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LUIZ FELIPE FERRARI CERQUEIRA DE FARIAS AGRONEGÓCIO

1. A luta que uniu por diferentes vias moradores foreiros pequenos propriet rios e arrendat rios contra os propriet rios de terra num momento em que o campo brasileiro era palco de intensa mobiliza o camponesa certamente teve seu peso na promulga o em 1963 pelo Congresso Nacional do Estatuto do Trabalhador Rural e em 1964 j no governo Castello Branco do Estatuto da Terra Mas no caso do Estatuto do Trabalhador Rural foi sobretudo o fato de que a lei encontrou n o uma massa uniforme mas organizada e combativa que permitiu que aquilo que para muitos se afigurava uma aspira o long nqua em tempo surpreendentemente curto transformou se em um objetivo de luta a ser conseguido imediatamente Desta forma no correr de um ano os trabalhadores agr colas do a car conseguiram transformar em realidade objetivos que por v rios dec nios continuam letra morta no papel para importante fra o do operariado urbano que alcan ou esses benef cios por outorga paternalista Furtado 1964 149 Os direitos termo que os moradores utilizam para designar o sal rio m nimo o repouso remunerado as f rias e d cimo terceiro e o Sindicato adquiridos ou obtidos atrav s de um dom do Governador Miguel Arraes como preferem crer os moradores que a ele atribuem a origem dos direitos passaram a funcionar como um novo par metro para pensar as rela es sociais nas quais estavam inseridos e que a sua pr pria luta havia contribu do
2. Esta clivagem s cio econ mica entre a m o de obra permanente parcela significativa da qual opera m quinas agr colas e a m o de obra tempor ria parcela significativa da qual ainda realiza trabalhos manuais nos indica o modo como a moderniza o conservadora na agricultura Basaldi argumenta que a maior proximidade entre empregados agr colas permanentes e tempor rios na regi o Sudeste evid ncia da import ncia das lutas hist ricas dos trabalhadores especialmente da cana de a car no estado de S o Paulo Idem p 139 73 reproduz e aprofunda a heterogeneidade estrutural do mercado de trabalho assalariado no campo Ao j apontado acrescentam se ainda outras segmenta es de car ter simb lico e pol tico sindical Por um lado como veremos operadores de m quinas agr colas desenvolvem trajet rias e padr es de sociabilidade que os diferenciam do contingente de trabalhadores manuais Especialmente o maior tempo de forma o e a maior responsabilidade deles exigida para com o maquin rio permitem lhes forjar uma auto imagem que os diferencia dos demais assalariados imersos em atividades de extremo desgaste f sico Por outro lado a estrutura sindical no campo refor a estas descontinuidades ao inv s de coloc las em xeque subdividindo os trabalhadores do campo em categorias e bases territoriais estanques Disputas entre sindicatos de empregados rurais sindicatos de motoristas e sindicatos de trabalhadores d
3. Poxa uma multinacional t o grande t o rica com tantos setores produzindo e batendo meta s crescendo e a gente s nesse mundinho aqui nesse salarinho A a pessoa desanima Safrista Bebedouro 12 2012 O que voc sentiu quando a f brica da Citrovita aqui em Mat o fechou Quando se fala fus o j se fala desemprego sofrimento Geralmente quando a classe trabalhadora junta as for as pra melhorar a situa o de vida Quando os empres rios decidem juntar for a pra melhorar a deles E eles n o t m um pingo de contato com o pessoal que trabalha nas empresas Eles n o v o ter sofrimento porque eles n o conhecem S traz preju zo pra cidade pro trabalhador Enquanto os empres rios est o l nos seus iates viajando eles n o t o nem sabendo o que t acontecendo com os pais de fam lia fam lia chorando preocupada com as contas com o que vai fazer agora Quando tem mais empresa na cidade tem mais op o de trabalho e as empresa valoriza mais seu trabalhador Se voc n o valorizar a outra pega Ent o fus o s sofrimento pro trabalhador pra cidade pro governo Operador Mat o 07 2012 Chegamos com isso ao fim deste cap tulo ao longo do qual buscamos apresentar tra os da leitura de assalariados do ch o de f brica do complexo citr cola acerca das transforma es no interior das ind strias de suco de laranja entre as d cadas de 1990 e 2000 Buscamos destacar os diferentes nuances do di
4. fazendo com que o n mero de fam lias assentadas na regi o saltasse de cinquenta para quinhentas Entretanto na segunda metade da d cada de 2000 ocorreu uma virtual paralisia neste processo O n mero de assentamentos manteve se estacionado enquanto se acelerou significativamente a j apontada compra de grandes extens es de terras da regi o para a lavoura de cana de a car laranja e eucalipto Estabeleceram se com isso as bases para conflitos fundi rios entre fam lias sem terra e o capital agroindustrial vinculado a estes complexos no Centro Sul do estado de S o Paulo Dentre estes conflitos destaca se aquele entre a Cutrale e o MST em torno da fazenda Santo Henrique de 1100 hectares no munic pio de Borebi EDR de Bauru Segundo o movimento esta fazenda parte do Grupo Colonial Mon o e foi ocupada pela primeira vez em 2000 Na poca tratava se de um latif ndio de pecu ria extensiva em que fam lias sem terra se instalaram e produziram por pouco mais de 2 anos antes de serem despejadas em 2003 Em 2006 a Cutrale iniciou o plantio de mudas de laranjas na F Segundo o Incra a posse e propriedade detidas pela Cutrale seriam ilegais e ileg timas pois desde 3 de janeiro de 2006 a empresa j teria sido notificada de que aquela era uma rea p blica federal Ainda segundo o Incra seriam duas as irregularidades no registro da fazenda atualmente ocupada pela Cutrale Em primeiro lugar a matr cula n mero 4118 do ca
5. 292 cinco meses enquanto tiver a safra depois v o embora e n o sabem se voltam Ent o qualquer coisa que oferecerem pra eles eles v o pegar Eles n o t m aquela consci ncia se dez vamo tentar quinze porque se eu voltar o ano que vem eu vou come ar com quinze n o vou come ar com dez Eles n o t m essa consci ncia C n o consegue muito dif cil Por exemplo no acordo com uma empresa existia uma moeda de troca precisava aprovar o banco de horas pra eles safristas terem direito ao PPR Programa de Participa o dos Resultados Ent o os safristas vinham aqui pra aprovar o banco de horas Al m disso houve um per odo em que a terceiriza o esteve muito grande L nos anos 1990 quando terminava a safra da laranja n s mesmos desmont vamos o maquin rio e d vamos manuten o O per odo de entressafra pra fazer manuten o da f brica trocar o que tem que trocar substituir o que tem que substituir Isso era feito pelos funcion rios Uma ou outra empresa vinha fazer isso a mas era feito principalmente por n s mesmos Em determinado momento segundo eles por conten o de despesa eles come aram a contratar terceiros Eles botam os terceiros pra fazer o servi o acompanhado de algu m de l de dentro Isso impactou a gente N s t nhamos um quadro de funcion rios est veis l atr s que ajudava no sindicato em termos de contribui o Com a terceiriza o a gente viu nosso or amento
6. 4 Farmgate em Export FOB Fonte Paulillo Almeida e Vieira 2006a p 39 A safra 2011 12 introduziu novas media es neste quadro avaliadas de modo oposto por diferentes dirigentes do setor citr cola Segundo representantes hoje hegem nicos no sindicalismo patronal da agricultura paulista as perspectivas de uma super safra de cerca de 375 milh es de caixas apenas para S o Paulo 26 3 maior que a safra 2010 2011 tenderiam a rebaixar drasticamente o pre o pago pelas ind strias aos produtores Em resposta a isto segundo esta interpreta o realizou se uma negocia o conjunta entre ind stria e representantes dos citricultores mediada pelo poder p blico em que se determinou um pre o m nimo a ser pago pela caixa de laranja R 10 50 em troca de uma linha especial de cr dito LEC no valor de R 300 milh es a juros de 6 75 ao ano para a recomposi o de estoques da ind stria De acordo com os representantes respons veis por essa negocia o ainda que n o se tenha alcan ado em tal acordo o pre o m nimo ideal ao setor foram garantidas condi es de venda das caixas de laranja mais favor veis dado o excesso de oferta da fruta Por outro lado segundo a Associtrus e alguns dirigentes sindicais patronais apesar da perspectivas de safra recorde o alto valor do suco de laranja no mercado internacional e o excepcionalmente baixo n vel de estoques de suco das ind strias poderiam refletir se em abalos no poder
7. Sobre a base deste ascenso da luta dos trabalhadores rurais construiu se sua nova estrutura pol tico organizativa A partir de uma convocat ria do Partido Comunista Brasileiro PCB realizou se em 1954 a II Confer ncia Nacional de Lavradores onde se decidiu pela cria o de uma entidade de luta pela reforma agr ria de mbito nacional a Uni o dos Lavradores e Trabalhadores Agr colas do Brasil ULTAB Pouco depois no I Congresso Campon s de Pernambuco em 1956 a Sociedade Agr cola de Plantadores e Pecuaristas de Pernambuco fundada no ano anterior a partir da resist ncia de foreiros amea ados de expuls o por propriet rios do Engenho Galil ia adquiriu estrutura org nica transformando se nas Ligas Camponesas Em 1960 mais ao Sul articulados com o Partido Trabalhista Brasileiro agricultores expulsos de suas terras criaram em 1960 o Movimento de Agricultores Sem Terra MASTER que tinha como particular forma de luta acampamentos em per metros de latif ndios improdutivos cuja desapropria o era reivindicada Em novembro de 1961 a luta de classes no campo ganhou novo impulso e dimens o com a realiza o em Belo Horizonte do I Congresso Campon s com 1600 delegados de diversas for as pol ticas que atuavam no campo com especial destaque para as mencionadas acima A esta efervesc ncia organizativa acresce se ainda a implementa o da estrutura sindical rural regulamentada em lei em 1962 e unificada em Destaca se dentre es
8. crescentemente em trabalhadores assalariados plenamente expropriados Dessa sorte o empregador obrigado a pagar 27 1 sobre cada jornada de trabalho dos trabalhadores permanentes correspondentes aos gastos sociais Eis um ponto que toca o centro da quest o segundo a qual os trabalhadores permanentes s o mais onerosos e por isso s o despedidos para serem em seguida admitidos como volantes isto uma for a de trabalho mais barata porque os gastos sociais n o seriam computados Segundo este racioc nio o ETR desempenhou um papel fundamental na expuls o destes trabalhadores das fazendas Este estatuto n o deve ser considerado um meio de melhorar as condi es de vida dos trabalhadores ele representou justamente o contr rio pois regulamentou a intensifica o da explora o da for a de trabalho Moraes Silva 1999 p 64 Para que se compreenda plenamente este ju zo de Moraes Silva necess rio destacar o car ter desigual e combinado do avan o da legisla o trabalhista estabelecido pelo ETR De fato o Estatuto e a legisla o que o complementou ao longo da d cada de 1970 definiram o empregado rural como aquele que trabalhava diretamente para um empregador rural em bases n o eventuais Lei n 5 889 de 1973 ou definiram o trabalhador eventual como aquele que n o ultrapassasse 90 dias excluindo se da legisla o trabalhista 18 wA sindicaliza o rural foi o ltimo acontecimento pol tico importante no
9. o da produtividade das atividades agr colas mantendo se o car ter ultra concentrado de nossa estrutura fundi ria e reprimindo se a luta pela terra ao longo de toda a segunda metade do s culo XX e in cio do XXI No mesmo sentido o desenvolvimento desigual e combinado das media es de controle sobre a m o de obra rural foi uma relativa resposta aos imperativos de transforma o das rela es de produ o no campo brasileiro mantendo se o contexto de super explora o da for a de trabalho rural e reprimindo se a luta pela efetiva universaliza o de direitos sociais e trabalhistas a esta parcela da popula o Ao fim e ao cabo tal moderniza o conservadora efetivou se sob a gide da perpetua o das rela es de propriedade e de explora o herdadas dos prim rdios de nossa forma o social renovando com sucesso at o momento a subalternidade daqueles que efetivamente produzem riqueza no campo brasileiro Ao longo desta pesquisa buscamos mostrar que o complexo citr cola paulista particularmente representativo das m ltiplas determina es que comp em este quadro Em primeiro lugar apresentamos como as estrat gias mobilizadas pelo capital agroindustrial citr cola a partir da primeira metade da d cada de 1990 contribu ram para rebaixar o pre o pago pela caixa de laranja aos citricultores em geral acentuando a concentra o de terras no setor devido tanto proletariza o acelerada de milhares de pequenos produt
10. o teria elevado a demanda por for a de trabalho que s poderia ser atendida pela for a de trabalho j dispon vel e imobilizada dentro das diferentes unidades produtivas Colocava se ent o a necessidade de que o morador despendesse mais for a de trabalho do que tradicionalmente estava habituado num sistema que favorecia a drenagem da for a de trabalho do morador e de sua fam lia para o trabalho para si nas terras cedidas para lavoura de subsist ncia O modo de obter isso teria sido a altera o das formas de remunera o da for a de trabalho e a diminui o das reas cedidas para produ o de alimentos de tal forma que o morador fosse naturalmente impelido a trabalhar mais Sigaud 1979 p 37 Alguns dos tra os fundamentais da morfologia da classe trabalhadora rural hoje remetem a esta ofensiva do capital Em primeiro lugar houve no per odo um decl nio relativo do emprego de m o de obra familiar e um forte avan o das rela es tipicamente capitalistas sobre o campo brasileiro em geral e paulista em particular Ainda que tenha permanecido majorit ria na maioria das regi es a m o de obra familiar cresceu nestes anos a taxas significativamente mais baixas que a dos empregados assalariados Em especial em S o Paulo j em 1975 a propor o de empregos assalariados superou a de familiares chegando a 60 do emprego total em 1980 Kageyama 1986 p 277 N o se deve contudo apreender esta tend ncia de modo unilate
11. www ecofinancas com br Produtores de laranjas distribuem 12 toneladas de laranjas em protesto 27 07 2012 111 Os produtores de laranja ainda n o conseguem comercializar a produ o a pre os remuneradores pois a ind stria que define os pre os pagos aos citricultores e n o adianta mudar de empresa para vender a fruta Os fabricantes de suco tamb m combinam a data de moagem da laranja para uniformizar os pre os pagos aos produtores Com essa pr tica das empresas milhares de produtores foram expulsos do setor que hoje re ne entre 8 000 e 10 mil produtores afirma Fl vio de Carvalho Pinto Viegas presidente da Associtrus Para descaracterizar pr tica de cartel segundo Viegas os fabricantes de suco trabalham com faixas de pre os Em 2008 eles pagavam entre R 15 e R 16 pela caixa de laranja com 40 8 quilos aos produtores que eles queriam que ficassem no setor R 12 queles que deveriam permanecer por algum tempo e entre R 7 e R 8 queles que deveriam sair do mercado FOLHA de S O PAULO Promotoria investiga cartel na laranja caderno dinheiro p gina B1 26 04 2009 Nesse sentido o coroamento de todas as determina es destacadas o crescente controle das agroind strias sobre a perman ncia dos citricultores no setor Seu controle sobre os extremos tecnol gicos que se estabeleceram na citricultura paulista sobre as formas de comercializa o das caixas de laranja e sobre os pre os pag
12. y T ENED guir Resfriadores i de ese NE oa mo ido 4 E BR css o toa Caixa de baga o Moinho TO reator Fins 1 prensagem 2 prensagem Secador po Skos de pellets Suco Pulpwash leoessencil Ra o WP OPessencos Condensado Fonte Munhoz e Morabito 2010 268 Todo este processo refere se s atividades da agroind stria citr cola durante os seis a oito meses de safra para cujas atividades suplementares s o contratados trabalhadores tempor rios via de regra como ajudantes de servi os gerais Assim como os volantes na lavoura os trabalhadores safristas no ch o da f brica tamb m t m seu modo de vida profundamente influenciado pela sazonalidade do emprego De acordo com a tabela acima dentre os 4 258 trabalhadores admitidos durante o ano agr cola 2009 2010 3 671 n o foram efetivados por tempo indeterminado e perderam seu emprego ao final da safra Tal intermit ncia no v nculo empregat cio obriga os safristas sobreviv ncia atrav s de bicos durante os quatro a seis meses da entressafra em que a ind stria n o recebe frutas e realiza a manuten o de seu maquin rio S o extremamente comuns os relatos de safristas que oscilam entre o trabalho na ind stria e ocupa es formais ou informais especialmente como mototaxistas e serventes de pedreiros no que diz respeito aos homens e em atividades de faxina e manuten o do lar no que diz respeito s mulheres Assim o ilustram os doi
13. Democracia Totalit ria teoria e pr tica da empresa soberana S o Paulo Cortez 2004 MST e agroecologia 1984 1995 in http passapalavra info 2p 53997 20 03 2012 MST e agroecologia 1995 2012 in http passapalavra info 2p 54051 27 03 2012 315 MST e agroecologia hoje in http passapalavra info p 54095 03 04 2012 BIELSCHOWSKY Ricardo O pensamento econ mico brasileiro Rio de Janeiro Contraponto 2000 BOCAI VA Jos Roberto RODRIGUES Iber Fernando DELLA NINA Luciano Comecializa o e custos x estrat gia do citricultor para a negocia o com as ind strias Revista Laranja v 12 n 1 1991 BRAY S lvio Carlos A utiliza o da terra em Bebedouro e o papel atual da cultura da laranja Disserta o de Mestrado Faculdade de Filosofia Ci ncias e Letras da Universidade de S o Paulo 1974 CAMARGO Jos Marangoni Rela es de trabalho na agricultura paulista no per odo recente Tese de Doutorado Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas 2007 CASTILHO Alceu Lu s Partido da terra S o Paulo Contexto 2012 CHALITA Marie Anne Najm Cultura pol tica e agricultura familiar a identidade s cio profissional de empres rio rural como referencial das estrat gias de desenvolvimento da citricultura paulista Tese de doutorado Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul 2004 Produ o do habitu
14. Esses aliciadores se articulam em redes nacionais transportam os trabalhadores por rodovias pouco movimentadas evitando sempre as rodovias federais e os homens chegam a passar at sete dias dentro de um nibus No caso desses trabalhadores o nibus quebrou e eles passaram um dia todo esperando pelo conserto sem gua ou comida ressalta o procurador do MPT Os procuradores aguardam o relat rio final dos auditores fiscais para posterior protocolo de representa o criminal com rela o ao delito cometido pelos gatos homens que intermediam a contrata o Esse trabalhadores j deveriam sair de suas cidades de origem sabendo para qual empresa est o indo trabalhar onde ficar o e quanto ir o receber mas os aliciadores n o passam nada disso A situa o em que se encontram inaceit vel principalmente em uma regi o t o desenvolvida como a nossa finaliza o procurador Tribuna Impressa Coletores de laranja s o v timas de aliciamento em Nova Europa 05 08 2011 216 s vez v m l da Bahia por exemplo vai fazer um negocinho A eles vai ficar s dois m s ou quarenta dia Eles n o quer sujar a carteira deles A eles v m trabalha quarenta dias um m s dois m s e vai embora Ent o por isso que eles n o registra Inclusive tem uns quatro primo meu n o vou mentir que na semana que vem j v o embora Eles t o na cooperativa tem um m s que eles t o a J ganhou os troquinho pr fazer os ser
15. Neste contexto a Associtrus vem buscando se aproximar politicamente da principal entidade sindical dos assalariados rurais do complexo citr cola paulista hoje a Feraesp Federa o dos Empregados Rurais do estado de S o Paulo Como descrito no cap tulo anterior em fevereiro de 2010 o Minist rio P blico do Trabalho entrou com uma a o civil p blica exigindo que as ind strias citr colas voltassem a contratar diretamente a m o de obra utilizada na colheita da laranja seja em seus pr prios pomares seja em pomares de terceiros A Faesp mostrou se relutante em aderir iniciativa A Associtrus ao contr rio aceitou somar for as de empregados e produtores rurais contra o que v como uma dupla subordina o imposta pelas agroind strias citr colas Segundo sua leitura no contexto de forte exclus o imposto sobre os citricultores a contradi o entre eles e seus assalariados pode ser relativizada em compara o com a contradi o entre ambos e as ind strias citr colas 72 As cr ticas ao Consecitrus formuladas por determinados sindicatos vinculados Faesp e pela Associtrus podem ser assim exemplificadas Associa es e sindicatos da citricultura contestam as refer ncias de pre os divulgadas pela ind stria processadora de citros na semana passada a t tulo do Conselho dos produtores de laranja e exportadores de suco o pol mico Consecitrus O modelo referencial divulgado nesta quarta feira 10 10 2012 determinou que o
16. O terceirizado hoje ruim por um lado e por outro bom Pro aposentado hoje a firma de terceiro muito bom Porque s vez paga um pouquinho a mais mas esse a mais fica fora da carteira Voc j combina se voc vai receber vamos supor R 2 000 00 fica mil na carteira e mil por fora Agora isso ruim praquele que n o t aposentado porque se o cara ganha dois mil mas na carteira t mil e pouco l na frente quando esse cara for aposentar ele t perdido na vida Pro aposentado a empresa terceira tamb m importante porque acima de quarenta anos hoje voc j t fora do mercado de trabalho Eu mesmo eu tenho um conhecimento muito grande mas eu n o trabalho l na C direto pra ela Primeiro por causa do sal rio que o sal rio que eles pagam baixo e eles n o aceita pagar nada por fora Segundo que eles exigem um grau de escolaridade muito grande pra fazer o servi o ali dentro uma coisa que n o tem cabimento Hoje a turma s quer trabalhar com o computador com a mem ria ningu m quer p r a m o em nada E por mais que a tecnologia avance principalmente nas grandes ind stria tem muitas parte que vai precisar algu m 277 pra p r a m o na massa Porque eles n o vai fazer um rob pra arrumar a m quina Ent o mec nico hoje t em falta os velho que t o aposentado j t o voltando pras empresa contratado por essas firma de terceiro O senhor j teve algum problema trabalhista com alguma das empresas
17. mim n o aqui s veio esse total c se vira mais o empreiteiro Chegava nele ele dizia que tinha mandado Vinha de novo e ficou um jogo de empurra Falei n o c s quer sabe duma c s fica ca laranja doc s que eu to vazando Eu n o s ladr o de mim mesmo pra se mata no galho o dia inteiro e ningu m d solu o pra onde que foi a laranja que eu apanhei Colhedor Sever nia 07 2011 228 Tem tamb m os desconto de quebra porque n s trabalhamos por caixa de vinte e sete ponto dois quilo C pode produzir cem caixa na ro a eles quer saber dessas cem caixa o total baseado nesse vinte e sete ponto dois quilos Todas as laranja cai l dentro do Bin que deposita a produ o do dia Se l no Bin na balan a n o marcar o peso certo porque veio quebra l da ro a Ent o a quebra repassada pro empreiteiro e o empreiteiro repassa pros pe o J aconteceu de numa quinzena o empreiteiro ter mil reais de desconto dele ent o ele fala eu n o posso arcar com tudo sozinho ele Joga uma parte pra cima dos pe o desconta um pouco de cada trabalhador Se voc mandou cem caixa c n o vai ter cem caixa dependendo da quebra eles vai desconta dez por cento da sua produ o oito sete Teve dia que descontou treze Isso acontece com a laranja gra da se ela tiver seca vai dar quebra no peso Acontece tamb m de passar do peso quando a laranja ta bem mi da s que iss
18. o de capitais industrial financeiro e agr cola e cria o de novos nexos e imbricamentos entre o rural e o urbano no Brasil Incorporaram em suas formula es tra os da concep o cl ssica de reforma agr ria por m com uma relev ncia pol tica te rica decrescente Ao longo da d cada de 1980 e 1990 ganharam maior dimens o em seus posicionamentos em um primeiro momento as lutas sindicais dos assalariados rurais e em um segundo momento as pol ticas p blicas nas zonas rurais de gera o de ocupa es agr colas e n o agr colas e de transfer ncia de renda para fazer frente ao desemprego e ao xodo em dire o aos grandes centros urbanos Sem que isso implique em uma filia o pol tica te rica alguns dos argumentos chave desta escola ser o utilizados em nossa concep o da moderniza o conservadora e da classe trabalhadora no campo brasileiro em geral e paulista em particular 33 Deve se contudo enfatizar que o car ter conservador deste projeto modernizante imp s integra o t cnica entre ind stria e agricultura no Brasil fortes desequil brios A este respeito Jos Graziano argumenta que existem profundas diferen as hist ricas entre a incorpora o de progresso t cnico agricultura realizada primordialmente na etapa concorrencial do capitalismo e aquela realizada em sua etapa monopolista Enquanto em determinados pa ses da Europa e Am rica do Norte tal processo foi capaz de minimizar o poder das classe
19. o de outros segmentos da economia Assim o n vel gerencial exercido por engenheiros e administradores o uso da inform tica para fins de controle e administra o crescente h uma preocupa o permanente na busca de ndices de efici ncia por vezes implantando um sistema de premia o a elementos que tenham criatividade e efici ncia De outra parte existe uma preocupa o com a m o de obra menos qualificada para treinamento em diferentes n veis necess rios na medida em que avan os e inova es tecnol gicas s o introduzidos no processo produtivo Essas empresas tamb m se valem muitas vezes de consultorias em diversas especialidades al m de busca de conhecimento junto s institui es de pesquisa e assist ncia t cnica Neves 2007 p 54 A partir de seus novos recursos de poder no complexo citr cola contudo as agroind strias exacerbaram extremos tecnol gicos no setor Enquanto investem na nova citricultura em seus pomares pr prios intensificam se nas ltimas d cadas os maus tratos culturais especialmente em pequenos e m dios pomares premidos pelo baixo pre o pago aos citricultores e pela eleva o dos custos de produ o acrescidos dos custos da colheita e do transporte desde o fim do contrato padr o Aos produtores familiares de laranjas em particular imp e se crescentemente o dilema por um lado muitas das novas tecnologias lhes s o invi veis pelo porte do investimento necess rio por
20. o de seu posicionamento e classifica o no contexto econ mico Por outro lado atividades meio s o aquelas fun es e tarefas empresariais e laborais que n o se ajustam ao n cleo da din mica empresarial do tomador dos servi os nem comp em a ess ncia dessa din mica ou contribuem para a defini o do seu posicionamento no contexto econ mico e empresarial mais amplo S o ilustrativamente as atividades referidas pela Lei 5 645 70 transporte conserva o cust dia opera o de elevadores limpeza e outras assemelhadas Maur cio Godinho Delgado Curso de Direito do Trabalho Ed Saraiva pags 436 437 No caso em tela a recorrida tem por objeto a ind stria com rcio importa o e exporta o de produtos e sucos hortifrut colas em geral seus derivados sub produtos e res duos Dessa forma a colheita da laranja n o pode ser considerada atividade perif rica ou instrumental da empresa mas nuclear din mica da reclamada que n o pode prescindir do acompanhamento e da coordena o do processo de colheita sob pena de comprometer a qualidade final de seus produtos Decis o 034446 2004 TRT 152 R 10 9 2004 proc 0809 2003 027 7 A t tulo de exemplo do poder das agroind strias sobre os produtores da mat ria prima e sobre os assalariados rurais do setor pode se fazer a seguinte cita o O contrato de compra e venda est permeado por diversas normas que n o s o pr prias do ajuste de vontade
21. Da os x Compreende se por isso o campon s como fra o da classe trabalhadora em conson ncia com o conceito ampliado de proletariza o rural j apresentado em nosso primeiro cap tulo A decrescente margem de autonomia na reprodu o da produ o familiar abre espa o a que seu horizonte social e pol tico se articule s demais fra es da classe trabalhadora em oposi o aos propriet rios dos meios de produ o agroindustriais Assim se coloca Tavares dos Santos a respeito Descarta se desde logo a caracteriza o do campon s como uma classe social Conduzindo a an lise nessa perspectiva proponho me assinalar as rela es entre o campon s e a burguesia industrial rela es nucleadas na apropria o do trabalho excedente daquele por esta Na reconstru o destas rela es contradit rias e tomando como refer ncia privilegiada o ponto de vista do campon s parece me poss vel considerar o campon s personifica o de um espec fico processo de trabalho como componente das classes subalternas da sociedade capitalista unidas pela viv ncia comum da domina o pelo capital Tavares dos Santos 1978 p 14 99 confrontos entre por um lado o capital e o latif ndio e por outro popula es ind genas e quilombolas posseiros moradores foreiros arrendat rios etc Da tamb m os confrontos segundo Martins entre as agroind strias e os camponeses a elas subordinados Em todos estes casos estari
22. Enquanto em 1980 os pequenos pomares de laranjas foram respons veis por aproximadamente 36 da produ o total do estado em 1995 esta participa o caiu a 21 8 Em contrapartida enquanto em 1980 os pomares muito grandes responderam por apenas 5 5 da produ o total do estado em 1995 sua participa o subiu para 19 3 158 De acordo com o que descrevemos no cap tulo anterior a partir da segunda metade da d cada de 1990 conflu ram fen menos que incrementaram a subordina o do trabalho dos pequenos produtores familiares ao capital agroindustrial A quebra do contrato padr o a negocia o de pre os caso a caso entre ind stria e produtores o repasse dos custos de colheita e frete aos fornecedores de laranjas a perda de representatividade das associa es de citricultores o aumento da concentra o e centraliza o do capital agroindustrial o aumento do controle das ind strias citr colas sobre o padr o tecnol gico da lavoura o crescimento dos pomares pr prios das agroind strias etc impuseram a partir de 1995 uma gigantesca concentra o de riquezas e poder no complexo citr cola como um todo Infelizmente tal cen rio restritivo n o pode ser ilustrado com dados do Instituto de Economia Agr cola que a partir de ent o n o mais divulgou informa es sobre a citricultura estratificadas em classes de im veis por hectares A tabela seguinte contudo nos oferece dados elaborados pela produ o te rica pol tica mai
23. Eu trabalhei nessa unidade aqui de Bebedouro vinte e oito anos oito meses e oito dias De 1980 at dia 7 de fevereiro de 2009 quando aconteceu o fechamento J em 2004 a venda da f brica da Cargill para a Citrosuco n o foi preparada pros funcion rios foi um neg cio meio de surpresa chegaram falando que a unidade de Bebedouro ia ficar com a Citrosuco e a de Uch a ia ficar com a Cutrale Na poca a Cargill tinha contratos com os clientes dela que ela n o podia de uma hora pra outra quebrar ent o ela fez um contrato com a Citrosuco e a Cutrale para eles fornecerem produto pra ela por mais cinco anos O que eles foram fazendo Eles foram pagando a Cargill com o suco que eles foram fabricando A partir do momento que eles pagaram isso a fecharam a f brica Porque nesse meio de suco a disputa vai ficando pra poucos ou voc compra a outra empresa ou voc se vende pra ela E eles compram e eles fecham uma disputa de mercado esses fechamentos de f brica s o coisa programada pelas ind strias grandes No dia que todo mundo foi dispensado eu tava tomando caf na minha casa minha esposa falou Parece que t tendo uma confus o l na Citrosuco tem pol cia l na porta parece que a empresa fechou e n o quer deixar nenhum funcion rio entrar A pol cia tava l por quest o de seguran a eles ficaram com medo de funcion rio invadir a f brica Eles tamb m trouxeram seguran as novos e anunciaram que n o era pra entrar
24. MAFRA Simone SALOM O Luiz Carlos SOUZA Neuza SILVA Regina Aplica o da an lise ergon mica do trabalho AET no processo de colheita de citros o caso da sacola coletora in www ichs ufop br 2000 MAIA Maria L cia Citricultura paulista evolu o estrutura e acordos de pre os S o Paulo IEA 1996 MARTINS Jos de Souza Os camponeses e a pol tica no Brasil Rio de Janeiro Editora Vozes 1981 A militariza o da quest o agr ria no Brasil Rio de Janeiro Vozes 1984 MARX Karl Cap tulo VI in dito d O Capital Buenos Aires Siglo Veintiuno Argentina 1971 MAZZALI Leonel O processo recente de reorganiza o agroindustrial do complexo agroindustrial organiza o em rede S o Paulo Editora Unesp 2000 MEDEIROS Leonilde Hist ria dos movimentos sociais no campo Rio de Janeiro FASE 1989 MORAES SILVA Maria Aparecida Errantes do Fim de S culo S o Paulo Editora da Unesp 1999 Agrocombust veis Solu o A vida por um fio no eito dos canaviais S o Paulo Centro de Capacita o da Juventude 2008 RIBEIRO Jadir Dami o Viola o dos direitos e formas de resist ncia nos canaviais paulistas Texto apresentado no VIII Congresso da ALASRU Porto de Galinhas 2010 320 MUNHOZ Jos Renato MORABITO Reinaldo Otimiza o no planejamento agregado de produ o em ind strias de processamento de suco concentrado de laranja Gest o e Produ o volume 17 n
25. Mas na laranja a coisa complicada os trabalhadores ainda t m um grau de organiza o muito baixo seja no setor rural seja no setor da ind stria Ainda encontramos enormes dificuldades de nos organizar a ponto de levar a ind stria pra uma negocia o mais s ria Se o sindicato de Moji e a Feraesp fizerem uma pauta de reivindica o de negocia o salarial com a ind stria da laranja ela nem v m pra conversar Como a gente sabe disso n s n o vamos perder tempo Presidente da Feraesp Araraquara 01 2012 Neste contexto merece destaque tamb m a relativa aproxima o entre a Feraesp e a Associtrus De formas diferentes ambas as organiza es afirmam que assalariados rurais e pequenos e m dios citricultores encontram se hoje subordinados s ind strias processadoras de suco de laranja podendo portanto construir a es unificadas de interesse m tuo Da que 244 como j destacado a Associtrus tenha apoiado a proposta da Feraesp e do MPT de retorno contrata o direta pelas agroind strias dos colhedores em todo estado seja em seus pomares pr prios seja nos de seus fornecedores Da tamb m que Feraesp e Associtrus tenham atuado Juntas na press o sobre o governo brasileiro para que o Conselho Administrativo de Defesa Econ mica CADE n o encerrasse as investiga es contra o cartel da laranja em 2007 em troca da assinatura de um Termo de Cessa o de Conduta TCC Contudo tal aproxima o n o consensua
26. O PAULO rea usada por Cutrale da Uni o desde 1909 diz Incra in http Awww estadao com br noticias 09 10 2009 O ESTADO DE S O PAULO Brasil supera Canad e se torna o terceiro maior exportador agricola 7 3 2010 O ESTADO de S O PAULO Pre o da terra bate recorde no pa s 06 02 2011 O ESTADO de S O PAULO Pequenos desistem e saem da citricultura 16 11 2011 O ESTADO de S O PAULO Citrovita fecha unidade de mat o no interior de S o Paulo 29 02 2012 O ESTADO de S O PAULO Alimentos ocupam a lideran a no setor industrial 29 07 2012 O ESTADO de S O PAULO Pre os das terras agricolas disparam 01 07 2012 O ESTADO de S O PAULO Produtividade aumentou no setor de servi os 01 07 2012 327 REVISTA CAROS AMIGOS O veneno no p o nosso de cada dia dezembro 2009 REVISTA F RUM Deputados favor veis CPI do MST receberam doa es da Cutrale 27 10 2009 REVISTA CITRICULTURA ATUAL 4 citricultura ainda um bom neg cio dezembro de 2011 REVISTA HORTIFRUTI ano 10 n mero 101 maio de 2011 TRIBUNA IMPRESSA Coletores de laranja s o v timas de aliciamento em Nova Europa 05 08 2011 TV TEM Minist rio do Trabalho encontra irregularidades em alojamentos de trabalhadores rurais 13 09 2011 Governo de SP analisa proposta de arrendamento de f brica de suco im www associtrus com br noticia 10 06 2009 Laranja perde 350 mil hectares de rea para a cana im http www associtrus com br notici
27. Pesquisa de Marketing e Estrat gia a partir do CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados e da RAIS Rela o Anual de Informa es Sociais A tabela abaixo refere se flutua o da m o de obra na agroind stria citr cola destacando o saldo de trabalhadores e o fluxo de admiss es e demiss es entre julho de 2009 e junho de 2010 De acordo com os dados entre dez e onze mil pessoas trabalharam na ind stria de suco concentrado de laranja ao longo deste ano agr cola das quais cerca de seis mil eram trabalhadores permanentes e cerca de quatro mil eram trabalhadores tempor rios contratados por tempo determinado 265 Tabela 8 N mero de trabalhadores na ind stria de suco de laranja ao longo o ano agr cola 2009 2010 Saldo de trabalhadores em 01 07 2009 Admitidos de 07 2009 a 06 2010 Total permanentes tempor rios Demitidos de 07 2009 a 06 2010 Saldo de trabalhadores em 30 06 2010 Fonte Neves 2010 p 66 O esquema abaixo oferece uma descri o geral das etapas do processamento industrial da laranja em que se distribuem estes trabalhadores Inicialmente as laranjas s o transportadas at a f brica por meio de caminh es e ap s pesagem identifica o de proced ncia e an lise preliminar de caracter sticas f sico qu micas das frutas elas s o levadas por meio de correias e elevadores at silos de armazenagem As laranjas s o posteriormente encaminhadas lavagem com gua e solu o sanilizant
28. ao norte de Goi s Ocupada por posseiros a rea tornou se na d cada de 1950 objeto de grilagem Os conflitos j haviam se acirrado quando em 1954 chegaram regi o militantes do PCB Sob sua influ ncia os posseiros organizaram se em conselhos e c rregos e fundaram em 1955 a Associa o dos Lavradores de Formoso e Trombas Em 1957 o governo estadual organizou uma ofensiva contra os posseiros e foi recebido com piquetes de resist ncia Realizou se ent o um acordo segundo o qual o governo estadual retiraria as tropas da regi o enquanto o PCB apoiaria as pretens es do governador de estender seu mandato e apresentar seu filho sucess o Estabeleceu se com isso uma rea liberada 10 mil quil metros quadrados organizada a partir de tr s associa es e vinte e tr s conselhos dos trabalhadores As ofensivas militares contra a regi o ap s o golpe militar de 1964 prenderam e torturaram v rios dos principais l deres do movimento Martins 1981 24 contra aumentos abusivos do foro Seja com objetivos trabalhistas seja organizadas em torno da demanda pela terra as lutas dos trabalhadores rurais das d cadas de 1950 e 1960 colocaram crescentemente em xeque o bloco hist rico agr rio industrial que dirigia o Brasil desde 1930 e tinha por tra os fundamentais n o apenas a intocabilidade da estrutura agr ria ultra concentrada em nosso pa s mas tamb m a aplica o extremamente restrita da legisla o trabalhista ao campo
29. blicas que visassem a uniformiza o de conduta comercial Absteve se contudo seja de considerar a pr tica da verticaliza o por parte das ind strias abusiva para a concorr ncia seja de determinar uma nova pol tica de pre os para o setor Nestas condi es o fim do contrato padr o colocou os citricultores em posi o ainda mais fr gil a partir de ent o a negocia o do pre o da caixa de laranja dar se ia de maneira fragmentada em uma rela o estruturalmente assim trica entre poucas ind strias e milhares de produtores agr colas A safra 1995 96 negociada caso a caso entre ind strias e os produtores eventualmente organizados em pools de venda deixou clara a nova correla o de for as no interior do complexo citr cola A m dia de pre os pagos pela caixa de laranja n o foi suficiente para cobrir os custos de produ o agora acrescidos das despesas com a contrata o de m o de obra para a colheita e transporte que voltaram a ser responsabilidade dos citricultores O resultado imediato foi uma grande insatisfa o de todos os segmentos da citricultura especialmente dentre os menos privilegiados amea ados imediatamente em sua sobreviv ncia no setor Organizando se por fora da Associtrus e da Aciesp vistas como co respons veis pelas dificuldades que ent o enfrentavam alguns produtores mobilizaram se em 1996 para pressionar o poder p blico e as agroind strias Frente a n o manifesta o das ind
30. blicos destinados agricultura infra estrutura pesquisa agropecu ria assist ncia t cnica etc a abrupta abertura comercial a taxa de c mbio sobrevalorizada p s Plano Real a elevada taxa de juros a queda dos pre os dos produtos agr colas e o aumento significativo dos custos de produ o no per odo tiveram por consequ ncia uma queda m dia de 40 da rentabilidade bruta das atividades agr colas em compara o com a primeira metade dos anos 1980 Graziano 1999 Paralelamente impasses pol ticos decorrentes do ascenso da luta dos trabalhadores na d cada de 1980 mantiveram se presentes Por um lado apesar dos obst culos reforma agr ria estabelecidos na Constitui o de 1988 a luta pela terra mostrou f lego em especial com a relev ncia pol tica alcan ada nos anos 1990 pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST Por outro as greves de trabalhadores assalariados rurais em diversos complexos agroindustriais demonstraram sua capacidade de impactar as atividades industriais ao paralisar a lavoura disputando potencialmente com o capital a dire o sobre o conjunto do empreendimento agroindustrial Em resposta a esta crise o capital adotou estrat gias de redu o de custos e racionaliza o da produ o O tra o fundamental deste processo foi o fortalecimento da unifica o org nica entre lavoura e planta fabril que transformou esta ltima em escala crescente no centro nervoso de controle e plane
31. crescente com o passar dos anos J a partir da safra 1991 92 algumas ind strias processadoras passaram a desconsiderar o contrato padr o nas negocia es especialmente com pequenos produtores adquirindo caixas de laranja abaixo do pre o referencial do contrato Paulillo Almeida e Salom o 2002 A redu o dos pre os pagos aos produtores foi superior queda sofrida pelo pre o internacional do suco de laranja desde o in cio dos anos 1990 ocorrida devido recupera o dos pomares da Fl rida e diminui o relativa da importa o norte americana da commodity Aproveitando se de seus novos recursos de poder as ind strias processadoras esfor aram se para transferir mais que proporcionalmente aos citricultores o impacto depressivo de seu produto no mercado internacional Bocai va et al 1991 A partir de ent o multiplicaram se as discord ncias em torno do contrato padr o Dentre as principais cr ticas levantadas pelas associa es dos citricultores estavam 1 o fato de a f rmula do contrato considerar as despesas de al quotas e fretes com refer ncia apenas aos EUA onde as taxas s o mais elevadas e a cota o apenas da Bolsa de Nova York mesmo tendo os EUA deixado nos anos 1990 Uni o Europ ia o posto de principal comprador do suco brasileiro 2 o fato de a taxa de rendimento das caixas da laranja e os custos de produ o do processamento e venda do suco serem vari veis da f rmula do contrato
32. da hist rica e estruturalmente com a forma o social brasileira verdade que o pa s passou a exportar cada vez mais produtos industriais de base n o agr cola Inclusive ocorreu uma diversifica o da estrutura industrial com influ ncia na pauta de exporta es Nem por isso no entanto a economia brasileira deixou de ser inclusive uma economia prim ria exportadora A ressalva que cabe aqui que esta economia prim ria exportadora est articulada com um setor industrial instalado no pa s lanni 1979 p 51 52 As nicas culturas que mostraram taxas positivas ou relativamente altas de rendimento f sico por hectare foram soja cana e milho mas somente a cana teve acelera o significativa no rendimento na d cada de 1970 em compara o com a d cada anterior Feij o mandioca e trigo ao contr rio tiveram redu o significativa de rendimento na d cada de 1970 o qual passou a exibir taxas negativas nesse per odo Kageyama 1986 p 180 37 contudo no avan o do controle do capital sobre a terra e nas transforma es das rela es de trabalho na agricultura do per odo posterior a 1964 que os desequil brios da moderniza o t cnico produtiva no campo brasileiro melhor se expressam Ao longo da ditadura do capital sob tutela militar as classes subalternas rurais com acesso parcial e prec rio terra carregaram a maior parcela do nus das transforma es t cnico produtivas apontadas Converteram
33. e do consequente fechamento de grandes unidades produtivas sem que as demiss es em massa encontrassem qualquer enfrentamento contundente por parte dos trabalhadores A t tulo de conclus o do cap tulo descreveremos a seguir dois destes casos o fechamento da 294 Citrosuco de Bebedouro em fevereiro de 2009 e o fechamento da Citrovita de Mat o em fevereiro de 2012 e analisaremos tra os dos discursos de assalariados industriais do setor a seu respeito o Fus es aquisi es e fechamentos de f bricas no complexo citricola Conforme mencionado anteriormente ao longo das d cadas de 1990 e 2000 uma s rie de pequenas e m dias ind strias de suco fechou e ou foi adquirida por grandes empresas do setor Dentre as que paralisaram suas atividades destacam se a Central Citrus fundada em 1978 em Mat o e desativada em 1995 a CTM Citrus fundada em 1984 em Limeira e desmantelada em leil o em 1999 a Frutax fundada por um grupo de citricultores em 1994 em Monte Azul Paulista e desmantelada em leil o em 1999 Dentre as adquiridas por grandes empresas do setor destacam se a Frutesp controlada pela Coopercitrus desde 1979 em Bebedouro e vendida Louis Dreyfus em 1993 a Branco Peres fundada em 1980 em It polis e incorporada pela Cutrale em 1998 a Cambuhy fundada em 1992 em Mat o e adquirida pela Citrovita em 1998 a Sucorrico fundada em 1996 em Araras e vendida Citrovita em 2005 a Citrus Kiki fundada em 1999 em Engenheiro Coelho
34. es simplistas dos nexos do real A utiliza o predominante de m o de obra familiar complementada eventual ou permanentemente por m o de obra assalariada determina modos de vida e trabalho particulares desta fra o de classe Em primeiro lugar como veremos mais a frente o trabalho na pequena propriedade familiar possui uma din mica di Sorj Pompermayer e Coradini nos oferecem claro exemplo da subordina o do trabalho de pequenos produtores camponeses agroind stria av cola Quanto ao tempo de trabalho na propriedade numa amostragem de 185 produtores integrados contratualmente e 12 sem contrato 12 2 trabalhavam de 1a 8 horas por dia 33 de 9 a 12 horas e 54 8 de 13 a 16 horas di rias em 1978 Na produ o de aves em Santa Catarina em 1978 85 dos custos eram constitu dos por pintos ra es concentrados adquiridos das empresas integradoras Tendo em vista que o valor das vendas menor que os custos m dios a pesquisa estima que cerca de 90 do valor da produ o dessa atividade v o para o frigor fico na forma de diversos pagamentos Somando as despesas financeiras decorrentes de empr stimos nos bancos energia el trica e g s verifica se que somente 5 5 dos custos t m origem na propriedade do agricultor ou seja m o de obra e deprecia o Com base nos c lculos dos custos de produ o e dos pre os recebidos o estudo conclui que a atividade av cola n o tem apresentado lucratividade N o h casos de
35. esta associa o representava certa efervesc ncia organizativa de setores menos privilegiados da citricultura por outro foi express o de uma crescente fragilidade pol tica dos produtores uma vez que perda do papel das associa es nas negocia es com as ind strias a partir do fim do contrato padr o acrescia se agora uma nova fragmenta o organizativa Em contraponto ao ascenso das lutas da d cada de 1980 o novo cen rio do complexo citr cola inaugurado nos anos 1990 foi marcado por crescente fragilidade econ mica e pol tica dos citricultores Em contraposi o a partir de ent o as ind strias fortaleceram se pol tica e economicamente Primeiramente fundiram se as associa es industriais desde 1994 sob representa o nica da Abecitrus Associa o Brasileira dos Exportadores de Citros proporcionando s agroind strias citr colas uma renovada capacidade de aglutina o e imposi o de seus interesses aos citricultores Paulillo 2000 Em segundo lugar houve ao longo dos anos 1990 e 2000 um acirramento da concentra o no interior do oligop lio citr cola A primeira metade da d cada de 1990 foi marcada pela entrada e crescimento de novas empresas no setor em 1991 o Grupo Votorantim ingressou no complexo citr cola instalando em Catanduva a primeira f brica da Citrovita Agroindustrial Ltda em 1992 a Cambuhy Citrus empresa do Grupo Moreira Sales voltada originalmente para a produ o de laranjas p s
36. fica invi vel fica fora n o teria condi es Ent o minha jornada aqui d 44 horas c p e ai mais seis a oito hora no s bado seis a oito hora no domingo j vai aumentar pra sessenta talvez se for a noite geralmente vai a noite trabalha mais quatro ou cinco horas Ent o tirando essa poca de seca que ta mais tranquilo na poca das guas no primeiro semestre normal eu passar de sessenta horas por semana Voc se considera mais uma pessoa do campo ou mais uma pessoa da cidade Pra falar a verdade os dois n Mesmo que a gente n o v trabalhar no campo a gente acaba indo l mesmo que n o tenha que ir l pra fazer algum servi o ta meio tranquilo a gente acaba indo l pra dar uma olhada dar uma volta acompanhar n que a gente gosta muito n Eu acho que se n o gostasse n o taria tocando Mas na verdade quando eu n o t trabalhando eu fico mais aqui pra cidade a turma hoje que eu tenho mais conhecimento de sair mais da cidade ent o acaba ficando o lazer mais aqui da cidade Eu moro com a minha esposa aqui e ela da cidade professora ela j uma pessoa que n o gosta do s tio Citricultor familiar Ibitinga 07 2011 193 Para os filhos de pequenos citricultores entrevistados o assalariamento possui um significado particular tende a representar uma substitui o definitiva do modo de vida e trabalho de seus pais no interior da pequena unidade produtiva A elevada explora o a
37. mas a gente n o conseguiu Aqui a gente s conseguiu sustento porque a Cutrale abriu as portas pra n s Vai fazer quatro anos que eu to com turma eles me financiaram um nibus velho pra mim come ar A gente tinha um pouco de medo de perder o lote mas a gente falou assim a gente j n o tem muita coisa s um peda o de terra a sem estrutura ent o vamo meter a cara Ent o eu acho que a Cutrale t dando oportunidade pra n s Mas se eu falar pra voc que eu tenho vontade de ficar velha trabalhando de l der de colheita eu to mentindo pra voc Eu quero me ajeitar Eu ainda quero viver do meu lote Mas como voc vai vender a sua mercadoria se voc n o tem uma condu o Ent o c tem que trabalhar l pra ter uma condu o pra plantar a sua verdura o seu legume e ter como vender pra fora De a p N o tem como ir Empreiteira e assentada Iaras 07 2012 No que diz respeito aos assalariados rurais da citricultura moradores de assentamentos de reforma agr ria nessa regi o sua percep o a respeito das ocupa es do MST no pomar da Cutrale marcada por ambigiiidades Por um lado s o trabalhadores que participaram de uma ou mais ocupa es de terras ao longo de muitos anos e constru ram la os de solidariedade e empatia a partir desta experi ncia N o apenas v em legitimidade na luta pela terra como tamb m se mobilizam eles pr prios em torno de demandas t picas da reforma agr ria disponibiliza o para
38. nsia de vomito Depois de muita insist ncia o funcion rio da fazenda atendeu o pedido de levar as mulheres ao hospital Na hora o m dico disse tira essa roupa toma um banho nem eu estou aguentando o cheiro de voc s A gente estava toda envenenada As mulheres ficaram tr s dias internadas Outro exemplo dos limites do uso seguro dos agrot xicos o trabalhador Paulo S rgio morador de Duartina Contratado pela empresa de laranja Coimbra para aplicar defensivos agr colas no terceiro dia de trabalho ao aplicar o veneno Temic Paulo passou mal Eu estava com todos os EPIs Mesmo assim os equipamentos 213 n o impediram que o trabalhador sentisse muita nsia de v mito aumento da saliva o e dor de cabe a Passei no m dico e ele disse que eu estava intoxicado conta Revista Caros Amigos O veneno no p o nosso de cada dia dezembro 2009 Face a tais mazelas cotidianas todos assalariados da lavoura da laranja especialmente a massa de colhedores formulam m ltiplas respostas individuais ou coletivas visando minimizar os desgastes que lhes s o impostos Dentre estas respostas interessam nos nesta pesquisa os diversos posicionamentos e estrat gias dos assalariados rurais citr colas a respeito de seus direitos trabalhistas e a respeito do acesso terra Como veremos os interesses desta fra o da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial equacionam se de m
39. o pessoal da cidade eles tinha receio do pessoal dos sem terra a turma comenta que quem invade fazenda briguento essas coisa Mas depois viu que n o era nada disso que se eles n o fizer isso o governo nunca vai dar de m o beijada Se tivesse que dar j tinha dado que esse neg cio de reforma agr ria j vem arrastando anos e anos desde o tempo que eu era molecote de tudo eu to com quarenta e um anos Desde quando eu me alembro por gente meu pai j falava de reforma agr ria que at hoje n o fizeram Por causa do governo n o fazer que saiu esse movimento a pelo que eu to entendido Ent o eu nunca fui contra eles n o Tem gente l na Cutrale que era meio contra Ah mas vai tomar terra dos outros Eu falava Pera c acha certo uma pessoa ter mil alqueires de terra uma pessoa s e outras pessoa n o ter nada nem um pedacinho de terra pra plantar Ainda se aquele mil alqueire de terra fosse dele mesmo fosse da familia dele a tudo bem n o tem o que questionar S que eles sabem o pessoal do movimento descobre que aquela terra foi roubado no papel as terra que eles vai atr s terra do governo e se do governo o fazendeiro n o o dono Pode at ter comprado mais barato mas terra enrolada Eu acho que aconteceu muito isso da muito fazendeiro tem mil alqueire de terra s que desse mil tem duzentos trezentos quinhentos s vez at mais que ele comprou assim terra que n o le
40. o Paulo agrade o pela aten o com que me receberam e pela disposi o com que me ajudaram a contatar trabalhadores para a realiza o das entrevistas que comp em este texto Coordena o de Aperfei oamento de Pessoal de N vel Superior Capes agrade o pelos 24 meses de bolsa de mestrado que permitiram a realiza o deste trabalho RESUMO O objetivo deste texto investigar as diferentes fra es da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial no complexo citr cola paulista pequenos produtores familiares de laranjas assalariados rurais e assalariados industriais Propomo nos analisar as continuidades e descontinuidades sociais e pol ticas existentes entre estas diferentes fra es com o prop sito de apreender a classe trabalhadora que comp e este complexo enquanto uma totalidade concreta Para tanto destacaremos e analisaremos trechos de entrevistas com m ltiplos sujeitos que t m seu sobretrabalho explorado pelo capital agroindustrial citr cola no estado de S o Paulo pequenos produtores de laranjas que mant m seu modo de vida e trabalho familiares pequenos produtores de laranjas em acentuado processo de proletariza o pequenos propriet rios ou posseiros migrantes que se assalariam periodicamente em lavouras paulistas assalariados rurais manuais com e sem registro em carteira operadores de m quinas agr colas e transportadores de laranjas s agroind strias trabalhadores de ch o de f brica t
41. o c v o pessoal abalado mesmo com cara de vel rio No dia do an ncio das demiss es voc precisava ver aquela f brica a cara das pessoas parecia que algu m tinha morrido Uma rodinha aqui falando baixinho sem nenhum nimo Ex operador l der Mat o 07 2012 Paralelamente tamb m poss vel encontrar ap s o fechamento das f bricas express es fragmentadas e assistem ticas de solidariedade no discurso de funcion rios e ex funcion rios destas e outras empresas do complexo citr cola Para al m da quebra de la os cotidianos muitos trabalhadores das demais ind strias de suco de Bebedouro e Mat o afirmam que as demiss es massivas tamb m os afetam por ter um impacto baixista sobre o mercado de trabalho local e portanto sobre sua remunera o presente e futura As express es de solidariedade da decorrentes tendem a limitar se contudo a um car ter econ mico corporativo e permanecem n o articuladas e desenvolvidas pelas organiza es de trabalhadores do setor no sentido de um discurso cr tico ao capital agroindustrial citr cola Assim o ilustram tr s cita es de trabalhadores n o demitidos ap s os fechamentos de f brica a primeira de um trabalhador terceirizado da seguran a a segunda de um trabalhador safrista e a terceira de um operador de ind strias de suco remanescentes em Mat o e Bebedouro O que voc sentiu quando a f brica da Citrosuco aqui em Bebedouro fechou Eu senti muito Porque e
42. o caminha sem press o A Associtrus perde alguns colaboradores formalmente por causa disso tem gente at que nos ap ia e n o quer que o nome apare a como associado ou apoiador porque tem medo das retalia es Na estrutura pol tica tradicional na verdade conseguimos poucos apoios Conseguimos mobiliz los mas poucos deles se envolveram com a quest o muitos se afastaram para facilitar a aproxima o com a ind stria que sempre teve uma tradi o de financiar campanhas De qualquer forma a gente conseguiu levantar o problema conseguimos a cria o da c mara setorial de citricultura no Minist rio da Agricultura que eu presidi durante quase seis anos Coisas que levaram os nossos questionamentos os nossos problemas junto aos mais altos escal es sem que isso representasse 181 grandes vit rias Foi isso a grande vit ria foi conseguir levantar o problema Presidente da Associtrus Bebedouro 01 2012 O posicionamento da Associtrus quanto atual constru o do Consecitrus naturalmente distinto daquele hegem nico no interior da Faesp Durante anos a Associtrus pressionou a ind stria pelo estabelecimento de canais institucionais de transfer ncia de informa es estrat gicas aos citricultores e de negocia o de pre os m nimos das caixas de laranjas Contudo aos olhos da Associtrus o Consecitrus tal como vem sendo constru do n o ser uma media o pol tica capaz de favorecer os produtores citr cola
43. o chegou a Carteira Profissional N o chegou a aposentadoria que de apenas meio sal rio m nimo St dile 2004 grifos nossos 7 poca o grupo Cosan n o apenas explorava sozinho 605 mil hectares mais que o dobro dos 300 mil hectares at ent o destinados para assentamentos de Reforma Agr ria do estado de S o Paulo como tamb m tinha contra si 103 den ncias trabalhistas no Minist rio P blico de S o Paulo envolvendo problemas relativos a terceiriza o fraudulenta ass dio moral e desvio de FGTS 260 cita o de uma dirigente estadual do MST SP moradora de um assentamento na regi o de Iaras assim aponta esta rela o A gente ainda n o chegou num debate de falar da unidade de classe a gente individualiza o campon s ali o cortador de cana o motoqueiro que trabalha com a moto serra Vamos ser bem sincera o cara que t l cortando cana que tem o sal rio mensal ele se sente uma categoria de assalariado A j gera uma divis o porque o sem terra n o tem de onde tirar n uma cesta b sica da Conab uma bolsa do governo Por si s eles se separam Essa fragilidade que dificulta que a gente consiga se somar fazer a unidade fazer de fato um enfrentamento As pr prias empresas em que eles trabalham usam isso Por exemplo um cortador de cana que t l na usina vai ver um sem terra como Se at a informa o que ele tem ou pela Rede Globo ou pelo dono da usina ou pelos funcion rio
44. o de id ia pra fazer Chega uma hora que acaba essas id ia Chega uma hora que voc j mudou seu pr prio setor c mudou oito coisa n o tem mais coisa pra mudar A n o ser que venha uma pessoa de fora com uma outra vis o e veja que aquilo l t precisando de um detalhe que v resolver o problema Mas voc t no dia a dia ali voc n o tem mais o que melhorar A h essa cobran a por que voc n o t apresentando proposta de inova o por que voc n o t apresentando proposta de seguran a Ent o os funcion rio fica meio acuado entendeu Por que a empresa cobra tanto de mim Eu n o sou obrigado a dar id ia pra empresa j existe engenheiro projetista que pago pra isso por que eu tenho que ficar dando id ia A acontece muitas vezes que voc d uma id ia que n o d certo a uma cobran a por que n o deu certo Essa a preocupa o do funcion rio eles ficam acuado Operador Mat o 07 2012 As agroind strias citr colas mobilizam diferentes meios para neutralizar tal contradi o entre a crescente participa o intelectual coletiva dos trabalhadores no processo produtivo e o acirramento da apropria o privada de seus resultados Um destes meios s o os j apontados sistemas integrados de gest o que refor am a clivagem entre capital e trabalho no acesso a informa es e decis es estrat gicas e imp em estritos limites ao alcance da participa o de operado
45. o na colheita da laranja que sobra vai trabalhar de servente de pedreiro trabalhar nas estufas selecionando os cavalinho enchendo os balainho pras muda o que mais ele puder fazer ele procura fazer de tudo um pouquinho pra tampar aquele buraco Mas tem vez que o trabalhador fica uns meses sem um pingo de cobertura Aqueles um que bastante cabe a mesmo ele faz um caixa dois pr ele Na safra que ele vai ganhando ele vai montando aquela poupancinha A gente j ta acostumado j desde o come o sabe que na entressafra vai ficar parado Ent o tem trabalhador que vai guardando um pouquinho de dinheiro ele recebe o fundo de garantia dele a multa dos 40 e mais os sete dias do aviso a hora que termina a safra ele vai l e j guarda A enquanto na safra tem o arroz o feij o a carne ou uma coisa diferente na parada ele faz um arrozinho com ovinho e vai tocando o barco O duro aqueles um que paga aluguel tem os filho pequeno um sufoco Ex colhedor e dirigente sindical Monte Azul Paulista 07 2011 Nos m s de parada entressafra a gente faz bico pra sobreviver Pega di ria tipo carpir laranja pros outro carpir cana s vez tira alguma diarinha pouca nesse sentido Tem tamb m plantio da usina que nem nesse ano n s trabalhamo tr s m s e pouco registrado Se n o no campo de servente de pedreiro n o tem mais outro Apesar que muitos n o gosta do servi o que ruim O pedreiro ganha 70 voc ganha 30 e
46. p e na sacola sim Restam frutos na faixa Desce da escada Fonte Costa e Camarotto 2010b 138 Tais iniciativas n o foram at o momento contudo capazes de superar os dilemas decorrentes da subordina o formal do trabalho assalariado rural na citricultura As agroind strias seguem dependentes de uma enorme quantidade de trabalhadores manuais para a colheita e portanto seguem vulner veis a sua press o social e pol tica Ainda que a fragmenta o nas formas de contrata o tenha sido capaz de diminuir drasticamente o n mero de trabalhadores sindicalizados e de paralisa es no trabalho aumentando o poder agroindustrial sobre a lavoura as processadoras de suco de laranja concentrado e congelado permanecem insatisfeitas com o poder de barganha alcan ado pelas massas de assalariados rurais atrav s de canais pol ticos jur dicos Continua portanto uma demanda em aberto do capital agroindustrial citr cola a mecaniza o da colheita Ribeiro 2011 Assim o ilustra a seguinte descri o dos mais recentes avan os t cnicos neste sentido apresentados aos citricultores paulistas Recentemente na Agrishow 2008 foi disponibilizada para os citricultores uma colhedora de laranjas espec fica para as caracter sticas das lavouras das lavouras nacionais Essa colhedora foi totalmente desenvolvida no Brasil e fruto de um grande investimento em pesquisa e desenvolvimento ao longo dos ltimos dez anos O sist
47. primas s agroind strias pequenos propriet rios migrantes assalariados rurais manuais operadores de m quinas agr colas trabalhadores de ch o de f brica com e sem registro em carteira com maior ou menor internaliza o do discurso patronal de fora mineiros baianos sergipanos maranhenses ou do lugar homens e mulheres etc Todos estes segmentos s o unidos pelo fato de que t m seu sobretrabalho extra do pelo capital agroindustrial por uma nica empresa ou por um conjunto muito restrito delas todos possuem por outro lado especificidades econ micas e pol ticas que os diferenciam em maior ou menor grau uns dos outros Conceber a classe trabalhadora em sua concretude usinas de lcool silvicultores aliados aos aportes do governo em irriga o somam RS5 bilh es No caso da Bahia a diversidade agr cola tem atra do agroind strias e R 10 bilh es em investimentos No estado as empresas produzem vinhos e espumantes sucos snacks de banana e produtos extra dos da soja e do coco Entre os investimentos o de maior destaque do grupo chin s Chong Qing Grain que prev injetar RS4 bilh es na constru o de um complexo industrial no munic pio de Barreiras regi o oeste do estado para processamento e escoamento de soja O investimento da agroind stria prioridade para nosso estado porque passamos muitos anos sem ter uma ind stria de suco enquanto ramos o segundo maior produtor de laranjas do pa s
48. produto s o controlados pelo operador atrav s de um CLP Enfim nos blenders onde sucos de diferentes frutas s o misturados e homogeneizados o operador controla em uma tela de computador a abertura e fechamento de v lvulas de suco concentrado para as linhas de tanques e determina a quantidade de a cares do produto final de acordo com as ordens de blendagem recebidas Nas f bricas mais automatizadas o adequado andamento do conjunto destas atividades no setor de produ o do suco supervisionado por um operador em uma sala de controle de onde s o monitoradas de forma articulada e flex vel todas as etapas da produ o 147 Aos olhos dos trabalhadores esta automa o n o apenas reduziu drasticamente o n mero de empregos industriais no complexo citr cola como tamb m promoveu uma intensifica o do trabalho na linha de processamento Por um lado na medida em que a automa o n o se realizou de modo uniforme e homog neo em todo o parque agroindustrial citr cola pequenas unidades produtivas n o automatizadas ou grandes unidades produtivas semi automatizadas foram fechadas ou induzidas a acelerar significativamente o ritmo do trabalho para acompanhar os n veis de produtividade impostos pelas unidades mais modernas Por outro lado a diminui o de postos de trabalho e o consegiente aumento do n mero de m quinas supervisionadas por cada operador nas f bricas integralmente automatizadas incrementaram a responsabilidade
49. renovar o contrato Teve gente que renovou no meu caso eu renovei fiquei mais um m s Algumas escolhidas renovaram ainda um m s a mais e ficaram oito meses Como s o mulheres novas e a maioria casada ou ainda mora com os pais normalmente a mulher n o t l porque precisa A mulher t l porque ela quer porque ela quer ser independente No meu caso ontem mesmo a gente tava conversando ele marido falou eu nunca te obriguei a trabalhar Eu n o trabalho porque eu preciso se eu n o trabalhar eu n o vou passar fome eu trabalho porque eu quero pra eu ter o meu dinheiro comprar as minhas coisas Claro que nesse per odo que fica parado a maioria fica sempre tentando procurar servi o fica sempre entregando curr culo pra ver se arruma algo fixo tem umas que consegue mas tem outras que n o consegue A fica esperando pra ver se chama de novo Mas melhor um servi o fixo do que safra n Eu brinco que n o posso nem comprar uma moto pra mim porque depois eu vou pagar como nos quatro meses que eu tiver parada Servi o fixo voc sabe que voc pode fazer alguma conta porque voc sabe que voc vai ter o dinheiro todos os meses pra pagar Tem meu marido mas ele tamb m tem as contas dele tem as contas de casa Por isso a maioria fala Eu mandei curr culo n o sei pra quanto lugar to esperando Fica na expectativa Quem n o consegue volta l Safrista Mat o 07 2012 No que diz respeito aos trabalhadores p
50. seguro desemprego do fundo de garantia do acerto Ali n o no neg cio de cooperativa s aquele 222 dinheirinho que eles d o n Cabou a cooperativa cabou tudo eles nem olha na tua cara depois A n o tem nem como n Fam lia de colhedores Sever nia 07 2011 No cap tulo 2 mostramos as transforma es por que passou o mercado de trabalho rural na citricultura paulista nas d cadas de 1990 e 2000 com a derrocada das cooperativas de m o de obra surgiram novas e mais sofisticadas media es de arregimenta o sele o e contrata o de colhedores dentre as quais se destacam hoje os condom nios de empregadores rurais Como vimos o processo de constitui o de tais condom nios foi bastante heterog neo marcado por continuidades e descontinuidades em rela o atua o anterior dos gatos Por um lado formaram se in meros gatom nios caracterizados pela pr tica das mais diversas irregularidades Em primeiro lugar trata se n o de verdadeiros cons rcios de produtores rurais que organizam de maneira conjunta as atividades de safra em suas propriedades mas sim de empreiteiras que vendem o servi o de colheita a citricultores diversos Com isso n o apenas mascara se a terceiriza o da contrata o de colhedores impedida pela lei como tamb m se estimula a concorr ncia entre os diversos gatom nios que para reduzir o custo da colheita burlam o pagamento dos encargos sociais e trabalhistas dos assal
51. sendo a base do prevalecimento de empresas exportadoras de commodities agr colas no mercado internacional Desde este ponto de vista a compara o entre a din mica do complexo agroindustrial citr cola nos Estados Unidos e no Brasil nos permite visualizar a perman ncia de certas particularidades da via colonial de forma o e consolida o do capitalismo brasileiro enquanto nos Estados Unidos a produ o de suco de laranja concentrado congelado voltada quase integralmente para o mercado interno e mant m se especialmente pela maior produtividade relativa de terra e trabalho no Brasil a produ o da commodity voltada quase integralmente para exporta o e mant m se especialmente pela menor remunera o relativa de fornecedores e colhedores de laranjas Vieira assim detalha a compara o Quanto aos itens de custos na Fl rida opera o de m quinas irriga o e m o de obra s o os mais altos enquanto que em S o Paulo os itens mais significativos s o os defensivos adubos e corretivos A m o de obra um grande diferencial entre os custos das duas regi es uma vez que no Brasil ela bem mais barata As despesas com opera es de m quinas s o bem mais elevadas no estado americano principalmente em raz o do uso intensivo em irriga o aproximadamente 90 da rea cultivada que no Brasil muito restrita Al m da baixa remunera o da m o de obra a remunera o dos produtores agr colas em S o Paulo tamb
52. stria da cana de a car e da laranja Do outro lado h uma vasta regi o entre o Pontal do Paranapanema e o Centro Sul do estado com grandes estoques de terras aptas produ o agr cola mas destinadas valoriza o especulativa e ou pecu ria ultra extensiva Estes cen rios s o marcados por lutas distintas da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial Enquanto no eixo Campinas Ribeir o Preto predominam as demandas t picas da m o de obra assalariada rural na regi o que se estende do Pontal do Paranapanema ao Centro Sul do estado predominam os conflitos em torno da posse e propriedade da terra Aly J nior 2008 Ao longo da d cada de 2000 ocorreram importantes transforma es no campo paulista em especial neste segundo cen rio Regi es marcadas pela presen a de latif ndios improdutivos e por terras p blicas federais e estaduais griladas no Pontal do Paranapanema e no Centro Sul do estado tornaram se crescentemente atraentes para os capitais agroindustriais de determinados complexos Enquanto retrocediam as reas destinadas pastagem multiplicaram se sobre os grandes estoques de terras subaproveitadas nesta regi o as lavouras de cana de a car laranja e eucalipto No que diz respeito citricultura em particular as duas tabelas seguintes mostram a redu o da rea de pastagens e o aumento da produ o de laranjas em seis Escrit rios de Desenvolvimento Rural EDR do Centro Sul do estado 2
53. um monstro dum grupo Voc sabe que tudo isso a muda Um diretor que aqui era o dono da usina hoje ele ta aqui ele t na Austr lia o ano que vem O contato fica mais longe Mas o pessoal do dia a dia da usina o tratamento ainda completamente diferente O contato teu na usina voc vai l na usina ou a usina vem aqui na tua casa senta aqui na tua mesa Aqui nessa mesa aqui n s j fizemos muitos neg cios de cana muito bons Muitas decis es de safras inteiras foram feitas aqui bate na mesa Vindo gerente geral da usina vindo outra pessoa de cargo mais baixo mas com autonomia pra chegar at onde poderia chegar Coisa que na laranja A ind stria da laranja vai ter um contato diferente com aquele produtor grand o O pequeno m dio produtor nivelado l em baixo Ent o isso tudo diferente A hora de fazer a colheita na cana voc manda um pouco mais tamb m Voc tem mais agilidade pelo menos voc consegue reclamar Na laranja voc n o consegue voc fala sozinho a vida inteira Ex citricultor Taquaritinga 01 2012 Ainda assim esta integra o de pequenos propriet rios hegemonia da agroind stria sucroalcooleira possui limites O modo como via de regra se sentem quando do arrendamento ou venda de sua terra muito significativo a este respeito Muitos utilizam adjetivos como humilhado envergonhado retraido etc Em seu discurso poss vel perceber que a tendencial perda
54. um inverno meio fraco a geralmente na conta do consumo A 81 Ao destacar a gravita o cultural e econ mica destes trabalhadores em torno da unidade produtiva familiar n o queremos caracterizar de forma id lica seu local de origem Como j apontado mais acima muitos posseiros ou pequenos propriet rios em estados do Nordeste seguem submetidos a rela es de explora o e domina o por propriet rios fundi rios e ou por comerciantes locais e regionais Um dos colhedores migrantes acima citado assim caracteriza tais rela es Eu mesmo tenho l em Livramento na faixa de uns trinta alqueires L a gente produz de tudo Antes a ro a l era algod o agora veio esse neg cio de maracuj abriu po o artesiano agora correu mais uma rendazinha no munic pio Mas a gente tamb m planta uma verdura colhe uma abroba colhe um tomate colhe um maxixe planta uma melancia tem o quiabo tem de tudo De tudo a gente faz um pouco n s vezes pra servid o da casa s vezes vende O que a gente vende pro atravessador um tal de Seu R O irm o dele tem um Ceasa aqui em S o Paulo ele embala as coisa e vai tudo num caminh o pra S o Paulo Pra ele que negocia a coisa t boa n Agora pra n s significa s mais dif cil Quando c colhe faz um dinherinho quando n o colhe n o faz nada Quem ganha mais mesmo o passador porque pra quem planta o trabalho bastante e o lucro pouco Colhedor e migrante baiano
55. voltei pra ro a A arrumei um servi o num posto de combust vel ganhava bem registrado em carteira fui adquirindo experi ncia trabalhei dois anos no posto Mas como os hor rios eram muito complicado trabalhava de domingo a noite eu era caixa ent o tinha as responsabilidade de caixa decidi um dia sair do servi o A surgiu a proposta de trabalhar nesse empresa que eu trabalho hoje L eu trabalho como vendedor n A foi cada vez melhorando porque ganha mais moro no s tio e v todo dia pra l al m de continuar estudando eu fa o contabilidade Tem um primo meu at que mora no s tio do meu v o pai dele tem laranja e ele foi trabalhar nessa mesma empresa que eu que arrumei um emprego pra ele Dos meus amigos os que n o mudaram do s tio com a fam lia pra cidade hoje trabalha na cidade porque no s tio n o tem mais o que fazer n Pro patr o a grande vantagem de adquirir um funcion rio que tem ou tinha um s tio essa o funcion rio da ro a ele j pensava como um patr o ent o ele n o vai dar preju zo pro patr o e ele n o vai ver o patr o como um monstro Assim ah ele ruim o patr o s pensa nele N o a gente pensa vamo supor ele patr o ele tem os custos dele por que que eu v d preju zo pra ele A gente s tenta fazer com que o patr o ganhe mais porque ele tamb m precisa ele paga o meu sal rio pra mim trabalhar n o paga o meu sal rio pra mim ficar l enrolando
56. 475 329 31 460 077 18 25 Jaboticabal 22 931 800 39 718 200 16 465 842 28 586 673 28 28 Catanduva 15 072 800 22 705 340 5 797 692 10 939 611 62 52 Barretos 36 634 475 55 763 132 25 144 472 41 535 546 31 26 S J Rio Preto 12 068 765 21 812 530 8 453 391 14 703 588 30 33 Total 129 417 962 217 210 479 91 818 238 152 798 596 29 30 Tabela 2 Varia o da rea para corte de cana para ind stria 2000 2011 2000 2011 2011 vs 2000 rea para corte de cana para ind stria em ha Yo 118 847 152 066 28 191 115 248 240 30 142 126 247 542 74 Catanduva 104 533 223 935 114 Barretos 176 144 416 097 136 S J Rio Preto 32 921 237 731 622 Total 765 686 1 525 611 99 Neste sentido podemos afirmar que a correla o de for as imposta pelas ind strias processadoras de laranjas a partir da d cada de 1990 co determina o processo de crescente homogeneiza o do espa o em S o Paulo caracterizado pela cont nua e crescente proletariza o de pequenos propriet rios rurais e pelo aumento da concentra o de terras nas m os de capitais agroindustriais Como veremos mais a frente a dram tica perda de popula o de tradicionais bairros rurais citr colas no interior paulista e a consegiente atrofia do universo social e cultural dos pequenos citricultores e de suas fam lias s o algumas das m ltiplas consequ ncias do aumento de poder das agroind strias citr colas e do avan o das usinas de cana de a car sobre a
57. Com isso o movimento sindical rural assimilou a estrat gia de supera o do latif ndio pela via da constru o de uma estrutura fundi ria de perfil empresarial Mais de vinte anos passariam antes que tais par metros fossem relativamente colocados em quest o pelo movimento dos trabalhadores rurais Acresce se a isto o fato de que os tra os reformistas do ET permaneceram letra morta A redistribui o de terras foi quase nula durante o per odo de 1965 a 1981 foram realizados em m dia oito decretos de desapropria o por ano enquanto eclodiam cerca de 70 conflitos fundi rios anualmente Martins 1984 Os instrumentos de arrecada o e aliena o de terras p blicas desapropria es por interesse social utiliza o do imposto territorial rural e projetos p blicos de coloniza o foram aplicados de maneira t mida Jos Gomes da Silva que participou da elabora o do Estatuto da Terra expressa com o seguinte questionamento o complexo ambiente pol tico em torno da quest o Qual o personagem o elemento ou as circunst ncias que levaram homens da primeira hora a vociferar apenas dois meses depois da tomada do poder que n o tinham feito a revolu o para isso que aquilo inclusive a linguagem era coisa do Jango que haviam tra do o 31 de mar o e que se continuarem com essa hist ria de Reforma Agr ria teremos que come ar a conspirar de novo Gomes da Silva 1971 p 118 49 divorciados
58. Ent o pra vim todo dia eu achei mais f cil eu ir daqui pra l No come o pra gente que nascido l a mudan a muito grande eu at pensei em voltar pra l depois c vai acostumando Mas quando eu vou l no s tio fico a tarde toda continuo com as minhas amizades l Aqui mesmo na cidade quase a gente n o tem muito contato nem com os vizinhos os vizinhos t o tudo na correria ent o Citricultor familiar Ibitinga 07 2011 Na verdade a propriedade do meu pai n A gente trabalha l eu trabalho mais de fim de semana pra ajudar L catorze alqueires com laranja d uns oito alqueires o resto ta com gado e um peda o de milho A gente n o tem empregado o trabalho no pomar a gente mesmo que faz No caso o meu pai que mora l o propriet rio Eu fa o s bado domingo quando folga aqui vendedor em loja de tintas vai ajudar l Se a gente conseguisse trabalhar por conta eu preferia seguir por conta n Mas devido ao tamanho da propriedade e o n mero de pessoas que teria que depender s de l n o d n N o comporta Mas se fosse uma propriedade que comportasse com certeza eu ia tentar trabalhar por l eu teria um prazer enorme de ta trabalhando por l conseguir sobreviver s daquilo Porque no fim a gente trabalha muito n Tem o hor rio a cumprir aqui e tem que s bado domingo s vezes dia de semana a noite pra poder vencer l n Se for pra pagar um funcion rio j
59. Esse 194 pessoal da cidade eles v o l pra trabalhar quando n o tem servi o eles encosta e fica quieto Pessoal da ro a n o N o tem esse servi o Eles v o fazer outro Pra qu Pra n o ficar parado Porque na ro a assim na ro a n o fica parado Se voc n o ta plantando voc ta aguando se voc n o ta aguando c ta riscando sempre em movimento Por isso que pro patr o funcion rio da ro a melhor E o patr o para o funcion rio da ro a tamb m bom Se eu precisar de alguma coisa do meu patr o se eu pedir hoje ele vai fazer Porque tudo que ele precisa de mim eu fa o pra ele como se ele fosse um pai da gente mesma coisa S que paga o sal rio da gente todo o m s Sua experi ncia como empregado na cidade mudou seu jeito de ver os trabalhadores os colhedores que voc s empregam aqui no s tio Sim Tem bastante a ver n Porque o trabalhador que colhe a laranja ele funcion rio que nem eu sou l Mas geralmente o que que acontece O trabalhador que vem colher a laranja ele vamos dizer assim s o pessoas de mais idade eram propriet rios antigos n Trabalhadores que trabalhavam na ro a funcion rio da ro a os patr es foram vendendo o s tio ou arrendando pra cana eles ficaram sem emprego Eles n o sabem fazer nada na cidade Que que eles v o fazer Eles v o ter que colher laranja Ent o a gente tem um certo di logo conversa com eles s que tamb m n o se po
60. Isso aqui um dia vai ser meu E eu vou continuar sendo empregado Vai continuar sempre sendo empregado O meu pai um empregado s n o registrado Como ele mesmo diz n o tem como chamar o sindicato n Se ele faltar alguma coisa n o tem como c correr atr s Por qu Porque o funcion rio no s tio ele trabalha o m s o ano pra produzir a laranja pra ind stria e ela pagar como se fosse um sal rio S que n o garantido Produz produz produz se chegar no final da colheita e a ind stria n o quiser comprar c vai ficar sem sal rio entendeu Eu e meu patr o mesmo sendo que a empresa que eu trabalho uma empresa grande tem um certo di logo uma certa conversa um certo entendimento E ele comigo tem um certo valor ele 195 Neste contexto extremamente comum que pequenos produtores de laranjas considerem a possibilidade de arrendar ou vender suas terras para a planta o de cana Imp e se sobre eles ent o um dilema Por um lado o acirramento da subordina o de seu trabalho ao capital agroindustrial e a trajet ria de seus filhos cada vez mais distante do s tio colocam a continuidade da unidade produtiva familiar em xeque Por outro lado a venda ou o arrendamento da pequena parcela de terra para a cana oferece um retorno financeiro baixo e representa a ruptura completa de seu modo de vida e trabalho Da que no discurso dos pequenos citricultores a resist ncia ao arrendamento ou venda da terra para a c
61. Minist rio P blico do Trabalho constitu ram se condom nios com atua o regular tanto na rela o com os produtores citr colas quanto na rela o com os assalariados rurais manuais Dentre eles os nuances da informalidade expostos at aqui tendem a ser substitu dos por uma mais complexa hierarquia de media es da explora o domina o dos colhedores No interior destes condom nios ocorre uma crescente separa o e especializa o de indiv duos e inst ncias respons veis pela arregimenta o e transporte dos colhedores de um lado e pelas decis es chave de contrata o demiss o e remunera o de outro Neste quadro a trincheira imediata e cotidiana da luta de classes no eito de responsabilidade do turmeiro ou empreiteiro Diferentemente do gato ele submetido a um controle relativamente estrito por parte de escal es superiores que o contratam e registram O turmeiro possui em primeiro lugar a incumb ncia de controlar o ritmo de trabalho dos colhedores e repassar lhes as determina es vindas da administra o do condom nio Permanece para tanto em contato com o escrit rio seja atrav s de fiscais de campo que periodicamente circulam pelos eitos seja atrav s de telefone ou r dio Em segundo lugar contudo o turmeiro tamb m se v obrigado a receber amortecer as queixas 224 cotidianas dos colhedores Via de regra um ex colhedor o turmeiro constr i com os trabalhadores rurais no eito uma equa o entr
62. PAULO Produ o de laranja pode cair 20 com cartel 29 04 2009 FOLHA de S O PAULO Ind stria paga quanto quer ao produtor 26 04 2009 FOLHA de S O PAULO Ex fabricante de suco de laranja revela a o de cartel 15 03 2010 FOLHA de S O PAULO Empresas doam R 12 1 mi a candidatos a deputado 28 11 2010 FOLHA de S O PAULO Fronteira agr cola recebe R 50 bilh es 30 10 2011 GAZETA de BEBEDOURO Associtrus e sindicalista criticam terceiriza o de colheita da laranja 17 04 2008 GAZETA MERCANTIL Combate ao Cancro c trico dar emprego a quatro mil pessoas 24 05 1999 JORNAL COMARCA de MAT O Greve na Frutropic 14 07 1990 326 JORNAL COMARCA de MAT O Greve paralisa parcialmente a Citrosuco 29 09 1990 JORNAL FOLHA DA CIDADE DE BEBEDOURO Citrosuco fecha parcialmente em Bebedouro 11 02 2009 JORNAL FOLHA DA CIDADE DE BEBEDOURO Manifesto re ne diferentes entidades em prol da reabertura da Citrosuco 21 02 2009 JORNAL IMPACTO BEBEDOURO Sem esperan as aos poucos f brica de suco pode estar deixando Bebedouro 09 04 2011 JORNAL IMPACTO BEBEDOURO Motoristas chegam a ficar 72 horas para descarregar laranja na industria e produtores t m mais prejuizo 24 09 2011 JORNAL UNESP Os problemas da expans o da cana em S o Paulo n 228 Nov 2007 in http www unesp br aci jornal 228 cana php O ESTADO de S O PAULO Corrida por produ o cria legi o de exclu dos 01 04 2007 O ESTADO de S
63. Paulillo Almeida e Vieira 2006b p 138 O presidente da associa o assim relata sua hist ria e seus desafios Em meados da d cada de 1990 a Associtrus se desestruturou n o houve mais elei es ela ficou no limbo existia apenas virtualmente Em 1999 houve aquela grande ruptura dos contratos por parte da ind stria e n s procuramos nos organizar Em um primeiro momento n s fizemos isso no interior da Sociedade Rural Brasileira SRB mas l eu n o tinha o suporte n o havia interesse no trabalho de confronto com a ind stria Foi da que n s sa mos e reorganizamos a Associtrus em 2003 No in cio a ind stria n o nos aceitava como representante dos produtores mas n s conseguimos criar situa es complicadas pra ela que levaram a que nos chamassem pra discutir Isso aconteceu principalmente em 2006 logo em seguida daquela busca e apreens o da Pol cia Federal na Opera o Fanta quando a Cutrale nos procurou disposta a negociar O processo no CADE nosso maior confronto da derivaram todas as outras negocia es Por que a ind stria veio nos procurar pra oferecer o Consecitrus Porque ela estava preocupada com o desenlace da quest o do cartel No fundo isso que deu for a Associtrus at agora A tend ncia do brasileiro conciliat ria mas voc percebe que nessa linha conciliat ria nunca se conseguiu nada Ta a Faesp uma entidade que procura conciliar mas a gente sabe que esse setor industrial n
64. Pesquisa ergon mica sobre colheita une sa de do colhedor e rendimento Revista Ci ncia e Pr tica ano 10 n 39 out nov dez 2010 b DARROS BARBOSA Roger Processamento industrial da laranja In KOLLER Otto Carlos Org Citricultura 1 Laranja Tecnologia de produ o P s colheita Industrializa o e Comercializa o Porto Alegre Cinco Continentes 2006 DELGADO Guilherme da Costa Capital Financeiro e Agricultura no Brasil Campinas Editora da Unicamp 1985 DIAS Edmundo Revolu o Passiva e modo de vida ensaios sobre as classes subalternas o capitalismo e a hegemonia S o Paulo Editora Jos Luis e Rosa Sundermann 2012 ETGES Virg nia Sujei o e resist ncia os camponeses ga chos e a ind stria do fumo Disserta o de mestrado Departamento de Geografia Faculdade de Filosofia Ci ncias e Letras da Universidade de S o Paulo 1989 317 FERNANDES Bernardo MST Forma o e territorializa o em S o Paulo S o Paulo Hucitec 1996 A Forma o do MST no Brasil Rio de Janeiro Editora Vozes 2001 WELCH Clifford Campesinato e agroneg cio da laranja nos EUA e no Brasil in FERNANDES Bernardo org Campesinato e agroneg cio na Am rica Latina a quest o agr ria atual S o Paulo Express o Popular 2008 FERRARI Terezinha Fabricaliza o da cidade e ideologia da circula o S o Paulo Outras Express es 2012 FURTADO Celso 4 pr revolu o brasileira Rio de Jane
65. Rosa Cajuru Serr nea Cravinhos Araraquara localizada em algumas fazendas e usinas depois atinge Ja Bocaina Mat o Limeira etc al m do norte do Paran sul de Minas e norte do Rio de Janeiro S na regi o de Ribeir o Preto cerca de 150 000 trabalhadores pararam num espa o de uma semana sendo cerca de 110 000 da cana e 40 000 da laranja Alves 1991 p 143 A greve de maio dos colhedores reivindicava um aumento salarial de 233 totalizando Cr 210 00 por caixa colhida em valores da poca Nas negocia es estabelecidas pelas dire es sindicais conquistou se aparentemente o reajuste demandado Na assembl ia em que tal acordo foi referendado contudo n o se explicou que dos Cr 210 00 por caixa conquistados apenas Cr 144 00 seriam recebidos imediatamente pelos trabalhadores enquanto os restantes Cr 66 00 corresponderiam a direitos trabalhistas a serem pagos apenas ao final da safra Cr 24 00 por descanso semanal remunerado para quem n o faltasse ao servi o e Cr 42 00 a t tulo de indeniza o pela rescis o de contrato d cimo terceiro e f rias Graziano 1997 Apenas depois de voltarem ao trabalho os colhedores se deram conta de que haviam sido ludibriados Sua frustra o levou os a preparar a retomada da greve em 2 de agosto de 1984 reivindicando um reajuste l quido de Cr 450 00 por caixa mais Cr 75 00 por caixa para o descanso semanal remunerado mais Cr 44 00 por caixa para o pagamento das f rias proporci
66. S o Carlos Antonio Val rio Morilas Junior O presidente da Associtrus Associa o Brasileira de Citricultores Fl vio Viegas diz que o baixo pre o pago pela ind stria aos produtores de laranja o grande respons vel pelas irregularidades nos laranjais A Abecitrus Associa o Brasileira dos Exportadores de Citros disse que n o tem nenhuma responsabilidade nas irregularidades Segundo Morilas J nior 95 dos funcion rios aceitaram trabalhar ganhando menos que o sal rio m nimo Eles recebem de R 240 a R 360 Folha de S o Paulo Setor de laranja paga menos que 1 m nimo 21 09 2007 Importante destacar que tais prec rias condi es de vida e trabalho dos assalariados rurais seguem ocorrendo n o apenas em propriedades de pequenos m dio e grendes 5 A t tulo de exemplo deste fato pode se apontar a seguinte cita o Em 18 09 2007 foi iniciada uma fiscaliza o do Grupo Estadual Rural acompanhada pela Procuradoria Regional do Trabalho da 15 Regi o no S tio de Santa Tereza zona rural de Mat o SP No local foram identificados 32 trabalhadores que informaram estar registrados em um Condom nio de Empregadores Rurais conhecido como Laranja Lima Identificado o propriet rio da terra Sr Luiz Carlos Scopelli afirmou que tinha contratado o Condom nio por m n o era associado ao mesmo Relat rio de Fiscaliza o AFTs Consuelo de Lima e Carlos Jos Correa 20 9 2007 129 produtores de la
67. Sem registro eu to ganhando tanto e tanto mas amanh ou depois eu vou acabar perdendo Ent o n s hoje tamo tendo que pensar todos assim n pai Eu n o gosto de ir pr cooperativa porque na cooperativa n o tem um seguro b o Essas cooperativa assim at se a pessoa cair machucar uma coisa mais sem jeito n Essas cooperativa aqui tudo dos olhudo dos vagabundo isso a o sindicato se apriquitou pr derrubar Eu mesmo de vez em quando levo o seu S dirigente sindical de Ol mpia ajudava ele muito nesse neg cio de achar cooperativa Eu chegava procurava onde que a cooperativa onde que t trabalhando Eu to parado eu queria arrumar uma trampo onde que que c s t o trabalhando muito longe A o cara me falava e eu ligava pro seu S a cooperativa t em tal e tal canto com tal pre o Porque eu fazia feito um investigador n Pr acabar com a cooperativa Mas do jeito que t o registro ta na hora da gente voltar pra cooperativa n Vai todo mundo pra cooperativa porque n o t dando n o d A cooperativa nunca parou E agora eu to vendo que n o pode parar porque do jeito que o registro virou nada Eu mesmo falei uma vez pro seu S a gente n o pode corre mais atr s de cortar cooperativa porque se cortar a cooperativa a gente vai fazer o qu Vai comer o qu ent o Mas um cara que nem eu eu n o trabalho na cooperativa Porque eu preciso do
68. Tem que sobreviver Citricultor familiar Monte Azul Paulista 07 2011 A venda da for a de trabalho por parte do chefe ou de algum outro membro da fam lia n o necessariamente corr i o modo de vida e trabalho no interior da pequena produ o citr cola usual que estas experi ncias tenham curta dura o apenas durante per odos relativamente ociosos na pequena unidade familiar ou em momentos de maiores dificuldades financeiras Nestes casos o assalariamento considerado apenas uma estrat gia para garantir a reprodu o da pequena unidade produtiva quando sua opera o deficit ria alcan a um grau que amea a inviabiliz la Assim que se recuperam melhores condi es de trabalho no s tio abandona se o assalariamento e retorna se ao modo de vida e trabalho anterior O trecho a seguir assim ilustra este processo 191 Eu comprei o caminh o Um amigo tava desempregado deu a id ia Vamo comprar um caminh o Mas n o deu certo de trabalhar junto com o rapaz E como tava ruim de pre o a laranja ent o eu fui trabalhar com o caminh o pra puxar laranja Eu pagava um dia de servi o custava um exemplo trinta reais E eu num caminh o ganhava cem Ent o eu pagava o dia de servi o da pessoa l no s tio e sobrava setenta Por isso que eu puxei laranja Isso foi l por 1998 1999 Depois de um tempo eu n o tava ganhando muito eu achei que se eu ficasse em casa trabalhando no s tio na propriedade ia me ren
69. a crise e a ruptura do contrato padr o Como j destacado mais acima a vig ncia deste contrato a partir de 1986 n o fora suficiente para sanar as contradi es de todos os segmentos da citricultura com a ind stria Tais contradi es assumiram dimens o 33 Vieira sustenta ainda a hip tese de que a forma o de pomares pr prios por parte das ind strias processadoras baseou se tamb m no interesse pela terra enquanto reserva de valor ou alvo de especula o A partir da a o estrat gica em torno da compra de terras as processadoras adquiriram vantagens dentro da rede de poder uma vez que a forma o de pomares pr prios e mesmo a posse das terras garantiu ganhos a esses atores Primeiramente a terra proporciona a seus propriet rios vantagens financeiras provenientes tanto de sua express o como ativo l quido quanto ativo de capital Naquele momento da economia brasileira segunda metade da d cada de 1980 e primeira de 1990 a terra foi uma alternativa de investimento seguro para quem a estava adquirindo Diante da instabilidade financeira a terra funcionou como reserva de valor mais do que muitos outros tipos de investimento na rea financeira ou mesmo diretamente ligados atividade das empresas A situa o econ mica do Brasil a partir de 1985 com os v rios planos monet rios fez com que a terra refor asse seu car ter de reserva de valor e de garantia inviol vel para investimentos Vieira 2003 p 158 92
70. arrendada desde 2005 e posteriormente comprada pela Louis Dreyfus a Royal Citrus fundada em 1990 em Taquaritinga e assumida pela Cutrale em 2011 Paralelamente a d cada de 2000 foi tamb m marcada por fus es ou aquisi es dentre algumas das maiores agroind strias citr colas no estado de S o Paulo Em julho de 2004 a Cargill anunciou que havia vendido seus ativos no setor de citros no Brasil com o objetivo de se concentrar em setores do agroneg cio em que j era l der de mercado ou tinha condi es de alcan ar esta posi o Dentre seus ativos vendidos a Citrosuco adquiriu duas fazendas um terminal de armazenamento de suco e uma unidade de processamento em Bebedouro enquanto a Cutrale adquiriu outras duas fazendas e uma unidade de processamento em Uch a O neg cio foi aprovado pelo CADE Conselho Administrativo de Defesa Econ mica em setembro de 2005 a despeito dos protestos da Associtrus de que 295 prejudicaria os citricultores paulistas ao acirrar ainda mais a concentra o industrial do setor Posteriormente em maio de 2011 Citrosuco e Citrovita anunciaram seus planos de fus o com vistas a tornarem se l der no setor com 45 do mercado de suco superando a Cutrale com 35 poca Em dezembro de 2011 o CADE aprovou os planos mas determinou que as empresas assinassem um Termo de Compromisso de Desempenho buscando preservar minimamente os citricultores do impacto da fus o Segundo o TCD as empresas deveriam
71. artigo 58 ser inaplic vel s atividades profissionais relativas agricultura e pecu ria e ainda que n o proibisse expressamente a sindicaliza o rural subordinava a a uma regula o especial que s se realizaria efetivamente no in cio dos anos 60 A Consolida o das Leis do Trabalho CLT de 1 5 1943 tamb m deixava claro em seu artigo 7 letra b que seus preceitos n o se aplicariam aos trabalhadores agr colas salvo quando houvesse em cada caso determina es em contr rio Coletti 1998 p 36 Destaca se neste conjunto o conflito de Santa F do Sul em S o Paulo na fazenda de Zico Diniz Trabalhadores arrendat rios que haviam recebido a terra com compromisso de entreg las com o capim formado recorreram a um advogado em 1959 solicitando a renova o de contratos Prepostos do propriet rio mandaram ent o plantar capim no meio das lavouras Respaldados pelo PCB os arrendat rios responderam com uma opera o arranca capim Com a media o do governo estadual foi elaborado novo contrato de arrendamento de um ano ao fim do qual em 1960 eclodiu novo conflito Enquanto o propriet rio soltava o gado na ro a dos lavradores a Associa o dos Lavradores de Santa F foi processada pelo DOPS e a principal lideran a dos trabalhadores Jofre Correia Neto foi condenado Os trabalhadores n o conseguiram permanecer na terra Medeiros 1989 Merece men o neste conjunto o conflito de Trombas e Formoso
72. as de pris o e uso de for a policial Dossi Cutrale MST e Tribunal Popular julho de 2011 101 A fam lia Jangrossi est sendo empobrecida pelo aumento do controle pol tico e econ mico das processadoras que est o investindo na verticaliza o da produ o Eles informaram que n o possuem controle algum sobre o processo produtivo A l gica do agroneg cio controlar todas as formas de conhecimento desde as tecnologias s formas de negocia o Os Jangrossi afirmaram que a qualidade de vida da fam lia determinada por essa pol tica E essa qualidade vem declinando mesmo que eles tenham intensificado o trabalho na laranja por causa da diminui o do pre o e da produtividade Os Jangrossi s o uma fam lia camponesa em processo de descapitaliza o resultado das mudan as na correla o de for as entre as processadoras e os citricultores que aconteceu a partir da primeira metade da d cada de 1990 Os Jangrossi como a maior parte dos citricultores ca ram na trama das rela es de poder maquinadas pelas processadoras Fernandes e Welch 2008 p 60 61 Como indica a cita o o crescente controle das ind strias sobre a tecnologia utilizada na citricultura uma media o fundamental da atual subordina o da produ o citr cola ao capital agroindustrial Na d cada de 1970 tal controle estabeleceu se em diversos complexos pela media o de bancos estatais cujos cr ditos vinculavam obriga
73. cada vez mais enf tico as propriedades que n o se enquadrem no aumento de produtividade e na redu o de custos t picos da racionalidade empresarial A mencionada tens o entre o modo de vida nas pequenas unidades produtivas de laranjas e o horizonte pol tico e ideol gico de integra o aos imperativos do mercado alcan a assim um car ter dram tico O seguinte relato nos esfor os de incorpora o de discursos e pr ticas condizentes com os atuais imperativos do complexo citr cola bem como os limites s cio culturais t picos da pequena produ o familiar 167 Fu precisaria de no m nimo R 20 000 00 pra me manter n N o to pondo ordenado de R 2 000 00 por m s n o To pondo R 1 500 00 R 1700 00 Que pra viver n N o pra guardar dinheiro No ano retrasado 2010 eu consegui tirar l quido R 22 000 porque eu vendi a caixa a catorze reais a colheita foi mais barata n o perdi fruta porque colheram em setembro eles tavam com falta de suco ent o n o atrasaram minha colheita inclusive as laranjas que ca ram eles aproveitaram tudo n o pra fazer suco mas pra fazer ra o e leo J esse ano 2011 eu vendi a caixa a dez e cinquenta e vai sobrar sete mil negativo no meu bolso que eu vou perder n o sobrou nada Eu perdi 44 em colheita frete refugo Fundecitrus Fundo Rural Eu gastei no m nimo mais 50 com adubo fertilizante isso e aquilo sobrou o que pra mim E n o to pondo dia de servi o meu
74. cadeias produtivas da agricultura familiar Bras lia NEAD MDA FIPE dezembro de 2004 HEREDIA Beatriz PALMEIRA Moacir LEITE S rgio Sociedade e economia do agroneg cio no Brasil Revista Brasileira de Ci ncias Sociais vol 25 n 74 outubro de 2010 IANNI Oct vio Ditadura e Agricultura Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 1979 As origens agr rias do Estado brasileiro S o Paulo Brasiliense 1984 KAGEYAMA ngela Moderniza o produtividade e emprego na agricultura uma an lise regional tese de doutorado Instituto de Economia Unicamp 1986 et alli O novo padr o agricola brasileiro do complexo rural aos complexos agroindustriais in Agricultura e pol ticas p blicas Bras lia IPEA 1987 KALATZIS Aquiles Guimar es Os novos rumos do complexo agroindustrial citricola a explora o de novos segmentos de mercado Disserta o de mestrado Centro de Ci ncias Exatas e Tecnologia Departamento de Engenharia de Produ o Universidade de S o Carlos 1998 KINOUCHI S rgio Qualidade e produtividade administra o participativa aplicada a uma ind stria de processo tipo fluxo cont nuo o caso Citrosuco Monografia de 319 Conclus o de Curso de Ci ncias Econ micas Faculdade de Ci ncias e Letras Universidade Estadual Paulista 1993 LENIN Vladimir Ilitch O desenvolvimento do capitalismo na R ssia S o Paulo Abril Cultural 1982 LOPES Andrea EM DIO ngela
75. car das ind strias de processamento de suco de laranja e de produ o de papel e celulose etc Todos estes sujeitos est o imersos em contradi es que atualmente n o s o politicamente acionadas pelo discurso do MST o que implica em uma significativa perda de sua capacidade de mobiliza o e organiza o A seguinte cita o de um dirigente nacional do movimento nos mostra como este debate tem sido realizado no MST O Brasil foi historicamente uma sociedade agr cola baseada nas grandes propriedades nos latif ndios com uma grande popula o rural Essa popula o foi se transferindo para as cidades nos ltimos cingienta anos E hoje a grande verdade que o p blico da reforma agr ria principalmente no estado de S o Paulo n o mais o campon s S o esses trabalhadores que foram pra cidade mas que n o se tornaram trabalhadores urbanos que ainda vivem do trabalho no campo cortando cana apanhando laranja trabalhando de vaqueiro de tratorista A reforma agr ria depende dos assalariados hoje Esse o grande desafio do movimento A reforma agr ria vai ser feita com os trabalhadores que est o trabalhando na cadeia produtiva do agroneg cio e est o morando basicamente nas pequenas cidades do interior O nosso grande desafio organizar esses trabalhadores Principalmente no estado de S o Paulo onde noventa por cento dos acampados do MST s o assalariados A tem um outro debate que mais complexo ainda A
76. caso na venda das caixas de laranja a queda da rentabilidade da produ o citr cola e a acentuada exclus o de produtores do setor tiveram por consequ ncia o enfraquecimento das associa es civis de citricultores na segunda metade dos anos 1990 Neste momento os sindicatos vinculados Faesp voltaram a ganhar relev ncia na organiza o do setor dado que possu am uma estrutura consolidada financiada pela contribui o sindical obrigat ria Esta vantagem organizativa da estrutura sindical teve uma dupla consequ ncia por um lado a Faesp voltou a concentrar parcela significativa das negocia es e decis es de relev ncia para os citricultores por outro sua atua o seguiu marcada pelos tra os b sicos do sindicalismo burocr tico brasileiro Em primeiro lugar isso significa que s o poucos os sindicatos patronais rurais politicamente din micos em que a base de produtores interage com os debates e formula es A maioria deles pelo contr rio restringe se a fornecer assist ncia m dica e a auxiliar produtores em sua burocracia cont bil e fiscal Em segundo lugar o sindicalismo patronal rural tamb m marcado pela autonomiza o de sua 176 burocracia e pelo personalismo de figuras chave que a ocupam podendo reproduzir se desconectado das insatisfa es de segmentos de sua base Isso o que permite que os sindicatos patronais rurais assumam uma postura de maior acomoda o e entendimento com o Estado e com as agroind str
77. cen rio de fragmenta o pouco questionado por estas organiza es que possibilita s empresas criar diferentes faixas salariais para atividades similares estender jornadas de trabalho de acordo com sua conveni ncia realizar fus es seguidas de fechamentos de f bricas e demiss es em massa sem enfrentamentos al m de estabelecer um n vel de remunera o significativamente mais baixo que em outros setores industriais com maior hist rico de organiza o e combatividade Compreendida em seu conjunto as transforma es recentes dos empreendimentos agroindustriais imp em n o apenas o desafio de superar as clivagens entre os trabalhadores no interior da f brica e no interior da lavoura mas tamb m o desafio de superar a pr pria clivagem entre f brica e lavoura Desde o momento em que o capital realizou a articula o entre ind stria e agricultura as organiza es da classe trabalhadora submetida ao capital agroindustrial foram obrigadas a buscar fazer o mesmo se quisessem alcan ar primazia na luta de classes Se a planta fabril converte se de modo cada vez mais claro em centro nervoso do empreendimento como um todo apenas a mobiliza o conjunta dos trabalhadores rurais e industriais suficiente para colocar em xeque a dire o do capital agroindustrial sobre toda a cadeia produtiva significativo que parte do movimento sindical dos trabalhadores rurais tenha alcan ado dimens o deste fato logo em sequ ncia s grandes grev
78. cio rural Delgado 1985 p 158 51 claramente exemplificado no depoimento deste trabalhador A popula o tradicional local inserida em um universo pouco monetizado e distante do Estado possu a documenta o legal quando possu a apenas das terras de uso privado as grotas As terras comuns da chapada apesar de legitimadas pelo direito n o formal e pelos costumes da regi o n o eram reconhecidas pelo direito positivo A aus ncia de documentos de reas imensas possibilitava que a compra de qualquer por o de terra comum fosse fraudulentamente estendida Da que no depoimento conste que Ela a Acesita comprava um pedacinho e falava que tinha comprado toda a chapada do Estado Em sua obra Maria Aparecida Moraes Silva oferece evid ncias emp ricas destas retifica es de rea que funcionavam como ardil jur dico para disfar ar o roubo de terras dos trabalhadores da regi o Na medida em que o direito positivo n o reconhecia o estado de coisas vigente nos costumes locais a fraude assumia as vestes de legitimidade inquestion vel O direito formal cumpriu neste e em outros casos semelhantes o papel de ar ete contra um distinto modo de vida encobrindo a viol ncia da tomada de terras sob o manto da formalidade jur dica A duplicidade de escrituras sobre cess o de direitos heredit rios por meio da burla da rea consta dos registros de propriedade As c pias das escrit
79. coletividade Furtado 1962 45 O ascenso da luta dos trabalhadores e as diferentes vertentes pol ticas e ideol gicas comprometidas com a reforma agr ria foram derrotadas em 1 de abril de 1964 No per odo da ditadura do capital sob tutela militar que ent o se abriu ocorreram algumas das transforma es que est o na base do campo brasileiro tal como o conhecemos hoje Por um 29 lado multiplicaram se os nexos entre a ind stria e a agricultura subordinando diversas culturas din mica do processamento agroindustrial e ampliando significativamente a composi o org nica do capital aplicado na produ o agr cola por outro transformaram se as media es pol ticas jur dicas e ideol gicas de controle do grande capital sobre a terra e a for a de trabalho Ambos os processos tiveram impactos profundos no modo de vida e nas rela es de trabalho das classes subalternas do campo reproduzindo contudo o padr o de mis ria a que estiveram hist rica e estruturalmente submetidas sob o capitalismo brasileiro No que toca aos obst culos impostos pela estrutura agr ria latifundi ria economia industrial nacional a ditadura do capital sob tutela militar imp s ao pa s uma pol tica de vi s claramente concentrador de riqueza e poder em aberto contraponto aos projetos reformistas socialistas ou cepalinos Face as restri es impostas pela estrutura agr ria oferta adequada de bens agr colas e forma o de um mercad
80. como j destacado mais acima a forma o de novos safristas imp e lhes periodicamente extens es da jornada e intensifica es do ritmo de trabalho Segundo relatos de safristas por outro lado h circunst ncias em que operadores se colocam de maneira autorit ria repassando menos informa es ou mais tarefas do que o considerado adequado Os seguintes tr s trechos de entrevistas com um operador e dois safristas ilustram algumas das consequ ncias da clivagem entre estes trabalhadores O pessoal safristas entrava novo e ia aprendendo Porque c n o adquire conhecimento experi ncia de uma hora pra outra Durante aquela safra o pessoal aprendia tudo tanto na opera o quanto na qualidade seguran a costumes da empresa tavam bons j A no final da safra mandava embora e na outra safra n o conseguia pegar as mesmas pessoas Alguns voltavam mas n o eram muitos Pegava outros novos e tinha que ensinar de novo complicado isso a A gente tentava fazer com que eles se adaptassem colocava geralmente junto com outras pessoas que j sabiam mais mas bem dif cil Esse um problema sempre O funcion rio entra l n o conhece e na outra safra entra outro novo que n o conhece na outra entra outro novo que n o conhece Operador Mat o 07 2012 s vezes voc ajudante e tem uma oportunidade Mas pouco n Eu acho que devia segurar mais gente Pra voc come ar a ser operador c tem que t t
81. conquistas pontuais em termos de remunera o e benef cios para os trabalhadores efetivos destas empresas A aus ncia de uma tradi o de luta dentre os sindicatos de trabalhadores das ind strias de alimenta o paulistas levou os sem 293 maiores questionamentos para esta segunda op o O seguinte trecho de entrevista com o presidente do Sindicato de Trabalhadores da Ind stria de Alimenta o de Araraquara e diretor da Fetiaesp ilustra claramente tanto a op o pol tica seguida por estas institui es quanto sua consequ ncia para os assalariados industriais por elas representados Ainda hoje n s tivemos uma conversa com o vice presidente da Fiesp n s diz amos pra ele o seguinte n s estamos dispostos a trabalhar junto com as empresas Quando eu falo isso algu m pode perguntar trabalhar de que jeito junto com a empresa N s tivemos um momento no setor sucroalcooleiro em que o setor tava totalmente quebrado Atrav s de a o do movimento sindical dos trabalhadores com passeatas reuni es com o governo do estado reuni es com o governo federal n s conseguimos mudar um pouco essa situa o N s tamos dispostos a fazer isso tamb m no setor da laranja caso realmente o setor esteja com dificuldade e n s possamos trabalhar juntos Por exemplo podemos tentar junto ao governo do estado colocar o suco na merenda ou nas cidades isso que n s pretendemos fazer uma linha de a o juntamente com as empr
82. constru dos a partir de instrumentos empresariais de coopta o de sua subjetividade e por outro momentos do discurso destes trabalhadores constru dos a partir da experi ncia recente de demiss o enquanto os primeiros reproduzem a dissolu o mistificadora da clivagem entre capital e trabalho os segundos visualizam claramente o significado desta clivagem para suas vidas enquanto os primeiros caracterizam de maneira ideol gica as rela es de trabalho como aut nomas e horizontais os segundos identificam o car ter heter nomo e vertical destas rela es Os seguintes trechos de uma mesma entrevista com um operador demitido pela Citrovita ap s o fechamento de sua f brica em Mat o ilustram exatamente esta contraposi o o primeiro trecho descreve os conte dos transmitidos aos trabalhadores em treinamentos da empresa o segundo descreve sua percep o acerca dos sentimentos e reflex es dos trabalhadores ap s o encerramento da f brica Sempre falaram sempre exigiram eles frisavam bastante isso o pessoal que dava os treinamentos Faz de conta que voc dono aqui voc o dono Nas oito horas que voc t aqui voc dono disso aqui N o o Ant nio Erm rio voc tem que cuidar disso aqui como se fosse a sua casa Na minha rea eu n o tenho supervisor eu tenho que considerar que isso aqui meu que eu sou dono disso aqui que esse peda o da f brica meu Voc tem que considerar que isso aqui teu
83. de Agudos e Len is Paulista quando chega l eles barram eles n o deixa entrevistar o funcion rio Isso que n s precisava Tratorista e assentado laras 07 2012 258 cria o de a es unificadas e de la os de solidariedade entre os trabalhadores em momentos de conflito nos pomares das agroind strias O que voc acha que o trabalhador que da cidade pensa do movimento dos sem terra Os trabalhador da cidade eles n o concorda com muita coisa com o pessoal dos sem terra eles n o concorda com muita coisa que a gente faz Quando teve mesmo a invas o da Cutrale era uma discrimina o Esses sem terra s vagabundo quer tomar uma fazenda que n o tem nada a ver que na cidade tem uma gua quente tem uma luz No sem terra voc v a minha situa o tenho gua encanada da caixa eu t pegando gua da chuva O pessoal da cidade eles n o quer saber se voc faz uma greve na Cutrale muitos n o ap ia O pessoal l sempre faz uma grevinha por causa de pre o de laranja o pessoal da cidade n o concorda com o pessoal do movimento olha meio feio n o gosta muito n o Mas a gente p ra e outro nibus vai trabalhar N o existe isso Eles fica meio carudo Mas n o todos tamb m tem uns que ap ia tem uns que j conversa sempre tem um que tem que falar Essas greve s o assim vamos supor que eles p em a gente num talh o que n o chegou a madurar todo o pomar Eles quer pagar uma mi
84. de assalariamento 3 As cooperativas de m o de obra foram estabelecidas com vistas redu o de custos atrav s do n o pagamento de direitos assegurados constitucionalmente Ao demonstrar se este fato atrav s da diferen a entre o que era efetivamente pago pelas cooperativas e o que os trabalhadores receberiam com o antigo contrato de safra esta forma de contrata o da m o de obra p de ser apresentada como uma burla ilegal de encargos trabalhistas Scarabelim e Scarabelim 2005 As vit rias jur dicas das a es assim respaldadas colocaram em xeque a aceita o daquele formato de contrata o tanto pelos citricultores dado que sobre eles recaiu parcela significativa do nus trabalhista quanto pelos pr prios assalariados rurais medida que se explicitavam as consegii ncias do retrocesso que as cooperativas representavam em suas conquistas legais b sicas 54 A t tulo de exemplo da posi o da Justi a do Trabalho com rela o s cooperativas de colhedores pode se citar a seguinte liminar concedida nos autos de uma a o p blica ajuizada pelo Minist rio P blico do Trabalho da 15 Regi o Posto isto concedo a liminar pleiteada a fim de que cesse em 24 horas a afronta di ria ostensiva e se perdurasse irrevers vel aos princ pios e normas constitucionais atinentes ao trabalhador Destarte determino Que a reclamada Sucoc trico Cutrale Ltda Se abstenha de utilizar em terras pr prias d
85. de barganha da ind stria face os citricultores De acordo com levantamento da Associa o Nacional dos Exportadores de Sucos C tricos CitrusBR que desde 2009 aglutina as principais empresas do setor o volume armazenado em 30 de junho 110 era de 214 3 mil toneladas o suficiente para apenas sete dias de consumo enquanto h tr s anos os estoques da commodity somavam 456 mil toneladas Segundo esta interpreta o a negocia o do pre o m nimo e da LEC foram uma manobra pol tica ideol gica das agroind strias processadoras o pre o m nimo acordado com o Estado foi ent o apresentado nas negocia es com os citricultores como pre o m ximo e os estoques puderam ser recompostos em condi es favor veis s agroind strias www associtrus com br noticias htm Estoques de suco do Brasil s o os menores em 20 anos 19 07 2011 N o se produz laranja a R 10 00 por caixa 14 09 2011 Como veremos no pr ximo cap tulo esta diverg ncia quanto negocia o na safra 2011 2012 relaciona se com linhas pol ticas distintas de diferentes dirigentes do setor no relacionamento com a ind stria O controle das agroind strias sobre o pre o pago pelas caixas de laranja tem como consequ ncia a n tida diferencia o do pre o pago a diferentes estratos de produtores mostrando que a pequena produ o familiar de laranjas a que maior impacto sofre Diversas reportagens do jornal Folha de S o Paulo no ano de 2009 ilustram a
86. de exemplo inicial podemos destacar que a exist ncia de empreiteiros e fiscais de campo morando em assentamentos e acampamentos cria clivagens na base do MST decorrentes de conflitos no interior dos pomares das agroind strias As seguintes duas cita es a primeira com um colhedor acampado e a segunda com uma empreiteira assentada assim ilustram um destes conflitos A T j assentada l Ela trabalha l na Cutrale como fiscal ela que apontava nossas caixa de laranja acampado e assentado que trabalha com ela l tudo da ro a tudo sem terra colhendo laranja n A firma foi enrolando n is Eu perdi muita caixa de laranja ltimo pagamento meu ficou quatrocentas caixa pra tr s Porque quando vinha no holerite n o batia a quantidade de caixa 253 que a gente colhia A a T falava M s que vem eu aponto pra voc A sempre ficava um restante pra tr s cem cento e poucas caixa E a gente ia s perdendo porque n o vinha mesmo N o adiantava Quando eu resolvi procurar o advogado a T falou l que se n s ponhasse ela no pau eles n o pegava mais n s Mas a gente n o tem culpa o errado foi eles n A T falou C s t m todo o direito de ir na justi a tudo Mas depois c s n o entra mais aqui Colhedor e acampado Iaras 07 2012 H quatro ano atr s eu tava passando fome eu n o tenho vergonha de falar n o A gente veio pra c pra tirar o sustento do lote
87. de qualquer finalidade de altera o da estrutura agr ria Por outro lado o princ pio da intocabilidade da empresa e os incentivos ao desenvolvimento rural tamb m previstos no ET assumiram todo o espa o da pol tica agr ria Apoios coloniza o privada incentivos fiscais setoriais como dedu o de imposto de renda para aplica o em pesca e reflorestamento e investimentos em infra estrutura para determinadas regi es ou projetos rurais serviram de base reprodu o ampliada do monop lio das classes dominantes sobre a terra e os recursos p blicos Ancorada em tal pol tica ampliou se entre as d cadas de 1960 e 1970 a integra o inter setorial de capitais no campo brasileiro Este fen meno diz respeito ao investimento crescente de capitais por parte de conglomerados industriais e ou financeiros no mercado de terras O processo teve m ltiplas motiva es econ micas Por um lado a integra o de capitais em determinados segmentos agr colas correspondeu a uma integra o vertical de agroind strias que incorporavam gradativamente a produ o de mat rias primas de origem agr cola com que operavam Buscavam com isso seja reduzir custos de produ o seja ampliar seu poder de negocia o sobre a cadeia agroindustrial como um todo Por outro lado muitos foram os casos de investimentos no mercado de terras por parte de ind strias e bancos com vistas seja valoriza o especulativa dos bens imobili rios rur
88. de registro Lygia Sigaud assinalou tal fen meno na d cada de 1970 em Pernambuco A autora apresenta do seguinte modo os dilemas dos trabalhadores fichados registrados em carteira e clandestinos arregimentados por empreiteiros e sem direitos trabalhistas J tendo tido a experi ncia da ficha quer no engenho ou na rua o trabalhador geralmente afirma que prefere ser clandestino a ser fichado e justifica isso em termos de que a ficha o cativeiro Mesmo reconhecendo e lamentando que por ser clandestino encontra se privado dos direitos o trabalhador confirma sua op o por trabalhar com empreiteiro s vantagens da ficha os direitos fundamentalmente os clandestinos op em a sujei o de ser obrigado a trabalhar nas piores reas ganhando menos do que como clandestino E na medida em que v em os fichados serem privados de seus direitos ou terem de brigar por eles na justi a em fun o de atraso no pagamento do d cimo terceiro n o pagamento de f rias perda do repouso remunerado e feriado em virtude das press es exercidas pelos propriet rios acabam concluindo que nem mesmo pelos direitos valeria a pena se fichar A estabilidade de emprego do fichado seria a nica coisa que poderia prend los ficha como seguran a nos per odos de tranca do inverno mas desde que a expans o da cana na regi o centro sul de Pernambuco e em Alagoas tem implicado a utiliza o da for a de trabalho dos clandestinos tamb m no inver
89. de seu meio de produ o tem por equivalente interior um acentuado esvaziamento de seu universo simb lico 200 Como voc iria se sentir se tivesse que arrendar esse s tio pra cana Como que eu ia me sentir como eu vejo assim tem o av tem o pai Pra arrendar pra cana quando o cara j se sente que n o ta mais Porque quem gosta da ro a gosta de trabalhar na ro a se sente humilhado n Ter que abandonar tudo morar numa cidade numa casa fechada e ver o s tio em cana Porque o trabalhador rural ele gosta de ver a terra movimentar ele gosta de ver verde ele gosta de ver uma planta o de milho ele gosta de ver uma planta o de arroz ele se envergonha de ver um s tio que ele comprou em cima cana E a usina ganhando dinheiro em cima da terra dele sendo que poderia ser ele que tivesse ganhando Ent o ele se sente envergonhado de ter que arrendar ter dez alqueires de terra alugar entre aspas ou dar pra usina ganhar dinheiro em cima ganhar a dez alqueires hoje que que vai ganhar dez alqueires Vinte mil reais um ano Uma propriedade de dez alqueires vale meio milh o de reais e tira isso Uma casa na cidade de setenta mil c aluga ela por trezentos e cingienta reais m s onde o pessoal ta pensando ele vende o s tio compra uma casa e aluga e fica em casa dormindo S que eu quero ver daqui vinte anos Que que v o comer Vai ter que importar comida vai ter que pegar o dinheiro do lcoo
90. de trabalho rural in GIORDANI Francisco MARTINS Melchiades e VIDOTTI T rcio coords Direito do trabalho rural S o Paulo Editora LTr 2005 SIGAUD Lygia Os Clandestinos e os direitos Estudo sobre trabalhadores da cana de a car de Pernambuco S o Paulo Livraria Duas Cidades 1978 SCARABELIM Larissa SCARABELIM Hamilton Cooperativa de trabalho no meio rural in GIORDANI Francisco MARTINS Melch ades e VIDOTTI T rcio coords Direito do trabalho rural S o Paulo Editora LTr 2005 SOUTO MAIOR Jorge Luiz Fundamentos da prote o ao trabalhador rural in GIORDANI Francisco MARTINS Melch ades e VIDOTTI T rcio coords Direito do trabalho rural S o Paulo Editora LTr 2005 323 SORJ Bernardo Estado agricultura e classes sociais Rio de Janeiro Zahar 1982 POMPERMAYER Malori CORADINI Odacir Camponeses e agroind stria Rio de Janeiro Zahar 1982 ST DILE Jo o Pedro 4 quest o agr ria e o socialismo in ST DILE Jo o Pedro org 4 Quest o agr ria na d cada de 90 Porto Alegre Editora da UFRGS 2004 STOLKE Verena Cafeicultura homens mulheres e capital 1850 1980 S o Paulo Editora Brasiliense 1986 TAVARES dos SANTOS Jos Vicente Colonos do Vinho Estudo sobre a subordina o do trabalho campon s ao capital S o Paulo Editora Hucitec 1978 THOMAZ JR Ant nio Por tr s dos n s da cana a rela o capital x trabalho e o movimento sindical na agroind
91. de uma s empresa campanha de Lula presid ncia no valor de R 4 milh es http www1 folha uol com br Setor banc rio deu maior doa o campanha de Lula 29 11 2006 Em 2010 realizou a d cima segunda maior contribui o entre empresas para a campanha de Dilma Rousseff no valor de R 1 788 693 36 http blogs estadao com br vox publica Metade do financiamento da campanha de Dilma vem de apenas 27 empresas 01 12 2010 No que toca s demais candidaturas em 2006 as doa es oficialmente registradas pela empresa campanha de 42 candidatos somaram R 1 933 500 00 Revista F rum Deputados favor veis CPI do MST receberam doa es da Cutrale 27 10 2009 Em 2010 as doa es oficiais da empresa para 10 candidatos somaram R 1 890 000 00 Castilho 2012 p 148 133 De qualquer modo os trinta anos de guerras de movimento e guerras de posi o entre as classes que comp em o complexo citr cola deixam claro que permanecem ali abertos os dilemas decorrentes da subordina o formal do trabalho assalariado ao capital Para Marx em sentido geral tal subordina o ocorre quando as condi es objetivas e subjetivas do trabalho respectivamente meios de produ o e meios de subsist ncia est o plenamente separadas do trabalhador e se lhe op em enquanto propriedade privada do capitalista de modo a se estabelecer uma rela o de depend ncia essencialmente econ mica entre aquele que vende sua for a de tra
92. de verdade L tem um ditado que eles chama as pessoa de p de macaco S o as pessoa bem ruim mesmo no trabalho Vamo supor que voc t trabalhando na enxada carpindo eles fala Voc n o vai porque voc p de macaco Ele acha que t sendo superior a voc que voc ruim de servi o n o tem capacidade de operar aquela m quina Tratorista Iaras 07 2012 N s sai daqui cinco e quarenta at a fazenda uma hora uma hora e pouco de nibus Chegando l n s passa o cart o pega os trator v gua leo abastece depois desce pro servi o A fazenda grande o lugar mais longe gasta trinta e cinco quarenta minutos pra chegar o mais perto d uns quinze minuto N s chega na quadra abre o apontamento do trator e come a o servi o s p ra de passar o veneno quando tem que abastecer N s p ra de trabalhar na hora de almo o s onze meio dia pega de novo A trabalha at as quatro quatro e pouco o hor rio que n s tem que sair dependendo do lugar que n s t pra poder chegar na sede uns dez minutos antes do hor rio de passar o cart o L n o muito f cil por causa dos produto n A maioria produto qu mico e os trator l n o gabinado ent o tem que tomar cuidado na hora de usar os EPIs sen o perigoso intoxicar Um rapaz que trabalhava com n s l tem uns quatro m s ele foi fazer um exame e deu uma quantia alterada de veneno no sangue Esse exame que ele fez foi de t
93. denomina o de Frutesp S A A Citrobrasil instalada por Edmond Von Parys em Bebedouro foi vendida em 1976 para o grupo americano Cargill Neves 2005 e 2007 Apesar de contar com empresas de menor porte o complexo agroindustrial citr cola paulista teve desde o seu nascimento um desenho oligop lico As quatro maiores empresas detinham em 1970 84 86 93 da capacidade instalada do setor e em 1980 89 64 As duas maiores Cutrale e Citrosuco detinham em 1970 63 15 da capacidade instalada e em 1980 59 96 Paulillo 1994 Maia 1996 Como apontamos em nosso primeiro cap tulo a moderniza o conservadora do campo brasileiro dirigida pela ditadura do capital sob tutela militar logo recebeu resposta por parte de diferentes segmentos da classe trabalhadora subordinada aos complexos agroindustriais Conforme j mencionado no final da d cada de 1970 e in cio de 1980 ocorreram manifesta es de pequenos produtores familiares subordinados a diferentes complexos soja fumo uva su nos etc contra medidas coercitivas das ind strias e por modifica es na pol tica agr cola e eclodiram greves de trabalhadores assalariados de diversas culturas especialmente em Pernambuco e em S o Paulo Inserem se neste contexto as tens es e lutas no interior do complexo citr cola paulista posteriores consolida o do oligop lio das ind strias processadoras de suco de laranja No que toca aos pequenos produtores familiares a compre
94. do aos colhedores pela primeira vez na safra 2010 2011 este material cont m tra os de um discurso tipicamente empresarial Em sua introdu o l se Este manual tem como objetivo estabelecer regras b sicas de seguran a na colheita de citros para todos os colaboradores que fazem parte do quadro de funcion rio do Cons rcio de Empregadores Rurais Monteazulense Objetivando levar a todos informa es pr ticas e corretas visando aumento na produtividade e redu o de acidentes O n o cumprimento das normas de seguran a aqui contidas implicar em puni es de acordo com o regimento interno da empresa 227 contrata o direta de colhedores pelas agroind strias possui diferen as marcantes em rela o atua o de gatos e condom nios no cintur o citr cola Por um lado nos pomares pr prios das processadoras de suco de laranja o n vel de formaliza o do emprego e de cobertura de direitos trabalhistas na colheita hoje significativamente maior que nos pomares de seus fornecedores Por outro as agroind strias imp em aos colhedores por elas contratados uma hierarquia de media es da explora o domina o de sua for a de trabalho muito mais sofisticada que a de condom nios de empregadores rurais do setor Nos pomares pr prios das agroind strias multiplicam se as inst ncias entre o eito e os escal es administrativos superiores de cada fazenda contribuindo para a desmobiliza o e desorganiza o dos colhedores
95. do subemprego e desemprego urbano pois inviabiliza a fixa o do homem na terra e provoca um cont nuo fluxo migrat rio para as cidades A consequ ncia seria uma forte press o sobre o mercado de trabalho conduzindo a baixos sal rios pr ximos aos baixos rendimentos auferidos pelos lavradores e obstru o expans o do mercado interno no campo e nas cidades Bielschowsky 2007 p 205 Apesar das afinidades interpretativas contudo os horizontes pol ticos dos projetos reformistas da poca eram consideravelmente distintos A posi o hegem nica no interior do PCB sustentava que estava em curso uma etapa de desenvolvimento de for as produtivas sob via capitalista de modo que os desafios pol ticos da poca diziam respeito luta contra os fatores que obstaculizavam tal marcha hist rica Tratava se portanto de levar a cabo uma revolu o democr tica que pusesse fim aos tra os feudais que marcavam a estrutura agr ria brasileira e aos limites que o capital imperialista impunha ao desenvolvimento industrial nacional Em seu Manifesto de agosto de 1950 o PCB definia como base social de sua a o pol tica os oper rios os camponeses e as camadas m dias constitu das pelo funcionalismo pobre civil e militar e por intelectuais honestos Contudo j em sua Declara o de mar o de 1958 marcada pela aproxima o entre o PCB e o governo Kubitschek prop e se uma frente nica anti feudal e anti imperialista co
96. e a cobran a sobre cada trabalhador individual de maneira a diminuir seu esfor o f sico mas aumentar sua press o e seu stress cotidianos na linha agroindustrial de processamento O j citado gerente industrial assim o coloca Quais foram as principais transforma es nos ltimos vinte anos na linha de produ o no que diz respeito automa o Nisso houve um avan o gigantesco O principal impacto do ponto de vista do ser humano foi que os postos de trabalho foram diminu dos em quatro vezes aproximadamente Uma ind stria que tinha 500 funcion rios hoje trabalha com 100 Por que est o todinhas automatizadas as linhas Tudo n o precisa mais de m o de obra como antigamente Vou dar um exemplo t pico uma ind stria que tinha 4 evaporadores quatro m quinas para concentrar cada uma dessas m quinas tinha um operador hoje n o tem nenhum operador As m quinas trabalham todinhas automatizadas e t m um cara sentado na frente de um supervis rio tela de um CLP que controla todas estas m quinas Aumentou se a efici ncia por quest o de recupera o e menos erro humano envolvido por outro lado um problema social monstro Eu sou de uma cidade Mat o que vive basicamente de dois tipos de segmento industrial suco de laranja e implementos agr colas e que teve nos anos 80 sua ascens o urea Tem a ver com a quest o de que as ind strias de suco estavam crescendo muito A Citrosuco de Mat o tinha em 84 85 cerca de 4
97. e ao disp ndio de energia fisica do trabalhador manual Com a mecaniza o crescente da colheita da cana do caf do algod o do milho da soja etc uma parcela de assalariados do campo vem atuando como ap ndices de m quinas agr colas redefinindo se e recriando se enquanto sujeitos a partir de novas atividades e exig ncias Nesse sentido na medida em que a onda de incorpora o de progresso t cnico agricultura nas d cadas de 1990 e 2000 aponta para o aprofundamento no campo da subordina o real do trabalho ao capital ela tamb m aponta para a transforma o da morfologia da classe trabalhadora rural com as figuras dos motoristas tratoristas e operadores de colheitadeiras assumindo novas dimens es econ micas e pol ticas Alves assim nos apresenta esta quest o a partir de sua particular caracteriza o do progresso t cnico na agricultura Caracterizo o progresso t cnico n o apenas como as t cnicas aplicadas produ o de cana mas tamb m como o trabalho se organiza O objetivo principal deste processo n o apenas aumentar a produtividade do trabalho atrav s da parafern lia tecnol gica posta disposi o da produ o mas tamb m a subordina o real do trabalho ao capital Neste processo n o est o descartadas mas pelo contr rio supervalorizadas as formas de controle e subordina o dos trabalhadores ao ritmo e disciplina do trabalho fabril Alves 1991 p VII Imp e se com isso u
98. em funcionamento sua pr pria f brica de suco concentrado congelado em Mat o em 1993 a Frutesp S A de Bebedouro foi vendida ao grupo franc s Louis Dreyfus que ingressara no setor em 1988 vindo a chamar se Coimbra Frutesp e posteriormente apenas Coimbra S A Neves 2007 A partir da segunda metade de d cada de 1990 a Enquanto uma cooperativa a Frutesp estabelecera at 1993 par metros para a compra das caixas de laranja mais favor veis aos produtores Paulillo e Almeida 2006c Sua venda expressa uma determina o fundamental da altera o na correla o de for as no interior do complexo citr cola enquanto os citricultores foram incapazes de bloquear a expans o de pomares pr prios por parte das principais agroind strias estas foram capazes de bloquear a perman ncia ou o ingresso de segmentos de citricultores no processamento industrial seja atrav s de compra direta das novas f bricas seja atrav s de barreiras indiretas 95 contudo ocorreu uma forte reconcentra o industrial no setor marcada por in meras aquisi es e fechamentos de unidades de menor porte e pela diminui o do rol de empresas de maior porte em 1998 a unidade de processamento da Cambuhy Citrus foi vendida para a Citrovita em 2004 os ativos do setor de citros da Cargill foram vendidos para a Citrosuco e para a Cutrale em maio 2011 foram anunciados os planos de fus o de Citrovita e Citrosuco aprovados pelo CADE em dezembro do mesmo ano O
99. es que se acumulavam no interior do complexo na virada dos anos 1970 e 1980 Ao longo da d cada de 1980 a Associtrus alcan ou sua maior envergadura mesclada a problemas financeiros e pol ticos graves nunca sanados Primeiramente se o estabelecimento do contrato padr o garantiu lhe maior solidez e protagonismo ao mesmo tempo a partir de 1985 as ind strias recusaram se a recolher e repassar o percentual do pre o da caixa de laranja que desde sua funda o permitira a sobreviv ncia da associa o Este permaneceu seu problema mais grave mesmo depois da cria o de um sistema pr prio de arrecada o em 1987 Em segundo lugar mesmo no momento de maior envergadura da Associtrus sua atua o nunca foi marcada pela proximidade territorial com a base de citricultores Da que a partir de 1988 a Associtrus tenha tido sua representatividade questionada por uma nova associa o Aciesp Associa o dos citricultores do estado de S o Paulo que considerava insuficientes sua articula o local com pequenos e m dios produtores de laranjas Ao longo da d cada de 1990 somadas ao acirramento da subordina o da citricultura s agroind strias estas quest es deterioraram gravemente o poder de organiza o e representa o da Associtrus A ruptura do contrato padr o esvaziou seu poder pol tico enquanto a acelerada exclus o de produtores tornava crescentemente complexa a tarefa de mobilizar e unificar as insatisfa es que marcavam o seto
100. espec fica de seus neg cios e atividades Os defensores de tal teoria explicam a oposi o da burguesia nacional ao imperialismo com o fato da concorr ncia que as empresas estrangeiras instaladas no Brasil vinham a fazer s suas atividades Entretanto em propor o crescente os industriais brasileiros de certa express o os mais progressistas e pr ximos da imagem que se faz da burguesia nacional come aram a se associar pelos mais diversos la os quelas empresas e a interesses econ micos e financeiros internacionais em geral Idem p 60 61 28 Em contraponto a estas formula es os intelectuais desenvolvimentistas que orbitavam em torno do setor p blico e da Comiss o Econ mica para a Am rica Latina Cepal preconizavam a necessidade da realiza o de uma ampla reforma agr ria que desconcentrasse a propriedade e posse da terra concomitante constru o de um aparelho estatal eficiente e dotado de recursos capaz de planejar politicamente as vias e horizontes do desenvolvimento nacional Para tanto fazia se necess rio uma reforma administrativa capaz de modernizar o setor p blico e uma reforma tribut ria capaz de taxar prioritariamente os setores at ent o mais beneficiados pelo desenvolvimento Tais reformas tinham o objetivo de por um lado programar e otimizar a utiliza o da poupan a interna brasileira desperdi ada pelos setores privilegiados de nossa economia por seu consumo suntu ri
101. estendeu se por toda a regi o canavieira e citr cola do estado Iniciava se assim um ciclo de greves que se desdobraria por toda a segunda metade da d cada de 1980 com importantes consegii ncias na consci ncia e na organiza o sindical dos assalariados rurais paulistas Diferentemente do que acontecera na zona da mata nordestina onde as demandas trabalhistas e por terra de pequenos produtores e assalariados encontraram encaminhamento conjunto sob o movimento sindical de trabalhadores rurais no estado de S o Paulo consolidou se uma identidade pr pria dos cortadores de cana e colhedores de laranja distinta dos demais trabalhadores rurais Este processo culminaria na forma o em 1989 da Federa o dos Empregados Rurais de S o Paulo Feraesp em oposi o Federa o dos Trabalhadores Rurais do Estado de S o Paulo Fetaesp Como veremos em primeiro lugar a Feraesp prop s se representar especificamente os assalariados rurais 59 argumentando que o enquadramento sindical nico de pequenos propriet rios pequenos arrendat rios parceiros e assalariados rurais imposto pela ditadura ao sindicalismo no campo brasileiro e paulista encobria contradi es e limitava o ascenso grevista que ent o se verificava Em segundo lugar a Feraesp assumiu uma pr tica relativamente mais combativa em sua rela o com o poder p blico e com o capital contrapondo se ao conservadorismo ao atrelamento ao aparelho do Estado e ao pouco contato e
102. expans o industrial capital de giro e sustenta o de estoques de produtos export veis 3 isen o de impostos sobre produtos industrializados IPT e de circula o ICM sobre o valor das mercadorias exportadas 4 subs dios fiscais exporta o equivalentes ao IPI e ao ICM no limite total de at 28 5 exclus o da base de c lculo do Imposto de Renda do lucro auferido em exporta es e 6 inclus o de citros nas esp cies a serem beneficiadas com incentivos fiscais ao reflorestamento Neves 2005 p 45 nesse contexto que nasce e se consolida o complexo agroindustrial citr cola paulista Em 1964 fruto da associa o entre a Pasco Packing Company grande produtora de sucos na Fl rida e a brasileira Fischer S A com experi ncia na produ o e com rcio citr colas nasceu em Mat o a Citrosuco Paulista S A A Suconasa S A instalada pelo grupo Toddy do Brasil em Araraquara em 1963 entrou em concordata e foi adquirida em 1967 por Jos Cutrale Jr dando origem Sucoc trico Cutrale Ltda A Companhia Mineira de Conservas respons vel pela instala o pioneira de uma pequena unidade processadora de laranja em Bebedouro em 1962 foi comprada em 1970 pelo grupo italiano Sanderson Em 1974 ocorreu a fal ncia e fechamento da f brica deste grupo desapropriada pelo governo do estado de S o Paulo em 1975 e transferida para a Cooperativa dos cafeicultores e citricultores de S o Paulo Coopercitrus em 1979 sob a
103. familiar de laranjas sofreu contudo as maiores perdas Como destaca a seguinte cita o de Paulillo entre os anos de 1985 e 1995 o excepcional aumento da participa o de im veis com mais de 1 000 hectares na produ o citr cola paulista foi paralelo a um aumento relativo da participa o de propriedades m dias de 50 a 200 hectares e a uma acentuada perda de participa o de im veis pequenos com at 50 hectares A queda da pequena produ o mais significativa quando se adota o crit rio da participa o porcentual das categorias de propriedade citr cola na produ o estadual paulista Nota se que a representa o das pequenas propriedades reduzida continuamente ao longo do per odo 1985 1995 Em 1985 86 os pequenos ainda representavam 33 4 da produ o Em 1995 96 tal participa o j havia ca do para 21 8 A situa o inversa quando se verifica a evolu o dos citricultores m dios que apresentaram crescimento consider vel de 23 4 em 1985 86 para 30 8 em 1995 96 assim como para os muito grandes que apresentaram crescimento vertiginoso de 8 2 em 1985 86 para 19 3 em 1995 96 Nessa categoria est o os pomares pr prios das empresas processadoras de suco o que comprova o crescimento do processo de verticaliza o industrial para tr s na fase de vig ncia do contrato padr o Paulillo Almeida e Salom o 2002 p 72 sobre este pano de fundo que ocorre na primeira metade da d cada de 1990
104. fiscaliza o com seu poder de pol cia As ordens de erradica o sem qualquer indeniza o em um contexto de alta dos custos de produ o de diminui o dos pre os das caixas de laranjas e de quebra de contratos por parte das ind strias gerou protestos de pequenos produtores contra o que alegavam ser um novo mecanismo de exclus o Paulillo 2000 p 121 O seguinte relato de um dirigente sindical assim descreve as tens es da decorrentes O pessoal do Fundecitrus chegava fiscalizava olhava mandava arrancar mandava cortar a rvore Aquela coisa de ir na propriedade marcar as rvores com greening Ele autuava exercia o papel do governo do estado porque o governo do estado n o tinha estrutura f sica para fazer isso E o Fundecitrus tinha por causa do or amento que chegou a mais de R 50 milh es anuais com ve culos quase tr s mil funcion rios Quem p e esse dinheiro l o produtor mas descontado do nosso valor n o que eu vou l e pago desconta da minha folha de recebimento Agora quando falavam pra cortar os p s n s sempre questionamos sobre indeniza o Porque eu acho que toda erradica o tem que ter uma indeniza o O cancro c trico no passado o Fundecitrus chegava mandava arrancar tudo Ele tinha o poder de pol cia para isso junto com o estado Ent o chegava na propriedade arrancava tudo virava as costas e ia embora Deixava o produtor no meio daquelas tocaiada toda Isso ocorreu m
105. foder ele Mas j faz dois anos que o Fundecitrus n o vai mais a campo desde 2010 Se o Fundecitrus viveu foi porque a ind stria quis a hora que ele acabou foi porque a ind stria quis que ele acabasse N s chegamos a pagar R 0 10 R 0 12 por caixa hoje n s estamos pagando R 0 02 A ind stria achava que todo o dinheiro que tava sendo investido em campo punitivo ela achava que tinha que ser investido em informa o instru o Hoje se voc pega a revista do Fundecitrus ela diz 28 mil citricultores foram treinados Deu resultado Acredito que n o porque aumentou tanto o greening quanto o cancro Dirigente sindical Taquaritinga 01 2012 Como afirma o relato desde 2010 o Fundecitrus n o mais realiza a inspe o e fiscaliza o nos pomares do estado alegando que estas a es n o evitaram a perda de controle da doen a greening cuja incid ncia passou de 3 4 dos talh es paulistas em 2000 para 24 em 2010 Os trechos abaixo de entrevistas mostram as ambigiidades na percep o dos pequenos produtores familiares acerca deste fato por um lado como vimos houve hostilidade em rela o erradica o coercitivamente imposta pelo Fundecitrus por outro o fim dos trabalhos de fiscaliza o do Fundo representou consci ncia de muitos pequenos produtores mais um exemplo do abandono a que foram relegados no complexo Esse pessoal do Fundecitrus s vinha com o papo de erradica o Me irrita essa palavra Porqu
106. foi indo pra baixo foi pagando juro foi foi precisou vender a terra pra acertar as conta E hoje s o empregado um pedreiro o outro trabalha na usina empregado na usina E tinha uns quinze alqueires de terra cada um Citricultor familiar Taquaritinga 02 2012 H contudo contrat ndencias a este processo A agroind stria sucro alcooleira vem buscando incorporar ideol gica e organizativamente produtores rurais exclu dos de outros setores dentre eles os pequenos e m dios citricultores Em um contexto de fragilidades na organiza o pol tica das diversas fra es de produtores e trabalhadores rurais a hegemonia das usinas de cana de a car dirige hoje as perspectivas de muitos pequenos e m dios propriet rios A depender do contexto em que se inserem estes conseguem manter se somente com a parcela de renda da terra que recebem das usinas sem serem obrigados a se assalariar Al m disso o discurso de alguns deles salienta a menor dist ncia e agressividade com que s o recebidos pelos mediadores econ micos pol ticos e ideol gicos do complexo sucro alcooleiro em compara o com os do complexo citr cola O trecho de entrevista a seguir com propriet rio de uma faixa de terra pouco superior a 50 hectares assim o ilustra 198 Aqui tem 28 alqueires 70 hectares Antigamente aqui era 100 laranja Agora 100 cana A gente come ou a fazer essa mudan a l por 1998 mais ou menos Como n s montamos um engenho
107. g s pra ele N s j consertamos v rios sindicatos com curso de forma o Tem cursos bastante amplos de sete oito dias sobre quest es sindicais sobre hist ria do movimento uma forma o geral pra pessoa Eu tenho feito alguns cursos com livros de lideran a que eu leio tento adaptar algumas frases e fazer coment rios mostrando o que o sindicato como ele deveria ser A gente exercita debates elei es com duas chapas A gente exercita mesas de negocia o simuladas uns s o patr o outros s o empregado A gente faz cursos de negocia o coletiva porque tem que treinar o pessoal pra enfrentar os patr es Mas teve um per odo a antes de eu assumir teve uns tr s mandatos a que a federa o n o fez nenhum curso de forma o s formava sindicato a impress o que dava era que formava o sindicato pra arrecadar contribui o Ent o o dirigente sindical n o sabe nem o que que um sindicato pra que que serve um sindicato Como voc vai ter uma atua o boa de um dirigente desse se ningu m orientou ele E voc trazer um cara que faz anos que t no sindicato pra fazer curso ele n o quer ele acha que o dono de tudo sabe fazer assembl ia sabe engrupir os trabalhadores sabe fazer acordo fajuto com a usina ele sabe um monte de coisa Se a gente pede pra ele mandar algu m da diretoria aqui fazer um curso ele n o manda porque ele n o quer que ningu m aprenda ele quer ser dono l Tem isso dentro do movime
108. ganha leva um trof u grande assim montado pela empresa uma coisa simb lica que fica l no setor dele no minineg cio dele Operador Mat o 07 2012 Operadores e ajudantes experimentam tais transforma es como uma maximiza o da explora o do componente intelectual de sua for a de trabalho Primeiramente segundo seus relatos as altera es da hierarquia no ch o de f brica implicaram em uma transfer ncia de responsabilidades e em uma multiplica o de atribui es cotidianas sem qualquer contrapartida no que diz respeito remunera o Ademais operadores e ajudantes afirmam que a maior liberdade para contribuir com os diagn sticos as solu es e as transforma es no processo produtivo tende a se converter em grande press o e cobran a para que ofere am constantes respostas e inova es empresa Os relatos de alguns destes trabalhadores indicam que se sentem aprisionados em um circuito cada vez mais sistem tico e acelerado de apropria o privada de seu saber fazer coletivo por parte do capital agroindustrial Os dois trechos de entrevistas a seguir com operadores de uma determinada agroind stria citr cola ilustram claramente sua percep o acerca desta quest o 289 Esse minineg cio um programa que a empresa implantou O produto vem dele pra mim ele meu fornecedor eu sou cliente dele Eu passo esse produto pra outro a eu passo a ser fornecedor e o outro meu cliente No minin
109. geralmente o servente quem faz o servi o mais pesado A di ria do pedreiro hoje t o qu Meia colher t 80 conto a do servente t 35 muito raro pagar 40 Tem pedreiro de 100 conto e pro servente uma mixaria S que um servi o assim que j ajuda porque c ta parado n o tem servi o voc vai ali na semana c j vai defender o p o mio lamb do que cuspi n Colhedor Sever nia 07 2011 Por outro lado no per odo da safra este mesmo trabalhador marcado pelo extremo desgaste f sico na colheita O assalariamento por produ o pressiona os colhedores a maximizar o ritmo e a carga de suas atividades com vistas a alcan ar uma maior remunera o De acordo com o levantamento de pagamento de empreita do IEA CATI em 2010 no estado de S o Paulo o pagamento m dio por caixa colhida de 25 27 kg foi de R 0 72 e a produtividade m dia foi de 61 caixas 25 27 kg por homem dia de modo que a di ria m dia foi de R 44 00 Em 2011 o pagamento m dio por caixa colhida 25 27 kg 208 foi de R 0 76 e a produtividade m dia foi de 63 caixas 25 27 kg por homem dia o que resultou numa di ria m dia de R 48 00 Baptistella 2011 Em troca o cotidiano de trabalho na colheita marcado por cont nuo e repetitivo levantamento de peso seja da sacola com laranjas seja da escada por carregamento e descarregamento dos frutos na sacola e da sacola nos bags por deslocamentos com carga superior a 20 quilos
110. in cio da d cada de 1980 mais bra os s o necess rios na colheita e menos nas outras atividades em certos meses as atividades agr colas s o praticamente paralisadas Ou seja reduzido tempo trabalho e introduzida a descontinuidade no ciclo de produ o de bens agr colas mais barato para o empregador pagar um sal rio mais elevado por um trabalhador adicional mas pagar somente os dias de trabalho efetivo do que mant lo durante o ano todo na propriedade Em outras palavras a mudan a da base t cnica da produ o agr cola ao acentuar a sazonalidade de ocupa o da m o de obra no campo possibilitou que uma rela o de emprego intermitente se tornasse economicamente vantajosa do ponto de vista do propriet rio rural em rela o ao emprego permanente Especialmente no caso do trabalhador residente que combinava o assalariamento com a produ o de parte da sua alimenta o a eleva o do pre o das terras que tamb m um reflexo da moderniza o da agricultura paulista contribuiu decididamente para acelerar essa transforma o na rela o de trabalho ao valorizar as reas destinadas produ o de sua subsist ncia Graziano 1981 p 112 Em Pernambuco por sua vez o processo de expropria o de moradores e foreiros teve outra din mica O aumento da produtividade do trabalho agr cola por meio da incorpora o de progresso t cnico em determinados pontos do Centro Sul foi l acompanhado a dist
111. jeito que n N o f cil n o Aquela sacola balangar a semana inteira chega no fim de semana c ta mo do Quem define o sal rio do colhedor o condom nio n O fiscal chega l olha vai pagar aqui oitenta centavos pra colher a laranja s vez acontece da turma falar que n o quer esse pre o c fala que vai pagar oitenta eles acha que pouco A liga pro condom nio agora tem celular vai um deles l e negoceia com o dono da turma o turmeiro Chega o produtor ele sempre ajuda com cinco dez centavos E sempre tem um colhedor curioso que vem pra ver se aumentou ou n o Se tiver na beirada do carreador sempre vem um ou dois l fulano e a o homem vai pagar dez centavos a mais Vai A paga dez centavo a mais e eles entra pra colher Turmeiro Ibitinga 07 2011 O trabalho no pomar corrido viu fica com os dedo inchado e dormente Se parar o empreiteiro fica bravo ele vem e reclama c n o vai trabalhar T bom j descansou cinco minuto t bom J ouvi isso v rias vezes comigo mesmo j aconteceu J era tarde n s acabemo o talh o tinha umas pessoa acabando e eu fui subindo pra cima Eu cheguei no nibus pra descansar um pouco ele meteu a boca falou pra voltar Era pra ajudar os pe o acabar l embaixo e mudar pra outro talh o No talh o os colhedor conversa mas cada um no seu eito Se n o quer conversar trabalha quieto o dia inteiro
112. l dezenove hectares com laranja uma pessoa tem que t direto em cima a mesma coisa que tomar conta de uma crian a pequena s vezes ele n o t dando trabalho c n o tem que fazer a mamadeira mas c tem que t de olho nele Todo dia tem alguma coisinha pra fazer tem dia que trabalha treze catorze horas no dia tem dia que trabalha seis e vai correr atr s de outra coisa n o tem um tempo que d pra falar certinho Na poca que eu era pequeno o s tio conseguia manter uma fam lia n s fomos criados tudo l meu pai criou a gente com renda do s tio Eu praticamente dei in cio na fam lia tirando renda de l Hoje n o se fosse s do s tio pra sobreviver t dif cil o ano que o pre o ta ruim praticamente c trabalha dois ano pra poder ver dinheiro de novo Por isso que hoje eu tamb m trabalho aqui na cidade eu sou policial T m v rios outros que nem eu que mexe com 192 bordado e mexe com s tio t m outros que funcion rio p blico e trabalha no s tio tamb m tem laranja T m v rios colega a que tem as duas fun o Entre a cidade e o s tio tem dia a que a gente praticamente s tira seis horinhas pra dormir o resto ta trabalhando dormir e trabalhar tem semana que esse ritmo a Eu moro na cidade j vai fazer onze anos Nasci l no s tio fiquei l at os trinta e dois anos a eu vim pra cidade Porque minha mulher trabalha aqui no f rum ela funcion ria p blica
113. laranjas s o armazenadas Por outro lado motoristas que conduzem as frutas dos fornecedores das agroind strias recebem uma remunera o relativamente maior mas chegam a esperar at 70 horas na fila ou no p tio para descarregar Segundo o relato destes motoristas as agroind strias citr colas n o cumprem a lei de estadia que determina que a partir da vig sima quinta hora de espera eles deveriam 274 receber R 1 00 por hora por tonelada Ainda segundo relatos motoristas que moram a grandes dist ncias das f bricas e n o conseguem caronas para voltar para suas casas durante o per odo de espera t m de conviver com uma estrutura prec ria nos p tios das empresas Ocorre portanto uma socializa o dos custos de estocagem das ind strias de suco Na medida em que a capacidade de armazenagem nos silos insuficiente para garantir o processamento cont nuo das laranjas as agroind strias citr colas apropriam se gratuitamente da estrutura dos caminh es e do tempo de trabalho dos motoristas para ter estocado a sua disposi o o volume adequado de frutas Tal socializa o de custos atinge tamb m os citricultores na medida em que carregamentos de laranjas que se deterioram com a longa espera antes da entrada do caminh o no p tio s o comumente recusados pela ind stria e enviados de volta aos produtores com preju zos significativos especialmente para os pequenos produtores familiares de laranjas Dessa forma proprie
114. licas e pol ticas un vocas e pode comportar m ltiplas aspira es sociais A seguinte cita o de um tratorista da Cutrale morador de Borebi ilustra as compatibilidades e incompatibilidades da perspectiva de luta pela terra na consci ncia de assalariados rurais 251 O que voc pensa a respeito da a o do MST na fazenda da Cutrale que aconteceu em 2009 Todo mundo que trabalha l sabe dentro da fazenda tem uma parte do setor dois com marca o de concreto de uma parte pra c da fazenda de uma parte pra l terra do governo Se t marcado como terra do governo n o sei o que eles apronta que eles falam que tudo deles Os sem terra briga por causa daquele peda o l Eu n o sou contra o movimento deles Tem uma fazenda vizinha l enorme talvez at maior que a da Cutrale S que l o homem tem a documenta o da propriedade inteira ent o nunca ningu m tentou invadir l Agora a Cutrale o pessoal j invadiu umas p de vez Eu vejo todos os encarregado l falando que a Cutrale muito rica praticamente compra uma fazenda por ano eles t m uma rede de fazenda muito grande Ent o porque ent o n o compra o peda o de terra que t l ilegal ou devolve pro governo e reparte pra eles l n A acaba esse problema de invadir Se fosse do governo pra repartir eu gostaria de ter um peda o de terra Eu n o sou contra o pessoal de l por causa disso eu at muitas vezes defendi Porque assim
115. m contribui para definir a 308 competitividade da laranja e portanto do suco brasileiro no exterior uma vez que ambas s o bem inferiores s da Fl rida Uma an lise realizada para um per odo de 10 anos 1982 82 a 1991 1992 verificou que na m dia daquele per odo a receita l quida obtida pelos produtores americanos foi de US 2 49 por caixa enquanto os produtores brasileiros receberam em m dia US 0 79 por caixa No mesmo per odo a m dia de pre os pagos aos citricultores na Fl rida foi de US 5 76 pela caixa ao passo que na citricultura paulista o pre o m dio foi de US 2 15 Neves 1996 J na safra 2003 2004 a receita l quida dos produtores brasileiros calculada por Ghilard 2005 foi ainda mais reduzida ficando em US 0 19 por caixa Essa diferen a nos pre os pagos e no rendimento dos produtores influenciada pelo relacionamento entre ind stria e agricultura existente nos EUA onde o setor industrial sempre foi menos concentrado e a comercializa o se d de forma diferente da brasileira Verifica se pois que tanto os trabalhadores do setor devido aos baixos sal rios pagos quanto os produtores de citros devido baixa remunera o por caixa de laranja comparativamente aos produtores na Fl rida contribuem para tornar o suco de laranja brasileiro competitivo internacionalmente Vieira 2006 p 316 grifos nossos Postando nos desde a perspectiva daqueles que mais sofrem com a perman ncia de tal ordem do cap
116. m todo o controle sobre o pomar quem realmente exerce a atividade econ mica de cultivo da laranja a empresa Fischer ainda que sob o manto do contrato de compra e venda A realidade apurada por esta fiscaliza o de que a empresa Fischer exerce verdadeiro poder diretivo sobre o vendedor e sobre quem quer que seja contratado por este para ajud lo a cumprir o contrato Auto de infra o n 01532806 6 30 8 2007 104 no estado ora destinando o produto diretamente para o consumo ora destinando o para as ind strias Seguem se da o rebaixamento do pre o pago pela fruta no mercado interno in natura e limites liberdade do produtor de negociar a partir do controle que ainda det m sobre o destino de sua produ o Graziano 2000 Em segundo lugar o controle das ind strias sobre os contratos de comercializa o de laranjas extremamente elevado devido elevada assimetria de informa es no complexo Enquanto os diversos pools de venda de laranja organizados pelos produtores s o marcados pela fragmenta o e pelo sigilo as ind strias possuem recursos para alcan ar informa es globais sobre a citricultura As empresas det m um aparato tecnol gico e financeiro grandioso na obten o de levantamento de safra e das especificidades de qualidade das frutas que desejam comprar junto aos produtores Somadas a outras estrat gias tradicionais as utiliza es destes recursos propiciam a realiza o de contratos meno
117. manda atestado s falta por conta pr pria na pr xima safra ela n o te pega C manda teus documentos pra ela passar l pro empreiteiro ver se vai aceitar aquele total de trabalhador muitos volta Isso acontece por causa de baixa produ o muito atestado muita falta e tamb m com trabalhador que briguento Que s vai na ro a pra fazer engui o com empreiteiro com os colega do lado trabalhando Porque isso tem muito Esse trabalhador briguento no meu ponto de vista aquele um que s fica no eito dele mexendo com voc mexendo com a sua vida s falando mal da sua vida Qualquer coisa s fala mal da sua mulher outra hora fala mal da tua filha outra hora fala mal de voc mesmo Por qualquer coisa ele ta falando mal O prazer dele falar mal E da empresa se for preciso ele fala tudo Esse o briguento J aconteceu de ter pe o na nossa turma esse ano n s transferimo ele n o quisemo ele esse ano mandou pra 230 outro O outro j refugou ele mandou de volta pra n s de novo Esse o ranheta pr ximo da safra ningu m quer ele nem o empreiteiro nem a firma Voc j ouviu falar em uma lista negra a firma n o aceitar ele na pr xima safra essa a lista negra A lista negra o seguinte se o trabalhador trabalhou numa empresa e ele achou que o acerto dele era injusto era pouco ele pega e traz no sindicato Chama v tacar no pau acontece muito isso A firma vai ficar brigando com ele
118. mas em geral bastante conversa pra passar o tempo Com isso o empreiteiro n o encrenca porque a n o t parado n Se parar e fazer aquelas rodinha conforme 225 fazia antigamente os pe o parava e reunia um no eito do outro pra conversar fumar um cigarro quatro cinco minutos se o empreiteiro passar e ver a vai bronca N o pode Colhedor Monte Azul 07 2011 J no que diz respeito s decis es fundamentais da vida dos colhedores a tend ncia em determinados condom nios que sejam realizadas cada vez mais distantes do pomar Dentre os condom nios que assumiram uma gest o com crit rios empresariais os escrit rios de administra o determinam de modo cada vez mais estrito a remunera o a contrata o e a demiss o dos colhedores O sentido geral deste processo neutralizar o poder de press o dos colhedores ao p do eito maximizando o poder pol tico de inst ncias estranhas aos trabalhadores A t tulo de exemplo do modo de articula o e funcionamento das diferentes media es da explora o domina o na colheita da laranja em tais condom nios podemos citar o seguinte trecho de nosso di rio de campo Logo que chegamos ao pomar percebemos um clima de descontentamento O turmeiro contou ao dirigente sindical que me acompanhava que o fiscal de campo do condom nio lhes determinara uma ajuda de apenas 24 naquele pomar naquele dia A ajuda o valor a mais pago aos colhedores po
119. mil mil e quinhentos metros pra ir pro outro pomar Uma vez deu um problema na minha coluna tem lugar l que o p de laranja alto e voc n o pode deixar laranja no topo da rvore no farol que nem a gente fala Se voc deixar um farol e o fiscal ver ele faz voc voltar l voc n o pode deixar uma laranja no p Eu fui subindo no p de laranja quando eu coloquei o p eu escorreguei a sacola torceu na minha coluna Ih Eu tive de ficar quinze dia parado e eles n o quer nem saber eu levei atestado e eles n o pagaram Colhedor Iaras 07 2012 Segundo pesquisas ergon micas as tarefas da colheita podem causar les es de h rnia de disco h rnia abdominal e lombalgias Mesmo quando n o se caracterizam les es s o comuns relatos de colhedores a respeito de dores nos ombros nas pernas no pesco o e na coluna Lopes et al 2000 O seguinte trecho de pesquisa j citada a respeito da ergonomia da colheita oferece uma detalhada descri o t cnica dos principais fatores de risco envolvidos neste trabalho Destacam se entre eles as quedas e as les es na coluna ambas decorrentes da tens o permanente que a sacola de laranjas imp e ao corpo e aos movimentos do colhedor Na colheita manual h tr s fatores principais de sobrecarga e de acidentes para o trabalhador repetitividade carregamento e levantamento de peso A repetitividade caracterizada pela repeti o de ciclos curtos de a es de trabalho com
120. muito tempo nas firma na Camargo Correa eu trabalhei um bom tempo Eu nasci em s tio em Santa Cruz do Cabral l no pontal Era terra arrendada l tinha muito fazendeiro meu av arrendava tr s alqueire e tocava a rocinha dele Eu fui pra cidade quando eu tinha treze anos pra estudar n o estudei muita coisa terceiro prim rio Hoje eu to com catorze anos no movimento sem terra na luta pela reforma agr ria que o meu sonho ter um peda o de terra Eu gosto de ter minha vida sossegado eu gosto de plantar eu gosto de colher eu gosto de ter as coisas pra dar pro pessoal meus irm o leva coisa daqui de caixa Eu lembro dos meus av quero deixar pros meus netinhos alguma coisa tamb m D bom exemplo pros filhos c n o um cara de cidade n o t fazendo nada de errado Hoje em dia a cidade t gerando muita droga at em esquina de escola Cidade muita coisa na cabe a muita correria muita polui o hoje em dia n o tem como ficar em cidade Eu vou falar uma coisa pra voc a Cutrale aqui na regi o de Iaras o trabalhador pra ela um cativo Ela n o quer saber mesmo se voc tiver doente c tem que colher laranja Eles n o dava cesta b sica foi s depois que a turma invadiu l foram batendo foram achando muita coisa errada a gerou esse neg cio de ter a cesta b sica nunca tinha isso da Quando 257 o sem terra invadiu l a a situa o dos colhedor de laranja deu uma melhorada A for a d
121. n o condizente com a voz corrente da pujan a da agricultura paulista confirma a utiliza o de parte das melhores terras do estado especialmente em termos de localiza o como meio de especula o imobili ria se aceitarmos que esses im veis totalmente inexplorados representem apenas uma reserva de valor para seus propriet rios Ressalta se que n o se est referindo a reas inaproveitadas dentro de im veis explorados mas a im veis que s o literalmente abandonados sem qualquer tipo de explora o ou atividade portanto dif cil estabelecer a priori uma rela o univoca entre avan o da tecnologia e aproveitamento das terras Mas no sentido gen rico dado que o desenvolvimento do capitalismo no campo implica uma intensifica o da produ o agropecu ria pode se admitir que h uma tend ncia redu o das reas n o exploradas Entretanto n o isso que 34 vem ocorrendo no estado de S o Paulo as reas inexploradas passaram de 3 8 milh es de hectares em 1965 para 4 4 milh es em 1972 e atingiram quase 5 5 milh es em 1976 Graziano 1981 p 78 79 Delgado corrobora esta an lise para o pa s como um todo ao destacar a perman ncia do significado pol tico da propriedade ultra concentrada da terra especialmente nas regi es Norte Nordeste e Centro Oeste em meio moderniza o conservadora de nossa agricultura De acordo com sua exposi o a imbrica o do projeto modernizante da dit
122. n veis l dentro s o ajudante geral tratorista encarregado de setor que l dentro dividido em setor e o gerente geral da fazenda O encarregado na hora da entrada e na hora da sa da ele fiscaliza e manda cada grupo pra uma rea dentro daquele setor n Por exemplo manda os tratorista passar veneno a gente era pra olhar doen a ou fazer outro tipo de servi o No meu caso eu colocava meu trabalho na prancheta quantos p s eu inspecionei a rua que eu fiz Depois esse papel ficava com o encarregado A m dia do grupo era 900 1100 p inspecionados por dia Ent o voc tem que fazer aquela m dia Eu sa da empresa por causa de um conflito que eu tive por causa de hora extra No hor rio de ver o que escurece mais tarde a gente tinha sa da s quatro horas e tinha hora extra at as seis Mas tinha pessoa que n o concordava que n o queria fazer esse extra pro banco de hora A o que eles fizeram Tiraram o nibus de sa da das quatro horas e s colocaram o nibus pra circular s seis Depois eu descobri que todo ano quando entrava o hor rio de ver o eles fazia isso Quem n o queria fazer hora extra era obrigado a ficar l Depois pra marcar essas hora extra no banco de horas tamb m tinha problema Eu marcava num caderno que eu tinha feito dez doze horas extras e l tava marcado menos tava marcado por exemplo que eu tinha feito s nove Eu reclamava pro gerente do setor e o gerente do setor levava o problema p
123. nia 06 09 2011 FOLHA de S O PAULO Empregados da Royal Citrus fazem greve em Taquaritinga 02 09 1991 FOLHA de S O PAULO A4panhadores de laranja de Araraquara iniciam greve 19 10 1993 FOLHA de S O PAULO Termina a greve dos laranjeiros na regi o 29 10 1993 FOLHA de S O PAULO Greve p ra 600 motoristas 04 08 1994 FOLHA de S O PAULO Carregadores de laranja retornam ao trabalho 05 08 1994 FOLHA de S O PAULO Funcion rios da Cutrale fazem greve em Araraquara 09 08 1994 FOLHA de S O PAULO Colhedores de laranja fazem greve por aumento de 114 em Mat o 30 08 1994 FOLHA de S O PAULO Greve atinge 8 000 colhedores de laranja na regi o de Ribeir o Preto 31 08 1994 FOLHA de S O PAULO Sindicato discute greve com f bricas de suco 03 09 1994 FOLHA de S O PAULO Greve em laranjais traz preju zo de R 9 mi 14 09 1994 325 FOLHA de S O PAULO Colhedores de laranja encerram paralisa o 17 09 1994 FOLHA de S O PAULO Funcion rios param na Cutrale 29 09 1994 FOLHA de S O PAULO Pol cia de Araraquara entra em choque com trabalhadores em greve 01 10 1994 FOLHA de S O PAULO Cutrale demite 73 por paralisa o h 3 meses 21 12 1994 FOLHA de S O PAULO Cortadores de cana t m vida til de escravo em S o Paulo 29 04 2007 FOLHA de S O PAULO Setor de laranja paga menos que 1 m nimo 21 09 2007 FOLHA de S O PAULO Promotoria investiga cartel na laranja 26 04 2009 FOLHA de S O
124. nico no movimento a contradi o fundamental no campo brasileiro hoje se d entre o assim chamado agroneg cio marcado pela concentra o de terras nas m os de poucas empresas e pela degrada o ambiental decorrente da monocultura e da utiliza o de agrot xicos e a agricultura familiar camponesa detentora de pequena parcela do territ rio nacional mas respons vel pela maior parte da gera o de empregos e da produ o de alimentos no campo brasileiro Como vimos nos cap tulos anteriores esta contradi o de fato est presente no campo 261 brasileiro e no complexo agroindustrial citr cola paulista Contudo o discurso ainda hegem nico no interior do MST atribui lhe absoluta centralidade estrat gica na concep o de reforma agr ria unilateralizando esta contradi o em detrimento de todas as demais Bernardo 2012 a b c Por tudo que mostramos at aqui a luta pela terra e a constitui o de assentamentos de pequenos produtores familiares s o horizontes insuficientes para a unifica o dos interesses econ micos e aspira es sociais das m ltiplas fra es da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial Unicamente com esta perspectiva minimiza se a possibilidade de articula o pol tica de fam lias sem terra assalariados rurais manuais operadores de m quinas agr colas transportadores de mat ria prima s agroind strias assalariados de ch o de f brica das usinas de lcool e a
125. o alto volume de cr dito rural a taxas reais negativas e vinculado a determinadas finalidades foi o principal mecanismo de constru o e articula o pelo Estado dos nexos entre ind stria e agricultura no Brasil A cria o do Sistema Nacional de Cr dito Rural em 1965 parte da reforma do sistema financeiro dos anos que se seguiram imediatamente ao golpe de 1964 garantiu que parcela dos recursos captados pelos bancos fosse direcionada ao setor agr cola O cr dito de custeio maior parcela do cr dito rural total no per odo induziu a cria o de fortes nexos entre a agricultura e a ind stria de insumos fertilizantes defensivos combust veis ra es sementes mudas etc Especialmente a ind stria qu mica e petroqu mica produtora de fertilizantes e defensivos estabeleceu v nculos com a produ o de mat rias primas e 31 alimentos a partir da demanda inflada pelo cr dito rural no per odo Tamb m o cr dito de investimento vinculado a demandas espec ficas e discriminadas foi instrumento fundamental de amplia o ou forma o do mercado interno do setor industrial a montante da agricultura especialmente no que toca produ o de ve culos m quinas e implementos O cr dito para comercializa o por sua vez sedimentou la os entre a agricultura e o setor industrial a jusante as agroind strias processadoras Tanto a pol tica de garantia de pre os m nimos direcionada entre 65 e 70 para as agroind strias ao
126. o coloca At 1994 o setor industrial citr cola possu a uma estrutura organizacional para arregimentar m o de obra Embora existissem diferen as entre as ind strias na forma e na filosofia de contrata o da for a de trabalho todos os colhedores e empreiteiros eram registrados em carteira o que lhes garantia os benef cios da CLT Do mesmo modo as turmas de trabalho eram em sua maioria fixas o que garantia trabalho todos os dias e remunera o O contrato direto com as ind strias e n o mais com o empreiteiro a sele o dos trabalhadores menor rotatividade durante a safra ou em alguns casos anual de m o de obra o baixo absente smo maior produtividade e maior disciplina entre os trabalhadores s o fatores que condicionam o trabalhador fixo a ser menos reivindicativo Baptistella 1998 p 120 Mecanismos coercitivos foram tamb m aprimorados neste per odo pelas agroind strias com vistas a gerir politicamente a for a de trabalho Dentre estes mecanismos destacam se as chamadas listas negras arquivos de trabalhadores a serem bloqueados em contrata es futuras por um determinado per odo devido a um comportamento distinto daquele exigido pela ind stria Segundo pesquisa de campo de Baptistella os colhedores colocados nas listas negras seriam aqueles que apesar de registrados pela ind stria tivessem alto n mero de faltas supostamente por dedicarem se a pequenos trabalhos avulsos rurais e urbanos que co
127. o maior rega o ai O sindicato acha que a gente que obriga o cara a trabalhar sem registro Mas n o n s que quer o pr prio pe o eles que quer Pra gente at melhor trabalhar registrado porque a gente sabe que todo o dia o pe o registrado tem que t no mesmo lugar Se o registrado ganhar trinta trinta real todo dia fica naquele lugar todo dia seguro t preso O pe o sem registro n o ele vai pra onde ele quer hoje ele t ganhando trinta 215 comigo se amanh ele souber que o amigo dele noutra turma vai ganhar cem ele vai pra outro lugar Gato Sever nia 07 2011 Diferentemente do que d o a entender os gatos a rela o entre os trabalhadores migrantes e a informalidade bastante heterog nea Por um lado h trabalhadores migrantes que mant m uma forte identidade de pequenos produtores familiares em seu local de origem seja como propriet rios ou como posseiros Seu assalariamento tempor rio visto por eles prioritariamente como uma fonte de recursos complementar visando a reprodu o da pequena unidade produtiva em momentos econ micos adversos ou em momentos em que a m o de obra familiar excedente n o incorporada ao s tio comum que estes trabalhadores aproximem se do cen rio descrito pelo gato e escolham abrir m o da formaliza o do emprego n o apenas para alcan ar um maior sal rio l quido imediato mas tamb m para n o sujar a carteira ou seja para n o regist
128. o trabalho atrav s de cooperativa coopergato etc depois da luta da Feraesp e no Minist rio P blico ela andou sofrendo um bocado de puni es e acabou recuando Houve melhorias nas rela es de trabalho no interior dessas fazendas das ind strias apesar de ainda ter problema grave Agora nos pomares em que ela compra a laranja a coisa n o mudou nos ltimos vinte anos c tem uma situa o muito ruim pros trabalhadores e at pros pequenos e m dios produtores Na nossa concep o se a ind stria cria uma s rie de regras de comportamentos contratuais que imp e condi es pra esses produtores e pros trabalhadores se ela subordina e fica com o resultado da atividade do trabalho logo ela respons vel Mas aqui no Brasil uma festa porque o capitalista faz o que ele bem entende Ele n o tem muito o que perder na rela o social aqui funciona assim se eu gero emprego eu sou Deus Se eu gero emprego e dou dinheiro pra campanha eleitoral ent o eu sou Deus e o diabo junto Ent o fica complicado qualquer rela o nossa com a ind stria Presidente da Feraesp Araraquara 01 2012 Face o poder p blico o posicionamento da Feraesp mais complexo Como j vimos esta federa o nasceu da cr tica ao atrelamento da estrutura sindical no campo ao aparelho do Estado Contudo em primeiro lugar ao longo das d cadas de 1990 e 2000 a Feraesp viu se obrigada a submeter se ao reconhecimento formal legal do Estado ainda necess r
129. os valores pagos em sal rio encargos compuls rios e medidas de adequa o s normas referentes a equipamentos e estruturas no local de trabalho aumentaram aproximadamente 160 entre 2002 e 2009 de R 0 84 para R 2 19 por caixa em m dia Neves 2010 Um aumento desta magnitude n o pode ser explicado somente por fatores gerais do mercado de trabalho brasileiro nos anos 2000 e aponta para uma maior efetividade de direitos trabalhistas b sicos na citricultura decorrente do novo ordenamento jur dico da contrata o de m o de obra no setor Soma se a isso a verifica o em casos determinados de forma o de pools de venda s ind strias com melhores pre os por caixa de laranja a partir de rela es estabelecidas em condom nios de empregadores rurais demonstrando a possibilidade de novos recursos de organiza o e aglutina o de citricultores se converterem pontualmente em maior poder de barganha Almeida Botta Ferrante Paulillo Bergamasco 2007 Em contraponto verifica se tamb m a exist ncia de cons rcios com pr ticas esp rias organizados por antigos gatos j atuantes desde as cooperativas Em tais casos os cons rcios contribuem em pouco ou nada com a organiza o de citricultores na medida em que s o formados e dirigidos como qualquer empresa terceirizada de arregimenta o de 128 m o de obra Investiga es promovidas pelo Minist rio P blico do Trabalho no mbito de um Expediente Administrativ
130. os assentados de assist ncia t cnica infra estrutura m nima de acesso gua e a vias de escoamento da produ o maior volume e cronograma adequado de cr dito canais de comercializa o dos alimentos l produzidos etc Por outro lado justamente devido precariedade do atendimento pelo poder p blico a estas demandas a maior parte destes trabalhadores n o consegue manter a si e a sua fam lia apenas com seu lote O assalariamento nas lavouras de cana eucalipto e principalmente laranja torna se com isso a nica perspectiva para muitos dos assentados da regi o Neste contexto as ocupa es e o conflito MST Cutrale aparecem lhe como uma amea a a sua sobreviv ncia imediata principalmente pelo receio de que a empresa n o 254 mais contrate trabalhadores vinculados ao movimento As seguintes tr s cita es com um tratorista uma inspetora de pragas e dois operadores de m quinas que carregam laranjas todos moradores de assentamentos da regi o demonstram a exist ncia de m ltiplos nuances em sua percep o acerca da quest o O que voc pensa a respeito da a o do MST na fazenda da Cutrale que aconteceu em 2009 Sabe o que foi que passou na minha cabe a Que o MST tava atrapalhando muitos pais a defender o p o deles de cada dia pra sustentar as fam lia Eu queria que voc amanh desse uma volta comigo aqui dentro do assentamento eu ia te mostrar a realidade daqui de dentro o sofrimento que os nossos compan
131. os e cotas de fornecimento para assegurar o abastecimento interno das ind strias Como incentivos financeiros al m do j aludido programa de garantia de pre os m nimos atrav s do qual a ind stria processadora beneficiava se do diferencial existente entre os pre os de mat rias primas regulados pelo governo e os pre os dos produtos finais no mercado interno e externo destacaram se as opera es de Aquisi o do Governo Federal AGF e Empr stimos do Governo Federal 32 EGF atrav s dos quais as agroind strias compunham estoques a taxas de juros vigentes no cr dito rural abaixo dos juros de mercado Kageyama et alli 1987 Como resultado deste conjunto de pol ticas soldaram se diversos complexos de segmentos agr colas e industriais interdependentes e com din mica e funcionamento pr prios Tal processo n o foi fruto de movimentos espont neos dos mecanismos da livre concorr ncia Foi em realidade parte de um projeto de moderniza o compuls ria Kageyama et alli 1987 da ditadura do capital sob tutela militar em que se buscou superar os limites econ micos da estrutura agr ria latifundi ria anterior sem colocar em risco o monop lio de riqueza e poder das classes dominantes rurais ngela Kageyama assim caracteriza o processo Neste primeiro per odo 1968 1979 as condi es de financiamento n o dizem respeito somente taxa de juros e formas de pagamentos A principal caracter stica do cr dit
132. para abalar Mais do que isso os direitos se transformaram no pr prio instrumento de uma luta que se iniciara sem eles De posse de uma defini o do que deveriam ser as rela es contratuais entre propriet rios e trabalhadores defini o esta que se originara fora dos dom nios estritos e estreitos das propriedades e cuja legitimidade repousava na legitimidade da inst ncia que aos olhos dos trabalhadores a concedera o governo de Arraes passaram a reivindicar aumentos salariais e cumprimentos dos direitos atrav s de movimentos coletivos que chegaram a envolver toda a regi o como foram os casos das greves gerais de 1963 e 1964 Dessa forma opuseram uma resist ncia organizada s tentativas dos propriet rios de acumularem atrav s da superexplora o de sua for a de trabalho Sigaud 1979 p 39 Entretanto neste contexto de radicaliza o pol tica do campo o ETR representou apenas uma concess o moderada de um Congresso nitidamente conservador Stolke 1986 Imp s classe trabalhadora nesse sentido uma s rie de limites especialmente no que toca regulamenta o da sindicaliza o rural na mesma linha corporativa tradicional que moldou e conteve os sindicatos urbanos desde a Era Vargas Dentre os principais limites da estrutura sindical impostos ao campo com o ETR destaca se primeiramente a 53 exig ncia da carta de reconhecimento assinada pelo Minist rio do Trabalho e Previd ncia Social art 119
133. para as estruturais defici ncias na extens o de direitos sociais e trabalhistas para esta parcela da popula o Apontaremos por fim a mecaniza o das atividades no campo a automa o no interior das agroind strias e os desafios da decorrentes para a organiza o sindical e pol tica da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial no Brasil No segundo cap tulo buscaremos recuperar algumas das determina es chave do complexo agroindustrial citr cola paulista em particular respons vel pela gera o de 400 mil empregos diretos e indiretos e por cerca de 50 da produ o mundial e 85 das exporta es mundiais de suco de laranja Neves 2007 e 2010 Acompanhando a din mica da luta de classes no interior deste complexo especificamente entre as d cadas de 1990 e 2000 pretendemos destacar as transforma es que impactaram o modo de vida e trabalho das tr s fra es da classe trabalhadora objetos de nossa pesquisa 16 Apresentaremos primeiramente o aumento do poder das agroind strias sobre a produ o e comercializa o de laranjas e o consegiiente incremento da subordina o do trabalho de pequenos citricultores familiares ao capital Destacaremos em seguida as metamorfoses no mercado de trabalho na citricultura e suas implica es para os assalariados rurais do complexo Apontaremos por fim as reestrutura es no processamento de suco de laranja e suas consequ ncias para os assalariados do ch o de f brica
134. pelo cumprimento das cl usulas salariais e trabalhistas do acordo de Guariba colocam a nu a precariedade da unidade pol tica dentro da Fetaesp Uma parcela de dirigentes sindicais e do quadro social de v rios sindicatos de trabalhadores rurais composta por pequenos propriet rios Alguns conseguiram capitalizar sua produ o e passaram tamb m a contratar trabalhadores assalariados Enquanto a greve dos assalariados atinge a cana e as empresas citricultoras n o h problema mas quando ela passa a tingir tamb m os pequenos propriet rios capitalizados ela passa a prejudicar uma parte do quadro social da Fetaesp o que abala o equil brio de for as dentro da entidade Alves 1991 p 171 235 entre a in rcia da maior parte das lideran as sindicais e a din mica da luta dos assalariados rurais O ac mulo de contradi es em ambos os sentidos levou dirigentes sindicais mais pr ximos ao ascenso grevista que ent o se verificava a romper com a Fetaesp em 1989 para formar uma nova federa o a Feraesp Federa o dos Empregados Rurais do estado de S o Paulo Como j apontado em primeiro lugar a nova federa o prop s se representar especificamente os assalariados rurais argumentando que o enquadramento sindical nico de pequenos propriet rios pequenos arrendat rios parceiros e assalariados rurais imposto pela ditadura ao sindicalismo no campo encobria contradi es e limitava as lutas que ent o se verificavam no estado
135. pol tica mais alinhada s agroind strias afirma que a participa o percentual da integra o vertical em rela o produ o total de laranjas processadas foi de 18 a 22 em 2007 Neves 2007 e 35 em 2010 Neves 2010 mas declara es recentes apontam que tal participa o j se situa acima de 40 Segundo o presidente da CitrusBR Associa o nacional dos exportadores de sucos c tricos Christian Lohbauer a ind stria det m um amplo pomar mas n o tem condi es de ampliar o plantio a ponto de chegar autossufici ncia Embora 40 da laranja processada seja da ind stria o custo da terra torna invi vel a amplia o de plantios diz Pequenos desistem e saem da citricultura Estado de S o Paulo caderno agr cola 16 de novembro de 2011 p 5 2 A t tulo de ilustra o do poder diretivo exercido pelas ind strias processadoras por meio do contrato de compra e venda de laranjas sobre os pomares e sobre o trabalho de seus fornecedores pode se fazer a seguinte cita o Todas as cl usulas evidenciam que o fornecedor nesse caso o Sr FRANCISCO LUCIANO ZANETTI n o possui qualquer autonomia para administrar gerir e exercer a atividade econ mica de cultivo de laranja A livre iniciativa do fornecedor neste caso encerrou se no momento em que aderiu ao contrato A partir deste momento quem de fato exerceu a atividade foi a comprador a empresa Fischer S A Na verdade quem dirige a produ o de frutos quem det
136. porta de f brica j fiz passeata na rua j joguei dez caminh o de laranja na rua fechei a Anhanguera tudo que voc pensar de movimento eu fiz Aqui em Taquaritinga a gente j passou em cima de um caminh o pelas ruas do centro jogando laranja fechamos as ind strias todas as ind strias E eu percebi o que Faria de novo Mudou Hoje o mercado n o ta mais pra isso Mudou o posicionamento do produtor o pr prio conhecimento nosso Antigamente tinha dezenas de ind strias hoje n o tem mais Ent o voc tem que sentar e ajustar regras come ar a ajustar algumas coisas Dirigente sindical Taquaritinga 01 2012 Desde 2010 a Faesp e a entidade que desde 2009 aglutina as principais ind strias citr colas CitrusBR vem construindo uma nova media o institucional para o setor o Consecitrus Trata se de um conselho que reunir produtores de laranja e ind strias processadoras para estabelecer pol ticas e diretrizes para a cadeia produtiva citr cola Segundo o posicionamento de alguns dos mais importantes dirigentes sindicais rurais vinculados citricultura este conselho poder trazer maior transpar ncia e const ncia rela o entre os citricultores e a ind stria De acordo com esta posi o o Consecitrus dispor de informa es oferecidas pelas agroind strias acerca de sua estrutura de custos e comercializa o e poder estabelecer pre os m nimos a serem pagos pela 177 caixa de laranja que evitem a flutu
137. pouca variedade de tarefas o que predisp es ao aumento de erros e acidentes por tornar o trabalho mon tono e autom tico Na colheita manual o colhedor adota repetitivamente posturas corporais distintas e uso de movimento de precis o que potencialmente o exp e a riscos de acidentes e les es osteomusculares A frequ ncia de despejo e o deslocamento do colhedor geram uma maior sobrecarga tanto em membros inferiores quanto em membros superiores j que ocorre o carregamento da sacola durante o percurso O modo operat rio utilizado pelo colhedor e consegiientemente seu gasto energ tico e fadiga est o condicionados forma como o empreiteiro organiza o eito Ou seja um eito grande acarretar em um maior deslocamento fadiga e gasto energ tico fazendo com que o colhedor para amenizar esse desgaste encha mais a sacola com frutos a fim de reduzir a frequ ncia do despejo Como o carregamento de peso acontece em todas as atividades do ciclo seja da sacola de 27 2 kg ou da escada de 15 kg a redu o do tempo gasto no transporte delas ben fica para os colhedores ao fim da jornada uma vez que essa atividade somada ao levantamento de peso na apanha dos frutos do ch o e no descarregamento da sacola predisp e ao desenvolvimento de les es principalmente da coluna Outra fonte de repetitividade acidentes e disfun es est presente na etapa de subida e descida da escada para a colheita dos frutos gerando desgaste f sico in
138. precisa Nos ltimos dez anos dois anos s ficou empatado o resto Em 1999 n s perdemo a laranja sem apanhar N s tinha um contrato vendida a laranja com a C a como caiu o pre o do suco ele n o apanhou a laranja ficou no p Em 2000 ele n o quis apanhar tamb m n s tinha o mesmo contrato a tinha um grupo junto que entrou na justi a Depois de sete anos que ela pagou Citricultor familiar Monte Azul Paulista 07 2011 pr xima safra solucionando apenas o problema do banco Grande parte desses problemas tem como origem a atua o do cartel que pratica pre os abaixo do custo de produ o desde 1994 Os n meros demonstram que a capacidade de pagamento de parcela expressiva dos agricultores est esgotada Dados do Banco Central indicam que o ndice de utiliza o de financiamento de custeio cresceu 250 de 1999 a 2008 enquanto a rea financiada cresceu apenas 13 comprovando que o financiamento serve apenas para rolagem da d vida Propostas do grupo de discuss es sobre o endividamento do setor citr cola 26 02 2010 arquivo Associtrus 169 Seja por incapacidade de compreender o documento contratual seja por se verem realmente desprotegidos pelos termos do mesmo comum que os produtores familiares afirmem que o contrato sempre valeu pro lado deles da ind stria pro lado do produtor o contrato nunca teve valor nenhum As duas cita es seguintes s o de uma entrevista com o mesmo produtor I
139. pro pessoal retornar a empresa que n o havia raz o de continuar a greve que a empresa tava de portas abertas que a empresa estava disposta a dialogar como sempre esteve que n o haveria nenhum tipo de puni o nem nada Mas o nosso maior problema ainda foi outro apesar de todos parados na alimenta o o foco eram as demandas dos motoristas Quando se pensou que n s ir amos avan ar greve afora e buscar reivindica es n s percebemos que come ou a esvaziar o interesse dos motoristas a participa o dos motoristas No dia que eles resolveram acabar com a greve mesmo eles vieram escoltado pela pol cia Vinha bastante nibus de Araraquara cerca de oito nibus ou mais Estacionaram os nibus do lado da empresa um por um com escolta policial e o pessoal foi descendo do nibus A nesse momento a gente da alimenta o n o tinha o que fazer n No comando eu disse pro pessoal que insistia em ficar Companheiros agora n o tem mais o que fazer Os donos da greve os motoristas j entraram Por que n s vamos ficar aqui N s fomos solid rios e agora ficamos solit rios N o tem como vamos entrar todo mundo e seja o que Deus quiser J no decorrer do primeiro dia de retorno ao trabalho foram feitas as primeiras demiss es n o foram poucas pessoas Isso amedrontou atrapalhou o movimento sindical Dirigente sindical dos trabalhadores da ind stria de alimenta o Mat o 07 2012 6 Embora tenham sido derrotad
140. processadoras de suco de laranja de que a ju za respons vel estaria sendo parcial na condu o do processo A an lise de tal alega o em inst ncias superiores impede por ora a conclus o da a o prov vel que neste momento tornem se mais uma vez evidentes os limites da judicializa o da luta de classes que como mencionado acima vem marcando o complexo citr cola dentre outros desde meados da d cada de 1990 A referida a o civil p blica assim como o mencionado processo no CADE contra a forma o do cartel agroindustrial citr cola esbarram na grande capacidade de press o das ind strias processadoras sobre os canais institucionais da ordem pol tica e jur dica vigente Ainda que alguns destes canais possibilitem ac mulos significativos luta dos trabalhadores o poder sobre o Estado como um todo segue nas m os do capital Em tal contexto a conquista das demandas que est o na ordem do dia neste e em outros complexos depende da recupera o da capacidade de questionamento atrav s da mobiliza o coletiva das massas de trabalhadores do ordenamento institucional orquestrado pelo Estado e pela burguesia agroindustrial Uma amostra da capacidade de press o da burguesia agroindustrial sobre o Estado oferecida pelos recursos doados apenas pela Sucocitrico Cutrale Ltda para campanhas eleitorais Em 2006 ano das apreens es da Pol cia Federal na Opera o Fanta a Cutrale foi respons vel pela maior doa o
141. processo de convers o do lavrador em prolet rio Entretanto depois da fase excepcional das ligas quando camponeses e oper rios rurais pareciam empenhados em definir um projeto pol tico mais pr ximo dos seus interesses a sindicaliza o rural teve o car ter de uma rea o moderadora Com ela se inicia a fase de burocratiza o da vida pol tica do proletariado rural ao vincular o trabalhador rural o sindicato e o aparelho estatal com ou sem a media o de partidos pol ticos lanni 1984 p 128 55 aqueles contratados por intermedi rios Lei n 6 019 de 1978 Desse modo a formaliza o jur dica das rela es capitalistas no campo ao proteger os trabalhadores permanentes deixou a descoberto os eventuais nesse sentido que se pode afirmar que a expuls o em massa de trabalhadores permanentes e sua substitui o por volantes se mostraram economicamente vantajosas aos empregadores Moraes Silva conclui que o ETR e seus desdobramentos durante a ditadura do capital sob tutela militar impuseram aos trabalhadores rurais uma dupla nega o foram negados enquanto trabalhadores permanentes tendo se estimulado a ruptura de seu anterior acesso prec rio terra e foram negados enquanto trabalhadores volantes tendo se levantado obst culos a seu acesso aos direitos trabalhistas A an lise de Moraes Silva acerca das m ltiplas media es de controle sobre a subjetividade do trabalhador rural n o se restringe contudo ao direi
142. processo de proletariza o de sua for a de trabalho Este processo refere se primeiramente ao acirramento da subordina o de seu trabalho familiar ao capital agroindustrial Chama a aten o a este respeito sua auto 74 T muito complicado a m o de obra n Hoje a lei trabalhista ela severa e nem todo merece a lei trabalhista Que tem funcion rio ruim pra chuchu n Desde que entrou na sua propriedade ele seu funcion rio e voc precisa agientar o que ele Eu tenho uma propriedade pequena de doze alqueires tem estufa pra plantar piment o tem laranja e tem porco tr s atividade N s trabalha mais ou menos numa m dia de cinco pessoa tr s da fam lia eu minha esposa e meu genro e dois funcion rio Mas dentro de noventa dias trocou tr s funcion rio Eles querem carteira assinada e um rel gio no pulso n o interessa que n o vai dar produ o pro patr o Hoje a gente j contrata por noventa dia pra ver se mant m sen o j manda embora porque n o tem o que fazer Citricultor familiar Ibitinga 07 2011 185 caracteriza o ouvida diversas vezes no trabalho de campo como empregados das ind strias O trecho seguinte assim o ilustra A gente trabalha pra ind stria A gente produz pra ind stria E eles v o ter o ganho deles pra eles f cil controlar o valor do suco tanto paga tanto pela laranja vai sobrar tanto Agora a gente trabalha no escuro Que nem eu to tratand
143. qualquer consequ ncia nem para a maioria dos pequenos propriet rios nem para a massa crescente de assalariados gente vai fazer e vai embora ele mora na cidade Ent o ele vem uma duas vez por dia tem vez que nem vem tamb m trang ilo Aqui o patr o que manda nas outra fazenda era tudo fiscal a mais complicado porque fiscal ta todo o dia no servi o O fiscal fica de cima que que c ta fazendo onde c vai agora Fica em cima que nem um gerente do banco olhando o que que o pessoal ta fazendo Ele quer mostrar pro patr o o trabalho e quer que o empregado trabalha mais Os fiscal mais implicado Aqui j o patr o que manda ele vem cedo vai embora n o tem ningu m pra fica olhando fica mais f cil assim bem melhor Trabalhador residente em uma fazenda de laranja Monte Azul 07 2011 234 volantes no campo paulista em segundo lugar na medida em que os diss dios eram Julgados sem qualquer mobiliza o dos trabalhadores e o tr mite do julgamento estendia se no Tribunal Superior do Trabalho TST at o ano seguinte o processo como um todo tornava se in cuo do ponto de vista pr tico e sem outro sentido que n o o ritual burocr tico em si mesmo A consequ ncia deste perfil ideol gico e organizativo foi a consolida o entre os anos 1960 e 1970 de um arcabou o de funcion rios e dirigentes marcadamente conservadores atrelados ao aparelho do Estado e com pouco contato efetivo com as lutas e o co
144. que a fam lia submetida pelas agroind strias leva os a se afastar do s tio e do pomar buscando novas perspectivas em atividades assalariadas urbanas Em sua consci ncia mesclam se novos elementos por um lado tra os culturais do trabalho familiar permanecem em seu cotidiano e s o extremamente valorizados por seus empregadores por outro lado surgem novos tra os em sua auto percep o como empregados La os de empatia com os demais assalariados nascem mesclados a um discurso particularmente d cil na rela o com seus patr es Tais tens es s o assim ilustradas no seguinte trecho de entrevista com o filho de um pequeno citricultor Eu sempre fui na escola acabava as tarefas e ajudava no s tio Mas n o era trabalhar sempre ajudei aprendi a fazer tudo que tem que fazer tem que aprender um dia sempre ajudei desde sete oito ano O pai ia na ro a eu ia junto pra ver ia carpir aprender como que fazia ia tirar um leite via como que tirava sempre foi pra aprender Mas meu primeiro trabalho foi na cidade Eu tava estudando eu resolvi fazer um curso de mec nica Sempre desde pequeno vendo a dificuldade do pai eu nunca quis trabalhar na ro a Trabalhar na ro a Sofre sofre sofre e nunca ganha Ent o eu quero estudar pra mim trabalhar na cidade Fui fazer curso de mec nica fiz os seis meses de curso de mec nica me formei fui arrumar emprego Mas ganhava trezentos reais por m s desisti N o deu certo
145. que c entrar na carteira registrado R 1 500 00 L n o L o tratorista t ganhando setencentos e vinte real registrado na carteira Pra ganhar novecentos real l ele tem que trabalhar s bado e domingo o m s inteiro A gente que operador da m quina que carrega as laranja ganha R 900 00 na carteira e trezentos real por fora pra fazer esses hor rio que eu te falei Isso porque a gente na verdade contratado por uma terceirizada em toda empresa de laranja quem faz o carregamento terceirizado A eles faz o que eles quer com n s N s ganha um pouco mais que o tratorista mas se for analisar nosso sal rio ainda t muito por fora do padr o L sempre tem algu m no pesco o c fica ali trabalhando com a m quina duas tr s rua pra cima tem um cara de moto olhando c trabalhar pra ver se voc n o faz cagada n o derruba laranja no ch o n o estoura bag Ali c n o trabalha livre nunca c trabalha livre sempre tem um de z io de moto de carro De noite n s trabalha at nove hora tem gente olhando tem gente em cima E a rela o de ignor ncia no ltimo Com eles assim vai vai se n o vai ele arruma outro e p e Se voc amea ar de ir no sindicato nossa senhora Um colega nosso foi mandado embora por causa disso Ele falou e se eu for no sindicato ver as minhas hora que t errado Foi mandado embora no dia seguinte Operador de m quina agr cola Iaras 07 2012 232 Os
146. que defendia o agricultor eles fazia um contrato de tr s anos talvez n o um neg cio muito bom mas uma luz proc se guiar no escuro voc entendeu Eu vou trabalhar dentro do meu contrato e era garantido n Bom ou ruim era aquela meta l que voc seguia Depois os caras mais grandes j n o queria mais entrar no pool queria fazer contrato sozinho sabe Como ta hoje quem tem bastante laranja e forte faz o contrato desse tamanho e n s desse jeito ou nem tem contrato N s mesmo esse ano n o tem contrato Citricultores familiares Taquaritinga 01 2012 Trabalhando com depoimentos de pequenos citricultores familiares de Bebedouro Romeiro tamb m identifica limites no funcionamento de pools de venda de caixas de laranja Os grupos que selecionam as pessoas que pleiteiam sua entrada t m segredos e eles querem pessoas que saibam guard los e quanto mais organizados estiverem os produtores pior ser para a ind stria eles v o passar a exigir mais dela O sigilo interessa mais ind stria que ao grupo ela imp e esta condi o porque trabalha com contratos diferenciados e a divulga o dos acordos poderia resultar em reivindica es que n o h interesse em atender portanto n o benef cio para a ind stria que os produtores saibam da negocia o porque com isso poderia surgir a tend ncia de uma organiza o maior Romeiro 2002 p 121 175 Outra media o de grande
147. recorrentes as mortes por excesso de trabalho em canaviais paulistas destacadas por diversos autores Alves 2006 2007 Moraes Silva 2008 Permanece nesse sentido vigente a super explora o da for a de trabalho rural manual mesmo nas culturas e regi es mais modernas do campo brasileiro como ecoado diversas vezes pela imprensa O novo ciclo da cana de a car est impondo uma rotina aos cortadores de cana que para alguns estudiosos equipara sua vida til de trabalho dos escravos o lado perverso de um setor que al m de gerar novos empregos e ser um dos principais respons veis pela movimenta o interna da economia deve exportar 7 bilh es de d lares neste ano Ao menos 19 mortes j ocorreram nos canaviais de S o Paulo desde meados de 2004 supostamente por excesso de trabalho A pesquisadora Maria Aparecida de Moraes Silva professora livre docente da Universidade Estadual Paulista UNESP diz que a busca por maior produtividade obriga os cortadores de cana a colher at 15 toneladas por dia Esse esfor o f sico encurta o ciclo de trabalho na atividade Nas atuais condi es passaram a ter uma vida til de trabalho inferior do per odo da escravid o diz Nas d cadas de 1980 e 1990 o tempo em que o trabalhador do setor ficava na atividade era de 15 anos A partir de 2000 j deve estar por volta de 12 anos diz Moraes Silva Devido a o repetitiva e ao esfor o f sico ele com
148. representado pelo campon s e a outra aquela que aponta para sua integra o empresarial moderna economia de mercado As chances de uma propriedade familiar atingir este segundo modelo v o depender da especificidade de seu projeto juntamente com o projeto mais geral elaborado pela sociedade atrav s dessa articula o de projetos que se torna poss vel explicar o predom nio a emerg ncia a estagna o a diminui o ou mesmo a elimina o de certas formas familiares de produ o Chalita 2004 p 47 o Exclus o da pequena produ o do consenso estabelecido no interior do complexo citricola paulista O processo de exclus o massiva de produtores do complexo citr cola o rendimento decrescente da produ o de laranjas e a concentra o continua da produ o em pomares grandes e muito grandes foram acompanhados de altera es no consenso que rege o setor O discurso e a pr tica das agroind strias e de seus canais de elabora o e divulga o pol tica e ideol gica t m sido crescentemente incisivos ao afirmar que apenas por meio da cont nua moderniza o t cnica e administrativa podem as unidades produtivas citr colas sobreviver ao atual contexto O emprego de tecnologia agr cola moderna que resulte em aumento da produtividade e da qualidade das frutas a efici ncia na gest o de suprimentos e opera es com vistas otimiza o de recursos e queda de custos de produ o a inser o em redes de interc
149. resultado de tal processo foi a concentra o de 95 da atual capacidade de extra o nas m os de apenas tr s empresas as 3Cs Coimbra Cutrale e Citrovita Citrosuco Como j destacamos se ineg vel que citricultores de todas as dimens es sofreram o impacto desta altera o na correla o de for as no interior do complexo a partir de meados dos anos 1990 tampouco se pode negar que o maior impacto recaiu sobre a pequena produ o familiar de laranjas Para compreender tal impacto devemos inicialmente precisar nossa caracteriza o desta fra o da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial Por um lado a pequena produ o familiar de laranjas mant m tra os t picos do modo de vida e trabalho camponeses especialmente no que toca ao predom nio do trabalho familiar sobre o assalariado na unidade de produ o Como mostraremos justamente esta prioridade que torna particular a reprodu o econ mica do empreendimento familiar em compara o com os demais empreendimentos privados que interagem no mercado Por outro lado a reprodu o dos modos de vida e trabalho que caracterizam esta fra o de classe se d em um contexto amplo e multifacetado de exclus o e proletariza o Como mostraremos o crescente controle das agroind strias citr colas sobre sua atividade imp e aos produtores familiares de laranjas um acirramento da subordina o de seu trabalho familiar ao capital 36 significativo dest
150. rias sob a orienta o do ge grafo Jos Gilberto de Souza constata que o aumento da produtividade obtida pelas usinas teve como origem a redu o dos custos de produ o com a menor transfer ncia de ganhos aos cortadores Ana ressalta que na d cada de 1980 a ind stria chegou a pagar at RS 9 00 por tonelada de cana cortada Hoje o valor n o passa de RS 2 5 Ao cruzar os dados dos sal rios dos cortadores e os pre os dos produtos de 1985 a 2004 verificamos uma redu o nos sal rios reais em torno de 60 destaca Em 1985 o trabalhador cortava em m dia 5 toneladas de cana por dia volume que hoje atinge entre 12 a 16 toneladas di rias O estudo conclui que se o sal rio de um cortador de cana acompanhasse a produtividade das ind strias seria superior a RS 2 mil No entanto atualmente ele n o chega a RS 1 mil mensais durante os seis meses de safra Jornal Unesp N 228 Nov 2007 71 do trecho andarilhos tem sido bastante frequente em v rias cidades da regi o Estes na verdade s o trabalhadores exclu dos em busca de trabalho Moraes Silva 1999 p 310 23 Simultaneamente a nova onda de incorpora o de progresso t cnico agricultura nas ltimas duas d cadas tamb m consolidou novas formas de subordina o do trabalho agr cola ao capital Dito de modo geral o novo avan o da mecaniza o da lavoura tendeu a tornar novas etapas do trabalho agricola menos subordinadas ao saber fazer espec fico
151. s das ind strias imp s a potenciais entrantes no setor duas possibilidades ou n o produziriam em pomares pr prios e estariam sujeitos a incertezas maiores para obten o da fruta no mercado ou teriam de elevar o custo do capital inicial aplicado para o plantio Kalatzis 1998 Em segundo lugar no que diz respeito s lutas de classes abordadas mais acima a forma o de pomares pr prios teve por objetivo elevar o poder de barganha das ind strias na negocia o com os citricultores Neste sentido em acr scimo a seus estoques de suco j acumulados a disponibilidade de frutas de seus pomares pr prios garantiu s agroind strias c tricolas n o apenas maior poder para rebaixar o pre o da caixa de laranja pago aos produtores mas tamb m maior capacidade de planejamento para a safra seguinte no sentido de escolher de quem comprar quanto comprar e que tipo de contrato fechar Azevedo 1996 Em ambos os sentidos a integra o vertical das agroind strias processadoras de suco de laranja na virada da d cada de 1980 para 1990 representou uma maior unidade org nica entre lavoura e ind stria em que esta conquistou novos e maiores 91 recursos de poder para atuar como centro nervoso de controle e de planejamento de todas as atividades realizadas no complexo Citricultores de todas as dimens es sofreram o impacto dos avan os da h muito temida e combatida forma o de pomares pr prios pelas ind strias A pequena produ o
152. se e diversificaram se tais media es O ponto de partida para tal foi o ascenso de lutas da classe trabalhadora rural em especial o ascenso de lutas de assalariados rurais que por diversas vezes questionaram ao longo de toda a d cada de 1980 as media es privadas e jur dicas de domina o de que viemos tratando As greves na regi o da Zona da Mata pernambucana e de outros estados do Nordeste entre 1980 e 1984 s o um dos muitos pontos de partida das lutas de trabalhadores no campo ao longo da d cada Desde o in cio sob dire o sindical e totalmente dentro dos par metros da lei de greve estas greves centraram se especialmente nos trabalhadores fichados com registro em carteira principal base dos sindicatos da regi o Ainda assim foram envolvidos tamb m os chamados clandestinos trabalhadores sem v nculo empregat cio e sem acesso a direitos e pequenos produtores do agreste que sazonalmente se assalariavam no corte da cana A greve de 1979 mobilizou diretamente 20 mil trabalhadores de 23 sindicatos No ano seguinte a greve se repetiu mobilizando 42 sindicatos e cerca de 240 mil trabalhadores Dentre as principais reivindica es 58 articulavam se demandas de acesso terra demandas salariais e de extens o e cumprimento de direitos trabalhistas Leonilde Medeiros assim descreve a efervesc ncia das media es de controle sobre a for a de trabalho no per odo posterior s mobiliza es Em geral no interior dos e
153. se em trabalhadores rurais ou urbanos plenamente expropriados de todos os meios de produ o ou mantiveram se com acesso terra mas submetidos a novas e mais complexas rela es de subordina o ao capital Algumas das marcas deste processo est o na raiz da atual configura o das diferentes fra es da classe trabalhadora rural e s o portanto de extrema relev ncia a nossa pesquisa Destaca se de in cio o violento processo de expropria o sofrido por pequenos produtores em todo o Brasil Na d cada de 1970 enquanto cerca de 75 milh es de hectares eram incorporados fronteira agr cola quase 16 milh es de pessoas foram expulsas do campo cidade em todo o pa s Graziano 1996 Apenas em S o Paulo foram expulsas entre as d cadas de 1960 e 1980 cerca de 2 5 milh es de pessoas dos campos em uma dr stica redu o das pequenas explora es agr colas no estado Moraes Silva 1999 Um amplo conjunto de fatores tornou crescentemente desinteressante aos propriet rios de terras paulistas a manuten o das anteriores rela es de trabalho em que parceiros meeiros ou arrendat rios residiam nas terras de seus empregadores e l produziam parte dos meios de sua subsist ncia As j mencionadas pol ticas da ditadura do capital sob tutela militar para o campo brasileiro tiveram especial impacto neste processo Em primeiro lugar os cr ditos subsidiados inscritos nos programas de financiamento rural alteraram os pre os relativo
154. seu estudo a respeito do campesinato vinicultor sul riograndense no final dos anos 1970 Tavares dos Santos 1978 Em sua argumenta o retomou a formula o de Marx no livro II d O Capital a respeito da 97 reparti o via mercado do sobretrabalho global gerado em todos os ramos produtivos da sociedade Segundo Marx uma dada empresa pode n o se apropriar apenas do trabalho excedente gerado pelos trabalhadores assalariados que diretamente contrata Na medida em que possua uma relativamente maior composi o org nica do capital e que sua produtividade seja por isso superior m dia social dada empresa capaz de apropriar se do trabalho excedente gerado em outras unidades produtivas pela media o do mercado Segundo Tavares dos Santos no mesmo sentido uma dada agroind stria pode n o se apropriar apenas do trabalho excedente gerado pela m o de obra que diretamente assalaria Na medida em que sua composi o org nica do capital seja superior dos empreendimentos agr colas do complexo ou seja na medida em que as unidades agr colas utilizem se relativamente mais de for a de trabalho que o setor agroindustrial onde predomina a maquinaria a agroind stria apropria se via mercado de uma parte do valor gerado pelo trabalho nas fazendas que lhe vendem mat ria prima Para m dios e grandes produtores agr colas isso significa que uma parte do trabalho excedente gerado pelos trabalhadores assalariados que empregam ser transferida
155. sobre essa reivindica o dele Ele vai ficar na lista negra a firma nunca mais pega ele N o s a firma como qualquer empreiteiro que trabalha em grupo que trabalha terceirizado por a Em qualquer lugar fazenda Se voc levar um fazendeiro no sindicato ele nunca mais vai te pegar Essa a tal da lista negra Colhedor Monte Azul 07 2011 Assim como os colhedores tamb m as diferentes categorias de assalariados permanentes s o submetidas a media es da explora o domina o de sua for a de trabalho nos pomares pr prios das agroind strias Mecanismos de interioriza o da domina o e da disciplina tamb m s o impostos sobre operadores de m quinas agr colas e ajudantes gerais encarregados de tratos culturais no sentido de conformar sua concep o de mundo e sua conduta aos moldes da empresa Na medida em que especialmente os tratoristas j possuem uma auto imagem diferenciada do restante dos assalariados rurais manuais e na medida em que estas categorias possuem um v nculo empregat cio n o sazonal as ind strias processadoras possuem maior margem para caracteriz las pol tica e ideologicamente como colaboradores pi RAO 87 da empresa e part cipes simb licos de seus sucessos 87 A t tulo de exemplo podemos citar o conv nio da Fischer Citrosuco com o Projeto Pescar uma rede de escolas t cnicas para jovens de baixa renda em parceria com o poder p blico e a iniciativa privada Um jovem tratorista d
156. suspensa no ombro por desgaste f sico em cont nuas subidas e descidas de escada para apanhar laranjas altas ou em cont nuas flex es do tronco para apanhar laranjas baixas ou jogadas ao ch o por acidentes e les es de diversos tipos etc Dois colhedores de regi es distintas assim nos oferecem uma descri o introdut ria de seu cotidiano de trabalho Eu levanto s quatro e meia pra t no ponto s cinco e meia Quinze pras seis mais ou menos o nibus chega Todo o dia d uma hora e pouco pra ir uma e pouco pra voltar umas duas horas e pouco no total Na fazenda n s chega s sete e dez sete e quinze No pomar n s desce vamos almo ar e vamos trabalhar Pega seus bag se j tiver desocupado sen o vai pondo no ch o L na C a gente trabalha nesse sistema cada trabalhador pega umas cinco rua de laranja dos dois lado da banca onde o caminh o e o guincho vai andar O outro trabalhador pega na sua frente nessa banca mais umas tantas depende do tanto que ele colhe a vem o pr ximo Se voc pegar cinco rua vai dar vinte p cada lado seu quarenta p de laranja Se voc der conta de colher os quarenta p num dia c colhe Se voc n o der conta no pr ximo dia c termina esse eito e segue na banca Se tiver p ainda nessa banca voc pega sen o c passa pra pr xima banca Geralmente nossa turma t com quase quarenta pe o n s abre o eito numa banca e meia duas banca Tem banca l de um quil metro C
157. tamb m a todo mundo foi l na firma onde a gente tava vendendo A foi a loucura pra entregar aquela laranja nossa a R 1 50 naquele contrato que nem isso eles n o queriam mais pagar Da que no ano seguinte nossa produ o caiu pela metade Porque o que que aconteceu N s paramos de cuidar n o tinha mais condi es de adubar fazer tudo que tinha que fazer antes n A partir da todo ano o que a gente conseguia arrancar de laranja a gente plantava cana De 1998 pra 2005 porque a gente n o tinha condi o de fazer tudo num ano s O que voc v aqui a cana que t mantendo escola da molecada plano de sa de T saindo da cana N s tamo saindo de uma crise da cana 2006 teve um boom a cana valeu ouro 2007 2008 2009 a cana n o valeu ela n o teve pre o ela ficou no vermelho Se voc pegar e fazer o custo de produ o certinho ela fechou vermelho 2010 ela melhorou um pouco 2011 agora ela deu uma reagida mas n o perto do que foi 2006 Ainda assim tudo que voc v aqui a cana que ta sustentando E pro futuro eu vejo estabilidade A respeito da diferen a de tratamento que voc s disseram que existe entre a usina e a ind stria da laranja com rela o ao produtor voc s podem explic la melhor Interlocutor 1 A diferen a de tratamento entre a usina e a ind stria mais ou menos a diferen a entre o dia e a noite n 199 Interlocutor 2 Hoje j n o t mais como era no come o da pa
158. tarde mas na ro a tem um pouco mais de ar livre n o preso trancado no lugar Quem trabalha na ro a faz esfor o fisicamente mas sua cabe a t livre Na empresa o contr rio Tem situa es de muitos trabalhadores inclusive eu sou um deles que voc n o consegue dormir a noite Ou at sonha com o equipamento De tanta correria que muitas coisas pra voc desenvolve ao mesmo tempo No meu servi o mesmo eu tenho que fazer uma coisa pensando em outra Eu subo umas tr s escadas pra fazer uma fun o chegando l em cima de tanto que minha cabe a t em outro que eu at esque o o que eu ia fazer Eu des o as escadas chego l embaixo e lembro o que eu ia fazer torno a subir de novo O cansa o psicol gico muito grande Na ro a diferente voc tem cansa o f sico mas n o tem barulho perda de audi o n o mexe com produto qu mico que voc pode se queimar Mas pessoas que j passou pelo mais pesado e pega um servi o mais psicol gico a voc n o quer mais voltar pra tr s Operador Mat o 07 2012 Eu moro aqui desde os dez anos e naquela avenida subia carreta e caminh o n s era crian a e pegava rabeira de caminh o de bicicleta Aqui quem n o trabalhava na f brica trabalhava na fazenda Todo mundo morava no mesmo lugar as pessoa se conhecia At sa a no mesmo hor rio seis horas o pessoal tava indo pro ponto ent o tinha esse conv vio Na minha rua mesmo tem um monte de pessoas qu
159. te ricas pol ticas em torno de diferentes propostas de consenso no setor vinculadas a lutas coletivas ou individuais encaminhadas atrav s de canais institucionais da ordem jur dica A correla o de for as at meados da d cada de 1990 entre as classes que comp em o complexo abriu espa o a uma luta por parte dos trabalhadores capaz por um lado de por em xeque o ordenamento institucional jur dico e privado orquestrado pelo Estado e pela burguesia agroindustrial e por outro de atuar como laborat rio de novos ordenamentos orquestrados pela pr pria massa de trabalhadores em movimento A correla o de for as estabelecida a partir de 1995 por sua 53 Fundados em um referencial te rico gramsciano os conceitos guerra de movimento e guerra de posi o expressam momentos e faces complementares da luta de classes necess rios em configura es distintas da correla o de for as Em termos te ricos e pr ticos a unilateraliza o de qualquer dos dois momentos nos leva a uma compreens o limitada da criatividade pol tica da luta dos trabalhadores Gramsci 2002 123 vez imp s aos trabalhadores um formato de luta distinto em que o questionamento do consenso restritivo organizado pelas agroind strias tem se dado especialmente nas trincheiras das a es civis p blicas do Minist rio P blico do Trabalho MPT e das a es trabalhistas individuais refor adas para ambos os lados em luta por instrumentos te ricos p
160. terceiras onde trabalhou Nessa daqui mostra na camisa o logo de uma empresa terceirizada deu um problema Eu j tinha falado eu vou parar de trabalhar to aposentado vou parar de trabalhar Mas vieram atr s de mim e falaram que pagavam a mais coisa e tal Eu perguntei como seria a forma de pagamento eles disseram dia cinco e dia vinte Sabe Deus que eu n o trabalho por boniteza igual o pav o Chegou aquele dia e n o pagaram j fazia quarenta dia que n o saia o pagamento eu cheguei nos cara da C e falei c s me buscaram mas c s me desculpe eu to parando Ah seu J mas o servi o t pelo meio e n s precisa de voc Eu falei Eu fui bem claro que eu n o trabalho por amor empresa e por amor camisa de ningu m n o Sou aposentado eu n o vim procurar servi o em porta de f brica c s que foram me procurar na minha casa S que eu sou honesto pagou direitinho a minha parte eu fa o n o pagou dentro do nosso combinado n o interessa onde o nosso servi o t Cheguei em casa no outro dia veio o cara da C atr s de mim pra mim terminar esse servi o com uma outra firma Ent o tem esse lado da hist ria muitas empresa n o paga se for colocar na ponta do l pis n s sabe que o FGTS sempre um roubo desgramento um monte de maracutaia Eu vejo pra um jovem hoje que t no mercado de trabalho e pensa de um dia aposentar t dif cil hoje T dif cil Porque quando voc vai ter um sala
161. tiver quatro cinco ano de refer ncia na carteira c n o serve tamb m Por isso que eu falo tudo ilus o Antigamente eu pensava que eu podia pegar um emprego bom mas n o consegue Foi onde eu achei que eu tenho que ser meu pr prio patr o Como que eu vou ser meu pr prio patr o Dependendo de onde eu nasci a minha origem terra Neg cio de laranja eu nunca tinha trabalhado foi primeira vez nessa safra Como a gente t acampado aqui n o tem uma renda n o tem nada ent o eu fui l pra trabalhar Eu t fazendo um neg cio meio contr rio porque desde quando eu entrei no movimento minha vontade era vim num dia e no outro j pegar meu lote e t produzindo dentro S que n o assim a coisa meio complicada e parece que cada dia que passa n o t muito f cil da gente chegar n Mas a gente vai com f e esperan a O que eu n o acho legal c t sonhando com um objetivo e t fazendo um neg cio contra a sua natureza Qual a minha vontade Se eu to dentro do meu lote o que eu ia fazer Eu ia aplicar dentro dele plantar uma verdura plantar mandioca Aqui mesmo aqui eu j tenho mais de mil p de mandioca O sonho da gente t evoluindo dentro disso Eu criar um porco uma galinha fazer um movimento dentro do s tio dentro do lote Colhedor e acampado Iaras 07 2012 Eu morava em Presidente Epit cio eu sou do Pontal eu mexia com obra trabalhava de pedreiro carpinteiro trabalhei
162. todos os trabalhadores da linha de processamento da empresa aderiram em solidariedade paralisa o ficando somente o setor administrativo da f brica em funcionamento Ap s duas semanas de greve esta perdeu for a quando uma vez mais os motoristas decidiram retomar o transporte de frutas Jornal A Comarca Greve paralisa parcialmente a Citrosuco 29 09 1990 Um dirigente sindical poca assim descreve o desenrolar dos acontecimentos Em 1990 ocorreu aqui uma greve deflagrada pelos trabalhadores que pertencem ao sindicato dos condutores de ve culos aqui de Mat o Na Citrosuco paulista existia na poca o setor de transporte tinha frota de caminh o da empresa e por quest es salariais e outras reivindica es internas n o atendidas pela empresa foi deflagrada a greve Foram duas semanas de paralisa o Na primeira semana os trabalhadores do segmento da alimenta o foram solid rios aos trabalhadores do setor de 141 transporte porque se trata da mesma empresa Ap s a realiza o duma assembl ia foi decidido que n s apoiar amos a greve dos motoristas N s acampamos todo mundo dormindo na porta da f brica A empresa usou na poca de todos os meios pra registrar esse evento pra depois tomar uma posi o em rela o a poss veis demiss es isso a gente j esperava Al m disso eu me lembro muito bem a empresa contratou uma aparelhagem de som muito pesada caixa de som em cima de caixa de som dizendo
163. trabalho e da extrema concentra o de terras mantinham grande parcela da popula o trabalhadora brasileira na mis ria impossibilitando a de incorporar a seu consumo os produtos que a industrializa o brasileira lhes oferecia Bielschowsky em sua leitura acerca do pensamento econ mico brasileiro entre 1930 e 1964 assim caracteriza a posi o das formula es socialistas a respeito 26 Nos textos da corrente socialista as an lises das rela es entre estrutura agr ria e desenvolvimento econ mico acentuavam os efeitos negativos do latif ndio sobre a oferta agr cola e o mercado interno Do lado da oferta o latif ndio era avaliado como unidade produtiva incapaz de atender expans o da oferta de g neros aliment cios exigida pelo desenvolvimento econ mico As raz es apontadas n o eram diferentes daquelas encontradas nos textos de autores cepalinos Primeiro considerava se o latif ndio impenetr vel no essencial pelo progresso t cnico e perpetuador de pr ticas agr colas atrasadas e destruidoras do solo Segundo considerava se que o latif ndio mantinha incultivados amplos espa os plenamente agricult veis como consequ ncia da atitude n o empresarial do grande propriet rio rural brasileiro O latif ndio prejudicava o desenvolvimento segundo os socialistas tamb m porque era um empecilho forma o de um mercado interno O argumento essencial era que a concentra o da propriedade rural a principal causa
164. uma perspectiva pol tico organizativa seu efeito foi uma maior solidez e protagonismo do associativismo na citricultura uma vez que as negocia es seriam conduzidas diretamente pelas associa es dos dois setores com media o estatal decrescente Paulillo 2000 Tais conquistas contudo estenderam se de forma assim trica dentre os citricultores Ao longo da segunda metade da d cada de 1980 enquanto m dios e grandes propriet rios beneficiavam se dos contratos em novos termos com as ind strias os pequenos produtores familiares com baixa oferta de laranja encontraram dificuldades em realiz los Da que entre os anos de 1985 e 1990 o n mero de im veis rurais produtores de 31 E significativo na an lise da correla o de for as no complexo apontar que na segunda metade da d cada de 1980 o conflito de interesses entre as ind strias processadoras provocou a ruptura de sua associa o original Em 1985 surgiu a Anic Associa o nacional da ind stria c trica que reunia as empresas Citrosuco Cargill Bascitrus e Citropectina e em 1988 a Abecitrus Associa o brasileira dos exportadores de citrus que reunia as empresas do grupo Cutrale As diverg ncias entre elas decorriam n o apenas de uma disputa pela hegemonia industrial no oligop lio mas tamb m de diverg ncias quanto ao grau de interven o a ser assumido pelo Estado e quanto forma do contrato nas negocia es no complexo citr cola Paulillo 2000 8
165. voc precisa do sal rio e precisa ent o produzir pra isso fazer isso aqui funcionar direito depende de voc voc n o pode esperar por ningu m Outra coisa que frisavam bastante nos treinamentos o trabalho em equipe saber como trabalhar em equipe ajudar um ao outro dentro da equipe e fora da equipe Por exemplo eu to bem aqui minha rea t bem S que pra eu t bem aqui eu tenho que saber se na frente quem t recebendo t bem tamb m Eu tenho que saber se ele t contente com o que eu to enviando pra ele se o meu cliente t bem E aqui atr s tamb m o que vem antes de mim Se eu to bem eu vou ver se o meu amigo l t precisando de ajuda Isso aprender a trabalhar em equipe O que voc sentiu quando voc recebeu a not cia de que a f brica da Citrovita aqui em Mat o ia fechar Sente mal n Muito mal Todo mundo se sente mal primeiro porque o emprego de todo mundo que t rodando E dif cil de encontrar outro s vezes encontra pra ganhar muito menos Igual um colega que saiu de l falou pra n s porcaria c acha bastante mas emprego em empresa boa dificil Ent o a gente se sente mal primeiro por isso voc sente um fracasso n E outra que c t l h tanto tempo que c fica parecendo dono Principalmente quem t l h bastante tempo c sabe 303 que n o mas c fica se sentindo dono Ent o parece que t tirando alguma coisa que da gente n Ent
166. 06 por outro lado foi marcada por uma excepcional eleva o do pre o internacional do suco de laranja Os rearranjos no interior do oligop lio industrial citr cola e o impacto de furac es sobre os pomares da Fl rida em 2004 e 2005 refletiram se na bolsa de Nova York com um aumento de U 917 00 a US 2 884 00 por tonelada de suco entre janeiro de 2004 e dezembro de 2006 Mais uma vez a distribui o de tais lucros extraordin rios no interior do complexo foi determinada pelos recursos de poder em jogo alegando limites decorrentes da rigidez contratual e da valoriza o do real em rela o ao d lar as ind strias bloquearam a valoriza o das caixas de laranja proporcional aos ganhos internacionais do complexo Da que o pre o m dio pago aos produtores tenha passado de R 9 87 para R 14 26 por caixa de laranja entre janeiro de 2004 e dezembro de 2006 Neves 2007 O gr fico a seguir apresenta a compara o entre os pre os m dios anuais da caixa de laranja em d lares e os pre os m dios anuais de exporta o de suco concentrado brasileiro em d lares por caixa processada demonstrando que principalmente a partir dos anos 1990 h um maior descompasso entre a oscila o dos pre os pagos aos produtores e dos pre os de exporta o 109 Gr fico 1 Pre o pago ao Produtor e pre o de exporta o FOB Santos Pre o de exporta o por tonelada transformado em caixa US caixa 40 8 kg 1971 a 2004 19914
167. 1 Segundo esta o cons rcio simplificado de produtores rurais formado pela uni o de produtores rurais pessoas f sicas que outorga a um deles poderes para contratar gerir e demitir trabalhadores para a presta o de servi os exclusivamente a seus integrantes mediante documento registrado em cart rio de t tulos e documentos R diger 2005 Com base em tal arcabou o jur dico para formar um cons rcio ou condom nio os produtores rurais realizam um cadastro coletivo no INSS a partir do qual contratam a m o de obra utilizada em suas propriedades Firmam em seguida um Pacto de Solidariedade registrado em cart rio reconhecendo sua responsabilidade coletiva pelos direitos e obriga es trabalhistas e previdenci rias Constituem por fim um procurador comum que ser o gerente respons vel por organizar e distribuir as diversas tarefas em cada propriedade rural de acordo com as demandas de cada integrante do cons rcio por registrar admitir e demitir a m o de obra por elaborar a folha de pagamento por centralizar documentos para fiscaliza o por ratear custos sociais e trabalhistas de acordo com o tempo em que cada trabalhador ficou disposi o de cada produtor rural e por representar os consorciados junto ao poder p blico Alves e Almeida 2000 Segundo interpreta o e progn stico do MPT e de alguns intelectuais com perspectivas afins s dos trabalhadores os cons rcios ou condom nios de empregadores rurais tra
168. 11 os pomares de at 50 hectares concentravam 28 718 dos 31 736 indiv duos desta categoria cerca de 90 do total Conab CATVIEA 2011a Tal se d como j vimos porque tais unidades produtivas utilizam se preferencialmente de for a de trabalho familiar na administra o e nos tratos culturais do pomar Isso explica porque esta categoria corresponde a 31 736 pessoas e a 15 da m o de obra total ocupada na laranja em mar o de 2011 caindo posteriormente para 23 996 pessoas e 9 da m o de obra total em agosto e para 22 250 pessoas e 9 da m o de obra total em novembro mar o corresponde ao per odo de entressafra em que se mobiliza em maior medida o trabalho de filhos e esposas na manuten o dos pequenos pomares As categorias administrador tratorista e mensalista correspondem aos assalariados permanentes da lavoura da laranja Enquanto a primeira destas categorias ocupa se da administra o especializada de grandes m dios e em menor medida pequenos pomares que assumiram car ter empresarial na condu o de seus neg cios a segunda e a terceira destas categorias ocupam se do plantio calagem aduba o e irriga o destes pomares da aplica o de herbicidas e do controle de pragas da inspe o de doen as nas rvores da opera o de m quinas agr colas especialmente nas pulveriza es de 206 agrot xicos e no carregamento das laranjas colhidas Como j apontado anteriormente a for a de trabalh
169. 1993 eclodiu uma das maiores greves j realizadas at ent o por colhedores de laranja no estado de S o Paulo Deflagrada no dia 18 de outubro inicialmente nas cidades de Araraquara Rinc o Taquaritinga Mat o Am rico Brasiliense It polis Tabatinga Boa Esperan a do Sul e Dobrada a paralisa o estendeu se nos dias seguintes para Bebedouro Barretos Borborema Colina Curup Ibitinga Jaborandi Monte Azul Paulista Nova Europa e Gavi o Peixoto e atingiu at 30 000 colhedores Estes recebiam ent o uma parcela fixa do sal rio de CR 12 000 e uma parcela vari vel de CR 9 87 por caixa de laranja colhida Sua principal demanda era o estabelecimento de um piso salarial mensal de CR 21 000 e o aumento para CR 20 00 no valor pago por caixa de laranja A contraproposta das ind strias rejeitada em um primeiro momento pelos grevistas foi o aumento da parcela fixa do sal rio para CR 15 700 00 e um aumento por caixa colhida para CR 15 00 e posteriormente para CR 18 00 A mobiliza o foi marcada pela diverg ncia entre as federa es sindicais representantes dos trabalhadores rurais dirigiram a greve os sindicatos vinculados Feraesp n o reconhecida pelas ind strias em contraposi o queles vinculados Fetaesp reconhecida pelas ind strias e respons vel pelo acordo salarial realizado meses antes colocado em xeque pela mobiliza o Ocorreram confrontos entre policiais militares e colhedores quando estes se concentraram em fr
170. 21 ALMEIDA Luiz Manoel VIEIRA Ana Cl udia A organiza o agroindustrial citricola brasileira in PAULILLO Luiz Fernando org Agroind stria e citricultura no Brasil Rio de Janeiro E papers 2006a ALMEIDA Luiz Manoel VIEIRA Ana Cl udia Filtros institucionais e entraves organizacionais na citricultura paulista in PAULILLO Luiz Fernando org Agroind stria e citricultura no Brasil Rio de Janeiro E papers 2006b ALMEIDA Luiz Manoel O avan o do setor de servi os na agroind stria citricola brasileira ganha ganha ou perde ganha in PAULILLO Luiz Fernando org Agroind stria e citricultura no Brasil Rio de Janeiro E papers 2006a ALMEIDA Luiz Manoel Mercado de trabalho rural na citricultura paulista precariza o e exclus o in PAULILLO Luiz Fernando org Agroind stria e citricultura no Brasil Rio de Janeiro E papers 2006b ALMEIDA Luiz Manoel Formas de organiza o dos produtores rurais no territ rio citr cola paulista in PAULILLO Luiz Fernando org Agroind stria e citricultura no Brasil Rio de Janeiro E papers 2006c ALMEIDA Luiz Manoel A coordena o agroindustrial citricola brasileira e os novos recursos de poder dos pol ticos aos jur dicos organiza es rurais e agroindustriais v 11 n 1 2009 PRADO JR Caio Contribui o an lise da quest o agr ria no Brasil Revista Brasiliense S o Paulo mar abr 1960 Nova contribui o an lise
171. 46 Tabela 6 Varia o da rea de pastagem natural e cultivada entre 2000 e 2011 no Centro Sul do estado de S o Paulo 2000 2011 2011 vs 2000 rea de pastagem em ha 377 069 371 853 141 710 316 822 299 856 353 495 220 800 147 279 59 046 252 667 238 075 247 795 41 60 58 20 21 30 1 860 805 1 165 662 37 Fonte IEA CATI SAA Tabela 7 Varia o do n mero de p s de laranja em produ o e de caixas colhidas entre 2000 e 2011 no Centro Sul do estado de S o Paulo EDRs 2011 vs 2000 P s em produ o Caixas Colhidas P s em produ o Caixas Colhidas P s em produ o Caixas Colhidas Lins 2 369 422 5 816 030 7 286 329 15 687 954 208 170 Bauru 2 678 868 6 456 655 10 393 973 22 534 166 288 249 Ja 5 571 600 10 757 200 7979 252 16 117 130 43 50 Avar 1 387 500 2 879 800 11 852 361 26 624 624 754 825 Botucatu 1 593 350 3 630 050 7 916 816 15 402 346 397 324 Itapetinig 5 038 602 10 757 004 6 918 290 16 878 564 37 57 Total 18 639 342 40 296 739 52 347 021 113 244 784 181 181 Fonte IEA CATI SAA Como j vimos a maior parte deste avan o da laranja sobre o Centro Sul do estado corresponde expans o de pomares pr prios das agroind strias citr colas o que coloca estas empresas no epicentro de conflitos fundi rios Segundo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST h na regi o uma rea de 50 mil hectares de terras p blicas chamada Grupo
172. 7 citros com menos de 50 hectares tenha diminu do de 18 215 para 14 728 enquanto os im veis entre 50 e 200 hectares aumentaram de 4 168 para 5 373 e os acima de 200 hectares de 1 917 para 2 137 Vieira 1998 Tendo por pano de fundo tais transforma es as tens es pol ticas no interior do complexo voltaram a se acirrar na safra 1988 89 Neste ano ocorreu a ruptura de um setor da Associtrus que se propunha mais pr ximo aos pequenos e m dios citricultores e a funda o de uma nova associa o Associa o dos citricultores do estado de S o Paulo Aciesp sob a justificativa de que tanto a Associtrus quanto as estruturas do sindicalismo patronal haviam se mostrado insuficientes para dar o combate necess rio s agroind strias processadoras de suco Os lemas da Aciesp Entidade que luta em defesa do citricultor e Unidos para n o sermos esmagados deixavam evidente o esfor o de constru o de um discurso consideravelmente mais agressivo face s ind strias Nessas movimenta es entre as d cadas de 1980 e 1990 j se tornava claro o desafio colocado para os segmentos menos privilegiados dentre os citricultores ou aumentavam seu baixo grau de envolvimento associativo ou veriam diminuir suas condi es m nimas de sobreviv ncia no setor Em paralelo a este processo de organiza o dos citricultores em geral e de seus segmentos menos privilegiados em particular a d cada de 1980 foi tamb m marcada por sig
173. 92 O ltimo aumento de sal rio m nimo em janeiro de 2010 levou o mesmo a R 510 uma eleva o de 628 no per odo enquanto o pre o m dio da caixa de laranja entregue para a ind stria era cotado a R 7 70 valorizando 253 Neves 2010 p 65 139 o Reestrutura es no interior da agroind stria citr cola e subordina o real do trabalho assalariado ao capital Em paralelo s transforma es na rela o entre os fornecedores de mat ria prima e os trabalhadores assalariados rurais com as agroind strias citr colas mudan as significativas ocorreram tamb m no espa o fabril onde se d o processamento do suco de laranja Como veremos estas mudan as tiveram grande impacto sobre assalariados industriais do complexo Como j destacado no cap tulo anterior os anos 1990 foram marcados por uma crise no campo brasileiro em geral e em muitos de seus principais complexos agroindustriais em espec fico No complexo citr cola em particular tal crise esteve relacionada com um novo cen rio de decrescente acesso do produto brasileiro ao mercado norte americano de ascens o de novos concorrentes e de queda no pre o do suco de laranja concentrado congelado SLCC no mercado internacional de commodities Como j mencionado a resposta pol tica e econ mica a esta crise por parte dos capitais agroindustriais em geral foi uma ampla reestrutura o do processo e das rela es produtivas com vistas forte diminui o de custos
174. A a pessoa v que t ganhando mais fora sem um registro em carteira e fica l mesmo n o volta mais pra firma A safra que a gente fez no ano passado tinha muita gente nova muita gente da safra anterior n o voltou em virtude do sal rio e desse neg cio de contrato de safra Eu conhe o gente que tava l deixou de trabalhar e t trabalhando de pedreiro n o registrado mas 280 a pessoa acha que t ganhando mais do que trabalhando na firma Ele trabalhou tr s ou quatro safras de safrista e nunca foi efetivado a desanimou Mas ali eu te falo o seguinte se a pessoa conseguir entrar num setor onde no final da safra precisa de uma pessoa pra ficar efetivo a firma te levanta Sobe o seu sal rio te d mais benef cio c aprende mais Safrista Bebedouro 12 12 Tamb m os safristas t m sua rela o cotidiana com os demais trabalhadores profundamente influenciada pela prec ria rela o de trabalho em que se inserem Aos olhos dos operadores a presen a sazonal de novos trabalhadores a cada safra implica em tarefas e desgastes adicionais devido necessidade anual de um per odo de sua forma o e adapta o Aos olhos dos safristas por sua vez o contrato a tempo determinado e a sazonalidade implicam em uma permanente posi o de subalternidade no cotidiano e no local de trabalho Gera se assim um contexto de segmenta o dentre os trabalhadores efetivos das agroind strias citr colas Segundo relatos de operadores
175. ADORES CONTRA AS COOPERGATOS ESTAMOS EXIGINDO REGISTRO EM CARTEIRA E DIREITOS GARANTIDOS Fonte Arquivo Feraesp A elabora o conjunta de sindicatos Minist rio P blico do Trabalho e intelectuais com perspectivas afins s dos trabalhadores cristalizou se em alguns argumentos fundamentais que municiaram e garantiram importantes vit rias pol ticas jur dicas contra o novo formato de contrata o da m o de obra 1 As cooperativas de m o de obra no 125 setor citr cola ferem a legisla o brasileira na medida em que esta pro be a terceiriza o da atividade fim em qualquer ramo de neg cio Dado que a atividade citr cola tem tr s fases tecnicamente determinadas e indissoci veis plantio tratos culturais e colheita a terceiriza o de qualquer uma delas ilegal 2 As cooperativas de m o de obra no meio rural s o incompat veis com a lei n 5 764 71 que regula as sociedades cooperativas e determina que o proveito de suas atividades deve voltar se aos associados Na medida em que as cooperativas de colhedores n o foram estabelecidas por iniciativa destes mas pela ind stria e por terceiros na medida em que o ingresso dos trabalhadores nas cooperativas foi portanto uma imposi o externa na medida em que o processo de trabalho seguiu reproduzindo se de forma subordinada e hierarquizada as cooperativas puderam ser apresentadas como um escamoteamento ilegal de rela es
176. Colonial Mon o que abrange os municipios de Agudos Len is Paulista Borebi Iaras e guas de Santa B rbara e reivindicada desde a d cada de 1990 para a realiza o de assentamentos de reforma agr ria A partir de informa es do Instituto Nacional de Coloniza o e Reforma Agr ria Incra o movimento afirma que toda esta rea teria sido comprada pela Uni o em 1909 para um projeto de coloniza o e posteriormente teria sido irregularmente ocupada grilada por diversos pretensos propriet rios privados A primeira ocupa o do MST nesta rea data de novembro de 1995 e na a o reivindicat ria proposta em 1997 o Incra obteve tutela antecipada da rea 247 correspondente fazenda Capivara onde se instalou o assentamento Zumbi dos Palmares com cinquenta fam lias Fernandes 1996 p 222 223 O Estado de S o Paulo rea usada por Cutrale da Uni o desde 1909 diz Incra 09 10 2009 Na primeira metade da d cada de 2000 ocorreu um intenso fluxo de acampados do MST de todo o estado de S o Paulo especialmente do Pontal do Paranapanema para a regi o esperan osos de que o primeiro governo Lula aceleraria o processo de reforma agr ria no campo brasileiro em geral e no Centro Sul do estado de S o Paulo em particular A partir de 2003 houve de fato relativo avan o na arrecada o de terras p blicas e na desapropria o de latif ndios improdutivos em reas correspondentes ao Grupo Colonial Mon o
177. Conserto de implemento Tudo tem custo Na verdade de l quido n o d nada foi dois anos no azul s h sete ano atr s 2005 que o d lar tava tr s e noventa e esse ano retrasado 2010 que eles pagaram R 14 00 e a laranja minha tava muito boa tava carregada pra valer colheram cedo n o teve perda nenhuma Nos outros anos teve resultado negativo ou empatou Sobrava R 20 000 00 mas tinha que retornar R 20 000 00 pra tratar o pomar Agora e eu Eu sou aposentado tenho outro rendimento e vivi Porque eu vou falar pra voc que se eu fosse viver do s tio eu ia morrer de fome como muita gente se n o tivesse os velho aposentado tinha morrido tamb m Eu tiro daqui e mando pra c de l vem pra c eu to s vendo passar e nada E tem nego enterrado em banco a adoidado nas cooperativas no Banco do Brasil Gra as a deus eu nunca entrei em financiamento banc rio V o falar teu pomar n o produz meu pomar produz 2 caixa 2 2 caixa por p a m dia esse ano que deu bastante laranja tava vendo no sindicato foi de 1 89 caixa por p Tem pomares que d bem mais mas na m dia isso Eu gostava de no meu s tio agora replantar laranja mas com esse greening a n o tem Ent o eu vou sair Se eu amanh com cana fizer R 20 000 00 eu ganhei vinte mil real e quase n o trabalhei Eu n o vou arrendar o meu s tio eu vou plantar de parceria com a usina eu tenho trator dois meses de servi o s Cortou a cana n
178. Nogueira Gatti 1994 Ao longo da d cada de 1990 novas transforma es t cnicas significativas foram introduzidas o plantio passou a ser realizado com aux lio de equipamentos sulcadores de cana enquanto os trabalhos de controle do mato nas ruas linhas e em torno das plantas foram realizados em escala crescente com trator e implementos ou com herbicidas e o tratamento fitossanit rio com novos equipamentos mais eficientes como o pulverizador atomizador Baptistella Vicente e Amaro 2001 Somadas a um maior descaso relativo na realiza o dos tratos culturais por parte dos fornecedores de mat ria prima devido a suas prec rias condi es econ micas posteriores ao fim do contrato padr o estas altera es t cnicas causaram quedas significativas no volume de m o de obra exigido nestas fases ao longo da d cada de 1990 no preparo do terreno e plantio houve entre 1989 90 e 1999 2000 uma queda de 40 na demanda de m o de obra comum enquanto nos pomares em forma o segundo a quarto ano p s plantio a redu o foi de 80 para a m o de obra comum e 40 para tratoristas Camargo 2007 Na d cada de 2000 mantiveram se as tend ncias anteriores com destaque para o fato de que 97 5 dos p s capinados na safra 2004 05 o foram com trator e implementos ou com herbicidas Como resultado das transforma es nas ltimas duas d cadas a participa o relativa da m o de obra envolvida na prepara o do terreno no plantio e nos tratos cul
179. Presidente da Associtrus Bebedouro 01 2012 Entre os pequenos produtores de laranjas e os assalariados rurais citr colas h naturalmente diversos conflitos S o comuns por exemplo relatos de pequenos produtores queixando se da quebra de confian a e da suposta desonestidade de colhedores que x 3 pr 7 i procuram a justi a S o tamb m comuns relatos de pequenos produtores queixando se de que os assalariados contratados para atividades de entressafra n o se submetem a A Hoje a lei favorece o cara vem aqui na ro a trabalha depois vai na justi a conta duas mentira l chama duas testemunha que voc nunca viu na vida o juiz acredita naquilo e voc obrigado a pagar Eu conhe o um cara que arrancou tudo as goiaba dele por causa disso Ele tinha doze pessoa colhendo goiaba trabalharam duas semanas na terceira semana chamaram ele no pau apareceram vinte e cinco pessoa falando que tava trabalhando pra ele Ele foi obrigado a indenizar vinte e cinco pessoas sendo que s tinha doze na ro a Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 184 condi es de super explora o da mesma forma que os membros de sua fam lia Ainda assim como indica a cita o acima o atual contexto da citricultura talvez permita aproxima es pol ticas entre determinados segmentos de produtores de laranja e assalariados rurais do complexo em contraposi o s agroind strias Paulillo e Almeida assim comentam os desafios e p
180. Sever nia entrevista em 07 2011 218 primeira vez que eu vim para S o Paulo foi em 2003 tinha vinte e dois ano Da pra c um vem conhece e no ano seguinte dif cil n o trazer outro colega Hoje mesmo deve ter mais de cinquenta o sergipano aqui Tem umas quatro ou cinco turma que trabalha com sergipano L em Sergipe um lugar que pra passear bom mas pra servi o meio devagar E o servi o que tem l n o registrado entendeu Muitos v m mais pelo seguro desemprego mesmo n A maioria das vez isso Apesar de que aqui tamb m se tiver um ano bom de safra d pra tirar alguma coisinha Se souber economizar um pouquinho d pra sobrar um cascadinho depois que pega o acerto o fundo de garantia d pra voltar com uns quatro cinco conto E comum que esse dinheiro seja usado para comprar um peda o de terra l em Sergipe Querendo d porque s vez n o interessa muito n Chegando l quer comprar uma moto s vez um carro Se o cabra chegar com um pensamento de comprar uma terra d Mas a maioria que vem daqui com o dinheiro que tirou na safra chega l e compra uma moto compra um terreno na cidade pra construir casa O pessoal trabalha pra ajudar em casa mas esse que a gente arruma aqui mesmo nosso Meu pai nunca viveu na cidade nem diz que quer s pra morrer ele n o tem vontade n o Mas quase tudo os meus irm o t o na cidade N s somos em onze irm o os tr s mais ve
181. a o de seis presidentes de sindicatos de trabalhadores rurais que se aproximaram da federa o advers ria a Fetaesp aderiu ao movimento em 5 de setembro A principal particularidade desta greve foi sua proximidade e articula o paralisa o de outras fra es da classe trabalhadora subordinadas ao capital agroindustrial citr cola Como veremos mais a frente o segundo semestre de 1994 foi marcado por greves de transportadores de laranjas e de trabalhadores de ch o de f brica na regi o de Araraquara Em algumas destas paralisa es houve confronto entre trabalhadores industriais a empresa e a pol cia A articula o das mobiliza es de diferentes categorias do complexo citr cola no segundo semestre de 1994 assim comentada por Thomaz Jr No dia 27 10 foram distribu dos panfletos n o assinados com os seguintes dizeres Colhedor Seus companheiros est o voltando ao trabalho Pense em voc e na sua fam lia No pr ximo s bado dia 30 de outubro quem estiver trabalhando hoje vai receber al m do pagamento normal dos dias trabalhados na semana passada um adiantamento expont neo sic de CR 2 700 00 Voc tamb m pode receber este adiantamento Volte j ao trabalho N o caia em conversa mole de gente que n o colhedor e nem seu companheiro Quem trabalha recebe Arquivo Feraesp 118 A Feraesp inaugurou na greve da laranja de 1994 na regi o de Araraquara Mat o a unifica o das reivindica es
182. a o de trabalho utilizadas na safra 2000 2001 verificou se que a remunera o dos trabalhadores cooperados pela caixa de 27 kg nominalmente pouco superior s demais em torno de 10 Ou seja primeira vista o sal rio de um colhedor de laranjas seria tanto mais elevado quanto menores forem seus direitos Logo seria mais vantajoso para o b ia fria acredita o patronato trocar seus direitos sociais por um sal rio direto maior Mas isso n o realmente uma vantagem para o b ia fria cooperado Em um panfleto distribu do aos colhedores de laranja em 1997 a Feraesp denuncia as perdas decorrentes da contrata o mediante as cooperativas de m o de obra Sem o registro formal de emprego atrav s do contrato de safra o trabalhador perde ao menos 63 19 com o n o recebimento de sal rios indiretos Mas as perdas dos trabalhadores contratados por cooperativas s o potencialmente ainda maiores uma vez que tamb m ficam sem receber ordenados nos dias em que n o podem trabalhar por motivos alheios a sua vontade tais como no per odo das chuvas quando quebra o ve culo de transportes ou quando o trabalhador estiver convalescendo Paulillo e Almeida 2006b p 198 122 impediu a realiza o de qualquer greve de vulto na segunda metade da d cada de 1990 Alcan ou se com isso o objetivo central de neutralizar o ascenso de mobiliza es que marcara os anos 1993 e 1994 Alguns dos problemas constatados para os trabalhadores coope
183. a o nos Lucros e Resultados proporcional um sal rio de b nus para aqueles com um a dez anos de empresa e dois sal rios para aqueles com mais de dez anos assessoria para recoloca o no mercado de trabalho e assist ncia m dica a ser avaliada caso a caso O sindicato enviou uma contraproposta em que reivindicava aos ex funcion rios extens o do conv nio m dico e odontol gico extens o do vale refei o e vale transporte por 12 meses pagamento de cursos universit rios em andamento at sua conclus o e PLR equivalente a dois sal rios nominais Diante da aus ncia de resposta por parte da empresa organizou se uma nica manifesta o com cerca de 200 pessoas no dia 5 de mar o de 2012 desde a sede do sindicato at a f brica da Citrosuco com o objetivo de alertar os trabalhadores daquela unidade acerca das demiss es que tamb m ocorreriam ali F brica de suco de laranja demite 111 e anuncia fechamento em Mat o in www g1 globo com sp araraquara regiao noticia 29 02 2012 Passeata contra fechamento da Citrovita toma ruas de Mat o in www sinalcatanduva org br noticia 05 03 2012 A presen a nesta manifesta o de representantes de Sindicatos de Trabalhadores da Ind stria de Alimenta o de diversas cidades do estado de S o Paulo com unidades de processamento de suco de laranja foi um ind cio de que o fechamento de f bricas vem se tornando uma das principais express es da contradi o entre capital e trab
184. a o que atualmente marca o mercado Ainda de acordo com esta leitura um exemplo embrion rio do que poderia ser tal negocia o foi o j mencionado acordo na safra 2011 2012 entre ind strias produtores e governo de um pre o m nimo de R 10 50 por caixa de laranja em troca de uma linha especial de cr dito LEC no valor de R 300 milh es a juros de 6 75 ao ano para a recomposi o de estoques da ind stria Um dirigente sindical ativo nas negocia es acerca do Consecitrus assim o coloca N s tamos tentando ter esse entendimento atrav s da forma o do Consecitrus que uma coisa nova que n s estamos criando Fizemos um entendimento no ano passado em Bras lia que um pre o de garantia que nunca teve com uma linha especial de cr dito Trabalhamos muito pra conseguir isso Quem t participando do Consecitrus hoje a Faesp a Sociedade Rural Brasileira e a Citrus BR N s vamos come ar a construir alguma coisa At agora houve s a formula o do estatuto N s estamos ainda montando a parte efetivamente estrutural do neg cio Vai ser o melhor N o acredito Pode ser ajustado Pode ser ajustado O que n o pode acontecer isso que aconteceu nos ltimos anos Tem produtor que vende a quinze e tem produtor que vende a oito Voc d uma estabilidade pra um e n o d uma estabilidade pra outro Tem que ter uma certa estabilidade pra todos O Consecitrus pode ser uma coisa com um resultado muito positivo se ti
185. a n o vai moer ela vai estourar Al m disso tem que olhar as m quina que t o alimentando laranja tem que ver se t faltando fruta se t caindo baga o tem que ficar de olho Pra isso tem tamb m os ajudantes n Tem uns tr s ajudantes por turno que ficam l no meio das m quinas n o deixando a m quina entupir se tiver algum vazamento eles avisam pra gente operadores Al m disso eu tamb m tenho que orientar 16 mulheres que ficam na escolha da fruta explicar pra elas que frutas que tem que tirar e quando n o t escolhendo instruir elas pra limpeza pra lavar ch o equipamento Na extra o a gente n o mexe com a m quina ela funciona automaticamente Se eu quiser parar ela eu paro Vamo supor tem m quina que entope com baga o A a gente vai l e desliga a m quina manualmente ou pelo painel eu falo l do campo via r dio pra quem t no painel desliga a m quina tal Porque tem o operador que trabalha no campo e tem o operador que trabalha no painel No painel ganha muito mais do que a gente ganha no campo Se o operador do campo ganha R 7 20 por hora o do painel ganha R 7 80 No painel s o seis computador na sua frente pra voc olhar bomba correia v lvulas n vel de tanque de suco n vel de tanque de gua lava o de m dulo Vamo supor que eu to no campo e t m tr s m quina que t sem fruta do campo eu chamo o meu parceiro no painel e falo aumenta tr s por cento da linha tal A ele v
186. a Hortifruti Cepea estimou na safra 2009 2010 em estudos de caso em Araraquara e Araras em pomares de 128 hectares com densidade de 434 rvores hectare e de 214 hectares com densidade de 324 rvores hectare custos operacionais por caixa de laranja respectivamente de R 10 40 e R 10 33 A AGRIANUAL AGRAFNP estimou na mesma safra em estudo na regi o de Araraquara em pomar de 100 hectares e densidade de 408 rvores hectare o custo operacional por caixa de R 10 21 As ind strias e a produ o te rica pol tica a elas mais alinhada estimaram em seus pomares pr prios o custo operacional por caixa de R 7 26 Segundo estes ltimos as diverg ncias decorrem de diferen as em produtividade dos pomares Neves 2010 3 Para se compreender o significado destas vari veis no custo total de produ o podemos mencionar estudos de caso na safra 2010 11 publicados na revista Hortifruti Cepea nas regi es central sul e norte do estado de S o Paulo em propriedades de 126 hectares e 68 341 caixas colhidas a propriedades de 382 hectares e 167 032 caixas colhidas Nas diferentes propriedades estudadas os custos de capital de giro acrescentaram de R 0 52 a R 0 96 por caixa de laranja os custos de oportunidade da terra acrescentaram de R 0 85 a R 1 67 por caixa de laranja e os custos anuais de reposi o do patrim nio acrescentaram de R 1 47 a R 3 51 por caixa de laranja Revista Hortifruti ano 10 n mero 101 maio de 2011 46 Na medida em que os custos de
187. a alimenta o pela representa o e especialmente pela contribui o sindical de tratoristas e demais operadores de m quinas agr colas s o um exemplo de como o Estado brasileiro refor a a segmenta o da classe trabalhadora no campo Atualmente a supera o de todas estas separa es tornou se um desafio central dos trabalhadores assalariados na agricultura A luta de classes no complexo agroindustrial canavieiro paulista tornou se nesse sentido paradigm tica na medida em que o poder de barganha dos cortadores de cana reduziu se drasticamente com os novos avan os da mecaniza o a mobiliza o dos demais trabalhadores assalariados da lavoura tornou se imprescind vel na luta de classes cotidiana no canavial Face o padr o de funcionamento das usinas que vem se generalizando nas ltimas duas d cadas apenas a unifica o com motoristas tratoristas e outras categorias permitir aos trabalhadores manuais recuperar sua for a sindical e pol tica Alves assim apresenta esta quest o A mecaniza o do corte de cana representou para os usineiros de um lado o aumento de seu poder de barganha frente sempre presente possibilidade de greve dos trabalhadores assalariados rurais cortadores de cana e de outro a libera o do processo de trabalho no corte da destreza e habilidade do trabalhador transformando a subordina o formal do trabalho ao capital desses trabalhadores em subordina o real Para os trabalhadores
188. a de seus desafios e 15 horizontes pol ticos Partindo de determina es gerais e alcan ando determina es espec ficas sustentaremos que a classe trabalhadora deve ser apreendida enquanto uma totalidade viva e heterog nea portadora de um conjunto articulado e multifacetado de contradi es com o capital No primeiro cap tulo buscaremos recuperar algumas das determina es chave do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo no campo brasileiro vinculando as s transforma es da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial mais relevantes para nossa pesquisa Acompanhando em grossos tra os a luta de classes no universo rural brasileiro ao longo da segunda metade do s culo XX desde a implanta o da ditadura do capital sob tutela militar ap s 1964 at o fortalecimento do assim chamado agroneg cio nos anos 2000 pretendemos destacar as transforma es econ micas pol ticas e ideol gicas impostas ao campo brasileiro assim como seu car ter conservador no que toca ao poder do capital sobre a terra e sobre a for a de trabalho Dentre outros aspectos investigaremos ao longo deste per odo a massiva expropria o de trabalhadores rurais com acesso terra e a crescente perda de autonomia de pequenos produtores familiares no interior dos complexos agroindustriais Apresentaremos em seguida as transforma es das media es pol tico ideol gicas da explora o dos assalariados rurais com destaque
189. a ditadura do capital sob tutela militar regulamentou a rela o entre a estrutura sindical rural e os servi os sociais e previdenci rios Com o Programa de Assist ncia do Trabalhador Rural Prorural criado com a Lei Complementar n 11 de 25 5 1971 e regulamentado com o Decreto n 69 919 de 11 1 1972 estabeleceu se que as entidades sindicais rurais seriam utilizadas na implanta o divulga o e execu o dos servi os de assist ncia m dica e odontol gica assist ncia jur dica e encaminhamento de aposentadorias e pens es etc Com todas estas imposi es as classes dominantes tiveram sucesso na imposi o do arcabou o institucional que daria forma mobiliza o dos trabalhadores rurais limitando e 54 burocratizando a efervesc ncia e a din mica pol tico organizativa aut noma precedente Coletti 1998 Acresce se a isso em segundo lugar o fato de que desdobramentos do ETR durante a ditadura do capital sob tutela militar tiveram importante impacto sobre o j descrito processo de expuls o de trabalhadores permanentes das grandes fazendas acelerando sua convers o em trabalhadores volantes Duas diferentes determina es da moderniza o conservadora do campo brasileiro o aprofundamento da integra o t cnica entre ind stria e agricultura e o avan o da formaliza o jur dica das rela es produtivas conflu ram na transforma o da morfologia da classe trabalhadora rural os lavradores converteram se
190. a em jogo n o a subordina o do trabalho ao capital mas o esfor o das classes dominantes em fazer valer seu monop lio sobre a terra e consegiientemente sobre a renda da terra em diferentes formas Em nossa leitura os dois conceitos que se esfor am por compreender o lugar social e pol tico do trabalhador familiar no universo agr rio atual n o s o excludentes e expressam rela es sociais distintas no interior do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo no campo brasileiro O conceito de subordina o formal do trabalho campon s ao capital localiza a clivagem fundamental que explica a din mica s cio pol tica desta fra o de classe no monop lio das classes dominantes sobre a propriedade dos meios de produ o agro industriais O conceito de sujei o da renda da terra ao capital localiza esta clivagem no monop lio das classes dominantes sobre a propriedade do meio de produ o terra Ambas as clivagens s o verdadeiras dado o car ter conservador da articula o entre agricultura e ind stria no Brasil Nos espa os e rela es em que a ind stria se imp s direta ou indiretamente enquanto centro nervoso de controle e planejamento das atividades agr colas verifica se uma decrescente margem de autonomia na reprodu o das unidades produtivas familiares nos espa os e rela es em que tais transforma es tiveram alcance mais restrito verifica se uma maior margem de autonomia na afirma o da terra enquan
191. a informa o muito importante para voc saber o que voc vai automatizar o que voc vai melhorar naquele processo Al m disso houve tamb m mudan as no que diz respeito sele o do empregado que entra na f brica Quando come ou a se implementar as ISOs 9000 9001 14000 a quest o de sele o foi crucial para o empregado ter maior forma o acad mica Qualquer coisa que ele tivesse a mais j era um ponto de sele o E quando veio a automa o junto a entrou o conhecimento de inform tica ent o selecionou mais ainda esse grupo de trabalho Ficou mais reduzido O operador hoje tem de ter uma instru o m nima porque sen o ele n o consegue trabalhar naquele posto imposs vel S o muitas anota es planilhas dados que saem deste cara Ao mesmo tempo ele tem de ser capaz de interpretar o funcionamento das m quinas Se hoje o cara for totalmente alheio a esse tipo de coisa e for trabalhar neste posto ele n o vai desenvolver a fun o Antigamente voc pegava um cara por exemplo que era soldador numa ind stria de implemento agr cola levava para a ind stria de suco e voc formava o cara l dentro Voc faz isso faz aquilo outro ele virava um operador de extratora Antes o operador de m quina podia n o ter forma o nenhuma podia ser at analfabeto Muitos eram analfabetos Mas hoje voc n o consegue fazer esse tipo de adapta o Hoje ele vai ter de fazer um curso treinar especificamente para tra
192. a maior parte do sindicalismo de trabalhadores rurais brasileiro a Fetaesp Federa o dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de S o Paulo consolidou se sob gide da ditadura do capital sob tutela militar submetendo se aos marcos por ela impostos entre as d cadas de 1960 e 1970 No plano ideol gico isso significou que os primeiros quadros da federa o a partir de 1964 foram compostos por lideran as conservadoras identificadas com a Igreja Cat lica e seus C rculos Oper rios na esteira da pris o de uma s rie de dirigentes e do fechamento de uma s rie de sindicatos ligados ao PCB No plano organizativo isso significou que a atividade da Fetaesp entre as d cadas de 1960 e 1970 foi pautada prioritariamente pela rela o entre sua burocracia e o aparelho do Estado mantendo se em grande medida desconectada das demandas concretas de pequenos propriet rios pequenos arrendat rios posseiros e assalariados rurais por ela representados A t tulo de exemplo destacam se o esfor o da Fetaesp em implantar contratos coletivos de trabalho no campo paulista e o ritual de diss dios da decorrente Estas foram preocupa es centrais da federa o entre 1976 e 1983 apesar de seu pouco significado pr tico para a maioria dos trabalhadores rurais em primeiro lugar as negocia es entre a Fetaesp e a federa o patronal Faesp atingiam t o somente os assalariados mensalistas de forma que o julgamento de diss dios coletivos n o tinha
193. a mecaniza o do corte reduziu o contingente de trabalhadores empregados no per odo da safra reduziu o poder de press o dos 74 cortadores reduziu o sal rio m dio dos cortadores e avan ou no processo de subordina o real do trabalho ao capital Mas de outro lado possibilitou a tomada de consci ncia de que os tratoristas e operadores de m quina s o tamb m assalariados rurais e nesta fase da moderniza o da agricultura passam a ser o contingente de trabalhadores com maior poder de barganha no processo de produ o Os trabalhadores perceberam que paralisando os cortadores de cana os trabalhadores bra ais as usinas continuam operando devido forte mecaniza o mas paralisando os tratoristas e operadores de m quinas n o h como produzir Alves 1991 p 84 e 94 Dilemas similares se d o no interior das ind strias de beneficiamento de mat rias primas agr colas onde o mundo do trabalho tamb m sofreu importantes altera es nas ltimas d cadas O fortalecimento da unifica o org nica entre lavoura e ind stria foi acompanhado de uma ampla reestrutura o produtiva no espa o fabril em que se destacam a automa o da linha de processamento e as reorganiza es da for a de trabalho no ch o da f brica Em sua an lise da agroind stria canavieira Thomaz Jr mostra nos a tend ncia nos anos 1980 e 1990 para o processamento cont nuo da mat ria prima atrav s de sistemas autom ticos integrados em q
194. a pessoal em rela o aos propriet rios e pela produ o pr pria de meios de subsist ncia atrav s do acesso parcial e prec rio terra os trabalhadores rurais destas culturas apresentaram significativos tra os trabalhistas em suas reivindica es Dentre as principais mobiliza es deve se mencionar n o apenas as greves com objetivos salariais mas tamb m as a es na justi a 23 reivindicando a extens o aos trabalhadores rurais dos direitos j garantidos ao operariado urbano pela Consolida o das Leis do Trabalho Medeiros 1989 A estas mobiliza es somaram se ainda as lutas por terra por parte dos mais diversos grupos de trabalhadores rurais por todo o Brasil A d cada de 1950 foi marcada por embates de arrendat rios contra altas taxas de arrendamento ou contra contratos que obrigavam o trabalhador a entregar as terras ap s certo per odo de tempo com o pasto formado por lutas de posseiros em especial nas reas de fronteira agr cola opondo os s falsifica es de t tulos realizadas por grileiros por enfrentamentos de foreiros e moradores contra restri es concess o de terras para plantio pr prio dos trabalhadores ou o que gostar amos de sublinhar o fato de toda essa legisla o social trabalhista da Era Vergas excluir de seus objetivos os trabalhadores agr colas e a sindicaliza o rural O Decreto Lei n 1 402 de 5 8 1939 que regulou as associa es em sindicato determinava em seu
195. a por dia sem folga sem nada Tinha uma poca de fruta org nica era tr s vez na safra quando ela vinha pra moer n o podia parar o processo de jeito nenhum At acabar a fruta c n o podia parar chegava dia de folga c n o parava ent o a gente ficava s vezes trinta e cinco dia quarenta dia sem folga Na C ind stria de suco em que atualmente trabalha j n o tem isso um pouquinho de hora que c faz eles j pede pra voc ficar em casa pra poder abater aquelas hora Vai duas tr s hora pro banco e quando t quase pra encher eles come a a pedir pra voc ficar em casa dois tr s dia Quando voc vai pegar f rias tamb m eles querem que voc volte das f rias devendo pro banco eles j te d o tr s quatro dias pra voc ficar em casa tudo isso pra n o poder gerar hora pra eles Entre um e outro eu prefiro a C primeira ind stria justamente por causa do sal rio t baixo Se o sal rio fosse razo vel que voc se contentava no final do m s n o precisava fazer todo esse monte de hora trabalhando na folga nada Mas como um sal rio muito baixo como se fosse preciso voc fazer essas hora Operador Mat o 07 12 273 Para al m destes tra os introdut rios a respeito de trabalho tempo e remunera o o ch o de f brica nas agroind strias citr colas passou por importantes transforma es ao longo das ltimas d cadas A seguir vamos apresentar as leituras de diferentes trabalhador
196. a representa o sindical de pequenos propriet rios n o h pequenos citricultores em sua base Como j vimos a Faesp organiza a maior parte dos pequenos citricultores paulistas A esse respeito o presidente da Fetaesp assim se coloca A maioria dos pequenos citricultores n o representada por n s pela Faesp Sabe o que acontece Eu posso enumerar pra voc trinta quarenta cinq enta sindicatos que n o querem saber de agricultura familiar Vou te dar um exemplo em Santa Cruz do Rio Pardo o sindicato filiado aqui mas ele n o mexe com agricultura familiar E tem agricultura familiar ali um problema Voc pode falar Ent o justifica que tenha uma federa o s de assalariados Eu acho que sim n Os caras s querem dinheiro s querem arrecadar contribui o sindical e contribui o confederativa E na agricultura familiar voc n o arrecada na folha de pagamento porque n o tem folha de pagamento o pessoal trabalha com a fam lia ou com ajuda de terceiros eventual Ent o n s n o temos representa o Sobra o qu Vai pra Faesp E l esses camarada n o s o bem atendidos de um modo geral Porque a Faesp se preocupa com os maiores ela n o se preocupa com o pequeno Presidente da Fetaesp Bauru 07 2012 238 O car ter fragmentado dos acordos entre estes sindicatos e as agroind strias e a centralidade que tal negocia o possui em sua pr tica s o terreno f rtil multiplica o de irregu
197. a se de pessoas inseridas em um mesmo espectro de nexos sociais marcados por la os de confian a locais Por outro lado o representante das ind strias assume nestas rela es uma posi o de poder que comumente gera ressentimentos e sentimentos hostis dentre os pequenos produtores Os dois trechos de entrevistas a seguir ilustram claramente esta quest o Como era a rela o com o representante local da ind stria de laranjas Era uma rela o de amizade A gente era amigo Agora a rela o de poder dele da ind stria Ele era a ponte voc ele a ind stria Voc chegava nele da pra frente brecava Da pra frente n o sa a mais nada Voc assina aquele contrato Ele vem tomar caf com voc depois vai embora No outro dia voc liga pra ele duro dele atender o telefone Muda completamente capaz dele passar um m s dois meses voc nem v mais aquela pessoa Ele j some ele t batalhando em cima de outro sabe Ex citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 O representante da firma mudava de modo de tratar a gente Quando eles v m comprar a fruta eles v m te agrada Aquele que vem dando tapinha nas costas n Acabou de fechar o neg cio tudo na hora da colheita na hora que voc precisa de uma ajuda o cara parece que ele cresce Parece que ele pisa na gente Eu me senti humilhado uma vez do jeito que ele veio Eu fui pedir pra ele me dar uma ajuda que a minha laranja tava ca
198. a tens o cotidiana distinta para este segmento de trabalhadores contribuindo para conformar uma auto imagem e um padr o de sociabilidade que os diferencia dos demais assalariados rurais Da que eventualmente surjam dentre estes operadores de m quinas agr colas caracteriza es pejorativas dos demais trabalhadores que permanecem realizando atividades exclusivamente manuais Os seguintes relatos de dois tratoristas assim ilustram estas quest es 78 Estes problemas se inserem em um contexto mais amplo da sa de dos empregados da agricultura brasileira A partir de dados do suplemento espec fico de sa de realizado pela PNAD Balsadi assim se coloca a respeito dos problemas cr nicos de coluna dos assalariados agr colas no pa s importante registrar que as doen as de coluna ou costas foram as mais significativas entre os empregados agr colas no per odo 1998 2003 Isso certamente tem a ver com as caracter sticas do processo de trabalho na atividade na qual o grande esfor o f sico e repetitivo seja nas opera es feitas manualmente ou nas mecanizadas e a falta de ergonomia s o aspectos freq entes Balsadi 2008 p 156 211 Quando eu chego no servi o passo meu cart o eu vou pra minha m quina Eu vejo o que tem de diferente nela olho gua leo tudo E come o a trabalhar Como eu trabalho com defensivo agr cola eu passo o dia inteiro passando esses produto na laranja O encarregado da pulveriza o passa onde
199. a uma m dia de mil tambor por turno n o podia parar porque sen o n o tinha lugar pra p r suco Na hora que n s esvaziava um tanque j tava entrando com produ o atr s Era a safra inteira desse jeito Quando automatizou ficou bom porque voc n o tinha que se preocupar a bomba cortava o carregamento de suco sozinha Vamo supor eu apertava no painel carregar as bombas j abriam tudo sozinhas o suco j entrava dentro do tanque Mas ficou ainda mais corrido como eles mandaram o pessoal tudo embora quem ficou teve que se virar ficou muito carregado Enquanto carregava o caminh o eu tinha que pegar uma amostra do suco e levar pro laborat rio liberar Na hora que eu voltava do laborat rio aquele caminh o j tava pronto eu tinha que lavar a boca clorar Nessa altura o outro caminh o j tava subindo atr s e voc sozinho muito corrido c n o tinha tempo pra nada s vezes voc ia almo ar a hora que tivesse um intervalinho de um caminh o Mas o guarda j ligava tem caminh o pra descarregar aqui fora uma loucura S que o sal rio n o aumenta c fica naquele mesmo salarinho Ex operador Bebedouro 12 12 Todo este conjunto de transforma es decorrentes da automa o das agroind strias citr colas tiveram impacto significativo sobre a auto imagem dos assalariados fabris especialmente em compara o com os trabalhadores rurais manuais da cadeia produtiva da laranja Por um lado muitos dos
200. a urbana e 4 8 dos empregados agr colas tempor rios com resid ncia rural em todo o pa s A mais alta clivagem no grau de formaliza o destas diferentes categorias dava se na regi o Centro Oeste onde 49 2 dos permanentes urbanos e 56 8 dos permanentes rurais eram registrados contra 10 7 dentre os tempor rios urbanos e 0 6 dentre os tempor rios rurais A menor clivagem dava se na regi o Sudeste onde 66 5 dos permanentes urbanos e 52 dos permanentes rurais eram registrados contra 44 dos tempor rios urbanos e 9 dos tempor rios rurais Idem p 176 Basaldi tamb m destaca que em 2004 recebiam mais que um sal rio m nimo 62 4 dos empregados agr colas permanentes com resid ncia urbana e 56 1 dos empregados agr colas permanentes com resid ncia rural no Brasil No mesmo ano tinham sal rio acima do m nimo 38 2 dos empregados agr colas tempor rios com resid ncia urbana e 27 7 dos empregados agr colas tempor rios com resid ncia rural em todo o pa s A mais alta clivagem no grau de remunera o dava se na regi o Sul onde 70 9 dos permanentes urbanos e 69 6 dos permanentes rurais recebiam acima do sal rio m nimo contra 32 1 dos tempor rios urbanos e 30 7 dos tempor rios rurais Mais uma vez a menor clivagem dava se na regi o Sudeste onde 67 4 dos permanentes urbanos e 49 4 dos permanentes rurais recebiam acima do sal rio m nimo contra 51 2 dos tempor rios urbanos e 21 8 dos tempor rios rurais Idem p 181
201. abrir informa es aos produtores congelar a expans o de seus pomares pr prios e assinar contratos de longo prazo para o fornecimento das frutas Estas decis es da autarquia de defesa econ mica estiveram pautadas na pol tica industrial do governo brasileiro ao longo da d cada de 2000 que explicitamente deu aval ou estimulou fus es e aquisi es entre empresas brasileiras principalmente exportadoras de commodities agr colas e minerais com o objetivo de induzi las a conquistar ou manter lideran as no mercado internacional Se aos olhos dos produtores de laranjas estes processos reduziram ainda mais seu poder de barganha na medida em que apenas tr s empresas passaram a concentrar cerca de 95 da capacidade de esmagamento da fruta no estado de S o Paulo aos olhos dos assalariados industriais do setor estas fus es e aquisi es implicaram no fechamento de grandes f bricas na diminui o de postos de trabalho e na deteriora o relativa de sua condi o econ mica Isso porque ao longo das ltimas d cadas o complexo citr cola paulista tem sido marcado pela tend ncia de compra e encerramento de unidades de processamento de laranjas com vistas neutraliza o de concorrentes e consolida o do controle de empresas remanescentes sobre o mercado internacional em estagna o Nestes casos como em outros j destacados anteriormente t m permanecido politicamente inquestionadas as estrat gias de apropria o privada dos lu
202. acar que o processo de crescente concentra o e oligopoliza o das agroind strias no per odo n o foi restrito s empresas processadoras de suco de laranja Estudo divulgado pela Gazeta Mercantil revelou que o ndice de concentra o das quatro maiores empresas dos principais setores do agroneg cio apresentou os seguintes n meros nas exporta es brasileiras durante o per odo de 1999 a 2004 aves 60 bovinos 73 caf sol vel 75 fumo 88 soja 80 e suco de laranja com 89 das exporta es realizadas pelas quatro maiores empresas Neves 2007 p 65 96 Em uma primeira aproxima o podemos dizer que a pequena produ o familiar citr cola segue marcada pela fus o tipicamente camponesa entre a fam lia e a unidade de produ o Isso implica em uma participa o co respons vel de todos os membros da fam lia na organiza o da unidade dom stica mesclando rela es de trabalho e rela es de solidariedade e conflito do universo moral familiar Segue se da uma particular racionalidade caracterizada pela n o especializa o e divis o formal entre atividade administrativa e executiva e consequentemente por uma relativa informalidade no processo de planejamento coordena o dire o e controle da produ o e demais atividades Romeiro 2002 Mais importante que estas caracter sticas contudo o particular padr o de reprodu o econ mica que da decorre enquanto os demais empreendimentos privados d
203. acontecer algum acidente Por m ela aceitou essa situa o e n o fiscalizou Por isso respons vel pelas condi es degradantes do alojamento Ap s o flagrante a empresa se comprometeu a indenizar os trabalhadores Eles retornar o aos seus estados e receber o as verbas decorrentes da rescis o do contrato de trabalho TV Tem Minist rio do Trabalho encontra irregularidades em alojamentos de trabalhadores rurais 13 09 2011 Neste contexto ganhou for a pol tica a partir do final da d cada de 2000 no interior do MPT e de sindicatos dos empregados rurais uma segunda alternativa de organiza o do mercado de trabalho na citricultura o retorno contrata o direta por parte das ind strias da m o de obra utilizada na colheita tanto em seus pomares pr prios quanto nos de seus fornecedores Neste sentido um conjunto crescente de processos passou a responsabilizar as agroind strias citr colas por irregularidades trabalhistas encontradas em propriedades de seus fornecedores de mat rias primas com base nos seguintes argumentos jur dicos 1 Todas as formas de contrata o da m o de obra assalariada rural na citricultura posterior ao fim do contrato padr o sejam elas cooperativas condom nios etc correspondem a terceiriza es de atividade fim por parte das ind strias de suco de laranja o que vedado pela legisla o brasileira como j mencionado acima Na medida em que a produ o de 130 sucos c tr
204. ada a diss dio no Tribunal Regional do Trabalho de Campinas A vit ria alcan ada pelos trabalhadores no TRT foi contrabalan ada pela demiss o ao final de 1994 de 73 dos 400 funcion rios da ind stria por participa o na mobiliza o Folha de S o Paulo Funcion rios param na Cutrale 29 09 1994 Pol cia de Araraquara entra em choque com trabalhadores em greve 01 10 1994 Cutrale demite 73 por paralisa o h 3 meses 21 12 1994 As fotos a seguir mostram momentos de tens o entre os trabalhadores e a pol cia em frente f brica durante esta greve 143 Fonte Sindicato dos trabalhadores das ind strias de alimenta o de Araraquara Neste contexto ocorreram transforma es no interior das agroind strias citr colas paulistas que tiveram por objetivo n o apenas reduzir custos mas tamb m aumentar o controle sobre a for a de trabalho no ch o de f brica A partir do final da d cada de 1980 e em toda a d cada de 1990 novas segmenta es entre os assalariados industriais foram criadas a partir de flexibiliza es nas rela es empregat cias Empresas terceiras foram utilizadas na contrata o de trabalhadores respons veis por restaurantes seguran a 144 servi os jur dicos contabilidade inform tica transporte e limpeza manuten o mec nica e el trica Almeida 2002 p 76 Paralelamente parte dos trabalhadores empregados durante os aproximadamente oito meses de processamento de s
205. ade livre livre voc n o Voc sabe que voc tem que trabalhar pulverizar fazer as coisas na propriedade Livre seria uma coisa diferente eu acho Seria uma seguran a A gente n o tem uma seguran a de dizer N s temos um capital a vamo supor de 50 mil Vamos gastar trinta na casa Ou mesmo de gastar na propriedade Por que a gente n o sabe se vai vender e por quanto vai vender Ent o eu acho que a gente n o trabalha livre Marido Livre que eu digo que eu t a vontade eu vou na ro a eu vou fazer aquilo que eu gosto no hor rio que eu gosto Pr mim a propriedade tudo tudo mas t sendo muito pouco pr tudo que a gente trabalha Eu n o queria ficar milion rio eu n o quero comprar mais um peda o de terra pra mim crescer Eu queria manter isso daqui bonitinho com a casa bem arrumada Eu queria manter o que eu tenho a minha propriedade aqui Isso que eu queria Eu acho que o produtor que tem a terra dele eu acho que pelo menos isso ele tinha que ter E eu nem isso tenho Eu tenho vontade de trabalhar Mas o meu servi o n o reconhecido pelo que a gente ganha Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 187 H naturalmente contratend ncias a este processo No cotidiano dos pequenos produtores de laranjas h estrat gias para reconquistar parte da autonomia que viram se perder com o acirramento da subordina o de seu trabalho familiar ao capital agroindustrial Dentre elas se destaca
206. ador Dependendo do setor hoje o operador fica a maior parte do tempo na sala de controle na tela No evaporador de suco por exemplo poucas vezes o operador vai no campo porque ele tem todas as informa es na tela L no campo ele n o consegue acompanhar ele quase que n o v nada l tudo interno tubula o tanque J na tela ele v tudo ent o ele tem que acompanhar ali Ele s vai no campo quando ele v algum problema por exemplo se alguma bomba n o t rodando Mas tiver tudo normal na tela ele n o precisa nem ir l No setor de ra o os operadores tamb m ficam bastante tempo na tela s que a ra o um lugar que d muito problema a o pessoal tem que ficar mais no campo pra ver se o pellet t normal se a temperatura t boa se a umidade t boa se o formato t bom pra acompanhar os evaporadores na ra o Ele acompanha l mas tudo que ele fechar mexer em equipamento ele faz l no micro Como operador l der eu tinha as telas de todas as etapas da produ o no meu micro se eu quisesse eu entrava l e via como tava No evaporador a gente n o mexia porque tem um operador l que conhece o evaporador A centr fuga eu acompanhava um pouco porque os n veis de tanque da centr fuga poderiam fazer parar o processo Se o tanque atingisse um certo n vel com risco de derramar paravam as extratoras ent o eu tinha que acompanhar isso As extratoras eu tamb m acompanhava tinha um operador l ma
207. adores como objetos da explora o domina o Ao circularmos pelo pomar percebemos que a maioria deles n o sabia qual o valor que receberiam por aquele dia de trabalho Perguntei ao dirigente sindical que me acompanhava se aquilo era comum e ele disse que sim A maioria dos colhedores estava descontente pensando que receberia a mesma porcentagem de ajuda estabelecida em dias anteriores ou seja 32 Um colhedor disse ao dirigente sindical que me acompanhava que nas negocia es com o condom nio era necess rio discutir n o apenas o valor base da caixinha mas tamb m o valor das ajudas Em contraponto cadeia de media es que liga o escrit rio o fiscal de campo e o turmeiro o trabalhador pedia que se refor asse a cadeia de media es que liga a turma ao sindicato Di rio de campo safra 2011 2012 Os mecanismos de contrata o de m o de obra na colheita apresentados at aqui s o utilizados predominantemente em pomares de pequenos m dios e grandes fornecedores de laranjas Em seus pomares pr prios por sua vez as agroind strias foram obrigadas a contratar diretamente os colhedores devido principalmente j descrita ofensiva do Minist rio P blico do Trabalho ao longo da d cada de 2000 Naturalmente tal 3 O Manual de integra o para colaboradores na colheita de citrus do Cons rcio de Empregadores Rurais Monteazulense tamb m ilustra as transforma es na gest o de alguns condom nios Distribu
208. adura do capital sob tutela militar com a defesa do monop lio das camadas dominantes sobre riqueza e poder tendeu a reproduzir pelo pa s rela es sociais e contextos s cio econ micos pouco din micos dando origem a m ltiplas express es regionais distintas Parece me relevante enfatizar que ao lado de processos modernizantes patrocinados pelo Estado para a chamada agricultura capitalista h tamb m uma organiza o de interesses olig rquicos rurais n o necessariamente modernizantes mas que d o uma base pol tica de sustenta o ao projeto de moderniza o conservadora Assim entendemos por exemplo a generosa assist ncia fiscal e financeira grande propriedade e ao capital comercial principalmente na regi o Nordeste e na Fronteira Agr cola ainda que tal apoio financeiro n o esteja necessariamente articulado mudan a na base t cnica de produ o rural Nesses casos grandemente associados distribui o de cr dito de comercializa o rural no Nordeste e aos projetos agropecu rios na Amaz nia e Centro Oeste a articula o financeira com a ind stria a montante e a jusante muito fraca ou inexistente Nesse sentido a media o estatal n o conduz a uma l gica compulsiva no sentido de generalizar a moderniza o Ao contr rio h uma alian a pol tica onde o elemento conservador agr rio expresso pela grande propriedade e pelo capital comercial das regi es mais atrasadas associa se pol tica fin
209. afabilidade e lealdade capacidade de sacrificar um pequeno benef cio imediato em prol de uma maior recompensa futura etc Moraes Silva 1999 p 204 Al m de cursos peri dicos de treinamento e socializa o dos trabalhadores no ambiente da empresa h mecanismos cotidianos de est mulo a tal perfil Em diferentes culturas como na cana no caf e na laranja vigora o sal rio por pe as comumente chamado de sal rio por produ o Trata se de uma forma de remunera o que torna o trabalhador co interessado na m xima intensifica o do disp ndio de sua for a de trabalho pois isso lhe garante um maior pagamento ao final da quinzena al m de exigir menor necessidade de controle expl cito e direto sobre o processo de trabalho dada a maior internaliza o dos pr requisitos deste pelo trabalhador A esta forma de remunera o alia se ainda enquanto meio de interioriza o da domina o e da disciplina a perspectiva de gratifica es peri dicas atribu das queles que tiveram melhor produtividade e encarnaram da melhor forma os valores considerados indispens veis empresa Em paralelo a tal esfor o criativo de um novo ethos dentre os trabalhadores rurais empresas e intermedi rios na contrata o da m o de obra reproduzem e refor am determinados conte dos simb licos j presentes no arcabou o moral da classe utilizando os em seu proveito e integrando os ao seu eixo de explora o domina o Trata se de construtos id
210. agricultura posterior a 1964 renovou antigos e acrescentou novos la os de sua subordina o ao capital De in cio deve se lembrar a j mencionada perman ncia da domina o do latif ndio e do capital comercial sobre determinadas reas agr colas Seringueiros posseiros pequenos propriet rios e outros trabalhadores com acesso prec rio terra mant m se a subordinados ao grande propriet rio fundi rio e ou a grandes comerciantes eventualmente personificados em uma s figura Dentre outros mecanismos de extra o de excedentes nestas situa es destacam se o repasse de cr dito aos produtores por juros mais altos que o sistema financeiro normal a compra antecipada da produ o a pre os inferiores aos do mercado a cobran a de rendas pela utiliza o da terra ou a amea a de expropria o pelo avan o do dom nio direto do capital e do latif ndio sobre o espa o 2 Esta gera o insuficiente de ocupa es agr colas no campo brasileiro tem por consequ ncia a constru o de novos nexos entre o rural e o urbano N o apenas o trabalhador rural expropriado tende a migrar cidade tendo seu custo de reprodu o determinado pelo universo urbano como tamb m intercala trabalhos de ro a e trabalhos de cidade Nos per odos de entressafra comum que o trabalhador migre em busca de ocupa es agr colas em outras regi es busque ocupa es urbanas em especial na rea da constru o civil A caracter stica si
211. agroindustrial citricola paulista Disserta o de mestrado Centro de Ci ncias Exatas e Tecnologia Departamento de Engenharia de Produ o Universidade de S o Carlos 2002 BERGAMASCO S nia BOTTA FERRANTE Vera L cia PAULILLO Luiz Fernando Cons rcios diferenciados de citricultores no estado de S o Paulo formas esp rias ou redes de inclus o social Informa es econ micas SP v 37 n 3 mar 2007 ALVES Francisco Jos da Costa Moderniza o da agricultura e sindicalismo Lutas dos trabalhadores assalariados rurais da regi o canavieira de Ribeir o Preto Tese de doutorado Instituto de Economia da Unicamp 1991 PAULILLO Luiz Fernando SILVA Edson 4 flexibiliza o dos direitos trabalhistas chega ao campo o caso do setor citr cola o ouro que virou suco Revista LTr S o Paulo v 60 n 2 1996 PAULILLO Luiz Fernando Crise agr cola e redu o dos direitos trabalhistas a citricultura sai na frente informa es econ micas SP v 27 n 1 jan 1997 VIEIRA Ana 4 quebra do contrato padr o e o acirramento dos conflitos no setor citr cola Informa es Econ micas SP v 27 n 8 ago 1997 ALMEIDA Luiz Manuel Ascens o e queda das gatoperativas de m o de obra rural no complexo agroindustrial paulista In ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODU O ENEGEP nov 1999 Rio de Janeiro Anais Rio de Janeiro ADREPO 1999 313 ALMEIDA Luiz Manuel Nov
212. ai aumentar a rota o da correia l atr s pra vir mais fruta De vez em quando eu fa o esse servi o de painel tamb m Quando o operador que fica l n o vai vamo supor que hoje folga dele eu tenho que ir l pro painel No hor rio de janta e almo o tamb m eu tenho que soltar ele e eu fico no painel Ent o quando eu n o to no campo eu to no painel A gente trabalha com o corpo e com a mente A gente fica doido O encarregado ou o supervisor em cima olhando pra voc Por que parou equipamento O que t acontecendo Eles chega l e fala o primeiro turno moeu 120 mil caixa c s t m que moer 125 hein A c tem que tentar moer 125 C fica doido velho c fica louco Operador Mat o 07 2012 A principal queixa de trabalhadores tempor rios e permanentes no ch o de f brica das agroind strias citr colas refere se ao que consideram baixos sal rios Apenas a t tulo de 271 ilustra o e sem qualquer pretens o de estabelecer com precis o a banda salarial no interior das diferentes empresas do setor em nossas entrevistas entre os anos de 2011 e 2012 nas cidades de Bebedouro e Mat o podemos afirmar que ajudantes de servi os gerais relataram receber entre R 3 00 e R 3 50 por hora operadores rec m contratados por tempo indeterminado relataram receber entre R 3 50 e R 4 00 por hora operadores com at dez anos de empresa relataram receber at R 6 00 por hora e operadores com mais de dez anos de e
213. ais seja a sua incorpora o ao com rcio imobili rio em projetos de coloniza o A pol tica fundi ria extremamente conservadora da ditadura do capital sob tutela militar somada ao fato de que a propriedade fundi ria possibilitava acesso ao cr dito rural a juros negativos aumentaram em muito o interesse especulativo do grande capital 16 yo mbito da integra o de capitais a jusante da agricultura destacam se a ind stria alimentar a car frigor ficos moinhos e leos vegetais etc ligada principalmente aos ramos agr colas de Avicultura e Usinas e destilarias e o ramo agr cola florestal relacionado ao ramo de papel celulose e siderurgia Na ind stria alimentar destacam se como principais os grupos Ometto Sadia Moinhos Cruzeiro do Sul Biagi Resende Barbosa e Perdig o Nas ind strias de papel e celulose minera o e siderurgia destaca se a integra o da agricultura florestal com os grupos mais expressivos desse complexo representados aqui pelos grupos Klabin Aracruz Vale do Rio Doce Belgo Mineira e Acesita O uso da produ o florestal em larga escala como mat ria prima produ o de celulose ou como combust vel s o os principais argumentos para a diversifica o destes grupos Delgado 1985 p 157 50 pelo mercado de terras Nesse contexto a cria o e negocia o de t tulos patrimoniais i 1 rurais consolidaram se como uma segura reserva de valor e ou fonte de lucros Maria Apa
214. ais de sal rio combate s organiza es sindicais com a desmobiliza o dos trabalhadores que anteriormente pertenciam a categorias mais mobilizadas e consequente redu o do n mero de trabalhadores sindicalizados Paulillo 1992 p 16 Na medida em que o objetivo fundamental da terceiriza o no ch o de f brica foi a redu o de custos n o foi incomum que trabalhadores dispensados pela ind stria fossem depois recontratados por empresas terceirizadas com um sal rio significativamente mais baixo Trabalhadores sofreram com isso redu o dr stica em sua remunera o e deteriora o de seu v nculo com a empresa para realizar uma atividade similar ou id ntica que realizavam antes Multiplicaram se neste cen rio problemas no ch o de f brica queda da qualidade da m o de obra aumento do n mero de acidentes decorrentes de falhas humanas processos trabalhistas envolvendo n o recolhimento de encargos por empresas 145 terceiras etc Em fun o destas quest es ocorreu uma revers o relativa na pol tica de terceiriza o das ind strias de suco atrav s da contrata o direta de ajudantes de servi os gerais via de regra como safristas A seguinte cita o de um gerente industrial cuja vida profissional desenvolveu se integralmente no interior das f bricas de suco de laranja assim o pontua O custo do trabalhador terceirizado caiu Caiu A estrat gia da ind stria qual foi Baixar custo Ent o ela pe
215. aizamento no modo de pensar e viver assalariado e conseq entemente um relativo desinteresse ou ceticismo quanto possibilidade de reprodu o de sua vida em uma pequena posse ou propriedade rural Dentre muitos dos mais jovens a cidade imp e se como um espa o de socializa o mais atraente que o campo afastando os da perspectiva da luta pela terra 249 Dentre muitos dos mais velhos a sobreviv ncia material sobre um lote de terra sem o assalariamento pr prio ou dos membros de sua fam lia parece virtualmente imposs vel Os tr s trechos de entrevistas a seguir com um tratorista um fiscal de campo e uma ajudante geral da fazenda da Cutrale todos moradores da cidade de Borebi assim ilustram estas determina es O que voc pensa a respeito da a o do MST na fazenda da Cutrale que aconteceu em 2009 Sinceramente aquilo foi um verdadeiro vandalismo uma firma que emprega tantos funcion rios s dela e t em alta produ o n Na minha opini o foi um grande vandalismo o que aconteceu ali dentro at porque destru ram maquin rio chegaram a derrubar quase quadra de laranja Do MST que eu conhe o tem o pessoal gente boa e tem o pessoal que a gente tem o p atr s Pode ser que tenha alguma coisa a ver noite na fazenda tem muito problema de pessoas que v o roubar e sempre sabem o que t acontecendo aonde d pra mexer j vai fazer o neg cio certo provavelmente algu m de dentro Eu mesmo n o
216. ajudem a elucidar potencialidades de articula o entre diferentes fra es das classes trabalhadoras e subalternas e colocar em xeque as barreiras que as separam Desde esta perspectiva pol tica metodol gica buscaremos aqui contribuir com a an lise hist rica do desenvolvimento desigual e combinado do capital no campo brasileiro 14 em geral e no complexo citricola paulista em particular com o objetivo de alcan ar uma leitura multideterminada da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial Fundando nos em fatores econ micos pol ticos e ideol gicos investigaremos a trajet ria ao longo das d cadas de 1990 e 2000 das contradi es que pesam sobre pequenos citricultores familiares assalariados rurais e assalariados industriais do complexo citr cola Como veremos por um lado todas estas fra es da classe trabalhadora viram se neste per odo submetidas a um conjunto cada vez mais restrito de ind strias processadoras de suco de laranja por outro todas mantiveram especificidades econ micas pol ticas e ideol gicas que as diferenciam em maior ou menor grau umas das outras A investiga o das continuidades e descontinuidades entre estas fra es da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial citr cola exigir a an lise dos nuances que marcam a consci ncia de seus membros Para tanto destacaremos e analisaremos neste texto trechos de entrevistas com m ltiplos sujeitos que t m seu sobretraba
217. al estudo apontou que a participa o total do PIB do agroneg cio no PIB brasileiro foi de 30 6 em 2003 No mesmo ano a participa o total do PIB da agricultura no PIB brasileiro foi de 9 3 sendo 3 6 referente agropecu ria familiar e 5 7 agropecu ria patronal Guilhoto Silveira e Azzoni 2004 68 O regime internacional da mundializa o do capital refor ou em todos os lugares os direitos de propriedade e os mecanismo de apropria o fundados na explora o do trabalho e as retiradas rentistas Setores espec ficos do Sul os bancos e os servi os financeiros a agroind stria as mineradoras sofreram uma acentua o na centraliza o e concentra o do capital Um vasto movimento de fus es e aquisi es interno e transnacional aconteceu As estruturas olig rquicas e os oligop lios do per odo antigo est o modernizados Onde fortes processos end genos financeirizados de acumula o ocorreram juntos com a posse de vantagens comparativas de acordo com as necessidades das economias centrais vantagens naturais para produtos prim rios e ou intensivos em m o de obra industrial barata oligop lios de nova gera o foram integrados ao funcionamento do regime internacional da mundializa o Esse foi o caso do Brasil Chesnais 2010 p 12 De fato a despeito do que possam afirmar seus apologetas o assim chamado agroneg cio segue marcado pelas contradi es inerentes or
218. alho no 300 complexo citr cola e portanto um grande desafio estrat gia predominante neste meio sindical de n o enfrentamento com o capital agroindustrial A respeito dos impactos decorrentes dos fechamentos de ind strias de suco paulistas os trabalhadores demitidos destacam em seu discurso primeiramente a deteriora o de suas condi es econ micas Segundo seus relatos diversos ex funcion rios da Citrosuco em Bebedouro e da Citrovita em Mat o viram se obrigados a aceitar diferentes modalidades de v nculos empregat cios informais ou por tempo determinado com remunera es significativamente mais baixas e acesso prec rio a direitos sociais e trabalhistas Em sua leitura dos fatos estes trabalhadores destacam tamb m o descompasso entre as exig ncias a que estavam submetidos no cotidiano de trabalho e o descaso com que consideram ter sido tratados quando do encerramento das f bricas representativa deste sentimento a express o utilizada recorrentemente por trabalhadores demitidos em Mat o que comparam o momento de sua dispensa com o de uma boiada indo pro abate Os dois trechos seguintes de entrevistas com operadores assim ilustram este quadro Exemplo disto a suspens o de atividades nas f bricas da Cutrale em It polis e Taquaritinga em 2012 questionada judicialmente pelo Minist rio P blico do Trabalho pela aus ncia de negocia o com o sindicato local antes das demiss es O Minist rio P
219. ali pra eles viver todo mundo n o d Ent o tem muitos que sai pra trabalhar em empresa Seria bom a pessoa ter a sua terrinha s que tamb m n o uma coisa que vai acabar o problema da pessoa n o Principalmente da fam lia Porque oito alqueire de terra talvez d pra voc cuidar doc sua esposa um filho ou dois C vai tocando Mas depois falar assim que os seus filho vai viver daquilo ali tamb m a j n o d A j precisa de mais oito alqueire de terra Hoje em dia do jeito que t o pa s a maioria dos fazendeiro tem muita terra alguns num assentamento desses do MST vai conseguir a sua terrinha mas a maioria do brasileiro vai viver assalariado isso nunca vai mudar n o Tratorista Borebi 07 2012 Uma parcela significativa dos assalariados rurais da citricultura na fazenda da Cutrale em Borebi e em fazendas de outras agroind strias pr ximas mora em assentamentos de reforma agr ria ou em acampamentos de fam lias sem terra Segundo o depoimento de trabalhadores e dirigentes regionais do MST h entre duzentos e duzentos e cinquenta acampados e assentados que vendem sua for a de trabalho em grandes pomares da regi o como colhedores ajudantes gerais tratoristas motoristas empreiteiros e fiscais de campo Como veremos o discurso e a consci ncia destes m ltiplos trabalhadores a respeito da luta pela terra em geral e a respeito do conflito entre MST e Cutrale em particular n o homog neo Apenas a t tulo
220. aminh es e outros ve culos diretamente ligados produ o agr cola integrariam a representatividade do Sindicato dos Empregados Rurais de Araraquara Enquadram se neste conjunto os motoristas e equipes de caminh es tanque de combate a inc ndio da lavoura canavieira os motoristas de caminh es transportadores de m quinas agr colas prancheiros os motoristas e equipes de abastecimento e manuten o de m quinas agr colas os motoristas de caminh es transportadores de vinha a para fertirriga o nas lavouras os motoristas de caminh o transportadores de torta de filtro ou outro res duo das usinas para aduba o nas lavouras e os motoristas dos nibus transportadores dos trabalhadores em atividades nas lavouras 242 de pensar de um juiz ou de um tribunal Particularmente eu n o acredito que a solu o desses conflitos se d por imposi o do judici rio Acho que a a o do Minist rio P blico importante ajuda a esclarecer o problema manter o problema a tona mas um caminho tortuoso Se os trabalhadores ficarem na depend ncia da a o estatal seja do Minist rio P blico seja do poder Judici rio executivo ou legislativo o resultado final vai ser favor vel ao capital Al m disso o Minist rio P blico tem como esp rito ser tutor fazer a tutela Algumas vezes ele ouve o professor ouve a academia mas n o os trabalhadores organizados J houve caso em que ele n o conseguiu compreender ou receber as informa es
221. ampliam a taxa m dia de explora o estimulam a internaliza o de crit rios de trabalho e conduta e criam clivagens e ressentimentos entre diferentes segmentos da classe trabalhadora Moraes Silva assim apresenta estes fatores na cultura da cana interessante observar que a divis o tnico racial est presente tanto no espa o produtivo quanto no reprodutivo No eito da cana os trabalhadores de fora n o s o misturados aos do lugar Os eitos s o diferentes Quanto ao espa o reprodutivo h v rias formas de divis o os barrac es os alojamentos as pens es e os bairros ou vilas de barro Os tr s primeiros referem se aos de fora que s ficam durante a safra Os bairros e vilas de barro s o habitadas pelos do lugar mas que vieram de outros lugares Portanto n o s o do lugar Trazem em seus corpos a marca da cor o jeito de falar os costumes que n o s o os dos paulistas S o mineiros e baianos como os outros No entanto n o se reconhecem como tais Quem os define como baianada mineirada s o os outros ou seja os antigos sobretudo os descendentes de italianos brancos portanto moradores destas cidades No n vel das representa es dos trabalhadores h imbrica es de v rios atributos ser negro mulato moreno e habitante do lugar diferente de ser negro mulato moreno e vindo do nordeste ou do Vale do Jequitinhonha Para os moradores brancos trata se do co
222. ana mescle se a uma sensa o de que isto ser inevit vel no m dio prazo sabe me dar o valor se eu trabalho bastante eu ganho bem Se eu n o dou preju zo pra ele ele me paga bem Agora os meus pais com a ind stria diferente Ele trabalha bem produz uma fruta boa na hora de receber recebe como se tivesse vendendo pra eles qualquer coisa Pro patr o e pro empregado na cidade mais f cil de ter um entendimento Se o empregado chegar no patr o e falar assim eu to achando que meu sal rio ta pouco eu to trabalhando muito tem outra empresa que quer me contratar se o senhor n o me pagar mais eu vou ir pra outra empresa se ele achar que compensa ele vai pagar mais pra mim Agora se meu pai chegar na ind stria e falar assim se o senhor n o pagar tanto na minha laranja eu vou pra outra a n o tem como Por qu Porque as ind strias se juntaram e as ind strias falam que v o pagar todo mundo igual se ele quiser vim pra c n s vai pagar o mesmo pre o ent o vai ficar assim mesmo A o que acontece O sal rio dele vai ser bem menos n o tem como brigar Filho de citricultor familiar Ibitinga 07 2011 7 Face a este dilema muitos pequenos produtores manifestaram o desejo de ceder suas terras para outros em contratos de ameia em que se dividem os custos e os resultados da produ o entre o trabalhador e o propriet rio Segundo sua opini o contudo o rendimento decrescente da produ o de l
223. ana tamb m ainda mais cartelizada que a laranja N o tem usineiro pequeno E eles t m todo o apoio do governo que interessa a hist ria a do lcool J o pequeno produtor n o tem nem o trator s vezes mais pra fazer uma atividade no s tio ent o ta entregando as suas propriedades Hoje se voc n o botar marcos de concreto que indicam qual a sua propriedade logo mais ele n o sabe nem mais onde a propriedade dele Virou um mar de cana Ex citricultor familiar Taquaritinga 02 2012 Eu conhe o uns que tinha propriedade e hoje s o empregado colhe laranja nas firma Trabalha de empregado N o tem mais a propriedade Venderam pagaram as d vidas e hoje trabalha uns colhendo laranja outros trabalha de pedreiro mas n o tem mais propriedade acabou Conseguiram acabar com o s tio porque n o tinha ganho pra tocar Come aram a fazer d vida e afundou a precisaram vender o s tio pra pagar as coisas Isso por causa da laranja a laranja e outras coisa tamb m mas no mais produtor de laranja N o consegue sobreviver A gente tem d deles n Eram donos de um peda o de terra e hoje n o tem mais Tem uns par at que s o parente meu tamb m Outros arrendou pra cana porque n o teve condi es de tocar o pomar Ent o foram pra cana Tem dois parente que vendeu o s tio Afundou Tinha pomar laranja foi Come aram a fazer d vida comprar trator novo depois n o conseguiram pagar teve que devolver E
224. anceira e fiscal do Estado sem que necessariamente realize a reprodu o do capital passando pelo aprofundamento de rela es inter industriais do complexo agroindustrial Ainda pelo monop lio das grandes propriedades territoriais nessas regi es que se d a reprodu o do capital com todas as rela es peculiares de processo de produ o e de valoriza o do capital vinculadas a esse monop lio Delgado 1985 60 Kageyama ecoa este diagn stico tamb m destacando em sua formula o a perman ncia regional tanto do latif ndio como da domina o do capital mercantil sobre as atividades agr colas Segundo esta autora ainda que os dados apontem aproxima es quanto forma de produzir por todo o Brasil no per odo posterior a 1964 reproduziram se 35 diferen as quanto ao conte do devido perpetua o de rela es sociais e pol ticas pouco din micas De fato o avan o do capital sobre o campo brasileiro durante o regime militar n o apenas imp s a intensifica o do uso da terra e o aumento da produtividade subordinando a renda da terra ao capital mas tamb m propiciou atrav s do sistema de cr ditos e subs dios novas oportunidades e fronteiras valoriza o e especula o fundi rias em especial mas n o somente na regi o Centro Oeste No mesmo sentido a estrutura de financiamento estatal agricultura n o apenas estimulou novos nexos entre o capital industrial e agr rio mas tamb m refor ou es
225. ao trabalhador Quando eles fazem a fus o eles pensam unicamente no status empresarial N s vamos nos juntar pra sermos a maior empresa produtora e exportadora de suco do mundo N o existe da parte das empresas que est o se fundindo a preocupa o com o funcion rio com o empregado Elas sabem que vai ter que mandar gente embora se n o de uma da outra ou das duas como t acontecendo agora E o trabalhador n o tem nenhum rg o competente que possa sair em defesa dele quando se trata de fus o N o tem O CADE n o trata de 103 poca a Associtrus e 40 produtores de laranjas declararam interesse em assumir a gest o da unidade da Citrosuco em Bebedouro o que garantiria tanto a perman ncia dos empregos fabris quanto a demanda de suas frutas Segundo a Associtrus a f brica mantida por agricultores poderia negociar com os poderes municipal ou estadual com vistas a fornecer suco de laranja para a merenda escolar A proposta recebeu apoio do presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de Bebedouro segundo o qual ela poderia extinguir a terceiriza o da m o de obra e estabelecer a contrata o direta dos colhedores de laranja nos pomares de fornecedores da fruta A reivindica o n o foi contudo aceita pelo poder p blico Governo de SP analisa proposta de arrendamento de f brica de suco in www associtrus com br noticia 10 06 2009 104 relevante lembrar que ao longo da safra 2011 2012 as agroind s
226. aos empreiteiros Acompanhando as listas h advert ncia aos empreiteiros n o levar sob hip tese alguma aqueles marcados para n o trabalharem O meio para a efetiva o dessa ordem a imposi o do registro Cria se aqui o paradoxo no qual os direitos existentes para os favorecerem impingem lhes a marca da exclus o Pelo controle do registro eles s o impedidos de trabalhar Esta penalidade tem a dura o de tr s anos O trabalhador condenado pelos ju zes do escrit rio os mo os o foi em virtude de ter cometido o crime m ximo ter feito sujeira A sujeira significa ter reclamado seus direitos na Junta Trabalhista ter liderado ou participado de greves ter feito encrencas no caminh o no talh o ter reclamado seus direitos no escrit rio Moraes Silva 1999 p 141 Apesar de tais mecanismos ideol gicos e coercitivos de controle sobre a for a de trabalho rural as insatisfa es dos colhedores de laranja n o foram neutralizadas Dentre os principais descontentamentos no in cio da d cada de 1990 estavam a ado o do sistema contabiliza o das laranjas colhidas com sacol es que lesavam os trabalhadores o n o pagamento em dias de chuva n o trabalhados a exig ncia da firma em trabalhar aos domingos o uso de agrot xicos nos laranjais durante a colheita da fruta as jornadas de trabalho muito extensas 12 a 14 horas sem que fosse pago o valor por horas extras o n o pagamento de faltas justificada
227. ar as terras e derrotar a agroind stria pra fazer a reforma agr ria N o tem mais possibilidade principalmente aqui na regi o sul e sudeste de fazer a reforma agr ria com campon s O p blico da reforma agr ria hoje o p blico que o MST tem que organizar hoje outro E isso pode ser tanto pra ocupar a terra como pra ocupar f brica dirigente nacional do MST S o Paulo 08 2012 Ao longo de todo este cap tulo n s buscamos apresentar o nuances da consci ncia dos assalariados rurais a respeito de duas das principais lutas sindicais e pol ticas que marcam o complexo agroindustrial citr cola paulista hoje a luta pela universaliza o de direitos sociais e trabalhistas especialmente para a massa de colhedores de laranjas e a luta pelo acesso terra Por um lado mostramos a fragmenta o e as m ltiplas leituras dos assalariados rurais a respeito de ambas as quest es Por outro mostramos as perspectivas e os obst culos da s ntese destes m ltiplos posicionamentos em projetos minimamente univocos e coerentes no interior das organiza es pol ticas e sindicais dos trabalhadores rurais Alcan amos com isso um rico complexo de continuidades e descontinuidades que marca esta fra o da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial Devemos ainda contudo para completar nossa pesquisa acerca do mundo do trabalho no complexo agroindustrial citr cola investigar da mesma forma que fizemos neste cap tulo as tend
228. ar de trabalhadores a agrot xicos bem como seu encaminhamento judicial Em seu interrogat rio o reclamante afirmou que havia pulveriza es a reas de veneno habitualmente que ap s a pulveriza o sentia a pele e os olhos arderem que as pulveriza es por tratores eram feitas semanalmente que os sintomas eram os mesmos que as pulveriza es por tratores eram feitas ao lado do local em que trabalhavam Ata de Audi ncia 16 10 2012 Processo 1200 76 2011 5 15 143 214 colhedores que prefeririam um maior sal rio l quido imediato cobertura de direitos em m dio e longo prazo garantida pelo registro em carteira Este discurso de auto legitima o dos gatos usualmente destaca como refer ncia a m o de obra migrante que periodicamente se desloca de estados do Nordeste para a safra da laranja e de outras culturas paulistas tais trabalhadores teriam particular interesse em n o se registrar para ganhar o m ximo de recursos l quidos em pouco tempo e retornar o quanto antes a seu local de origem Tal discurso do gato possui um claro sentido ideol gico Enquanto intermedi rio da rela o de capital ele refor a determinados comportamentos favor veis m xima explora o da for a de trabalho e incita obst culos simb licos organiza o coletiva dos assalariados Neste discurso o m ximo disp ndio de energia f sica e o m nimo de cobertura de direitos s o caracterizados como liberdade do trabalhador para trabalhar c
229. aranjas torna esta op o cada vez mais invi vel Um meeiro citricultor assim descreve as suas dificuldades e as do pequeno propriet rio para quem trabalha Se voc contratar o pessoal da colheita por conta o fiscal vem e j complica a situa o A c pega a turma do condom nio o cara l d o tombo c obrigado a pagar tamb m Ent o fica uma situa o dif cil de trabalhar n N s t nesse rolo a S que n o eu o patr o T no nome dele S que a voc j sabe que tem que ajudar ele n No come o a gente era de ameia s que ele dava metade de tudo veneno essas coisa S que dois ano pra c ele n o ag entou tocar mais ent o ele quis trinta por cento limpo pra ele e n s se vira Trinta por cento de tudo que eu tiro vai pra ele O ano passado 2010 2011 que foi um ano bom na laranja juntando com a pimenta e a mandioca eu consigo falar que uns 40 mil no ano eu tirei Mas na m dia sai menos que isso bem menos que isso E n s trabalha em tr s eu a mulher e meu filho Mesmo assim se ponh n o sai o sal rio de cada um N o tem outra coisa pra fazer c tem que arriscar naquilo ali n Mas o patr o j disse que se n o melhorar vai arrendar pra cana Arrendat rio citricultor Taquaritinga 01 2012 196 Voc s conhecem produtores como voc s que hoje est o plantando cana Marido O pequeno propriet rio pra entrar na cana n o d Eu aqui com dez alqueires se
230. ariados manuais Da que em segundo lugar tais gatom nios sejam tamb m terreno f rtil para todos os nuances da informalidade na lavoura citr cola acima mencionados Grassam dentre eles v rias irregularidades no registro em carteira ou mesmo a aus ncia de registro nos momentos em que isso se mostra poss vel Os trechos de entrevistas a seguir com um dirigente sindical e com um administrador de um gatom nio ilustram estas quest es Aquelas pessoas que tavam l no gato na cooperativa tamb m formou os cons rcios O objetivo era o mesmo era sugar o trabalhador explorar no m ximo Alguns n o resistiram por causa das a es do Minist rio do Trabalho n o t m estrutura nenhuma O que acontece com esses gatom nio Eles agem como se fossem uma empreiteira eles v o no produtor e oferecem tanto pra colher a caixa da laranja eu quero tanto pra colher Vai outro condom nio no mesmo produtor e fala quero tanto A tem uma concorr ncia Ent o quem oferecer a m o de obra mais barata o produtor vai dar a laranja pra ele colher Isso tornou pro sindicato muito dif cil fazer um acordo coletivo porque voc n o sabe quem o pai da crian a Na nossa regi o quando formaram os condom nio n s convocamos todos numa mesa pra tentar tra ar um acordo coletivo O que os 223 condom nio falou N s n o temos condi es de fazer o que as ind strias faz Mas por que n o 259 tinham condi es Porqu
231. artesanal em 1994 a gente plantou um alqueire de cana E a j foi vendo a primeira sobra nossa n s entregamos pra usina A primeira entrega de cana foi de 250 toneladas E a diferen a do tratamento da usina e o tratamento das ind strias da laranja em rela o ao produtor a gente j sentiu que era uma coisa totalmente diferente Eu nem imaginava que eles viessem buscar aquela cana Eu conversei com o pessoal que administra a colheita l na usina e quando chegou a data marcada a gente nem tava lembrando achava que nem viesse apareceram ai queimaram a cana no meio da laranja pra voc ter uma id ia um bloquinho de cana cercado de laranja Queimaram a cana e n o queimaram um p de laranja Aquele cuidado pedindo autoriza o pra poder entrar com o caminh o no meio do carreador da laranja Um tratamento VIP pra se falar a verdade E a a gente j come ou a pensar em cana Em 1998 ou 1999 foi a grande crise da laranja n N o entregou p ra rio a Cutrale n o moeu Teve gente que pagou pra derrubar a laranja no ch o s pra limpar o p E n s entregamos pra uma firma pra frente de Rio Preto Ela tava quebrada mas n s nem sabia disso foi l e vendeu Ela pagou normal l no port o da firma por R 1 50 a caixa Isso que essa firma ainda tava pagando a mais porque foi o come o da safra ainda n o se tinha bem uma certeza de que a Cutrale n o ia moer Depois quando o Cutrale n o moeu Citrosuco acho que n o moeu moeu pouco
232. as 29 11 2011 Produtores de laranja recebem 50 menos que em 2010 im http www associtrus com br noticias 23 11 2011 Agricultores reclamam da queda do pre o da laranja pago pela ind stria in www associtrus com br noticias 14 09 2011 Estoques de suco do Brasil s o os menores em 20 anos in http www associtrus com br noticias 19 07 2011 Pre o m nimo ainda ele in www associtrus com br noticias 27 06 2011 N o se produz laranja a R 10 00 por caixa in www associtrus com br noticias 4 05 2011 MPT pede condena o da Cutrale por demitir funcion rios sem negociar com sindicatos in www associtrus com br not cias 25 10 2012 328 F brica de suco de laranja demite Ill e anuncia fechamento em Mat o im www g1 globo com sp araraquara regiao noticia 29 02 2012 Passeata contra fechamento da Citrovita toma ruas de Mat o im www sinalcatanduva org br noticia 05 03 2012 Ind stria e SRB assinam Consecitrus com Jo o Sampaio e sem Faesp in http agricultura ruralbr com br 19 04 2012 Faesp e CitrusBR trocam cr ticas sobre Consecitrus in http agricultura ruralbr com br 20 04 2012 Produtores de laranjas distribuem 12 toneladas de laranjas em protesto in www ecofinancas com br 27 07 2012 Metade do financiamento da campanha de Dilma vem de apenas 27 empresas in http blogs estadao com br vox publica 01 12 2010 Trabalhadoras ocupam rea do grupo Cosan em SP in w
233. as estas greves contribu ram para a constru o de articula es entre diferentes fra es da classe trabalhadora na regi o Um dirigente sindical assim o explicita comentando o posterior apoio do sindicato dos trabalhadores da ind stria da alimenta o de Mat o j mencionada greve dos colhedores de laranja em 1993 Embora a gente tenha levado o bal o dos motoristas o fato de ter acontecido essa greve aqui nos ajudou a compor em Mat o no come o dos anos 1990 uma intersindical uma comiss o dos sindicatos independentemente da categoria representada A gente se organizou pra que na hora que eu precisasse do apoio aqui todos viriam pra alimenta o Na hora que o rural precisasse todos n s ir amos l pro rural apoiar Inclusive n s j participamos de greve dos trabalhadores rurais No come o dos anos 1990 houve trabalhadores rurais da citricultura revoltados com o tratamento e o pre o da di ria o pessoal se rebelou e fizeram greve A gente foi l em solidariedade teve diretor nosso aqui que apanhou da pol cia levou borrachada foi levado pra delegacia N s paramos ali na estrada da fazenda Cambuhi naquele tempo n s t nhamos um caminh o de som que n s emprestamos pra eles Periodicamente n s faz amos reuni es pra tratar dos assuntos correlatos pra entender a cadeia produtiva at chegar aqui no produto j industrializado Foi uma experi ncia boa em que a gente partilhava A gente sabia como tava o andamento l no r
234. as agroind strias sobre seus fornecedores de mat ria prima com especial impacto sobre os pequenos produtores familiares de laranjas ocorreram nas ltimas duas d cadas importantes transforma es na compra e venda da for a de trabalho rural no complexo citr cola Como veremos a frente tais transforma es tiveram grande significado econ mico e pol tico para os assalariados rurais do setor O j descrito ascenso da luta dos trabalhadores deste complexo na d cada de 1980 teve como importante conquista o registro da m o de obra na colheita da laranja por parte das ind strias processadoras Garantiu se dessa forma especialmente aos colhedores maior estabilidade de servi os pagamentos regulares d cimo terceiro sal rio possibilidade de obter seguro desemprego etc Concomitante a tais conquistas trabalhistas introduziram se novas e mais sofisticadas media es privadas da explora o domina o do trabalho rural Constru ram se mecanismos ideol gicos com vistas a impor de modo mais eficaz sobre a m o de obra a interioriza o da domina o e da disciplina e formaram se 114 em determinados casos turmas de trabalho com maior perman ncia em paralelo introdu o de novos mecanismos de sele o e treinamento As ind strias buscavam assegurar se desse modo de uma oferta de m o de obra mais regular e mais conformada ideologicamente s suas demandas Em seu estudo acerca dos colhedores de laranja Baptistella assim
235. as formas de contrata o de m o de obra rural na nova configura o do complexo agroindustrial citr cola paulista informa es econ micas SP v 30 n 12 dez 2000 Por que morrem os cortadores de cana Sa de e Sociedade n 3 v 15 set dez 2006 NOVAES Jos Roberto orgs Migrantes trabalho e trabalhadores no complexo agroindustrial canavieiro os her is do agroneg cio brasileiro S o Carlos Edufscar 2007 ALY J NIOR Osvaldo et alli Quest o agr ria e agricultura em S o Paulo elementos de diretrizes do Incra SP in FERNANDES Bernardo Man ano org Campesinato e agroneg cio na Am rica Latina a quest o agr ria atual S o Paulo Express o Popular 2008 AMARO Ant nio Fus es e aquisi es na ind stria de sucos c tricos S o Paulo IEA 2004 ANTUNES Ricardo org Riqueza e mis ria do trabalho no Brasil S o Paulo Boitempo 2006 AZEVEDO Paulo Furquim Integra o vertical e barganha Tese de doutorado Faculdade de Economia Administra o e Contabilidade da Universidade de S o Paulo 1996 BAPTISTELLA Celma NOGUEIRA Elizabeth VICENTE Maria Carlota FRANCA Terezinha Vida melhor ao trabalhador rural ser Informa es econ micas SP v 22 n 3 mar 1992 VICENTE Maria NOGUEIRA Elizabeth GATTI Elcio Tecnifica o e emprego na citricultura paulista 1974 75 a 1991 92 Agricultura em S o Paulo SP 41 3 1994 314 Colhedores de laran
236. as que como vimos ainda marcam o setor por outro isto unificaria e fortaleceria o poder pol tico e sindical dos assalariados rurais no complexo citr cola O presidente da Feraesp assim explica este posicionamento A Feraesp foi fundada em 1989 e durante um longo per odo ela foi considerada ilegal N s ficamos praticamente na clandestinidade de 1989 a 2002 Em todo esse per odo houve mobiliza es houve uma s rie de greves mas o setor patronal n o recebia oficialmente nossas negocia es Hoje no caso da cana houve uma melhoria no di logo a Feraesp hoje aceita na interlocu o com as usinas Mas com a ind stria da laranja at hoje n o h negocia o dado o choque que existe entre aquilo que a Feraesp prop e como projeto de defesa dos interesses dos trabalhadores e a estrat gia de crescimento que essa agroind stria adotou Neste ponto a quest o mais importante que a ind stria a cabe a econ mica e pol tica da cadeia produtiva controla a cadeia de ponta a ponta e n o aceita a responsabilidade social pelas atividades Ent o ela absorve todos os b nus e n o aceita nenhum nus Ela pretendeu ao longo do tempo transferir para os produtores toda essa responsabilidade social A contrata o de m o de obra por exemplo j foi feita pelos produtores por interm dio de gatos de coopergatos hoje feita por gatom nios e na verdade quem tem o controle de toda a atividade a ind stria A ind stria determina o p
237. as safras de 2002 2003 2003 2004 e 2004 2005 A venda efetiva por m s se realizou no momento em que a produ o foi entregue a uma das unidades da reclamada localizada em Mat o e Bebedouro Esse o chamado truck system ou posto sobre rodas na origem enquanto que com rela o ao trabalho na colheita referido pacto estipula que o vendedor produtor rural ser o nico respons vel pelos trabalhadores e eventuais prepostos que vier a contratar Ou seja patente a uma grande contradi o pois medida que a ind stria de suco vai arrendando e fiscalizando as terras e pomares para sua produ o de suco concentrado e congelado suas responsabilidades sociais e porque n o financeiras tamb m v o sendo jogadas pr pria sorte dos pequenos produtores Decis o 042594 2004 TRT 152 R 9 1 2004 proc N 0309 2003 027 132 laranja em S o Paulo e o pagamento de indeniza o no valor de R 400 milh es em favor do Fundo de Amparo ao Trabalhador FAT At o momento a press o sobre as agroind strias conseguiu que ao menos em seus pomares pr prios a contrata o de m o de obra se realize diretamente sem media o de condom nios ou quaisquer outras formas de intermedia o O julgamento da exig ncia desta contrata o tamb m nos pomares de pequenos m dios e grandes produtores de laranja fornecedores de mat ria prima contudo encontra se atualmente em suspenso devido a alega o por parte das ind strias
238. ateram o tema da conquista ou participa o oper ria na gest o da produ o Em muitos casos por todo o mundo f bricas e estabelecimentos comerciais ocupados mantiveram se funcionando por determinados per odos sob controle da for a de trabalho Na medida em que anteriores instrumentos pol tico ideol gicos disposi o do capital mostraram se insuficientes conten o destas experi ncias imp s se lhe a necessidade de reestruturar as rela es e o processo produtivos com vistas a criar novas clivagens entre os trabalhadores e explorar neutralizar as capacidades intelectuais que estes mostravam em suas novas demandas e lutas Sobre a base t cnica da terceira revolu o industrial microeletr nica o capital foi capaz a partir de meados da d cada de 1970 de alterar radicalmente a morfologia da classe trabalhadora fabril e de criar novos canais de explora o da componente intelectual do trabalho Ao mesmo tempo em que se diminuiu drasticamente o contingente de trabalhadores e se os dispersou em in meros canais de sub contrata o a centraliza o dos fluxos de informa es fortaleceu nas m os do capital a coes o e coer ncia da gest o do processo produtivo e da for a de trabalho Ao mesmo tempo em que se minimizaram as 152 media es hier rquicas entre a administra o e o ch o de f brica e se criaram turmas de trabalho com maior intera o horizontal aumentou o dom nio verticalizado dos escal es administrativ
239. balhar com computadores supervis rios entender o mecanismo desta parte de inform tica para se tornar um operador Hoje o operador tem normalmente segundo grau t cnico Existe at uma tend ncia como esse operador mais qualificado e mais remunerado dele ir para o terceiro grau de instru o s vezes nem mesmo para continuar na mesma fun o s vezes para se graduar e ir para um outro emprego melhor Eu tenho casos de encarregados de f brica que trabalharam junto comigo e durante quatro anos que o cara trabalhou como encarregado ele fez Direito Quando ele formou ele saiu da rea e foi advogar Gerente industrial Rio Claro 02 2012 A partir das transforma es destacadas podemos concluir que nas ltimas d cadas estabeleceram se novas determina es na rela o de subordina o real do trabalho assalariado industrial ao capital no complexo citricola Para Marx tal rela o ocorre quando o capital torna se capaz n o apenas de subordinar o processo laboral mas tamb m de transformar por completo sua forma atrav s do desenvolvimento de for as produtivas sob seu controle aplica es da ci ncia e da tecnologia ao trabalho e transforma es em sua organiza o social em escala crescente convertem o trabalhador em um ap ndice de m quinas e em um momento no interior da coopera o e divis o do trabalho coletivo Para o capital tal desenvolvimento implica em um aumento de seu controle sobre a produtiv
240. balho e aquele que a compra Em sentido restrito a subordina o formal do trabalho assalariado ocorre quando no interior desta rela o de depend ncia econ mica geral o capital ainda n o domina toda a forma social da produ o Ou seja quando o processo de trabalho segue uma fun o somente do disp ndio de energia f sica e do saber fazer do trabalhador e ainda n o foi transformado tecnicamente pela aplica o sistem tica e consciente das ci ncias naturais f sicas qu micas e biol gicas Marx 1971 Por um lado a subordina o formal do trabalho assalariado ao capital permite a este alterar a continuidade a escala e a intensidade do processo produtivo aumentando o excedente econ mico a sua disposi o pelo prolongamento do tempo de trabalho ou pela redu o da remunera o oferecida Por outro lado a mesma rela o permite ao trabalhador manter relativo controle sobre o andamento de sua atividade aumentando seu poder face ao capital a partir da centralidade que seu saber fazer e seu disp ndio de energia f sica possuem sobre o processo produtivo como um todo Estabelece se assim um dilema ao capital a explora o do trabalho formalmente subordinado significativamente mais transparente consci ncia do trabalhador e ao mesmo tempo grande a capacidade deste de impactar ou paralisar todo o processo produtivo Historicamente a resposta do capital a este dilema foi a transforma o t cnica do processo de traba
241. blico do Trabalho MPT em Araraquara pediu Justi a trabalhista nesta ter a feira 23 10 a condena o da Cutrale uma das maiores produtoras de suco de laranja do mundo A empresa acusada de demitir 83 trabalhadores sem ter negociado previamente com os sindicatos das categorias O pedido do Minist rio P blico que a Cutrale seja condenada a pagar RS 10 milh es por danos morais De acordo com o MPT a produtora de suco de laranja demitiu 39 trabalhadores em sua planta fabril em Itap lis SP e outras 44 pessoas que trabalhavam na f brica da empresa em Taquaritinga SP Os dois sindicatos que representam os trabalhadores demitidos dizem que n o houve negocia o antes das dispensas e que a empresa recusou se a receber os sindicalistas para conversar sobre as demiss es Ainda segundo o Minist rio a Cutrale negou o car ter coletivo das demiss es e disse que o quadro de funcion rios estava sendo ampliado em outras f bricas da empresa N o houve qualquer preocupa o em se atenuar o impacto do s bito e inesperado desaparecimento de dezenas de empregos nas duas cidades disse o procurador Rafael de Ara jo Gomes por meio de nota MPT pede condena o da Cutrale por demitir funcion rios sem negociar com sindicatos in www associtrus com br 25 10 2012 301 Sobre o fechamento da f brica da Citrosuco aqui em Bebedouro o que voc sentiu quando voc ficou sabendo da not cia Tinha boatos na rua na boca do
242. bom n Porque a gente tem for a de vontade de plantar fazer uma horta ter as cria o isso um sonho da gente Eu nasci na fazenda ent o pra mim um sonho Mas um sonho que s vez eu acho meio imposs vel pela luta que a gente tem que enfrentar Tem v rios que trabalham l na Cutrale que s o assentados e fala que compensa que hoje eles t o bem j t compensando o sofrimento que eles tinham passado o que eles tinham perdido Teve muita gente l que vendeu tudo que tinha pra conseguir se alimentar pra chegar onde t Hoje eles falam que conseguiram vencer a luta mas a gente j n o pensa assim igual eles Eu j tenho medo dessa luta de lutar lutar lutar e acabar nem conseguindo Esse o meu medo Ajudante geral Borebi 07 2012 Como j aponta a ltima cita o contudo o posicionamento a respeito do MST dos assalariados rurais da citricultura que moram em cidades pr ximas fazenda Santo Henrique n o homog neo H dentre eles trabalhadores que destacam as irregularidades fundi rias da Cutrale e v em legitimidade na perspectiva de luta pela terra Este discurso mais comum em trabalhadores que apesar de assalariados ainda s o atra dos pelo modo de viver e pensar da pequena produ o familiar Ainda que tal perspectiva assuma em sua consci ncia o formato de um anseio longinquo e n o de uma reivindica o concreta ela nos mostra que a experi ncia do assalariamento n o possui implica es simb
243. cado Ningu m guenta a ind stria n O pequeno n o tem como ag entar O grande inda consegue um pouco de pre o melhor mas o pequeno n o O ano retrasado 2009 10 cinco seis real eles tiveram que vender aqui do lado pras ind strias Teve de tirar dinheiro do bolso A no outro ano 2010 11 a laranja deu dinheiro e as ind strias oxa n o tem coisa que d dinheiro que nem laranja Neste ano j enforcaram o produtor de novo 2011 12 Com mercado de fruta fresca lei da oferta e procura Quanto mais oferta mais ruim pra vender quanto menos oferta melhor pra vender Qualidade de fruta tamb m Uma fruta boa voc consegue at vender mais f cil Eu trabalho com dois ou tr s barrac o s Geralmente dois que eu entrego mais direto Nesses a p ra rio t girando de sete a dez reais a caixinha Sete reais a caixinha d dez e cinguenta a caixa peso Ent o o pre o do mercado pra p ra rio n o vareia muito da ind stria n o principalmente na hora que tem Na hora que tem ele paga o mesmo pre o da ind stria ou at um pouco menos Na hora que n o tem que voc vai conseguir um pouquinho a mais Mas pra mim melhor porque vendendo pro mercado eu n o pago o frete nem a colheita Eu que eu costumo 189 colher n Como a quantia pequena n s mesmo aqui da casa vai se virando n Agora tem barrac o a dando o golpe o cara tem movimento muito grande o produtor vai pegando confian a vai ent
244. caixa de laranjas vendo se obrigado a aceitar pagamentos que considera insuficientes manuten o de sua fam lia O seguinte trecho assim ilustra este racioc nio Eu falo pra voc eu trabalho na minha propriedade eu tenho dez alqueires Mas parece que eu sou um diarista Voc sabe o que que um diarista Voc vende a sua mercadoria N o que eu vou l vender que eu digo quanto vai ser Eu preciso perguntar o senhor quer me comprar Quanto que o senhor paga Eu pago tanto E n o d Voc v que barato n o d Mas ele diz se voc n o quer vender nesse pre o tem outro que vende Ent o voc faz o neg cio tudo da maneira deles Voc planta voc colhe voc trabalha e na hora de vender voc fica na m o deles A gente t vivendo desse jeito T encolhendo a gente t encolhendo Com essa propriedade eu n o consigo arrumar a minha casa Eu n o tenho for a nem garantia pra que eu possa arrumar a casa Por isso eu digo esses dez alqueires s o meu mas eu n o passo de um diarista n o me sobra um dinheiro Voc s se sentem livres no trabalho de voc s aqui no s tio Marido A gente trabalha a vontade sim Mas n o satisfeito Esposa Na verdade voc n o livre Voc acaba sendo pressionado porque voc tem suas mercadorias pra vender Voc n o fica despreocupado eu vou vender a minha laranja a minha manga meu lim o eu vou poder deitar sossegado e dormir Na verd
245. camente deslocadas para o pomar garantindo condi es m nimas de sua reprodu o Algo 163 inconceb vel na gest o do empreendimento capitalista t pico a fus o entre unidade produtiva e unidade familiar no pequeno empreendimento citr cola justamente o que torna vi vel sua continuidade no contexto de elevada explora o a que s o submetidos pelas agroind strias Assim o ilustram tr s trechos de entrevistas O senhor costuma fazer a conta dos custos de produ o no s tio Marido Eu n o fa o Porque n o adianta nada eu fazer Eu n o tenho com quem brigar falar olha eu gastei tanto e eu precisaria de tanto pra eu sobreviver pr mim ganhar alguma coisinha N o tem aonde eu ir atr s disso Eu s vou te falar pra voc Eu s analiso a minha conta banc ria Abaixou Empatou Olha eu passo o veneno se eu for fazer direitinho a conta de quanto sai por bomba n o d eu vou parar Esposa Eu vou te falar uma coisa ele j fez uma conta Mas ele n o coloca o servi o dele e o trator A despesa do trator e o servi o dele n o nada Ele conta o que ele gastou e o que ele ganhou Eu falo pra ele e seu trabalho e o trator Ent o ele trabalha o ano inteiro de gra a Marido Eu tenho manga e laranja aqui no s tio Eu ganhei quinze mil real na manga Mas eu preciso gastar pra preparar ela Os quinze mil que eu fiz dela eu paguei as despesa l e j comecei a gastar outra vez eu j n
246. cedores migrantes e do lugar com e sem registro em carteira etc Investigaremos em especial as ambigi idades que marcam o discurso de tais trabalhadores a respeito da luta por direitos trabalhistas e a respeito da luta por terra no cintur o citr cola paulista No quinto cap tulo apresentaremos o modo como a contradi o entre o capital agroindustrial citr cola e os assalariados industriais aparece consci ncia destes Mais uma vez atrav s da sele o e an lise de trechos de entrevistas com membros desta fra o da classe trabalhadora ser analisada a multiplicidade de contextos em que se inserem 17 transportadores de laranjas da lavoura ind stria trabalhadores terceirizados no ch o da f brica ajudantes de servi os gerais e operadores de m quinas contratados por tempo determinado ou indeterminado etc Investigaremos em especial sua leitura a respeito da reestrutura o produtiva e dos fechamentos de f bricas que v m marcando o complexo citr cola paulista Para a elabora o destes tr s cap tulos finais foram realizadas ao longo das safras 2011 2012 e 2012 2013 30 entrevistas semi estruturadas com pequenos citricultores familiares 35 com assalariados rurais citr colas e 30 com assalariados das ind strias de suco de laranja A sele o e an lise dos trechos destas entrevistas foram realizadas a partir de instrumentos de pesquisa qualitativa buscando salientar aspectos que usualmente passam desapercebidos a
247. ceria eu digo pra sobreviv ncia n o pra ficar milion rio mas o sujeito precisa sobreviver na propriedade Porque n o adianta eu te matar voc voc tem que viver pra me dar lucro pra mim Voc sabe aquela hist ria de que mataram a galinha que botava ovos de ouro A galinha botava ovo de ouro acharam que a galinha inteira era de ouro e mataram ela Ent o eu acho que tem que ter parceria A ind stria tem que repassar o lucro tem que oferecer uma assist ncia t cnica uma tecnologia n Ela tem que chegar e explicar pra voc a laranja ta dez real porque n s tamo com esse problema assim Dar satisfa o A satisfa o vale muito mais que tudo Porque que eu to pagando dez real Eu perguntaria pras ind strias o seguinte por que t nesse patamar Qual o problema que ta tendo Voc s n o t o vendo que o produtor n o tem condi es de sobreviver com esse pre o Eles ia explicar pra mim o motivo porque ta pagando s isso n A eu concordaria bom se esse ano ta em crise temo que agi entar n Mas j faz mais de dez anos de crise Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 179 A Associtrus Associa o brasileira de citricultores mais uma media o composta pelos pr prios produtores rurais com relev ncia na organiza o do setor Constitu da em 1974 mostrou grande potencial organizativo e representativo em compara o com a pouco gil estrutura sindical vinculada Faesp na condu o das tens
248. co eteit ss duastssenaca do senda so sntebedsass 307 Bibliografia csssrsasieiriciandelrisdo ben sniaol Eliana to cennce seo ni nel o rois snoei Detuia do apa bucha seses dna hada 313 12 Apresenta o O concreto concreto porque sintese de m ltiplas determina es Marx 1859 O objetivo deste texto investigar as diferentes fra es da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial no complexo citr cola paulista pequenos produtores familiares de laranjas assalariados rurais e assalariados industriais Propomo nos analisar as continuidades e descontinuidades sociais e pol ticas existentes entre estas diferentes fra es com o prop sito de apreender a classe trabalhadora que comp e este complexo enquanto uma totalidade concreta O atual contexto pol tico de fragmenta o dos trabalhadores reflete se na tend ncia entre a intelectualidade que se prop e cr tica ao assim chamado agroneg cio de unilateralizar determinadas contradi es da ordem do capital no campo em detrimento de todas as demais Atualmente com raras exce es investiga es acerca da espolia o de terras de diferentes popula es realizada pelo capital pouco ou nada dizem a respeito da explora o do trabalho no campo brasileiro Investiga es acerca das condi es de vida e trabalho da pequena produ o familiar n o avan am na an lise da m o de obra assalariada rural e agroindustrial Investiga es acerca das contra
249. constitui como matriz das forma es sociais S o prolet rios camponeses mas existem tamb m como individualidades como mulheres e homens como Joana Pedro e Jos como Gramsci amava afirmar Precisamos mais que nunca tematizar os subalternos e as periferias vale dizer a hist ria vivida desafio que poucas vezes foi trabalhado corretamente Na imensa bibliografia j produzida aparece um fosso aparentemente intranspon vel entre a classe e os seres que a constituem Iremos trabalhar a id ia de que atrav s do modo de vida que se passa das macro determina es do modo de produ o s micro rela es entre os indiv duos se n o realizarmos essa an lise a um tempo micro e macro sob o pretexto de uma an lise cient fica o que desaparece a hist ria como laborat rio da luta e da teoria Quando falamos modo de vida estamos nos referindo s formas de produzir e de consumir bens valores formas de pensar Em todas as esferas do real as classes trabalhadoras s o educadas pelo capital e por tradi es que s o apropriadas e reinscritas pelo capital Da fam lia ao trabalho passando pela escola o trabalhador explorado e oprimido formado como elemento da ordem do capital Dias 2012 p 13 grifos do autor s organiza es sindicais e pol ticas atuantes no complexo agroindustrial citr cola assim como em todos os demais cabe o desafio de sintetizar os apontamentos cr ticos presentes no discurso e no coti
250. cros e socializa o dentre os 102 A 4 e 4 Estes processos fizeram com que os indicadores de concentra o na ind stria de suco que haviam ca do com a entrada e crescimento de novas empresas no setor ao longo da d cada de 1990 aumentassem significativamente nos anos 2000 De fato o grau de concentra o do setor nas m os das duas maiores empresas havia ca do de 61 5 em 1990 para 45 6 em 2000 mas retornou ao patamar de 61 j em 2004 No mesmo sentido o grau de concentra o do setor nas m os das quatro maiores empresas havia ca do de 86 8 em 1990 para 73 em 2000 mas retornou ao patamar de 89 6 tamb m em 2004 Amaro 2004 296 trabalhadores dos custos do prevalecimento de grandes empresas do agroneg cio em condi es adversas de mercado No que diz respeito venda das f bricas da Cargill para Cutrale e Citrosuco a empresa americana determinou em contrato que as empresas brasileiras deveriam fornecer lhe suco concentrado congelado pelo per odo de cinco anos visando garantir a distribui o do produto para seus clientes no mercado europeu Ao final deste per odo em fevereiro de 2009 a Citrosuco anunciou o fechamento da f brica rec m comprada em Bebedouro e a demiss o de 208 de seus funcion rios locais O depoimento abaixo de um ex operador desta f brica nos oferece detalhes do modo como a empresa tomou esta decis o e do modo particularmente agressivo como a transmitiu aos trabalhadores
251. cultural e economicamente da unidade de produ o familiar e orbitam em escala crescente em torno das cidades seja em seu local de origem ou no estado de S o Paulo comum que estes trabalhadores mesclem ocupa es rurais e urbanas permane am por tempo mais longo em cidades do interior paulista ou mesmo nelas se instalem com seus familiares Assumem com isso um modo de vida e trabalho cada vez menos enraizado na pequena propriedade ou posse familiar e cada vez mais pr ximo aos demais assalariados plenamente expropriados Neste cen rio o sal rio deixa de ser um recurso peri dico complementar investido na unidade produtiva dom stica e converte se no principal meio de reprodu o da for a de trabalho familiar Paralelamente o interesse pelo acesso terra perde espa o e assume centralidade o interesse pelo registro em carteira e pelos direitos sociais e trabalhistas da decorrentes O seguinte trecho de entrevista com um colhedor sergipano hoje morador da cidade de Monte Azul Paulista assim o ilustra Eu moro aqui mas sou natural de Nossa Senhora Aparecida em Sergipe L a gente trabalhava no s tio da gente mesmo apesar que a gente cultiva n o muita coisa que o valor pouco A cultura l diferente da daqui mais o milho o feij o a mandioca a pastagem pra cria o de gado No s tio a gente faz o tanto de se manter se deu um ano de boa safra e sobrou uma boa parte s vezes acaba at vendendo mas quando
252. da quest o agr ria no Brasil Revista Brasiliense S o Paulo set out 1962 4 revolu o brasileira S o Paulo Editora Brasiliense 1966 RIBEIRO Marco Val rio 4 citricultura caminha para a necessidade de mecanizar o sistema de colheita Revista Ci ncia e Pr tica ano 11 n 40 jan fev mar 2011 322 RODRIGUES Vera L cia Organiza es empresariais por produto os casos da cana de a car e da laranja em S o Paulo Tese de doutorado Faculdade de Filosofia Ci ncias e Letras da Universidade de S o Paulo 1995 ROMEIRO Vanda Marques Gest o da pequena unidade de produ o familiar de citros uma an lise dos fatores influentes no sucesso do empreendimento do ponto de vista do produtor de Bebedouro SP Disserta o de mestrado Centro de Ci ncias Exatas e Tecnologia Departamento de Engenharia de Produ o Universidade de S o Carlos 2002 ROSSINI Rosa Ester Geografia e G nero a mulher como for a de trabalho no campo Informa es Econ micas S o Paulo v 23 supl 1 1993 R DIGER Doroth e Da Gambiarra conex o em rede problemas te ricos jur dicos do cons rcio de empregadores rurais como empregador nico in GIORDANI Francisco MARTINS Melch ades e VIDOTTI T rcio coords Direito do trabalho rural S o Paulo Editora LTr 2005 SAMPAIO Pl nio Capital estrangeiro e agricultura no Brasil Petr polis Editora Vozes 1980 SANT ANNA Renato Henry Flexibiliza o no direito
253. dam em sua especificidade trabalhadores com e sem registro em carteira com maior ou menor internaliza o do discurso patronal de fora mineiros baianos sergipanos maranhenses ou do lugar homens e mulheres etc Enriquece se a partir desta contribui o conceitual a concep o ampla e d ctil de proletariza o que tentaremos ter por guia em nossa pesquisa e exposi o emp ricas Mecaniza o na lavoura automa o no ch o de f brica e os desafios da luta de classes Em paralelo s mencionadas transforma es nas media es pol ticas jur dicas e ideol gicas de controle sobre a for a de trabalho entre os anos 1990 e 2000 ocorreu uma nova onda de articula o conservadora entre ind stria e agricultura no campo brasileiro que manteve alguns dos tra os fundamentais j descritos anteriormente e introduziu novos dilemas luta dos trabalhadores Para melhor compreender tal processo procuraremos expor momentos b sicos de sua din mica para em seguida apresentar as transforma es da decorrentes na morfologia da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial 65 Os anos 1990 foram marcados por uma crise no campo brasileiro em geral e em muitos de seus principais complexos agroindustriais em espec fico Os efeitos conjugados do desmanche dos instrumentos de pol tica agr cola garantia de pre os m nimos estoques reguladores cr dito agropecu rio etc a significativa queda dos recursos p
254. das agroind strias citr colas Em grau maior de concretude ser o recuperadas determina es sociais e pol ticas destas fra es de classe j expostas no primeiro cap tulo enriquecendo o instrumental conceitual a partir do qual realizaremos nossa an lise do material emp rico No terceiro cap tulo apresentaremos o modo como a contradi o entre o capital agroindustrial citr cola e os pequenos produtores familiares de laranjas aparece consci ncia destes Atrav s da sele o e an lise de trechos entrevistas com membros desta fra o da classe trabalhadora ser o expostas as tend ncias e contra tend ncias que sobre eles se imp em de maneira a compor um quadro multifacetado de sua situa o econ mica pol tica e ideol gica Com base nos instrumentos conceituais apresentados anteriormente pretendemos demonstrar que a resultante de tais tend ncias e contra tend ncias um processo acentuado de exclus o e proletariza o da pequena produ o familiar citr cola No quarto cap tulo apresentaremos o modo como a contradi o entre o capital agroindustrial citr cola e os assalariados rurais aparece consci ncia destes Atrav s da sele o e an lise de trechos de entrevistas com membros desta fra o da classe trabalhadora ser analisada a multiplicidade de v nculos empregat cios e de contextos em que se inserem colhedores e operadores de m quinas agr colas assalariados de pomares das agroind strias e de seus forne
255. de S o Paulo Alves 1991 Em segundo lugar a nova federa o prop s se assumir uma pr tica relativamente mais combativa em rela o ao poder p blico e ao capital confrontando o imobilismo e o atrelamento ao aparelho do Estado que marcavam a estrutura sindical de trabalhadores rurais no campo brasileiro e paulista Coletti 1998 No interior do complexo citr cola em particular ao longo dos anos 1990 a Fetaesp perdeu a maior parte de sua inser o e representatividade Isso ocorreu em um primeiro momento devido atua o da federa o advers ria em meio mobiliza o dos colhedores de laranjas que marcou a primeira metade desta d cada Como j apontamos a greve de 1993 foi dirigida pela Feraesp e realizada a revelia dos sindicatos vinculados Fetaesp enquanto a greve de 1994 apenas contou com a ades o relutante da Fetaesp devido dimens o estadual da paralisa o e devido filia o de sindicatos de sua base federa o advers ria em meio s lutas Folha de S o Paulo Sindicato discute greve com f bricas de suco 03 09 1994 Em um segundo momento a prolifera o das cooperativas de m o de obra no cintur o citr cola paulista ao longo da segunda metade dos anos 1990 enfraqueceu A t tulo de exemplo pode se citar a greve na safra da cana de 1986 quando um acordo foi assinado entre a Fetaesp e os representantes patronais Faesp e usineiros no dia 25 de julho desarticulado e independente das greve
256. de colheita Como j vimos acima alguns te ricos sustentam que estas media es podem melhorar as condi es de transa o de pequenos e m dios produtores de laranjas com as agroind strias al m de fortalec los pol tica e culturalmente face os imperativos que hoje regem o complexo citr cola Ainda segundo tal interpreta o a eventual sobreposi o de pools e condom nios rurais refor ando se mutuamente potencializaria ainda mais os ganhos econ micos e dinamizaria os recursos organizativos destes segmentos mais fr geis entre os citricultores Chalita 2005 Almeida 2002 Apesar de evid ncias em favor desta hip tese a rela o dos pequenos produtores familiares com os pools e condom nios segue marcada por fortes ambig idades Em primeiro lugar comum que estes espa os reproduzam rela es de poder locais em que a inser o ou exclus o de pequenos produtores depende de rela es pessoais com figuras de maior poder econ mico e ou pol tico no setor e na regi o Al m disso tamb m comum que os organizadores de pools e condom nios atuem como administradores terceirizados com pouco ou nenhum controle de suas atividades por parte dos citricultores para quem prestam seu servi o O resultado a prolifera o de problemas judiciais no caso dos condom nios e de segredos e suspeitas no caso dos pools que por vezes refor am o processo de exclus o dos pequenos produtores familiares ao inv s de contribuir para
257. de laras fam lias sem terra realizaram a seguinte a o Motivados pela expectativa que significaria o assentamento de mais de 400 fam lias caso a Cutrale desocupasse as terras p blicas que explora ilegalmente na regi o centro oeste do Estado de S o Paulo centenas de trabalhadores e trabalhadoras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST ocuparam a Fazenda Capim no dia 28 de setembro de 2009 e por l ficaram durante dez dias Ap s a a o cerca de 35 trabalhadores da empresa foram demitidos de suas atividades por terem liga es com o Movimento Naquela ocasi o imagens de Sem Terra derrubando p s de laranja com tratores foram gravadas por um helic ptero da Pol cia Militar Segundo estat sticos da pr pria corpora o foram derrubados cerca de sete mil p s de laranja o que corresponderia a 0 7 do 1 milh o de p s de laranja existentes na fazenda Na a o os trabalhadores plantaram feij o no lugar de parte da monocultura Al m da imediata desapropria o um dos objetivos da a o ligado diretamente este era garantir uma reuni o com o superintendente do Incra para tratar da situa o jur dica da fazenda consideradas terras p blicas No entanto uma decis o da Justi a de Len is Paulista determinou que as fam lias deixassem a rea sob pena de pagamento de multa di ria de R 500 por pessoa No dia 7 de outubro de 2009 as fam lias desocuparam a rea e voltaram de caminh o ao acampamento ap s amea
258. de n o poder atrasar produ o com vidas na m o A responsabilidade pesou na verdade Com o tempo acaba acostumando mas quando voc fala a partir de hoje eu sou respons vel c sente o peso nas costas Eletricista Mat o 07 2012 100 r DO yfc g E Por esse motivo como j destacado atividades que haviam sido em determinado momento terceirizadas foram posteriormente atribu das a safristas no interior das agroind strias citr colas Um diretor sindical assim descreve este processo Eles tentaram terceirizar mas n o deu certo a diferen a da terceiriza o brasileira pra terceiriza o de qualquer outro pa s n Eles querem a terceiriza o aqui pra baratear o custo S que o Brasil n o tem empresa preparada pra isso ela quer tomar muito do trabalhador ela paga uma mixaria pro cara Quando terceirizou o trabalhador n o tinha motiva o al m de ganhar pouco e fazer muito os pr prios efetivos da empresa sobrecarregavam estes terceiros eles eram normalmente os ajudantes Eles n o eram contratados da empresa eram funcion rios de outra empresa que n o tratava eles de forma correta n o tinham sindicato pra defender eles porque esses caras compram sindicato compram tudo Eles trabalhavam desmotivados por isso eles sabiam que n o podiam visar nada na empresa porque no final de safra no final de contrato rua E a empresa come ou a perder qualidade no trabalho Ent o hoje eles trabalham com safristas O qu
259. de pagar muito n Porque eles v m colher a laranja se a gente paga muito pra eles a gente ganha menos Mas complicado porque tamb m no meio daqueles bons tem os ruins Como aqui uma regi o que tem bastante emprego na cidade o que que vai pra ro a Vai pra ro a aqueles que j n o serve pra trabalhar na cidade n N o tem um certo di logo ent o vai pra ro a pra colher laranja um servi o mais bruto Tamb m vem muitas pessoas do norte da regi o l da Bahia Pernambuco pra colher laranja Tamb m meio dif cil porque qualquer coisa que aconte a tamb m eles v o l no sindicato Ent o tem que procurar sempre trazer pessoas registradas mesmo que eles falam que registrado tem que confirmar hoje o registro na carteira dele porque se acontecer alguma coisa vai vir em cima do produtor o produtor vai ter que pagar tudo Mas a vida do colhedor t triste porque ele tamb m ganha pouco n Tamb m n o ganha muito ele ganha pouco tamb m Se tivesse f cil poderia ta at eu colhendo laranja se tivesse ganhando bem Mas n o f cil n o complicado Filho de citricultor familiar Ibitinga 07 2011 7e tamb m bastante significativo o discurso deste filho de pequeno citricultor acerca do trabalho realizado por seu pai Quando eu n o sou empregado l Ina empresa eu sou empregado aqui na ro a Porque o meu pai ainda como se fosse dizer meu pai ainda empregado da ind stria n
260. de que era necess rio explorar a componente intelectual do trabalho e de que era necess rio fragmentar ou mesmo dispersar os trabalhadores Os capitalistas conseguiram assim ultrapassar os bloqueios sociais que haviam dado origem crise de 1974 e puderam encetar um novo per odo de acumula o acelerada do capital obrigando a classe trabalhadora a lutar em um terreno novo para o qual ela est muito longe ainda de ter encontrado as formas de contesta o adequadas Bernardo 2004 p 80 A partir das d cadas de 1980 e 1990 tais transforma es foram aplicadas com particularidades ao Brasil como resposta aos desafios econ micos e pol ticos ali enfrentados pelo capital Neste quadro as demiss es massivas no setor industrial agravaram o contexto brasileiro de taxas de desemprego e subemprego consideravelmente mais altas que nos pa ses centrais as terceiriza es multiplicaram rela es empregat cias prec rias alimentando se da estruturalmente deficiente cobertura de direitos sociais e trabalhistas no Brasil a automa o e as novas organiza es da m o de obra no ch o de f brica estabeleceram se desigual e combinadamente perman ncia de setores com muito 153 menor grau de incorpora o de inova es tecnol gicas e administrativas Como resultado as contradi es impostas pelo capital sobre o trabalho industrial assumiram no Brasil ainda mais que no resto do globo ritmos defasados e formas m ltiplas dando origem a u
261. dem do capital no campo brasileiro Em primeiro lugar paralelamente ao avan o de culturas com alto grau de moderniza o t cnica produtiva segue havendo terras com baix ssima produtividade e investimentos fundi rios com car ter estritamente especulativo Permanece portanto o 2 Dois ter os dos 18 do bioma amaz nico j desmatados foram transformados em pasto hoje ocupados por uma pecu ria de baixa produtividade o que mostra mapeamento do uso das terras abertas na Amaz nia realizado em parceria pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Inpe e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu ria Embrapa com apoio do Minist rio do Meio Ambiente As an lises foram feitas com base em dados reunidos at 2008 e mostram como est sendo usada a terra ap s a derrubada da floresta uma rea de 720 mil km desmatados do tamanho do Uruguai Desse total 62 1 foram transformados em pastagem dos quais 46 7 s o pasto limpo com capim plantado 8 7 de pasto sujo onde o capim divide espa o com uma vegeta o arbustiva 6 7 de rea de pasto em regenera o onde h predom nio de vegeta o arbustiva sobre o capim e 0 1 de pasto com solo exposto Esse quadro confirma a exist ncia de uma pecu ria extensiva de baixa produtividade com menos de uma cabe a de gado por hectare Por outro lado o mapeamento revela que a produ o agr cola ocupa menos de 5 da rea total desmatada na Amaz nia Ag ncia Senado Est
262. der mais A coisa inverteu O pre o tava muito ruim no come o a depois ele melhorou um pouco Ent o foi aonde que eu inverti de novo Vendi o caminh o investi o dinheiro do caminh o no come o da minha irriga o dos meus p s de laranja Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 H por outro lado diversas situa es em que o assalariamento transforma radicalmente o modo de vida e trabalho da fam lia no interior da pequena propriedade citr cola Para gera es mais novas em especial a tens o entre a subjetividade rural familiar e a subjetividade assalariada parece mover se crescentemente em dire o ao segundo p lo A mudan a do s tio para a cidade parece ser um momento crucial nesta trajet ria a vida urbana indica que econ mica social e culturalmente o s tio perdeu a centralidade que antes possu a A extens o deste fen meno pode ser observada pelo fato de que segundo pesquisa realizada pela Ufscar em 2003 cerca de 40 dos pequenos citricultores da regi o de Ribeir o Preto residiam fora de sua propriedade Paulillo Almeida e Vieira 2006a p 31 Os dois trechos de entrevistas a seguir s o com pequenos citricultores que nasceram em seus s tios e neles ainda trabalham mesmo depois de terem se mudado para a cidade e l se assalariarem Eles assim ilustram a mencionada tens o e o modo como buscam resolv la em suas vidas Eu mesmo fa o os trabalho l no s tio Numa quantidade de terra que nem eu tenho
263. derri ar a fruta n o abrir as mangueiras de irrigamento n o quebrar galho cuidado com escada de ferro debaixo de rede el trica eles p e tudo isso no livro Se eles passar e ver qualquer um desses erro o que eles fiscalizam Ele vai chegar no empreiteiro e vai falar no tal eito assim e assim o trabalhador tava fazendo uma coisa l A o empreiteiro vai chegar e vai te dar um advert ncia Chegando na portaria c vai ter que assinar aquela advert ncia A primeira um aviso na terceira ele pode te mandar embora sem querer te dar nada As advert ncia que eles d o por falta muito atestado m dico pouca produ o Por exemplo se voc n o atingir uma meta de produ o que eles exige eles t m que repor o teu sal rio Porque trabalhador nenhum pode ganhar abaixo do sal rio m nimo a lei n o permite Enquanto ele segurar voc no trabalho eles s o obrigado naquela quinzena sua a repor o seu sal rio se voc atingiu abaixo da meta Mas se continuar eles v o te dar uma advert ncia e te mandar embora igual na cana se voc n o atingir um total de metro c n o serve pra usina eles manda voc embora J com atestado o seguinte voc pode mandar uns seis sete atestado numa safra At seis atestado a firma suporta permitido Mas eles n o gosta de trabalhador que fica mandando atestado direto que fica mais em casa do que trabalha Se voc um mau produtor um mau colhedor tem baixa produ o s
264. descontaram caixa a mais descontaram 6 Se eu ligar l v o me falar Ent o voc n o leu o contrato Como que eu vou ler o contrato se voc n o me entregou caralho Porque ningu m ficou com c pia do contrato quem vende pra essa ind stria ela n o entregou segunda via pra n s J faz cinco anos que ela n o entrega Voc sabe o que falava o meu av Por causa do toicinho voc tem que beijar o c do boi Se eu querer exigir muito o cara vai falar esse cara pequeno ainda vem me encher o saco O cara manda eu tomar no c e me larga sem comprar laranja Porque ela sabe que voc ta sujeito a ela porque a tua laranja s pra ind stria Ent o ela faz de voc o que ela quer Entendeu N o tem concorrente se eu n o vender pra ela vou chegar na outra eu tamb m n o vou vender Porque ningu m entra no outro Ent o voc t sujeito E por causa do toicinho voc tem que beijar o c do boi nojento mas voc precisa do toicinho Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 170 Complementar a estas tens es referentes media o contratual da compra e venda de laranjas h tamb m uma rela o complexa com os representantes locais da ind stria respons veis pela negocia o comercial ou pela fiscaliza o do grau de matura o das frutas Por um lado o contato que se estabelece entre o produtor familiar e estes representantes assume frequentemente car ter de amizade pessoal Trat
265. determinadas condutas faixas diferenciadas de remunera o para colhedores que ultrapassem metas de produ o advert ncias para colhedores que faltem excessivamente ou tragam muitos atestados m dicos demiss o e bloqueio a novas contrata es de colhedores considerados particularmente reivindicativos etc Com estes instrumentos a empresa busca reduzir a auto imagem destes assalariados rurais manuais a corpos para o trabalho identificando indiv duos cujo organismo n o seja capaz de despender for a de trabalho em escala considerada conveniente pelo empregador a 229 corpos doentes ou vadios A seguinte cita o ilustrativa a esse respeito por um lado o colhedor em quest o capaz de apontar diversos mecanismos de domina o que lhe s o impostos nos pomares das agroind strias por outro ele incorpora por vezes tra os do discurso da pr pria empresa ao caracterizar o que seriam por exemplo o mau colhedor ou o trabalhador briguento Quem fica de olho l no eito que fica no dia a dia com a gente o empreiteiro Mas tem tamb m o corredor de campo que faz parte l da Cutrale o motoqueiro Ele passa fiscalizando pra ver se voc ta rasgando um bag deles por conta pr pria se voc ta brigando no meio da ro a com seu parceiro se voc ta quebrando um galho dos p de laranja Geralmente eles d o um livro logo que a gente come a a safra Um livro explicativo com desenho com tudo n o pode
266. di es impostas pelo capital aos assalariados rurais manuais pouco acrescentam a respeito de operadores de m quinas agr colas ou transportadores Investiga es acerca dos assalariados da lavoura abst m se via de regra das contradi es impostas aos assalariados do ch o de f brica nas agroind strias Ironicamente a integra o destes fen menos tem sido hoje investigada preferencialmente pela intelectualidade a servi o do pr prio capital e ou da administra o estatal Ainda que de maneira apolog tica a produ o te rica pol tica mais pr xima ao capital agroindustrial tem tido atualmente maior sucesso em apresentar uma vis o de conjunto acerca do campo brasileiro desde a produ o de m quinas e insumos agr colas at o beneficiamento agroindustrial e comercializa o desde o planejamento de utiliza o do territ rio at a elabora o de media es de controle sobre a for a de trabalho De fato 13 na medida em que dirigem a sociedade a partir de uma estrutura organizativa e de um projeto pol tico e ideol gico minimamente un vocos e coerentes as classes dominantes n o podem estilha ar sua pr pria leitura do mundo em uma mir ade de fragmentos fragilmente inter conectados Tudo se passa portanto como se tamb m no plano te rico se estabelecesse uma correla o de for as favor vel ao capital agroindustrial e desfavor vel s classes trabalhadoras e subalternas Enquanto as cr ticas ordem no camp
267. dia es entre os escal es superiores da fazenda e o pomar visando individualizar e conter suas eventuais queixas As duas seguintes cita es de diferentes assalariados rurais permanentes nos pomares das ind strias processadoras de suco nos mostram o modo como esta hierarquia neutraliza por exemplo cr ticas dos trabalhadores referentes extens o de sua jornada de trabalho A primeira delas corresponde a um trecho de entrevista com um operador de m quinas contratado por uma empresa terceirizada para carregar as laranjas colhidas a segunda delas corresponde a um trecho de entrevista com um ex inspetor de pragas contratado diretamente pela agroind stria Eu sou operador de m quina eu trabalho com a 660 Massey Ferguson a m quina que carrega as laranja O que a turma colhe eu que tiro e carrego nos caminh o Rapaz eu vou falar a verdade pra voc a vida l n o t boa n o A gente entra s sete hora da manh n s trabalha at nove hora da noite todo o dia Ontem mesmo s bado n s trabalhou at oito hora da noite Nas outras firmas t m hor rio pra trabalhar c chega sete hora c tem uma hora de almo o quatro horas c vai embora d oito horas trabalhado L n o Pode ser assim pros tratorista mas pra gente n o A turma que colhe vai embora e n s continua l enquanto n s n o limpar n s n o vai embora at oito nove da noite O operador de m quina que colhe pra usina em tudo quanto firma
268. dia lim o pra ind stria quando tr s anos atr s Cinco real a caixinha nossa ruim Mas hoje nem isso n o vai Hoje um real e quarenta D pra trabalhar por isso que eu te falo Por isso que o pessoal vai fazer loucura no banco Com a manga a ind stria t propondo um neg cio de 18 centavos a caixa Eles d tr s centavos pro produtor pra adiantar o frete agora em janeiro Quinze centavos ele vai pagar em agosto Por isso que eu digo em todas as culturas o pequeno produtor t na m o da ind stria do barrac o At mesmo a mandioca Um tempo atr s os pequeno produtor tava plantando mandioca um alqueire dois A a mandioca virou um excelente neg cio dez reais doze uma caixa de mandioca N o tinha coisa que dava mais dinheiro do que mandioca s plantar n o pulveriza pouqu ssima a despesa da mandioca Que que o grande produtor fez Ele plantou trinta alqueire cinquenta alqueire de mandioca E a O pequeno n o conseguiu mais O pre o foi l em baixo dois tr s reais depois ningu m queria comprar Porque o mercado n o d conta O grande muito ganacioso ele n o pode ver o pequeno ganhar S ele quer ganhar em todas as culturas Citricultores familiares Taquaritinga 01 2012 188 Uma segunda estrat gia de pequenos produtores de laranjas para recuperar parte de sua autonomia o direcionamento de sua produ o para o mercado de fruta fresca Os barrac es em tese pagam um pre
269. diano de todas as fra es da classe trabalhadora com vistas constru o de uma nova correla o de for as que reverta a deteriora o das condi es de vida e trabalho de pequenos citricultores familiares assalariados rurais e assalariados industriais Por um lado esta perspectiva refreada pelas antinomias que recortam econ mica pol tica e ideologicamente estas diferentes fra es da classe trabalhadora entre pequenos produtores e assalariados entre aqueles que lutam por terra e aqueles que lutam por sal rio e por direitos sociais e trabalhistas entre aqueles que realizam trabalhos manuais e aqueles que operam m quinas entre aqueles que trabalham na industria e aqueles que trabalham na lavoura etc Buscamos destacar ao longo do texto que determinadas organiza es sindicais e pol ticas atuantes no complexo citr cola cristalizam e reproduzem tais antinomias seja em suas interpreta es a respeito do campo brasileiro seja em sua estrutura burocr tica corporativa enfraquecendo seu potencial de mobiliza o 311 e enfrentamento contra o capital agroindustrial Por outro lado a perspectiva de constru o de um projeto que unifique minimamente os interesses de distintas fra es da classe trabalhadora neste complexo fortalecida por determinados conflitos que exigem de associa es sindicatos e movimentos a elabora o de reivindica es e horizontes comuns em contraposi o s principais agroind strias citr cola
270. dinado ao chamado agroneg cio tanto o campesinato que se mant m enraizado ao modo de vida e de trabalho da fam lia quanto o trabalhador que n o se desvinculou plenamente dos valores camponeses ao ser subsumido ao modo de vida prolet rio e o trabalhador plenamente vinculado econ mica cultural e politicamente ao universo da produ o de mercadorias e mais valia Com vistas ao estudo concreto de cada uma destas faces do trabalho pequenos produtores familiares de laranjas colhedores com ou sem registro em carteira de fora mineiros baianos sergipanos maranhenses ou do lugar trabalhadores de ch o de f brica terceirizados ou efetivos etc analisaremos a seguir trechos de entrevistas com eles realizadas Buscaremos com isso enriquecer nossa compreens o do complexo de determina es que comp em hoje tal classe trabalhadora 155 156 Cap tulo 3 Vozes do trabalho Exclus o e proletariza o da pequena produ o familiar citr cola paulista O objetivo deste terceiro cap tulo apresentar o modo como a contradi o entre as ind strias citr colas e os pequenos produtores de laranjas aparece consci ncia destes Atrav s da sele o e an lise de trechos de entrevistas com membros desta fra o da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial buscaremos determinar as tend ncias e contra tend ncias que sobre eles se imp em e compor um quadro multifacetado de sua situa o ec
271. disse o secret rio estadual de agricultura Eduardo Salles Folha de S o Paulo Fronteira agr cola recebe R 50 bilh es 30 10 2011 80 exige que se a apreenda enquanto um complexo de continuidades e descontinuidades uma totalidade viva e heterog nea portadora de um conjunto articulado e multifacetado de contradi es com o capital Nesta pesquisa buscaremos contribuir com este esfor o te rico a partir da an lise de tr s segmentos da classe trabalhadora submetidos de formas distintas ao capital agroindustrial citr cola pequenos produtores de mat rias primas s ind strias processadoras assalariados rurais e assalariados do ch o de f brica Ainda que restrito ao processo de explora o domina o a que cada um destes segmentos est submetido buscaremos nos cap tulos dedicados a eles destacar seus v nculos din micos com os demais assim como suas especificidades Teremos como objetivo compor ao final do texto um retrato uno em sua diversidade ou m ltiplo em sua unidade da classe trabalhadora investigada A seguinte s ntese de Thomaz Jr expressa claramente o esfor o te rico a que buscamos nos incorporar pois para a totalidade viva do trabalho que estamos direcionando nossas aten es Seja campon s seja oper rio trata se de diferentes formas de express o do labor humano da plasticidade laborativa e profissional encimada nas m ltiplas determina es das rela es de trabalho e de produ o E
272. do Universidade Estadual de Campinas Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas 1 Agroind stria 2 Reforma agr ria 3 Trabalhadores rurais 4 Conflito social 5 Rela es trabalhistas Dias Edmundo Fernandes 1963 Il Universidade Estadual de Campinas Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas WLT tulo Informa o para Biblioteca Digital T tulo em Ingl s Agribusiness and class struggle different forms of labor subordination to capital within the citric agroindustrial complex of S o Paulo Palavras chave em ingl s Agribusiness Agrarian reform Agricultural workers Class conflict Labor relations rea de concentra o Sociologia Titula o Mestre em Sociologia Banca examinadora Edmundo Fernandes Dias Orientador Ant nio Thomaz J nior Francisco Jos da Costa Alves Data da defesa 12 04 2013 Programa de P s Gradua o Sociologia LUIZ FELIPE FERRARI CERQUEIRA DE FARIAS AGRONEG CIO E LUTA DE CLASSES DIFERENTES FORMAS DE SUBORDINA O DO TRABALHO AO CAPITAL NO COMPLEXO AGROINDUSTRIAL CITR COLA PAULISTA Este exemplar corresponde reda o final da Disserta o de Mestrado em Sociologia defendida e aprovada pela Comiss o Julgadora em 12 04 2013 BANCA EXAMINADORA TITULARES Prof Dr Silvia G sar Camargo Presidente DS IFCH Unicamp SUPLENTES Profa Dra Maria Orlanda Pinassi Unesp Araraquara Prof Dr Ricardo Antunes IFCH Unicamp Abr
273. do Jos Luis Cutrale s cio propriet rio da Cutrale no in cio da d cada de 90 Ele chamou as ind strias do setor para fazer uma composi o com o objetivo de comprar a laranja por um pre o mais acess vel para a ind stria Era um neg cio cruel FOLHA Qual era o objetivo TOFINI Era jogar todo o nus poss vel do neg cio para o agricultor permitir a compra da mat ria prima em condi es que o cartel determinasse O problema foi t o s rio que matou a citricultura paulista FOLHA Quem participava das reuni es para tratar do cartel TOFINI S os donos das empresas ou os executivos mais importantes os seniores FOLHA Onde eram as reuni es TOFINI Na Abecitrus que era a associa o do setor e comandada por Ademerval Garcia A capacidade de moagem dessas ind strias era tr s a quatro vezes maior do que a capacidade da safra brasileira A Citrosuco sozinha era capaz de moer um ter o da safra brasileira de 300 milh es de caixas por ano Era e ainda um neg cio gigante de bilh es de d lares FOLHA Como foi feito o acerto TOFINI N s nos reun amos todas as quartas feiras e a decidi amos quem ia comprar de quem de qual produtor Cada ind stria tinha o seu quintal Dividimos o Estado de S o Paulo em v rios quintais e ningu m podia se meter no quintal do outro O quintal da Cutrale era praticamente todo o Estado A Citrovita ficava mais com a regi o de Mat o N s com a regi o de Limeira O meu quintal tinha ce
274. do modo de produ o especificamente capitalista na agricultura Na verdade a recria o desses novos camponeses n o a reprodu o de produtores mercantis independentes mas sim a reprodu o do pr prio capital Vale dizer essa recria o se d com a crescente perda da autonomia anterior do campesinato no pr prio processo de produ o que passa a ser agora prescrito inclusive do ponto de vista t cnico pelo capital que o subordina e que se lhe apresenta como uma rela o social hegem nica Agora a condi o de sobreviv ncia do campon s como produtor direto a reprodu o do pr prio capital materializado na forma de m quinas adubos sementes melhoradas etc Graziano 1980 p 134 A base conceitual rapidamente apresentada nesta primeira parte do cap tulo guiou nos desde a apresenta o do car ter desigual e combinado da integra o t cnica entre ind stria e agricultura na ditadura brasileira a uma concep o ampliada da proletariza o a que foi submetida a classe trabalhadora rural no per odo posterior a 1964 No que diz respeito a este ltimo aspecto em particular buscamos em nossa exposi o indicar continuidades e descontinuidades existentes entre diferentes segmentos de trabalhadores rurais submetidos a distintos mecanismos de domina o e extra o de trabalho excedente trabalhadores volantes pequenos propriet rios migrantes pequenos produtores de mat rias primas s agroind strias podem t
275. do movimento organizado assumiu uma posi o e veio nos impor uma condi o Tamb m por isso nossa rela o de tapas e beijos Uma diverg ncia que n s tivemos por exemplo foi com a cria o dos condom nios uma arte do Minist rio P blico e do setor patronal pra resolver o problema de contrata o de m o de obra na laranja A Feraesp n o apoiou porque j sabia que ia sair coopergato para entrar gatom nio Ent o essas solu es de cima pra baixo quase sempre n o ajudam os trabalhadores Essa a principal rea de atrito nossa com o Minist rio P blico Eles t m um papel importante reconhecemos que necess rio o fortalecimento do Minist rio P blico enquanto uma institui o de defesa dos trabalhadores e outros setores Mas se o povo se organizar reconhecer sua capacidade de a o saber que s o portadores de direitos com capacidade de a o em sociedade da n o precisa do Minist rio P blico Ent o a gente n o v as demandas do Minist rio P blico como nossa t bua da salva o uma quest o importante em que a gente atua juntos mas a Feraesp n o aposta nos mecanismos estatais nica e exclusivamente nossa aposta s o outros mecanismos de press o Presidente da Feraesp Araraquara 01 2012 Em sua contraposi o ao capital agroindustrial e estrutura sindical no campo brasileiro e paulista a Feraesp aponta estrategicamente desde sua funda o para a necessidade de organiza o unificada de tod
276. dos apanhadores de laranja com os motoristas de caminh es ou agenciadores de m o de obra tamb m conhecidos como gatos e dos oper rios da planta fabril conseguindo assim que todo o sistema montado para a consecu o da safra fosse minado Da os ndices de paralisa o terem alcan ado 95 o que alavancou os mecanismos de press o com a interrup o do processamento industrial passando por cima da conven o coletiva assinada pela Fetaesp Thomaz Jr 2002 p 326 Apesar do maior potencial de press o dos trabalhadores a greve dos colhedores foi encerrada no dia 16 de setembro ap s dezenove dias de paralisa o sem nenhum aumento salarial As ind strias uma vez mais ofereceram um adiantamento no valor de R 30 00 para trabalhadores que retornassem imediatamente ao trabalho Folha de S o Paulo Colhedores de laranja fazem greve por aumento de 114 em Mat o 30 08 1994 Colhedores de laranja encerram paralisa o 17 09 1994 Estas greves co determinaram as transforma es impostas a seguir na din mica da compra e venda da for a de trabalho rural na citricultura No contexto de aumento do poder das processadoras de suco sobre o complexo como um todo no in cio da d cada de 1990 o desgaste decorrente do enfrentamento direto da luta de classes com os assalariados rurais contribuiu para que as ind strias se empenhassem nas manobras pol tico jur dicas que a partir da safra seguinte 1995 96 repassaram os custo
277. e sele o manual para a retirada de frutas deterioradas e verdes e classifica o conforme seu tamanho Em seguida s o conduzidas s m quinas extratoras que esmagam as frutas separando tr s produtos diferentes suco com polpa baga o da laranja e emuls o de gua com leo e fragmentos de casca O baga o da laranja conduzido ao setor de ra o onde armazenado em silos e processado Ap s a adi o de cal ele triturado em moinhos e enviado para tanques para que a cal tenha tempo de reagir com o baga o Em seguida ele peneirado e prensado para retirar o licor do qual se extrai em evaporadores o leo d limonene armazenado em tambores para ser comercializado e utilizado principalmente como solvente industrial O restante do baga o passa por secadores e convertido em pellets de polpa c trica componentes de ra o animal A emuls o de gua com leo e fragmentos de casca de laranja passa inicialmente por um sistema de peneiramento e filtragem Os fragmentos de casca s o transportados com o baga o de laranja para o setor de ra o A solu o de gua e leo separada por centrifuga o ap s a qual a gua reutilizada no setor de extra o e o leo essencial 266 encaminhado para tanques de desceramento e enfim para tambores para ser comercializado e utilizado em diferentes segmentos da ind stria qu mica perfumaria cosm ticos etc O suco com polpa transportado ao set
278. e o social e trabalhista No atual ordenamento do complexo citr cola a equa o destas perspectivas permanece n o solucionada gerando m ltiplos posicionamentos de colhedores a respeito do registro em carteira O seguinte trecho de entrevista com uma fam lia de colhedores ilustra com precis o este quadro O filho demonstra interesse em trabalhar para os gatos mas hoje trabalha registrado para ter alguma cobertura legal trabalhista em momentos adversos o pai participou do combate s cooperativas ao lado do sindicato de empregados rurais da regi o mas hoje relat viza sua posi o devido baixa remunera o paga aos colhedores registrados Os gatos dizem que os trabalhadores preferem ficar sem registro O que voc s pensam disso filho Mas verdade S que hoje j n o t assim Voc tem uma continha meio apertada c trabalha um m s um m s e pouco sem registro pr desaperta No que desapertou c corre pro registro c registra N o quer mais ficar igual era antigamente fazia seis sete safra sem registro A maioria j n o fica mais Inclusive tem uns p de parente meu migrantes que esse ano come ou na cooperativa e t tudo l com n s registrados Sendo que eles vai embora mesmo Registrou porque n o quer ficar sem registro Eles fala l eu ganho bem na verdade mas a hora que come a a chover eu n o tenho o meu salarinho pouquinho Aqui no registro eu tenho se eu doecer pelo menos eu to seguro
279. e recupera o de seu poder colocado em xeque pela mobiliza o dos trabalhadores No complexo citr cola em espec fico tal reestrutura o envolveu o repasse mais que proporcional aos produtores de laranja do nus da queda do SLCC no mercado internacional e as metamorfoses do mercado de trabalho assalariado rural Envolveu tamb m no ch o da f brica o aumento da terceiriza o o aumento da automa o altera es na hierarquia administrativa e transforma es nos mecanismos pol ticos ideol gicos de sele o e treinamento dos oper rios Alves e Almeida assim apontam o v nculo entre a crise dos anos 1990 e as transforma es no ch o da f brica no interior do complexo citr cola J a partir da d cada de 90 a citricultura n o acompanhou as expectativas positivas das d cadas anteriores Pode se apontar as causas principais o aumento de produ o dos pomares da Fl rida queda dos pre os internacionais da commodity crescimento produtivo de na es concorrentes potenciais como Israel Espanha Marrocos M xico cria o do NAFTA Acordo Geral de Livre 140 Com rcio da Am rica do Norte com consegjiientes facilidades produ o mexicana e sobretaxa o ao nosso produto estagna o do mercado europeu A consequ ncia foi a intensifica o do processo de terceiriza o nas empresas processadoras de suco concentrado de laranja objetivando principalmente a redu o de custos estimulado pelo processo de raci
280. e a a ter problemas seri ssimos de coluna nos p s c imbras e tendinite 2 Fatores tnicos la os de parentesco e pr ticas costumeiras de terras de herdeiros sem formaliza o de partilha livre acesso aos campos naturais no golf o maranhense no cerrado nas campinaramas de regi es amaz nicas e nos campos da ilha de Maraj e in meras outras situa es de uso comum dos recursos naturais que se encontram formalmente abrigadas sob a designa o de terras tradicionalmente ocupadas s o vistas como obst culos s transa es de compra e venda de terras Terras ind genas terras de quilombos faxinais fundos de pasto reas de extrativismo das quebradeiras de coco baba u e de castanheiros segundo interesses ruralistas v m dificultando a reestrutura o formal do mercado de terras deixando imensas extens es fora dos circuitos mercantis de troca As agroestrat gias visam remover tais obst culos e incentivar as possibilidades de compra e venda ampliando as terras dispon veis aos empreendimentos vinculados aos agroneg cios Almeida 2010 p 111 70 afirma Folha de S o Paulo Cortadores de cana t m vida til de escravo em S o Paulo 29 04 07 24 Em paralelo a estas contradi es a nova onda de incorpora o do progresso t cnico agricultura nas d cadas de 1990 e 2000 co determinou uma redu o significativa das ocupa es agr colas em geral e dos empregos agr colas tempor rios em particular No qu
281. e acabar com o dos outros f cil dif cil acabar com o nosso pr prio Afinal erradicar n o solu o pra nada o fim Voc vai falar pra um paciente com c ncer pra matar ele Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 Nossa rela o com o pessoal do Fundecitrus era boa S que agora eles pararam Largaram a gente na m o Do dia pra noite disseram O Fundecitrus vai existir mas n o vai mais fazer vistoria n o vai mais fazer isso n o vai mais fazer aquilo Agora a gente que faz vistoria a gente que faz relat rio A gente procura fazer certo mas eu te garanto que 90 do pessoal p em o que quer no computador nem faz vistoria Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 Dentre as media es que organizam o complexo citr cola n o h apenas aquelas estabelecidas e dirigidas pelas agroind strias e pelo poder p blico Os citricultores possuem media es pr prias dentre as quais se destacam por seu significado cotidiano os pools de venda de laranja e os condom nios de empregadores rurais Os pools s o articula es de citricultores para a venda conjunta de caixas de laranja com vistas a aumentar o poder de barganha dos produtores agr colas face s agroind strias Os 173 condom nios por sua vez s o cons rcios formados por produtores rurais com vistas a realizar de modo unificado a contrata o formal da m o de obra utilizada nas propriedades especialmente nos momentos
282. e diz respeito agricultura paulista onde estes fen menos foram mais acentuados a popula o trabalhadora total caiu de 1 517 941 em 1990 para 1 171 495 em 1999 queda de 23 enquanto a m o de obra assalariada volante caiu de 343 758 em 1990 para 223 188 em 1999 queda de 36 Na d cada de 2000 a queda nas ocupa es agr colas no estado de S o Paulo tornou se menos acentuada a popula o trabalhadora total caiu de 1 310 441 em novembro de 2000 para 1 051 979 em novembro de 2005 queda de 20 enquanto a m o de obra assalariada volante caiu de 268 473 em novembro de 2000 para 242 859 em novembro de 2005 queda de 10 Camargo 2007 Maria Aparecida Moraes Silva assim comenta este processo destacando a rela o entre mecaniza o de novas etapas da atividades agr cola e o desemprego no interior do estado Apesar dos diferentes enfoques e preocupa es o cerne da quest o gira em torno do bin mio mecaniza o exclus o social Qual ser o destino dos milhares de migrantes sazonais que todos os anos permanecem nesta regi o durante 8 meses ou mais Qual ser o destino dos trabalhadores rurais residentes nas cidades dormit rios O desemprego manifesto por meio da exclus o de milhares de trabalhadores j vem ocorrendo desde o in cio da d cada de 1990 A presen a de pe es 2 uEm Jaboticabal a agr noma Ana Terra Reis em seu trabalho de conclus o do curso na FCAV Faculdade de Ci ncias Agr rias e Veterin
283. e anos at mais uma concep o ampliada da classe trabalhadora subordinada s agroind strias Os referenciais conceituais acionados anteriormente debru aram se em especial sobre o trabalho rural formalmente subordinado ao capital seja no que diz respeito ao trabalho de pequenos produtores familiares seja no que diz respeito ao de assalariados rurais manuais Contudo o mundo do trabalho nos empreendimentos agroindustriais brasileiros hoje apenas pode ser apreendido em sua totalidade se se levar em conta o avan o da subordina o real do trabalho ao capital tanto na lavoura quanto na ind stria de processamento das mat rias primas agr colas Da que uma leitura concreta e multideterminada da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial deva incluir operadores de m quinas agr colas e trabalhadores do ch o de f brica contribuindo assim para uma compreens o melhor articulada das contradi es dos universos rural e urbano industrial no Brasil 27 x A SA a N o se deve contudo exagerar o alcance dentro do movimento sindical desta consci ncia da necessidade estrat gica de aproxima o dos segmentos rurais e industriais dos complexos agroindustriais Trata se antes de algo restrito a determinados c rculos dirigentes como aponta Thomaz Jr Pode se afirmar que a fragmenta o dos trabalhadores em rur colas e industri rios est generalizada no mundo canavieiro e mesmo sendo alvo de preocupa o de alguns diri
284. e bens de produ o para a agricultura dinamizado ap s 1964 pela ditadura do capital sob tutela militar Sorj 1982 Sampaio 1980 30 e por m dios e grandes propriet rios rurais foi por isso obrigado a incorporar pela media o da burocracia estatal a extens o ao campo da legisla o trabalhista consubstanciada no Estatuto do Trabalhador Rural de 1963 e um projeto de convers o da estrutura agr ria latifundi ria em uma estrutura agr ria de car ter empresarial consubstanciada no Estatuto da Terra de 1964 Como veremos frente ambos tiveram um alcance restrito na supera o das prec rias condi es de vida e trabalho das classes subalternas rurais Representaram ainda assim a necessidade de transforma o das media es pol ticas jur dicas e ideol gicas da domina o no campo brasileiro o Desenvolvimento desigual e combinado da articula o industria agricultura e os m ltiplos contextos da classe trabalhadora rural Como mencionado o primeiro tra o fundamental do projeto imposto ao campo brasileiro a partir de 1964 foi a articula o conservadora entre ind stria e agricultura Para melhor compreend lo procuraremos em um primeiro momento apresentar seu desenvolvimento desigual e combinado para em seguida expor alguns tra os relevantes a nossa pesquisa das transforma es da classe trabalhadora rural decorrentes da moderniza o t cnico produtiva do campo brasileiro Deve se destacar de in cio que
285. e coer o e consenso bastante din mica sua posi o de autoridade incorpora por vezes tra os de relativa empatia face os colhedores que arregimenta Os seguintes trechos de entrevista com um turmeiro e um colhedor assim o ilustram O turmeiro tem que correr atr s deles colhedores arrumar eles pra registrar depois levar pra ro a A tem que dar as ruas l pra colher tr s p s pra cima tr s pra baixo a vai soltando cada um seu n mero Jo o n mero 1 Pedro n mero 2 Maria n mero 3 E vai ponhando um atr s do outro certinho at sair do outro lado do talh o de laranja Al m disso precisa olhar n Olhar pra n o deixar laranja pra tr s pra marcar laranja E de vez em quando precisa brigar com eles fulano j meio dia e c n o fez vinte caixa ainda hein Vamo trabalhar sen o de tarde c n o colheu as quarenta cingiienta caixa que pra colher De vez em quando c tem que d um chega neles sen o um p ra j chama o outro pra ficar falando de jogo de bola de boteco Chega final de semana vai cansando eles vai encolhendo um pouco eles n o trabalha que nem come ou na segunda Principalmente quando o sol esquenta trinta grau quarenta grau n o tem quem guenta Tem uns que fala T cansado trabalhei a semana inteira A c tem que pensar tamb m n o trabalhou a semana inteira colheu tantas caixa de laranja t cansado A gente colhia bastante laranja ent o sabe que
286. e dezoito anos assim se coloca a respeito do projeto e da empresa O Projeto Pescar pra pessoas que tem uma renda baixa em casa A Fisher forma os jovens at dezoito anos com uma profiss o como a de tratorista Eles pagam sua carta de motorista com categoria B e voc ali no curso n o paga nada um curso gratuito mesmo Eu ia entrar no mercado de trabalho sem no o nenhuma meu curr culo ia entrar em branco meu nome e meus dados Agora com dezoito anos eu j tenho a minha profiss o j tenho um emprego bom nessa regi o eu posso falar que bom No come o eles relatam falam como a empresa Citrosuco come ou que veio do Karl Fisher que veio se n o me engano da Alemanha Veio com inten o de crescer dentro do Brasil Ele come ou com quinhentos p s de laranja e agora t essa multinacional a L no curso n o fala mais voc trabalhador da Fisher N o voc colaborador da Fisher colaborador da Citrosuco bem motivante n Saber que voc t colaborando com uma empresa que voc t ajudando que voc n o s mais um trabalhador ali qualquer um que chega e dispensa Voc que t levando a empresa a frente Como se fosse uma m quina n Sem uma pe a n o funciona ent o sem os tratoristas n o tem desenvolvimento pra empresa Tratorista Borebi 07 2012 231 Al m disso de forma similar ao que vimos acima atua tamb m sobre estes trabalhadores uma hierarquia de interme
287. e eles d o pros safristas D o sal rio razo vel d o uniforme d o conv nio m dico conv nio com dentista d o PLR Ent o o cara trabalha mais motivado eu vou trabalhar porque quem sabe sobrando uma vaguinha se eles gostarem de mim eles me contratam de vez Dirigente sindical Mat o 07 2012 279 Assim como a terceiriza o o contrato de safrista tamb m representou uma flexibiliza o das rela es empregat cias no interior das agroind strias citr colas A Lei 9 601 de 21 01 1998 que estabeleceu o contrato por tempo determinado retirou destes trabalhadores tanto seu direito multa de 40 do FGTS ap s seu desligamento ao final da safra quanto seu direito de acessar o seguro desemprego nos meses de entressafra Isso terminou por colocar estes trabalhadores a meio caminho entre a formalidade e a informalidade sem emprego sem seguro e com menor acerto ao final do contrato eles s o levados a ocupar se com uma grande variedade de bicos sem registro em carteira ao longo da entressafra Segundo relatos muitos optam por maiores rendimento l quidos imediatos em ocupa es informais e abrem m o de retornar s ind strias de suco devido ao que consideram baixos sal rios e sazonalidade Os dois trechos de entrevista a seguir com um operador e com um safrista ilustram este quadro Durante a safra que que as ind strias fazem Onde tinha quatro cinco operadores eles colocam um ou dois operadores e contrata
288. e justamente esses condom nio o gatom nio Azul 07 2011 Dirigente sindical Monte O cara aqui registrado certinho e recebe um real a caixinha S que registra no mesmo trinta e sete centavos que os coitado da C Ent o ele pega o mesmo acerto da C o fundo de garantia vagabundo e ganha mais um por fora como se tivesse dando esse por fora pro cara pra ele ganhar dinheiro mesmo Por isso que tem essa hist ria de um real por dia Agora o recolhimento pau a pau igualzinho N o que o registro clandestino s o iguais os recolhimentos s que o lucro dele colhedor excessivo maior Se for recolher os encargos com base no um real a o fazendeiro n o g enta Cada aumento de cinco centavos na caixinha aumenta quinze centavos na caixa peso pro fazendeiro Isso fode todo mundo rapaz Quando vai colher pra mercado depois que acaba a safra eles v o colher longe volta daqui a dez dias A aluga casa l Agora o tal neg cio eles v o porque que quer Quer ficar aqui fica quer voltar pra Bahia volta t a fim de ganhar dinheiro vai Ningu m vai amarrado n o Agora vai o sindicato ou o Minist rio do Trabalho ver uma turma que mora l pra voc v o rolo que n o d Essas coisa que tem mudar entendeu Aparece a televis o l um pe o dormindo no ch o d no Fant stico Administrador de gatom nio Sever nia 07 2011 Por outro lado atrav s da press o de sindicatos e do
289. e novas responsabilidades acompanhamento e controle cont nuos da qualidade m tua fiscaliza o no interior das turmas quanto ao cumprimento de tarefas an lise de falhas no processo produtivo sugest o de inova es em seguran a e na rotina de trabalho etc Refor aram se assim as segmenta es no ch o da f brica entre um n cleo de oper rios com maiores sal rios maior n vel de formaliza o e maior n vel de qualifica o e os demais trabalhadores terceirizados e safristas submetidos a v nculos empregat cios prec rios e acesso diferenciado a direitos trabalhistas Mazzali assim descreve algumas destas transforma es na organiza o do trabalho no interior das agroind strias brasileiras entre as d cadas de 1980 e 1990 No mbito da gest o interna das agroind strias as principais mudan as estiveram associadas a altera es na estrutura administrativa na organiza o da produ o e dos processos de trabalho e nas condi es e rela es de trabalho Quanto revis o da estrutura administrativa as medidas abrangeram inicialmente o achatamento da hierarquia por meio da redu o do n mero de n veis hier rquicos e da elimina o de alguns cargos de ger ncia e supervis o tanto na produ o quanto na administra o Verificou se ademais a divis o dos setores administrativos e de comercializa o em unidades com maior autonomia e responsabilidade c lulas administrativas funcionando como se fosse
290. e ponto Mas nossa rela o poderia ser melhor Dentro da Feraesp tem gente que entende que uma aproxima o com a Associtrus coisa de pelego porque patr o patr o n o importa o tamanho Nessa vis o essa aproxima o poderia significar uma defesa mais dos interesses empresariais dos produtores que dos trabalhadores Individualmente eu acho que um desperd cio tanto para a Feraesp quanto para a Associtrus o nosso distanciamento Acho que para os produtores m dios e pequenos seria necess rio que eles tivessem na Feraesp um parceiro pra um enfrentamento das agroind strias E que n s tiv ssemos neles o mesmo parceiro Porque n s estamos perdendo Do jeito que t os produtores t m que ficar arrendando pra cana eles n o d o conta nem da sanidade dos pomares eles est o absolutamente subordinados e por tabela n s numa condi o um pouco pior Uma alian a desses dois setores talvez pudesse criar as condi es pol ticas capazes de equilibrar as rela es no interior do complexo Presidente da Feraesp Araraquara 01 2012 245 o Assalariados rurais e a luta pela terra na citricultura paulista O processo de moderniza o do campo paulista foi marcadamente heterog neo Tradicionalmente existem no estado de S o Paulo ao menos dois cen rios rurais distintos De um lado h o eixo din mico que se estende de Campinas a Ribeir o Preto onde predomina o assim chamado agroneg cio com destaque para a agroind
291. e processamento Ao longo das d cadas de 1980 1990 e 2000 sistemas autom ticos integrados permitiram que cada etapa do processo fosse organizada em um controlador l gico program vel CLP capaz de operar automaticamente a partir de informa es nele inseridas a respeito da rotina das atividades e do tipo de suco leo ra o etc a ser produzido Opera es manuais dos operadores em campo foram crescentemente substitu das pela supervis o do funcionamento das m quinas em uma tela de computador No que diz respeito produ o de suco por exemplo em f bricas automatizadas informa es a respeito do n vel dos produtos no restante da linha automaticamente determinam a velocidade da correia de alimenta o de frutas para as m quinas extratoras que moem a laranja assim como o n mero de m quinas necess rias para a continuidade do processamento Da mesma forma a alimenta o o controle de vaz o e a limpeza dos filtros e centrifugas que ajustam o teor de polpa do suco ap s a extra o s o controlados atrav s de medidores autom ticos de modo que um contador de tempo determina o fechamento da v lvula de entrada de suco realiza sua limpeza com gua e soda reabre a v lvula e reinicia a filtragem sem interfer ncia manual do operador Tamb m nos evaporadores onde o suco j filtrado concentrado a abertura e fechamento de v lvulas a troca de tanque o controle do n vel de concentra o do suco e da entrada e sa da do
292. e seu grupo econ mico ou de terceiros cuja produ o lhe seja destinada o servi o de cooperativa de m o de obra rural ou de qualquer outra pessoa f sica ou jur dica A imediata suspens o das atividades da reclamada Cooperba cooperativa dos trabalhadores rurais de Barretos e regi o abstendo se portanto de fornecer m o de obra a qualquer empresa rural ou n o Fixo a multa di ria de R 5 000 00 em favor do FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador se descumprida a presente determina o Barretos 20 de maio de 1998 ADRIENE SIDNEI DE MOURA DAVID Ju za do Trabalho Em resposta a Associa o Brasileira dos Exportadores de C tricos Abecitrus enviou uma carta ao Coordenador Geral da Justi a do Trabalho Ministro Almir Pazzianotto solicitando a ado o de provid ncias contra a referida ju za e contra o MPT da 15 Regi o pelo que qualificou como abuso de poder e injustific vel persegui o institucional Scarabelim e Scarabelim 2005 126 Ap s a derrocada das cooperativas duas propostas alternativas para a organiza o do mercado de trabalho rural tiveram especial relev ncia pol tica no setor citr cola em diferentes momentos dos anos 2000 A primeira delas foi o cons rcio ou condom nio de empregadores rurais introduzido no direito do trabalho brasileiro com a portaria n 1 964 de 1 de dezembro de 1999 do Minist rio do Trabalho e do Emprego e regulamentado com a lei n 10 256 de 9 de julho de 200
293. e trabalhadores expropriados ou amea ados de expropria o Neste conjunto podemos mencionar as lutas dos seringueiros na regi o norte desde o fim da d cada de 1970 contra o avan o das pastagens e da explora o da madeira as lutas de trabalhadores rurais expropriados especialmente 45 das regi es Sul e Sudeste organizados a partir de 1984 em torno do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST as lutas de lavradores contra a desapropria o de suas terras para a constru o das hidrel tricas de Motox Sobradinho Itaip Tucuru Medeiros 1989 Fernandes 2001 No que toca aos pequenos produtores fornecedores de mat ria prima s agroind strias destacam se suas mobiliza es em diversos complexos fumo vinho laranja soja porcos etc contra medidas coercitivas das ind strias e por modifica es na pol tica agr cola Neste ltimo conjunto podemos mencionar a mobiliza o de pequenos vinicultores do Rio Grande do Sul em outubro de 1980 contra o baixo pre o pago pelas agroind strias a suas uvas as greves e o bloqueio aos frigor ficos em novembro de 1980 nos 3 estados da regi o sul por parte de suinocultores em sua maioria pequenos produtores contra o pre o pago pelos frigor ficos abaixo dos custos de produ o as greves e bloqueios s empresas de tabaco em 1986 e 1989 no Rio Grande do Sul por parte de pequenos fumicultores contra os baixos pre os pagos pelas agroind strias a suas folhas de fumo a
294. e trabalham na fazenda da Cutrale em outras fazendas da regi o A gente sa a pra tomar cerveja a gente tinha esse conv vio Mas agora j n o tem mais N o sei porqu Talvez seja eu risos que o pessoal mais chucro a conversa que a gente tem com a pessoa diferente n As id ias n o casam at o estilo de m sica que eu gosto raro eles gostar Como que eu posso dizer Eu j trabalhei na lavoura eu j colhi laranja mas as pessoas que colhem laranja s o pessoas que geralmente n o tiveram oportunidade de estudar Ent o quem estudou um pouco mais tem umas id ias diferentes Operador Bebedouro 07 2011 Tais mudan as no perfil dos operadores foram tamb m determinadas por transforma es na hierarquia do ch o de f brica das agroind strias citr colas ao longo das d cadas de 1990 e 2000 Com alcance e formato diferentes as diferentes empresas do setor reduziram postos e alteraram atribui es dos n veis hier rquicos intermedi rios supervisores encarregados etc repassando parcela de suas anteriores responsabilidades s equipes de operadores e ajudantes no local de trabalho Tais equipes assumiram maior autonomia tanto na realiza o cotidiana de diagn sticos acerca de falhas ou resultados fora das metas quanto na constru o de solu es a estes problemas Trabalhadores foram 287 instados a identificar defici ncias no processo de trabalho e a discuti las seja em reuni es d
295. eg cio tem uns quadros de satisfa o se eu n o tiver contente com o que ele t me fornecendo eu vou l e coloco eu n o t contente com o seu produto tem que melhorar Isso feito o acordo de servi o onde eu coloco a minha exig ncia pra ele e ele coloca a dele pra mim Do meu ponto de vista particularmente bom para a empresa porque aumentou um pouco ainda a nossa atividade Porque voc tem que correr atr s dos problemas Tem problema que o encarregado s vezes n o consegue identificar porque ele n o t pondo a m o na massa de repente o produto n o sai e ele n o sabe porqu ent o criaram isso a pro operador descobrir e j passar mastigado pra ele Quando a coisa n o d certo voc tem que justificar a pega a opini o sua A parte boa que o pessoal do ch o de f brica come a a entender um pouco como que t funcionando o desenvolvimento da empresa porque atrav s disso ele tamb m come a a passar pra voc quais s o as metas que foram atingidas que n o foram atingidas o que tem que melhorar Por outro lado voc se sente mais pressionado mais preso Porque voc cobrado e tem que dar resposta praquilo l De repente voc nem sabe o que aconteceu e voc tem que ficar dando tiro pra tudo quanto lado e voc tem que dar uma resposta Operador Mat o 07 2012 A empresa fala pra voc voc tem que dar id ia voc tem que ir atr s No come o tudo bem todo mundo tem um milh
296. egiiente esgotamento dos momentos e espa os de conv vio abalam fortemente a din mica social e a vida cultural dos pequenos propriet rios e de suas fam lias Para aqueles que ainda restam a homogeneiza o do espa o devido ao avan o da cana acompanhada da atrofia da estrutura de solidariedade em que se inseriam O que mudou no bairro depois que a cana come ou a avan ar A popula o aqui era maior n o tinha tanta casa vazia Hoje tem casa vazia ali no s tio de l aqui Se voc precisava de uma pessoa pra te ajudar trabalhar hoje eu preciso de algu m voc arrumava f cil Hoje voc n o acha Se voc precisar de uma pessoa pra te ajudar apesar de que aqui a gente precisa muito pouco mas se precisar c nem acha voc precisa ir buscar na cidade s vezes L na igreja ia bastante gente na missa lotava a igreja Hoje faz uma missa voc precisa ficar ligando pra um pro outro pro outro pra turma reunir pra ver se o padre n o fica chateado de t o pouquinha gente que vai A minha mulher vai fazer um ter o l na igreja junta cinco pessoas seis pessoas Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 Eu acho que a cana traz mis ria porque quando amanh voc vai num supermercado l na quitanda tem cana pra vender Tem alface tem feij o tem arroz mas algu m vai vender cana l Ent o mais pra frente vai ter o dinheiro e n o vai ter comida proc comprar l Voc v o pre
297. eiro O objetivo deste primeiro cap tulo recuperar algumas das determina es chave do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo no campo brasileiro desde 1964 vinculando as s transforma es da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial mais relevantes a nossa pesquisa Acompanharemos em grossos tra os a luta de classes no universo rural brasileiro na segunda metade do s culo XX destacando suas multifacetadas implica es sobre a for a de trabalho envolvida em todos os momentos do processo produtivo das agroind strias Ao longo do texto buscaremos a um s tempo desenhar o desenvolvimento social e pol tico das fra es de classe estudadas em nossa pesquisa e apresentar o instrumental conceitual b sico que guiar a parte emp rica de nossa exposi o o Introdu o A exposi o da assim chamada moderniza o conservadora do campo brasileiro nos ltimos 50 anos exige um r pido prel dio em que se retome tanto o acirramento das contradi es de classe quanto os delineamentos b sicos dos projetos reformistas no per odo que antecede o golpe de 1964 Nesta fase de forte ascenso da luta dos trabalhadores no campo brasileiro destaca se ainda na primeira metade da d cada de 1950 o significativo aumento do n mero de greves nas grandes planta es de cacau e cana na Bahia e em Pernambuco e de caf em S o Paulo Ainda que inseridos em rela es de trabalho complexas marcadas por la os de depend nci
298. el superior nas salas de controle t m acesso a informa es globais a respeito de cada rea da produ o podendo supervisionar e interferir em cada uma de suas etapas gerentes e diretores por fim t m acesso s informa es e decis es chave que v o al m do trivial no processamento de frutas garantindo limites claros participa o intelectual dos oper rios na condu o da produ o atrav s de uma estrutura informacional verticalizada Os dois trechos de entrevistas abaixo com operadores de n veis superiores de uma ind stria integralmente automatizada assim o ilustram Com a automa o o processo em si o mesmo O que muda o seguinte Por exemplo uma rea com quatro ou cinco centr fugas antes voc n o conseguia operar com apenas um funcion rio porque tinha press o de m quinas pra controlar tinha RPM de m quinas pra controlar tinha abertura de v lvula que o operador tinha que fazer o tempo todo Com a automa o uma rea com cinco centr fugas voc consegue ter s um funcion rio l porque ele s vai observar e o resto da opera o feito tudo autom tico Essa planta da C aqui em Mat o quando come ou em 1992 como Cambuhi tinha 400 funcion rios quando ela foi vendida em 1997 tinha 210 funcion rios Hoje ela opera com 190 mas se voc deixar 130 funcion rio ela opera O que aconteceu nesse processo Os trabalhadores com menos qualifica o acabaram perdendo o posto de trabalho porq
299. em a necessidade de se lan ar m o das tradicionais formas de estimular a competitividade atrav s da premia o dos melhores Graziano 1999a p 252 Ademais se atualmente as t cnica do trabalho seguem de modo geral transmitidas aos colhedores informalmente por meio do empreiteiro ou de colegas de trabalho Lopes et al 2000 h ind cios de esfor os por parte das agroind strias de sistematiza o deste saber fazer com vistas a racionalizar o desgaste f sico do trabalhador e educ lo no sentido de uma maior produtividade A cita o e o fluxograma a seguir assim o apontam A colheita manual ainda a t cnica mais utilizada nas propriedades citr colas nacionais embora j existam iniciativas para a colheita mecanizada e semi mecanizada O processo manual exige grande quantidade de m o de obra e representa 44 do custo total de produ o de citros logo existe um grande potencial de redu o de custos para esta tarefa com o desenvolvimento de m todos que aumentem a efici ncia do trabalho de colheita e proporcionem maior seguran a para sua execu o Costa e Camarotto 2010a 137 Fluxograma da atividade colheita manual de laranja Retorna planta a desloca a Com sacola escada para forma usual outra faixa Frutos Frutos retirados retirados com Descarrega a com as instrumentos de sacola no bag m os apelo colheita Retira os fiutos doch oeos do barrado Sacola
300. em primeiro lugar a policultura s o comuns os relatos de retirada parcial nos ltimos quinze anos de p s de laranjas substitu dos por outras lavouras com vistas a aumentar a seguran a e a rentabilidade da pequena unidade produtiva Esta estrat gia contudo possui limites Como destaca a cita o seguinte os nexos de subordina o da produ o rural ao capital multiplicaram se a tal ponto que se tornou crescentemente dif cil neutraliz los por meio da migra o entre culturas O s tio aqui tem dez alqueires Antigamente era tudo laranja Mas devagarzinho a gente foi eliminando a laranja n o tinha como tocar N s tinha um capital no banco at ent o tava muito bem Depois come ou a empacar n s tiramos todo aquele capital do banco pr botar no s tio A laranja ao inv s de d dinheiro ela tava tomando N s vendemos carro vendemos implemento Tinha m s que n s n o tinha dinheiro nem pra pagar energia Tinha terra mas n o tinha dinheiro entendeu Tudo isso eu acho porque a gente t sendo massacrado pelas ind stria Eu acho imposs vel que a gente vende isso tudo e n o tem pre o uai Ent o a gente tava numa situa o muito dif cil pra trabalhar com a laranja Eu comecei a tirar os p s de laranja uns sete anos atr s 2004 Hoje eu tenho s 800 p s de laranja plantado agora come ando a produzir Mas a gente teve de ser obrigado a plantar outras culturas Plantou lim o plantou manga N s ven
301. em seu local de trabalho Neste quadro os espa os de tomada de decis es a respeito da colheita se tornam virtualmente inacess veis aos pr prios trabalhadores e suas reivindica es s o fragmentadas e enredadas em um emaranhado de intermedi rios turmeiro fiscal de campo portaria etc comum o relato de colhedores apontando que suas queixas acerca da remunera o ou de outros aspectos do processo de trabalho muitas vezes se perdem neste labirinto de inst ncias respons veis Isto bem ilustrado pelos dois trechos de entrevistas destacados abaixo que dizem respeito a duas das mais comuns reclama es de colhedores em pomares das agroind strias caixas de laranjas colhidas n o contabilizadas e descontos excessivos no sal rio devido s quebras Na C eu trabalhei duas vezes e n o fiquei Por causa disso a falta caixinha e ningu m deles resolve Vai na portaria e ningu m resolve volta pro empreiteiro e eles te jogam pra portaria E fica esse rolo que acaba ningu m pagando Ano passado mesmo eu entrei l e sa por causa disso Por exemplo eu mando um total de caixa chega na quinzena numa quinzena faltou 280 caixa minha Eu mandei 1880 veio 1600 A eu cheguei no empreiteiro o empreiteiro disse que tinha 100 caixa minha pra apontar Ele falou que mandou mostrou uma folha num caderno l que ele tinha mandado Cheguei na portaria e uma empregada l ou diretora sei l que coisa que deles falou pr
302. ema de colheita movimenta a copa da planta em sentido vertical permitindo a retirada dos frutos com facilidade e todas as fun es s o comandadas por um operador atrav s de um display de LCD na cabine Em testes a m quina chegou a colher 800 caixas peso 40 8kg de laranja por hora e pode reduzir em 30 os custos de colheita da laranja para suco Com base na estimativa de que um homem colhe em m dia 39 8 caixas de 40 8 kg por dia uma m quina pode realizar em m dia o trabalho de 161 homens Baptistella Fredo Olivette Vicente Francisco 2008 e2 A produ o te rica pol tica mais alinhada s agroind strias assim o coloca Outro desafio na gest o citr cola reside na transforma o do perfil do quadro funcional tanto na educa o quanto nos aspectos comportamentais e conceituais A legisla o trabalhista conservadora e paternalista contribui para a inibi o da criatividade em que rela es inovadoras e vantajosas na rela o capital X trabalho poderiam estar sendo praticadas com ganhos para ambos empregador e empregado Neves 2005 p 108 A citricultura ainda utiliza intensamente m o de obra principalmente na etapa de colheita Por isso os aumentos concedidos ao sal rio m nimo tendem a onerar os custos de produ o reduzindo as margens da atividade Em outubro de 1994 pouco tempo ap s o in cio do plano real o sal rio m nimo era de R 70 00 e a caixa de laranja destinada ind stria era cotada a R 2
303. ens o da din mica de sua organiza o e luta remonta a tens es entre todos os segmentos da citricultura pequenos m dios e grandes produtores e as ind strias processadoras j na segunda metade da d cada de 1970 Entre 1974 e 1976 as exporta es de suco de laranja brasileiras encontraram s rias dificuldades na esteira da crise econ mica mundial Neste contexto o Estado formalizou um mecanismo de negocia es entre produtores e ind strias mediado pelo comit de exporta es de sucos c tricos junto CACEX C mara de Com rcio Exterior Estimulou tamb m a organiza o dos setores envolvidos em associa es em acr scimo a sua federa o de sindicatos patronais rurais Federa o da agricultura do estado de S o Paulo Faesp os citricultores seriam representados pela Associtrus Associa o paulista de citricultores enquanto as ind strias seriam representadas pela Abrassucos Associa o brasileira das ind strias de sucos c tricos J em 1978 as 2 O PRONAF programa de agricultura familiar estabelece quatro m dulos como limite para a explora o da agricultura familiar totalizando em m dia em S o Paulo 50 hectares A Cooperativa de cafeicultores e citricultores de S o Paulo Coopercitrus por sua vez considera pequenas as propriedades citr colas que possuem de 2 a 50 hectares correspondente a uma rea m nima para a produ o de 500 plantas e m xima para a de 12 000 plantas No mesmo sentido o Institut
304. ente s ind strias da Coimbra Frutesp em Bebedouro da Cutrale em Colina e da Branco Perez em It polis paralisando as A greve terminou ap s dez dias em 28 de outubro com a aceita o da contraproposta feita pelas ind strias Determinante para tal foi a oferta por parte destas de um adiantamento de CR 27 000 00 para quem retornasse 117 imediatamente ao trabalho Folha de S o Paulo Apanhadores de laranja de Araraquara iniciam greve 19 10 1993 Termina a greve dos laranjeiros na regi o 29 10 1993 Em 1994 eclodiu nova greve de propor es ainda maiores Iniciada no dia 29 de agosto na cidade de Mat o estendeu se por todo o estado e paralisou cerca de 40 mil colhedores O acordo salarial realizado em julho entre Fetaesp e ind strias que n o previa aumentos somado ao descompasso entre o acr scimo dos pre os de mercadorias e servi os por um lado e sal rios por outro s v speras do plano Real reduziram o ganho mensal dos colhedores a um valor inferior a uma cesta b sica Neste quadro as principais demandas do movimento grevista foram o aumento de R 0 07 para R 0 15 por caixa colhida e a garantia de um piso salarial de R 6 00 por dia e R 180 00 por m s A ind stria manteve se irredut vel e n o ofereceu nenhuma contraproposta aos trabalhadores Mais uma vez a mobiliza o foi marcada por diverg ncias entre a Feraesp e a Fetaesp Contudo pressionada pelas dimens es da greve e pela ruptura em meio mobiliz
305. ente quando a automa o parcial acompanhada de enxugamento de postos de trabalho no interior de toda a planta fabril Os tr s trechos de entrevistas abaixo com operadores assim ilustram estas quest es Eu ainda trabalho diretamente com a m quina porque l nessa f brica nem tudo automatizado No evaporador onde eu trabalho a entrada de vapor pra concentra o e a estabiliza o da pasteuriza o s o autom ticas J a entrada de suco manual eu que controlo leo que vai tirar e mandar pra algum setor a gente que tira manualmente A gua condensada que tirada a gente vira a v lvula manualmente De cem por cento eu diria que oitenta por cento ainda manual e vinte por cento autom tico Tem empresa que mais automatizada os setores que a gente trabalha pra eles s o mais tranquilo At operador das outras f bricas dessa nossa empresa quando chegam aqui eles falam C s trabalham igual louco c s trabalham demais l onde a gente trabalha tudo automatizado tudo diferente o servi o mais leve mais tranquilo A gente tem que dar o duro pra poder produzir aquilo que a gente quer Em outras empresas n o j t o bem mais avan ado que n s Operador Mat o 07 2012 A C mais antiga ent o eles t o come ando a automatizar agora Tem alguns setores que nem o de ra o que da sala o pessoal controla praticamente metade das opera es Na ra o a gente tinha um trabalh
306. ente residente na fazenda de um fornecedor de laranjas A percep o deste ltimo a respeito das rela es de domina o que lhe s o impostas est destacada no seguinte trecho de entrevista Aqui nessa fazenda eu j t faz tr s ano mas eu moro em s tio desde quando eu nasci Os trabalhador que mora dentro das fazenda diminuiu uns 80 depois da entrada da cana Hoje em dia fazenda que tinha vinte fam lia tem uma duas Eu morei vinte ano numa fazenda l em Monte Azul que tinha vinte e seis casa hoje n o mora mais ningu m virou tudo cana A o pessoal foi tudo pra cidade n N o tem mais servi o Nessa fazenda que eu to aqui o patr o bom demais Ele ajuda talvez c ta sem condu o pra ir na cidade ele te leva se precisar de rem dio eles paga s vez c ta precisando de um dinheiro no fim do m s ele tamb m ajuda De resto ele s fala o que a 233 No interior deste caleidosc pio de assalariados rurais volantes ou permanentes migrantes ou do lugar com ou sem registro em carteira contratados por condom nios e gatom nios para trabalhar nos pomares de fornecedores de laranja ou contratados diretamente pelas agroind strias para trabalhar em seus pomares pr prios etc o sindicalismo de trabalhadores e empregados rurais encontra in meros obst culos Para compreend los devemos conhecer com maior detalhe as federa es sindicais com presen a na citricultura paulista a Fetaesp e a Feraesp Como
307. ento no interior do complexo agroindustrial citr cola assim como em todos os demais depende neste cen rio da elabora o de um projeto capaz de sintetizar de maneira minimamente coerente e un voca discursos e a es de diferentes fra es da classe trabalhadora em uma nova perspectiva de equaliza o da cadeia produtiva como um todo Desde esta perspectiva a s ntese poss vel da mir ade de depoimentos selecionados e organizados ao longo deste texto n o uma tarefa te rica cab vel s considera es finais de uma disserta o mas sim uma tarefa pr tica cab vel arena da luta de classes A n s resta aqui fundamentalmente oferecer subs dios a tal tarefa reafirmando a necessidade pol tica de compreender em sua totalidade a classe trabalhadora que comp e este e outros complexos agroindustriais e questionando a tend ncia de organiza es sindicais e pol ticas de unilateralizar em sua pr tica e em seu discurso determinadas contradi es da ordem do capital no campo em detrimento de todas as demais Compreender em sua totalidade a classe trabalhadora que comp e o complexo agroindustrial citr cola assim como todos os demais equivale n o somente a investigar os trabalhadores ocupados em todas as etapas desta cadeia produtiva mas tamb m e principalmente a perscrutar as tend ncias e contra tend ncias que se inscrevem em seu modo de vida e trabalho A classe trabalhadora n o se reduz a um aglomerado de n o detentores do
308. entra cana aqui s se eu falar assim n o eu vou sair daqui e vou pra outro canto Ela n o aproveita toda a terra no caso aproveitaria s oito alqueires s Ent o uma quantia que eu n o sei se seria bom A cana bom de vinte alqueires pra cima Agora que os produtor que nem esse caso meu aqui eles ainda n o t o na cana T o teimando que nem eu Esposa Ele persistente Porque o cara quer trabalhar quer produzir Mas ele n o consegue Eu falo pra ele pequeno produtor a ra a mais teimosa que tem Ele persiste naquilo Ele t perdendo ele faz a conta ele sabe que ele vai perder mas ele continua fazendo aquilo Na nossa regi o a gente continua persistindo At hoje a gente tava conversando sobre esse assunto sobre cana Ent o isso pode at acontecer aqui a hora que o Ant nio n o puder mais trabalhar Minha filha trabalha na cidade e meu menino se Deus quiser vai se formar e n o vai ficar nisso aqui tamb m porque arrumou outro campo n A vai entrar a cana Com pequenos produtores vai acontecer isso a ou ele vende ou ele arrenda pra cana depois que ele n o consegue mais trabalhar Mas at que ele consegue trabalhar eu te garanto que ele fica Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 No discurso da maioria dos pequenos citricultores o arrendamento para a cana representa uma tendencial perda da propriedade uma escolha da qual n o h retorno Retomar o s tio e a produ o exigiria do
309. eol gicos com vistas n o apenas internaliza o do controle e da domina o e ao aumento no n vel de explora o da for a de trabalho mas tamb m cria o de segrega es no interior da classe trabalhadora Por meio da distribui o diferenciada de 63 tarefas n veis de remunera o acesso a carteira assinada e a direitos trabalhistas as empresas e empreiteiras fazem uso de preconceitos tnicos ou de g nero arraigados entre os trabalhadores refor ando clivagens e contribuindo constru o de auto imagens de determinados grupos diferenciadas do coletivo A t tulo de exemplo pode se mencionar a forma o de turmas de migrantes comum que os de fora apresentem um n vel de produtividade excepcional aliado a uma maior disposi o a trabalhar sem registro em carteira Como veremos em nossa exposi o emp rica isso corresponde a seu interesse de acumular o maior volume de recursos no menor tempo poss vel de modo a poder retornar a seu local de origem pagar eventuais d vidas e garantir a reprodu o de sua unidade familiar e sua pequena produ o Empresas e empreiteiras utilizam se de tais caracter sticas com vistas a fixar a imagem de um bom trabalhador bom cortador de cana ou bom colhedor de laranja particularmente adestrado para o maior disp ndio poss vel de for a de trabalho com o m nimo de reivindica es trabalhistas Refor am se assim auto imagens e representa es dos outros que
310. erceirizados ou efetivos safristas ou permanentes A partir da reprodu o de cita es o mais pr xima poss vel fala destes trabalhadores entrevistados buscaremos analisar as tend ncias e contra tend ncias de sua consci ncia a respeito das contradi es a que est o submetidos e as m ltiplas estrat gias coletivas e individuais por eles acionadas para contorn las ABSTRACT The aim of this dissertation is to investigate different fractions of the working class subordinated to capital within the citric agroindustrial complex in S o Paulo We intend to analyze the social and political continuities and discontinuities among family citriculturists rural wage workers and industrial wage workers To do so we will transcribe and examine interviews with multiple subjects exploited by the citric agroindustrial capital small citriculturists who maintain their family way of work and life small citriculturists in intensive process of proletarianization squatters who periodically migrate to become wage earners in S o Paulo rural laborers and agricultural machine operators truck drivers who transport oranges into the industries industrial workers hired permanently or temporarily etc We will analyze the tendencies and counter tendencies of their speech regarding the contradictions to which they are submitted as well as the collective and individual strategies which they mobilize in response 10 SUM RIO ADECSCNTA O ssa core torer
311. erceiro ele comunicou a empresa e tiraram ele do servi o de passar veneno Uma ou duas vezes por ano a gente at faz exame da pr pria empresa eles v m fura o dedo tira o sangue mas eu nunca ouvi de ningu m que recebeu resultado desses exame Por isso faz exame de terceiro eu cheguei a fazer tamb m Eu 212 trabalho com v rios tipo de veneno que eu n o lembro nem o nome s de voc sentir o cheiro de longe j d nsia mal estar A maioria tudo veneno forte tem que tomar muito cuidado Quando n s abastece o trator s de sentir o cheiro daquele veneno j d n usea O servi o no trator n o pesado mas faz muita coisa repetitiva Quando eu passava mata mato tinha que tomar conta das barras pra passar nos v o de laranja sem deixar erguer ou abaixar porque sen o quebrava galho Ent o a aten o tem que ser muita ali Tinha que tomar cuidado com buraco com a trepida o com as curva L cada cinguenta oitenta metros tem curva pra voc passar onde que c tem que tomar mais cuidado No turno da noite mais complicado ainda um pouco porque voc n o v dos lados c s v a frente Ent o a cabe a fica fervendo Tratorista Borebi 07 2012 Como mostram as cita es dentre as queixas mais recorrentes dos tratoristas est o aquelas referentes aos baixos sal rios e ao contato cotidiano com agrot xicos S o comuns os relatos de trabalhadores que n o confiam em informa es das empresa
312. ermanentes as ind strias citr colas t m cada vez mais exigido deles um perfil generalista e polivalente demandando n o apenas seu envolvimento com as atividades espec ficas de seu posto mas tamb m com o diagn stico de problemas e com a constru o de solu es com reas conexas No cotidiano do ch o da f brica como veremos isso significa o enxugamento de postos mediante a multiplica o de atividades ao encargo de cada trabalhador individual e a otimiza o dos processos mediante o aumento da explora o da componente intelectual da for a de trabalho S o extremamente comuns os relatos de operadores a respeito da crescente press o 270 psicol gica cotidiana seja no contato direto com as m quinas seja no controle do processo atrav s dos pain is e computadores A descri o abaixo de um operador de extratoras a respeito de suas m ltiplas atribui es no dia a dia de trabalho nos oferece uma boa ilustra o introdut ria deste quadro Voc pode descrever como seu dia de trabalho Meio dia eu chego l pico o cart o e vou pra rea Onde eu trabalho s o 180 m quinas extratoras pra mim olhar Meu trabalho o seguinte as m quinas s o uns copos programados pra moer fruta pequena m dia e grande ent o eu tenho que ficar olhando as m quinas que classificam e separam as frutas Tem que ficar controlando pra chegar a fruta certa na m quina certa porque se na m quina pequena chega uma fruta m di
313. erspectivas desta articula o visando a cria o de alternativas tanto exclus o e proletariza o de pequenos citricultores quanto super explora o e desrespeito aos direitos sociais e trabalhistas da m o de obra assalariada na citricultura O que poderia um dirigente sindical do lado dos trabalhadores rurais negociar com os produtores Ser que existem pontos de contato que s o comuns entre os setores do trabalho e da produ o rural necess rio buscar por ambas as partes os pontos comuns atrav s de um f rum de negocia o mesmo que n o seja poss vel apagar as diverg ncias preciso iniciar um processo de cria o de confiabilidade para se estabelecer uma pol tica de enfrentamento destes atores sociais e de representa o do segmento agr cola ainda mais agora que a agricultura s pode ser vista de forma complexa e intrincada com os segmentos industriais e financeiros No caso espec fico da m o de obra na citricultura somente a a o da promotoria p blica n o bastou embora tenha surtido bons efeitos nos anos 90 e primeiros anos do s culo XXI e a solu o continua sendo a articula o de interesses das associa es representativas de citricultores e trabalhadores rurais Paulillo e Almeida 2006a p 164 o Proletariza o da pequena produ o familiar citr cola paulista A exclus o dos pequenos citricultores paulistas do consenso que rege o complexo citr cola hoje implica em um multifacetado
314. es a respeito das flexibiliza es empregat cias da automa o das transforma es na hierarquia do ch o de f brica e dos fechamentos de unidades de processamento que caracterizam o complexo entre as d cadas de 1990 e 2000 o Flexibiliza es empregat cias automa o e transforma es na hierarquia do ch o da f brica no complexo citr cola paulista No que diz respeito s flexibiliza es empregat cias podemos inicialmente destacar que o fim do contrato padr o entre a ind stria e seus fornecedores de laranjas em 1995 impactou n o apenas os colhedores como j destacado mas tamb m os transportadores das frutas da lavoura s unidades de processamento At a primeira metade da d cada de 1990 as agroind strias citr colas possu am frotas pr prias de caminh es e contratavam diretamente os motoristas que realizavam o transporte da mat ria prima Posteriormente este servi o foi terceirizado e hoje o transporte de laranjas dos pomares pr prios das agroind strias em geral realizado por empresas transportadoras enquanto o transporte de laranjas dos pomares de fornecedores realizado por donos de caminh es que atuam como motoristas aut nomos Neste contexto o p tio das ind strias de suco tornou se l cus de significativas tens es Motoristas que conduzem as frutas dos pomares pr prios das agroind strias recebem uma remunera o relativamente menor mas possuem prefer ncia para descarregar nos silos onde as
315. es do Minist rio P blico do Trabalho Mas n s temos primeiro que entender que o Minist rio P blico um rg o estatal Ele tem uma fun o estatal que a defesa dos indefesos mas tamb m a defesa da lei da ordem jur dica N o papel da Feraesp fazer defesa da ordem jur dica O papel da Feraesp defender os trabalhadores a Feraesp uma entidade de classe O Minist rio P blico desde as coopergatos tem sido uma ferramenta importante na defesa dos interesses do trabalhador At porque boa parte dos problemas que existem no setor diz respeito lei H ent o um espa o de atua o importante para o Minist rio P blico e a Feraesp n o s foi solid ria como acompanhou e acompanha Agora a disputa no judici rio muito ingrata porque o judici rio brasileiro n o atua na preven o do dano ele s atua na repara o do dano e muito mais no dano individual do que no dano coletivo Ent o as a es do Minist rio P blico baseadas exclusivamente no judici rio elas s o muito lentas e caem muitas vezes na forma 2 Apenas a t tulo de exemplo pode se citar a respeito do setor canavieiro onde estas disputas s o mais acirradas o acordo conclu do em 12 2010 entre o Sindicato dos Empregados Rurais de Araraquara e o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodovi rios Urbanos Rurais e das Ind strias de Cana de a car de Araraquara e Regio Ap s anos de disputas estabeleceu se que perante a lei os motoristas de c
316. es dos cortadores de cana e colhedores de laranjas paulistas na segunda metade da d cada de 1980 Este trecho do I Congresso da Federa o dos Empregados Rurais do estado de S o Paulo assim o demonstra Os assalariados rurais consideram que a reforma agr ria n o um problema exclusivo dos trabalhadores rurais porque reforma agr ria significa a reforma das rela es de produ o no campo reformar o papel de cada agente social que de interesse do conjunto da classe trabalhadora brasileira Os assalariados rurais sobretudo nos complexos agroindustriais exercem as mais variadas fun es desde o plantio tratos culturais e colheita at a transforma o industrial dos produtos agr colas A grande parte dos trabalhadores destes setores vive nas cidades exerce fun es espec ficas e depende do emprego para viver Para estes trabalhadores n o interessa acabar com os complexos agroindustriais mas sim iniciar um processo que os capacite aos trabalhadores entender todo o processo de produ o tendo em vista exercer o seu controle Feraesp Anais do I Congresso 78 dos Empregados Rurais do estado de S o Paulo Jaboticabal 7 a 8 de abril de 1990 p 15 apud Alves 1991 p 305 Tendo atingido este ponto podemos sintetizar esta ltima contribui o te rico conceitual a nossa pesquisa Neste trecho partimos da apresenta o de uma nova ofensiva da integra o t cnica entre ind stria e agricultura nos ltimos vint
317. esas e o sindicato patronal pra buscar dar mais evas o venda desse produto pra n o ficar encalhado pra n o dizer que t fechando uma empresa porque n o vende Por que esses setores da alimenta o t m um sal rio t o mais baixo que a m dia dos outros setores industriais Boa pergunta N o falta de trabalho dos dirigentes sindicais at porque todo ano existe uma negocia o Mas a verdade a seguinte j teve ano de negocia o com as usinas e com as ind strias de suco em que levando em conta a situa o do setor em algum momento o trabalhador cedeu n o teve um reajuste que era merecido naquele momento at pra tentar levantar o setor S que isso nunca mais foi levado em considera o nunca deu retorno pros trabalhadores Hoje os nossos reajustes v m acontecendo sempre com um dois por cento de aumento real no setor de usina Nos setor de suco nesse ano a n vel regional Araraquara foi 6 e a n vel estadual foi 7 Eu acredito que em Araraquara as usinas de a car t o bem pior do que o setor de suco o setor de suco ainda um pouco melhor Mas do jeito que as coisas v o indo v o igualar as condi es porque t muito ruim Presidente do sindicato de trabalhadores da ind stria de alimenta o Araraquara 07 2012 Ao longo especialmente da d cada de 2000 a fragilidade deste posicionamento sindical ficou clara a partir das fus es entre algumas das principais agroind strias citr colas
318. estado de S o Paulo Na medida em que esta regi o foi menos afetada pelas greves de assalariados rurais na d cada de 1980 manteve se ali em maior medida a estrutura sindical tradicional dos trabalhadores rurais paulistas organizada em torno da Fetaesp Por isso o avan o da lavoura da laranja para esta regi o e o retorno contrata o direta pelas agroind strias da m o de obra para a colheita de seus pomares pr prios fortaleceram o espa o de negocia es entre os sindicatos vinculados Fetaesp e as ind strias processadoras At 2007 essas negocia es foram conduzidas de maneira unificada entre a federa o e as agroind strias em S o Paulo Desde ent o optou se por uma negocia o fragmentada em n vel regional ou municipal entre os sindicatos e as empresas O seguinte trecho de entrevista com o presidente da Fetaesp assim apresenta a inser o da federa o e de seus sindicatos no estado de S o Paulo como um todo e no complexo citr cola em particular Qual hoje o papel da Fetaesp no estado e na citricultura em particular Existe uma divis o aqui no estado existe uma federa o de assalariados rurais do estado a Feraesp Ela acaba exercendo uma press o em cima dos sindicatos com a quest o de repasse de contribui es de dinheiro Ent o os sindicatos t m se afastado da federa o um grupo tem mandado algum dinheiro pra l pra n o ter problema Outros sindicatos t o independentes nem filiados aqui nem
319. estendendo ao campo o poder do Estado de outorgar aos sindicatos representatividade e poder de negocia o com o capital Em segundo lugar destaca se a cria o da contribui o sindical art 135 impondo aos sindicatos de trabalhadores rurais da mesma forma que aos urbanos a depend ncia em ltima inst ncia do Estado e n o dos trabalhadores no que toca a seus recursos materiais Em terceiro lugar destaca se a cria o do Funrural e a exig ncia de colabora o das entidades sindicais com os poderes p blicos nos servi os previdenci rios para seus associados art 116 abrindo caminho para que o assistencialismo se convertesse no principal papel desempenhado pela estrutura sindical no campo Coletti 1998 O car ter conservador da sindicaliza o rural imposta pelo ETR verifica se no fato de que foi mantida em seus principais tra os ap s o golpe de 1964 acrescida de transforma es pontuais Al m de intervir nas dire es sindicais mais combativas especialmente as ligadas ao PCB a ditadura do capital sob tutela militar alterou em um primeiro momento o enquadramento sindical rural Com a Portaria n 71 de 2 2 1965 estabeleceu se um nico sindicato de trabalhadores rurais para representar pequenos propriet rios pequenos arrendat rios parceiros e assalariados rurais em cada base territorial facilitando ainda mais o controle governamental sobre a organiza o sindical no campo brasileiro Em um segundo momento
320. estes dados a conclus o de que esta ltima categoria de assalariados ainda tem seu modo de vida premido a um s tempo pela escassez e pelo excesso de trabalho Por um lado o car ter descontinuo da oferta de empregos na lavoura citr cola imp e periodicamente a uma massa significativa de pessoas condi es prec rias de sobreviv ncia O acesso peri dico ao seguro desemprego e ou a bicos rurais e urbanos s o os principais meios de subsist ncia destes trabalhadores volantes ao longo do primeiro semestre Um dirigente sindical de Monte Azul Paulista e um colhedor de Sever nia descrevem do seguinte modo as instabilidades e condicionalidades que marcam o cotidiano dos colhedores de laranja no per odo da entressafra 207 A partir do momento que o trabalhador trabalhou seis meses ele j tem direito a tr s parcelas do seguro desemprego Chegou a doze meses ele tem direito a quatro parcelas Vinte e quatro meses ele tem direito a cinco parcelas Sendo que se leva em conta os ltimos trinta e seis meses para calcular o total de parcelas Mas se ele recebeu o seguro desemprego j este ano no ano que vem ele n o recebe Porque ele tem que ficar dezesseis meses a contar da data da baixa da carteira at o pr ximo registro para ele ter direito novamente parcela do seguro desemprego Ent o o colhedor recebe ano sim ano n o No ano que n o pega seguro o trabalhador procura fazer algum servicinho algum biquinho Arruma algum servi
321. eto da tensa e cotidiana luta de classes no eito por 56 outro lado na medida em que rebaixavam de modo geral ou o pre o da for a de trabalho ou seus direitos trabalhistas ampliavam a apropria o do trabalho excedente pelos patr es O significado do gato enquanto instrumento de domina o da m o de obra rural n o se esgota contudo nesta sua dupla fun o Em intera o com o car ter desigual e combinado da formaliza o jur dica das rela es de produ o no campo brasileiro o gato tornou se base de um construto ideol gico de grande efic cia a responsabiliza o do assalariado rural pela estrutural n o universaliza o dos direitos trabalhistas no campo brasileiro Para compreender tal construto necess rio inicialmente apontar que o trabalhador rural brasileiro sempre teve de enfrentar um cobertor permanentemente curto que se lhe cobre a cabe a desprotege os p s ou se lhe cobre os p s n o chega cabe a Ou seja ao longo da hist ria recente do campo brasileiro o trabalhador rural dificilmente conseguiu encontrar ocupa es que reunissem boas condi es de remunera o aliadas a respeito a direitos trabalhistas Devido a isso sempre foi relativamente comum que dada a op o o pr prio assalariado rural escolhesse n o ser registrado em carteira pois desse modo receberia imediatamente um sal rio superior que incorporaria no todo ou em parte os gastos sociais que o empregador teria de pagar em caso
322. f brica nem sabia Ali naquele minineg cio tem um quadro e cada pessoa tem que p r duas inova es Ent o a gente roda todo o nosso setor e v o que t precisando uma escada pra facilitar o servi o troca de piso troca de uma torneira troca de v lvula vapor a mais vapor a menos Tinha uma reuni o todo o dia de oito minutos do nosso minineg cio a gente fazia a nossa explana o na lousa fazia a marca o do que era necess rio e passava adiante L no minineg cio tamb m tinha as metas a serem batidas no m s Se a gente batesse a meta a gente ganhava um pr mio a gente ganhava um jantar num restaurante VIP Dentro da firma tem um restaurante comum normal gigantesco onde todo mundo come junto Se a gente ganhasse aquele m s a gente ia comer num restaurante separado a comida era diferente Todo mundo trabalhava mais pra ganhar esse pr mio que era muito bom Ganhava trof u tirava foto da gente sa a na revista da empresa vai pra todas as unidades Era um incentivo a mais Safrista Bebedouro 12 2012 Sinteticamente podemos dizer que o processo que viemos descrevendo de reestrutura o produtiva das ind strias de suco ao longo das d cadas de 1990 e 2000 teve como principais consequ ncias o acirramento da segmenta o entre os trabalhadores 291 fabris a diminui o massiva de postos de trabalho e a sofistica o da coopta o da subjetividade de operadores e ajudantes sob os interesses e diretrizes do cap
323. fam lia trabalha na cana e a mulher e o filho trabalha no bordado A tem uma renda boa eles n o liga de morar um monte de gente numa casa s eles moram l em duas tr s fam lias numa casa Paga l duzentos reais de aluguel divide tudo eles E vive a vida T o contente porque eles n o liga comendo pra eles ta bom Isso pra cidade ruim por causa de monop lio de sal rio emprego n Se eles n o viessem teria que aumentar o sal rio n Eles trabalham menos mas dois dele faz o que um daqui fazia Filho de pequeno citricultor Ibitinga Entrevista em 07 2011 219 O que descrevemos at aqui n o esgota contudo os nuances da informalidade na lavoura citr cola No cotidiano de todos os colhedores de laranja migrantes ou n o h uma multiplicidade de arranjos informais visando alcan ar simultaneamente um acesso parcial a direitos sociais e trabalhistas em especial o seguro desemprego e uma maior remunera o por caixa colhida A t tulo de exemplos podemos citar o chamado registro clandestino em que o colhedor tem sua carteira de trabalho assinada e acessa o seguro desemprego mas n o recebe os direitos trabalhistas ao t rmino do contrato de safra Podemos citar tamb m o registro da produ o de um nico trabalhador em duas carteiras a sua pr pria e geralmente a de algum parente para que a fam lia tenha acesso a mais um seguro desemprego no per odo da entressafra Podemos citar ainda o traba
324. fatores foram fundamentais consolida o e expans o de tal complexo no per odo subsegiiente Desde um ponto de vista internacional as fortes geadas a partir de 1962 na Fl rida causaram enormes preju zos aos laranjais da regi o levando a uma violenta eleva o dos pre os do suco nos mercados norte americano e europeu A citricultura paulista pautou se desde ent o quase exclusivamente pela demanda e pelos pre os do suco concentrado congelado no mercado internacional expandindo pomares e plantando variedades mais adequadas ao 83 processamento industrial Desde um ponto de vista interno como j descrito em nosso primeiro cap tulo a ditadura do capital sob tutela militar estimulou uma articula o conservadora entre agricultura e ind stria especialmente para o processamento de bens export veis Neste quadro a lavoura citr cola beneficiou se do j mencionado cr dito rural a juros subsidiados durante as d cadas de 1960 e 1970 As agroind strias foram contudo as maiores favorecidas no interior do complexo pelas pol ticas p blicas de incentivo moderniza o conservadora do campo brasileiro no per odo A usufrui o dessas oportunidades por parte das empresas de maior porte do setor ocorreu sob v rios aspectos 1 obten o de financiamento para produ o de SLCC suco de laranja congelado e concentrado e de facilidades para desconto de contratos de c mbio 2 obten o de financiamento de at cinco anos para
325. fetivo com o cotidiano dos trabalhadores rurais que marcavam a estrutura sindical no campo brasileiro e paulista Moraes Silva destaca que todas estas lutas dos assalariados rurais ao longo da d cada de 1980 impuseram uma metamorfose sobre as media es jur dicas e privadas da explora o domina o o arcabou o jur dico disposto na Constitui o de 1988 incorporou uma s rie de conquistas desta fra o de classe ao mesmo tempo que o gato tornou se media o privada insuficiente no controle da m o de obra A partir da d cada de 1990 tornou se mais significativo o n mero de trabalhadores volantes com registro em carteira e algumas agroind strias assumiram a responsabilidade de contrata o sazonal da for a de trabalho ou atribu ram na a empresas agenciadoras de m o de obra com uma estrutura consideravelmente mais complexa e sofisticada que aquela oferecida anteriormente pelos gatos Surgiram novas media es como escrit rios de contrata o e fiscais de campo 2 Segundo Alves e Graziano as pautas destas greves apontavam uma nova centralidade de luta o controle sobre o processo de trabalho Isso se verifica n o apenas na contraposi o s media es jur dicas e privadas de dom nio sobre a m o de obra at ent o mobilizadas pelo capital evidente nas exig ncias de contrato direto sem intermedia o de gatos registro em carteira pagamento do d cimo terceiro e f rias garantia de direitos trabalhistas nas rescis es
326. filiados l N s temos a maior parte dos nossos sindicatos filiados aqui regi o de Bauru no vale do Para ba no vale do Ribeira na beirada do Paranapanema toda a beirada do estado Hoje a Fetaesp trabalha com pouco mais da metade dos sindicatos do estado n s temos 130 sindicatos filiados Tem um miolo na regi o de Ribeir o Preto Barretos Bebedouro onde n s temos uma menor inser o E onde t a maior parte da laranja Apesar que aqui no sudoeste do estado t 237 expandindo a citricultura aqui em Santa Cruz do Rio Pardo em Itapetininga que s o sindicatos filiados Fetaesp Mas nossa inser o nesse setor diminuiu sem d vida nenhuma De qualquer forma n s fazemos uma campanha salarial todos os anos Desde 2007 a Fetaesp n o assina mais a conven o estadual n s faz amos essas negocia es antes em S o Paulo mas fica dif cil porque l eles acabavam impondo um par metro baixo Acabava servindo de par metro pro estado n o pra melhorar o sal rio das pessoas mas pra abaixar Ent o eu comecei a questionar dizer que a gente n o devia mais fazer a conven o em n vel de estado e sim cada sindicato fazer na sua localidade ou quatro cinco sindicatos juntos Voc fazia uma negocia o l em S o Paulo n o sa a uma cesta b sica n o sa a uma participa o nos lucros n o sa a nada Ao passo que o sindicato vai l com a C por exemplo negocia e ganha uma s rie dessas coisas Assim acaba trazendo al
327. formas de comercializa o das caixas de laranja Atualmente as ind strias t m acesso mat ria prima por m ltiplos meios O principal deles a integra o vertical atrav s da qual as empresas cultivam diretamente em pomares de sua propriedade parcela crescente da laranja que esmagar o As demais laranjas s o adquiridas em m ltiplas formas de contrato com fornecedores dentre as quais se destacam contratos gatilho de 2 a 5 anos especialmente com grandes produtores baseados no pagamento de uma parcela fixa e de uma parcela vari vel de acordo com o pre o do suco no mercado internacional contratos fixos de 2 a 5 anos especialmente com grandes e m dios produtores baseados em um pre o fixo contratos safra v lidos para uma safra em especial com m dios e pequenos produtores com pre o fixo e mercado spot venda da fruta a pre o de mercado em momento pr ximo colheita Neves 2007 O controle das ind strias sobre a comercializa o mediada por tais contratos extremamente elevado por v rios motivos Em primeiro lugar porque as ind strias s o atualmente o destino de cerca de 80 da laranja plantada no estado de S o Paulo e o nico mercado alternativo o mercado interno de laranja in natura n o opera de forma independente mas sim relativamente interligada ao mercado de venda da fruta para processamento Fruteiros e intermedi rios se misturam na compra e transporte de laranja A produ o te rica
328. gal O que seria mais importante na sua vida um peda o de terra ou o sal rio A depende Eu morei aqui e morei em Minas Em Minas n o como em S o Paulo Aqui em S o Paulo tem muitos fazendeiros que tem muita terra e muito pessoal que n o tem terra mais assalariado n Pra uma pessoa pegar um peda o de terra aqui e viver s da terra meio complicado principalmente no come o L em Minas tem muito sitiante pequenininho dono de ch cara muita fam lia com terra pequena Eles planta o que n o d no s tio dele eles compra do outro troca at dia de servi o A a pessoa vive bem at melhor do que assalariado Na verdade eu prefiro como l em Minas Porque tendo a terra da gente a gente trabalha sem patr o Tem firma e 252 patr o que ranca o coro do trabalhador Praticamente a maioria dos lugar que eu vejo ranca o coro do trabalhador Principalmente nessa parte rural Por isso a maioria do pessoal que trabalha na lavoura gostaria de ter a sua terrinha Tem muito pouco que t contente O pessoal gostaria de ter sua terra s que eles n o ia querer encarar a vida que esse pessoal do MST faz pra poder conseguir Porque tem muitos ali que muito sofrido vive com filho esposa debaixo de lona N o todo mundo que tem coragem de fazer isso E tem outra muitos ali consegue a terra mas ainda t trabalhando ali na Cutrale O cara pega oito alqueire de terra s que a fam lia s o seis sete S aquilo
329. gentes n o ecoa para o conjunto do operariado a necessidade de unifica o org nica bem como a es articuladas regionalmente Thomaz Jr 2002 p 43 8 Em 2010 os produtos aliment cios ganharam lideran a no ranking de setores industriais mais importantes do pa s segundo a Pesquisa Industrial Anual do IBGE Acompanhando o fortalecimento do mercado interno e o aumento do pre o das commodities no mercado externo a fabrica o de produtos aliment cios foi respons vel naquele ano por 12 1 do valor adicionado da ind stria geral Ficou com isso frente do setor de fabrica o de coque produtos derivados do petr leo e biocombust veis respons vel por 11 3 do valor adicionado do setor de ve culos automotores respons vel por 9 9 do valor adicionado e do setor de extra o de minerais met licos respons vel por 7 3 do valor adicionado O Estado de S o Paulo Alimentos ocupam a lideran a no setor industrial 29 07 2012 Vale lembrar que o parque agroindustrial em particular tem se expandido em diversas regi es do Brasil atra do pelo mais baixo valor da terra e por benef cios concedidos pelo poder p blico A valoriza o da terra no Sul e no Sudeste do pa s criou fronteiras agr colas e transformou estados do Maranh o Tocantins Piau e Bahia nos novos p los de investimento das agroind strias Para atrair empresas o governo do Maranh o tamb m montou um programa de incentivo agroind stria e inve
330. gou um operador que tava trabalhando no mais alto n vel por exemplo e dispensou esse funcion rio Desvinculou ele da empresa pagou os direitos que tinha para receber e disponibilizou ele no mercado de trabalho Depois pegou essa empresa de terceiros deu o nome do cara e falou essa pessoa uma pessoa boa para trabalhar nesse posto de trabalho A contratou o funcion rio novamente S que ao inv s de contratar o funcion rio por dois mil reais por m s ele foi contratado por mil e cem reais por m s E a pessoa n o tinha outra op o ela foi trabalhar por mil e cem S que acontece o seguinte esse operador j n o tinha mais o mesmo empenho que ele tinha quando ele era direto da empresa E dentro da empresa de terceiros ele n o tem a perspectiva de galgar uma promo o por exemplo ele sabe que vai trabalhar os oito meses de safra e quando terminou terminou Ent o tanto o envolvimento pessoal do cara quanto a motiva o para ele desenvolver a fun o acabou A come ou a ter problema do outro lado Voc economizou mas voc n o tem o mesmo rendimento N o tem o mesmo tipo de comprometimento com a fun o Um operador destes faz alguma coisa de errado tudo bem no pr ximo dia voc substitui e p e outro mas quanto custou esse erro para a empresa Custou muito dinheiro dava para ter pagado esse trabalhador pelos quatro meses que ele foi dispensado durante a entressafra Depois de alguns anos de experi ncia com essa te
331. groindustrial e seus impactos sobre os trabalhadores De modo geral os n veis de efici ncia seguran a e produtividade alcan ados nos postos de trabalho interligados pela malha da automatiza o servem de refer ncia para os demais sendo que isto est sendo alcan ado por processos simult neos e n o excludentes Isto 1 A diminui o dos postos de trabalho est ligada diretamente amplia o e aumento de efici ncia dos equipamentos de controle de processo principalmente nas grandes empresas 2 Ao mesmo tempo estas empresas est o colocando em pr tica o que denominam de reorganiza o qualitativa interna que significa na pr tica substituir os trabalhadores mais antigos em muitos casos com alta qualifica o por outros com menos tempo de trabalho ou rec m contratados na propor o de 2 para 1 ou seja dois s o demitidos e 1 contratado com o intuito de reduzir os custos no limite que o sistema de controle de processo permite 3 Todavia ao incorporarem este referencial o que se atestou na maioria das empresas que est o semi automatizadas o fizeram balizando se na intensifica o do trabalho at o limite da performance da m quina equipamento n o automatizado Depreende se disso que a diminui o de postos de trabalho n o se d essencialmente na raz o direta da implanta o dos controladores microprocessados mas com maior frequ ncia e monta com a refer ncia que estes sistemas imprimem quan
332. guns ganhos a mais pros trabalhadores Hoje ent o os nossos sindicatos normalmente fazem acordos coletivos entre o sindicato e aquela empresa que s tem valor praquela empresa Em alguns lugares que s tem a laranja a faz uma conven o coletiva no munic pio pra abranger as fazendas que tenham laranja a faz diretamente com o sindicato rural Mas muito pouco hoje a negocia o feita com as ind strias individualmente Aqui na Federa o o que n s fazemos uma sugest o de pauta unificada pro estado n s reunimos todos os sindicatos filiados envolvidos no setor O pessoal vem aqui discute a pauta se quiser acrescer alguma coisa cada um faz o seu fica livre Mas predomina essa pauta padr o Ent o n s acompanhamos as negocia es mandamos boletins pros sindicatos de quanto t sendo praticado em cada regi o quantos sindicatos fecharam pra ningu m ficar abaixo N s temos um advogado que cuida disso mas n o tem sido grandes coisas n o em termos de sal rio da laranja Esse setor tem altos e baixos agora safra 2012 13 t um problema ser ssimo a ind stria dizendo que vai deixar de moer 80 milh es de caixa de laranja por conta da crise na Europa t o com estoque de suco alto Quando eles t o colhendo a laranja ganhando bem eles j n o querem pagar um sal rio bom pros trabalhadores ent o imagina numa situa o dessas Presidente da Fetaesp Bauru 07 2012 i Apesar da Fetaesp ser respons vel pel
333. hadores intelectuais e for as pol ticas de diferentes vertentes empenharam se em construir projetos de transforma o da sociedade brasileira nos quais a reforma agr ria desempenhava importante papel Ainda que marcados por matrizes interpretativas diversas e por distintos horizontes pol ticos tanto no plano t tico como no plano estrat gico os diferentes projetos de reforma tendiam a certos consensos no que diz respeito aos principais obst culos impostos pela estrutura agr ria do pa s Sustentava se em primeiro lugar que os latif ndios brasileiros eram incapazes de incorporar desenvolvimento t cnico produ o A extrema concentra o de poder e riqueza nas m os dos latifundi rios os impelia a responder aos aumentos de demanda do mercado interno ou externo seja por meio da incorpora o de novas terras seja por meio da intensifica o da explora o do trabalho Tal padr o mantinha a produtividade do trabalho do campo brasileiro em n veis extremamente rudimentares o que tendia a se manifestar no aumento de pre os de mat rias primas e alimentos como verificado com a infla o da primeira metade da d cada de 1960 Havia certo consenso tamb m em torno da interpreta o de que a estrutura agr ria brasileira impunha obst culos forma o de um mercado interno para produtos industriais Tanto a n o aplica o da legisla o trabalhista no campo quanto a reprodu o de baixos sal rios decorrentes da super explora o do
334. hadores o fiscal de campo circula por entre os eitos mas busca esquivar se da press o da turma repassando os valores da ajuda apenas ao turmeiro Na medida em que o escrit rio determina o valor da ajuda diminui a 226 for a dos colhedores para intervir no aumento do pre o de venda de sua for a de trabalho A animosidade coletiva dos colhedores se direciona para um local mais distante espa o temporalmente menos perme vel a sua press o Desloca se o campo de luta do eito para a administra o do espa o de vida e trabalho da turma para um espa o que lhes estranho Em segundo lugar destaca se a posi o amb gua do turmeiro Por um lado o turmeiro sofre com a explora o imposta pelo cons rcio Na medida em que sua remunera o uma fun o do valor recebido por sua turma o menor valor da ajuda tem impacto direto sobre quanto receber Al m disso a estrutura m nima de acomoda o da turma fora descontada de sua remunera o algo abertamente ilegal Por outro lado o turmeiro respons vel direto pelo gerenciamento das tens es que rondam o local de trabalho Ele deve n o apenas garantir que o processo de trabalho transcorra normalmente mas deve zelar pela relativa calma de sua turma Da que para n o amea la o turmeiro ainda n o tivesse contado para os colhedores a decis o do economista no escrit rio da administra o Em terceiro lugar destaca se o conjunto dos trabalh
335. heiro t m aqui dentro Hoje aqui pra sobreviver todo mundo t trabalhando na Cutrale Ent o quando aconteceu aquela ocupa o tudo isso passou na minha cabe a Muitos pai de fam lia ficou preocupado Sabe quantos funcion rio tem daqui do assentamento l hoje Mais de cento e cingiienta funcion rio S no meu nibus s o quarenta e cinco tratorista Tem mais dois nibus da colheita com quarenta e cinco cada Por qu Porque o nosso lote n o d recurso pra n s A partir do momento que eu pego o lote a minha obriga o produzir no meu lote e me manter no meu lote S que no momento o Incra n o t dando essa assist ncia pra n s Eu tenho um lote de sete alqueire eu tenho minha horta eu tenho minhas vinte e cinco cabe a de gado eu tiro hoje cinquenta litro de leite por dia mas n o d pra mim sobreviver s do meu lote Por qu Se eu for entregar a minha horta eu tiro R 2000 00 ou R 2500 00 por m s S que voc entrega voc fica tr s quatro cinco m s sem receber N s tem uma associa o n s entrega pra Conab mas j faz quatro m s que n s n o recebe um centavo Como que voc sobrevive disso Eu sou o titular do lote Mas hoje quem cuida dele minha mulher e meus filho Se eu cuidar do lote e n o entrar na firma como que eu vou dar um estudo pros meus filhos Eu tenho que pensar no futuro dos meus filhos n o tenho Tratorista e assentado Iaras 07 2012 A gente j veio da luta a ge
336. i rias de sua equipe seja em intera es cotidianas com as demais equipes Com isso por um lado acentuou se a fiscaliza o m tua e horizontal entre os trabalhadores convertendo os em olhos e c rebros da empresa por outro lado fortaleceu se a internaliza o da disciplina e da participa o no local de trabalho levando cada trabalhador individual a incorporar tarefas independentemente de determina es superiores Paralelamente os l deres ou facilitadores em posi es hier rquicas intermedi rias tiveram de alterar em diferentes graus nas diferentes empresas do setor sua rela o de comando verticalizado sobre operadores e ajudantes Em oposi o distribui o unilateral de tarefas e san es sua fun o tornou se crescentemente construir ambientes que maximizem a iniciativa dos trabalhadores e organizem sua comunica o e suas contribui es No interior deste novo cen rio tais l deres assumem o papel de articular os n veis hier rquicos superiores aos trabalhadores no ch o da f brica em um contato mais frequente e estreito encaminhando ger ncia as sugest es e inova es propostas pelos operadores e ajudantes e distribuindo entre estes as premia es e san es determinadas pela empresa O trecho de entrevista a seguir com um operador nos oferece um exemplo introdut rio do modo de funcionamento de tais transforma es em uma determinada agroind stria citr cola Minineg ci
337. i na ro a N o tem como Se n o burlar a lei complicado Mas amanh eles paga aposentadoria baseada no sal rio m nimo E o que n s ganhamos nessa poca toda Ficou pra tr s n Foi sonegado n s achamos que n s ganhamos mas n s perdemos porque depois amanh n s n o tem direito a nada Quem tinha mais tem mais ainda e n s n o tinha e fica pior Isso que complicado O colhedor gasta no real e ganha no centavo Mas ningu m vive de centavo complicado Se fosse ver hoje oitenta centavos por caixinha da laranja colhida devia ta o pre o Justo o normal da lei no registro Mas n o o colhedor ganha na maracutaia esses oitenta centavos A eles faz um rolo l que eles paga um tanto no registro um tanto por fora C fez cem caixa c ta ganhando trinta centavo a mais c recebe trinta real S que e o seu seguro O d cimo terceiro Depois no final o seu acerto Vem baseado s naquele pouquinho que vem no holerite C ganhou por fora mas c perde tudo Ex colhedora e ex turmeira Ibitinga 07 2011 Como indica a cita o a rela o entre os colhedores e a informalidade muito mais complexa do que o discurso do gato d a entender H na consci ncia destes assalariados rurais manuais uma permanente tens o entre o horizonte de curto prazo evidente no seu interesse em uma maior remunera o l quida imediata e o horizonte de m dio e longo 221 prazo evidente no seu interesse em uma maior prot
338. iais e trabalhistas por parte de empresas terceiras Experimentam neste sentido um descompasso entre o v nculo real de subordina o de seu trabalho para com as agroind strias citr colas e o v nculo formal de sua contrata o para com as empresas terceiras O trecho de entrevista abaixo com um trabalhador terceirizado da manuten o ilustra claramente este quadro por um lado o trabalhador relata ter sido procurado e indicado por uma ind stria citr cola a diferentes e sucessivas empresas terceiras demonstrando que o v nculo para com estas era apenas formal por outro lado o trabalhador relata diferentes dificuldades no recebimento de seu sal rio e de seus direitos demonstrando sofrer o impacto do repasse de obriga es sociais e trabalhistas das agroind strias citr colas para empresas terceiras pouco estruturadas Eu sou aposentado eu trabalhei sempre na rea metal rgica Aposentei novo com 55 anos e n o vou ficar parado Ent o a turma come ou a me chamar pra eu trabalhar com terceiro L na C eu j trabalhei com tr s empresas de terceiro diferentes na rea de manuten o Esta ltima empresa terceira eu nem conhecia mas quando ela pegou o servi o na C os cara l j falaram Voc vai ter que buscar o seu J Eu te dou o servi o mas o mec nico pra mexer nesses aparelho a tem que ser o seu Z A eu nem conhe o os cara mas vou j guiado pela C combino o sal rio e vou trabalhar
339. ias mesmo em contextos de agudos conflitos Uma importante lideran a sindical patronal na citricultura assim descreve as dificuldades organizativas do setor Sempre fomos desorganizados O produtor sempre acreditava na ind stria e n o acreditava na entidade de classe Porque a ind stria que paga ele N s sempre tent vamos fazer alguma coisa Formamos associa es mas sempre se arrastando nunca com interesse efetivamente do produtor N o tem aquela obrigatoriedade efetivamente de uma contribui o financeira para a associa o Ent o um setor desorganizado Porque n o tem estrutura financeira pra voc fazer um bom trabalho Mas existe a Federa o da Agricultura de S o Paulo e os sindicatos afiliados com uma estrutura melhor onde se concentram mais as negocia es os envolvimento l dentro Porque tem uma estrutura queira ou n o queira o produtor paga a contribui o sindical Aqui n s acreditamos que temos que trabalhar num entendimento com a ind stria Antigamente n s t nhamos um revanchismo muito grande a ind stria de um lado o produtor do outro Existiram cicatrizes profundas nisso um setor que tem os seus tumultos n Mas quando voc tem s tr s ind strias voc tem que ter um entendimento cansar de ter um entendimento a hora que voc achou que n o deu mais voc tem que sentar na mesa de novo pra ter um entendimento Porque se n o tiver isso vai plantar cana Olha eu j fechei
340. icos indissoci vel da colheita da fruta uma atividade n o perif rica mas essencial ao processamento agroindustrial o v nculo empregat cio estabelece se com o benefici rio final dos servi os e n o pode ser interposto por terceiros 2 Todas as transforma es no mercado de trabalho posteriores ao fim do contrato padr o n o alteraram a subordina o das atividades rurais citr colas s diretrizes estabelecidas pelas agroind strias Na medida em que o regular funcionamento da ind stria processadora exige que o fornecimento da mat ria prima se realize em todos os aspectos fundamentais sob seu poder diretivo o v nculo de subordina o estende se a quem realmente determina o modo 3 S E 5 k e ritmo da execu o dos servi os 3 Paralisa es na compra da fruta determinadas A t tulo de ilustra o das no es jur dicas de atividade fim e atividade meio e de sua aplica o no complexo citr cola pode se fazer a seguinte cita o Os servi os de colheita de laranja prestados em propriedades rurais da reclamada Sucoc trico Cutrale Ltda ou n o integram a atividade fim da empresa que tem por objeto a industrializa o de suco formando se v nculo empregat cio Atividades fim podem ser conceituadas como as fun es e tarefas empresariais e laborais que se ajustam ao n cleo da din mica empresarial do tomador de servi os compondo a ess ncia dessa din mica e contribuindo inclusive para a defini
341. idade do trabalho o que lhe permite novas margens e novos mecanismos de extra o de excedentes econ micos Para o trabalhador por sua vez tal desenvolvimento 151 implica na diminui o do controle que seu saber fazer e seu disp ndio de energia f sica antes exerciam sobre o processo produtivo como um todo Contudo para o trabalhador tais transforma es implicam tamb m no surgimento da potencialidade de recuperar tal controle em um novo patamar atrav s da socializa o dos meios de produ o e da determina o aut noma dos rumos da atividade produtiva por parte do coletivo de trabalhadores A luta entre estas duas perspectivas de classe marcou o modo de produ o capitalista entre os s culos XIX e XX estimulando e conformando novas rela es e novos desenhos no espa o fabril Particularmente importante para n s neste momento s o as altera es ocorridas na segunda metade do s culo XX em resposta ao forte ascenso da luta de classes entre as d cadas de 1960 e 1970 Neste per odo a ordem estabelecida ao redor do globo sofreu significativas crises econ micas e pol ticas uma forte queda da taxa de lucro na ind stria ocorreu concomitantemente a embates de grandes propor es no interior do espa o fabril Mobiliza es de trabalhadores industriais tanto em pa ses do chamado bloco comunista Hungria Tchecoslov quia China Pol nia quanto do bloco capitalista Fran a It lia e Portugal em especial deb
342. ificado viu Aquele tempo foi bastante sacrificado Era uma jornada de doze horas de domingo a domingo a gente n o tinha folga Era dificil viu Sem final de semana sem nada Como eu queria esquentar a carteira registrar como um eletricista de ind stria pra ter uma profiss o melhor no futuro eu precisei suportar isso da Na poca a gente era registrado mas a gente tamb m recebia alguma coisa por fora Esse esquema quem topa isso da principiante hoje eu j n o faria um neg cio desses eu acho que a gente perde l no futuro perde aposentadoria perde nas f rias perde no d cimo terceiro perde em tudo Al m disso tinha tamb m o problema de alimenta o a gente comia num restaurantinho que era de p ssima qualidade Tinha o problema de transporte que s vezes c saia da empresa e n o tinha transporte s vez tinha de vim na canela pegar carona Tinha problema com vesti rio tinha problema com ferramenta tinha bastante probleminha Sem contar que teve caso de trabalhar e na hora do acerto o fundo de garantia n o t depositado passei por esses processos tamb m N o perdi acabei recebendo mas c acaba sofrendo perdendo tempo atr s disso da Eu tinha uma boa experi ncia eu tinha uns curso mais a experi ncia de ch o de f brica h cinco anos e surgiu uma vaga Nessa vaga eu concorri fiz o teste e fui aprovado Sei que quando eu entrei na empresa as pernas tremeu eu assumi uma responsabilidade
343. il 2013 AGRADECIMENTOS Agrade o inicial e especialmente Ol via minha companheira de vida pela constru o cotidiana de amor e carinho que ado am nossa vida e fortalecem nossa humanidade em meio s mazelas do mundo Agrade o tamb m Terezinha minha m e por ter me transmitido desde cedo o desejo de participar da transforma o da atual ordem social Agrade o aos camaradas das organiza es pol ticas por onde passei em particular Ana Elisa ao Rodrigo e Tatiana com quem muito aprendi ao realizar minhas primeiras experi ncias de aproxima o com movimentos populares e de trabalhadores Ao Edmundo Dias raro educador entre os professores brasileiros agrade o pelas muitas conversas em que soube com delicadeza e paci ncia apontar as fragilidades de meus argumentos te ricos e de minhas iniciativas pr ticas Aos professores Ant nio Thomaz Jr Fernando Louren o Francisco Alves e Maria Orlanda Pinassi agrade o pela leitura atenta desta disserta o e pelos coment rios sejam eles informais ou em bancas de qualifica o e defesa Aos membros da Associtrus Associa o brasileira de citricultores MST Movimento dos trabalhadores rurais sem terra e de sindicatos ligados Feraesp Federa o dos empregados rurais do estado de S o Paulo Fetaesp Federa o dos trabalhadores rurais do estado de S o Paulo e Fetiaesp Federa o dos trabalhadores das ind strias de alimenta o do estado de S
344. indo um pouco eu perguntei se n o tinha jeito de colher ela mais r pido pra eu perder menos A primeira pergunta que ele falou foi P c n o tratou da laranja da pinta preta Se voc n o tratou da pinta preta vai perder Como que faz C quer vender a laranja e n o trata Eu tratei dela direitinha mas essa doen a da pinta preta n o termina de um dia pro outro assim Ela vai diminuindo ano a ano at zerar se voc vai fazendo o controle Voc pedir pra ele uma ajuda se n o tinha jeito de colher mais r pido pra voc deixar de perder um pouco e o cara falar pr voc voc n o tratou da laranja A gente se sente meio chateado com isso Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 Articulados ao poder p blico diferentes setores do complexo citr cola comp em outra media o de relev ncia no cotidiano dos produtores citr colas o Fundecitrus Fundo de Defesa da Citricultura Trata se de uma institui o criada em 1977 composta por representantes dos citricultores e das ind strias e financiada a partir de uma porcentagem 171 do pre o da caixa de laranja entre eles comercializada com o objetivo de monitorar determinadas doen as do parque citr cola A partir de 1999 o Fundecitrus articulou se Secretaria da Agricultura do estado de S o Paulo para fiscalizar e erradicar p s contaminados nos pomares paulistas O Fundo entraria com os recursos necess rios e o poder p blico chancelaria a
345. inho sem folga sete dias por semana S na semana que vem a gente vai come ar a folgar Hoje mesmo eu tava conversando com o cara que trabalha no blender e ele disse que n o sabe quando vai folgar porque o cara que t l n o conseguiu aprender ainda entendeu Todo come o de safra dessa maneira Pra falar a verdade por a gente ganhar pouco a gente ficou esse tempo todo sem folga por op o da gente mesmo por que n o foi t o necess rio assim Se quisesse folgar mais cedo at folgaria O pessoal vai folgar na semana que vem porque j t estressado n o t agiientando mas se quisesse esticar um pouco mais esticaria pra ver se ajuda financeiramente no final do m s Durante a safra n s tamb m estica a jornada o pessoal fica duas horas duas horas e meia tr s vezes por semana s vezes a semana inteira Porque eles pagam como hora extra 60 a mais na hora Ent o tem muitas pessoas que esticam na hora pra contribuir um pouco As pessoas que n o faz bico que n o tem outro emprego eles preferem esticar por isso Operador Mat o 07 2012 Na C primeira ind stria de suco em que trabalhou c podia fazer quantas horas extras c quisesse Ia pro banco de hora mas ele enchia r pido A partir do momento que encheu j n o podia mais ir pro banco a j pagava como hora extra Chegava no final do m s vinha uma quantidade de hora boa pra voc L eu j cheguei a trabalhar quarenta dia corrido doze hor
346. instrumentos de pesquisa quantitativa Como veremos a reprodu o de trechos por vezes longos de entrevistas permitir destacar nuances das leituras e das estrat gias de trabalhadores submetidos a condi es similares possibilitando nos investigar as potencialidades e os obst culos de sua constitui o enquanto sujeitos pol ticos coletivos no interior da luta de classes que permeia este complexo agroindustrial No que diz respeito aos pequenos produtores familiares citr colas as entrevistas foram realizadas com propriet rios de at 50 hectares que j forneceram ou ainda fornecem laranjas s agroind strias e realizam parte do trabalho no s tio com m o de obra familiar Os contatos foram realizados atrav s de sindicatos rurais e da Associa o Brasileira de Citricultores Associtrus As entrevistas foram conduzidas nas depend ncias destas institui es ou nas casas ou s tios dos entrevistados nas cidades de Monte Azul Paulista pertencente ao Escrit rio de Desenvolvimento Rural de Barretos Ibitinga e Taquaritinga pertencentes ao Escrit rio de Desenvolvimento Rural de Jaboticabal Por um lado trata se de regi es citr colas tradicionais ainda respons veis por parcela significativa do cultivo da laranja no estado por outro trata se de regi es nas quais os pomares especialmente de pequenos citricultores v m sendo gradativamente suprimidos nas ltimas d cadas 18 Figura 1 Distribui o da produ o citr cola ent
347. io no Brasil para legitimar a representa o sindical e seu poder de negocia o com o capital De fato a continuidade da tutela estatal sobre o sindicalismo brasileiro levou e ainda leva a Feraesp a dedicar parcela significativa de sua energia e de seus recursos seja obten o de reconhecimento jur dico de sua exist ncia seja disputa jur dica com outros 241 sindicatos e federa es sobre a representa o de segmentos de trabalhadores assalariados no campo Em segundo lugar a relev ncia no campo de rg os estatais como o Minist rio P blico do Trabalho MPT levou e ainda leva a Feraesp constru o de alian as com representantes do poder p blico para o enfrentamento de determinadas quest es em contextos de fr gil mobiliza o e organiza o dos trabalhadores Exemplo disto no complexo citr cola como j vimos o conjunto de iniciativas do MPT contra as coopergatos na d cada de 1990 contra os gatom nios nos anos 2000 e pelo retorno contrata o direta de todos os colhedores do estado pelas agroind strias a partir de 2010 O presidente da Feraesp assim se coloca a respeito dos benef cios e atritos envolvidos nesta rela o O que a Feraesp pensa a respeito da a o civil p blica do Minist rio P blico do Trabalho de fevereiro de 2010 que exige que as ind strias voltem a contratar toda a m o de obra utilizada na colheita dos pomares paulistas A Feraesp subsidiou durante muitos anos as a
348. ir l embaixo Servi o que n s realiz vamos com trabalhador fixo foi terceirizado consequentemente a arrecada o do sindicato pra investir no pr prio trabalhador tamb m diminuiu Isso porque o trabalhador terceirizado n o representado pelo sindicato da alimenta o Se ele da rea metal rgica e vem fazer um trabalho nessa rea s vezes o sindicato dos metal rgicos d respaldo Dependendo do tipo de servi o na maioria das vezes feito pelo sindicato da constru o civil Ent o houve um grande impacto da terceiriza o no segmento da alimenta o em rela o a representa o Pra empresa foi bom Deve ter sido Mas pros sindicatos foi uma p ssima experi ncia Presidente do sindicato dos trabalhadores das ind strias de alimenta o Mat o 07 2012 Face a tal cen rio de fragmenta o duas op es pol ticas se imp em Por um lado h a op o de articular em escala local e estadual as diferentes fra es de trabalhadores que sofrem com a ofensiva das agroind strias citr colas colocando em xeque as segmenta es que os dividem ao longo de toda a cadeia produtiva com vistas a recuperar seu poder de mobiliza o e enfrentamento contra o capital agroindustrial Por outro lado h a op o de abrir m o por completo de recuperar a mobiliza o pol tica deste trabalhadores encaminhando negocia es entre as burocracias sindicais e os dirigentes das ind strias de suco com vistas a alcan ar
349. iro Fundo de Cultura 1962 GOMES da SILVA Jos 4 reforma agr ria brasileira na virada do mil nio Campinas ABRA 1996 A reforma agr ria no Brasil frustra o camponesa ou instrumento de desenvolvimento Rio de Janeiro Zahar 1971 GRAMSCI Ant nio Cadernos do C rcere vol 3 Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2002 GRAZIANO da SILVA Jos 4 Moderniza o Dolorosa Rio de Janeiro Zahar 1980 Progresso t cnico e rela es de produ o na agricultura S o Paulo Hucitec 1981 Brasil Cambios estructurales e movimientos sociales en el campo in ZAMOSC Leon MART NEZ Estela CHIRIBOGA Manuel coords Estructuras agr rias y movimientos campesinos en America Latina Madrid Minist rio de Agricultura Pesca y Alimentaci n 1996 De b ias frias a empregados rurais Macei EDUFAL 1997 318 Agroind stria e globaliza o o caso da laranja no estado de S o Paulo In CAVALCANTI J Org Globaliza o trabalho meio ambiente mudan as socioecon micas em regi es frut colas para exporta o Recife Ufpe 1999a O Novo Rural Brasileiro Campinas Editora da Unicamp 1999b coord 4 crise do complexo citricola paulista uma proposta n o excludente S o Paulo Diret rio Regional do PT 2000 GRZYBOWSKI C ndido Caminhos e descaminhos dos movimentos sociais no campo Rio de Janeiro FASE 1987 GUILHOTO Joaquim SILVEIRA Fernando AZZONI Carlos PIB das
350. is de 1000 98 5 35 207 171 82 153 148 Total 20 599 100 100 24 300 100 100 22 157 100 Fonte Instituto de Economia Agr cola in Vieira 1998 Analisando primeiramente a varia o do n mero de im veis observamos que a pequena produ o de citros manteve se relativamente est vel ao longo do per odo destacado Oscilou entre aproximadamente 15 000 e 18 000 im veis em vinte e cinco anos aumentando entre 1980 e 1985 e entre 1990 e 1995 e decrescendo entre 1985 e 1990 Houve ao mesmo tempo contudo aumento significativo no n mero absoluto de pomares m dios at 200 hectares grandes acima de 200 hectares e muito grandes acima de 1000 hectares Ocorreu com isso uma diminui o dr stica no percentual de p s novos no interior dos pequenos pomares se em 1980 mais da metade dos p s em forma o estavam nas m os da pequena produ o citr cola em 1995 este percentual desceu a menos de um quarto Em contrapartida se em 1980 apenas 5 dos p s novos estavam em pomares muito grandes em 1995 este percentual subiu para 19 2 reflexo do aumento acelerado de pomares pr prios das agroind strias no per odo Como resultado a tend ncia geral nos vinte e cinco anos retratados foi a diminui o significativa da participa o da pequena produ o citr cola na produ o total no estado paralela a um pequeno aumento da participa o de pomares m dios e a um aumento vertiginoso da participa o de pomares grandes e muito grandes
351. is trabalhistas Sen o n o tem como se eu fico doente como que eu vou exigir alguma coisa se eu n o existo O registro existe por isso da um meio do governo saber que n s existimos e temos direito quelas leis Eu acho que importante mas eu acho que muito pouco n A base que eles fazem do sal rio do trabalhador muito pouco Por isso que existe isso de trabalhar sem registro de receber o seguro desemprego e continuar trabalhando de trabalhar no registro s de fachada e trabalhar pago por fora Esse povo inventa todo meio porque complicado sobreviver com o sal rio Quem vive com o sal rio N o existe quem vive com o sal rio O governo faz l o sal rio m nimo baseado em cesta b sica mas ningu m vive s do arroz e feij o Por isso que vira essa anarquia a N s perde o governo perde fica tudo nas m o dos poderosos porque n s tamo ajudando eles a sonegar n Mas n s temo outro meio N o temo outro meio n s temo que sonegar pra n s ter um pouquinho a mais O que o governo n o v isso o pre o que eles estabelece na caixa da laranja N o d pro trabalhador comer se ele for ganhar s o pre o da caixinha se for trabalhar na honestidade T quanto cinquenta e cinco centavo a caixinha Como que voc vai apanhar cem caixa pra ganhar cinguenta e cinco reais Se pagar um pelo outro no pre o que estabelecido na caixinha a hora que chegar num pomar que c panha vinte caixa por dia c nem va
352. ital agroindustrial No interior deste cen rio tornaram se ainda menos din micos os sindicatos de trabalhadores das ind strias da alimenta o paulistas organizados em torno da Fetiaesp Federa o dos Trabalhadores das Ind strias de Alimenta o do Estado de S o Paulo e filiados em sua grande maioria For a Sindical Dirigentes sindicais com atua o no setor afirmam que o aumento da terceiriza o o estabelecimento do contrato por tempo determinado e o temor da perda de empregos para a automa o enfraqueceram a organiza o e mobiliza o dos assalariados das ind strias de suco paulistas e impossibilitaram uma atua o mais contundente de enfrentamento com o capital agroindustrial citr cola no ltimo per odo O seguinte trecho de entrevista com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Ind strias de Alimenta o de Mat o exemplifica em detalhes tal interpreta o da correla o de for as no setor Tem um velho ditado que diz assim a gente tem que dan ar conforme a m sica O cen rio hoje totalmente diferente de tempos atr s At o come o dos anos 1990 tava todo mundo mais tranquilo porque sabia que podia pleitear um outro trabalho era muito mais f cil arrumar emprego Era assim eu quero isso se voc n o quer n s vamos fazer uma paralisa o E parava principalmente no segmento metal rgico que onde todo mundo se inspira Hoje o que t acontecendo que o sindicalismo teve que repensar os
353. ital e do agroneg cio no campo brasileiro buscamos nesta pesquisa investigar as vozes de diferentes fra es da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial no complexo citr cola paulista Atrav s da reprodu o exaustiva de depoimentos procuramos mostrar as continuidades e descontinuidades sociais e pol ticas existentes entre pequenos produtores de laranjas que mant m seu modo de vida e trabalho familiares pequenos produtores de laranjas em acentuado processo de proletariza o pequenos propriet rios ou posseiros migrantes que se assalariam periodicamente em pomares paulistas fam lias sem terra em acampamentos ou assentamentos de reforma agr ria cujos membros se assalariam peri dica ou permanentemente em pomares paulistas assalariados rurais manuais com e sem registro em carteira operadores de m quinas agr colas e transportadores de laranjas s agroind strias trabalhadores de ch o de f brica terceirizados ou efetivos safristas ou permanentes Alcan amos com isso uma heterog nea vis o de conjunto da classe trabalhadora no setor una em sua multiplicidade na medida em que todos estes sujeitos encontram se subordinados a um conjunto crescentemente restrito de detentores dos meios de produ o agroindustriais m ltipla em sua unidade na medida em que cada um destes sujeitos possui especificidades econ micas pol ticas e ideol gicas que os diferenciam dos demais 309 A constru o de um novo ordenam
354. iunrashansuaco pone Duaca acesas pensa ave oseto o isst s oss posesa Soens pondo ease ninar aa gaia 13 Cap tulo 1 Moderniza o conservadora e classe trabalhadora no campo brasileiro 23 Tntroduca O meir ae RSCG IR RR UE N T O a E RESENDE AR RR ENS 23 Desenvolvimento desigual e combinado da articula o ind stria agricultura e os m ltiplos contextos da classe trabalhadora rural 31 Desenvolvimento desigual e combinado das media es de controle sobre a m o de obra e as m ltiplas subjetividades da classe trabalhadora rural iiieieeeeeea 47 Mecaniza o na lavoura automa o no ch o de f brica e os desafios da luta de EEA A NE E EREE EE TAE EE ATE TAE EEEE ER 65 Cap tulo 2 Moderniza o conservadora e classe trabalhadora no complexo citr cola EEAO I DUE EE O E E S E SARA UMAS EEE 83 VAST ERE EREET AEN E AEE T AAE A T A E AEA AS T A 83 Ofensiva das agroind strias citr colas na d cada de 1990 e subordina o do trabalho dos pequenos produtores familiares ao capital iiieeeeeeeeeeeeeereraraaeeeeeeneanan s 91 Metamorfoses no mercado de trabalho rural na citricultura e subordina o formal do trabalho assalariado ao Capital os tan iso ep alla 114 Reestrutura es no interior da agroind stria citr cola e subordina o real do trabalho assalariado ao COD rias essi dra inte DO OS po a 140 Cap tulo 3 Vozes do trabalho Exclus o e proletariza o da pequena produ o familiar citr c
355. ja na ind stria paulista Disserta o de mestrado Departamento de Geografia Faculdade de Filosofia Ci ncias e Letras da Universidade de S o Paulo 1998 PINO Francisco FRANCISCO Vera L cia O empreiteiro na ind stria citr cola paulista informa es econ micas SP vol 29 n 3 mar 1999 AMARO Ant nio VICENTE Maria Citricultura Paulista tecnologia e m o de obra Informa es Econ micas SP vol 31 n 5 maio 2001 FREDO Carlos OLIVETTE Mario Pires VICENTE Maria FRANCISCO Vera L cia T cnicas e ocupa o de m o de obra na cultura da laranja no estado de S o Paulo Informa es econ micas SP vol 38 n 12 dez 2008 VICENTE Maria FAGUNDES Priscilla FRANCISCO Vera L cia Ocupa o da m o de obra na cultura da laranja estado de S o Paulo 2011 An lises e indicadores do agroneg cio vol 6 n 9 set 2011 BARBOSA Gabriela da Rocha Os cons rcios de produtores rurais no complexo agroindustrial citr cola paulista das gatoperativas aos gatos rcios a velha forma de contrata o de m o de obra rural Disserta o de mestrado Centro de Ci ncias Exatas e Tecnologia Departamento de Engenharia de Produ o Universidade de S o Carlos 2007 BASTOS lide Rugai As Ligas Camponesas Petr polis Vozes 1984 BERNARDO Jo o Transnacionaliza o do capital e fragmenta o dos trabalhadores Ainda h lugar para os sindicatos S o Paulo Boitempo 2000
356. jamento do empreendimento agroindustrial como um todo Multiplicaram se os nexos entre a produ o agr cola a ind stria de maquin rio e insumos e as agroind strias processadoras Mudan as t cnico organizacionais das lavouras passaram a ser planejadas em sincronia com as decis es globais das unidades de processamento industrial Estas por sua vez se tornaram crescentemente adaptadas a mudan as ocorridas na parte agr cola capazes de beneficiar os m ltiplos recursos oferecidos pelas lavouras Ainda que em ritmos distintos em diferentes locais e culturas mecanizaram se novos momentos do processo de trabalho e automatizaram se as linhas de processamento agroindustrial implantando se tamb m no 66 ch o de f brica novas formas de organiza o da produ o Thomaz J nior assim caracteriza este processo O elevado grau de integra o agroindustrial ou ainda o fortalecimento da unifica o org nica entre a lavoura e a f brica processadora considerando a diferencialidade expressa entre as empresas na sua internaliza o o apontamento que est sendo dado na esfera fabril que est o tra adas as estrat gias e o planejamento da empresa agroindustrial como um todo sob a refer ncia dos ganhos de produtividade e do fortalecimento do controle sobre o processo de trabalho Sob este referencial a lavoura passa a ser considerada como um momento da produ o industrial Thomaz Jr 2002 p 139 Em todo
357. l citr cola na medida em que a identidade daqueles tem sido fortemente marcada pelas novas responsabilidades e habilidades intelectuais deles exigidas Tal cen rio comp e juntamente com as j mencionadas altera es no mercado de trabalho assalariado rural e no grau de controle das agroind strias processadoras sobre seus fornecedores de mat ria prima um conjunto multifacetado e heterog neo de contradi es impostas pelo capital agroindustrial a todas as fra es de trabalhadores a ele subordinados Em um grau maior de concretude chegamos enfim ao mesmo ponto em que hav amos conclu do nosso primeiro cap tulo A moderniza o do complexo agroindustrial citr cola nas ltimas duas d cadas n o pode ser vista de modo linear e mec nico como tipicamente fazem os apologetas do chamado agroneg cio mas sim de modo desigual e 154 combinado determinada tanto em seus aspectos econ micos como em seus aspectos pol tico ideol gicos pela din mica da luta de classes Paralelamente a classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial citricola n o pode ser lida de modo abstrato e homog neo ou unilateral e segmentado como tipicamente fazem determinados intelectuais e organiza es mas sim enquanto um complexo de continuidades e descontinuidades portador de um conjunto articulado e multifacetado de contradi es com o capital Como destaca Ant nio Thomaz Jr comp em esta totalidade viva e heterog nea do trabalho subor
358. l e comprar arroz Filho de citricultor familiar Ibitinga 07 2011 Uma boa maioria dos citricultores pequenos partiram pra outras culturas principalmente cana Venderam propriedades t o trabalhando de empregados Tem muitos pequenos produtores que acabou vendendo tudo a propriedade e os que n o conseguiram aquela aposentadoria de at dois sal rio m nimo sei l quanto mas bem baixinha t o trabalhando de empregado de pedreiro de funcion rio da prefeitura de motorista Diminuiu muito a classe citricultora dessa regi o bastante Esse pessoal que se desfez da propriedade hoje eles sentem c v na fisionomia da pessoa que eles n o t m muito aquela conversa espont nea de amizade como tinha antigamente ia em campo de futebol nos bairros de s tio hoje n o tem mais isso Eu penso que eles ficam assim um tanto retra dos n Porque praticamente eles foram obrigados a mudar de situa o financeira de classe social n Antes eles tinha uma classe social tinha carro tinha vamo dizer uma mordomia n o sei se seria bem isso mas hoje bem restrito muito restrito eles t o quase na classe pobre vamo dizer assim Engenheiro agr nomo Ibitinga 07 2011 A ltima laranja n s plantou em 1999 depois pegou o amarelinho depois a pinta preta que eu acho muito dif cil e agora o greening n Eu acho dif cil plantar laranja Eu plantava junto com meus irm os mas a come ou a dar preju zo e eu
359. l no interior da Feraesp Esta federa o nasceu das contradi es de interesses entre assalariados rurais e pequenos produtores no interior de uma nica representa o sindical Nesse sentido h for as no interior da federa o que rejeitam qualquer alian a com setores patronais sejam eles de grande ou pequeno porte argumentando que isso feriria a independ ncia de classe dos assalariados rurais O presidente da Feraesp assim o coloca N s temos tentado fazer ao longo destes ltimos tempos poss veis alian as com produtores A principal organiza o que tem dialogado com a Feraesp positivamente a Associtrus At porque n s entendemos que muitos dos problemas que os pequenos e m dios produtores passam tamb m s o consequ ncia dessa subordina o com a ind stria Pessoalmente eu acho que uma rela o que com seus altos e baixos tem dado frutos Ela deu um fruto importante por exemplo quando a Associtrus e a Feraesp fizeram um alian a para impedir o governo brasileiro de interromper a investiga o da opera o Fanta Enquanto a Associtrus fez um mandado de seguran a contra o governo brasileiro a Feraesp fez a o popular e disputou no judici rio Impedimos os dois juntos que se fizesse um acordo com a ind stria de suco de laranja e encerrasse as investiga es do cartel Isso foi o momento mais importante desse trabalho conjunto Eu acho que tanto eles como n s padecemos do mesmo mal a ind stria nos subordina
360. la comprava um pedacinho e falava que tinha comprado toda a chapada do Estado Era mentira mas fazer o qu in Moraes Silva 1999 p 54 A autora destaca aqui o fato de que a silenciosa compuls o dos mecanismos econ micos aliou se viol ncia extra econ mica pol tico jur dica no processo de expropria o O modo como o direito pode atuar como media o domina o de classe al m das linhas de diversifica o a montante e a jusante destacam se outras formas de integra o de capitais com o setor rural que extrapolam essa classifica o sobressaindo a os grupos Bueno Vidigal Bezerra de Melo Guatapar Silva Gordo e Hering onde as caracter sticas da integra o vertical produtiva insumo mat ria prima ou mat ria prima produto final n o est o presentes de maneira predominante Ademais nos tr s primeiros grupos aparecem empresas classificadas como Imobili rias Rurais ou Colonizadoras Rurais bastante expressivas no grupo Bueno Vidigal e que apontam para uma outra forma significativa de integra o de capitais no mbito da cria o e negocia o de t tulos patrimoniais rurais Essa atividade n o gera o que se denomina faturamento da produ o rural sendo sua renda proveniente das transa es de compra e venda de im veis Essas transa es inscrevem se com maior adequa o no movimento da circula o financeira do mercado de terras um campo peculiar de penetra o do grande capital no neg
361. lariados rurais dos complexos agroindustriais Dentre as experi ncias mais recentes no estado de S o Paulo destaca se a ocupa o da usina pertencente ao grupo Cosan no munic pio de Barra Bonita no dia 09 03 2009 em que se denunciou de forma conjunta a concentra o de terras e as condi es prec rias de trabalho rural na usina www mst org br Trabalhadoras ocupam rea do grupo Cosan em SP 09 03 2009 Destaca se tamb m a experi ncia de ocupa o da usina Guaricanga no munic pio de Presidente Alves no dia 16 04 2011 em que cerca de 250 fam lias sem terra mobilizaram se em solidariedade a 800 assalariados rurais demitidos sem receber seus direitos ap s a fal ncia e fechamento da usina www mst org br Jornada do MST ocupa seis latif ndios em S o Paulo 21 04 2011 Estas experi ncias ainda seguem contudo pouqu ssimo desenvolvidas no interior do MST Desde um ponto de vista organizativo isto tem rela o com o refluxo ao longo da d cada de 2000 da for a pol tica do movimento e consequentemente de sua capacidade de penetrar por meio do trabalho de base em cidades pequenas e m dias do interior onde existe grande quantidade de cortadores de cana colhedores de laranja etc A seguinte No in cio da d cada de 1990 esta articula o ainda era parte essencial do horizonte estrat gico da reforma agr ria proposta pelo MST Jo o Pedro St dile assim o colocou em uma palestra no Semin rio sobre o Sociali
362. laridades No mbito do complexo citr cola o presidente da Fetaesp assim relata os desvios de conduta em sindicatos de sua base e os fr geis esfor os da federa o em corrigi los Como a rela o sindicato ind stria na citricultura Tem de tudo tem ind stria onde os cara s o malandr o tem sindicato onde os cara s o espert o tem sindicato que se vende pra ind stria A gente sabe que tem n o pode fugir disso Em Mat o por exemplo a gente t com um problema A C chega l e fala N o rapaz que isso Vamo fechar aqui eu recolho pra voc s as contribui es tudo direitinho Cresce o olho do sindicato a fecha um acordo ruim Da o vizinho quer fechar um acordo melhor e a ind stria fala N o eu j fechei com fulano esse aqui Onde o advogado que exerce influ ncia no sindicato um problema advogado n o quer saber de federa o de nada ele quer saber se fazer l os rolinho dele Em Limeira por exemplo a documenta o sumiu n o tem livro de registro n o tem nada Tem uma advogada l que toma conta do sindicato um sindicato que n o vai atr s de nada a maioria da arrecada o fica com o sindicato dos trabalhadores da alimenta o L a gente vai ter que tomar uma posi o mais dr stica ir l em poca de elei o formalizar uma chapa e tirar esse pessoal de l botar algu m que trabalhador de fato mais novo que possa fazer uns cursos de forma o pra dar um
363. lho Ao tornar o aumento de produtividade uma fun o de inova es mec nicas qu micas e biol gicas aplicadas produ o e n o mais uma fun o do saber fazer e do disp ndio de energia f sica dos trabalhadores o capital foi capaz de aumentar o excedente econ mico a sua disposi o sem se basear unicamente no prolongamento do tempo de trabalho e na redu o da remunera o paga aos assalariados Ou seja ao assumir 134 maior controle t cnico sobre o processo produtivo como um todo o capital foi capaz de diminuir sua vulnerabilidade econ mica e pol tica imediata s massas de trabalhadores a ele subordinadas Na citricultura transforma es t cnicas significativas ocorreram nas ltimas d cadas no plantio e nos tratos culturais At o in cio da d cada de 1990 estas atividades eram conduzidas em S o Paulo de modo parcialmente quimificado e motomecanizado o preparo do terreno ara o e gradagem era realizado quase totalmente com trator enquanto o plantio propriamente dito era realizado manualmente e os tratos culturais capina aduba o tratamentos fitossanit rios tanto manualmente quanto com tratores implementos e herbicidas As transforma es t cnicas ocorridas at ent o fizeram com que a participa o relativa da m o de obra envolvida nestas fases do processo produtivo ca sse de 44 em 1974 75 para 26 da for a de trabalho total empregada na citricultura paulista em 1991 92 Baptistella Vicente
364. lho explorado no interior deste complexo pequenos produtores de laranjas que mant m seu modo de vida e trabalho familiares pequenos produtores de laranjas em acentuado processo de proletariza o pequenos propriet rios ou posseiros migrantes que se assalariam periodicamente em lavouras paulistas assalariados rurais manuais com e sem registro em carteira operadores de m quinas agr colas e transportadores de laranjas s agroind strias trabalhadores de ch o de f brica terceirizados ou efetivos safristas ou permanentes A partir da reprodu o de cita es o mais pr xima poss vel fala destes trabalhadores entrevistados buscaremos analisar as tend ncias e contra tend ncias de sua consci ncia a respeito das contradi es a que est o submetidos e as m ltiplas estrat gias coletivas e individuais por eles acionadas para contorn las O texto foi constru do tendo por objetivo evitar dois riscos metodol gicos polares a den ncia abstrata desconectada do real e o empirismo superficial pouco explicativo Como veremos a base conceitual exposta nos primeiros dois cap tulos ser o eixo em torno do qual selecionaremos e organizaremos o material emp rico coletado em nosso trabalho de campo Os trechos de entrevistas destacados nos tr s cap tulos seguintes por sua vez ser o relevantes para concretizar debates te ricos da sociologia rural e para contribuir com o esfor o das classes trabalhadoras e subalternas na reflex o acerc
365. lho n o registrado no per odo em que o colhedor est recebendo as parcelas do seguro desemprego Com todas estas estrat gias os colhedores buscam enfrentar um cobertor permanentemente curto que se lhe cobre a cabe a desprotege os p s e se lhe cobre os p s n o chega cabe a ao trabalhador rural manual brasileiro ainda raro encontrar ocupa es que re nam a um s tempo boa remunera o e respeito aos direitos sociais e trabalhistas Neste contexto resta aos colhedores criar esquemas de burla que lhes acg quer saber como o registro tem que v se ele clandestino ou n o Se o registro clandestino n o contar ent o a maioria t sem registro que no registro clandestino n o tem acerto Pega o seguro desemprego mas acerto no tem O acerto paga no valor a mais por caixinha Se for pra escolher entre os registro eu prefiro o clandestino que paga a mais na caixinha Ao inv s de sessenta centavos a caixinha no registro certo que tem acerto eu prefiro de um real no registro clandestino Colhedor e migrante baiano Sever nia 07 2011 84 Tem tamb m uns aqui que s vez trabalha na carteira de outro Registra na sua carteira e na de outra pessoa tamb m n Supondo eu peguei seguro desemprego esse ano nessa safra que eu to trabalhando quando acaba eu n o pego A outra pessoa se n o pegou nesse ano quando acabar essa safra vai ter Ent o uma pessoa registra nas duas carteiras divide a prod
366. lhos mora ali em Jacem polis vizinha a Limeira Eu moro aqui em Monte Azul Os outros moram l em Sergipe Dois trabalha de pintor de casa tem outro que trabalha na f brica de cal ado esse mora no s tio e todo dia vai pra cidade e volta Os velho que vai pra cidade s a passeio mesmo Colhedor Monte Azul 07 2011 82 Mais uma vez ao destacar a maior gravita o econ mica e cultural destes trabalhadores em torno de cidades do interior paulista n o queremos caracterizar de forma id lica sua integra o neste ambiente Pelo contr rio mesmo instalados por tempo indeterminado nestas cidades tais trabalhadores permanecem estigmatizados como de fora v tima de forte preconceito tnico A seguinte cita o de um filho de pequeno citricultor que trabalha em uma ind stria de bordados de Ibitinga assim o ilustra Na ind stria que eu trabalho tem uns 2000 funcion rios pode dizer que tem uns 600 que migrante Vieram direto da Bahia pra trabalhar no bordado L na Bahia eles trabalhavam na ro a Talvez at os primeiros que vieram vieram pra trabalhar na colheita da cana mas o que acontece Os mais vamos dizer assim os mais trabalhador t na colheita da cana O trabalhador bom na cana hoje tira na faixa de setecentos reais a quinzena mas o cara tem que ser trabalhador Aquele j que n o ag enta na cana no sol quente trabalha na cidade O que que eles fizeram Vieram com a fam lia de l pra c uma pessoa da
367. lizado pelo Sindicato dos Trabalhadores da Ind stria de Alimenta o de Bebedouro quanto da incapacidade dos 298 trabalhadores do setor de oferecer respostas contundentes s imposi es do capital agroindustrial citr cola na atual conjuntura Por sua vez a fus o entre Citrovita e Citrosuco colocou a disposi o de uma nica empresa duas unidades de processamento de laranjas em Mat o uma da Citrosuco com 180 extratoras e outra da Citrovita com 56 Da que esta ltima tenha anunciado pouco mais de dois meses ap s a aprova o dos planos de fus o pelo CADE o fechamento de sua f brica na cidade e a demiss o de 111 funcion rios a partir de fevereiro de 2012 e de 104 outros 62 a partir de maio do mesmo ano Tendo por pano de fundo o grande descontentamento tr s anos antes com a decis o da Citrosuco de informar os trabalhadores acerca de seu desligamento por meio de telegramas a Citrovita optou por comunicar direta e conjuntamente as demiss es e o encerramento das atividades na f brica a seus funcion rios locais O seguinte trecho de entrevista com um dirigente sindical dos trabalhadores da ind stria de alimenta o de Mat o assim ilustra as circunst ncias em que esta decis o foi tomada e transmitida Quando a fus o entre a Citrovita e a Citrosuco foi anunciada ela nos deixou muito preocupados porque n s temos conhecimento do que significa uma fus o Nenhuma fus o at o presente momento foi favor vel
368. lizaram um manifesto em Bras lia onde pediram a intermedia o do governo e fizeram um movimento de protesto s ind strias de suco impedindo seu funcionamento por v rios dias Alves e Vieira 1997 p 9 e Graziano 2000 p 6 Com base nestas mobiliza es os produtores conquistaram a altera o dos termos do contrato de venda das caixas de laranja para a ind stria At 1986 vigorara o contrato a pre o fixo segundo o qual o pre o da caixa da laranja era fixado antecipadamente em tensas negocia es entre citricultores e ind strias mediadas pela CACEX com base numa proje o futura da produ o Este contrato exclu a os citricultores de qualquer eleva o 3 O aumento dos pre os do suco no mercado internacional n o foi repassado automaticamente por mecanismos de mercado aos produtores agr colas Os pre os m dios pagos a estes por caixa de laranja apenas subiram ap s as mobiliza es pol ticas que marcaram o setor na d cada de 1980 De fato os pre os internacionais de suco medidos em d lares por caixa processada subiram acentuadamente de US 3 24 em 1980 para US 6 01 em 1984 Por sua vez os pre os m dios por caixa de laranja pagos aos produtores subiram muito menos de USS1 65 em 1980 a USS2 10 em 1984 Apenas ap s as fortes mobiliza es pol ticas dos produtores os pre os m dios por caixa de laranja subiram significativamente para USS3 50 em 1985 e US 3 54 em 1989 enquanto os pre os internacionais de s
369. lobal hoje Esta fra o da classe dominante tornou se com isso capaz de dirigir um s lido e sofisticado bloco pol tico e ideol gico que tem por objetivo remover quaisquer obst culos expans o do mercado fundi rio e do cultivo de commodities agr colas e multiplicar seus canais de press o e barganha no interior do Estado articulando em seu favor diversas modalidades de pol ticas p blicas no campo brasileiro distribui o desigual de cr dito rural favor vel a grandes produ es renegocia o peri dica das d vidas agr colas incentivos fiscais conforma o de distritos agroindustriais constru o de eixos modais de escoamento de produtos agropecu rios destinados exporta o etc Heredia Palmeira e Leite 2010 Castilho 2012 Chesnais assim nos apresenta este quadro pontuando as fra es da burguesia que mais se fortaleceram nas ltimas d cadas no Brasil e sua rela o com o contexto de mundializa o do capital 29 Seguem controversas no debate pol tico e acad mico brasileiro a defini o e a quantifica o do assim chamado agroneg cio Dentre diversas medi es poss veis de sua dimens o na economia brasileira atual podemos destacar um estudo de dezembro de 2004 da Funda o Instituto de Pesquisas Econ micas FIPE USP Utilizando como metodologia a soma do PIB de 4 agregados insumos para a agricultura e pecu ria agricultura e pecu ria ind strias de base agr cola e distribui o final t
370. longo da d cada de 1970 quanto os cr ditos para o beneficiamento de oleaginosas a car trigo entre outros constitu ram importante est mulo s atividades industriais e comerciais do complexo agroindustrial Delgado 1985 A tal pol tica de financiamento rural deve se acrescentar como instrumento modernizador da ditadura do capital sob tutela militar uma pol tica tecnol gica claramente apoiada nos princ pios da chamada Revolu o Verde Especialmente com o II Plano Nacional de Desenvolvimento a partir da segunda metade da d cada de 1970 foram articulados em uma pol tica expl cita esfor os de grandes empresas estatais capital transnacional e capital nacional com vistas amplia o da oferta de maquin rio e insumos b sicos agricultura Buscou se com isso assentar as bases de uma agricultura capitalista que combinasse a cria o de variedades vegetais altamente exigentes em aduba o qu mica e irriga o com inova es f sico qu micas e mec nicas fundadas em uma matriz energ tica intensiva no uso de derivados de petr leo Implementou se ainda uma pol tica agroindustrial que estimulou a articula o da agricultura ao setor industrial a jusante por meio de incentivos financeiros e n o financeiros Como incentivos n o financeiros agroind stria no per odo destacaram se em especial para o complexo da soja as redu es de custos de processamento por meio de dedu es fiscais e os tabelamentos de pre
371. lustram conflitos quanto s determina es contratuais do desconto de refugos e da libera o da colheita e entrega das frutas por parte da agroind stria Expressam claramente seus sentimentos amb guos em que se mesclam subordina o e hostilidade na rela o com os compradores de seu produto Eles falaram voc pode assinar o contrato que em x dias vai come ar a tua colheita E n o come ou A minha colheita era pra ocorrer em setembro Se eu colho minha laranja em setembro eu n o perdia 1500 caixas Mas foram me colher em outubro Fim de outubro Caindo laranja Colhia o pomar de um vizinho meu depois de outro Depois o empreiteiro come ou a falar que o p de laranja Bom Deixa quieto porque a gente come a a ficar nervoso Eu n o falo nada porque eu n o sou homem de criar inimizade Por isso que s vezes eu fico doente porque eu n o sou homem de explodir Eu sou homem que gosta da liberdade de entrar em qualquer lugar e n o ficar desviando de ningu m Ent o eu s vezes suporto muitas coisas por n o ter Bom eu sou um homem livre eu gosto de em qualquer ambiente que eu estar eu t livre Ent o deixa quieto Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 Hoje tem contratos que j incluem o desconto de um por cento de refugo Antigamente eles descontavam quanto queriam A a turma andou batendo o p e eles come aram a estipular No meu caso um por cento l na C Na ltima viagem me
372. m conjunto heterog neo e internamente contradit rio de trabalhadores Antunes 2006 No interior das agroind strias citr colas as mencionadas transforma es no ch o da f brica tiveram resultados condizentes com estes contextos mais gerais Em primeiro lugar o aumento da explora o da componente intelectual do trabalho no ch o de f brica acompanhou um maior poder do capital agroindustrial sobre o processo produtivo como um todo e sobre a consci ncia dos trabalhadores fabris Por um lado como j apontado o aumento da responsabilidade e da qualifica o dos assalariados industriais foi acompanhado por um maior dom nio verticalizado da ger ncia agroindustrial sobre todo o fluxo do processamento Por outro lado a automa o as demiss es e os avan os e retrocessos da terceiriza o no ch o de f brica afastaram grande parcela de trabalhadores mais velhos privilegiando na contrata o idades e consci ncias melhor adequadas s demandas econ micas e pol ticas do capital Em segundo lugar aprofundaram se as clivagens no interior da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial A automa o das agroind strias articulou se desigual e combinadamente a uma menor e mais heterog nea aplica o de inova es tecnol gicas e organizativas lavoura Fortaleceu se com isso a clivagem pol tico ideol gica entre os trabalhadores industriais e as demais fra es da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustria
373. m empresas que compram e vendem para as demais empresas Na esfera da organiza o da produ o e dos processos de trabalho a nfase recaiu de um lado na organiza o do processo produtivo em c lulas substituindo a organiza o em linha conjugada revis o redu o ou elimina o da fun o de supervisor de produ o e de outro no acompanhamento e controle cont nuos da qualidade a cada opera o pelo pr prio oper rio em substitui o inspe o pelo pessoal do controle de qualidade ao final do processo Quanto s condi es e rela es de trabalho de um lado o papel de realce foi atribu do ao maior envolvimento dos funcion rios nas decis es relativas organiza o e s condi es de trabalho e de outro exig ncia de funcion rios mais generalistas e polivalentes Mazzali 2000 p 45 Atualmente a supera o destas segmenta es tornou se um desafio central dos trabalhadores assalariados do ch o de f brica nas agroind strias Como veremos a redu o no n mero de postos de trabalho e a amea a do desemprego a presen a de trabalhadores safristas e a presen a de trabalhadores terceirizados s o alguns dos fatores levantados por dirigentes sindicais do setor para justificar suas crescentes concess es aos interesses patronais enfraquecendo ainda mais a j pouco combativa organiza o sindical dos 77 trabalhadores das ind strias de alimenta o justamente o
374. m cinco ajudante os safristas Gra as lei do Fernando Henrique que implantou isso a contrato por tempo determinado pros empres rios foi um prato cheio Antigamente o pessoal entrava com contrato de experi ncia de tr s meses e depois efetivava se a empresa dispensasse ela pagava os 40 de multa de FGTS Ou seja pensava duas vezes Hoje o cara j entra sabendo que vai ser dispensado e a empresa n o tem a obriga o de pagar os 40 Esse ano 2012 deu uma boa melhorada na m o de obra eu acredito que devido Copa do Mundo apareceu bastante emprego de constru o e as empresas ficou com dificuldade pra achar gente pra trabalhar sabendo que era por seis cinco meses Foi aonde que eles seguraram um pouco mais no ano passado Mas em outros anos com a oferta de m o de obra em alta as empresas fazia o que queria Operador Mat o 07 2012 No final da safra a gente recebe o tempo de servi o como qualquer trabalhador Mas como o nosso contrato por tempo determinado se a gente fizer a safra toda de ponta a ponta a gente n o pega seguro desemprego A gente tamb m n o pega a multa de 40 em cima do fundo de garantia A gente s pega essas coisas se a firma dispensar no meio da safra Como n o tem essas ajuda na parada da safra o pessoal tem que fazer bico de pintor pedreiro servente de pedreiro vigia colhedor de laranja Sempre tempor rio n o aquela coisa fixa um ou outro tem sorte de arrumar alguma coisa fixa
375. m encerrar as investiga es propondo se pagar uma multa de R 100 milh es e assinar um Termo de Cessa o de Conduta TCC A proposta foi rejeitada com base no par grafo 5 do art 53 da lei que regulamenta o Conselho Administrativo de Defesa Econ mica CADE que proibia que empresas investigadas por cartel fossem beneficiadas com TCC Em 2007 atrav s da press o pol tica das agroind strias tal dispositivo foi revogado com a medida provis ria n 344 conhecida como emenda do suco proposta pelo Deputado do Jilmar Tatto PT SP Uma press o conjunta da Associtrus e da Feraesp evitou poca que se assinasse o acordo e se encerrassem as investiga es Atualmente o cen rio mant m se em aberto uma vez que enquanto as empresas mant m o esfor o para encerrar as investiga es a SDE obteve em 2010 autoriza o da Justi a para deslacrar o ltimo malote de documentos apreendidos na Opera o Fanta Em resposta a tais constantes den ncias ganharam import ncia nos ltimos dez anos os esfor os de legitima o por parte das agroind strias da din mica de forma o de pre os no interior do complexo Em primeiro lugar no que diz respeito ao custo de 43 Recentemente um ex industrial que fizera parte da forma o deste cartel detalhou em entrevista ao jornal Folha de S o Paulo seu funcionamento FOLHA Quem teve a ideia de formar e quando come ou o cartel na ind stria de suco de laranja DINO TOFINI A ideia foi
376. m ent o transformadas em cooperativas e outras surgiram sob dire o e orienta o de sua administra o e departamento jur dico Posteriormente intermedi rios buscando maior autonomia constitu ram cooperativas fora do controle direto das ind strias Proliferaram ent o gatos em formato em tudo similar quele que marcara o mercado de trabalho rural especialmente entre as d cadas de 1960 1970 e 1980 Baptistella Pino e Francisco 1999 A forma com que as cooperativas de m o de obra rural se organizaram no cintur o citr cola brasileiro revela que a dire o de sua implanta o e o consequente fortalecimento foram nicos da ind stria e dos produtores de laranja para os gatos A expans o desse modelo de contrata o afetou a quantidade e a distribui o das cooperativas nos munic pios citr colas do cintur o j que a partir de setembro de 1995 ocorreu uma prolifera o de cooperativas que fugiram do controle industrial Por exemplo em Bebedouro as empresas de processamento estimularam o processo de implanta o controlando tr s cooperativas mas no ver o de 1996 verificou se a presen a de dez cooperativas fora do controle das firmas processadoras Em Mat o ocorreu o mesmo processo envolvendo duas processadoras e uma dezena de cooperativas Paulillo Almeida e Salom o 2002 p 96 Os sindicatos dos produtores rurais atrav s da Federa o da agricultura do estado de S o Paulo manifestaram seu ap
377. ma polariza o do mercado de trabalho na agricultura entre um n cleo de trabalhadores permanentes com maior acesso a direitos trabalhistas e a 2 Deve se reafirmar de passagem que esse processo de exclus o acentua o estreitamento de la os entre o universo urbano e rural uma vez que a massa de trabalhadores exclu dos ou continua a migrar s cidades ou incorpora se crescentemente a atividades n o agr colas na zona rural Graziano destaca que na primeira metade da d cada de 1990 enquanto a popula o economicamente ativa PEA rural ocupada em atividades agr colas decresceu em 2 5 no estado de S o Paulo a PEA rural ocupada em atividades n o agr colas cresceu cerca de 10 no mesmo estado Destacam se neste quadro ocupa es vinculadas ao emprego dom stico constru o civil ind stria de transforma o ao com rcio ambulante etc Graziano 1999 p 41 72 previd ncia social com maior rendimento e com maior forma o e uma massa de trabalhadores tempor rios com taxas mais baixas de formaliza o do emprego com menores sal rios e com menor n vel educacional Balsadi 2008 A partir de dados da PNAD de 2004 Balsadi aponta que neste ano tinham registro em carteira 50 dos empregados agr colas permanentes com resid ncia urbana e 49 6 dos empregados agr colas permanentes com resid ncia rural no Brasil No mesmo ano tinham registro em carteira apenas 14 2 dos empregados agr colas tempor rios com resid nci
378. mais nenhum funcion rio Isso foi no s bado 7 de fevereiro no dia em que a gente recebeu o telegrama notificando nosso desligamento da empresa Na semana seguinte n s entregamos o uniforme fizemos a baixa um exame m dico bem superficial e dispensaram todo mundo Muitas pessoas na hora desesperaram choraram muito Voz embargada Era muita gente que se conhecia h muito tempo ent o voc sente falta dos colegas daquele ambiente que voc criou Operador Bebedouro 12 2012 297 Em comunicado oficial a respeito do fechamento da f brica a Citrosuco informou estar racionalizando seus processos de produ o mediante o melhor aproveitamento de seus ativos industriais visando ganho de efici ncia numa conjuntura de estagna o da demanda internacional de suco de laranja No mesmo comunicado a empresa reconheceu que a rec m comprada f brica de Bebedouro representava capacidade excedente e ociosa de processamento ao afirmar que suas unidades de Mat o e Limeira estavam preparadas para manter os mesmos n veis de produ o total da empresa sem que houvesse qualquer redu o nos volumes comercializados Por fim a Citrosuco pontuou que a unidade de Bebedouro seria mantida em condi es de retomar suas opera es de produ o a qualquer momento em que se tornasse necess rio Contudo parte do maquin rio da ind stria come ou a ser desmontado e removido j em abril do mesmo ano mantendo se desde ent o em Bebedo
379. mbio de novas informa es e em canais de negocia o satisfat ria de pre os s o algumas das caracter sticas hoje demandadas de um produtor de laranjas Diversas revistas colaboram na constru o deste perfil atrav s de formula es como a seguinte As propriedades rurais precisam de uma administra o profissional como a demandada pelas ind strias Para tanto o produtor precisa quebrar paradigmas profundos Entre os produtores citr colas que hoje se destacam encontramos alguns pontos comuns como funcion rios motivados qualificados envolvidos com o processo produtivo foco na citricultura que permite direcionar seus recursos para o objetivo principal velocidade e disposi o para mudar para testar pacotes t cnicos diferentes permitindo novos patamares produtivos al m de uma administra o moderna que o auxilie a identificar desvios e ajustar rotas antes dos resultados decepcionantes Revista Citricultura Atual A citricultura ainda um bom neg cio dezembro de 2011 166 A assimila o deste perfil econ mico pol tico e ideol gico por parte dos pequenos produtores familiares de laranjas problem tica Alguns deles incorporam parcialmente tra os deste perfil por exemplo no que toca a pulveriza es regulares ao menor espa amento entre as rvores ao renovar parte do pomar ao plantio de variedades espec ficas de acordo com o objetivo econ mico venda para o mercado de fruta fresca ou para a i
380. mero 3 S o Carlos 2010 NEVES Delma Pessanha Lavradores e pequenos produtores de cana estudo das formas de subordina o dos pequenos produtores agr colas ao capital Rio de Janeiro Zahar 1981 NEVES Marcos Fava LOPES Frederico Fonseca orgs Estrat gias para a laranja no Brasil S o Paulo Editora Atlas S A PENSA 2005 LOPES Frederico Fonseca Caminhos para a citricultura uma agenda para manter a lideran a mundial S o Paulo Editora Atlas S A PENSA 2007 coord O retrato da citricultura brasileira Ribeir o Preto Centro de pesquisa e projetos em marketing e estrat gia 2010 PAULILLO Luiz Fernando O progresso tecnol gico no setor agroindustrial da laranja in Cadernos DEP Ufscar n 17 1992 O processo de constitui o do complexo agroindustrial citr cola na regi o de Ribeir o Preto do Estado de S o Paulo Disserta o de mestrado Centro de Ci ncias Exatas e Tecnologia Departamento de Engenharia de Produ o Universidade de S o Carlos 1994 Redes de poder e territ rios produtivos S o Carlos Editora da Ufscar 2000 ALMEIDA Luiz Manoel SALOM O Susana Contradi es do desenvolvimento agroindustrial citr cola brasileiro moderniza o e inseguran a alimentar nas regi es produtivas in ALVES Francisco PAULILLO Luiz Fernando orgs Reestrutura o agroindustrial Pol ticas p blicas e seguran a alimentar regional S o Carlos Editora da Ufscar 2002 3
381. mica de pre os pagos por caixa de laranja aos produtores De fato ainda que os pre os no mercado internacional apresentem par metros nicos a todo o complexo a socializa o das perdas e a privatiza o dos ganhos por eles possibilitados decorrem da correla o de for as entre citricultura e agroind stria Os ltimos dez anos oferecem ilustrativos exemplos polares A safra 1999 2000 foi marcada por uma significativa queda do pre o do suco de laranja na bolsa de Nova York A distribui o de tal nus no interior do complexo foi determinada pelos diferentes recursos de poder em jogo a partir de seus 108 pomares pr prios e especialmente de seus estoques de suco as ind strias impuseram aos citricultores uma socializa o mais que proporcional das perdas internacionais no mercado de suco de laranja Os resultados foram catastr ficos ao setor Produtores alegaram que as empresas romperam os contratos existentes e em muitos casos sequer colheram as laranjas para processamento De fato a queda de mais de 20 no volume de laranja processada em compara o com os anos anteriores levou a que se perdessem cerca de 40 milh es de caixas de laranja Isso provocou a sa da de in meros citricultores do setor especialmente m dios e pequenos Provocou tamb m uma brutal retra o da rea dedicada laranja no estado de 776 690 hectares em 1999 para 581 487 hectares em 2001 Graziano 2000 Paulillo Almeida e Salom o 2002 A safra 2005
382. mil funcion rios hoje tem 700 E produz mais do que produzia nos anos 80 Essa foi a grande mudan a na rea industrial Gerente industrial Monte Azul 07 2011 148 A terceiriza o e a automa o rapidamente descritas foram tamb m acompanhadas de uma ampla transforma es na hierarquia das ind strias citr colas com significativa redu o de escal es administrativos intermedi rios Kinouchi 1993 Tais transforma es tiveram forte impacto tanto na rela o entre a ger ncia e o ch o de f brica quanto na rela o dos assalariados industriais entre si Por um lado o achatamento na estrutura levou a uma maior aproxima o entre os escal es administrativos superiores e os operadores de m quinas de modo que estes passaram a ser direta e cotidianamente demandados quanto a sugest es de transforma es no processo produtivo e quanto a an lises de suas falhas Por outro lado diminu ram ru dos e interfer ncias na comunica o entre as turmas de trabalho e entre os operadores no interior de uma mesma turma estimulando uma m tua fiscaliza o e supervis o no cumprimento de tarefas no ch o de f brica A t tulo de exemplo Mazzali assim descreve a implanta o desta reestrutura o na hierarquia fabril na Citrosuco na virada dos anos 1980 para 1990 No fim dos anos 80 a Citrosuco implementou um programa de ajustamento e otimiza o de suas opera es industriais rotineiras denominado Programa de Racionaliza
383. mplementassem sua remunera o Baptistella 1998 p 41 Segundo pesquisa de campo de Moraes Silva por outro lado os trabalhadores das ind strias de cana e laranja enquadrados pelas listas negras seriam aqueles que fizessem sujeira ou seja perturbassem o eito e ou o escrit rio com demandas reclamassem seus direitos na Junta Trabalhista ou participassem de greves De acordo com esta autora o funcionamento das listas negras ilustra a articula o entre diferentes empresas de diferentes setores na gest o pol tica conjunta da for a de trabalho e o imbricamento da conquista de direitos trabalhistas com uma sofistica o dos mecanismos privados de explora o domina o da m o de obra 115 Por interm dio da ficha do prontu rio estruturam se paulatinamente a gest o pol tica da for a de trabalho e a interioriza o da domina o e da disciplina Da mesma forma que o escrit rio da usina se preocupa com a socializa o dos trabalhadores mediante mecanismos tais como curso arte of cios etc h tamb m um escrit rio da ind stria de citros que possui liga o com outros escrit rios da usina adotando m todos que levam exclus o dos trabalhadores ou seja impedindo lhes o direito ao trabalho As listas negras s o os ant dotos mais eficazes na corre o das condutas dos comportamentos dos trabalhadores Elas s o produzidas pelo escrit rio mediante a centraliza o do controle e distribu das
384. mposta por oper rios por camponeses pela pequena burguesia urbana e por setores da burguesia nacional e de latifundi rios que possu ssem contradi es com o imperialismo norte americano 27 Ainda nos anos 1960 fortes diverg ncias surgiram quanto a esta interpreta o no espectro socialista dentro e fora das hostes partid rias Impulsionadas externamente pela din mica das reformas agr rias no interior da revolu o cubana e internamente pelos limites que se explicitavam no discurso e pr tica pcbistas surgiram interpreta es que contestavam por um lado a exist ncia de uma burguesia nacional interessada em engajar se na luta anti imperialista e por outro o car ter feudal das rela es de produ o vigentes no campo brasileiro Decorria destas cr ticas uma posi o minorit ria no interior da corrente socialista que interpretava a luta em torno da quest o agr ria imediatamente como luta pela revolu o socialista Esta posi o pode ser exemplificada a partir da seguinte formula o de L wy A revolu o agr ria dever ser no Brasil como em toda Am rica Latina parte integrante de um vasto processo de revolu o ininterrupta no qual as massas exploradas da cidade e dos campos destruir o simultaneamente seus tr s grandes opressores o imperialismo o capitalismo e o latifundi rio As finalidades da revolu o agr ria no Brasil poder o ser basicamente as seguintes 1 expropria o sem i
385. mpresa relataram receber at R 8 00 por hora Insatisfeitos com este espectro salarial muitos ajudantes e operadores acionam variadas estrat gias individuais para complementar sua renda dentre as quais duas se destacam Em primeiro lugar s o comuns relatos de trabalhadores que tamb m atuam como serventes de pedreiro mototaxistas pintores comerciantes etc em complemento a suas jornadas no interior das ind strias de suco Em segundo lugar s o comuns relatos de trabalhadores dispostos a estender suas jornadas di rias ou durante suas folgas em todas as circunst ncias requisitadas pelas agroind strias citr colas Os quatro trechos de entrevistas abaixo com operadores assim ilustram ambas as estrat gias Hoje o mais velho l tira por hora R 7 20 D R 1 500 00 ou R 1 600 00 por m s Eu to com R 5 25 por hora d R 1 200 00 por m s mais ou menos Eu t triste eu t cansado dali Se eu arrumar outra estrada eu to vazando de l porque n o d uma firma boa de trabalhar ali S que o sal rio muito baixo cara Tem ainda os desconto de sindicato banco fundo de garantia alimenta o conv nio Por isso que eu trabalho em dois servi os eu trabalho das sete at o meio dia de servente de pedreiro meio dia eu venho embora tomo banho almo o e vou trabalhar na firma Entro l as duas e saio s dez e meia Tem um monte de gente que faz isso trabalha de pedreiro servente pintor tem um colega que busca rou
386. n ncias contra as cooperativas foi uma t tica sindical expl cita na segunda metade dos anos 1990 evidente n o apenas no discurso mas tamb m na centralidade da simbologia jur dica no documento Em segundo lugar destaca se a frente de a o entre sindicatos respons veis por den ncias ao poder p blico e pelo encaminhamento e aconselhamento de processos individuais de seus filiados e procuradores do Minist rio P blico do Trabalho respons veis pelas investiga es e a es civis p blicas Em terceiro lugar destacam se as dificuldades de mobiliza o coletiva evidentes no chamado participa o coletiva dos trabalhadores n o em greves mas em abaixo assinados contra as cooperativas 124 FERAESP CUT Federa o dos Empregados Rurais Central nica Assalariados do Estado de S o Paulo dos Trabalhadores PATR ES E GATOS CRIARAM FALSAS COOPERATIVAS PARA MASSACRAR OS TRABALHADORES MUITOS COMPANHEIROS N O ABAIXARAM A CABE A E FORAM LUTA MILHARES DE TRABALHADORES ENTRARAM NA JUSTI A COM DEMANDA CONTRA AS COOPERGATOS OS TRABALHADORES EST O TENDO VIT RIAS A JUSTI A DEMORA MAS QUEM FIRME EST VENCENDO OS PROCURADORES DA JUSTI A DO TRABALHO TAMB M ENTRARAM com DEMANDA PARA FECHAR AS COOPERGATOS EM IT POLIS CATANDUVA BEBEDOURO E FERNAND POLIS A JUSTI A MANDOU FECHAR AS COOPERGATOS E REGISTRAR OS TRABALHADORES NOSSO SINDICATO EST FAZENDO ABAIXO ASSINADO E ASSEMBL IA DOS TRABALH
387. n o s o id nticas e n o podemos de modo algum caracteriz las a partir de um nico conceito sob pena de ignorar os nuances do real De fato h rela es econ micas sociais e pol ticas qualitativamente distintas quando pequenos produtores familiares proletarizados ou em processo de proletariza o buscam afirmar se ocupando terras e resistindo s investidas fundi rias do capital ou obstruindo o acesso e paralisando o processamento da mat ria prima nas agroind strias No primeiro caso afirmam se pondo em xeque o controle do capital sobre a terra e consequentemente sobre a renda da terra no ltimo caso afirmam se pondo em xeque o controle do capital sobre o conjunto dos a 3 3 meios de produ o e conseq entemente sobre o trabalho excedente de que se apropria No que toca aos pequenos produtores familiares de laranjas acreditamos que as transforma es das ltimas d cadas no complexo citr cola nos autorizam a afirmar que t m seu trabalho formalmente subordinado ao capital agroindustrial As coloca es de Fernandes e Welch ilustram este diagn stico 3 pode se argumentar que ambos os fen menos s o vis veis no complexo agroindustrial citr cola paulista No que toca ao questionamento da sujei o da renda da terra ao capital os confrontos entre o MST e a Cutrale s o significativos Como veremos mais a frente a partir de den ncias de que a Cutrale estaria ocupando ilegalmente terras p blicas na regi o
388. ncia em boa medida por meio de estrat gias tradicionais expans o horizontal das culturas sobre novas terras e expans o da margem de explora o sobre a for a de trabalho Diminu ram se com isso entre as d cadas de 1960 e 1980 as reas de cultivo pr prio dos trabalhadores permanentes os s tios e perturbaram se as rela es de domina o tradicional at ent o vigentes Lygia Sigaud exp e com precis o a din mica da expropria o da decorrente Ilustra se com isso o fato de que as transforma es do campo 39 brasileiro sob a ditadura concentrou em todos os seus aspectos desiguais e combinados a parcela maior de seu nus sobre as classes subalternas rurais A conjuntura favor vel produ o de cana de a car teria levado os antigos senhores de engenho que com a implanta o da usina haviam se deslocado para as cidades e l viviam do arrendamento de suas terras a quererem recuper las quer para explor las diretamente assumindo assim as condi es de fornecedores de cana quer para arrend las em condi es mais vantajosas s usinas ou aos pr prios foreiros que as vinham explorando Do lado das usinas a conjuntura favor vel teria favorecido um aumento da produ o atrav s da forma costumeira de simples incorpora o de novas terras aos canaviais Furtado 1964 144 e n o atrav s de inova es tecnol gicas que assegurassem um aumento de produtividade Nessas condi es o aumento da produ
389. ncias e contra tend ncias que marcam a consci ncia de assalariados do ch o da f brica das ind strias processadoras de suco de laranja 263 264 Cap tulo 5 Vozes do trabalho Assalariados industriais reestrutura o produtiva e fechamentos de f bricas no complexo citr cola paulista Neste cap tulo apresentaremos o modo como a contradi o entre o capital agroindustrial citr cola e os assalariados industriais aparece consci ncia destes Atrav s da sele o e an lise de trechos de entrevistas com membros desta fra o da classe trabalhadora analisaremos a multiplicidade de contextos em que se inserem transportadores de laranjas da lavoura ind stria trabalhadores terceirizados no ch o da f brica ajudantes de servi os gerais e operadores de m quinas contratados por tempo determinado ou indeterminado etc Investigaremos em especial sua leitura a respeito da reestrutura o produtiva e dos fechamentos de f bricas que v m marcando o complexo agroindustrial citr cola paulista o Introdu o De in cio devemos oferecer apontamentos quantitativos m nimos a respeito dos trabalhadores assalariados no interior das ind strias de suco de laranja bem como apresentar uma descri o geral acerca de seu trabalho na linha de processamento No que diz respeito aos dados quantitativos podemos nos basear nos dados elaborados pela intelectualidade mais pr xima ao capital agroindustrial em torno do Markestrat Centro de
390. nd stria utiliza o de mudas fiscalizadas instala o de sistemas de irriga o comercializa o por meio de pools de produtores etc Ainda assim contudo os j destacados tra os camponeses de sua reprodu o refor am estes limites Seu apelo a uma voca o agricola que o leva a pensar a atividade na terra n o como um investimento como outro qualquer mas como algo profundamente enraizado em seu modo de vida presente ou passado sua valoriza o do trabalho e gest o familiares que o leva a conceber as rela es de trabalho como mais pessoais que contratuais sua valoriza o do saber pr tico cotidiano que refor a sua recusa em profissionalizar a contabilidade de seus custos de produ o s o determina es de um modo de vida distinto da racionalidade empresarial moderna Refor a estas caracter sticas o fato de que segundo pesquisa realizada pela Ufscar em 2003 em Ribeir o Preto cerca de 75 dos produtores de laranjas com at 50 hectares tinham apenas de um a quatro anos de instru o b sica e 4 2 eram analfabetos Paulillo Almeida e Vieira 2006a p 29 Alcan a se assim um dilema Por um lado como j mostramos o trabalho e a gest o familiares das pequenas unidades produtivas citr colas s o condi es objetivas e subjetivas fundamentais a sua reprodu o no contexto de alta explora o a que s o submetidas pela agroind stria hoje Por outro lado o atual consenso no complexo rejeita de modo
391. ndeniza o dos grandes latifundi rios e empresas agr colas capitalistas 2 Forma o nas grandes propriedades de comunas agr rias democraticamente administradas e controladas pelos seus trabalhadores 3 Incentivo forma o de cooperativas entre os pequenos propriet rios que n o tenham aderido ainda s comunas L wy Rev Brasiliense set out 1960 p 68 69 apud Bielschowsky 2007 gt A mais significativa destas cr ticas foi a Caio Prado Jr formulada inicialmente em seus artigos a respeito da quest o agr ria Prado Jr 1960 e 1962 e posteriormente sistematizada n A Revolu o Brasileira de 1966 O conceito de latif ndio feudal ou semi feudal inaplic vel e inteiramente descabido no que respeita ao Brasil e a sua estrutura rural A grande propriedade rural brasileira tem uma origem hist rica distinta constitu da base da explora o comercial em larga escala isto n o parcel ria e realizada com o bra o escravo introduzido conjuntamente com ela e para ela N o houve a como nas origens do agrarismo feudal a constitui o do latif ndio em superposi o a uma economia camponesa preexistente que se perpetuou explorada por senhores feudais Prado Jr 1966 p 34 Ainda menos se justifica a discrimina o feita na teoria consagrada da revolu o brasileira entre uma burguesia compradora associada ao imperialismo e uma burguesia nacional antiimperialista por for a da natureza
392. neutraliz lo Os dois trechos de entrevistas a seguir assim o ilustram EA situa o mais pr xima a esta hip tese que encontramos em nosso trabalho de campo foi em um sindicato rural particularmente ativo do ponto de vista pol tico que tamb m organizava parte de seus associados em um pool de venda e em um condom nio de empregadores O dirigente sindical assim apresenta a iniciativa Eu tenho um pool aqui no sindicato de pequenos produtores com at 2 mil caixas de laranja e produtor de 100 mil caixas n o tem o pre o que eles t m Foi feito a 14 reais o pool aqui em 2011 Entrou produtor de 2 5 6 7 mil caixas e favoreceu um monte de produtor Esses n o foram exclu dos Tem que ter a organiza o do neg cio Tem que ter algu m enfrentando O produtor independente muitas vezes acha que ta na vantagem muitas vezes ele quebra a cara N s temos tamb m um condom nio formado aqui que atende cingienta produtores De tanto o Minist rio P blico autuar eu falei N s tamo sendo autuado ent o vamo ter que se enquandrar O que o Minist rio P blico quer Quer isso Ent o vamo fazer isso Eles exigiam que n o aceitavam banheiro de tenda Tivemos que fazer banheiro m vel puxado no nibus Masculino e feminino Compra uniforme compra bota compra culos n s n o fomos mais autuados 174 Na parte trabalhista eles os colhedores s o muito beneficiados T dif cil de trabalhar voc n o pode p r uma
393. ngenhos e usinas s greves se seguiu com maior ou menor intensidade dependendo de uma s rie de vari veis locais um conjunto de estrat gias patronais visando a desmobiliza o dos trabalhadores Entre elas destacavam se as medidas de repress o com a a o de mil cias armadas amea as a dirigentes sindicais advogados delegados de engenho forma o de listas negras com os nomes dos trabalhadores mais ativos que passavam a ter dificuldade de encontrar trabalho dispensa de trabalhadores introdu o de m quinas no processo produtivo gerando amea a de desemprego tentativas de coopta o de lideran as etc Por esses mecanismos os patr es buscavam recompor seu poder junto aos trabalhadores e seu controle sobre o mercado de trabalho Medeiros 1989 p 131 As greves nas lavouras de cana de a car e de laranja nas cidades do interior do estado de S o Paulo entre 1984 e 1989 tamb m devem ser mencionadas Como j apontado mais acima neste estado o ritmo de convers o dos trabalhadores rurais em volantes foi superior ao do restante do pa s Ainda que setores do sindicalismo e de organiza es pastorais tenham buscado aproximar se deste conjunto de trabalhadores no in cio dos anos 1980 suas mobiliza es na regi o de Ribeir o Preto iniciaram se sem dire o sindical e fora dos par metros da lei de greve Em maio de 1984 eclodiu uma greve de cortadores de cana da cidade de Guariba que em meio repress o policial
394. ngular do trabalhador volante que apesar de ser um assalariado rural tem seu custo de reprodu o determinado ao n vel do setor urbano N o se trata de querer privilegiar o local de resid ncia mas sim as implica es que decorrem do processo de proletariza o que d origem ao volante Ele personifica a uni o entre o prolet rio rural e o urbano na medida em que for a a converg ncia dos custos de reprodu o da m o de obra entre a agricultura e a ind stria Ou seja a dissemina o do trabalho volante na agricultura implica na unifica o do mercado de trabalho n o qualificado urbano e rural Graziano 1981 p 139 42 Dentre estes pequenos produtores interessa nos nesta pesquisa principalmente aqueles que migram e vendem periodicamente parte de sua for a de trabalho devido insufici ncia de seus meios de produ o compondo parcela significativa dos assalariados rurais brasileiros A seu respeito deve se a princ pio destacar que n o podem ser equiparados mecanicamente aos demais trabalhadores assalariados plenamente expropriados Dentre as suas particularidades destacam se as profundas implica es que a migra o peri dica acarreta em seu universo cultural e econ mico Por um lado as press es que o levam a migrar o distanciam de seu determinado modo de vida e de sua concep o original de tempo espa o e trabalho por outro lado as cidades e os locais de trabalho para onde se dirigem oferecem lhes expl cita o
395. nho que fazer eu tenho que passar veneno eu tenho que gradear eu tenho que passar o herbicida eu tenho que v se tem praga um servi o di rio dentro do s tio Hoje tem um agr nomo tem uma orienta o Voc tem uma id ia voc vai comunica pro agr nomo ou pro t cnico e faz com orienta o deles Mas a gente que tem 162 que dar in cio em tudo A fam lia ajuda em alguma coisa mas hoje n o precisa mais levar a mulher na ro a Hoje tem trator hoje diferente n Ent o eu fa o praticamente tudo sozinho Esposa sai da cozinha onde preparava o almo o Eu protesto s de um ano pra c que eu n o t te ajudando Eu levantava de manh pr deixar o almo o pronto e ia na ro a a hora que ele vinha almo ar eu vinha junto trabalhar na casa depois a gente voltava junto pr ro a de tarde de novo Eu fazia de tudo colhia carpia Citricultores familiares Taquaritinga 01 2012 O trabalho familiar conjuga se a um determinado modo de gerir a pequena unidade produtiva citr cola Como destaca a cita o acima houve transforma es significativas na gest o familiar da pequena propriedade a partir da maior inser o de insumos agr colas e da orienta o agron mica especializada Relativizou se com isso o papel do chefe da fam lia na administra o da unidade produtiva introduzindo nela transforma es t cnicas a partir de novos agentes e novas media es sociais Uma vez mais contudo p
396. nificativo ascenso de luta dos assalariados rurais da cultura da laranja Em 16 de maio de 1984 dia seguinte eclos o da greve dos cortadores de cana de Guariba iniciou se uma greve de grandes propor es de colhedores de laranja de Barretos e Bebedouro Enquanto a greve na cana tinha por motiva o imediata como j vimos o fim do corte em sete ruas a greve na laranja tinha por demanda central o aumento do pre o pago por caixa colhida Ambas questionavam o quadro de violenta explora o a que estavam submetidos os trabalhadores em complexos agroindustriais marcados por forte crescimento no per odo imediatamente anterior Desencadearam com isso um conjunto excepcionalmente amplo de 32 O car ter diferenciado da Aciesp pode ser exemplificado a partir da primeira negocia o em que participou na safra de 1989 90 quando manteve as lideran as regionais reunidas enquanto a diretoria participava das reuni es em S o Paulo O objetivo era que a base organizada pudesse analisar imediatamente as propostas colocadas em discuss o e participar atrav s de voto das decis es a serem tomadas possibilitando uma real representatividade e uma postura mais agressiva Rodrigues 1995 88 lutas de trabalhadores assalariados rurais paulistas Alves assim sintetiza o alcance deste ascenso grevista No dia seguinte 16 de maio explode a greve dos apanhadores de laranja de Bebedouro e Barretos em seguida atinge Sert ozinho Barrinha Pontal Santa
397. njunto da baianada mineirada Da conclui se que a divis o tnico racial do trabalho se reproduz mediante outras divis es o que confere car ter m ltiplo aos sujeitos Moraes Silva 1999 p 230 grifo nosso 64 Tendo atingido essa concep o de car ter m ltiplo dos sujeitos que integram a classe trabalhadora rural subordinada s agroind strias podemos sintetizar a contribui o a nossa pesquisa emp rica dos instrumentos te rico conceituais at aqui expostos Partimos da apresenta o do desenvolvimento desigual e combinado das media es pol ticas jur dicas e ideol gicas de controle e domina o sobre a for a de trabalho para alcan ar uma nova concep o ampliada da proletariza o a que foi submetida a classe trabalhadora rural nas ltimas d cadas No trecho anterior de nosso texto buscamos destacar as continuidades e descontinuidades existentes entre trabalhadores volantes plenamente expropriados pequenos propriet rios migrantes pequenos produtores de mat rias primas s agroind strias apresentando os como formas m ltiplas de subordina o do trabalho ao capital Neste trecho por sua vez buscamos mostrar que n o apenas fatores t cnicos e econ micos mas tamb m fatores pol ticos jur dicos e ideol gicos criam descontinuidades no interior do corpo da classe trabalhadora subordinada s agroind strias Conceb la como uma totalidade concreta e n o como uma vazia abstra o exige que se apreen
398. no nem isso mesmo se coloca mais Sigaud 1979 p 235 57 Estes tra os da base material da explora o domina o sobre a m o de obra rural no Brasil sustentam um particular discurso no plano ideol gico de acordo com o qual a informalidade reproduz se por desejo dos pr prios assalariados Dissemina se assim uma invers o ideol gica segundo a qual a gan ncia do assalariado rural seria a real causa das defici ncias na extens o e aplica o da legisla o trabalhista O gato o principal art fice e transmissor de tal discurso Como veremos mais a frente at hoje bastante comum que ele legitime sua exist ncia afirmando ser interessante aos trabalhadores a possibilidade de alcan ar um maior sal rio l quido imediato desqualificando o significado de direitos arduamente conquistados pela classe ao longo de sua hist ria Segue se da que a caracteriza o do gato enquanto media o da domina o sobre a subjetividade dos trabalhadores rurais tenha de destac lo tamb m como um poderoso instrumento de domina o ideol gica capaz de atribuir v tima a responsabilidade por sua opress o O gato foi contudo apenas o primeiro momento do complexo de media es privadas da explora o domina o constru do pelo capital no campo ao longo dos ltimos 40 anos com vistas ao disciplinamento e super explora o da for a de trabalho assalariada rural Com o fim da ditadura do capital sob tutela militar complexificaram
399. nte j fez ocupa o a gente n o pode falar nem que sim nem que n o n Porque a firma fala que a fazenda deles o movimento fala que trinta por cento da fazenda do governo A briga entre a firma e o movimento n Na poca como eu trabalhava l eu falei assim Ai meu Deus e meu servi o e meu emprego risos Eu fiquei com medo de ser mandada embora n A gente precisava trabalhar com filho pequeno Mas a gente n o pode falar que ruim n Os coitado fica num barraco quatro cinco anos o Incra n o faz nada n o ajuda Com tanta terra que tem o Incra devia assentar logo a turma n A gente sabe que se n o fazer invas o o Incra n o libera a terra Ent o eu fiquei dividida n Fiquei dividida com medo do emprego e sabendo que os coitado precisava que n s tamb m j fez isso muitas vezes O pessoal que era da cidade achava ruim n Falava que a turma era vagabundo n o sei o qu Eles xingava e a gente 255 falava N o n o assim Como a gente veio de l a gente n o acha que eles s o vagabundo n Eles t o brigando por um direito deles Inspetora de pragas e assentada Iaras 07 2012 interlocutor 1 Quem fez a ocupa o n o foi a turma daqui foi a outra turma de l n o foi os assentado foi os acampado Eles queria tomar a terra mas o que eles fizeram l n o foi a turma que quer trabalhar foi a turma que quer fazer vandalismo Por causa daquilo l a gente t
400. nto Presidente da Fetaesp Bauru 07 2012 239 O posicionamento da Feraesp e dos sindicatos a ela vinculados via de regra relativamente mais combativo face as agroind strias citr colas Na medida em que a Feraesp n o foi at o momento reconhecida como interlocutora pelas ind strias processadoras de suco de laranja em negocia es salariais sua principal atividade no complexo segue sendo o questionamento das m ltiplas formas de intermedia o na contrata o de colhedores desde as cooperativas at os condom nios De acordo com a Feraesp h um descompasso entre o crescente controle econ mico e pol tico das agroind strias sobre a cadeia produtiva citr cola como um todo e sua recusa em assumir qualquer responsabilidade social pela maior parte da for a de trabalho que nela atua Segundo esta federa o na medida em que as ind strias processadoras exercem o real poder de mando sobre o processo de trabalho na lavoura seja em seus pomares pr prios seja nos de seus fornecedores e na medida em que s o as benefici rias finais dos servi os de colheita devem ser responsabilizadas pelos direitos sociais e trabalhistas da m o de obra empregada nesta fun o Da a necessidade segundo a Feraesp do retorno contrata o direta pelas agroind strias citr colas de toda a m o de obra utilizada na colheita de laranja destinada ao processamento Por um lado isto diminuiria significativamente as irregularidades trabalhist
401. ntos da classe trabalhadora subordinada s ind strias produtoras de suco de laranja concentrado e congelado A partir da bibliografia j acumulada sobre o assunto acompanharemos a din mica da luta de classes no interior deste complexo destacando suas implica es para a pequena produ o familiar de laranja para os trabalhadores assalariados rurais e para os trabalhadores assalariados industriais Tal como no primeiro cap tulo buscaremos a um s tempo expor o desenvolvimento social e pol tico das fra es de classe estudadas em nossa pesquisa e apresentar o instrumental conceitual b sico a partir do qual realizaremos nossa an lise o Introdu o A cultura da laranja estabeleceu se no estado de S o Paulo a partir das primeiras d cadas do s culo XX Voltada inicialmente para o mercado consumidor dos centros urbanos e para exporta o in natura expandiu se com a crise do caf Entre 1930 e 1960 o desmembramento de algumas grandes fazendas e a decad ncia e erradica o dos cafezais abriram espa o a que a cultura da laranja dentre outras se estabelecesse em pequenas e m dias unidades produtivas no centro norte do estado em especial nas regi es de Limeira Araraquara e Bebedouro Bray 1974 No in cio da d cada de 1960 teve in cio a constru o do complexo agroindustrial citr cola paulista com a instala o das primeiras f bricas de suco de laranja concentrado e congelado nas cidades de Bebedouro e Araraquara Dois
402. o um setor dentro da empresa s o nove minineg cios Ra o um minineg cio produ o um minineg cio laborat rio outro minineg cio mec nico eletricista e instrumenta o outro minineg cio s o v rios Cada minineg cio tem as suas metas tem seus gr ficos e tem as reuni es di rias que pra voc t por dentro de tudo sobre inova o sobre produ o A gente chega se re ne existe uma rela o de todos os funcion rios do setor existe uma pessoa que fica l no canto olhando fulano t fulano t fulano n o veio Vermelho pra ele Se ele tiver muita falta ele vai receber uma cobran a Dependendo o quanto voc faltou voc pode at ser mandado embora Na reuni o tem os gr ficos que voc tem que seguir voc t no vermelho voc t no azul No gr fico eles pegam a maior produ o se voc manter naquele gr fico c vai ter um azul pra baixo baixo do gr fico vermelho A vai ter o porqu que voc n o alcan ou Por exemplo a produ o de delimoleno n o atingiu a meta Por que n o atingiu a produ o de leo delimoleno a eu vou ter que justificar Porque eu n o tive temperatura a temperatura tava horr vel eu pedi pra caldeira me mandar 12 toneladas de vapor e eles me mandaram s 8 A n s vamos ver com a 288 caldeira porque eles n o forneceram eles v o ter que dar uma justificativa pra n s O que n s no minineg cio vamos fazer pra corrigir esse p
403. o a mesma conclus o a que hav amos chegado nos dois cap tulos anteriores um rico complexo de continuidades e descontinuidades articula esta fra o da classe trabalhadora s demais fra es compondo o variado e multifacetado mundo do trabalho neste complexo agroindustrial Para completarmos nossa pesquisa devemos neste momento investigar da mesma forma que fizemos neste cap tulo as demais fra es de trabalhadores subordinados s ind strias processadoras de suco de laranja 203 204 Cap tulo 4 Vozes do trabalho Assalariados rurais direitos trabalhistas e luta pela terra na citricultura paulista Neste cap tulo analisaremos o modo como a contradi o entre o capital agroindustrial citr cola e os assalariados rurais aparece consci ncia destes Atrav s da sele o e an lise de trechos de entrevistas com membros desta fra o da classe trabalhadora apresentaremos a multiplicidade de v nculos empregat cios e de contextos em que se inserem colhedores e operadores de m quinas agr colas assalariados de pomares das agroind strias e de seus fornecedores migrantes e do lugar com e sem registro em carteira etc Investigaremos em especial as ambigiiidades que marcam o discurso de tais trabalhadores a respeito da luta por direitos trabalhistas e a respeito da luta por terra no cintur o citr cola paulista o Introdu o Assim como no cap tulo anterior devemos inicialmente apresentar algumas determina e
404. o antes tr s anos atr s que exigia muito do operador tudo manual subir escada descer escada abrir a v lvula fechar a v lvula muitas vezes acontecia do secador dar pau e existia uma manivela que voc tinha que ficar girando Hoje n o hoje mudou t ficando mais automatizado Se antes precisava subir uma escada l em cima pra abrir uma v lvula hoje n o precisa mais voc aperta o bot o e j joga o licor a ra o pra onde voc quer dependendo da sua necessidade Tudo relacionado s bombas s roscas tudo controlado atrav s de quatro computadores em uma sala com dois operadores enquanto um ou dois ficam no ch o da f brica andando olhando vendo se n o tem vazamento que n o t detectando l na tela O mais avan ado que tem hoje nessa f brica a ra o em outras partes n o t t o informatizado assim Ent o o que acontece Com a automatiza o da ra o o trabalho nessas outras partes ficou mais r pido At uns tr s quatro anos atr s por exemplo a empresa tinha s sessenta m quinas extratoras A aumentou mais dez m quinas foi pra setenta m quina Ent o tem dia que a extra o trabalha com setenta m quina E a ra o vence Operador Mat o 07 2012 285 Quando eles automatizaram a rea de carregamento de suco que tinha tr s funcion rios ficou s com um A o servi o aumentou sobrecarregou todo mundo Antes j era corrido era quatro balan a de suco n s envasav
405. o da verdura O bairro aqui foi pra tr s com essa cana toda Porque o produtor pequeno n o p de mais tocar t todo mundo trabalhando pra fora Eu tenho tr s filho os tr s ta pra fora Dois tem barrac o e um motorista E vivia todo mundo do s tio vivia todo mundo aqui Quem fica aqui um pouquinho meus neto catando lim o pra vender l em Nova Am rica que o pai dele tem um barrac o de laranja O bairro aqui n o que esvaziou cab Cab De domingo c ia nesse campo de bola a tinha trezentas quatrocentas pessoas Hoje c vai tem dez quinze vinte Cab nosso 202 lugar Voc vai no bairro de Itaga aba tem duas pessoa E era um bairro que era populoso Aqui ainda um dos pouco lugar que tem gente nos s tio que se une nos outro lugar mais ruim ainda Aqui eu por exemplo tenho um trator comprado com tanta dificuldade tudo meus amigos que v m pedir pra puxar um caminh o encalhado vem aqui Mas com a cana as amizade vai encurtando n Amizade encurtou bem pequeninha primeiro ia de tarde contar minha laranja d tr s caixa r9 PE a e por p o outro eu tenho contrato bom gra as a Deus Agora n o tem mais nada cada um por si e Deus pra todos Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 Mudou muito o bairro muda o povo n o tem mais aquele povo Se acabar a laranja e virar s cana do que que o povo vai viver Fala pra mim a cana n o ocupa ningu m a m quina c
406. o da agricultura brasileira Na medida em que a demanda por fontes de calorias e prote nas no mercado interno manteve se baixa e na medida em que se fez necess rio um volume crescente de recursos em moeda estrangeira para sustentar o modelo econ mico vigente privilegiou se a produ o agr cola de bens export veis processados ou in natura algod o cana de a car fumo laranja soja Como resultado as taxas de rendimento f sico por hectare das culturas de exporta o e ou mais diretamente vinculadas agroind stria tiveram durante o per odo um Err 11 desempenho consideravelmente maior que as culturas de alimentos b sicos 10 verdade que ca ram as exporta es de produtos agr colas in natura passando de 69 1 em 1968 para 47 8 em 1976 Mas cresceram razoavelmente as exporta es de produtos industrializados de base agr cola Estes passaram de 16 2 em 1968 para 19 7 em 1976 depois de ter alcan ado um ndice de 24 6 em 1974 Em 1978 o aparelho estatal e a economia do pa s continuam prisioneiros do capital estrangeiro O governo continua empenhado em favorecer as exporta es para pagar as d vidas para importar capital estrangeiro para produzir mercadorias para exportar para pagar as d vidas e assim por diante Nesse c rculo vicioso cresce a exporta o brasileira de mais valia A rigor o modelo de economia aberta ou dependente adotado desde 1964 reativou a economia prim rio exportadora constitu
407. o de Economia Agr cola considera pequenos os produtores ou unidades de produ o com n mero de plantas entre 500 e 12 000 plantas 85 contradi es entre produtores e ind strias eclodiram de forma clara nesta arena de negocia es Pela primeira vez foi colocada em discuss o a responsabilidade pelos custos de colheita e transporte da laranja as empresas foram acusadas de forma o de cartel na defini o dos pre os pagos s caixas de laranja e os citricultores expressaram receios quanto possibilidade de que os incentivos fiscais oferecidos s ind strias fossem direcionados forma o de pomares pr prios pelas mesmas Rodrigues 1995 O in cio da d cada de 1980 foi marcado por um acirramento destas tens es Os pre os oferecidos por caixa de laranja aos produtores nas safras de 81 82 e 82 83 foram motivo de insatisfa o geral para os citricultores Tendo por pano de fundo novas geadas na Fl rida nos anos de 1977 1981 1982 1983 1985 e 1986 que garantiram cont nuo e crescente acesso do suco de laranja congelado brasileiro ao mercado norte americano os citricultores mobilizaram se para que a excepcional riqueza auferida com o aumento de pre os no mercado internacional fosse distribu da no interior do complexo O in cio da d cada de 1980 foi bastante tumultuado com muitos protestos dos citricultores reivindicando mudan as no contrato Os produtores se manifestaram de v rias formas organizaram passeatas rea
408. o de Opera es PRO refor ando seu objetivo principal de redu o de custos e melhoria do processo Nesse programa o engajamento de todos os n veis de funcion rios se fazia necess rio especialmente nos dois extremos da pir mide ch o de f brica e diretoria A busca do maior envolvimento dos trabalhadores do ch o de f brica assentava se na premissa de que estes s o os usu rios do dia a dia estando em contato direto com o equipamento e com os problemas da produ o mais aptos portanto a fornecer sugest es voltadas implementa o de melhorias no processo produtivo O incentivo cria o de um canal de comunica o entre o ch o da f brica e o corpo de executivos deu se por meio da convoca o de sugest es individuais e em grupo e da sua premia o em dinheiro Paralelamente foram desenvolvidos cursos de Detec o Anal tica de Falhas DAF a fim de aprimorar a capacita o dos funcion rios na identifica o e resolu o das falhas importante ressaltar que desde meados de 1991 o PRO enfrentou dificuldades de ordem pol tica no interior da empresa visto que determinados setores sentiam se amea ados pelos resultados obtidos Mazzali 2000 p 136 Estas transforma es possibilitaram a maximiza o da explora o do componente intelectual da for a de trabalho no ch o da f brica Se anteriormente os conhecimentos adquiridos pelos operadores de m quinas em sua rotina de atividades eram apenas inf
409. o de terra arrendado pra cana eu mexo um pouco com gado ent o eu 164 levo meio embolado n Mas se for a refer ncia s a laranja complicado Se o pequeno produtor de laranja colocar na ponta do l pis ele vai parar o caso de um vizinho meu l ele tem dez alqueires de terra ele plantava todo os dez alqueire com laranja e foi fazendo as conta Esse ano o adubo ficou tanto colhi gastei tanto vendi por tanto agora eu tenho que colocar o valor da minha terra o alqueire de terra vale cingiienta mil no ano daria tanto de juro coloca na despesa aqui Chegou ao ponto que ele tava tomando preju zo Ele falou Eu n o tiro nem o juro do meu capital aqui v parar Parou arrendou tudo pra cana Por isso que eu digo se come ar a fazer muita conta p ra de trabalhar porque c vai ver que l na frente c vai apanhar Mas se todo mundo pensar assim n o vai ter o que comer mais no pa s n o certo tamb m Citricultor familiar Ibitinga 07 2011 Como j apontado acima paralela a tal reprodu o predominantemente familiar da pequena unidade produtiva citr cola deve se destacar sua relativa assimila o de valores culturais e nexos sociais do mercado capitalista Como veremos o pequeno produtor familiar de laranjas relaciona se em escala crescente com agentes pol ticos e econ micos que extrapolam seus referenciais locais M ltiplas media es econ micas pol ticas e ideol gicas enquadram n
410. o do pomar pra vender no ano que vem gastando dinheiro com adubo veneno leo diesel m quina tudo quebra o trator quebra a m quina tem que fazer tudo isso a arrumar consertar Depois quando eu vender a laranja eles v o falar eu pago tanto Eles n o v o falar pra mim n s vamo pagar tanto na laranja vai sobrar dinheiro pra voc Eles n o vai chegar em mim e falar isso Eu v falar p mas n o vai sobrar nada mas eles n o ta nem a E eu v fazer o que com a laranja Eu v ter que entregar pra ele Eu v ter que vender pra ele essa fruta Eu v deixar perder Esse ano pagaram um pre o m nimo de R 10 50 N o vai sobrar nada vai sobrar muito pouquinho Ent o n o que ele chegou em mim e falou mas d pra voc viver com R 10 50 a caixa ele n o chegou a perguntar isso Falaram que iam pagar isso e pronto voc vende Eu tive que vender Sen o tinha ca do tudo no ch o Ent o n s somos empregados das ind strias Eles p e o pre o n o eu que falo eu quero tanto da laranja porque ela me custa tanto n o isso E eles que falam E com quem que eu v reclamar O que significa para o senhor ser como o senhor disse um empregado da ind stria Significa que a gente ta sempre naquilo n o deslancha n o cresce na vida c trabalha pra comer s c trabalha pra sobreviver s N o que fala v comprar um carro novo v tirar um trator no
411. o e baixa taxa de investimento por outro lado tinham o objetivo de combater a j apontada impermeabilidade da estrutura agr ria de ent o ao progresso t cnico rompendo com o monop lio de poder e riqueza dos propriet rios rurais O poder p blico teria com isso as armas de combate s heterogeneidades estruturais da economia brasileira redirecionando e valorizando a m o de obra rural recurso abundante at ent o subutilizado pelo desenvolvimento nacional Se tiv ssemos de sintetizar em poucas palavras os pontos essenciais das tend ncias estruturais de nossa economia no presente dir amos que estas decorrem da limitada capacidade de resposta do setor agr rio aos est mulos econ micos que se manifestam atrav s do mecanismo dos pre os e da forma anti social como se financia o grande esfor o de investimento realizado atrav s do setor p blico Assim do ponto de vista econ mico as reformas de base somente ter o efic cia se efetivamente alcan arem estes dois objetivos m nimos dotar o pa s de uma agricultura capaz de responder ao est mulo de uma procura crescente pela absor o de t cnicas e de capitais e n o pela eleva o dos pre os e da remunera o relativa dos grupos parasit rios e dotar o governo de um instrumento fiscal que o capacite a financiar seus investimentos crescentes com recursos recolhidos naqueles setores que efetivamente est o sendo beneficiados pelo desenvolvimento que fruto do trabalho de toda a
412. o e subordinam no a um determinado consenso com os demais setores do complexo agroindustrial citr cola em particular e da sociedade em geral Neste processo o pequeno produtor familiar de laranjas tensionado por pressupostos de competitividade e modelos t cnicos agr colas que o afastam da ruralidade camponesa Pacotes tecnol gicos modelos de administra o e exig ncias de produtividade e racionaliza o de custos imp em se sobre estas pequenas unidades produtivas excluindo as do complexo ou transformando significativamente seu modo de vida e trabalho Estabelece se desse modo uma tens o entre o modo de vida nas pequenas propriedades citr colas e o horizonte pol tico e ideol gico de integra o aos imperativos do mercado Por um lado reproduz se o trabalho e a gest o familiares que s o particulares a estes empreendimentos por outro imp em se crescentemente demandas de um trabalho e gest o tipicamente empresariais modernos A possibilidade de equil brio entre estes dois aspectos determina as perspectivas de perman ncia das pequenas produ es familiares em seus determinados contextos A impossibilidade de articular as demandas econ micas pol ticas e ideol gicas do mercado s particularidades da pequena produ o familiar por sua vez determina sua tendencial exclus o e proletariza o 165 As decis es que toma o produtor familiar s o resultado da tens o entre duas for as uma a seu modelo original
413. o eles nunca devolve o que passa a mais pra gente Ele s fala que deu quebra que deu a mais nunca fala Em tudo isso a gente n o tem controle porque a balan a na portaria l na Cutrale igual o corte de cana eles corta por metro baseado em tonelada mas nunca tem gente acompanhando Esse controle de peso n s n o temos n o A gente s sabe quando o empreiteiro vem dizendo que deu tanto de quebra O trabalhador fala n s n o temo culpa que a laranja ta gra da t seca mas vai fazer o que A gente desconfia porque a empresa trabalha lucrando em cima do trabalhador Se a melhor laranja chegar l na ind stria ela vai levar uma amostra l na ro a dizendo que chegou podre com talo rachada Se eles jogasse fora a eu ia acreditar que tava podre mesmo mas tudo que vai pra ind stria aproveitado Eles faz ra o tira v rias coisa Colhedor Monte Azul 07 2011 Paralelamente ao que descrevemos h nos pomares pr prios das agroind strias instrumentos que estimulam a interioriza o da domina o e da disciplina por parte dos colhedores Atrav s de meios coercitivos ou ideol gicos as agroind strias buscam elaborar um determinado ethos entre estes assalariados rurais manuais com o objetivo de que seu modo de vida e trabalho conforme se s determina es da empresa o m ximo poss vel a partir de um comando interno do pr prio trabalhador Destacam se a esse respeito premia es e puni es por
414. o exigida na maioria dessas atividades caiu significativamente nas ltimas d cadas devido a avan os em sua mecaniza o e quimifica o Da que tais categorias tenham oscilado entre os meses de mar o agosto e novembro de 2011 entre 16 na entressafra e 12 na safra da m o de obra total ocupada na lavoura citr cola A categoria volante corresponde aos assalariados tempor rios da lavoura da laranja No per odo de entressafra os indiv duos dessa categoria ocupam se nos chamados bicos em tratos culturais e na colheita de frutas temporonas especialmente para o mercado de laranjas frescas J no per odo da safra usualmente entre julho e dezembro os indiv duos dessa categoria ocupam se majoritariamente na colheita da laranja que como j vimos segue realizada quase integralmente de maneira manual Na safra 2011 2012 especificamente recorde no volume de frutas e excepcionalmente longa em dura o a colheita teve in cio em maio de 2011 alcan ou o pico entre agosto setembro e outubro deste ano meses que corresponderam respectivamente a 17 9 17 6 e 17 1 da colheita total da safra e terminou em fevereiro de 2012 Conab CATIIEA 2011b Da que o n mero de trabalhadores volantes tenha aumentado de 145 067 pessoas e 69 da m o de obra total ocupada na laranja em mar o de 2011 para 208 240 pessoas e 79 da m o de obra total em agosto e para 185 699 pessoas e 78 da m o de obra total em novembro Segue se d
415. o fazer a reforma agr ria voc t tornando esses trabalhadores camponeses ou n o um debate D pra transformar assalariados rurais que t o morando na cidade em camponeses novamente uma quest o a ser discutida Eu acho que n o d Na verdade o processo de organiza o outro a pr pria experi ncia dos assentamentos hoje aponta pra isso Hoje a realidade aponta mais pra uma semi proletariza o dos assentados do que para uma campesinifica o dos assalariados Esse um debate de concep o 262 de reforma agr ria isso t em debate no movimento Dentro do movimento voc pode ter opini es diferentes mas essa uma discuss o que o MST t fazendo hoje Voc pode pegar documentos do movimento que voc vai ler precisamos organizar os assalariados Mas isso n o explica organizar pra qu T gen rico ainda o debate A grande verdade essa organizar pra qu Pra fazer a luta pela reforma agr ria Mas a luta pela reforma agr ria hoje muito mais que fazer a luta pela terra A reforma agr ria hoje significa organizar os trabalhadores pra enfrentar esse sistema de produ o baseado nessa cadeia de propriet rio da terra e propriet rio da ind stria propriet rios dos meios de produ o Reforma agr ria significa dominar a cadeia agroindustrial Se a gente dominar s a produ o na terra e o resto a agroind stria capitalista tomar conta n s n o teremos reforma agr ria N s vamos ter que tom
416. o foi sua amarra o direta utiliza o de insumos e pr ticas pr determinadas pelo Estado de acordo com procedimentos t cnicos considerados modernos Estas condicionalidades incluem desde a utiliza o de sementes selecionadas e insumos qu micos at a ado o de planos de corre o do solo Trata se do per odo da moderniza o compuls ria Atrav s da concess o de cr dito altamente subsidiado e do subs dio direto ao consumo de alguns produtos o Estado buscou implementar um padr o t cnico econ mico por cima das condi es de mercado e transform lo no padr o dominante modificando assim as pr prias condi es de concorr ncia e funcionamento dos mercados Kageyama et alli 1987 p 1627 7 O texto citado uma s ntese da interpreta o de um grupo de economistas da Universidade estadual de Campinas Unicamp na d cada de 1980 acerca das transforma es principais do campo brasileiro durante a ditadura ngela Kageyama Ant nio Buainan Bastiaan Reydon Jos Graziano da Silva Jos Maria Silveira Maria da Gra a Fonseca Pedro Ramos Rinaldo Fonseca e Walter Belik sistematizaram neste artigo uma revis o cr tica de aportes pol ticos te ricos anteriores sobre o tema Dedicaram se a partir de ent o an lise do avan o das rela es capitalistas sobre o campo brasileiro em especial no que toca s rela es de trabalho assalariadas integra o t cnica entre agricultura e ind stria integra
417. o importante saldo da greve o avan o na organiza o e conscientiza o dos colhedores A respeito da conquista da negocia o direta com as agroind strias Alves assim o coloca Na greve da cana de 1984 em Guariba e nas que se seguiram a ela quanto na greve dos apanhadores de laranja os trabalhadores amea am e enfrentam mais diretamente os usineiros e as empresas citricultoras e n o aos pequenos produtores que eventualmente utilizam trabalhadores assalariados Nesta medida as reivindica es t m endere o certo n o s o dirigidas diretamente aos produtores de cana e laranja claro que tais movimentos atingem os fornecedores de cana e os produtores de laranja assim como na esteira de Guariba atingir o tamb m os cafeicultores os produtores das chamadas lavouras brancas etc em suma atingir o diretamente ou indiretamente a todos os produtores que utilizem trabalhadores assalariados Isso porque tornar se cada vez mais dif cil a manuten o de sal rios muito diferenciados para atividades iguais princ pio da isonomia salarial Por m os alvos eram as agroind strias da cana e da laranja Alves 1991 p 157 Como destaca Alves havia certamente contradi es entre os trabalhadores assalariados e os citricultores que eventual ou periodicamente os contratavam Mas isso n o os impediu de alterarem a correla o de for as no interior do complexo citr cola na segunda metade da d cada de 1980 com mobiliza es pa
418. o instaurado em 2007 verificaram a perman ncia ou mesmo deteriora o de rela es de trabalho prec rias na citricultura posterior dissemina o de cons rcios e condom nios de empregadores rurais com tal formato De acordo com o sindicato dos empregados rurais de Bebedouro s no ano de 2006 foram movidas mais de 600 a es trabalhistas contra cons rcios baseadas em reclama es quanto a descontos no pagamento referentes ao fornecimento de Equipamentos de Prote o Individual descontos no pagamento referentes a encargos sociais e trabalhistas de responsabilidade do empregador n o recebimento de horas in itinere n o recebimento de horas extras etc Barbosa 2007 Inserem se neste contexto as cont nuas evid ncias de p ssimas condi es de vida e trabalho no setor ecoadas em reportagens recentes Cerca de 3 000 trabalhadores na lavoura de laranja est o ganhando menos que o sal rio m nimo R 380 n o t m equipamentos de seguran a e s o transportados em ve culos prec rios Essas foram as principais irregularidades encontradas por uma for a tarefa que fiscalizou nesta semana as lavouras de laranja da regi o de Araraquara e S o Carlos interior paulista respons vel pela produ o de 30 da laranja do pa s ou 100 milh es de caixas No total foram visitadas 50 propriedades em 40 cidades A situa o do trabalhador na lavoura da laranja est pior que a do trabalhador da cana disse o subdelegado do Trabalho de
419. o interno para bens industriais a ditadura respondeu com massivos recursos credit cios s camadas dominantes rurais impondo uma integra o t cnica compuls ria entre campo e ind stria Buscou com isso a um s tempo aumentar a produtividade do trabalho agr cola e dinamizar o mercado interno de meios de produ o tratores m quinas agr colas fertilizantes etc sem incrementar de modo significativo o mercado de bens de consumo da popula o trabalhadora rural mantida em n veis miser veis de vida A pol tica agr cola da ditadura procurou assim compelir as classes dominantes rurais revers o da impermeabilidade do latif ndio ao progresso t cnico sem romper com seu estrito controle sobre a terra e recursos p blicos No que toca s novas media es pol ticas jur dicas e ideol gicas de controle sobre a terra e o trabalho pode se dizer que as bases do anterior bloco hist rico agr rio industrial que dirigira o pa s entre 1930 e 1964 haviam sido fortemente abaladas pela luta dos trabalhadores Um novo bloco de interesses rurais composto pelo grande capital industrial Articulado a grandes empresas estatais e em menor escala ao capital nacional o principal benefici rio deste processo foi o capital internacional Al m de ter recebido importantes incentivos econ micos estatais as atividades agropecu rias e florestais e ao processamento agroindustrial esteve em suas m os a parcela mais significativa do mercado d
420. o m nimo de 500 e m ximo de 12 000 p s Neste sentido poss vel localizar na tabela os pequenos produtores citr colas entre aqueles que possuem menos de 10 000 rvores e parcialmente entre aqueles que possuem de 10 a 19 000 rvores Analisando primeiramente o n mero total de im veis nas duas tabelas salta aos olhos a queda brusca de 26 812 propriedades citr colas em 1995 para 14 995 em 2001 e 12 627 em 2009 Isso representa uma diminui o total de mais de 14 mil im veis citr colas em quinze anos A maior parte desta diminui o concentrou se em pequenos citricultores se em 1995 havia 17 869 produtores nesta classe de im veis em 2009 tal n mero caiu para aproximadamente 10 mil Chama a aten o o fato de que a queda no percentual de rvores atingiu neste per odo n o apenas a pequena produ o mas tamb m produtores m dios Apenas pomares muito grandes gt 400 000 p s aumentaram o percentual de rvores sob seu controle passando de 16 2 em 2001 para 39 2 em 2009 refletindo o crescimento cont nuo de pomares pr prios das agroind strias no per odo A estas determina es quantitativas m nimas havemos de acrescentar determina es qualitativas que nos ajudem a precisar esta fra o de classe Como veremos os pequenos citricultores possuem heterogeneidades dada a multiplicidade de estrat gias e recursos com que enfrentam as contradi es j delineadas no cap tulo anterior Possuem tamb m contudo carac
421. o mercado pautam se fundamentalmente pela taxa de lucro abrindo m o de atividades que se situam abaixo da lucratividade m dia a pequena produ o familiar pauta se fundamentalmente pela manuten o ou melhoria das condi es de vida e trabalho da unidade dom stica dispondo se a realizar atividades que para o empres rio capitalista seriam economicamente insustent veis Isso porque n o s o necessariamente equivalentes os objetivos de por um lado alcan ar a melhor remunera o do capital investido e por outro garantir a seguran a alimentar da fam lia melhorar e ampliar suas condi es de trabalho e produ o minimizar seus riscos e maximizar suas perspectivas de perman ncia no campo dentre outros Sob esta perspectiva o pequeno produtor familiar pode ser visto como um propriet rio cujo interesse central a reprodu o da for a de trabalho dos membros da unidade dom stica ou como um trabalhador cuja especificidade reside na propriedade do meio de produ o terra Esta caracteriza o n o equivale contudo a afirmar que a pequena produ o familiar citr cola reproduz seu processo produtivo autonomamente Pelo contr rio partimos da perspectiva de que sua subordina o hegemonia agroindustrial tende a reduzir em escala crescente a margem de autonomia de seu processo de trabalho familiar Para compreender tal fen meno Tavares dos Santos prop s o conceito de subordina o formal do trabalho campon s ao capital em
422. o projeto de lei n mero 8 949 que introduzia um par grafo nico ao artigo 442 da Consolida o das Leis Trabalhistas CLT Tal par grafo autorizava a constitui o de cooperativas pelos trabalhadores de qualquer ramo de atividade para presta o de servi os nos seguintes termos Qualquer que seja o ramo de atividade da sociedade cooperativa n o existe v nculo empregat cio entre ela e seus associados nem entre estes e os tomadores de servi os daquela Pensadas inicialmente como um instrumento para organizar rela es de trabalho no interior de assentamentos de reforma agr ria as cooperativas de trabalho tornaram se rapidamente o mais significativo exemplo de flexibiliza o dos direitos trabalhistas no campo brasileiro nos anos 1990 com especial impacto na citricultura Alves Paulillo e Silva 1996 A partir da safra 1995 1996 para trabalhar em pomares de pequenos m dios e grandes produtores ou em pomares das agroind strias os colhedores de laranja foram em escala crescente impelidos a associar se a cooperativas Para tanto pagavam uma cota de ingresso no valor de R 5 00 em 1996 e assinavam a proposta de s cio segundo a qual estavam de acordo com os estatutos Com isso o colhedor assegurava se um maior pagamento l quido imediato por caixa colhida na medida em que n o era paga a maior parte dos encargos sociais e trabalhistas e uma participa o nos lucros da cooperativa Abria m o por o
423. o relativamente mais alto que o das ind strias pela caixa de laranja al m de via de regra responsabilizarem se pelos custos de colheita e frete Atraem por isso pequenos produtores insatisfeitos com as condi es de comercializa o das ind strias processadoras De fato segundo pesquisa feita pela Ufscar em 2003 26 12 dos pequenos citricultores da regi o de Ribeir o Preto comercializavam com barrac es Paulillo Almeida e Vieira 2006b p 134 Esta estrat gia contudo tamb m possui limites Primeiramente o mercado interno brasileiro de laranja in natura restrito e desestruturado na safra 2009 2010 apenas 14 da produ o citr cola paulista serviu se deste canal Neves 2010 p 34 e s o extremamente comuns relatos de calotes de mercadistas sobre pequenos produtores Em segundo lugar o mercado de laranja in natura n o opera de modo independente do mercado agroindustrial de frutas para moagem barrac es e intermedi rios se misturam na compra e transporte de laranja no estado ora destinando o produto diretamente para o consumo ora destinando o para as ind strias Da que apenas eventualmente divirjam os pre os oferecidos por estes canais de venda A seguinte cita o assim o ilustra O s tio aqui tem dez alqueires o outro tem mais oito Nos dois tem uns 2 500 p s de laranja al m de cana lim o lima da p rsia e um pouco de pasto A laranja eu muitos anos atr s vendia pra ind stria hoje eu vendo s pra mer
424. o s o apresentadas te rica e politicamente sob a forma de conflitos locais reivindicando reconhecimento de determinados direitos de determinados povos ou segmentos de trabalhadores a hegemonia do capital agroindustrial se mostra cada vez mais incontestada em seu conjunto Nesse contexto os atuais instrumentos cr ticos mostram se crescentemente insuficientes no combate apologia do assim chamado agroneg cio que avan a sobre a academia e sobre o senso comum a partir de uma s lida ofensiva pol tica e ideol gica de deslegitima o de qualquer contraponto expans o do mercado de terras e da produ o de commodities agr colas A contraposi o a tal estado de coisas exige que assumamos o ponto de vista da totalidade Em primeiro lugar isso implica em evitar um discurso universalista por m formal No af de apreender a unidade do campo brasileiro n o podemos abrir m o de suas clivagens e descontinuidades de seus ritmos defasados e m ltiplos contextos Em segundo lugar isso implica tamb m em evitar um discurso concreto por m fragmentado No af de apreender a particularidade dos sujeitos que mais sofrem com a ordem do capital e do assim chamado agroneg cio n o podemos abrir m o da pretens o hegem nica de uma nova organiza o societ ria Apenas rejeitando leituras abstratas e homog neas ou unilaterais e fragment rias poderemos contribuir com a constru o de novos instrumentos te ricos pol ticos que nos
425. o tem compromisso com empregado com nada Mas n o f cil eu tenho l no s tio se voc v meu lim o l voc cai duro Formei trezentos p s de lim o novo que t a coisa mais linda do mundo J falei pro meu filho o dia que for arrancar voc vai l que eu n o vou Vou s depois que arrancar Porque d d n Voc trata uma coisa com amor com carinho Uma planta voc desbrota passa isso passa aquilo e aduba Depois c vai arrancando assim a mesma coisa que arrancar um dente bom da boca n risos Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 Como indica o depoimento o crescente endividamento tornou se um dos principais obst culos sobreviv ncia econ mica dos citricultores mais vulner veis O grupo de discuss es sobre o endividamento do setor citr cola composto por representantes parlamentares associa es e sindicatos assim o coloca N o se tem acesso a novos financiamentos por tr s motivos falta de garantias elevado grau de endividamento e restri es cadastrais nas institui es financeiras A cada renegocia o de d vidas a classifica o de risco oferecido pelos produtores aumenta o que leva as institui es financeiras a utilizar do sistema de mata mata fazendo a quita o da opera o antiga s custas de recursos que financiariam a 168 Paralelamente a tal tens o quanto ao perfil de produtor de laranjas demandado pelo consenso que rege hoje a citricultura h de
426. o tenho mais dinheiro dela Porque o pre o t baixo n o vendeu ela bem Ent o eu preciso tirar de outro lugar Do qu Duma laranja dum lim o A gente tem que andar em cima da corda bamba Porque a gente t muito ruim de pre o Citricultores familiares Taquaritinga 01 2012 Um s tio meu de sete alqueires o outro tem dez Esse de sete tinha laranja agora t com goiaba e o de dez tudo laranja Esse ano 2011 2012 eu vendi a minha laranja pro barrac o mercado de fruta fresca a seis real Eles vieram colher mas dos seis reais n o deu pra empatar o que eu gastei eu tomei preju zo esse ano Eu s me virei tirando de outro lugar e pondo no s tio n A minha mulher aposentada com dois mil cruzeiros eu sou aposentado com oitocentos Ent o eu costumo tirar dinheiro da pra colocar no s tio pra comprar um adubo um veneno Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 Na laranja eu to j h uns dez anos l no s tio de laranja eu tenho 6 500 p s J tive at dez mas comecei a arrancar e esse ano eu t com id ia de arrancar mais uns dois e quinhentos a tr s mil p s pra arrendar pra cana N o ta compensando mais ta meio dif cil trabalhar uma escala que meio complicada a laranja C pega um ano dois a ela te mant m bem paga tuas despesa j um ano que nem esse aqui ela te d preju zo praticamente que a gente n o leva as coisa assim na ponta do l pis eu j tenho um peda
427. obre o emprego de milhares de colhedores Na medida em que a continuidade e a descontinuidade do processo de trabalho s o por elas impostas o real v nculo de subordina o do empregado rural para com as agroind strias 4 Ainda que a conclus o da venda das frutas s se realize no momento em que s o entregues s ind strias processadoras estas asseguram se atrav s do contrato de compra e venda da propriedade de todas as laranjas nos pomares de seus fornecedores impedindo os terminantemente de vend las a outros portanto patente o descompasso entre a exig ncia agroindustrial de direitos sobre o produto final da atividade assalariada rural e seu esfor o por abster se dos direitos sociais e trabalhistas nela 4 59 envolvidos Esta ofensiva pol tica jur dica culminou em uma a o civil p blica endossada em fevereiro de 2010 por sete procuradores do MPT de diferentes regi es do estado exigindo a contrata o direta por parte das ind strias de toda a m o de obra utilizada na colheita da 58 A t tulo de exemplo pode se destacar a esse respeito um processo de 2008 contra Cutrale Louis Dreyfus Citrovita e Citrosuco No caso em quest o os representantes dos empregados rurais alegaram que as ind strias haviam determinado a paralisa o parcial ou total de colheitas de laranja dos produtores contratados deixando colhedores sem trabalho e sem sal rio Os representantes dos citricultores confirmaram que as parali
428. ocando tudo do setor Eu mesmo j operava na hora que um operador de um setor ia almo ar eu ficava no lugar dele Agora por que eu continuava ajudante sendo que eu j operava e quando dava os pepino eu que resolvia O operador ganha uns quatrocentos conto a mais e s manda o ajudante que tem que trabalhar risos que o operador t num grauzinho a mais e d sempre uma pisadinha Muitos deles viu N o um ou dois 281 s o v rios O operador tem medo de te ensinar e perder o servi o o cargo deles Se eu sei fazer tudo de suco e voc t entrando agora c acha que eu vou ensinar voc pra firma me mandar embora Muita gente pensa assim Safrista Bebedouro 07 2011 Na escolha da fruta s o s mulheres n L homem s o supervisor e os meninos que ficam na parte de baixo nas m quinas Mas l em cima na escolha das frutas s o s mulheres A maioria nova muito dif cil ter mais que trinta esse ano entrou gente l comigo meninas de vinte e oito vinte e seis vinte e dois dezoito Eu mesma vou fazer vinte e um Eu brinco que l na C se n o fosse as mulher n o ia pra frente s as mulher que faz o servi o l porque os homem tudo sossegado Claro que voc n o vai poder falar isso pra um homem que o cara at te bate n Mas a gente fala Porque eles falam pega l voc vai fazer voc Ent o sempre a gente que t ali Claro os homem tamb m tem o seu ser
429. odemos dizer que permaneceram e fortaleceram se determina es fundamentais da fus o familia gest o da propriedade refor adas pelas condi es de alta explora o a que se submete a pequena produ o familiar no interior do complexo citr cola Primeiramente a administra o desta unidade produtiva segue n o se pautando pela taxa de lucro Via de regra os pequenos citricultores n o realizam o c lculo dos custos de produ o de sua lavoura mantendo apenas um vago controle sobre a rela o entre o pre o recebido pela caixa de laranja e os gastos monet rios em adubos leo diesel agrot xicos colheita e frete Virtualmente todas as pequenas propriedades ignoram os custos n o imediatamente monet rios de sua produ o citr cola custo da m o de obra familiar custo do capital de giro custo de oportunidade da terra custo anual de reposi o do patrim nio tanto do maquin rio agr cola quanto do pomar A cont nua transfer ncia de riquezas aos compradores da fruta especialmente s agroind strias torna se assim relativamente invis vel aos olhos do pequeno citricultor assim como a reprodu o permanentemente deficit ria de sua unidade produtiva Este d ficit cont nuo por sua vez suprido pela fluidez tipicamente camponesa entre a economia da empresa e a economia dom stica outras rendas decorrentes da aposentadoria do assalariamento de membros da fam lia ou de outras culturas presentes na unidade produtiva s o periodi
430. odo m ltiplo e heterog neo dando origem a encaminhamentos distintos em sua luta por melhores condi es de vida e trabalho o Informalidade e formalidade na explora o domina o sobre os assalariados rurais na citricultura paulista Como j apontamos anteriormente o gato ou a intermedia o informal na contrata o de assalariados rurais permanece ainda hoje uma importante media o da explora o domina o de colhedores na citricultura paulista Paralelo a novos e mais sofisticados mecanismos de arregimenta o e contrata o formal o gato perseverou neste setor mesmo ap s a derrocada das cooperativas de m o de obra no final da d cada de 1990 devido insuficiente fiscaliza o dos rg os p blicos fragilidade econ mica da maior parte dos fornecedores de laranja para as agroind strias e baixa remunera o da m o de obra rural manual devidamente registrada No interior deste quadro o gato possui um discurso de auto legitima o caracter stico sua atua o atenderia n o apenas aos interesses de pequenos e m dios produtores que n o seriam capazes de arcar com encargos sociais e trabalhistas na contrata o da m o de obra para a colheita como tamb m dos pr prios 2o seguinte trecho da ata de audi ncia de um processo contra o citricultor Jo o Carlos Branco Peres e contra a Sucoc trico Cutrale Ltda aberto pelo colhedor Sinivaldo Rodrigues da Silva ilustra problemas decorrentes da exposi o irregul
431. odos ser considerados de forma multifacetada trabalhadores subordinados ao capital A partir de tal concep o ampla e d ctil de proletariza o procuraremos em nossa pesquisa evitar unilateraliza es no tratamento das contradi es no campo posterior a 1964 que isolem e super dimensionem determinadas clivagens sociais sem integr las ao movimento global da acumula o de capital e da luta de classes o Desenvolvimento desigual e combinado das media es de controle sobre a m o de obra e as m ltiplas subjetividades da classe trabalhadora rural As contribui es te ricas destacadas at o momento permanecem contudo ainda insuficientes apreens o da metamorfose dos mecanismos pol ticos jur dicos e ideol gicos de controle sobre a terra e sobre a for a de trabalho rural posteriores a 1964 47 um aspecto fundamental da moderniza o conservadora do campo como j destacado mais acima Para melhor compreend lo apresentaremos algumas de suas transforma es chave durante a ditadura e ap s sua queda vinculando as a lutas dos trabalhadores rurais relevantes a nossa pesquisa Moraes Silva destaca se na literatura por seu esfor o em apresentar de forma articulada o processo de extra o de mais valor e as m ltiplas media es concretas de domina o do capital sobre a subjetividade dos trabalhadores rurais Moraes Silva 1999 Uma de tais media es destacada pela autora o direito positivo Segundo a autora o
432. oio forma o das cooperativas de colhedores na circular 042 de 1995 Nela citavam se as seguintes vantagens para os produtores rurais da nova forma de contrata o 1 n o exist ncia de problemas trabalhistas nas pocas de safra 2 supress o de v nculo empregat cio com o tomador da m o de obra 3 inexist ncia de fiscaliza o trabalhista 4 desobriga o das responsabilidades trabalhistas e sociais 5 maior tranquilidade na execu o de trabalhos agr colas Baptistella 1998 Adotada inicialmente e em maior escala nos pomares das pr prias agroind strias e de grandes e m dios produtores a contrata o por meio de cooperativas estendeu se tamb m aos milhares de pequenos produtores como uma estrat gia para escapar exclus o completa do setor e consequente proletariza o As cooperativas foram neste sentido o embri o de um a princ pio aparentemente poss vel ainda que prec rio consenso entre agroind stria e 121 os diferentes segmentos de produtores de mat ria prima capaz de repassar aos assalariados rurais parcela do nus e da tens o que marcaram o fim do contrato padr o No esfor o de incorporar os pr prios colhedores neste consenso argumentou se que as cooperativas de trabalho proporcionariam aos associados uma substancial melhoria da renda na medida em que os encargos sociais perdidos seriam mais que recompensados pela melhor remunera o Reeditou se com este argumento um
433. ol ticos produzidos na academia e ecoados na imprensa Paulillo e Almeida 2009 Analisando o complexo agroindustrial sucroalcooleiro Moraes Silva e Ribeiro chegam a conclus es similares No que tange s informa es trazidas pelas fontes jur dicas verifica se por um lado o grande n mero de processos trabalhistas movidos contra as empresas visando ao respeito do cumprimento das normas trabalhistas Por outro lado observa se tamb m o alargamento do conflito de classes na medida em que se os atores do campo jur dico n o se situam num campo neutro tampouco tomam posi es predeterminadas em favor dos donos das empresas Ao incorporarem os pareceres advindos de pesquisas em diversas reas do conhecimento suas decis es revelam que tal como afirmara Bourdieu os discursos e as pr ticas do campo jur dico s o duplamente determinados por um lado pela l gica interna das obras jur dicas que delimitam em cada momento o espa o dos poss veis e deste modo o universo das solu es propriamente jur dicas e por outro pelas rela es de for a espec ficas que lhe conferem sua estrutura e que orientam as lutas de concorr ncia Moraes Silva e Ribeiro 2010 p 24 O significado das a es judiciais para a luta de classes neste per odo pode ser exemplificado com o seguinte panfleto da Feraesp a respeito do qual alguns pontos merecem ser mencionados Em primeiro lugar destaca se o fato de que o encaminhamento jur dico de de
434. ola pa lista sissscssisssscsessssssscssseosrossopossestsssosnososiasesopsscovsssoureisbeoseesis sosis 157 Vaaa 101 EEE AEE ES AR AA A 157 Exclus o da pequena produ o familiar do consenso estabelecido no interior do complexo citricola paulistas iie en a E E EA AR E E A e 166 Proletariza o da pequena produ o familiar citr cola paulista 185 Cap tulo 4 Vozes do trabalho Assalariados rurais direitos trabalhistas e luta pela terra na citricultura paulista sesssesssoossoossoosssessssesssocssoosssossssssssesssoossoossssssssessseessosseo 205 Tnroducao douta aea A e a E O A De PA 205 Informalidade e formalidade na explora o domina o sobre assalariados rurais na ilric ltura DOU Asi io st e pa ada uns las 214 Assalariados rurais e a luta pela terra na citricultura paulista aseran ieee a RS NPR DONE PODERDR NDA aa a eieaa PR 246 Cap tulo 5 Vozes do trabalho Assalariados industriais reestrutura o produtiva e fechamentos de f bricas no complexo citr cola paulista essscess ss resssrress 265 PRPOQU O pat E AE RR AA A T 265 Flexibiliza es empregat cias automa o e transforma es na hierarquia do ch o de J brica no complexo citr cola Damistds xana as aaa a Sela sc 274 Fus es aquisi es e fechamentos de f bricas no complexo citricola DOUTA a ia SR ER a A Ss a a 295 Considera es finais scsessecrsescrosestnicesisio ses iststoneneer sb ci onto de
435. omer Isso foi 2008 ou 2009 L na C voc tem que trabalhar do jeito que eles quer s exig ncia s exig ncia e pra voc ganhar pra sobreviver e manter a fam lia pra ganhar o p o de cada dia que o mais dif cil n o acontece Em vez de voc melhorar a situa o s vai cada vez pior n A primeira vez que eu vim pra c eu ainda tava solteiro Eu decidi vim pra c pra viver uma vida melhor v se adquiria alguma coisa mais n Os irm o mais velho trabalhava ajudando os pai nosso pra d o que comer beber e vestir os mais novo N s trabalhava junto pra criar a fam lia entendeu Depois n s come ou a vim pra c come ou a melhorar a situa o Pr tr s a gente ficava aqui mais tempo Hoje n o a gente vem fica um tempo volta Antes a gente ficava seis m s aqui e voltava pr l Agora acontece de ser seis m s cinco m s at dois m s Hoje eu acho que fico mais l do que aqui J teve vez que eu ficava de um ano pra outro aqui agora n o eu venho aqui e volto Eu prefiro ficar por l A terra que a gente nasceu era bom que a gente ficasse Meu maior prazer era v meus pais a 217 fam lia unida assim a vida era melhor Colhedor e migrante baiano Sever nia entrevista em 07 2011 8 Por outro lado h uma grande quantidade de migrantes que v m assumindo uma identidade tipicamente assalariada Em especial dentre as gera es mais jovens h migrantes que se distanciam
436. omo quiser garantida pelo gato O registro em carteira os sindicatos e os rg os fiscalizadores do Minist rio P blico do Trabalho por outro lado s o caracterizados como cativeiro e deslegitimados como contr rios aos verdadeiros interesses dos colhedores O seguinte trecho de entrevista com um gato assim o ilustra Eu acho que o pe o tem que trabalhar conforme ele quiser Se ele quiser trabalhar registrado ele vai ser registrado se ele quiser trabalhar sem registro ele vai trabalhar sem registro N o a gente que obriga ele a trabalhar n s que faz ele trabalhar sem registro Eles que quer Porque o neg cio dele o seguinte a respeito de um colhedor migrante presente no local ele vai embora daqui tr s m s Ent o pra ele se ele trabalhar registrado seria pr tirar o seguro desemprego Mas com esse tempo trabalhado n o d pra sacar o seguro desemprego ent o ele pede pra trabalhar seis meses fora do registro pra poder pegar o dinheiro e ir embora Tem muita gente sem registro que fica um ano mas a maioria fica tr s quatro m s e vai embora Porque alguns quer trabalhar registrado Por causa do minist rio do trabalho e do sindicato que fica em cima diz que vai fazer largar o trabalho Fica no p fala pra parar O sindicato tinha que ver o seguinte n o tem mais esse neg cio de servi o escravo o colhedor trabalha do jeito que ele quiser O sindicato vem p ra multa os produtor multa as empreiteira faz
437. omou culpa Todo mundo aqui achou errado Porque como que pode Dar trabalho pra gente e vem uma pessoa l do outro lado quebrar trator p de laranja Foi um custo de um milh o e quinhentos reais Pode ser ruim do jeito que for l mas pelo menos d servi o pra todo mundo Quest o de dar servi o eles n o tem preconceito a quest o que o sal rio muito pouco interlocutor 2 O que eu penso o seguinte hoje eu sou assentado mas pra pessoa conseguir um peda o de terra s assim Eles n o devolve n o libera nada Chega planta cata a gente como escravo a maioria do povo daqui do assentamento trabalha l Eu acho que t certo se n o ocupar eles nunca vai ter o peda o de terra deles Disseram que ia prender quem foi que n o ia dar servi o mas depois disso j pegaram mais de cinq enta que fez a ocupa o Inclusive eu fui um deles Eu tava l Hoje eu sou operador de m quina l depende de mim pra laranja subir pra ir pra Araraquara pra ir pra exporta o pra tudo Operadores de m quina agr cola Iaras 07 2012 No que diz respeito aos assalariados rurais da citricultura que moram em acampamentos de fam lias sem terra na regi o predomina em seu discurso a aprova o das ocupa es do MST no pomar da Cutrale Trata se de trabalhadores que realizaram em geral um mesmo percurso nasceram e cresceram no campo seja no interior de uma fazenda seja em sua posse ou propriedade familiar migraram
438. on mica pol tica e ideol gica Com base nos instrumentos conceituais apresentados anteriormente buscaremos demonstrar que a resultante de tais tend ncias e contra tend ncias um processo acentuado de exclus o e proletariza o da pequena produ o familiar citr cola o Introdu o Devemos inicialmente apresentar algumas determina es quantitativas m nimas acerca da pequena produ o familiar citr cola utilizando em um primeiro momento como crit rio de defini o estat stica desta fra o de classe o volume de terras em seu controle Como j destacado mais acima com base nos par metros estabelecidos pelo Instituto de Economia Agr cola consideraremos pequenas as propriedades citr colas paulistas com at 50 hectares A abaixo mostra a evolu o entre os anos 1980 e 1995 desta fra o de produtores em compara o com as demais no que toca ao n mero de im veis com p s de laranja em produ o em S o Paulo ao percentual de p s novos em forma o e ao percentual na produ o total no estado 157 Tabela 3 Estratifica o dos produtores do cintur o citr cola por hectares 1980 1985 1990 Classes de Im veis N mero de p s N N mero de p s i N mero de p s g abiri im veis novos pirri im veis novos ga im veis novos ig Menos de 50 15 063 527 359 18215 219 334 14 728 154 50 a menos de 200 3 811 138 273 4 168 253 234 5 373 29 7 200 a menos de 1000 1 627 286 313 1 710 358 35 1 903 39 9 Ma
439. on rio sem a m nima aten o n o perguntou nada simplesmente dispensaram o funcion rio Ao inv s de eles chamarem voc em particular conversarem com voc dizerem olha tamo dispensando voc por isso e isso n o Foi como boiada pro abate N o trataram a gente como funcion rio no caso eu trabalhei l quase quatro anos e n o perdi um dia de servi o n o levei um atestado n o perdi uma hora de servi o mas n o deram aten o pra mim Tem uns colegas que t empregado em outras empresa tem outros que t parado Tem uns a que t recebendo seguro desemprego outros trabalhando de servente de pedreiro outro aguardando uma oportunidade em metal rgica em outras f bricas No caso eu to quebrando galho no motot xi N o um emprego um quebra galho Esperando novamente aparecer uma vaga no mercado de trabalho pra poder trabalhar ex operador Mat o 07 2012 Como indica esta ltima cita o o impacto econ mico dos fechamentos de f brica e das demiss es massivas acompanhado por outro de car ter cultural e pol tico com diferentes matizes e alcances poss vel identificar no discurso de muitos ex funcion rios a deteriora o dos la os que os solidarizavam com os interesses e as diretrizes das agroind strias citr colas suas anteriores contratantes Particularmente significativo a este 302 respeito a contraposi o entre por um lado momentos do discurso destes trabalhadores
440. onais e mais Cr 44 00 por caixa para o pagamento do d cimo terceiro e indeniza o do fim de safra Iniciada em Bebedouro esta nova greve estendeu se na semana da deflagra o para Terra Roxa Monte Azul e Viradouro e em seguida para Pitangueiras Taquaral Itaia u e Barretos Alves 1991 Realizada a revelia das dire es sindicais vistas com extrema desconfian a pelos colhedores devido trai o recente esta segunda greve encontrou sua dire o em representantes dos trabalhadores eleitos em seus bairros de moradia Por meio desta dire o os colhedores exigiram negociar diretamente com as ind strias processadoras Isso implicava n o apenas em um questionamento direto da representa o sindical mas 89 tamb m em um reconhecimento de que seus reais empregadores n o eram os gatos ou empreiteiros que os agenciavam mas as agroind strias que por tr s deles atuavam Se em um primeiro momento estas afirmaram que as reivindica es dos colhedores deveriam ser encaminhadas por meio de seus dirigentes sindicais s firmas empreiteiras de m o de obra tiveram em seguida sua inflexibilidade quebrada por piquetes de trabalhadores nas portas das f bricas que paralisaram diretamente a linha de processamento do suco Depois de dura repress o policial contra os piquetes a greve encerrou se em 13 de outubro de 1984 com a conquista de um reajuste de 71 considerado insatisfat rio pelos trabalhadores grevistas Permanecia contudo com
441. onaliza o empresarial num contexto de globaliza o econ mica neste final de s culo e pelas transforma es na organiza o da produ o a n vel mundial Alves e Almeida 1999 Em paralelo a este cen rio econ mico o in cio da d cada de 1990 foi tamb m pontuado por paralisa es no interior das agroind strias citr colas paulistas Dentre estas destacam se primeiramente as greves dos trabalhadores das ind strias de suco de Mat o em 1990 Neste ano constituiu se o Sindicato dos Trabalhadores da Ind stria da Alimenta o de Mat o e a primeira greve por ele dirigida iniciou se em 11 07 1990 quando os trabalhadores do processamento de laranjas e os motoristas que transportavam as frutas paralisaram parcialmente a unidade da Frutropic no munic pio Os trabalhadores rejeitaram o reajuste de 22 proposto pela ind stria argumentando que at aquele m s a infla o j ultrapassara 180 Foram contudo obrigados a aceitar a proposta ap s tr s dias de paralisa o quando os motoristas de caminh es orientados por seu pr prio sindicato retornaram ao trabalho Jornal A Comarca Greve na Frutropic 14 07 1990 Greve rel mpago da Frutropic 21 07 1990 Em 21 09 1990 iniciou se uma nova greve deflagrada pelos motoristas que transportavam as frutas Citrosuco de Mat o poca contratados diretamente pela empresa os condutores reivindicavam aumento salarial de 106 enquanto a empresa propunha 22 Em 28 09 1990
442. operadores de m quinas mais antigos relatam ter colhido laranjas quando mais jovens e destacam que o maior esfor o f sico do trabalho rural em rela o ao trabalho fabril era compensado pela maior liberdade na lavoura em compara o com a ind stria Seu discurso nesse sentido tende a ser pontuado por uma relativa nostalgia em rela o menor press o psicol gica e ao menor controle a que eram submetidos quando colhedores de laranjas Por outro lado muitos dos operadores de m quinas mais jovens relatam nunca ter realizado trabalho rural manual e destacam que seu maior n vel de estudo formal os atrai para atividades de maior esfor o intelectual em especial envolvendo a interface com m quinas program veis Seu discurso portanto enfatiza a dist ncia que sentem em compara o com o modo de vida e trabalho da massa de colhedores de laranja ainda que normalmente possuam vizinhos ou parentes com esta ocupa o Os dois trechos de entrevista a seguir o primeiro deles com um operador mais velho e o segundo com um operador mais jovem ilustram esta transforma o na auto imagem destes trabalhadores 286 Eu vim da ro a eu colhi laranja e eu acho que um trabalho mais judiado um trabalho que n o tem tanto valor Muitas pessoas gostam daquilo tamb m n o conseguem trabalhar trancado dentro de uma empresa Na empresa voc tem que cumprir hora pra tudo n Na ro a voc vai pro seu servi o de manh e volta de
443. or de filtragem e centrifuga o onde se efetua o ajuste do teor de polpa do produto O suco filtrado concentrado em evaporadores as bases de sucos de diferentes frutas s o misturadas e homogeneizadas em blenders de acordo com as especifica es demandadas pelo comprador e o suco enfim congelado a temperaturas ao redor de 5 graus Celsius Alcan a se assim o produto principal de toda a cadeia produtiva em uma propor o de uma tonelada de suco concentrado congelado para aproximadamente 10 12 toneladas de laranjas processadas armazenado em tambores met licos de 200L ou enviado a tank farms de onde ser carregado em caminh es especiais e transportado para os terminais portu rios das agroind strias citr colas Munhoz e Morabito 2010 Darros Barbosa 2006 267 Etapas do processamento industrial de laranjas Figura 3 ces flo mr Tanques de T Entamboramento estocagem c mara fria Suco de aroma iee ca c o mir me s ra miir 0 e Descarmregamento de frutas Ha S os de armazenamento de frutas Lava o e escolha Entamboramento Estocagem c mara fria Pulp was ca o or O Es fam ppp a ur o um Estocagem c mara fria Classificador nisi cores aj Emuje o dass gi RE qu E ER eai S AN TIE j i si io ai Ds M in Filtro I i Licor Ci e em e ee e o H Molapo Silos de cal m Dra S ios N E 13 Peneira vibrat ria
444. ores quanto expans o de pomares pr prios das agroind strias Paralelamente vimos tamb m que algumas destas empresas s o acusadas de apropriarem se privadamente de estoques de terras p blicas na regi o centro sul do estado de S o Paulo para formarem seus pomares 307 com coniv ncia do poder p blico apesar de questionamentos e enfrentamentos levados a cabo por fam lias sem terra na regi o Em segundo lugar mostramos como o capital agroindustrial citr cola esfor ou se entre as d cadas de 1990 e 2000 para flexibilizar o mercado de trabalho rural do setor atrav s da cria o de gatoperativas e catom nios com vistas a desorganizar as lutas de colhedores de laranjas e manter o baixo custo da numerosa m o de obra rural manual de que necessita Complementarmente vimos ainda o impacto sobre operadores de m quinas na lavoura e na ind stria da subordina o de seu trabalho s agroind strias citr colas tanto devido ao contato indiscriminado com agrot xicos por tratoristas ou socializa o de custos de estocagem entre transportadores de frutas quanto devido s flexibiliza es empregat cias ou s demiss es massivas nas linhas de processamento de suco de laranja Em todos estes casos podemos ver como os mais modernos complexos agroindustriais reproduzem tra os primordiais da forma o social brasileira na medida em que o controle superdimensionado do capital sobre a terra e sobre a for a de trabalho segue
445. ormal e esporadicamente aproveitados pela ger ncia na gest o e nas transforma es do processo produtivo a partir da d cada de 1990 o capital agroindustrial citr cola buscou colocar a seu 149 servi o determinadas habilidades intelectuais dos assalariados industriais a ele subordinados Em um primeiro momento isso significou o aumento da import ncia atribu da aos aportes dos trabalhadores na elabora o e instala o de sistemas integrados de automa o nas agroind strias O novo padr o de intera o entre a administra o e o ch o da f brica permitiu recolher armazenar e selecionar no es de operadores de m quinas a respeito da rotina e dos empecilhos de suas atividades Estas foram ent o aplicadas diretamente nas opera es executadas pelas m quinas e instrumentos com programas que traziam embutidos em si no formato de sub rotinas autom ticas os resultados da intelig ncia pr tica da for a de trabalho agroindustrial Em um segundo momento exigiram se dos assalariados industriais determinadas habilidades intelectuais necess rias ao dom nio da interface com controladores l gicos program veis a capacidade de interpretar o conjunto de informa es em um supervis rio a capacidade de elaborar planilhas de dados com base em tais informa es a capacidade de supervisionar o funcionamento de m quinas autom ticas A exig ncia de tais habilidades tornou invi vel a contrata o de operadores com apenas primeiro gra
446. orta a m quina t plantando a m quina ta fazendo tudo Rapaz aqui foi um monte de empregado embora nego plantou cana Toninho Fonseca mandou o pe o embora e plantou cana Z Augusto partiu embora plantou cana a Rita n o tem mais ningu m na fazenda plantou cana Rapaz o povo vai tudo embora Vai tudo pra cidade Festa aqui tinha todos ano Mas antes era melhor que agora era tr s dia agora um dia s Tinha um campo de bola n o cabia as pessoa no campo de bola hoje n o hoje mudou muito Citricultor familiar Ibitinga 01 2012 Ao longo de todo este cap tulo n s buscamos tecer algumas das mais importantes tend ncias e contratend ncias econ micas pol ticas e ideol gicas que marcam o cotidiano e a consci ncia dos pequenos produtores de laranjas Buscamos tamb m mostrar que a resultante destas tend ncias e contratend ncias um processo acentuado de exclus o dos pequenos citricultores familiares Reafirma se assim sua caracteriza o como uma fra o da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial no complexo citr cola por um lado possuem particularidades em sua subjetividade e em seu modo de vida e trabalho que os diferenciam tanto dos assalariados quanto da pequena burguesia agr cola por outro lado s o continuamente tensionados por imperativos do mercado que acirram a subordina o de seu trabalho familiar ao capital e geram um contexto ampliado de proletariza o Alcan amos com iss
447. os colhedor de laranja aqui os sem terra Porque trabalha muito sem terra l Nisso eles aproveita eles cativa os sem terra A coisa feia l dentro eu quero trabalhar no meu lote n o quero mexer mais com isso n o Colhedor e acampado Iaras 07 2012 Como j aponta a ltima cita o a demanda por acesso terra e por melhores condi es de trabalho e sal rio n o s o necessariamente excludentes No discurso destes acampados e assentados misturam se por um lado a cr tica lentid o na arrecada o de terras p blicas e s defici ncias do cr dito e da assist ncia t cnica para a reforma agr ria e por outro a cr tica baixa remunera o e precariedade das condi es de trabalho nos pomares das agroind strias A articula o destas distintas demandas em um nico projeto pol tico e sindical um desafio que ainda encontra in meros obst culos Primeiramente segundo o discurso de acampados e assentados a estrutura sindical tradicional na regi o de que viemos tratando segue em sua maior parte completamente alheia ao cotidiano e ao local de trabalho dos assalariados rurais da citricultura S o especialmente comuns as cr ticas acess ria jur dica dos sindicatos da regi o e proibi o do seu acesso ao interior das fazendas das agroind strias Al m disso multiplicam se aqui as segmenta es simb licas entre estes trabalhadores s clivagens j descritas mais acima entre os assalariados
448. os aos produtores t m como resultado concreto a exclus o dos segmentos menos privilegiados da citricultura Segundo os levantamentos de safra de laranja 2011 2012 da Conab apenas na safra 2010 11 a erradica o de pomares ocorreu em 69 dos casos em propriedades com at 48 hectares em 17 em pomares de 48 a 120 hectares em 8 em unidades de 120 a 300 hectares e em 6 em pomares acima de 300 hectares Aos pequenos produtores familiares de laranjas expulsos do setor resta o arrendamento ou venda de suas terras a usinas de cana de a car e o assalariamento parcial ou integral em cidades pr ximas De fato a rea dos pomares erradicados tem sido usualmente direcionada para a planta o de cana de a car Segundo a Associtrus entre 2006 e 2011 a laranja perdeu cerca de 350 mil hectares para a cana de a car no estado Laranja perde 350 mil hectares de rea para a cana in http www associtrus com br not cias htm 29 11 2011 As tabelas a seguir d o a medida deste processo nos seis Escrit rios de Desenvolvimento Rural que comp em a regi o mais tradicional da citricultura paulista 112 Tabela 1 Varia o do n mero de p s de laranja em produ o e de caixas colhidas 2000 2011 EDRs 2000 2011 2011 vs 2000 P s em produ o Caixas Colhidas P s em produ o Caixas Colhidas P s em produ o Caixas Colhidas Limeira 19 080 189 35 230 378 16 481 512 25 573 101 14 27 Araraquara 23 629 933 41 980 899 19
449. os em seus pomares pr prios as agroind strias voltassem a se responsabilizar pelos direitos sociais e trabalhistas da m o de obra utilizada na colheita da laranja A realidade que um novo sindicalismo precisa surgir Sinceramente eu tamb m n o sei como ele vai ser eu s sei o seguinte enquanto o capital junta do banco ao fazendeiro da pepsi cola ao p de laranja n s estamos ainda absolutamente divididos Este pra mim um ponto de reflex o um desafio a ser superado A Feraesp sempre prop s a organiza o sindical da cadeia produtiva N s sabemos que nosso trabalho independente da fun o que n s exercemos no ch o da f brica na bol ia de um caminh o ou num pomar de laranja t contribuindo pro lucro da Cutrale do cartel da laranja Ent o a tarefa de construir uni o nossa Essa uma tarefa pol tica a Feraesp j nasceu com essa voca o de construir a unidade dos trabalhadores do complexo agroindustrial Uma das alian as que n s fizemos por exemplo foi o v deo sobre as coopergatos que o sindicato das ind strias de alimenta o de Moji levou para os trabalhadores da Coca Cola nos Estados Unidos Isso criou dificuldade enorme na alian a do Cutrale com a Coca Cola Aliado s a es do Minist rio P blico e tudo o mais que foi feito aqui essa propaganda internacional das coopergatos foi poderosa no sentido de fazer com que a ind stria passasse pelo menos a registrar os trabalhadores nas suas fazendas
450. os os trabalhadores da cadeia produtiva desde a lavoura at o ch o de f brica no processamento de a car e lcool suco de laranja etc Segundo esta federa o na medida em que o poder da burguesia agroindustrial n o encontra limites setoriais ou territoriais a perpetua o da fragmenta o sindical dos trabalhadores em regi es ou categorias estanques imp e lhes uma correla o de for as inevitavelmente desfavor vel De acordo com esta leitura em um contexto em que a lavoura especialmente em S o Paulo crescentemente transformada em um momento da produ o agroindustrial e a planta processadora afirma se cada vez mais como centro nervoso de controle e planejamento do empreendimento como um todo torna se imprescind vel a constru o de a es unificadas entre assalariados das ind strias de 243 alimenta o transportadores e assalariados rurais que visem recuperar seu poder de barganha face o capital agroindustrial No complexo citr cola em espec fico as experi ncias neste sentido s o escassas Destaca se especialmente a iniciativa conjunta da Feraesp e do Sindicato dos Trabalhadores das Ind strias de Alimenta o de Moji em tomo de um v deo a respeito das coopergatos Segundo o presidente da Feraesp a divulga o deste v deo entre trabalhadores da Cutrale no Brasil e da Coca cola nos Estados Unidos teria gerado dificuldades alian a comercial entre estas duas empresas e teria contribu do para que ao men
451. os superiores sobre as decis es que concernem produ o como um todo Ao mesmo tempo em que se exigiu dos trabalhadores maior grau de instru o e maior dom nio sobre determinados procedimentos na interface com sistemas autom ticos de m quinas imp s se lhes uma subjetividade mais afim perspectiva empresarial e menos perme vel solidariedade de classe Tais reestrutura es foram capazes de fragilizar o corpo e as lutas da classe trabalhadora fabril assentando as bases de um novo per odo de acumula o acelerada do capital Jo o Bernardo assim caracteriza este processo na din mica da luta de classes Foi o tema da conquista da gest o ou pelo menos da participa o na gest o que mobilizou os trabalhadores nos movimentos aut nomos das d cadas de 1960 e 1970 deixando historicamente ultrapassado o tema da estatiza o da propriedade e atribuindo um lugar secund rio mera reivindica o salarial Nos in meros casos em que a amplifica o das lutas deu lugar a ocupa es de f bricas e de estabelecimentos comerciais e em que os trabalhadores em vez de se limitarem a tomar conta das instala es fizeram nas funcionar muitas vezes durantes per odos prolongados os capitalistas perceberam que quem sabia usar a intelig ncia para lutar sabia us la tamb m para gerir O toyotismo empregando o termo aqui numa acep o muito gen rica resultou desta dupla tomada de consci ncia por parte dos capitalistas
452. outro tem se mostrado imposs vel ser um citricultor competitivo sem estas tecnologias Romeiro 2002 Devido a este constrangimento estrutural a que est o submetidos os pomares dos fornecedores de laranjas s agroind strias doen as como o amarelinho o cancro c trico e principalmente o greening t m se propagado em alta velocidade por todo o territ rio citr cola paulista As agroind strias t m respondido a este dilema expandindo nos ltimos anos seus pomares nas regi es sul e sudoeste do estado ou mesmo por outros estados brasileiros Aos demais produtores por outro lado o alastramento dessas doen as tornou se mais uma determina o no sentido de sua subordina o e explora o pelo capital Neste contexto t m se acirrado as condi es de transfer ncias de renda da citricultura n o apenas s agroind strias mas tamb m s ind strias produtoras de insumos para a agricultura Apenas a t tulo de exemplo pode se mencionar que em 2009 a citricultura se tornou a segunda cultura mais intensiva em uso de defensivos 17 5 kg ha de ingrediente ativo atr s apenas do algod o 27 1 kg ha de ingrediente ativo firmando se no Brasil como um mercado significativo ao oligop lio produtor de agrot xicos marcado desde o in cio da d cada de 2000 pela concentra o de mais de 80 das vendas nas m os de quatro grandes empresas Neves 2005 e 2010 103 Acresce se a isto o crescente controle das agroind strias sobre as
453. pa l em S o Paulo e vende aqui Operador Mat o 07 2012 Interlocutor 1 A gente recebe R 7 07 por hora d R 1 552 por m s Ajudante geral deve t com uns R 780 00 o pessoal que t chegando agora Com esse sal rio voc trabalha de dia pra comer a noite se c quer comprar um t nis uma roupa um sapato pra sua esposa tem que dar os pulos fora Eu mesmo trabalhava numa churrasqueira a noite Eu deixei essa fun o porque eu consegui aposentar agora e eu n o vou s trabalhar n Mas eu fazia duas fun o era churrasqueiro durante a noite e durante o dia na empresa Eu fazia as oito hora na empresa e mais sete fora Interlocutor 2 Isso comum eu tamb m trabalhava durante o dia de motot xi e trabalhava a noite na empresa Ou seja eu sa a da empresa s seis da manh j come ava a correr no motot xi pra ter 272 alguma coisa a mais A eu trabalhava mais ou menos at meio dia a hora que ficava fraco a eu ia pra minha casa dormia at as tr s voltava pra correr at as sete hora dormia at as nove e meia e ia trabalhar na firma de novo Operadores Mat o 07 2012 Na empresa nossa 5x1 a cada cinco dias de trabalho tem direito a uma folga Mas todo ano entra o pessoal que faz a safra Esse pessoal voc tem que treinar pra quando voc folgar ele ficar no seu lugar E nesse per odo de treinamento a gente trabalha direto Agora mesmo n s tamo trabalhando j faz um m s e pouqu
454. para a cidade ainda jovens e desejam hoje retornar terra Dentre as determina es para este movimento pendular destaca se em primeiro lugar o contexto brasileiro de altas taxas de desemprego e de explora o da for a de trabalho Na medida em que estes trabalhadores n o encontram ocupa o nas cidades ou se v em repetidamente submetidos a atividades extenuantes com baixa remunera o e prec ria cobertura de direitos sociais e trabalhistas eles optam por lutar por um peda o de terra onde possam morar e de onde possam tirar parte do sustento Em segundo lugar fortalece este desejo a deteriora o do ambiente urbano especialmente nas periferias das grandes metr poles Na medida em que estes trabalhadores enfrentam um crescente custo de vida especialmente de moradia e um contexto de extrema viol ncia na cidade eles s o atra dos pelo padr o de sociabilidade e solidariedade que se estabelece 256 nos acampamentos de fam lias sem terra As seguintes duas cita es de acampados assalariados rurais da citricultura assim ilustram estas determina es Eu j fui fazer entrevista em firma a c chega numa fila de cem pessoa o cara pede o que proc Chega uma psic loga e pergunta Quantos anos c tem Se voc tiver mais que quarenta ano c j n o serve pra emprego Se voc n o tiver segundo grau completo c n o serve pra emprego Se voc n o tiver v rios cursos c n o serve pra emprego Se voc n o
455. parei Isso foi em 2006 N s ponh irriga o e a deu muita laranja come ou a demorar pra apanhar elas caia tudo no ch o Teve uns ano bom de laranja e o pre o era ruim n A come ou a dar preju zo N s passou a dever 300 mil reais vendemo uma parte do s tio e eu parei Eu acho que a situa o da laranja n o ta boa porque ningu m mais compra um trator ningu m mais compra uma caminhonete nova Eu n o vejo laranjeiro assim eu vejo s vendendo peda o de terra Por isso quase todos t o trabalhando pra fora 201 Aqui mesmo o J R tinha laranja o filho dele ta trabalhando de tratorista O Z M tamb m ele estudado n o sei no que ele ta trabalhando Da laranja ta saindo tudo fora quase que eu sei Eu mesmo depois que sai da laranja arrendei pra cana Mas quando arrendou eu senti falta c fica meio c n o sabe o que c vai fazer c fica meio envergonhado porque na poca que eu arranquei a laranja tinha muita laranja ainda as irriga o tava funcionando Eu mandei arrancar tudo fora eu n o aproveitei nada ent o eu fiquei meio envergonhado Ex citricultor familiar Monte Azul Paulista 07 2011 O esvaziamento do universo simb lico dos pequenos produtores decorrente do avan o da cana de a car diz respeito principalmente ao empobrecimento dos nexos sociais locais em que sempre esteve imerso seu modo de vida e trabalho A dram tica perda de popula o de bairros rurais citr colas e o cons
456. participar colocando a posi o da Associtrus que era a mesma posi o dos trabalhadores Foi a que a gente encontrou o lio Neves presidente da Feraesp e a gente come ou a tentar se aproximar N s ach vamos politicamente muito importante que a gente unisse a for a da Associtrus com a for a dos trabalhadores Mas eu percebi um certo distanciamento tanto que quando foi criada a c mara setorial de citricultura no Minist rio da Agricultura tinha uma previs o dos trabalhadores rurais participarem e a Feraesp se negou a participar Assim mesmo continuamos participando de reuni es tentando essa aproxima o mas sem muita reciprocidade Hoje n s estamos no mesmo problema n s estamos enfrentando problemas com a ind stria que o contratante dos dois lados N o h conflitos abertos e permanentes entre produtores e trabalhadores Tem gente que n o entende assim v essa quest o de patr o e empregado e se preocupa com uma aproxima o irrestrita mas eu passo por cima disso eu acho que n o h raz o para n o unir for as com quem ta sofrendo os mesmos problemas com a mesma origem N o precisa com isso abrir m o das suas convic es se acontecer algum problema nada vai impedir que voc o resolva de outra forma em outra inst ncia Ningu m vai fazer um acordo de n o discutir os problemas N s estamos unidos nessa quest o mas n o vai haver nenhum compromisso que venha a limitar os direitos e deveres de ningu m
457. pela massa de trabalhadores rurais manuais exigida na cadeia produtiva De fato como j destacado neste per odo o capital agroindustrial canavieiro superou os dilemas impostos pela subordina o formal do trabalho assalariado rural especialmente por meio da mecaniza o crescente de sua colheita Para os cortadores de cana isto limitou de forma irrevers vel seu controle sobre o processo de trabalho Para o capital por outro lado isto lhe possibilitou diminuir sua vulnerabilidade face as mobiliza es de trabalhadores rurais manuais a ele subordinados e aumentar sua capacidade de determinar a intensidade do trabalho sem aumento de custos a partir dos ritmos e par metros impostos pelo maquin rio na lavoura e na planta fabril A t tulo de ilustra o da expectativa quanto a isto no in cio da d cada de 1990 pode se destacar a seguinte cita o Recentemente nos Estados Unidos os rob s entraram de forma intensiva na colheita da laranja e com ganhos enormes de qualidade Atrav s das c lulas foto el tricas os mesmos s colhem as laranjas maduras Muito provavelmente em breve chegar o ao Brasil como freio s reivindica es dos trabalhadores a exemplo do que ocorre no caso das m quinas colhedeiras de cana apesar das perspectivas de queda de venda ao produto no mercado americano Rossini 1993 p 4 136 Seguindo uma via distinta as agroind strias citr colas buscaram minimizar sua vulnerabilidade face ao enorme con
458. pequeno produtor um investimento alto na recupera o de seus implementos e na reconstitui o de sua lavoura o que tende a ser invi vel a partir dos magros recursos de que disp e Da que uma vez arrendada a pequena propriedade a continuidade do contrato de arrendamento ou a venda da terra tendam a impor se como as nicas op es ao pequeno propriet rio Para muitos isto representa a completude de seu processo de proletariza o a perda do meio de produ o e sua convers o em um assalariado t pico Os tr s trechos seguintes assim o ilustram De uma coisa eu tenho certeza absoluta Quem arrenda a terra pra cana e depois decide eu n o quero mais cana eu vou reformar a minha propriedade botar laranja de novo ele n o consegue Ele n o tem mais como voltar atr s Porque ele se desfez do trator a muda vai estar cara e ele vai ter que esperar no m nimo tr s anos pra tirar um pouquinho de produ o Ent o pra botar cana tem que ta muito ruim Quem tem propriedade grande outra hist ria mas quem pequeno entrar na cana que nem quem entrar na droga Quem entra na droga s vai n o volta n Com a propriedade pequena tamb m assim Se voc arrenda como se voc desse pra usina pro resto da vida voc n o tem mais como recuperar isso O dono da terra n o tem mais a liberdade de fazer o que quer com ela como se fosse da usina agora Citricultor familiar Taquaritinga 02 2012 197 A c
459. pessoa a sem registro melhor n o d servi o N s faz qualquer coisinha j complica porque eles nunca perde Se voc fizer um errinho l no sistema eu n o o condom nio voc n o tem nome na pra a um tal de bloquear tudo que a gente tem Por causa de uma pessoa que n o fez o que tinha que fazer porque n s pagamos O condom nio funciona assim o dono do condom nio n s Mas o que tomava conta n o fez as coisa direito ele foi embora e a turma foi como que fala Botaram no pau A uns paga outros n o paga aquelas coisa Ent o n o t f cil de trabalhar Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 Interlocutor 1 Antigamente tinha turma que se interessava em fazer pool todo mundo vender Ent o chegava em mim eu entrava no pool ele entrava os pequenos Ent o n s formava a por exemplo x caixa de laranja E tinha um cara que vendia a produ o nossa ele que fazia o contrato ele que chamava na firma aten o pros produtor Teve um ano at o N M foi presidente disso da ele que vendia laranja pra n s S que ele ficou rico e n s n o fiquemo risos Teve gente que ficou rico em cima do produtor c sabe Hoje n o tem os deputado que fica l em cima e arruma um jeitinho de embolsar dinheiro Era desse jeito Interlocutor 2 Funcionava assim N s formava pool e n s dava procura o pro cara negociar Ent o sempre dava pra sair alguma coisa boa E esses pools era
460. pessoa fica nervosa Nervosa com a situa o de ver que ningu m faz nada a ind stria faz o que quer descarrega a hora que quer c n o pode falar nada que voc cortado Motorista Bebedouro 01 2012 Demais trabalhadores terceirizados no interior das agroind strias citr colas realizam diferentes atividades em diferentes empresas com destaque atualmente para vigil ncia limpeza e manuten o mec nica e el trica Possuem em geral perfis bastante heterog neos desde trabalhadores com m nimo ou nenhum n vel de instru o em atividades de limpeza at seguran as com segundo grau completo e cursos de especializa o Notadamente em atividades de manuten o mec nica e el trica h uma grande variedade de n veis de conhecimento desde trabalhadores com longa experi ncia em diferentes setores industriais e com m o de obra altamente especializada a despeito do baixo grau de instru o formal at jovens buscando iniciar uma trajet ria na ind stria a partir de empresas terceiras 276 Independentemente de suas diferentes fun es e diferentes perfis apesar de todos estes trabalhadores realizarem suas atividades nas depend ncias das ind strias de suco e sob sua subordina o direta n o recebem quaisquer dos benef cios de empregados efetivos Programa de Participa o nos Resultados assist ncia m dica t quete alimenta o etc al m de se verem obrigados a submeter se a diversas burlas em seus direitos soc
461. povo mas a diretoria nunca chegou pra gente e falou Vai fechar A gente trabalhou at as cinco horas na sexta feira no s bado chegou os telegramas em casa Pra n s foi um baque sim e n o s pro pessoal da ind stria mas tamb m pra prestador de servi o terceiro o pessoal da apanha Depois cada um foi se encaixando correndo atr s de uma coisinha e se encaixando Eu agora to na Catupiry s l n s tamo em oito Na Louis Dreyfus tem um bom tanto l tamb m Na Granol tamb m tem Porque na Cargill e na Citrosuco a gente tinha muito treinamento isso a no curr culo pesa Onde voc vai numa f brica e o cara v que voc tem um bom curso de seguran a os cara te d oportunidade Mas n o tem a mesma renda salarial D uma diferen a de uns quinhentos reais ou mais Porque em qualquer outra firma voc vai entrar de safrista voc n o vai ser contratado com a vaga de operador duma rea E safrista tem emprego sete oito meses no resto do tempo tem que trabalhar de pedreiro de pintor de auxiliar de alguma coisa S pra defender o dia entendeu Ex operador Bebedouro 12 2012 Sobre o fechamento da f brica da Citrovita aqui em Mat o o que voc sentiu na hora que voc recebeu a not cia Pra mim foi um impacto n Porque eu n o esperava eu gostava de trabalhar nessa firma n Uma firma boa de repente fizeram uma fus o e foi quase 200 funcion rio pra rua de uma hora pra outra dispensaram esses funci
462. pre o da caixa de laranja seria de R 9 26 Os resultados da cadeia produtiva seriam divididos assim 36 a quem planta e 64 a quem processa O presidente do sindicato rural de Ibitinga e Tabatinga Frauzo Ruiz Sanches critica o modelo porque toma como base uma fazenda que produz 20 milh es de caixas Mas n o existem fazendas em S o Paulo que produzem 20 milh es de caixas A maior de todas do grupo Fischer em laras produz cerca de quinze milh es de caixas Segundo ele os n meros da produ o agr cola foram superestimados enquanto os do processamento industrial subestimados distorcendo os custos http www dci com br Sindicatos e associa es v o ao CADE contra o Consecitrus 18 10 2012 183 Houve uma s rie de reuni es da Feraesp com a ind stria e a Faesp para tentar devolver para a ind stria a colheita e o frete que foi repassada anos atr s para os produtores No entendimento da Feraesp e dos trabalhadores eles tinham maiores garantias quando eram empregados da ind stria Isso evidente eu trabalhei na ind stria e sei n s tinhamos uma empresa que contratava registrava dava assist ncia m dica pros trabalhadores Nessas negocia es sobre o retorno da colheita e frete para a ind stria houve um grande impasse porque a Faesp mais uma vez teve uma posi o totalmente favor vel ind stria Eu tive contatos com o procurador do trabalho e ele me convidou para participar dessas reuni es Eu comecei a
463. presa respons vel pela contrata o Enquanto os primeiros permanecem no contato direto e imediato com o conjunto de trabalhadores o ltimo delibera acerca das decis es de maior interesse e o segundo realiza a comunica o entre ambos Como teremos oportunidade de ver em nossa exposi o emp rica esta cadeia de media es bastante eficaz na desmobiliza o e desorganiza o do coletivo de trabalhadores reunidos no eito Atrav s dela neutralizam se parte das lutas no local de trabalho individualizam se os protestos e enredam se as reivindica es em um emaranhado de inst ncias respons veis 62 Moraes Silva destaca que tais novas media es privadas da explora o domina o acionam tanto mecanismos coercitivos como ideol gicos com vistas a converter os empregados rurais em trabalhadores de empresa criando determinados modos de viver pensar e trabalhar Esfor am se por criar um trabalhador impregnado de um conjunto de valores capazes de fazer com que sua conduta e seu ritmo de trabalho sigam as determina es da empresa a partir de um comando interno como que surgido de si pr prio A autora destaca um rol de disposi es morais utilizadas como crit rios seja na contrata o dos trabalhadores seja em sua posterior formata o a necessidade de fazer as coisas bem feitas com capricho e persist ncia a motiva o para assumir responsabilidades o gosto pela a o pelo exerc cio f sico e pelo trabalho
464. produ o citr cola publicados por diferentes autores e entidades e calculados com base em diferentes unidades produtivas no estado de S o Paulo variam enormemente a escolha de um destes dados como base em negocia es de pre os no complexo n o apenas t cnica mas tamb m pol tica De fato na safra 2010 2011 representantes da Associtrus afirmaram que o custo total de produ o da caixa da laranja foi de R 16 00 www associtrus com br noticias ntm Produtores de laranja recebem 50 menos que em 2010 23 11 2011 A Conab Companhia Nacional de Abastecimento por sua vez afirmou que o custo total de produ o da caixa da laranja na mesma safra foi de R 13 90 http www conab gov br As ind strias por fim afirmaram que o custo total de produ o da caixa de laranja naquela safra foi de R 10 00 www associtrus com br noticias ntm Pre o m nimo ainda ele 27 06 2011 107 No que diz respeito aos pre os pagos aos produtores pelas caixas de laranja a produ o te rica pol tica mais alinhada s agroind strias argumenta que eles decorrem n o de uma correla o de for as no interior do complexo mas sim de fatores naturais e da din mica do mercado internacional do suco de laranja As rela es no interior do complexo n o s o interpretadas como rela es de poder mas como meras correias de transmiss o de press es decorrentes por um lado da dimens o das safras na Fl rida e S o Paulo e por outro do cre
465. r Em meio a um cen rio de rupturas e perda de representatividade a Associtrus virtualmente paralisou suas atividades na segunda metade dos anos 1990 Apenas a partir de 1999 iniciou se a reorganiza o da Associtrus em um primeiro momento no interior da Sociedade Rural Brasileira Esta reorganiza o foi marcada por um tom mais combativo face s ind strias tendo como pauta central a retomada do processo junto ao CADE contra a atua o cartelizada das processadoras de suco Este processo garantiu por um lado imediata relev ncia pol tica associa o em sua rela o com o poder p blico e com as agroind strias Por outro lado este eixo de atua o reproduziu determinados limites t picos do perfil da Associtrus desde sua funda o O processo junto 180 ao CADE fortaleceu a tend ncia da Associtrus de restringir sua atividade pol tica press o sobre canais institucionais e personalidades pol ticas do Estado brasileiro Uma quantidade de energia significativamente menor foi dedicada ao longo dos anos 2000 para reverter a baix ssima capilaridade da associa o no parque citr cola especialmente entre pequenos produtores Este perfil de iniciativa pol tica vem encontrando dilemas os resultados concretos da press o institucional sobre o poder p blico seguem bastante restritos enquanto segundo pesquisa da Ufscar em 2003 apenas 6 dos pequenos citricultores da regi o de Ribeir o Preto s o associados da Associtrus hoje
466. r ambos estabeleceram fortes travas ao horizonte de organiza o e lutas no campo brasileiro limitando e deformando a express o pol tica poss vel dos trabalhadores rurais 48 No que diz respeito ao Estatuto da Terra Lei n 4 504 de 30 11 1964 ele surpreendentemente incorporou uma das mais importantes demandas da luta pela Reforma Agr ria anterior ao golpe de 1964 a introdu o da possibilidade legal do pagamento das desapropria es da propriedade territorial rural mediante o pagamento em t tulos da d vida p blica Parte significativa da press o das for as de esquerda contra o latif ndio concentrara se na modifica o do artigo 141 da Constitui o de 1946 que exigia pagar as desapropria es mediante pr via indeniza o aos propriet rios pelo justo pre o e em dinheiro Poucos meses ap s o in cio da ditadura do capital tal altera o constitucional foi introduzida por m os militares Ao mesmo tempo contudo a ditadura recuperou a iniciativa no embate hegem nico indispens vel mesmo no cen rio de amplia o dos mecanismos de coer o do per odo com o ET as classes dominantes impuseram mobiliza o pol tica das classes subalternas rurais o campo de disputa e o horizonte estrat gico de suas lutas pela terra De fato a Contag dirigiu parte significativa de sua a o pol tica cobran a s autoridades em especial ao presidente da Rep blica do cumprimento do previsto no ET Medeiros 1989 p 94
467. r caixa colhida geralmente negociado ao p do eito a depender das condi es do pomar Ela tanto maior quanto maior a dificuldade de colheita e acrescida ao valor base da caixinha acordado entre o sindicato e aquele condom nio em cinquenta centavos na safra 2011 2012 O turmeiro reclamou para o dirigente sindical que pouco tempo antes no mesmo pomar a porcentagem havia sido de 32 o que j era considerado baixo Segundo o turmeiro o fiscal de campo argumentara que este novo valor n o era sua responsabilidade e havia sido determinado por um funcion rio novo no escrit rio da administra o um economista Este havia constru do uma tabela que limitava o valor do pagamento das ajudas em todos os pomares de modo que ao fiscal n o restava margem de manobra Era vis vel o desconforto do turmeiro com a situa o Ele havia contado somente para alguns colhedores as condi es de remunera o estabelecidas para aquela jornada O turmeiro apontou al m disso que o custo da estrutura m nima de acomoda o dos trabalhadores cadeiras mesas lona para sombra havia sido cobrado dele e n o fornecido gratuitamente pelo cons rcio como determina a lei Neste caso a hierarquia de media es no processo de explora o domina o pareceu bastante clara Em primeiro lugar destaca se o significado do escrit rio e do fiscal de campo O escrit rio da administra o permanece distante do eito e da press o direta dos trabal
468. rabalhadores nos munic pios de Mat o e Bebedouro Por um lado trata se de cidades que concentram a 19 maior capacidade de extra o de laranjas no estado de S o Paulo como mostra o mapa abaixo por outro trata se tamb m de cidades marcadas pelos maiores fechamentos recentes de f bricas de suco de laranja paulistas a Citrosuco de Bebedouro em fevereiro de 2009 e a Citrovita de Mat o em fevereiro de 2012 Figura 2 Distribui o das ind strias de suco de laranja no estado de S o Paulo Extratoras 180 60 72 26 B as 42 Fonte Elaborado por Markestrat a partir da CitrusBA Neves 2010 20 A articula o pr tica destas diversas fra es de trabalhadores subordinados ao capital agroindustrial pode ser fortalecida a partir da compreens o te rica das continuidades e descontinuidades entre elas existentes Partindo desse pressuposto esperamos contribuir com o esfor o de cr tica e supera o da fragmenta o que hoje se imp e sobre estes trabalhadores a partir do mapeamento dos principais eventos da luta de classes nas ltimas duas d cadas no interior de toda a cadeia produtiva citr cola paulista Queremos com isso nos inserir no esfor o coletivo de constru o da unidade pol tica entre aqueles que mais sofrem com o assim chamado agroneg cio com vistas constru o de uma nova ordem no campo brasileiro 21 22 Cap tulo 1 Moderniza o conservadora e classe trabalhadora no campo brasil
469. rados foram 1 Grande rotatividade de trabalhadores na colheita o que resulta em ganhos menores para os trabalhadores pois ficam muito tempo inativos A Coperba Cooperativa de trabalho dos trabalhadores rurais de Barretos e regi o tem 2 500 trabalhadores ativos na regi o de Barretos 80 deles na colheita de laranja e outros 4 500 inativos proporcionando assim uma rotatividade grande entre os trabalhadores 2 Grandes descontos nos pagamentos Segundo um trabalhador entrevistado pela Folha de S o Paulo ele esperava receber R 80 00 num final de semana depois de pegar em m dia 70 caixas por dia e recebeu apenas R 18 00 devido aos elevados descontos 3 Proibi o dos trabalhadores de qualquer registro de ocorr ncia contra a cooperativa tendo como pena a proibi o de trabalhar Alves e Almeida 1999 Isso contudo n o significou a definitiva neutraliza o da luta de classes no setor citr cola Apontou antes para uma sua mudan a de forma A partir da segunda metade da d cada de 1990 ocorreu aqui o que podemos chamar de uma judicializa o da luta de classes Ou seja enquanto a d cada de 1980 e primeira metade de 1990 foram marcadas por uma guerra de movimento entre as classes do complexo com amplos movimentos grevistas e efervesc ncia organizativa decorrente da mobiliza o coletiva de v rios segmentos a segunda metade da d cada de 1990 e a d cada de 2000 v m sendo marcadas por uma guerra de posi o com disputas
470. ral o desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo sobre a agricultura no Brasil gerou importantes contra tend ncias de manuten o e reprodu o da produ o familiar subordinada ao capital seja ele comercial ou agroindustrial Da que a classe trabalhadora rural subordinada ao capital 40 deva ser apreendida em sua concretude a partir das continuidades e descontinuidades que vinculam a reprodu o da pequena produ o familiar e a expans o do assalariamento No que toca s rela es de produ o assalariadas o avan o do capital sobre o campo brasileiro a partir de 1964 imp s aos trabalhadores rurais plenamente expropriados fen menos aparentemente contradit rios desde ent o o trabalhador rural tem visto seu modo de vida cada vez mais premido a um s tempo pelo excesso e pela escassez de trabalho Por um lado a incorpora o desigual e combinada de insumos modernos produ o agr cola pode maximizar os mecanismos de extra o de mais valia absoluta Na medida em que a produ o agr cola parcialmente mecanizada e quimificada e tem de responder s exig ncias e din mica da linha de processamento agroindustrial comum o incremento da extens o e da intensidade do processo de trabalho importante destacar que o tempo de trabalho necess rio para executar determinada atividade diminui n o apenas pela maior efici ncia das t cnicas introduzidas Tamb m contribui o fato de que a intensidade do
471. ralelas e concomitantes colocando em xeque a hegemonia que a agroind stria citr cola at ent o lhes impusera A d cada de 1990 traria contudo nova altera o na correla o de for as no interior do complexo citr cola Visando recuperar seu controle posto em xeque pela mobiliza o simult nea e paralela destes diferentes segmentos as agroind strias iniciaram uma ofensiva em v rias frentes Como veremos adiante a reestrutura o agroindustrial da 90 decorrente teve profundos impactos sobre pequenos produtores familiares sobre assalariados rurais e sobre assalariados industriais o Ofensiva das agroind strias citr colas na d cada de 1990 e subordina o do trabalho dos pequenos produtores familiares ao capital A primeira transforma o imposta pelas ind strias processadoras de suco de laranja ao complexo como um todo foi o estabelecimento e expans o de seus pomares pr prios Dentre as agroind strias citr colas mais significativas apenas a Cutrale e a Citrosuco j produziam anteriormente parte da laranja que esmagavam As demais as seguiram nesta estrat gia especialmente a partir do final da d cada de 1980 com m ltiplas motiva es Em primeiro lugar no que diz respeito s tens es no interior do oligop lio agroindustrial citr cola a forma o de pomares pr prios teve por objetivo refor ar as barreiras entrada de novos competidores Sob esta perspectiva a tend ncia verticaliza o para tr
472. ranjas fornecedores da mat ria prima mas tamb m em pomares pr prios das ind strias processadoras de suco A seguinte reportagem assim o destaca A maior produtora de suco de laranja do mundo a empresa Sucoc trico Cutrale mantinha 32 funcion rios em condi es prec rias de trabalho em sua unidade do munic pio de Itatinga SP interior do estado de S o Paulo Os pr prios trabalhadores que atuavam na colheita de laranja denunciaram a situa o ao Minist rio P blico do Trabalho MPT Na manh desta quarta feira 14 ao chegar no local a fiscaliza o constatou que os 32 habitavam uma nica resid ncia Ela estava em p ssimas condi es de higiene e conforto sem exist ncia de vesti rios cozinha ventila o e ilumina o adequada Al m disso pagavam R 24 por dia pela alimenta o e recebiam sal rios de apenas R 620 Os trabalhadores que vieram dos estados de Sergipe e Maranh o chegaram em setembro na regi o j endividados pelas despesas de transporte e alimenta o De acordo com o procurador da Justi a do Trabalho Luis Henrique Rafael a Cutrale respons vel por toda a situa o Quando ela faz a contra o de trabalhadores de outros estados existe uma instru o normativa do Minist rio do Trabalho obrigando que o registro da carteira seja feito no estado de origem do funcion rio Isso garante que os trabalhadores durante a viagem sejam protegidos pelo contrato de trabalho e tenham benef cios se
473. rar os curtos per odos de contrata o Os dois seguintes trechos de entrevistas com trabalhadores migrantes ilustram as condi es em que se d esta escolha Destaca se o fato de que ambos se referem aos gatos da cidade de Sever nia como cooperativas indicando que aos olhos de muitos colhedores pouco mudou no mercado de trabalho citr cola nos ltimos anos 2 In meras reportagens destacam a exist ncia de uma s rie de media es informais de arregimenta o transporte e contrata o de m o de obra migrante para a lavoura citr cola no estado de S o Paulo A t tulo de exemplo interessante contrapor o discurso do gato destacado acima seguinte reportagem acerca das condi es de locomo o estadia e trabalho impostas a um conjunto de trabalhadores migrantes maranhenses ocupados na colheita da laranja O Minist rio P blico do Trabalho MPT constatou o aliciamento de 12 trabalhadores vindos do Estado do Maranh o para trabalhar na safra da laranja em uma fazenda em Nova Europa Segundo relato dos trabalhadores eles vieram do Maranh o com a falsa promessa de trabalho na safra de laranja com boas condi es de moradia Mas em Nova Europa a situa o era bem diferente Eles foram mantidos por pelo menos 20 dias em alojamento com quartos pequenos mal ventilados e sem sanit rios sem local para refei es ou gua fresca e pot vel Os problemas come aram ainda no deslocamento para S o Paulo feito em nibus clandestino
474. rata o para determinadas atividades no ch o de f brica da agroind stria citr cola A mulher tem uma caracter stica de fazer um trabalho repetitivo com a mesma qualidade por mais tempo Voc treina um operador e depois de 6 meses o funcion rio homem tenta achar alguma forma de tornar mais f cil o trabalho dele Sempre acontece isso A mulher n o Ela continua trabalhando da forma que ela foi treinada para trabalhar Ela faz o ambiente de trabalho estar muito mais organizado mais limpo e traz menos problemas de casa para dentro da empresa Ent o na hora de contratar no nosso caso na ind stria de alimento prefer vel ter uma mulher que um homem no posto de trabalho Gerente industrial Monte Azul 07 2011 282 Ao mesmo tempo a instala o de computadores l gicos program veis possibilitou s agroind strias citr colas um controle mais centralizado de todas as etapas do processo de trabalho A automa o no interior destas empresas foi estruturada em torno de sistemas integrados de gest o que permitem acesso diferenciado a depender do n vel hier rquico do indiv duo a informa es e decis es a respeito da produ o Nesse sentido ajudantes de servi os gerais usualmente t m acesso ao sistema unicamente para notificar falhas t cnicas operadores t m acesso s telas de sua etapa e de etapas conexas no processo produtivo podendo ajustar determinadas vari veis em comunica o com demais operadores operadores de n v
475. rca de 250 a 300 citricultores O combinado na poca era pagar USS 3 20 pela caixa de laranja 40 8 quilos FOLHA Esse acerto de divis o de produtores era colocado no papel TOFINI N o era verbal E quem n o respeitava o quintal do vizinho sofria repres lias FOLHA de S O PAULO Ex fabricante de suco de laranja revela a o de cartel caderno dinheiro p gina B1 15 03 2010 106 produ o da caixa de laranja as formula es te ricas pol ticas mais alinhadas s agroind strias possuem not veis particularidades Al m de suas estimativas do custo operacional que inclui produ o na rvore colheita transporte e imposto territorial rural serem admitidamente menores que as divulgadas por outras entidades e revistas especializadas sua metodologia tende a n o incluir e ou a subavaliar em compara o com outras medi es vari veis como custo de capital de giro custo de oportunidade da terra e custo anual de reposi o do patrim nio Neves 2010 Segundo dirigentes de sindicatos e associa es do setor entrevistados a produ o te rica pol tica mais pr xima s agroind strias chega com isso a custos totais de produ o menores que aqueles concretamente enfrentados especialmente por pequenos e m dios citricultores Legitimam se dessa forma as rela es de transfer ncia de renda entre a lavoura e a ind stria e o E x 46 conseq ente contexto geral de exclus o que v m marcando o setor A Revist
476. rceiriza o algu m come ou a fazer essa conta N s estamos fazendo economia porca aqui as pe as chave tem que ser da ind stria funcion rio de confian a Ajudante geral seguran a esse pessoal n o influencia diretamente na produ o Ent o esse pessoal pode ser terceirizado os outros n o Reverteu se a terceiriza o em especial dos operadores de m quinas que entraram no programa de crescimento dentro da empresa novamente Teve empresas que colocaram participa o nos lucros nesse sistema Ent o mudou o envolvimento do funcion rio em rela o empresa E ele tem a Paulillo e Almeida assim descrevem as dificuldades encontradas pelas agroind strias citr colas em sua pol tica de terceiriza o de atividades no ch o da f brica As principais dificuldades encontradas pelas empresas para a implanta o dos programas de terceiriza o foram resist ncia de funcion rios quebradas ap s explana es claras capacita o t cnica desqualifica o da m o de obra dificuldade em encontrar empresas que ofertam servi os espec ficos num primeiro momento e dificuldade de relacionamento com os sindicatos de trabalhadores locais Paulillo e Almeida 2006a p 157 146 perspectiva de galgar novamente a escada ele sabe vai conseguir porque ele j fez uma vez Gerente industrial Monte Azul 07 2011 Em paralelo a isto ocorreu em algumas das maiores agroind strias citr colas a automa o da linha d
477. re o as condi es de colheita o grau de 240 maturidade da fruta a quantidade de fruta que ela recebe mas ela n o quer assumir a responsabilidade pelo trabalhador Muitas vezes ela compra a fruta no p a laranja que ta sendo tratada e colhida j dela e ela n o quer assumir essa responsabilidade Mesmo quando ela compra a fruta posta l no port o ela que controla quando entrega e quando n o entrega porque ela tem que ter o controle do padr o do suco de laranja que n o nasce na f brica nasce na laranja Enfim ela exerce papel de mando E n o tem concorr ncia entre eles porque eles s o um cartel investigado pelo governo brasileiro l no CADE Com essa fus o mais recente Fischer Citrovita cada vez mais o processo de concentra o t ficando claro nesse setor Nesse quadro eles agem de uma maneira irrespons vel tamb m em rela o aos produtores independentes entre aspas Que que a Feraesp reivindica A responsabilidade da ind stria em rela o a essa m o de obra que ela contrata N o importa se ela contrata por meio do condom nio do gatom nio do produtor ela que recebe em ltima an lise o resultado da for a de trabalho ela que se beneficia do trabalho desses companheiros Se ela a benefici ria do trabalho ela tem que responder pelas contrapartidas de direitos trabalhistas direitos sociais etc Nos seus pomares pr prios embora na d cada de 1990 ela tamb m tenha precarizado em demasia
478. re os EDRs do estado de S o Paulo por milh es de caixas de laranjas produzidas na safra 2011 2012 0 1 milh o 1 5 milh es E 5 15 milh es Ej 15 30 milh es ES gt 30 milh es a Pia Guaratinguet gt a i Ea A Pindamonhangaba Fonte IEA No que diz respeito aos assalariados rurais os contatos foram realizados atrav s de sindicatos de empregados rurais de sindicatos de trabalhadores rurais e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST As entrevistas foram conduzidas nas depend ncias destas institui es ou nas casas dos trabalhadores nos munic pios de Monte Azul Paulista e Sever nia pertencentes ao EDR de Barretos Iaras e Borebi pertencentes respectivamente aos EDRs de Avar e Bauru Trata se de regi es marcadas por diferentes contextos sociais e experi ncias pol ticas enquanto no Centro Norte do estado investigamos preferencialmente a informalidade e a formalidade nos v nculos empregat cios e a luta sindical por direitos sociais e trabalhistas dos colhedores de laranjas no Centro Sul do estado investigamos preferencialmente o conflito fundi rio entre MST e Cutrale e a presen a de assalariados rurais citr colas na luta pela terra No que diz respeito aos assalariados industriais os contatos foram realizados atrav s dos sindicatos de trabalhadores das ind strias de alimenta o As entrevistas foram conduzidas nas depend ncias destas institui es ou nas casas dos t
479. recida Moraes Silva destaca a rela o entre tal integra o de capitais na agricultura e a destrui o de parte do campesinato brasileiro com especial nfase sobre o papel do direito formal como media o do processo de expropria o A autora centrou parte de sua pesquisa no impacto das pol ticas de est mulo expans o de empresas de papel e celulose em Minas Gerais entre as d cadas de 1960 e 1980 Segundo Moraes Silva 500 000 hectares de terra do estado foram destinados ao reflorestamento por interm dio de incentivos fiscais entre 1966 e 1983 O resultado deste processo para a popula o local pode ser apresentado atrav s do depoimento de um dos trabalhadores rurais expropriado das terras comuns do estado de Minas Gerais A gente soltava o gado que comia o canto da chapada A chapada n o tinha cerca Eu cheguei de S o Paulo comprei arame novo para cercar o terreno mas a Acesita n o respeitou Quando eu estava furando os buracos para colocar os postes para colocar o arame Ela chegou com as correntes colocou o trator com as correntes quebrou tudo e ficou tudo por isso mesmo A resposta era esta se tiver documentos a Acesita paga voc s Mas ningu m tinha documentos de chapada A gente tem documento s de grota Eu moro aqui ent o tenho um pedacinho de terra comum ali na chapada Ela comprava um pedacinho de um dos mais espertos e anexava os dos outros na virada e dizia que aqui tudo foi comprado E
480. recisa do sal rio Eu n o vejo mostrar na televis o tem milh es de assentados hoje que sobrevive da terra Ent o eu acho que hoje se faz necess rio ter um sal rio Fiscal de campo Borebi 07 2012 Na sinceridade eu n o gostei Eu achei que tava atrapalhando o servi o de muita gente l Porque muita gente perdeu dia perdeu horas de servi o Apesar que foi todo mundo compensado mas 250 atrapalhou bastante Eu j fui at l j fiz um barraco l em um acampamento do MST Eu fui porque minha filha tava l e a maneira dela falar dela explicar interessou da gente ir l Ela falava que era bom que a gente ia ter um peda o de terra que ia ser da gente podia plantar podia usufruir da terra Isso interessou muito n Quem n o quer S que no mesmo momento eu achei que n o dava eu achei que seria muito dif cil em termos de eu trabalhar e manter a minha fam lia Porque tando l a gente vai passar apurado com uma coisa com outra muito apertado Ent o eu n o fiquei j desisti antes at de fazer meu cadastro uma coisa que eu penso muito porque eu n o gosto de ter minha casa passando falta necessidade Pra mim n o ia adiantar nada ter um peda o de terra e minha casa tendo falta n o ter como p r dentro do meu arm rio dentro da minha panela c t me entendendo Eu penso assim se um trabalha e o outro cuida da terra a sim Se a gente tivesse um peda o de terra seria muito
481. regando vai entregando um dia o cara d o golpe e n o paga os produtor Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 Neste contexto comum que pequenos produtores citr colas se assalariem eventual ou permanentemente enquanto continuam a trabalhar em seu s tio Segundo pesquisa realisada pela Ufscar em 2003 a renda obtida com o trabalho fora da propriedade representava para os pequenos citricultores da regi o de Ribeir o Preto 20 9 de seu rendimento l quido Paulillo Almeida e Vieira 2006a p 30 Chefes de fam lia mais velhos frequentemente colhem laranjas em propriedades vizinhas enquanto chefes de fam lia mais novos e ou seus filhos comumente se empregam como operadores de m quinas no ch o de f brica de agroind strias ou como operadores de m quinas agr colas em grandes lavouras Nestas experi ncias h uma permanente tens o entre a subjetividade do trabalho familiar e do assalariamento Sindicatos rurais oferecem cursos profissionalizantes voltados para estas atividades aos associados ou a seus filhos Um funcion rio assim o coloca Aqui tem muitos cursos uma rela o de uns cem cento e cingienta cursos Porque pelo Senar Servi o Nacional de Aprendizagem Rural n Nesses cursos o foco o produtor rural mas tem tamb m pessoas que n o s o produtores Tem os cursos de forma o profissional por exemplo tem curso de opera o e manuten o de tratores agr colas muito procurado esse cur
482. relev ncia no complexo composta pelos pr prios produtores citr colas s o os sindicatos patronais rurais vinculados Faesp Federa o da Agricultura do estado de S o Paulo e CNA Confedera o Nacional da Agricultura e Pecu ria Esta representa o formal dos agricultores paulistas teve grande import ncia na organiza o do complexo citr cola na d cada de 1970 no per odo em que as negocia es entre ind strias e produtores de laranjas eram realizadas atrav s do Comit de Exporta o de Sucos C tricos da CACEX C mara de Com rcio Exterior Contudo o acirramento das lutas no interior do complexo citr cola desde o fim dos anos 1970 e por toda a d cada de 1980 deteriorou a representatividade da estrutura sindical no setor questionada pelo ascenso de diferentes associa es civis de produtores citr colas O estabelecimento do contrato padr o em 1986 e a realiza o de negocia es conduzidas diretamente pelas associa es dos setores industrial e citr cola refor aram este processo acentuando o potencial representativo e organizativo das associa es e minimizando a relev ncia dos sindicatos rurais e da Faesp na organiza o do complexo Rodrigues 1995 Esta tend ncia reverteu se relativamente com o acirramento da subordina o da citricultura s agroind strias na d cada seguinte O cont nuo crescimento de pomares pr prios das ind strias processadoras a quebra do contrato padr o as negocia es caso a
483. res e ajudantes na condu o da produ o Nesse sentido eles garantem que o dom nio de classe no interior das unidades produtivas n o 290 ser colocado em risco seja pela organiza o de equipes com maior grau de autonomia no ch o de f brica seja pelo est mulo para que os operadores e ajudantes n o se limitem a tarefas manuais e assumam parcela das tarefas intelectuais necess rias ao processo de trabalho Paralelamente as agroind strias tamb m acionam m ltiplos instrumentos de coopta o da subjetividade de seus trabalhadores Sistemas de premia o s melhores inova es ou a resultados acima das metas t m forte impacto sobre a auto imagem de operadores e ajudantes refor ando sua posi o de subalternidade face os n veis hier rquicos superiores da empresa Ademais tais sistemas de premia o geram competi es e segmenta es entre os assalariados industriais obstaculizando sua auto constru o enquanto sujeitos pol ticos coletivos O seguinte trecho de entrevista com um safrista de determinada agroind stria citr cola ilustra claramente este esfor o de coopta o de sua subjetividade com vistas a reproduzir o dom nio do capital sobre o trabalho no espa o fabril Ali no nosso setor foi feito um minineg cio isso muito interessante Naquele minineg cio a gente resolvia o nosso problema ali dentro n o passava pros outros Tinha coisa que acontecia dentro do nosso minineg cio que o restante da
484. riam duas vantagens ao setor citr cola em particular 1 aumentariam o grau de organiza o dos citricultores refor ando seus recursos de aglutina o e representa o 2 criariam condi es de respeito s conquistas trabalhistas dos assalariados rurais uma vez que suas atividades em diversas e fragmentadas propriedades rurais poderiam ser formalizadas em um nico contrato de trabalho de maior dura o Segundo esta perspectiva portanto os cons rcios ou condom nios poderiam estabelecer as bases de um novo consenso no complexo citr cola menos restritivo que aquele imposto pelas 127 agroind strias a partir de meados da d cada de 1990 Almeida 2002 Por outro lado segundo interpreta o e progn stico especialmente de sindicatos ligados Feraesp os cons rcios ou condom nios de empregadores rurais poderiam tornar se apenas mais uma fachada para a reprodu o das p ssimas condi es de vida e trabalho dos assalariados rurais citr colas e da burla de encargos sociais e trabalhistas Segundo esta perspectiva os gatos rcios ou gatom nios poderiam tornar se regra apenas cobrindo de vemiz a continuidade da super explora o dos trabalhadores rurais do complexo citr cola Na medida em que a dissemina o de cons rcios ou condom nios de empregadores rurais n o foi homog nea ambas as interpreta es tiveram evid ncias ao longo dos anos 2000 que as corroboraram Em uma primeira aproxima o destaca se o fato de que
485. rinho melhor nessas firma de terceiro ele quer te jogar uma boa parte fora da carteira um sal rio extra que eles falam Fica dif cil E isso a n o vem de hoje n o vem de muito tempo Muitas empresa t o terceirizando e ningu m t vendo um dia o pa s t terceirizado o Brasil inteiro com firma s de fachada Trabalhador terceirizado da manuten o Mat o 07 2012 Esta prec ria rela o de trabalho tem importantes consequ ncias sobre a percep o de trabalhadores terceirizados acerca de si mesmos e de suas atividades A experi ncia cotidiana de segmenta o de espa os e benef cios assim como a experi ncia peri dica de burlas em obriga es sociais e trabalhistas contribuem para a constru o de uma auto imagem marcada pela desvaloriza o e vulnerabilidade face a seus contratantes e pela diferencia o e distanciamento face aos demais trabalhadores Al m disso tornam se mais prov veis neste cen rio falhas t cnicas decorrentes de um menor envolvimento do 278 100 trabalhador com suas atividades O seguinte trecho de entrevista com um trabalhador de manuten o el trica acerca de suas experi ncias como terceirizado e acerca das transforma es ap s sua efetiva o pela agroind stria citr cola assim o ilustram Como foi sua experi ncia como terceirizado Eu era eletricista de manuten o eu fazia montagem e manuten o Aquele tempo eu vou falar pra voc foi meio sacr
486. rito Como veremos a cultura da laranja particularmente ilustrativa de tais flexibiliza es em que o gato manteve se muito pr ximo de sua forma original como evid ncia da conflu ncia da a o estatal cristalizada nas ambigiidades e contradi es de seu aparelho jur dico e do poder privado do capital No que toca s media es privadas da explora o domina o em paralelo relativa perman ncia do gato como fator estrutural do multifacetado ordenamento do mercado de trabalho rural estabeleceram se instrumentos mais complexos e sofisticados de domina o sobre a m o de obra contratada As m ltiplas fun es do gato tenderam aqui a dividir se em diferentes agentes especializados em uma nova divis o hier rquica de atividades Sua articula o busca por um lado exercer vigil ncia minuciosa sobre cada gesto cada ritmo cada conduta no local de trabalho Moraes Silva 1999 p 152 por outro busca neutralizar do modo mais eficiente poss vel o poder de press o dos trabalhadores reunidos no eito Para tanto tornou se necess rio uma divis o clara de espa o e agentes entre aqueles respons veis pela arregimenta o transporte e organiza o dos volantes no local de trabalho e aqueles respons veis pelas decis es vitais de remunera o contrata o demiss o etc Articula se nesse sentido uma cadeia de media es entre o empreiteiro e o motorista o fiscal de campo e o escrit rio de administra o da em
487. ro gerente geral Da rolava e o gerente do setor vinha me dizer que o computador tava com problema foi falha no sistema tipo essas desculpas Isso aconteceu mais de uma vez n o s comigo Quando esses problemas aconteceram eu falei pro gerente de setor que eu n o queria mais fazer hora extra que as hora extra n o era pago em dinheiro e que hora extra pro banco de hora sempre vinha a menos e que se tivesse incomodado que me mandasse embora Eu falei por causa do cansa o de levantar s cinco horas da manh e chegar em casa s oito hora da noite sete e meia da noite Tava de saco cheio Na hora o gerente n o me respondeu nada falou que tudo bem s isso Depois de tr s semana eu fui mandado embora A empresa age sobre amea a de mandar o pessoal embora e quem precisa tem que ficar l A gente conversava sobre isso mas a maioria tinha medo de ir no sindicato Ningu m unido como devia ser n Eles falava que a empresa tinha dinheiro ia comprar os advogado comprar a justi a e n o ia acontecer nada e que se eles fosse embora de l n o ia ser contratado em outra empresa Era assim que funcionava Inspetor de pragas Ibitinga 07 2011 No que diz respeito aos diferentes graus de complexidade e sofistica o das media es de controle sobre a m o de obra no cintur o citr cola interessante comparar o discurso destes assalariados rurais permanentes no pomar das agroind strias ao discurso de um assalariado perman
488. roblema n s vamos fazer isso e isso t resolvido Outro exemplo no setor de ra o voc tem que manter a umidade da ra o no valor 11 a 11 5 A gente pega uma amostra dessa ra o leva pro laborat rio a cada hora Se chegar no finalzinho e no total geral do turno deu 11 7 c n o atingiu no gr fico seu Ent o voc vai colocar em vermelho e embaixo voc vai ter que justificar porque voc n o atingiu Depois na reuni o a gente vai discutir A umidade da ra o t saindo alterada o que n s vamos fazer Vamo fazer uma coleta mais constante ao inv s de 1 em 1 hora vamo fazer de 40 em 40 minutos pra gente poder acompanhar mais de perto Tem tamb m a quest o das inova es Isso uma coisa bastante interessante Depois que implantou esse sistema as inova es funcionam de que forma Voc t trabalhando no seu setor voc v que se fizer aquela tubula o ou se alongar mais aquele cano voc vai ganhar tempo vai ser mais pratico o trabalho mais eficaz Ent o voc escreve a sua id ia num papel e passa pro encarregado O encarregado vai anotar na planilha e os grande a chefia v o ver e analisar Eles conversam com voc c acha que isso vi vel c acha que d pra fazer c acha que vai melhorar Faz deu certo beleza A existe um trof u Por exemplo aquela inova o de seguran a foi de fulano no final do m s existe um julgamento uma vota o do projeto mais importante O que
489. rt rio de im veis de Cerqueira C sar em que est registrada a fazenda Santo Henrique n o est embasada em t tulos de origem anteriores mas somente em supostas transcri es de seus primeiros propriet rios Em segundo lugar a rea atualmente ocupada pela empresa de 1 104 0087 ha ou seja um mil cento e quatro hectares e oitenta e sete centiares est apenas parcialmente registrada pela matr cula em quest o Nesta consta o registro de 870 2800 ha oitocentos e setenta hectares e vinte e oito ares de modo que uma rea de ao menos 233 7287 ha duzentos e trinta e tr s hectares setenta e dois ares e sete centiares encontra se sem registro A o reivindicat ria Proc N 2006 61 25 002729 2 da primeira Vara Federal de Ourinhos SP 248 fazenda instaurando um conflito com as fam lias sem terra que culminou na ocupa o de dez dias do pomar da empresa a partir de 28 de setembro de 2009 A tens o assumiu dimens o nacional a partir da divulga o de imagens gravadas por um helic ptero da Pol cia Militar de fam lias sem terra derrubando cerca de 7 mil p s de laranja com tratores para a planta o de feij o Desencadeou se na grande m dia e no Congresso Nacional uma ofensiva pol tica e ideol gica de criminaliza o de movimentos populares brasileiros em geral e do MST em particular Vinte e dois integrantes do movimento foram processados acusados de invas o e depreda o da fazenda No dia 11 de janeiro de 2011 cont
490. rte da usina tamb m Quando n s come amos a diferen a era realmente do dia pra noite Hoje j o tratamento que n s tamo tendo com a usina j mudou bastante T come ando a parecer como era na poca da laranja Interlocutor 1 N o tanto porque n s n o temo laranja n s j mais ou menos esquecemos Conversa com quem tem laranja esse ano pra ver o que t passando na ind stria S pra voc ter uma id ia cana e laranja N o volta uma cana de volta na tua ro a Vai molhada vai com barro vai o que vai at porque a gente sempre procura ter uma qualidade boa Mas voc v certos caminh o chegar na usina que voc chora de ver mais capim que cana E n o volta Pode ser que tenha algum desconto com alguma impureza Mas mesmo isso nunca aconteceu da gente entregar cana e o caminh o vim com desconto de dez quilo de impureza Enquanto que se voc pegar um caminh o de laranja se voc for pra um mercado ou seja onde h frutas de maior qualidade e carregar o caminh o com aquela laranja e mandar pra ind stria vai ter no m nimo quatro cinco caixas de desconto Todo caminh o tem desconto Al m disso tem o tratamento do setor da parte administrativa em rela o a voc produtor Na usina voc liga l e o cara n o t ele liga perguntando porque voc ligou Ainda hoje mesmo j tendo mudado muito do que era dez anos atr s Por exemplo eu entregava pra usina Corona hoje eu entrego pro grupo Raizen que
491. rurais neste setor acresce se nesta regi o a divis o entre aqueles com algum v nculo com o MST e aqueles que moram nas cidades A seguinte cita o de um acampado colhedor da Cutrale descreve com precis o como estas divis es impactam na 4 Ey tive duas falta s que no holerite constava catorze falta A eu fui l no advogado do sindicato mas ele falou que cobrava trinta por cento A eu falei pra ele Mas voc olha a que eu pago tanto de sindicato se a gente paga o sindicato pra correr atr s disso da pra gente A ele falou que tinha que falar primeiro com o Donizete que era o encarregado l da C Quando n s trabalhava l dentro o pessoal j falava que o sindicato comprado pela C A hora que eu cheguei l que eu vi que mesmo O advogado falou que quarta feira ligava pra gente Eu sa de l e falei pro meu colega Vamo ca ar um particular pra ver o que que vai falar Porque dezesseis fam lia dezesseis fam lia jogando doze dia um pelo outro muita coisa n Colhedor e acampado laras 07 2012 Ng nossa regi o aqui a gente precisava mais de uma fiscaliza o muito s ria do sindicato O sindicato aqui da regi o ele n o v o nosso trabalho ele v o lado do rico do pobre n o Quando chega o sindicato na empresa l em cima ele fica na portaria L onde t os funcion rio eles n o desce Eu acho que todo o pobre e todo trabalhador tem o seu direito n o tem O sindicato
492. s Buscamos destacar ao longo do texto que duas frentes de luta em especial a reivindica o de que os colhedores de laranjas voltem a ser contratados diretamente pelas agroind strias e a den ncia contra a atua o cartelizada das ind strias processadoras de suco possibilitaram relativas aproxima es entre associa es e sindicatos de trabalhadores do setor Reconhecemos contudo apesar destes esfor os que nossa exposi o a respeito da estrutura e da din mica das principais organiza es atuantes no complexo citr cola segue sendo provavelmente o ponto mais fr gil de nossa pesquisa a demandar maiores aprofundamentos Tendo recuperado estas determina es podemos enfim concluir nossa disserta o Esperamos sinceramente que ela possa contribuir n o apenas com a cr tica da ordem do capital e do agroneg cio vigente no campo brasileiro mas tamb m com os esfor os das classes trabalhadoras e subalternas brasileiras de reflex o acerca de seus desafios e horizontes presentes e futuros 312 Bibliografia ALMEIDA Alfredo Wagner Agroestrat gias e desterritorializa o direitos territoriais e tnicos na mira dos estrategistas dos agroneg cios in ALMEIDA Alfredo Wagner org Capitalismo globalizado e recursos territoriais fronteiras de acumula o no Brasil contempor neo Rio de Janeiro Lamparina 2010 ALMEIDA Luiz Manoel de Moraes Camargo Novas formas de contrata o de m o de obra no complexo
493. s Segundo este ponto de vista o Consecitrus est sendo constru do de modo anti democr tico n o apenas excluindo a Associtrus das negocia es como tamb m limitando a express o de opini es divergentes de importantes sindicatos rurais do cintur o citr cola O presidente da Associtrus assim o coloca Desde que fomos reconhecidos como interlocutores da ind stria come amos a insistir com a pauta do Consecitrus A ind stria n o se dispunha a negociar at que eles nos procuraram dizendo que iam oferecer pra Associtrus o Consecitrus A discuss o foi iniciada em 2007 e em 2008 n s fizemos reuni es na secretaria da agricultura negociando o Consecitrus No segundo semestre de 2011 aconteceu uma reuni o l na SRB e n o convidaram a Associtrus S participaram a SRB a Faesp um grupo de grandes produtores e a ind stria Muitos produtores perguntaram a Associtrus n o vai comparecer O Cl udio Erm rio diretor da Citrovita ent o falou Antes que algu m pergunte eu quero falar que a Associtrus n o foi convidada porque ela contra o Consecitrus Isso marcou a ruptura Mas na verdade o que eu entendo isso n o uma ruptura da Associtrus a ind stria que se esfor ou pra colocar a Associtrus fora do Consecitrus O que ela percebeu Que tanto a Sociedade Rural Brasileira SRB quanto a Federa o da Agricultura do Estado de S o Paulo Faesp iam aceitar previamente qualquer que fosse o Consecitrus q
494. s ao contr rio s o incompat veis com ele S o normas pertinentes determina o do sistema de produ o regras de procedimento baixadas unilateralmente pelo empreendedor para serem cumpridas pelos seus empregados Trata se de inequ voco exerc cio de poder diretivo pr prio da rela o empregat cia A realidade apurada por esta fiscaliza o a de que a CITROVITA exerce verdadeiro poder diretivo sobre o vendedor e sobre quem quer que seja contratado por este para ajud lo a cumprir o contrato N o importa se o vendedor contrata diretamente trabalhadores ou utiliza novamente intermedia o de m o de obra com empreiteiros condom nios ou terceiros pois as regras laborais j est o pr estabelecidas no pr prio contrato de compra e venda dos frutos Inequ voco poder diretivo pr prios das rela es de emprego pois controla o cotidiano do labor determinando quando onde e de que modo as laranjas devem ser colhidas Tudo estipulado em contrato que todavia assume o nome fantasioso de compra e venda A CITROVITA como real detentora dos meios de produ o e do sistema produtivo a empregadora de fato dos colhedores encontrados no local Como empregadora tinha o dever de registrar os mesmos Entretanto n o o fez conforme as alega es e os contratos apresentados Auto de infra o n 01361117 8 AFT Guilherme C de Oliveira 29 8 2007 131 unilateralmente pelas ind strias processadoras t m impacto direto s
495. s consequ ncias desta diferencia o de pre os Segundo dirigente da Associtrus entrevistado pelo jornal as ind strias planejam em conjunto as faixas de pre os das caixas de laranja determinando condi es distintas de perman ncia no setor a grandes m dios e pequenos citricultores 1 Esta recomposi o de estoques por parte das ind strias somada queda no consumo europeu e a san es comerciais impostas pelos EUA devido presen a no suco de laranja brasileiro do agrot xico Carbendazim proibido naquele pa s provocaram na safra 2012 13 uma crise de grandes propor es no cintur o citr cola paulista O repasse do nus da crise internacional aos trabalhadores do setor refletiu se em cerca de 40 milh es de caixas de frutas perdidas nos pomares deixando 40 mil colhedores desempregados e milhares de produtores em condi es ainda mais adversas Citricultores distribu ram nesta quinta feira 26 12 toneladas de laranja e cerca de 200 litros de suco para moradores de Taquaritinga SP Parte da bebida tamb m foi despejada pelas ruas O protesto contra a crise no setor parou a cidade Agricultores da regi o querem que o governo estadual compre a safra excedente para evitar o agravamento da crise A solu o um programa emergencial do governo para escoar em forma de suco concentrado distribuir em programas sociais e na merenda escolar afirma Marco Ant nio dos Santos presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga
496. s dos fatores de produ o A pol tica de financiamento rural tornou os baixos sal rios dos trabalhadores rurais altos demais em compara o com os pre os subsidiados de seus substitutos t cnicos como m quinas e defensivos qu micos Graziano 1981 A mecaniza o e quimifica o da decorrentes entre as d cadas de 1960 a 1980 provocaram fortes altera es na demanda de m o de obra rural Na medida em que a maioria das culturas havia neste per odo incorporado maquin rio fertilizantes e defensivos produ o mas n o havia ainda por diversas raz es estendido a mecaniza o colheita ocorreu nestas d cadas uma queda da exig ncia de for a de trabalho durante a entressafra acompanhada 38 de um forte aumento peri dico da demanda de m o de obra durante a safra Em tal conjuntura tornou se inc moda aos propriet rios rurais a presen a de trabalhadores permanentes submetidos a la os de depend ncia pessoal a seus empregadores e vinculados propriedade Estes e outros fatores fizeram com que parceiros meeiros arrendat rios perdessem o prec rio acesso que tinham terra e se convertessem em t picos trabalhadores assalariados Antes o propriet rio assalariava temporariamente pessoas para fazer frente s maiores exig ncias de trabalho no plantio e especialmente na colheita e procurava manter residindo na propriedade sua exig ncia m dia de bra os representada pelo patamar dos tratos culturais Agora
497. s processos de expropria o e destrui o de parte do campesinato brasileiro assim como de explora o domina o sobre o conjunto de trabalhadores assalariados volantes foram conformados por viol ncias legalmente escamoteadas a partir do conjunto de leis que acompanharam os projetos de moderniza o conservadora do campo brasileiro Isso n o deve ser compreendido contudo em sentido mec nico Inspirada nas formula es de Thompson Moraes Silva nos adverte a interpretar o direito n o apenas como instrumento de a o das classes dominantes mas tamb m como express o ideol gica legitimadora de correla es de for a em momentos determinados Nesse sentido os instrumentos jur dicos que co determinam a forma o da atual classe trabalhadora rural brasileira devem ser compreendidos enquanto express es din micas da luta de classes tanto no momento de sua promulga o quanto no momento de sua aplica o O Estatuto da Terra promulgado em 1964 e o Estatuto do Trabalhador Rural promulgado em 1963 ilustram tal proposta interpretativa Por um lado ambos decorreram de certa forma do ascenso de lutas da classe trabalhadora rural e do debate intelectual e pol tico acerca dos limites da estrutura agr ria latifundi ria brasileira Foram portanto express es do abalamento do bloco hist rico agr rio industrial que dirigira o pa s entre 1930 e 1964 face ao embate pol tico das classes subalternas Por outro lado como veremos a segui
498. s trechos de entrevistas abaixo com um homem e uma mulher contratados por tempo determinado pelas agroind strias citr colas A primeira empresa de suco que eu trabalhei foi na C Trabalhei l cinco safra eu era ajudante geral No come o eu ficava na escolha de fruta separando fruta ruim e fruta boa Tinha uma esteira a gente ficava em doze pessoas tirando os refugo e jogando de lado Depois eu trabalhei varrendo os caminh o O caminh o chegava descarregava as laranja ficava terra baga o No come o a laranja vinha bonitinha tipo agosto setembro Mas depois a laranja j vem meio podre meio judiada a c tem que ficar catando baga o n Depois eu trabalhei na C tamb m de ajudante L eu trabalhava na portaria Ganhava R 720 00 por m s registrado na carteira mas tirando os descontos em agosto eu cheguei a pegar R 560 00 Gra as a Deus eu n o pago aluguel minha mulher trabalha tamb m porque quinhentos contos pra sustentar a fam lia n o d n o A gente contratado direto da empresa mas ali tempor rio s seis m s depois eles n o segura quase ningu m Voc entra come o de junho parece que vai at fevereiro esse ano Primeiro de fevereiro acerta com voc e acabou Se voc foi bem nesse ano voc vai voltar sen o j nem volta A muitos fica parado outros vai trabalhar de motot xi pega o que aparece As mulher de cada cem oitenta trabalha s na safra as outras vinte faz limpe
499. s com atestado m dico os descontos na folha de pagamento sobre os quais os colhedores n o tinham qualquer controle o baixo valor dos sal rios Relat rio do encontro regional de apanhadores de laranja agosto de 1992 Arquivo Feraesp A partir de 1992 a sistematiza o de tais insatisfa es ganhou maior solidez em especial nos sindicatos vinculados Feraesp A campanha salarial por eles conduzida neste ano teve como principais demandas o reajuste mensal dos sal rios de acordo com a 8 Um panfleto esclarece este ponto Ind stria quer laranja na sacola e passa o p no apanhador Hoje h ind strias que contam o servi o por sacol o equivalente a 20 caixas ou sacol o pl stico equivalente a uma caixa Nos dois casos o trabalhador roubado O primeiro sacol o pode conter at 29 caixas causando uma perda enorme ao apanhador o segundo cede no peso e por ter formato mold vel ao conte do chega a caber nele uma caixa e meia Para piorar s vezes n o se d o pirulito registro da quantidade de caixas colhidas no dia ao apanhador Arquivo Feraesp 116 infla o pagamento de horas extras equivalente a 100 sobre o valor da di ria fornecimento gratuito de escada sacola alicate em quantidade suficiente proibi o da dedetiza o de sacolas escadas e outros instrumentos utilizados no trabalho jornada de 40 horas semanais com s bado livre e remunerado contrato de trabalho com dura o m nima de um ano Em
500. s contratantes a respeito de seu grau de intoxica o e recorrem a exames particulares para avali lo Eventualmente den ncias de diferentes segmentos de assalariados rurais citr colas acerca do uso irregular de agrot xicos em pomares das agroind strias encontram encaminhamento judicial e ecoam na m dia A seguinte reportagem da revista Caros Amigos assim o ilustra Quem tem como rotina receber den ncias de trabalhadores reclamando de problemas de sa de decorrentes do manuseio de agrot xicos Abel Barreto presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de Duartina cidade paulista localizada na regi o de Bauru Temos muita reclama o de gente que vai trabalhar na laranja e se sente mal Eles ligam e dizem Estamos aqui trabalhando na laranja e o trator est na rua de cima passando veneno A maioria fala em dor de cabe a e ardor nos olhos relata Um dos casos que chegou ao sindicato de Duartina foi o das trabalhadoras Lindalva Zulian de 38 anos Rosimeire de Araujo de 35 e Jana na Silva de 25 As tr s trabalhavam numa fazenda de laranja no setor de inspe o buscando localizar as plantas doentes para serem eliminadas Durante uma manh do m s de junho deste ano Lindalva e suas colegas faziam inspe o numa fazenda de laranja na cidade paulista de Esp rito Santo do Turvo quando o trator que aplica veneno passou pulverizando a mesma quadra onde as mulheres trabalhavam Eu comecei a ter tontura dor de cabe a
501. s da usina A j gera um distanciamento O sem terra por si s tenta Antigamente quando a gente fazia trabalho de base na poca que a gente sa a pra toda cidade a gente tinha mais facilidade N o era esse distanciamento total Hoje n o uma dispers o de fato tamb m um pouco por que n s n o provocamos nesse ltimo per odo esse debate n N s n o fomos pros grandes centros n s n o fomos pras cidades onde a gente sabe que a popula o toda cortador de cana pra dialogar Eu acho que n s tamb m paramos um pouco n N o entendendo que a responsabilidade seja s do movimento social do MST Tem essa conjuntura essa falta de estrutura Mas antes a gente ia sim pras cidades a gente dialogava mais Uns sete oito anos atr s a gente tinha militantes em v rias cidades fazendo trabalho de base Hoje a gente tem uma dificuldade Mas eu acho que na medida da crise ou da necessidade a gente vai ter de fato que olhar pra essa situa o de distanciamento e tentar se somar ao assalariado rural Mas como organizar esse trabalhador l na cidade Isso um desafio pra n s Pra esquerda n o s pro MST dirigente estadual do MST Iaras 04 2012 Desde um ponto de vista program tico o MST tamb m enfrenta empecilhos que diminuem seu potencial de organiza o e encaminhamento das demandas de assalariados rurais em geral e de acampados e assentados impelidos ao assalariamento em particular Segundo o discurso ainda hegem
502. s de colheita e frete da laranja aos produtores rurais Para estes por sua vez tal transfer ncia de nus pol tico e econ mico revelou se como j apontado um grande obst culo a sua reprodu o Aos diferentes setores patronais tornou se portanto imperativo a constru o de novos mecanismos de arregimenta o e controle sobre a for a de trabalho que permitissem ao mesmo tempo reduzir os custos de m o de obra repassando aos trabalhadores assalariados parte do novo 29 Segundo comunicado da Feraesp ind strias e Fetaesp distribu ram panfletos com os seguintes dizeres Comunicado aos apanhadores de laranja A Fetaesp e as ind strias resolveram que o colhedor que estiver no trabalho a partir de hoje e que trabalhar durante a pr xima semana sem faltar receber no s bado dia 24 09 94 um adiantamento de R 30 00 a ser descontado do pagamento da primeira parcela do d cimo terceiro sal rio A maioria dos seus colegas j retornaram sic ao trabalho N o falte Receba voc tamb m este adiantamento Arquivo Feraesp 119 fardo que pesava sobre os citricultores e conter o ascenso grevista que se verificara nos anos anteriores Ironicamente o instrumento jur dico para tal foi arquitetado por organiza es pol ticas que se prop em representantes dos trabalhadores Por interesse do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST no dia 9 de dezembro de 1994 o Partido dos Trabalhadores PT conseguiu aprovar
503. s de cortadores que se iniciavam no mesmo momento Na greve de 1986 ficou bastante claro que a dist ncia que separava os assalariados rurais tempor rios de seus supostos representantes a Fetaesp e seu Conselho de Representantes formado pelo conjunto dos presidentes dos STRs era imensa Ficou evidente que a federa o talvez preocupada demais com o aspecto legal forma das negocia es ignorou a movimenta o dos trabalhadores que come ara antes mesmo da assinatura do acordo com a federa o patronal Faesp e os usineiros e o que pior parece n o ter acreditado na capacidade de mobiliza o e press o dos assalariados rurais tempor rios para melhorar a proposta patronal Coletti 1998 p 194 236 a representa o das duas federa es sindicais entre os assalariados rurais da laranja Contudo enquanto a Feraesp conseguiu manter alguma relev ncia no setor atrav s da fiscaliza o ativa no local de trabalho e do encaminhamento das den ncias de irregularidades justi a a desorganiza o do mercado de trabalho rural no complexo citr cola afetou particularmente a Fetaesp que viu esmorecer seu papel de interlocutora na realiza o de acordos ou conven es coletivas de trabalho com a federa o patronal Faesp e com as agroind strias Ao longo da d cada de 2000 sindicatos vinculados Fetaesp voltaram a ter inser o no complexo citr cola devido expans o de pomares das agroind strias no sudoeste do
504. s e conflitos dom sticos dentre os quais se destacam a autoridade patriarcal e a domina o sobre a for a de trabalho feminina Eu cuido do s tio o que tem que fazer o que n o tem tudo eu Quando poca que tem que colher alguma coisa minha m e meu irm o minha mulher eles ajudam a colher Eu fa o a parte de maquin rio tudo eu que toco E quando aperta muito que eu chamo algu m pra ajudar a colher e tal carpir fazer o servi o de trator s vezes A gente procura evitar ficar gastando muito n Porque a rea pequena se exagerar der o passo maior que a perna n o agienta Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 Falando uma verdade sabe por que o cara do s tio sobrevive A maioria sobrevive porque as mulher ajudaram bastante Isso eu falo nego fala que eu sou a favor das mulher eu falo olha acho que a coisa mais aben oada que Deus deu pro homem foi uma mulher trabalhadera N o teve pr mio maior eu falo sempre Porque o que ela trabalhou na ro a com filho pra olhar hein Eu e minha mulher tocava esse s tio inteirinho 6 7 700 p s de fruta trabalhava de noite pra passar veneno passava na venda pra tomar duas pinga pra voltar de noite pra criar coragem risos Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 Eu n o tenho empregado aqui na propriedade eu trabalho Sobra um dinheiro a mais porque voc n o ta gastando n O meu servi o cuidar e planejar o que eu te
505. s empresarial na citricultura paulista Revista de Economia Agr cola SP v 55 n 1 jan jun 2008 Pools e condom nios de produtores rurais novas formas de organiza o do mercado e de media o social na citricultura Informa es econ micas SP v 35 n 12 dez 2005 CHAYANOV Alexander La organizaci n de la unidad econ mica campesina Buenos Aires Ediciones Nueva Vision 1985 CHESNAIS Fran ois Pref cio in MARQUES Rosa Maria O Brasil sob nova ordem S o Paulo Saraiva 2010 316 CHIOVETTI Sim o Pedro Reestrutura o Produtiva na agroind stria canavieira e luta dos trabalhadores assalariados Lutas Sociais S o Paulo n 06 2000 COLETI Claudinei 4 estrutura sindical no campo Campinas Editora da Unicamp 1998 CONAB CATITEA Acompanhamento da safra da laranja 2011 12 segundo levantamento in http www agricultura gov br maio de 2011 CONAB CATITEA Acompanhamento da safra da laranja 2011 12 terceiro levantamento in http www conab gov br dezembro de 2011 CONTAG As Lutas Camponesas no Brasil 1980 Rio de Janeiro Marco zero 1981 CORADINI Odacir FREDERICO Antoinette Agricultura Cooperativas e Multinacionais Rio de janeiro Zahar 1982 COSTA Simone CAMAROTTO Jo o Alberto An lise ergon mica da colheita manual de citros considera es sobre estudo de caso XVIII simp sio de engenharia de produ o Bauru SP Nov de 2010 a CAMAROTTO Jo o Alberto
506. s incompletos de compra da fruta As grandes empresas de suco sabem quanto os pomares produzir o onde se encontram a qualidade da fruta que desejam de acordo com a poca do ano para produzir o tipo de suco que desejam assim como a florada do pomar por isso que a assimetria de informa es revela se um grande entrave institucional para o produtor de laranjas brasileiro Paulillo Almeida e Vieira 2006a p 58 O controle das ind strias sobre o pre o pago pelas caixas de laranja contudo a media o fundamental de subordina o da citricultura ao capital agroindustrial Como vimos mais acima a partir da safra 1991 1992 esfor os para repassar mais que proporcionalmente aos citricultores a queda sofrida pelo pre o do suco de laranja no mercado internacional culminaram na den ncia de forma o do cartel de ind strias processadoras Como j destacado tal den ncia levou ruptura definitiva do contrato padr o a partir da safra 1995 96 As crescentes tens es da decorrentes levaram a que na safra 1999 2000 citricultores entrassem novamente com den ncia junto Secretaria de Defesa Econ mica SDE contra a atua o cartelizada por parte das ind strias 105 processadoras de suco Desde ent o iniciou se uma a o que culminou em janeiro de 2006 na Opera o Fanta com a apreens o pela Pol cia Federal de documentos em seis mandados de busca em empresas do setor Nesse mesmo ano as empresas de suco buscara
507. s l eles n o t m micro n o tem tela o operador da extratora s fica andando ali no meio olhando a alimenta o a gua amarela a limpeza L na extra o os operadores at conseguiam parar uma m quina manualmente Mas ligar as m quinas autom tico que o correto s pela sala de controle Al m disso eu tamb m enchia os blenders acompanhava o envio de suco pro farm a rota de descarregamento isso s n s t nhamos acesso Se n o fosse a automa o eu n o teria acesso a nenhuma dessas reas Operador Mat o 07 2012 A automa o no interior das agroind strias citr colas n o foi contudo uniforme e homog nea existem lado a lado no complexo citr cola paulista f bricas integralmente automatizadas f bricas semi automatizadas e f bricas n o automatizadas Esta concomit ncia de diferentes n veis de moderniza o imp s uma significativa intensifica o do processo de trabalho em determinadas unidades ou etapas produtivas Na medida em que o tempo socialmente necess rio de produ o do suco e demais subprodutos da laranja hoje determinado por f bricas mais modernas os trabalhadores das demais unidades t m 284 de acelerar o ritmo de trabalho para acompanhar seus crit rios de produtividade No mesmo sentido na medida em que determinada etapa de determinada f brica possua um n vel de automa o maior que as outras os trabalhadores das demais etapas t m de intensificar seu trabalho especialm
508. s lutas dos citricultores a serem detalhadas no pr ximo cap tulo contra as agroind strias processadoras de suco de laranja por toda a d cada de 1980 CONTAS 1980 Grzybowski 1987 Caderno Cedi 1990 Ao longo de todo este processo estreitou se em diferentes escalas por todo o pa s a margem de autonomia na reprodu o do trabalho no campo Multiplicaram se os canais de subordina o da terra e do trabalho ao capital impondo a diversos segmentos da popula o rural um processo amplo de proletariza o O desenvolvimento desigual e combinado da articula o entre ind stria e agricultura no campo brasileiro tornou em escala crescente e de diferentes formas a multifacetada classe trabalhadora rural absoluta ou relativamente despossu da dos meios de produ o fundamentais reprodu o de suas atividades seja atrav s da perda parcial ou completa do acesso terra seja atrav s de sua manuten o mas sob crescente controle agroindustrial sobre seu trabalho fundamental portanto entender a proletariza o a nosso ver de uma forma bastante ampla como subordina o do trabalho ao capital e n o apenas como a expropria o completa dos meios de produ o do campon s Em outras palavras o fato de o capitalismo reproduzir a pequena produ o em uma determinada fase hist rica de sua evolu o n o invalida a quest o te rica mais geral da 46 necessidade de um trabalhador despossu do para o desenvolvimento
509. s meios de produ o apesar de esta permanecer sua determina o mais simples e abstrata A classe trabalhadora em realidade composta de uma mir ade de fragmentos no interior dos quais a clivagem entre capital e trabalho se concretiza polimorficamente em sentimentos leituras e estrat gias heterog neos e por vezes mutuamente contradit rios na arena da produ o e reprodu o cotidiana do modo de vida das diferentes fra es da classe trabalhadora que se ancoram ora a segmenta o e o silenciamento impostos pelo capital aos subalternos ora a aproxima o e mobiliza o de sujeitos explorados sob formas distintas em dire o a horizontes afins Da que ao longo desta pesquisa tenhamos buscado investigar por um lado o modo como as rela es de propriedade e de explora o do trabalho pelo capital agroindustrial atualizam se no cotidiano e no discurso de pequenos produtores familiares de laranjas assalariados rurais e assalariados industriais e por outro o modo como suas leituras a respeito destas rela es 310 concretas antecipam molecular e esporadicamente perspectivas de cr tica e de constru o de novas rela es A seguinte s ntese de Dias expressa claramente as concep es de classe e de luta de classes que buscamos utilizar ao longo desta pesquisa As classes n o se caracterizam apenas pela l gica do capital Elas criam e s o criadas pelas rela es sociais de um determinado modo de produ o que se
510. s os seus tra os tal avan o na incorpora o de progresso t cnico agricultura teve por objetivo n o apenas a redu o de custos mas tamb m a cria o de novos nexos de subordina o da terra e do trabalho em todas as etapas da produ o agroindustrial ao capital Ao reduzir em escala crescente a lavoura a um momento da produ o industrial o capital tornou se capaz de impor novos desenhos e novas din micas aos territ rios agr colas e de submeter os trabalhadores rurais a novos ritmos e novos disciplinamentos que t m por par metro a din mica fabril Ao mecanizar a lavoura e automatizar a agroind stria o capital agroindustrial criou novas segmenta es e clivagens entre diferentes fra es da classe trabalhadora a ele subordinada colocando em xeque a for a pol tica expressa no ascenso de lutas na d cada anterior Em termos pol ticos e econ micos os anos 2000 foram significativamente mais favor veis ao capital agroindustrial no Brasil em compara o com os anos 1990 As transforma es acima mencionadas ocasionaram n o apenas um forte crescimento da produtividade na agropecu ria como tamb m uma nova correla o de for as na luta de classes Contribuiu para tal nesta primeira d cada do s culo XXI a desvaloriza o do Real em 1999 aliada eleva o geral do pre o das commodities agr colas no mercado mundial e emerg ncia dos biocombust veis ou combust veis verdes enquanto pauta global do capi
511. s pr xima das agroind strias a respeito da evolu o entre 2001 e 2009 do n mero de produtores no cintur o citr cola estratificados em classes de produtores por quantidade de rvores Tabela 4 Estratifica o dos produtores do cintur o citr cola pela quantidade de rvores 2001 2006 2009 N mero de 6 rvores N mero de rvores N mero de 6 rvores Classes de produtores por produtores produtores produtores quantidade de rvores gt 400 mil rvores 23 16 2 46 33 6 51 392 200 a 399 mil rvores 38 EM 73 8 0 69 d 100 a 199 mil rvores 105 10 6 139 8 1 164 8 9 50 a 99 mil rvores 263 12 4 356 is 372 10 7 30 a 49 mil rvores 473 123 442 LS 442 7 0 20 a 29 mil rvores 585 9 0 502 5 518 3 3 10 a 19 mil rvores RIFS 16 5 1 498 ss 1 408 8 0 lt 10 mil rvores 11 333 135 10 151 16 1 9 603 13 4 Total 14 995 100 0 13 207 100 0 12 627 100 0 Fonte Neves 2010 As informa es fornecidas nas duas tabelas n o s o imediatamente compar veis N o apenas a concentra o de p s de laranja por hectare pode variar de 200 a 800 em S o Paulo como tamb m comum que nem toda a rea cultiv vel da propriedade seja destinada cultura citr cola Ainda assim o Instituto de Economia Agr cola e a Coopercitrus estabelecem um par metro fixo entre rea e n mero de rvores definindo a 159 pequena propriedade citr cola no estado de S o Paulo como aquela que possui entre 2 e 50 hectares correspondentes ao cultiv
512. s quantitativas m nimas acerca do trabalho rural em geral e do trabalho assalariado em particular na lavoura citr cola paulista Para tanto teremos por base o levantamento de dados realizado pela Conab Companhia Nacional de Abastecimento CATI Coordenadoria de Assist ncia T cnica Integral e IEA Instituto de Economia Agricola a respeito da ocupa o de m o de obra na cultura da laranja em S o Paulo A tabela abaixo nos mostra a varia o no n mero de trabalhadores deste setor entre os meses de mar o agosto e novembro de 2011 As informa es est o agrupadas por categoria de trabalho permitindo nos comparar o volume de trabalhadores ocupados nas diferentes atividades agr colas assim como sua flutua o entre a entressafra e a safra da laranja 205 Tabela 5 Estratifica o dos trabalhadores rurais do cintur o citr cola por categoria ago 11 Categoria de trabalho No Trabalhadores No Trabalhadores No Trabalhadores Propriet rio arrendat rio parceiro e seus familiares 31 736 23 996 22 250 Administradores 2 754 2 547 2 394 12 188 10 186 9 677 18 954 19 040 17 882 145 067 208 840 185 699 210 699 264 609 237 902 Fonte Torres et al 2011 Torres et al 2012 A categoria propriet rio arrendat rio parceiro e seus familiares diz respeito em sua maior parte aos pequenos produtores familiares de laranja analisados no cap tulo anterior Segundo dados do levantamento Conab CATIIEA em mar o de 20
513. s sociais dominantes amparadas na grande propriedade fundi ria nos pa ses da Am rica Latina a industrializa o tardia submeteu a agricultura a uma moderniza o conservadora na qual os capitais nacionais e internacionais se aliaram ao latif ndio sob a gide do Estado perpetuando rela es arcaicas de domina o sobre a terra e o trabalho No Brasil em particular tal car ter desigual e combinado do progresso t cnico na agricultura foi maximizado A excepcional abund ncia de terras livres e m o de obra submetidas a um estrito controle pol tico e social por parte das classes dominantes rurais sempre possibilitou a expans o da fronteira agr cola e da margem de explora o da for a de trabalho como alternativas ao aumento da produtividade por meio do progresso t cnico Al m disso o mercado fundi rio no Brasil garantiu no s culo XX que bens imobili rios rurais fossem utilizados como reserva de valor e ou fonte de lucros por meio da apropria o parasit ria de renda decorrente de incrementos do pre o da terra Da que a simples propriedade da terra tenha permanecido substrato fundamental de riqueza em meio ao progresso t cnico no campo brasileiro Graziano assim aponta as distor es da decorrentes no estado de S o Paulo interessante destacar que a porcentagem de im veis inexplorados em rela o ao total de im veis em m dia maior no estado de S o Paulo do que no Brasil Esta constata o at certo ponto
514. s terras do estado Moraes Silva pinta o seguinte retrato deste multifacetado processo 113 O aumento da rea plantada em cana faz se mediante o arrendamento ou a venda for ada de propriedades que se dedicam a outras atividades dentre elas a pecu ria e a cafeicultura Os m todos utilizados escondem o verdadeiro processo de acumula o primitiva destrui o de cercas porteiras estradas em raz o do tr nsito de m quinas e tratores cujas imensas dimens es n o cabem nos limites das reas normalmente transit veis a distribui o de venenos por avi es matam as planta es e as pastagens circunvizinhas obrigando seus propriet rios ao arrendamento ou venda de terra usina cont nua persist ncia dos homens do escrit rio os quais a partir de c lculos feitos mostram aos propriet rios as vantagens com o arrendamento de suas terras arrendamento ou compra de uma propriedade eq idistante como forma de press o sobre as intermedi rias Este o m todo mais utilizado Ap s algum tempo em virtude das destrui es mencionadas acima acrescidas ao preju zo das queimadas n o resta outra alternativa sen o a entrega das terras Aos poucos a homogeneiza o do espa o vai definindo a paisagem natural e social da usina Moraes Silva 1999 p 320 o Metamorfoses no mercado de trabalho rural na citricultura paulista e subordina o formal do trabalho assalariado ao capital Em paralelo descrita ofensiva d
515. sa es parciais ou totais das colheitas haviam sido determinadas pelas ind strias sem qualquer informa o pr via ou negocia o As ind strias por sua vez afirmaram inexistirem paralisa es ou diminui es de recebimento da fruta e alegaram n o ter qualquer responsabilidade trabalhista para com os colhedores contratados por seus fornecedores de mat ria prima O juiz da Vara do Trabalho de Taquaritinga assim se colocou a respeito A conduta das requeridas abusiva Provocam de forma direta a iniciativa dos produtores de plantar os frutos manter os pomares segundo as especifica es da ind stria e contratar colhedores para safra mediante pagamento por produ o e decidem unilateralmente tomar posi o que retira dos empregados a possibilidade de trabalhar e auferir renda mensal A conduta il cita pois excede manifestamente os limites impostos pelo fim social do direito de propriedade e pela boa f transferindo o risco do empreendimento aos trabalhadores e reduz o trabalho de modo a afetar sensivelmente a import ncia dos sal rios Decis o 090008 2008 TRT 152 R 22 8 2008 5 A t tulo de exemplo do modo como este descompasso figura como argumento em decis es judiciais recentes pode se citar o seguinte trecho Para fins ilustrativos este relator destaca o contrato no qual a reclamada COIMBRA FRUTESP em abril de 2001 comprometeu se a adquirir 100 das laranjas produzidas pelo senhor Valmi Blanco Machado durante
516. sa representativa base de Sindicatos Rurais de que Sampaio ex presidente da Sociedade Rural Brasileira SRB mant m contrato de presta o de servi o com a CitrusBR entidade que por sua vez teria se associado SRB em flagrante conflito de interesses e representa o A estrat gia adotada pelo setor industrial foi a de assinar o Consecitrus a qualquer custo com qualquer entidade independentemente de representatividade na rea de citricultura Faesp e CitrusBR trocam cr ticas sobre Consecitrus 20 04 2012 Ind stria e SRB assinam Consecitrus com Jo o Sampaio e sem Faesp 19 04 2012 in http agricultura ruralbr com br 178 A percep o dos pequenos produtores familiares a respeito desta posi o de seus sindicatos mais uma vez marcada por ambigiidades Por um lado comum encontrar produtores familiares que afirmam ser necess rio construir uma parceria com as agroind strias envolvendo pacotes tecnol gicos pre os m nimos e repasse de informa es Afirma es como estas tendem a se aproximar da postura de entendimento que caracteriza majoritariamente os sindicatos vinculados Faesp afastando se do perfil combativo caracter stico da atua o dos citricultores de menor porte em sua rela o com as ind strias processadoras no passado Por outro lado contudo tamb m comum encontrarmos pequenos produtores familiares que reclamam do que consideram uma proximidade excessiva entre seus sindica
517. saldo positivo tomando se a soma deles por frigor ficos Mesmo n o incluindo nos custos a m o de obra e a deprecia o o resultado geral n o favor vel Como o produtor direto n o inclui nos seus c lculos os custos acima e mais energia el trica despesas financeiras e g s sua suposi o que a atividade lucrativa Os produtores recebem do frigor fico um excedente dado pela diferen a entre o valor das vendas do lote de frango e os custos com pintos ra o previd ncia social medicamentos e outras despesas que realiza junto ao frigor fico Esse excedente considerado pelo produtor como lucro l quido Sorj Pompermayer e Coradini 1982 p 39 e 40 44 pr pria marcada por conflitos e consensos t picos do universo moral dom stico Decorre da que pequenos produtores consigam manter se em condi es de mercado desfavor veis acionando em maior ou menor escala a m o de obra da pr pria fam lia Em segundo lugar a pequena propriedade familiar gerida de um modo espec fico pautado fundamentalmente pela manuten o ou melhoria das condi es de vida e trabalho da unidade dom stica e n o pela taxa m dia de lucro do capital investido Decorre da que pequenos produtores familiares consigam manter se em condi es econ micas adversas dispondo se a realizar atividades que seriam economicamente insustent veis aos olhos do empres rio capitalista t pico Para esta fra o da classe trabalhadora por
518. scimento do consumo internacional do suco Nesta interpreta o o contexto desfavor vel vivido pela citricultura paulista na d cada de 1990 decorreu t o somente da relativamente neutra e invis vel correla o entre oferta e procura a retomada dos pomares da Fl rida e o crescimento dos pomares paulistas somados a modestas taxas de crescimento no consumo de suco resultaram em um excedente internacional do produto e em um rebaixamento do pre o da laranja especialmente entre as safras de 1992 93 e 2003 04 Curiosamente correla es de for a apenas s o tematizadas nesta argumenta o ao se apontar que a ind stria brasileira de suco de laranja concentrado e congelado pressionada por barreiras internacionais de pa ses compradores e por um oligops nio internacional de empresas envasadoras e de supermercados capazes de impor ao complexo como um todo rebaixamentos nos pre os da commodity Minimiza se em todo o racioc nio a clivagem pol tica e econ mica entre citricultores e ind stria e maximiza se a clivagem entre a produ o nacional de suco de laranja e os intermedi rios e barreiras internacionais em um claro esfor o ideol gico de colocar a insatisfa o dos produtores agr colas sob hegemonia dos interesses agroindustriais Neves 2010 A din mica do complexo citr cola segue contudo incompreens vel se n o se aponta as rela es de mercado como rela es de poder em que as ind strias t m sob seu controle a din
519. scurso de diferentes grupos de trabalhadores transportadores de laranjas trabalhadores terceirizados safristas operadores etc a respeito da reestrutura o produtiva e dos fechamentos de f brica que v m marcando a agroind stria citr cola ao longo deste per odo Conclu mos desta forma nossa pesquisa acerca da multiplicidade de vozes do trabalho atuantes neste complexo Partindo da proletariza o de pequenos citricultores familiares passando pela persistente informalidade nos v nculos de contrata o de colhedores de laranjas e pelas disputas entre fam lias sem terra e agroind strias citr colas e chegando s demiss es massivas ocasionadas por fus es e aquisi es entre as grandes empresas que dominam o setor buscamos aqui retratar os momentos chave da luta de classes no interior deste complexo agroindustrial 305 306 Considera es finais O andar de cima s fica de p porque o andar de baixo dividido An nimo O que n s hoje chamamos de agroneg cio fruto de d cadas de transforma es econ micas e institucionais no campo brasileiro paralelas neutraliza o coercitiva e simb lica das lutas de trabalhadores rurais desde a implanta o da ditadura do capital sob tutela militar em 1964 at a hegemonia neoliberal entre as d cadas de 1990 e 2000 O desenvolvimento desigual e combinado da articula o entre lavoura e ind stria no Brasil foi uma relativa resposta aos imperativos de amplia
520. se tecnifica o imposta indiretamente pelo mecanismo de mercado e diretamente pelo grande comprador de mat rias primas A ado o do novo padr o t cnico aqui media o fundamental das rela es de explora o e domina o a que se submete Multiplicam se os canais de 43 extra o de seu trabalho excedente por meio do custo crescente de insumos e maquin rio por meio do endividamento banc rio para custe los por meio da venda a baixo pre o s agroind strias que possuem controle oligops nico sobre o mercado de sua mat ria prima Neves 1981 Coradini e Fredericg 1982 Preso em uma tesoura de custos crescentes de produ o e baixos pre os de seu produto final n o incomum que tamb m o pequeno produtor familiar fornecedor das agroind strias venda peri dica ou permanentemente parte de sua for a de trabalho seja para garantir a manuten o da pequena unidade dom stica atrav s de uma fonte paralela e tempor ria de recursos seja como um passo na trajet ria de perda completa de seu meio de produ o e convers o em um assalariado t pico Em qualquer dos casos justifica se a inclus o deste segmento no complexo multi determinado da classe trabalhadora rural Contudo uma vez mais devemos destacar que ao caracterizarmos tais pequenos produtores familiares como trabalhadores subordinados ao capital n o queremos dissolver as especificidades de seu grupo social em uma categoria abstrata que nos leve a redu
521. se destacar o conflito e tendencial hostilidade entre os pequenos citricultores familiares e os mediadores econ micos e pol ticos que organizam o complexo Em primeiro lugar devemos mencionar as animosidades geradas pelo contrato de compra e venda de laranjas s agroind strias As duas cita es seguintes ilustram os relatos acerca de quebra de contratos por parte das ind strias em um passado recente Eles falavam o seguinte N s vamos fazer esse contrato seu contrato t aqui dentro lacrado voc n o pode abrir pra ningu m esse contrato Por qu O que eu fiz pra voc eu n o fiz pra ningu m se voc abrir a boca que eu te paguei x esse contrato perde a validade A ind stria errou muito A ind stria v te falar fez muita besteira Tinha tamb m quebra de contrato por parte da ind stria Se voc tinha um contrato vamos dizer um exemplo cinco d lares quatro d lares de repente o c mbio mudou eles diziam o seguinte Eu s vou te pagar tr s n o d pra pagar mais Tinha cara que dizia N o n o fa o quero receber o que t no contrato Acabou recebendo mas n o vendeu pra eles no ano seguinte Ou teve que entrar na justi a pra brigar com a ind stria Essas coisas Dirigente sindical Taquaritinga 01 2012 A gente tinha duas propriedades uma de nove alqueires e meio e outra de oito e meio Uma a gente vendeu por que n o tem condi o de cobrir o gasto que a laranja
522. sem justa causa etc mas principalmente pela contraposi o a altera es impostas por propriet rios e usineiros no corte da cana Neste conjunto destaca se em primeiro lugar a exig ncia da volta do corte em cinco ruas Um dos estopins da greve de 1984 foi a introdu o do sistema de sete ruas de corte de cana se antes cada trabalhador recebia cinco fileiras de cana para cortar o novo sistema distribu a sete ruas para cada trabalhador reduzindo o n mero de montes de cana e diminuindo os gastos com combust vel das carregadeiras mas impondo aos cortadores maiores deslocamentos e desgaste f sico e menores produtividade e rendimento Em segundo lugar destaca se a exig ncia de pagamento da cana cortada por metro linear e n o por tonelada uma das principais demandas das greves de 1985 1986 e 1987 Na medida em que apenas as usinas dispunham da balan a o pagamento por tonelada dava patronal total controle sobre o resultado do trabalho sujeitando os trabalhadores a roubos e ludibria es Em resposta os cortadores de cana reivindicavam um sistema de pagamento que lhes garantisse controle sobre sua remunera o Para Alves e Graziano essas duas demandas dos assalariados rurais sinalizavam a centralidade da luta pelo controle de aspectos chave de seu processo de trabalho Alves 1991 Graziano 1997 60 estabelecendo uma nova organiza o das atividades de controle sobre o contingente de trabalhadores A grande explos o acon
523. seus passos Porque eu n o posso contar hoje mais com a ades o dos trabalhadores para uma poss vel paralisa o muito complicado Hoje a situa o t muito complexa pelo fato de que t se reduzindo cada vez mais a m o de obra pelo avan o da tecnologia Isso tem minado a for a do sindicato N o que a automa o n o seja importante De fato ou voc caminha nesse processo ou a empresa fica pra tr s Mas a o trabalho que era desenvolvido por dez pessoas fica na m o de tr s seja por causa da tecnologia seja sobrecarregando o trabalhador que tem que dar conta A press o muito forte pra dar conta O resultado uma redu o dr stica de 70 na m dia da m o de obra E vai colocar esse pessoal aonde Se l atr s a gente n o tava preocupado com isso hoje o trabalhador t lutando pra permanecer no emprego manter o emprego Pela necessidade que o trabalhador tem de sustentar a sua fam lia ele acaba se submetendo a qualquer tipo de coisa Ele nunca vai dizer n o ele vai dizer sempre sim Se n o bastasse isso da com as leis que existem com a possibilidade de contrato tempor rio isso tem atingido o mago de todos os trabalhadores C tem um pessoal fixo mas uma boa parte dos trabalhadores s trabalha na safra Pro sindicato esse contrato de safristas criou uma dificuldade Os safristas t m sido decisivos nas assembl ias Porque pra eles tanto faz como tanto fez O que vier lucro Eles trabalham s quatro
524. smo promovido pelo CEPIS do Instituto Sedes Sapientiae em S o Paulo em junho de 1991 Uma reforma agr ria hoje necessariamente teria que atingir em primeiro lugar a descentraliza o da propriedade um absurdo que 46 grupos econ micos detenham sozinhos mais de 20 milh es de hectares S desapropriando essas 46 empresas j daria para assentar em torno de 1 5 milh o de fam lias sem terra e beneficiar em torno de 6 milh es de pessoas A segunda caracter stica da reforma agr ria hoje que necessariamente ela vai ter que organizar a propriedade coletiva dos meios de produ o porque a agricultura j est organizada de uma maneira capitalista Hoje n o adianta mais ter s terra preciso ter a propriedade dos tratores dos armaz ns dos trens que conduzem a produ o N o adianta mais o cara pegar um pedacinho de terra e dizer t feita a reforma agr rio Necessariamente com esse desenvolvimento que o capitalismo teve no campo uma reforma agr ria tem que abranger a propriedade coletiva de todos os meios de produ o que afetem a agricultura A terceira caracter stica da reforma agr ria que necessariamente ela precisa devolver a cidadania aos trabalhadores os direitos m nimos que qualquer cidad o deveria ter e isso n s n o vamos conseguir no capitalismo Direito educa o sa de a votar sem cabresto do patr o Oitenta por cento dos assalariados rurais do campo n o t m carteira assinada No campo ainda n
525. so Tem curso de hidr ulica e Il tem curso de eletricista tem de motores el tricos tem de jardinagem I e Il tem de pedreiro com quatro m dulos desde o alicerce at o acabamento um curso completo Tem o curso de aplica o de agrot xico Esse ano n s vamos ter o curso de instala o da lavoura de banana Ano passado teve curso de implanta o da lavoura de cana j teve de eucalipto de pupunha de maracuj de manga Porque com esse problema de greening a gente vai tentar colocar alguma nova cultura na regi o Mas a procura desses cursos aqui ainda pequena o pessoal infelizmente na regi o focou mesmo em cana e laranja E como o pessoal ta com medo de continuar produzindo laranja ent o a maioria ta arrendando pra cana dif cil colocar na mente do produtor pra ele diversificar Funcion rio do sindicato rural de Ibitinga 07 2011 190 Nos ltimos dez anos que acertou foi uns dois anos s n O ano passado 2010 foi bom foi a dez doze real a dava pra sobrar dinheiro Agora o ano retrasado 2009 sabe quanto eu vendi a caixa de laranja Dois real limpo por quarenta quilo de laranja pra moagem Nessa poca o pessoal trabalhou na di ria sen o passava fome Eu mesmo quando n o tinha servi o no s tio colhia laranja e ganhava por caixa Eu sempre tive fartura no s tio sempre tive galinha porco da n o passava fome Mas tinha que trabalhar pra ter um dinheiro no bolso n o adianta ficar em casa
526. sob controle unilateral das agroind strias a partir das quais elas poderiam sem qualquer controle repassar aos produtores a parcela que lhes interessasse do nus do complexo no mercado internacional Em julho de 1994 a Associtrus e a Aciesp entraram com uma a o da Secretaria do Direito Econ mico SDE contra 12 ind strias processadoras de suco acusando as de infringir as regras de com rcio e concorr ncia atrav s de pr ticas de cartel na negocia o com os produtores de laranjas e atrav s da forma o de pomares pr prios A SDE julgou a den ncia procedente e passou a ao Conselho Administrativo de Defesa Econ mica 34 Mais uma vez o repasse da queda dos pre os do suco no mercado internacional para os pre os pagos aos produtores n o foi determinado apenas por mecanismos de mercado mas principalmente pela correla o de for as no interior do complexo O pre o de exporta o do suco medido em d lares por caixa processada foi de USS5 92 em 1990 para US 4 48 em 1995 oscilando abaixo dos valores alcan ados na d cada anterior O pre o m dio por caixa de laranja pago aos produtores por sua vez caiu de modo muito mais brusco e para um patamar muito mais baixo entre USS1 11 em 1990 e USS1 50 em 1995 Paulillo Almeida e Salom o 2002 p 66 93 CADE que aprovou em 1995 um termo de compromisso com as ind strias O Conselho proibiu a promo o de quaisquer reuni es por quaisquer associa es rg os ou entidades p
527. ssas rela es s o pois express o do metabolismo do capital e atingem tamb m o universo simb lico da vida dentro e fora do trabalho as subjetividades expressas nas compreens es de mundo as formas de organiza o e resist ncia e as lutas que em conjunto enriquecem e redefinem os conte dos e os rumos dos movimentos sociais especialmente aqueles que est o envolvidos na tem tica da terra Haveremos ent o de enxergar a plasticidade do trabalho expressa nesse processo e as especificidades simb licas de cada uma das formas de express o para que possamos entender a riqueza dos conte dos sociais da classe trabalhadora tanto do campesinato que se mant m enraizado ao modo de vida e de trabalho da fam lia camponesa quanto do trabalhador egresso de experi ncias prolet rias oper rio urbano e rural ou dos oper rios que n o se desnudaram integralmente dos valores da campesinidade mas que foram subsumidos pelo modo de vida e pelas determina es fetichizadas do mundo oper rio prolet rio vinculado ao n cleo central da produ o de mercadorias e extra o de mais valia Thomaz Jr 2008 p 277 81 82 Cap tulo 2 Moderniza o conservadora e classe trabalhadora no complexo citr cola paulista O objetivo deste segundo cap tulo recuperar algumas das determina es chave do complexo agroindustrial citr cola paulista com foco especial em transforma es que impactaram o modo de vida e trabalho dos diferentes segme
528. ste na conclus o do Terminal de Gr os do Maranh o em S o Lu s para escoamento mar timo da produ o No Tocantins os investimentos de processadoras de soja 79 Do modo como as apresentamos todas as refer ncias conceituais sintetizadas neste cap tulo apontam por diferentes vias em uma mesma dire o Primeiramente partem todas de uma an lise do desenvolvimento desigual e combinado do avan o e metamorfose das rela es capitalistas de produ o sobre o campo brasileiro na segunda metade do s culo XX e in cio do XXI descartando leituras lineares e mec nicas a respeito da din mica deste processo Oferecem com isso subs dios te ricos fundamentais ao embate contra a apologia do assim chamado agroneg cio que crescentemente tem avan ado sobre o senso comum a partir de uma s lida ofensiva pol tica e ideol gica daqueles que querem deslegitimar qualquer contraponto expans o do mercado de terras e da explora o de commodities Em segundo lugar chegam todas a uma leitura multideterminada da classe trabalhadora subordinada ao capital nos complexos agroindustriais brasileiros rejeitando concep es abstratas e homog neas acerca do mundo do trabalho neles envolvidos Fundando se tanto em fatores imediatamente econ micos como em fatores pol ticos ideol gicos e jur dicos os diferentes autores acionados neste cap tulo nos indicam a multiplicidade de segmentos desta classe pequenos e m dios produtores de mat rias
529. stria com o outro foram 60h Outros problemas s o apontados pelos caminhoneiros O p tio da empresa muito mal iluminado apenas um poste de energia el trica As condi es de higiene s o prec rias de acordo com eles os servi os do restaurante foram terceirizados pela ind stria e n o h fiscaliza o com rela o qualidade O banheiro al m de sujo fica ao lado da cozinha obrigando os a sentir o mau cheiro dos sanit rios enquanto comem A gua tamb m apresenta problemas Se voc tirar um copo de gua vai ver a cor que apresenta al m do gosto estranho conta Carlos Jornal Impacto Bebedouro Motoristas chegam a ficar 72 horas para descarregar laranja na ind stria e produtores t m mais preju zo 24 09 2011 Para uma an lise da socializa o dos custos de estocagem enquanto uma determina o da reestrutura o produtiva e da circula o just in time de mercadorias e insumos ver Ferrari 2012 275 A ind stria tem os pomar dela pr prio e a maioria colocou transportadora no meio pra carregar as laranja Direto com as ind stria eles j pagava pouco agora c imagina entrando a transportadora no meio mais um pra ganhar Nos pomar de terceiro os produtor paga um frete at um pouquinho maior pro motorista porque a ind stria d prefer ncia na laranja dela na descarga Vamo supor eu chego l meio dia com fruta de um fornecedor vai ter caminh o da ind stria que vai chegar oito hora da noite q
530. stria canavieira paulista S o Paulo Annablume Fapesp 2002 A classe trabalhadora no Brasil e os limites da teoria qual o lugar do campesinato e do proletariado in FERNANDES Bernardo Man ano org Campesinato e agroneg cio na Am rica Latina a quest o agr ria atual S o Paulo Express o Popular 2008 TORRES Ant nio et alli Segunda estimativa preliminar para a safra da laranja no estado de S o Paulo ano safra 2011 2012 An lise e Indicadores do Agroneg cio S o Paulo vol 6 n 9 set 2011 et alli Estimativa final da safra de laranja no estado de S o Paulo ano safra 2011 12 An lise e Indicadores do Agroneg cio S o Paulo vol 7 n 2 fev 2012 VIEIRA Ana Desafios para os pequenos produtores de laranja do Estado de S o Paulo diante dos novos fatores na rela o agricultura ind stria nos anos 1990 Disserta o de mestrado Centro de Ci ncias Exatas e Tecnologia Departamento de Engenharia de Produ o Universidade de S o Carlos 1998 324 Integra o vertical concentra o e exclus o na citricultura paulista Tese de doutorado Centro de Ci ncias Exatas e Tecnologia Departamento de Engenharia de Produ o Universidade de S o Carlos 2003 Aspectos t cnicos da produ o citr cola no Brasil in PAULILLO Luiz Fernando org Agroind stria e citricultura no Brasil Rio de Janeiro E papers 2006 AG NCIA SENADO Estudo mostra a utiliza o de terras desmatadas na Amaz
531. strias sobre as condi es de compra da safra que se iniciava os produtores agiram mais radicalmente fechando as f bricas de suco concentrado Desvinculados de qualquer rg o representativo e sem uma lideran a vis vel em julho de 1996 os produtores se reuniram em v rios grupos impedindo que entrasse mat ria prima ou que sa sse suco concentrado das empresas a exemplo do que foi realizado no in cio dos anos 1980 quando reivindicavam um novo contrato Protestavam agora contra os pre os arrasadores pagos pela ind stria na safra 1995 96 insuficiente na maioria dos casos para cobrir os custos de produ o somados aos custos de colheita e transporte E reivindicavam ainda uma negocia o para a safra 1996 97 de forma que o pre o n o assolasse ainda mais os citricultores impossibilitando sua perman ncia no setor O protesto durou quatro dias num clima tenso em v rias cidades onde se localizam algumas das principais ind strias de suco Araraquara Mat o Bebedouro Colina It polis Taquaritinga Mirassol Catanduva e Monte Azul Durante esse per odo os produtores estiveram irredut veis na 94 luta por um pre o justo ao passo que as empresas se mantiveram caladas indispostas a negocia o com seus fornecedores Alves e Vieira 1997 p 16 Destas mobiliza es surgiu em 1996 uma nova associa o Associa o brasileira de citricultores Abracitrus pr xima a pequenos e m dios produtores Se por um lado
532. t rios de caminh es motoristas aut nomos e pequenos propriet rios de terras v em seu trabalho explorado e seu patrim nio dilapidado pelas agroind strias citr colas O trecho de entrevista a seguir com um transportador de laranjas assim o descreve 8 Em julho de 2011 motoristas chamaram a imprensa para denunciar a longa espera para a descarga de laranjas na f brica da Citrovita em Catanduva Desde ent o jornais do cintur o citr cola paulista realizaram reportagens acerca da situa o Ricardo Francisco Julio viajou 300 km e n o tinha expectativa de quando ia conseguir entrar na f brica para completar o ciclo de sua jornada Seu caminh o estava na fila dos terceirizados caminhoneiros que trabalham por conta pr pria fazendo o transporte para produtores A fila organizada pelos pr prios caminhoneiros no p tio da empresa n o existe senha ou qualquer tipo de controle para que a ordem de chegada seja obedecida preciso contar com a boa vontade de cada um Edison Braz Cordisco veio de Cravinhos chegou s 14h da quarta feira e acreditava que s iria descarregar na sexta feira Esta safra est mais demorada principalmente para os terceirizados conta o caminhoneiro que na semana passada ficou 70h na fila chegou na segunda e foi embora na sexta feira Carlos de Paula possui dois caminh es e teve o mesmo problema que Edison esperou por 72h com um dos ve culos para completar o trabalho de entrega da laranja na ind
533. tal A eleva o da demanda de pa ses como China e ndia somada a investimentos especulativos internacionais em pre os agr colas abriu um cen rio internacional favor vel no mercado mundial burguesia agroindustrial de pa ses como o Brasil Paralelamente a perspectiva de escassez de combust veis f sseis somada instabilidade de seu mercado 67 estimulou a busca de fontes de energia a partir de cana de a car milho soja leos vegetais mamona etc com fortes impactos sobre a distribui o de lavouras e sobre as correla es de for as no campo brasileiro Neste contexto entre 2001 e 2008 o Brasil saltou de sexto para terceiro maior exportador mundial de commodities agr colas atr s apenas de Estados Unidos e Uni o Europ ia Estado de S o Paulo Brasil supera Canad e se torna o terceiro maior exportador agr cola 7 3 2010 Este desempenho econ mico permitiu burguesia agroindustrial refor ar sua posi o dentre as fra es da classe dominante que comp em o bloco no poder no Brasil Ap s passar por um vasto processo de concentra o e centraliza o do capital em escala transnacional a burguesia agroindustrial construiu um moderno arco de rela es que se estende desde conglomerados financeiros at institui es pol ticas e acad micas respons veis por construir o discurso que apresenta o assim chamado agroneg cio como a melhor oportunidade de articula o do pa s com a economia g
534. tanto as press es decorrentes de sua inser o no mercado e da subordina o de seu trabalho ao capital agroindustrial s o parcialmente neutralizadas atrav s de uma particular fus o entre fam lia e unidade produtiva Devido a estes fatores ao caracterizar o pequeno produtor familiar vinculado s agroind strias como parte da classe trabalhadora rural n o queremos dizer que ele necess ria e tendencialmente se diferencia em uma das duas classes fundamentais da sociedade capitalista mas sim que seu processo de trabalho reproduz se de modo subordinado ao capital Todas as fra es da classe trabalhadora rural destacadas at aqui fizeram parte do ascenso de lutas que co determinou a crise do regime militar na passagem dos anos 1970 a 1980 Tendo carregado em suas costas o nus da moderniza o conservadora do campo brasileiro os trabalhadores rurais em seus diversos segmentos levantaram se por todo o pa s em um conjunto multifacetado de reivindica es e organiza es No que toca aos assalariados rurais como veremos mais a frente destacam se as greves de trabalhadores da cana de a car na Zona da Mata em Pernambuco Rio Grande do Norte e Para ba entre 1980 e 1984 e da cana de a car e da laranja em diversas cidades do interior de S o Paulo Guariba Leme Bebedouro entre 1984 e 1989 No que toca aos pequenos produtores subordinados ao capital comercial e aos grandes propriet rios fundi rios destacam se m ltiplas lutas d
535. tares foram destinados a novas pastagens Paralelamente a regi o Centro Oeste detinha em 1980 cerca de um quarto dos quase 25 milh es de terras produtivas n o utilizadas do pa s Kageyama 1986 p 107 A estrutura de financiamento na raz o inversa da rela o com a produ o usineiro primeiro propriet rio depois e produtor direto por ltimo um dos pilares da reprodu o de rela es de produ o e formas tradicionais de explora o agr cola no sert o algodoeiro O capital social entra ai via cr dito banc rio reproduzindo formas n o capitalistas de produ o Esta rela o de domina o indireta do capital determina contradi es espec ficas com as rela es pr capitalistas de produ o A baixa produtividade apenas um dos pre os que se paga pela manuten o dessa estrutura arcaica de produ o Kageyama 1986 p 58 36 Uma express o concreta da mencionada perman ncia da heterogeneidade estrutural de nossa economia e de nossa agricultura no per odo da ditadura do capital sob tutela militar diz respeito ao car ter desigual e combinado dos aumentos de produtividade das culturas alimentares e de exporta o no Brasil O projeto de abertura economia mundial levado a frente pelo regime militar combinou a op o por reproduzir em escala ampliada os padr es de mis ria rural e urbana op o pela capta o massiva de poupan a externa Isso imp s importantes desequil brios moderniza
536. teceria em 1984 e 1985 A nega o dos direitos foi gerando em contrapartida as bases para o seu cumprimento em virtude do acirramento das contradi es entre a lei a a o dos empreiteiros o rebaixamento do pre o da for a de trabalho e os altos padr es de acumula o O papel do Estado por interm dio do aparelho jur dico deve ser entendido no bojo desta contradi o De um lado fica vis vel a a o da Junta Trabalhista em fazer cumprir a lei De outro a exist ncia dos acordos era uma forma de amainar os conflitos Em geral os trabalhadores que faziam reclama es ficavam marcados pelo empreiteiro Isso foi engrossando ainda mais os descontentamentos at a eclos o dos movimentos grevistas surgidos a partir de 1984 O gato neste momento torna se um elemento degenerado desnecess rio logo pass vel de ser extinto As empresas foram cada vez mais assumindo os direitos dos trabalhadores mediante o registro em carteira contrato de trabalho pagamento de direitos f rias d cimo terceiro etc A anarquia dos primeiros momentos vai sendo substitu da pela racionalidade crescente Opera se um processo de gest o da for a de trabalho amparado nas regras legais do direito e na racionalidade empresarial Moraes Silva 1999 p 118 No que toca s media es jur dicas da explora o domina o a Constitui o de 1988 finalmente tratou em seu artigo s timo de forma igualit ria em seus direitos trabalhadores
537. tem que andar com uma escada de doze degrau nas costas puxando o Bag carregando o gancho mochila garraf o de gua c leva tudo L t o apertado os p de laranja que n o tem como c atravessar duma banca pra outra pra encurtar seu caminho c vai se rasgando tudo A eu t tudo riscado pra voc ver se eu t mentido mostra seu bra o coberto de riscos E eu trabalho de avental mas t tudo riscado Porque os p l tudo junto o plantio deles Eles fala que pra economizar veneno mas aquilo l gan ncia de terra Os pomar da C no m ximo tr s metro dum tronco no outro Tem plantio a que j dois metro de um tronco no outro A c passa se rasgando tudo E eles n o gosta que quebra galho n o gosta de nada Colhedor Monte Azul entrevista em 07 2011 uma sacola cruzada aqui no peito voc abotoa no fundo Conforme c vai catando enche a sacola fica na base de uns vinte e cinco quilo cada sacola cheia o dia todo andando de um lado pro outro C abre ela no fundo e solta no bag A c volta de novo no p No normal voc tem que carregar a sacola uns quinze vinte metro Isso quando n o cata o colheita em pomar com quantidade baixa de frutas Na cata o c anda cem metro cento e cinquenta metro com a sacola 209 A n o nas costa n o na cabe a mesmo Tem vez tamb m que c sai de um talh o vai pro outro c tem que arrastar bag eu cansei de arrastar bag
538. tenho interesse em um peda o de terra pra cultivar n o At porque eu acho que n o conseguiria viver no campo Na cidade sempre tem alguma coisa pra voc fazer um lugar mais movimentado se voc quiser sair fazer alguma coisa O pessoal mais novo gosta mais daqui n Da bagun a do vuco vuco do dia a dia apesar de ser uma cidade pequena Os mais velhos n o eles que preferem mais o sossego n Tratorista Borebi 07 2012 O que eu vi ali o que o mundo inteiro viu foi muito vandalismo n A gente ficou at chocado pelos estragos Eu n o acho justo Eu n o sei n o me interessa quem s o os donos Pra quem trabalha e vive do sal rio fica bastante desconfort vel voc t no meio de uma batalha dessa Falam muito em terra improdutiva mas como improdutiva se aquela terra t produzindo tem funcion rio trabalhando t dando emprego Hoje o povo pensa isso Eu sempre to vendo televis o e queria saber de todos os assentados que tem no pa s quantos sobrevive com a sua pr pria terra Voc v pessoas anos e anos debaixo de uma barraca em busca do seu peda o de terra mas e depois Eu acho que hoje qualquer cidad o queria ter um peda o de terra mas acima de tudo eu queria saber como se manter nesse peda o de terra Se voc tivesse a terra em que voc pudesse se manter timo Mas hoje o que eu vejo que voc precisa do sal rio Pelo que eu tenho visto mesmo que voc tenha um peda o de terra voc p
539. tenso fadiga e dores musculares devido 210 ao ac mulo de cido l tico Essa situa o agravada pelo peso da sacola no ombro em apenas um lado do corpo o que leva a um deslocamento do centro de gravidade e predisp e a quedas principalmente durante o alcance dos frutos mais long nquos em que o colhedor utiliza de movimentos de grande amplitude sem ter ao dispor equipamentos de seguran a que garantam seu equil brio na escada Costa e Camarotto 20102 Dentre os demais assalariados da lavoura da laranja merecem men o os tratoristas n o apenas por seu significado num rico no volume total de m o de obra ocupada no setor mas tamb m pelas particularidades de seu modo de vida e trabalho A remunera o dos tratoristas via de regra pouco superior m dia dos demais assalariados rurais citr colas podendo inclusive ser inferior quela de colhedores com excepcional rendimento Apesar disso as qualifica es e o cotidiano de trabalho dos tratoristas s o significativamente distintos daqueles das outras categorias de assalariados do setor Enquanto a massa de colhedores marcada pelo extremo desgaste f sico os tratoristas relatam que a aten o constante exigida pela opera o de grandes m quinas agr colas lhes provoca um maior desgaste intelectual Segundo os depoimentos colhidos em nossa pesquisa de campo o tempo de forma o e a responsabilidade deles exigida para com o maquin rio e para com o pomar imp em um
540. ter sticas comuns extremamente significativas em que se mesclam a perman ncia de tra os camponeses t picos em especial no que diz respeito fus o entre unidade produtiva e unidade familiar e a assimila o de refer ncias culturais do mercado Como j destacado a pequena produ o citr cola utiliza m o de obra predominantemente familiar na realiza o dos tratos culturais em seus pomares Se a mecaniza o crescente destas atividades diminuiu o trabalho bra al e o desgaste f sico dos membros da fam lia na lavoura a multiplica o de pragas nas ltimas duas d cadas tamb m teve impacto sobre o tempo de trabalho necess rio produ o de laranjas Como ilustram os trechos de cita es a seguir o aumento da frequ ncia com que se realizam as 160 pulveriza es marca atualmente o cotidiano de trabalho familiar nas pequenas propriedades citr colas Laranja uma cultura que d muito trabalho D Demais Quer dizer o trabalho no pomar que diminuiu foi o bra al porque se mecanizou muito ela hoje voc tem m quina pra tudo Naquele tempo c ia l na enxada tinha que carpir o mato hoje voc n o carpe mais voc passa o mata mato Pra passar veneno tamb m tem maquin rio que pulveriza que coisa de outro mundo Mas o trabalho dentro do pomar eu acho que aumentou Hoje tem praga na citricultura que se voc for querer tentar controlar voc tem que ta com maquin rio a cada quinze dias passando prod
541. tes conflitos o surgido no Engenho Galil ia em Vit ria do Santo Ant o Pernambuco Em 1955 organizou se l a Sociedade Agr cola de Plantadores e Pecuaristas de Pernambuco uma associa o com fins assistenciais mas que tinha tamb m por objetivo a defesa de foreiros amea ados de despejo Pouco depois com apoio do advogado e deputado estadual pelo PSB Francisco Juli o a associa o do Engenho Galil ia se transformaria em g rmen das Ligas Camponesas O caso estendeu se at 1959 quando a Assembl ia Legislativa de Pernambuco desapropriou o engenho Galil ia entregando o Companhia de Revenda e Coloniza o CRC Esta ag ncia estatal por meio de sua forma arbitr ria e verticalizada de distribui o das terras esfor ou se por separar e desmobilizar os trabalhadores rurais A relativa vit ria contudo foi suficiente para detonar a amplia o da base de organiza o das Ligas em Pernambuco e outros estados Bastos 1984 25 1964 em torno da Confedera o dos Trabalhadores da Agricultura Contag sob orienta es especialmente do PCB e da Igreja Cat lica Todos estes fen menos expressavam o acirramento e o novo formato das contradi es agr rias no Brasil a luta dos trabalhadores do campo tendeu a despir se do localismo e do isolamento que a caracterizaram anteriormente a assumir contornos nacionais e a articular se com os demais setores organizados das classes subalternas Neste cen rio de ascenso da luta dos trabal
542. tidiano dos trabalhadores rurais em S o Paulo Graziano 1997 Como j destacado ao longo da d cada de 1980 a Fetaesp foi colocada em xeque pelo ascenso de lutas de cortadores de cana e colhedores de laranja do interior do estado de S o Paulo As primeiras greves de assalariados rurais paulistas no ano de 1984 realizaram se integralmente por fora da estrutura sindical oficial como a greve dos cortadores de cana de Guariba em maio ou mesmo contra ela como a greve dos colhedores de laranja de Bebedouro em outubro As greves dos anos seguintes por sua vez foram conduzidas no interior dos sindicatos vinculados Fetaesp mas permaneceram marcadas por contradi es entre a mobiliza o crescente dos trabalhadores e a r gida estrutura sindical respons vel por dirigi la Isso se verifica em dois sentidos em primeiro lugar no que diz respeito a conflitos entre interesses econ micos d spares das diferentes fra es de trabalhadores rurais representadas nos sindicatos vinculados Fetaesp em segundo lugar no que diz respeito a conflitos 3 A t tulo de exemplo podem se citar as greves nas lavouras brancas do estado de S o Paulo milho feij o arroz algod o em que se contrapuseram os interesses de pequenos produtores que contratavam m o de obra durante a safra e assalariados rurais tempor rios encarregados da colheita A greve de Gua ra 1984 e as demais mobiliza es dos trabalhadores assalariados das lavouras brancas
543. tingente de trabalhadores rurais manuais necess rios colheita atrav s de continuas metamorfoses nas formas de contrata o da m o de obra A pluralidade e concomit ncia de v rios formatos de intermedia o irregular gatos de cons rcios ou condom nios de empregadores rurais e de v nculos empregat cios diretos entre colhedores e agroind strias v m colocando a servi o destas uma for a de trabalho fragmentada e enfraquecida A estas m ltiplas media es de dom nio sobre os colhedores acresce se a perspectiva de sofistica o dos instrumentos de controle sobre os ritmos e movimentos do trabalho no eito Em primeiro lugar novas tecnologias de sele o e organiza o da m o de obra volante implicaram em um crescimento da produtividade f sica e em uma intensifica o da jornada de trabalho dos colhedores de laranja ao longo da d cada de 1990 Graziano assim descreve tais novas tecnologias e suas consequ ncias para o cotidiano de trabalho na citricultura Antes os trabalhadores eram contratados e avaliados conjuntamente em grupos turmas Hoje com a introdu o do computador os colhedores s o controlados individualmente possibilitando aos patr es selecionarem aqueles que s o mais produtivos ao final da semana quando normalmente ocorre o pagamento dispensando os que se situam abaixo da m dia Com isso consegue se empurrar continuamente a m dia para cima intensificando se a jornada de trabalho de todo o grupo s
544. tinha que se virar Eu trabalhava no s tio vizinho n o era parente nem nada mas ia apanhar laranja pra ele N o ia longe tamb m n S no bairro Nunca entrei numa turma n o tinha jeito tinha que trabalhar perto de casa Mas trabalhar de empregado mais ruim n C tem que pegar e largar na hora certa Se o servi o seu n o c pega a hora que c quer larga a hora que c quer Citricultor Familiar Ibitinga 07 2011 L no s tio a gente tem uns dezesseis alqueires com uns treze mil p s de laranja Nesses ltimos dez anos teve uns quatro que a laranja ficou negativa perdeu dinheiro A acontece que nem no meu caso n Eu tinha dois trator tinha caminhonete c vai queimando o que c tem o que c ganhou c vende Faz d vida no banco de tr s anos pra c no banco eu t vermelho Uma outra propriedade eu vendi N o tinha outro jeito o pomar j era velho como que eu ia arrancar o pomar e pagar pra formar tudo de novo Ent o t complicado Por isso que de uns dois anos pra c eu trabalho tamb m como motorista na usina pra ter uma renda m nima porque voc n o consegue tirar da sua propriedade Fu era patr o virei empregado E n o sou s eu tem muitos outros pequenos propriet rios aqui da regi o que t o trabalhando comigo de operador de trator m quina A maioria ta na usina mas eu j conheci cara que tem laranja em propriedade pequena e na safra agora ele registra catando laranja
545. to aos ganhos de produtividade e efici ncia em alguns setores do processo de produ o Em outras palavras o capital est se valendo da refer ncia do patamar tecnol gico parcial para racionalizar o trabalho na planta fabril como um todo materializando a mais valia absoluta a partir da redefini o do processo de trabalho no tocante intensifica o do ritmo e das tarefas a serem realizadas Thomaz Jr 2002 p 162 Este processo de automa o deu se em paralelo a transforma es na organiza o do trabalho no ch o da f brica que refor aram segmenta es entre os assalariados industriais Por um lado as agroind strias acompanharam a tend ncia geral de redu o de custos atrav s da flexibiliza o de v nculos empregat cios Nesse sentido aumentou a contrata o por meio de empresas terceirizadas de trabalhadores respons veis por restaurantes seguran a almoxarifado limpeza manuten o mec nica e el trica etc Aumentou tamb m a contrata o pr pria pela empresa mas por prazo determinado dos trabalhadores necess rios apenas no per odo da safra Por outro lado ocorreu uma elimina o de determinados cargos de ger ncia e supervis o paralela a programas de aproxima o dos oper rios efetivos empresa Tais programas tiveram por objetivo n o apenas conformar a 76 subjetividade do assalariado s demandas do capital mas tamb m explorar o componente intelectual de sua for a de trabalho repassando lh
546. to fundamento do particular modo de vida e trabalho familiar 38 Esta formula o tende a interpretar o campesinato n o como fra o da classe trabalhadora mas como uma classe em si e para si Os autores que sustentam esta posi o destacam em primeiro lugar uma maior margem de autonomia na reprodu o do trabalho familiar campon s capaz de esquivar se da subordina o s agroind strias e produzir para seu pr prio sustento Com base nisso destacam tamb m o horizonte social e pol tico pr prio do campon s baseado na terra de trabalho em contraposi o terra de neg cio como fundamento poss vel do campo brasileiro Virg nia Etges em seu estudo sobre os camponeses produtores de fumo subordinados ind stria de cigarros no sul do Brasil no final dos anos 1980 assim se coloca a respeito Ora a partir da luta dos camponeses pequenos produtores que acabamos de descrever parece nos mais do que evidente que n o s o car ter de classe em si mas tamb m o car ter de classe para si est expresso Ou seja os camponeses a partir da explora o a que est o submetidos principalmente pelas ind strias fumageiras se organizam e lutam na tentativa de melhorar as suas condi es de vida E mais na medida em que julgam invi vel continuar produzindo fumo simplesmente abandonam este cultivo voltando se novamente para a produ o de sua subsist ncia vendendo os excedentes Etges 1989 p 239 100 Estas rela es
547. to positivo Segundo a autora o car ter desigual e combinado da formaliza o jur dica das rela es capitalistas de produ o no campo brasileiro implicou no desenvolvimento de todo um conjunto de media es privadas do processo de explora o domina o cujo primeiro momento o gato De fato como decorr ncia direta do processo acima descrito de dupla nega o dos trabalhadores rurais pela legisla o trabalhista estendida ao campo ao longo da ditadura surgiu tal agenciador de m o de obra intermedi rio na arregimenta o e contrata o de trabalhadores expulsos das fazendas e concentrados nas periferias urbanas O surgimento do gato deve ser entendido nos contextos da circula o da for a de trabalho da efic cia da lei como instrumento de nega o do trabalhador e do mascaramento das rela es entre patr es e empregados Moraes Silva 1999 p 114 As contradi es e ambigi idades na formula o e ou aplica o dos direitos trabalhistas no campo deixaram espa o aberto para que o capital ordenasse ele pr prio o mercado de trabalho rural Institu ram se assim intermedi rios que no momento de seu surgimento n o possu am qualquer acesso a meios de produ o e vida que os diferenciasse dos demais trabalhadores rurais O papel dos gatos foi duplo por um lado serviram de instrumento de domina o da m o de obra encobrindo a rela o empregador empregado e assumindo at certo ponto o impacto dir
548. todos os membros da fam lia as possibilidades de complementa o entre o trabalho no s tio e o trabalho assalariado fora da unidade produtiva Como veremos surgiram com isso refer ncias culturais e horizontes profissionais distintos que complexificaram as rela es sociais e o significado do trabalho familiar no interior da pequena propriedade citr cola 161 Ainda assim permaneceram e fortaleceram se tra os da fus o familia trabalho na pequena unidade produtiva dado o contexto de alta explora o a que esta submetida pela agroind stria hoje N o incomum encontrar pequenas propriedades citr colas que chegaram a utilizar predominantemente m o de obra assalariada para a realiza o de tratos culturais durante o chamado per odo ureo do setor at o in cio da d cada de 1990 Atualmente contudo o rendimento decrescente da produ o de laranjas impossibilita maioria dos membros desta fra o de classe a contrata o de empregados para a realiza o de atividades de entressafra Neste contexto o trabalho familiar condi o objetiva de continuidade da pequena unidade produtiva de laranjas as particularidades de seus modos de vida e trabalho permitem assimilar as limita es econ micas atrav s de ferramentas do universo moral familiar acionando integral ou parcialmente a m o de obra da esposa e filhos sob dire o do chefe da fam lia Com isso a din mica do trabalho mant m se impregnada de consenso
549. toriamente os recursos compra de determinados insumos Em especial a partir da d cada de 1990 as agroind strias citr colas puderam prescindir de media es estatais de controle sobre a tecnologia utilizada nos empreendimentos agr colas a elas subordinados Atrav s de seus crescentes pomares pr prios e consequentemente atrav s de sua crescente capacidade de planejamento e controle sobre a din mica da citricultura paulista como um todo as agroind strias impuseram ao complexo um novo padr o tecnol gico e organizativo A assim chamada nova citricultura tem sido marcada pela ado o de novas tecnologias como o adensamento de pomares de 250 rvores ha na d cada de 1980 passando para 357 rvores ha na d cada de 1990 e 476 rvores ha no in cio da d cada de 2000 chegando hoje a pomares com at 833 rvores ha o plantio de mudas oriundas de viveiros telados com utiliza o de material gen tico melhorado e selecionado o emprego de irriga o e fertirriga o etc Neves 2005 2007 e 2010 A produ o te rica pol tica mais alinhada s agroind strias qualifica estas transforma es como evid ncias positivas da moderniza o da citricultura paulista 102 Com a presen a cada vez maior de ind strias se suco de laranja produzindo mat ria prima pr pria e a entrada de novos empreendedores no ramo observa se que estas propriedades agr colas est o sendo dirigidas com caracter sticas semelhantes administra
550. tos e as agroind strias processadoras Consideram se por isso pouco representados em especial nos momentos de venda das caixas de laranja A seguinte cita o de um pequeno produtor assim ilustra sua tendencial animosidade com o sindicato rural N s somos s cio do sindicato Mas n o tem uma classe que luta pela gente A gente vai l paga mensalidade mas eu n o vejo uma classe que luta Ele o presidente do sindicato rural local tem coragem de ir pra imprensa e dizer voc s vende porque sen o vai piorar tudo Em vez de ele escutar o produtor ou ir se indispor com a ind stria no fundo voc percebe que ele n o tava com n s Eu sinto isso Ele n o pode fazer isso ele tem que nos defender O grande ele se vira n Mas os pequenos t o ai na m o das ind stria na m o dos barrac o E quem mant m o sindicato o pequeno produtor O cara at dez alqueires paga vamo supor trinta real pro sindicato O cara tem cem alqueires capaz de pagar cingienta Talvez nem isso ele paga Olha a diferen a Quem t pagando mais em porcentagem eu ou ele Isso eu acho que errado Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 7 Um pequeno produtor familiar assim o coloca Eu tava vendo um programa ontem O cara que s planta salsinha pra Nestl faz vinte e dois anos uma parceria com a Nestl O cara planta x obedece aquelas normas que a firma exige Ent o n s temos que trabalhar em parceria entendeu Par
551. tra o chave j destacado do gato enquanto media o da domina o sobre a for a de trabalho a legitima o de sua exist ncia a partir do interesse dos trabalhadores em alcan ar um maior sal rio l quido imediato desqualificando o significado de direitos arduamente conquistados pela classe ao longo de sua hist ria Se esta ofensiva foi capaz de incorporar ideologicamente s metamorfoses do mercado de trabalho rural um significativo contingente de trabalhadores assalariados do setor a outros parecia que o adicional por caixa colhida somado ao lucro distribu do ao final da safra era inferior ao que receberiam com todos os direitos provenientes do registro em carteira n o apenas no que toca aos sal rios indiretos como d cimo terceiro e f rias proporcionais no acerto de final 52 de safra mas tamb m ao acesso ao seguro desemprego na entressafra contudo em seu aspecto pol tico que se tornou excepcionalmente claro o car ter restrito do novo consenso imposto pelas ind strias processadoras ao complexo como um todo a partir da segunda metade da d cada de 1990 A prolifera o das cooperativas destruiu boa parte do ac mulo organizativo realizado pelos assalariados rurais do setor nos dez anos anteriores A fragmenta o dos assalariados rurais na citricultura em uma mir ade de gatoperativas diminuiu drasticamente o n mero de trabalhadores sindicalizados e 52 Em rela o s diferentes formas de rel
552. trabalho daqueles indiv duos que permanecem aumenta extraordinariamente Isso pode ser bem observado nas atividades do plantio de certas culturas n o mecanizadas como a cana de a car por exemplo A o ritmo do trabalho comandado pela velocidade das m quinas n o sendo mais necess rio efetuar o pagamento por tarefa como forma de aumentar a intensifica o da jornada Graziano 1981 p 109 Por outro lado tem havido um evidente decr scimo no dinamismo da gera o de ocupa es na agricultura moderna O efeito combinado da expropria o massiva de pequenas explora es familiares e da substitui o de trabalhadores por insumos modernos a partir de 1964 tem feito com que o crescimento de rea explorada e produto n o seja 2 As leituras a respeito da pequena produ o familiar polarizam se via de regra entre aquelas inspiradas na matriz leninista e aquelas inspiradas na matriz chayanovista Lenin 1982 Chayanov 1985 Segundo a primeira destas interpreta es a pequena produ o familiar em intera o com o mercado capitalista tenderia a se diferenciar econ mica e politicamente entre burguesia e proletariado segundo a segunda destas interpreta es a pequena produ o familiar possuiria particularidades que lhe permitiriam reproduzir se no interior do modo de produ o capitalista Em nossa pesquisa acionaremos argumentos de ambas as matrizes te ricas Buscaremos sustentar te rica e empiricamente que os pequenos prod
553. trial encontrou um obst culo a sua acumula o nos grandes propriet rios fundi rios na medida em que estes exigiam apropriar se de uma parte da mais valia social em troca da utiliza o da terra de que tinham monop lio Neste contexto o desenvolvimento t cnico industrial na agricultura foi uma importante arma da burguesia contra os propriet rios de terra uma vez que se tornou crescentemente poss vel produzir mais com menos terras o poder decorrente do controle fundi rio subordinou se ao poder decorrente do controle sobre os meios de produ o industriais Segundo Martins o desenvolvimento hist rico brasileiro distinto Aqui a burguesia encontrou nos grandes latifundi rios um fundamento de sua acumula o na medida em que a apropria o da renda da terra foi historicamente a base da forma o do capital urbano industrial no Brasil Neste contexto o desenvolvimento t cnico industrial da agricultura teve alcance restrito na transforma o das rela es econ micas pol ticas e sociais no campo brasileiro fundou se sobre o monop lio de classe sobre a terra que permaneceu a mais importante arma da burguesia industrial e dos grandes propriet rios fundi rios contra as classes subalternas rurais Em seu esfor o por fazer valer seu monop lio fundi rio e apropriar se da renda da terra decorrente as classes dominantes encontraram um obst culo em todos os grupos camponeses que nela buscavam sua reprodu o mais ou menos aut noma
554. trias citr colas haviam recebido do poder p blico uma linha especial de cr dito no valor de R 300 milh es a juros de 6 75 ao ano para a recomposi o de seus estoques em troca do pagamento de um pre o m nimo de R 10 50 por caixa de laranja 299 assuntos relacionados ao trabalhador eles n o perguntam Qual o reflexo dessa fus o pro trabalhador o contr rio Qual o reflexo dessa fus o pro empresariado N s fomos comunicados que haveria demiss es na empresa na Citrovita pra come ar Disseram naquele momento que n o tinha nada a ver com a fus o mas tinha tudo a ver com a fus o n o adianta Mandaram 111 trabalhadores A princ pio era menos dois dias antes eram 40 e poucos trabalhadores que seriam demitidos segundo eles por outras raz es Mas depois a gerente de Rh da empresa me ligou e disse Infelizmente n s temos que fazer mais algumas demiss es N s estamos reunidos com os funcion rios com todo o aparato aqui O pessoal tava como se tivesse indo pro abatedouro todo mundo enfileirado pra ir pra sala de RH passar pelo m dico passar pelo psic logo pra assinar a carta de demiss o Dirigente sindical Mat o 12 2012 Segundo a Citrovita o fechamento da f brica n o teve rela o com a fus o e se deveu estritamente ao excesso de frutas no mercado e falta de estrutura para realiza o do estoque Aos ex funcion rios a empresa ofereceu 90 dias de vale refei o PLR Particip
555. truturas de poder local perpetuando rela es de subordina o e explora o fundadas no capital comercial e na concentra o fundi ria em especial mas n o somente na regi o Nordeste Neste sentido tanto a reprodu o do latif ndio como da domina o do capital mercantil em escala regional podem ser vistos como express es concretas da din mica global desigual e combinada da luta de classes e da acumula o do capital no Brasil A an lise precedente deixou claro que a moderniza o da agricultura nesta d cada 1970 acelerou a transforma o da base t cnica estreitou os la os de depend ncia inter setoriais e propiciou a eleva o da produtividade ainda que mantendo quando n o alargando as desigualdades regionais A heterogeneidade estrutural pr pria das economias atrasadas manifestou se com toda clareza neste processo a diferencia o espacial das formas de domina o do capital na agricultura conformada historicamente ao longo da industrializa o atuou como sua express o concreta a determinar as possibilidades de avan o e os obst culos moderniza o e o Estado por meio de pol ticas agr colas e de desenvolvimento regional tendeu a refor ar as caracter sticas contradit rias do processo Kageyama 1986 p 254 8 Dos 53 milh es de hectares incorporados aos estabelecimentos entre 1960 e 1980 apenas 5 milh es foram destinados a novas reas de lavouras enquanto quase 26 milh es de hec
556. turais caiu de 26 em 1991 92 para 15 8 da for a de trabalho 135 total empregada na citricultura paulista em 2004 05 Baptistella Fredo Olivette Vicente Francisco 2008 As atividades de colheita seguiram contudo totalmente manuais ocupando atualmente por volta de 80 da for a de trabalho total empregada na citricultura paulista Apenas na fase de transporte das laranjas j colhidas houve a implanta o de ve culos dotados de equipamentos capazes de suspender at a carroceria dos caminh es bags de 500 kg prescindindo da m o de obra de carregadores manuais Apesar de j existirem solu es t cnicas para a mecaniza o da retirada do fruto dos laranjais nos Estados Unidos sua transposi o para a citricultura brasileira mostrou se at o momento invi vel Em primeiro lugar porque em nosso parque citr cola convivem diversas variedades de laranja com ritmos diferenciados de florada e matura o o que cria dificuldades t cnicas espec ficas Em segundo lugar porque os altos custos da maquinaria hoje dispon vel no mercado s o incompat veis com as condi es econ micas da quase totalidade dos fornecedores de laranjas s agroind strias Devido a isto o capital agroindustrial citr cola foi incapaz de seguir a tend ncia de outros complexos canavieiro algodoeiro cafeeiro etc no in cio da d cada de 1990 de superar por meio da mecaniza o completa do processo produtivo os dilemas pol ticos e econ micos impostos
557. u o Tem um colega meu que ta trabalhando comigo ele falou que registrou tamb m com a carteira da irm dele Ele trabalhava com carrega o com a carteira dele e a produ o que ele tem colhendo ta registrada na carteira dela pra ela pegar seguro no final da safra Colhedor Monte Azul 07 2011 3 Vamo supor aqui funciona assim naquele per odo que a safra come a n s ta recebendo o seguro n o tem como n s registrar Tem que trabalhar nas cooperativa Esse servi o o ganha p o nosso Tem muito que fala assim Ah n o tem que acabar Mas se acabar na poca que n s ta pegando o seguro n o d pra mim manter O que me ajuda isso a Eu n o sou uma pessoa de querer recriminar eles os gatos porque eles faz uma ajuda pr n s Eles t o ajudando n s ent o jamais eu acho assim que deve acabar Tem que fazer um meio deles organizar bem certinho com prote o e tudo mas manter esse servicinho porque o nico servi o que tem quando n s t pegando seguro Colhedor Sever nia 07 2011 220 permitam alcan ar de modo prec rio um maior sal rio e algum acesso seguridade social A seguinte cita o de uma ex colhedora assim o explica O registro na carteira como se fosse o registro da gente n Eu existo por qu Porque eu tenho um registro de quando eu nasci Ent o um modo do governo saber que a gente existe que a gente ta trabalhando ta contribuindo e tem direito a todas as le
558. u de instru o completo ou incompleto como era comum anteriormente tornando se padr o nas agroind strias citr colas a contrata o de operadores de m quinas com ao menos o segundo grau t cnico completo Tal caracter stica tornou se para os assalariados industriais fator fundamental de sua auto imagem diferenciando os das demais fra es da classe trabalhadora subordinadas ao capital agroindustrial no complexo citr cola Ainda que o grau de remunera o de um trabalhador no ch o da f brica n o seja necessariamente superior quele alcan ado por um colhedor de laranjas seu grau de instru o seu dom nio de inform tica e sua manipula o de m quinas autom ticas conferem lhe uma auto imagem significativamente distinta daquela de assalariados manuais na lavoura O gerente industrial j citado assim o coloca Voc considera que aumentou a participa o intelectual do trabalhador na produ o Com certeza Por exemplo num processo de automa o o primeiro cara para quem se pergunta o que funciona e como funciona o operador Ele faz parte integral de um projeto de melhoria Toda vez que eu vou fazer uma automa o ou uma modifica o no processo eu converso com o operador com o encarregado com o pessoal envolvido diretamente no processo Porque eu sentado na minha 150 sala eu tenho um feeling uma vis o O cara que est no dia a dia no campo ch o de f brica tem outra vis o das dificuldades reais Ess
559. u velada hostilidade Tornado errante o migrante enreda se em profundas ambigiiidades cuja resolu o n o un voca para todos e depende de in meras determina es Muitos permanecem profundamente vinculados ao complexo de rela es de seus locais de origem aspirando a acumular com o trabalho assalariado peri dico apenas o necess rio para reproduzir em novas condi es a pequena propriedade e o trabalho familiar Outros especialmente mais jovens orbitam crescentemente em torno do universo urbano seja em seu local de origem seja nas cidades dormit rio de assalariados rurais Oscilando entre estas posi es polares os trabalhadores migrantes comp em um caleidosc pio de estrat gias que os diferenciam dos demais trabalhadores assalariados plenamente expropriados Tais particularidades contudo n o impedem sua caracteriza o como trabalhadores subordinados ao capital Simultaneamente a estes a integra o t cnico produtiva entre ind stria e agricultura gerou um segmento de pequenos produtores familiares subordinados a agroind strias processadoras e cooperativas capitalistas Referimo nos aqui a pequenos fornecedores de mat rias primas para as ind strias detentores de uma pequena parcela de terra tocada predominantemente com trabalho familiar Este pequeno produtor familiar pode ser dito um trabalhador para o capital na medida em que em primeiro lugar ele perde a autonomia no interior do processo produtivo ao submeter
560. u vi muito pai de fam lia chorar Tinha funcion rio aqui n o importa que ele fez quatro safras c pega uma rotina um v nculo de amigos A de repente aquilo quebrado do dia pra noite C sai de casa e funcion rio c acorda e n o mais Tem gente que n o esqueceu at hoje ainda alimenta aquela esperan a de reabrir Voc t acostumado com aquele movimento aquele monte de gente todos entrando cantina caminh o motorista ent o voc sente Poderia t um monte de gente a um movimento t o gostoso uma situa o que at incomoda a gente Eu t bem c que se lasque n o assim Eu penso diferente eu gosto que todo mundo trabalhe duro o cara levantar de manh e n o ter pra onde ir terr vel At hoje eu olho com aquela esperan a com f em Deus que abra Seguran a terceirizado Bebedouro 12 2012 O que a gente falava l na firma era o seguinte se a Citrosuco voltasse a funcionar fosse uma concorrente de m o de obra talvez aqui pagasse um pouco mais Porque eles selecionaram os melhores da Citrosuco e levaram eles pegaram uma m o de obra mais qualificada e mais barata Um efetivo que trabalhava antes pra Fischer me disse que l ele ganhava bem mais Ent o no ano 304 passado ficou na expectativa abre ou n o abre Mas n o virou nada O aluguel aqui em Bebedouro hoje t quinhentos reais na m dia Se voc pagar aluguel c n o come Ent o a gente pensa assim
561. uco de maio a janeiro foi submetida ao contrato de trabalho por tempo determinado estabelecido pela Lei 9 601 de 21 01 1998 Esta nova modalidade de v nculo permitiu s ind strias citr colas empregar por prazo certo os ajudantes de servi os gerais necess rios na safra esquivando se de encargos como o pagamento ao trabalhador de multa de 40 do FGTS ao t rmino do contrato Sant Anna 2005 Desde uma perspectiva pol tico ideol gica estas flexibiliza es foram apresentadas como fundamentais adequa o do capital agroindustrial citr cola ao padr o de rela o capital trabalho e concep o de racionalidade administrativa que se impunham globalmente Paulillo assim caracteriza os aspectos econ micos e pol ticos destas transforma es Pode se verificar que a maioria das empresas de processamento alcan aram bons resultados com o sistema de terceiriza o como barateamento dos servi os e qualidade do produto final flexibilidade e maior agilidade nas decis es administrativas moderniza o dos fornecedores de equipamentos e maquinaria de processamento por exemplo aluguel de extratoras ou centr fugas por tempo determinado desburocratiza o administrativa e do processo produtivo maior agilidade com custos fixos menores manuten o da economia de escala em algumas empresas se elevou redu o do n mero de empregados diretos na estrutura produtiva redu o no pagamento de alguns impostos e de encargos soci
562. uco medidos em d lares por caixa processada mantiveram se na mesma faixa entre USS5 41 em 1985 e US 5 36 em 1989 Paulillo Almeida e Salom o 2002 p 66 86 posterior do pre o do suco de laranja no mercado internacional Com o contrato padr o a partir de 1986 o pre o da caixa da laranja passou a ser definido apenas quando se encerravam as vendas do suco no final da safra com base em uma f rmula cujos itens eram as cota es do suco no mercado internacional expresso pela Bolsa de Nova York a taxa de rendimento da fruta n mero de caixas de laranja necess rias para a produ o de uma tonelada de suco e a remunera o da produ o industrial e de comercializa o formada pelas despesas internas e externas das ind strias como colheita frete tarifas portu rias etc O pagamento da safra passou a ser feito uma parte antes da colheita calculada a partir da estimativa do pomar e outra ap s as vendas do suco no mercado internacional Caso o pre o final da caixa superasse o que j havia sido pago os citricultores receberiam a diferen a caso ocorresse o contr rio os citricultores sanariam seu saldo negativo com a ind stria em dinheiro corrigido ou em laranjas na pr xima safra Maia 1996 Desde uma perspectiva econ mica o efeito imediato do estabelecimento do e w 99 contrato padr o foi uma eleva o do pre o pago pela caixa da laranja para os produtores nas safras de 86 87 87 88 88 89 Desde
563. udo o Tribunal de Justi a TJ de S o Paulo decidiu pela anula o do processo declarando a in pcia da den ncia e determinando a revoga o das ordens de pris o preventiva que haviam sido expedidas contra os acusados A respeito deste caso interessa nos investigar qual a percep o dos assalariados rurais citr colas do Centro Sul do estado a respeito da luta pela terra em geral e a respeito do conflito entre o MST e a Cutrale em particular Como destacaremos h diversas tend ncias e contra tend ncias na consci ncia e no discurso destes trabalhadores Com vistas a registrar o complexo mosaico de condena es e aprova es das a es promovidas por fam lias sem terra na regi o analisaremos a seguir trechos de entrevistas com diferentes segmentos de assalariados rurais da citricultura sejam eles moradores urbanos assentados ou acampados No que diz respeito aos assalariados rurais citr colas moradores de cidades pr ximas fazenda Santo Henrique predomina em seu discurso a reprova o das ocupa es promovidas pelo MST Em uma primeira aproxima o pode se dizer que esta percep o influenciada pelo discurso hoje hegem nico a respeito do movimento e pelo c forte estigma de v ndalos ou desordeiros que seus integrantes carregam na atual opini o p blica brasileira Contudo o posicionamento destes trabalhadores n o se resume a estes fatores Est presente no discurso de muitos deles um marcado enr
564. udo mostra a utiliza o de terras desmatadas na Amaz nia 06 09 2011 2 pyxados pela disparada das cota es de gr os especialmente da soja e pela queda dos juros os pre os m dios das terras para o agroneg cio no pa s subiram 50 em tr s anos com acelera o maior nos ltimos 12 meses A tend ncia as cota es continuarem em n veis elevados apesar da desacelera o da agricultura Entre mar o de 2011 e abril de 2012 a valoriza o m dia da terra no pa s foi de 16 5 A alta dos pre os mais que o triplo da infla o acumulada no per odo de 5 1 medida pelo IPCA Em abril de 2012 o pre o m dio do hectare chegou a R 13 572 no Sul R 11 298 no Sudeste R 5 285 no Centro Oeste R 2 983 no Nordeste R 1 995 no Norte e R 6 700 no Brasil como um todo A terra acaba sendo um porto seguro para o investidor A desacelera o da economia n o afetou o mercado de terras afirma o corretor imobili rio de Ribeir o Preto At lio Benedini Ele observa que quando a taxa de juros cai o pre o da terra sobe O Estado de S o Paulo Pre o das terras agr colas disparam 01 07 2012 69 car ter ultra concentrado da estrutura agr ria brasileira e agravam se os conflitos decorrentes da expropria o do campesinato e de popula es tradicionais Em segundo lugar em paralelo ao maior controle bio qu mico sobre o processo produtivo e maior mecaniza o de atividades agr colas seguem tragicamente
565. ue n o tavam aptos quilo s novas necessidades da empresa Hoje pra n vel de opera o eles n o aceitam menos que o colegial Muitos funcion rios que eles gostavam e n o tinham o segundo grau eles cederam at cursos l Quem n o aceitou fazer aquele curso depois que o pessoal se formou foi demitido O controle sobre o processo hoje t mais centralizado com certeza isso eu n o tenho d vida nenhuma Hoje o operador pode opinar pode at fazer mudan as Mas tem coisas que n o s o do escopo dele coisas mais s rias porque n o existe s o trivial na opera o uma quest o de acesso no sistema O operador pode opinar em tudo mas ele n o tem acesso ao sistema SAP Sistemas Aplicativos e Produtos para Processamento de Dados pra modificar o perfil dele de acesso n o t naquele n vel No meu caso meu perfil no SAP chega at um certo ponto Dali pra l 283 n o posso mais porque s da gest o pra cima Eu posso chegar pra um superior e falar C tem acesso Ent o faz isso pra mim Se ele julgar que deve ele vai fazer se ele julgar que tem algum problema ele vai me questionar Por qu Tem que ser no m nimo question vel uma margem de seguran a N o que o operador n o pode fazer mas ele tem que ser no m nimo questionado por que voc quer fazer isso Operador Mat o 07 2012 Quase nenhuma v lvula nessa f brica manual tudo autom tico tudo por comput
566. ue eles apresentassem e n s n o n s quer amos discutir ponto a ponto todas as quest es t cnicas a quest o do estatuto etc Existem discord ncias a esse respeito tamb m no interior da Faesp sindicatos de munic pios important ssimos para a citricultura t m demonstrado em diferentes graus serem contr rios ou pelo 7t No interior da c mara setorial de citricultura no Minist rio da Agricultura consolidada no final de 2004 destacam se especialmente os esfor os para a cria o de um sistema de geoprocessamento para acompanhar o desempenho da produ o citr cola nacional com informa es a respeito do ritmo de florada do rendimento dos pomares da perspectiva de pre os etc Este sistema teria a fun o de diminuir a as distor es e a assimetria de informa es no interior do complexo uma vez que desde 2003 a Associtrus vem acusando as agroind strias processadoras de divulgar dados da citricultura segundo seus interesses com vistas a influenciar tanto os pre os internacionais de suco de laranja quanto os pre os internos da caixas de laranjas Paulillo Almeida e Vieira 2006b p 125 182 menos n o estarem satisfeitos com o Consecitrus da forma como est sendo conduzido Isso porque o Consecitrus como ta sendo conduzido vai s atender os interesses da ind stria eles querem usar isso como um documento pra apresentar pras autoridades dizendo que o setor ta pacificado Presidente da Associtrus Bebedouro 01 2012
567. ue resta ao trabalhador o papel de intervir rapidamente sobre os instrumentos em caso de qualquer anormalidade interrup es ou problemas de alimenta o dos equipamentos Grandes usinas foram equipadas com sistemas digitais que permitem um controle centralizado por m flex vel da produ o como um todo possibilitando ajustar em tempo real as vari veis do processo como opera o das m quinas fluxo e qualidade do produto Aos olhos dos trabalhadores tal avan o da automatiza o expressou se na diminui o de postos de trabalho e na intensifica o de suas atividades Ocorreu n o apenas uma redu o absoluta de postos mas tamb m a substitui o de trabalhadores experientes e com maior remunera o da linha industrial por trabalhadores mais jovens com menores sal rios Simultaneamente a automatiza o estabeleceu novos par metros de produtividade que se impuseram por todo o setor apesar de sua instala o sobre o parque agroindustrial ter sido parcial e heterog nea Neste sentido unidades ou segmentos de unidades n o automatizados foram obrigados a intensificar seu ritmo de trabalho para acompanhar as unidades ou segmentos de unidades mais modernos tendo por 15 consequ ncia estafantes jornadas de trabalho maiores problemas de sa de entre os trabalhadores e um aumento do n mero de acidentes de trabalho Thomaz Jr assim descreve este desenvolvimento desigual e combinado da automa o na linha de processamento a
568. ue vai descarregar na minha frente Por isso o produtor tem que pagar um pouco melhor o frete uns trinta por cento a mais porque se ele pagar pau a pau com a ind stria n o compensa a espera Na C a capacidade do bin silo de cento e cinq enta caminh o de laranja Mas nas vinte e quatro horas eles t m a meta de esmagar trezentos e cinquenta caminh o Ent o pra movimentar essa ind stria as laranja que t o no bin n o suficiente Por isso que precisa ter no p tio O caminh o C entendeu Chega do meio da semana pra frente a gente fica cinquenta sessenta hora de espera Eu chego deixo meu caminh o l se eu sei que vai descarregar no outro dia eu j pego uma carona e venho pra minha casa No dia seguinte pego a informa o por telefone pego carona de novo e vou mais ou menos no hor rio que vai descarregar Agora isso pra quem mora at uns sessenta quil metros Pro resto do pessoal fica invi vel ir pra casa e voltar ent o fica l no p tio da ind stria Tem banheiro tem cantina mas a ind stria n o d nada Um caf um lanche qualquer tipo de refei o tudo por conta do caminhoneiro mesmo depois que ultrapassa as hora normal da descarga No p tio o seguinte televis o jogo um baralho ou um bilhar l e ficar dentro da cabine Conversando um pouco e tal mais nada E esperar C imagina a pessoa esperar quarenta horas Porque ela n o te na casa dela ela ta trabalhando ali Ent o a
569. uitas vezes A que o Fundecitrus se queimou bem com o produtor Houve at morte aqui em Monte Alto Uma coisa tr gica O cidad o ouvia o cara do Fundecitrus que ia l fiscalizar o greening Voc tem que arrancar tudo se o senhor n o arrancar tudo n s vamo vim aqui com a m quina arrancar e autuava o cara E o cara N o v arrancar Mas tem que arrancar E o cara ficou transtornado Se esse cara vier aqui eu vou matar ele Saiu com a cartucheira e foi pro meio do pomar Fatidicamente foi um cidad o l de uma empresa de atomizador de bomba pra falar com o cara deixou o carro na sede e desceu a p O outro achando que era o fiscal do Fundecitrus deu o tiro Isso faz uns tr s ou quatro anos atr s Ent o quando o Fundecitrus ia a campo era aquela briga judicial Liminar n o deixar entrar pra arrancar n o vai arrancar o produtor foi na justi a falando que n o vai arrancar Tem a es correndo at hoje Por 6 No caso de recusa do propriet rio em permitir a entrada dos fiscais do Fundecitrus funcion rios da Secretaria da Agricultura acompanhados de policiais militares voltar o ao local e usando o poder de pol cia da secretaria para entrar na propriedade fiscalizar o pomares e erradicar o as rvores doentes Gazeta Mercantil Combate ao Cancro c trico dar emprego a quatro mil pessoas 24 5 99 172 isso criou essa imagem de uma entidade que o produtor paga pro cara ir l
570. ural n s sab amos como tava o andamento das negocia es e outras reivindica es no metal rgico e eles ficavam sabendo da gente aqui Dirigente sindical dos trabalhadores das ind strias de alimenta o Mat o 07 2012 142 Em 1994 ocorreu a maior greve de trabalhadores industriais do complexo citr cola paulista na Cutrale de Araraquara O in cio da safra 1994 95 j fora marcado por pequenas paralisa es na unidade Em 02 08 1994 os motoristas aut nomos que transportavam laranja empresa recusaram se a descarregar a fruta em protesto contra a defasagem do frete Folha de S o Paulo Greve p ra 600 motoristas 04 08 1994 Carregadores de laranja retornam ao trabalho 05 08 1994 Em 09 08 1994 e novamente em 30 08 1994 em meio greve dos colhedores j relatada assalariados industriais realizaram paralisa es rel mpago for ando a Cutrale a antecipar as negocia es salariais Folha de S o Paulo Funcion rios da Cutrale fazem greve em Araraquara 09 08 1994 Greve atinge 8 000 colhedores de laranja na regi o de Ribeir o Preto 31 08 1994 Ap s 4 negocia es fracassadas os assalariados industriais paralisaram suas atividades por tempo indeterminado em 28 09 1994 reivindicando um reajuste de 137 enquanto a empresa oferecia 12 66 Houve confrontos com a pol cia e depreda es de nibus em meio a piquetes na porta da f brica Ap s treze dias de greve manteve se o impasse e a pauta foi envi
571. uras da mesma terra descritas em seguida revelam a natureza da viol ncia deste processo Tornar p blicas estas escrituras n o seria somente exemplificar a viol ncia contida na legalidade da tomada de terras Seria sobretudo denunciar o direito formal positivo reduzido lei que ignora os fatos reais e legaliza a viol ncia Moraes Silva 1999 p 50 No que diz respeito ao Estatuto do Trabalhador Rural Lei n 4 214 de 2 3 1963 por sua vez tamb m ele incorporou uma s rie de demandas presentes nas lutas dos trabalhadores rurais Como j mencionado ao in cio do texto a legisla o social trabalhista da Era Vargas havia exclu do de seus objetivos os trabalhadores agr colas Muitas das greves na cana em Pernambuco e no caf em S o Paulo contrapuseram se a tal estado de coisas reivindicando o reconhecimento de direitos aos trabalhadores rurais O Estatuto do Trabalhador Rural respondeu a estas demandas instituindo a carteira profissional o contrato de trabalho os direitos e deveres das partes contratantes quanto a sal rios descanso remunerado f rias trabalho do menor da mulher e outros aspectos das rela es de produ o Tornou se com isso par metro de lutas que reivindicaram sua aplica o 52 dentre as quais destacam se as greves gerais dos trabalhadores da cana de Pernambuco nos anos de 1963 e 1964 Lygia Sigaud assim descreve a rela o entre o ETR e as lutas dos trabalhadores rurais pernambucanos
572. urbanos e rurais Destaca se neste conjunto a legisla o previdenci ria que equiparou pela primeira vez benef cios e contribui es do trabalhador urbano e rural junto ao Instituto Nacional de Seguro Social INSS e elevou o piso da aposentadoria rural de meio para um sal rio m nimo Estabeleceu se ademais em legisla o espec fica que os trabalhadores rurais teriam como direitos intervalo para refei o e descanso ap s 6 horas de trabalho conforme usos e costumes da regi o em que o trabalho for prestado c mputo dos hor rios efetivamente trabalhados para efeito do c lculo da jornada em servi os intermitentes adicional noturno de 25 sobre a hora normal aviso pr vio com possibilidade do empregado n o trabalhar um dia por semana para procurar outro trabalho indeniza o ao safrista equivalente a 1 12 do sal rio mensal por m s de servi o ou fra o superior a 14 dias quando expirado o contrato na forma prevista impossibilidade de se efetuarem descontos no sal rio a n o ser a t tulo de moradia at o limite de 20 alimenta o at o limite de 25 e adiantamentos em dinheiro Souto Maior 2005 61 N o se quer com isso dizer contudo que o car ter desigual e combinado da extens o da legisla o trabalhista ao campo brasileiro foi superado Pelo contr rio entre as d cadas de 1990 e 2000 houve significativas flexibiliza es no mercado de trabalho rural que atuaram como contra tend ncias ao cen rio acima desc
573. uro t o somente o setor de armazenamento e refrigera o de suco Jornal Folha da Cidade de Bebedouro Citrosuco fecha parcialmente em Bebedouro 11 02 2009 Jornal Impacto Sem esperan as aos poucos f brica de suco pode estar deixando Bebedouro 09 04 2011 Desde o ponto de vista dos trabalhadores ap s o an ncio do fechamento da f brica formou se um Comit em Defesa do Emprego e Pela Perman ncia da Citrosuco respons vel pelo lan amento do manifesto Citrosuco Fischer Bebedouro merece respeito e pela organiza o de uma nica manifesta o em frente ao port o da empresa no dia 20 de fevereiro A manifesta o contou com cerca de 80 pessoas entre trabalhadores demitidos e apoiadores de diferentes entidades da cidade Associtrus Sindicato dos Empregados Rurais Sindicato Rural patronal Sindicato dos Empregados do Com rcio Sindicato dos Correios Assembl ia Popular OAB Bebedouro Sindicato dos Servidores Municipais Apeoesp Sindicato dos Banc rios Sindicato dos Trabalhadores da Sa de al m de representantes dos poderes legislativo e executivo Jornal Folha da Cidade de Bebedouro Manifesto re ne diferentes entidades em prol da reabertura da Citrosuco 21 02 2009 Apesar da articula o de apoiadores a aus ncia de outras manifesta es e a baixa participa o de empregados demitidos ou atuantes em outra ind stria de suco da cidade s o ind cio tanto do esfor o irris rio de mobiliza o rea
574. uto na tua propriedade A cada quinze dias no m ximo c tem que ta com trator com bomba l no meio pulverizando a tua laranja pra deixar de ter essa praga Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 A base minha de trabalho oito horas por dia direto Mas na parte de veneno eu cheguei a trabalhar catorze horas dezesseis horas trabalho de dia e noite passando veneno Que nem hoje hoje ta bom pra passar veneno Veneno custa caro e n o pode chover em cima Eu tenho que tirar proveito ent o o que eu tenho que fazer O mais cedo poss vel come ar e o mais tarde n o largar Agora se d aquela puta chuva voc vai ficar fazendo servicinho no barrac o amolando uma enxada cavando isso engraxando um trator engraxando um implemento porque voc n o vai trabalhar debaixo de chuva Laranja todo dia tem servi o tem que passar veneno passar herbicida tem que cortar o mato tem que desbrotar a laranja quando vem o broto de lim o cavalo servi o que n o falta se voc querer trabalhar tem servi o que voc n o vai conseguir fazer tudo E tudo isso hoje eu fa o sozinho Antes a minha mulher me ajudava a minha mulher trabalhou pra valer Agora que nasceu meu neto ela ta olhando ele Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 Naturalmente a mecaniza o das atividades de entressafra teve consegii ncias significativas no tipo e grau de envolvimento da m o de obra familiar no sistema produtivo Multiplicaram se para
575. utores familiares de laranjas comp em uma fra o da classe trabalhadora subordinada ao capital agroindustrial Argumentaremos que esta fra o de classe possui particularidades em sua intera o contradit ria com as ind strias citr colas que a distinguem tanto dos assalariados quanto da pequena burguesia no campo argumentaremos tamb m contudo que sua reprodu o se d em um contexto ampliado e multifacetado de exclus o e proletariza o e de acirramento da subordina o de seu trabalho ao capital 41 acompanhado de incrementos suficientes no emprego agr cola O xodo de importante parcela da m o de obra rural para as cidades em todo o pa s e a lumpeniza o de sua for a de trabalho foram as mais significativas transforma es na morfologia da classe trabalhadora impostas pelo desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo sobre o campo brasileiro posterior a 1964 Inclusive as reas de fronteira agr cola que ao longo da hist ria tradicionalmente absorveram parcela da m o de obra n o incorporada s regi es j consolidadas transformaram se em ritmo cada vez mais acelerado de p los de atra o em p los de repuls o populacional conhecendo rapidamente o fen meno de incha o urbano E 13 de suas cidades No que toca aos pequenos produtores familiares por sua vez parte do multi determinado complexo da classe trabalhadora rural como j apontado a desigual e combinada integra o t cnica entre ind stria e
576. utro lado de direitos arduamente conquistados ao longo das lutas na d cada de 1980 fim de semana remunerado d cimo terceiro sal rio f rias direito de sindicaliza o direito de 51 A maior participa o dos produtores de laranjas na negocia o com a for a de trabalho havia sido uma demanda levantada pelos pr prios sindicatos rurais patronais face os custos enfrentados pelos citricultores nas greves de 1993 e 1994 O sal rio dos colhedores pago pela ind stria assim como a negocia o dos sal rios dos colhedores feita apenas entre a Fetaesp Federa o dos trabalhadores na Agricultura do Estado de S o Paulo e a Abecitrus Associa o Brasileira dos Exportadores de C tricos Est na hora de o produtor participar das negocia es que tratam dos sal rios que s o pagos j que o preju zo no caso de greve dele diz Marco Ant nio dos Santos presidente do sindicato rural patronal de Taquaritinga Folha de S Paulo Greve em laranjais traz preju zo de R 9 mi 14 07 1994 120 greve fundo de garantia por tempo de servi o pagamento de dias parados por motivo de doen as e acerto dos direitos para os trabalhadores safristas Alves e Paulillo 1997 Em um primeiro momento o estabelecimento desta nova media o de controle sobre a for a de trabalho dos colhedores foi organizada pelas pr prias ind strias Empresas pr prias atrav s das quais elas arregimentavam anteriormente a m o de obra fora
577. ver transpar ncia Se n o ocorrer isso n o vai sair do papel A ind stria tem que ser transparente tem que ser clara tem que abrir os custos de industrializa o isso que eles t o propondo N s tamos acreditando A boa inten o ta existindo Acho que a pr pria ind stria ta vendo hoje que o caminho esse Queira ou n o queira se eles tem hoje 45 da produ o deles eles tem que comprar da gente os outros 50 Dirigente sindical Taquaritinga 01 2012 A Faesp possui diverg ncias internas quanto a esta quest o A assinatura do estatuto de forma o do Consecitrus em 18 de abril de 2012 foi marcada por grandes tens es entre a Faesp a Sociedade Rural Brasileira e a CitrusBR Em um primeiro momento a SRB deixou as negocia es ap s o presidente da Faesp exigir que sua entidade tivesse dois representantes no conselho e a Sociedade Rural Brasileira um Em seguida a Faesp vetou a indica o para a superintend ncia do conselho de Jo o Sampaio ex secret rio da agricultura do estado e ex presidente da Sociedade Rural Brasileira Este veto isolou a Faesp e fez com que a ind stria representada pela CitrusBR realizasse a assinatura do estatuto do Consecitrus somente com a SRB Em nota a Faesp afirmou que o setor industrial preferiu agir de modo desrespeitoso e desleal ao assinar o estatuto do Consecitrus com outra entidade na calada da noite Nosso posicionamento se justifica pelas informa es recebidas de nos
578. vi o mas eles t o sempre no radinho passando servi o ent o mais f cil Safrista Mat o 07 2012 Em paralelo a estas flexibiliza es de rela es empregat cias nas ltimas d cadas o interior das agroind strias citr colas sofreu transforma es tamb m devido automa o do processamento de laranjas A instala o de sistemas de m quinas integradas por v lvulas autom ticas diminuiu a um m nimo o trabalho manual e o esfor o f sico no ch o de f brica possibilitando que a maior parte das tarefas seja realizada a partir de computadores nos quais o anterior saber fazer dos trabalhadores encontra se sistematizado em rotinas program veis Em um primeiro momento isso significou uma redu o dr stica de postos de trabalho nas agroind strias citr colas entre as d cadas de 1990 e 2000 al m de uma mudan a significativa do perfil dos trabalhadores contratados por estas empresas Operadores de m quinas mais antigos foram em geral substitu dos por outros mais jovens e com maior grau de educa o formal dotados das habilidades necess rias interface cotidiana com computadores l gicos program veis capacidade de interpretar o conjunto de informa es em um supervis rio capacidade de elaborar e interpretar planilhas de dados com base em tais informa es etc 101 Um gerente industrial j citado no segundo cap tulo afirma que a suposta maior obedi ncia das mulheres um crit rio para sua cont
579. via pre os de mercado s agroind strias Para a pequena produ o familiar contudo a parte transferida ao setor agroindustrial corresponde a seu pr prio trabalho familiar excedente A subordina o do trabalho familiar ao capital agroindustrial que assim se estabelece possui suas particularidades Em primeiro lugar trata se de uma subordina o apenas formal Ainda que a extra o de trabalho excedente por parte das agroind strias imponha indiretamente pequena produ o familiar transforma es na extens o e intensidade de suas atividades o processo de trabalho segue exercido do mesmo modo a partir de rela es familiares e sob controle direto do campon s propriet rio do meio de produ o terra Em segundo lugar trata se da subordina o de um trabalhador n o plenamente expropriado de seus meios de produ o Diferentemente de todos os demais trabalhadores explorados pelas agroind strias o produtor familiar segue um pequeno propriet rio de terras O crescente controle industrial contudo torna tal trabalhador 98 familiar relativamente despossu do dos meios de produ o fundamentais reprodu o de suas atividades Jos de Souza Martins op e se diretamente a tal formula o Prop e em contraponto o conceito de sujei o da renda da terra ao capital Martins 1980 Tamb m retoma para tanto a argumenta o de Marx no livro III de sua principal obra Segundo Marx na Inglaterra a burguesia indus
580. vicinho deles Eles entram numa disdinha d vida a eles v m c s pr ganhar aquele dinheiro pra quitar aquela d vida e manter o servicinho deles pra eles Porque l eles t m a rocinha deles mesmo tem a propriedade deles mesmo Deu enfraquecida entrou numa d vida pra manter a eles v m aqui naquele per odo naquele m s ou dois m s ou at tr s m s que seja s pr ganhar aquele troco chegar l liquidar aquela d vida e manter o servicinho deles Entendeu uma quest o que pra n s uma ajuda Porque n s n o vai sair de l vim pra c pra registrar noventa dia e dar baixa sabendo que n s mesmo vai se sujar Porque eu acho assim c registra eu venho trabalho noventa dia dou baixa e vou embora No pr ximo ano que eu voltar n o qualquer empresa que vai me empregar Porque ela vai falar assim ele vai trabalhar noventa dia e vai embora E n s quer uma pessoa que vai manter o servi o at quando n s tiver precisando Se n o tiver a cooperativa como que vai fazer Colhedor e migrante baiano Sever nia Entrevista em 07 2011 Acho que o pessoal trabalha sem registro porque ganha mais n melhor Com o registro c fica seis sete meses sem ter as coisa na m o Na cooperativa c trabalha um m s dois c faz quase a mesma coisa que seis m s com registro No ano que eu trabalhei registrado pra C tinha quinzena que eu recebia n o dava nem pra manter a casa aluguel gua e o de c
581. vo v comprar mais um peda o de terra v subir na vida N o vai C ta sempre eu tenho esse peda o de terra do meu pai que eu peguei de heran a do meu pai j h quantos ano N o consegui comprar um alqueire a mais de terra isso a E d pra n s comer aqui arroz feij o n o N o que fala voc viajeia voc vai passear Se eu f viajar ou passear por a n o d com isso que eu ganho no s tio N o tem como Citricultor familiar Taquaritinga 01 2012 Como consequ ncia o citricultor familiar tem uma percep o muito particular acerca de sua liberdade enquanto pequeno propriet rio Em seu discurso a autonomia do trabalho familiar expressa de modo complexo por um lado sua propriedade possibilita lhe arbitrar o tempo do trabalho e do n o trabalho e distribuir de modo relativamente aut nomo as atividades no s tio por outro sua subordina o s agroind strias impossibilita lhe determinar o pre o de seu pr prio produto no mercado gerando a sensa o de permanente inseguran a e heteronomia Refor a se assim a auto caracteriza o enquanto um empregado da ind stria um diarista assim como um 186 assalariado tem poucos instrumentos para determinar o pre o de sua for a de trabalho e se v comumente obrigado a aceitar n veis de remunera o inferiores ao necess rio para sua reprodu o tamb m o pequeno produtor sente se incapaz de determinar o pre o de sua
582. voc vai trabalhar o modo como voc vai trabalhar a marcha certa Vamo supor que voc vai passar uma pulveriza o de leprose ele passa uma primeira reduzida a mil e oitocentos isso a marcha que voc vai trabalhar o dia inteiro uma ordem que j vem do supervisor pra voc trabalhar o dia inteiro Ele o encarregado passa a quadra onde voc vai trabalhar e manda o comboio pra ir abastecer o trator nas ro as pra voc continuar trabalhando o dia inteiro das sete s cinco da tarde A vida l em cima do trator meio sofrida O calorz o demais e o sal rio baixo Eu hoje sou registrado na carteira com R 724 00 Trabalhando certinho aos s bados e domingos nosso sal rio geralmente vem em torno de R 950 00 a R 1 000 00 baixo em outros lugares em firma de cana o piso salarial do tratorista na faixa de R 1 400 00 E elas ind strias de laranja n o paga insalubridade Os tratoristas mexe com defensivo direto mas falam que a gente n o tem direito a insalubridade Na fazenda tem o exame peri dico pra ver intoxica o s que voc n o fica sabendo o resultado Isso preocupa bastante a gente n Se voc for fazer um exame de sangue pra entrar em outra firma pode constar que voc tem problema e eu acho que tem firma que n o pega n Eu penso assim A rela o dos tratorista com os outros trabalhadores da fazenda boa mas s vez tem umas brincadeira n E toda brincadeira tem um pouco
583. w Kod UNICAMP LUIZ FELIPE FERRARI CERQUEIRA DE FARIAS AGRONEG CIO E LUTA DE CLASSES DIFERENTES FORMAS DE SUBORDINA O DO TRABALHO AO CAPITAL NO COMPLEXO AGROINDUSTRIAL CITR COLA PAULISTA Campinas 2013 N A ay i UNICAMP UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CI NCIAS HUMANAS DISSERTA O DE MESTRADO T tulo Agroneg cio e Luta de Classes Diferentes formas de subordina o do trabalho ao capital no complexo agroindustrial citr cola paulista Autor Luiz Felipe Ferrari Cerqueira de Farias Orientador Edmundo Fernandes Dias Disserta o de Mestrado apresentada Programa de P s Gradua o em Sociologia do Instituto de Filosofia e Ci ncias Humanas da Universidade Estadual de Campinas para obten o do T tulo de Mestre em Sociologia Este exemplar corresponde vers o final da Disserta o defendida pelo aluno Luiz Felipe Ferrari Cerqueira de Farias e orientada pelo Prof Dr Edmundo Fernandes Dias Assinatura do Presidente Campinas 2013 FICHA CATALOGR FICA ELABORADA POR CEC LIA MARIA JORGE NICOLAU CRB8 3387 BIBLIOTECA DO IFCH UNICAMP Farias Luiz Felipe Ferrari Cerqueira de 1985 F225a Agroneg cio e luta de classes diferentes formas de subordina o do trabalho ao capital no complexo agroindustrial citr cola paulista Luiz Felipe Ferrari Cerqueira de Farias Campinas SP s n 2013 Orientador Edmundo Fernandes Dias Disserta o mestra
584. ww mst org br 09 03 2009 Citado como mentor de cartel Cutrale doou R 1 9 mi em 2006 in www mst org br 17 03 2010 Jornada do MST ocupa seis latif ndios em S o Paulo in www mst org br 21 04 2011 Setor banc rio deu maior doa o campanha de Lula in http Awwwl folha uol com br 29 11 2006 Sindicatos e associa es v o ao CADE contra o Consecitrus in http www dei com br 18 10 2012 329
585. xaria voc v que voc vai se matar e o m ximo que voc vai tirar vai ser vinte conto Sendo que numa laranja mais ou menos voc tira quarenta cinquenta conto Eles te joga num pomar fraco que que a gente vai fazer O nibus p ra no carreador a um sai vai no outro nibus e fala Eles quer pagar essa mixaria a pra n s n o vai dar C s t o vendo que n o tem laranja nos p n o tem como a gente ganhar um dia aqui vamo fazer uma greve vamo parar uma hora vamo ficar na beira do carreador pra ver se vem alguma ordem de l pra aumentar o valor da caixa A chega o fiscal a gente conversa ele anda com r dio liga l pro escrit rio L em cima eles quer saber o n mero do pomar eles perguntam pro fiscal como t o pomar Tem fiscal que c sabe n Pra n o ser mandado embora at joga com a firma t nem a com o trabalhador Sendo que tem fiscal que aqui dos sem terra entrou l tem um estudinho a mais Os turmeiro a mesma coisa Tem turmeiro que assentado do movimento mas eles tamb m n o acha essas greve muito bom n o porque eles ganha uma porcentagem em cima da caixa eles ganha em cima da gente um pouco No final eles pega e entra num acordo talvez aumenta cinco dez centavos a caixa e a turma vai trabalhar Colhedor e acampado Iaras 07 2012 259 Existem experi ncias germinais promovidas pelo MST para superar estas clivagens e aproximar politicamente fam lias sem terra e demais assa
586. za faxina Eu acho que isso pouco caso com o funcion rio L tem pai de fam lia tem solteiro tamb m que quer comprar seu carro sua moto Agora trabalhando de seis m s vai comprar a moto de que jeito Se voc for comprar uma moto de R 10 000 00 em seis m s c vai pagar ela de que jeito Depois c vai rodar no motot xi pra tentar pagar ela Safrista Bebedouro 07 2011 269 Essa a minha segunda safra o trabalho l assim fica duas meninas em cada m quina escolhendo as frutas uma esteira que desce um monte de laranja e voc fica do lado tirando as frutas verdes e os baga os fruta cortada deteriorada Quando n o tem a escolha a gente fica nas linhas ajudando as frutas a descer porque enrosca Al m dessa parte todo domingo tem o dia de lava o ent o todo o domingo a gente tem que ajudar a limpar a f brica Em tudo isso sempre tem uma pessoa a mais que j sabe fazer o servi o Voc nunca pode ir sozinho sem saber fazer Esse ano por exemplo s o catorze novatas ent o toda vez eles chamam eu e uma menina mais velha pra gente t passando t orientando pra tomar cuidado pra n o sofrer acidente Esse ano foi o que entrou mais novata numa rea s Teve meninas que mudaram de cidade teve meninas que n o voltaram a trabalhar o marido n o deixou Ent o foi entrando gente nova O trabalho dura seis sete no m ximo oito meses Na safra passada teve gente que ficou seis meses porque n o quis

LUIZ FELIPE FERRARI CERQUEIRA DE FARIAS AGRONEGÓCIO

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