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Truques da Escrita – Howard S. Becker

1. cansativa e muitas vezes inadequada Isso levou a um festival de segundas pessoas soprando ao leitor Voc pode ver como isso leva a Tal rotina pressup e que o escritor para terminar seus escritos pode se permitir esperar tanto tempo quanto eu Quando voc tem prazo para escrever o texto se digamos voc concordou em contribuir com um cap tulo para um livro e a data de entrega est se aproximando ou se voc concordou em apresentar uma comunica o na confer ncia anual da Associa o Americana de Sociologia n o conta com esse luxo Nem se precisar de publica es para convencer seus colegas ou algum administrador de que merece uma promo o Uma maneira de contornar este ltimo problema fazer algo a que a necessidade me obrigou no come o de minha vida profissional Como por muitos anos trabalhei mais como pesquisador do que como docente sempre tinha de come ar novos projetos antes de terminar os antigos Assim eu estava sempre trabalhando em v rias fases ao mesmo tempo esbo ando um primeiro rascunho de algo novo reescrevendo os rascunhos iniciais de um projeto anterior fazendo as revis es finais de algo pronto para publica o mais f cil do que parece Na verdade facilita todas as etapas do processo pois se voc empaca em alguma tarefa pode passar para outra sempre fazendo o que sai mais f cil Quando comecei a fotografar em 1970 as pr ticas fotogr ficas que aprendi na poca me deram m
2. escritor de verdade e por isso o coment rio doeu Decidi retomar e reescrever o texto usando algumas das li es de reescrita que tinha aprendido na gradua o Comecei a entender que terminar um artigo n o significava que ele estivesse pronto V rios anos depois Jim Carper e eu escrevemos um texto com base em nosso estudo das identidades profissionais de p s graduandos em v rias reas Submetemos o artigo ao American Journal of Sociology cujo editor na poca era Everett Hughes que tinha sido meu orientador no doutorado e a quem me sentia pr ximo e leal O manuscrito voltou com um bilhete da editora respons vel Helen McGill Hughes soci loga e jornalista esposa de Everett dizendo que eu devia entender que Everett realmente gostava de mim que tinha escrito os coment rios editoriais s quatro da manh e que eu n o levasse a virul ncia deles ao p da letra Os coment rios sem d vida me espantaram Entre outras coisas ele dizia que frases e par grafos inteiros pareciam ter sido traduzidos do alem o palavra por palavra Eu n o lia alem o nem nenhuma outra l ngua apesar de ter sido aprovado num exame de franc s na universidade durante a qualifica o para o doutorado mas sabia que isso era ruim Um par grafo memor vel citava uma de nossas frases mais pomposas e trazia o seguinte coment rio aqui citado na ntegra Droga Droga Droga O coment rio informal de Mark havia me sensibilizado A carta de
3. meu primeiro t pico A como segundo t pico no mesmo n vel l gico do primeiro ponho o t tulo de um artigo de Dick Hyman pianista experiente de jazz chamado 150 melodias exemplares que todo mundo devia conhecer Continuo acrescentando t picos at notar que alguns convergem para uma ideia que posso apresentar como t pico maior o Valor moral que os m sicos de jazz atribuem a conhecer um monte de m sicas o qual sugere uma rubrica mais abrangente que conter ambos que por ora chamarei de moral do repert rio Abro uma rubrica com esse nome e transfiro meus dois t picos menores para l dentro do esquema geral Seguindo essa l gica v rios pontos espec ficos sobre nossas observa es quanto s m sicas que os instrumentistas escolhem para tocar em diferentes lugares se tornam subt picos sob uma rubrica descrevendo como as exig ncias das sess es de jazz moldam o repert rio Isso me leva a listar outros exemplos que talvez queiramos comentar Conforme continuo a criar t picos e mud los de lugar concluo que a maneira como os instrumentistas tocam m sicas que nunca tocaram antes mesmo sem nenhuma partitura na frente deles realmente faz parte de uma rubrica maior sobre as habilidades necess rias para ser um efetivo instrumentista do tipo que estamos estudando E desloco muitos t picos menores sob aquela rubrica Enquanto estou mexendo nos t picos paro e desenvolvo algum deles escrevendo um ou d
4. o com os colegas Esse livro ao mesmo tempo um manual que ensina os elementos da boa reda o e um ensaio sutil e perspicaz sobre a organiza o social do saber acad mico Ao lado de Segredos e truques da pesquisa uma ferramenta permanente de enorme utilidade para escritores de todas as reas de alunos principiantes a autores com obras publicadas Pref cio edi o brasileira UMA ENORME SATISFA O poder apresentar este livro a professores e estudantes brasileiros Sempre admirei a escrita dos grandes soci logos brasileiros do passado meus favoritos s o S rgio Buarque de Holanda e Antonio Candido bem como a s lida tradi o da ci ncia social contempor nea Eu ficaria muito feliz se percebesse que consegui ser til s futuras gera es de pesquisadores e acad micos em seu desafio de dar continuidade a esta not vel tradi o Escrevi o livro como digo no in cio porque meus alunos e tamb m muitos colegas tinham problemas terr veis para come ar a escrever qualquer texto acad mico e dificuldades constantes medida que avan avam Tinham a sensa o de que era algo imposs vel N o ficavam satisfeitos com o resultado obtido depois de tanto esfor o Tinham medo de mostrar aos outros o que haviam escrito temendo que os amigos e principalmente os professores rejeitassem o trabalho E eu mesmo conhecia muito bem esses receios por experi ncia pr pria O livro apresenta ideias que reuni ao longo de anos
5. Um exemplo muito claro o modo como os estudantes ficam isolados sentados sozinhos olhando a tela do computador escrevendo frase ap s frase e apagando logo em seguida Por qu Eis meu palpite Talvez n o se aplique sua situa o mas lhe dar um ponto de partida para come ar sua investiga o Voc escreve a frase a pensa em algu m e imagina essa pessoa lendo pode ser um professor que voc admira ou um colega que todo mundo acha que timo E ent o duas coisas v m sua mente Primeiro que ao escrever eles nunca t m as mesmas d vidas que voc tem sobre o valor do pr prio texto n o eles simplesmente escrevem e acham que est perfeito E voc pensa todo mundo vai concordar com eles Mas claro que isso n o verdade Por exemplo essa frase que voc acabou de ler reescrevi seis vezes at ficar assim E posso mudar mais uma vez E a voc imagina essas mesmas pessoas lendo sua frase e rindo Claro que isso n o acontece mas s para garantir voc apaga rapidinho Agora voc sumiu com aquela frase desagrad vel e se p s a salvo das risadas imagin rias Mas claro agora voc ficou sem frase nenhuma Ent o precisa recome ar Adiante voc vai ver o caso de algumas pessoas que sentem tanto medo da rea o alheia que se chegam ao final do dia com uma nica frase j muita sorte Esse problema nasce das condi es de isolamento em que muitas vezes trabalhamos enclausurados sozin
6. es estil sticas e bibliogr ficas A organiza o das oportunidades de publica o mudou O que antes era aceit vel agora n o mais uma conclus o pessimista e devo retific la Conclu a experi ncia enviando o mesmo artigo a outro peri dico Symbolic Interaction abrindo o jogo eu tinha sido editor de l antes que aceitou e publicou o texto Becker 2003a Numa conclus o mais exata e menos pessimista devido ao enorme aumento dos ve culos de publica o que mencionei mais acima voc consegue publicar praticamente qualquer artigo se estiver disposto a sair em peri dicos que n o sejam os carros chefe da rea Na verdade quase ningu m publica mesmo nesses peri dicos A quantidade de artigos que eles lan am por ano simplesmente n o suficiente para conceder tal honra a muita gente Esse fato complementar da organiza o social significa que quando voc reclama de ter de fazer assim ou assado apenas em parte verdade A publica o em livro muito mais aberta a varia es estil sticas Os editores e os assistentes que fazem grande parte do trabalho de encontrar livros com potencial de publica o t m p blicos diversos e visam a diferentes fatias do mercado e seus cat logos mostram a variedade de seus gostos e projetos Procuram livros que interessem a muita gente esperam eles mas sobretudo quele p blico que j fora atra do por suas publica es anteriores pessoas com tal ou tal interess
7. o Era o mesmo rascunho que enviei a voc Na realidade ainda n o enviei nada a ela N s duas nos encontramos na conven o da Associa o Americana de Sociologia em S o Francisco e ela trouxe uma pilha enorme de coment rios por escrito Estava brava comigo e os coment rios eram muito duros Seguiam p gina ap s p gina Esta a coisa mais absolutamente est pida que voc j escreveu na vida Como voc capaz de dizer essas coisas Voc n o enxerga a natureza politicamente contest vel do que disse aqui Qual seu problema n o tem absolutamente nenhum senso das coisas Tudo isso aqui porcaria Enquanto eu lia o monte de coment rios ela ficou sentada ali simplesmente me olhando furiosa e a impress o que eu tinha era que ela queria me agarrar pelos ombros e me sacudir at me desmontar Naturalmente comecei a chorar em sil ncio as l grimas escorrendo pelo rosto Eu queria gemer chorar em voz alta sair correndo mas como est vamos na conven o com todos aqueles colegas ali eu tinha de mostrar a melhor cara poss vel Estava me sentindo p ssima Tra da talvez mas principalmente como se tivesse decepcionado minha amiga Sentia que n o tinha me mostrado altura do que ela esperava de mim e que esse trabalho preliminar tinha de certa forma demonstrado que eu era uma merda em termos intelectuais pessoais pol ticos e morais Fiz esfor o para me levantar da mesa onde estava lendo os co
8. o momento por um bom tempo eliminando palavras e express es at ficar reduzida a um quarto do que era Por fim sugeri com uma ponta de mal cia mas eles n o tinham muita certeza disso que cort ssemos toda aquela passagem e s pus ssemos E da Algu m por fim rompeu o sil ncio de espanto Voc pode tirar mas a gente n o poderia Ent o falamos sobre o tom concluindo que eu tamb m n o poderia tirar a menos que tivesse preparado o terreno para aquele tipo de tom e fosse apropriado para a ocasi o Os estudantes ficaram com muita pena de minha colega que havia cedido as p ginas para nossa cirurgia Acharam que tinha sido humilhante para ela e que foi uma sorte que ela n o estivesse l para morrer de vergonha Compadecendo se dessa maneira eles estavam se baseando em seus pr prios sentimentos n o profissionais sem perceber que para as pessoas que escrevem profissionalmente e escrevem muito fazia parte da rotina reescrever o texto tal como hav amos feito Eu queria que eles entendessem que aquilo n o era incomum e que deviam se acostumar ideia de reescrever muito e por isso lhes contei com sinceridade que eu normalmente reescrevia umas oito ou dez vezes o manuscrito antes da publica o mas n o antes de mostr lo a meus amigos Ficaram surpresos pois como explicarei mais adiante eles achavam que os bons escritores pessoas como seus professores j conseguiam redigir tudo certo na pr
9. Feita aquela mudan a continuei insatisfeito A frase tinha tr s ora es simplesmente enfileiradas uma depois da outra Quando consigo rearranjar uma senten a de forma que sua organiza o mostre e assim reforce as conex es que estou descrevendo rearranjo Assim cortei a primeira ora o e coloquei seu conte do numa forma adjetiva Em vez de dizer que a teoria era simples troquei seus passos da segunda ora o por os passos dessa teoria simples Algumas palavras a menos e a simplicidade da teoria reduzida a um pequeno ponto descritivo Precisamos tornar expl citos os passos dessa teoria simples Depois disso n o precisava mais dizer que era necess rio fazer isso o que era t o sup rfluo quanto dizer que era importante fazer isso A frase reescrita ficou Se tornamos expl citos os passos dessa teoria simples poderemos ver como ela funciona Tem treze palavras em vez de dezessete As tr s ora es alinhavadas agora formam um argumento do tipo se ent o que mais interessante do que o enfileiramento anterior Agora veja a quarta frase Mudei Algu m para Pessoas por nenhuma raz o especial pois o que eu queria era chegar a foi capaz de manter Express es como ser capaz de manter s o uma tentativa de fazer afirma es simples parecerem profundas Falar sobre a capacidade das pessoas em agir evoca a necessidade acad mica de profundidade Parece trivial dizer que as p
10. Li alguns deles enquanto ministrava meu curso mas na poca eu n o sabia que havia um campo de pesquisa e reflex o chamado teoria da composi o Por causa disso inventei ideias e procedimentos que j tinham sido inventados por outros e eram debatidos na bibliografia daquela rea A partir de ent o procurei sanar minha ignor ncia e remeto os leitores a essas descri es mais extensas Muitos livros de composi o trazem timos conselhos sobre os defeitos mais comuns de reda o em particular da reda o acad mica Alertam contra o uso da voz passiva a verbosidade o emprego de palavras compridas que parecem estrangeiras em casos em que as palavras curtas que funcionariam melhor e outros erros habituais D o conselhos concretos e espec ficos sobre como encontrar e proceder com esses erros Outros escritores por exemplo Shaughnessy 1977 Elbow 1981 ou Schultz 1982 tamb m comentam esses problemas imposs vel falar sobre reda o sem os mencionar mas v o al m e analisam por que a pr pria reda o em si problem tica Explicam como vencer o medo paralisante de permitir que outros leiam nosso trabalho Seus anos de experi ncia ensinando alunos da gradua o a escrever ficam evidentes no car ter espec fico de suas recomenda es e na aten o que d o ao processo de reda o mais do que aos resultados As melhores pesquisas sobre reda o ver por exemplo Flower 1979 e Flower e Hayes 1981 analisam o
11. Mas mais de 90 das pessoas que eu encontrasse n o iam saber do que eu estava falando e assim n o saberiam nada sobre o conjunto de intui es e pressupostos aos quais eu estaria declarando minha lealdade Mas o uso dos cl ssicos como crach s de identifica o tende a criar seitas em vez de comunidades intelectuais abertas Os crach s tendem a se tornar fronteiras em vez de guias A revis o bibliogr fica convencional fornece indica es quanto linha adotada pelo autor mas se esta fosse sua principal finalidade os autores seriam mais sucintos e menos obsessivos Os cl ssicos n o s o sin nimo de a bibliografia Os cientistas sociais se preocupam com os cl ssicos mas tamb m se preocupam com a bibliografia cr tica e metodol gica com as pesquisas expondo descobertas espec ficas sobre o tema e os debates sobre essas descobertas e se sentem respons veis por tudo isso assim como os estudantes sabem quando s o respons veis pela mat ria num exame Nenhuma dessas maneiras de usar a bibliografia ruim em si mas nenhuma delas responde pergunta de como usar a bibliografia referente ao tema de sua pesquisa A ci ncia e o conhecimento no campo das humanidades s o empreendimentos cumulativos tanto na pr tica quanto na teoria Ningu m parte do zero quando se senta para escrever Dependemos de nossos predecessores N o conseguir amos fazer nosso trabalho se n o us ssemos seus m todos seus resultado
12. Voc n o poder aproveitar nenhuma das chances que sugeri por modestas que sejam se tiver boas raz es para temer seus colegas em qualquer posi o da hierarquia Mas pode evitar essa situa o se empenhando em construir redes de apoio m tuo Como Richards tamb m diz se voc achar que pode encontrar essas pessoas capazes de ajud lo pode encarar os riscos e avaliar seus receios deixando de lado os que podem ser superados Alguns consideram que minhas sugest es de reescrever de uma maneira que parece quase intermin vel s o irrealistas ou desnecessariamente heroicas Ningu m tem tanto tempo assim dizem eles Como voc aguenta trabalhar tanto Isso revela um grande equ voco Ningu m fez os estudos meticulosos que provariam isso mas tenho certeza de que os acad micos que escrevem dessa maneira levam menos tempo para redigir sete ou oito vers es do que outras pessoas gastam numa vers o s N o que tenham algum talento especial apenas a diferen a entre querer ter tudo certo na cabe a j da primeira vez ou ir fazendo no papel ou no computador arrumando umas coisinhas medida que avan a E tamb m n o que esses escritores tenham uma capacidade excepcional de suportar a ansiedade Em vez de suport la eles a evitam come ando pelo que f cil de fazer e passando gradualmente para algo um pouco mais dif cil Esses passos progressivos de ir ajeitando as coisas reduzem o impacto das verdadeiras causas de ansiedad
13. a estrat gia implica uma teoria e um m todo A teoria simples mas importante tornar expl citos seus passos para podermos ver como ela funciona A teoria que a vida que uma pessoa leva com seus momentos bons e ruins deixa suas marcas Algu m que tem uma vida feliz ter um rosto mostrando isso Algu m que foi capaz de manter sua dignidade humana perante as dificuldades ter um rosto que mostra isso uma estrat gia ousada pois faz com que aquele pouco que a fotografia cont m carregue um peso enorme Para a teoria funcionar e nos ajudar a produzir imagens eficazes devemos escolher rostos detalhes dos rostos e momentos em sua hist ria que registrados em filme e impressos em papel permitam aos observadores inferir todas as outras coisas em que est o interessados Ou seja os observadores olham as linhas num rosto e inferem deles uma vida passada em dura labuta ao sol Quando comecei a reescrever essa passagem a express o importante na segunda frase chamou minha aten o por parecer uma simples muleta Se importante fazer alguma coisa n o fale fa a Esta uma t pica diretriz n o uma regra de forma alguma Primeiro mudei importante para precisamos Isso deixava a frase mais ativa e um pouco mais forte e introduzia um agente algu m realmente fazendo aquilo Coisas que n o s o feitas por ningu m mas simplesmente s o guardam uma indistin o que n o me agrada
14. aquelas discuss es foram de longe as mais importantes pois continuaram ao longo da escrita de v rios artigos e livros que escrevemos juntos Os soci logos com os quais fiz minha p s gradua o costumavam trocar rascunhos de artigos em andamento e ramos muito bons em dizer um ao outro o que devia ser feito a seguir Creio que n o percebi at que ponto essas m tuas leituras e coment rios entre colegas afetaram meu desenvolvimento profissional at o momento em que contratei Lee Weiner como auxiliar de pesquisa alguns anos depois que comecei a dar aulas na Northwestern Eu estava fora no ver o em que ele come ou a trabalhar para mim e como consciencioso revolucion rio Lee que depois se tornaria um dos Sete de Chicago leu toda a minha correspond ncia embora isso n o fizesse parte de suas obriga es Quando voltei no outono ele me falou entusiasmado o quanto tinha aprendido ao olhar as pastas que eu guardava sobre os artigos que havia escrito vendo o que meus amigos tinham anotado e comentado nos v rios rascunhos e como eu havia incorporado tais coment rios na vers o seguinte V rios anos depois de meu doutoramento eu havia montado uma rotina de escrita bastante eficiente reescrevendo com base nas cr ticas de amigos aos rascunhos iniciais Aprendera a ver a reescrita como algo divertido uma esp cie de palavras cruzadas e n o como uma tarefa constrangedora que fazendo se necess ria revelava minhas dificuldades Apre
15. cies de trabalhos acad micos onde a fun o das cita es verificar e documentar opini es e por isso podem ser relegadas em seguran a para as Notas O trabalho principal para Benjamin consistia em destacar fragmentos de seu contexto e comp los num novo arranjo de tal forma que se ilustravam mutuamente e eram capazes de provar sua raison d tre num estado de livre flutua o por assim dizer Era definitivamente uma esp cie de montagem surrealista Arendt 1969 p 47 Esse o lado bom da bibliografia O lado ruim que dar demasiada aten o a ela pode deformar o argumento que voc quer defender Suponha que existe uma verdadeira bibliografia sobre seu tema resultado de anos de ci ncia normal ou do que por extens o podemos chamar de conhecimento acad mico normal Todos os que trabalham com o tema concordam sobre os tipos de perguntas que devem ser feitas e os tipos de respostas que podem ser aceitas Se voc quiser escrever sobre o tema ou mesmo usar aquele assunto como material para um novo tema provavelmente ter de lidar com a antiga abordagem mesmo que a considere totalmente alheia a seus interesses Se levar demasiado a s rio a antiga abordagem pode deformar o argumento que quer desenvolver pode distorc lo a fim de encaix lo dentro da abordagem dominante O que entendo por distorcer o argumento o seguinte O que voc quer dizer tem uma certa l gica que deriva do encadeamento de escolhas que voc fe
16. como algumas pessoas sofriam tal desmascaramento em muitas reas da vida provavelmente poder amos encontrar profissionais que lidavam com esses problemas de maneira mais geral Ele identificou a psiquiatria como uma disciplina dedicada a esfriar o nimo de pessoas cujas falsas pretens es tinham sido desmascaradas pela vida social Essa descoberta validou a met fora para muitos leitores Mas a met fora validou a si mesma por ser s ria por significar que essas outras situa es eram similares ao conto do vig rio em todos os aspectos grandes e pequenos As met foras anteriores que citei a partir de revistas sociol gicas n o eram s rias quanto a suas ramifica es Quando dizemos que um argumento cortante ou ferino a que instrumento estamos comparando e que material ele estaria supostamente cortando Quem cobre o terreno na vida real como o cobre quais s o os problemas de cobrir um terreno A literatura est sendo comparada a um corpo humano Significa que temos de procurar seu cora o seu f gado seu est mago seu c rebro Os autores jamais pretenderam que lev ssemos suas met foras t o a s rio As compara es feitas por essas met foras batidas n o t m mais vida para quem escreve e para quem l Uma met fora que funciona ainda est viva Quando voc a l ela lhe mostra um novo aspecto daquilo que voc est lendo mostra como esse aspecto aparece em algo que na superf cie muito
17. entusiasmo at que mencionei localizar e substituir Ele havia mudado o nome de um personagem em seu romance que acabou saindo com uma s rie de inexplic veis Johns que tinham passado despercebidos na hora de troc los por Jim Outro recurso de alguns programas que me agrada muito a contagem de palavras D o comando e descubra quantas palavras voc escreveu N o sou o nico escritor que gosta de se afagar constantemente calculando ou de fato contando quantas palavras j escrevi 2 146 neste cap tulo at aqui se voc estiver curioso Alguns escritores se imp em uma cota di ria Esse recurso lhe diz quando voc alcan ou sua cota sem a chatice f sica de contar as p ginas ou linhas e multiplicar por sua m dia de palavras Tudo isso qualquer adepto de computadores vai lhe dizer e qualquer novo usu rio vai tentar convenc lo Por que ent o escrever este cap tulo N s os proselitistas apresentamos o processador de texto como uma coisa id lica N o Os computadores tamb m geram desgaste A pior coisa a primeira coisa que os n o usu rios dizem temer perder algo que se escreveu Isso acontece quando a rede de uma universidade cai e perde tudo o que tinha na mem ria Voc mesmo pode perder o que acabou de fazer se n o entender direito os comandos da m quina e der alguma ordem que faz o computador apagar o arquivo em que estava trabalhando Os escritores se apegam mu
18. fazem algo parecido Infelizmente os principais usu rios das bases de dados s o empresas que usam o programa para manter um registro dos clientes dos estoques dos pedidos e das despesas J os acad micos precisam de algo mais flex vel algo que n o seja concebido para gerir uma quantidade enorme de materiais muito semelhantes n o t o talhado para quest es financeiras mais voltado para organizar ideias em andamento do que para classificar listas de correspond ncia por c digo postal Esses programas existem mas preciso desencav los entre a montanha de materiais concorrentes e ver se consegue us los para o que pretende Fiz isso por conta pr pria e fiquei contente com o resultado mas d para ver que o desenvolvimento de tal sistema ser algo que os acad micos v o querer fazer por conta pr pria gastando um tempo consider vel e um grande esfor o para conceber alternativas aos h bitos anteriores Becker Gordon e LeBailly 1984 discutem os crit rios para lidar com notas de campo e materiais similares em sistemas computadorizados Assim com um microcomputador provavelmente voc vai sentir que seu trabalho ficou mais f cil mas n o ser o mesmo trabalho e talvez voc n o economize nenhum minuto de seu tempo E isso sem falar dos jogos O que voc pode fazer com um computador 2007 Vinte anos depois tudo mudou novas m quinas novos programas novas possibilidades Os usu rios de computador que n o s o
19. ilustra es Era evidente que um livro sobre arte devia ser ilustrado Minha primeira experi ncia com essa possibilidade teve um pouco de travessura O American Journal of Sociology depois de muitas revis es aceitara um artigo meu chamado Artes e Of cios que mostrava como alguns elementos dos of cios artesanais tinham sido incorporados pelos mundos da arte Ao longo do artigo eu descrevia v rias obras de arte que ilustravam os argumentos de minha an lise Quando o artigo foi aceito liguei para a editora respons vel e perguntei se ela n o achava que seria conveniente ter algumas ilustra es O AJS quase nunca publicava imagens a n o ser retratos dos membros falecidos do Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago e creio que imaginei que ela seria contr ria e a eu poderia me sentir discriminado Naturalmente ela respondeu que iria consultar o editor e o gr fico mas achava que eles concordariam como de fato aconteceu Agora eu tinha mais trabalho a fazer precisando encontrar imagens que realmente ilustrassem o que eu queria dizer e cujas reprodu es n o sa ssem caras demais O texto mencionava uma escultura cer mica de Robert Arneson um bule de ch cujo bico era um p nis e uma fotografia de uma mulher nua feita por Edward Weston Pensei que talvez surgisse algum problema por causa delas a foto de Weston mostrava os pelos do p bis o que apenas a Playboy tinha feito em poca recente mas mais uma v
20. o fazer seu trabalho s o de longo alcance e muito mais penosas Voc n o precisa come ar escrevendo um livro Escrever qualquer coisa cartas registros num di rio bilhetes j vai ajudar a eliminar um pouco do perigo e do mist rio da escrita Escrevo um monte de cartas Tamb m escrevo bilhetes para mim mesmo e para pessoas com quem trabalho ou partilho algum interesse Examino esses documentos fortuitos praticamente isentos de qualquer censura em busca de ideias que n o chegaram a ser plenamente formuladas mas que talvez sejam interessantes e em busca de algum in cio para coisas mais s rias Uma segunda li o deste livro impl cita em todos os cap tulos e expl cita na maioria deles que a escrita uma atividade organizacional em resposta s imposi es oportunidades ou incentivos que lhe s o apresentados pela organiza o na qual voc escreve Assim outra raz o para que essas dicas talvez n o aprimorem sua maneira de escrever que a organiza o na qual voc trabalha exija uma reda o ruim V rios cientistas sociais e outros acad micos insistem comigo que n o conseguiriam que seus textos fossem aceitos por professores peri dicos e editoras se estivessem redigidos no estilo simples que defendo Ver a carta de Hummel e Foster ao editor sobre o Cap tulo 1 citada anteriormente N o creio que seja uma verdade geral mas sem d vida pode ser verdade em certas ocasi es e em algumas organiza es Orwe
21. palavras chave que os peri dicos geralmente pedem que os autores forne am Voc monta uma lista s talvez nem tendo lido todos os t tulos e acrescenta ao final de seu manuscrito como apoio de sua revis o bibliogr fica que tem se tornado cada vez mais um exerc cio ritual para garantir que n o deixou de fora nada que algu m possa achar que voc deveria ter inclu do Mas os computadores n o trazem apenas vantagens na bibliografia De um lado facilitaram as coisas para os autores assoberbados por outro lado dificultaram as coisas para os leitores assoberbados Como ficou mais f cil compilar longas listas de refer ncias gra as s buscas pelo computador os autores incluem muito mais materiais do que os efetivamente relacionados com seus argumentos Tenho um indicador simples que me mostra quando uma refer ncia no texto pouco importante e pode ser ignorada sem problemas Se a cita o no texto inclui p ginas espec ficas se menciona Becker 1986 p 136 9 imagino que o texto indicado realmente diz algo pertinente sobre a quest o tratada pelo autor Mas se a men o se resume a Becker 1986 remetendo ao livro inteiro tenho bastante seguran a de que n o vem ao caso e at desconfio que o autor nunca tenha chegado a ler Becker 1986 apenas encontrou a refer ncia numa pesquisa bibliogr fica e achou prudente inclu la Afinal n o custa nada O que antes se destinava a ajudar os leitores acad micos que quer
22. Cap tulo 3 Mas e se o que muito pior sabendo que qualquer organiza o da realidade que voc fa a provavelmente estar incorreta de alguma maneira voc simplesmente n o conseguir organiza o nenhuma Esta a causa mais profunda da ansiedade que aflige os escritores ao come ar E se n o conseguirmos simplesmente n o conseguirmos extrair alguma ordem daquele caos N o sei quanto aos outros mas eu quando come o um novo artigo tenho os sintomas f sicos cl ssicos da ansiedade tonturas peso na boca do est mago calafrios s vezes at suores frios As duas possibilidades uma t o ruim quanto a outra a de que o mundo n o tenha nenhuma ordem real ou se tem que eu n o consiga encontr la nem agora nem nunca s o filosoficamente quase religiosamente assustadoras O mundo pode ser um caos sem sentido mas uma posi o filos fica com a qual n o muito f cil conviver E essa possibilidade fica bem palp vel quando n o se consegue conceber a primeira frase de um texto Tenho algum rem dio para a doen a que descrevi Sim e n o Muitas outras atividades em especial os esportes geram medos paralisantes que impedem as pessoas de come ar O conselho dos especialistas nessas reas sempre o mesmo Relaxe e fa a Voc n o conseguir vencer o medo se n o fizer a coisa que o atemoriza e s ent o descobrir que n o era t o perigosa quanto voc imaginava Assim a solu o para escrever algo que n
23. Everett refor ou minha vontade de escrever um texto claro e compreens vel que soasse como ingl s do come o ao fim O ltimo passo para minha ades o definitiva ao trabalho s rio de reescrita se deu quando Blanche Geer se juntou a n s dois Hughes e eu num estudo sobre os estudantes de medicina Ela levava muito a s rio a quest o da reda o e me ensinou a respeito com s rias discuss es sobre cada palavra nos rascunhos que est vamos fazendo Tivemos debates maravilhosos e intermin veis sobre por exemplo perspectiva palavra e ideia central para o aparato te rico de nosso estudo A quest o era o verbo que usar amos As pessoas adotavam ou tinham uma perspectiva Ou ser que usavam uma perspectiva As conota es de cada termo eram diferentes e agora que nos concentr vamos nelas dava para discerni las com clareza A quest o n o era qual palavra estava certa mas o que quer amos dizer Chegamos aos problemas por vias estil sticas mas ao final tivemos de resolv los teoricamente Nossas discuss es me ensinaram que a maneira de dizer as coisas era realmente importante e que t nhamos escolha Tamb m me ensinaram que era divertido reescrever uma esp cie de quebra cabe a verbal cujo objetivo era encontrar um modo realmente bom e conciso de dizer algo com clareza Estas conversas com Geer me levaram a concluir minha convers o pr tica s ria da reda o e entre todas as experi ncias que tive
24. a cria o de uma nova classe dirigente baseada num conceito de sabedoria herdada e esse conceito t o corrente agora quanto dois mil anos atr s Horowitz 1975 p 398 9 Horowitz tamb m observa que a luta entre o intelectual e o manual essencialmente uma forma simb lica de representar a luta de classes essencialmente uma divis o entre grandes for as disputando recursos escassos p 404 Ao aceitarmos as distin es entre manual e intelectual somos levados a ignorar o aspecto f sico do escrever No entanto o fato de ser uma atividade mental n o significa que a escrita se restrinja a isso Como qualquer outra atividade ela tem um lado f sico e esse lado afeta a parte do pensamento mais do que costumamos admitir Alguns por exemplo escrevem aos jorros Eu tamb m s vezes sentando mesa por oito ou dez horas seguidas despejando v rios milhares de palavras numa maratona interrompida apenas pelas refei es pelo caf pelo telefone e pelo banheiro Isso nos ensina como r pida a reda o em termos f sicos Voc nota isso pela dor nos bra os e nas costas e pelos estalos na nuca no dia seguinte A concep o convencional da escrita faz uma distin o entre a parte da reflex o que traz prest gio e a parte f sica que n o traz Na linguagem comum fazemos essa distin o falando em escrever quando nos referimos prestigiosa parte mental e datilografar ou digitar quando nos refe
25. a inserir aquela estrutura no que estou escrevendo Sem recortar sem colar muito mais f cil e por isso me dou a esse trabalho N o interrompo o fluxo do pensamento para fazer tarefas manuais Na hora em que imprimo minha primeira vers o bruta tenho o que antes do computador seria minha terceira ou quarta vers o A mudan a em meus h bitos ilustra uma coisa sobre a qual as pessoas que escrevem sobre computadores costumam mentir sistematicamente Mentir talvez seja uma palavra forte demais e mistificar tamb m d a impress o de que a falsa imagem seria mais intencional do que provavelmente Mas de fato essa falsa imagem dificulta perceber como realmente trabalhar com computador Ela esconde uma coisa essencial qual seja que para aproveitar os benef cios de seu computador voc ter de mudar bastante sua maneira de pensar e se tornar um aficionado por computadores como jamais imaginou ou pretendeu ser Todos os artigos sobre Como Comprar um Computador d o o mesmo conselho Veja o que voc quer fazer com seu computador escrever cartas ou livros controlar as contas fazer previs es or ament rias jogar Ent o procure o software Veja quais programas fazem exatamente o que voc quer Ent o compre o computador que rode esses programas O conselho parece sensato Mas n o h como segui lo por raz es intr nsecas aos computadores e aos nossos motivos para us los O conselho pressup e que voc j sab
26. aplicado de maneira met dica ainda ficam merc de correntes fortes e incalcul veis de vendavais repentinos durante as mon es e de recifes desconhecidos E aqui entra a magia deles que executam sobre a canoa durante sua constru o realizam no come o e durante as expedi es e qual recorrem em momentos de verdadeiro perigo p 30 1 Assim como os marinheiros trobriandeses os soci logos que n o conseguiam lidar racionalmente com os perigos de escrever usavam sortil gios m gicos que os livravam da ansiedade embora n o afetassem o resultado Ent o perguntei turma o que voc s tanto temem n o conseguir controlar racionalmente a ponto de usarem todos esses rituais e f rmulas m gicas N o sou freudiano mas achei que eles teriam resist ncia em responder N o n o tiveram Pelo contr rio falaram bastante sobre isso e com muita franqueza Para resumir o extenso debate que se seguiu eles tinham medo de duas coisas Temiam n o conseguir organizar seus pensamentos que escrever fosse ser uma confus o t o grande que ficariam doidos Falaram de um segundo medo que o que escrevessem estivesse errado e que as pessoas n o especificadas iriam rir deles Isso pelo visto explicava um pouco mais o ritual Outra mo a que tamb m escrevia em blocos de papel of cio amarelo pautado sempre come ava na segunda folha Por qu Bom disse ela se algu m passasse por ali dava para abaixar a folha de cima e tampar o
27. aqui todos os tipos Um estudo propriamente dito come aria com uma an lise completa das principais vozes que os acad micos e intelectuais usam para escrever Esse estudo ambicioso vai al m das necessidades deste livro V rios cientistas sociais j come aram a tarefa Al m de Clifford 1983 veja Geertz 1983 sobre antropologia e McCloskey 1983 e McCloskey num artigo in dito sobre economia Essa an lise das personae pode sugerir que h algo de ileg timo em falar com essas diferentes vozes Bom claro que voc pode usar esses recursos de modo ileg timo para disfar ar impropriedades do argumento ou dos dados Mas de modo geral em parte aceitamos um argumento quando est claro que o autor conhece a rea inclusive o nome dos presidentes do Sindicato dos Padeiros ou tem uma cultura geral sofisticada que respeitamos e isso se n o l gico ao menos plenamente razo vel Um autor n o pode ser ningu m ent o todo autor necessariamente algu m Pode ser algu m que os leitores respeitam e em quem acreditam A lista de personae dispon veis varia entre as disciplinas acad micas pois uma das fontes das personae s o professores ou personalidades famosas na rea Admirando os professores os estudantes imitam n o s seus maneirismos pessoais mas tamb m a maneira como escrevem sobretudo quando esse estilo projeta uma personalidade caracter stica Assim muitos fil sofos adotaram a persona arrogante desconfiada hes
28. cie de fluxo de consci ncia que s para ter as ideias ali Ainda continua a ser um risco tremendo porque quem l pode n o esperar uma linguagem maravilhosa ou frases elegantes mas vai esperar ideias magn ficas De certa forma ainda mais assustador O que est em jogo s o as ideias n o a habilidade em escrever Quantas vezes a gente n o ouve dizerem Bom talvez n o escreva muito bem mas puxa vida ela genial Tudo bem escrever como caloura de faculdade se voc for genial Se voc pede para lerem um rascunho de trabalho o que voc est pedindo que julguem sua capacidade de pensar sociologicamente Est pedindo que avaliem se voc inteligente ou n o e se soci loga de verdade ou n o Se n o h nenhuma grande centelha nenhuma ideia muito interessante o que o leitor vai concluir Que voc burra E se ele contar para outra pessoa voc est condenada Da o medo de deixar que algu m veja um rascunho N o consigo encarar a hip tese de me acharem burra A maioria desses aspectos tamb m se aplica a deixar outros soci logos n o seus iguais verem seu trabalho mas com algumas diferen as H vezes em que mostrar seu trabalho a colegas mais graduados parece ainda mais perigoso do que mostrar a seus iguais Digamos que voc apenas auxiliar de ensino sem estabilidade Qual a consequ ncia pr tica de ficar conhecida como desleixada cen rio 1 acima ou tapada cen rio 2 E se os docent
29. computador ajudavam a contornar o problema Voc escolhia palavras chave e marcava as fichas de tal forma que conseguia encontrar todas as que traziam aquela palavra chave As fichas com os cantos perfurados serviam exatamente para isso Antigamente quando estava escrevendo minha tese de doutorado eu tinha uma caixa bem grande cheia de fichas de indexa o cada uma com as notas de algum livro ou artigo que eu tivesse lido N o eram fichas comuns Eram avan ad ssimas Para me ajudar a navegar no conjunto de suas associa es m tuas as fichas tinham buraquinhos nas beiradas Em cada ficha usando um furador especial eu fazia um talho na beirada com um ou mais orif cios correspondendo a uma palavra chave ou ideia tratada naquele livro ou artigo Para fazer a busca das fichas associada a determinada palavra chave dentro da caixa eu enfiava uma agulha de tric naquele orif cio suspendia e sacudia as fichas Todas as fichas que ca am da agulha em cima da mesa ou no ch o continham aquela palavra chave Para fazer uma busca E ou eu simplesmente repetia o procedimento com as fichas ca das ou as fichas na agulha respectivamente Neuberg 2006 In meros aplicativos descritos entre outras formas como administradores de conte do preservam a liberdade da ficha 7 5 x 12 5 sem a limita o do formato Voc escreve num espa o em branco qualquer coisa que escreveria na ficha Pode vistoriar sua cole o des
30. descri o impessoal da conduta t pica e afirma es da ordem de Eu presenciei e Nosso grupo vindo do norte Segundo ele tais recursos funcionam para reivindicar uma autoridade conferida pela experi ncia baseada numa sensibilidade ao contexto estrangeiro numa esp cie de compreens o e percep o do estilo de um povo ou de um lugar A alega o de Margaret Mead de captar o esp rito ou o princ pio subjacente de uma cultura por meio de uma elevada sensibilidade forma ao tom ao gesto e aos estilos de comportamento ou a nfase de Malinowski sobre sua vida na aldeia e a compreens o derivada das imponderibilia os imponder veis da exist ncia cotidiana s o casos ilustrativos Clifford 1983 p 128 Os cientistas sociais que fazem trabalho de campo ao estilo da antropologia usam recursos semelhantes para exibir uma persona que reivindica autoridade baseando se no conhecimento ntimo Um exemplo cl ssico a descri o de William Foote Whyte 1943 p 14 25 em seu estudo sobre o boliche e os desempregados que todos os soci logos conhecem Apresentei algumas amostras de reda o com classe de Rosanna Hertz muito mais dif cil dar exemplos de reda o que projetam a persona de autoridade O texto s ter esse car ter de autoridade na rela o com um determinado p blico Se o autor fornece o nome do primeiro presidente do Sindicato dos Padeiros e cita a data de aprova o da L
31. diferente Usar uma met fora um exerc cio te rico s rio em que voc afirma que dois fen menos emp ricos diferentes pertencem mesma classe geral e classes gerais sempre implicam uma teoria Mas as met foras s funcionam dessa maneira se tiverem frescor suficiente para atrair a aten o Se j foram usadas e repetidas a ponto de se tornarem clich s voc n o v nada de novo Na verdade voc pensa que elas significam realmente literalmente aquilo a que aludem de maneira metaf rica Veja a express o inglesa comum to take the wind out of someone s sails ao p da letra tirar o vento das velas de algu m Usei li e ouvi essa express o por anos a fio mas para mim sempre significou apenas que voc esvaziava desinflava de alguma maneira a outra pessoa a quem voc fazia tal coisa E a aprendi a velejar Nas corridas a vela os advers rios tentam se interpor entre a gente e o vento e assim a vela deles impede que o vento bata na nossa Quando conseguem se interpor nossas velas que logo antes estavam enfunadas e faziam nosso veleiro avan ar depressa de repente ficam frouxas e come am a pender no vazio A fric o do casco na gua agora que n o tem vento impelindo faz o veleiro parar de uma hora para outra A met fora ganhou vida para mim relembrando em toda a sua plenitude uma experi ncia irritante Mas a met fora significa pouco ou nada para quem n o teve essa experi ncia Todas as met foras
32. dizer Mas imitar um trabalho bem feito principalmente seu formato ou organiza o uma tima forma de encontrar as maneiras certas poss veis Os cl ssicos tamb m servem como tarefas de desenvolvimento para os iniciantes mostrando lhes como as coisas s o muito mais complicadas do que eles pensavam e elevando os ao n vel de sofistica o corrente em sua rea Geralmente essa fun o que as pessoas t m em mente quando falam sobre as vantagens de estudar para os exames de qualifica o Provavelmente ela contribui para o modo irracional de enxergar a bibliografia e para o enfadonho ritualismo das revis es bibliogr ficas que enfeitam tantos trabalhos acad micos Stinchcombe designa um ltimo uso dos cl ssicos como pequena mudan a intelectual Voc cita Weber Durkheim ou Yankel tal como usa o vocabul rio codificado de uma determinada escola para mostrar a que linha voc se filia Para isso precisa usar nomes bastante conhecidos Imagine se nossos crach s para a conven o ele se refere ao encontro anual da Associa o Americana de Sociologia trouxessem nossos nomes nossas institui es e nosso autor cl ssico favorito O meu traria Stinchcombe Universidade do Arizona Max Weber Agora suponha num lance de preciosismo que eu escreva Stinchcombe Universidade do Arizona Paul Veyne Ele no momento a pessoa que mais me entusiasma intelectualmente e encarna as mesmas virtudes de Max Weber
33. e querem que seus textos se pare am com eles que fiquem daquela maneira na p gina Isso provavelmente explica por que a reda o acad mica se deteriora com tanta frequ ncia medida que os estudantes passam pela p s gradua o e ingressam na carreira Leem os peri dicos especializados e querem que seus artigos se pare am com o que leem por raz es que j apresentei Isso sugere que existe um rem dio muito eficaz para a escrita acad mica ruim leia fora de sua rea profissional e quando for escolher escolha bons modelos N o estamos presos para todo o sempre aos crit rios de gosto que adquirimos quando entramos em nossa rea Na verdade mudamos esses crit rios a um grau consider vel mesmo no curto prazo Desenvolvemos nosso gosto n o apenas com a leitura mas tamb m com o que nossos amigos e colegas nos dizem ou o que tememos que eles nos digam Um colega meu quando escrevia receava a possibilidade bastante improv vel de que seu tipo de prosa fosse parar no final de uma coluna da New Yorker como pavoroso exemplo de escrita acad mica Esses receios podem levar uma v tima sens vel a estudar um livro de estilo para incorporar a seus crit rios de gosto a heur stica recomendada no livro Mas em sua maioria os cientistas sociais e provavelmente qualquer escritor acad mico n o ouvem muitos coment rios cr ticos sobre seu tipo de texto ou se ouvem n o da parte de algu m a quem devam prestar aten o J que po
34. ela autorizaria sua publica o neste volume em seu nome Fico contente que tenha concordado Nem de longe eu conseguiria dizer t o bem 1 Introdu o reda o para estudantes de p s gradua o Um caso e duas teorias DEI V RIOS SEMIN RIOS sobre reda o para estudantes de p s gradua o Isso exige uma certa cara de pau Afinal quando se ensina um assunto sup e se que a pessoa saiba alguma coisa a respeito Como eu escrevia profissionalmente como soci logo fazia quase trinta anos isso me dava alguma base Al m disso v rios professores e colegas n o s tinham feito reparos a meu tipo de texto mas tamb m me ensinaram in meras maneiras de melhor lo Por outro lado todo mundo sabe que os soci logos escrevem muito mal e o pessoal de literatura diante de um texto ruim faz piada dizendo que sociologia como os comediantes de vaudeville costumavam arrancar risadas dizendo Cucamonga ver por exemplo a cr tica de Cowley 1956 e a r plica de Merton 1972 A experi ncia e as li es n o me salvaram das falhas que ainda divido com meus colegas Apesar disso aproveitei a ocasi o motivado pelas hist rias dos problemas cr nicos que discentes e colegas docentes enfrentavam na escrita Ofereci o curso O perfil dos inscritos na primeira turma me surpreendeu Al m dos dez ou doze p s graduandos que se matricularam a turma tinha tamb m uns dois ou tr s pesquisadores em p s doutorad
35. encerrava essa fase e estava pronto para o copidesque detalhado que descrevi no Cap tulo 4 Os softwares de planejamento do computador tornaram antiquado esse m todo ma ante e demorado No primeiro tipo de planejador que usei voc criava t picos frases ou express es anunciando o texto que esperava redigir sobre aquilo escrevia o texto explicativo e desenvolvia o texto sugerido pelo t pico rec m criado e mais importante mudava os t picos de lugar com o mouse Podia tamb m escrever primeiro o texto e depois criar o t pico correspondente Colocava o novo t pico abaixo acima ou no mesmo n vel do t pico anterior simplesmente movendo o para aquele lugar na tela Fazendo isso constantemente dava para ajustar e reajustar a estrutura l gica impl cita no plano geral adequando a estrutura ao texto de acompanhamento ou adequando o texto l gica sem cortar e colar nada nem mesmo como met fora digital daquele velho sistema Dito assim n o parece grande coisa Quer dizer e da Mas esse procedimento se liga ao modo de trabalhar que recomendei no Cap tulo 3 e continuo a recomendar Agora minha rotina come ar a escrever num software de planejamento alinhavando o que me vem cabe a Posso escrever o exemplo vem de minha atual pesquisa com Rob Faulkner sobre o repert rio do jazz discutido em Becker e Faulkner 2006a 2006b que alguns instrumentistas de jazz s o conhecidos por saber um monte de m sicas Este
36. errado visto que alguns dos melhores escritores em outras l nguas tamb m usam um estilo direto Analogamente Michael Schudson me perguntou e com boa dose de raz o como deveria escrever algu m que acredita que as estruturas rela es de produ o capitalistas por exemplo causam os fen menos sociais Esse te rico deveria usar constru es na voz passiva para indicar a passividade dos atores humanos envolvidos Essa pergunta requer duas respostas A mais simples que poucas teorias sociais s rias n o deixam nenhum espa o a o humana A segunda e mais importante que as constru es na voz passiva chegam a ocultar o papel de agente atribu do aos pr prios sistemas e estruturas Suponha se que um sistema rotula os desviantes Dizer os desviantes s o rotulados tamb m encobre isso Grande parte do que eliminamos do artigo de minha colega durante a aula consistia naquilo que para as finalidades do curso chamei de qualifica es furadas bullshit qualifications tomando como precedente legitimador a cr tica de Wayne Booth ao papo furado polissil bico de raiz grega Booth 1979 p 277 express es vagas indicando uma pronta disposi o a abandonar o aspecto apontado caso algu m fa a alguma obje o A tende a estar relacionado com B A talvez possa tender a estar relacionado com B em certas condi es e outras qualifica es igualmente t midas Uma qualifica o efetiva diz
37. es nada lineares que faziam sentido para ele Aquilo me deu e ainda me d uma sensa o de grande liberdade e isso fica f cil de fazer com alguns aplicativos que n o exigem nenhuma habilidade art stica Voc p e na tela onde quiser v rios gr ficos de diversos formatos quadrados circulares ovais s vezes em formatos que voc mesmo inventa e em diversas cores e usa um t tulo curto para identificar as pessoas as posi es ou as etapas do processo que eles representam Uma linha cheia pode indicar uma conex o temporal X vem antes de Y e leva a Z Uma linha tracejada pode indicar uma rela o causal X causa Y e causado por Z As linhas podem indicar rela es de parentesco ou fun es organizacionais qualquer coisa que voc queira ou precise Tudo isso transmitido numa linguagem visual que se capta rapidamente e facilita as descri es mais complicadas Um bom exemplo o gr fico dos processos de estabiliza o do desvio p 94 no Cap tulo 3 Quando voc clica nas formas pode aparecer um texto explicativo O formato do desenho pode comunicar o que voc quiser mesmo que voc seja o nico capaz de entender sua ferramenta de trabalho e muitos podem consider la uma boa maneira de pensar Voc tamb m pode us la para expor suas ideias a terceiros como uma vers o do velho quadro negro Planejadores outliners Eu nunca fazia um plano geral do que ia dizer antes de escrever o que sensa
38. escolhas feitas na revis o e na reescrita tamb m d o forma ao resultado Voc n o pode mais fazer qualquer coisa que queira mas h ainda in meras escolhas Essas outras quest es de linguagem organiza o e tom costumam dar muita dor de cabe a aos autores porque elas implicam outras tomadas de posi o al m das j feitas Se voc usa Durkheim para discutir ideias marxistas ou a linguagem dos levantamentos estat sticos para discutir um estudo etnogr fico provavelmente se ver trabalhando de modo contradit rio Foram essas confus es que causaram as dificuldades te ricas que encontramos em nossos exerc cios de revis o no semin rio Se voc come ar a escrever numa fase inicial da pesquisa antes de ter todos os seus dados por exemplo isso lhe permitir clarear mais cedo o pensamento Ao redigir um rascunho sem os dados fica mais claro o que voc quer discutir e portanto quais dados ter de reunir Assim o ato de escrever pode moldar seu plano de pesquisa diferente da no o mais corrente de que primeiro voc pesquisa e depois escreve dando o fecho uma extens o da ideia de Flower Hayes 1981 de que as fases iniciais da reda o levam os escritores a ver o que ter o de fazer nas fases posteriores Dar maior clareza ao trabalho levanta a quest o do p blico Para quem ele deve ser mais claro Quem ler o que voc escreve O que precisam saber para n o entenderem mal ou acharem que seu texto
39. escrevermos de outra maneira temos medo de que os outros nos flagrem em erros prim rios e riam de n s Melhor dizer algo in cuo mas seguro do que algo mais arrojado que voc talvez n o consiga defender contra as cr ticas Pois veja n o h problema em dizer A varia com B se for realmente o que voc quer dizer e faz todo sentido afirmar Penso que A causa B e meus dados sustentam essa afirma o mostrando a covari ncia deles Mas muitos usam essas express es para apenas sugerir asser es mais incisivas pelas quais simplesmente n o querem ser censurados Querem descobrir causas porque causas t m interesse cient fico mas n o querem a responsabilidade filos fica Todos os professores e manuais de reda o em ingl s criticam constru es na voz passiva substantivos abstratos e a maioria das outras falhas que citei N o inventei esses crit rios Na verdade aprendi em cursos de reda o Embora tais crit rios portanto sejam independentes de qualquer escola de pensamento acredito que minha prefer ncia pela clareza e pelo tom direto tamb m tem ra zes na tradi o da sociologia interacionista simb lica que concentra seu enfoque em agentes reais em situa es reais Meu colega brasileiro Gilberto Velho insiste que s o crit rios etnoc ntricos muito favorecidos na tradi o anglo americana do discurso direto justificando que o estilo indireto e mais floreado vem de tradi es europeias Penso que est
40. franca e assumidamente sociol gica apontando as ra zes dos problemas de reda o e suas possibilidades de solu o como quest es sociais e n o individuais Muitos dos problemas espec ficos que resultam na prosa retorcida e quase ileg vel que incomoda os leitores por ser acad mica ent o me pareciam derivados de preocupa es sociol gicas quando o autor quer evitar recorrer a afirmativas causais pois sabe que n o tem as provas exigidas por esse tipo de abordagem tratada no Cap tulo 1 Descobri que pessoas de muitas outras reas como hist ria da arte comunica o literatura e uma lista de extens o surpreendente tinham dificuldades semelhantes N o era nelas que eu havia pensado mas a carapu a serviu Desde o lan amento deste livro muitas coisas se mantiveram as mesmas Mas algumas mudaram e assim pensei que seria uma boa ideia falar um pouco sobre as transforma es e como elas afetam nossa situa o como escritores As principais mudan as se referem ao computador que naquela poca estava come ando a ser adotado por quem escrevia e agora se tornou de uso corrente Comento essas altera es com esp rito otimista nos acr scimos ao Cap tulo 9 Sobre as mudan as na organiza o das universidades e na vida acad mica sobre as quais tenho coisas menos otimistas a dizer falo no Cap tulo 10 Espero que com esses acr scimos voc continue a considerar esse livro pertinente para suas preocupa e
41. ideias porque n o sou t o inteligente N o suponho que o rei est nu nem que o autor n o claro devido a alguma confus o dele mesmo sobre o que tem a dizer Sempre suponho que minha incapacidade de entender ou que tem ali mais coisa do que sou capaz de entender Suponho que se saiu no AJS American Journal of Sociology por exemplo a chance de que seja bom e importante e se eu n o entendo o problema comigo visto que a revista j o legitimou Ela aponta mais uma quest o que outras pessoas tamb m mencionaram Os soci logos ver o aqui um exemplo espec fico do problema geral da socializa o nos mundos profissionais como tratado por exemplo em Becker e Carper 1956a e 1956b Os p s graduandos que est o aprendendo a ser acad micos sabem que ainda n o s o intelectuais de verdade assim como os estudantes de medicina sabem que ainda n o s o m dicos de verdade e procuram ansiosamente os sinais de avan o A sintaxe e o vocabul rio abstruso da prosa acad mica estereotipada fazem uma clara distin o entre leigos e intelectuais profissionais assim como a habilidade dos bailarinos profissionais de ficar na ponta dos p s os diferencia dos reles mortais Aprender a escrever como acad mico um passo a mais para ingressar naquela elite Pessoalmente acho a escrita acad mica ma ante e prefiro passar o tempo lendo romances mas o elitismo acad mico faz parte da socializa o de todos os estudantes de p
42. ideol gica como s vezes se diz sobre voc Se s o os autores que dominam aquele territ rio a abordagem deles parece natural e razo vel enquanto a sua abordagem h de parecer estranha e desarrazoada A ideologia deles controla como os leitores pensam sobre aquele tema Em decorr ncia disso voc ter de explicar por que n o fez aquelas perguntas e n o teve aquelas respostas Os defensores do argumento dominante n o precisam explicar sua incapacidade de olhar as coisas da maneira como voc olha Latour e Bastide 1983 tratam desse problema na sociologia da ci ncia Meu trabalho sobre o desvio me ensinou essa li o do jeito dif cil Quando comecei a estudar o uso da maconha em 1951 a pergunta ideologicamente dominante a nica pergunta que valia a pena examinar era Por que as pessoas fazem uma coisa esquisita dessas e a maneira ideologicamente preferida de responder a ela era apontar um tra o psicol gico ou um atributo social que diferenciava as pessoas que usavam maconha das que n o usavam A premissa subjacente era que as pessoas normais que n o tinham o estigma causal diferenciador que voc esperava descobrir n o fariam nada t o exc ntrico Parti de outra premissa a de que as pessoas normais fariam praticamente qualquer coisa se as circunst ncias fossem adequadas Isso significava que voc teria de descobrir quais eram as situa es e os processos que levavam as pessoas a mudar de opini o so
43. lio O objetivo descobrir o que voc gostaria de dizer em que voc veio a crer depois de todo aquele trabalho anterior no tema ou no projeto Aqui inventei como antes o expediente que os professores de composi o chamam de escrita livre apresentado extensamente em Elbow 1981 p 13 9 Se voc se dispuser a fazer isso Pamela Richards aborda as raz es para n o fazer no Cap tulo 6 chegar a algumas descobertas interessantes Se seguir as instru es e escrever qualquer coisa que lhe venha cabe a descobrir que n o disp e daquela quantidade desconcertante de op es que temia Tendo redigido seu trabalho voc ver que grande parte dele consiste em pequenas varia es em torno de pouqu ssimos temas Voc sabe o que quer dizer e tendo sua frente as v rias vers es ser f cil ver como s o triviais as diferen as entre elas Ou se houver diferen as efetivas o que muito raro agora voc enxergar claramente quais s o suas escolhas Esse mesmo truque ajuda os estudantes que est o empacados tentando montar um tema de disserta o Pe o que escrevam em apenas uma ou duas frases cem ideias diferentes para uma tese Poucos v o al m de vinte ou 25 quase sempre varia es sobre um mesmo tema at se darem conta de que t m apenas duas ou tr s ideias Se voc escrever assim geralmente descobrir chegando ao final do rascunho o que tem em mente Seu ltimo par grafo revela o que
44. lise em Becker Geer e Hughes 1968 p 80 92 Os autores tinham prova disso nos conselhos muitas vezes contradit rios que recebiam dos cr ticos um dizia para eliminarem alguma coisa enquanto outro sugeria que ampliassem a mesma se o Minha dica pr tica nesse aspecto era que os leitores n o s o adivinhos e assim quando a prosa de um autor confusa ou amb gua eles n o entendem de imediato o que se pretende dizer e criam suas pr prias interpreta es s vezes contradit rias Um problema frequente aparecia quando um autor come ava um artigo sugerindo que ia abordar o problema X e ent o passava a analisar de modo plenamente satisfat rio o problema Y erro t pico de um primeiro rascunho facilmente elimin vel na revis o Alguns cr ticos detectando a confus o sugerem que o autor refa a a an lise ou mesmo a pesquisa de modo que o artigo possa realmente abordar X J outros mais realistas dizem ao autor para reescrever a introdu o esclarecendo que o artigo trata de Y Mas os dois tipos de cr tica est o reagindo mesma confus o O autor n o precisa fazer o que eles dizem mas deve eliminar a confus o para n o gerar mais reclama es Outro problema que preocupava os participantes do semin rio era a coautoria e o exemplo surgiu na pr pria turma Perto do final do semestre quando hav amos cumprido toda a minha programa o e eu estava sem saber o que fazer para ocupar as horas restantes do curso sugeri
45. mais antigas t m montes de c modos com portas dentro deles n o faria nenhuma diferen a se eu usasse muitos em vez do mais coloquial montes de para Os c modos em casas mais antigas t m portas dentro deles E agora depois da publica o percebo que tamb m deveria ter eliminado dentro deles Mudei de acordo com o m todo acima descrito para pelo m todo acima descrito e a mudan a que ocorreu nas concep es de privacidade para a mudan a nas concep es de privacidade Passamos muito tempo em meu semin rio de reda o fazendo mudan as semelhantes em amostras de textos doadas por amigos colegas e por fim pelos pr prios estudantes De in cio os alunos acham dif cil entender por que depois de reescrever uma frase reescrevo outra vez e at uma terceira ou quarta vez Por que j n o fa o certo desde o princ pio Digo e tento lhes mostrar que cada altera o abre caminho para outras altera es e que quando eliminamos palavras e express es sem fun o fica mais f cil vermos do que trata a senten a e podemos reformul la de modo mais preciso e sucinto Eles tamb m se perguntam se faz realmente alguma diferen a ficar se detendo em quest es t o min sculas De in cio acham o exerc cio enfadonho e para ser sincero prolongo a primeira sess o de uma maneira imperdo vel Quero que vejam que sempre h algo mais a discutir alguma outra mudan a poss vel que po
46. nada mais Outros geralmente conhecidos como excelentes editores de texto enxergam o problema central e d o boas sugest es Evite os primeiros Procure estes ltimos Esses s o os conselhos sugeridos por uma teoria rudimentar sobre situa es profissionais e problemas de reda o que venho expondo O grupo do semin rio sempre interessado em conselhos teis muitas vezes me fazia pontificar sobre minha experi ncia pessoal Boa parte do que eu dizia em resposta a esses aliciamentos consistia em argumentos bem intencionados e provavelmente in cuos mas vale citar algumas preocupa es Os que dispunham de alguma experi ncia profissional e tiveram artigos rejeitados ou devolvidos para uma profunda revis o queriam saber como reagir cr tica Muitas vezes regrediam a uma rea o de aluno de escola Vou ter de fazer assim e assado s porque eles disseram s vezes pareciam artistas cujas obras primas tinham sido malhadas por filisteus Davam a impress o de regredirem quela atitude que acompanha a maioria dos estudantes ao longo da gradua o quela ideia de que eles s o arbitr rios n o t m nenhum crit rio de fato decidem as coisas como lhes d na veneta Se as autoridades realmente n o usam nenhum crit rio est vel voc n o tem como lidar com suas cr ticas de maneira racional examinando seu texto para ver o que necess rio em vez disso precisa descobrir e providenciar o que elas querem Ver a an
47. nas discuss es sobre a vida social e outros temas acad micos n veis e posi es em organiza es sociais por exemplo engana os leitores sem dar especificidades concretas O mesmo acontece com frases que sugerem que o que estamos descrevendo faz parte de um conjunto de coisas similares um jogo de uma esp cie de Tamb m usamos abstra es para indicar a aplica o geral de nosso pensamento N o queremos que ningu m pense que o que descobrimos s vale para os professores do ensino p blico de Chicago ou de um hospital mental em Washington Queremos que as pessoas entendam que o que descobrimos onde fizemos nossa pesquisa pode ser encontrado em circunst ncias semelhantes em qualquer parte do mundo em qualquer poca da hist ria N o h nada de errado nisso uma grande raz o para fazer pesquisas sociol gicas A melhor maneira de convencermos os leitores sobre a generalidade de nossos resultados descrever o que estudamos em detalhes espec ficos e ent o mostrar com o mesmo detalhamento a que classe de coisas pertence nosso objeto de estudo e quais as outras coisas que provavelmente pertencem a essa classe Se eu mostro detalhadamente como as pessoas aprendem a fumar maconha com os outros e como isso afeta sua experi ncia dos efeitos da droga posso avan ar e descrever uma classe de fen menos similares com especificidade similar como as pessoas aprendem com os outros a entender suas experi ncias f sicas
48. natureza insol vel do problema como geralmente definido pelas pessoas Voc n o pode falar sobre tudo ao mesmo tempo por mais que queira por mais que lhe pare a ser a nica maneira Pode claro resolver o problema No final todo mundo resolve E resolve por exemplo pegando as rela es entre os professores e os outros grupos e dizendo que h tamb m tal outra maneira de ver a coisa que explicar mais adiante N o bem uma substitui o mais uma esp cie de promiss ria Os escritores consideram a organiza o do texto um problema tamb m porque imaginam que apenas uma das maneiras a Certa N o se permitem ver que todas as v rias maneiras de organiza o em que conseguem pensar t m algum m rito e que nenhuma perfeita Quem acredita na perfei o plat nica n o gosta de concess es pragm ticas e s as aceitam quando a realidade os obriga a isso por exemplo a necessidade de terminar um artigo ou uma tese Mas os escritores t m raz es mais imediatas para se preocupar al m de n o saberem qual seria a nica Maneira Certa No come o n o sabem sequer quais s o aquelas unidades menores os fragmentos a partir dos quais se construir o resultado final Outra raz o que n o fazem muita ideia das maneiras poss veis que poderiam adotar N o sabem por exemplo que podem escolher organizar seu argumento discutindo tipos de escolas ou tipos de rela es de trabalho T m uma vaga ideia de que uma co
49. no estudo sobre a maconha quinze anos depois ver a discuss o em Becker 1967 e 1974 Use a bibliografia n o deixe que ela o use 9 Usando o computador para escrever Em 1986 dei ao Cap tulo 9 deste livro o t tulo de Desgaste e processador de texto Abordei a experi ncia de usar o computador para escrever coisa que na poca era relativamente nova Havia muita gente fazendo isso e parecia que a coisa ia pegar Mas havia muitas esperan as e temores irrealistas sobre o assunto Fui um adepto relativamente precoce Alguns soci logos quantitativos tinham se acostumado a trabalhar com computador ao lidar com grandes volumes de dados num ricos mas praticamente nenhum cientista social que fazia entrevistas e pesquisas de campo adotara a ferramenta t o identificada com estilos de trabalho estat sticos Tive a sorte de contar com um guru Andy Gordon colega no corpo docente da Northwestern que havia trabalhado com computadores de grande porte na p s gradua o e estava convencido de que o microcomputador iria trazer toda aquela pot ncia ao alcance de todos os que se dispusessem a encarar o trabalho de se familiarizar com ele Ele me persuadiu encarei recebi meu primeiro Apple II e fui fisgado pelo resto da vida Boa parte do cap tulo de 1986 foi escrito quando eu estava entusiasmado com aquela descoberta e certamente vai parecer estranho aos leitores que cresceram com tais m quinas Pensei em deixar o texto como docu
50. o mudar removo Muitas vezes a elimina o me faz ver o que eu realmente queria ali e ponho de volta Raramente tiro palavras desnecess rias nos rascunhos iniciais Vou chec las na hora de reescrever e a vou elimin las ou substitu las por palavras que funcionem 3 Repeti o Os acad micos criam algumas de suas obscuridades mais impenetr veis quando tentam ser claros Eles sabem que a vagueza pronominal e a ambiguidade sint tica podem obscurecer o que querem dizer e assim caso haja alguma possibilidade de confus o repetem palavras e express es Isso pode n o confundir os leitores mas geralmente provoca t dio N o estou apenas repetindo a regra mec nica que todos aprendemos na escola n o repita a mesma palavra ao longo de tantas ou tantas frases Talvez voc precise fazer isso mas n o deve repetir palavras quando pode obter o mesmo resultado sem a repeti o Lembre minha frase Um banco parece diferente quando ocupado por um faxineiro do que quando ocupado por banc rios N o preciso repetir quando ocupado o que dispersa a aten o do leitor Se eu repensar a frase posso formular de modo mais compacto e interessante como tentei fazer naquele exemplo 4 Estrutura conte do Os pensamentos transmitidos numa frase geralmente t m uma estrutura l gica afirmando ou implicando algum tipo de conex o entre as coisas de que a frase trata Podemos querer dizer que alguma coisa se parece ou realm
51. o dispostas a pagar o desaforo que n o v o aguentar That s the bottom line As pessoas que dizem isso n o sabem ou n o lembram que a express o tem um referente financeiro Provavelmente usam a express o porque gostam do tom definitivo que h em bottom implicando um ponto al m do qual voc n o pode ir N o podemos e nem o caso de tentarmos evitar o uso de outro tipo de met fora aquelas inseridas em nossa l ngua de maneira permanente que Lakoff e Johnson 1980 analisaram detalhadamente Darei apenas um exemplo daquelas que eles chamam de met foras orientacionais visto que a maioria delas tem a ver com uma orienta o espacial cima baixo dentro fora frente verso fundo raso central perif rico Essas orienta es espaciais se devem ao fato de termos o tipo de corpo que temos que funciona do jeito que funciona em nosso ambiente f sico As met foras orientacionais d o a um conceito uma orienta o espacial por exemplo Happy is up O fato de que o conceito de feliz happy seja orientado para o alto up leva a express es em ingl s como I m feeling up today Hoje estou me sentindo para cima p 14 Lakoff e Johnson prosseguem para mostrar a ubiquidade de uP alto e DOWN baixo e seus correlatos em nossa fala consciente up inconsciente down sa de e vida s o up doen a e morte s o down ter controle ou for a up estar submetido a controle ou for a down mais up me
52. o havia nenhum sentido por tr s delas Estavam ali para preencher o espa o marcando um lugar onde o autor deveria dizer algo mais simples mas no momento n o tinha nada simples para dizer Mesmo assim esses lugares tinham de ser preenchidos pois do contr rio o autor ficaria com a frase pela metade Os escritores usavam essas express es e frases sem sentido n o por um simples capricho ou porque tinham cacoetes indesej veis na escrita Certas situa es exigiam a presen a delas para preencher espa o Os escritores costumam usar express es sem sentido para encobrir dois tipos de problemas Ambos refletem s rios dilemas da teoria sociol gica Um dos problemas tem a ver com o agente quem fez as coisas que a frase afirma que foram feitas Muitas vezes os soci logos preferem locu es que n o d o uma resposta clara a essa pergunta em larga medida porque muitas de suas teorias n o lhes dizem quem est fazendo o qu Em diversas teorias sociol gicas as coisas simplesmente acontecem sem serem feitas por ningu m dif cil encontrar um sujeito para uma frase quando est o operando for as sociais mais amplas ou processos sociais inexor veis Quando se evita dizer quem fez tal ou tal coisa surgem dois defeitos t picos da reda o sociol gica o costume de usar a voz passiva e substantivos abstratos Se voc diz por exemplo que os desviantes foram rotulados n o precisa dizer quem os rotulou um erro
53. o que entrou em sua confec o posso explicar por que escrevi de tal ou tal maneira quais eram os problemas e como escolhi as solu es N o posso fazer isso com o trabalho de mais ningu m Visto que venho escrevendo textos sociol gicos h mais de trinta anos muitos estudantes e jovens profissionais leram partes da minha obra e os leitores do manuscrito deste livro disseram que foi bom saber que certas passagens me incomodavam e me confundiam tal como tamb m acontece com eles diante de seus textos Por essa raz o dediquei um cap tulo a minhas experi ncias pessoais como escritor O Cap tulo 1 apareceu de in cio numa forma levemente diferente em The Sociological Quarterly 24 outono de 1983 p 575 88 e foi reimpresso aqui com a permiss o da Midwest Sociological Society Agrade o a todos os que me ajudaram especialmente al m dos estudantes dos cursos que ministrei a Kathryn Pyne Addelson James Bennett James Clark Dan Dixon Blanche Geer Robert A Gundlach Christopher Jencks Michael Joyce Sheila Levine Leo Litwak Michal McCall Donald McCloskey Robert K Merton Harvey Molotch Arline Meyer Michael Schudson Gilberto Velho John Walton e Joseph M Williams Fa o um agradecimento especial a Rosanna Hertz por escrever a carta que motivou o cap tulo Persona e autoridade e por me permitir cit la t o extensamente Uma carta que Pamela Richards me escreveu sobre os riscos era t o completa que lhe perguntei se
54. o vai dominar o caos plenamente de modo l gico e exaustivo escrever mesmo assim e ao terminar descobrir que o mundo n o se acabou Uma maneira de fazer isso iludir a si mesmo e se for ar a pensar que o que voc est escrevendo n o tem import ncia e n o faz diferen a nenhuma uma carta para um velho amigo talvez Eu sei como iludir a mim mesmo mas n o sei como os outros podem fazer Ent o meu conselho para por aqui A nica maneira de come ar a nadar entrando na gua S Apavorado com a bibliografia Como EU DISSE ANTES muitas vezes os estudantes e outros falam em usar esta ou aquela abordagem acho que vou usar Durkheim como se pudessem selecionar livremente as teorias Na verdade quando come am a escrever sobre suas pesquisas j fizeram muitas escolhas de detalhes que na hora pareciam de pouca import ncia mas que estreitavam suas escolhas te ricas Decidiram as quest es que iriam investigar Elegeram uma maneira de coletar informa es Optaram entre v rias pequenas alternativas de t cnicas e procedimentos quem entrevistar como codificar os dados quando parar Conforme faziam essas escolhas dia ap s dia aumentaram gradualmente seu compromisso com uma determinada maneira de pensar respondendo de modo mais ou menos seguro s perguntas te ricas que pensavam eles ainda estariam sua disposi o Mas os cientistas sociais e sobretudo os estudantes de ci ncias sociais ficam agita
55. obscuro ou inintelig vel Voc escrever de uma determinada maneira para as pessoas com quem trabalha num projeto conjunto de outra maneira para profissionais de sua sub rea de outra ainda para profissionais de outras disciplinas e reas de especializa o e de outra para o leigo instru do Como saber o que os leitores v o entender Voc pode mostrar seus rascunhos iniciais a algumas pessoas do p blico em vista por amostragem e perguntar o que acham Foi isso que os participantes do semin rio julgaram t o dif cil e assustador pois ao mostrar um rascunho s pessoas ficariam expostos ao rid culo e vergonha Assim a recomenda o embora seja simples talvez n o seja exequ vel Voc s consegue mostrar seu trabalho falho se tiver aprendido como eu esperava que aprendessem com nossos exerc cios em sala de aula que n o sair ferido se outros o lerem Naturalmente nem todos s o um bom p blico para ler rascunhos Descobrimos isso naquele copidesque m tuo Alguns tendo dificuldade em tratar um rascunho como rascunho insistem em critic lo como se fosse um produto acabado Alguns leitores t m mais discernimento editorial do que outros e voc precisa de um c rculo de pessoas que voc sabe que reagir adequadamente etapa em que seu trabalho est Assim al m de uma teoria da atividade da escrita tamb m precisamos de uma teoria da organiza o social da escrita como atividade profissional Como as
56. para o pr ximo ano letivo O diretor que n o me conhecia eu estava substituindo um palestrante mais famoso que havia cancelado a apresenta o de ltima hora e me enviou em seu lugar concluiu sua apresenta o dizendo que tinha certeza de que o dr Becker lhes trar uma mensagem n o s informativa mas tamb m inspiradora Eu sabia que n o poderia cumprir tal promessa e por isso comecei dizendo que n o me julgava capaz de ser inspirador mas que tentaria transmitir alguma esperan a ao final E foi isso o que tentei fazer Boa sorte
57. peri dicos devolver os artigos para revis o que as editoras contratam preparadores para melhorar o texto dos livros que ser o publicados N o sabem que todos passam por revis o e edi o de texto e que n o s o meros procedimentos de emerg ncia apenas para casos de escandalosa incompet ncia profissional Os estudantes veem seus professores e os autores dos livros de curso recomendados pelos professores como autoridades tamb m por outra raz o evidente est o acima deles na hierarquia acad mica Eles s o os chefes que d o notas e julgam se o trabalho dos estudantes tem qualidade suficiente A menos que concluam que as institui es de ensino que frequentam s o fraudes e surpreendente como s o poucos que fazem isso considerando as provas que t m diante de si os estudantes aceitar o a proposi o organizacional impl cita de que as pessoas que dirigem as escolas sabem o que est o fazendo Assim n o s seus superiores acad micos at onde eles podem ver nunca reescrevem nada como tamb m fazem certo j da primeira vez Os estudantes aprendem e realmente acreditam pelo menos por algum tempo que os escritores de verdade ou profissionais ou gente inteligente de verdade fazem certo de primeira S os ot rios precisam refazer Essa pode ser mais uma vers o da mentalidade de teste a habilidade de acertar na primeira vez mostra uma capacidade superior Isso tamb m hierarquia em sua plen
58. pessoas na maioria escrevem em absoluta privacidade os leitores atribuem os resultados somente ao autor em cr dito ou d bito de sua reputa o profissional Uso essa linguagem cont bil porque geralmente assim que as pessoas pensam intimamente Por que os escritores trabalham de maneira t o reservada Como eu disse antes na escola ou na gradua o que a maioria deles adquire seus h bitos de escrita junto com todos os rituais destinados a eliminar o caos e os resultados ris veis como forma de adapta o s situa es em que escrevem nessa fase dos estudos Na situa o em que est o os estudantes s o premiados pela rapidez e compet ncia em preparar textos curtos e pass veis e n o pela habilidade em reescrever e refazer Segundo Woody Allen Oitenta por cento da vida consiste em fazer coisas e entreg las no prazo Os estudantes inteligentes quanto mais inteligentes mais r pido aprendem n o se d o ao trabalho de desenvolver habilidades desnecess rias O que conta o primeiro rascunho j que o nico medida que avan am na p s gradua o os estudantes passam a ver menos utilidade na pr tica de redigir trabalhos curtos Nos primeiros anos dependendo do departamento t m de escrever o mesmo tipo de texto que escreviam durante a gradua o Mas depois precisam escrever trabalhos mais longos desenvolvendo argumentos mais complexos baseados em dados mais complicados Poucos conseguem redigir
59. podiam ler seu livro porque se interessavam pelos problemas da morte num ambiente hospitalar ou pela maneira como as doen as mentais eram definidas por parentes profissionais e tribunais Acabamos publicando cerca de quinze livros e a s rie teve um sucesso razo vel e as livrarias se retrataram por seus palpites errados O trabalho como editor de livros me mostrou uma dimens o mais ampla da edi o de texto Descobri que conseguia enxergar uma l gica interna lutando para se expressar no trabalho alheio com facilidade maior do que enxergava em meu pr prio trabalho assim como podia enxergar as redund ncias o beletrismo e todos os outros defeitos mais facilmente nos textos alheios do que nos meus Como eu queria criticar os originais de forma que os autores os corrigissem e n o apenas ficassem furiosos do contr rio n o haveria livros para publicar na cole o tive de aprender a apontar claramente o que me incomodava Tamb m precisava lhes mostrar a realidade da publica o comercial Explicava aos autores estreantes que haviam levado o contrato a um advogado que sim o contrato realmente favorecia a editora mas que n o se preocupassem visto que poucas editoras se aproveitavam daquelas cl usulas Agora com um n mero cada vez maior de editoras se tornando subsidi rias de grandes conglomerados talvez esse conselho n o seja t o verdadeiro quanto costumava ser Minha experi ncia pessoal com preconceitos editoriais m nim
60. por muito tempo Redatilografar exige certo esfor o f sico n o tanto quanto remover a neve ou pendurar roupas no varal mas o suficiente para criar certo desgaste certa in rcia Todo escritor encontra uma frase que demandaria ser reescrita mas como n o encontra espa o na p gina para colocar a nova vers o simplesmente deixa por isso mesmo Recortar e colar ainda mais trabalhoso Assim s vezes os escritores n o reescrevem porque desanimam s de pensar no trabalho f sico e mental que isso daria Escrever em computador elimina essa in rcia Para entender isso precisamos ter uma introdu o a essas m quinas que n o nos intimide Um microcomputador ou um processador de texto n o uma mera m quina de escrever embora tenha um teclado e voc digite como faria numa m quina datilogr fica Voc pagou 2 mil d lares por uma m quina de escrever Um microcomputador por m diferente de uma m quina de escrever em v rios aspectos importantes Ele n o faz um registro permanente do que voc digita Em vez disso ele grava temporariamente seu texto na mem ria e tamb m mostra numa tela uma parte do que foi gravado Depois que voc aprende os comandos ele mostra na tela qualquer parte registrada em sua mem ria Como o computador n o grava de modo permanente o que voc escreve voc sente menos obriga o na hora de digitar Pressionando algumas teclas a ideia que saiu mal formulada some da tela como se n
61. quando est o com pouco f lego ou que os movimentos perist lticos est o normais ou qualquer outra coisa que os m dicos perguntam ao fazer um exame cl nico Essas perguntas interessam aos soci logos da medicina Como as pessoas sabem quando est o loucas Olhando para tr s penso que meu estudo teria dado uma contribui o maior se eu o tivesse orientado para essas perguntas Mas a hegemonia ideol gica da maneira estabelecida de estudar as drogas me venceu N o sei como as pessoas podem saber quando est o deixando que a bibliografia deforme seus argumentos o dilema cl ssico de estar preso nas categorias do tempo e do espa o em que voc se encontra O que voc pode fazer reconhecer a ideologia dominante como fiz na poca em rela o ao consumo de drogas localizar seu componente ideol gico e tentar encontrar uma posi o cient fica mais neutra em rela o ao problema Voc sabe que est no caminho certo quando lhe dizem que est no caminho errado Isso um pouco exagerado claro Ent o tudo o que diverge da abordagem dominante est certo N o Mas um estudioso s rio deveria ter como h bito examinar outras maneiras de falar sobre o mesmo tema A sensa o de n o conseguir formular o que voc quer dizer na linguagem que est usando um alerta de que a bibliografia est pesando demais Pode levar muito tempo at descobrir que isso aconteceu com voc se que se chega a descobrir S vi meu erro
62. que um bom come o voc s precisa fazer isso aquilo e aquilo outro e vai ficar bom Por que eles acham que h algo de errado em modificar o que eles escreveram Por que s o t o ariscos para reescrever Pode ser pregui a Voc pode concluir o Cap tulo 9 trata disso que daria trabalho demais refazer Voc simplesmente n o est mais a fim de digitar uma p gina toda de novo ou fazer um corta e cola Mas em geral estudantes e acad micos relutam em reescrever porque s o subordinados numa institui o hier rquica normalmente uma escola A rela o senhor escravo ou patr o oper rio caracter stica das escolas fornece v rias raz es para n o quererem reescrever muitas delas plenamente sensatas Os professores e administradores pretendem que os sistemas de premia o de suas escolas incentivem o aprendizado Mas esses sistemas geralmente ensinam os graduandos a tirar boas notas em vez de se interessar pelos temas que estudam ou em fazer algo realmente bom Essa discuss o se baseia na pesquisa apresentada em Becker Geer e Hughes 1968 Os estudantes tentam descobrir perguntando aos monitores e se baseando na experi ncia de outros estudantes o que exatamente precisam fazer para tirar boas notas Quando descobrem fazem o que aprenderam que necess rio fazer e s Poucos estudantes aprendem e aqui podemos nos basear em nossas lembran as pessoais como estudantes e professores que precisam reescrever ou revisar qua
63. que escrev ssemos em conjunto um artigo sobre um tema que todos conhec amos em alguma medida os problemas de reda o em sociologia Numa variante dos velhos jogos de sal o cada um falava em sua vez ditando a frase seguinte do texto Todos contribu ram para o conjunto Alguns tentavam seguir a linha sugerida pelos anteriores Outros a ignoravam e come avam tudo de novo Outros ainda fizeram observa es pertinentes V rias pessoas anotaram as senten as medida que os outros falavam e a pedido liam em voz alta o que j fora dito Quando terminamos t nhamos dezoito frases e para surpresa geral apesar de todos os gracejos e incoer ncias n o ficou ruim como primeiro rascunho em vista do que hav amos concordado que seria a maneira de avaliar e utilizar os rascunhos iniciais Na verdade ficou t o interessante que sugeri ampli lo para publica o Isso gerou uma pergunta imediata onde publicar amos Avaliamos os tipos de peri dicos que poderiam se interessar pelo tema e por fim decidimos por The American Sociologist peri dico dedicado a problemas profissionais que a Associa o Americana de Sociologia infelizmente parou de publicar Sa da sala para pegar um caf Quando voltei o ambiente tinha degringolado Os estudantes trocavam olhares furiosos e confessaram que durante minha aus ncia tinham come ado a brigar por uma quest o previs vel Se alguns trabalharam mais que outros quem ia p r o nome na vers o fin
64. que passei escrevendo ensinando estudantes de sociologia a escrever e oferecendo uma esp cie de terapia diletante aos desesperados por alguma ajuda A principal mensagem que sempre procurei passar que os problemas que as pessoas t m ao escrever n o derivam de alguma defici ncia delas de falta de dedica o pouco talento ou de qualquer um dos v rios defeitos que elas possam imaginar como causa de suas dificuldades Lembro lhes a ideia de C Wright Mills a qual na formula o mais pertinente neste contexto consistiria em que os problemas pessoais s o problemas da organiza o social Ou seja as dificuldades que voc enfrenta para escrever n o s o culpa sua nem resultado de uma inabilidade pessoal A organiza o social na qual voc escreve est criando essas dificuldades para voc Este livro baseado em minha experi ncia lecionando para estudantes americanos de ci ncias sociais alguns anos atr s evidentemente est desatualizado N o traz os ltimos dados sobre os detalhes das exig ncias que nos fazem as organiza es sociais onde todos n s estudantes professores pesquisadores trabalhamos E claro trata de estudantes dos Estados Unidos porque s o os que eu conhe o Mas isso significa apenas que os leitores ter o de pesquisar algumas coisas para perceber como o ambiente em que est o inseridos interfere e dificulta o trabalho que t m a fazer E tamb m para que encontrem formas de melhorar a situa o
65. que s escrevia em blocos de papel of cio amarelo pautado usando uma hidrogr fica verde que antes precisava limpar a casa coisa que veio a se mostrar uma preliminar recorrente entre as mulheres mas n o entre os homens mais propensos a apontar vinte l pis que s conseguia escrever entre tais e tais horas e assim por diante Vi que a coisa prometia e passei para a v tima seguinte um rapaz Um pouco mais relutante ele exp s seus h bitos igualmente peculiares O terceiro pediu desculpas mas disse que preferia pular sua vez N o deixei Ele tinha boas raz es como se viu depois Todos tinham Aquela altura dava para ver que as pessoas estavam expondo coisas embara osas nada que desse muita vontade de comentar na frente de vinte colegas Fui implac vel fazendo todo mundo contar tudo sem poupar a mim mesmo Esse exerc cio gerou um grande nervosismo mas tamb m muito divertimento enorme interesse e por fim uma descontra o surpreendente Comentei que todos estavam aliviados e deviam estar mesmo pois se seus piores medos serem loucos de pedra eram reais em compensa o n o eram mais loucos do que ningu m Era uma doen a comum Assim como as pessoas se sentem aliviadas quando descobrem que alguns sintomas f sicos alarmantes que costumam ocultar s o apenas algo que anda acontecendo saber que os outros t m h bitos de escrita malucos devia ser e visivelmente era uma boa coisa Prossegui com minha interpr
66. queda como movimentos de dan a convencionalizados em vez dos movimentos mais formais do bal cl ssico ou mesmo da dan a moderna tradicional Mas os p blicos menos envolvidos para distinguir entre arte e n o arte procuram exatamente os elementos formais convencionais que os inovadores tentam substituir Eles n o v o ao bal para ver gente correndo pulando e caindo podem ver isso em qualquer lugar V o para ver gente fazendo os movimentos formais dif ceis e esot ricos que constituem a verdadeira dan a A capacidade de ver material comum como material art stico enxergar que correr saltar e cair n o s o apenas isso mas comp em os elementos de uma outra linguagem do mesmo ve culo portanto o que diferencia os membros realmente s rios do p blico daqueles membros apenas socializados culturalmente e a ironia que estes ltimos conhecem muito bem tais materiais s que n o os reconhecem como materiais art sticos Becker 1982a p 49 50 Os estudantes s o assim Conhecem a linguagem simples mas n o querem us la para expressar o conhecimento que ganharam a duras penas Lembre aquele estudante que disse Puxa Howie quando voc diz assim fica de um jeito que qualquer um pode dizer Se voc quer se convencer de que o tempo e o esfor o para conseguir o diploma valem a pena de que voc est se transformando em algo que mudar sua vida ent o voc quer parecer diferente n o igual a todos
67. regras que agora desfiguram os textos nos peri dicos acad micos Assim os livros se tornam um ve culo para materiais que n o se encaixam nas exig ncias do formato padr o dos peri dicos como foi o caso de meu artigo sobre Goffman Este na verdade agora aparece como Cap tulo 13 em Becker 2007 Por fim as possibilidades de publica o eletr nica ainda est o por ser exploradas mais a s rio Veja a discuss o sobre a publica o sob demanda em Epstein 2006 Mas j poss vel criar seu pr prio artigo ou livro coloc lo em seu site e disponibiliz lo para o mundo todo Ou usar um servi o de publica o on line para ajud lo a produzir e distribuir seu livro A autopublica o n o traz a garantia de qualidade que h na publica o num peri dico com pareceristas ou numa editora de prest gio Mas muitos leitores j chegaram conclus o de que os peri dicos especializados n o trazem a qualidade e o interesse prometidos pela garantia de usarem a avalia o por pares Talvez seja otimismo demais de minha parte mas sinto que j existem algumas formas bastante diferentes de divulgar o que pensamos saber mesmo que ainda n o tenhamos captado todo o seu potencial Essas possibilidades de evitar as imposi es organizacionais que interferem no tipo de reda o que queremos usar me fazem lembrar uma ocasi o quando fui falar para o corpo docente de uma pequena faculdade religiosa que estava num retiro preparando se
68. s gradua o O que quero dizer que a escrita acad mica n o a escrita corrente pois vem redigida numa taquigrafia que apenas os integrantes da profiss o conseguem decifrar Creio que seja uma maneira de preservar as fronteiras coletivas do elitismo As ideias devem ser redigidas de uma forma que fique dif cil para os inexperientes entenderem Isso escrita acad mica E se voc quer ser um acad mico precisa aprender a reproduzir esse tipo de escrita Aqui um bom lugar para ressaltar que Rosanna ao escrever esses trechos que estou citando adotou deliberadamente um ponto de vista que depois veio a abandonar Quando lhe perguntei ela respondeu que n o pensa mais que o estilo de reda o tem algo a ver com a intelig ncia ou a complexidade das ideias Ela deu alguns exemplos de escrita com classe que flagrou nos pr prios textos explicando por que tais locu es lhe pareciam bonitas Em vez de escrever ele mora em prefiro ele reside em Em vez de dizer Os casais gastam o dinheiro a mais ou dinheiro adicional ou at renda dispon vel eu escolheria renda excedente Soa mais respeit vel Um favorito meu fundado na disponibilidade de tem mais classe do que existe por causa de ou ainda depende de Talvez soe mais distinto Outro exemplo eu poderia dizer ajudante dom stica mas o que escolho m o de obra de terceiros Na primeira ve
69. sem provas que esse aumento resulta da nova fun o do artigo que agora n o tanto de leitura e sim de cita o para ser inclu do na contagem de um ndice de cita es cujas ocorr ncias justificaram um pedido de emprego ou de promo o Aqui s posso especular mas o t tulo aumentou de tamanho porque os autores agora incluem mais detalhes sobre suas pesquisas especificando fontes de dados locais de pesquisa m todos usados para que seus artigos apare am em maior n mero de buscas bibliogr ficas automatizadas A disputa pelo pouco espa o sobretudo nos grandes peri dicos a que os diretores e comiss es de promo o e efetiva o de seus quadros d o peso especial tornou se feroz Levados a procedimentos burocr ticos impessoais para avaliar as contribui es Abbott 1999 p 138 92 conta a triste hist ria os peri dicos insistem cada vez mais em apresenta es rigidamente padronizadas com extensas bibliografias e opressivas revis es bibliogr ficas das quais reclamei mais acima Os acad micos em fases vulner veis da carreira preferem em sua maioria optar pelo seguro o que muito compreens vel e escrevem artigos que apresentam as principais caracter sticas daquilo que veem ao redor deles caracter sticas das quais j reclamei antes e sugeri maneiras de evitar N o h nenhum decreto oficial impondo essas caracter sticas Chegaram a essa situa o como aquilo que todos fazem naturalmente at
70. ser em seu texto e como a persona que adotar afetar a credibilidade de suas afirma es Pode levar suas met foras a s rio e ver se ainda fazem sentido Apenas prestando aten o voc pode obter controle sobre grande parte do que faz Eu poderia continuar resumindo o que j disse Mas voc pode recuperar essas dicas com a mesma facilidade sabendo por m que as dicas como eu disse n o resolver o os problemas Nada disso vai funcionar a menos que voc adote essas sugest es como pr tica rotineira Para aproveitar estas e quaisquer outras dicas use as experimente as em diversas circunst ncias nas v rias tarefas na hora de escrever Adapte as s suas prefer ncias ao seu estilo ao assunto e ao p blico alvo Voc as leu mas continuam a ser minhas Enquanto voc n o se apropriar delas atrav s do uso constante estar apenas se esquivando do trabalho de mudar seus h bitos Isso sugere que a for a de vontade e a dedica o ao trabalho d o resultado Tentei evitar mas essa moral la Benjamin Franklin est presente em tudo o que falei Em parte ineg vel sem trabalho nada acontece Mas um engano pensar que a dedica o ao trabalho suficiente Muitos cientistas sociais trabalham com grande afinco mas realizam pouco Voc precisa tamb m correr alguns riscos mostrar seu texto a outras pessoas ser aberto a cr ticas Em termos imediatos isso pode ser intimidador e at penoso Mas as consequ ncias de n
71. seria melhor pretendermos uma prosa boa e clara que diz o que precisa ser dito de uma maneira convincente A ci ncia precisa de uma prosa que seja uma obra prima Qual a chance de que algo escrito no estilo convencional dos peri dicos acad micos seja uma obra prima O car ter pretensioso dessa ambi o n o resiste a um exame mais de perto Al m disso os autores das grandes obras primas da literatura vitoriana Dickens Thackeray Eliot Trollope escreveram nas nas condi es de pulp fiction como folhetins cap tulos seriados que nem teriam continuidade se os n meros anteriores n o vendessem Sutherland 1976 Uma rela o direta entre qualidade e tempo dispendido pode de fato ser empiricamente falsa Os professores de pintura incentivam os estudantes a n o exagerar num quadro continuando a p r tinta na tela at que uma ideia inicialmente boa fique soterrada embaixo de uma mix rdia enlameada Os escritores podem mexer tanto num texto no maior alvoro o em torno dos adjetivos e da ordem das palavras que os leitores v o reagir mais ao esfor o de burilamento do que s ideias que deveriam ser transmitidas Mais trabalho n o significa necessariamente um produto melhor Pelo contr rio quanto mais pensamos na reda o mais somos capazes de introduzir considera es descabidas e qualifica es inadequadas de insistir em fazer conex es que n o precisam ser feitas at soterrarmos o pensamento sob uma ornamenta o biz
72. social que observei Sem esse quadro eu n o tinha certeza se estava entendendo o significado do que via Sem esse entendimento eu n o tinha uma posi o em rela o aos dados e isso diminu a minha motiva o para escrever E quando esse entendimento surgiu n o gostei da postura c tica que ele me convidava a adotar Ele descreveu o problema da postura c tica que o incomodava profundamente pois afetava o estudo que havia feito na comunidade A tend ncia da sociologia do conhecimento impugnar enfraquecer ou minar as ideias quando a an lise dessas ideias revela suas fun es em proveito pr prio ou do grupo Se a ideia do apocalipse urbano serve aos interesses dos membros das comunidades equipadas para a sobreviv ncia ser raz o suficiente para lhe lan ar um olhar frio e c tico Se a ideia de direitos iguais para as crian as serve aos prop sitos daqueles adultos que inicialmente n o tinham tempo nem propens o a ser pais de classe m dia ser raz o suficiente para o ceticismo diante de seus motivos Se a afirma o de autenticidade nas rela es interpessoais serve aos interesses de pessoas t o situadas que suas densas texturas interacionais as tornam pouco capazes de adotar disfarces emocionais n o ser raz o para encarar sua cren a na franqueza e honestidade simplesmente como mais um elemento ideol gico em proveito pr prio como a cren a das minorias tnicas no pluralismo cultural
73. surpresa Gusfield o soci logo teve mais impacto do que Orwell o escritor Ele mostrava como os escritores da mesma rea dos estudantes utilizavam recursos estil sticos para soar cient ficos em especial apontando como as constru es na voz passiva podiam criar uma fachada impessoal por tr s da qual o investigador podia se esconder Discutimos a reda o cient fica como forma de ret rica na inten o de persuadir e quais eram as formas de persuas o tidas como leg timas ou ileg timas pela comunidade cient fica Insisti na natureza ret rica da reda o cient fica embora os estudantes como muitos docentes acreditassem que algumas maneiras de escrever eram tentativas ileg timas de persuadir ao passo que outras se limitavam a apresentar os fatos e deixavam que eles falassem por si s s Esse aspecto foi extensamente examinado por soci logos da ci ncia e estudiosos da ret rica Ver em especial Bazerman 1981 Latour e Bastide 1983 e as refer ncias bibliogr ficas ao final deste livro Aqui tamb m quem me ajudou foi aquele tipo de estudante que eu aprecio muito Depois de passarmos um bom tempo discutindo a ret rica da ci ncia ele perguntou Tudo bem Howie eu sei que voc nunca gosta de nos dizer o que fazer mas voc vai dizer ou n o E eu Dizer o qu Como escrever sem usar ret rica Tal como antes todo mundo estava na expectativa de que eu revelasse o segredo Na hora em que ouviram
74. voc pode decidir quando vai lan ar seu trabalho decidindo que papel voc quer ter no mundo em que se faz o tipo de trabalho que voc faz N o se trata simplesmente de traduzir uma pergunta insol vel para outra linguagem mantendo a sem resposta A nova formula o pelo menos faz voc pensar e avaliar os pr mios e castigos organizacionais das diferentes estrat gias Quando falo com estudantes de p s gradua o que empacaram numa tese ou com amigos acad micos que n o conseguem redigir suas pesquisas ou p r seus artigos numa forma public vel eu deveria parar de moralizar e em vez disso falar sobre a organiza o social Mas a menos que eu amordace o pregador que h dentro de mim nossas conversas desandam para discuss es moralistas irritantes e insol veis Come o a moralizar aconselhando que n o sejam perfeccionistas que se contentem com o que est bom para os demais Digo que nunca escrevi uma obra prima e que nunca conto com isso Por que com eles seria diferente Eles n o gostam disso E por que haveriam de gostar Muitas vezes n o reconhecem nem aceitam o diagn stico que pode estar errado mesmo e ent o se fazem igualmente moralistas Aprontar as coisas s para ficarem prontas n o parece algo muito tico Na verdade cheira a carreirismo Muitas vezes os acad micos especulam se as pessoas que publicam muito n o estariam agindo por raz es pouco louv veis Para entender o argumento que acabo de expor
75. A quantidade de estudantes de p s gradua o se preparando para dar aulas a todos aqueles graduandos tamb m aumentou bem como o mercado para as monografias de pesquisa que eles liam como parte de sua forma o e depois ensinavam a seus pr prios alunos Sempre havia um monte de empregos nessa cidade universit ria em franca explos o demogr fica Com o aumento da quantidade de soci logos houve tamb m o aumento da quantidade de entidades e peri dicos de sociologia representando diversas reas de especializa o e v rias posi es te ricas ver a discuss o em Becker e Rau 1992 Publicar nunca foi problema Com todos aqueles novos peri dicos em busca de artigos havia vaz o para os artigos de soci logos de todas as tend ncias famosos e ainda n o famosos E para livros tamb m quando novas editoras come aram a disputar originais n o s de sociologia mas de todas as ci ncias humanas Qualquer jovem da p s gradua o no novo mil nio j viu que n o mais assim Empregos s o raros A publica o cuja principal fun o tinha sido divulgar as pesquisas e reflex es mais recentes numa rea adquiriu a nova responsabilidade indesejada de funcionar como parte do processo de decis o das universidades quanto s pessoas que queriam contratar e dar estabilidade Voc conseguia uma vaga especialmente uma boa e era promovido pelo que publicava principalmente naqueles peri dicos tidos por consenso como os melhor
76. Autoconcep o do ego Capatidade de autocontrole Sem doen a de carreira acorpora defini es do prejudicada as papel de desriante SF EFGENDA Epis dios de Desviante prem ado por desempenha papel de Desviante assume claro comportamento e 210A MENTA O POSITIVA COM AMPLIFICA O DO DESVIO compulsivo amp desviante e punido em papel de desviante SC caso contr rio 6 7 ROMPIMENTO RESIDUAL DAS Complexo do comportamento REGRAS RRR simom rico estabilizado er desvio de camera Fonte Walter Buckley Appendix Methodological Note in Thomas Scheff Being Mentoity ii Chicago Aldine 1966 De volta comunidade Ali s fazer todas essas coisas ajuda a resolver outro problema menor muito frequente Os cientistas sociais ao expor a pesquisa emp rica sempre incluem uma se o descritiva contando algo sore o pa s a cidade ou a organiza o que pesquisaram O que essas se es devem trazer Os pesquisadores t m a vaga inten o de que elas deem aos leitores uma sensa o do lugar e incluem nessas se es uma lista de coisas que todo leitor presumivelmente precisaria saber uma mistura de gr ficos com dados geogr ficos demogr ficos hist ricos e organizacionais Se voc escrever o suficiente para saber qual seu argumento ficar mais f cil fazer uma escolha mais racional Os fatos sobre lugares pessoas e organiza es n o se resumem a dar uma familia
77. Mas para n o criar inc modo comecei formulando a primeira ora o de modo mais ativo Robert Frank fez algumas de suas imagens mais expressivas Isso me levou a reorganizar e simplificar a constru o seguinte Robert Frank fez algumas de suas imagens mais expressivas em escrit rios depois do expediente e continuei cortando uma repeti o que me parecera vigorosa quando escrevi na primeira vez quando n o havia ningu m a n o ser os faxineiros Por que tirei fazendo a limpeza depois de faxineiros Porque agora eu queria formular essa ideia numa imagem mais concreta na frase seguinte que mudei para Um banco ocupado apenas por um faxineiro empurrando um esfreg o parece diferente de um cheio de banc rios ao telefone Isso me permitiu fazer um contraste entre a a o de telefonar dos banc rios e a a o de limpar o ch o dos faxineiros em vez de mencionar meramente os nomes de seus cargos e deixar ao leitor que os preenchesse com suas respectivas atividades A frase reescrita tamb m elimina a repeti o de um local ocupado por algu m Dizer que os banc rios enchiam o espa o acentuava o contraste entre o movimento durante o dia e a quietude da limpeza noite destacado pela fotografia de Frank Eis mais alguns breves exemplos Sem necessidade de especificar o conte do dos exemplos mudei Se voc faz o primeiro ser capaz de para O primeiro lhe permite Mudei Casas
78. SODILHY 3 SOHAIM SISIL HYNINHIL 3 HV INOI VIVA ULdJSI VO CIDA Um cl ssico que oferece dicas e orienta es para voc vencer barreiras press es v cios acad micos e simplesmente escrever Estudantes e pesquisadores escrevem sob press o dos prazos do curr culo da obriga o de impactar O resultado costuma ser uma prosa empolada um tom acad mico pretensioso e com frequ ncia um bloqueio na escrita Para ajud los nessas horas de afli o o experiente soci logo Howard S Becker conhecido por seu estilo informal e simples escreveu esse Truques da escrita Um cl ssico que a Zahar torna enfim dispon vel para o leitor brasileiro em edi o revista e com pref cio especial do autor Sens vel divertido e inteligente o livro apresenta ideias reunidas ao longo de d cadas de pesquisa escrita e ensino A mensagem de Becker direta a nica maneira de come ar a nadar entrando na gua Para aprender a escrever respire fundo e escreva Revise Repita O processo nem sempre f cil Becker exp e com toques de humor falhas e v cios acad micos como a verborragia o abuso da voz passiva o uso de express es longas demais a maneira pela qual em vez de um simples como por exemplo Mas todos esses mecanismos fazem parte da estrutura social da reda o acad mica e a que se encontra a chave para acabar com o medo de encarar a Bibliografia a opini o dos professores ou a compara
79. a A nica rea em que sofri um pouco tinha a ver com uma mudan a importante na pr tica dos editores de revistas de sociologia Meus primeiros artigos extra dos de minha disserta o de mestrado eram sobre m sicos de jazz Seguindo a pr tica dos modelos que tinha utilizado p ex os artigos de Oswald Hall sobre as carreiras m dicas e Sociedade de esquina de Foote Whyte fiz longas cita es de minhas entrevistas e notas de campo Mas os m sicos n o tinham uma linguagem t o educada quanto a dos m dicos ou o que Hall apresentou como sendo a linguagem deles Os m sicos falavam muito merda e foda se e no interesse do rigor cient fico e com uma leve sensa o de molecagem citei tudo literalmente Na tese ficou aceit vel mas os editores nos anos 1950 substitu am sistematicamente essas palavras por retic ncias f e m Essa pr tica atingiu o c mulo da tolice num n mero da AJS do p s guerra dedicado s For as Armadas americanas em que a maior parte do artigo The Soldier s Language de Fred Elkin se transformou em retic ncias N o lembro qual de meus artigos finalmente p de trazer os palavr es por extenso s pode ter sido quando foram publicados em Outsiders em 1963 Agora claro comum que apare am palavr es nas publica es de sociologia Ao descrever meu semin rio de reda o no Cap tulo 1 comentei que havia apresentado turma meus rituais pessoais de escrita mas n o f
80. a introdu o deveria conter e voc pode voltar e colocar no come o e ent o fazer as pequenas mudan as exigidas em outros par grafos por esse seu novo foco Em resumo quando chega o momento de escrever alguma coisa j pensamos muito Temos um investimento em tudo o que analisamos que nos faz adotar um ponto de vista e uma maneira de lidar com o problema Mesmo que quis ssemos provavelmente n o conseguir amos lidar com o problema de nenhuma outra maneira a n o ser aquela que acabamos por adotar Estamos comprometidos n o com a escolha de uma palavra mas com a an lise que j fizemos por isso que a maneira de come ar n o faz diferen a J escolhemos nosso caminho e nosso destino muito tempo antes Redigir um rascunho sem pensar nem planejar o que certa vez Joy Charlton chamou sem muita eleg ncia mas com bastante precis o de rascunho vomitado demonstra mais outra coisa Voc n o tem como lidar com a enxurrada de ideias que passam pela cabe a quando se senta mesa pensando por onde come ar Ningu m consegue O medo dessa avalanche ca tica uma das raz es para os rituais descritos pelos estudantes em meu semin rio As ideias v o passando primeiro uma coisa depois outra Quando voc est na quarta ideia a primeira j sumiu At onde voc consegue lembrar a quinta ideia igual primeira Em pouco tempo voc vai esgotar todo o seu repert rio Quantas ideias conseguimos ter sobre um nic
81. a Introdu o a um Proleg meno a um discurso sobre um determinado assunto 1969 Um livro que pretenda ajud los precisa abordar por que eles escrevem dessa maneira pois j sabem que n o deveriam escrever assim Precisa n o s lhes mostrar o que fazem de errado e como corrigir mas tamb m como ultrapassar a situa o do graduando Os alunos de gradua o n o t m os mesmos problemas de reda o dos mais velhos Escrevem trabalhos curtos que n o escreveriam por iniciativa pr pria com poucas semanas de prazo sobre assuntos que desconhecem totalmente e n o lhes interessam para um leitor que como diz Shaughnessy n o escolheria aquela leitura se n o estivesse sendo pago para ser examinador 1977 p 86 Os estudantes sabem que o que escrevem nesse trabalho n o afetar muito sua vida Os cientistas sociais e outros acad micos por sua vez escrevem sobre assuntos que conhecem bem e pelos quais se interessam muito Escrevem para pessoas que sup em estar igualmente interessadas e n o t m prazos de entrega a n o ser os que lhes s o impostos por sua situa o profissional Sabem que seu futuro na profiss o depende da avalia o que seus escritos receber o de seus pares e superiores Os estudantes de gradua o podem se distanciar do que precisam escrever Os acad micos sejam novatos ou profissionais n o Imp em a tarefa a si mesmos ao ingressarem na rea e t m de lev la a s rio Por ser a s rio a reda
82. a e escreve daquela maneira Ao escrever prosa com classe tentam ser ou pelo menos dar a impress o de ser gente de classe Mas o que uma pessoa de classe para um acad mico jovem ou mesmo de meia idade Meus palpites sobre o conte do de tais fantasias podem estar errados Na verdade essas fantasias devem variar muito e nenhuma caracteriza o exclusiva far justi a a todas elas Imagino da seguinte maneira um sujeito de classe para um jovem de tipo professoral usa palet de tweed com refor os de couro no cotovelo fuma cachimbo os homens pelo menos e se senta na sala dos professores tomando vinho do porto e discutindo o ltimo n mero do Times Literary Supplement ou do New York Review of Books com um bando de gente parecida Vejam n o quero dizer que as pessoas com tais fantasias queiram realmente ser assim A jovem elegante que com seus coment rios despertou essa reflex o jamais seria apanhada em tais trajes e acess rios Mas querem falar como uma pessoa dessas Talvez n o exatamente aquela pessoa mas a imagem nos d uma no o Quer alguns jovens acad micos e aspirantes a acad micos queiram ou n o ter classe a possibilidade nos lembra que todos escrevem de uma certa maneira simulam um personagem adotam uma persona que fala por eles Os analistas liter rios sabem disso mas raramente examinam suas consequ ncias na escrita acad mica Os acad micos d o prefer ncia a algumas poucas personae cl ssicas cujo
83. a essencialmente toda a teoria geral que precisaria conhecer com Hughes e Blumer e que ela bastava para lidar com qualquer problema que aparecesse Intelectualmente eu sabia e sei que n o bem assim mas isso n o afetava o resultado emocional Quando voc sabe que est essencialmente certo uma boa parcela da press o sobre sua escrita desaparece pois a voc n o precisa tentar resolver problemas sociol gicos encontrando a maneira certa de formul los Algumas pessoas resolvem problemas te ricos com a an lise l gica De minha parte aprendi a resolver problemas te ricos de maneira emp rica As duas op es s o melhores do que tentar resolv los encontrando a maneira certa de dizer O aumento na quantidade de soci logos e de reas de especializa o em sociologia produziu um aumento an logo nas organiza es e publica es sociol gicas Os soci logos editam essas publica es e os cargos editoriais geralmente s o uma das honrarias que cabem s pessoas que j est o h algum tempo na rea Os programas de p s gradua o n o ensinam a editar um peri dico a fazer a prepara o dos textos a lidar com a gr fica ou a persuadir os autores a melhorar o trabalho Os peri dicos em sua maioria n o podem se permitir a contrata o de preparadores profissionais de texto e assim s o os pr prios soci logos editores da publica o que fazem todo esse servi o Aprendem fazendo com algumas dicas de seus antecessor
84. a reflex o n o fica bem naquele lugar onde voc p s e estar melhor em outro Assim voc recorta a frase e deixa uma lacuna enorme ou um fragmento desconjuntado N o d para fazer uma bela pilha organizadinha de lacunas e fragmentos Ent o voc cola o recorte no lugar onde agora vai ficar e conserta o fragmento para que os restos fiquem em ordem na pilha do manuscrito As folhas ficam cheias de XXX de lacunas e camadas de papel emendado um no outro Chega uma hora em que voc fica t o incomodado com aquela confus o que datilografa de novo aquela p gina ou at a droga do texto todo O que come ou t o caprichado agora est t o rabiscado e confuso que nem o autor consegue mais entender as flechas e marca es Essa confus o por sua vez destr i o prec rio senso de ordem l gica e est tica que voc queria preservar Veja uma descri o semelhante em Zinsser 1983 p 98 Muitos escritores incluem a redigita o como parte da rotina ritual que d sustenta o ao trabalho Se voc reescreve tanto quanto eu um novo manuscrito rec m datilografado leva a outras revis es Com a p gina limpa fica mais f cil ver o que voc est dizendo e como pode mudar A p gina antiga repleta de anota es com a marca o de outras reflex es e outras maneiras de express las deixa o confuso Assim voc redige outra constru o no novo manuscrito Isso acaba levando a mais outra redigita o Muitos escritores continuam com isso
85. a serve como pedra de toque um exemplo concreto das virtudes que um trabalho cient fico pode ter numa combina o que mostra como um trabalho deve ser para contribuir para a disciplina Como diz Stinchcombe foi isso o que Thomas Kuhn quis dizer ao usar um termo paradigma no sentido de modelo exemplar As virtudes que Stinchcombe comenta n o s o as que voc poderia esperar A ci ncia de primeira categoria funciona com crit rios est ticos al m dos crit rios l gicos e emp ricos Esses crit rios n o s o defens veis pelas filosofias da ci ncia positivistas marxistas ou interacionistas simb licas S e gravarmos os exemplos de excel ncia em nossa mente como manifesta es concretas de princ pios est ticos que queremos respeitar em nosso trabalho e usar como pedras de toque para filtrar o que eliminaremos e o que manteremos podemos muito bem conseguir trabalhar num n vel mais elevado do que conseguimos ensinar Pois trabalhamos segundo os crit rios embutidos na pedra de toque crit rios que n o somos capazes de formular mas conseguimos perceber ao us los como termos de uma compara o esse trabalho t o bom quanto Simmel Stinchcombe aqui descreve o que eu quis dizer quando mais acima falei em editar de ouvido Se ele est certo e esses crit rios est ticos n o podem ser justificados cientificamente segue se que n o h sentido em tentar encontrar a nica Maneira Certa de escrever o que voc tem a
86. abe coisas que voc ignora Ent o classifique suas fichas ou pap is em pilhas Junte na mesma pilha as fichas que parecem combinar Parecem combinar Sim e por ora n o procure demais o que elas t m em comum Siga sua intui o Depois de reunir essas pilhas fa a uma ficha que vai por cima de cada pilha uma ficha resumindo o que dizem todas as fichas da pilha generalizando as particularidades Pela primeira vez voc pode come ar a ser cr tico em rela o ao que fez Se n o consegue pensar numa afirmativa que abranja todas as fichas da pilha tire as que n o combinam e fa a novas pilhas para elas com suas pr prias fichas de resumo Agora distribua suas fichas ou pap is de generaliza o numa mesa ou no ch o ou ponha na parede peguei o h bito de pregar na parede trabalhando com fotos que os fot grafos costumam examinar deixando as na parede por uma ou duas semanas Distribua as em alguma ordem qualquer ordem Talvez voc consiga montar uma ordem linear em que uma ideia leva a outra Talvez voc consiga formar uma coluna com algumas delas uma abaixo da outra o que indicaria fisicamente a rela o de um exemplo espec fico ou de um subargumento com alguma afirmativa mais geral Logo ver que h mais de uma maneira mas n o muitas mais de montar seu argumento As maneiras n o s o id nticas pois enfatizam partes diferentes de sua an lise Se eu organizar minha an lise dos professores segundo os tipos de escol
87. ade mental Quem faz alguma coisa por raz o nenhuma O vocabul rio de motivos corrente na academia explica a alta frequ ncia de publica es de um acad mico de v rias maneiras nem sempre lisonjeiras Quem publica muito para avan ar fazer nome ganhar aumento e o mais triste de tudo conseguir estabilidade Tais raz es dizem nas entrelinhas que o autor se satisfaz com algo de segunda categoria aceita um trabalho que pass vel s para lan lo e ganhar a recompensa Os acad micos que aprontam coisas em tempo razo vel consideram essa an lise interesseira uma desculpa para n o terminar as coisas Explicam que escrevem para contribuir com a ci ncia para participar do di logo acad mico ou porque escrever divertido assim que eu falo Essas raz es parecem meio polianescas e um pouco fantasiosas Os que sofrem ao escrever acham especialmente absurda a ideia de que escrever divertido Apesar disso h escritores que fazem as coisas por essas raz es Se voc enxerga a atividade acad mica como um grande jogo escrever entrar no di logo ou dar uma contribui o pode ser t o divertido quanto terminar uma partida de PacMan Mas se voc se concentra em fazer as coisas direito essa nfase na produ o fica parecendo um arranjo A ret rica soa interesseira e at imoral Esse duelo moral n o leva a lugar nenhum Mais vale falar sobre as consequ ncias das di
88. ais ideias sobre a escrita Aprendi como todos os estudantes de fotografia que a coisa mais importante que um fot grafo pode fazer fotografar e que tirar milhares de fotos ruins n o nenhuma desgra a desde que voc tamb m tire algumas boas e consiga distinguir entre as boas e as ruins Os estudantes aprendem a ler uma folha de contato que se faz imprimindo um rolo de filme numa folha s de modo que cada imagem reproduzida no tamanho do fotograma a maneira ideal de aprender que a nica coisa que importa o produto final e que ningu m vai critic lo pelos trope os e equ vocos iniciais se voc encontrar algo bom na sequ ncia Aprendi a n o poupar filme papel e meu tempo Isso passou para minha escrita Fiquei mais disposto do que nunca a escrever qualquer coisa que me passasse pela cabe a sabendo por analogia com a fotografia que sempre poderia eliminar o que n o me agradasse ou n o pudesse usar A certa altura dos anos 1970 comecei a alimentar pretens es e ambi es liter rias Creio que isso come ou quando um amigo que era um escritor de verdade isto de literatura fez gentis coment rios sobre alguns rascunhos de um ensaio que eu estava escrevendo sobre os mundos da arte Comecei a pensar se n o poderia melhorar a reda o em sentido mais amplo n o apenas a clareza Primeiro passei a experimentar um tipo de organiza o da qual nem tinha me apercebido antes Comecei a plantar nas se
89. al e em que ordem Fiquei bravo com aquilo pois era uma insensatez Muita gente briga por essa quest o muito concreta Apresentei minha solu o recuar um pouco e dar o cr dito a todos os que tinham feito alguma contribui o ao texto Eles logo ressaltaram que um professor com estabilidade no cargo podia se permitir tais ideias mas que o pessoal mais novo n o poderia N o sei se tinham raz o ou n o mas a ideia n o parece totalmente descabida Continuamos a conversar e logo vimos que apenas quatro ou cinco estudantes estavam realmente interessados em prosseguir na tarefa O semin rio foi na primavera e eles toparam trabalhar no texto durante o ver o A interveio novamente a organiza o social O funcionamento da p s gradua o organizado em turmas que se re nem durante um trimestre ou um semestre que depois se dissolvem e em projetos que dependem em boa medida de verbas dispon veis para custe los Como nenhuma dessas formas de coordena o autom tica existia ap s o per odo letivo do semin rio os aspirantes coautoria n o tinham nada que os obrigasse a se reunir e prosseguir no trabalho e assim n o fizeram Nunca escreveram o artigo Em alguns aspectos este cap tulo corresponde quele artigo ao res duo do trabalho feito pelos participantes naquela turma e por muitas outras pessoas ao longo dos v rios ltimos anos Quando o apoio dado pelas institui es financiadoras de um trabalho coletivo t o
90. alei quais eram Depois que comecei a dar o curso passei a escrever num computador e assim n o fa o mais o que descrevi naquela ocasi o Mas aqui est o que eu disse turma na poca foi assim que escrevi a maioria de meus textos e n o tenho uma boa vis o de minha nova rotina computadorizada para exp la com clareza O que posso dizer sobre ela est no Cap tulo 9 O procedimento inteiro segue os ritmos do ano acad mico Sou pregui oso n o gosto de trabalhar e reduzo o tempo que dedico ao trabalho Assim embora tenha escrito muito passei relativamente pouco tempo m quina de escrever Eu come ava aquilo que depois se converteria em artigo expondo o tema sobre o qual estava para escrever a qualquer um que se dispusesse a ouvir Quando comecei a dar aulas isso significava que eu expunha a meus alunos Art Worlds come ou como transcri o das aulas gravadas que dei na primeira vez em que ministrei o curso de sociologia da arte oito ou nove anos antes de terminar o livro Se recebia convites para dar uma palestra em algum lugar eu tentava convencer as pessoas de que seria do interesse delas ouvir sobre meu novo tema de pesquisa isto o artigo que estava come ando a elaborar Essas palestras em certa medida funcionavam como um primeiro rascunho Eu via quais eram os pontos que podia encadear logicamente quais eram as maneiras de apresentar uma quest o que as pessoas entendessem quais as que causariam confus
91. alguma das maneiras que lhe dariam a pista de que precisava Melhor corrigir depois e n o durante Os estudantes come aram a ver que a reda o n o precisa ser feita de uma tacada s um lance de tudo ou nada Podia ser em etapas cada qual com seus crit rios de excel ncia como Flower e outros poderiam lhes explicar mas talvez fosse melhor descobrirem por experi ncia pr pria A insist ncia na clareza e no acabamento adequada para uma vers o mais adiantada era totalmente inadequada para as vers es mais iniciais cujo objetivo era colocar as ideias no papel Chegando a tais conclus es eles reproduziram alguns dos resultados de Flower e come aram a entender que a preocupa o com as regras de reda o numa fase muito inicial do processo podia impedi los de dizer o que realmente tinham a dizer quest o apontada na linguagem da psicologia cognitiva em Rose 1983 N o quero exagerar Meus estudantes n o jogaram fora as muletas e come aram a dan ar Mas viram que seus problemas tinham solu o e era s isso o que eu queria Sabendo que era poss vel poderiam tentar S saber n o bastava claro Tinham de usar esses recursos integr los em sua rotina de escrita talvez substituindo alguns dos elementos m gicos que hav amos comentado Fizemos muitas outras coisas no semin rio Discutimos ret rica lendo Gusfield sobre a ret rica das ci ncias sociais 1981 e A pol tica e a l ngua inglesa de Orwell 1954 Foi uma
92. ande confiabilidade concordando sobre o que funciona ou o que tem suingue muito embora n o saibam dizer o que esses termos significam Isso sugere que eles n o operam consultando um conjunto de regras ou crit rios Em vez disso reagem como imaginam que outros reagiriam e constroem essas imagens a partir de suas experi ncias reiteradas de ouvir pessoas aplicarem os termos indefinidos em situa es concretas Becker 1982a p 199 200 Os crit rios de gosto dos cientistas sociais realmente incluem regras que aprenderam nas aulas de reda o e se habituaram a aplicar de modo quase autom tico Normalmente saio em busca de constru es na voz passiva em quase tudo o que leio se o texto meu penso imediatamente se posso mud las e como N o sei se estou aplicando uma regra ou uma heur stica e n o consulto um livro para saber quando ou como alter las Mas sei o que estou fazendo e se me perguntarem posso expor o princ pio correspondente como expus a Rosanna Em sua maioria os cientistas sociais usam v rias dessas regras muitas das quais por m funcionam mais como obst culos algor tmicos n o analisados do que como aux lios Mas a maioria dos cientistas sociais disp e de poucos recursos heur sticos formulados de modo consciente Em geral baseiam se nos ju zos fal veis e n o examinados do pr prio ouvido Desenvolvem esse ouvido seus crit rios de escrita sobretudo a partir de suas leituras Leem trabalhos que admiram
93. ando e n o sei como convencer os c ticos de que tenho raz o a n o ser apontando os conte dos dos peri dicos que s o sempre mais variados do que os cr ticos pensam Os preconceitos que existem efetivamente operam com mais sutileza como quando o editor decide que um artigo mal escrito e mal organizado merece um esfor o especial ao passo que outro n o A li o para as pessoas que fazem trabalhos impopulares n o que n o ser o publicadas e sim que n o esperem que os editores fa am a tarefa que cabe a elas Isso n o deveria acontecer com ningu m mas alguns t m mais chance de que aconte a com eles Tive uma experi ncia editorial diferente quando fiquei encarregado de editar uma cole o para a Aldine Publishing Company em 1962 Alexander Morin ent o diretor da empresa e ele mesmo soci logo achou que valeria a pena montar uma cole o que representasse a tradi o de Chicago em sentido amplo Com isso tive contato com originais e autores que sentiam a ansiedade que costuma acompanhar o envolvimento com um livro Tamb m aprendi que era necess rio pensar numa previs o de vendagem do livro n o porque Morin fosse um empres rio empedernido mas porque se o preju zo fosse grande demais simplesmente n o haveria cole o nenhuma Percebi o quanto o assunto era importante assim como ter algo a dizer sobre ele Pessoas que n o se interessavam pela fabulosa contribui o que voc estava dando teoria social mesmo assim
94. ando que os mais graduados realmente sabem mais O que eles sabem de fato por defini o a resposta certa Por mais que as verdadeiras autoridades sobre certo assunto saibam que nunca existe s uma resposta certa e sim in meras respostas provis rias disputando aten o e aceita o os estudantes em particular os graduandos n o gostam desse tipo de conversa Para que se dar ao trabalho de aprender alguma coisa que n o verdade se amanh ter o de aprender outra coisa no lugar dela E tampouco os acad micos que acreditam na verdade se foram eles mesmos que a descobriram ou s o apenas seguidores dos descobridores gostam desse tipo de conversa Os l deres da rea devem saber O que eles sabem o que est no livro Esta a verdadeira hierarquia como se v com m xima clareza quando uma experi ncia qu mica feita em sala de aula n o tem o resultado correto e o professor diz aos estudantes o que devia ter acontecido e o que portanto devem anotar em seus cadernos Sim isso acontece de verdade Se existe s uma resposta certa e se voc acredita que as autoridades que dirigem a institui o onde voc trabalha a conhecem ent o voc sabe que sua tarefa descobrir essa resposta e reproduzi la quando necess rio assim mostrando que merece ser premiado e talvez at se tornar um dos guardi es Esta a vers o do estudante de gradua o Uma vers o um pouco mais sofisticada aflige p s graduandos e pr
95. anotando as palavras que ele usava e eu n o conhecia depois ia para casa e procurava o que eram Ele me parecia t o inteligente simplesmente porque eu n o o entendia A maneira como as pessoas escrevem quanto mais dif cil o estilo da escrita mais intelectuais elas aparentam ser N o por acaso como dizem ela aprendeu a pensar assim na gradua o O trecho mostra a perspectiva de um subordinado numa organiza o altamente estratificada As faculdades e universidades apresentando se como comunidades de intelectuais que debatem assuntos de interesse comum com liberdade e imparcialidade n o s o o que dizem ser Os professores sabem mais t m os t tulos que provam isso submetem os estudantes a exames e d o nota a seus trabalhos e ocupam o topo da pir mide em todos os aspectos imagin veis enquanto os estudantes ficam na base Alguns se sentem indignados com a desigualdade mas estudantes inteligentes que esperam ser intelectuais aceitam de bom grado Acreditam como Rosanna que os professores que lhes d o aulas sabem mais e devem servir de modelos quer fa am coisas com sentido ou n o O princ pio da hierarquia assegura aos estudantes que eles est o errados e o professor est certo E os estudantes concedem os mesmos privil gios aos autores Quando leio alguma coisa e n o entendo na hora o que significa sempre dou ao autor o benef cio da d vida Suponho que uma pessoa inteligente e se tenho dificuldade em entender as
96. anteriores com sentimentos contradit rios Parecem desajeitados cheios de erros e digo a mim mesma que preciso melhorar Minhas expectativas mudam constantemente e redefino o que considero um bom trabalho no mesmo ritmo Isso significa que a cada vez que sento para escrever fico pensando se vou mesmo conseguir fazer aquilo Ent o escrever ainda uma atividade arriscada Mas o que parece que estou aprendendo ao passar mais tempo escrevendo que vale a pena correr esses riscos V l que produzo um volume assustador de porcarias mas de modo geral posso notar que s o porcarias antes que outra pessoa tenha ocasi o de ver E de vez em quando produzo algo que presta algo que Lillian Hellman poderia ter escrito algo que capta exatamente o que eu quero dizer Normalmente apenas uma frase ou duas mas se eu continuar trabalhando a quantidade dessas frases vai aumentar Esse ac mulo de material bom tamb m me ajuda a encarar os riscos Quando me sinto totalmente incapaz de escrever s vezes volto e releio partes de algum texto meu que me agrada Isso me lembra que o risco tem dois lados Voc pode perder mas tamb m pode ganhar Tendo a pensar apenas na perda e isso me deixa medrosa Reler algum bom material s vezes me ajuda a come ar quando outros estratagemas falham E tamb m estou vendo que o lado negativo de enfrentar riscos n o t o ruim quanto eu temia Posso esconder as coisas piores entre o que escrevi Nunca n
97. antes querem mostrar ao mundo e a todos os cr ticos que podem estar l espera deles que verificaram e viram que ningu m teve aquela ideia antes Uma boa maneira de provar sua originalidade vincular sua ideia a uma tradi o cuja bibliografia j foi explorada Engatar seu trabalho num nome acad mico bem explorado ajuda a garantir que seu argumento n o esteja refazendo algo que j foi feito Se voc usar Weber Durkheim Marx ou Mead os exegetas j vieram antes preparando o terreno especificando quais s o realmente as quest es definindo qual trabalho de quem importante considerar e em geral fornecendo uma maneira infal vel de lidar com a bibliografia Veja a revis o bibliogr fica exaustiva de Chaim Yankel 1993 nessa rea Essa prote o ritual realmente d cobertura ao autor mas n o t o eficiente para produzir estudos bons ou interessantes As raz es interessantes por si s s iluminam por igual as bases institucionais da criatividade e da banalidade Os escritores claro deveriam usar a bibliografia pertinente de maneira adequada Stinchcombe 1982 apontou seis usos principais Espero que meu resumo de seu artigo exemplifique o que adiante descreverei como bom uso da bibliografia e forne a a voc um argumento j pronto que lhe ser necess rio Embora Stinchcombe escreva sobre a categoria mais restrita dos cl ssicos o que ele tem a dizer tamb m se aplica a nosso problema da
98. antina Em quanto mais melhor n o h mais verdade do que em quanto menos melhor Sim a reda o requer reelabora o e reflex o Mas at que ponto Deve se buscar a resposta em termos pragm ticos n o em atitudes predeterminadas Outra suposi o correlata cujas bases puritanas s o evidentes a de que voc deve se esfor ar muito ao escrever e isso se faz dedicando muitas horas ao trabalho Mesmo que voc n o chegue a escrever de fato deve pelo menos sentar mesa e tentar E sofrer se n o conseguir escrever Esse calvinismo pode derivar da forma o escolar com professores que insistem que voc aparente estar trabalhando mesmo que n o consiga fazer nada para que pelo menos n o se entretenha fazendo outra coisa quando devia estar produzindo algo Os escritores que seguem fielmente essa prescri o ganham dor nas costas de tanto ficar olhando o vazio sentados numa cadeira desconfort vel tentando imaginar o que dizer ou como melhorar o que disseram Mas ficar olhando o vazio na verdade n o faz parecer que a pessoa esteja trabalhando e mesmo o autor improdutivo finalmente entende que n o funciona As descri es cl ssicas dos problemas de reda o costumam incluir uma comovente descri o da folha em branco suplicando tinta enquanto o autor diante dela fica paralisado de ansiedade Todas as palavras parecem erradas E n o s erradas mas tamb m perigosas No Cap tulo 6 Pamela Richards examin
99. aponta uma coisa importante entre par nteses queremos indicar a algu m em particular n o a uma abstra o Quem essa pessoa depende do campo em que estamos operando e os campos costumam ser mais regionalizados do que imaginam os escritores acad micos principalmente para os estudantes Os soci logos e outros professores que vejo em Chicago expressam cr ticas e preocupa es diferentes das que Walton v em Davis na Calif rnia e n s dois temos p blicos profissionais mais amplos que tamb m s o diferentes entre si Lembre que os escritores acad micos se filiam a escolas de pensamento e adotam posi es pol ticas quando ainda est o na p s gradua o Isso explica outra fonte importante dos problemas estil sticos Quando debati com os estudantes a maneira como eles escreviam quando sugeri a Rosanna que escrevesse de um jeito que para ela n o tinha classe eles me disseram que eu estava errado porque era assim que os soci logos escreviam Passei muito tempo argumentando at entender a que eles se referiam quest o da profissionaliza o Os aspirantes carreira acad mica se preocupam se j s o se podem algum dia vir a ser ou mesmo se querem ser aquela esp cie de intelectuais profissionais em que est o se transformando Os estudantes do segundo terceiro ou quarto ano da p s ainda n o foram ordenados Podem estar na d vida Ainda n o passaram pela sele o final Podem ser expulsos A banca pod
100. as ampliando as coisas e desta vez vou ter de fazer direito E n o quero Estou cansada demais N o muito bom em plena noite n Meu Deus foi uma tortura Fiquei dando voltas e mais voltas nesse tipo de coisa ora brava ora assustada Simplesmente n o conseguia me livrar da certeza de que eu era uma fraude Principal raz o N o fa o sociologia como todos os meus colegas parecem fazer e como se sup e que se deva fazer E estou num per odo est ril para escrever quase duas semanas o que logo traz a certeza de que sou uma parasita pregui osa que n o faz nada absolutamente nada O fato de eu saber que ningu m trabalha do jeito que diz que trabalha e que ningu m tra a a linha metodol gica perfeita n o me ajuda muito pois n o consigo converter essa consci ncia numa percep o visceral Me sinto vulner vel Outros podem me pegar se eu mostrar que n o passo de uma caricatura de soci loga mesmo que eles sejam igualmente caricaturais E o que tudo isso tem a ver com o risco Para mim sentar para escrever arriscado porque significa que tenho de me expor ao escrut nio Isso exige que eu confie em mim mesma e tamb m significa que preciso confiar em meus colegas O mais problem tico de longe esse segundo aspecto porque s o as rea es dos colegas que me permitem confiar em mim mesma Por isso sonho com minha inseguran a e com o ataque pessoal de uma das amigas em quem mais confio e de quem sou mais pr xi
101. as enfatizarei a organiza o social local da escola e de certa forma diminuirei a nfase comparativa sobre os problemas profissionais que seriam ressaltados por uma an lise concentrada nas rela es Essa maneira de fazer experi ncias com a organiza o das ideias foi em certa medida formalizada na ideia do fluxograma Walter Buckley forneceu um bom exemplo em sua formaliza o da teoria da doen a mental de Thomas Scheff O gr fico aqui reproduzido como Figura 1 est em Buckley 1966 Voc n o precisa conhecer a teoria em quest o para ver como esse recurso traz clareza a um argumento Causas diversas Figura 1 Fluxograma Estabiliza o do Desvio num Sistema Social biol gicas psicol gicas sociais i Rompimento residual das regras RRR A Grau quantidade e visibilidade do RRR 5 Podes do rompedor de regras Crise pobleca rotula o C Dist ncia social entre o rompedor de p blica do RRR como regras e os agentes de controle doen a menta aA 6 D N vel de toler ncia da comunidade E Dsposibi sdade de regras altermatew n o d antes esv Sugest es de rea o de pessoas importantes na Casdrer sugestionhvel Compatibilidade do vocabul rio de M RR vida do desviante aloria dos RRR A A expectativas do ego com sugest es do esvisate enfatizam a defini o d negada e transit ria 2 r Ce outras pessoas pape de desviante Maioris dos RRR sem registro
102. b algum novo aspecto Come am assim porque acreditam que existe uma nica Maneira Certa E pensam que se pelo menos conseguissem encontrar a Maneira Certa de come ar todo o resto viria por si s e desapareceriam todos os outros problemas que eles temem estar espreita Eles pr prios se condenam ao fracasso Imagine que estou expondo meu estudo sobre os professores da rede de ensino p blico em Chicago Uso como exemplo sem falsa mod stia esse velho documento minha tese de doutorado porque conhe o bem o tema e porque os problemas ilustrados ainda afligem os estudantes os quais poder o ver algum proveito nas solu es que apresento Em termos amplos o estudo abordava a ra a a classe social a cultura profissional e a organiza o institucional Como vou come ar Posso dizer A cultura do professor de escola define os alunos de classe baixa especialmente negros como dif ceis de trabalhar Em consequ ncia disso os professores evitam essas escolas transferindo se para escolas de classe mais alta t o logo o tempo de carreira lhes permite e isso por sua vez significa que as escolas das classes baixas est o sempre preenchidas por professores novos e inexperientes Embora eu esteja falando de uma tese conclu da e aprovada em 1951 ainda tenho dificuldade em redigir uma frase introdut ria concisa Imagine eu tentando fazer isso em 1951 quando ainda nem sabia bem do que tratava a tese Quando olho a frase que acabei
103. batidas algum dia tiveram vida Conforme envelhecem perdem sua for a devido repeti o e assim ocupam espa o mas d o uma contribui o menor do que uma afirmativa simples e n o metaf rica mais claro e mais preciso dizer que o tema de um livro difuso do que dizer que lhe falta um argumento cortante Se o autor tiver sorte ningu m prestar aten o ao significado literal da express o metaf rica Quando ou o jogar fora o beb junto com a gua do banho e ainda a uso acho dif cil conter o riso O mesmo vale para ficar entre a cruz e a espada O que essas pessoas estavam tentando fazer com elas ali s As met foras tamb m se deterioram pelo uso errado As pessoas que n o conhecem e n o entendem bem o fen meno que podem n o saber o que est o dizendo quando usam as palavras v o us las de maneira incorreta pensando que querem dizer alguma outra coisa A met fora usual da bottom line ao p da letra linha de baixo por exemplo se refere ltima linha de um relat rio cont bil que resumindo todos os lan amentos anteriores permite saber se voc teve lucro ou preju zo naquele ano Metaforicamente pode se referir ao resultado final de qualquer s rie de c lculos a popula o dos Estados Unidos segundo o Censo de 1980 ou a correla o entre renda e n vel de instru o em algum estudo Mas as pessoas muitas vezes usam para indicar uma oferta final o menor pre o que est
104. bibliografia Dois dos seis usos apontados por Stinchcombe est o relacionados com fases iniciais da pesquisa e n o se aplicam tanto ao problema da reda o Como fonte de ideias fundamentais os cl ssicos s o muito importantes nas fases iniciais de um projeto mas quando voc come a a escrever suas ideias fundamentais j devem estar claras Claras ou n o voc j as tem e bem ou mal elas moldaram seu trabalho A segunda fun o dos cl ssicos como uma ci ncia normal subaproveitada como fonte de hip teses emp ricas de sugest es e intui es igualmente fundamental nas etapas pr reda o Stinchcombe tamb m menciona uma fun o organizativa dos cl ssicos indicar a solidariedade entre pessoas dentro de uma mesma rea o fato de que todos n s lemos esses cl ssicos ou pelo menos respondemos a perguntas sobre eles nos exames preliminares que nos une numa comunidade intelectual Ele se preocupa com essa fun o pensando que ela nos leva a admirar trabalhos que o tempo mostrou que estavam errados como diz ele Whitney Pope mostrou que Durkheim estava errado sobre o suic dio O que h de prejudicial na admira o dos cl ssicos portanto o efeito da aura a cren a de que um livro ou artigo sendo til para uma determinada finalidade h de conter todas as virtudes Outros tr s usos importantes dos cl ssicos t m rela o direta com a reda o do trabalho Uma obra cl ssica da re
105. bre essa atividade e a fazer algo que antes n o fariam As duas maneiras de investigar o uso de maconha n o s o totalmente divergentes poss vel faz las convergir e foi o que fiz quando publiquei o material em 1953 fiz a converg ncia Mostrei que os usu rios passavam por um processo de redefini o da experi ncia com drogas que os levava a encar las de outra maneira Soci logos psic logos e outros interessados no uso de drogas consideraram essa resposta interessante Ela ajudou a desencadear uma batelada de estudos examinando como as pessoas se tornavam tal ou tal tipo de desviante basicamente tendo como premissa que eram pessoas normais que haviam passado por algumas experi ncias diferentes Bom voc pode perguntar qual o problema com essa estrat gia O problema e que s vim a perceber anos depois que minha ansiedade em mostrar que essa bibliografia dominada por psiquiatras e criminologistas estava errada me levou a ignorar qual era o verdadeiro tema de minha pesquisa Eu tinha trope ado numa quest o muito mais ampla e mais interessante que simplesmente ignorei como as pessoas aprendem a definir suas experi ncias interiores Essa pergunta leva a examinar como as pessoas definem todos os tipos de estados interiores e n o apenas as experi ncias com drogas Como as pessoas sabem quando est o com fome Essa pergunta tornou se bastante interessante para os cientistas que estudam a obesidade Como as pessoas sabem
106. bre m es solteiras Voc pode come ar o livro ao cl ssico estilo evasivo Este estudo examina as experi ncias de m es solteiras com especial aten o a suas carreiras aos aspectos morais de sua situa o e influ ncia dos agentes sociais Sem entregar nada esse come o fornece ao leitor um conjunto de penhores em cau o que ser o trocados mais adiante se o autor cumprir a promessa e resgatar sua promiss ria por frases apresentando rela es reais entre entidades reais Felizmente n o foi o que fez Rains Em vez disso ela escreveu uma introdu o exemplar que explica exatamente o que o resto do livro analisar em detalhe Cito por extenso Tornar se m e solteira o resultado de uma sequ ncia espec fica de eventos que come a com incurs es pela intimidade e pela sexualidade resulta na gravidez e termina com o nascimento de um filho ileg timo Muitas jovens n o t m rela es sexuais antes do casamento Muitas que t m n o engravidam E as que engravidam quando solteiras em sua maioria n o permanecem solteiras As jovens que se tornam m es solteiras neste sentido compartilham uma mesma trajet ria que consiste nos passos pelos quais vieram a ser m es solteiras em vez de noivas clientes de cl nicas de aborto amantes com pr ticas anticoncepcionais ou jovens damas virtuosas Os aspectos mais importantes dessa trajet ria s o morais pois a sexualidade a gravidez e a maternidade s o assuntos intimament
107. chou que devia come ar a redigir os resultados J t nhamos nos correspondido antes sobre seus problemas no trabalho de campo e assim ela me confidenciou que estava tendo dificuldades para come ar a escrever Visto que tinha se sa do bem ao escrever sua pesquisa anterior ela pensou que podia ser alguma coisa nos materiais qualitativos que exigia uma abordagem diferente e me consultou a respeito Ofereci minha receita padr o mencionada anteriormente sugerindo que ela sentasse e escrevesse qualquer coisa que lhe viesse cabe a como se o estudo estivesse terminado mas sem consultar suas notas de campo nem a bibliografia sobre pris es nem nada Falei que digitasse o mais r pido que conseguisse Quando empacasse recomendei que digitasse Empaquei e passasse para outro t pico Ent o leria os resultados e veria o que lhe parecia ser verdade Dessa maneira descobriria como analisar seus materiais de campo pois teria de chec los para ver se o que pensava ser verdade era mesmo verdade e se n o fosse o que ent o era verdade De todo modo disse eu ela redigiria depressa um monte de coisas em rascunho e isso j era um come o Tenho dado esse conselho a muita gente ao longo dos anos N o s o muitos os que o seguem N o discutem comigo apenas n o fazem Sempre achei dif cil entender isso mas os resultados de meu conselho a Pamela me ajudaram a ver por que eram t o teimosos Pamela n o era teimosa mas como era reflex
108. cia de regras no Cap tulo 4 Mas concordei que tentaria da melhor maneira poss vel Fiquei em d vida se eu realmente seguia algum princ pio geral para editar um texto e pensei que em caso afirmativo eu poderia descobrir quais eram se tentasse explic los a ela Rosanna trouxe o cap tulo alguns dias depois Eu reescrevera v rias partes dele cortando in meras palavras mas esperava eu sem afetar em nada o conte do de suas ideias Era um timo trabalho muitos dados uma an lise original boa organiza o mas muito acad mico e verborr gico Eliminei todas as redund ncias e floreios acad micos achando que ela aprovaria Repassamos o texto uma p gina por vez e ela me questionou ponto por ponto Nenhuma altera o envolvia termos t cnicos sociol gicos Onde ela escreveu posi o unificada substitu por acordo porque era mais curto Troquei abordou a quest o de por falou sobre porque era menos pretensioso Um exemplo mais longo onde ela escreveu Este cap tulo examinar o impacto do dinheiro ou mais especificamente dos rendimentos independentes nas rela es entre marido e esposa com especial aten o ao mbito dos assuntos financeiros troquei por Este cap tulo mostrar que os rendimentos independentes mudam a maneira como marido e esposa lidam com assuntos financeiros pelas mesmas raz es Eliminei qualifica es vazias tende a juntei frases que repetiam express
109. cia e a pesquisa dessem trabalho ou problema demais podia voltar a tocar piano nos bares como meio de vida Depois de algum tempo isso virou bravata N o teria como voltar quela vida pois ela tinha desaparecido Os locais onde eu imaginava que poderia tocar haviam trocado suas pequenas bandas por uma grande tela de tev e os servi os que pensei que podia fazer haviam deixado de existir A sociologia se mostrou uma rea muito melhor para trabalhar e nunca lamentei a escolha Mas fico contente que minha carreira docente tenha se dado na poca em que se deu Tive o cuidado de nascer num ano que me levou a come ar dar aulas em 1965 quando o n mero de estudantes ingressando na faculdade foi superior a qualquer previs o das reitorias Por que n o viram que isso ia acontecer Os dem grafos tinham avisado que essa gera o estava a caminho De repente os cursos de gradua o e p s gradua o precisavam de professores e com urg ncia At ent o eu vivia contente como pesquisador folgado pago para pesquisar e publicar em vez de ensinar Todos os meus amigos sentiam pena de mim pois eu n o tinha um emprego acad mico mas quando veio a explos o universit ria eu j tinha dois livros e um bom tanto de artigos publicados e de repente me quiseram para professor As matr culas na gradua o dispararam A quantidade de alunos em cursos de ci ncias sociais e a quantidade de livros que podiam ser vendidos a eles tamb m
110. coisas que acabei aprendendo a fazer por exemplo localizar um erro tipogr fico numa primeira prova do outro lado da sala sendo que nem conseguia enxergar o tipo Mas tamb m aprendi que n o ia reescrever todos os artigos daquela maneira por mais que precisassem Tomava tempo demais e eu tinha outras coisas a fazer Podia fazer algumas p ginas de um artigo e mostrar aos autores o que eu tinha em mente mas depois eles que teriam de fazer por conta pr pria Nos ltimos anos alguns peri dicos maiores come aram a contratar preparadores mas nem mesmo eles podem se permitir os custos de preparar os artigos da maneira como se reescreve digamos um manual de curso Aprendi outra li o ao reunir os artigos para meu primeiro n mero Em princ pio uma revista acad mica deve sair periodicamente em n meros bimestrais como o AJS ou a ASR ou trimestrais como a Social Problems Se voc perdesse o prazo perderia a vez na fila da gr fica as pessoas reclamariam que a revista estava atrasada e os membros da organiza o patrocinadora iriam querer saber o que havia de errado Melhor sair dentro do prazo Isso n o significava que voc publicaria coisas que n o achava boas mas sim que publicaria coisas que estivessem boas de qualquer linha que fossem quantitativa ou qualitativa da escola de Chicago ou estrutural funcionalista Todos os editores de peri dicos com quem conversei sempre concordaram que apesar dos preconceitos que secreta
111. culdade tentando dar uma forma perfeita a tudo o que p em no papel antes de mostrar a algu m Uma exce o interessante a esse padr o se d nos projetos em grupo nos quais para que o trabalho possa avan ar os participantes precisam estar sempre produzindo para se atualizarem Os participantes de projetos bem sucedidos aprendem a ver os trabalhos de todos como preliminares assim liberando as pessoas da necessidade de redigir rascunhos perfeitos j na primeira vez De modo mais geral os escritores resolvem o problema do isolamento cultivando um c rculo de amigos que leem seus trabalhos no diapas o correto tratando como preliminar o que preliminar ajudando o autor a desemaranhar as ideias confusas de um rascunho muito cru ou a melhorar a linguagem amb gua de uma vers o posterior sugerindo refer ncias que possam ser teis ou compara es que deem a chave para algum obstinado quebra cabe a Esse c rculo pode incluir amigos da p s gradua o ex professores ou pessoas com algum interesse em comum Essas rela es geralmente s o rec procas Conforme aumenta a confian a entre autor e leitor o leitor pedir ao autor para ler alguma coisa sua s vezes uma rela o desse tipo se desfaz quando n o se retribui o favor Alguns n o conseguem ler as coisas de maneira apropriada Prendem se a miudezas s vezes uma simples palavra que poderia ser trocada por outra evitando o problema e n o conseguem pensar nem comentar
112. da sociedade as pessoas j sabiam o tempo todo como ela funcionava mas preferiam n o ter de pensar sobre as implica es e os corol rios A tarefa do cientista social dizer essas coisas em voz alta e levar todos a pensarem seriamente a respeito Os mundos acad micos guardam uma profunda ambival ncia que se reflete nas atitudes contr rias de apronte logo x n o tenha pressa Pelo lado pr tico os mundos da academia s o o que Everett Hughes 1971 p 52 64 chamou de going concerns preocupa es em andamento orientadas para o t rmino dos trabalhos Em termos menos pr ticos eles adotam a perspectiva da hist ria no longo prazo vendo o desenvolvimento de um conjunto de pr ticas e conhecimentos ao longo de anos e at de s culos Do lado pr tico est o operando agora e precisam lidar com todos os problemas imediatos de qualquer preocupa o em andamento Talvez n o precisem produzir um novo computador para garantir uma fatia do mercado embora a concorr ncia pelas inscri es dos alunos pelo renome acad mico e pelo dinheiro seja mais ou menos parecida Mas eles criam e sustentam associa es formais que realizam encontros anuais e publicam peri dicos que por sua vez exigem que as pessoas escrevam artigos para apresenta o oral e publica o Os mundos acad micos fornecem o conjunto de m o de obra que trabalha nos departamentos da universidade e ministra seus cursos Os mundos acad micos produzem os
113. de Mas a falta de experi ncia talvez derive n o tanto da idade e sim da maneira como as escolas infantilizam os jovens Os estudantes de p s gradua o sem d vida avaliam com mais perspic cia a necessidade de reescrever quando pensando em participar de um congresso profissional anteveem os ataques de totais desconhecidos l gica aos dados e prosa do artigo que apresentariam Tais raz es talvez expliquem por que as pessoas n o reescrevem seus textos mas n o a vergonha e o constrangimento que sentem mera ideia de reescrev los Esses sentimentos tamb m t m origem nas escolas Ningu m associado s escolas sejam professores ou administradores explica aos estudantes como os textos que leem manuais ou relat rios de pesquisa de seus pr prios professores por exemplo s o realmente feitos De fato como eu disse antes citando Latour Shaughnessy e outros a separa o entre trabalho acad mico e doc ncia em quase todas as escolas oculta o processo aos estudantes Assim como segundo Thomas Kuhn as hist rias da ci ncia ocultam todos os erros e trope os nos programas de pesquisa que produziram os sucessos enaltecidos por elas Como os estudantes nunca veem seus professores e menos ainda os autores dos manuais de curso com a m o na massa n o sabem que todos eles refazem as coisas em vez de tratar o trabalho profissional como uma esp cie de teste Os estudantes n o sabem que faz parte da rotina de editores de
114. de datilografar posso pensar Espere a quero mesmo dizer cultura do professor de escola Afinal n o exatamente cultura no sentido antropol gico estrito Quer dizer n o a transmitem de uma gera o a outra e ela n o cobre todos os aspectos da vida n o um projeto de vida Se eu usar cultura tenho certeza de que vai dar problema e mere o pois estarei dizendo algo que n o o que pretendo Ent o jogo aquela folha no cesto de lixo e tento outra vez Posso trocar cultura por cren as em comum e me sentir mais satisfeito assim Mas a eu vejo que estava falando em classes e lembro o emaranhado de implica es que cercam todas as maneiras como os soci logos falam de classe A que vers o me refiro de W Lloyd Warner de Karl Marx Posso decidir voltar mais uma vez bibliografia sobre classes sociais antes de usar o termo A ponho outra folha na m quina de escrever Mas agora percebo que disse Como resultado de tal ou tal coisa os professores alguma outra coisa uma afirma o causal bem direta Ser que eu realmente penso que a causalidade social opera assim N o melhor usar alguma express o menos comprometedora Em suma qualquer formula o me levaria por algum caminho que eu n o tinha explorado inteiramente e talvez n o quisesse seguir se entendesse de fato o que estaria abra ando Os coment rios mais simples tinham implica es que talvez eu n o quisesse e
115. de tal maneira pensar em tal exemplo para desenvolver nossas ideias empregar tal maneira de reunir e armazenar dados ler tal romance ou assistir a tal programa de tev excluem nossas outras escolhas poss veis A cada vez que respondemos a uma pergunta sobre nosso trabalho e o que andamos pensando ou descobrindo nossa escolha de palavras afetar a maneira como vamos descrev lo da pr xima vez talvez quando estivermos tomando notas ou montando um plano geral Os estudantes em sua maioria tinham uma vis o mais convencional encarnada na famosa m xima que diz se voc pensa com clareza escrever com clareza Eles achavam que deviam elaborar tudo antes de escrever a Primeira Palavra reunindo todas as suas impress es ideias e dados e resolvendo explicitamente todas as quest es te ricas e emp ricas importantes Do contr rio podia sair errado Encenavam ritualmente essa cren a abstendo se de come ar a escrever enquanto n o empilhassem na mesa todos os livros e anota es de que talvez viessem a precisar Al m disso achavam que tinham liberdade de escolha na maioria dessas quest es o que levava a observa es como Creio que vou usar Durkheim em minha se o sobre a parte te rica como se j n o tivessem resolvido muito tempo antes as quest es te ricas sugeridas pela invoca o de Durkheim ou de Weber ou Marx na maneira como haviam feito o trabalho Os estudiosos de outras reas saber o quais Grandes Nomes p
116. dem descobrir que o tempo simplesmente passou sem que apresentassem uma cota de produ o mais significativa do que a do per odo da gradua o e que se permitiram ignorar o fato porque a organiza o n o lhes imp s prazos Visto que n o h prazo definido para submeter um artigo avalia o nem um juiz espec fico para dar uma nota os acad micos trabalham com seus cronogramas pessoais e em ritmo pr prio Submetem os resultados aquele corpo amorfo de jurados a comunidade profissional ou pelo menos aos representantes daquela comunidade que editam peri dicos organizam as programa es dos congressos profissionais e elaboram pareceres para as editoras Tomados em conjunto esses leitores encarnam a diversidade de opini es e pr ticas dentro da disciplina s vezes essa diversidade faz com que a longo prazo raramente um autor deixe de ser publicado por ter uma posi o errada ou por trabalhar num estilo errado Existem tantas entidades publicando tantos peri dicos que todos os pontos de vista encontram acolhida em algum lugar Mas os editores ainda rejeitam artigos ou devolvem com a instru o de revisar e submeter novamente pois ficam confusos os autores escrevem sem clareza ou formulam mal o problema que querem abordar Em decorr ncia disso a reda o profissional se privatiza N o h um grupo de pares que compartilhe o problema do escritor Nenhum grupo tem de entregar o mesmo texto no mesmo dia Cada
117. dem ignorar os problemas de reda o sem nenhum risco bvio e imediato dedicam o tempo a quest es de estat stica teoria e metodologia que estas sim podem criar e de fato criam problemas Os editores e professores rejeitam artigos que usam a estat stica de maneira incorreta mas apenas suspiram diante de textos mal escritos Como o conte do importa mais do que o estilo para os avan os na rea os professores n o reprovar o os estudantes inteligentes que escrevem mal e alguns soci logos muito respeitados s o notoriamente incompreens veis Uma rea que se importa t o pouco com a qualidade do texto pode espantar os de fora tal como cansa os de dentro mas assim que a sociologia e provavelmente muitas outras disciplinas acad micas no presente e no futuro pr ximo Em decorr ncia disso os jovens soci logos n o t m motivo para aprender mais coisas sobre reda o al m do que j sabiam quando come aram a p s gradua o e provavelmente at v o perder algumas habilidades que t m Se n o sa ram de suas aulas de reda o na gradua o com um padr o de gosto formado que inclui os elementos de gram tica e estilo como regras pr ticas n o v o dedicar tempo a estud los a s rio Ent o aprender o se tanto a corrigir seus textos de ouvido Como aprendi o pouco que sei sobre reda o e edi o de texto assim por acaso e a esmo acho dif cil criar princ pios editoriais gerais Mas consigo dar exemplos d
118. dos ao trabalho semestral n o t m a mesma facilidade para guardar na cabe a um trabalho mais extenso a que come am a perder a facilidade na escrita N o conseguem redigir o texto de uma tacada s sem sentir medo de despertar cr ticas e zombarias Ent o n o escrevem N o contei todas essas coisas aos estudantes nas primeiras aulas s depois O que fiz foi dar tarefas para que desistissem do m todo de escrever o texto de uma vez s Ent o poderiam criar outras rotinas menos penosas e igualmente eficazes para ganhar a recompensa acad mica Em todas as turmas que tive sempre havia alguns mais intr pidos que confiavam em mim a ponto de prosseguir com as experi ncias Minha fama de n o ser um carrasco abrandava o medo tradicional dos estudantes pelos professores e os que tinham feito outros cursos comigo confiavam em minhas excentricidades Os professores que n o disp em de tais vantagens provavelmente teriam mais problemas em usar alguns desses expedientes Falei aos estudantes que n o fazia muita diferen a o que eles escrevessem num primeiro rascunho pois sempre podiam modificar Como o que colocavam no papel n o era necessariamente definitivo n o precisavam se preocupar muito com o que escreviam A nica vers o importante era a final J tinham visto uma amostra das mudan as que podiam fazer e prometi que mostraria mais Nossa revis o em aula e minha respectiva interpreta o acalmaram os estudantes Pedi que tr
119. dos na hora de escolher uma teoria por uma raz o pr tica Precisam pelo menos pensam que precisam lidar com a bibliografia sobre o tema Os acad micos aprendem a ter medo da bibliografia na p s gradua o Lembro o professor Louis Wirth um dos ilustres membros da escola de Chicago pondo Erving Goffman ent o colega meu na p s gradua o em seu lugar com o lance da bibliografia Foi exatamente o que todos n s tem amos Achando que Wirth n o tinha dado aten o suficiente a algumas ideias importantes sobre o operacionalismo Goffman o contestou em classe fazendo cita es do livro de Percy Bridgeman sobre o tema Wirth sorriu e perguntou sadicamente Em qual edi o sr Goffman Talvez houvesse alguma diferen a significativa entre as edi es embora nenhum de n s acreditasse nisso O que pensamos foi que era melhor ter cuidado com a bibliografia ou Eles Poderiam Te Pegar O Eles inclu a n o s os professores mas tamb m os colegas que poderiam aproveitar a brecha e mostrar a nossas custas como conheciam bem a bibliografia Os estudantes aprendem que precisam dizer alguma coisa sobre todas as pessoas que discutiram antes o problema deles Ningu m quer descobrir que sua ideia cuidadosamente alimentada j estava impressa antes que pensassem nela talvez antes mesmo que nascessem e num local que deviam ter visto Wirth tamb m nos disse que a originalidade fruto de uma mem ria falha Os estud
120. e Por fim aplique a grande mensagem libertadora da sociologia sua pr pria situa o acad mica Entenda que seus eventuais problemas n o foram criados exclusivamente por voc n o resultam de algum terr vel defeito pessoal mas est o embutidos na organiza o da vida acad mica N o precisa aumentar o problema culpando se por algo que n o foi voc que fez Assim polianamente a moral da hist ria Tente Como certa vez me disse um amigo o pior que pode acontecer as pessoas acharem voc um idiota Podia ser pior Mais algumas palavras finais 2007 Como dizem antes era antes e agora agora e n o ser por muito tempo J falei v rias vezes que nossos problemas em escrever s o problemas que nascem dos cen rios organizacionais em que trabalhamos e que a organiza o social n o imut vel Estava mudando quando escrevi a breve conclus o que voc acabou de ler e continua a mudar De meu ponto de vista e sem d vida outros ter o uma vis o mais positiva as mudan as n o t m sido boas para n s acad micos e direi em algumas palavras finais o que penso que mudou e por que precisamos nos empenhar em vencer as coisas a que somos contr rios hoje em dia Isso parece um tanto pesado e assim me apresso em dizer que continuo a sorrir a maior parte do tempo ainda continuo a trabalhar Mas n o gosto do rumo que as coisas tomaram Quando me formei em sociologia eu costumava dizer a mim mesmo que se a doc n
121. e anos na verdade estou cozinhando um artigo ainda mais velho sobre o Abbey Theatre que escrevi para o curso de Everett Hughes sobre rela es tnicas em 1948 Quando recebo as cr ticas e coment rios seja de amigos ou de editores rejeitando um artigo suponho que na hora de expor meus argumentos me faltou a clareza suficiente que preveniria as obje es feitas e ent o examino o que posso fazer para atender s obje es sem mudar minha posi o a menos que a cr tica me conven a de que ela exige mudan as Essa revis o e reavalia o prosseguem at a hora em que n o consigo pensar em mais nada a fazer ou at que apare a algum espa o que aceite o artigo isto me convidem para preparar alguma coisa para alguma ocasi o ou publica o e aquilo em que estou trabalhando atenda s especifica es s vezes penso que terminei um texto e a descubro que n o Como sei disso Quando vejo alguma coisa que pode ser melhorada e percebo como fazer isso sei que terei de repassar o manuscrito mais uma vez Duas vezes pensei que Art Worlds estava pronto antes de estar Conforme minha experi ncia foi aumentando e fui ficando mais seguro comecei a me colocar problemas de reda o Insatisfeito com as frases compridas e complicadas que escrevia comecei a experimentar frases curtas Com quantas palavras Pouqu ssimas Tamb m comecei a procurar alternativas para a terceira pessoa pomposa demais e a primeira pessoa em excesso
122. e espec fico Tamb m procuram livros informativos obras acad micas de alta qualidade que sejam de f cil leitura Baseiam se como os editores dos peri dicos especializados no parecer de pessoas da rea que lhes digam se o trabalho atende aos crit rios de qualidade na pesquisa e no dom nio daquela especialidade Querem que suas edi es tragam prest gio editora e rendam algum lucro ou pelo menos cubram os custos e as comiss es que supervisionam o trabalho das editoras acad micas n o representam os modismos e interesses especializados apenas de alguma rea em particular Em decorr ncia disso a publica o de livros mais diversificada mais aberta a varia es do que podem admitir os peri dicos da rea Os diretores dos institutos que se baseiam nas listas das duas principais publica es em cada rea para orientar suas decis es quanto ao corpo docente provavelmente n o utilizam listas semelhantes das editoras E mesmo que todo o mundo de uma certa rea tenha uma ideia do ranking das editoras e prefira ser publicado pelas melhores os livros lan ados por qualquer editora que seja contam muito nas decis es de contrata o e promo o e assim os autores que encontram uma editora arrojada e existem muitas podem se arriscar mais variedade estil stica Os editores geralmente se preocupam menos com as sutilezas da meticulosidade acad mica e mais com o gosto dos leitores N o imp em aqueles tipos de
123. e estou escrevendo a primeira frase Se escrevo minhas frases introdut rias depois de terminar o corpo do texto o problema da nica Maneira Certa se torna menos premente O receio de se comprometer com as implica es de uma formula o inicial tamb m explica por que as pessoas come am com aquelas frases e par grafos vazios t o frequentes na escrita acad mica Este estudo trata do problema das carreiras ou A ra a a classe a cultura profissional e a organiza o institucional afetam o problema do ensino p blico Essas frases mostram uma t pica manobra para se esquivar apontando alguma coisa sem dizer nada ou quase nada sobre ela O que h nas carreiras Como todas essas coisas afetam o ensino p blico As pessoas que montam um plano geral fazem a mesma coisa criando t picos em vez de frases No instante em que voc converte os t tulos dos t picos em frases n o vazias retornam os problemas que o plano geral tinha resolvido No entanto muitos cientistas sociais pensam que est o fazendo um bom trabalho quando come am de modo evasivo Revelam os dados e provas um por vez como pistas numa hist ria de detetive esperando que os leitores acompanhem tudo direitinho at apresentarem triunfalmente o bomb stico par grafo final que sintetiza argumentos e provas ao mesmo tempo Talvez fa am isso por pudor cient fico que pro be afirmar uma conclus o antes de apresentar todas as provas o que ignora o timo exemplo da
124. e exatamente o que quer fazer Voc quer escrever sua tese ou controlar seu tal o de cheques Mas lembre voc j faz essas coisas usando rotinas razoavelmente satisfat rias sem o computador O conselho na revista lhe diz que voc pode encontrar um programa que lhe permitir fazer exatamente o que voc j est fazendo Isso mentira porque voc n o vai poder fazer as coisas exatamente da mesma maneira Se voc est acostumado a escrever seus artigos acad micos em blocos de papel pautado amarelo com uma caneta hidrogr fica verde uma pena N o poder fazer isso num computador Se voc gosta de fazer seus trabalhos de escola escrevendo em tiras de papel e colando com fita adesiva tamb m n o vai poder fazer isso Para usar o computador ter de aprender a fazer de outra maneira aquilo que aquelas outras formas de trabalhar faziam para voc Mas o que o computador lhe oferece uma maneira a que voc n o est acostumado claro que voc est comprando o computador porque quer escrever ou controlar o tal o de cheques de uma outra maneira mais vantajosa Mas isso significa renunciar s maneiras antigas Algumas pessoas resistem a isso Perguntam desconfiadas se poder o reescrever mas tamb m salvar a vers o anterior porque gostam dela ou se ainda podem manter pastas cheias de peda os de papel com anota es ou qualquer outro ritual a que se apegaram E por que se incomodar com comandos com uma nova linguage
125. e ligados a concep es sobre a respeitabilidade feminina e vinculados s concep es das mulheres sobre si mesmas Tornar se m e solteira n o apenas um problema pessoal e pr tico o tipo de problema que obriga a uma explica o p blica levanta quest es do passado e acima de tudo p e em quest o o tipo de pessoa que a m e solteira era e A trajet ria moral de uma m e solteira neste sentido se assemelha s trajet rias morais de outras pessoas cujas a es s o tratadas como desvios e cujas identidades ganham implica es p blicas Para a trajet ria moral de tal pessoa s o importantes se n o centrais as esferas de a o social com que ela pode entrar em contato como resultado de sua situa o Institui es e esferas de a o social sejam ligadas reabilita o ao encarceramento assist ncia ou puni o fornecem e imp em interpreta es da situa o atual da pessoa do passado que levou a isso e das possibilidades futuras Rains 1971 p 1 2 Essa introdu o apresentando o mapa do percurso que o autor far junto com os leitores permite lhes que liguem qualquer parte do argumento sua estrutura geral Os leitores com um desses mapas raramente se confundem ou se perdem No entanto frases vazias e evasivas constituem de fato uma boa maneira de come ar um primeiro rascunho D o uma margem de liberdade num momento em que voc n o quer ou n o precisa se comprometer e mais importante pe
126. e modos de olhar o mundo que est o por tr s de sua terminologia Quem haveria de critic lo se voc n o quiser dedicar todo esse tempo Eu mesmo n o teria me empenhado se tivesse algo melhor para fazer Mas eu tinha acabado de concluir um livro extenso e assim dispunha de um algum tempo em m os o diabo logo encontrou serventia para elas Nenhum proselitista me contou a maior vantagem de escrever num computador que fica muito mais f cil pensar ao escrever da maneira descrita pelos psic logos cognitivos interessados em escrita que citei em cap tulos anteriores Normalmente como disse escrevo um primeiro rascunho numa desordem quase deliberada qualquer coisa que me venha cabe a esperando descobrir os principais temas que quero trabalhar ao ver o que sai naquele fluxo desimpedido Costumava continuar escrevendo um segundo rascunho que reunia aqueles temas numa ordem mais ou menos l gica A no terceiro rascunho eu cortava palavras juntava frases reformulava o torneio das ideias e enquanto isso tinha uma ideia ainda mais clara do que pretendia dizer Era isso que deixava minhas p ginas t o bagun adas e levava a tanto cortar e colar Levava meses at chegar a uma vers o final Agora leva menos tempo Quando escrevo come o a ver a estrutura que meu texto est tomando Ah ent o isso o que quero dizer Em vez de arquivar a ideia para algum futuro uso volto imediatamente para um lugar adequado e come o
127. e prefer ncia a partir do trabalho da pessoa que est perguntando e posso sugerir ideias gerais que parecem aplic veis a seus problemas Essas no es n o podem ser formuladas como algoritmos claro N o posso dizer que voc nunca dever usar nenhuma voz passiva mas posso dizer que uma determinada constru o na voz passiva distorce uma ideia sociol gica importante E nem sempre errado usar palavras compridas e abstratas Apesar disso ainda neste cap tulo formularei essas regras em termos dogm ticos porque embora as constru es na voz passiva e as palavras compridas e abstratas s vezes sejam teis os cientistas sociais n o precisam de incentivo para us las J as usam automaticamente Seguem se alguns exemplos do tipo de copidesque que fa o com algumas explica es sobre as escolhas feitas o racioc nio por tr s delas e as diretrizes impl citas Isso dar mais corpo s prescri es que venho apresentando Os exemplos foram extra dos de rascunhos iniciais de um artigo que escrevi sobre fotografia Becker 1982b a vers o publicada diferente da citada aqui Os exemplos n o t m nada de muito especial posso encontrar outros semelhantes em tudo o que escrevi e em v rias coisas que publiquei Para come ar observe o seguinte par grafo que aborda a estrat gia de descrever grupos sociais por meio de fotografias de seus integrantes Qualquer parte que eles os fot grafos tomem para representar a pessoa
128. e rejeitar a tese Quem sabe o que pode acontecer Essa incerteza cria outra raz o al m das abordadas acima para o pensamento m gico e as pr ticas rituais Se voc agir como se j fosse um cientista social pode enganar a todos e ser aceito como tal e at enganar a si mesmo Escrever uma das poucas maneiras como um p s graduando pode agir como profissional Tal como os estudantes de medicina s podem fazer algumas das coisas que comp em a rotina de um m dico de verdade os p s graduandos n o se tornam profissionais enquanto n o receberem o diploma de doutorado At l podem dar aulas como professores auxiliares e trabalhar em projetos de terceiros mas n o ser o levados a s rio como algu m realmente titulado Pelo menos o que pensam e est o basicamente corretos e assim adotam o que veem ao seu redor o estilo em que s o escritos os livros e artigos de peri dicos especializados como uma sinaliza o adequada de sua perten a quele meio Que tipo de reda o pode desempenhar essa fun o para eles N o a prosa simples Isso qualquer um pode fazer Os estudantes t m as atitudes de muitos p blicos de arte em rela o aos modos comuns de express o Os inovadores art sticos muitas vezes procuram evitar o que consideram como excessivo formalismo esterilidade e hermetismo de seu ve culo explorando as a es e objetos da vida cotidiana Core grafos como Paul Taylor e Brenda Way usam a corrida o salto e a
129. e tal coisa merece aten o em vez de diz la logo como se fosse claro que ela merece aten o Foi por isso que de in cio eu tinha dito que era importante deixar expl citos os passos da teoria Mas se n o fosse importante para que se incomodar com isso E se importante por que n o deixar logo claro sem precisar de um an ncio preliminar N s acad micos tamb m usamos palavras desnecess rias porque pensamos como a estudante em meu semin rio que se dissermos a coisa de modo simples e direto vai parecer algo que qualquer um podia dizer em vez de soar como a profunda asser o que somente um cientista social capaz de fazer Damos uma import ncia especial a essa coisa ao sugerir que h algum processo importante subjacente ao que estamos dizendo Assim no come o eu falei em algu m que foi capaz de manter sua dignidade Essa formula o em vez de pessoas que mantiveram sua dignidade sugere que foi dif cil conservar a dignidade e a pessoa teve de se empenhar nisso Mas eu estava escrevendo sobre fot grafos n o sobre pessoas vencendo problemas Embora as pessoas realmente mantenham a dignidade como sugere a express o n o disso que trata o artigo e portanto era dispersivo e in til mencion lo Analogamente em a mudan a que ocorreu nas concep es de privacidade a nfase recai sobre o processo de mudan a nessas concep es Se eu retirar as palavras em it lico o aspecto que q
130. e textos n o nos condenemos ao fracasso visando ao imposs vel Um estudioso pode tentar trabalhar isolado e sem o aux lio dos outros como os chamados artistas primitivos que fazem pinturas e constru es sem recorrer a nenhuma tradi o do meio em que trabalham Estes artistas costumam produzir trabalhos extremamente exc ntricos mas que tamb m est o livres das restri es impostas pelas maneiras usuais de trabalhar Essa liberdade diante das restri es organizacionais s vezes permite que os artistas primitivos produzam obras que despertam o respeito de um mundo art stico estabelecido e s vezes at podem ser absorvidas dentro da tradi o do mundo da arte A dial tica entre restri o e oportunidade ilustrada pelo artista primitivo afeta todos n s ao escrevermos nossas teses artigos e livros Essa dial tica sugere duas perguntas como podemos usar a bibliografia de uma maneira eficiente Como a bibliografia nos estorva e nos impede de fazer o nosso melhor Existem maneiras eficientes de usar a bibliografia Claro Para come ar os acad micos precisam dizer algo de novo ligando o que dizem ao que j foi dito e isso precisa ser feito de uma maneira que as pessoas entendam qual o ponto importante Precisam dizer algo que traga pelo menos um m nimo de novidade Embora as ci ncias emp ricas se declarem fi is ideia de repeti o dos resultados n o isso que buscam Ao mesmo tempo quando voc se aproxima de u
131. eceristas sejam receptivos a esse estilo de escrita mas talvez a maioria n o seja Os artigos que s o prolixos pretensiosos e enfadonhos ainda abundam na sociologia Questionamos se prudente aconselhar os estudantes e os docentes rec m ingressados no mundo do publicar ou morrer a abandonarem o estilo r gido e pesado da disciplina Atualmente e no futuro prov vel os estudantes de p s gradua o aprendem a escrever lendo o que est escrito Geralmente encontram escritos enfadonhos prolixos pretensiosos perpetuando o problema e sugerindo que a maioria dos pareceristas espera tal estilo empolado Hummel e Foster 1984 p 429 31 grifo meu 3 A nica Maneira Certa Os ESCRITORES ACAD MICOS t m de organizar seu material e expor um argumento com clareza suficiente para que os leitores possam acompanhar o racioc nio e aceitar as conclus es Dificultam a tarefa mais do que o necess rio quando pensam que existe uma nica Maneira Certa de fazer quando pensam que cada artigo que escrevem tem uma estrutura predeterminada que precisam encontrar Por outro lado simplificam a tarefa quando reconhecem que existem muitas maneiras eficientes de dizer alguma coisa e precisam apenas escolher e empregar uma delas para que os leitores saibam o que eles est o fazendo Tenho muitos problemas com estudantes e n o s com eles quando leio seus artigos e sugiro altera es Ficam calados nervosos e encabulados quando digo
132. ef mero e se de fato h disposi o para fazer o trabalho coisa que em geral n o acontece um dos sobreviventes do grupo precisa assumi lo como projeto individual Foi o que aconteceu nesse caso Adendo Eu n o devia ter dito projeto individual pois evidente que n o foi Realmente pratico o que prego e de fato enviei este cap tulo que em sua vers o original era um artigo independente a v rias pessoas que me ajudaram com sugest es que aceitei em sua maioria Assim entre meus colaboradores est o al m de todos os participantes dos tr s cursos que dei as pessoas citadas no Pref cio t Implic ncia pessoal em franc s no original N T 2 Persona e autoridade Rosanna HERTZ que agora uma colega mas na poca era uma estudante muito avan ada entrou certo dia em minha sala e disse que queria conversar comigo sobre um cap tulo de sua tese em andamento que eu havia copidescado para ela Num tom cuidadoso que me parecia disfar ar uma dose de irrita o ela disse que concordava que o texto estava melhor mais sucinto mais claro no geral muito melhor Mas prosseguiu n o entendia os princ pios por tr s do que eu tinha feito Ser que eu poderia explic los repassando o texto junto com ela Falei que eu n o sabia bem quais eram os princ pios que regiam meu discernimento editorial e na verdade eu revisava e copidescava de ouvido explicarei essa express o que n o implica a inexist n
133. egar um artigo j escrito para treinarem as corre es Mas antes de pegar esses artigos decidi mostrar o que era revisar e reescrever Uma colega me emprestou um segundo rascunho de um artigo em que estava trabalhando No come o da segunda aula distribu sua se o sobre a metodologia do trabalho em tr s ou quatro p ginas e passamos tr s horas reescrevendo o texto Normalmente os soci logos usam vinte palavras quando duas bastariam e passamos a maior parte daquela tarde cortando o excesso de palavras Usei um m todo que j tinha usado muitas vezes em aulas particulares Com o l pis numa palavra ou ora o eu perguntava Isso precisa estar aqui Se n o vou eliminar Frisei bem que ao fazer alguma altera o n o pod amos eliminar a mais leve nuance do pensamento do autor Aqui eu estava pensando nas regras que C Wright Mills 1959 p 27 31 seguira em sua famosa tradu o de passagens de Talcott Parsons Se ningu m defendesse a palavra ou a frase eu cortava Mudei constru es na voz passiva para a voz ativa juntei frases dividi frases longas todas as coisas que esses estudantes j tinham aprendido a fazer nas aulas de introdu o reda o Depois de tr s horas t nhamos reduzido quatro p ginas a tr s quartos de uma p gina sem perder nenhuma nuance ou detalhe essencial Trabalhamos numa frase longa em que a autora avaliava as poss veis implica es daquilo que o artigo colocara at
134. ei Wagner n o causar num especialista em rela es trabalhistas a mesma impress o que causa num leitor menos especializado Assim a autoridade n o intr nseca ao texto Tais recursos funcionam apenas com um p blico que n o conhece a rea Mas pode ser necess rio usar os mesmos recursos para convencer os especialistas de que voc sabe do que est falando Uma especialista na hist ria da fotografia me alertou certa vez que seus colegas iriam ignorar um artigo meu sobre fotografia pois eu tinha escrito o nome de Mathew Brady com dois t e o de Georgia O Keeffe com um fs Muitas personae acad micas d o uma apar ncia de autoridade geral aos autores com direito ltima palavra sobre qualquer coisa de que estejam falando Os autores que adotam essas personae adoram corrigir os erros dos leigos dizer categoricamente aos leitores o que acontecer em alguma delicada situa o internacional cujo desfecho nem conseguimos imaginar explicar que n s cientistas ou n s soci logos sabemos de coisas que os leigos interpretam erroneamente Essas autoridades falam com imperativos Devemos reconhecer N o podemos ignorar Falam com o se do impessoal fazendo tal ou tal coisa em vez de usar a primeira pessoa Alguns gram ticos julgam que o pronome reflexivo impessoal se n o pode ser usado substituindo a primeira pessoa Decerto nunca encontraram autoridades como as que eu conhe o Essas auto
135. eio embara ado era evidente que agora eu estava me aproveitando tanto da amizade quanto da autoridade professoral e falou que faria N o posso culp la se me fez esperar uns dois meses at entregar aquelas p ginas Mais tarde Rosanna me contou que foi a coisa mais dif cil que teve de escrever na vida pois sabia que teria de falar a verdade Vou citar um longo trecho de sua carta Mas n o apenas uma quest o do car ter e da linguagem de um autor Mais classe era uma pista importante justamente porque Rosanna estava dizendo em voz alta o que muitos estudantes e profissionais nas disciplinas acad micas sentiam e praticavam mas menos corajosos n o se dispunham tanto a admitir Eles insinuavam o que Rosanna finalmente p s por escrito e as insinua es me convenceram de que a atitude dela era generalizada carta que recebi tinha quatro p ginas em espa o duplo N o citarei na ntegra nem na sequ ncia porque Rosanna estava pensando em voz alta na hora em que redigiu e a ordem n o essencial Ela come ava observando Em algum momento provavelmente na faculdade descobri que as pessoas que falavam bem usavam palavras dif ceis que me impressionavam Lembro que fiz dois cursos com um professor de filosofia simplesmente porque imaginei que ele devia ser muito inteligente visto que eu desconhecia o significado das palavras que usava em aula Minhas anota es dessas aulas s o praticamente zero Eu passava a aula
136. entar ser um intelectual profissional Com essas duas hist rias pessoais no livro voc pode sentir o que espec fico da pessoa e o que gen rico na situa o e no processo N o sei at que ponto esses sentimentos s o t picos em outras reas Creio que afligem a maioria dos acad micos e intelectuais 7 Soltando o texto A OBRA DE TRACY KIDDER The Soul of a New Machine em que uma equipe de engenharia narra a cria o de um novo microcomputador me ensinou uma boa express o getting it out the door ao p da letra fazer algo sair porta afora em sentido figurado amplo aqui usado lan ar soltar um produto O pessoal da ind stria de computa o costuma usar a express o para se referir ltima etapa no desenvolvimento de um novo produto Criar uma nova m quina leva muito tempo a concep o da ideia a transposi o da ideia para os projetos de hardware a constru o do hardware a cria o simult nea de um sistema operacional para controlar o hardware e dos programas e aplicativos que compensam sua constru o a reda o dos manuais de instru o para as pessoas aprenderem a us la o acondicionamento dos livros e CDs na embalagem por fim a expedi o do produto para o com rcio e o p blico usu rio A ind stria de computa o tem uma express o especial para o final desse processo porque h muitas coisas que podem interferir nele Muitos projetos nunca s o lan ados O hardware n o f
137. ente alguma outra coisa afirmar uma identidade Um hospital mental uma institui o total Podemos querer descrever uma caracter stica identificadora de uma classe de fen menos As pessoas que saem do campo s o marginais na sociedade urbana em que entram Podemos querer identificar alguma coisa como membro de uma classe Monet era um impressionista Podemos querer afirmar uma conex o causal ou uma rela o se ent o Favelas produzem crimes ou Se uma crian a cresce num lar desfeito essa crian a se tornar delinquente Podemos afirmar essas conex es da maneira que acabo de fazer suficiente para deixar claro o que queremos dizer Mas podemos ser ainda mais claros refor ando nosso argumento sintaticamente A sintaxe a maneira como dispomos os elementos da frase indica as rela es entre eles Podemos refor ar um pensamento de uma frase dispondo seus elementos de forma que sua sintaxe tamb m sustente o argumento ou pelo menos n o interfira na compreens o do leitor Por exemplo podemos colocar pensamentos subordinados em posi es subordinadas dentro da frase Se os colocarmos em posi es de import ncia os leitores pensar o que eles s o importantes Se dermos a mesma import ncia gramatical a todos os pensamentos numa frase alinhando os em ora es coordenadas os leitores pensar o que eles s o de igual import ncia o que acontece quando cedendo ao h bito digo que tenho tr
138. erentes de dizer a mesma coisa antes de me decidir por uma delas Posso at alinh las todas na tela para comparar Talvez n o seja uma grande vantagem poder fazer tudo isso Uma terceira mentira que o computador vai lhe poupar tempo N o n o poupa porque voc aprende a pensar como o computador Voc poderia poupar tempo se a nica coisa que fizesse no computador fosse aquilo que tinha em mente quando o comprou Sem d vida conseguir digitar suas cartas mais r pido com menos erros se a nica coisa que fizer for digitar cartas Mas a n o estar aproveitando muito o computador Se for s para digitar um pouco mais r pido algumas cartas sem erro n o compensa o tempo nem o dinheiro E a que voc come a a pensar Quer fazer mais e algumas coisas se apresentam prontamente Mas para fazer essas outras coisas voc vai gastar todo o tempo que poupou na tarefa original e mais algum Quando comecei a me interessar por computadores minha filha que tivera aulas de inform tica na escola me avisou que eu ia ficar doido Por qu Porque gosto de quebra cabe as e o computador uma fonte inesgot vel Sempre poss vel imaginar algo que ainda n o est dispon vel mas que parece o tipo de coisa que um computador conseguiria fazer Schiacchi 1981 descreve um laborat rio cheio de cientistas f sicos obstinados que passaram meses tentando que o programa de processamento de textos do computador central formatasse mel
139. es Donald Campbell 1976 p 3 identificou um fen meno que chamou de corrompimento dos indicadores que descreve com precis o o estado a que se chegou Quanto mais se usa algum indicador social quantitativo para a tomada social de decis es mais sujeito ele estar a press es corruptoras e mais capaz ser de distorcer e corromper os processos sociais que deveria monitorar Conforme o n mero de trabalhos publicados adquiria import ncia cada vez maior na carreira os acad micos jovens se apressavam em publicar mais e mais artigos Al m disso os departamentos passaram a se basear cada vez mais na contagem de cita es a quantidade de vezes em que seu artigo citado em artigos alheios para tomar decis es cruciais quanto ao corpo docente o que faz com que as estrat gias autorais afetem e corrompam esse indicador N o tenho dados que provem essas ocorr ncias mas descobri um pequeno fato curioso o tamanho dos t tulos dos artigos submetidos American Sociological Review em 2002 tem na m dia doze palavras e traz listas de vari veis especifica es de locais de pesquisa e detalhes semelhantes com que antes os autores n o se preocupavam Becker 2003b A pesquisa de James Moody 2006 d base a essa especula o mostrando que nem sempre foi assim o comprimento m dio dos t tulos dos artigos publicados nos principais peri dicos sociol gicos aumentou de oito para doze palavras entre 1963 e 1999 Suponho
140. es Minhas experi ncias como editor quando um passatempo se tornou uma segunda profiss o contribu ram muito para minhas ideias sobre a escrita Depois de passar anos copidescando informalmente os textos de amigos e colegas assumi dois cargos editoriais s rios Em 1961 tornei me editor da Social Problems a revista oficial da Society for the Study of Social Problems Sociedade para o Estudo de Problemas Sociais SSSP na sigla em ingl s organiza o que fora criada em oposi o ao monolitismo que estava tomando conta da Associa o Americana de Sociologia Considerei e creio que assim tamb m consideraram aqueles membros da SSSP que tinham alguma opini o formada que seria minha tarefa lan ar um peri dico que fosse de certa forma diferente da American Sociological Review e do American Journal of Sociology representantes do sistema N o sabia muito bem o que isso acarretava mas achei que devia tentar oferecer um espa o para artigos que por uma raz o ou outra n o eram bem vindos nos peri dicos maiores O que impedia que um artigo fosse bem vindo A maioria dos integrantes da SSSP achava que o sistema favorecia trabalhos maci amente quantitativos trabalhos baseados na teoria estrutural funcionalista e trabalhos que eram apol ticos portanto conservadores num sentido efetivo Assim a SSSP dava prefer ncia a trabalhos que n o fossem conservadores n o tivessem vi s quantitativo e usassem teorias de Chicago o
141. es compridas e quando ela dizia a mesma coisa de duas maneiras em frases seguidas removi a vers o menos eficiente explicando o que e por que fazia medida que avan ava Ela concordou com todas as minhas explica es ad hoc mas n o est vamos descobrindo nenhum princ pio geral Pedi ent o que ela pegasse uma p gina que n o havia passado por mim e trabalhasse nela Fizemos algumas linhas e a apareceu uma frase dizendo que as pessoas que eram objeto de seu estudo poderiam se dar ao luxo de n o se preocupar a respeito de certas coisas Perguntei como ela achava que daria para mudar aquilo Ela olhou olhou e por fim disse que n o via nenhuma maneira de melhorar aquela formula o Ent o perguntei se ela n o podia dizer simplesmente que as pessoas n o precisam se preocupar com tais coisas Rosanna pensou empinou o queixo e decidiu que era o momento de defender sua posi o Bem sim mais curto e certamente mais claro A pondera o ficou em suspenso de maneira t o flagrante como se ela tivesse pronunciado as retic ncias em voz alta Depois de um longo e pesado sil ncio eu perguntei Mas o qu Bom disse ela o outro jeito tem mais classe Minha intui o me avisou que aquelas duas palavrinhas eram importantes Falei ent o que ela podia me pagar todos os favores que me devia escrevendo cinco p ginas explicando claramente o que queria dizer com mais classe Ela ficou com um ar m
142. es iniciais as sementes das ideias que exploraria mais frente e a apresentar exemplos que usaria mais tarde para relembrar um aspecto complexo aos leitores Citei o caso de Anthony Trollope em sua autobiografia contando que um velho criado lhe trazia caf antes de come ar a escrever e que esse criado merecia tanto cr dito quanto ele pr prio pelos livros resultantes Usei esse exemplo como sinal de que o artista depende do aux lio de outros para fazer seu trabalho e mais adiante apenas citei Trollope e seu criado esperando que os leitores relembrassem o aspecto te rico Talvez em decorr ncia de minha pr tica de ensino vim a me convencer cada vez mais da import ncia de casos de bons exemplos para apresentar as ideias Eu costumava ficar irritado quando os estudantes me diziam que o que lembravam de meu curso de sociologia da arte era a hist ria de Simon Rodia e as Watts Towers que contei em in meros detalhes e ilustrei com slides Eu queria que eles lembrassem as teorias que eu estava desenvolvendo com tanta calma e empenho Mais tarde conclu que os casos e hist rias eram mais importantes do que as teorias Em certo sentido eu j devia saber disso pois sempre come ava meus relat rios de pesquisa de campo escolhendo entre minhas anota es alguns casos e epis dios representativos dispondo os em alguma ordem e depois escrevendo algum coment rio sobre eles Art Worlds tamb m me apresentou aos problemas e vantagens das
143. es plenos chegarem a essa conclus o sobre voc e seu trabalho N o vai ter bolsa n o vai ter proposta de emprego n o vai ter promo o arriscado O renome profissional est ligado posi o profissional e entre n s s o poucos os que podem dizer Pouco me importa o que voc pensa Para vencer esses medos para enfrentar o risco de ser considerada desleixada ou burra voc tem de confiar em seus colegas Mas a rea organizada de uma maneira que corr i incessantemente essa confian a Seus colegas est o concorrendo psicologicamente com voc ah a coisa perversa que faz eu me sentir melhor quando outra pessoa est na lama e tamb m estruturalmente Estabilidade bolsas vantagens est o se tornando cada vez mais parte de um jogo de soma zero conforme o mundo acad mico vem sofrendo o atual arrocho econ mico Ent o dif cil confiar em seus colegas sobretudo os mais pr ximos os de seu departamento ou de sua rea de especializa o Tamb m muito f cil ter medo dos colegas mais graduados porque voc sente que est o te julgando o tempo inteiro E o que devem mesmo fazer pois s o eles que sentem a obriga o de ter de separar o joio do trigo nessa nova safra de acad micos Conversam entre eles sobre nosso trabalho e comentam o que pensam sobre nosso potencial Ent o como voc vai poder confiar que n o sair o por a contando hist rias quando conclu rem que seu trabalho n o muito bom E
144. essoas conseguem fazer alguma coisa Preferimos dizer que elas tinham a capacidade de ou a habilidade para ou mesmo procurando simplicidade que elas chegaram a Quase sempre uso essas constru es nos rascunhos iniciais e substituo por conseguir na hora de reescrever Assim mudei a frase para Pessoas que mantiveram Por fim observe a frase sobre as linhas num rosto Ou seja os observadores olham as linhas de um rosto e inferem delas uma vida passada em dura labuta ao sol Cortei algumas palavras que n o faziam grande diferen a Conclu que Ou seja n o tinha sentido depois de retir lo e ver que a frase n o perdera nada de seu significado Aplicando o mesmo teste mudei uma vida passada em dura labuta para uma vida de dura labuta Mas tamb m vi uma maneira de acrescentar algumas palavras e tornar a imagem mais concreta Os observadores olham as linhas num rosto e inferem que foram tra adas durante uma vida de dura labuta ao sol Uma leve transposi o resolve a ambiguidade da elipse do pronome elas e flui ainda melhor Olhando as linhas num rosto os observadores inferem que A vers o final que saiu publicada ficou assim Qualquer parte que um fot grafo escolha para representar a pessoa est empregando uma estrat gia que se baseia numa teoria e num m todo Essa estrat gia depende do pressuposto de que as experi ncias da vida ficam registradas no r
145. eta o De certo ponto de vista os participantes estavam descrevendo sintomas neur ticos Mas de uma perspectiva sociol gica tais sintomas eram rituais m gicos Segundo Malinowski 1948 p 25 36 as pessoas fazem esses rituais para influir no resultado de algum processo sobre o qual julgam n o ter meios de controle racionais Ele descreveu o fen meno que observou nas Ilhas Trobriand Assim na constru o de canoas o conhecimento emp rico do material da tecnologia e de certos princ pios de estabilidade e hidrodin mica funciona associado e intimamente ligado com a magia mas sem se afetarem mutuamente Por exemplo eles entendem com plena clareza que quanto mais larga a toleteira maior a estabilidade embora menor a resist ncia tens o Podem explicar claramente por que precisam dar toleteira uma determinada largura tradicional medida em fra es do comprimento da embarca o Tamb m sabem explicar em termos rudimentares mas nitidamente mec nicos como precisam se conduzir durante uma ventania s bita por que a toleteira precisa ficar sempre a barlavento por que um tipo de canoa consegue resistir e outro n o Disp em de fato de um sistema completo de princ pios de navega o incorporado numa terminologia complexa e variada transmitido pela tradi o e obedecido de modo t o racional e met dico quanto os marinheiros modernos em rela o ci ncia moderna Mas mesmo com todo o seu conhecimento sistem tico
146. eunindo essas partes pr fabricadas para usar em futuros argumentos Grande parte de minhas leituras se rege pela busca desses m dulos de grande utilidade s vezes sei que preciso de uma parte te rica espec fica e at fa o ideia de onde posso encontr la muitas vezes gra as minha forma o te rica na p s gradua o para fazer um elogio a algo que tantas vezes pare o estar depreciando Quando escrevi minha tese sobre os professores do ensino p blico de Chicago encontrei m dulos que me eram necess rios nos textos de soci logos cl ssicos como Georg Simmel e Max Weber Ao discutir como os professores esperavam que os diretores das escolas ficassem do seu lado em qualquer alterca o com um aluno quaisquer que fossem os fatos da ocorr ncia encontrei uma descri o geral da classe a que pertencia esse fen meno no ensaio de Simmel sobre superioridade e subordina o A posi o do subordinado em rela o a seu superior favor vel se este ltimo por sua vez est subordinado a uma autoridade ainda mais acima na qual aquele primeiro encontra apoio Simmel 1950 p 235 Eu tamb m queria argumentar que o desejo do pessoal da escola em manter os pais e o p blico em geral afastados dos assuntos escolares era um caso espec fico de um fen meno importante em todos os tipos de organiza es Encontrei esse m dulo em Max Weber A administra o burocr tica sempre tende a ser uma administra o de sess es sec
147. ever de uma maneira que os copidesques bem intencionados e deviam supor que os colegas eram bem intencionados n o se enganassem quanto ao sentido Disse lhes que muitas vezes seus trabalhos seriam revistos por colegas e preparadores de texto e que era melhor irem se acostumando ideia sem se sentir ofendidos por causa disso Deviam era tentar escrever com clareza para que ningu m entendesse mal e fizesse altera es que iriam desagrad los Ent o falei que podiam come ar escrevendo praticamente qualquer coisa qualquer rascunho por mais fraco e confuso que ficasse e depois o transformariam em algo bom Para provar eu precisava de algu m que fizesse um primeiro rascunho despreocupado algumas ideias anotadas sem muito cuidado e sem nenhuma corre o Expliquei que esse rascunho os ajudaria a descobrir o que eles queriam dizer Essa foi uma das vezes em que inventei algo que eu n o sabia que j estava sendo desenvolvido pelo pessoal da teoria da composi o Linda Flower 1979 p 36 por exemplo exp e e analisa o mesmo procedimento chamando o de prosa baseada no escritor que d ao escritor liberdade de gerar uma grande amplitude de informa es e uma ampla variedade de rela es poss veis antes de se prender a uma formula o prematura Levou algum tempo at encontrarmos algu m disposto a enfrentar um processo t o arriscado Distribu na turma c pias do documento resultante A mo a que contribuiu co
148. ever sobre ele Em parte porque ningu m se lembra das ideias que voc comenta Mas tamb m como se tiv ssemos um acordo informal de n o nos considerarmos respons veis por nada do que falamos Ent o sinto seguran a em soltar alguns coment rios ganhar refor o me sentir melhor comigo mesma e talvez enfrentar aquele primeiro risco Mas aqui tamb m tem uma pegadinha Como o que dizemos n o conta f cil considerar essas conversas como fala o inconsequente Mas se eu pensar assim o retorno positivo do interlocutor n o ter credibilidade porque vou concluir que uma rea o minha atua o minha fachada de soci loga e n o a qualquer ideia significativa Mas se eu aprender a levar as conversas a s rio as rea es das pessoas poder o me ajudar a engatar as primeiras palavras no texto Em alguns aspectos quanto mais voc escreve mais f cil fica porque com a pr tica voc aprende que n o t o arriscado quanto temia Voc tem um hist rico do qual pode extrair autoconfian a seu nome tem credibilidade entre um n mero maior de pessoas do que aquelas para quem voc telefona e melhor de tudo voc demonstrou a si mesma que vale a pena enfrentar o risco Voc enfrentou o risco produziu alguma coisa e voil A est a prova de que voc quem diz ser Mas devo tamb m reconhecer que n o t o f cil como estou apresentando Meu hist rico na escrita me d alguma confian a mas vejo meus trabalhos
149. ez eu estava errado em meus preconceitos Quando montei o livro sabia que teria ilustra es Grant Barnes meu editor na University of California Press me deu um conselho excelente Ele falou N o ponha legendas de mera identifica o das imagens Escreva pelo menos uma frase dizendo o que o leitor deve enxergar na figura Como segui o conselho o leitor pode captar a ess ncia do livro simplesmente olhando as figuras e lendo as legendas Tudo isso aumentou meu interesse pelos aspectos visuais da reda o e elabora o de um livro Espero que a capacidade de meu novo computador em criar imagens e caracteres especiais tamb m ajude nisso Repetindo a moral da hist ria e que a nica boa raz o para eu falar tanto de mim mesmo voc aprende a escrever baseando se no mundo ao seu redor tanto pelo que ele lhe imp e quanto pelo que lhe oferece As institui es onde trabalham os acad micos empurram nos para determinadas dire es mas tamb m abrem in meras possibilidades a que voc faz diferen a De minha parte tenho sido relativamente aberto s possibilidades talvez mais do que a maioria e resisto s press es aqui tamb m talvez mais do que a maioria O mundo realmente pressiona e s vezes resistir d i Mas meu caso penso eu apesar de todas as suas peculiaridades pessoais e hist ricas mostra que o contr rio mais verdadeiro do que as pessoas costumam pensar 6 Riscos POR PAMELA RICHARDS A mai
150. fortuitos aos quais por alguma raz o eu estava preparado para reagir que me sensibilizaram Os cursos de ingl s tiveram alguma coisa a ver Quando eu fazia a gradua o na Universidade de Chicago tive um bom curso pr tico de reda o que se concentrava nas t cnicas de reorganiza o e reelabora o do texto Provavelmente foi l que aprendi que o primeiro rascunho era mesmo isso um primeiro rascunho e que eu devia ter em mente que reescrev lo faz parte da rotina Por outro lado alguns anos de p s gradua o lendo livros e peri dicos de sociologia conferiram a meu estilo todos os tra os t picos que agora elimino dos trabalhos de meus alunos Depois de me formar tive v rias experi ncias com pessoas que agora eram colegas de doc ncia e n o mais meus professores e que me fizeram lembrar aquelas recomenda es sensatas da gradua o Obtive meu doutorado em sociologia na Universidade de Chicago em 1951 aos 23 anos Tive dificuldade em encontrar emprego na academia o que n o foi uma surpresa Por que algu m iria contratar um rapazola se poderia ter um adulto pagando o mesmo sal rio naquela poca quatro mil d lares ao ano Tive a sorte de conseguir um emprego como pesquisador estudando o uso da maconha por 75 d lares semanais Nos feriados de Natal um bonde de Chicago tombou em cima de um carro cujo motorista era um dos docentes do curso de Ci ncias Sociais II na Universidade de Chicago Precisavam de um substitu
151. gador A menos que esteja copiando um modelo de carta de um livro ou escrevendo o quinquag simo bilhete de agradecimento usando exatamente as mesmas palavras que usou nos outros 49 voc est criando uma nova linguagem novas combina es algo que n o existia at o momento em que voc escreveu daquela maneira Os gram ticos e professores de reda o recomendam v rios tipos de regras e diretrizes Muitas delas como as que determinam que uma frase declarativa termine com um ponto ou que a escrita v da esquerda para a direita fazem o que as conven es costumam fazer nas artes permitem transmitir uma ideia oferecendo um m nimo de entendimento comum entre criador e consumidor Outras regras permitem transmitir com menos chance de equ voco e confus o involunt ria aquelas por exemplo determinando que os pronomes concordem com seus antecedentes Outras nem chegam a ser regras s o diretrizes para um uso convencional e um significado exato diferenciando digamos entre reticente e relutante Outras por fim s o realmente quest o de gosto sobre as quais as pessoas sensatas podem divergir em geral segundo linhas conservador x progressista eu devia mesmo ter usado furadas no Cap tulo 1 Qual o papel dessas regras e diretrizes na cria o de um texto Poderia funcionar assim anotamos tudo o que nos vem cabe a ent o repassamos o resultado com um manual na m o encontramos todas as transgress es das regras e corrig
152. ha feito Mas a duas noites atr s acordei de repente de um sono profundo desta vez sem sonhos com uma convic o totalmente clara e cristalina Eu sabia com total e absoluta certeza que eu era uma fraude A certeza n o se formou de nenhum argumento expl cito n o se desenvolveu de nada que eu reconhecesse estava ali pura e simplesmente Ent o comecei a revirar aquilo na cabe a tentando ver o que podia estar por tr s e a coisa come ou a tomar uma forma melhor Sou uma fraude porque n o trabalho como todos os outros fazem N o leio os cl ssicos na hora de deitar droga n o leio nada a n o ser romances sobrenaturais e coisas que n o t m nada a ver com meu trabalho N o sento na biblioteca tomando notas n o leio os peri dicos de cabo a rabo e o que pior nem quero N o sou uma acad mica N o sou uma soci loga pois n o sei nada de sociologia N o tenho para mim o compromisso de me imergir nas ideias e pensamentos dos Grandes Mestres N o conseguiria ter nenhuma conversa coerente sobre A Bibliografia de qualquer assunto nem daqueles em que supostamente sou especialista At pior tenho a temeridade de alegar que estou fazendo um estudo das penitenci rias femininas quando na verdade nem fiz direito N o conhe o tudo o que devia conhecer e n o consigo me obrigar a fazer do jeito que deveria ser feito E pior ainda sei que vou ter de voltar logo e fazer mais uma coleta de dados preenchendo as lacun
153. hor os relat rios N o tinha nada a ver com o conte do dos relat rios apenas com a maneira como ficavam na p gina digitada Eles queriam que o computador fizesse aquilo que qualquer datil grafo competente faria de olhos fechados N o sendo especialistas em computa o levaram um bom tempo at resolver o problema e segundo eles tiveram de faz lo porque precisavam de relat rios formatados profissionalmente Minha bobagem equivalente foi uma maluquice ainda maior Nasceu da prolifera o de equipamentos e programas compat veis com o Apple que eu usava Como muitos fabricantes produzem impressoras e cart es de interface de impressora compat veis com um Apple bem como programas de processamento de texto que rodam no Apple n o existe nenhum manual de instru es que explique o que voc tem de fazer com todas as combina es de equipamentos que queira usar Zinsser escapou a essas tenta es ficando com a IBM Al m disso os Apple t m a fama merecida de poderem criar imagens gr ficas Isso significa que podem criar v rias fontes e tipos al m das j presentes em todas as impressoras e assim a complica o aumenta Por exemplo eu queria imprimir o que escrevi com meu processador de texto usando aqueles tipos Se eu trabalhasse com estudos b blicos ou com os cl ssicos teria algum sentido a vontade ardente de imprimir meu texto em grego e hebraico Como n o conhecia absolutamente nada de grego e meu hebraico se resum
154. hos num aposento onde ningu m v o que estamos fazendo Os estudantes escondem seus textos uns dos outros nunca veem os professores com a m o na massa nem o trabalho que t m antes de o texto deles ser publicado essa privacidade socialmente organizada a origem do problema Se os estudantes soubessem que os colegas est o tendo as mesmas dificuldades que eles bom seria como uma dessas viroses que dizem que anda dando por a o que significa que todo mundo pega se sente mal por alguns dias e ent o passa Se os estudantes soubessem que seus professores escrevem muitas frases p ssimas mas ent o reescrevem v rias vezes perceberiam que suas frases ruins tamb m podem ser corrigidas Voc continua com o problema com a dificuldade mas agora sabe que n o irremedi vel Sabe como tratar E que isso sirva de modelo para todos os seus problemas de reda o Encontre a situa o que gera seu problema e mude a Examine os pontos onde voc est travando Voc acha que depois de escrever uma vers o de alguma coisa n o vai poder mud la Mude e veja o que acontece N o vai acontecer nada de ruim Voc ter um texto melhor o que n o nenhum problema Bom trabalho S o Francisco 2014 Pref cio segunda edi o ESCREVI A PRIMEIRA VERS O deste livro no come o dos anos 1980 Foi muito f cil Fazia alguns anos que eu dava aulas de reda o na p s gradua o e essa experi ncia me deu muito o que pensar e
155. ia ao que precisei estudar em meus breves preparativos para o bar mitzvah era apenas a vontade de resolver um quebra cabe a Depois de importunar toa as pessoas que me venderam o processador de texto finalmente encontrei um an ncio de um programa que imprimiria meus textos em qualquer fonte que eu quisesse Fiz algumas experi ncias aprendi a usar v rias fun es que n o usava antes consegui que funcionasse e fiquei muito contente Escrevi cartas a todos os meus amigos usando dez fontes diferentes Acho que passei pelo menos umas quinze ou vinte horas resolvendo esse problema Mas depois que aprendi j n o parecia t o interessante Decidi que o que eu queria mesmo era imprimir bem no meio do meu texto pequenas imagens que eu conseguisse fazer com um programa gr fico Meu novo Macintosh facilitou muito esta tarefa agora preciso encontrar um motivo para fazer isso Agora levo menos tempo para escrever mas gasto o tempo economizado com novos caprichos Depois que comecei a pensar como um computador descobri outras coisas para aprender e fazer que n o eram t o fr volas Os autores de ci ncias sociais mant m os dados em v rias formas anota es de leitura notas de campo resumos dos resultados ideias para organizar os materiais memorandos disso e daquilo Todo acad mico precisa de um sistema para organizar toda essa papelada e os programas de computador chamados de administradores de arquivo ou bases de dados
156. iam saber onde ler mais sobre as ideias que os interessavam e fornecer uma maneira de conferir a precis o das cita es e de outros materiais mencionados transformou se num exerc cio ritual em que o computador faz o servi o do qual o autor espera colher algum benef cio O leitor sofre com o texto sobrecarregado de cita es que n o t m utilidade e interferem no acompanhamento das ideias no trabalho O computador uma grande ajuda mas tamb m uma armadilha Cuidado 10 Uma palavra final De 1986 A leitura deste livro n o resolver todos os seus problemas de reda o Dificilmente resolver algum Nenhum livro nenhum autor nenhum especialista ningu m pode resolver seus problemas Os problemas s o seus Voc que tem de se livrar deles Mas das coisas que eu disse voc pode extrair algumas ideias de como resolv los ou pelo menos de come ar a trabalhar neles Por exemplo para evitar a praga de tentar fazer tudo certo de primeira e assim simplesmente n o escrever pode adotar a sugest o de escrever qualquer coisa que lhe passe pela cabe a num primeiro rascunho Se voc acompanhou meus argumentos j sabe que poder corrigir mais tarde e portanto n o precisa se preocupar com as falhas do rascunho inicial Voc pode evitar o tom vago e empolado de uma escrita com classe repassando v rias vezes o texto e eliminando as palavras que n o funcionam Pode pensar qual o tipo de pessoa que voc quer
157. igo mas sabia que n o era t o bom assim Na verdade a maioria dos meus conselhos eram os mesmos dos livros e cursos de reda o em ingl s Imaginei que meus leitores tinham achado o artigo t o pertinente e proveitoso porque numa vers o da distin o que Charles Wright Mills faz entre os problemas pessoais do ambiente e as quest es p blicas da estrutura social 1959 p 8 11 ele n o analisava problemas pessoais exclusivos mas sim dificuldades inseridas e compartilhadas na vida acad mica O artigo tratava apenas de problemas de reda o em sociologia afinal sou soci logo de profiss o mas as cartas vinham de pessoas de reas t o diversas quanto a hist ria da arte e as ci ncias da computa o Ainda que toda essa variedade de pessoas tenha visto proveito no que eu tinha a dizer n o conhe o essas reas o suficiente para falar sobre suas dificuldades espec ficas Concentrei me portanto nos problemas caracter sticos de escrever sobre a sociedade especialmente nas ci ncias sociais e deixo aos leitores de outras reas que fa am eles mesmos a transposi o Essa transposi o n o deve ser dif cil porque muitos cl ssicos da sociologia agora fazem parte do mundo intelectual em geral Durkheim Weber e Marx falam a um p blico maior do que a Associa o Americana de Sociologia J existem muitos livros excelentes sobre reda o por exemplo Strunk e White 1959 Gowers 1954 Zinsser 1980 e Williams 1981
158. ilidade em apagar o que escrevem Mas por que os escritores que n o se preocupam em virar motivo de piada acham mais f cil usar o computador para escrever Para mim uma quest o de desgaste f sico Pensamos a escrita como atividade mental conceitual lidando com ideias e emo es Isso condiz com a distin o tradicional entre trabalho mental e trabalho f sico entre cabe a e m o As pessoas que trabalham com o intelecto ganham mais usam roupas mais limpas e moram em bairros melhores Em outras palavras o trabalho intelectual uma atividade de classe social mais elevada do que o trabalho manual e bra al Pessoalmente podemos n o acreditar nisso mas como outros itens culturais algo que todo mundo sabe e portanto assim funciona a sociedade inevit vel saber que todo mundo pensa assim Irving Louis Horowitz sintetizou o tema convencional mental bra al da seguinte maneira Existem tipos de pessoas e suas diferen as de natureza Alguns nascem para dirigir outros para serem dirigidos Ainda que na teoria algu m possa subir de dirigido para dirigente na pr tica isso imposs vel Quem trabalha com a mente mais importante do que quem trabalha com sua for a f sica Ao avaliar a import ncia das pessoas preciso distinguir entre quem consegue conceitualizar e quem n o consegue quem consegue dialetizar e quem n o consegue A base da Academia de Plat o n o apenas a condena o da democracia tamb m
159. imeira vez Esse exerc cio trouxe v rios resultados Os estudantes ficaram exaustos pois nunca tinham passado tanto tempo ou examinado com tanta aten o um mesmo texto nunca tinham imaginado que algu m era capaz de passar tanto tempo numa tarefa daquelas Viram e testaram v rios procedimentos editoriais de praxe Mas o resultado mais importante surgiu no final da tarde quando uma estudante aquela maravilhosa estudante que diz o que os outros est o pensando mas preferem ficar quietos falou em tom cansado Puxa Howie quando voc diz assim fica de um jeito que qualquer um poderia dizer exato Falamos sobre isso O que era sociol gico o que voc dizia ou como voc dizia Pois veja s n o hav amos substitu do nenhum termo t cnico da linguagem sociol gica N o era essa a quest o quase nunca Hav amos substitu do redund ncias palavras bonitas express es pomposas por exemplo minha b te noire pessoal a maneira pela qual que geralmente pode ser trocada por um simples como sem nenhuma perda a n o ser o tom pretensioso qualquer coisa que pudesse ser simplificada sem preju zo para a ideia Conclu mos que os autores tentavam dar corpo e peso ao que escreviam utilizando um tom acad mico mesmo em detrimento do verdadeiro significado Descobrimos mais algumas coisas naquela tarde intermin vel Algumas daquelas longas express es redundantes n o podiam ser substitu das porque n
160. imos o texto deixando de acordo com o manual o que fazemos quando reescrevemos N o n o Talvez at fa amos algo um pouco parecido mas deixar o texto de acordo com o manual n o pode ser uma coisa t o autom tica tamb m um trabalho criativo Al m disso os estudos dos soci logos sobre a obedi ncia a normas mostram que elas nunca s o t o claras e inequ vocas que possamos simplesmente segui las Sempre temos de decidir se existe alguma regra se o que temos realmente abrangido pela regra se n o pode haver alguma exce o que n o est no livro mas na qual julgamos n s os formuladores das regras deviam ter pensado Tamb m precisamos interpret las de forma que o resultado obtido seja razo vel e n o alguma bobagem resultante de uma obedi ncia cega s normas Harold Garfinkel 1967 p 21 4 descreve essa pr tica que chama de ad hocar como tra o fundamental de todas as atividades humanas Mike Rose baseando se em sua experi ncia de aconselhar estudantes com bloqueio para escrever distingue dois tipos de regras uma claramente adequada atividade de reescrever Os algoritmos s o regras precisas que sempre resultar o numa resposta espec fica se aplicadas a um problema apropriado A maioria das regras matem ticas por exemplo s o algoritmos As fun es s o constantes p ex o pi os procedimentos s o rotinas elevar o raio ao quadrado e os resultados s o inteiramente previs veis No en
161. ingu m vai precisar v las e jogo fora o mais r pido que d O que mostro aos outros s o coisas que penso que t m algum m rito e at aquele ocasional par grafo que est ali t o bonito na m quina de escrever Em outras palavras tenho certo controle sobre os riscos existentes em escrever e deixar que outros vejam o que fiz N o estou totalmente merc de outra pessoa nem mesmo merc de minhas pr prias exig ncias de uma perfei o que imposs vel Tenho a possibilidade de jogar coisas fora isso Mas a complexidade do risco sua dupla natureza que me leva a sonhar na mesma noite que sofro os ataques de uma amiga e que escrevo como Lillian Hellman Conforme continuo a escrever come o a entender que n o uma quest o de tudo ou nada Se de fato puser algo por escrito estou sujeita a ganhar um pouco e a perder outro tanto Trabalhei durante muito tempo sob o peso de pensar que era uma quest o de tudo ou nada O que estava escrito tinha de ser uma verdadeira preciosidade liter ria ou um lixo irrecuper vel N o assim s um monte de coisas mais ou menos ajeitadas como um argumento Uma parte boa outra parte n o N o tenho nada a acrescentar a esta an lise Pamela Richards explorou detalhadamente a organiza o dos colegas e dos superiores t pica do mundo dos jovens acad micos e mostrou claramente como isso afeta a disposi o pessoal de aproveitar as oportunidades com que voc se depara ao t
162. internas O caso espec fico que descrevi em detalhes fornece um modelo ao qual os leitores podem remeter minhas ideias mais gerais Sem as especificidades as ideias gerais n o significam grande coisa Os manuais de reda o nos dizem para usar detalhes concretos porque tornam o assunto mais v vido mais marcante para o leitor Williams 1981 por exemplo diz Qualquer que seja nosso p blico podemos tornar o texto leg vel e marcante escrevendo de modo espec fico e concreto Quando condensamos express es compridas e tortuosas em express es mais compactas damos aguda especificidade a ideias difusas Quanto mais estreita a refer ncia mais concreta a ideia quanto mais concreta a ideia mais clara e mais precisa ela p 132 3 Quando usamos detalhes concretos para dar corpo a abstra es por m devemos escolher cuidadosamente os detalhes e exemplos O exemplo que os leitores t m em mente trar considera es que n o est o expostas explicitamente no argumento geral e dar o cor nossa compreens o desse argumento Kathryn Pyne Addelson fil sofa que analisa os problemas ticos do aborto diz que os fil sofos costumam elaborar exemplos muito fantasiosos hipot ticas mulheres engravidadas por insetos voadores e coisas do g nero e que tal escolha de exemplos os leva a conclus es que n o adotariam se discutissem o caso de uma gr vida de quarenta anos de idade com cinco filhos e marido desempregado 6 Met foras Es
163. isa poderia levar outra que uma ideia poderia manter algum tipo de rela o causal com outra que uma ideia uma vers o espec fica de alguma outra mais geral Mas podem estar errados Tais ideias poderiam contradizer algo que leram em Durkheim ou Weber poderiam entrar em conflito com os resultados da pesquisa de outra pessoa ou at ser desmentidas por seus pr prios dados As pessoas esperam resolver esses problemas montando planos gerais Os planos gerais podem ajudar mas n o se voc come ar por eles Em vez disso se voc come ar pondo tudo por escrito vomitando suas ideias na rapidez com que consegue digitar descobrir a resposta para a primeira pergunta os fragmentos com que tem de trabalhar s o as v rias coisas que acabou de escrever Esses fragmentos estar o ou deveriam estar nos mais variados n veis de generalidade Algumas observa es ser o espec ficas professores detestam crian as que falam palavr o Outras ser o mais gerais professores n o suportam que ningu m conteste sua autoridade em sala de aula Outras estar o relacionadas com a bibliografia acad mica Max Weber diz que a burocracia o dom nio das sess es secretas Algumas ser o sobre a organiza o social escolas em reas mais pobres t m quadros docentes inst veis ao passo que as escolas de classe m dia alta t m equipes mais est veis porque os professores raramente saem do emprego Algumas ser o sobre a carreira e a experi ncia pess
164. itante de Ludwig Wittgenstein bem como seu estilo coloquial e espica ador na prosa Da mesma forma muitos soci logos que optaram pela etnometodologia enfeitavam seus artigos com as infind veis listas e qualifica es do fundador da disciplina Harold Garfinkel Imitar os professores a forma espec fica de uma tend ncia geral de indicar filia es te ricas e pol ticas segundo a maneira de escrever Os acad micos se preocupam muito com a escola a que pertencem e com boas raz es visto que muitas reas divididas em in meras fac es premiam e castigam as pessoas pelas filia es que mostram As disciplinas raramente agem com o rigor ou a impiedade que os autores imaginam mas acad micos nervosinhos n o se d o conta plenamente dos perigos Voc pode mostrar facilmente suas filia es usando o vocabul rio codificado de uma escola que diferente do usado pelos seguidores de outras escolas em parte porque as teorias a que pertencem tais terminologias conferem um sentido ligeiramente diferente s palavras Assim por exemplo as teorias sociol gicas em sua maioria baseiam se na ideia de que as pessoas recriam continuamente a sociedade fazendo dia ap s dia as coisas que reafirmam que este o modo como as coisas s o feitas Voc pode dizer que as pessoas criam a sociedade agindo como se ela existisse Pode dizer se for um te rico marxista que as pessoas reproduzem as rela es sociais na pr tica cotidiana Se
165. ito aos mais nfimos fragmentos de seu texto e crentes de que jamais conseguir o recuperar aquela maneira perfeita de dizer encaram essas perdas como trag dias irrepar veis Provavelmente se sentem assim porque sabem como prec rio o controle deles sobre esses pensamentos fugidios Assim o preju zo real e ter de se preocupar com tais possibilidades um pre o alto a se pagar pela comodidade de um processador As pessoas que escrevem os programas de processamento de texto as instru es para que o computador fa a todas essas coisas maravilhosas raramente escrevem qualquer outra coisa Se escrevessem seriam escritores n o programadores Ent o as instru es que lhe dizem como usar um programa v m escritas na linguagem da rea de programa o e n o da rea de composi o e muitas vezes os usu rios leigos sentem dificuldade em segui las O computador diz coisas como COMANDO N O PERMITIDO OU ERRO SLOT E DRIVE N O RESPONDEM At se acostumar com essa linguagem talvez voc estranhe um pouco Pior ainda e mais relacionado com nosso tema algumas coisas que queremos fazer n o ficam mais f ceis num processador de texto e podem ficar at mais dif ceis se comparadas com estilete e fita adesiva Os computadores armazenam o que digitamos em arquivos de discos e d um certo trabalhinho transferir materiais de um arquivo para o outro se descobrirmos um lugar onde aquilo fica melhor ou sa
166. itude em seu pior os subordinados aceitando avalia es como notas e observa es dos professores que s o legitimadas pela estratifica o da academia e da titula o como avalia es definitivas e inquestion veis do valor pessoal deles Becker Geer e Hughes 1968 p 116 28 apresentam dados detalhados para tal interpreta o Todas essas ideias sobre n o reescrever sobre o trabalho escolar como sinal de valor se baseiam na falsa premissa de que existe uma resposta certa a melhor maneira de fazer as coisas Alguns leitores v o pensar que estou criando um estere tipo que os discentes e docentes s rios sabem que n o existe uma nica Maneira Certa Mas discentes e docentes realmente acreditam que h uma nica Maneira Certa porque as institui es a que pertencem encarnam essa ideia As ideias da resposta certa e da melhor maneira encontram abrigo natural na hierarquia As pessoas em geral acreditam que os ocupantes dos escal es mais altos nas organiza es hier rquicas sabem mais e melhor do que os dos escal es mais baixos N o n o sabem Estudos das organiza es mostram que os superiores at podem saber mais sobre algumas coisas mas geralmente sabem muito menos sobre muitas outras coisas Sabem at menos sobre a atividade central da organiza o que voc imaginaria que conhecem bem Mas a teoria oficial da organiza o e normalmente da sociedade em torno dela ignora tais resultados sustent
167. iva e tinha boa capacidade de express o podia deixar claro o que outros tinham achado problem tico Durante algum tempo n o tive mais not cias de Pamela Ent o ela escreveu para dizer que seguira meu conselho e estava enviando as cinquenta p ginas resultantes que redigira em dez dias Aquilo me animou claro muito satisfat rio ver nossos conselhos darem resultado Mas a carta que veio junto levantava uma quest o que se demonstrou importante e para a qual depois de algumas espica adas ela deu uma resposta maravilhosamente detalhada Pamela escreveu que alugara uma cabana na mata para morar enquanto tentava escrever o rascunho Embora soubesse que seria uma opera o de alt ssimo risco disse ela decidi tentar mesmo assim N o entendi o que ela queria dizer Tinha uma carreira s lida com publica es em peri dicos respeitados e coautoria de um livro Apresentava artigos em congressos acabara de ser promovida e recebera estabilidade Em outras palavras tinha passado pelas provas mais assustadoras que afligem os jovens acad micos Onde estava o risco Ali estava minha chance de usar o m todo de pesquisa que dera t o certo com Rosanna Hertz Escrevi a Pamela pedindo que explicasse o que havia de t o arriscado em se sentar a uma m quina de escrever durante dez dias e datilografar qualquer coisa que lhe viesse cabe a Comentei que na pior das hip teses ela teria desperdi ado seu tempo mas que isso
168. j conhecem o assunto ou pelo menos o pano de fundo seja l o que isso for tanto quanto eles Mencionam datas nomes e lugares que somente um especialista vai reconhecer e n o explicam A avalanche de conhecimentos minuciosos esmaga os leitores que se sentem levados a aceitar o argumento do autor Como algu m que sabe tudo aquilo poderia estar errado Abstenho me de incluir exemplos detalhados pois muito f cil encontr los e tamb m porque cada rea tem suas variantes que os leitores encontrar o e analisar o por conta pr pria espero eu James Clifford descreveu a persona antropol gica cl ssica mais ou menos inventada por Bronislaw Malinowski que persuade o leitor de que o argumento exposto correto pois afinal de contas o antrop logo estava l Malinowski nos d a pr pria imagem do novo antrop logo acocorado junto fogueira do acampamento observando ouvindo e perguntando registrando e interpretando a vida dos trobriandeses A patente liter ria dessa nova autoridade o primeiro cap tulo de Argonautas do Pac fico Ocidental dando lugar de grande destaque s fotografias da barraca do etn grafo montada entre as moradias kiriwianas Clifford 1983 p 123 Clifford identifica alguns dos recursos estil sticos que Malinowski usou para projetar a persona eu estava l 66 fotografias uma Rela o cronol gica de eventos kula presenciados pelo autor e uma altern ncia constante entre uma
169. las da classe trabalhadora e as escolas da classe m dia alta explicando a constela o espec fica das rela es dos professores com aqueles quatro grupos que caracterizavam as escolas de cada classe social Como escolhi A meu ver n o fazia nenhuma diferen a pelo menos em rela o ao grosso que teria de escrever Qualquer que fosse minha escolha eu teria de descrever professores e alunos da classe oper ria professores e seus colegas de escolas de reas mais pobres professores e diretores de escolas de classe m dia e todas as demais combina es de rela es e tipos de escolas criados por categorias e rela es de classifica o cruzada Minhas menores unidades descritivas ao analisar essas combina es seriam as mesmas As frases do come o e do fim relacionando as unidades menores com o todo seriam diferentes bem como os argumentos definitivos que eu ia usar Mas poderia usar tudo o que escrevesse qualquer que fosse a disposi o final dos materiais Estaria apresentando os mesmos resultados embora em ordem diferente e chegaria essencialmente s mesmas conclus es embora em termos e nfases diferentes O que eu diria naturalmente teria implica es diferentes para a teoria sociol gica e para a pol tica social Se eu usasse meus resultados para responder a perguntas diferentes as respostas pareceriam diferentes Mas nada disso iria afetar o trabalho que estava minha frente quando comecei a escrever minha tese Pa
170. ll acreditava que a press o para ocultar as realidades pol ticas levava as autoridades e seus defensores a escrever de uma maneira que mais disfar ava do que comunicava Alguns pensam que os acad micos operam sob restri es semelhantes talvez n o pol ticas mas embutidas nos pressupostos operantes das reas de estudo Um amigo psic logo me contou certa vez que o editor de uma importante revista especializada elogiou um artigo dele n o muito convencional e acrescentou imediatamente Pelo amor de Deus n o mande para mim Eu n o me atreveria a public lo pois n o est na forma correta A organiza o social se cria problemas tamb m cont m os elementos para as solu es Os acad micos deveriam por exemplo tentar algumas experi ncias antes de concluir que precisam fazer as coisas de uma maneira inferior a que seriam capazes A disciplina pode conter os recursos necess rios para fazer as coisas de outra maneira Voc pode descobrir se realmente precisa escrever mal tentando fazer de outra maneira e vendo o que acontece A organiza o social tem ainda outro modo de impedir que voc fa a essas experi ncias normalmente simples e seguras As atividades padronizadas da vida acad mica muitas vezes ocultam os apoios sociais que lhe permitem aproveitar as oportunidades Com efeito como Pamela Richards deixou claro ao descrever os riscos de escrever frequente que os acad micos se esforcem para prejudicar os colegas
171. lquer coisa que seja Pelo contr rio aprendem que um estudante realmente inteligente faz o trabalho uma vez da melhor maneira que poss vel numa tacada s Se voc n o se importa muito com o trabalho que est fazendo se apenas uma tarefa para um curso e voc calcula que vale apenas aquele tanto de esfor o e nada mais ent o provavelmente voc faz de uma vez s e dane se Voc tem coisas melhores para fazer com seu tempo As escolas tamb m ensinam os estudantes a tomar a reda o como uma esp cie de teste o professor passa o problema e voc tenta resolver e a vai para o problema seguinte Uma chance por problema Refazer o teste de certa forma trapacear ainda mais se voc agora tem a vantagem de ter recebido orienta es de outra pessoa depois da primeira tentativa Em certo sentido deixa de ser um teste imparcial de suas capacidades Voc pode ouvir o professor da sexta s rie perguntando Foi voc que fez tudo sozinho Um estudante pode achar que ajuda e trapa a o que gente mais experiente consideraria positivamente como rea o cr tica de leitores entendidos no assunto Joseph Wiliams me sugeriu que os estudantes sendo jovens simplesmente n o t m a experi ncia de vida que os deixaria usar a imagina o para sair de seu pr prio mundo egoc ntrico Assim n o conseguem imaginar a rea o de um p blico nem a possibilidade de outro texto que n o seja o que j fizeram Pode ser verda
172. ltam para os monitores dos cursos os orientadores da tese os pareceristas dos peri dicos os pareceristas das editoras e por fim para o grande p blico an nimo que poder ler a obra quando estiver dispon vel no mercado Alguns escritores come am a postergar quando ainda s o estudantes deixando de entregar os trabalhos de curso no prazo e acumulando uma quantidade recorde de coisas incompletas Alguns s deixam os amigos de confian a verem o trabalho quando s o levados ao desespero pelo isolamento e a mostram um material maci amente retrabalhado e altamente burilado Outros mostram as vers es iniciais aos amigos mas evitam submeter qualquer coisa a publica o insistindo que precisam reler alguns dos grandes mestres montar mais algumas tabelas dedicar mais algum tempinho bibliografia qualquer desculpa plaus vel Eu gosto de soltar meus textos Gosto de reescrever e mexer na organiza o e nas palavras mas logo resolvo de duas uma ou deixo o trabalho de lado como ainda prematuro para ser redigido ou ponho em forma adequada para lan ar Meu temperamento impaciente ansioso por recompensas curioso em ver como os outros v o reagir ao que eu disse me empurra para essa dire o E esse meu temperamento provavelmente se refor ou porque cresci no ramo da m sica popular onde voc toca todas as noites esteja a fim ou n o quer o que voc toque esteja bom ou n o E mais importante Everett Hughes me ensinou que a
173. lvar o material quando o computador lhe diz que o disco est cheio Usando computador r pido produzir muitas vers es da mesma passagem Se estivessem em papel provavelmente voc ia esquec las dentro de alguma pasta at que num dia de desespero achasse que uma delas podia ser a vers o m gica certa Ia reconhec la pela apar ncia Num computador n o t o f cil examinar todas as vers es de uma passagem salva A nica coisa que poder ser vista uma lista de nomes de arquivos e logo depois de inventar esses nomes eles n o v o ter muito significado para voc O Apple em que escrevi este livro clemente e permite nomear os arquivos com at trinta caracteres o suficiente para que o t tulo seja um pouco mais descritivo muito mais dif cil saber o que h num arquivo em muitos outros computadores que d o um limite de oito caracteres Assim como contrapartida de escrever com o aux lio do computador talvez voc n o consiga especificar bem os arquivos e pode ficar se debatendo na confus o de um monte de vers es aparentemente iguais da mesma coisa E voc precisa aprender todas as palavras que coloquei entre aspas e todos os comandos que mencionei de maneira t o informal Muitos usu rios em potencial dizem o que esperam que um computador fa a por eles assim Voc s precisa apertar uma tecla e ele vai Ah n o n o vai Voc precisa de tempo para estudar e dominar aquele vocabul rio e as ideias
174. m que diz a seus estudantes de p s gradua o que basta copiarem o que aparece na American Sociological Review Se voc usar os principais peri dicos como exemplares no sentido que Thomas Kuhn deu ao termo voc s ter problemas enquanto n o dominar a forma A partir da escrever seria t o simples quanto digitar O mundo acad mico este o outro lado da ambival ncia tamb m se orienta pelo longo prazo Nessa perspectiva ele n o precisa das mesmas coisas Precisa de novas ideias Mas os velhos formatos n o d o muito espa o para ideias diferentes Erving Goffman tinha qualidade e teimosia suficientes para que os guardi es da profiss o aceitassem os textos que ele escrevia numa extens o totalmente inconveniente ensaios de sessenta p ginas longos demais para os peri dicos e curtos demais para um livro As pessoas em sua maioria n o produzem um trabalho original t o surpreendente e n o t m a for a pessoal que garantiram sucesso aos empreendimentos quixotescos de Goffman Mas quem leva a vida toda para acabar o que est escrevendo n o t o doido pregui oso ou acomodado como dizem pessoas como eu Eles simplesmente se guiam pelo longo prazo e cumprir os prazos ef meros para os congressos da Midwest Sociological Society algo realmente trivial com que nem vale a pena se incomodar E isso n o bobagem Para a disciplina como um todo sem d vida algo bom Desde que uns fa am uma coisa e out
175. m com os riscos de perder o que escreveu se para fazer apenas o que sempre fez Dessa maneira voc n o aproveita as vantagens do computador Bom ent o voc quer fazer alguma coisa nova e os artigos continuam a mentir dizendo que voc s precisa encontrar o programa que fa a aquela coisa nova Mas voc n o tem como seguir esse conselho pois n o tem como saber o que quer fazer enquanto n o aprender uma nova maneira de trabalhar e come ar a pensar como o computador Quando isso acontecer n o vai mais querer escrever como antes Vai querer fazer algo que voc n o sabia que podia ser feito Vai trabalhar e pensar de outras maneiras que desconhece e que no come o v o lhe parecer estranhas Depois isso se torna uma coisa natural Toda a novela de William Zinsser para aprender a usar o comando de Delete em seu computador aprendendo primeiro a apagar letras depois palavras e ent o a usar a fun o Localizar para apagar todas as ocorr ncias de uma marca o descreve bem o fen meno Zinsser 1983 p 71 5 Cada pessoa usa de maneira diferente o que o computador oferece Eu por exemplo aprendi a pensar em m dulos a lidar ainda mais com pequenas unidades de material que posso reunir e separar de v rias maneiras para ver como fica o resultado Tamb m corrijo muito na tela pulando a etapa de imprimir uma vers o e trabalhar no texto impresso pr tica que muitos adotam Isso me permite examinar cinco ou seis maneiras dif
176. m bom sujeito que tem dificuldade em refrear as impreca es em presen a do mal e pode dar um soco na cara de algu m se a obra do Senhor assim o exigir Ou para pegar um exemplo mais s rio embora a nica coisa necess ria para exercer a medicina seja uma autoriza o oficial normalmente esperamos que os m dicos sejam homens brancos protestantes de velha cepa americana Hughes sentia especial interesse pela interse o de ra a e posi o profissional e ao desenvolver seu argumento fez a seguinte observa o O pertencimento ra a negra como definida pela lei ou pelos costumes americanos pode ser chamado de tra o principal determinante do status Tende a prevalecer na maioria das situa es cruciais sobre qualquer outra caracter stica que possa correr em sentido contr rio Mas a posi o profissional tamb m uma caracter stica forte mais nas rela es espec ficas do exerc cio profissional menos no intercurso geral das pessoas p 147 grifo meu A ideia de um tra o principal determinante do status que toma preced ncia na identifica o social da pessoa era apenas uma observa o lateral no artigo de Hughes Se eu fosse escrever um artigo chamado O pensamento sociol gico de Everett C Hughes n o dedicaria muito tempo a ela Mas ao elaborar minha teoria eu quis explorar precisamente como uma caracter stica desonrosa de status por exemplo a depend ncia de drogas podia prejudicar outros status
177. m o texto fez algumas piadinhas nervosas sobre si mesma sobre colocar se em risco ao deixar que as pessoas o lessem Para sua surpresa os colegas ficaram admirados com o que ela tinha escrito Podiam ver que estava mal redigido e confuso mas tamb m podiam ver e dizer que ela tinha ali algumas ideias realmente interessantes as quais podiam ser desenvolvidas Tamb m manifestaram sua admira o pela coragem dela Nos anos seguintes outros estudantes destemidos causaram o mesmo efeito sobre os colegas O rascunho mostrava os rodeios da autora para abordar o tema como os escritores descritos em Flower e Hayes 1981 sem muita certeza do que queria dizer repetindo a mesma coisa v rias vezes e de diversas maneiras Na compara o entre as vers es ficou f cil enxergar a ideia que ela estava rodeando e chegar a uma formula o mais concisa Com isso encontramos tr s ou quatro ideias a ser trabalhadas e pudemos ver ou sentir algumas conex es entre elas Concordamos que a maneira de trabalhar com aquele rascunho seria fazer anota es nele ver o que continha e depois montar um plano geral para outro rascunho Para que se incomodar em evitar redund ncias ou os outros defeitos que nos tinham dado tanto trabalho para eliminar na semana anterior se tendo agora adquirido essas novas habilidades seria f cil se livrar deles mais adiante Ficar se preocupando com essas falhas apenas retardaria seu ritmo impediria que voc dissesse algo em
178. ma Meu Deus dif cil confiar nos colegas N o apenas uma quest o de rirem da gente Qualquer trabalho pode ser usado como prova do tipo de soci logo e de pessoa que a gente Os colegas leem nosso trabalho e dizem Droga n o grande coisa Eu faria melhor Afinal ela n o t o boa assim E por extens o eles concluem que nossa atua o p blica como soci logos uma engana o Nossa rea montada de uma maneira t o competitiva que a gente alivia nossas inseguran as denegrindo os outros muitas vezes em p blico H sempre um medo para os que s o cientistas sociais novos e desconhecidos assoprando que at nossos colegas podem fazer coment rios informais a nosso respeito que v o se tornar parte de nossa imagem profissional Se forem coment rios cr ticos ou negativos a coisa fica perigosa Por isso muito arriscado mostrar o rascunho de qualquer coisa aos colegas Poucos entendem o que um rascunho de trabalho Sup em que falta s um passo para que um rascunho seja enviado para publica o Assim se voc aparece com uma primeira vers o fica com medo do que pode acontecer Podem achar que um trabalho vagabundo malconstru do muito malfeito mesmo E o que eles concluem Que voc n o tem muito de soci loga se p e essa porcaria para circular E se eles contarem isso a outras pessoas Mas digamos que voc consiga convenc los de que um rascunho apenas um rascunho que saiu numa esp
179. ma originalidade total a quantidade de pessoas que v o se interessar ser cada vez menor Todos est o interessados nos temas que as pessoas estudam e desenvolvem h anos tanto porque os temas s o de grande pertin ncia geral e constante por que as pessoas se suicidam quanto porque v m sendo estudados faz tanto tempo que criaram o tipo de quebra cabe a cient fico que Kuhn 1962 identificou como ci ncia normal tem se um exemplo disso na bibliografia referente teoria do suic dio de Durkheim A contribui o acad mica ideal a que faz os leitores exclamarem Isso interessante Como me sugeriu Michael Schudson exatamente assim que os estudantes devem aprender a ligar seus trabalhos bibliografia a situar seus resultados no contexto das teorias aceitas onde antes pareciam improv veis ver Davis 1971 e Polya 1954 Comentei mais acima que utilizo o artigo de Stinchcombe para exemplificar o que julgo ser uma maneira melhor de usar o que outros fizeram Eis o que quero dizer Imagine que voc est fazendo um projeto de carpintaria talvez construindo uma mesa J fez o desenho e cortou algumas partes Ainda bem n o precisa fazer sozinho todas as partes da mesa Algumas t m formatos e tamanhos padronizados 60 x 120 cm digamos dispon veis em qualquer madeireira Outras j foram projetadas e feitas por outras pessoas pernas torneadas e puxadores de gaveta Voc s precisa encaix las nos lugares que rese
180. mais novos adeptos que hesitantes e temerosos abandonaram a m quina de escrever cresceram numa nova gera o que v o computador como ferramenta padr o para qualquer coisa relacionada com n meros e palavras Os usu rios atuais consideram a coisa mais normal do mundo o recurso de copiar colar a pesquisa de refer ncias e cita es com fun es de busca e pela Internet a elimina o de erros de grafia e digita o com o corretor ortogr fico o envio de artigos em rascunho e vers o final para qualquer lugar do mundo por e mail Claro E igualmente claro nada mudou O computador continua a ser uma m quina assustadora semi incompreens vel apesar de todos os esfor os de autores t cnicos s rios e inteligentes para que pare a algo simples e l gico A l gica ainda arbitr ria n o algo que voc possa raciocinar e dominar sozinho os comandos para nem falar das temidas mensagens de erro ainda s o misteriosos e insond veis Os usu rios comuns desconhecem a maioria dos fant sticos recursos alardeados pelos fabricantes temendo muitas vezes com raz o provocar sem querer alguma falha fatal e perder trabalhos que querem guardar ciosamente Assim embora a ltima se o agora pare a quase bizarra boa parte dela se voc mudar alguns nomes ainda se aplica ao presente Mas algumas dessas novidades simplificam a reda o nos moldes que recomendei e surgiram alguns novos perigos Aqui est o eles Desde 2007 a
181. manuais utilizados nesses cursos Seus integrantes d o entrevistas a jornais e d o pareceres ao legislativo sobre o div rcio a criminalidade o poderio nuclear as cat strofes naturais e tudo aquilo que as reas devem conhecer o suficiente para poder falar sobre tais quest es A maioria dessas atividades requer que algu m prepare textos que alguns produtos fiquem prontos A organiza o das disciplinas acad micas n o exige que seja uma pessoa espec fica a cumprir tais tarefas Se eu n o escrever um livro definitivo sobre o assunto voc escrever se n o for voc ser outra pessoa Se nenhum de n s escrever o livro poderemos sofrer as consequ ncias mas a rea n o sofrer N o seremos promovidos mas algu m acabar por escrev lo se houver material para isso e ser promovido enquanto n s continuaremos a dar aulas nos cursos de introdu o Apesar de tudo essas atividades abrem as portas por onde nossos textos acad micos podem sair Os profissionais se guiam pelos prazos e restri es criados pelas disciplinas Pr ticos fazem concess es N o escrever o por exemplo em formatos curtos ou longos demais para os ve culos usuais onde seus trabalhos podem aparecer Podem ganhar renome como o dos engenheiros que lan am os computadores por produzirem o necess rio na forma necess ria dentro do prazo Desse ponto de vista f cil minimizar os problemas da reda o como faz um professor pelo que me contara
182. mas claro que essas palavras num primeiro rascunho n o passam nem no teste do Razo vel e muito menos no do CORRETO e da ESS NCIA PERFEITA DO CORRETO N o tendo o conceito de tentativa de um primeiro rascunho de n rascunhos s podem mesmo sentir frustra o diante do fracasso Depois de algum tempo a pessoa v as primeiras formula es mentais de um par grafo ou de um artigo sendo claramente reprovadas nesse teste e a ela nem come a sofre o bloqueio do escritor O medo do fracasso tem fundamento pois ningu m passaria nesse teste imposto a si pr prio de obter a nica vers o correta e esse fracasso fica evidente de modo muito especial e desgastante na fase do primeiro rascunho Algumas dificuldades de escrita muito correntes e espec ficas t m origem nessa atitude o problema de come ar e o problema sobre a maneira de organizar Nenhum deles tem uma solu o nica Tudo o que voc fizer ser uma concilia o entre possibilidades conflitantes Isso n o significa que voc n o chegar a solu es exequ veis significa apenas que n o pode contar que encontrar a nica solu o perfeita que estava ali o tempo inteiro espera de ser encontrada Geralmente os escritores mesmo profissionais t m problema em come ar Come am e recome am v rias vezes inutilizando resmas de papel retrabalhando sem cessar a primeira frase ou par grafo medida que julgam cada nova tentativa insatisfat ria so
183. ment rios Ela se reclinou na cadeira e me olhou Seu rosto mostrava frieza e a raiva tinha se transformado em nojo A fui abrindo caminho entre uma multid o de soci logos na conven o eu n o conhecia nenhum tentando sair Continuava esbarrando neles pedindo desculpas mas ningu m nem reagia muito Na verdade nem tinham me olhado quando avancei para o meio deles Ent o acordei Agora para equilibrar um pouco Tive um segundo sonho naquela noite acho que logo depois desse primeiro Eu andava lendo Uma mulher inacabada e Pentimento de Lillian Hellman Lendo relendo trelendo N o sei por qu No segundo sonho eu estava sentada compondo coisas para o livro sobre a penitenci ria feminina N o sei bem qual cap tulo ou qual t pico mas as palavras flu am que era uma beleza N o estava escrevendo estava falando em voz alta e elas simplesmente sa am da boca Estava tudo perfeito o estilo era maravilhoso e eu ciente de que tudo soava como se Lillian Hellman estivesse escrevendo aquilo era exatamente o mesmo estilo o mesmo ritmo das frases o mesmo sentimento e express o Era maravilhoso Eu me sentia muito poderosa e com total controle sobre o que estava fazendo Sabia que era bom sabia que era elegante e at comecei a gesticular enquanto falava como se fosse uma interpreta o oral Quando acordei recobrei a consci ncia como que flutuando devagar de modo muito agrad vel muito satisfeita comigo mesma e com o que tin
184. mentalmente esses textos e acertar logo na primeira tentativa ainda que possam ingenuamente pensar que assim que fazem os bons escritores Fazer certo significa expor o argumento com tanta clareza que o texto come a afirmando o que demonstrar mais adiante Assim os estudantes se atrapalham t m medo de fazer errado e n o conseguem terminar no prazo Escrevendo na ltima hora redigem textos com ideias interessantes coer ncia apenas superficial e nenhum argumento claro por detr s rascunhos interessantes que no entanto os estudantes querem que sejam tratados como resultados finais Alguns jovens cientistas sociais e tamb m muitos outros jovens acad micos depois da tese ingressam em situa es que premiam ainda menos aquele estilo de trabalho As disciplinas acad micas n o estipulam datas de entrega t o definidas N o h prazos simples Existem claro prazos profissionais se voc n o publicar uma quantidade de artigos a uma velocidade que seu departamento ou diretor considere suficiente talvez n o seja promovido n o receba aumento salarial ou n o consiga encontrar outro emprego Mas os cronogramas para essa produ o s o flex veis em parte determinados por caprichos administrativos e as pessoas podem pensar equivocadamente que outras preocupa es s o mais prementes preparar aulas ou cuidar de tarefas administrativas e requerem aten o imediata Assim os acad micos jovens po
185. mente esperavam implementar ao assumir o cargo logo descobriram que o principal era ter uma quantidade de artigos pass veis que fosse suficiente para montar um n mero e lan lo no prazo por isso que os autores que pensam que seus trabalhos foram rejeitados ou devolvidos para ser revistos e reapresentados por uma quest o de preconceito editorial quase sempre est o errados claro que pode haver uma grande dose de preconceito oculto na defini o de artigo pass vel Mas aqui me parece convincente o argumento de Stinchcombe 1978 segundo o qual os analistas sociol gicos quando est o fazendo um bom trabalho est o todos eles fazendo a mesma coisa Se o trabalho deles muitas vezes parece diferente porque tentam inflar sua import ncia usando nomes imponentes derivados de teorias famosas para descrever o que fazem Muitas reas nas ci ncias humanas em geral e n o s na sociologia incentivam essa pr tica Como o bom trabalho basicamente o mesmo qualquer que seja seu r tulo te rico bom um ju zo profissional e universal como os ju zos de m sicos ou bailarinos que geralmente reconhecem quando os outros est o tendo um bom desempenho mesmo que o juiz n o se importe muito com o que est o fazendo Os trabalhos que os cientistas sociais me mostram pensando que foram rejeitados por preconceito quase sempre est o mal organizados e mal redigidos Sei que esta a voz do sistema fal
186. mento hist rico com todas as suas refer ncias ultrapassadas a computadores e programas que agora s existem nos museus como recorda o daqueles tempos impetuosos antes de atualiz lo Desgaste e processadores de texto 1986 Eu me pergunto por que as pessoas relutam tanto em reescrever Parece bvio que se voc n o acerta na primeira vez f cil consertar depois J expus algumas das raz es dessa relut ncia Mas minha experi ncia pessoal de usar o computador para escrever e o que outras pessoas me contaram sobre suas experi ncias me mostrou que o mero desgaste f sico outra causa importante dessa relut ncia Isso me levou a algumas reflex es talvez menos baseadas nos fatos da organiza o social do que os cap tulos anteriores sobre as implica es de escrever como atividade f sica Usei o computador para escrever o artigo que abre este livro Embora no come o eu tenha ficado um pouco atemorizado com essa primeira experi ncia logo achei que dava t o menos trabalho escrever assim que me perguntei como conseguia fazer antes N o sou o nico Os processadores de texto facilitam a reda o para quase todos tanto os que t m problemas para escrever quanto os que escreviam com facilidade antes de ter um computador veja Lyman 1984 para um relato baseado na observa o sistem tica As pessoas que escondem seus primeiros rascunhos por medo de virarem motivo de chacota alheia t m um grande ganho gra as fac
187. n o era um pre o muito alto para algu m que de outra maneira talvez nem tivesse escrito coisa nenhuma Mais uma vez fiquei algum tempo sem not cias dela Ent o recebi a carta abaixo explicando com franqueza e honestidade o que estava por tr s daquele coment rio casual Minha inten o original era usar o que ela escreveu como mat ria prima para uma an lise dos problemas do risco Mas quando reli a carta ficou claro que eu n o teria quase nada a acrescentar sua hist ria e sua an lise Ent o perguntei a ela se aceitaria escrever o grosso desse cap tulo ao qual eu juntaria apenas uma introdu o e o que mais fosse necess rio para dar o engate com o restante do livro Ela concordou N o uma maneira muito ortodoxa de fazer as coisas mas parece a melhor maneira e a mais honesta de conseguir que se diga o que precisa ser dito O que se segue a carta de Pamela respondendo minha pergunta Caro Howie Acabei de tomar duas x caras de caf enquanto pensava sobre a quest o do risco Devo come ar minhas reflex es com tr s sonhos que tive na semana passada Dois s o sobre o risco entre muitas outras coisas tenho certeza e um sobre enfrentar o risco Na verdade s dois s o sonhos o terceiro outro tipo de ocorr ncia noturna pela qual passei logo antes de receber sua carta Em meu primeiro sonho eu tinha enviado a c pia do rascunho de tr s cap tulos para uma amiga que conhe o desde a p s gradua
188. nas continuava datilografando Se sentia alguma dificuldade em apresentar alguma coisa ou n o sabia como terminar um argumento eu fazia colchetes usando as teclas de barra e sublinhado adoro a capacidade do computador de fazer diversos tipos de colchetes e punha algo como N o chego a lugar nenhum com isso agora Ent o passava para outro ponto Calculava v rias vezes minha produ o e anunciava a qualquer ouvinte por ali que tinha feito seis p ginas ou contando as linhas e estimando uma m dia de palavras por linha 2 500 palavras Procurava n o eliminar nada mas n o era r gido a respeito disso Se via uma maneira melhor de dizer alguma coisa substitu a a formula o anterior por algo melhor Tamb m inseria novas passagens onde julgasse necess rio com muito capricho fosse cortando e colando ou marcando no texto da p gina 7 onde entraria o material inserido em minha nova p gina 7A Ficava muito contente quando as secret rias elogiavam o capricho de meus manuscritos Em tr s semanas escrevia o rascunho de tr s artigos com dez a quinze p ginas cada Ent o eu voltava da Calif rnia com esses rascunhos e passava o ano letivo trabalhando neles Muitas vezes deixava os de lado por v rios meses e raramente pensava neles quando a rotina da doc ncia comparecer a reuni es conversar com alunos e colegas ocupava meu cotidiano Isso me ajudava a refazer os artigos porque naquele meio tempo eu esquecia por que algum p
189. ndi que pensar sobre a escrita fazer experi ncias com meu pr prio estilo e ajeitar os textos dos outros tamb m eram coisas divertidas Talvez tomar a escrita como um jogo agrad vel tenha me imunizado contra as ansiedades de que outras pessoas falam mas minha relativa falta de ansiedade para redigir tamb m tinha ra zes sociol gicas Eu crescera numa forte tradi o te rica que tamb m dispunha de uma forte base organizacional A escola de sociologia de Chicago se desenvolveu na Universidade de Chicago nos anos 1920 com a lideran a de Robert E Park Sobre a escola de Chicago ver Faris 1967 Carey 1975 e Bulmer 1984 Ela tinha um ponto de vista coerente encarnado nos textos de Park que ganhou continuidade e desenvolvimento com uma legi o de vigorosos pensadores e praticantes em especial Everett C Hughes Herbert Blumer Louis Wirth e Robert Redfield Tinha tamb m a seu cr dito uma longa lista de monografias emp ricas cl ssicas The Gold Coast and the Slum The Taxi Dance Hall The Gang e mais tarde French Canada in Transition e outras mais Estudei junto com algumas centenas de outros estudantes do p s guerra com os gigantes da gera o p s Park e me formei com aquela pilha de monografias Sab amos que existiam outras maneiras de fazer sociologia mas poucos as levavam muito a s rio O fato de ter me formado nessa tradi o e nesse cen rio me deu uma arrog ncia te rica a convic o reconfortante de que eu aprender
190. nem sabia que estava sugerindo tais implica es Os leitores curiosos podem ver o que acabei escrevendo em Becker 1980 por isso que as pessoas fazem um plano geral Quando voc faz um esbo o de todo o quebra cabe a ele mostra para onde voc est indo ajuda a captar todas as implica es a evitar todas as armadilhas e a fazer tudo certo Voc encontrar a nica Maneira Certa Um esbo o pode ajud lo a come ar mesmo que n o aponte o Caminho mas somente se for t o detalhado a ponto de se converter no pr prio artigo e n o seu mero esqueleto o mesmo problema em forma levemente diferente O problema das implica es indesejadas aparece de modo especialmente dif cil nas apresenta es e introdu es Quando eu ainda estava na p s gradua o Everett Hughes me disse para deixar a introdu o por ltimo Uma introdu o pretende apresentar Como voc vai poder apresentar algo que ainda n o escreveu Voc n o sabe o que Ponha por escrito e a voc poder apresentar Ao fazer assim descubro que disponho de uma variedade de introdu es poss veis todas elas corretas sob algum aspecto todas elas trazendo um enfoque levemente diferente a minhas ideias N o preciso encontrar a nica Maneira Certa para dizer o que quero dizer o que preciso descobrir o que quero dizer Mas escrever uma introdu o fica mais f cil depois de dizer tudo e saber bastante bem o que quero dizer do que no momento em qu
191. no a ano surgiram novos desenvolvimentos que n o examinei aqui e provavelmente nem sabia deles Ultrapassando os limites f sicos do papel Os computadores nos dispensam do que sabemos fazer com o papel e uma m quina de escrever O papel cria limita es f sicas dificultando a mudan a de trechos de um lado para outro obrigando os autores ao papel de guardi es de enormes pilhas desorganizadas de notas cita es reprodu es e fotoc pias As m quinas de escrever se limitam a oferecer o pequeno conjunto de s mbolos e caracteres alfanum ricos no teclado Os computadores acabam com tais restri es e nos d o maior liberdade para organizar o que queremos dizer numa forma facilmente acess vel Armazenamento e busca Os computadores oferecem modos mais simples e eficientes de fazer o que muitos de n s sempre fizemos tomar notas aleat rias e desordenadas e armazen las at descobrirmos como us las s vezes as notas s o ideias a ser desenvolvidas s vezes s o conjuntos de dados como as fichas de 7 5 x 12 5 cm que gera es de historiadores v m usando para anotar as coisas que encontram nos documentos estudados N o precisam de muita estrutura porque s o a mat ria prima com que o escritor vai criar uma estrutura uma virtude que vem acompanhada de um defeito nem sempre voc consegue encontrar aquilo que sabe que est ali em algum lugar naquela pilha de pap is Alguns velhos m todos que se parecem com os de um
192. nos down fatos futuros previs veis s o up e ahead frente status elevado up status baixo down bom up mau down virtude up deprava o down racional up emocional down Eis como eles analisam o ltimo exemplo Racional up emocional down a discuss o caiu para o n vel emocional mas eu a icei novamente para o plano racional Pusemos nossos sentimentos de lado e tivemos uma discuss o intelectual de alto n vel sobre o assunto Ele n o conseguiu se elevar acima de suas emo es Base f sica e cultural em nossa cultura as pessoas se veem no controle sobre animais plantas e seu ambiente f sico e sua faculdade racional exclusiva que coloca os seres humanos acima dos outros animais e lhes d esse controle Assim Controle up pois serve de base para Homem up e portanto para Racional up p 17 O livro traz mais de duzentas p ginas com tais an lises e exemplos Como eu disse voc n o tem como evitar tais met foras Mas se tiver consci ncia delas pode usar suas conota es de forma intencional Se ignorar as conota es seu texto se debater consigo mesmo a linguagem transmitindo uma ideia e as met foras outra e os leitores n o saber o bem o que voc quer dizer Este cap tulo mal tocou em outro tema o que criar um padr o de gosto que lhe permita revisar bem seu pr prio texto e textos alheios A principal li o n o s o as especificidade
193. nos vejam como sofisticados conhecedores do mundo finos e inteligentes Tornar se intelectual ajudou tanta gente a subir na escala social que seria tolice ignorar o significado de ter classe Assim se escrevemos com classe mostramos que somos de modo geral mais inteligentes do que os seres comuns temos sensibilidade mais refinada entendemos coisas que eles n o entendem e portanto devem acreditar em n s Essa persona a que nos leva a usar uma linguagem empolada palavras compridas em vez de curtas dif ceis em vez de simples com frases complicadas fazendo sutis distin es que Rosanna costumava achar t o atraentes Nossa linguagem luta para ter a eleg ncia que gostar amos de sentir e encarnar Outros escritores adotam personae que ressaltam seus conhecimentos esot ricos Gostam de parecer muito bem informados aqueles sabidos com informa es privilegiadas que as pessoas comuns ter o de esperar at a semana seguinte para ler no jornal Os especialistas em assuntos relacionados de alguma maneira com os leigos rela es trabalhistas pol tica interna talvez algum pa s que vira manchete geralmente adoram apresentar s pessoas coisas que s eles sabem Os que gostam de estar por dentro ou inside dopesters como os chama David Riesman apresentam se desta forma aos leitores mostrando uma profus o de detalhes na maioria inexplicados Escrevem como se seu p blico fosse formado por pessoas que
194. o colega comentar em voz alta seus piores medos se confirmaram N o era poss vel escrever sem usar ret rica e portanto n o havia como fugir s quest es de estilo Durante v rios anos ministrando o curso desenvolvi uma teoria da composi o que descreve o processo que gera o texto e tamb m as dificuldades de redigi lo Ela aparece em forma mais geral em Art Worlds Becker 1982a como uma teoria de cria o de todas as esp cies de obras de arte Embora derive de uma psicologia social muito diferente da psicologia cognitiva que predomina nos trabalhos em teoria da composi o minhas ideias s o semelhantes s de Flower e Hayes e de seus colegas A forma final de qualquer obra resulta de todas as escolhas feitas por todas as pessoas envolvidas em sua produ o Quando escrevemos fazemos escolhas constantes como por exemplo qual ideia tomaremos e quando que palavras usaremos para express la e em que ordem quais exemplos daremos para deixar o significado mais claro evidente que na verdade a reda o posterior a um processo ainda mais longo de absor o e desenvolvimento das ideias este por sua vez precedido por um processo de absor o e sele o das impress es Cada escolha contribui para moldar o resultado Se essa an lise fundada estamos enganados ao pensar que quando sentamos para escrever vamos compor a partir do zero e podemos escrever qualquer coisa Nossas escolhas anteriores olhar tal coisa
195. o quais argumentos n o levavam a nada e nem deveriam ser apresentados Quando comecei a usar a fala como maneira de dar in cio a alguma coisa ainda n o tinha lido David Antin explicando por que ele escreve falando mas reconheci meus sentimentos em sua descri o pois nunca gostei da ideia de me fechar num quartinho para falar comigo mesmo numa m quina de escrever que tipo de fala essa peguei o h bito de ir a algum lugar com alguma coisa na cabe a mas nenhuma palavra em especial na ponta da l ngua procurando uma chance para falar com certas pessoas de um jeito que seja bom espero para todos n s Antin 1976 p i Depois de falar sobre alguma coisa durante algum tempo geralmente v rios meses ou mais eu ficava inquieto Raras vezes identificava a causa desta sensa o Normalmente n o surgia no ano letivo nem mesmo durante boa parte das f rias de ver o Durante muitos anos passamos o ver o e qualquer outro recesso escolar em S o Francisco voltando a Chicago no come o do trimestre do outono Umas tr s semanas antes de irmos embora de repente eu sentava sem nenhum sinal pr vio que eu pudesse notar afora essa vaga inquietude e come ava a datilografar o dia todo e metade da noite Datilografava em espa o duplo e em papel of cio amarelo pautado Destacava cuidadosamente cada folha do bloco Se eu n o destacasse certinho na linha perfurada n o usava a folha N o reescrevia n o naquela poca ao menos ape
196. o desempenha nos h bitos de escrita das pessoas Qualquer que seja a prepara o dos rascunhos iniciais depois eles precisam ser datilografados por voc ou por outra pessoa e geralmente mais de uma vez A vers o final destinada aos leitores s rios n o pode ter rasuras e quem reescreve muito tamb m precisa datilografar as vers es intermedi rias Redigitar os pr prios manuscritos uma tarefa enfadonha e cansativa embora a maioria aproveite para fazer mais corre es Se voc passa o trabalho f sico para outra pessoa tem de esperar at devolverem e a ter de corrigir os lapsos e erros cometidos Mas precisa que seja redigitado inclusive por mais outra raz o f sica A maioria dos escritores tenta fazer algo caprichado geralmente sem sucesso Voc consegue enxergar o que est fazendo se a p gina estiver limpa e bem datilografada D para ler as frases em seguida e fica f cil imaginar o que um leitor entender A p gina em boa ordem f sica faz como num passe de m gica com que voc sinta que seus pensamentos tamb m t m ordem gra as ao capricho formal medida que aumenta o monte com as folhas empilhadas em ordem ele vai parecendo cada vez mais um artigo ou um livro completo Reescrever desfaz essa sua ordem Voc remove algumas coisas deixando uma linha inteira de XXX sem significado ou um risco raivoso a l pis em lugar daquele pensamento conciso e expresso com clareza que era sua inten o Decide que um
197. o e at alguns de meus colegas mais jovens e esse perfil se manteve nos anos seguintes Seus problemas e preocupa es com a reda o superavam o medo de passarem vergonha voltando aos bancos de escola Minha cara de pau n o se limitou a dar um curso sobre um assunto que eu n o dominava sequer preparei o curso pois sendo soci logo e n o professor de reda o n o fazia ideia de como ensinar a escrever Ent o no primeiro dia de aula entrei na sala sem saber o que ia fazer Depois de algumas observa es iniciais meio atrapalhadas tive uma luz Durante anos eu havia lido as Entrevistas com escritores da Paris Review e sempre sentira um interesse levemente lascivo pelas coisas que os entrevistados revelavam sem o menor pudor sobre seus h bitos de escrita Assim eu me virei para uma velha amiga e ex aluna da gradua o sentada minha esquerda e perguntei Louise como voc escreve Expliquei que n o estava interessado em nenhuma linda hist ria sobre a prepara o acad mica e sim nos detalhes que realmente interessam se ela datilografava ou escrevia a m o se usava algum tipo especial de papel ou trabalhava em alguma hora espec fica do dia N o sabia o que ela ia dizer A tentativa deu certo Sem maiores hesita es ela descreveu longamente uma rotina complicada que devia ser cumprida risca Mesmo n o estando constrangida em falar alguns colegas se mostravam inquietos na cadeira enquanto ela explicava
198. o mundo Eu deixaria essa met fora em qualquer texto que revisasse A diferen a entre os dois tipos de met fora consiste na seriedade e aten o com que elas s o usada N o me refiro seriedade com que os autores tratam o tema mas seriedade que dedicam aos detalhes de suas met foras Goffman tomou a s rio a met fora do conto do vig rio e o sujeito que enganado em sua confian a Comparou ponto por ponto as outras situa es que analisou o namorado cujo pedido de casamento rejeitado o figur o que n o consegue uma mesa num restaurante lotado a pessoa que n o consegue administrar as coisas do dia a dia sem deixar de atrair a aten o sobre si com a do conto do vig rio Ele notou em particular que os ot rios que levaram preju zo na m o de vigaristas perceberam e imaginaram que os outros tamb m perceberiam que n o eram nem de longe t o espertos quanto pensavam na hora em que tentaram ganhar dinheiro f cil A tradi o da pr tica delinquente ensinava aos vigaristas que poderiam evitar maiores problemas se ajudassem as v timas furiosas a recuperar o amor pr prio se esfriassem o nimo delas Assim os vigaristas costumavam encarregar um integrante do bando a usar m todos comprovados para chegar a tal resultado Goffman utilizou a met fora esfriar para descobrir e descrever a mesma jogada e o mesmo papel em restaurantes e em outros lugares onde as pessoas podiam ficar expostas e inclusive sugeriu que
199. o os intimida mais do que aos estudantes Pamela Richards descreve o medo no Cap tulo 6 adiante o que dificulta ainda mais a solu o dos problemas t cnicos Apesar do t tulo do cap tulo inicial n o reescrevi um texto de introdu o reda o para os estudantes da p s gradua o N o tenho como concorrer com as obras cl ssicas de composi o cujos autores conhecem a gram tica a sintaxe e os demais t picos cl ssicos melhor que jamais conhecerei e nem tento Algumas dessas quest es aparecem apenas de passagem em larga medida porque tenho bastante certeza de que os p s graduandos e os jovens profissionais de ci ncias sociais e disciplinas correlatas simplesmente n o ir o buscar conselhos fora de suas reas e nem prestar o aten o a eles Pois deveriam Mas se a prosa que se usa para escrever sobre a sociedade s for melhorar quando os cientistas sociais estudarem gram tica e sintaxe a s rio simplesmente nunca vai melhorar Al m disso os problemas de dic o e estilo envolvem necessariamente quest es de conte do Conforme exporei adiante n o h como dissociar uma reda o ruim em sociologia dos problemas te ricos da disciplina Por fim a maneira de escrever deriva das situa es sociais em que as pessoas escrevem Assim precisamos ver e isso resume a perspectiva do livro como a organiza o social cria os problemas cl ssicos da reda o acad mica estilo organiza o etc Assim em vez de tentar e
200. o pelo visor de minha c mera dou a ltima girada na lente que deixa tudo no mais perfeito foco isso o que faz uma boa prepara o de texto e vale a pena As palavras desnecess rias ocupam espa o e portanto s o sup rfluas Elas enganam exigindo aten o ao sugerir uma profundidade e uma sofistica o que n o t m Parecendo dizer outra coisa essas palavras excedentes enganam os leitores sobre o que est sendo dito As frases que acabamos de examinar ilustram categorias de problemas e a maneira como podemos resolv los Nenhuma das diretrizes que vou dar agora original Seria surpreendente se fossem Gera es de professores editores e autores as descobriram e redescobriram ensinaram nas aos estudantes recomendaram nas aos escritores Alguns programas de texto at localizam erros estil sticos t picos e sugerem corre es Segue minha vers o sob medida para as necessidades dos cientistas sociais mas talvez til tamb m para estudiosos de outras reas 1 Ativo passivo Todo manual de reda o insiste que voc substitua sempre que poss vel os verbos na voz passiva por verbos na voz ativa N o fica melhor assim do que dizer A necessidade de substituir os verbos na voz passiva por verbos na voz ativa enfatizada em todos os livros sobre reda o O que importa mais do que a distin o gramatical entre voz ativa e voz passiva o simples ato de p r as a es essenciais em forma verbal e converter alg
201. o t pico Tentar avaliar elaborar e relacionar tudo o que sabemos sobre um determinado tema pode facilmente sobrecarregar a capacidade de nossa mem ria de trabalho Tentar compor uma nica frase pode ter o mesmo efeito quando procuramos jogar com as alternativas sint ticas e gramaticais al m de todas as possibilidades de registro nuance e ritmo que mesmo uma frase simples nos oferece Assim a reda o uma atividade cognitiva que amea a constantemente sobrecarregar nossa mem ria de curto prazo Flower 1979 p 36 por isso que muito mais importante escrever um rascunho do que continuar preparando e pensando o que voc vai escrever quando come ar Joseph Williams sugere reservar a palavra rascunho para a primeira vers o que j visa a alguma coer ncia para ressaltar que a escrita livre gera um conjunto de notas de trabalho que n o devem ser confundidas com algo mais organizado Voc precisa dar aos pensamentos uma forma f sica precisa p los no papel Um pensamento escrito que n o foi prontamente atirado ao cesto de lixo teimoso n o muda de forma e pode ser comparado aos outros pensamentos que v m a seguir Voc s pode saber qu o poucos pensamentos voc realmente tem se puser todos eles por escrito coloc los lado a lado e compar los uma das raz es pelas quais til gravar oralmente um rascunho inicial mesmo que seja para voc mesmo fazer a transcri o mais tarde N o muito f cil a
202. oal professores que tenham passado v rios anos numa escola em rea de pobreza por qualquer raz o que seja n o querem mais sair de l Depois de ter os fragmentos agora voc pode ver a que ponto s o d spares como se disp em do geral ao particular e parecem n o aderir a nenhuma maneira espec fica de pensar sobre o tema Agora voc precisa disp los para que ao menos pare am avan ar de um ponto a outro seguindo uma l gica compondo algo que um leitor possa reconhecer como um argumento razo vel Como fazer isso As pessoas resolvem esse problema de v rias maneiras Para escolher entre solu es poss veis uso o seguinte princ pio fa a primeiro o mais f cil Trabalhe na parte mais f cil de escrever fa a tarefas dom sticas simples como classificar seus pap is Uma abordagem contr ria considera suspeita qualquer tarefa que seja f cil e tenta come ar pela mais dif cil N o recomendo esse tipo de puritanismo Esta uma maneira f cil de descobrir como organizar seus materiais A maior virtude dessa abordagem e um corol rio do princ pio de fazer primeiro as coisas f ceis que ela transforma uma tarefa mental dif cil numa tarefa em larga medida f sica e portanto mais f cil Comece pondo notas em tudo o que voc escreveu colocando cada ideia numa ficha ou num peda o de papel N o descarte nenhuma de suas ideias do rascunho Podem vir a calhar mesmo que voc n o veja isso agora seu subconsciente s
203. odem usar aqui Minha teoria segue na dire o oposta ao se sentar para escrever voc j fez muitas escolhas mas provavelmente n o sabe quais foram natural que isso leve a alguma confus o a um primeiro rascunho bem bagun ado Mas um rascunho confuso n o vergonha nenhuma Pelo contr rio ele mostra quais foram suas primeiras escolhas com quais ideias perspectivas te ricas e conclus es voc j se comprometeu antes de come ar a redigir Ciente de que escrever muitos outros rascunhos voc sabe que n o precisa se preocupar se esse primeiro est muito cru e desconjuntado Ele se destina a fazer descobertas n o a ser apresentado a distin o de C Wright Mills 1959 p 222 seguindo Reichenbach Assim a reda o de um primeiro rascunho cru vai lhe mostrar todas as decis es anteriores que agora moldam o que voc pode escrever N o pode usar Marx se foram as ideias de Durkheim que moldaram seu pensamento N o pode escrever sobre coisas que seus dados coletados n o revelam ou que seu m todo de armazenamento de dados n o permite demonstrar Voc v o que tem e o que n o tem o que j fez e j sabe e o que falta fazer Voc v que a nica coisa que falta embora j tenha come ado a escrever deixar tudo mais claro O rascunho inicial mostra o que voc precisa deixar mais claro as t cnicas de revis o e reelabora o v o lhe permitir isso N o t o simples assim claro As pr ximas
204. ofissionais Como o que voc est escrevendo algo novo ainda n o existe a nica Maneira Certa mas seu ideal plat nico existe em algum lugar e cabe a voc encontr lo e p lo no papel Imagino que muitos de n s gostar amos que os leitores sentissem que encontramos a maneira certa predeterminada de dizer o que dizemos parecendo que s poderia ser dito dessa maneira Mas os escritores pra valer descobrem aquela forma perfeita isto a forma que faz o que eles querem que seja feito muito embora n o seja a nica poss vel somente depois de longa explora o e n o da primeira vez Harvey Molotch tratou a quest o da seguinte maneira numa mensagem a mim Um problema do pessoal que escreve a ideia que eles t m na cabe a de que uma determinada frase par grafo ou artigo precisa ser o certo A forma o deles num campo de fatos no enaltecimento das respostas certas inclusive a abordagem certa em seus livros de qu mica experimental ou de composi o em ingl s deixa os paralisados na frente do computador O problema deles que existem muitas frases certas muitas estruturas certas para um ensaio Precisamos nos libertar da ideia de que existe apenas uma maneira CORRETA Se n o nos libertamos a contradi o com a realidade nos asfixia totalmente visto que n o poss vel demonstrar com clareza para n s mesmos qual frase par grafo ou artigo o certo Os estudantes veem suas palavras sa rem
205. ois par grafos para explicar o que quero dizer num primeiro esbo o que vou acertar depois E isso me desperta para outra ideia e novos t picos E continuando a acrescentar mudar de lugar e desenvolver crio um plano geral que mostra algum tipo de sentido provis rio e se n o mostrar posso continuar a mudar os t picos e os textos at conseguir As conex es l gicas que sinto que v o se aglutinando fazem parte de um processo de an lise que acabar produzindo o resultado final aquele que publicaremos depois E lembre que quando chego a esse resultado ainda tosco tamb m tenho muitos trechos que entram nos t picos do plano geral e que o que eu tinha a dizer nos textos curtos inclu dos no plano geral por sua vez levaram a mais outros t picos dentro desse esquema A gente tem mais flu ncia nesse vaiv m de t picos e textos do que montando um plano geral e escrevendo depois o que ele sugere Tamb m mais r pido do que voc imaginaria pois n o perdemos tempo nenhum nos preocupando se tal ou tal t pico deve ficar aqui em vez de estar ali E o mais importante aqui nunca precisei pegar a tesoura e o durex para remendar e juntar numa vers o final meus pensamentos avulsos Sem redatilografar sem nada daquele desgaste f sico que poderia me for ar a deixar tudo para outro dia Velhas tarefas mais f ceis novas tarefas agora poss veis M sicas e imagens mais acess veis ou quase Os computadores facilitam a vida das pes
206. onto espec fico ou algum tipo de express o era t o necess rio e ficava mais f cil mudar s vezes demorava at os feriados do Natal para pegar alguma dessas pastas e come ar a reescrever Sempre iniciava ajeitando as frases cortando as palavras a mais esclarecendo as ambiguidades ampliando as ideias telegr ficas Como falei minha turma isso sempre trazia tona as dificuldades te ricas que eu encobrira e assim logo precisava reavaliar toda a minha an lise Quando podia escrevia uma nova vers o para as partes que n o funcionavam Se n o conseguia n o fazia Em ambos os casos costumava p r de lado o artigo mais uma vez por meses s Vezes por anos A partir daqui a descri o tamb m se aplica a meus novos h bitos no computador e vou usar os verbos no presente Por fim fa o mais um rascunho Consigo fazer esse tipo de trabalho a qualquer momento e geralmente levo apenas algumas horas por dia durante tr s ou quatro dias Depois de um segundo ou terceiro rascunho tenho alguma coisa que posso enviar a alguns amigos capazes de contribuir seja com reflex es proveitosas ou com cr ticas impiedosas Prefiro ouvir essas cr ticas de meus amigos na esfera privada do que l las publicamente numa Carta ao Editor Alguns artigos nunca ficam prontos mas detesto desperdi ar qualquer coisa que escrevo e nunca perco as esperan as nem mesmo em textos de que ningu m gostou Tenho algumas coisas em meus arquivos faz vint
207. onvencem a confiar em mim mesma pois para mim h mais outro grande risco presente na escrita o risco de descobrir que sou incapaz de fazer sociologia e por extens o que n o sou soci loga e portanto n o sou quem digo ser O risco de ser descoberta e julgada pelos colegas est ligado ao risco de ser descoberta e julgada por mim mesma Os dois est o t o intimamente entrela ados que muitas vezes dif cil separ los Como voc pode saber que est indo bem que mesmo uma soci loga a menos que algu m lhe diga a rea o dos outros que me permite entender quem eu sou Tais s o as voltas do risco confio em mim e portanto posso me arriscar a p r no papel minhas ideias as coisas que criei em primeiro lugar porque outras pessoas em quem confio me disseram que eu presto Mas ningu m vai poder me dizer isso enquanto eu n o fizer mesmo alguma coisa enquanto n o escrever mesmo alguma coisa Ent o aqui estou eu olhando uma folha em branco encarando o risco de descobrir que n o consigo fazer o que me dispus a fazer e portanto n o sou a pessoa que finjo ser Ainda n o escrevi nada e ent o ningu m pode me ajudar a afirmar meu compromisso e refor ar meu sentido de quem sou eu Preciso dizer mais uma coisa sobre essa confian a que a gente adquire com o retorno que os amigos de confian a nos d o Voc precisa confiar que essas pessoas n o s v o te tratar bem n o ser o competitivas n o sair o comentando
208. or parte deste cap tulo foi escrito por Pamela Richards soci loga que leciona na Universidade da Fl rida mas ele requer uma breve introdu o e explica o Eu tinha gostado muito dos resultados do pedido que fiz a Rosanna Hertz que me escrevesse sobre o que ela quis dizer quando falou que algumas maneiras de escrever tinham classe Assim fiquei espreita de uma oportunidade para ver o que mais eu podia descobrir persuadindo as pessoas a me escreverem o que queriam dizer com suas observa es espont neas N o precisei esperar muito Eu conhecia Pamela Richards desde que ela come ou seu trabalho de doutorado na Northwestern Depois de concluir a p s e come ar sua carreira docente na Fl rida ela continuou a estudar criminologia com t cnicas estat sticas seguindo o estilo de sua tese de doutorado Depois de alguns anos ela resolveu tentar alguma coisa diferente e usar sua consider vel pr tica em trabalho de campo para fazer um estudo da penitenci ria estadual feminina situada perto de Gainesville na Fl rida Ela achava que o estudo ia ser mais dif cil do que acabou sendo Os encarregados da pris o lhe deram permiss o de entrada sem problemas e as presidi rias de in cio desconfiadas logo passaram a falar com ela sem reservas e lhe deram acesso maioria das atividades da penitenci ria Depois de um ano Pamela havia reunido uma quantidade consider vel de notas de campo e sabia muito sobre a vida naquela pris o A
209. ores sobre suas rela es profissionais e n o pode falar delas sem falar sobre classe Voc s ter problemas se insistir que em princ pio elas t m de ser discutidas separadamente Em vez de tentar elimin los falar sobre esses problemas resolve todos os tipos de problemas cient ficos n o s os da reda o Quando antrop logos e soci logos fazem pesquisa de campo por exemplo t pico que tenham problemas em estabelecer e manter rela es com pessoas que lhes permitam observar o que querem por um longo per odo de tempo Os obst culos e adiamentos enquanto voc negocia tais arranjos podem desanimar Mas os pesquisadores de campo experientes sabem que as dificuldades fornecem pistas importantes sobre a organiza o social que querem entender A maneira como as pessoas reagem a um estranho que quer estud las revela algo sobre sua organiza o e a maneira como vivem Se os habitantes de um bairro pobre de uma cidade que voc quer estudar s o desconfiados e n o querem falar com voc a voc ter um problema de verdade Voc pode acabar descobrindo que eles s o hostis porque acham que talvez voc seja um investigador querendo flagrar transgress es das regras da assist ncia social Esse transtorno pessoalmente penoso ter te ensinado algo que vale a pena aprender Num caso parecido psic logos sociais experimentais ficaram irritados quando Rosenthal e outros demonstraram que a es aparentemente insignificante
210. os exemplificado por Ives os produtores deixam de se importar se v o algum dia terminar alguma coisa Algumas obras primas claro ficam prontas depressa mas a chance de que um pouquinho mais de elabora o possa transformar algo bom em algo timo torna qualquer um mais vagaroso Trabalhar devagar sacrificar as recompensas do presente para produzir algo realmente valioso passar vinte anos para produzir um livro como fez John Rawls com Uma teoria da justi a uma imagem fascinante mesmo para algu m pr tico como eu Assim tanto soltar quanto esperar um pouco t m aspectos positivos A solu o convencional e sensata para esse problema ver que voc est escolhendo entre produtos concorrentes e tentar equilibr los Mas esse reconhecimento n o ajuda muito Onde encontramos o equil brio O problema o mesmo O caso de Ives sugere uma abordagem poss vel Como ele podia ser compositor e mesmo assim nunca terminar uma composi o Sendo um determinado tipo de compositor aquele que n o era tocado A m sica que n o foi terminada n o pode ser tocada Os instrumentistas podem claro pegar a partitura e d la por terminada como faziam com Ives Mas Ives n o precisava terminar nada porque tinha escolhido n o participar nas formas usuais de atividade em grupo nas conversas do setor musical de sua poca Como n o se importava se sua m sica era executada ou n o n o precisava termin la De modo mais geral
211. os outros Isso explica um c rculo vicioso realmente maluco em que os estudantes repetem os piores excessos estil sticos que aparecem nas revistas acad micas aprendem que s o esses mesmos excessos que diferenciam seus trabalhos daquilo que qualquer idiota sabe e diz escrevem mais artigos como aqueles com que aprenderam submetem esses artigos a peri dicos cujos editores os publicam porque n o h nada melhor disposi o e porque os peri dicos acad micos n o podem se permitir muitas despesas com edi o de texto e assim fornecem a mat ria prima que ensinar maus h bitos a mais uma gera o Eu pensava que a ideia que eles faziam quando a gente escreve dessa maneira era mera paranoia estudantil Quando publiquei o primeiro cap tulo deste livro em The Sociological Quarterly os editores receberam uma carta apontando algumas das mesmas quest es Sugerimos que uma voz nova um desconhecido na rea hoje precisa conquistar o respeito da profiss o com a compila o de um volume consider vel de pesquisa e reda o tradicional antes de ter autoriza o para adotar o estilo direto e despojado defendido por Becker Alguns editores de peri dicos podem estar autorizados a utilizar esse estilo e assim s o receptivos a ele quando alcan am posi es editoriais todavia a receptividade dos editores pode ser um aspecto discut vel visto que a maioria das publica es conta com pareceristas Talvez alguns par
212. osto que a vida que uma pessoa leva deixa marcas f sicas Nesse sentido os fot grafos escolhem rostos detalhes de rostos e momentos de suas hist rias que registrados em filme e impressos em papel permitem aos observadores deduzir o que n o veem mas querem conhecer Muitas vezes os retratos cont m uma riqueza de detalhes de forma que um estudo cuidadoso nos permite leituras complexas e sutis do car ter da pessoa e da vida em sociedade daquela pessoa Olhando as linhas num rosto os observadores podem concluir que foram tra adas numa vida de dura labuta ao sol Dessas mesmas linhas podem inferir a sabedoria produzida pela idade e pela dura labuta ou por outro lado a senilidade e a decad ncia Para chegar a alguma dessas conclus es o observador precisa aplicar imagem uma das v rias teorias poss veis das linhas faciais Isso n o esgota o que se poderia fazer nesse trecho Mais adiante no artigo duas frases reuniam v rias dificuldades comuns Dei um exemplo de um contempor neo famoso e suas fotografias do interior de pr dios com as pessoas l dentro Algumas das imagens mais expressivas de Robert Frank mostram escrit rios depois do expediente sem ningu m ningu m exceto o faxineiro fazendo a limpeza Um banco parece diferente quando ocupado por um faxineiro do que quando ocupado por banc rios Eu quase poderia ter deixado assim ao estilo de um texto de matem tica como um exerc cio para o leitor corrigir
213. ou dos ricos numa pequena carga tribut ria Ou por outro lado quando os grupos s o apanhados em contradi o entre as ideias que professam e as a es que praticam no dia a dia a melhor maneira de entender seus apressados remendos ideol gicos ser uma atitude ir nica desdenhosa e c tica Minha resposta a essas perguntas n o pelo menos at onde as pessoas que ele estudou lidavam com elas Mas as respostas fornecidas pela principal tradi o da sociologia do conhecimento parecem ser um sonoro siM em parte porque um dos principais motivos que caracterizam a sociologia do conhecimento como empreendimento intelectual tem sido o desejo de desmascarar ou desmistificar as ideias revelando os verdadeiros interesses ou fun es a que servem p 168 9 E f cil ver como um problema desses pode nos paralisar levei muito tempo para obter a perspectiva sobre as cren as e as circunst ncias que adotei neste livro e minha incapacidade de apreend la antes funcionou como uma esp cie de morda a impedindo me de falar claramente p 223 Berger queria discutir as bases sociais daquilo em que os membros da comunidade acreditavam mas sem fazer tro a deles Enquanto n o descobriu como conseguiria isso n o p de escrever seu livro N o quero prosseguir em seu argumento embora mere a ser lido na ntegra pois o estou citando como solu o para outro tipo de problema N o o problema de Berger em evitar
214. ou o medo das rea es potencialmente perigosas de seus colegas dos superiores e de si mesma medo este produzido pela organiza o da vida acad mica Conheci um sujeito que n o tirava o pijama enquanto n o considerasse que a primeira p gina de um artigo estava perfeita Muitas vezes gastava cem folhas de papel tentando acertar a primeira frase e no fim teve de renunciar a essa pr tica ao se ver ainda de pijama na hora do jantar Outro tipo de ansiedade que merece exame foi mencionado no Cap tulo 1 Ainda me aflige Os acad micos sabem que os temas de seus textos envolvem tantas coisas a ser levadas em considera o tantas conex es entre tantos elementos tanto de tudo que parece inconceb vel dar uma ordem racional ao conjunto Mas esta a nossa tarefa dispor as ideias numa ordem racional para que outra pessoa consiga entend las Temos de lidar com esse problema em dois n veis Temos de dispor as ideias numa teoria ou numa narrativa descrever as causas e condi es que levam aos efeitos que queremos explicar e numa ordem que seja correta em termos l gicos e emp ricos se estivermos escrevendo algo baseado em pesquisas emp ricas Correta em termos l gicos significa n o cometermos nenhuma das famosas fal cias do racioc nio incorreto Fischer 1970 cita casos de historiadores cometendo todas elas Correta em termos emp ricos significa que a ordem que descrevemos deve ser a mesma ordem que as coisas realmente t m na natu
215. ouxessem na pr xima aula aqueles textos que eu exigira como pr requisito para a inscri o no curso mas que ainda n o havia recolhido Alguns estudantes deram para tr s Na segunda vez em que dei o curso uma aluna disse que n o ia entregar o texto porque n o tinha Fiquei bravo Qualquer um que frequenta a escola esse tempo todo tem montes de textos escritos Traga um Ent o a verdadeira raz o aflorou N o tenho nenhum que preste Depois de recolher os textos e misturar bem todos eles distribu as folhas turma tomando cuidado para que ningu m recebesse seu pr prio texto Na semana seguinte eles os devolveram aos respectivos autores O pessoal ficou muito s rio olhando o que tinha sido feito Muita coisa Havia marcas de tinta vermelha do come o ao fim Perguntei como se sentiram copidescando o texto de outra pessoa Falaram muito e irritados Tinham ficado surpresos com a trabalheira que deu e com a quantidade de erros bobos Depois de uma hora de reclama es perguntei como se sentiram ao ter seus textos copidescados Falaram e tamb m irritados mas agora reclamando que quem lera o texto tinha sido impiedoso n o entendera o que eles queriam dizer alterara o texto com coisas que jamais tiveram a inten o de dizer Os mais espertos logo perceberam que a carapu a lhes servia e todos ficaram em sil ncio quando se deram conta Falei que deviam pensar naquela li o e agora podiam ver que precisavam escr
216. p 218 9 grifo no original Viver como intelectual ou acad mico faz com que a pessoa queira se mostrar inteligente para si mesma e para os outros Mas n o s inteligente Tamb m quer se mostrar informada traquejada sofisticada informal profissional os mais variados tipos de coisas muitas das quais o escritor pode insinuar nos detalhes de sua escrita Espera que assim ela ser considerada confi vel Podemos analisar o que as pessoas querem dizer quando falam ou pensam em escrever com classe ou de qualquer outra maneira utilizando o conceito de persona Campbell 1975 se me perdoarem esse termo classudo Os escritores mostram suas personae usando recursos de estilo mas n o me deterei no estilo Strunk e White 1959 e Williams 1981 analisam o tema e ensinam os escritores a usar os elementos de estilo com efici ncia e os leitores podem acompanhar o assunto em suas obras Os primeiros leitores desse manuscrito acrescentaram Bernstein 1965 Follet 1966 Fowler 1965 e Shaw 1975 como bons guias para problemas estil sticos Quero destacar como os escritores usam personae para fazer com que os leitores aceitem seus argumentos Tal como a pron ncia brit nica indica aos ouvintes o estrato social a que pertence o falante a prosa de um acad mico indica aos leitores o tipo de pessoa que est redigindo Muitos cientistas sociais e outros acad micos tanto estudantes quanto profissionais querem ser gente com classe que fal
217. pensam A mesma atitude encontra lugar de honra na tradi o e no folclore profissional O compositor americano Charles Ives nas fases finais de sua carreira musical simplesmente n o dava a m nima para lan ar alguma coisa Sua fama se baseia em obras que nunca considerou terminadas embora em certo sentido mas n o no dele estivessem prontas Na verdade poucas pe as suas teriam sido executadas n o fosse pela insist ncia de m sicos que o adulavam e amolavam at conseguirem que a contragosto ele lhes passasse as partituras Mesmo a n o os ajudava muito a decifrar as complexidades e ambiguidades de seus garranchos ver os relatos em Perlis 1974 Os criadores muitas vezes querem adiar o lan amento mesmo quando o criador tamb m o departamento de marketing como acontece no mundo acad mico e sabe muito bem que precisa soltar a coisa e logo Os trabalhos de alguns autores s saem da escrivaninha quando algu m os tira de l s escondidas Conhe o o dono de uma editora que foi at a casa de um autor e com a cumplicidade da esposa deste ltimo surripiou um manuscrito que o autor achava que ainda precisava de um pouco mais de trabalho principalmente nas notas de rodap O autor n o reclamou quando o livro foi publicado Para os escritores um lan amento se d em v rias etapas Come am a soltar o trabalho ao mostr lo para um c rculo de colegas e amigos de confian a que far o sugest es e coment rios Ent o so
218. por a quando voc fizer alguma trapalhada mas tamb m te dir o a verdade Preciso ter absoluta certeza de que se estou escrevendo bobagens ou tendo ideias idiotas elas v o dizer Se n o puder confiar que me dir o a verdade o retorno delas n o me ajudar a confiar em mim mesma Eu sempre me pergunto se minhas ideias s o boas mesmo ou se as pessoas est o apenas sendo gentis A sensa o de que algu m est tentando me animar mais prejudicial para minha no o de identidade do que uma cr tica direta Claro todos n s dizemos mentirinhas inofensivas uns aos outros Mas precisa haver uma honestidade de fundo ou do contr rio vou ficar realmente atordoada Precisamos acreditar que n o h pecado nenhum em errar ou em criticar do contr rio o retorno n o adianta nada Como tento lidar com todos esses riscos e continuar em frente Para come ar a escrever s vezes preciso olhar para tr s Digo para mim mesma Bom posso nunca ter escrito nada sobre pris es antes mas escrevi sobre delinquentes juvenis e ao que parece as pessoas acharam aceit vel Pelo menos me reconforta um pouco Ou olho em frente ligo para os amigos de confian a e falo de meu trabalho Falo falo falo eles murmuram os sons devidamente reconfortantes e ent o me sinto um pouco mais forte s vezes me sinto forte o suficiente para come ar a escrever Tem uma coisa que acho que muita gente pensa falar sobre o trabalho menos arriscado do que escr
219. processo de escrever e concluem que escrever uma forma de pensar Se for verdade o conselho tantas vezes dado aos escritores primeiro tenha claro o que voc pensa e s depois tente formul lo com clareza est errado Os resultados daquelas pesquisas corroboram em certa medida meus ensinamentos e minhas pr ticas pessoais O usual nos textos sobre composi o se destinarem aos alunos de gradua o o que n o admira visto que a que a necessidade maior e o mercado mais amplo embora costumem dizer e com raz o que tamb m seriam teis para o pessoal das empresas do governo e da academia Mas todos os estudantes de p s gradua o e os acad micos com quem trabalho na sociologia e em outras reas fizeram cursos introdut rios de reda o muito provavelmente ministrados por pessoas que conhecem as teorias modernas de composi o e usam os novos m todos mas isso n o os ajudou Aprenderam que devem usar constru es na voz ativa e palavras curtas que devem manter a concord ncia dos pronomes e dos antecedentes e outras coisas muito pr ticas mas n o seguem essas recomenda es N o consultam os livros de composi o que os ajudariam a escrever numa prosa mais clara e se o fizessem provavelmente passariam por cima de seus bons conselhos Chegam a ignorar as chacotas que seus pr prios colegas fazem periodicamente ver por exemplo Selvin e Wilson 1984 e a par dia de Merton Pr logo a um Pref cio para um
220. qual tem um texto diferente para entregar na hora em que ficar pronto Assim os autores de ci ncias sociais n o desenvolvem uma cultura um conjunto de solu es comuns para seus problemas coletivos E assim nasce uma situa o que tem sido chamada de ignor ncia pluralista Todo mundo acha que todos os outros est o aprontando o texto para entreg lo no prazo Guardam suas dificuldades para si mesmos Talvez esta seja uma das raz es pelas quais os cientistas sociais e outros acad micos escrevem num isolamento t o grande De todo modo seus escritos exigem muita reelabora o e edi o Como a nica vers o que importa a final eles t m toda a raz o em continuar trabalhando no texto at ficar bom Bom n o em vista do tempo dispon vel esse o modelo vigente na gradua o mas em vista do que imaginam que deva ficar Isso naturalmente est sujeito a algumas imposi es realistas de modo que algum dia o texto ter de ficar pronto Cabe lembrar por m que algumas grandes obras levaram vinte anos para ficar prontas e alguns acad micos se disp em a pagar o pre o pela produ o demorada Mas muitos autores n o sabem como reescrever e pensam que todas as suas vers es de qualquer coisa ser o usadas para julg los Em parte t m raz o Esse trabalho ser submetido a julgamento mas se tiverem sorte o julgamento ser adequado etapa em que ele se encontra Ent o n o produzem ou produzem com grande difi
221. que A est relacionado com B salvo certas circunst ncias especificadas sempre compro comida na Safeway a menos que ela esteja fechada a rela o positiva entre renda e instru o maior se voc for branco do que se for negro Mas os estudantes como outros cientistas sociais geralmente usavam qualifica es menos espec ficas Queriam dizer que a rela o existia mas sabiam que algu m mais cedo ou mais tarde iria encontrar uma exce o O qualificador ritual n o espec fico lhes dava uma escapat ria para qualquer eventualidade Se fossem atacados podiam dizer que nunca afirmaram que aquilo era sempre verdade As qualifica es furadas tornando as afirma es vagas ignoram a tradi o filos fica e metodol gica segundo a qual fazer generaliza es numa forma universal forte ajuda a evidenciar casos negativos que podem servir para aperfei o las Quando perguntei aos estudantes da turma por que escreviam daquela maneira vim a saber que haviam pegado muitos dos h bitos na escola e os consolidaram na faculdade O que tinham aprendido a escrever eram trabalhos de semestre ver a discuss o de Shaughnessy 1977 p 85 6 sobre as condi es da reda o na gradua o Voc escreve o trabalho do semestre fazendo todas as leituras ou pesquisas exigidas durante o per odo e enquanto isso vai montando mentalmente a monografia Mas depois escreve de uma vez s s vezes a partir de um esbo o geral e geralmente na noite an
222. que estava escrevendo para o outro n o ver V rios rituais eram para assegurar que o texto n o fosse tomado como produto acabado pois assim ningu m poderia rir dele A desculpa j estava embutida ali Creio que por isso que mesmo os escritores r pidos na digita o muitas vezes usam m todos demorados como escrever a m o evidente que qualquer coisa escrita a m o ainda n o est pronta e portanto n o pode ser criticada como se estivesse Mas h uma maneira ainda mais segura de garantir que n o se tome um texto como efetiva express o das capacidades de seu autor n o escrever nada Ningu m pode ler o que nunca foi posto no papel Acontecera uma coisa importante naquela turma Como tamb m comentei naquele primeiro dia todos haviam contado algo embara oso sobre si mesmos e ningu m tinha morrido Nisso era algo parecido com o que se pode chamar de novas terapias da Calif rnia em que a pessoa desnuda sua psique ou seu corpo em p blico e descobre que a revela o n o mata Fiquei surpreso que as pessoas daquela turma v rias das quais se conheciam muito bem n o sabiam absolutamente nada sobre os h bitos de trabalho dos colegas e na verdade nunca tinham lido seus textos Decidi fazer algo a respeito Inicialmente eu dissera aos interessados que o curso daria nfase n o reda o mas revis o e reelabora o de textos Por isso como requisito para frequentar o curso eles teriam de entr
223. ra que me preocupar Eu me preocupei todo mundo se preocupa porque o problema embora muito importante n o pode ser resolvido de maneira racional Qualquer que fosse minha escolha eu estava querendo falar ou estava falando sobre algo que ainda n o mencionara nem explicara Podia come ar falando sobre escolas em reas mais pobres mas apenas se eu falasse sobre os quatro grupos e as rela es dos professores com eles Mas n o podia falar sobre essas rela es sem explicar as quest es te ricas envolvidas Teria de explicar por exemplo que os funcion rios p blicos como os professores da rede de ensino p blico geralmente julgam as pessoas com quem trabalham considerando o quanto f cil ou dif cil passar o dia com essas pessoas Se eu fizesse isso estaria come ando pelas rela es Mas n o poderia dizer nada sensato sobre as rela es sem explicar antes a classe social e sua influ ncia na habilidade das crian as em aprender coisas na escola e se comportar de maneira aceit vel com os professores e a disposi o e capacidade dos pais em ajudar os professores a manter as crian as na linha Voc s podem ver aonde quero chegar Uma vez esse problema fez minha colega Blanche Geer sonhar com uma maneira de escrever na superf cie de uma esfera e assim nada precisaria vir em primeiro lugar Isso passaria para as m os do leitor o problema do que devia ser lido primeiro A imagem de escrever sobre uma esfera capta exatamente a
224. rav s das recomenda es de m ltiplos pareceristas e do processo circular em que os autores examinavam os peri dicos para ver como devia ser um artigo apropriado e o imitavam de modo que os artigos chegavam mesa do editor com tais caracter sticas no devido lugar Numa triste distor o de sua tarefa os pareceristas s vezes faziam suas complexas cr ticas para refor arem ainda mais sua fama de acad micos conhecedores e meticulosos Decidi fazer uma pequena experi ncia Queria testar a ideia de que as organiza es sociais em que trabalhamos hoje em dia s o muito menos abertas a varia es nas maneiras de apresentar os dados e de escrever sobre o significado deles muito mais insistentes nas f rmulas e formatos padronizados Fiz uma pequena investiga o uma variante da que foi realizada por Anthony Trollope o romancista brit nico do s culo XIX que enviou um conto usando pseud nimo para uma revista brit nica que antes ficara feliz em publicar seus trabalhos como uma esp cie de teste dos efeitos da fama na avalia o editorial Com o pseud nimo ele n o se saiu t o bem como se usasse seu pr prio nome mais famoso o editor devolveu o conto com uma nota de incentivo para continuar tentando Trollope 1947 p 169 72 Ele chegou conclus o de que o renome influ a na avalia o editorial Minha inten o era ver com minha variante do teste de Trollope se as avalia es editoriais eram t o r gidas quanto eu
225. respeit veis g nio padre m dico o que fosse que talvez fossem tidos como capazes de neutraliz la Hughes queria falar como o status de negro prevalecia sobre o status de m dico Eu queria falar como o status de viciado prevalecia sobre o status de filho ou marido de modo que os pais ou o c njuge trancafiavam as joias e pratarias da casa quando o querido toxic mano da fam lia chegasse para jantar Eu queria falar sobre o que dizia um personagem em A cidade de quatro portas de Doris Lessing ao comentar que n o se importava em ser tomada como esquizofr nica mas n o gostava que as pessoas achassem que era s isso o que ela era A linguagem de Hughes se encaixa perfeitamente em meu caso N o precisei inventar o conceito ele o inventara para mim Assim em vez de criar mais um novo termo sociol gico desnecess rio citei Hughes e fui em frente para utilizar sua ideia mais a fundo do que ele tinha feito no artigo de onde a tirei Da mesma forma n o precisei levantar os v rios usos dos cl ssicos Stinchcombe levantara Precisei apenas citar e resumir Essa maneira de trabalhar plagiar ou n o ser original N o creio embora o medo de tais rotula es leve muita gente a tentativas desesperadas de pensar novos conceitos Se preciso da ideia para a mesa que estou construindo vou peg la A mesa continua a ser minha mesmo que algumas partes sejam pr fabricadas Na verdade estou t o acostumado a trabalhar assim que vivo r
226. retas at onde lhe poss vel ela oculta seu saber e sua a o a cr ticas A tend ncia ao sigilo em certos campos administrativos segue sua natureza material em todos os lugares onde os interesses de poder da estrutura dominante em rela o ao exterior est o em jogo encontramos o sigilo Gerth e Mills 1946 p 233 Por outro lado eu n o sabia que precisava do m dulo seguinte at o momento em que o encontrei e a n o pude passar sem ele N o veio de nenhum dos cl ssicos convencionalmente consagrados embora o trabalho onde ele se encontra seja excelente e muito elegante Willard Waller ajudou a mim e a meus leitores a entender por que as escolas tinham um problema de disciplina dizendo Professor e aluno se confrontam na escola com um conflito origin rio de desejos e por mais que esse conflito possa ser reduzido em volume ou por mais que possa ser ocultado ainda assim permanece Waller 1932 p 197 Tamb m re no m dulos sem prop sito no momento mas para os quais minha intui o me diz que alguma hora encontrarei uso Eis algumas ideias que compilei recentemente na expectativa de encontrar algum dia um lugar para elas em minhas reflex es e meus escritos a ideia de Raymonde Moulin 1967 de que nas obras de arte o valor est tico e o valor econ mico est o t o intimamente relacionados que chegam a ser a mesma coisa e a ideia de Bruno Latour 1983 1984 de que as inven es cient ficas criam no
227. reza at onde sabemos Por fim queremos que nossa prosa deixe clara a ordem que constru mos N o queremos que o entendimento de nossos leitores seja prejudicado por imperfei es em nossa prosa Essas duas tarefas convergem e s o indissoci veis Eu n o devia dizer isso com tanta tranquilidade Provavelmente poss vel esbo ar e construir um argumento em alguma outra linguagem que n o seja verbal A matem tica e os gr ficos s o duas alternativas que permitem afirma es precisas e algu m poderia desenvolver uma teoria usando uma delas e dispensando as palavras Seja como for para p r as ideias em ordem l gica preciso um olhar atento aos argumentos falaciosos Algu m pode aprender a localizar tais erros Mais assustador tentar descrever a ordem emp rica com precis o Sabemos que imposs vel descrever tudo De fato um dos objetivos da ci ncia e dos estudos acad micos precisamente reduzir o que tem de ser descrito a propor es exequ veis Mas o que deixar de fora E onde p r o que mantemos O mundo emp rico pode ser ordenado mas nunca de alguma maneira simples que anuncie quais os t picos que v m em primeiro lugar por isso que as pessoas ficam olhando a folha em branco e reescrevem as primeiras frases centenas de vezes Querem que esses exerc cios m sticos tragam tona a nica Maneira Certa de organizar todo aquele material Bom e se voc n o organizar de maneira adequada Vimos esse problema no
228. ridade geral aos leitores As organiza es sociais s funcionam da maneira como o relat rio de pesquisa diz que elas funcionam se tiverem os tipos certos de pessoas nos tipos certos de lugares Assim os materiais descritivos preliminares estabelecem algumas das premissas b sicas em que se funda o argumento do relat rio Se nosso livro Becker Geer e Hughes 1968 p 15s descreve uma cultura estudantil que afeta profundamente a vida e as perspectivas dos estudantes o leitor precisa saber que a faculdade de que estamos falando por exemplo grande e a principal institui o numa cidade pequena do Meio Oeste e que a maior parte dos seus estudantes vem de lugares menores menos cosmopolitas H mais uma maneira de lidar com problemas organizacionais que me parece interessante Em vez de tentar solucionar o insol vel voc pode falar sobre ele Pode explicar aos leitores por que essa coisa qualquer que seja um problema em quais solu es voc pensou por que escolheu a solu o imperfeita que efetivamente escolheu e o que significa tudo isso A parte do o que significa tudo isso ser interessante porque voc n o estaria tendo o problema se ele n o encarnasse algum dilema interessante no trabalho que voc est fazendo por exemplo como os problemas de classe e estrutura profissional se cruzam em organiza es concretas de modo que voc n o pode falar sobre classe sem falar sobre as perspectivas comuns dos profess
229. ridades usam a voz passiva para indicar que suas afirma es dependem muito pouco delas pessoalmente ou melhor refletem a realidade a que t m acesso gra as a seu especial ssimo conhecimento Latour e Woolgar 1979 mostram que os cientistas de laborat rio costumam usar um estilo de autoridade muito t pico que oculta todos os tra os da atividade humana comum que levou a seus resultados Gusfield 1981 e Latour e Bastide 1983 investigam esse problema mais a fundo e d o outros exemplos Alguns escritores adotam uma linha Will Rogers que a persona que eu prefiro Somos apenas uns caras simples muito mais parecidos do que diferentes das pessoas comuns Talvez a gente saiba algumas coisinhas que os outros n o sabem mas n o nada de especial Pessoal voc s iam pensar igual a mim se estivessem l e vissem o que eu vi s que eu tive tempo ou me dei ao trabalho de estar l e voc s n o foram ou n o puderam ir mas me deixem contar como Algo do g nero Na verdade esse livro inteiro um extenso exemplo dessa persona Esses escritores querem usar sua semelhan a sua identidade com as pessoas comuns para persuadir os leitores de que t m raz o no que dizem Escrevemos de maneira mais informal preferimos os pronomes pessoais apelamos ao que n s e o leitor sabemos mais do que quilo que sabemos e o leitor n o sabe Todo estilo portanto a voz de algu m que o autor quer ser ou parecer ser N o examinei
230. rimos ao ato f sico Pode se escrever sem digitar Muitos escrevem dentro da cabe a n o h como digitar dentro da cabe a Inversamente pode se digitar sem reparar no conte do do que se est digitando Joy Charlton 1983 descreveu o caso de uma datil grafa que podia conversar vontade sobre um assunto totalmente diferente do material que ia datilografando ao mesmo tempo A digita o parafraseando Wittgenstein o que sobra da escrita quando voc retira a reflex o que geralmente fazemos enquanto compomos o texto a m quina As pessoas que vivem da escrita por m normalmente escrevem e digitam ao mesmo tempo mas enfatizam a parte prestigiosa do que fazem dando lhe o nome de escrita Eu costumava implicar com amigos acad micos chamando de datilografia o que fazia ao escrever Voc est escrevendo alguma coisa Estou hoje datilografei seis p ginas Usava de prop sito um termo mais baixo para descrever algo cheio de prest gio A mesma distin o usual permitia que Truman Capote insultasse v rios colegas escritores descartando os como datil grafos Para maiores indica es sobre a natureza f sica da escrita pense no h bito de adotar certos instrumentos de escrita que j comentei As pessoas que usam l pis caneta hidrogr fica ou m quina de escrever se acostumam sensa o do objeto usado Sentem se impotentes se precisam usar um instrumento diferente Pense tamb m no papel que a digita
231. riza es de uso virou uma trabalheira infernal que muitos preferem evitar Bielstein 2006 um guia abrangente em favor do autor nessa confus o Se seu argumento n o requer a reprodu o de obras espec ficas voc pode criar suas pr prias fotografias ou m sicas para ilustrar os aspectos em quest o mas nem todo mundo que quer falar sobre arte tamb m capaz de cri la E voc n o pode criar obras cujo interesse hist rico ou est tico reside em sua autenticidade isto em terem sido criadas n o por voc e sim por aquelas pessoas que voc diz que as criaram Bibliografia Agora ficou incrivelmente f cil reunir uma bibliografia enorme a respeito de qualquer tema sobre o qual voc esteja escrevendo Algumas googladas uma interface de biblioteca um programa que re na essas informa es como registros de uma base de dados permanente e depois os apresente em qualquer estilo que uma editora ou um peri dico possa exigir s disso que voc precisa para montar a revis o bibliogr fica que uma exig ncia cada vez mais frequente e de f cil acesso principalmente se a pessoa tiver acesso pelo computador a uma biblioteca universit ria Voc pode usar palavras chave para pesquisar uma grande quantidade de registros como um cat logo de biblioteca descrevendo livros ou artigos Pode procurar pelas palavras que constam nos t tulos dos livros nos resumos que costumam vir no come o dos artigos impressos ou na lista de
232. rmitem que voc comece Escreva alguma frase assim e pode seguir em frente sem se preocupar se deu um passo errado pois na verdade voc ainda n o deu nenhum passo Precisa apenas se lembrar depois de escrever tudo o que voc tem a dizer de voltar quelas frases que est o ali apenas preenchendo espa o e substitu las por frases reais que dizem o que voc pretende Suponha que adoto esse conselho e come o em algum outro lugar Se n o come o pelo come o por onde come o O que escrevo em primeiro lugar N o vou ficar comprometido com o que escrever como ficaria com uma primeira frase Uma frase n o cont m em si de alguma maneira pelo menos por implica o a totalidade do argumento Claro E da Lembre que qualquer frase pode ser modificada reescrita eliminada ou contestada Isso lhe permite escrever qualquer coisa Nenhuma frase imp e qualquer comprometimento n o porque n o prefigure seu argumento da maneira como se costuma temer mas porque n o vai acontecer nada de ruim se ela estiver errada Voc pode escrever os maiores disparates coisas com que nem de longe voc concorda e n o vai acontecer nada Experimente Sabendo que escrever uma frase n o vai lhe fazer nenhum mal e sabendo disso porque experimentou voc pode fazer o que costumo pedir que as pessoas tentem escreva qualquer coisa que lhe vier cabe a com a maior rapidez poss vel sem recorrer a esbo os notas dados livros ou qualquer outro aux
233. ros fa am a outra as v rias atividades que esperamos do mundo acad mico d cursos lance peri dicos crie novas ideias s o cumpridas Mas os indiv duos podem sofrer consequ ncias em fun o das tarefas que assumem Se voc levar vinte anos para escrever um livro que ent o n o se revela grande coisa com certeza as consequ ncias vir o Mas se um bom n mero de pessoas tentar o mundo acad mico se beneficiar Se fizermos essa escolha estaremos apostando alto num jogo arriscado e precisamos estar cientes disso Por tr s dessas an lises h algumas suposi es que devem ficar expl citas e cujo acerto demanda verifica o As pessoas sup em por exemplo que demorar mais necessariamente melhor do que demorar menos Afinal pensar durante um ano sobre um tema n o deveria resultar em ideias melhores e num entendimento mais aprofundado O tempo extra n o lhe permitir que voc burile sua prosa para que expresse com mais precis o e eleg ncia seus pensamentos mais elaborados Claro que sim Quanto mais tempo voc investe maior seu retorno Os escritores que evitam trabalhar r pido e soltar logo seus textos tamb m pensam que uma obra prima leva muito tempo para ser feita ao passo que os autores de revistinhas pulp executam rapidamente suas tarefas Quem n o preferiria escrever uma obra prima em vez de uma historieta numa revista barata A compara o contest vel Devemos tentar escrever grandes obras primas ou
234. rrancar uma p gina do gravador at conseguimos apagar uma ideia boba mas trabalhoso e em geral as pessoas acham mais f cil continuar falando e fazer as mudan as numa vers o digitada Dar realidade f sica s palavras portanto n o cria nenhum comprometimento seu com posi es perigosas Muito pelo contr rio Ajuda a organizar suas ideias Facilita a reda o das primeiras frases ao permitir que voc veja o que quer dizer Usando a linguagem da psicologia cognitiva Flower e Hayes 1979 descrevem um processo semelhante de trabalhar de tr s para a frente voltando dos materiais j escritos ao plano geral e ent o avan ando para reescrever o texto O artigo aborda um projeto muito menor escrever uma reda o curta em poucos minutos e n o um texto ou livro acad mico ao longo de meses ou anos mas a discuss o mostrando como os escritores criam redes complexas de metas e submetas e modificam suas metas principais luz do que aprenderam ao escrever tamb m se aplica a nosso tema Outro problema t o insol vel quanto o de como come ar na verdade uma variante dele como organizar o que voc tem a dizer Os estudantes costumam reclamar que n o conseguem decidir como v o organizar o material se dizem antes isso ou aquilo se usam como princ pio organizar esta ou aquela ideia Aqui tamb m a teoria de uma nica Maneira Certa para fazer as coisas perniciosa Apresentarei material para an lise com outro exemplo e
235. rtigo na forma levemente inconvencional em que ent o se encontrava Os pareceristas n o me surpreenderam Gostaria que tivessem me surpreendido rejeitando ou aceitando o artigo pelo m rito de suas ideias e sua credibilidade Consideraram que era um artigo interessante de um autor conhecido que continha algumas ideias proveitosas Mas simplesmente n o se encaixava no formato no estilo na miss o do peri dico Por exemplo n o mencionava a bibliografia sobre Goffman Al m disso o estilo era informal demais faltava lhe o tom erudito e acad mico Eles estavam atendendo a algumas tend ncias bem conhecidas dos comit s de supervis o e de outros representantes das organiza es patrocinadoras que julgavam o trabalho dos editores e dos conselhos editoriais dos peri dicos Embora esses supervisores n o questionem cada uma das decis es editoriais de fato ouvem e preveem as reclama es de seus c rculos de leitores Quando um artigo n o faz o que se tornou rotineiro fazer como citar dezenas de artigos da bibliografia convencionalmente tida como pertinente ao tema algu m vai reclamar e os editores aprendem a evitar tais reclama es Essa tend ncia de autorrefor o uma for a extremamente conservadora que perpetua muitas pr ticas editoriais ruins Minha pequena experi ncia me demonstrou que mesmo para um acad mico conhecido hoje em dia dif cil publicar nos melhores peri dicos sem se sujeitar s condi
236. rvou para elas sabendo que estavam dispon veis no mercado Esta a melhor maneira de usar a bibliografia Voc quer construir um argumento n o uma mesa Uma parte do argumento voc mesmo criou talvez se baseando em novos dados ou informa es que coletou Mas n o precisa inventar a coisa inteira Outras pessoas j trabalharam em seu problema ou em problemas relacionados com ele e constru ram algumas das pe as que lhe s o necess rias Voc s precisa encaix las no lugar certo Como o carpinteiro voc deixa espa o ao montar sua parte pessoal do argumento para as outras partes que sabe que pode conseguir j prontas Ou seja o que voc faz se souber que elas est o dispon veis para uso E esta uma das boas raz es para conhecer a bibliografia saber quais pe as est o dispon veis e n o perder tempo fazendo o que j foi feito Eis um exemplo Quando eu estava trabalhando na teoria do desvio que acabou saindo em Outsiders 1963 eu queria sustentar que quando os outros rotulavam algu m como desviante essa identifica o muitas vezes se tornava a coisa mais importante na pessoa rotulada Eu podia elaborar uma teoria para explicar como isso acontecia mas n o precisei Everett Hughes 1971 p 141 50 j desenvolvera uma teoria descrevendo como os status criam uma aura de caracter sticas de status auxiliares de modo que por exemplo esperamos que um padre cat lico americano seja irland s atl tico e u
237. s HowaRD S BECKER S o Francisco 2007 Pref cio V RIOS ANOS ATR S comecei a dar um semin rio de reda o para estudantes de p s gradua o em sociologia na Northwestern University Como explico no primeiro cap tulo eu estava me tornando professor particular e terapeuta de tanta gente que julguei que seria mais pr tico tratar de todas essas pessoas juntas A experi ncia foi t o interessante e ficou t o evidente a necessidade de algo semelhante quele semin rio que escrevi um artigo sobre ele que aqui corresponde ao primeiro cap tulo Enviei o artigo a algumas pessoas na maioria estudantes que haviam feito o curso e alguns amigos Eles e mais outros que acabaram lendo o texto sugeriram mais t picos que poderiam ser abordados de maneira proveitosa e ent o continuei a escrever Eu contava com a rea o favor vel de amigos e colegas principalmente da sociologia mas n o com a correspond ncia que come ou a chegar vinda de todo o pa s de pessoas que eu n o conhecia as quais tinham lido o artigo por indica o de algum amigo e afirmavam que o texto tinha sido proveitoso para elas Algumas cartas eram carregadas de emo o Os remetentes diziam que estavam enfrentando grandes problemas para escrever e que a simples leitura do artigo lhes dera confian a para tentar outra vez Alguns se perguntavam como um desconhecido era capaz de descrever com tanta precis o as apreens es e medos que sentiam Eu gostava do art
238. s coisas a discutir e ent o nomeio como um dois e tr s ou apenas arrolo uma depois da outra Geralmente conseguimos apresentar nosso argumento de uma maneira mais vigorosa n o seguindo uma lista mas passando de uma coisa a outra de uma forma que mostre a conex o entre elas 5 Concreto abstrato Os acad micos em geral e os soci logos em particular usam um excesso de palavras abstratas s vezes usamos abstra es porque n o temos nada muito espec fico em mente Os acad micos t m alguns termos abstratos favoritos que funcionam s para preencher espa o N o significando nada em si mesmos eles marcam um lugar que precisa de uma ideia concreta Alguns exemplos s o complexo complicado e rela o Dizemos que h uma rela o complexa entre duas coisas O que significa Rela o um conceito t o geral que n o significa quase nada e por isso que t o til em ramos muito abstratos da matem tica A nica coisa que rela o diz que duas coisas est o conectadas de alguma maneira Mas praticamente quaisquer duas coisas est o relacionadas de alguma maneira Em disciplinas menos abstratas do que a matem tica geralmente queremos saber como essa rela o isso que vale a pena saber O termo complexo n o nos conta ele apenas diz Acredite em mim tem muita coisa a ao que a maioria das pessoas concederia praticamente qualquer coisa A maioria das met foras espaciais usadas
239. s demonstra es matem ticas que come am afirmando a proposi o a ser demonstrada Os pesquisadores muitas vezes apresentam os resultados de levantamentos estat sticos dessa maneira Por exemplo uma tabela mostra que a classe e o preconceito racial guardam rela o direta A tabela seguinte mostra que isso verdade apenas quando voc toma o n vel de ensino como uma constante Outras tabelas mostrando o efeito da idade ou da etnia complicam ainda mais as coisas e assim por diante numa longa sucess o de itens antes que finalmente apare a a conclus o fundamentada nessa reuni o de dados Muitas vezes recomendo a esses aspirantes a Conan Doyle que simplesmente ponham em primeiro lugar aquele triunfante par grafo final dizendo aos leitores para onde se dirige o argumento e o que todo esse material demonstrar ao fim Isso traz tona a outra raz o para tal cautela Se eu j entrego o resultado de in cio ningu m vai ler o resto do que escrevi Mas os artigos cient ficos raramente lidam com material carregado de tanto suspense a ponto de justificar esse formato Se voc p e logo no come o o par grafo que entrega o segredo da coisa ent o pode voltar e citar explicitamente as se es do trabalho que contribuem para chegar ao resultado em vez de precisar esconder sua fun o numa prosa que n o se compromete com nada Suponha que voc est apresentando como fez Prudence Rains 1971 os resultados de um estudo so
240. s do que expus mas a li o zen de prestar aten o Os escritores ao revisar seus textos precisam prestar grande aten o ao que escreveram examinando cada palavra como se pretendesse ser levada a s rio Voc pode escrever os primeiros rascunhos depressa sem cuidado exatamente porque sabe que ter um olho cr tico mais tarde Quando voc olha com aten o os problemas come am a cuidar de si mesmos 5 Aprendendo a escrever como profissional Os CIENTISTAS SOCIAIS come aram a contar hist rias pessoais quando reconheceram que a apresenta o impessoal de ideias e resultados de pesquisa a qual costumava ser considerada cient fica oculta aos leitores fatos que eles gostariam de conhecer ver as colet neas de textos autobiogr ficos organizadas por Hammond 1964 e Horowitz 1969 A maioria dos textos sociol gicos autobiogr ficos se concentra na maneira como foi feita a pesquisa e a reda o merece o mesmo tipo de aten o J comentei como as institui es da vida acad mica em especial as escolas criam os problemas da reda o acad mica Minha discuss o se concentrou em larga medida nas fases iniciais da carreira acad mica a escola e logo a seguir Este e o pr ximo cap tulo examinam os problemas de reda o conforme surgem em fases posteriores de uma carreira em ci ncias sociais No Cap tulo 6 Pamela Richards discute a transi o crucial dos primeiros dias como estudante de p s gradua o at se tornar profi
241. s e sem pertin ncia no caso afetavam os resultados das experi ncias sem qualquer rela o com as vari veis supostamente atuantes N o deviam se aborrecer Como mostrou Rosenthal 1966 ao perderem as ilus es de um controle total sobre situa es experimentais os psic logos ganharam uma nova rea de estudos muito interessante a influ ncia social em grupos pequenos E conseguiram isso falando sobre o problema insol vel e n o fazendo vista grossa O mesmo acontece na reda o de um texto Quando voc n o consegue encontrar a nica Maneira Certa de dizer a coisa fale por que n o consegue Bennett Berger adotou essa solu o em The Survival of a Counterculture 1981 que apresentava seu estudo sobre comunidades hippies no norte da Calif rnia Ele estava interessado em experi ncias ut picas Sentia uma proximidade pessoal com a cultura e o esp rito hippie Queria estudar como os membros das comunidades lidavam com a inevit vel diferen a entre o que professavam e como se conduziam ao adaptarem suas cren as s condi es da vida que levavam Deu o nome de trabalho ideol gico aos m todos que as pessoas usavam para lidar com tais diferen as e pensou em estudar esse trabalho ideol gico como uma microssociologia do conhecimento Mas teve dificuldade em escrever sobre o que descobriu Adiei durante v rios anos a reda o deste livro porque n o conseguia encontrar um quadro interpretativo em que pudesse situar a vida
242. s e suas ideias Poucos se interessariam em nossos resultados se n o indic ssemos alguma rela o entre nosso trabalho e as coisas que outros disseram e fizeram antes de n s Kuhn 1962 apresentou essa m tua depend ncia e essa cumulatividade como ci ncia normal Muitos cientistas sociais usam a express o ci ncia normal em sentido pejorativo como se significasse ci ncia meramente normal e como se todos n s f ssemos capazes de criar revolu es cient ficas a cada dia Esta uma leitura totalmente equivocada de Kuhn e tamb m uma bobagem Os cientistas n o fazem revolu es cient ficas sozinhos Essas revolu es levam muito tempo S o grandes n meros de pessoas trabalhando juntas que desenvolvem uma nova maneira de formular e investigar os problemas em que est o interessadas maneira esta que encontra abrigo em institui es cient ficas duradouras um desatino imaginar que o relat rio sobre seu projeto realizar algo que demanda esse tempo todo e o trabalho dessas pessoas todas Tudo bem sonhar com o infinito mas dever amos levar a s rio o que humanamente poss vel Se nosso objetivo principal fazer individualmente uma revolu o na ci ncia ou no conhecimento estamos fadados ao fracasso Melhor se dedicar aos objetivos da ci ncia normal fazer um bom trabalho que outros possam usar e assim aumentar o conhecimento e a compreens o J que podemos alcan ar essas coisas em nossas pesquisas
243. s tra os d o cor sua prosa e forma aos seus argumentos tornando o texto resultante mais ou menos persuasivo para os diversos p blicos Essas personae vivem num mundo de acad micos pesquisadores e intelectuais onde til ou agrad vel ser um deles O mundo intelectual mant m uma rela o amb gua e dif cil com o mundo normal e muitos acad micos se preocupam com sua rela o pessoal com as pessoas normais Seremos realmente t o diferentes delas a ponto de justificar a vida privilegiada a que sentimos ter direito e que muitas vezes realmente levamos Quando alegamos que estamos pensando arduamente em alguma coisa embora vistos de fora estejamos apenas sentados ociosos numa poltrona os outros devem nos deixar fazer isso Por que ter amos meses de licen a da rotina de trabalho s para pensar E sobretudo algu m prestar alguma aten o ao que pensamos Por qu A persona que adotamos ao escrever diz aos leitores e por extens o a todos os potenciais c ticos quem somos e por que devem acreditar em n s e isso responde a todas as perguntas Algumas personae tipos humanos gen ricos adotadas pelos autores tratam diretamente do problema das rela es entre intelectuais e leigos Muitas delas ressaltam as diferen as entre n s e eles nossa superioridade em reas importantes que justificam nossa vida e mostram por que todos devem acreditar em n s Quando mostramos classe queremos nos ver e que os outros
244. sas fichas como antigamente simplesmente folheando os registros Mas se n o consegue se lembrar de quase nada sobre a ficha que est procurando ou se lembra talvez de apenas uma palavra um nome ou uma data o computador pode procurar para voc O programa tendo indexado discretamente todas as palavras que voc escreveu e registrado as fichas anteriores que voc preencheu com tais palavras obedece a um comando simples para encontrar e enfileirar as fichas para voc inspecionar Pode descartar o que n o necess rio sem se preocupar se vai atrapalhar a ordem em que est o Pode separar o que encontrou na pilha segundo outros crit rios Tamb m pode incluir com facilidade outros tipos de materiais gr ficos e tabelas fotografias v deos sons e m sica cheiros ainda n o tomando o cuidado de incluir um n mero de palavras suficiente para que as fun es de busca que ainda n o reconhecem elementos n o verbais possam encontrar o que voc est procurando Tamb m pode incluir links para itens que est o em qualquer outra parte de seu computador ou na Internet Os aficionados reconhecer o que todos esses programas s o vers es de uma base de dados em formato de fichas simples de fato os programas de base de dados podem atender s mesmas finalidades apenas n o parecem t o amig veis Ver Becker Gordon e LeBailly 1984 Aqui h uma troca Alguns programas s o concebidos para atender apenas a um conjunto espec fico de e
245. screver um manual de introdu o reda o para o qual n o tenho compet ncia procurei atender necessidade de uma an lise que estude os problemas espec ficos de escrever sobre a sociedade abordando as dificuldades t cnicas tratadas sociologicamente por outros autores Abordo especificamente a reda o acad mica em particular a sociol gica e situo seus problemas dentro do contexto do trabalho acad mico Sternberg em Como concluir e sobreviver a uma tese de doutorado se dedica mais pol tica do processo a escolha do orientador por exemplo do que reda o propriamente dita Sem mod stia escrevi em termos pessoais e autobiogr ficos Outros fizeram isso Peter Elbow por exemplo provavelmente pelas mesmas raz es Os estudantes acham dif cil imaginar a escrita como uma atividade concreta feita por pessoas de carne e osso Como diz Shaughnessy 1977 p 79 O escritor iniciante n o sabe como se comportam os escritores Os estudantes n o veem um livro como resultado do trabalho de uma pessoa Mesmo os estudantes de p s gradua o que est o muito mais pr ximos de seus professores raramente veem algu m de fato escrevendo raramente veem rascunhos de trabalho e textos que n o est o prontos para publica o um mist rio para eles Quero eliminar o mist rio e lhes mostrar que o trabalho que leem foi feito por pessoas que enfrentam as mesmas dificuldades Minha prosa n o exemplar mas como sei
246. soas que podem aproveitar bem a inclus o em seus textos de materiais diferentes de uma impress o convencional Fotos desenhos tabelas gr ficos estat sticos tudo isso pode ser preparado por programas concebidos para tais tarefas que ent o inserem no lugar que voc quiser eliminando o receio dos autores s vezes justificado de que um designer descuidado venha a confundir o significado pretendido os designers claro muitas vezes t m ideias melhores sobre a forma de expressar visualmente o significado do que os autores mas pelo menos estes agora podem deixar claro o que querem Se voc escreve sobre m sica sempre til ter exemplos musicais em nota o e grava o para ajudar os leitores a entender o que voc est falando Agora voc pode preparar as formas de nota o musical e at incluir uma grava o de acompanhamento com relativa facilidade n o t o f cil mas mais f cil do que seria sem o computador Infelizmente para os autores surge uma nova dificuldade junto com essas maneiras mais f ceis de incluir tais materiais Os detentores dos direitos sobre as fotos as obras de arte e as pe as musicais agora se empenham mais em receber o que lhes devido e querem cada vez mais por partes cada vez menores da obra que voc deseja reproduzir Os editores preocupados com a es judiciais insistem que os autores comprovem claramente o direito de uso de qualquer coisa que incluam Com isso conseguir as auto
247. sse problema da confian a cr tico porque desgasta o tipo de liberdade emocional e intelectual de que todos n s precisamos para conseguir criar Em quem voc pode confiar Imagino que existam alguns indiv duos t o confiantes que n o se preocupam com o que pensam os colegas mas s o uma ra a especial um tipo muito raro Simplesmente v o em frente distribuindo manuscritos a torto e a direito entupindo as caixas de correspond ncia das pessoas com p ginas e mais p ginas de ideias teis e interessantes Como conseguem Alguns t m o tipo de personalidade que lhes d essa habilidade outros a maioria t m a liberdade estrutural que lhes d mais poder de dizer N o dou a m nima para o que os soci logos devem fazer estou fazendo o que eu quero Percebi um pouco disso em mim mas bem pouquinho agora que sou professora efetiva N o que eu tenha passado necessariamente a confiar mais em algu m que agora n o preciso mais me preocupar tanto com o impacto de seus ju zos negativos Mas confiar Em quem voc pode confiar Quando penso em quem confio para ler meu trabalho percebo que s o pessoas que j sabem at que ponto pode ir minha burrice colegas de p s gradua o professores que me deram aulas de sociologia durante a p s gradua o algumas pessoas daquela poca que al m de colegas tamb m se tornaram amigas Quem me conheceu na p s sabe de tudo isso e sei que com essas pessoas o caminho um s
248. ssional plena Neste cap tulo muito pouco modesto num livro pouco modesto conto algumas hist rias de meus trinta e poucos anos na rea e destaco alguns elementos anal ticos O ponto principal que ningu m aprende a escrever de repente Pelo contr rio essa aprendizagem prossegue durante toda a vida profissional e decorre de um leque de experi ncias trazidas pela academia Os cientistas sociais n o pensam na reda o como um problema s rio at a hora em que encontram dificuldades para redigir ou publicar seus trabalhos Podem trat las com um alegre descaso como um conhecido meu que disse Estilo de escrita Voc se refere a usar it licos e p r notas de rodap Podem tratar a facilidade de reda o como uma d diva de Deus que simplesmente n o lhes coube como o estudante que explicou sua banca examinadora da qual eu fazia parte que sabia que sua tese estava mal escrita mas sabem n o sou uma pessoa verbal At podem entender que t m problemas para dizer o que pretendem mas pensam que podem passar a tarefa para outra pessoa O estudante n o verbal disse que estava tudo bem pois a esposa dele era formada em l ngua inglesa e cuidaria de qualquer problema que aparecesse Outros contratam um preparador de texto que mal t m condi es de pagar Nem todos desenvolvem a sensibilidade que adquiri em rela o clareza na escrita Posso apontar alguns dos fatos na vida acad mica em sua maioria acidentes
249. sso e provavelmente vou questionar cada v rgula e cada palavra e que eles deviam aprender a fazer a mesma coisa Acham o exerc cio desgastante N o conseguem se imaginar levantando todas aquelas quest es a cada frase Por fim eu os tranquilizo e a experi ncia deles tamb m os tranquiliza Descobrem que o processo n o leva tanto tempo quanto temiam que conseguem enxergar r pido os problemas mais bvios e s precisam se preocupar com algumas poucas coisinhas que s o realmente dif ceis de resolver Aprendem que f cil copidescar linha por linha porque as coisas que precisam ser ajustadas caem em categorias Quando voc entende a natureza de uma categoria sabe arrumar os problemas das frases que se encaixam dentro dela Esta minha maneira imagino eu de falar sobre regras e diretrizes J o que os estudantes n o aceitam com a mesma facilidade que por mais tempo que leve essa revis o minuciosa vale a pena Conseguem ver que cada mudan a deixa as coisas um pouco mais claras e elimina algumas palavras que provavelmente n o estavam mesmo servindo para muita coisa Mas compensa Quando terminei Art Worlds pensei que havia feito todas as corre es que o texto exigia ou conseguia suportar Uma preparadora de texto habilidosa Helen Tartar releu e fez centenas de outras mudan as algumas t o extensas quanto as que acabei de apresentar Quando li o material com suas altera es senti a mesma coisa que sinto quando olhand
250. subindo Viram minhas primeiras tentativas de pensar e escrever me deram apoio o tempo todo e acreditaram que havia algo por tr s de toda a confus o Ent o confio nelas E n o por acaso elas confiam em mim Trocamos nossas coisas por causa daqueles primeiros la os Afinal n o h nada que se compare ao sofrimento daquelas primeiras tentativas de sair para o mundo de rabiscar algumas notas e ent o voltar para casa e tentar fazer alguma coisa com aquilo E n o h nada que se compare ao entusiasmo de ter algu m que lhe diga que aquelas min sculas tentativas prestavam Os colegas daquela poca que se tornaram amigos s o poucos mas preciosos Confiamos uns nos outros porque lutamos para vencer as barreiras estruturais que no come o nos dividiam Como todas as amizades elas resultam daquela esp cie de dan a em passos mi dos e cautelosos que ora nos aproximam ora nos afastam v rias vezes cada aproxima o criando um pouco mais de confian a e interesse N o tenho nenhuma receita de criar amizades de confian a embora bem quisesse ter Comigo uma coisa muito idiossincr tica embora s vezes resulte de trabalharmos juntos em algum projeto de pesquisa Ent o s o essas as pessoas em quem confio para mostrar meus rascunhos O risco profissional menor por causa de nossa hist ria em comum Suas rea es s o importantes absolutamente fundamentais para eu poder continuar a trabalhar em meus rascunhos Suas rea es me c
251. ta usamos o que nos soa bem ou parece bom Usamos regras heur sticas algumas muito vagas outras precisas Geralmente ao escrever os cientistas sociais n o pensam em regras ou diretrizes N o consultam um manual mas consultam sim outra coisa um padr o de gosto uma no o generalizada de como alguma informa o deve soar ou parecer Se o resultado n o contrastar demais com esse quadro generalizado eles deixam ficar Em outras palavras trabalham como artistas que muitas vezes acham dif cil verbalizar os princ pios gerais que norteiam suas escolhas ou at apresentar qualquer raz o que seja Costumam recorrer a declara es n o comunicativas como soa u melhor assim me pareceu bom ou funciona Essa incapacidade enunciativa frustra o pesquisador Mas todos os praticantes de artes leia se das disciplinas acad micas usam palavras cujos sentidos n o sabem definir com exatid o mas que mesmo assim s o compreens veis para os membros instru dos do mundo a que pertencem Os m sicos de jazz dizem que alguma coisa tem ou n o tem suingue o pessoal de teatro diz que uma cena funciona ou n o funciona Em nenhum desses dois casos nem mesmo o participante mais instru do capaz de explicar o que esses termos significam a algu m que ainda n o seja familiarizado com as acep es deles Apesar disso todos que os utilizam entendem o significado e podem aplic los com gr
252. tanto poucas situa es cotidianas s o suficientemente circunscritas em termos matem ticos para permitir a aplica o de algoritmos Mais geralmente funcionamos com a ajuda de regras heur sticas ou pr ticas bastante gerais diretrizes que oferecem v rios graus de flexibilidade ao abordar problemas Em vez de operar com uma certeza e precis o algor tmica sondamos criticamente v rias alternativas usando nossa heur stica como uma vareta divinat ria se voc empacar num problema matem tico tente chegar solu o seguindo ao nou inverso se o motor do carro n o ligar verifique x y ou z e assim por diante A heur stica n o dar a precis o ou a certeza das opera es algor tmicas pode ser t o frouxa que chega a ficar vaga Mas num mundo onde as tarefas e os problemas raramente t m precis o matem tica as regras heur sticas se tornam as regras mais apropriadas mais funcionais ao nosso alcance Rose 1983 p 391 2 Os estudantes que pensavam que as regras para escrever eram algoritmos n o estou inventando alguns pensavam mesmo tiveram problemas enquanto os estudantes que as usavam como recursos heur sticos n o tiveram o que n o de surpreender Assim n o podemos escrever e nem mesmo reescrever tratando como algoritmo qualquer regra que possamos escolher Se n o desse jeito ent o como fazemos Fazemos de ouvido O que significa isso Olhando uma p gina em branco ou uma p gina escri
253. te rico e n o s uma falha de reda o Um ponto importante na teoria de rotula o do desvio destacado em Becker 1963 justamente que algu m rotula a pessoa de desviante algu m que tem o poder para tanto e boas raz es para querer fazer isso Se voc deixa esses agentes de fora distorce a teoria tanto na pr tica quanto no seu princ pio Apesar disso uma locu o corrente Os soci logos cometem erros te ricos similares quando dizem que a sociedade faz isso ou aquilo ou que a cultura leva as pessoas a fazerem tais ou tais coisas e eles escrevem assim o tempo inteiro A incapacidade ou falta de vontade dos cientistas sociais de fazer afirmativas causais tamb m leva a uma reda o ruim O Ensaio sobre o entendimento humano de David Hume nos deixa aflitos na hora de afirmar que demonstramos as conex es causais e embora poucos soci logos sejam t o c ticos quanto Hume em sua maioria eles julgam que apesar dos esfor os de John Stuart Mill do C rculo de Viena e de todos os demais correr o s rios riscos acad micos se alegarem que A causa de B Os soci logos encontram diversas maneiras de descrever covari ncias geralmente usando express es vazias que insinuam o que gostar amos de dizer mas n o temos coragem Como receamos dizer que A causa B dizemos H uma tend ncia de covariarem ou Parecem estar associados As raz es disso nos reconduzem aos rituais da escrita Escrevemos assim porque se
254. temia se havia realmente tanta insist ncia em solu es convencionais e padronizadas para os problemas de apresentar os dados e as ideias que resultavam no conte do cada vez mais ileg vel de que tantas pessoas reclamam Um amigo editor de um peri dico importante n o acreditava que as coisas fossem t o ruins quanto eu dizia e voc h de lembrar como tamb m disseram os cr ticos do primeiro cap tulo deste livro quando eu ainda n o acreditava que fosse assim Por sugest o dele submeti um artigo avalia o de seu peri dico Eu havia publicado na Fran a um artigo em franc s Becker 2001 sobre a solu o estil stica de Erving Goffman para o problema do vi s que contamina nosso trabalho quando usamos a linguagem convencional da vida social como est exemplificado em Asylums Goffman 1961 Parecia me um bom artigo n o uma grande revolu o mas til como tamb m julgaram os organizadores do livro em que ele foi inclu do Meu amigo editor achou que servia e encaminhou o texto a tr s pareceristas O resultado da experi ncia de Trollope n o se repetiu Os pareceristas adivinharam facilmente quem era o autor ficava bvio pelas v rias refer ncias pessoais E eu estava testando outra ideia n o se o nome e a fama do autor faziam alguma diferen a mas se apesar do nome da fama e da avalia o favor vel geral que eu esperava sem nenhuma mod stia o predom nio dos procedimentos atuais impediria a publica o do a
255. temos de abandonar o moralismo e ver o problema em sua rela o com a organiza o social da vida acad mica Aqui a concep o do vocabul rio de motivos de C Wright Mills 1940 pode nos ajudar Toda sociedade ou grupo social tem uma lista de raz es aceit veis e compreens veis para fazer as coisas Assim podemos explicar que aceitamos determinado emprego porque precis vamos do dinheiro porque gostamos de trabalhar com pessoas porque esse tipo de coisa me interessa ou porque oferece chances de progredir Todas essas s o raz es compreens veis para fazer coisas nos Estados Unidos de hoje Podemos n o fazer coisas por essas raz es ou n o aprovar quem as fa a mas entendemos que os que fazem n o s o loucos nem mal volos Em outras sociedades pode ser que algu m explique que fez alguma coisa porque o irm o de sua m e mandou que fizesse ou porque Deus lhe disse Alguns amigos entenderiam minha decis o de aceitar um novo emprego porque sou de ries e assim que as pessoas de ries s o Mas eu teria de ter muito cuidado com quem me ouvisse dizer que fiz porque Deus me falou para fazer N o usamos a lista de explica es aceit veis de nossa sociedade apenas para falar com os outros Tamb m perguntamos a n s mesmos por que fazemos as coisas e procuramos explica es razo veis nessa mesma lista Se n o encontramos nenhuma podemos n o fazer o que pretend amos ou podemos nos indagar sobre nossa sanid
256. terior data de entrega Como uma pintura japonesa voc faz e fica bom ou n o Os estudantes de gradua o n o t m tempo de reescrever visto que muitas vezes precisam entregar v rios trabalhos na mesma poca do ano O m todo funciona para a gradua o Alguns adquirem grande pr tica nesse formato e entregam trabalhos respeit veis bem acabados formulando os mentalmente enquanto andam pelo campus e pondo por escrito logo antes da data de entrega Os professores sabem de tudo isso Se n o conhecem a mec nica da coisa pelo menos conhecem os resultados e n o esperam trabalhos com mais coer ncia ou melhor acabamento do que esse m todo permite Os estudantes que costumam trabalhar dessa maneira ficam preocupados com a vers o que redigem o que compreens vel Eles sabem que poderia ser melhor mas n o ser O que escrevem fica assim mesmo Desde que esse documento se mantenha confidencial na rela o convencionalmente privada entre aluno e professor n o constranger demais o autor Mas a organiza o social da escrita e da reputa o muda na p s gradua o Os professores comentam os trabalhos dos estudantes com seus colegas e com outros estudantes seja elogiando ou criticando Com sorte eles v m a se transformar em trabalhos para a qualifica o ou em disserta es lidos por v rios membros do corpo docente Os estudantes da p s tamb m redigem trabalhos mais longos do que o pessoal da gradua o Os habitua
257. to em vista de minha insist ncia em usar a escrita para descobrir o que penso N o tem como fazer um plano geral sem estabelecer fisicamente na superf cie de escrita qual ser a estrutura do texto que nunca sei qual antes de come ar Escrever livremente que me diz o que eu penso Ent o descobri os softwares de planejamento um tipo de aplicativo que ajuda a organizar o que voc est escrevendo numa forma hier rquica provis ria voc vai criando t picos escrevendo textos arranjando e rearranjando os t picos mudando a import ncia e as conex es deles mexendo vontade nessa confus o toda como pe as de um quebra cabe a at encontrar uma maneira em que todos se encaixem Voc tem todas as vantagens de um plano geral mas nem de longe algo permanente no papel S parece Para minha gera o cortar e colar n o era met fora era a coisa f sica mesmo A nica diferen a era que eu usava durex N o precisava usar o tipo de cola com que eu me melava inteiro na escola prim ria mas podia juntar com fita adesiva os trechos recortados de uma vers o datilografada anterior criando enormes esculturas de papel que depois tinha de redatilografar ou depois de virar pesquisador e ent o professor com pessoas que faziam isso para mim receber o material redatilografado e recome ar tudo de novo Depois de muitas repeti es eu encontrava a estrutura adequada quilo que finalmente eu descobrira que queria dizer
258. to r pido e alguns amigos que j davam o curso me conheciam e me indicaram e assim consegui o emprego Foi como conheci Mark Benney depois falecido um jornalista ingl s que ingressara na vida adulta como pequeno delinquente e acabou lecionando ci ncias sociais gra as ao incentivo e aux lio de David Riesman e Everett Hughes Ele havia publicado v rios livros e sua experi ncia como escritor profissional se mostrava na eleg ncia e clareza de sua prosa que eu admirava Magro baixinho com calv cie prematura Mark tinha um ar de malandro que eu atribu a a seus per odos na pris o Tinha cuidado com o que dizia e assim quando dizia alguma coisa s ria voc sabia que ele realmente queria dizer aquilo e queria que voc levasse a s rio Eu j tinha publicado um ou dois artigos em revistas acad micas e decerto me achava bastante bom ou pelo menos competente Redigi um artigo baseado em minha tese de doutorado o estudo sobre os professores da rede de ensino p blico de Chicago que j mencionei O artigo levantava alguns problemas sobre o ensino e as classes sociais que pensei que interessariam a Mark e ent o lhe pedi que lesse Ao me devolver ele disse que achou muito interessante e ent o comentou alguns aspectos do conte do E a como algo que lhe ocorresse num segundo momento acrescentou Bom imagino que voc tem de escrever desse jeito engra ado para ser publicado numa revista de sociologia Eu sabia que ele era um
259. tou folheando os n meros atuais de algumas revistas de sociologia n o creio que os resultados seriam diferentes se as revistas fossem de hist ria psicologia ou literatura inglesa Em quase todas as p ginas encontro met foras batidas Parece faltar um argumento cortante ferino a um livro resenhado Outro livro cobre um imenso terreno Um terceiro lida com uma quest o rica que foi empobrecida por seu contexto Meus colegas falam do corpo bibliogr fico crescente de an lises que penetram no cora o do assunto em discuss o ou que ficam entre a cruz e a espada e encontram as sementes de pr ticas institucionais de outra sociedade plantadas em nossa pr pria sociedade Uma abordagem te rica leva a uma camisa de for a conceitual Os pesquisadores garimpam dados escavam ou destilam resultados e chegam ao fundo da quest o O mais cient fico dos documentos traz in meras imagens desse g nero Geralmente elimino essas met foras de qualquer texto que eu esteja revisando Todas elas N o somente as do g nero acima Voc pode sentir a diferen a comparando as a um uso magistral da met fora no famoso artigo On Cooling the Mark Out Esfriando consolando o ot rio de Goffman 1952 que usa o conto do vig rio como met fora para aquelas situa es sociais em que a pessoa n o consegue sustentar a defini o da pr pria identidade que oferece a si e a
260. u mais tarde marxistas Fosse como fosse a entidade queria estar aberta a qualquer coisa que n o fosse do sistema da Costa Leste Devo ter concordado com tudo isso que me parecia razo vel embora os peri dicos do sistema dominante tivessem publicado com bastante frequ ncia meus trabalhos n o quantitativos e n o estrutural funcionalistas Assim assumi o cargo de editor com a ideia de que minhas responsabilidades consistiam em publicar materiais contra o sistema Tamb m decidi embora ningu m me dissesse que fazia parte de minhas responsabilidades oficias ou extraoficiais que ia tomar alguma provid ncia quanto ao estado da reda o sociol gica que me parecia lastim vel reescrevendo o quanto fosse necess rio tudo o que aparecesse na revista Tendo isso em mente recrutei para meu conselho editorial pessoas que escreviam bem sabiam o que era um texto bem escrito e portanto poderiam me ajudar Aprendi muito com os primeiros volumes que publiquei Depois de ter montado meu primeiro n mero e logo falarei sobre esses problemas reescrevi extensamente todos os artigos dele Era a experi ncia de copidesque mais intensiva e instrutiva que eu tivera at aquele momento Preparar tantos artigos de tantas pessoas em tantos estilos em t o pouco tempo fez eu me sentir um copidesque de jornal Aprendi a bater o olho e localizar as coisas que sabia que n o teria a menor d vida em mudar imediatamente Nunca entendi como fiz algumas das
261. uero apontar ficar intacto e eliminarei uma refer ncia dispersiva a um processo n o analisado que n o voltarei a mencionar s vezes colocamos essas express es sup rfluas porque o ritmo ou a estrutura da frase parece exigi las ou porque queremos lembrar a n s mesmos que est faltando alguma coisa no argumento Queremos apresentar um argumento se ent o mas n o desenvolvemos conscientemente a conex o causal que nossa intui o cr estar ali Assim montamos a forma e esperamos que o conte do apare a para preench la Ou fazemos por h bito Apegamo nos a locu es e formatos Como v rios escritores acad micos muitas vezes escrevo frases com tr s ora es aditivas Este livro desperta nossa curiosidade nos d algumas respostas e nos convence de que o autor est certo A segunda frase do pr ximo par grafo outro bom exemplo que ocorreu naturalmente enquanto eu estava escrevendo Mas muitas vezes uso essa forma quer tenha ou n o tr s coisas a dizer e a preciso me esfor ar para encontrar a terceira coisa que ent o vazia N o faz mal Vai sair na revis o Uma palavra desnecess ria n o funciona N o desenvolve o argumento n o faz uma qualifica o importante nem acrescenta um detalhe convincente Est vendo Encontro as palavras desnecess rias fazendo um teste simples Enquanto leio meu rascunho verifico todas as palavras e express es para ver o que acontece se eu elimin las Se o sentido n
262. um personagem importante na hist ria que voc est contando em sujeito do verbo A aten o distin o gramatical conduz para o caminho certo A voz ativa quase sempre o obriga a nomear a pessoa que fez a coisa que foi feita embora os camufladores habilidosos consigam escapar exig ncia Raramente pensamos que as coisas acontecem sozinhas como sugere a voz passiva pois em nosso cotidiano as pessoas fazem coisas e fazem com que as coisas aconte am As frases que nomeiam os agentes ativos tornam nossas representa es da vida social mais plaus veis e mais compreens veis O criminoso foi condenado oculta o juiz que como sabemos determinou a senten a e n o por acaso faz com que o destino do criminoso pare a uma opera o de for as impessoais e n o tanto o resultado de pessoas agindo em conjunto para encarcer lo Quase todas as vers es da teoria social insistem que n s agimos para produzir a vida social Karl Marx e George Herbert Mead pensavam assim mas a sintaxe de seus seguidores muitas vezes contraria a teoria deles 2 Menos palavras Os escritores acad micos muitas vezes inserem palavras e express es inteiras quando n o querem dizer alguma coisa da maneira simples e direta como lhes veio de in cio Querem indicar uma mod stia uma reserva uma no o de que sabem que podem estar errados s vezes querem reconhecer que os leitores podem discordar ao sugerir educadamente antes de dizer o que v o dizer qu
263. uma atitude jocosa em rela o ao que estava estudando mas a dificuldade ainda mais comum de n o conseguir escrever porque voc n o encontrou a nica Maneira Certa de lidar com este ou aquele problema Berger n o explica mas demonstra como evitar essa busca infrut fera da nica Maneira Certa Escreva sobre isso Converta no foco de sua an lise Ele dedicou uma parte consider vel de seu livro a essa tarefa Com isso encontrou n o s uma maneira de escrever mas um tema amplo no qual p de inserir a hist ria de sua pesquisa o v cio intelectual da explica o como deprecia o Para confessar aos leitores os seus problemas voc precisa reconhec los e assim reconhecer tamb m que voc n o a figura exemplar que sempre sabe a Maneira Certa e a aplica de modo irrepreens vel N o creio que isso seja dif cil visto que tais figuras exemplares n o existem embora alguns relutem em reconhecer o fato O rem dio experimentar e ver por si mesmo que n o d i 4 Editando de ouvido QUANDO EDITO OU FALO sobre editar textos alheios as pessoas geralmente querem saber como fez minha amiga Rosanna quais s o os princ pios de um copidesque Que regras uso para por exemplo tirar uma palavra ou eliminar uma express o Ningu m faz nada criativo simplesmente seguindo regras embora as regras sejam teis e necess rias e mesmo o texto mais trivial e rotineiro criativo seja uma carta a um amigo ou um bilhete para um entre
264. unca tivesse existido Nunca ningu m vai saber a idiotice que voc escreveu ou a formula o tosca que voc usou Seu cesto de lixo n o fica abarrotado de pap is amassados vista de seus amigos xeretas que at podem pegar alguma folha e dar uma olhada Como nem todo mundo tem esse tipo de medo eu n o tenho mas alguns amigos meus t m a solu o desses problemas n o a principal contribui o do computador A grande qualidade do computador vencer o desgaste f sico de escrever Reescrever deixa de ser uma tarefa de riscar uma express o ou uma frase e escrever outra nova Em vez disso voc apaga deleta o que n o quer e insere a substitui o Quando quer trocar um par grafo de lugar n o precisa recortar e colar numa outra folha Voc move para o armazenamento tempor rio retirando o do lugar anterior e ent o o escreve no outro lugar Armazenamento tempor rio o nome dado pelo programa que uso outros programas usam outros nomes inclusive o cortar e colar para a mesma opera o Se voc n o gostar do jeito como ficou o novo par grafo s devolver para onde estava Se decidir mudar uma palavra ou uma express o voc usa o recurso de localizar e substituir tudo dispon vel na maioria dos programas de processamento de texto que executam a opera o depressa e sem deixar passar nenhuma ocorr ncia Um amigo meu se mostrava bastante c tico em rela o a meu
265. unciona como deveria Os fornecedores n o entregam os componentes que diziam ter para pronta entrega Mas muitas vezes os novos computadores n o chegam a sair porque os engenheiros que trabalham neles consideram que n o est o prontos para o lan amento E muitas vezes t m raz o Ressoam no setor os casos de m quinas que foram lan adas antes de estarem prontas levando empresas fal ncia estragando a imagem de um produto que tinha tudo para ser bom prejudicando o nome e a carreira dos envolvidos Uma explica o comum superficialmente correta atribui esses desastres a uma tens o cr nica entre o pessoal do comercial e os engenheiros O pessoal do comercial precisa da m quina imediatamente A concorr ncia j tem uma e a empresa vai perder sua fatia de mercado se n o aparecer logo com um similar Mas os engenheiros sabem que com um pouco mais de tempo conseguir o fazer uma m quina melhor com menos bugs mais despojada mais elegante encarnando melhor sua concep o inicial Sabem que pelo menos outros engenheiros apreciar o esses refinamentos e admirar o a engenhosidade O pessoal do comercial est pouco ligando para a eleg ncia e a perfei o que impressiona os colegas dos engenheiros acham que os engenheiros s o uns malucos avoados bem capazes de levar a empresa fal ncia com seus sonhos de perfeccionismo O crit rio pr tico deles que a m quina esteja bem boa cumprindo a fun o para a qual foi desen
266. v rias hist rias para contar Elas geralmente traziam alguma pequena li o sobre a origem dos problemas que encaramos na hora de escrever ou apontavam alguma forma de evit los ou alguma maneira de pensar que tornasse o problema menos problem tico Depois que o primeiro cap tulo saiu numa revista acad mica e despertou alguma discuss o vi que tinha a um in cio e o restante do livro saiu quase sozinho Eu n o estava preparado para a enxurrada de cartas de leitores que encontraram ajuda no livro N o s ajuda V rios me disseram que o livro lhes salvara a vida o que n o significa que a obra seja uma boa terapia mas sim que o problema enfrentado pelas pessoas com dificuldades para escrever grave Muitos me disseram que decidiram dar um exemplar a amigos que estavam em apuros N o admira pois nosso destino no ambiente acad mico em que escrevemos como estudantes professores e pesquisadores depende de nossa capacidade de entregar um texto aceit vel quando solicitado Se voc n o consegue sente sua confian a abalada e fica ainda mais dif cil fazer a tarefa seguinte e antes que voc se d conta n o v mais sa da Assim ao sugerir novas maneiras de encarar esses dilemas o livro deu esperan a s pessoas e ajudou pelo menos algumas delas a sair da espiral negativa Eu tamb m n o estava preparado para os agradecimentos de pessoas de reas muito distantes da minha a sociologia Grande parte da an lise no livro
267. vas for as pol ticas como o trabalho de Pasteur em microbiologia criou ao introduzir o micr bio como ator social Posso n o usar essas ideias em sua forma original Posso transform las a tal ponto que seus criadores n o reconheceriam ou n o aprovariam e interpret las de uma maneira que os estudiosos desses pensadores considerariam incorreta Provavelmente vou us las em contextos muito diferentes daqueles em que foram propostas de in cio sem dar o devido peso s exegeses te ricas que se empenham em descobrir os significados centrais pretendidos por seus inventores Mas tenho as comigo pronto para utiliz las quando fizer minhas observa es ou come ar a escrever Ser mais f cil us las claro se as tiver em mente durante todo esse tempo Mas tamb m posso descobrir que j tinha em mente uma ideia parecida apenas n o t o clara e que Latour Moulin ou Waller realizaram por mim a rdua tarefa de elucid la Agrade o reconhe o a como parte do trabalho colaborativo do conhecimento cito e dou as respectivas refer ncias nos devidos lugares Meu trabalho pode ficar parecendo uma colcha de retalhos Quando isso acontece eu me consolo pensando no exemplo de Walter Benjamin o homem de letras judeu alem o cujos m todos Hannah Arendt descreveu da seguinte maneira Desde o ensaio sobre Goethe as cita es est o no centro de todos os trabalhos de Benjamin Esse pr prio fato diferencia seus escritos de todas as outras esp
268. versas maneiras de escrever Na verdade a organiza o da vida acad mica evoca e premia os dois grupos de motivos tomando ambos como razo veis e necess rios Como est organizado o mundo da academia e qual o papel da escrita e publica o dentro dele Que papel voc quer desempenhar e quais os efeitos que sua maneira de escrever e publicar ter sobre o papel que escolheu Boas perguntas para as quais n o existem respostas un vocas o que n o de se estranhar E n o de se estranhar porque os acad micos n o se disp em muito a estudar a organiza o de seu mundo social N o querem que seus segredos sejam revelados nem que seus mitos prediletos sejam desmascarados como contos de fadas Gostam de contar hist rias de suas experi ncias e de extrair delas grandes conclus es sobre o que fornece confian a aos estudantes quais as estrat gias de carreira que funcionam fiz as duas coisas neste livro e especialmente como a gest o das universidades racional apesar da aparente superf cie ca tica Um exame sistem tico dos estudantes das carreiras ou das universidades sem d vida contrariaria suas convic es e assim ningu m pensa que vale a pena se dedicar ou cooperar com uma pesquisa dessas Portanto n o existe nenhum corpo de pesquisas que possa resolver essas quest es Mesmo assim podemos come ar por alguns pontos Poucos discordar o do que digo Tal como muitos outros conhecimentos sobre o funcionamento
269. vida intelectual um di logo entre pessoas interessadas no mesmo assunto Voc pode ficar sapeando a conversa e aprender com isso mas em algum momento ter de dizer alguma coisa Seu projeto de pesquisa n o estar pronto enquanto voc n o puser por escrito e colocar na roda publicando o Essa concep o tem ra zes evidentes na filosofia pragm tica de John Dewey e George Herbert Mead ambos importantes no pensamento e na pr tica das ci ncias sociais Tamb m tem conota es fortemente moralistas Os estudantes e colegas que trabalharam comigo sabem o quanto posso ser moralista teimoso e irritante quando se trata de soltar o texto Por que eles n o terminam a tese Cad o cap tulo que eles prometeram Voc est quase no fim o que est demorando tanto Sei que quando fico assim estou deixando de ver alguma coisa Nunca nada t o simples t o ou ou Ent o tento saber o resto da hist ria Sempre tem mais alguma coisa Encontrei o outro lado dessa hist ria continuando com a met fora do computador perguntando se era poss vel lan ar o produto cedo demais A pergunta responde a si mesma Uma empresa de computadores pode ir fal ncia se ignorar as advert ncias dos engenheiros Mas a coisa vai al m disso James Joyce n o tinha nenhuma pressa em soltar Finnegan s Wake Muitas obras primas resultam de anos e anos de reelabora o paciente de pessoas que parecem n o dar a m nima em finalizar as coisas Num dos extrem
270. voc for um interacionista simb lico ou um adepto de Berger e Luckmann pode falar em constru o social da realidade N o s o apenas palavras diferentes Elas expressam concep es diferentes Mas n o muito diferentes Um vocabul rio codificado nem sempre tem um n cleo de sentido nico mas continuamos a us lo pois se us ssemos outras palavras as pessoas poderiam pensar que pertencemos ou gostar amos de pertencer a alguma outra escola Essa finalidade de indicar a filia o no uso dos recursos estil sticos fica especialmente clara quando o autor diz coisas que entram em conflito com a teoria indicada pela linguagem isto quando o desejo de dizer Sou funcionalista ou Sou marxista maior do que o desejo de dizer o que pretende Stinchcombe desenvolve essa ideia num artigo citado e discutido no Cap tulo 8 John Walton quando leu uma vers o anterior deste livro e refletiu sobre sua experi ncia de dar um semin rio mais ou menos parecido com o meu apontou que muitas vezes as pessoas querem muito mostrar sua bandeira te rica indicar ao leitor sofisticado professor ou editor que est o no lado certo de uma quest o controversa Vejo isso principalmente em textos que querem transmitir uma sofistica o no marxismo sem parecer ortodoxia ou capaz de ser rotulada como tal Um termo como forma o social inserido no lugar certo diz a outros sofisticados o que voc quer sem trazer muito risco Walton
271. volvida de maneira suficiente para atender aos usu rios Os raros engenheiros que se movem entre os dois mundos e chegam a uma integra o entre esses crit rios distintos ganham o respeito de todos por conseguirem aprontar o produto A tens o entre aprimorar e finalizar surge sempre onde preciso terminar um trabalho ou lan ar um produto um computador um jantar um trabalho de semestre um autom vel um livro Queremos terminar e entregar s pessoas que v o usar comer ler a coisa Mas nenhum objeto jamais incorpora totalmente a concep o de seu criador Devido fraqueza humana sua e dos outros erros e defeitos s o inevit veis Voc se esquece de p r sal deixa passar algum bug importante em seu programa comete uma fal cia l gica deixa de fora uma vari vel importante escreve uma frase vergonhosamente capenga ignora a bibliografia especializada pertinente interpreta mal seus dados todas as formas de produ o t m suas listas de erros mais frequentes Mas pensamos n s se eu repassar s mais uma vez vou conseguir pegar esses erros e arranjar solu es ainda melhores para os problemas que me propus resolver O lan amento n o a nica coisa que as pessoas valorizam Muitos trabalhos importantes em v rias reas foram feitos sem levar em conta se algum dia sairiam Acad micos e artistas sobretudo acreditam que se aguardarem o suficiente encontrar o uma maneira mais l gica e abrangente de dizer o que
272. xig ncias definidas Outros mais abertos podem fazer muitas coisas diferentes que a pessoa queira com um amplo leque de possibilidades O programa cl ssico cheio de possibilidades a planilha um conjunto de c lulas contendo n meros ou f rmulas isso Ele vai fazer tudo o que voc quiser com aquela f rmula As vers es iniciais eram projetadas para c lculos financeiros mas a l gica de fundo foi adaptada para muitos outros usos alguns inesperados Se voc conseguir encontrar o programa para gerir toda a sua cole o de dados verbais num ricos gr ficos e sonoros do jeito que voc quer ter toda a liberdade Se n o conseguir ainda pode adaptar um dos programas mais gen ricos a suas necessidades mas a vai precisar aprender sobre programa o talvez mais do que gostaria Desenhos O papel n o nos limita tanto quanto pensamos Em geral as pessoas pensam que preciso fazer as anota es e arrolar as ideias numa ordem linear come ando no alto da p gina e depois descendo mas existem outras possibilidades Uma vez eu me sentei ao lado de um estudante de p s gradua o que tamb m era cartunista e fiquei surpreso ao ver como suas anota es da palestra a que est vamos assistindo iam se aglomerando no papel Ele escreveu o t tulo da palestra no centro de uma folha de seu grande bloco de desenhos e a foi anotando as ideias em v rios outros lugares da p gina tra ando linhas aqui e ali indicando as conex
273. xtra do de minha tese Eu tinha resultados simples para apresentar Os professores avaliaram diversos aspectos do trabalho as rela es com seus alunos com os pais dos alunos com o diretor da escola e com os outros professores da escola Eles gostavam das pessoas de cada categoria que facilitavam seu trabalho n o gostavam das que dificultavam A seu ver a varia o mais importante entre as escolas era a classe social dos alunos Achavam dif cil ensinar s crian as das fam lias mais pobres tamb m achavam dif ceis os alunos de classe m dia alta inteligentes mas sem muito respeito pela idade e autoridade do professor Preferiam na maioria as crian as da classe trabalhadora cujo desempenho podia ser med ocre mas eram d ceis e portanto f ceis de lidar Tamb m preferiam os pais dessas crian as que ajudavam muito a controlar os filhos A segrega o residencial facilitava a diferencia o das escolas pela classe social dos alunos Na maioria delas predominava uma ou outra classe social Essa an lise me apresentou uma escolha simples para organizar o material proveniente de sessenta entrevistas com professores de escola Eu podia analisar sucessivamente as rela es dos professores com os alunos os pais os diretores e os outros colegas descrevendo sob cada rubrica os tipos de varia es dessas rela es dependendo da classe social da escola Ou podia escrever sucessivamente sobre as escolas dos mais pobres as esco
274. z em que uso a express o ponho um isto a seguir e explico Ent o fico com liberdade de usar m o de obra de terceiros ao longo de todo o texto e soa mais bonito Creio que a quest o aqui que estou procurando um estilo de escrever que me fa a parecer inteligente Nenhuma dessas locu es classudas tem qualquer significado diferente dos termos mais simples que elas substituem Operam formalmente n o semanticamente Escrever com classe para parecer inteligente significa escrever para parecer e talvez at ser um determinado tipo de pessoa Os soci logos e outros acad micos agem assim porque pensam ou esperam que sendo o tipo certo de pessoa os outros se convencer o a aceitar o que eles dizem como um argumento persuasivo em ci ncias sociais C Wright Mills dizia que a falta de inteligibilidade imediata na escrita acad mica creio eu em geral tem pouco ou nada a ver com a complexidade do assunto e absolutamente nada a ver com a profundidade de pensamento Tem a ver quase exclusivamente com certas confus es do escritor acad mico sobre seu pr prio status Os h bitos estil sticos dos soci logos v m em grande parte da poca em que eles tinham pouco status em compara o a outros acad micos O desejo de status uma das raz es pelas quais os acad micos escorregam t o facilmente para a ininteligibilidade Para superar a prosa acad mica primeiro voc precisa superar a pose acad mica Mills 1959
275. z enquanto desenvolvia seu trabalho Se a l gica de seu argumento igual l gica da abordagem dominante daquele tema voc n o ter problema nenhum Mas suponha que n o sejam iguais O que voc quer dizer parte de premissas diferentes levanta quest es diferentes reconhece a adequa o de outro tipo de resposta Quando voc tenta cotejar a abordagem dominante com esse material come a a traduzir seu argumento nos termos daquela abordagem Seu argumento n o far o mesmo sentido que fazia usando seus pr prios termos vai soar fraco desconjuntado ad hoc N o tem como mostrar seu pleno desempenho jogando no campo de um oponente Mas essa formula o n o apropriada pois o que se tem n o uma disputa entre abordagens afinal e sim a busca de uma boa maneira de entender o mundo O entendimento que voc tenta transmitir perder sua coer ncia se for colocado nos termos nascidos de outro entendimento diferente Se por outro lado voc traduzir o argumento dominante em seus pr prios termos n o ter um molde adequado pelas mesmas raz es Quando voc transp e um problema de um tipo de an lise para outro h uma boa probabilidade de que as abordagens sejam incomensur veis como sugeriu Kuhn 1962 Na medida em que levantam quest es diferentes as abordagens t m muito pouco a ver uma com a outra N o h nada para traduzir Simplesmente est o falando de coisas diferentes A bibliografia tem a vantagem da hegemonia

Truques da Escrita – Howard S. Becker

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