do trabalho no in cio do s culo XX no Rio de Janeiro Chalhoub mostra que a imagem da rela o patr o empregado constru da semelhan a da conviv ncia entre pais e filhos e veiculada pelas classes dominantes tinha uma a o mitigadora de tens es e contradi es do sis
67. T T e CAD E M P et al Op cit Ap ndice An lise descritiva dos processos de diss dio coletivo p 20 28 2381 Conforme o gr fico Ant nio Adair Ferreira da Silva a Caldas J nior pagava o adicional de insalubridade sobre toda a remunera o e n o sobre o m nimo como previa a legisla o Os gr ficos recebiam adicionais de insalubridade porque trabalhavam com chumbo SILVA A A F da Op cit Entre os jornalistas a regulamenta o profissional obtida por decreto em 1969 estabelece uma jornada de cinco horas di rias al m das quais devem ser contabilizadas como horas extras O pagamento e n o o reajuste das horas extras consta das reivindica es da categoria nos diss dios de 1973 1974 e 1978 conforme levantamento citado na nota anterior No diss dio de 1976 reivindicado o cumprimento de uma jornada de trabalho de cinco horas que j integrava a regulamenta o profissional legal PETERSEN A T T e CAD E M P et al Op cit Outro ind cio de descumprimento sistem tico de direitos trabalhistas por parte das empresas ga chas o programa de a o da chapa que assume a diretoria do sindicato dos jornalistas em 1977 o qual prev a jornada legal de cinco horas di rias o pagamento das horas extras CHAPA NICA mas agressiva Coojornal Porto Alegre Ano II n 14 mar o de 1977 p 12 BFabico Os processos judiciais de trabalhadores da Caldas J nior comprovam pelo contr rio o pagamento de
68. Trabalho Zero Hora Porto Alegre 06 06 82 sem indica o de p gina CDS NPH pasta Justi a do Trabalho 199 legitimidade e autonomia de seu ramo do Direito como instrumento crucial para a corre o das desigualdades no pa s O ponto que me interessa demonstrar que em alguns momentos tais decis es e tal posicionamento geraram benef cios concretos para certos grupos de trabalhadores e encorajaram muitos oper rios a ver na Justi a burguesa um campo poss vel de lutas De resto n o poss vel que a Justi a do Trabalho se sustente h mais de seis d cadas no Brasil inclusive com n mero crescente de demandas se n o for encarada como um espa o capaz de proporcionar ganhos ao trabalhador No per odo hist rico em quest o havia uma permeabilidade no campo jur dico para uma leitura mais progressista do Direito do Trabalho e do pr prio Direito em geral o que em determinados momentos redundava em ganhos ou vantagens concretas aos trabalhadores Tal corrente jurisprudencial n o era apenas te rica mas essencialmente pr tica encabe ada por ju zes homens e mulheres que acreditavam na possibilidade do Estado corrigir as desigualdades atrav s da Justi a Da mesma forma por meio de suas a es progressistas tais juristas defendiam o vigor e a legitimidade de sua esfera de poder A exist ncia desta corrente e destas interpreta es favor veis aos trabalhadores no TRT bem como as pr prias caracter stic
69. a boa parte do estudo de Jos S rgio Leite Lopes sobre os trabalhadores da companhia de Tecidos Paulista de Paulista PE Neste trabalho Leite Lopes mostra a import ncia dos mecanismos de demonstra o p blica do pr prio poder pela classe dominante como forma de reafirma o da autoridade empresarial A experi ncia das empresas Renner e Varig no Rio Grande do Sul dos anos 30 analisada por Fortes foi uma amostra do sucesso da utiliza o da estrat gia paternalista no controle dos empregados representando um desafio para o movimento oper rio ga cho Uma das bases na qual estava assentada essa estrat gia era justamente o COCKBURN Cynthia Brothers Male dominance and technological change Londres Pluto Press 1991 p 89 As passagens transcritas destas obra assim como de toda a bibliografia em l ngua estrangeira citada na presente disserta o t m tradu o minha 3 LOPES Jos S rgio Leite A tecelagem dos conflitos de classe na cidade das chamin s S o Paulo Bras lia Marco Zero UNB MCT CNPq 1988 Ver tamb m artigo do mesmo autor Uma teatraliza o tradicional da domina o industrial In ARA JO A M C org Op cit p 177 191 Leite Lopes faz uso do conceito formulado por Thompson em THOMPSON E P Patr cios e plebeus In Costumes em comum S o Paulo Companhia das Letras 1998 p 25 85 28 sentimento de lealdade dos trabalhadores em rela o aos capit es de ind stria
70. a entender sua pr pria for a e o poder do inimigo adquirindo 3 PN X 166 confian a em si pr prios sic e no valor das a es audaciosas L nin por sua vez via nestes movimentos uma manifesta o expl cita do desenvolvimento da consci ncia revolucion ria da classe trabalhadora apesar de ressaltar os seus limites como apenas um entre os v rios meios de luta dos oper rios 5167 toda greve infunde com enorme for a aos oper rios a id ia de socialismo J Rosa Luxemburgo alertava para o risco de classifica es esquem ticas incapazes de dar conta do car ter multifacetado dessas paralisa es Caracterizados como uma quebra da normalidade social os movimentos grevistas seriam capazes de marcar rupturas e solidariedades dissens es e aproxima es Lequin investe na id ia de rompimento tempor rio da ordem ao escrever que a greve por causa de seu car ter de fratura brutal de pequena crise um 9 PERROT Michelle Jeunesse de la gr ve Paris Seuil 1984 p 30 ee MONATTE Pierre Em defesa do sindicalismo Congresso Anarquista realizado em Amsterd agosto de 1907 In WOODCOCK George org Os grandes escritos anarquistas Porto Alegre LPM 1990 p 201 amp L NIN V I Sobre las huelgas In Obras Completas Argentina Cartago 1958 Tomo IV p 310 apud ANTUNES Ricardo A rebeldia do p 192 6 ANTUNES R Ibidem p 194 Para um resumo de aspectos
71. a implantar um sistema ainda rudimentar de fotocomposi o no in cio dos 234 COCKBURN Op cit p 14 235 ANE RR z y PARE o No off set n o s o utilizados tipos de metal Neste m todo a imagem e as reas de n o impress o est o essencialmente em um mesmo plano da matriz sendo esta feita com uma fina folha de alum nio A distin o entre uma e outra obtida quimicamente por meio de uma emuls o fotossens vel O off set baseado em um princ pio f sico que n o permite que a gua e a tinta que oleosa se misturem Sobre sistemas de impress o ver FONSECA Joaquim da Comunica o visual Gloss rio Porto Alegre Editora da Universidade UFRGS 1990 Uma descri o detalhada de processos de trabalho e tecnologia de composi o gr fica pode ser encontrada em MART N Enunciano La composicion en artes gr ficas tomo segundo Barcelona Ediciones Don Bosco 1974 p 420 424 98 anos 70 A dire o da Caldas J nior s passou a planejar a substitui o do sistema gr fico no final da d cada Breno Caldas relatou em entrevista realizada em 1987 Em 1977 eu fui aos Estados Unidos para assistir a uma conven o da ANPA American Publishers Association a associa o americana de editores de jornais em Atlantic City onde iam ser debatidos os avan os em mat ria de composi o gr fica eu queria comprar umas m quinas novas para substituir as nossas trinta e oito linotipos A ANPA anualmente
72. a legitimava a express o deste contradit rio adquiriu ainda mais import ncia Se a greve foi um momento de afirma o e constru o de identidades coletivas de outros sujeitos sociais os trabalhadores representou tamb m o enfraquecimento de um grupo tradicionalmente identificado com o poder pol tico a Caldas J nior Partindo desta rela o espec fica os trabalhadores constru ram os significados de seu movimento e as conforma es de sua consci ncia As reflex es acima buscaram estabelecer algumas caracter sticas hist ricas n o s do cen rio da greve mas tamb m dos interesses contra os quais se contrapunham parte dos funcion rios da Caldas J nior Da mesma maneira analisei a forma pela qual esses interesses se impunham como leg timos sociedade ga cha A partir de tais considera es torna se mais claro porque a peculiaridade de ocorrer em uma empresa de comunica o determinou certas caracter sticas do embate por exemplo o uso da imprensa como campo de luta notas e reportagens nos di rios da empresa publica o de boletins di rios e jornais pelos grevistas Irritados com os atrasos salariais e a intoler ncia patronal os grevistas procuraram atingir a Caldas J nior em seu bem mais precioso sua imagem de credibilidade e legitimidade sua capacidade de fazer crer propiciada pelo ocultamento de seus interesses e conflitos internos At agora todo meu esfor o deu se no sentido de promover uma aproxi
73. a renova o das dire es sindicais ga chas como j mencionado Rodrigues considerou leg timo o uso do piquete nos movimentos reivindicat rios dos trabalhadores Para ele toda a paralisa o existe da Os trabalhadores for ando para sair e sendo barrados pelos outros que n o querem que aderiram diretamente ao movimento e a pol cia na dela para manter a ordem 2 8 Da mesma forma em um panfleto da poca da greve encontrado no sindicato dos jornalistas e intitulado As nossas tarefas s o enumerados 12 itens que deveriam ser cumpridos pelos grevistas entre eles a organiza o de passeatas pelo centro da cidade o convencimento dos fura greves a distribui o de mosquitinhos pequenos panfletos e boletins e a presen a nos piquet es durante a madrugada para tentar impedir a sa da dos caminh es com os jornais Sobre esse ltimo ponto o documento 45 PONTAP S rev lver amea as Vale tudo Den ncia Porto Alegre n 28 edi o extra especial dezembro de 1983 p 5 ASJPRGS Destaque mai sculas no texto original 46 BRENO Caldas rompe o sil ncio e explica o fim do Correio Di rio do Sul Porto Alegre 26 e 27 de setembro de 1987 p 15 APCE 417 RODRIGUES O Op cit ate Idem ibidem 167 prega que os piquetes demonstram nossa uni o nossa for a e nossa persist ncia de prop sitos Todos devem contribuir com sua presen a e sua voz nessas horas Os piquetes foram c
74. ades o omissa Por outro lado n o h como negar que o n o pagamento dos sal rios refor ou a id ia de um movimento justo e tico acirrando os nimos dos trabalhadores e fermentando protestos e manifesta es Esta quebra na pretensa harmonia da esfera da produ o o assunto do pr ximo cap tulo 112 Cap tulo HI Da domina o resist ncia a constru o da solidariedade Bom dia doutor Breno Como v o seus cavalos Vacas e le es de ch cara Est o bem E os seus funcion rios Pagaram a luz A gua O aluguel Compraram o leite para seus filhos O rancho N o sabe Pois lhe respondo N o fizeram nada disso Sabes por qu Porque s um irrespons vel Porque s um incompetente Porque s um mau pagador Porque s intransigente Porque s ego sta Porque s caloteiro Porque s prepotente Porque s insens vel Porque s costa larga Porque s patr o Porque s explorador Porque s tanta coisa Que faltar papel Para alinh las todas Mas saiba de uma coisa Seu surdo insano e in til Tudo isto vai acabar Cedo ou tarde Mas vai acabar Poesia de autor desconhecido datilografada em papel of cio rubricada e datada de 3 de janeiro de 1984 sob o t tulo Bom dia doutor Breno ASJPRGS A mudan a t cnica no setor gr fico inserida no processo de reestrutura o produtiva global emergente no in cio dos anos 80 influenciou a eclos o do movimento grevist
75. afirma o da liberdade humana do direito vida da luta pela reparti o do produto social pela redu o da desigualdade e pela defesa do futuro do homem preservando lhe o ambiente e a natureza o a x a 492 Os juristas alternativos discutiam a separa o entre direito e lei Esta corrente cce preconizava a utiliza o das contradi es ambigiidades e lacunas do direito legislado sob uma tica democratizante com vistas a buscar via interpreta o qualificada e diferenciada espa os que possibilitem o avan o das lutas populares e OPNS 493 permitam uma democratiza o das normas 48 SILVA Fernando Teixeira da A carga e a culpa Os oper rios das Docas de Santos Direitos e Cultura de Solidariedade 1937 1968 S o Paulo Santos Hucitec Prefeitura Municipal de Santos 1995 p 103 106 40 CUST DIO Sueli Sampaio Damin O movimento do Direito Alternativo e a redefini o da cultura pol tico jur dica no sistema brasileiro Tese doutorado em Ci ncias Sociais Unicamp Campinas SP 2003 p 44 45 1 GENRO Tarso Os ju zes contra a lei In ARRUDA J NIOR Edmundo Lima de org Li es de direito alternativo S o Paulo Acad mica 1991 p 26 27 2 GUANABARA Ricardo Vis es alternativas do Direito no Brasil Estudos Hist ricos n 18 p 406 43 CARVALHO Amilton Bueno de Direito alternativo na jurisprud ncia S o Paulo Acad mica 1993 p 11 apud GUANA
76. algumas restri es s atividades Eram o que se chamavam de Eu nem vou usar o termo que se usava poca por que vai ficar na minha boca O nosso sindicato j entrou com uma outra vis o Uma vis o um pouco mais moderna Um pouco mais avan ada um pouco mais evolu da do que o sindicato dos gr ficos Eles tinham gente muito boa dentro do sindicato dos gr ficos Gente boa com cabe a Mas tamb m a forma como eles levavam o movimento talvez a estrutura que eles tinham talvez a participa o deles Faltava um pouco E o sindicato complementava isso a Ent o eles vinham conosco E isso que era o importante O importante que nesse momento o seu Euclydes l que a gente participava de muitas reuni es o seu Euclydes emprestava muita credibilidade ao nosso grupo de reuni es Eram pessoas experientes pessoas que j tinham participado E estavam conosco Ent o nos emprestavam uma credibilidade que foi importante para n s Chama aten o a a no o de credibilidade ou seja o atributo necess rio a quem quer se fazer ouvir Em n vel sindical o apoio dessa lideran a conservadora emprestava ao grupo de sindicalistas porra loucas a experi ncia e o acesso a canais capazes de influir nos destinos do movimento ou da empresa evidentemente os jornalistas tamb m aproveitaram de seus contatos com pol ticos ou empres rios A quest o parece ser que parte a uni o das categorias nos protestos dentro da e
77. alguns depoentes levantar e aprofundar as quest es que permitir o posteriormente a an lise de facetas espec ficas do objeto Ao final reflito sobre as possibilidades te ricas do estudo de greves No segundo cap tulo trato da rela o entre a transforma o tecnol gica ocorrida no setor gr fico da empresa e o movimento grevista A abordagem enfoca a constru o da imagem dos gr ficos como vanguarda oper ria o cotidiano destes trabalhadores na Caldas J nior o processo de reestrutura o produtiva no setor e como a modifica o foi sentida pelos oper rios a partir de tal percurso que se tentar entender o impacto desta transforma o no processo de mobiliza o e o significado da oficina de chumbo e de seu uso para a realiza o de assembl ias dos grevistas O cap tulo III trata da eclos o do movimento grevista mostrando a fratura no equil brio aparente das rela es de trabalho vigentes na empresa expressa nos atrasos salariais e na crescente mobiliza o dos trabalhadores Por meio dos depoimentos orais e da documenta o sindical reconstruo as rela es de domina o na Caldas J nior antes da crise A seguir s o examinadas as experi ncias relacionadas aos atrasos salariais por parte dos trabalhadores e como estas viv ncias comuns ajudaram a construir a solidariedade diante da crise O cap tulo IV discute as caracter sticas das entidades de classe envolvidas na paralisa o e seu posicionamento em rela
78. alguns dos trabalhos importantes sobre o per odo oriundos do IESPE ou do grupo de pesquisadores que o integravam os levantamentos de PETERSEN A Op cit PETERSEN urea T T CAD Elizabeth Maria Pedroso et al Movimento grevista no Rio Grande do Sul 1945 1979 Porto Alegre IESPE PUCRS 1980 e CATTANI A D A a o coletiva dos trabalhadores Porto Alegre SMCultura s d e CATTANI A D org Sindicalismo A o reflex o Caxias do Sul EDUCS 1990 Um relato sobre o clima de desola o que se seguiu ao inc ndio e o trabalho realizado pelos funcion rios para recupera o do pr dio e do acervo est em CAMPILONGO Maria Assunta Corpo e simb lico enunciados representa es matrizes e cartografias de risco Sa de Porto Alegre v 1 p 5 18 1996 30 Como exemplos de trabalhos de historiadores ga chos que se dedicaram ao tema ver DUQUE Lu s Guilherme Ritta Hei de vencer mesmo sendo professor o CPERS e o magist rio p blico estadual do RS 1972 1979 Disserta o mestrado em Hist ria IFCH UFRGS Porto Alegre 1998 e PACHECO Eliezer Moreira Sindicato e projeto pedag gico a organiza o e as lutas dos professores p blicos estaduais do Rio Grande do Sul 1945 1991 Disserta o mestrado em Hist ria IFCH UFRGS Porto Alegre 1993 25 culturais encarnadas em tradi es sistemas de valores id ias e formas institucionais A abordagem privilegia as experi ncias e as conting ncias
79. blico s not cias mais recentes dos combates em solo europeu Ao contr rio do Correio caracterizava se por ser um jornal de venda em banca de perfil mais popular com um n mero bem menor de assinantes Seu sucesso na cobertura de eventos esportivos gerou o lan amento em 1949 da Folha da Tarde Esportiva outro jornal di rio da Caldas J nior A Esportiva tornou se em 1969 Folha da Manh um peri dico de linguagem e linha editorial inovadora que circulou at 1980 Em rela o ao mercado jornal stico a Caldas J nior tamb m saiu ganhando em pelo menos duas ocasi es com a repercuss o a n vel local de epis dios da conjuntura pol tica nacional que acabaram por provocar o fim de dois concorrentes muito fortes Um deles foi a crise de 1954 que culminou com o suic dio do presidente da Rep blica Get lio Vargas Na revolta popular foi empastelado por uma multid o enfurecida o Di rio de Not cias O jornal dos Di rios Associados que havia repartido a lideran a do jornalismo ga cho com o Correio durante tr s d cadas suspendeu a circula o durante um ano entrando depois num ciclo de decad ncia Em 1964 logo ap s o golpe militar foi retirado de circula o o jornal ltima Hora do jornalista Samuel Wainer que fazia A a 117 concorr ncia direta Folha da Tarde Em 1969 Breno Caldas era apontado pela revista Vis o como o 6 homem mais rico do Brasil A revista Exame elegeu em 1972 0 Correio do Po
80. burocr tica do Estado brasileiro podem ser encontradas em obras como LOPES Juarez Brand o Sociedade Industrial no Brasil S o Paulo Difel 1964 e RODRIGUES Le ncio Martins Conflito industrial e sindicalismo no Brasil S o Paulo Difel 1966 A an lise e a cr tica a este paradigma s o a t nica de dois artigos hoje cl sicos na hist ria do trabalho que introduzem a no o de ruptura interpretativa PAOLI Maria Celia SADER Eder TELLES Vera da Silva Pensando a classe oper ria os trabalhadores sujeitos ao imagin rio acad mico Revista Brasileira de Hist ria S o Paulo ANPUH v 3 n 6 p 129 149 setembro de 1983 e PAOLI Maria Celia e SADER Eder Sobre classes populares no pensamento sociol gico brasileiro notas de leitura sobre acontecimentos recentes In CARDOSO Ruth org A aventura antropol gica Rio de Janeiro Paz e Terra 1986 p 39 67 Ver tamb m HALL Michael M e PINHEIRO Paulo S rgio Alargando a hist ria da classe oper ria organiza o lutas e controle Remate de Males S o Paulo n 5 p 96 120 1985 BATALHA Claudio H M A historiografia da classe oper ria no Brasil trajet rias e tend ncias In FREITAS Marcos Cezar de org Historiografia brasileira em perspectiva S o Paulo Contexto 1998 p 153 19 No caso espec fico do Rio Grande do Sul a trajet ria dos estudos de hist ria oper ria teve uma cronologia um pouco distinta Segundo Petersen na d cada de 70 h
81. come ou a atrasar sal rios em mar o de 1983 no entanto ocorreu uma mudan a significativa nas rela es patr o empregados Filas formadas junto ao guich da empresa para pressionar pela libera o de vales pequenas parcelas dos sal rios atrasados distribu das aleatoriamente tiveram como resposta demiss es Paralisa es tempor rias de protesto foram realizadas A crise provocou a transforma o progressiva da imagem de Caldas de patr o benevolente e poderoso o doutor Breno a latifundi rio que d ma s aos seus cavalos e vales de cinco mil aos funcion rios Como ocorreu esta transforma o Em que medida esta rela o de domina o influenciou a conforma o do movimento de resist ncia Focar a an lise em tais fatores significa tamb m duvidar do que parece bvio trabalhadores sem sal rios sempre fazem greve tentando a partir do evento compreender o contexto no qual ele ocorre Em rela o ao panorama sindical o movimento na Caldas se d no momento da institucionaliza o do novo sindicalismo 157 SILVA Ant nio A Op cit 138 BRIGADA parcial Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 14 de dezembro de 1983 ASJPRGS 12 com a cria o da Central nica dos Trabalhadores CUT e a realiza o da primeira greve geral p s 64 Nesse processo estavam em jogo tamb m a defini o de identidades pol ticas das diversas correntes sindicais da poca
82. contas alugu is e at mesmo para se dirigirem ao local de trabalho Essa desonra da fam lia Caldas J nior personificada na incompet ncia dos atuais administradores deve se satura o de todos n s funcion rios jornalistas gr ficos e motoristas que decidimos paralisar as atividades por tr s dias Estamos parados desde s 21 horas de segunda feira dia 12 porque h sete meses nos sos sal rios atrasam somos pagos em vales irris rios e o que pior somos humilhados por uma dire o prepotente e arredia ao di logo E isso trouxe o policiamento ao centro centenas de soldados da For a P blica mas n o para garantir nossos direitos e sim proteger uma empresa quase falida e inadimplente Desde a segunda feira todos os setores da empresa cessaram suas atividades Apenas meia d zia da funcion rios patronais e pessoas requisi tadas ltima hora de outras empresas conse guiram rodar precariamente o Correio do Povo Ontem a Folha da Tarde n o circulou e o Corre io s chegou em algumas cidades porque um esquema mafioso com empregados particulares de Breno Caldas armados com rev lver na cintura e tudo conseguiram liberar seis caminh es com minguados exemplares REPRESS O Hoje tanto o Correio como a Folha safram protegidos pelo mesmo esquema mafioso mas de p ssima qualidade feito n o por profis sionais com assuntos de gaveta com menos p ginas na tentativa desesperada de iludirem a
83. das armas na batalha contra os patr es um fator de aglutina o do grupo e um argumento que podia ser empunhado para exercer lideran a sobre os demais trabalhadores 188 186 Su sp A O panorama sobre o surgimento do of cio gr fico foi elaborado em sua maior parte a partir das seguintes obras COCKBURN C Op cit VITORINO A J R Os sonhos dos tip grafos na corte imperial brasileira In BATALHA Cl udio H M SILVA Fernando Teixeira da e FORTES Alexandre orgs Culturas de classe identidade e diversidade na forma o do operariado Campinas Unicamp 2004 p 167 204 VITORINO J A R M guinas e CHAGAS Em lio e NABARRO Ed lson SINDICATO dos gr ficos de Porto Alegre 73 anos de luta Publica o comemorativa Porto Alegre Sindicato dos Gr ficos 2002 187 Alguns desses rituais de inicia o em gr ficas francesas do s culo XVIII s o admiravelmente descritos por DARNTON Robert Os trabalhadores se revoltam O Grande Massacre de Gatos na Rua Saint Severin In O Grande Massacre de Gatos e outros epis dios da Hist ria Cultural Francesa Rio de Janeiro Graal 1986 p 103 139 8Ao examinar a forma o da cultura da classe oper ria brit nica Hobsbawm observa que na Gr Bretanha do s culo XIX as vantagens econ micas e o status da chamada aristocracia oper ria dependiam 83 Apesar de a profiss o tipogr fica ter surgido no Brasil bem mais tardiamente que na Europa os artes os br
84. de confirmar ou de transformar a vis o do mundo e deste modo a a o sobre o mundo portanto o mundo o poder simb lico tem como base a cren a 132 Ele s se torna eficaz 5133 na legitimidade das palavras e daquele que as pronuncia quando reconhecido quer dizer ignorado como arbitr rio Entender a Caldas J nior como detentora de um poder simb lico permite analisar a grande capacidade da empresa de atribuir legitimidade s suas vis es de mundo e aos seus interesses naturalizando os como os de toda a sociedade ga cha Sua atua o e seu sucesso como produtora de informa o ou seja de bens culturais que d o sentido experi ncia social pautaram se sempre pela id ia de ser um ve culo neutro e confi vel O alicerce da legitimidade da Caldas J nior como emissora de discursos e difusora de valores e interpreta es era a imagem de imparcialidade e credibilidade cultivada durante d cadas MA partir desta perspectiva pode se entender porque o grupo empresarial que posteriormente adquiriu o controle da empresa apesar de ter modificado claramente o padr o editorial inclusive o formato do Correio do Povo manteve a palavra credibilidade como carro chefe de suas campanhas publicit rias esfor ando se ainda por tra ar uma linha de continuidade com o MARE o 3 a antiga Caldas J nior em publica es comemorativas E 132 BOURDIEU Pierre Sobre o poder simb lico In O
85. de outubro quando os trabalhadores resolveram adotar uma estrat gia que despertou forte retalia o patronal A jornalista Maria Nazar Magalh es de Almeida conta o epis dio E a eu propus na assembl ia geral que a gente fizesse a fila para fora para que as pessoas soubessem o que estava acontecendo Porque se a fila fosse para fora as pessoas iam perguntar O que isto Era l gico era uma fila imensa E as pessoas vinham e perguntavam o que era se era algum concurso n o sei o qu Ent o cada um que vinha perguntar para n s alguma coisa n s explic vamos o que estava acontecendo Que a gente n o recebia h tanto tempo que a gente estava l na fila para receber R 10 que aqueles R 10 era por semana Pergunta Veio muita gente perguntando Sim imagina foi um esc ndalo Porque era uma fila enorme imensa pela Caldas J nior afora dobrando a Rua da Praia Dobrava e seguia Al m da fila na rua os empregados colaram cartazes na parede do pr dio do Correio do Povo exigindo seus sal rios e no final da tarde subiram as escadas 334 batendo palmas como forma de protesto aos atrasos salariais No dia seguinte a dire o da empresa demitiu 14 funcion rios entre eles Maria Nazar eles somavam se a outros oito dispensados no m s anterior 31 WEYNE R Op cit 32 GON ALVES Manoel Loir Depoimento 17 de dezembro de 2006 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre
86. de p ginas da Folha da Tarde edi es de fevereiro de 1983 com reportagens sobre as finan as do Banrisul e sobre o uso irregular de recursos p blicos pelo governo Amaral de Souza ent o governador do Estado 6 C pia do apedido do Banrisul publicado em Zero Hora de 11 02 83 sobre a execu o da d vida da Caldas J nior 7 Comunicado da comiss o de funcion rios aos trabalhadores depois da reuni o com a dire o da empresa datado de 13 04 83 8 C pia de of cio do Sindicato dos Jornalistas DRT comunicando atraso no pagamento de sal rios da Caldas J nior em 11 04 83 219 9 C pia de of cio do Sindicato dos Jornalistas DRT comunicando atraso no pagamento de sal rios da Caldas J nior em 11 05 83 10 C pia de of cio do Sindicato dos Jornalistas DRT comunicando atraso no pagamento de sal rios da Caldas J nior em 16 06 83 11 C pia de of cio do Sindicato dos Jornalistas DRT comunicando atraso no pagamento de sal rios da Caldas J nior em 13 07 83 12 C pia de of cio do Sindicato dos Jornalistas DRT comunicando atraso no pagamento de sal rios da Caldas J nior em 16 08 83 13 C pia de of cio do Sindicato dos Jornalistas DRT comunicando atraso no pagamento de sal rios da Caldas J nior em 15 09 83 14 C pia de duas den ncias encaminhadas pelo Sindicato dos Jornalistas DRT contra a Caldas J nior e a TV Gua ba em 30 09 83 15 C pia de of cio do Sindica
87. de um n mero determinado de pessoas que sujeitas a condi es espec ficas tomaram decis es v lidas em seus termos hist ricos e agiram como grupo organizado O conceito de experi ncia de Thompson n o se confunde ressalta Wood com uma concep o idealista um desligamento entre meio e ser social Trata se de uma experi ncia de determina o ou seja na pr tica social no viver que se explicitam as rela es impostas pelo modo de produ o e as respostas dos agentes a estas condi es Nas palavras de Wood tarefa do historiador e do soci logo explorar o que essas estruturas fazem vida das pessoas como o fazem e como as pessoas reagem ou como Thompson poderia ter dito como as press es determinantes dos processos estruturados s o sentidas e manipuladas pelas pessoas O peso da mensagem 2 te rica contida no conceito de experi ncia entre outras coisas que a opera o das press es determinantes uma quest o hist rica portanto emp rica e imediata Tendo estas palavras e a quest o inicial do trabalho em mente optei por partir do acontecimento e n o da estrutura o exame do evento e das a es dos envolvidos grevistas n o grevistas patr o representantes do Estado entre outros que conduzir ao necess rio alargamento do olhar do pesquisador e espero dos leitores No entanto a experi ncia vivida destes personagens constitui e limitada simultaneamen
88. destruiu boa parte de seu acervo instalado ent o na Biblioteca de Ci ncias Sociais e Humanidades do Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas IFCH Al m disso pesquisadores receberam amea as numa amostra de como a redemocratiza o do pa s n o significou a desarticula o imediata das estruturas e mecanismos de repress o pol tica Recentemente o arquivo do CDS composto por cole es da imprensa alternativa e sindical dos anos 70 e 80 recortes de jornais da grande imprensa sobre a movimenta o dos trabalhadores panfletos e informativos de categorias foi incorporado ao N cleo de Pesquisa Hist rica NPH do IFCH No campo historiogr fico do Rio Grande do Sul h poucos trabalhos sobre o per odo Eles centram se muito mais em categorias em especial a dos professores do 30 que propriamente em greves No presente estudo partindo da inspira o de E P Thompson a greve na Caldas J nior interpretada como um processo de enfrentamento classista desencadeado por atores sociais que viveram uma situa o de classe a partir de experi ncias comuns determinadas em grande medida pelas rela es de produ o nas 4 quais estavam inseridos Nas conhecidas palavras do historiador brit nico a 2 consci ncia de classe a forma como essas experi ncias s o tratadas em termos 8 SOARES Marcos Fl vio As greves de 1979 no Rio Grande do Sul Porto Alegre IESPE PUCRS 1980 Cito ainda entre
89. dirigentes se identificavam diretamente com os problemas vivenciados pelos trabalhadores comuns n o militantes Como eles enfrentavam dificuldades por conta dos atrasos salariais Al m disso o Correio do Povo e a Folha da Tarde eram os principais empregadores da categoria ao contr rio dos gr ficos e motoristas que dispunham de outras alternativas livrarias gr ficas empresas de transporte coletivo Mas se h esta lideran a e esta iniciativa admitidas tamb m pelos depoentes gr ficos e motoristas nota se tamb m um empenho em engajar a dire o dos outros sindicatos no movimento no sentido de tornar oficial a ades o dos trabalhadores das demais categorias aos protestos e a uma eventual greve Em rela o aos gr ficos um dos canais para este engajamento parece ter sido o linotipista Ant nio Adair Ferreira da Silva tamb m funcion rio da Caldas J nior al m de tesoureiro do sindicato e amigo pessoal de Euclydes Cruz O pr prio Silva afirma que tinha uma liga o estreita com os jornalistas por ser da oficina de composi o eu 39 QU RUM FOI insuficiente para votar a greve Boletim Caldas J nior Urgente 6 Porto Alegre 6 de outubro de 1983 ASJPRGS 161 era tipo um contato entre as oficinas e parte da reda o Ent o a gente conversava com 5400 um conversava com outro Portanto h aqui um elo n o s entre os dois sindicatos mas tamb m entre dois territ rios a reda
90. do mundo do trabalho E tamb m um momento onde se constr i e se d a ver paralelamente ao distanciamento em rela o a uma ordem industrial ou salarial estabelecida uma forma de assimila o a essa ordem contestada pontualmente mas sem que o 184 necessariamente se pretenda revolucion la Para este autor a greve n o chega a ser uma ruptura mas se constitui em um distanciamento e pode revelar muito sobre a assimila o da ordem econ mica entre os trabalhadores Neste sentido e a partir de uma reflex o guiada por no es sociol gicas advindas das an lises de Touraine Reynaud e Neveu Sirot entende a integra o profissional como predecessora a o coletiva dos oper rios O autor pretende portanto que sua hist ria social das greves seja a do processo de socializa o do mundo oper rio do universo do trabalho Ele enfoca a as possibilidades e determina es jur dicas como elementos de compreens o das mobiliza es sindicais O entendimento da greve como um fen meno dotado de potencial revelador que d a ver tornando expl citas oposi es e assimila es derivadas das rela es de produ o parece eficaz para se estudar um movimento espec fico bem como possibilita discutir o sentido amb guo das a es do Estado do patronato ou da classe trabalhadora permitindo desfazer a aparente homogeneidade de explica es muito amplas A partir desta reflex o torna se poss vel entender
91. e defensor da categoria frente aos jornalistas com os quais os gr ficos tradicionalmente concorriam na disputa pelo controle do processo de produ o e pela ascend ncia nas empresas jornal sticas Esta rixa constante desde a separa o dos dois of cios em prim rdios do s culo XX parece ser percebida pelos gr ficos como uma perda A media o de Caldas e o antagonismo em rela o aos colegas da reda o transparecem numa hist ria contada por Fraga A dire o do Breno Caldas com quem eu convivi e trabalhei eu s tenho elogios N o era um camarada rancoroso muito pelo contr rio Existiam por exemplo algumas diverg ncias entre jornalistas e gr ficos Era uma quest o de ascend ncia O jornalista por exemplo normalmente o camarada intelectual estudou e tal O gr fico sempre foi considerado um graxeiro Porque estava no ch o de f brica Ent o tem esta disputa Eu lembro de certa vez que o Breno disse Olha o que o diss dio der eu dou tanto Mas eu dou para os gr ficos Para os jornalistas eu n o dou Logo a seguir na mesma entrevista conjunta a hist ria volta na narra o do tip grafo Solis Souza da Silva que trabalhou na Caldas J nior de 1975 at 1985 Teve uma poca que os gr ficos se reuniram com os jornalistas Os jornalistas queriam fazer piquete isso e aquilo No sindicato l na Ladeira O que o Breno fez Disse O que os gr ficos ganharem eu dou para eles 25 Tal con
92. e Industrial de S o Paulo julgada pelo TRT daquele estado em janeiro de 1978 Motivada pela falta de pagamento de tr s meses de sal rio outubro novembro e dezembro de 1977 a paralisa o teve parecer favor vel pela legalidade da Procuradoria Regional da Justi a do Trabalho que desconsiderou pedido da empresa para que a greve fosse considerada ilegal devido ao suposto n o cumprimento do prazo de 72 horas do aviso pr vio Os ju zes do tribunal aceitaram o argumento dos trabalhadores de que o prazo fora realmente cumprido e decidiram pela legalidade condicionando a volta ao trabalho ao pagamento de sal rios Processo DC9 78 A ac rd o TP 40 78 de 17 de janeiro de 1978 Revista de legisla o social doutrina e jurisprud ncia S o Paulo LTR 1978 p 42 340 42 342 BDir 191 Institu da pela Constitui o de 1934 e regulamentada em 1939 decreto 1 237 a Justi a do Trabalho s come ou efetivamente a funcionar no pa s em 1 de maio de 1941 Sua estrutura operacional se baseou no funcionamento anterior das Juntas de Concilia o e Julgamento criadas em 1932 decreto n 22 132 e destinadas a solucionar contendas individuais de trabalho Na sua origem as Juntas j se compunham de dois vogais um representante patronal e um dos trabalhadores e um presidente com a diferen a de que este era nomeado pelo ministro do Trabalho O decreto de 1941 estabeleceu a jurisdi o dos Conselhos Regionais que se tornariam em 1
93. empregados da empresa se acumulavam na Justi a do Trabalho ga cha a Caldas J nior impetrou um recurso contra a senten a do TRT Em mar o o Tribunal Superior do Trabalho TST com sede em Bras lia suspendeu temporariamente a decis o Em seu despacho o ministro vice presidente do TST Coqueijo Costa sustentou que n o h previs o legal nem precedente na jurisprud ncia que justifique a imposi o da multa de 50 e a concess o de estabilidade provis ria at que sejam satisfeitos os d bitos da requerente a Caldas pe J nior huma cr tica decis o anterior do TRT O TST julgou o processo definitivamente em setembro de 1984 tr s meses depois da interrup o da circula o do Correio e da Folha Os ministros mantiveram a 447 Um exemplo dessas manobras da empresa foi a apresenta o momentos antes do julgamento de 57 p ginas de novos documentos a serem examinados pela Justi a al m da argumenta o de que os sindicatos n o tinham legitimidade para ajuizar aquele tipo de processo sem que houvesse uma assembl ia geral das categorias espec fica para este fim Ambas as tentivas foram rejeitadas O ac rd o do processo diss dio coletivo n 9217 83 est dispon vel no ATRTA 448 Pl cido Lopes da Fonte era diretor do Servi o Nacional do Com rcio Senac e presidente do Sindicato dos Hot is e Similares de Porto Alegre e Ant nio Widholzer era presidente do Sindicato das Ind strias do Vestu rio NOMEADO
94. es da quebra da Caldas J nior nos anos 80 Tal lacuna se d n o por julgar o tema pouco importante mas porque meu foco s o as rela es de domina o e resist ncia entre trabalhadores e patr es e n o uma an lise econ mica ou administrativa da gest o empresarial em quest o para a qual me faltaria por certo compet ncia e conhecimento No entanto as circunst ncias e conforma es advindas com a crise estar o presentes em todo o desenvolvimento deste trabalho Express o usada por SCHMIDT Benito Bisso Em busca da terra da promiss o a hist ria de dois l deres socialistas Porto Alegre Palmarinca 2004 p 22 7 PETERSEN Silvia Cruzando fronteiras as pesquisas regionais e a hist ria oper ria brasileira In ARA JO Angela Maria Carneiro org Trabalho cultura e cidadania um balan o da hist ria social brasileira S o Paulo Scritta 1997 p 90 18 A presente disserta o se refere a um tempo recente no qual o panorama sindical brasileiro e o modelo produtivo por meio do processo de reestrutura o produtiva sofreram importantes transforma es Como eles a discuss o te rico metodol gica e tem tica no campo da hist ria do trabalho passou por uma grande mudan a nas ltimas d cadas De modo geral os anos 80 foram marcados por um processo de alargamento te rico e de renova o dos modelos interpretativos nos estudos hist ricos no Brasil Na rea ampla e imprecisa da hist ria
95. es p blicas do empres rio sendo alvo da rever ncia das autoridades pol ticas Outro artif cio que contribu a para legitimar a autoridade patronal era a possibilidade do acesso direto dos trabalhadores a Caldas que podia redundar numa desautoriza o das chefias intermedi rias e numa vit ria parcial dos dominados Os epis dios de rela o direta entre o patr o mitificado e os empregados em alguns casos com a anula o tempor ria do poder das hierarquias intermedi rias serviam para que o arb trio e a explora o do trabalho fossem reelaborados e compreendidos pelos trabalhadores como o reconhecimento de sua individualidade e de seus direitos pela autoridade a partir de seu potencial profissional A explora o transformava se assim em reconhecimento possibilitando um aumento da produ o alavancado pela sensa o de autovaloriza o do trabalhador Nas palavras de uma jornalista Todo mundo adorava trabalhar Eu nunca em lugar nenhum trabalhei tanto assim como vou te dizer os meus talentos todos toda a minha potencialidade como jornalista foi t o aproveitada como naquela poca Neste momento cabem duas considera es Em primeiro lugar interessante ressaltar que havia elementos culturais relacionados defini o da profiss o de 314 GALVANI W Depoimento 315 CHALHOUB S Op cit p 85 316 A este respeito cito o seguinte trecho do depoimento de Weyne o destaque em grifo meu E
96. experi ncia dos banc rios de Porto Alegre RS Disserta o mestrado em Ci ncia Pol tica Unicamp Campinas 1999 p 75 101 no Brasil Quinze anos depois em 1995 restavam 114 900 oper rios sendo que a taxa de produtividade havia aumentado de 8 06 para 14 48 Para Giovanni Alves a revolu o tecnol gica que se inicia j a partir dos anos 70 na economia mundial implica altera es profundas nos processos produtivos e integra o quadro da nova des ordem capitalista caracterizada pela instabilidade e inova o cont nua Esta transforma o aliada a novas t cnicas de gerenciamento produtivo d condi es para um novo patamar de acumula o do capital decorrente em especial do debilitamento do poder objetivo da classe oper ria com o desemprego estrutural Paralelamente ao desemprego os trabalhadores em sua maioria enfrentaram um processo generalizado de desqualifica o Ao analisar o caso da Volkswagen em S o Bernardo do Campo SP Telma Bessa Sales observou o aspecto subjetivo das mudan as afirmando que nos processos de reestrutura o todo um saber constru do ao longo da vida dos trabalhadores redimensionado para responder s exig ncias de novas m quinas e outros m todos de trabalho Muitos dos movimentos sindicais dos anos 80 foram tentativas de rea o a mudan as tecnol gicas Conforme o Dieese a partir de 1982 j h registro de sindicatos que inclu am cl us
97. ficos nas assembl ias na oficina de chumbo Tal percep o dos jornalistas se relaciona ao que Cattani chama de efeito de dessacraliza o de algumas categorias no final dos anos 70 momento no qual professores m dicos profissionais de n vel superior foram obrigados a admitir sua condi o de assalariados em processo de proletariza o Al m disso o ltimo depoente exp e outra contribui o significativa dos rodovi rios na prepara o dos enfrentamentos f sicos com a pol cia e a classe patronal Voltaremos a este ponto mais adiante De qualquer forma a despeito do tom melanc lico de Rodrigues em seu depoimento e da pouca participa o que teve no processo preparat rio do movimento flagrante a sua import ncia no momento da deflagra o da paralisa o O pr prio Euclydes Cruz l der dos gr ficos reconhece o papel de Galo por m atribui a ele uma conota o negativa a partir de seus valores e do conhecimento do desenrolar do movimento especialmente da anunciada demiss o de todos os grevistas pela empresa nove dias depois do in cio da greve medida posteriormente desautorizada pela Justi a do Trabalho Me lembro tinha o Galo que era presidente dos motoristas Todo metido a galo mesmo muito valent o Ent o a gente fazia aquelas reuni es l dentro da Caldas J nior mesmo e o Galo quando ocupava a palavra Deus o livre era um valent o mesmo Ele parava todo mundo batia palma aquela
98. forjar fatos Nota oficial assinada pelos sindicatos dos jornalistas gr ficos e motoristas ASJPRGS 173 Figura 10 Capa da Folha da Tarde com destaque para mat ria acusando grevistas de viol ncia Folha da Tarde 20 01 84 MCSHJC Deflagrada em um momento de intensa disputa entre grupos pol ticos no cen rio sindical brasileiro a greve da Caldas J nior articulou diretorias de sindicatos com pr ticas e ideologias distintas Enquanto rodovi rios e jornalistas se alinhavam a grupos que se apresentavam com uma proposta de renova o do sindicalismo na qual a greve era uma alternativa capaz de diferenci los dos velhos sindicalistas a dire o do gr ficos seguia exatamente a linha oposta A mobiliza o das bases e o acirramento das tens es provocadas pelo atraso dos sal rios alinharam os tr s sindicatos mas n o sem tens es A despeito dos conflitos em termos de pol tica sindical militantes comunistas dirigentes conservadores e novos sindicalistas uniram se na organiza o e na condu o do movimento As concep es divergentes sobre sindicalismo sobre o que fazer em rela o ditadura e sobre o futuro do pa s n o impediram que essas diversas correntes atuassem conjuntamente mesmo transigindo dos valores que pregavam no discurso O epis dio da greve da Caldas J nior mostra que em algumas ocasi es lideran as identificadas com o novo reconheciam e tentavam usufruir da for a rema
99. forma como o movimento foi organizado e como se desenvolveu Parte se da constata o de que os tr s sindicatos gr ficos jornalistas e rodovi rios apresentavam caracter sticas bastante distintas em termos de pr ticas de lutas e de alinhamento com o ent o ascendente movimento de renova o do sindicalismo brasileiro Pretende se assim saber de que forma a articula o sindical pode ser observada em rela o mobiliza o na Caldas J nior e quais as caracter sticas do relacionamento entre velhos e novos sindicalistas neste contexto 145 O cap tulo est dividido em tr s partes Na primeira apresento dados sobre o contexto sindical da poca em especial o conflito entre as diversas correntes de sindicalistas Em seguida abordo o caso dos tr s sindicatos e por ltimo analiso a mobiliza o grevista 1 As cis es do movimento sindical A mobiliza o e o in cio da greve da Caldas J nior se desenrolaram em 1983 ano de afirma o institucional do novo sindicalismo no Brasil com a deflagra o da primeira greve geral p s golpe de 64 em julho e a funda o da Central nica dos Trabalhadores CUT em agosto a CUT ga cha seria criada no ano seguinte Para al m deste marco o processo de institucionaliza o das novas tend ncias sindicais se desenrolou paulatinamente desde o final dos anos 70 impulsionado por um grande n mero de greves no pa s e pelas mudan as nas dire es das entidad
100. forma a mudan a t cnica no setor de composi o gr fica afetou o movimento de resist ncia Quais os elementos associados ao uso do antigo local de produ o a chamada oficina de chumbo para as assembl ias O que esse epis dio pode nos revelar sobre a experi ncia da reestrutura o produtiva entre os gr ficos em termos subjetivos e materiais 2 A MOBILIZA O Como a crise econ mica da poca refor ou la os de solidariedade e identidade entre os trabalhadores da empresa De que forma esta mesma crise abriu fraturas no sistema de domina o paternalista da Caldas J nior que tinha como um de seus alicerces a figura do empres rio Breno Caldas o doutor Breno 3 O CONTEXTO SINDICAL Como foi poss vel a articula o entre velhos e novos sindicalistas dos sindicatos envolvidos no movimento de resist ncia At que ponto se produziram rupturas e onde se mantiveram elementos de continuidade na a o sindical O an ncio p blico da venda das r dios Gua ba AM e FM da TV2 Gua ba e do Correio do Povo para a Rede Record propriedade da Igreja Universal do Reino de Deus ocorreu entre fins de fevereiro e in cio de mar o de 2007 17 4 A QUEST O JUR DICA Por que a op o pelo uso do arcabou o jur dico do per odo autorit rio num movimento de resist ncia de trabalhadores Quais os elementos do contexto que embasaram essa op o Tais elementos s o capazes de relativizar a imagem de
101. greve Al m disso o sal rio dos largadores subiu para Cr 6 000 00 e o dos cobradores para Cr 4 100 00 Mesmo assim o jornal criticou o fim da greve avaliando que os ganhos poderiam ter sido maiores com a continuidade do movimento MOTORISTAS vacilam e voltam ao trabalho em Porto Alegre Em Tempo S o Paulo n 78 23 a 29 de agosto de 1979 coluna Piquet o p 8 CDS NPH 34 MOTORISTAS ga chos destituem pelego Em Tempo S o Paulo n 133 23 julho a 6 de agosto de 1981 p 11 CDS NPH 35 Ver pasta Rodovi rios e transvi rios transporte coletivo 1983 1987 CDS NPH 158 Com uma postura muito ativa em rela o deflagra o de greves por sua categoria suas duas gest es foram marcadas por grande n mero de movimentos Rodrigues era ligado ao PDT e alguns companheiros de chapa ao PC do B A nominata contou com apoio da CUT na elei o de 1983 mas tr s anos depois quando foi reeleita teve sustenta o da central advers ria a CGT Isso evidencia em conson ncia com a reportagem do Em Tempo que a elei o de Rodrigues era vista como estrat gica pelos novos sindicalistas ga chos no in cio da d cada mas que em 1986 ele passou a ser encarado como advers rio Em 1989 a chapa que ganha o pleito dos rodovi rios derrotando Rodrigues que buscava uma terceira gest o foi apoiada pela CUT Em contraponto s duas situa es examinadas acima o sindicato dos gr ficos permanecia em 1983 sob comando
102. inevit vel eseeeeeeesesesesressessreressressrseresressesrrestresseeseesresseeseee 65 LS Sobre o estudo de Teves donni a E E E A 75 Cap tulo II A oficina de chumbo creeeereeeereeeeereereereeeereeda 82 2 1 Os gr ficos e a imagem de vanguarda oper ria sesssssessresseessersseresseeessees 83 2 2 Os oper rios da Caldas J NIOR essas iairentaamas sede sa aaa susoriaa rea staa ma dade data arado 89 2 3 A reestrutura o produtiva e o setor gr fico 97 2 4 As mudan as tecnol gicas e a greve ieceeeeererecereeaceranaa 103 Cap tulo III Da domina o resist ncia a constru o da solidariedade 113 3 1 A viv ncia das rela es de trabalho ssseeeeseeesseeesseessessseesseesseeessressersseesseee 114 32 Afa de yae a da da 133 ds destitui o da autoridade pu casseta LI E A A 136 Cap tulo IV A greve e a articula o sindical is 145 4 1 As cis es do movimento sindical scasssssquassasiassgcegtosaumnsgrogoslquaza ana Loucas cagladadngis 146 42 O tr s sindicatos cs sesiooni onneen iit enna sS e EASE E aAa asa sda sa iak 153 4 3 A greve um momento de UNO sans anseia LA Gde 160 Cap tulo V O legal mais do que o justo erre 176 5 1 Os caminhos da legalidad enrian sinan T EE E aa 177 5 2 O Direito eos direitos snusen an inatas 188 da Mais dog e justo l esalpocsirestsnse nne tae eiti 200 Conel s
103. legal Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre outubro de 1983 folheto Destaque no original ASJPRGS 21 VILLAS BOAS DOS SANTOS Op cit 22 FRENCH J Op cit p 67 205 Uma das fontes de inspira o do historiador norte americano s o depoimentos colhidos por Leite Lopes entre os oper rios t xteis de Paulista PE que evidenciam a import ncia do recurso Justi a do Trabalho na constitui o e interioriza o da ilegitimidade da companhia Leite Lopes v transparecer nos relatos referentes aos anos 50 esta ambigiidade de um grupo social t o subordinado quanto verbalmente atrelado lei para sua a o de classe mas ao mesmo tempo suficientemente realista para auxiliar se da lei historicamente fraca diante do poder patronal a ela tendo o cuidado de vincular sempre sua a o coletiva direta mesmo quando incluindo as formas de luta ilegais como a 524 greve A violenta repress o policial e patronal a que est sujeito o trabalhador brasileiro uma vari vel que ajuda a compreender melhor este posicionamento Como mostra French em artigo no qual discute a vis o da quest o social como caso de pol cia no Brasil ao longo do s culo XX o alinhamento da pol cia com os patr es sempre foi autom tico Para o regime de Vargas e para todos os seus sucessores as leis trabalhistas supostamente paternalistas e altamente protetoras n o se opunham repress o policial mas
104. linha de produ o do setor automobil stico Nas transforma es organizacionais o processo compreende altera es na rela o entre as empresas na organiza o do trabalho e da produ o que visam em geral alcan ar maior flexibilidade e integra o e fomentar o aumento cont nuo e permanente da produtividade Ao escrever sobre as mudan as ocorridas no mundo do trabalho nas ltimas d cadas Antunes observa que a classe trabalhadora praticamente desapareceu em setores que foram inteiramente informatizados como nos gr ficos A introdu o de novas tecnologias no mbito da produ o tamb m provocou s rias transforma es na vida dos banc rios e dos metal rgicos Segundo Silva Os reflexos da introdu o das novas tecnologias nos bancos indicam uma s rie de transforma es no trabalho banc rio com efeitos bastante perversos para a categoria que v se amea ada pelo desemprego pela inseguran a do emprego por condi es de trabalho que n o respeitam a sa de do trabalhador pelo achatamento salarial entre outros Em rela o aos metal rgicos os funcion rios da ind stria automobil stica ber o do novo sindicalismo talvez sejam o s mbolo mais cabal do impacto da reestrutura o produtiva Em 1980 por exemplo este setor empregava 153 939 pessoas 4 CORREA Ma ra Baumgarten Reestrutura o produtiva e industrial In CATTANI Antonio D e HOLZMANN Lorena orgs Dicion rio de Trabal
105. mem rias do PT ga cho 1978 1988 Porto Alegre Diret rio Estadual do PT do RS Funda o Perseu Abramo 2002 in dito De M rmore e de Flores A primeira greve geral do Rio Grande do Sul Porto Alegre UFRGS 2005 Em busca da terra da promiss o a hist ria de dois l deres socialistas Porto Alegre Palmarinca 2004 Um socialista no Rio Grande do Sul Ant nio Guedes Coutinho 1868 1945 Porto Alegre UFRGS 2000 SEGUIN des HONS Andr de Le Br sil Presse et histoire 1930 1985 Paris Editions L Harmattan 1985 230 SILVA J NIOR Adhemar Louren o da Povo Trabalhadores Tumulto e movimento oper rio Porto Alegre 1917 Disserta o mestrado em hist ria IFCH UFRGS Porto Alegre 1994 SILVA ngela Moreira Domingues da Ditadura militar e repress o legal a pena de morte rediviva e o caso Theodomiro Romeiro dos Santos 1969 1971 Comunica o apresentada no XXIII Simp sio Nacional de Hist ria Hist ria Guerra e Paz junho de 2005 Universidade Estadual de Londrina SILVA Fernando Teixeira da A carga e a culpa Os oper rios das Docas de Santos Direitos e Cultura de Solidariedade 1937 1968 S o Paulo Santos Hucitec Prefeitura Municipal de Santos 1995 SILVA Marco Ant nio Roxo da A greve dos jornalistas de 1979 Disserta o mestrado em Comunica o imagem e informa o UFF Niter i Rio de Janeiro 2003 SILVA Shirlei In s Mendes da Reconstruindo a democraci
106. n mero de processos trabalhistas na poca obriga a relativizar a caracteriza o tradicional do grupo sindicalista em ascens o Se o discurso do novo sindicalismo bradia por autonomia sindical e criticava a legisla o trabalhista em especial a lei de greve os militantes n o se negaram a usar as leis e a Justi a do Trabalho quando elas se revelaram armas eficazes ou poss veis no enfrentamento com o patronato Da mesma forma como visto no cap tulo anterior a constru o de identidades pr prias das diversas correntes sindicais definidas especialmente no enfrentamento dos sindicalistas alinhados s diferentes tend ncias pol ticas nos congressos e encontros n o impediu alian as estrat gicas e solidariedades em movimentos pontuais Tal uni o tamb m trazia em seu bojo a perman ncia de antigas pr ticas muitas vezes condenadas nos discursos 211 Conclus o Chega o momento de concluir o trabalho retornando sobre o caminho percorrido e apontando para um novo horizonte A inten o primeira era explorar o que tornou poss vel a greve dos trabalhadores da Empresa Jornal stica Caldas J nior em Porto Alegre deflagrada no dia 12 de dezembro de 1983 e encerrada 56 dias depois em 6 de fevereiro de 1984 No bojo do trabalho estava presente a inten o de compreender as conforma es e circunst ncias do movimento iluminando no percurso o seu contexto hist rico e observando de perto a es personagens e configura es
107. na afirma o do car ter de novidade do movimento 13 Sobre as greves de 1906 e 1917 no Rio Grande do Sul ver por exemplo PETERSEN S lvia As greves no Rio Grande do Sul 1890 1919 In DACANAL Jos Hildebrando e GONZAGA Sergius org RS Economia e Pol tica Porto Alegre Mercado Aberto 1979 SCHMIDT Benito Bisso De M rmore e de Flores A primeira greve geral do Rio Grande do Sul Porto Alegre UFRGS 2005 BODEA Miguel A greve de 1917 As origens do trabalhismo ga cho Porto Alegre LPM s d BAK Joan Classe etnicidade e g nero no Brasil a negocia o de identidade dos trabalhadores na greve de 1906 em Porto Alegre M tis hist ria e cultura Caxias do Sul EDUCS v 2 n 4 2004 LONER Beatriz A Constru o de classe oper rios de Pelotas e Rio Grande 1888 1930 Pelotas UFPel Unitrabalho 2001 BILH O Isabel Rivalidades e solidariedades no movimento oper rio Porto Alegre EdiPUCRS 1999 e SILVA J NIOR Adhemar Louren o da Povo Trabalhadores tumultos e movimento oper rio Porto Alegre 1917 Disserta o mestrado em Hist ria IFCH UFRGS Porto Alegre 1994 SCHMIDT Benito Em busca da 5 Idem ibidem p 177 l Dois estudos pioneiros sobre novo sindicalismo s o MOIS S Jos lvaro As estrat gias do novo sindicalismo Revista de Cultura e Pol tica n s 5 e 6 Rio de Janeiro Paz e Terra 1981 e ALMEIDA Maria Herm nia T de O sindicalismo brasileiro entre a conserva
108. na defesa da liberdade de imprensa no rep dio censura na defesa da autonomia sindical e no aperfei oamento mas n o derrubada da legisla o trabalhista No mesmo ano de 1977 na gest o de Ant nio Manoel de Oliveira o sindicato integrou o Manifesto das 110 Entidades documento firmado por 109 sindicatos e uma federa o do Rio Grande do Sul que fazia uma an lise dos problemas enfrentados pelos trabalhadores e defendia sua participa o pol tica No mesmo ano tr s dezenas de entidades constitu ram a Comiss o Intersindical do Rio Grande do Sul rg o que promovia a articula o conjunta dos militantes sindicais de diversas categorias e oferecia apoio a movimentos reivindicat rios por meio de manifesta es ced ncia de espa o f sico assessoria jur dica e coleta de fundos entre outros Em julho de 1978 sindicatos ligados Intersindical divulgaram uma carta ao governo federal reivindicando direito de greve liberdade sindical liberdade de associa o intersindical fim do arrocho salarial modifica es na pol tica habitacional e reforma agr ria O presidente seguinte do sindicato dos jornalistas Lauro Hagemann participou da I Conclat ao lado de representantes de outras entidades do Rio Grande do Sul entre 7 FEDERA O dos jornalistas A hora de renovar Manifesto da chapa 2 para elei es da Fenaj 1977 APJBS A chapa surgiu de um manifesto lan ado no Rio Grande do Sul contra a for
109. nas oficinas Conforme Vitorino o in cio do s culo XX foi uma poca de mecaniza o e de defini o da profiss o O processo de trabalho se tornou cada vez menos art stico ou artesanal e cada vez mais oper rio Dois marcos desta mudan a foram o progressivo afastamento das profiss es de jornalista e de gr fico reflexo da especializa o que op e trabalho intelectual e trabalho industrial antes unidos nos mesmos profissionais e a introdu o cada vez maior do maquin rio como as linotipos que vieram substituir a composi o manual do in cio do s culo 195 VITORINO A J R M quinas p 136 1 MAR AL Jo o Batista A imprensa oper ria do Rio Grande do Sul Porto Alegre edi o do autor 2004 p 20 19 Basta lembrar que um dos fundadores do jornal Correio do Povo em 1895 Jos Paulino de Azurenha era jornalista e gr fico Ver GALVANI W Um s culo de p 26 Dez anos depois em 1905 o l der sindical gr fico Francisco Xavier da Costa j procurava estabelecer as fronteiras de cada of cio a partir da id ia de que o tip grafo tem sobre o jornalista uma certa superioridade Segundo seu artigo o jornalista seria v tima do gr fico pois os pensamentos e id ias do primeiro se subordinariam consecu o das exig ncias de produ o dominadas pelo segundo COSTA Francisco Xavier da O Tip grafo e o chefe A sua psicologia A Democracia Porto Alegre 13 de agosto de 1905 p 3 A
110. nior a narrativa de momentos em que a identifica o com os interesses patronais parece superar a identidade de classe Guiados pela confian a em Breno Caldas sentindo se privilegiados por trabalharem na empresa os jornalistas preferiam uma negocia o direta com o patr o intermedia o sindical A preponder ncia desta rela o com Caldas reivindicada pelos pr prios empregados tem o efeito aparente de neutralizar a associa o de classe reduzindo a sua for a reivindicat ria dentro da esfera da empresa Em rela o ao n vel salarial necess rio por m relativizar os relatos memorial sticos Se a Caldas J nior pagava melhor que as outras empresas do ramo isso n o significa que todos os vencimentos estavam em altos patamares Havia casos flagrantes de sal rios irris rios Na an lise da documenta o jur dica chama a aten o o caso do poeta Mario Quintana que em 1984 recebia mensalmente Cr 192 000 00 o equivalente a menos de dois sal rios m nimos A mesma reclamat ria trabalhista que exibe este dado relaciona outros 55 empregados a maioria jornalistas Alguns tinham 84 sal rios bem mais altos um pauteiro com remunera o de Cr 700 000 00 uma editora com Cr 637 716 um rep rter com Cr 380 000 00 e um fot grafo com Cr 480 000 00 H um grande desequil brio por m com n veis salariais diversos para as mesmas fun es O processo relaciona digitadores ganhando Cr 170 000 00 e outros 2
111. nossa entidade 157 Algumas dessas mensagens teriam provocado a demiss o de militantes que lideraram a greve da categoria em 1979 uma das mais significativas do per odo no estado O movimento foi articulado e organizado por um grupo de oposi o dire o do sindicato e conseguiu grande ades o paralisando os transportes rodovi rios de Porto 392 Alegre durante um dia inteiro Um dos l deres desta greve foi Osvaldo Gomes Rodrigues conhecido por Galo Em depoimento a esta disserta o ele recordou o movimento deflagrado numa assembl ia que reuniu milhares de trabalhadores na rua e trancou a Avenida Ven ncio Aires no bairro Bom Fim Eu era motorista de nibus em 1979 e militante nas assembl ias do nosso sindicato que era o sindicato dos rodovi rios E n s t nhamos diss dio na poca e o presidente do sindicato na poca Othelo Oliveira da Silva fez um diss dio que n o contemplou os anseios da categoria E eu estava com um movimento paralelo ao movimento sindical Me reunia na Faculdade de Direito no meio dos estudantes na Casa dos Estudantes da Jo o Pessoa tive diversas reuni es ali Puxamos uma assembl ia no sindicato e o presidente do sindicato fechou o diss dio na poca revelia da categoria N s solicitamos uma assembl ia com ordem do dia para assuntos vigentes de tr nsito e assuntos gerais E dali a gente j tinha a proposta a reivindica o feita na hora da assembl ia A foi d
112. o FGTS e a estabilidade metal rgicos de Veran polis reduzir a carga hor ria de trabalho de 48 para 44 horas desenhistas do Rio Grande do Sul e dar estabilidade provis ria de um ano gr ficos de Porto Alegre Tais decis es eram muitas vezes reformuladas no TST a ponto de um sindicalista afirmar em 1982 que na hora em que vamos para o TST n o h d vidas 53507 de que se perde tudo o que hav amos conseguido em Porto Alegre N o foi diferente no caso da Caldas J nior quando o tribunal de Bras lia se permitiu inclusive fazer uma censura decis o tomada pelos ju zes na capital ga cha No entanto mesmo com alcance limitado estas decis es locais afirmavam a posi o doutrin ria de um grupo espec fico dentro da institui o o qual se caracterizava por pregar uma rela o mais ntima entre a Justi a e os movimentos sociais ent o emergentes e defender a 5 PETERSEN A Op cit p 349 504 SINDICATO da constru o vai recorrer do diss dio Correio do Povo Porto Alegre 01 07 80 p 32 CDS NPH pasta constru o civil 505 JUSTI A do Trabalho d vantagem in dita para a prote o maternidade Correio do Povo Porto Alegre 17 112 81 p 12 CDS NPH pasta legisla o trabalhista 5 PROCURADOR recorre de decis o do TRT sobre diss dio Zero Hora Porto Alegre 22 09 81 p 31 CDS NPH pasta Justi a do Trabalho 7 MESA REDONDA abertura pol tica n o chegou ainda Justi a do
113. o de domina o por m n o apenas isto Evidenciam ainda por um lado o conflito subjacente a esta rela o e por outro as estrat gias de resist ncia habituais dos trabalhadores Resist ncia por meio da qual s o mobilizados os instrumentos paternalistas e personalistas de dom nio a fim de angariar vantagens para os dominados afrontando o poder dos chefes intermedi rios 313 sem no entanto abalar a estrutura do sistema Do lado patronal mostram a disposi o do patr o em refor ar seu poder direto e supremo a partir da desautoriza o de suas chefias promovendo a pr pria mitifica o O pr ximo trecho evidencia o descontentamento de um integrante do segundo escal o da Caldas J nior em rela o a este mecanismo de fortalecimento do poder direto do patr o e tamb m em contrapartida o uso da figura mitificada de Caldas como libi para garantir a autoridade destes n veis hier rquicos intermedi rios O depoimento inicia com uma considera o a respeito do filho de Caldas Francisco Ant nio diretor geral da Caldas J nior Um filho nico em quem ele confiou e acho que confiou at numa hora errada porque o filho n o tinha esta habilita o para o que o doutor Breno queria E em compensa o n o confiou nos outros nos grandes quadros que ele tinha dentro da empresa Como o J lio Duarte o Adriano Soares o Adail Borges Fortes da Silva todos eles que o doutor Breno n o dava muita bola Ele
114. o grupo da Unidade Sindical em especial os comunistas Um dos alicerces desta diferencia o e tamb m da afirma o destes novos grupos era a imagem de combatividade e de independ ncia pol tica Por conseguinte todo o movimento com caracter sticas combativas era imediatamente associado ao novo sindicalismo e todo o movimento com lideran a dos novos grupos sindicais era visto como combativo A partir da funda o das centrais a fragmenta o do movimento sindical se acentuou Nos anos 90 Rodrigues viu no fen meno um reflexo das discrep ncias no interior das classes assalariadas refor adas pelo ingresso na luta sindical das categorias de classe m dia profissionais liberais por exemplo que seriam a seu ver mais radicalizadas que os trabalhadores industriais Al m disso criticou a partidariza o das centrais argumentando que a reorganiza o do sindicalismo n o saiu do interior do pr prio sindicalismo Mattos no entanto discorda desta avalia o observando que a associa o entre radicalismo e as classes m dias representa o retorno a uma explica o do comportamento dos trabalhadores baseada na origem social do qual ressalta Rodrigues foi um dos difusores nos anos 60 Tanto tend ncias mais radicais quanto aquelas mais moderadas est o presentes no interior tamb m do chamado sindicalismo de classe m dia assim como entre os militantes dos sindicatos de oper rios Al m diss
115. o que ocorre em 1984 com exce o de Passo Fundo que s passa a integrar a base territorial da entidade em 2004 com a extin o do sindicato local Com isso o nome da entidade passou de Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre para Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Rio Grande do Sul Ver hist rico do sindicato no site da entidade Dispon vel em lt http www jornalistas rs org br modules php name Sections amp op viewarticle amp artid 15 gt Acesso em 22 01 07 386 A SOLIDARIEDADE profissional In Uma alternativa para o sindicato informativo da chapa 2 elei es 1983 APRW Na poca Pilla Vares era editor no jornal Zero Hora Mais tarde tornou se secret rio municipal de Cultura na gest o de Ol vio Dutra como prefeito de Porto Alegre 1988 1992 e secret rio de Estado da Cultura na gest o de Ol vio Dutra como governador 1998 2002 387 JORNALISTAS fazem novas elei es Correio do Povo Porto Alegre 19 de mar o de 1983 p 11 e S t tulo Correio do Povo Porto Alegre 26 de mar o de 1983 Coluna Sindicais p 11 MCSHJC A vit ria ocorreu por uma diferen a de 83 votos ou 8 2 do col gio eleitoral de 1 011 trabalhadores 156 conquistas que estabelecia uma vantagem de seis entidades sobre o bloco pelego reformista na disputa pela hegemonia do movimento sindical ga cho O que estava em jogo era o comando do segundo maior contingente sindical brasileiro depois de S o
116. pagamento e na excessiva centraliza o administrativa Por m as t ticas de coopta o paternalista e a seguran a material dada pela empresa fator ligado sua imagem de tradi o e de solidez econ mica contribu am para abafar tais tens es e captar a ades o de seus empregados Quando a crise econ mica abalou esta seguran a material e simb lica as t ticas de domina o se tornaram insuficientes para manter a ordem na esfera da produ o Este processo se desenrolou em escala crescente a partir dos primeiros atrasos salariais no m s de mar o de 1983 conforme pode ser observado na cronologia anexa Resumindo a movimenta o se iniciou com reuni es entre representantes dos empregados e Caldas Como os atrasos se mantiveram manifesta es passaram a acontecer Ocorreram entre outras paralisa es no hor rio de trabalho e protestos nas filas formadas diante do guich de pagamento Uma experi ncia essencial para explicar os fatores subjetivos envolvidos na deflagra o da greve foram essas filas Com a Caldas J nior sendo acionada por bancos credores o pagamento dos funcion rios era feito nas depend ncias da pr pria empresa em parcelas que no decorrer do ano foram se tornando cada vez mais esparsas e de valor menor Junto com parte da remunera o o trabalhador recebia um comprovante em papel o vale Em frente ao guich de pagamento no t rreo do pr dio se formava uma fila muito extensa que se e
117. para analisar esta fonte Na fala do entrevistado a paralisa o vista retrospectivamente como uma encruzilhada um buraco complicado de onde n o havia sa da o que ratifica seu pr prio discurso de interven o durante a assembl ia A mem ria busca n o apenas recriar o passado mas interpret lo dando lhe um sentido que o torne capaz de ser compreendido e utilizado no presente Assim a greve e a interrup o da circula o do jornal s o integrados numa rela o de causa e efeito Hohlfeldt afirma em determinado ponto que o jornal n o voltou depois da paralisa o corrigindo se em seguida Quando voltou foi um arremedo Na verdade o Correio do Povo n o deixou de circular durante a greve e s teve a circula o interrompida pela pr pria empresa em junho mais de quatro meses depois de findo o movimento dos trabalhadores Esta liga o direta entre greve e fim da Caldas J nior no entanto uma constante em v rios outros depoimentos de pessoas envolvidas na paralisa o abrindo um espa o paradoxal para duas interpreta es aparentemente opostas a valoriza o da greve como movimento forte social e 3 HOHLFELDT Ant nio Carlos Depoimento 10 de fevereiro de 2006 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro uma hora Grifo meu Nascido em Porto Alegre em 1948 Ant nio Hohlfeldt come ou a publicar artigos seus no Correio do Povo no final da d cada
118. pe na de pagar uma multa de 50 O importante desta de cis o que apesar de s os grevistas terem arrisca do o seu pesco o para sus tentar uma causa absoluta mente digna os fura greve e os pelegos s o classes distintas tamb m ser o be neficiados Finalmente O Grupo de Turmas decidiu ga rantir o emprego de todos os funcion rios em greve at o efetivo pagamento de sal rios e do Fundo de Ga rantia Val ram a pena s 56 dias de greve SSATSdUOS ITOT 0304 244 Ser inaugurada nesta segunda feira as 17 ho ras no acampamento monta do pelos grevistas na fren te da Assembl ia Legislati va uma exposi o de foto grafias que mostram alguns dos momentos mais importan tes do movimento igues Foto Carlos Rodri Em tr s paineis pode r o ser vistas fotos fei tas por diversos profissio nais em greve e por outros que est o apoiando a nossa luta Depois de alguns dias a mostra ser itinerante sendo apresentada nos pon tos de maior movimento no centro da cidade junto aos postos de distribui o de boletins e venda do Jor nal da Greve Ee de E RS E E 3 Gy 20 v q L a o 5 Das o p o ra Foto Daniel de Andra Nossos filhos tambem sofreram LEIA E PASSE ADIANTE Um dos grandes M omentos da passeata no da cidade 245
119. pela elabora o das fotos a serem impressas Os textos jornal sticos os an ncios classificados as tabelas eram transformados pelos linotipistas na oficina em linhas e mais linhas de caracteres de chumbo O linotipista Ant nio Adair Ferreira da Silva que ingressou na Caldas J nior em 1972 recordou jornadas di rias de at 12 horas de trabalho Ele definiu assim a import ncia de sua antiga fun o Na realidade o linotipista at quando existiu era considerado o profissional mais qualificado dentro do ramo gr fico N o que nos outros setores n o tivesse Mas em termos de mercado em termos de sal rio o linotipista sempre foi At pelo trabalho em si Tinha de ter um bom n vel de estudo porque tu batia as not cias Tinha de saber corrigir portugu s Era um trabalho que te exigia fisicamente porque se chegava a trabalhar de 10 a 12 horas por dia Com chumbo Bom ent o era um servi o que exigia bastante s vezes eu ficava tr s quatro horas sem levantar porque eles te davam um original e em seguida 206 CRUZ E Op cit 20 SILVA A A F Op cit Ver dados biogr ficos na nota 88 89 iam botando outro E a gente tinha interesse porque era produ o Era um pouco sacrificado mas enfim financeiramente ao menos a gente era 208 recompensado neste aspecto Um linotipista da Caldas J nior como Ant nio Adair ganhava quase o triplo do sal rio dos outros gr ficos Ao contr rio de seus colega
120. pela greve n o foi uma perspectiva dos sindicalistas desde o in cio dos atrasos salariais Ela s aparece na documenta o em boletins do sindicato dos jornalistas de setembro de 1983 s v speras de uma assembl ia marcada para 5 de outubro Na ocasi o os panfletos s o enf ticos na defesa da paralisa o e usam como argumento para isso a retomada dos movimentos sociais no pa s Em um deles o redator escreveu a pr pria hist ria recente do pa s nos mostra que a for a maior do trabalhador est no seu pr prio trabalho e historicamente s parado fazendo GREVE consegue discutir em p de igualdade com os patr es O texto no qual a palavra greve aparece sempre em mai sculas finaliza afirmando que a paralisa o a alternativa pol tica que n s temos hoje para exigir que sejamos ouvidos e tenhamos respostas concretas n o apenas da dire o da empresa mas principalmente da sociedade Outra argumenta o constante em boletins a possibilidade de decreta o de uma greve legal a partir da obedi ncia dos estreitos requisitos da lei 4 330 Tais textos expressam claramente um desejo por parte da dire o do sindicato dos jornalistas 7 GREVE a alternativa Boletim Caldas J nior Urgente 2 Porto Alegre s d ASJPRGS 398 A GREVE LEGAL Boletim Caldas J nior Urgente 3 Porto Alegre 5 de outubro de 1983 ASJPRGS A an lise do encaminhamento jur dico ser aprofundada no pr ximo cap
121. piquetes mencionados nas p ginas anteriores Em 20 de janeiro duas semanas antes do julgamento final da greve pelo TRT Correio do Povo e Folha da Tarde retomaram o tema da viol ncia alegando novos danos ao patrim nio e agress es Reportagens e fotos foram publicadas nas capas dos citados peri dicos referentes a um piquete expressivo ocorrido na noite do dia 18 ver reprodu o mais adiante depois de uma reuni o de negocia o no TRT quando a empresa apresentou uma proposta considerada insatisfat ria Termos significativos naquele per odo de final da ditadura como artefatos de guerrilha urbana foram usados para caracterizar a viol ncia grevista que consistia segundo o pr prio texto em furar pneus e obstruir fechaduras a fim de tentar impedir a entrada de n o grevistas A cobertura continuou pelos dias seguintes noticiando a abertura de inqu rito policial a pedido da empresa por danos contra seu patrim nio A rela o entre piquetes coer o e viol ncia empunhada como argumento patronal vai ao encontro da representa o defendida por alguns autores como Rodrigues que elaboraram uma vis o negativa desta estrat gia ainda nos anos 60 A 480 CALDAS J NIOR confirma den ncia no inqu rito Folha da Tarde Porto Alegre 25 de janeiro de 1984 p 1 capa e Correio do Povo Porto Alegre 25 de janeiro de 1984 p 1 capa A abertura do inqu rito havia sido anunciada tr s dias antes INQUERITO vai apurar atentados sofri
122. pode ser explicada objetivamente pela disponibilidade do sal o vazio evidente que os gr ficos se sentiriam muito mais vontade ali no que dentro da reda o a jurisdi o dos jornalistas Perguntado por que as assembl ias eram feitas na oficina o jornalista Rubens Weyne respondeu Para tentar parar o jornal Porque como eu te disse o sindicato dos gr ficos estava titubeante Era uma oficina que estava sendo fechada e estava sendo desmontada O local que n s fizemos hoje eu nem sei o que que era onde tinham as linotipos Era onde o pessoal montava o jornal Quando eu voltei o pessoal que passou a montar o jornal a fazer o paste up ficava em outra sala em outro local Numa parte nova que tem at hoje embaixo 2772 VILLAS BOAS DOS SANTOS Marcelo Depoimento 21 de junho de 2006 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro uma hora Nascido em 7 de maio de 1958 em Porto Alegre Marcelo Villas Boas dos Santos estudou Comunica o Social na Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul PUCRS formando se em 1980 Trabalhou em v rios ve culos jornal sticos Di rio de Not cias Correio do Povo Folha da Tarde Zero Hora e nas sucursais ga chas da Gazeta Mercantil e de O Globo Na poca da greve era pauteiro da Folha da Tarde e secret rio geral do sindicato dos jornalistas sendo um dos principais articuladores do movimento Desde 1982 trabalha tamb m na assessoria de i
123. politicamente no final dos anos 60 e in cio dos 70 A gente diz que n s somos os filhos do Jo o Ant nio Pereira Leite O Jo o Ant nio Pereira Leite era professor de Direito na UFRGS Direito do Trabalho Nos anos negros Eu fui aluna do Leite em 69 E todos n s que fomos alunos dele e que hoje somos ju zes e somos v rios n s desenvolvemos uma forma de trabalho muito a partir das aulas dele Ele era um grande professor Um grande professor um grande jurista e um homem que compreendia com profundidade a Justi a do Trabalho e seus princ pios Ele era um homem progressista e que compreendia as raz es os fundamentos do Direito do Trabalho E nos ensinava Com Leite sem medo Tanto que a escola da magistratura da Justi a do Trabalho leva o nome dele Ent o sem medo o Leite era o l der de uma escola da escola ga cha do Direito do Trabalho na poca Um homem muito de vanguarda Bastante avan ado e que reuniu ao redor dele alunos depois companheiros de trabalho servidores colegas advogados Porque ele era um homem surpreendente Um homem muito avan ado para o seu tempo e n s viv amos um per odo de ditadura e ele era um homem muito arrojado Morreu muito cedo Ainda na vig ncia da lei 4 330 Pereira Leite escreveu um artigo publicado na Revista do TRT defendendo que a ilegalidade de uma greve um verdadeiro contra senso 8 Como presidente do TRT Leite era respons vel por comandar as reuni es de nego
124. primeiro leil o beneficiaria 45 funcion rios entre eles o poeta M rio Quintana que reivindicam o pagamento de d vidas trabalhistas da ordem de Cr 63 474 000 00 O segundo beneficiaria quatro empregados Cr 2 187 000 00 Os 237 leil es foram transferidos para 15 de outubro Outro leil o estava marcado para os pr ximos dias 12 funcion rios Cr 27 515 000 00 Novembro 23 Dire o da Caldas J nior oferece aos advogados dos funcion rios o pr dio da garagem da empresa Avenida Get lio Vargas 765 e terrenos vizinhos no Menino Deus como garantia do pagamento de sal rios e vantagens trabalhistas Dezembro 14 No tabelionato de Viam o Breno Caldas oficializa venda firma agropecu ria Incobrasa de terras em Viam o 26 fra es A venda teria sido feita em 30 de novembro mas s foi inscrita no Registro Imobili rio de Viam o no dia 14 de dezembro O valor da venda foi de Cr 25 bilh es Destes Cr 13 bilh es ficam retidos pela compradora para liquida o dos d bitos de Caldas com o Banco do Brasil Testemunhas Jo o Ant nio Velho Cirne Lima e Luiz Fernando Cirne Lima 16 Breno Caldas faz pronunciamento na R dio Gua ba e na TV Gua ba informando que o Correio do Povo voltaria a circular em dois meses pois estaria fazendo uma mobiliza o de recursos neste sentido vendi uma fazenda minha n o para levar os recursos para o estrangeiro esconder o dinheiro mas para reativar o Correio do Povo Es
125. provar o cumprimento da lei angariando as vantagens nela previstas n o significa que houve efetivamente uma obedi ncia completa dos trabalhadores e de seus representantes legais legisla o impositiva A lei foi entendida como arma de luta numa compreens o at certo ponto c nica do Direito visto n o como uma diretriz de conduta mas como um campo de estrat gias e possibilidades Perspectiva semelhante pode ser encontrada em outras paralisa es de trabalhadores como na greve dos metal rgicos de Porto Alegre ocorrida em 1952 51 VILLAS BOAS DOS SANTOS Op cit 22 HOHLFELDT A C Op cit BURMEISTER L Op cit 209 e analisada por Alexandre Fortes Naquela ocasi o para mobilizar a categoria e refor ar a confian a no sindicato desgastado por interven es as lideran as decidiram por decretar uma greve legal conforme a j estrita regulamenta o do ent o vigente Decreto n 9 070 A greve durou 32 dias sendo o m todo seguido posteriormente por outras categorias Tais experi ncias indicam que a busca do enquadramento legal pelos trabalhadores da Caldas J nior n o foi um acontecimento extempor neo condicionado por circunst ncias nicas mas refletiu em parte a cultura pol tica de um mundo do trabalho grandemente regulado por leis e institui es de controle e prote o muitas vezes ineficazes Neste universo cobrar o cumprimento da legisla o protecionista ou buscar o seu amparo faz parte das es
126. publicado em edi o extra do jornal alternativo Den ncia os nimos haviam se exaltado naquele dia depois de uma reuni o entre uma comiss o de trabalhadores e Breno Caldas Na ocasi o a resposta do empres rio reivindica o de regulariza o do pagamento dos sal rios e amea a iminente de greve teria sido N o vou pagar e n o sei quando terei condi es de faz lo O mesmo texto sustenta que na assembl ia do primeiro ao ltimo orador todos defenderam a greve unanimidade que n o tinha acontecido ainda nas dez assembl ias realizadas desde mar o na velha oficina da empresa Tal unanimidade nuan ada no depoimento do jornalista e professor universit rio Ant nio Hohlfeldt que trabalhava como rep rter de cultura e cr tico de teatro e cinema no Correio do Povo al m de ser poca vereador de Porto Alegre o primeiro eleito pelo Partido dos Trabalhadores PT Entrevistado em fevereiro de 2006 Hohlfeldt optou por come ar sua narrativa sobre a greve justamente pela noite desta assembl ia A nfase explicada pela posi o do depoente na ocasi o ele conta ter sido uma das duas pessoas a se manifestar contra a paralisa o Havia uma insatisfa o grande em rela o a atraso de sal rios a gente vivia de vales Isto era menos complicado para os jornalistas mas vinha afetando muito a rea de oficina principalmente os gr ficos De certa forma foram eles que puxaram o movimento da g
127. que eu recebo Eu acho que a gente teve um pice e f T 211 depois com as mudan as foi s descendo 28 SILVA A Op cit O pr prio Ant nio Adair por exemplo tinha sal rio de Cr 480 294 24 acrescido do adicional de insalubridade fora as quotas de sal rio fam lia conforme dados do processo instaurado por ele contra a Caldas J nior na 5 Junta do Trabalho processo 521 84 em 01 03 84 Dois outros processos localizados no ATRT4 d o a medida da diferen a em rela o a outros of cios gr ficos da mesma empresa o gr fico Ariovaldo Pereira Arthur admitido na Caldas J nior em 21 de dezembro de 1981 e demitido em 26 de abril de 1984 como montador tinha sal rio de Cr 265 641 00 processo 960 84 15 Junta O gr fico Altair Soares Prado of cio n o especificado no processo admitido em 5 de abril de 1983 tinha sal rio de Cr 136 404 00 processo 1806 a 1861 84 impetrado em 18 de setembro de 1984 O sal rio m nimo era de Cr 57 120 00 de novembro de 1983 at maio de 1984 e Cr 97 176 00 de maio a novembro de 1984 210 SILVA A Op cit 1 Como Ant nio Adair Jos Ant nio Guimar es de Fraga 52 anos aprendeu o of cio da linotipia na Escola Profissional P o dos Pobres em Porto Alegre De interno tornou se depois instrutor Come ou a trabalhar na Caldas J nior em 1976 Saiu no in cio dos anos 80 antes da greve Foi secret rio geral do sindicato no per odo 1991 1994 e presidente em duas gest es cons
128. que o conhecimento o sabor do passado Aos funcion rios e dirigentes do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul e do Sindicato dos Trabalhadores na Ind stria Gr fica de Porto Alegre por gentilmente permitirem a consulta ao acervo e aos documentos relativos ao per odo pesquisado Aos integrantes do Memorial da Justi a do Trabalho do TRT da 4 Regi o especialmente ju za Magda Biavaschi e historiadora Dinah Lemos por intermediarem o acesso ao arquivo do tribunal bem como pelas discuss es produtivas Aos funcion rios do N cleo de Pesquisa em Hist ria NPH pelo aux lio junto ao valioso material do Centro de Documenta o do Sindicalismo CDS A todos os colegas do mestrado pelas discuss es pelos caf s e pelas risadas A todos os colegas com quem convivi nestes 20 anos de trabalho como banc ria e como jornalista sentindo na pele o que a explora o e o que a solidariedade minha irm L cia que me ajudou com o ac rd o da greve minha cunhada Adriane que me ajudou com o abstract A meus pais por sempre incentivarem a curiosidade e talvez sem querer o inconformismo Ao Edu que fez mestrado junto trabalhando e sendo pai ainda achando tempo paci ncia e carinho para quando eu entrava em p nico Ao Pedro e ao Manuel por me tirarem de cima do computador para ler hist rias para eles dormirem lembrando me assim do que o mais importante da vida Obrigada RESUMO
129. ria da pessoa Isso ocorreu pela pr pria iniciativa do entrevistado ou pela amp AMADO Jana na e FERREIRA Marieta de Moraes Apresenta o In Idem orgs Usos e abusos da Hist ria Oral Rio de Janeiro FGV 1996 p XV amp PORTELLI Alessandro O que faz a hist ria oral diferente Projeto Hist ria S o Paulo n 14 p 31 fev 1997 Grifo do autor Sobre tipos de entrevista ver ALBERTI Verena Manual de Hist ria Oral Rio de Janeiro FGV 2005 especialmente as p ginas 37 a 39 38 percep o de que o relato das transforma es da vida da testemunha se revestia de import ncia para a an lise Os trechos dos depoimentos est o apresentados na disserta o em conjunto com as fontes escritas Tentei sempre estabelecer uma reflex o sobre os significados que poderiam emergir dos relatos sob inspira o de Portelli Neste sentido eventuais erros ou confus es cronol gicas e factuais foram encaradas como momentos expressivos ricos para desvendar os sentidos atribu dos s a es do passado pelos seus protagonistas Optei por manter a transcri o dos relatos o mais pr ximo poss vel ao discurso oral sem ignorar no entanto que nem sempre o literal o mais fiel Decidi contudo por n o adotar as t cnicas da transcria o ou da textualiza o sugeridas por alguns autores por julgar que h elementos extremamente importantes nas entrevistas que podem se perder a partir da interfer ncia mais intensa d
130. rito de luta Partindo de uma concep o que identifica Direito com Estado Boito v a Justi a do Trabalho como um rg o de controle e imposi o de limtes agindo no sentido de amortecer e mascarar os conflitos sociais No mesmo sentido Maria Herm nia Almeida em artigo de meados dos anos 70 definiu a Justi a do Trabalho como pe a fundamental no grande sistema de amortecimentos dos conflitos classistas montado pela Revolu o de 30 Exercendo uma arbitragem obrigat ria e concentrando em suas m os a capacidade de decis o dos conflitos entre empregadores e empregados ela permite o deslocamento de tais conflitos de seu locus natural a empresa canalizando a press o dos interesses em pugna para o interior do aparato estatal Interpreta es nessa linha se baseiam na leitura das rela es de trabalho brasileiras a partir de 1930 como dotadas de uma l gica inevitavelmente corporativista alicer ada num controle estrito do Estado sobre a estrutura sindical do pa s criado pelo primeiro governo Vargas e ainda vigente Tal modelo ofereceria como contraponto falta de liberdade associativa aut noma uma falsa prote o nunca cumprida na pr tica como express o da l gica corporativista por exemplo que Munakata compreende um dos princ pios basilares da Justi a do Trabalho o de que a lei n o deve ser igual para Ja a l 484 todos mas explicitamente favor vel aos mais fracos 481 CARDOSO Ad
131. ruptura tradicionalmente associada ao novo sindicalismo Como j abordado o recorte concentra se no acontecimento ocorrido entre 1983 e 1984 em Porto Alegre abrindo se ao contexto que o tornou poss vel o que requer seguidas vezes um recuo de d cadas no tempo e um alargamento da vis o para o panorama sindical nacional Uma de minhas principais preocupa es a de n o reduzir esta greve e seus protagonistas a meras cobaias para a solu o de problemas de pesquisa Da mesma forma n o tenho obviamente a pretens o de esgotar o tema do novo sindicalismo mas almejo contribuir para as discuss es hist ricas sobre o per odo revelando posi es rela es e a es percept veis neste acontecimento particular O trabalho se filia a uma perspectiva que busca articular trabalhos regionais ngulo esse capaz de elevar os patamares anal ticos da hist ria do trabalho como defendido por S lvia Petersen em rela o historiografia do movimento oper rio da Primeira Rep blica Tal articula o n o significa a busca de uma vis o homog nea mas o enriquecimento das explica es no sentido de descobrir v nculos m ltiplos e perdidos que possam enriquecer o perfil de atores e processos sociais j t o descaracterizados na mem ria historiogr fica Meu recorte deixa de fora um dos assuntos relativos greve mais discutidos na imprensa ga cha e para o qual seguidamente surgem novas tentativas de explica o as raz
132. sentido de aglutinar o pessoal Nisto a n o SILVA A A F da Op cit Outro exemplo o relato de Jo o Borges de Souza mais adiante Conforme GALVANI W Um s culo de p 451 a greve de 1983 1984 foi a primeira na empresa 27 Ver FORTES A N s do Quarto especialmente o cap tulo 5 114 pol tica social baseava se principalmente na concess o de vantagens pontuais como folgas viagens Um dos pontos destacados pelos empregados era a quest o salarial A empresa costumava adiantar sistematicamente metade da folha 15 dias antes do pagamento mensal o que na pr tica gerava vencimentos quinzenais Os diss dios conforme j assinalado eram acordados geralmente em ndices superiores aos oferecidos por outras empresas do ramo E em especial um emprego no Correio do Povo ou na Folha da Tarde transmitia a seu detentor uma sensa o de estabilidade e seguran a dada pela situa o est vel da empresa at os anos 80 e por sua proje o social Fora a certeza do cumprimento de cl usulas da legisla o trabalhista como horas extras e adicional de insalubridade fato incomum no ramo jornal stico ga cho Jo o Borges de Souza ex presidente do sindicato dos jornalistas 1974 1976 e editor de pol tica da Folha da Tarde nos anos 80 abordou a fama da Caldas J nior de boa empregadora junto categoria 8 Segundo Galvani n o poucos tinham as suas d vidas com a Casa perdoadas num gesto de
133. strias b sicas ou essenciais defesa nacional 4 DUARTE NETO B H op cit p 58 40 NASCIMENTO A op cit p 13 4l Ver nota 459 185 6 C pias autenticadas da notifica o ao empregador e da ata da assembl ia deveriam ser encaminhadas ao Delegado Regional do Trabalho que tentaria conciliar ambas as partes O n o cumprimento dos prazos e condi es estabelecidas nesta lei tornava a greve pass vel de ser considerada ilegal artigo 22 Pela letra da lei artigo 29 a simples participa o em uma greve ilegal j podia sujeitar o trabalhador individual a uma pena de reclus o de seis meses a um ano al m de multa Atos de viol ncia como agress o depreda o sabotagem invas o do estabelecimento insultos afixa o ou ostenta o de cartazes ofensivos s autoridades ou ao empregador Justificavam a demiss o por falta grave do trabalhador artigo 8 Outros excessos cometidos davam o direito ao patr o de punir o empregado com advert ncia suspens o ou demiss o artigo 27 Em contraponto os grevistas legais tinham garantias teoricamente nada desprez veis como aliciamento pac fico coleta de donativos e uso de cartazes de propaganda desde que n o ofensivos e estranhos s reivindica es da categoria profissional proibi o de despedida de empregado que tenha participado pacificamente de movimentos grevistas e proibi o ao empregador de admitir emp
134. sua capacidade de ungir governadores e prestar legitimidade a detentores de poder pol tico Entendida como naturaliza o dos interesses e da vis o de mundo de um grupo empresarial no caso tamb m um grupo familiar essa legitimidade n o poderia deixar de sofrer abalos com a publiciza o dos conflitos nas rela es de trabalho respons veis pela produ o dos jornais A greve revelou as contradi es ocultas no processo de credibilidade que hoje o maior patrim nio do jornal dos ga chos Correio do Povo Correio Especial Porto Alegre 2 de outubro de 2005 p 1 capa MCSHJC 136 QUINTANA deve ter alta at o fim do ano Folha de S o Paulo S o Paulo 28 de dezembro de 1983 sem indica o de p gina ASJPRGS 137 CALDAS J NIOR confirma den ncia no inqu rito Folha da Tarde 25 de janeiro de 1984 p 1 capa e Correio do Povo 25 de janeiro de 1984 p 1 capa A abertura do inqu rito havia sido anunciada tr s dias antes INQU RITO vai apurar atentados sofridos pela Caldas J nior Correio do Povo 22 de janeiro de 1984 p 1 capa MCSHJC O julgamento no TRT foi no dia 6 de fevereiro seguinte 64 cria o destas representa es expressando os interesses divergentes que regem o fazer jornal stico estabelecendo um contradit rio e desnaturalizando as not cias apresentadas Como o movimento durou quase dois meses e atingiu uma empresa que embora em crise material guardava a for a simb lica que
135. tamb m valores empunhados tradicionalmente pela classe patronal jornal stica Isto provoca situa es de coincid ncia de interesses ideol gicos entre patr es e empregados que favorecem o ocultamento das rela es antag nicas de produ o Por outro lado os anos 70 s o marcados entre os jornalistas brasileiros por um um processo paulatino de fortalecimento de uma vis o cr tica a respeito do regime a partir dos enfrentamentos com a censura dos ve culos e de epis dios como o caso Wladimir Herzog e sobre a gest o empresarial e o alinhamento pol tico dos patr es 318 Conforme Perseu Abramo os jornalistas vivem um duplo papel motivado pelas especifidades de seu of cio difus o de valores da burguesia e de sua extra o social classe m dia Este papel seria o de um trabalhador assalariado que vende sua for a de trabalho para a defesa dos interesses da burguesia e que passa a ser indiferente quando n o hostil aos interesses do proletariado dos trabalhadores assalariados ABRAMO Perseu O papel social do jornalista In Um Trabalhador da Not cia S o Paulo Funda o Perseu Abramo 1997 p 284 31 Obtida no ano de 1969 quando o governo militar editou o decreto 972 que criou a exig ncia de forma o em n vel superior nas faculdades de Jornalismo reconhecidas pelo Minist rio da Educa o e Cultura RIBEIRO Ana Paula Goulart Moderniza o e concentra o a imprensa carioca nos anos 1950 19
136. ticos graves hist rica no jornalismo ga cho e persiste at hoje em alguns jornais sendo motivada por baixos sal rios e a coniv ncia das empresas Segundo Weyne quando Breno Caldas escreveu o artigo Palmo e Meio arremetendo se contra o ent o governador Amaral de Souza no in cio de 1983 boa parte da reda o do Correio do Povo ficou extremamente temerosa de perder seus empregos p blicos devido repercuss o do texto Era uma reda o em p nico Literalmente uma reda o em p nico Mais da metade da reda o tinha cargo p blico WEYNE R Op cit 287 A esse respeito Galvani relata que Caldas era conhecido como o Bol o de Ouro um Rei Midas regional tudo o que ele tocava se transformava em ouro puro Segundo Galvani o empres rio recebia pedidos para comprar blocos simb licos de a es s para dar sorte GALVANI W Um s culo de p 436 288 CHALHOUB Sidney Trabalho lar e botequim o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da belle poque S o Paulo Brasiliense 1986 p 76 77 289 Idem ibidem p 80 O exame do paternalismo n o pode deixar de levar em conta a cr tica de Thompson a este conceito considerado por ele demasiado amplo um termo descritivo frouxo entre outras raz es porque tende a apresentar um modelo da ordem social visto de cima O alerta importante H um grande risco de tomarmos como real uma idealiza o da sociedade O mesmo 117
137. tulo 160 de promover a greve e indicam inclusive uma prepara o para ela a partir do estudo da legisla o e das estrat gias jur dicas que poderiam ser seguidas O boletim seguinte assembl ia de 5 de outubro informa que a reuni o n o alcan ou qu rum para votar a greve por m os sal rios foram colocados em dia Um novo encontro foi marcado com a proposta de se transformar em assembl ia permanente Nas semanas seguintes o conflito se acirrou com as manifesta es nas filas de vales motivando a demiss o de 14 pessoas a persist ncia dos atrasos e a proximidade do Natal tornando a pen ria mais dolorosa Na assembl ia de 12 de dezembro a greve foi aprovada numa oficina de chumbo lotada por funcion rios indignados As evid ncias s o claras em apontar uma postura mais ativa de integrantes do sindicato dos jornalistas j antes da greve Em abril logo ap s a posse da nova diretoria os atrasos foram discutidos em assembl ias no sindicato e desde o primeiro encontro com o empres rio Breno Caldas as reuni es contaram com a participa o de seus dirigentes havendo divulga o dos resultados pelos boletins da entidade Os of cios comunicando atrasos DRT e a den ncia posteriormente oferecida ao rg o em setembro foram assinados pelo presidente do sindicato dos jornalistas O fato de que v rios integrantes da nova diretoria eram funcion rios da Caldas J nior favoreceu sem d vida a situa o Afinal esses
138. vento para que se mantenham num equil brio seguro As fam lias mais unidas s o aquelas onde de quando em quando os filhos se revoltam aberta ou secretamente contra os pais e onde os irm os nem sempre est o de acordo uns com os outros Assim o Correio do Povo Quantos filhos pr digos t m tido o Correio que trabalham longos anos em sua reda o e algum dia insatisfeitos ou revoltados por alguma raz o demitem se e p em o p na estrada Mas o curioso observar como tem sido consider vel o n mero daqueles que voltaram casa paterna e que se n o tiveram uma festa de recep o ruidosa com churrasco de bezerro e um anel para seu dedo pelo menos reocuparam a sua mesa e continuaram a trabalhar como se nada tivesse havido Esse texto foi publicado em um suplemento especial do pr prio Correio do Povo por ocasi o dos 80 anos do jornal Verissimo j era na poca um nome respeitado da cultura nacional o que dava mais autoridade s suas impress es pessoais Nele a id ia de fam lia n o colocada numa perspectiva ing nua O autor n o desconhece atritos entre irm os ou acrescentamos irm os sem aspas no caso o conflito entre filhos de Caldas J nior pelo comando do jornal ap s a morte do pai Mas ressalta que a casa paterna estava sempre disposta a receber de volta os filhos pr digos construindo uma imagem das rela es de produ o de forma afetiva e personalizada A publica o do texto
139. vers o dos fatos n o impressa E n s que sempre batalhamos para que as lutas de toda so ciedade venham a p blico mesmo contra o ran o e a vontade dos patr es n o temos outro canal que n o este boletim que editamos com nossos pr prios recursos Por isso pedimos o apoio da popula o para a nossa luta N O COMPREM OS JORNAIS DA CALDAS J NIOR N O ANUN CIEM NOS CLASSIFICADOS PASSEM ADIANTE ESTE BOLETIM pois a nossa divulga o depende do apoio de todos voc s Voc s n o ler o em lugar algum que continuamos com os sal rios atrasados que con tinuamos sendo reprimidos pela Secretaria de Seguran a agredidos pela pol cia da Caldas Junior E n o ler o a triste situa o de 1 600 funcion rios de uma empresa que tentou apre goar uma certa independ ncia frente a regimes anti populares e que se vale dos mesmos para encobrir a sua incompet ncia administrativa z COLABORE COM OS TRABALHADORES NAO COMPRE CORREIO NEM FOLHA 243 PORTO ALEGRE 7 FEVEREIRO 1984 Comiss o de Mobiliza o Jornalistas Gr ficos Motoristas Depois do resultado no Tribunal Mario Quintana liderou a passeata da vit ria GANHAM A Justi a do Trabalho confirmou ontem o que n s funcion rios em greve da Caldas Junior entendia mos e sustent vamos ser um movimento legal Numa deci s o amplamente favor vel a todas as nossas reivindica es os ju zes integran tes do 19 Grupo de Turmas do TRT por unanimidade consid
140. visava informar aos trabalhadores sobre as medidas tomadas para agilizar as execu es das reclamat rias trabalhistas Um do itens relato da reuni o teve um longo trecho riscado m o Ao lado a anota o n o concordo com a inclus o desse trecho riscado assinada pelo ent o presidente da entidade Remi Baldasso O trecho riscado reproduzido a seguir em destaque Ap s seguiram se discuss es sobre os relatos dos advogados quando alguns presentes tentaram sem xito convencer os demais de que havia oportunismo pol tico e inten es n o declaradas de parte dos organizadores da reuni o e do deputado Orlando Burmann em cooperar no movimento Quest es alheias finalidade do encontro como a participa o dos promotores da reuni o na greve da empresa em 1983 foram levantadas visando questionar a legitimidade dessa comiss o provis ria Apesar do tumulto que tais quest es revanchistas provocaram o que fez muitas pessoas abandonarem o recinto confusas e decepcionadas a reuni o superou as expectativas em termos de n mero de presentes e do plano elaborado com vistas a agilizar as a es reclamat rias Segundo o documento a mesa da reuni o foi composta por representantes dos sindicatos dos jornalistas dos gr ficos e dos rodovi rios e da Associa o dos Cronistas Esportivos Ga chos pelo deputado Orlando Burmann PDT e pelo vereador Lauro Hagemann PMDB Minha hip tese que Baldasso pediu a n o inclus o do t
141. www modules php name Content amp pa showpage amp pid 8 gt Acesso em 16 07 06 298 LEITE Jo o Antonio G Pereira Direito coletivo do Trabalho Revista TRT4 Porto Alegre ano XX n 19 p 12 1986 BDir 197 favor vel aos trabalhadores Em entrevista a ju za Magda reconstr i a percep o de sua experi ncia no Judici rio da poca Os Tribunais Regionais do Trabalho e o TST na d cada de 80 eu n o fiz uma pesquisa mas eu tenho certeza disso na d cada de 80 foram altamente constituidores de direitos Em 90 come a o processo de desconstru o de direitos Ent o o poder normativo da Justi a do Trabalho teve uma atua o fundamental na cria o de novos direitos E a pr pria Justi a do Trabalho n o s o poder normativo mas tamb m as decis es em 80 ela foi muito inovadora E em 90 principalmente a partir de 94 95 come a o per odo de desconstru o dos direitos o TST come a na greve dos petroleiros enfim O TST come a a limitar a sua compreens o dos direitos At que ponto tal percep o pode ser apenas uma express o saudosista do passado Uma busca por algumas decis es tomadas poca pela Justi a do Trabalho confirmam o entendimento da magistrada A estabilidade da mulher gestante a garantia de emprego para o trabalhador acidentado o sal rio igual para o oper rio substituto sobretaxas superiores s estabelecidas por lei para as horas extras foram decis es tomadas em julgamento
142. 0 00 No total gastei hoje CR 3 173 00 em 17 de outubro de 1983 Finalmente pagaram o que restava do m s de setembro Mas com tanto vale que eu tirei acabei recebendo apenas 34 mil O que que eu poderia fazer com isso me pergunto Vou pagar apenas uma das contas de 8 mil do Carrefour em 8 de novembro 850 A transforma o foi conclu da em julho de 1983 quando o jornal passou a ser totalmente fotocomposto A ltima parte do jornal a sofrer a transforma o foram os classificados Ver AN NCIOS classificados Correio do Povo entram na era eletr nica Correio do Povo Porto Alegre 1 de julho de 1983 p 11 MCSHJC O cap tulo II dessa disserta o traz uma explica o mais aprofundada sobre os processos de linotipia e fotocomposi o al m da discuss o sobre a rela o entre o processo de trabalho e a mobiliza o 47 Ainda n o recebi o sal rio de outubro que deveria ter sido pago integralmente at o dia dez deste m s de novembro Na verdade estou sendo obrigado a retirar vales para poder comer Hoje de manh n o almocei porque n o consegui dinheiro Para comprar leite para o X um dos filhos consegui dinheiro emprestado com o Y dois mil Ontem j havia conseguido dois mil com o Z No final da tarde de hoje a Caldas J nior deu apenas Cr 15 mil de vale em 25 de novembro Na noite da assembl ia que decidiu pela greve estavam na oficina de chumbo gr ficos motoristas e jornalistas Conforme texto
143. 3 dia seguinte ao in cio do movimento NOVO calote do Breno Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 19 de janeiro de 1984 ASJPRGS 46 Conforme BIAV ASCHI M Op cit 181 O juiz escolhido por Pereira Leite para relator do caso foi Hilton Valdair da Silva classista representante dos empregados Lido no julgamento ocorrido em 6 de fevereiro de 1984 seu parecer rejeitou todas as tentativas dos advogados patronais de adiar ou anular o julgamento e acolheu totalmente a tese dos trabalhadores votando pela legalidade da greve com base na lei 4 330 Al m disso decidiu pelo pagamento dos sal rios atrasados em 10 dias a contar da publica o da senten a sob pena de multa de 50 dos d bitos readmiss o e garantia de emprego dos grevistas at que a d vida fosse saldada recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Servi o FGTS e n o puni o dos grevistas O voto foi seguido por unanimidade pelos outros ju zes do 1 Grupo de Turmas do TRT rg o que julgou o processo com exce o do prazo de 10 dias para o pagamento dos vencimentos atrasados sob pena de multa de 50 Votaram contra esta medida os ju zes Pl cido Lopes da Fonte e Ant nio Jos de Melo Widholzer classistas dos empregadores Com a decis o do TRT os grevistas satisfeitos acabaram com a greve que j durava 56 dias A maioria por m n o recebeu os sal rios atrasados depois de voltar a trabalhar Enquanto novas a es de
144. 70 In NEVES L cia Maria Bastos P MOREL Marco e FERREIRA T nia Maria Bessone da C orgs Hist ria e imprensa representa es culturais e pr ticas de poder Rio de Janeiro Faperj 2006 p 427 321 Alguns jornalistas claro n o concordam com este alinhamento Perseu Abramo por exemplo defende que o jornalista deve criticar as supostas objetividade e imparcialidade professadas pela grande imprensa que escondem escolhas ideol gicas ABRAMO P Op cit p 280 Cl udio Abramo segue na mesma linha Devo ter suprimido milhares de mat rias ao longo de trinta anos N o podia publicar porque era contra a linha do jornal Da n o existir liberdade de imprensa para o jornalista ela existe apenas para o dono Por isso n o posso aceitar quando jornalistas defendem a liberdade da imprensa como eu assinar uma declara o dizendo que para o resto da vida eu sou um canalha e o patr o um homem de bem ABRAMO C Op cit p 118 322 O assassinato do jornalista Wladimir Herzog preso e torturado em 1975 desencadeou uma s rie de protestos liderados pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de S o Paulo entre eles a primeira manifesta o p blica de grandes propor es contra o regime militar ap s 1968 ato que reuniu milhares de pessoas na Pra a da S em frente Igreja Matriz de S o Paulo Os protestos receberam apoio de sindicatos de jornalistas dos outros estados como o do Rio Grande do Sul e de centena
145. 946 Tribunais Regionais do Trabalho O Conselho Regional da 4 Regi o que inclu a no in cio os dois estados do extremo sul do pa s e em 1976 passou a abranger somente o Rio Grande do Sul foi institu do j em 1941 A Justi a do Trabalho foi criada como rg o do Poder Executivo tornando se integrante do Judici rio com a Carta de 1946 Segundo ngela de Castro Gomes a cria o da Justi a do Trabalho em 1934 teve um car ter pol mico e inovador pois se tratava de uma justi a encarregada de resolver conflitos n o s entre sujeitos individuais mas tamb m entre sujeitos coletivos Al m disso uma Justi a capaz de criar a lei n o apenas de aplic la por meio do chamado poder normativo pelo qual os ju zes ao julgar estabelecem Jurisprud ncias que podem guiar outros processos trabalhistas Dotada de invej vel estrutura burocr tica e material que nos dias de hoje abarca milhares de pr dios funcion rios e equipamentos a Justi a do Trabalho firmou se tamb m como rg o muito procurado pelos pr prios trabalhadores Em seu primeiro ano de funcionamento foram julgados no pa s cerca de 30 mil processos e destes 8 086 foram solucionados em 1 inst ncia nas Juntas de Concilia o e Julgamento Dez anos depois em 1951 as juntas dirimiram 78 049 reclamat rias em 1961 147 435 em 1971 347 389 e s v speras de completar 40 anos em 1980 as Juntas resolveram juridicamente 609 260 conflitos
146. BARA R Op cit Sueli Cust dio enxerga tr s orienta es no movimento ap s a sua oficializa o j na d cada de 90 a de matriz reformista visando a inser o de pr ticas jur dicas alternativas dentro do sistema a de matriz comunit ria com discuss es sobre democracia e cidadania tendo os movimentos sociais inclusos nas suas an lises e a de matriz marxista que pensou a a o 195 Vista como uma tend ncia esta perspectiva engajada do Poder Judici rio cujo maior exemplo o Direito Alternativo mas que tamb m abrange o surgimento de outras experi ncias como o Ju zes para a Democracia e o Minist rio P blico Democr tico parece ter tido amplo respaldo na rea da Justi a do Trabalho Ainda em 1978 no 1 Encontro Nacional dos Advogados Trabalhistas realizado em Porto Alegre foi aprovada uma carta defendendo o reconhecimento do direito de greve e a institui o da autonomia sindical Pelo lado dos ju zes as teses discutidas nos encontros da Associa o dos Magistrados do Trabalho do Rio Grande do Sul Amatra IV versavam sobre temas como democratiza o do Judici rio e desigualdade social A ju za Magda Biavaschi que teve papel importante nas decis es judiciais referentes greve na Caldas J nior conforme j vimos anteriormente foi uma das presidentes dessa entidade gest o 1988 1990 Na vis o destes magistrados o princ pio b sico do Direito do Trabalho sua a o tutelar sobre a parte mais
147. Caldas J nior em 1979 como estagi rio da Folha da Tarde quando ainda era estudante da Faculdade de Comunica o da PUCRS Logo em seguida foi contratado como profissional diagramador Em 1980 passou para o Correio do Povo Integrou a diretoria eleita em 1983 do sindicato dos jornalistas Em 1985 integrou a equipe que deu origem ao Di rio do Sul Paralelamente come ou a dar aulas na Faculdade de Biblioteconomia e Comunica o Fabico da UFRGS Demitido pouco depois do Di rio do Sul opta por dedicar se exclusivamente carreira docente Foi presidente da Associa o dos Docentes da UFRGS entre 2000 e 2002 A entrevista ocorreu na sala dos professores da Faculdade de Biblioteconomia e Comunica o da UFRGS WEYNE Rubens Constantino Volpe Depoimento 27 de mar o de 2006 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre dois cassetes sonoros 2 horas 22 CLAUDIO Gajko pelego Boletim Caldas J nior Urgente 2 Porto Alegre s d Grifo no original ASJPRGS 106 A mudan a tecnol gica tamb m trazia para os trabalhadores problemas referentes sobreviv ncia imediata e importante ressaltar que o processo n o foi acompanhado pelo sindicato da categoria fato admitido pelo pr prio presidente da entidade poca Euclydes Bento da Cruz A percep o que um trabalhador comum como Vargas que nunca exerceu nenhum cargo sindical tem da entidade sintom tica do distanciamento entre ela e seus representados Sindicato a
148. DRT atraso no pagamento dos sal rios da segunda quinzena do m s de abril na EJCJ e na TV Gua ba 12 Cronograma anunciado por Carlos Gastaud diretor da empresa no guich de pagamento O pagamento seria parcial por faixas salariais sem previs o de quita o dos sal rios da faixa mais alta Junho 13 Comiss o de trabalhadores se re ne com Francisco Ant nio Caldas diretor geral da Caldas J nior e filho de Breno Caldas Segundo texto da comiss o de mobiliza o o diretor da EJCJ reconhecia que reivindicar sal rios atrasados um direito de quem trabalha mas que dentro da minha casa mando eu Aqui ningu m vai fazer agita o Caldas informa que havia sido pago 30 do valor da folha de pagamentos de um total de Cr 123 milh es O restante n o tem perspectiva de pagamento 16 Sindicato dos jornalistas comunica DRT atraso no pagamento dos sal rios de maio na TV Gua ba 29 Funcion rios paralisam no hor rio de baixamento em protesto pelos atrasos Ocorre uma reuni o na oficina de chumbo Julho 1 Correio do Povo publica mat ria informando que o jornal passou a adotar o processo de fotocomposi o o que significava o fim da linotipia na empresa 2 Elei es no sindicato dos motoristas Eleita a chapa 3 Carga Pesada de oposi o tendo como lideran a Osvaldo Gomes Rodrigues 13 Sindicato dos jornalistas comunica DRT atraso no pagamento dos sal rios na EJCJ Ago
149. Ent o esta oficina que a gente fez as assembl ias estava sendo desmontada Tava fechando tava acabando A a gente fazia para tentar parar os gr ficos Porque era o nico local que o pessoal n o tinha n o fazia como na reda o Na reda o a gente fazia processos de paralisa es Ia crescendo A oficina n o parava A forma da gente fazer com que a oficina parasse era fazer assembl ias na oficina A ades o dos gr ficos propiciou a conquista dos grevistas de impedir a rodagem da Folha da Tarde no primeiro dia do movimento Mas tanto a ades o numerosa dos gr ficos quanto a suspens o da produ o do jornal n o se repetiu nos outros dias Em parte por que os trabalhadores foram voltando temendo serem demitidos em parte porque a implanta o dos novos sistemas tecnol gicos diminu a a fragilidade da Caldas J nior diante dos outrora poderosos oper rios A desespecializa o favoreceu os patr es Afinal a quest o n o era mais substituir linotipistas especializados mas simples digitadores N o poss vel desprezar tamb m a influ ncia das rela es paternalistas sobre os empregados e impedindo uma maior ades o greve Se a busca de alternativas diante da crise parecia ser puramente pessoal sem uma efetiva media o do sindicato ou de qualquer outra organiza o aut noma dos trabalhadores haveria seguran a em arriscar uma sa da coletiva A greve poderia garantir um emprego j amea ado anteriormente pela muda
150. Esta procura n o diminuiu com a redemocratiza o nem com a emerg ncia do novo sindicalismo Pelo contr rio Segundo Adalberto Moreira Cardoso entre 1974 e 478 Sobre a constitui o da Justi a do Trabalho ver entre outros MUNAKATA Kazumi A legisla o trabalhista no Brasil S o Paulo Brasiliense 1984 GOMES ngela de Castro Cidadania e direitos do trabalho Rio de Janeiro Jorge Zahar 2002 JUSTI A do trabalho completa 40 anos de Brasil Zero Hora Porto Alegre 02 05 81 p 20 CDS NPH pasta Justi a do Trabalho 4 GOMES A Op cit p 32 480 JUSTI A do trabalho Op cit 192 1987 houve um crescimento vertiginoso no n mero de processos na Justi a do Trabalho com um acr scimo de 36 293 novas unidades em m dia por ano E nos anos seguintes 1988 a 1997 ocorreu uma explos o nas demandas com cada ano recebendo 112 489 processos a mais do que o ano anterior Apesar desta inser o profunda da Justi a do Trabalho no horizonte estrat gico do trabalhador brasileiro ou talvez por isso alguns cientistas sociais tenderam seguidamente a interpretar o seu papel como de mero instrumento estatal de controle do operariado Um exemplo Boito J nior para quem assim como a unicidade e os 66 impostos sindicais contrabalan am a incapacidade de organiza o dos 39 66 trabalhadores a tutela da Justi a do Trabalho sobre a a o reivindicativa existe para compensar a sua falta de esp
151. Nacional Pr CUT tudo o mais sendo aprovado em bloco Pelos cargos nessa comiss o engalfinharam se os dirigentes dos variados grupos pol ticos Quando se resolveu esta quest o mais da metade dos delegados que at ent o lotavam o plen rio retirou se deixando uma minoria a debater as formas de luta para obter as reivindica es que mal inntida 360 foram discutidas O Rio Grande do Sul participou da I Conclat com a segunda maior delega o de entidades 123 perdendo apenas para S o Paulo 213 Destas 65 eram sindicatos urbanos o que evidencia um alto grau de penetra o do sindicalismo de oposi o ao regime no estado Enquanto no encontro havia enviados de 80 sindicatos urbanos 3 Rodrigues ainda inclui neste panorama o que chama de extrema esquerda nome pelo qual designa militantes de pequenos partidos de ideologia leninista como as tend ncias extremas n o organizadas partidariamente quase pr ximas de um sindicalismo revolucion rio RODRIGUES L M As tend ncias p 30 0 MORAIS Ricardo Saiu o trem oper rio Coojornal Porto Alegre n 67 setembro de 1981 p 12 BFabico 148 ga chos a representa o de Minas Gerais era composta por apenas 51 entidades e a do Rio de Janeiro por 48 Em rela o ao n mero de delegados enviados por m o Rio Grande do Sul ocupava a quarta coloca o entre os estados atr s de S o Paulo Rio de Janeiro e Minas Gerais com 384 representantes Sei
152. Negra legisla o inglesa do s culo XVIII que imp s a pena de morte a mais de 50 crimes na regi o da floresta real de Windsor A an lise dos acontecimentos relacionados vig ncia desta lei espec fica leva o historiador a pensar a norma legal n o s como express o de interesses da classe 467 CUT 20 anos 48 THOMPSON E P Modos de domina o e revolu es na Inglaterra In s peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas Unicamp 2001 p 211 188 dominante mas tamb m como ideologia e como l gica dotada de uma autonomia limitada dada por sua pr pria ret rica de justi a Para Fortes Thompson distingue tr s aspectos diferenciados na lei a institui o aqueles que a exercem a ideologia e o c digo com l gica e procedimentos pr prios a lei enquanto E e Como salienta Thompson as rela es de classe s o expressas na forma da lei sendo esta dotada de caracter sticas hist ria e l gicas pr prias inerente ao car ter espec fico da lei como corpo de regras e procedimentos que aplique crit rios l gicos referidos a padr es de universalidade e igualdade Assim se o que legitima a explora o econ mica em sua forma legal a no o de justi a torna se necess rio que em algum momento esta id ia se torne cr vel para dominantes e dominados Desta forma A condi o pr via essencial para a efic cia da lei em sua fun o ideol gica a de que mostre uma ind
153. OE Aa 43 Figura 2 O ministro Jo o Leit o de Abreu chefe da Casa Civil da Previd ncia goveno M dici visita o Correio do Povo sendo recebido por Breno Caldas Correio do Povo Porto Alegre 26 09 73 p 30 MCSHJC 131 Figura 3 Governador Amaral de Souza visita o Correio do Povo prestando homenagem ao 85 anos do jornal sendo recebido por Breno Caldas Correio do Povo Porto Alegre 1 10 80 p LAMESBITO cuaesemipasass ora reviramaro dates inaada e 131 Figura 4 Breno Caldas recebe os cumprimentos de representantes do V Comando A reo Nacional Correio do Povo Porto Alegre 04 10 80 p 28 MCSHJC 132 Figura 5 Tr s dias depois de tomar posse como governador Jair Soares vai at a Caldas J nior para cumprimentar Breno Caldas A foto publicada com destaque na capa do Correio do Povo no dia seguinte Correio do Povo Porto Alegre 19 03 83 P MESH C e O TU SU Ta 132 Figura 6 Caricatura de Breno Caldas agarrado a sacos de dinheiro publicada em boletim dos grevistas Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior 28283A ASJIPRG S res ios atos is Dado uau scan a d o saga aa ada 141 12 Figura 7 O poeta Mario Quintana com o jornal editado pelos grevistas cuja capa traz a manchete E agora doutor Breno Foto de Itamar Garcez Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior 05 01 84 ASJPRGS 142 Figura 8 Vende a Caldas DR Bren
154. PS Do alto das sacadas do edif cio gerentes e diretores observavam a conturbada sa da dos caminh es que levavam jornais para as bancas de todo o estado e a movimenta o nervosa dos brigadianos Folhetos editados pelos grevistas relatam empurr es intimida es e espancamento de trabalhadores Nas semanas seguintes os soldados da BM voltariam s cal adas da Caldas J nior e interditariam in meras vezes a Rua da Praia e a Sete de Setembro Segundo um jornal editado pelos grevistas nos fins de tarde soldados da BM avan am at o meio da Rua Caldas J nior em fila dupla para garantir o acesso dos fura greve O cerco da Brigada era constantemente confrontado com piquetes de trabalhadores munidos de faixas e cartazes aos gritos de Breno sacana devolve a nossa grana palavra de ordem endere ada ao diretor presidente da empresa Breno Caldas Passeatas pelo centro de Porto Alegre com a participa o de jornalistas c lebres que aderiram greve como o cr tico de cinema P F Gastal e o poeta Mario Quintana contribu fam para dar visibilidade grave crise econ mica na qual estava imersa a Empresa Jornal stica Caldas J nior Greves n o eram novidade no in cio dos anos 80 Pelo contr rio Os movimentos de protesto dos trabalhadores brasileiros que haviam ressurgido na cena p blica no final dos 70 com as paralisa es metal rgicas da regi o do ABC paulista pareciam em plena consolida o no ano de 1983 Em jul
155. Perseu Abramo Revista Meio amp Mensagem S o Paulo 1984 BFabico Revista O Sul Porto Alegre 1984 e 1985 APCE Revista Veja S o Paulo junho de 1984 APCE Zero Hora Porto Alegre 1984 MCSHJC 3 Entrevistas ALMEIDA Maria Nazar Magalh es de Depoimento 25 de janeiro de 2006 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre dois cassetes sonoros uma hora e 30 minutos Na poca da greve jornalista da Central do Interior do Correio do Povo demitida antes da greve Na poca da entrevista diretora do sindicato dos jornalistas BIAVASCHI Magda Depoimento 8 de junho de 2005 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro uma hora Na poca da greve ju za da 5 Junta de Concilia o e Julgamento do TRT Na poca da entrevista ju za aposentada BURMEISTER Luis Lopes Depoimento 27 de abril de 2005 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro uma hora Na poca da greve advogado dos sindicatos dos jornalistas e dos motoristas Na poca da entrevista advogado trabalhista CRUZ Euclydes Bento da Depoimento 2 de outubro de 2004 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre dois cassetes sonoros uma hora e 30 minutos 221 Na poca da greve presidente do sindicato dos gr ficos Na poca da entrevista gr fico aposentado FRAGA Jos Ant nio Guimar es de e SILVA Solis Souza da Depoimento 5 de setembro de 2005 Ent
156. RAN A posta fora Den ncia Porto Alegre dezembro de 1983 n 27 p 5 APCE 112 GALVANI W Um s culo p 26 66 67 13 Em entrevista ao jornal Di rio do Sul em setembro de 1987 indagado sobre a contradi o de sempre ter se declarado avesso pol tica por m ter convivido com ela a vida inteira Breno Caldas declarou Inclusive fui conspirador o jornal esteve envolvido tamb m Mas o que que eu vou fazer Nunca me meti em pol tica nunca me filiei a qualquer partido que fosse Eu era torcedor do Partido Libertador O partido com o qual a gente afinava Gaspar Silveira Martins Papai trabalhou na Reforma foi editorialista no jornal do Gaspar Silveira Martins depois que passou para o Jornal do Com rcio que era do sogro dele Aquiles Porto Alegre e em 1895 fundou o Correio do Povo In BRENO Caldas rompe o sil ncio e explica o fim do Correio Di rio do Sul Porto Alegre 26 e 27 de setembro de 1987 p 15 APCE Breno Caldas morreu dois anos depois em 1989 114 R DIGER F Op cit p 85 86 Sobre o epis dio ver tamb m GALVANI W Um s culo de p 333 334 58 conservadorismo tais epis dios de oposi o angariaram prest gio e ajudaram a alicer ar a fama de independ ncia do Correio do Povo e da Folha da Tarde Fundada em 1936 a Folha da Tarde teve uma trajet ria ascendente favorecida principalmente pela II Guerra Mundial quando sua publica o ent o vespertina possibilitava o acesso do p
157. S novos ju zes Correio do Povo Porto Alegre 24 de mar o de 1982 p 11 CDS NPH pasta Justi a do Trabalho 4 A decis o do TST processo 3 716 84 foi publicada no Di rio Oficial da Uni o de 23 de mar o de 1984 C pia da decis o foi anexada ao processo 521 84 ajuizado em 1 de mar o de 1984 na 5 Junta da Justi a do Trabalho pelo linotipista Ant nio Adair Ferreira da Silva contra a Caldas J nior ATRTA4 182 decis o de legalidade da paralisa o e pagamento dos atrasados e dos dias parados excluindo por m a multa de 50 e a obrigatoriedade dos dep sitos do FGTS e da Previd ncia Social No seu relat rio o ministro Marcelo Pimentel fez uma censura multa institu da pela primeira senten a afirmando que o TRT exorbitou de sua compet ncia normativa chegando arbitrariedade As posi es divergentes evidenciam uma disputa em um mesmo territ rio a lei Uma disputa que op e n o apenas patr o e empregados como tamb m inst ncias diferentes do Judici rio trabalhista da poca como mostra a senten a do TST Para compreender melhor o que estava em jogo no processo jur dico importante portanto examinar com um pouco mais de cuidado a legisla o que embasou toda a discuss o sobre esta greve Basicamente os trabalhadores e seus representantes legais a empresa e as diversas inst ncias da Justi a do Trabalho discutiam o enquadramento da paralisa o na lei 4 330 chamada por sindical
158. SILVA S Op cit 111 ponderados pelos trabalhadores na hora de se posicionar Tal reflex o levou em conta tamb m a instabilidade da posi o dos gr ficos naquele momento consequ ncia direta da transforma o t cnica Esta instabilidade acentuou para alguns o aspecto pessoal destas escolhas em detrimento do posicionamento coletivo Um dos fatores que levou a isto pode ter sido a falta de uma media o sindical e organizada da mudan a tecnol gica ao contr rio do que houve por exemplo nos jornais londrinos estudados por Cockburn Portanto pode se falar aqui num processo de desconstru o de classe atingida em seu saber em seu valor subjetivo em seu mercado de trabalho em sua pr pria identidade de of cio As evid ncias tamb m indicam que o enfraquecimento do orgulho gr fico provocado pela transforma o tecnol gica contribuiu paradoxalmente para sua uni o com os jornalistas tradicionalmente vistos como oponentes Tal uni o circunstancial n o foi capaz por m de garantir um elo duradouro e massivo entre os trabalhadores e de parar efetivamente a produ o dos jornais a esta altura tamb m mais protegidos da amea a oper ria pela efetiva implanta o da fotocomposi o Os gr ficos consentiram entrar na carona do movimento valorizados pelo reconhecimento de sua import ncia estrat gica na empresa sua participa o na greve foi no entanto como o pr prio l der de classe admitiu uma
159. Temos aqui um comportamento reverente por certo mas de uma rever ncia que tem a no o clara do poder do outro Quintana retribui o gracejo de Caldas colocando o gentil e poeticamente em seu lugar o de patr o Al m disso ao lembrar e recontar esta hist ria sobrinha ele volta a afirmar a como compreendia a sua posi o na empresa a de um trabalhador e por isso subordinado hierarquia das rela es de produ o A inten o de Caldas oposta Ao impor ao poeta um t tulo divino anjo o empres rio buscava mascarar as rela es de subordina o e de explora o Nem sempre o trabalhador que tem no o da rela o de explora o na qual est inserido se revolta contra ela frontalmente Pode optar ao contr rio por tirar proveito da situa o garantir espa os de resist ncia e suportabilidade manipular e obter vantagens econ micas ou emocionais caso perceba nesse comportamento uma gama maior de benef cios para si Um patr o poderoso capaz de fazer os governadores curvarem se pode ser um aliado estrat gico que garanta o bem estar conceda privil gios e especialmente regule o exerc cio do poder direto sobre o trabalhador aquele exercido pelas chefias intermedi rias 307 OLIVEIRA E Q Idem 208 Idem ibidem 125 Quando se quer demonstrar o car ter de bom patr o de Breno Caldas h um tipo de hist ria muito comum entre os jornalistas do antigo Correio As narrativas
160. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE FILOSOFIA E CI NCIAS HUMANAS PROGRAMA DE P S GRADUA O EM HIST RIA MESTRADO EM HIST RIA CLARICE GONTARSKI ESPERAN A A greve da oficina de chumbo O movimento de resist ncia dos trabalhadores da Empresa Jornal stica Caldas J nior Porto Alegre 1983 1984 PORTO ALEGRE 2007 CLARICE GONTARSKI ESPERAN A A greve da oficina de chumbo O movimento de resist ncia dos trabalhadores da Empresa Jornal stica Caldas J nior Porto Alegre 1983 1984 Disserta o de mestrado apresentada ao Programa de P s Gradua o em Hist ria do Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como parte dos requisitos para a obten o do t tulo de Mestre em Hist ria Linha de pesquisa Rela es sociais de domina o e resist ncia ORIENTADOR PROF DR BENITO BISSO SCHMIDT PORTO ALEGRE 2007 CLARICE GONTARSKI ESPERAN A A greve da oficina de chumbo O movimento de resist ncia dos trabalhadores da Empresa Jornal stica Caldas J nior Porto Alegre 1983 1984 Esta disserta o foi julgada adequada para a obten o do t tulo de Mestre em Hist ria e aprovada pelo Orientador e pela Banca Examinadora Orientador Prof Dr Benito Bisso Schmidt UFRGS Dr Unicamp Campinas SP Brasil Banca Examinadora Prof Dr Antonio David Cattani UFRGS Dr Universit Paris I Fran a Prof Dr Marcelo Badar Matt
161. XIX e in cio do XX foi analisada por Artur Jos Vitorino que abordou a mudan a da composi o manual para a linotipia no Rio de Janeiro e em S o Paulo Nos anos 1970 e 1980 por sua vez a ado o progressiva de novas tecnologias atingiu novamente em cheio essa categoria Nas palavras de Cynthia 33 MICELI S rgio A for a do sentido In BOURDIEU Pierre A economia das trocas simb licas S o Paulo Perspectiva 1992 p XIII Idem ibidem p XVI 3 Marglin chega ao ponto de afirmar que n o foi a f brica a vapor que nos deu o capitalismo foi o capitalismo que produziu a f brica a vapor defendendo a determina o da tecnologia pela organiza o econ mica e social MARGLIN Stephen A Origens e fun es do parcelamento das tarefas Para qu servem os patr es In GORZ Andr org Cr tica da divis o do trabalho S o Paulo Martins Fontes 1980 p 37 77 Sobre a mudan a na organiza o do trabalho como forma de controle do trabalhador no Brasil ver estudo sobre a ado o do taylorismo em DECCA Edgar S de A ci ncia da produ o f brica despolitizada Revista Brasileira de Hist ria ANPUH S o Paulo v 3 n 6 p 47 79 setembro de 1983 36 MARX Karl O Capital S o Paulo Nova Cultural 1988 Tomo I cap tulo XIII p 50 VITORINO Artur Jos Renda M quinas e Oper rios mudan a t cnica e sindicalismo gr fico S o Paulo e Rio de Janeiro 1858 1912 S o Paulo Annablume Fapesp 2000
162. a o O discurso da dignidade apoiado na crise econ mica e na amea a crescente da informatiza o e do desemprego abria flancos nas rela es de domina o O ambiente dava coragem para a luta E nesta conflu ncia entre determina es e a es entre estruturas e sujeitos construiu se o momento hist rico Esta disserta o se encerra num momento em que o cone deste importante per odo do movimento sindical brasileiro Luiz In cio Lula da Silva agora j com o apelido incorporado ao nome inicia seu segundo mandato como presidente da Rep blica O s mbolo da resist ncia dos trabalhadores ditadura e ao arb trio patronal consolidou se no poder Ao mesmo tempo por m o pa s assistiu recentemente ao drama dos empregados de um dos basti es do paternalismo brasileiro a Varig Imbu dos da cren a de que o trabalho ordeiro e sem greves poderia salvar a empresa esses trabalhadores suportaram anos de atrasos salariais e de abusos patronais Sacrif cio ao fim do qual foram demitidos e privados de seus direitos trabalhistas sob complac ncia governamental Num momento em que o discurso da flexibiliza o parece eclipsar por completo o da dignidade parece adequado como j observaram v rios autores pensar no novo sindicalismo n o como um tempo de her is e novidades mas como um movimento hist rico humano e amb guo e cujos frutos sentimos at hoje 218 Fontes e bibliografia Fontes 1 Documentos jur dicos sin
163. a a experi ncia dos banc rios de Porto Alegre RS Disserta o mestrado em Ci ncia Pol tica Unicamp Campinas 1999 SIROT St phane La gr ve en France Une histoire sociale XIX XX si cle Paris Odile Jacob 2002 SOARES Marcos Fl vio As greves de 1979 no RS Porto Alegre IESPE PUCRS 19809 SOUZA Marcelo Papaleo de Efeitos da fal ncia na execu o trabalhista S o Paulo LTR 2004 TAVARES DE ALMEIDA Maria Herm nia Crise econ mica e interesses organizados O sindicalismo no Brasil dos anos 80 S o Paulo Edusp 1996 O sindicalismo brasileiro entre a conserva o e a mudan a In SORJ B et al Sociedade e Pol tica no Brasil p s 64 S o Paulo Brasiliense 1984 p 191 214 THOMPSON E P Costumes em Comum S o Paulo Companhia das Letras 1998 A forma o da classe oper ria inglesa 3 vol Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 As peculiaridades dos ingleses e outros artigos Campinas Unicamp 2001 Senhores e ca adores a origem da lei negra Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 Tradicion revuelta y conciencia de clase Barcelona Grijalbo 1984 WAINBERG Jacques Imp rio das palavras Porto Alegre EdiPUCRS 1997 WOOD Ellen M Democracia contra capitalismo S o Paulo Boitempo 2003 VITORINO Artur Jos Renda M quinas e oper rios mudan a t cnica e sindicalismo gr fico S o Paulo e Rio de Janeiro 1858 1912 S o Paulo Annablume 2000 Os sonhos dos tip grafos n
164. a essencialmente a quest es administrativas e assistencialistas O fato inclusive desta dire o n o ter se preocupado em mobilizar ou discutir com a categoria e com o patronato as profundas mudan as t cnicas que afetavam o setor um forte ind cio de seu imobilismo e seu distanciamento em rela o aos problemas materiais da base Esta alian a de c pulas t o diversas foi constru da a partir da iniciativa dos sindicalistas jornalistas interessados em parar a produ o da empresa atingindo seus setores chave e dos pr prios trabalhadores comuns cuja solidariedade intra categorias havia sido constru da nas filas de vales e nas assembl ias conjuntas Paradoxalmente um l der conservador como o presidente do sindicato gr fico representava para os novos sindicalistas tamb m o acesso a uma imagem de 215 respeitabilidade necess ria ao movimento A atua o dos militantes do sindicato dos rodovi rios por sua vez fermentou a mobiliza o devido sua experi ncia na organiza o da massa de trabalhadores em momentos de confronto com o patronato e s posturas aguerridas Tais caracter sticas moldaram a es dos grevistas como os piquetes nas portas do garaj o e em volta do pr dio da Caldas J nior Piquetes que mostram a perman ncia entre os novos sindicalistas de formas de mobiliza o geralmente associadas ao sindicalismo populista A legitimidade dada por esta uni o e pela motiva o imediat
165. a o caso fica entregue Justi a do Trabalho e a esta caber decidir Castro Gomes do Centro de Pesquisa e Documenta o de Hist ria Contempor nea do Brasil da Funda o Get lio Vargas CPDOC FGV 484 ESCLARECIMENTO ao p blico Correio do Povo Porto Alegre p 1 21 de dezembro de 1983 Grifos meus ASJPRGS 178 Amplamente publicizada a pr pria atitude patronal buscava um amparo legal por m numa interpreta o oposta da lei em rela o quela feita pelos grevistas como veremos a seguir Na noite do mesmo 21 de dezembro de 1983 os advogados do sindicato dos gr ficos Luiz Heron Ara jo e dos sindicatos dos jornalistas e dos motoristas Lu s Burmeister foram assembl ia dos grevistas Uma declara o de Heron publicada em um boletim de greve dava conta que o processo fundamentava se na legalidade da paralisa o s iniciada depois de esgotadas todas as possibilidades de negocia o e de cumpridos todos os prazos previstos em lep Na primeira audi ncia na Justi a do Trabalho ocorrida no dia 23 o presidente do TRT na poca juiz Jo o Ant nio Pereira Leite apresentou uma proposta de concilia o aos representantes dos trabalhadores e da empresa A proposta que inclu a a volta ao trabalho foi aceita pelos grevistas mas recusada pela Caldas J nior em 438 audi ncia no tribunal no dia seguinte v spera de Natal Nova reuni o ficou marcada para janeiro Antes disso por m
166. a C lia Pinheiro Machado Labor Law and the State in Brazil 1930 1950 Tese Doutorado em Hist ria Birbeck College University of London 1988 apud FRENCH J Op cit p 10 204 Neste sentido um folheto distribu do entre os trabalhadores ainda em outubro de 1983 numa assembl ia que tinha como pauta a discuss o da possibilidade de greve decis o s tomada dois meses depois ratifica a nfase na aten o s min cias da lei acenando com as vantagens de seu cumprimento Nessa assembl ia exigida a presen a de no m nimo 1 3 dos funcion rios O Minist rio do Trabalho e Delegacia Regional do Trabalho devem ser notificados e exigida a presen a de um representante do Minist rio do Trabalho A vota o ser em c dula secreta e a decis o ser comunicada dire o da empresa se de greve ou n o que ter um prazo de cinco dias para apresentar solu es a greve poder ser deflagrada somente depois de setenta e duas horas ou seja mais tr s dias o que soma oito dias de prazo para que a dire o da empresa se pronuncie Cumpridas todas as exig ncias legais deflagrada a greve legal Os grevistas t m os seguintes direitos N o poder haver preju zo dos sal rios a empresa n o pode despedir o empregado por ter participado na greve e proibido empresa contratar novos empregados para assumir o cargo dos grevistas A prote o legal acenada aqui como um incentivo participa o dos
167. a Estadual do PMDB 27 A 5 Junta de Concilia o e Julgamento da Justi a do Trabalho determina que todo o produto das vendas avulsas do Correio do Povo e da Folha da Tarde bem como das assinaturas e renova es seja recolhido Justi a do Trabalho Diariamente um oficial de Justi a deve comparecer empresa para recolher os valores resultantes dos an ncios feitos no balc o da Caldas J nior Em despacho o juiz Pereira Leite presidente do TRT atende a um pedido dos sindicatos de jornalistas de gr ficos e de motoristas com base na lei 4 330 e oficia a Secretaria da Seguran a P blica determinando que seja assegurado aos grevistas o direito de aliciamento pac fico de colegas e de manifesta es ordeiras Al m disso intima a empresa que se abstenha de demitir empregados em greve 28 Not cias sobre as decis es jur dicas s o publicadas nos jornais Folha de S Paulo O Globo O Estado de S o Paulo e Zero Hora 29 Cassada parte da liminar concedida pela 5 Junta no que se refere ao recolhimento do produto di rio da venda dos pequenos an ncios da Caldas J nior Piquete nativista show no Audit rio Ara jo Vianna em apoio greve 1984 Janeiro 2 Boletim de greve anuncia distribui o de CR 750 mil entre os grevistas e mais um rancho para cada fam lia Novos atritos entre a Brigada Militar e os piquetes de grevistas 4 O poeta Mario Quintana recebe alta do Hospital S o Lucas e reafirma s
168. a Social da Unicamp Em outubro de 2006 foi firmado um conv nio entre o N cleo de Documenta o Hist rica da Universidade Federal de Pelotas UFpel e o TRT 4 cedendo universidade mais de cem mil processos trabalhistas do per odo entre 1941 e 1991 No m s seguinte foi promovido o 1 Encontro sobre a Mem ria da Justi a do Trabalho com a participa o dos professores Fernando Teixeira da Silva do Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas da Unicamp e ngela de 177 Nove dias depois de iniciada a greve da Caldas J nior os advogados dos tr s sindicatos de trabalhadores envolvidos no movimento encaminharam um processo de diss dio coletivo ao TRT da 4 Regi o com sede em Porto Alegre Eram quatro as reivindica es pagamento dos sal rios atrasados recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Servi o FGTS recolhimento Previd ncia Social das parcelas descontadas dos funcion rios e aus ncia de puni es aos trabalhadores parados O processo jur dico era instaurado depois do fracasso das tentativas de negocia o via Delegacia Regional do Trabalho DRT e da publica o na capa do Correio do Povo e da Folha da Tarde de uma longa nota da Caldas J nior anunciando a demiss o por justa causa de todos os grevistas qualificados como participantes de uma manifesta o de indisciplina H mais de uma semana um grupo de empregados deliberou paralisar suas atividades na empresa N o satisfei
169. a corte imperial brasileira In BATALHA Cl udio H M SILVA Fernando Teixeira da e FORTES Alexandre orgs Culturas de classe identidade e diversidade na forma o do operariado Campinas Unicamp 2004 p 167 203 ZANGRANDO Carlos Henrique da Silva A greve no Direito Brasileiro Rio de Janeiro Forense 1994 231 Anexo Cronologia de acontecimentos relacionados ao movimento dos trabalhadores da Caldas J nior fevereiro 1983 a maio 1986 1983 Fevereiro 6 Publica o do artigo Palmo e Meio assinado pelo empres rio Breno Caldas no Correio do Povo com refer ncias estatura f sica e pol tica do ent o governador Amaral de Souza 11 Apedido opini o p blica do Banrisul publicado na capa do jornal Zero Hora relatando execu o de d vida de Cr 3 2 bilh es da Caldas J nior com o banco e qualificando como retalia o o artigo de Breno Caldas e reportagens da Folha da Tarde e do Correio do Povo que trazem den ncias de irregularidades administrativas do governo Amaral de Souza 12 Publica o da nota opini o p blica assinada por Breno Caldas no Correio do Povo e na Folha da Tarde na qual o empres rio afirma estar sendo usado como bode expiat rio da crise do estado Mar o Come am os atrasos salariais na Empresa Jornal stica Caldas J nior EJCJ 15 Assume Jair Soares primeiro governador eleito depois do golpe militar de 1964 18 Caldas J ni
170. a de uma passeata pelo centro da cidade A manifesta o das categorias que est o com os sal rios atrasados h do is meses e n o recebem o 132 teve como caracter sticas o bate panelas e a con fraterniza o de Natal sendo esta ltima um procedimento que se repetia a cada ano nas reda es dos jornais Correio do Po vo e Folha da Tarde REPRESS O At para confraternizarmos foi necess rio muito esfor o da comiss o de mobiliza o junto Secretaria de Seguran a P blica e Brigada Militar no sentido de e vitar a repress o policial A dire o da Caldas J nior estava at mandando na for a policial ditando ordens para que fi zesse isso ou aquilo a fim de reprimir a manifesta o dos funcion rios Nossa manifesta o chamou a aten o da popula ao e muita gente parou na rua para ouvir a voz firme dos funcion rios dizen do Paga Sal rio um direito tem que dar um jeito Outubro novembro e o 139 Tamb m chamou a aten ao dos colegas que insistem em trabalhar na Empresa sem receber em dia talvez o sal rio n o lhes fa a falta Eles vieram para as sacadas e janelas do pr dio da Caldas Junior ou vir aqueles que n o vaci lavam em gritar Se nao tem sal rio trabalho tambem nao A popula o que est ao lado dos fun cionarios paralisados presenciava a mani festa o com vivo interesse Algumas pes soas at buzinavam seus carros e acenavam com as maos demonst
171. a discuss o te rica aprofundada questionando especialmente interpreta es anteriores que desqualificavam o movimento sindical como cooptado pelo Estado e a pr pria classe trabalhadora como passiva e manipulada Para o soci logo Marco Aur lio Santana o novo sindicalismo emerge num momento de intensa disputa entre projetos pol ticos e sindicais na esquerda brasileira um exemplo a rixa entre a Unidade Sindical e os chamados sindicalistas aut nticos aliados das Oposi es Sindicais Este autor v no novo sindicalismo uma atualiza o de pr ticas j experimentadas na hist ria do sindicalismo por setores progressistas sem deixar de ressaltar a extrema import ncia do movimento na amplia o da participa o dos trabalhadores na vida pol tica do pa s A nfase estrat gica no novo necessitaria agora ser repensada defende Santana at para interpretar e enfrentar a persist ncia de antigas dificuldades pol ticas e organizacionais da classe trabalhadora Ressalta o autor O pr prio instrumento da greve que antes era colocado como fato sempre imediato na quebra da intransig ncia patronal e que distanciaria o novo sindicalismo do sindicalismo de colabora o de classe do pr 64 necessita agora segundo algumas indica es ser revisto e repensado No Rio Grande do Sul a maior parte da produ o sobre novo sindicalismo est relacionada ao hoje extinto Instituto de Estudos Sociais P
172. a do movimento o recebimento de sal rios atrasados foi favorecida ainda pelo momento hist rico no qual havia um clima prop cio solidariedade sindical e ao oposicionismo ditadura O papel do sindicato dos banc rios uma das entidades aglutinadoras das novas tend ncias sindicais no estado foi crucial para a greve tanto em termos de apoio material quanto pol tico Como ele outros sindicatos partidos e associa es al m de artistas emprestaram solidariedade aos grevistas ajudando a transformar um movimento localizado e pontual pelo recebimento de sal rios em uma paralisa o significativa do ponto de vista pol tico e social para o estado Tal sintonia esbarrou por m no extremo autoritarismo patronal e na pusilanimidade governamental hesitante entre preservar os direitos b sicos dos trabalhadores e evitar confrontos com expoentes da elite empresarial decadentes economicamente por m ainda robustos politicamente Foi assim que cheguei ao ltimo cap tulo Nele procurei examinar a quest o referente aos aspectos jur dicos do acontecimento em especial ao uso da lei 4 330 conhecida pela alcunha nada elogiosa de lei antigreve para embasar o processo que definiu pela legalidade da paralisa o dos trabalhadores Desejava saber quais os elementos do contexto que embasaram essa op o e se tais elementos eram capazes de relativizar a imagem de ruptura tradicionalmente associada ao novo sindicalismo Parti d
173. a e SADER Eder Sobre classes populares no pensamento sociol gico brasileiro notas de leitura sobre acontecimentos recentes In CARDOSO Ruth org A aventura antropol gica Rio de Janeiro Paz e Terra 1986 p 39 67 PAOLI Maria Celia SADER Eder TELLES Vera Pensando a classe oper ria os trabalhadores sujeitos ao imagin rio acad mico Revista Brasileira de Hist ria S o Paulo ANPUH v 3 n 6 p 129 149 setembro de 1983 PERROT Michelle Os exclu dos da Hist ria oper rios mulheres e prisioneiros Rio de Janeiro Paz e Terra 1988 Jeunesse de la gr ve Paris Seuil 1984 PETERSEN Aurea Terezinha Tomatis Movimenta o grevista no Rio Grande do Sul 1980 1983 Disserta o mestrado em Sociologia IESPE PUCRS Porto Alegre 1984 PETERSEN urea Terezinha Tomatis CAD Elizabeth Maria Pedroso et al Movimento Grevista no Rio Grande do Sul 1945 1979 Porto Alegre IESPE PUCRS 1980 PETERSEN Silvia El proletariado urbano en Rio Grande do Sul 1888 1919 Disserta o mestrado em Hist ria Estudos Latino Americanos UNAM M xico 1977 s greves no Rio Grande do Sul 1890 1919 In DACANAL Jos H e GONZAGA Sergius org RS economia e pol tica Porto Alegre Mercado Aberto 1979 Cruzando fronteiras as pesquisas regionais e a hist ria oper ria brasileira In ARAUJO Angela Maria Carneiro org Trabalho cultura e cidadania um balan o da hist ria social br
174. a introdu o deste trabalho permite uma aproxima o maior do pesquisador com a subjetividade dos atores hist ricos Al m delas este cap tulo se ancora em outros tipos de documentos como processos jur dicos e materiais colhidos junto aos sindicatos 1 Os gr ficos e a imagem de vanguarda oper ria Surgido em tempos pr capitalistas meados do s culo XV na Europa o of cio gr fico organizou se no Velho Continente calcado na r gida hierarquia de mestres oficiais e aprendizes e permeado pela ideologia paternalista O poder do mestre unia duas esferas de domina o e subordina o o trabalho e a vida dom stica Por outro lado a qualifica o b sica que o aspirante profiss o precisava ter saber ler e escrever dificultava extremamente o acesso ao of cio dos filhos dos trabalhadores mais pobres Assim os gr ficos europeus nasceram como grupo fechado unido seguidamente por rela es de parentesco e cuja ascens o hier rquica dependia de uma s rie de rituais de inicia o e aprendizagem Ao longo do tempo o seu constante posicionamento como integrantes de uma elite perante os outros trabalhadores foi resultado tamb m do controle sobre a entrada no mercado de trabalho que conseguiram obter por meio de sua organiza o Fator importante desse controle advinha evidentemente da qualifica o do trabalhador Desta forma a vis o do of cio como arte hoje ainda falamos em artes gr ficas era uma
175. a na Caldas J nior ao promover brechas nas fronteiras entre categorias profissionais que haviam constru do suas identidades a partir de um m tuo antagonismo O enfraquecimento desta identidade de of cio por parte dos gr ficos alavancada pela mudan a profunda no processo de trabalho que implicava a desvaloriza o do fazer e do saber oper rios favoreceu a uni o com trabalhadores vistos tradicionalmente como advers rios num momento de crise econ mica 113 Em alguns casos tal alian a esbarrou na submiss o de parcelas dos trabalhadores domina o personalizada na figura de Breno Caldas Em outros por m a ruptura com este sistema de domina o produziu se de forma intensa configurando se muitas vezes numa explos o violenta de xingamentos pessoais como na poesia de autor desconhecido provavelmente um grevista reproduzida na p gina anterior Vale notar que o vetor atrav s do qual se exprime a revolta do trabalhador o uso par dico e ir nico de um dos atributos de autoridade de Caldas o onipresente t tulo de doutor O objetivo deste cap tulo examinar mais de perto a fratura nas rela es de domina o motivada de imediato pela rea o aos atrasos salariais tentando compreender a crescente mobiliza o dos trabalhadores neste cen rio espec fico Para isto vou analisar em primeiro lugar a viv ncia das rela es de trabalho em especial na reda o onde atuavam os jornalistas que tiveram pap
176. a uma negocia o separada com a Caldas J nior o sindicato fazia Era a nica empresa que se fazia separado Os gr ficos na poca tinham dois diss dios o diss dio da categoria como um todo onde inclu a os outros jornais a Zero Hora o Jornal do Com rcio um pouquinho antes existia o Di rio de Not cias A Caldas J nior que era separado Se fazia uma assembl ia separada E o sindicato tinha vamos dizer assim um apoio junto aos funcion rios da Caldas J nior porque grande n mero de associados pertencia Caldas J nior Porque a Caldas J nior tinha uma coisa se tu entravas na empresa hoje ou amanh j tinha um conversando contigo para tu te associar no sindicato E a empresa nunca colocou sequer um bice neste sentido de aglutinar o pessoal Nisto a n o Neste aspecto n o se pode falar nada J a Zero Hora o contr rio A Caldas J nior n o Tu entravas hoje amanh se tivesse boa vontade se estivesse disposto se fosse convencido realmente que o sindicato prestava se valia a pena tu j era associado j mandava para l mesmo Departamento Pessoal j N o tinha problema nenhum Ent o se faziam as assembl ias da Caldas J nior num dia espec fico diferente do resto da categoria E o que acontecia Doutor Breno chegava O que foi resolvido na categoria Foi tanto por cento T eu dou isto e mais um pouquinho Em tal ambiente a mobiliza o dos trabalhadores era dif cil Quando a empresa
177. a vida cotidiana numa abordagem que privilegia aspectos particulares da hist ria dos trabalhadores ga chos O trabalhador passou a ser incorporado s an lises como sujeito e a classe como processo e rela o Para Petersen no entanto os estudos desta ltima fase se afastaram de uma tem tica que havia sido analisada de forma insuficiente e fragmentada nos dois momentos anteriores o estudo dos instrumentos formais institucionais de organiza o 2 o i 12 e luta da classe oper ria as associa es sindicatos partidos e greves Esta etapa da historiografia ga cha coincidiu com um decr scimo significativo da produ o sobre hist ria oper ria em n vel nacional paralelamente queda da 10 PETERSEN Silvia El proletariado urbano en Rio Grande do Sul 1888 1919 Disserta o mestrado em Hist ria Estudos Latino Americanos UNAM M xico 1977 PETERSEN Silvia Que a uni o oper ria seja a nossa p tria hist ria das lutas dos oper rios ga chos para construir suas organiza es Porto Alegre Santa Maria Ed UFRGS UFSM 2001 p 14 Grifo da autora 1 Idem ibidem p 15 Grifo da autora 20 mobiliza o sindical No Rio Grande do Sul ao contr rio aumentou a produ o acad mica com predom nio de an lises sobre a Rep blica Velha Aproximando me mais do tema desta pesquisa saliento que a maior parte dos trabalhos de historiadores ga chos sobre greves se refe
178. abalho O decreto previa que as Juntas de Concilia o e Julgamento fossem compostas de um presidente o juiz togado e dois vogais um representando os empregadores e outro os empregados Nos TRT s os representantes de patr es e trabalhadores eram chamados de ju zes classistas Os vogais eram escolhidos pelos presidentes dos tribunais e os ju zes classistas pelo presidente da Rep blica que recebiam listas tr plices encaminhadas pelos sindicatos e federa es A representa o classista acabou em 1999 com a emenda constitucional 24 que tamb m transformou as juntas em varas 483 NA JUSTI A A empresa corre atr s Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 29 de dezembro de 1983 ASJPRGS Tamb m depoimento de Magda Biavaschi BIAVASCHI Magda Depoimento 8 de junho de 2005 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro uma hora 4 POSI O da Caldas no TRT Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 11 de janeiro de 1984 ASJPRGS 45 A proposta foi qualificada no boletim de greve do dia 19 de janeiro de 1984 como rid cula e miser vel besta idiota desaforo sem vergonha indecorosa absurda prepotente Ela consistia no pagamento dos sal rios atrasados em tr s parcelas sem juros e corre o monet ria suspens o das a es cautelares e encerramento do processo bem como demiss o de todos os que entraram em greve em 13 de dezembro de 198
179. absurdo para que n o sa sse alguma coisa Mas nem eu escapo daqui Aquelas coisas dele SOUZA J B Op cit 122 Numa segunda leitura desta narrativa por m a historieta narrada em tom de piada faz tro a de uma caracter stica amplamente observada nos depoimentos e nos livros de mem rias sobre a antiga Caldas J nior a impossibilidade dos empregados de nomearem o patr o sem o doutor de destitu lo nem que seja ling stica e retrospectivamente de sua autoridade Veremos a seguir como mesmo no momento do conflito com a dire o da empresa os trabalhadores preservaram essa f rmula de tratamento por m reelaborando a e dando lhe um sentido totalmente diverso do originalmente pretendido A legitimidade da autoridade de Caldas tamb m era reiterada publicamente a partir de fotos publicadas nas capas ou contracapas do Correio ou da Folha ver exemplos a seguir noticiando as visitas de autoridades Caldas J nior Eventos 300 f eles concentram simbolicamente a apelidados pelos jornalistas de beija m o import ncia social do empres rio do jornal e de sua dire o Independentemente da bvia inten o de destacar a autoridade de Caldas para um p blico mais amplo vale ressaltar que esse artif cio tamb m funcionava como afirma o da domina o interna O principal componente desta legitima o a suposta invers o de pap is o ritual de rever ncia da autoridade p blica privada Quem p
180. adores criticada pelo movimento sindical emergente do per odo acabou por ser usada para beneficiar uma parcela deles Mesmo que a senten a do TRT n o tenha sido cumprida imediatamente e que o TST a tenha modificado em parte os grevistas obtiveram benef cios concretos como a anula o das demiss es por justa causa efetuadas pela empresa e o direito ao pagamento dos dias parados isso sem falar na vit ria moral Al m disso como veremos adiante os trabalhadores n o se resignaram em obedecer lei eles se esfor aram para isso ou para provar juridicamente que assim o fizeram Como compreender tais fatos 2 O Direito e os direitos O que nos coloca diante do impasse enunciado acima n o s o as evid ncias em si mas uma compreens o a priori do Direito como meio de domina o stricto senso destinado somente a legitimar ideologicamente a hegemonia burguesa por meio do Estado Tal interpreta o comum em um marxismo de vi s estruturalista cega para a quest o da ag ncia humana ignora a a o e a vontade dos sujeitos menospreza a capacidade dos atores de manipular as estruturas nas quais est o inseridos Para Thompson o Direito uma media o espec fica e um terreno de oposi o de classes e n o um simples instrumento ideol gico a servi o da domina o da classe dominante A principal discuss o deste autor sobre o Direito est em Senhores e Ca adores obra na qual ele enfoca a aplica o da Lei
181. al m dos muros da clausura 160 Um exemplo M rcia de Paula Leite as negocia es coletivas n o se difundiram no pa s at 1978 tendo em vista o autoritarismo pol tico que predominou at ent o o qual al m de impedir a negocia o salarial proibia o direito de greve e limitava ainda mais a representatividade dos sindicatos LEITE M rcia de Paula O que greve S o Paulo Brasiliense 1992 p 72 grifo meu 161 Ac rd o TRT 9217 83 senten a em 6 de fevereiro de 1984 ATRTA4 1 BERLIN Isaiah A inevitabilidade hist rica In Estudos sobre a humanidade S o Paulo Companhia das Letras 2002 p 169 1 amp Idem ibidem p 192 193 164 Idem ibidem p 221 14 A a o coletiva que constituiu a greve na Caldas J nior n o pode ser reduzida a uma mera consegii ncia da crise econ mica vigente naquele per odo por que n o bastam atrasos salariais para desencadear uma paralisa o do trabalho preciso que outros fatores estejam presentes como a percep o da possibilidade de vit ria ou a insatisfa o subjetiva com o patr o e marquem a cis o nas rela es de produ o fazendo com que atores sociais desencadeiem um processo de enfrentamento No caso da Caldas J nior podem ter sido as experi ncias comuns de explora o e humilha o vividas no cotidiano de demiss es no atraso de sal rios nos protestos nas filas para o recebimento de vales nas priva es dom
182. alberto Moreira A d cada neoliberal e a crise dos sindicatos no Brasil S o Paulo Boitempo Editorial 2003 p 162 482 BOITO JR A O sindicalismo p 118 483 ALMEIDA Maria Herm nia Tavares O sindicato no Brasil Novos problemas velhas estruturas Debate e cr tica S o Paulo n 6 Hucitec 1975 p 55 484 MUNAKATA K Op cit p 71 193 Nos ltimos anos certos autores t m polemizado com estas interpreta es Cardoso por exemplo sustenta que o modelo brasileiro de rela es de trabalho n o corporativo mas legislado Neste sentido se oporia a modelos contratualistas como o ingl s nos quais a norma contratada entre as partes No legislado ao contr rio a norma produzida pelo Estado Legislativo Executivo ou Judici rio por meio da jurisprud ncia o que tende a tornar central o problema de sua validade e as disputas em torno de sua aplica o O ponto importante a salientar nesse n vel micro o de que direitos consolidados em cartas legais n o t m necessariamente que se fazer valer nos tribunais 2 A efetiva vig ncia do modelo corporativista teria sido sabotada at pelo pr prio Estado ao manipul lo em desfavor dos trabalhadores Outros estudiosos sustentam que o corporativismo se constituiu mais como uma ideologia ou um modelo pretendido do que propriamente como uma forma de funcionamento das rela es de trabalho na pr tica John French por exemplo avalia que a nfase na interven
183. alha passou a se travar no universo da consci ncia da subjetividade do trabalho das suas zn 252 formas de representa o 4 4 As mudan as tecnol gicas e a greve Como abordei anteriormente a introdu o da fotocomposi o na Caldas J nior foi tardia portanto enquanto a revolu o tecnol gica derrubava as barricadas do chumbo em outras empresas os gr ficos do Correio do Povo e da Folha da Tarde permaneciam entrincheirados nas suas t cnicas costumes e direitos cada vez mais vistos como privil gios anormais Quando a dire o da empresa tomou finalmente a decis o de incorporar o sistema a frio esta foi sentida como a cr nica de uma morte anunciada Nas palavras do tip grafo Nilton Schergl da Silva O modernismo estava chegando J se via o off set tal e coisa Em seu depoimento a esta pesquisa Galvani integrante do segundo escal o da Caldas J nior na poca deixou bem clara a perda do controle dos gr ficos sobre o seu 22 ANTUNES R Adeus ao p 35 Sobre a rela o entre reestrutura o produtiva informatiza o novas t cnicas organizacionais e subjetividade ver tamb m ALVES Giovanni O novo e prec rio mundo do trabalho S o Paulo Boitempo 2000 ROJAS Fernando e PALACIO Germ n Tecnologia de la inform cion uma nueva estrat gia capitalista de subordinaci n de los trabajadores Cuadernos de Economia Universidad Nacional de Col mbia Bogot n 11 p 17 73 1987 e NEFFA Ju
184. alho para certos ju zes e advogados tal l gica mostrava a alma de um direito cujo fulcro o trabalho humano e n o a propriedade E Possibilidade por m n o certeza Implica risco e a o dos atores Ao lembrar se do encaminhamento jur dico do processo envolvendo a greve da EJCJ o advogado Lu s Burmeister relatou o temor e as incertezas vividas pelos grevistas e pelos advogados trabalhistas Era engra ado N s t nhamos medo de fazer toda a coisa e n o dar resultado Heron e eu Me lembro perfeitamente disso E os trabalhadores a nos cobrar a nos botar o dedo na cara Porque a greve durou 40 e tantos dias isso 50 E olha eles moravam dentro do sindicato l na Rua da Praia Estavam sempre ali Dormiam ali Faziam a mobiliza o toda ali e nos chamavam de dois em dois dias de tr s em tr s dias para a gente dar relato e a gente ia para a parede e eles Voc s n o est o fazendo nada E n s meio apavorados com o risco de que acabasse a greve sendo uma coisa muito bonita mas sem resultado pr tico mesmo Pergunta Mas eles queriam o qu Eles queriam receber o dinheiro deles Estavam sem sal rio sem porra nenhuma n Ent o n s ramos cobrad ssimos E eu me lembro que n s t nhamos muito medo de ou n o achar sa da ou achar uma sa da que n o desse resultado Por exemplo esta hip tese de declararem a greve ilegal Por isso esta coisa que tu perguntasse por que voc s s
185. am por eles Pollak inclui entre os elementos constitutivos da mem ria individual ou coletiva os acontecimentos vividos pessoalmente ou pelo grupo Tais relatos s o como marcos imut veis em meio ao mar flutuante e amb guo das lembran as elementos irredut veis em que o trabalho de solidifica o da mem ria foi t o importante que impossibilitou a ocorr ncia de mudan as Sendo assim e recordando do mesmo autor a id ia da mem ria como fator extremamente importante do sentimento de continuidade e coer ncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstru o de sit podemos avaliar o quanto central para este grupo de trabalhadores marcar a sua for a e relev ncia na esfera da produ o E FRAGA J e SILVA S Op cit Solis Souza da Silva 54 anos deu seu depoimento em conjunto com Fraga Solis estudou numa escola gr fica no bairro Gl ria em Porto Alegre Entrou na Caldas J nior em 1975 Com o advento da fotocomposi o passou a arte finalista N o aderiu greve de 1983 1984 Retornou para a empresa depois da sua venda em 1986 Foi 2 tesoureiro do sindicato entre 1995 1998 e 1 tesoureiro em 1999 2002 Na poca da entrevista Solis ainda era funcion rio da Caldas J nior mas estava licenciado e era vice presidente do sindicato dos gr ficos 28 CRUZ E Op cit 2 POLLAK M Op cit p 201 20 Idem ibidem p 204 95 Por outro lado flagrante no epis dio evocado o mecanismo pa
186. an a press o Ao ler o documento se perguntou Por que era assim A gente tinha medo de qu Que eles dissessem que a gente n o tinha representatividade isso A gente queria fortalecer A verdade que a gente tinha muito medo disso Muito medo desse procedimento DE Conforme a edi o especial do jornal Den ncia publicada pelos grevistas em dezembro de 1983 a decis o por uma sa da legal para resolver o problema dos sal rios atrasados fora tomada j no final de abril pelos jornalistas Na poca reunidos em 511 ne pa S PR 2 O of cio original oficializando o acordo consta do processo 280 84 cuja c pia est no arquivo da Justi a do Trabalho do Rio Grande do Sul O acordo foi firmado em 25 de outubro de 1985 Uma c pia do acordo foi publicada no livro SOUZA Marcelo Papaleo de Efeitos da fal ncia na execu o trabalhista S o Paulo LTR 2004 p 166 167 O acordo foi referido nas entrevistas do advogado Luiz Burmeister e da ju za Magda Biavaschi como um processo in dito em termos jurisprudenciais Segundo Burmeister Fizemos um acord o assinado por todo mundo At bem simples uma peti o simples dizendo isso que eu estou te dizendo com a assinatura do juiz da vara de fal ncias do advogado da empresa do advogado do s ndico n s dois e encaminhamos para o juiz Geraldo Lorenzon O Lorenzon requisitou todos os processos para a vara dele e fez uma audi ncia nica e atualizou todos botou todos e
187. ana de Oliveira recorda que uma das raz es pelas quais o tio tinha uma gratid o total e absoluta pelo propriet rio da Caldas J nior era o fato de este ter lhe concedido o privil gio de compartilhar o direito ao uso da cor exclusiva O tio Mario gostava de escrever com caneta verde E s quem escrevia com caneta verde era o doutor Breno A eu sei que algu m chamou a aten o do tio Mario tio Mario ficou meio assim o doutor Breno ficou sabendo e disse que n o que o tio Mario podia Ent o o tio Mario agia em rela o ao doutor Breno como se o doutor Breno fosse um mecenas um pai que cuidava que 7 305 tratava bem esta coisa toda Empregado oficialmente como redator desde 1 de julho de 1953 Quintana habitualmente lembrava reconhecido que o empres rio Breno Caldas havia arcado com as despesas de uma interna o sua por alcoolismo Para a sobrinha Elena que o acompanhou nas ltimas d cadas de vida o poeta morreu em 1994 Quintana salientava que Caldas n o tinha feito qualquer anota o em sua carteira de trabalho n o 32 MACHADO Jos Ant nio Pinheiro Os tempos ureos e os dias dif ceis In CALDAS B Op cit p 12 3 ALMEIDA M N M Op cit 304 GALVANI W Depoimento Op cit 305 OLIVEIRA Elena Quintana de Depoimento 17 de outubro de 2006 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro 30 minutos 306 Conforme processo trabalhista 2 363 84 protocolado e
188. aneiro Mauad 1999 ANTUNES Ricardo Adeus ao trabalho S o Paulo Campinas Cortez Unicamp 1995 O novo sindicalismo S o Paulo Scritta 1991 O novo sindicalismo no Brasil Campinas Pontes 1995 A rebeldia do trabalho o confronto oper rio no ABC paulista as greves de 1978 1980 Campinas S o Paulo Unicamp Ensaio 1988 ARRUDA J NIOR Edmundo Lima de org Li es de direito alternativo S o Paulo Acad mica 1991 223 BARROS Jefferson Golpe mata jornal Porto Alegre J Editores 1999 BATALHA Claudio H M A historiografia da classe oper ria no Brasil trajet rias e tend ncias In FREITAS Marcos Cezar org Historiografia brasileira em perspectiva S o Paulo Contexto 1998 BACZKO Bronislau Los imagin rios sociales Buenos Aires Nueva Vision 1979 BAK Joan Classe etnicidade e g nero no Brasil a negocia o de identidade dos trabalhadores na greve de 1906 em Porto Alegre M tis hist ria e cultura Caxias do Sul EDUCS v 2 n 4 2004 BERLIN Isaiah A inevitabilidade hist rica In Estudos sobre a humanidade S o Paulo Companhia das Letras 2002 BIAVASCHI Magda O Direito do Trabalho no Brasil 1930 1942 A constru o do sujeito de direitos trabalhistas Tese doutorado em Economia Aplicada Universidade Estadual de Campinas 2005 Direito do Trabalho um direito comprometido com a Justi a Revista TRTA Porto Alegre Ano XXVI n 25 1992 p 22 Magistratu
189. ara a base dos trabalhadores porque ambos os grupos se apresentavam como oposi es a esquerda tradicional contra os sindicalistas conservadores e os novos aos dois grupos A confus o era agravada pela pr pria conjuntura de ascens o do movimento sindical simbolizada pelas greves do ABC uma refer ncia identit ria obrigat ria para todas essas correntes mesmo as da esquerda tradicional Desta forma o pr prio uso do termo implica uma confus o entre as propostas das diversas correntes de esquerda opostas esquerda tradicional e o per odo hist rico em si evidenciando de certa forma a enorme influ ncia para dizer o m nimo que tais grupos de renova o passaram a ter no panorama sindical brasileiro Se podemos falar numa hegemonia posterior por m ela ainda n o existia no final dos 70 e in cio dos 80 Este um per odo de embate pol tico no interior do sindicalismo e de incerteza em rela o a seus rumos futuros Como medida simplificadora nos limites deste trabalho o termo novo sindicalismo sem aspas est sendo usado preferencialmente para significar justamente o movimento de ascens o sindical marcado pelo grande n mero de greves e tamb m de tomada das dire es sindicais por grupos de oposi o Quando utilizar novo sindicalismo com aspas a express o refere se s correntes opostas esquerda tradicional Conforme j observado para Santana a emerg ncia do novo sindicalismo pode ser ca
190. as decis es judiciais como trunfo A Justi a reconhece a legalidade da nossa greve que determinou inclusive que a EJCJ se abstivesse de demitir os profissionais que est o parados e que n o contratasse qualquer outro profissional no lugar dos que est o lutando por seus direitos em refer ncia decis o do juiz Pereira Leite de 27 de dezembro Ao final o redator certamente emocionado reservou se um tom pico esta nossa hist ria Uma hist ria de reivindica o pelo pagamento em dia dos sal rios iniciada em mar o e que se estende at hoje Esta a nossa verdade Portanto n o s a via jur dica foi buscada estrategicamente desde o in cio como esteve alicer ada numa id ia de direitos n o s tica ou moral mas fundamentalmente legal O jornalista Marcelo Villas B as dos Santos relembrou em 2006 o sentimento da poca Na verdade o seguinte tinha muita coisa rom ntica tipo Robin Hood assim A gente n o estava em greve porque queria aumentar o sal rio A gente queria receber o sal rio Ent o tinha uma coisa dos grevistas se sentirem extremamente injusti ados por aquilo At porque a gente via que corriam os vales do Francisco Ant nio que a empresa comprava caminh es de cavalos para o Haras do Arado fazenda de Breno Caldas no bairro Bel m Novo Aquele tro o estimulava o nosso lado mais aguerrido neste sentido As pessoas se sentiam desta maneira Era uma greve justa Agora justi a e lega
191. as da lei 4 330 o artigo 16 e as garantias oferecidas aos grevistas abriram espa o para que os grevistas da Caldas J nior e seus advogados acreditassem ser poss vel utilizar a esfera jur dica a seu favor A seguir pretendo mostrar como eles fizeram isso e a partir de que concep es de Direito e Justi a os trabalhadores enfocados nesta pesquisa buscaram seu caminho pela estrada que escolheram 3 Mais do que justo legal Nas p ginas anteriores discuti os dados levantados na documenta o sobre o processo judicial envolvendo a greve da Caldas J nior abordando em seguida a lei 4 330 e sua arquitetura l gica A seguir refleti sobre a aplica o da lei pela institui o Justi a do Trabalho em um contexto determinado sugerindo que tal fator abriu espa os para que os grevistas levassem em conta a esfera legal no seu horizonte de lutas Essa possibilidade era dada relembrando pela pr pria lei o artigo 16 que citava as paralisa es por atraso de sal rio e pela conjuntura espec fica da Justi a do Trabalho em meados dos anos 80 onde havia um campo de atua o para ju zes 200 comprometidos com ideais de justi a social Tais ideais encontravam respaldo nas pr prias formula es b sicas do Direito do Trabalho como o poder normativo ou a tutela entendida entre os juristas como prote o ao lado mais fraco Se para alguns cientistas sociais estes eram ind cios das caracter sticas corporativas da Justi a do Trab
192. as de Bourdieu o jornalismo difere da hist ria na forma de apreens o do testemunho Aparentemente submetido s palavras ditas pelo entrevistado o rep rter tem sobre elas um dom nio muito maior do que o historiador Este ltimo precisa se subordinar discuss o te rico metodol gica da disciplina e cr tica das fontes A pr tica jornal stica pelo contr rio procura adequar imediatamente o passado a mecanismos de valora o enquadrando o em uma expectativa formal e em um modelo narrativo que privilegiam acima de tudo a comunicabilidade Um dos mecanismos que garantem a autoridade do jornalista sobre o vivido o que se refere a seus procedimentos metodol gicos numa pr tica completamente inversa do historiador Muitas vezes o efeito de credibilidade obtido pela ilus o de um narrador oculto ou imparcial Com este mecanismo de ocultamento o jornalista apropria se da autoridade moral de quem viu ou esteve junto a um acontecimento sem perder a caracter stica racional de seu of cio por m indiferente a crit rios de cientificidade j consolidados no campo do conhecimento hist rico como a explicita o das fontes e dos m todos de investiga o r Para uma jornalista fazer hist ria em moldes acad micos significa submeter se a um estranhamento constante e a um esfor o minucioso de explicita o metodol gica Significa buscar incessantemente a problematiza o e a an lise e n o o enquadramento do passado s
193. as fun es como secret rio da Revista do Globo editada pela Livraria do Globo Fazia 18 anos que o fundador do jornal Francisco Ant nio Vieira Caldas J nior havia morrido e 36 anos que o Correio era editado Era ainda o velho pr dio original Nenhum luxo Tinha um certo ar de coisa antiga e l encontrei algumas pessoas de aspecto antigo O M rio de S quase sempre de colarinho duro enchia a sala com a sua cordialidade a rea e apressada e a fuma a do seu famoso charuto que era uma antecipa o dos 23 Em rela o aos jornalistas v rios nomes expressivos do of cio no estado constru ram suas carreiras no Correio do Povo onde permaneceram d cadas Ex secret rio de reda o do peri dico e presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre de 1946 a 1949 e de 1953 a 1955 Adail Borges Fortes da Silva trabalhou de 1936 a 1983 na Caldas J nior O historiador S rgio da Costa Franco come ou como cronista em 1969 e atuou at 1983 nesta poca j como editorialista A carreira do cr tico de cinema P F Gastal e a do jornalista Oswaldo Goidanich no Correio do Povo duraram cerca de 30 anos O rep rter Arquimedes Fortini trabalhou de 1907 a 1972 no Correio do Povo Fortini que come ou a vida como servente foi presidente da Associa o Riograndense de Imprensa ARI e participou como secret rio da primeira diretoria do sindicato porto alegrense que tinha Arlindo Pasqualini como presidente em 1941 1942 Pas
194. as no ano seguinte deixou de figurar na lista e o 10 posto passou a ser de Zero Hora Em 1982 o ve culo da RBS bateu o Correio do Povo em tiragem A ascens o de Zero 60 Folha da Tarde tiveram sua circula o interrompida a Caldas J nior detinha 27 do total da verba publicit ria local destinada m dia impressa n mero considerado por publicit rios ga chos abaixo do saud vel para a sustenta o econ mica da empresa No in cio dos anos 80 o jornal Zero Hora da RBS j havia abocanhado 70 das verbas publicit rias locais e implantado por meio de um marketing agressivo um caderno de an ncios classificados que em pouco tempo roubou da concorr ncia praticamente o mercado total passando a dominar destacadamente o setor de m dia E 12 impressa ga cho Uma escritura p blica firmada no 4 Tabelionato de Porto Alegre em 11 de janeiro de 1985 e um of cio de 20 de dezembro de 1984 integrante de um processo de apela o c vel impetrado pela Caldas J nior no Tribunal de Justi a do Rio Grande do Sul permitem vislumbrar o encaminhamento oficial de parte das d vidas da empresa Os documentos foram solicitados pela Justi a do Trabalho aos advogados da Caldas J nior para esclarecer sobre a parcial liquida o dos d bitos desta ltima em janeiro de 1985 um ano ap s a greve e antes de terem sido saldadas as d vidas trabalhistas que pela legisla o brasileira da poca tinham prioridade sobre quaisquer ou
195. asileira S o Paulo Scritta 1997 Que a uni o oper ria seja a nossa p tria hist ria das lutas dos oper rios ga chos para construir suas organiza es Porto Alegre Santa Maria Ed UFRGS UFSM 2001 PICCININI Valm ria Carolina HOLZMANN Lorena et al O mosaico do trabalho na sociedade contempor nea persist ncias e inova es Porto Alegre UFRGS 2006 PIRES Elson Luciano Silva Crise econ mica reestrutura o produtiva e emprego transforma es nas montadoras da ind stria automobil stica no Brasil In CARLEIAL Liana e VALLE Rog rio orgs Reestrutura o produtiva e mercado de trabalho no Brasil S o Paulo Hucitec 1997 p 375 398 229 POLLAK Michael Mem ria e identidade social Estudos Hist ricos Rio de Janeiro FGV CPDOC v 5 n 10 p 200 212 1992 PORTELLI Alessandro O que faz a hist ria oral diferente Projeto Hist ria S o Paulo PUCSP n 14 p 25 39 fev 1997 PROST Antoine Histoire verit s m thodes Des structures argumentatives de l histoire Le D bat Paris Gallimard n 92 nov dez 1996 PRUNES Jos Luiz Ferreira A greve no Brasil S o Paulo LTR 1986 RIBEIRO Ana Paula Goulart Moderniza o e concentra o a imprensa carioca nos anos 1950 1970 In NEVES L cia Maria Bastos P MOREL Marco e FERREIRA T nia Maria Bessone da C orgs Hist ria e imprensa representa es culturais e pr ticas de poder Rio de Janeiro Faperj 2006 p
196. asileiros se organizaram em seus prim rdios tamb m por meio das corpora es de of cio O marco desta apari o a institui o da Imprensa R gia em 1808 Em 1824 depois da Independ ncia as corpora es de of cio foram proibidas pela nova Constitui o e apareceram as associa es de socorros m tuos e outras entidades destinadas prote o corporativa dos oper rios A Associa o Tipogr fica Fluminense que recebeu o t tulo de imperial por Dom Pedro II foi criada em 1853 Cinco anos depois trinta anos antes da aboli o da escravatura os compositores tip grafos reunidos nesta associa o paralisaram as oficinas de tr s jornais di rios da Corte Em Porto Alegre data do final do s culo XIX o in cio da organiza o dos gr ficos ou tip grafos H registro de sociedades de aux lio m tuo destes trabalhadores em Pelotas e Rio Grande na ltima d cada daquele s culo Os tip grafos de Pelotas chegaram a realizar uma greve de seis dias em 1890 O movimento chamou a aten o de historiadores pelo grau de organiza o apresentado Segundo o jornal A Democracia em 1905 existiam quatro associa es de trabalhadores por of cio na capital rio grandense e uma delas era a dos gr ficos No mesmo ano houve registro de uma paralisa o de tip grafos nas oficinas do Jornal do Com rcio 2 Um dos principais l deres da primeira greve geral ga cha em 1906 foi o gr fico socialista Francisco Xavier da Co
197. astante pol mica Liderou 66 Estas posi es parecem convergir no mesmo sentido de uma frase do relat rio elaborado pelos grevistas no ano de 1984 em busca de apoio da sociedade paramos 5141 pela falta de outra alternativa Quase 20 anos depois uma reportagem no jornal do sindicato dos jornalistas tamb m definiria o movimento como inevit vel Numa aproxima o com este racioc nio parece evidente que n o poss vel entender a greve e nem o grande n mero de movimentos semelhantes deflagrados a partir de 1978 no pa s sem levar em conta a deteriora o da situa o econ mica brasileira e as condi es de endividamento de v rias empresas entre elas a Caldas J nior A partir de 1974 como se sabe a ilus o do milagre brasileiro se desfez com a crise do petr leo e os desequil brios estruturais da economia Os n meros n o conseguem refletir a pauperiza o que tomou conta da sociedade brasileira mas podem ajudar a fornecer uma id ia do decl nio econ mico vigente a partir de meados dos anos 70 A taxa de crescimento do Produto Interno Bruto PIB que atingira 13 6 em 1973 foi para 9 7 em 1974 e para 5 4 no ano seguinte tendo apresentado ndices negativos em 1981 e 1983 O PIB per capita por sua vez caiu 4 em 1981 1 5 em 1982 e 5 5 em 1983 A infla o em alta alcan ou 99 7 em 1982 ano no qual o Brasil recorreu ao 144 Fundo Monet rio Internacional FMD Em 1983 a alta dos pre o
198. atuavam como seu complemento necess rio seu duplo inalien vel Buscar o amparo da lei sempre foi uma das formas utilizadas pelos trabalhadores para protegerem se contra esta a o arbitr ria e violenta dos governos presente inclusive na chamada Rep blica populista Voltando ao caso da Caldas J nior bom lembrar que havia no per odo legisla es espec ficas como o decreto 368 que puniam severamente empresas em atraso salarial Nove meses antes da greve a Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul foi comunicada do n o pagamento em dia dos vencimentos por meio de of cios e de uma den ncia formal Os funcion rios procuraram ainda autoridades do Executivo estadual e federal em busca de solu o para a arbitrariedade flagrante O governo no entanto nada fez apesar de tamb m ser credor da empresa Quando a greve come ou os trabalhadores tiveram de enfrentar a repress o policial e patronal em diversas ocasi es conforme j evidenciado nesta disserta o inclusive com a mobiliza o de grande aparato em volta do pr dio da Caldas J nior 523 LOPES J S L Op cit p 367 aat Idem ibidem 525 FRENCH John Proclamando leis metendo o pau e lutando por direitos In LARA Silvia Hunold e MENDON A Joseli Maria Nunes Direitos e Justi a no Brasil Ensaios de Hist ria social Campinas Unicamp 2006 p 409 410 206 No per odo de emerg ncia do novo sindicalismo a ambigiiidade detectada por Leite
199. aulatinamente desativado Assim a 236 Conforme RUDIGER Op cit p 108 Sobre o sistema de composi o adotado o gr fico Ant nio Adair Ferreira da Silva que deixou Zero Hora em 1972 lembra que Era um sistema que em vez do linotipista era um tipo de um digitador s que eram fitas perfuradas depois aquela fita passava numa m quina e a dava a digita o N o era assim o computador direto Tinha um aparelho que ia furando tipo tel grafo aquele telex Era um processo muito antiquado Em seguida eles mudaram depois SILVA A A F Op cit 21 CALDAS B Op cit p 29 30 Z3 Idem ibidem 23 O sistema Laserite EOCOM necessitava para funcionar de equipamentos qu micos especiais a serem importados e com vida til de tr s semanas Foi vendido posteriormente para a Gazeta Mercantil GALVANI W Um s culo de p 427 Sobre a compra deste equipamento qualificada por Breno Caldas como uma besteira ver tamb m CALDAS B Op cit p 32 33 20 CALDAS B Op cit p 32 21 Idem ibidem p 428 99 migra o definitiva para a fotocomposi o foi feita aos poucos completando se em agosto do ano seguinte Em n vel mundial a fotocomposi o foi saudada como a evolu o talvez mais espetacular na hist ria das artes gr ficas capaz de superar a composi o a quente pela simplicidade de opera o qualidade e economia al m de reduzir custos m o de obra e mat ria prima o chumbo Sem es
200. aulo 1900 1950 S o Paulo S o Caetano do Sul Hucitec Prefeitura Municipal de S o Caetano do Sul 1995 194 esfor o de legitima o Ou seja de levar em conta as circunst ncias hist ricas das decis es jur dicas o contexto no qual elas s o tomadas e a conforma o de for as estabelecida dentro de uma institui o que necessita ter seu poder de interven o sobre a sociedade continuamente legitimado N o h como ignorar que o Judici rio brasileiro vivia uma conjuntura muito espec fica entre o final dos anos 80 e o in cio dos 90 com a institucionaliza o de associa es de ju zes e advogados de configura o progressista muitos delas professando cr ticas aos desmandos do Poder Executivo e pr pria legisla o autorit ria O maior ind cio desta tend ncia o movimento do Direito Alternativo que teve in cio justamente em solo ga cho nos anos 80 com um grupo de 30 a 50 ju zes que se reuniam uma vez por m s na Associa o dos Ju zes do Rio Grande do Sul Ajuris Entre os magistrados que formaram esse grupo de estudos para debater a crise do Judici rio e os obst culos no acesso justi a estavam integrantes da Justi a do Trabalho Um dos principais te ricos do movimento foi o ent o advogado trabalhista Tarso Genro autor do artigo Os ju zes contra a lei no qual definia o Direito Alternativo como um ato de constru o e desenvolvimento de valores que j est o postos pela hist ria e de
201. ca 1994 p 201 T11 relaciona greves quest es econ micas e rela es de trabalho Nela os aspectos referentes ao local de trabalho s o vistos como a causa primeira do fen meno O principal obst culo a n o s uma perspectiva que enxerga tais paralisa es de forma isolada do resto da sociedade mas principalmente a sua dificuldade em explicar tend ncias de longo prazo dos padr es grevistas e de observar o impacto das for as A l 17 pol ticas nos movimentos Como resposta a esta dificuldade Sandoval alude a uma abordagem pol tico organizacional que v as greves como formas de a o coletiva nas lutas pelo poder 174 entre trabalhadores empregadores e autoridades Desta forma as paralisa es do trabalho traduziriam lutas mais amplas pelo acesso ao poder pol tico por parte da classe trabalhadora assim como a resist ncia da classe dominante a tal insubordina o O que perpassa estes modelos de an lise a dificuldade em apreender um fen meno simultaneamente econ mico e social dotado de vari veis explicativas gerais como dura o e n mero de trabalhadores parados por exemplo mas que se constitui em cada manifesta o como um universo nico de instabilidade dinamismo e imprevisibilidade Tal dificuldade mereceu uma resposta diferenciada por parte de Perrot Esta autora viu nas greves al m do confronto entre trabalhadores e patr es um momento no qual as classes po
202. ca n o poder o colidir com a legibilidade da comunica o coletiva difus o Desta forma o passado adequado pelo jornalista a um molde constru do a 48 Tal molde serve se no partir de concep es culturais pr vias do que not cia entender de Robert Darnton de modelos antigos de contar hist rias inspirados na cultura popular Bebe em formas de narrar arcaicas tentando cada vez mais torn las estilisticamente renovadas por m mantendo o car ter de estere tipo facilmente assimilado pelo leitor E interessante notar por exemplo a persist ncia de elementos j PROST Antoine Histoire verit s m thodes Des structures argumentatives de l histoire Le D bat Paris Gallimard n 92 p 134 novembro dezembro 1996 41 MEDINA Cremilda de Ara jo Entrevista O di logo poss vel S o Paulo tica 1990 p 19 Grifos da autora 48 DARNTON Robert Jornalismo toda not cia que couber a gente publica In O beijo de Lamourette M dia cultura e revolu o S o Paulo Companhia das Letras 1990 p 96 31 presentes nas narrativas de Her doto como o th ma o maravilhoso na constru o ES dos textos jornal sticos Al m de sua constru o baseada em modelos pr definidos e da preocupa o dominante e onipresente com a comunicabilidade um universo dominado pelo temor de ser entediante e pela preocupa o quase p nico de divertir a qualquer pre o nas palavr
203. certa forma apenas completou sem claro se dar conta disso o projeto dos l deres sindicais comunistas e trabalhistas mais combativos de quase tr s d cadas antes Negligenciando a experi ncia do pr 1964 pela import ncia estrat gica de se contrapor a ela e afirmando se como novidade as lideran as n o perceberam que os instrumentos de participa o e mobiliza o apresentados agora como novos os comit s de f brica por exemplo eram muito mais desenvolvidos Na sua vis o nem sempre a legisla o corporativista teria conseguido engessar as a es de resist ncia oper ria no per odo populista e por conseguinte impedir por completo a emerg ncia de um movimento sindical com algum grau de autonomia O exame das greves entre 1930 e 1964 tamb m tem sido utilizado para questionar o car ter cupulista do chamado sindicalismo populista importante destacar neste sentido a produ o de Alexandre Fortes Paulo Fontes H lio da Costa Fernando Teixeira da Silva e Antonio Luigi Negro O trabalho desses historiadores caracteriza se por mesclar a explora o de uma grande variedade e quantidade de fontes 2 MATTOS Marcelo Badar Novos e velhos sindicalismos no Rio de Janeiro 1955 1988 Rio de Janeiro V cio de Leitura 1998 2 Idem ibidem p 221 A MATTOS Marcelo Badar Sobre novos e velhos sindicalismos no Brasil rediscutindo dicotomias Hist ria S o Paulo v 17 18 p 335 1999 23 prim rias com um
204. cessivo de certos documentos O maior cuidado n o entender senten as e leis como realidades e sim como ret rica que pode ou n o modificar a realidade mas que tem um valor em si Depoimentos orais podem ajudar neste trabalho de decifra o legal no caso de entrevistas com ju zes ou advogados por exemplo ou trazer informa es de outra forma imposs veis de serem obtidas sobre as condi es de produ o de algum documento ou sobre algum evento espec fico Por m avalio que a maior contribui o que a hist ria oral pode trazer a esta pesquisa n o reside a mas sim no entendimento da mem ria como fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de duo a gt 363 coer ncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstru o de si Um folheto manifestando o apoio dos jornalistas integrantes da imprensa popular greve na Caldas J nior foi encontrado no Acervo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul Al m de profissionais do Em Tempo assinam a nota produzida para ser distribu da popula o jornalistas da Tribuna da Luta Oper ria de O Trabalho da Hora do Povo da Voz da Unidade e de Alicerce IMPRENSA popular ap ia os funcion rios da Caldas J nior Folheto s d ASJPRGS O jornal alternativo ga cho Den ncia iniciou sua circula o em abril de 1982 sendo dirigido pelo jornalista Carlos Alberto Kolecza ex chefe de reportagem de Zero Hora Segundo o Cooj
205. cia o dos diss dios coletivos na poca da greve da Caldas J nior Teve portanto participa o ativa na tramita o jur dica da paralisa o assim como Biavaschi titular da 5 Junta da Justi a do Trabalho Mais do que a iniciativa individual de dois ju zes progressistas suas decis es mostraram que havia espa o na Justi a do Trabalho para pensar o Direito de forma direitos trabalhistas Tese doutorado em Economia Aplicada Universidade Estadual de Campinas 2005 p 315 Para contrapor esta interpreta o ver a compara o entre a experi ncia do corporativismo fascista italiano e as origens da legisla o trabalhista e sindical brasileira feita por HALL Michael Corporativismo e fascismo nas origens das leis trabalhistas brasileiras In ARA JO ngela Org Do corporativismo ao neoliberalismo S o Paulo Boitempo 2002 p 13 28 7 BIAVASCHI Magda Depoimento 8 de junho de 2005 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro uma hora A escola qual a entrevistada se refere a Funda o Escola da Magistratura do Trabalho do Rio Grande do Sul Femargs institu da pela Amatra IV e que tem Pereira Leite como patrono O juiz natural de Rio Grande nasceu em 1936 e morreu em 1992 Formou se em Direito e em Jornalismo tendo sido professor das faculdades de Direito da UFRGS da PUCRS e da Unisinos Foi presidente do TRT 4 entre 1983 e 1985 Dispon vel no site lt http w ww femargs com br
206. clima do novo regime pediam ainda mais rigor O direito de greve deveria ser extinto e n o regulamentado defendeu em artigo publicado no mesmo peri dico o juiz Jo o Didonet Neto que via na Justi a do Trabalho um rg o capaz de serenar totalmente as diverg ncias entre patr es e empregados Segundo o juiz a greve nas democracias um instrumento de subvers o e fator de desorganiza o do trabalho e da produ o de que se valem os agitadores para assaltarem o poder E finalizava as leis devem inspirar se nas condi es hist ricas em meio s Rr 45 quais s o elaboradas Certamente as condi es hist ricas ent o vigentes no pa s apontavam para um aumento da intoler ncia em rela o aos movimentos paredistas Mas a op o dos novos governantes em manter a Constitui o de 1946 era um dos fatores que impediam a 456 extin o pura e simples do direito de greve De fato a 4 330 s era taxativa e vedava terminantemente as paralisa es de funcion rios p blicos artigo 4 mesmo assim com 457 F Hos x exce es afirmando em seu artigo 1 que o direito de greve reconhecido pelo artigo 158 da Constitui o Federal ser exercido nos termos da presente lei Mesmo nos anos seguintes as leis do regime militar nunca chegaram a proibir abertamente as paralisa es Optaram por tentar obstaculiz las ao m ximo no mbito legal A Constitui o de 1967 as interditou n
207. comunicando atrasos de pagamentos m s a m s de abril a novembro de 1983 e pedindo provid ncias Tamb m apresenta reprodu o de duas den ncias encaminhadas pelo Sindicato dos Jornalistas DRT contra a Caldas J nior e a TV Gua ba em 30 de setembro de 1983 A inclus o entre os documentos constantes do relat rio de dados levantados a respeito da qualifica o legal da Caldas J nior de c pias das atas das assembl ias que decidiram pela greve de editais de convoca o e das atas de reuni es de concilia o ocorridas em dezembro de 1983 no TRT indica que os grevistas tinham uma grande preocupa o de provar ou demonstrar o enquadramento legal de seu movimento n o apenas na Justi a mas tamb m para os setores da sociedade nos quais buscavam apoio A preocupa o em justificar legalmente os atos dos trabalhadores mobilizados externada na conclus o do texto de 23 p ginas do relat rio o qual informa que diante do atraso de sal rios a empresa manteve se evasiva nada disposta ao di logo deixando os funcion rios sob o clima do terror e do receio de serem demitidos Portanto frente a isto continua o texto restava um nico caminho a busca dos seus direitos pela via legal 3B DO COME O ao fim s promessas Den ncia Porto Alegre n 28 edi o extra especial dezembro de 1983 p 2 ASJPRGS 514 O decreto lei n 368 foi assinado pelo ent o presidente general Artur da Costa e Silva seis d
208. conectados tanto na mat ria prima da experi ncia como na consci ncia A classe uma rela o encarnada em pessoas e contextos reais Na defini o hoje cl ssica o autor defende que a classe acontece quando alguns homens como resultados de experi ncias comuns herdadas ou partilhadas sentem e articulam a identidade de seus interesses entre si e contra outros homens cujos interesses diferem e geralmente se op em dos seus Se a classe uma rela o ela envolve dois p los de interesse o dos dominantes e o dos dominados numa determinada l gica de produ o Para se entender os segundos essencial observar contra quais interesses imediatos eles se colocam No caso da greve aqui em exame a pergunta pr via o que representava a Caldas J nior em termos de poder social e pol tico na sociedade ga cha THOMPSON E P A forma o p 9 e 10 55 Ora o senso comum capaz de fornecer a qualquer pessoa que tenha seu nome publicado em jornal divulgado por r dio ou alardeado em emissora de televis o uma id ia clara do poder que emana dos meios de comunica o de massa A esta vis o impressionista pode se acrescentar e contrapor no es desenvolvidas em an lises mais aprofundadas e teoricamente embasadas Trabalhando com a no o de imagin rios sociais Baczko observa que por meio deles que uma coletividade designa sua identidade elaborando uma representa o de si mesma que e
209. conflito entre trabalhadores e patr o e mais importante como agente externo aos pr prios integrantes da categoria s a partir da interven o deste terceiro elemento que a greve teria se tornado poss vel j que a identifica o com o interesse patronal trazida em termos de orgulho e envolvimento emocional seria de uma for a indiscut vel capaz na vis o de Hohlfeldt de neutralizar quaisquer express es mais dr sticas para a empresa de insatisfa o pelo atraso salarial Nesta fala tamb m se pode notar a persist ncia de uma imagem freq ente em rela o a Caldas J nior e de resto a v rias empresas paternalistas a id ia da organiza o empresarial como uma fam lia que incluiria entre seus membros os trabalhadores Tal caracter stica era extremamente forte no Correio do Povo em parte por sua estrutura de empresa familiar e seu papel tradicional na sociedade ga cha em parte pela pol tica de incentivo perman ncia dos trabalhadores no emprego Mas sem d vida tamb m pelo pr prio investimento feito pela dire o neste sentido Em um texto escrito e publicado originariamente no ano de 1975 o escritor Erico Verissimo usou essa palavra fam lia para definir a reda o do Correio do Povo narrando as lembran as de sua primeira visita ao local de trabalho dos jornalistas do peri dico em 1931 Nos prim rdios da d cada de 30 Verissimo era ainda um jovem aspirante a escritor e iniciava su
210. corr ncia parece ter se acentuado a partir dos anos 50 quando ocorre a apropria o nos principais jornais do pa s do poder dos chefes de oficina pelos chefes de reda o ou secret rios de reda o Um relato desta apropria o pode ser encontrado na descri o feita pelo jornalista Cl udio Abramo sobre a reforma protagonizada por ele e pelos donos do jornal O Estado de S Paulo em 1952 que consistia em medidas como redu o do tamanho da p gina ado o de pr ticas modernas de controle da publicidade controle de fechamento da reda o e controle da produ o entre outras Tais medidas interferiam diretamente na autonomia da oficina conforme Abramo A reforma do Estado foi uma luta O chefe da oficina do jornal era um her i de 32 um cidad o que exercia verdadeira ditadura sobre sua rea Nessa poca os chefes de oficina tinham um poder muito grande Eram famosos como Pinto chefe de oficina da Folha depois do Di rio depois da Folha de novo Outro muito leal a mim foi Bernardino bom companheiro que trabalhou no Jornal de S o Paulo depois na Na o quando estive l Os chefes de oficina controlavam a exist ncia dos linotipistas que apesar de toda a repress o do Estado Novo ainda eram a vanguarda do movimento oper rio no Brasil Hoje sabemos que quem domina a informa o tem o poder mas naquela poca a sociedade brasileira era mais primitiva as coisas se definiam por territ rios a oficina era territ rio do ch
211. cura se uma solu o alternativa atrav s de uma comiss o de trabalhadores O texto da ata por m refere se duas vezes a artigos da lei de greve buscando evidenciar o cumprimento estrito da legisla o Se os fatores citados levantam d vidas sobre a realiza o efetiva da assembl ia no dia 6 o mesmo ocorre em rela o vota o secreta Novamente nenhum depoente citou a realiza o de vota o secreta nas reuni es opera o que demanda um grande aparato c dulas urnas etc Villas Boas chegou a ser enf tico em sentido contr rio Nunca teve vota o secreta nas nossas assembl ias Nunca Tu v s nas fotos Todo mundo levanta a m o Como que a gente ia perseguir os n o grevistas yal No depoimento de Antonio Hohlfeldt citado no primeiro cap tulo ele comenta E houve duas pessoas que votaram contra Exclusivamente duas pessoas o Antoninho votou contra e eu votei contra N s dois votamos contra O trecho do depoimento de Burmeister transcrito anteriormente permite perceber outros problemas no processo Segundo o advogado ele e Heron Ara jo tinham medo da ilegalidade por falta de qu rum da ilegalidade por falta de edital da ilegalidade por voto a descoberto Ou seja estes eram requisitos legais especificados em min cias na lei 4 330 que n o estavam sendo contemplados em sua totalidade no processo da greve e que poderiam levar decreta o da sua ilegalidade A preocupa o em
212. d ncia sobre a categoria e bem relacionado com os jornalistas ele conseguiu a partir de seu relacionamento pessoal com Euclydes Cruz garantir o aval formal do sindicato dos gr ficos e do l der sindical reticente em rela o a greves 268 SILVA A A Op cit 20 Idem ibidem 7 CRUZ E Op cit 71 SILVA A Op cit Grifo meu 109 Este aval tamb m brotou das crescentes articula es durante o processo cotidiano de trabalho facilitadas pela proximidade entre reda es e a oficina de chumbo Segundo o jornalista Marcelo Villas Boas dos Santos ent o chefe de reportagem da Folha e secret rio geral de seu sindicato A gente n o tinha contato visual E poucos com exce o daqueles que conviviam no baixamento do jornal conheciam os caminhos da oficina Eram alguns labirintos que a gente tinha de percorrer Mas estes caminhos a gente aprendeu rapidamente Tanto que a assembl ia que decretou a greve foi feita na oficina do chumbo como a gente chamava A assembl ia que deflagrou a greve era a 10 ocorrida na velha oficina numa ocupa o negociada com a dire o da empresa Quando o movimento tornou se uma certeza a composi o a quente j estava nos estertores e o amplo sal o de m quinas n o abrigava mais o burburinho e a quantidade de gr ficos de anos atr s Mas era territ rio dos gr ficos e de certo modo o territ rio sagrado do mais emblem tico destes oper rios o linotipista Se a escolha do local
213. d on the law n 4 330 legislation at that time known as antistrike law name coined by the Union managers This study discusses how this event was possible from the examination of its specific characteristics among them the union of three categories of workers periodists compositors drivers woven into the analysis of the trade union context at that period which was marked by the emergence and institutionalization of the novo sindicalismo new syndicalism movement The investigation examines four central questions the relation among the technological change seen in the graphic sector and the mobilization of strikers the rupture of the paternalism relations in the production level the possible articulation among the three involved unions and the legal issues Keywords strikes technological change domination relations new syndicalism labor laws Sum rio Abreviaturas dos arquivos consultados e eee ceercrereerereeceranea 11 Lista TE DER COS s aini anae r A a E E A EE 12 Lista CA SLERCDES n a a qa dg AEE O dl a 12 Tntr d t ssnin E E R EA datada a E S 14 Cap tulo I A greve uma vis o geral nenseeeseeseesseossesoesseessosersseessessesseessessessees 42 1 1 O cerco no Cento mses hnne aer a EE TE RR 43 1 2 Um imp rio em Crise isenacisaperiormesamare isa eriet das sea dia EE EE nao gados ones AA 46 1 3 Opapel daLaldas JUNIO aussade qua iagos Nisa aa Quad Gaga aa q 55 1 4 Um movimento
214. da Manh possu a duas emissoras de r dio Gua ba AM e FM e uma emissora de televis o a TV2 Gua ba Cinco anos depois por m viu sua fal ncia decretada N o objetivo desta pesquisa conforme j salientado definir as causas da crise da Caldas J nior De qualquer forma o pr prio Breno Caldas sempre deixando um PR 5 3 PORE E ESA 121 espa o para insinua es sobre uma poss vel retalia o ou vingan a pol tica contra si atribuiu a decad ncia econ mica da empresa s d vidas assumidas com o intuito de montar a TV2 Gua ba inaugurada em 1979 e modernizar o parque gr fico dos jornais tendo entre as modifica es principais a implanta o da fotocomposi o Parte dos d bitos foi contra da em d lar com base na ent o vigente Resolu o 63 do Banco 122 l Central Reportagem publicada em agosto de 1984 pelo jornal Meio amp Mensagem destinado ao mercado publicit rio estimava em US 6 bilh es os gastos com a montagem da TV2 Gua ba e em CR 75 bilh es a d vida total da empresa junto a seus o Di dep ipi Ti pe o 123 fornecedores funcion rios e institui es financeiras E razo vel afirmar que a Caldas J nior se viu pressionada pela d vida cujas cifras haviam sido ampliadas exponencialmente com a maxidesvaloriza o do cruzeiro decretada pelo governo federal no in cio de 1983 mas tamb m pela ascens o de empresas concorrentes calcadas no desenvolvimento tecnol gico e
215. da privilegiada entre os trabalhadores gr ficos A progressiva desocupa o daquele espa o pela empresa coincidiu com seu uso cada vez mais constante para assembl ias dos funcion rios descontentes gr ficos jornalistas e motoristas com os atrasos salariais que haviam se iniciado em mar o de 1983 A principal reivindica o era justamente a quita o dos vencimentos atrasados outubro novembro e a primeira parcela do 13 sal rio A decis o pela paralisa o vinha precedida por paradas de advert ncia protestos nas filas formadas para o pagamento aleat rio de parcelas dos sal rios os vales demiss es de funcion rios e reuni es peri dicas com a dire o da empresa No decorrer do ano o atraso dos vencimentos havia criado dificuldades financeiras para os trabalhadores Muitos se endividaram e tinham prejudicada at mesmo a alimenta o das pr prias fam lias As anota es feitas poca no di rio de um jornalista ent o funcion rio da Caldas J nior podem dar uma id ia de como a situa o era percebida por alguns empregados da empresa os sal rios est o atrasados h cinco dias Ontem a faixa estava em 80 mil cruzeiros Recebi um vale de Cr 30 mil e tirei dez para pagar a conta do supermercado Carrefour que j ia para o terceiro m s de atraso Os gastos de hoje foram os seguintes leite 2 litros e p o 1 4 505 00 sab o em p 280 00 ovos meia d zia 330 00 banana 2 quilos 50
216. de os 20 anos da greve dos jornalistas da Caldas J nior Projeto de conclus o de curso Departamento de Jornalismo Centro de Comunica o Social Universidade Federal de Santa Catarina Florian polis SC semestre 2003 2 16 o limite de sua extens o e de seus prop sitos como tamb m se restringem a uma descri o dos acontecimentos buscando antes enquadr los num contexto sindical econ mico e pol tico nacional j dado de antem o do que propriamente realizar uma an lise hist rica Esta relativa aus ncia de obras sobre o movimento reivindicat rio contrasta com a relev ncia social e hist rica da Caldas J nior Quatro meses depois do fim do movimento ocorreu a interrup o da circula o do Correio do Povo por dois anos e da Folha da Tarde em definitivo seguida pela fal ncia da empresa comprada posteriormente em 1986 por outro empres rio ga cho e recentemente em 2007 revendida para o Grupo Record A pesquisa busca n o s suprir esta lacuna como tamb m explorar sentidos a es e personagens deste per odo de retomada da mobiliza o sindical no pa s a partir de problemas desenvolvidos pela pesquisadora na conforma o do objeto A problematiza o volta se s condi es de possibilidade do movimento dos trabalhadores e foi elaborada enfocando quatro aspectos Apresento a seguir um resumo dos problemas de pesquisa que ser o aprofundados no primeiro cap tulo 1 O PROCESSO DE TRABALHO De que
217. de 60 muitas vezes sem receber remunera o Atuava como cr tico de cinema e de teatro Foi contratado pela Caldas J nior em 1974 Foi o primeiro vereador eleito pelo ent o nascente PT em Porto Alegre em 1982 Integrou o primeiro secretariado do prefeito Ol vio Dutra PT eleito em 1988 Deixou o partido em 1990 entrando no Partido da Social Democracia Brasileira PSDB Atualmente est filiado ao Partido do Movimento Democr tico Brasileiro PMDB tendo sido vice governador do estado na gest o de Germano Rigotto 2003 2006 professor da Faculdade dos Meios de Comunica o Social da Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul PUCRS 49 politicamente por si s por m imposs vel de ser entendido se n o integrado l gica da trajet ria da empresa em especial sua decad ncia Deixando esta observa o em suspenso voltemos narrativa ressalvando que apesar de sua discord ncia manifesta Hohlfeldt participou do movimento tendo atuado principalmente no sentido de angariar doa es para o fundo de greve Al m deste fundo outras seis comiss es foram formadas pelos trabalhadores Uma delas ficou respons vel por editar e distribuir quase diariamente boletins com textos fotos e ilustra es O embate teve epis dios de enfrentamento f sico entre grevistas seguran as da empresa e pol cia militar A maior parte dos atritos ocorreu em piquetes realizados nos primeiros dias da greve ou depois de algumas
218. de Euclydes Bento da Cruz presidente da entidade desde 1973 e que ficaria no cargo at 1987 cuja trajet ria foi apresentada no cap tulo 2 A entidade representava 8 mil trabalhadores N o encontrei qualquer evid ncia de que Cruz tivesse liga es com os rg os de seguran a ou fizesse repres lias contra integrantes da pr pria categoria como Silva Era no entanto um sindicalista conservador que dava prioridade a quest es burocr ticas e assistencialistas definitivamente n o alinhado s mudan as ent o em curso no movimento dos trabalhadores e assumidamente contr rio a greves A oposi o s tomou o poder no sindicato dos gr ficos em 1991 No momento da greve portanto os tr s sindicatos tinham em suas c pulas grupos muito diversos n o s em rela o s suas pr prias trajet rias pregressas como em face da situa o pol tica que se vivia A entidade dos gr ficos se notabilizava por uma pol tica assistencialista Em 1983 se iniciavam as obras da sede pr pria do sindicato na Rua Veador Porto considerada por Cruz o seu maior legado No mesmo per odo como j vimos a transforma o tecnol gica do of cio provocava a paulatina desespecializa o desses trabalhadores bem como promovia o desemprego no setor problemas ignorados pela gest o sindical Por outro lado a entidade tinha uma atua o jur dica extremamente ativa sob o comando do advogado trabalhista Luiz Heron Ara jo 4 3 Um exemplo
219. de luta Por ltimo interessa compreender o uso que os trabalhadores fizeram da legisla o criada pelo governo autorit rio em especial a lei de greve 4 330 apelidada lei antigreve a seu favor Afinal flagrante o esfor o e a preocupa o dos grevistas em cumprir ou provar o cumprimento das exig ncias da restritiva legisla o Promulgada em 1964 um m s depois do golpe militar que dep s Jo o Goulart a lei 4 330 tornava praticamente imposs vel por seu detalhismo o enquadramento legal das paralisa es do trabalho mesmo aquelas motivadas por atraso de sal rio Uma das suas exig ncias era por exemplo o voto secreto nas assembl ias dos trabalhadores A 159 MATTOS M B Novos e velhos p 220 13 lei era t o impratic vel que alguns autores simplesmente ignoram na afirmando que as TS g sas 160 Ei area greves eram proibidas durante a ditadura militar o que n o tecnicamente verdade primeira vista a leitura do ac rd o a senten a final do TRT referente greve na Caldas J nior surpreende ao informar que a ilegalidade foi negada por unanimidade pelos ju zes do tribunal pleno em tempos nos quais ainda vigia o regime militar Al m disso foi estipulado um prazo de 10 dias para o pagamento dos sal rios atrasados inclusive os dias de greve sob pena de uma multa alta 50 sobre os d bitos al m 2 161 de garantia de emprego at que os vencimentos fossem integralm
220. de morte rediviva e o caso Theodomiro Romeiro dos Santos 1969 1971 Comunica o apresentada no XXIII Simp sio Nacional de Hist ria Hist ria Guerra e Paz junho de 2005 Universidade Estadual de Londrina Theodomiro dos Santos ligado ao Partido Comunista Brasileiro Revolucion rio foi um dos tr s homens condenados legalmente morte durante o regime militar nenhuma das senten as foi cumprida Hoje Santos juiz do trabalho 190 luxo de oferecer aos trabalhadores vantagens como direito de aliciamento de grevistas e garantia de emprego nas paralisa es Margem estreita por m n o imposs vel S no Rio Grande do Sul das 10 greves realizadas entre o golpe militar de 1964 e o ano de 1968 duas foram consideradas legais a dos cal adistas em 1965 por atraso de sal rios e a dos banc rios em 1966 Esta ltima ocorreu porque os banqueiros quiseram descontar no diss dio de 1966 uma antecipa o de 30 concedida no ano anterior Na poca o TST negou o desconto e ainda concedeu um aumento de 38 que os patr es se recusaram a pagar Diante disso os banc rios fizeram uma greve de seis dias ao fim da qual obtiveram 20 32 de reajuste mais o pagamento de um sal rio De fato o artigo 16 da 4 330 abria espa o para a legalidade em casos espec ficos ao estabelecer prazos especiais para situa es excepcionais ser de 72 horas o pr aviso para a deflagra o da greve nas atividades fundamentais e nas acess
221. de propostas que opunham de um lado as lideran as tradicionais os comunistas e do outro militantes do PT e independentes A minha entrada no sindicalismo foi numa poca de transi o Uma poca em que os grupos pol ticos da nossa categoria estavam um pouco divididos Havia um grupo forte que tinha anteriormente e que estava inclusive na dire o do sindicato o Lauro Hagemann Jo o Souza as pessoas mais tradicionais E um grupo de jovens que estava iniciando que era mais ligado ao PT E algumas pessoas que n o eram ligadas nada como era o meu caso Eu era um ser apol tico mas eu fui convidado chapa mais pela participa o dos fot grafos que eram um grupo bastante importante significativo Ent o eu era uma pessoa meio N o digo estranha porque eu tinha l minhas ideologias mas n o tinha aquela milit ncia pol tica que tinham os outros Eu estava partidariamente aqu m aos outros Ent o eu via as quest es da categoria de uma forma mais macro mais ampla N o era uma coisa meio limitada Eu sempre era uma voz que buscava o todo O depoimento de Loir Gon alves importante para os prop sitos desta disserta o j que ele foi um dos principais articuladores da mobiliza o grevista porque tamb m trabalhava na Caldas J nior Na sua fala o discurso do apoliticismo est 380 CUT 20 anos 381 Remi Baldasso nasceu em Caxias do Sul em 1947 Come ou a estudar Jornalismo na UFRGS em 1969
222. den ncia contra a EJCJ por mora atraso salarial Final do m s Mais tr s demitidos somam se a outros oito dispensados anteriormente Outubro 5 realizada uma assembl ia de gr ficos jornalistas e motoristas na sede do sindicato dos banc rios com a presen a de 151 pessoas n mero insuficiente para a delibera o prevista em edital O edital previa a discuss o e delibera o sobre proposta de decreta o de greve na Caldas J nior em face de atrasos continuados de pagamentos de sal rios e amea as de despedida coletiva de empregados 7 Segunda chamada da assembl ia na sede do Sindicato dos Banc rios de Porto Alegre Os funcion rios declaram se em convoca o permanente 13 Em nova assembl ia funcion rios decidem n o entrar em greve 18 Sindicato dos jornalistas envia of cio DRT comunicando atraso no pagamento dos sal rios de setembro na EJCJ R dio Gua ba e TV Gua ba 25 Em reuni o com comiss o de funcion rios Breno Caldas afirma J contemporizei al m dos limites 27 Na v spera da abertura da Feira do Livro funcion rios se concentram no lado de fora da empresa para receber os sal rios formando uma fila na cal ada Cartazes s o presos nas paredes com os dizeres Queremos nossos sal rios Por volta das 19h os trabalhadores sobem as escadas batendo palmas como protesto pelos atrasos salariais 31 Quatorze funcion rios s o demitidos em rep
223. dicais e pessoais AC RD O do julgamento de diss dio coletivo Processo TRT 9217 83 Tribunal Regional do Trabalho 4 Regi o Porto Alegre 6 de dezembro de 1984 ATRTA4 AC RD O de julgamento de recurso da Caldas J nior no TST em 5 de setembro de 1984 Processo TST 3 716 84 Despacho a pedido de efeito suspensivo Di rio Oficial da Uni o 1984 ASJPRGS BOLETINS da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior 13 01 83 a 06 02 84 ASJPRGS BOLETINS de 1983 do Sindicato dos Jornalistas ASJPRGS DI RIO de um jornalista da Caldas J nior anota es de outubro de 1983 a fevereiro de 1984 APCE FOLHETOS da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior ASJP anos 1983 e 1984 inclusive folhetos recolhidos n o distribu dos ASJPRGS LIVRO de presen as nas assembl ias do Sindicato dos Gr ficos ASTIGPA OF CIOS de entidades com mo es de apoios greve em 1983 ASJPRGS PROCESSOS trabalhistas 2075 78 84 280 84 2352 85 2363 84 1806 a 1861 84 1786 a 1799 84 2008 84 299 312 84 314 21 84 2019 84 521 84 1607 a 1609 84 per odo 1983 1985 ATRT4 RELAT RIO preliminar sobre o movimento reividicat rio dos funcion rios da EJCJ Comiss o de Mobiliza o dos Funcion rios da Empresa Jornal stica Caldas J nior Porto Alegre 1984 APJBS com 23 p ginas de texto e 27 documentos anexos 1 C pia do artigo Palmo e Meio de autoria de Breno Caldas publicado em 6 2 83 2 3 4 5 C pias
224. dicatos dada a import ncia que tinha o movimento poca Era uma greve em um meio de comunica o em um momento que a gente estava de transi o saindo de um per odo ditatorial e entrando em um outro que ainda era d vida naquele momento como seria como se comportariam os militares como politicamente amos sair Ent o aquele movimento estava sendo olhado com lupa por todos os movimentos O sindicato dos banc rios foi um dos primeiros a apoiar os protestos na Caldas J nior A diretoria do rg o emprestou suas instala es f sicas o sal o no Edif cio Cacique em frente ao pr dio do Correio do Povo servi o de gr fica e material Segundo Loir Gon alves os banc rios foram de import ncia fundamental para a greve Conforme texto publicado em seu informativo de 21 de dezembro de 1983 os sindicalistas banc rios consideravam a derrocada financeira da Caldas J nior uma esp cie de li o para a classe patronal ga cha que se espelhava h bom tempo no Az Idem ibidem 26 GON ALVES M L Op cit 170 sonho de que vencer na vida exclusivo a pessoas que se rendem ao governo e sua ideologia fazendo deles sua voz e sua opini o A luta contra a dire o da Caldas J nior era portanto uma tomada de posi o contra o conservadorismo e a ades o ao regime militar O informativo anunciava o presente de Natal que a categoria banc ria dava aos funcion rios em greve solidariedade co
225. dientemente a lei conforme parece ter transparecido at aqui Em ata de assembl ia lavrada e assinada por Villas B as e pelo ent o presidente do sindicato dos jornalistas Remi Baldasso datada de 6 de dezembro de 1983 seis dias antes do in cio da greve est anotado que foi deliberado em vota o secreta na forma do disposto no par grafo segundo do artigo sexto da lei 4 330 64 enviar se imediatamente dire o da empresa of cio no qual se consigne as reivindica es dos empregados e a fixa o de data para o atendimento das mesmas sob pena de ser decretada definitiva e imediatamente a paraliza o sic do trabalho Esta vota o tendo em vista a aus ncia do sr representante da procuradoria regional do trabalho que estivera presente sic assembl ias anteriores foi escolhida uma comiss o integrada pelo jornalista Marcelo Villas B as dos Santos pelo gr fico Ademar Moura e pelo motorista C lio Pereira que apurou 230 votos favor veis e quatro contr rios proposi o apresentada ficou estabelecido que o prazo para esse atendimento ser no dia 12 de dezembro pr ximo s 18 horas quando os empregados estar o reunidos novamente no mesmo local para tomarem conhecimento da resposta e se declarararem a greve se for o caso Tudo na forma do artigo d cimo da lei de greve Conforme as atas diante da resposta negativa da empresa houve nova assembl ia no dia 12 que apenas ratificou a decis o No entanto nen
226. dirigia sozinho Uma vez uma guria que depois foi trabalhar l n o me lembro se ela era da PUC ou da UFRGS tinha uma incumb ncia de fazer um organograma da Caldas J nior A ela andou l por dentro falava com um falava com outro A o J lio Duarte pegou e disse Escuta aqui Vera O organograma da Caldas J nior muito f cil de fazer isso aqui mostra o desenho de um tri ngulo tendo no v rtice superior o nome Breno Caldas o doutor Breno e o resto L no r s do ch o Era isso Pergunta Mas tinha os quadros intermedi rios n o Tinha Mas n o mandavam nada n Essa que a verdade E tu para conseguir impor alguma coisa tu at tinha de usar alguns estratagemas E muitos lan avam m o disso Por exemplo O doutor Breno n o quer isso o 312 SCHMIDT Benito Bisso Um socialista no Rio Grande do Sul Ant nio Guedes Coutinho 1868 1945 Porto Alegre UFRGS 2000 p 53 313 Ao comentar este aspecto Leite Lopes se serve da interpreta o feita por Da Matta na obra DA MATTA Roberto Carnavais Malandros e Her is Para uma sociologia do dilema brasileiro S o Paulo Rocco 1994 a respeito da hist ria de Pedro Malasartes O mito de Malasartes poderia ser tomado tamb m como o mito do trabalhador brasileiro sempre em busca do bom patr o capaz de ancor lo na estrutura social Tanto Malasartes quanto os trabalhadores estudados por Leite Lopes podem destruir moralmente o patr o ou os c
227. ditor Nos dois casos a a o dos trabalhadores visa a desautorizar o comando imediato das chefias intermedi rias No primeiro tem um claro sentido de afront la afirmando a dignidade e o direito do i R g Sis pela 4 A 311 funcion rio Esta microf sica da resist ncia termo cunhado por Leite Lopes a partir da observ ncia de epis dios semelhantes na F brica Paulista revela uma postura amb gua entre a resist ncia e a interioriza o da domina o por parte dos trabalhadores O movimento de atribuir a culpa dos problemas fabris s chefias imediatas isentando o patr o capitalista transparece em diversos estudos que enfocam o cotidiano dos trabalhadores brasileiros Ao elaborar a biografia de Ant nio Guedes Coutinho l der oper rio socialista na Rep blica Velha ga cha por exemplo Schmidt encontrou epis dios nos quais certos incidentes ocorridos no cotidiano oper rio n o eram vistos WEYNE R Op cit Adil Borges Fortes da Silva irm o de Adail do Correio do Povo foi secret rio de reda o da Folha da Tarde e tinha uma coluna di ria muito conhecida sob o pseud nimo de Hil rio Hon rio onde exibia opini es conservadoras e alinhadas com o governo militar 310 HOHLFELDT A Op cit 311 LOPES J S L Op cit p 81 126 como frutos de um sistema injusto mas como resultados da falta de car ter dos superiores imediatos 2 Tais eventos denotam certamente uma aceita o da rela
228. do Correio Rural Sobre ele o jornalista Walter Galvani declarou em depoimento para esta pesquisa O pessoal da gr fica era liderado por um cara chamado Augusto Gentile que tinha um poder muito forte em cima deles porque era ligad ssimo ao diretor industrial da empresa que era o senhor J lio Duarte Ent o o que o seu J lio dizia o Gentile fazia GALVANI W Depoimento No livro Um s culo de poder de Galvani h uma foto da oficina de composi o da Caldas J nior em 1932 na qual aparece Duarte trabalhando como gr fico Sobre Gentile h refer ncia de que j em 1956 ele era gerente do setor de linotipos da empresa GALVANI W Um s culo p 313 e 394 Num an ncio dos Supermercados Real publicado em 1975 na edi o comemorativa dos 80 anos do Correio do Povo aparece uma galeria de fotos de antigos funcion rios da Caldas J nior entre eles Gentile informando sua condi o de chefe da mec nica desde 1934 ESTES homens maravilhosos e seu trabalho an nimo An ncio publicit rio Real Supermercados Correio do Povo Caderno especial 80 anos 1 10 75 p 6 APCE 5 FRAGA J e SILVA S Op cit arg Idem ibidem 27 CALDAS B Op cit p 63 64 92 Ao examinar o caso da regi o do Quarto Distrito porto alegrense nos anos 30 e 40 Alexandre Fortes observa que as pol ticas sociais da Varig e da Renner visavam mais do que suprir as necessidades materiais e simb licas dos trabalhadores alimentar a imagem
229. do Povo e eu Correio do Povo Suplemento especial 1895 1975 80 anos de Correio do Povo 1 10 75 p 3 120 oportunidade de ter escrito textos para a se o feminina num per odo em que sua situa o financeira n o era satisfat ria Mas indica tamb m a imagem que a pr pria empresa buscava perpetuar sublinhando sua penetra o no horizonte cultural social e pol tico do Rio Grande do Sul ao mesmo tempo que sinalizava o local de produ o como territ rio de afinidades e afetos pessoais entre pai e filhos A autoridade do empres rio Breno Caldas como o patriarca dessa fam lia poderosa e tolerante n o poderia ser legitimada sem um investimento significativo na constru o de sua figura p blica Neste sentido que certos comportamentos rotineiros de Caldas podem ser compreendidos como atos e rituais desempenhados cotidianamente no palco do ambiente de trabalho Ao examinar a rela o entre patr cios e plebeus na Inglaterra do s culo XVIII Thompson sugere que longe de uma rela o pr xima e calorosa o paternalismo era uma t cnica de dom nio que implicava um teatro de dominantes e um contrateatro de dominados nos quais estavam em jogo atos vistos simultaneamente pelos diferentes atores como poderes e benef cios doa es e conquistas Chama a aten o portanto n o s para as a es encenadas por esses atores no palco social visando estabelecer e alargar posi es mas tamb m para a forma c
230. do capit o de ind stria como pai da fam lia que pretendia constituir no mbito da empresa O empres rio era visto neste contexto como um modelo a ser gado in iin 218 seguido imbu do de um papel empreendedor provedor e disciplinador Tais empresas ofereciam a seus funcion rios uma ampla gama de benef cios 219 Interessante cuja contrapartida era o dever de lealdade e obedi ncia absolutos lembrar que foi exatamente nestas d cadas que Breno Caldas tomou as r deas da Caldas J nior cuja dire o havia circulado por v rios nomes desde a morte do fundador e pai 220 3 Breno firmou se e de Breno Francisco Antonio Vieira Caldas J nior em 191 formou se no controle da empresa numa poca em que um dos principais modelos de administra o e sucesso empresariais no Rio Grande do Sul era A J Renner o qual no comando das Ind strias Renner esmerou se em cultivar uma imagem de pai severo e atencioso A figura do empres rio Breno Caldas essencial e recorrente na forma como os funcion rios incorporam e interiorizam as rela es de domina o na Caldas J nior Uma figura representada de forma amb gua ao mesmo tempo pr xima e superior Ele era uma pessoa simples Ele ficava s vezes no meio de n s Ele era um deus l Um deus para os funcion rios O Breno fazia assim o pessoal dos antigos que se aposentavam mas continuavam l ele pagava um dinheiro por fora Ele sempre ajudou
231. do per odo de retomada da mobiliza o sindical no pa s ao final da ditadura militar A an lise do objeto foi constru da com o prop sito de tentar resolver quatro problemas principais A escolha deste itiner rio de pesquisa implicava uma fragmenta o anal tica do acontecimento deixando em segundo plano a preocupa o cronol gica Tornou se necess rio por isso um primeiro cap tulo onde fosse poss vel estabelecer alguns marcos factuais que permitissem ao leitor entender as concatena es internas do evento possibilitando tamb m o aprofundamento das quest es enfocadas Neste cap tulo o movimento foi localizado no tempo e no espa o A Caldas J nior palco da greve era a editora do mais tradicional jornal do Rio Grande do Sul o Correio do Povo que detinha uma imagem de imparcialidade e de credibilidade cultivada durante d cadas A vis o de mundo e os interesses da empresa naturalizados na medida que seus ve culos a constru am como neutra e imparcial sofreu abalos com a publiciza o dos conflitos nas rela es de trabalho vigentes no seu interior O cap tulo tamb m aprofundou a reflex o te rica Refutando o car ter de inevitabilidade dado pelas testemunhas ao passado tentei compreender as experi ncias vividas pelos protagonistas da greve como inseridas no contexto econ mico e pol tico da poca sujeitas portanto a suas determina es mas tamb m agindo sobre elas A partir disto aprofundei as ques
232. do policiais a assembl ias da categoria Al m disso Silva conforme reportagens publicadas no Coojornal e no Em Tempo costumava mandar of cios DRT e s empresas de nibus apontando nomes e pedindo TA E f A 1 provid ncias contra motoristas que o perturbavam 288 ROSA Paulo Cezar da O movimento sindical ga cho em 1983 Em Tempo S o Paulo n 184 9 a 22 de fevereiro de 1984 p 11 CDS NPH 387 Idem ibidem 3 In SCHMIDT Benito Bisso coord Hist ria e Mem rias do PT ga cho 1978 1988 Porto Alegre Diret rio Estadual do Partido dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul Funda o Perseu Abramo 2002 documento in dito 31 RUCKERT S rgio Flagrante no pelego dedo duro Em Tempo S o Paulo n 114 11 a 24 de setembro de 1980 p 8 9 CDS NPH e OTT Clovis Dela o documentada Coojornal Porto Alegre n 57 setembro de 1980 p 15 BFabico Em uma das cartas reproduzidas pelo Em Tempo datada de julho de 1980 Othelo pede desculpas ao ent o delegado regional do trabalho Celito de Grandi por ter inclu do o nome do advogado Luiz Burmeister que posteriormente seria um dos nomes mais atuantes na greve da Caldas J nior em boletim da entidade O advogado considerado na carta persona non grata pelas id ias pol ticas que defende pelo regime vigente O dirigente ressalta que o delegado pode ficar tranquilo pois os mesmos Burmeister e seus assistentes n o t m atua o funcional na
233. dois cassetes sonoros uma hora e 30 minutos Nascido em 25 de fevereiro de 1951 Manoel Loir Gon alves ou Loir Gon alves como mais conhecido profissionalmente come ou a trabalhar como fot grafo em sua cidade natal Torres Fotografava turistas beira da praia Nos anos 70 veio para Porto Alegre onde passou a trabalhar no jornal Di rio de Not cias Em 1975 tornou se funcion rio da Caldas J nior onde permaneceu at 1984 Foi vice presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul na gest o de Remi Baldasso 1983 1984 per odo no qual ocorreu a greve na Caldas J nior Um de seus filhos nasceu durante a greve Transferiu se depois para o rec m lan ado jornal O Estado do Rio Grande que teve vida curta apenas oito edi es em mar o de 1985 e em seguida passou a atuar em Zero Hora onde se tornou segundo suas palavras o primeiro rep rter fotogr fico da rea pol tica do Rio Grande do Sul Acumulou o trabalho em ZH com um cargo na Assembl ia Legislativa Em 2001 como conseq ncia de severa cardiopatia se aposentou Atualmente mora em Torres 333 ALMEIDA M N M Op cit 334 A CORDA rebenta no lado do mais fraco Den ncia edi o extra especial Porto Alegre dezembro de 1983 n 27 p 4 ASJPRGS 135 Sair para a rua deixar o territ rio de dom nio da empresa libertar se do espa o privado da submiss o A amea a clara ao arb trio patronal Na rua a mesma fila deixa de ser
234. dos jornalistas remete a um anseio 341 por autonomia e por amplia o do espa o de poder dos trabalhadores Pode ser relacionada tamb m experi ncia do Coojornal Em depoimento a jornalista Maria Nazar de Almeida relatou que havia tamb m propostas de implanta o de novas rotinas de produ o com o objetivo de obter mais receita Uma das id ias era transformar a Central do Interior da Caldas J nior conhecida por ter a melhor estrutura de cobertura do estado em uma ag ncia de not cias Com isso passaria a ser cobrada uma taxa pelo servi o de repasse de informa es j prestado informalmente aos colegas das outras empresas A partir destas tentativas de interferir diretamente na administra o da empresa pode se perceber que os representantes dos trabalhadores reclamavam da dire o o seu reconhecimento como interlocutores e como co respons veis pelo futuro da Caldas J nior Queriam ser vistos como sujeitos do processo com direito a opinarem e serem ouvidos medida que sua interfer ncia foi sistematicamente recha ada por m passaram a alimentar uma crescente desconfian a em rela o capacidade administrativa da autoridade patronal Um epis dio ocorrido em um dos encontros e relatado pelo jornalista Jo o Borges de Souza exemplifica este ceticismo Ele mesmo Caldas tomou a iniciativa de dizer que as dificuldades na rea de jornalismo n o eram s da Caldas J nior Que outras empresas do pa s
235. dos pela Caldas J nior Correio do Povo Porto Alegre 22 de janeiro de 1984 p 1 capa A s rie come ou com a reportagem MINORIA grevista volta a apelar para a viol ncia publicada na capa da Folha e do Correio em 20 de janeiro MCSHJC 172 resposta a esses ataques um dos epis dios que evidencia a import ncia da uni o das entidades dos trabalhadores em greve Mesmo separados por ideologias e pr ticas distintas os tr s sindicatos fizeram publicar nos outros jornais da grande imprensa do Rio Grande do Sul uma nota oficial conjunta intitulada Caldas J nior se omite e procura forjar fatos No texto a acusa o de viol ncia era qualificada como farsa A nota ainda indagava Quem pode garantir que a pr pria empresa n o tenha encomendado danos ao seu patrim nio para com isso colocar se na condi o de v tima perante a opini o p blica e autoridades 7 Nesta e em outras ocasi es como nas audi ncias na Justi a do Trabalho e nos encontros com o empresariado e o governo a uni o dos sindicatos refor ou os argumentos dos trabalhadores e foi um dos elementos que conseguiu manter o movimento por quase dois meses a despeito das demiss es da falta de dinheiro dos n o grevistas da indiferen a governamental e da trucul ncia patronal Figura 9 Passeata dos grevistas no centro de Porto Alegre em janeiro de 1984 Foto de Carlos A Silva ASJPRGS 81 CALDAS J NIOR se omite e procura
236. dr es habituais N o havia mais como esconder a crise E este foi talvez o grande resultado da greve na Caldas J nior O movimento cujo resultado visto hoje dist ncia de duas d cadas se aproxima por vezes da derrota por vezes da vit ria com caracter sticas claramente defensivas exp s publicamente as condi es de trabalho a falta de dinheiro as escolhas editoriais o autoritarismo e o paternalismo ocultos por tr s da fachada do velho e suntuoso pr dio da Caldas J nior com a Rua da Praia durante d cadas ponto de peregrina o de governadores e pol ticos em busca do apoio e do poder que emanava do Correio do Povo Os brigadianos que cercavam o pr dio do antigo Edif cio Hudson comprado em 1943 pela Caldas J nior eram uma pista para qualquer passante desavisado compreender que estava diante da iminente derrocada de um s mbolo e com ele de um poder 2 Um imp rio em crise Se a greve da Caldas J nior teve um significado espec fico sobre a sociedade ga cha como defendido nas p ginas anteriores o que a tornou poss vel Quais as for as motiva es conting ncias e a es que impeliram estes protestos rua Por que ela acontece naquele momento Uma das formas de come ar a responder a essas perguntas se aproximar das circunst ncias emp ricas do acontecimento delimitando suas conforma es num esfor o narrativo com preocupa es cronol gicas Essa descri o vista aqui n o s como forma de a
237. e retirar a imprensa do Rio Grande do Sul do seu atraso em rela o ao Centro do pa s de seu est gio semi profissional Entre outras medidas Bones exigiu que se acabasse com o duplo emprego na reda o criando a condi o de exclusividade a partir da eleva o de sal rios BONES Elmar Apud KUCINSKI B Idem p 270 Bones foi um dos presos em 1983 130 FOLHA MATUTINA HOJE EDI O DE 30 PAGINAS 30 M DICI INAUGURA H Figura 2 O ministro Jo o Leit o de Abreu chefe da Casa Civil da Previd ncia goveno M dici visita o E z VISITA DO MINISTRO LEIT O DE ABREU Correio do Povo sendo Acompanhando o presidente M dici encontra se nesta Capital o minisiro Jo o Leit i 1 A a ta Capit eit o d ARE eia da un Civil da Presid ncia Ontem noite o ministro Leit o de be OR recebido por Breno Caldas ntigo colaborador visitou o Correio do Povo como sempre o faz quando de suas vind 7 a Porto Alegre sendo recebido pelo nosso diretor dr Breno Caldas com quem aparece na fo Correio do Povo Porto Alegre to acima 26 09 73 p 30 contracapa PROPRIRDADE A JORSALISTICA CALDAS JUNIOR PORTO ANQ 86 N 1 Governador e Secret rio da Fazenda conheceram novos equipamentos Amaral de Souza visitou ontem o Correio do Povo EE N RP cia Eu E E ee Noa e ri ah ge de O de Souza visita o Correio do TF E io fad
238. e motorista uma pedrada no dorso O administrador Adriano Soares foi alvejado com um tijolo no ombro Os danos propriedade por outro lado atingiram maiormente ve culos do setor de transportes em n mero de 15 entre caminh es e furg es que tiveram p ra brisas e janelas quebrados al m de in meros amassamentos No outro lado da trincheira as duas p ginas centrais do jornal Den ncia editado pelos grevistas abordavam a viol ncia de Breno Caldas queixando se de alterca es com a Brigada Militar e com os seguran as da empresa Sobre os fatos ocorridos no dia 14 um texto atribu a a origem das pedradas contra o vidro do ve culo da Caldas J nior a uma pessoa n o identificada que quase foi esmagada por um dos caminh es Al m disso informava que no mesmo dia Na Rua Sete de Setembro esquina com Bento Martins dois motoristas grevistas foram cercados por policiais militares Imediatamente um Fiat 43 A NOITE agitada Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 13 de dezembro de 1983 ASJPRGS 44 MOVIMENTO de grevistas descamba para a viol ncia Correio do Povo Porto Alegre 15 de dezembro de 1983 p 1 e VIOL NCIA marca o movimento grevista Folha da Tarde Porto Alegre 15 de dezembro de 1983 p 2 MCSHJC 166 branco aproximou se com tr s seguran as em seu interior entre eles o famigerado FLORIVALDO segundo o jornal seguran a pessoal de Breno Caldas Protegido
239. e preocuparam tanto em fazer vota o secreta isso era necess rio Era porque a gente tinha medo da ilegalidade da greve Da ilegalidade por falta de qu rum da ilegalidade por falta de edital da ilegalidade por voto a descoberto Ent o a gente tomava todas as precau es E deu resultado N s ganhamos a greve Cabe lembrar que nesta entrevista realizada em 2005 Burmeister se lembrava muito pouco de detalhes do movimento grevista Sua mem ria privilegiou um epis dio jur dico ocorrido depois do fim da paralisa o da interrup o da circula o dos jornais e da fal ncia da Caldas J nior o cons rcio de credores O cons rcio foi um acordo feito entre empresa trabalhadores Justi a do Trabalho e vara de fal ncias no sentido de unir 8 DORNELES Leandro do Amaral D A transforma o do direito do trabalho da l gica da preserva o l gica da flexibilidade S o Paulo LTR 2002 p 64 Segundo Dorneles a l gica espec fica pela qual o Direito do Trabalho foi definido a de uma regula o preservacionista que busca um sistema de prote o m nima nunca m xima e progressiva visando a preserva o da dignidade da pessoa humana que trabalha O autor observa uma tend ncia de flexibiliza o e desregulamenta o dos direitos trabalhistas que descaracteriza os princ pios desta l gica de preserva o nas ltimas d cadas Ver tamb m p 15 68 e 131 170 5 Discurso de posse do juiz J
240. e produ o da Associa o Americana de Editores de Jornais Dna E o aos 243 Tecnologia in til se n o eliminar pessoas Segundo dados citados por Cockburn entre 1965 e 1978 a Uni o Tipogr fica Internacional que representava compositores perdeu mais de um ter o de seus membros algo em torno de 34 mil pessoas A estimativa de que 80 desta perda se devia ao ingresso da fotocomposi o na ind stria gr fica O processo de substitui o do sistema a quente com chumbo pelo a frio fotocomposi o e computador marca o ingresso do setor gr fico na chamada reestrutura o produtiva processo que se inicia em meados dos anos 70 e ainda em desenvolvimento nos dias de hoje Pressup e mudan as institucionais e organizacionais nas rela es de produ o e de trabalho redefini o de pap is dos 2 MART N E Op cit p 398 23 COCKBURN C Op cit p 65 Um dos pontos da an lise da autora justamente os conflitos de g nero provocados pela nova configura o do of cio gr fico p s mudan a t cnica 100 Estados nacionais e das institui es financeiras e especialmente para o caso em estudo a introdu o das novas tecnologias informatizadas Entre as mudan as tecnol gicas que marcam a reestrutura o produtiva est o desenvolvimento da inform tica na rea da produ o e da automa o microeletr nica respons vel entre outros pela implanta o intensiva de rob s na
241. e sentido Lu s Felipe Miguel recorda o papel espec fico de Assis Chateaubriand dono dos Di rios Associados na deflagra o da Revolu o de 30 e em outros epis dios marcantes da hist ria pol tica nacional Quanto m dia em geral cita o caso do apoio da Rede Globo de Televis o candidatura de Fernando Collor de Mello eleito presidente da Rep blica em 1989 In MIGUEL Lu s Felipe Retrato de uma aus ncia a m dia nos retratos da hist ria pol tica do Brasil Revista Brasileira de Hist ria S o Paulo ANPUH v 20 n 39 p 195 197 2000 Sobre a rela o entre a imprensa e a ascens o e queda de Collor alvo de impeachment em 1992 ver tamb m CONTI Mario Sergio Not cias do Planalto S o Paulo Companhia das Letras 1999 1 R DIGER Francisco Tend ncias do Jornalismo Porto Alegre UFRGS 2003 p 77 e GALVANI W Um s culo p 25 36 107 Apud R DIGER F Op cit p 77 108 CALDAS B Op cit p 22 57 30 e a ades o ao golpe de 64 O poder de moldar a opini o p blica ga cha era expresso simbolicamente nas fotos publicadas no Correio e na Folha da Tarde retratando as visitas dos governadores rec m empossados a Breno Caldas filho do fundador e presidente da empresa desde 1935 Caldas costumava comentar esta proximidade com os pol ticos como exemplo n o da sua influ ncia pessoal mas da do Correio do Povo Recordava por exemplo que nos anos 70 o presidente da Rep blica general Em lio M dici che
242. e ser considerado sem exageros o jornal mais importante da hist ria do Rio Grande do Sul tanto por sua influ ncia pol tica quanto por sua penetra o social Mas eu n o sabia a data as circunst ncias os desdobramentos daquela paralisa o Entre v rias outras possibilidades o acontecimento acabou sendo eleito como tema de pesquisa por alguns motivos Em primeiro lugar o assunto oferecia uma rela o com a minha viv ncia e minha sensibilidade de trabalhadora sou jornalista e fui rep rter e editora de um jornal di rio Zero Hora por 14 anos al m de ter desempenhado anteriormente fun es como banc ria no Banco do Brasil A hist ria do trabalho me pareceu o elo capaz de unir o estudo da Hist ria e o conhecimento constru do pelas minhas experi ncias de vida A segunda raz o de ordem pr tica a abund ncia de fontes dispon veis para a pesquisa Logo de in cio obtive c pias de boletins de greve folhetos atas trechos de um di rio pessoal of cios enviados pelas entidades representativas dos trabalhadores Justi a do Trabalho e Delegacia Regional do Trabalho senten as judiciais fotos um jornal editado pelos grevistas reportagens e apedidos publicados na grande imprensa Eram mais de uma centena de p ginas de documentos que me permitiriam acompanhar praticamente em seu dia a dia a paralisa o do trabalho ocorrida h duas d cadas 14 No decorrer da investiga o esse manancial foi acrescido pela
243. e uma descri o do processo judicial e de um exame da lei 4 330 que estabelecia um grande n mero de requisitos para declarar uma greve legal e cuja derrubada foi defendida arduamente pelos sindicalistas que lideraram a retomada dos movimentos grevistas no final dos anos 70 A lei no entanto n o proibia totalmente a greve havia uma margem nfima de legalidade que por ser t o diminuta permitiu ao legislador facultar aos grevistas que a obtivessem uma s rie de garantias como aliciamento de trabalhadores coleta de donativos e proibi o de dispensa dos empregados paralisados 216 O Direito neste epis dio n o mera esfera de domina o de classe mas campo de luta Conforme j ressaltou Thompson a id ia de justi a crucial para legitimar a lei Mesmo leis arbitr rias precisam atender a requisitos formais capazes de dar a impress o de justi a Al m disso leis n o s o auto aplic veis E no caso espec fico observei uma movimenta o entre ju zes e advogados trabalhistas no sentido de defender um alinhamento das decis es da Justi a do Trabalho com as demandas populares e sociais da poca No entanto se a permeabilidade a uma vis o mais progressista por parte dos operadores do Direito espec fica do per odo e as pr prias brechas na 4 330 permitiram formular a hip tese de legalidade da greve ou seja havia condi es de possibilidade para que isso ocorresse houve tamb m a es dos trabalhadores e de s
244. e uma explica o para o passado a mem ria relaciona a divis o dos trabalhadores s retalia es patronais buscando na id ia de radicaliza o uma forma de significar as dissens es internas As comiss es eram piquete alimenta o boletins fundo financeiro interior mobiliza o e por fim habita o luz e gua conforme os boletins de greve 8 RELAT RIO preliminar sobre o movimento reivindicat rio dos funcion rios da EJCJ Relat rio elaborado pela Comiss o de Mobiliza o dos Funcion rios da Empresa Jornal stica Caldas J nior Porto Alegre 1984 APJBS Sobre o encontro com Leit o de Abreu ver MINISTROS Greve legal Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 11 de janeiro de 1984 ASJPRGS s Depoimento de Marco Marona citado em GERMANO Erika MARONA Leonardo et al Op cit 50 Em 21 de dezembro uma nota da dire o da empresa na capa do Correio do Povo e da Folha da Tarde informava a demiss o por justa causa de todos os grevistas 2287 por terem praticado atos de indisciplina Os trabalhadores paralisados passaram ent o a receber telegramas comunicando da demiss o em suas casas O linotipista Ant nio Adair Ferreira da Silva na poca tesoureiro do sindicato dos gr ficos foi um dos destinat rios Adair trabalhava desde 1972 na Caldas J nior depois de ter passado pelas oficinas dos jornais Zero Hora e ltima Hora Era um dos poucos que continua
245. e verdade Prost observa similitudes entre o trabalho de busca de provas de historiadores e jornalistas Para estabelecer os encadeamentos as causas e as responsabilidades os historiadores se lan am a investiga es no sentido de que falamos de investiga es de um juiz de instru o ou de um jornalista Tais semelhan as aparentes por m por vezes escondem diferen as profundas Campo predominantemente pr tico no qual a reflex o te rica pouco dialoga explicitamente com a a o o jornalismo n o aspira ao status de ci ncia Seu exerc cio subordina se de forma muito mais direta a uma estrutura de produ o at porque o texto jornal stico antes de tudo um produto pass vel de ser vendido Este texto se enquadra em moldes cujos crit rios narrativos s o definidos e onipresentes atualidade universalidade periodicidade e difus o Por mais ambi o de historiador que tenha o entrevistador ele estar implicado em tocar o presente atualidade por mais psic logo que queira ser diante de um interlocutor confessional ele ter de se ater a tra os significativos para muitas outras pessoas que na comunica o an nima se identifiquem com o entrevistado universalidade por mais profundo que queira ser no tempo e no espa o tal qual um artista ao pintar seu modelo n o poder se desvincular do timing 24 horas ou menos periodicidade e por mais vanguardista que seja seus mpetos de ruptura art sti
246. eceber remunera o fixada por lei ou estiver amparado pela legisla o do trabalho 458 gua esgoto energia el trica petr leo g s e outros combust veis bancos transportes comunica es carga e descarga hospitais ambulat rios maternidades farm cias e drogarias bem como por ato do 184 atribuiu ao ministro do Trabalho a fun o de reconhecer o estado de greve Ainda em 1978 a Lei de Seguran a Nacional previu puni es para a incita o greve A lei 4 330 que permaneceu vigente de 1964 a 1989 estabelecia uma s rie de pr condi es para o exerc cio legal da greve que o tornava na pr tica quase imposs vel Em suma teoricamente um direito como previsto na Constitui o de 1946 as paralisa es do trabalho eram na pr tica quase sempre ilegais Os principais En z E rf 3 PD oi requisitos da lei n 4 330 considerados por alguns juristas como conden veis ou 5460 exagerados eram basicamente os seguintes 1 A greve precisaria ser autorizada por assembl ia geral da entidade sindical dois ter os dos associados em primeira convoca o e um ter o na segunda com intervalo m nimo de dois dias entre elas Em sindicatos que representassem mais de 5 mil trabalhadores o qu rum em segunda convoca o era de um oitavo dos associados 2 A assembl ia seria convocada com a publica o de edital em jornais com anteced ncia m nima de 10 dias 3 A decis o da assembl
247. ecutivas 1995 1998 e 1999 2002 Est aposentado da profiss o Foi entrevistado em setembro de 2005 no sindicato dos gr ficos com seu colega Solis Souza da Silva Na poca era tesoureiro da entidade FRAGA Jos Ant nio Guimar es de e SILVA Solis Souza da Depoimento 5 de setembro de 2005 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro uma hora 90 Mesmo para os gr ficos especialistas em outras fun es trabalhar na Caldas J nior era s mbolo de status e possibilidade de uma recompensa salarial superior ao mercado Financeiramente era o melhor emprego que tinha definiu o tip grafo Nilton Schergl da Silva que deixou uma nascente carreira no Ex rcito em troca de uma promessa de trabalho na empresa Mas a remunera o satisfat ria est sempre associada na mem ria destes oper rios lembran a de rotinas exaustivas Nilton por exemplo contou que nos dias de semana trabalhava at uma ou duas da manh com exce o das sextas feiras quando na poca dos classificados tinha muito trabalho Comecei na Folha da Manh na Caldas J nior depois passei para a Folha da Tarde e depois para o Correio do Povo E o Correio no fim de semana tinha os classificados Uma imensid o de classificados Ent o eu ficava armando an ncio Terminava o jornal uma hora duas horas da manh ficava armando an ncio at as seis horas da manh Eu sa a s seis e voltava s nove Ia em casa t
248. efe da oficina Os oper rios de modo geral ao contr rio do que pensam meus correligion rios marxistas s o extremamente conservadores Aquele cidad o conservava o segredo de certas t cnicas que n o queria revelar reda o Querendo idealizar um pouquinho dar um tom rom ntico a essa coisa toda pode se dizer que era uma forma mais ou menos primitiva de luta de classe ele lutava contra a classe m dia que era a reda o Mais adiante Abramo conta que fazia dez anos que ningu m da reda o descia oficina de medo f sico do chefe O Estado tinha uma massa gigantesca de an ncios O chefe da oficina media com um barbante o tamanho de cada an ncio que entrava e ia acumulando meia noite esse cidad o subia reda o com o pesco o enrolado de barbante e dizia tem tudo isso de an ncios Uma das primeiras medidas da reforma foi afastar o chefe da oficina com o que segundo o jornalista passamos a usar uma m quina na qual amos somando os tamanhos dos an ncios conforme as ordens iam entrando ABRAMO Cl udio A regra do jogo S o Paulo Companhia das Letras 1997 p 31 32 25 FRAGA J e SILVA S Op cit 94 Porque eu n o preciso de jornalistas eu pego e copio Agora o gr fico o pa a 227 cora o do jornal Sem esse cora o o jornal n o funciona O epis dio parece ter se firmado fortemente na mem ria coletiva para reafirmar por um lado a import ncia e a ascend
249. eflagrada a greve E o transporte amanheceu parado e foi da noite para o dia e s quatro horas da tarde foi resolvida a greve Do sal rio de 4 300 reais na poca a gente passou para 7 200 Apesar de abalados ap s serem demtidos das empresas onde trabalhavam os militantes oposicionistas se viram refor ados no ano seguinte greve pela divulga o das den ncias de vincula o entre o presidente do sindicato e as autoridades governamentais entre elas algumas ligadas aos rg os de seguran a Silva acabou destitu do em 1981 passando o sindicato a ser administrado por uma junta governativa presidida por Rodrigues um dos que havia tido seu nome apontado para o Dops pelo 394 antigo l der dos rodovi rios Em julho de 1983 ocorreu nova elei o com tr s chapas concorrendo e Rodrigues foi oficialmente eleito pela chapa 3 Carga Pesada 32 Para um relato desta greve ver SOARES M F Op cit p 70 72 O autor ressalta que o movimento dos rodovi rios coincidiu com o segundo dia de greve dos trabalhadores da constru o civil em Porto Alegre Assim o ambiente social oferecido pela greve da constru o somado total paralisa o dos transportes coletivos da cidade se constitu a em fortes fatores de press o sobre as autoridades respons veis pela ordem p blica 33 RODRIGUES O G Op cit Conforme o Em Tempo os motoristas reivindicavam Cr 8 400 00 e passaram a ganhar Cr 7 200 00 depois da
250. eito e sim pela cr tica do testemunho pela metodologia e pelo di logo com outros autores Esta postura n o abre m o por m de valorizar elementos do jornalismo que me parecem fecundos quando vistos na perspectiva de uma rela o com a hist ria entre eles o olhar sempre cr tico e curioso sobre o presente Neste sentido cito Jean Pierre Rioux para quem a hist ria do presente tomou emprestado e interiorizou mais do que se diz algumas boas receitas da imprensa Na escolha de seus temas impelida pela atualidade e submetida press o das testemunhas e dos atores que desejam que sua experi ncia seja rememorada numa produ o ou numa co produ o hist ricas Em suas pr ticas de pesquisa de campo e no uso do gravador No estilo mais conciso de sua escrita e na cor por vezes mais cambiante de seu relato Em suma em seu do Ae i 52 contato permanente com a exig ncia dos vivos e a impetuosidade do atual De fato a hist ria do presente abriu novos campos historiogr ficos e engendrou desafios te ricos e metodol gicos Entre as maiores dificuldades est justamente a diminui o da vis o retrospectiva do historiador Assim o objeto de conhecimento precisa ser entendido em permanente movimento pass vel de sofrer reinterpreta es a partir de novas situa es do presente O que j ocorreu n o muda mas o significado do passado n o p ra de transformar se luz das dura es sucessivas Outra caracter stica q
251. eivindicava reajuste salarial e produtividade A partir de 1982 preponderam os pedidos de pagamento de sal rio e 13 atrasados Alguns casos relacionados no levantamento de Petersen s o eloq entes A paralisa o da Companhia Eletro Mec nica S A Coemsa em mar o de 1983 por exemplo teve como motiva o principal t o somente a reivindica o de estabilidade no 1 Dados referentes ao Rio Grande do Sul extra dos de COLOMBO Neli Terezinha Fornari O sindicalismo urbano no Rio Grande do Sul 1964 1979 Porto Alegre CDS s d NU EZ Tarson Movimenta o grevista e sindicalismo In CATTANI A Sindicalismo a o e reflex o Caxias do Sul EDUCS 1990 p 85 111 e PETERSEN A Op cit NU EZ apresenta pequenas discrep ncias em rela o a PETERSEN no que tange ao n mero de greves em 1980 24 e n o 27 1981 40 e n o 43 e 1982 15 e n o 16 provavelmente porque trabalha com outras fontes Optei por reproduzir sempre o maior n mero Para o Brasil utilizo o levantamento elaborado por Mattos a partir de diversas fontes reproduzido em MATTOS M B Novos e velhos sindicalismos p 241 150 PETERSEN A Op cit p 103 69 emprego por um ano Todas as sete greves de trabalhadores de hospitais ga chos realizadas entre 1980 e 1983 cinco delas na Santa Casa de Miseric rdia foram motivadas por atraso no pagamento de sal rio assim como todas as cinco amea as de greve que ocorreram no setor no mesmo per odo
252. el central na greve partindo em seguida para o exame da conforma o dos protestos 1 A viv ncia das rela es de trabalho O fator principal para a perman ncia de um modelo de domina o paternalista na Caldas J nior at o in cio dos anos 80 a despeito do car ter e da personalidade do empres rio Breno Caldas o sucesso no controle dos funcion rios necess rio explora o crescente da for a de trabalho Um ind cio dessa efic cia s o as dificuldades apontadas pelos sindicalistas para mobilizarem os trabalhadores dentro da Caldas J nior apesar da pol tica relativamente liberal da empresa em rela o sindicaliza o N o encontrei evid ncias de que a Caldas J nior oferecesse a seus funcion rios um programa institucionalizado de servi os sociais habita o ou escola por exemplo ao contr rio de outras empresas ga chas como a Renner e a Varig onde esses 2 e P 277 benef cios eram um dos alicerces da pol tica paternalista A empresa tinha apenas uma associa o beneficente lembrada por conceder empr stimos Al m disso sua 2 Para formular esta id ia tomo em considera o depoimentos de v rios trabalhadores da Caldas como o j citado do gr fico Ant nio Adair Ferreira da Silva Porque a Caldas J nior tinha uma coisa se tu entravas na empresa hoje ou amanh j tinha um conversando contigo para tu te associares no sindicato E a empresa nunca colocou sequer um bice neste
253. em modelos 124 administrativos mais modernos Em junho de 1984 quando o Correio do Povo e a 12 BONS LUCROS na Caldas J nior Coojornal Porto Alegre outubro de 1976 Ano I n 9 p 11 BFabico 121 Um exemplo a forma pela qual relata a negativa do ent o governador ga cho Jair Soares em emprestar papel da Imprensa Oficial para a Caldas J nior imprimir seus jornais O Jair era muito ligado a um grupo de concorrentes nossos Eles t m defunto enterrado juntos Ele me ursou mesmo In CALDAS B ibidem p 56 grifo do autor 122 A Resolu o 63 permitia empr stimos por repasse de d lares atrav s das institui es banc rias Mais tarde a Caldas J nior questionou judicialmente a corre o cambial de seus d bitos alegando que embora sua d vida tenha sido contra da em moeda estrangeira a moeda nacional na poca era o cruzeiro No entanto a Justi a negou provimento recusou os argumentos da apela o Ver CALDAS J NIOR formaliza acordo com o Banrisul Zero Hora Porto Alegre 21 de dezembro de 1984 p 26 MCSHJC 123 ANACRONISMO gerencial E a Caldas J nior faliu Meio amp Mensagem S o Paulo agosto de 1984 1 quinzena Ano IV n 134 p 15 BFabico 124 Em especial o grupo ga cho de Comunica o RBS cujo principal jornal Zero Hora j era impresso em sistema off set desde 1969 Em 1979 o Correio do Povo ocupava o 9 lugar no ranking dos maiores di rios do pa s da Revista Vis o m
254. ente saldados Os documentos mostram uma preocupa o dos trabalhadores em se enquadrar na legisla o visando benef cios usando uma lei autorit ria e restritiva como garantia de seus direitos e a Justi a do Trabalho como fiadora Indicam tamb m uma avalia o da possibilidade de vit ria neste campo que podia ou n o ser baseada em percep es anteriores de posicionamentos do Judici rio Assim como em rela o s demais quest es elencadas a resolu o do problema posto pela quest o jur dica transcende uma an lise puramente econ mica da greve Sobre a quest o da inevitabilidade hist rica Isaiah Berlin observa que o enquadramento do passado em grandes modelos ou padr es n o consegue explicar a quest o do motivo e da responsabilidade humanas Por tr s deste determinismo h uma atitude metaf sica que toma como certo que explicar uma coisa descobrir o seu prop sito 2 Compreender torna se explicar e explicar justificar Nesta concep o a no o de um espa o limitado por m real de liberdade individual torna se irrelevante Ou melhor uma ilus o A cr tica de Berlin contundente Sempre que n o h escolha n o h ansiedade e segue se uma feliz dispensa da responsabilidade H quem sempre prefira a paz da pris o uma seguran a contente o senso de ter por fim encontrado o seu lugar apropriado no cosmos aos conflitos e perplexidades dolorosos da liberdade desordenada do mundo
255. epend ncia frente a manipula es flagrantes e pare a ser justa N o conseguir parec lo sem preservar sua l gica e crit rios pr prios de igualdade na verdade s vezes sendo realmente justa Entre os princ pios que legitimam o Direito est a id ia de que todos devem a ele se submeter Assim a classe dominante precisa para que o sistema jur dico seja visto como leg timo sujeitar se s mesmas regras com as quais subjuga as demais classes E por vezes estas regras podem inclusive ser usadas contra sua pr pria domina o Faz parte da id ia thompsoniana de dom nio da lei a concep o da esfera jur dica como campo de luta para os dominados com a possibilidade inclusive de vit rias parciais destes O historiador observa no entanto que mesmo tais capitula es servem aos governantes para consolidar o poder acentuar sua legitimidade e conter movimentos revolucion rios Ao mesmo tempo por m alerta que n o h como desprezar a repercuss o destas vit rias parciais enquanto limites legais ao dom nio absoluto A complexidade do pensamento de Thompson sobre o Direito est ao meu ver neste fio t nue que une tr s aspectos a possibilidade de vit ria pontual dos dominados 367 FORTES Alexandre O direito na obra de E P Thompson Hist ria social Campinas SP n 2 1995 p 94 Grifo do autor THOMPSON E P Senhores e ca adores Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 p 353 47l Idem ibidem p 354
256. epress o do governo com a pris o de 16 l deres sindicais interven o no sindicato e ocupa o da regi o do ABC por tropas do Ex rcito No mesmo ano a batalha pela derrubada da 4 330 constou da resolu o aprovada pela comiss o diretora nacional provis ria do Partido dos Trabalhadores PT Seis anos depois a legisla o era citada explicitamente nas resolu es do 2 Congresso Nacional da Central nica dos Trabalhadores CUT como a lei que 463 GREVE legisla o n o foi usada com rigor Folha da Manh Porto Alegre 11 05 79 sem indica o de p gina CDS NPH pasta greves 163 SARDENBERG Carlos Alberto E a ilegalidade Isto S o Paulo 09 04 80 p 3 Dispon vel em lt http www fpabramo org br especiais greve80 istoe_reportagem2 htm gt Acesso em 21 01 04 465 Para uma descri o dos acontecimentos ver KUCINSKI Bernardo Abertura a hist ria de uma crise S o Paulo Brasil Debates 1982 p 149 155 466 No item liberdade sindical 21 ANOS do PT Campanha de Filia o para a legaliza o do PT Dispon vel em lt http www fpabramo org br especiais 21 anos rep01 htm gt Acesso em 14 07 2004 187 inviabiliza o direito de greve e permite ao governo e aos patr es o direito da x 7 repress o Se voltarmos agora novamente ao nosso acontecimento espec fico a greve da Caldas J nior estaremos frente a frente com um paradoxo Uma lei autorit ria que cerceia direitos dos trabalh
257. eraram nulas todas as preliminares levantadas pela empresa N s sempre soubemos que a greve era justa por que tinha como objetivo o recebimento de sal rios a trasados A decis o da Jus ti a no entanto tornou o movimento mais do que jus to legal E contra isso nem a reiterada intransi gencia do sr Breno Alca raz Caldas poder fugir E le vai ter que nos aceitar de volta e pagar os nossos sal rios em dia coisa que ali s nunca deveria ter deixado de fazer AS DERROTAS Foram as seguintes as preliminares levantadas pela EJCJ e literalmente consideradas nulas pelo Tribunal a as nossas rei vindica es teriam que ser requeridas em reclamat ri as individuais b os Sin dicatos n o teriam compe t ncia para instaurar o Diss dio de Greve c os pedidos feitos pelos tra balhadores eram mat ria es tranha a diss dios d a greve era ilegal e a em presa pedia o arquivamento do processo por entender que todos os funcion rios em greve estavam demitidos desde o dia 21 de dezem bro 5 A nica decis o do 19 Grupo de Turmas que n o te ve unanimidade referiu se pena a ser aplicada E SAGREVE empresa caso n o pague a d vida salarial Por cinco votos a nossa favor e tres contra os ju zes decidi ram dar a Caldas Junior um prazo de dez dias a con tar da data da publica o do ac rd o o que dever o correr dentro de uma sema na para saldar todos os sal rios atrasados sob
258. ersa alguns estudos mais recentes como o de Marcelo Badar Mattos apontam elementos de continuidade entre o velho e o novo sindicalismo por m questionando o car ter cupulista e pouco mobilizador tradicionalmente atribu do ao primeiro Neste sentido Mattos discute o atributo de novidade do novo sindicalismo a partir da identifica o de perman ncias de pr ticas e representa es entre militantes da poca e do per odo 1955 1964 O autor conclui que n o se pode esquecer que identidades coletivas novas se formam sempre a partir de valores e refer ncias culturais pia hi 3 23 tradicionais quer quando os recuperam quer quando procuram neg los Em artigo sobre a dicotomia entre velhos e novos sindicalismos no Brasil Mattos observa que os anseios e as pr ticas de autodetermina o do movimento sindical seriam identific veis n o s entre os oper rios do final dos anos 70 e in cio dos 80 mas tamb m em lutas transcorridas durante o per odo do chamado sindicalismo populista Alguns elementos apontados como caracterizadores das mudan as geradas pelo novo sindicalismo s o identificados numa pesquisa com dados relativos a tr s categorias importantes do Rio de Janeiro t xteis metal rgicos e banc rios no per odo 1955 1964 numa amostra de continuidades entre o movimento sindical pr 64 e p s 78 Assim o autor conclui que com a Constitui o de 1988 o sindicalismo brasileiro dos anos 80 de
259. es boa parte delas tomadas por grupos conservadores durante a ditadura Essa transforma o como n o poderia deixar de ser n o ocorreu de maneira uniforme e linear O per odo foi marcado por uma s rie de processos alguns deles contradit rios e com caracter sticas amb guas 1 a retomada dos movimentos sociais em especial das paralisa es do trabalho com expressivo n mero de greves 2 a ascens o s dire es sindicais de grupos comprometidos com propostas de renova o de car ter oposicionista tanto da esquerda tradicional PCB PCdoB e MR 8 quanto aqueles identificados com as correntes aut nticas ou combativas autodenominadas novo sindicalismo 3 os conflitos e cis es entre esses mesmos grupos 4 a for a nada desprez vel dos sindicalistas conservadores caracterizados por uma postura eminentemente assistencialista e ou comprometida com o regime militar De in cio vale um esclarecimento acerca de uma express o chave empregada nesta disserta o Faz se necess rio reconhecer a distin o entre novo sindicalismo usado genericamente para significar o per odo e o novo sindicalismo as correntes de esquerda de oposi o esquerda tradicional e que crescentemente se articularam em torno do PT e posteriormente da CUT 146 A imprecis o data mesmo da poca Como ressalta Mattos as diferen as entre os novos e os velhos militantes nem sempre eram percept veis p
260. es Curso de Direito do Trabalho S o Paulo Renovar 2004 e Direito Constitucional S o Paulo Renovar 2004 al m de uma obra em 10 volumes Direito do Trabalho e Previd ncia Social S o Paulo LTR 1992 2002 Sobre Siissekind ver GOMES ngela de Castro Os direitos do trabalho em in cio do s culo XXI depoimento de Arnaldo Sussekind Hist ria Oral S o Paulo n 5 p 71 87 junho 2002 e ENTREVISTA com Arnaldo Sussekind Entrevista concedida a ngela de Castro Gomes e Maria Celina D Araujo Estudos Hist ricos Os anos 20 Rio de Janeiro v 6 n 11 p 113 127 1993 43 Reprodu o comentada da lei 4 330 est em PRUNES Jos Luiz Ferreira A greve no Brasil S o Paulo LTR 1986 A ntegra da lei tamb m est dispon vel na p gina da Subchefia para Assuntos Jur dicos da Casa Civil da Presid ncia da Rep blica dispon vel no site lt http w ww planalto gov br ccivil 03 Leis 1950 1969 L4330 htm gt Acesso em 21 1 04 A respeito do decreto n 9 070 uma curiosidade que ele entrou em vigor oito dias antes da vig ncia da Constitui o de 1946 portanto ainda sob a carta de 1937 que definia greve e lock out como recursos anti sociais 183 evitar que o pa s voltasse quele nunca acabar de greves sobre greves que se instaurou no governo do sr Juscelino Kubistschek e que chegou ao apogeu no calamitoso e z 454 felizmente inconcluso desgoverno do sr Jo o Goulart A Houve vozes que inspiradas pelo
261. es aqui est vendo Esses aqui eram os donos da categoria Eram os principais da poca Sem esses homens aqui n o funcionava jornal A experi ncia da greve de 1953 marcou profundamente Cruz ent o um iniciante nos quadros da antiga Livraria Continente de forma negativa O epis dio pode ser uma das chaves para explicar subjetivamente o seu anticomunismo ferrenho e ajuda a vislumbrar uma discrep ncia entre a milit ncia pol tica das lideran as e a a o dos oper rios comuns j indicada na preocupa o da c pula sindical com a pouca participa o dos trabalhadores na vida associativa Ao lembrar do movimento descrito em uma vers o oficial da trajet ria do sindicato gr fico como uma greve que entrou para a hist ria e uma mobiliza o que se caracterizou pelo seu alto ndice de organiza o controle e transpar ncia Cruz afirmou A greve de 1953 foi uma das greves bem bagun adas e bem prejudicial n o foi bem orientada Porque foi uma greve que o pessoal teve que rachar todo mundo voltar a trabalhar Eu era iniciante eu me lembro ficava muito brabo Participei da greve Eu n o era nada simplesmente era gr fico Mas 21 CHAGAS E e NABARRO E Op cit p 71 202 Idem ibidem p 44 23 CRUZ E Op cit 24 CHAGAS E e NABARRO E Op cit p 36 37 87 ia l no sindicato aquela coisa Sempre participei dos momentos pol ticos Mas tinha muita pol tica muito comunismo no meio Eles incitavam o
262. es e fasc culos de romance policial mas que agora aparece em livros de capa dura portando o selo das editoras universit rias nas palavras de Robert Darnton De outro lado jornalistas decidiram aventurar se em temas hist ricos aplicando a eles t cnicas antes somente usadas para a investiga o dos acontecimentos contempor neos em especial a reportagem FRENCH John D Afogados em leis A CLT e a cultura pol tica dos trabalhadores brasileiros S o Paulo Funda o Perseu Abramo 2002 p 81 DARNTON Robert Hist ria eventos e narrativa incidentes e cultura do quotidiano Varia Historia Belo Horizonte vol 21 n 34 p 292 julho de 2005 Neste artigo o historiador norte americano discute o aparecimento de um novo g nero historiogr fico o da an lise de incidentes que inclui a circunscri o a reconstru o e o relato de eventos e aponta como o mais conhecido trabalho com tal perspectiva a obra O retorno de Martin Guerre de Natalie Zemon Davis lan ado no Brasil em 1987 pela editora Paz e Terra 30 Esta invas o m tua de limites antes aparentemente consolidados e pac ficos o presente o ef mero cabiam ao jornalista e os arquivos o passado as perman ncias ao historiador tornou se poss vel em ltima inst ncia devido a elementos comuns s duas pr ticas Ambas elaboram uma representa o escrita do passado distante ou imediato a partir de testemunhos buscando um efeito d
263. esemprego como em rela o aos marcos identit rios De cora o da empresa o gr fico passa a trabalhador desqualificado oscilando entre seu pr prio of cio e o de outra categoria Conforme o jornalista Rubens Weyne ent o diagramador do Correio do Povo e membro da dire o do sindicato dos jornalistas a transforma o tecnol gica trouxe consigo uma disputa sobre se os digitadores seriam considerados gr ficos ou funcion rios administrativos Nos termos da mobiliza o para a greve a defini o desta filia o era extremamente importante j que o Sindicato dos Empregados da Administra o de Empresas Propriet rias de Jornais e Revistas era dirigido pelo ent o chefe do Departamento de Circula o da Caldas J nior Cl udio Gajko Era a entidade mais pelega que tinha conforme Weyne No per odo pr greve Gajko teria boicotado as mobiliza es dos funcion rios que reivindicavam a regulariza o do pagamento dos sal rios atrasados al m de ter amea ado de demiss o os empregados conforme boletim do sindicato dos jornalistas A seguir obrigou dezenas de funcion rios a assinar um abaixo assinado desautorizando as propostas aprovadas em diversas assembl ias gerais das quais participou O boletim denuncia a demiss o de tr s trabalhadores da portaria do departamento comercial e da composi o por envolvimento nas mobiliza es 25 Rubens Constatino Volpe Weyne come ou a trabalhar na
264. essoal e profissional Apesar de comportar ambigiidades o sistema mantinha se eficaz em sua capacidade de abafar os conflitos e garantir o controle social necess rio produ o com o aux lio da situa o econ mica est vel da empresa A partir da crise por m as contradi es se acirraram A fila de vales revelou se uma experi ncia crucial para a constru o de uma solidariedade de classe a partir da viv ncia comum da humilha o e do arb trio patronal A domina o recebeu como resposta o contrateatro dos dominados com protestos na rua reivindicando direitos e o respeito do patr o O reconhecimento patronal dos direitos e da dignidade dos funcion rios antes percebido como d diva individual passou a ser reivindicado coletivamente nas reuni es entre os representantes sindicais e a dire o da empresa Tal posicionamento foi interpretado pelo patr o como quebra da hierarquia A cis o crescente nas rela es de produ o e a corros o da legitimidade econ mica da domina o resultaram no desgate da imagem de Caldas base subjetiva da sujei o dos trabalhadores Ao perder a confian a no patriarca os funcion rios sentiram se no direito de tomar a si a empresa 214 e definir os rumos da fam lia Lutaram n o como revolucion rios mas para preservar seu local de trabalho seus direitos e sua dignidade A terceira quest o se referia s caracter sticas espec ficas da uni o entre velhos
265. est presente em livros de mem rias e em depoimentos de ex funcion rios da Caldas J nior Hohlfeldt por exemplo recordou o relacionamento dos jornalistas com o Correio do Povo nos moldes de uma liga o emocional Eu acho que se o sindicato n o tivesse tomado a lideran a de propor a greve eu n o acredito que os funcion rios da empresa teriam levado a id ia da greve at concretiz la Porque todos n s t nhamos um envolvimento emocional muito grande com o jornal e com a empresa e com o Breno Era uma empresa familiar onde n s funcion rios tamb m nos sent amos um pouquinho parte desta fam lia mesmo que o Breno fosse um cara de nariz emproado cumprimentava o cara no seco nunca permitia maiores Mas havia um envolvimento emocional com o Breno e com a empresa Quer dizer a empresa intoc vel para qualquer um de n s A gente tinha orgulho de participar desta empresa A impress o que eu tenho que a gente teria reclamado frustrado mas n o sei se chegaria greve Agora evidentemente o sindicato cumpriu a sua fun o 2 Thompson por m n o descarta completamente o conceito numa an lise localizada como componente de um sistema social THOMPSON E P Patr cios e p 32 Idem ibidem p 104 21 SANTANA Marco Aur lio Vis es da domina o Revista de Hist ria Mariana n 7 p 227 228 1997 22 HOLHFELDT A Op cit 118 2 O sindicato visto por este ex grevista como catalisador do
266. estavam passando por problema semelhante de endividamento etc etc A n s lembramos a ele que o Estado de S o Paulo a S A Estado de S o Paulo tinha sido amplamente noticiado estava enfrentando isso de uma forma massa falida para prosseguir as opera es da empresa Os empregados abriram m o dos direitos trabalhistas para manter o emprego Sobre esta experi ncia ver HOLZMANN Lorena Oper rios sem patr o gest o cooperativa e dilemas da democracia S o Carlos SP Edufscar 2001 34 A gest o participativa ou co gest o difere do cooperativismo Na primeira os trabalhadores est o investidos em graus diversos da possibilidade de intervir nas decis es referentes organiza o do trabalho de uma empresa ou institui o As cooperativas de trabalho e de produ o por outro lado s o associa es aut nomas de pessoas que se unem voluntariamente e constituem uma empresa de propriedade comum para satisfazer aspira es econ micas sociais e culturais Ver SCHMIDT Derli Cooperativa cooperativismo e CATTANI A D Gest o Participativa In CATTANI Antonio D e HOLZMANN Lorena orgs Op cit p 71 73 e 145 149 1 Para CATTANI as iniciativas dos assalariados no que tange participa o na gest o das empresas referenciam se mesmo que de forma latente no ideal de autonomia O autor diferencia da gest o participativa resultante da press o e iniciativa dos trabalhadores daquela implantada como estrat
267. eto Meimes em benef cio do fundo de paralisa o Come a a circular b nus para arrecada o de fundos ao movimento Bancada estadual do PMDB doa Cr 625 mil aos grevistas e bancada do PDT Cr 130 mil Passeata de grevistas pelo centro de Porto Alegre 23 Primeira audi ncia de concilia o no TRT Presidente do Tribunal juiz Jo o Ant nio Pereira Leite prop e retorno imediato ao trabalho pagamento dos sal rios de outubro e novembro at o fim do m s e dos sal rios de dezembro e do 13 sal rio at o dia 15 de janeiro possibilidade de dispensa dos empregados que tiveram dado justa causa pela pr tica de atos de viol ncia durante a greve Proposta aceita pela categoria em assembl ia 24 Na v spera de Natal ocorre o prosseguimento da audi ncia no TRT Na oportunidade a Caldas J nior comunica n o aceitar a proposta do juiz Assembl ia dos funcion rios na sede do Sindicato dos Banc rios decide pela manuten o do movimento e a abertura imediata de uma conta banc ria em nome do Fundo de Solidariedade aos funcion rios da Empresa Jornal stica Caldas J nior Reportagem Empresa Caldas 235 J nior recebe solidariedade publicada na p gina 40 do Correio do Povo edi o conjunta de 24 e 25 de dezembro relatando apoios recebidos de religiosos e entidades de classe propriet rios de empresas de comunica o 26 Comiss o de funcion rios e sindicalistas pede apoio ao movimento na reuni o da Executiv
268. eu apoio e ades o greve 5 Boletim dos grevistas noticia mobiliza o dos funcion rios que n o aderiram ao movimento revoltados com a manuten o dos atrasos salariais 7 Show de solidariedade aos grevistas na Pra a Saldanha Marinho em Santa Maria 10 Nova audi ncia de concilia o no TRT sem acordo Comiss o de grevistas se re ne em Bras lia com os ministros Leit o de Abreu chefe da Casa Civil da Presid ncia da Rep blica Murilo Macedo do Trabalho e Jarbas Passarinho da Privid ncia Social 11 Grevistas promovem passeata pelo centro de Porto Alegre 12 Ato p blico de solidariedade na Assembl ia Legislativa no dia em que se completa um m s da greve com apoio de centrais sindicais entidades estudantis e partidos pol ticos PMDB PDT e PT Depois do ato s 23h ocorre uma passeata at a Caldas J nior Funcion rios contratados durante a greve come am a receber aviso pr vio depois que o TRT intima a empresa a n o admitir novos empregados e a cessar o trabalho dos admitidos 13 e 14 Bail o da greve no sindicato dos metal rgicos 16 Negocia o no TRT A empresa pede 48 horas para dizer como far o pagamento dos sal rios atrasados Em troca do pagamento o TRT prop e o retorno ao trabalho Em assembl ia grevistas decidem aguardar a resposta da empresa 18 Empresa prop e o pagamento em tr s parcelas 20 23 de janeiro 40 31 de janeiro e 40 15 de fevereiro sem j
269. eus representantes legais neste sentido Impulsionados por um ideal de Justi a dado pelas circunst ncias do acontecimento j citadas sua legitimidade econ mica e social eles tiveram uma compreens o do Direito n o como modelo de conduta mas como campo de estrat gias e possibilidades N o foram subservientes lei procuraram utiliz la em benef cio pr prio como participantes de um mundo do trabalho regido h d cadas por centenas de leis t o protecionistas quanto ineficazes Exigir seu cumprimento mais do que submeter se a uma estrutura jur dica controladora integra a pr pria constitui o do trabalhador brasileiro enquanto classe O legal difere do justo neste universo mas o segundo que impulsiona a busca pelo primeiro O olhar que inicialmente concentrou se sobre o processo de trabalho foi paulatinamente ampliando se pelas rela es de domina o pela conjuntura sindical e finalmente pelo pr prio papel da esfera legal na constitui o identit ria do trabalhador brasileiro Portanto atrav s do exame de um acontecimento singular percebi aspectos do contexto hist rico que enriquecem a imagem do novo sindicalismo Integrados ao momento no qual atuavam e submetidos s determina es sociais de suas classes e de sua poca os trabalhadores advogados ju zes e empres rios cujas experi ncias foram enfocadas nas p ginas precedentes constru ram por suas a es novas possibilidades e novas configura es para
270. faz uma conven o onde discute aspectos t cnicos da feitura de jornais os novos avan os e eu queria me atualizar naquele ano de 1977 o tema era a substitui o do servi o de composi o por linotipo pelo m todo eletr nico Caldas conta ainda que na volta da viagem passou pelo Rio de Janeiro para conversar sobre as novidades com o empres rio Roberto Marinho dono do jornal O Globo Ele me contou ent o que at j tinha comprado algum equipamento para O Globo disse que era segredo ainda mas me mostrou as salas onde estava instalando os computadores e os novos equipamentos Convencido Caldas resolveu promover a transforma o t cnica na Caldas J nior Em rela o impress o conforme Walter Galvani a empresa optou por um caminho intermedi rio entre a litografia e o off set denominado Di Litho Em suma foi mantida a impress o tipogr fica por m associada fotocomposi o promovendo a aposentadoria da composi o a quente No in cio dos 80 foi comprado um sistema modern ssimo de fotocomposi o segundo o livro de Galvani e at um equipamento a laser que nunca chegou a ser usado pela Caldas J nior sendo vendido posteriormente para outro ve culo Segundo Breno Caldas a reestrutura o gr fica inclu a a instala o de 56 terminais e dois computadores Em 1982 o novo sistema come ou a entrar em opera o funcionando em p 241 conjunto com o antigo que passou a ser p
271. fraca o trabalhador o tornava um direito alternativo em sua origem porque prop e se a uma nova ordem mais justa e humana Ao contr rio da vis o ent o hegem nica nas ci ncias sociais que enxergava nesta tutela uma estrat gia de controle estatal sobre as reivindica es oper rias os juristas defendiam que a Justi a do Trabalho era fruto da luta dos trabalhadores e a eles se destina Tal posi o implica n o s uma valoriza o da a o da Justi a do Trabalho mas tamb m uma cr tica em rela o suposta filia o fascista desta rea do Direito brasileiro pol tica dos alternativos CUST DIO S Op cit p 203 N o vamos nos deter aqui sobre as especificidades destas correntes pois a inten o ver o movimento como tend ncia que abre novas possibilidades aos atores sociais durante a sua vig ncia e n o como objeto de an lise em si 44 QUEM defende quem trabalha Em Tempo S o Paulo 17 a 23 de julho de 1978 n 20 p 3 CDS NPH 45 BIAVASCHI Magda Direito do Trabalho um direito comprometido com a Justi a Revista TRTA4 Porto Alegre Ano XXVI n 25 1992 p 22 BDir Ver tamb m da mesma autora Magistratura e transforma o social teses coletivas dos ju zes ga chos Disserta o Mestrado em Ci ncias Humanas Direito Universidade Federal de Santa Catarina 1998 Sobre a quest o da tutela e as discuss es jur dicas que envolveram este conceito nos primeiros a
272. gia patronal com o objetivo de reduzir conflitos e aumentar a partir do envolvimento maior dos empregados a produtividade Ver CATTANI A D Gest o Participativa Op cit 137 bem objetiva Podia lan ar deb ntures estava negociando as suas deb ntures estava buscando empr stimo no exterior Ele nos olhou e disse assim entregaram se aos credores E encerrou a reuni o Quer dizer n o encerrou oficialmente mas ficou bvio que n s amos perder tempo se continuasse a conversa Do lado oposto as conversas tamb m n o satisfaziam Para o patr o inadimplente a imagem que ficou destas negocia es se relaciona justamente quebra de hierarquia Em entrevista a um jornal no ano de 1987 Caldas lembrou dos encontros como momentos nos quais os empregados nem sempre acatavam o c digo de defer ncia que ele julgava essencial s vezes as minhas reuni es com o sindicato dos jornalistas n o eram muito boas Uma delas eu interrompi e pedi que o pessoal se retirasse Esse neg cio foi tomando um car ter at certo ponto descort s Eu acho que se pode ser firme e ser exigente em todas as coisas mas n o h necessidade de E cr 343 ser descort s grosseiro Nos dias 29 e 30 de junho ocorreram paralisa es de uma hora na reda o com as assembl ias na oficina de chumbo O boletim do sindicato dos jornalistas comemorando o sucesso das paradas trouxe simultaneamente reclama es de que nas sucessivas reu
273. gitimidade da domina o os trabalhadores sentiram se no direito ou no dever de tomar as r deas daquilo que era seu os sal rios e por extens o a empresa No caso dos jornalistas o confronto tamb m teve como argumento uma luta para que n o se concretizasse no Rio Grande do Sul um monop lio das comunica es com a perman ncia solit ria do Grupo RBS no mercado jornal stico o que de fato ocorreu posteriormente Fi is a seus valores 48 Di rio do grevista anota es de 25 de novembro de 1984 APCE 38 Sobre o uso de termos pejorativos inj rias e amea as contra patr es durante greves ver PERROT M Op cit p 224 227 30 BRIGADA parcial Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 14 12 83 ASJPRGS 140 profissionais tais trabalhadores viam na possibilidade desse monop lio uma amea a n o s sua categoria mas tamb m ao direito de informa o da sociedade ga cha Ao fazer a greve reivindicavam al m da regulariza o dos sal rios e do pagamento dos direitos n o saldados que outra mentalidade empresarial assuma a Caldas J nior e garanta a continuidade e melhoria de todos os seus ve culos a perman ncia no emprego de todos seus profissionais e o direito informa o da sociedade Curiosamente o mesmo argumento a luta pela sobreviv ncia da Caldas J nior foi utilizado pelos que n o aderiram greve e pela pr pria empresa para tentar estigma
274. giu em um ABC paulista que mantinha a cren a simb lica 352 gina 8 PNAS TROE S nos direitos e a vis o da lei como campo de luta Em seu estudo sobre a resist ncia oper ria na Grande S o Paulo entre 1970 e 1980 Eder Sader analisou os primeiros n meros do Tribuna Metal rgica rg o do Sindicato dos Metal rgicos de S o Bernardo ressaltando que os textos de 1971 tomam a lei a s rio ou para solicitar sua mudan a em nome das condi es dos trabalhadores ou para cobrar suas promessas Explicam a altera o na legisla o sobre acidentes de trabalho a inadapta o do INPS e os preju zos acarretados aos trabalhadores mas concluem sugerindo possibilidades jur dicas a serem exploradas explicam o funcionamento do mais importante departamento do sindicato o departamento jur dico orientando sua utiliza o coletiva contra as manobras de chefes e patr es Ss CARDOSO A M Op cit p 153 FRENCH J Proclamando p 410 8 O conceito de Maria C lia Paoli conforme SILVA F Op cit 52 SADER Eder Quando novos personagens entram em cena Rio de Janeiro Paz e Terra 1988 p 187 207 Esta consci ncia da lei ou cren a simb lica nos direitos representa uma postura ativa diante da estrutura legal a lei e suas institui es no sentido de utiliz la a seu favor O que nos coloca uma quest o voltando aos grevistas da Caldas J nior at que ponto eles cumpriram t o obe
275. gou a viajar de Bras lia a Porto Alegre s para comer um churrasco em sua fazenda no bairro Bel m Novo A imagem de distanciamento imparcialidade e independ ncia foi favorecida por uma s rie de epis dios nos quais a Caldas J nior alinhou se contra o poder dominante no governo do estado Antes de fundar o Correio do Povo o pr prio Caldas J nior havia sido revisor noticiarista e diretor do jornal A Reforma rg o do Partido Liberal de oposi o ao situacionista Partido Republicano Rio grandense PRR de J lio de Castilhos N o foram poucas as pol micas travadas entre A Federa o rg o do PRR e o Correio do Povo como em 1898 a respeito de um aumento dos impostos municipais No fim da vida depois da fal ncia Breno Caldas continuava a empunhar a filia o liberal Segundo Francisco Riidiger na d cada de 30 Breno Caldas decidiu apoiar a pol tica de Get lio Vargas e entrou em grave conflito com o ent o interventor estadual Flores da Cunha dissidente da linha varguista Flores da Cunha chegou a proibir a venda do Correio do Povo nos carros e esta es da Via o F rrea do Rio Grande do Sul depois que o jornal publicou uma s rie de reportagens negativas sobre seu governo A Caldas J nior tamb m se posicionou abertamente contra o ent o governador Leonel Brizola e o presidente Jo o Goulart nos anos 60 Mesmo sob a gide do 10 CALDAS B Op cit p 78 110 Idem ibidem p 84 85 11 A HE
276. hefes intermedi rios patr es imediatos sem tomar o seu lugar movendo se intersticialmente por sua habilidade pessoal entre posi es sociais que n o mudam permanecendo vinculadas aos mesmos atores Os oper rios da F brica Paulista incorporavam e utilizavam a teatraliza o da domina o do patr o supremo como forma de afronta aos chefes intermedi rios e aos patr es imediatos LOPES J S L Op cit p 81 127 doutor Breno n o quer aquilo Serviam de intermedi rios entre essa massa 314 essa massa ignara e o homem O doutor Se o aumento das media es da hierarquia de comando enfraquece de certa forma a efic cia da domina o paternalista acirrando se ent o os conflitos entre os RE ae paie e315 empregados e os funcion rios intermedi rios a desautoriza o destas chefias representa uma reafirma o do poder direto do patr o sobre os empregados Para os trabalhadores esta intermedia o do juiz supremo encarada como uma reafirma o de seus direitos e ao mesmo tempo de forma amb gua como uma benesse As rela es de produ o na antiga Caldas J nior baseavam se portanto na legitima o da domina o atrav s da mitifica o da autoridade patronal identificada com o pai de uma fam lia Centralizado na figura de Breno Caldas o comando era sinalizado com o aux lio de elementos simb licos como o uso do doutor a caneta verde e as apari
277. ho houve a primeira greve geral deflagrada depois do golpe militar de 1964 No m s seguinte foi fundada em S o Bernardo do Campo SP a Central nica dos Trabalhadores CUT marco da institucionaliza o do novo sindicalismo As paralisa es de trabalhadores alcan aram em 1983 o n mero de 393 em todo o Brasil e no Rio Grande do Sul chegaram a 34 mais do que o dobro do total FERA EaR 4 do ano anterior Houve greves em outras empresas de comunica o tamb m como a 7l Para uma descri o jornal stica do epis dio ver MARKUN Paulo e HAMILTON Duda 1961 Que as armas n o falem S o Paulo Editora Senac 2001 p 196 197 A NOITE agitada Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 13 de dezembro de 1983 ASJPRGS 7 A VIOL NCIA de Breno Caldas Den ncia Porto Alegre n 28 edi o extra especial dezembro de 1983 p 4 ASJPRGS 74 PETERSEN A Op cit p 81 82 Segundo o trabalho o n mero de greves no Rio Grande do Sul no per odo chegou a 120 sendo 27 em 1980 43 em 1981 16 em 1982 e 34 em 1983 Em 1979 foram registradas 29 greves no Rio Grande do Sul 44 paralisa o de jornalistas na cidade de S o Paulo em 1979 a do ano seguinte na R dio Ga cha em Porto Alegre e a das empresas do grupo Di rios Associados tamb m na capital paulista O movimento na Caldas J nior n o foi total Pararam cerca de 20 dos funcion rios do total do grupo r dio TV jornai
278. ho e Tecnologia Porto Alegre UFRGS 2006 p 237 5 ANTUNES Ricardo Adeus ao trabalho S o Paulo Cortez Ed Unicamp 1995 p 52 Em 2005 representantes dos trabalhadores gr ficos aprovaram em um congresso nacional uma proposta no sentido de disciplinar as mudan as tecnol gicas criar programas de forma o profissional e reciclagem para os trabalhadores e estabelecer com o governo federal um novo perfil da profiss o Segundo o documento sancionado na ocasi o cada equipamento novo adquirido pelas empresas ensejam sic uma redu o de postos de trabalho e as altera es dos processos produtivos neste sentido muitas vezes estamos diante de uma amea a de discuss o de altera o do enquadramento sindical do setor Os sindicalistas gr ficos tamb m denunciaram o processo crescente da multifuncionalidade deixamos de ser um trabalhador com uma fun o espec fica como era o caso do tip grafo do distribuidor do montador e copiador de fotolito que na pr tica estas atividades foram subdivididas em in meras fun es PROCESSOS de automa o Resolu o aprovada no 1 Congresso Nacional dos Trabalhadores Gr ficos da Confedera o Nacional dos Trabalhadores da Ind stria Gr fica da Comunica o Gr fica e dos Servi os Gr ficos CONATIG Praia Grande 26 e 27 de setembro de 2005 Dispon vel em a a a Lana dade noticias htm Acesso em 12 05 06 SILVA Shirlei In s Mendes da Reconstruindo a democracia a
279. hony Los or genes tr gicos de la erudici n Breve tratado sobre la nota al pie de p gina Buenos Aires Fondo de Cultura Econ mica 1998 GUANABARA Ricardo Vis es alternativas do Direito no Brasil Estudos Hist ricos n 18 p 403 416 HALL Michael M e PINHEIRO Paulo S rgio Alargando a hist ria da classe oper ria organiza o lutas e controle Remate de Males S o Paulo n 5 p 96 120 1985 A classe oper ria no Brasil 1889 1930 S o Paulo Alfa mega 1979 HALL Michael Corporativismo e fascismo nas origens das leis trabalhistas brasileiras In Angela Ara jo Org Do corporativismo ao neoliberalismo S o Paulo Boitempo 2002 p 13 28 HARTOG Fran ois O espelho de Her doto Ensaio sobre a representa o do outro Belo Horizonte Editora UFMG 1999 HOBSBAWM Eric Mundos do Trabalho Novos estudos sobre a hist ria oper ria Rio de Janeiro Paz e Terra 2000 Sobre Hist ria S o Paulo Companhia das Letras 1998 Os trabalhadores estudos sobre a hist ria do operariado S o Paulo Paz e Terra 2000 HOLZMANN Lorena Oper rios sem patr o gest o cooperativa e dilemas da democracia S o Carlos SP Edufscar 2001 KUCINSKI Bernardo Abertura a hist ria de uma crise S o Paulo Brasil Debates 1982 Jornalistas e revolucion rios nos tempos da imprensa alternativa S o Paulo Edusp 2003 KUSHNIR Beatriz C es de Guarda Jornalistas e Censores do AI 5 Cons
280. hora Na poca da greve jornalista da Folha da Tarde e secret rio geral do sindicato dos jornalistas Na poca da entrevista jornalista na coordena o do PTB na Assembl ia WEYNE Rubens Constantino Volpe Depoimento 27 de mar o de 2006 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre dois cassetes sonoros 1 hora e 30 minutos Na poca da greve diagramador do Correio do Povo e suplente da diretoria do sindicato dos jornalistas Na poca da entrevista professor da Faculdade de Biblioteconomia e Comunica o da UFRGS Bibliografia ABRAMO Cl udio A regra do jogo o jornalismo e a tica do marceneiro S o Paulo Companhia das Letras 1997 ABRAMO La s Wendel O resgate da dignidade Greve metal rgica e subjetividade oper ria Campinas S o Paulo Unicamp Imprensa oficial 1999 ABRAMO Perseu Um trabalhador da not cia S o Paulo Funda o Perseu Abramo 1997 ALBERTI Verena Manual de Hist ria Oral Rio de Janeiro Editora FGV 2005 ALVES Giovanni O novo e prec rio mundo do trabalho S o Paulo Boitempo 2000 Nova ofensiva do capital crise do sindicalismo e as perspectivas de trabalho o Brasil nos anos noventa In TEIXEIRA Francisco J S e OLIVEIRA Manfredo A orgs Neoliberalismo e reestrutura o produtiva as novas determina es S o Paulo Fortaleza Cortez Universidade Estadual do Cear 1998 p 109 161 ALVES FILHO Ivan Brasil 500 anos em documentos Rio de J
281. horas extras por parte da empresa ATRT4 115 A Caldas J nior era considerada exemplar em termos de sal rio tanto porque pagava melhor at os anos 60 70 por a O sonho de qualquer jornalista era ir para a Caldas J nior porque o sal rio era 309 40 50 maior Sempre pagava absolutamente em dia At se antecipava Se o feriado ou um domingo ia cair no dia 30 podia contar que no dia 27 28 29 estava com dinheiro no bolso A empresa pagava sempre em dia e pagava os melhores sal rios Para ter uma id ia de quanto a empresa era distante de campanhas reivindicat rias na minha gest o no sindicato n s tivemos uma assembl ia em que algumas pessoas pretendiam at que n o se instaurasse diss dio Que se deixasse para uma negocia o com o doutor Breno At uma simples assembl ia de diss dio coletivo era problem tico realizar com a presen a da Caldas J nior De outras empresas as pessoas iam mas da Caldas J nior ningu m ia porque j havia uma tradi o o patr o dava um aumento uma vez por ano e estava tudo bem estava tudo timo Enquanto desde os anos 60 t nhamos problemas de atraso salarial nas reas de r dio principalmente na ltima Hora por exemplo nasceu em meio dificuldade os sal rios atrasavam aquela coisa na Caldas J nior n o havia este problema Jo o Souza relata portanto situa es nas quais transparece a efic cia da pol tica de controle dos funcion rios vigente na Caldas J
282. hum dos depoentes entrevistados recorda desta primeira assembl ia do dia 6 onde se teria decidido efetivamente pela greve em vota o secreta Ela tamb m n o referida nos boletins de greve e nem no jornal Den ncia segundo o qual a decis o pela paralisa o foi tomada no dia 12 No texto do relat rio a assembl ia aparece mas como se tivesse ocorrido no dia 7 e n o 6 Pesquisei todos os exemplares do jornal Zero Hora entre 16 de novembro e 6 de dezembro de 1983 no MCSHJC e n o encontrei o edital desta assembl ia No dia 5 de dezembro no entanto o sindicato dos jornalistas teve o cuidado de mandar publicar edital para a realiza o de assembl ia no dia 10 seguinte visando a incorpora o da entidade de Santa Maria no processo de extens o da base j referido no cap tulo anterior fato sem qualquer rela o com o movimento da Caldas J nior importante lembrar que a realiza o desta assembl ia pr via convocada a partir da publica o de editais em jornais e a vota o secreta eram requisitos muito 530 ATA n 402 06 12 1983 In RELAT RIO preliminar Grifos meus ASJPRGS 208 importantes para que a paralisa o fosse considerada legal pela Justi a Outro fator decisivo era a presen a do representante da procuradoria regional do trabalho para apurar o resultado da vota o Na ata do dia 6 a aus ncia deste levantada salientando se por m a sua presen a em assembl ias anteriores mas pro
283. hum tost o no bolso refor ou o seu sentimento de ter sido tra do pelas lideran as A perman ncia no cargo marcou o profundamente fazendo com que se sentisse valorizado por ter sido considerado e respeitado na livraria onde trabalhava As circunst ncias da greve acabaram nesse caso particular refor ando a rela o patr o trabalhador e enfraquecendo a confian a nos l deres sindicais da poca A hegemonia dos comunistas no sindicato porto alegrense acabou com a ditadura militar quando a entidade sofreu interven o ainda no ano de 1964 O presidente Borba Lima perdeu os direitos pol ticos Uma nova elei o foi realizada em agosto de 1965 quando assumiu um grupo que permaneceu no poder at 1990 sob o comando de H lio Pereira Ribas tr s gest es de 1965 at 1972 Euclydes Bento da Cruz cinco gest es de 1973 at 1987 e Ant nio Adair Ferreira da Silva uma gest o de 1988 at 1990 Nova mudan a no comando ocorreu somente em 1990 quando nomes alinhados Central nica dos Trabalhadores CUT se elegeram Nos anos 70 ao assumir o comando do sindicato Cruz comandaria uma pol tica radicalmente anti confronto centrando sua atua o sindical em medidas administrativas e burocr ticas No depoimento que prestou deu grande destaque quela que considerava a maior realiza o de sua administra o a compra de uma casa localizada em um amplo terreno no bairro Azenha para a sede do sindicato dos gr ficos
284. ia ser n o recebendo sal rios vivendo numa sociedade com altos ndices inflacion rios numa situa o pol tica indefinida pela abertura controlada e controladora de um regime autorit rio sob uma legisla o restritiva o que os trabalhadores fizeram Por que certas estrat gias foram escolhidas em detrimento de outras Na perspectiva de compreender de forma mais abrangente a greve enfocada e o per odo no qual ela ocorre quatro quest es chamaram a aten o Em primeiro lugar a escolha da oficina de chumbo para a realiza o das assembl ias dos trabalhadores da Caldas J nior E evidente que o local por sediar um setor em vias de desativa o era do Idem ibidem p 106 146 152 A greve durou 12 dias Ao final os trabalhadores obtiveram estabilidade por apenas dois meses 2 Idem ibidem p 209 217 153 Idem ibidem p 118 A THOMPSON E P A economia moral da multid o inglesa no s culo XVII In Costumes em Comum Op cit p 151 70 favor vel aos encontros dos trabalhadores No entanto parece haver muito mais significados envolvidos nessa a o A substitui o do processo de composi o por linotipo pela fotocomposi o significou o abandono de resqu cios do trabalho artesanal gr fico historicamente associado a uma arte e a uma camada oper ria mais privilegiada Esta transforma o marca o in cio da reestrutura o produtiva no setor que foi intensamente atingido pelo processo Tal reestrut
285. ias depois do Ato Institucional n 5 o AI 5 Entre outras arbitrariedades o Al 5 facultava ao Presidente da Rep blica legislar em todas as mat rias e exercer as atribui es previstas nas Constitui es ou na Lei Org nica dos Munic pios em caso de recesso parlamentar o que foi feito de imediato O decreto lei n 368 previa que a empresa em d bito salarial com seus empregados n o poderia pagar honor rio gratifica o pro labore ou qualquer outro tipo de retribui o ou retirada a seus diretores s cios gerentes ou titulares de firma individual distribuir quaisquer lucros bonifica es dividendos ou interesses a seus s cios titulares acionistas ou membros de rg os dirigentes fiscais ou consultivos ou ser dissolvida Definia tamb m a situa o de mora contumaz o atraso ou sonega o de sal rios devidos aos empregados por per odo igual ou superior a tr s meses sem motivo grave e relevante exclu das as causas pertinentes ao risco do empreendimento a ser apurada mediante den ncia do trabalhador ou sindicato DRT e que configurada sujeitava a empresa a uma s rie de penalidades 515 Em termos jur dicos den ncia a acusa o formal contra algu m pela pr tica de um crime 16 RELAT RIO preliminar APJBS 203 Uma vers o anterior deste mesmo texto encontrada no sindicato dos jornalistas e datada de 12 de janeiro de 1984 um m s antes do julgamento do TRT trata
286. icano liderados pelo presidente do Sindicato dos Eletricit rios de S o Paulo Rog rio Magri 1 CUT 20 anos Integravam a comiss o pelo Rio Grande do Sul Jo o Paulo Marques Sindicato do Vestu rio de Porto Alegre Lauro Hagemann Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre Ol vio Dutra Sindicato dos Banc rios de Porto Alegre Org nico Rott Federa o dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul Ricardo Baldino de Souza Sindicato dos Trabalhadores da Constru o Civil de Porto Alegre e Walter Jos Irber Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tenente Portela 2 Conforme Rodrigues as discord ncias se deram em primeiro lugar em torno da data as alas mais esquerda defendiam a realiza o do congresso fundador da CUT em 1982 do que a US divergia e em rela o a quest es b sicas como as posi es quanto unicidade contribui o sindical e participa o das oposi es sindicais RODRIGUES L M As tend ncias p 27 30 32 33 3 Idem ibidem p 33 34 364 CUT 20 anos 5 RODRIGUES L M As tend ncias p 35 Posteriormente houve mais uma s rie de cis es que resultaram na divis o da CGT em dois grupos com a mesma sigla a Confedera o Geral do Trabalho 149 Essa disputa pela hegemonia da pol tica sindical foi alimentada por profundas diferen as na avalia o das estrat gias a serem utilizadas frente ao regime autorit rio ainda vigente Para o PCB e
287. ico estadual do RS 1972 1979 Disserta o mestrado em Hist ria IFCH UFRGS Porto Alegre 1998 Estudos Hist ricos Rio de Janeiro FGV CPDOC n 31 2003 dossi M dia ELMIR Cl udio Pereira O crime da ltima Hora Porto Alegre na passagem dos anos cingiienta Disserta o mestrado em hist ria IFCH UFRGS Porto Alegre 1996 ESPERAN A Clarice Gontarski Testemunhas ou fontes rela es e desencontros entre jornalistas e historiadores Em Quest o Revista da Faculdade de Biblioteconomia e Comunica o da UFRGS v 12 n 2 p 235 251 junho dezembro de 2006 FAUSTO Boris Hist ria do Brasil S o Paulo Edusp Funda o para o Desenvolvimento da Educa o 2000 Trabalho urbano e conflito social SP Difel 1976 FERREIRA Marieta de Moraes e AMADO Jana na org Usos e abusos da Hist ria Oral Rio de Janeiro FGV 1996 FONSECA Joaquim da Comunica o Visual Gloss rio Porto Alegre UFRGS 1990 FORTES Alexandre O Direito na obra de E P Thompson Hist ria social Campinas IFCH Unicamp n 2 1995 et al Na luta por direitos Estudos recentes em Hist ria Social do Trabalho Campinas Editora da Unicamp 1999 N s do Quarto Distrito A classe trabalhadora porto alegrense e a era Vargas Caxias do Sul Rio de Janeiro Educs Garamond Cole o ANPUH RS 2004 FRENCH John D Afogados em leis A CLT e a cultura pol tica dos trabalhadores brasileiros S o Paulo Funda o
288. ifica no sindicalismo nacional uma rela o estrutural com a burguesia que fugiria ao controle dos sindicalistas A destrui o do que o autor chama de sindicato de Estado seria insepar vel do fim da unicidade sindical dos impostos sindicais e da a o normativa e tutelar da Justi a do Trabalho ou seja tudo aquilo que 520 a Constitui o de 1988 preservou Escrevendo no in cio dos anos 90 Boito Jr aponta um certo triunfalismo que tomou conta dos dirigentes e de estudiosos do sindicalismo brasileiro A amplitude que adquiriu a luta grevista nos anos 80 a exist ncia de uma central sindical como a CUT e o afrouxamento do controle do Estado sobre os sindicatos t m contribu do para ocultar as debilidades de fundo do sindicalismo brasileiro debilidades oriundas da perman ncia da estrutura sindical ainda que reformada 8 Merecem destaque tr s obras de ANTUNES sobre o per odo A rebeldia do trabalho O confronto oper rio no ABC paulista as greves de 1978 80 Campinas Unicamp 1992 O novo sindicalismo S o Paulo Scritta 1991 e O novo sindicalismo no Brasil Campinas Pontes 1995 2 BOITO JR Armando Reforma e persist ncia na estrutura sindical brasileira In BOITO JR A org O sindicalismo p 90 2 Idem O sindicalismo de Estado no Brasil Uma an lise cr tica da estrutura sindical Campinas Editora da Unicamp 1991 p 294 2 Idem ibidem p 291 292 22 Numa vis o div
289. imeiro lugar a ju za ordenou o envio de of cios s ag ncias de publicidade determinando o recolhimento Justi a do Trabalho de todos os pagamentos destinados Caldas J nior Tamb m foi notificada a dire o da empresa para que o faturamento di rio receita referente s assinaturas renova es de assinaturas e venda avulsa de jornais tivesse igualmente como destino o Judici rio Por fim um oficial de justi a foi incumbido de apreender diariamente os valores relativos venda de pequenos an ncios Em suma praticamente toda a receita da Caldas J nior passaria a ser controlada pela Justi a do Trabalho Paralelamente no mesmo dia mas numa decis o referente ao processo impetrado pelos sindicatos durante a greve o juiz Pereira Leite deu aos funcion rios paralisados as garantias previstas na lei 4 330 a lei de greve vigente na poca Mesmo n o tendo sido ainda julgada a paralisa o tarefa que pela tramita o da poca cabia a uma das turmas de ju zes do TRT e n o ao presidente do tribunal o magistrado concedeu liminar decis o provis ria ordenando que a Secretaria da Seguran a P blica do Rio Grande do Sul fosse comunicada que os grevistas tinham direito reconhecido pela Justi a de aliciar pacificamente trabalhadores para o movimento colher donativos e utilizar cartazes de propaganda A empresa foi intimada a n o demitir os empregados parados medida que havia sido anunciada publicamente seis dias antes em n
290. implesmente como uma hist ria a ser bem contada Significa reafirmar a autoridade do pesquisador sobre o conhecimento produzido n o a partir de seu 4 Sobre o recurso do th ma em Her doto ver HARTOG Fran ois O espelho de Her doto Ensaio sobre a representa o do outro Belo Horizonte Editora UFMG 1999 Sobre o uso do maravilhoso na produ o jornal stica em especial na filial ga cha do jornal ltima Hora ver ELMIR Cl udio Pereira O crime da ltima Hora Porto Alegre na passagem dos anos cingiienta Disserta o mestrado em hist ria IFCH UFRGS Porto Alegre 1996 50 A express o refere se ao jornalismo televisivo que hoje no mundo inteiro influencia e lidera as tend ncias jornal sticas dos outros ve culos BOURDIEU Pierre A televis o o jornalismo e a pol tica In Contrafogos Dicas para enfrentar a invas o neoliberal Rio de Janeiro Jorge Zahar 1998 p 95 l O uso das notas de p de p gina por exemplo uma das formas de expressar essa cientificidade raramente utilizada no jornalismo Para uma discuss o sobre o uso das notas de p de p gina e suas diversas fun es atrav s dos tempos dar legitimidade ao texto fugir censura enumerar dados para uso de outros pesquisadores ou polemizar ver GRAFTON Anthony Los or genes tr gicos de la erudici n Breve tratado sobre la nota al pie de p gina Buenos Aires Fondo de Cultura Econ mica 1998 32 ocultamento como suj
291. informam que funcion rios fura greves haviam se recusado a trabalhar devido ao atraso de sal rios diante do que a empresa havia garantido vales Isto prova que a nossa greve justa observa o texto OS QUE FICARAM se rebelam Boletim Comiss o Mobiliza o Caldas Jr Porto Alegre 5 de janeiro de 1984 ASJPRGS 171 por outro lado o clima de indefini o pol tica do fim do regime autorit rio e a crise econ mica que passou a castigar mais fortemente os trabalhadores no in cio dos anos 80 favoreciam as solidariedades na pr tica sindical e no movimento social em geral No limite o inimigo ainda os unia mesmo que os caminhos propostos para confront lo fossem diversos Al m disso as greves mesmo econ micas apresentavam um n tido significado pol tico de oposi o ao autoritarismo e derivavam da parte significativa de sua legitimidade social Apoi las era se associar a esta legitimidade No caso da Caldas J nior tal legitimidade era refor ada pela id ia de uma greve justa porque motivada pelo n o cumprimento de um direito trabalhista b sico o pagamento de sal rio Para alguns setores o arb trio patronal foi imediatamente associado ao autoritarismo do regime a partir do apoio anterior da Caldas J nior ao golpe de 64 Do outro lado por meio de reportagens em seus di rios a empresa buscava desqualificar os grevistas ressaltando o uso das t ticas violentas supostamente empregadas por eles como nos
292. io do Povo base ideol gica de sua credibilidade A considerar o fato relatado como ver dico salta aos olhos a extrema habilidade de Caldas em cooptar a mancada do funcion rio transformando a em argumento para ocultar seu poder sobre o processo de trabalho e o produto da empresa e ao mesmo tempo refor ar a ideologia da independ ncia editorial t o cara ao jornalismo Al m disso mostra o vigor do controle imposto pelo empres rio forte o suficiente para permitir que ele ironizasse impunemente sua pr pria autoridade 28 GALVANI W Depoimento Ant nio Carlos Ribeiro e Adail Borges Fortes da Silva trabalhavam h d cadas na Caldas J nior e ocuparam altos cargos na reda o do Correio do Povo entre eles o patamar m ximo da hierarquia o posto de secret rio de reda o A maioria dos ex funcion rios entrevistados para a pesquisa se referiram a Caldas como doutor Breno Ed Idem ibidem Em seu depoimento Jo o Borges de Souza conta a mesma hist ria de forma ligeiramente diferente O Breno tinha sob o vidro da mesa dele um recorte do pr prio Correio uma not cia que saiu na coluna Diversas por um lapso imperdo vel de quem editava Deve estar arrependido at hoje O Breno tinha tambo de leite l para Bel m Novo E a fiscaliza o andou l e multou E saiu not cia no pr prio Correio Multado o tambeiro Breno Caldas Ent o toda vez que algu m aparecia no Correio fazendo um pedido que raiava o
293. irma que dar aviso pr vio aos novos admitidos 25 Reportagem Caldas J nior confirma den ncia em inqu rito publicada nas capas da Folha da Tarde e do Correio do Povo com foto de Francisco Ant nio Caldas diretor geral da Caldas J nior na 1 delegacia da Pol cia Civil ratificando den ncias contra os grevistas 30 DRT faz levantamento sobre as novas contrata es a ser entregue ao TRT Fevereiro 6 TRT julga e declara a legalidade da greve com base na lei 4 330 dando garantia de emprego aos grevistas at o efetivo pagamento dos sal rios e do FGTS que deve ocorrer em 10 dias da publica o do ac rd o sob pena de multa de 50 Assembl ia seguida de passeata pelas ruas do centro de Porto Alegre decide pelo fim da greve 7 Grevistas voltam ao trabalho 15 Show de Gonzaguinha na UFRGS em apoio greve Mar o 20 Atendendo recurso impetrado pela Caldas J nior o Tribunal Superior do Trabalho TST concede liminar e suspende temporariamente a decis o do TRT inclusive o pagamento dos dias de greve Junho 16 Correio do Povo e Folha da Tarde deixam de circular Comunicado divulgado pela R dio Gua ba Setembro 5 TST julga o m rito do recurso impetrado pela Caldas J nior e declara a greve legal 29 Zero Hora p gina 31 noticia a n o realiza o de dois leil es de m quinas e equipamentos da Caldas J nior no dia anterior 28 de setembro por falta de interessados O
294. iscutir o andamento das a es trabalhistas Segundo a Revista Sul a reuni o quebrou 238 o maior pau entre quem fez greve e quem furou dos 500 funcion rios que apareceram duzentos sa ram antes do fim a maioria dos que sa ram foi de grevistas Junho 13 Trabalhadores da Caldas J nior fazem acordo com o presidente da CEF Marcos Freire no sentido de permitir o pagamento das d vidas trabalhistas Pelo acordo fica reservado o direito da CEF sobre o pr dio central da empresa na Caldas J nior entre Sete de Setembro e Andradas Os demais pr dios podem ser leiloados para pagamento dos funcion rios Setembro 30 Justi a decreta a fal ncia da Caldas J nior Acordo entre funcion rios e CEF fica suspenso Outubro 25 Assinado acordo entre os advogados dos trabalhadores e o s ndico da massa falida para a realiza o de leil o dos bens da Caldas J nior e pagamento das d vidas trabalhistas 1986 4 O empres rio Renato Bastos Ribeiro compra a Caldas J nior e quita as d vidas Suspenso o leil o do pr dio sede da Caldas J nior marcado para o dia 6 239 Anexo Il C pias de boletins de greve 240 O escassos eremplares do Correio do Povo sairam protegidos a Brigada Militar Folha n o foi s bancas C Correio saiu mal das pernas CALDAS PARADA A Assembl ia Geral dos Funcion rios da Empresa Jornalistica Caldas Junior reuniu cerca de 300 pessoas na oficina do chumbo das 19
295. istas do per odo de lei antigreve Aprovada em maio de 1964 por um Congresso Nacional j enfraquecido pelo Ato Institucional n 1 e sancionada a 1 de junho pelo presidente Humberto de Alencar Castelo Branco pelo ministro do Trabalho Arnaldo Sissekind e pelo ministro da Justi a Milton Campos a 4 330 alterava o Decreto lei n 9 070 de 15 de mar o de 1946 Na poca foi saudada em editorial do Correio do Povo como uma forma de Di rio da Justi a Bras lia 7 de dezembro de 1984 p 21123 21125 ASJPRGS 1 Baixado em 9 de abril de 1964 portanto oito dias ap s o golpe militar que dep s o presidente Jo o Goulart o AI 1 manteve formalmente a Constitui o de 1946 mas franqueou ao Executivo v rias prerrogativas extraordin rias reduzindo o poder do Congresso Projetos de lei enviados pelo presidente da Rep blica precisavam ser examinados em 30 dias na C mara e em 30 no Senado sen o seriam considerados aprovados al m disso foi suspensa a imunidade parlamentar Uma transcri o comentada do Al l1 pode ser encontrada em ALVES FILHO Ivan Brasil 500 anos em documentos Rio de Janeiro Mauad 1999 p 574 590 452 Arnaldo S ssekind um dos grandes nomes do Direito do Trabalho no Brasil Participou da comiss o respons vel pela elabora o da CLT foi ministro do Trabalho do governo Castelo Branco e ministro do Tribunal Superior do Trabalho Tem diversos livros publicados sobre esta tem tica entre el
296. justi ados por aquilo Marcelo Villas Boas dos Santos ex secret rio geral do Sindicato dos Jornalistas em entrevista autora N s sempre soubemos que a greve era justa porque tinha como objetivo o recebimento de sal rios atrasados A decis o da Justi a no entanto tornou o movimento mais do que justo legal Boletim de greve 7 de fevereiro de 1984 Nos cap tulos anteriores apresentei uma an lise do processo de mobiliza o ocorrido entre os empregados da Caldas J nior enfocando primeiramente sua rela o com as mudan as tecnol gicas no processo de trabalho e posteriormente o v nculo com o sistema de domina o paternalista vigente na empresa A seguir examinei o ambiente pol tico no qual ocorreu o movimento em especial o momento de defini o das diversas identidades sindicais presentes na cena nacional do per odo A proposta deste cap tulo discutir a quest o jur dica enfocando o problema desenvolvido no cap tulo 1 Recordando me interessa compreender o porqu da op o pelo uso do arcabou o jur dico do per odo autorit rio num movimento de resist ncia de trabalhadores e quais os elementos do contexto hist rico que embasaram essa escolha A partir da identifica o destes elementos pretendo discutir se eles s o ou n o capazes de relativizar a imagem de ruptura tradicionalmente associada ao novo sindicalismo Em primeiro lugar vou apresentar os dados referentes ao processo jur dico da paralisa o
297. l de Comunica o da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos Dispon vel em lt http www portal3 com br coletiva 2003 01 garcez 1 htm gt Acesso em 20 12 05 Os funcion rios da TV Tupi de S o Paulo empresa dos Di rios Associados de Assis Chateaubriand entraram em greve por atraso de sal rios Para uma vis o da crise dos Di rios Associados ver WAINBERG Jacques Imp rio das palavras Porto Alegre Edipucrs 1997 especialmente as p ginas 231 276 e MESQUITA Humberto Tupi A greve da fome S o Paulo Cortez 1982 Agrade o ao historiador e colega de mestrado Ricardo di Lorenzo por essas indica es 77 A greve teria tido ades o de 400 dos 1 600 empregados da Caldas J nior de acordo com PETERSEN urea Op cit O n mero de 300 trabalhadores 20 dos funcion rios entre jornalistas gr ficos e motoristas segundo o sindicato dos jornalistas e 160 10 dos empregados conforme a empresa citado em JUSTI A garante a greve no Sul O Estado de S o Paulo S o Paulo 28 de dezembro de 1983 sem indica o de p gina ASJPRGS Em outra reportagem publicada no mesmo dia na Folha de S o Paulo QUINTANA deve ter alta at o fim do ano Folha de S o Paulo S o Paulo 28 de dezembro de 1983 sem indica o de p gina h refer ncia ao n mero de 300 grevistas citando decis o jur dica que definiu pela reintegra o dos mesmos ASJPRGS 78 O Correio do Povo saiu com 16 p ginas e bastante atrasado s duas h
298. la marca a distribui o de pap is e as posi es sociais que expressa e imp e certas cren as comuns O imagin rio social seria uma das for as reguladoras da vida coletiva um definidor de pap is limites e atitudes al m de constituir se em instrumento legitimador do poder estabelecido Desta forma rela es de for a e de poder seriam tamb m rela es de sentido Disputas de poder envolveriam n o apenas quest es materiais mas tamb m o controle a difus o a reprodu o e o manejo dos sistemas simb licos de interpreta es e de valora es que estruturam o imagin rio social O impacto dos imagin rios sociais sobre as mentalidades depende amplamente de sua difus o dos circuitos e dos meios de que disp em Para conseguir a domina o simb lica fundamental controlar estes meios que s o outros tantos instrumentos de persuas o de press o de interioriza o de valores e de 101 cren as Portanto o lugar da emiss o dos discursos que conformam e difundem o imagin rio um espa o fundamental de poder Nos tempos modernos o advento da comunica o de massa assegura a um s emissor a possibilidade de chegar at um p blico enorme simultaneamente numa escala at ent o desconhecida Para Seguin des Hons o poder da imprensa brasileira est relacionado diretamente aos seus mecanismos de influ ncia e no o de legitimidade que capaz de associar ou pelo contr rio descolar dos detent
299. lato chamo a aten o para a opini o manifestada por Souza sobre a falta de alternativas dos funcion rios para receberem seus sal rios al m da Justi a do Trabalho o que concede ao f rum jur dico papel privilegiado na resolu o do problema at mesmo depois da a o coletiva dos trabalhadores Tamb m saliento a informa o de que apenas os empregados da oficina haviam recebido as pequenas parcelas de sal rio liberadas pela empresa num indicativo aparente do poder de barganha dos gr ficos Em meio ao agravamento da crise econ mica a decis o que tornava a greve legal e obrigava ao pagamento imediato dos dias parados e dos sal rios atrasados permaneceu sem ser cumprida Ela s voltou a ter validade agora respaldada pelo Julgamento definitivo do recurso interposto no TST depois da interrup o da circula o dos dois jornais em 16 de junho de 1984 seguida pela fal ncia da empresa em 30 de setembro de 1985 adquirida por outro empres rio em maio de 1986 RS Jo o Borges de Souza come ou sua carreira de jornalista no jornal A Tribuna Ga cha di rio comunista que circulou de 1946 a 1956 e onde atuaram personagens hist ricos do PCB ga cho como Dyon lio Machado D cio Freitas Raul Ryff e Jo o Aveline Trabalhou tamb m no jornal ltima Hora ao lado de Aveline cobrindo o movimento sindical Rep rter pol tico acompanhou para o jornal o movimento da Legalidade em 1961 Foi tesoureiro do sindicato dos jornalistas en
300. le a isso E teve a ver tamb m com o fato de ele tentar conseguir um dinheiro achando que ia conseguir Eu me lembro que n o era muito que ele foi pedir Foi qualquer coisa como se ele fosse pedir R 50 e disseram para ele que ele s podia tirar R 5 Sabe A ele voltou muito humilhado Se sentiu muito humilhado Porque ele dizia sempre que um homem sem dinheiro no bolso n o era um homem Numa empresa em que o sentimento de valoriza o dos empregados era a base de uma pol tica de controle social funcion rios entre eles o poeta sentiram se atingidos em sua dignidade quando ignorados em seu direito mais b sico a remunera o pelo trabalho A sensa o de humilha o exemplificada no caso de Quintana se acentua para os empregados com a situa o de ter de pedir para receber o que lhes devido muitas vezes sem resultado e al m disso fazendo frente s car ncias b sicas de sobreviv ncia suas e de suas fam lias Ao relatar os nove meses de crise da Caldas J nior um texto publicado no jornal dos grevistas contava a hist ria de um rep rter que havia informado a diretores da empresa n o ter mais dinheiro para se alimentar Recebeu a seguinte resposta conforme ss n 330 o documento O problema n o urgente volta amanh pode sair um vale Ee 32 Nilton Schergl da Silva SILVA N e VARGAS J Op cit 327 ALMEIDA M N M Op cit Conforme o jornal Den ncia os vales eram de Cr
301. le ocorreu em um determinado local e per odo hist rico no Rio Grande do Sul no in cio dos anos 80 exatamente quando se verificava a afirma o 34 Idem ibidem p 45 46 A no o de reciprocidade formulada por Abramo com aux lio do pensamento do psicanalista H lio Pellegrino para quem o trabalho pressup e a ren ncia do indiv duo ao princ pio do prazer sob a garantia de receber ao menos o m nimo indispens vel sua preserva o 35 FOME NO NATAL mas com dignidade Den ncia Porto Alegre n 28 edi o extra especial dezembro de 1983 p 3 ASJPRGS 143 institucional de um processo de retomada da mobiliza o dos trabalhadores e de mudan as nos comandos dos sindicatos deflagrado no final da d cada anterior Neste contexto a indigna o dos empregados da Caldas J nior foi canalizada para um movimento organizado capaz de manter se por quase dois meses buscar alternativas judiciais e que procurou apoio na nascente reorganiza o sindical do per odo E o que veremos a seguir 144 Cap tulo IV A greve e a articula o sindical Houve um pool de sindicatos em dia dada a import ncia que tinha o movimento poca Era uma greve em um meio de comunica o em um momento que a gente estava de transi o saindo de um per odo ditatorial e entrando em um outro que ainda era d vida naquele momento como seria como se comportariam os militares como politicamente amos sair Ent o aquele movi
302. les no mesmo n vel Olha isso a n o existe no C digo de Processo Civil n o existe na legisla o do Trabalho s aconteceu nesse epis dio De acordo com Biavaschi Ent o o Lorenzon que fez este acordo com o juiz da vara de fal ncias e n s aqui entre n s ju zes fizemos um acordo com o Lorenzon e fizemos um concurso de credores trabalhistas que foi capitaneado pela 8 Junta assegurando o pagamento deste bem A foi vendido o bem n o pagamos todos n o me lembro a percentagem 50 60 dos nossos credores Foi assim que n s conseguimos quitar mais da metade do cr dito destes jornalistas com a venda deste bem quando houve o concurso de credores aqui 2 BURMEISTER L L Op cit 202 assembl ia os funcion rios decidiram encaminhar Delegacia Regional do Trabalho um processo com base no decreto lei n 368 de 19 de dezembro de 1968 al m de distribuir carta aberta popula o Uma fotoc pia do texto deste decreto um dos primeiros a entrar em vigor depois da edi o do AI 5 estava entre o material relativo greve localizado no sindicato dos jornalistas por esta pesquisadora O Relat rio preliminar sobre o movimento reivindicat rio dos funcion rios da EJCJ elaborado pelos grevistas no in cio de 1984 para ser distribu dos a autoridades pol ticos e empres rios em busca de apoio especialmente financeiro re ne c pias dos of cios enviados pelo sindicato dos jornalistas DRT
303. lhadores CUT e o Partido dos Trabalhadores PT bem como fortaleceu lideran as das quais a express o mais flagrante o atual presidente da Rep blica Luiz In cio Lula da Silva A greve da Caldas J nior por m integra o lado mais obscuro e menos her ico deste sindicalismo combativo pelo menos se julgado a partir dos valores com os quais o fen meno teve sua imagem constru da distanciamento da velha estrutura sindical brasileira cr tica legisla o trabalhista poder de press o dado por paralisa es de massa identifica o com a oposi o ao regime militar O que os of cios jornais e boletins de greve mostraram eram novos sindicalistas que se aliavam a velhos e frequentavam gabinetes de ministros militares em busca de apoio Trabalhadores que n o hesitavam em utilizar a legisla o autorit ria A m dia foi de quatro dias nas paralisa es do setor p blico e tr s nas do setor privado em 1983 e cinco dias no p blico e tr s no privado em 1984 segundo NORONHA Eduardo A explos o das greves na d cada de 80 In BOITO JR A org O sindicalismo brasileiro nos anos 80 S o Paulo Paz e Terra 1991 p 108 135 Express o usada nas RESOLU ES do 1 Congresso Nacional da CUT ocorrido em 24 25 e 26 de agosto de 1984 In CUT 20 anos 1983 2003 Resolu es da Conclat e dos Congressos e Plen rias da CUT S o Paulo Funda o Perseu Abramo CUT 2003 CD ROM 15 para garantir direit
304. lidade tem uma larga diferen a Mas acho que at a nossa despolitiza o da poca levou a buscar na prote o jur dica de uma legisla o autorit ria a legalidade do movimento Embora ele n o fosse perder a legitimidade Se fosse decretado ilegal a gente n o perderia legitimidade N s est vamos parados porque n o receb amos sal rios O depoimento revela tra os do horizonte cultural legalista que Paoli j identificara como caracter stico dos trabalhadores no Brasil em sua tese de 1988 sobre as rela es entre Estado e lei Conforme esta autora a forma o da classe oper ria brasileira n o pode ser entendida sem considerar se a interven o legal do Estado nas rela es de trabalho cotidianas A lei portanto condicionaria a forma de agir e principalmente de pensar do trabalhador brasileiro n o s em termos de limites como de possibilidades 7 HIST RICO Texto referente greve na Caldas J nior ASJPRGS aig VILLAS BOAS DOS SANTOS M Op cit Ver dados biogr ficos na nota 273 A refer ncia aos vales do Francisco Ant nio uma alus o desconfian a generalizada dos grevistas em rela o gest o financeira dos recursos da empresa pelo filho do empres rio Breno Caldas Francisco Ant nio ent o diretor geral da EJCJ Na perspectiva de muitos ex funcion rios Francisco Ant nio fazia gastos pessoais excessivos mesmo durante o per odo de crise mais aguda da empresa 59 PAOLI Mari
305. lio C sar Crisis y emerg ncia de nuevos modelos productivos In LA GARZA Enrique Los retos te ricos de los estudios del trabajo hacia el siglo XXI Buenos Aires Clacso 1999 p 69 115 253 SILVA N e VARGAS J Op cit 103 processo de trabalho provocada pela implanta o da fotocomposi o na empresa bem como a desqualifica o do saber oper rio N o chegava a ser uma desativa o da oficina mas havia uma passagem progressiva para este sistema e com isto claro uma mudan a no perfil dos profissionais voltados para o trabalho gr fico No tempo do chumbo total os oper rios da oficina mandavam e desmandavam Porque eles que sabiam Para tu teres uma id ia eu acho que eu conto por a em um desses livros n o era feita diagrama o nos jornais da Caldas J nior Pergunta Como assim eles mandavam e desmandavam Eles tinham uma certa autoridade Chegavam e te diziam isto d isto n o d Eles n o tinham a decis o pol tica sobre como iam montar a p gina mas evidentemente que numa hora dessas z A implanta o das novas tecnologias narrada pelos oper rios como um processo lento que demorou tr s anos e para Ant nio Adair Ferreira da Silva pareceu estar sendo feito a contragosto pela empresa O linotipista Jo o Alberto Vargas recorda que eles ficaram um tempo dois tr s anos ajeitando tudo Os trabalhadores entrevistados s o un nimes em lembrar que muitos linoti
306. listas de caloteiro patr o e foi retratado segurando firmemente sacos de dinheiro ver ilustra o a seguir Em boletim do segundo dia de greve os grevistas escreveram que o descendente da fam lia Caldas que atualmente dirige os neg cios o empres rio fazendeiro Breno Caldas foi obrigado a entrar na sua empresa furando um piquete de funcion rios que h dois meses n o recebem sal rios sofrendo ainda a humilha o de ser vaiado e chamado de caloteiro Atacar a imagem de Caldas significava torn lo humano desmitific lo enfraquecendo o artif cio que sustentava as rela es paternalistas na empresa O pai que n o prov que desaponta foi assim destronado de sua autoridade N o toa que o jornal dos grevistas apregoava o fim de um reinado conduzido com m o de ferro e presun o e alertava o rei est nu Na capa a mesma edi o trazia como manchete a pergunta E agora doutor Breno dando uma conota o pejorativa ao doutor marca ling stica da distin o e da autoridade do patr o A poesia que serve como ep grafe a este cap tulo repleta de inj rias mostra que os xingamentos n o eram apenas um artif cio dos militantes sindicais para mobilizar os grevistas Afinal esses versos n o foram publicados Refletem claramente um desabafo pessoal de algu m que deixou de sentir o poder patronal como leg timo e passou a v lo como abuso Face a essa crescente percep o da ile
307. m 13 12 84 na 8 Junta do Trabalho ATRT4 H registro de poesias de Quintana publicadas anteriormente pelo jornal 124 tinha dado pausa conforme suas palavras do longo tempo de afastamento Um epis dio de dif cil compreens o para Elena Para mim pela lei trabalhista e eu dizia isto para ele Mas tio pela lei trabalhista o senhor teria este direito Mas n o adiantava ele tinha aquela gratid o Isto eu n o entendo O vigor do reconhecimento do poeta ao patr o real ado ao lembrarmos do baix ssimo sal rio de Quintana j apresentado anteriormente como se neste caso a rela o patr o empregado passasse completamente ao largo da remunera o baseando se totalmente num envolvimento emocional Um trabalhador alienado sem qualquer consci ncia de seus direitos Talvez valha a pena prestar aten o em mais uma das hist rias que Elena ouviu do tio Ele contava que uma vez ele ia entrar no elevador do Correio do Povo e o doutor Breno estava junto e ele fez sinal para o doutor Breno passar e o doutor Breno fez sinal para ele passar E o doutor Breno disse para ele Primeiro os anjos A o tio Mario disse para o doutor Breno Mas doutor Breno at entre os anjos h hierarquia Ent o era amigo mas era patr o E o tio Mario tinha uma rela o de patr o inclusive com donos de editora O f z n308 tio Mario tratava com editor dele sempre como se fosse patr o
308. m a pol cia e patr es Em 13 de dezembro por exemplo dia seguinte ao in cio da greve o boletim dos grevistas denunciava agress es de soldados a um piquete de trabalhadores junto ao chamado garaj o Segundo o boletim duas jornalistas foram espancadas pelos soldados da tropa de choque que estava munida de escudos e bombas de g s Al m disso um seguran a da empresa de rev lver na cintura teria amea ado um dirigente do sindicato dos jornalistas As intimida es voltaram a ser fortemente criticadas no dia 14 quando o boletim protestava contra a absurda repress o ao nosso justo e legal movimento e queixava se dos mais de 400 brigadianos que patrulhavam a sede da empresa no centro e a garagem do Menino Deus A Caldas J nior respondeu por seus jornais no dia seguinte 15 de dezembro quando o Correio do Povo e a Folha da Tarde sa ram s ruas No Correio a not cia sobre a greve ocupava quase metade da sua p gina de capa Ilustrada pela foto da vidra a estilha ada de um caminh o a mat ria afirmava que o movimento grevista descamba para a viol ncia e que grevistas apedrejam viaturas e ferem motoristas O texto dizia que Como resultado desta a o conden vel sob todos os aspectos resultaram feridos um motorista do Departamento de Circula o apedrejado na regi o cervical que foi medicado no Hospital de Pronto Socorro um inspetor de vendas sofreu cortes num bra o e um ajudante d
309. ma o do leitor com as informa es factuais referentes ao acontecimento bem como estabelecer uma concatena o poss vel entre elas J h dados suficientes parece me para iniciar o trabalho de delimita o e aprofundamento dos problemas envolvidos nesta pesquisa Visando atingir esse objetivo inicio com uma discuss o propiciada pelas pr prias fontes a id ia de inevitabilidade da greve 4 Um movimento inevit vel Ao iniciar a pesquisa sobre esta greve as primeiras aproxima es que tive com o assunto quando narrado pela voz das testemunhas ressaltavam uma mesma quest o a id ia de inevitabilidade do movimento Os atrasos de sal rios e as dificuldades 65 econ micas da Caldas J nior eram invocadas para explicar n o s as causas da greve mas tamb m como ela acabou acontecendo Assim Jo o Borges de Souza ressaltou em uma entrevista realizada no ano de 2003 Nos empurraram para uma situa o bem concreta As pessoas se convenceram que j n o havia mais aquela negocia o com um car ter meio paternalista do empregador e que era preciso utilizar o ltimo recurso que nas rela es trabalhistas existe que o recurso da greve Porque a greve sempre um recurso extremo Editor de pol tica Souza ocupava um cargo de destaque hier rquico na reda o da Folha da Tarde e havia sido presidente do sindicato dos jornalistas entre 1974 e 1976 numa administra o de esquerda em oposi o ao regime mili
310. ma centralizada de elei o para a diretoria da Fenaj e reunia profissionais de todo o pa s Sobre o movimento de democratiza o da Fenaj que resultou na ascens o da oposi o ao poder em 1980 e em elei es diretas na entidade em 1986 ver entrevistas de Armando Rollemberg e Washington Tadeu de Mello Dispon vel em lt http www fenaj org br materia php id 1310 gt e lt http www fenaj org br materia php id 1187 gt Acesso em 18 01 07 e texto de OLIVEIRA Antonio Manoel de Imprensa ga cha E a tica foi para as cucuias Observat rio da Imprensa S o Paulo 1 de janeiro de 2002 Dispon vel em lt http observatorio ultimosegundo ig com br artigos d010120022 htm gt Acesso em 19 01 06 Sobre o epis dio Souza declarou em seu depoimento como n s t nhamos feito alguns encontros de car ter nacional e regional aqui e ao mesmo tempo particip vamos de promo es em outros estados defendendo a id ia da necessidade de renova o da Fenaj dos crit rios de elei o da federa o e das pr prias confedera es n s terminamos sendo levados a ter uma participa o mais ativa nisso Foi nessas circunst ncias que eu terminei virando um candidato meio anti candidato Um candidato para romper com um tipo de comportamento ainda sabendo que ia perder SOUZA Jo o B Op cit 48 MARQUES Paulo Lisandro Amaral Nos tempos do novo sindicalismo In Hist rias do Trabalho 1996 1997 Porto Alegre Unidade Editorial
311. magem foi muito influenciada pela primeira greve metal rgica do ABC em 1978 com os oper rios cruzando os bra os em frente s m quinas paradas Nem sempre por m esta foi a forma de luta empregada pelo movimento sindical na poca Algumas categorias como os banc rios utilizaram amplamente os piquetes como forma de luta e mobiliza o durante as greves inclusive lt x 422 com Opera es fecha banco como demonstrou Mattos Os fatos ocorridos durante a greve da Caldas J nior s o mais um exemplo de perman ncia e da valoriza o do 41 AS NOSSAS TAREFAS panfleto ASJPRGS 42 RODRIGUES L M Conflito industrial e p 76 421 FONTES Paulo Centenas de estopins acesos ao mesmo tempo A greve dos 400 mil piquetes e a organiza o dos trabalhadores em S o Paulo 1957 In FORTES Alexandre et al Na luta por direitos p 145 173 42 MATTOS M B Novos e velhos p 201 203 168 piquete incorporado at mesmo pr tica dos sindicalistas que se apresentavam como 423 portadores da renova o Al m disso a despeito das disputas motivadas pela cis o entre os novos sindicalistas e a esquerda tradicional os comunistas participaram ativamente da greve integrando se s sete comiss es formadas mobiliza o piquete alimenta o fundo financeiro interior edi o de boletins e comiss o de habita o luz e gua encarregada de encaminhar solu es para os problemas de pre
312. mento estava sendo olhado com lupa por todos os movimentos Manoel Loir Gon alves fot grafo vice presidente do sindicato dos jornalistas poca da greve Eu entrei eles j estavam com o movimento pronto Quando eu entrei eu aderi ao movimento de forma solid ria Tentando segurar o rodovi rio Mas eles j estavam h meses trabalhando em cima desse processo Osvaldo Gomes Rodrigues o Galo presidente do sindicato dos rodovi rios poca da greve A gente ia perder um enorme tempo com aquela turma l as gurias s dizendo nome feio Era uma anarquia L no sindicato dos jornalistas desculpe eu dizer era uma anarquia de primeira S se ouvia bandalheira e bandalheira Euclydes Bento da Cruz presidente do sindicato dos gr ficos poca da greve Os dois cap tulos anteriores centraram se no exame das condi es materiais e subjetivas de eclos o da greve na Caldas J nior a partir da an lise da quest o da transforma o tecnol gica e da revolta contra uma rela o espec fica de domina o No entanto se uma s rie de circunst ncias materiais favoreceu o questionamento da autoridade patronal no cotidiano dos trabalhadores ocasionando ainda a sua uni o em torno dos mesmos interesses o ambiente sindical da poca tamb m teve influ ncia sobre o movimento O presente cap tulo pretende justamente discutir as caracter sticas das organiza es sindicais das categorias envolvidas na greve da Caldas J nior a
313. mentos antes anexados e que hoje n o existem mais Foi poss vel reconstruir o percurso jur dico cruzando estas refer ncias com documentos de outras origens como c pias de atas das reuni es de negocia o no TRT preservadas pelos grevistas reportagens e editais publicados em jornais ou nos boletins de greve depoimentos da ju za Magda Biavaschi do advogado Lu s Burmeister e de grevistas e processos trabalhistas individuais referentes ao per odo da fal ncia da empresa preservados pelo tribunal 43 Tais processos foram preservados por serem considerados n o findos ou seja pendentes geralmente relativos ao pagamento de custas aos advogados aos leiloeiros etc o que n o ocorreu com o diss dio coletivo Recentemente o TRT 4 reverteu esta tend ncia de destrui o de documentos criando o Memorial da Justi a do Trabalho do Rio Grande do Sul setor para preserva o de sua mem ria e dos processos no qual trabalham ju zes historiadores e soci logos tendo a ju za Biavaschi como uma de suas coordenadoras Em junho de 2005 foi promovido um ciclo de debates dentro da programa o do Curso de Forma o de Multiplicadores em Pol ticas de Resgate Preserva o Conserva o e Restaura o do Patrim nio Hist rico da Justi a do Trabalho com a participa o dos professores Maria Isabel Noll do PPG em Ci ncia Pol tica da UFRGS Benito Bisso Schmidt do PPG em Hist ria da UFRGS e Sidney Chalhoub do PPG em Hist ri
314. mo estrat gia de mobiliza o e forma de demonstrar publicamente a for a dos trabalhadores Assim a viv ncia destes homens e mulheres assinala para o pesquisador a necessidade de como j indicou Mattos inspirado em Thompson n o avaliar a a o coletiva dos oper rios e dos sindicatos sob a rigidez de modelos pr concebidos mas sim respeitar a ambigiidade e a riqueza da experi ncia hist rica O clima de solidariedade por m n o impediu que o movimento chegasse a um impasse que acabou sendo resolvido na Justi a do Trabalho O exame do encaminhamento jur dico da greve o assunto do pr ximo cap tulo 482 MATTOS M B Novos e velhos p 81 175 Cap tulo V O legal mais do que o justo Como n o h condi es de manter os dois grupos de empregados e tal como lhe permite a legisla o do trabalho em vigor a Empresa Jornal stica Caldas J nior deliberou demitir por justa causa todos os que se afastaram do trabalho desde a semana anterior e partiram para o improp rio o desrespeito e a viol ncia A partir de agora o caso fica entregue Justi a do Trabalho e a esta caber decidir Nota Esclarecimento ao p blico publicada na capa do Correio do Povo de 21 de dezembro de 1983 Tinha muita coisa rom ntica tipo de Robin Hood assim A gente n o estava em greve porque queria aumentar o sal rio A gente queria receber o sal rio Ent o tinha uma coisa dos grevistas se sentirem extremamente in
315. mostram geralmente a for a do patr o frente aos chefes subalternos A imagem de Caldas constitu da assim como o homem que d a palavra final e que reconhece os direitos e a raz o de seus funcion rios diante do arb trio ou da suposta inefici ncia do segundo ou terceiro escal o Exemplifico com dois depoimentos Eu me lembro que o pessoal da Folha da Tarde tomava chimarr o E um dia o Adil Borges Fortes da Silva chegou e disse N o pode mais tomar chimarr o na reda o Ah mas por qu O doutor Breno n o gosta que tomem chimarr o dentro da reda o Eu me lembro que no dia seguinte o cara traz o chimarr o e diz Eu falei hoje com o doutor Breno perguntei a ele e ele disse que n o tem restri o nenhuma em tomar E s vezes a gente sentava com o Breno para pedir para ele isto ou aquilo Sempre sempre ele atendeu E lia as coisas Eventualmente comentava alguma mat ria alguma coisa assim E muitos artigos algumas cr nicas minhas que o Adail Borges Fortes da Silva dizia Isto aqui n o vai sair eu no limite dizia Por favor Adail pede que o doutor Breno olhe Se o doutor Breno proibir tudo bem Mas se n o E olha acabava muitas vezes o Breno liberando mat ria A vinha l com a canetinha verde assinado ia para a publica o Em uma das hist rias o empregado recorre ao patr o para garantir o direito ao chimarr o na outra para tentar burlar a censura do e
316. mprensa da Assembl ia Legislativa Ligado atualmente ao PTB foi superintendente de comunica o social da Assembl ia em 2004 2005 Na poca da entrevista junho de 2006 atuava como jornalista na coordena o do PTB na Assembl ia 273 z Ze cd Conforme pesquisa de V tor de Brites a realiza o das assembl ias na oficina de chumbo foi negociada com a dire o da empresa Em setembro de 1983 depois que os funcion rios lan aram uma carta aberta popula o denunciando o atraso de sal rios a dire o proibiu a realiza o de novas assembl ias no local Os trabalhadores ent o transferiram a reuni o para a frente do pr dio da Caldas J nior no meio da rua Diante disso a dire o recuou e novamente autorizou o uso da oficina de chumbo para assembl ias BRITES V Op cit p 11 O jornalista Jo o Souza confirmou em depoimento concedido a mim que a realiza o das assembl ias na oficina foi negociada at porque a empresa sentiu que ou a gente fazia ali ou atravessava a rua e fazia no sindicato dos banc rios no edif cio Cacique Eu n o sei se em algum momento n o deve ter passado pela cabe a de algumas pessoas da empresa do pr prio dono de assessores que no recinto da empresa a ades o n o fosse ser t o maci a Podem ter pensado isto n o sei SOUZA J B Op cit 110 numa garagem Naquele pr dio novo que anexo ao pr dio antigo Pessoal compunha no segundo andar daquele pr dio novo
317. mpresa o aval das dire es sindicais obviamente refor ava o movimento publicamente Basta ver o caso dos funcion rios administrativos cujo sindicato negou se a participar da greve Apesar da ades o individual de alguns empregados desta categoria o comando do movimento n o podia expressar se em nome deles pois o seu rg o de classe n o respaldava a mobiliza o 48 CRUZ E Op cit 4 GON ALVES M L Op cit 410 Um exemplo a intermedia o feita por Hohlfeldt e citada por ele em seu depoimento Como eu era vereador eu pedi ajuda para o Valdir Fraga ent o presidente da C mara de Vereadores O Valdir tinha um bom contato com alguns supermercados com algumas empresas atacadistas de comida Ent o o Valdir Fraga foi uma pessoa que nos ajudou muito a fazer o nosso fundo de greve Hohlfeldt A Op cit 41 Sobre os administrativos ver cap tulo 2 Relembrando o Sindicato dos Empregados da Administra o de Empresas Propriet rias de Jornais e Revistas era dirigido por um gerente da Caldas J nior o ent o chefe do Departamento de Circula o da Caldas J nior Cl udio Gajko 164 A import ncia deste refor o p blico explicitada tamb m por uma estrat gia adotada desde antes da greve a realiza o de reuni es com grupos pol ticos ou econ micos que pudessem oferecer solu es para a crise na empresa Os grevistas chegaram a ir at Bras lia para um encontro com o chefe da Casa Civil da Pre
318. n a t cnica Alguns responderam negativamente como o tip grafo Solis que a esta altura j havia passado a arte finalista no sistema a frio Eu pensava assim Eu l fora n o vou ganhar nada Ent o prefiro ficar trabalhando aqui que eu ainda ganho um ou dois pila L fora n o vou ganhar nada Tanto que de 10 ficaram 9 Saiu um s Eu consegui alguma coisa Tem pessoal l dentro que ficava at mais valorizado ganhava Chegava eu preciso pagar isto E eles Quanto que tu queres Preciso de tanto A te davam Mas tu tinhas de ter um p de orelha de conversa Sen o eles pagavam assim davam 20 pila para ratear por tudo mundo L gico te levavam em casa te davam lanche Quem me sustentava na poca era meu pai Eu n o tinha nem cara para pedir para ele Eu ficava t o envergonhado Minha m e n o Deixa que eu pe o para ele Foi um tempo duro Duro Pergunta O senhor se lembra se teve algumas assembl ias l o senhor chegou a ir Assembl ia quem fazia era s os grevistas E para entrar na entrada do jornal j faziam piquete ali Me chamavam de tudo mas tudo bem Por isso eu digo para ti hoje em dia analisar quem fez quem faz quem n o faz greve dif cil a coisa Escolhi concluir este cap tulo com a fala de um n o grevista para ressaltar o quanto o movimento coletivo aqui examinado envolvia riscos pessoais que foram 2774 WEYNE R C Op cit FRAGA J e
319. ncomit ncia entre a greve aqui enfocada e a transforma o tecnol gica do setor gr fico da Caldas J nior e pelo uso da oficina de chumbo a oficina de composi o setor parcialmente desativado pela referida transforma o para as assembl ias pr vias greve de 1983 84 Pretende se assim responder s seguintes perguntas de que forma as mudan as t cnicas afetaram o movimento de resist ncia dos trabalhadores Quais os elementos associados ao uso do antigo local de produ o a oficina de chumbo para as assembl ias preparat rias greve O que esse epis dio pode nos revelar sobre a experi ncia da reestrutura o produtiva entre os gr ficos Optei por iniciar a an lise discutindo algumas particularidades associadas historicamente ao of cio gr fico como sua imagem de combatividade no movimento sindical e posteriormente acompanhar alguns marcos da constru o da profiss o at chegar particulariza o da situa o dos trabalhadores desta categoria na Caldas J nior Posteriormente enfocarei as mudan as t cnicas propriamente ditas relacionadas ao in cio do processo de reestrutura o produtiva e sua implanta o na empresa 185 Unidade 33 junho julho de 1978 p 9 apud SILVA M A R Op cit p 177 178 82 Pretendo mostrar as repercuss es destas transforma es no cotidiano e na auto imagem destes trabalhadores utilizando para isso fontes orais material que por suas particularidades j expostas n
320. nescente e da credibilidade de sindicalistas conservadores A for a dos movimentos sindicais obrigava esses ltimos a tentar se identificar de alguma forma 174 com as greves emergentes cercadas de legitimidade social Em rela o aos comunistas sua experi ncia sabia fazer se valer nos momentos de enfrentamento com o patronato mesmo quando estes eram comandados pelos novos sindicalistas Se o novo sindicalismo significou certamente um importante momento de retomada das mobiliza es dos trabalhadores e de afirma o dos sindicatos como for a pol tica dificilmente pode ser encarado como uma ruptura com as pr ticas dos movimentos sindicais anteriores at porque sua pr pria constitui o ocorreu a partir desta rela o amb gua com conservadores e com comunistas entre outros A experi ncia narrada nessas ltimas p ginas revela o exerc cio e a valoriza o do piquete uma forma de luta identificada por parte da bibliografia dos anos 60 como ind cio da fragilidade do sindicalismo populista Tamb m a classe patronal esfor ou se para associar a este tipo de manifesta o uma acep o negativa relacionada viol ncia e desordem Se tal entendimento come a a ser revisado em rela o s manifesta es do pr 64 a persist ncia dos piquetes nos anos 80 e depois disso indica n o s uma const ncia de m todos entre os novos militantes e os populistas como o importante papel desta manifesta o co
321. ni es at ent o realizadas com a dire o os representantes dos funcion rios estavam sendo tratados com deseleg ncia desaten o e desrespeito com respostas evasivas e sempre cercadas de veladas amea as Se os encontros eram agendados no referido local para favorecer a ades o dos gr ficos mobiliza o conforme abordado no cap tulo 2 entre os jornalistas eles despertavam uma identifica o com a imagem de vigor e combatividade do trabalhador bra al Conforme Loir Gon alves as reuni es na oficina foram as mais importantes mas tamb m as mais saudosistas A gente lembrava o sindicalismo europeu com as coisas rolando gr fica o pessoal todo engraxado Trabalhando Era bonito Tinha clima de assembl ia mesmo Era uma coisa bonita Das reuni es passou se para o confronto Em setembro foi distribu da uma carta aberta popula o relatando os atrasos amea as de demiss o em massa e de fechamento da empresa Reuni es foram agendadas com os advogados da Caldas J nior agora tendo como palco a Delegacia Regional do Trabalho DRT rg o para o 42 SOUZA J B Op cit 8 CALDAS B Op cit p 17 4 A CALDAS PAROU Boletim extra do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre 1 7 83 ASJPRGS 345 GON ALVES M L Op cit 138 qual o sindicato havia enviado of cios mensais comunicando os atrasos As reuni es se revelaram infrut feras Os empregados reclamavam de resposta
322. no acho que ele ua 216 considerava os empregados dele como filhos dele porque ele era tima pessoa Este tipo de vincula o entre a domina o econ mica e o relacionamento interpessoal parecia estar no horizonte do pr prio Breno Caldas diretor presidente da empresa conforme seu depoimento Lembro quando o Correio do Povo completou oitenta anos em 1975 Fizemos um churrasco no Parque de Exposi es de Esteio convidamos todos os funcion rios e seus filhos e esposas Quando ia come ar o churrasco tive de dizer algumas palavras saudando a ocasi o e vi aquela multid o estavam l 8 mil pessoas Oito mil pessoas que de certa forma dependiam de mim A eu tremi Aquilo foi um peso eu senti um aperto As pessoas me perguntavam se eu estava bem o que estava acontecendo N o a emo o eu expliquei Na verdade aquela imagem daquelas milhares de pessoas ali reunidas era a dimens o da imensa responsabilidade que eu tinha Percebe se a uma id ia de vincula o direta entre patr o e empregados nos termos de uma depend ncia e principalmente de uma ascend ncia pessoal Como um pai Caldas dizia se respons vel pelos seus trabalhadores de quem esperava principalmente gratid o Nada mais distante dos termos de uma impessoalidade administrativa que come a j a se firmar como tend ncia no final dos anos 80 24 A refer ncia a J lio Duarte diretor industrial da Caldas J nior e editor
323. no peri dico uma evid ncia n o apenas da vis o pessoal de Verissimo que logo a seguir conta ter v rias d vidas como o Correio incluindo a publica o de seus primeiros contos em suplemento liter rio do jornal e a 24 VERISSIMO Erico O Correio do Povo e eu Correio do Povo Suplemento especial 1895 1975 80 anos de Correio do Povo 1 10 75 p 2 Pela data o pr dio original citado no in cio do trecho na verdade o terceiro endere o que o jornal ocupou na capital ga cha na Rua dos Andradas n meros 138 140 Quando o jornal foi fundado em 1895 suas instala es ficavam no n mero 132 da Rua dos Andradas Em 1899 transferiu se para o n mero 317 da Andradas e em 1910 para os n meros 138 140 O pr dio onde atualmente se situa a Caldas J nior o antigo Edif cio Hudson na esquina da Andradas com a Rua Caldas J nior foi comprado pela empresa em 1943 e reinaugurado em 1945 com a nova reda o ver GALVANI W Um s culo p 542 551 Em seu artigo sobre o jornal Ver ssimo relatou ainda que recorria s cole es antigas do Correio do Povo quando escrevia seus romances como testemunho da Hist ria e espelho da nossa vida social destes ltimos oitenta anos Observou que muitas das minhas personagens costumam ler ou pelo menos mencionar o jornal que Caldas J nior fundou De certo modo o Correio passou a ser uma esp cie de personagem de muitos romances VERISSIMO Erico O Correio
324. nos da implanta o da Justi a do Trabalho no pa s ver LEMOS Dinah Beatriz Souza Tempos e Tutelas Contribui o Hist ria do Direito e Justi a do Trabalho no Brasil Disserta o mestrado em Hist ria PUCRS 1997 46 Em tese de doutorado defendida recentemente na Unicamp Biavaschi procura derrubar a id ia de que a Consolida o das Leis do Trabalho CLT do governo Vargas uma c pia da Carta del Lavoro de Mussolini Na vis o da ju za as constru es do c digo trabalhista resultaram do esfor o de uma s rie de Juristas em di logo com v rias correntes de pensamento socialistas comunistas positivistas cat licos anarquistas at esfor o este integrado a um projeto modernizador da sociedade brasileira Disso resultou uma a o concreta no sentido de reconhecimento de direitos e da institucionaliza o de regras jur dicas que contemplando certos princ pios elevaram os trabalhadores condi o de sujeitos de direitos BIAVASCHI Magda O Direito do Trabalho no Brasil 1930 1942 A constru o do sujeito de 196 No depoimento que colhi de Biavaschi o juiz Jo o Ant nio Pereira Leite aparece como um homem que teve papel crucial na forma o de especialistas em Justi a do Trabalho com preocupa es pr ximas aos movimentos sociais a partir de sua atua o docente na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS ensinando para uma gera o engajada social e
325. nos numa gr fica em Porto Alegre Mais tarde foi para o Ex rcito onde chegou a cabo Saiu das fileiras militares em 1973 quando recebeu uma oferta para ir trabalhar na Caldas J nior ingressando como cortador Quando a fotocomposi o foi adotada na empresa aprendeu a nova tecnologia passando de montador a pestapista Trabalhou no Correio do Povo at 1988 tendo participado da greve de 1983 1984 Entrevistado em maio de 2006 aos 54 anos com o colega Jo o Alberto Vargas na gr fica da UFRGS onde iniciou em 1976 Nunca integrou nenhuma diretoria sindical SILVA Nilton Schergl da e VARGAS Jo o Alberto Depoimento 9 de maio de 2006 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro uma hora 3 SILVA N e VARGAS J Op cit 91 As evid ncias mostram a pr tica de uma administra o paternalista na Caldas J nior expressa em atitudes como por exemplo fechar os diss dios em separado sempre oferecendo um ndice um pouco superior ao restante das empresas do ramo Havia ainda uma pol tica de empr stimos e adiantamentos muito apreciada pelos funcion rios em geral A domina o consubstanciava se em relacionamentos pessoais muitas vezes lembrados pelos trabalhadores nos termos de um v nculo familiar Era um paiz o em 214 rela o a um chefe de hieraquia intermedi ria Claro que a a gente ficava no a l 215 compromisso com ele N o podia deixar ele mal O doutor Bre
326. nta o da fotocomposi o e do novo sistema de impress o j estavam completos Um dos poucos que permaneciam trabalhando na oficina de chumbo era Ant nio Adair que conta ter sido o ltimo linotipista do setor afinal por ser tesoureiro do 266 Sobre o luddismo ver THOMPSON E P A forma o da classe oper ria inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 especialmente o cap tulo 2 um ex rcito de justiceiros do volume III e HOBSBAWM Eric Os destruidores de m quinas In Os trabalhadores estudo sobre a hist ria do operariado S o Paulo Paz e Terra 2000 p 17 35 27 SILVA N e VARGAS J Op cit 108 sindicato n o podia ser demitido Adair tamb m participou ativamente das reuni es com a dire o da empresa tendo inclusive ido at Bras lia para um encontro dos grevistas com o ent o chefe da Casa Civil Jo o Leit o de Abreu na tentativa de encontrar uma solu o que afastasse o risco de fal ncia da Caldas J nior Era o nico gr fico presente Considerava se um contato entre as oficinas e parte da reda o Sobre a ades o de sua categoria greve diz Houve uma boa ades o Aquele tipo de ades o eu chamo de ades o omissa Quer dizer eu prefiro ficar em casa deixa a coisa rolar Ao abordar o envolvimento do presidente do sindicato Cruz Adair procurou ser discreto mas admitiu que o amigo n o era muito chegado a este tipo de movimento Em sua entrevista o pr prio Cruz manifesto
327. nte em rela o ao Correio do Povo e Folha da Tarde os textos publicados t m claramente um efeito de criminaliza o direta dos grevistas perdendo qualquer compromisso com a ilus o de objetividade ou imparcialidade Observados desta forma tornam se timas fontes para retratar justamente isto as estrat gias simb licas de afirma o do poder patronal Uma terceira perspectiva dada pela imprensa alternativa n o explicitamente atrelada aos sindicatos por m guardando por eles forte simpatia O regime militar foi um per odo prof cuo para esta imprensa entre 1964 e 1980 foram fundados e desapareceram cerca de 150 peri dicos que tinham como tra o comum a oposi o ao governo e a busca de alternativas de comunica o fora da grande imprensa Uma das experi ncias nacionais mais importantes neste sentido foi o Coojornal uma cooperativa ga cha de jornalistas que publicava um jornal mensal e que funcionou como ag ncia de not cias no per odo 1974 1983 Com uma proposta diferente o Em Tempo fundado em 1977 se afirmou inicialmente como ve culo nacional para uma frente de tend ncias de esquerda mas acabou se transformando ap s v rios rachas em um jornal de partido Partido dos Trabalhadores PT em especial da tend ncia Democracia Socialista Afinado com as propostas do novo sindicalismo o Em Tempo foi um significativo ve culo de difus o de not cias sobre greves e movimentos sindicais nos anos 70 e 80 Torna
328. ntendi a dificuldade dos meus colegas Enquanto o teclado das m quinas de escrever tem 44 letras o das linotipos t m pelo menos 90 A posi o das letras do alfabeto diferente e as teclas s o mais largas e espa adas Cockburn encontrou a mesma dificuldade com o teclado entre os linotipistas londrinos que entrevistou Segundo ela na transforma o de linotipistas em digitadores a capacidade manual do antigo of cio valorizada em termos de rapidez e corre o e experimentada como algo muito prazeroso precisava ser desaprendida Tornava se um obst culo como engasgar se e empacar continuamente no aprendizado de uma l ngua estrangeira compara sabendo que voc nunca mais precisar ou ser capaz de usar o seu idioma nativo Mesmo quando a adapta o foi bem sucedida como no caso de Nilton Schergl da Silva sua fun o no sistema a quente n o pressupunha o manejo de uma m quina mas a montagem das linhas de texto no diagrama da p gina processo mais facilmente adapt vel o novo of cio visto como muito inferior ao antigo Porque no chumbo s trabalhavam homens N o tinha mulher E j no pestapista tinha mais mulher do que homem E o servi o era um servi o simples Era pegar ali na mesa e colar papelzinho Montagem Era s isso que fazia At mulher fazia E faziam bem Nessa fala fica claro o componente identit rio de g nero que sofre uma transfigura o total pela mudan a t cnica Antes uma ca
329. ntif cia Universidade Cat lica do Rio de Janeiro Esses autores t m o grande m rito de localizar e ouvir testemunhas da poca a pesquisa de V tor de Brites apresenta tamb m no texto indica es de uma extensa pesquisa em documenta o apesar do trabalho n o contar com notas de refer ncia em raz o inclusive da escolha de seu formato uma reportagem Possuem por m n o s A mobiliza o citada rapidamente nos livros do jornalista Walter Galvani sobre a Folha da Tarde e o Correio do Povo GALVANL Walter Um s culo de poder os bastidores da Caldas J nior Porto Alegre Mercado Aberto 1995 e Olha a Folha amor trai o e morte de um jornal Porto Alegre Sulina 2002 no depoimento de Breno Caldas ao jornalista Jos Ant nio Pinheiro Machado CALDAS Breno Meio s culo de Correio do Povo Gl ria e agonia de um grande jornal Depoimento a Jos Ant nio Pinheiro Machado Porto Alegre LPM 1987 e em PETERSEN Aurea Terezinha Tomatis Movimenta o grevista no Rio Grande do Sul 1980 1983 Disserta o mestrado em Sociologia Instituto de Estudos Sociais Pol ticos e Econ micos IESPE PUCRS Porto Alegre 1984 4 GERMANO Erika MARONA Leonardo et al O dia em que o jornal n o saiu a greve que parou o Correio do Povo Trabalho apresentado na disciplina de Hist ria da Imprensa no Brasil Departamento de Comunica o Social PUCRJ Rio de Janeiro maio de 2003 e BRITES V tor de Enfim dignida
330. ntribui o para o fundo de paralisa o e for a para que o movimento sa sse vitorioso Assim como dos banc rios a greve recebeu apoio imediato e verbas de uma s rie de entidades e partidos de amplo espectro pol tico como a rec m criada CUT a Central Estadual dos Trabalhadores CET PT PMDB PDT diversos sindicatos e federa es pes parte os conflitos que os opunham nas assembl ias os sindicalistas de diversas correntes se integraram nas comiss es que organizaram coleta de fundos e de mantimentos shows musicais em solidariedade ao movimento com m sicos ga chos e do centro do pa s culminando com uma apresenta o de Gonzaguinha passeatas no centro de Porto Alegre ver foto mais adiante um acampamento na Pra a da Matriz e a venda de b nus e jornais para auxiliar os funcion rios parados Um boletim da comiss o do dia 2 de janeiro de 1984 registra com foto e texto a distribui o de Cr 750 mil entre os grevistas mais um rancho de alimentos O informativo contrap e a isto o fato de que a Caldas J nior n o teria sequer dado aquele m sero vale do fim de semana no final do ano pois sua conta corrente estava bloqueada pela Justi a do Trabalho Se a constru o das novas identidades sindicais e as diverg ncias em rela o forma de encaminhar a resist ncia ditadura opunha os diversos grupos de oposi o CALDAS JR O Natal de piquetes para quem n o paga funcion rios O
331. ntuada pela variedade de fontes normalmente dispon veis sobre as paralisa es o que permite levantar dados a respeito de aspectos comuns a boa parte dos movimentos 2 Uma possibilidade metodol gica por exemplo explicar a eclos o e o desenvolvimento das greves relacionando as a ciclos econ micos na tentativa de vincul las a crises e ao aumento da carestia Tais estudos em geral tratam as paralisa es de forma estat stica observando vari veis como n mero de movimentos de participantes de jornadas perdidas e articulando as a indicadores econ micos Sandoval em seu levantamento sobre as paralisa es do trabalho no Brasil no per odo de 1945 a 1990 admite que este tipo de modelo tem sucesso ao buscar compreender a fregii ncia das greves por m n o consegue explicar quest es como o tamanho a 172 ades o e a dura o dos movimentos O mesmo autor apresenta como uma segunda alternativa para o estudo dos conflitos grevistas o que chama de abordagem das rela es industriais Este tipo de an lise 1 LEQUIN Y Greve In BURGUI RE Andr org Dicion rio das Ci ncias Hist ricas Rio de Janeiro Imago 1993 p 373 10 GREVE CATTANI A D In CATTANI A D e HOLZMANN Lorena orgs Dicion rio de Trabalho e Tecnologia Porto Alegre UFRGS 2006 p 149 171 ne Idem ibidem 172 SANDOVAL Salvador Os trabalhadores param Greves e mudan a social no Brasil 1945 1990 S o Paulo ti
332. o Cartaz empunhado por grevista em manifesta o na frente do pr dio da Caldas J nior Foto de Itamar Garcez Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior 03 01 84 ASJPRGS 142 Figura 9 Passeata dos grevistas no centro de Porto Alegre Foto de Carlos A Silva CASE ROSS 1 cais doca n E a A 173 Figura 10 Capa da Folha da Tarde com destaque para mat ria acusando grevistas de viol ncia Folha da Tarde 20 01 84 MCSHJC 174 13 Introdu o Esta pesquisa tem um objetivo aparentemente simples entender as condi es de possibilidade de uma greve ocorrida na Empresa Jornal stica Caldas J nior em Porto Alegre entre dezembro de 1983 e fevereiro de 1984 Atrav s desta inten o singela por m o trabalho pretende abordar temas mais amplos como legisla o trabalhista reestrutura o produtiva rela es de domina o e novo sindicalismo A investiga o come ou despretensiosamente a partir de uma inspira o ocorrida em 2003 durante uma aula do professor Benito Bisso Schmidt que mais tarde se tornaria meu orientador na qual ele abordava estudos de hist ria do trabalho Naquele momento lembrei de ter escutado em outras ocasi es e em outros cen rios coment rios vagos a respeito de uma greve ocorrida no jornal Correio do Povo O palco do movimento n o me era estranho como de resto maioria das pessoas que morou em solo ga cho no s culo XX O Correio pod
333. o Antoninho Antonio Firmo Gonzalez que era o diretor da Famecos Faculdade dos Meios de Comunica o Social da PUCRS na poca e era vinculado ao sindicato ARI Associa o Rio grandense de Imprensa e esta coisa toda Quer dizer o Antoninho votou contra e eu votei contra N s dois votamos contra Pergunta O senhor pelo Correio e ele pela Folha da Tarde Ele pela Folha da Tarde N s dois votamos contra E pelo mesmo motivo A nossa avalia o era de que feita a greve o jornal n o voltava mais Como de fato n o voltou Quando voltou foi um arremedo N s fomos os dois nicos votos contr rios O resto foi tudo a favor da greve Agora na minha interven o O motivo do Antoninho Gonzalez era que ele na verdade articulava patr o e empregado Ele vinha tentando fazer Ent o ele dizia Eu n o posso votar a favor da greve se eu estou brigando para ajudar a resolver o problema E eu dizia Para mim f cil votar a greve eu tenho outra fonte de dinheiro que era a C mara de Vereadores E eu s acho que n s vamos entrar num buraco complicado neste neg cio a E realmente a gente vai sair da greve e n o vai ter sa da Ent o eu quero dizer isto Eu tenho outra fonte Ent o at por uma quest o de seriedade eu n o vou votar a favor da greve At porque eu acho que n s n o voltamos mais Acho que liquida o assunto A Caldas J nior acaba aqui Vale a pena interromper por um momento a narrativa cronol gica
334. o O retorno ao trabalho n o fez cessar os atrasos nos sal rios e as d vidas com os grevistas tampouco foram saldadas at porque um m s depois o Tribunal Superior do Trabalho TST suspendeu temporariamente a decis o do TRT Em depoimento a esta pesquisa Jo o Borges de Souza ent o editor de pol tica da Folha da Tarde e membro da comiss o de mobiliza o da greve havia sido presidente do sindicato dos jornalistas entre 1974 e 1976 lembrou da volta ao trabalho como a retomada de um ciclo vicioso envolvendo atrasos salariais arbitrariedades patronais e recursos Justi a do Trabalho A empresa tinha de pagar os sal rios atrasados N o pagou Tinha de pagar 13 etc N o pagou A totalidade das pessoas que voltaram e que tinham sal rios atrasados s foram receber isto na Justi a JU ZA defere medida cautelar contra a Empresa Caldas J nior Zero Hora Porto Alegre 28 de dezembro de 1983 p 8 A not cia foi publicada tamb m em O Estado de S o Paulo JUSTI A garante e O Globo CALDAS J nior sofre MCSHJC l GANHAMOS a greve Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 7 de fevereiro de 1984 ASJPRGS Reprodu o deste boletim integra o anexo II 2 VIT RIA dos trabalhadores Em Tempo S o Paulo 23 de fevereiro a 14 de mar o de 1984 n 184 p 5 CDS NPH Processo TST 3 716 84 Despacho a pedido de efeito suspensivo Di rio Oficial da Uni o 23 de mar o
335. o a fotocomposi o se conjuga com a impress o por off set assim como a linotipia geralmente associada impress o tipogr fica Ao contr rio desta ltima o off set n o se baseia no uso de tipos com caracteres em relevo mas na litografia t cnica de impress o que se fundamenta no princ pio da separa o qu mica entre gua e alguns tipos de tinta As mudan as significavam n o s o fim da linotipia mas a modifica o de rotinas e fun es de muitos outros gr ficos Os textos passaram a n o ser mais transformados pelos oper rios em linhas de chumbo e montados em quadros de metal dos quais se tirava uma prova com tinta ainda na oficina antes de seguirem para a impress o Passaram a ser copiados por digitadores em m quinas semelhantes s de escrever com teclados completamente diferentes daqueles das linotipos Algumas dessas m quinas inclusive hifenizavam e justificavam tarefas que na linotipia cabiam ao trabalhador imprimindo tiras de colunas Essas tiras eram coladas em um diagrama da p gina em papel processo conhecido por paste up e executado pelo pestapista O diagrama com as tiras coladas era reproduzido por meio de fotografia Papel e cola no lugar do chumbo e da tinta Datil grafos e pestapistas no lugar de linotipistas e montadores Na Caldas J nior a mudan a gr fica foi tardia em rela o a outros jornais ga chos como a Zero Hora tamb m no Rio Grande do Sul que adotou o off set e come ou
336. o o Ant nio Pereira Leite na presid ncia do TRT 4 Revista do TRT 4 Porto Alegre ano XVII n 16 1983 p 303 BDir BURMEISTER L L Op cit Grifos meus 201 todos os processos de d bitos trabalhistas como se fossem um s acelerando a tramita o e o pagamento aos funcion rios De iniciativa dos advogados dos trabalhadores o acordo foi firmado inclusive em papel timbrado do escrit rio do advogado Luiz Heron Ara jo o cons rcio de credores se constituiu num instrumento jur dico inovador para este tipo de demanda trabalhista envolvendo um grande n mero de funcion rios e uma empresa e Foi este acordo jur dico que a mem ria do advogado preservou em detrimento do pr prio processo grevista Em rela o ao ltimo o defensor confundiu datas e epis dios pois nas suas lembran as a fal ncia da empresa e a interrup o da circula o dos jornais se mesclavam com a greve E aqui eu recordo o depoimento do jornalista Ant nio Hohlfeldt apresentado no primeiro cap tulo no qual a mesma colagem superposta dos epis dios ocorridos em tempos diferentes estava presente evidenciando como o entendimento da paralisa o por parte de alguns de seus atores se construiu insepar vel da percep o da trajet ria decadente da Caldas J nior No entanto ao ver o ac rd o senten a do julgamento da greve pelo TRT levado pela entrevistadora Burmeister associou o imediatamente a sentimentos como medo insegur
337. o observa que a partidariza o n o veio de fora do sindicalismo mas estava dentro dele j que o pr prio PT teve como uma de suas principais origens o movimento sindical O discurso do apoliticismo empunhado por lideran as como Lula no in cio das 307 Idem ibidem p 207 Para uma interpreta o na mesma linha ver MOIS S J lvaro Greve de massa e crise pol tica S o Paulo Polis 1978 e MUNAKATA K O lugar do movimento oper rio In IV Encontro regional de Hist ria de S o Paulo 1980 Araraquara Movimentos sociais Anais do IV Encontro regional de Hist ria de S o Paulo Araraquara ANPUH UNESP 1978 v 1 p 61 81 Na perspectiva de Cattani h uma ruptura com as rela es e condi es institu das no passado desencadeada pelas greves de 1978 e 1979 Tal ruptura j estaria de certa forma anunciada no per odo populista marcado pela ambigiiidade entre o controle e a manipula o do Estado e o aumento da participa o dos trabalhadores na cena nacional o que levaria a uma autonomia crescente CATTANI A D Sindicalismo e pol tica In CATTANI A D org Sindicalismo A o p 150 3 RODRIGUES L M Op cit p 40 41 151 greves do ABC interpretado por este autor como um instrumento da afirma o da identidade positiva dos trabalhadores e de seus sindicatos como atores que se constitu am autonomamente e portanto agiam a partir de sua pr pria l gica e de demandas endogenamente gestadas
338. o de 1983 p 1 e Folha da Tarde Porto Alegre 21 de dezembro de 1983 p 1 MCSHJC 88 O linotipista Ant nio Adair Ferreira da Silva prestou depoimento em setembro de 2005 na sua casa em Porto Alegre Nascido a 13 de julho de 1942 Adair aprendeu a profiss o na Escola Profissional P o dos Pobres onde permaneceu dos 11 aos 17 anos Trabalhou no Jornal do Dia na ltima Hora na Zero Hora e na Caldas J nior 1972 a 1985 onde participou da greve de 1983 1984 Come ou a atuar junto ao sindicato como 2 tesoureiro na terceira gest o de Euclydes Bento da Cruz passando a 1 tesoureiro nas duas gest es seguintes Em 1988 elegeu se presidente permanecendo at 1990 Na poca da entrevista estava aposentado como gr fico e atuava como advogado SILVA Ant nio Adair Ferreira da Depoimento 26 de setembro de 2005 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre dois cassetes sonoros 1 hora e 45 minutos 3 Idem ibidem Antonio Holhfeldt relatou ter emoldurado o seu telegrama de demiss o Aprovada a greve eu sou grevista tanto que no dia 22 de dezembro que o dia do meu anivers rio tive o prazer de receber de manh um fonograma Imaginei que era um fonograma de anivers rio e era um fonograma de despedida O qual eu guardo at hoje Mandei fazer um quadrinho e que tenho l na parede da minha casa O fonograma era curto e seco aquela coisa formal tendo em vista que eu havia desrespeitado a hierarquia e coisas deste tipo eu es
339. o do movimento grevista Quando comecei esta pesquisa a constata o da realiza o das assembl ias na oficina de chumbo me parecia um claro ndice do envolvimento dos gr ficos na constru o da mobiliza o dentro da Caldas J nior possivelmente consegii ncia direta do processo de transforma o tecnol gica Esperava eu encontrar talvez algum 266 Ou mais modestamente um forte paralelo com o movimento luddista ingl s indicativo da capacidade de revolta de que esta categoria t o associada a uma milit ncia intensa no passado seria capaz Nos limites da presente pesquisa n o foi isto que encontrei Ao contr rio da mudan a tecnol gica percebida como uma grande e inexor vel perda a greve da Caldas J nior n o deixou marcas mais percept veis na mem ria dos gr ficos N o h registros do movimento no sindicato da categoria e a maioria dos trabalhadores quando inquiridos minimizam sua import ncia Uma grevizinha diz Nilton Schergl da Silva na poca em que estava tudo parando no velho sistema mesmo Al m disso n o estava no horizonte dos grevistas atrasar alterar ou mediar a implanta o das novas tecnologias na empresa Esta quest o esteve sempre ao largo de todas as reivindica es que eram basicamente como j ressaltei o pagamento dos sal rios atrasados e o encaminhamento de uma solu o administrativa para a empresa Quando a greve foi deflagrada em dezembro de 1983 a impla
340. o per odo Neste sentido se o novo sindicalismo se constitui claramente num importante momento de retomada dos movimentos reivindicat rios dos trabalhadores ainda sob o regime militar tamb m uma ocasi o de forma o de identidades pol ticas que seriam de extrema import ncia nas d cadas seguintes no Brasil Tais identidades buscaram firmar se no panorama 217 nacional sobretudo no movimento sindical por meio de posi es e a es espec ficas mas tamb m a partir de alian as pontuais com grupos opositores tanto de direita quanto de esquerda Portanto se h uma nfase retrospectiva na id ia de autenticidade autonomia e numa acep o de purismo ideol gico e renova o tal imagem facilmente contraditada na pr tica concreta dos movimentos sociais quando a luta contra o autoritarismo pol tico e patronal obrigava jun o de for as e utiliza o de pr ticas condenadas nos discursos inclusive o amparo na legisla o da ditadura Em termos subjetivos o exemplo dos grandes movimentos do ABC paulista e a intensa movimenta o dos sindicalistas bem como a ocorr ncia frequente de protestos sociais tornava o trabalhador comum do in cio da d cada de 1980 mais receptivo s greves Dotadas de legitimidade social identificadas com a id ia de Justi a e oposi o ditadura as paralisa es do trabalho aglutinavam para os prolet rios a revolta por anos de domina o social e pela crescente explor
341. o processo de diss dio coletivo ajuizado no TRT ga cho em mar o de 1983 que postulava v rios direitos novos para a categoria como estabilidade profissional e aviso pr vio com prazo de 90 dias A estabilidade profissional havia sido obtida em decis o do TRT em 1982 sendo posteriormente revogada pelo TST GR FICOS diss dio inova Correio do Povo Porto Alegre 23 de mar o de 1983 p 21 CDS NPH pasta Gr ficos O papel de Heron Ara jo ser aprofundado no pr ximo cap tulo 159 Os rodovi rios viviam uma transi o conturbada de sua c pula organizativa com a ascens o de um grupo sem experi ncia administrativa por m alinhado oposi o ao regime e a uma postura combativa Mesmo fora do aparelho sindical tal grupo havia conseguido conceber preparar e executar uma greve do transporte coletivo em Porto Alegre com grande ades o da categoria e significativa repercuss o social A nova diretoria dos jornalistas por sua vez assumia o comando de uma entidade que j estava sob o poder da esquerda tradicional h v rias gest es desde o in cio da d cada de 70 Mesmo alinhado com as novas correntes sindicais este grupo carecia da experi ncia e do prest gio de comandar movimentos de trabalhadores mais significativos Em meio a esta diversidade e talvez por causa dela eclodiu a greve na Caldas J nior 3 greve um momento de uni o Qual o papel de cada um dos sindicatos no movimento aqui enfocado A op o
342. o transcritor Um exemplo a pr pria participa o do entrevistador eliminada no registro escrito transcriado ou textualizado Tamb m foram usadas entrevistas jornal sticas em especial duas mais extensas feitas com o empres rio Breno Caldas diretor presidente e propriet rio da Caldas J nior O material foi utilizado pelo seu valor documental e pela impossibilidade de realizar entrevistas com Caldas ou com seu filho Francisco Ant nio diretor da empresa ambos j falecidos O emprego destas entrevistas na an lise levou em conta as diferen as marcantes j apontadas entre o jornalismo e a hist ria S o distin es referentes aos objetivos no caso jornal stico extrair uma informa o no caso da hist ria produzir um documento ao enquadramento em modelos narrativos pr estabelecidos caso do jornalismo preocupados sobretudo com a comunicabilidade e sobretudo forma de abordagem da testemunha ou fonte Pelos pr prios par metros limitados de uma disserta o de mestrado optei por n o fazer uso extenso de um tipo de documenta o farta em rela o greve as fotos 6I Sobre transcri o textualiza o e transcria o ver MEIHY Jos Carlos Sebe Bom Manual de Hist ria Oral S o Paulo Loyola 2002 63 Uma delas o depoimento a Pinheiro Machado j citado CALDAS Breno Meio s culo de com 139 p ginas e a outra uma reportagem publicada em 1987 no hoje extinto jornal Di rio do Sul ocupando t
343. o um entona erd pesieke a fro gme co Poio prestados ei o J nior prestando vma dade o Estado inu final do ano O g o Vie nai a Pp uia cumptador um 85 anos do jornal sendo os hoje Foi recebido pelos em seguida recen o no T Ra ir Sm ais recebido por Breno Caldas Povo Amaral de Souza es a pare da Correio do Povo Porto Alegre hado do s x gr fica RR a UE aih io ea 1 10 80 p 1 capa Amaral conhecer as novas depend n reio do Povo 131 Vista do mujaririgadeiro Luiz Portilho Antony D Cumprimentos do V COMAR O comandante do V Comando Ac Figura 4 Breno Caldas recebe os cumprimentos de representantes do V Comando A reo Nacional Correio do Povo Porto Alegre 04 10 80 p 28 reo mejor brigadeiro Luiz Portilho An tony ccompanhado do chefe do seu Es tado Maior coronetaviador Fernando Luiz Serva da Motta recehidos por nos so diretor Breno Caldas aguarda decis o sobre o novo prefeito O Governador do Estado admite indicar outro nome para a Prefeitura de Porta Alegre tendo em vista a rejei o que alguns depu tados oposicionistas eci o fazendo a Jo o Dib Essa possibilidade foi admitida ontem tarde por Jair Soares em entrevista que concedeu durante fez Caldas J nior do o Governador litica tudo din mico nessa fase n s temos que negociar Jair Soares ressalva que ainda n o pensa em outro nome Preiere ag
344. obre a trajet ria da Caldas J nior foi patrono da Feira do Livro nas cidades de Canoas 1994 Gua ba 2000 e de Porto Alegre em 2003 na 49 Feira do Livro da capital ga cha Na poca da entrevista novembro de 2006 Galvani trabalhava na pr reitoria de extens o da PUCRS onde concedeu o depoimento e era professor universit rio na Unisinos Mais informa es no site do autor dispon vel em http www waltergalvani com br Acesso em 30 02 07 255 SILVA A Op cit 256 Nascido em J lio de Castilhos Jo o Alberto Vargas aprendeu a ser linotipista na Escola T cnica Parob em Porto Alegre Em seguida foi trabalhar na gr fica do jornal Di rio de Not cias Come ou na Caldas J nior em 1972 Um pouco antes havia sido plantonista de fim de semana na Caldas J nior enquanto ainda atuava no Di rio de Not cias Entrou na gr fica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS em 1982 Paralelamente permaneceu na Caldas J nior at meados de 1983 Foi demitido quando houve a mudan a t cnica que acabou com a linotipia Com 56 anos foi entrevistado em maio de 2006 na Gr fica da UFRGS em conjunto com o colega Nilton Schergl da Silva 104 alguns meses na digita o Fui l peitudo para ganhar uns trocados A que eu vi Eu n o consegui desenvolver aquilo Pergunta outro teclado outro teclado bem diferente Se fosse a linotipo era barbada Mas ali com aquele teclado de m quina de escrever A eu e
345. oderia desafiar algu m que fazia o Estado curvar se diante de si O mero relato retrospectivo das atitudes de Caldas frente aos poderosos contribui para real ar sua imagem de poder e chega a conferir lhe ares de mito N o no entanto o mito de um chefe arbitr rio mas sim o de um patr o bondoso respeitador correto embora poderoso Neste sentido importante observar os aspectos retidos e enfatizados nas lembran as dos trabalhadores porque como observa Lopes eles d o uma medida 5301 de como a domina o foi interiorizada Um exemplo a forma como o jornalista Jos Ant nio Pinheiro Machado descreve o ex patr o no ano de 1987 poca em que Caldas j n o era mais o propriet rio da Caldas J nior Tem com o que viver mais do que confortavelmente mas perdeu quase tudo Perdeu especialmente o poder que desfrutou durante meio s culo de dire o do Correio quando se imp s a governadores e presidentes uma vez em pleno Pal cio Piratini com pouco mais de 25 anos de idade fez o 300 Um exemplo o depoimento do jornalista e escritor Carlos Reverbel na reportagem sobre a interrup o da circula o do Correio do Povo publicada na revista Veja em 1984 relembrando os anivers rios do jornal celebrados nos dias 1 de outubro como datas solenes Segundo ele era uma cerim nia de beija m o porque as visitas ilustres faziam fila para cumprimentar o doutor Breno citando de forma espec fica
346. ol ticos e Econ micos IESPE da Pontif cia Universidade Cat lica PUCRS O Centro de Documenta o do Sindicalismo CDS criado em 1984 dentro do Instituto proporcionou a execu o de um projeto integrado de pesquisa sobre a a o sindical e a hist ria dos movimentos dos trabalhadores Os trabalhos oriundos do IESPE representam uma aproxima o do grupo de cientistas sociais que o integrava com os ent o efervescentes movimentos sociais suas pr ticas e lutas O instituto produziu extensos levantamentos da movimenta o grevista no estado entre 1945 e 1983 bem como an lises mais pontuais de alguns movimentos Para um panorama desta produ o ver FORTES Alexandre et al Na luta por direitos Estudos recentes em Hist ria Social do Trabalho Campinas Editora da Unicamp 1999 29 SANTANA Marco Aur lio Pol tica e hist ria em disputa o novo sindicalismo e a id ia de ruptura com o passado In RODRIGUES Iram Jacome O novo sindicalismo vinte anos depois Petr polis RJ Vozes 1999 p 149 Idem ibidem p 150 24 como o trabalho de Marcos Fl vio Soares refer ncia em rela o s greves de 19798 A interrup o do funcionamento do IESPE resultado de um processo de repress o patronal provocou um decr scimo na produ o sobre o tema na rea Transferido para Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS o rico arquivo do CDS foi alvo de um inc ndio criminoso em agosto de 1993 que
347. olhar com uma lupa para este mundo onde reinavam por vezes desacertos entre pr ximos e em outras ocasi es composi es entre opostos 2 Os tr s sindicatos Desde meados da d cada de 70 quando um grupo de dirigentes ligado ao PCB assumiu sua dire o o sindicato dos jornalistas seguia um rumo de comprometimento e envolvimento com as propostas de renova o da estrutura sindical al m de se alinhar com movimentos de resist ncia contra o regime militar Seus dirigentes foram ativos nos protestos pela morte de Vladimir Herzog em 1975 a entidade porto alegrense foi 375 Para coroar o agrado destes dirigentes sindicais ao regime Geisel ganhou de um casal de trabalhadores uma miniatura de capacete em ouro e o ministro Prieto o mesmo objeto em prata MAIS DE 10 mil na Festa do Capacete no Gigantinho Folha da Tarde Porto Alegre 2 de maio de 1978 p 31 a 34 MCSHJC O evento citado em CATTANI A D Movimento sindical p 670 671 1993 376 Idem ibidem p 672 673 153 por exemplo uma das seis da categoria no Brasil que condenou imediatamente o assassinato Dois anos depois Jo o Borges de Souza presidente na gest o 1974 1976 concorreu como anti candidato nas elei es indiretas da Federa o Nacional dos Jornalistas Fenaj numa chapa de oposi o que pretendia a transforma o do rg o O manifesto da chapa acusava a c pula da Fenaj de comodismo e omiss o e apresentava um programa baseado
348. omava um banho e voltava N o dormia De sexta para s bado n o dormia E s vezes tinha tanto classificado s vezes atrasava Eu me lembro bem o dia que foi o mais tarde que eu sa de l Eu virei uma noite sa s seis horas da manh fui para casa voltei s nove e sa quase meia noite Onze e meia da noite No normal a gente sa a s nove horas Detalhista a narrativa buscou ressaltar o sacrif cio cotidiano a que estava submetido o trabalhador por m invertendo os signos de sua submiss o Ao mesmo tempo que Nilton valorizou o car ter penoso da ocupa o associou a ele sua pr pria for a e por extens o o vigor de sua categoria profissional em sobreviver a anos de um cotidiano exaustivo e insalubre Mais do que uma condena o o trabalho aqui valorizado como componente tico e construtor do ind viduo a marca de um forte tica ali s j presente no discurso de um oper rio de uma gera o bem anterior como Cruz que se orgulhava da condi o de trabalhador ass duo e competente Tal sentimento de supera o era relacionado a uma valoriza o profissional e social dada pela especializa o do of cio necessidade de um saber espec fico para exerc lo e pela remunera o considerada satisfat ria No caso da Caldas J nior superior aos patamares do mercado 2 O tip grafo Nilton Schergl da Silva entrevistado na Gr fica da UFRGS em 2006 come ou a trabalhar como varredor aos 14 a
349. omo elas eram compreendidas pelo p blico ao qual se destinavam O antrop logo Jos S rgio Leite Lopes que usou o conceito de teatraliza o da domina o derivado de Thompson para compreender a forma o de classe dos trabalhadores da Companhia de Tecidos Paulista de Paulista PE enfatiza a import ncia dos rituais e dos s mbolos utilizados pelo patronato para inculcar legitimidade sua posi o de mando Tais rituais e simbologias s o diretamente identificadas com o patr o e contribuem para sua mitifica o Na Caldas J nior tais rituais come avam pela pr pria nomea o de Caldas O uso permanente do doutor antes do nome do empres rio extrapolava a simples forma de tratamento usual Caldas era bacharel em Direito sendo a marca ling stica da defer ncia e da inferioridade do interlocutor Galvani na poca diretor de reda o da Folha da Tarde informou que nem a funcion rios mais graduados era dado o direito da omiss o do doutor Somente o filho Francisco Ant nio chamava Caldas de pai ou o velho 295 Je Idem ibidem 2 THOMPSON E P Patr cios e p 62 85 27 LOPES J S L A tecelagem 121 Pergunta E todo mundo usava o doutor Ningu m chamava de Breno Pergunta Nem tu N o N o tinha esta intimidade Pergunta Nem o Ant nio Carlos Ribeiro N o Doutor Breno doutor Breno O Adail Borges Fortes da Silva doutor Breno Pergunta
350. omo pontos pertinentes para a an lise as seguintes quest es a mudan a t cnica relacionada mobiliza o as fraturas nas rela es de domina o decorrentes da crise a articula o sindical do per odo com suas ambigiiidades e especificidades e o uso da lei como campo de luta pelos trabalhadores No pr ximo cap tulo ser enfocado o primeiro destes pontos a partir de uma an lise da repercuss o social do processo de reestrutura o produtiva junto ao grupo de trabalhadores gr ficos da Caldas J nior 81 Cap tulo I A oficina de chumbo Se o pessoal da reda o parar haver greve Essa greve ter repercuss o ou o jornal sair novamente na base de telex com quatro ou cinco datil grafos Eu disse ao David acho que o trabalho mais importante para voc a gr fica n o os jornalistas Sem eles os gr ficos os jornalistas correm o risco de parar sem nenhum menosprezo aos jornalistas e capaz de os empregadores nem perceberem que os jornalistas est o parados Lu s In cio da Silva o Lula o apelido s foi incorporado ao nome em 1984 em palestra no Sindicato dos Jornalistas Profissionais de S o Paulo em 1978 na presen a do ent o presidente da entidade David de Moraes O cap tulo pretende examinar a rela o entre as mudan as no processo de trabalho e a mobiliza o dos trabalhadores enfocando em especial o setor gr fico Ele parte do questionamento despertado pela co
351. onsiderados por alguns autores acad micos como ind cios do car ter cupulista do sindicalismo populista Conforme Rodrigues evidenciariam a aus ncia de a es coletivas e de consci ncia pol tica dos trabalhadores de base cuja ades o aos movimentos grevistas se daria por medo da repres lia dos colegas Al m disso o temor viol ncia desencadeada nestas manifesta es e o receio de depreda es faria com que as empresas fechassem espontaneamente as portas o que tamb m explicaria a efic cia dos piquetes Em muitos casos a greve numa f brica efetua se n o porque os oper rios abandonam o trabalho mas porque a empresa os dispensa acreditava o autor Estudos recentes repensam essa no o Ao enfocar a greve dos 400 mil em S o Paulo 1957 Fontes observa que os piquetes eram considerados pelos sindicalistas como um elo de liga o com os trabalhadores instrumento de comunica o e organiza o Para este historiador os piquetes de 1957 devem ser vistos mais como sinais de vitalidade do que de fraqueza pois demonstram o enraizamento dos dirigentes no interior das empresas nos bairros e nas localidades oper rias Um dos elementos que serviram para caracterizar o novo sindicalismo e tamb m para embasar a defini o identit ria das novas correntes seria a emerg ncia de novas formas de luta dispensando o uso de piquetes devido forte mobiliza o e conscientiza o das bases Tal i
352. onvocado com o objetivo de formar uma comiss o que entrasse em contato com a Caixa Econ mica Federal um dos credores da Caldas J nior e que detinha a hipoteca da garagem da empresa na Avenida Get lio Vargas Em meio discuss o a participa o ou n o na greve voltou tona e quase metade dos 500 trabalhadores presentes deixou a reuni o Um dos elementos da desaven a parte as feridas deixadas por trocas de ofensas em meio aos piquetes da greve foi justamente a liga o direta entre o fim da Caldas J nior e a mobiliza o dos trabalhadores em 1983 Tal id ia alimentada pelo discurso patronal e presente inclusive na l gica de alguns grevistas gerou por vezes uma condena o do movimento como causador da derrocada do imp rio da Caldas J nior N O AGUARDE o Correio do Povo Revista Sul Porto Alegre n 4 maio junho de 1985 p 29 APCE Como medida comparativa vale indicar que o valor dos d bitos trabalhistas em d lar alcan ava US 3 milh es convertidos pela cota o oficial de venda em 02 05 85 Tabela com as cota es est dispon vel no site do Conselho Nacional de Corretores de Im veis lt http www cofeci gov br pub aoCorretor cotacoes index php secao cotacaoDolar amp ano 1985 gt Acesso em 23 02 07 38 N O AGUARDE Sobre essa reuni o localizei o rascunho de um relat rio de cinco p ginas no arquivo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul O documento
353. or Amaral de Souza est em CALDAS Breno Palmo e meio Correio do Povo Porto Alegre 6 de fevereiro de 1983 p 4 O apedido do Banrisul foi respondido diretamente por Breno Caldas com outra nota assinada por ele tamb m denominada opini o p blica e publicada nas capas dos jornais Correio do Povo de 12 e 13 de fevereiro de 1983 s bado e domingo e Folha da Tarde edi o conjunta de 12 13 de fevereiro de 1983 Na nota o empres rio afirma que ele seus familiares e o grupo Caldas J nior foram escalados para bodes expiat rios do mau gerenciamento do Banrisul MCSHJC 131 A partir de informa es do RELAT RIO preliminar Op cit p 2 e MAR DE LAMA inunda os pampas Em Tempo S o Paulo 25 a 10 de mar o de 1983 n 166 p 5 CDS NPH 62 Ao provocar essa crise no governo Amaral a Caldas J nior atuou no sentido de abalar a legitimidade do poder pol tico de acordo com as proposi es de Seguin des Hons empunhando a seu favor valores como o da saneabilidade financeira do estado e investindo at mesmo contra a figura f sica do governador ocultando assim as suas pr prias dificuldades J havia utilizado tal estrat gia antes como por exemplo contra Flores da Cunha Mesmo sem a pot ncia econ mica dos anos anteriores esta cruzada simb lica do Correio do Povo conseguiu produzir resultados concretos como a CPI Definido por Bourdieu como poder de constituir o dado pela enuncia o de fazer ver e fazer crer
354. or Jair Rodrigues As lideran as sindicais conservadoras confraternizaram logo depois com Geisel os ministros Arnaldo da Costa Prieto Trabalho e Nascimento e Silva Previd ncia e Assist ncia Social em um churrasco no Parque de Exposi es Assis Brasil em Esteio Em escala nacional a I Conclat n o conseguiu reunir nem metade das 3 958 entidades previamente contatadas por sua organiza o Conforme Cattani o per odo 1979 1980 no Rio Grande do Sul caracterizado por greves significativas cujos personagens marcaram a d cada seguinte Uma das consegii ncias desses movimentos foi o tensionamento da estrutura sindical tradicional incapaz de fazer frente s reivindica es dos trabalhadores e que passou a ser pressionada pelos novos sindicalistas das oposi es sindicais No in cio dos anos 80 por m se constatou que as greves n o haviam conseguido provocar a derrubada ou a transforma o dos dirigentes conservadores o que motivou um refluxo nas paralisa es segundo o autor No momento da greve da Caldas J nior portanto a arena do poder sindical era um territ rio em disputa e os conservadores n o estavam de modo algum fora do p reo disputado arduamente pelas diversas tend ncias de esquerda Paralelamente a essas lutas por m os movimentos sociais muitas vezes obrigavam as correntes opostas a alian as estrat gicas Examinar o caso dos tr s sindicatos envolvidos na paralisa o da Caldas J nior
355. or anuncia que processar o Banrisul e o seu presidente por quebra de sigilo banc rio 19 Capa do Correio do Povo traz foto de Jair Soares cumprimentando Breno Caldas 24 Termina elei o no sindicato dos jornalistas Remi Baldasso chapa 2 de oposi o eleito em segundo turno Abril 11 Sindicato dos jornalistas comunica Delegacia Regional do Trabalho DRT o atraso no pagamento dos sal rios de mar o dos jornalistas da Caldas J nior O of cio assinado pelo presidente em final de mandato Lauro Hagemann 13 Reuni o da comiss o do sindicato dos jornalistas com Breno Caldas Segundo nota emitida pela entidade a empresa informou n o dispor de recursos para pagar os sal rios de mar o e que n o havia previs o de normaliza o dos vencimentos A dire o acenou ainda com mais atrasos demiss es e possibilidade de fechamento da Folha da Tarde 29 Nova reuni o da comiss o com Breno Caldas e com Walter Galvani diretor secret rio da Folha da Tarde Queixas em rela o aos atrasos no pagamento demiss es sobrecarga de hor rio e ac mulo de fun es Galvani informa sobre um plano de conten o de despesas na Folha da Tarde que incluiria mais demiss es 232 Maio 11 Funcion rios postam se durante duas horas e meia na fila espera de seus sal rios Breno Caldas informa a uma comiss o que ser divulgado um cronograma de pagamento no dia seguinte O sindicato dos jornalistas comunica
356. oras da madrugada ainda estava em fase de composi o e da Folha da Tarde n o ter circulado comprovam o sucesso do nosso movimen to Foi gra as a uni o de todas as catego rias gr ficos jornalistas e motoristas que j no primeiro dia de paralisa o se obteve a vit ria de impedir a circula o da Folha da Tarde A luta contutua e a ades o de TODOS funcion rios da EJCJ fundamental para qu a paralisa o por mais 2 dias atinja seus objetivos Os resultados da paralisa o foram al m das expectativas comprovando o n vel de mobiliza o da categoria e o acerto da decis o da assembl ia Os acontecimentos da madrugada leia ma t ria no verso serviram para mostrar que os patr es respondem com viol ncia e repress o s reivindica es leg timas dos trabalhadores e que temos muito traba lho pela frente nesses 2 dias que faltam Devemos nos manter unidos e mobiliza dos trabalhando at a vit ria final do movimento Trabalhadores se mobilizaram durante toda a madrugada 241 23 DEZEMBRO 83 Comiss o de Mobiliza o Jornalistas Gr ficos Motoristas NIDA A A re Manifesta o mostrou a Foto Eneida Serrano EM z for a e a unidade do movimento gt VOZ FIRME GABEGA ERGUIDA Mais uma vez os funcionarios da Caldas J nior demonstraram a unidade do movimen to realizando uma manifesta o diante do pr dio da empresa s 18 horas de on tem seguid
357. oras da madrugada ainda estava em fase de composi o segundo o texto CALDAS parada Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 13 de dezembro de 1983 ASJPRGS Este boletim est reproduzido no Anexo II do presente trabalho Das 16 p ginas da edi o de 13 de dezembro de 1983 do Correio do Povo cinco s o de an ncios classificados e uma de notas e an ncios sess es que prescindem do trabalho jornal stico MCSHJC A m dia de rodagem do Correio do Povo durante a semana na poca era de 24 p ginas conforme levantamento feito por mim em exemplares do jornal Em depoimento a esta pesquisa o jornalista Walter Galvani negou que a Folha da Tarde n o tivesse circulado no primeiro dia de greve Galvani era na poca diretor de reda o do jornal Depoimento 20 de novembro de 2006 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro uma hora No entanto todas as outras fontes e pesquisas sobre o movimento afirmam o contr rio A edi o n o foi encontrada no 45 Esta edi o do Correio do Povo sai hoje em propor es reduzidas como consegii ncia de um movimento paredista que afetou alguns departamentos do nosso complexo industrial nas primeiras horas de ontem segunda feira Pedimos a nossos leitores assinantes e anunciantes que relevem as faltas e omiss es que h o de notar e que nos d em compreens o e apoio para que possamos o mais breve poss vel repor nosso jornal dentro dos pa
358. ores De outro jornais da imprensa alternativa folhetos e impressos publicados pelos grevistas sustentavam o car ter pac fico e inevit vel do movimento motivado pelo atraso de sal rios e pela intransig ncia patronal Nenhuma linha foi publicada no Correio do Povo e na Folha da Tarde sobre as decis es judiciais favor veis aos grevistas A not cia saiu em outros jornais como Zero Hora O Estado de S Paulo O Globo Jornal do Brasil e Folha de S Paulo Neste ltimo ve culo ela foi disfar ada no meio de uma mat ria sobre a sa de do poeta Mario Quintana o que pode indicar um apoio t cito da reda o ao movimento mas n o da c pula da empresa Mas poucos dias antes do julgamento final da greve pelo TRT a Folha da Tarde e o Correio do Povo trouxeram reportagens sobre a ida do jornalista Francisco Ant nio Caldas filho de Breno Pol cia Civil onde dep s no ingu rito policial instaurado por supostos danos causados pelos grevistas contra o patrim nio da empresa ae O valor de verdade das representa es produzidas e vendidas por uma empresa de comunica o est alicer ado conforme antes assinalado na legitimidade do emissor identificada no jornalismo contempor neo pelos valores da imparcialidade credibilidade distanciamento neutralidade e objetividade A aceita o destes valores como encarnados em uma empresa torna poss vel que o representante desta no caso o doutor Breno seja reconhecido na
359. ores moment neos do poder pol tico Neste sentido a imprensa nacional teria uma grande capacidade de provocar crises ou atenu las Conforme o autor o papel da imprensa cotidiana parece ser muito espec fico No momento em que ela traduz e catalisa os antagonismos os conflitos latentes d o lugar a conflitos abertos No momento em que ela os ignora eles permanecem em estado larval Correia de transmiss o entre as contradi es sociais e os jogos do poder a imprensa brasileira possuiu e ainda possui talvez a faculdade de 10 BACZKO Bronislau Los imagin rios sociales Buenos Aires Nueva Vision 1979 p 28 101 Idem ibidem p 31 102 Idem ibidem Grifo do autor 56 permitir ou de impedir que as tens es sociais se transformem em crise mino 103 pol tica O poder da imprensa nacional dominada por um modelo olig rquico que privilegia dinastias familiares se baseia portanto n o s no que veiculado mas no que omitido Para Des Hons o desenrolar das principais crises pol ticas nacionais Revolu o de 30 suic dio de Get lio Vargas crise da Legalidade golpe militar de 64 elei es presidenciais obedeceu posi o da maioria dos principais jornais do pa s Como outros grupos que dominaram e dominam o setor de comunica o brasileiro a partir de sua transforma o em campo f rtil para empreendimentos empresariais no s culo XX a Caldas J nior construiu seu imp rio sempre em estreita liga
360. ornal cansado da falsa imparcialidade dos grandes jornais Kolecza procura editar um jornal pequeno e combativo situado na oposi o e buscando chegar ao pov o atrav s de um pre o acess vel Cr 30 00 e uma linguagem agressiva Conforme a mesma reportagem a primeira edi o do jornal teve como manchete o t tulo O incompetente sublinhando foto do ent o governador Amaral de Souza DEN NCIA n o perdoa Coojornal Porto Alegre junho de 1982 n 74 p 5 BFabico 5 POLLAK Michael Mem ria e identidade social Estudos Hist ricos Rio de Janeiro CPDOC FGC v 5 n 10 p 204 1992 37 Assim diferentemente da entrevista jornal stica a hist ria oral n o visa primordialmente extrair uma informa o de uma fonte mas construir um documento sobre um passado Um documento a ser produzido oralmente de forma controlada com um distanciamento razoavelmente racional que lhe assegure credibilidade cient fica O historiador entende que na fala da testemunha o que se passou elaborado pela mem ria ela o prisma que articula o ontem e o hoje que insere o depoimento numa temporalidade espec fica Esta reconstru o torna a mem ria o ponto de partida obrigat rio para que se inicie a reflex o te rico metodol gica relativa hist ria oralff hoje muito abundante Julgo que a melhor defini o das possibilidades desta metodologia foi oferecida por Portelli A primeira coisa que torna a hist
361. os UFF Dr UFF Niter i RJ Brasil Prof Dr Silvia Petersen UFRGS Dr UNAM M xico Coordenadora do PPG Hist ria UFRGS Prof Dr Claudia Wassermann Porto Alegre 27 de abril de 2007 Ao Edu Pedro e Manu meus homens e meus parceiros Agradecimentos Ao professor Benito Bisso Schmidt pela orienta o segura a intelig ncia estimulante o incentivo incans vel o entusiasmo contagiante e a amizade confortadora Aos professores Regina C lia Lima Xavier e Tem stocles Cezar que me iniciaram pelos caminhos da Hist ria e me incentivaram a descobrir seus percursos Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient fico e Tecnol gico CNPq e ao Programa de P s Gradua o em Hist ria da UFRGS pela provis o da bolsa de mestrado que muito auxiliou no desenvolvimento da pesquisa Aos professores S lvia Petersen e Ant nio David Cattani por terem abrilhantado o col quio de qualifica o com sua experi ncia suas pondera es e suas cr ticas Ao professor Marcelo Badar Mattos um dos guias involunt rios deste trabalho pela leitura e pela presen a na banca de defesa professora Lorena Holzmann pelo incentivo e pelo interesse e pelo livro de Cynthia Cockburn essencial para o cap tulo sobre processo de trabalho A todos os entrevistados para esta pesquisa que disponibilizaram seu tempo e eventualmente seus documentos compartilhando comigo suas mem rias e sua experi ncia transmitindo assim mais do
362. os descontados do sal rio Os gr ficos tinham uma percep o clara da import ncia e do poder que possu am no processo de produ o Essa for a e o dom nio do saber t cnico eram usados como forma de valoriza o do grupo n o s em rela o ao patr o mas especialmente em contraponto a outras categorias consideradas mais intelectualizadas O antagonismo dificultava lutas conjuntas e ajudava a manter a domina o patronal No entanto apesar deste afastamento jornalistas e gr ficos trabalhavam juntos no dia a dia No cotidiano da produ o o contato entre as duas categorias profissionais era estreito em especial com os gr ficos do setor de composi o Na Caldas J nior o conv vio era motivado pelas pr prias limita es do sistema de composi o a quente quando um texto estourava ficava maior que a p gina depois de composto tornava se muitas vezes necess ria a interven o do jornalista para reescrev lo ou encurt lo Al m disso depois de montadas as linhas de texto no quadro da p gina era tirada uma prova que voltava reda o para a revis o O Correio do Povo s passou a 233 ser diagramado E em 1980 Antes disso a distribui o dos textos fotos e t tulos nas p ginas era de certa forma feita conjuntamente por jornalistas e gr ficos Uma porta servia de liga o entre a oficina de chumbo e a reda o da Folha da Tarde no primeiro andar do pr dio sede da Caldas J nior no centro de Por
363. os e obter nos tribunais um sucesso que a paralisa o do trabalho n o lhes havia proporcionado Assim primeira vista muitas das a es dos trabalhadores e dos sindicalistas pareciam contr rias imagem do sindicalismo combativo Era claramente por m um movimento do seu tempo marcado pelo fim da ditadura militar pela efervesc ncia grevista pela crise econ mica Este paradoxo se configurou numa quest o geral como tal acontecimento se tornou poss vel naquele contexto A partir do enfoque na a o coletiva dos trabalhadores o estudo da paralisa o ofereceu tamb m a possibilidade de se entender um pouco mais um per odo t o importante da hist ria brasileira recente Portanto na medida do poss vel busquei ainda atrav s da an lise do evento espec fico compreender nuances do contexto mais amplo no qual ele ocorreu O trabalho se configurou pois num percurso cont nuo entre o singular e o geral sem nunca perder de vista por m a inten o inicial de compreender e explicar o acontecimento Apesar da abund ncia de fontes prim rias n o encontrei nenhuma bibliografia de maior f lego sobre esta greve mesmo que a busca n o tenha se restringido a obras acad micas No mbito universit rio localizei apenas dois trabalhos tendo este acontecimento como tema ambos apresentados por alunos de jornalismo em cursos de gradua o de Comunica o Social um na Universidade Federal de Santa Catarina e outro na Po
364. os querem comer querem manter suas fam lias com dignidade A dignidade que resta a quem trabalha sem sal rios a greve O teatro de domina o montado na Caldas J nior exigia para seu perfeito funcionamento atos atrav s dos quais os trabalhadores se sentissem reconhecidos pelo patr o ungido pelo seu poder econ mico e pela veicula o midi tica de sua influ ncia No momento em que os funcion rios passaram a se sentir cada vez mais ignorados e desprezados o jogo da domina o motivou a elei o tamb m da arena p blica como local de resist ncia Ao teatro da domina o op s se o contrateatro dos protestos nas ruas e das cartas abertas popula o Al m disso as experi ncias nas filas de vales e nas assembl ias na oficina de chumbo permitiram que o momento de crise e de pen ria fosse vivido como algo comum coletivo A crise tamb m tornou mais patentes as diferen as de perspectiva entre os representantes dos trabalhadores que desejavam influir no comando da empresa e a dire o da Caldas J nior incapaz de abandonar o modelo centralizado sua principal caracter stica e a base de seu poder Assim unidos pelos mesmos interesses sentindo se humilhados desejosos de reconhecimento os empregados descobriram no patr o o vetor contra quem deveriam lutar e o ataque sua figura tornou se elemento caracter stico desta mobiliza o No entanto este movimento n o aconteceu em qualquer momento ou em qualquer lugar E
365. os servi os p blicos e atividades essenciais O decreto lei 1 632 1978 relacionou uma ampla gama destas atividades e nocivos ao trabalho e ao capital e incompat veis com os superiores interesses da produ o nacional O decreto n 9 070 ao contr rio admitia a greve como direito por m fixava termos estritos na regulamenta o de seu exerc cio A Constitui o de 1946 reconhecia o direito de greve em seu artigo 158 por m sujeito regulamenta o reconhecido o direito de greve cujo exerc cio a lei regular Ver NASCIMENTO Amauri Mascaro Coment rios lei de greve S o Paulo LTR 1989 p 11 12 e ZANGRANDO Carlos Henrique da Silva A greve no Direito Brasileiro Rio de Janeiro Forense 1994 p 9 454 GREVE e lei Correio do Povo Porto Alegre 30 05 64 p 4 CDS NPH pasta greves 45 NETO Jo o Didonet O direito de greve e sua regulamenta o Correio do Povo Porto Alegre 22 05 64 p 4 CDS NPH pasta greves Boris Fausto v na manuten o aparente da vig ncia da Constitui o de 1946 uma evid ncia de que o regime militar sempre se recusou a assumir sua fei o autorit ria FAUSTO Boris Hist ria do Brasil S o Paulo USP Funda o para o Desenvolvimento da Educa o 2000 p 465 467 47 Diz o artigo 4 A greve n o pode ser exercida pelos funcion rios e servidores da Uni o Estados Territ rios Munic pios e autarquias salvo se se tratar de servi o industrial e o pessoal n o r
366. os tinham liberdade de realizar assembl ia e fixar material de divulga o no interior do pr dio hoje tudo isso est proibido Ao mesmo tempo os dirigentes do sindicato e os delegados sindicais passavam a ser perseguidos com medidas intimidat rias remanejamento de pessoal entre reda es e para outros departamentos evitando o contato com a categoria o n o pagamento at de pens es aliment cias controle r gido de hor rio de trabalho a ser cumprido E NE 347 amea as di rias de demiss es suspens es etc Na esfera pessoal a corros o da legitimidade material da domina o implica tamb m o desgaste de sua base subjetiva o reconhecimento da superioridade do patr o Ao relatar as novidades sobre a crise da empresa em seu di rio um jornalista empregado da Caldas J nior se perguntou em 25 de novembro n o sei porque todo 46 RELAT RIO preliminar sobre o movimento reivindicat rio dos funcion rios da EJCJ Relat rio elaborado pela Comiss o de Mobiliza o dos Funcion rios da Empresa Jornal stica Caldas J nior Porto Alegre 1984 p 9 APJBS 7 Documento s t tulo ASJPRGS 139 mundo usa o doutor na frente do nome dele Caldas se trata se apenas de um jornalista A partir da decreta o da greve em dezembro esta estranheza privada explodiu numa destitui o verbal e p blica da autoridade eivada de raiva e ressentimento Caldas passou a ser chamado em boletins do sindicato dos jorna
367. otas publicadas nas capas dos jornais conforme descrito anteriormente As decis es foram obviamente comemoradas pelos trabalhadores e seus advogados O boletim de greve do dia 28 noticiava Justi a garante sal rios O texto citava declara o do advogado Luiz Heron afirmando que a medida deferida pela ju za Magda abria um novo cap tulo no sindicalismo brasileiro e no pr prio processo de mobiliza o e de luta dos trabalhadores pelos seus direitos A medida foi por m contestada pelos advogados da Caldas J nior que alegaram um problema t cnico O presidente do tribunal juiz Pereira Leite optou por 40 As juntas eram rg os de 1 inst ncia o TRT de 2 inst ncia e o TST de 3 inst ncia 1 JUSTI A garante sal rios Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 28 de dezembro de 1983 ASJPRGS 4 Na poca as Juntas de Concilia o e Julgamento tinham tr s ju zes um togado bacharel em Direito e dois vogais um indicado pelos empregadores e outro pelos empregados Como a decis o foi tomada 180 chancelar quase todo o parecer da ju za Cassou no entanto a liminar que obrigava a empresa a ceder o produto da venda di ria de pequenos an ncios De qualquer forma depois do fracasso das reuni es de concilia o s v speras do Natal de 1983 Pereira Leite agendou mais tentativas em janeiro de 1984 A primeira no dia 10 mostrou que os nimos estavam exaltados Enq
368. ouve um primeiro momento desta historiografia quando ela obedecia s tend ncias anal ticas e concep es te ricas ent o dominantes predominavam trabalhos macro orientados e nos quais a id ia de classe era derivada quase mecanicamente da estrutura produtiva desta autora um estudo acad mico pioneiro sobre o proletariado urbano no final do s culo XIX e come o do xx que praticamente inaugurou a escola regional sobre o operariado do estado na Primeira Rep blica Os anos 80 foram marcados pela localiza o de fontes antes dispersas pela organiza o de arquivos e pelo in cio da produ o de pesquisas numa perspectiva mais focada nas particularidades regionais O terceiro momento no final dos 80 e in cio dos 90 se traduziu pela produ o emergente dos rec m criados cursos de p s gradua o em Hist ria produ o esta integrada s renova es de car ter te rico j mencionadas Tal mudan a segundo Petersen incorporou a cr tica an lise centrada exclusivamente nas manifesta es formais de organiza o e reivindica o dos oper rios sindicatos partidos greves Influenciados pelas obras de E P Thompson e Eric Hobsbawm entre outros os pesquisadores passaram a investigar os aspectos culturais a experi ncia dos sujeitos as resist ncias informais e cotidianas ou via Foucault os discursos e a microf sica do poder O foco se transferiu para os aspectos culturais priorizando se a no o de experi ncia e
369. pistas e tip grafos mais antigos foram aposentados Outros foram demitidos Alguns conseguiram passar para os setores do novo sistema aprendendo novas t cnicas e habituando se a ambientes claros e silenciosos distantes da rotina barulhenta e escura da oficina de chumbo Nilton Schergl da Silva por exemplo virou pestapista Seu colega Vargas tentou passar de linotipista a digitador mas desistiu No tempo que eu era linotipista eu via as pessoas com dificuldade na linotipo E para mim era t o f cil Se vendassem os meus olhos eu trabalhava normalmente Ent o eu via alguns colegas com dificuldade de trabalhar tinham de ficar lendo o que estavam fazendo E n o desenvolveram n o conseguiram desenvolver aquilo como eu Gra as a Deus eu consegui desenvolver bem a linotipo Ent o quando eu trabalhei eae GALVANI W Depoimento Nascido em 1934 em Canoas Walter Galvani fez curso de Artes Gr ficas e mais tarde iniciou sua carreira jornal stica no jornal Express o em setembro de 1954 Em fevereiro de 1955 passou a trabalhar na reda o do Correio do Povo transferindo se em 1958 para a reda o da Folha da Tarde Foi rep rter redator subchefe de reportagem chefe de reportagem subsecret rio e secret rio de reda o e finalmente diretor de reda o nesse caso no jornal Folha da Tarde de 1981 a 1984 Escritor com uma dezena de livros publicados nas reas de reportagem pesquisa hist rica e fic o sendo dois s
370. poder simb lico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2004 p 14 15 E Idem ibidem 134 A este respeito ver as declara es de Breno Caldas quando perguntado por um rep rter do Di rio do Sul sobre o que imprescind vel para um jornal O que qualifica um jornal em primeiro lugar a sua credibilidade Um jornal sem credibilidade n o tem valor Pode ter sucessos epis dicos em determinadas circunst ncias das condi es de vida do momento mas n o um jornal que mere a cr dito no sentido de algu m acreditar nele e tomar como fi is ou reais as informa es que ele d In BRENO Caldas rompe o sil ncio e explica o fim do Correio Di rio do Sul Porto Alegre 26 e 27 de setembro de 1987 p 15 Grifo meu APCE 135 Um exemplo o suplemento comemorativo aos 110 anos do jornal um caderno de 16 p ginas publicado em outubro de 2005 A capa do suplemento ocupada quase inteiramente por uma reprodu o fac s mile da primeira p gina da primeira edi o do Correio do Povo Abaixo a seguinte frase a primeira edi o do Correio do Povo em 1 de outubro de 1895 j trazia a orienta o para a conquista da 63 Durante os 56 dias da greve os embates entre trabalhadores e empresa se deram em v rios campos nas ruas nos tribunais e tamb m no campo simb lico da produ o jornal stica De um lado os ve culos da Caldas J nior representavam a greve como uma iniciativa violenta e indisciplinada dos trabalhad
371. por base este racioc nio analisei a partir de que perspectiva a lei antigreve foi compreendida pelos grevistas bem como sob que prisma os trabalhadores entenderam o recurso Justi a do Trabalho Mais do que examinar a legisla o em si ou seja como Direito positivo de aplica o autom tica busca se observar aqui um conflito social em torno das poss veis interpreta es do texto jur dico Dessa forma pode se entender a pr pria import ncia de se lutar pela legaliza o de uma greve numa poca em que o movimento sindical pregava o combate legisla o trabalhista limitadora de sua autonomia Um historiador deve ser o primeiro a perceber a historicidade de sua a o e de sua compreens o Deve ser o primeiro a tentar ver a si mesmo com distanciamento cr tico mesmo que isso n o seja de todo poss vel No meu caso espec fico a explicita o de minha constru o como pesquisadora passa por uma reflex o sobre as aproxima es e distanciamentos entre os campos da hist ria e do jornalismo As fronteiras entre essas duas reas come aram a esfuma ar se e n o sem controv rsias h algumas d cadas Por um lado os historiadores passaram a ver a hist ria do presente como um objeto leg timo de seus estudos Al m disso surgiram obras acad micas com pesquisas s rias enfocando temas sensacionalistas como crimes esc ndalos ou cat strofes ou seja o tipo de coisa que costumava ser a especialidade de tabl id
372. possibilidade de contar com os depoimentos de testemunhas vivas abrindo um campo de an lise a partir da mem ria dos participantes da a o e do uso da hist ria oral Mais tarde no arquivo do Tribunal Regional do Trabalho TRT da 4 Regi o com sede em Porto Alegre tive acesso a dezenas de processos trabalhistas movidos contra a Caldas J nior com um arsenal de dados importantes como as faixas salariais dos empregados al m de informa es sobre os acontecimentos posteriores Em meio a toda aquela papelada consegui finalmente entrever os contornos do movimento dos trabalhadores Em linhas gerais foi uma greve motivada por atrasos salariais reuniu gr ficos motoristas e jornalistas que trabalhavam nos jornais Correio do Povo e Folha da Tarde em Porto Alegre durou excepcionais 56 dias n mero muito superior m dia das paralisa es na poca e terminou com um julgamento na Justi a do Trabalho que a considerou legal Havia acontecido num momento especial da mobiliza o dos trabalhadores brasileiros integrando a onda de greves que se iniciou a partir da paralisa o dos metal rgicos de S o Bernardo do Campo SP em 1978 fen meno batizado por sindicalistas e acad micos como novo sindicalismo Per odo de lutas e de constru o de identidades oper rias o novo sindicalismo embasou a cria o e o desenvolvimento de institui es que se revelaram vitais para a hist ria subsequente do Brasil como a Central nica dos Traba
373. pud BILH O Isabel Aparecida Identidade e trabalho an lise da constru o identit ria dos oper rios porto alegrenses 1896 a 1920 Tese doutorado em Hist ria Porto Alegre UFRGS 2005 p 59 85 Patenteada em 1886 nos Estados Unidos e introduzida no Brasil Rio e S o Paulo em 1903 a linotipo revolucionou o processo de composi o na ind stria gr fica Antes dela esta etapa realizava se manualmente tipos m veis com caracteres gr ficos eram alinhados um a um nas matrizes chapas de metal das p ginas a serem impressas Com a linotipo a composi o antes feita letra a letra passou a ser realizada em blocos de linhas inteiras de caracteres Para operar a m quina o trabalhador sentava em frente a um teclado que acionado movimentava matrizes uma ao lado das outras formando linhas de textos Em seguida a m quina fundia a linha em chumbo por isso o processo era chamado de composi o a quente Montadas nas matrizes por outro oper rio o montador tais linhas originavam a p gina O manejo da linotipo n o era simples al m do servi o com chumbo ser muito insalubre Ao conhecimento t cnico do funcionamento da m quina fazia se necess rio aliar a rapidez na opera o do teclado de 90 teclas com conhecimentos gramaticais s lidos constantemente demandados na hifeniza o e justifica o do texto Em 1911 quando o Correio do Povo importou as quatro primeiras linotipos utilizadas na capital ga cha que s
374. pulares conseguem romper o mutismo ao qual s o condenadas habitualmente pelos detentores da cultura Em sua obra Jeunesse de la greve vers o condensada da tese Les ouvriers em gr ve France 1871 1890 Perrot estudou as greves na Fran a entre 1871 e 1890 sob dois prismas Primeiramente como fato social capaz de ser quantificado e descrito em suas regularidades Mas tamb m e foi essa metodologia que a disting iu ressaltou elementos espec ficos a partir de uma an lise comparativa dos movimentos para lt 175 compreender a greve como um evento que fala e do qual se fala 5176 ou em sua dupla fun o como meio de press o e modo de express o Apesar de alicer ar sua an lise nas correla es entre 2 923 paralisa es cujos dados haviam sido cuidadosamente guardados nos arquivos Nacional da Prefeitura de 13 SANDOVAL S Ibidem p 203 207 174 Idem ibidem p 208 175 PERROT M Jeunesse p 13 16 Idem Note de lauter In ibidem p 9 78 Paris e dos departamentos estados franceses Perrot via limites na capacidade explicativa da quantifica o Um dos obst culos estaria na dificuldade de apreens o do problema do valor de movimentos espec ficos a extens o da quantifica o hist ria social repousa em uma analogia duvidosa entre fatos econ micos e sociais na verdade de natureza diferente Os primeiros oferecem uma homogeneidade muito superior
375. qualini por sua vez dirigiu a Folha da Tarde desde o ano de sua funda o 1936 at 1964 quando morreu Pasqualini foi tamb m o primeiro diretor da R dio Gua ba presidente da ARI e primeiro presidente do Sindicato dos Jornalistas de Porto Alegre 1941 1942 De acordo com v rios companheiros de reda o Pasqualini constituiu se no bra o direito de Caldas Curiosamente os dois morreram no mesmo dia 10 de setembro Dia da Imprensa com 25 anos de diferen a Sobre estas trajet rias ver DILLENBURG S rgio Roberto Correio do Povo hist ria e mem rias Passo Fundo Ediupf 1997 e GALVANI W Um s culo e Olha a Folha 119 cheiros da Borregaard O velho Jo o Obino montava guarda caixa homem probo dotado de obstinado talento comercial A seu lado encontrei seu lugar tenente Alcides Gonzaga sujeito simp tico com sua voz mansa e sua mansa ironia Antonio Carlos Ribeiro que eu conhecera menino jogando bolita nas ruas de Cruz Alta havia se transformado num cronista de primeira ordem N o levei muito tempo para perceber que predominava no Correio do Povo um esp rito de fam lia Para muitos daqueles funcion rios o jornal era uma esp cie de segundo lar N o quero dizer com isso que todos se sentem sempre felizes e satisfeitos e que todos vivem como irm os Um redator ou um colaborador pode resmungar queixas contra o Chefe Pode at demitir se Mas n o sabido que os arranha c us t m de oscilar ao
376. quecer a maior facilidade no trabalho pela aus ncia absoluta de ru dos nos equipamentos eletr nicos e pela maior limpeza em m quinas e aparatos festejava um manual t cnico da rea escrito em 1974 A nova tecnologia foi a grande vedete mundial dos anos 70 no setor gr fico A passagem dos tipos moldados em metal para o princ pio fotogr fico de composi o gr fica havia come ado a ser desenvolvida por volta de 1920 nos Estados Unidos mas s cinco d cadas depois adquiriu viabilidade comercial E seu efeito foi arrasador Tome se o exemplo do grupo jornal stico Media General de Richmond Virginia Em 1971 utilizando o sistema a quente eles empregavam 185 gr ficos qualificados em seu setor de composi o cada um ganhando em torno de US 200 por semana Em 1975 depois da introdu o da composi o a frio o n mero de trabalhadores havia ca do para 140 E n o eram mais compositores e sim um grupo completamente diferente de pessoas originariamente desqualificadas e agora rapidamente treinadas para o emprego recebendo em torno de US 125 por semana O custo do equipamento n o era maior do que US 900 mil enquanto que a economia provocada pela mudan a alcan ou US 800 mil apenas no primeiro ano Em 1975 chegava a US 1 24 milh es por ano Os ganhos eram obtidos n o s pela redu o do n mero de oper rios mas pela transforma o da natureza destes trabalhadores muito mais mulheres e negros Como afirmou o diretor d
377. quela dos segundos para os quais o problema do valor se coloca com muito mais acuidade H uma relativa identidade entre dois quilos de batata mas n o entre duas greves Cada uma delas forma um conjunto complexo de elementos diferentemente agenciados Esta alus o de Perrot relativa especificidade de cada greve e ao seu valor se reflete na dificuldade de unificar experi ncias t o diversas e imprevis veis num modelo interpretativo Em resposta a autora aliou an lise quantitativa uma abordagem qualitativa de caracter sticas pass veis de serem encontradas em todos os movimentos como reivindica es l deres comit s de greve formas de mobiliza o m todos de financiamento atitude do patronato A partir destes elementos empreendeu um trabalho de decifra o do jogo dos grevistas o qual obedece a regras para as quais preciso encontrar o c digo As formas de manifesta o os gestos de viol ncia ou de apaziguamento as palavras de ordem as inj rias os elementos simb licos das assembl ias o relacionamento entre grevistas e n o grevistas receberam destaque No que tange ao patronato por exemplo s o identificados tr s comportamentos em face das greves preven o negocia o ou resist ncia relacionando os percep o do poder das classes dominantes frente das grandes empresas os patr es da poca pareciam habituados a uma domina o t o trangiila que eles a t m como natural
378. r s p ginas em tamanho standard BRENO Caldas rompe o sil ncio e explica o fim do Correio Di rio do Sul Porto Alegre 26 e 27 de setembro de 1987 p 15 17 APCE Sobre as distin es entre entrevistas nos mbitos da hist ria e do jornalismo ver ESPERAN A Clarice Gontarski Testemunhas ou fontes rela es e desencontros entre jornalistas e historiadores Em Quest o Revista da Faculdade de Biblioteconomia e Comunica o da UFRGS v 12 n 2 p 235 251 junho dezembro de 2006 39 boa parte das mobiliza es grevistas foi documentada pelos fot grafos profissionais que aderiram ao movimento e outras imagens Por m em alguns momentos fotografias charges ou reportagens publicadas nos jornais s o introduzidas no trabalho para efeito de ilustra o a fim de tornar mais claro o entendimento dos fatos narrados O conte do desta disserta o foi dividido em cinco cap tulos No primeiro apresento uma vis o geral da greve e de seu palco a Empresa Jornal stica Caldas J nior mapeando tamb m as quest es te ricas centrais Para tanto come o com uma imagem espec fica o cerco empresa efetuado pela Brigada Militar durante a paralisa o no sentido de impedir o acesso dos grevistas a seu interior A partir disso o movimento narrado como um evento integrado numa ordem cronol gica A id ia enfatizar a descri o e a partir dela e da discuss o sobre o argumento da inevitabilidade da greve empunhado por
379. ra f cil chegar no Breno Sabia onde era a sala dele era s chegar bater na porta e entrar At porque a porta dava para a reda o N o tinha secret ria n o tinha ningu m O pr prio pr dio a sala dele tinha tr s portas de comunica o uma dava direto para este corredor outra para esta sala de visitas e outra para a reda o E ele sempre entrava pela da reda o s vezes sa a por uma ou outra Era s bater na porta e entrar N o tinha secret ria ningu m que tivesse anteposto a ele WEYNE R Op cit 317 ALMEIDA M N M Op cit 128 jornalista no Brasil em especial a sua indefini o identit ria entre trabalhador e 318 l intelectual que favoreciam este tipo de identifica o com os interesses patronais e no limite com a figura do patr o Ana Paula Goulart Ribeiro em artigo sobre o processo de concentra o e reconfigura o da imprensa nacional nos anos 60 e 70 estudo centrado nos di rios cariocas observa que a constru o da identidade social dos jornalistas girou em torno de cinco quest es salarial educacional cria o das faculdades jur dica regulamenta o da profiss o sindical e tica compromisso com a busca da objetividade e da imparcialidade vistos como valores relacionados responsabilidade social al m da defesa da liberdade de imprensa A respeito desta ltima quest o vale lembrar que a objetividade a imparcialidade e a liberdade de imprensa s o
380. ra e transforma o social teses coletivas dos ju zes ga chos Disserta o Mestrado em Ci ncias Humanas Direito Universidade Federal de Santa Catarina 1998 BILH O Isabel Rivalidades e solidariedades no movimento oper rio Porto Alegre EdiPUCRS 1999 BLOCH Marc Apologia da Hist ria ou O of cio do historiador Rio de Janeiro Jorge Zahar Editora 2001 BODEA Miguel A greve de 1917 As origens do trabalhismo ga cho Porto Alegre LPM s d BOITO JR Armando O sindicalismo de Estado no Brasil Uma an lise cr tica da estrutura sindical Campinas Unicamp 1991 Reforma e persist ncia da estrutura sindical In org O sindicalismo brasileiro nos anos 80 S o Paulo Paz e Terra 1991 P 43 91 BOURDIEU Pierre A economia das trocas simb licas S o Paulo Perspectiva 1992 O poder simb lico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2004 televis o o jornalismo e a pol tica In Contrafogos Dicas para enfrentar a invas o neoliberal Rio de Janeiro Jorge Zahar 1998 BRITES V tor de Enfim dignidade os 20 anos da greve dos jornalistas da Caldas J nior Projeto de conclus o de curso Departamento de Jornalismo Centro de Comunica o Social Universidade Federal de Santa Catarina Florian polis SC semestre 2003 2 CALDAS Breno Meio s culo de Correio do Povo gl ria e agonia de um grande jornal depoimento a Jos Ant nio Pinheiro Machado Porto Alegre LPM 1987
381. ra importante evitar confrontos com os militares e construir alian as com setores de oposi o em especial o PMDB Para os sindicalistas combativos ligados ao PT que propunham um enfrentamento direto com o regime a 366 39 P estrat gia dos comunistas era considerada negocista conciliadora e reformista or outro lado esses ltimos qualificavam de esquerdista e desestabilizadora a t tica dos novos Os grupos identificados com os combativos observa Santana eram cr ticos da atua o do PCB no per odo anterior ao golpe de 64 A alian a PTB PCB que dominou o sindicalismo no per odo era vista como uma experi ncia negativa e associada hegemonia sindical populista termo compreendido num sentido pejorativo Nesta concep o a caracter stica principal do populismo seria uma pr tica cupulista baseada na colabora o de classe e afastada das bases ao contr rio do novo sindicalismo que se constru a no confronto sobretudo as greves Este embate sindical influenciou a reflex o acad mica Os primeiros autores a analisar o per odo constru ram sua imagem procurando ressaltar o car ter de novidade de defesa da autonomia frente ao Estado e de articula o com as bases do novo sindicalismo em contraste com o cupulismo e o adesismo apontados como caracter stico do per odo pr 64 Em artigo publicado no ano de 1983 por exemplo Maria Herm nia Tavares de Almeida observa que as demandas dos t
382. rabalhadores por maior autonomia s o uma tradu o do anseio profundo de afirma o de uma identidade oper ria forjada na experi ncia do degredo pol tico e de uma cidadania social de segunda classe Assim a aboli o da inger ncia estatal no mundo do trabalho o cerne da proposta de cria o de um sindicalismo mobilizador participacionista e democr tico em oposi o a um 368 sindicato burocratizado olig rquico e pouco representativo Por sua capacidade de luta e mobiliza o o operariado da setor industrial se torna para a autora o s mbolo de liderada por Magri e a Central Geral dos Trabalhadores liderada por Joaquim dos Santos Andrade o Joaquinz o al m da cria o da Uni o Sindical Independente USI e da For a Sindical No final da d cada de 80 os sindicalistas do PC do B e do PCB aderiram CUT 366 SANTANA M A Op cit p 137 Si Idem ibidem 368 TAVARES DE ALMEIDA M H O sindicalismo p 202 150 autonomia e autodermina o das classes trabalhadoras num processo de constitui o de uma nova identidade coletiva A reflex o acad mica era influenciada pelo pr prio contexto de sua produ o Na poca os novos sindicalistas a compreendidos os militantes dos diversos grupos e tend ncias ligados ao nascente PT procuravam cada vez mais se diferenciar dos velhos a compreendidos os conservadores ou pelegos e a partir de 1983
383. racterizada por uma situa o de concorr ncia entre projetos pol ticos e sindicais no interior dos setores de esquerda no Brasil No in cio da d cada de 90 Rodrigues havia detectado a intensa fragmenta o do sindicalismo brasileiro resultado do processo de forma o das centrais sindicais nos anos 80 Alguns dos palcos desses embates foram os sucessivos encontros sindicais que ocorreram concomitantemente ascens o do n mero de greves no pa s a partir de 1978 e que reuniram representantes dos aut nticos das oposi es sindicais e da Unidade Sindical Basicamente os aut nticos inclu am militantes de dire es sindicais que haviam liderado greves que de alguma forma se insurgiam contra a pol tica salarial do governo militar como os metal rgicos de S o Bernardo ou os 36 MATTOS M B Sobre novos e velhos p 331 37 SANTANA M A Pol tica e Hist ria p 135 38 RODRIGUES Le ncio Martins As tend ncias pol ticas na forma o das centrais sindicais In BOITO JR A org O sindicalismo p 11 42 147 banc rios de Porto Alegre As oposi es sindicais eram grupos contr rios a diretorias consideradas pelegas e que defendiam a pluralidade sindical e as comiss es de f brica A Unidade Sindical reunia sindicalistas ligados esquerda tradicional Partido Comunista Brasileiro PCB Partido Comunista do Brasil PC do B e Movimento Revolucion rio 8 de Outubro MR
384. rando assim o apoio que o movimento est recebendo Esse inte resse da popula o tornava se mais concre to no momento em que as pessoas vinham ao encontro dos funcion rios em busca de ma is um boletim informativo da categoria no 129 dia de paralisa o 242 Mobili FOTO via rasas Para entrar cm sua empresa za o Jornalistas Gr ficos Motoristas q E i Breno Caldas teve que passar pelo piquete dos funcion rios BRIGADA PARCIAL Em seus noventa anos nunca o Grupo Caldas J nior passou tamanho vexame como o de ontem e de hoje de manh O descendente da fam lia Caldas que atualmente dirige os neg cios o empres rio fazendeiro Breno Caldas foi obrigado a entrar na sua empresa furando um piquete de funcion rios que h dois meses n o recebem sal rios sofrendo ainda a humilha o de ser vaiado e chamado de caloteiro Nunca tamb m em toda hist ria da Caldas J nior a pol cia foi chamada para permitir a impress o e a ida s bancas do Correio do Povo E por isso o centro de Porto Alegre durante a tarde de ontem assistiu perplexo a um grandioso contingente policial em manobras na Rua Caldas J nior entre a rua dos Andradas e a Sete de Setembro que a Brigada Militar defen dia uma empresa em falta com seus empregados ao inv s de defender as v timas de uma m admi nistra o que levou os trabalhadores a uma situa o dram tica sem dinheiro para pagar as
385. re s paralisa es de 1906 primeira greve geral do estado e de 1917 considerada o auge da organiza o oper ria do per odo Mesmo nestas obras referentes a uma tem tica digamos cl ssica a tend ncia atual de diversificar os enfoques trabalhando com novas abordagens como a biografia Em uma perspectiva inspirada pela microhist ria por exemplo Benito Schmidt foca o papel dos l deres oper rios Francisco Xavier da Costa e Carlos Cavaco na greve de 1906 valorizando a repercuss o social das escolhas e rela es pessoais destes personagens O autor observa a paralisa o como um momento de express o dos trabalhadores e de constru o de suas identidades ocupando os espa os p blicos da i i i 1 cidade os grevistas passaram a se ver e a serem vistos como classe No final dos anos 70 e in cio dos 80 a eclos o das greves foi essencial para a constru o da imagem de novo sindicalismo entre os l deres sindicais e nos meios acad micos As paralisa es do trabalho implicavam em tal interpreta o numa id ia de promessa de ruptura definitiva dos trabalhadores com a estrutura legal corporativista vigente no pa s e com os limites impostos pela ditadura Eder Sader por exemplo elaborou um trabalho hoje cl ssico sobre a resist ncia oper ria na Grande S o Paulo entre 1970 e 1980 discutindo a matriz discursiva do que considerou um novo sujeito PIE x 2 2 pol tico Outro autor importante
386. re a Rua dos Andradas e a Rua Sete de Setembro em Porto Alegre Postados lado a lado com seus capacetes redondos cassetetes em punho e rev lveres na cintura formam um cord o que isola o velho pr dio do centro da capital ga cha Interditam o acesso Rua Sete de Setembro e impedem o tr nsito de pedestres pela cal ada da Rua Caldas J nior Algum passante distra do que circulasse pelo centro da cidade quela hora poderia pensar numa repres lia da ainda vigente ditadura militar contra a imprensa materializada ali no edif cio onde eram pensados redigidos e produzidos os dois mais tradicionais jornais ga chos o Correio do Povo e a Folha da Tarde Mas n o era nada disso Era uma greve O cerco n o significava a ocupa o militar ou a encampa o dos ve culos de comunica o pelo governo algo que j havia acontecido muitos anos antes em 1961 quando o ent o governador Leonel Brizola mandou duas Kombis lotadas por policiais do Batalh o de Choque da Brigada Militar BM e mais o chefe de Pol cia da poca requisitarem a R dio Gua ba emissora do mesmo grupo para ser o centro da cadeia da 43 Legalidade Em 1983 o cord o de isolamento era endere ado a trabalhadores da pr pria empresa paralisados desde a noite anterior em protesto pelo atraso de dois meses de sal rios al m do 13 sal rio e das parcelas relativas ao Fundo de Garantia por Tempo de Servi o FGTS e ao Instituto Nacional de Previd ncia Social IN
387. recho a fim de ocultar e n o acirrar as cis es internas na categoria 54 A partir do sucinto relato elaborado nas p ginas anteriores podem se inferir algumas caracter sticas do movimento grevista Duas parecem saltar aos olhos o fato de ter surgido de um sentimento de insatisfa o dos trabalhadores com os atrasos salariais o que explicaria a aparente unanimidade da assembl ia que deflagrou a greve e a preocupa o com a organiza o da paralisa o incluindo o cuidado de buscar caminhos jur dicos poss veis A narrativa cronol gica e a primeira aproxima o com as fontes testemunhais tamb m fazem notar um compreens vel clima de conflito entre grevistas e n o grevistas que desmente de fato a unanimidade Este clima retratado nas reportagens divulgadas tanto por grevistas quanto pela empresa num movimento que cria um novo campo de lutas para os interesses opostos a imprensa A conforma o peculiar deste embate s foi poss vel em primeiro lugar porque se tratava de uma greve em uma empresa jornal stica Empresa essa cuja atua o foi plena de significados e repercuss es sociais no Rio Grande do Sul ao longo do s culo XX necess rio portanto analisar mais detidamente ainda que de maneira breve o que foi a Caldas J nior at 1983 3 O papel da Caldas J nior Conforme E P Thompson a classe um fen meno hist rico unificador de acontecimentos d spares e aparentemente des
388. regados em substitui o aos grevistas artigo 19 Al m disso a greve considerada l cita assegurava aos grevistas o pagamento dos dias parados artigo 20 O problema era cumprir todas as exig ncias da licitude O movimento sindical do final dos anos 70 tomou a derrubada da lei 4 330 como um de seus cavalos de batalha Isto ocorreu j a partir da primeira greve dos metal rgicos do ABC paulista em 1978 Na ocasi o o movimento foi declarado ilegal pelo TRT paulista com base na legisla o e para surpresa do governo e dos empres rios continuou mostrando a crescente inefic cia da 4 330 Em reportagem publicada no jornal Em Tempo alinhado com os sindicalistas a lei era alcunhada de antigreve e definida como uma trama sofisticad ssima de pr condi es condi es procedimentos pap is atas editais notifica es autenticadas em cart rio etc para na pr tica proibir a greve para qualquer categoria de trabalhadores A luta contra sua vig ncia era definida como uma bandeira dos programas de todas as oposi es fondo SAO sindicais 462 A LEI anti greve Em Tempo S o Paulo n 13 29 de maio a 4 de junho de 1978 p 4 CDS NPH 186 Esta posi o n o era descabida Mesmo ineficaz a lei pairava como uma amea a constante aos sindicalistas Em 1979 por exemplo o ministro do Trabalho Murilo Macedo ocupou uma rede nacional de r dio e TV para explicar com detalhes os artigos OE SIT S 3
389. res lia fila Novembro 1 Cria o de uma comiss o pelos funcion rios 3 Aviso colocado em uma coluna de sustenta o no meio da reda o da Folha da Tarde informa que os vales est o suspensos 4 Caldas J nior libera vales de Cr 50 mil para quem n o recebera o m s de setembro e de Cr 10 mil para quem j recebera 11 Sindicato dos jornalistas comunica DRT atraso no pagamento dos sal rios de novembro na EJCJ e na TV Gua ba e de outubro na R dio Gua ba 15 e 16 Exibi o do filme Inverno de Carlos Gerbase para arrecadar fundos para os demitidos Dezembro 6 Ata informa a realiza o de assembl ia na oficina de chumbo nesta data Conforme o documento os trabalhadores decidem enviar dire o da empresa of cio com reivindica es e fixa o de data para o atendimento das mesmas sob pena de greve As reivindica es s o pagamento imediato dos sal rios atrasados e da primeira parcela do 13 sal rio forma o de uma comiss o mista para acompanhar o faturamento di rio da empresa separando um percentual destinado ao pagamento dos empregados mediante acesso aos livros cont beis 12 Assembl ia na oficina de chumbo com cerca de 300 pessoas decide por uma greve de tr s dias de advert ncia diante da negativa patronal em atender as reivindica es Segundo ata Breno Caldas afirmou que n o aceitava a reivindica o de forma o de uma comiss o mista para acompanhar o fat
390. ress 1991 CONTI Mario Sergio Not cias do Planalto S o Paulo Companhia das Letras 1999 CUST DIO Sueli Sampaio Damin O movimento do Direito Alternativo e a redefini o da cultura pol tico jur dica no sistema brasileiro Tese doutorado em Ci ncias Sociais Unicamp Campinas SP 2003 DARNTON Robert Hist ria eventos e narrativa incidentes e cultura do quotidiano Varia Historia Belo Horizonte vol 21 n 34 p 290 304 julho de 2005 Jornalismo Toda not cia que couber a gente publica In O beijo de Lamourette M dia cultura e revolu o S o Paulo Companhia das Letras 1990 Os trabalhadores se revoltam O Grande Massacre de Gatos na Rua Saint Severin In O Grande Massacre de Gatos e outros epis dios da Hist ria Cultural Francesa Rio de Janeiro Graal 1986 DECCA Edgar Salvadori de A ci ncia da produ o f brica despolitizada Revista Brasileira de Hist ria S o Paulo ANPUH v 3 n 6 p 47 79 setembro de 1983 DILLENBURS S rgio Roberto Correio do Povo hist ria e mem rias Passo Fundo Ediupf 1997 DORNELES Leandro do Amaral D A transforma o do direito do trabalho da l gica da preserva o l gica da flexibilidade S o Paulo LTR 2002 DUARTE NETO Bento Herculano Direito de greve aspectos gen ricos e legisla o brasileira S o Paulo LTR 1992 225 DUQUE Lu s Guilherme Ritta Hei de vencer mesmo sendo professor o CPERS e o magist rio p bl
391. reuni es de negocia o quando o teor das propostas patronais despertou a indigna o dos funcion rios paralisados O argumento da viol ncia patronal foi ainda utilizado em um relat rio de 23 p ginas elaborado pelos grevistas que foi distribu do a empres rios e representantes dos governos estadual e federal entre eles o ent o chefe da Casa Civil da Presid ncia da Rep blica Jo o Leit o de Abreu A confronta o tamb m abriu cismas entre trabalhadores grevistas e n o grevistas a partir da concentra o di ria dos primeiros nas cal adas em volta do pr dio da Caldas J nior O ambiente de tens o lembrado por M rio Marona ent o jornalista do Correio do Povo Na frente do pr dio da empresa piquetes tentavam convencer os fura greves a aderirem ao movimento mas a antipatia crescente entre um lado e outro tornara imposs vel qualquer entendimento Neste caso cometi um erro ao chamar nominalmente atrav s de um megafone amigos e colegas que estavam trabalhando fazendo apelos emocionais chegando at a citar nomes de seus filhos e coisas assim Criei com isso situa es constrangedoras inimizades nunca superadas e n o consegui uma nica ades o A radicaliza o do movimento tornou invi vel qualquer concilia o e serviu ao dono da empresa que acabaria demitindo todos os grevistas Neste depoimento o ataque aos n o grevistas lembrado como um erro que teria provocado preju zos ao movimento Na busca d
392. reve Quando a gente fez a assembl ia dos jornalistas isto eu me lembro muito bem talvez at tenha fotos n o sei te dizer a gente fez esta reuni o l na pr pria oficina do jornal E eu me lembro bem desta vota o pessoas falaram contra a favor etc e tal havia uma l Di rio do grevista anota es de 17 de outubro a 25 de novembro de 1984 APCE O acesso a trechos deste di rio me foi confiado com a condi o de que o nome de seu autor n o fosse declinado Os outros nomes s o omitidos tamb m para n o identific lo Para se ter uma id ia dos valores monet rios a ra o essencial em Porto Alegre 6 6 quilos de carne 7 5 litros de leite 4 5 quilos de feij o tr s quilos de arroz 1 5 quilo de farinha de trigo seis quilos de batata nove quilos de tomate seis quilos de p o 600 gramas de caf 7 5 d zias de laranjas tr s quilos de a car 900 gramas de banha e 750 gramas de manteiga custava em dezembro de 1983 Cr 33 673 77 segundo o Departamento Intersindical de Estat sticas e Estudos S cio econ micos Dieese O sal rio m nimo vigente era de Cr 57 120 00 Ver Boletim do Dieese dezembro de 1983 p 64 e 69 Bibeco 82 REVOLTA explode na 2 dia 12 Den ncia Porto Alegre n 28 edi o extra especial dezembro de 1983 p 6 ASJPRGS Grifo meu 48 unanimidade em prol do movimento E houve duas pessoas que votaram contra Exclusivamente duas pessoas Por isso que f cil a gente recordar
393. revista em manifesta o na frente do pr dio da Caldas J nior Foto de Itamar Garcez Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior 03 01 84 Concluindo este cap tulo pode se dizer que o n o pagamento dos sal rios explicitou o car ter explorat rio da rela o patr o empregados e alimentou o 2353 sentimento subjetivo da dignidade violentada express o usada por La s Abramo ao pesquisar a constru o da greve dos metal rgicos do ABC paulista em 1978 33 ABRAMO La s Wendel O resgate da dignidade Greve metal rgica e subjetividade oper ria Campinas SP Unicamp S o Paulo Imprensa oficial 1999 p 45 142 Em seu trabalho Abramo intuiu que a percep o da dignidade violada dos metal rgicos se constituiu a partir de um profundo sentimento de injusti a exclus o e humilha o No cerne da experi ncia dos trabalhadores estava a viv ncia de trabalhar no mais moderno parque industrial do pa s tendo por m de se submeter a rotinas exaustivas e deteriora o de seu padr o de vida provocada pela perda salarial Havia portanto a sensa o de ruptura de qualquer regra de reciprocidade Assim como naquele movimento cuja deflagra o marcou o in cio do chamado novo sindicalismo a legitimidade da greve na Caldas J nior passou a ser diretamente associada recupera o da dignidade dos trabalhadores Em seu jornal os grevistas explicavam Os funcion rios e seus filh
394. revistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro uma hora Na poca da greve trabalhadores gr ficos Fraga era linotipista e trabalhou na Caldas J nior at 1980 Solis permaneceu na empresa at a interrup o da circula o dos jornais em 1983 Na poca da entrevista diretores do sindicato dos gr ficos GALVANI Walter Depoimento 20 de novembro de 2006 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro uma hora Na poca da greve jornalista diretor de reda o da Folha da Tarde Na poca da entrevista jornalista escritor assessor universit rio GON ALVES Manoel Loir Depoimento 17 de dezembro de 2006 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre dois cassetes sonoros uma hora e 30 minutos Na poca da greve rep rter fotogr fico e vice presidente do sindicato dos jornalistas Na poca da entrevista jornalista aposentado HOHLFELDT Ant nio Carlos Depoimento 10 de fevereiro de 2006 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro uma hora Na poca da greve jornalista especializado em Cultura do Correio do Povo e vereador de Porto Alegre pelo PT Partido dos Trabalhadores Na poca da entrevista vice governador do Rio Grande do Sul filiado ao PMDB Partido do Movimento Democr tico Brasileiro OLIVEIRA Elena Quintana de Depoimento 17 de outubro de 2006 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre um cassete sonoro 30 minutos
395. ria oral diferente portanto aquela que 65 des feras as Esses significados s o nos conta menos sobre eventos que sobre significados fornecidos n o s pelas palavras mas tamb m pela pr pria constru o da narrativa os caminhos pelos quais se conta o que se fez ou o que se pensa que se fez incluindo os sil ncios os lapsos os esquecimentos e as ambigiiidades A subjetividade do depoente pois o fator fundamental O testemunho oral como toda fonte hist rica n o prescinde da cr tica A interpreta o dos depoimentos exige um trabalho de desvendamento das representa es criadas pelo depoente a partir de suas experi ncias passadas das preocupa es do presente e das associa es entre elas buscando n o a confirma o de fatos mas sobretudo a forma como os acontecimentos foram vividos e interpretados e quais os fios que ligam tais experi ncias a dura es mais longas e coletivas Em sua maior parte as fontes orais que interessaram a esta pesquisa s o os depoimentos de dirigentes sindicais de trabalhadores comuns e de testemunhas da a o grevista ou de seus desdobramentos As entrevistas realizadas foram basicamente do tipo tem tico ou seja versando prioritariamente sobre o objeto da pesquisa Em alguns momentos e com determinados depoentes no entanto tais encontros acabaram apresentando caracter sticas de entrevistas de hist ria de vida ou seja enfocando toda a e 2 66 Jeue SD A cuia trajet
396. risul para o pagamento de sua d vida na poca de Cr 3 2 bilh es Em aparente rea o a esta atitude do banco o empres rio Breno Caldas publicou dois dias depois um artigo assinado que se tornou c lebre na edi o dominical de 6 de fevereiro do Correio do Povo fazendo alus o estatura f sica do ent o governador Amaral de Souza Palmo e so 30 130 meio A este texto seguiu se a divulga o pelo Correio do Povo e pela Folha da Tarde nos dias seguintes de uma s rie de den ncias sobre supostas irregularidades do governo do estado tendo os jornalistas recebido orienta o expressa no sentido de levantar e publicar tais informa es Uma equipe especial de reportagem teria sido organizada na Folha da Tarde com tal finalidade As den ncias acabaram gerando uma Comiss o Parlamentar de Inqu rito CPI sobre o Banrisul na Assembl ia Legislativa al m do afastamento do vice presidente do banco Ary Lange ae 7 SEC aplica Cr 10 bi nas escolas este ano Zero Hora Porto Alegre 25 de dezembro de 1984 p 27 MCSHJC 8 TRICHES abre capital com Cr 6 bi em a es Zero Hora Porto Alegre 25 de dezembro de 1984 p 17 MCSHJC SETOR de m veis recupera preju zos Zero Hora Porto Alegre 21 de dezembro de 1984 p 27 MCSHJC 30 Informa es sobre a execu o judicial no apedido opini o p blica da diretoria do Banrisul Zero Hora 11 de fevereiro de 1983 p 1 capa O artigo com o ataque ao governad
397. rsidade de S o Paulo Funda o para o Desenvolvimento da Educa o 2000 p 502 503 67 chegando a 172 9 Em 18 de fevereiro de 1983 a maxidesvaloriza o de 30 do cruzeiro come ou a tornar impag veis as d vidas em d lar como as da Caldas J nior GR FICO 1 CRESCIMENTO DA INFLA O 1978 1985 Representa o gr fica Ano 250 1978 40 8 200 1979 77 2 igo 1980 110 2 1981 95 1 o 1982 99 7 50 1983 211 0 1984 223 8 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1985 235 1 Fonte ndice Geral de Pre os da Funda o Get lio Vargas O arrocho salarial dos trabalhadores mascarado durante os anos do milagre econ mico pela situa o de pleno emprego tornou se menos suport vel com a recess o A taxa de desemprego aberto passou de 8 em 1981 para 9 2 em janeiro de 1982 Trezentos e sessenta mil empregos industriais foram perdidos de 1981 a 1983 Seguindo a cartilha do FMI a quem recorreu logo depois das elei es para governador de 1982 o governo federal adotou v rios mecanismos no intuito de diminuir os sal rios reais como o Decreto lei 2 065 editado em 1983 o qual limitava os reajustes em 100 do INPC apenas para a faixa de trabalhadores que recebia at tr s sal rios m nimos No que tange ao movimento grevista o Rio Grande do Sul apresenta n meros expressivos na rela o com o panorama nacional principalmente em 1980 e 1981 ver tabela e gr fico a seguir Neste ltimo ano especialmen
398. s A greve se concentrou basicamente nos dois jornais em especial na Folha da Tarde Levantamentos da poca calculam o n mero de grevistas entre 300 a 400 pessoas conforme observadores e sindicatos envolvidos a empresa admitiu um n mero bem menor 10 ou 160 paralisados O total de funcion rios chegava a 1 600 o n mero inclui os empregados da r dio e da TV Gua ba cujos trabalhadores decidiram n o aderir ao movimento Em rela o produ o o resultado mais palp vel do movimento foi obtido nas primeiras 24 horas e n o mais repetido ao longo de seus 56 dias de dura o Apenas no primeiro dia a mobiliza o conseguiu impedir a circula o da Folha da Tarde Fez tamb m com que o Correio seguisse para os assinantes atrasado e diminuto Na capa do di rio ent o em seu 88 ano de circula o foi impresso um aviso aos leitores 75 Esta greve cuja principal reivindica o era 25 de aumento salarial e imunidade para delegados sindicais durou seis dias entre 23 e 29 de maio e acabou com pelo menos 200 demiss es como a de Perseu Abramo da Folha de S Paulo Para uma an lise do movimento e seus antecedentes ver SILVA Marco Ant nio Roxo da A greve dos jornalistas de 1979 Disserta o mestrado em Comunica o Imagem e Informa o Universidade Federal Fluminense Niter i 2003 19 Sobre a greve na R dio Ga cha de Porto Alegre ver depoimento do jornalista Jos Roberto Garcez Ag ncia Experimenta
399. s assinantes junto garagem da Caldas J nior na Avenida Get lio Vargas Nesses epis dios tamb m se evidencia o papel decisivo dos sindicalistas rodovi rios que ensinaram seus colegas a furar pneu fazer 412 MINISTROS Greve legal Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 11 de janeiro de 1984 ASJPRGS Segue um levantamento parcial das reuni es conforme as fontes escritas panfletos relat rios em setembro os representantes do sindicato tiveram encontro com o governador Jair Soares o presidente da Assembl ia Legislativa deputado Antenor Ferrari e um grupo de parlamentares Em novembro o boletim da entidade j anunciava a inten o de marcar audi ncias com o ministro do Trabalho Murilo Macedo o ministro das Comunica es Haroldo Correa de Matos e o ministro chefe do gabinete da presid ncia Jo o Leit o de Abreu Em dezembro depois de deflagrada a greve os grevistas procuraram o ent o governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola o presidente regional do Banco do Estado do Rio de Janeiro Banerj Ot vio Caruso da Rocha o senador Carlos Alberto Chiarelli deputados estaduais a bancada do PMDB doou Cr 625 mil para os grevistas no dia 22 o presidente do PMDB Pedro Simon Os depoentes ouvidos referem tamb m encontros com empres rios 165 piquete ou seja como chamei aten o anteriormente compartilharam sua experi ncia na organiza o dos enfrentamentos f sicos co
400. s atingiu 211 Segundo o Departamento Intersindical de Estat stica e Estudos S cio econ micos Dieese o custo de vida da fam lia assalariada em S o Paulo apresentou em 1983 a maior varia o anual desde 1959 quando o rg o havia come ado a calcul lo diversas greves de motoristas na Capital numa postura combativa por m foi acusado duramente por administra es posteriores de irregularidades administrativas e envolvimento com interesses patronais Em certa ocasi o chegou a ser agredido e derrubado do palanque em uma assembl ia dezembro de 1986 Em 1989 ao tentar o terceiro mandato perdeu as elei es para uma chapa apoiada por duas centrais sindicais entre elas a CUT Foi entrevistado em 2005 numa loja de autope as do bairro Azenha administrada por seu filho Mais sobre Rodrigues ver pasta Rodovi rios e transvi rios transporte coletivo 1983 1987 arquivo CDS NPH 141 RELAT RIO preliminar Op cit p 17 APJBS 142 Em 12 de dezembro de 83 o inevit vel aconteceu foi deflagrada aquele que seria um dos mais importantes movimentos de paralisa o de jornalistas gr ficos e motoristas no Rio Grande do Sul In CALDAS J nior n o resiste ao golpe Dispon vel em http www jornalistas rs com br 65sindical htm Acesso em 27 10 03 Grifo meu 143 RELAT RIO do Banco Central 1985 Banco Central do Brasil Bras lia p 18 Bibeco 14 FAUSTO Boris Hist ria do Brasil S o Paulo Editora da Unive
401. s da Caldas J nior localizado no bairro Menino Deus Vamos fazer uma assembl ia Agora se voc s decidirem parar aqui eu paro l P isto um l der sindical Ele parou Ele fez isto Mas naquela poca o Galo foi super importante porque depois que terminava as assembl ias estas que a gente fazia l na gr fica na parte dos gr ficos Come ava os jornalistas os delegados falavam perguntava se encaminhava toda aquela coisa super pol tica super emocionante daquele fervo A ent o chamava fulano de tal e quando ele ia ele tinha um discurso bem populista seria Porque ele era um cara sem estudo nenhum e chegava l e movimentava as massas O Galo Grande lideran a Era assim era a pequena burguesia vendo o proletariado fazer pol tica Direto N s aprendemos com eles a furar pneu a x As R 405 fazer piquete Ningu m sabia N o t nhamos feito coisa nenhuma disso 40 SILVA A A F Op cit 1 RODRIGUES O Op cit 402 Idem ibidem 43 WEYNE R Op cit 44 ALMEIDA M N M Op cit 45 VILLAS BOAS DOS SANTOS M Op cit 162 Transparece nestas lembran as uma admira o e um certo fasc nio dos depoentes todos jornalistas pelo poder de mobiliza o e de orat ria do l der dos motoristas bem como pela experi ncia dos militantes rodovi rios nas formas de luta prolet ria Talvez um sentimento semelhante ao j manifestado em rela o aos trabalhadores gr
402. s da oficina montadores tiradores de prova emendadores ajudantes de m quina paginadores alguns linotipistas recebiam o sal rio fixo mais um adicional por produ o Com o tempo os linotipistas passaram a ganhar s por produ o sem o fixo Era o caso de Adair S produ o Era um terror Mas dava No frigir dos ovos o volume dava uma m dia salarial bem razo vel Na poca eu tirava de 10 a 11 sal rios por m s Com outro par metro de vida tamb m Hoje tu tens muito mais custos Tem celular tem coisas que n o existiam Hoje comparando seria em torno de um sal rio de R 5 mil No depoimento de um trabalhador 10 anos mais novo o linotipista Jos Ant nio Guimar es de Fraga a lembran a do bom sal rio pago pela Caldas J nior ele ingressou na empresa em 1976 e saiu no in cio dos anos 1980 associou se percep o do decl nio atual das condi es de exerc cio da profiss o Eu fui para o jornal trabalhando s bado das 4 ao meio dia e domingo das 8 da noite at a 1 da manh ou seja cinco horas e mais oito no s bado e eu recebia em torno de 20 a 30 mais do que a semana toda no P o dos Pobres Tanto que eu acabei pedindo demiss o do P o dos Pobres onde trabalhava como instrutor Na poca voltei a estudar vou viver um pouquinho tinha 22 23 anos Tamanha era a facilidade que a gente tinha at porque era por produ o Hoje se ainda tivesse linotipo eu ganharia tr s ou quatro vezes o
403. s de profissionais que assinaram abaixo assinados pedindo a investiga o do caso Sobre Herzog ver MARKUN Paulo Meu querido Vlado S o Paulo Objetiva 2005 A grande visibilidade destes protestos n o pode nos fazer 129 ditadura desencadeada em especial pelos jornais alternativos a maioria adeptos de formas de administra o coletiva No Rio Grande do Sul vale citar a experi ncia da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre Coojornal que surgiu de certa forma dentro da Caldas J nior Considerada por Kucinski como resultante do desenvolvimento consciente e sistem tico do cooperativismo enquanto alternativa formal propriedade capitalista dos jornais da grande imprensa a Coojornal havia sido fundada em 1974 por um grupo de jornalistas demitidos da Folha da Manh e durou at 1983 A segunda considera o a vis o de uma empresa como uma fam lia e de seus empregados como integrantes dela pode conduzir a um fen meno paradoxalmente oposto em rela o ao objetivo de controle dos trabalhadores por parte da administra o paternalista Ao contr rio do que esperam os patr es muitos empregados absorvem este ideal de pertencimento como um direito e n o como uma d diva Portanto ao perceberem sua fam lia amea ada os trabalhadores podem sentir se instados a preservar o seu lar a qualquer custo inclusive destituindo o patriarca que os decepcionou E o que veremos a seguir ignorar
404. s evasivas por parte dos advogados enviados delegacia Como mais uma evid ncia do agravamento da cis o entre patr o e empregados a dire o da Caldas J nior abriu m o de sua propalada liberalidade e proibiu a realiza o de uma assembl ia na oficina de chumbo no dia 22 de setembro No entanto diante da amea a dos funcion rios de realizar o encontro na rua novamente aqui emerge o sentido de publiciza o e de fuga do arb trio patronal cedeu A assembl ia foi realizada e nela os empregados ratificaram a decis o de ingressar com um processo administrativo junto DRT al m de convocarem uma nova reuni o para definir uma greve A primeira assembl ia com proposta de greve saiu no in cio de outubro s v speras ocorreram demiss es e foram pagos os sal rios atrasados A assembl ia n o alcan ou o qu rum necess rio para a delibera o O direcionamento para a rua da fila de vales j referido anteriormente ocorreu no final do m s seguido por mais demiss es Documento encontrado no arquivo do sindicato dos jornalistas escrito em novembro de 1983 aborda o esgotamento das rela es entre os representantes dos trabalhadores e a dire o da empresa citando o aumento das retalia es patronais Durante os sete meses de crise p blica na Caldas J nior o comportamento da dire o da empresa em rela o s solicita es dos empregados mudou muito Se no in cio a dire o do sindicato e os funcion ri
405. s pelos policiais os tr s passaram a agredir os dois k 2 E E 415 motoristas indefesos que ap s muito apanharem ficaram estendidos no ch o Indagado a respeito da greve numa entrevista realizada em 1987 o empres rio Breno Caldas citou a mobiliza o dos motoristas como tendo trazido preju zos s rios empresa depois de fazer elogios aos funcion rios que n o aderiram greve Tivemos solidariedade n o por puxa saquismo Alguns por gratid o outros por simpatia outros por afinidade Era gente disposta a tudo Mas a quantidade era pequena em rela o ao n mero de funcion rios N s t nhamos 2 400 funcion rios Houve uma greve de motoristas N s t nhamos 148 ve culos Mais de 300 motoristas Come ou a aparecer gente de fora gente que hoje deputado constituinte metendo se no neg cio atirando miguelitos nos pneus dos nossos carros intimidando motoristas ae 416 seq estrando Foi o diabo Na mem ria de Osvaldo Rodrigues os choques com a pol cia para impedir a sa da dos caminh es carregados de jornais s o lembrados como um sufoco Um sufoco mesmo Port o fechado corrente na frente A que d a interven o da pol cia Trancando eles formando cord o para que eles n o sa ssem Para que n o aderissem mesmo Porque um que se sobressa sse dissesse vou aderir entreguei o caminh o Mas n o n o foi feito isso a Foi na marra Identificado poca com
406. s sindicalistas ga chos participavam da Comiss o Pr CUT Se a pr pria elei o da Comiss o Pr CUT foi alvo de extensa disputa sua atua o representaria uma clivagem no processo de renova o do movimento sindical As discord ncias giravam em torno de t ticas e de programas bem como sobre quando e como seria criada a nova central sindical A cis o no interior da Executiva fez com que o evento que resultou efetivamente na funda o da CUT o 1 Congresso Nacional da Classe Trabalhadora tamb m chamado Conclat originalmente marcado para 1982 ocorresse somente em agosto de 1983 em S o Bernardo do Campo SP sem a presen a da Unidade Sindical A ele acorreram 5 059 delegados de 912 entidades por m apenas uma confedera o e cinco federa es contra quatro confedera es e 50 federa es da Conclat anterior Novamente a o Rio Grande do Sul era o segundo estado em n mero de entidades representadas 99 atr s de S o Paulo 35 Por outro lado o bloco contr rio tamb m organizou a sua pr pria Conclat em novembro do mesmo ano da qual participaram 4 234 delegados de 1 243 entidades O congresso elegeu uma coordena o nacional mantendo a sigla Conclat que tr s anos depois ap s novo encontro transformou se em Central Geral dos Trabalhadores CGT Al m dos dois partidos comunistas esse bloco era formado pelo MR 8 pelos sindicalistas ligados ao PMDB e pelos militantes pr ximos do sindicalismo norte amer
407. s trabalhistas no Brasil que como jurisprud ncia tornaram se direitos antes de serem lei No caso do Rio Grande do Sul uma s rie de decis es atraiu contra o TRT a ira dos empres rios Em mar o de 1979 na primeira greve da ind stria ga cha daquele ano a dos empregados da empresa Souza Cruz o tribunal n o decretou a ilegalidade da paralisa o contrariando parecer do pr prio procurador regional do trabalho que alegou que o movimento n o cumprira as formalidades da lei 4 330 Na interpreta o do pesquisador Marcos Fl vio Soares autor de levantamento sobre as greves daquele ano no estado esta decis o na realidade abriria o caminho para as mobiliza es oper rias que se seguiram Em setembro do mesmo ano ao julgar uma greve de vigilantes o TRT surpreendeu novamente contemplando praticamente todas as quest es reclamadas pelos trabalhadores incluindo reajuste salarial de 50 estabilidade por seis meses aos membros do Comando de Greve e perman ncia no emprego dos grevistas por 90 dias Em estudo sobre a movimenta o grevista no Rio Grande do Sul entre 1980 e 1983 a pesquisadora Aurea Petersen relacionou 120 paralisa es mas s encontrou um caso de decreta o da ilegalidade do movimento pela Justi a pelas informa es que BIAVASCHI M Op cit 50 ESTAS LEIS n o est o na CLT S o conquistas dos oper rios Zero Hora Porto Alegre 22 07 79 sem indica o de p gina CDS NPH pasta legisla
408. sas opini es devemos recorrer e 55 apresentar Colocando se em alerta contra os efeitos danosos da subjetividade poss vel usufruir com mais tranquilidade dos ganhos de conhecimento que ela proporciona Porque em menor ou maior grau ela est sempre presente os pr prios nomes que usamos a fim de caracterizar os estados de alma desaparecidos as formas sociais evanescidas que sentido teriam para n s se n o houv ssemos antes visto homens viverem A abund ncia de fontes conforme j apontei mais acima foi uma das raz es que contribu ram para a escolha deste objeto de pesquisa Um peda o de papel e um depoimento oral s se tornam documentos por m a partir da interven o do pesquisador A seguir vou tentar explicitar os pressupostos que me guiam nesta transforma o dos rastros do passado em fontes hist ricas gt Idem ibidem p 245 BLOCH M Op cit p 66 34 Basicamente as fontes prim rias utilizadas nesta pesquisa podem ser divididas em quatro grupos l documentos produzidos pelos grevistas folhetos jornais boletins de greve relat rios PR artigos e reportagens da grande imprensa ou da imprensa alternativa 3 documenta o produzida no mbito da Justi a do Trabalho senten as e processos judiciais 4 depoimentos a maior parte oriunda de entrevistas feitas por mim A elas acrescento ainda fontes secund rias importantes como artigos de jurisprud ncia que a
409. se assim fonte essencial para o trabalho por m com o cuidado de se perceber o alinhamento com uma KUCINSKI Bernardo Jornalistas e revolucion rios nos tempos da imprensa alternativa S o Paulo Edusp 2003 p 13 Idem ibidem p 403 428 36 determinada linha sindical o que direciona julgamentos an lises e informa es publicadas Em rela o greve da Caldas J nior especificamente h tamb m um componente corporativista de apoio da reda o do Em Tempo e de outros peri dicos da imprensa alternativa organiza o da categoria dos jornalistas Tal especificidade faz desvanecer os limites entre imprensa alternativa e imprensa sindical Um exemplo mais claro a cess o pelo editor do jornal alternativo Den ncia de um n mero inteiro aos grevistas Eles produziram escreveram e editaram o jornal numa edi o especial sobre a greve que foi posteriormente vendida popula o nas bancas de jornais num processo completamente inusitado em rela o s pr ticas usuais da imprensa sindical Em rela o ao item 3 senten as e processos judiciais existe uma dificuldade inicial de decifra o destas fontes produzidas a partir de modelos estruturados de argumenta o jur dica Assim torna se essencial que o pesquisador n o s busque o conhecimento das leis arrogadas enquanto argumentos e tenha uma id ia dos modelos jurisprudenciais como entenda o que est por tr s do formalismo s vezes ex
410. sentou com uma proposta de a o democr tica baseada em v rios pontos entre eles sal rio m nimo profissional jornada de cinco horas fiscaliza o do exerc cio profissional comiss es de trabalho abertas conselhos de reda o extens o da base territorial e inser o no movimento dos trabalhadores Pregavam em especial a possibilidade de amplia o da discuss o interna dentro do sindicato Em seu programa foram publicadas manifesta es favor veis de 22 jornalistas entre eles Lu s Fernando Ver ssimo Flavio Tavares Ant nio Hohlfeldt o chargista Santiago e Luiz Pilla Vares Este ltimo escrevia que era necess rio retomar o contato com as bases e definitivamente erradicar as concep es cupulistas e burocr ticas que caracterizam a gest o atual A vit ria da chapa no segundo turno das elei es depois de um curioso empate 387 de exatos 388 votos no primeiro turno ocorreu no final de mar o de 1983 Em dezembro ela foi lembrada pelo jornal Em Tempo no seu balan o do ano como uma das 383 Uma alternativa para o sindicato informativo da chapa 2 elei es 1983 APRW 384 HOUAISS Ant nio e VILLAR Mauro de Salles Dicion rio Houaiss da L ngua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2001 p 2265 385 A extens o da base se refere ao movimento para que o sindicato ent o com jurisdi o somente sobre os jornalistas de Porto Alegre abrangesse os profissionais de todo o Rio Grande do Sul
411. sid ncia da Rep blica Jo o Leit o de Abreu e com os ministros do Trabalho Murilo Macedo e naoa 1 412 da Previd ncia Jarbas Passarinho Nenhum desses encontros por m teve um resultado pr tico mais significativo O fato de parecer perfeitamente l gico para uma lideran a afinada com a renova o sindical que um dirigente conservador em tese opositor de sua proposta de um sindicalismo mais avan ado fosse portador de credibilidade junto sociedade ajuda a explicar tamb m o porqu da sobreviv ncia desses l deres no movimento sindical Parece bvio dizer que as administra es conservadoras controlavam a m quina sindical de suas entidades e os canais contatos com pol ticos advogados etc de acesso ao poder mas n o t o transparente assim que isso muitas vezes obrigasse os sindicalistas que se apresentavam como representantes da novidade a perpetrarem alian as estrat gicas com setores conservadores Tal uni o se tornava necess ria diante de lutas espec ficas nas quais a participa o dos antigos dirigentes conferia respeitabilidade aos novos e de alguma forma afetava tamb m as pr ticas desses ltimos Em rela o s formas de luta durante o movimento ocorreram enfrentamentos violentos entre grevistas os seguran as da empresa e a Brigada Militar Alguns dos momentos de maior exacerba o foram os piquetes realizados para tentar impedir a sa da de jornais destinados s bancas ou ao
412. social onde tradicionalmente se inclui a hist ria do trabalho estas mudan as foram muito influenciadas pela difus o de autores europeus cr ticos do estruturalismo e que valorizam aspectos como a experi ncia e a cultura em especial os brit nicos E P Thompson e Eric Hobsbawm A disciplina do trabalho como forma de domina o passou tamb m a ser pensada a partir da influ ncia de Michel Foucault No Brasil outro fator que moveu essa transforma o foram as conting ncias hist ricas da poca o fim da ditadura o aumento de cursos de p s gradua o em Hist ria e Ci ncias Sociais e principalmente a pr pria eclos o de movimentos grevistas por todo o pa s a partir de 1978 Greves e mobiliza es oper rias apontaram para um momento de ruptura interpretativa em rela o a representa es anteriores que salientavam a insufici ncia a imobilidade e a imaturidade da classe trabalhadora brasileira e a necessidade do Estado assumir o papel de agente da mudan a social Tais mudan as conduziram a um boom dos estudos hist ricos sobre o trabalho multiplicando se o n mero de pesquisas e os tipos de abordagem Sindicatos partidos e correntes cederam lugar classe como foco dos estudos Os autores se voltaram assim preponderantemente para o cotidiano e para a forma o das identidades culturais dos trabalhadores Exemplos destas representa es dos trabalhadores brasileiros como incapazes de fazer frente estrutura
413. sp cie de estere tipo da 299 a o sindicalista imagem que surgia da rela o estabelecida entre o tipo de trabalho exercido e a consci ncia pol tica atribuindo a essa categoria uma inerente capacidade de militar sindicalmente A associa o direta entre a profiss o gr fica e a milit ncia pol tica est presente por exemplo em obra do jornalista Jo o Batista Mar al sobre a imprensa oper ria no Rio Grande do Sul Porque os gr ficos foram os primeiros oper rios intelectualizados do mundo No exerc cio de sua profiss o as id ias transitavam por seus olhos as teorias escorriam entre seus dedos Esse fato os fez vanguarda jogou os universalmente ao longo do tempo na primeira linha dos revolucion rios sociais E aqui no Rio Grande do Sul n o seria diferente Das oficinas gr ficas sa ram muitos de nossos principais combatentes Marcada por cis es pol ticas a trajet ria associativa dos gr ficos ga chos na Rep blica Velha se consubstancia na apari o e desaparecimento s bitos de v rias entidades como o Sindicato Gr fico Comunista a Uni o Tipogr fica e a Associa o Gr fica Portoalegrense Em maio de 1929 ocorreu a primeira reuni o da Uni o dos Trabalhadores Gr ficos UTG entidade que posteriormente se tornaria o Sindicato dos Trabalhadores Gr ficos de Porto Alegre em atividade at hoje Talvez n o coincidentemente o per odo foi um momento de intensas mudan as t cnicas
414. ssinantes anunciantes e a popula o em geral E com a prote o da pol cia Nessa madrugada e at a manh de hoje repetiu se a viol ncia N s funcion rios da Caldas Junior ficamos surpresos com essa absurda repress o ao nosso justo e legal movimento que reivindica apenas o pagamento em dia dos sal rios Mais de 400 brigadianos foram requisitados e patrulharam a sede no centro e a garagem no Menino Deus Caiu assim a m scara liberal de Breno Caldas um latifundi rio que d ma s aos seus cavalos e vales de cinco mil aos funcion rios E ficou evidenciado a falta de controle do Secret rio de Seguran a Romeu Martineli sobre os efetivos da Brigada Militar ou ent o o que seria pior o seu apoio ao caloteiro patr o Afinal onde j se viu uma Secretaria mantida pelo dinheiro do povo trabalhar para uma pessoa que est infringindo a lei e reprimir trabalhadores e contribuintes que est o sendo lesados em seus direitos Na nossa Assembl ia Geral de ontem noite mantivemos a paralisa o e repudiamos essa repress o Recebemos apoio de todos os partidos de oposi o que se fizeram representar por suas lideran as e o apoio de todos segmentos da sociedade entidades civis de direitos humanos e sindicais numa das mais significativas assembl ias de trabalhadores de todos os tempos no Rio Grande do Sul QUEM DIVULGA Tudo isso certamente n o sair nos tradicionais ve culos de comunica o A nossa
415. sta embora sua classe reunida no Gr mio de Artes Gr ficas tenha decidido n o aderir parede as divis es no modo de pagamento por obra ou por dia s o apontadas como uma das causas desta n o ades o Para Schmidt o conhecimento da linguagem escrita o acesso a diferentes tipos de publica o e o dom nio das t cnicas de impress o criavam condi es prop cias difus o de ideologias reivindicat rias e mobiliza o dos trabalhadores gr ficos de sua capacidade de organiza o o nico meio capaz de garantir tamb m a este grupo a exclusividade relativa que os separava dos oper rios HOBSBAWM Eric J A forma o da cultura da classe oper ria brit nica In Mundos do trabalho Rio de Janeiro Paz e Terra 2000 p 257 277 Ver tamb m A aristocracia do trabalho na Inglaterra do s culo XIX In Os trabalhadores S o Paulo Paz e Terra 2000 p 319 366 9 PETERSEN Silvia Que a uni o oper ria seja a nossa p tria hist ria das lutas dos oper rios ga chos para construir suas organiza es Porto Alegre Santa Maria Ed UFRGS UFSM 2001 p 39 41 gt Idem ibidem p 144 145 Apud SCHMIDT B B Em busca p 146 Idem ibidem p 154 3 Idem ibidem p 188 Idem ibidem p 71 84 Ao analisar os gr ficos cariocas e paulistas do per odo Vitorino observa que as pr prias publica es da categoria outorgavam a seus integrantes uma e
416. sta o da casa pr pria aluguel e outros A uni o em torno do movimento por m n o significava uma concord ncia constante a respeito de seus rumos Pelo contr rio Um dos advogados dos grevistas Lu s Burmeister recorda neste sentido que as reuni es no sindicato dos jornalistas eram palco de brigas hom ricas entre sindicalistas vinculados a diversas tend ncias Alguns defendiam a negocia o com o patr o e outros apostavam no enfrentamento como forma de obter mais ganhos Em suas palavras A milit ncia era enlouquecida Isso era no tempo da Avalu Avan ar a Luta que j uma fase que veio depois da Libelu J ouviste falar da Libelu Liberdade e Luta A os caras que achavam que a Libelu era meio devagar fizeram a Avalu Ainda segundo Burmeister o grupo que atuava como mediador desses conflitos era composto em sua maioria por sindicalistas mais experientes alguns ligados ao PCB Ele cita entre outros o nome de Jo o Aveline jornalista e comunista hist rico do Rio Grande do Sul O detalhe que Aveline n o fazia parte da diretoria do sindicato dos jornalistas poca e n o trabalhava na Caldas J nior Mas quem fazia o moderador da coisa porque um cara muito jeitoso e muito habilidoso ao velho estilo de ficar por tr s das coisas mas ser uma palavra importante era o Jo o Souza O Jo o era a grande cabe a desse processo todo O Remi Baldasso era um cara que n o era de l Ele j era funcion rio
417. stendia por dentro do edif cio Para l iam todos independentemente de suas categorias profissionais of cios e status Devido quantidade de empregados esperar pelo pagamento demandava tempo Este conv vio for ado uma ou duas vezes por semana fazia com que trabalhadores apartados entre si no cotidiano da produ o se descobrissem unidos na mesma situa o e aspira o receber seus sal rios A mem ria da experi ncia coletiva da fila se apresenta relacionada lembran a dos atrasos salariais do regime de vales que tomou conta da empresa Os valores s o recordados nos termos de quantias hoje irris rias associados a um sentimento de 133 profunda humilha o Um gr fico recorda de tirar vale de R 5732 Uma jornalista lembra que era tipo R 10 Eu sei que n o dava para nada Era tipo assim uma coisa de fome Outro recorda que a situa o era dram tica as pessoas tinham dificuldade at para conseguir o dinheiro da passagem para o dia seguinte para ir trabalhar Ao refletir sobre as raz es que levaram o poeta Mario Quintana a aderir greve na Caldas J nior a sobrinha Elena avalia que sua decis o se relacionava a uma percep o da situa o desesperadora dos colegas e tamb m ao vexame que sentiu ao tentar ele mesmo obter o seu pr prio pagamento Eu n o sei eu acho que teve a ver com as criaturas l que tinham um monte de filhos E teve a ver com isto Os mais jovens convenceram e
418. sticas que formaram e solidificaram entre certos trabalhadores uma consci ncia de que n o havia escolha al m da a o coletiva Este argumento se constituiu tamb m numa arma contra as acusa es de viol ncia e irresponsabilidade vindas do setor patronal A a o coletiva dos trabalhadores seguiu uma determinada dire o a partir dos significados e das identidades constru das n o s naquele momento de enfrentamento mas sob a influ ncia de tradi es anteriores das diferentes categorias envolvidas Pensar no que ocorreu como inevit vel uma boa forma da mem ria significar o passado Mas o historiador n o deve se conformar com ela Uma greve precisa mais do que da no o de inevitabilidade para ser explicada 5 Sobre o estudo de greves A partir da discuss o da id ia de inevitabilidade do acontecimento realizada nas p ginas anteriores depois de propor um relato factual e sucinto do movimento e de seu palco a Caldas J nior aprofundei os problemas de pesquisa a serem enfocados e que j haviam sido apresentados na introdu o S o eles a rela o entre mudan a t cnica e mobiliza o as transforma es nas rela es de domina o vigentes na empresa a forma como ocorreu a articula o sindical do movimento por grupos de orienta es diversas e por fim a quest o jur dica envolvida a partir da utiliza o da lei 4 330 para embasar a legalidade da paralisa o A seguir pretendo empreender uma reflex o mais
419. sto 12 O sindicato dos jornalistas entra com processo sum rio junto DRT denunciando o atraso de pagamento Boletim informa que uma comiss o eleita em assembl ia geral obteve de Breno Caldas a promessa de fazer um relat rio por escrito sobre as perspectivas financeiras da empresa 15 Reuni o com Breno e sindicatos Entrega de documento firmado pelo dono da empresa Os sal rios come am a ser substitu dos por vales Cr 10 a 30 mil 16 DRT recebe of cio comunicando atraso no pagamento dos sal rios de julho na EJCJ e na TV Gua ba Setembro 8 Assembl ia geral na oficina de chumbo com a presen a de representante da dire o jornalista Edgar Lisboa 15 DRT comunicada oficialmente pelo sindicato dos jornalistas de atraso no pagamento dos sal rios de agosto na EJCJ e na TV Gua ba Na R dio Gua ba o pagamento dos sal rios de agosto foi conclu do no dia 14 de setembro 21 Carta aberta popula o e nota interna aos funcion rios divulgada pelos sindicatos dos jornalistas dos radialistas dos motoristas dos gr ficos e da administra o Dire o da Caldas J nior pro be a realiza o de uma assembl ia dentro 233 da empresa mas volta atr s quando a mesma transferida para a rua A assembl ia com a presen a dos presidentes dos cinco sindicatos de trabalhadores e de um representante da DRT ratifica a decis o de marcar uma assembl ia de greve 23 Protocolado junto DRT uma
420. t es a serem enfocadas Ao final refleti sobre o estudo de greves no mbito acad mico na inten o de mostrar as possibilidades e as dificuldades despertadas pelo objeto Tema visto primordialmente como relacionado esfera econ mica as paralisa es do trabalho s o ricas tamb m em significados sociais 212 capazes de colocar em evid ncia a cultura dos trabalhadores da classe patronal e a pr pria estrutura pol tica da sociedade A seguir buscou se finalmente responder s perguntas previamente colocadas A primeira delas foi despertada pela observa o de um detalhe factual o uso da chamada oficina de chumbo para as assembl ias grevistas A partir disto indaguei me sobre as poss veis rela es entre a mudan a t cnica no setor gr fico da empresa e o movimento de resist ncia dos trabalhadores Para responder a esta quest o iniciei o segundo cap tulo procurando mostrar como a imagem social bem como a auto imagem do trabalhador gr fico est marcada por um papel de vanguarda oper ria atribu do ainda nas origens do of cio e caracterizado pela posse do saber letrado e pela milit ncia pol tica e sindical O exame do caso espec fico da Caldas J nior por meio de entrevistas e an lise da documenta o escrita permitiu formar um quadro mais concreto da forma e dos valores envolvidos na maneira pela qual estes trabalhadores da empresa se viam e se constru am como grupo Estavam presentes ali elemen
421. ta 1997 LOPES Juarez Brand o Sociedade industrial no Brasil S o Paulo Difel 1964 MAR AL Jo o Batista A imprensa oper ria do Rio Grande do Sul Porto Alegre edi o do autor 2004 MARKUN Paulo e HAMILTON Duda 1961 Que as armas n o falem S o Paulo Editora Senac 2001 MARKUN Paulo Meu querido Vlado S o Paulo Objetiva 2005 MARQUES Paulo Lisandro Amaral Marques Nos tempos do novo sindicalismo os trabalhadores ga chos no olho do furac o In Hist rias do Trabalho 1996 1997 Porto Alegre Unidade Editorial Prefeitura Municipal de Porto Alegre p 192 238 1998 MART N Enunciano La composicion en artes gr ficas tomo segundo Barcelona Ediciones Don Bosco 1974 MARX Karl O Capital S o Paulo Nova Cultural 1988 MATTOS Marcelo Badar Greves e repress o policial ao sindicalismo carioca 1945 1964 Rio de Janeiro APERJ FAPERJ 2003 Novos e velhos sindicalismos Rio de Janeiro 1955 1988 Rio de Janeiro V cio de Leitura 1998 Sobre novos e velhos sindicalismos no Brasil rediscutindo dicotomias Hist ria Unesp S o Paulo v 17 18 p 315 337 1999 Trabalhadores e sindicatos no Brasil Rio de Janeiro V cio de Leitura 2002 MEDINA Cremilda de Ara jo Entrevista O di logo poss vel S o Paulo tica 1990 MELLO Maildes Alves de A greve no Direito Positivo Brasileiro Porto Alegre S ntese 1980 MESQUITA Humberto Tupi A greve da fome S o Paulo
422. tar Seu racioc nio no entanto se aproxima do de Euclydes Bento da Cruz presidente do sindicato dos gr ficos poca da greve um sindicalista com perfil conservador Em depoimento no qual se declarou avesso pol tica afirmando que o sindicato havia sido no passado um ninho de comunistas disse que tinha de haver greve porque j estava no fim mesmo O presidente do sindicato dos motoristas Osvaldo Gomes Rodrigues conhecido por Galo eleito em 1983 se alinhava na poca com as for as emergentes e progressistas do movimento sindical Entrevistado em 2005 por m Osvaldo externou o mesmo elo entre a greve e a situa o econ mica num racioc nio pr ximo ao de Euclydes O movimento nosso foi porque os funcion rios estavam preocupados com o fechamento da Caldas J nior Ela estava falindo falindo quebrando Eles queriam um rumo para sua situa o pessoal Tinha gente antiga trabalhando ali dentro O pessoal se desespera tem que se organizar para pelo menos alguma coisa pegar para sair Sair de cabe a em p Basicamente foi isto a o movimento da Caldas J nior Ela tava quebrada mesmo 138 SOUZA Jo o B Op cit 13 CRUZ Euclydes Bento da Depoimento 2 de outubro de 2004 Entrevistadora Clarice Esperan a Porto Alegre dois cassetes sonoros uma hora e 30 minutos O impressor Euclydes Bento da Cruz foi o homem que mais tempo permaneceu como presidente do sindicato dos gr ficos de Porto Alegre 14
423. tava sendo demitido por justa causa Depois a gente entrou na Justi a ganhou reverteu In HOHLFELDT Op cit 51 renova es al m daquele referente a an ncios publicit rios fosse recolhido Justi a do Trabalho para pagamento dos d bitos trabalhistas No mesmo dia o presidente do TRT Jo o Pereira Leite ordenou que a Secretaria da Seguran a P blica respons vel pela Brigada Militar assegurasse aos grevistas o direito de aliciamento pac fico de colegas e de manifesta es ordeiras e intimou a empresa a n o demitir os trabalhadores parados Finalmente em 6 de fevereiro de 1984 o mesmo TRT considerou a greve legal dando prazo de 10 dias para o pagamento dos sal rios atrasados e garantia de emprego at que a d vida trabalhista fosse saldada incluindo o FGTS No dia seguinte o boletim de greve anunciava em seu t tulo Ganhamos a greve sob uma foto do poeta Mario Quintana na passeata que comemorou a decis o no centro de Porto Alegre O jornal Em Tempo tamb m alardeou a vit ria dos trabalhadores No entanto temia por sua efetividade conforme texto publicado na edi o n 184 a decis o do TRT pode trangiiilamente n o ser cumprida da mesma forma como n o foram outras tomadas anteriormente durante a greve A possibilidade do cumprimento da decis o era definida por m como a maior vit ria sindical no estado ap s 64 N o eram infundados os temores manifestados no Em Temp
424. te o n mero de greves ocorridas no estado corresponde a mais de um quarto dos movimentos brasileiros Ressalto que entre 1968 e 1978 n o h registro de paralisa es do trabalho no estado 145 CUSTO DE VIDA Maior varia o anual desde 1959 172 9 Boletim Dieese dezembro de 1983 p 54 Bibeco 6 GALVANI W Um s culo p 429 455 e CALDAS B Op cit p 31 38 7 PETERSEN A Op cit p 73 148 NORONHA E Op cit p 109 68 GR FICO 2 GREVES BRASIL RS 1978 1985 1000 800 400 Rio Grande do Sul 200 0 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 Brasil 137 430 144 150 147 393 618 843 Rio Grande do Sul 4 29 27 43 16 34 44 68 RS Brasil 2 9 6 74 18 75 28 6 10 84 8 65 7 11 8 06 Em levantamento sobre as greves do per odo 1980 1983 no Rio Grande do Sul a pesquisadora urea Petersen observou que o pagamento de vencimentos ou do 13 sal rio atrasados ocupou o segundo lugar numa lista de 183 reivindica es de 120 movimentos grevistas ocorridos no per odo Ele aparece elencado em 46 ocasi es enquanto em outras 10 houve pedido de estabilidade no emprego e em 8 exig ncia de cumprimento de acordo ou diss dio que evidenciam igualmente um car ter defensivo Tal fen meno pode ser explicado pelo agravamento da crise econ mica tendo como um de seus elementos a crescente infla o do per odo De fato at 1981 a maioria dos movimentos ga chos r
425. te pelas estruturas Portanto parto do objeto espec fico e busco a partir dele estender ao m ximo a an lise para o contexto a fim de perceb lo e question lo qui complexific lo O enfoque na experi ncia possibilita uma vis o da forma hist rica real e imperfeita da classe e de como as determina es estruturais s o percebidas e instrumentalizadas na luta A seguir indico as diretrizes te ricas que orientam a abordagem dos problemas de pesquisa antes enunciados os quais ser o desenvolvidos ao longo da disserta o No cap tulo inicial para examinar a trajet ria da Caldas J nior a constitui o e a consolida o da imagem da empresa e de seu poder na sociedade ga cha e o embate entre o patr o e os grevistas no in cio dos anos 80 por meio da imprensa foram muito teis leituras sobre imagin rio social e sistemas simb licos 31 THOMPSON E P A forma o da classe oper ria inglesa Volume I Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 p 10 2 WOOD Ellen M Democracia contra capitalismo S o Paulo Boitempo 2003 p 90 26 Se as rela es de for a est o constantemente articuladas com rela es de sentido em nenhum lugar isto mais flagrante do que na imprensa A compreens o da for a e da influ ncia exercidas pela imprensa pode ser alargada a partir da perspectiva de Bourdieu para quem segundo Miceli a organiza o do mundo e a fixa o de um consenso a seu respeito constitui uma fun
426. te ricos da greve na teoria marxista e na teoria neocl ssica ver CATTANI A D Greves um instrumento pol tico trabalho apresentado no GT Classe Oper ria e Sindicalismo no 8 Encontro Anual da ANPOCS em outubro de 1984 Porto Alegre Iespe CDS 1984 p 8 13 76 momento privilegiado que revela as lat ncias de uma situa o conflitual e os valores de um grupo oper rio ou patronal Na acep o de Cattani a greve se define como a cessa o tempor ria do trabalho decidida de forma concertada por um grupo de trabalhadores com o objetivo de terem atendidas suas reivindica es espec ficas no mbito da empresa ou gerais envolvendo interesses mais amplos da popula o 79 O autor ressalta o car ter coletivo desta a o e sua imprevisibilidade tanto em termos de dura o quanto de desdobramentos apesar de seus objetivos j serem definidos de antem o Como fonte de instabilidade e de dinamismo sociais abrange desde a press o por melhorias pontuais e concretas quanto constitui fator de identidade grupal ou de classe Ao romper com a ordem preexistente pode expressar possibilidades de mudan as nas rela es de produ o e na estrutura de poder A complexidade do fen meno grevista intensificada pelo seu car ter de imprevisibilidade se reflete na diversidade de abordagens poss veis quando as greves se tornam objeto de estudos acad micos A abund ncia destas abordagens ace
427. tegoria com predomin ncia quase absoluta de homens os gr ficos passam a conviver cada vez mais com mulheres e a dividir com elas o espa o e a autoridade do trabalho Passar a fazer uma fun o t o simples que at mulher fazia n o pode deixar de ser sentido por esses trabalhadores como uma desvaloriza o Nas narrativas dos gr ficos a mudan a t cnica ocorrida com a introdu o da fotocomposi o aparece como uma ruptura capaz de gerar impasses pessoais e sociais O sentimento de desqualifica o tamb m relacionado a conflitos de g nero e a percep o do desemprego e do risco de exclus o social tornam se chaves para significar 257 SILVA N e VARGAS J Op cit 28 COCKBURN C Op cit p 96 97 2 SILVA N e VARGAS J Op cit 260 Sobre a quest o de g nero envolvida na ado o da fotocomposi o na ind stria gr fica ver COCKBURN C Op cit 105 n o s o passado mas o universo atual destes trabalhadores Assim as falas sobre os tempos vividos quase sempre t m como contraponto um coment rio desabonador sobre o presente A idealiza o do que j se foi ressurge na mem ria como constituinte da insatisfa o com os tempos atuais Em rela o ao tempo enfocado na presente disserta o o que pode ser apreendido a partir destes depoimentos a imagem de um per odo de muita indefini o n o s em termos concretos com a quest o da sobreviv ncia imediata dos oper rios amea ados pelo d
428. tema capitalista em forma o Entre as especificidades das rela es de trabalho existentes nos pequenos empreendimentos agr colas das freguesias rurais e daquelas vigentes nas reas urbanas o historiador encontra como semelhan a essencial o fato de que a atitude paternalista tem o claro sentido de possibilitar o aumento da explora o da for a de trabalho 285 a E a RAS a S T A Quanto s disparidades salariais na documenta o jur dica podem ser encontrados outros casos S o relacionados por exemplo tr s correspondentes do interior rep rteres lotados no interior do estado um ganhando Cr 203 000 00 outro Cr 321 102 00 e outro Cr 209 000 00 O sal rio m nimo nacional na poca desta reclamat ria trabalhista setembro de 1984 alcan ava Cr 97 716 00 Minist rio do Trabalho e Emprego Evolu o do sal rio m nimo legisla o Dispon vel em lt http www mte gov br sal min default asp gt Acesso em 22 01 07 286 O duplo emprego consiste no fato do jornalista ser funcion rio do peri dico e tamb m trabalhar em assessorias de imprensa geralmente governamentais e na maioria das vezes relacionadas ao cargo que ocupa na empresa jornal stica caso de um editor de pol cia tamb m assessor de imprensa da Secretaria Estadual de Seguran a por exemplo ou de um rep rter da editoria de Cultura tamb m assessor da Secretaria Estadual da Cultura Tal pr tica que implica contemporaneamente problemas
429. titui o de 1988 S o Paulo Boitempo 2004 LAGE Nilson Estrutura da not cia S o Paulo tica 1985 LARA Silvia Hunold e MENDON A Joseli Maria Nunes Direitos e Justi a no Brasil Ensaios de Hist ria social Campinas Unicamp 2006 LEITE Jo o Antonio G Pereira Direito coletivo do Trabalho 7 Revista TRT4 Porto Alegre ano XX n 19 p 11 12 1986 Discurso de posse do juiz Jo o Ant nio Pereira Leite na presid ncia do TRT 4 Revista do TRT 4 Porto Alegre ano XVII n 16 1983 p 301 304 LEQUIN Y Greve In BURGUIERE Andr org Dicion rio das Ci ncias Hist ricas Rio de Janeiro Imago 1993 LEITE M rcia de Paula O que greve S o Paulo Brasiliense 1992 LEMOS Dinah Beatriz Souza Tempos e Tutelas Contribui o Hist ria do Direito e Justi a do Trabalho no Brasil Disserta o mestrado em Hist ria PUCRS 1997 227 LONER Beatriz A hist ria oper ria no RS Hist ria Unisinos S o Leopoldo v esp p 53 79 2001 Constru o de classe oper rios de Pelotas e Rio Grande 1888 1930 Pelotas UFPel Unitrabalho 2001 LOPES Jos S rgio Leite A tecelagem dos conflitos de classe na cidade das chamin s S o Paulo Bras lia Marco Zero UNB MCT CNPg 1988 Uma teatraliza o tradicional da domina o industrial In ARA JO Angela Maria Carneiro org Trabalho cultura e cidadania um balan o da hist ria social brasileira S o Paulo Scrit
430. tizar os grevistas publicamente Oito dias depois de iniciada a paralisa o os di rios da Caldas J nior publicaram notas assinadas por jornalistas que discordavam do movimento os quais se diziam do dos e magoados com a perda de amigos com as palavras erradas ditas quando a emo o foi maior do que a raz o e salientavam acreditar que o momento de crise exigia trabalho para provar a possibilidade de sobreviv ncia para n o deixar que um espa o conquistado com esfor o fosse 3352 perdido Figura 6 Caricatura de Breno Caldas agarrado a sacos de dinheiro publicada em boletim dos grevistas Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior 28 12 83 351 N S E o futuro da empresa Boletim da Comiss o Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 28 12 83 ASJPRGS 32 PORQUE N O PARAMOS Folha da Tarde Porto Alegre 20 de dezembro de 1983 p 3 A nota era assinada por 28 jornalistas entre eles o diretor de reda o Walter Galvani No mesmo dia o Correio do Povo publicou nota no mesmo sentido intitulada PORQUE FICAMOS na capa assinada por Ant nio Carlos Ribeiro secret rio de reda o MCSHJC 141 Figura 7 O poeta Mario Quintana com o jornal editado pelos grevistas cuja capa traz a manchete E agora doutor Breno Foto de Itamar Garcez Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior 05 01 84 Figura 8 Vende a Caldas DR Breno Cartaz empunhado por g
431. to Alegre No mesmo piso em frente ficava a reda o do Correio do Povo O trabalho di rio era o elo que unia concretamente dois of cios e dois mundos 3 A reestrutura o produtiva e o setor gr fico Este mundo aparentemente est vel de posi es solidamente constitu das rotinas estabelecidas e saberes valorizados foi varrido pelo advento das tecnologias que marcaram os prim rdios da reestrutura o produtiva no setor gr fico nos anos 70 Tal mudan a n o abalaria apenas o pequeno universo da Caldas J nior era uma revolu o tecnol gica mundial que se naquele momento atingia mais particularmente os gr ficos logo se faria sentir no mundo do trabalho em geral 23 A diagrama o a defini o de um projeto gr fico para a p gina de jornal a partir de elementos como o texto as fotos os t tulos e outros legenda olho linha de apoio cartola etc A diagrama o uma atribui o privativa de jornalistas e o profissional respons vel o diagramador 97 Na rea gr fica a transforma o se deu com o advento da fotocomposi o e da impress o por off set capaz de transmutar as oficinas de locais onde imperava o cheiro de chumbo de tinta e de parafina e o barulho infernal das linotipos em salas ass pticas e silenciosas Usando as palavras de Cockburn no espa o de controle em disputa entre patr es e sindicatos entra em cena um novo princ pio organizador o computador No mbito da impress
432. to dos Jornalistas DRT comunicando atraso no pagamento de sal rios da Caldas J nior em 18 10 83 16 C pia da qualifica o legal da Caldas J nior encaminhado pelo Sindicato dos Jornalistas DRT 17 Carta aberta dos funcion rios do Grupo Caldas J nior popula o em 21 09 83 18 Edital de convoca o de Assembl ia Geral Extraordin ria dos funcion rios da Caldas J nior marcada para 05 10 83 assinado pelos presidentes dos sindicatos dos jornalistas dos gr ficos e dos motoristas com data de 25 09 83 e publicado em Zero Hora no dia 15 09 83 p gina 16 19 Edital de 2 convoca o de Assembl ia Geral Extraordin ria dos funcion rios da Caldas J nior marcada para 07 10 83 assinado pelos presidentes dos sindicatos dos jornalistas dos gr ficos e dos motoristas com data de 27 09 83 e publicado em jornal n o identificado 20 C pia de of cio do Sindicato dos Jornalistas DRT comunicando atraso no pagamento de sal rios da Caldas J nior em 11 11 83 21 C pia de of cio do Sindicato dos Jornalistas DRT comunicando atraso no pagamento de sal rios da TV Gua ba em 11 11 83 22 C pia de of cio do Sindicato dos Jornalistas DRT comunicando atraso no pagamento de sal rios da R dio Gua ba em 11 11 83 23 e 24 C pia das atas das assembl ias dos funcion rios datadas de 05 10 83 07 10 83 06 12 83 12 12 83 24 12 83 25 C pia da ata de audi ncia no TRT processo de diss
433. tos com esta manifesta o de indisciplina partiram para a viol ncia atingindo pessoas e danificando ve culos Mais adiante passaram para o insulto pessoal atrav s de boletins divulgados nas ruas da cidade e de alto falantes instalados junto s depend ncias da empresa Tal atitude n o configura o regular exerc cio do direito de greve o qual tem por pressuposto a observ ncia de determinadas formalidades que n o foram cumpridas Esta a o que n o passa de um ato de indisciplina vem sendo praticada por uma minoria atuante que n o representa sequer um d cimo da coletividade que presta servi os Empresa Jornal stica Caldas J nior A grande maioria embora enfrentando iguais dificuldades est em plena atividade lutando pelo normal funcionamento de todos os setores da empresa N o mais poss vel manter duas equipes de empregados uma a grande maioria trabalhando com sacrif cio para ajudar a vencer a crise que a empresa vem enfrentando e outra uma minoria integrada tamb m por estranhos e conhecidos ativistas e agitadores afastada do trabalho e tumultuando o esfor o dos demais Como n o h condi es de manter os dois grupos de empregados e tal como lhe permite a legisla o do trabalho em vigor a Empresa Jornal stica Caldas J nior deliberou demitir por justa causa todos os que se afastaram do trabalho desde a semana anterior e partiram para o improp rio o desrespeito e a viol ncia A partir de agor
434. tos como a valoriza o do status da profiss o da necessidade de qualifica o do trabalho a capacidade de sobreviver a um cotidiano extremamente insalubre e a especializa o do saber t cnico Imbu dos de uma vigorosa identidade de grupo os gr ficos eram suscet veis a uma administra o paternalista que buscava entre outras formas de controle social refor ar a concorr ncia entre eles e os jornalistas oriunda da separa o das profiss es no in cio do s culo XX O orgulho do of cio gr fico bem como as condi es objetivas de seu exerc cio sofreram um violento abalo a partir da experi ncia da reestrutura o produtiva em fins dos anos 70 A introdu o da fotocomposi o acabou com fun es tradicionais como a do linotipista e modificou profundamente outras favorecendo a dispensa de funcion rios pelas empresas Paulatinamente o gr fico passou de oper rio especializado a trabalhador desqualificado e tarefas antes desempenhadas por ele se tornaram atribui o de outras categorias Sem qualquer tipo de intermedia o sindical ou de mesmo governamental que amortecesse o impacto dessas mudan as no seu cotidiano os gr ficos da Caldas J nior viviam no in cio dos anos 80 um momento extremamente dif cil de transforma o de sua identidade de classe conjugada desespecializa o e amea a de desemprego Tal situa o paradoxalmente favoreceu sua uni o com os jornalistas enfraquecendo a
435. tou vendendo esta fazenda com o dobro de f e de confian a 20 Acordo entre Breno Caldas e Banrisul nos seguintes termos pagamento no ato de Cr 12 bilh es por meio de cheque de Renato Bastos Ribeiro endossado por Caldas e obriga o de alienar terras em Gua ba para o banco 1985 Janeiro 11 Justi a do Trabalho leiloa pr dio da Caldas J nior localizado na Avenida Get lio Vargas avaliado em CR 3 bilh es O im vel arrematado pela Caixa Econ mica Federal por CR 2 bilh es A institui o pretende abater o valor do im vel de parte da d vida da Caldas J nior com a pr pria CEF Fevereiro 22 O advogado Heron Ara jo representante de parte dos trabalhadores da Caldas J nior envia of cio para a Justi a do Trabalho qualificando a CEF de maliciosa inger ncia e afirmando que a EJCJ vem procedendo de forma a fraudar o leil o bem como se opondo maliciosamente realiza o do leil o empregando ardis e meios artificiosos Pede a pris o de Breno Caldas deposit rio fiel e a n o homologa o do leil o A ju za Magda Biavaschi decide que a Caldas J nior deve ser oficialmente advertida em audi ncia e ordena a presen a de Breno Caldas na ocasi o Abril 2 Audi ncia na Justi a do Trabalho realizada sem a presen a de Breno Caldas Requeridas presta es de informa es escritas empresa 15 Trabalhadores da Caldas J nior fazem reuni o na Assembl ia Legislativa para d
436. tras Eram Cr 13 bilh es junto ao Banco do Brasil e Cr 12 bilh es junto ao Banrisul Os d bitos foram pagos por meio da renda obtida com a venda de terras no munic pio de Viam o de propriedade da fam lia Caldas ao empres rio Renato Bastos Ribeiro que em 1986 adquiriria tamb m a Caldas J nior Outro documento origin rio da Caixa Econ mica Federal avalia em Cr 9 85 bilh es os d bitos n o saldados da empresa com esta institui o financeira em fins de 126 5 fevereiro de 1985 Para se ter uma id ia do que significavam estes valores lembro que CR 10 bilh es foi o montante gasto durante todo o ano de 1984 pela Secretaria Hora foi fortemente influenciada pelos dividendos de prest gio e imagem advindos da opera o da ent o TV Ga cha afiliada regional da Rede Globo conforme R DIGER F Op cit p 108 111 125 ANACRONISMO gerencial E a Caldas J nior faliu Meio amp Mensagem S o Paulo agosto de 1984 1 quinzena Ano IV n 134 p 15 BFabico 12 Escritura de da o em pagamento n 551 48 11 de janeiro de 1985 anexada apela o c vel 184057396 Tamb m Demonstrativo de C lculos do Empr stimo Concedido Companhia Jornal stica Caldas J nior com posi o em 28 de fevereiro de 1985 produzido pela assessoria cont bil de aplica o e financiamento da Caixa Econ mica Federal a pedido da Justi a do Trabalho Os documentos constam do processo 2075 78 84 volume 4 p 998 p 873
437. trat gias de mobiliza o e da pr pria constitui o do trabalhador brasileiro como classe conforme j ressaltado por Paoli e French No dia seguinte ao julgamento favor vel do TRT o ltimo boletim de greve da Caldas J nior que circulou quando os trabalhadores paralisados j voltavam ao trabalho noticiava N s sempre soubemos que a greve era justa porque tinha como objetivo o recebimento de sal rios atrasados A decis o da Justi a no entanto tornou o movimento mais do que justo legal E contra isso nem a reiterada intransig ncia do sr Breno Alcaraz Caldas poder fugir E ele vai ter que nos aceitar de volta e pagar os nossos sal rios em dia coisa que ali s nunca deveria ter deixado de fazer Essa pequena cita o afirma claramente uma distin o entre o justo e o legal evidenciando a compreens o pelos grevistas de que tais no es faziam parte de esferas diferentes Como a an lise da documenta o escrita e dos depoimentos mostrou trata se de uma vis o pragm tica da lei encarada como arma capaz de garantir benef cios concretos aos trabalhadores contra o poder e o arb trio do patronato Por paradoxal que seja lutar pelo cumprimento da legisla o controladora por m protecionista n o significou no caso da greve aqui examinada a submiss o total a seus preceitos mas uma estrat gia de sobreviv ncia e de luta na busca da preserva o da dignidade em uma sociedade extremamente autorit ria e excludente
438. tre 1971 e 1973 e presidente do sindicato entre 1974 e 1976 al m de vice presidente da Federa o Nacional dos Jornalistas Fenaj entre 1980 e 1983 Entrou na Caldas J nior em 1968 na Folha da Manh Durante a greve era editor de pol tica da Folha da Tarde Posteriormente foi editor de pol tica de O Estado do Rio Grande se transferindo em seguida para Zero Hora em 1985 Aposentou se em 1997 Para um perfil jornal stico de Jo o Souza ver a reportagem Curr culo de ouro no site Coletiva Net Dispon vel em http www coletiva net perfilDetalhe php idPerfil 199 Acesso em 25 03 07 gt Evolu o do epis dio Caldas J nior manuscrito de Jo o Borges de Souza APJBS GALVANI W Um s culo p 557 O Correio do Povo voltou a circular em agosto de 1986 A Folha da Tarde n o retornou s bancas Atualmente seu nome batiza o suplemento cultural do Correio aos s bados 53 Neste nterim a maioria dos funcion rios interp s a es judiciais para receber seus vencimentos e direitos trabalhistas Segundo a Revista Sul em maio de 1985 havia mais de duas mil a es trabalhistas contra a Caldas J nior totalizando um d bito superior a Cr 15 bilh es somente com os funcion rios Entre os jornalistas a cis o entre grevistas e n o grevistas permaneceu intensa muito tempo depois gerando discuss es acaloradas como em uma reuni o ocorrida no dia 15 de maio de 1985 no plen rio da Assembl ia Legislativa O encontro foi c
439. tronal de fomentar a concorr ncia entre trabalhadores de dois of cios diferentes como estrat gia para enfraquecer o trabalho frente ao capital dividir para reinar Na poca os gr ficos numerosos controlavam um setor chave para a empresa ou tomando emprestadas as palavras de um dos depoentes o cora o do jornal Se decidissem cruzar os bra os provavelmente impediriam a produ o do peri dico A paralisa o das oficinas era um risco constante para os propriet rios de jornais at porque pela especializa o dos funcion rios n o conseguiriam rep los na velocidade necess ria para garantir a rodagem Esse calcanhar de aquiles dos donos de jornais era claro para o ent o l der sindical ascendente Lu s In cio da Silva o Lula Em 1978 durante palestra dada a jornalistas de S o Paulo que articulavam uma greve da categoria Lula dirigiu se ao presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de S o Paulo David de Moraes e afirmou Eu disse ao David acho que o trabalho mais importante para voc a gr fica n o os jornalistas E acrescentou categ rico Sem eles os gr ficos os jornalistas 2 correm o risco de parar sem nenhum menosprezo aos jornalistas e capaz de os empregadores nem perceberem que os jornalistas est o parados A profecia realizou se no ano seguinte constituindo se num exemplo flagrante do escasso poder de barganha dos jornalistas Em maio de 1979 os jornalistas pa
440. u muito desagrado ao lembrar se da paralisa o Eu sempre fui muito cuidadoso jamais eu gostei de precipita o e reafirmou muitas vezes que Adair saberia dar todas as informa es sobre a mobiliza o Mas ao falar sobre a participa o do sindicato Adair d a chave para entender o papel de sua categoria na greve os gr ficos colaboraram em termos de material de papel que se conseguiu junto s gr ficas impress o a pre o meio simb lico Na realidade quem tomou a frente do movimento foram os jornalistas Tu sabes que nada quer dizer que esta quest o de ser mais importante menos importante mas a greve o ponto chave da greve era os gr ficos Porque jornalistas eles n o precisavam eles pegam l uma pessoa Ou fazem aquilo como chama copidesque come a a recortar aqui colar ali uma c pia n J para 2 trabalhar complicado Para entregar tamb m Bom n o tem um carro pda mn aluga um t xi manda levar o jornal l Como recorda Adair a ades o dos gr ficos tinha uma import ncia estrat gica para o sucesso do movimento A greve de 1979 em S o Paulo j mostrara que n o havia como parar qualquer jornal sem o apoio dos gr ficos Pragm ticos os articuladores do movimento na Caldas J nior em sua maioria jornalistas procuraram conquistar o apoio dos gr ficos com o aux lio de alguns deles A import ncia de Adair a parece ser central linotipista com uma certa ascen
441. u o cargo de delegado regional do trabalho no estado indicado pelas entidades sindicais de trabalhadores governo Itamar Franco Foi tamb m fundador e presidente da Agetra e presidente do Sindicato dos Advogados do Rio Grande do Sul Durante a Assembl ia Nacional Constituinte de 1988 trabalhou como assessor t cnico do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar Diap 47 TRT atende ao pedido de intermedia o Boletim da Comiss o de Mobiliza o da Caldas J nior Porto Alegre 22 de dezembro de 1983 ASJPRGS 38 A proposta previa al m do fim da greve pagamento dos sal rios atrasados de outubro e novembro at 31 de dezembro e dos sal rios de dezembro e o 13 sal rio at 15 de janeiro sob pena do pagamento em dobro destes sal rios e retomada do movimento grevista bem como a possibilidade de dispensa de funcion rios envolvidos em atos de viol ncia por justa causa Atas de audi ncia do processo TRT 9 217 83 c pias anexas ao RELAT RIO preliminar Op cit APJBS 4 JUSTI A garante a greve no Sul O Estado de S o Paulo S o Paulo 28 de dezembro de 1983 sem indica o de p gina ASJPRGS 179 processo impetrado ainda antes da paralisa o por um grupo de funcion rios da Caldas a ju za Magda Biavaschi ent o titular da 5 Junta de Concilia o e Julgamento de Porto Alegre determinou liminarmente provisoriamente tr s medidas muito favor veis aos trabalhadores todas no dia 27 de dezembro Em pr
442. uanto a Caldas J nior pedia a ilegalidade da greve baseada no argumento que os requisitos da lei 4 330 n o haviam sido cumpridos os trabalhadores defendiam a anula o da contrata o de novos funcion rios para substituir os grevistas Seis dias depois a Caldas J nior anunciou que apresentaria um plano para o pagamento dos sal rios atrasados A proposta feita em nova reuni o no TRT no dia 18 foi recha ada com veem ncia pelos trabalhadores Sem acerto Pereira Leite encaminhou o processo para julgamento pelo TRT Como era o rito de um processo de diss dio coletivo como o da greve da Caldas J nior na Justi a do Trabalho da poca Depois das reuni es de concilia o comandadas pelo presidente do TRT se n o houvesse acordo a defesa os representantes da empresa entregavam os documentos que sustentavam seus argumentos contr rios s reivindica es e o processo era remetido para o Minist rio P blico do Trabalho o promotor que emitia seu parecer e para um juiz relator incumbido de propor uma decis o Em seguida passava se para o julgamento onde o processo seria examinado pelos ju zes togados e classistas representantes dos pis 5446 trabalhadores e dos empres rios somente pela ju za e n o pelos tr s em conjunto os advogados da Caldas J nior questionaram o procedimento A representa o classista foi institu da pelo decreto 1 237 de 1939 assinado por Get lio Vargas que institu a a Justi a do Tr
443. uardar uma cial da Assembl i lativa que independen Qualquer que resultado da aprecia nome que indiquei na pri meira mensagem eu acata rei pois respeito o Poder ti Na ovini o somente dessa forma n s poderemos construir uma democracia como todes almejamos O Governador teve ontem mais um dia de atividade intensa nesta primeira se mana no Pal cio Piratini mantendo o hor rio de in cio do expediente para as 7 horas Al m das audi n cias com deputados secre t rios de Estado e com o prefeito Villela Jair Soa res visitou os comandos do II Ex rcito e do V Comar tendo passeado sozinho pe la rua da Praia ap s visi ta ao Correio do Povo P g 8 contracapa saibas ai esteve no Correio cumprimentando o jornalista Breno Caldas re Figura 5 Tr s dias depois de tomar posse como governador Jair Soares vai at a Caldas J nior para cumprimentar Breno Caldas A foto publicada com destaque na capa do Correio do Povo no dia seguinte Correio do Povo Porto Alegre 19 03 83 p 1 capa 132 2 A fila de vales O quadro pintado nas p ginas anteriores sobre as rela es de trabalho na Caldas J nior n o deve levar a supor uma rela o de perfeita harmonia Os conflitos potenciais ou manifestos estavam presentes na sua configura o expressos por exemplo nas tentativas dos empregados de desautorizar as chefias nos desequil brios da folha de
444. ubstituiriam cada uma o trabalho de dez ou doze tip grafos foi preciso mandar vir linotipistas do Rio de Janeiro pois em Porto Alegre ningu m saberia oper las conforme Galvani Pela sua especializa o rapidamente os linotipistas tomariam o lugar dos compositores manuais como uma nova elite da classe Nos anos 50 o movimento sindical dos gr ficos porto alegrenses teve um momento de bastante visibilidade social sob o comando de lideran as comunistas quando foram realizadas v rias greves como a de 1953 que paralisou o parque gr fico de Porto Alegre por 29 dias O l der desta paralisa o foi o linotipista Gabriel Quintana presidente do sindicato dos gr ficos por dois mandatos 1952 1954 e 1954 1956 e integrante ativo das mobiliza es da Frente Intersindical FIS tamb m dirigida pelos comunistas Em 1956 ocorreu no Rio de Janeiro o 1 Congresso Nacional dos Trabalhadores nas Ind strias Gr ficas As principais bandeiras empunhadas na ocasi o pelos 18 Entre 1893 e 1968 a empresa americana Lynotipe vendeu 74 mil m quinas em todo o mundo Sua concorrente a Intertype vendeu 38 mil at 1968 In COCKBURN C Op cit p 27 19 GALVANI W Um s culo de p 155 A greve citada com destaque na publica o comemorativa aos 73 anos do sindicato dos gr ficos CHAGAS E e NABARRO E Op cit p 36 37 Em um levantamento sociol gico das greves no per odo 1945 1979 foram encontradas outras tr s paralisa
445. ue precisa ser levada em conta em rela o hist ria do presente o envolvimento do pesquisador com o seu tempo e com o objeto investigado Aqui ele tamb m testemunha mesmo que n o o seja dos acontecimentos que estuda ou at do contexto no qual eles se inserem mas pelo menos do clima da poca Se por um lado isto diminui o distanciamento fator indispens vel constru o do conhecimento hist rico por outro torna mais f cil a percep o da diferen a entre o contexto de ontem e o de hoje como observa Hobsbawm Estudante secund ria n o participei das greves do novo sindicalismo Mas minha gera o foi batizada politicamente pela grande mobiliza o social da poca pela campanha das Diretas j pela luta para sair de uma ditadura militar que parecia RIOUX Jean Pierre Entre Hist ria e Jornalismo In CHAUVEAU Agn s e T TART Philippe org Quest es para a hist ria do presente Bauru SP Edusc 1999 p 125 5 Essa de resto uma caracter stica do conhecimento hist rico em geral como lembra Marc Bloch O passado por defini o um dado que nada mais modificar Mas o conhecimento do passado uma coisa em progresso que incessantemente se transforma e aperfei oa In BLOCH Marc Apologia da hist ria ou o of cio do historiador Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 p 75 No entanto esta muta o constante nos significados atribu dos ao passado se acentua na hist ria do presente
446. ulas sobre automa o em suas pautas de negocia o salarial Em 1986 um grupo de metal rgicos paulistas ligado CUT tentava negociar com os patr es uma cl usula de controle do processo de automa o que previa garantia de emprego e sal rio reciclagem dos trabalhadores atingidos e distribui o dos ganhos relativos produtividade entre todos os oper rios da empresa x Mais do que uma simples transforma o tecnol gica a reestrutura o produtiva compreende tamb m uma atualiza o das estrat gias de domina o patronal sobre os trabalhadores Taylorismo e fordismo tamb m o foram ao decompor as tarefas oper rias cronometrar tempos e movimentos introduzir nas f bricas m quinas capazes 28 Anfavea Anu rio estat stico apud PIRES Elson Luciano Silva Crise econ mica reestrutura o produtiva e emprego transforma es nas montadoras da ind stria automobil stica no Brasil In CARLEIAL Liana e VALLE Rog rio orgs Reestrutura o produtiva e mercado de trabalho no Brasil S o Paulo Hucitec 1997 p 382 28 ALVES Giovanni Nova ofensiva do capital crise do sindicalismo e as perspectivas do trabalho o Brasil nos anos noventa In TEIXEIRA Francisco J S e OLIVEIRA Manfredo A de orgs Neoliberalismo e reestrutura o produtiva as novas determina es S o Paulo Fortaleza Cortez Universidade Estadual do Cear 1998 p 117 119 Grifo do autor 29 SALLES Telma Bessa Trabalho e reestr
447. ulistas paralisaram suas atividades durante seis dias reivindicando 25 de aumento salarial e imunidade para os representantes sindicais nas reda es A greve teve ampla ades o nas reda es de S o Paulo atingindo cerca de 90 dos 6 mil integrantes da categoria Mas n o foi suficiente o Sindicato dos Trabalhadores das Ind strias Gr ficas de S o Paulo n o apoiou o movimento e os jornais continuaram a serem impressos publicados e vendidos Segundo reportagem publicada no jornal da Cooperativa de Jornalistas do Rio Grande do Sul Coojornal com apenas 10 de jornalistas n o grevistas auxiliados por alguns trazidos s pressas de sucursais mais o refor o de notici rio enviado pelo telex por jornais do Rio de Bras lia e de Porto Alegre as empresas conseguiram manter seus ve culos em circula o 2 Os jornais chegaram a informar sobre a pr pria greve num curioso paradoxo O movimento acabou com 230 demiss es sendo quatro pessoas 231 Unidade jornal do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de S o Paulo S o Paulo n 33 junho julho de 1978 p 9 apud SILVA M A R Op cit p 177 178 22 Coojornal Porto Alegre n 42 junho de 1979 p 12 Para uma an lise e cronologia completa do movimento ver SILVA M A R Op cit 96 da dire o do sindicato dos jornalistas e sem nenhum ganho salarial tendo sido julgado ilegal pelo Tribunal Regional do Trabalho daquele estado Quem n o foi demitido teve os dias parad
448. um lugar de afirma o do servilismo e se transforma em local de desafio Expor publicamente a explora o que se d sob o dom nio privado destituir de legitimidade a autoridade patronal ainda mais de um patr o que alicer ava seu poder na publiciza o das rela es pessoais Vista sob essa perspectiva a fila na rua se constitui assim num contrateatro dos dominados no qual estava em jogo al m do pr prio pagamento de sal rios um jogo c nico de resist ncia destinado tamb m ao p blico externo 3 A destitui o da autoridade Al m da fila de vales a legitimidade da domina o patronal tamb m passa a ser questionada paralelamente nos encontros que uniam representantes dos empregados a maioria ligada aos sindicatos dos jornalistas em maior n mero e da dire o da empresa A reuni o inicial ocorreu no dia 11 de abril diante da demora do pagamento da folha de mar o e nela os trabalhadores se ofereceram para elaborar sugest es no sentido de melhorar o produto final e aumentar o faturamento Reportagem publicada em um jornal alternativo ap s a primeira reuni o afirma que os funcion rios entraram em p nico com a amea a feita pelo empres rio Breno Caldas de fechar a Folha da Tarde para tapar o rombo financeiro da Caldas J nior Al m disso Caldas n o soube dizer quando colocaria os vencimentos em dia previu novos atrasos e pediu a compreens o dos empregados As propostas de mudan as administrati
449. um movimento grevista como ponte de acesso s reflex es comportamentos e estrat gias dos personagens do per odo 182 PERROT M Jeunesse p 322 183 SIROT St phane La gr ve en France Une histoire sociale XIX XX si cle Paris Odile Jacob 2002 p 13 184 Idem ibidem p 14 80 no qual se desenrola demandando do pesquisador um esfor o de decifra o que permite entrever a n o s os grevistas mas igualmente o patronato e o Estado A vertente interpretativa proposta por Perrot e Sirot que toma as greves como portadoras de significados sociais remete n o s s formas de recep o e transforma o simb lica por parte dos trabalhadores das mudan as nos processos de produ o e nos modos de domina o como tamb m ao contexto pol tico mais amplo do movimento sindical e da estrutura jur dica O fen meno grevista deflagrado a partir do final dos anos 70 no Brasil pode ser enfocado a partir dessa perspectiva Neste primeiro cap tulo procurei estabelecer e aprofundar os problemas de pesquisa a partir inicialmente de uma aproxima o factual do objeto A narrativa cronol gica e sint tica bem como a an lise da trajet ria e das configura es espec ficas da empresa onde ocorreu a greve culminaram numa reflex o sobre a id ia de inevitabilidade da paralisa o levantada pelas testemunhas e sobre as pr prias possibilidades de abordagem e de problematiza o do movimento Neste percurso surgiram c
450. ur dica com sua reflex o sobre o Estado de Direito Ao analisar a no o de dom nio da lei na obra Senhores e Ca adores o autor brit nico sustenta que para ser vista como leg tima a legisla o instrumento da hegemonia de uma classe precisa manter referenciais nem que sejam m nimos de justi a e igualdade Se a lei manifestamente parcial e injusta n o vai mascarar nada legitimar nada contribuir em nada para a hegemonia de classe alguma afirma o historiador A quest o por m n o apenas a lei como constru o formal mas a sua aplica o Neste sentido French defende que os trabalhadores brasileiros afogados em leis desde o Estado Novo subverteram os limites legais impostos na pr tica da luta Sobre a pol tica de domina o na Renner e na Varig ver FORTES Alexandre N s do Quarto Distrito A classe trabalhadora porto alegrense e a era Vargas Caxias do Sul Rio de Janeiro Educs Garamond Cole o ANPUH RS 2004 especialmente o cap tulo 5 4 SANTANA M A Op cit p 135 MATTOS M B Novos e velhos p 220 4 THOMPSON E P Senhores e ca adores a origem da lei negra Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 p 354 29 visando a efetiva o dos direitos previstos nos c digos Em vez de come ar pelo Estado ou pelas leis devemos examin los do ponto de vista da vida e das lutas dos 44 observa trabalhadores e dos empregadores no local de produ o Tendo
451. ura o significou a mudan a profunda do modelo produtivo por volta dos anos 80 caracterizada pela desqualifica o e enfraquecimento de categorias inteiras de trabalhadores Em depoimento a outra pesquisa o jornalista M rio Marona interpreta a elei o do enorme sal o de trabalho dos gr ficos para as reuni es como indicativa de uma estrat gia de aproxima o entre as categorias envolvidas no movimento Inteligentemente os jornalistas aproximaram se dos gr ficos mantendo intenso e respeitoso di logo At mesmo as assembl ias eram feitas dentro da gr fica como forma de ressaltar a import ncia que davam a eles Na assembl ia decisiva s ficou claro que a greve aconteceria e poderia ser bem sucedida quando um dos l deres gr ficos um senhor alto e corpulento vestido com um macac o azul marinho e um avental verde escuro todo manchado de graxa defendeu a paralisa o O que parece em jogo a apropria o da imagem do trabalhador bra al manchado de graxa pelos jornalistas A partir disso indaga se a realiza o das assembl ias na oficina de chumbo refor ou esta identifica o Al m disso at que ponto uma eventual insatisfa o dos gr ficos com a perda do controle sobre o processo de trabalho favoreceu seu envolvimento na mobiliza o grevista Por outro lado a greve tamb m marca uma cis o flagrante na rela o de domina o estabelecida na empresa centralizada na figura do empres rio Breno
452. uramento di rio da empresa considerando isso intromiss o ind bita no poder de comando empresarial 234 13 Mobiliza es e viol ncia nos piquetes de madrugada e durante o dia Folha da Tarde n o circula Nota na capa do Correio do Povo pede desculpas por falhas na edi o e propor es reduzidas do peri dico 14 Na capa do Correio do Povo texto em uma coluna diz Suspensa greve de gr ficos sobre movimento trabalhista na Inglaterra 15 Folha da Tarde e Correio do Povo trazem reportagens sobre viol ncia em piquetes Na mesma edi o do Correio do Povo p gina 4 publicado editorial enaltecendo o golpe militar e a necessidade de ordem social Nota oficial do Sindicato dos Jornalistas contesta viol ncia 16 Distribui o de ranchos e vales a grevistas pelas comiss es de greve 19 Show de solidariedade aos grevistas no Audit rio Ara jo Vianna Cria o do fundo de paralisa o Publica o do Jornal Den ncia edi o especial sobre a greve produzido pelos grevistas para venda em bancas Central nica dos Trabalhadores CUT e Coordena o Nacional da Classe Trabalhadora Conclat emitem nota conjunta de solidariedade ao movimento grevista Realizadas reuni es em busca de apoio com os governadores ga cho Jair Soares e do Rio de Janeiro Leonel Brizola 20 Publicada nota Porque ficamos na capa do Correio do Povo assinada por Ant nio Carlos Ribeiro secret rio de reda o
453. uros ou corre o Al m disso a proposta prev a 236 perman ncia da demiss o dos grevistas Proposta rejeitada em assembl ia e h manifesta es de rep dio noite em frente empresa 19 Recusa comunicada em audi ncia no TRT Empresa informa Justi a que ocorreram incidentes que agravaram o relacionamento entre as partes Representantes dos trabalhadores impugnam as acusa es de viol ncia alegando que os fatos foram fabricados unilateralmente e em nada demonstram ter havido a participa o dos grevistas 20 Reportagem Minoria grevista volta a apelar para a viol ncia publicada nas capas da Folha da Tarde e do Correio do Povo O texto diz que na noite do dia 18 em movimento de for a e empregando artefatos de guerrilha urbana os grevistas furaram os pneus de caminh es da empresa quando do in cio do movimento para a entrega dos jornais Fechaduras foram obstru das assim como tentaram impedir a entrada no pr dio daqueles que vinham para trabalhar 22 Nota na capa do Correio do Povo informa que a Secretaria da Seguran a P blica determinou abertura de inqu rito para apurar os fatos denunciados pela Empresa Jornal stica Caldas J nior como delitos de danos ao patrim nio les es corporais e amea as 23 Nova audi ncia do TRT sem acordo Representantes dos trabalhadores negam ter pedido a dispensa dos funcion rios contratados durante a greve Caldas J nior af
454. utura o produtiva o caso da Volkswagen em S o Bernardo do Campo S o Paulo Annablume Fapesp 2002 p 17 2 AS REIVINDICA ES e conquistas nas negocia es sobre automa o boletim fevereiro 86 In Trabalho e reestrutura o produtiva 10 anos de Linha de Produ o S o Paulo Dieese 1994 p 40 doi Idem ibidem 102 de impor ritmos cada vez mais r pidos Ao assimilarem parcialmente esta domina o os trabalhadores constru ram suas possibilidades de resist ncia baseadas na valoriza o das compet ncias profissionais no saber oper rio na qualifica o e na tica do trabalho caracter sticas encontradas em muitas categorias profissionais e tamb m entre os gr ficos Alavancada pelas inova es tecnol gicas a reestrutura o produtiva imp s se igualmente pela necessidade de uma resposta patronal possibilidade de organiza o dos trabalhadores Neste sentido importante entender que a fotocomposi o tamb m representava uma diminui o do controle do processo de produ o pelos oper rios e de sua autoridade sobre as t cnicas espec ficas que regiam o trabalho al m de uma redu o do risco de paralisa o das ind strias por movimentos de trabalhadores A partir da floresceu um novo modelo produtivo que implica uma submiss o da subjetividade oper ria ao patronato atrav s de uma l gica manipuladora de cria o de um consenso aparente imposto em parte pelo desemprego estrutural A bat
455. uxiliam na compreens o e contextualiza o dos documentos elencados no item 3 e obras sobre a Caldas J nior em especial dois livros escritos pelo jornalista Walter Galvani Galvani ocupava o mais alto cargo da reda o da Folha da Tarde na poca da greve diretor de reda o e o seu posicionamento enfaticamente contr rio ao movimento ajuda a entrever a argumenta o esgrimida pela via patronal Em rela o ao item 1 a maior parte dos documentos foi elaborada durante a greve apresentando portanto as inquieta es e embates no fragor do enfrentamento Al m dos boletins folhetos e um jornal sobre o movimento produzido para ser vendido em bancas destaco um relat rio de 23 p ginas e 27 anexos com documentos que englobam c pias de atas de assembl ias e de audi ncias na Justi a do Trabalho recortes de jornal 10 of cios enviados Delegacia Regional do Trabalho informando a respeito do atraso de sal rios entre outros Todo esse material com exce o do relat rio foi encontrado no arquivo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul Um n mero menor de documentos foi localizado no Sindicato dos Trabalhadores nas Ind strias Gr ficas de Porto Alegre N o foi encontrada documenta o relativa ao epis dio no Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodovi rio no Rio Grande do Sul Se isso refor a a indica o de protagonismo dos jornalistas no movimento relatado em depoimentos e em outras fontes
456. uxiliar a compreens o do leitor mas tamb m no sentido de evidenciar um entendimento poss vel da greve como uma s rie de eventos dotados de conex es capazes de torn los um conjunto integral MCSHJC nem no arquivo de jornais da pr pria Caldas J nior que informou dispor da cole o completa do peri dico Segundo os pr prios funcion rios do arquivo de jornais da Caldas a edi o da Folha realmente n o circulou no dia 13 de dezembro de 1983 Conforme informa es colhidas por Brites o Correio do Povo foi produzido por apenas 12 dos 70 jornalistas e 5 dos 40 digitadores que haviam substitu do os linotipistas na fotocomposi o BRITES V Op cit Nota Correio do Povo Porto Alegre 13 de dezembro de 1983 p 1 ASJPRGS 46 A paralisa o na Caldas J nior teve in cio na noite de segunda feira 12 de dezembro de 1983 Das 19h s 21h uma assembl ia lotou a oficina de chumbo um sal o de mais de cem metros quadrados no segundo andar do pr dio que passaria no dia seguinte a ser cercado pela pol cia militar Fazia cinco meses que a oficina de chumbo havia deixado de ser o ponto nevr lgico da empresa A mudan a no sistema gr fico com a passagem do processo de composi o a quente para a fotocomposi o provocou a demiss o a aposentadoria e a recoloca o em outros setores da maioria dos oper rios que antes trabalhavam no sal o entre eles boa parte dos linotipistas operadores das m quinas linotipos uma cama
457. va atuando na oficina de chumbo e integrava as primeiras comiss es que buscaram um entendimento com a dire o da empresa a respeito dos atrasos salariais antes da paralisa o Sobre a demiss o ele relembra Eu recebi meu telegrama na v spera de Natal Estava demitido Por justa causa claro Tudo bem Claro a gente fica meio assim mas eu sabia que por esta quest o do sindicato n o haveria como sofrer maiores perdas E at proibiram a entrada da gente na empresa Que neste meio tempo ainda entrava na empresa Ia l fazia alguma coisa Proibiram a minha entrada Por este depoimento pode se perceber a import ncia na iniciativa privada da imunidade sindical ou seja a impossibilidade legal da empresa demitir um profissional como Ant nio Adair justamente pelo mesmo integrar a diretoria de seu sindicato A demiss o ou a amea a dela era a maior forma de press o em rela o aos funcion rios como j ficou flagrante na pr pria iniciativa da Caldas J nior de alardear publicamente o desligamento dos grevistas por justa causa Seguiu se uma batalha judicial com amplas vit rias por parte dos trabalhadores Em 28 de dezembro uma ju za do Tribunal Regional do Trabalho TRT da 4 Regi o deferiu medida cautelar de arresto determinando que todo o produto das vendas avulsas do Correio do Povo e da Folha da Tarde bem como o valor das assinaturas e ESCLARECIMENTO ao p blico Correio do Povo Porto Alegre 21 de dezembr
458. vas foram rejeitadas A id ia de interferir no comando da Caldas J nior n o era apenas um anseio vago e mal articulado Segundo Manoel Loir Gon alves ent o vice presidente do sindicato dos jornalistas e fot grafo da Caldas J nior a entidade de classe chegou a constituir uma comiss o para estudar a co gest o da empresa sob inspira o da experi ncia dos trabalhadores das ind strias Wallig 335 AVISO AOS navegantes de Breno Caldas A Folha pode fechar Den ncia Porto Alegre n 20 abril de 1983 p 2 APCE 339 Idem ibidem 337 N O queremos afundar Caldas J nior Urgente 2 Porto Alegre s data ASJPRGS 38 GON ALVES M L Op cit 339 O grupo Wallig tradicional fabricante de fog es de Porto Alegre teve sua fal ncia decretada em 1981 A partir daquele ano os trabalhadores da ind stria fizeram uma intensa mobiliza o at que em 1984 conseguiram formar duas cooperativas uma de fundi o e outra mec nica alugando as instala es da 136 Uma das propostas era que os funcion rios dividissem o comando administrativo da Caldas J nior com a fam lia Caldas participando como acionistas a partir da incorpora o de seus cr ditos trabalhistas Diante das reiteradas negativas de Caldas em sucessivas reuni es por m a id ia da co gest o foi abandonada parte a distin o entre a constitui o de cooperativas como a dos empregados da Wallig e o processo de co gest o a disposi o
459. vo ent o com 93 mil assinaturas como o l der do ranking em rentabilidade entre os di rios nacionais 119 ocupando a sexta posi o em lucro l quido Em junho de 1976 o balan o da empresa 15 HERAN A posta fora Den ncia Porto Alegre dezembro de 1983 n 27 p 5 APCE 116 GALVANI W Olha a Folha p 136 137 7 O Di rio de Not cias suspendeu sua circula o durante um ano voltando com a compra pelos Di rios Associados do jornal A Hora Apesar da renova o gr fica que marcou sua trajet ria A Hora n o conseguiu repetir o sucesso do Di rio de Not cias tendo deixado de circular em 1961 O Di rio de Not cias voltou com uma linha mais conservadora foi gradualmente perdendo contato com o novo p blico leitor entrando em profunda decad ncia no final da d cada de 1960 Conforme RUDIGER F Op cit p 86 87 102 103 trecho citado na p gina 103 Sobre a ltima Hora ver BARROS Jefferson Golpe mata jornal Porto Alegre J Editores 1999 18 CALDAS B Op cit p 12 e O CENTAURO das rotativas Revista Imprensa setembro 1989 n 25 p 38 39 BFabico 1 CALDAS B ibidem p 8 59 apontava resultados bastante favor veis um aumento de 44 na receita de Cr 108 milh es para Cr 156 milh es e de 62 no lucro de Cr 5 800 mil para Cr 9 400 mil resultado atribu do a um programa de conten o At 1980 a Caldas J nior publicava o Correio do Povo a Folha da Tarde e a Folha

A greve da oficina de chumbo - Tribunal Regional do Trabalho da 4ª

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