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GRAÇA COTA - Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação

1. Do ponto de vista dos setores mais tradicionais da sociedade brasileira o Estado Nacional formado por uma nica na o a brasileira Assim sendo o reconhecimento da exist ncia de diferentes na es ind genas dentro do Estado brasileiro poderia colocar em risco a integridade de nossa soberania e territ rio uma vez que abriria precedentes para a separa o dessas na es com seus respectivos territ rios do restante do Pa s Essas conjecturas que povoam os discursos e a imagina o principalmente das For as Armadas n o parecem razo veis se levarmos em considera o o tamanho das popula es de cada um dos grupos ind genas existentes no Pa s Na realidade o que existe por tr s desses discursos s o interesses econ micos das mineradoras fazendeiros e outros como veremos no item 3 3 deste Cap tulo Segundo a Conven o n 169 os Estados dever o reconhecer os direitos de propriedade e posse dos povos em quest o sobre as terras que tradicionalmente ocupam assim como os direitos sobre os recursos naturais existentes em suas terras Os povos ind genas n o dever o ser removidos das terras ou territ rios que ocupam 110 A Conven o n 169 assegura a participa o dos povos ind genas na elabora o dos programas educacionais que respondam s suas necessidades particulares Os curr culos dever o incorporar suas hist rias seus conhecimentos e t cnicas seus sistemas de valores e suas aspira es
2. educa o nacional Ladeira 2006 Baniwa 2006 Kahn e Azevedo 2004 postulam que no Brasil em termos de EEI vem acontecendo uma mera adapta o dos programas da educa o nacional para as escolas ind genas As escolas nas aldeias t m sido com raras exce es r plicas das escolas das cidades a mesma proposta de curr culos de crit rios de avalia o carga hor ria estrutura de funcionamento calend rio Contudo apresentam um agravante que o da precariedade das condi es materiais dessas escolas que vai desde as p ssimas condi es f sicas dos pr dios escolares at a falta de material did tico merenda entre outras car ncias Um desses exemplos a implanta o do calend rio escolar nas escolas das aldeias que muito mais complexa do que pode parecer primeira vista Educadores governamentais pensam que apenas uma quest o de adapta o de fazer alguns ajustes entre o calend rio escolar tradicional das escolas das cidades e a situa o da vida das aldeias tempo de ro a de festas etc ilustrando os com desenhos ind genas criando na l ngua ind gena nomes para os meses dias da semana etc Sob a m scara do respeito diversidade cultural se impinge aos povos ind genas uma nova representa o do tempo A quest o vai ainda mais al m que o objetivo do calend rio o controle social do Estado sobre o andamento das atividades dos professores alunos O problema quem deve exer
3. es e compet ncias aos rg os do Poder P bico no que concerne 148 a prote o das pessoas e do patrim nio material e imaterial dos ndios e comunidades ind genas A reformula o do Estatuto do ndio faz se necess ria uma vez que pol ticas do Estado brasileiro referentes aos ndios se encontram em uma situa o de contradit ria Vale ressaltar que est em vigor um texto constitucional que passou a reconhecer o direito diversidade cultural dos povos ind genas contraposto a um Estatuto do ndio de cunho integracionista totalmente superado Guimaraens 2003 No in cio da d cada de 1990 foram elaboradas tr s vers es do Estatuto do ndio sendo uma da FUNAI outra do CIMI e a terceira do N cleo de Direitos Ind genas NDI O Executivo encaminhou ao Congresso Nacional no ano de 1991 o Projeto de Lei n 2 057 visando reformula o do Estatuto do ndio O processo de revis o do Estatuto do ndio foi inaugurado em fevereiro de 1991 durante o governo de Fernando Collor em meio a uma s rie de medidas e atos normativos que tinham a finalidade de demonstrar opini o p blica nacional e internacional a consecu o de uma pol tica p blica indigenista condizente com as solu es esperadas para sanar os problemas enfrentados pelos povos ind genas invas es e explora o ilegal de recursos naturais das terras ind genas mortes por doen as e por falta de assist ncia e assassinato de lideran as ind
4. 3 99 que fixa as Diretrizes Nacionais para o Funcionamento das Escolas Ind genas encaminhada pelo Subn cleo de Educa o Ind gena do NISI ao Governo do Estado A escola estando vinculada ao Munic pio tem feito com que o governo estadual se omita de suas responsabilidades em rela o EEI assunto que ser tratado no Cap tulo V Nos casos do Rio Grande do Sul Santa Catarina Rio de Janeiro S o Paulo e Mato Grosso do Sul as escolas ind genas s o vinculadas s secretarias estaduais de educa o mas nem todas elas iniciaram suas atividades estando vinculadas ao Estado As escolas ind genas de Santa Catarina foram estadualizadas em 1999 por solicita o e encaminhamento do NEI SC No Rio de Janeiro no in cio houve resist ncia institucionaliza o da escola guarani O Projeto Educativo da escola Ind gena Guarani Kyringue Yvotyty na aldeia Sapukai em Angra dos Reis no Rio de Janeiro expressa uma clareza de objetivos que aponta para um caminho de constru o de uma experi ncia escolar n o formal com algumas caracter sticas fundamentais a independ ncia frente aos rg os p blicos portanto uma Escola n o vinculada ao Munic pio ou ao Estado e b um projeto escolar que busca estar inserido num projeto educativo maior da comunidade NOBRE Acesso em 20 de jul de 2007 A escola guarani do Rio de Janeiro somente foi institucionalizada em 2005 passando a fazer parte da SEDU RJ Tamb m no Mato Grosso do S
5. A cria o do SPI n o contribuiu para a prote o dos povos ind genas Entre os anos de 1900 e 1950 foram extintas cem tribos ind genas DAVIS 1978 territ rios de centenas de outros foram invadidos e apropriados por grileiros fazendeiros e grupos econ micos Em 1958 Carlos Ara jo Moreira Neto etn logo do Museu Paraense Em lio Goeldi forneceu dados estarrecedores sobre o exterm nio de grupos ind genas Cayap que habitavam o vale do Xingu e que haviam sido contatados pelo SPI Em 1963 ocorreu a destrui o de toda uma aldeia Cinta Larga no Mato Grosso epis dio conhecido como o massacre do paralelo 11 Os constantes fracassos do SPI em rela o sua capacidade de prote o aos povos ind genas eram explicados por seus dirigentes como sendo consequ ncia das verbas insuficientes e irregulares do exagero burocr tico da falta de auxiliares apropriados entre outros motivos Outro problema que passou a ser enfrentado por esse rg o foram as suspeitas de irregularidades administrativas tais como a apropria o indevida do patrim nio ind gena a devasta o de florestas a venda de produ o agr cola dos ndios GAGLIARDI 1989 118 Ao longo dos anos de sua exist ncia 1910 1967 o SPI obteve resultados espetaculares no contato com os grupos ind genas arredios O mesmo n o se pode dizer em rela o prote o desses povos Com frequ ncia a euforia da pacifica o era sucedida por doen as contagiosas q
6. Caminhando na luta e na esperan a S o Paulo Loyola 2008 157 PROPOSTA de Estatuto do ndio entregue deputados Dispon vel em lt www wald org cimi org br gt acesso em 19 jul 2007 158 RAMOS A R Conviv ncia inter tinica no Brasil Os ndios e a na o brasileira Bras lia UNB 1997 S rie antropologia n 6 159 RIBEIRO D Os ndios e a civiliza o a integra o das popula es ind genas no Brasil moderno Petr polis Vozes 1969 160 Di rios de ndios Petr polis Vozes 1996 293 161 RIO GRANDE DO SUL Constitui o Estadual Porto Alegre http www al rs gov br Acesso em 10 out de 2007 162 ROSAR Maria de F tima Felix Programa o editorial recente da rea da hist ria da educa o no Brasil Site www histedbr fae unicamp br art13_9 html Acesso em 21 jan 2000 163 SACRIST N J G G MEZ A P O curr culo os conte dos do ensino ou uma an lise pr tica Porto Alegre Artmed 2000 164 SALIM M A Alc ntara Desafios Te rico metodol gicos do Conhecimento Hist rico a proposta de Carlo Ginzburg In SIMOES R H FRANCO S SALIM M A Ensino de Hist ria seus sujeitos e suas pr ticas Vit ria EDUFES 2006 p 73 165 S NCHEZ J A A hist ria vivida sobre a hist ria do presente Madrid Alian a Editorial 2004 166 SANTA CATARINA Estado Secretaria de Educa o de Estado da Educa o e Inova o Relat rio da Reuni o do dia 02 e 03
7. Educa o Infantil que funciona ligada a esta escola Dos recursos do PDDE no ano de 2006 foi destinada EMPI Tr s Palmeiras a quantia de R 506 50 Assim sendo essa escola recebeu a quantia de R 3 386 50 122 O Art 69 da LDB prev que a Uni o aplicar anualmente nunca menos de dezoito e os Estados o Distrito Federal e os Munic pios vinte e cinco por cento ou o que consta nas respectivas Constitui es ou Leis Org nicas da receita resultante de impostos compreendidas as transfer ncias constitucionais na manuten o e desenvolvimento do ensino p blico 265 Esses povos reivindicam a cria o do NEI e o direito de assento acento no CEE j que at o momento exce o do NISI nenhuma outra inst ncia foi criada na qual eles possam ser ouvidos e tamb m participar da formula o avalia o e acompanhamento das pol ticas e a es que lhes dizem respeito conforme estabelece a Constitui o Federal e as Leis Internacionais como a Conven o n 169 da OIT No caso espec fico dos Guarani eles reivindicam maior participa o de seus representantes nas inst ncias de poder da EEI uma vez que as diferen as culturais existentes entre eles e os Tupinikim v m sendo constantemente desconsideradas tanto no processo de forma o dos professores como na constru o da proposta curricular na constru o dos pr dios escolares e no servi o de acompanhamento pedag gico das escolas Depois de muita luta
8. O Plano Estadual de Educa o foi elaborado pela comiss o e enviado Assembl ia Legislativa Entretanto at este ano de 2007 ainda n o foi aprovado por esse poder legislativo De acordo com as declara es das funcion rias da SEDU at o ano de 2007 n o tinha sido criada nenhuma legisla o pelo Governo do Esp rito Santo amparando a EEI Todas as decis es tomadas e as a es realizadas at aquele momento foram baseadas na legisla o federal Informa o verbal Cabe ressaltar no entanto que mesmo com todos os percal os do caminho os Tupinikim e os Guarani n o desistem da luta do que est estabelecido no V Cap tulo da Constitui o Estadual Cap tulo V Do ndio Art 205 O Estado respeitar e far respeitar os direitos os bens materiais as cren as tradi es e garantias conferidas aos ndios 1 A Defensoria P blica designar um de seus membros para em car ter permanente dar assist ncia judici ria aos ndios do Estado s suas comunidades e organiza es 8 O Estado dar assist ncia t cnica e incentivos que proporcionem aos ndios de seu territ rio meios de sobreviv ncia e preserva o f sica e cultural desde que solicitados por suas comunidades e organiza es ESP RITO SANTO 1989 p 38 A execu o do Curso de Forma o de Educadores Tupinikim e Guarani foi um bom exemplo das dificuldades enfrentadas por esses dois povos mas tamb m de sua capacidade de re
9. O modo de ser guarani NHANDERU Deus NHANDER Deus criador das belas palavras NHANDERUETE Deus NHANDERY Deusa NHANDEVA Parcialidade guarani OGUAT Terra sem males OPY Casa tradicional de reza lugar sagrado PAI TAVYTER Parcialidade guarani REK Jeito de ser guarani REVIRO Comida feita com fub gua e gordura animal ROR Cozido de farelo de milho misturado com gua parecido com canjica cozida T BEOPE Gente do nosso povo que usa tanga TAM I Av ou ancestrais m ticos comuns TAPIET Parcialidade guarani TEKO Sistema guarani ser estado de vida condi o estar costume lei h bito ou comportamento em sociedade sustentando em arsenal m tico e ideol gico TEKO Lugar bom para o guarani viver para construir a aldeia TEKOA GUASS Grande territ rio TUP KWERY Entidades de luz XAM L der religioso XIRIPA Parcialidade guarani YVY APY O final do mundo ou o seu extremo Fonte expressa na oralidade pelos interlocutores SUM RIO INTRODU O sierosa aasa SO a 21 CAP TULO scans asa a sol 27 1 CONSTITUI O DA TEM TICA isso su 27 CAPITULOS paso 33 2 REFERENCIAL TE RICO s si reteterararseserarareasas 33 2 1 A CULTURA NO PLURAL racintn iara ans dodge asas DES EIS da 49 CAPITULO MI raii 67 3 METODOLOGIA iccicreraerereraraeseseraese raras sera raras sera sarar serasa rasa nenn nena 67
10. bom As vezes tem pessoas que se revoltam por causa da proibi o A recupera o da l ngua n o se d s na escrita se d principalmente na oralidade Um caso representativo citado por eles foi o da utiliza o da l ngua pelo povo Tupinikim Esse povo ao longo do processo de contato com os n o ndios acabou deixando de falar a l ngua tupinikim As gera es atuais fazem um grande esfor o no 10 Ata de reuni o realizada na aldeia de Boa Esperan a no dia 11 de dezembro de 2008 235 sentido de resgat la pelo menos do que se escontra escrito e que chamado de Tupi Antigo Dadasas preocupa es da sociedade guarani com a quest o da sobreviv ncia f sica e cultural e as discuss es realizadas com a comunidade os professores ind genas juntamente com as lideran as e a comunidade chegaram conclus o de que a proposta curricular deveria ter como preocupa o a reflex o sobre os problemas e as necessidades das aldeias Nesse intuito foi realizada uma reuni o no m s de agosto de 2006 para que se escolhessem as problem ticas que deveriam nortear o ensino aprendizagem das escolas guarani Primeiramente foram relembradas aos presentes as problem ticas que norteiam a proposta curricular tupinikim e guarani e que at o ano de 2006 estavam sendo levadas em considera o nos planejamentos do processo ensino aprendizagem pelos professores que atuavam nas escolas guarani S o elas 1 a luta tupini
11. es ind genas de mais de 30 grupos diferentes chegam a Bras lia para acompanhar as negocia es e a vota o do cap tulo dos ndios Instalados no audit rio de lideran a do PMDB os mais de 100 ndios presentes expressaram por meio de cantos dan as e discursos o desejo de 136 ver seus direitos reconhecidos na Nova Constitui o Uma importante delega o dos ndios Kayap sob a lideran a de Raoni se destacou na tarefa de pressionar os deputados para a efetiva o de um acordo sobre os direitos ind genas e para derrubar o artigo que estabelecia a diferen a entre ndios aculturados e n o aculturados Na tarde de 31 de maio sob aplausos dos ndios os parlamentares ligados quest o ind gena comunicaram que esse artigo havia sido suprimido e que o cap tulo Dos Indios seria votado no dia seguinte CPI SP 1988 p 89 Algumas delega es ind genas chamaram mais a aten o da imprensa devido ao n mero de pessoas e aos seus adornos como foi o caso dos Kayap enquanto outras praticamente passaram despercebidas como foi o caso daquela constitu da pelos Guarani O segundo substitutivo entregue pelo deputado Bernardo Cabral em setembro de 1987 para ser votado pela Comiss o de Sistematiza o conseguiu ser pior e ainda mais retr grado em rela o aos direitos dos povos ind genas Anexo A Nele afirmava se entre outras coisas que os direitos assegurados no Cap tulo dos ndios n o se aplica
12. gua assada nas cinzas ror cozido de farelo de milho misturado com gua parecido com canjica cozida reviro comida feita com farinha de milho gua e gordura animal mpaipy um tipo de polenta feita com milho verde triturado e gua recoberta com folhas de pegua musa sp e cozida sob cinzas de uma fogueira avax ku uma esp cie de farinha feita de milho e amendoim socados num pil o avax kuip esp cie de f cula de milho k ngui esp cie de mingau preparado com milho e batata doce kaguyjy bebida feita com milho verde que deve ser mascado para fermenta o e misturado com gua Apenas as meninas de 13 e 14 anos que n o atingiram a puberdade podem Irepar lo Segundo os mais velhos ao beber o kaguyjy o Guarani est limpando seu corpo deixando o sadio FELIM 2001 p g 43 44 Apenas observando os exemplos de alimentos produzidos com o milho seria dif cil ter um card pio tradicional cotidianamente principalmente levando se em considera o o n mero de alunos e o tempo de que se disp e para preparar os alimentos na escola Contudo nada impede que alguns alimentos tradicionais fa am parte do card pio como por exemplo o milho cozido ou que o assunto seja estudado pelos alunos e como parte pr tica desses estudos algumas receitas tradicionais sejam preparadas com a participa o dos alunos e de pessoas da comunidade A constru o do Programa de EEI Guarani d se tamb m
13. ndios Xerente de Goi s capital da Rep blica em 1896 De volta aldeia esse grupo ind gena foi acompanhado por Leolinda que passou a se dedicar ao trabalho de escolariza o dos Xerente Depois de quatro anos a professora voltou ao Rio de Janeiro onde tentou em v o conseguir o apoio material necess rio para retornar a Goi s e concretizar o seu plano de funda o de uma col nia ind gena N o conseguindo a ajuda financeira esperada Leolinda acabou ficando na cidade do Rio de Janeiro onde passou a denunciar atrav s da imprensa em reuni es e congressos as viol ncias praticadas contra os ndios GAGLIARDI 1989 116 A institucionaliza o do SPI se deu em grande parte gra as rede de rela es que ligava Rondon ao Minist rio da Agricultura Ind stria e Com rcio MAIC uma vez que esse general tinha v nculos diretos e indiretos com pessoas posicionadas no MAIC e no Museu Nacional com membros do apostolado positivista com militares e com simpatizantes da campanha presidencial de Hermes da Fonseca Os positivistas e entre esses Rondon eram defensores do pensamento segundo o qual as sociedades ind genas estariam vivendo na etapa fetichista do estado teol gico e que se lhes fossem fornecidas as condi es materiais para a evolu o poderiam saltar diretamente para o estado positivo pulando assim o estado metaf sico Com a cria o do SPI o trabalho de catequese realizado pelas diversas ordens rel
14. o EEI Antes as lideran as se reuniram no encontro Nemboaty Gyuasu Guarani em Mato Grosso do Sul depois em Rio Grande do Sul Porto Alegre S o Paulo Rio de Janeiro Nesses encontros os ndios discutiam sobre a necessidade de ter a escola dentro da aldeia para livrar as crian as dos brancos porque se estuda com os branco n o vai aprender O branco ensina o que est escrito no livro e o que o portugu s fez no livro n o tem cultura do guarani como a dan a a religi o o paj O livro explica o que n o verdade e s vezes parte que verdade Nesses encontros foi discutido para lutar e ter professor dentro da aldeia KWARAY apud TEAO 200 p 124 185 Com o in cio do Curso de Forma o de Educadores Tupinikim e Guarani 1996 1999 a quest o da educa o escolar bil ng e foi reconsiderada pelos membros do grupo fundador j que sete dos oito educadores que participaram desse Curso eram netos de Aurora e um era sobrinho Por isso a EEI passou n o somente aceita mas tamb m defendida por esse grupo familiar como mais um espa o de poder a ser conquistado para o favorecimento dos seus membros O trabalho de educa o escolar bil ngie desenvolvido por Mauro na aldeia de Tr s Palmeiras a partir do ano de 1998 e o seu compromisso com a comunidade foi outro fator que ajudou a comunidade guarani a rever o seu ponto de vista em rela o EEI bil ng e No Esp rito Santo as representa es guara
15. o dos professores em reafirmar a etnicidade guarani por isso discordaram do fato de as fam lias de outras parcialidades guarani kaiova e fhandeva serem mantidas s margens da rede de trocas e reciprocidades existente entre os membros do grupo fundador das aldeias do Esp rito Santo Os professores guarani sentiram se incomodados com as informa es sobre as desaven as existentes nas aldeias e as rivalidades entre eles e os tupinikim mas concordaram com o que estava escrito dizendo Fazer o qu Isto verdade mesmo Mesmo discordando de algumas quest es e sentido se incomodados com outras os professores aceitaram que no relat rio de pesquisa fossem mantidos seus nomes O professor Alberto acrescentou bom mesmo usar o nosso nome assim vamos entrar para a hist ria Disseram ainda que queriam ajuda na elabora o de um 96 documento com o diagn stico da situa o da educa o escolar das aldeias e tamb m com suas principais reinvidica es para serem discutidas com a comunidade e encaminhadas SEDU e SEMED As principais reivindica es das aldeias guarani explicitadas no documento foram 1 Cria o de N cleos de Educa o Ind gena nas secretarias do Estado e do Munic pio de Aracruz 2 cria o de assessoria pedag gica por parte da SEMED e da SEDU na elabora o do Projeto Pol tico Pedag gico PPP das escolas das aldeias 3 garantia de maior autonomia pedag gica e administrativa das e
16. o Ind gena Tupinikim e Guarani Um avan o pol tico foi a assinatura do Protocolo de Inten es entre os parceiros do projeto respeitando assim o fato de os Guarani constitu rem um povo encontrado em v rias unidades da 219 Federa o A assinatura desse protocolo foi importante tamb m porque contribuiu para a supera o das dificuldades materiais enfrentadas pelos alunos professores e coordena o do Curso de Forma o Ind gena Tupinikim e Guarani Em termos pedag gicos este Curso tamb m apresentou v rios avan os o fato de a escolha dos conte dos e da programa o das disciplinas dar se no processo de implementa o do Curso a realiza o de pesquisas pelos alunos entre outros Outro avan o pedag gico foi o fato de os professores que atuavam no Curso possu rem experi ncia em EEI e muitos deles com o povo Guarani Os dois cursos de forma o apresentaram s rias dificuldades na realiza o da forma o de tempo aldeia Assim podemos afirmar que a previs o dessa modalidade de forma o tem servido apenas de mecanismo para burlar a carga hor ria prevista na legisla o Esses mecanismos da burocracia carga hor ria necessidade de aprova o dos cursos exigidos pelo Estado explicitam as dificuldades de constitui o da educa o diferenciada Por ser elaborado nos moldes da estrutura governamental o Curso de Forma o Ind gena Tupinikim e Guarani reuniu pessoas de diferentes etnias enquanto o Curso
17. o de jovens e adultos noturno A SEMED s aceitou instituir legalmente a EMPI Tr s Palmeiras em 2000 quando foi assinado o ato de sua cria o e ela passou a fazer parte do Sistema de Educa o Municipal de Aracruz Figura 38 Cabana onde funcionava a EMPI Tr s Palmeiras vista por fora Fonte Arquivo particular do prof Mauro Figura 39 Cabana onde funcionava a EMPI Tr s Palmeiras vista por dentro Fonte Arquivo particular do prof Mauro Institu da a escola come ou a luta pela constru o do pr dio escolar que se deu por meio de uma parceria entre a Igreja Metodista a FUNAI a Aracruz Celulose e a Prefeitura Municipal de Aracruz 257 Figura 40 EMPI Tr s Palmeiras vista por fora Fonte Arquivo da SEMED O pr dio constru do dispunha de uma sala de aula uma cozinha dois banheiros e uma min scula sala constru da sobre os banheiros Figuras 40 e 41 que funciona como dep sito de livros e documentos e como sala da Coordena o Pedag gica Como a constru o do pr dio escolar n o levou em considera o a possibilidade de aumento do n mero de alunos e a expans o da oferta de escolaridade para as s ries finais do Ensino Fundamental foi necess ria a amplia o da escola no ano de 2004 quando foi constru da mais uma sala de aula e um refeit rio Figura 41 EMPI Tr s Palmeiras vista por dentro Fonte Arquivo da SEMED A reforma e amplia o da EMPI Tr s Palmeiras foi uma a o
18. o em geral Os Tupinikim e os Guarani lutam tamb m para que haja mais transpar ncia por parte da Prefeitura Municipal de Aracruz em rela o aos gastos com os recursos destinados educa o principalmente aqueles provenientes do Fundo de Desenvolvimento da Educa o B sica FUNDEB O seguinte epis dio ilustra essa situa o em 2007 a Associa o Ind gena Tupinikim e Guarani AITG enviou um of cio ao MEC pedindo ajuda para que os professores das duas etnias pudessem viajar para participar do COLE Em resposta ao of cio da AITG o coordenador da EEI nesse Minist rio respondeu que O FUNDEB contempla a educa o escolar ind gena com um ndice especial que no caso do Esp rito Santo de R 2 387 01 por aluno por ano Em Aracruz est o matriculados nas sete escolas municipais ind genas 464 alunos do ensino fundamental e 194 alunos da educa o infantil Por ser respons vel por essa matr cula de alunos ind genas a Prefeitura Municipal ir receber em sua conta corrente do FUNDEB R 1 261 932 50 um milh o duzentos e sessenta e um mil novecentos e trinta e dois reais e cinq enta centavos ao longo de 2007 Diante dessas informa es a Comiss o de Caciques Tupinikim e Guarani solicitou esclarecimentos por parte da Secret ria de Educa o de Aracruz Diante da negativa dessa secretaria em fornecer as informa es e explica es pedidas a comiss o acima citada predisp s se a denunciar a situa o ao Minist
19. A partir dos deslocamentos espaciais indicados no mapa acima e em fun o das rela es sociais estabelecidas entre as diversas aldeias poss vel tra ar o territ rio que eles consideram como sendo o mundo prop cio para se viver espa os para os quais eles migram em busca de lugares verdadeiros da Serra do Mar Mesmo habitando um territ rio descont nuo o povo Guarani consegue expressar uma identidade espec fica ou um modo de ser guarani Tr s aspectos da vida guarani expressam uma identidade que d especificidade forma e cria um modo de ser guarani a o ava e ava homem pessoa fe palavra que confunde com alma ou fala linguagem que define identidade na comunica o verbal b o tam i av 1 Dados do CIMI 2007 70 ou ancestrais m ticos comuns e c o ava teko teko ser estado de vida condi o estar costume lei h bito ou comportamento em sociedade sustentando em arsenal m tico e ideol gico Estes aspectos informam ao ava homem guarani como entender as situa es vividas e o mundo que o cerca fornecendo pautas e refer ncias para sua conduta social SUSNIK 1979 p 48 Mesmo tendo esses tr s aspectos em comum o povo Guarani costuma ser dividido em subgrupos por apresentar dissimilitude quanto s formas ling sticas costumes rituais organiza o pol tica e social orienta o religiosa assim como quanto s formas espec ficas de interpretar as situa e
20. DO ESPIRITO SANTO Faixa et ria Quantidade At 6 anos de idade 58 Entre 7 e 16 anos 82 Entre 17 e 26 anos 48 Entre 27 e 36 anos 28 Entre 37 e 46 anos 19 Entre 47 e 56 anos 04 Entre 57 e 60 anos 04 Mais de 60 anos 04 TOTAL 251 Na aldeia de Boa Esperan a vivem 18 fam lias sendo quatro nhand va e 14 mbya Assim como em Tr s Palmeiras as fam lias nhand va tamb m ocupam os terrenos da parte baixa da aldeia e as fam lias mbya os da parte alta Essa aldeia desde a sua funda o tem passado por grandes dramas como aqueles provocados pela morte de Tatati e Aurora por graves problemas de desaven as pol ticas entre os membros do grupo fundador constados por Ciccarone 2001 e por n s por meio do trabalho de campo que realizamos Durante as reuni es com os professores e outras 13 Na maioria dos casos os Guarani possuem aldeias pr prias como aquelas localizadas no RS PR SC SP RJ e MS mas pode acontecer tamb m situa es nas quais grupos guarani se assentam em terras pertencentes a outra etnia como no Paran onde habitam terras kaigang ou Santa Catarina onde se assentam em terras xokleng 80 pessoas da comunidade h constantemente reclama es em rela o atua o de Toninho cacique da aldeia Ele tem sido o motivo da mudan a de muitas fam lias para as outras duas aldeias ou ainda para aldeias de outras unidades da Federa o Na aldeia de Piraqu a u vivem oito fam lias de origem n
21. Vista a princ pio como um dos fatores de destrui o da cultura a escola passou a ser considerada um instrumento que pode contribuir para a revitaliza o cultural A forma o e a contrata o de professores guarani s o um importante elemento na luta pela transforma o da educa o escolar ofertada aos Guarani do Esp rito Santo pelos rg os governamentais com prop sitos integracionistas em uma educa o que leva em considera o as diferen as culturais desse grupo Nesse processo os professores guarani t m participado de cursos de forma o tanto inicial como continuada 5 1 A FORMA O E A CONTRATA O DOS PROFESSORES GUARANI Levando em considera o que os cinco alunos guarani diplomados pelo Curso de Forma o de Educadores Tupinikim e Guarani 1996 1999 s o ex alunos da EMPI Boa Esperan a e que desses tr s Aciara Mauro e S lvio foram alunos da primeira turma dessa escola em 1987 pode se dizer que o processo de substitui o dos professores n o ndios contratados pela FUNAI por professores guarani nas aldeias do Esp rito Santo come ou no ano de 1987 A EMPI Boa Esperan a entre os anos de 1987 a 2005 contou com duas professoras contratadas pela FUNAI Uma trabalhou no per odo de 1987 a 2003 a outra no de 1997 a 2005 Nenhuma das duas dominava a l ngua guarani nem na 188 oralidade nem na escrita Conseq entemente o ensino era monol ng e confirmando assim a concep o integraci
22. acesso em 15 jul 2007 Dando prosseguimento forma o dos professores ind genas guarani de S o Paulo deu se in cio em 2005 ao Curso de Magist rio Intercultural Superior Ind gena MISI visando a preparar 81 professores ind genas das cinco etnias por meio de uma forma o te rica e de uma pr tica docente ind gena Esses profissionais atuar o como docentes na Educa o Infantil e no Ensino Fundamental e com as fun es de gest o coordena o e suporte pedag gico nas escolas ind genas S O PAULO acesso em 15 jul 2007 No Esp rito Santo foi oferecido entre os anos de 1996 e 1999 um curso de Magist rio em n vel de Ensino M dio que possibilitou a forma o de cinco 171 professores guarani Outros sete professores est o sendo formados no Curso de Forma o de Professores Guarani Kuaa Mbo e Conhecer Ensinar que est sendo realizado em parceria com os estados do Rio Grande do Sul Santa Catarina Paran e Rio de Janeiro Assunto que ser tratado no Cap tulo V deste trabalho Em atendimento ao que est disposto na Portaria Interministerial n 559 91 todas as secretarias de educa o dos estados onde vive o povo Guarani exce o do Esp rito Santo criaram seus respectivos N cleos de EEI O munic pio capixaba de Aracruz ao qual se encontram vinculadas as escolas ind genas do Esp rito Santo tamb m n o conta com esse N cleo Criado oficialmente em 1996 o N cleo de Educa o Ind gen
23. adas as rela es de parentesco os v nculos afetivos a coes o dos grupos o controle das situa es vitais o apoio rec proco a solidariedade o interc mbio das experi ncias e a mem ria coletiva Ciccarone 2001 p 138 As aldeias guarani do Esp rito Santo interligam se s outras do territ rio guarani por rela es religiosas pol ticas econ micas e principalmente de parentesco e assim garantem a mobilidade necess ria para a reprodu o f sica e cultural desse povo Os casamentos com pessoas de outras aldeias possibilitam a manuten o da rede 81 de rela es entre as diversas aldeias guarani Toninho Vera Kwaray cacique de Boa Esperan a casado com Cristina filha de Orlando cujo grupo familiar participou da migra o e da funda o da aldeia de Promirim munic pio de Ubatuba no litoral norte do S o Pulo Esse casamento foi um dos tantos que visavam ao fortalecimento entre os grupos familiares migrat rios CICCARONE 2001 p 33 Na sociedade guarani h um grande incentivo para que os solterios se casem com pessoas guarani Como no Esp rito Santo o grupo muito pequeno e quase todos s o parentes consang neos isso se torna um problema Ouvimos muitas reclama es tanto por parte dos homens como por parte das mulheres guarani pelo fato de serem solteiros quererem casar e ao mesmo tempo n o haver pessoas dispon veis uma vez que todo mundo parente Silvio conversa informal alde
24. bio guarani no Curso FONTE Arquivo do Curso 210 A disciplina de L ngua Guarani tem sido trabalhada pela ling ista Ruth Montserrat que vem atuando com os guarani Leonardo Jos Benites Euz bio Mauro e Algemiro Figura 27 Algemiro ao centro e outros colegas no Curso FONTE Arquivo do Curso As diferen as entre o n vel de aprendizagem dos alunos d o se principalmente em fun o dos seus diferentes n veis de escolariza o ao iniciar o Curso Quanto aos alunos do Esp rito Santo ao iniciarem o Curso um tinha a 4 s rie incompleta um a 5 s rie incompleta um a 5 s rie completa um a 6 s rie incompleta e tr s a 8 s rie incompleta ou seja nenhum aluno tinha conclu do o Ensino Fundamental O desn vel dos alunos se dava principalmente em rela o ao dom nio das l nguas guarani e portuguesa Foram observadas dificuldades de interpreta o do portugu s no entanto eles comunicam se facilmente nos dois idiomas Fiz com Joana a parte escrita do projeto ela n o sabe bem o portugu s a parte escrita ela desenha as letras tem dificuldades de se comunicar em portugu s n o sabe escrever em guarani se comunica o essencial em portugu s Ela Sandra falou que sente dificuldades em escrever em guarani ela estudou em escola n o ndia e aprendeu o portugu s No caso da aluna Joana foi sugerido que ela frequentasse as aulas de L ngua Portuguesa nas turmas de 6 ao 9 ano d
25. considerada a diversidade tnica e ling stica do pa s 83 E garantida s minorias ling sticas aut ctones escolariza o em l ngua portuguesa e em l ngua materna Art 2 Todos os brasileiros t m direito educa o p blica gratuita e laica em todos os n veis independentemente de ra a sexo idade l ngua credo religioso ou convic es pol ticas Par grafo nico E garantido atrav s da educa o o acesso aos conhecimentos locais regionais e universais atendendo se aos interesses de cada comunidade em particular e do pa s em geral CEDI 1991 p 2 O in cio dos trabalhos nas comiss es contou com audi ncias p blicas para as quais v rios pol ticos e acad micos foram convidados a expor o tema correspondente a cada uma das subcomiss es No dia 29 de abril de 1987 foi realizada a primeira audi ncia p blica das entidades pr ndio na Subcomiss o dos Negros Popula es Ind genas Pessoas Deficientes e Minorias do Congresso Nacional em Bras lia com a participa o e depoimentos de D Erwin Krautler CIMI Carlos Mar s CCPY CPI SP Wanderlino T De Carvalho CONAGE Manuela C da Cunha ABA e Mercio Gomes IPARJ RJ CEDI 1991 Durante os trabalhos da ANC os integrantes da Subcomiss o dos Negros Popula es Ind genas Deficientes e Minorias realizaram duas viagens de visita a reas ind genas uma no primeiro e outra no segundo semestre de 198 para que pudessem ter maior conheci
26. contrata o de profissionais s bios ind genas t cnicos agr colas e outros fora do quadro do magist rio para atender essa parte diversificada N o basta a garantia de que os conte dos escolares sejam escolhidos de acordo com os interesses da comunidade Um professor com forma o em n vel de ensino 51 MEC SECAD Relat rio da audi ncia p blica pelo CNE S o Gabriel da Cachoeira 2007 160 m dio em magist rio dificilmente ser a pessoa mais indicada a orientar a comunidade no processo de implanta o de um projeto de cria o de abelhas capivaras ou de peixes Os Guarani do Esp rito Santo desejam entre outras coisas que a escola os ajude a pensar o problema da auto sustentabilidade A reivindica o pela realiza o das confer ncias para discutir as demandas da EEI tem sido uma constante entre os povos ind genas Durante o Semin rio Nacional sobre Pol ticas P blicas para o Ensino M dio Ind gena ocorrido em Bras lia no per odo de 4 a 8 de dezembro de 2006 procedeu se a uma reuni o com 50 lideran as e professores ind genas na qual decidiram a Comiss o de EEI encaminhar proposta de reformula o da EEI at que se realize a Confer ncia Nacional de EEI Essa decis o foi tomada levando se em considera o que a legisla o vigente no Pa s prev que para a implementa o de qualquer pol tica p blica educacional para atender os povos ind genas se deva ter a anu ncia deles Segundo os me
27. curr culo diferenciado como o caso do Art 26 da LDB que prev que os curr culos do Ensino Fundamental e M dio devem ter al m da base nacional comum uma parte diversificada exigida pelas caracter sticas regionais e locais da sociedade da cultura da economia e da clientela e 3 do Art 172 da Constitui o Estadual que garante aos sistemas de educa o estadual e municipal a possibilidade de acrescentar conte dos compat veis com as peculiaridades locais Cabe ressaltar no entanto que esse dispositivo legal garante acrescentar uma parte diversificada mas n o existe uma legisla o que ampare a contrata o de profissionais para ministr las como por exemplo s bios ind genas t cnicos agr colas entre outros conforme abordamos no Cap tulo IV A LDB ao mesmo tempo em que garante a parte diversificada do curr culo para atender as diferen as culturais de certa maneira coloca tamb m essas mesmas singularidades de forma subordinada sob o teto pol tico do Estado HALL 2005 uma vez que determina a garantia nos curr culos do Ensino Fundamental e M dio de uma base nacional comum constitu da obrigatoriamente do estudo da l ngua portuguesa e da matem tica do conhecimento do mundo f sico e natural e da realidade social e pol tica especialmente do Brasil constituindo assim uma zona interditada TASSINARI 2001 que emperra o processo de constru o de curr culos 239 diferenciados quest o que de
28. de pela educa o entre outras O processo de escolariza o dos Guarani no Esp rito Santo inter relaciona se com os movimentos pol ticos que v m sendo realizados pelo povo Guarani Assim como outros povos ind genas tamb m o povo Guarani tem realizado v rios encontros e movimentos pol ticos e criado v rias organiza es como a dos professores guarani do Mato Grosso do Sul visando a discutir a propor e a cobrar a institucionaliza o de pol ticas p blicas nas diversas inst ncias dos governos Os atravessamentos advindos da pr pria cultura guarani que acontecem no processo de escolariza o e na EEI guarani s o os elementos que mais contribuem para a constitui o da singularidade da educa o escolar que acontece nas aldeias O povo Guarani ao longo da hist ria tem adotado estrat gias de resist ncia muitas vezes silenciosas O trabalho de campo mostrou que algumas dessas estrat gias e princ pios da pedagogia guarani atravessam o processo de escolariza o nas escolas das aldeias como o caso do respeito individualidade do educando e a conviv ncia entre as diferentes gera es indicando assim que muitas vezes a EEI guarani se tem constitu do em uma zona de tens o gerada entre a pedagogia guarani e a pedagogia ocidental A preocupa o com a preserva o da cultura e do modo de ser guarani tem sido outro elemento da pauta dos encontros e movimentos pol ticos do povo Guarani Nesses encontros e
29. de Forma o de Professores Guarani reuniu diferentes subgrupos guarani que durante as etapas intensivas receberam ou est o recebendo informa es num ritmo acelerado Em rela o ao ltimo Curso os alunos enfrentam outra situa o dif cil que o fato de estarem longe de suas aldeias Nos dois cursos foram altas as taxas de evas o que t m como um dos principais motivos a falta de apoio financeiro na forma de bolsas de estudo para os alunos que s o na maioria pessoas casadas com filhos Essa situa o foi um dos fatores que contribu ram para que no Curso de Forma o de Educadores Tupinikim e Guarani a taxa de evas o fosse de 50 7 A realidade n o diferente para os alunos do Curso de Forma o de Professores Guarani um aluno do Esp rito Santo j desistiu porque arrumou emprego na rea do meio ambiente e outro j faltou a duas etapas do Curso devido a problemas financeiros e familiares Levando se em considera o as limita es dos cursos a forma o dos professores ind genas deve ser entendida como um processo ou seja necess rio dar continuidade forma o de todos os professores guarani para que eles possam dar 220 conta das atribui es previstas no RCNE Ind gena Assim poderiam realizar pesquisas ling sticas e antropol gicas produzir material did tico propor algumas das respostas aos novos desafios gerados pelo contato al m de exercer o trabalho de doc ncia Cabe ressa
30. dos povos ind genas do Brasil In SANTOS Boaventura S S Reconhecer para libertar os caminhos do cosmopolitismo multiculrural Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2008 133 NIMUENDAJ C Mapa etno hist rico do Brasil e regi es adjacentes Rio de Janeiro IBGE 1914 134 NOBRE D B Processos de constru o de pol ticas p blicas em educa o escolar ind gena no Estado do Rio de Janeiro Dispon vel em lt http www anped org br gt Acesso em 20 de jul de 2007 135 N CLEO DE INTERINSTICIONAL DE SA DE IND GENA Estatuto do NISI ES Aracruz 1996 136 Atas de reuni es da EEI do Subn cleo de Educa o do NISI de 1998 a 2005 137 Planos de Trabalhos do Sub n cleo de Educa o do NISI ES Anos de 1996 a 2006 138 Projeto de Alfabetiza o e Educa o Popular Ind gena 1994 139 Projeto de Educa o Formal e Popular Comunidades Ind genas 1994 140 Relat rio do Semin rio de Educa o Ind gena Tupinikim e Guarani 1995 141 Projeto do Curso de Forma o de Educadores Ind genas Tupinikim e Guarani 1997 142 Relat rio de avalia o da segunda etapa do Curso de Forma o de Educadores Indios Tupinikim e Guarani Coordena o do Curso Aracruz 1997 148 Relat rio de Atividades do Subn cleo de Educa o do NISI ES 1997 e 2002 292 144 Ata de avalia o do Curso de Forma o de Educadores Tupinikim e Guarani 1998 145 OLIVEIRA R C
31. essas escolas passaram a fazer parte do Programa Seguran a Alimentar do Governo Federal contando por isso com um quantitativo per capita maior para refor ar a merenda O Governo Federal repassa para o munic pio de Aracruz a quantia de R 0 42 por aluno ind gena enquanto para os demais alunos a quantia destinada de R 0 22 O Munic pio complementa esse valor com R 0 52 Seria poss vel com esse recurso financeiro ter um card pio com alimentos apenas da cultura guarani No nosso ponto de vista n o s os recursos financeiros dispon veis mas tamb m as dificuldades de encontrar os alimentos tradicionais impossibilitam ter o card pio que atenda completamente a cultura guarani Onde comprar carne de capivara e macaco Onde encontrar milho nativo se nem mesmo 253 os Guarani t m conseguido produzi lo no Esp rito Santo Do ponto de vista da cultura guarani produzir um mbojap ou um mbju com milho h brido n o a mesma coisa que o produzir com o milho nativo cultivado sem agrot xico e adubo qu mico H tamb m a quest o do tempo de prepara o e dos rituais que requerem alguns alimentos Ainda verde o milho Guarani pode ser consumido cozido avaxi ky ou assado avax etei Quando seco v rios tipos de alimentos podem ser preparados com o milho avax ete como por exemplo mbeju esp cie de massa fina feita com farinha de milho tostada e gua mbojap esp cie de massa feita com farinha de milho e
32. genas Aquele era um momento de grande press o nacional e internacional com rela o quest o ind gena em particular com o caso Yanomami SANTOS FILHO 2006 p 92 Em 1994 o relator Luciano Pizzato apresentou seu substitutivo ao Projeto de Lei n 2 057 com base nas propostas do CIMI e do NDI que foi aprovado por unanimidade pela Comiss o Especial da C mara dos Deputados criada para discutir o Estatuto do ndio No entanto a tramita o desse estatuto no Congresso Nacional foi interrompida no governo de Fernando Henrique Cardoso Com a elei o do novo governo Fernando Henrique Cardoso ocorreu uma retirada do projeto Estatuto das Sociedades Ind genas do Congresso A nova proposta governamental s apareceu no cen rio das comemora es dos 500 anos intitulada Estatuto dos Indios das Comunidades e das Organiza es Ind genas E bvio que h avan os mas h itens que preocupam a comunidade de antrop logos como aqueles referentes a explora o dos recursos florestais minerais e h dricos em terras ind genas H tamb m a quest o da ampla participa o das lideran as ind genas de suas organiza es e de entidades de apoio em todo este processo Em ltima an lise trata se de um Estatuto para os Povos Ind genas reconhecidamente minorit rios e protegidos internacionalmente OLIVEN acesso em 20 jul 2007 149 Outros pontos questionados em rela o ao projeto s o a ado o da express o
33. m n o pertencendo a nenhuma das esferas que articula A no o que proponho de fronteira para o entendimento das escolas ind genas baseia se naquelas abordagens que consideram fronteira como um espa o de contato e interc mbio entre popula es como espa o transit vel transpon vel como situa o criativa na qual conhecimentos e tradi es s o repensados s vezes refor ados s vezes recha ados e na qual emergem e se constroem as diferen as tnicas Essa no o busca fornecer outra perspectiva te rica para a compreens o das escolas ind genas al m das alternativas de consider las espa os de branco que v m alterar ou impor uma nova ordem s aldeias ind genas ou espa os ressignificados de acordo com as tradi es ind genas Trata se de defender a escola ind gena como um espa o de ndios e de n o ndios e assim um espa o de ang stias incertezas mas tamb m de oportunidades e de criatividade TASSINARI 2001 p 68 Teoricamente para definir a escola ind gena como fronteira Tassinari 2001 utiliza principalmente as postula es de Barth 1969 com a finalidade de mostrar a contribui o desse autor para a problematiza o e a tematiza o das fronteiras sociais a falta de aten o s fronteiras gerou uma vis o err nea do prot tipo da situa o inter tnica a id ia de que povos diferentes com diferentes hist rias e culturas por algum motivo geralmente a
34. mico estariam inseridos no social assim como a luta pela terra A partir das quest es escolhidas foi elaborado um pr texto da proposta curricular que levou em considera o elementos da antiga proposta e as representa es dos Guarani acerca da educa o escolar levantadas nas atas de reuni o nos anos anteriores e nas reuni es de pais e de comunidade realizadas no ano de 2006 Foram importantes tamb m as reflex es acerca da l ngua feitas com a assessoria da professora e ling ista Ruth Montserrat O pr texto da proposta curricular foi discutido e reelaborado com a ajuda dos professores da pr escola ao 8 ano e posteriormente apresentado e discutido com a comunidade O texto aprovado pela comunidade escolar guarani constitu do de seis partes Primeiramente faz se um resgate hist rico da elabora o da proposta curricular ou seja da primeira vers o que foi elaborada durante a execu o do Curso de Forma o de Educadores Tupinikim e Guarani 1996 1999 at a vers o atual elaborada no ano de 2006 Na segunda parte manteve se quase de maneira intacta a apresenta o da hist ria e da cultura do povo Guarani do texto da antiga proposta curricular elaborado pelos alunos do Curso de Educadores Tupinikim e Guarani que hoje s o professores das aldeias Em seguida foram apresentados os objetivos da EEI guarani 1 resgatar preservar e divulgar a cultura 2 dialogar com as outras culturas e as outras for
35. ncia as implica es pol ticas e sociais que a se acham envolvidas Isso n o significa no entanto eliminar a refer ncia cultural pois a capacidade de simbolizar uma autonomia no n vel cultural permanece necess ria para que surja uma for a pol tica pr pria Por m uma for a pol tica que vai conferir declara o cultural o poder de realmente se afirmar CERTEAU 1995 p 148 149 Outra quest o interessante tratada por Hall 2005 diz respeito ao deslocamento das identidades nacionais Segundo o autor ao tratar desse assunto deve se ter em mente a forma pela qual as culturas nacionais contribuem para costurar as diferen as numa nica identidade A partir do final do s culo XX est ocorrendo um deslocamento das identidades culturais nacionais gra as a um complexo de processos e for as de mudan a que por conveni ncia pode ser sintetizado sob o termo globaliza o entendido aqui como aqueles processos atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais integrando e conectando comunidades e organiza es em novas combina es de Esse autor sempre atacou a celebra o estabelecida da cultura no singular que ele criticava por ser sempre traduzida como o singular de um meio Da sua vontade de substituir essa cultura no singular que imp e sempre a lei de um poder por outra concep o centrada na cultura no plural que conclama incessantemente
36. o atrav s de uma cultura nacional Por ltimo o fato de os povos ind genas terem garantido na legisla o o direito a programas de educa o espec ficos e diferenciados ou seja o direito a uma educa o que respeite a identidade tnica de cada povo Para ajudar na reflex o a respeito da quest o da na o e da identidade apoiamo nos no pensamento de Anderson 1989 Hall 2005 Bauman 2002 Certeau 1995 Barth 1976 Villar 2004 Giddens Bock e Sash 1997 Hobsbawm 1997 Hall 2005 analisa as mudan as conceituais por meio das quais o sujeito do iluminismo visto como tendo uma identidade fixa e est vel foi se descentrando resultando nas identidades abertas contradit rias inacabadas e fragmentadas do sujeito p s moderno As transforma es sofridas pelo sujeito na p s modernidade se d o de forma constante r pida e permanente talvez em fun o da pr pria modernidade Essa a principal distin o entre as sociedades tradicionais e as modernas Quais as implica es dessa afirma o para as sociedades tradicionais povos ind genas quilombolas que fazem parte de uma sociedade nacional moderna como o caso da brasileira Esse um questionamento que foi analisado nesta 41 pesquisa a partir da quest o do processo de escolariza o dos Guarani do Esp rito Santo Foi partindo dessas an lises conceituais nas quais o sujeito e a identidade da modernidade tardia e da p s m
37. o com os Guarani A proposta o coordenador conversar com as pessoas que est o faltando e o motivo e apresentar na reuni o da subcomiss o o motivo Toninho Guarani fala que cnamou aten o dos educadores que est o faltando disse a eles que assim est o prejudicando as nossas comunidades Celeste refor a que esse problema se repete e pensa que esse problema pode ser entendido como uma falta de motiva o O convencimento e a penaliza o podem n o ser a solu o Toninho fez forte questionamento sobre a responsabilidade dos educadores como respons veis pelo futuro da escola bil ngue 81 Relat rio de acompanhamento das atividades do tempo aldeia IDEA 1999 2 Ata de reuni o de Avalia o do Curso realizada na aldeia de Pau Brasil no dia 30 de outubro de 1998 83 ata de reuni o realizada na Aldeia de Pau Brasil em 20 de novembro de 1998 203 Durante o Curso era pedido aos alunos guarani que eles fizessem um esfor o para n o faltar cumprissem as atividades n o prejudicassem a comunidade ou seja de integra o ao grupo Em nenhum momento foram apontados os esfor os feitos pelos outros por exemplo formadores colegas tupinikim coordena o de dialogar e respeitar o modo de ser dos alunos guarani Como atividade relacionada ao segundo e terceiro objetivos do est gio os alunos do Curso elaboraram relat rios escritos das observa es do cotidiano administrativo das escolas do trabalho de monitori
38. o da postura do Governo e da sociedade brasileira em rela o aos povos ind genas O projeto apresenta uma vis o dos povos ind genas como sendo pobres e oprimidos sem nenhuma capacidade de rea o Al m disso prop e tamb m o respeito diferen a e a integra o uma vez que defende o resgate e a cultura do ndio ao mesmo tempo que afirma que por meio da educa o escolar o ndio poder tornar se um ser humano vers til capaz de integrar se civiliza o mantendo por m o brio de pertencer a sua ra a O Projeto de Educa o Formal e Popular Comunidades Ind genas apresentava dois subprojetos 1 Educa o Popular Ind gena objetivos metas 1995 2 Educa o Formal objetivos metas 1995 Esse projeto foi aprovado pelo Conselho Estadual de Educa o atrav s da Resolu o n 79 97 e do Parecer n 102 97 No primeiro semestre de 1994 come aram as negocia es entre a Pastoral Indigenista e o IDEA com vistas a forma o de monitores ndios para atuarem na educa o de jovens e adultos conforme previsto no subprojeto Educa o Popular Ind gena Um fato que chama a aten o que embora fosse fato previsto no Projeto de Educa o Formal e Popular Comunidades Ind genas os Guarani n o foram inclu dos nessa forma o Foi a possibilidade de aprofundamento da f a partir da pr pria cultura entre os Tupinikim ou seja a possibilidade de realiza o da catequese que direcionou a e
39. o diferenciados e espec ficos bil ngues e interculturais eles se diferenciam tamb m quanto ao grau de participa o da comunidade nos assuntos educacionais Em muitos casos a comunidade quem escolhe as pessoas que estudar o para serem professores Na maioria das vezes a comunidade tem ampla participa o na elabora o das propostas curriculares e os mais velhos pais paj s e outras pessoas da comunidade est o sempre sendo entrevistados e al m disso convidados para participar tanto das aulas de forma o dos professores como das classes onde estes professores atuam De maneira resumida podemos dizer que povos ind genas se v m apropriando da escola como um instrumento de luta e de autodetermina o Para entender o significado da experi ncia da EEI tomemos como base os princ pios socioculturais da modernidade O projeto s cio cultural da modernidade um projeto muito rico capaz de infinitas possibilidades e como tal muito complexo e sujeito a desenvolvimentos contradit rios Assenta se em dois pilares fundamentais o pilar da regula o e o pilar da emancipa o S o pilares eles pr prios complexos cada um deles constitu do por tr s princ pios O pilar da regula o constitu do pelo princ pio do estado cuja articula o se deve principalmente a Hobbes pelo princ pio do mercado dominante sobretudo na obra de Locke e pelo princ pio da comunidade cuja formula o domina toda a filoso
40. o do Curso de Forma o Foi pedido para trabalhar na rea das Ci ncias Sociais o tema da agricultura o que se planta esp cies e variedades a import ncia de cada produto para a cultura como se planta quem planta poca do ano e a lua em que se planta batismo das sementes Pediu se para trabalhar tamb m as transforma es que v m acontecendo na agricultura alimentos mais importantes para os Guarani ingredientes e quantidades modo de preparar E Essas anota es s o id ias que foram usadas na elabora o do roteiro de uma pesquisa realizada com os professores guarani como parte da forma o na disciplina de Ci ncias Sociais Nas p ginas seguintes da mesma agenda h alguns registros de reuni es de pesquisa realizadas na aldeia Em uma das visitas aldeia explicamos ao grupo que o objetivo da visita era conversar com eles e registrar os conhecimentos que os mais velhos possu am sobre a agricultura Combinamos uma din mica Como s havia tr s educadores presentes Silvio Luciana e Mauro e dois s bios resolvemos pedir D Aurora e o seu filho que falassem sobre a agricultura e que cada um dos educadores fosse registrando as falas Os antigos falaram em guarani e os educadores optaram por registrar tamb m nessa l ngua ra Optei por dar os exemplos que aconteceram nas aulas de Ci ncias Sociais uma vez que a lembran a delas ainda est o bastante presentes na minha mem ria por terem sido ministradas
41. o dos dados obtidos por meio das observa es entrevistas e an lise documental foi feita com base nas quest es espec ficas previstas no projeto 99 de pesquisa e em outras que surgiram no percurso que visavam a contribuir para a compreens o da quest o norteadora da pesquisa ou seja Como se tem se dado o processo de escolariza o dos Guarani do Esp rito Santo no contexto da hist ria da educa o escolar brasileira e das pol ticas p blicas instauradas no Brasil a partir da promulga o da Constitui o Federal de 1988 Nessa fase da pesquisa produziu se um relat rio dividido em quatro cap tulos No primeiro deles foram analisadas as quest es sobre as transforma es do conceito de cultura e as mudan as eclesiais em rela o aos povos ind genas transforma es que se processaram no mbito da Igreja Cat lica No segundo cap tulo foram organizadas as informa es sobre o hist rico da institucionaliza o dos direitos dos povos ind genas no Brasil e na Am rica Latina destacando se os seguintes aspectos 1 a Rep blica e quest o da Institucionaliza o de pol ticas p blicas ind genas no Brasil 2 movimentos pol ticos instituintes a partir da d cada de 1970 3 a Assembl ia Nacional Constituinte 4 a ratifica o da Conven o 169 5 reformula o do Estatuto do ndio 4 a Lei de Diretrizes e Bases da Educa o Nacional e outras legisla es relacionadas 5 a legisla o escolar ind gena
42. o modificou o objetivo central da educa o escolarizada de responsabilidade do SPI e depois da FUNAI que continuou sendo a gradativa assimila o e integra o dos povos ind genas comunh o nacional O ndio era tratado como uma categoria transit ria fadada extin o FREIRE 2004 p 24 Durante a ditadura foi promulgado o Estatuto do ndio lei n 6 001 de 19 de dezembro de 1973 que regula a situa o jur dica dos ndios ou silv colas e das comunidades ind genas com o prop sito de preservar a sua cultura e integr los progressivamente e harmoniosamente comunh o nacional Art 1 Estatuto que se encontra ainda em vigor e que devido ao seu car ter integracionista tem levado os povos ind genas brasileiros a lutar por sua reformula o pelo ao Congresso Nacional desde 1991 como veremos no item 3 6 deste Cap tulo A Igreja exerceu papel importante junto FUNAI no desempenho do seu papel tutelar em rela o aos povos ind genas O Summer Institute of Linguistics SIL uma ordem evang lica internacional atuou no Brasil entre 1954 e 1977 No Brasil a entrada do SIL se deu na d cada de 1950 quando no interior do Servi o de Prote o ao ndio SPI ocorria uma transi o do indigenismo de base positivista chamada de fase doutrin ria por Ribeiro para sua fase cient fica com base na antropologia ao estilo do indigenismo mexicano A orienta o do SPI se assenta nos
43. o resultou das discuss es que vinham ocorrendo nas assembl ias ind genas Por isso resolveram criar outra organiza o tamb m denominada Uni o das Na es Ind genas adotando a sigla UNI Ainda em 1980 a UNIND e a UNI fundiram se criando a primeira organiza o nacional ind gena que se imp s como leg tima representante de interesses dos povos ind genas NEVES 2003 Estima se que atualmente existam 237 organiza es de povos ind genas a maioria delas de base local por aldeia ou comunidade como a Associa o Ind gena de Comboios AIC a Associa o Ind gena Xacriab AIX a Organiza o dos Relat rio da Comiss o Especial designada pela Reitoria Portaria n 02 786 de 26 de dezembro de 2001 para colher subs dios e coordenar iniciativas destinadas elabora o de um programa institucional da UFMG para as popula es ind genas 127 Professores Ind genas de Rond nia a Organiza o dos Professores Ind genas do Acre entre outras Normalmente as organiza es e povos locais encontram se articulados s organiza es regionais como o caso da AIC que se encontra articulada Comiss o de Articula o Tupinikim e Guarani e a AIX que se encontra articulada ao Conselho dos Povos Ind genas de Minas Gerais Algumas organiza es existentes na Amaz nia s o de grande abrang ncia como a Federa o das Organiza es Ind genas do Rio Negro FOIM a Coordena o das Organiza es
44. os de fronteira TASSINARI 2001 Para evitar confus es terminol gicas usamos o termo processo de escolariza o guarani ao nos referirmos ao per odo que inclui tanto a educa o escolar ofertada pela FUNAI quanto a EEI ind gena Utilizaremos o termo EEI guarani apenas para as a es realizadas visando constru o da educa o diferenciada nas aldeias guarani do Esp rito Santo Como processos hist ricos a escolariza o e a EEI guarani encontram se relacionadas a v rios outros processos sofrem algumas transforma es e tamb m algu ns atravessamentos Os processos de escolariza o e de institucionaliza o da EEI guarani no Esp rito Santo encontram se relacionados a v rios outros processos tais como luta desse povo pelo reconhecimento de seus direitos ao movimento nacional dos povos ind genas ao apoio das organiza es indigenistas pela institucionaliza o de pol ticas p blicas que levem em considera o a quest o da diversidade tnica Tamb m como processos hist ricos a quest o da escolariza o e da EEI guarani apresentam algumas transforma es e v rias perman ncias preciso sempre atentar que as experi ncias instituintes n o s o frutos de id ias miraculosas espetaculares e inaugurais que surgem de uma hora para outra LINHARES 2002 p 119 102 Ainda como processos hist ricos a escolariza o e a institucionaliza o da EEI guarani sofrem diversos atravessa
45. para 1 respeitar o ordenamento jur dico pr prio das escolas ind genas 2 criar a categoria de professor e escola ind genas e sua consequente carreira do magist rio 3 criar normas administrativas pr prias para atender a educa o escolar ind gena Elaborar novos marcos regulat rios consultando os povos ind genas para efetiva o e cumprimento de oferta de educa o escolar desses grupos tnicos no Brasil visando 1 cria o de um sistema de ensino espec fico para atender a educa o escolar ind gena no pa s que respeite a situa o territorial e a diversidade cultural dos povos 2 garantia do atendimento de Ensino M dio e Superior espec fico para os povos ind genas 3 ao atendimento educacional de ind genas que moram em centro urbanos e em territ rios ainda n o regularizados de acordo com os princ pios e diretrizes estabelecidos na legisla o espec fica A reivindica o para que se encontrem formas para a contrata o de educadores sabedores tradicionais das comunidades ind genas que ofere am a forma o escolar exigida pela lei se faz necess ria uma vez que a LDB em seu Art 26 d abertura para que o curr culo escolar al m da base nacional comum seja complementado em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracter sticas regionais e locais da sociedade da cultura da economia e da clientela Contudo n o existe amparo legal para a
46. prio do Minist rio P blico sob pena de nulidade 2 A explora o das riquezas minerais em terras ind genas s pode ser efetivada com a autoriza o do Congresso Nacional ouvir as comunidades afetadas e obriga a destina o de percentual sobre os resultados da lavra em benef cio das comunidades ind genas e do m dio ambiente na forma da lei Art 269 As terras de posse imemorial dos ndios s o destinadas sua posse permanente cabendo lhes o usufruto exclusivo das riquezas naturais do solo dos recursos fluviais e de todas as utilidades nelas existentes 1 S o terras de posse imemorial onde se acham permanentemente localizados os ndios aquelas destinadas sua habita o definitiva suas atividades produtivas e as necess rias sua preserva o cultural segundo seus usos costumes e tradi es 2 As terras referidas no par grafo anterior s o bens inalien veis e imprescrit veis da Uni o cabendo a esta demarc las 3 vedada a remo o dos grupos ind genas de suas terras salvo nos casos de epidemia cat strofes da natureza e outros similares e de interesse da soberania nacional garantido seu retorno quando o risco estiver eliminado Art 270 Os ndios suas comunidades e organiza es s o partes leg timas para ingressar em ju zo em defesa dos interesses e direitos ind genas Art 271 Os direitos previstos neste Cap tulo n o se aplicam aos ndios com elevado est dio de
47. rio da Universidade Federal da Grande Dourados UFGD em Dourados O curso superior Teko Arandu ser voltado aos ndios guarani e kaiow e ter 60 vagas inicialmente O sistema de ensino adotado ser o da altern ncia pelo qual a carga hor ria ser dividida em aulas presenciais tempo universidade e n o presenciais tempo comunidade Com uma abordagem curricular alternativa e flex vel a licenciatura ind gena favorecer o di logo intercultural entre as diversas ci ncias e os diversos tipos de saberes MATO GROSSO DO SUL acesso 10 jul 2007 Os cursos de forma o dos professores ind genas de S o Paulo diferentemente dos de Mato Grosso do Sul re nem mais de uma etnia Em 2003 a Secretaria de Estado da Educa o formou 61 professores ind genas de cinco etnias diferentes Kaigang Krenak Terena Guarani e Tupi Guarani Eles est o formados no Magist rio n vel m dio atrav s do Curso Especial de Forma o de Professores Ind genas para a Educa o Infantil e s ries iniciais do Ensino Fundamental 1 a 42 s ries O curso teve a dura o de 15 meses e foi ministrado por professores contratados pela Faculdade de Educa o da USP nos p los dos CEFAMS Tucuruvi SP Bauru e Guaruj Centro Espec fico de Forma o e Aperfei oamento do Magist rio A forma o dos professores ind genas foi acompanhada por um Comit Gestor com representantes da Secretaria de Estado da Educa o e da FAFE FEUSP SAO PAULO
48. sobrejuridifica o da sua vida Quest es como a regulariza o e a especializa o do conhecimento jur dico t m gerado problemas enfrentados pelos povos ind genas na luta por seus direitos Outra quest o que se faz sentir tamb m na rea do Direito o fato de ele ser enormemente marcado pelos pressupostos evolucionistas que foram e ainda continuam sendo o embasamento te rico de parte da legisla o indigenista brasileira e portanto tamb m da nossa jurisprud ncia Ainda se encontram em vigor muitas leis de cunho evolucionista como o caso do Estatuto do ndio Lei n 6 001 de 19 de dezembro de 1973 que em seu primeiro artigo estabelece regula a situa o jur dica dos ndios ou silv colas e das comunidades ind genas com o prop sito de preservar a sua cultura e integr los progressiva e harmoniosamente comunh o nacional D assim um car ter provis rio prote o e garantia dos direitos dos povos ind genas Em termos de legisla o vivemos ainda uma contradi o ou seja temos uma Constitui o Federal promulgada em 1988 que garante o direito pluralidade cultural e o Estatuto uma lei a ela hierarquicamente subordinada que ainda n o foi reformulada encontra se parada no Congresso Nacional em decorr ncia das press es pol ticas de mineradoras garimpeiros e fazendeiros como veremos no Cap tulo IV Para romper com a raz o moderna denominada tamb m de raz o in
49. xico Fondo de Cultura Econ mica 1976 12 BAUMAN Z A Cultura como pr xis Buenos Aires Paid s 2002 13 BEOZZO J O De medell n a puebla Revista de Cultura Ano LXXII Rio de Janeiro Vozes 1978 14 BERGAMACHI M A Nhembo e Enquanto o encantamento permanece processos e pr ticas de escolariza o nas aldeias Guarani Tese de Doutorado Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2005 15 BEZERRA M L B TEIXEIRA M G Dificuldades e conflitos emocionais vivenciados na educa o escolar pelo ndio guarani de Aracruz ES a 284 partir da quinta s rie do Ensino Fundamental Instituto Saber Programa de P s Gradua o em psican lise e intelig ncia mutifocal latu sensu Aracruz 2005 16 BITTENCOURT A C DANTAS Articula o ind gena S o Paulo IBASA 2004 17 BITTENCOURT C M F O ensino de hist ria para popula es ind genas Em Aberto Bras lia ano 14 n 63 p jul set 1994 18 BORGES P H P Sonhos e nomes as crian as guarani Cadernos Cedes Rio de Janeiro 22 n 56 ano XXII abr 2002 19 BOURDIEU Pierre O poder simb lico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1989 20 BRAND A Mudan as e continu smos na pol tica indigenista p s 1988 In LIMA A C S BARROSO HOFFMANN M Estado e povos ind genas bases para uma nova pol tica indigenista Il Rio de Janeiro Contra Capa 2002 p 31 36 21 BRAND O C R Os Guarani ndios do Sul Religi o re
50. DENUNICA acesso 10 de dez 2006 114 criminosos novas invas es por n o ndios e interfer ncias nas formas de organiza o ind gena inclusive com restri o de atividades sociais Nessa audi ncia a Comiss o dever apreciar a situa o atual do caso e seu eventual encaminhamento Corte Interamericana de Direitos Humanos inst ncia superior com compet ncia para proferir uma senten a judicial internacional O que se espera da audi ncia que a CIDH adote medidas imediatas em favordos povos ind genas e determine a implementa o total do Decreto de homologa o em raz o da continuada viola o de direitos humanos dos povos ind genas da Raposa Serra do Sol AUDIENCIA acesso 2 de fev 2007 O movimento contra negem nico mundial dos povos ind genas por seus direitos repercutiram tamb m em solos brasileiros principalmente ap s a d cada de 70 do s culo XX Por m alguns fatos hist ricos antecedentes a esse per odo t m que ser considerados como veremos a seguir 4 1 A REP BLICA E A QUEST O DA INSTITUCIONALIZA O DE POL TICAS P BLICAS IND GENAS NO BRASIL A Rep blica brasileira nascida sob a influ ncia do positivismo n o teve nos primeiros anos de sua exist ncia preocupa o com as quest es ind genas tanto que os ndios n o s o mencionados na primeira Constitui o promulgada em 1891 Essa omiss o aliada ao fato de que o Art 64 dessa Constitui o transferia as terras devolutas par
51. Esp rito Santo estabeleceram rela es sociais diversas dependendo do grupo de conv vio Como todos os povos ind genas tamb m esse subgrupo afirma sua identidade tnica por meio das rela es que estabelece ou seja com as outras parcialidades guarani com os Tupinikim e com os n o ndios Autodenominavam se fora do mbito religioso Guarani Nhand va numa sec o compreensiva do povo Guarani apesar deles se considerarem os mais puros os verdadeiros Perante os vizinhos Tupiniquins eram ndios de verdade Guarani marcando as dist ncias e as diferen as em rela o popula o mesti a e aos ndios com cabe a de branco Os crit rios diacr ticos dos Mbya em rela o s outras parcialidades eram tamb m ling sticos e principalmente religiosos uma vez que a influ ncia mission ria cat lica era considerada por eles um marco divisor simbolicamente representado pela cruz a opy casa de reza deles diferente tem aquela cruz Em rela o aos outros grupos Mbya operavam distin es ling sticas internas ligadas s influ ncias na l ngua cotidiana do dialeto falado na sociedade branca local de origem mas principalmente ostentavam atitudes etnoc ntricas reivindicando para si uma condi o de superioridade cultural legitimada pela sacralidade de sua linhagem familiar representada pela l der xam nica CICCARONE 2001 p 26 27 A demarca o da etnicidade do grupo fundador em confronto com as o
52. Esp rito Santo no contexto da hist ria da educa o escolar brasileira e das pol ticas p blicas instauradas no Brasil a partir da promulga o da Constitui o Federal de 1988 Acreditamos que a compreens o dessa quest o poder contribuir para reafirmar a seguinte coloca o Recuperar hist rias pr prias localizadas que n o se reduzam ou repliquem os fatos de uma linha geral que no fundo s explica as montagens da administra o p blica brasileira um expediente fundamental na luta por identidades pr prias processo muitas vezes entendido erradamente como o caminho do separatismo No fundo a condi o primeira para a adequada busca de solu es pr prias para problemas singulares afinal n o se pode entender o interior do Acre com crit rios v lidos somente para Curitiba LIMA 2004 p 155 A busca de uma resposta a esta quest o poder tamb m contribuir com as reflex es acerca da hist ria da EEI brasileira 33 CAP TULO Il 2 REFERENCIAL TE RICO dada a historicidade do fen meno educativo cujas origens coincidem com a origem do pr prio homem o debate historiogr fico tem profundas implica es para a pesquisa educacional uma vez que o significado da educa o est intimamente entrela ado ao significado da Hist ria E no mbito da investiga o hist rico educativa essa implica o duplamente refor ada do ponto de vista do objeto em raz o da determina o hist rica qu
53. FUNAI 1996 No nosso ponto de vista mais importante que precisar a origem do povo Guarani em geral e do grupo Mbya em particular real ar a capacidade que tiveram e continuam tendo de preservar a cultura De modo geral a cultura guarani revela resist ncia aos efeitos das diferentes situa es de contato sobretudo em rela o religi o que se mostra particularmente imune ao contato com representantes do mundo crist o BRAND O 1994 p 300 O drama e os constantes deslocamentos territoriais marcam a cultura mbya Para esse povo a vida terrena como uma sucess o de eventos dram ticos que impelem a sociedade a produzir constantes reorganiza es de sentido e estrat gias caracterizadas pela mobilidade como condi o ontol gica do seu modo de ser e se pensar mbya movimento simbolizado na figura da caminhada como um ser em constru o uma apreens o constante do vir a ser um passado presente em dire o ao futuro CICCARONE 2001 Outro elemento que marca essa sociedade o fato de que as rela es com o divino permeiam toda a vida guarani Processo n 0720 96 Terra ind gena doada pela PMA empresa Thotam 72 Autores como Nimuendaju 1914 M traux 1927 Schaden 1974 e Clastres 1975 tendem a interpretar os deslocamentos do povo Guarani como sendo de ordem essencialmente religiosa Nimuendaju 1914 Castres 1975 Guimaraens 2003 e outros autores postulam que os deslocamentos desse povo em bus
54. Guarani experi ncia religiosa Assunci n Biblioteca Paraguaya de Antropologia 1991 124 Educa o ind gena e alfabetiza o S o Paulo Loyola 1979 125 M TRAUX A A religi o dos Tupinamb e suas rela es com a das demais tribos tupi guarani S o Paulo Nacional 1927 126 M XICO Governo Constitui o Federal do M xico Cidade do M xico 1989 127 MONTEIRO J M Os Guaranis e hist ria do Brasil meridional s culos XVI XVII In Hist ria dos ndios no Brasil CUNHA Manuela Carneiro da Cunha org S o Paulo Cia das Letras 1992 p 475 500 128 Negros da terra ndios e bandeirantes nas origens de S o Paulo S o Paulo Companhia das Letras 1994 291 129 O desafio da hist ria ind gena no Brasil In SILVA Aracy Lopes da GRUPIONI Lu s Donisete Benzi orgs A tem tica ind gena na escola Bras lia MEC MARI UNESCO 1995 p 221 236 130 MONTE N L Assessor pesquisador reflex es em torno de uma experi ncia em educa o ind gena In SILVA Aracy Lopes da FERREIRA Mariana Kawall org Pr ticas pedag gicas na escola ind gena S o Paulo Global 2001 p 47 69 131 NASCIMENTO A C Professores ndios e a escola diferenciada intercultural a experi ncia em escolas ind gena kaiov guarani e a pr tica pedag gica para al m da escola Campo Grande UCDB 2005 132 NEVES L J O Olhos m gicos do Sul do Sul lutas contra negem nicas
55. Identidade etnia e estrutura social S o Paulo Pioneira 1975 146 OLIVEN R G A ABA e os laudos antropol gicos Dispon vel em lt http Awww comciencia br comciencia gt Acesso em 20 de set 2007 147 PALADINO M Educa o escolar ind gena no Brasil contempor neo entre a revitaliza o cultural e a desintegra o do modo de ser tradicional Disserta o Mestrado em Antropologia Universidade Federal Fluminense Niter i 2001 148 PALLARES BURKE M L G As muitas faces da hist ria nove entrevistas S o Paulo UNESP 2000 149 PANKARARU P C O Projeto permanece paralisado desde 1994 In RICARDO B R Fany Povos ind genas no Brasil 2001 2005 S o Paulo Instituto Socioambiental 2006 p 80 81 150 PEIRANO M G S Uma antropologia no plural Bras lia UNB 1991 151 PEREIRA M V Nos supostos para pensar forma o e autoforma o a professoralidade produzida no caminho da subjetiva o In Ensinar e aprender sujeitos saberes e pesquisa Rio de Janeiro DP amp 2002 152 PERES N BOTELHO L Povo Guarani grande Povo Folder Dourados MS 2007 153 Plano Diretor de Desenvolvimento do Esp rito Santo A Gazeta Vit ria 1988 p 7 154 PORTO ALEGRE recebe encontro Sep e o Povo Guarani http Auww midiaindependente org Acesso em 10 outubro de 2007 155 POVOS ind genas da Am rica do Sul lt http www iwgia org gt acesso em 15 de nov de 2006 156 PREZIA B org
56. O PROGRAMA DE EEI GUARANI COMO ESPA OS DE FRONTEIRA ces iereeeerees crerarrer rrenan 274 7 REFERENCIAS sis cai o Dire Aran ge ia ra E 284 ANEXOS ca Ss aE A ca da ao pa Ta 296 ANEXO A a coa ana ab lan ct asas SE CND Db RE 297 ANEXO B innt e aeiia NAE aaa 298 ANEXO Caa Sata aaa te a S 299 AT o 1 PRENDE 300 21 INTRODU O Licenciada em Geografia pela Universidade Federal do Esp rito Santo UFES fomos convidada em 1997 a atuar como formadora da rea das Ci ncias Sociais no Curso de Forma o de Educadores ndios Tupinikim e Guarani Por meio desse foram formados 36 educadores ind genas em magist rio com especializa o em educa o escolar ind gena O Curso aprovado pelo Conselho Estadual de Educa o CEE foi realizado mediante uma parceria entre a Secretaria de Educa o de Aracruz SEMED a Secretaria de Estado da Educa o SEDU a Funda o Nacional do ndio FUNAI o Conselho Indigenista Mission rio CIMI a Pastoral Indigenista e o Instituto para o Desenvolvimento e Educa o de Adultos IDEA Os educadores ind genas foram titulados pela Escola Estadual Monsenhor Guilherme Schmidt de Aracruz Esse projeto de forma o de professores encontra se inserido no contexto do projeto pol tico desses povos que desde a d cada de 70 do s culo XX lutam pela recupera o e demarca o de suas terras consideradas devolutas pelo governo do Esp rito Santo e vendidas empresa Aracruz Celulose
57. PFL RJ e como relator o deputado Bernardo Cabral PMDB AM Essa Comiss o foi criada com a atribui o de sistematizar e dar maior coes o ao conjunto das proposi es das oito Comiss es em um nico anteprojeto de Constitui o Nessa fase dos trabalhos a ANC abriu se para o recebimento de emendas populares 133 sob a coordena o da UNI com o aval da SBPC ABA e CONAGE e com o apoio de 14 entidades ANAI BA CCPY CEDI DIB CPI AC CPI SP CTI IBCLB INESC IPU PKN SEESP foi lan ada a Proposta Popular de Emenda ao Projeto de Constitui o Das Popula es Ind genas Em 12 de agosto foi entregue a proposta popular ao Deputado Afonso Arinos Presidente da Comiss o de Sistematiza o com cerca de 43 mil assinaturas Outra emenda foi apresentada pelo CIMI ANAI RS OPAN e MIDH subscrita por 44 171 eleitores CPI SP 1988 p 16 Na proposta apresentada pela UNI e seus aliados o termo Na es Ind genas foi omitido porque se sabia que a insist ncia em inseri lo na Constitui o poderia prejudicar quest es mais importantes Essa decis o foi tomada levando se em conta o contexto hist rico de transi o pol tica com forte presen a dos militares no governo obcecados pelo discurso da seguran a nacional e da integridade territorial do Estado na o brasileiro Na realidade a entrega de duas propostas de emenda constitucional foi uma estrat gia pol tica adotada pelas organiza es ind genas e indige
58. Paran e chegou ao aldeamento do Esp rito Santo CICCARONE 2001 78 3 1 3 As aldeias guarani do Esp rito Santo JO O NEIVA Aldeia de Comboios IBIRA U Aldeia de Iraj ee de Piraqu a u ESPIRITO SANTO Figura 4 Localiza o das aldeias guarani do munic pio de Aracruz no ES Fonte Folder da EEI de Aracruz Como j foi dito no Esp rito Santo os Guarani compartilha o territ rio de Caieiras Velhas Figura 4 com os Tupinikim no qual est o localizadas as aldeias guarani de 79 Boa Esperan a Tr s Palmeiras e Piraqu a u e duas aldeias tupinikim Caieiras Velhas e Iraj De acordo com o senso demogr fico realizado pela FUNAI no ano de 2006 encontravam se vivendo nas tr s aldeias guarani do Esp rito Santo um total de 251 pessoas sendo cinco n o ndias duas tupinikim 198 mbya e 46 nhand va S o nove fam lias nhand va e 55 fam lias mbya vivendo distribu das entre as tr s aldeias No trabalho de campo constatamos que existem tamb m pessoas do subgrupo kaiov vivendo nas aldeias guarani do Esp rito Santo quest o que n o foi considerada pelos funcion rios da FUNAI respons veis pela realiza o do censo populacional das aldeias guarani A maior parte da popula o guarani do Esp rito Santo tem menos de 26 anos de idade A distribui o dessa popula o segundo a faixa et ria apresentada na Tabela 1 TABELA 1 FAIXA ET RIA DA POPULA O GUARANI
59. Santo pelos menos o que foi constatado ap s uma consulta aos jornais impressos de maior circula o no Estado Os jornais capixabas fizeram uma cobertura quase que di ria dos trabalhos da ANC por m n o foi veiculada nenhuma not cia sobre o movimento dos povos ind genas no processo O relator Bernardo Cabral modificou o Substitutivo permitindo a explora o indiscriminada dos min rios e retirando qualquer direito ou prote o aos ndios considerados aculturados CPI SP As den ncias foram t o graves que 135 provocaram a convoca o de uma Comiss o Parlamentar Mista de Inqu rito CPMI no Congresso Nacional destinada a apurar a veracidade delas No relat rio da CPMI elaborado pelo Senador Ronan Tito PMDB MG ficou demonstrada a m f do jornal ao divulgar informa es baseadas em documentos falsos Uma manobra realizada pelo presidente da CPI Deputado Roberto Cardoso Alves impediu a aprova o do relat rio final que conclu a pela improced ncia das acusa es Mesmo assim esse relat rio foi assinado pela maioria dos membros da CPI CPI SP 1988 p 28 Em agosto de 1987 o deputado Bernardo Cabral relator da Comiss o de Sistematiza o finalizou o seu Substitutivo ao Projeto de Constitui o Em rela o aos direitos dos povos ind genas houve um significativo retrocesso prevalecendo as teses de um grupo de deputados e senadores do PMDB e do PFL liderados pelo senador Jos Richa PM
60. Santo s o uma constante em suas representa es sobre a EEI Al m da quest o da circularidade cultural constatamos tamb m que eram frequentes as mudan as e as transforma es dos discursos sobre a escolariza o Ciccarone 2001 afirma que muitas das lideran as religiosas e pol ticas de Boa Esperan a tinham d vidas se deveriam ou n o aceitar que fosse ensinada a escrita da l ngua guarani e at mesmo se a escola seria ou n o importante para os ndios Um dos temas pol micos que Toninho trazia para a discuss o da coletividade referia se s novas orienta es da educa o ind gena Enquanto os jovens l deres militantes dos movimentos ind genas manifestavam sua ansiedade em dominar o sistema letrado os mais velhos ficavam na defensiva alegando a necessidade do fortalecimento das formas de aprendizado tradicional das crian as na vida cotidiana atrav s da imita o das condutas dos adultos e da pr tica dos conselhos A pol mica se concentrava na introdu o da escrita na l ngua nativa Trazendo not cias sobre experi ncias realizadas em outras aldeias Toninho argumentava tratar se de transcri es infi is e mostrava sua preocupa o quanto apropria o e dom nio da l ngua nativa por parte dos brancos possibilitados pelos registros da escrita CICCARONE 2001 p 280 Essa informa o causou nos estranhamento uma vez que durante o trabalho de campo realizado no ano de 2006 foi poss vel constatar que o
61. Temos a tend ncia de nos definirmos pela nossa nacionalidade somos ingleses brasileiros indianos ou jamaicanos Mesmo sendo de forma metaf rica e sabendo que identidades nacionais n o est o literalmente impressas em nossos genes acabamos pensando nelas como se fossem parte de nossa natureza essencial HALL 2005 As identidades nacionais n o s o coisas com as quais n s nascemos mas s o formadas e transformadas no interior da representa o N s s sabemos o que significa ser ingl s devido ao modo como a inglesidade veio a ser representada como um conjunto de significados pela cultura nacional inglesa A na o n o apenas uma entidade pol tica mas algo que produz sentido um sistema de representa o cultural As pessoas n o s o apenas cidad os s legais de uma na o elas participam da id ia de na o tal como representada em sua cultura nacional Uma na o uma comunidade simb lica e isso que explica seu poder para gerar um sentimento de identidade e lealdade HALL 2005 p 47 O mesmo ponto de vista compartilhado por Anderson 1989 ao afirmar que a na o uma comunidade pol tica imaginada uma vez que os membros pertencentes a ela jamais se conhecer o uns aos outros nem os encontrar o nem sequer ouvir o falar deles embora na mente de cada um a imagem de sua comunh o se encontre fortemente marcada A na o imaginada e tamb m limitada j que existem fronte
62. acultura o que mantenham uma conviv ncia constante com a sociedade nacional e que n o habitem terras ind genas ANEXO B CAP TULO VIII DOS NDIOS Art 231 S o reconhecidos aos ndios sua organiza o social costumes l nguas cren as e tradi es e os direitos origin rios sobre as terras que tradicionalmente ocupam competindo Uni o demarc las proteger e fazer respeita todos os seus bens 1 S o terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios as por eles habitadas em car ter permanente as utilizadas para suas atividades produtivas as imprescind veis preserva o dos recursos ambientais necess rios a seu bem estar e as necess rias a sua reprodu o f sica e cultura segundo seus usos costumes e tradi es 2 As terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios destinam se a sua posse permanente cabendo lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo dos rios e dos lagos nelas existentes 3 O aproveitamento dos recursos h dricos inclu dos os potenciais energ ticos a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras ind genas s podem ser efetivados com autoriza o do Congresso Nacional ouvidas as comunidades afetadas ficando lhes assegurada participa o nos resultados da lavra na forma da lei e As terras de que trata este artigo s o inalien veis e indispon veis e os direitos sobre elas imprescrit veis 5 vedada a remo o dos grupos ind genas de su
63. alunos guarani do Esp rito Santo que at dezembro de 2007 n o tinham ainda iniciado o est gio de doc ncia Na maior parte do tempo os alunos guarani estudaram sozinhos ou quando poss vel contaram com a ajuda do professor Mauro e de alunos de p s gradua o da UFES que fazem pesquisa nas aldeias para os quais a SEDU oferece o transporte Uma nica assessoria foi paga pela SEDU em parceria com o MEC que foi o Curso de L ngua Guarani Mbya ministrado pela professora Ruth Montserrat SEED SC 2007 Correspond ncia da professora Nieta para a coordena o do Curso em 2007 Arquivo da SEDU 217 A professora Kalna ex aluna do mestrado em educa o da UFES tem apoiado os alunos guarani na constru o do projeto na pesquisa e na elabora o das monografias que ter o de produzir at o final do Curso O trabalho dessa professora tem sido realizado em comum acordo com as professoras Sm nia e Fl via respons veis pela disciplina A pesquisa como norteadora do processo ensino aprendizagem do Curso de Forma o de Professores Guarani A primeira etapa de estudo da L ngua Guarani com a professora e ling ista Ruth Montserrat aconteceu entre os dias 22 de julho e 4 de agosto de 2006 e o segundo de 20 a 31 de agosto de 2007 nas aldeias de Tr s Palmeiras e Boa Esperan a Participaram do estudo os alunos do Curso de Forma o Ind gena Guarani os outros professores guarani alunos do 4 ao 7 ano do Ensino F
64. atua o na EEI A Resolu o CNE CEB n 002 de 19 de abril de 1999 institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Forma o de Docentes da Educa o Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental em n vel m dio na modalidade Normal A Resolu o CEB CNE n 003 de 10 de novembro de 1999 fixa as diretrizes nacionais para o funcionamento das escolas ind genas 43 No MEC a EEI est a cargo da Secretaria de Educa o Continuada Alfabetiza o e Diversidade SECAD 158 O Referencial Curricular Nacional de Educa o Ind gena RCNE Ind gena publicado no final de 1998 foi elaborado com o objetivo de subsidiar a elabora o e a implementa o de programas de EEI e contribuir para a forma o de professores ind genas e de t cnicos a fim de que se tornem aptos a apoiar e viabilizar essa modalidade de ensino Esse documento foi produzido com a contribui o de diversos professores ndios com algumas secretarias estaduais e municipais de educa o de entidades n o governamentais e de intelectuais de diversas universidades brasileiras tais como professores antrop logos e ling istas Em decorr ncia disso o documento reflete a multiplicidade dos atores envolvidos em sua formula o MEC 1995 A multiplicidade de atores envolvidos no processo de elabora o do RCNE Ind gena foi muito positivo pois assim se agregou ao documento um valor pol tico muito maior Sendo esse processo constru do coletivam
65. cacique Toninho era uma das pessoas que mais apoiavam a constru o da EEI e que defendia tamb m a alfabetiza o das crian as na l ngua guarani Essas quest es levaram nos a pesquisar as representa es dos Guarani do Esp rito Santo acerca da escola e principalmente as transforma es dessas representa es ao longo dos tempos 40 Retomando a quest o relativa s representa es dos Guarani do Esp rito Santo a respeito da escola e do ensino da l ngua guarani escrita registrada por Ciccarone 2001 e as atuais representa es levantadas nesta pesquisa sentimos a necessidade de fazer algumas reflex es acerca da identidade dos Guarani De acordo com Ciccarone 2001 as d vidas dos Guarani em rela o educa o escolar e ao ensino da l ngua tinham a ver com preocupa o com a preserva o da identidade tnica Outros fatores nos levaram nos a refletir sobre a quest o da identidade tnica O primeiro deles relaciona se ao fato de viverem no Esp rito Santo al m do subgrupo Guarani Mbya tamb m algumas fam lias Nhand va e Kaiov e de que constantemente ocorrem afloramentos da identidade tnica de cada um deles O segundo fator refere se quest o de o Brasil reconhecer a diversidade cultural dos povos ind genas Por m sabemos que historicamente antes da promulga o da Constitui o Federal de 1988 prevalecia o ide rio de se construir uma identidade nacional a partir da homogeneiza o da popula
66. classe na oitava etapa do Curso os alunos foram divididos em quatro grupos os de n vel avan ado os de n vel intermedi rio os de n vel inicial e aqueles que precisavam fazer uma imers o em l ngua guarani Na reuni o do conselho de classe foram apontados alguns outros problemas existentes no Curso como o despreparo dos t cnicos das secretarias a aus ncia de um curr culo referenciado na cultura guarani a necessidade de articular a etapa regional com a etapa intensiva de forma o a aus ncia de acompanhamento no trabalho de pesquisa e de reuni es pedag gicas para planejamento O professor Bessa presente no conselho de classe chamou a aten o para a necessidade de relativiza o da import ncia dos planejamentos a gente t aprendendo no caminhar a gente sai do Curso com condi es de planejar Nosso discurso de dentro das institui es tem que haver negocia o relativiza o Temos que planejar para n o se perder mas no fundo tem que des planejar O professor que se quer formar n o o juru a men o honrosa que o Marcelo recebeu uma avalia o do curso E necess rio respeitar os processos pr prios de pesquisa relata caso da mestranda Terena que pesquisa sobre os processos pr prios de aprendizagem Terena O que se perde e o que se ganha Chomsky s o vis es diferentes 87 SEED SC 2007 213 Cada aluno do Curso deveria elaborar uma monografia no decorrer do processo de form
67. cola de Rio Bananal e em escolas de Aracruz foi necess rio ampliar a pesquisa tamb m no espa o O trabalho com uma diversidade maior de fontes permitiu que n o prevalecesse uma vis o unilateral da hist ria tampouco uma hist ria tribunal mas sim que pud ssemos explicitar e tentar compreender as rela es de for a e os atravessamentos no processo analisado Com a leitura cr tica dos depoimentos orais e dos documentos escritos conseguimos compreender as rela es de for a e tamb m v rios outros elementos relacionados ao processo de escolariza o dos Guarani do Esp rito Santo Logo pode se afirmar que o processo de escolariza o desse grupo se encontra atravessado por uma s rie de quest es a cultura desse povo as rela es de for as entre os grupos familiares e entre os subgrupos guarani 38 as rela es com grupos guarani de outros estados e com o povo Tupinikim a luta pela terra a a o de organiza es indigenistas a cria o de pol ticas p blicas estaduais e municipais entre outras Da a necessidade que tivemos de buscar essas inter rela es de forma a construir uma vis o ampliada desse processo de escolariza o O pensamento de Hobsbawm e de Ginzburg constituiu importante ferramenta de an lise na compreens o da inter rela o de quest es mais amplas tais como os movimentos s ciopol ticos dos povos ind genas a mudan a de paradigma nas Ci ncias Sociais as mudan as eclesiais q
68. com a comunidade As pondera es da professora ajudaram a comunidade a compreender que as quest es relativas ao ensino das l nguas portuguesa e guarani da constru o da proposta curricular e da educa o escolar s o na realidade um ato pol tico que ultrapassa as fronteiras da did tica Foram profundas as reflex es dos Guarani a respeito da quest o da preserva o da l ngua e da cultura Resumindo eles disseram que as decis es que as pessoas da sociedade guarani tomarem em rela o l ngua e cultura do seu povo t m de ser coletivas mas precisa ser levado em considera o o compromisso moral das gera es atuais com as passadas e futuras O compromisso com as gera es passadas deve ocorrer pois gra as a eles que nos dias atuais h uma cultura 234 espec fica e diferenciada assim como uma l ngua viva Os Guarani de hoje podem tomar a decis o de abrir m o de um elemento da cultura como por exemplo a l ngua mas essa decis o tem de ser tomada levando se em considera o o que as gera es futuras poder o sofrer em consequ ncia dessa decis o As reflex es ajudaram a comunidade a compreender por que a alfabetiza o deve ser em l ngua guarani A l ngua um dos elementos da cultura que ajudam a construir a identidade da crian a Assim a alfabetiza o em guarani ajudar a refor ar a identidade cultural da crian a O ensino da l ngua guarani escrita ajuda tamb m na recupera o e no forta
69. da Antropologia O neo historicismo dos anos 1990 fez se acompanhar por uma crescente agentiviza o daqueles que apareciam como sujeitos passivos nos modelos anteriores os pr prios ndios Uma nova vis o da intera o dos povos ind genas com a sociedade nacional come a a povoar os textos antropol gicos o discurso da vitimiza o cede lugar ao da criatividade dos agentes hist ricos na situa o de contato O a historicismo estrutural culturalista que respondia ao assimilacionismo com uma nega o algo 55 ing nua das transforma es em curso d espa o valoriza o dos pr prios processos de transforma o N o mais a l gica do plus a change plus c est la m me chose Agora trata se de buscar positividades na pr pria mudan a FAUSTO acesso em 20 jun 2007 Se por um lado a Antropologia brasileira contribuiu para a constru o de etnografias sobre povos ind genas espec ficos das terras baixas sul americanas por outro lado tem sido constante a omiss o nesses trabalhos de dados sobre a educa o escolar existentes nas aldeias Assim a grande maioria dos trabalhos antropol gicos ignora ou omite dados sobre a educa o escolar como parte da vida cotidiana das aldeias ou faz uma breve men o a sua exist ncia em cap tulo introdut rio em que fala tamb m da exist ncia de postos da FUNAI de igrejas de acesso s cidades vizinhas etc E claro que a escola nem sempre tem re
70. da educa o ind gena S o Paulo Brasiliense Comiss o Pr Indio 1981 202 Uma antropologia da educa o no Brasil Reflex es a partir da escolariza o ind gena In SILVA A L FERREIRA M K L Antropologia hist ria e educa o S o Paulo Global 2001 p 20 43 203 QUIEZZA Jocelino da Silveira A Revitaliza o Ling stica Como Instrumento de Resgate da Identidade Cultural dos Indios Tupinikins de Aracruz Esp rito Santo Monografia Curso de Pedagogia Faculdade de Ci ncias Humanas de Aracruz 2005 204 SILVA H D O Estado brasileiro e a educa o escolar ind gena um olhar sobre o plano nacional de educa o Caxambu ANPED 2001 205 SILVA M F A conquista da escola educa o e movimento de professores ind genas no Brasil Em Aberto Bras lia ano 14 n 63 jul set 1994 206 SORIA J I L Filosofia e interculturalidade Lima Per Universidad Nacional Mayor de San Marcos 2002 207 SOUZA FILHO C F M Multiculturalismo e direitos coletivos In SANTOS B S Reconhecer para libertar os caminhos do cosmopolitismo multicultural Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2008 208 SOUZA M T O processo decis rio na Constitui o de 1988 pr ticas institucionais Lua Nova S o Paulo n 58 2008 296 209 SUEZ P Culturas ind genas e evangeliza o pressupostos para uma pastoral inculturada de liberta o Revista Eclesi stica Brasileira Rio de Janeiro
71. da hist ria da educa o escolar brasileira e das pol ticas p blicas instauradas no Brasil a partir da promulga o da Constitui o Federal de 1988 Por se tratar de um estudo de caso na perspectiva hist rica utiliza tanto a an lise de documentos como as observa es e as entrevistas Os resultados apontam a escolariza o e a EEI guarani como processos hist ricos e a escola e o Programa de EEI Guarani como espa os de fronteira Como processos hist ricos a escolariza o e a EEI guarani encontram se relacionadas a v rios outros processos e t m sofrido algumas transforma es e atravessamentos Os processos de escolariza o e da institucionaliza o da EEI guarani no Esp rito Santo encontram se relacionados a v rios outros processos tais como a luta desse povo pelo reconhecimento de seus direitos o movimento nacional dos povos ind genas e o apoio das organiza es indigenistas pela institucionaliza o de pol ticas p blicas que levem em considera o a quest o da diversidade cultural Tamb m como processo hist rico o processo da escolariza o e a EEI guarani apresentam algumas transforma es como as mudan as de suas representa es acerca da educa o escolar a forma o e contrata o de professores guarani e a constru o da proposta curricular diferenciada para as escolas das aldeias Ainda como processos hist ricos os processos de escolariza o e a EEI guarani sofrem diversos atravessamentos tais co
72. da pela SEDU e entregue Prefeitura de Aracruz no ano de 1987 Essa escola era classificada pela SEDU como sendo uma escola rural portanto o seu pr dio foi 14 Na aldeia de Piraqu a u n o existe escola os alunos desta aldeia estudam na EMPI Tr s Palmeiras 89 constru do seguindo um padr o t pico dessas escolas tendo uma sala de aula uma cozinha um dep sito e dois banheiros No ano de 2004 essa escola ganhou um anexo em forma de cabana onde funciona a pr escola A EMPI Boa Esperan a encontra se localizada no terreno de menor altitude da aldeia longe da rea residencial Segundo a professora Aciara 2006 na poca em que ela foi constru da as fam lias moravam em seu entorno Como costume do seu povo as pessoas com o tempo foram mudando para outra parte do territ rio Segundo Ciccarone 2001 o deslocamento da habita o para o povo Guarani uma estrat gia no processo de enfrentamento de crises conflitos e de situa es de perigo a amea a dos esp ritos dos mortos A mobiliza o ent o recriadora da configura o do espa o social Figura 8 EMPI Boa Esperan a Fonte Arquivo da pesquisadora A EMPI Tr s Palmeiras localizada na aldeia foi institu da legalmente em 2000 O pr dio onde funciona foi constru do gra as a uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Aracruz a Igreja Metodista a FUNAI e a empresa Aracruz Celulose A escola foi ampliada em 2004 pela Prefeitur
73. de escolariza o dos Guarani Por m a observa o da quest o dos deslocamentos territoriais guarani e a cria o de pol ticas p blicas comuns entre os estados da Federa o onde vive esse povo s o de fundamental import ncia para a constru o da EEI guarani Devido falta de territ rios e de recursos adequados que permitam a reprodu o f sica e cultural nos discursos das pessoas guarani a institui o escolar aparece como uma importante aliada n o somente para a revitaliza o cultural mas tamb m para se alcan ar a auto sustentabilidade e o etnodesenvolvimento das aldeias Com a posse permanente da nova rea poder crescer a import ncia do papel da escola no processo de recupera o das terras e na constitui o de novas aldeias Cabe ressaltar ainda que as representa es acerca do objetivo da escola dependem muito do papel social desempenhado por aquele que fala Os mais velhos e as lideran as pol ticas e religiosas por desempenharem o papel de guardi es da cultura v em a escola como um espa o que pode contribuir para o resgate e preserva o da cultura A quest o da sobreviv ncia f sica sempre uma grande preocupa o dos pais Como espa o de fronteira a escola e o Programa de EEI Guarani podem ser considerados como um espa o de ndios e de n o ndios e assim um espa o de 279 ang stias incertezas mas tamb m de oportunidades e de criatividade um espa o de contato onde afloram t
74. de setembro de 2002 167 Ata de reuni o de trabalho do grupo de educ o ind gena Guarani Florian poles agosto de 2003 168 IV Etapa do Programa de Forma o para a Educa o Escolar Guarani na Regi o Sudeste e Sul do Brasil Kuaa Mbo e conhecer ensinar Praia de Palmas Santa Catarina 169 Relat rio do Semin rio de Discuss o do Programa de Forma o de Professores Guarani Cambori Santa Catarina dezembro de 2002 170 Primeira Vers o do Projeto do Curso de Magist rio Guarabu Santa Catarina 2002 171 Ata de Reuni o de trabalho do grupo de educa o ind gena Guarani Santa Catarina 2008 172 Proposta de Projeto Pol tico Pedag gico para o Programa de Forma o para a Educa o Escolar Guarani na Regi o Sul e Sudeste do Brasil Kuaa Mbo e conhecer ensinar 1 Santa Catarina 2008 178 Relat rio da Etapa do Programa de Forma o para a Educa o Escolar Guarani na Regi o Sudeste e Sul do Brasil Kuaa Mbo e conhecer ensinar Rodeio Santa Catarina 2008 174 Relat rio da V Etapa do Programa de Forma o para a Educa o Escolar Guarani na Regi o Sudeste e Sul do Brasil Kuaa Mbo e conhecer ensinar Praia de Palma Santa Catarina 2008 294 175 Proposta de Projeto Pol tico Pedag gico para o Programa de Forma o para a Educa o Escolar Guarani na Regi o Sul e Sudeste dp Brasil Kuaa Mbo e conhecer ensinar 2 Santa Catarina 2
75. do modo de ser guarani O Tekoa n o significa somente a terra mas tamb m a casa e as rela es com os parentes onde enterram os mortos rezam e onde reside o direito divino de fazerem suas ro as Dessa forma a fixa o de um grupo guarani em um territ rio n o aleat ria corresponde obedi ncia a uma mensagem divina bem como realiza o das regras sociais desse povo GUIMARAENS 2003 O povo Guarani reconhece o direito divino de uso e ocupa o da terra por outros grupos inclusive pelos regionais embora n o aprovem os m todos de utiliza o do solo Esse povo n o consegue entender o devastador uso da terra por parte dos n o ndios com a morte de plantas e animais nativos para a introdu o de novas plantas e novos bichos pela m o humana GUIMARENS 20083 z Do ponto de vista guarani n o l cito disputar territ rios Os Guarani n o reconhecem a propriedade de uma pessoa sobre a terra uma vez que essa uma d diva divina Em contrapartida esperam o reconhecimento tamb m do seu direito terra que pensam ser com ou sem raz o hist rica anterior e primeiramente guarani Para o povo Guarani Nhander deixou esses lugares para eles Em todo o Brasil o povo Guarani tem enfrentado problemas com a invas o de seus territ rios por parte de empresas fazendeiros imobili rias entre outros A redu o e muitas vezes a falta de territ rios adequados s o um dos fatores que t m prejudicado a
76. e convidaram tamb m as lideran as Essa foi uma estrat gia para evitar a monopoliza o do discurso por parte desses ltimos A reuni o de pais realizada na aldeia de Tr s Palmeiras no dia 13 de junho de 2006 foi coordenada pelo professor Mauro Em um primeiro momento esse professor explicou para os presentes os objetivos Em seguida para introduzir o 104 Projeto do Curso de Forma o Continuada 2004 232 assunto da proposta curricular a professora Joana contou na l ngua guarani a hist ria do chefe ind gena norte americano que recusou a oferta do governo que oferecia vagas em escolas n o ind genas para os jovens da tribo ind gena sob a alega o que os ensinamentos das escolas n o ndias n o tinham utilidade para os ind genas ao mesmo tempo convidava os jovens n o indios para vir estudar na aldeia A partir dessa hist ria foi poss vel come ar a discuss o acerca do papel que deve ser desempenhado pela escola na sociedade guarani Para nortear as reflex es do segundo momento das discuss es sobre a proposta curricular elaboramos perguntas com base nos dados a respeito das representa es da comunidade guarani acerca da EEI apresentadas anteriormente aos professores Como din mica para esse segundo momento da reuni o foi organizado um trabalho de grupo durante o qual os pais deveriam responder s seguintes quest es 1 Qual o papel que a escola deve desempenhar na sociede guarani 2 Quais
77. e heterog neo de iniciativas movimentos e organiza es que partilham a luta contra a exclus o a discrimina o social e a destrui o ambiental produzidas pela globaliza o Para isso recorrem s articula es transnacionais tornadas poss veis pela revolu o das tecnologias de informa o e de comunica o SANTOS 20083b M ltiplas reivindica es locais foram congregadas em torno de argumenta es que se tornaram gerais e consensuais ao longo da realiza o de v rios congressos especialmente no continente americano no rtico e no Pac fico Sul Ao se constitu rem em mbito mundial as lutas ind genas pelos direitos terra foram se organizando em nome dos direitos diferen a cultural e dos direitos autonomia e elegeram o mbito dos direitos internacionais como refer ncia e foro para debate Em 1970 a Subcomiss o para a Preven o da Discrimina o e Prote o das Minorias recomenda estudo sobre a discrimina o contra ind genas Em 1977 o American Indian Movement obteve status consultativo junto ao Economic and Social Council of the United Nation ECOSOC Em 1977 e 1981 as organiza es n o governamentais NGO organizam confer ncias de assuntos ind genas em Genebra Em 1982 o Working Group on Indigenous Populations das Na es Unidas torna se f rum do movimento internacional dos Povos Ind genas MACHADO 1994 acesso em 9 set 2006 2 A globaliza o o proces
78. econ micas d vidas hist ricas sociais e ecol gicas juventude e complementa o homem mulher no processo de mudan a alian as estrat gicas e comunica o ind gena DA RESIST NCIA Acesso em 11out 2006 Outro encontro de representantes de povos ind genas realizado no ano de 2006 aconteceu na cidade de Buenos Aires na Argentina onde se reuniram 106 representantes do Chile da Bol via do Brasil do Peru da Col mbia do Panam e do M xico com o objetivo de compartilhar experi ncias e analisar o contexto da comunica o entre os diversos povos ind genas do continente americano Os direitos ind genas institu dos n o foram ainda materializados por meio das pr ticas governamentais por m n o restam d vidas de que os povos ind genas alcan aram um novo patamar em suas rela es entre si pr prios e com o Estado Outro aspecto interessante da luta dos povos ind genas que apesar de todas as dificuldades e da exclus o os l deres ind genas da Am rica Latina t m se apropriado de novos espa os pol ticos pondo fim a governos e influenciando nas esferas de poder local e parlamentar Os movimentos ind genas da Am rica Latina derrubaram os presidentes da Bol via e do Peru desenvolveram novos caminhos nos processos pol ticos e ocuparam diversos cargos em parlamentos minist rios e prefeituras CEVALLOS 2004 p 4 Os resultados da ltima elei o presidencial da Bol via realizada em dezembro de
79. eles Para resolver essa quest o a coordena o do Curso e os formadores de pesquisa Matem tica e Fundamentos em Educa o reuniram se em Porto Alegre em julho de 2007 para a realiza o de um conselho de classe Nesse conselho cada aluno foi avaliado individualmente pelos formadores Sandra Benites muito dedicada teve um avan o na l ngua guarani escrita Faz relatos significativos tem um trabalho de pesquisa excelente E organizada Sua participa o fundamental nas aulas Demonstra lideran a Tem uma excelente produ o textual em Portugu s e Guarani Encaminhamento parab ns Joana Carvalho da Silva E lideran a avan ou muito quando n o entende pede ajuda aos colegas Prefere se comunicar em guarani Tem muita dificuldade com a oralidade escrita e leitura em portugu s Faz coment rios importantes para o desenvolvimento da turma Tem dificuldade de produzir textos em portugu s O trabalho de pesquisa est sendo realizado em guarani Tem o respeito da turma Encaminhamentos trabalhar com o portugu s Joana s bia guarani do Esp rito Santo tornou se uma pessoa muito importante para o Curso Respeitada por todos ela tem contribu do para o di logo intercultural da forma o 88 Relat rio do conselho de classe do Curso SEED SC 30 de julho de 2007 212 Figura 28 Participa o da aluna Joana na aula do professor Bessa Fonte Arquivo do Curso Com base nos resultados do conselho de
80. em suas Constitui es o direito dos povos ind genas propriedade coletiva da terra Existem grandes diferen as jur dicas tamb m em rela o ao direito terra entre os pa ses onde vive o povo Guarani Argentina e Paraguai reconhecem aos povos ind genas o direito propriedade coletiva das terras que tradicionalmente ocupam O 37 O castelhano a l ngua oficial da Col mbia As l nguas e dialetos dos grupos tnicos s o tamb m oficiais nos seus territ rios O Equador respeita e estimula o desenvolvimento de todas as l nguas dos equatorianos O casteliano a l ngua oficial O qu chua o xuar e as demais l nguas ancestrais s o de uso oficial para os povos ind genas nos termos que a lei determina A l ngua oficial da Venezuela o casteliano As l nguas ind genas tamb m s o de uso oficial para os povos ind genas e devem ser respeitados em todo o territ rio da Rep blica por constitu rem patrim nio cultural da Na o e da humanidade S o l nguas oficiais do Peru o casteliano e nas zonas onde predominam tamb m o s o o qu chua o aymara e as demais l nguas abor gines segundo a lei O conceito de privado nesse caso est sendo utilizado para o ambiente da aldeia e n o somente da fam lia 141 Brasil reconhece a posse da terra aos povos ind genas e a Bol via apenas o uso delas As constitui es da Argentina da Venezuela do Equador do M xico e do Peru asseguram aos povos ind genas o direito a
81. fato de esse aspecto da cultura guarani exercer grande influ ncia no processo de escolariza o desse povo 3 1 2 A funda o das aldeias guarani do Esp rito Santo Como qualquer aldeamento ind gena guarani que se forma com base em uma fam lia extensa as aldeias guarani do Esp rito Santo tiveram como grupo fundador aquele que era liderado por Tatati Yva Re Ete Figura 3 e seus decendentes que migraram para o Esp rito Santo na d cada dos 60 do s culo XX Figura 3 Tatati Yva Re Ete e seu esposo Jo o dos Santos 1990 Fonte Arquivo particular de Florence Zanatelli 75 Essa l der religiosa nasceu no Paraguai e teve como primeiro marido Roque Benites Do casamento de Tatati com Roque Benites nasceram no Paraguai quatro mulheres Aurora Paulina Maur cia e Augusta e no deslocamento para a Aregentina nasceu outro filho que recebeu o nome de Roque como o do pai O grupo era composto nesse per odo de duas fam lias aliadas pelo la o matrimonial entre Tatati e seu primeiro esposo Roque O aprendizado xam nico de Tatati deu se sob os cuidados da sogra Maria Angela tamb m paraguaia CICCARONE 2001 p 237 Cabe ressaltar que os Guarani do Esp rito Santo ao contr rio dos grupos localizados em aldeamentos do Sul e do Sudeste do Esp rito Santo rejeitam a designa o Mbya dada pelos antrop logos dizem que n o podem aceitar essa denomina o porque mbya na l ngua guarani significa ndio desconhec
82. foram invadidas pela empresa Aracruz Celulose para o plantio de eucalipto outro fator que atravessa a escolariza o e a EEI guarani O pedagogo Mauro teve seus estudos de gradua o em Pedagogia pagos pela empresa Aracruz Celulose como parte de acordo de ajustamento de conduta firmado entre a Aracruz Celulose e os povos ind genas no ano de 1998 Tr s professores tupinikim que est o atuando nas turmas do 6 ao 9 ano tamb m estudavam com bolsas de estudo pagas pela Aracruz Celulose Essas bolsas foram Em mar o de 2007 15 pessoas das aldeias estavam trabalhando como servidores p blicos cinco na limpeza p blica duas no saneamento duas na sa de e seis na educa o Por esse acordo a empresa Aracruz Celulose se comprometia em repassar para as aldeias ind genas a quantia de 11 milh es e 400 mil reais a serem pagos no prazo de vinte anos e a serem gastos em projetos comunit rios para as aldeias devolver uma rea de 2 571 hectares de terras coberta de eucal ptos aos quais a Aracruz se comprometeu a prestar apoio e a desenvolver o fomento atrav s de explora o desse recurso participar de projetos do NISI ES ou de programa semelhante que lhe venha a suceder sempre em favor da comunidade e aportar recursos no valor m nimo de R 7 980 00 ao ano pagar gua e energia el trica consumida pela comunidade diretamente s companhias concession rias de tais servi os at o total de R 193 800 Os valores estabelecid
83. gabinete do governador Max Mauro a segunda reuni o em que o assunto Plano Diretor de Desenvolvimento do Esp rito Santo foi discutido entre membros do governo e representantes de empresas como a ESCELSA a Aracruz a CST a Carbo Industrial e a CVRD Estamos discutindo como nos preparar para o novo ciclo de desenvolvimento industrial do Estado sintetizou Albuino secret rio de planejamento PLANO 1988 O enfrentamento dessa pol tica de produ o da n o exist ncia dos povos ind genas vem se dando em diversas frentes entre as quais se destacam a luta pela terra e a insist ncia por parte dos povos ind genas em que seja institu da uma educa o escolar e uma assist ncia sa de que respeitem as diferen as culturais existente entre eles No caso espec fico da educa o escolar a principal estrat gia utilizada pelos Tupinikim e pelos Guarani tem sido a de come ar as atividades escolares com recursos pr prios ou com a parceria de institui es n o governamentais e no processo pedir a regulamenta o e o cumprimento da legisla o existente no mbito federal Assim foi com a cria o da EMPI Tr s Palmeiras que come ou a funcionar em uma cabana de palha emprestada pela comunidade Figuras 38 e 39 Devido insist ncia da comunidade guarani de Tr s Palmeiras em 1998 a SEDU aceitou contratar o aluno Mauro que passou a atuar como professor de uma turma 256 de 1 s rie infantil diurno e outra de educa
84. genas de mais de 30 na es percorreram todos os gabinetes de deputados e senadores levando textos das demandas que apoiavam para o cap tulo sobre os ndios Alcenir Guerra Jarvas Passarinho Carlos Cardenal Fl vio Feldman e Eraldo Trinidade Na ltima semana antes da vota o os ndios fizeram corredor polon s no acesso ao plen rio abordando cada constituinte que passava Todos os ndios compenetraram se em dominar a proposta em detalhe e em conhecer as propostas contr rias Os ndios utilizaram a estadia em Bras lia nos dias precedentes ao do acordo para visitar personalidades do mundo branco em busca de alian as o Procurador Geral da Rep blica o Presidente do Conselho Federal da OAB o Reitor da Universidade de Bras lia o Secret rio Geral do Minist rio da Justi a e do Conselho da Defesa dos Direitos Humanos e o Presidente da Diretoria da CNBB GAIGER 1988 p 96 No m s de julho de 1988 o redator da Constitui o o deputado Bernardo Cabral entregou o Projeto de Constitui o B que foi a reda o revisada e renumerada do que foi aprovado pelo Plen rio da ANC O Projeto de Constitui o B apresentava duas altera es anti regimentais em dois artigos relativos aos povos ind genas o que tratava da posse da terra pelos ndios e o relativo demarca o das terras ind genas Esse fato exigiu das organiza es ind genas e indigenistas uma grande 138 correria ca a dos constitu
85. ind genas sejam amplamente protegidos sendo que inclusive algumas comunidades defendem o garimpo ind gena e manejo florestal para garantir a sua sustenta o PANKARARU 2006 p 80 Uma grande esperan a de aprova o do Estatuto do ndio surgiu com a elei o de Lula para o primeiro mandato Lula e a bancada petista se comprometeram em defender a aprova o da nova lei Por m essa quest o continua sendo mais uma dentre as tantas promessas de campanha PANKARARU 2006 p 81 Nesses 15 anos 1991 2006 em que o projeto de reformula o do Estatuto do ndio tramita pelo Congresso Nacional as organiza es ind genas e indigenistas t m feito manifesta es e realizado den ncias e campanhas pela aprova o desse estatuto Essa reivindica o tem entrado sempre nas propostas dos F runs Sociais Mundiais elaboradas pelos povos ind genas brasileiros e encaminhadas ao Congresso Nacional Essa tamb m uma das reivindica es do documento final da Confer ncia dos Povos e Organiza es Ind genas do Brasil realizada em Santa Cruz de Cabr lia no ano de 2000 Nove representantes da Comiss o Ind gena P s Confer ncia e os diretores do Cimi que se encontram reunidos em Luzi nia munic pio vizinho a Bras lia entregaram ontem 19 06 2002 C mara dos Deputados o abaixo assinado que pede aos parlamentares a aprova o do Estatuto dos Povos Ind genas nos termos da proposta da Assembl ia Ind gena de 2001 encaminh
86. jul 2007 No Mato Grosso do Sul o Movimento dos Professores Guarani Kaiov exerce importante papel no processo de institucionaliza o das pol ticas p blicas relativas EEI Em Santa Catarina a Secretaria de Estado da Educa o SED SC assumiu a partir de 1993 a gest o educacional das escolas ind genas mediante a Comiss o Estadual de Educa o criada pela Portaria n 1 6207 93 VIEIRA 2007 Em 1998 havia 21 escolas ind genas no Estado que estavam municipalizadas A partir de 1999 todas retornaram para a rede estadual sob a responsabilidade da SED Desde ent o foram criadas 13 novas escolas A estadualiza o ocorreu em fun o da falta de condi es que as Secretarias Municipais t m em assegurar o atendimento espec fico e diferenciado a que estas comunidades t m direito Al m disso as rela es entre as popula es ind genas t m sido marcadas invariavelmente por tens o preconceito e discrimina o Isto se explica na medida em que a presen a de ndios e a garantia de seus direitos territoriais se chocam via de regra com os interesses econ micos e expansionistas dos munic pios lim trofes s reas ind genas o que acaba por colocar em risco a qualidade da oferta educacional As a es de educa o direito destas popula es acabam assumindo um car ter de mera concess o tornando se objeto de negocia o na barganha de interesses de parte a parte Al m disso existe a diferencia o no t
87. letrada a escrita n o a principal forma de transmiss o de conhecimentos tivemos que investigar uma variedade maior de fontes confrontando as permanentemente O trabalho com os relatos orais dos ind genas sobre suas trajet rias escolares levou a novos documentos como por exemplo as atas de resultados finais da EMPI Boa Esperan a que por sua vez suscitaram novas quest es que levaram incorpora o de outros sujeitos no processo como as professoras da FUNAI que atuaram nessa escola O trabalho com as fontes orais permitiu trabalhar com as fontes escritas a partir de novos enfoques explor las sob novas perspectivas e vice versa Al m dessa explora o o trabalho com as fontes orais levou nos a recuar nossa pesquisa no tempo e no espa o Atrav s dos relatos orais constatamos que seria importante considerar como recorte hist rico n o apenas o movimento de cria o do Curso de Forma o de Educadores Tupinikim e Guarani 1996 1999 mas tamb m quase uma d cada anterior a cria o da EMPI Boa Esperan a 1987 uma vez que os cinco professores guarani que se formaram em 1999 tinham sido alunos dessa escola tr s deles da primeira turma Os Guarani do Esp rito Santo anteriormente ao per odo de funda o da EMPI Boa Esperan a mantiveram pouqu ssimo contato com institui es escolares Tendo em vista que os professores guarani haviam cursado o segundo ciclo do Ensino Fundamental na Escola Fam lia Agr
88. levantados a partir das atas das reuni es al m de serem utilizados nesta pesquisa contribu ram tamb m para a constru o da proposta curr cular escolar das aldeias guarani Essas reuni es foram realizadas nas aldeias ind genas de Tr s Palmeiras Boa Esperan a no Subn cleo de Educa o do N cleo Interinstitucional de Sa de Ind gena NISI ES e em espa os onde estava acontecendo a forma o dos professores guarani Os dados apresentados nas atas foram assim agrupados papel 18 O NISIES foi criado atrav s da Portaria Municipal n 4 158 94 e se constitui em uma inst ncia consultiva que assessora e articuladora as institui es organiza es respons veis pelo cumprimento da Pol tica Indigenista voltada para o desenvolvimento s cio econ mico e cultural dos tupinikim e guarani das aldeias localizadas no munic pio de Aracruz ES Para maiores esclarecimentos sobre as a es relacionadas aos Tupinikim no contexto do programa de educa o recomendamos a leitura dos trabalhos de Cota 2000 e Jesus 2002 98 a ser desempenhado pela escola na sociedade guarani princ pios que devem nortear a educa o escolar guarani metodologia a ser utilizada no ensino aprendizagem e os conte dos a serem ensinados As atas priorizam a fala dos caciques e lideran as o que compreens vel uma vez que entre os Guarani do Esp rito Santo raramente os l deres religiosos as mulheres e os jovens falam ou s o os primeiros a
89. lidar com as crian as Isto o que tem me segurado gosto de saber que sou capaz de ensinar as crian as a ler Aciara conversa informal setembro de 2006 aldeia de Boa Esperan a Vivaz e muito inteligente essa professora tem uma postura cr tica e muito perspicaz em rela o tanto ao mundo guarani como ao mundo dos n o ndios Chama a aten o das lideran as do seu povo para a necessidade de apoio ao trabalho dos professores e tamb m dos funcion rios da SEMED e SEDU acerca da necessidade de garantir a singularidade cultural do seu povo no processo educacional escolar O fato abaixo ajuda a compreender a posi o da professora Aciara A professora Aciara tem argumentado quanto necessidade de elabora o de projeto pol tico pedag gico para as escolas das aldeias Deu o exemplo da quest o da avalia o externa dos alunos realizada pela SEMED que s leva em considera o a l ngua portuguesa escrita Se uma escola espec fica e diferenciada guarani por que n o levar em conta os conhecimentos dos alunos relativos cultura e l ngua guarani oral e escrita Aciara informa o verbal outubro de 2007 Falou ainda da import ncia da participa o da comunidade no processo de elabora o do PPP Segundo essa professora a escola precisa contar com o apoio das pessoas da comunidade para se tornar realmente uma escola guarani T m sido valiosas as contribui es da professora Aciara no Curso de L
90. material did tico De acordo com o Projeto a forma o continuada tinha como objetivos 1 estudar os princ pios te rico metodol gicos da Pedagogia do Texto com vistas a implementar uma educa o de melhor qualidade para os alunos das escolas ind genas tupinikim e guarani 2 realizar pesquisas a fim de produzir material did tico como subs dio pr tica pedag gica 3 revisar e elaborar uma nova proposta curricular Por m n o foi produzido nenhum material did tico nem foi feita a revis o e elabora o de uma nova proposta curricular Fracassada a tentativa de revis o do curr culo em 2004 os professores guarani tomaram a decis o em 2006 de utilizar os encontros de planejamento e estudo realizados na aldeia com a nossa participa o para a constru o de um curr culo espec fico e diferenciado para as escolas guarani que atendesse as necessidades da pr escola 8 s rie Para iniciar as discuss es acerca da proposta curricular apresentamos aos professores os dados a respeito das representa es da comunidade guarani acerca da EEI que tinham sido assim agrupados papel a ser desempenhado pela escola na sociedade guarani princ pios que devem nortear a educa o escolar guarani metodologia a ser utilizada no ensino aprendizagem e conte dos a serem ensinados Com esses dados em m os os professores guarani decidiram retomar a discuss o do assunto com a comunidade Uma reuni o de pais foi convocada
91. mesma monocultura racional SANTOS 2004 p 787 Existem cinco l gicas ou modos de produ o da n o exist ncia e as respectivas formas sociais de n o exist ncia 1 monocultura do saber e do rigor do saber ignorante 2 monocultura do tempo linear residual 3 l gica da classifica o social inferior 4 l gica da escala dominante local e 5 l gica produtivista improdutivo Essas cinco l gicas estariam presentes nas representa es que o mundo moderno tem em rela o aos povos ind genas seus saberes culturas e modos de viver Veja o caso da l gica produtivista improdutivo os povos ind genas por terem uma cultura que n o se baseia no ac mulo de riquezas foram e muitas vezes continuam sendo considerados como sendo pregui osos indolentes ou n o afeitos ao trabalho A supera o das totalidades homog neas e excludentes e da raz o meton mica que as sustenta foi obtida pondo se em quest o cada uma das l gicas ou modos de produ o de aus ncia acima referidos que durante muito tempo foram utilizadas para classificar desqualificar e excluir todos os povos culturas e saberes que n o fossem estruturados nos moldes da civiliza o ocidental Esse um dos princ pios te rico metodol gicos importantes apontados por Santos 2004 para os pesquisadores da rea de cultura identidade e diferen a Em contraposi o s l gicas de produ o da n o exist ncia e s formas sociais de n o exist ncia
92. na Assembl ia Constituinte l na linha de frente acompanhando muito de perto examinando cada palavra e fazendo propostas tamb m Por isso ele considera que o trabalho dos indigenistas foi decisivo para que a Constitui o tivesse um cap tulo favor vel aos ndios J para Manuela Carneiro da Cunha todas as amizades e rela es de confian a que a CPI SP tinha acumulado nos ltimos dez anos 1978 88 foram muito importantes para o momento da Constituinte Do seu ponto de vista a Coordena o Nacional formou se a partir dos la os que j existiam ou seja la os com a SBPC com a Coordena o Nacional dos Ge logos e com outras organiza es com as guais a CPI SP tinha constru do la os de respeito e de confian a m tua 3 O livro Os Direitos do ndio organizado por Manuela Carneiro da Cunha com a colabora o de v rios membros da CPI SP foi publicado em abril de 1987 Essa publica o destacou se como o principal instrumento de consulta pelos constituintes sobre os direitos dos povos ind genas no Brasil legisla o espec fica de outros pa ses e os mecanismos internacionais de defesa dos direitos ind genas A CPI SP elaborou tamb m o Boletim Jur dico n 8 abril 87 Os Povos Ind genas e a Constituinte contribui es ao debate trazendo a p blico os debates que antecederam a Constituinte com o intuito de subsidiar os parlamentares O CIMI passou a publicar semanalmente o Informe Constituinte escrito pelo seu asse
93. na cidade do Rio de Janeiro A segunda ocorreu no per odo de 21 a 23 de maio de 2007 em Curitiba PN A terceira de 1 a 3 de outubro de 2007 tamb m em Curitiba Esse espa o tempo tem sido destinado ao estudo acerca do povo Guarani e da EEI Cabe ressaltar tamb m algumas diferen as entre o Programa de Forma o de Professores Guarani e o que foi executado no Esp rito Santo 1996 1999 Merecem destaque os crit rios de escolha dos professores o processo de constru o do curr culo e a participa o dos s bios guarani como formadores al m dos tipos de pesquisas que est o sendo realizados Os professores do Curso s o escolhidos pela coordena o pedag gica ou indicados pelo MEC O par metro de escolha a experi ncia que eles possuem em EEI e se poss vel em projetos educacionais guarani At a quinta etapa a proposta do Curso vinha sendo discutida e elaborada simultaneamente sua execu o considerando as interven es das comunidades ind genas e dos alunos cursistas por isso est em processo constante de elabora o reelabora o e avalia o Nas etapas seguintes procurou se atender aos pedidos dos alunos mas tamb m estruturar o Curso de maneira que ele atendesse os requisitos legais referentes ao magist rio Podemos afirmar que a elabora o do curr culo se tem dado de maneira processual de forma diferente daquele que foi implementado no Esp rito Santo A programa o carga hor ria das di
94. ngua Guarani implementado pela ling ista Ruth Montserrat tanto que recebeu um convite para participar da oitava etapa do Curso de Forma o do Professores Guarani realizada no m s de outubro de 2007 Por outro lado o Curso tem despertado nessa professora um gosto pelo estudo de idiomas Ela chegou a afirmar que se tivesse condi o faria um curso de Letras indicando assim que a vontade de mudar de profiss o expressa anteriormente tenha sido talvez somente uma crise passageira na sua professoralidade 127 A professora Aciara estava se referindo morte no ano de 2006 do sobrinho de seis anos que era seu aluno 269 A participa o de pessoas da comunidade outro fator que tem contribu do para o respeito cultura guarani no ambiente escolar Tem sido grande o apoio e a boa vontade dos mais velhos em ajudar nas atividades escolares Figura 43 O senhor Jonas e os alunos da EMPI Tr s Palmeiras Fonte acervo particular da pesquisadora O momento capturado pela foto Figura 43 foi em um dia em que o senhor Jonas juntamente com outras pessoas estavam fechando os espa os abertos das paredes da cabana com uma treli a de bambu O professor S lvio chegou com os seus alunos e pediu que esse senhor falasse um pouco sobre as plantas medicinais Ele largou a ferramenta com a qual estava trabalhando sentou e come ou a explicar na l ngua guarani a utilidade de algumas plantas medicinais e como deveriam ser prepara
95. no contexto das tens es das rela es entre o Estado e os Guarani que luta pela garantia de seus direitos Essa rela o assim como todas as outras rela es entre o Estado e a sociedade civil forma um sistema complexo objeto de estrat gias pol ticas variadas conduzidas em diversas frentes simultaneamente HALL 2003 Os Guarani do Esp rito Santo lutam em v rias frentes e adotam estrat gias diversas para conseguir a garantia de seus direitos Uma das frentes de atua o dos Guarani tem sido aquela na qual eles lutam para conseguir superar as dificuldades impostas 254 pelo sistema federativo brasileiro que desobriga os estados e munic pios de cumprirem a legisla o federal Vejamos o caso da extens o ao atendimento da escolaridade das escolas das aldeias Durante cinco anos de 1999 a 2004 desde o fim do Curso de Educadores Tupinikim e Guarani tentou se negociar sem sucesso a forma o superior dos professores ind genas com a UFES a fim de que se pudesse estender o atendimento escolar s aldeias tamb m para as s ries finais do Ensino Fundamental uma das metas previstas pelo PNE Cansados de esperar em outubro de 2004 o povo Tupinikim e o grupo ind gena guarani optaram por introduzir o 6 ano nas escolas das aldeias mesmo sem terem os professores formados Ficou acertado pelos parceiros do Subn cleo de Educa o do NISI que as pessoas que atuariam como professores do 6 ao 9 ano nessas escolas receb
96. no fim das contas nem munic pios nem Estados nem a Uni o se comprometem com os cursos da educa o ind gena Com ou sem PNE continua tudo do jeito que est o chamado dilema da tr plice compet ncia federaliza o estadualiza o e ou municipaliza o das escolas ind genas fica sem solu o SILVA 2001 p 42 O cumprimento das metas propostas pelo PNE est se processando de forma desigual nas escolas ind genas brasileiras devido s incertezas em rela o ao financiamento p blico da EEI como pode ser constatado nos estados brasileiros onde vive o povo Guarani assunto que ser abordado no item 3 8 deste Cap tulo Baniwa 2006 faz pondera es sobre a fragilidade do atual sistema nacional de educa o baseado na teoria do Regime de Colabora o entre os tr s sistemas de ensino federal estaduais e municipais que j funciona mal para a sociedade em geral muito pior para os ndios O mesmo ponto de vista compartilhado por Ladeira 2006 Os t cnicos respons veis por esta nova atribui o n o estavam preparados para tal n o conheciam os ndios nunca haviam estado nas aldeias existe uma coer o muito grande para que estes povos interiorizem as nossas pr ticas educativas ainda que camufladas sob a gide do diferencial atualmente h um distanciamento entre a esfera normativa e a executiva agravado pelas caracter sticas da organiza o federativa do Esta
97. o em Educa o PREFES Programa de Regulariza o do Fluxo Escolar PRODER Programa de Descentraliza o de Recursos RCA Rede de Coopera o Alternativa RCNE Ind gena Referencial Curricular Nacional de Educa o Ind gena S A Sociedade An nima SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ci ncia SEED SC Secretaria de Estado da Educa o de Santa Catarina SEDU Secretaria de Estado da Educa o SEF Secretaria da Educa o Federal SEJUC Secretaria Estadual de Justi a e Cidadania SEMED Secretaria Municipal de Educa o de Aracruz SIL Summer Institute of Linguistics SNEB Servi o Nacional de Ensino B sico SPI Servi o de Prote o ao ndio SPILTN Servi o de Prote o ao ndio e Localiza o de Trabalhadores Nacionais TEI N cleo de Pesquisa em Tradu o e Estudos Culturais UFES Universidade Federal do Esp rito Santo UNESCO Organiza o das Na es Unidas para a Educa o e a Ci ncia UNI Uni o das Na es Ind genas UNIND Organiza o das Na es Ind genas GLOSS RIO DE PALAVRAS E EXPRESS ES IND GENAS ACHE Parcialidade guarani AR DU POR RAPE O caminho da sabedoria AVA Homem pessoa AVATI ETE Milho guarani AVAXI Milho AVAX ETE Milho assado AVAX KU Uma esp cie de farinha feita de milho e amendoim socados num pil o AVAX KUIP Esp cie de f cula de milho AVAXI KY Milho cozido AYV POR A bela linguage
98. pagas pelo governo do estado do Esp rito Santo situa o garantida pelo Protocolo de Inten es Segundo relatos dos funcion rios das secretarias de educa o dos estados eles est o lecionando e t m prestado grande contribui o s aldeias onde est o vivendo Alessandro tornou se professor em escola guarani do Rio de Janeiro e o Marcos tornou se vice cacique da aldeia Morro dos Cavalos munic pio de Palho a Santa Catarina Em uma reuni o da comunidade realizada para se decidir que pessoa iria substituir o Alessandro apresentaram se como candidatos o Marcelo a Joana e a Vanda A comunidade escolheu a Joana Levando em considera o ser essa professora uma s bia do seu povo dominadora da cultura e da pedagogia guarani no nosso ponto de vista ela deveria atuar tamb m do 6 ao 9 ano P Figura 32 A professora Joana com sua turma da pr escola Fonte Arquivo da pesquisadora 8 Ata de reuni o realizada na aldeia de Boa Esperan a no dia 28 de novembro de 2005 De acordo com a ex esposa do Alessandro ele foi embora porque eles se desentendiam muito no casamento e tamb m porque ele se sentia muito triste e preocupado n o se sentia preparado para dar aula 224 Diferente de outros estados como Mato Grosso os Guarani do Esp rito Santo optaram por ter educa o infantil nas aldeias porque em casa as crian as assistem muito televis o Professor Mauro conversa informal fevereiro de 2007 aldeia
99. para a aldeia de Boa Esperan a ap s o casamento de uma mulher com um descendente da fam lia de Tatati Novos casamentos continuam sendo realizados entre os descendentes do grupos fundador com pessoas das outras parcialidades como foi o caso do professor S lvio que em 2007 desposou uma fhand va Essas uni es conjugaisacontecem principalmente pela falta de pessoas dispon veis para casamento Os Guarani do Esp rito Santo enfrentaram e continuam enfrentando conflitos em suas rela es com os Tupinikim com quem compartilham o territ rio desde a d cada de 70 do s culo XX As rela es entre os Tupinikim e os Guarani em todos esses anos t m sido marcadas tanto pelos conflitos quanto pelas alian as No trabalho de campo os mais velhos afirmaram que os Tupinikim apresentavam resist ncia perman ncia deles no territ rio de Caieiras Velhas Mesmo ap s tantos anos de conv vio comum ainda os Guarani ouvirem dos Tupinikim que eles vivem de favor e que as terras ocupadas por eles s o emprestadas O princ pio da posse imemor vel das terras pelo povo Tupinikim invocado pelas organiza es indigenistas governamentais e n o governamentais no pleito pela demarca o das terras ind genas concorreu ainda mais para o fortalecimento das representa es do povo Tupinikim em rela o ao grupo guarani Os conflitos entre esses dois povos d o se tamb m em fun o dos recursos naturais existentes nos territ rios principalmente e
100. para o plantio de eucaliptos Nesse processo os Tupinikim e os Guarani viram na educa o escolar diferenciada um instrumento que poderia contribuir para a reafirma o de suas culturas e para a conquista dos seus direitos Em 1997 optamos por cursar o mestrado em educa o para que pud ssemos apropriar nos de novos instrumentos te rico metodol gicos que nos ajudassem a melhor compreender a Educa o Escolar Ind gena EEI O mesmo caminho tem sido trilhado por outros profissionais que atuam nesse ramo da educa o ou seja professores e outros profissionais que atuam nessa rea ingressam em cursos de p s gradua o em busca de suportes te ricos que possibilitem a reflex o sobre suas pr ticas uma vez que a EEI n o faz parte do curr culo das licenciaturas de forma o dos profissionais da educa o Uma consequ ncia dessa situa o que 1 Neste trabalho estamos optando pelo conceito povo para nos referirmos aos diferentes grupos ind genas do Pa s mesmo sabendo que pesa o fato de ele ser juntamente com o conceito de na o devedor de uma l gica do Estado Na o Essa op o se d pelo fato de ser esse o conceito mais utilizado pelos povos ind genas para se referir a si pr prios 22 grande parte das disserta es e teses acerca da EEI trata na maioria das vezes apenas dos povos e dos projetos programas nos quais est o atuando No mestrado realizei uma pesquisa intitulada Educa o escola
101. partir de ent o desdobramentos muito diferentes Algumas dessas diferen as s o inst ncia qual se encontram vinculadas as escolas ind genas forma o inicial e continuada dos professores ind genas ritmo de regulamenta o da legisla o relativa EEI LDB Resolu o CNE CEB n 2 de 19 de abril de 1999 Resolu o CNE CEB n 3 de 10 de novembro de 1999 Portaria Interministerial n 559 91 Resolu o CNE CEB n 3 entre outras Diferentemente do que est disposto na Resolu o CNE CEB N 3 99 no Paran e no Esp rito Santo as escolas ind genas n o s o estaduais No Paran do total das 11 escolas ind genas guarani apenas tr s s o estaduais as outras s o municipais Os representantes da SEDU PR afirmam que uma predisposi o por parte do Governo Estadual em estadualizar as escolas ind genas e a demora em faz lo explicitam um descompasso no cumprimento das pol ticas p blicas tra adas em n vel federal como apontavam anteriormente Ladeira 2006 e Baniwa 2006 No Esp rito Santo aconteceu um processo inverso As escolas localizadas nas reas ind genas eram estaduais e classificadas como escolas rurais Na d cada de 80 do s culo XX foram municipalizadas por meio de um conv nio assinado entre a SEDU e a SEMED Nesse Estado os povos ind genas n o t m interesse no processo de 168 estatiza o de suas escolas como pudemos constatar na proposta da regulamenta o da Resolu o n
102. pelo combate GIARD 1995 Uma estrutura deslocada aquela cujo centro deslocado n o sendo substitu do por outro mas por uma pluralidade de centros de poder HALL 2005 p 16 45 espa o tempo tornando o mundo em realidade e em experi ncias mais interconectado HALL 2005 p 65 necess rio pensar o processo de globaliza o para al m das transforma es dos meios de comunica o transporte tecnologia com rcio entre outros que s o amplamente divulgados pelos meios de comunica o No complexo de processos e for as de mudan a globais podemos inserir tamb m a luta pelos direitos humanos que se articula internacionalmente por meio de organiza es governamentais e n o governamentais No caso espec fico desta pesquisa analisamos a quest o dos acordos e tratados internacionais em rela o aos direitos humanos e mais particularmente em rela o aos direitos dos povos ind genas que no nosso ponto de vista tamb m v m contribuindo para os deslocamentos das identidades nacionais No caso das organiza es governamentais internacionais como o caso da Organiza o das Na es Unidas ONU os Estados membros s o respons veis pela negocia o elabora o e fiscaliza o do cumprimento de instrumentos juridicamente vinculat rios tratados pactos conven es acordos e outros As organiza es n o governamentais desempenham um importante papel de press o sobre os Estados e sobre as in
103. perdessem segundo o professor S lvio um pouco da timidez Al m disso possibilitou que passassem a atuar como professores e aprendessem a tratar as crian as professora Aciara Figura 19 Participa o do cacique Toninho na aula de Ci ncias Fonte Arquivo da SEMED Para a professora Vanda a elabora o dos livros ajudou a entender melhor a quest o da luta pela terra e a conhecer v rias hist rias guarani O professor Mauro destaca a preocupa o e o grande esfor o por parte dos formadores em atender os dois povos apesar de muitas vezes n o ter sido poss vel 74 Os conflitos entre os professores tupinikim e os guarani n o chegaram ao ponto de inviabilizar as rela es tanto que um dos professores guarani est casado com uma tupinikim e uma educadora guarani teve um filho com um tupinikim 200 No caso espec fico da disciplina de Ci ncias Sociais o fato de o Curso ter reunido pessoas dos dois povos foi bastante positivo Permitiu que os professores tupinikim tivessem a oportunidade de conhecer a hist ria a agricultura a culin ria os mitos guarani e vice versa Os alunos guarani contaram seus mitos sobre a origem da lua e do sol apresentaram as t cnicas agr colas e as variedades nativas de milho cultivadas por eles e falaram da culin ria preparada a partir desse produto Por sua vez os alunos tupinikim apresentaram as variedades de mandioca e aipim cultivadas e preparadas por eles Avalia
104. por mim 8 Os Guarani s o grandes conhecedores de esp cies nativas de muitas variedades de milho que um dos principais produtos cultivados por eles e de extrema import ncia para a culin ria desse povo no E A l l e Os Tupinikim s o grandes conhecedores dessa raiz que de extrema import ncia para a cultura deles Mandioca a denomina o dada s variedades dessa planta que apresentam alto teor de cido cian drico em suas ra zes e que por isso bastante t xica O processo de fabrica o da farinha atrav s da torrefa o da mandioca ralada elimina este cido permitindo assim o consumo humano dessa raiz S o classificadas como aipim as variedades dessa raiz que possuem baixo teor de cido cian drico o que permite o seu consumo de maneira cozida 1 Anota es sobre a avalia o do Curso feito pela comunidade de Boa Esperan a no ano de 1999 documento do arquivo pessoal da pesquisadora 201 Figura 20 Dona Aurora e seu filho Jonas Fonte Arquivo da SEMED Al m do pouco atendimento especificidade guarani o Curso apresentou outras limita es tais como a falta de apoio financeiro aos estudantes pouco apoio aos alunos em suas atividades de tempo aldeia O apoio fazia se necess rio dada a baixa escolaridade da maioria dos alunos ao ingressar no Curso Anexo C De acordo com os relat rios de avalia o das etapas e os das a es e atividades do Subn cleo de Educa o Ind gena do NISIES
105. povos ind genas a quest o da tutela e a administra o do patrim nio ind gena PANKARARU 2006 Com a aprova o da Conven o 169 da OIT n o haveria mais motivos para o questionamento da ado o do termo povos ind genas uma vez que essa conven o ratificada pelo Brasil o adota e como j vimos faz as devidas observa es quanto sua defini o Os outros pontos s o vistos de maneira controversa h setores que defendem que o rg o Federal Indigenista deve ser o gestor do patrim nio dos povos ind genas enquanto as organiza es ind genas defendem que os pr prios ndios sejam os gestores de seus bens e recebam apenas apoio desse rg o PANKARARU 2006 A tutela vista por alguns setores da sociedade como sendo um princ pio revogado pela Constitui o Federal no entanto outros setores afirmam que ela est em vigor e que ela deve ser mantida no Estatuto do ndio como um mecanismo de prote o aos direitos e aos interesses ind genas Efetivamente h setores que defendem que a tutela existe mas que no novo estatuto ela deve ser substitu da por normas de prote o aos ndios e ao seu patrim nio territorial ambiental e cultural PANKARARU 2006 Cabe ressaltar que algumas lideran as ind genas t m apresentado resist ncia em abdicar da tutela acreditando equivocadamente que ela lhes assegure plena imunidade LARAIA acesso 15 maio 2007 Como j foi dito anteriormente a tutela aos povos ind genas
106. problema enfrentado pelos ndios na rela o com a FUNAI foi a proibi o das assembl ias ind genas Juruna Eu n o tem sono dormi muito tarde Tamo come ando fazer contato com outras tribo Pra poder ajudar outro Fazer for a junto Vamos reunindo Eu tinha viage marcada pra Acre Conhecer ndio de l Conversar mostrar o que acontece entre xavante Dia 2 de janeiro ia pro Acre Tava marcado reuni o com 102 chefe ndio Depois FUNAI proibiu tudo FUNAI dispensou JURUNA apud MARTINS 1978 p 206 A proibi o por parte da FUNAI de realiza o de assembl ias ind genas era feita com base no princ pio da tutela previsto no C digo Civil Brasileiro Por m essa Institui o n o conseguiu conter o movimento e a organiza o dos povos ind genas 8 Existem organiza es indigenistas governamentais e n o governamentais ambas compostas por pessoas n o ndias As organiza es indigenistas governamentais s o as respons veis pela execu o das pol ticas p blicas em rela o aos povos ind genas As organiza es ind genas s o compostas apenas por ind genas 126 De acordo com Terena 2003 a primeira organiza o ind gena criada pelos pr prios ind genas foi a Organiza o das Na es Ind genas UNIND institu da no in cio da d cada de 1980 por um grupo de ndios de v rios povos que se encontravam estudando na Universidade de Bras lia A cria o dessa organiza o foi uma rea o dos e
107. produ o Em muitos casos como no meu pr prio ali s at bem pouco tempo atr s plantou se uma clara separa o entre os temas da pesquisa universo do trabalho intelectual dualismo cosmologia no o de pessoa corporalidade parentesco simbolismo ritual e outros e as reas e modos de milit ncia indigenista a educa o se apresentando como um campo f rtil para o exerc cio da responsabilidade social do antrop logo para interven o cr tica em processos de exclus o e de desrespeito aos direitos sociais SILVA 2001 p 32 Isso n o significa dizer que n o haja trabalhos de Antropologia na rea da EEI mas s o poucos aqueles que conseguem unir essas duas dimens es ou seja o trabalho intelectual e a milit ncia indigenista 56 As quest es debatidas nos textos de autoria de antrop logos Lopes da Silva org 1981 ABA 1993 seguem de perto o discurso reivindicativo dos direitos ind genas servindo lhe de argumento e sustenta o Voltam se majoritariamente pr tica pedag gica ou ao enfrentamento do Estado pelos povos ind genas no campo dos seus direitos educacionais especificidade e manuten o de seu patrim nio ling stico cultural Trata se portanto de um uso engajado do conhecimento antropol gico que se utiliza admiravelmente pouco do n cleo duro te rico da disciplina SILVA 2001 p 31 Quais seriam ent o as possibilidades da interface entre o n cleo duro da Antrop
108. professores guarani que apontam como uma das raras exce es O estudo da Etnomatem tica Guarani curso que foi ministrado na aldeia de Boa Esperan a pela professora Jackeline Rodrigues Mendes em 2000 Participaram desse curso os professores Mauro Aciara e Vanda o cacique Jonas o vice cacique Toninho a m e deles D Aurora e alguns jovens e crian as da aldeia Os conte dos trabalhados foram escolhidos pelos pr prios participantes que optaram pelo tema O calend rio guarani e medidas de tempo Posteriormente foram indicados outros assuntos n meros e opera es padr es de desenho do tra ado e da pintura corporal e medidas de comprimento no processo de constru o da casa de reza A cada assunto definido o cacique Jonas dava uma aula em l ngua ind gena a todos os participantes apresentando os conhecimentos guaranis referentes aos temas abordados Num segundo momento os professores produziam textos e propunham atividades sistematizando as informa es apresentadas pelo cacique e complementado por Dona Aurora Enquanto isso os outros participantes elaboravam desenhos para compor o material referente a cada tema abordado MENDES 2002 p 3 101 Os principais parceiros desse Subn cleo s o o povo Guarani e o Tupinikim a SEDU a SEMED o IDEA e a Pastoral Indigenista 102 Para maiores detalhes sobre essa abordagem pedag gica consultar a p gina eletr nica da ONG Enfants du Monde www edm ch
109. quatro s ries do Ensino Fundamental e ampliar se iam os programas de 5 a 8 s rie O mais importante n o foi definido nesse documento que a quest o do financiamento da EEI fazer leis e muitas vezes acat las como par metro para decis es jur dicas n o significa ter uma pol tica efetivamente estabelecida pois esta ltima envolve al m do aspecto legislativo e jur dico acima mencionado a cria o de prioridades e destina o de verbas para o cumprimento das mesmas coisas que est o ausentes da atual realidade brasileira CALEFATTI 2008 p 19 156 No caso das a es relativas al m de n o haver verbas garantidas ocorrem tamb m uma desobriga o do Estado para com elas No caso da tem tica da educa o escolar ind gena o PNE aprovado traz logo ap s a maioria das metas anota es de rodap que sugerem por um lado vaga lembran a quanto responsabilidade da Uni o Por outro no entanto fica claro a ainda n o garantia de financiamento p blico para as escolas ind genas e suas demandas Das 21 metas treze est o acompanhadas de dois asteriscos que remetem para a seguinte nota exigida a colabora o da Uni o Outras duas s o seguidas de um asterisco que diz a iniciativa para cumprimento deste objetivo meta depende da iniciativa da Uni o Parece brincadeira de passa anel com previs vel e triste final inspirado na pol tica do lavo as minhas m os Ou seja
110. que atende alunos guarani kaigang e xet Tamb m em Santa Catarina os alunos guarani dividem uma de suas escolas com os xokleng e outra com os kaigang Em S o Paulo a EEI encontra se organizada por Ciclos Ed Inf Il 1 2 4 8 III 5 2 8 8 IV Ensino M dio No Esp rito Santo existia em 2006 mais tr s professores um formado e dois outros em forma o que n o est o atuando como tal No Brasil al m do problema da hostilidade e do preconceito da sociedade envolvente o povo Guarani enfrenta a quest o das diferen as nas pol ticas p blicas 54 necess rio considerar as diverg ncias dos dados sobre a popula o guarani apresentados pelas secretarias de educa o e aqueles apresentados pelo CIMI vistos no cap tulo II 166 existentes entre os diversos Estados brasileiros Essas diferen as como j foram assinaladas acontecem devido ao nosso sistema federativo O processo de institucionaliza o nos Estados brasileiros dos direitos dos povos ind genas a uma educa o diferenciada teve um ponto de partida comum a promulga o das constitui es estaduais nos anos seguintes promulga o da Constitui o Federal de 1988 Nas constitui es dos estados onde vive o povo Guarani Rio Grande do Sul Santa Catarina Paran S o Paulo Rio de Janeiro Esp rito Santo e Mato Grosso do Sul est o assegurados os mesmos direitos dos povos ind genas estabelecido na Constitui o Federal A
111. reprodu o f sica e cultural desse povo tanto que a solu o desse problema tem sido um dos principais pontos de reivindica o nas assembl ias continentais realizadas por eles A falta de terra o principal problema que atinge nosso povo N o vivemos sem a terra e a terra n o vive sem o nosso povo formamos um nico corpo A falta de terra n o permite que vivamos de acordo com nossa cultura Nossos jovens s o obrigados a buscar trabalho em outros locais n o sobrando tempo para aprender com nossos velhos Nosso povo sempre viveu com muito respeito em rela o natureza O mato verdadeiro nosso local principal para construirmos nossas aldeias e vivermos nossa cultura Sem o mato a gua os rios e todos os seres que nela habitam n o podemos viver Durante milhares de anos vivemos nesta natureza respeitando e vivendo com ela PORTO ALEGRE acesso em 10 out 2007 180 Historicamente o povo Guarani de senhor primordial de vasto territ rio e cultura passou a receber pequenos peda os de terra onde foi confinado sem nunca se ver integrado totalmente sociedade mais ampla SOUZA FILHO 2003 Ladeira 1984 postula que os Guarani Mbya por quest es ticas e religiosas t m avers o s brigas e s disputas por territ rios por m participam e ap iam as lutas de outros povos ind genas com os quais compartilham territ rio como o caso dos Guarani do Esp rito Santo A quest o territorial e a luta pela ter
112. resgate preserva o e divulga o da cultura guarani A escolha desse tema foi uma estrat gia de forma o dos professores tupinikim que trabalham do 6 ao 9 ano acerca da cultura guarani Ficou acertado que o detalhamento do conte do das outras problem ticas fosse feito pelos professores ao longo do ano de 2007 Essa foi a maneira encontrada de tentar organizar as pr ticas educativas escolares guarani levando em considera o alguns princ pios e objetivos tra ados por eles O trabalho de campo e as reuni es de planejamento revelaram que os professores guarani e tamb m os professores tupinikim que atuam de 6 ao 9 ano v o precisar de forma o e assessoria para que possam trabalhar os conte dos da nova proposta curricular preciso que eles dominem os conte dos da cultura e da hist ria guarani al m de m todos de pesquisa para que sejam capazes de produzir materiais did ticos e possam tamb m principalmente identificar e propor algumas das respostas aos novos problemas gerados pelo contato RCNE ind gena como a quest o da auto sustentabilidade indicada pelos Guarani Conforme anteriormente afirmado considera se o curr culo escolar como sendo uma constru o cultural e uma pr xis que t m sua exist ncia na experi ncia da comunidade escolar Por isso assumir como refer ncia do curr culo essa diversidade de intera es saberes e fazeres realizados nas redes do cotidiano escolar impl
113. rio P blico Estadual Para isso levaram em considera o que 1 os recursos repassados ao Munic pio pelo FUNDEB com base no n mero de alunos ind genas s o suficientes para o pagamento dos sal rios de professores ind genas do Munic pio cerca de 50 11 Correspond ncia expedida pelo coordenador da EEI da SECAD MEC Bras lia 12 de junho de 2007 12 De acordo com a LDB 60 dos recursos do FNDEB devem ser empregados na remunera o dos professores e outros 40 na constru o reforma ou amplia o de escolas ind genas aquisi o e manuten o de equipamentos necess rios ao ensino forma o inicial e ou continuada de professores aquisi o de material did tico escolar para alunos e para o uso dos professores 264 professores com um sal rio bruto em m dia de R 1 000 00 2 os materiais did ticos utilizados t m sido comprados com os recursos do Programa de Dinheiro Direto na Escola PDDE e do Programa de Descentraliza o de Recursos PRODER repassados diretamente s escolas 3 a SEMED n o investiu em reforma ou amplia o de escolas ind genas aquisi o e manuten o de equipamentos necess rios ao ensino forma o inicial e ou continuada de professores e aquisi o de material did tico escolar para alunos e para o uso dos professores Assim podemos afirmar que a municipalidade n o tem aportado com nenhum recurso pr prio para a EEI 2 ou seja n o tem arcado nem mesmo com as a es que t
114. se pronunciarem em reuni es p blicas principalmente quando h a participa o de n o ndios Isso n o significa que essas pessoas nunca se pronunciem Em algumas reuni es em que participamos constatamos que algumas mulheres se pronunciaram mas n o percebemos manifesta es de jovens ou crian as em rela o a alguma quest o Em mar o de 2007 por exemplo numa reuni o de pais na aldeia de Tr s Palmeiras uma senhora fez uma argumenta o de quase uma hora rebatendo a opini o de um professor de que os alunos que estudavam em um turno n o deveriam ir escola no turno seguinte para se alimentar Indagados sobre o que a mulher falara em guarani os professores como acontece nesses casos n o traduziram apenas repetiram a id ia principal do assunto dizendo que ela perguntava por que as crian as n o podiam comer em outro turno se estavam com fome lembrando o fato de que a escola diferenciada Essa quest o ficou sem ser respondida mas certamente voltar a fazer parte da pauta de futuras reuni es Outro aspecto interessante de se registrar em rela o s reuni es guarani que s vezes muitos dos participantes d o a impress o de que n o est o interessados no assunto pois ficam sentados um pouco mais afastados fumando cachimbo fazendo artesanato ou conversando No entanto reagem fala dos expositores com risos e conversas na l ngua materna em tom mais baixo 3 3 3 An lise dos dados A sistematiza
115. situa o colonial se aproximaram e tiveram que se acomodar uns com os outros Ao contr rio h que se observar como numa determinada situa o de interc mbio as distin es tnicas emergem BARTH 1969 apud TASSINARI 2001 p 64 A escola ind gena como espa o de fronteira constr i se na tens o entre a tradi o representada pela cultura e pelas formas pr prias de educar dos povos ind genas e a modernidade representada pelo Estado que no Brasil absorveu a responsabilidade pela educa o escolar Como j dissemos anteriormente pretend amos fazer um recorte temporal levando em considera o apenas o per odo a partir do qual foi implantada a escolariza o diferenciada nas escolas das aldeias No entanto pesquisas preliminares mostraram que ocorreu uma sobreposi o dos per odos hist ricos no processo de escolariza o dos Guarani do Esp rito Santo FERREIRA 2001 Os primeiros professores guarani que frequentaram o Curso de Educadores Tupinikim e Guarani 1996 1999 tinham sido alunos das professoras da FUNAI Os professores guarani 32 formados passaram a atuar nas escolas das aldeias por m as professoras da FUNAI n o foram dispensadas Levando em considera o a sobreposi o desses diversos per odos hist ricos e todos os outros fatores citados anteriormente optamos por realizar uma pesquisa que teve como eixo norteador a seguinte quest o Como se tem dado o processo de escolariza o dos Guarani do
116. sociais econ micas e culturais adicionais Assegura tamb m a forma o de membros desses povos para que eles mesmos possam responder pelos servi os educacionais As crian as dever o aprender a ler e a escrever na sua pr pria l ngua garantindo se tamb m que elas tenham a oportunidade de dominar a s l ngua s oficial is do pa s onde elas vivem O mbito de luta pelos direitos dos povos ind genas foi ampliado com a cria o da Organiza o das Na es Unidas ONU em 1948 e de outras que se encontram vinculadas a ela tais como a Organiza o para a Alimenta o e a Agricultura FAO 1945 a Organiza o das Na es Unidas para a Educa o e Ci ncia UNESCO 1945 e a Organiza o Mundial da Sa de OMS 1948 Os Estados membros dessas organiza es s o respons veis pela elabora o negocia o e fiscaliza o do cumprimento dos instrumentos juridicamente vinculat rios tratados pactos conven es acordos e outros As organiza es n o governamentais desempenham um importante papel de press o sobre os Estados e as institui es internacionais tanto na elabora o quanto na aprova o e cumprimento do que esses documentos estipulam A ONU foi a institui o que melhor representou os anseios da humanidade e ironicamente a que se tornou mais desacreditada principalmente depois que n o conseguiu impedir a Guerra de Kosovo 1996 1999 a invas o do Iraque pelos Estados Unidos 2004 e outros con
117. sofrer reformula es que possam colocar em risco os direitos conquistados Outra luta dos povos ind genas e das organiza es ind genas e indigenistas com rela o ao Congresso Nacional tem sido pela aprova o de legisla es correlatas e pela reformula o do Estatuto do ndio como veremos no item 3 6 deste Cap tulo Encontram se tramitando no Congresso Nacional v rios projetos de lei ou de emenda constitucional apresentados no sentido de excluir ou diminuir garantias aos povos ind genas sob as mais diferentes justificativas Valle 2006 142 O Projeto de Emenda Constitucional PEC n 38 de 1999 do senador Mozarildo Cavalcanti RR visa a estabelecer um limite territorial por Estado para a demarca o de terras ind genas e para a cria o de Unidades de Conserva o e pretende submeter os processos administrativos de demarca o de terras ind genas ao Senado Federal O Projeto de Lei n 188 de 2004 do Senado prop e incluir no GT de Identifica o de Terras Ind genas a participa o de representantes do Senado Federal do Minist rio da Fazenda e da Advocacia Geral da Uni o Al m disso o PEC n 3 de 2004 prop e que os im veis existentes dentro do territ rio ind gena sejam desapropriados e n o apenas indenizadas as benfeitorias como estabelece a legisla o atual Assim como o Projeto n 161 de 2002 quer legalizar a minera o em terras ind genas de forma contr ria aos i
118. suficiente das informa es principais e das frases essenciais para lan las no papel logo depois e fazer uma entrevista que valha a pena THOMPSON 1992 p 264 Outra preocupa o foi de n o ir s aldeias apenas para colher informa es pesquisar produzir a tese sem em nada contribuir A contribui o consistiu em ajudar ao grupo de professores que atuavam nas aldeias no planejamento na discuss o e elabora o da proposta curricular para as escolas Essa colabora o que incialmente foi oferecida apenas como uma contrapartida para o povo Guarani acabou favorecendo tamb m o trabalho de pesquisa uma vez que ao participar do planejamento com os professores e ao construir a proposta curricular com eles e a comunidade puderam ser conhecidas v rias quest es que talvez n o viessem tona t o facilmente nas observa es e entrevistas Como afirma Laville e Dionne 1999 a riqueza da integra o do pesquisador ao meio promove o acesso a informa es inacess veis de outra forma a informa es que os sujeitos n o forneceriam voluntariamente ou de que s vezes nem t m consci ncia plena j que os comportamentos reais s o muitas vezes distantes dos comportamentos verbalizados registrados em entrevistas em an lise documental ou num question rio 95 Outro compromisso firmado com os professores foi de que seus nomes seriam mantidos no relat rio de pesquisa somente se concordassem com o que tinha sido e
119. todos eles fomentando uma participa o transversal ativa solid ria e rec proca SEMIN RIO Acesso em 11 out 2006 tradu o Marcos S nchez 2007 107 Na Guatemala durante os anos 70 e 80 do s culo XX os ind genas sofreram uma dura repress o pol tica que custou centenas de milhares de vidas Por m com o passar dos anos os povos ind genas conseguiram representatividade no governo haja vista que 17 dos 113 deputados que atuavam no ano de 2006 nesse pa s eram ind genas uma nativa era ministra de Estado e outros cinco eram vice ministros Al m disso 106 dos 331 munic pios eram dirigidos por ind genas Essas conquistas seriam impens veis menos de uma d cada atr s nesse pa s centro americano Al m das redes locais e internacionais relacionadas aos movimentos ind genas outros tipos de redes est o sendo organizados em escala global Segundo Monte 2001 p 50 mais precisamente no mbito das organiza es que lutam pelo respeito aos direitos humanos Uma das primeiras organiza es que desde a sua funda o em 1919 tem contribu do para garantir os direitos dos povos ind genas e consequentemente participado dessa rede a Organiza o Internacional do Trabalho OIT Essa organiza o tem como objetivo melhorar as condi es de trabalho assegurar a liberdade de express o e de associa o e combater a pobreza no mundo A OIT em 2006 foi a primeira ag ncia especializada a integrar o Sistema
120. um procedimento capaz de criar uma inteligibilidade m tua entre experi ncias poss veis e dispon veis sem destruir a sua identidade SANTOS 2004 p 779 Uma investiga o baseada na sociologia das aus ncias sinaliza que o que n o existe na verdade ativamente produzido como n o existente como o caso do fim dos povos ind genas pelo exterm nio ou pela integra o apregoada durante muito tempo pelas Ci ncias Sociais A n o exist ncia dos povos ind genas continua sendo produzida nos dias atuais No ano de 2006 a empresa Aracruz Celulose lan ou no Esp rito Santo uma ampla campanha pelos diversos meios de comunica o tentando provar que no Estado n o existiam mais ndios argumento para tentar justificar seu dom nio da rea reivindicada pelos tupininkim e guarani Tentativa desesperada por parte da empresa uma vez que o Minist rio P blico com base no 4 do Art 231 da Constitui o Federal o qual afirma que as terras ind genas s o inalien veis e indispon veis e os direitos sobre elas imprescrit veis tinha considerado como inconstitucionais as negocia es das terras ind genas tupinikim e guarani do Esp rito Santo realizada em anos anteriores O aumento crescente da popula o ind gena brasileira os in meros pedidos de reconhecimento da etnicidade feitos FUNAI por muitos povos ind genas e os v rios programas e projetos que v m sendo levados a cabo por eles em parceria com entidades go
121. uma educa o bil ng e e intercultural Nos pa ses habitados pelo povo Guarani existe grande diversidade no tocante quest o educa o escolar garantida aos povos ind genas A Constitui o da Argentina prev o direito a uma educa o intercultural a do Paraguai uma educa o biling e e o respeito identidade cultural dos povos ind genas a do Brasil o uso da l ngua materna no ensino fundamental e processos pr prios de aprendizagem e a Constitui o da Bol via n o faz nenhuma refer ncia quest o da EEI Por ser um povo que caminha os Guarani lidam com essa diversidade cultural na sua rela o com os Estados e as sociedades dos pa ses por onde caminham Outro problema enfrentado pelo povo Guarani no Brasil e na Argentina s o as diferen as no trato da quest o ind gena que acontecem em conseq ncia dos sistemas federativos desses dois pa ses O caso espec fico do Brasil ser analisado no item 3 8 deste Cap tulo Os Guarani em particular e os povos ind genas em geral enfrentam outro problema que se relaciona a nega o desses direitos na pr tica A promulga o da Constitui o Federal de 1988 foi apenas o primeiro passo na luta dos povos ind genas brasileiros uma vez que continua a batalha contra o Estado para que se cumpram os direitos estabelecidos na Carta Magna necess rio um acompanhamento constante da atua o do Congresso Nacional para que a Constitui o Federal n o venha a
122. 004 176 Protocolo de Inten es do Programa de Forma o para a Educa o Escolar Guarani na Regi o Sudeste e Sul do Brasil Kuaa Mbo e conhecer ensinar Bras lia 2004 177 Relat rio da Il Etapa do Programa de Forma o para a Educa o Escolar Guarani na Regi o Sudeste e Sul do Brasil Kuaa Mbo e conhecer ensinar Praia de Palmas Santa Catarina 2004 178 Relat rio da Ill Etapa do Programa de Forma o para a Educa o Escolar Guarani na Regi o Sudeste e Sul do Brasil Kuaa Mbo e conhecer ensinar Praia de Palmas Santa Catarina 2005 179 Relat rio da IV Etapa do Programa de Forma o para a Educa o Escolar Guarani na Regi o Sudeste e Sul do Brasil Kuaa Mbo e conhecer ensinar Praia de Palmas Santa Catarina 2005 180 Relat rio do Conselho de Classe Porto Alegre julho de 2007 181 SANTOS B S A introdu o a uma ci ncia p s moderna Rio de Janeiro Graal 1989 182 A cr tica da raz o indolente S o Paulo Cortez 1996 188 Para uma concep o multicultural dos direitos humanos S o Paulo A Folha 2001 184 Pela m o de Alice o social e o pol tico na p s modernidade S o Paulo Cortez 2003a 185 org Reconhecer para libertar os caminhos do cosmopolitismo multicultural Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2003b 186 org Conhecimento prudente para uma vida decente S o Paulo Cortez 2004 187 s dores do
123. 2005 surpreenderam o mundo inteiro com a elei o do l der ind gena Evo Morales e do intelectual lvaro Garcia que obtiveram 1 535 milh o de votos o que correspondeu a 53 7 dos votos v lidos contra o candidato da oposi o Jorge Quiroga que teve 819 mil votos No M xico com dez milh es de ind genas o Ex rcito Zapatista de Liberta o Nacional integrado em sua maioria por nativos pegou em armas no in cio de 1994 para reclamar democracia pol tica eleitoral e justi a para os povos origin rios Gra as a esse e outros fatores que afetaram o sistema pol tico dominado desde 1929 pelo Partido Revolucion rio Institucional o governo do M xico iniciou em 2000 a constru o de um sistema eleitoral mais transparente Gra as luta dos zapatistas o sistema Pol tico do M xico passou por uma ampla reforma do ano de 2001 assegurando assim v rios direitos aos povos ind genas daquele pa s 2 No dia 20 de outubro de 2006 em Buenos Aires Argentina aconteceu o Semin rio Latino Americano de Comunica o Ind gena que reuniu comunicadores ind genas membros dos povos origin rios do Chile da Argentina da Bol via do Brasil do Peru da Col mbia do Panam e do M xico e que teve por objetivo compartilhar experi ncias e analisar o contexto da comunica o no continente assumimos o compromisso de constituir um Elo de Comunica es Ind genas cujo objetivo principal ser servir como um mecanismo de articula o entre
124. 226 O material produzido era digitado e no encontro seguinte passava por corre es e amplia es principalmente das atividades propostas A corre o da l ngua guarani ficava a cargo dos professores Mauro e Aciara com a ajuda do cacique Jonas Todo material produzido ao longo do curso foi sistematizado no livro Ar du por rape O caminho da sabedoria publicado pelo MEC Esse livro tornou se um dos materiais did ticos espec ficos para os alunos guarani por m alguns conte dos n o foram trabalhados pelos professores Os Guarani elaboraram um livro de etnomatem tica com um calend rio feito junto aos mais velhos No entanto esse calend rio que essencialmente relaciona se s esta es do ano e aos rituais guarani n o estudado pelos professores e nem ensinado na sala de aula Tal fato deve se a necessidade dos pr prios professores pesquisarem e entenderem mais profundamente como este funciona e se constitui TEAO 2007 p 140 Segundo a professora Aciara esse n o um calend rio guarani mas sim uma tentativa de relacionar as atividades socioculturais realizadas nas aldeias com o calend rio gregoriano mar o mok i djatxy abril boapy djatxy MENDES 20083 Por isso a professora Aciara est pensando em pesquisar o assunto para elaborar um calend rio que seja realmente guarani Um dos principais espa os de trocas de informa es acerca da EEI do qual os professores guarani t m particip
125. 24 Relat rio de visita s escolas guarani SEDU 15 de maio de 2005 266 Afirmar que os h bitos culturais s o de deixar tudo vontade o equivalente a dizer que o povo Guarani n o possui regras sociais para a educa o das crian as Se uma sociedade consegue educar as suas crian as porque ela possui regras para isso Por insist ncia dos Guarani o professor Mauro tornou se a partir do ano de 2006 coordenador pedag gico das escolas guarani Como j foi dito esse professor come ou a exercer a sua profiss o durante o per odo em que fazia o Curso de Forma o Fundador da EMPI Tr s Palmeiras tornou se uma refer ncia entre os professores e demais pessoas das aldeias porque segundo os mais velhos ele tem disponibilizado os conhecimentos obtidos nas forma es em benef cio do seu povo Figura 42 Professor Mauro e a primeira turma da EMPI Tr s Palmeiras Fonte Acervo particular do professor Mauro No processo de implanta o do Programa de EEI os Guarani t m lutado constantemente para conseguir a autonomia pedag gica e administrativa das escolas das aldeias A autonomia pedag gica vem sendo alcan ada por meio da forma o diferenciada dos professores da constru o da proposta curricular e da pr tica dos professores e o apoio da comunidade No processo de institucionaliza o da EEI os professores guarani t m desempenhado um importante papel S o principalmente eles que t m garantido p
126. 3 1 OS SUJEITOS DA PESQUISA ctamamaasesanasaasese rasas seres sesasasassesasaranaa 67 3 1 1 A funda o das aldeias guarani no Esp rito Santo 74 3 1 2 As aldeias guarani do Esp rito Santo ssssnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn 78 3 2 OS ESPA OS TEMPOS DA PESQUISA semenerenemerassereserarseresera 88 3 3 INSTRUMENTOS DE PESQUISA rararserarassesesaraesesaraeses 91 3 4 OBSERVA ES E ENTREVISTAS 92 3 4 ANALISE DOCUMENTAL oia sasussiareviadndis iiadasfiniaf onda ins dbibideraran as 96 35 AN LISE DOS DADOS assessora sit pote dEUS doa a annada 98 CAPITULO IV someone ne Sons A 103 4 MOVIMENTOS SOCIAIS DOS POVOS IND GENAS 103 4 1 A REP BLICA E A QUEST O DA INSTITUCIONALIZA O DE POL TICAS P BLICAS IND GENAS NO BRASIL 114 4 2 A ASSEMBL IA NACIONAL CONSTITUINTE 128 4 3 A RATIFICA O DA CONVEN O 169 145 4 4 REFORMULA O DO ESTATUTO DO NDIO 147 4 5 LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCA O NACIONAL E OUTRAS LEGISLA ES RELACIONADAS 152 4 6 UM S POVO E MUITAS POL TICAS P BLICAS 165 CAP TULO Visage EE aos EEE ASS aan EEE EE 173 5 DA EDUCA O ESCOLAR NA ALDEIA EDUCA O ESCOLAR DA ALDEIA REDEFININDO AS FRONTEIRAS 173 5 1 A FORMA O E A CONTRATA O DE PROFESSORES 187 5 1 1 PROGRAMA DE FORMA O DE PROFESSORES CURA a O T 206 5 2 A CONSTRU O DA PROPOSTA CURRICULAR 227 5 3 AS ESCOLAS E
127. AN GOMEZ 2000 p 180 A comunidade escolar guarani vem praticando curr culos escolares desde a cria o da escola nas aldeias Essa a o sofreu transforma es ao longo do tempo devido inser o de novos atores no processo principalmente a partir do momento em que pessoas guarani passaram a atuar como professores Foram feitas v rias tentativas de escrever essa proposta curricular para que se pudesse contar com um projeto baseado num plano constru do e ordenado que estabelecesse a conex o entre determinados princ pios e uma realiza o dos mesmos SACRIST N G MEZ 2000 p 182 a fim de que se garantisse a singularidade cultural desse povo o que segundo os professores guarani n o tinham sido alcan ado satisfatoriamente at o ano de 2006 A produ o da proposta curr cular tupinikim e guarani estava prevista como uma das atividades do est gio do Curso de Forma o de Educadores Tupinikim e Guarani Para isso foi realizado no per odo de 27 a 29 de agosto de 1998 um semin rio sobre curr culo na aldeia de Caieiras Velhas no munic pio de Aracruz Participaram desse encontro as comunidades ind genas um educador guarani do Rio de Janeiro um educador patax de Minas Gerais representantes das Secretarias de Educa o de Minas Gerais e Esp rito Santo do MEC da SEMED do CIMI do IDEA e da Pastoral Indigenista Os representantes ind genas das outras unidades da Federa o compuseram uma mesa redonda co
128. Assembl ia Nacional Constituinte GAIGER 1987 p 11 30 GAIGER J Informe Constituinte Bras lia CIMI 1987 1988 128 A Assembl ia Nacional Constituinte ANC retratou o momento de transi o pol tica pelo qual estava passando o Pa s e tamb m as rela es de for a existentes na sociedade nacional Outra caracter stica desse momento pol tico que as organiza es indigenistas n o formavam um bloco homog neo quanto ao que defendiam em rela o aos princ pios que deveriam nortear as pol ticas indigenistas A ANC foi instalada em Bras lia no dia 1 de fevereiro de 1987 e esteve reunida at 5 de outubro de 1988 quando foi promulgada a nova Carta Magna Para acompanhar e influenciar o processo de elabora o da nova Constitui o as v rias organiza es ind genas e indigenistas passaram a atuar com os constituintes no Congresso Nacional em v rias frentes que ora trabalhavam separadamente ora em conjunto Para que houvesse maior articula o dos trabalhos com os constituintes foi criada em 1986 uma Coordena o Nacional constitu da pela UNI pelo Centro Ecum nico de Documenta o e Informa o CEDI pelo Instituto de Estudos Socioecon micos INESC e pela Comiss o Pr ndio de S o Paulo CPI SP que era orientada por um programa m nimo de cinco pontos 1 Reconhecimento dos direitos territoriais dos povos ind genas como primeiros habitantes do Brasil 2 Demarca o e garantia das
129. B Trajet ria de muitas perdas e poucos ganhos In Educa o escolar ind gena em terra brasilis tempo de novo desenvolvimento Rio de Janeiro IBASE 2004 69 Tradi o oral e mem ria ind gena a canoa a do tempo 2007 Dispon vel em lt http paginas terra com br educa o gt Acessado em 20 07 07 70 A trajet ria da educa o ind gena no Brasil uma perspectiva hist rica Dispon vel em lt http portal mec gov br gt Acessado em 10 10 2006 71 FREITAS S M Pref cio edi o brasileira de THOMPSON Paul A voz do passado Hist ria Oral Rio de Janeiro Paz e Terra 1992 72 FRUSTRA O dos povos ind genas em rela o ONU Dispon vel em www adital org br Acesso em 20 de jan 2007 73 FUNAI Funda o Nacional do ndio Processo 3649 75 Relat rio sobre invas o e parecer em Caeiras Velha 74 Processo n 2 561 79 Relat rio de Identifica o da Terra Ind gena Caeiras Velhas 75 Processo n 6370 90 Territ rio Ind gena de Caeiras Velhas 1996 76 Processo n 0720 02 Terra ind gena doada pela PMA empresa Thotam 77 ndios Tupinikim e Guarani do Esp rito Santo 2004 78 FUNDA O HEMERA Los ind genas colombianos muchos derechos y crudas realidades Colombia 2006 79 GAGLIARDI J M O ind gena e a rep blica S o Paulo Hucitec 1989 80 GAIGER J Informe Constituinte 1987 1988 Bras lia CIMI 1988 288 81 GARLET I J Relat rio sobr
130. DB PR que representava os interesses do Conselho de Seguran a Nacional Esse substitutivo fez se tabula rasa das decis es aprovadas pelo voto da imensa maioria dos membros da Subcomiss o e Comiss o GAIGER 1988 Diante de t o grave situa o a Coordena o Nacional articulou abaixo assinado reunindo cerca de 90 assinaturas de personalidades ilustres do meio intelectual art stico religioso e empresarial e 43 entidades de mbito nacional apoiando um conjunto de emendas alternativas que permitiriam repor em parte os direitos ind genas amea ados pelo substitutivo do relator Nos dias 28 a 31 de maio as lideran as dos diversos partidos pol ticos se reuniram na Constituinte para tentar acordo a respeito do cap tulo Dos Indios Ap s mais de 9 horas de intensas negocia es onde um poderoso lobby anti ind gena se defrontou com a persist ncia de parlamentares ligados causa ind gena chegou se reda o final de um acordo bem favor vel garantia de certos direitos ind genas no novo texto constitucional CPI SP 1988 p 21 Foi necess rio um grande trabalho de articula o com os constituintes para garantir que pelo menos 47 membros da Sistematiza o aprovassem pelo voto o que o deputado Bernardo n o tivesse inclu do no Substitutivo Outro elemento importante foi a presen a de delega es de diversos povos ind genas em Bras lia a fim de fazer press o sobre os constituintes Delega
131. Diferenciado para professo ndio a remunera o correspondente ao n vel de qualifica o profissional e isonomia salarial do professor ndio assim como o reconhecimento oficial e a regulamenta o legal de todo Estabelecimento de Ensino e Cursos criados no interior das terras ind genas Garantir dados e informa es referente aos povos ind genas Tupinikim e Guarani atrav s do senso demogr fico de cunho social Assegurar a manuten o e ou recupera o da cultura ind gena no que se refere l ngua e demais valores culturais expressos pelas comunidades Tupinikim e Guarani
132. E Conselho Nacional de Educa o CNPI Conselho Nacional dos Povos Ind genas COFAVI Companhia Ferro e A o de Vit ria COIAB Coordena o das Organiza es Ind genas da Amaz nia Brasileira COLE Congresso de Leitura do Brasil CONAGE Coordena o Nacional dos Ge logos CPDDH Centro de Promo o e Defesa dos Direitos Humanos CPI AC Comiss o Pr ndio do Acre CPI SP Comiss o Pr ndio de S o Paulo CPMI Comiss o Parlamentar Mista de Inqu rito CSN Conselho de Seguran a Nacional CTI Centro de Trabalho Indigenista CUT Central nica dos Trabalhadores CVRD Companhia Vale do Rio Doce ECOSOC Economic and Social Council of the United Nations EEI Educa o Escolar Ind gena EEEM Escola Estadual de Ensino M dio EFAA Escola Fam lia Agr cola em Altern ncia ELESI Encontros sobre Leitura e Escrita em Sociedades Ind genas EMEF Escola Municipal de Ensino Fundamental EMPI Escola Municipal Pluridocente Ind gena FACHA Faculdade de Ci ncias Humanas de Aracruz FAO Organiza o das Na es Unidas para Agricultura e Alimenta o FOIM Federa o das Organiza es Ind genas do Rio Negro FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educa o FUNAI Funda o Nacional do ndio FUNASA Funda o Nacional de Sa de FUNDEB Fundo de Desenvolvimento da Educa o B sica GT Grupo T cnico IBASE Instituto Brasileiro de An lises Sociais e Econ micas IBGE Instituto Bras
133. EDI 1991 p 16 O anteprojeto da Subcomiss o acima citado foi enviado Comiss o da Ordem Social e aprovado com algumas retifica es em julho de 1987 O texto relativo aos direitos ind genas passou a ter seis artigos mas manteve o conte do b sico da formula o anterior CEDI 1991 Segundo reportagem veiculada pelo Jornal do Brasil no dia 3 de julho os lobbies trabalharam com afinco para derrubar o artigo que colocava restri es explora o do subsolo em terras ind genas s 03 30 min da madrugada o senador Odacir Soares PFL RO prop s aos membros da Subcomiss o a garantia de aprova o do relat rio desde que eles concordassem em fazer uma pequena altera o no texto abrindo a explora o tamb m s empresas nacionais em substitui o ao privil gio da Uni o Na mesma oportunidade foram apresentadas sete outras emendas de autoria dos deputados Osvaldo Aranha PL RJ Nilson Gibson PMDB PE Leur Lomanto PFL BA Jos Louren o PFL BA Cunha Bueno PDS SP Gastrone Righi PTB SP e Louren o Batista PFL SE propondo abertura do subsolo ind gena iniciativa privada nacional ou estrangeira Os membros da Subcomiss o identificaram todas as emendas como oriundas da mesma fonte de interesse o Conselho de Seguran a Nacional CEDI 1991 Da Comiss o da Ordem Social o anteprojeto foi para a Comiss o de Sistematiza o que teve como presidente o senador Afonso Arinos de Melo Franco
134. Hall 2005 Certeau 1995 34 Bauman 2002 Barth 1976 Villar 2004 Giddens 1997 e Hobsbawm 1997 Geertz 1989 Assim como Santos 1989 2000 2001 2003 a e b 2004 e 2006 possibilitou uma melhor compreens o das mudan as paradigm ticas em rela o cultura Com base nessas formula es te rico conceituais buscamos explorar id ias e conceitos que nos auxiliassem na compreens o da complexa problem tica em quest o e dos seus muitos atravessamentos ou seja o processo de escolariza o dos Guarani do Esp rito Santo no contexto da hist ria da educa o escolar brasileira e das pol ticas p blicas instauradas no Brasil a partir da promulga o da Constitui o Federal de 1988 Essa escolha espacial ou seja a escolariza o do Guarani do Esp rito Santo justifica se uma vez que mesmo existindo apenas tr s aldeias guarani nesse Estado trata se de uma experi ncia bastante rica j que por ser um povo que caminha as pessoas est o constantemente circulando pelo corredor guarani situado entre os estados do Sudeste do Sul e do Centro Oeste do Brasil e tamb m pelo Paraguai pelo Uruguai pela Argentina e pela Bol via A mobilidade espacial do povo Guarani t o intensa que as pol ticas p blicas come am a ser delineadas em conjunto pelos estados brasileiros onde eles se fazem presentes como o caso do Protocolo de Inten es assinado no ano de 2004 pelos estados do Esp rito Santo do R
135. Ind genas da Amaz nia Brasileira COIAB a Articula o dos Povos e Organiza es Ind genas do Nordeste Minas Gerais e Esp rito Santo APOINME As diversas organiza es indigenistas n o governamentais institu das a partir dos anos 70 do s culo XX s o de antrop logos juristas professores universit rios ling istas indigenistas mission rios e outros profissionais que ap iam a causa ind gena em seus mais diversos aspectos organiza o pol tica luta pela terra registro de idiomas educa o e sa de Neste trabalho optamos por apresentar tr s momentos da luta dos povos ind genas e do apoio das organiza es indigenistas n o governamentais pela institucionaliza o de pol ticas p blicas que levem em considera o a diversidade cultural e os direitos desses povos a saber a Assembl ia Nacional Constituinte a Ratifica o da Conven o 169 e a Reformula o do Estatuto do ndio 4 2 A ASSEMBL IA NACIONAL CONSTITUINTE Jamais se conseguir o mudan as estruturais profundas atrav s de uma constitui o A constata o vale para qualquer poca e lugar inclusive ao atual momento constituinte brasileiro Sempre s o os movimentos sociais os que forjam novas condi es sociais s quais via de regra se segue a edi o de um novo ordenamento jur dico que institucionalize no plano formal o que j est obtido no plano concreto A constata o por m n o autoriza que se despreze o espa o da
136. Nacional de Pol tica Indigenista composto por representantes dos povos ind genas das entidades de apoio causa ind gena e do Governo Federal com o poder para coordenar as a es do Governo nos v rios minist rios voltadas aos povos ind genas Outra reivindica o dos povos ind genas foi que n o se reformulassem os Arts 231 e 232 da Constitui o Federal e que se aprovasse o Estatuto do ndio Ap s a realiza o do Acampamento Terra Livre foi criada em mar o de 2008 a Comiss o Nacional de Pol ticas Indigenistas CNPI com a participa o de 13 representantes de rg os do Governo 20 ind genas metade com direito a voto e dois representantes de entidades indigenistas A CNPI tem car ter de acompanhamento e proposi o das a es indigenistas e do anteprojeto de lei do desse Conselho e sua dura o ser at a cria o do Conselho Nacional de Pol tica Indigenista Ap s a aprova o do Conselho tornar se mais f cil conseguir a reformula o do Estatuto do ndio 4 5 LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCA O NACIONAL E OUTRAS LEGISLA ES RELACIONADAS 152 Al m da Constitui o Federal e da Conven o n 169 outro marco importante no que se refere escolariza o de povos ind genas brasileiros foi a promulga o da Lei de Diretrizes de Base da Educa o LDB de 1996 que reafirma no Art 32 que a EEI deve ser ministrada na l ngua portuguesa No entanto assegura s comunidades ind genas a
137. No entanto cabe ressaltar que adaptar os conte dos realidade guarani n o significa necessariamente respeitar a l gica do pensamento desse povo principalmente seus processos pr prios de aprendizagem A primeira a o no intuito de institucionaliza o de uma educa o diferenciada nas aldeias guarani e tupinikim no Esp rito Santo deu se em 1993 com o Projeto de Educa o Formal e Popular Comunidades Ind genas elaborado pela Pastoral Indigenista e a equipe do CIMI juntamente com a FUNAI a SEMED e a SEDU Esse projeto revela dois elementos interessantes do ponto de vista hist rico que marcam o longo per odo de transi o do processo de institucionaliza o da EEI guarani SEMED Relat rio de visita dos t cnicos dessa secretaria s escolas guarani no dia 20 de julho de 2008 189 O primeiro est relacionado ao pr prio nome Projeto de Educa o Formal e Popular Comunidades Ind genas S o utilizados os conceitos formal e popular para denominar a modalidade de educa o que se pretendia implementar desconsiderando assim as denomina es utilizadas por outros programas de EEI que j vinham sendo cunhadas desde a d cada de 70 do s culo XX inclusive com a participa o da Igreja Cat lica uma das parceiras do Projeto de Educa o Formal e Popular Comunidades Ind genas O segundo elemento interessante encontra se na justificativa do projeto e est relacionado s contradi es que marcam a transi
138. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESP RITO SANTO CENTRO DE EDUCA O i PROGRAMA DE P S GRADUA O EM EDUCA O MARIA DAS GRA AS COTA O PROCESSO DE ESCOLARIZA O DOS GUARANI NO ESP RITO SANTO VIT RIA 2008 MARIA DAS GRA AS COTA O PROCESSO DE ESCOLARIZA O DOS GUARANI DO ESP RITO SANTO Tese apresentada ao Programa de P s Gradua o em Educa o do Centro de Educa o da Universidade Federal do Esp rito Santo requisito parcial para a obten o do grau de Doutora em Educa o Orientadora Prof Dr Regina Helena Silva Sim es VIT RIA 2008 MARIA DAS GRA AS COTA O PROCESSO DE ESCOLARIZA O DOS GUARANI NO ESP RITO SANTO Tese apresentada ao Programa de P s Gradua o em Educa o do Centro de Educa o da Universidade Federal do Esp rito Santo como requisito parcial para a obten o do Grau de Doutora em Educa o Aprovada em 2008 COMISS O EXAMINADORA Prof Dr Regina Helena Silva Sim es Universidade Federal do Esp rito Santo Orientadora Prof Dr Carlos Eduardo Ferra o Universidade Federal do Esp rito Santo Prof Dr Celeste Ciccarone Universidade Federal do Esp rito Santo Prof Dr Janete Magalh es Carvalho Universidade Federal do Esp rito Santo Prof Dr Jos Ribamar Bessa Freire Universidade Estadual do Rio de Janeiro DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGA O Dados Internacionais de Cataloga o na publica o CIP Biblioteca Central da Unive
139. a 193 utilizada foi simples e em alguns aspectos bastante prec ria Os participantes do Curso dormiam em colch es colocados no ch o Muitas das educadoras levavam seus filhos de colo para o Curso para que elas pudessem assistir s aulas Enquanto isso os filhos eram colocados em colch es pr ximos s carteiras que elas ocupavam na sala de aula ou simplesmente permaneciam no colo Alternativa encontrada por essas m es foi trazer um filho ou parente para cuidar dos beb s Figuras 14 e 15 Figura 14 Aluna guarani no Curso de Forma o Fonte Arquivo da SEMED A foto acima de uma das alunas guarani que participaram do Curso A jovem da janela uma de suas irm s que cuidava do beb para que ela pudesse estudar Essa cena representa uma das aprendizagens mais significativas na conviv ncia com os alunos tupinikim e guarani ou seja a forma de relacionamento dos adultos com as crian as e a maneira de educ las Nessas sociedades as crian as participam das diversas atividades realizadas pelos adultos sem causar nenhum transtorno ou aborrecimento As m es s o muito carinhosas com os beb s e s o capazes de realizar diversas atividades com eles no colo Crian as guarani e tupinikim de todas as idades acompanhavam seus pais durante as etapas do Curso 194 Figura 15 M es tupinikim e guarani com seus filhos em sala de aula Fonte Arquivo da SEMED A coordena o do Curso adotou como crit rios para
140. a o conforme anteriormente mencionado Os temas escolhidos pelos alunos para o desenvolvimento das monografias estavam todos relacionados cultura guarani Por exemplo o sistema planet rio os insetos os s mbolos das pinturas corporais a hist ria cultural os mitos a etno hist ria a l ngua as pinturas as artes as cores a cer mica as plantas as rvores as ervas medicinais os instrumentos musicais os animais a etno geografia os p ssaros as frutas nativas o tempo e o ser humano Os temas de pesquisas escolhidos pelos alunos do Esp rito Santo foram A culin ria guarani M rcio A natureza na vis o guarani Alessandro O caminho da busca da Terra sem Males Alberto Territ rio tradicional guarani Sandra Contato da l ngua portuguesa e do guarani Marcelo e Rituais guarani parto casamento entre outros Joana As explica es dos alunos para a escolha dos temas encontravam se relacionadas curiosidade por algum assunto como o caso do professor Alberto que era do Mato Grosso do Sul e conhecia pouco sobre o tema Uma outra motiva o foi a quest o da afirma o da identidade tnica como o caso da Joana As coisas est o mudando muito depois da morte da minha m e e da minha av preciso lembrar como era para n o esquecer Joana informa o verbal aldeia de Boa Esperan a setembro de 2006 Decidiu se que os alunos poderiam apresentar os resultados da pesquisa de forma escrita ou da maneir
141. a NEI de Santa Catarina vinculado Diretoria de Educa o B sica e Profissional integrado pelas ger ncias de ensino da SED por lideran as e professores ind genas rg os regionais de educa o universidades e outras institui es comprometidas com a causa ind gena E respons vel pela proposi o de diretrizes educacionais e pela implementa o de uma escola que contemple os princ pios da especificidade e diferen a interculturalidade e biling ismo No Mato Grosso do Sul tanto a administra o das escolas quanto a elabora o da proposta pedag gica t m efetiva participa o dos representantes das comunidades Em todos os estados da Federa o onde vivem grupos guarani j foi estabelecida a categoria Escola Ind gena Em Santa Catarina a categoria Escola Ind gena foi institu da pela Lei n 12 449 de 10 de dezembro de 2002 No Rio Grande do Sul a cria o legal dessa categoria deu se em 2001 Al m das diferen as existentes entre os diversos estados quanto implementa o das pol ticas p blicas ocorre um problema ainda maior que o do n o cumprimento dos direitos dos povos ind genas assegurados pela Portaria Interministerial n 559 91 pelo PNE e por outras legisla es em rela o constru o de curr culos diferenciados produ o de materiais did ticos edifica o de escolas nos padr es arquitet nicos caracter sticos de cada povo entre outros 5 8 Em Santa C
142. a Carvalho 04 05 79 Jos Marinho 7 s rie Concluiu Marinho Ant nia Carvalho filha de Aurora Lucimara Carvalho 20 05 83 Jos Marinho 6 s rie Concluiu Marinho Ant nia Carvalho filha de Aurora M rcia Ortiz Carvalho 28 01 82 M rio C sar Carvalho 4 s rie Desistente irm o de Aurora Lucia Ortiz Carvalho Marly da Silva 06 12 83 Jonas Ernesto da Silva 5 s rie Desistente filho de Aurora Maura sa Silva Mauro Luiz Carvalho 29 07 76 Carlito Gon alves 8 s rie Concluiu Rosa Gon alves Carvalho filha de Aurora Rosimara Carvalho 08 04 81 Jos Marinho 5 s rie Desistente Marinho Ant nia Carvalho filha de Aurora S lvio Carvalho 10 04 80 Carlito Gon alves 8 s rie Concluiu Gon alves Rosa Carvalho Gon alves filha de Aurora Vanda de Lima 18 09 84 Antonio Carvalho filho de 5 s rie Concluiu Carvalho Aurora Obs Aparecem ainda em uma lista de controle de frequ ncia o nome de Dion sio Marim que segundo o pr prio documento tornou se desistente no arquivo n o foi encontrada a ficha de matr cula dele e nem de Josiane da Silva Caetano que aparece em uma ficha de avalia o de desempenho como aluna do Curso ANEXO D PROPOSTA DE DIRETRIZES DO SUBN CLEO DE EDUCA O DO NISI ES PARA POLITICA EDUCACIONAL DO ESTADO DO ESPIRITO 12 13 Institucionalizar como setor a EEI no organograma dessa secretaria com recursos humanos dota o or ament r
143. a a secagem de sedimentos marinhos que seriam retirados do fundo do mar na foz do Rio Piraqu a u A rea doada pela Prefeitura de Aracruz faz parte de uma rea maior de 50 57 ha registrada em nome do munic pio de Aracruz no ano de 1999 que n o foi inclu da no territ rio de Caeiras Velha porque o ex prefeito de Aracruz Primo Bitti garantiu as comunidades ind genas que essa regi o seria transformada numa reserva biol gica posteriormente criada pela Lei Municipal n 994 de 14 de junho de 1986 que recebeu o nome de Reserva Ecol gica dos Manguezais Piraque a u e Piraqu mirim Assim sendo a rea doada empresa Thotam Minera o Ltda al m de ser uma propriedade ind gena uma rea de preserva o ambiental 83 A decis o dos Guarani de ocupar o terreno pretendido pela Thotham provocou uma s rie de rea es por parte da Prefeitura e da Empresa beneficiada Para evitar a situa o de tens o e os riscos de desrespeito aos direitos ind genas e ambientais a FUNAI realizou estudos de identifica o e delimita o da rea de 50 57 ha da qual os ndios voltaram a tomar posse Desde que foi fundada em 2000 a aldeia Piraqu a u passou a ter como cacique Pedro da Silva mais popularmente conhecido como Peru o que acabou sendo um arranjo providencial uma vez que eram constantes os desentendimentos entre ele e seus tios Jonas e Toninho e consequentemente com o envolvimento de suas m es Os Guarani do
144. a atividade de tempo aldeia apresentou v rios problemas ao longo do Curso As tarefas realizadas pelos alunos no tempo aldeia n o foram aproveitadas pela maioria dos formadores como base para a continuidade e o desenvolvimento das etapas subsequentes acarretando a desmotiva o dos educadores na sua execu o e preju zo para a carga hor ria do Curso Outro problema s rio foi a falta de acompanhamento da realiza o dessas atividades pelos formadores Nos arquivos das institui es respons veis pela realiza o do Curso foi encontrado apenas um relat rio de acompanhamento das atividades do tempo aldeia datado de novembro de 1997 De acordo com esse documento no dia 21 de novembro as formadoras de Matem tica Ci ncias Naturais e L ngua revezaram se no atendimento aos alunos das aldeias de Iraj Caieiras Velhas e Boa Esperan a Relat rio de avalia o da segunda etapa do Curso de Forma o Relat rio das atividades desenvolvidas pelo Subn cleo de Educa o Ind gena do NISI 1997 202 O trabalho com os educadores foi realizado da seguinte forma a formadora Elna trabalhou na aldeia de Boa Esperan a enquanto as outras duas trabalharam na aldeia de Caieiras Velhas com os educadores dessa aldeia e da aldeia de Iraj Ap s duas horas foi feito o revezamento no trabalho de forma que todos os educadores foram atendidos por todas as tr s formadoras A maior parte dos educadores dessas aldeias j havia concl
145. a curricular ou a declara o de inten es SACRIST N G MEZ 2000 p 86 O curr culo como uma pr xis antes de ser um objeto est tico emanado de um modelo coerente de pensar a educa o ou as aprendizagens necess rias dos alunos uma pr tica express o da fun o socializadora e cultural que determinada institui o tem que reagrupa entorno dele uma s rie de subsistemas ou pr ticas diversas entre as quais se encontra a pr tica pedag gica desenvolvida em institui es escolares que comumente chamamos ensino 228 uma pr tica que se expressa em comportamentos pr ticos diversos O curr culo como projeto baseado num plano constru do e ordenado relaciona a conex o entre determinados princ pios e uma realiza o dos mesmos algo que se h de comprovar e que nessa express o pr tica concretiza seu valor E uma pr tica na qual se estabelece um di logo por assim dizer entre agentes sociais elementos t cnicos alunos que reagem frente a ele professores que o modelam etc Desenvolver esta acep o do curr culo como mbito pr tico tem um atrativo de poder ordenar em torno desse discurso as fun es que cumpre e o modo como as realiza estudando processualmente se expressa numa pr tica e ganha significado dentro de uma pr tica de algum modo pr vio e que n o fun o apenas do curr culo mas de outros determinantes E o contexto da pr tica ao mesmo tempo que contextualizado por ela SACRIST
146. a da incompletude das culturas pode contribuir para a an lise dos processos educacionais interculturais A interculturalidade pode ser definida como o entrecruzamento de diversidades tanto nas esferas da cultura como nos subsistemas sociais e no universo da vida cotidiana entrecruzamento que tende a constituir constela es poliaxiol gicas onde convivem n o sem conflito diversos estilos de vida e normas de bem viver enraizadas em diferentes discursos SORIA 2002 Vejamos como historicamente se foram dando essas transforma es do conceito de cultura ou seja como se foi constituindo a id ia de cultura no plural CERTEAU 1995 2 1 A CULTURA NO PLURAL Na segunda metade do s culo XIX o modelo de racionalidade da modernidade estendeu se s Ci ncias Sociais emergentes afirmando assim um modelo ocidental global que admite uma variedade interna mas que se defende ostensivamente das formas de conhecimento n o cient fico Sendo um modelo global a nova racionalidade cient fica tamb m um modelo totalit rio na medida em que nega o car ter racional a todas as formas de conhecimento que n o se pautarem pelos princ pios epistemol gicos e pelas suas regras metodol gicas E esta sua caracter stica fundamental a que melhor simboliza a ruptura do novo paradigma cient fico com os que o precedem SANTOS 2000 p 61 O paradigma moderno da racionalidade cient fica traduz se tamb m na vis o que s
147. a de Aracruz 15 Esse dep sito foi criado a partir da desativa o da segunda sala de aula existente na escola que foi utilizada at o ano de 2003 por uma das professoras contratadas pela FUNAI 1 Aciara Carvalho membro da fam lia fundadora e neta de D Aurora moradora da aldeia e trabalha como professora na aldeia de Boa Esperan a 90 Figura 9 EMPI Tr s Palmeiras Fonte Arquivo da pesquisadora No munic pio de Aracruz a partir de 2006 o Ensino Fundamental passou de oito para nove anos de dura o As crian as frequentam a pr escola dos quatro aos cinco anos e a partir dos seis anos s o matriculadas na fase introdut ria do Ensino Fundamental No ano de 2007 o atendimento aos alunos pela EMPI Boa Esperan a e pela EMPI Tr s Palmeiras era da pr escola ao 9 ano na primeira escola funcionava uma turma de pr escola e outra de 1 e 2 anos e na segunda cinco turmas uma de 1 e 2 anos uma de 3 e 4 anos uma de 5 ano uma de 6 outra de 7 e outra de 8 ano Como as turmas do 6 ao 9 ano estavam sendo criadas paulatinamente s passou a ter turma de 9 ano em 2008 Em 2007 da pr escola ao 5 ano havia um professor atuando por turma a partir do 6 ano havia um professor para cada disciplina escolar da pr escola ao 5 ano todos os seis professores eram guarani tr s deles Silvio Alberto e Sandra atuavam na EMPI de Tr s Palmeiras duas professoras Aciara e J
148. a e de reg ncia e tamb m das atividades realizadas por eles na comunidade Esses relat rios foram assinados pela equipe pedag gica e pelos caciques sendo posteriormente entregues coordena o do Curso e avaliados pelos formadores Na avalia o final decidiu se que 24 dos 36 alunos matriculados concluiriam o Curso em dezembro de 1999 e que 12 tr s deles guarani prosseguiriam os estudos porque ainda n o estavam preparados para o trabalho de sala de aula A continuidade do Curso foi organizada em um total de 90 horas distribu das em seis etapas de tr s dias cada uma de setembro a dezembro de 2000 Os alunos tiveram aulas de L ngua Portuguesa Matem tica Ci ncias Sociais e Ci ncias Naturais Essa forma o complementar n o era obrigat ria tanto que apenas uma aluna guarani participou de todas as etapas Cinco dos oito alunos guarani receberam o certificado de conclus o do Curso de Forma o Figuras 21 Alunas guarani vestidas de branco na festa de formatura Fonte Arquivo da SEMED 204 Figura 22 Certifica o de uma aluna guarani na festa de formatura Fonte Arquivo da SEMED Os professores ind genas aprovados no Curso foram titulados pela Escola Estadual Monsenhor Guilherme Schmidt de Aracruz que oferecia o curso de magist rio em n vel de Ensino M dio Figuras 21 e 22 Dos cinco professores formados pelo Curso dois os professores Mauro e Aciara foram efetivados no ano de 1999 por mei
149. a escola de Tr s Palmeiras ou que se matriculasse na educa o de jovens e adultos em uma escola fora da aldeia por m at o momento ela n o se decidiu por nenhuma dessas op es A situa o Relat rio da reuni o de pesquisa elaborado pela professora Kalna Boa Esperan a 2006 211 mais grave em rela o l ngua guarani uma vez que oito alunos da Regi o Sul n o dominam essa l ngua ou seja n o falam n o compreendem e muito menos sabem escrever a l ngua O objetivo do Curso formar professores bil ng es portugu s e guarani Durante a reuni o de coordena o do Curso realizada em Vit ria a funcion ria da FUNAI afirmou que corre se o risco do Curso terminar e este grupo de alunos continue sem saber a l ngua guarani Dada a import ncia das mobilidades espaciais e a economia de reciprocidade que se realiza entre as aldeias imprescind vel o aprendizado da l ngua guarani pelos alunos do Curso Se eles n o dominam a l ngua guarani como ser o capazes de realizar pesquisas lingu sticas para a produ o de material did tico uma das atribui es do professor ind gena previstas pelo RCNE Ind gena Estava previsto que a avalia o dos cursistas dar se ia de forma processual diagn stica e continuada por m esse tem sido um dos pontos mais d beis do Curso uma vez que os formadores t m entregado para a comiss o executiva e pedag gica apenas os relat rios das atividades desenvolvidas por
150. a escolha dos formadores a forma o na rea de ensino em que iriam atuar e a experi ncia com a educa o de professores Cabe ressaltar que a falta de forma o dos professores em rela o EEI e aos povos ind genas se refletiu em suas pr ticas em sala de aula Muitas vezes Os processos de aprendizagem e outros elementos da cultura desses dois povos n o foram levados em considera o no processo ensino aprendizagem Se por um lado a falta de experi ncia e conhecimento dos formadores em rela o a essa modalidade de educa o representou um problema por outro lado possibilitou que algumas pessoas se preocupassem em orientar sua forma o para atuar nessa modalidade de educa o como foi o caso da autora desta pesquisa Tentou se garantir a singularidade da cultura guarani atrav s de algumas a es como o ensino aprendizagem de L ngua Guarani ministrado pelo professor Waldemar que fez quatro viagens s aldeias onde trabalhou 180 horas aulas com essa disciplina Esse professor coordenou a produ o de textos e a tradu o de uma hist ria infantil do portugu s para a l ngua guarani Esse trabalho foi feito com a ajuda da comunidade Algumas palavras j est o sendo faladas de modo diferente preciso registrar algumas palavras que j n o s o mais usadas Estou preocupado com o trabalho do professor Waldemar gostaria de ver o trabalho antes de escrever a cartilha fala registrada na ata da reuni o realizada na a
151. a os Estados permitiu que o governo de S o Paulo realizasse uma manobra pol tica e editasse o Decreto n 734 de 5 de janeiro de 1900 estabelecendo que as terras dos aldeamentos ind genas fossem consideradas devolutas passando a pertencer portanto aquela unidade da Federa o A manobra pol tica realizada pelo Governo Paulista tinha como objetivo disponibilizar as terras ind genas daquele Estado para o plantio de caf principalmente aquelas que eram ocupadas pelos Kaigang que viviam na bacia do Tiet nas matas dos arredores de Bauru Com a promulga o do Decreto n 734 os Kaigang passaram a sofrer a invas o dos seus territ rios por produtores de caf e pela constru o das linhas f rreas ligando os munic pios da regi o entre si e com os outros Estados 115 Os conflitos entre os Kaigang os funcion rios das vias f rreas e os fazendeiros que se dirigiram para a regi o foram t o grandes que pela primeira vez o Brasil foi acusado publicamente pelo massacre de ndios durante o XVI Congresso dos Americanistas ocorrido em Viena ustria Essa den ncia foi um dos fatores que aceleraram o processo de cria o do SPI No processo hist rico que culminou com a funda o do SPI contribuiu tamb m a atua o da professora Leolinda Daltro e do Centro de Ci ncias Letras e Artes de Campinas O exterm nio de povos ind genas no interior de S o Paulo levou Leolinda Daltro apoiada por um grupo de simpatizantes
152. a proposta da UNI abria uma exce o s explora es a serem realizadas pela Uni o quando houvesse relevante interesse nacional assim declarado pelo Congresso Nacional por m o lucro resultante da lavra seria integralmente revertido aos ndios 5 o CIMI propunha que as terras ind genas as riquezas naturais do solo e do subsolo dos cursos fluviais os lagos localizados em seus limites dominais os rios que nelas tivessem nascente e foz e as ilhas fluviais e lacustres fossem considerados bens das Na es Ind genas enquanto a UNI propunha que as terras ind genas fossem considerados bens da Uni o inalien veis imprescrit veis e indispon veis a qualquer t tulo vedada outra destina o que n o fosse a posse e usufruto dos pr prios ndios 134 neutralizar a alta visibilidade e relativo sucesso que o lobby ind gena estava tendo no Congresso Nacional A s rie de artigos intitulada Os ndios na nova Constitui o foi publicada entre 9 e 14 de agosto de 1987 com manchetes como A conspira o contra o Brasil Nem s de ndios vive o CIMI O CIMI e seus irm os de estanho Indios o caminho para os min rios e CIMI prop e a divis o do Brasil O primeiro dos seis artigos mencionava um documento assinado por 47 mil austr acos caracterizado como uma conspira o internacional envolvendo restri es soberania nacional sobre a regi o amaz nica sob o pretexto de preservar as culturas das etnias silv colas a
153. a que melhor Ihes conviesse por meio de document rios filmes fotografias ou de outros meios Mesmo aceitando outras formas de registro constatou se que a escrita permeava todo o processo de realiza o da pesquisa Cada aluno teria que elaborar um projeto de pesquisa roteiro de entrevistas revis o bibliogr fica ou outra atividade relacionada Essa seria uma atividade dif cil de ser cumprida por alguns alunos por exemplo Joana que estava escrevendo a sua pesquisa em guarani A possibilidade de conv vio e trocas entre pessoas de diversas aldeias fazia do Curso um espa o tempo de media o e de troca de saberes guarani entre os diversos membros dessa sociedade Assim como no Curso de Forma o de 214 Educadores Tupinikim e Guarani tamb m nesse Curso era grande o n mero de crian as que acompanhavam os pais Figuras 29 M e guarani com seus filhos no Curso de Forma o Fonte Arquivo do Curso Figuras 30 M e guarani com seus filhos no Curso de Forma o Fonte Arquivo do Curso De maneira geral os alunos guarani avaliaram muito positivamente as disciplinas do Curso Segundo eles t m contribu do para a afirma o da identidade tnica A pesquisa como norteadora do processo ensino aprendizagem aprendi como importante registrar a sabedoria dos mais velhos a sabedoria do nosso povo As aulas foram o encontro da pessoa com a sua identidade S o momentos sagrados com muita emo o L
154. a que tenham por objeto o dom nio a posse ou a ocupa o de terras habitadas pelos silv colas 2 A nulidade e extin o de que trata o par grafo anterior n o d o aos ocupantes direito a qualquer a o ou indeniza o contra a Uni o e a Funda o Nacional do Indio BRASIL 1969 Mesmo com o direito posse da terra garantido por todas as Constitui es Federais a partir de 1934 o que persistiu na hist ria da Rep blica Brasileira foi um constante 120 desrespeito aos direitos dos povos ind genas que perderam suas terras por causa da expans o das fronteiras econ micas e agr colas Em termos educacionais tanto a Constitui o Federal promulgada em 1967 como a Emenda 1 69 n o deram qualquer tratamento espec fico aos povos ind genas Segundo essa Constitui o o ensino prim rio somente deveria ser ministrado na l ngua nacional contrariando assim os princ pios da Conven o n 107 da OIT que assegurava aos povos ind genas a educa o escolar na l ngua materna A LDB Lei n 4 024 de 20 de dezembro de 1961 e a reforma proporcionada pela Lei n 5 692 de 11 de agosto de 1971 tamb m n o deram qualquer tratamento espec fico aos povos ind genas Em consequ ncia mantiveram as pr ticas escolares que visavam elimina o das diferen as culturais porque o ent o pensamento hegem nico considerava que essas diferen as atentavam contra a unidade e a seguran a nacional A legisla o reformista n
155. a resist ncia VIEIRA 2007 No processo educacional da pessoa guarani de grande import ncia o seu nome determinado antes do seu nascimento de acordo com a regi o celeste de onde vem a alma da crian a E ao saber sua origem que dada por meio de sonhos os pais tamb m saber o suas qualidades e caracter sticas individuais A origem do nome permite prever um pouco do percurso futuro da crian a seus gostos jeito de ser e poss veis caminhos a serem percorridos BORGES 2002 p 54 Assim o nome atribu do crian a passa a fazer parte integrante dela Apesar de a crian a ser uma pessoa completa ela inspira v rios cuidados em seus primeiros anos de vida em raz o de sua fragilidade perante um mundo que considerado terr vel e imperfeito pelo povo Guarani Segundo Borges 2002 at os tr s anos as crian as guarani s o internalizadas culturalmente por todo o grupo social existe outra l gica em rela o ao trato com a crian a que quem na verdade escolhe o nome ou melhor traz o nome E como se esta viesse pronta com suas voca es e possibilidades de a o Dependendo de sua origem de seu lugar celeste ela poder ser um grande rezador ou uma grande lideran a pol tica Um bom ca ador ou um homem com grandes ro as O fato de a crian a escolher seu nome tamb m o fato de a crian a escolher seus caminhos revelia dos pais que t m como fun o apenas facilit lo na medida do po
156. acreditamos que as perguntas e as respostas n o surgem naturalmente do estudo do material uma vez que se descobre apenas o que se est procurando Muitas fontes para a hist ria dos movimentos sociais apenas foram reconhecidas como tais porque algu m fez uma pergunta e depois sondou desesperadamente em busca de alguma maneira qualquer maneira de responder a ela Em geral n o existe material algum at que nossas perguntas o tenham revelado HOBSBAWM 1998 Outras fontes importantes para esta pesquisa foram os relatos orais Com o uso desse tipo de fonte a hist ria ganha nova dimens o uma vez que a experi ncia de vida das pessoas de todo tipo pode ser utilizada como mat ria prima THOMPSON 1992 No entanto preciso levar em considera o que escrever um livro que utiliza evid ncia oral quer sozinha quer junto com outras fontes n o requer em princ pio muitas habilidades especiais al m das necess rias para qualquer texto hist rico A evid ncia oral pode ser avaliada julgada comparada e citada paralelamente ao material de outras fontes Isso n o nem mais dif cil nem mais f cil De certo modo por m constitui um tipo diferente de experi ncia A medida que se escreve tem se consci ncia das pessoas com quem se conversou hesita se em atribuir s suas palavras significados que eles recusariam THOMPSON 1992 p 305 37 Como para o povo Guarani mesmo estando inserido em uma sociedade
157. ada ao Congresso Nacional em abril do ano passado Com 780 475 assinaturas recolhidas em todo o pa s o abaixo assinado uma das principais iniciativas da Campanha da Fraternidade que este ano foi dedicada causa ind gena PROPOSTA acesso em 19 jul 2007 O abaixo assinado tamb m n o conseguiu fazer com que o projeto do Estatuto do ndio fosse aprovado pelos parlamentares Outra tentativa de aprova o foi feita em 2003 com a cria o da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Ind genas A iniciativa de criar a Frente envolveu al m de parlamentares a Coordena o Geral de Defesa dos Direitos Ind genas da FUNAI a Associa o dos Povos e 151 Organiza es Ind genas do Nordeste Minas Gerais e Esp rito Santo APOIME e a Coordena o das Organiza es Ind genas da Amaz nia Brasileira COIAB A ltima grande mobiliza o dos povos ind genas pela aprova o do Estatuto do ndio e pela defini o de uma pol tica p blica para os povos ind genas culminou com um Encontro realizado em Bras lia com mais de 700 lideran as representantes de 89 povos ind genas entre os dias 25 e 29 de abril de 2005 Os participantes do Acampamento Terra Livre como foi chamado esse Encontro elaboraram um documento final que foi apresentado sociedade brasileira e encaminhado ao Executivo Federal ao Congresso Nacional e ao Poder Judici rio Os participantes do Acampamento Terra Livre reivindicaram a cria o de um Conselho
158. ades E Artigo 2 A Na o mexicana tem uma composi o pluricultural sustentada originalmente nos seus povos ind genas que s o aqueles que descendem de popula es que habitavam no atual territ rio do pais no in cio da coloniza o e que preservam suas pr prias institui es sociais econ micas culturais e pol ticas ou parte de elas MEXICO 1989 S o grandes as diferen as quanto ao reconhecimento da diversidade tnica e cultural nos pa ses habitados pelo povo Guarani dois reconhecem a diversidade tnica e cultural da sociedade Paraguai e Bol via dois apenas reconhecem a exist ncia dos grupos ind genas Brasil e Argentina e um deles Uruguai nem mesmo reconhece a exist ncia de povos ind genas em seu territ rio O reconhecimento da diversidade tnica e cultural da sociedade de um pa s implica colocar em xeque um dos pilares no qual foi constru do o Estado na o moderno que a homogeneidade cultural levando assim a uma relativiza o da superioridade da cultura comum que nada mais do que a extens o da cultura hegem nica a todo o tecido social Sob a tica jur dica seria mais f cil a constru o de um di logo intercultural em uma sociedade que de partida auto reconhece sua diversidade tnico e cultural Outro avan o que se faz notar quanto ao uso das l nguas ind genas Nas constitui es da Col mbia da Venezuela do Equador da Nicar gua do Peru e do 140 M
159. ado o Congresso de Leitura COLE que acontece em Campinas S o Paulo Em seu mbito esse congresso propicia encontros diversos como os Encontros sobre Leitura e Escrita em Sociedades Ind genas ELESI que teve in cio no ano de 1995 Esses encontros tornaram se um espa o amplo e plural de debate e reflex o sobre a EEI no Pa s com uma crescente participa o ind gena COLE 2005 O convite para o COLE no ano de 2007 ressalta algumas caracter sticas desse encontro de fato o COLE um espa o democr tico de debate e constru o de conhecimento sobre a quest o N o um encontro de brancos com presen a de ndios nem um encontro ind gena com presen a de brancos mas um encontro aberto de di logo e constru o coletiva de conhecimento Ali s o nico evento peri dico de mbito nacional aberto sobre educa o escolar ind gena no Brasil h mais de 10 anos COLE 2007 227 Os organizadores do evento t m o cuidado de organizar mesas redondas com integrantes ndios e n o ndios na tentativa de estabelecer um di logo e uma interculturalidade Figura 33 Participantes do COLE Fonte Arquivo da SEMED 5 2 A CONSTRU O DA PROPOSTA CURRICULAR Considerando o curr culo escolar como uma constru o cultural e uma pr xis que tem sua exist ncia na experi ncia da comunidade escolar vamos apresentar n o o processo de constru o do curr culo escolar guarani mas sim da propost
160. ado por esse povo s o as mudan as clim ticas A foto abaixo tirada em 9 de novembro de 2007 um flagrante das consequ ncias da falta de chuvas que deveriam ter come ado a precipitar em setembro Figura 5 Milharal Fonte Arquivo da pesquisadora Os poucos recursos financeiros que eles adquirem v m de verbas como por exemplo aposentadorias Bolsa Fam lia e da venda do artesanato realizada num quiosque na entrada da aldeia nos balne rios durante as viagens deles capital e a outras cidades 87 Figura 6 Cabana para venda de artesanato Fonte Arquivo da pesquisadora Figura 7 Artesanatos guarani Fonte Arquivo da pesquisadora A dificuldade na aquisi o dos alimentos sagrados prejudica a reprodu o do modo de ser guarani Ao contr rio de uma economia de consumo o alimento revestido do valor da d diva divina um ve culo fundamental da renova o da mem ria da fabrica o da sociedade da pessoa e do seu corpo A busca do ideal ind gena da leveza do corpo era garantida tanto pelos exerc cios rituais quanto por uma dieta alimentar que obedecia s prescri es culturais em fun o da resist ncia f sica e do fortalecimento do temperamento ligado 88 alma divina O alimento verdadeiro permite a manuten o do equil brio do indiv duo dos homens entre si e com os mundos terreno e divino Por isso tamb m todas as fases cr ticas da vida social nascimento parto inicia
161. ador e antrop logo Jos Maur cio Arruti professor da Universidade Federal Fluminense UFF e membro do Museu Nacional RJ o aumento no n mero de povos tem rela o com o processo de retomada e constru o de identidade de grupos sociais que reclamam a condi o de ind genas Isso explicaria o surgimento de nove etnias nos ltimos anos incorporadas a partir de informa es b sicas a respeito da autodetermina o da localiza o da popula o e principalmente da manifesta o de vontade do pr prio povo 24 Mesmo sendo detentores de formas pr prias de educa o tem aumentado cada vez mais o n mero de programas de EEI De acordo com os dados da Secretaria de Educa o Continuada Alfabetiza o e Diversidade do MEC SECAD MEC existiam no Brasil no ano de 2006 174 255 alunos ind genas dos quais 105 453 se encontravam matriculados no primeiro segmento do Ensino Fundamental 28 767 no segundo segmento 7 900 no Ensino M dio e 13 217 na Educa o de Jovens e Adultos Segundo a SECAD MEC existia em 2006 um total de 2 422 escolas ind genas sendo 1 113 estaduais 1 286 municipais e 23 particulares onde atuavam 9 100 professores ind genas formados ou em forma o Monteiro 1995 afirma que a quest o ind gena no Brasil sempre foi rea de interesse dos antrop logos e que os historiadores raramente se interessaram pelo assunto A historiografia brasileira ao longo das ltimas d cadas tem buscado incorpora
162. ador e sociedade autorit ria S o Paulo Funda o Perseu Abramo 2000 36 CICCARONE C Drama e sensibilidade migra o xamanismo e mulheres mby guarani Programa de Estudos de P s gradua o em Ci ncias Sociais S o Paulo Pontif cia Universidade Cat lica de S o Paulo 2001 37 CIMI Porantim A educa o guarani e os dilemas envolventes Bras lia CIMI dezembro de 2004 38 Hist ria da Institui o Dispon vel em lt http cimi org br movimento htm gt Acesso em 5 out de 2007 39 II Assembl ia Continental do Povo Guarani Relat rio Porto Alegre RS 2007 Acesso em 5 out de 2007 40 CLASTRES H Terra sem mal o profetismo tupi guarani S o Paulo Brasiliense 1975 41 COTA M G Educa o escolar ind gena a constru o de uma educa o diferenciada e espec fica intercultural e biling e entre os Tupinikim do Esp rito Santo Disserta o Mestrado em Educa o Programa de P s Gradua o em Educa o Universidade Federal do Esp rito Santo Vit ria 2000 42 pedagogia do texto e o ensino aprendizagem das ci ncias sociais Vit ria IDEA 2002 43 Ethoconhecimentos ou Etnocentrismo Jornal Interc mbios Vit ria IDEA 1999 p 8 44 O ensino das ci ncias sociais de 1 a 4 s rie Vit ria SITUFES 1999 45 Povos ind genas do Esp rito Santo Acorda Serra Serra EsS p 7 15 de abr de 1999 46 Hist ria da educa o escolar ind ge
163. ados No entanto percebemos que cada vez mais estes pa ses desenvolvem pol ticas que nos impedem de viver ao nosso modo Em alguns pa ses nos chamam de estrangeiros de forasteiros e dizem que n o podem reconhecer o direito a nossas terras porque elas n o nos pertencem Mesmo assim n s continuamos lutando por nosso territ rio e pelo fim de todo tipo de fronteira que impede de vivermos livremente CIMI 2007 acesso em 30 nov 2007 O discurso guarani sobre o territ rio ancestral fortemente marcado pela identidade e lealdade tribo HALL 2005 indica as dificuldades de locomo o espacial desse povo impostas pelo Estado Os direitos a terra e locomo o s poder o ser garantidos se houver uma pol tica indigenista comum a todos os pa ses onde eles vivem 69 O povo Guarani um dos maiores grupos ind genas da Am rica do Sul e do Brasil S o cerca de 225 mil pessoas vivendo em aldeias que se estendem por um territ rio que passa pelo Paraguai norte da Argentina Uruguai Bol via e sul do Brasil at as encostas da Serra do Mar Na cosmovis o desse povo segundo o mito de origem das almas o Paranagu lparav py o lugar da origem da sociedade Guarani Mbya ou seja onde originou os primeiros filhos concebidos pelas divindades Iparav py Essa seria portanto a origem do mundo mbya Ladeira 1990 TERRIT RIO GUARANI TT Figura 2 Territ rio de deslocamento guarani Fonte CTI 2004
164. ais e conceituais da EEl a alfabetiza o bil ng e a interculturalidade e a educa o ind gena o universo sociocultural dos povos Tupinikim e Guarani do Esp rito Santo Esse Semin rio possibilitou a constru o de consensos b sicos quanto s mudan as necess rias hoje asseguradas pela Constitui o Brasileira para estabelecer nas aldeias ind genas do Esp rito Santo um novo modelo de educa o que assegurar a estes povos uma escola cujos princ pios s o a garantia do ensino das l nguas ind genas e do portugu s no curr culo escolar a inclus o nos conte dos curriculares dos conhecimentos tradicionais destes povos e o respeito aos pr prios processos de aprendizagem nas escolas das aldeias Tais princ pios apontam para uma educa o escolar ind gena diferenciada espec fica e intercultural proporcionando o resgate respeito s suas culturas que dever ser iniciado com a forma o de professores ind genas entre Guarani e Tupinikim O convite Monte para coordenar o Semin rio indica a influ ncia das outras experi ncias de EEI no programa educacional ind gena que foi sendo institu do no Esp rito Santo Esta influ ncia tamb m pode ser constatada por meio da correspond ncia trocada pelos parceiros do Projeto de EEI Guarani com profissionais desse e de outros projetos de EEI O apoio das organiza es governamentais e n o governamentais seguiu em anos posteriores como por exemplo no processo d
165. al as fontes os instrumentos da pesquisa Procura se explicitar tamb m como foram produzidos e analisados os dados da pesquisa No cap tulo IV s o analisados os movimentos sociais protagonizados pelos povos ind genas e pelas organiza es ind genas e indigenistas na luta pela institucionaliza o de pol ticas p blicas que asseguram os interesses desses povos No cap tulo V feita a an lise do processo de escolariza o dos Guarani do Esp rito Santo como processo hist rico e do programa de EEI das escolas das aldeias como espa os de fronteira Cabe ressaltar que esta pesquisa passou por v rias transforma es em virtude dos constantes di logos com a orientadora e com os membros da comiss o examinadora durante a primeira e a segunda qualifica o di logos que trouxeram grandes contribui es principalmente na constru o dos referenciais te rico metodol gicos Queremos esclarecer que mesmo que a comiss o examinadora tenha sugerido que se fizesse um resumo da parte que trata do movimento nacional dos povos ind genas durante a Assembl ia Nacional Constituinte insistimos em manter o m ximo de informa es sobre o assunto visto que temos a pretens o de fazer desta pesquisa uma fonte de informa o para aqueles que pretendem estudar o assunto 27 CAP TULO I 1 A CONSTITUI O DA TEM TICA Segundo Meli 1979 em rela o aos povos ind genas preciso estabelecer a distin o entre tr s forma
166. alho de sistematiza o da escrita das l nguas ind genas que servir de base para que pesquisadores das ci ncias biol gicas humanas e exatas acompanhados de antrop logos possam trabalhar na produ o de materiais did ticos espec ficos seja em portugu s seja nas l nguas ind genas KAHN AZEVEDO 2004 p 75 Do nosso ponto de vista deve se tomar cuidado com as assessorias porque elas podem levar a novas formas de depend ncia e tutela e tamb m pode incorrer em outro equ voco que o da produ o de materiais did ticos que acabam n o sendo utilizados pelos educadores ind genas a exemplo de alguns que foram produzidos pelos Guarani do Esp rito Santo com a ajuda de assessores conforme veremos no Cap tulo V O desej vel que a m dio e longo prazo os pr prios ind genas adquiram uma forma o de qualidade em Antropologia Ling stica e em outras reas do conhecimento para que eles pr prios assumam os trabalhos necess rios 5 BANIWA Gersen Relat rio de Atividades no CNE Bras lia 2006 p 3 162 implementa o dos programas de EEI e em outras reas que se fazem necess rias para cada comunidade ind gena em particular Por outro lado n o restam d vidas de que ainda muito pequeno o montante gasto com a EEI pelo Governo Federal Em 2005 no mbito do Minist rio da Educa o foram investidos mais de R 25 milh es em apoio forma o de professores ind genas apoio imp
167. alores da sociedade guarani devem ser ensinados nas escolas As autoridades da aldeia o cacique o educador devem ver o que bom para as nossas crian as e jovens aprender eles devem saber o que da educa o bom de se aprender principalmente os bons ensinamentos os valores da boa uni o do respeito n o roubar Fala registrada na ata da reuni o realizada pelo NISI ES na aldeia de Tr s Palmeiras no dia 8 de janeiro de 1999 Os professores t m que corrigir as crian as que brigam n o pode deixar Na escola deve ser obrigado a trabalhar dan a artesanato coisas da cultura Fala registrada na ata da reuni o realizada pelo NISI ES na aldeia de Boa Esperan a no dia 11 de dezembro de 2003 A preocupa o com os processos pr prios de aprendizagem guarani outra constante nos discursos das lideran as guarani preocupadas com a afirma o da 187 identidade tnica eu gostaria de estar fortalecendo nossos educadores quando est o dando aula N s tamb m esperamos que eles procurem por n s para conversarmos sobre isso Fala registrada na ata da reuni o realizada pelo NISI ES na aldeia Boa esperan a no dia 10 de agosto de 1999 Assim a institui o escolar recha ada por muitos grupos guarani e pelas lideran as religiosas e pol ticas guarani do Esp rito Santo pouco a pouco foi se tornando assunto das discuss es Paulatinamente foram se transformando as representa es em rela o a essa institui o
168. amb m as tens es Como fronteira as escolas e os programas de EEI guarani entre os Guarani do Esp rito Santo apresentam certas tens es na rea pol tico administrativa Grande parte dessas tens es acontece em consequ ncia do sistema federativo brasileiro que desobriga os estados e munic pios de cumprir a legisla o federal Al m disso os sistemas de educa o municipais estaduais e federal n o atuam de forma articulada e coordenada para atender a totalidade dos direitos e das demandas ind genas Ningu m assume a responsabilidade pela EEI na sua integralidade No Esp rito Santo nem a UFES nem o Governo Estadual tampouco o Municipal assumem ou se articulam entre si para que possa acontecer a forma o dos professores ind genas em n vel de licenciatura A quest o do financiamento outro motivo para tens es n o h no Esp rito Santo nenhum programa e pol tica de financiamento para as atividades essenciais ao desenvolvimento da qualidade da EEI como a forma o de professores a produ o de material did tico a constru o e equipamento das escolas ind genas A SEMED nem mesmo repassa para a EEI tupinikim e guarani os recursos do FUNDEB destinados EEI No Brasil existe legisla o que permite transformar ou construir escolas ind genas de acordo com as realidades e perspectivas socioculturais dos povos ind genas mas essa quest o simplesmente ignorada pela SEDU e pela SEMED De maneira geral podemos a
169. ani assumindo as fun es de doc ncia dire o e coordena o da educa o de suas escolas N o restam d vidas de que essa foi uma boa estrat gia e tamb m um grande avan o Entretanto preciso considerar as interdi es existentes no processo como os impedimentos legais para a contrata o dos s bios ind genas para o trabalho de reg ncia a obriga o do cumprimento dos 200 dias letivos e das 800 horas a obrigatoriedade das disciplinas do n cleo comum entre outras quest es Uma possibilidade de supera o dessas interdi es est na cria o do subsistema de EEI No caso dos Guarani do Esp rito Santo existem ainda outras quest es administra o das escolas coordena o da EEI na SEMED poss veis de serem negociadas a fim de que a educa o escolar guarani adquira a autonomia desejada Outros princ pios importantes da pedagogia guarani s o o respeito individualidade do educando e a conviv ncia entre as diferentes gera es H um grande conflito entre a forma de organiza o da escola pela qual os alunos s o agrupados por idade s rie e a pedagogia guarani em que o aprendizado se d tamb m por meio da conviv ncia entre as diversas gera es no conv vio com pessoas de diversas idades que o aprendiz tem a oportunidade de observar e de experimentar Pensar nessa possibilidade de conv vio seria uma das estrat gias a serem adotadas como garantia da constru o de um programa de educa o escolar
170. aprender a cuidar da casa para que ela possa preparar se para o casamento Por meio das atas de resultados finais da EMPI Tr s Palmeiras e da EMPI Boa Esperan a foi poss vel constatar que a vida escolar dos Guarani do Esp rito Santo bastante fragmentada e irregular A tabela 4 apresenta por ano quantifica o dos alunos que estudaram na EMPI Tr s Palmeiras Tabela 4 Resultados finais dos alunos da EMPI Tr s Palmeiras ANO A R E T TOTAL 2000 19 4 2 3 28 2001 18 3 3 1 20 2002 18 5 6 4 28 2003 16 9 8 33 2004 17 9 3 3 32 2005 18 3 2 23 TOTAL 96 33 24 11 164 58 5 20 1 14 6 6 7 100 245 A tabela 5 apresenta por ano a quantifica o dos alunos que estudaram na EMPI Boa Esperan a Tabela 5 Resultados finais dos alunos da EMPI Boa Esperan a ANO A R E T TOTAL 1987 5 6 3 14 1988 9 4 18 1989 12 4 16 1990 18 3 16 1991 17 5 5 1 28 1992 16 2 8 26 1998 23 7 7 37 1994 15 04 18 32 1995 9 2 5 16 1996 6 1 3 1 11 1997 9 6 10 1 26 1998 24 6 19 49 1999 26 10 12 2 50 2000 21 5 7 2 35 2001 19 4 8 31 2002 15 4 8 27 2003 16 1 3 20 2004 16 4 3 2 25 2005 20 20 TOTAL 291 75 109 17 492 59 1 15 2 22 15 3 4 100 Nota A aprovado R reprovado E Evadido e T transferido A tabela n o apresenta os dados de 2006 porque at 12 07 n o tinham sido enviados pela EMEF Caeiras Velha Teao 2007 aponta que s o os fatores
171. ara o dicion rio As brincadeiras e a cordialidade nas rela es entre as pessoas de diversas faixas et rias tamb m foi outro aspecto que chamou a aten o Por exemplo em certo momento todos estavam concentrados e envolvidos na brincadeira de encontrar p palavras que come avam com a letra para o dicion rio quando o professor Alberto disse lan Ruth lan Como assim lan Lanche respondeu o professor Alberto apontando o lanche que acabava de ser servido A cordialidade entre as pessoas dava se nas formas de tratamento entre os alunos e a professora Esta ltima era chamada sempre pelo nome Ruth e n o por professora ou professora Ruth como de costume na sociedade n o ndia e as crian as a chamavam de txedjaryi que quer dizer vov Outra quest o a ser repensada a organiza o da escola guarani uma vez que no dia a dia constata se ali uma resist ncia l gica da pedagogia ocidental Pessoas de todas as idades circulam pelas diversas depend ncias do espa o escolar ficam nas janelas das salas de aula observam as atividades desenvolvidas pelos professores e alunos tanto dentro como fora da sala de aula O modo de ser guarani resiste no espa o escolar atrav s do comportamento dos alunos da presen a dos pais e da comunidade nas salas de aula das crian as pequenas que aprendem observando as outras mais velhas da liberdade das crian as em entrar e sair dos animais se movim
172. as aos alunos O conhecimento das outras formas de escrita pelo professor importante tamb m para o caso de ele receber alunos de outras regi es De maneira resumida podemos dizer que os dois cursos de forma o de professores guarani apresentam algumas semelhan as e diferen as entre si mas que o Curso de Forma o de Professores Guarani apresenta grandes avan os em rela o ao Curso de Forma o Ind gena Tupinikim e Guarani Os cursos de forma o dos professores ind genas t m contribu do para a cria o de uma rede entre os povos ind genas suas organiza es e as organiza es governamentais e n o governamentais A elabora o de um projeto de EEI se d com base em outras experi ncias que por sua vez passam a inspirar a cria o de outros a exemplo do Curso de Forma o de Professores Guarani que apresenta grandes semelhan as com os cursos de magist rio do Mato Grosso do Sul Cabe ressaltar ainda que os cursos de forma o t m se tornado espa os e tempos de afirma o da identidade tnica e de trocas culturais por meio seja das rela es interculturais seja do conv vio de pessoas do mesmo grupo tnico mas que vivem em diferentes aldeias No processo de forma o dos professores ind genas cada novo curso supera as dificuldades e as limita es dos cursos anteriores O Curso de Forma o de Professores Guarani apresenta v rios avan os pol ticos e pedag gicos em rela o ao Curso de Forma
173. as condi es materiais de exist ncia tais como solos impr prios para o plantio pequena rea territorial e pouca mata que acarreta a escassez dos produtos da ca a da pesca e da coleta as pessoas da comunidade guarani que tradicionalmente n o gostavam de trabalhar como empregados est o aceitando 181 estabelecer v nculos empregat cios Cabe ressaltar no entanto que n o s o as pessoas guarani que procuram por empregos esses t m sido oferecidos a elas diante dessas ofertas fazem algumas exig ncias com a de que esses empregos sejam na pr pria aldeia Do ponto de vista das pessoas da comunidade guarani nesse novo contexto ou seja necessidade de buscar outras formas de sobreviv ncia aumenta a import ncia da escolariza o das pessoas A senhora Vera diz que acha que a Escola importante para os Guarani porque os jovens est o com dificuldade de trabalho para sobreviver A situa o est dif cil precisa ter emprego Temos que incentivar as crian as a irem para a escola e n o desistirem Tive que tirar uma das minhas filhas da escola para cuidar de sua irm zinha pequen ela n o queria sair e ficou triste porque seus coleguinhas continuaram e ela n o Hoje me sinto culpada Ela est casada gostaria de voltar a estudar e o marido dela que vai decidir se ela volta Fala registrada na ata de reuni o do NISVES no dia 8 de dezembro de 2005 A luta dos Guarani e dos Tupinikim para reaverem as terras que
174. as demandas do povo Guarani Outro importante espa o de troca de experi ncias deu se durante as reuni es de planejamento constru o do curr culo escolar guarani e leitura deste relat rio de pesquisa realizado por esta pesquisadora com os professores guarani Pouco a pouco fomos construindo uma rela o de confian a que nos permitiu conhecer um pouco do modo de ser existir e de ensinar desse povo ao mesmo tempo em que os ajud vamos em algumas atividades entre as quais podemos destacar a constru o do curr culo escolar guarani e a elabora o de uma carta aos secret rios de educa o do Estado e do munic pio de Aracruz A guisa de conclus o levando em considera o ser a diversidade cultural um patrim nio comum da humanidade que representa os caminhos encontrados pelos diferentes povos para enfrentar de modos diferentes desafios impostos pela exist ncia e o contexto sociopol tico e ambiental vividos pelas popula es dos diversos pa ses preciso cada vez mais considerar a concep o da incompletude das culturas e passarmos a valorar e n o mais desperdi ar as diversas experi ncias 282 humanas e as diversas formas de existir no geral e a do povo Guarani em particular para que possamos construir uma sociedade mais justa e equilibrada do ponto de vista socioecon mico e ambiental 283 7 REFER NCIAS 1 ALMEIDA R F T de MURA F Povos ind genas do Brasil guarani kaiowa e andeva Institu
175. as tanto a an lise de documentos como as observa es e entrevistas Vejamos cada uma dessas quest es metodol gicas separadamente a come ar pelos sujeitos da pesquisa ou seja os Guarani do Esp rito Santo 3 1 OS SUJEITOS DA PESQUISA A presente pesquisa foi realizada junto ao grupo guarani que vive no Esp rito Santo que juntamente com o restante do povo Guarani descendente daqueles que s v speras da conquista da Am rica ocupavam uma imensa regi o que ia do Chaco at a bacia do Prata que hoje inclui os territ rios dos estados brasileiros do Rio Grande do Sul de Santa Catarina do Paran de S o Paulo e do Mato Grosso do Sul al m de partes dos pa ses vizinhos Figura 1 Contudo n o ocupavam essa regi o de modo homog neo ou exclusivo algumas reas desse imenso territ rio eram habitadas pelos ancestrais dos Kaigang Xokleng Charruas Minuanos entre outros 68 Figura 1 Mapa da Am rica do Sul A cria o dos pa ses sul americanos provocou uma divis o artificial do territ rio guarani quest o constantemente lembrada por esse povo Nosso territ rio Ywy Rup foi cortado v rias vezes por fronteiras entre pa ses e estados Fizeram guerras para roubar nossas terras Por isso hoje nosso povo ficou dividido entre Brasil Argentina Uruguai Paraguai e Bol via Para n s n o existem fronteiras Continuamos visitando nossos parentes e tentando andar livremente como faz amos em tempos pass
176. as terras salvo ad referendum do Congresso Nacional em caso de cat strofe ou epidemia que ponha em risco sua popula o ou no interesse da soberania do Pa s ap s delibera o do Congresso Nacional garantido em qualquer hip tese o retorno imediato logo que cesse o risco 8 6 S o nulos e extintos n o produzindo efeitos jur dicos os atos que tenham por objeto a ocupa o o dom nio e a posse das terras a que se refere este artigo ou a explora o das riquezas naturais do solo dos rios e dos lagos nelas existentes ressalvado relevante interesse p blico da Uni o segundo o que dispuser lei complementar n o gerando a nulidade e a extin o do direito a indeniza o ou a a es contra a Uni o salvo na forma da lei quanto s benfeitorias derivadas da ocupa o de boa f 8 7 N o se aplica s terras ind genas o disposto no art 174 3 e 4 Art 232 Os ndios suas comunidades e organiza es s o partes leg timas para ingressar em ju zo em defesa de seus direitos e interesses intervindo o Minist rio P blico em todos os atos do processo ANEXO C LISTA DOS NOMES DOS ALUNOS GUARANI QUE PARTICIPARAM DO CURSO DE FORMA O DE EDUCADORES TUPINIKIM E GUARANI 1996 1999 Cristina de Lima Carvalho Grau de z x Situa o em Data de prh escolaridade a Nome do Educador nascime to Filia o ao iniciar o Rela o ao curso curso Aciar
177. asileiras e os v rios programas de p s gradua o passaram a atender a demanda dos povos ind genas BARROS 2004 N o somente o SIL mas tamb m a Igreja Cat lica contribu ram para a tutela em rela o aos povos ind genas desempenhado pelo Estado brasileiro tanto que cresceu o n mero de miss es cat licas na primeira metade do s culo XX A trajet ria da miss o da Igreja Cat lica entre os ind genas at a d cada 70 do s culo passado foi praticamente a hist ria da miss o na Amaz nia uma vez que n o existia miss o em outra regi o A Igreja da Amaz nia continuava tradicional e estrangeira Das 36 prelazias existentes nesse per odo apenas duas possu am majoritariamente cl rigos brasileiros As miss es n o mantinham nenhum contato entre si cada uma delas era uma ilha algumas simplesmente reproduziam as pr ticas pastorais de sua terra de origem PREZIA 2003 A miss o dos Salesianos foi uma das mais tradicionais a atuar na Amaz nia Essa congrega o adotava a pr tica de internatos para jovens m todo questionado por outras congrega es uma vez que muitos dos internos se n o perderam a identidade passaram a viver conflitos culturais Os Salesianos mantinham uma rela o bastante estreita com o governo sobretudo durante o per odo militar No ano de 1965 receberam doa es do Governo do Amazonas para a comemora o do Jubileu de Ouro dos Salesianos Mesmo sendo a maior parte das congrega es muito t
178. atarina anteriormente forma o dos professores guarani aconteceu a Forma o Habilita o de Professores de 1 a 4 s rie do Ensino Fundamental para o contexto Xokleng e Kaigang Os professores dessas etnias participaram do concurso espec fico e 18 deles foram efetivados e assumiram suas fun es a partir de agosto de 2008 5 SANTA CATARINA Relat rio S ntese das atividades do NEI 2003 a 2006 Florian polis 2006 172 Conforme mencionado anteriormente janeiro de 2006 foi o prazo estabelecido pelo PNE para que se equipassem as escolas ind genas com bibliotecas videotecas e outros materiais de apoio meta que ainda n o saiu do papel para o povo Guarani 178 CAP TULO V 5 DA EDUCA O ESCOLAR NA ALDEIA EDUCA O ESCOLAR DA ALDEIA REDEFININDO AS FRONTEIRAS O processo de escolariza o e a institucionaliza o da EEI guarani est o relacionados aos movimentos sociais e pol ticos desse pr prio povo e de outros que como vimos no Cap tulo IV v m lutando pela institucionaliza o de pol ticas p blicas e pela legisla o que respalde a constru o dos programas de educa o diferenciados necess rio tamb m mencionar a influ ncia de outros programas de EEI e o apoio de organiza es governamentais SEDU SEMED MEC e n o governamentais CIMI Pastoral Indigenista e IDEA entre outros no processo de constru o do Programa de EEI Guarani principalmente na forma o dos professores Os princ
179. atida como foi o caso da Assembl ia Continental do Povo Guarani realizada em Porto Alegre em 2006 com a participa o de cerca de 700 jovens Al m da quest o da terra e direitos como educa o e trabalho tamb m foram debatidas e montadas estrat gias de mobiliza es para cobrar do Governo Federal mais aten o no que diz respeito a estas duas reas ASSEMBL IA acesso em 18 jul 2007 Um elemento preponderante nos discursos das lideran as e que tem sido acatado na constru o dos programas de EEI guarani o fato da necessidade de se garantir 177 que os professores sejam escolhidos pela comunidade Essa e outras quest es foram discutidas na Il Assembl ia Continental do Povo Guarani realizada entre 11 e 14 de Abril de 2007 em Porto Alegre RS As rela es entre o rek e a escola foi um dos assuntos discutidos no Encontro Nacional de Educadores Ind genas Guarani realizado em 2000 na Aldeia de Bracu em Angra dos Reis Segundo as lideran as guarani a escola deveria sempre respeitar e valorizar o rek jeito de ser guarani De maneira resumida podemos dizer que a discuss o da educa o escolar nos diversos encontros realizados pelo povo Guarani desde a d cada de 90 do s culo XX e a inser o da escola como parte da sociedade presente nos discursos das lideran as guarani s o elementos hist ricos que contribuem para o questionamento das pesquisas antropol gicas que ignoram ou omitem dados sobre a
180. ativos com rela o aos direitos dos povos ind genas em ter uma educa o escolar que reconhe a respeite e fortale a seus processos pr prios de ensinar e aprender e sejam parte de seus projetos de presente e futuro SILVA 2001 p 6 Do ponto de vista de Freire 2004 o mais importante em rela o ao PNE s o os prazos fixados para a realiza o das metas para se verificar em que medida est o sendo cumpridas Estava previsto que at janeiro de 2002 deveria ter sido criada a categoria oficial de escola ind gena e implantadas as Diretrizes e Par metros Curriculares e o estabelecimento de padr es m nimos de infra estrutura escolar Al m disso janeiro de 2003 foi o prazo estabelecido para o reconhecimento e a regulariza o das escolas ind genas existentes para a formula o de um plano de implementa o de programas especiais voltados forma o docente ind gena em n vel superior com a colabora o das universidades Essa seria tamb m a data limite para criar estruturar e fortalecer nas secretarias estaduais de educa o setores respons veis pela educa o ind gena com a incumb ncia de promov la acompanh la e gerenci la Janeiro de 2006 foi o prazo estabelecido para que se equipassem as escolas ind genas com bibliotecas videotecas e outros materiais de apoio Ficou estabelecido ainda que at o ano de 2011 dar se ia a universaliza o da oferta de programas educacionais equivalentes s
181. b m nas obras brasileiras sobre a hist ria da educa o Rosar 2003 p 8 fez um levantamento e uma an lise preliminar das obras da programa o das editoras Aut ntica Autores Associados Cortez e Papirus que est o divulgadas na internet atrav s dos cat logos dessas editoras na rea de educa o e Hist ria da Educa o no intuito de identificar as tend ncias que mais se fortalecem no mbito das publica es de livros do pa s Segundo essa autora esses cat logos cont m as seguintes informa es autor editora ano da publica o sinopse da obra e sum rio Ao todo a autora transcreveu em seu relat rio de pesquisa dados de 43 livros Desse total classificou 21 como sendo de hist ria da educa o e 22 como sendo de educa o no geral Nenhum dos t tulos e das sinopses das 21 obras da hist ria da educa o apresentadas por Rosar 2003 trata da quest o da hist ria da EEI no Brasil Nos congressos da Associa o Nacional de P s Gradua o de Pesquisa em Educa o ANPED foram apresentadas nos cinco ltimos anos algumas pesquisas no Grupo de Trabalho Movimentos Sociais e Educa o GT3 por m nenhum foi apresentado no Grupo de Trabalho de Hist ria da Educa o GT2 O maior n mero de publica es sobre a EEI foi encontrado no Em Aberto que uma publica o monotem tica do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais INEP destinada veicula o de quest es atuai
182. ca o ind gena e pela garantia das verbas necess rias para a implementa o das a es previstas pelo Plano Nacional de Educa o Em outras palavras poder amos dizer que o movimento dos povos ind genas brasileiros tanto na esfera local como em mbito nacional se d para que sejam reconhecidos e amparados pelo Estado e n o para se emanciparem como apregoavam as for as pol ticas contr rias aos povos ind genas durante a Assembl ia Nacional Constituinte A cultura guarani outro elemento importante de ser levado em considera o no processo de escolariza o desse povo a come ar pela pedagogia guarani que tem entre outros objetivos o desenvolvimento pelo aprendiz da oralidade e da escuta respeitosa palavra sagrada Diferentemente dos processos de aprendizagem do mundo ocidental na pedagogia guarani o ato de aprender muito mais expressivo do que a de ensinar o que requer do educando o esp rito da curiosidade e a 2 1 capacidade de observa o Como fazer dialogar os princ pios da pedagogia guarani com os da pedagogia ocidental Esse um dos desafios do di logo intercultural pois n o basta apenas garantir que os conte dos da cultura sejam trabalhados no curr culo da escola preciso respeitar e fazer dialogar a pedagogia guarani com outras formas de educar Pensou se que a garantia do respeito pedagogia guarani e ao mesmo tempo a abertura de uma possibilidade de di logo poderia dar se com os Guar
183. ca da Terra Sem Mal s o antecedentes chegada dos portugueses e espanh is quando ainda se encontravam livres de opress o de tribos vizinhas ou de priva es da natureza Outros autores como Martinez 1985 e Garlet 1997 tendem a considerar os fatores hist ricos ocupa o das terras guarani por colonizadores Guerra do Paraguai entre outros como sendo os principais respons veis pela grande dispers o do povo Guarani pelo territ rio da Am rica do Sul Garlet 1997 concorda com a hip tese de Martinez 1985 de que os movimentos atuais s o motivados tamb m pela possibilidade de encontrar na costa atl ntica as condi es essenciais para a manuten o do modo de ser guarani Outros autores como Meli 1988 Ciccarone 2001 e Monteiro 1992 consideram tanto os aspectos hist ricos como os m ticos tend ncia adotada nesta pesquisa Os deslocamentos espaciais representam a modalidade m tico hist rica do movimento de conquista de novos espa os como processo de refunda o do mundo e da sociedade conduzido por grupos familiares articulados entre si por la os de parentesco e sob a lideran a xam nica CICCARONE 2001 No entanto cabe ressaltar que se o motivo de mudan as de grupos guarani de uma rea para outra n o seja sempre de ordem cosmol gica a escolha de uma nova rea para a fixa o do grupo sempre o S o escolhidos locais de parada nos deslocamentos guarani a partir de crit rios divinos e o temp
184. cer este controle se pensarmos que este deve ser uma prerrogativa da comunidade para a qual a escola est dirigida A quest o como a comunidade ir criar um mecanismo de controle das atividades exercidas pelos professores H de se ter consenso interno para este exerc cio Nesta posi o as inst ncias oficiais respons veis pela implementa o e acompanhamento das escolas A Rede de Coopera o Alternativa Brasil RCA constitu da por organiza es n o governamentais indigenistas CTI CPI AC CCPY ISA e IEPE e organiza es n o governamentais ind genas Associa o Vyty Cati dos povos Timbira MA e TO Associa o Terra Ind gena do Xingu Organiza o dos Professores Ind genas do Acre Federa o das Organiza es do Rio Negro O documento com as propostas da RCA foi encaminhado ao Governo brasileiro no ano de 2008 158 nas aldeias deveriam ao inv s de estar apenas fiscalizando implementando essas novas pr ticas Adapta o piorada dos programas da educa o nacional para as escolas ind genas essa a sensa o que se tem ao analisar o Programa de EEI Guarani do Esp rito Santo principalmente nas quatro s ries finais do Ensino Fundamental como veremos no Cap tulo V Outra cr tica feita aos programas de EEI diz respeito import ncia exagerada dada ao discurso de gerenciamento e administra o desses programas Credita se uma import ncia exagerada ao discurso de gerenciament
185. cer tamb m que outros espa os como a casa de reza a ro a a mata por exemplo devem ser considerados como espa os educativos Essa a perspectiva do sistema educacional guarani sistematizado por D angelis 2000 Na sala de aula aflora a distin o tnica entre os alunos dos diferentes subgrupos guarani ou seja no conv vio dos alunos descendentes do grupo fundador com aqueles provenientes de outras parcialidades guarani Nhand va e Kaiow existentes nas aldeias A professora Sandra relatou que sempre necess rio explicar aos alunos por que os colegas que chegam falam de maneira diferente e ela os aconselha a receber bem os que chegam No futuro pode ser eles que v o para outras aldeias e a eles v o ser os diferentes Professora Sandra conversa informal mar o de 2007 O professor Alberto disse que as implic ncias entre os alunos dos diferentes subgrupos s o m tuas os descendentes do grupo fundador chamam os colegas nhand va de paraguaios e estes por sua vez chamam os colegas de tupi Nas escolas das aldeias do Esp rito Santo falada e ensinada tanto na oralidade como na escrita a l ngua guarani dos Mbya pertencente ao grupo fundador Vale relembrar que h diverg ncias do registro da l ngua entre os Guarani Mbya do Esp rito Santo e do restante do Pa s Outro fator que influencia no processo de escolaridade dos Guarani do Esp rito Santo s o os conflitos que acontecem em consequ ncia das rela es
186. cio da Boa Nova ou da Boa Not cia n o poderia estar desvinculada das condi es materiais de exist ncia uma vez que foi o pr prio Cristo quem anunciou Eu vim para que tenham vida e vida em abund ncia Jo 10 10 O Evangelho que inspira o patroc nio da vida vida em abund ncia do apoio luta pela terra e pela garantia das condi es materiais necess rias sobreviv ncia dos povos ind genas o mesmo que foi utilizado para justificar as pr ticas colonizadoras da Igreja Cat lica no per odo colonial Por que a Igreja Cat lica fez a op o pelos pobres e oprimidos a partir do s culo XX Uma das explica es para esse fato estaria relacionada perda do poder temporal da Igreja Cat lica j que em v rios pa ses ela passou a n o ser mais a religi o oficial dos Estados Outro fator que ajudaria a entender as transforma es nas pr ticas dessa Institui o para com os povos ind genas foi seu pr prio processo de atualiza o a partir dos conhecimentos desenvolvidos pelas ci ncias sociais Da segunda metade do s culo XX em diante a Igreja Cat lica passou a levar em considera o os conhecimentos das ci ncias sociais especialmente os da Antropologia em suas pr ticas com os povos ind genas No meio eclesi stico passou se a defender a id ia de que nenhum mission rio antropologicamente As mudan as eclesiais que se processaram no mbito da Igreja Cat lica em rela o aos p
187. conhecimentos proporcionados pela antropologia Ribeiro 1954 p 104 Darcy Ribeiro foi 2 A miss o faz parte hoje junto com outras miss es evang licas da Associa o de Miss es Transculturais Brasileiras e do Conselho das Miss es Evang licas 121 o principal representante do indigenismo de base antropol gica no SPI e um dos principais aliados da miss o BARROS 2004 p 8 No Brasil ao contr rio do que ocorreu no resto da Am rica Latina a miss o n o entrou por conv nio com a burocracia indigenista e sim com a academia mais precisamente com o Museu Nacional O prest gio da ling stica norte americana entre setores intelectuais foi a forma de sustenta o inicial da miss o no Pa s No Museu Nacional foi criado o Setor de Ling stica para abrigar os mission rios gra as a um acordo assinado entre as duas institui es em 1954 Nesse per odo estreitaram se tamb m as rela es com o Governo Federal O novo governo mais pr ximo de Darcy Ribeiro representou uma boa conjuntura para a miss o no pa s Muitas facilidades foram dadas pela nova dire o do SPI amplia o das autoriza es de entrada para novos membros ainda por meio do Museu Nacional apoio junto a outros rg os p blicos para conseguir autoriza o para avi es e r dios e permiss o para construir casas nos postos ind genas ponto que n o estava contemplado no conv nio com o Museu O golpe militar de 1964 obrigou os mission ri
188. contextos em que a sua diferen a poderia ter import ncia Para determinar as virtualidades epistemol gicas do princ pio da comunidade salientamos duas das suas dimens es participa o e solidariedade Esses elementos s muito parcialmente foram colonizados pela ci ncia moderna SANTOS 2000 66 Sendo o princ pio da comunidade e o da racionalidade est tico expressiva as representa es mais inacabadas da modernidade ocidental dever se ia dar prioridade an lise das suas potencialidades epistemol gicas para restabelecer as energias emancipat rias que a modernidade deixou transformar em hubris regulat ria Devemos procurar um desequil brio din mico que penda para a emancipa o uma assimetria que sobreponha a emancipa o regula o Se a p s modernidade de oposi o significa alguma coisa justamente por esse desequil brio din mico ou assimetria a favor da emancipa o concretizado com a cumplicidade epistemol gica dos princ pios de comunidade e da racionalidade est tico expressiva 67 CAP TULO III 3 METODOLOGIA Esta pesquisa pode ser definida como um estudo de caso em uma perspectiva hist rica por se tratar da an lise do processo de escolariza o dos Guarani do Esp rito Santo no contexto da hist ria da educa o escolar brasileira e das pol ticas p blicas instauradas no Brasil a partir da promulga o da Constitui o Federal de 1988 Por se tratar desse tipo de pesquisa foram utilizad
189. da causa ind gena a fundar em 1908 a Associa o de Prote o e Aux lio aos Silv colas do Brasil cujo objetivo era defender o ndio e auxili lo atrav s da escolariza o laica a entrar para a comunh o nacional O Centro de Ci ncias Letras e Artes de Campinas intensificou seus trabalhos em prol dos povos ind genas como parte das rea es contra o artigo de Herman von Lhering publicado na Revista do Museu Paulista aconselhando o exterm nio dos ndios que barrassem o avan o da civiliza o Entre as reivindica es da Associa o de Prote o e Aux lio aos Silv colas do Brasil e do Centro de Ci ncias Letras e Artes de Campinas figurava a reivindica o de cria o de um rg o por parte do Estado para cuidar especificamente da quest o ind gena que foi refor ada pelos integrantes do Congresso Brasileiro de Geografia realizado na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1909 O massacre dos ndios no interior de S o Paulo e em outros Estados do Pa s passou a ser denunciado tamb m pela imprensa e se estendeu s Assembl ias Legislativas estaduais e tamb m ao Congresso Nacional A rea o por parte dos diversos segmentos da sociedade levou o Governo Federal a criar atrav s do Decreto n 8 072 1910 o Servi o de Prote o ao ndio e Localiza o de Trabalhadores Nacionais transformado em 1918 no SPI EO engajamento de Leolinda Daltro causa ind gena ocorreu por ocasi o da visita de um grupo de
190. damente dados antropol gicos sobre os deslocamentos do povo Guarani e as diferen as entre as concep es de territ rio existentes entre o povo Guarani e a sociedade n o ndia A reportagem omite que para um Guarani absolutamente incognosc vel a id ia de fronteira Eles n o se dizem ga chos catarinas paranaenses paulistas capixabas matogrossenses uruguaios ou bolivianos S o Guarani e circulam por Ywy Rupa como eles denominam o territ rio Guarani Para voc eu nasci no pa s Argentina Para mim n o para mim n o tem s um Paraguai tudo isso aqui mundo Paraguai Tudo Paraguai porque n s n o temos bandeira n o temos color cor E para mim Deus deixou tudo livre n o tem outro pa s Tem Paran tem quantas partes o Rio Grande Do outro lado j outro pa s mas para mim n o tem outro pa s s um pa s Quando uma crian a nasce aqui no Brasil nasce l no Paraguai Quando nasce no Paraguai ela nasce aqui tamb m S um pa s E igual Porque a gua por exemplo esse rio grande j mostrando o rio Tr s Barras mas s em cima est correndo por baixo o mesmo a terra Ywy Rupa tudo isso aqui o mundo explica muito bem Roque Tim teo em depoimento antrop loga Maria Dorothea Post Darella Ywy Rupa ent o o mundo no qual se encontram as aldeias atuais os caminhos percorridos e os lugares ocupados pelos antepassados onde est o as reas sonhadas os espa os temporariamen
191. das Algumas crian as sentaram no ch o da cabana e come aram a anotar Outras ficaram de p olhando para fora da cabana Parecia que n o prestavam aten o ao que estava sendo falado Umas simplesmente n o se envolveram na atividade ficaram andando pelo terreno em volta da cabana Um fato curioso que nem o professor S lvio nem o Sr Jonas chamaram a aten o de nenhuma das crian as De volta sala de aula o professor retomou o assunto fazendo coletivamente com eles uma lista de plantas medicinais existentes e usadas pelos moradores das aldeias Em seguida prop s a produ o de uma receita de como se usar uma das plantas medicinais atividade a ser realizada em dupla de alunos 270 Como j foi dito os Guarani lutam tamb m para conseguir assegurar a autonomia administrativa das escolas das aldeias que desde o ano de 2000 se encontram vinculadas EMEF Caieiras Velhas que tupinikim e funciona como escola p lo qual est o ligadas as escolas nucleadas guarani Situa o administrativa que contraria a Portaria Interministerial MJ MEC de 16 de abril de 1991 e a Resolu o CNE CEB n 3 99 que asseguram projetos de educa o espec ficos e diferenciados para cada povo ind gena No trabalho de campo presenciamos v rias vezes conflitos tnicos advindos dessa situa o pelo fato de pessoas tupinikim estarem administrando as escolas guarani Em um deles a coordenadora tupinikim da EEI chegou EMPI Boa Espe
192. das a uma educa o escolar na l ngua materna No entanto adotava ainda uma perspectiva evolucionista e integracionista uma vez que considerava como sendo os ndios ou popula es tribais ou semitribais como sendo aqueles cujas condi es sociais e econ micas correspondiam a um est gio menos adiantado que o atingido pelos outros setores da comunidade nacional e que sejam regidos total ou parcialmente por costumes e tradi es que lhes sejam peculiares Conven o n 107 Art 1 A Conven o 107 da OIT foi promulgada no Brasil em 18 de julho de 1965 pelo Decreto Legislativo n 20 de 30 de abril de 1965 e pelo Decreto Presidencial n 58 824 de 14 de julho de 1966 quando estavam no poder os militares Devido s transforma es de paradigmas no mbito das Ci ncias Sociais principalmente no Direito Internacional e mobiliza o das organiza es ind genas e indigenistas fez se necess rio realizar uma reformula o da Conven o n 107 principalmente daqueles pontos que n o eram aceitos pelos ind genas Assim sendo a Confer ncia Geral da OIT aprovou no ano de 1989 a Conven o n 169 que trata da quest o dos povos ind genas e tribais em pa ses independentes De acordo com a Conven o n 169 a consci ncia da sua identidade ind gena ou tribal dever ser considerada como crit rio fundamental para determinar os grupos interessados Portanto nenhum Estado pode negar a identidade d
193. das Na es Unidas V rias conven es em rela o aos povos ind genas foram adotadas pela OIT tais como Conven o n 50 1936 sobre o recrutamento de trabalhadores ind genas Conven o n 65 1939 a respeito das san es penais Conven o n 64 1939 relacionada aos contratos de trabalho regulamenta o dos contratos Conven o n 86 1947 sobre os contratos de trabalho dura o m xima dos contratos Conven o n 104 1950 concernente aboli o das san es penais por inadimplemento do contrato de trabalho por parte dos trabalhadores ind genas Conven o n 105 1957 sobre aboli o do trabalho for ado e Conven o n 111 1958 relativa discrimina o emprego e ocupa o KEPPI 2001 No Brasil a OIT tem mantido representa o desde 1950 com programas e atividades que refletem os objetivos da Organiza o ao longo de sua hist ria As Conven es de n 104 105 e 111 encontram se em vigor no Brasil As Conven es de n 50 64 65 86 supracitadas foram incorporadas pela Conven o n 107 108 aprovada no ano de 1957 Esta Conven o trata da prote o e integra o das popula es ind genas e outras popula es tribais e semitribais de pa ses independentes Em muitos aspectos a Conven o n 107 foi bastante avan ada para a sua poca pois assegurava aos povos ind genas o direito a uma propriedade coletiva ou individual sobre as terras tradicionalmente ocupa
194. das pessoas guarani No seu caso em espec fico Mauro considera que seu casamento com uma pessoa tupinikim tinha maior influ ncia na sua vida e nas suas decis es do que o emprego Penso que minha esposa n o compreenderia muito bem se eu quisesse mudar para outro estado Por meio do Decreto n 12 023 de 23 de mar o de 2004 que regulamenta e disciplina a organiza o do Sistema Municipal de Ensino de Aracruz foi criada a categoria escola ind gena Tamb m aconteceu a incorpora o das propostas educacionais do Subn cleo de Educa o do NISIES ao Plano Decenal de Educa o do Munic pio que tem o Cap tulo 9 dedicado EEI Esse cap tulo subdivide se em tr s itens o diagn stico da EEI no Munic pio as diretrizes nacionais para a EEI e os 12 objetivos e metas tra ados para a EEI no munic pio de Aracruz Esses objetivos relacionam se oferta do Ensino Fundamental diferenciado garantia da autonomia pedag gica e administrativa da escola ind gena e da infra 263 estrutura b sica para o seu funcionamento forma o inicial e continuada dos professores ind genas e provimento das escolas ind genas com equipamentos e materiais did tico pedag gicos diferenciados em colabora o com o Estado e a Uni o viabiliza o de cursos de educa o profissional celebra o de conv nios para o atendimento das demandas da educa o ind gena e a divulga o de informa o sobre os povos Tupinikim e Guarani para a popula
195. de Tr s Palmeiras Essa tem sido a principal argumenta o dos pais ao reivindicar a implanta o da Educa o Infantil nas aldeias Como j foi dito anteriormente no ano de 2007 apenas os professores que atuavam da pr escola ao 5 ano eram guarani Ainda se faz necess ria a substitui o dos professores tupinikim que atuam do 6 ao 9 ano para que a EEI guarani se torne totalmente bil ng e e diferenciada O fato de a maior parte dos professores que est o atuando do 6 ao 9 ano serem tupikim acaba fazendo com que existam duas escolas em uma TEAO 2007 Da educa o infantil ao 5 ano os alunos estudam com professores da aldeia na l ngua guarani Do 6 ao 9 ano os alunos estudam com professores tupinikim que n o falam a l ngua e n o conhecem a cultura Essa realidade constitui um flagrante desrespeito aos direitos constitucionais do povo Guarani uma vez que est assegurado a esse e outros povos ind genas a utiliza o no Ensino Fundamental da l ngua materna e processos pr prios de aprendizagem Constitui o Federal Art 198 8 2 e Constitui o do Esp rito Santo Art 172 O amparo da Resolu o CNE CEB n 3 99 poderia ser utilizado para que se contratasssem outros professores guarani que est o estudando para atuar nas turmas de 6 ao 9 anos Do nosso ponto de vista alguns professores re nem todas as condi es de faz lo como o caso da professora Aciara que poderia ass
196. de Direitos Humanos e do Conselho Econ mico e Social conforme a estrutura interna da ONU optou pela cria o de uma declara o sobre os direitos dos povos ind genas para futura considera o pela Assembl ia Geral da ONU A primeira minuta do documento foi redigida por Erica lrene Daes e depois de pronta passou a ser discutida e comentada por representantes governamentais povos ind genas ONGs e demais presentes s sess es anuais do rg o Em 2006 os representantes do governo de Botswana com o apoio do de outros pa ses da frica dos Estados Unidos do Canad da Austr lia e da Nova Zel ndia apresentaram uma mo o ao Terceiro Comit da Assembl ia Geral da ONU tentando retardar a aprova o dessa t o esperada Declara o Tudo indicava que a aprova o da Declara o sobre os Direitos dos Povos Ind genas depois de tramitar na ONU por 22 anos seria novamente postergada mas gra as s press es dos povos ind genas e de v rias organiza es a No ano de 1999 a ONU instituiu o Fundo Volunt rio para Popula es Ind genas com o objetivo de auxiliar representantes ind genas em suas despesas de viagem e estadia facilitando a participa o de muitos povos e comunidades no processo 118 aprova o se deu em 13 de setembro de 2007 O texto foi aprovado por 143 votos a favor quatro contra Canad Estados Unidos Nova Zel ndia e Austr lia e 11 absten es A Declara o reconhece o autogov
197. de cerca de 100m Funciona como local de reuni es e como j foi dito tamb m uma extens o da escola utilizada por alunos e professores para trabalhos de grupo aulas de canto e dan a jogos entre outras atividades O local o principal ponto de encontro da aldeia o que facilitou a aproxima o com seus moradores e o entrosamento com eles Figura 10 A cabana e a EMPI Tr s Palmeiras Fonte Arquivo da pesquisadora 17 Os planejamentos dos professores de 6 ao 9 ano eram realizados aos s bados na aldeia de Caieiras Velhas 94 Nas conversas com as pessoas a op o foi n o utilizar nenhum equipamento eletr nico gravadores filmadoras para n o intimidar as pessoas e para n o quebrar o clima da conversa As anota es quando necess rio e oportuno eram feitas em um caderno Certas decis es precisam ser tomadas antes da entrevista Em primeiro lugar que equipamento deve ser utilizado Numa pequena parte de contextos a melhor resposta nenhum O simples ato de tomar notas para falar no uso pode despertar a suspeita em algumas pessoas Thompson 1992 p 264 Algumas vezes o registro escrito das conversas era passado para o computador As informa es obtidas eram tamb m registradas e algumas vezes se integravam logo ao textos com os dados de pesquisa uma vez que ajudavam a esclarecer algum ponto da narrativa que estava sendo constru da Um entrevistador qualificado pode aprender a reter o
198. de fome REVISTA VEJA http vejaonline abril com br Acesso em 18 de jun de 2007 58 ESP RITO SANTO ESTADO Governador 1974 1978 Plano de Desenvolvimento Estadual 1975 1979 Elcio Alvares Governador do Estado do Esp rito Santo 59 Esp rito Santo 2025 Plano de Desenvolvimento Vit ria ES Secretaria de Estado de Economia e Planejamento 2006 60 Parecer do CEE n 102 97 61 Constitui o Estadual 1989 62 ESQUIVEL A P Introdu o In CARRASCO Norita ZIMERMAN Silvina El Caso Lhaka Honhat Buenos Aires IWGIA 2007 63 FAUSTO C Lados Demais Fazendo pol tica ind genista no ano 2 000 dC Dispon vel em lt http www unicamp br gt Acesso em junho 2007 287 64 FEL M A P O sistema agr cola guarani mby e seus cultivares de milho um estudo de caso na aldeia Guarani na Ilha do Cardoso munic pio de Canan ia SP Disserta o de Mestrado Piracicaba 2001 65 FERRA O C E O curr culo escolar In FERREIRA Eliza Bartolozzi Pol tica educacional do estado do esp rito santo a educa o um direito Vit ria SEEB SEDU 2004 66 FERREIRA A B H Novo dicion rio da l ngua portuguesa Rio de Janeiro Editora Nova Fronteira 1985 67 FERREIRA M K L A educa o escolar ind gena um diagn stico cr tico da situa o no Brasil In SILVA A L FERREIRA M K L Org Antropologia hist ria e educa o S o Paulo Global 2001 p 71 11 68 FREIRE J R
199. de identidade relativa de Barth 1976 defendida tamb m por Villar 2004 e de rela es inter tnicas foi importante para a compreens o das rela es entre a parcialidade Mbya com as outras parcialidades guarani com o povo Tupinikim e com a sociedade envolvente e tamb m para explicar a postura dos professores de origem fhandeva que atuam nas escolas das aldeias As sociedades no geral e as ind genas em particular utilizam a tradi o como meio de afirma o da identidade em momentos de transforma o social A identidade a cria o da const ncia atrav s do tempo a uni o entre o passado e um futuro antecipado por isso a tradi o se articula mem ria coletiva possui guardi es e envolve o controle do tempo GIDDENS 1997 Giddens 1997 afirma que a tradi o ao utilizar a mem ria coletiva articula o passado ao presente por m o passado n o fossilizado mas constantemente reinventado e reconstru do tendo como base o presente Assim sendo tanto a tradi o como a cultura seriam din micas e mut veis Para Hobsbawm 1997 o melhor termo para definir esse passado constantemente reinventado das sociedades tradicionais seria costume uma vez que o objetivo e caracter stica das tradi es inclusive das inventadas a invariabilidade O passado real ou forjado a que elas se referem imp e pr ticas fixas normalmente formalizadas tas como a repeti o O costume nas socieda
200. de mar o de 2007 Na reportagem Made in Paraguai a FUNAI tenta demarcar rea de Santa Catarina para ndios paraguaios enquanto os do Brasil morrem de fome afirma se que em Santa Catarina essa etnia foi extinta ainda no s culo XVII No per odo do descobrimento o litoral de Santa Catarina era habitado por ndios carij s subgrupo do povo guarani Escravizada pelos colonizadores 164 portugueses a etnia foi considerada extinta em meados do s culo XVII segundo os registros dos historiadores Essa vers o n o foi contestada at 1993 quando a Funda o Nacional do Indio FUNAI adotou a tese controvertida de que ainda havia remanescentes dos carij s A funda o se baseou num estudo publicado dois anos antes pela antrop loga Maria In s Ladeira Ela defende que alguns dos carij s teriam se refugiado no Paraguai onde seriam chamados de embi s Depois que o trabalho foi divulgado dezenas de embi s paraguaios e alguns argentinos sentiram se legitimados para invadir o parque ecol gico da Serra do Tabuleiro nas imedia es de Florian polis Os ndios se instalaram no Morro dos Cavalos um dos pontos mais acidentados da regi o Invas o consumada a Funai planeja transformar o local em reserva ind gena Para brasileiro pagar e paraguaio e argentino usufruir EDWARD acesso em 15 nov 2007 A reportagem desconsidera todos os outros pesquisadores que se t m dedicado ao estudo dessa etnia e omitem proposita
201. de ordem econ mica e cultural os que mais influenciam no processo de escolariza o dos Guarani Analisando as causas podemos dividi las em dois eixos principais os fatores de ordem cultural e de origem econ mica Os fatores de ordem cultural s o os casamentos e a mobilidade incluindo os deslocamentos e seu modo de ser Os fatores de origem econ mica s o as condi es financeiras para a perman ncia e custeio dos gastos relacionados educa o escolar TEAO 2007 p 128 Casos da influ ncia dos deslocamentos na vida escolar das pessoas guarani foram constatados comparando se as matr culas das escolas com o trabalho de campo Muitos alunos que aparecem como evadidos nas atas de resultados finais mudaram se para outros estados Por isso para que se pudesse afirmar se eles s o ou n o evadidos seria necess ria uma investiga o em outros estados o que n o foi 246 objetivo desta pesquisa A t tulo de exemplifica o no ano de 1999 foram matriculadas na primeira s rie da EMPI Boa Esperan a quatro crian as de uma mesma fam lia No ano seguinte todos esses alunos foram registrados como evadidos Por meio do trabalho de campo verificamos que essa fam lia tinha migrado para S o Paulo e n o havia pedido transfer ncia para outra escola No conv vio com as pessoas guarani observamos que muitas mulheres pararam de estudar depois que casaram porque os maridos n o as deixavam continuar As obriga es dom sticas
202. des tradicionais tem a dupla fun o de motor e volante N o impede as inova es e pode mudar at certo ponto embora evidentemente seja tolhido pela exig ncia de que deve parecer compat vel ou id ntico ao precedente Sua fun o dar a qualquer mudan a desejada ou resist ncia inova o a san o do precedente continuidade hist rica 48 e direitos naturais conforme o expresso na hist ria HOBSBAWM 1997 p 87 Os guardi es da cultura guarani ou seja os s bios os mais velhos e as lideran as pol ticas at o in cio da d cada de 90 do s culo XX faziam restri es escola e s passaram a aceit la sob a condi o de que esta contribu sse para preservar e resgatar a cultura Retomando a defini o de costumes vale ressaltar que a defini o de Hobsbawm 1997 acima mencionada compat vel com a de cultura dada por Bauman 2002 A cultura um agente da desordem tanto quanto um instrumento da ordem um elemento submetido aos rigores do envelhecimento e da obsolesc ncia ou como um ente atemporal A obra da cultura n o tanto assegurar a pr pria perpetua o mas principalmente as condi es de novas experi ncias e mudan as Em outras palavras a cultura se perpetua na medida em que ela se mant m vi vel e poderosa n o o modelo mas a necessidade de modific lo alter lo e substitu lo por outro Assim o paradoxo da cultura pode ser reformulado desta maneira todo aquilo que s
203. deve ensinar a falar e a escrever a l ngua portuguesa tamb m causaram surpresa aos professores uma vez que alguns pais responderam que a l ngua portuguesa escrita e falada deveria ser ensinada a partir da 1 s rie Mas se compararmos a resposta a essa quest o com a da quest o Qual o papel da escola vemos que os pais s o coerentes uma vez que para eles a sobreviv ncia f sica t o importante quanto a quest o da sobreviv ncia da cultura A quest o da afirma o da cultura perpassa os discursos dos pais acerca da escola tanto quanto a no o da incompletude das culturas Os pais c nscios das limita es impostas pelo contexto ambiental da atualidade v em na escola um meio de se prepararem para sobreviver do ponto de vista tanto f sico quanto cultural Argumentos como estudar nas duas culturas importante e para aprender ensinar fortalecer incentivar a manter a nossa cultura e conhecer outras culturas revelam a apropria o do discurso intercultural que permeia a EEI brasileira Nesses discursos constatamos tamb m a apropria o e reelabora o de id ias que circulam nas escolas n o ind genas preparar para ter um emprego melhor e saber ler estamos convivendo com o mundo globalizado entre outros Dada a import ncia da quest o do ensino da l ngua portuguesa e da l ngua guarani aproveitamos a presen a de Ruth Montserrat no Curso de L ngua Guarani para discutir o assunto
204. deve se pensar na ecologia dos saberes das temporalidades dos reconhecimentos das trans escalas e da produtividade Enquanto a dilata o do 62 presente obtida atrav s da sociologia das aus ncias a contra o do futuro poderia ser obtida atrav s da sociologia das emerg ncias A sociologia das emerg ncias consiste em substituir o vazio do futuro segundo o tempo linear um vazio que tanto tudo como nada por um futuro de possibilidades plurais e concretas simultaneamente ut picas e realistas que se v o construindo atrav s das atividades de cuidado SANTOS 2004 p 794 A sociologia das emerg ncias considera a investiga o de alternativas que cabem no horizonte das possibilidades concretas atuando tanto sobre as possibilidades potencialidades como sobre as capacidades pot ncia um princ pio te rico metodol gico que poderia ajudar na compreens o da sobreviv ncia dos povos ind genas ou seja dessas possibilidades plurais e concretas mesmo diante do rolo compressor da civiliza o ou do processo de acultura o apregoados pelos cientistas sociais Como vimos anteriormente o terceiro procedimento sociol gico que fundamenta a raz o cosmopolita o da tradu o que seria o procedimento que permite criar inteligibilidade rec proca entre experi ncias do mundo tanto as dispon veis como as poss veis reveladas pela sociologia das aus ncias e a sociologia das emerg ncias Tra
205. diferenciado para os guarani No povo Guarani ocorre um grande respeito individualidade da pessoa em todas as idades Por isso podemos afirmar que a crian a quem decide se vai escola ou n o onde estudar e quando parar de estudar situa o impens vel na sociedade ocidental Esse princ pio pedag gico de respeito individualidade da pessoa guarani poderia ser um dos fatores que contribuem para a evas o escolar por m a an lise da quest o entre os alunos guarani do Esp rito Santo mostrou que a situa o bem 278 mais complexa uma vez que outros elementos influenciam no processo como os casamentos a mobilidade as condi es e os conflitos advindos das rela es inter tnicas estabelecidas pelas pessoas guarani O trabalho de campo mostrou que os casamentos t m grande influ ncia na vida escolar dos Guarani n o apenas o hor rio de funcionamento da escola que incompat vel com as necessidades das pessoas mas tamb m o pr prio modelo a carga di ria e anual e tamb m o que ensinado Muitas pessoas disseram que seria bom se a escola oferecesse cursos relacionados auto sustentabilidade e ao etnhodesenvolvimento das aldeias Grande parte dos alunos que aparecem como evadidos nas atas de resultados finais mudaram de aldeia sem pedir transfer ncia Como a presente pesquisa n o se estendeu a outros Estados fica dif cil afirmar em que medida os deslocamentos territoriais influenciam no processo
206. dificultavam a continuidade dos estudos para muitas delas Em 2007 havia nas aldeias muitas pessoas solteiras estudantes com idade entre 12 e 25 anos faixa et ria em que acontece a maioria dos casamentos guarani Por m seria precipitado estabelecer uma rela o entre o adiamento dos casamentos e o aumento da escolaridade das pessoas guarani por dois motivos primeiro porque a maior parte das pessoas guarani do Esp rito Santo s o parentes entre si o que dificulta encontrar pessoas dispon veis para casar segundo porque a oferta da escolariza o do 6 ao 9 ano muito recente nas aldeias A maioria dos interlocutores que parou de estudar se casou Pode se afirmar aqui que existe uma contradi o do papel da escola Os Guarani com idade a partir de 12 anos s o considerados adultos e ocupam um papel social de destaque nas aldeias como m sicos chefes religiosos trabalhadores dentre outros A escola n o oferece meios de perman ncia desses alunos para continuarem estudando pois o hor rio de seu funcionamento no per odo vespertino sendo incompat vel com a necessidade desses jovens que agora ter o de assumir o sustento de suas fam lias A mulher cuida da casa e dos filhos j o homem tem de recorrer a um emprego fora da aldeia para prover a fam lia TEAO 2007 p 133 N o apenas o hor rio de funcionamento da escola que incompat vel com as necessidades das pessoas mas tamb m o seu pr prio modelo e orga
207. direitos e pela institui o dos projetos de educa o que atendam suas singularidades l ngua religi o organiza o socioecon mica entre outras uma vez que a institui o da EEI passa pela necessidade de forma o dos professores de constru o de escolas de produ o de materiais did ticos e de outras Nos ltimos seis anos aumentou o n mero de etnias ind genas no Brasil passando de 216 para 225 ind genas que falam cerca de 180 l nguas Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica IBGE cresceu tamb m a popula o ind gena em 1991 o censo indicava 294 mil ndios em 2000 esse n mero aumentou para 734 mil um salto de 150 Atualmente a popula o ind gena cresce quatro vezes mais do que a branca de acordo tamb m com o IBGE A popula o ind gena brasileira muito expressiva do ponto de vista da diversidade cultural mesmo sendo pouco expressiva do ponto de vista num rico quando comparada ao total da popula o brasileira que de cerca de 180 milh es de habitantes Aplicando no campo da educa o o pensamento de Bauman 2002 de que a cultura tanto um agente da desordem como um instrumento da ordem uma vez que os processos educacionais est o inseridos na cultura podemos afirmar que as diversas sociedades ind genas brasileiras t m pedagogias pr prias que lhes garantem tanto a continuidade como sociedade quanto novas experimenta es e mudan as Segundo o histori
208. do para o uso com as crian as de 1 ao 5 ano A professora guarani Sandra que mora a pouco tempo na aldeia afirmou que tem utilizado esse livro para a sua pr pria forma o ou seja para se inteirar melhor sobre a quest o da luta pela terra O professor Mauro ex aluno do Curso de Forma o disse que esse Curso tratou pouco da cultura do seu povo al m do mais do ponto de vista dele o Curso foi muito geral Perguntado o que seria esse muito geral deu o exemplo da alfabetiza o Segundo esse professor falava se muito que a alfabetiza o tem de ser a partir de textos mas n o se mostrava na pr tica como fazer isso Pelas atas de reuni es constatamos que essa uma reivindica o antiga do professor Em 1998 quando estava estudando esse professor dizia que o Curso estava contribuindo pouco para o seu trabalho de doc ncia O ponto de vista do professor Mauro compartilhado pela professora Aciara que tamb m foi aluna do Curso Ela informou que s veio aprender a alfabetizar ao 196 estagiar com uma das professoras da FUNAI na Escola de Boa Esperan a Conversa informal aldeia de Boa Esperan a fevereiro de 2006 Durante as etapas do Curso os alunos guarani ficavam reunidos com os alunos tupinikim para as discuss es coletivas na l ngua portuguesa Os trabalhos em grupo eram na maioria das vezes realizados pelos alunos guarani separadamente Nesses momentos eles conversavam em guarani mas
209. do brasileiro onde os Estados federados t m autonomia na implementa o das recomenda es vindas dos Minist rios dentro dos par metros estabelecidos pela Constitui o Federal Os Estados t m tamb m liberdade para interpretar e ou adaptar ao contexto pol tico local as normas emanadas de Bras lia Por isso tamb m muito do descompasso entre uma proposi o ministerial e as a es executivas vindas das secretarias estaduais municipais que afetam diretamente as aldeias 8 4 Gersen Baniwa representante ind gena no CNE 4 LADEIRA M H Palestra proferida no Il Semin rio de Pol ticas de Ensino M dio Bras lia SECAD MEC 2006 157 As consequ ncias do sistema federativo brasileiro s o sentidas com for a pelo povo Guarani que vive em constantes deslocamentos por v rios estados brasileiros quest o a ser tratada tamb m no item 3 8 deste Cap tulo A institucionaliza o do Sistema Nacional de Educa o como parte do sistema de ensino da Uni o a proposta da Rede de Coopera o Alternativa Brasil RCA para solucionar as distor es e as diferen as na implementa o entre os diferentes estados e munic pios Outra proposta da RCA diz respeito implementa o de uma pol tica de EEI alicer ada em programas espec ficos oriunda das pr ticas educacionais ind genas em conformidade com os instrumentos legais de respeito diversidade cultural e n o como adapta es de programas formulados no mbito da
210. do cap tulo sobre os ndios Com 497 votos favor veis 5 votos contr rios e 10 absten es foi aprovado em 1 e de junho o Cap tulo VIII Dos ndios Da ordem Social Os 497 votos favor veis tiveram por suporte uns dos aportes mais exaustivamente constru dos na hist ria do atual processo constituinte Por tr s semanas revezavam se na visita aos parlamentares os assessores do CIMI e de outras entidades de apoio luta ind gena cruzando se nos corredores do Congresso e s vezes encontrando se nas mesmas salas de espera com os agentes do Conselho de Seguran a Nacional empenhados em captar votos para as suas teses a respeito dos ndios No dia 19 de maio um dos interlocutores do Centr o Dep Bonif cio de Andrade PDS MG declara expressamente a representantes da UNI ABA CEDI e CPI SP que sua posi o a respeito do cap tulo sobre os ndios seria determinada ap s consulta ao Conselho de Seguran a Nacional O CSN ainda tinha porta vozes expl citos nos deputados Jos Lins PFL CE Jos Dutra PMDB NA e Ottomar Pinto PDB RR Defendendo teses reducionistas dos direitos ind genas compareceu tamb m o deputado Jorge Vianna PMDB BA GAIGER 1988 p 92 Igualmente importante foi a participa o dos ind genas vindos de diversas regi es do Pa s para acompanhar as vota es no Congresso Nacional No mesmo per odo inicialmente quase 100 e ao final mais de 200 representantes ind
211. dolente seria necess rio instituir novas formas de pensar o que poderia ser feito atrav s de uma raz o cosmopolita que se fundamenta em tr s procedimentos sociol gicos a sociologia das aus ncias a sociologia das emerg ncias e o trabalho de tradu o O ponto de partida para a cr tica raz o indolente seria considerar ponto de vista de Santos A compreens o do mundo excede em muito a compreens o ocidental do mundo a compreens o do mundo e a forma como ela cria e legitima o poder social tem muito que ver com as concep es de tempo e da temporalidade a caracter stica mais fundamental da concep o ocidental de racionalidade o fato de por um lado contrair o presente e por outro expandir o futuro A contrac o do presente ocasionada por uma peculiar concep o de totalidade transformou o presente num instante fugidio entrincheirado entre o passado e o futuro SANTOS 2004 p 779 60 Torna se necess rio expandir o presente e contrair o futuro pois S assim ser poss vel criar o espa o tempo necess rio para conhecer e valorizar a inesgot vel experi ncia social que est em curso no mundo de hoje Por outras palavras s assim ser poss vel evitar o gigantesco desperd cio da experi ncia de que sofremos hoje em dia Para expandir o presente proponho uma sociologia das aus ncias para contrair o futuro uma sociologia das emerg ncias Em vez de uma teoria geral proponho o trabalho de tradu o
212. dorenha e que por isso n o existe racismo no pa s bem como tampouco necess ria uma legisla o especial para proteger os direitos dos ind genas Tamb m a delega o oficial salvadorenha afirmou ante o CERD que n o pensam em ratificar o Conv nio 169 da Organiza o Internacional do Trabalho OIT porque isso violentaria o direito igualdade contemplado na Constitui o da Rep blica de El Salvador DENUNCIA acesso em 15 ag 2006 As organiza es n o governamentais que apresentaram o informe CERD afirmam que diferentes estudos revelam que pelo menos 12 da popula o salvadorenha constitu da por ind genas Efetivamente o Chile um dos cinco pa ses da Am rica Latina que n o contam com o reconhecimento constitucional dos povos ind genas nem tampouco do car ter pluri tnico e multicultural do Estado Para a Constitui o Pol tica atualmente em vigor que data de 1980 o nico povo existente o chileno A legisla o promulgada em 1990 Lei n 19 253 reconhece aos ind genas um conjunto de direitos sobre suas terras l nguas e culturas Contudo o dito reconhecimento est muito abaixo das normas estabelecidas nos instrumentos internacionais que lhe s o aplic veis entre os quais figura o Conv nio 169 da OIT de 1989 em que se reconhece aos ind genas um conjunto de direitos pol ticos autonomia consentimento pr vio ao desenvolvimento de iniciativas suscet veis de afet los etc te
213. dos pr prios de ordenar sociol gica e cosmologicamente o mundo O terceiro o envolvimento pol tico dos etn logos brasileiros em quest es indigenistas assumindo postura ativa na defesa dos direitos das minorias ind genas no pa s marca registrada distintiva da etnologia made in Brazil na express o de Ramos 1998 SILVA 2001 p 6 Esse envolvimento pol tico dos etn logos brasileiros em quest es indigenistas tem se dado em v rios momentos dos movimentos sociais dos povos ind genas por seus direitos como na Assembl ia Nacional Constituinte na luta pela aprova o da Conven o 169 da OIT e da reformula o do Estatuto do ndio assunto que ser tratado no Cap tulo IV deste trabalho De acordo com Fausto acesso em 20 de jun 2007 as grandes transforma es no mbito da antropologia come aram a acontecer a partir da d cada de 80 do s culo XX A partir dos anos 1980 contudo todo esse imagin rio come ou a implodir por meio de uma virada historicista de uma etnologia at ent o feita contra a hist ria As evid ncias acumuladas acerca do impacto da coloniza o sobre os grupos ind genas mesmo sobre aqueles caracterizados como isolados puros pr stinos encontraram enfim resson ncia De um momento ao outro demo nos conta de que tudo tem hist ria mesma as sociedades sem hist ria FAUSTO acesso em 20 jun 2007 A d cada de 90 do s culo XX tamb m trouxe importantes mudan as no campo
214. ducativas interculturais Assim como no restante do Brasil tamb m em Aracruz o sistema educacional continua promovendo a educa o escolar intercultural apenas para os povos ind genas A escola do juru n o ensina pros seus alunos quem somos n s e nem mostra a import ncia dos ndios no Brasil FREIRE 2006 O Art 5 XLII da Constitui o Brasileira afirma que a pr tica do racismo constitui crime inafian vel e imprescrit vel sujeito pena de reclus o nos termos da lei Os epis dios de racismo e preconceito em rela o aos povos ind genas mostram o quanto os direitos legais est o distantes da sua efetiva o na pr tica e tamb m do processo ensino aprendizagem das escolas brasileiras O planejamento de um programa de EEI espec fico e diferenciado passa pela necessidade de se levar em considera o tamb m a possibilidade de serem produzidos alimentos da pr pria cultura guarani e servidos aos alunos como merenda A SEMED permite que as escolas ind genas criem o seu pr prio card pio de acordo com a cultura de cada povo ind gena do Munic pio no caso os Tupinikim e os Guarani No entanto geralmente os Guarani preferem adotar o card pio proposto pelo Munic pio que elaborado por nutricionistas Por fazerem parte do Sistema Municipal de Educa o de Aracruz a EMPI Boa Esperan a e a EMPI Tr s Palmeiras est o inscritas no Programa Nacional de Alimenta o Escolar A partir do ano de 20083
215. e 1987 a 2007 porque foi em 1987 que se deu a cria o da Escola Municipal Pluridocente Ind gena EMPI de Boa Esperan a primeira das duas escolas implantadas nas aldeias guarani do Esp rito Santo Tamb m foi o ano a partir do qual come ou a acontecer um processo de escolariza o cont nuo e mais sistem tico da comunidade guarani Cabe lembrar no entanto que esse recorte temporal sofre atravessamentos de outros tempos hist ricos como o caso do per odo da caminhada dos Guarani do Rio do Grande do Sul at o Esp rito Santo entre as d cadas de 40 e 70 do s culo XX per odo em que uns poucos membros do grupo tiveram algum grau de escolariza o Neste trabalho optamos pela an lise do processo de escolariza o dos Guarani do Esp rito Santo no contexto dos movimentos sociais dos povos ind genas brasileiros a partir da d cada de 70 do s culo XX que culminaram com a garantia dos direitos dos povos ind genas na Constitui o Federal promulgada em 1988 Segundo Hobsbawm 1998 dois requisitos s o essenciais para trabalhar com a hist ria dos movimentos sociais a criatividade e a imagina o Para o autor por mais que pese a import ncia da criatividade ela sozinha n o nos leva muito longe Faz se necess rio uma familiaridade muito ampla e concreta com o tema pesquisado para que possamos reunir uma grande variedade de informa es as quais s o em geral fragmentadas No processo da investiga o precisamos con
216. e 9 de janeiro de 2001 O PNE foi elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais INEP com assessoria do N cleo de Estudos sobre Ensino Superior da Universidade de S o Paulo NUPES USP A primeira vers o do cap tulo sobre a EEI foi redigida por dois professores da USP a convite do NUPES Essa vers o foi retrabalhada pela coordenadora do documento Eunice Durham e incorporada proposta inicial Outra proposta do cap tulo sobre a EEI foi elaborada por representantes de rg os governamentais e entidades indigenistas reunidos pelo Comit de EEI do MEC em 1997 O documento final com 21 metas incorporadas ao PNE foi elaborado com base nas duas vers es preliminares SILVA 2001 Professores Aracy Lopes da Silva e Lu s Donizete Benzi Grupioni do MARI 155 O PNE apresenta um cap tulo sobre essa modalidade de educa o dividida em tr s partes Na primeira delas faz se um diagn stico da oferta da educa o escolar aos povos ind genas brasileiros Na segunda parte encontram se as diretrizes para a EEI Na terceira e ltima s o apresentados os objetivos e metas da EEI Percebe se contudo que ao inv s de ir al m do que j est garantido nos textos da legisla o atual explicitando a real responsabilidade do Estado frente aos desafios da educa o escolar ind gena o PNE repete quest es j tratadas em leis anteriores e inclusive traz em seus diversos pontos retrocessos signific
217. e Boa Esperan a no dia 24 de setembro de98 186 O cacique de Tr s Palmeiras refor a a necessidade do ensino das l nguas portuguesa e guarani como conte dos escolares e n o somente como ve culo de comunica o de outros conte dos Nelson diz que a cultura gurarani n o de tirar as matas para grandes culturas e pensa que a escola poderia ajud los a conservar essa tradi o de preservar a natureza Hoje temos contato com outras culturas e para isso importante aprender tamb m o portugu s Eu mesmo para conversar com o n o ndio tenho que prestar muita aten o no que vou dizer Se queremos mandar cartas para outros povos ou autoridades tamb m precisamos escrever bem no portugu s e na l ngua guarani Os educadores ndios devem se preocupar em aprender dos mais velhos os conhecimentos das plantas medicinais e qual sua utilidade para as doen as Fala registrada na ata da reuni o realizada pelo NISI ES na aldeia de tr s Palmeiras no dia 8 de otubro de 1999 O cacique Nelson ao defender a escola como um espa o para ensinar aprender a l ngua portuguesa e tamb m o guarani est defendendo essa institui o como um espa o de interc mbio onde as distin es tnicas podem emergir TASSINARI 2001 Nesse sentido a escola ao mesmo tempo que dialoga com outras culturas contribui para a afirma o da identidade tnica por isso que do ponto de vista dos Guarani n o somente os conte dos mas tamb m os v
218. e Hall 2005 passamos a nos perguntar At que ponto se pode dizer que houve uma mudan a na postura do Estado N o seria essa uma estrat gia de perder alguns an is para n o perder os dedos Como esta pesquisa focaliza um povo ind gena o Guarani faz se necess rio tamb m discutir a quest o dos grupos tnicos e da identidade tnica Os grupos tnicos s o categorias adscritas e de identifica o que regulam e organizam a intera o social dentro e fora do grupo sobre a base de uma s rie de contrastes entre o pr ximo e o distante Tais contrastes ativam se ou n o segundo os requisitos do contexto BARTH 1976 apud VILLAR 2004 A manuten o das fronteiras da etnicidade n o resulta do isolamento mas da pr pria inter rela o social quanto maior a intera o mais potente ou marcado ser o limite tnico N o somente o contato com outros grupos mas tamb m o v nculo com o ambiente influi para que em um contexto determinado se ative ou n o uma categoria tnica BARTH 1976 apud VILLAR 2004 p 16 A defini o de grupo tnico dada por Barth 1976 p e por terra a id ia de grupos tnicos como sendo unidades sociais estruturadas em torno de tra os culturais distintivos O que interessa n o o conte do cultural mas o limite negociado pelo grupo em contextos precisos ao desenvolver sua intera o com os demais Nesse sentido Cunha 1987 defende a etnicidade como sendo uma linguagem que perm
219. e acknowledgment of their rights the indigenous peoples national movement and the support of some indigenous organizations in favor of the instauration of public policies that take into consideration the cultural diversity question Besides as historical processes the Guarani schooling system and the GIE in Esp rito Santo have suffered such transformations as changes in their representation rates as far as elementary education is concerned training and hiring of Guarani teachers and the building of a differentiated curricular proposal for the indigenous villages schools They have also experienced strong influences from their own culture and territorial claims As frontier spaces the Guarani school and the GIE program may be considered indigenous and non indigenous spaces that is to say spaces of anguish uncertainty but also creative opportunities They are spaces of contact where tensions appear not only by virtue of more traditional indigenous world visions but also because of developmental public policies adopted by the government of Esp rito Santo Key words Guarani indigenous education ethnic identity LISTA DE FIGURAS Figura 1 Mapa da Am rica do SUL uasiasiraaia nada rsaiga iai arabe send ara nen dass 68 Figura 2 Territ rio de deslocamento guarani aaa 69 Figura 3 Tatati Yva Re Ete e seu esposo Jo o dos Santos 1990 74 Figura 4 Localiza o das aldeias guarani do m
220. e atividades desenvolvidas por integrantes do Projeto Mbya Guarani no Grupo de Trabalho Porto Alegre FUNAI 1997 82 GEERTZ C A interpreta o das culturas Rio de Janeiro LTC 2002 83 GIDDENS A BOCK U L S Moderniza o reflexiva S o Paulo Ed UNESP 1997 84 GINZBURG C Rela es de for a hist ria ret rica e prova S o Paulo Companhia das Letras 2002 85 O queijo e os vermes o cotidiano de um moleiro perseguido pela Inquisi o S o Paulo Companhia das Letras 2004 86 GRUPIONI L D B A educa o ind gena na academia invent rio comentado de disserta es e teses sobre educa o escolar ind gena no Brasil 1978 2002 Em Aberto Bras lia v 20 n 76 p 97 238 fev 2003 87 GUIMARAENS D Org Museu de arte e origens mapa das culturas vivas guarani Rio de Janeiro Contracapa 2008 88 HALL S A identidade cultural na p s modernidade Rio de Janeiro DP amp A 2005 89 Da di spora identidades e media es culturais Belo Horizonte Ed da UFMG 2008 90 HOBSBAWM E Era dos extremos O breve s culo XX S o Paulo CIA das Letras 1995 91 inven o das tradi es Rio de Janeiro Paz e Terra 1997 92 Sobre hist ria S o Paulo Companhia das Letras 1998 93 INFORMATIVO MAPUCHE Balance de la situacion de los derechos indigenas en Chile 2004 los pueblos indigenas esa parte negada de la realidad chilena 2005 Santiago Observatorio de Derech
221. e forma o dos professores ind genas e na luta pela terra O Programa de EEI Guarani do Esp rito Santo inter relaciona se tamb m com os movimentos sociais dos povos ind genas em geral e do povo Guarani em particular Esse povo tem realizado v rios encontros e criado v rias organiza es visando a discutir propor e cobrar a institucionaliza o de pol ticas p blicas nas diversas inst ncias dos governos que respeite suas diferen as culturais Do ponto e3 A professora Nieta L Monte come ou seus trabalhos no programa de educa o desenvolvido pela CPI AC nos anos 80 Autora de v rios trabalhos na rea de EEI tem prestado assessoria a programas de EEI tanto no Brasil como nos demais pa ses da Am rica Latina NISI ES 1995 175 de vista das lideran as pol ticas e religiosas guarani presentes nos encontros realizados no Brasil e em outros pa ses da Am rica do Sul a educa o escolar tem imposto outros ritmos e tempos sociedade guarani uma vez que a legisla o determina carga hor ria di ria e n mero de dias letivos por ano iguais queles das escolas n o ind genas ou seja quatro horas e trinta minutos di rios e 200 dias anuais de atividades letivas Outra preocupa o das lideran as religiosas presentes nesses encontros quanto aos cursos de forma o de professores Segundo eles preciso tomar cuidado porque o conte do a metodologia dos cursos e as aulas ministradas pelos professores poster
222. e se exerce sobre o fen meno educativo e do ponto de vista do enfoque dado que pesquisar em hist ria da educa o investigar o objeto educa o sob a perspectiva hist rica SAVIANI 2000 p 12 Para que fosse poss vel a constru o de uma vis o ampliada do objeto investigado o processo de escolariza o dos Guarani do Esp rito Santo utilizamos como ferramentas formula es te ricas dos seguintes autores Hobsbawm 1995 1997 1998 Ginzburg 2002 2004 Thompson 1992 Hall 2005 Certeau 1995 Bauman 2002 Barth 1976 Villar 2004 Giddens 1997 Santos 1989 2000 2001 2003a 2003b 2004 e 2006 Em Hobsbawm 1995 1998 buscamos conceitos e id ias que ajudassem a compreender a inter rela o das diversas quest es tais como a mudan a de paradigmas nas Ci ncias Sociais a luta pela terra a EEI e os movimentos sociais dos povos ind genas pela institucionaliza o de pol ticas p blicas que possam garantir os direitos Em Ginsburg 2004 encontramos conceitos e id ias que dizem respeito circularidade cultural s rela es de for a pluralidade de fontes e ao rigor flex vel J as ferramentas metodol gicas relativas hist ria oral foram buscadas em Thompson 1992 As quest es da identidade dos grupos tnicos da cultura da tradi o do costume entre outras em suas articula es com o processo de escolariza o dos Guarani do Esp rito Santo foram investigadas com base em
223. e tem dos povos e culturas que constroem seus conhecimentos a partir de princ pios epistemol gicos diferentes daqueles com os quais operam as ci ncias ocidentais o caso dos povos ind genas tanto que as diferen as culturais desses povos em rela o sociedade ocidental crist foram durante muito tempo 3 Um paradigma aquilo que os membros de uma comunidade partilham e inversamente uma comunidade cient fica consiste em homens que partilham um paradigma Kuhn 1990 50 explicadas pelas Ci ncias Sociais como sendo diferen as no est gio de evolu o dessas em rela o civiliza o ocidental Assim as Ci ncias Sociais que nasceram no s culo XIX sob a influ ncia do positivismo defendiam por meio do paradigma do evolucionismo cultural que esses povos primitivos se encontravam nos prim rdios da civiliza o Estud los pois seria o caminho para compreender a evolu o da sociedade ocidental crist O paradigma moderno da racionalidade cient fica marcou profundamente a constru o do pensamento antropol gico que a partir das primeiras d cadas do s culo XX passou a elaborar ferramentas de investiga o que permitiram a coleta direta no campo das observa es e informa es Peirano 1991 afirma que a Antropologia Cultural se consolidou atrav s do estudo dos chamados povos primitivos A antropologia se consolidou atrav s do estudo etnogr fico de povos considerados primitivos Geogra
224. e um povo ind gena que se reconhe a como tal A Conven o utiliza o termo povos ind genas em substitui o ao termo popula es da Conven o n 107 O termo povos tem a ressalva de que este n o dever ser interpretado no sentido de ter implica o alguma no que se refere aos direitos que possam ser conferidos a esse termo no direito internacional Com isso elimina se qualquer possibilidade de essa Conven o ser utilizada para dar legitimidade a movimentos separatistas dos povos ind genas seja na 109 reivindica o de sua soberania sobre seus territ rios seja na afirma o de sua autodetermina o O termo na es ind genas para se referir aos diferentes povos ind genas mesmo com todas as limita es ao uso do termo presentes na pr pria Conven o n o agradou aos representantes do Governo Brasileiro por isso o Brasil se absteve de votar O Estado brasileiro representado por alguns de seus segmentos burocr ticos mais tradicionais oferecia assim indica o de que n o estava de acordo com essa proposta ou seja estava recusando se a ser caracterizado como pluri tnico e multissociet rio negando assim que conviviam em seu territ rio diferentes etnias e sociedades SANTOS 2004 Essa posi o conservadora do Estado brasileiro refletiu posteriormente no processo de aprova o dessa Conven o pelo Congresso Nacional como veremos no item 3 5 que trata da quest o
225. echo Santiago Universidad de Chile 2004 p 83 102 219 UNESCO Declara o Universal sobre a Diversidade Cultural DUDC 2001 220 VALLE R S T Contra ataque Conservador In RICARDO B RICARDO F Povos Ind genas no Brasil 2001 2005 S o Paulo ISA 2006 p 77 79 221 VIEIRA C H Nas sendas da modernidade educa o moderniza o e comunidades aut ctones na hist ria do Esp rito Santo Disserta o Mestrado em Educa o Programa de P s Gradua o em Educa o da Universidade Federal do Esp rito Santo Vit ria 1998 222 VIEIRA F Educa o escolar ind gena as vozes guarani sobre a escola na aldeia Disserta o Mestrado em Educa o Programa de P s Gradua o em Educa o da Universidade Federal de Santa Catarina 2007 297 VILLAR D Uma abordagem cr tica do conceito de etnicidade na obra de Fredrik Barth Revista Mana Rio de Janeiro v 10 n 1 abr de 2004 ANEXOS ANEXO A SUBSTITUTIVO DO ANTEPROJETO DE CONSTITUI O PROPOSTO POR BERNARDO CABRAL CAP TULO VIII DOS NDIOS Art 268 S o reconhecidos aos ndios seus direitos origin rios sobre as terras de posse imemorial onde se acham permanentemente localizados sua organiza o social seus usos costumes l nguas cren as e tradi es competindo Uni o a prote o dos seus bens 1 Os atos que envolvam interesses das comunidades ind genas ter o uma participa o obrigat ria de rg o federal pr
226. ecidas oficialmente Do ponto de vista de D Angelis 2000 presente nesse Encontro o sistema educacional do povo Guarani pode ser visto como c rculos conc ntricos que t m no seu mago a casa de reza Opy onde s o ensinadas as hist rias sagradas e onde 8 Organiza o ind gena guarani assessorada pelo CIMI 176 se constr i o ser guarani atrav s de cerim nias rituais Essa forma de ser ensinada e refor ada no c rculo familiar principalmente pelas m es Num c rculo posterior situam se as rela es do mundo do trabalho que p e em operacionalidade as regras sociais divis o de tarefas por sexo co responsabilidade e complementaridade das rela es de g nero e respeito s rela es hier rquicas que organizam as formas de solidariedade no grupo No c rculo mais externo situa se a escola instrumento formal de educa o para as rela es de contato ou seja para as rela es diplom ticas D ANGELIS 2000 Graficamente o sistema educacional guarani sistematizado por D Angelis pode ser assim representado Figura 11 Sistema educacional dos Guarani Fonte D Angelis 2000 O interessante do pensamento guarani sistematizado por esse autor que a educa o escolar n o colocada margem da sociedade guarani alheia vida da aldeia e respectiva cultura ind gena TASSINARI 2001 mas como parte dessa sociedade Em outros encontros do povo Guarani a quest o educacional tamb m tem sido deb
227. ecologia e as riquezas minerais do subsolo daquela regi o Correio Brasiliense 13 de agosto de 1987 O peri dico paulista afirmava ter em m os documentos autenticados que provavam a conex o do CIMI com um compl internacional atrav s de certo Conselho Mundial de Igrejas Crist s com o objetivo de dividir o Brasil explorar seus recursos minerais e restringir a soberania brasileira na regi o amaz nica RAMOS 1997 p 22 As organiza es imputadas divulgaram notas na imprensa repudiando as acusa es Foi importante tamb m o artigo publicado pelo Senador Severo Gomes PMDB SP no jornal Folha de S Paulo no qual esclarecia opini o p blica sobre quais eram os verdadeiros conspiradores e os objetivos da Campanha do Estad o Segundo o artigo foram as empresas privadas de minera o que articularam a campanha no Estad o Elas estavam descontentes com o tratamento especial que o Anteprojeto dava ao subsolo das terras ind genas particularmente por restringir Uni o a possibilidade de minerar nessas terras ap s a aprova o pelo Congresso Nacional apenas para o consumo interno desde que comprovada a inexist ncia de reservas conhecidas e explor veisem outras partes do territ rio nacional A campanha difamat ria organizada pelos grupos econ micos interessados na explora o dos recursos naturais das terras ind genas conseguiu alcan ar seus objetivos A Campanha do Estad o n o teve repercuss o no Esp rito
228. educa o escolar como parte da vida cotidiana das aldeias TASSINARI 2001 A preocupa o com a preserva o da cultura e do modo de ser guarani tem sido outro elemento da pauta dos encontros e movimentos pol ticos do povo Guarani As organiza es ind genas e indigenistas t m apoiado a realiza o de encontros que vers o sobre a educa o tradicional desse povo A partir de um encontro realizado em 1980 no Mato Grosso o CIMI apoiou e viabilizou o prop sito dos Mbya de reativar as grandes reuni es fiembo aty guasu que ganhavam um novo alento gra as ao poder aglutinador dos xam s com a frente de Tatati a grande cunha Kara dona de muitos cantos mediadora entre os humanos e os divinos av m tica e hero na divinizada fundadora do mundo Nesses encontros Tatati articulava a rede de solidariedade entre os tekoa selava alian as matrimoniais e trabalhava para recompor o grupo familiar Quando Tatati voltava das reuni es segundo Lilia Valle estava rouca de tanto cantar e falava dos contatos que h tempo procurava CICCARONE 2001 p 233 No m s de dezembro de 2002 foi realizado o Encontro de Educa o Tradicional na aldeia Tenond Por no munic pio de Parelheiros em S o Paulo O evento reuniu diversas lideran as ind genas religiosas e pol ticas do povo Guarani e foi organizado pelo Instituto Teko Arandu entidade que re ne representantes das aldeias de S o Paulo e Rio de Janeiro Paj s conselhei
229. empresa Aracruz Celulose Como j foi dito anteriormente no territ rio onde est o localizadas as aldeias guarani existem tamb m duas aldeias tupinikim Caeiras Velhas e Iraj As outras aldeias tupinkim Pau Brasil e Comboios est o localizadas em outros territ rios descont nuos a este A fragmenta o do territ rio desses dois povos deu se em fun o da invas o pela empresa Aracruz Celulose para o plantio de eucalipto no final da d cada de 60 do s culo XX Em fun o dessa invas o o povo Tupinikim e o povo Guarani travaram uma luta com essa Empresa por mais de quatro d cadas A quest o territorial s foi resolvida em 2007 quando o ministro Tarso Genro da Justi a assinou e mandou publicar no Di rio Oficial no dia 28 de agosto de 2007 a portaria que estabelece a posse permanente do povo Tupinikim e Guarani sobre 11 009 ha de terras pleiteadas A vit ria na luta pela terra n o significa de imediato a melhoria das condi es de exist ncia materiais dos Guarani uma vez que essas terras encontram se bastante degradadas por terem sido usadas para o plantio de eucaliptos Os Guarani do Esp rito Santo historicamente v m enfrentando grandes dificuldades materiais uma vez que n o tem conseguido garantir a subsist ncia por meio da agricultura da ca a 86 e da pesca Com os solos exauridos torna se cada vez mais dif cil a produ o de milho guarani e de outros produtos agr colas Outro problema enfrent
230. enas como o caso de professores e t cnicos da educa o que recorrem Universidade em busca de forma o para que possam melhor atuar nos diversos programas de EEI como ficou demonstrado por meio do levantamento realizado por Grupioni 2003 281 O mestrado em educa o da UFES criado em 1978 teve a primeira disserta o relacionada quest o EEI do Esp rito Santo defendida no ano de 1998 VIEIRA 1998 ou seja 20 anos ap s a cria o do Programa Ao todo j foram produzidas nove disserta es de mestrado no PPGE UFES sobre o Programa de EEI do Esp rito Santo mas apenas uma delas Teao 2007 foi realizada com os Guarani do Esp rito Santo Os cursos de forma o de professores ind genas tornaram se espa o de trocas de experi ncia e di logos entre os diferentes povos ind genas como foi o Curso de Forma o de Educadores Tupinikim e Guarani e entre pessoas de diferentes aldeias guarani como foi o Curso de Forma o de Professores Guarani Al m dos cursos de forma o o ambiente escolar tamb m se tem tornado espa o de di logo e troca de experi ncias que contribuem para a constitui o da professoralidade como se deu com os professores Alberto e Mauro O Curso de Forma o de Professores Guarani tem sido importante tamb m como um espa o de contato e interc mbio de experi ncias entre secretarias de educa o MEC e FUNAI no processo de elabora o de pol ticas p blicas para o atendimento d
231. entando junto s pessoas na escola dos objetos guarani TEAO 2007 p 45 248 A Figura 35 retrata um aluno do 4 ano do turno vespertino que pela manh cuidava do irm o mais novo Naquele momento em que a foto foi tirada aproveitava o tempo tamb m para olhar pela janela onde os alunos do 6 ano estavam construindo uma maquete da sala de aula com a media o da professora de Geografia Figura 35 Sala de aula da EMPI Tr s Palmeiras Fonte Arquivo da pesquisadora A cena capturada pela foto apresenta diversos elementos da pedagogia guarani a conviv ncia e o cuidado das crian as mais velhas para com as mais novas o aprendizado por meio da observa o e a curiosidade do aluno que olha pela janela e acompanha atentamente os alunos mais velhos nas atividades por eles desenvolvidas Durante a atividade os alunos da 6 ano conversavam em guarani e demonstravam grande interesse pelo trabalho de constru o da maquete A emers o da distin o tnica capturada pela foto do conv vio entre pessoas de diversas idades no espa o escolar leva ao questionamento da validade da ado o do regime de seria o dos alunos por idade e graus de aprendizagem assim como de outros preceitos das escolas n o ind genas ensino anual calend rio escolar de 200 dias letivos e 800 horas anuais de aulas e carga hor ria de 4 horas e 30 minutos de trabalho di rio Pensar nessa possibilidade de conv vio seria uma das estrat gias a se
232. ente ter mais chances de sair do papel e fazer parte da pr tica cotidiana escolar Mas por outro lado essa multiplicidade de atores propiciou uma grande diferen a no trato com as quest es te ricas o que se pode constatar quando se comparam os textos das diversas reas de estudo grande o desn vel entre tais textos O texto de Matem tica sobre o estudo do espa o prop e um di logo entre os conhecimentos etnomatem ticos e matem ticos sobre o assunto contudo sem confundir essas duas modalidades de saberes Essa confus o observada no texto de Geografia Comparando se essas e outras reas do ensino constata se que a quest o da interdisciplinaridade n o levada em considera o pelos autores do documento seria extremamente necess ria COTA 2000 Como o RCNE Ind gena tem a pretens o de assumir uma fun o formativa deveria apresentar as diversas teorias da aprendizagem da Psicologia e n o apenas uma como sendo a verdadeira No programa de l nguas sugerido entre outras atividades para o ensino aprendizagem da oralidade a leitura de pequenos textos com conte dos e vocabul rios apropriados idade dos alunos MEC 1995 p 131 154 Em todas as reas de estudos aparecem id ias semelhantes partir do simples para o complexo do local para o global do concreto para o abstrato do f cil para o dif cil id ias essas baseadas na teoria do desenvolvimento elaborada por Piaget ma
233. entidades culturais representa o empobrecimento da humanidade pois fecha os caminhos abertos e faz perder uma das possibilidades A riqueza humana depende da preserva o da diversidade de suas identidades culturais e de cada uma delas pois como afirma Santos 2004 preciso conhecer e valorizar a inesgot vel experi ncia social que est em curso no mundo de hoje e assim evitar o gigantesco desperd cio de experi ncia que sofremos nos dias atuais Cabe ressaltar que n o se est propondo o abandono da cultura ocidental e uma volta s culturas tradicionais Se quisermos construir um mundo melhor pelo menos mais justo do ponto de vista social e ambiental devemos estar atentos tanto para a diversidade e riqueza das culturas como para a incompletude dessas 64 Outro exemplo do que estamos falando o caso da educa o escolar que historicamente foi utilizada pelo Estado brasileiro como instrumento de regula o integra o e de assimila o do ndio sociedade nacional No entanto isso n o fez com que os povos ind genas descartassem essa institui o mas sim a transformassem em um dos instrumentos de suas lutas A educa o escolar que vem sendo constru da pelos diversos povos ind genas brasileiros faz parte do sistema nacional de educa o por m ela tem se estruturado com base em princ pios distintos da educa o escolar ofertada pelo Estado aos n o ndios Al m de serem projetos de educa
234. ento o territ rio nacional A aprova o da Conven o n 169 cuja aprova o se deu em 1 de setembro de 1991 pela C mara dos Deputados depois de superadas as controv rsias e esclarecidos os pontos pol micos levantados pelos senadores em rela o aos Art 14 15 17 e 32 foi finalmente ratificada pelo Senado Federal em julho de 2004 ou seja ap s treze anos de espera A aprova o da Conven o 169 deu se gra as rdua luta dos povos ind genas de suas organiza es e de todas as entidades que apoiavam as causas ind genas que ano ap s ano fizeram press o sobre os congressistas 4 4 REFORMULA O DO ESTATUTO DO NDIO Inspirado na Conven o 107 da OIT o Governo Militar sancionou no dia 19 de dezembro de 1973 a Lei n 6 001 mais conhecida como o Estatuto do ndio Por m a sua formula o n o levou em considera o as reivindica es dos povos ind genas tampouco a quest o do direito alteridade cultural desses povos A san o dessa lei buscava somente responder s acusa es externas de viola es dos direitos humanos dos ndios SANTOS 2002 O Estatuto do ndio regulamenta a situa o jur dica dos ndios ou silv colas e das comunidades ind genas com o prop sito de preservar a sua cultura e integr los progressiva e harmoniosamente comunh o nacional MAGALH ES 2002 Para tanto fixa regras sobre a condi o os direitos e os deveres dos ndios atribuindo obriga
235. ep o e na pr tica das macroestruturas do Estado tribunais congressos Nacional autarquias etc N o basta boa vontade ou sensibilidade dos assessores ou aliados ind genas nos escal es inferiores do Poder necess ria uma mudan a substancial na forma de pensar de organizar de decidir e de fazer do Estado se pretende pluri tnico ou multicultural No cap tulo V que trata da constru o do Programa de EEI Guarani do Esp rito Santo veremos como dif cil a situa o dos povos ind genas quando nas unidades da Federa o onde vivem s podem contar com a boa vontade ou sensibilidade dos assessores ou aliados ind genas nos escal es inferiores do Poder BANIWA 2006 p 7 Este autor aponta para a necessidade de aprova o do novo Estatuto do ndio a fim de que se possa garantir e articular a efetividade dos direitos ind genas conquistados na Constitui o de 1988 Kanh e Azevedo alertam para a necessidade de aplica o de maiores recursos nos programas de EEI O importante com rela o aos recursos financeiros para as escolas ind genas a conscientiza o dos rg os governamentais sobre as necessidades especiais que essa educa o exige principalmente na primeira fase de cria o de escolas e de concep o de PPPs para a qual h uma demanda urgente por assessorias especializadas Entre essas assessorias destaca se a de ling istas para assistir professores ind genas em suas comunidades no trab
236. er frente a longos processos jur dicos e administrativos de reclama o Enquanto esses processos se desenvolvem as terras s o invadidas sem nenhum 143 suas terras ocupadas pela Empresa de Celulose da Argentina que doou 6 000 hectares dos territ rios ocupados tradicionalmente por este povo Universidad Nacional de La Plata Os representantes do povo Guarani acionaram os representantes do Governo exigindo que se respeitem os seus direitos de propriedade das terras garantidos pela Constitui o Nacional e pela Conven o 169 POVOS acesso 15 nov 2006 O Paraguai considerado pela opini o p blica internacional como sendo o pa s onde ocorrem as maiores discrep ncias entre as leis institu das pelo Estado e as suas pr ticas Paraguai inclusive um precursor da inclus o ampla dos direitos dos povos ind genas tal como o estabelece o cap tulo V da sua Constitui o onde se reconhece entre outros princ pios e direitos a preexist ncia dos povos ind genas ao Estado seus direitos propriedade comunit ria de suas terras em extens o e qualidade suficiente para a preserva o a autonomia pol tica consuetudin ria interna das comunidades e outros mais Este marco constitucional referendado com a ado o da Conven o 169 da OIT como lei nacional N 234 de 1993 Al m disso concorrem para refor ar este marco jur dico uma grande parte dos tratados e conv nios de direitos humanos o que poderia qualificar o Para
237. eriam uma forma o inicial nos meses de dezembro de 2004 e janeiro de 2005 No entanto mais uma vez houve um flagrante desrespeito aos direitos dos povos ind genas tendo em vista que essa forma o acabou n o acontecendo porque nenhum dos parceiros do Subn cleo de Educa o assumiu a responsabilidade O IPE disse que n o poderia responsabilizar se pela forma o porque n o tinha equipe suficiente nem financiamento Depois de muita insist ncia ficou decidido que a forma o dos professores seria realizada pela equipe de Ensino Fundamental da SEDU mas posteriormente essa institui o esquivou se do compromisso afirmando que tamb m n o dispunha de pessoal Mesmo sem conseguir a forma o os Tupinikim e os Guarani n o recuaram as pessoas escolhidas pelas comunidades come aram a atuar como professores em fevereiro de 2005 mesmo sem ter recebido nenhum tipo de forma o Os educadores de 5 e 6 s rie receberam a pastinha com a proposta curricular do munic pio e n o tiveram nenhuma forma o espec fica at agora Se n o tiverem uma foma o espec fica para sanar suas dificuldades v o seguir essa proposta do munic pio e a educa o diferenciada vai parar na 4 s rie Eles precisam de forma o espec fica de todas as reas o ano todo O planejamento coletivo semanal discute e define mas no geral n o atende as especificidades das disciplinas Outra frente de luta dos Tupinikim e dos Guarani d se n
238. erno e a livre determina o dos povos e recomenda que as na es do mundo respeitem as formas pol ticas sociais e jur dicas de cada povo O foro internacional de debate mediado pela OIT pelas Na es Unidas e por outras organiza es tem viabilizado a cria o de novos interlocutores pois at ent o os movimentos ind genas estavam restritos ao di logo e s decis es dos respectivos Estados onde vive cada um dos povos ind genas A refer ncia aos direitos internacionais passou a ser uma fonte leg tima de negocia o e de consolida o tanto para refor ar as reivindica es junto aos Estados como para interpelar o formato das pol ticas indigenistas exclusivamente restritas aos mbitos estatais MACHADO 1994 Outras institui es internacionais passaram a fazer parte da rede de apoio aos povos ind genas e a acolher den ncias de desrespeito aos direitos desses povos como o caso da Organiza o dos Estados Americanos OEA que cada vez mais tem acolhido as demandas ind genas por justi a tnica contra os desmandos dos Estados na es a que est o subordinados O Conselho Ind gena de Roraima tem audi ncia marcada na Comiss o Interamericana de Direitos Humanos CIDH da Organiza o dos Estados Americanos OEA No pr ximo dia 1 de mar o a advogada Joenia Wapichana estar em Washington Estados Unidos para tratar com representantes do Estado Brasileiro sobre medidas eficazes de prote o dos direitos
239. erve para a preserva o de um modelo socava ao mesmo tempo seu pr prio afian amento BAUMAN 2002 p 22 Para Geertz 1989 a cultura pode ser entendida como sendo sistemas entrela ados de signos interpret veis e est inserida dentro de um contexto descrito de forma intelig vel e com densidade Os signos elementos da cultura s o representados por gestos rituais e comportamentos o homem um animal amarrado a teias de significa o que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e a sua an lise portanto n o como uma ci ncia experimental em busca de leis mas como uma ci ncia interpretativa procura do significado GEERTZ 1989 p 4 Como teia que est sendo constantemente tecida a cultura estaria constantemente transformando se No processo de institucionaliza o de pol ticas p blicas em rela o aos povos ind genas tem se levado em considera o a quest o da alteridade e da diversidade cultural O conceito de cultura vem sofrendo transforma es e tamb m sendo adjetivado ao longo da hist ria Bauman 2002 fala em cultura no plural Santos 2001 em culturas incompletas Segundo Santos 2001 necess rio aumentar a consci ncia da incompletude cultural at o seu m ximo poss vel o que seria uma das tarefas mais cruciais para a constru o de uma concep o multicultural dos direitos humanos Transportando essa id ia para a 49 quest o da EEI o desenvolvimento da consci nci
240. es ind genas e indigenistas seguiram dois eixos principais 1 assessorar os constituintes na elabora o de propostas e emendas constitucionais e participar de debates sobre temas referentes s quest es ind genas 2 mobilizar e informar as lideran as ind genas e a opini o p blica sobre os desdobramentos dos trabalhos no sentido de se manter na nova Constitui o os direitos dos ndios j consagrados em Constitui es anteriores CPI SP As posi es pol ticas defendidas pelas organiza es ind genas e indigenistas perante a ANC foram frutos do trabalho pr tico e da articula o de diversas organiza es indigenistas que j vinham amadurecendo seus posicionamentos em rela o a uma s rie de quest es relativas aos direitos dos ndios como as da terra dos procedimentos nas demarca es da tutela da representatividade jur dica e judicial das comunidades ind genas da minera o em terras ind genas da educa o e sa de ind gena entre outras Assim quando chegou o momento de discutir essas quest es na Constituinte j havia propostas muito concretas acordadas entre as organiza es ind genas e as v rias entidades de apoio CPI SP Inicialmente as organiza es ind genas e indigenistas pensaram em apresentar aos constituintes uma proposta unit ria sobre os direitos dos povos ind genas o que na 32 Segundo Dalmo de Abreu Dallari advogado e membro CPI SP os indigenistas tiveram sempre presente
241. estudos hist ricos a percep o de que a presen a e a participa o do povo Guarani nos m ltiplos processos que transformaram a geografia humana de toda uma regi o tenham sido elementos decisivo na hist ria colonial MONTEIRO 1992 Mesmo estando distante das pesquisas hist ricas e das preocupa es dos historiadores a hist ria guarani na ltima d cada do s culo XX e nesta primeira d cada do s culo XXI tem se tornado uma preocupa o de pessoas envolvidas no contexto da EEI guarani tanto que a comunidade educativa guarani do Esp rito Santo escolheu como uma das quest es do curr culo o estudo da hist ria guarani assunto que ser tratada no Cap tulo V Por outro lado a hist ria oral continua viva nas narrativas desse povo cumprindo assim o seu papel social de constru o da identidade guarani A hist ria da grande caminhada do Rio Grande do Sul para o Esp rito Santo iniciada na d cada de 40 do s culo XX liderada pela l der Xam nica Tatati Yva Re Et contada e recontada pelos Guarani do Esp rito Santo de todas as idades interessante constatar como a racionalidade ocidental se encontra presente tamb m na rea do Direito objeto das cr ticas de Santos 2000 p 91 a regulamenta o jur dica da vida social alimenta se de si pr pria uma regula o dando sempre origem a outra ao mesmo tempo que o cidad o 59 esmagado por um conhecimento jur dico especializado e herm tico e pela
242. faziam seus registros na l ngua portuguesa O espa o tempo do Curso de intera o levou ao afloramento da etnicidade por parte tanto dos alunos tupinikim como dos alunos guarani ocasionando tanto alian as como conflitos A pr pria luta pela realiza o do Curso um dos melhores exemplos de alian a desses dois povos Os conflitos deram se principalmente na forma de discrimina o dos alunos tupinikim em rela o aos alunos guarani e vice versa As quest es de preconceito e outros conflitos eram tratadas nas reuni es da coordena o e durante as reuni es da coordena o com os alunos para a avalia o de cada etapa de forma o O professor Mauro comentou os colegas tupinikim reclamavam porque s vezes quando convers vamos na l ngua guarani d vamos risadas ent o eles pensavam que est vamos rindo deles Mauro mio de 2006 aldeia de Tr s Palmeiras conversa informal Cabe ressaltar que uma pr tica comum entre os Guarani do Esp rito Santo mesmo na presen a das pessoas n o falantes da l ngua realizarem conversas entre si somente na l ngua materna Essa uma estrat gia de preserva o da l ngua e demonstra a maior facilidade de um di logo entre eles na l ngua materna uma vez que o grau de dom nio da l ngua portuguesa varia muito de um guarani para outro O uso da l ngua materna uma das estrat gias de afirma o da distin o tnica usada pelo povo Guarani torna se um problema para os Tupinikim c
243. feren as dialetais e culturais muito grandes entre os subgrupos guarani e que a situa o n o t o f cil de resolver nem tampouco deve ser ignorada pelos gestores e formadores dos programas de EEI Conversa informal Pela fala do Alberto constata se que embora a coordena o do Curso tenha o cuidado de escolher profissionais com experi ncia em EEI acontece a homogeneiza o cultural dos alunos explicitando assim zonas interditadas TASSINARI 2001 do Curso ou seja limites existentes no processo da sua execu o Os limites d o se tamb m em fun o das caracter sticas pr prias da escola ocidental TASSINARI 2001 tais como o ritmo das aulas os regimes de trabalho entre outras quest es muitas vezes dif ceis de serem suportadas pelos alunos acostumados com outras l gicas do tempo e at mesmo pelos formadores 39 Informa es obtidas em Campo Grande MS setembro de 2006 durante o Il Semin rio internacional fronteiras tnico culturais fronteiras da exclus o pr ticas educativas num contexto intercultural 216 Carga hor ria ritmo intenso contra senso com a proposta de educa o diferenciada um ritmo fabril vai contra o que prop e na legisla o Solicito que transmita aos coordenadores do programa minha impossibilidade de trabalhar 8 horas seguidas durante 6 dias consecutivos Como coordenadora e docente tamb m de cursos de forma o de professores durante mais de 24 anos no Ac
244. ferentes formas de existir solu es diversas encontradas pelos diversos povos diante dos problemas pr prios da exist ncia humana A concep o evolucionista de cultura desconsidera o pr prio processo de constitui o da cultura ocidental que se deu a partir de v rias outras culturas Importante tamb m foi a supera o do conceito de acultura o uma vez que imposs vel negar que as diferentes culturas interpretam e reagem de forma particular diante do avan o do ocidente e que a intensifica o de intera es globais tem gerado o processo de cosmopolitismo contra a exclus o e a discrimina o sociais e a destrui o ambiental produzidas pela globaliza o A supera o da concep o evolucionista de cultura revolucionou n o s o campo das Ci ncias Sociais mas tamb m as pol ticas p blicas em rela o aos povos ind genas as quais passaram a levar em considera o a diversidade cultural desses povos 274 Os povos ind genas por meio de suas organiza es constitu das a partir da d cada de 80 do s culo XX passaram a ser os protagonistas da luta pela institucionaliza o dessas pol ticas p blicas Os diversos instrumentos jur dicos nacionais e internacionais conquistados por esses povos t m servido de suporte s suas lutas pela implementa o das a es que asseguram os seus direitos No caso dos Guarani que vive no Esp rito Santo esses suportes t m respaldado a luta pela terra pela sa
245. fia pol tica de Rousseau Por sua vez o pilar da emancipa o constitu do por tr s l gicas de racionalidade a racionalidade est tico expressiva da arte e da literatura a racionalidade moral pr tica da tica e do direito e a racionalidade cognitivo instrumental da ci ncia e da t cnica SANTOS 1996 p 77 65 Embora as l gicas de emancipa o racional visem no seu conjunto a orientar a vida pr tica dos cidad os cada uma delas tem um modo de inser o privilegiado no pilar da regula o A racionalidade est tico expressiva articula se privilegiadamente com o princ pio da comunidade porque nela que se condensam as id ias de identidade e comunh o sem as quais n o poss vel a contempla o est tica A racionalidade moral pr tica liga se preferencialmente ao princ pio do Estado na medida em que a este compete definir e fazer cumprir um m nimo tico para o que dotado do monop lio da produ o e da distribui o do direito Finalmente a racionalidade cognitivo instrumental tem uma correspond ncia espec fica com o princ pio do mercado n o s porque nele se condensam as id ias da individualidade e da concorr ncia centrais ao desenvolvimento da ci ncia e da t cnica como tamb m porque j no s culo XVIII s o vis veis os sinais da convers o da ci ncia numa for a produtiva SANTOS 1996 p 77 Santos 1996 aposta no princ pio da comunidade como o melhor para instaurar uma dial tica pos
246. ficamente este interesse de pesquisa resultou no deslocamento do antrop logo dos centros hegem nicos da disciplina Inglaterra Fran a Estados Unidos para continentes n o europeus Africa Oceania Am rica do Sul onde estavam os chamados primitivos PEIRANO 1991 p 21 A busca do elo perdido foi o grande objetivo da antropologia em seu in cio e foi sustentada pelo paradigma evolucionista de cultura O conceito de cultura n o come ou com a Antropologia tampouco com a concep o evolucionista a ele atribu do Esse conceito na realidade come ou a ser discutido e elaborado pelos historiadores e fil sofos alem es entre os s culos XVII e XIX Entre esses o conceito de cultura passou a ser utilizado em rela o ao processo facilitado pela assimila o de trabalhos acad micos e art sticos ou seja um processo de refinamento intelectual ou espiritual diferindo assim do conceito de civiliza o utilizado para designar de maneira geral o conjunto de tra os de fen menos culturais relativos a um ideal de progresso intelectual t cnico moral e social Com o nascimento da Antropologia o conceito de cultura passou a ser adaptado s tarefas da descri o etnogr fica O estudo da cultura passou a ser menos ligado ao enobrecimento da mente e do esp rito no cora o da Europa e mais ligado elucida o dos costumes pr ticas e cren as de outras sociedades que n o s europ ias THOMPSON 1995 p 85 Fo
247. firmar que n o se encontrou modelo institucional que garantisse a participa o efetiva e adequada de lideran as ind genas no controle social das pol ticas de EEI ind gena no mbito nem do MEC nem dos estados e dos munic pios No Esp rito Santo n o foi criado o NEI tampouco os povos ind genas t m assento no CEE exce o do NISI nenhuma outra inst ncia foi criada na qual os povos ind genas pudessem ser ouvidos ou participar da formula o avalia o e acompanhamento das pol ticas e a es que lhes dizem respeito conforme estabelece a Constitui o Federal e as Leis Internacionais como a Conven o n 169 da OIT 280 As tens es existentes na EEI guarani n o se d o em virtude somente das caracter sticas pr prias da escola ocidental d o se tamb m em virtude das vis es de mundo tradicionais do ind gena As diverg ncias entre a aceita o ou n o da EEI guarani acontece tanto no tempo como no espa o V rios grupos guarani do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina n o se decidiram ainda pela ado o da educa o escolar Entre as pessoas guarani do Esp rito Santo as representa es acerca da escola t m mudado ao longo do tempo influenciadas sobretudo pelas discuss es acerca do assunto que se t m dado em n vel nacional No Esp rito Santo as representa es das pessoas guarani acerca da EEI variam de acordo com o papel social desempenhado por cada um Os mais velhos os l deres religiosos e
248. flitos que aconteceram no final do s culo XX e in cio do s culo XXI Durante a ocupa o do Iraque 2004 a base da ONU passou a ser alvo dos ataques da resist ncia iraquiana N o nosso objetivo analisar os problemas que a ONU enfrenta mas sim explicitar a fragilidade do contexto da exist ncia dessa e das outras institui es que lutam pela paz no geral e pelos direitos humanos dos povos ind genas em particular 111 Essa fragilidade tem aumentado ainda mais gra as ao processo de globaliza o que provoca cada vez mais a inger ncia de grupos econ micos nos Estados Nacionais tendo como consequ ncia uma transfer ncia de poder cada vez maior para alguns poucos grupos clara e ostensivamente descompromissados com os interesses internos de cada pa s ou regi o e n o sujeitos aos textos constitucionais em vigor ou s peri dicas peregrina es eleitorais Esses grupos econ micos exaltam o mercado como lei e norma absoluta diante dos quais todos devem curvar se inclusive os pr prios textos constitucionais BRAND 2002 p 33 A inger ncia dos grupos econ micos internacionais na vida dos povos ind genas e o poder que esses exercem sobre o Estado brasileiro pode ser constatado por exemplo na quest o da luta pela terra enfrentada pelos Tupinikim e pelos Guarani do Esp rito Santo A intensifica o de intera es globais tem gerado outro processo o cosmopolitismo entendido aqui como um conjunto muito vasto
249. gos av s S o Paulo CTI 2004 104 O caminhar sob a luz o territ rio mbya beira do oceano Disserta o Mestrado em Ci ncias Sociais do Programa de Estudos de P s gradua o em Ci ncias Sociais Pontif cia Universidade Cat lica de S o Paulo S o Paulo 1992 105 LANGON M Diversidade cultural e pobreza in SIDEKUM Ant nio Alteridade e multiculturalismo Iju Uniju 2003 p 73 90 106 LARAIA R B A FUNAI e o novo Estatuto do ndio Dispon vel em lt http Iwww comciencia br comciencia gt Acesso em 15 de maio de 2007 107 LAVILLE C DIONNE J A constru o do saber manual de metodologia da pesquisa em ci ncias humanas Porto Alegre Artmed 1999 108 LIMA A C S Um grande cerco de paz poder tutelar indianidade e forma o do Estado no Brasil Petr polis Vozes 1995 109 Um olhar sobre a presen a de popula es nativas na inven o do Brasil In SILVA A L GRUPIONI L D B A tem tica ind gena na escola S o Paulo Global 2002 p 407 424 110 LINHARES C F M ltiplos sujeitos da educa o a produ o de sujeitos e subjetividades de professores e estudantes In Ensinar e aprender sujeitos saberes e pesquisa Rio de Janeiro DP amp A 2002 111 De uma cultura de guerra para uma de paz e justi a social movimentos instituintes em escolas p blicas como processos de forma o docente In LINHARES C lia Fraz o LEAL Maria Cristina Forma o de p
250. guai com alto n vel jur dico em mat ria de direitos ind genas e vontade ratificadora de instrumentos de direitos humanos o que poderia levar a pensar que o Paraguai um pa s com um alto estal o jur dico no que diz rela o aos direitos ind genas e vontade ratificat ria de instrumentos de direitos humanos Quase n o preciso dizer que o grau de contradi o entre as leis e seu cumprimento tal que a realidade hist rica presente dos povos ind genas do Paraguai se assemelha a uma invers o proporcional quanto mais direitos reconhecidos mais direitos violados ou negados POVOS acesso 15 nov 2006 Na Bol via o povo Guarani e os outros povos ind genas convivem entre outros problemas com os impactos ambientais gerados pela explora o de petr leo em seus territ rios Em outros pa ses a realidade ainda pior uma vez que os direitos controle por parte do Estado Mesmo nos casos de terras de propriedade fiscal o Estado n o tem implementado nenhuma medida que permita a transfer ncia direta dessas terras s comunidades ESQUIVEL 2007 tradu o Marcos S nchez 2007 As empresas petroleiras operam em blocos superpostos aos territ rios ind genas chamados de Terras Comunit rias de Origem TCO demandados pelos povos ind genas A companhia Rapsol disp e de 22 blocos com uma superf cie de 4 9 milh es de hectares superpostas a 17 TCO da Amaz nia e o Chaco comprometendo a vida das comunidades C
251. hand va kaiov e a maioria mbya liderados pelo cacique Pedro da Silva Peru que casado com Severina da parcialidade nhand va o que de alguma maneira fortalece a situa o dos nhand va Essa aldeia est localizada em uma rea de baixada litor nea com solos muito pobres que est o sendo recuperados com a cultura de plantas leguminosas frut feras plantas medicinais entre outros tipos de planta As resid ncias guarani guardam grandes espa os entre elas e o entorno dessas encontra se j recoberto por uma densa vegeta o que nem de longe lembra o antigo descampado Na aldeia de Tr s Palmeiras vivem 33 fam lias sendo duas nhand va e 31 mbya As duas fam lias nhand va ocupam a parte baixa do terreno da aldeia que margeia a rodovia e as fam lias mbya ocupam a parte alta que se encontra recoberta de Mata Atl ntica No ano de 2006 o cacique da aldeia era Marcelo casado com uma n o ndia Em 2007 o posto de cacique voltou a ser ocupado por Nelson o antigo cacique Assim como as outras aldeias guarani as do Esp rito Santo ilhas dispersas cercadas pela sociedade dominante fazem parte da intensa e ramificada rede territorial do povo Guarani que se estende pelos estados do Sudeste Centro Oeste e Sul do Brasil e para outros pa ses da Am rica do Sul Com a circula o dos indiv duos e dos grupos familiares entre as aldeias garantinda a manuten o das trocas simb licas e materiais Tamb m s o refor
252. hecer Ensinar foi criado gra as a uma parceria entre os governos 206 do Rio Grande do Sul de Santa Catarina do Paran do Rio de Janeiro e do Esp rito Santo o MEC e a FUNAI O estado de S o Paulo n o se interessou em participar do Curso porque j oferecia uma forma o semelhante no pr prio Estado mas assinou o Protocolo de Inten es comprometendo se a participar de outras a es que porventura venham a ser realizadas por for a do conv nio Figura 23 Leonardo aluno guarani no Curso de Forma o Fonte Arquivo da SEDU Encontram se matriculados um total de 83 alunos no Curso sendo 30 de Santa Catarina 18 do Rio Grande do Sul 18 do Paran 07 do Esp rito Santo e 10 do Rio de Janeiro A distribui o do n mero de vagas por estado se deu principalmente com base na demanda por forma o de professores guarani por cada unidade da federa o O Programa de Forma o de Professores Guarani Kuaa Mbo e Conhecer Ensinar das Regi es Sul e Sudeste apresenta um grande avan o em rela o s pol ticas p blicas educacionais para os povos ind genas uma vez que est sendo pensado elaborado e executado exclusivamente por rg os p blicos dos governos federal e estaduais O avan o das pol ticas p blicas na realiza o desse Programa pode ser constatado tamb m pela assinatura do Protocolo de Inten es entre o MEC a FUNAI e as Secretarias de Estado da Educa o Esse protocolo leva em considera o os co
253. himane Mesetene Tacana Mojenha Juracar e Guarani As comunidades guarani encontram se afetadas tamb m pela constru o do gasoduto Bol via Brasil de propriedade de Transcredes ENRON Shell e Petrobras cuja extens o de 3 150 km Al m disso existe o gasoduto lateral Cujab de propriedade de ENRON Shell cuja extens o de 626 km afetando 24 comunidades chiquitanas e dois avoreas O gasoduto Jacu ba Rio Grande de propriedade de Transierra Repsol e Petrobras com um comprimento de 431 km POVOS Acesso 8 out de 2006 tradu o S nchez 2007 144 dos povos ind genas ainda nem est o assegurados pelas constitui es como o caso do Chile O Uruguai e El Salvador s o pa ses cujos governos n o reconhecem a exist ncia de 41 ind genas apenas de mesti os integrados sociedade nacional No caso de El Salvador v rias organiza es n o governamentais discordam da posi o governamental e lutam pelo reconhecimento dos ind genas no pa s uma delega o n o governamental apresentou ante o Comit Internacional contra o Racismo das Na es Unidas CERD um informe shadow sobre a exist ncia de discrimina o em El Salvador contra popula es ind genas e migrantes nicarag enses por parte do Estado salvadorenho Em seu relat rio o governo salvadorenho afirma que em El Salvador a popula o ind gena se encontra dispersa entre a totalidade da sociedade salva
254. i a partir desse per odo que come aram a 51 formular diferentes concep es antropol gicas de cultura Thompson 1995 aponta duas dessas concep es de cunho eminentemente evolucionista que muito influenciaram na Antropologia e nas pol ticas indigenistas brasileiras S o elas a concep o descritiva e a concep o simb lica A concep o descritiva de cultura refere se a um variado conjunto de valores cren as costumes conven es h bitos e pr ticas caracter sticas de uma sociedade espec fica ou de um per odo hist rico A concep o simb lica muda o foco para um interesse com simbolismo os fen menos culturais de acordo com esta concep o s o fen menos simb licos e o estudo da cultura est essencialmente interessado na interpreta o dos s mbolos e da a o simb lica THOMPSON 1995 p 98 O trabalho de Gustavo Klemm apontado por Thompson 1995 como um dos mais expressivos da concep o descritiva de cultura Klemm buscou oferecer uma abordagem ampla e sistem tica do desenvolvimento gradual da esp cie humana atrav s do exame dos costumes habilidades artes ferramentas armas e pr ticas religiosas de povos e tribos por todo o mundo Outro autor importante foi Tylor cujo principal trabalho foi Primitive culture Esse autor deu a seguinte defini o descritiva de cultura conjunto inter relacionado de cren as costumes formas de conhecimento arte que s o adquiridos pelos indiv duos como
255. i preciso que a professora Sandra lhe explicasse que aquelas crian as n o estavam comendo carne em respeito ao preceito religioso guarani de toda a fam lia e n o somente a m e do rec m nascido preservar o resguardo Essa professora atuava constantemente como int rprete tanto das crian as das s ries iniciais que n o falavam o portugu s como da merendeira tupinikim Gostar amos de destacar ainda que a escola e o programa de educa o guarani como espa os de fronteira tem propiciado o di logo e a troca de experi ncias entre ndios e n o ndios tanto pelo fato de as escolas fazerem parte do Sistema Municipal de Ensino como por terem sido objetos de estudos de alunos de gradua o e p s gradua o da Faculdade de Ci ncias Humanas de Aracruz FACHA e da UFES Foram produzidos quatro trabalhos sobre a EEI guarani uma disserta o de mestrado e tr s monografias A disserta o de mestrado de Teao 2007 busca analisar as vis es dos Guarani sobre a escola na aldeia ind gena de Tr s Palmeiras partindo do pressuposto de que o entendimento da escola na aldeia deve se ser feito levando em considera o a compreens o da cultura mbya TEAO 2007 p 12 O trabalho de Bezerra e Teixeira 2005 aborda as dificuldades e conflitos emocionais vivenciados na Educa o Escolar pelos Guarani de Aracruz ES a partir da 5 s rie do Ensino Fundamenta l e as dificuldades que os impedem de continuar frequentando a escola Segu
256. ia de Boa Esperan a mar o de 2007 ou seja faz parte da mesma fam lia extensa Para conseguir uma pessoa guarani para casar os interessados precisam viajar para as aldeias de outros estados tendo muitas vezes que passar um tempo fora muitas vezes acabam n o retornando Cabe lembrar que a fam lia fundadora das aldeias do Esp rito Santo se estende ainda por aldeias de outras unidades da Federa o Os la os entre as diferentes aldeias s o estabelecidos gra as permanente comunica o entre as comunidades teko do territ rio guarani toko guass viabilizada por meio das visitas a parentes ou das viajens de passagem a meio caminho entre uma comunidade e outra FUNAI 1994 A organiza o social a partir dos grupos dom sticos ajuda a compreender o motivo de as aldeias guarani do Esp rito Santo possuirem como caciques os netos de Tatati Mesmo com todos os problemas pol ticos o grupo dom stico formado pelos descendentes de Tatati det m o controle das aldeias mantendo como j foi dito as fam lias kaiov e nhand va s margens da rede de trocas e reciprocidades existente entre eles At mesmo a posi o das casas kaiov e nhand va dentro das aldeias um reflexo dessa posi o ou seja as pessoas que n o pertencem ao grupo fundador s o colocadas s margens s cioespaciais das aldeias Tradicionalmente entre os Guarani o l der pol tico se confundia com a lideran a religiosa por m cada vez ma
257. ia 13 de fevereiro de 2004 35 O Marcelo uma importante lideran a guarani e um autodidata Frequentou por alguns meses a 1 s rie na Fazenda Guarani em Minas Gerais mas assegura aprendi a ler mesmo foi com a Marilza ela me ensinou as letras e as s labas e eu saia por a tentando ler o que estava escrito nos muros nos carros juntando as silabas Guarani eu aprendi a escrever com a comunidade com as pessoas que tinham aprendido com o Valdemar Marcelo disse que adquiriu o certificado de 4 s rie atrav s do Projeto Todos Podem Ler A professora pediu para eu ler escrever e fazer umas contas e a ela disse que eu j tinha condi es de ser considerado uma pessoa com 4 s rie Relat rio de visita EMMI Tr s Palmeiras por t cnicos da SEDU no dia 9 de mar o de 2004 222 O professor Marcelo que na vis o ocidental n o teria condi es de ser professor tem dom nio completo da l ngua guarani tanto na oralidade e flu ncia oral na l ngua portuguesa Relat rio do conselho de classe Constantemente ministra cursos no Museu do ndio sobre a cultura e a hist ria do seu povo conhecimentos que n o s o levados em considera o nas observa es sobre o seu trabalho Como aluno do Curso de Forma o de Professores Guarani medida que avan ar nos estudos certamente superar as suas dificuldades na escrita da l ngua portuguesa Marcelo desistiu de ser professor e foi substitu do por Sandra
258. ia e financeira para gerenciamento da mesma Responsabilizar se pela oferta e execu o da EEI em todos os n veis e modalidades por meio de regime de colabora o com o Munic pio de Aracruz garantindo a amplia o gradativa a partir de 2004 da oferta de 5 a 8 s rie do Ensino Fundamental e do Ensino M dio nas Aldeias Tupinikim e Guarani com um curr culo que atenda as necessidades e peculiaridade desses povos Promover e responsabilizar se pela forma o em n vel m dio superior e continuada dos professores ind genas diretamente ou por meio de colabora o com demais parceiros do Subn cleo de Educa o NISI ES e do MEC Assegurar para a forma o e acompanhamento pedag gico dos professores ind genas uma equipe com antrop logo profissionais qualificados nas diversas reas do conhecimento e em pesquisa Implantar curso de Educa o Profissional visando auto sustenta o dos povos ind genas de acordo com suas necessidades e peculiaridades em conv nio com institui es p blicas e ou privadas Publicar sistematicamente contando com o apoio do MEC material did tico e de pesquisa espec fico diferenciado e na l ngua ind gena garantindo a qualidade do ensino aprendizagem da clientela escolar Apoiar e manter a representatividade da SEDU como parceira no Subn cleo de Educa o NISI ES ou de outra inst ncia criada com essa finalidade assegurando a participa o dos povos ind genas e demais parceiros nas def
259. ia por tr s estados o teol gico o metaf sico e o positivo O estado teol gico por sua vez se divide em tr s etapas a fetichista a polite sta e a monote sta 117 A malha administrativa instituidora do poder tutelar sobre os ndios era constitu da no plano nacional de subdiretorias e se es no plano regional de inspetorias e no local de postos povoa es ind genas centros agr colas e delegacias Fazia parte do corpus jur dico que passou a regular a vida dos povos ind genas brasileiros o C digo Civil promulgado em 1916 que em seu Art 6 inc IV declarava os ndios como sendo relativamente incapazes para a pr tica de atos da vida civil A cria o do SPI representou a primeira tentativa de concentra o dos servi os em m os de aparelhos estatizados do governo nacional isto dos dispositivos administrativos de poder destinados a anular a heterogeneidade hist rico cultural submetendo os povos ind genas a um controle com algum grau de centraliza o e imagem de homogeneidade fornecida pela id ia de na o O controle estatal exercido sobre os povos ind genas por meio do SPI permitiu o dom nio intensivo sobre o espa o e popula es dele ocupantes Al m disso criava terras destruindo territorialidades hist ricas e culturalmente diferenciadas dando resultados an logos aos das ferrovias revertendo as para a mercantiliza o potencial e explora o intensiva pela iniciativa privada LIMA 1995
260. iais defensores do paradigma evolucionista a fragilidade dos povos ind genas diante do rolo compressor da civiliza o j dava de antem o o progn stico para o futuro dessas sociedades Nas d cadas intermedi rias do s culo XX a perspectiva te rica da acultura o propunha outro caminho para o mesmo desfecho fatal ou seja os povos ind genas seriam integrados sociedade nacional atrav s do processo de acultura o 58 Outro problema que durante muitos anos os ind genas foram considerados apenas como povos grafos sem hist ria e por isso demonstrou se menosprezo por seus saberes de tradi o oral As sociedades de mem ria oral foram tamb m consideradas sociedades pr l gicas que n o dominando a escrita n o detinham o saber Argumentava se que na aus ncia de documentos escritos os documentos de cultura material constitu am pistas fr geis para o levantamento da hist ria desses povos Quanto tradi o oral ela n o era digna de credibilidade Portanto sem fontes escritas n o h hist ria n o h saber FREIRE acesso em 5 jul 2007 No caso do povo Guarani na historiografia do Brasil e da Am rica do Sul a hist ria desse povo se confunde com a da expans o ib rica no continente como por exemplo das redu es jesu ticas e da historiografia regional brasileira ao tratar o chamado bandeirismo movimento indissoci vel da quest o da expans o e forma o territorial do Brasil Falta aos
261. ica assumir o curr culo como permanente devir como permanente produ o que se diferencia e se realiza a partir das pr prias redes tecidas pelos sujeitos Mais do que documentos prescritos o curr culo que se realiza na escola aquele viabilizado pelas redes que l est o FERRA O 2004 p 99 238 Segundo Ferra o essa vis o de curr culo implica alguns aspectos O primeiro deles uma mudan a de foco do documento prescrito para a pr tica pedag gica na caracteriza o do curr culo que tem por objetivo assumir o cotidiano da escola como os protagonistas do curr culo escolar S o esses sujeitos que habitam e praticam nas escolas os principais respons veis pela realiza o do curr culo Um segundo aspecto a ser considerado que qualquer iniciativa de se pensar discutir ou organizar o curr culo escolar pressup e o envolvimento direto desses sujeitos Um envolvimento que precisa ser assegurado a partir da garantia de condi es f sicas e materiais de realiza o do curr culo e em todos os momentos de sua discuss o sobretudo no decorrer das pr ticas pedag gicas FERRA O 2004 p 102 Portanto faz se necess ria a garantia das condi es f sicas e materiais constru o de escola produ o de material did tico forma o dos professores e outras para que se possa construir o curr culo escolar guarani que ora se inicia Alguns dispositivos existentes poder o servir de amparo para a constru o do
262. icar sozinha porque todos eram ainda crian as Aurora apud Ciccarone 1996 p 29 Na caminhada v rios descendentes de Tatati optaram por ficar em aldeias da Regi o Sul e do Sudeste n o seguindo assim a longa jornada qual ela se propunha Por isso s o encontrados v rios de seus descendentes vivendo em outros estados do Brasil e como reza a tradi o guarani continuam fazendo parte da rede de rela es e trocas com o grupo fundador No per odo da caminhada al m do contato e conviv ncia com outros do povo Guarani o grupo manteve liga o com outros grupos ind genas e tamb m n o ndios entre os quais houve matrim nios como o caso das filhas de Aurora suas sobrinhas Tereza Jachuka Ivanilda e Iry que foram casadas com n o ndios e n o Mbya CICCARONE 2001 p 32 12 Processo n 6370 90 Territ rio Ind gena de Caieiras Velha 77 Ao chegar ao Esp rito Santo o grupo fundador morou um tempo com os Tupinikim na rea ind gena de Caieiras Velhas No ano de 1973 foi levado pela FUNAI gra as press o da Aracruz Celulose para a Fazenda Guarani munic pio de Carm sia em Minas Gerais onde passou a viver na companhia dos Krenak Todavia os Guarani n o se adaptaram a Minas Gerais achavam a regi o muito fria Al m do mais n o gostaram de viver longe do mar Havia tamb m o problema de relacionamento com os outros grupos ndigenas que viviam na Fazenda Guarani Em Minas Gerais est vamo
263. icas no mbito do Estado e do munic pio de Aracruz Sem d vida a falta de defini o de uma Pol tica P blica para a Educa o Ind gena n o garante conv nios nem defini es de pap is entre o Estado e o Munic pio de Aracruz nico que conta com popula es ind genas Como consequ ncia representantes ind genas e t cnicos respons veis por executarem e avaliarem as a es pertinentes Educa o Ind gena acabam por se esfor arem e lutarem de forma desgastante e s vezes sem sucesso Uma estrat gia utilizada pelos Tupinikim e os Guarani tem sido a de encaminhar ao Governo do Estado via NISI propostas de pol ticas p blicas Em 2002 foi constitu do um GT com o objetivo de realizar um estudo e uma an lise cr tica da Resolu o CNE CEB n 3 99 que fixa as Diretrizes Nacionais para o Funcionamento das Escolas Ind genas visando sua regulamenta o pelo CEF ES A proposta elaborada foi encaminhada SEDU em fevereiro de 2002 por m essa institui o n o fez o pedido de regulamenta o da Resolu o ao CEE Outro estudo realizado por esse GT foi para a elabora o de propostas relacionadas EEI e que foram encaminhadas comiss o encarregada de elaborar os planos estadual e municipal de educa o As propostas elaboradas objetivavam tra ar as metas para a EEI a curto m dio e longo prazo e foram elaboradas em conson ncia com a legisla o federal em vigor Resolu o CNE CEB n 2 99 Reso
264. icas que levem em considera o a diversidade cultural dos povos ind genas Tamb m foram lidos os documentos produzidos pelas organiza es ind genas As informa es sobre o povo Guarani foram levantadas em documentos produzidos pelos rg os governamentais indigenistas e nos escritos de autores que se t m dedicado ao estudo desse povo Esses dados foram tamb m confrontados com os dados coletados no trabalho de campo Foram analisados tamb m os documentos gerados no processo de institucionaliza o do Programa de EEI Guarani do Esp rito Santo tais como atas de reuni es relat rios das atividades desenvolvidas correspond ncias expedidas e recebidas pelo Subn cleo de Educa o do NISI ES e pelos parceiros envolvidos no processo FUNAI SEMED SEDU IPE Pastoral Indigenista e CIMI projetos e relat rios de atividades dos cursos de forma o inicial e continuada e outros Como o povo guarani que est diretamente relacionado com esta pesquisa foi feita a leitura dos documentos relativos ao Programa de EEI Tupinikim e Guarani levantando as informa es diretamente relacionadas aos sujeitos da pesquisa ou seja o povo Guarani As representa es dos Guarani do Esp rito Santo acerca da educa o escolar foram registradas por Silva 1994 e Ciccarone 2001 Estas tamb m encontram se registradas nas atas das reuni es sobre a educa o escolar realizadas nas comunidades entre os anos de 1996 a 2006 Os dados
265. ido que chega Para eles a denomina o correta seria nh dewa ou t beope que significa gente do nosso povo que usa tanga Como os Guarani do Esp rito Santo n o aceitam a denomina o Mbya adotada pelos antrop logos e pelo fato de haver entre eles fam lias de outro subgrupo ind gena guarani optamos neste trabalho por denominar a todos eles de guarani Nos casos em que for necess rio identificar especificamente Tatati e seus decendentes optamos pelo uso do termo grupo fundador O termo Mbya somente ser utilizado quando estivermos lan ando m o de informa es de outros autores Na Argentina Tatati permaneceu cerca de treze a quatorze anos e foi naquele pa s que se tornou vi va de seu primeiro marido e desposou um ano depois o seu cunhado o l der espiritual Nande ru Miguel Benites Kara Tiveram como filhos Damiana Paulo Jo o Valdemar e M rio Segundo estimativas de Ciccarone 2001 o grupo teria permanecido na Argentina entre as d cadas de 1920 1930 Da Argentina o grupo migrou para o Rio Grande do Sul atravessando o rio Uruguai fronteira entre Brasil e Argentina passando pelas cidades de S o Luiz Gonzaga e Santa Maria onde permaneceu por alguns meses o tempo necess rio para plantar e colher milho AURORA apud CICCARONE 1996 p 24 Na d cada de 40 do s culo XX o grupo continuou a caminhada partindo de Pelotas Rio Grande do Sul motivado pelo agravamento de conflitos de ter
266. igiosas em todo o territ rio nacional passou a ser fiscalizado pelos funcion rios desse rg o Ponto de partida do exerc cio do poder tutelar e ao mesmo tempo seu produto as classifica es elaboradas pelo SPI com base no positivismo acerca dos ndios concebidos pelo rg o como seres em transi o est o na origem de suas a es voltadas para proporcionar a incorpora o dos ndios categoria de trabalhadores agr colas Lima 1995 define a forma de poder exercida pelo Estado brasileiro a partir do SPI como poder tutelar Segundo esse autor o poder estatizado exercido sobre popula es e territ rios buscava assegurar o monop lio dos procedimentos de defini o e controle sobre as popula es ind genas Para tanto foram meios importantes e ao mesmo tempo seus produtos a formula o de um c digo jur dico acerca das popula es ind genas e a implanta o de uma malha administrativa instituidora de um governo de ndios O poder tutelar concebido como uma forma reelaborada da guerra de conquista Como modelo anal tico a conquista um empreendimento com distintas dimens es fixa o dos conquistadores nas terras conquistadas redefini o das unidades sociais conquistadas promo o de fiss es e alian as no mbito das popula es conquistadas objetivos econ micos e empresa cognitiva De acordo com Augusto Conte defensor do positivismo toda sociedade em seu processo de evolu o passar
267. ileiro de Geografia e Estat stica IDEA Instituto para o Desenvolvimento e a Educa o de Adultos INEP Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais INESC Instituto de Estudos Socioecon micos IPE Instituto de Pesquisa em Educa o ISA Instituto Socioambiental LDB Lei de Diretrizes e Bases MAIC Minist rio da Agricultura Ind stria e Com rcio MEC Minist rio da Educa o e Cultura MERCOSUL Mercado Comum do Sul MIRAD Minist rio de Reforma Agr ria e Desenvolvimento MJ Minist rio da Justi a MPE Minist rio P blico Estadual MPF Minist rio P blico Federal MST Movimento dos Sem Terra NDI N cleo de Direitos Ind genas NEI N cleo de Educa o Escolar Ind gena NISI ES N cleo Interinstitucional Ind gena do Esp rito Santo NUPES USP N cleo de Estudos sobre Ensino Superior da Universidade de S o Paulo OAB Organiza o dos Advogados do Brasil OEA Organiza o dos Estados Americanos OIT Organiza o Internacional do Trabalho OMS Organiza o Mundial da Sa de ONU Organiza o das Na es Unidas OPAN Opera o Padre Anchieta PdT Pedagogia do Texto PEC Projeto de Emenda Constitucional PDDE Programa de Dinheiro Direto na Escola PFL Partido da Frente Liberal PMA Prefeitura Municipal de Aracruz PMDB Partido do Movimento Democr tico Brasileiro PNE Plano Nacional de Educa o PPP Projeto Pol tico Pedag gico PPGE Programa de P s Gradua
268. ind genas dos povos que vivem na terra ind gena Raposa Serra do Sol Apesar da homologa o da terra ind gena em 15 de abril de 2005 os povos ind genas em quest o continuam sendo v timas de in meras viola es de seus direitos Desde o protocolo da peti o inicial at a presente data j foram apresentadas diversas comunica es CIDH informando sobre a crescente onda de viol ncia contra as pessoas contra o patrim nio e as institui es ind genas na RSS sequestros de ndios e autoridades amea as de morte bloqueios de estradas inc ndios 2 A Organiza o Ind gena Chiquitana OICH A Associa o das Comunidades Ind genas de San Rafael de Velasco ACISARV a Central de Comunidades Ind genas de San Miguel de Velasco CCISM a Central Ind gena de Comunidades de Concepci n CICC a Central Ind gena Paikoneka de San Javier CIP SJ a Central Ind gena Reivindicativa da Prov ncia Angel Sandoval CIRPAS e o Centro de Estudios Jur dicos e Investigaci n Social CEJIS se dirigem ilustre Comiss o Interamericana de Direitos Humanos com o objetivo de que em raz o do disposto no artigo 25 do Regulamento da Comiss o lhe solicite ao Estado da Bol via que de maneira urgente adote Medidas Cautelares em favor das lideran as ind genas das organiza es indicadas para garantir lhes os seus direitos vida e integridade pessoal consagrados nos artigos 4 e 5 da Conven o Americana sobre Direitos Humanos
269. ini es das pol ticas e no planejamento das a es dessa Secretaria referente EEI desse Estado Garantir a constru o e manuten o de infra estrutura escolar em todas as Aldeias Ind genas com edifica es que atendam a concep o de espa o de uso social de cada aldeia e as condi es clim ticas da regi o para atendimento da Educa o B sica Assegurar a organiza o e a gest o escolar ind gena no que se refere a autonomia pedag gica e utiliza o de recursos financeiros p blicos para manuten o do cotidiano escolar garantindo a plena participa o de cada comunidade ind gena nas decis es relativas ao funcionamento escolar A Escola Ind gena desenvolver suas atividades com base no Projeto Pol tico Pedag gico e no seu Curr culo Diferenciado ambos constru dos junto com a comunidade educativa e ainda conforme as prerrogativas legais que a regulamenta Equipar as Escolas Ind genas com bibliotecas criando acervo documental videotecas laborat rios de inform tica e de pesquisa com materiais did ticos de artesanato e de apoio pedag gico em parceria com a SEMED Aracruz Garantir a regulamenta o de legisla o espec fica ind gena Viabilizar junto a SEMED de Aracruz a garantia de regulamenta o da categoria oficial escola ind gena e professor ndio a remunera o correspondente ao n vel de qualifica o profissional e isonomia salarial do professor ndio a realiza o de Concurso P blico
270. inter tnicas estabelecidas por eles Os ex alunos de uma das professoras da FUNAI relataram os castigos f sicos impostos por ela ficar em p de frente para a parede ou ajoelhados em gr os de feij o milho ou pedrinhas O que mais chama a aten o que essa professora trabalhou na escola da aldeia em uma poca em que j havia o servi o de coordena o da EEI na SEMED no entanto nem ela nem a FUNAI nunca foram questionadas a respeito dos castigos f sicos aplicados 251 A aplica o de castigos f sicos contraria n o somente a cultura guarani que tem como um dos seus princ pios pedag gicos os conselhos como tamb m a educa o brasileira que h d cadas aboliu essa forma de educar e a constitui como um ato de abuso de poder dos funcion rios para com os povos ind genas Os conflitos interculturais vividos pelos Guarani do Esp rito Santo manifestam se tamb m por meio da dificuldade de aprendizagem em rela o ao ensino n o ndio TEAO 2007 e dos problemas de discrimina o e atitudes racistas por parte dos n o ndios As nossas crian as que estudam fora muitas vezes s o humilhadas como aconteceu na escola de Rio Bananal que um professor xingou uma crian a guarani de ndio porco Por isso n o acho certo tamb m as crian as sa rem para estudarem fora da aldeia Em 2004 devido s discrimina es sofridas pelos alunos guarani no nibus escolar da Prefeitura Municipal de Aracruz que os transpo
271. intes que pudessem apresentar as emendas necess rias para recompor os direitos ind genas No m s de agosto de 1988 iniciaram se as vota es das emendas ao Projeto de Constitui o B Novamente nesse per odo ind genas de todo o Pa s concentraram se em Bras lia Desde a primeira semana do m s estava em Bras lia uma delega o de ndios do Nordeste na es Kapinaw Xok Karapot Xukuru Xucuru Kariri Potiguara Garimpanko e Fulni a quem se somaram delega es Kayap inclusive Xikrin e um Kaiow Os ndios percorreram os gabinetes dan aram nos corredores do Congresso e desde o dia 17 concentravam se no audit rio da lideran a do PMDB na Constituinte junto sala de reuni es GAIGER 1988 p 102 A ANC encerrou os seus trabalhos no dia 22 de setembro de 1988 O texto constitucional votado nesse dia obteve 474 votos favor veis O cap tulo relativo aos direitos ind genas constitui o Anexo B A Constitui o de 1988 tornou se um marco na luta dos povos ind genas visto que pela primeira vez o Estado brasileiro passou a adotar uma legisla o de car ter n o integracionista na sua rela o com os povos ind genas Diferentemente das outras Constitui es que existiram no Pa s esta reconhece o direito alteridade cultural dos povos ind genas Outras conquistas expressivas foram reconheceu se que os direitos ind genas sobre as terras que ocupam s o direitos origin rios isto anterio
272. io passado THOMAS 1995 p 78 No Brasil a primeira cadeira de estudos etnol gicos foi criada em 1939 na Escola Livre de Sociologia e Pol tica de S o Paulo De acordo com Hebert Baldus Glagliardi o principal papel do etn logo era o de suavizar o choque causado pelo encontro de grupos humanos t o diferentes para isto caberia ao etn logo como investigador estudar a fun o de uma etnia para depois como interventor dar a sua opini o a respeito do tratamento a ser empregado para eliminar ou preservar certos tra os culturais O etn logo se diferenciaria do funcion rio administrativo e do mission rio porque dedicava se exclusivamente ci ncia GLAGLIARDI 1989 p 35 No Brasil os antrop logos passaram a ter uma maior atua o junto aos povos ind genas entre os anos de 1950 54 quando Jos Maria da Gama Malcher ent o diretor do SPI contratou etn logos e lhes entregou a dire o das principais divis es A Antropologia praticada no s culo XIX considerada uma ci ncia de gabinete uma vez que apenas na primeira metade do s culo XX come aram a ser realizados os estudos de campo 53 do SPI numa tentativa de preencher a lacuna deixada pelo positivismo GLAGLIARDI 1989 p 42 Quando Glagliardi 1989 se refere tentativa de preencher a lacuna deixada pelo positivismo o autor est fazendo uma refer ncia aos princ pios te ricos positivistas que inspiraram o trabalho do Marechal C
273. io de Janeiro de S o Paulo do Paran de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul que tem como objetivo promover o desenvolvimento de programas educacionais projetos de forma o extens o pesquisa e estudo do povo Guarani No plano internacional tamb m existe cada vez mais a preocupa o com o desenvolvimento de um trabalho em conjunto tanto que em 2006 pesquisadores dos cinco pa ses da Am rica do Sul reunidos na cidade de Campo Grande MS lan aram o Observat rio Guarani que tem como objetivos a produzir uma plataforma de dados voltada s pol ticas p blicas para a etnia guarani b subsidiar a elabora o de pol ticas p blicas dirigidas melhoria da qualidade de vida da etnia ind gena guarani nos Estados nacionais do Brasil da Argentina do Uruguai do Paraguai e da Bol via mediante a gera o apropria o e difus o de conhecimento c subsidiar a es bilaterais e multilaterais de coopera o internacional sul 35 americana atrav s da rede universit ria de pesquisa ensino e extens o voltada s comunidades ind genas do corredor guarani Outro elemento que mostra a internacionaliza o da quest o guarani o fato da l ngua guarani ser considerada hist rica para o Mercado Comum do Sul MERCOSUL Assim estudar o processo de escolariza o dos Guarani do Esp rito Santo implica necessariamente estender o olhar para al m da aldeia No plano temporal foi necess rio considerar o per odo d
274. iormente podem introduzir id ias que se contrap em ao modo de ser guarani Em geral os conhecimentos cient ficos desvalorizam toda a rela o que os Guarani desenvolvem com o mundo sobrenatural as respostas que buscam e encontram para seus conflitos sociais e pol ticos em seu relacionamento com a sociedade nacional para as doen as que os atingem entre outros CIMI 2004 Nesses encontros os representantes do povo Guarani t m tentado tra ar o papel pol tico que a institui o escolar deve assumir nas comunidades assim como os princ pios que devem nortear a constru o dos programas de EEI guarani Na IV Assembl ia Nacional da Nemboaty Guas Guarani realizada entre os dias 30 de setembro e 5 de outubro de 1993 em Itapecerica da Serra SP as 63 lideran as reunidas definiram que a EEI guarani deveria ter como princ pios a a escola deve ser bilingue e a alfabetiza o em guarani b os professores serem guarani e respeitar os costumes e tradi es do povo Guarani c todas as decis es acerca da escola devem ser discutidas com as comunidades d a escola dever ensinar a hist ria do povo Guarani s crian as para garantir a continuidade da cultura guarani e os guarani devem aprender coisas do mundo n o ind gena para que n o sejam prejudicados e enganados f constantes trocas de experi ncias entre as v rias escolas guarani com o objetivo de ter uma educa o escolar unificada e g as escolas guarani devem ser reconh
275. ipais atravessamentos sofridos pela escolariza o e pela EEI guarani s o aqueles relacionados quest o territorial luta pela terra e cultura desse povo como o caso da pedagogia guarani e dos deslocamentos territoriais Desde o in cio v rias organiza es governamentais e n o governamentais t m apoiado os Tupinikim e os Guarani do Esp rito Santo na luta pela institucionaliza o da EEI diferenciada Nesse sentido foram organizados em 1995 dois Semin rios de Educa o Ind gena em Aracruz um envolvendo apenas o grupo guarani e outro os dois povos Este ltimo aconteceu no per odo de 24 a 28 de abril de 1995 com o objetivo de sensibilizar os diversos segmentos da sociedade para a Educa o Ind gena Participaram desse semin rio os parceiros do Subn cleo de Educa o Ind gena do NISI ES SEMED UFES SEDU SEJUC62 FUNAI representantes ind genas a N o foi produzido relat rio deste semin rio 1 NISI ES Relat rio do Semin rio 1995 Secretaria Estadual de Justi a e Cidadania 174 Pastoral Indigenista CIMI a Aracruz Celulose S A professores da pr escola 4 s ries das aldeias educadores populares e lideran as ind genas tupinikim e guarani e outros totalizando aproximadamente 70 participantes A professora Monte foi convidada para coordenar os trabalhos do Semin rio de Educa o Ind gena Tupinikim e Guarani em que foram debatidos os temas as bases leg
276. iras para al m das quais existem outras na es A na o imaginada como comunidade como a elabora o de um sentimento de fraternidade e companheirismo a despeito de toda sorte de desigualdade e explora o que prevalece em todas elas Anderson define as id ias de na o e nacionalidade como artefatos culturais e chama a aten o para a necessidade de se analisar de que forma elas se tornaram entidades hist ricas de que modo seus significados se alteraram no correr do tempo e por que hoje em dia inspiram uma legitimidade emocional t o profunda ANDERSON 1989 p 12 Assim a id ia de na o e de nacionalidade inventada e 43 datada sustenta se na ilus o de ser eterna como uma comunidade compacta que se move firmemente atrav s do tempo A partir dessas quest es como fica a situa o das sociedades tradicionais ind genas quilombolas inseridas nestas culturas nacionais uma vez que como afirma o pr prio Hall 2005 nessas sociedades a identidade e a lealdade s o em rela o tribo ao povo ao passo que nas sociedades nacionais modernas a lealdade se d em rela o cultura nacional Seria poss vel manter a lealdade tribo e cultura nacional Inicialmente poder amos afirmar que tanto os ndios como os negros brasileiros mant m essa dupla lealdade uma vez que suas lutas n o s o para se emanciparem em rela o ao Estado mas sim para serem reconhecidos por ele No entant
277. iras vista de dentro s 257 Figura 42 Professor Mauro e a primeira turma da EMPI Tr s Palmeiras 267 Figura 43 O senhor Jonas e a turma do professor S lvio 269 LISTA DE TABELAS TABELA 1 FAIXA ET RIA DA POPULA O GUARANI NO 0a 79 ESPIRITO SANTO TABELA 3 DADOS EDUCACIONAIS DA POPULA O GUARANI 165 NO BRASIL TABELA 4 RESULTADOS FINAIS DA EMPI BOA ESPERANGA 245 TABELA 5 RESULTADOS FINAIS DA ALDEIA DE 245 TR S PALMEIRAS LISTA DE SIGLAS E ABREVIA ES ABA Associa o Brasileira de Antropologia AGB Associa o dos Ge grafos Brasileiros AIC Associa o Ind gena de Comboios AITG Associa o Ind gena Tupinikim e Guarani AIX Associa o Ind gena Xacriab ANAI Associa o Nacional de A o Indigenista ANC Assembl ia Nacional Constituinte ANPED Associa o Nacional de P s Gradua o e Pesquisa em Educa o APOINME Articula o dos Povos e Organiza es Ind genas do Nordeste Minas Gerais e Esp rito Santo CAPI Comiss o de Apoio aos Povos Ind genas CCPY Comiss o Pro Yanomami CDH ES Conselho Estadual dos Direitos Humanos do Esp rito Santo CEDI Centro Ecum nico de Documenta o e Informa o CEE Conselho Estadual de Educa o CIMI Centro Mission rio Indigenista CNBB Confedera o Nacional dos Bispos do Brasil CN
278. is comum entre eles os poderes pol tico e religioso 82 encontrarem se separados Contudo nada os impede de manter a orienta o pol tica esteja condicionada pr tica religiosa de um l der espiritual que n o aparece p blica ou politicamente No Esp rito Santo isso foi comum no per do em que as aldeias tinham como lider espiritual Tatati e depois Aurora sua filha Entre os Guarani a organiza o social definida pelas rela es de parentesco Os grupos dom sticos constituem tamb m a unidade de produ o e consumo Isso n o impede que haja desaven as entre os membros da grande fam lia como aquelas que resultaram na sa da de fam lias de Boa Esperan a e na funda o da aldeia de Tr s Palmeiras As sucess es pol ticas e religiosas entre os Guarani do Esp rito Santo s o marcadas por conflitos que levam s migra es e ao surgimento de novas aldeias A aldeia de Tr s Palmeiras foi criada no ano de 1996 em consequ ncia de uma briga entre Nelson e Toninho filho de Aurora ambos netos de Tatati que levouo Nelson a se mudar da aldeia com sua fam lia para outra rea do territ rio onde fundou a aldeia de Tr s Palmeiras J a aldeia de Piraqu a u foi fundada no ano 2000 como estrat gia dos Guarani para impedir que o prefeito do munic pio de Aracruz doasse uma rea de 5 ha na foz do Rio Piraqu a u para a empresa Thotam Minera o Ltda A pretens o era construir as instala es necess rias par
279. isserta es de mestrado VIEIRA 2007 e TEAO 2007 Acredit vamos que o fato de poder encontrar professores guarani de cinco unidades da Federa o Rio Grande do Sul Santa Catarina Paran Rio de Janeiro e Esp rito Santo no Curso de Forma o de Professores Guarani iniciado em 2008 facilitaria a realiza o da pesquisa Com esse intuito em 2005 participamos de uma das etapas intensivas do Curso em Santa Catarina mas foi praticamente imposs vel conversar com os alunos devido ao ritmo dos trabalhos oito horas di rias al m de tantas outras gastas com reuni es pedag gicas e administrativas toda noite Outro fator que contribuiu para desestimular o trabalho de pesquisa que levava em considera o todo o povo Guarani foi a dificuldade no acesso maior parte das aldeias desse povo A visita s aldeias e o trabalho de campo na pesquisa seriam importantes uma vez que s o grandes as diferen as quanto aceita o da institui o escolar entre as comunidades guarani Bergamaschi 2005 constatou que no Rio Grande do Sul persistia ainda certa dificuldade para a instala o de escolas nas aldeias guarani do Estado N o havia entre as diversas comunidades um consenso sobre a escola Em Santa Catarina segundo Vieira 2007 a situa o de contato tem contribu do para diminuir a resist ncia educa o escolar nas aldeias guarani Agora tem que trabalhar e fazer compra na cidade afirmou um dos professores guara
280. ite a comunica o pois enquanto forma de organiza o pol tica ela s existe em um meio mais amplo e por isso que fornece os quadros e categorias dessa linguagem Os aspectos que assinalam a fronteira tnica podem mudar mas subsistir ao menos enquanto convenha a dicotomia entre membros e n o membros VILLAR 2004 Em outras palavras a identidade tnica relativa O consenso grupal a respeito de c digos e valores n o costuma se estender al m das ocasi es espec ficas nas quais interage Em outras 47 palavras s h etnicidade em contextos bem definidos Este aspecto deve ser geral para todas as rela es inter tnicas BARTH 1976 a 18 No entanto sublinha Barth se em algumas intera es concretas os diacr ticos s vezes se acentuam em outras sua manuten o pode se mostrar inconveniente Esta quest o a de saber o que conveniente ou n o e a quem cabe julg lo o problema capital VILLAR 2004 p 18 Para Oliveira 1975 as intera es entre grupos tnicos ou seja as rela es inter tnicas entre grupos ind genas e os segmentos regionais da sociedade nacional podem ser classificadas como sim tricas e assim tricas Nas rela es sim tricas n o haveria supremacia de uma sociedade sobre a outra As rela es inter tnicas assim tricas s o conflituosas e moldadas por uma estrutura de sujei o domina o ou seja uma fric o inter tnica A concep o
281. itiva com o pilar da emancipa o As representa es que a modernidade deixou at agora mais inacabadas e abertas s o no dom nio da regula o o princ pio da comunidade e no dom nio da emancipa o a racionalidade est tico expressiva Dos tr s princ pios da regula o mercado estado e comunidade o princ pio da comunidade foi nos ltimos duzentos anos o mais negligenciado E tanto assim foi que acabou por ser quase totalmente absorvido pelos princ pios do estado e o mercado Mas tamb m por isso o princ pio menos obstru do por determina es e portanto o mais bem colocado para instaurar uma dial tica positiva como pilar da emancipa o SANTOS 1996 p 77 Por ser uma representa o aberta e incompleta a comunidade dificilmente representada por ela pr pria ou o apenas vagamente e os seus elementos constitutivos tamb m abertos e inacabados furtam se enumera o exaustiva H contudo uma caracter stica comum todos resistiram especializa o e diferencia o t cnico cient fica meios usados pela racionalidade cognitivo instrumental da ci ncia moderna para colonizar os outros dois princ pios modernos de regula o o mercado e o Estado Ao contr rio dos dois ltimos o princ pio da comunidade resistiu a ser totalmente cooptado pelo utopismo autom tico da ci ncia e por isso pagou duramente com sua marginaliza o e esquecimento mas manteve se diferente aberto a novos
282. kim e guarani no contexto nacional 2 a intera o dos Tupinikim e dos Guarani com o meio ambiente 3 a organiza o socioecon mica do povo Tupinikim e dos Guarani no contexto local regional e mundial 4 a cultura tupinikim e a guarani no contexto da cultura brasileira e 5 a organiza o pol tica dos Tupinikim e Guarani no contexto local regional nacional e mundial As pessoas presentes na reuni o afirmaram que a proposta curricular e consequentemente a educa o escolar para atender as necessidades das aldeias guarani deveriam estar pautadas em quest es que nesse momento hist rico fossem priorit rias para eles Os participantes da reuni o escolheram por consenso que deveriam fazer parte do curr culo cinco quest es 1 a auto sustentabilidade das aldeias 2 a organiza o socioespacial guarani 3 o resgate a preserva o e a divulga o da cultura 4 a hist ria guarani e 5 a sa de De certa maneira tr s das problem ticas do antigo curr culo 1 a organiza o socioecon mica dos Tupinikim e dos Guarani no contexto local regional e mundial 2 a organiza o pol tica dos Tupinikim e Guarani no contexto local regional nacional e mundial e 3 a luta tupinikim e guarani pela terra no contexto nacional foram unificadas na problem tica A organiza o socioespacial dos Guarani uma 108 Maiores informa es sobre esse assunto conferir Cota 2000 e Quiezza 2005 236 vez que o pol tico e o econ
283. l guarani E n o apenas o respeito s pessoas mais velhas mas a cada pessoa na sua individualidade na forma de express o de si na busca de conhecimento e de seus limites Isso possibilita que os adultos n o repreendam a crian a mas a observem e a acolham com as caracter sticas pr prias dela que v o aos poucos consolidando cada pessoa guarani BERGAMACHI 2005 O respeito autonomia da pessoa guarani requer da crian a o desenvolvimento da curiosidade e a capacidade de observa o que se configuram como um tra o sobressalente e que buscam no fazer muito mais do que no dizer possibilidades concretas para o aprender A pessoa desde pequena uma observadora da natureza da qual se sente parte e a tem como fonte inspiradora de vida e de educa o mas tamb m uma observadora dos comportamentos de outras pessoas Especialmente os pequenos t m nos irm os maiores e nos adultos seus exemplos e por meio da imita o constroem seus comportamentos particulares Imitam nas brincadeiras e nas demais situa es da vida pois acompanham os adultos nas mais diferentes atividades BERGAMACHI 2005 10 Do nosso ponto de vista a reda o deveria ser bom homem ou mulher guarani 242 Valendo nos das palavras de Bergamachi 2005 de maneira resumida podemos dizer que o povo Guarani demonstra uma vis o abrangente de educa o e a elege como meio para afirmar a tradi o fio indispens vel na confec o da pessoa guarani Nas a
284. la o com o tema analisado por um pesquisador assim como tamb m nem sempre necess rio falar das atividades dos paj s da fabrica o e da beleza de certos adornos e da narrativa de mitos o que aparece com muito mais const ncia Acredito que a omiss o sobre a exist ncia da escola e das atividades e dos conhecimentos a ela relacionados na maioria dos estudos antropol gicos diz respeito impress o geral e difusa de que essa institui o permanece alheia vida da aldeia e respectiva cultura ind gena TASSINARI 2001 p 48 Para Silva 2001 existe um fosso que separa as pesquisas etnogr ficas acerca da diferencia o e da especificidade daquelas reflex es no plano do conhecimento e da aprendizagem Certamente o car ter acad mico e te rico das pesquisas antropol gicas sobre o pensamento amer ndio e o registro pragm tico e reivindicat rio de mobiliza o em torno dos direitos educacionais ind genas dificultam a articula o dos dois movimentos h quase trinta anos tem havido a participa o direta de etn logos na escolariza o ind gena quer na elabora o da legisla o e na concep o e implementa o de pol ticas p blicas quer na assessoria formula o de projetos ind genas de escola e a associa es de professores ndios e na doc ncia em cursos de magist rio ind gena Nesse mesmo per odo firmou se a pesquisa etnol gica no pa s com alto grau de sofistica o te rica e densa
285. lado pode permitir o aprofundamento de um determinado aspecto mas que por outro lado pode dar uma vis o empobrecida desses programas Al m disso a nfase em apenas um aspecto do processo pode ser utilizada para enaltecer ou desconsiderar todo um complexo processo de implanta o dos programas de EEI Mas qual a rela o desse processo com os movimentos sociais dos povos ind genas em geral e do povo Guarani em particular pela institucionaliza o de pol ticas p blicas que levem em considera o a diversidade cultural Quais os limites e possibilidades do Programa de EEI Guarani do Esp rito Santo Segundo Tassinari 2001 p 157 as escolas ind genas t m sido analisadas ora como espa o ocidental que amea a a sobreviv ncia ind gena ora como espa o resignificado de acordo com a cultura ind gena Essa autora aponta ainda uma terceira alternativa de an lise que a de considerar a escola como espa o de contato onde as diferen as inter tnicas emergem e adquirem novos contornos e onde t cnicas e conhecimentos provenientes de diferentes tradi es podem ser trocados e assim reinventados Em outras palavras as escolas ind genas podem ser definidas como fronteiras por serem institui es que t m a capacidade de transitar entre realidades e mundos muito distintos n o pertencendo exatamente a 31 nenhum deles Assim as escolas podem ser entendidas como espa os de media o e de tradu o por
286. lanta o de cursos de licenciatura para professores ind genas produ o de materiais did ticos espec ficos constru o reforma ou amplia o de escolas ind genas e aquisi o de equipamentos para estas escolas apoio ao desenvolvimento do ensino m dio em escolas ind genas e forma o de t cnicos Estes recursos s o transferidos para secretarias estaduais e municipais de educa o organiza es n o governamentais e universidades Na maioria dos casos os recursos s o repassados via conv nio das entidades com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educa o FNDE BRASIL acesso em 14 jun 2007 Levando em considera o todas essas a es desenvolvidas pelo MEC 25 milh es de reais podem ser considerados uma quantia irris ria uma vez que no Brasil existem segundo o Censo Escolar de 2005 2 324 escolas funcionando nas terras ind genas atendendo a 174 255 mil estudantes e que nessas escolas trabalham 9 100 professores ind genas Outros agravantes dessa situa o s o por um lado as prec rias condi es materiais das escolas ind genas e de forma o dos professores ind genas por outro lado a dificuldade de as secretarias de educa o municipais e estaduais concordarem em arcar com as despesas relacionadas forma o superior de professores e produ o de material did tico Na realidade essas secretarias predisp em se a investir somente nas a es que tradicionalmente v m desenvolvendo com as e
287. las guarani logo desaparecem A mesma coisa acontece com os livros mandamos livros caros para c depois encontramos eles amontoados de qualquer jeito e muitas vezes cortados Coordenadora ind gena tupinikim informa o verbal set 2007 A coordenadora da EEI n o levou em considera o as condi es f sicas nem a falta de espa o do pr dio escolar para guardar materiais Essa e outras situa es exemplificam os conflitos tnicos que permeiam as rela es tupinikim e guarani uma das causas das reivindica es desses ltimos pela separa o administrativa de suas escolas N o somente a dire o mas todos os outros cargos professores secret rios merendeiras deveriam ser guarani Uma situa o relatada pela professora guarani Sandra pode ajudar a compreender melhor a situa o No turno vespertino da EMPI 12 As escolas ind genas recebem recursos do Programa de Descentraliza o de Recursos PRODER e do Programa de Dinheiro Direto na Escola PDDE do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educa o FNDE repassados EMEF Caeiras Velhas e esta com anu ncia das EMPI Boa Esperan a e EMPI Tr s Palmeiras realizam a compra de materiais permanentes e de consumo para fins did ticos pedag gicos e de limpeza 272 Tr s Palmeiras havia em 2007 uma senhora tupinikim que trabalhava como merendeira e desconhecia os costumes do povo Guarani Ela estava preocupada porque algumas crian as n o estavam comendo carne Fo
288. ldeia de Boa Esperan a no dia 24 de setembro de 1998 195 As aulas de Guarani prosseguiram no ano de 2000 e al m do aprendizado escrito da l ngua guarani foi feita a tradu o de um mito da l ngua portuguesa para a l ngua guarani e a produ o de tr s livros para os quais n o existe nenhuma previs o de publica o Esse material foi digitado impresso e encadernado na forma de apostilas e tem sido utilizado nas escolas para o ensino aprendizagem da l ngua guarani A tentativa de garantia da especificidade da cultura guarani deu se tamb m atrav s do ensino aprendizagem da hist ria guarani e a realiza o de entrevistas com os mais velhos das aldeias para a produ o de textos e outros materiais did ticos Nas aulas de L ngua Portuguesa os alunos guarani participaram da produ o de dois livros Os Tupinikim e Guarani contam no qual os alunos guarani apresentam 14 hist rias recolhidas do cotidiano da aldeia de Boa Esperan a e Os Tupinikim e Guarani na Luta pela Terra em que em um dos cap tulos os alunos guarani relatam a participa o da aldeia de Boa Esperan a na auto demarca o de suas terras em 1999 Esses dois livros foram publicados pelo MEC No ano de 2004 aconteceu a reedi o da obra Os Tupinikim e Guarani Contam Segundo os professores esse livro usado para atividades de leitura compartilhada Eles consideram o livro Os Tupinikim e Guarani na Luta pela Terra pouco apropria
289. ldeias na maior parte do tempo as crian as encontram se integradas nas pr ticas tradicionais tendo como par metro a conviv ncia familiar e seus conselhos ensinamentos e experimenta es o respeito entre si e pelos mais velhos a vida comunit ria que se desdobra na viv ncia da religi o nos rituais na reza no canto e na dan a na conviv ncia habitual da casa de reza opy na rela o com a natureza e no mero estar juntos que configura o tempo espa o guarani Diversos autores afirmam que n o s o comuns na educa o tradicional guarani san es castigos condena es tampouco pr mios e recompensas visando a adequar a pessoa a um comportamento idealizado uma vez que entre eles h um entendimento de que os tra os b sicos que formam a pessoa lhe s o pr prios revelados no ritual de nomea o A virtude ou a falta dela entre as pessoas guarani denota a natureza do ser al m disso os par metros para as atitudes e comportamentos humanos s o o compromisso de viver como Guarani seguindo os ensinamentos revelados pelas divindades e transmitidos de gera o em gera o SHADEN 1974 Cabe ressaltar no entanto que nas aldeias do Esp rito Santo esse contexto educacional vem sofrendo modifica es J na minha poca de crian a nossa m e prometia que se a gente varresse a casa ou lavasse as vasilhas no outro dia a gente iria pescar professora Aciara conversa informal mar o de 2007 Eu procuro n
290. lecimento da linguagem oral uma vez que ao escrever em guarani a crian a ser for ada a usar o vocabul rio dessa l ngua evitando assim o uso de palavras da l ngua portuguesa no caso dos grupos guarani que vivem no Brasil ou da l ngua espanhola no caso dos grupos guarani que vivem na Bol via no Paraguai no Uruguai e na Argentina o que muito comum na oralidade Outro ponto importante levantado durante as discuss es foi o mito existente de que o registro das l nguas ind genas ajudaria na preserva o delas A escola sozinha n o capaz de realizar a preserva o de uma l ngua que s sobreviver quando falada e utilizada como ve culo de comunica o por um grupo social Assim fazer com que uma l ngua usada somente na oralidade passe a ter uma representa o escrita n o garantia de que ela continue viva A sobreviv ncia de uma l ngua de responsabilidade de todos e isso vem sendo falado pelas lideran as h muitos anos Toda fam lia deve se esfor ar e exigir que suas crian as falem guarani Que em momentos de festa devem trazer pessoas que sabem bem o guarani para estar conversando e refor ando sobre o uso e manuten o da l ngua materna Diz ainda que cada fam lia tem a responsabilidade de acompanhar seus filhos ver como est o falando A televis o muito perigosa O som alto demais deve ter limite e hor rio O cacique s vezes quer proibir e as pessoas acham ruim Ir ao forr isso tamb m n o
291. letivo oficial Dias depois a coordenadora ficou sabendo que ela havia entrado de licen a maternidade Esse epis dio com a professora Vanda explicita as dificuldades dos funcion rios da SEDU e da SEMED em lidar com as particularidades culturais do povo guarani O professor S lvio depois do Curso de Forma o viveu um per odo em Ubatuba Segundo ele a princ pio n o acreditava que tinha jeito para ser professor No ano de 2006 integrou se equipe de professores est atuando na Aldeia de Tr s Palmeiras Agora estou acreditando mais em mim como professor e estou gostando de dar aula professor Silvio conversa informal Em consequ ncia da n o renova o do contrato das professoras Vanda e Lucimara e do fato de o professor S lvio a princ pio n o querer atuar como professor deu se a continuidade da atua o de uma das professoras da FUNAI na escola da aldeia Assim sendo a forma o do primeiro grupo de professores guarani n o conseguiu resolver um dos princ pios da EEI reivindicado pelo povo Guarani que o de ter professores guarani bil ng es atuando nas escolas das aldeias Uma nova tentativa de resolver o problema foi com a matr cula de sete alunos guarani no Curso de Forma o de Professores Guarani 5 1 1 Programa de Forma o de Professores Guarani Kuaa Mbo e Conhecer Ensinar das Regi es Sul e Sudeste Como j foi dito anteriormente o Curso de Forma o de Professores Guarani Kuaa Mbo e Con
292. liado em condi es de ser enquadrado no grupo de alunos de n vel avan ado Na realidade os conflitos no processo de substitui o da professora tiveram como principal fator quest es de ordem administrativa A professora n o queria abrir m o do seu posto de trabalho porque isso traria implica es para a sua aposentadoria No Brasil a legisla o faculta ao professor regente de sala de aula a aposentadoria especial ou seja aos vinte e cinco anos de trabalho e cinquenta anos no caso das mulheres Ao perder o posto de docente na escola da aldeia essa professora passou a exercer fun es administrativas e consequentemente perdeu o direito aposentadoria especial 221 O Marcelo foi o segundo aluno a ser contratado para dar aula aos alunos de 12 e 2 s ries Como a EMPI Tr s Palmeiras contava at em 2004 com apenas uma sala de aula onde o professor Mauro trabalhava com a 3 e 4 s ries Marcelo tinha que trabalhar em uma cabana de sap que havia ao lado da escola Mauro diz que est muito dif cil o funcionamento da turma de Marcelo na cabana porque muito aberta e tem problemas com o vento e goteiras quando chove Ele diz que j tem o projeto de uma sala e cozinha o que precisa s o os parceiros para a constru o Z lia pergunta quantos alunos Marcelo tem Ele disse que tem 10 alunos Que tem alguns que n o est o frequentando porque dizem que tem muita bagun a na sala De acordo com os regis
293. lizadas simultaneamente e de forma complementar uma s outras conforme vem apresentado a seguir 92 3 3 1 Observa es e entrevistas As observa es associadas s entrevistas foram realizadas principalmente nos anos de 2006 e 2007 As observa es foram realizadas nos espa os frequentados pela comunidade educativa guarani como as escolas e as cabanas das aldeias Fora das aldeias as observa es foram realizadas durante as reuni es de forma o e planejamento promovidas pela SEDU e pela SEMED com os professores tupinikim e guarani em Aracruz ES e tamb m nas etapas de forma o e reuni es de planejamento do Curso de Magist rio Ind gena Guarani As entrevistas foram realizadas concomitantemente com as observa es e na maior parte das vezes aconteciam quando era necess rio esclarecer alguma d vida ou ouvir o ponto de vista de algu m sobre um determinado assunto Foram realizadas entrevistadas com pessoas dos diversos segmentos da sociedade guarani pais alunos professores lideran as A decis o de considerar os diversos segmentos da comunidade educativa guarani se deu principalmente em fun o das cr ticas feitas aos pesquisadores que t m ouvido apenas as lideran as caciques e professores ind genas nos trabalhos sobre EEI PALLADINO 2000 Outro elemento que contribuiu para que se tomasse a decis o de levar em considera o os diversos segmentos da sociedade guarani foi que mesmo trabalhando com a f
294. ltar no entanto que o ingresso dos alunos do Esp rito Santo no Curso de Forma o de Professores Guarani contribuiu para o processo de institucionaliza o da EEI guarani bil ng e e diferenciada ao possibilitar a substitui o da professora contratada pela FUNAI por um professor guarani Em virtude das pondera es feitas pelas pedagogas da SEMED e da SEDU as comunidades guarani decidiram que a partir de 2005 o Alberto aluno do Curso de Forma o de Professores Guarani iria substituir a professora da FUNAI e que ela ficaria com o Alberto para ajud lo na sala de aula at que ele se sentisse seguro para assumir sozinho o trabalho de doc ncia A experi ncia n o deu certo a professora da FUNAI desistiu algum tempo depois De acordo com a chefia de posto da FUNAI havia muita reclama o em rela o ao trabalho do professor Alberto porque as crian as n o entendiam o guarani falado por ele que do subgrupo Nhand va A pr pria chefe de posto aconselhou a professora a sair porque se desse errado a atua o de Alberto as pessoas iriam colocar a culpa na FUNAI Acho dif cil o Alberto atuar como professor de 3 e 4 s ries porque ele s tem at a 5 s rie e n o escreve em guarani Chefe de posto da FUNAI conversa informal em 26 de abril de 2006 Essas dificuldades foram superadas pelo professor tanto que no conselho de classe do Curso de Forma o de Professores Guarani ele foi o nico do Esp rito Santo ava
295. lu o CNE CEB n 3 99 Portaria Interministerial n 559 91 Os Tupinikim e os Guarani reivindicavam que fossem institucionalizadas diretrizes Anexo D relacionadas forma o inicial e continuada de professores expans o da oferta da escolaridade produ o de material did tico constru o e manuten o de pr dios escolares entre outras a es Esse documento foi encaminhado SEMED e SEDU em agosto de 2002 Em 14 10 2002 lideran as e educadores Tupinikim e Guarani assim como parceiros tomaram conhecimento via reuni o do Subn cleo de Educa o do NISI ES do diagn stico do Plano Estadual de Educa o para a Educa o Ind gena elaborado pela Comiss o Estadual do Plano Decenal de Educa o do Esp rito Santo sobre o qual manifestaram descontentamentos por n o contemplar a realidade hist rica da educa o ind gena no item Causas principais e efeitos e parte significativa dos objetivos e metas da proposta encaminhada nas Estrat gias alternativas 118 Correspond ncia expedida pelo NISI ES no dia 20 de junho de 2002 260 do referido diagn stico Nessa mesma reuni o foi definido que seria solicitada SEDU a garantia dos 13 pontos da Proposta do Plano Estadual para Educa o Ind gena Tupinikim e Guarani no plano por ela elaborado Foi ent o oficializada essa solicita o pela Superintendente da SRE Florestal e entregue em m os ao Exmo Sr Secret rio no dia 24 10 2002
296. m AYVU RAPYTA As belas palavras AYVUKU Palavra alma sagrada por o divina da alma CHIGUANOS Parcialidade guarani CUNHA KARA Mulher l der religiosa guarani DJA KA RA Entidades de cura GUARANI ETE Um guarani de verdade GUARAYOS Parcialidade guarani IPARAV PY Paranagu IZOZENO Parcialidade guarani JURU Pessoa n o ind gena KAGUYJY Bebida feita com milho verde que deve ser mascado para fermenta o e misturado com gua K NGUI Esp cie de mingau preparado com milho e batata doce KARA Homem l der espiritual religioso que comanda as cerim nias KOXI Porco do mato KUAA MBO E Conhecer e ensinar MBEJU Esp cie de massa fina feita com farinha de milho tostada e gua MBOJAP Esp cie de massa feita com farinha de milho e gua assada nas cinzas MBYA Parcialidade guarani MPAIPY Um tipo de polenta feita com milho verde triturado e gua recoberta com folhas de pegua musa sp e cozida sob cinzas de uma fogueira NE ENG POR Belas palavras NE ENG POR Palavras sagradas e verdadeiras NE EY NE E Palavra alma que d vida e sa de a pessoa NE Palavra que confunde com alma ou fala linguagem que define identidade na comunica o verbal NEMBO E Pronunciar as palavras sagradas e deixar se instruir por ela NEMONGARA Festa tradicional para comemorar a boa colheita do milho NHAMAND Sol NHANDEREK
297. m o falado Al m disso tinha pouco estudo ao come ar o Curso apenas a 5 s rie incompleta As falas dos professores guarani apontam para a complexidade das rela es interculturais dos povos ind genas constitu das de alian as mas tamb m de discrimina es e conflitos Mas como afirmou o professor Mauro os preconceitos se davam da parte dos alunos tupinikim em rela o aos guarani e vice versa De maneira resumida podemos dizer que as rela es entre os alunos tupinikim e os guarani durante o Curso foram marcadas pelas trocas advindas do intercruzamento dessas duas culturas como pr prio desse tipo de processo 1HE AE In at IN Mo ii w Figura 18 Aluna guarani e aluno tupinikim do Curso Fonte Arquivo da SEMED Os professores guarani apontam como elemento positivo o fato de que a partir do Curso passaram a conhecer mais os vizinhos uma vez que mesmo morando pr ximos uns dos outros n o tinham muito contato Nesse sentido o Curso passou 199 a ser um espa o tempo de conviv ncia e forma o intercultural O pouco conv vio das pessoas das aldeias guarani com as pessoas das aldeias tupinikim apontado pelos professores mais um exemplo da complexidade da rela o entre esses dois povos ind genas e revela que as intera es entre eles se d o apenas em ocasi es espec ficas VILLAR 2007 Os professores guarani apontaram v rios outros elementos positivos do Curso Contribuiu para que
298. m rela o ao uso da mata e do rio al m do repasse de recursos destinados a eles As diferen as nos costumes s o utilizadas em momentos de desaven a para marcar a etnicidade de cada um dos dois grupos comum os Guarani criticarem os Tupinikim porque comem mariscos principalmente o goiamum No entanto os 85 Tupinikim por sua vez criticam os Guarani porque comem pre s As ofensas costumam ser m tuas os Guarani falam que os Tupinikim n o s o mais ndios e os Tupinikim dizem que os Guarani s o chegantes conversa informal Assim torna se percept vel que tanto os Tupinikim como os Guarani constroem e reconstroem suas identidades tnicas no contexto de suas inter rela es sociais Villar 2004 Assim como as rivalidades as alian as entre o povo Tupinikim e o povo Guarani apresentam limites negociados em contextos precisos VILLAR 2004 principalmente ao desenvolver sua intera o com os n o ndios As alian as entre os Guarani e os Tupinikim d o se principalmente quando se trata da luta pela terra na conquista de benef cios para as aldeias assist ncia m dica educa o por exemplo e nos enfrentamentos em rela o ao Estado principalmente a FUNAI O povo Guarani esteve junto ao povo Tupinikim em praticamente todas as decis es inclusive nas diversas vezes em que se tomou a decis o de iniciar os processos autodemarcat rios do territ rio que hoje se encontra ocupado pelos eucaliptos da
299. m se sobrepostas umas s outras O in cio de uma nova fase n o significa o t rmino da anterior mas indica novas orienta es e tend ncias no campo da educa o escolar No doutorado decidi pesquisar a hist ria da EEI de per odos mais recentes ou seja de uma ou mais experi ncias que tivessem sido iniciadas pelos pr prios ind genas ou seja experi ncias de EEI Decidido o recorte temporal faltava decidir o recorte espacial Qual s experi ncia s analisar A princ pio pensei em contribuir para preencher a lacuna relativa falta de trabalhos da hist ria da EEI com uma pesquisa sobre as diversas experi ncias de EEI desenvolvidas na Regi o Sudeste por m desisti da id ia uma vez que me interessava considerar a rela o entre a cultura s do s povo s e a EEI o que seria dif cil levando em considera o que nessa regi o vivem mais de 10 povos ind genas A solu o foi ficar apenas com o povo Guarani Segundo Grupionni 2003 no per odo analisado por ele 1978 a 2002 foram produzidas tr s disserta es de mestrado DORETO 1997 BORGES 999 29 PALADINO 2001 e uma tese de doutorado FERREIRA NETO 1994 sobre a quest o educacional com grupos guarani e nenhuma delas se preocupou especificamente com quest o da hist ria da constru o dos programas projetos de educa o O mesmo acontece com tr s outros trabalhos produzidos posteriormente que s o uma tese de doutorado BERGAMACHI 2005 e duas d
300. m um educador guarani e um tupinikim do Esp rito Santo para falar das suas experi ncias como educadores O objetivo da vinda dos representantes ind genas dos outros estados foi o de propiciar um interc mbio cultural e uma troca de experi ncias aos educadores ind genas na rea da EEI 229 A d cima segunda e ltima etapa do Curso aconteceu no m s de outubro de 1999 e foi inteiramente dedicada constru o dos curr culos para as escolas ind genas tupinikim e guarani Como subs dio para esse trabalho os professores utilizaram os seguintes documentos 1 textos produzidos pelos formadores a partir de an lises dos relat rios de est gio e dos cadernos de planos de aula dos professores 2 Referencial Curricular Nacional para as Escolas Ind genas 3 Par metros Curriculares Nacionais 4 conte dos m nimos da SEDU e 5 Proposta Curricular do Munic pio de Aracruz Um elemento que chama a aten o no processo de constru o do curr culo que n o foi utilizado como subs dio nenhum documento produzido pelos pr prios ind genas como di rios de classe e planos de aula daqueles que j estavam atuando como professores ou seja o registro de suas pr ticas No entanto o curr culo constru do pelos professores est fortemente marcado por essas pr ticas como pudemos constatar ao analisar os objetivos conte dos e outros elementos da primeira vers o da proposta curricular constru da por eles A conclus o da primeira pr
301. ma a aten o a independ ncia das crian as guarani em rela o aos adultos As desaven as que porventura acontecem entre as crian as s o sempre resolvidas por elas mesmas tanto que causou estranheza o fato de uma crian a ap s se desentender com outra vir chorando procurar pela m e Tratava se por m de um desentendimento entre o filho de uma n o ndia com um guarani No trabalho de campo constantemente encontravam se crian as de todas as idades sozinhas ou em grupo apanhando frutas pescando brincando ou andando pela aldeia O respeito individualidade da pessoa em todas as idades um elemento da pedagogia e as cultura guarani que pode s vezes se tornar uma interdi o ao processo de escolariza o das pessoas uma vez que em ltima inst ncia a crian a quem decide se vai escola ou n o onde estudar e quando parar de estudar situa o impens vel na sociedade ocidental A vontade do filho de estudar ou n o e de onde estudar respeitada pela maioria dos pais Uma m e contou que dois dos seus filhos foram estudar na Escola Fam lia Agr cola de Rio Bananal mas que um deles desistiu porque n o gostava das viagens de carro A outra filha estava cursando a 8 s rie nessa escola em regime de altern ncia mas que nas semanas em que est em casa n o participa de nenhuma atividade agr cola nem dos afazeres da casa A m e disse que n o obriga apenas d conselhos filha pois considera importante
302. ma foi transferida para a EMPI Boa Esperan a Marcos diz que a Educa o Infantil melhorou em Boa Esperan a porque tem menos invas o de pessoas estranhas na escola mais f cil controlar as crian as ficam calmas e silenciosas O recreio mais tranq ilo L em Tr s Palmeiras as crian as eram mais livres iam embora a hora que queriam Talvez a pessoa acabe colocando o filho para estudar fora porque a escola da aldeia est muito bagun ada ent o isso precisa melhorar e ter boa estrutura As crian as de Tr s Palmeiras est o com muita liberdade de entrar e sair da escola Fora do hor rio de aula e nos finais de semana todos t m acesso ao bebedouro sujam e bagun am a escola A escola deve ser cercada para evitar que todos entram sujam atrapalham o nosso trabalho tirando a aten o do nossos alunos e 97 Ata de reuni o realizada na aldeia de Tr s Palmeiras no dia 13 de dezembro de 2005 223 acabam comendo a merenda deles Falta prato e garfo para todos Hoje a oportunidade dos pais falarem isto A fala do professor Marcos ao defender para as escolas das aldeias os valores e princ pios da educa o escolar n o ind gena indicativo de um processo de circularidade cultural Esse professor mudou se para Santa Catarina em 2005 para substitu lo foi contratado o Alessandro que tamb m desistiu do cargo e migrou para a aldeia de Bracu RJ Os dois alunos continuam frequentando o Curso e tendo suas despesas
303. mas de conhecimento 3 desenvolver formas de subsist ncia auto sustent veis para a comunidade 4 fortalecer a organiza o do povo Guarani e suas rela es com outros grupos ind genas Em quarto lugar foi apresentado o ponto de vista dos Guarani acerca do papel a ser desempenhado pela escola Posteriormente foram apresentados os princ pios que devem nortear a EEI guarani ou seja deve se garantir que 1 os professores das escolas sejam guarani e falem a l ngua 2 o ensino seja monoling e at o quinto ano com o ensino apenas do guarani e multiling e a partir do 6 ano com a introdu o do portugu s e do ingl s 3 a educa o seja intercultural 4 a educa o esteja a cargo da comunidade educativa e n o somente da escola garantido assim 17 O pr texto foi elaborado por mim e pelo professor Mauro no segundo semestre de 2006 237 a participa o da comunidade guarani e 5 se desenvolva uma educa o escolar de qualidade e os conte dos escolares estejam relacionados com a realidade das aldeias A ltima parte da proposta curricular foi dedicada apresenta o das problem ticas e dos conte dos curriculares Na realidade essa parte da proposta encontra se em fase de constru o No m s de dezembro de 2006 foram realizadas reuni es com os professores da pr escola ao 9 ano durante as quais foi realizado um detalhamento da problem tica escolhida para ser trabalhada no primeiro bimestre de 2007 O
304. mbros da Comiss o propostas de pol ticas educacionais tem sido encaminhadas ao Governo por m constata se poucos avan os na EEI como comprova o diagn stico elaborado pela Coordena o Geral de Educa o Escolar Ind gena SECAD MEC em 2005 Quanto elabora o dos novos marcos regulat rios da EEI acrescenta se a seguinte informa o O ministro da Educa o Fernando Haddad solicitou s lideran as ind genas a elabora o de um documento que liste todas as dificuldades da rea Em reuni o com professores ind genas na sede do Minist rio da Educa o ocorrida nesta quarta feira 18 Haddad defendeu a elabora o de um projeto de lei que trate especificamente da educa o ind gena Se a comunidade se organizar e colocar no papel todos os obst culos legais e normativos que impedem novos avan os para a educa o escolar ind gena o MEC se compromete a tramitar no Executivo esse PL para encaminhamento ao Congresso Nacional garantiu Brasil acesso 18 jun 2007 Outro problema sobre o qual insiste Baniwa est relacionado quest o de participa o dos povos ind genas nas esferas de poder e controle da EEI A fragilidade e inoper ncia dos mecanismos de participa o e controle social das pol ticas e a es da educa o escolar ind gena nos quais os ndios s o meros coadjuvantes receptores ou mesmo v timas das 161 chamadas pol ticas universais de direito educa o que prevalece na conc
305. membros de uma dada sociedade e que podem ser estudados do ponto de vista cient fico Assim com os antrop logos a cultura passa a ser como a viga mestra de uma disciplina cient fica emergente que se preocupava com a an lise classifica o e compara o dos elementos constitutivos das diferentes culturas THOMPSON 1995 p 86 Mas segundo Thompson a cientifica o do conceito de cultura n o eliminou a nfase primitiva na id ia de progresso Em muitos casos ela simplesmente inscreveu essa id ia num marco referencial evolucionista Isso evidente no trabalho de Tylor para quem as condi es culturais de sociedades diferentes eram vistas como est gios de um desenvolvimento ou evolu o cada um como resultado de um desenvolvimento de uma hist ria pr via e prontos a fazer sua parte adequada na moldagem da hist ria do futuro Al m de analisar classificar e comparar o estudo da cultura deveria buscar segundo Tylor reconstruir o desenvolvimento das esp cies humanas tendo em vista reorganizar os passos que levaram da selvageria vida civilizada O car ter cient fico e evolucionista da obra de Tylor era consistente com a atmosfera intelectual geral do fim do s culo XIX quando os m todos das ci ncias positivistas estavam sendo adaptados a novos campos de pesquisas e quando o impacto das id ias de Darwin era geral THOMPSON 1995 p 87 52 A obra considerada pioneira dentro da concep o simb lica de c
306. mento a respeito da realidade de vida dos povos ind genas brasileiros Havia forte oposi o aos direitos dos povos ind genas tanto no seio do Governo como no Congresso Nacional formada por militares e parlamentares ligados a grandes grupos econ micos principalmente das reas de minera o e agricultura Uma das raz es para essa oposi o estaria ligada ao fato de que no seio do Estado mais especificamente na Secretaria Geral do Conselho de Seguran a Nacional CSN estava estruturando se o projeto Calha Norte para a regi o das fronteiras amaz nicas 132 Em maio de 1987 foi elaborado e aprovado pela Subcomiss o dos Negros Popula es Ind genas Pessoas Deficientes e Minorias um anteprojeto bastante favor vel causa ind gena com sete artigos sobre os direitos dos ndios Esse anteprojeto declarava em seu pre mbulo que a sociedade brasileira pluri tnica e reconhecia as formas de organiza o nacional dos povos ind genas O anteprojeto mantinha aos ndios os direitos origin rios sobre as terras que ocupavam mas permitia a pesquisa a lavra e a explora o de min rios e recursos naturais sob o privil gio da Uni o No caso de relevante interesse nacional e de inexist ncia de reservas conhecidas explor veis e suficientes para o consumo interno em outras partes do territ rio nacional deveria ter se a autoriza o das comunidades ind genas envolvidas e a aprova o do Congresso Nacional caso a caso C
307. mentos tais como a cultura desse pr prio povo e os problemas territoriais vividos por eles Como espa os de fronteira as escola e o Programa de EEI Guarani podem ser considerados como espa os de contato onde afloram as tens es entre a pedagogia ind gena e a pedagogia ocidental e tamb m entre o Estado e os Guarani que luta pela conquista de seus direitos S o tamb m espa os de ndios e de n o ndios e assim espa os de ang stias incertezas mas tamb m de oportunidades e de criatividade 108 CAP TULO IV 4 MOVIMENTOS SOCIAIS DOS POVOS IND GENAS A for a de movimentos pol ticos instituintes n o est nas decis es que uma assinatura pode legalizar Sem prescindir desses gestos entendemos que sua validade e legitima o v m de movimentos hist ricos que carregam sonhos desejos e projetos de saberes e conhecimentos de fazeres e poderes que foram marginalizados e at interditados em outros per odos clamados por serem reapropriados para a pavimenta o de uma outra cultura sustentada de forma mais plural e emancipat ria LINHARES 2002 p 119 Ap s ter sido abordada a quest o da mudan a de paradigmas em rela o concep o de cultura e consequentemente em rela o aos povos ind genas faz se necess rio tentar compreender as inter rela es e as implica es HOBSBAWM 1995 1998 dessas mudan as no processo de institucionaliza o de pol ticas p blicas que garantam os direitos dos povos ind ge
308. mo a cultura desse mesmo povo e os problemas territoriais vividos por eles Como espa os de fronteira a escola e o Programa de EEI Guarani podem ser considerados espa os de ndios e de n o ndios e assim espa os de ang stias incertezas mas tamb m de oportunidades e de criatividade espa os de contato onde afloram tens es em virtude n o somente de vis es de mundo tradicionais do ind gena mas tamb m das pol ticas p blicas de car ter desenvolvimentista adotadas pelo governo do Esp rito Santo Palavras chave Guarani Educa o escolar ind gena Identidade tnica ABSTRACT This work analyzes the Guarani people s schooling process in the State of Esp rito Santo within the historical context of the Brazilian schooling system and its public policies established in Brazil at the time of the promulgation of the Federal Constitution of 1988 Since this is a historical perspective case study documentary analysis direct observation and interviews were used The results obtained indicate that the Guarani Indigenous Education GIE is a historical process which along with the school constitute frontier spaces As historical processes the Guarani schooling system and the GIE are linked to several others and have experienced important transformations and influences The Guarani schooling and GIE institutionalization processes in Esp rito Santo are connected to various other processes such as the struggle of the Guarani people for th
309. na no Brasil In CONGRESSO LUSO BRASILEIRO DE HISTORIA DA EDUCA O Uberl ndia MG EDUFB 2006 v 1 p 124 47 Os desafios te ricos e metodol gicos em se tratando de pesquisas nas reas de cultura identidade e diferen a In SEMINARIO INTERNACIONAL FRONTEIRAS ETNICO CULTURAIS FRONTEIRAS DA 286 EXCLUS O E PR TICAS EDUCATIVAS NUM CONTEXTO INTERCULTURAL 2006 Campo Grande MG 48 COMISS O PR NDIO A quest o ind gena na Constituinte S o Paulo CPI SP 1988 49 CUCHE D A no o de cultura nas ci ncias sociais Bauru EDUSC 2002 50 CUNHA M C Antropologia do Brasil mito hist ria e etnicidade S o Paulo Brasiliense 1987 51 D ANGELLIS W R Relat rio do Encontro Nacional de Educadores Ind genas Guarani Aldeia de Bracu Angra dos Reis NEI 2000 52 DA RESIST NCIA ao poder Dispon vel em hittp Awww adital com br acesso em 11 de out de 2006 53 DAVIS S H V timas do milagre o desenvolvimento e os ndios do Brasil Rio de Janeiro Zahar 1978 54 DEN NICA na OEA lt http Awww cejis org gt acesso em 10 de dez de 2006 55 DESRESPEITO aos direitos ind genas na Bol via Dispon vel em Www cejis org Acesso em dez 2006 56 DIREITOS dos povos ind genas lt www socioambiental org gt acesso em 20 de jun de 2006 57 EDWARD Jos Made in Paraguai A FUNAI tenta demarcar rea de Santa Catarina para ndios paraguaios enquanto os do Brasil morrem
310. nacionais tratados ou leis laudos costumes ou acordos nacionais MAGALHAES 2002 P 100 101 146 O Art 15 estabelece que os direitos dos povos interessados nos recursos naturais existentes nas pr prias terras dever o ser especialmente protegidos e h a possibilidade de esses povos participarem da utiliza o administra o e conserva o dos recursos mencionados Em caso de pertencer ao Estado a propriedade dos min rios ou dos recursos existentes na terra os governos dever o estabelecer ou manter procedimentos com vistas a consultar os povos interessados a fim de se determinar se os interesses deles seriam prejudicados e em que medida antes de se empreender ou autorizar qualquer programa de prospec o ou explora o dos recursos existentes no referido territ rio Os povos interessados dever o participar sempre que for poss vel dos benef cios que essas atividades produzam e receber indeniza o equitativa por qualquer dano que possam sofrer como resultado dessas atividades As consultas e indeniza es previstas para os povos ind genas em caso de explora o pelos Estados de recursos naturais existentes nas terras que ocupam pelo Art 15 da Conven o n o est o entre as enumeradas no 1 do Art 20 da Constitui o brasileira Este ltimo s se refere aos estados ao Distrito Federal aos munic pios e aos rg os da administra o direta da Uni o O 8 3 do art 231 da Constitui o Brasileira me
311. nas especialmente no mbito da educa o escolar preciso adaptar as id ias do texto em ep grafe com a situa o a ser analisada a institucionaliza o das pol ticas p blicas que leva em considera o a diversidade tnica Pode se dizer que a for a dos movimentos pol ticos constituintes emana dos povos ind genas de suas organiza es e do apoio das organiza es indigenista A EEI encontra se inclu da como parte dos direitos sociais em diversas constitui es dos pa ses presente como tema nas declara es e conv nios internacionais incorporada s metas de pol ticas p blicas educacionais em muitos pa ses da Am rica Latina As constitui es da Argentina da Venezuela do Equador do M xico e do Peru garantem aos povos ind genas o direito a uma educa o biling e e intercultural As constitui es da Col mbia do Paraguai da Guatemala e do Panam asseveram aos povos ind genas tamb m o direito a uma educa o bil ngue No caso da Col mbia e do Paraguai garantido tamb m que a educa o escolar respeite a identidade cultural dos povos ind genas A constitui o da 104 Nicar gua afirma que os ndios dever o ter acesso a uma educa o na l ngua materna A oficializa o da EEI produto de influ ncias de v rios n veis desde as locais ligadas aos movimentos ambientais e sociais at as internacionais O seu desenvolvimento e difus o como nova modalidade dos sistemas nacionais de ed
312. nd genas Tupinikim e Guarani o espa o tempo dos Semin rios de Forma o passou a ser utilizado para o planejamento e avalia o do Curso Paulatinamente foi diminuindo a quantidade de semin rios at que em 1999 deixaram de ser realizados O projeto do Curso de Forma o dos Educadores Tupinikim e Guarani foi elaborado com base no que estabelecem a Constitui o Federal o Decreto Presidencial n 26 91 a Portaria Interministerial n 559 91 e as Portarias n 60 92 e 490 93 As diretrizes para a Pol tica Nacional de Educa o Ind gena do MEC do ano de 1994 tamb m foram levadas em considera o na elabora o do projeto O Curso teve uma dura o de tr s anos 1996 1999 totalizando uma carga hor ria aproximada de 2 970 horas e foi constitu do de tempo aula e tempo aldeia O tempo aula considerado como tempo de trabalho coletivo com a presen a de formadores teve uma carga hor ria de 1 620 horas distribu das em 12 etapas O tempo aldeia considerado como tempo para est gio pesquisa e estudo teve uma carga hor ria de 1 350 horas Figura 12 Turma de alunos do Curso de Forma o Tupinikim e Guarani Fonte Arquivo da SEMED O Curso de Forma o de Educadores Tupinikim e Guarani foi inspirado nas experi ncias de educa o desenvolvidas pelas institui es n o governamentais 192 parceiras do projeto IDEA e Pastoral Indigenista assim como nas diversas experi ncias de forma o de professore
313. ndamental em n vel m dio na modalidade Normal Nietta Lindeberg Monte Relat rio do Segundo Semin rio de Educa o Ind gena Aracruz 1995 28 Ferreira 2001 divide a hist ria da educa o escolar entre os povos ind genas do Brasil em quatro fases A primeira situa se na poca do Brasil Col nia quando a escolariza o mais precisamente a catequiza o dos ndios esteve a cargo exclusivo das ordens religiosas notadamente a dos jesu tas A segunda fase marcada pela cria o do Servi o de Prote o do ndio SPI em 1910 e se estende a pol tica de ensino da FUNAI e articula o com o Summer Institute of Linguistics SIl e outras miss es religiosas O surgimento de organiza es indigenistas n o governamentais e a forma o do movimento ind gena em fins da d cada de sessenta do s culo XX per odo da ditadura militar marcam a terceira fase A quarta fase surge da iniciativa dos pr prios povos ind genas a partir da d cada de oitenta do s culo XX que decidem definir os processos de educa o formal Logo podemos dizer que na primeira e na segunda fase apontadas por Ferreira 2001 perdurou a Educa o Escolar para ndios A partir da terceira fase come ou se a desenhar no cen rio nacional projetos de EEI que passaram a ser institucionalizados a partir do final da d cada de 80 do s culo XX Cabe ressaltar no entanto como afirma Ferreira 2001 que essas quatro fases muitas vezes encontra
314. ndentemente da rea atualmente destinada aos Guarani ou da popula o existente fundamental para que se possa manter a din mica das rela es estabelecidas pela na o guarani entre seus membros GUIMARAENS 2003 O povo Guarani chama a aten o dos pesquisadores por sua diplomacia e pela capacidade sistem tica de criar formas espec ficas de preserva o de suas tradi es como o costume de sempre falar entre si em guarani mesmo estando na presen a de n o falantes da l ngua Seus m todos de preserva o da cultura n o excluem o conv vio inevit vel com os princ pios da cultura ocidental com a qual buscaram estabelecer um relacionamento amistoso A demonstra o de respeito aos costumes s religi es alheias e ao modo de trajar se inspirado na popula o regional simboliza mais que a submiss o uma estrat gia de autopreserva o GUIMARAENS 2003 S o expressivas tamb m as trocas inter tnicas estabelecidas entre a cultura guarani e as culturas populares sul americanas como o caso do poncho traje que indica ser origem guarani Na medida do poss vel sob o traje que encobre suas diferen as culturais profundas relativas ao chamado n o ndio ou cultura dominante os Guarani tentam resguardar se de novas agress es com toler ncia sem nunca renegar sua condi o ind gena GUIMARAENS 2003 74 Nosso interesse em abordar a quest o dos deslocamentos territoriais e migra es guarani se d pelo
315. ndiam pela madrugada na Opy casa de reza onde pediam prote o e agradeciam a Nh nderu Deus O ltimo grande encontro do povo Guarani realizado em setembro de 2007 na aldeia Tey Kue Caarap MS reuniu lideran as guarani do Brasil Paraguai Bol via e Argentina para realizar o lan amento da campanha Povo Guarani Grande Povol Cerca de 300 pessoas reuniram se objetivando fortalecer a articula o guarani e intensificar a luta por seus direitos O principal problema do povo Guarani no Brasil e nos pa ses vizinhos a falta de terras e o controle de seus territ rios PERES BOTELHO 2007 A terra para o povo Guarani uma produ o divina que abriga todos os seres vivos animais plantas e seres humanos No entendimento desse povo as reas desmatadas ou com caracter sticas ecol gicas distintas campos cerrados entre outros s o divinamente atribu das a outras sociedades O espa o guarani deve ser abundante de recursos necess rios ao seu modo de ser nhanderek O lugar visado pelo povo Guarani para a constru o de seu Tekoa deve ter mato gua pedras e se poss vel permitir que eles mantenham certa dist ncia dos n o ndios juru Por m cabe lembrar que ser o sempre as belas palavras ouvidas 179 pelo l der espiritual que determinar o a fixa o dos Guarani em determinado lugar O Tekoa constitui o espa o f sico que al m de servir subsist ncia do grupo possibilita a materializa o
316. ndido Rondon que foi o primeiro dirigente do SPI fundado em 1911 Lendo se as obras de Darcy Ribeiro como Os ndios e a civiliza o 1969 e Di rios de ndios 1996 torna se dif cil afirmar se havia realmente essa dist ncia te rica entre o positivismo e as concep es que orientavam a forma o dos antrop logos da poca Ao contratar antrop logos para trabalhar no SPI o diretor Jos Maria da Gama Malcher permitiu que os antrop logos culturais ou etn logos se apropriassem de fato do seu objeto de conhecimento ou seja dos povos ind genas Vale ressaltar aqui que um dos etn logos contratados pelo SPI foi Darci Ribeiro o qual afirmou que a experi ncia de contratar etn logos foi altamente fecunda e permitiu ao SPI alcan ar outra fase alta da sua hist ria RIBEIRO 1969 p 69 n o significando no entanto que isso resultou positivamente para os povos ind genas Esse autor afirma na introdu o dessa mesma obra Com efeito de todos os grupos ind genas sobre os quais obtivemos informa o fidedigna podemos afirmar que n o foram assimilados sociedade nacional como parte indistingu vel dela Ao contr rio dessa expectativa a maioria deles foi exterminada e os que sobreviveram permanecem ind genas j n o em seus costumes mas na auto identifica o como povos distintos do brasileiro e v timas de sua domina o RIBEIRO 1969 p 8 Existiam inicialmente diferen as marcantes entre a Antro
317. ndo as autoras os alunos param de estudar em consequ ncia dos conflitos culturais vivenciados por eles O trabalho de Jesus 2003 aborda a quest o da alfabetiza o na l ngua materna guarani e o de Carvalho 2004 a contribui o da EEI para a revitaliza o da cultura guarani 273 6 CONSIDERA ES FINAIS Ao inv s de apontar elementos conclusivos optamos por fazer algumas considera es acerca da formula o de pol ticas p blicas em rela o aos povos ind genas pelo Estado brasileiro assim como do processo de escolariza o dos Guarani e da institucionaliza o do Programa de EEI Guarani Como processo hist rico a escolariza o e a EEI guarani se inter relacionam com outros processos como as transforma es do conceito de cultura os movimentos sociais desse e de outros povos ind genas na luta pela garantia de seus direitos ao apoio das organiza es indigenistas pela institucionaliza o de pol ticas p blicas que levem em considera o a quest o da diversidade cultural Tamb m como processos hist ricos a escolariza o e a EEI guarani sofrem diversos atravessamentos como os problemas territoriais vividos por esse povo juntamente com o povo Tupinikim e tamb m outros advindos da pr pria cultura guarani A supera o da no o evolucionista de cultura tem possibilitado aceitar as diferentes culturas n o mais como n veis de evolu o em rela o aquela desenvolvida no ocidente mas como di
318. neiro de 1996 que disp e sobre o procedimento administrativo de demarca o das terras ind genas Artg 2 A demarca o das terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios ser fundamentada em trabalhos desenvolvidos por antrop logo de qualifica o reconhecida que elaborar em prazo fixado na Portaria de nomea o baixada pelo titular do rg o federal de assist ncia ao ndio estudo antropol gico de identifica o Par grafo 1 O rg o federal de assist ncia ao ndio designar grupo t cnico especializado composto preferencialmente por servidores do pr prio quadro funcional coordenado por antrop logo com a finalidade de realizar estudos complementares de natureza etnonhist ria sociol gica jur dica cartogr fica ambiental e o levantamento fundi rio necess rio delimita o MAGALH ES 2002 p 121 57 Como j foi dito anteriormente o paradigma evolucionista e o de acultura o foram superados nas ltimas d cadas pela Antropologia uma vez que se tornou imposs vel negar que as diferentes culturas interpretam e reagem de forma particular diante do avan o do Ocidente e que ao contr rio do que se pensou as popula es ind genas que sobreviveram aos massacres n o perderam a sua cultura Os grupos ind genas t m demonstrado uma grande capacidade de resist ncia na reelabora o cont nua do seu patrim nio cultural a partir dos valores pr prios da sua sociedade Assim quando em contat
319. ngua Guarani a professora tem muita experi ncia e o Curso diferenciado Importante ter uma pessoa que realmente conhece a l ngua guarani Cada etapa eu volto com muito mais conhecimento e id ias 838 SEED SC 2007 215 Os alunos guarani do Esp rito Santo matriculados no Curso consideram no de muito boa qualidade e de grande utilidade para eles O aluno Alberto nascido na aldeia de Porto Lindo munic pio de Japor sul do Mato Grosso do Sul disse que tem aprendido muito principalmente sobre a hist ria guarani L onde morava Porto Lindo eu estava no escuro n o sabia nada da nossa hist ria Alberto informa o verbal aldeia de Boa Esperan a abril de 2007 Segundo o aluno Alberto a quest o das diferen as ling sticas e culturais entre os subgrupos guarani n o tinha sido tratada at a sexta etapa do Curso Os formadores tratam os alunos como se todos fossem Mbya isto para mim n o tem import ncia quando estou com os Mbya me sinto um Mbya quando estou com os Nadeva a mesma coisa Eu sou misturado filho de Nandeva m e e Kaiowa pai Na realidade Mbya uma denomina o errada porque significa ndio desconhecido que chega Fa o quest o apenas de ser identificado como Guarani para diferenciar dos Terena Tupinikim e outros grupos que s o diferentes Alberto informa o verbal abril de 2007 aldeia de Boa Esperan a Bartomeu Meli estudioso do povo Guarani afirma que existem di
320. ni entrevistados pela pesquisadora saber fazer contas e conhecer o dinheiro Precisamos estudar a cultura do branco e fazer a nossa hist ria afirmou outro professor Outra diferen a quanto ao ritmo dos trabalhos de institucionaliza o e execu o das pol ticas p blicas relativas EEI entre as unidades da Federa o onde vive os Guarani o que indica que essa modalidade de educa o apresentava contornos pr prios nos diferentes estados e de aldeia para aldeia dentro da pr pria etnia 30 guarani Assim sendo n o poder amos falar em uma EEI guarani NOBRE 2007 o que fez com que descart ssemos a id ia de tentar produzir uma s ntese sobre a EEI guarani Todo esse contexto ou seja as dificuldades de entrevistar os alunos do Curso de Forma o de Professores Guarani e de ter acesso s aldeias e as diverg ncias entre as diferentes comunidades guarani acerca da institui o escolar levou nos a optar por realizar a pesquisa apenas com os Guarani do Esp rito Santo Outro fator que contribuiu na decis o de tomarmos apenas os Guarani do Esp rito Santo como sujeitos da pesquisa foi a convic o de que deveria ser levado em considera o o maior n mero poss vel de elementos do Programa de EEI Guarani No Brasil existe uma tend ncia das disserta es de mestrados e teses de doutorado de analisar apenas um aspecto dos programas de EEI como a quest o da forma o de professores ind genas que por um
321. ni o desenvolvimentismo continua embasando as Pol ticas do Governo estadual como pode ser constatado no Plano de Desenvolvimento do Esp rito Santo 2005 2025 que apresenta estrat gias de desenvolvimento que privilegiam o mercado quer seja pela diversifica o econ mica quer seja pela forma o do capital humano O Governo indica ainda outras metas e entre essas o fortalecimento da identidade capixaba e a imagem do Estado em detrimento do respeito s diversidades culturais Nesse sentido poss vel afirmar que no Esp rito Santo ocorre uma continuidade hist rica na medida em que as pol ticas p blicas adotadas para a erradica o da pobreza continuam contribuindo tamb m para a erradica o das diferen as culturais desperdi ando assim a grande diversidade de experi ncias dispon veis e poss veis SANTOS 2004 possibilidades para se pensar em uma sociedade mais justa do ponto de vista socioecon mica e mais equilibrada do ponto de vista ambiental Dado esse contexto pol tico as a es de gest o e financiamento p blico da EEI do Esp rito Santo t m se dado mais gra as boa vontade ou sensibilidade dos assessores ou aliados ind genas nos escal es inferiores do governo do que pela exist ncia de pol ticas p blicas Este contexto tem feito com que os Tupinikim e os 115 BANIWA 2006 259 Guarani lutem em outra frente que aquela pela institucionaliza o de pol ticas p bl
322. ni acerca da EEI variam de acordo com o papel social desempenhado pelos membros da comunidade Os mais velhos os l deres religiosos e pol ticos ou seja os guardi es da cultura v em a escola como um instrumento de recupera o e fortalecimento da cultura Os discursos das lideran as pol ticas revelam ainda o processo de reelabora o original dos direitos educacionais ind genas previstos por lei Muito importante ter educadores ndios dando aula facilita a compreens o das crian as na aprendizagem Toda conversa na comunidade feita na l ngua e se tem educadores ensinando na l ngua isso importante Tamb m precisam aprender portugu s para quando sa rem da aldeia para conseguir compreender ao falar com o branco Fala registrada na ata de reuni o realizada pelo NISI ES na aldeia de Tr s Palmeiras no dia 10 de agosto de 1999 A circularidade cultural Ginzburg 2004 e a consci ncia da incompletude das culturas Santos 2001 marcam os discursos das lideran as ind genas Um lider precisa de saber tudo de sua cultura da natureza tem que ser um s bio para poder orientar seu povo Para mim o educador tem que saber tudo sobre a cultura Guarani e as coisas la da escola branca ele precisa estar bem preparado para n o ensinar as coisas erradas Eles precisam apreder e saber de todas as atividades da aldeia e tamb m participar das aulas da escola Fala registrada na ata da reuni o realizada pelo NISVES na aldeia d
323. nistas A amplitude da abordagem da proposta do CIMI reconhecendo que os ndios constituem Na es Ind genas poderia parecer ambiciosa Contudo contava com alguns simpatizantes na ANC e al m disso poderia ser ponta de lan a abrindo caminho para a aprova o do conte do da proposta unit ria que embora mais modesta em seu alcance significava um avan o inquestion vel GAIGER 1988 No per odo da ANC ocorreu um ataque aos direitos dos povos ind genas na Constitui o feito atrav s da imprensa pelo jornal O Estado de S o Paulo ataque dirigido principalmente Igreja Cat lica CIMI CNBB numa tentativa indireta de Essas emendas tinham diferen as marcantes entre si 1 a proposta da UNI reportava se apenas ao Cap tulo das Popula es Ind genas para que se inclu sse onde coubesse na CB a proposta do CIMI dispunha sobre tudo o que dizia respeito s Na es Ind genas 2 a proposta do CIMI utilizou o conceito de Na o Ind gena para se referir aos diversos grupos ind genas a proposta entregue pela UNI utilizou apenas ndios 3 na proposta do CIMI o Brasil passaria a ser considerado uma Rep blica Federativa e plurinacional a proposta da UNI seria a sociedade brasileira que passaria a ser considerada pluri tnica 4 a proposta do CIMI vedava qualquer atividade extrativa de riquezas n o renov veis exceto cata faisca o ou garimpagem quando exercidas pelas pr prias Na es Ind genas
324. niza o a carga di ria e anual e tamb m o que lhes ensinado Conversas com pessoas das aldeias revelaram que elas gostariam de voltar a estudar mas n o numa escola regular e sim participar de cursos que pudessem ajudar na auto sustentabilidade e no etnodesenvolvimento das aldeias Assim sendo a escola poderia oferecer al m da educa o formal cursos de pequena 110 No ano de 2007 havia na aldeia um total de 56 pessoas na faixa et ria entre 12 e 25 anos Desse total 29 pessoas eram solteiras e estavam estudando e 27 n o estudavam Do total das que n o estudavam 23 eram casadas e quatro eram solteiras 247 dura o para pessoas de diversas faixas et rias com temas diversos escolhidos pela comunidade O interesse das pessoas guarani por cursos de pequena dura o foi constatado durante o Curso de L ngua Guarani ministrado pela ling ista Ruth Montserrat Como j foi dito freq entaram o Curso professores alunos de todas as s ries e tamb m outras pessoas da aldeia A carga hor ria era de oito horas di rias por m somente os professores guarani participavam durante todo o tempo Os alunos do 6 ao 9 ano iam s aulas tarde Depois de assistirem s aulas na EMPI Tr s Palmeiras as crian as e as outras pessoas da aldeia participavam apenas daquelas pelas quais se interessavam Chamou a aten o o interesse de algumas crian as das s ries iniciais pelos jogos que tinham como objetivo listar palavras p
325. nos amplo ao referir se aos ndios nesses termos o aproveitamento dos recursos h dricos inclu dos potenciais energ ticos a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras ind genas s podem ser efetivados com autoriza o do Congresso Nacional ouvidas as comunidades afetadas ficando lhes assegurada a participa o nos resultados da lavra na forma da lei BRASIL 2000 O art 16 permite o translado e o reassentamento de povos ind genas desde que sejam considerados necess rios e concedidos livremente e com pleno conhecimento de causa Esse artigo foi considerado um retrocesso pelos senadores uma vez que pelo 5 do Art 231 da Constitui o Brasileira vedada a remo o dos grupos ind genas de suas terras salvo ad referendum do Congresso Nacional em caso de cat strofe ou epidemia que ponha em risco sua popula o ou no interesse da soberania do Pa s ap s delibera o do Congresso Nacional garantindo em qualquer hip tese o retorno imediato logo que cesse o risco Brasil 1988 p 8 147 O Art 32 conclama os governos a adotar medidas apropriadas inclusive mediante acordos internacionais para facilitar os contatos e a coopera o entre povos ind genas e tribais atrav s das fronteiras inclusive as atividades nas reas econ mica social cultural espiritual e ambiental Da parte de alguns analistas houve receio que a possibilidade de acordos intertribais amea asse de desmembram
326. nos estados brasileiros onde h grupos guarani 6 o direito constitucional ind gena na Am rica Latina No terceiro cap tulo foram reunidas as informa es sobre o povo Guarani assim sistematizadas 1 a situa o s cioespacial do povo Guarani na Am rica do Sul e os elementos diacr ticos da cultura deste povo 2 educa o guarani 3 educa o escolar guarani 3 as rela es inter tinicas estabelecidas pelos Guarani do Esp rito Santo 4 organiza o econ mica e s cio espacial guarani no Esp rito Santo 5 As quest es territoriais enfrentadas pelos Guarani no Esp rito Santo No quarto cap tulo do relat rio foram reunidas as informa es sobre o processo de escolariza o e o Programa de EEI Guarani do Esp rito Santo que foram agrupadas em quatro blocos 1 As escolas das aldeias 2 Sujeitos da educa o ind gena 3 Curr culo e pr ticas educativas e 4 Gest o e financiamento Foram levantados dados acerca da constru o e da institucionaliza o das escolas das aldeias assim como fotos antigas dos pr dios escolares Em rela o aos sujeitos da educa o foram levantadas as representa es dos Guarani do Esp rito Santo 100 acerca da educa o escolar a forma o dos professores assim como do processo de professoralidade deles Foram levantados tamb m dados estat sticos e demogr ficos sobre os alunos As informa es acerca das representa es dos Guarani do Esp rito Santo sobre a educa
327. nte para os ndios foram consideradas nas provas de t tulos a forma o acad mica do professor ind gena 40 pontos as atividades profissionais 30 pontos e as atividades comunit rias 30 pontos Foram consideradas como t tulos as seguintes fun es exercidas nas comunidades ind genas secret rio a em reuni es encontros e outros coordenador a da rea de educa o da aldeia coordenador a da educa o da mulher participante efetivo da Comiss o da Mulher participante efetivo de Atividades Culturais participante efetivo de mutir o participante efetivo de reuni es na aldeia representante da aldeia como cacique representante da aldeia como vice cacique representante da aldeia como lideran a representante da aldeia na Comiss o Tupinikim e Guarani representante dos povos Tupinikim e Guarani na Articula o dos Povos Ind genas do Nordeste Minas Gerais e Esp rito Santo APOINME representantes dos povos Tupinikim e Guarani no Conselho de Articula o dos Povos Ind genas do Brasil CAPOIB representante do Conselho de Escola Ind gena e membro da Associa o Ind gena A comprova o dos trabalhos comunit rios deu se atrav s dos certificados ou atestados expedidos pelos caciques Para cada um dos itens acima discriminados foi atribu do um ponto por ano completo at o limite de cinco anos Como j foi dito anteriormente dos cinco alunos guarani que terminaram o Curso de Forma o somente dois foram aprovad
328. nteresses desses povos Essas e outras a es revisionistas partidas principalmente do Senado Federal levaram os povos ind genas e as organiza es indigenistas e ambientalistas a realizarem uma campanha de mobiliza o p blica em 2003 o que conseguiu arrefecer o nimo de seus defensores e fez com que as propostas voltassem a ser discutidas nas comiss es de m rito Por m em todos os casos h pareceres favor veis de seus respectivos relatores o que significa um grande risco uma vez que podem a qualquer momento ser votadas e voltar para aprova o final de plen ria no Senado Federal VALLI 2006 A batalha dos povos ind genas contra o Estado para que se cumpram os direitos estabelecidos em lei pode ser constatada no Cap tulo V que aborda a quest o da constru o do Programa de Educa o Escolar Ind gena Guarani do Esp rito Santo A situa o de desrespeito aos direitos dos povos ind genas n o diferente nos pa ses da Am rica do Sul onde vive o povo Guarani As comunidades Guarani Mbya que vivem no Vale Cu a Pir Prov ncia de Misiones na Argentina tiveram 3 A Argentina n o tem aplicado medidas efetivas para a entrega de t tulos de propriedade das terras e dos territ rios ind genas n o obstante terem sido reconhecidos os direitos de propriedade comunit ria na Constitui o Nacional de 1994 Mais de dez anos t m transcorrido e para poder acessar a esse direito os ind genas devem faz
329. o doen as morte s o cercadas de tabus e restri es alimentares CICCARONE 2001 p 38 Alguns alimentos s o considerados sagrados para o povo Guarani O consumo deles aliado a outros costumes pode propiciar sa de e alegria por exemplo ca a peixe mel frutas milho gua boa que vem da terra nossos rem dios tradicionais comer nossos alimentos tomar banho de rio ser livre correr dan ar na casa de reza pois isso que traz o sorriso a for a JONAS apud CICCARONE 2001 p 57 Do ponto de vista dos Xam s o consumo de alimentos sagrados t o importante quanto o respeito a qualquer princ pio do modo de ser guarani Dispondo de um pequeno territ rio que apresenta poucos recursos naturais os Guarani do Esp rito Santo para sobreviverem dependem cada vez mais de recursos de fora da aldeia o que os for a cada vez mais aos contatos inter tnicos O problema enfrentado pelos Guarani no Esp rito Santo est relacionado n o somente ao tamanho mas tamb m as condi es ambientais do territ rio 3 2 OS ESPA OS TEMPOS DA PESQUISA A presente pesquisa foi realizada nas duas escolas existentes nas aldeias guarani sem desconsiderar contudo outros espa os da comunidade educativa guarani como a casa de reza e as cabanas estas ltimas utilizadas como extens o da escola e tamb m como espa o de conv vio e reuni es da comunidade A EMPI Boa Esperan a localizada na aldeia de mesmo nome foi constru
330. o essa uma realidade atual mais precisamente dos s culos XX e in cio do s culo XXI Historicamente nem sempre foi assim A t tulo de exemplifica o podemos citar o caso da Cabanagem e das Guerras Guaran ticas Vale ressaltar que nesta pesquisa foi analisada apenas a rela o dos povos ind genas com o Estado apenas a partir da d cada de 70 do s culo XX Grosso modo poder amos dizer que tamb m no Brasil as diferen as regionais e tnicas est o colocadas de forma subordinada sob o teto pol tico do Estado na o que se tornou assim uma fonte poderosa de significados para as identidades culturais modernas HALL 2005 cada um de n s experimenta no cotidiano a forte presen a de uma representa o homog nea que os brasileiros possuem do pa s e de si mesmos Essa representa o permite em certos momentos crer na unidade na identidade e na indivisibilidade da na o e do povo brasileiro e em outros momentos conceber a divis o social e a divis o pol tica sob a forma dos amigos da na o e dos inimigos a combater combate que engendrar ou conservar a unidade a identidade e a indivisibilidade nacionais CHAUI 2000 p 18 Na manuten o da identidade nacional e do Estado na o o mito fundador desempenha um papel particularmente importante uma vez que imp e um v nculo interno com o passado como origem isto com um passado que n o cessa nunca que se conserva permanentemente presente e
331. o Brasil a promulga o da Constitui o Federal de 1988 possibilitou que os ind genas passassem da situa o de tutelados condi o de cidad os Considerados relativamente incapazes pelo C digo Civil 1916 e pelo Estatuto do ndio 1973 com a Constitui o passaram a ser sujeitos de direitos uma vez que se estabeleceu a legitimidade processual dos ndios suas comunidades e organiza es Cabe ressaltar no entanto que o reconhecimento da diversidade cultural e dos direitos dos povos ind genas pela Constitui o n o p s fim s lutas desses povos uma vez que h um longo e rduo caminho para conseguirem que os governos municipais estaduais e o federal coloquem em pr tica o que se conseguiu assegurar em termos constitucionais Os povos ind genas lutam tamb m pela reformula o do Estatuto do ndio legisla o de car ter integracionista para que esse se torne compat vel com os direitos constitucionais As rela es de for a entre os diversos segmentos da sociedade presentes no Congresso Nacional t m sido um dos principais obst culos a reformula o desse Estatuto Outra reivindica o dos povos ind genas pela cria o do Conselho Nacional de Pol tica Indigenista que assegurar a efetiva participa o dos povos ind genas no processo de elabora o e execu o das pol ticas p blicas federais a eles endere adas No campo educacional o pleito dos povos ind genas pela cria o do subsistema de edu
332. o com a sociedade abrangente os grupos ind genas n o aceitam passivamente os elementos e valores que lhes s o impostos n o sendo assim aculturados Tomariam da sociedade ocidental aquilo que de acordo com a sua pr pria cultura seria poss vel de ser adotado muitas vezes dando significados diversos a elementos inicialmente alien genas que s o assim incorporados dinamicamente aos seus valores culturais THOMAS 1995 p 430 Torna se cada vez mais dif cil negar a capacidade das sociedades nativas em sobreviver aos mais hediondos atentados contra sua exist ncia MONTEIRO 1995 p 221 Outro fator que contribuiu para a quebra dos paradigmas deterministas em rela o aos povos ind genas foi a crescente organiza o desse povo a fim de reivindicar os seus direitos a partir dos anos 1970 n o s no Brasil mas em toda a Am rica Latina A organiza o dos povos ind genas passou a contar com o apoio de diferentes setores da sociedade como veremos no Cap tulo IV deste trabalho Mesmo tendo sido superada no campo da Antropologia a concep o evolucionista de cultura repercute at os dias atuais em outras reas das Ci ncias Sociais Veja se o caso da Hist ria Continua sendo pequeno o interesse dos historiadores pela hist ria dos povos ind genas brasileiros Sucessivas correntes do pensamento social brasileiro sustentavam inclusive a tese da extin o dos povos ind genas MONTEIRO 1995 Para os cientistas soc
333. o concentrou esfor os na boa postura da imagem do monarca que parecia simbolizar a p tria SCHWARCZ 1998 p 120 P tria marcada pelas rela es de domina o assim tricas entre senhores e escravos pelos massacres de povos ind genas autorizados a pretexto das guerras justas onde o glamour da corte e o exerc cio da pol tica eram para poucos Tomando como exemplo a constru o da nacionalidade brasileira a partir do Imp rio concordamos com Hall 2005 quanto ao fato de que as culturas nacionais n o s o mas constituem um dispositivo discursivo que representa a diferen a como unidade ou identidade uma vez que elas s o atravessadas por profundas divis es e diferen as internas sendo unificadas apenas por meio do exerc cio de diferentes formas de poder cultural 42 Em vez de pensar as culturas nacionais como unificadas dever amos pens las como constituindo um dispositivo discursivo que representa a diferen a como unidade ou identidade Elas s o atravessadas por profundas divis es e diferen as internas sendo unificadas apenas atrav s do exerc cio de diferentes formas de poder cultural Entretanto como nas fantasias do eu inteiro de que fala a psican lise lacaniana as identidades nacionais continuam a ser representadas como unificadas HALL 2005 p 62 No mundo moderno as culturas nacionais em que nascemos constituem uma das principais fontes de identidade cultural
334. o de perman ncia em locais tempor rios determinado pelo plantio e pela colheita do milho cultura tradicional desse grupo ind gena Tamb m o abandono de reas de ocupa o tempor ria ou permanente decorre de uma ordem divina A escolha do teko lugar bom para construir a aldeia deve permitir reprodu o do nanderek modo de ser guarani condi o primordial para os indiv duos ouvirem as belas palavras ne eng por recebidas de Nhander deus criador das belas palavras Somente os profetas conseguem ouvir e sabem proferir essas palavras 73 que s o sagradas e verdadeiras O conjunto das ne eng por representam o ayv por a bela linguagem que define para o guarani as normas de conduta repetidas de gera o em gera o em seus cantos rituais GUIMARAENS 2003 As alian as e a reciprocidade entre os grupos familiares das diversas aldeias garantem a mobilidade necess ria reprodu o f sica e cultural da sociedade guarani Os contatos entre as aldeias s o uma pr tica constante garantindo assim a manuten o das trocas simb licas e materiais ocasi o nas quais s o refor adas as rela es de parentesco os v nculos afetivos a coes o dos grupos o controle das situa es vitais o apoio rec proco a solidariedade o interc mbio das experi ncias e a mem ria coletiva CICARONNE 2001 O povo Guarani considera todas as aldeias como um territ rio comum A preserva o de cada aldeia portanto indepe
335. o do concurso p blico para professores realizado pela Prefeitura Municipal de Aracruz As professoras Vanda e Lucimara foram contratadas no ano de 2002 A primeira para trabalhar com a pr escola na EMPI Boa Esperan a e a segunda para a escola de Tr s Palmeiras O contrato das duas professoras n o foi renovado no ano seguinte devido s reclama es da comunidade acerca do desempenho delas Nas atas das reuni es s o constantes os registros de julgamentos em rela o atua o das duas professoras Por m exce o da tentativa de apoio feita pelo professor Mauro lhes foi dispensado nenhum tipo de assessoria por parte da SEMED e nem da SEDU Vanda ao ser questionada sobre por que tinha parado de lecionar abaixou a cabe a e sorriu timidamente dizendo que tinha dificuldade de falar na l ngua portuguesa l ngua que domina plenamente Sua desculpa e seu sil ncio sobre o assunto s o t picas estrat gias de resist ncia adotada pelos Guarani 205 A coordenadora da EEI ind gena na SEMED relatou que um dos motivos das faltas da professora Vanda eram os problemas de sa de da filha ainda pequena Apesar disso a professora nunca entrou com pedido de licen a para cuidar da filha A coordenadora da EEI chamou a professora para conversar Junto com ela fez o levantamento do n mero de faltas pelo livro de pontos eram 12 faltas A professora Vanda concordou em repor os dias n o trabalhados no m s de dezembro ap s o per odo
336. o e administra o como fundamental para garantir se uma suposta efici ncia e controle das pr ticas educativas O discurso tido como consciente mas na verdade extremamente conservador de parte dos professores ind genas um exemplo significativo dessa redu o do conhecimento ao dom nio do aparato jur dico administrativo O dom nio deste aparato referenda a posi o desses professores como interlocutores preferenciais dos rg os governamentais legitimando assim este conhecimento t cnico como imprescind vel melhoria da qualidade de ensino nas aldeias e do controle das pr ticas educativas Esses professores ind genas n o percebem que na quase totalidade do tempo a constru o do seu discurso que vem sendo controlado pelos rg os governamentais A linguagem de efici ncia e do controle tem promovido mais obedi ncia s normas do que an lise cr tica Para que se pudessem discutir as quest es que t m travado o desenvolvimento das pol ticas e a es de EEI no Pa s foi realizada uma audi ncia p blica pelo CNE nos dias 26 e 27 de mar o de 2007 na cidade de S o Gabriel da Cachoeira no Amazonas A raz o principal da escolha do local foi a necessidade de o evento tratar de quest es abrangentes e estruturantes e o munic pio de S o Gabriel da Cachoeira um dos poucos que poderia possibilitar isso a partir das experi ncias concretas como o fato de ter tr s l nguas ind genas Baniwa Tucano e Nhega
337. o escolar que se est construindo com estes segmentos No ltimo semin rio realizado entre os dias 27 e 29 de outubro de 2000 efetivou se a reescrita das partes do curr culo que tratam das disciplinas de L ngua e Ci ncias Sociais No ltimo dia foram realizadas plen rias para a exposi o dos resultados dos trabalhos de discuss o curricular que aconteceram durante os tr s semin rios Os professores guarani afirmavam que o curr culo constru do n o atendia as necessidades do seu povo alegando o documento tem a cara dos Tupinikim Por isso durante os encontros de forma o continuada os professores chegaram conclus o de que era necess rio fazer uma revis o da proposta curricular Como estrat gia para essa discuss o foi realizada em cada aldeia uma reflex o sobre as problem ticas que norteiam o curr culo No dia 16 de dezembro de 20083 na aldeia de Caieiras Velhas aconteceu uma plen ria durante a qual cada aldeia exp s para as demais os resultados das reflex es 103 Relat rio de atividades IDEA 2000 231 Para o ano de 2004 os educadores sugeriram que atrav s da forma o continuada continue sendo feita a revis o do curr culo o estudo te rico e pr tico sobre a interdisciplinaridade e a interculturalidade Foi solicitado tamb m pelos educadores que em 2004 sejam dadas orienta es te ricas e pr ticas a fim de que possam realizar pesquisas que sirvam de subs dio produ o de
338. o escolar foram assim sistematizadas papel a ser desempenhado pela escola na sociedade guarani princ pios que devem nortear a educa o escolar guarani metodologia a ser utilizada no ensino aprendizagem e os conte dos a serem ensinados As informa es sobre a forma o dos professores guarani do Esp rito Santo foram organizadas segundo os cursos que participaram ou seja os Semin rios de Forma o 1994 1999 o Curso de Forma o de Educadores Tupinikim e Guarani 1996 1999 o Curso de Forma o de Professores Guarani e a forma o continuada Em rela o ao curr culo levantamos as informa es dispon veis sobre o processo de constru o da proposta curricular diferenciada das escolas guarani As informa es em rela o gest o e financiamento da educa o escolar das aldeias guarani do Esp rito Santo foram sistematizadas da seguinte maneira 1 elabora o de projetos para capta o de recursos constru o e reforma de escolas 2 contrata o de professores e demais funcion rios 3 concurso p blico diferenciado 4 compra de material did tico e pedag gico material de limpeza e equipamentos para as escolas 5 fornecimento de merenda e transporte escolar dentro do pr prio munic pio e para outros Escolas Fam lia Agr cola e 6 elabora o de propostas de pol ticas p blicas Ap s a produ o dos dados estes foram apresentados comiss o examinadora para a segunda qualifica o Na
339. o intuito de reverter a pol tica de produ o da n o exist ncia e da invisibilidade em rela o a eles adotada 13 Por raz es administrativas o antigo IDEA em 2004 passou a ser denominado de Instituto de Pesquisa e Educa o IPE 114 Ata de reuni o realizada na SEMED no dia 13 de fevereiro de 2006 255 pelo governo do Esp rito Santo que sistematicamente n o se tem interessado em resolver os problemas que afetam diversos setores subsist ncia sa de educa o da vida dos Tupinikim e dos Guarani Os planos do Governo Estadual t m privilegiado o aumento da produ o agropecu ria e industrial em detrimento dos direitos das sociedades tradicionais Estrat gias de desenvolvimento para o Estado do Esp rito Santo a apoio incondicional ao processo de industrializa o do Estado b apoio irrestrito aos projetos que envolvem os chamados complexos portu rios c elabora o e execu o de uma pol tica agr cola com taxa de crescimento compat vel com os outros setores da economia d compatilibiza o entre os setores agr colas e industriais e pol tica de turismo que possibilite o aproveitamento dos recursos estaduais f desenvolvimento urbano da Grande Vit ria g acompanhamento dos planos do Governo Federal ESPIRITO SANTO 1979 A vis o desenvolvimentista que permeava as pol ticas estaduais na d cada de 70 do s culo XX tamb m fez presente na d cada seguinte Foi realizada ontem no Pal cio Anchieta no
340. o obrigar meus filhos a trabalhar por m se eles vendem artesanato eu fa o a comida que eles gostam professora Sandra conversa informal mar o de 2007 aldeia de Boa Esperan a Ciccarone 2001 relata as reclama es feitas por algumas lideran as espirituais da aldeia de Boa Esperan a a respeito da pouca paci ncia dos pais com os filhos e das transforma es que estavam ocorrendo na educa o guarani Aurora era muito cr tica a respeito dos comportamentos das mulheres das quais reclamava principalmente a intoler ncia para com seus filhos considerada sintoma do enfraquecimento do papel das mulheres e das crises e instabilidade dos casamentos CICCARONE 2001 p 31 A professora Aciara da EMPI Boa 243 Esperan a tamb m reclamou acerca da falta de paci ncia e de carinho das m es guarani para com os filhos Do ponto de vista dessas mulheres a intoler ncia um desrespeito autonomia da crian a impedindo assim que ela revele seu modo de ser e descubra suas potencialidades Segundo a pedagogia guarani o que as m es deveriam fazer orientar as crian as com palavras de sabedoria carinho e suavidade No conv vio com pessoas guarani foi poss vel constatar tamb m a grande liberdade de a o das crian as o que muitas vezes algo surpreendente O fato a seguir ilustra o que foi dito No m s de mar o de 2007 est vamos participando de uma reuni o de pais na cabana central da aldeia Tr s Palmeira
341. oana na EMPI Boa Esperan a e o professor Mauro exercia a fun o de coordenador pedag gico das duas escolas Os professores que atuam nas s ries finais do Ensino Fundamental 6 ao 9 ano s o todos tupinikim exce o do professor Mauro que atuava tamb m como professor de L ngua Guarani de 6 ao 9 ano 91 GRADE CURRICULAR DO 6 ANO 9 ANO N DISCIPLINA PROFESSOR FORMA O ORIGEM TNICA 1 L ngua Guarani Mauro Pedagogia guarani 2 L ngua Portuguesa Marilza Bacharelado em Secretariado tupinikim 3 L ngua Inglesa Marilza Bacharelado em Secretariado tupinikim 4 Matem tica Wellington 3 per odo de Contabilidade tupinikim 5 Ci ncias Eli 3 per odo de Eng Qu mica tupinikim 6 Geografia Leidiane Magist rio superior ind gena Tupinikim 7 Hist ria Evandro 8 per odo de Direito Tupinikim 8 Educa o F sica Leandro 3 per odo de Ed F sica Tupinikim 9 Educa o Art stica Jocelino Pedagogia Tupinikim Quadro 1 grade curricular da EMPI Tr s Palmeiras As ecolas das aldeias adotam o mesmo calend rio e a grade curricular das outras escolas do Sistema Municipal de Ensino de Aracruz exce o feita para a disciplina L ngua Guarani como pode ser constado no quadro 1 3 3 INSTRUMENTOS DA PESQUISA Os instrumentos utilizados para a coleta de dados desta pesquisa foram as entrevistas observa es e a an lise documental atividades rea
342. odernidade emergiram que Hall 2000 se voltou para a quest o de como esse sujeito fragmentado colocado em termos de suas identidades culturais particularmente a identidade cultural nacional embora como afirma o pr prio autor outros aspectos estejam implicados nesse quesito No processo de cria o dos Estados na es sempre se tentou impor identidades nacionais n o importando qu o diferentes seus membros eram em termos de classe g nero ou etnia As culturas nacionais buscavam e ainda em muitos casos buscam unificar a todos atrav s de uma identidade cultural para represent los como pertencendo mesma e grande fam lia nacional No caso brasileiro o processo de cria o da identidade nacional ganhou for a durante o reinado de Pedro Il o Imperador nos Tr picos D Pedro Il compactuou com uma cultura que ao mesmo tempo que se europeizou com sua presen a tornou se mesti a negra e ind gena no conv vio por certo desigual de tantas culturas Portanto tendo como cen rio o Segundo Reinado momento fundador de um modelo de nacionalidade que se torna poss vel entender os mecanismos de constru o simb lica da figura p blica desse monarca em suas associa es com o fortalecimento do Estado F rtil na produ o de um amplo leque de imagens o Imp rio brasileiro se destacou em seu papel de criador de cones nacionais entre hinos medalhas emblemas monumentos d sticos e bras es assim com
343. ologia e a EEI Silva 2001 afirma que a EEI pode constituir se em laborat rio para a formula o de desafios te ricos e metodol gicos de interesse para o debate intelectual da Antropologia e de campos interdisciplinares conexos Outros autores tamb m t m constatado que a Antropologia uma ci ncia que tenta cada vez mais se voltar para o mundo atual Giddens capta aqui a ess ncia de uma nova antropologia feita medida do mundo p s colonial em que muitas fronteiras s o encontros entre estrangeiros nenhum dos quais chega reuni o com permiss o para ditar a ordem do dia Todos os residentes nas terras de fronteira enfrentam uma tarefa similar entender n o censurar interpretar n o legislar abandonar o solil quio em nome do di logo Este parece ser o preceito para umas humanidades novas mais humildes e por esta raz o mais potentes prometendo aos perplexos homens e mulheres de nosso tempo uma compreens o e um esbo o de orienta o na profus o de experi ncias atuais cada vez mais descoordenadas e quase sempre contradit rias E pelo menos uma vez as humanidades poderiam ser capazes de cumprir sua promessa Mas h muito mais o que dizer BAUMAN 2002 p 87 Do ponto de vista da quest o territorial e da identifica o dos povos ind genas no Brasil continua sendo oficialmente reconhecida a presen a dos antrop logos sendo inclusive respaldada por lei Vejamos o que estabelece o Decreto n 1 775 de 8 de ja
344. onista das pol ticas p blicas implementadas pela FUNAI e o n o cumprimento do Estatuto do ndio que mesmo sendo de cunho integracionista assegurava aos povos ind genas em seu Art 49 A alfabetiza o dos ndios far se na l ngua do grupo a que perten am e em portugu s salvaguardando o uso da primeira Na EMPI Boa Esperan a as crian as guarani das s ries mais avan adas e os adultos bil ngues portugu s e guarani desempenhavam o papel de int rpretes para as professoras da FUNAI Os alunos conversavam entre eles em guarani e quando era alguma palavra que eu sabia eles se dirigiam a mim tamb m na l ngua guarani Conversa informal Coqueiral de Aracruz julho de 2007 As dificuldades de comunica o atrapalhavam o processo de aprendizagem das crian as da a necessidade do trabalho de refor o escolar Sandra est dando refor o depois do hor rio de aula para os alunos da 3 s rie que est o com dificuldades em matem tica Michele est frequentando o refor o No refor o conta com o apoio de dois alunos da 42 s rie para trabalhar na l ngua gurarani Ela tem a impress o que as crian as acabam superando as suas dificuldades Segundo as professoras da FUNAI elas adaptavam os conte dos dos livros did ticos realidade guarani Ao trabalharem problemas matem ticos utilizavam frutas animais artesanatos Ao abordarem a quest o da sa de procuravam falar de situa es que detectavam entre eles
345. onstantemente questionados pelos n o ndios pelo fato de n o falarem mais a l ngua nativa Maiores informa es sobre este assunto podem ser encontradas em Cota 2000 197 Figura 16 Alunos guarani na aula de Ci ncias Naturais Fonte Arquivo da SEMED Segundo a professora Aciara muitos dos professores tupinikim at hoje t m preconceito em rela o aos colegas guarani Perguntada sobre como os colegas tupinikim externalizavam o preconceito disse que era remedando os colegas guarani e chamando os de sugim Aciara conversa informal junho de 2006 aldeia de Boa Esperan a Figura 17 O aluno S lvio camisa branca Fonte Arquivo da SEMED O professor S lvio disse lembrar se de que os colegas tupinikim sempre riam da maneira como ele falava isto me incomodava bastante eles ficavam rindo do meu sotaque quando eu falava em portugu s Silvio conversa informal junho de 2006 198 aldeia de Boa Esperan a Segundo esse professor at hoje isso ainda vem acontecendo quando ele se encontra com algum tupinikim A professora guarani Vanda que participou do Curso afirmou que os colegas tupinikim diziam que os alunos guarani n o sabiam e n o entendiam nada Tamb m eu n o falava nada ficava calada durante as aulas Vanda conversa informal julho de 2006 aldeia de Boa Esperan a Essa professora falou ainda das dificuldades que teve durante o Curso porque n o compreendia bem o portugu s escrito ne
346. oposta curricular para as escolas tupinikim e guarani deu se com a realiza o de tr s semin rios no per odo de 25 de agosto a 29 de outubro de 2000 No primeiro semin rio realizado no per odo entre 25 e 27 de agosto de 2000 participaram os representantes do Subn cleo de Educa o do NISI ES educadores lideran as e caciques das aldeias Esse semin rio foi dividido em dois momentos Primeiramente foi feita uma reflex o com os participantes sobre o papel e a responsabilidade que cada segmento da comunidade tem no processo ensino aprendizagem desenvolvido pela escola Em seguida os educadores fizeram um trabalho de reescrita da parte geral da primeira vers o do curr culo que tinha sido produzido por eles durante o Curso Esse trabalho foi feito com base na leitura de alguns textos relacionados ao assunto 230 Figura 34 Il Semin rio de Educa o Ind gena Fonte Arquivo da SEMED No segundo encontro que aconteceu de 22 a 24 de setembro de 2000 dois dias foram utilizados para a discuss o e reescrita da parte do curr culo que trata das disciplinas de Ci ncias Naturais e Matem tica O ltimo dia do encontro foi reservado para que os professores pensassem coletivamente em como encaminhar a discuss o sobre o curr culo em suas respectivas aldeias ocasi o em que eles elaboraram planos de aula a serem utilizados com os alunos e planos de reuni o para a comunidade a fim de se fazer a discuss o sobre o curr cul
347. or meio de suas pr ticas o que o Programa de EEI Guarani tem de espec fico diferenciado intercultural e bil ng e 267 Devido s demandas das aldeias eles tiveram que iniciar o trabalho de doc ncia ainda no percurso de sua forma o no magist rio A fragilidade da forma o dos professores n o inviabiliza a pr tica docente como o caso do Alberto Esse professor tem superado cada vez mais suas limita es No ano de 2006 n o se ouviu mais nenhuma reclama o a respeito dele que tem sobressa do em todas as atividades que desempenha tanto que a professora L lian coordenadora do Curso 5 de Tradu o optou por mant lo como aluno mesmo ele n o tendo o curso superior requisito adotado por ela na escolha dos ind genas que participariam do Curso no ano de 2007 Os professores t m se mostrado solid rios uns aos outros e procuram valorizar o trabalho realizado pelos demais colegas Sandra diz que a sua filha est estudando com Alberto em Tr s Palmeiras sabe que tem pais que est o reclamando mas eu acompanho os estudos dela e acho que ela est bem que n o tem nada a perder e que ainda ajudou a sua filha a fazer novas amizades com as crian as daquela aldeia Tem um filho que estuda na Educa o Infantil e quando tem alguma coisa para reclamar procuro o educador e falo Diz que j teve pessoas da aldeia que mandaram ela botar o filho para estudar em Coqueiral mas diz que n o faz isso porque v q
348. orma o dos professores guarani desde o ano de 1997 t nhamos at o ano de 2006 pouco contato com os moradores das aldeias guarani Isso porque os cursos de forma o e as reuni es do Subn cleo de Educa o Escolar do NISI acontecem geralmente em Aracruz sede do munic pio ou na aldeia de Caieiras Velha das quais na maioria das vezes participam apenas professores lideran as e caciques das aldeias Tamb m foram realizadas entrevistas com as professoras e outros funcion rios da FUNAI t cnicos da SEDU e da SEMED e integrantes do IDEA do CIMI e da Pastoral Indigenista 93 No per odo de observa es e entrevistas visitv mos as aldeias semanalmente geralmente s ter as feiras dia de planejamento e estudo dos professores guarani Cheg vamos aldeia de Tr s Palmeiras pela manh convers vamos com o pedagogo e os professores visit vamos as salas de aula ou sent vamos em um dos bancos da cabana que fica localizada ao lado da escola Na parte da tarde particip vamos das reuni es do planejamento da pr escola ao 5 ano e da discuss o da proposta curricular que normalmente aconteciam na escola de Boa Esperan a Outras vezes permanec amos na aldeia de Tr s Palmeiras e visit vamos as salas de aula de 6 ao 9 ano convers vamos com os professores ou sent vamos na cabana para conversarmos com as pessoas que l estavam A cabana da aldeia de Tr s Palmeiras Figura 10 um linda constru o de madeira
349. os a procurarem novos aliados seu protetor Ribeiro era agora um exilado n o podendo por isso ser uma fonte de apoio BARROS 2004 p 8 Mas logo em seguida veio o golpe militar Por isso a assinatura do primeiro acordo do SIL com o Governo Brasileiro se deu em 1969 durante a Ditadura Militar O SIL tinha o objetivo de alfabetizar o ndio em sua l ngua e era pelo menos uns dezenove grupos ling sticos diferentes em todo o pa s para depois dominar a escrita e oralmente um segundo idioma que deveria ser o portugu s mas estava sendo o ingl s MARTINS 1978 p 83 Outro objetivo dessa Institui o era o de traduzir para os idiomas ind genas livros de valor moral e c vico assim como por es da B blia MARTINS 1978 p 84 O SIL atuou tamb m entre os Guarani no sul do Brasil e traduziu para a l ngua guarani a B blia e outros textos religiosos Circula no site dessa entidade um l xico da l ngua guarani que ela mesma produziu Entre os grupos guarani no Rio Grande do Sul circulam b blias publicadas nos anos 80 do s culo XX pelo SIL o que ilustra a contemporaneidade das a es dessa institui o que hoje se denomina Sociedade Internacional de Ling stica BERGAMASCHI 2005 p 97 Na d cada de 1970 v rios pa ses da Am rica Latina n o renovaram os contratos com o SIL No Brasil n o havia vac ncia para o papel de ling ista uma vez que as 122 universidades br
350. os Guarani conseguiram que o servi o de acompanhamento pedag gico das escolas das aldeias fosse feito por pessoas da pr pria etnia guarani uma vez que a assessoria prestada pelas pessoas de outra etnia n o tem sido satisfat ria Sandra de Tr s Palmeiras diz que a atua o de Marli nos planejamentos foi importante ajudou a superar as dificuldades com seus alunos Mauro diz que a necessidade guarani diferente e complicada com o processo ensino aprendizagem bil ng e Nos planejamentos com Marli ficamos mais na conversa e desabafo e pouca a o concreta Discutimos muito como trabalhar os conte dos ind genas e n o ind genas Temos esta preocupa o com os alunos que v o estudar fora e que precisam saber dos conte dos dos n o ndios e que isso problem tico para as crian as guarani Assim como a professora tupinikim Marli que assessorou as escolas guarani por tr s anos 2002 2004 tamb m as pedagogas n o ind genas da SEDU e da SEMED tinham dificuldades no trabalho de acompanhamento pedag gico devido falta de conhecimento antropol gico para lidar com as diferen as culturais Os educadores dizem que os pais se revoltam porque chamam a aten o dos filhos eles precisam aprender que um processo lento pois os h bitos culturais s o de deixar tudo vontade por isso deve ter cuidado ao falar com os pais 1233 Ata de Reuni o realizada na aldeia de Tr s Palmeiras realizada no dia 15 de dezembro de 2004 1
351. os de los Pueblos ind genas 2005 94 INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO E EDUCA O DE ADULTOS IDEA IPE Relat rio Semestral de Atividades do IDEA do primeiro semestre de 1994 segundo semestre de 1997 primeiro semestre de 1998 95 Correspond ncia enviada Vit ria 1997 17 02 06 22 02 06 96 Projeto do Curso de Forma o Continuada 2003 e de 2004 97 JESUS de S nia Martha Vieira Alfabetiza o na L ngua Materna Ind gena Monografia Curso de Letras Faculdade de Ci ncias Humanas de Aracruz 2008 289 98 KAHN M O que est em jogo no desafio da escolariza o ind gena In Educa o escolar ind gena em terra brasilis tempo de novo desenvolvimento Rio de Janeiro IBASE 2004 99 KEPPI J A ratifica o da conven o n 169 da Organiza o Internacional do Trabalho pelo Brasil 2001 120 f Monografia Especializa o lato sendo em Direito Pontif cia Universidade Cat lica de Minas Gerais Belo Horizonte 2001 100 KUHN T S A estrutura das revolu es cient ficas S o Paulo Perspectiva 1990 101 LADEIRA M Aldeias livres guarani do litoral de S o Paulo e da periferia da capital In Indios no estado de S o Paulo resist ncia e transifigura o S o Paulo CPI SP 1984 102 Ty Pau ou Yva Pau Eapa o mbya entre as guas ou o caminho aos c us S o Paulo CTI 1990 103 LADEIRA M Matta P Terras guarani no litoral as matas que foram reveladas aos nossos anti
352. os e preparar 12 A EMEF Caieiras Velhas respons vel tamb m por atestar a carga hor ria mensal trabalhada pelos professores pedagogo e pessoal de apoio e cozinheiras das escolas EMPI Boa Esperan a e EMPI Tr s Palmeiras 271 os relat rios econ micos das verbas recebidas No discurso conservador LADEIRA 2006 da coordenadora verificamos a captura do instituinte pelo institu do Essa coordenadora que sempre esteve frente das reivindica es ind genas pela EEI tenta trabalhar respeitando o institu do ou seja o Sistema Municipal de Ensino de Aracruz zonas interditadas que emperram a institucionaliza o da EEI de maneira espec fica e diferenciada Nessa conversa contra argumentamos afirmando que a autonomia administrativa reivindicada pelos Guarani fazia parte do processo de afirma o da identidade tnica e cultural do grupo sistematicamente desrespeitada tanto na implementa o do Curso de Forma o Tupinikim e Guarani quanto na elabora o do curr culo na constitui o da equipe de EEI da SEMED entre outros tempos e espa os Diante dessa contra argumenta o a coordenadora disse que para a EMEF Caieiras Velhas a separa o seria at melhor N o sei se por causa da cultura mas muito dif cil administrar as escolas guarani Como agora quando foi servido o caf em canecas de alum nio onde est o as x caras de lou a que a escola recebeu Todas as escolas recebem vasilhas as das esco
353. os no concurso p blico de Aracruz os 118 O primeiro concurso p blico em n vel estadual foi realizado pelo Estado do Acre 262 professores Mauro e Aciara Quais seriam os impactos de um concurso p blico na vida do povo Guarani que tem o deslocamento espacial como uma das caracter sticas de sua cultura Segundo a professora Aciara nenhuma pessoa guarani se prenderia a um lugar por causa de um emprego Ela citou o caso da cozinheira da escola que se mudaria para S o Paulo no final do ano de 2006 A pr pria professora Aciara disse que se sentia ligada aldeia n o pelo v nculo empregat cio e sim pela fam lia porque no Esp rito Santo que vive a maior parte de suas irm s Ainda segundo a professora Aciara no ano de 2004 devido s desaven as com o cacique da aldeia teve muita vontade de transferir sua cadeira para outra escola do Munic pio Desistiu da id ia gra as s conversas com a coordenadora da EEI do Munic pio A professora Aciara afirmou que a coordenadora ajudou a a refletir sobre os preju zos que tanto ela como a EEI guarani teriam com a remo o dela para outra escola do Munic pio Segundo o professor Mauro n o somente a efetiva o mas tamb m o contrato pode levar uma pessoa a pensar um pouco mais antes de tomar a decis o de se deslocar mas os casos dos professores Marcos e Alessandro citados anteriormente indicam que os contratos de trabalho n o eram impedimentos para os deslocamentos
354. os princ pios que devem nortear a educa o escolar guarani 3 Da cultura guarani o que deve ser ensinado pela fam lia e pela comunidade 4 O que a escola deve ensinar da cultura guarani 5 Da cultura dos n o ndios o que deve ser ensinado pela escola 6 Como as escolas das aldeias devem ensinar 7 Quando a escola deve ensinar a l ngua guarani escrita 8 Quando a escola deve ensinar a falar e a escrever a l ngua portuguesa e 9 Como os pais e outras pessoas da aldeia devem participar da escola Em cada um dos grupos de pais ficou um professor guarani com a responsabilidade de anotar o que era dito por eles Ficou acertado na reuni o de planejamento do evento que os professores apenas dariam esclarecimentos aos pais em rela o s perguntas caso fosse necess rio e que n o interfeririam nas respostas dadas pelos participantes do grupo Constatamos por meio das respostas dadas pelos pais e demais pessoas da comunidade que havia de maneira geral concord ncia em rela o a todas as respostas sobre as representa es acerca da educa o escolar exceto as quest es sete e oito relativas ao ensino das l nguas portuguesa e guarani A pergunta sobre quando deveria ser ensinada a l ngua guarani teve diferentes respostas duas 233 pessoas disseram a l ngua guarani deveria ser ensinda a partir da pr escola duas a partir da 4 s rie e tr s a a partir da 5 s rie As respostas quest o 8 Quando a escola
355. os projetos e experi ncias e das pol ticas p blicas sobre a EEI que vinham sendo institu das em n vel federal Entretanto as mudan as conceituais no discurso n o significaram modifica es nas pr ticas educativas ou seja na proposta e na perspectiva em rela o forma o a ser implementada com os professores ind genas o que se torna evidente ao se analisarem os princ pios pedag gicos presentes no Projeto do Curso de Forma o de Educadores Tupinikim e Guarani 1996 1999 que apresenta os seus objetivos pautados na abordagem da Pedagogia do Texto adotada pelo IDEA Outra transforma o constatada que os professores que a princ pio come aram a receber a forma o para trabalhar na Educa o de Jovens e Adultos passaram a atuar cada vez mais na educa o de crian as 71 Para maiores detalhes sobre essa abordagem pedag gica consultar o site da ONG Enfants du Monde www edm ch 72 O Projeto do Curso de Forma o de Educadores Tupinikim e Guarani adotou como princ pios pedag gicos 1 cada disciplina deve tratar tanto dos conte dos como da did tica 2 o trabalho pedag gico deve desenvolver se numa uma perspectiva interdisciplinar 3 os participantes devem apropriar se dos conhecimentos de uma maneira reflexiva para que possam tornar se sujeitos do conhecimento 4 o processo educativo deve ocorrer em um ambiente democr tico 191 A partir do in cio do Curso de Forma o de Educadores I
356. os seriam corrigidos mensalmente pela varia o do IGPM ou do IPC Em contrapartida a comunidade ind gena tupinikim e guarani foi obrigada a reconhecer as Portaria n 193 e 195 do Minist rio da Justi a que estipulavam a rea de terras cedidas pela empresa Aracruz Celulose s comunidades ind genas 182 suspensas no ano de 2005 devido a retomada dos conflitos pela terra e ao terceiro processo de autodemarca o das terras iniciado por esses dois povos Os Guarani do Esp rito Santo tiveram a preocupa o de garantir no curr culo escolar uma problem tica de estudo relacionada quest o da auto sustentabilidade e do etnodesenvolvimento de suas aldeias devido falta de recursos naturais e a pequena extens o do territ rio que possu am Com a reintegra o da rea que vinha sendo reivindicada pelos Tupinikim e Guarani poder crescer o n mero de escolas devido forma o de novas aldeias guarani como a de Olho D gua que j come ou a ser constru da Deve tamb m aumentar a import ncia das escolas devido necessidade de conhecimentos t cnicos para a recupera o das terras e a cria o de novas formas de subsist ncia e etnodesenvolvimento As poucas e lentas transforma es que aconteceram no processo de escolariza o e na institucionaliza o da EEI guarani s o frutos de um longo processo de transi o vivido por esse povo como pode ser constatado por meio das mudan as de suas representa es ace
357. osso do Sul A Constitui o imposta aos brasileiros pelos militares durante a Ditadura Militar 1964 1984 previa em seu Art 4 Incluem entre os bens da Uni o as terras ocupadas pelos silv colas No entanto seu Art 186 manteve aos silv colas a posse permanente das terras que habitam e reconheceu o seu direito ao usufruto exclusivo dos recursos naturais e de todas as utilidades nelas existentes Percebe se assim o distanciamento entre essas id ias e aquelas propostas na Conven o n 107 da OIT aprovada no Brasil no ano de 1965 no que diz respeito ao direito de propriedade coletiva ou individual sobre as terras tradicionalmente ocupadas pelos membros das popula es ind genas A Emenda Constitucional n 1 de 1969 manteve as terras ind genas incorporadas ao patrim nio da Uni o Art 4 inc IV e a compet ncia do mesmo ente p blico federal para legislar sobre nacionalidade cidadania e naturaliza o incorpora o dos silv colas comunidade nacional Art n 6 inc XVIII al nea o O Art 189 da Emenda 1 69 dispunha Art 189 As terras habitadas pelos silv colas s o inalien veis nos termos que a lei federal determinar a eles cabendo a sua posse permanente e ficando reconhecido o seu direito ao usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades nelas existentes 1 Ficam declaradas a nulidade e a extin o dos efeitos jur dicos de qualquer naturez
358. outros povos ind genas que vivem em mais de um Estado da Federa o como o caso dos povos Terena Kaigang Pankararu e Xokleng O Par e o Tocantins n o est o sendo considerados nesta pesquisa porque n o se tem not cias de deslocamentos de pessoas guarani do Esp rito Santo por esses Estados 167 da l ngua materna e de processos pr prios de aprendizagem MATO GROSSO DO SUL 1989 acesso 10 out 2007 Merece destaque a Constitui o do Rio Grande do Sul que al m dos direitos previstos na Constitui o Federal assegura ainda que o ensino seja intercultural e bil ngue do mesmo modo que a forma o de professores ind genas bil ngues Art 265 O Estado proporcionar s comunidades ind genas o ensino regular ministrado de forma intercultural e bil ng e na l ngua ind gena da comunidade e em portugu s respeitando valorizando e resgatando seus m todos pr prios de aprendizagem sua l ngua e tradi o cultural Par grafo nico O ensino ind gena ser implementado atrav s da forma o qualificada de professores ind genas bil ng es para o atendimento dessas comunidades subordinando sua implanta o solicita o por parte de cada comunidade interessada ao rg o estadual da educa o RIO GRANDE DO SUL 1989 acesso 10 out 2007 Mesmo tendo um ponto de partida comum a promulga o das constitui es estaduais as pol ticas p blicas institucionalizadas na rea da EEI tiveram a
359. ovos ind genas deram se com a realiza o do Conc lio Ecum nico Vaticano Il da Confer ncia do Episcopado Latino Americana de Medell n 1968 e Puebla 1979 Os documentos pastorais elaborados a partir desses encontros n o tratam explicitamente dos povos ind genas exce o de Puebla que faz ligeiras alus es ao assunto por m lan aram sementes ao insistirem na liberdade religiosa das pessoas e dos povos e na op o da Igreja pelos pobres e marginalizados SUEZ 1981 124 respons vel poderia balizar sua atua o pastoral exclusivamente num dossi b blico dogm tico e seria necess rio levar em considera o as contribui es do historiador do etn logo e do soci logo SUEZ 1981 Abertas as janelas pelo Vaticano Il mesmo sendo ainda um conc lio primeiro mundista e aberto consci ncia pelo conc lio nativo de Medell n sacudida a igreja mission ria pela profecia agn stica dos antrop logos de Barbados e pelas matan as da ditadura n o dava mais para seguir catequizando compulsoriamente N o se podia seguir dando cultura ocidental importada por Evangelho supracultural e macroecum nico J n o era mais toler vel acompanhar Povos Ind genas inteiros dando lhes a un o da agonia como povos CASALDALIGA 1997 p 1 As cr ticas que a Igreja Cat lica passou a sofrer da sociedade civil em rela o catequiza o para a assimila o dos ind genas sociedade foi outro fator que contribuiu para que es
360. p s colonialismo Folha de S o Paulo Opini o Tend ncias Debates S o Paulo segunda feira 21 de agosto de 2006 188 SANTOS FIHO R L Apontamentos sobre direitos indigenistas Curitiba Juru 2006 189 SANTOS S C Os direitos ind genas no Brasil In SILVA A L Da GRUPIONI L D B A tem tica ind gena na escola S o Paulo Global 2002 p 87 108 190 S O PAULO Governo Constitui o Estadual http Ayww legislacao sp gov br S o Paulo acesso em 10 de out de1989 295 191 http Iwww educacao sp gov br Consultado em 15 julho de 2007 192 SAVIANI D Pref cio Terceira Edi o In GIARD Luce A inven o do imposs vel S o Paulo Brasiliense 2000 p 3 193 SEMED Secretaria de Educa o Municipal Coordena o de Educa o Escolar Ind gena Atas de reuni es dos anos de 2002 a 2005 194 Atas de Conselhos de Classe das escolas guarani 2004 2005 195 Atas de Reuni es de Professores 2003 2005 196 Relat rio de Atividades 2006 197 Correspond ncia da Equipe de Educa o Infantil 14 03 06 198 SEMIN RIO latino americano de comunica o ind gena Dispon vel em http Avww adital com br acesso em 11 de out de 2006 199 SHADEN E Aspectos fundamentais da cultura guarani S o Paulo EDUSP 1974 200 SHWARCZ L M As barbas do imperador D Pedro Il um monarca nos tr picos S o Paulo Companhia das Letras 1998 201 SILVA A L Org A quest o
361. p teses n o bastava e nem precisava ser ling ista Al m disso as cartilhas e livros de leitura que afirmava ser capaz de produzir soavam aos Guarani como bonitezas Finalmente os Guarani n o pareciam interessados na quest o de como fazer uma escola mas em outra uma outra mais fundamental a saber por que uma escola o que convenhamos n o uma quest o para principiantes como era o meu caso SILVA 1994 p 12 Silva 1994 apresenta duas quest es importantes para reflex o a primeira quanto a pergunta por que uma escola a segunda refere se rela o entre a religi o e a aprendizagem da l ngua A quest o da rela o entre a religi o e a aprendizagem da l ngua nos remete import ncia da forma o dos professores guarani para atuarem nas escolas das aldeias assegurada pelo Art 6 da Resolu o CNE CEB n 3 99 Segundo essa Resolu o a forma o dos professores dever ser espec fica e diferenciada e a atividade docente na escola ind gena dever ser exercida prioritariamente por professores ind genas oriundos da respectiva etnia Segundo Silva 1994 p 12 do ponto de vista dos Guarani seria necess rio ser um praticante da religi o guarani para dominar e saber ensinar a l ngua nativa ponto de vista compartilhado pelo cacique de Boa Esperan a que afirma existir uma l ngua dos l deres religiosos e uma fala das lideran as Os educadores t m que esta
362. paliativa realizada pela Prefeitura de Aracruz uma vez que a expans o da escolaridade gerou nos anos seguintes novamente falta de espa o Em 2007 o refeit rio da EMPI Tr s Palmeiras passou a ser utilizado como sala de aula nos dois turnos de funcionamento da escola Assim as crian as ficaram sem um espa o adequado 258 para a refei o fazendo com que pratos talheres e copos acabassem perdidos pela aldeia Al m disso o pr dio n o disp e de espa os adequados s necessidades das aldeias como para a produ o de artesanato para o canto a dan a entre outros Devido falta de espa o os livros e outros materiais did ticos ficam amontoados dificultando o uso deles pelos professores e alunos Esse contexto ou seja a falta de espa os na EMPI Tr s Palmeiras levou a comunidade guarani a reivindicar a constru o de outro pr dio escolar Em 2006 aconteceu a primeira discuss o entre as aldeias guarani para a constru o de uma escola que passaria a atender aos alunos das tr s aldeias Boa Esperan a Tr s Palmeiras e Piraqu a u Por m n o havia nenhuma previs o por parte da Prefeitura Municipal de Aracruz de uma data para come ar a obra A reivindica o da constru o do novo pr dio escolar para atender as aldeias guarani est sendo feita com base na Resolu o CNE CEB n 003 99 Cabe ressaltar no entanto que mesmo com todas as estrat gias que vem sendo adotadas pelos Tupinikim e pelos Guara
363. poca o professor Ferra o membro da comiss o fez a seguinte indaga o Mas afinal em que consiste a diferen a da educa o escolar guarani em rela o quela destinada aos n o ndios Essa pergunta foi bastante preocupante uma vez que os programas de EEI t m por princ pio serem espec ficos e diferenciados interculturais e biling es e tamb m porque segundo Bordieu 1989 existir socialmente ser percebido como distinto Tentamos levar em considera o a quest o formulada pelo professor Ferra o na an lise dos dados e 101 tamb m as leituras antropol gicas sugeridas pela professora Celeste outro membro da comiss o Apesar de ser aparentemente simples a resposta pergunta do professor Ferra o na realidade n o uma vez que por um lado se dissermos que n o h diferen a entre educa o escolar guarani e aquela destinada aos n o ndios estaremos desconsiderando todo o esfor o das comunidades ind genas dos professores das organiza es n o governamentais e dos t cnicos governamentais que trabalham nesse Programa e para que ele aconte a Por outro lado afirmar que h um Programa de EEI guarani diferenciado seria igualmente imprudente visto que isso n o ajudaria muito no processo de institucionaliza o desse Programa A sa da encontrada para esse impasse foi pensar a escolariza o e a EEI guarani como processos hist ricos o Programa de EEI Guarani e as escolas das aldeias guarani como espa
364. pol ticos como guardi es da cultura v em a escola como um instrumento de recupera o e fortalecimento da cultura Os discursos das lideran as pol ticas revelam ainda o processo de reelabora o original dos direitos educacionais ind genas previstos por lei A maior preocupa o dos pais quanto sobreviv ncia f sica e a reprodu o da vida material deles e de seus filhos Mesmo com todos os problemas e tens es os programas de EEI t m ampliado o espa o de di logo entre os povos ind genas assim como entre eles e a sociedade nacional Os povos ind genas clamam por direito educa o batem porta da Universidade reivindicando vagas nos cursos de gradua o e p s gradua o e tamb m a cria o de cursos espec ficos e diferenciados de licenciatura e gradua o No entanto os ind genas n o est o dispostos a aceitar o modelo de educa o uniformalizante oferecido ao restante da sociedade exigem respeito cultura deles e processos pr prios de aprendizagem o que nos ajuda a pensar a educa o escolar no contexto da diversidade e a repensar tamb m a educa o escolar dispensada aos n o ind genas N o somente os ind genas mas tamb m os n o ind genas t m recorrido aos programas de p s gradua o para a realiza o de estudos sobre as quest es ind genas A partir da d cada 70 do s culo XX aumentou o interesse de outros profissionais al m dos antrop logos pelos estudos sobre os povos ind g
365. pologia dos pa ses do Norte e a dos do Sul como o Brasil Uma delas era quanto escolha da perspectiva dos povos ind genas a ser estudada Vistos inicialmente por pesquisadores estrangeiros como sociedades independentes e particulares os grupos ind genas atra ram a aten o dos cientistas sociais brasileiros primeiro pelo grau de intera o que eles mantinham com a sociedade nacional Mais tarde esta abordagem levou ao conceito de fric o inter tnica para as situa es de contato PEIRANO 1991 p 16 Essa concep o antropol gica de fric o inter tnica marcou os primeiros estudos antropol gicos no Brasil e os trabalhos de Roberto Cardoso de Oliveira foram 54 bastante representativos desse per odo Por m vale lembrar que essa concep o antropol gica tamb m se apoiava no princ pio do evolucionismo cultural Silva 2001 aponta tr s tra os distintivos da constitui o da Antropologia brasileira todos eles imbricados de maneira din mica Um deles foi a constru o de etnografias sobre povos ind genas espec ficos em um esfor o por dar cobertura sistem tica s terras baixas sul americanas um continente desconhecido pela antropologia Outro daqueles processos foi a problematiza o ou o questionamento de premissas da teoria geral da antropologia pela identifica o de suas limita es diante das situa es etnogr ficas in ditas apresentadas pelas popula es ind genas em seus mo
366. por isso mesmo n o permite o trabalho da diferen a temporal e da compreens o do presente como tal CHAUI 2000 44 Estar sob o teto pol tico do Estado na o n o significa no entanto uma subordina o passiva em rela o a ele Lutas tnicas movimentos sociais e rela es de for a estabelecendo se no interior do Estado uma vez que as identidades nacionais n o conseguem subordinar todas as diferen as socioculturais Tampouco os grupos culturalmente diferentes est o livres do jogo do poder das divis es e contradi es internas das lealdades e das diferen as superpostas Afinal a cultura uma noite escura em que dormem as revolu es de h pouco invis veis encerradas nas pr ticas mas pirilampos e por vezes grandes p ssaros noturnos atravessam na aparecimentos e cria es que delineiam a chance de um outro dia CERTEAU 1995 p 239 Certeau 1995 problematiza a quest o das reivindica es das minorias por meio da pergunta Seriam estas reivindica es pol ticas ou culturais Segundo ele de maneira geral poder se ia dizer que as reivindica es culturais est o muitas vezes ligadas ao aumento da depend ncia econ mica e pol tica Isto quer dizer que a reivindica o cultural n o um fen meno simples O caminho tomado e seguido normalmente por um movimento que resgata a sua autonomia exumar sob a manifesta o cultural que corresponde a um primeiro momento de tomada de consci
367. que vindo do Paraguai chegou ao Brasil h mais de cem anos Atualmente seus descendentes vivem no Par nos munic pios de Jacarand e Itupiranga em Tocantins munic pio de Xambio al m de algumas fam lias dispersas na Regi o Centro Oeste LADEIRA Mata 2004 Entre os Guarani ocorre a estrutura o por grupos familiares 11 distribu dos em diferentes unidades da Federa o e mesmo em outros pa ses Esses grupos formam a na o guarani GUIMARAENS 2003 Existem duas correntes entre os antrop logos sobre a origem dos Mbya parcialidade guarani respons vel pela funda o das aldeias do Esp rito Santo Para alguns estudiosos eles s o descendentes dos grupos que n o se submeteram aos espanh is nem s miss es religiosas jesu tas tese defendida por Ladeira 1990 Segundo essa autora h ind cios de que eles se refugiaram nos lugares mais altos e nas matas de mais dif cil acesso escapando assim do processo de catequiza o e de integra o cultural Outra corrente defende a tese que os Mbya s o descendentes dos Guarani que viveram nos aldeamentos jesu ticos de Sete Povos das Miss es S o Borja S o Lu s Gonzaga S o Louren o S o Miguel Santo ngelo S o Jo o e S o Nicolau e no aldeamento da prov ncia do Tape A essa prov ncia corresponderiam hoje os territ rios do Rio Grande do Sul parte de Santa Catarina reas a leste do Rio Uruguai na Argentina e regi es centrais do atual Paraguai oriental
368. r ensinando a l ngua simples mas devem conhecer tamb m a l ngua superior ou seja a dos l deres religiosos Fala registrada na ata de reuni o do NISI ES realizada na aldeia Boa esperan a no dia 10 de agosto de 1989 As d vidas dos Guarani do Esp rito Santo encontram se relacionadas a outra pergunta apresentada por Silva 1994 por que uma escola Havia entre essas pessoas principalmente entre os membros do grupo fundador grande resist ncia escrita na l ngua nativa e consequentemente EEI bil ng e Aurora porta voz da posi o recusa da escrita estava preocupada com o envolvimento dos jovens no mundo do branco ao qual tinham contribu do um projeto de internato em escolas agr colas A postura da coletividade em rela o escola formal era limitada a uma vontade expl cita de garantir o alimento das crian as e ao desejo dos pais de que os filhos pudessem aprender a ler e escrever para se virarem nas cidades CICCARONE 2001 p 102 184 Esse grupo passou a aceitar melhor a educa o escolar quando p de vislumbrar nessa modalidade de educa o uma possibilidade de auto afirma o da identidade cultura por isso a escola passou a ser aceita sob certas condi es e circunst ncias Segundo o senhor J lio lideran a da aldeia de Tr s Palmeiras necess rio que o guarani estude mas que continue tamb m obedecendo e vivendo do nosso jeito e se chegar ao Ensino Superior para ajudar nos
369. r grupos sociais antes ignorados pela bibliografia de se estranhar no entanto a pouca aten o dispensada aos povos ind genas pelos historiadores Com exce o de poucos estudos parece prevalecer ainda hoje a senten a pronunciada pelo historiador Francisco Adolfo Varnhagem na d cada de 1858 para todos os ndios n o h hist ria h apenas etnografia MONTEIRO 1995 p 227 Se insipiente o trabalho historiogr fico sobre povos ind genas pior ainda a situa o na rea de hist ria da educa o escolar ind gena A educa o escolar ind gena est integrada ao sistema de educa o brasileiro e respaldada por uma ampla legisla o Pelos dados num ricos aqui apresentados podemos constatar que ela uma realidade nacional por m pouco conhecida pesquisada e estudada De acordo com o invent rio comentado realizado por Grupioni 2003 sobre as 53 disserta es de mestrado e as 21 teses de doutorado produzidas no per odo de 1978 2002 sobre a educa o escolar ind gena no Brasil uma boa parte dos trabalhos est focada na an lise etnogr fica de situa es particulares envolvendo uma nica comunidade ou povo ind gena em sua experi ncia de conviver com a escola e a educa o ind gena Poucos s o os trabalhos comparativos e em menor n mero os que buscam uma abordagem mais ampla Nenhum desses trabalhos foi no campo da hist ria da EEI 25 O vazio sobre a hist ria da EEI se faz sentir tam
370. r ind gena a constru o de uma Educa o Diferenciada e Espec fica Intercultural e Bil ngle entre os Tupinikim do Esp rito Santo Al m disso como o programa da EEI no Esp rito Santo envolve dois povos distintos os Tupinikim e os Guarani temos produzido textos diversos sobre assuntos relacionados a esses povos tais como a Fragmentos da hist ria dos Tupinikim A agricultura dos Tupinikim O milho na cultura guarani e A mandioca na cultura tupinikim As reflex es especificamente na rea do ensino aprendizagem das Ci ncias Sociais no Curso de Forma o de Educadores Tupinikim e Guarani levaram nos a publicar em 2002 o livro intitulado A pedagogia do texto e o ensino aprendizagem das ci ncias sociais O Programa de Educa o Escolar Tupinikim e Guarani assim como todos os outros desenvolvidos no Brasil pode ser compreendido no contexto das novas correla es de for as entre ndios e n o ndios que se v m configurando no Brasil a partir da d cada de 70 do s culo XX A rea o dos povos ind genas s pol ticas de integra o e domina o que se dava antes por meio de a es passou a acontecer de maneira mais organizada configurando assim o que poder amos chamar de movimentos pol ticos instituintes dos povos ind genas brasileiros As batalhas entre ndios e n o ndios t m se dado cada vez mais no campo jur dico e pol tico Os movimentos dos povos ind genas que se foram configurando nacionalmente c
371. ra e ao mesmo 76 tempo porque revela es obtidas em sonho indicava a xam que tinha chegado o momento apropriado para empreender a busca de nova terra CICCARONE 1996 Ao longo da caminhada entre o Rio Grande do Sul e o Esp rito Santo o grupo guarani fez paradas em v rios lugares dos estados do Rio Grande do Sul Santa Catarina Paran S o Paulo e Rio de Janeiro Em alguns desses lugares j existiam aldeias guarani e em outras paradas n o Em meio a essas andan as conta ainda Jo o Carvalho o grupo encontrou se com um Coronel de nome Homero que afirmou haver tido um sonho onde via indios andando por aquela regi o Este coronel convidou o grupo para que fossem a um lugar s margens do Rio Silveira SP onde teriam ca a pesca banana e poderiam plantar Conversamos e a m e com a Aurora irm de Jo o Carvalho m e do mboruvixa decidiram aceitar Marcamos dia e fomos Ali ficaram por alguns anos onde plantaram arroz banana e melancia FUNAI 1994 p 90 Esse grupo tamb m foi respons vel pela funda o de outras aldeias nos estados da Regi o Sul e Sudeste do Brasil com as quais mant m uma ampla rede de contato e trocas sociais O Tekoa ltaxi em Paraty Mirim no Rio de Janeiro foi uma das aldeias criadas por Tatati outra foi a de Rio Silveira em S o Paulo Em Rio Silveira ficamos mais de sete anos oito anos e j estava plantando tudo tamb m Meu pai come ou a morrer e minha m e n o quis f
372. ra s o alguns dos atravessamentos que se d o no processo de escolariza o e na EEI guarani no Esp rito Santo Esse grupo tem enfrentado dificuldades em garantir a sobreviv ncia devido s dimens es e degrada o ambiental das aldeias Segundo relatos das professoras da FUNAI a situa o socioecon mica dos Guarani muito dif cil desde os anos 90 do s culo XX Na aldeia havia car ncia de alimentos as crian as estavam desnutridas e muitas delas faleciam Muitas vezes cheguei a ver os ndios catando alimentos no lix o de coqueiral Isto gerava em mim muita revolta at mesmo contra o rg o para o qual eu trabalho Professora da FUNAI em conversa informal Coqueiral de Aracruz julho de 2007 Para tentar ajudar a combater a fome e a desnutri o a cozinheira da escola fazia uma quantidade maior de merenda que era dada para as outras crian as da aldeia Na maior parte das vezes essa era a nica refei o com a qual as crian as podiam contar Professora da FUNAI em conversa informal Coqueiral de Aracruz julho de 2007 Entre 1993 e 1994 a fome atingia 80 da popula o da aldeia e eram numerosos os casos de morte de crian as por desidrata o e desnutri o Segundo Ciccarone 2001 as dificuldades enfrentadas pelos Guarani no Esp rito Santo davam se em fun o da falta de recursos naturais e das condi es ambientais pobreza dos solos irregularidade do per odo de chuvas entre outros Devido s prec ri
373. radicionais j havia na d cada de 60 do s culo XX algumas que desenvolveram experi ncias mission rias inovadoras e que passaram a realizar encontros nacionais para refletir sobre suas pr ticas Foi esse grupo que tentou trabalhar em parceria com a rec m criada FUNAI Em 1968 o Secretariado Nacional de Atividade Mission ria enviou uma carta oficial assinada por Dom Tom s Babu no endere ada ao Presidente da Rep blica Marechal Artur da Costa e Silva solicitando que um mission rio fizesse parte do Conselho Diretor da FUNAI como primeiro passo de uma desejada e promissora colabora o de todas as for as mission rias SUEZ 1981 colabora o que n o se efetivou 128 A Igreja Cat lica por meio do CIMI e da Confedera o dos Bispos do Brasil CNBB acabou tornando se uma das institui es que mais criticaram e questionaram as pol ticas p blicas colocadas em pr tica pela FUNAI nos anos subsequentes Foram constantes os atritos entre as duas inst ncias por diversos motivos A dissolu o de uma assembl ia de 140 chefes ind genas organizada pelos padres do CIMI em Roraima por decis o da FUNAI gerou mais um atrito e as acusa es se fizeram mutuamente MARTINS 1978 p 76 As diverg ncias foram tantas que o Ministro do Interior Rangel Reis proibiu o ingresso das miss es religiosas nas reservas ind genas Para os mission rios cat licos ligados ao CIMI a evangeliza o como an n
374. radicionalmente v m desenvolvendo com as escolas n o ind genas No entanto que n o poss vel afirmar que essa municipalidade est agindo de maneira ilegal ao n o destinar 40 dos recursos do FUNDEB calculados com base nas quest es acima mencionadas para gastos diretamente com as escolas ind genas j que n o h na legisla o do FUNDEB nenhum mecanismo garantindo isso Esse mais um exemplo das zonas interditadas decorrentes dos pr prios mecanismos legais que visam a promover a EEI TASSINARI 2001 e que s ser o superados com a cria o do sistema nacional de EEI Al m da transpar ncia os Tupinikim e os Guarani esperam que tanto no mbito da Prefeitura de Aracruz como no Estado se crie um programa ou pol tica de financiamento das atividades essenciais ao desenvolvimento da qualidade da EEI como a forma o de professores produ o de material did tico constru o e equipamento das escolas ind genas Os Tupinikim e os Guarani entendem que necess rio tamb m que se garanta a participa o efetiva e adequada das lideran as ind genas no controle social das pol ticas de EEI tanto no mbito do MEC quanto no dos estados e dos munic pios 121 No ano de 2006 a EMPI Boa Esperan a recebeu a quantia de R 900 00 e do PDDE a quantia de R 480 00 Assim sendo essa escola recebeu um total de R 1 380 00 A EMPI Tr s Palmeiras recebeu do PRODER a quantia de R 1 440 00 e uma quantia igual a essa foi destinada
375. ran a por volta das oito horas da manh para uma reuni o de planejamento e ao constatar a aus ncia da merendeira fez observa es quanto necessidade do cumprimento do hor rio pela funcion ria mesmo em dia de planejamentos Minutos depois a funcion ria chegou abriu a cozinha e nos serviu um delicioso caf com bolo Pelo frescor dos alimentos era poss vel constatar que eram rec m preparados e que a merendeira tinha se ausentado apenas por alguns momentos para resolver um problema A atitude da coordenadora da EEI explicita a import ncia exagerada dada ao discurso de gerenciamento e administra o como fundamental para se garantir uma suposta efici ncia e controle das pr ticas educativas LADEIRA 2006 Outra situa o deu se em uma conversa entre o professor Mauro a representante da SEDU e a coordenadora da EEI sobre o pleito dos Guarani pela emancipa o administrativa de suas escolas uma vez que a escola s ser do jeito guarani quando for gerenciada por eles mesmos professores diretor e funcion rios guarani que residam na aldeia e frequentem a casa de reza VIEIRA 2007 p 22 A coordenadora tupinikim da EEI argumentou sobre todos os obst culos legais da possibilidade dessa separa o Segundo ela as escolas guarani n o poderiam ser aut nomas devido ao pequeno n mero de alunos Com a emancipa o aumentaria a carga de trabalho do professor Mauro que teria que fazer or ament
376. ratamento a uma mesma etnia que em seu territ rio convive com 2 ou 3 administra es municipais Em atendimento ao que est disposto na LDB na Resolu o CNE CEB n 2 99 na Resolu o CNE CEB n 3 99 e Portaria Interministerial n 559 91 todos os estados onde vive o povo Guarani t m desenvolvido cursos de forma o de professores dessa etnia Por m h grandes diferen as entre eles no ritmo de implementa o dessa forma o Os estados de Mato Grosso do Sul e S o Paulo apresentam grandes avan os em termos de forma o de professores ind genas guarani No Mato Grosso do Sul est sendo formada a segunda turma de magist rio em n vel de Ensino M dio Na primeira turma 70 professores Kkaiow guarani 5 SANTA CATARINA Relat rio de atividades do NEI 2005 170 provenientes de 17 reas ind genas foram habilitados A segunda turma concluiu os estudos em dezembro de 2006 formaram se 66 professores Para habilitar educadores da pr pria comunidade a atuar nessas escolas a SED MS oferece forma o continuada durante todo o ano MATO GROSSO DO SUL acesso 10 jul 2007 Aos professores egressos do curso de Magist rio est sendo oferecido um curso de licenciatura ind gena A oferta de curso superior de Licenciaturas Ind genas que formar professores para atuar nas escolas ind genas de ensino m dio de Mato Grosso do Sul ser formalizada nesta sexta feira 30 06 2006 s 10 horas no audit
377. rca da educa o escolar da forma o e contrata o dos professores guarani e da produ o da proposta curricular para as escolas das aldeias As mudan as que aconteceram nas representa es dos Guarani do Esp rito Santo em rela o institui o escolar encontram se relacionadas a diversos fatores a participa o de lideran as em encontros guarani sobre o assunto conviv ncia com outros povos ind genas mais especificamente o povo Tupinikim com o qual compartilham o territ rio piora nas condi es materiais de vida provocada pela redu o do territ rio onde vivem s pol ticas p blicas ind genas institu das no Brasil a partir da promulga o da Constitui o Federal de 1988 e s parcerias estabelecidas com diversas organiza es governamentais e n o governamentais Silva 1994 registrou as representa es dos Guarani do Esp rito Santo acerca da educa o escolar no ano de 1981 quando passou uma temporada com eles com o objetivo de realizar uma pesquisa ling stica Os Guarani me asseguraram que jamais aprenderia a l ngua deles enquanto n o aprendesse tamb m a religi o e que usando as palavras de 183 um l der da comunidade escola s para fazer bonito n o Em poucas palavras os Guarani me diziam que para entender a sua l ngua algo que para mim era um fen meno digamos assim profano e cuja an lise dependia unicamente de minha habilidade de documenta o e formula o de hi
378. re aprendi que este tipo de jornada extremamente cansativa e contraproducente para quem ministra as aulas e consequentemente para os alunos O ritmo das aulas e o tempo das etapas do Curso revelaram se muito pesados para os alunos guarani Muitos deles chegaram a adoecer A situa o foi pior na primeira etapa Esse contexto levou a FUNAI a disponibilizar um profissional da sa de para acompanhar os alunos durante a realiza o de cada uma das etapas do Curso Nesse Curso as tens es existiam tamb m na esfera administrativa as quais nem mesmo a assinatura do Protocolo de Inten es foi suficiente para superar O caso mais grave deu se em rela o aos alunos professores do Rio Grande do Sul que como todos os outros funcion rios p blicos estaduais ga chos conquistaram o direito de ganhar di rias para participar de forma es Essa diferen a de direitos entre os alunos professores ga chos e os dos outros estados virou motivo de muita reclama o e nem mesmo com a media o do MEC a situa o foi resolvida A SEDU RS alegou que n o poderia mudar a modalidade de pagamento das despesas de seus alunos professores para equiparar se dos outros estados porque assim estaria agindo de forma ilegal A situa o s se resolveu porque por raz es de conten o de despesas o Governo suspendeu o pagamento de di rias para todos os funcion rios estaduais ga chos Um ponto fraco do Curso tem sido a forma o de tempo aldeia dos
379. rem adotadas como garantia da constru o de um programa de educa o escolar diferenciado para o povo Guarani 249 Outra caracter stica do modo de ser guarani a sutileza dos gestos por meio dos quais garantem a identidade tnica e cultural Por mais que se tente impor regras de funcionamento escolar dos n o ndios s pessoas guarani as escolas das aldeias continuam atuando como fronteiras onde convivem os ritmos e tempos ditados pelo sistema de educa o com os ritmos e tempos guarani que emergem por meio de pequenos gestos alongamento do hor rio do recreio escapulidas da sala de aula presen a dos animais de estima o na escola uso de material did tico moda guarani Figuras 36 e 37 revelando assim formas criativas de resist ncia e de afirma o da identidade tnica por parte da comunidade educativa guarani Figura 36 Crian as escorregando em colch es Fonte Arquivo da pesquisadora Figura 37 Cachorros circulando pela escola Fonte Arquivo da pesquisadora 250 Levando se em considera o a circula o e a conviv ncia das pessoas de diferentes idades no ambiente escolar das escolas guarani faz se necess rio que a nova escola a ser constru da disponha de espa os para atividades diversas como confec o de artesanato realiza o de reuni es e outras demandas da comunidade n o somente para as crian as mas abertas participa o de pessoas de todas as faixas et rias sem esque
380. res ao pr prio Estado garantiu se que os recursos h dricos e a pesquisa e a lavra das riquezas minerais s podem ser efetivadas com a autoriza o do Congresso Nacional ouvidas as comunidades afetadas ficando lhes assegurada a participa o nos resultados da lavra na forma da lei condicionou se a remo o de grupos ind genas autoriza o ou referendo do Congresso Nacional definiu se com precis o e amplitude o que seriam terras ind genas reiterou se a nulidade e a extin o dos atos incidentes sobre as terras ind genas estabeleceu se expressamente a legitimidade processual dos ndios suas comunidades e organiza es descondicionando a de qualquer assist ncia eliminou se a distin o entre ndios aculturados e n o aculturados 139 rompeu se com o monop lio da FUNAI em rela o s causas ind genas ao estabelecer expressamente como fun o do Minist rio P blico a defesa dos interesses e direitos ind genas e fixando se exclusivamente Justi a Federal o papel de apreciar as disputas sobre os direitos ind genas Cabe ressaltar no entanto a t tulo de compara o que no Continente Americano existem constitui es muito mais avan adas em se tratando dos direitos dos povos ind genas como o caso da Bol via da Col mbia do Equador da Guatemala do M xico da Nicar gua do Paraguai e do Peru onde h o reconhecimento expl cito da diversidade tnica e cultural dessas socied
381. rofessores uma cr tica raz o e pol tica hegem nica Rio de Janeiro DP amp 2002 290 112 LOPES E M T Perspectivas hist ricas da educa o S o Paulo tica 1995 113 MACHADO L Z Comunitarismo ind gena e modernidade contrastes entre o pensamento brasileiro e andino Bras lia Ed Da UNB 1994 S rie Antropologia n 169 114 MAGALH ES E D Legisla o indigenista brasileira e normas correlatas Bras lia FUNAI 2002 115 MAHER T M Forma o de professores ind genas uma discuss o introdut ria In GRUPIONI L D B Org Forma o de professores ndios repensando trajet rias Bras lia SECAD MEC 2006 p 11 38 116 MART NEZ Noemi D as La migration mbya guarani D dalo n 24 S o Paulo 1984 117 MARTINS E Nossos ndios nossos mortos S o Paulo C rculo do Livro 1978 118 MATO GROSSO DO SUL Constitui o Estadual http www pm ms gov br Acesso em 10 de out de 2007 119 http www educar ms gov br Acesso em 10 de julho de 2007 120 MEC MINIST RIO DA EDUCA AO Secretaria de Educa o Continuada Alfabetiza o e Diversidade Referenciais nacionais para as escolas ind genas Bras lia 2005 121 MELI B A terra sem mal dos Guarani economia e profecia S o Paulo Revista de Antropologia da USP S o Paulo Vol 33 1999 122 El Guarani conquistado y reducido ensayos de etnonhist ria Assunci n CEADUC 1988 128 El
382. romulgados e essas organiza es t m constantemente acolhido as den ncias dos povos ind genas contra os desmandos dos Estados na es a que est o subordinados Al m disso solicitam a esses governos que cumpram as resolu es e tratados dos quais s o signat rios No caso do povo Guarani h uma preocupa o em tamb m se refor ar a rede de comunica o entre os grupos dos diversos pa ses Uruguai Paraguai Argentina Bol via e Brasil onde vivem Essa rede propicia as trocas simb licas e materiais e tamb m a constru o de uma pauta de uma pol tica indigenista a ser reivindicada nos pa ses onde vivem Os movimentos pol ticos do povo Guarani os encontros dos diversos grupos e o apoio das organiza es n o governamentais inter relacionam se com o processo de escolariza o dos Guarani que vivem no Esp rito Santo uma vez que as discuss es e as reflex es sobre a educa o escolar refletem nas representa es desse grupo acerca da escola A institui o escolar recha ada por muitos grupos guarani e tamb m pelas lideran as religiosas e pol ticas guarani do Esp rito Santo pouco a pouco foi se tornando assunto das discuss es e paulatinamente v o se transformando as representa es em rela o a essa institui o vista a princ pio como um dos fatores de destrui o da cultura Atualmente a escola considerada como um instrumento que pode contribuir para a revitaliza o cultural 276 No caso d
383. ros professores agentes O Encontro de Educa o Tradicional teve o apoio da Funda o Nacional do ndio FUNAI da C ritas Nacional da Secretaria de Educa o de S o Paulo do Fundo Social de Solidariedade do Estado de S o Paulo da Associa o Guarani Nhe Por e foi patrocinado pelo Fundo das Na es Unidas para a Inf ncia UNICEF por meio do programa Crian a Esperan a 178 comunit rios de sa de ind gena mulheres jovens e crian as da etnia guarani dos estados do Esp rito Santo Paran Santa Catarina Rio Grande do Sul Maranh o e Par participaram do Encontro cujo objetivo foi proporcionar o di logo entre as lideran as participantes e possibilitar a forma o das pessoas mais jovens em rela o aos conhecimentos tradicionais Durante o evento aconteceram oficinas de culin ria cantos dan as prepara o de alimentos e brincadeiras No encerramento foram apresentados os resultados e definidas as linhas de a o para a continuidade do movimento e o desenvolvimento de projetos nas aldeias participantes Outro Encontro dessa mesma natureza foi realizado em dezembro de 2004 tamb m em S o Paulo na aldeia de Pegua Ty Os anfitri es prepararam no de forma a fazer presente as antigas pr ticas Desde as boas vindas at a alimenta o tudo foi feito maneira tradicional Pelo fato de o Encontro ter reunido muitas lideran as religiosas foram realizadas in meras se es de cura que se este
384. ros segmentos da sociedade a uma situa o de pobreza e viol ncia Os povos ind genas v timas das discrimina es sociais e culturais v m cada vez mais se organizando para lutar contra a ideologia que os declaram ausentes e contra as pr ticas que os oprimem como presen as desvalorizadas provocando assim a crise final das democracias de baixa intensidade Os agentes dessas lutas distinguem se dos seus antecessores por duas raz es Em primeiro lugar empenham se na luta simult nea pela igualdade e pelo reconhecimento da diferen a Reivindicam o direito de ser iguais quando a diferen a os inferioriza e o direito de ser diferentes quando a igualdade os descaracteriza Em segundo lugar apostam em solu es institucionais dentro e fora do Estado para que o reconhecimento dos dois princ pios seja efetivo SANTOS 2006 p 1 105 No pleito pelos seus direitos os povos ind genas da Am rica Latina t m realizado encontros para discutir seus problemas ampliar as suas alian as e tra ar novas estrat gias de luta fortalecendo as redes de comunica o e solidariedade Durante esses encontros s o reivindicados direitos educa o como marco da diversidade e da cidadania A IV Assembl ia Geral do Conselho Mundial dos Povos Ind genas ocorrida no Panam em 1986 adotou a Declara o de Princ pios segundo a qual os povos ind genas t m o direito de receber educa o escolar em sua pr pria l ngua ou de estabelecer s
385. rritoriais direitos de possess o ancestral e sobre os recursos naturais existentes nas suas terras e culturais direitos ling sticos validez dos sistemas normativos ind genas direito das autoridades ind genas a aplicar justi a de car ter coletivo Tamb m est muito abaixo daqueles direitos que t m sido reconhecidos aos povos ind genas na maioria dos paises da regi o POVOS Acesso 8 out de 2006 tradu o S nchez 2007 42 Um informe shadow um contra informe ao relat rio oficial que cada Estado signat rio da Conven o Internacional para a Elimina o de todas as Formas de Discrimina o Racial deve apresentar ante o CERD a cada dois ou quatro anos El Salvador n o apresentava um informe desde 1995 ou seja hvia 10 anos 145 4 3 A RATIFICA O DA CONVEN O N 169 A aprova o da Conven o n 169 da OIT era uma das bandeiras de luta das entidades ind genas e indigenistas brasileiras O texto da Conven o 169 foi enviado C mara dos Deputados pelo Presidente da Rep blica Mensagem n 367 no ano de 1991 submetido assim aprecia o do Congresso Nacional em cumprimento ao Art 49 inciso da Constitui o Federal Brasileira e ao Art 19 da Constitui o da Organiza o Internacional do Trabalho Depois de ter sido aprovada no Plen rio da C mara dos Deputados e tamb m na Comiss o de Defesa do Consumidor Meio Ambiente e Minorias e na Comiss o de Constitui o e Justi a a mat ria pas
386. rrnnnnrnnneeenenneneen 206 Figura 24 Alunos guarani no Curso de Forma o 207 Figura 25 S bios guaran no Cursoi ci ieireeeeeeeaaaaareeenana 209 Figura 26 S bio guarani no Curso de Forma o 210 Figura 27 Argemiro ao centro e outros colegas no Curso 210 Figura 28 Participa o da aluna Joana na aula do professor Bessa 212 Figura 29 M e guarani com seu filho no Curso de Forma o 214 Figura 30 M e guarani com seu filho no Curso de Forma o 214 Figura 31 A professora Ruth ao centro e os professores guarani 217 Figura 32 A professora Joana com a turma de pr escola 224 Figura 33 Participantes do GOLE 4 322 ssesrer sans rasa paos Da Cena assada uni ana ga rasa 227 Figura 34 II Semin rio de Educa o Ind gena 230 Figura 35 Sala de aula da EMPI Tr s Palmeiras 248 Figura 36 Crian as escorregando em colch es 249 Figura 37 Cachorros circulando pela escola ni 250 Figura 38 Cabana onde funciona a EMPI Tr s Palmeira vista de fora 256 Figura 39 Cabana onde funcionava a EMPI Tr s Palmeiras vista de dentro 256 Figura 40 EMPI Tr s Palmeiras vista de fora 257 Figura 41 EMPI Tr s Palme
387. rsidade Federal do Esp rito Santo ES Brasil Cota Maria das Gra as 1961 T253a O processo de escolariza o dos Guarani no Esp rito Santo Maria das Gra as Cota 2008 f il Orientadora Regina Helena Silva Sim es Tese doutorado Universidade Federal do Esp rito Santo Centro de Educa o 1 ndios Guarani 2 ndios Guarani Identidade tnica 3 Indios Educa o Sim es Regina Helena Il Universidade Federal do Esp rito Santo Centro de Educa o III T tulo CDU Dedico este trabalho aos Guarani do Esp rito Santo por me terem possibilitado o aprendizado de outras formas de educar e existir AGRADECIMENTOS minha querida professora e orientadora Regina Helena Silva Sim es pela disposi o em acolher um projeto t o distinto do seu campo de pesquisa e por sua maneira elegante e respeitosa de conduzir o processo de orienta o minha fam lia por todo o apoio oferecido Ao meu marido grande companheiro nessa jornada A todos os membros da banca por suas valiosas contribui es Aos professores e estudantes guarani Aos amigos Circe Irm Nilma Cl udio Fl vio e tantos outros pelo apoio recebido SEDU especialmente s pedagogas Fortaleza e T nia Menezes SEMED especialmente s pedagogas Z lia Alzenira Marli e professora Andr ia RESUMO Este trabalho analisa o processo de escolariza o dos Guarani do Esp rito Santo no contexto
388. rtava at a escola de Coqueiral foi necess rio transferir os alunos dessa escola para a EMEF de Santa Cruz e esses passaram a ir de nibus de linha Pedimos Sandra juntamente com os caciques e educadores que fa am a lista e levantem o n mero de alunos que queiram estudar de 5 a 8 s rie em Santa Cruz e o hor rio que desejam estudar para entrarmos em contato com a Diretora da Escola para ver a possibilidade desse atendimento Quatorze alunos foram transferidos para a EMEF de Santa Cruz oito dos quais foram matriculados no Programa de Regulariza o do Fluxo Escolar PREFES projeto vinculado ao Programa Escola Campe da Funda o Airton Sena No caso desses alunos a transfer ncia n o trouxe os resultados esperados uma vez que apenas um foi aprovado um pediu transfer ncia e seis evadiram Os outros seis alunos foram matriculados no Ensino Fundamental regular No ano de 2006 encontravam se matriculados na EMEF Santa Cruz seis alunos sendo dois na 5 s rie e quatro na 6 s rie Um fato que chama a aten o que a SEMED mesmo sendo conhecedora dos problemas de racismo enfrentados por parte dos alunos guarani nunca tomou uma 111 112 Ata de reuni o realizada na aldeia de Tr s Palmeiras no dia 23 de novembro de 2005 Ata de reuni o realizada na aldeia de Tr s Palmeiras no dia 13 de fevereiro de 2004 252 provid ncia quer seja denunciando os atos de racismo quer seja promovendo a es e
389. s A situa o n o foi diferente na Regi o Sul do Brasil Martins 1978 relata os problemas de exterm nio e invas o de terras dos povos ind genas nessa regi o Os 24 postos da FUNAI do sul contam na es guaranis e xet s do tronco ling stico tupi kaigangs ou coroados xoclengs ou botocudos do tronco macroj e terenas do aruaque No sul a propor o de desaparecimento de povos ind genas foi mais profunda O chefe de posto da FUNAI de Xapec em Santa Catarina Sr Franklin Mader ga cho de 64 anos observa que enquanto existirem ndios a ecologia est garantida preservada Eles n o podem sobreviver enquanto ndios sem a natureza Por isso eles precisam acabar desaparecer para que a devasta o n o encontre obst culos Quando cheguei a este posto em 1968 havia 48 fam lias de intrusos invasores da reserva ind gena Habilmente esse 119 n mero foi reduzido para 29 fam lias apenas T o logo encerrou o prazo do arrendamento em 31 de julho deste ano imaginei encerrada a ocupa o das terras ind genas Mas vieram os pol ticos e insuflaram os invasores a permanecer MARTINS 1978 p 271 No Centro Oeste os povos ind genas tamb m perderam terras tanto que as lideran as guarani kaiow e guarani nhandeva passaram a se articular para a rea o perda de suas terras que se vinha intensificando desde a d cada de 1960 com a instala o da agricultura extensiva no sul de Mato Gr
390. s Havia umas 70 pessoas entre professores crian as pais e lideran as Os adultos encontravam se sentados em cadeiras ou no ch o ao redor da cabana e o espa o central era disputado pelas crian as e animais Durante a reuni o vimos um animalzinho na cabe a de uma crian a de uns dois anos Questionado sobre que tipo de animalzinho era aquele o professor Alberto disse que se tratava de um filhote de gamb O que n o surpreendeu as pessoas guarani criam filhotes de animais silvestres como de estima o A crian a quase um beb ainda cambaleante tirava o animalzinho da cabe a colocava no ch o corria atr s dele tornava a peg lo tudo isso com movimentos muito bruscos uma vez que devido sua pouca idade ainda n o possu a muito controle dos seus movimentos Por v rias vezes o animalzinho quase foi esmagado pela crian a O surpreendente que a cena n o provocava nenhuma rea o nos presentes O professor Alberto em resposta ao pedido de que salvassem o animalzinho simplesmente respondeu o nen m vai chorar O pedido tamb m foi feito ao cacique Toninho que deu a mesma resposta Uma crian a mais velha fez uma tentativa mas diante da amea a de choro por parte da outra crian a desistiu de salvar o animalzinho At o momento que virmos embora l estava a crian a brincando com o seu animalzinho de estima o que quela altura j andava cambaleando pela cabana 244 Outro aspecto que cha
391. s da educa o brasileira Uma consulta a essa fonte revelou tamb m n o haver nenhuma publica o que trata da hist ria da EEI Foi encontrado apenas um artigo de Bittencourt 1994 versando sobre a quest o do ensino de Hist ria para popula es ind genas Levando em considera o que 1 j v nhamos desenvolvendo um trabalho com forma o dos professores ind genas e pesquisando sobre a quest o da EEI 2 a EEI faz parte do sistema de educa o brasileiro 3 houve aumento das estat sticas educacionais ind genas nos ltimos anos e 4 n o existem pesquisas e publica es acerca da hist ria ind gena e da EEI que decidimos pesquisar sobre a tem tica a hist ria da EEI no contexto da hist ria da educa o brasileira no curso de doutorado 26 Este trabalho que tem a pretens o de contribuir para as reflex es acerca da EEl e consequentemente produzir informa es que possam auxiliar na forma o de professores ind genas e n o ind genas teve o seu relat rio de pesquisa dividido em cinco cap tulos No cap tulo uma exposi o do processo de como se constituiu a tem tica da pesquisa No cap tulo Il apresenta se o referencial te rico com o qual trabalhamos e tamb m algumas reflex es acerca de cultura e consequentemente da cultura relacionada s concep es que se t m dos povos ind genas No cap tulo Ill explicita se a metodologia da pesquisa utilizada apresentando os sujeitos o loc
392. s de educa o 1 a educa o ind gena que seria a forma de educa o pr pria de cada povo 2 a educa o escolar para ndios aquelas formas de educa o oferecidas aos povos ind genas pelo Governo portugu s e depois pelo Governo brasileiro com o objetivo de tentar integr los sociedade nacional e 3 a EEI que est sendo constru da com e pelos povos ind genas nos ltimos anos As primeiras experi ncias brasileiras de EEI foram majoritariamente desenvolvidas por organiza es n o governamentais ind genas e indigenistas a partir da d cada de 70 do s culo XX O projeto de Educa o Ind gena do Acre tem 15 anos Os ndios s o formados para serem professores e os n o ndios s o apenas assessores Foi no seio dessa e de outras experi ncias que se cunharam os princ pios norteadores dessa modalidade de educa o Ou seja tem se tentado desenvolver programas de educa o escolar espec fica e diferenciada intercultural e bil ng e para cada um dos povos ind genas brasileiros As experi ncias de EEI surgidas fora do aparelho do Estado foram sendo reconhecidas pelos rg os oficiais e forneceram elementos para a regulamenta o do processo de qualifica o profissional dos professores ind genas principalmente a Resolu o CNE CEB n 002 de 19 de abril de 1999 que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Forma o de Docentes da Educa o Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fu
393. s e formas de falar que ele possui Sua sabedoria procede do desenvolvimento da sua palavra e essa por sua vez da prosperidade e intensidade da sua inspira o Meli 1991 mea Conjunto de doutrinas princ pios e m todos da educa o e instru o que tendem a um objetivo pr tico Ferreira 1985 240 Na pedagogia guarani a oralidade um princ pio muito importante presente n o apenas na fala mas na escuta respeitosa e atenta palavra Outro princ pio importante que nessa sociedade o ato de aprender muito mais intenso do que o de ensinar o que requer um grande esfor o pessoal que leva ao desenvolvimento da curiosidade e da capacidade de observa o Al m desses h a revela o princ pio que se relaciona ao primeiro pois para receber a revela o das divindades a pessoa tamb m faz um esfor o para viver de acordo com o modo de ser guarani nhande reko O respeito individualidade da pessoa tamb m muito importante na educa o tradicional guarani A Opy casa de reza o primeiro e o mais importante espa o de aprendizagem do povo guarani principalmente da l ngua Nesse espa o eles podem registrar a hist ria ensinar as suas verdades preservar os valores e cultivar a sua medicina de curar o ref gio onde se abrigam os mais ricos pensamentos cantos e ora es que ficam registrados na mem ria de cada um para manter e valorizar a sua cultura proteger se dos brancos e imprimir
394. s ind genas de diferentes regi es do Pa s At julho de 1998 os encontros de tempo aula aconteceram na aldeia ind gena de Caieiras Velhas para os quais foram constru das tr s cabanas a maior Figura 13 para as aulas coletivas duas menores para os trabalhos de grupo al m de uma casa para hospedar os formadores Durante o Curso as alunas ndias das outras aldeias ficavam alojadas na sede do NISI ES e os educadores ndios na creche da aldeia As refei es eram preparadas no Centro Comunit rio da aldeia por uma equipe de cozinheiras ndias contratadas para cada encontro A partir de outubro de 1998 as etapas do Curso passaram a ser desenvolvidas na aldeia de Pau Brasil Nessa aldeia as aulas eram ministradas no Centro Comunit rio onde tamb m eram preparadas e servidas as refei es Como dormit rio para os alunos foi utilizado o pr dio da escola Isso foi poss vel porque as aulas eram suspensas durante o per odo de realiza o das etapas do Curso uma vez que todos os professores da escola de Pau Brasil o frequentavam Os formadores ficavam hospedados na casa de uma das alunas do Curso Figura 13 Cabana usada durante o Curso de Forma o Fonte Arquivo da SEMED Levando em considera o a infra estrutura que se tinha para a realiza o do Curso afirmamos que foi admir vel a for a de vontade e persist ncia dos educadores ind genas em frequent lo De maneira geral constatamos que a infra estrutur
395. s povos ind genas e a outras minorias O que est escrito neste livro o nosso aluno j sabe ele aprendeu a ter orgulho de ser guarani Mas cada vez que sai da aldeia e vai vender artesanato em Angra ou em Parati ele desaprende l tudo o que aprendeu aqui Essa li o est no olho do juru que trata o guarani como inferior A escola do juru n o ensina pros seus alunos quem somos n s e nem mostra a import ncia dos ndios no Brasil A o aluno que sai dessa escola trata o ndio com desprezo com preconceito e a acaba ensinando a gente a ter vergonha de ser ndio estragando todo o trabalho da escola guarani Por isso bom levar esse livro pra l pra escola dos brancos pra ver se eles aprendem a conhecer o ndio e a tratar a gente com respeito FREIRE 2006 p 16 Essas s o palavras do professor guarani Algemiro Poty da Escola Kyringue Yvotyty da aldeia Sapukaia Angra dos Reis Rio de Janeiro ao receber um livro paradid tico editado pela Universidade do Rio de Janeiro cujo texto valoriza os saberes ind genas e redimensiona a contribui o hist rica dos povos ind genas para a cultura regional FREIRE 2004 A educa o escolar intercultural para os n o ndios poderia contribuir para que os brasileiros tivessem uma opini o mais cr tica em rela o aos meios de comunica o que ainda tratam os povos ind genas com preconceito e hostilidade como foi o caso da Revista Veja veiculada em 14
396. s prisioneiros da FUNAI e dos morros Cacique de Boa Esperan a conversa informal mar o de 2007 No modo de ser guarani existe um horizonte de terra espec fico e constante fora do qual esse povo n o se adapta viver O mapa cultural guarani sobrep e se a um mapa ecol gico que apresenta certas constantes ambientais tais como clima subtropical a tropical topografia at 400 metros acima do n vel do mar de prefer ncia nas margens dos grandes rios lagos e oceanos As forma es florestais s o outra caracter stica ambiental dos espa os ocupados pelos Guarani MELI 1999 No ano de 1977 orientados por Tatati voltaram novamente para a aldeia de Caieiras Velhas onde passaram a viver junto com o povo Tupinikim Dois anos depois em 1979 passaram a ocupar uma rea de mata ao sul do territ rio tupinikim pr xima foz do Rio Piraqu a u onde atualmente vivem Na poca em que o grupo fundador mudou para a rea que ocupam a FUNAI interveiu querendo retir los de l porque a Companhia Vale do Rio Doce CVRD passou a reclamar a rea afirmando ser propriet ria da regi o Por m os Guarani n o cederam e acabaram conseguindo a posse da rea Nos anos seguintes continuaram chegando ao Esp rito Santo mais fam lias assim como aconteceu a partida de outras Na d cada de 1980 uniu se ao grupo fundador da fam lia extensa liderada por Tatati o grupo chefiado por Catarina Fernandes que migrou do Paraguai passando pelo
397. s que n o a nica COTA 2000 Outra cr tica que se pode fazer ao RCNE Ind gena que ele prev que o professor ind gena apenas com uma forma o em n vel de Ensino M dio seja capaz de realizar pesquisas ling sticas e antropol gicas produzir material did tico propor algumas das respostas aos novos problemas gerados pelo contato al m de exercer a fun o de doc ncia MEC 1995 Quando um professor branco come a a lecionar o curr culo escolar da institui o que o contratou j est pronto e em funcionamento o m ximo com o qual ele provavelmente tem que se preocupar com a montagem do programa de sua disciplina Mas n o assim com a imensa maioria dos professores ind genas em geral cabe a eles a elabora o do todo o projeto pol tico pedag gico de suas escolas o estabelecimento de seus objetivos educacionais de seu calend rio de sua grade curricular do conte do das disciplinas e do seu sistema de avalia o Al m disso enquanto um professor n o ndio tem a sua disposi o em livrarias em bibliotecas em jornais na internet toda uma variedade de materiais e recursos para servir de suporte pedag gico um professor ind gena n o tem muito em que se apoiar para desenvolver seu trabalho a maior parte dos materiais que lhe poderiam ser teis ainda est o por fazer MAHER 2006 p 25 A EEI tamb m est assegurada pelo Plano Nacional de Educa o PNE Lei n 10 172 d
398. s sociais interessantes produzidas em todo o mundo por diferentes sociedades como o caso dos conhecimentos desenvolvidos pelos povos ind genas sobre os diversos setores da vida O conhecimento que esses povos t m da fauna e da flora as t cnicas de cultivo e de produ o de alimentos as formas de se relacionar com o meio ambiente e mesmo com as outras pessoas do seu grupo s o exemplos dessa imensa gama de conhecimentos produzidos pelas diversas sociedades A cultura adquire formas diversas atrav s do tempo e do espa o Essa diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que comp em a humanidade Fonte de interc mbios de inova o e de criatividade a diversidade cultural para o g nero humano t o necess ria como a diversidade biol gica para a natureza Nesse sentido constitui o patrim nio comum da humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em benef cio das gera es presentes e futuras UNESCO 2001 p 9 A diversidade de identidades culturais representa a riqueza de caminhos diversos para enfrentar de modos diferentes desafios tamb m parcialmente diferentes encontrados por cada povo De acordo com Langon 2003 o desaparecimento dessa diversidade implica o apagamento da capacidade humana de dar respostas variadas ao novo Seria a ruptura de uma das condi es de possibilidade de reprodu o da vida humana O desaparecimento de uma dessas id
399. s vividas e mundo que os cerca fornecendo pautas e refer ncias para sua conduta social ALMEIDA MURA 2008 Na Bol via s o encontrados os subgrupos guarani denominados Guarayos Chiguanos e Izozefio No Paraguai existem os Mbya Nhand va Pai tavyter Kaiowa Ache Guayaki e os Guarani Nadeva Tapiet No Uruguai e na Argentina constatam se os Mbya Este ltimo grupo encontrado tamb m no Brasil onde existem tamb m Nandeva e Kaiowa A l ngua guarani falada por esses subgrupos diferencia se basicamente quanto ao l xico e fonologia sendo no entanto relativamente pequenas as diferen as dialetais Por isso grande parte dos Guarani compreende os diferentes dialetos como podemos constatar nas aldeias do Esp rito Santo onde convivem pessoas mbya fhand va e kaiova e h comunica o entre eles No Brasil existem 140 aldeias guarani nas quais vivem cerca de 50 000 ind genas divididos em tr s subgrupos Kaiowa Nand va e Mbya CIMI 2007 A parcialidade Kaiow concentra se principalmente no Mato Grosso do Sul os Nand va ou Xiripa principalmente nos estados da Regi o Sul e em S o Paulo os Mbya vivem em aldeias situadas no interior e no litoral dos estados da Regi o do Sul Paran Santa Catarina e Rio Grande do Sul e em S o Paulo Rio de Janeiro e Esp rito Santo em aldeias junto Mata Atl ntica do litoral Tamb m na Regi o Norte vivem algumas fam lias Mbya origin rias de um mesmo grande grupo
400. sa Institui o come asse a rever suas pr ticas evangelizadoras Uma das cr ticas mais significativas foi feita pelos participantes do Encontro de Barbados organizado em 1971 pelo Instituto da Universidade de Berna de Bridgetown na Ilha de Barbados e patrocinado pelo Programa de Combate ao Racismo do Conselho Mundial das Igrejas Nesse Encontro deu se uma tomada de posi o por parte dos antrop logos diante dos massacres f sico e cultural contra os povos ind genas do Continente Americano No documento final os antrop logos pediam que as miss es sa ssem das aldeias ind genas uma vez que do ponto de vista deles a presen a mission ria significava a imposi o de crit rios e padr es alheios s sociedades ind genas dominadas e que sob o manto da f se escondia a explora o econ mica e humana das popula es ind genas Por isso para as popula es ind genas e tamb m para preserva o da integridade moral das pr prias igrejas seria acabar com toda atividade mission ria Da d cada de 1970 em diante aumentaram as tens es entre os processos de estatiza o postos em pr tica pelo Estado brasileiro e os movimentos sociais dos povos ind genas que passaram a oferecer uma resist ncia mais organizada em rela o s pol ticas de integra o e domina o configurando assim o que poder amos chamar de movimentos pol ticos instituintes dos povos ind genas A partir dessa d cada surgiram tamb m v rias ins
401. sciplinas e tamb m os conte dos que dever o ser abordados na etapa seguinte s o atribui es da coordena o executiva do Curso Por m todas essas decis es s o tomadas com base na grade curricular do Curso e na avalia o dos alunos realizada ao final de cada etapa atrav s da qual eles sugerem os conte dos a serem estudados na etapa seguinte No Curso o di logo entre a tradi o guarani e outras formas de conhecimento vem sendo garantido com a participa o dos mais velhos desse povo A disciplina A pesquisa como norteadora do processo ensino aprendizagem tem sido trabalhada 84 Relat rio da Il Etapa do Curso SC 2004 209 pelos professores Bessa Ism nia e Fl via e conta com a ajuda do Senhor Alcindo Figuras 25 e 26 Na reuni o da coordena o que aconteceu no Esp rito Santo em abril de 2007 o aluno Alberto representante guarani desse Estado lembrou a necessidade de a es que visem a resolver ou amenizar as diferen as de n vel de aprendizagem entre os alunos Esse assunto esteve na pauta de outras reuni es e um consenso entre os participantes da coordena o executiva que n o se conseguir resolver a quest o dando assist ncia aos alunos somente durante as etapas intensivas Seria necess rio que essas a es fossem tamb m uma preocupa o das etapas intermedi rias de forma o que acontece em cada estado Figura 25 S bios guarani no Curso FONTE Arquivo do curso Figura 26 S
402. scolas guarani assim como da sua especificidade tnica 4 constru o de uma nova unidade escolar 5 garantia de forma o inicial e continuada diferenciada para os professores guarani de modo a permitir a implementa o do novo curr culo e a produ o de materiais did ticos pr prios para as aldeias guarani 6 constru o de um calend rio diferenciado para as escolas guarani e 7 participa o dos professores na elabora o das avalia es diagn sticas aplicadas pela SEMED nas escolas guarani para que se garantam as particularidades culturais do povo Guarani 3 3 2 An lise documental Concomitantemente ao trabalho de campo nas aldeias guarani foi realizada uma leitura cr tica dos documentos GINZBURG 2004 relativos quest o ind gena na Am rica Latina e no Brasil EEI ao povo Guarani e EEI guarani no Esp rito Santo Foram lidos documentos e publica es acerca da quest o ind gena dos movimentos dos povos ind genas e a legisla o indigenista da Am rica Latina Sobre a quest o ind gena no Brasil foram lidos os documentos e publica es produzidos pelas institui es governamentais como o Congresso Nacional o MEC a FUNAI e pelas institui es n o governamentais de apoio a causa ind gena como o CIMI a Comiss o Pr ndio de S o Paulo CPI SP o Centro de Trabalho Indigenista CTI entre outras que estiveram ou est o envolvidas no processo de institucionaliza o 97 das pol ticas p bl
403. scolas n o ind genas ou seja n o reconhecem necessidades especiais que essa educa o exige principalmente na primeira fase de cria o KAHN AZEVEDO 2004 p 75 Essa a situa o vivida pelos sujeitos do Programa de EEI Guarani do Esp rito Santo abordada no Cap tulo V As principais lideran as ind genas brasileiras afirmam que preciso aproximar cada vez mais os projetos educacionais dos socioculturais dos povos ind genas Para que isso ocorra necess rio pensar e provocar mudan as estruturais profundas na 53 Al m dos recursos acima citados as escolas ind genas recebem recursos federais atrav s do FNDE do Programa Nacional do Livro Did tico PNLD do Transporte Escolar do Programa Dinheiro Direto na Escola e do FUNDEF 163 concep o e na organiza o pol tico administrativa do Estado brasileiro que envolvam todas as outras reas e setores da vida ind gena territ rio educa o sa de cultura meio ambiente economia entre outros BANIWA 2006 Em outras palavras as pol ticas p blicas e o respeito diversidade tnica e cultural s se sustentam e t m sentido atrelados s outras pol ticas p blicas e ao respeito aos direitos socioecon micos dos povos ind genas Outra reivindica o dos povos ind genas d se no sentido de que as escolas destinadas aos n o ndios sejam tamb m interculturais como estrat gia no combate ao racismo e ao preconceito em rela o ao
404. scolha do povo para receber a assist ncia da Pastoral Indigenista na rea educacional Os professores guarani s passaram a frequentar os Semin rios de Forma o a partir do primeiro semestre de 1998 Esse um dos epis dios indicativos dos Relat rio do Il Semin rio de Educa o Ind gena Aracruz 1995 190 conflitos e das rela es de for as que atravessaram a institucionaliza o da EEI no Esp rito Santo Os Semin rios de Forma o foram realizados gra as parceria estabelecida entre o IDEA e a Pastoral Indigenista A maior parte dos Semin rios de Forma o foi realizada em Ibira u e as despesas eram pagas pelas duas institui es envolvidas no projeto de forma o Atrav s dos relat rios de atividades do IDEA percebe se uma mudan a conceitual em rela o educa o Nos relat rios de atividades dos anos de 1994 e 1995 usava se a denomina o Programa de Alfabetiza o e Educa o Popular Ind gena A partir 1996 esse programa passou a ser denominado de Programa de Forma o dos Educadores Tupinikim ou simplesmente Semin rios de Forma o Os monitores ind genas encarregados da educa o de jovens e adultos aos poucos passaram a ser chamados de educadores ind genas As pessoas encarregadas da forma o dos professores ind genas deixaram de ser chamadas de animadoras e passaram a ser chamadas de formadoras As mudan as conceituais em rela o educa o mostram a influ ncia de outr
405. scrito caso contr rio seus nomes seriam seriam omitidos ou substitu dos por outros fict cios Os professores concordaram com a utiliza o de seus nomes ap s a leitura do relat rio de pesquisa atividade realizada com os seis professores guarani nos dias 4 e 5 de dezembro de 2007 na EMPI Boa Esperan a Como disp nhamos apenas de dois dias para a realiza o da leitura demos prioridade parte do texto que tratava dos sujeitos e do local da pesquisa ao Cap tulo V que aborda mais diretamente a quest o educacional nas aldeias Foi grande o interesse dos professores guarani pela atividade a ponto de preferirem na parte da tarde do primeiro dia continuar lendo o texto a irem participar de uma forma o oferecida pela SEMED troca que foi negociada com esta institui o pelo professor Mauro A argumenta o dos professores guarani foi de que a pesquisa poderia contribuir para que eles pudessem repensar suas pr ticas e a proposta de educa o das escolas das aldeias A leitura do relat rio de pesquisa foi realizada coletivamente e quando alguns dos professores discordavam de alguma quest o esta passava a ser discutida Um dos professores discordou de ser apontada como uma das causas da evas o escolar feminina a proibi o por parte dos maridos ap s o casamento As professoras presentes confirmaram o que estava escrito no relat rio e disseram que infelizmente era verdade Durante a leitura do relat rio foi grande a preocupa
406. sist ncia e adapta o In Somos as aguas puras Campinas SP Papirus 1994 22 BRASIL Governo Emenda Constitucional n 1 de 1969 Bras lia 1969 23 Ratifica o da Conven o n 169 Di rio do Senado Federal 2000 24 MEC http portal mec gov br acessado em 18 de jun de 2007 25 CALEFATTI P O que ser ndio hoje a quest o ind gena na Am rica Latina Brasil no in cio do s culo XXI Di logos Latinos Americanos Dinamarca n 07 2008 26 domestica o do ex tico Di logos Latinos Americanos n 07 Dinamarca 2008 27 CARVALHO Mauro Luiz A Contribui o da Educa o Escolar Ind gena para a Revitaliza o da Cultura Guarani Monografia Curso de Pedagogia Faculdade de Ci ncias Humanas de Aracruz 2004 28 CASALD LIGA P Recado para o CIMI em seus 25 anos de teimosia e testemunho Porantim N 200 Bras lia CIMI 1997 29 CENTRO ECUM NICO DE DOCUMENTA O E INFORMA O CEDI Os povos ind genas e a Constituinte S o Paulo 1991 30 Povos Ind genas no Brasil 1987 1990 Bras lia MEC 1994 31 Povos ind genas no Brasil 1987 88 99 90 Serie Acontece Especial n 18 S o Paulo MEC 1991 285 32 Revela es sobre a terra a mem ria viva dos guarani Vit ria Edufes 1996 33 CERTEAU M A cultura no plural 3 edi o S o Paulo Papirus 1995 34 CEVALLOS D Ind genas sacodem o poder S o Paulo Adital 2004 35 CHAUI M Mito fund
407. sist ncia e de luta A municipalidade de Aracruz tem sido mais favor vel institucionaliza o de pol ticas p blicas relativas EEI No ano de 1999 essa Prefeitura realizou um concurso p blico de provas e t tulos para a contrata o de professores para as escolas do munic pio Os Tupinikim e os Guarani por meio do Subn cleo de Educa o do NISI ES reivindicaram junto ao prefeito do munic pio que o concurso para as escolas das aldeias fosse espec fico e diferenciado atendendo assim as ti Ata de reuni o do NISI ES realizada em 15 de dezembro de 2002 261 necessidades de cada povo Essa reivindica o foi poss vel porque naquele ano tinha sido conclu do o Curso de Formadores Tupinikim e Guarani Atendendo as reivindica es dos povos ind genas foi lan ado o Edital PMA n 001 99 que no item 1 2 afirmava que o concurso atenderia a especificidades dos povos Tupinikim e Guarani garantindo aos candidatos com forma o ind gena prova diferenciada e t tulos espec ficos em atendimento Constitui o Federal artigos 215 e 231 e s diretrizes Nacionais para o Funcionamento das Escolas Ind genas O concurso p blico diferenciado realizado pelo munic pio de Aracruz foi o primeiro municipal a ser realizado em todo o Pa s e passou juntamente com o do Acre a ser uma refer ncia para os outros estados da Federa o como Minas Gerais e Mato Grosso Pedagoga da SEDU informa o verbal Especificame
408. so nos escritos desses paises e tamb m o que tem por l de conhecimento dos mais velhos tipo minha m e Aurora e de outros viemos de l do Paraguai Esse registro hist rico tem que estar nesta educa o para que escrito n o se duvide acreditem Precisamos que a educa o d conta disso Na parte da agricultura precisamos valorizar os tipos de semente tradicionais Tratar E Representa es nesta pesquisa esse termo est sendo utilizado com sendo as id ias concep es conceitos e imagens que os guarani t m acerca da educa o escolar 39 dos perigos das tecnologias Falar da erva mate usada no ritual tipos de feij o amendoim como forma de fortalecer esta educa o diferenciada Cacique oninho Boa Esperan a Ata de reuni o NISI ES 10 08 99 O registro hist rico tem que estar nessa educa o para que escrito n o se duvide acreditem Cacique Toninho Para o cacique de Boa Esperan a o documento considerado como uma autoridade final e como garantia de transmiss o para o futuro THOMPSON 1992 p 87 O discurso do cacique marcado pela apropria o e pela tentativa de reelabora o de conhecimentos originais como uma maneira de valorizar os conhecimentos ind genas Ele os nomeia de conhecimentos cient ficos pois considera a educa o deve dar conta de trabalhar nossa ci ncia e tamb m a matem tica Essa apropria o e reelabora o dos conhecimentos pelos Guarani do Esp rito
409. so pelo qual determinada condi o ou entidade local estende a sua influ ncia a todo o globo e ao faz lo desenvolve a capacidade de considerar como sendo local outra condi o social ou entidade rival SANTOS 2003b 112 No mbito da ONU a quest o ind gena passou a ser aprofundada a partir dos anos 70 do s culo XX quando o seu Conselho Econ mico e Social autorizou o estudo sobre as condi es de vida das popula es ind genas trabalho realizado pelo embaixador Martinez Cobo Por recomenda o dele deu se in cio a uma crescente inclus o do tema ind gena na pauta de debates e confer ncias internacionais sobretudo gra as aos anos de lobby por parte dos pr prios ndios que fizeram com que em 1982 a ONU criasse o Grupo de Trabalho sobre Popula es Ind genas Esse grupo logo se transformou no mais importante f rum internacional de discuss o dos direitos ind genas Essa mudan a constituiu se num marco definitivo no tratamento da quest o em n vel mundial DIREITOS acesso em 20 jun 2006 A UNESCO por meio da Oficina Regional para Educa o na Am rica Latina e Caribe sediada no Chile uma das ag ncias da ONU que tem desempenhado importante papel na cria o da rede promovendo semin rios e cursos sobre pol ticas e estrat gias para a EEI em mbitos nacionais e regionais MONTE 2001 Em 1985 a Subcomiss o de Preven o de Discrimina o e Prote o de Minorias que deriva da Comiss o
410. so povo seria um orgulho Do seu ponto de vista a escola pode ser tanto ruim como ben fica para a sociedade guarani Podes ser ruim quando as crian as come am a ir para a escola e os indinhos avan am um pouquinho no estudo j querem roupa adequada sapato tudo como os brancos exigem Pode ser ben fica se todo aluno guarani fosse igual ao professor Mauro que tudo que aprende coloca a servi o de sua na o Falas registradas na ata de reuni o realizada na Tr s Palmeiras pelos membros do NISI ES no dia 8 de dezembro de 2005 Ao reconhecer o importante trabalho realizado pelo professor Mauro o senhor J lio aponta para a import ncia da forma o de professores ind genas por m explicita tamb m o problema criado com a exist ncia do professor remunerado nas aldeias Na pr pria escola das aldeias tem pessoas que ganham seu dinheirinho t m menos filhos e essas crian as j se vestem melhor e acabam criticando as criancinhas que s o mais simples que se vestem de qualquer jeito qualquer tipo de pe a de roupa Fala registrada na ata de reuni o realizada na aldeia de Tr s Palmeiras pelo NISVES no dia 8 de dezembro de 2005 Como j foi dito anteriormente a quest o da EEI passou a ser discutida na aldeia de Boa Esperan a a partir do momento em que algumas lideran as come aram a conhecer experi ncias de outras aldeias e a participar de encontros sobre o assunto modificando assim suas representa es em rela
411. sou a ser objeto de longa e controvertida trajet ria no Senado Federal principalmente quanto aos seus Arts 14 15 17 e 32 O Art 14 da Conven o 169 versa sobre a necessidade de se reconhecerem aos povos ind genas os direitos de propriedade e posse sobre as terras que tradicionalmente ocupam Segundo alguns senadores esse artigo da Conven o violaria o inciso XI do Art 20 da Constitui o Federal Brasileira que declara serem bens da Uni o as terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios Ademais pelo 2 do Art 231 as terras ind genas tradicionalmente ocupadas pelos ndios destinam se sua posse permanente cabendo lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo dos rios e dos lagos nelas existentes Ao defender a ratifica o da Conven o pelo Senado o Senador Artur da T vola disse que o texto do Art 14 parecia opor se ao do Art 20 inciso XI da constitui o se lido isoladamente Contudo a leitura dos artigos 34 e 35 da Conven o n 169 demonstra a flexibilidade presente nela fi Art 34 A natureza e o alcance das medidas que sejam adotadas para p r em efeito a presente Conven o dever o ser determinadas com flexibilidade levando em conta as condi es pr prias de cada pa s Art 35 A aplica o das disposi es da presente Conven o n o dever prejudicar os direitos e as vantagens garantidas aos povos interessados em virtude de outras conven es e recomenda es instrumentos inter
412. ss vel pois este j foi tra ado anteriormente O 241 principal objetivo dos adultos guarani possibilitar a forma o do que eles chamam de guarani ete ou seja um guarani de verdade Um adulto que possua todas as caracter sticas de um bom homem guarani que entre outras ser religioso e avesso sedu o das coisas do mundo n o ndio Nos primeiros anos a grande preocupa o dos pais assegurar o crescimento da alma pois a crian a est fraca e vulner vel Nesse per odo comum os pais adotarem a cria o de animais dom sticos como galinhas e cachorros que servem de anteparo protetor a qualquer malef cio que venha do mundo exterior como doen as e feiti os pois os pais e os filhos ainda est o vulner veis s maldades do mundo BORGES 2002 p 57 Por isso entre as pessoas guarani respeitado o viver aut nomo de cada crian a em que cada uma com suas caracter sticas revela seu modo de ser e descobre suas potencialidades Ao mesmo tempo orientada por palavras de sabedoria de carinho e de suavidade que comp em os conselhos ou as narrativas tradicionais palavras plenas de ensinamento Por m h um entendimento de que os tra os b sicos que formam a pessoa lhe s o pr prios Por isso que tal nome lhe foi revelado no ritual de nomea o nome que j diz as caracter sticas intr nsecas da pessoa BERGAMACHI 2005 O respeito um valor sempre evocado quando o assunto educa o tradiciona
413. sse povo com a participa o do grupo que vive no Esp rito Santo tem refletido sobre diversos temas como a rela o entre a educa o guarani e a educa o escolar As mudan as em rela o ao conceito de cultura sacudiram tamb m a Igreja Cat lica que por v rios s culos vinha catequizando compulsoriamente impondo a cultura ocidental como evangelho supracultural e macroecum nico CASALD LIGA 275 1977 A ala mais progressista dessa institui o passou a defender que a religi o n o poderia ser praticada isolada da vida por isso passou a apoiar a luta desses povos por seus direitos O movimento pol tico dos povos ind genas passou a contar tamb m com o apoio de diversos segmentos da sociedade Foram criadas v rias organiza es n o governamentais indigenistas e de apoio causa ind gena constitu das por antrop logos ling istas juristas ecologistas e outros profissionais No Esp rito Santo o apoio de diversos profissionais e organiza es n o governamentais tem sido fundamental nos diversos setores luta pela terra sa de educa o da vida dos Guarani Outra caracter stica do movimento pol tico dos povos ind genas que eles se t m estruturado em uma rede internacional conseguindo dessa maneira que os direitos dos povos ind genas sejam garantidos e defendidos tamb m por organiza es como a ONU a OIT e a OEA V rias conven es e tratados protegendo os direitos dos povos ind genas foram p
414. ssim como na Federal as constitui es estaduais apresentam um cap tulo espec fico Dos ndios que garante o apoio para que esses povos tenham a posse das terras que ocupam e condi es de preservar as suas tradi es SE O II Dos Indios Art 282 O Estado far respeitar os direitos bens materiais cren as tradi es e todas as demais garantias conferidas aos ndios na Constitui o Federal 1 Compete ao Minist rio P blico a defesa judicial dos direitos e interesses das popula es ind genas bem como intervir em todos os atos do processo em que os ndios sejam partes 2 A Defensoria P blica prestar assist ncia jur dica aos ndios do Estado suas comunidades e organiza es 8 3 O Estado proteger as terras as tradi es usos e costumes dos grupos ind genas integrantes do patrim nio cultural e ambiental estadual Art 283 A lei dispor sobre formas de prote o do meio ambiente nas reas cont guas s reservas e reas tradicionalmente ocupadas por grupos ind genas observado o disposto no art 231 da Constitui o Federal SAO PAULO 1989 acesso 10 out 2007 Essas constitui es ratificaram tamb m o direito ao uso da l ngua materna no Ensino Fundamental Art 251 O Poder P blico assegurar s comunidades ind genas o ensino fundamental ministrado em l ngua portuguesa garantindo lhes a utiliza o 55 O mesmo problema enfrentado tamb m por
415. ssor jur dico para assuntos ind genas na Constituinte J lio Gaiger 130 realidade n o aconteceu uma vez que o CIMI e a CNBB consideraram a proposta defendida pelas outras entidades ABA CEDI UNI CTI MIRAD muito limitada principalmente quanto ao reconhecimento do car ter pluri tnico do Pa s Por isso ficou acertado que o CIMI elaboraria propostas parte para abordar os aspectos faltantes na proposta unit ria sem preju zo da sua articula o com as demais entidades que subscreveram esta ltima GAIGER 1988 A partir do in cio dos trabalhos da ANC lideran as ind genas e indigenistas realizaram uma s rie de reuni es com os parlamentares para a melhor definir os direitos ind genas relativos cidadania defesa do patrim nio terra ao uso dos recursos naturais assist ncia sa de e educa o Em abril de 1987 cerca de 40 ndios de diversos povos e representantes de entidades indigenistas fizeram se presentes no Congresso Nacional fazendo a divulga o e a entrega da proposta unit ria que no seu processo de constru o contou com o trabalho de A lton Krenak o grande articulador entre os povos ind genas na Constituinte GAIGER 1988 Em abril de 1987 o antrop logo e deputado Jos Carlos Sab ia PMDB MA apresentou Submiss o das Popula es Ind genas uma proposta de texto com cinco artigos e uma longa justificativa sobre os direitos ind genas apoiada por extensa lista de organi
416. stitui es internacionais tanto na elabora o quanto na aprova o e cumprimento do que esses documentos estipulam como veremos no Cap tulo IV que trata da quest o dos movimentos sociais dos ind genas Por sua vez os Estados como signat rios dos tratados internacionais adotam posturas diversas s vezes cumprem os acordos outras vezes simplesmente os ignoram outras ainda cumprem parcialmente ou muitas vezes fazem de conta que os cumprem o que demonstra que os Estados n o t m aceitado passivamente as press es internas e externas sobre as identidades nacionais como veremos no cap tulo IV Al m do n o cumprimento dos instrumentos juridicamente vinculat rios constatamos tamb m que os Estados continuam colocando em pr tica ou atualizando os processos discursivos que tentam estabelecer as identidades culturais nacionais Quem n o se lembra da campanha realizada pelo governo Lula no in cio do seu primeiro mandato 2003 2006 que atrav s de exemplos como do jogador de futebol Ronaldo o Fen meno e do faxineiro de Bras lia que encontrou 46 no aeroporto uma carteira com dez mil d lares e a devolveu ao dono mostrou que o que o Brasil tem de melhor s o os brasileiros Os conceitos de processos de estatiza o identidades nacionais e deslocamentos ajudaram na compreens o dos processos de institucionaliza o das pol ticas p blicas em rela o aos povos ind genas no Brasil A partir da leitura d
417. struir n s mesmos o quebra cabe a ou seja formular como tais informa es se articulam entre si Nesse sentido a familiaridade com a quest o da EEI foi um dos elementos facilitadores do nosso trabalho de pesquisa uma vez que atuamos na forma o de professores guarani desde o ano de 1997 conhecendo portanto as tramas e os sujeitos nela envolvidos Isso nos facilitou recolher uma grande variedade de informa es 36 fragmentadas e construir o quebra cabe a compreendendo assim como tais informa es se articulavam entre si A pesquisa de movimentos sociais apresenta in meros desafios te rico metodol gicos dentre os quais destacamos a sele o e o tratamento das fontes Muitas vezes o historiador enfrenta o problema de n o haver um corpo de material pronto a respeito desses movimentos No caso espec fico desta pesquisa a quest o n o foi a falta de fontes mas sim a diversidade delas GINZBURG 2002 O processo de escolariza o dos Guarani do Esp rito Santo tem gerado uma grande diversidade de fontes escritas produzidas pelos rg os dos governos federal estaduais e municipais assim como pelas institui es ind genas e de apoio causa ind gena envolvidas no processo Adotamos uma leitura cr tica desses documentos procurando desvendar as rela es de for a existentes no mbito da sua produ o GINZBURG 2004 Mesmo contando com muitas fontes escritas procuramos n o agir como os positivistas pois
418. studantes ordem do General Golbery do Couto e Silva que determinou ao presidente da FUNAI Coronel do Ex rcito Jo o Carlos Nobre da Veiga que expulsasse os ind genas da Universidade Do ponto de vista desse general o ndio jamais deveria acessar ao 1 e 2 graus muito menos universidade Como argumento maior Golbery afirmava considerar Bras lia uma cidade at pica para a educa o ind gena Assim surgiu o primeiro movimento pol tico organizado por ndios independentes e conscientes de seus direitos os jovens ind genas de Bras lia com forma o mais cr tica nas formas de leitura do homem branco decidiram ainda que involuntariamente criar um movimento ind gena mais amplo com vis o de liberdades democr ticas de direito ambiental de direitos humanos e direitos ind genas mas sob a tica do pr prio ind gena onde o direito de viver nascia sob uma vis o cultural e pol tica baseado no direito de ser diferente e ser gente trazendo nisso uma mensagem de que existia a possibilidade de conviv ncia entre duas hist rias duas identidades e duas formas de vida por m sem preconceito ou exclus o mas toler ncia e bem viver mesmo na diferen a TERENA 2008 p 22 Em junho de 1980 as principais lideran as ind genas do Pa s reunidas em assembl ia na cidade de Campo Grande MS recusaram se a reconhecer a UNIND como representante dos povos ind genas uma vez que segundo elas essa organiza o n
419. stumes do povo Guarani principalmente seus deslocamentos espaciais por isso foi garantida a continuidade do financiamento dos 207 estudos de cada aluno pelo seu estado de origem mesmo que venha a se mudar para outra unidade da Federa o A aprova o do projeto do Curso pelo CEE SC antes do in cio foi outro avan o em termos de pol ticas p blicas apresentadas por esse Programa Al m de ser um avan o em termos de pol ticas p blicas o Programa de Forma o de Professores Guarani apresenta outros progressos se comparado ao que foi executado no Esp rito Santo 1996 1999 Entre eles podemos destacar as condi es materiais em que est o sendo implementadas a forma o e a previs o de forma o de todo o corpo docente da equipe t cnico administrativa garantidas pelo Protocolo de Inten es A carga hor ria do Curso de Forma o de Professores Guarani tamb m constitu da de tempo aula e tempo aldeia At a sexta etapa o Curso foi realizado em um hotel fazenda na praia de Palmas munic pio de Governador Celso Ramos SC Figura 24 Alunos guarani no Curso de Forma o Palmas SC Fonte Arquivo da SEDU A partir da s tima etapa o Curso esse passou a ser realizado em Faxinal do C u no Centro de Forma o pertencente ao estado do Paran A conclus o desse Curso est prevista para 2008 208 A primeira reuni o para forma o dos formadores e t cnicos das secretarias aconteceu no ano de 2006
420. sua colega de Curso que come ou como estagi ria em sua sala de aula Vale mencionar que essa professora tamb m teve muitas dificuldades no trabalho de doc ncia Sandra diz que aconteceu isto com ela e muito ruim Come ou logo com uma turma que mais dif cil que a alfabetiza o Foi muito sofrimento chegou at a se arrepender e pensar em desistir porque foi muito cobrada mas continuou e a cada ano est melhorando Quem est de fora acha f cil mas muito dif cil cada situa o que deparam em sala de aula Diz que a forma o continuada e a de Santa Catarina t m lhe ajudado muito As vezes se sente ainda meio perdida e fica preocupada em como levar as crian as para frente nos estudos Ent o se p e a estudar e pesquisar para buscar sa das Diz que M rcio como estagi rio lhe ajudou muito Que no pr ximo ano pretende visitar outras salas de aula como a da educadora Aciara e tamb m a dos educadores Tupinikim Que agora na forma o de Santa Catarina j consegue compreender e acompanhar o que os professores falam mas que teve muita dificuldade anteriormente Al m do Marcelo tamb m dois outros alunos do Curso de Forma o Guarani desistiram de exercer a doc ncia no Esp rito Santo Marcos e Alessandro Marcos foi contratado no ano de 2005 para trabalhar com a turma de pr escola na EMPI Tr s Palmeiras mas como nessa escola n o havia um lugar em boas condi es para desenvolver o trabalho sua tur
421. ta se de um procedimento que n o atribui a nenhum conjunto de experi ncias nem estatuto de totalidade exclusiva nem o estatuto de parte homog nea as experi ncias do mundo s o vistas em momentos diferentes de trabalho de tradu o como totalidades ou partes e como realidades que n o se esgotam nessas realidades ou partes SANTOS 2004 p 202 A sociologia das aus ncias e das emerg ncias aumenta o n mero e a diversidade das experi ncias dispon veis e poss veis e o trabalho de tradu o visa a criar inteligibilidade coer ncia e articula o no mundo enriquecido por essa tal multiplicidade e diversidade O trabalho de tradu o feito com base na sociologia das aus ncias e na sociologia das emerg ncias um trabalho de imagina o epistemol gica e de imagina o democr tica com o objetivo de construir novas e plurais concep es de emancipa o social sobre as ru nas da emancipa o social autom tica do projeto moderno SANTOS 2004 p 813 Assim as expectativas s o as possibilidades de reinventar as nossas experi ncias confrontando as hegem nicas que nos s o impostas com a imensa variedade das experi ncias cuja aus ncia produzida ativamente pela raz o meton mica Os 63 movimentos sociais dos povos ind genas brasileiros mais de 200 etnias podem ser vistos como algumas dessas experi ncias inovadoras e contra hegem nicas O Ocidente e a ci ncia moderna t m desperdi ado muitas experi ncia
422. te desocupados e os locais a serem ainda apropriados Compreender isso entender a alma guarani TAVARES acesso 25 set 2007 Essa reportagem foi um recurso utilizado para jogar a opini o p blica brasileira contra esse povo o que causou indigna o por parte dos Guarani e dos outros povos ind genas al m dos diversos setores da sociedade civil que ap iam a causa ind gena inclusive os amplos setores da pr pria imprensa Como j foi dito anteriormente esse um bom exemplo da necessidade de fornecer a educa o escolar intercultural tamb m para os n o ndios 165 4 6 UM S POVO E MUITAS POL TICAS P BLICAS De acordo com as secretarias estaduais os dados quantitativos da educa o escolar guarani no ano de 2006 eram Tabela 3 Dados educacionais da popula o guarani no Brasil 2006 ESTADO GUARANI ESCOLAS PROFESSORES N DE ALUNOS a a a EM TOTAL RS 1 800 10 18 200 87 18 305 PR 3 000 11 44 76 530 126 18 750 SC 1 305 11 24 140 70 34 24 SP 4 000 28 81 170 525 138 06 839 RJ 772 3 7 E BIO a 7 217 ES 251 2 6 10 60 35 08 113 MS 25 000 40 150 10 000 Total 36 128 105 330 12 465 Os dados estat sticos da EEI guarani devem ser considerados apenas como estimativas uma vez que as organiza es indigenistas do MS SED MS UFMS Universidade Cat lica CIMI n o souberam inform los com precis o No Paran existem duas outras escolas municipais que atendem alunos guarani e kaigang e outra
423. terras ind genas 3 Usufruto exclusivo pelos povos ind genas das riquezas naturais existentes no solo e no dos seus territ rios 4 Reassentamento em condi es dignas e justas dos posseiros pobres que se encontram em terras ind genas 5 Reconhecimento e respeito s organiza es sociais e culturais dos povos ind genas com seus projetos de futuro al m das garantias da plena cidadania CEDI 1991 p 12 Essa coordena o articulou alian as com o CIMI o Centro de Trabalho Indigenista CTI a Associa o Brasileira de Antropologia ABA a Coordena o Nacional de 31 Para a realiza o dos trabalhos na ANC foram formadas oito comiss es constitucionais tem ticas que por sua vez dividiram se em 24 subcomiss es al m da Comiss o de Sistematiza o Cada Subcomiss o foi composta por 21 membros que discutiam temas conexos A quest o dos direitos ind genas ficou a cargo da Subcomiss o dos Negros Popula es Ind genas Deficientes e Minorias e foi uma das tr s da Comiss o da Ordem Social Cabe lembrar que quest es como sa de e educa o ind gena foram discutidas e aprovadas por outras Comiss es e Subcomiss es encarregadas desses assuntos 129 Geologia CONAGE a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ci ncia SBPC a Comiss o Pro Yanomami CCPY a Associa o Nacional de A o Indigenista ANAI e o apoio de constituintes e de diversos partidos pol ticos Os trabalhos das diversas organiza
424. tinha sido institu da pelo C digo Civil 1916 que no seu Art 6 declarava os ndios relativamente incapazes para a pr tica de atos da vida civil e por isso ficariam sujeitos ao regime tutelar que cessaria medida que fossem adaptando se civiliza o do Pa s O novo C digo Civil institu do pela Lei n 10 406 de 10 de janeiro de 2002 aboliu de seu texto o princ pio da incapacidade relativa dos povos ind genas e afirma em seu Art 4 par grafo nico que a capacidade dos ndios ser regulada por legisla o especial No entanto essa regulamenta o ainda n o foi feita A quest o da explora o dos recursos naturais das terras ind genas o item em torno do qual se d o as maiores disputas pol ticas e em que est o envolvidos 150 diversos setores da sociedade dadas as diferentes formas de interpretar o assunto al m dos interesses econ micos ambientais e outros que est o em jogo H setores que s o contr rios explora o dos recursos minerais h dricos e florestais das Terras Ind genas Consideram que tais atividades podem gerar invas es de terras impactos ambientais culturais sociais para os povos ind genas Argumentam tamb m que muitos povos ind genas n o t m o costume de lidar com grandes quantidades de dinheiro e por isso ficariam bastante vulner veis Outros setores defendem que tais atividades est o previstas na Constitui o e devem ser regulamentadas de forma que os direitos
425. titui es indigenistas n o 125 governamentais que passaram a atuar ao lado dos povos ind genas muitos dos quais ganharam visibilidade nos meios de comunica o Paulatinamente a quest o do respeito diversidade cultural passou a ser defendida por v rios setores da sociedade A omiss o da FUNAI no cumprimento de seus deveres de demarca o e prote o do patrim nio dos povos ind genas e o fato de essa institui o governamental configurar se como uma ag ncia tribut ria da relativa capacidade do ind gena expressa no C digo Civil que persistia nas pol ticas indigenistas de integra o tnica contribu ram tamb m para a rea o dessa popula o e o surgimento de entidades e movimentos de defesa e apoio a esses povos Na d cada de 1970 o descr dito dos povos ind genas em rela o FUNAI tornou se t o grande que uma lideran a xavante M rio Juruna passou a gravar as promessas dos funcion rios da Institui o e de outros setores do Governo Federal para que pudesse posteriormente fazer as cobran as O gravador virou o seu arco e flecha no mundo das promessas dos civilizados MARTINS 1978 Juruna Eu comprei pra isso Branco faz muita promessa Esquece tudo logo E ndio n o podia provar Quem vai me proibir assim Ent o n o fala comigo Falo gravo Todo branco deveria ter gravadora assim Mas civilizado bobo Tem coisa boa e n o usa JURUNA apud MARTINS 1978 p 207 Outro
426. to Socioambiental S o Paulo 2003 Dispon vel em lt http www socioambiental org gt Acesso em 20 novembro de 2006 2 ANDERSON B Na o e consci ncia nacional S o Paulo tica 1989 3 ARA JO A V Direito internacional Instituto Socioambiental S o Paulo 2008 Dispon vel em lt http Anww socioambiental org gt Acesso em 12 novembro de 2006 4 ASSEMBLEIA do povo Guarani lt http www vermelho org br gt acesso em 18 de julho de 2007 5 ASSOCIA O BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA Boletim da ABA Florian polis n 16 abr p 1998 6 AUDI NCIA na OEA Dispon vel em lt http www cir gov br gt acesso em 2 de fev 2007 7 AYLWIN J Pueblos ind genas de Chile antecedentes hist ricos y situaci n actual Santiago do Chile Instituto de Estudios Ind genas Universidad de la Frontera 2006 8 BAINES S G Tend ncias recentes na pol tica indigenista no Brasil na Austr lia e no Canad Bras lia CNPq 1997 9 BARBOSA M A B ndios guarani defendem suas terras na Justi a In Indios no Estado de S o Paulo resist ncia e transifigura o S o Paulo Comiss o Pr Indio de S o Paulo 1984 10 BARROS M C D M A miss o Summer Institute of Linguistics e o indigenismo latino americano hist ria de uma alian a d cadas de 1930 a 1970 S o Paulo Rev Antropol vol 47 no 1 11 BARTH F Los grupos etnicos y sus fronteras La organizaci n social de las diferencias culturales M
427. tros de uma pedagoga da SEDU o professor Marcelo apresentava tamb m problemas com o dom nio de conte dos e da l ngua portuguesa escrita O educador Marcelo que tamb m cursista da Forma o de Professor Guarani juntamente com a Sandra estava trabalhando com seus alunos uma atividade complete sobre o corpo humano As crian as apresentavam dificuldade em ler e responder o que era solicitado Nas tentativas que o educador fez em ajudar seus alunos demonstrava inseguran a e falta de conhecimento mais profundo sobre o que estava sendo solicitado para esclarecimento e orienta o aos alunos O educador tem dom nio oral da L ngua Guarani mas apresenta certas dificuldades na escrita da L ngua Portuguesa Assim como no caso das professoras Vanda e Lucimara os registros encontrados apresentavam apenas julgamentos em rela o ao trabalho do professor N o havia nenhuma indica o do apoio dado a ele em seus estudos de tempo aldeia para que ele pudesse superar suas limita es quanto l ngua portuguesa escrita conforme o estabelecido pelo Protocolo de Inten es Quanto ao apoio pedag gico ele disse que contou mesmo foi apenas com o apoio do professor Mauro Marcelo conversa informal mar o de 2007 Outro problema que os julgamentos se d o com base nos valores da nossa sociedade dom nio da l ngua portuguesa escrita conte dos sobre o corpo humano Ata de reuni o realizada na aldeia de Tr s Palmeiras no d
428. tu co oficiais do munic pio e por ter um Sistema Municipal de Educa o que contempla e garante a exist ncia de subsistemas ind genas de educa o Isso n o significa que na pr tica seja assim mas experi ncias em curso podem ajudar nas discuss es uma vez que ao que tudo indica a educa o escolar ind gena caminha para se construir em um subsistema de educa o nacional ou ainda em distritos educacionais ind genas BANIWA 2006 p 1 A id ia de se criarem os distritos educacionais ind genas inspira se do modelo que vem sendo adotado na rea da sa de ind gena Na ocasi o da audi ncia em S o LADEIRA 2006 50 Idem 159 Gabriel da Cachoeira a Comiss o Nacional de EEI trouxe informa es acerca dos desafios da EEI no Brasil Os professores lideran as ind genas e entidades de apoio que atuam no Rio Negro indicaram os problemas enfrentados na execu o de suas a es na regi o O Encontro gerou um documento cujo objetivo orientar os encaminhamentos sejam eles de compet ncia do CNE dos Sistemas de ensinos ou do MEC Entre as reivindica es de abrang ncia nacional destacam se Encontrar formas de garantir a contrata o de educadores sabedores tradicionais das comunidades ind genas que n o t m a forma o escolar exigida pela Lei Propor a realiza o de confer ncias para discutir as demandas da Educa o Escolar Ind gena Orientar os Estados e Munic pios secretarias e conselhos
429. u do as tarefas do tempo aldeia e colocara v rias quest es sobre todas as disciplinas Os formadores que atuaram no Curso tinham como fun es o planejamento e a execu o das aulas o acompanhamento do tempo aldeia e do est gio a realiza o de pesquisa e a participa o em reuni es e semin rios Por m eram remunerados apenas pelas aulas dadas e pelo acompanhamento do tempo aldeia V rias dessas atividades acabaram n o sendo cumpridas como por exemplo as pesquisas das reas de Matem tica e de Ci ncias Naturais Tamb m n o foram finalizados v rios dos materiais did ticos da rea de Ci ncias Naturais de Ci ncias Sociais e de Matem tica N o foi prevista nenhuma pesquisa pelos formadores das reas de Artes Educa o para o Corpo e L ngua Guarani o que lament vel uma vez que de acordo com Cota 2000 as pesquisas contribuiriam para a capacita o dos formadores em rela o modalidade de ensino em EEI e ao conhecimento desses povos A coordena o do Curso teve que enfrentar o grande n mero de faltas dos participantes e as constantes desist ncias que chegaram a 50 7 do total dos alunos matriculados COTA 2000 e 37 5 dos alunos guarani Anexo C Toninho de Comboios coloca a falta dos participantes n o compreende o que est acontecendo Coloca a import ncia da participa o no Curso Alzenira coloca sobre as faltas dos Guarani que o grupo deveria fazer um esfor o Vini coloca a preocupa
430. uas pr prias institui es educacionais O Encontro sobre o Direito Comparativo Ind gena na Am rica realizado em Quito em 1990 teve como uma de suas reivindica es o estabelecimento de Programas de Educa o Biling e e Intercultural tamb m para as popula es n o ind genas MONTE 2001 p 49 No ano 2004 aconteceu em Quito Equador o Il Encontro Continental dos Povos Ind genas das Am ricas no qual estiveram presentes 600 lideran as representativas de povos ind genas Nesse encontro foram abordados os seguintes temas terras territ rios e recursos naturais autonomia e livre autodetermina o diversidade e pluralidade conhecimentos ind genas e propriedade intelectual direitos ind genas e organismos multilaterais nacionalidades e povos ind genas movimentos sociais e F rum Social Mundial mulheres ind genas educa o escolar participa o pol tica e governos alternativos e militariza o BITTENCOURT DANTAS 2004 p 1 Em outubro de 2006 aconteceu em La Paz Bol via o Encontro Continental de Povos e Nacionalidades Ind genas de Abya Yala Am rica Latina sob o tema Da resist ncia ao poder Milhares de ind genas de pa ses como Col mbia Argentina Equador Canad Venezuela Panam Nicar gua M xico Guatemala e Chile discutiram temas como soberania e governo an lise dos direitos internacionais ind genas identidade e conviv ncia culturas educa o e l nguas organiza o e perspectivas
431. uca o puderam ser alcan ados por meio de redes de comunica o em v rios n veis inter relacionados al m de contatos intensificados em mbitos internacionais O maior movimento para a Educa o Intercultural e Bil ng e originou se localmente nas pr prias comunidades quando buscou alternativas educa o formal entendida como amea a maneira de os povos ind genas serem pensarem e fazerem Em forma de uma grande rede ao lado de outros movimentos sociais e assessores as popula es ind genas formaram no continente americano um grande movimento social Contaram para isso com o apoio de alguns setores dos meios de comunica o e de acad micos entidades privadas ag ncias humanit rias organismos governamentais e de direitos humanos para o reconhecimento dos direitos de novas formas de educa o escolar O movimento rejeitou o assimilacionismo como pol tica p blica e inscreveu a diversidade como marca de uma nova forma de direito social MONTE 2001 p 31 Uma das principais caracter sticas da luta dos povos ind genas pelo direito a uma educa o intercultural e biling e que ela nunca se d de maneira isolada da luta por outros direitos reconhecimento da diversidade tnica propriedade coletiva da terra e assist ncia m dica Em outras palavras a luta dos povos ind genas se d pelo reconhecimento da diversidade e tamb m pelo combate s desigualdades sociais que por s culos t m submetido os ndios e out
432. ue a filha que est estudando em Santa Cruz sabe menos da cultura do que a outra que estuda na aldeia N o tem o que reclamar da escola de Tr s Palmeiras agradece o esfor o dos professores ndios que est o tentando fazer o melhor para os nossos filhos Diz que tem as influ ncias negativas que prejudicam a educa o das crian as guarani hoje em dia como o caso da TV que acaba influenciando a n o seguirem nossos ensinamentos Os professores guarani t m conseguido superar toda sorte de dificuldade como as debilidades da forma o inicial e continuada a falta de material did tico diferenciado sem contar as p ssimas condi es do espa o f sico onde trabalham Al m do professor Mauro outra professora que tem contribu do para o fortalecimento da EEI guarani a professora Aciara que come ou a lecionar no ano de 1999 na condi o de estagi ria da professora de s ries iniciais da FUNAI sua ex professora prim ria e no ano 2000 tornou se titular dessa turma Curso de extens o universit ria que tem sido frequentado pelos professores Mauro Alberto e Sandra E que vem sendo promovida pelo N cleo de Pesquisa em Tradu o e Estudos Culturais TEI do Departamento de Letras da UFES coordenado pela professora L lian de Paul 26 Ata de reuni o realizada na aldeia de Tr s Palmeiras no dia 20 de dezembro de 2005 268 Aciara afirmou que gosta de atuar como professora que tem muito prazer em trabalhar gosta de
433. ue levavam ao exterm nio grande parte do grupo contatado N o raro grupos ind genas eram enxotados de seus territ rios pelas press es de algum fazendeiro que reclamava seu direito de propriedade GAGLIARDI 1989 mesmo estando assegurado pelas Constitui es de 1934 1937 e 1946 o direito posse da terra Nos anos 60 do s culo XX o SPI encontrava se em situa o bastante prec ria e acabou sendo extinto ap s o golpe de Estado de 1964 quando uma auditoria realizada junto nesse rg o confirmou as suspeitas de irregularidades administrativas Em substitui o ao SPI foi criada em 1967 a FUNAI No per odo da Ditadura Militar 1964 1984 a situa o dos povos ind genas piorou ainda mais devido acelera o do processo de industrializa o e expans o das fronteiras agr colas que levaram extin o ou dispers o de v rios grupos ind genas Os Pankararu origin rios de Pernambuco migraram para a Regi o Sudeste devido a constru o da hidrel trica de Itaparica no Rio S o Francisco seca aos conflitos oriundos da luta pela terra e s in meras outras agress es Os Xacriab do norte de Minas Gerais perderam dois ter os do territ rio em decorr ncia do desenvolvimento de projetos agr colas na regi o pela Ruralminas que atra ram fortes grupos empresariais e grandes fazendeiros das cidades vizinhas Os Tupinikim do Esp rito Santo perderam para a Aracruz Celulose cerca de 30 mil hectares de terra
434. ue se processaram no mbito da Igreja Cat lica o apoio da imprensa e de intelectuais institucionaliza o das pol ticas p blicas federais em rela o aos povos ind genas Numa outra dimens o da pesquisa tentamos relacionar o processo de escolariza o dos Guarani do Esp rito Santo com o contexto mais amplo da institucionaliza o das pol ticas p blicas em rela o aos povos ind genas Procuramos construir uma argumenta o sobre o processo de escolariza o dos Guarani do Esp rito Santo considerando os diversos aspectos que marcam o complexo panorama social brasileiro assumindo assim uma postura detetivesca levantando hip teses verificando suas possibilidades explicativas para aceit las mesmo que parcialmente ou refut las O princ pio da circularidade cultural GINZBURG 2004 foi de fundamental import ncia para a compreens o das representa es dos Guarani do Esp rito Santo em rela o educa o escolar uma vez que constatamos que muitas vezes o discurso das pessoas em rela o educa o escolar era marcado por uma reelabora o original Queremos defender nossos direitos mesmo que o ndio n o fale bem mas que a educa o d conta de trabalhar nossos direitos nossa ci ncia e tamb m a matem tica como se trabalha nossa sabedoria quanto quantidade da partilha A hist ria dos nossos antepassados tem que se levar em conta nossas origens na Argentina e no Paraguai Ver is
435. ul as escolas ind genas guarani iniciaram suas atividades desvinculadas do Estado No Mato Grosso do Sul o projeto desta escola diferenciada entre as comunidades Kaiov Guarani mais concentrada no sul do Estado come a a ser pensado com algumas iniciativas isoladas e fora do mbito do Estado por volta de 1985 como demanda dos movimentos nacionais desencadeados nos anos de 1970 que tinham como objetivo a defesa dos territ rios e a luta por outros direitos e entre eles uma escola diferenciada que rompesse com o modelo da que lhes era imposto at ent o MATO GROSSO DO SUL acesso 10 jul 2007 Nesse Estado o movimento dos professores guarani desempenhou importante papel no processo de constru o dessas experi ncias educacionais No Mato Grosso do Sul os professores ndios Guarani Kaiov os poucos que existiam e algumas lideran as assessorados por rg os n o governamentais em especial o CIMI Conselho Mission rio Indigenista e 169 professores universit rios pesquisadores da quest o ind gena criam o Movimento dos Professores Guarani Kaiov que passa a fazer gest o no sentido de contarem com curr culos mais pr ximos de suas realidades e consequentemente com programas de capacita o inicial e continuada O Movimento dos Professores Guarani Kaiov de Mato Grosso do Sul existe ainda que em situa o embrion ria desde 1988 tendo sido criado efetivamente em 1990 MATO GROSSO DO SUL acesso em 10
436. ulminaram com a garantia na Constitui o Federal de 1988 de v rios dos direitos por eles reivindicados como o reconhecimento por parte do Estado do pluralismo cultural existente entre os povos ind genas o direito a uma educa o escolar e a uma assist ncia m dica que respeite essas diferen as culturais e os direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam Outro marco importante no que se refere escolariza o de povos ind genas brasileiros foi a Lei de Diretrizes de Base da Educa o LDB de 1996 em cujo texto Movimentos Instituintes movimentos que propiciam a expans o da vida cujas pr ticas s o capazes de engendrar realidades que embora n o sejam inaugurais porque h muito t m sido tentadas revestem se de um tom de insurg ncia que recoloca os desejos ticos do passado novamente nas pautas de negocia es para serem ressignificados e conquistados LINHARES 2002 p 117 118 23 a EEI definida como uma educa o intercultural e biling e Tamb m no rastro da Constitui o de 1988 as Diretrizes para a Pol tica Nacional de Educa o Escolar Ind gena do Minist rio da Educa o MEC 1994 estabelecem que al m intercultural e biling e a EEI deva ser tamb m espec fica e diferenciada para atender as especificidades culturais de cada povo Hoje transcorridos 20 anos da promulga o da Constitui o Federal e 12 anos da LDB os povos ind genas brasileiros continuam na luta pelos seus
437. ultura A ci ncia da Cultura escrita por L White e editada em 1940 Para esse autor a simboliza o o tra o distintivo do ser humano e a cultura definida como sendo o nome de uma classe distinta de fen menos a saber aqueles eventos ou coisas que dependem do exerc cio de uma habilidade mental peculiar s esp cies humanas que se denomina de simboliza o THOMPSON 1995 p 102 A vis o de cultura de White do ponto de vista de Thompson tamb m estaria circunscrita a uma concep o evolucionista de cultura porque White estabelece uma divis o na categoria mais ampla dos fen menos culturais em tr s sistemas tecnol gico sociol gico e ideol gico e situa esses sistemas num amplo marco referencial evolucionista que enfatiza o papel da tecnologia THOMPSON 1995 p 103 Resumidamente podemos afirmar que o evolucionismo cultural na realidade uma marca da influ ncia do positivismo no nascimento da Antropologia e da Etnologia De acordo com Thomas 1995 a Antropologia nasceu no s culo XIX sob a gide do Evolucionismo Cultural que supunha a exist ncia de uma nica marcha no progresso da humanidade qual todos os povos estariam condenados O final desta marcha seria evidentemente a civiliza o ocidental Os outros povos as outras culturas ocupariam est gios desta civiliza o assim sendo estudar os chamados povos primitivos seria algo como uma volta ao nosso pr pr
438. umir as aulas de L ngua Guarani e Portuguesa o Marcelo ou a Joana que poderiam assumir a rea de artes Essas s o apenas algumas das possibilidades constatadas pelo trabalho de campo ficando as decis es a cargo da comunidade 100 No lugar da Aciara poderia assumir um dos alunos do Curso de Forma o de Professores Guarani ou a professora Vanda 225 Ainda no mbito da forma o dos professores cabe ressaltar a quest o da forma o continuada que se tem dado por meio daquelas ministradas pelos parceiros do Subn cleo de Educa o do NISI ES e da participa o em eventos e congressos Os encontros de forma o continuada realizados pelos parceiros do Subn cleo de Educa o do NISI ES reuniam os professores guarani e tupinikim para estudos 2 As necessidades sobre a abordagem pedag gica Pedagogia do Texto espec ficas desses dois povos acabaram n o sendo atendidas como foi o caso do estudo da l ngua guarani e do tupi da produ o de material did tico e de curr culos escolares diferenciados para cada um desses dois povos A professora Aciara que participava dessa forma o afirmou que assim como o Curso de Forma o de Educadores Tupinikim e Guarani a forma o continuada tamb m n o dava conta da singularidade guarani Ainda hoje do mesmo jeito as forma es nunca tratam do povo Guarani em espec fico Aciara 2006 conversa informal O mesmo ponto de vista compartilhado pelos outros
439. undamental e outras pessoas da comunidade Figura 31 A professora Ruth ao centro e os professores guarani Fonte Arquivo da pesquisadora O Curso de L ngua Guarani Mbya foi realizado gra as a uma parceria entre o MEC a SEDU e a SEMED Teve como objetivos conhecer as diferentes formas de escrita da l ngua levantar palavras para a cria o de um dicion rio da l ngua ensinar a gram tica e a did tica discutir quest es relacionadas ao uso da l ngua na oralidade e ao ensino da sua escrita Como j foi dito o eixo norteador do Curso a l ngua guarani mbya l ngua falada pela maioria dos moradores das aldeias do Esp rito 2 A disserta o de mestrado de Teao 2007 analisa as vis es dos Guaranis Mbya sobre a escola na aldeia ind gena de Tr s Palmeiras 218 Santo Assim como no Curso de Forma o de Professores Guarani n o s o ensinadas as outras variantes ling sticas O povo Guarani assim como os outros povos ind genas da Am rica tem adotado o alfabeto latino para escrever H algumas diferen as na representa o escrita de algumas palavras na l ngua guarani mbya Por exemplo em S o Paulo eles escrevem jagua no Esp rito Santo os Mbya escrevem djagwa Por isso foi acordado entre os participantes do Curso que o ensino da escrita da l ngua guarani deve levar em considera o a forma local da escrita por m o professor dever conhecer essas diferen as e se poss vel ensin l
440. unic pio de Aracruz 78 Figura 5 Milharal seo sn ara ata aaa Ef AO a a a a 86 Figura 6 Cabana para venda de artesanato sera 87 Figura 7 Artesanatos guarani e eeeraseeeaaeaaaaanennaaaa 87 Figura 8 EMPI Boa Esperan a cessa is 00sbpnSs a a Eer as ad 89 Figura 9 EMPII Tr s Palmeiras amas ana a dd Aa Ra ua 90 Figura 10 A Cabana e a EMPI Tr s Palmeiras 93 Figura 11 Sistema educacional dos Guarani 176 Figura 12 Turma de alunos do Curso de Forma o Tupinikim e Guarani 191 Figura 13 Cabana usada durante o Curso de Forma o 192 Figura 14 Aluna guarani no Curso de Forma o 193 Figura 15 M es tupinikim e guarani com seus filhos em sala de aula 194 Figura 16 Alunos guarani na aula de Ci ncias Naturais 00seeeeeeeeeeeeeeeeeeeee 197 Figura 17 O aluno S lvio camisa branca Figura 18 Aluna guarani e aluno tupinikim do Curso de Forma o Figura 19 Participa o do cacique Toninho na aula de Ci ncias 199 Figura 20 Dona Aurora e seu filho Jonas 201 Figura 21 Alunas guarani vestidas de branco na festa de formatura 203 Figura 22 Certifica o de uma aluna guarani na festa de formatura 204 Figura 23 Leonardo aluno no Curso de Forma o ssrnrr
441. utiliza o de sua l ngua materna e de processos pr prios de aprendizagem como exposto no Cap tulo 210 da Constitui o Federal A EEI mencionada tamb m nos artigos 78 e 79 da LDB que preconizam como dever do Estado o oferecimento de uma educa o escolar intercultural e bil ngue que fortale a as pr ticas socioculturais e a l ngua materna de cada sociedade ind gena e proporcione a oportunidade de recuperar sua mem ria hist rica e reafirmar sua identidade dando lhes tamb m acesso aos conhecimentos t cnico cient ficos Para que isso possa ocorrer a LDB determina a articula o dos sistemas de ensino para a elabora o de programas integrados de ensino e pesquisa com a participa o das comunidades ind genas em sua formula o que tenham como objetivo desenvolver curr culos espec ficos A LDB prev tamb m a forma o de pessoal especializado para atuar na EEI e a elabora o e publica o de materiais did ticos a serem utilizados nessa modalidade de educa o Tamb m no rastro da Constitui o de 1988 foi editado o Decreto n 26 de 14 de fevereiro de 1991 que disp es sobre a EEI no Brasil e determina que o MEC coordene as a es a ela referentes cabendo aos estados e munic pios a sua execu o A Portaria Interministerial MJ MEC n 559 de 16 de abril de 1991 estabelece a cria o dos N cleos de EEI NEIs de car ter interinstitucional com representa es de entidades ind genas e com
442. utras parcialidades guarani e com o povo Tupinikim n o impedia a conviv ncia entre eles No caso das outras parcialidades guarani como j foi dito eles s o aceitos na aldeia por m s o mantidos em situa o perif rica e isolados em rela o organiza o da vida social Os Mbya chamavam os kaiova de paraguai termo que indicava de modo gen rico diferen as ling sticas e religiosas falam e rezam diferente da gente mas que principalmente excluindo os da identifica o com os nhandeva n s inclusivo n s agente os identificavam com a popula o mesti a do Paraguai de onde come ara a migra o Uma das principais argumenta es era de que os Kaiova adotavam um sistema de trabalho agr cola familiar no modelo dos camponeses locais em conflito com o 84 esquema dos multir es desenvolvido na aldeia o qual agregava v rias unidades dom sticas e que era voltado produ o coletiva A exclus o da rede de solidariedade e reciprocidade implicava a sua posi o limite quanto participa o nas decis es da aldeia e na distribui o dos recursos principal objeto de reivindica o dos Kaiova CICCARONE 2001 p 26 Cabe ressaltar no entanto que as desaven as entre os membros do grupo fundador e os das parcialidades n o eram empecilho realiza o de casamentos entre eles Ciccarone 2001 registrou que no come o dos anos 1990 um grupo guarani kaiova vindos de Porto Lindo no sul de Mato Grosso migrou
443. vam queles ndios em est gio de acultura o em conviv ncia constante com a sociedade nacional mas n o habitassem terras ind genas Art 264 Foi necess rio um grande esfor o por parte das organiza es ind genas e indigenistas para conseguir novas articula es pol ticas que decidissem de maneira favor vel cada um dos pontos do projeto da Constitui o Federal que tivesse implica o direta com a vida dos povos ind genas que em rela o aos direitos ind genas o texto do Centr o quase conseguiu piorar o texto do Cabral N o nos serve nem este nem aquele Precis vamos montar um sistema de emendas e destaques que opusessem a ambos GAIGER 1988 p 78 Esse momento pol tico representou um marco decisivo para a nova correla o de for as na ANC Trabalharam de maneira conjunta todas as organiza es ind genas e indigenistas com o objetivo de redigir e encaminhar as emendas para que fossem defendidas no plen rio pelos constituintes aliados O trabalho foi rduo mas conseguiu se assegurar quase todos os direitos reivindicados pelos povos ind genas para o que foram necess rias tamb m concess es por parte das organiza es ind genas e indigenistas Uma delas foi em rela o estatiza o da 38 A presen a dos Guarani na ANC foi confirmada por funcion rios do CIMI 137 minera o em terras ind genas Insistir nessa tese poderia colocar em risco a possibilidade de resgatar a reda o
444. ver ser superada com a institucionaliza o do Sistema Nacional de EEI 5 3 AS ESCOLAS E O PROGRAMA DE EEI GUARANI COMO ESPA OS DE FRONTEIRA Fazer dialogar os princ pios da pedagogia guarani com a pedagogia ocidental um dos desafios do di logo intercultural pois n o basta apenas garantir que sejam professores guarani atuando nas escolas das aldeias e que os conte dos da cultura sejam trabalhados no curr culo da escola preciso respeitar e fazer dialogar a pedagogia guarani com a pedagogia ocidental Assim sendo pode se dizer que a constru o da EEI guarani se d tens o entre a pedagogia guarani e a pedagogia ocidental O povo Guarani assim como todos os outros povos ind genas do Brasil possui uma pedagogia pr pria ou processos pr prios de aprendizagem como est definido na Constitui o Federal brasileira que lhes garantem tanto a continuidade como sociedade quanto novas experimenta es e mudan as Com base em autores como Nimuendaju 1932 Shaden 1962 Meli 1991 Ciccarone 2001 Borges 2002 e Bergamaschi 2005 pode se dizer que a educa o guarani exercida pela palavra o guarani educado para escut las receb las do alto atrav s do sonho e assim poder falar O guarani busca a perfei o do seu ser na perfei o do seu falar sua valora o e prest gio entre os membros da sua comunidade e mesmo nas comunidades vizinhas medida pelo grau de perfei o e a quantidade de canto
445. vernamentais e n o governamentais na tentativa de resgate e de fortalecimento de suas culturas t m comprovado na pr tica que a extin o dos ndios tantas vezes prognosticada negada enfaticamente pela capacidade das sociedades nativas em sobreviver aos mais hediondos atentados contra sua exist ncia Assim sendo recuperar os m ltiplos processos de intera o entre essas sociedades e as popula es que surgiram a partir da coloniza o europ ia processos esses que v o muito al m do contato inicial e dizima o subsequente dos 61 ndios apresenta se como tarefa essencial para uma historiografia que busca desvencilhar se de esquemas excessivamente deterministas MONTEIRO 1995 p 228 A sociologia das aus ncias possibilita transformar objetos imposs veis em poss veis e com base neles transformar as aus ncias em presen as o que deve ser realizado centrando se nos fragmentos da experi ncia social n o socializados pela totalidade meton mica fragmentos que t m sido constantemente renegados pela raz o indolente Na realidade n o h uma maneira nica ou un voca de existir e s o v rias as l gicas e processos atrav s dos quais a raz o meton mica produz a n o exist ncia sempre que uma dada entidade desqualificada e tornada invis vel inintelig vel ou descart vel de um modo irrevers vel O que une as diferentes l gicas de produ o de n o exist ncia serem todas elas manifesta es da
446. vol 41 n 162 1981 210 SUSNIK B Los abor genes del Paraguay Asunci n Universidad Catolica 1979 vol 3 211 TASSINARI A M I Escola ind gena novos horizontes te ricos novas fronteiras de educa o In SILVA Aracy L FERREIRA Mariana K Antropologia hist ria e educa o a quest o ind gena e a escola 2 ed S o Paulo Global 2001 p 44 70 212 TAVARES E Ywy rupa a territorialidade guarani Dispon vel em lt http www ciranda net gt acesso em 25 de set de 2007 213 TEAO K M arandu renda reko a vida da escola guarani mbya Disserta o Mestrado em Educa o Programa de P s Gradua o em Educa o da Universidade Federal do Esp rito Santo Vit ria 2007 214 TERENA M Posso ser o que voc sem deixar de ser o que sou In Diversidade e educa o reflex es e experi ncias Bras lia MEC 2008 215 THOMAS O R A antropologia e o mundo contempor neo cultura e diversidade In SILVA A L GRUPIONI L D B A Tem tica ind gena na escola Bras lia MEC 1995 p 425 444 216 THOMPSON J B Ideologia e cultura moderna teoria social cr tica na era dos meios de comunica o de massa Petr polis Vozes 1995 217 THOMPSON P A voz do passado hist ria oral Rio de Janeiro Paz e Terra 1992 218 TUBINO F La impostergable alteridad del conflicto a la convivencia intercultural In CASTRO LUCIE M Los desafios de la interculturalidad identidad pol tica y der
447. xico ocorre reconhecimento das l nguas ind genas como oficiais nas regi es e territ rios do pa s onde elas sejam faladas Na Constitui o do Peru est assegurado ainda que todo peruano tenha direito a usar seu pr prio idioma ante qualquer autoridade mediante um int rprete O Paraguai oficialmente considerado um pa s pluricultural e bil ng e onde s o idiomas oficiais o castelhano e o guarani Em tr s outros pa ses onde vivem grupos guarani Brasil Bol via e Argentina as l nguas ind genas apenas s o reconhecidas como l nguas maternas O n o reconhecimento das l nguas ind genas como l nguas de vida p blica a serem usadas na rela o com o Estado e com o restante da sociedade traz grandes preju zos para a sobreviv ncia e desenvolvimento delas uma vez que as l nguas e as culturas origin rias ficam reduzidas ao mbito privado e se transformam em idiomas carentes de funcionalidade social Essa reclus o amea a seriamente a sobreviv ncia das l nguas pois se sabe que uma das raz es pelas quais improv vel que aquelas que n o alcancem um status de l nguas p blicas sobrevivam a falta de oportunidades ou de incentivos para as pessoas us las e desenvolv las de maneira cognitivamente estimulante TUBINO 2004 p 88 V rios pa ses da Am rica Latina como a Argentina a Col mbia o Equador a Guatemala o Paraguai o Peru o Panam o M xico a Nicar gua e a Venezuela reconhecem e asseguram
448. za es da sociedade civil encabe ada pela UNI com quinze organiza es de apoio aos ndios centrais sindicais associa es profissionais e de igrejas A proposta detalha os direitos territoriais veda qualquer explora o de recursos n o renov veis por terceiros e confere aos ndios ao Congresso e ao Minist rio P blico a faculdade de ingressar em ju zo em defesa dos direitos ind genas CEDI 1991 p 16 Al m da proposta unit ria entregue Subcomiss o dos Negros Popula es Ind genas Deficientes e Minorias outras tamb m foram elaboradas e encaminhadas a da pluralidade tnica da Na o brasileira elaborada pelo CIMI foi encaminhada Subcomiss o da Nacionalidade da Soberania e das Rela es Internacionais a de educa o redigida por organiza es ind genas e indigenistas UNI CIMI ABA CTI foi endossada pelo deputado Vasco Alves PMDB ES e defendida perante a Subcomiss o de Educa o por Marina Villas Boas CTI e por Ailton Krenak principalmente quanto necessidade do respeito s l nguas maternas e curr culos 34 GAIGER J Informe Constituinte Bras lia CIMI 1987 1988 131 que respeitem a cultura dos diversos povos A proposta relativa educa o foi assim redigida Art 1 O Brasil um pa s pluri tnico e pluril ng e 1 E vedada toda forma de racismo e discrimina o social cultural e ling stica no processo educacional 2 A educa o diferenciada

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